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ISSN 1413-8557 Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE) Volume 7 Número 1 Janeiro/Junho 2003 ABRAPEE Expediente A revista Psicologia Escolar e Educacional é um veículo de divulgação e debate da produção científica na área específica e está vinculada à Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE). Seu objetivo é constituir um espaço para a apresentação de pesquisas atuais no campo da Psicologia Escolar e Educacional e servir como um veículo de divulgação do conhecimento produzido na área, bem como de informação atualizada a profissionais psicólogos e de áreas correlatas. Trabalhos originais que relatam estudos em áreas relacionadas à Psicologia Escolar e Educacional serão considerados para publicação, incluindo processos básicos, experimentais, aplicados, naturalísticos, etnográficos, históricos, artigos teóricos, análises de políticas e sínteses sistemáticas de pesquisas, entre outros. Também, revisões críticas de livros, instrumentos diagnósticos e softwares. Com vistas a estabelecer um intercâmbio entre seus pares e pessoas interessadas na Psicologia Escolar e Educacional, conta com uma revisão às cegas por pares e é publicada semestralmente. Seu conteúdo não reflete a posição, opinião ou filosofia da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional. Os direitos autorais das publicações da revista Psicologia Escolar e Educacional são da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, sendo permitida apenas ao autor a reprodução de seu próprio material, previamente autorizada pelo Conselho Editorial da Revista. As transcrições e traduções são permitidas, desde que no limite dos 500 vocábulos e mencionada a fonte. São publicados textos em português, espanhol e inglês. CONSELHO EDITORIAL Editora: Acácia Aparecida Angeli dos Santos Primeira Secretária: Geraldina Porto Witter Segunda Secretária: Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly Tesoureira: Isabel Cristina Dib Bariani CORPO EDITORIAL Arrigo Leonardo Angelini Eliana M. B. Bhering Eunice M. L. Soriano de Alencar Evely Boruchovitch Fermino Fernandes Sisto Hermínia Vicentelli de Castillo Jorge Castellá Sarriera José Aloyseo Bzuneck José Fernando B. Lomônaco Leandro Almeida Maria Helena Mourão A. Oliveira Maria Helena Novaes Marisete F. Lima Nádia Maria Dourado da Rocha Raquel Souza Lobo Guzzo Samuel Pfromm Neto Sebastián Urquijo Thomas Oakland CONSULTORES AD-HOC Eliane Di Nucci– Universidade São Francisco Eulália Maimoni– Uniube-MG Selma Martineli – FE-Unicamp ASSISTENTE DO CONSELHO EDITORIAL Katya Luciane de Oliveira – mestranda em Psicologia Indexação em: Index Psi LILACS Tiragem: 600 exemplares Apoio Financeiro: Programa de Auxílio à Editoração do CNPq Universidade de São Paulo Universidade do Vale do Itajaí Universidade Católica de Brasília Universidade Estadual de Campinas Universidade São Francisco Universidad Pedagógica Experimental Libertador Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Universidade Estadual de Londrina Universidade de São Paulo Universidade do Minho Pontifícia Universidade Católica de Campinas Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Universidade Federal da Paraíba Faculdades Ruy Barbosa Pontifícia Universidade Católica de Campinas Pontifícia Universidade Católica de Campinas Universidad del Mar del Plata University of Florida Psicologia Escolar e Educacional./ Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional.- v. 1, n. 1. 1996Campinas : ABRAPEE, 1996. Quadrimestral : 1996-1999. Semestral : 2000ISSN 1413-8557 l. Psicologia educacional. 2. Psicologia escolar. 3. Educação. 4. Brasil. I. Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional. ABRAPEE Av. John Boyd Dunlop, s/n – Campus II da PUC-Campinas Prédio da Psicologia Clínica – l3059-900 – Campinas/SP Tel/Fax: (19) 3735 5840 – Home-page: http://www.abrapee.psc.br – E-mail: abrapee@abrapee.psc.br Psicologia Escolar e Educacional PUBLICAÇÃO SEMESTRAL 7 ISSN 1413-8557 2003 Volume 7 Número 1 Editorial Artigos 11 Teorias de aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagem Clara Vasconcelos João Félix Praia Leandro S. Almeida 21 Determinantes psicolingüísticos da compreensão de leitura em inglês como língua estrangeira Javier Vivaldo-Lima Miguel López-Olivas Rosa Obdulia González-Robles 33 Professor-estresse: análise de produção científica Geraldina Porto Witter 47 Instrumentos psicológicos mais conhecidos e utilizados por estudantes e profissionais de psicologia Ana Paula Porto Noronha Flávia Nunes de Moraes Beraldo Katya Luciane de Oliveira 57 Inglês instrumental: eficiência do ensino para ingressantes do curso de psicologia Neusa Haruka Sezaki Gritti 67 Aprendizagem por interação e traços de personalidade Lílian Pacheco Fermino Fernandes Sisto 77 Depressão infantil: uma contribuição para a prática educacional Miriam Cruvinel Evely Boruchovitch 85 A construção da seriação auditiva: uma análise através da metodologia clínica Patrícia Fernanda Carmem Kebach Resenhas 97 Estratégias de compreensão de leitura Maria Helena Mourão Alves de Oliveira História 99 Entrevista com Marilene Proença Rebello de Souza Entrevistadora: Elenita Tanamachi Sugestões práticas 103 Sexualidade e escola: um espaço de intervenção Flávia Nunes de Moraes Beraldo Informativo 105 Notícias bibliográficas 107 Informe 108 Forma de Apresentação do Manuscrito 115 Ficha para novos sócios da ABRAPEE ISSN 1413-8557 SUMMARY 7 Editorial Papers 11 Theory of learning and the teaching-learning of sciences - from instruction to apprenticeship Clara Vasconcelos João Félix Praia Leandro S. Almeida 21 Psycholinguistic determinants of reading comprehension in english as a foreign language Javier Vivaldo-Lima Miguel López-Olivas Rosa Obdulia González-Robles 33 Teacher-stress: Analysis of scientific production Geraldina Porto Witter 47 Well-know psychological instruments used by psychology students and professional Ana Paula Porto Noronha Flávia Nunes de Moraes Beraldo Katya Luciane de Oliveira 57 Instrumental english: teaching efficiency for psychology course freshman students Neusa Haruka Sezaki Gritti 67 Peer interaction learning and personality traits Lílian Pacheco Fermino Fernandes Sisto 77 Depression in children: A contribution to the work educational Miriam Cruvinel Evely Boruchovitch 85 The construction of the hearing seriation: An analysis through clinical methodology Patrícia Fernanda Carmem Kebach Reviews 97 Reading comprehension strategies Maria Helena Mourão Alves de Oliveira History 99 Interviewing Marilene Proença Rebello de Souza Elenita Tanamachi Practical Sugestions 103 School and sexuality: Intervention space Flávia Nunes de Moraes Beraldo Informative 105 Events 107 Bibliographic Notes 108 Instructions to Authors 115 ABRAPEE Membership EDITORIAL As perspectivas da psicologia escolar/ educacional Com base nesse tema, psicólogos, pesquisadores e muitos estudantes interessados na área reuniram-se em Salvador-BA, no mês de abril, para o VI Congresso de Psicologia Escolar e Educacional (VI CONPE). O evento teve a participação de aproximadamente mil inscritos e os trabalhos apresentados foram atinentes a diferentes sub-temas a saber, Avaliação e medidas no contexto escolar; Desenvolvimento humano; Educação infantil; Educação informal; Ensino de psicologia; Ensino fundamental; Ensino médio; Ensino superior; Família; Formação do educador; Formação do psicólogo escolar/educacional; Fracasso escolar/evasão; Leitura/escrita; Necessidades especiais/inclusão; Orientação profissional; Pesquisa em psicologia escolar/educacional; Prevenção; Tecnologia educacional e Terceira idade. Pudemos contar com o acolhimento carinhoso do povo baiano e, em especial, com o apoio irrestrito do corpo diretivo e dos docentes e alunos da Faculdade Ruy Barbosa, que sediou nosso evento. A Comissão Organizadora, coordenada pela Profa. Dra. Nádia Rocha, teve um papel preponderante para que o VI CONPE pudesse acontecer nos padrões desejados. Foi uma oportunidade ímpar de agregarmos congressistas advindos da grande maioria dos estados brasileiros, o que reforçou nosso propósito de que cada um dos nossos congressos, que têm caráter nacional, ocorra em uma das diversas regiões do país para permitir uma participação mais ampla daqueles que se encontram fora do eixo Rio - São Paulo. As atividades apresentadas, nos quatro dias de duração do evento, foram propostas por professores universitários, pós-graduandos e profissionais da área, que ofereceram uma extensa gama de trabalhos em forma de conferências, mesas-redondas, simpósios, cursos e workshops que demonstraram as características da produção científica na área, bem como, a diversidade de práticas profissionais. É importante ressaltar que as seções de comunicação oral e os painéis apresentados contribuíram, em muito, para que pudéssemos registrar e divulgar a amplitude de interesses e de abordagens presentes em nossa área. Duas novas modalidades, não existentes nos congressos anteriores – ‘Depoimento’ e ‘Partilhando Experiências’ foram ricas o suficiente para serem citadas positivamente na avaliação dos participantes, o que significa que vale a pena mantê-las e incrementálas nos próximos eventos a serem realizados. O apoio de órgãos de fomento (CAPES, CNPq e FAPESB) e de outras instituições públicas (Universidade Federal de Bahia e Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Salvador) e particulares (Casa do Psicólogo; Colégio Módulo; Pinheiro Viagens e Turismo) foi indispensável para a viabilização financeira do evento. Além disso, merece destaque especial o auxílio do Conselho Federal de Psicologia e os Conselhos Regionais de São Paulo (CRP-06) e da Bahia (CRP-03), o que nos mostra a importância da aproximação das entidades científicas com as entidades profissionais, ambas buscando o fortalecimento da psicologia como ciência e como profissão. Sem dúvida, a quantidade e qualidade dos trabalhos apresentados não seria a mesma sem a participação da Comissão Científica e dos avaliadores ad-hoc que dedicaram parte significativa do seu tempo na análise cuidadosa das propostas encaminhadas. Ainda com a preocupação de registrar o grande valor da divulgação das temáticas relevantes para os interessados na área de psicologia escolar e educacional queremos expressamente agradecer o apoio financeiro que esta revista passou a ter no ano de 2003 do Programa de Auxílio Editoração do CNPq, que viabilizou sua impressão e nos possibilitou garantir sua periodicidade. Esperamos que essa ajuda, somada ao nosso empenho de buscar sempre uma melhor qualidade para nossa revista se reflita no conteúdo e no alcance que os artigos aqui publicados possam ter, favorecendo o impacto que um periódico científico pretende alcançar na sua área de abrangência. Assim, estaremos de fato abrindo novas e amplas perspectivas para a área de Psicologia Escolar/Educacional. Acácia Aparecida Angeli dos Santos Editora Artigos Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 11-19 TEORIAS DEAPRENDIZAGEM E O ENSINO/APRENDIZAGEM DAS CIÊNCIAS: DA INSTRUÇÃO ÀAPRENDIZAGEM Clara Vasconcelos 1 João Félix Praia 2 Leandro S. Almeida 3 Resumo Uma preocupação sempre presente da investigação na área da Psicologia Educacional, é a da compreensão do processo de aprendizagem do aluno, nomeadamente em contexto formal de ensino. Nessa linha, o ensino das ciências recorre a essa área de conhecimento para fundamentar teoricamente concepções e práticas de ensino/aprendizagem, no contexto e ecologia de sala de aula específicos. Neste artigo apresenta-se o contributo das diversas teorias de aprendizagem no processo de ensino/aprendizagem das ciências, especificando a influência de algumas delas nas perspectivas de ensino que foram sendo evolutivamente assumidas. Desse modo, inicia-se uma descrição histórica, referindo perspectivas de ensino apoiadas na vertente behaviorista e termina-se a sua abordagem referindo teorias cognitivo-construtivistas, que deram lugar a perspectivas de ensino voltadas para o papel do aluno, como sujeito ativo na construção do conhecimento, e para o reconhecimento do valor meramente instrumental dos conteúdos curriculares. Palavras chave: Ensino; Aprendizagem; Construção do conhecimento. THEORY OF LEARNING AND THE TEACHING-LEARNING OF SCIENCES - FROM INSTRUCTION TO APPRENTICESHIP Abstract It is always a concern for research in the area of Educational Psychology, to understand the process of learning of the student, namely in a formal context of teaching. In this sense, the teaching of Sciences uses this area of knowledge in an attempt to ground theoretically conceptions of teaching/learning. Here, the authors attempt to underline the contribution of the learning theories in the process of learning/teaching of Sciences, specifying their influence in the perspectives of teaching that have been previously assumed. In this way, an historical description is started, referring perspectives of teaching supported in the behaviourist approach, and finish by referring cognitive-constructive theories that gave rise to teaching perspectives more focussed on the role of the student in the construction of knowledge, and for the recognition of the innate instrumental value of the curricular subjects. Key words: Learning; Teaching-learning; Construction of knowledge. INTRODUÇÃO Todos aprendemos sem nos preocuparmos verdadeiramente com a natureza desse processo e todos ensinamos sem buscarmos um suporte teórico explicativo do processo de ensino-aprendizagem. Como professores temos alguns referenciais explicativos e, também, de forma implícita ou explícita, orientamos a nossa prática por tais referenciais. De qualquer modo, as teorias de aprendizagem, tendo surgido, possivelmente, porque 1 2 3 conforme salienta Bigge (1977) “o homem não só quis aprender como também, frequentemente, sua curiosidade o impeliu a tentar aprender como se aprende” (p.3), são diversas e acompanharam de perto a evolução observada na Psicologia e na Educação em Ciências. Assim, apresentamos ao longo deste artigo diversas teorias de ensino-aprendizagem, reportando-nos sempre que possível ao ensino-aprendizagem nas ciências, Centro/Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Centro/Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho. 12 iniciando pela teoria do Ensino por Transmissão, perspectiva fortemente marcada pelas teorias behavioristas da aprendizagem. Após referirmos a influência de autores como Gagné (1975) ou Bandura (1977), que mantiveram latente a influencia comportamentalista, referirmos a Aprendizagem por Descoberta e a Aprendizagem por Mudança Conceptual. Por último, mencionamos o Ensino por Pesquisa, processo fortemente marcado pelo cognitivismo-construtivismo que realça o papel do aluno como construtor do conhecimento, movido pela curiosidade, descoberta e resolução de problemas. Esta perspectiva de ensino é referida como a mais actual ao nível da didática das ciências e, implicitamente, aquela que deverá ser mais valorizada na formação dos professores. Com este artigo pretendemos listar este conjunto de perspectivas de análise e definição de processos de ensino-aprendizagem, sobretudo quando este processo ocorre nos contextos formais escolares. Sem pretendermos ser exaustivos e profundos no conjunto de tais perspectivas, procuramos, no entanto, salientar algumas implicações práticas e assumir as vantagens de uma abordagem que reconhece o aluno como tendo um papel ativo e central nas aprendizagens, entendidas como co-construções progressivas de conhecimento e destrezas. As teorias de aprendizagem e o ensino-aprendizagem das ciências A Aprendizagem por Transmissão (APT) pode associar-se às perspectivas behavioristas ou comportamentais da aprendizagem. O ensino por transmissão tem o seu fulcro nas exposições orais do professor, que transmite as ideias (estímulos) aos alunos, isto é, “...o professor ‘dá a lição’, imprime-a em arquivadores do conhecimentos e pede, em troca, que os alunos usem a sua atividade mental para acumular, armazenar e reproduzir informações” (Santos & Praia, 1992 p.13). Nessa lógica instrucional de organizar o ensino, o aluno tem um papel cognitivo passivo, sendo encarado como um mero receptáculo de informações que, mais tarde, serão úteis para a vida. Para além do professor usar técnicas que salientem novas informações e informações mais corretas, deverá recorrer também ao reforço, preferencialmente a reforços diretos e imediatos, tendo em vista produzir mudanças comportamentais dos alunos e a sua estabilidade. O papel tutelar do professor, que exerce autoridade face aos seus conhecimentos científicos, sobrepõe-se ao papel do aluno. Este, ao invés de aprender, e menos ainda aprender a aprender, Clara Vasconcelos, João Félix Praia e Leandro S. Almeida apenas acumula saberes que deverá ser capaz de repetir fielmente. Assim sendo, Cachapuz, Praia e Jorge (2000) observam “quase tudo se reduz ao professor injectar nos alunos as ‘matérias’ que centralmente são definidas e obrigatórias dar ao longo do ano, importando sobretudo os resultados finais obtidos pelos alunos nos testes sumativos - afinal quem mais ordena – enquanto produtos acabados e que são os elementos principais para a atribuição de uma classificação. Cumprir o programa e preparar para os exames é compreendido como aprender o programa” ( p.7). Enfatiza-se, aqui, o papel do professor, relegando-se para segundo plano a intervenção do aluno no seu próprio processo de aprendizagem. Se um aluno sabe falar e escrever numa dada área, subentende-se, então, que compreendeu a matéria dessa área de conhecimento. A valorização do aluno como transformador dessa informação não aparece suficientemente representada nesta abordagem Do exposto, depreende-se que alguns princípios e práticas educativas para a escola foram elaborados de acordo com os pressupostos behavioristas. Falamos, então, das teorias behavioristas da aprendizagem escolar, tendo como objetivo principal alcançar comportamentos apropriados por parte dos alunos, basicamente entendidos como apropriação e modificação de respostas. Assim, se a resposta emitida for desejada haverá reforço, cuja natureza dependerá, necessariamente, do nível etário e do esforço dos alunos, por exemplo. Acredita-se que a ineficácia do ensino tradicional foi o fato dos professores não usarem contingências de reforço que acelerassem a aprendizagem (Skinner apud Bigge, 1997). Algumas dificuldades são apontadas a esta teoria. Numa concepção behaviorista de aprendizagem, o aluno é passivo, acrítico e mero reprodutor de informação e tarefas. O aluno não desenvolve a sua criatividade e, embora se possam respeitar os ritmos individuais, não se dá suficiente relevo à sua curiosidade e motivação intrínsecas. O aluno pode, inclusive, correr o risco de se tornar apático, porque excessivamente dependente do professor. Por outro lado, não há preocupação em ensinar a pensar. O ensino realça o saber fazer ou a aquisição e manutenção de respostas. A aula deve ser centrada no professor, que controla todo o processo, distribui as recompensas e, eventualmente, a punição. Pretende-se, acima de tudo, que haja por parte do professor uma minuciosa exatidão na determinação do que Teorias de aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagem pretende ensinar, do tempo que necessita para o fazer e uma definição específica dos objetivos comportamentais que pretende obter. A concepção de uma aprendizagem sem erros tem na abordagem skinneriana forte defensa, senão o principal apoio. O erro deve ser evitado, punido e exigida nova resposta. A avaliação, centrada nos resultados e nos objetivos não alcançados, deve permitir um feedback preciso do que ainda falta ensinar. Os exercícios de repetição ou de demonstrações de atividades, por vezes organizados e apresentados como se o aluno tivesse que imitar, sem grandes explicações, preenchem largos espaços do tempo da aula. Tudo, no entanto, deve encontrar-se meticulosamente justificado e organizado, o que aliás condiz com a tradição do ensino programado nas escolas, como era defendido por esta abordagem. Embora atualmente sejam as perspectivas cognitivoconstrutivista as que mais influenciam as concepções de ensino-aprendizagem nas ciências, ainda surgem algumas formas “mascaradas” dessa pedagogia transmissiva (Praia & Marques, 1997). Por outro lado, e porque os pressupostos cognitivistas não são, de todo, incompatíveis com os neobehavioristas, são vários os autores que apresentam abordagens mistas, quer a nível metodológico quer a nível teórico (Pozo, 1989). Como exemplo, destacamos a teoria social cognitiva de Bandura (1977), ou a sua mais recente teoria de auto-eficácia (Bandura, 1986), ou mesmo a teoria da instrução de Gagné (1975, 1985). Os objetivos de instrução, a que Gagné (1975) associa objetivos comportamentais (os objetivos de aprendizagem refletem alterações no comportamento dos estudantes), devem ser definidos em termos de performances humanas, bem como especificar a situação em que estas serão observadas. Operacionalmente bem definidos e mensuráveis, tais objetivos devem ser elaborados no início do processo de instrução, pois são eles que determinam qual o input que deve ser fornecido ao aluno. Para o professor constituem a base da instrução e o suporte de verificação dos resultados de aprendizagem. Para o aluno servem como motivação e permitem um feedback no final desse processo. A objetividade na definição dos objetivos torna-se notória no recurso a verbos de ação, que facilitam a compreensão do que se pretende observar na performance do aluno. Essa mesma objetividade auxilia a clarificação do tipo de aprendizagem pretendida e as condições requeridas para que estes objetivos sejam alcançados pelos alunos. Os 13 objetivos devem ser elaborados para cada ato de aprendizagem, situação que levará a que uma unidade programática a ensinar seja constituída por objetivos iniciais mais simples e por objetivos terminais que envolvem capacidades mais complexas. A teoria sócio-cognitiva de Bandura (1977) preocupa-se com a aprendizagem que tem lugar no contexto de uma situação social e sugere que uma parte significativa daquilo que o sujeito aprende resulta da imitação, modelagem ou aprendizagem observacional (Cruz, 1997). Esta teoria representa uma teoria de aprendizagem com largas capacidades de adaptação e aplicação ao contexto escolar. Na sala de aula, a conduta do professor ou a ação de um colega podem facilmente originar uma aprendizagem modelada junto dos alunos. Nesta perspectiva, a aprendizagem é, essencialmente, uma atividade de processamento de informação, permitindo que condutas e eventos ambientais sejam transformados em representações simbólicas que servem como guias de ação (Bandura, 1986). Enquanto processamento de informação, a modelagem não corresponde nem a uma simples imitação, nem a uma mera identificação do observador com o modelo. Embora esse processo de aprendizagem não requeira o prêmio ou o castigo, nem para o observador nem para o modelo, a teoria reconhece que estes podem melhorar a aquisição e execução da performance. Se numa perspectiva behaviorista, o comportamento deve ser reforçado tendo em vista a sua aquisição e manutenção, na aprendizagem modelada, mesmo quando reforçadas, as aprendizagens pressupõem experiências prévias de observação. Porém, incentivos ou antecipação dos benefícios podem influenciar o sujeito, determinando quais as condutas a observar. A expectativa de uma resposta efetiva ou de um castigo, podem favorecer, por exemplo, o nível de atenção do aprendiz na ação do modelo. A antecipação dos benefícios pode, ainda, permitir uma melhor retenção do que foi observado, dado que o sujeito fica motivado para simbolizar e ensaiar as atividades modeladas. Pelo exposto se depreende que as teorias de Bandura (1977) e de Gagné (1975) não marcaram uma clara distinção entre o aluno passivo, mero reprodutor de informação, e o aluno ativo, que aprende, organiza e reestrutura a informação recebida. Com efeito, só em meados dos anos 60-70, rejeitando a passividade do aluno face a essa pedagogia de base memorística, de ritmo uniforme e muito assente numa motivação extrínseca do aluno (Santos & Praia, 1992), surgem, no ensino das Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 11-19 14 ciências, pressupostos de uma pedagogia ativa que reconhece e valoriza uma maior intervenção do aluno na sua aprendizagem. Assim, opondo-se a um modelo pedagógico dominantemente marcado, ao nível psicológico, pela corrente neobehaviorista, surge o modelo da Aprendizagem por Descoberta (APD). Este modelo irá, progressivamente, “desinstalar” os referenciais teóricos de uma pedagogia transmissiva reinante nas práticas dos professores. De acordo com essa teoria, defende-se uma aprendizagem ativa, requerendo explorações e descobertas efetivas para o alcance de uma verdadeira compreensão. As relações que as crianças descobrem a partir das suas próprias explorações são mais passíveis de serem utilizadas e tendem a ser melhor retidas do que os fatos meramente memorizados. Bruner (1961) alega que a aquisição do conhecimento é menos importante do que a aquisição da capacidade para descobrir o conhecimento de forma autónoma. Assim, devem os professores promover uma aprendizagem pela descoberta por meio de atividades exploratórias por parte dos alunos. Nessa perspectiva, cabe ao professor a capacidade de lançar perguntas que despertem a curiosidade, mantenham o interesse e provoquem e desenvolvam o pensamento. A abordagem da aprendizagem de Bruner (1961) impulsionou reformas no ensino das ciências. De salientar a sua concepção de currículo em espiral na aquisição de conceitos científicos, a retomar em anos sucessivos de escolaridade num crescendo de abstracção (Cachapuz, Praia & Jorge, no prelo a). Contudo, embora implicando o aluno no processo de aprendizagem, a APD poderá exagerar ao pretender assumir a convicção de que o aluno aprende por conta própria qualquer conteúdo científico. Se por um lado, o papel central da aprendizagem é, agora, do aluno e não do professor, por outro lado, dá-se relevo à análise da estrutura do assunto científico a aprender e pouco significado é atribuída ao contexto da aprendizagem. Essa perspectiva de ensino é especialmente apropriada para a aprendizagem do método científico (como o novo conhecimento é descoberto), isto é, o método torna-se útil para certos fins pedagógicos e em certos contextos educacionais. Assume-se que ao exercitar as capacidades processuais e procedimentais, relativamente ao método científico, o aluno desenvolve o pensamento e a aprendizagem. Podemos referir que esse modelo resulta de “... uma colagem de ideias de raiz empirista e indutivista a novas ideias de índole construtivista na esteira de contribui- Clara Vasconcelos, João Félix Praia e Leandro S. Almeida ções piagetianas que haviam descolado o olhar para o aluno como sujeito de aprendizagem” (Cachapuz & cols., 2000 p.11). Pelo exposto, depreende-se que a aprendizagem por descoberta é um processo difícil e moroso. Será um processo porventura compensado, entre outros fatores, porque ajuda o aluno a ter uma aprendizagem mais baseada na compreensão e no significado, do que na memorização. No entanto, essa atividade que é mobilizada em termos sensoriais e cinestésicos para a construção sistemática de ideias a partir de fatos, ignora que a construção ativa do conhecimento deve também ter em conta a construção de idéias a partir de idéias (Santos & Praia, 1992). A verdadeira ênfase do aluno como construtor do seu próprio conhecimento surge com as teorias cognitivoconstrutivistas da aprendizagem, que imprimem um caráter determinante às concepções prévias dos alunos. Essa perspectiva cognitivo-construtivista da aprendizagem deve-se ao modelo piagetiano e de Ausubel, Novak e Hanesian (1981). Ao contrário dos behavioristas, esses autores preocuparam-se com o aprender a pensar e o aprender a aprender, e não com a obtenção de comportamentos observáveis. No entanto, já não se trata de falar nos estádios de desenvolvimento piagetiano com o entusiasmo dos anos 50 e 60, mas de responsabilizar o aluno pelo seu percurso pessoal de aprendizagem e ajudá-lo a ser cognitiva e afetivamente persistente (Cachapuz & cols., 2000). Comparativamente à teoria de Bruner (1961), a teoria de Ausubel e cols. (1981) dá pouca atenção à aprendizagem por descoberta. Essa é importante, apenas, por ser o processo inicial de formação de conceitos relevantes na estrutura cognitiva. Em níveis etários baixos, a formação de conceitos é o principal processo de aquisição de saberes, sendo essencialmente “(...) um tipo de aprendizagem por descoberta envolvendo formulação e testagem de hipóteses” (Novak, 1981 p.59). Duas dimensões do processo de aprendizagem, relativamente independentes, são importantes na teoria de assimilação de Ausubel e cols. (1981): (i) o modo como o conhecimento a ser aprendido é tornado disponível ao aluno (por recepção ou por descoberta); e (ii) o modo como os alunos incorporam essa informação nas suas estruturas cognitivas já existentes (mecânica ou significativa). Assim, segundo Ausubel e cols. (1981), há quatro tipos básicos de aprendizagem por recepção mecânica, por recepção significativa, por descoberta me- Teorias de aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagem cânica e por descoberta significativa. Numa primeira fase, a informação torna-se disponível ao aluno numa aprendizagem por recepção e/ou por descoberta. Numa segunda fase, se o aprendiz tenta reter a informação nova, relacionando-a ao que já sabe, ocorre aprendizagem significativa, se o aluno tenta meramente memorizar a informação nova, ocorre aprendizagem mecânica. Embora referindo estes quatro tipos de aprendizagem, na teoria de Ausubel e cols. (1981) a ênfase é colocada na aprendizagem significativa, ou seja, um processo no qual uma nova informação é relacionada a um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo. Segundo Moreira e Masini (1982), a aprendizagem significativa só ocorre quando o novo material, que apresenta uma estrutura lógica, interage com conceitos relevantes e inclusivos, claros e disponíveis na estrutura cognitiva. Quando conceitos relevantes não existem na estrutura cognitiva do sujeito, novas informações têm que ser aprendidas mecanicamente, não se relacionando a nova informação com os conceitos já existentes. Ausubel (apud Novak, 1981) afirma: “o mais importante factor isolado que influencia a aprendizagem é o que o aprendiz já sabe. Determine isto e ensine-o de acordo” (p. 9). À medida que o sujeito adquire conhecimento em várias áreas de conteúdo, estas organizam-se numa estrutura cognitiva relacionada com cada área. O melhor modo de se obter nova informação, a partir da estrutura cognitiva, é assimilá-la como parte da estrutura existente por um processo de conexão. Esse processo está envolvido no relacionamento de uma idéia nova com um conceito prévio e, ao mesmo tempo, na modificação de ambos, isto é, dando significado a ambos. A aprendizagem significativa só ocorre quando a informação nova é ligada a conceitos existentes, assumindo que “é neste processo interativo entre o material recém-aprendido e os conceitos existentes (subsumer) que está o cerne da teoria de assimilação de Ausubel” (Novak, 1981 p. 63). Novak (1981), ao referir-se ao trabalho de Ausubel, menciona, ainda, o conceito de organizadores prévios e o seu valor para facilitar a aprendizagem. Esses funcionam como uma ponte cognitiva já que deveriam servir de ancoradouro, na estrutura cognitiva, para o novo conhecimento. Se conceitos relevantes não estiverem disponíveis na estrutura cognitiva de um aluno, os organizadores prévios serviriam para ancorar as novas aprendizagens e levar ao desenvolvimento de um subsumer que facilitasse a aprendizagem subseqüente 15 (Novak, 1981). Seguindo essa perspectiva, de que os organizadores prévios são mais gerais, mais abstratos e mais inclusivos do que o material de aprendizagem subsequente, então, a nível de desenvolvimento e planificação curricular, devem ser esses elementos mais gerais a serem introduzidos em primeiro lugar, sendo o conceito progressivamente diferenciado em termos de detalhe e especificidade. A teoria de Ausubel e cols. (1981) ocupa-se, especificamente, dos processos de ensino-aprendizagem dos conceitos científicos a partir dos conceitos previamente formados pelos alunos na sua vida quotidiana (Pozo, 1989). A aprendizagem passa a ser encarada como um processo interno e pessoal que implica o aluno na construção ativa do conhecimento e que progride no tempo de acordo com os interesses e capacidades de cada um. Aplicado ao ensino das ciências, o construtivismo surge como o fundamento epistemológico duma reação às reformas curriculares dos anos 60 e 70, e que procura concentrar as atenções para a individualidade do aprendiz, para os contextos onde aprendeu e aprende, e para o envolvimento social das aprendizagens (Osborne, 1996; Canavarro, 1999). Os modelos pedagógicos construtivistas dão especial realce às construções prévias dos alunos na medida em que filtram, escolhem, decodificam e reelaboram informação que o indivíduo recebe do meio (Santos & Praia, 1992; Duit, 1995; Almeida, 1996; Canavarro, 1999; Cachapuz & cols., 2000). Por outras palavras, o conhecimento prévio ou as concepções pré-existentes orientam os alunos na compreensão da nova informação apresentada pelos professores ou pelos manuais. Se as concepções prévias dos alunos se articulam com a versão científica, ocorre apreensão conceptual, mas se entram em conflito com a versão científica, ocorre, então, mudança conceptual. No entanto, em ambos os processos de construção de idéias, está latente o pressuposto de que dificilmente se aprende sem integrar nas redes de conhecimento anterior a nova informação (Ausubel & cols., 1980; Almeida, 1996; Praia, 1999). O papel do conhecimento prévio do sujeito é referido em estudos que envolvem disciplinas como a física e a química (Chi, Glaser, Davies & Olton, 1982; Martins, 1993; Loureiro, 1993), a matemática (Mourão, Barros, Almeida & Fernandes, 1993), e a biologia e a geologia (Bettencourt & Amaral, 1994; Faria & Marques, 1994). No entanto, e no que se refere a trabalhos publicados sobre as concepções alternativas em alunos de ciências, todos os estudos efetuados nessa área Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 11-19 16 refletem a idéia de que a aprendizagem prévia é decisiva nas novas aprendizagens, isto é, o conhecimento prévio do sujeito e o grau com que o pode ativar nas situações de aprendizagem determina as suas novas aquisições (Almeida, 1996). Para além do diagnóstico das concepções alternativas, o professor tem à sua disposição instrumentos didáticos que promovem a atividade do sujeito na organização da informação com vista à reorganização do conhecimento (Sequeira & Freitas, 1989; Praia, 1999; Cachapuz & cols., 2000; Marques & Praia, 2000; Palmero & Moreira, 2000). Assim sendo, valorizando-se a atividade cognitiva do sujeito e remarcando-se a importância das concepções prévias, surge no ensino das ciência a perspetiva do Ensino por Mudança Conceptual (EMC), que não visa apenas a aquisição de novos conhecimentos pelos alunos, mas reclama a sua reorganização conceptual. Essa perspectiva tem hoje a suportá-la numerosas investigações nas aulas de ciências (Nussbaum & Novick, 1982; Osborne & Freyberg, 1985; Driver, 1988). Como referem Cachapuz e cols. (2000) na perspectiva do EMC está subjacente a utilização de estratégias metacognitivas que envolvem os alunos num exercício continuado sobre o pensar, onde o recurso a atividades que envolvem o espírito crítico e criativo ajuda a desenvolver competências de nível superior. No EMC, outro papel é exigido ao professor, outras tarefas são reclamadas aos alunos. Numa lógica de aprendizagem por construção de conhecimento, exigese a iniciativa do aluno e fala-se no papel mediador do professor: “... apela-se a um professor que consiga caminhar ao lado e à frente dos alunos, a uma distância adequada, servindo de mediador entre os alunos e a nova informação ou tarefa” (Almeida, 1998 p.57). O importante é centrar no aluno o processo de ensino-aprendizagem, criando condições para o envolvimento pessoal que se torna necessário (Praia, 1989; Mourão & cols., 1993; Almeida, 1998). Ao destacar as contribuições pedagógicas do construtivismo, Champagne (1996) refere que, como referente teórico, o construtivismo pode legitimar (ou ser utilizado como tal) todo o tipo de práticas supostamente centradas no aluno e no seu contexto. Assim, passados quinze anos de intensa investigação didática na área do EMC, surge, atualmente, no ensino das ciências, a perspectiva de Ensino Por Pesquisa (EPP). Essa perspectiva visa não só a compreensão do corpo de conhecimentos e processos científicos, mas pretende Clara Vasconcelos, João Félix Praia e Leandro S. Almeida igualmente contribuir para o desenvolvimento pessoal e social dos jovens (Cachapuz & cols., 2000). O ensino por pesquisa faz apelo a conteúdos inter e transdisciplinares, cultural e educacionalmente relevantes. Nesse sentido, um dos objetivos essenciais é a compreensão das relações C-T-S-A (Ciência-TecnologiaSociedade-Ambiente), procurando garantir que as aprendizagens se tornem úteis aos alunos numa perspectiva de ação (Canavarro, 1999; Praia, 1999). Trata-se, agora, de valorizar objetivos educacionais (e não meramente instrucionais) que promovam uma avaliação formadora em detrimento da classificatória. Importa avaliar capacidades, atitudes e valores, e não apenas os conteúdos científicos sobrevalorizados no EMC. Assim, o EPP preconiza momentos avaliativos ao longo de todo o percurso, auxiliando o aluno a perceber o que faz e a saber quais as estratégias metacognitivas a utilizar em cada tarefa (Cachapuz & cols., 2000). A pesquisa partilhada e a discussão promovidas na sala de aula desviam a atenção do professor para uma avaliação mais efetiva, tendo em vista regular o processo de ensinoaprendizagem e implicando o aluno na construção do seu conhecimento. O papel ativo do sujeito aparece reclamado, a sua autonomia no ato de conhecer e o papel central dado à descoberta e à exploração são tidos como decisivos na aprendizagem. CONCLUSÃO A análise efetuada às abordagens comportamentais, permitiu-nos constatar que, embora de forma dissimulada, prescutam-se algumas tendências behavioristas em perspectivas de ensino/aprendizagem atuais. O condicionamento operante de skinneriano proliferou a nível educacional nos anos trinta e estendeu-se aos sistemas de instrução programada. Ao nível do ensino em ciências, tais abordagens teóricas serviram de suporte a uma pedagogia transmissiva, memorística, baseada no reforço e com o intuito de obter comportamentos desejáveis (Cachapuz & cols., 2000). Sendo o reforço responsável pelo fortalecimento da resposta, aumentando a probabilidade desta ocorrer, desencadeou, a nível de sala de aula, prémios e castigos com o intuito de promover o controle dos alunos e mudanças comportamentais significativas (Vasconcelos, 2000). A teoria do condicionamento realça o ‘saber fazer’, o comportamento exterior, observável e susceptível de Teorias de aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagem ser medido (Tavares & Alarcão, 1992). Com o comportamentalismo, os exercícios de repetição, o ensino programado e as demonstrações de atividades a imitar fielmente, foram técnicas de ensino bastante difundidas nas sala de aula. Até ao apogeu educacional das correntes cognitivoconstrutivistas da aprendizagem, vários autores mantiveram vivo o behaviorismo, por meio da apresentação de projetos mistos que, embora marcadamente voltados para o processamento da informação, continuavam a reflectir uma influência comportamentalista (Pozo, 1989). Para este autor, as teorias de Bandura (1977) e de Gagné (1975), por exemplo, não marcaram uma clara distinção entre o aluno passivo, e memorizador de conteúdos, e o aluno ativo, capaz de reestruturar a informação. Em Portugal, e a nível do ensino das ciências, a concepção de aprendizagem pela descoberta de Bruner (1961) marcou os finais da década de 70 e, sobretudo, os anos 80, nomeadamente pelo acolhimento dado aos projetos Nuffield, BSCS (Bilogical Science Curriculum Studies) e ESCP (Earth Science Curriculum Project). Não obstante o impacto desta concepção de aprendizagem, o dinamismo pretendido e atribuído ao aluno tornou-se redutor ao centrar-se na descoberta, que resulta da observação cuidada e sistemática que supostamente faz descobrir sem pensar (Cachapuz & cols., 2000). Deve-se, principalmente ao modelo piagetianoo reconhecimento do aluno como construtor do seu conhecimento e sujeito responsável pelas suas aprendizagens. As concepções construtivistas tiveram forte impacto ao nível do ensino das ciências, nomeadamente a noção de que as pré-concepções orientam e determinam a compreensão dos alunos. Torna-se então necessário promover a mudança conceptual, sendo a partir da concorrência entre construtos pessoais e construtos científicos que o indivíduo (re)constrói o seu conhecimento acerca dos fenômenos científicos (Ausubel & cols., 1980; Duit, 1995; Canavarro, 1999; Praia, 1999). Porém, apoiar e estimular esse processo de reconstrução de conhecimento do aluno não se afigura tarefa fácil para o professor. Sobretudo, estão em causa metodologias e estratégias que conduzam a uma aprendizagem ativa e com significado pessoal para os alunos. 17 Ao questionar o papel dos conteúdos do ensino, perspectivando-os, não como fins de ensino, mas como meio para atingir fins educacionalmente relevantes e não meramente instrucionais, podemos caminhar no sentido do ensino por pesquisa. Ligada a conteúdos do quotidiano e interesses pessoais do aluno, essa perspectiva implica uma mudança de atitudes, de processos e de metodologias, que cabe ao professor promover. Ao realçar, de forma explicita e fulcral o papel do aluno na construção do seu conhecimento, essa perspectiva apoia-se nos postulados do construtivismo e aposta no desenvolvimento pessoal e social dos jovens. Tal pretensão requer alterações profundas ao nível do processo de ensino-aprendizagem. Assim, a transdisciplinaridade, a abordagem de situações problema, a importância do pluralismo metodológico e a necessidade de uma avaliação formadora são aspectos a desenvolver e a mobilizar por esta nova perspectiva de ensino (Cachapuz & cols., 2000). Finalizamos a nossa abordagem em torno das perspectivas de ensino-aprendizagem das Ciências salientando alguns aspectos essenciais da evolução havida. Em primeiro lugar, o aluno assume um papel central no processo de ensino-aprendizagem. Cabelhe um papel activo de construção de conhecimento e, para isso, importa que o professor conheça esse aluno e a fase desenvolvimental em que se encontra. Em segundo lugar, “aprender” deixa de ser sobretudo informar-se e passa a ser “conhecer”. Essa idéia torna o processo de ensino-aprendizagem mais ativo, mais assente na descoberta e resolução de problemas, na construção e desconstrução de significados pessoais. Finalmente, aposta-se cada vez mais na convergência e diversidade de metodologias de ensino, no papel instrumental dos conteúdos curriculares e na ação do “outro” nas nossas próprias aprendizagens. Nessa altura, o professor assume também um papel importante de “tutor” do aluno, não o substituindo mas acompanhando e modelando as suas aprendizagens. Igualmente interessante será o recurso, por parte do professor, à simulação de problemas por meio do acesso mais generalizado às novas tecnologias ou ao trabalho de grupo por parte dos alunos, estimulando-se a aprendizagem por confronto de posições individuais e cooperação dos pares. Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 11-19 18 REFERÊNCIAS Almeida, L. S. (1996). Cognição e aprendizagem: como a sua aproximação conceptual pode favorecer o desempenho cognitivo e a realização escolar. Psicologia: Teoria, Investigação e Prática, I (1), 17-32. Almeida, L. S. (1998). Aprendizagem escolar: dificuldades e prevenção. Em L. S. 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Recebido em: 29/10/02 Revisado em: 10/12/02 Aprovado em: 03/06/03 Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 11-19 Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 21-31 DETERMINANTES PSICOLINGÜÍSTICOS DA COMPREENSÃO DE LEITURA EM INGLÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA Javier Vivaldo-Lima1 Miguel López-Olivas2 Rosa Obdulia González-Robles3 Resumo O objetivo deste estudo foi analisar a contribuição das variáveis lingüísticas e psicológicas da variância associada à compreensão de leitura em inglês (L2). A amostra esteve integrada por 280 estudantes universitarios, falantes nativos do espanhol. A dimensão lingüística da análise avaliou a influência das habilidades de processamento de texto do leitor em espanhol (L1), da sua competência lingüística em L2 e da sua habilidade para perceber transparência léxica entre as duas línguas, enquanto a dimensão psicológica analisou a influência do estilo cognoscitivo, do locus de controle e do controle de ação sobre a capacidade do leitor para construir significado a partir do texto. Administrou-se aos sujeitos uma bateria de sete instrumentos de avaliação. Uma série de análise de regressão múltipla indicou a existência dum modelo explicativo da leitura em L2 em duas etapas. Na primeira, as variáveis psicológicas explicaram 10.2% da variância associada ao processamento do texto em L1, variável que, na segunda etapa, explicou 35.8% da variância associada à compreensão de leitura em inglês, ajuntada à competência lingüística do leitor em L2 e à sua capacidade para perceber transparência léxica entre L1 e L2. Palavras chave: Compreensão de leitura em inglês; Competência lingüística. PSYCHOLINGUISTIC DETERMINANTS OF READING COMPREHENSION IN ENGLISH AS A FOREIGN LANGUAGE Abstract The purpose of this study was to analyze the contribution of linguistic and psychological variables in the explanation of the variance associated with reading comprehension in English (L2). Two hundred and eighty Mexican university students participated in the study. The variables analyzed within the linguistic dimension were: reading strategies in Spanish, linguistic competence in English, and ability to perceive lexical transparency between L1 and L2. The psychological dimension evaluated the influence of the reader’s cognitive style, locus of control, and action control orientation on reading comprehension in L2. Subjects were administered a battery of seven evaluation instruments. Multiple regression analyses suggested a two-stage explanatory model of reading in L2. Firstly, psychological variables accounted for 10.0% of the variance in reading comprehension in the first language. Secondly, reading comprehension in Spanish, linguistic competence in L2, and perception of lexical transparency, accounted for 35.5% of the variance in reading comprehension in English. Key words: Reading comprehension, foreign language, psycholinguistic research. INTRODUCTION T he ability to read proficiently in at least one foreign language has become a major requirement of the curricula of institutions of higher education throughout the world. This increasing demand for proficiency in specific skills in foreign languages (reading being the most outstanding) has led to the development of courses for specific objectives, designed to meet concrete academic priorities. Given the current need to improve the reading skills of our university students, it is considered of utmost 1 2 3 importance to achieve a deep comprehension of the mechanisms, processes, and variables that promote the acquisition of relevant discourse processing skills in a second or a foreign language, with particular emphasis on reading. Such understanding would address a major research priority (Pugh & Ulijn, 1984) and promote the development of research-grounded instructional approaches in the field. Fearch and Kasper (1986) have stressed the need to extrapolate the research done in the field of reading in a Universidad Autónoma Metropolitana, Unidad Iztapalapa - Área de Investigación en Lenguas y Culturas Extranjeras. Universidad Nacional Autónoma de México - Facultad de Psicología. Universidad Autónoma Metropolitana - Unidad Iztapalapa - Departamento de Matemáticas. 22 Javier Vivaldo-Lima M.A., Miguel López-Olivas PhD. e Rosa Obdulia González-Robles M.Sc. first language (L1) to the study of reading processes in foreign languages (L2) with specific reference to the development of reading comprehension models, the formulation of research hypothesis, and the selection of relevant instructional methodologies. They contend that although the reader’s linguistic competence in L2 may play an important role in the construction of meaning from text in a foreign language, it is not necessarily the main determinant, considering the facilitation effect associated with the reader’s knowledge of the linguistic system of the L1 and its strategic application. The problem A constant found among students registered in reading comprehension courses in English at the Universidad Autónoma Metroplitana in Mexico is their wide variation in reading achievement, variation that can not be uniquely associated with deficits in linguistic competence in L2. That is, although most of our students enter with a limited linguistic competence in English, some of them eventually develop powerful reading comprehension strategies, and achieve an efficient comprehension of textual information in L2, thus overcoming their original linguistic limitations. However, cases of students with rigid and inefficient text processing strategies are invariably detected, most of them showing a lack of ability to integrate to their reading repertoires strategies which demand a flexible and interactive processing of information. Hence, and although the utmost importance of linguistic determinants for L2 reading comprehension is acknowledged, this study is based on the assumption that the construction of meaning from text in a foreign language may also be determined by psychological factors associated with the reader’s perceptual, cognitive and volitional orientation. In such regard, the main purpose of this study is to validate a multivariate model of reading comprehension in L2 integrated by two main explanatory dimensions of analysis: the linguistic and the psychological. text) and internal information (cognitive presuppositions). Discourse is analyzed from the word as the basic unit at the lower level to whole themes as units at the higher level, with a continuous interaction among different text processing levels. In their words: “The model moves from the comprehension of words to the comprehension of clauses in which words have different functions, and from there to complex sentences, sentence sequences and whole textual structures, with a continuous feedback existing among less and more complex units ... instead of operating with a conventional structural processing model we operate with a strategic model”(p. 10). The model The model evaluated in this study (figure 1) is based on the tenet that the variability observed in academic reading comprehension in English in Mexican university students can be accounted for by the interaction of two linguistic and psychological variables. The first dimension of the model (linguistic) is threefold and analyses the impact of (1) the reader’s strategies in his/her first language (Spanish), (2) his/her level of linguistic competence in the foreign language (English), and (3) his/her ability to perceive lexical transparency between both languages (cognate perception). On the other hand, the psychological dimension, which is also threefold, evaluates the influence of the reader’s cognitive style, locus of control and action control orientation on her/his construction of meaning from text. Conceptualization of the reading process The theoretical approach to reading comprehension that underlies this research is based on the Strategic Model of Discourse Processing developed by Van Dijk and Kintsch (1983). Discourse processing is conceptualized as a strategic and interactive process in which the reader constructs a mental representation of discourse in memory using both external information (the Figure 1: A multivariate model of linguistic and psychological determinants of reading. Original proposal. Following, a summarized revision of the variables incorporated in the proposed model is presented in order to provide a theoretical and research background to the reader. Determinantes psicolingüísticos da compreensão de leitura em inglês como língua estrangeira Reading comprehension in Spanish. The first variable proposed in the explanation of the reading performance of university students in English is their ability to strategically process textual information in their first language. Its integration into the model was based on theoretical considerations about the preeminent role of the first language in the acquisition of a foreign language. In such regard, Beaugrande (1984) underscored the decisive influence of the learner’s knowledge of L1 in learning a foreign language, and proposed that the mother tongue plays the role of a metamodel of language (of a set of expectancies regarding the way in which any particular language is organized), which according to him, would eventually adjust to accommodate the divergence among the L1 and the L2. Linguistic Competence in English. The importance of linguistic competence in L2 for reading comprehension has been vastly acknowledged, although perhaps underestimated in current L2 teaching methodologies. Specifically, Beck and Carpenter (1986) propose the existence of a “threshold level” of linguistic competence for reading, which may fluctuate according to specific task demands but, below which, a reader cannot construct meaning from text. Williams and Moran (1989), on the other hand, make reference to a “linguistic ceiling” for reading which, if extremely low, “would limit the ability of the reader to interact with the text” (p. 221). Perception of Lexical Transparency between L1 and L2. According to a conceptualization of reading as a strategic process, it was considered that the ability to perceive and exploit cognate relationships between L1 and L2 would become a most powerful strategy in reading, helping the reader to overcome limitations in his/her lexical repertoire. Such contention has also been endorsed by Beaugrande (1984) in the following terms: “If we presuppose the existence of a general memory store for both languages (the native and the foreign), all tactics that lead from elements in the mother tongue to their equivalents in the foreign language help to enhance both the efficiency and the search in memory improving familiarity ... the similarity supports learning enabling the transference of elements, assumptions, and processes already familiar” (p.10). Cognitive Style. Cognitive style is defined as the typical way to solve problems, think and perceive of a given subject. Research literature in the field makes reference to several categorizations of the construct including field dependence-independence, conceptual 23 tempo, and attentional style, among others. This study centers in the analysis of the first of these categories given its relevance to the study of reading as a complex problem-solving skill as well as the vast amount of experimental research relating cognitive style and reading comprehension. According to Witkin (in Pitts & Thompson, 1984), the field independent (FI) person has a greater ability to discover outstanding features in a complex field as well as to react to ambiguous stimuli in an analytical way, while the field dependent (FD) person visualizes patterns more globally. Field independence has also been associated with a greater articulation and competence in cognitive analysis and restructuring, while field dependence has been related to a more global approach and to a greater interpersonal competence. Research on the relationship between reading comprehension and cognitive style has shown that FI readers are more capable of making inferences than their dependent counterparts when confronted with tasks that demand an inferential interpretation from prose; that FD subjects tend to constrain their reasoning to real events, whereas FI individuals consider multiple alternatives (Linn, 1978); and that FD readers strongly rely on information in the text, not exploiting their previous knowledge as efficiently as FI independent subjects (Spiro & Tirre, 1980). Locus of Control. Locus of control is defined as a set of generalized expectancies that reflect consistent individual differences among subjects regarding the extent to which they perceive a contingency between their behavior and subsequent events. According to Strickland (1989), subjects with an internal locus of control perceive a contingency between their own behavior and subsequent events, whereas individuals with an external orientation have more probability of perceiving those events as resulting from fate, chance or circumstances beyond their personal control. Research literature in the field includes studies analyzing the relationship between locus of control and intentional and incidental memorization (Beaule & Mckelvie, 1986), and locus of control and academic achievement (Mwamwenda & Mwamwenda, 1986). Findley and Cooper (1988) report a literature review of 98 research studies analyzing the relationship between locus of control and academic achievement. According with their results, internal control beliefs showed to be consistently and significantly correlated with higher academic achievement. Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 21-31 24 Javier Vivaldo-Lima M.A., Miguel López-Olivas PhD. e Rosa Obdulia González-Robles M.Sc. Action Control. The construct of action control, advanced by Kuhl (1987), refers to a meta-cognitive process that mediates the execution of an action related to an intention of an individual. The process organizes and controls cognitive operations, such as selective attention and the amount and quality of information processed in a way that maximizes the congruence between intention and performance. The extent of action control evoked in a particular situation varies along the two ends of a continuum between action and state orientation. State-oriented cognitions do not evoke any tendency to action but can actively inhibit the expression of action tendencies as a result of a partial incompatibility between action and state orientation. That is, according to Kuhl (1987), in a complex problem-solving situation, as the amount of state-oriented cognitions increases, the likelihood that the individual performs an expected action tends to decrease. It is assumed that an action that demands complex preparatory planning cannot be carried out when the organism is state-oriented since part of the attentional capacity required is employed in state-oriented processes. Research studies focused on the analysis of the relationship between action control and reading comprehension are not reported in the literature. Nevertheless, based on a conceptualization of the reading process in L2 as a complex problemsolving endeavor, and on the results of preliminary exploratory studies conducted with Mexican university students, it was considered that the reader’s action control orientation may also contribute to explain the variability in L2. Research hypothesis As can be concluded from the previous revision of literature, the individual influence on reading comprehension of the linguistic and psychological variables incorporated into the model has been documented on the research literature. However, no previous attempts to integrate the two dimensions into a single, comprehensive model of reading have been reported. Therefore, the purpose of this study was to examine the explanatory power of a multivariate model of reading centered around two dimensions of analysis: the linguistic and the psychological. The model was translated into the following research hypothesis Reading comprehension in English in Mexican university students, native speakers of Spanish, is a function of their level of reading comprehension in Spanish (reading strategies in L1); of their level of linguistic competence in the foreign language; of their ability to perceive lexical transparency between both the first and the foreign language; of their cognitive style (field dependence vs. field independence); of their locus of control (internal vs. external); and of the type of action control orientation. METHOD Participants. Two hundred and eighty voluntary undergraduate college students from two Mexican public universities participated in the study, 118 males and 162 females. As to the institution of reference, 105 were from the Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM) and 175 from the Universidad Autónoma Metropolitana (UAM). Instruments. The evaluation of the sample was based on the administration of a battery of tests integrated by the following instruments: (1) Test of Discourse Processing in English as a Foreign Language (Vivaldo, 1994); (2) Test of Discourse Processing in Spanish as a First Language (Vivaldo, 1994); (3) Nelson English Language Test-Level 150 (Fowler & Coe, 1976); (4) Test of Perception of Lexical Transparency between English and Spanish (Vivaldo, 1992); (5) The Embedded Figures Test (Witkin, Oltman, Raskin & Karp, 1971); (6) Internality-Externality Scale (Romero-García & Pérez, 1983); and (7) Action Control Scale (Kuhl, 1990). Following a brief description of each instrument is presented. Tests of Discourse Processing Strategies in English and Spanish. Two equivalent tests for the evaluation of reading comprehension in English and Spanish were developed specifically for the study. The theoretical and methodological approach to the evaluation of reading comprehension was based on an extrapolation of the strategic model of discourse processing developed by Van Dijk and Kintsch (1983). The evaluation involved the analysis of the reader’s performance at the following major levels of discourse processing: schematic, macro propositional, local coherence and propositional. Given that a major methodological challenge of the study was to assure the equivalence between the evaluation of reading strategies in English and in Spanish, a major consideration in the design of these instruments 25 Determinantes psicolingüísticos da compreensão de leitura em inglês como língua estrangeira was to control for textual variables (text length, lexical density, conceptual density, structure, typographical clues). Multiple-choice items evaluating the reader’s performance on each of the four main levels of strategic discourse processing proposed by Van Dijk and Kintsch (1983) were developed for each text. Items were presented in Spanish in both tests in order to avoid additional task demands associated to the understanding of the evaluation items in the foreign language. Final versions of the tests were revised and piloted using teachers of English as judges. The final version for each instruments contained 45 items classified as follows: Sections 1 and 2. Macropropositional Level (Items 1-17) Included 10 multiple choice and 7 true-false items evaluating the ability of the reader to discriminate and integrate the main macro ideas in the text both at a global and at a local level. Section 3. Local Coherence Level (Items 18-25). Included 8 multiple-choice items centered on the evaluation of contextual referents within the text, as well as on the ability of the reader to follow the argumentative network in the text. Section 4. Propositional Level (Items 26-40). This section was based on a “cloze” format and focused on the evaluation of the reader’s ability to integrate syntactic, morphological, discursive, lexical and grammatical information at a propositional level. Test of Perception of Lexical Transparency between L1 and L2. The test measured the ability of the reader to perceive cognates (words sharing both similar form and meaning in two languages) within an academic text. The test was based on a short expository text about chemistry (“The Nobel Prizes”), published in Scientific American. The text was initially piloted with a group of experts who were asked to underline all English-Spanish cognates included in it, with exact registration made of their response times. From the previous procedure 134 words were categorized as cognates (those words selected as such by all the experts). On the other hand, and according to the mean response time between experts, a response time of 5 min. was established for the administration of the test (the idea being to obtain an indicator of the reader’s first impression during a first read of the article and not of a word-by word analytical process not natural during normal reading). The grading for the test ranges between 0 (minimum possible value) and 134 (maximum possible value). Action Control Scale. The Action Control Scale (Kuhl, 1991) is a 36-item instrument divided into three subscales (action control during performance, failure and decision taking). Each subscale is integrated by 12 items describing particular problem situations. For each situation the subject is given an alternative between two possible response alternatives, either A or B (one oriented towards action and the other towards an emotional state). The grading of the subjects’ responses for each subscale is based o the count of the total of action-oriented responses (between 0 and 12). In order to provide for effects associated with item presentation, items are distributed at random as well as options A and B. In the case of this study, only the subject’s scores for the AOF scale were taken into consideration. Levenson Internality-Externality Scale. (RomeroGarcía & Pérez, 1985). This instrument is centered on the analysis of the subjects´ locus of control within an internal-external dimension. It includes 24 Likert-type items ranging between 0 (totally disagree) and 6 (totally agree). The total internality score for the subject (IT) is obtained adding separately the scores for each one of the three subscales of the instrument. Procedure. Administration of instruments was carried out on a group basis and involved three twohour sessions per group. A total of 27 group sessions were held (9 groups analyzed). The administration of reading comprehension tests was carried out on the basis of a counterbalance procedure regarding the following criteria: (1) order of language evaluation (L1 or L2); and (2) version of exam administered (Text A or Text B in each language). Statistical analyses included a series of descriptive, correlational, and multiple regression analyses, an were conducted using the Statistical Package for Social Sciences (SPSS). RESULTS The final sample for the study included 280 undergraduate college students, 118 males (42.1%) and 162 females (57.9%). The mean age for the sample 23.06 years. 105 of the participants were from the UNAM whereas 175 of them were students at UAM. As to their field of studies, 208 (74.3%) were from the Division of Social Sciences and Humanities; 38 (13.6%) from the Division of Basic Sciences and Engineering; and 34 (12.0% from the Division of Biological and Health Sciences. Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 21-31 26 Javier Vivaldo-Lima M.A., Miguel López-Olivas PhD. e Rosa Obdulia González-Robles M.Sc. The descriptive analysis of the main variables under study yielded the following results: (1) Reading comprehension in English: mean score of 19.32, equivalent to 52/100, with an standard deviation of 4.99; (2) Reading comprehension in Spanish: mean score of 25.62 (equivalent to 69/100) with a standard deviation of 4.75; (3) Linguistic competence in English: mean score of 15.85 (equivalent to 31/100) with a standard deviation of 5.87; (4) Perception of lexical transparency between English and Spanish: mean score of 93.8 (equivalent to 69% of correctly identified cognates within the corresponding test) with a standard deviation of 19.46; (5) Cognitive style: mean score of 9.55 (slightly above de median of possible scores for such test) with a standard deviation of 4.72; (6) Locus of control: mean score of 20.24 (slightly above the median of possible scores for the corresponding test 20) with a standard deviation of 6.84, (7) Action Orientation (AOF subscale): mean score of 6.57 (slightly above the median of possible scores for the corresponding subscale of Kuhl’s scale=6.0) with a standard deviation of 6.57. Multiple regression analysis. The regression model originally proposed to explain the variability of reading comprehension in English (RCE) -Model 1estimated from the scores of the 280 subjects included in the sample under study, yielded the following results (Table 1): An F=25.46627 for the associated analysis of variance, indicating a significant regression of model 1 (p<0.01), a multiple correlation coefficient of 0.59904 (Multiple R), and a determination coefficient of 0.35885 (R. Square), indicating that the independent variables explained 35.88% of the variability in discourse processing in English under Model 1. RCE = b0 + b1RCS + b2 LCE + b3PLT + b4CS + b5LC + b6AOF + e...........(Model 1)1 Table 1: Multiple regression analysis. Model 1. 1 RCE = Reading comprehension in English RCS = Reading comprehension in Spanish LCE = Linguistic competence in English PLT = Perception of lexical transparency L1-L2 CS = Cognitive style LC = Locus of control AOF = Action orientation (failure) Determinantes psicolingüísticos da compreensão de leitura em inglês como língua estrangeira However, under Model 1 only three variables showed to be significant, namely, reading comprehension in Spanish, linguistic competence in English and perception of lexical transparency between L1 and L2 (p < 0.0000; 0.0000; and 0.05, respectively). Therefore, alternative models were examined, withdrawing each of the nonsignificant variables. Models with 5, 4 and 3 independent variables were tested. The model with three independent variables (RCS, LCE, and PLT) was the only one in which all explanatory variables were significant (Table 2 - “Sig T column”). RCE = b 0 + b 1 RCS + b2 LCE + b 3 PLT+ e...............................(Model 2) 27 hypothesized that they could have not a direct but an indirect influence on he discourse processing skills in English. That is, it could be the case that the psychological variables did not explain RCE in the presence of RCS, LCI and PLT due to the fact that they could be involved in the explanation of the variability of any of those variables. Hence, and as a first step in such direction, it was decided to analyze the influence of the reader’s cognitive style, locus of control and action control on his/her text processing skills in Spanish, based on the following considerations: (1) The knowledge of the first language is considered to be play the role of a metamodel in the acquisition of a foreign language Table 2: Multiple regression analysis. Model 2. The regression analysis for Model 2 (Table 2) yielded a multiple correlation coefficient of 0.59652, a determination coefficient of 0.35584 (that is, RCS, LCE, and PLT explained 35.584% of RCE’s variability under model 2, roughly equivalent to the percentage obtained under model 1), and an F value of 50.82 indicating the existence of a significant regression for model 2 (p<.01). Column “B” in Table 2 presents the estimators for the b0, b1, b2 and b3 parameters, from which the following fit model was derived (Prediction Model): RCE = 2.5829 + .38847 RCS + .27944 LCI + .0253 PLT............Prediction Model Nevertheless, and given the fact that the exclusion of the psychological variables from the original model contradicted to a certain extent research findings in the field suggesting their theoretical relevance, it was (Beaugrande, 1984); (2) The analysis of correlations among variables showed that the correlations between text processing skills in Spanish and the psychological variables (Table 3) was stronger than that between the latter variables and linguistic competence in English or perception of lexical transparency between L1 and L2. Hence, it was hypothesized that the psychological set of variables could exert a preliminary influence on reading comprehension in the first language which, in turn, could become a major determinant of reading comprehension in the foreign language. Accordingly, the following model was tested: RCS = b 0 + b 1 CS + b 2 LC + b 3 AOF + e...................................(Model 3) The results in Table 4 show a significant regression for Model 3 (F=10.29472, p<0.0001) with all three Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 21-31 28 Javier Vivaldo-Lima M.A., Miguel López-Olivas PhD. e Rosa Obdulia González-Robles M.Sc. Table 3: Analysis of correlations among variables. independent variables (cognitive style, locus of control and action control) significant (p<0.0256; p<0.0005 and p<0.0002, respectively). Furthermore, the three psychological variables explained 10.1% of the variability of reading comprehension in Spanish as indicated by the associated determination coefficient (R Square), with a multiple correlation coefficient of .31723 (Multiple R). The estimators for the model’s coefficients generated the following prediction model: RCS = 22.0089 + .20289 EC + .15381 LC .21925 AOF............Prediction Model Table 4: Multiple regression analysis - Model 3. Notice that the weights for cognitive style (CS) and locus of control (LC) were positive as well as the correlation coefficients between reading comprehension in Spanish (RCS) and both, cognitive style and locus of control (Table 5). Hence, it is suggested that these two psychological variables are directly proportional to reading comprehension in Spanish. On the other hand, both the coefficient of action control in the predictive model as well as its correlation with reading comprehension in Spanish were negative, indicating that such variable is inversely proportional to RCS. In short, in can be concluded that the last three variables in Model 1 (cognitive style, locus of control and action control) are not significant because what we Determinantes psicolingüísticos da compreensão de leitura em inglês como língua estrangeira actually have is a rather indirect effect of those variables a two-phase model which is explained as follows: PHASE 1 Reading comprehension in Spanish is a function of the reader’s cognitive style, locus of control, and action control orientation. Model 3 PHASE 2 Reading comprehension in English is a function of the reader’s level of reader comprehension in Spanish, linguistic competence in English, and ability to perceive lexical transparency between L1 and L2. Model 2 DISCUSSION AND CONCLUSIONS The main research hypothesis of this study was that that the variation in reading comprehension in English in Mexican university students was a function of the interaction of both linguistic variables (text processing strategies in L1, linguistic competence in L2 and perception of lexical transparency between L1 and L2) and psychological variables (cognitive style, locus of control and action control). However, and even though the influence of the aforementioned variables was partially validated from the series of regression analyses performed, it became evident that the explanation of the variability in reading comprehension in L2 was not straightforward (i.e., one that could be accounted for on the basis of the direct contribution of the complete set of originally proposed variables). Rather, such variability was partially explained on the basis of a two-stage process in which the influence of the three linguistic variables integrated into the model showed to be direct, whereas the influence of the three psychological variables was indirect (Figure 2). Figure 2: A preliminary explanatory model of text processing variability in English (L2). 29 Specifically, and as originally hypothesized, the readers’ ability to process academic written discourse in English has shown to be a function of three major predictor variables, namely, reading comprehension in Spanish, linguistic competence in the foreign language, and ability to perceive lexical transparency between the two languages. In such regard, a model has been validated that accounts for an initial 35% of the variance of reading comprehension in English taking as predictor variables the three linguistic variables incorporated into the original model. On the other hand, and even though the set of psychological variables did not show a direct, significant contribution in the explanation of reading comprehension in English, an alternative multiple regression analysis, which considered the readers’ text processing strategies in L1 as the dependent variable, revealed that the reader’s cognitive style, locus of control and action control orientation have a slight, though significant contribution, in the explanation of the variability of text processing strategies in L1. Hence, given the fact that reading comprehension in Spanish constitute in our model the most important predictor of the variability associated with discourse processing in English, and that the former is in itself partially explained by the complete set of psychological variables, a two-stage explanatory model of reading in LLL2 is suggested from this study based on the following considerations. First, it has been found that the ability of the reader to process written academic discourse in L1 is the most powerful predictor of his/her reading comprehension in the foreign language, maybe in the form of the metamodel of language proposed by Beaugrande (1984) paving the way for the extrapolation of reading strategies from L1 to L2. Second, text processing skills in English have also been explained by the reader’s level of linguistic competence in the foreign language, competence that would represent the linguistic knowledge base of the reader and that would play a major role in the successful construction of meaning from text. Third, the ability to perceive and exploit lexical transparency between L1 and L2 has also been found to constitute a determinant of text processing ability in the foreign language. Furthermore, it has been found that cognitive style, locus of control, and action control orientation function as indirect psychological mediators of reading comprehension in English, exerting an indirect impact on such variable via their influence on the reader’s discourse processing Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 21-31 30 Javier Vivaldo-Lima M.A., Miguel López-Olivas PhD. e Rosa Obdulia González-Robles M.Sc. ability in the first language, the first major predictor of L2 reading in our study. In such regard, it may be the case that the influence of psychological variables can be more strongly differentiated in the explanation of reading comprehension in L1 due to the fact that the reader would have already developed and internalized a sound spectrum of lexical, semantic, syntactic and grammatical decoding skills, thus making it more feasible to discriminate the differential impact of psychological variables, in themselves more distal to the central process under study. On the other hand, the impact of linguistic variables in the explanation of text processing variability in L2 would be expected to be more preeminent, since the readers’ lexical, syntactic and grammatical repertories would tend to be more limited as a result of the limited level of linguistic competence in the foreign language. Hence, upon constructing meaning from text the specialized processes associated with the linguistic dimension of analysis would constitute the strongest determinants in the construction of meaning from text. To conclude, the model validated from this study provides a preliminary, non-exhaustive explanation of an otherwise extremely complex phenomenon: the development of academic written discourse processing skills in a foreign language. In such regard, further research is needed in order to broaden our explanatory framework, integrating the analysis of the contribution of additional predictive variables not considered in this investigation which may include vocabulary knowledge in L2 (Nation, 1983), lexical access (Baddeley, Loggie, NimmoSmith & Brereton, 1985), previous knowledge (Afferbach, 1990); and socially-related factors (Parry, 1993; Street, 1993; Au, 1998) REFERENCES Kuhl, J. (1987). Feeling vs. being helpless: Metacognitive mediation of failure-induced performance deficits. 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Com o objetivo de apresentar uma perspectiva de como a matéria está sendo considerada na literatura internacional, foi analisada a produção arrolada na base bibliográfica PsycArticle, de 1987 a 2002. Somente 28 artigos consideraram a relação professor-estresse. Eles foram analisados quanto aos indicadores de progresso científico: autoria, tipo de trabalho e área específica de conteúdo. Há poucas pesquisas na área, elas são descritivas e produzidas por grupos de pesquisadores. Palavras-chave: Qualidade de vida; Educação; Grupo de pesquisa. TEACHER-STRESS: ANALYSIS OF SCIENTIFIC PRODUCTION Abstract In the educational context it is examined the teacher-stress association. The teacher’s stress is related with variables of academic environment, of out of the school and of the teacher. The impact of that association can be see in the teacher’s health, in his achievement and in the quality of the teaching-learning process. With the objective to present one view of how issue is being considered in international literature it is focused the production presented in the bibliographic base PsycArticle, from 1987 until 2002. Only 28 papers considered the relation teacher-stress. They were analyzed in relation to the progress indicators: authorship, kind of work and specific content area. There are few research in the area, they are descriptives and produced by scientists’ groups. Key-words: Life quality; Education; Group of research. INTRODUÇÃO E nfoca-se neste trabalho a questão do estresse no que concerne ao professor, com destaque para a produção científica. Não se pretendeu fazer uma revisão exaustiva em várias bases de dados, nem sequer verificar esta produção em um país específico (Brasil, por exemplo). Análises essas que poderiam ser objeto de dissertações e teses. Considerando a relevância do tema para a educação e para os que nela atuam, especialmente o professor, o objetivo foi explorar uma base de dados e ver como a produção arrolada se situava em termos de volume, temática específica e de indicadores científicos. Como é freqüente no Brasil o uso de stress, aqui se fará uma breve explicação da razão pela qual se optou pelo uso do vocábulo estresse. Stress é vocábulo inglês, 1 Universidade de Mogi das Cruzes e PUC-Campinas. surgido para nomear aspecto específico da Resistência de Materiais, que corresponde em português à pressão ou tensão. Por razões ainda pouco claras, referindo-se a Portugal, como diz Pereira (1999), mas que não está alheio ao “novo pretencionismo nacional de usar vocábulos ingleses, que sucedeu ao de usar vocábulos franceses – são épocas, são modos! O termo nunca foi traduzido, nem por médicos, nem mais tarde por psicólogos” (p. 245). As condições sociolingüísticas no Brasil são similares às de Portugal quanto à inclusão de termos estrangeiros na língua sem o cuidado de exame etimológico e sem verificar se já não existe o vocábulo com o conteúdo semântico pretendido. Possivelmente é até maior pela evolução da história nacional incluir um longo período 34 colonial. Todavia, o fenômeno de inclusão do inglês e do espanhol no Brasil, até mesmo descaracterizando a língua e com ela a nacionalidade é, possivelmente, mais intenso aqui. Entretanto, há um esforço imenso de estudiosos de lexicografia, da lingüística geral, da sociolingüística e dos dicionaristas para corrigir esta submissão e distorção lingüístico-cultural. Pressão e tensão foram muito usadas, estando dicionarizadas há muito tempo. Com o crescimento do uso de stress, os estudiosos do léxico e os dicionaristas brasileiros acabaram por incluir estresse entre os vocábulos que constituem a língua portuguesa falada no Brasil. Isto já ocorre há algumas décadas e pode-se verificar esta aceitação nos manuais de redação até mesmo de grandes jornais como O Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo. Todavia, é superior em questão de vocábulos e respeito à língua, especialmente como um dos símbolos nacionais, a inclusão do vocábulo nos grandes dicionários e sua aprovação pela Academia Brasileira de Letras como pré-requisito para seu uso. Por exemplo, em Houaiss, Villar e Franco (2001) o leitor é informado que, desde 1975 o termo estresse já estava oficialmente incluso no léxico, que sua origem é médica, indicando um estado de “percepção de estímulos que provocam excitação emocional e, ao perturbarem a homeostasia, levam o organismo a disparar um processo de adaptação da secreção de adrenalina, com várias conseqüências sistêmicas” (p. 1264). A ênfase é na descrição biológica dada à área de origem do termo. Lembra que o termo inglês é bem mais antigo aos atuais estudos. Surgiu depois do século XIV, visto como tensão e passa a ser considerado como distúrbio tanto fisiológico como psicológico causado por circunstâncias adversas, por volta de 1942. Na medicina foi incorporado pelos trabalhos do fisiologista norteamericano Walter Cannon (1871-1945) e do fisiologista canadense Hans Selye (1907-1982), o qual despontou nos anos 30, sendo mais divulgado no Brasil. Como variação ou sinônimo pode ser usado o termo estricção e o verbo vinculado é estressar. Dentre as conseqüências negativas do estresse aparecem: fadiga, adinamia, agitação, inadaptação. Quando o estresse é mantido dentro de um bom nível de controle as conseqüências podem ser positivas. Desde que haja possibilidade de correção, as pessoas manifestam prazer e produtividade. Em qualquer organização, inclusive nas escolas, é necessário gerenciar o estresse quando se pretende ter produtividade e satisfação. O clima Geraldina Porto Witter organizacional deve ser favorável para que o nível de tensão, as exigências contínuas e outros estressores não ultrapassem o ponto ideal. Estresse e docência No cenário educacional muitos são os que assumem papéis e funções em níveis diversos. Todavia, mesmo não ocupando altos cargos e não participando do processo principal de decisões, certamente é o professor uma das duas figuras mais importantes. A outra, sem dúvida, é o aluno. Embora se possa dizer que no processo interativo entre professor e aluno, um exerce influência sobre o outro, cabe ao professor influir mais no processo de formação e desenvolvimento dos alunos que lhe são confiados, sejam eles crianças do maternal ou mesmo universitários. Nessas circunstâncias, não é de estranhar a constante preocupação de administradores e de pesquisadores de diversas áreas em conhecer o professor. Entre os pesquisadores está o psicólogo que tem se ocupado em conhecer diretamente o professor, trabalhar com seus problemas, suas relações interpessoais, sua eficácia e eficiência enquanto profissional do ensino. Também não é de se surpreender que universalmente seja constatada a preocupação em aprimorar cada vez mais a formação do professor, quer gerando legislação específica, quer pesquisando intensamente a formação do referido profissional. Entre a problemática vivenciada e pesquisada no que concerne ao docente está a questão do estresse. Estresse (Witter, 2002b) é um problema mundial de saúde biopsicossocial que tem sido objeto de pesquisas descritivas e funcionais, que buscam as causas e as soluções, que se refletem nas programações de prevenção e de intervenção. Embora o estresse apareça como um dos problemas de saúde do trabalhador, este não tem sido objeto suficiente de pesquisas específicas. Há muito que pesquisar já que o estresse tem sido indicado como presente no quadro de problemas de saúde das várias profissões. Um destes profissionais é o professor. O contexto educacional pode gerar estresse em todos os que o partilham, resultante do próprio ambiente, das relações interpessoais, das tarefas etc. (Witter, 1997). Como isso ocorre em relação ao professor é o cerne do tema aqui enfocado, mas não se pode esquecer que se trata, na maioria das vezes, de pacotes de variáveis interligadas, podendo ocorrer de uma potencializar a outra. Certamente não é um quadro fácil de pesquisar ou mesmo de intervir. Professor-estresse: Análise de produção científica 35 Programas (tanto de prevenção como de intervenção) para redução dos níveis de estresse procuram manipular as variáveis geradoras do problema para controlar o efeito das mesmas. Daí a relevância da pesquisa para detectá-las e, posteriormente, das pesquisas de avaliação dos referidos programas. No caso do professor, atue ele nos primeiros níveis de ensino ou mesmo no ensino superior, há variáveis similares que podem ter formas e intensidades diferentes, mas que estão presentes em todos os níveis. Algumas estão presentes em qualquer profissão, como é o caso do sistema administrativo ou organizacional. O modelo de administração adotado na escola propicia a ocorrência de estresse na mesma, principalmente no caso do professor. Considere-se, por exemplo, uma organização de sistema aberto. Na entrada desse sistema estão as pessoas (inclusive o professor), a informação, os materiais e a energia. As pessoas precisam estar formadas e terem treino freqüente para atualização de modo a convergirem suas ações para os objetivos da instituição escolar. A informação fornece uma rede de apoio social para a liderança e para a atualização profissional. Os materiais são elementos de base para a atuação. A energia é despendida pela equipe profissional para que metas e objetivos específicos sejam alcançados. No centro da organização é preciso considerar variáveis que levam ao envolvimento das pessoas (variáveis físicas, biológicas, psicológicas, laboriais, culturais) e o que ocorre em outras organizações similares. Na saída do sistema tem-se: trabalho e produção, estresse e satisfação/insatisfação. Na escola, o trabalho mais diretamente vinculado à produção é o realizado pelo professor, daí a maior pressão do sistema incidir sobre ele. O resultado da produção é constituído pelo que se constata no aluno em termos do desenvolvimento de competências e de habilidades estabelecidas e interligadas nos objetivos da escola. Esta situação pode gerar muito estresse no professor. O sistema produz satisfação e insatisfação nas pessoas, se a insatisfação for preponderante os níveis de estresse tenderão a subir e as conseqüências terão reflexo em todo o sistema (Pereira, 1999). Cabe ao administrador escolar criar parte das condições que garantam a cultura organizacional. É importante que as variáveis organizacionais sejam controladas para reduzir o estresse. Outras variáveis escapam ao controle do administrador direto (diretor, coordenador). Estão na esfera do governo ou decorrem de variáveis pessoais do professor (sua formação, sua personalidade, seu controle de estresse, fase de desenvolvimento pessoal em que está, seus objetivos pessoais, sua vida familiar etc.). Como lembra Pereira (1999) é indispensável que as organizações entendam o ajustamento das pessoas na organização, a sua interdependência, a produção, a satisfação, as tensões. A ideologia da gestão deve cuidar de um “contrato psicológico” pelo qual se ajustam as expectativas das pessoas envolvidas, se estabelece a motivação das mesmas e são criados esquemas reforçadores. Hoje, é ilusório manter o velho adágio de que “o cliente tem sempre razão”. Há muito mais a se considerar e o trabalhador é fundamental no confronto das relações organização-clientela. Na escola também é preciso ter este cuidado, mesmo quando se trata de escola pública, talvez até mais aí, no caso brasileiro, dadas as condições atuais da escola pública nacional. Garantir condições motivadoras assegura a manutenção do estresse em nível adequado ao bom desempenho do docente. É necessário assegurar, por exemplo, condições para auto-atualização (implica, pela ordem, em garantir o atendimento de necessidades universais: fisiológicas, de segurança, social e pessoal, de amor/paternal – estar com os outros, de estima, de saber e conhecer) (Maslow, 1954, 1962). A organização que viabiliza a auto-realização de seus docentes contará com professores com melhor percepção da realidade envolvente, melhores relações com esta realidade, mais independentes, mais criativos, mais envolvidos com a solução dos problemas da organização e do ensinoaprendizagem do que voltados para seus interesses pessoais. Dessa forma, tendem a não apresentar estresse acadêmico-institucional elevado e terão melhor desempenho. Quando a escola é motivo de constante frustração para o docente as conseqüências tendem a ser negativas. Ocorrendo a frustração, a impossibilidade de atingir metas ou objetivos pessoais, gera-se o estresse e outros comportamentos negativos como a agressão, a fuga, a esquiva (faltas, absenteísmo, doença), persistência em respostas inoperantes, desvio de atenção e de compromisso, negação do fato, mudanças constantes de plano de ação e de estratégia, falta de adesão ao projeto pedagógico, crítica pela crítica, oposição descabida etc. O gestor acadêmico pode contribuir para melhoria do desempenho dos docentes reduzindo o impacto de variáveis que geram estresse ou cuidando de potencializar as que garantem um nível adequado do mesmo. Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 33-46 36 Como lembra Pereira (1999), há condições para recorrer a aspectos característicos pré-existentes na cultura nacional, na comunidade ou mesmo na classe ou grupo a que a empresa está vinculada. Segundo o referido autor, podem ser considerados aspectos como os a seguir enfocados, feita a adaptação para o meio escolar pela autora do presente artigo. Identidade Pessoal e Profissional dos docentes e como elas se relacionam em geral com a organização escolar e, em particular, com a escola em que atua. Isso pede que o diretor conheça o docente com que trabalha de forma técnica-científica. Para tanto, precisa contar com o apoio de um Psicólogo Escolar competente que também o assessore no planejamento do clima organizacional otimizando o uso das características pessoais. Autonomia Pessoal é necessária, deve ser estimulada e oferecidas oportunidades para que os docentes atuem com autonomia, responsabilidade, criatividade e criticidade, porém, de acordo com o projeto pedagógico da escola em cuja elaboração devem ter participado. No sistema educacional brasileiro muitas são as barreiras formais e informais encontradas neste aspecto. Até mesmo os gestores usufruem de poucas oportunidades reais neste sentido, sendo sufocados pelos procedimentos burocráticos e geradores de índices elevados de estresse tanto para os diretores como para os docentes. A centralização, a determinação de usos de modelos teóricos e procedimentos específicos reduzem a autonomia em detrimento da qualidade. Estrutura organizacional é um aspecto que deve ser flexível, aberta, dispor de práticas diversificadas e rede de comunicação eficiente. Em escolas particulares, em tese, é mais fácil dispor de modelos administrativos menos burocráticos, modernos e mais facilmente renováveis do que ocorre na escola estatal. No Brasil a estrutura organizacional, com a municipalização do ensino fundamental, poderia alcançar esta condição mais facilmente se tivesse ela própria mais autonomia da estadual. Rede de Apoio Social é uma característica que se espera existir no âmbito escolar propiciando ao docente a expectativa de ser apoiado nas circunstâncias em que vivencie dificuldades pessoais ou profissionais. Esta rede deve ser estimulada pela equipe técnica, especialmente no que concerne às habilidades e competências relevantes para o êxito do processo ensino-aprendizagem. Face ao rápido e mutável avanço nas tecnologias educacionais, as condições de formação e de atualização dos docentes precisam ser cuidadas para não gerar Geraldina Porto Witter estresse negativo alto que vai se evidenciar no contexto da sala de aula. Mas os problemas pessoais, inclusive os de vida privada, precisam também do apoio aqui referido. Psicólogos escolares, grupos de trabalho e outras possibilidades podem servir neste contexto. Estilo de liderança é entendido como forma pela qual a chefia direciona ou comanda a escola, inclusa está a liderança natural. O estilo de liderança espera-se que não gere uma cultura de pressão, punitiva, com exagero de demanda, de regras e de normas. Novamente, o psicólogo escolar com base na psicologia organizacional ou o psicólogo organizacional atuando em projeto escolar específico podem ser de grande valia para os diretores. Sistema de recompensa é um aspecto que deve existir em toda organização para garantir o desenvolvimento pessoal e profissional, a adesão, a organização e o clima adequado. Usualmente, em especial no que concerne ao professor, em todos os níveis, não há realmente, no Brasil, um sistema de recompensas ou reforços. Só o salário é ineficiente para se falar em sistema. No Estado e nas instituições particulares, encontram-se alguns incentivos, mas como tendem a não ocorrer concomitantemente ao desempenho perdem poder como reforçadores potenciais; além disso, tendem a estar associados apenas ao lado financeiro. Como exemplo podem ser lembradas as vantagens de qüinqüênios, as mudanças salariais decorrentes de obtenção de título (mestre, doutor etc), raramente contingentes. Escapam ao gestor as possibilidades de melhorar estes aspectos e usualmente fazer que sejam reforçados em contiguidade com a resposta. Implanta-se a ineficiência. Todavia, o gestor pode cuidar para que outros reforçadores formem um sistema provendo reconhecimento e outros reforços positivos para os docentes, para o que precisa conhecer o que é realmente reforçador para os professores. O Psicólogo Escolar pode ajudar aplicando instrumentos específicos para detectar os reforçadores potenciais aplicáveis com êxito provável em cada caso. Isto pode ser de grande valia no planejamento das contingências administrativas e do estabelecimento do sistema de recompensas. Sistema de Gestão de Conflito é outro aspecto que também deve ser preocupação dos gestores acadêmicos já que, em situação de conflito, sempre se tem altos níveis de estresse com sérios efeitos no clima da escola, no trabalho com e dos alunos (quanto mais alta a escolaridade, pior o resultado), na liderança etc. É preciso que os conflitos sejam resolvidos com prontidão, justiça (transparente e com regras explícitas) e eficiência. Professor-estresse: Análise de produção científica 37 Valorização do Risco é um cuidado que se precisa ter para assegurar a renovação metodológica, tecnológica, conceitual e outras. Professores que se envolvem em novas propostas, que se renovam, precisam de apoio, de reforço para se manterem inovadores, por terem assumido o risco do progresso. Ao mesmo tempo é preciso cuidar de reforçar sua responsabilidade, criatividade e cuidado ao assumir risco, tendo por lastro o conhecimento científico, e experimentar as inovações dentro dos parâmetros da metodologia científica. Nem sempre estes cuidados são tomados e valorizados. Surgem resultados negativos cuja origem é desconhecida, emerge o estresse e o quadro se complica. Símbolos são itens a serem valorizados como forma de dar maior coesão ao grupo. Isto implica em desenvolver e manter ritos, cerimônias, metáforas, festas informais e a própria história da instituição, de cada escola em particular. Valores da sociedade, da comunidade e da própria escola precisam ser cuidados de modo a não se constituirem em controles repressivos. É importante que os valores contribuam para integrar as pessoas e para aumentar a eficiência do grupo. Estratégias de comportamento devem ser usadas para que ocorram afirmação pessoal e ativismo em favor dos objetivos da escola. Diversidade Cultural - não se pode ignorar que muitas escolas convivem hoje com grande diversidade cultural, o que pode gerar conflitos, inadequações metodológicas, valores divergentes. Isto pede a gestão da diversidade cultural e a formação do docente para lidar com ela, conhecendo tecnologias de ensino compatíveis. Caso contrário, poderá ficar alienado e prejudicar sensivelmente o aluno diferente, ou ficar muito estressado face a sua incompetência para responder adequadamente à situação. Isto conduz a outra base importante do estresse do docente - o contexto da sala de aula. Na sala de aula o professor se depara com alunos com várias características pessoais distintivas e oriundos de famílias cujo ambiente é muito variado em leiturabilidade, valores, clima, estrutura, relações interpessoais etc. Não estando adequadamente preparado para tanto acaba enfrentando uma situação de alta pressão. O estresse atinge níveis que tornam seu comportamento ainda mais inadequado à situação. Não tendo aprendido a controlar o estresse, o problema evolui para um quadro ainda mais negativo. Forma-se um círculo vicioso e se impõe a necessidade de apoio ao docente. Um Psicólogo Escolar competente torna-se de grande valia, por um lado, ensinando o professor a lidar com situações estressantes e ajudando-o a controlar os efeitos negativos do estresse. Por outro lado, informando-o e capacitando-o no uso de procedimentos e tecnologias de ensino mais compatíveis com a diversidade cultural que encontra na sala de aula (Elliot & Dupuis, 2002). Assim, o estresse do professor tem muita relação com a sua formação acadêmica, que deve capacitá-lo muito bem em Psicologia em tópicos diversos como: tecnologia do ensino, capacidade de planejar e garantir sua educação continuada, conhecimento científico das variáveis que influem em docentes e alunos, e mesmo em conhecimento de metodologia científica para que possa trabalhar com mais segurança, assumir os riscos nas inovações, testando-as adequadamente etc. A sala de aula é um laboratório e o docente deve ser um pesquisador capaz de contribuir para que se conheça cada vez mais sobre o que nela ocorre, seus personagens, o ensino-aprendizagem, as relações interpessoais, os materiais, a organização, a ergonomia etc. O professor deve estar preparado para trabalhar com todos estes aspectos, estes pacotes de variáveis, usando estratégias comportamentais que evitem os efeitos negativos dos estressores que estão associados a esta variedade de situações. Precisa ter competência para pesquisar a realidade em que atua e avaliar cientificamente o impacto de sua ação. No Brasil, a preocupação com a pesquisa sobre estresse vem crescendo e apresentando resultados muito úteis e interessantes (Lipp, 1996) e a preocupação em levar conhecimentos específicos aos professores gerou O stress do professor (Lipp, 2002) em que aspectos gerais e específicos do estresse são tratados, tendo por foco desde o docente alfabetizador ao professor da pósgraduação. Sendo tão complexa a relação estresse-professor e tão importante a resolução dos problemas decorrentes, é natural que se espere uma produção científica que ofereça base para a atuação. Alguns aspectos desta produção são enfocados a seguir. Estresse/ Professor: produção no PsycArticle Seria de se esperar que a produção científica focalizasse a promoção da saúde do professor, a prevenção de problemas como o estresse, sua satisfação com o trabalho, a remediação ou solução de seus problemas biopsicológicos em programas de intervenção, bem como a avaliação, tanto dos programas de prevenção como Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 33-46 38 Geraldina Porto Witter de remediação. Além disso, espera-se que sejam trabalhadas as conseqüências do estresse do professor para ele próprio, para o aluno, para o processo ensino-aprendizagem para a escola como um todo (Witter, 2002a). Alguns destes aspectos são destacados nos trabalhos teóricos organizados por Lipp (2002). A fim de dispor de um quadro de referência sobre a produção científica envolvendo o professor e o estresse foi feita uma pesquisa no PsycArticle, base de dados gerenciada pela American Psychological Association, que cobre a publicação efetivada via 47 periódicos de maior relevância na Psicologia. A solicitação foi feita tendo por quesito a relação professor-estresse, cobrindo o período de 1987 até 2002 (janeiro/fevereiro). Foram localizados apenas 30 documentos indicando que, a despeito de se reconhecer a importância da matéria, ela tem sido pouco pesquisada. O quadro revelou-se ainda mais negativo quando se constatou que dois textos não diziam respeito à temática em estudo neste trabalho conforme é explicitado a seguir. Embora muito interessante, o trabalho de Townsend, Hicks, Thompson, Wilton, Tuck e Moore (1993) tem quase nada em comum com o tema aqui enfocado. Refere-se à ênfase dada pelos professores na introdução e conclusão de textos informativos e argumentativos, cujas estruturas retóricas influem na compreensão do texto. Verificaram a qualidade das conclusões. Possivelmente a recuperação na base de dados incluiu o trabalho de Townsed e cols. (1993) porque no resumo aparece: “Teachers... stress the importance of...” Pelo exposto, excluiu-se da análise o trabalho aqui referido. Também foi excluído da análise um trabalho sem autor que apresenta síntese dos currículos dos homenageados de 1993 pela APA, ou seja, Meehl e Spielberger, sem relação com o aqui estudado. A inclusão deveu-se à ênfase (stress) do evento nas realizações dos homenageados. Essas exclusões atestam problemas ainda não solucionados pelos cientistas da informação e bibliotecários na alimentação das bases de dados. Servem também de alerta aos pesquisadores que recorrem freqüentemente às bases bibliográficas quanto a possíveis distorções no processo de inclusão de textos nas bases. Dessa maneira ficou-se com 28 trabalhos para serem analisados. Os mesmos compreendem o período de 1988 até 2001, já que em 1987 nenhum trabalho foi incluído na base pesquisada. Considerando que, em metaciência, a autoria é um bom indicativo de desenvolvimento, que a autoria múltipla é forte indício de grupos de pesquisa, com maior potencial de avanço que o trabalho isolado, foi feita a análise deste aspecto. Também enfocou-se o gênero dos autores. Posto que a docência é uma profissão predominantemente feminina, pareceu de interesse verificar se a mulher também prevalece no campo da pesquisa sobre o professor. Os resultados aparecem na Tabela 1. Apenas sete trabalhos eram de autoria única sendo os demais de autoria múltipla, portanto é significativa a concentração nos trabalhos realizados em equipe (χ²o= 40,96, n.g.l.=1, χ²c=3,84). Este resultado é positivo e na direção esperada em termos de desenvolvimento científico. Não houve necessidade de cálculo quanto ao gênero já que foi igual no total, ou seja, 28 homens e 28 mulheres produzindo na área, além de 10 autores para os quais não foi viável identificar o sexo. Foi feita também uma análise da temática enfocada nos referidos artigos, começando pelos participantes estudados. Em 15 trabalhos, além do professor, os alunos também mereceram a atenção dos pesquisadores, por vezes sendo o alvo principal; em cinco os pais também participaram, além de outros personagens menos freqüentes. O professor propriamente dito foi objeto de atenção direta ou indireta nos 28 estudos, justificandose assim a inserção do trabalho na base. Tabela 1: Freqüência da autoria dos trabalhos sobre Estresse e Professor (1987-2002). Professor-estresse: Análise de produção científica 39 A quase totalidade dos trabalhos constituiu-se de estudos descritivos da relação de estresse aqui focalizada, apenas dois enfocaram o efeito da atuação do docente e em várias pesquisas os professores serviram como juízes avaliando o estresse ou o resultado de condições estressoras ou remediativas deste problema nos alunos. Face ao número limitado de trabalhos, foi possível fazer uma síntese dos mesmos para melhor explicitação da temática para os leitores. No primeiro bloco aparecem os textos em que o docente assume o papel de avaliador, no segundo os trabalhos que enfocam mais diretamente o estresse do professor. Professor-avaliador O professor-avaliador é integrante dos estudos a seguir descritos. Alguns deles enfocam o estresse póstraumático, sendo que o docente também pode aparecer como membro da equipe de intervenção. Considerando que desastres naturais são eventos que geram estresse pós-traumático com conseqüências psicológicas, Olson (2000) lembra que, a partir do começo da década de oitenta, do século passado, surgiram serviços especializados na área (Disaster Mental Health Services – DMHS) sendo hoje, nos USA, a 5ª maior divisão entre as várias organizações de voluntários, sendo treinados pela Cruz Vermelha Americana. Em 1982, a American Psychological Association recrutou psicólogos para atuar nos grupos de DMHS e, em 1991, em conexão com o APA’S Disaster Response Network, criou em 50 estados grupos treinados para atuar nos DMHS. Esses grupos reúnem e treinam outras pessoas. O autor relata rapidamente a atuação de um desses grupos envolvendo alunos e professores que atuaram em um grande desastre. Não há qualquer informação mais relevante do que o fato de docentes terem se envolvido, após o treinamento, na avaliação e no atendimento ao público estressado. O estresse pós traumático em 92 crianças (da 4ª série do 1º grau) que vivenciaram o Furacão Andrew foi estudado por La Greca, Silverman e Wassertein (1998). Dispunham de medidas anteriores ao evento indicando ansiedade (auto-relato), avaliação de problemas comportamentais (ansiedade, desatenção, comportamento) feita por colegas e professores. Decorridos 3 e 7 meses após o desastre repetiram as medidas. Os sintomas de estresse pós-traumático pela exposição ao desastre natural ainda estavam presentes e afetando as habilidades acadêmicas. Aqui o professor aparece apenas como um avaliador do estresse na criança. A mesma posição como participante-juíz ocupam os professores que participaram do trabalho de Hahn e DiPietro (2001), que avaliaram às cegas o comportamento de mães de crianças resultantes de fertilização artificial (N=54) e mães de crianças concebidas normalmente (N=54). Os alunos tinham entre três e sete anos de idade. Os professores consideraram as mães do primeiro grupo mais amorosas, mas não superprotetoras ou impositivas. Elas avaliaram seus filhos como tendo menos problemas do que as crianças do grupo de controle. Cresce a concordância de que, no atendimento (clínico ou não) de uma criança ou de um jovem, é necessário contar com informações de várias fontes, estabelecer a validade das mesmas para superar obstáculos técnico-científicos e profissionais. Há muita controvérsia sobre a validade das diversas fontes de informação. Youngstrom, Loeber e Stouthamer-Loeber (2000) lembram que clínicos e pesquisadores tendem a perceber o autorelato feito por jovens como a fonte de menor relevância para avaliar hiperatividade, desatenção, oposição. Neste caso os professores parecem oferecer dados mais seguros. Todavia, quando se trata de conhecer os problemas internos, os próprios jovens e os empregados que cuidam deles são melhores que os professores. Na opinião dos autores houve falhas na avaliação. Isto levou os autores a estudarem os padrões de concordância entre pais, professor e aluno adolescente no externalizar/internalizar seus problemas. Examinaram 394 tríades de jovens masculinos, seus cuidadores e professores quanto à concordância no uso de uma escala que avalia problemas de jovens. Os professores relataram poucos problemas de internalização e exteriorização, menos do que fizeram os jovens e os seus cuidadores. Os professores avaliaram de forma diferente em função do grupo étnico do aluno. Parece haver um crescente acordo entre os pesquisados quanto à ocorrência de depressão e estresse no que concerne ao nível dos problemas, mas não aos padrões específicos dos sintomas. Os professores no presente estudo atuaram novamente como juizes e o foco foi sua competência como avaliador. Gillmore e Guenwald (1999) discutem o possível viés de avaliação feita pelo próprio aluno, já que professores e pesquisadores freqüentemente consideram que os alunos não fazem boa auto-avaliação, nem avaliam corretamente as condições de ensino. Revendo a literatura científica sobre a matéria, mostram que tal conclu- Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 33-46 são é pelo menos apressada, em certos casos, pois não há dados consistentes. Lembram que a avaliação pelos alunos pode ser útil para o professor melhorar seu ensino, por exemplo, evitando indicar procedimentos estressores, exagero de leitura, pouco tempo para análise de matéria mais difícil. Trata-se de trabalho teórico em que o papel de avaliador assumido pelo professor e pelo pesquisador é o foco principal. Webster-Stratton (1988) estudou 120 mães, 80 pais e 107 professores. Seu objetivo era comparar como percebem problemas de comportamento da criança e ajustamento do casal. Encontrou correlações entre como professores e pais avaliam as crianças, mas não com o como as mães o fazem. Mães estressadas ou deprimidas devido a problemas conjugais tenderam a perceber mais comportamentos desviantes entre seus filhos e tenderam a interagir com eles de forma mais autoritária e crítica. Os pais apresentaram um comportamento diferente, perceberam os filhos e tenderam a se comportar em relação a eles de maneira pouco afetada pelo seu próprio ajustamento pessoal, ou seja, são menos afetados pelas suas variáveis pessoais, nos seus julgamentos e nas suas relações com os filhos. Foram menos subjetivos. Possivelmente, isto os aproximou mais das avaliações do docentes. McKinnon-Lewis (1994) examinou a extensão em que comportamentos hostis e coercitivos das mães e filhos estão associados aos índices de agressão, aceitação e competência social. Recorreu à avaliação pelo professor. Selecionou 104 mães de crianças entre 7 e 9 anos que tinham apresentado agressão em sala de aula. Os meninos, que vivenciaram vários eventos estressantes e eram coercitivos com suas mães, foram avaliados pelos professores como sendo mais agressivos e menos competentes do que seus colegas. A agressão parece ser uma resposta mediadora entre o estresse vivenciado pelo aluno e seu comportamento em relação aos colegas. Novamente, é o papel de docente-avaliador o assumido pelo professor em busca de conhecer o estresse do aluno. Comportamentos antissociais no ambiente de trabalho estão cada vez mais freqüentes incluindo-se aqui as escolas. Sinclair, Martin e Croll (2002) examinaram os estímulos antecedentes e os conseqüentes a comportamentos antissociais apresentados em uma escola pública urbana e compararam professores vs não professores, escola média vs superior vs fundamental quanto à perspectiva de perigo face ao referido tipo de compor- tamento. Verificaram que a avaliação de possibilidade de perigo, da relação presença de comportamento antissocial e satisfação no trabalho, influem indiretamente na intenção e mudança de trabalho, havendo consistência em todos os níveis de escolaridade. Recomendam que os professores sejam ouvidos e sejam tomadas medidas administrativas que garantam a segurança, uma vez que os docentes se mostraram avaliadores muito competentes. Uma outra pesquisa em que o professor foi o avaliador de comportamentos de seus alunos é a realizada por Alpert-Gillis, Pedro-Carrol e Cowen (1989). Nesse trabalho, crianças filhas do divórcio foram submetidas a um programa em que aprenderam a buscar e a atuar como grupo de apoio, expressar seus sentimentos em relação ao divórcio, compreender os conceitos relacionados a esta situação, desenvolver habilidades para resolver problemas e foram fortalecidas as percepções de si mesmo e da família. As crianças treinadas foram comparadas com um grupo não treinado de filhos do divórcio e com crianças de lares completos. Os professores avaliaram o comportamento das crianças antes e após o treino. Verificou-se que no grupo experimental houve progresso em competência social alcançando nível de significância pré-estabelecido, o que não ocorreu nos dois grupos de comparação. Verificaram progresso em todos os grupos para tolerância à frustração, assertividade e habilidades sociais no contato com os pares. Todavia, só para o grupo experimental em todas as avaliações houve progresso que atingiu o nível de significância. Saigh (1989) também recorreu aos professores para avaliarem as crianças de sua pesquisa, tomando a avaliação feita pelos mesmos como critério. Os docentes usaram a Conners Teacher Rating Scale. O pesquisador trabalhou com três grupos: 231 crianças com estresse pós-traumático, 32 com fobia simples e 35 sem problemas clínicos (grupo de controle). Encontrou diferenças de gênero e grupo, sem efeito de interação, sendo mais grave a situação dos sujeitos com estresse pós-traumático, seguido dos fóbicos que também eram mais problemáticos que os de controle, mas sem serem significantemente diferentes. Outra vez a relação professor-estresse se restringe ao papel de avaliador. A habilidade preditiva de professores, mães e pais quanto à presença e à evolução de problemas comportamentais em pré-escolares, em decorrência das relações ou comportamentos dos pais (gênero masculi- Professor-estresse: Análise de produção científica 41 no), foi testada comparando-se pais com e sem problemas. Os dois grupos de pais diferiram estatisticamente em estresse, sintomas psicológicos, atitudes parentais, envolvimento positivo e tipo de disciplina. Só não diferiram em apoio social. Os professores avaliaram corretamente a severidade do problema clínico nos alunos, um ano antes perceberam o estresse dos pais e os seus sintomas psicológicos, bem como quando tinham um envolvimento positivo com os filhos. As mães apresentaram autorelatos com melhor previsão clínica, o mesmo não ocorrendo com os pais. Os professores-avaliadores mostraram alta eficiência na avaliação do estresse infantil, sendo superiores aos pais e mães. Caplan, Weissberg, Grober, Sivo, Grady e Jacoby (1992) recorreram a avaliações feitas por docentes para analisar o efeito de um programa de 20 sessões aplicado a alunos do 6º e 7º graus, num total de 282, viciados em álcool e outras substâncias. O programa enfocou: manejo do estresse, auto-estima, solução de problemas, informação sobre saúde e drogas, assertividade e redes sociais. As avaliações feitas pelos professores mostraram que os sujeitos progrediram na resolução de conflitos com os colegas, controle da impulsividade, avanço na popularidade pessoal. Concordam com resultados de outras pesquisas quanto à competência avaliativa do professor. Trabalho similar realizado por Mesman e Koot (2000) comparou avaliações feitas por professores e pais para analisar a avaliação feita pelos docentes em relação aos avanços quanto a aspectos psicopatológicos. Encontraram similaridade nas avaliações de um modo geral. Na mesma direção os resultados do trabalho de Bates, Marvinney, Kelly, Dodge, Bennett e Pettit (1994) apareceram. Os autores compararam as histórias de 589 crianças relatadas pelos pais antes de entrarem na préescola com avaliações feitas por professores, colegas e observadores quanto ao afastamento social. Os professores novamente aparecem como bons avaliadores. Outro estudo em que o professor foi apenas avaliador dos sujeitos principais (adolescentes) foi o realizado por Iram e Cole (2000). Participaram professores, colegas e os próprios adolescentes. Os adolescentes se auto-avaliaram quanto aos eventos estressores que os afetavam e como percebiam sua competência, sendo esta também avaliada pelos professores e colegas quanto a sintomas de depressão. Os eventos estressantes negativos estão relacionados com a depressão. A competência autopercebida serve de mediador, mas não de moderador desta relação. Eventos negativos permitem prever mudanças na forma como o adolescente percebe sua competência. Quando há redução na competência pode-se prever o aparecimento de depressão, que pode ser diminuída quando se controla a competência autopercebida. Os professores foram avaliadores efetivos. Allison e Furstenberg (1989) estudaram o efeito da dissolução do casamento em 1197 crianças, variando em sexo e idade. Para tanto recorreram aos pais, professores e à própria criança para relatarem a influência da separação nos problemas comportamentais, estresse psicológico e desempenho acadêmico. De um modo geral, a dissolução do casamento teve efeitos negativos em todas as áreas, tendendo a ser pior entre as crianças mais jovens e entre as meninas. Houve concordância entre as avaliações. Stipek, Weiner e Li (1989) recorreram a avaliações de professores para comparar com as auto-avaliações de universitários quanto às relações atribuições-emoções e para selecionar alunos mais e menos esforçados, comparando grupos de universitários norte-americanos e chineses. Os resultados referem-se exclusivamente aos dados dos alunos. A partir dos cinco estudos realizados, concluíram que os chineses destacaram o esforço como a causa da realização alcançada como resultado, mas os dados não são conclusivos quanto à teoria da atribuição. Este é mais um trabalho em que o professor aparece como eficiente juiz avaliador de emoções de seus alunos e não como portador de estresse. Em resumo, os trabalhos descritos mostram que o professor é um avaliador competente no que concerne a aspectos relacionados com as emoções e o estresse em seus alunos e respectivos familiares. Todavia, é necessário cautela na generalização, uma vez que são docentes de países nos quais o professor tem formação em nível superior e há exigências de pós-graduação em muitos deles. Estresse e Professor O segundo grupo de trabalhos é composto pelos que enfocaram mais especificamente o estresse e as condições estressoras relacionadas com o professor, como se evidencia nos trabalhos arrolados a seguir. Ostroff (1992) investigou as relações entre satisfação do trabalhador, atitudes relacionadas ao trabalho (comedimento, ajustamento, estresse psicológico e desempenho organizacional). Os dados foram colhidos em 298 escolas secundárias e os instrumentos aplicados em Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 33-46 42 13.808 professores que nelas trabalhavam. A análise correlacional mostrou significância nas relações de estresse com as outras variáveis estudadas. Isto tem implicações para o gerenciamento das condições de ensino. É necessário garantir condições de adaptação que atendam à variedade interna e externa, assegurando melhores condições de eficiência aos professores no seu trabalho. Um estudo longitudinal foi realizado por Sehonfeld (1996). Trabalhou com 250 professores tendo por objetivo analisar a influência da afetividade negativa no autorelato de resultados psicológicos e de medidas ambientais. Os resultados mostraram que as medidas ambientais estavam moderadamente relacionadas com sintomas depressivos pós-trabalho e que a satisfação no trabalho em todas as sub-amostras relacionou-se com as medidas ambientais. A motivação mostrou-se correlacionada na sub-amostra de professoras brancas, mas não nas negras e de origem hispânica. As correlações e coeficientes de regressão foram altos. Os resultados sugerem que não houve distorção da relação estudada nos autorelatos de sintomas depressivos, de satisfação e de motivação. A afetividade negativa é variável relevante no estresse manifestado especialmente pelas professoras brancas. A pesquisa de Parkes (1990) teve por finalidade testar a hipótese de que o enfrentamento direto pode moderar os efeitos das relações entre estresse no trabalho e saúde mental resultante. Entretanto, a supressão (forma focal de enfrentamento) pode ter um efeito geral no resultado. Sua pesquisa foi realizada com 157 professores em treinamento, cruzando-se dados de enfrentamento, demandas e apoios percebidos no trabalho e sintomas afetivos. Os resultados confirmaram as hipóteses iniciais. Foram verificadas também diferenças de gênero, com os homens usando mais supressão do que as mulheres. A afetividade negativa apareceu como uma variável que engloba o índice de reatividade nas relações estresse-resultado. O índice de reatividade atua em associação com as percepções sobre o trabalho e os sintomas afetivos. Todavia, é um moderador que não atingiu o nível de significância. Os docentes com alto índice de afetividade negativa demonstraram maior reatividade negativa às exigências ou demandas do trabalho do que o fizeram os professores com baixa afetividade negativa, predispondo os primeiros ao estresse. O trabalho de De Mulder, Denham, Schmidt, e Geraldina Porto Witter Mitchell (2000) enfoca as relações entre os comportamentos de segurança demonstrados na relação mãepré-escolar, as condições estressantes da família e as relações das crianças com a professora e os colegas na escola. Seus resultados mostraram que em famílias com baixo nível de estresse, os filhos apresentavam melhor relação com as mães; famílias com alto nível de estresse tinham filhos com maior incidência de medo, agressão e problemas de competência social. Meninos com melhor relação com as mães também apresentavam melhor relação com as professoras e eram mais populares com seus colegas. Neste último caso, são menos estressantes para os professores. Especificamente em relação ao professor, os autores verificaram que a segurança junto às mães era mais importante para os meninos do que para as meninas no estabelecimento da segurança junto aos professores. Para os meninos foi encontrada uma relação linear entre relação com a mãe e relação com a professora. Essa relação não ocorreu entre as meninas. Estudaram estas relações como variáveis geradoras de estresse entre os docentes. Taris, Peeters, Le Blanc, Schreurs e Schaufeli (2001) estudaram o esgotamento (burnout), entendido como exaustão emocional, despersonalização e falta de realização pessoal em duas amostras de professores alemães, uma com relato de estresse decorrente do trabalho e outra sem este tipo de problema. Os docentes estressados compunham três grupos distintos quanto aos estressores: alunos, colegas e escola de um modo geral. Verificou-se que os estressores não afetam igualmente todos os professores, uns são mais afetados pelos colegas, outros pelos alunos e outros pela escola de uma forma global. O estudo teve abrangência nacional e trabalhou com a teoria de Lazarus (1966). (De Longis, Folkman & Lazarus, 1988; Lazarus, 1966, 1982). Consideram o estresse como uma forma de relação da pessoa com o ambiente em que este a pressiona além de suas possibilidades de superar, para as autoridades significa que por essa razão a pessoa apresenta um comportamento mal adaptado, respostas somáticas e psicológicas inadequadas ao estressor como resultado de vivências intensas e prolongadas que afetam suas reações, inclusive as fisiológicas. No âmbito do trabalho, as pessoas que sentem não ter ou ter poucos recursos para atender às demandas ou exigências do seu trabalho ficam estressadas. É necessário buscar a equidade entre a demanda e as Professor-estresse: Análise de produção científica 43 possibilidades do trabalhador para manter a relação em nível adequado. Taris e cols. (2001), em um primeiro estudo, verificaram entre 312 professores secundários da Alemanha falta de reciprocidade entre eles ou ineqüidade entre os mesmos como geradora de estresse, tendo encontrado esta situação sendo vivenciada por 271 deles. Em um segundo estudo de caráter longitudinal acompanharam uma amostra representativa (N=1309) de docentes do ensino primário e secundário da Alemanha. Verificaram que a ausência ou ineficiência de sistemas de recompensas, a falta de investimento no professor e a falta de reciprocidade entre demanda e possibilidade de atendê-la estão altamente correlacionadas com o estresse, com conseqüente abandono do trabalho. Westman e Etzion (1999) analisaram as condições de estresse vivenciadas por 47 diretores e 183 professores de escolas de Israel. O objetivo era verificar se a existência de estresse entre casais também aparecia no local de trabalho e os mecanismos subjacentes ao cruzamento do estresse em duplas (diretor vs professor). Verificaram significância no estresse induzido pelo trabalho, mas não em esgotamento (burnout) resultante da relação professor-diretor e vice-versa. Houve significância no cruzamento entre estresse no trabalho e na família. Steptoe, Cropley e Joekes (2000), retomando estudos que mostram associação entre reações cardiovasculares e pressão sangüínea com testes de estresse, estudaram a questão em 102 professoras e 60 professores submetidos a tarefas de alta e baixa demanda em condições padronizadas, usando monitoramento biológico durante todo o período do trabalho. Verificaram que as medidas de estresse permaneciam baixas e constantes durante o dia inteiro incluindo interações de baixa demanda. As reações e as situações de baixa demanda se mostraram preditivas quanto à pressão sangüínea e ao ritmo cardíaco, independentemente da linha de base, idade, gênero e massa corporal. As medidas tomadas quando os participantes estavam sentados foram mais consistentes do que quando estavam em pé. As associações laboratoriais medidas sugerem que dependem da conseqüência entre situação estressante e nível da atividade em que o professor se envolve. Para evitar o estresse em professoras de escola elementar (N=10) de Quebec, foi usado um procedimento de observação e análise de suas atividades enquanto lecionavam. Messing, Seifert e Escalona (1991) observaram os docentes durante 48 horas e 24 minutos buscando identificar os elementos estressores e os recursos usados pelos docentes para evitar o estresse. Verificaram que os docentes usam diversas estratégias para reduzir o impacto dos estressores, entre os quais registraram: mudanças bruscas nas seqüências de ação, fixação dos olhos por breve lapso de tempo, rápido relaxamento físico ou mental, desenvolvimento simultâneo de muitas atividades, níveis de temperatura e umidade desconfortáveis. O empenho dos professores para redução do estresse inclui o uso variado de estratégias de ensino para criar um ambiente de aprendizagem e para manter a atenção dos alunos sob condições adversas. O exame destas estratégias levaram as autoras a recomendar a melhoria das relações entre professores e supervisores para que estes os ajudem a tornar a sala de aula um lugar mais fácil de ensinar. É uma forma de reduzir o estresse do docente. Sonnentag (2000) estudou o uso de tempo de lazer e a recuperação do trabalho tendo em vista o bem estar das pessoas. Seus sujeitos foram 100 professores alemães que fizeram um diário de suas atividades de lazer por um período de cinco dias e responderam a um questionário sobre o trabalho. A autora concluiu que seu estudo mostrou que as atividades de lazer e o nível de estresse baixo na situação de trabalho contribuem independentemente para o bem estar das pessoas. O trabalho de Bonanno e Kaltman (1999) diz respeito a uma Perspectiva Integrativa sobre a perda (ou luto), problema com o qual eventualmente o professor se depara, quer em sua vida pessoal, quer no que diz respeito a seus alunos. Só superficialmente enfocam a questão no que concerne ao mundo escolar. Todavia, é uma proposta teórica muito rica e com grande potencial. O esforço de análise dos autores emergiu do fato de ter decorrido quase um século que os teóricos sobre a matéria tecem considerações, afirmam que a perda requer sempre um período em que se trabalhe a tristeza com o objetivo de romper os elos de ligação com o falecido. As revisões feitas dos anos oitenta do século passado para cá surpreenderam os autores pela falta de suporte empírico para esta perspectiva, ficando-se com uma base teórica insustentável. Os autores propõem uma alternativa de síntese unindo cognitivismo, teoria do apego, teoria social da emoções e teoria do trauma, criando uma estrutura de referência para pesquisas futuras mais plausível e consoante com os dados de pesquisas na área. Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 33-46 44 Geraldina Porto Witter É uma proposta de unificação. Bonanno (2001) retoma a discussão face à contestação que teriam ignorado o processo de esquiva para se distanciar da perda. Enfatiza a falta de dados para sustentar a contestação. Destaca que a leitura feita por eles valoriza a esquiva como forma de distanciamento do processo o que não foi percebido pelos seus opositores. Na base de dados apareceram também dois textos teóricos trataram de assunto subjacente a atuação do professor que ocasionalmente pode estar estressado. Pelo exposto é evidente que embora se fale muito do estresse do professor e da necessidade de uma devida prevenção e intervenção (Lipp, 2002) os pesquisadores não estão dando a devida atenção ao problema. De acordo com os dados constantes na base pesquisada, o estresse do professor tem sido pouco pesquisado enquanto profissional submetido a condições estressoras, predominando os estudos em que atuam como avaliadores destas condições e da presença do estresse entre alunos e familiares. Estas considerações têm apoio no resultado encontrado por Witter (2002a) no PsycLIT sobre prevenção de estresse em geral (19941999), no qual foram registrados apenas 12 trabalhos sobre estresse profissional em um total de 1.639 trabalhos. Ao que tudo indica, há necessidade de maiores investimentos na pesquisa na área do que vem efetivamente ocorrendo. CONCLUSÕES Pelos dados aqui apresentados é evidente que se está diante de uma área extremamente carente de pesquisas. As pesquisas encontradas são predominantemente descritivas não havendo praticamente produção que teste a eficiência de programas de prevenção e de intervenção para cuidar do estresse do professor. As situações de trabalho responsáveis por um quadro exacerbado de estresse docente estão requerendo pesquisas cuidadosas. Usando situações variadas, instrumentos diversos, problemas distintos, as pesquisas que recorreram ao professor como avaliador foram consistentes em mostrar que o docente é um juiz competente, um bom avaliador do estresse e do comportamento emocional. Pesquisas similares precisam ser realizadas no contexto brasileiro com objetivo de verificar se aqui o professor demonstra esta competência. A sugestão decorre das diferenças de formação do docente nos vários países. As pesquisas do segundo grupo enfocam variáveis muito diversificadas, instrumentos distintos de avaliação, são de tipos variados, predominantemente descritivas e os resultados não são coincidentes. Parecem refletir uma falta de metas para a pesquisa, a falta de continuidade nos projetos. Embora sejam pesquisas de mérito, não permitem estruturar um quadro claro do estresse do professor e das variáveis relevantes. São pérolas esparsas, como se pode deduzir dos resumos apresentados. Não há coesão metodológica, de objetivos ou de resultados. Possivelmente, a impossibilidade de compor um quadro consistente decorre do pouco que já foi efetivamente pesquisado. Parkes (1990) relata que as “relações entre percepções do ambiente de trabalho e autorelato de saúde mental e física estão amplamente documentadas na literatura. Muitas das pesquisas nesta área são de correlação de partes e, consequentemente, não permitem inferência causal, mas resultados empíricos de estudos longitudinais apoiam a perspectiva de que o ambiente de trabalho exerce uma influência causal na saúde física e mental, incluindo tanto resultados a curto e a longo prazo, afetando a saúde, particularmente no que concerne às doenças cardiovasculares. Resultados destes estudos também ilustram um processo no qual as percepções do ambiente de trabalho medeiam os efeitos das características objetivas do trabalho nos resultados relacionados com a saúde. Este processo não é invariante, contudo, nos modelos teóricos e nos resultados empíricos, as diferenças ocupam papel como determinantes da natureza e magnitude das respostas ao estresse decorrente do trabalho” (p. 399). Há que se considerar a necessidade de se conhecer melhor as variáveis das condições de trabalho que geram estresse no professor. Sem este conhecimento é inviável planejar, executar e avaliar programas de prevenção e de intervenção que realmente sejam eficientes. É provável que a carência de pesquisas com tais programas não tenham surgido nos dados aqui relatados em decorrência do nível de conhecimento disponível. O predomínio de trabalhos de autoria múltipla é um indício de que grupos de pesquisadores estão se firmando na área, com tendência para maturidade. Todavia a natureza e a temática dos trabalhos estão longe de dar conta do necessário para sua evolução em profundidade e para suprir as necessidades básicas de conhecimento na área. Professor-estresse: Análise de produção científica 45 REFERÊNCIAS Allison, P. D., & Furstenberg, F. F. (1989). How marital dissolution affects children: variations by age and sex. Developmental Psychology, 25 (4), 540-549. Alpert-Gillis, L. J., Pedro-Carroll, J’Anne L., & Cowen, E. L. (1989). The Children of Divorce Intervention Program: development, implementation, and evaluation of a program for young urban children. Journal of Consulting & Clinical Psychology, 57 (5), 583-589. Bates, J. E., Marvinney, D., Kelly, T.; Dodge, K. A., Bennett, D. S., & Pettit, G. S. (1994). Child care history and kindergarten adjustment. Developmental Psychology, 30 (5), 690-700. Bonanno, G. A., & Kaltman, S. (1999). Toward an integrative perspective on bereavement. Psychological Bulletin, 125 (6), 760-776. Bonanno, G. A. (2001). The crucial importance of empirical evidence in the development of bereavement theory: reply to Archer. Psychological Bulletin, 127 (4), 561-564. Caplan, M., Weissberg, R. 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O material utilizado constituiu-se de uma relação de instrumentos de avaliação psicológica e a tarefa dos sujeitos era assinalar os instrumentos conhecidos, os utilizados, e os desconhecidos. A aplicação se deu no próprio período de aula, com a respectiva autorização da coordenação e dos professores. Para a coleta dos dados dos profissionais formados, os questionários foram enviados pelo correio, pois o instrumento é auto-aplicável. Os resultados indicaram uma diferença entre os grupos no que diz respeito aos instrumentos mais conhecidos e utilizados por estudantes e profissionais. Estudos comprovam que alguns dos instrumentos mais conhecidos são também os mais freqüentes nos cursos de formação de psicologia. Sugere-se que novas pesquisas desta natureza sejam realizadas. Palavras Chave: Avaliação psicológica; Instrumentos psicológicos; Testes psicológicos. WELL-KNOW PSYCHOLOGICAL INSTRUMENTS USED BY PSYCHOLOGY STUDENTS AND PROFESSIONAL Abstract This study aimed to identify well-know psychology instruments used by psychology students and professionals and list used instruments in the sample. 82 senior students in a private university of São Paulo countryside participated in the study along with 52 professionals. The material used in this study comprised a setoff psychological assessment instruments and the task assigned to subjects was to check know, used and unknown tools. The task was performed during class hours, authorized by teachers and coordination. To collect data from majored professional, questionnaires were sent by mail because it is a self-applied questionnaire. Results indicated a difference between the 2 groups concerning well-know and used instruments by students and professionals. Studies show that some well-known instruments are also the most frequent in psychology courses. New researches on this topic should be done to gather further data. Key words: Psychological assessment; Psychological instruments; Psychological tests. INTRODUÇÃO Avaliação psicológica é um processo de coleta de dados, cuja realização inclui métodos e técnicas de investigação. Os testes psicológicos, por sua vez, são instrumentos exclusivos do psicólogo e são úteis à medida que, quando utilizados adequadamente, podem oferecer informações importantes sobre os testandos. Embora na literatura haja registros de que os primeiros testes simples, com estruturas frágeis, tenham sido criados no final do século XIX e apesar de haver mais de um século de história na área, os instrumentos atuais 1 ainda apresentam falhas e sofrem críticas. Para Almeida (1999) os instrumentos psicológicos não acompanharam o desenvolvimento das demais áreas de conhecimento, como a informática ou a tecnologia, tendo em vista que os instrumentos atuais muito se aproximam dos iniciais. Em contrapartida, há perspectivas para a superação das dificuldades apresentadas, pois segundo Sisto, Sbardelini e Primi (2001) tal quadro parece estar sendo revertido, considerando que o Conselho Assessor de Psicologia no CNPq definiu a subárea de “Fundamen- Doutora em Psicologia: ciência e profissão pela PUC-Campinas; Docente do Curso de Psicologia e do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia, da Universidade São Francisco, campus Itatiba-SP. 2 Psicóloga, mestranda do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia da Universidade São Francisco e docente da UNIFENAS. 3 Psicóloga e mestranda bosista Capes do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia da Universidade São Francisco. 48 Ana Paula Porto Noronha, Flávia Nunes de Moraes Beraldo e Katya Luciane de Oliveira tos e Medidas em Psicologia” como uma das cinco, dentre dez existentes, que mereceriam atenção e investimentos, o que pode gerar um avanço na área. A Formação Profissional em Avaliação Psicológica Formar profissionais competentes não é tarefa fácil. A cada ano muitos psicólogos se formam e devem desenvolver atividades pertinentes à sua atuação profissional, o que inclui a realização da avaliação psicológica; tal atividade representa a psicologia e a difunde na sociedade. Portanto é importante que haja esmero neste trabalho e em todos os outros, a fim de que a ciência psicológica seja mais divulgada reconhecida. No Brasil, os psicólogos se formam nos cursos promovidos por instituições de ensino superior, com duração de dez/doze semestres, para cursos diurnos/noturnos e, segundo Pfromm Netto (1991), a preparação possui os seguintes objetivos: atender às necessidades do profissional para a atuação; proporcionar ao aluno um conjunto amplo e diversificado de conhecimento, habilidades, atitudes e procedimentos; contribuir para com o processo científico e estimular a produção brasileira de conhecimento. Embora tais objetivos tenham sido traçados para a formação geral em psicologia, também são pertinentes para a formação específica em avaliação ou em qualquer outra área de conhecimento, considerando que o psicólogo avaliador deve estar preparado para as demandas do mercado profissional, deve conhecer profundamente conceitos teóricos e metodológicos fundamentais e deve contribuir para o progresso da avaliação psicológica. No entanto, na prática, nem sempre é isto que se encontra. Segundo Buettner (1997) “o que observamos é que o aluno sai da universidade sem a competência necessária para o exercício profissional. Os cursos de graduação, mesmo quando propiciam uma boa formação, o que não ocorre com a grande maioria, enfocam uma formação básica e genérica” (p. 16). Witter, Witter, Yukmitsu e Gonçalves (1992) enfocam que a formação universitária do psicólogo muitas vezes não é ideal, evidenciando a necessidade da busca de um curso de pósgraduação que em parte seria remediativo, porém poucos são os profissionais que buscam uma especialização. Corroborando a afirmação, Cardoso (1994) aponta que a educação superior não deve ser entendida como oportunidade de emprego, tendo em vista a qualificação recebida pelo o aluno durante o curso superior, pois de uma forma geral, os alunos chegam ao final do curso com sérias deficiências nas questões teóricas e metodológicas o que resulta em uma baixa qualificação no mercado profissional. Atualmente a profissão sofre com a constante concorrência de outros profissionais que atuam nos mais diversificados setores como escolas, empresas entre outros. Em parte o profissional tem uma grande contribuição quanto a esta situação, pois quando do término da graduação, os profissionais não dão continuidade à formação, a fim de melhor qualificação profissional. Um profissional desqualificado contribui para uma imagem negativa da profissão. Dentro desta perspectiva, Witter e cols. (1992) destacam que toda profissão tem uma imagem social e com o psicólogo não poderia ser diferente, sendo que tal imagem é construída pelo profissional e está diretamente relacionada com o respeito, autoridade, confiança e espaço de atuação. Ainda em relação à formação do psicólogo, no trabalho desenvolvido por Rocha Jr. e Sá (1997) pertinente à análise dos currículos de psicologia, de nove universidades brasileiras, verificou-se que a pesquisa e a extensão deveriam estar mais presentes nos cursos, que a formação se volta mais para ações curativas, que preventivas, que a formação é generalista e que, segundo os alunos entrevistados, o currículo não é integrado. Discussões sobre a questão da formação do psicólogo na psicologia ou especificamente na área de avaliação psicológica não têm faltado. E, segundo Witter (1996) têm interessado aos pesquisadores nacionais e internacionais, uma vez que vêm consolidar as questões relativas à formação e atuação profissional, para que as práticas profissionais se mantenham críticas, atualizadas e atentas às necessidades sociais. Alguns estudos versam sobre a crença de que os testes deveriam ser ensinados de forma integrada com os outros conceitos psicológicos (Kroeff, 1998). Jacquemin (1995) defende que deve existir uma programação mínima básica para a formação e que seja priorizada a qualidade do ensino, e não a quantidade de testes ensinados; e Hays e Wellard (1998) acreditam que é evidente a necessidade de continuidade dos estudos após a graduação, em relação à área. Portanto, os estudos revelam a necessária modificação em relação aos currículos existentes nas instituições brasileiras de ensino superior, em relação à metodologia de ensino utilizada (quantidade ou quali- Instrumentos psicológicos mais conhecidos e utilizados por estudantes e profissionais de psicologia dade) e à criação de cursos de pós-graduação na área. Já em relação aos alunos parece também haver necessidade de maior compromisso com a sua preparação profissional, uma vez que estudos revelam que a proficiência em disciplinas de T.E.P. depende de fatores relacionados aos alunos como motivação, freqüência às aulas, participação, capacidade de raciocínio e integração ao ensino superior, dentre outros; e de fatores relacionados à complexidade do conteúdo ensinado (Primi & Munhóz, 1998). Testes Psicológicos Os testes psicológicos, apesar de se constituírem em instrumentos úteis ao psicólogo, recebem muitas críticas e vêm sendo questionados. Dentre os estudos recentes que se destinaram a estudar o status do instrumento psicológico, destaca-se o de Noronha (1999) que identificou que grande parte da amostra de psicólogos estudada não utiliza testes psicológicos e que dentre os problemas listados, encontra-se a própria fragilidade do material, o uso inadequado dele e a formação profissional insatisfatória em relação à área. Em outro estudo desenvolvido por Azevedo, Almeida, Pasquali e Veiga (1996), o baixo teor científico dos testes foi denunciado, além da urgente necessidade de melhoria. Almeida, Prieto, Muñiz e Bartram (1998) revelaram que usar materiais inadequados para os objetivos da avaliação, xerocar folhas de resposta, realizar avaliações incorretas, não ter clareza das limitações dos instrumentos, usar testes não adaptados para as diferentes realidades, dentre outros, são os problemas mais delatados na prática dos testes. Na literatura internacional são freqüentes os estudos sobre o tema. Numa consulta ao PsycINFO (19992000) é possível encontrar 27554 artigos na área de psicologia, sendo que 11275 são relativos à testes. Já no trabalho desenvolvido por Alchieri e Scheffel (2000) com o objetivo de documentar e resgatar a produção científica brasileira em periódicos nacionais na área de psicologia, foram encontrados 1090 artigos sobre avaliação psicológica num período de seis décadas (1930-1999). Como se vê é urgente a necessidade de estudos científicos na área, portanto, tendo em vista as questões destacadas o presente trabalho teve como objetivo avaliar o conhecimento que psicólogos e formandos em psicologia têm a respeito dos instrumentos psicológicos. Além disto, o estudo pretende listar os instrumentos mais utilizados pelos sujeitos na sua prática profissional. 49 MÉTODO Participantes Participaram como sujeitos deste estudo 134 indivíduos entre estudantes de psicologia e psicólogos, que foram divididos em dois grupos, a saber: Grupo I: alunos último anistas do curso de psicologia, de uma instituição de ensino superior particular do interior paulista, representando 61,2% (N=82) da amostra. A idade variou de 21 a 49 anos, com média 26,41 (DP=5,31). Em relação aos gêneros, 7,32% (N= 6) eram do sexo masculino e 92,68% (N= 76) do sexo feminino; Grupo II: psicólogos, representando 38,8% (N=52) da amostra, com idade variando de 23 a 58 anos e média 34,1 (DP=8,2). Os sujeitos do sexo feminino representaram 84,6% (N=44) da amostra e do sexo masculino, 15,4% (N=8). Os sujeitos são formados em média há 7,6 anos (DP=8,0). Vale ressaltar que três sujeitos do grupo I não preencheram os dados de identificação e, portanto, não foram computados nestes aspectos. Instrumentos Para a viabilização da pesquisa foi utilizada uma relação elaborada pelas autoras, contendo instrumentos de avaliação psicológica. Na relação estavam presentes 169 instrumentos das seguintes editoras: 49 do CEPA, 50 da VETOR, 16 da CASA DO PSICÓLOGO, 12 da EDITES, 8 da CETEPP, 1 da ARTES MÉDICAS, 14 testes estrangeiros, 5 da EDITORIAL PSY, 4 da MESTRE JOU, 1 da MELHORAMENTOS, 1 da ENTRELETRAS e 8 testes de editoras não localizadas. Os sujeitos tinham quatro possibilidades de resposta para cada instrumento listado, a saber: (a) conheci na graduação / pós-graduação; (b) já utilizei; (c) conheci por procura espontânea; (d) desconheço. Não havia na instrução a obrigatoriedade de que o sujeito assinalasse uma única alternativa por instrumento, portanto as respostas que possuíam mais de uma alternativa foram consideradas, desde que não houvesse incoerências, como o assinalamento de “(a) e (d)”. Além da relação de instrumentos, o material possuía um quadro para os dados de identificação no que se refere aos seguintes aspectos: idade, sexo, área de atuação e tempo de profissão (no caso de profissionais) e, no caso de alunos, idade e sexo. Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 47-56 50 Ana Paula Porto Noronha, Flávia Nunes de Moraes Beraldo e Katya Luciane de Oliveira Procedimento Os instrumentos foram aplicados com a devida autorização dos sujeitos. Houve diferentes tipos de procedimento de acordo com os grupos estudados. Para os alunos, os questionários foram aplicados coletivamente, em horário de aula previamente cedida pelo professor, e com a autorização da coordenadora de curso, sendo que a participação era voluntária. As aplicações aconteceram em três salas distintas, de último ano de curso (turnos matutino e noturno). Para a coleta dos dados dos profissionais formados, os questionários foram enviados pelo correio. Foram encaminhados para 87 psicólogos e foram devolvidos, 48, o que representou 55,2% do total. Juntamente com a relação de instrumentos e a carta de apresentação, foi enviado um envelope selado e etiquetado para facilitar a devolução. Vale ressaltar que fizeram parte do grupo de psicólogos formados 14 alunos de pós-graduação da mesma instituição do grupo de estudantes; para os sujeitos do grupo II, a aplicação foi coletiva, nas mesmas condições do grupo I. RESULTADOS Após a coleta de dados, os resultados foram organizados em tabelas, de acordo com os objetivos do estudo. A análise foi realizada a partir da freqüência das respostas e das respectivas porcentagens. Em relação ao primeiro objetivo (identificar os instrumentos psicológicos mais utilizados pelos estudantes e profissionais de psicologia), os resultados revelaram que, para o grupo I, a média de testes conhecidos foi 37,82 (DP=36,87) o que indica um conhecimento de 21,82% da relação apresentada. Os 15 instrumentos com maior freqüência de resposta foram (Tabela 1): Teste de Apercepção Temática - T.A.T. (97,56%; N=80); Raven – Matrizes Progressivas – escala avançada (95,12%; N=78); O Desenho da Figura Humana (93,9%; N=77); Bender – Teste Gestáltico Viso-Motor (91,46%; N=75); Wartegg, Teste de Apercepção Temática para Crianças – C.A.T. (animais) e Raven – Martrizes Progressivas – escala geral (90,24%; N=74); Teste de Apercepção Temática para Crianças – C.A.T. / humanas (89,02%; N=73); Teste de Zulliger (86,59%; N=71); Escala de Maturidade Mental Columbia – CEPA (81,71%; N=67); Teste da Árvore (80,49%; N=66); Teste de Apercepção Temática para Crianças – suplemento animais, Matrizes Progressivas Coloridas e M.M.P.I. (78,05%; N=64) e WISC (59%; N=71,95). Tabela 1: Freqüência e respectiva porcentagem dos instrumentos mais conhecidos por estudantes de Psicologia Nome do Instrumento Teste de Apercepção Temática – T.A.T Raven – escala avançada O Desenho da Figura Humana Bender – Teste Gestaltico Viso-Motor Wartegg Teste de Apercepção Temática C.A.T- A Raven – escala geral Teste de Apercepção Temática C.A.T. - H Teste Zulliger Escala de Maturidade Mental Columbia – CEPA Teste da Árvore Teste de Apercepção Temática – C.A.T.-A sup. Matrizes Progressivas Coloridas MMPI WISC Escala de Mat. Mental Columbia – Casa Psicól. Teste das Fábulas Rorschach Teste de Aptidão Mecânica Fábulas de Düss 16 PF – 5ª edição WISC III Bateria Fatorial CEPA Teste Palográfico Pré-Bender PMK IAR Teste das Pirâmides das Cores – 14M - Pfister Inventário de Interesses Angelini e Thurstone DAT – Teste de Aptidões Específicas Teste das Pirâmides das Cores – 24M - Pfister Escala de Beck G36 – Teste não Verbal de Inteligência Bender Hutt G38 – Teste não Verbal de Inteligência Os contos de fada e a psicopedagogia Escala Gesell WAIS LIP – Levantamento de Interesses Profissionais Teste das Cores Escala Intelig. Stanford-Binet (Terman-Merrill) IFP – Inventário Fatorial de Personalidade AC – Teste de Atenção Concentrada RF – Reprodução de Figuras INV Teste de Aptidão Mecânica Teste de Goodenough Teste Piaget-Head GEIST – Inventário Ilustrado de Interesses IDATE Inventário Profissional de Interesses WPPSI BTAG – Bateria de Testes de Aptidão Geral Kuder – Inventário de Interesses Questionário de Orientação Individual F 80 78 77 75 74 74 74 73 71 67 66 64 64 64 59 58 58 58 53 49 45 44 44 44 40 32 32 30 30 28 27 25 25 21 21 21 20 20 20 19 19 18 18 17 16 16 16 16 15 15 15 15 14 14 14 % 97,56 95,12 93,9 91,46 90,24 90,24 90,24 89,02 86,59 81,71 80,49 78,05 78,05 78,05 71,95 70,73 70,73 70,73 64,63 59,76 54,88 53,66 53,66 53,66 48,78 39,02 39,02 36,59 36,59 34,15 32,93 30,49 30,49 25,61 25,61 25,61 24,39 24,39 24,39 23,17 23,17 21,95 21,95 20,73 19,51 19,51 19,51 19,51 18,29 18,29 18,29 18,29 17,07 17,07 17,07 Instrumentos psicológicos mais conhecidos e utilizados por estudantes e profissionais de psicologia Teste de Organização Percepto-Motora AC15 – Teste de Atenção Concentrada BPR-5 CIA DHP – Teste Diagnóstico Habilidade Pré-escolar Teste Prontidão Leitura Test Guest Visomotor (Lauretta Bender) IAT – Inventário de Atitudes do Trabalho D48 IDATE-C Teste Projetivo Omega SAT – Teste de Apercepção para Idosos Teste de Prontidão para Alfabetização ADT – Inventário de Administração de Tempo ESI – Escala de Stress Infantil D2 – Teste de Atenção Concentrada HTM – Teste Habilidade para Trabalho Mental QVI – Questionário Vocacional de Interesses R1 – Teste não Verbal de Inteligência 14 14 13 13 13 13 12 12 12 12 12 11 10 10 10 10 10 10 10 17,07 17,07 15,85 15,85 15,85 15,85 14,63 14,63 14,63 14,63 14,63 13,41 12,2 12,2 12,2 12,2 12,2 12,2 12,2 A média de testes conhecidos do grupo II foi 48,79 (DP=18,2), o que indica um conhecimento de 28,87% da lista de instrumentos apresentada. A Tabela 2 apresenta os instrumentos mais conhecidos pelos sujeitos deste grupo, sendo que os 15 instrumentos mais freqüentemente identificados pelos sujeitos foram: WISC (98,1%; N=51); Rorschach, Teste de Zulliger e Desenho da Figura Humana (98,1%; N=48); Raven – escala geral e escala avançada, Bender e Teste de Apercepção Temática (88,5%; N=46); Teste de Wartegg, C.AT. animal e humano e Teste da Árvore (86,5%; N=45); WISC III, M.M.P.I. e Escala de Maturidade Mental Columbia (82,7%; N=43). Tabela 2: Freqüência e respectiva porcentagem dos instrumentos mais conhecidos por psicólogos. Nome do Instrumento WISC Rorschach Zulliger O Desenho da Figura Humana Raven Matrizes Progressivas-escala geral Raven Matrizes Progressivas-escala avançada Bender-Teste Gestaltico Visomotor Teste de Apercepção Temática – T.A.T. Teste Wartegg CAT – Animais CAT – Humanas Teste da Árvore WISC III MMPI Escala de Mat. Mental Columbia – CEPA Escala de Mat. Mental Columbia – Casa Psicól. G-36– Teste não Verbal de Inteligência G-38– Teste não Verbal de Inteligência F % 51 48 48 48 47 46 46 46 45 45 45 45 43 43 43 42 41 41 98,1 92,3 92,3 92,3 90,4 88,5 88,5 88,5 86,5 86,5 86,5 86,5 82,7 82,7 82,7 80,8 78,8 78,8 PMK CAT – A (suplemento) Bateria Fatorial CEPA Teste Raven de Operações Lógicas Teste das Pirâmides das Cores-14M Matrizes Progressivas Coloridas WAIS Escala de Inteligência Stanford-Binet D-48 16 PF – 5 A. edição DAT INV Pré-Bender Cubos de Kohs Inventário de Interesses Angelini e Thurstone Teste das Fábulas Benton Escala de Beck Kuder – Inventário de Interesses Test Guest Visomotor Fábulas de Düss Teste Palográfico Teste das Pirâmides das Cores-24M Teste de Prontidão para Leitura Bender Hutt LIP Teste das Cores Escala de Gesell WPPSI Teste de Goodenough CIA AC Teste Metropolitano de Prontidão Inventário de Sintomas de Stress – ISSL IDATE Teste de Organização Percepto-Motora D-70 Teste Piaget-Head R-1 Teste de Aptidão Mecânica IDATE-C Questionário Vocacional de Interesses IFP – Inventário Fatorial de Personalidade Inventário Profissional de Interesse Teste de Reproduções de Figuras GEIST – Inventário Ilustrado de Interesses Escala de Stress Infantil Questionário Desiderativo ACRE Bateria de Testes de Aptidão Geral IAR R-2 Teste de Prontidão para Alfabetização Inventário de Atitudes de Trabalho BBT Teste Diagnóstico de Habilidade pré-escolar Teste de Maturidade para Leitura Escala de Maturidade para a Escolha Profissional AC 15 Diagnóstico Organizacional Teste de Desempenho Escolar Psicologia Escolar e Educacional, 2003 51 41 40 39 38 38 38 37 35 35 33 33 32 31 31 30 29 28 27 27 25 24 24 24 23 22 22 21 21 21 20 20 19 19 19 18 18 18 18 17 16 16 16 16 15 15 14 14 14 14 13 13 13 12 12 12 12 12 12 11 11 11 78,8 76,9 75 73,1 73,1 73,1 71,1 67,3 67,3 63,5 63,5 61,5 59,6 59,6 57,7 55,8 53,8 51,9 51,9 48,1 46,2 46,2 46,2 44,2 42,3 42,3 40,4 40,4 40,4 38,5 38,5 36,5 36,5 36,5 34,6 34,6 34,6 34,6 32,7 30,8 30,8 30,8 30,8 28,8 28,8 26,9 26,9 26,9 26,9 25 25 25 23,1 23,1 23,1 23,1 23,1 23,1 21,2 21,2 21,2 Volume 7 Número 1 47-56 52 Ana Paula Porto Noronha, Flávia Nunes de Moraes Beraldo e Katya Luciane de Oliveira Como chefiar? Questionário de Personalidade de Dadahie QUATI BPR-5 Phillipson – Teste de Relações Objetais 10 10 10 10 10 19,2 19,2 19,2 19,2 19,2 Tais dados estão presentes em outros estudos de natureza semelhante, como o proposto por Alves, Alchieri e Marques (2001), em que T.A.T., Raven, WISC, HTP, C.A.T., Bender e Rorschach aparecem como os testes mais ensinados em 64 cursos de graduação. Por outro lado, no trabalho desenvolvido por Vasconcelos e Toledo de Santana (2001), além de Raven, HTP, Desenho da Figura Humana, T.A.T. e Rorschach, dois outros instrumentos que tiveram porcentagens pequenas no presente estudo, apareceram como parte do conteúdo das disciplinas na Universidade Federal da Paraíba (INV e LIP). Comparando os resultados dos grupos I e II, observa-se que, da relação de 15 instrumentos mais conhecidos, dois do grupo I (C.A.T. animais suplemento e Matrizes Progressivas Coloridas) não aparecem na lista do grupo II, e vice-versa (Rorschach e WISC III). O destaque vai para o Rorschach que é o segundo mais conhecido (92,3%) entre os sujeitos formados e que não figura entre os mais conhecidos entre alunos último anistas; tal fato certamente se explica pela ausência desses testes na formação dos sujeitos. Em relação aos instrumentos menos pontuados, os que seguem não foram identificados por nenhum sujeito do grupo de estudantes: Lendo e Escrevendo, STAXI – Inventário de Expressão de Raiva Traço-estado, Teste Prontidão Horizontes, VIG – Bateria Burocrática, Escala de Avaliação do Comportamento Infantil para Professor, Escala Fatorial de Ajustamento EmocionalNeuroticismo e Teste de Quadros para Adolescentes. Já no grupo de psicólogos, três outros instrumentos não foram identificados: OPK – Teste de Agradabilidade Básica, Coordenação Bi-manual e Teste Locus de Controle – Rotter. Quanto ao segundo objetivo do estudo (identificar os instrumentos mais utilizados pelos sujeitos), os resultados estão apresentados na Tabela 3. Os instrumentos mais utilizados são também os instrumentos mais conhecidos pelos estudantes de uma maneira geral. A seguir encontra-se a seqüência dos instrumentos mais utilizados e entre parênteses apresenta-se a posição em relação aos instrumentos mais conhecidos: Teste de Apercepção Temática – T.A.T. (1), O Desenho da Fi- gura Humana (3), Teste de Zulliger (9), Bender – Teste Gestáltico Viso-Motor (4), Teste da Árvore (11), C.A.T. A (6), Escala de Maturidade Mental Columbia (10), C.A.T. H (8), C.A.T. S (11), Matrizes Progressivas – escala geral (6), Matrizes Progressivas – escala avançada (2), Teste de Wartteg (5), Teste das Fábulas (16), M.M.P.I. (11) e Matrizes Progressivas Coloridas (11). Tabela 3: Freqüência e respectiva porcentagem dos instrumentos mais utilizados por estudantes de Psicologia. Nomes dos Instrumentos Teste de Apercepção Temática – T.A.T. A O Desenho da Figura Humana Teste Zulliger Bender – Teste Guestáltico Visomotor Teste da Árvore Teste de Apercepção Temática C.A.T. A Escala de Maturidade Mental Columbia - CEPA Teste de Apercepção Temática C.AT. H Teste de Apercepção Temática C.A.T.A – suplem. Raven – escala geral Raven – escala avançada Wartegg Teste das Fábulas MMPI Matrizes Progressivas Coloridas Escala Maturidade Mental Columbia – Casa Psic. Fábulas de Düss WISC Teste Palográfico BPR-5 16 PF – 5ª edição AC – Atenção Concentrada Bateria Fatorial CEPA Pré-Bender IAR IAT Inventário Atitudes para o Trabalho PMK Teste Raven de Operações Lógicas LIP – Levantamento de Interesses Profissionais Bender Hutt Teste Piaget-Head G36 Teste não Verbal d Inteligência Rorschach Teste de Organização Percepto-Motora ACRE G38 Teste não Verbal de Inteligência WISC III Inventário de Interesses Angelini e Thurstone Teste de Aptidão Mecânica Teste de Goodenough IDATE Questionário de Orientação Individual INV AC15 – Teste de Atenção Concentrada Teste Metropolitano de Prontidão F 50 44 43 43 43 31 28 27 23 23 21 19 19 19 16 16 15 10 9 9 9 9 8 7 7 7 7 7 6 6 5 5 4 4 4 4 4 3 3 3 2 2 2 2 2 % 60,98 53,66 52,44 52,44 52,44 37,8 34,15 32,93 28,05 28,05 25,61 23,17 23,17 23,17 19,51 19,51 18,29 12,2 10,98 10,98 10,98 10,98 9,76 8,54 8,54 8,54 8,54 8,54 7,32 7,32 6,1 6,1 4,88 4,88 4,88 4,88 4,88 3,66 3,66 3,66 2,44 2,44 2,44 2,44 2,44 Instrumentos psicológicos mais conhecidos e utilizados por estudantes e profissionais de psicologia Teste das Pirâmides das Cores – 24M – Pfister 2 Diagnóstico Organizacional 2 Escala de Gesell 2 IFP – Inventário Fatorial de Personalidade 2 Inventário de Sintomas de Stress de LIPP 2 Inventário Profissional de Interesses 2 D70 2 Escala de Intelig. Stanford-Binet (Terman-Merrill) 2 D48 2 Kuder – Inventário de Interesses 2 Teste das Cores 2 Prontidão de Leitura 2 RF – Reprodução de Leituras 2 Benton – Teste de Retenção Visual 1 BTAG – Bateria de Testes de Aptidão Geral 1 BTBC – Bateria dos Conceitos Básicos de Bohen 1 CIA 1 Cubos de Kohs 1 EDDP – Escore Deteriorização Desenho da Pessoa1 MM – Teste as Minhas Mãos 1 Teste de Maturidade para Leitura 1 APO – Área, Profissões e Objetos 1 EMEP –Escala de Maturidade Escolha Profissional 1 Escalas de Personalidade de Comrey 1 Kit brinquedos e brincadeiras para o bebê 1 Os contos de fada e a psicopedagogia 1 QUATI – Questionário de Avaliação Tipológica 1 QVI – Questionário Vocacional de Interesses 1 R-1 Teste não Verbal de Inteligência 1 R-2 Teste não Verbal de Inteligência 1 RLN Raciocínio Lógico Numérico 1 TC Teste de Destreza Digital 1 TEPEM Teste de Prontidão Emocional para Motorista1 Teste dos Relógios 1 Teste Prontidão para Alfabetização 1 Teste das Pirâmides das Cores 14M – Pfister 1 ADT Inventário de Administração de Tempo 1 Questionário Desiderativo 1 Coordenação Bi-manual Edites 1 Relações Lógicas – raciocínio lógico 1 D2 Teste de Atenção Concentrada 1 MTB série Both de testes manuais 1 Escala de Beck 1 Teste de Symonds 1 Teste de Szondi 1 WAIS Escala de Inteligência Wechsler para Adultos 1 WPPSI Escala Wechsler de Inteligência Pré-escolares 1 TAA Teste de Aptidão Acadêmica 1 Test de Luscher 1 TIPITI exame de linguagem 1 Teste de Liderança Situacional 1 2,44 2,44 2,44 2,44 2,44 2,44 2,44 2,44 2,44 2,44 2,44 2,44 2,44 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 1,22 Quanto aos resultados do grupo II, eles possuem as mesmas características observadas no grupo I, ou seja, os instrumentos mais conhecidos também aparecem como os mais utilizados. Os dados estão apresentados na Tabela 4 e a seguir encontram-se os mais citados: WISC (1); O Desenho da Figura Humana (4); Teste de Apercepção Temática (8); Escala de Maturidade Men- 53 tal Columbia - CEPA (15); Teste de Wartegg (9); C.A.T. humanas (11); Teste da Árvore (12); Bender (7); RavenMatrizes Progressivas – escala geral (5); Bateria Fatorial CEPA (21); Raven – Matrizes Progressivas –escala avançada (6); C.A.T. animais (10); M.M.P.I. (14), Rorschach (2) e Inventário de Interesses Angelini e Thurstone. Vale destacar que os valores entre parênteses indicam as posições dos instrumentos mais conhecidos pelos psicólogos. Tabela 4: Freqüência e respectiva porcentagem dos instrumentos mais utilizados por psicólogos. Nomes dos Instrumentos F WISC 28 O Desenho da Figura Humana 28 Teste de Apercepção Temática 26 Escala de maturidade Mental Columbia - CEPA 26 Teste de Wartegg 25 C.A.T. humanas 23 Teste da Árvore 23 Bender 21 Raven – Matrizes Progressivas – escala geral 21 Bateria Fatorial CEPA 20 Raven – Matrizes Progressivas – escala avançada19 C.A.T. animais 18 M.M.P.I. 16 Rorschach 15 Inventário de Interesses Angelini e Thurstone 15 Escala de Maturidade Mental Columbia –Casa do Psic.14 Pré-Bender 14 PMK 13 Matrizes Progressivas Coloridas 13 WISC III 13 G-36 12 Zulliger 11 16 PF 11 G-38 11 Teste Palográfico 10 WAIS 10 D-48 10 Kuder 10 INV 10 DAT 9 Fábulas de Düss 9 Test Guest Visomotor 9 Escala de Inteligência Stanford-Binet 8 Teste Piaget-Head 8 LIP 8 Teste Metropolitano de Prontidão 7 Teste de Goodenough 7 Teste de Prontidão para Leitura 7 Questionário Vocacional de Interesse 7 Teste das Fábulas 6 C.A.T. Animais suplemento 6 CIA 6 Psicologia Escolar e Educacional, 2003 % 53,8 53,8 50 50 48,1 44,2 44,2 40,4 40,4 38,5 36,5 34,6 30,8 28,8 28,8 26,9 26,9 25 25 25 23,1 21,1 21,1 21,1 19,2 19,2 19,2 19,2 19,2 17,3 17,3 17,3 15,4 15,4 15,4 13,5 13,5 13,5 13,5 11,5 11,5 11,5 Volume 7 Número 1 47-56 54 Ana Paula Porto Noronha, Flávia Nunes de Moraes Beraldo e Katya Luciane de Oliveira Teste Raven de Operações Lógicas Cubos de Kohs Teste das Cores Teste de Organização Percepto-Motora Teste de Prontidão para Alfabetização Teste das Pirâmides das Cores – 14M Teste das Pirâmides das Cores – 24M IAT IFP D-70 Escalas de Beck Benton Teste Diagnóstico de Habilidade Pré-escolar Teste de Aptidão Mecânica ACRE R-1 QUATI AC 15 Escala de Maturidade para Escolha Profissional Teste de habilidade para o Trabalho Mental Questionário Confidencial Teste Eqüicultural de Inteligência – escala 2 Diagnóstico Organizacional Escala de Gesell Inventário de Expectativas sobre o Álcool BPR-5 Inventário Profissional de Interesses Teste de Rapidez Numérica Bender Hutt WPPSI Teste de Apercepção para Idosos IAR Teste de Compreensão Mecânica Inventário de Interesses Bessa-Tramer Lista de problemas Pessoais de Mooney Como chefiar? EDDP GEIST IDATE Teste de Reproduções de Figuras TIPITI Escala Fatorial de Ajustamento em.-neuroticismo Teste de Symonds Teste de Maturidade para Leitura PHD Inventário de Sintomas de Stress – ISSL O desenvolvimento do comportamento no 1 ano Teste de Rapidez Numérica Bateria de Testes de Aptidão Geral Cornell Index Escala de Preconceito Profissional IDATE C Teste de Nível Mental Questionário de orientação Individual Teste Eqüicultural de Inteligência – escala 3 Teste de Sondagem Intelectual Teste Projetivo Ômega AC Área, Profissões e Objetos Coleção Papel de Carta Escalas de Personalidade de Comrey 5 5 5 5 5 5 5 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 9,6 9,6 9,6 9,6 9,6 9,6 9,6 7,7 7,7 7,7 7,7 7,7 7,7 7,7 7,7 7,7 7,7 5,8 5,8 5,8 5,8 5,8 5,8 5,8 5,8 5,8 5,8 5,8 5,8 5,8 5,8 5,8 5,8 5,8 5,8 3,8 3,8 3,8 3,8 3,8 3,8 3,8 3,8 3,8 3,8 3,8 3,8 3,8 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 Lendo e Escrevendo Questionário Íntimo R-2 Raciocínio Lógico-Numérico SSO de Liderança Teste de Destreza Digital Teste Becasse de Maturidade Escolar Teste de Mandala de Palavras Teste Projetivo Sonoro Teste de Estruturas Vocacionais Inventário de Administração do Tempo Escala de Stress Infantil Figuras Complexas de Rey Questionário de Saúde Geral Questionário Desiderativo Teste do Desenho de Silver Teste de Desempenho Escolar Bateria TSP BBT Escala de Hamilton Teste de Relações Objetais Teste de Szondi Diagnóstico do Desenvolvimento Diagnóstico Tipológico Organizacional Teste de Atenção Difusa Test de Luscher Teste de Quadros para Adolescentes 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 Comparando os dois grupos, é possível observar que muitos dos instrumentos aparecem como os mais utilizados em ambos os grupos, exceto os seguintes que aparecem como mais freqüentes em apenas um: Teste de Zulliger, C.A.T. animais suplemento, Teste das Fábulas e Matrizes Progressivas Coloridas (grupo I); WISC, Bateria Fatorial CEPA e Rorschach (grupo II). DISCUSSÃO O presente estudo teve como objetivo identificar os instrumentos mais conhecidos e utilizados pelos psicólogos e por estudantes de psicologia. Constatou-se, a partir da análise dos dados, que os instrumentos mais conhecidos são também os mais utilizados, na grande maioria das vezes, com alguma variação na seqüência apresentada em uma ou outra situação, por ambos os grupos. Tal constatação, já esperada, confirma a tendência de se reproduzir o conhecido e dominado, e a falta de abertura para o novo. Por mais que isso esteja presente em diferentes áreas de conhecimento, a conseqüência é complicada e desastrosa, pois se perpetua o ensino das mesmas técnicas e não se possibilita que concepções mais recentes sejam integradas à prática profissional, sem que, por outro lado, as boas técnicas antigas Instrumentos psicológicos mais conhecidos e utilizados por estudantes e profissionais de psicologia 55 sejam valorizadas. Almeida (1999) aponta que o fraco diálogo entre investigadores e profissionais impede o avanço dos testes psicológicos, e que o desenvolvimento deste instrumental está fortemente associado ao desenvolvimento do país, portanto países em ascensão tendem a oferecer melhores e mais novos materiais. Outro dado merece atenção. A diferença encontrada entre os grupos no que diz respeito ao conhecimento dos instrumentos, revelou-se pequena, o que remete àquela discussão que evidencia que apenas uma parcela da comunidade de psicólogos se atualiza e continua a estudar, enquanto grande parte se satisfaz com os conhecimentos adquiridos na graduação. Pesquisas futuras poderiam ser realizados a fim de se levantar a qualidade dos instrumentos que estão sendo ensinados nos vários cursos de graduação nas universidades brasileiras, pois como sugere Castro (2001) a avaliação sobre os elementos inerentes ao processo ensinoaprendizagem de disciplinas de avaliação psicológica, é sempre oportuna, uma vez que pode gerar reflexões sobre estratégias de ensino, de forma a valorizar e consolidar o papel das técnicas na formação do psicólogo. No estudo desenvolvido por Wechsler e cols. (2000) entre estudantes universitários, com o objetivo de identificar as necessidades de pesquisa em avaliação psicológica, WISC, Bender, Columbia, HTP e Rorschach foram considerados os testes que mais necessitam de pesquisas no Brasil. Certamente, os sujeitos se basearam nos instrumentos ensinados nas suas respectivas formações profissionais para poder avaliar, o que pode sugerir que o universo de conhecimento é também restrito e parcial. Em contrapartida, não é exeqüível que muitos ou todos os instrumentos sejam discutidos ao longo da graduação, tendo em vista que o número de instrumentos não permite e que a prioridade é a qualidade de ensino, em detrimento da quantidade de técnicas. Em relação ao tema, Alves (2001) procurou avaliar, de maneira ampla, o ensino das técnicas de exame psicológico. O estudo revelou que os professores ensinam mais instrumentos do que é considerado como básico ou mínimo pelos próprios e que há pouca diferença entre a lista de instrumentos psicológicos efetivamente ensinados e a lista daqueles que foram considerados como mais indicados para o ensino e, sob esta perspectiva, erroneamente poderia se dizer que o ensino em avaliação psicológica está satisfatório. Para Pasquali (1999) o descrédito que ainda se encontra atualmente em relação aos instrumentos psicológicos, muito se deve à deficiente formação na área. O autor acredita que, embora a pesquisa na área ainda seja incipiente, os poucos pesquisadores que estão trabalhando, de alguma forma, já estão incomodando a classe de psicólogos, no que se refere ao problema da instrumentalização, da qualidade, do uso e da melhoria de testes psicológicos. O presente estudo constituiu-se num trabalho de levantamento e, embora este tipo de metodologia ainda receba críticas, mudanças se fazem a partir da reflexão de conjuntos de dados que revelam os diferentes estados das áreas de conhecimento. Portanto, estudos desta natureza são ainda importantes na área de avaliação psicológica para que as mudanças aconteçam e sejam pautadas nos dados já estudados. REFERÊNCIAS Almeida, L. S., Prieto, G., Muñiz, J., & Bartram, D. (1998). O uso dos testes em Portugal, Espanha e países Iberoamericanos. Psychologica, 20, 27-40. Alves, I. C. B., Alchieri, J. C., & Marques, K. (2001). Panorama Geral do Ensino das Técnicas de Exame Psicológico no Brasil. 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Nos testes (Pré-Teste, Intermediário e Pós-Teste) foram solicitadas atividades de vocabulário, escrita de orações em inglês, resumo em português e inglês. Os dados foram tratados quantitativa e qualitativamente. Os resultados indicaram que houve melhora em termos de leitura em inglês. Os voluntários do diurno apresentaram desempenho um pouco melhor que os do noturno, porém os do noturno assimilaram vocábulos específicos em maior número que os do diurno. Observou-se, no entanto, a necessidade de um novo planejamento para um curso instrumental, envolvendo não apenas a habilidade de leitura, mas também a de escrita e estratégias que possam enriquecer o vocabulário. Palavras-chave: aprendizagem de inglês, leitura e escrita INSTRUMENTAL ENGLISH: TEACHING EFFICIENCY FOR PSYCHOLOGY COURSE FRESHMAN STUDENTS Abstract English in a higher education is helpful to the students because expands their possibilities to communication and academic, professional and scientific performance. The purpose of this study was to analyse the efficiency of English for Specific Purpose course (reading). In order to fulfill this purpose, a Pre-test, a Mid-test and a Post-test were taken. The 28 volunteers were chosen at random from students in the first grade of Psychology course: 14 studying in the morning and 14 in the evening. They were evaluated on four aspects: vocabulary, sentences in English and summary in English and Portuguese. The performance of students who study in the morning was better, but the students who study in the evening learnt more specific words in Psychology than the students in the morning. Analysis of the data, using statistical methods, permitted the following conclusions: it is necessary to design another ESP course, including not only reading but also writing skills. Actions should be taken to improve the students’ vocabulary. Key words: English learning, reading, writing. INTRODUÇÃO Aprender a língua materna implica aprender a sua própria cultura, e aprender uma segunda língua implica a aprendizagem de uma segunda cultura. É aprendizagem com conseqüências psicológicas e sociais como o reconhecimento do vocabulário, que é um reflexo da cultura do povo, e também em relação ao grupo de falantes com seus valores simbólicos (Savilee-Troike, 1976). A aprendizagem de uma língua estrangeira, principalmente, a língua inglesa, é imprescindível no contexto globalizado atual, principalmente para o mercado de trabalho. Ela está presente em todos os setores profissionais e, sem dúvida, na área científica, em que é preciso dominar a leitura e a escrita dessa língua. A universidade é, geralmente, a última etapa da educação formal; é 1 importante, portanto, incentivar o estudante a interessar-se cada vez mais pelo conhecimento de pelo menos uma língua estrangeira, no caso, o inglês e de assegurar a habilidade de compreensão de leitura e de escrita dessa língua ao futuro profissional. Traça-se, assim, uma linha histórica que evidencia, no ensino de línguas, duas vertentes: o enfoque formalista ou estrutural e o enfoque comunicativo. Nos anos 60 e 70 houve um intenso movimento de ensino de línguas no Brasil, e a busca, nessa época, foi justamente a ênfase do melhor método, das melhores técnicas e dos mais eficientes recursos para ensinar idiomas em ambientes formais. Nos anos 80, após experiências com alguns métodos que visavam à aprendizagem eficiente Doutora pela PUC-Campinas e docente da Universidade de Mogi das Cruzes. Neusa Haruka Sezaki Gritti 58 de língua estrangeira, lingüistas verificaram que o enfoque estruturalista necessitava de reformas e tentaram mudá-lo, dessa vez, centrado no aluno, na sua realidade, com enfoque no uso apropriado da língua em interações comunicativas. Essa visão dá origem ao chamado movimento comunicativo que pretendia ir além do formal e das normas, oferecendo oportunidades para o aluno poder interagir usando a língua-alvo. Em 1983, ainda em destaque o enfoque comunicativo, instalou-se definitivamente no Brasil a proposta de Ensino Instrumental de Línguas, internacionalmente pesquisada desde os anos 70. Esse ensino instrumental explicita como e por que é possível aprender a desempenhar-se adequadamente para fins específicos, em contextos também específicos de uso da língua materna ou de uma língua estrangeira. Possibilita que sejam focalizadas certas habilidades (leitura e escrita, por exemplo), áreas de conhecimento e necessidades de estratégias específicas (ler para resumir, escrever relatórios, tomar notas, por exemplo), com conseqüente economia de tempo e alcance relativamente precoce das metas pretendidas. Enfim, qualquer habilidade pode ser focalizada dependendo da habilidade que o aprendiz necessita. Buscando ensinar o inglês dentro dessa proposição, em uma universidade, situada na região leste da Grande São Paulo, foi implantado o Projeto de Curso Instrumental para Leitura de Textos em Inglês, cujo objetivo é instrumentalizar os alunos a ler em inglês. O presente trabalho é uma pesquisa da eficiência do processo ensino/aprendizagem em termos de vocabulário, leitura e escrita, enfocando a aplicação do referido projeto em um curso de graduação na área de Psicologia. A necessidade desse estudo se fez presente na medida em que a instituição educacional se preocupa em capacitar alunos na formação de futuros profissionais competentes, capazes de atuar em qualquer instituição ou empresa. Na verdade, a universidade, como instituição em constante evolução, é responsável pela difusão, geração e desenvolvimento de grande parte do conhecimento científico, preparando o cidadão também para uma profissão, além de prepará-lo para a vida. A sociedade, por outro lado, necessita de profissionais altamente preparados para ajudá-la a atingir os objetivos socialmente determinados, além de favorecer o alcance das metas individuais de seus membros. É necessário, portanto, a instituição superior oferecer condições reais a fim de que os alunos adquiram conhecimento científico além de fornecer sólida formação de qualidade. Assim, é necessário que nas pesquisas os múltiplos aspectos sejam enfocados. MÉTODO Situação A coleta de dados foi realizada em uma universidade particular situada na zona leste da Grande São Paulo, especificamente no curso de Psicologia. Atualmente o curso funciona com habilitação em Formação do Psicólogo com ênfase na Área de Saúde, Licenciatura e Bacharelado, nos períodos diurno e noturno. O objetivo do curso é atualizar o curso e voltá-lo mais para ciência. O corpo discente está sendo estimulado à produção científica e à participação em congressos, publicações e outros eventos relevantes na formação do futuro profissional e/ou cientista. Atividades de enriquecimento curricular são freqüentes e a iniciação científica se ampliou neste último ano. Voluntários A coleta de dados foi realizada com alunos de graduação do Curso de Psicologia. Os sujeitos cursavam o 1º ano de Psicologia, sendo uma turma no período diurno e outra no período noturno. Os voluntários foram caracterizados quanto a sexo, idade, escolaridade anterior, conhecimento de inglês e hábitos de leitura. A amostra casual tomada para coleta de dados ficou composta de 28 alunos, sendo 14 do período diurno – GD (grupo diurno) e 14 do período noturno – GN (grupo noturno). A faixa etária desses sujeitos ficou compreendida entre 17 e 40 anos de idade (GD e GN). Quanto à escolaridade anterior, 57% dos voluntários do GD e 93% dos voluntários do GN cursaram o ensino fundamental em escola pública; 43% do GD e 7% do GN em escola particular. Em relação ao ensino médio, 50% dos sujeitos do GD cursaram escola pública, e 50%, particular; 64% dos voluntários do GN, escola pública e 36%, escola particular. Quanto ao curso particular de inglês, 64% dos voluntários do GD e apenas 36% do GN fazem ou já fizeram algum curso. Em relação à leitura em inglês, 29% dos voluntários do GD e 21% do GN o fazem semanalmente; 35% do GD e 29% do GN lêem mensalmente, e 35% do GD e 50% do GN, respectivamente, nunca lêem em inglês. Inglês instrumental: Eficiência do ensino para ingressantes do curso de psicologia Material Foram utilizados os instrumentos aqui arrolados e descritos. a) Questionário informativo - por meio do qual foram obtidas as seguintes informações: identificação; cursos realizados; atividades profissionais; hábitos de leitura e expectativas quanto ao curso de Inglês. b) Habilidades de Língua Inglesa – buscou-se verificar o conhecimento de inglês em relação ao vocabulário, leitura e escrita. A avaliação foi dividida em quatro partes. 1. Protocolo de Vocabulário, em Inglês – os sujeitos escreveram uma relação de palavras soltas, em inglês, envolvendo qualquer área de conhecimento, bem como palavras de qualquer categoria gramatical; 2. Protocolo de Orações, em Inglês, – os sujeitos escreveram uma ou várias orações, em inglês, relacionadas com a área de Psicologia; 3. Texto, em Inglês, – leitura de um trecho de um texto em inglês e escrita de um resumo do que foi lido (resumo em português); 4. Texto, em Inglês, – leitura de um trecho de um texto, em inglês e escrita de um resumo sintetizando aquilo que foi lido dessa vez em inglês. c) Material para Tradução/ Compreensão de Texto No final do curso, foram utilizados três ‘abstracts’ de artigos, teses, dissertações e livros extraídos da base de dados ERIC da área de Educação e de Psicologia, em que foi solicitada a tradução/compreensão dos três textos em português para verificar o grau de habilidade de leitura e compreensão apresentado pelo sujeitos. Foi permitido o uso de dicionário bilíngüe. Procedimento A coleta foi efetivada em situação natural de sala de aula e dividida em três fases (pré-teste; intermediário e pós-teste). Toda coleta de dados foi feita pela própria Autora, que assumiu o papel de docente-pesquisadora, contando com o consentimento dos alunos Pré-Teste e Intermediário Foi distribuído, no início do ano, na sala de aula de cada período, o questionário informativo. Em seguida, os sujeitos receberam uma folha e foi solicitado que escrevessem palavras em inglês com tempo estipulado de um minuto e meio; escrevessem palavras em inglês relacionadas com a área de psicologia – tempo de um minuto e meio (este item foi solicitado apenas no Teste 59 Intermediário); escrevessem orações em inglês também com tempo estipulado (dois minutos); lessem o texto em inglês e, a seguir, foi solicitado que eles escrevessem um resumo, em português, e lessem outro texto em inglês e que escrevessem um resumo, dessa vez em inglês, sintetizando aquilo que foi lido. No final do primeiro semestre, foi aplicado um teste semelhante, sendo que os textos em inglês não foram os mesmos aplicados no Pré-Teste. Pós-Teste No final do curso foi aplicado o mesmo material aplicado no Pré-Teste. Tradução/ Compreensão de Textos A partir dos resumos coletados (abstracts) de artigos, dissertações e teses da área de Psicologia da base de dados ERIC, foi feito um acompanhamento e orientação na tradução/ compreensão de texto na linguagem escrita para que os sujeitos pudessem familializar-se com o vocabulário específico da área de Psicologia. RESULTADOS A análise dos resultados foi realizada com a comparação dos sujeitos intragrupo, isto é, observando-se o desempenho do GD e do GN e intergrupos. Para essas comparações, foi utilizado o T de Wilcoxon (Siegel, 1956). Toda a análise estatística foi conduzida, tendo por margem de erro o n. sig.=0,02, posto que se pretendeu ser mais exigente do que comumente se faz em Ciências Humanas, pois buscava-se melhor qualidade de ensino e efetivamente capacitar o aluno no uso instrumental de inglês na sua área de atuação. Os critérios de avaliação, em alguns itens, têm margem expressiva de subjetividade, o que impede, por seu nível de mensuração, usar com segurança estatística paramétrica (Witter, 1996). Análise intragrupo Vocabulário Nessa atividade a maior parte das palavras era constituída por substantivo nos três testes. No GD, o maior número de vocábulos foi 32 no primeiro teste; 34, no segundo; e 51,5 no terceiro. No GN, o maior número foi 32 no primeiro teste; 37,5, no segundo; e 45 no terceiro. O Pré-Teste foi nomeado T1, o segundo teste T2, e o Pós-Teste T3. A comparação feita foi do número total de vocábulos apresentados pelos sujeitos dos T1 e T2; Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 57-68 Neusa Haruka Sezaki Gritti 60 T2 e T3 e T1 e T3. O número de sujeitos foi N=26 quando analisados todos os sujeitos como um grupo; N = 13 para o GD e GN. Foram tomados como parâmetros: H0: T1=T2 ; T2=T3 ; T1=T3 Ha: T1 < T2 ; T2 < T3 ; T1 < T3 no nível de significância definido. Os resultados obtidos quando analisados como um grupo foram: T0=47,5 na comparação do T1 e T2; T0=3,5 na comparação do T2 e T3 e T0=14,5 na comparação do T1 e T3. Em todas as comparações, a H0 foi rejeitada em favor da alternativa, isto é, ocorreu o progresso esperado. No GD obteve-se T0=27 na comparação do T1 e T2 em que se observa que a H0 não foi rejeitada; T0=1na comparação do T2 e T3 em que a H0 foi rejeitada e T0=12 na comparação do T1 e T3 em que a H0 foi rejeitada. No GN obteve-se T0=13 na comparação do T1 e T2 em que se observa que a H0 não foi rejeitada; T-=2,5 na comparação do T2 e T3 em que a H0 foi rejeitada e T0=2,5 na comparação do T1 e T3 em que a H0 foi rejeitada. A representação dessas comparações pode ser observada, a seguir, na Tabela 1. e a menor +1; do T2 e T3 foi 34 e a menor +1 e do T1 e T3 a maior foi 26,5 e a menor +2. No GN a maior diferença do T1 e T2 foi +11,5 e a menor +0,5; do T2 e T3 foi 19 e a menor +1,5 e do T1 e T3 a maior foi 19 e a menor +1. Vocábulos específicos da área Do T1 e T2 não há praticamente ocorrência nenhuma de vocábulos específicos da área, porém nota-se que do T2 e T3 ou do T1 e T3 os sujeitos apresentaram muitos vocábulos pertinentes da área. De um total de 28 sujeitos, tanto considerados como um grupo quanto separados por GD ou GN, do T2 e T3 ou do T1 e T3, observa-se que as H0 foram rejeitadas uma vez que em ambos os casos o T=0, conforme Tabela 2. Sentenças em Inglês Os voluntários tiveram muita dificuldade na construção das sentenças. Assim sendo, a maior parte deles não apresentou sentenças com a estrutura correta da língua nem com o vocabulário específico da área. Tabela 1: Comparações Intragrupo - palavras em inglês. A maior diferença no di considerando Ha: T1 < T2 T2 < T3 T1 < T3 na comparação do T1 e T2 num grupo como um todo foi +11,5 e a menor +1; do T2 e T3 foi 34 e a menor +1 e do T1 e T3 a maior foi 26,5 e a menor +1. No GD a maior diferença no di na comparação do T1 e T2 foi +10 O total de 28 sujeitos foi reduzido a 13 na comparação do T1 e T2 porque não houve nenhum progresso; da T2 e T3 foram considerados 13 sujeitos e do T1 e T3, 18. Os resultados obtidos quando analisados com grupo foram: T-=17,5 na comparação do T1 e T2; T0=0 na com- Tabela 2: Comparações Intragrupo - vocábulos específicos da área. Inglês instrumental: Eficiência do ensino para ingressantes do curso de psicologia paração do T2 e T3 e T0=7,5 na comparação do T1 e T3. No T1 e T2 a H0 não foi rejeitada, porém nos T2 e T3 e T1 e T3 as H0 foram rejeitadas. No GD, em que foram considerados 8 voluntários no T1 e T2; 7 sujeitos no T2 e T3, e 10 sujeitos no T1 e T3, os seguintes resultados foram obtidos: T0=10 na comparação do T1 e T2, em que se observa que a H0 não foi rejeitada; T0=0 na comparação do T2 e T3, em que a H0 foi rejeitada e T0=10 na comparação da T1 e T3, em que a H0 foi rejeitada. No GN, o T1 e T2, a comparação ficou prejudicada, pois havia apenas 5 voluntários a serem considerados, isto é, 9 sujeitos apresentaram empate e não é possível trabalhar com a comparação; no T2 e T3 foram considerados 6 sujeitos e no T1 e T3 foram considerados 8 voluntários. Os seguintes resultados foram obtidos: T0=0 na comparação do T2 e T3 em que a H0 foi rejeitada e T0=2,5 na comparação da T1 e T3 em que a H0 foi rejeitada. A representação dessas comparações pode ser observada na Tabela 3. Resumo em Português De um total de 28 voluntários, os dados foram reduzidos a 18 na comparação do T1 e T2 porque os demais não apresentaram nenhum progresso; da T2 e T3 foram considerados 19 voluntários e do T1 e T3, 13 voluntários, pela mesma razão. 61 Os resultados obtidos quando analisados como grupo foram: T 0=17,5 na comparação do T 1 e T 2; T 0=27,5 na comparação do T 1 e T 2 e T 0=7,5 na comparação do T 1 e T 3. Nas três comparações, as H 0 foram rejeitadas. No GD, em que foram considerados 10 voluntários no T1 e T2; 10 sujeitos no T2 e T3, e 8 voluntários no T1 e T3, os seguintes resultados foram obtidos: T-0 = 7,5 na comparação do T1 e T2 em que se observa que a H0 foi rejeitada; T0=20 na comparação do T2 e T3 em que a H0 não foi rejeitada e T0=0 na comparação da T1 e T3 em que a H0 foi rejeitada. No GN, foram considerados 8 voluntários no T1 e T2; 9 voluntários no T2 e T3, e 8 voluntários na comparação T1 e T3 ficaram prejudicados, pois havia apenas 5 voluntários a serem considerados, isto é, 9 s voluntários apresentaram empate, e não é possível trabalhar com a comparação em que há cinco ou menos sujeitos. Foram obtidos os seguintes resultados: T-=10 na comparação do T1 e T2, em que a H0 não foi rejeitada e T-=7,5 na comparação da T2 e T3, em que a H0 não foi rejeitada. A representação dessas comparações pode ser observada na Tabela 4. Resumo em Inglês A maior parte dos voluntários teve, além da dificuldade na compreensão do texto, muita dificuldade na escrita do inglês. Tabela 3: Comparações Intragrupo - sentenças em inglês. Tabela 4: Comparações Intragrupo - resumo em Português. Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 57-68 Neusa Haruka Sezaki Gritti 62 O total de 28 voluntários, foi reduzido a 11 na comparação do T1 e T2 porque o restante não apresentou nenhum progresso; da T2 e T3 foram considerados 10 sujeitos, e do T1 e T3, 10 voluntários. Os resultados obtidos quando analisados como grupo foram: T0=15 na comparação do T1 e T2; T0=15 na comparação do T2 e T3 e T0=12,5 na comparação do T1 e T3. Nas três comparações, as H0 não foram rejeitadas. No GD, foram considerados apenas 6 voluntários no T1 e T2; 7 voluntários no T2 e T3, e 5 voluntários no T1 e T3. Nesse caso, não houve possibilidade de fazer a comparação. Os seguintes resultados foram obtidos: T0=0 na comparação do T1 e T2, em que se observa que a H0 foi rejeitada; T0=12,5 na comparação do T2 e T3, em que a H0 não foi rejeitada. No GN, não foi possível realizar a comparação em nenhum dos três casos, pois o número total de voluntários não permitiu a comparação. A representação das comparações anteriores pode ser observada na Tabela 5. como parâmetro - Ha:T1 > T2. Na comparação do desempenho dos Textos 1 e 2, o desempenho do Texto 1 foi melhor que do Texto 2, possivelmente, em virtude de a atividade ter tido auxílio do docente. Análise intergrupos A análise intergrupo estatística foi feita recorrendose a um teste não-paramétrico na comparação de duas amostras independentes (Teste U, Siegel, 1956), sendo n 1=14 e n 2=14 e mantendo-se o nível de erro já explicitado, isto é, 0,02. No presente estudo, Ho: GD=GN e Ha: GD ¹ GN. Nas comparações do teste de vocabulário em geral e do vocabulário específico, verificou-se a rejeição da Ho em todos os casos, sendo o GD superior nos três testes, porém, o GN apresentou desempenho melhor no vocabulário específico. Nas comparações dos resumos em português, notase que, também, em nenhum dos três testes a hipótese Tabela 5: Comparações Intragrupo - resumo em Inglês. Tabela 6: Comparações Intergrupos em Vocabulário (geral e específico). Tradução/ Compreensão dos Textos O desempenho da tradução do segundo texto, nomeado como T1 ( o primeiro texto não foi avaliado) foi melhor que do terceiro texto T2, uma vez que houve uma ajuda parcial do docente naquele texto. Como o número total de pontos do T1 é de 40, e do T2, de 30, optou-se pela porcentagem de acertos para comparar os resultados do desempenho. Foi tomado nula foi rejeitada. Nas comparações dos resumos em inglês, observase que no Pré-Teste e no Teste Intermediário a Ho não foi rejeitada, porém, no Pós-Teste, foi rejeitada, sendo que o GD mostrou melhor desempenho. Na comparação do desempenho no Texto 1 e texto 2 da tradução/ compreensão dos textos, observou-se que o GD apresentou um resultado melhor que o GN. Inglês instrumental: Eficiência do ensino para ingressantes do curso de psicologia 63 Tabela 7: Comparações Intergrupos em Orações. Tabela 8: Comparações Intergrupos em Resumos em Português. Tabela 9: Comparações Intergrupos em Resumos em Inglês. DISCUSSÃO Vocabulário Constatou-se que os voluntários tinham um vocabulário aquém do esperado para o uso de inglês instrumental. Gattolin (1998), ao ilustrar a importância desse tópico, ressalta que, se o objetivo é preparar o aluno para a leitura de textos em inglês e se a falta de vocabulário é um dos maiores bloqueios para a realização dessa tarefa, deve-se dispensar uma atenção especial ao ensino do léxico. Parece válido introduzir um curso rápido ou a aplicação de estratégias para aquisição de vocabulário antes do início de um curso instrumental, pelo menos para atingir o mínimo do léxico de alta freqüência, pois os estudantes iniciantes de um curso universitário, pelo menos na instituição em que foi feita a pesquisa, não parecem conhecer o mínimo do léxico que Nation (1993) propõe como de 2.000 palavras de alta freqüência. Pelos resultados obtidos nas atividades porém, é notório no final do curso, o progresso na aquisição de vocabulário. É necessário trabalhar, mesmo num curso instrumental, a aquisição de vocabulário para que o processo de leitura se desenvolva de maneira mais eficaz, isto é, dessa forma o aprendiz terá mais ferramentas que possam facilitar seu aprendizado. Scaramucci (1995), que pesquisou o desempenho do inglês dos graduandos, verificou que a dificuldade dos alunos durante a tarefa de compreensão de leitura era exatamente a falta de vocabulário, apontando, portanto, a necessidade de um nível limiar de competência lexical para a compreensão de textos na língua alvo. Cabe, portanto, aos professores, por meio de pesquisas já existentes, ou de suas próprias, aplicando atividades que auxiliam no desenvolvimento do processo da aquisição de vocabulário e até troca de experiências entre os pares, alcançar um nível limiar de competência lexical para a compreensão de textos na língua alvo. Em se tratando de ensino instrumental para o ensino superior, cuidar do vocabulário da área de conhecimento específica se faz necessário para assegurar êxito. Reitera-se aqui a importância de trabalhar com textos específicos considerados de leitura fácil, para que, ao aprenderem a língua inglesa, estejam também motivados para adquirir vocabulário específico da área, o que viabiliza transferência mais pronta para que alcancem êxito na leitura de textos acadêmicos da área. Vale dizer que é importante na seleção de textos levar em Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 57-68 Neusa Haruka Sezaki Gritti 64 consideração o princípio da modelagem com texto de complexidade crescente (Bandura, 1986). Como sugestão para melhorar o vocabulário dos discentes, seria necessário um trabalho interdisciplinar, em que todos os docentes do curso tomariam as mesmas posições no sentido de os estudantes adquirirem vocabulário tanto geral quanto específico. Posteriormente em séries mais avançadas, os estudantes estarão redigindo resumos em inglês em seus artigos científicos. Orações em inglês Constata-se que a falta de conhecimento prévio prejudica o aprendizado da língua estrangeira num curso instrumental. A maior parte das orações apresentadas pelos voluntários não evidencia qualquer conhecimento de estrutura de uma oração – SVO (sujeito, verbo, objeto) ou SVC (sujeito, verbo, complemento) – que é o mesmo da língua materna. Aí, novamente, surge a questão em relação à língua materna, será que essa falta de conhecimento ocorre também em português? Estudos correlacionais poderiam ser de grande utilidade para esclarecer a questão. Era de esperar, no entanto, que, nesse teste, os sujeitos já pudessem apresentar algumas orações simples. Nos dois grupos GD e GN, verifica-se que as hipóteses nulas foram rejeitadas nas comparações tanto do T1 e T3 quanto do T2 para o T3. Ao que parece, há possibilidades de obter bons resultados na escrita, num curso instrumental, pois sem a habilidade da escrita ter sido enfatizada, os voluntários foram capazes de produzir pequenas orações em inglês. Reitera-se, novamente, a necessidade urgente de trabalhar com a língua, tanto a materna quanto a estrangeira, envolvendo todas as competências pertinentes na aprendizagem da língua, mesmo num estágio de ensino superior. Resumo em português Constatou-se que o desempenho dos voluntários nessa atividade de resumo em português não foi satisfatório praticamente em nenhum dos três testes. O GD apresentou um desempenho melhor que o GN, e este não apresentou progresso algum em nenhum dos três testes. Vale lembrar que os alunos estavam paralelamente assistindo a aulas de Português (4 h/a semanais) e nem assim foi registrado progresso na habilidade de fazer resumo de texto. Além da leitura, constata-se que a produção do texto, isto é, a escrita, também necessita de atenção espe- cial na língua materna, mesmo porque os estudantes do meio acadêmico devem, em dado momento, produzir textos conforme certas especificações que são freqüentemente rigorosas, conforme lembra Robinson (1991). Nesse sentido, Domingos (1999), em sua pesquisa sobre a análise de resumos de dissertações e teses, constatou que há necessidade de inclusão direta ou indireta, nos programas universitários, de tópicos, disciplinas, minicurso ou seminários que informem vários tipos de discurso científico, entre os quais o resumo. Seria de grande utilidade que docentes de todas as disciplinas passassem a solicitar a apresentação de resumo ou summary em todas as tarefas escritas, especialmente nos relatos de pesquisa. Sabendo fazer resumos em língua materna, o estudante terá menor dificuldade para resumir em língua estrangeira, pois a dificuldade estará apenas na aprendizagem da língua. Ainda nesse contexto de avaliação, é preciso levar em consideração e medir as atitudes dos alunos em relação ao ensino superior (Wilcox, 1999) e em relação ao inglês como língua estrangeira. São aspectos para os quais, já no processo de seleção, poderiam ser colhidas informações úteis ao planejamento educacional e que poderiam gerar outros estudos como o de Nassri (2000). Resumo em inglês Com relação à escrita em língua inglesa, os problemas são mais marcantes. Na presente pesquisa, notase, pelos resultados estatísticos, a comprovação dessa falha, oriunda, ao que parece, do ensino fundamental e do ensino médio. Os resultados nada satisfatórios sugerem a inclusão do ensino da habilidade de escrita no curso instrumental, uma vez que ela é necessária - principalmente num curso acadêmico - para trabalhos científicos em que a escrita em língua inglesa é solicitada. Essa habilidade em um curso instrumental pode apresentar bons resultados conforme mostra Augusto (1997), que implementou uma pesquisa com seus alunos usando um enfoque alternativo ao ensino instrumental tradicional, enfoque esse que dá ênfase a determinada habilidade – a escrita – sem porém, abandonar as demais que são trabalhadas, entre outros procedimentos, por meio da utilização da língua alvo no desenvolvimento das aulas e da escolha do material didático. Essa proposta foi bem aceita pelos alunos, e os resultados apontam para novas possibilidades nas formas de ensinar língua estrangeira em bases instrumentais. Há necessi- Inglês instrumental: Eficiência do ensino para ingressantes do curso de psicologia dade de novas pesquisas para verificar várias modalidades de ensino instrumental na busca de soluções para os problemas existentes nesse ensino. Tradução/ Compreensão de texto Conforme já foi mencionado, até hoje não se tem um conceito definitivamente consolidado do que é tradução. Analisando os conceitos de vários autores sobre tradução (Catford, 1965; Nida, 1975; Newmark, 1981; Guidicini, 1987, entre outros), verifica-se que representam sempre o resumo de uma teorização, condensando pontos importantes a respeito do desenrolar de um processo que dá como resultado o produto, isto é, o texto traduzido. De modo geral, o termo crucial numa tradução é o aspecto da equivalência, é a palavra-chave em quase todas as teorias sobre tradução. Nas atividades de tradução desta pesquisa aconteceu exatamente o que muitos normalmente acham que é fazer uma tradução: simplesmente ir traduzindo palavra por palavra literalmente. Dessa forma, muitas orações ficaram sem sentido, isto é, não ocorreu o trabalho de tradução; não se buscou a equivalência de sentido das orações. As associações entre as palavras ficam difíceis e sujeitas também à influência da língua alvo, afirma Yorio (1971). Outra dificuldade dos sujeitos foi em relação aos grupos nominais (ou sintagmas nominais) pois, na língua inglesa, a ordem das palavras dentro do grupo é diferente do português. Por exemplo: race horse quer dizer cavalo de corrida ao passo que horse race já muda completamente de significado, ou seja, significa corrida de cavalo e há muitos grupos nominais em qualquer texto em língua inglesa. A classificação das funções das palavras dentro das orações é outra dificuldade por parte dos alunos ingressantes. Para eles, é difícil diferenciar um adjetivo de um substantivo dentro das orações em inglês; nessas circunstâncias, há mais por aprender do que recorrer a um dicionário. A vantagem dessa atividade é que, como se pode observar nas tabelas anteriores, a maioria dos sujeitos conseguiu absorver muitas palavras novas específicas da área de Psicologia, que serão freqüentemente usadas no decorrer do curso quando se tratar de textos em língua inglesa, (as quais os docentes devem requerer de seus alunos como leitura específica). Sugere-se, portanto, que a maior parte dos textos selecionados sejam específicos da área, com dificuldades gradativas. No- 65 vamente, se reitera a necessidade do trabalho de interdisciplinaridade em que os docentes do curso estariam selecionando textos específicos de sua disciplina em inglês para que os alunos aprendam e aumentem o seu repertório de vocabulário. Comparações intergrupos Nos três testes, o GD apresentou melhor desempenho na atividade de vocabulário como era de se esperar, tendo em vista que alunos do curso diurno e esses normalmente apresentam melhores condições de estudo além de uma escolaridade anterior mais bem estruturada, sem contar que têm mais tempo para se dedicar ao estudo e à pesquisa e também mais experiências com o inglês. Nenhum dos dois grupos parece indicar, pelos resultados, o desejado em termos de aquisição de vocabulário. Se, porventura, o ensino do léxico fosse desenvolvido durante o curso, o leque de vocabulário talvez fosse maior. Constata-se, portanto, que há várias questões relevantes para serem investigadas em estudos posteriores, inclusive a forma pela qual se fez a avaliação. Fato interessante ocorreu com o vocabulário específico em que o GN apresentou melhor desempenho que o GD. Isso demonstra que o vocabulário foi mais bem assimilado quando os alunos tinham pouco conhecimento da língua, isto é, o crescimento ficou mais evidente. Parece que os procedimentos de ensino de vocabulário não foram suficientemente eficazes. Outros precisam ser testados. Na segunda atividade de orações em inglês, nem o GD, nem o GN apresentaram desempenho satisfatório, consequentemente as hipóteses nulas não foram rejeitadas em nenhum dos três testes. Houve uma dificuldade muito grande nessa atividade, isto é, nas que envolvem escrita de modo geral. A agravante é que, além de terem dificuldade na escrita, os sujeitos tinham muito pouco conhecimento da língua alvo em termos de estrutura da frase e a falta de vocabulário certamente influiu na atividade escrever orações. Além da leitura em inglês, há necessidade de trabalhar, em todas as disciplinas, a escrita. A inclusão direta ou indireta nos programas, nas disciplinas, nos minicursos ou nos seminários que dêem informações sobre vários tipos de discurso, entre os quais o resumo, é o que recomenda Domingos (1999) em sua tese, e aqui se reitera. A mudança curricular no curso pesquisado instituiu a iniciação científica para todos os alunos, e isso certamente estimulará o uso do inglês e, pelo menos em par- Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 57-68 Neusa Haruka Sezaki Gritti 66 te, corrigirá algumas das distorções aqui registradas. Caberá aos orientadores a maior parte dessa responsabilidade. Em síntese, a falta ou a correção das limitações do desempenho aqui verificado pode encaixar-se em uma das possíveis hipóteses levantadas por Dally III, Witt, Martens e Dool (1997) que destacam que a falta de motivação, atividade insuficiente para responder à tarefa, e pouca precisão nas habilidades alvo encontradas no aluno. No primeiro caso, é necessário fornecer incentivos para a aprendizagem da língua alvo, quer na sala de aula quer fora dela, isto é, estimular os alunos a estarem em contato com qualquer material em língua inglesa (livros, revistas, internet, jornais, programas e filmes na televisão entre outros). A segunda possibilidade pode ocorrer especialmente entre os alunos do noturno, os quais, em função do trabalho, podem estar insuficientemente ativos para cumprir atividades acadêmicas ou extra-acadêmicas. Nesses casos, Dally III e cols. (1997) recomendam que os psicólogos escolares e docentes desenvolvam estratégias que permitam estimular o ritmo de respostas e gradativamente aumentar os critérios de exigência. Para a realidade brasileira, é necessário pesquisar a viabilidade dessas estratégias. Isto implicaria ter psicólogos escolares atuando nos cursos superiores no papel de assessoria aos professores. No caso da falta de precisão das habilidades alvo, as inúmeras estratégias propostas por vários autores e citadas no presente trabalho são recomendadas. Entretanto, vale reiterar a necessidade de pesquisar as estratégias na realidade brasileira. CONCLUSÕES Ao longo da apresentação dos dados da pesquisa e da discussão dos mesmos, um aspecto ficou muito evidente: a necessidade de reformular o curso de língua inglesa instrumental, no sentido de estar incluindo outras habilidades como a escrita e a de um programa para aquisição de vocabulário. Mesmo não trazendo nenhum conhecimento de inglês no início do curso, ao término, pôde-se constatar, pelo Pós-Teste, que os sujeitos adquiriram o mínimo do léxico. Não se tem evidência, porém, de que atingiram o número ideal referido na literatura. Pelos resultados obtidos, no entanto, os sujeitos estão prontos para dar continuidade aos seus estudos em LE completamente independentes na habilidade de leitura. O que se pôde constatar, no entanto, é que há falhas mesmo na língua materna. Isso demonstra que os ingressantes na universidade têm dificuldades de escrita mesmo na língua materna e, consequentemente, na LE. Compete à universidade suprir essas falhas para poder dar continuidade aos estudos acadêmicos de maneira eficaz. Pelos resultados da presente pesquisa, no entanto, verificou-se que há possibilidades de se obter em bons resultados na escrita, pelo menos num curso instrumental, pois os sujeitos puderam produzir pequenas orações em inglês no final do curso, embora essa habilidade não tivesse sido trabalhada com afinco. De qualquer forma, há necessidade de implementar um curso de escrita, principalmente no que diz respeito à confecção de resumos em LE, no curso de Psicologia, nessa instituição, pois os estudantes estão sendo encaminhados para o mundo científico. Essa é, pelo menos, a proposta do novo currículo. Há, na universidade, um laboratório de discurso científico em que devem ser desenvolvidas, inclusive, atividades de tradução. A prática de resumos seria uma das sugestões. Esse laboratório (LDC), em fase inicial de implantação prevê esse tipo de atividade. A prática de tradução também é importante, pois, como é de conhecimento, traduzir não se resume em apenas verter literalmente as palavras da língua fonte para a língua meta. Questões lingüísticas, culturais, entre outras, interferem muito na tradução de textos. Se houver um trabalho interdisciplinar que envolva o corpo docente e discente na busca de melhoria de ensino e supra as lacunas existentes, principalmente nas habilidades que envolvem leitura e escrita, o curso caminhará com a certeza de estar formando profissionais competentes e capacitados e a par da produção científica nacional e da internacional. Retomando os objetivos propostos nesta pesquisa, pode-se concluir o que se segue. O curso do inglês instrumental na instituição é válido em termos de estratégias utilizadas para compreensão de textos, alguns pontos gramaticais essenciais para leitura em língua inglesa e o ensino do uso do dicionário, porém os objetivos propostos não foram totalmente atingidos, possivelmente, porque os sujeitos não apre- Inglês instrumental: Eficiência do ensino para ingressantes do curso de psicologia sentavam os pré-requisitos para acompanhar esse curso instrumental. Verificou-se que o léxico dos sujeitos em língua inglesa era muito escasso e, durante o curso eles absorveram muito pouco, pois o foco principal não estava voltado para aquisição de vocabulário. O que se verificou é que nas palavras desconhecidas buscavase significado por meio do contexto, das palavras circunvizinhas e até mesmo por meio de conhecimento de mundo, porém isso também não caracterizava absoluta aprendizagem do vocabulário. Embora o curso instrumental tenha como objetivo preencher as lacunas dos cursos anteriores, os alunos não trazem o vocabulário mínimo exigido. Portanto, antes de iniciar um curso instrumental, é preciso buscar esse mínimo para seu início propriamente dito. Os sujeitos não apresentaram nenhuma habilidade em escrita, que também não fazia parte dos objetivos do curso. O curso de leitura, portanto, não forneceu condições para que os sujeitos adquirissem habilidade na escrita, porém, como há correlação entre esses dois comportamentos, é de esperar alguma generalização. A maior parte dos sujeitos era oriunda de escolas públicas, principalmente os do noturno; a minoria, de escolas particulares. Traziam pouco conhecimento prévio (conhecimento de mundo, lingüístico e textual) ao iniciar a universidade e, consequentemente, muito pouco vocabulário em língua inglesa e pouca habilidade em leitura e escrita. O melhor desempenho, em quase todas as atividades, foi do grupo do diurno. Na atividade de vocabulário específico, porém, o grupo noturno superou o diurno, concluindose, portanto, que houve maior probabilidade de aquisição de vocabulário num grupo que tem menos conhecimento da língua. O que se observa, de modo geral, é a necessidade de melhorar o ensino de língua estrangeira. Essa necessidade já tinha sido enunciada por Carroll (1967) há muito tempo nos Estados Unidos, porém isso ainda persiste nos dias de hoje aqui no Brasil. O autor, relatando as necessidades, lança questões como: a quem a língua estrangeira deveria ser ensinada?; em que série ou idade?; qual a duração do curso?; quais objetivos e métodos deveriam ser priorizados? Essas questões continuam atuais até hoje. Embora a literatura dê algumas respostas para 67 algumas, há necessidade de verificar sua adequação à situação nacional. Uma programação para um curso instrumental, como sugestão, poderia ser a seguinte: 1. No início do curso, para melhorar o vocabulário dos discentes, um trabalho interdisciplinar seria proposto, no qual todos os docentes do curso tomariam as mesmas posições no sentido de os estudantes estarem adquirindo vocabulário tanto geral quanto específico. Todos os professores do curso buscariam textos em língua inglesa. Para auxiliar os professores, o professor de inglês estaria subsidiando as dificuldades provenientes dos textos selecionados pelos docentes. Esse trabalho teria continuidade em todas as séries do curso, atuando o docente de inglês como assessor ou operando no laboratório de discurso científico. 2. O curso propriamente dito seria iniciado após a aquisição de um vocabulário mínimo, geral e específico. Nessa etapa, o docente do curso trabalharia, na maior parte das vezes, com textos voltados à área de Psicologia, porém pouco complexos. A metodologia e os tópicos seriam os mesmos já citados no procedimento – curso de inglês instrumental – deste presente trabalho. 3. No decorrer do curso, a habilidade de escrita também deve ser trabalhada. Inicialmente, na língua materna e, posteriormente, na língua inglesa. Um texto em português será apresentado ao aluno, e ele redigirá sentenças em torno do assunto tratado, resumirá parágrafos e, posteriormente sintetizará o texto todo. Em língua inglesa, o mesmo procedimento seria seguido. É imprescindível, portanto, a integração dos esforços dos docentes de Inglês, de Português e das demais disciplinas. Outras competências como a leitura e escrita, principalmente, devem ser intensamente trabalhadas por todos os professores do curso. Todas as sugestões e mudanças relacionadas neste trabalho em torno da formação acadêmica do indivíduo devem ser introduzidas e pesquisadas posteriormente em busca de um ensino mais eficaz. Nisso se considera sendo o mais importante a interdisciplinaridade que deve haver entre as disciplinas do curso na busca não apenas da aprendizagem da língua estrangeira mas também da língua materna para que os estudantes possam ler e escrever corretamente. Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 57-68 Neusa Haruka Sezaki Gritti 68 REFERÊNCIAS Augusto, E. H. (1997). Ensino Instrumental na Língua Alvo: uma proposta de ensino da escrita de língua estrangeira em ambiente acadêmico. Dissertação de Mestrado não-publicada. Unicamp, Campinas. Bandura, A. (1986). Social Foundations of Thought Andaction: a Social Cognitive Theory. New Yersey: Prentice Hall. Carroll, J. B. (1967) Wanted: A Research Basis for Educational Policy on Foreign Language Teaching. Em J. P. Cecco. The Psychology of Language, Thought, and Instruction. New York: Holt, Rinehart and Winston. Catford, J. C. (1965).A linguistic theory of translastion. Oxford University. Uma teoria lingüística da tradução. 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(1971) Some Sources of Reading Problems for Foreign Language Learners. Language Learning, 21, 107-115. Recebido em: 08/03/02 Revisado em: 07/02/03 Aprovado em: 25/04/03 Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 69-76 APRENDIZAGEM POR INTERAÇÃO E TRAÇOS DE PERSONALIDADE Lílian Pacheco 1 Fermino Fernandes Sisto 2 Resumo Esta pesquisa estudou a relação entre traços de personalidade e aprendizagem por conflito sócio-cognitivo. Participaram da pesquisa 120 sujeitos, de 5 a 7 anos, de três escolas públicas. Todos os sujeitos foram avaliados pela Escala Infantil de Personalidade e pela prova piagetiana de conservação de comprimento. Foram selecionados para o experimento 36 sujeitos que apresentaram nível não-conservador. Quatro traços de personalidade foram avaliados, neuroticismo, psicoticismo, extroversão e adequação. O experimento constituiu-se por três sessões de intervenção com sete situações de aprendizagem por conflito sócio-cognitivo em cada sessão, com pares de sujeitos, na prova de comprimento. Um dia após as intervenções realizou-se o pós-teste 1 e 25 dias após o pós-teste 2, ministrando a prova de conservação de comprimento, individualmente. A aprendizagem no pós-teste imediato foi explicada pelo traço psicoticismo e adequação. Palavras chave: traços de personalidade, aprendizagem, conflito sócio cognitivo, interação entre pares. PEER INTERACTION LEARNING AND PERSONALITY TRAITS Abstract This research studied the relationship between personality traits and learning through socio-cognitive conflict. 120 subjects aged from 5 to 7years old, from three public schools, were investigated. All the subjects were assessed by the Escala Infantil de Personalidade and by the piagetian length conservation task. 36 subjects who showed a non-conservative level were selected for the experiment. Four personality traits were assessed: neuroticism, psychoticism, extraversion and adjustment. The experiment was constituted by three intervention sessions with seven learning situations in each session, based on the length conservation task and structured by socio-cognitive conflict theory with pairs of subjects. On the day after the three intervention sessions was individually administered the posttest 1 and 25 days later the posttest 2, using the length conservation task. The learning in the posttest 1 was explained by the psychoticism and adjustment traits. Key words: Personality traits; Learning; Socio cognitive conflict; Peer interaction. INTRODUÇÃO A contribuição do sujeito no processo de aquisição de conhecimento ocorre, principalmente, de duas formas. Por um lado, cognitivamente, dispondo de alguns modos de estruturação dos dados; por outro, afetivamente, enquanto manifestação de interesses ou necessidades que poderão ser facilitadores ou não. Piaget (1981) argumenta que o afeto está relacionado com a função da inteligência, representando uma força energética e emergindo da desequilibração entre a assimilação e a acomodação cognitiva. O afeto influencia a escolha de objetivos específicos e funciona como um regulador da ação, além de desempenhar um papel na determinação de valores; influencia a tendência a se aproximar ou se distanciar das 1 2 Universidade Estadual de Feira de Santana – Bahia. Universidade São Francisco – São Paulo. situações e, por sua vez, estas influenciam o ritmo pelo qual o conhecimento torna-se mais rápido em algumas áreas ou mais lento em outras. O ser humano interage com o meio ambiente físico e social e responde enquanto totalidade integrada. Este organismo psico-social, ao se comportar nas mais diversas situações, tende a agir de uma determinada maneira que o caracteriza. A abordagem da personalidade almeja circunscrever estas características ou diferenças individuais, mais ou menos estáveis, que refletem a identidade de um indivíduo, distinguindo-o dos demais. A personalidade de uma pessoa é observada pelo comportamento e nota-se que existe uma parte variável 70 e uma parte constante. A esta parte constante denomina-se traço e nenhum ato é produto de apenas um traço. Por sua vez, os traços não são imutáveis, são tendências amplas em mudança contínua. Todavia, apesar da mudança, pode-se reconhecer uma tendência, uma considerável constância no modo de comportamento de uma pessoa, afirmando-se a presença de traços ou tendências da personalidade. Para Piaget (1973,1976) a realidade não seria construída nem por estruturas equilibradas e permanentes, nem por uma sucessão de acasos e crises. Propõe processos contínuos de auto-regulações. A epistemologia construtivista caracteriza-se por explicar a produção das novidades pelo sistema cognitivo através da abertura de possibilidades de contato e atuação no mundo e suas equilibrações majorantes. Muito se tem discutido acerca da abordagem construtivista ou da teoria psicogenética no campo educacional, mas são poucas as referências sobre os mecanismos que subjazem ao processo de aprender (Sisto, 1993, 1997). O constructo fundamental para uma abordagem piagetiana da produção de conhecimento é o processo de equilibração, que começa quando o sujeito é desequilibrado por obstáculos ou perturbações. A garantia do desequilíbrio e sua fecundidade são dadas pela reequilibração, quando as lacunas (falta de informações por parte do sujeito) ou perturbações são superadas. Segundo Sisto (1993) “a proposta do conflito cognitivo consiste em colocar o sujeito frente a uma situação que não se encaixa (aspecto negativo) em uma afirmação sua anterior (aspecto positivo), ou se trata de contra-exemplo (aspecto negativo) impossibilitando a generalização da explicação pretendida (aspecto positivo)” (p. 43). O fundamental é, sem dar a resposta certa, levar o sujeito a perceber as contradições das suas afirmações, embora não se possa ter certeza de que os elementos serão perturbadores, já que nenhuma situação é conflitiva em si. Esta pesquisa promoveu um processo de aprendizagem considerando que configuração cognitiva das crianças explicava-se pelo fato de elas estarem centradas em aspectos positivos do fenômeno. Então foram provocadas situações para que elas fossem levadas a pensar nas contradições de suas afirmações, ou realçadas as divergências de pontos de vista entre a dupla de crianças ou entre elas e o experimentador. Para observar esse fenômeno, estudou-se crianças de 5 a 7 anos, situadas na passagem do pensamento pré-operatório para o estágio das operações concretas. Lílian Pacheco e Fermino Fernandes Sisto Nesse período elas caracterizam-se pelo egocentrismo intelectual, pela centração da percepção e do pensamento em determinados pontos, desconsiderando algumas características importantes da situação. O pensamento pré-operatório é irreversível, ou seja, na medida que a criança percorre uma série de raciocínios ou transformações de um evento numa determinada direção, ela não inverte mentalmente o processo, alterando suas premissas durante uma seqüência de raciocínio. No processo de aquisição de conhecimentos, além dos aspectos cognitivos e afetivos, outro fator de destaque são as interações sociais. O fator social desempenha um duplo papel: primeiro, como processo contínuo e construtivo de socialização e, segundo, como fonte de transmissões educativas e lingüísticas das contribuições culturais e dos sentimentos morais. A abordagem da Psicologia Social Genética destaca o papel construtivo das interações entre pares no desenvolvimento cognitivo. A teoria do conflito sóciocognitivo tem sido proposta por alguns autores como Mugny e Doise (1983) e Perret Clermont e Nicolet (1992). Essa abordagem enfoca o conflito como sóciocognitivo, por compreender que quando o sujeito enfrenta uma resposta diferente da sua, um conflito interno poderá se produzir, o que, por sua vez, provocará um duplo desequilíbrio: inter-individual e intra-individual. O aspecto inter-individual dá o caráter social ao fenômeno. Na busca de um acordo com o outro, vê-se uma possibilidade de superação do desequilíbrio cognitivo intra-individual (Mugny & Doise, 1983). Muitas pesquisas foram feitas investigando a efetividade do conflito cognitivo ou sócio-cognitivo e algumas delas serão destacadas. Nesse contexto, Mugny e Doise (1978) observaram maior progresso no desempenho de crianças com estratégias cognitivas diferentes trabalhando juntas, do que no desempenho de crianças com as mesmas estratégias. Ames (1980) comparou interações por conflito cognitivo, interação social, modelação ou dissonância cognitiva, constatando que os sujeitos, nas quatro condições de interação por pares, apresentaram mais mudanças nas respostas do que os sujeitos controle, e o grupo de interação social exibiu mais mudanças. Taal e Oppenheimer (1989) chegaram à conclusão de que a resolução do conflito sócio-cognitivo e a ocorrência de coordenação foram mais altas em situações individuais do que em condições de díade, em condições competitivas e sob supervisão do que por iniciativa espontânea. Russell (1981) não encontrou o con- Aprendizagem por interação e traços de personalidade 71 fronto de idéias esperado pelo conflito sócio-cognitivo, pois os sujeitos que cometeram os “erros egocêntricos” não se opuseram à colocação correta de seu parceiro. O autor concluiu que a interação de pares pode facilitar a aquisição de conceitos básicos por causa da complacência entre as crianças, e não por causa do “conflito sócio-cognitivo”. Roy e Howe (1990) investigaram os efeitos do conflito cognitivo, sócio-cognitivo e imitação no desenvolvimento de habilidades dos sujeitos e encontraram que os sujeitos, em condições de conflito, melhoraram no pós-teste em relação ao grupo-controle, não se observando vantagens entre o conflito sóciocognitivo e o cognitivo. Por sua vez, Cannella (1992) chegou à conclusão que discordâncias na interação sócio-cognitiva por duplas podem tanto facilitar como inibir a aprendizagem. Dentre as pesquisas envolvendo aprendizagem e traços de personalidade, algumas podem ser destacadas. Palkovic (1979) constatou que na aprendizagem experimental por reforço verbal as crianças extrovertidas apresentaram melhores resultados e os piores resultados couberam àquelas com alta pontuação em neuroticismo. Francis e Montgomery (1993) encontraram que sujeitos com baixa pontuação, tanto em psicoticismo quanto em neuroticismo, e alta pontuação em dissimulação social, apresentaram atitudes mais positivas para com a escola e lições. Os achados de Maqsud (1993), no entanto, indicaram relações negativas com realização escolar. Csorba e Dinya (1994) constataram que as meninas com aprendizagem pobre mostraram níveis mais altos de neuroticismo. Furnham e Medhurst (1995) encontraram relações entre traços de personalidade e comportamento em seminário acadêmico. Duas outras pesquisas relacionaram personalidade com estilo de aprendizagem (Riding & Tempest, 1986; Jackson & Lawty Jones, 1996) e encontraram relação significativa entre desempenho em soletração e nível de extroversão. Entre outros, Wilson e Lynn (1990) observaram que a aquisição de segundo idioma estava relacionada mais fortemente com diferenças de personalidade. Robinson, Gabriel e Katchan (1994) constataram que sujeitos com pontuação alta em neuroticismo e alta em extroversão melhoraram miais no teste oral de francês, enquanto que os sujeitos com pontuação alta em neuroticismo e baixa em extroversão melhoraram mais no teste escrito. As reflexões sobre essas relações têm despertado o interesse por pesquisas sobre a relação entre as carac- terísticas de personalidade e métodos pedagógicos. Vários estudiosos (Gayle, 1981; Eysenck 1992, 1996; Borg & Shapiro, 1996) têm discutido o uso de diferenças individuais no ensino e concluíram que a personalidade da criança determina extensamente sua reação aos métodos de ensino e até mesmo à situação pedagógica. Crianças extrovertidas parecem beneficiar-se de métodos de ensino baseados na aprendizagem por descoberta, enquanto que as crianças introvertidas beneficiam-se da aprendizagem por recepção. Da mesma forma, podem ser encontradas inúmeras pesquisas que alertam para os benefícios pedagógicos com utilização da técnica do conflito cognitivo ou sócio-cognitivo (Zucchermaglio & Ajello, 1986, por exemplo). A literatura a respeito de traços de personalidade e aprendizagem não é muito rica e nenhuma das pesquisas encontradas é pertinente à relação que se está buscando neste estudo. Mas esses estudos chamam a atenção para a importância de se conhecer melhor como estas duas variáveis se comportam. O mesmo acontece com relação à técnica de aprendizagem por conflito sócio-cognitivo. Há controvérsias entre os autores. Alguns não vêem vantagens em se estabelecer o conflito cognitivo em dupla ou individualmente. Nesse contexto, esta pesquisa, por um lado, pretendeu analisar os efeitos de da técnica de conflito sóciocognitivo na aprendizagem em dupla e, por outro, verificar os tipos de relações possíveis entre o desempenho dos sujeitos e traços de personalidade. HIPÓTESE Valendo-se das definições de cada traço de personalidade foram levantadas algumas expectativas em relações ao rendimento das crianças em situação de aprendizagem por conflito sócio-cognitivo em dupla. Crianças com alta pontuação em E (extroversão), por estarem abertas à interação e sentirem-se desafiadas a participar por causa da novidade da situação, devem sofrer os efeitos do conflito sócio-cognitivo, apresentando altos níveis de aprendizagem. Também, crianças com alta pontuação em P (psicoticismo) devem apresentar dificuldades na interação com o outro, mas é possível que tenham bom nível de aprendizagem, dada a possibilidade de não se envolverem emocionalmente na situação de conflito e reagirem pensadamente. Nessa mesma direção, crianças com alta pontuação em A (adequação) por estarem Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 69-76 Lílian Pacheco e Fermino Fernandes Sisto 72 atentas às normas sociais, procurarão responder bem às solicitações e, assim, espera-se que atinjam bom nível de aprendizagem, mas também podem não querer se contrapor aos colegas. Diferentemente dos casos anteriores, as crianças com alta pontuação em N (neuroticismo) que, em razão da forte propensão a reações emocionais que dificulta uma adaptação adequada, devem apresentar baixo nível de aprendizagem. Com base nessas possíveis relações, estabeleceu-se a hipótese de que a aprendizagem por conflito sóciocognitivo, se explicada por traços de personalidade, deveria apresentar-se na seguinte seqüência: a maior pontuação em E explicaria a maior parte da aprendizagem, seguida pela maior pontuação em A, P e, por fim, N. MÉTODO Sujeitos A população da pesquisa constou de 120 crianças de 5 a 7 anos, que freqüentavam três escolas municipais e atendiam crianças de famílias de operários ou lavradores. Todas as crianças foram pré-testadas e das que apresentaram nível não-conservador na prova de comprimento, 43 foram selecionadas por sorteio aleatório para o experimento, das quais 36 permaneceram até o final. Desses 36 sujeitos, 17 (47%) eram do sexo masculino e 19 (52%) do sexo feminino, metade estava cursando o infantil e a outra metade o pré-escolar. As idades variavam entre 5 anos e 6 meses e 7 anos e 2 meses e foram agrupadas em dois intervalos, quais sejam, as mais novas (dos 66 aos 74 meses) e as mais velhas (dos 76 aos 86 meses), perfazendo um total de 19 (53%) sujeitos no primeiro intervalo de idade e 17 (47%) no segundo. Procedimentos A presente pesquisa consistiu de um pré-teste, três sessões de intervenção e dois pós-testes. O pré-teste foi composto pela Escala Infantil de Personalidade (Sisto, 1998) e pela prova de conservação de comprimento. Nos dois pós-testes utilizou-se apenas a prova de conservação de comprimento, sendo que o pós-teste 2 foi aplicado 25 dias após o término da intervenção. A ordem de aplicação desses instrumentos foi definida por sorteio. a- Instrumentos, material e critérios de classificação A prova de conservação de comprimento consiste de nove hastes de madeira de 4cm x 0,8cm e quatro hastes de 7cm x 0,8cm. Com as hastes maiores o experimentador fazia uma “estrada” e pedia ao sujeito que fizesse uma “estrada” do mesmo tamanho, do mesmo comprimento com as hastes menores, sobrando, nesse caso, duas hastes menores. O experimento começa quando o sujeito reconhece a igualdade do comprimento das duas “estradas”. Ao longo da prova, o experimentador fazia cinco modificações na disposição das hastes a fim de alterar a configuração da “estrada” que o sujeito construiu, deixando a outra como modelo. A cada transformação, perguntava-se ao sujeito se o comprimento das “estradas” estava igual ou diferente e por quê. Os critérios para classificação dos protocolos foram: ausência de conservação, quando a criança nega a igualdade das estradas em razão das extremidades, das sinuosidades, ou da ponta final; reações intermediárias, quando a criança oscila entre a conservação e a nãoconservação, e aquelas que, após algumas tentativas, chegam à conservação; conservação operatória, quando a criança afirma a conservação do comprimento, com argumentos operatórios por identidade, inversão ou compensação. Escala de Traços de Personalidade para Crianças (Sisto, 1998) consta de 35 questões, para as quais a criança deve responder sim ou não. Contém quatro escalas, sendo que a de extroversão engloba características de ser sociável, assertivo, ativo e animado; a de neuroticismo, de ser ansioso, tenso, melancólico e com baixa auto-estima; a de psicoticismo de ser egocêntrico, impulsivo, frio e anti-social; e a de adequação engloba uma tendência à sinceridade e à não dissimulação. A aplicação foi coletiva, as crianças tinham o instrumento que foi lido item por item pelo aplicador, dando um intervalo entre os itens para a criança responder no próprio instrumento. Para as escalas de neuroticismo, extroversão e adequação as pontuações variam de 0 a 10 pontos. Para psicoticismo, de 0 a 8 pontos. b- A intervenção As sessões de intervenção iniciaram-se de dois a três dias após o término do pré-teste. A intervenção por conflito, por meio da noção de conservação de comprimento, iniciou-se após as crianças assistirem a um filme de vídeo, o qual mostrava quatro crianças em situação individual de aplicação da prova de comprimento, duas não-conservadoras e duas, conservadoras, apresentando argumentos diferentes. O filme deu oportunidade às crianças de observarem diferentes desempenhos e con- Aprendizagem por interação e traços de personalidade 73 trolar possíveis influências entre as crianças, nos contatos entre sessões. Após a exibição do filme, as crianças, em dupla, passaram por sete situações de conflito por sessão. Cada sessão durou em média 30 minutos e a duração do filme foi de 10 minutos. A intervenção constou de três sessões; na terceira não houve exibição da fita de vídeo. Durante a situação de aprendizagem foi pedido que entrassem em acordo quando apresentavam respostas divergentes e não conservadoras. Além dessa solicitação, buscando um acordo entre elas, o experimentador interveio fazendo questionamentos que pudessem leválas ao desequilíbrio cognitivo. Os questionamentos apresentados nas sete situações se distribuíram em dois argumentos por inversão (por exemplo, Se eu “desentortasse” esta estrada deixando do jeito que estava antes, elas ficariam do mesmo jeito?), três por identidade (por exemplo, Por que esta estrada ficou mais comprida, se as duas tinham o mesmo comprimento no início?), uma antecipação (pergunta-se às crianças como as estradas ficariam se fossem arrumadas como estava no começo), e o retorno empírico. RESULTADOS do sistema cognitivo para mudança, pois se mantiveram como não conservadores nas três avaliações. Os 15 sujeitos restantes apresentaram pontos diferentes de níveis evolutivos e formas distintas de reação do sistema cognitivo: 5 sujeitos indicaram mudança evolutiva com estabilidade; 3 sujeitos sugeriram ganho, mas não estabilidade; os 7 sujeitos restantes indicaram que o sistema cognitivo foi sensível à perturbação apresentando flutuação do sistema. No pós-teste 1, a aprendizagem observada não se diferenciou nem em relação ao gênero (t=1,45; p=0,157), nem em relação às duas faixas etárias (t=0,94; p=0,352). Com relação ao pós-teste 2, o gênero também não produziu diferenças significativas (t=0,67; p=0,508), mas a idade, sim (t=2,25; p=0,031), sendo que os mais velhos obtiveram maiores rendimentos que os mais novos. A fim de verificar se os traços de personalidade apresentavam intensidades diferentes em relação às variáveis gênero e idade analisou-se as médias correspondentes. Em ambos os pós-testes, apenas um resultado no pós-teste 1 mostrou-se significativo estatisticamente, qual seja, psicoticismo (t=2,65; p=0,012), com uma tendência dos sujeitos mais novos a terem pontuações mais altas. Aprendizagem e traço de personalidade Gênero e faixas etárias em relação à aprendizagem e traços de personalidade No pós-teste 1, dos 36 sujeitos, 23 (64%), mantiveram-se como não-conservadores, 9 (25%) como intermediários e 4 (11%) atingiram o nível de conservador. Por sua vez, no pós-teste 2, 26 (72%) dos sujeitos foram classificados como não-conservadores, 6 (17%) como intermediários e 4 (11%) como conservadores. Em 21 sujeitos não se pôde observar a sensibilidade Com o objetivo de averiguar se os traços de personalidade conseguiriam explicar a aprendizagem observada, tanto no pós-teste 1 quanto no pós-teste 2, usou-se a análise de regressão. Os resultados estão na tabela 1. A análise por regressão múltipla indicou que os traços de personalidade psicoticismo e adequação foram significativos para explicar o desempenho dos sujeitos quanto à aprendizagem no pós-teste imediato. Por esses dados, psicoticismo explica mais o resultado da aprendizagem, avaliada no pós-teste 1, do que adequação. Tabela 1: Resultados da análise de regressão entre traços de personalidade e pós-teste 1. Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 69-76 Lílian Pacheco e Fermino Fernandes Sisto 74 A hipótese deste estudo previa uma seqüência a seqüência E,A,P,N, em ordem decrescente, em razão do nível de desempenho na aprendizagem. Segundo a análise estatística dos dados, encontrou-se a seguinte ordem: P,A,E,N; apenas as variáveis P (psicoticismo) e A (adequação) foram significativas para explicar o fenômeno da aprendizagem nesta medição (pós-teste 1). Os resultados da análise por regressão múltipla no pós-teste 2, encontram-se na tabela 2. Conforme pode ser verificado, a análise dos dados do pós-teste 2 não forneceu nenhum resultado significativo para as quatro dimensões da personalidade. análise de regressão indicou significância com a variável psicoticismo seguida de adequação. No pós-teste 2, nenhum dos traços de personalidade pôde predizer o resultado do desempenho verificado. Esperava-se que os sujeitos extrovertidos fossem sensíveis à técnica do conflito sócio-cognitivo (Palkovic, 1979; Eysenck, 1992), apresentando fortes indicadores de aprendizagem, por caracterizarem como abertos à interação, desafiados a participar e interessados em novidades. Contudo, os resultados não indicaram relações significativas entre extroversão e aprendizagem, nas condições em que foi produzida, colocando dúvidas Tabela 2: Resultados da análise de regressão entre traços de personalidade e pós-teste 2. CONCLUSÕES A presente pesquisa objetivou verificar quais tipos de relações podem ser estabelecidas entre o desempenho dos sujeitos e suas diferenças individuais quanto a traço de personalidade. O conceito de aprendizagem aqui tratado baseou-se nas conseqüências da teoria do desenvolvimento de Jean Piaget. Como propõe Sisto (1993,1997), a técnica do conflito cognitivo, em vez de oferecer como modelo, a resposta certa para o sujeito e treiná-lo até que ocorra a aprendizagem, trabalha com a resposta dada pelo sujeito, questionando-o a fim de leválo a perceber possíveis contradições em sua resposta e reelaborar seu raciocínio. Além dos aspectos cognitivos, outras variáveis presentes no processo de aprendizagem foram envolvidas, como os aspectos sociais e afetivos. Com base nas definições e características desses traços, estabeleceu-se a seqüência E,A,P,N dos traços de personalidade para explicar o desempenho das crianças. Essa hipótese foi analisada considerando-se duas medições de aprendizagem (pós-teste imediato e retardado), já que esse fenômeno foi compreendido como uma aquisição que perdura no tempo. No pós-teste 1, a sobre essas relações, como outros estudos já o fizeram (Francis & Montgomery, 1993; Maqsud, 1993; Robinson, Gabriel & Katchan, 1994; Furnahm & Medhurst, 1995). Com respeito ao traço psicoticismo, a hipótese levantada nesta pesquisa foi ambígua. Por um lado, previa dificuldades na interação com o outro (fato importante na técnica de intervenção utilizada neste estudo), pensando-se que poderia prejudicar a aprendizagem. Por outro lado, considerou-se que esse traço contribuiria para a aprendizagem, uma vez que o sujeito, não se envolvendo emocionalmente, poderia agir sem se deixar influenciar pelo outro. Na literatura não se encontrou consenso a esse respeito. Alguns autores encontraram relações positivas (Wilson & Lynn, 1990, por exemplo), outros inversas (Francis & Montgomery, 1993; Maqsud, 1993; Csorba & Dinya, 1994). Todavia, Furnham e Medhurst (1995) chegaram à conclusão que o psicoticismo foi preditor de desempenho acadêmico, mas não em todas as situações. Quanto à medição do traço de personalidade psicoticismo no pós-teste imediato, nesta pesquisa ele foi o fator que mais explicou a aprendizagem aí observada. Aprendizagem por interação e traços de personalidade 75 Essa dimensão da personalidade prevê sujeitos com certas características, segundo as quais socialização, sentimentos de empatia, culpabilidade e sensibilidade para com os outros são não muito consideradas. Pode se supor que na medida em que eles não se dispersam com essas questões podem melhor refletir sobre o conflito e superar suas contradições. No que se refere ao traço adequação, o presente estudo também levantou uma hipótese ambígua. Por um lado, crianças com alta pontuação em adequação social poderiam se mostrar complacentes com os colegas, não tirando proveito da situação. Por outro lado, por estarem atentas às normas sociais, procurariam responder bem às solicitações. A literatura informa tanto relações positivas desse traço com aprendizagem (Francis & Montgomery, 1993) como inversas (Palkovic, 1979; Maqsud, 1993; Csorba & Dinya, 1994). O traço adequação apresentou relação significativa na análise de regressão, no pós-teste imediato, apresentando-se como um componente explicativo do processo de aprendizagem. Esse resultado leva a supor que indivíduos com alta pontuação em adequação, na medida em que se preocupam com as conformidades sociais, estando atentos às relações interpessoais, reagem bem na aprendizagem com o outro. Quanto traço neuroticismo, a hipótese do presente trabalho previa que os sujeitos com alta pontuação em neuroticismo poderiam vir a apresentar baixo índice de aprendizagem, devido a sua instabilidade emocional e dificuldade de adaptação. A controvérsia da literatura concerne a encontrar relações positivas com aspectos da escolarização (Wilson & Lynn, 1990; Francis & Montgomery, 1993; Robinson, Gabriel & Katchan, 1994) ou relações inversas (Palkovic, 1979; Maqsud, 1993; Csorba & Dinya, 1994). Contudo, neste estudo, nenhuma das análises estatísticas feitas apresentou relação significativa. Retomando a hipótese colocada, apenas parcialmente algumas de suas relações puderam ser comprovadas e apenas no resultado imediato de uma aprendizagem. Há que se considerar o fato de que a noção utilizada como conteúdo da aprendizagem, quando no processo de aquisição espontânea, só é adquirida numa idade mais avançada, entre 8 ou 9 anos, enquanto que os sujeitos desta pesquisa variaram de 5 anos e 6 meses a 7 anos e 2 meses. Ao lado disso, uma boa parte dos sujeitos não chegou a estabilizar a aprendizagem, considerando o pós-teste 2. Nesse contexto, a necessidade de mais pesquisas nessa direção faz-se necessário, com vistas, principalmente, a analisar sujeitos cujos sistemas cognitivos se estabilizem no processo de aprendizagem e compará-los com sujeitos cuja estabilidade não foi observada. REFERÊNCIAS Eysenck, H. J. (1996). Personality and the experimental study of education. European Journal of Personality, 10, 427439. Francis, L. J., & Montgomery, A.(1993). Personality and school-related attitudes among 11- to 16-year-old girls. Personality and Individual Differences,14, 5, 647-654. Furnham, A., & Medhurst, S. (1995). 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Dados revelam que existe uma estreita relação entre sintomas depressivos e rendimento escolar, mas permanece ainda a necessidade de se sistematizar conhecimentos sobre a natureza mais específica dessa relação, pois tanto os sintomas da depressão podem contribuir para prejudicar a aprendizagem do aluno, quanto o baixo rendimento escolar pode também conduzir ao surgimento de sintomas depressivos. Assim sendo, o presente estudo teve como objetivo rever criticamente a literatura acerca da depressão infantil. Tem-se em vista contribuir para uma melhor compreensão, por parte dos professores e educadores, no que concerne a relação entre depressão infantil e desempenho escolar de crianças. Palavras chaves: Depressão infantil; Desempenho escolar; Prática Educacional. DEPRESSION IN CHILDREN: A CONTRIBUTION TO THE WORK EDUCATIONAL Abstract Presently there are no doubts about the existence of children’s depression during school years. The incidence of depressive symptoms in school years is around 1,8%. However, when it is taken into account the incidence of these symptoms in children who present learning difficulties, this rate increases considerably. The relationship between children’s depression and school performance has been studied in the foreign literature, but in Brazilian population these studies are still scarce. There is still a need for a deeper understanding of the specific nature of this relationship since it is possible that depressive symptoms can contribute negatively to students’ learning and performance. It is also equally possible that learning dificulties can lead to depression symptoms occurence. In line with that, the present study has objective to review the literature critically concerning the realtionship between children’s depression and school performance in order to contribute to a better understanding of this relationship among teachers and educators. Key Words: Childhood depression; Academic achievement: Educational practice. INTRODUÇÃO T entativas de se estudar a depressão infantil têm surgido desde o início do século XIX. No entanto, as primeiras tendências de conceituação de depressão em crianças foram realizadas segundo um enfoque psicanalítico, visando a compreensão da psicodinâmica de pessoas deprimidas. Bandin, Sougey e Carvalho (1995) fazem uma revisão histórica dos estudos sobre a depressão e cita Abrahan, em 1912 que conceitua a depressão como perda de um objeto amado, que conduziria a sentimentos de culpa e melancolia. Seguido de Freud em 1914, que acrescenta sentimentos ambivalentes à 1 2 perda do objeto amado. Em 1946, Spitz descreve a depressão analítica, síndrome característica de bebês institucionalizados, que sofriam de carência afetiva, decorrente da separação materna. Em 1975, Melaine Klein descreve a posição depressiva enquanto uma fase normal do desenvolvimento infantil. Essa posição é característica no bebê de 6 meses, e corresponde ao período no qual a criança é capaz de reconhecer o objeto em sua totalidade e não mais parcialmente. No campo da psiquiatria, a depressão infantil despertou interesse somente a partir da década de 60. An- Psicóloga e Mestre em Psicologia e Desenvolvimento Humano e Educação pela Unicamp. Psicóloga, Ph.D em Educação pela University of Southern California, docente da Faculdade de Educação da Unicamp. 78 tes disso, acreditava-se que a depressão na criança não existia ou então, que esta seria muito rara nessa população. Apesar de dados epidemiológicos evidenciarem que atualmente não há mais dúvida quanto a ocorrência de depressão na infância (White, 1989; Bandim & cols., 1995; Andriola & Cavalcante, 1999; Baptista & Golfeto, 2000; Barbosa & Gaião, 2001; HallaK, 2001), a prevalência dos sintomas depressivos são discutíveis, uma vez que existe uma grande diversidade nas taxas de incidência. Diversidade essa que vem sendo explicada pela variação da população estudada, pelas diferenças na metodologia utilizada e principalmente pela dificuldade de padronização dos tipos de transtornos depressivos e a falta de um critério de diagnóstico comum para a depressão (Baptista, Baptista & Dias, 2001). Há muita controvérsia a respeito da depressão na infância, principalmente quanto aos critérios de diagnóstico. Alguns autores afirmam que a depressão na criança assume características diferentes da depressão no adulto (Ajuriaguerra, 1976; Lippi, 1985), enquanto outros concordam que a depressão na infância se manifesta de forma bastante semelhante às manifestações do adulto. De acordo com DSM IV (1994), manual freqüentemente empregado no diagnóstico de transtornos mentais, a depressão infantil é semelhante a depressão no adulto, de forma que os mesmos critérios de diagnósticos de depressão no adulto podem ser utilizados para avaliar a depressão na criança. Segundo esse manual, os sintomas de depressão são: humor deprimido na maior parte do dia, falta de interesse nas atividades diárias, alteração de sono e apetite, falta de energia, alteração na atividade motora, sentimento de inutilidade, dificuldade para se concentrar, pensamentos ou tentativas de suicídio. De acordo com DSM IV (1994), para o diagnóstico de um episódio depressivo maior é necessário que o indivíduo apresente pelo menos 5 dos sintomas citados, sendo que um dos sintomas deve ser o humor deprimido em grande parte do dia ou falta de interesse pela maioria das atividades e deve ainda ocorrer em um período de pelo menos 2 semanas. No entanto, o DSM IV (1994) faz pequenas ressalvas considerando os níveis de desenvolvimento, a fim de facilitar o diagnóstico de depressão na criança. Mais precisamente, uma criança deprimida pode apresentar humor irritável ao invés de tristeza; ou ainda revelar uma queda no rendimento acadêmico em função do prejuízo na capacidade para pensar e concentrar. Miriam Cruvinel e Evely Boruchovitch Assim como para se diagnosticar a depressão na criança são utilizados os mesmos critérios para adultos, os modelos de depressão infantil também são adaptações de modelos de depressão de adultos (White, 1989; Chabrol, 1990; Miyazaki, 1993; Rhem & Sharp, 1999). Os principais modelos de depressão são: modelo biológico, comportamental, cognitivo e modelo psicanalítico. O modelo biológico estuda a depressão enquanto doença e enfatiza o papel de fatores bioquímicos e genéticos no aparecimento de sintomas. Um trabalho de Weissman (1987), com crianças cujos pais apresentavam um quadro de depressão é citado por Chabrol (1990). Os dados revelaram que para essas crianças os sintomas depressivos aparecem mais cedo, ou seja por volta de 12 anos e 7 meses, enquanto que para aquelas cujos pais não apresentavam depressão, o primeiro episódio depressivo surgiria mais tarde, por volta de 16 anos e oito meses. O modelo comportamental de depressão enfatiza o papel da aprendizagem e das interações com o ambiente. A depressão, de acordo com esse pressuposto, é vista como conseqüência da diminuição de comportamentos adaptados (contato social, interesse pelas atividades e pelas pessoas) e um aumento na freqüência de comportamentos de esquiva e fuga de estímulos vistos como aversivos (tristeza, choro). De acordo com essa teoria, a aquisição de comportamentos depressivos ocorreriam mediante a aprendizagem, por meio de mecanismos de condicionamento pavloviano, skinneriano ou aprendizagem social (Chabrol, 1990). O modelo Cognitivo atribui grande importância as cognições no aparecimento e manutenção de condutas disfuncionais. A teoria cognitiva de Beck (1997) revela que as distorções de pensamento são fatores mediadores da depressão. O autor afirma que a pessoa deprimida apresenta uma visão extremamente negativa e deformante de si mesmo, do mundo e do futuro, fenômeno que Beck denominou de tríade cognitiva. Dentre a abordagem cognitiva, existe também o modelo de desamparo adquirido (Seligman, 1977), inicialmente estudado com animais. Seligman (1977) revela que situações negativas repetidas e incontroláveis pode levar o sujeito a apresentar o desamparo adquirido, ou seja, a pessoa passa a acreditar que os eventos não podem ser controlados, instalando no sujeito, alteração de afeto, da auto-estima e da motivação, podendo acarretar em transtorno depressivo. E por último o modelo psicanalítico, que ressalta a Depressão infantil: Uma contribuição para a prática educacional importância de processos intrapsíquicos no desenvolvimento da depressão, onde esta poderia ser considerada como uma falha na evolução do processo de elaboração normal do luto e da perda (Mendels, 1972). Freud (1917) estudando sobre a diferença entre o sofrimento e a depressão, revelou que, no sofrimento, o mundo se torna vazio e empobrecido, não há uma queda na autoestima e a perda é consciente. Na melancolia, o processo é inverso: há uma redução na auto-estima, a perda é inconsciente e é o próprio ego do indivíduo que se esvazia e empobrece. Cabe ressaltar que dificilmente apenas um modelo ou uma única teoria seria suficiente para explicar um fenômeno tão complexo como a depressão, um transtorno que acarreta em inúmeras alterações ao indivíduo. A depressão, sem dúvida, integra fatores sócio-familiares, psicológicos e biológicos, onde as diferentes teorias não se excluem, mas se completam, contribuindo não somente para uma maior compreensão da natureza multicausal deste transtorno, mas também para a concepção do sujeito em sua totalidade bio-psico-social. A incidência de depressão infantil no brasil: resultados de pesquisas No Brasil, ainda são escassos os estudos sobre a depressão na criança. Assim como na literatura internacional, os estudos epidemiológicos brasileiros mostram que a incidência de depressão, na criança, tem se revelado bastante variável. Todavia, apesar dessa diversidade, os estudos confirmam a existência de depressão nessa população. Hallak (2001) avaliou 602 escolares de 7 a 12 anos de uma escola pública de Ribeirão Preto. A incidência de depressão foi 6 % quando avaliada pelo Inventário de Depressão Infantil (CDI) e uma prevalência de 3 % utilizando a Escala de Sintomatologia Depressiva para professores (ESDM). Nesse estudo, verificou-se que as meninas apresentavam escores significativamente maiores no CDI, independente da faixa etária. Curatolo (2001) obteve uma taxa de 21,1% de sintomatologia depressiva em escolares de 7 a 12 anos. Como instrumento para avaliar os sintomas depressivos utilizou o CDI. Barbosa e Gaião (2001) avaliaram 807 crianças de 7 a 17 anos do interior da Paraíba e a taxa de prevalência de depressão encontrada foi alta (22 %), sendo mais elevada nas faixas etárias de 13 e 14 anos de idade. Barbosa e Gaião (2001) com a finalidade de investigar as características psicométricas da escala CDRS-R, avaliaram 344 crianças entre 11 e 13 anos e encontraram uma prevalência 79 de depressão maior de 0,9% e 3,2 % para distimia. Baptista e Golfeto (2000), encontraram uma prevalência de 1,48 % em escolares de 7 a 14 anos de uma escola da rede particular de Ribeirão Preto. A população foi avaliada mediante o CDI e a incidência foi maior em crianças do sexo feminino. Esses estudos revelam o quanto pode variar a incidência dos sintomas de depressão e ainda os resultados sugerem que a incidência tende a se elevar na adolescência e parece não haver diferença significativa entre meninos e meninas até esta fase. Na adolescência, essa porcentagem se eleva e as meninas parecem sofrer mais depressão do que os meninos (Soares,1993). Com o objetivo de conhecer dados epidemiológicos da depressão e caracterizar o perfil de sintomas depressivos, Bandim e cols. (1995) avaliaram 32 crianças com idade variando entre 6 a 14 anos e que preenchiam os critérios do DSM-III-R para Depressão Maior, Distimia e Distúrbio de ajustamento com humor deprimido. A maioria das crianças receberam o diagnóstico de distimia, seguido pelo distúrbio de ajustamento e por último depressão maior. Nesse estudo, a maior parte das crianças com alteração de humor eram do sexo masculino e tinham entre 11 e 14 anos de idade. Os autores apontam a importância em se observar sinais indicadores que poderiam facilitar a identificação de distúrbios depressivos, como: queda no rendimento escolar, tristeza e disforia. Apesar de extremamente importante do ponto de vista preventivo, os estudos com crianças em idade pré escolar são ainda mais escassos em nossa realidade. A taxa de prevalência encontrada em crianças de 5 e 6 anos no estudo de Andriola e Cavalcante (1997) foi de 3,9%., não revelando diferenças significativas em relação ao gênero. Estudos em fases iniciais da infância são muito relevantes, uma vez que se os sintomas depressivos não forem identificados podem causar uma série de dificuldades como a baixa auto-estima, queda no rendimento escolar e problemas na interação social, no futuro. A incidência de depressão infantil se acentua quando se trata de população específica, normalmente com outras problemáticas associadas, como crianças vítimas de queimadura (Amaral & Barbosa1990), crianças que sofriam violência familiar (Oshiro 1994), adolescentes com problemas na estrutura familiar (Baptista, 1997) e crianças com dificuldades escolares e história de fracasso escolar (Hall & Haws, 1989; Nunes, 1990; Colbert, Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 77-84 80 Newman, Ney & Young, 1992; Wright-Strawderman & Watson 1992). Salientando, ainda, um trabalho realizado por Cruvinel (2003) que analisou a incidência de depressão em 169 alunos do ensino fundamental, de uma escola pública do interior de São Paulo, os resultados apontaram que esses alunos possuem uma taxa de 3,55%. Depressão infantil e rendimento escolar A incidência de problemas emocionais, mais especificamente depressão, ocorrem com certa freqüência em crianças de séries escolares iniciais e normalmente estão associados a outras dificuldades de comportamento ou acadêmicas. Segundo Fonseca, Rebelo, Ferreira, Sanches, Pires e Gregório (1998) os problemas psicológicos infantis não devem ser considerados como um fenômeno transitório e sem gravidade, já que dados sugerem que essas dificuldades podem apresentar uma grande estabilidade temporal e ainda contribuem para afetar negativamente o processo de desenvolvimento da criança como um todo. A relação entre depressão infantil e rendimento escolar tem sido investigada por alguns autores (Colbert & cols., 1982; Livingston, 1985; Hall & Haws, 1989; Mokros, Poznanski & Merrick, 1989; Weinberg, Mclean, Snider, Nuckols, Rintelmann, Erwin & Brumback,, 1989; Nunes, 1990; Wright-Strawderman & Watson, 1992; Feshbach & Feshbach, 1997; Pérez e Urquijo, 2001; Sommerhalder & Stela, 2001). No Brasil, apesar da maioria dos estudos acerca desse tema serem realizados no ambiente escolar, são poucos aqueles que relacionam a depressão ao rendimento escolar do aluno. Os resultados desses estudos sugerem que a depressão na criança pode prejudicar seu rendimento na escola, bem como o aproveitamento acadêmico. Crianças com história de depressão apresentam um desempenho acadêmico abaixo do esperado (Feshbach & Feshbach, 1997). Sommerhalder e Stela (2001) descrevem que, na criança deprimida, as funções cognitivas como atenção, concentração, memória e raciocínio encontram-se alteradas, o que interfere no desempenho escolar, uma vez que na sala de aula, a criança com sintomas de depressão normalmente mostra-se desinteressada pelas atividades, apresenta dificuldade em permanecer atenta nas tarefas e esse comportamento interfere de forma negativa na aprendizagem dessas crianças. Os estudos demonstram que a incidência de sintomas depressivos em crianças com dificuldades escolares é considerada alta principalmente quando comparada com a taxa de prevalência de sintomatologia de de- Miriam Cruvinel e Evely Boruchovitch pressão na população infantil sem dificuldades de aprendizagem (Hall & Haws, 1989; Wright-Strawderman & Watson 1992; Colbert & cols., 1982). Wright-Strawderman e Watson (1992) avaliaram 53 crianças de 3ª, 4ª e 5ª série, de 8 a 11 anos, com o objetivo de conhecer a incidência de sintomatologia depressiva em sujeitos com dificuldade de aprendizagem. Os resultados indicaram que 35,85% dessas crianças apresentavam sintomatologia depressiva, não apresentando diferença significativa quanto ao sexo. Um outro estudo (Hall & Haws, 1989) procurou identificar o nível de depressão em uma amostra de 100 alunos de 4ª, 5ª e 6ª série, divididos em dois grupos: 50 alunos com dificuldade de aprendizagem e 50 alunos sem dificuldade de aprendizagem. As crianças com dificuldades de aprendizagem apresentavam escores significativamente mais altos de depressão. Weinberg e cols. (1989) também investigaram a relação entre problemas escolares e depressão. Encontraram alta incidência (35 %) de depressão em crianças entre 6 e 15 anos com dificuldade de aprendizagem. Colbert e cols. (1982) avaliou 282 crianças de 6 a 14 anos e 54 % dos sujeitos apresentavam depressão, segundo os critérios do DSM III. As crianças com depressão apresentavam um baixo rendimento escolar, embora eram crianças capazes intelectualmente e sem dificuldades específicas de aprendizagem. Os autores concluem que a dificuldade de aprendizagem desses sujeitos pode ser resultante da falta de energia e dificuldade de concentração, sintomas característicos do quadro depressivo. A partir da constatação de que sintomas depressivos podem estar associados ao baixo rendimento escolar e fracasso acadêmico, alguns autores têm sugerido a relação entre depressão e baixo nível de inteligência (Brumback, Jackoway & Weinberg, 1980). Essa hipótese ainda tem sido bastante controvertida. Em alguns estudos que objetivaram verificar nível intelectual de deprimidos e não deprimidos, não foram encontradas diferenças significativas quanto ao desempenho nos subtestes de inteligência - WISC (Brumback & cols., 1980; Mokros & cols., 1989). Diante desse resultado, concluiu-se que a falta de diferença no desempenho no teste de inteligência entre grupo de deprimidos e grupo de não deprimidos sugere que o baixo rendimento escolar pode ser resultado da depressão em si e não de um déficit intelectual. Nesse caso, os problemas escolares estariam atuando como uma possível expressão da de- Depressão infantil: Uma contribuição para a prática educacional pressão, diretamente relacionada a falta de interesse da criança em participar das tarefas escolares e em função dos sentimentos de auto desvalorização (Brumback & cols., 1980). Mokros e cols. (1989) considera que as dificuldades de aprendizagem podem ser confundidas com sintomas de uma desordem afetiva como a depressão. Uma criança pode, na verdade, apresentar uma desordem afetiva e ser diagnosticada como tendo dificuldades de aprendizagem. Os autores recomendam ao profissional que tem diante de si uma criança com dificuldade de aprendizagem, avaliar também a possibilidade dessa criança apresentar sintomas depressivos (citando Hunt e Cohen). Weinberg e cols. (1989) enfatiza que quando depressão e dificuldades escolares ocorrem em uma mesma criança, é importante considerar se a depressão é primária e portanto causa da dificuldade escolar ou se é secundária, ou seja, a depressão enquanto resultado do fracasso escolar, pois somente depois dessa avaliação é possível a indicação da terapêutica mais apropriada. Em síntese, os estudos descritos sugerem que crianças com dificuldades de aprendizagem e baixo rendimento escolar apresentam mais sintomas depressivos do que crianças sem dificuldades escolares. O declínio no desempenho escolar ocorre com muita freqüência na criança deprimida e alguns autores sugerem que esse comportamento pode ser visto como um sinal ou um indicador de distúrbio depressivo (Bandim & cols., 1995). Os dados revelam ainda a complexidade do diagnóstico, a dificuldade de profissionais na identificação de ambos os problemas (depressão e dificuldade de aprendizagem) e a necessidade de um olhar cauteloso e crítico diante da criança, já que um diagnóstico incorreto implica em orientação, encaminhamento e intervenção inadequada (Colbert & cols.,1982). Reconhecendo os sintomas depressivos na criança Atualmente, o diagnóstico da depressão na criança é baseado nos critérios de diagnóstico para depressão maior no adulto, descrito no DSM IV (1994). Segundo esse manual a sintomatologia da depressão infantil ainda que possa se apresentar de forma diferenciada e atípica, levando-se em consideração variáveis como idade e fases do desenvolvimento, os principais sintomas são comuns a todas as idades. No entanto, existem autores que discordam desse ponto de vista, afirmando que a depressão em pessoas bem mais jovens pode assumir formas diferentes do transtorno no adulto (Ajuriaguerra, 1976; Lippi, 1985; Rehm & Sharp, 1999; Simões, 1999). Essas mani- 81 festações atípicas da sintomatologia depressiva enfatizada por alguns autores contribuem para o conceito de “depressão mascarada” e equivalente depressivo, o qual sugere que a depressão infantil pode ocorrer, porém é mascarada por outros problemas de comportamento como enurese, hiperatividade, insônia, agressividade e ansiedade (Ajuriaguerra, 1976; Simões, 1999; Barbosa & Gaião, 2001). De modo geral, um indivíduo com sintomas depressivos pode vir a apresentar sérios comprometimentos nas suas relações sociais e familiares, bem como no desenvolvimento cognitivo, escolar e emocional (Baptista, 1999). Apesar das controvérsias e dificuldades no diagnóstico é sabido que a depressão, tanto no adulto como na criança ocorrem alterações no funcionamento do indivíduo: alterações na forma de pensar, mudanças de humor, de comportamento e alterações orgânicas (White, 1989; Seligman, 1992; Beck, Rush, Shaw, & Emery, 1997). Dentre as alterações na forma de pensar, os estudos revelam que a criança deprimida, assim como um adulto deprimido, apresenta uma tendência para interpretar os acontecimentos diários de forma negativa, disfuncional, e distorcida da realidade. Os resultados do estudo de McCauley, Burke, Mitchell e Moss (1988) indicaram que as crianças depressivas manifestavam um estilo próprio de pensamento, caracterizado por uma visão pessimista de si e do futuro. Dados semelhantes foram encontrados por Kendal, Stark e Adam (1990). Há ainda indícios de que as crianças deprimidas tendem a selecionar os eventos negativos de sua vida, dando uma ênfase maior a essas situações negativas, negligenciando os aspectos positivos dos acontecimentos (White, 1989). Quanto as mudanças de humor, é imprescindível para um diagnóstico clínico de depressão que a criança, adolescente ou adulto apresente uma alteração no humor. Como ressalta o DSM IV, no caso de uma criança com depressão, a alteração de humor pode se manifestar de formas diferentes, e normalmente se revela a partir de um humor irritável, ao invés de tristeza ou melancolia. No adolescente, é comum sentimentos de tédio e sensação de vazio (White, 1989). As alterações de comportamento são mais comumente observadas em crianças do que em adolescentes e adultos. Os estudos têm sugerido que quanto mais nova uma criança, mais freqüentes são as mudanças de comportamento (Kashani & Carlson, 1987). Entre os comporta- Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 77-84 82 mentos observados na criança deprimida estão: cansaço, fadiga, falta de energia e interesse pelas atividades diárias, dificuldade para concentrar-se e prejuízo nas relações sociais. Os problemas orgânicos ou somáticos também são mais encontrados em crianças menores. É freqüente observar uma criança deprimida com diminuição ou aumento de apetite, mudanças no hábito de sono, lentidão motora ou agitação excessiva. Além desses sintomas, uma criança deprimida pode apresentar outros problemas somáticos como dor de cabeça, dores no estômago e enurese noturna (Brumback & cols., 1980; Kashani & Carlson, 1987). No estudo de Bandim e cols. (1995) os sintomas de depressão mais comumente encontrados em crianças foram humor deprimido e perda de peso, seguidos de alteração de sono e queda no rendimento escolar. Há autores que sugerem uma diferenciação nos sintomas depressivos quanto ao gênero. Mais precisamente, tristeza e choro são sintomas mais freqüentes nas meninas, enquanto que disforia, ansiedade e irritabilidade ocorrem mais nos meninos, já pensamentos pessimistas e queixas somáticas como dor abdominal, cefaléia e náuseas ocorrem com bastante freqüência nos dois sexos (Curatolo, 2001). Tendo em vista a complexidade desse fenômeno, reconhecer os sintomas depressivos nas crianças tem sido uma tarefa difícil tanto para os pais, quanto para os professores, dado a sua similaridade com outras dificuldades como hiperatividade, distúrbio de conduta, agressividade, entre outros (Wright-Strawderman & Watson 1992), bem como devido a comorbidade. Colbert e cols. (1982) afirmam que a depressão em crianças não tem sido reconhecida adequadamente pelos educadores. As crianças acabam sendo freqüentemente identificadas como tendo um problema específico de aprendizagem. Esse desconhecimento dos sintomas depressivos por parte da escola, sem dúvida, acarreta em encaminhamentos, orientações e tratamentos incorretos para esses alunos. A falta de informações de pais e professores sobre a depressão infantil pode contribuir para aumentar as dificuldades dos alunos e inúmeras seqüelas emocionais no futuro. É evidente que família e educadores não estão preparados para fazer um diagnóstico na criança. Cabe ressaltar que nem é esse o papel dos mesmos. No entanto, disponibilizar um maior conhecimento acerca de depressão infantil para pais e professores pode propiciar um olhar mais atento à crianças que apresentam possíveis sintomas permitindo um encaminhamento opor- Miriam Cruvinel e Evely Boruchovitch tuno e um diagnóstico mais rápido, o que conduzirá a intervenção adequada, em tempo hábil. Depressão infantil: algumas implicações educacionais Sem a intenção de desconsiderar a gama de aspectos que interferem no processo de aprendizagem, atualmente, não há dúvida que os fatores internos podem promover ou inibir o desempenho escolar. Os problemas emocionais podem conduzir a futuras formas de inadaptação tanto em nível individual, como em nível escolar e social, uma vez que tais dificuldades não são tão passageiras e leves como antes se acreditava ser (Fonseca & cols., 1998). Daí a necessidade de, no contexto educacional, se olhar o aluno em sua totalidade, considerando suas características de personalidade, seu estado emocional, suas crenças e cognições frente a aprendizagem (Fierro, 1996). A relação entre depressão infantil e dificuldade de aprendizagem tem recebido atenção especial na literatura internacional. Livingston (1985) afirma que conhecer esta associação pode ser muito importante para aqueles que trabalham com crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem. Colbert e cols. (1982) concluí em seu estudo que o professor possui muita dificuldade para identificar a criança com sintomas de depressão principalmente devido a sua similaridade com outros problemas, o que contribui para tornar a orientação e encaminhamento mais tardio, o que certamente prejudica o desenvolvimento da criança. Há também aqueles que confundem os dois problemas e terminam por diagnosticar uma criança com depressão como tendo dificuldade de aprendizagem, o que também acarreta em intervenções inadequadas e incorretas. Os sintomas de depressão podem se manifestar de diferentes formas no ambiente escolar. O professor deve estar alerto a alguns sinais indicativos e pensar na possibilidade de depressão diante de uma criança que revela uma expressão de tristeza, ou mudança no nível de atividade, diminuição no rendimento escolar, fracasso em terminar suas tarefas escolares, isolamento social, agressividade ou verbalizações como: “Eu não posso fazer isso” (Livingston, 1985). Ainda não está claro a relação causal entre depressão e dificuldade de aprendizagem. Mais precisamente, não se tem dados científicos suficientes para afirmar se a dificuldade de aprendizagem é um fator de risco para depressão ou se sintomas depressivos acarretariam uma Depressão infantil: Uma contribuição para a prática educacional 83 dificuldade de aprendizagem. A hipótese de que crianças com dificuldade de aprendizagem seriam fortes candidatas a depressão é fortemente defendida por Seligman e cols. (apud Hall & Haws, 1989). Uma criança com uma limitação cognitiva dificilmente alcança um nível de desempenho esperado, não sendo reconhecida e elogiada pelos colegas e professores, ao passo que seus amigos recebem reconhecimento e elogios pelo desempenho alcançado (Hall & Haws, 1989). Na verdade, a criança com dificuldades na escola percebe sua dificuldade, pois não consegue atingir as suas expectativas e nem as expectativas dos outros, gerando sentimentos negativos de frustração, inferioridade e incapacidade. Por outro lado existem autores que acreditam que a depressão pode induzir ou piorar uma dificuldade de aprendizagem (Colbert & cols., 1982; Livingston, 1985; Mokros & cols., 1989). Livingston (1985) coloca que essa afirmação poderia ser sustentada mediante a confirmação de duas hipóteses: a primeira é que existe uma relação temporal entre o início da depressão na criança seguido de uma piora ou declínio do seu rendimento escolar. E a segunda, estaria relacionada ao sucesso no tratamento da depressão acompanhado pela melhora no desempenho escolar. Nesse caso, a dificuldade de aprendizagem seria decorrente da falta de interesse e energia da criança, falta de atenção e concentração (Colbert & cols., 1982). A dificuldade de aprendizagem consistiria em uma manifestação da depressão em si, em função da não participação do aluno nas atividades escolares e também pelos sentimentos negativos de auto-depreciação (Brumback & cols., 1980). Tal discussão se revela extremamente relevante pois a relação causal entre esses dois fenômenos conduz a implicações políticas e educacionais distintas. Apesar de ainda se fazer necessário inúmeras pesquisas afim de clarificar essa questão, alguns pontos já são evidentes. Livingston (1985) reforça que os educadores precisam estar informados a respeito da depressão infantil e que os professores precisam ficar atentos a alguns sinais apresentados pela criança e sugere ainda o desenvolvimento de mais pesquisas na área. Quanto a população brasileira ainda existem muitas lacunas e dúvidas. Diante desse quadro, faz-se necessário cada vez mais pesquisas que aumentem o conhecimento acerca da incidência da depressão infantil no Brasil e principalmente que dados provenientes de estudos mais sistemáticos sejam traduzidos em informações úteis a serem compartilhadas com educadores, pois somente assim estes terão as ferramentas necessárias para melhor compreender a depressão e suas relações com a aprendizagem. Além disso, acredita-se que o fato de se conhecer melhor a depressão infantil e suas características, possibilita o encaminhamento precoce, bem como uma atuação preventiva por parte daqueles envolvidos com a criança. REFERÊNCIAS Baptista, M. N. (1999). Sintomatologia, diagnóstico e características da depressão no adolescente Em Baptista, M. N. & Assumpção, F. B (Orgs.). Depressão na adolescência: Uma visão multifatorial (pp. 71-80). EPU: São Paulo. Baptista, M. N., Baptista, A S. D, & Dias, R. R. (2001). 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Recebido em: 13/08/02 Revisado em: 26/09/02 Aprovado em: 12/03/03 Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 85-96 A CONSTRUÇÃO DA SERIAÇÃOAUDITIVA: UMAANÁLISEATRAVÉS DA METODOLOGIA CLÍNICA Patrícia Fernanda Carmem Kebach 1 Resumo Esta pesquisa procura compreender a construção do conhecimento musical relacionado ao parâmetro sonoro altura, através da diferenciação de intervalos de notas e seriação auditiva da escala temperada. Os fundamentos teóricos encontram-se na epistemologia genética piagetiana. Para essa observação, 18 sujeitos com idade entre quatro e 12 anos foram entrevistadas através de provas de seriação baseadas no método clínico de Piaget, utilizadas como referência metodológica. Os resultados confirmam a hipótese inicial: a construção do conhecimento musical ocorre de forma homóloga aos níveis investigados pela Escola de Genebra para outros objetos de conhecimento. Além da confirmação dessa hipótese, a novidade desta pesquisa está em utilizar a metodologia clínica e uma concepção interacionista sobre a produção do conhecimento musical. Palavras-chave: Cognição; Método clínico; Música; Seriação. THE CONSTRUCTION OF THE HEARING SERIATION: AN ANALYSIS THROUGH CLINICAL METHODOLOGY Abstract This research shall cover the construction of the musical knowledge relating to the sound parameter pitch, through the differentiation of intervals of notes and the hearing seriation of the temperate scale. The theoretical foundations are to be found in the genetic epistemology of Piaget. For this observation, 18 subjects with age between 4 and 12 years are researched through the tests of seriation based on the clinical methodology of Piaget, used like methodological reference. The results confirmed the initial hypothesis: the construction of musical knowledge occurs in a form homologous to the levels investigated by the School of Geneva for other objects of knowledge. In addition to this confirmation, the novelty of this research is in the use of the clinical methodology and of an interactionist conception concerning the production of musical knowledge. Key words: Musical knowledge; Clinical methodology; Hearing seriation. INTRODUÇÃO Nesta pesquisa, o problema que se pretende expor é o desenvolvimento musical da criança ligado ao parâmetro sonoro altura, através da diferenciação de intervalos tonais e da seriação auditiva da escala musical temperada por crianças de quatro a 12 anos. Utiliza-se como referência metodológica, as provas de seriação criadas por Piaget e Szeminska (1972), os trabalhos práticos em epistemologia genética realizados por Bovet (1999, 2000) e também a pesquisa de Barcelo I Ginard (1988), sobre as estratégias de construção e buscas sonoras associadas à seriação da escala musical. Procura-se analisar os resultados desta pesquisa observando o tipo de abstração, segundo os conceitos de Piaget (1995) para as abstrações empírica, 1 Programa de Pós Graduação em Educação da UFRGS. reflexionante, pseudo-empírica e refletida - feita pelos 18 sujeitos entrevistados durante a realização das provas clínicas propostas, e também relacionando a três níveis de desenvolvimento: pré-operatório (nível I); um nível mais avançado do pré-operatório que é chamado aqui de intuitivo (nível II), em que a criança raciocina por meio do pensamento transdutivo e operatório (nível III). A análise dos dados relacionada a esses níveis de desenvolvimento é importante para acompanhar o processo de evolução cognitiva do sujeito, enquanto a análise do tipo de abstração feita pelo sujeito na busca da solução dos problemas propostos, coloca em evidência os mecanismos profundos da construção desse conhecimento. 86 Os resultados confirmam a hipótese inicial: a construção do conhecimento musical ocorre de forma homóloga aos níveis investigados pela Escola de Genebra para outros objetos de conhecimento. Além da confirmação dessa hipótese, a novidade desta pesquisa está em utilizar a metodologia clínica e uma concepção interacionista sobre a produção do conhecimento musical. As Pesquisas na Área de Música e Cognição A epistemologia genética possui poucos estudos dedicados à análise da construção do conhecimento musical. Dentre eles, destacam-se as pesquisas francesas de Delalande (1982), Soulas (1990), Noisette (1997), Agosti-Gherban (2000) e as brasileiras de Beyer (1988, 1994, 1995), Gobbi (1999), Lazzarin (1999), Bellochio (2000) e Maffioletti (2002). Apesar de possuírem um foco teórico diferenciado, outros pesquisadores brasileiros contribuem de forma importante para a área do desenvolvimento musical por meio do estudo das mudanças paradigmáticas que vêm ocorrendo aos poucos no ensino de música (Koellreutter, 1997; Campos, 2000; Brito, 2001). Todos esses pesquisadores têm em comum o reconhecimento da interdependência existente entre organismo e meio nos processos de estruturação do pensamento. Muitos deles reconhecem a importância de se levar em conta as estruturas mentais que o sujeito possui no momento em que procura estruturar o objeto musical com o qual interage. Como diz Koellreutter (apud Brito, 2001) “é preciso aprender a apreender do aluno o que ensinar” (p. 31). Mas, de que modo se pode saber o que o sujeito conhece sobre a música para que se possa proporcionar a ele situações que o orientem e desafiem a ampliar seu conhecimento musical? Nesta pesquisa, propõe-se que o método clínico é uma ferramenta indispensável para a observação de um certo estado de desenvolvimento e da estruturação do pensamento dos sujeitos pesquisados em relação à música. A criação de provas musicais baseadas no método clínico piagetiano para analisar o desenvolvimento cognitivo referente à música, é raramente encontrada. Nesse sentido, a formulação de provas clínicas para uma teoria geral sobre o desenvolvimento musical é bastante importante, não só para a criação de uma epistemologia genética referente especificamente à música, mas também para a construção de uma pedagogia relacional, onde o conhecimento é construído por meio da interação entre aluno e professor, entre sujeito e objeto a ser aprendido. Patrícia Fernanda Carmem Kebach Procedimentos Metodológicos para a Criação, Aplicação e Observação da Prova Clínica Para a observação da construção da escala temperada, que é o objeto desta pesquisa, criou-se uma prova clínica (Kebach, 2003) baseada nas experiências de seriação realizadas por Piaget e Szeminska (1972). Nas experiências desses autores, a metodologia concerne ao método clínico, em que o experimentador observa os aspectos do funcionamento e estruturação da mente da criança no momento em que procura organizar os objetos (nesse caso, os sons) sobre os quais age, atribuindo a eles um sentido por meio da sua ação e verbalização de seus atos. Assim, pode-se dizer que o método clínico se traduz pelo procedimento, inicialmente, de coleta de dados, por meio da proposição de determinadas tarefas e execução destas pelas crianças, em que o experimentador observa as ações e conversa livremente com a criança, a propósito da tarefa executada, para seguir seu pensamento e, posteriormente, analisa esses dados, que devem ser registrados (por meio de gravadores, vídeos, anotações etc.), a partir de uma determinada teoria. Antes de realizar esta pesquisa, uma pesquisa exploratória foi realizada (Kebach, 2002), cujas provas foram baseadas na entrevista clínica. Procurou-se, com essa metodologia, resgatar o universo cognitivo musical espontâneo das crianças, particularmente suas formas de representação verbal. Tinha-se a hipótese de que isso não seria suficiente para compreender o pensamento da criança sobre o objeto musical, pois não foi realizada a observação do fazer. Com a entrevista, apenas foram observadas as verbalizações das crianças e, apesar da experiência ter sido dirigida com hipóteses pré-determinadas, apareceram aspectos espontâneos nas respostas, como, por exemplo, parâmetros musicais que não haviam sido sugeridos, e que as crianças já possuíam esquemas conscientes ou inconscientes para mencionar nas entrevistas (intensidade e duração, por exemplo). Encontraram-se também as expressões que as crianças usam para diferenciar as alturas das notas (grosso/fino, alto/baixo). Essas constatações sobre o universo verbal das crianças obtidas na entrevista clínica foram indispensáveis no momento de aplicar as provas sobre o parâmetro sonoro altura, que consiste na diferenciação de sons graves e agudos. Para realizar as experiências que serão abordadas neste artigo, utilizou-se o método clínico (a síntese entre a observação clínica e a entrevista clínica) na criação e A construção da seriação auditiva: Uma análise através da metodologia clínica aplicação das provas, com o intuito de verificar não somente os aspectos verbo-conceptuais dos sujeitos entrevistados, mas também suas ações concretas sobre o objeto a ser estruturado. Desse modo, foi possível verificar, então, os seguintes aspectos: as ações concretas e mentais dos sujeitos (ao compararem alturas de sons diferentes e ao construírem a seriação da escala musical) e a verbalização dessas ações. Especificamente no campo da música, as referências metodológicas estão situadas na pesquisa de Barcelo I Ginard (1988) sobre a seriação de notas da escala musical, visando a verificação da capacidade de diferenciação dos sujeitos no que se refere ao parâmetro altura. Segundo esse autor, o modo mais corriqueiro das crianças construírem uma escala musical é através da seriação, em que comparam auditivamente o material proposto. Nos níveis inferiores de desenvolvimento, as crianças servir-se-iam do jogo de tentativas à espera de um som global definitivo para formar uma escala musical, por meio da percepção sonora, modificando a colocação das notas sucessivamente. Esse tipo de exploração é chamado pelo autor de intuição sonora. No nível das operações formais, a audição interior levaria aos intervalos, ou distâncias relativas do som, nas quais preponderam as construções da escala. Por isso, dificilmente, alguém, que não tenha uma construção musical bem sólida, conseguirá chegar a esse patamar. Portanto, o modo mais utilizado pelas crianças que Barcelo I Ginard (1988) pesquisou foi a comparação auditiva dos sons, devido ao fato de que tais sujeitos pertenciam, na sua grande maioria, à faixa etária preponderante no nível operatório concreto, ou seja, de seis/sete a 11/12 anos. Esses sujeitos também freqüentavam escolas de música. Os 18 sujeitos desta pesquisa não freqüentaram aulas de música e, apesar de pertencerem a uma faixa etária semelhante (quatro a 12 anos), e de lhes ser sugerida a construção por meio da comparação dos sons, utilizaram, preponderantemente, a intuição sonora para construírem a escala. Esse tipo de construção foi encarado como uma ação espontânea do sujeito. Como já era de se esperar, nenhum sujeito construiu sua escala por meio da audição interior. Antes de iniciar a prova da seriação, verificou-se a capacidade de diferenciação dos sujeitos referente ao parâmetro altura, propondo a eles a oposição entre notas graves e agudas, primeiro através de intervalos tonais grandes, depois de intervalos de um tom. A variação da altura corresponde à identificação das variações 87 de graves e agudos na música. Verificou-se que quase todas as crianças possuem essa diferenciação no que diz respeito aos intervalos grandes, mas atrapalham-se na identificação do que seria o som mais grave e o mais agudo, quando o intervalo tonal é próximo. De qualquer modo, aplicaram-se as provas, todas até o final, com os 18 sujeitos pesquisados, com a intenção de avaliar a tomada de consciência ou a ausência durante a realização das provas (Piaget, 1974). Procurou-se sistematizar as provas já aplicadas por Barcelo I Ginard (1988), de modo a ser fiel ao método clínico, com base nas provas de seriação explicitadas nos trabalhos práticos em epistemologia genética realizados na Universidade de Genebra, no curso oferecido por Magali Bovet (1999, 2000). Segundo essa pesquisadora, nas provas de seriação, a verbalização é reduzida, pois aqui o mais importante é anotar com muita precisão as ações da criança durante suas construções e inserções: tentativas, comparações, correções, etc. Conceitos Utilizados para a Análise dos Dados Os sujeitos retiram as propriedades dos objetos ou da coordenação de suas ações sobre os objetos através de abstrações. Por meio de seus instrumentos de assimilação, o sujeito poderá ou não fazer relações, estabelecer significados, etc. Assim, “O processo do conhecimento está restrito ao que o sujeito pode retirar, isto é, assimilar, dos observáveis ou dos não-observáveis, num determinado momento.” (Becker, 2001 p.47). Para se compreender os conceitos que foram utilizados na análise dos protocolos recolhidos, referentes à abstração empírica, abstração reflexionante, abstração pseudo-empírica e a abstração refletida, é importante, aqui, retomar tais conceitos. Piaget (1995) no seu livro “Abstração Reflexionante” em suas conclusões gerais, retoma, de forma sucinta, os quatro tipos de abstrações utilizadas pelos sujeitos para abstrair dos objetos ações em suas características materiais ou das coordenações das ações deles mesmos, sobre os objetos, suas propriedades: “a abstração “empírica” (empirique) tira suas informações dos objetos como tais, ou das ações do sujeito sobre suas características materiais; de modo geral, pois, dos observáveis, ao passo que a abstração “reflexionante” (réfléchissante) apóia-se sobre as coordenações das ações do sujeito, podendo estas coordenações, e o próprio processo reflexionante, permanecer inconscientes, ou dar lugar a tomadas de consciência e conceituações variadas. Quando o objeto é modi- Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 85-96 88 ficado pelas ações do sujeito e enriquecido por propriedades tiradas de suas coordenações ( p. ex., ao ordenar elementos de um conjunto), a abstração apoiada sobre tais propriedades é chamada “pseudo-empírica” (pseudo-empirique), porque, ao agir sobre o objeto e sobre seus observáveis atuais, como na abstração empírica, as constatações atingem, de fato, os produtos da coordenação das ações do sujeito: trata-se, pois, de um caso particular de abstração reflexionante e, de nenhum modo, de uma decorrência da abstração empírica. Finalmente, chamamos de abstração “refletida” (réflechie) o resultado de uma abstração reflexionante, assim que se torna consciente, e, isto, independente de seu nível” (p. 274). Verifica-se, então que a marcha predominante na evolução dos processos cognitivos depende da abstração reflexionante, pois é esta que vai transferir para um plano superior o que foi tirado de um nível inferior da atividade desse sujeito. Essa evolução é dirigida por uma lei de equilíbrio entre as diferenciações e as integrações. Observa-se, nesse caso, que as diferenciações são resultantes do que Piaget (1995) chama de reflexionamento, característico das abstrações reflexionantes, que consiste no processo que retira de um nível inferior determinadas ligações, que são explícita ou implicitamente empregadas, ou implicadas sem serem notadas, e as transforma em objetos do pensamento do nível que chega depois. As integrações resultam das reflexões, que são reorganizações necessárias sobre esse nível posterior, enriquecido pela introdução dos novos objetos de pensamento que ainda não haviam sido considerados até o momento. A reflexão é necessariamente generalizadora devido ao fato de se apoiar sobre uma totalidade mais ampla criada pelo sujeito (Piaget, 1995 p 28). Analisando os protocolos de modo a observar as abstrações utilizadas na realização das provas, verificase de que forma a criança realizou sua ação, isto é, se foi apoiada sobre a abstração empírica, em que a criança apenas retira as características observáveis dos objetos, ou sobre a abstração reflexionante, em que a criança consegue coordenar suas ações debruçando-se sobre si mesma e, inconsciente ou conscientemente, leva em conta essas coordenações e relações estabelecidas. Por meio da verbalização daquilo que fez, a criança poderá, ou não, apropriar-se de sua ação e re-organizar seu pensamento. Patrícia Fernanda Carmem Kebach Sob essa ótica, os sujeitos do Nível I são os que se apóiam basicamente sobre simples abstrações empíricas, não coordenando suas próprias ações, por não possuir esquemas básicos de ação para significar a problemática proposta, encontrando-se, assim, no estágio pré-operatório de desenvolvimento, por não conservarem as abstrações feitas sobre o objeto. Os sujeitos do Nível II são aqueles que estão de tal forma centrado nos observáveis do objeto, dito de outra forma, nas características perceptíveis do objeto, que se centram em apenas uma característica do objeto a ser estruturado, sem coordenar pontos de vista, não conseguindo estabelecer relações lógicas no momento em que procuram solucionar os problemas propostos, o que caracteriza o pensamento transdutivo, próprio do estágio intuitivo (fase intermediária entre o pré-operatório e o operatório), em que a criança estabelece apenas relações do particular para o particular, dentre os elementos em jogo. Frente a qualquer contra-argumento, os sujeitos desse nível de desenvolvimento não mantêm a solução correta para o problema em função da ausência de reversibilidade e generalização do conhecimento, encontrando-se, assim, no nível intermediário entre o préoperatório e o operatório, porém ainda pré-operam. A origem da operação está no processo de interiorizar a organização das próprias ações, não nos seus efeitos (Becker, 2001). Portanto, o sujeito operatório (Nível III) é aquele que possui essa capacidade de organizar as próprias ações, ou seja, aquele que se apropria dos mecanismos íntimos de suas ações. Os exemplos desses três níveis de desenvolvimento estão explícitos na análise dos protocolos das provas clínicas sobre o parâmetro sonoro altura. Análise dos Protocolos Para se demonstrar de que modo foram realizadas e analisadas as provas clínicas, estão descritos aqui alguns protocolos que foram pegos como exemplo para demonstrar os níveis de desenvolvimento dos sujeitos pesquisados. Neles, as falas do experimentador estarão escritas em letras não grifadas. As falas da criança em itálico. As ações de ambos estão sempre entre parênteses. Utiliza-se, como Piaget (1995), somente as três primeiras letras do nome dos sujeitos e, logo após o nome, a idade de cada um entre parênteses. O material utilizado para estas provas foram oito sinos, formando a escala de dó (dó grave, ré, mi, fá, sol, lá, si, e dó agudo) todos de formato idêntico, para que A construção da seriação auditiva: Uma análise através da metodologia clínica não houvesse a possibilidade da criança se centrar nos aspectos visuais dos sinos, e sim no som destes. Prova para a Verificação da Diferenciação de Intervalos Tonais Grandes Nessa prova, dos dezoito sujeitos entrevistados, apenas o sujeito ISA (4,10) pré-operou, demonstrando-se encontrar no Nível II. Nenhum sujeito respondeu de modo completamente pré-operatório (Nível I). Todos os outros, a partir dos 5 anos, responderam à diferenciação de intervalos grandes corretamente (Nível III). Essa prova consiste na diferenciação da oposição agudo X grave, através da comparação, primeiramente espontânea, depois sugerida, de intervalos distantes da escala musical. Nível II – ISA (4,10) – Aqui, nós temos um monte de sininhos. Toca eles para você ver como eles são (a criança toca os sinos). Como é o som destes sinos? É igual...diferente...? – Diferente. – Este (toco o dó agudo) e este (toco o dó grave) são como? – Um é diferente do outro. – Eles são grossos ou finos, estes sons, ou não? Tem algum grosso e algum fino? – Eu acho que não. – Mas você me disse que eles são diferentes! Como é que eles são, então? – Hum...Grossos. – E este aqui (toco o dó grave) é grosso também ou é fino? – Grosso também. A criança diferenciou os sinos de modo intuitivo, retirando dos objetos (sinos) suas características sonoras de modo geral, estabelecendo uma relação transdutiva, em que uma característica do objeto é pega para explicar sua totalidade, respondendo que, apesar de serem diferentes, todos são “grossos”. ISA não consegue saber o que os torna diferentes, pois não possui instrumentos suficientes de assimilação. A criança, assim, apenas percebe que existem diferenças entre os distintos sinos, porém não consegue explicá-las, justamente porque, apesar de lhe ser sugerido, não consegue diferenciar um som grave de um agudo. Eis o exemplo de resposta operatória: Nível III – LUC (11,0) – Eu tenho estes sinos aqui e quero que você os toque para ver se eles são iguais ou diferentes. – (a criança toca os sinos) Tem uns que são um pouco mais finos e outros um pouco mais grossos. – Qual é grosso? – (toca alguns sinos e separa o dó grave) Este. – E fino? – Este (toca lá). A criança, nesse caso, relacionou o som dos sinos sem que precisasse ser demandada sobre o fato. Utilizou-se da abstração pseudo-empírica, por meio da comparação dos sons, e chegou à conclusão (abstração 89 refletida) de que alguns possuíam os sons mais graves e outros mais agudos. Desconhecendo essa denominação, utilizou o vocabulário espontâneo: grossos (graves) e finos (agudos), sem que lhe fosse sugerido. Confirmou seu conhecimento sobre a distinção entre graves e agudos, entregando os sinos corretamente: o dó correspondeu ao grave, entregando o sino correspondente à nota mais grave da escala e lá (um intervalo de sexta) o exemplo de uma nota mais aguda. Essa primeira operatoriedade não garante que a criança consiga seriar toda a escala. Ela apenas está estabelecendo uma relação entre dois sinos, e não, entre um e todos os outros. LUC realmente não consegue seriar a escala de modo operatório. Prova para a Verificação da Diferenciação de Intervalo de Um Tom Nessa prova, nenhum sujeito demonstrou ser intuitivo. Frente aos contra-argumentos, ou permaneciam no Nível I, trocando os sons (grave=fino; agudo=grosso), ou tomavam consciência (Nível III) de qual som era o grave, e qual era o agudo. Para a observação dessa diferenciação entre grave e agudo, propôs-se o intervalo de um tom apenas. A média de idade de crianças pré-operatórias ficou em torno dos 7 anos. Eis um exemplo: Nível I – PAB (5,0) – Destes dois sinos aqui (toco o dó grave e o ré), qual é o mais grosso e qual o mais fino? – (a criança toca os sinos para comparar) Este (ré) é o mais grosso. – E este (toco o dó grave)? – É o mais fininho (com convicção). – Teve um menino que me disse que este (toco o dó grave) era o mais grosso, e este (toco o ré) era o mais fino. Ele tem razão ou não? – Não. Este (ré) é mais grosso do que aquele ali (pega o lá e toca). – Ah! Do que o anterior! Mas entre estes dois (toco novamente o dó grave e o ré), qual é o mais grosso? – Este (ré). – E este (dó grave)? – Um pouquinho mais fino. O sujeito PAB, mesmo frente ao contra-argumento proposto, demonstra ser pré-operatório na distinção entre grave e agudo. Apesar de ter diferenciado corretamente um intervalo mais distante, ainda não construiu esquemas auditivos suficientes para diferenciar um intervalo pequeno de som. Nesse caso, embora perceba uma diferença mínima, os instrumentos de assimilação de que dispõe não são suficientes para o estabelecimento de relação operatória. Beyer (1995) sugere que possa haver alguma inversão nesse tipo de resposta, na qual a criança conserva a noção de graves e agudos de modo invertido, ou seja, as notas mais graves são toma- Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 85-96 90 das pelas mais agudas e vice-versa. Nesse caso, as crianças já estariam num nível mais adiantado de desenvolvimento do pré-operatório, isto é, no intuitivo. Porém, esse não é o caso de PAB, pois ele não conservou a inversão nas provas posteriores. A média de idade dos sujeitos que operaram nessa prova ficou em torno dos 9,5 anos. Nível III – MAU (10,1) – E entre estes dois sinos aqui (toco o dó grave e o ré) qual é o fino e qual o grosso? – Este aqui (dó grave) é o mais fino. – Mas um menino me disse que este (toco o ré) é mais fino do que esse (toco novamente o dó grave). O que tu achas? Ele tem razão, ou não? – ... (a criança pensa) – Qual é o mais grosso e qual o mais fino? (toco os dois mais uma vez) – Este (toca o dó grave) é o mais grosso e este (toca o ré) o mais fino. – Mas antes você disse o contrário? – Não (ri). Este (dó grave) é o grosso e este (ré) é o fino. – Tem certeza? – Tenho. No exemplo acima, o sujeito MAU, tomou consciência de qual era a nota mais grave e a mais aguda, durante a realização da prova, ao ouvir várias vezes o som dos dois sinos. Esse é um caso típico de abstração pseudo-empírica, em que a criança precisa se apoiar sobre a audição do som dos sinos, para compará-los várias vezes, até obter a certeza de sua resposta. Comprovou ainda sua tomada de consciência na prova de inserção de uma nota na escala, na qual localizou corretamente o local do sino que se havia deixado de lado, no momento em que se construiu a escala temperada de modo ascendente, para que ele inserisse esse sino, completando a escala. Inserção de Um Sino na Escala Semi-Pronta Essa prova consistiu na introdução, pela criança, de uma nota que foi retirada da escala, em que o material utilizado foram também os sinos, dispostos em uma fileira, do mais grave ao mais agudo, cujos espaços visuais entre eles deveriam ser iguais para que a criança não tentasse adivinhar visualmente o lugar correto do sino retirado. Os sujeitos pré-operatórios procuraram o lugar do sino visualmente, tentando achar alguma diferença entre os espaços deixados entre os sinos. Outros não conseguiram comparar o som da nota que foi retirada com os demais sinos. Nível I – JES (7,3) – Vira de costas que eu vou montar os sinos do jeito que eu acho que fica bom do mais fino ao mais grosso (monto a escala e deixo o fá Patrícia Fernanda Carmem Kebach de lado). Pode olhar. Aqui está do mais grosso ao mais fino, e eu quero que você encontre o lugar certo deste sino (fá) entre os outros, para que a minha fileira continue do mais grosso ao mais fino. – Tá (toca o fá e coloca depois do si). – Por que você escolheu este lugar para ele? – Porque eu acho que ele vai aí. – Como é que você sabe? – ... – Então, vamos tocar todos para ver se está certo (toco todos). Está certo aí? – ... – Como é este (si), em relação a este (fá)? É mais grosso ou mais fino? – É este aqui (si) o mais fino. – Eu disse para você deixar do mais grosso ao mais fino. Se este (si) é fino e este (fá) é grosso, ele está correto aqui? – Não. – Então, procura um lugar para ele. Pode tocar os outros. – (coloca depois do dó sem fazer comparações, simplesmente olhando) – Como é que você fez para saber que era aí? – (a criança ri) – Você pode mexer neles para comparar. – (toca todos) – Você acha que está certo aí, ou não? – Acho que sim. O sujeito JES, apesar de lhe ser sugerida a comparação auditiva, e de responder corretamente que si é mais agudo que fá, centrou-se sobre as características visuais dos sinos, procurando empiricamente o lugar correto para a nota, ou seja, por meio de suas percepções visuais. JES faz, portanto, uma leitura sem nenhuma compreensão dos fatos. Entre esse tipo de leitura e o nível de compreensão, através da descoberta da razão para o lugar adequado do sino, existe uma etapa intermediária. Nessa etapa (Nível II) , a criança sabe de que modo deve procurar (via comparação dos sinos), porém resta encontrar o lugar correto. O sujeito intuitivo aproxima-se muito do lugar correto da nota na escala, mas não possui esquemas suficientes para diferenciar intervalos pequenos. No caso do exemplo abaixo, a diferença (entre mi e fá) é de apenas meio tom. Nível II – MIC (10,8) – Vou fazer a minha carreira e vou pedir para você colocar um sino no meio dos outros (monto a escala sem o mi). Pode virar. Aqui está do mais grosso ao mais fino. Onde este sino deve ser colocado, para que permaneça assim, do mais grosso ao mais fino? (entrego o sino para a criança) – (toca várias vezes o mi e tenta adivinhar visualmente o lugar correto) – Você pode escutar o som dos outros sinos, não precisa adivinhar! – (toca todos e coloca depois de fá) – (toco toda a seqüência) Está certo neste lugar, ou não? – Está. – Como é este (mi) em relação a este (fá)? – Um pouquinho mais fino. A percepção está presente desde o princípio dessa prova, no exemplo acima. MIC procura o lugar do sino A construção da seriação auditiva: Uma análise através da metodologia clínica primeiramente de modo visual. Depois, quando lhe é sugerido um outro modo de busca (escutar os sons), aproxima-se muito da resposta correta, comparando o som do sino que lhe foi entregue com os outros (abstração reflexionante/pseudo-empírica), mas é traída novamente por sua percepção, desta vez, auditiva, por não possuir esquemas suficientes de diferenciação de intervalos pequenos (nesse caso, de apenas meio tom). Nessa prova, muitas crianças foram operatórias. A média de idade deste nível, foi 9,5. A hipótese para esse fato é a de que houve maior facilidade de comparação dos sons, tendo em vista que a escala já se encontrava quase pronta (apenas faltando uma nota). A relação de uma nota com todas as outras já dispostas de modo correto levou as crianças operatórias ao êxito através de abstrações pseudo-empíricas, em que, no caso operatório, foi necessário fazer a comparação dessa nota com todas as outras. Nível III – CAR (11,1) – Vou montar a minha escala e tirar um sino. Vira de costas (monto e tiro o mi). Pode olhar. Coloca este sino no lugar certo para que eles continuem do mais grosso ao mais fino. – (compara o mi com cada um e pára no fá, colocando mi no local certo, antes do fá) – Como é que tu sabes que ele vai aí? – Porque eu comparei ele com os outros. O sujeito CAR conseguiu apropriar-se de sua ação de modo consciente. Isso fica claro quando representa verbalmente sua ação ao final da prova. Encontra-se aí um exemplo de abstração refletida sobre o processo de construção de seriação. O objetivo dessa prova foi o de fazer com que as crianças pré-operatórias e intuitivas pudessem ouvir a escala temperada, mesmo que incompleta (faltando uma nota), procurando tornar a tarefa de seriação um pouco mais acessível, na medida em que fosse sugerida uma sistemática de organização dos sinos. Porém, isso não ocorreu. Piaget (1995) diz que a abstração, ainda que baseada sobre as ações de outra pessoa “está longe de constituir um processo simples, mesmo quando estas ações são simplesmente concernentes à ordem constitutiva das séries.” (p.161). Embora alguns sujeitos tenham conseguido realizar a tarefa de introduzir apenas um sino na escala de modo operatório, na hora da seriação ascendente e descendente, o único sujeito que operou completamente foi GAB (6,2). Esse fato comprova que é preciso que a própria criança construa a relação entre os intervalos, por meio da apropriação de suas ações, ou seja, da coordenação das mesmas. 91 Apenas a escuta (passiva) da escala pronta não é suficiente para sua construção. O conhecimento não é adquirido por meio dos órgãos dos sentidos (nesse caso, a audição). Ele é uma construção por meio da interação do sujeito com o objeto. A relação entre os intervalos da escala, portanto, é uma complexa construção que exige esquemas de assimilação para a tarefa de organização dos eventos sonoros. A noção de escala, mesmo que seja construída com hipóteses pré-operatórias do próprio sujeito, é, segundo Beyer (1988), o pré-requisito para a construção, ainda que intuitiva, da escala temperada. Seriação Ascendente da Escala Logo após passarem pelas etapas de diferenciação entre sons graves e agudos, aplicou-se em todos os sujeitos, a prova de seriação da escala de dó grave a dó agudo (uma oitava). A prova consistiu na organização dos sinos, de modo a formarem a escala de dó. Nível I – VIN (7,6) – Quero que você arrume todos estes sinos do mais grosso até o mais fino, todos em uma fileira. – (procura os sinos ouvindo os sons sem comparar uns com os outros) Pronto! Estes aqui são os finos, estes os grossos e estes os normais (aponta para cada separação que fez, pois agrupou os sinos em dois conjuntos de três sinos e um de dois). – Como é que você sabe que estes (aponto para cada grupo) são mais finos, estes grossos e estes normais? – Por causa que eu toquei. – Vamos ver como você arrumou, então (começo pelo grupo que a criança denominou de mais finos: ré, mi, dó grave; depois os que a criança denominou de mais grossos: sol, fá, lá; finalmente os denominados de normais: si, dó agudo). Então, você arrumou do mais grosso ao mais fino? – Sim. – E se fosse para colocar um ao lado do outro, todos em uma só carreirinha, como é que você organizaria? – Eu ía... – Faz, então, um do lado do outro. – (ele organiza na vertical os sinos dois a dois) – Vamos ver como ficou (toco cada dupla: dó grave/sol; mi/fá; ré/lá; dó agudo/si) – Estes primeiros aqui parecem com o som da campainha! Nesse primeiro nível, fica demonstrada uma atitude inicial, na qual a criança procura ordenar um dos sinos, sem compará-lo ao conjunto dos outros, como se não devesse seguir uma direção estável na ordem de relação dos termos, nem auditiva e nem mesmo visual, procurando fazer somente pequenos agrupamentos. Alguns vão simplesmente colocando um sino ao lado do outro, como foi o caso de VIN, sem sequer ouvi-los. Esses últimos, apesar da similaridade dos sinos, buscam en- Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 85-96 92 contrar características visuais de diferenciação para arranjá-los. Os sujeitos pré-operatórios fazem, assim, apenas abstrações empíricas no momento de construírem suas seriações, buscando as informações nas próprias percepções sobre o objeto a ser estruturado. No nível intuitivo, que é considerado também pré-operatório, apesar de estar mais próximo da operatoriedade, as crianças servem-se do jogo de tentativas de comparações globais à espera de uma resolução definitiva ou do som definitivo global, como sugere Barcelo I Ginard (1988), para construírem suas escalas. Estão centrados ainda na percepção sonora global, modificando a colocação das notas sucessivamente, porém de modo não completamente pré-operatório, pois passam dos julgamentos pré-relativos à seriação empírica. Estão centrados na percepção sonora global, modificando a colocação das notas sucessivamente e não conseguem, assim, obter êxito na construção da escala. Encontram um procedimento que consiste em construir a escala tendo em conta as extremidades (que nem sempre estão corretas, mas são percebidas como tais), sem conseguir relacionar os elementos entre elas, que garantiriam uma progressão constante operatória. Dessa forma, tal procedimento toma o lugar dos sistemas de relações, pelas simples figura perceptiva/intuitiva do conjunto, sem que a criança consiga classificar e comparar os elementos em jogo de modo coerente (Piaget & Szeminska, 1972). Nível II – JEN (12,8) – Agora, eu quero que você faça uma carreira com todos os sinos do mais grosso ao mais fino. – (começa separando os sinos pelos sons mais agudos e mais graves, depois faz comparações globais e organiza a fileira) Este está mais forte... – Mas eu pedi para que você organizasse do mais grosso (falo grave) ao mais fino (falo agudo). Está pronto? – Está. – Vamos ver como ficou: fá, sol, si, dó agudo, lá, mi, ré, dó grave. Está correto? – Hum... Não (troca o dó agudo de lugar com o dó grave). Agora, sim. – Vamos escutar (repito a seqüência com a mudança), está correto assim? – Ainda não (coloca as notas na seguinte seqüência: fá, sol, si, mi, ré, dó grave, lá, dó agudo) – (toco a seqüência) E agora? – ...Não, ainda não... – Como é este sino (toco o dó grave) aqui? – É um tom mais fino. – E este (toco o dó agudo)? – É mais grosso. – Este (dó grave) é mais fino que este (dó agudo)? – É. – Mas antes você disse que os sinos do tipo deste (dó agudo) eram os mais finos e estes (dó grave) os mais grossos! (refiro-me às provas de Patrícia Fernanda Carmem Kebach diferenciação das alturas de apenas dois sinos) – Hum...Eu acho que eu troquei... – Então, você acha que o correto é que este (dó grave) é o mais... – Fino. – E este (toco o dó agudo)... – Mais grosso. – Então, a fileira fica como? – Assim (toca os sinos sem trocar a ordem em que havia organizado anteriormente: fá, sol, si, mi, ré, dó grave, lá, dó agudo). Nesse exemplo do estágio intuitivo, a criança inicialmente relaciona os sinos, utilizando uma abstração pseudoempírica (ficando implícita a abstração reflexionante que está sempre presente nas abstrações pseudo-empíricas e não nas empíricas) para separar os sons mais agudos dos mais graves, mas que não persiste quando a criança necessita fazer comparações mais específicas de modo a organizar todos os sinos em uma seqüência coerente. A partir daí, apóia-se sobre abstrações empíricas. Como acontece corriqueiramente, denomina de forma diversificada o parâmetro altura (“Este está mais forte...”), o que poderia significar uma confusão entre parâmetros (estaria a criança referindo-se à intensidade do som?), o que demonstra uma falta de diferenciação das diferentes alturas das notas e também da altura em relação aos outros parâmetros do som. Acaba negando as primeiras relações operatórias feitas nas outras provas, através do desequilíbrio causado pelo novo desafio, para trocar a denominação: os finos são associados aos graves, e os grossos, aos agudos. Essa não-conservação de sua própria relação estabelecida anteriormente demonstra o caráter irreversível da estruturação atual; portanto, a não-generalização desse conhecimento, em função da falta de esquemas de assimilação para a organização dessa estrutura mais complexa. O caso atípico GAB é o único exemplo do estágio operatório. Nível III – GAB (6,2) – Agora, eu quero que você arrume do mais grosso ao mais fino, todos os sinos. – (a criança faz comparações de todos os sinos, separa-os por suas alturas e depois vai pegando pares para comparar, organiza a fileira buscando os sinos através da comparação com o último que enfileirou) – Vamos ver como ficou (toco sua fileira de sinos): dó grave, ré, mi, fá, si, lá, sol, dó agudo. Está tudo certo? Está do mais grosso ao mais fino? – Só tem dois que estão meio... – Então, tenta corrigir o que pode estar errado. – (coloca o sol e o si no lugar correto) – (toco a seqüência) Agora, deu? – Sim (convicta). GAB faz a comparação auditiva de todos os sons para construir a escala de modo operatório, tanto de A construção da seriação auditiva: Uma análise através da metodologia clínica modo ascendente, quanto descendente. Essa ação do sujeito sobre os objetos retirando deles as características de relação entre uns e outros, ou seja, a apropriação não só das características dos objetos, mas das ações que o sujeito exerceu sobre eles ao relacioná-los é típica da abstração reflexionante. A criança apoiou-se sobre abstrações pseudo-empíricas do início até o final da prova. Para fazer as correções necessárias precisou ouvir os sinos mais de uma vez. Enquanto, no nível intuitivo (Nível II), as crianças consideram os sinos como uma espécie de elementos estranhos uns aos outros, comparando-os apenas com uma globalidade sonora, GAB reage de modo contrário, comparando-os, medindo auditivamente a distância dos intervalos e os situando, tendo em conta simultaneamente as relações “mais agudo do que o anterior” e “mais grave do que o seguinte”. Isso demonstra uma grande compreensão em relação às ordenações auditivas dos intervalos. Apesar da seriação perfeita, quando pergunto a GAB o que há de semelhante nas coisas que fez, a criança responde: “Não tem nada de parecido”. Esse fato demonstra a inconsciência do processo de abstração reflexionante realizada pelo sujeito. Sua inconsciência fica clara também ao dar a resposta à questão sobre o método utilizado para construir a escala: “Estou prestando a atenção”. Essas respostas são típicas das operações concretas. Ou seja, as construções são feitas com base em abstração pseudo-empíricas, na medida em que a criança compara os sons e os relaciona de modo operatório, mas não possui apropriação consciente da organização de suas ações (abstração refletida). Não obstante essa falta de consciência de seu processo de construção, GAB não generaliza o processo de diferenciação dos sons somente por abstrações empíricas, visto que essa generalização é apenas extensiva e consiste em encontrar em novos objetos uma propriedade que já exista neles, mas que é semelhante àquela que já observou em outros (por exemplo, o timbre, quando o sujeito compara o som dos sinos ao som de uma campainha). Ela generaliza esse conhecimento pela reversibilidade existente em suas operações concretas. Mesmo que o sujeito GAB não tenha atingido o nível do raciocínio sobre enunciados verbais (operações formais), sua lógica está apoiada sobre os objetos manipuláveis (operações concretas), o que implica uma lógica de classes. Sua generalização é feita principalmente pelas abstrações reflexionantes, que consistem em introduzir, em novos objetos, propriedades que eles não possuíam 93 (no caso, a organização via seriação, na diferenciação entre graves e agudos), seja porque são tiradas das construções de níveis precedentes, seja, sobretudo, porque conseguem reorganizar e construir novas formas que produzem novos conteúdos. Desse modo, pode-se dizer que a criação de novidades existente no processo de seriação da escala consiste na realização de possibilidades abertas de novas criações posteriores, por meio da construções de níveis precedentes. Para verificar um grau mais elevado de reversibilidade do todo (escala completa) propôs-se a todos os sujeitos, ao final das provas, que organizassem a escala de modo descendente, ou seja, do sino mais agudo até o mais grave (dó, si, lá, sol, fá, mi, ré, dó grave). Como era de se esperar, também nessa prova, a reversibilidade completa da seriação só ocorreu no sujeito que operou na seriação ascendente. CONCLUSÕES Com base nas conclusões gerais desta pesquisa, o quadro de classificação por nível de desenvolvimento de todos os sujeitos pesquisados pode ser observado no Quadro 1. A construção auditiva em relação ao espaço existente entre duas notas (intervalo tonal) é bem mais complexa do que a construção visual, por exemplo, quando é necessário comparar o tamanho de dois pequenos bastões para a seriação visual de uma série, na qual existem vários bastões de diferentes tamanhos que devem ser organizados do menor ao maior, segundo a prova de Piaget e Szeminska (1972). A diferença de tamanho de cada bastão é sempre a mesma, enquanto a diferença de intervalos é de meio tom entre o mi e o fá e o si e o dó agudo, e, entre as outras notas, a diferença é de um tom. Portanto, a medição do espaço via audição é algo bem mais complexo, já que, para comparar dois bastões, a criança coloca um ao lado do outro e consegue observar os objetos em sua concretude. Já dois sons devem ser comparados mentalmente logo após suas execuções sucessivas, e não simultâneas, pois se corre o risco de a criança não conseguir diferenciar um do outro se forem tocados ao mesmo tempo. Assim que é executado, portanto, o som se esvai, e a criança permanece apenas com uma imagem mental deste. Sobre isso, Maffioletti (2002) observa que “...a transformação Psicologia Escolar e Educacional, 2003 Volume 7 Número 1 85-96 Patrícia Fernanda Carmem Kebach 94 Quadro 1: Diferenciação de intervalos e seriação da escala. de uma propriedade sonora só pode ser percebida, com relação a um modelo previamente apresentado. O período de tempo entre a apresentação de um modelo e a indagação sobre sua eventual modificação faz incidir aspectos referentes à memória musical. No caso da apresentação do modelo, seguida de sua modificação, o tempo de concentração auditiva exigido poderá interferir nas respostas” (p. 107). Para que a noção de escala seja construída, é necessária uma interação, tanto qualitativa, quanto quantitativa com o objeto musical, que garanta a construção de esquemas mentais de assimilação, possibilitando ao sujeito uma memória dos intervalos existentes na escala. Essa é uma aprendizagem complexa que não deve ser negligenciada em função de outras que devem ocorrer posteriormente a esta, como, por exemplo, a alfabetização musical. A noção dos intervalos é um conhecimento básico para a construção do objeto musical, assim como o é a noção de duração dos sons. Assim, “a aprendizagem musical, como qualquer outra, envolve conhecimentos que têm sua base na noção de conservação” (Maffioletti, 2002 p. 106). Nota-se, assim, a importância da conservação das relações existentes entre os intervalos da escala temperada para a generalização deste conhecimento. Encontrou-se uma décalage (defasagem) bastante grande na seriação auditiva em relação à seriação visual sugerida por Piaget e Szeminska (1972). Na seriação visual, as idades médias de cada estágio de desenvolvimento acompanham as outras tantas provas aplicadas pelos pesquisadores construtivistas. Segundo Piaget (1990), o estágio pré-operatório é encontrado entre as idades de dois/três anos e seis/sete anos (insere-se aqui também o estágio intuitivo). O estágio operatório concreto compreende, de modo geral, as idades que vão dos sete/oito anos até 11/12, quando começam as operações formais. Os resultados desta pesquisa também foram diferentes dos resultados obtidos por Barcelo I Ginard (1988), tendo em vista que este autor aplicou as provas em cri- A construção da seriação auditiva: Uma análise através da metodologia clínica 95 anças que cursavam aulas de música, ou seja, interagiam freqüentemente com o objeto musical e possuíam idades entre oito e 10 anos. O autor afirma que “todos los niños poseían la noción seriativa musical: no han tenido dificultad alguna para conceptuar los sonidos que han escuchado como una colección de elementos organizados mediante diferencias sucesivas” (Barcelo I Ginard, 1988 p. 108). Porém, o mesmo não ocorreu nesta pesquisa. É importante lembrar, aqui, que nenhum dos sujeitos entrevistados estava freqüentando aulas de música durante a realização das provas, para que fosse observado o conhecimento espontâneo dos mesmos sobre o objeto em jogo. A média final das idades que foi encontrada para os estágios que caracterizaram os resultados desta pesquisa foi a seguinte: as crianças responderam às perguntas de todas as provas de modo pré-operatório até mais ou menos sete anos. A média de idade para as crianças que responderam de modo intuitivo ficou em oito anos e meio. A média geral para o nível operatório (no qual ele apareceu, ou seja, na diferenciação entre graves e agudos e na inserção de um sino na escala já pronta, com exceção do sujeito atípico) ficou em nove anos e meio. As hipóteses sobre esses dados são as seguintes: em primeiro lugar, talvez o número de crianças entrevistadas não tenha sido suficiente para proporcionar a noção de uma média de idades mais específica. Contudo, o mais importante talvez seja a complexidade do problema: as crianças atingem o nível operatório em média aos nove anos e meio em provas mais simples, em que o sujeito deve operar com um ou dois sinos; e ficam no nível intuitivo (intermediário entre o pré-operatório e o operatório, porém ainda pré-operando), nas provas de seriação total, que são mais complexas, pois a ação do sujeito ocorre através da comparação de vários sinos simultaneamente. A complexidade talvez explique o deslocamento do nível operatório para o intuitivo. Procurando compreender o que pode ter ocorrido com o sujeito atípico, conversou-se com a família de GAB (6,2), para ver o grau de sua interação com o objeto musical dentro de seu lar. Os pais dessa criança possuem um grande conhecimento musical e incentivam a filha a participar das atividades em família. Tocam e cantam em casa e na igreja, pois são pastores. GAB, portanto, interage constantemente com o objeto musical. Outro sujeito que chamou a atenção foi TAI (7,10). Essa menina se aproximou muito da resolução de todos os problemas propostos. Na seriação, tanto ascendente quanto descendente, trocou apenas algumas notas. Entrevistou-se também a mãe da menina para obter maiores informações a seu respeito. Ela realmente não participou de nenhuma aula de música, como havia informado, mas seu passatempo predileto era cantar karaoke (cantar com play-back), a ponto de ganhar concursos do gênero. Encontra-se aí uma enorme interação deste sujeito com o objeto musical, e seu interesse pela música. Enfim, os resultados das provas estão assim configurados: o nível de interação dos sujeitos com o objeto musical foi o que permitiu a resolução de problemas complexos, como a seriação completa ou semicompleta da escala. Mais do que conteúdo específico (música de Igreja ou karaoke), o que parece relevante são os esquemas de assimilação que a criança possui e seu interesse (desejo, necessidade) em assimilar o objeto musical para que possa ampliar seu conhecimento a respeito. Conclui-se, dessa forma, que a música é um objeto constituído pela ação humana que se caracteriza pelo atravessamento das estruturas lógico-formais estudadas por Piaget (1995). Assim, confirma-se a hipótese de que a construção do conhecimento musical ocorre da mesma forma que os níveis investigados pela Escola de Genebra para outros objetos de conhecimento. REFERÊNCIAS Tese de Doutorado – UFRGS. Rio Grande do Sul. Beyer, E. (1988). A abordagem cognitiva em música: uma crítica ao ensino de música, a partir da teoria de Piaget. Porto Alegre: Dissertação de Mestrado - UFRGS. Rio Grande do Sul. Beyer, E. (1994/1995) A construção de conceitos musicais no indivíduo: perspectivas para a educação musical. Em Pauta, 9/10, 22-31. Beyer, E. 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Recebido em: 06/09/02 Revisado em: 29/10/02 Aprovado em: 01/07/03 Resenhas ESTRATÉGIAS DE COMPREENSÃO DE LEITURA Sadler, C. R. (2001) Comprehension strategies for middle grade learners. A handbook for content area teachers. Newark: IRA, 81p. D e todas as atividades cognitivas, a leitura é certamente a mais complexa, sendo essencial para o adequado e produtivo desempenho humano na sociedade moderna, pois a habilidade de ler é altamente valorizada para o crescimento social e econômico. Embora envolva inúmeros componentes básicos, uma leitura de sucesso implica na compreensão do conteúdo expresso no texto, favorecendo o seu uso como um instrumento para aprender. Na efetivação dessa meta o leitor deve reconhecer no texto lido os fatos e eventos principais, relacioná-los entre si e com o conhecimento que já tem estruturado, retê-los para posterior utilização. Tal desempenho requer o uso do raciocínio e o estabelecimento de inferências. Assim, o objetivo principal de qualquer processo educativo deve ser o de prover o estudante dos meios necessários para desempenhar uma leitura de compreensão. Nos anos 70, muitos professores acreditavam que o ensino da compreensão apoiava-se em um conjunto de estratégias mecânicas de decodificação, de busca e reconhecimento das palavras, de identificação dos significados e do sentido da mensagem expressa. Assim, paras eles, uma vez ocorrida a decodificação, o processo de compreensão acontecia automaticamente. Hoje, existe hoje consenso de que a compreensão é um processo mais complexo que envolve a forma como o leitor se conecta com o texto. É um processo de pensamento, ou seja, de interação com o texto pela utilização de estratégias de previsão, auto questionamento, estabelecimento de relações, identificação da função das palavras, controle, resumo e avaliação. A importância da leitura de compreensão no processo de aprendizagem e na formação de futuros profissionais posiciona a obra de Sadler como de grande utilidade não só para o professor como para outros profissionais envolvidos com as questões da aprendizagem escolar - pedagogos, psicólogos e fonoaudiólogos. O objetivo do livro aqui resenhado é fornecer subsídios para o ensino da compreensão de leitura , apresentando e discutindo 56 estratégias distribuídas em seis capítulos. A autora introduz a obra com uma breve apresentação. Em linguagem simples e objetiva, orienta o professor oferecendo uma descrição da estratégia, discussão e exemplos de como ela pode ser utilizada, individualmente, em grupos pequenos ou mesmo com uma classe inteira. As estratégias estão organizadas segundo um objetivo comum: de avaliação do nível de compreensão; de incremento das atividades de leitura em grupo; de identificação da informação lida no texto; de organização; de aprendizagem independente; de estilos diferentes de aprendizagem. A autora complementa a informação pela apresentação dos procedimentos de aplicação e as formas de avaliação do material produzido. No primeiro capítulo, Inspecionar para compreender, a autora reúne dez estratégias que permitem tanto ao estudante quanto ao professor, avaliar o nível de compreensão do texto lido. Isto é realizado por meio da identificação de passagens efetivamente compreendidas e daquelas não compreendidas. Um processo de discussão, seja pela intervenção direta do professor ou pela explicação fornecida por outro estudante que tenha atingido a plena compreensão, esclarece as passagens que oferecem dificuldade de compreensão. Em outro procedimento, após a leitura individual do texto, a história é recontada por um colega que procura focalizar as informações importantes. O processo de discussão é enfatizado para desenvolver as habilidades de comunicação e organização, com especial atenção para o vocabulário, para identificação da idéia central, e para o compartilhar do conhecimento adquirido. Finalizando esta 98 primeira parte, a autora apresenta atividades voltadas para o resumo da informação obtida e para a solução de problemas. O capítulo seguinte, Promovendo a aprendizagem cooperativa, descreve 13 atividades de trabalho em grupo que visam estimular o estudante a aprender a partir de seus pares, reforçando, ao mesmo tempo, a aprendizagem da informação proveniente de diferentes focos verbal, visual e auditivo. Enquanto a proposta de trabalho investigativo permite que cada estudante aprenda a se responsabilizar por uma parte da informação que será trabalhada no grupo, a proposta do trabalho cooperativo favorece a troca de informação e o aprendizado da divulgação do conhecimento adquirido. Esse capitulo é particularmente interessante pois desenvolve no aprendiz os princípios da pesquisa e do papel de pesquisador. As nove estratégias organizadas sob o rótulo Integrando ao conhecimento prévio, permitem que o estudante sinta que de ele, algum modo, está conectado ao tema em estudo. Elas também o auxiliando a criar um contexto de aprendizagem mais positivo por sentir-se parte do processo de aprendizagem. Para isso, uma das atividades propostas leva o aluno a identificar o que já conhecia do tema proposto apresentando-o à classe ou ao grupo. Em outro momento do trabalho, o aluno deve veicular pensamentos e opiniões o que permite que se estabeleça o propósito da leitura. A ampliação do conhecimento é alcançada pela leitura de outros livros sobre o tema e pela discussão em grupo. Outra estratégia proposta permite que o estudante faça uma revisão e re-elaboração do conhecimento, usando-o como estrutura para introdução de novas histórias. É interessante salientar que este conjunto de estratégias trabalha a motivação do leitor, sua auto estima, e como a própria autora refere, incute no aluno sua possibilidade de contribuir para a discussão. No capítulo Melhorando a organização, estão agrupadas as estratégias voltadas para orientar o estudante na organização do material lido visando melhorar a sua Resenhas compreensão. Para atender a esse objetivo são fornecidos mapas, guias com tópicos orientadores para serem completados, o que auxilia o leitor na elaboração do seu próprio instrumento. Além disso, estratégias como a K-W-L auxiliam o estudante a pensar sobre a informação que ele já possui (Know), formular questões sobre o que necessita aprender (Want to know) e avaliar o que aprendeu (Learned). Os dois últimos capítulos -Promovendo aprendizes independentes e Ensinando para Estilos de Aprender apresentam os passos necessários de cada estratégia de forma a permitir que os alunos aprendam e consigam aplica-la independentemente, em diversas situações. Descrevem meios de aumentar a informação conceitual, de extrair do texto o significado de um termo desconhecido, enfim de usar a leitura para aprender. Nessa perspectiva, trabalham com diversos instrumentos visando atender aos diferentes estilos de aprendizagem. Ao final do livro estão relacionados os textos que serviram de apoio para a realização do mesmo. Sentese, porém, a falta da citação dos autores, no decorrer da apresentação das estratégias. A leitura deste livro é recomendada a todos envolvidos no processo de ensino -aprendizagem, uma vez que oferece um conjunto de atividades práticas, bem definidas e bem orientadas para avaliação do desempenho. Como a própria autora assinala, as estratégias apresentadas não servem de orientação apenas para o desenvolvimento da compreensão, mas elas também propiciam melhora nas experiências de linguagem por meio de variados métodos e modelos que podem tanto encorajar o leitor relutante como enriquecer as experiências de um leitor habilitado. Maria Helena Mourão Alves de Oliveira Universidade Católica de Campinas História Entrevista com a Profa. Dra. Marilene Proença Rebello de Souza Entrevistadora: Profa. Dra. Elenita Tanamachi MARILENE PROENÇA REBELLO DE SOUZA é docente do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade e do Programa de Pós-graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. É membro da equipe técnica do Serviço de Psicologia Escolar e mais recentemente coordena o Laboratório Interinstitucional de Estudos e Pesquisas em Psicologia Escolar USP/UNESP - Bauru. Participa da Diretoria da ABRAPEE e é psicóloga conselheira do Conselho Federal de Psicologia. Desde 1978 atua na área educacional, organizando pelo menos duas publicações na área “Psicologia Escolar: em busca de novos rumos” juntamente com a psicóloga Adriana Marcondes Machado e “Psicologia e Educação: desafios teórico-práticos” com as Profas. Dras Elenita Tanamachi e Marisa Rocha ambas editadas pela Casa do Psicólogo Editora. Por sua atuação na área de Psicologia Escolar, convidamos para ser a nossa entrevistada deste número da Revista Psicologia Escolar e Educacional. Tanamachi: Como ocorreu sua aproximação com a Psicologia Escolar? Souza: Minha aproximação com a área de educação teve início no curso de Psicologia da Universidade de São Paulo, quando, em 1976, cursei as disciplinas Psicologia Escolar e Problemas de Aprendizagem I e II, ministradas pela Profas. Dra. Maria Helena Souza Patto e Marlene Guirado. Nesse mesmo ano, passei a lecionar no Ensino Fundamental e pude, pela primeira vez, analisar a escola a partir das discussões que versavam na área naquele momento. Para entender melhor a escola e a docência, cursei ainda as disciplinas de Licenciatura na Faculdade de Educação da USP, que eram optativas, e continuei na docência no Ensino Médio como professora da disciplina “Psicologia da Educação” em Curso de Habilitação para o Magistério na E.E. Fernão Dias Paes, em São Paulo. Embora tivesse deixado minha cidade, Santos, para me tornar psicóloga clínica, verificava, a cada dia, que a área de Educação era a que de fato fazia sentido atuar como psicóloga. Continuei no magistério e em 1985 regressei à Universidade de São Paulo, agora enquanto psicóloga do Serviço de 100 Psicologia Escolar, exercendo, de fato e pela primeira vez, a função de psicóloga escolar. Passei a trabalhar com uma equipe de jovens psicólogas Adriana Marcondes Machado, Cintia Copit Freller, Silvia Helena Vieira Cruz, Beatriz de Paula Souza e Ana Maria Curto Rodrigues. Coordenadas pela Profa. Maria Helena Souza Patto nosso projeto de trabalho era o de pensar uma outra forma de atuação em psicologia escolar que levasse em conta as críticas feitas naquele momento ao modelo adaptacionista de atuação psicológica na área educacional bem como as críticas à teoria da carência cultural enquanto explicação para os baixos índices de rendimento escolar. Tanamachi: Como se deu sua formação profissional na área? Souza: Creio que a formação profissional nunca termina, a cada dia estamos nos formando, questionando nosso olhar, nossas crenças. Mas do ponto de vista da trajetória na área, considero que minha formação se deu principalmente no trabalho realizado nas escolas (como docente e como psicóloga escolar), no grupo de trabalho do Serviço de Psicologia Escolar e no curso de PósGraduação em Psicologia Escolar. Estar na Universidade foi fundamental pois pudemos ler os trabalhos de Maria Helena Souza Patto, as produções acadêmicas na área, conhecer mais profundamente os autores da Psicologia Institucional, participar dos primeiro debates sobre o Construtivismo, acompanhar as políticas educacionais, fazer pesquisa, ler pesquisas.... Participar desse grupo de trabalho, das reuniões semanais de discussão da equipe, repensar o estágio supervisionado oferecido aos alunos de graduação, ler, estudar, compartilhar a efervescência da Universidade em tempos de redemocratização política e, principalmente, conhecer as escolas públicas da região próxima à USP foram fundamentais para minha formação nesta área de atuação. Realizei minha formação em nível de Pós-graduação no IPUSP sob a orientação da Profa. Maria Helena Patto, nos níveis de Mestrado e Doutorado, aprofundando minha formação área da pesquisa educacional. Tanamachi: Fale sobre as experiências mais significativas nesses anos de trabalho na área de Psicologia Escolar. Souza: São muitas as experiências significativas, mas principalmente destaco o trabalho em grupo no Serviço de Psicologia Escolar e as discussões visando História implementar uma proposta de atuação psicológica centrada na crítica ao modelo adaptacionista de Psicologia Escolar e compreendendo a queixa escolar no âmbito das relações institucionais que a produzem. Foi em 1987 que escrevemos nosso primeiro texto, explicitando um pouco mais nossa crítica sobre as explicações relativas ao baixo rendimento das crianças nas séries iniciais, indicando alguns caminhos para a atuação profissional em psicologia, intitulado “A questão do rendimento escolar: subsídios para uma nova reflexão”, publicado na Revista da Faculdade de Educação em 1989. E desse momento em diante, consideramos fundamental centrar nossas ações em três frentes: discutir nossa prática profissional à luz de referenciais críticos em psicologia e em educação, ampliar nossa formação acadêmica em nível de pós-graduação e divulgar nossas reflexões sobre a área para educadores e psicólogos. Durante os últimos quinze anos temos também trabalhado junto à formação continuada de professores da rede estadual paulista e em cursos de formação de psicólogos e profissionais da área da saúde que recebem encaminhamentos com queixa escolar. O convívio com a rede escolar nos levou a discutir profundamente a situação de escolarização de crianças e adolescentes que freqüentam as classes especiais para deficientes mentais leves na rede estadual paulista, fazendo com que nos aproximássemos do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo e iniciássemos um grupo de trabalho e discussão questionando a avaliação psicológica e propondo alternativas para a avaliação da queixa escolar. Tanamachi: Que questionamentos marcaram a partir da década de 1980 a produção de seu trabalho e do seu conhecimento sobre área? Souza: Creio que os meus questionamentos se mesclam com os questionamentos da área de Psicologia Escolar do IPUSP. A Maria Helena inaugurou uma concepção teórico-metodológica para a área de Psicologia Escolar: uma forma de conceber a área de conhecimento em Psicologia Escolar na perspectiva históricocrítica, bem como indicando elementos para a atuação profissional em uma perspectiva crítica. Esse trabalho tem início com “Psicologia e Ideologia” e aprofunda-se com a Tese de Livre-Docência de 1987 intitulada “A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e de rebeldia”. Essa obra passou a ser a nossa referência de trabalho e a questão do fracasso escolar assumiu lugar de destaque na área educacional. São inúmeros História os convites que recebemos nessa ocasião para discutir esta questão em vários eventos no Brasil, de sindicatos a universidades, de pequenos grupos a grandes platéias de educadores e psicólogos. O fracasso escolar entrou de fato na pauta das discussões acadêmicas, sindicais e políticas. A partir desse momento, o número de pesquisas no IPUSP na linha de pesquisa Psicologia Escolar/ Educacional passou a receber um número maior de pesquisadores interessados em estudar e conhecer mais profundamente o cotidiano escolar. Com o meu doutoramento em 1996, pude também ingressar na PósGraduação e nos últimos anos tenho orientado vários trabalhos que discutem o cotidiano escolar em uma perspectiva crítica de Psicologia Escolar. Ou seja, podemos dizer hoje que temos uma área de pesquisa em expansão, um conjunto de conhecimentos que vem se consolidando por meio do estudo e da pesquisa. Os alunos de Psicologia podem hoje contar com uma certa literatura na área que não existia há vinte anos atrás. Tanamachi: Qual é hoje, a seu ver, concretamente a situação da Psicologia Escolar? Quais seriam as questões teórico-práticas presentes na relação entre Psicologia e Educação no momento atual? Souza: Creio que a década de 1990 é marcada pela busca da identidade do psicólogo que atua na área educacional/escolar. Há vários trabalhos de pesquisa discutindo essa questão. Creio que hoje começamos a delinear mais claramente não apenas o que não somos, mas sim o que somos e o que queremos. Creio que temos mais claramente delimitadas as finalidades do nosso trabalho em educação. Lutamos para produzir um conjunto de relações sociais e institucionais que constituam uma escola de qualidade social para todos. Construímos alguns elementos que constituem uma prática profissional comprometida com uma escola democrática e dentro de princípios éticos. Temos claro que o compromisso social implica em um compromisso político pela emancipação humana. Nossa atuação deve se pautar na reflexão, no questionamento das práticas educativas e psicológicas que impeçam o desenvolvimento humano. Quando a crítica feita em Psicologia e Ideologia foi apresentada, muitos psicólogos diziam que isto não era 101 psicologia. Hoje temos claro que a crítica é um elemento fundamental do trabalho do psicólogo. Não há psicologia sem a conquista da crítica. Tanamachi: Diante do exposto, qual seria a definição possível para a Psicologia Escolar hoje? Quem é o psicólogo escolar hoje? Souza: A Psicologia Escolar constitui-se ainda hoje em uma área que compreende diversas abordagens teóricas. Isto é, ela é uma área da Psicologia e como tal vive internamente os mesmos dilemas da Psicologia enquanto área de conhecimento: a fragmentação em diversas perspectives teóricas. Em nosso trabalho enquanto psicólogos escolares, optamos por uma abordagem que compreende o fenômeno psicológico enquanto constituído pelos determinantes sociais e históricos de uma sociedade datada e constituída a partir de relações de exploração. O fenômeno psicológico é, portanto, um fenômeno datado, instituído e instituinte das relações sociais em uma sociedade de classes. Consideramos a escolarização como um processo vigente na sociedade atual e que precisa ser entendido na complexidade das relações sociais dessa mesma sociedade. As contradições existentes na sociedade também comparecem na escola e também comparecem na formação e atuação do profissional de psicologia. Caberia a nós explicitá-las para nós mesmos e procurar superá-las juntamente com educadores, pais e alunos. Finalizando, considero que temos muito a oferecer à escola e à educação ao constituirmos um espaço de mediação que não é pedagógico, mas que inclui o pedagógico e que considera que é possível que haja a apropriação das finalidades da educação por aqueles que têm a educação enquanto finalidade humana e social. Caberia ao psicólogo atuar nessa mediação entre o indivíduo e a educação, possibilitando a construção de uma escola mais digna e de qualidade social. E quanto mais pudermos ampliar pesquisas na área de Psicologia Escolar/Educacional e reflexões críticas sobre nossa prática profissional, mais poderemos trabalhar na direção de uma formação profissional crítica e de uma atuação na área educacional que contribuam para a construção de políticas públicas coerentes com as necessidades sociais. Sugestões Práticas SEXUALIDADE E ESCOLA: UM ESPAÇO DE INTERVENÇÃO Flávia Nunes de Moraes Beraldo1 A s sugestões práticas, aqui apresentadas, foram desenvolvidas a partir da experiência realizada no estágio de Psicologia Escolar na área de orientação sexual em duas escolas municipais, do ensino fundamental, em uma cidade do Sul de Minas no ano de 2000, subsidiada pela Prefeitura da mesma . Pôde-se idealizar este trabalho e ainda verificar a necessidade de que estudos sejam feitos, visando explorar o tema e desmistificar tabus, preconceitos e estigmas que são impostos pela sociedade durante sua evolução. Desde a antigüidade a sexualidade vem gerando polêmicas, mexendo com a sensação e fantasia das pessoas, associada a coisas feias, inconvenientes e impróprias. Apesar da revolução sexual, da globalização e dos meios de comunicação terem contribuído para uma modificação nas atitudes morais e nas questões ligadas ao sexo e sexualidade, esse assunto ainda assim continua sendo um tabu. O estudo da sexualidade envolve o crescimento global do indivíduo, tanto intelectual, físico, afetivo-emocional e sexual propriamente dito. A maioria dos pais acham constrangedor conversar sobre sexo com seus filhos, ora pela educação recebida de seus pais, ora pela repressão ou por não saberem como abordar o tema. Assim, os filhos na maioria da vezes, ficam sem respostas para suas dúvidas, gerando conflitos ou acidentes inesperados por terem informações errôneas ao consultar variadas fontes impróprias. A maior parte dos adolescentes passam seu tempo na escola onde começam a se sociabilizar, aflorando sua sexualidade devido ao desenvolvimento corporal gerado pelos hormônios. A escola é o ambiente onde a interação com o mundo ao redor e com as pessoas que o cercam acontece. Depois do ambiente familiar é a escola que complementa a educação dada pela família onde são abordados temas mais complexos que no diaa-dia não são ensinados e aprendidos, tendo esta uma 1 imensa responsabilidade na formação afetiva e emocional de seus alunos. E quanto ao assunto sexo e sexualidade? Qual o papel da escola frente a esse tema? A escola não deve nem vai tomar o lugar da família, mas cabe a ela possibilitar uma aprendizagem correta, já que essa instituição visa o crescimento do indivíduo como um todo. A educação sexual acontece no seio familiar. É uma experiência pessoal contida de valores e condutas transmitidos pelos pais e por pessoas que o cercam desde bebê. Já a Orientação Sexual é dada pela escola onde são feitas discussões e reflexões à respeito do tema de uma maneira formal e sistematizada que constitui em uma proposta objetiva de intervenção por parte dos educadores. O que nos cabe é refletir acerca da importância da Orientação Sexual na Escola para a construção da cidadania, de uma sociedade livre de falso moralismo e mais feliz. O trabalho de Orientação Sexual tem como objetivo principal as mudanças nos padrões de comportamento, levando-se em conta três aspectos fundamentais: a transmissão de informações de maneira verdadeira; a eliminação do preconceito e a atuação na área afetivo-emocional. Para se fazer um bom trabalho de Orientação Sexual dentro da escola é importante dar atenção a alguns passos: a) apresentar um projeto para a instituição com o objetivo do trabalho; b) fazer uma reunião com os pais e professores para esclarecer quaisquer dúvidas que possam surgir ao longo do trabalho e explicar o papel de ambos junto à escola neste projeto; c) observar a demanda da escola para que se atinja a expectativa desta; d) a partir das séries estabelecidas para o trabalho entrar em contato com elas para explicar como este será administrado; Psicóloga , Mestranda no Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia da Universidade São Francisco e docente da Unifenas. 104 e) colher, por meio de “bilhetinhos sigilosos,” dúvidas e curiosidades de cada aluno garantindo-lhes total sigilo; f) após levantar as dúvidas e curiosidades fazer uma estruturação do programa a ser cumprido em diferentes séries (conteúdo, horário, encontros, local), para uma maior eficácia; g) estabelecer um contrato ( regras sugeridas pelo grupo); h) garantir a ética do trabalho tanto para os alunos como para os professores; i) garantir a liberdade de opinião e o respeito do grupo pelas dúvidas de seus colegas, sem monopólio da verdade de ambas as partes. O primeiro conteúdo indispensável neste trabalho é a diferenciação de sexo e sexualidade e também de Educação Sexual e Orientação Sexual, que são muito confundidos na maioria das vezes. Sugestões Práticas O educador de Orientação Sexual deve ser uma pessoa aberta, livre de mitos e preconceitos referentes à sexualidade para melhor ministrar a turma sem causar problemas com a instituição, pais, alunos e professores, podendo abordar os assuntos através de aulas expositivas, dinâmica de grupo, folhetos explicativos, filmes e outros materiais referentes ao tema. O trabalho não envolve nota ou reprovação. Para finalizar seguem dois lembretes essenciais: é necessário ressaltar a importância dos pais nesse processo para que estes não se acomodem, julgando a escola responsável pelo processo da educação sexual de seus filhos; não cabe ao professor de Orientação Sexual virar conselheiro ou confidente dos alunos. Deve, se necessário, encaminhar para um profissional especializado. Informativo NOTÍCIAS BIBLIOGRÁFICAS Barros, A., & Santaella, L. (Orgs.) (2002). Mídias e artes - os desafios da arte no início do século XXI. São Paulo: Unimarco Editora, 168 p. Autores diversos enfocam vários temas sobre arte, educação artística e as relações da mídia com as artes. Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Subsecretaria de Assuntos Administrativos. Coordenação-Geral de Documentação e informação. Legislação em saúde mental 1990-2001. (2001). Coordenação -Geral de Documentação e Informação 2ª ed. revisada e atualizada. Brasília: Ministério da Saúde 110 p. Apresenta legislação federal e de alguns estados sobre a saúde mental. Belo, A. (2002). História & livro e leitura. Belo Horizonte: Autêntica, 113 páginas. Discute o impacto do livro digital e o poder da imprensa; apresenta uma breve história do livro e da leitura entre outros temas de interesse para os que trabalham com a leitura. Benjamin, W. (2002). Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. Tradução, apresentação e notas de M. V. Mazzari, do original inglês de 1972. São Paulo: Duas cidades. 173 p. São textos extraídos de várias obras do autor falecido em 1940 e que ainda são de interesse para educadores. Bolivar, A. (2002). Profissão professor: o itinerário profissional e a construção da escola. Tradução do espanhol de 2002 por G. C. C. de Souza. Bauru: EDUSC, 234 p. Embora a realidade enfocada pelo autor seja diferente da nacional há muitos pontos em comum no que concerne ao ciclo de vida profissional, a situação da pesquisa e sua aplicação. Texto relevante para professores e seus formadores. Buss, K., & Karnowski, L. (2002). Reading and writing nonfiction genres. Newark: IRA. viii+ 135 p. As pessoas precisam saber ler e escrever textos que não são do tipo literário e as escolas não dão aos mesmos o devido cuidado. É bom contar com obras como esta que se preocupam com o com ensinar a fundir textos, a escrever textos informativos, jornalísticos etc. Capovilla, A. G. S., & Capovilla, F. C. (2002). Alfabetização: Método Fônico. São Paulo: Memmon Ed. Científicas, 393 p. Descreve, justifica ouso do método fônico como meio para alfabetização. Apresenta passo a passo a alfabetização fônica com textos e exemplos para a sua aplicação. Fadiman, A. (2002). Ex-libris - confissões de uma leitora comum. Tradução do original inglês de 1998 por R. Quintana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. A escritora narra sua vivência com livros e leitura. Texto bom para seminário de formação e de estudo de leitores, para estudiosos da leitura especialmente do comportamento e das variáveis que influem na leitura. Faria, M. A. O. (2002). Como usar o jornal na sala de aula. São Paulo: Contexto, 162 p. Trabalhar o jornal no contexto de sala de aula é enriquecê-la, diversificar o que nela ocorre e ajudar a formar o cidadão. Este livro é de grande valia nestes aspectos para professores e psicólogos educacionais. Faria, M. A. O. (2002). O jornal na sala de aula. São Paulo: Contexto, 128 p. Trabalha as relações entre redação escolar e a linguagem da imprensa, como organizar um jornal na escola e desenvolver as habilidades necessárias à leitura crítica. Texto de interesse para professores, administradores e psicólogos escolares. Feltran, R. C. S. (Org.) (2002). Avaliação na Educação Superior. Campinas: Papirus. Trata da avaliação institucional como meio para melhoria do ensino - aprendizagem; da valorização da atividade docente, da avaliação de repetentes e de ingressantes; da avaliação emancipatória entre outros tópicos. 106 Informativo Joly, M. C. R. A. (Org.) (2002) Tecnologia no Ensino : implicações para a aprendizagem. São Paulo: Casa do Psicólogo. Especialistas na área de tecnologia educacional discutem o tema sob diferentes perspectivas. Contribuem para a ampliação do conhecimento das implicações para a aprendizagem, do uso de recursos tecnológicos no ensino. Rancière. J. (2002). O mestre ignorante. Tradução do original francês de 1987 por L. do Valle. Belo Horizonte: Autêntica, 144 p. Enfoca a necessidade de emancipação intelectual do professor, com textos literários que são enriquecedores tanto para os professores como para seus formadores e os que trabalham com ele. Manfredi, S. M. (2002). Educação Profissional no Brasil. São Paulo: Cortez, 320 p. Faz uma retrospectiva do ensino profissionalizante no Brasil; enfoca as várias redes, trata dos aspectos financeiros dos sistemas SENAI, SESI, SENC, o pepel das ONGs e das organizações de trabalhadores, fecha com uma análise do Plano Nacional de Educação de 2001. Sério, T. M. P., Andery, M. A., Gioia, P. S., & Micheletto, N. (2002). Controle de estímulo e comportamento operante. São Paulo: EDUC. 158 p. Livro didático que enfoca conceitos e princípios básicos da Psicologia que são de grande valor para a compreensão do ser humano e do processo ensino-aprendizagem. Mantione, R. D., & Smead, S. (2002). Weaving through words. Newark: IRA, xiv + 202 p. As autoras recorrem às artes para ensinar a ler, mais especificamente para que os alunos aprendam estratégias de compreensão. Recorrem a imagens sensoriais, escultura, pinturas de vários tipos, dramatização, colagem, sombras, mímica, fotografia, contar história, dança etc. Wechsler, S. M. (2002). Avaliação da criatividade por figuras e palavras. Testes de Torrance - versão brasileira. Campinas: CAMP/ PUC-Campinas, x + 446 p. Após a apresentação do referencial teórico é apresentado o material específico dos testes, de grande utilidade para psicólogos escolares. 107 Informativo I CONGRESSO NACIONAL DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA /IX CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA: FORMAS E CONTEXTOS. Realização do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP), a ocorrer nos dias 23 a 26 de julho de 2003 em Campinas-SP, com o tema: Ciência e Responsabilidade Social. Informações e Inscrições: PUC-Campinas - Centro de Ciências da Vida - Av. John Boyd Dunlop, s/n - Campus II. e-mail: congresso2003@ibapnet.org.br XIV IFTA WORLD FAMILY THERAPY CONGRESS Organizado pela International Family Therapy Association (IFTA) e The Turkish Association of Marital and Family Therapy (TRAMFT), ocorrerá na Turquia, de 24 a 27 de março de 2004. O tema do congresso é “ Famílias em tempos de crise global”. Trabalhos podem ser enviados via e-mail para info@ifta2004.org ou via fax to +90 212 352 26 60. O site do congresso é www.ifta2004.org BOLETIM ELETRÔNICO Consulte no site da ABRAPEE http://www.abrapee.psc.br o nosso último Boletim Eletrônico, recentemente divulgado (julho/2003). Envie suas contribuições para serem publicadas no Boletim para abrapee@abrapee.psc.br; os artigos deverão conter no máximo 3 laudas. 108 Informativo Forma de Apresentação dos Manuscritos Psicologia Escolar e Educacional adota as normas da APA (4ª edição, 1994), exceto em situações específicas em que há conflito com a necessidade de se assegurar o cumprimento da revisão cega por pares, regras do uso da língua portuguesa, normas gerais da ABNT, procedimentos internos da revista, inclusive características de infra-estrutura operacional. A omissão de informação no detalhamento que se segue implica em que prevaleça a orientação da APA. Os manuscritos devem ser redigidos em português, espanhol, inglês e francês nas seguintes categorias: 1. Artigos – trabalhos originais teóricos, de revisão de literatura e de relatos de pesquisa (até 25 laudas); 2. Comunicação de Pesquisa – relatos originais sucintos de pesquisas realizadas (até 7 laudas); 3. Resenhas – apresentação e análise de livros publicados na área nos últimos dois anos (até 5 laudas) 4. História – reimpressão ou impressão de trabalhos ou documentos de difícil acesso relevantes para a pesquisa e a preservação da história da Psicologia Escolar; entrevistas com personagens relevantes da área e trabalhos originais sobre esta história; 5. Sugestões Práticas – apresentação de procedimentos, tecnologias, propostas de trabalhos úteis para a solução de problemas psicoeducacionais ou para a atuação do psicólogo escolar, de vivência do autor de novos instrumentos e de outras sugestões relevantes para a área (até 5 laudas); 6. Registro Informativo – dados sobre eventos, publicações na área, assuntos diversos de interesse de psicólogos escolares e educacionais (até 2 laudas); 7. Cartas dos leitores – inclui cópias de cartas, ou parte de cartas de leitores à direção da revista e aos seus autores, bem como respostas a eles. Os manuscritos originais deverão ser encaminhados em quatro vias impressas em papel e uma em disquete, digitadas em espaço duplo, em fonte tipo Times New Roman, tamanho 12, não excedendo o número de laudas da categoria em que o trabalho se insere, paginado desde a folha de rosto personalizada, a qual receberá número de página 1. A página deverá ser tamanho A4, com formatação de margens superior e inferior (2,5 cm), esquerda e direita (3 cm). Em caso de reformulação, a nova versão deve ser encaminhada em três vias em papel e uma via no formato de disquete, sendo que a formatação de texto e de página deve obedecer às mesmas características indicadas para a primeira versão. Todo e qualquer encaminhamento à revista deve ser acompanhado de carta assinada pelos autores, na qual deve estar explicitada a intenção de submissão ou re-submissão do trabalho à publicação. A apresentação dos trabalhos deve seguir a seguinte ordem: 1. Folha de rosto despersonalizada contendo apenas: 1.1. Título pleno em português, não devendo exceder 12 palavras. Informativo 109 1.2. Sugestão de título abreviado para cabeçalho, não devendo exceder 4 palavras. 1.3. Título pleno em inglês, compatível com o título em português. 2. Folha de rosto personalizada contendo: 2.1. Título pleno em português. 2.2. Sugestão de título abreviado. 2.3. Título pleno em inglês. 2.4. Nome de cada autor, seguido por afiliação institucional por ocasião da submissão do trabalho. 2.5. Indicação do autor a quem o leitor do artigo deve enviar correspondência, seguido de endereço completo, de acordo com as normas do correio. 2.6. Indicação de endereço para correspondência com o editor sobre a tramitação do manuscrito, incluindo fax, telefone e, se disponível, endereço eletrônico. 2.7. Se necessário, indicação de atualização de afiliação institucional. 2.8. Se apropriado, parágrafo reconhecendo apoio financeiro, colaboração de colegas e técnicos, origem do trabalho (por exemplo, anteriormente apresentado em evento, derivado de tese ou dissertação, coleta de dados efetuada em instituição distinta daquela informada no item 2.4), e outros fatos de divulgação eticamente necessária. 3. Folha contendo Resumo, em português. O resumo deve ter o máximo de 150 palavras para trabalhos na categoria de Artigos. Ao resumo devem-se seguir de 3 a 5 palavras-chave para fins de indexação do trabalho. Devem ser escolhidas palavras que classifiquem o trabalho com precisão adequada, que permitam que ele seja recuperado com trabalhos semelhantes, e que possivelmente seriam evocadas por um pesquisador efetuando levantamento bibliográfico. No caso de relato de pesquisa, o resumo deve incluir: descrição sumária do problema investigado, características pertinentes da amostra, método utilizado para a coleta de dados, resultados e conclusões, suas implicações ou aplicações. O resumo de uma revisão crítica ou de um estudo teórico deve incluir: tópico tratado (em uma frase), objetivo, tese ou construto sob análise ou organizador do estudo, fontes usadas (p. ex. observação feita pelo autor, literatura publicada) e conclusões. 4. Folha contendo Abstract, em inglês, compatível com o texto do resumo. O Abstract deve obedecer às mesmas especificações para a versão em português, seguido de key words, compatíveis com as palavras-chave. 5. Texto propriamente dito. Em todas as categorias de trabalho original, o texto deve ter uma organização de reconhecimento fácil, sinalizada por um sistema de títulos e subtítulos que reflitam esta organização. No caso de relatos de pesquisa o texto deverá, obrigatoriamente, apresentar: introdução, metodologia, resultados e discussão. As notas não 110 Informativo bibliográficas deverão ser reduzidas a um mínimo e colocadas ao pé das páginas, ordenadas por algarismos arábicos que deverão aparecer imediatamente após o segmento de texto ao qual se refere a nota. Os locais sugeridos para inserção de figuras e tabelas deverão ser indicados no texto. As citações de autores deverão ser feitas de acordo com as normas da APA, exemplificadas ao fim deste texto. No caso de transcrição na íntegra de um texto, a transcrição deve ser delimitada por aspas e a citação do autor seguida do número da página citada. Uma citação literal com 40 ou mais palavras deve ser apresentada em bloco próprio, começando em nova linha, com recuo de 5 espaços da margem, na mesma posição de um novo parágrafo. O tamanho da fonte deve ser 12, como no restante do texto. Todas as citações em itálico deverão vir sublinhadas e não em itálico. 6. Referências, ordenadas de acordo com as regras gerais que se seguem. Trabalhos de autoria única e do mesmo autor são ordenadas por ano de publicação, a mais antiga primeiro. Trabalhos de autoria única precedem trabalhos de autoria múltipla, quando o sobrenome é o mesmo. Trabalhos em que o primeiro autor é o mesmo, mas co-autores diferem são ordenados por sobrenome dos co-autores. Trabalhos com a mesma autoria múltipla são ordenados por data, o mais antigo primeiro. Trabalhos com a mesma autoria e a mesma data são ordenados alfabeticamente pelo título, desconsiderando a primeira palavra se for artigo ou pronome, exceto quando o próprio título contiver indicação de ordem; o ano é imediatamente seguido de letras minúsculas. Quando repetido, o nome do autor não deve ser substituído por travessão ou outros sinais. A formatação da lista de referências deve ser apropriada à tarefa de revisão e de editoração – além de espaço duplo e tamanho de fonte 12, parágrafo normal com recuo apenas na primeira linha, sem deslocamento das margens; os grifos devem ser indicados por um traço sob a palavra (p. ex., sublinha). A formatação dos parágrafos com recuo e dos grifos em itálico é reservada para a fase final de editoração do artigo. 7. Anexos, apenas quando contiverem informação original importante, ou destacamento indispensável para a compreensão de alguma seção do trabalho. Recomenda-se evitar anexos. 8. Figuras, incluindo legenda, uma por página em papel, ao término do trabalho. Para assegurar qualidade de reprodução as figuras contendo desenhos deverão ser encaminhadas em qualidade para fotografia; as figuras contendo gráficos não poderão estar impressas em impressora matricial. Como a versão publicada não poderá exceder a largura de 8,3 cm para figuras simples, e de 17,5 cm para figuras complexas, o autor deverá cuidar para que as legendas mantenham qualidade de leitura, caso redução seja necessária. 9. Tabelas, incluindo título e notas, uma por página em papel e por arquivo de computador. Na publicação impressa, a tabela não poderá exceder 17,5 cm de largura x 23,7 cm de comprimento. Ao prepará-las, o autor deverá limitar sua largura a 60 caracteres, para tabelas simples a ocupar uma coluna impressa, incluindo 3 caracteres de espaço entre colunas da tabela, e limitar a 125 caracteres para tabelas complexas a ocupar duas colunas impressas. O comprimento da tabela não deve exceder 55 linhas, incluindo título e rodapé(s). Para outros detalhamentos, especialmente em casos anômalos, o manual da APA deve ser consultado. Informativo 111 Tipos Comuns de Citação no Texto Citação de artigo de autoria múltipla 1. Dois autores O sobrenome dos autores é explicitado em todas as citações, usando e ou & conforme abaixo: “ A revisão realizada por Guzzo e Witter (1987)” mas “a relação do psicólogo-escola pública foi descrita com base num estudo exploratório na região de Campinas” (Guzzo & Witter, 1987)” 2. De três a cinco autores O sobrenome de todos os autores é explicitado na primeira citação, como acima. Da segunda citação em diante só o sobrenome do primeiro autor é explicitado, seguido de “e cols.” e o ano, se for a primeira citação de uma referência dentro de um mesmo parágrafo: Vendramini, Silva e Cazorla (2000) verificaram que [primeira citação no texto] Vendramini e cols. (2000) verificaram que [citação subseqüente, primeira no parágrafo] Vendramini e cols. verificaram [omita o ano em citações subseqüentes dentro de um mesmo parágrafo] Na seção de Referências todos os nomes são relacionados. 3. Seis ou mais autores No texto, desde a primeira citação, só o sobrenome do primeiro autor é mencionado, seguido de “e cols.”, exceto se esse formato gerar ambigüidade, caso em que a mesma solução indicada no item anterior deve ser utilizada: Primi e cols. (2001). Na seção de referências, todos os nomes são relacionados. Citações de trabalho discutido em uma fonte secundária O trabalho usa como fonte um trabalho discutido em outro, sem que o trabalho original tenha sido lido (por exemplo, um estudo de Taylor, citado por Santos, 1990). No texto, use a seguinte citação: Taylor (conforme citado por Santos, 1990) acrescenta que a avaliação da compreensão em leitura... ou Taylor (apud Santos, 1990) acrescenta que a avaliação da compreensão em leitura Na seção de Referências informe apenas a fonte secundária, no caso Santos, usando o formato apropriado. Exemplos de Tipos Comuns de Referência 1. Trabalho apresentado em congresso, mas não-publicado Serpa, M.N.F., & Santos, A.A.A. (1997, outubro). Implantação e primeiro ano de funcionamento do 112 Informativo Serviço de Orientação ao Estudante. Trabalho apresentado no XI Seminário Nacional das Universidades Brasileiras, Guarulhos - São Paulo. 2. Trabalho apresentado em congresso com resumo publicado em publicação seriada regular Tratar como publicação em periódico, acrescentando logo após o título a indicação de que se trata de resumo. Silva, A.A., & Engelmann, A. (1988). Teste de eficácia de um curso para melhorar a capacidade de julgamentos corretos de expressões faciais de emoções [Resumo]. Ciência e Cultura, 40, (7, Suplemento), 927. 3. Trabalho apresentado em congresso com resumo publicado em publicação especial Tratar como publicação em livro, informando sobre o evento de acordo com as informações disponíveis em capa. Todorov, J.C., Souza, D.G., & Bori, C.M. (1992). Escolha e decisão: A teoria da maximização momentânea [Resumo]. Em Sociedade Brasileira de Psicologia (Org.), Resumos de comunicações científicas, XXII Reunião Anual de Psicologia (p. 66). Ribeirão Preto: SBP. Witter, G.P. (1985). Quem é o psicólogo escolar: Sua atuação prática. [Resumo]. Em Sociedade Brasileira de Psicologia (org.), XVII Reunião Anual de Psicologia, Resumos (p. 261). Ribeirão Preto: SBP. 4. Teses ou dissertações não-publicadas Polydoro, S.A.J. (2001). O trancamento de matrícula na trajetória acadêmica do universitário: Condições de saída e de retorno à instituição. Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas - SP. 5. Livros Solé, I. (1998). Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artes Médicas. 6. Capítulo de livro. Anderson, R.C., & Pearson, P.D. (1984). A schema-theoretic view of basic processes in reading comprehension. Em P.D. Pearson, R. Barr, M.L. Kamil & P. Mosenthal (Orgs.), Handbook of reading research (vol. 1, pp 251-291). New York: Longman. Pasquali, L. (1996). Teoria da resposta ao item - IRT: uma introdução Em L. Pasquali (Org.), Teoria e métodos de medida em ciências do comportamento (pp. 173-195). Brasília, INEP. 7. Livro traduzido, em língua portuguesa Salvador, C.C. (1994). Aprendizagem escolar e construção de conhecimento. (E. O. Dihel, Trad.) Porto Alegre: Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1990) Se a tradução em língua portuguesa de um trabalho em outra língua é usada como fonte, citar a tradução em português e indicar ano de publicação do trabalho original. Informativo 113 No texto, citar o ano da publicação original e o ano da tradução: (Salvador, 1990/1994). 8. Artigo em periódico científico Kintsch, W. (1994). Text comprehension, memory, and learning American Psychologist, 49, (4), 294-303. 9. Obra no prelo Não forneça ano, volume ou número de páginas até que o artigo esteja publicado. Respeitada a ordem de nomes, é a ultima referência do autor. Sonawat, R. (no prelo). Families in India. Psicologia: Teoria e Pesquisa. 10. Autoria institucional American Psychiatric Association (1988). DSM-III-R, Diagnostic and statistical manual of mental disorder (3a ed. revisada). Washington, DC: Autor. A remessa de manuscritos para publicação, bem como toda a correspondência de seguimento que se fizer necessária, deve enviada para a Revista Psicologia Escolar e Educacional, conforme endereço abaixo: ABRAPEE Av. John Boyd Dunlop, s/n. PUC-Campinas – Prédio da Psicologia Clínica 13059-900 - Campinas/SP Procedimentos de submissão e avaliação dos manuscritos Os manuscritos que se enquadrarem nas modalidades de trabalho especificadas acima passarão pelo seguinte procedimento: 1.Encaminhamento para emissão de parecer a membros do Corpo Editorial da revista e/ou consultores ad hoc. 2.Recepção dos pareceres, com recomendação para aceitação (com ou sem modificações) ou rejeição. No caso de aceitação com modificações, os autores serão notificados com a maior brevidade possível das sugestões (cópias dos pareceres serão enviados aos autores, exceto quando houver restrição expressa por parte do consultor). 3.No caso de aceitação para publicação, o Conselho Editorial reserva-se o direito de introduzir pequenas alterações para efeito de padronização conforme os parâmetros editoriais da Revista. 4.O processo de avaliação utiliza o sistema de revisão cega por pares, preservando a identidade dos autores e consultores. 5.A decisão final acerca da publicação ou não do manuscrito é sempre do Conselho Editorial. 114 Informativo Direitos autorais Os direitos autorais das matérias publicadas são da Revista Psicologia Escolar e Educacional. A reprodução total ou parcial (mais de 500 palavras do texto) requererá autorização por escrito do Editor. O autor principal da matéria receberá três exemplares da edição em que esta foi publicada. Os originais não-publicados não serão devolvidos. FORMULÁRIO PARA PAGAMENTO DA ANUIDADE 2003 Nome: _________________________________________________________________________________________ Forma de pagamento: ( ) Cheque nº__________________________Banco nº__________________Data ________/________/_______ VALOR: R$ ___________________________________ ( ) Depósito em conta bancária: Banco Itaú - ag. 1025 CC: 04716-6 - VALOR: R$ ______________________ (enviar cópia do recibo do depósito com esta ficha). Valor da anuidade 2003 (incluindo revistas) (valor para pagamento até 30/4/2003) R$ 70,00 (profissionais) R$ 35,00 (estudantes de graduação e pós-graduação – enviar xerox de documento de comprovação) (valor para para pagamento após 30/4/2003) R$ 100,00 (profissionais) R$ 50,00 (estudantes de graduação e pós-graduação) Data _______/________/________ assinatura sócio __________________________________________ ____________________________________________________________ Por favor, atualize os dados abaixo: Endereço: ______________________________________________________Bairro:__________________________ Cep:_________________________Cidade:____________________________________________UF:_____________ Tel.: (_____) ____________________________________Fax: (_____) _____________________________________ CRP nº: ___________________________________________ (para atualização do cadastro) E-mail: ______________________________________________________________________(incluir ou atualizar) (PARA USO DA ABRAPEE) ———————————————————————————————————————————— (Devolveremos o recibo após carimbo e assinatura da Secretaria da ABRAPEE) ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL CNPJ 66 068 818 / 0001- 54 RECIBO DA ANUIDADE DE 2003 Recebemos de ____________________________________________________________CODAB_______________ o valor de R$ ______________________________________________________________________________________________, referente à anuidade de 2003. Campinas, ________de ______________________ de 2003. Tesouraria da ABRAPEE ENDEREÇO DA ABRAPEE: Rua Marechal Deodoro, 1019 Campinas/SP Fone: (19) 9127 9566 Site: http://www.abrapee.psc.br Fale conosco: abrapee@abrapee.psc.br ALGUNS TÍTULOS DA CASA DO PSICÓLOGO Título Autor/Organizador Educação, Pedagogia Cinco Estudos de Educação Moral Computador no Ensino e a Limitação da Consciência Crianças de Classe Especial Crianças Querem Saber, e Agora?, As Difusão Das Idéias de Piaget No Brasil, A Encontros com Sara Paín Ensaios Construtivistas Era Assim ... Agora Não Ética e Valores: Métodos para um Ensino Transversal Formas Elementares da Dialética, As Guia de Orientação Sexual Histórias de Indisciplina Escolar Introdução à Psicologia Escolar Jean Piaget Sobre a Pedagogia Oficina Criativa e Psicopedagogia Pelos Caminhos da Ignorância e do Conhecimento Professores e Alunos – Problema: um círculo vicioso Produção do Fracasso Escolar, A Programa de Leitura Silenciosa Psicanálise e Educação – Laços Refeitos Psicologia e Educação Psicologia Escolar: em Busca de Novos Rumos Psicopedagogia: Uma Prática, Diferentes Estilos Saúde e Educação. Muito prazer! Quatro Cores, Senha e Dominó Quatro Cores, Senha e Dominó – Caderno para Atividades Reunião de Pais: Sofrimento Ou Prazer? Macedo, Lino de (Org.) Crochik, Jose Leon Machado, Adriana Costa, Moacir Vasconcelos, Mario Sérgio Parente, Sonia Maria Macedo, Lino de Scarpa, Regina Puig, Josep Maria Piaget, Jean Gtpos – Abia – Ecos Cíntia Copit Freller Patto, Maria Helena S. Parrat, Sílvia Allessandrini, Cristina Parente, Sonia Maria Mantovanini, Maria Cristina Maria Helena S. Patto Condemarin, Mabel Bacha, Márcia Neder Marilene Proença Machado, Adriana M. (Org.) Rubinstein, Edith Maria Salum e Morais; Beatriz Souza (Orgs.) Macedo, Lino (Org.) Macedo, Lino (Org.) Althuon, Beate G.