aplicação de conceitos da ecologia industrial para a
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MARCELO GERALDO TEIXEIRA APLICAÇÃO DE CONCEITOS DA ECOLOGIA INDUSTRIAL PARA A PRODUÇÃO DE MATERIAIS ECOLÓGICOS: O EXEMPLO DO RESÍDUO DE MADEIRA SALVADOR 2005 ii iii MARCELO GERALDO TEIXEIRA APLICAÇÃO DE CONCEITOS DA ECOLOGIA INDUSTRIAL PARA A PRODUÇÃO DE MATERIAIS ECOLÓGICOS: O EXEMPLO DO RESÍDUO DE MADEIRA Dissertação apresentada ao Curso de pósgraduação em Gerenciamento e Tecnologia Ambiental no Processo Produtivo, Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre Orientador: Prof. Dr. Sandro Fábio César SALVADOR 2005 iv T2661a Teixeira, Marcelo Geraldo Aplicação de conceitos da ecologia industrial para a produção de materiais ecológicos: o exemplo do resíduo de madeira./ Marcelo Geraldo Teixeira. – Salvador, 2005. 159 p. Orientador: Dr. Sandro Fábio César Dissertação (Mestrado em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo). – Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica, 2005. 1. Indústria Madeireira – Tecnologia. 2. Madeira Reciclagem I. Universidade Federal da Bahia. Escola Politécnica II. César, Sandro Fábio. III. Título. CDD 674 ESTE TRABALHO ESTÁ FORMATADO PARA IMPRESSÃO FRENTE / VERSO PERMITIDA A CÓPIA TOTAL OU PARCIAL DESTE DOCUMENTO DESDE QUE CITADA A FONTE – O AUTOR v UFBA - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPTº DE ENGENHARIA AMBIENTAL - DEA MESTRADO PROFISSIONAL EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO TERMO DE APROVAÇÃO: Marcelo Geraldo Teixeira APLICAÇÃO DE CONCEITOS DA ECOLOGIA INDUSTRIAL PARA A PRODUÇÃO DE MATERIAIS ECOLÓGICOS: O EXEMPLO DO RESÍDUO DE MADEIRA Dissertação aprovada como requisito para obtenção do grau de Mestre em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo – Ênfase em Produção Limpa, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora Salvador, 16 de fevereiro de 2005 vi vii Dedico à Meus pais, Marli e Itaraci; Minha esposa Idalícia; Minha filha Juliana; E minha Irmã Isa Minha família Meu tesouro viii ix AGRADECIMENTOS Esse trabalho, fruto da minha busca pelo conhecimento, coincidiu com momentos decisivos na minha vida, portanto o apoio sincero de algumas pessoas foi muito importante para a conclusão do mesmo. A lista de nomes é imensa, mas seleciono aqui as pessoas determinantes: Minha mãe, Profa Marli, pelo incentivo página a página deste trabalho; À minha esposa Idalícia, sua mãe Dona Dulce e seu pai, Seu Edgar (In memorian); Aos primos de São Paulo, em especial Tia Emília, Tio Walter, Clauber e Gabi; Ao TECLIM pela oportunidade deste mestrado Ao Prof. Orientador Sandro Fábio pela excelente orientação; Aos Srs. Paulo Venturoli, da CMVenturoli, e José Sobrinho da BAKAR Fiberglass, que acreditaram neste trabalho e abriram as respectivas empresas à pesquisa; Ao pessoal do SENAI-CIMATEC Salvador, Departamento de Metrologia, Marcelo Barreto e Fátima Badaró, que forneceram um grande apoio nos ensaios de laboratório. Ao Professor Sandro Machado, DCTM - UFBA, pela grande ajuda nos ensaios de flexão. Aos professores José Geraldo, Ricardo Carvalho, ambos da UFBA, e Paulo Fernando, da UNEB, que contribuíram com discussões importantes e Luis Eduardo Bragatto da USP-EESC com parte da bibliografia usada. À Profa. Rita Dione pela correção da monografia. Ao pessoal da Solução Visual que me ajudaram nas cópias e impressões durante toda a jornada; Ao Sr. Sílvio Roberto, da metalúrgica Ycaro Victal, pelo excelente trabalho na mini-prensa. x xi Não há pecado maior Do que o excesso da ganância. Não há mal maior Do que querer sempre mais. Não há maior calamidade Do que a mania do sucesso. Quem se contenta com o necessário Vive numa paz imperturbável. Lao Tsé xii xiii RESUMO Essa dissertação tem como objetivo demonstrar a aplicação de conceitos da Ecologia Industrial na produção de um material compósito ecológico baseado no resíduo de indústrias madeireiras. Na busca por este material ecológico, foram usados os conceitos de Eco-eficiência, Circulação de Recursos, Eco-Design e Análise do Ciclo de Vida, conceitos estes contidos no conceito maior da Ecologia Industrial que busca formas eficientes de prevenção da poluição e defesa do meio ambiente. O objeto da pesquisa foi o resíduo de madeira na forma de serragem, pó de serra e maravalha, oriundo de uma empresa beneficiadora de toras de madeira, e aqui denominada como Processo Produtivo I. O resíduo foi classificado e reciclado como carga para resina de poliéster insaturado, usada numa segunda empresa, de plásticos reforçados, aqui denominada como Processo Produtivo II. Essa relação entre processos produtivos através do uso de serragem reciclada configurou-se como uma aplicação prática da Ecologia Industrial. Na mistura de serragem com resina de poliéster surgiu um material compósito denominado WPC – wood plastic composite – em 14 traços diferentes, formulados de acordo com a granulometria e porcentagem de 10% e 20%. Estes traços foram moldados em corpos de prova segundo o processo de prensagem a frio e em seguida testados em três ensaios, seguido as normas técnicas brasileiras: o ensaio de absorção de água, baseado na norma NBR 8514, o ensaio de dureza Shore D, baseado na norma NBR 7456 e o ensaio de flexão em três pontos baseada na norma NBR 7447. Os resultados mostraram que o compósito permite o aproveitamento de cerca de 95% da serragem na forma de carga para resinas de poliéster. Os ensaios mostraram que a absorção de água é muito inferior à da madeira sólida, que a serragem diminuiu muito pouco a dureza da matriz de poliéster, que aumentou moderadamente a resistência à flexão da matriz e que também aumentou sua rigidez. Apesar de análises de viabilidade ténico-econômica serem necessárias, conclui-se que o uso de serragem reciclada é uma maneira eco-eficiente tanto na diminuição de resíduos sólidos industriais quanto na obtenção de carga e reforço para resinas plásticas, podendo contribuir para a diminuição do montante do resíduo de indústrias madeireiras. PALAVRAS CHAVE: Ecologia Industrial, serragem de madeira, reciclagem, eco-compósito. xiv xv ABSTRACT This dissertation has as an objective to demonstrate the application of industrial ecology concepts in the production of an eco-composite material based on the residues of wood industries. In order to have these ecological material concepts, such as: eco-efficiency, resources circulation, eco-design and life cycle analysis have been used. These concepts are part of a bigger concept – ecological industrial – that aims efficient ways to prevent environment from pollution.The object of this research was the residue of wood waste and “maravalha”. These residues came from a company of wood logs denominated as a Productive Process I. The residue was classified and recycled as a refill of resin of unsaturated polyester, used in a second company, specialized in reinforced plastic, denominated as Productive Process II. This relation between productive processes through the use of recycled wood waste configured as practical application of industrial ecology. The mixture of wood waste and resin of polyester produced a composite material denominated WPC – wood plastic composite – with 14 different features, formulated according to particles size distribution and percentage of 10 and 20% These features were mounded in specimens according to could press moulding process, after that tested in 3 studies following the NBR: the water absorption study, based on the NBR 8514, the hardness study Shore D., based on the NBR 7456 and the tensile study at 3 ways based on the NBR 7447. The results showed that the composite allows the utilization of about 95% of wood waste in filler of polyester resin. The studies also showed that the water absorption is much lower than solid wood absorption, the wood waste hasn´t decreased much the hardness of polyester matrix, that increased the resistance of tensile of the matrix and it increased its rigidity, as well. Despite of the analyses of the technical – economical viability were necessary, we came to the conclusion that the use of wood waste recycled is an eco-efficient way for the reduction of solid industrial residues, and for the obtaining of filler and reinforcement for plastic resins, contributing to the reduction of the amount of wood industries residue. KEY WORDS: Industrial ecology, wood waste, recycling, eco - composite xvi xvii SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS ABREVIAÇÕES SIMBOLOS INTRODUÇÃO PROBLEMATIZAÇÃO PROBLEMA OBJETIVOS Objetivo Geral Objetivos Específicos JUSTIFICATIVAS METODOLOGIA Natureza da Pesquisa Etapas da metodologia aplicada na pesquisa LIMITES DA PESQUISA ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO XIII XV XXI XXIII XXV XXV 1 3 5 5 5 5 6 6 6 7 8 8 1 - ECOLOGIA INDUSTRIAL 9 1.1 - A PROPOSTA DAS TECNOLOGIAS LIMPAS. 9 CAPÍTULO 1.2 - CONCEITOS DA ECOLOGIA INDUSTRIAL USADOS NA PESQUISA 1.2.1 - Eco-Eficiência 12 1.2.2 - Circulação de Recursos 13 1.2.3 - Análise do Ciclo de vida 14 1.2.4 - Eco-Design 15 1.3 - REQUISITOS DO ECO-DESIGN 1.3.1 - Atuação do Eco-Design no ciclo de vida do produto CAPÍTULO 11 2 - A MADEIRA: INDÚSTRIA E RESÍDUOS 16 19 23 2.1 - A MADEIRA COMO RECURSO FLORESTAL 23 2.2 - CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DO DESMATAMENTO 24 2.3 - A EXPLORAÇÃO DA MADEIRA NO BRASIL 25 2.4 - CARACTERÍSTICAS DA MADEIRA 27 2.4.1 - Origem da madeira 27 2.4.2 - Componentes da madeira 28 2.4.3 - Componentes do tronco 28 2.4.4 - Vantagens e desvantagens do uso da madeira como material 29 2.5 - PRODUTOS E PAINÉIS DE MADEIRA 29 2.5.1 - Madeira sólida serrada 30 2.5.2 - Madeira reconstituída 30 2.6 - GERAÇÃO DOS RESÍDUOS INDUSTRIAIS DE MADEIRA 33 2.6.1 - Uso tradicional do resíduo de madeira 36 xviii CAPÍTULO 3 - APLICAÇÃO DO RESÍDUO DE MADEIRA: MATERIAIS, PROCESSOS E PRODUTOS 3.1 - REVISÃO DO USO DE RESÍDUOS DE MADEIRA EM PRODUTOS INDUSTRIAIS 39 3.1.1 - Chapas de madeira aglomerada 39 3.1.2 - Compósitos de matriz cimentícia 41 3.1.3 - Compósitos de matriz polimérica 3.2 - MATERIAIS ECO-EFICIENTES 3.2.1- Classificação dos materiais eco-eficientes 3.3 - ECO-COMPÓSITOS 41 44 45 46 3.3.1 - Definição de compósitos 46 3.3.2 - Definição de Eco-compósito 47 3.3.3 - Reforços 47 3.3.4 - Matrizes poliméricas 50 3.3.4.1 - Reaproveitamento de resíduos poliméricos 3.4 - WPC - COMPÓSITOS BASEADOS EM MADEIRA 3.4.1 - A eco-eficiência do WPC 3.5 - DESCRIÇÃO DAS MATRIZES POLIMÉRICAS USADAS NA PESQUISA 3.5.1 - Resina de Poliéster Insaturado 3.6 - METODOLOGIA DO PROCESSO DE FABRICAÇÃO CAPÍTULO 39 52 53 55 59 59 60 3.6.1 – Processos de Molde Aberto 61 3.6.2 - Processos de Molde Fechado 61 3.6.3 - Etapas da prensagem a frio 64 3.6.4 - Etapas de fabricação de moldes 65 4 – MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 - O PROCESSO DE PRODUÇÃO DAS FÁBRICAS ESTUDADAS 67 68 4.1.1- Processo produtivo 01 - Indústria de produtos de madeira serrada 69 4.1.2- Processo produtivo 02 – Indústria de plásticos reforçados 70 4.2 – FASE I - MATERIAIS 71 4.2.1 – Coleta e caracterização dos resíduos 71 4.2.2 - Reciclagem e classificação dos resíduos coletados 75 4.2.2.1- Secagem e medição da umidade da serragem 75 4.2.2.2 - Classificação granulométrica da serragem 76 4.2.3 - Resina usada 77 4.2.4 - Determinação dos traços 77 4.3- FASE II - MOLDAGEM DOS CORPOS DE PROVA 78 4.3.1 - Escolha dos ensaios 78 4.3.2 - Confecção dos corpos de prova 78 4.4 - FASE III - ENSAIOS 82 4.4.1 - Absorção de água 82 4.4.2 - Dureza Shore D 82 4.4.3 - Flexão de 3 pontos 83 xix CAPÍTULO 5 – ANÁLISE E RESULTADOS 85 5.1 - RESULTADOS FASE I - Reciclagem 85 5.1.1 - Secagem 85 5.1.2 - Peneiramento 86 5.1.3 - Comentário final da FASE I 91 5.2 - RESULTADOS FASE II - Moldagem 91 5.2.1 - Limites da mistura 92 5.2.2 - Comentário final da FASE II 93 5.3 - RESULTADOS FASE III - Ensaios 93 5.3.1 Absorção de água 93 5.3.2 - Dureza Shore D 96 5.3.3 – Flexão de 3 pontos 98 5.3.4 - Comentário final da FASE III 103 5.4 - COMPARAÇÃO COM MATERIAIS SEMELHANTES CAPÍTULO 103 6 – CONCLUSÕES 105 6.1 - RECICLAGEM 105 6.2 - MOLDAGEM 105 6.2 - PROPRIEDADES FISICAS E MECÂNICAS 106 6.3 - AS PARTÍCULAS GRANDES 107 6.4 - ECOLOGIA INDUSTRIAL 107 6.5 - SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS 108 109 REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA CONSULTADA REFERÊNCIAS 109 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 119 121 ANEXOS ANEXO ANEXO ANEXO ANEXO I II III IV ANEXO V BOLETIM TÉCNICO CRAY VALLEY 123 FICHA DE EMERGÊNCIA DINU 125 MINI-PRENSA DE MESA 127 DETERMINAÇÃO DA PORCENTAGEM DE SERRAGEM RECICLADA NA MISTURA DO COMPÓSITO. ® MENSAGEM ELETRÔNICA DA DURATEX 129 131 xx xxi LISTA DE FIGURAS FIG 01 - Sistema linear de produção e consumo FIG 02 - Evolução tecnológica da prevenção da poluição 10 FIG 03 - Gráfico conceitual da Ecologia Industrial 13 FIG 04 - Ciclo de vida do produto e intervenção do Eco-design na cadeia produtiva 19 FIG 05 - Países com a maioria da área florestal mundial, em porcentagem 23 FIG 06 - Cadeia industrial da madeira 26 FIG 07 - Camadas do tronco de árvore 28 FIG 08 - Panorama mundial da produção de aglomerados e MDF em 2002 29 FIG 09 - Produção de madeira serrada 30 FIG 10 - Vendas das principais chapas de madeira reconstituída no Brasil 33 FIG 11 - Etapas da industrialização e resíduos de madeira 34 FIG 12 - Maneiras de valorização do resíduo de madeira 38 FIG 13 - Mesa Piano e Porta Lápis 40 FIG 14 - Classificação das cargas quanto a composição 48 FIG 15 - Classificação das fibras quanto a composição 48 FIG 16 - Contextualização do WPC 55 FIG 17 - Ciclo de vida do WPC baseado no esquema do item 1.3.1 56 FIG 18 - Processo de fabricação HAND-LAY-UP 61 FIG 19 - Processo de fabricação SPRAY-UP 61 FIG 20 - Processo de fabricação RTM 62 FIG 21 - Processo de fabricação HPM 62 FIG 22 - Processo de fabricação CPM 63 FIG 23 - Etapas do processo de prensagem a frio 64 FIG 24 - Fabricação de molde em plástico reforçado 65 FIG 25 - Planejamento experimental 67 FIG 26 - Relação entre as empresas na fase experimental 68 FIG 27 - Geração de resíduos no processo de fabricação de madeira serrada nas máquinas 73 FIG 28 - Silo de estocagem da serragem 74 FIG 29 - Tocos de destopo, sobras e rejeitos 74 FIG 30 - Procedimento da classificação granulométrica 76 FIG 31 - Dimensões dos Corpos de Prova em mm 79 FIG 32 - Seqüência do procedimento de mistura do compósito e de fabricação dos corpos de prova 79 FIG 33 - Plugs e Moldes CP1 e CP2 80 FIG 34 - Ingredientes da fabricação dos CP's 80 FIG 35 - Procedimento de fabricação dos Corpos de Prova 81 FIG 36 - Ensaio de absorção de água 82 9 xxii FIG 37 - Esquema do ensaio de Dureza Shore 83 FIG 38 - Esquema do ensaio de flexão 84 FIG 39 - Ensaio de Flexão de 3 pontos 84 FIG 40 - Gráfico da porcentagem de resíduo por máquina segundo a classificação granulométrica 87 FIG 41 - Curva Granulométrica do resíduo coletado 87 Imagens do resultado da classificação granulométrica por máquina 88 FIG 42 FIG 43 - Classificação granulométrica final do resíduo 90 FIG 44 - Detalhe de todos os traços em escala 1/1 92 FIG 45 - Limites da misturas dos traços 93 FIG 46 - Gráfico da absorção de água depois de 15 dias de imersão baseado TABELA 25 95 FIG 47 - Gráfico da absorção de umidade durante 15 dias - 20 medições 95 FIG 48 - Equivalência entre escalas SHORE 96 FIG 49 - Gráfico comparativo da Dureza Shore D entre os traços 98 FIG 50 - Gráficos do desempenho mecânico dos traços 99 FIG 51 - Região de fratura nos traços com partículas grossas 102 FIG 52 - Camada de proteção Gel-Coat 103 xxiii LISTA DE TABELAS TABELA 01 - Fatores da Eco-Eficiência 12 TABELA 02 - Critérios gerais de Design 16 TABELA 03 - Critérios de Design para requisitos ambientais 17 TABELA 04 - Tipos de DfX 18 TABELA 05 - Conseqüências do desmatamento 24 TABELA 06 - Consumo de madeira industrial em toras no Brasil no ano de 2000 25 TABELA 07 - Total de áreas plantadas em Pinus e Eucalyptus 26 TABELA 08 - Subdivisões das árvores 27 TABELA 09 - Camadas do tronco de árvore 28 TABELA 10 - Vantagens e desvantagens da madeira como material 29 TABELA 11 - Classificação e descrição das madeiras reconstituídas 31 TABELA 12 - Discriminação dos resíduos de madeira 35 TABELA 13 - Uso tradicional dos resíduos de madeira 37 TABELA 14 - Alguns produtos construídos com eco-compósitos 43 TABELA 15 - Valores de energia incorporada em materiais comuns 45 TABELA 16 - Classificação dos materiais quanto a disponibilidade e possibilidade de reintegração 46 TABELA 17 - Algumas fibras vegetais usadas em compósitos 49 TABELA 18 - Vantagens e desvantagens das fibras naturais em compósitos 49 TABELA 19 - Organização dos requisitos ambientais da Ecologia Industrial para materiais de fabricação 58 TABELA 20 - Discriminação da serragem quanto às máquinas de beneficiamento 59 TABELA 21 - Resultado da medição de umidade da serragem 72 TABELA 22 - Coleta dos resíduos para medição de umidade por máquina 75 TABELA 23 - Quantidade do resíduo coletado para a classificação granulométrica 76 TABELA 24 - Classificação e descrição final da serragem 77 TABELA 25 - Traços experimentais do ECO-WPC 78 TABELA 26 - Resultado da medição de umidade da serragem 85 TABELA 27 - Resultado da peneiração seletiva 86 TABELA 28 - Calculo da porcentagem total dos resíduos por granulometria 90 TABELA 29 - Classificação e descrição final da serragem 90 TABELA 30 - Porcentagem e quantidade de água absorvida depois de 15 dias de imersão 94 TABELA 31 - Resultado do ensaio de dureza SHORE D 97 TABELA 32 - Desempenho mecânico do ensaio de flexão em 3 pontos 99 TABELA 33 - Comparação entre o WPC estudado e materiais semelhantes 104 xxiv xxv ABREVIAÇÕES ABIMCI - Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas ABS - Acrilonitrila Butadieno Estireno ACV - Análise do Ciclo de vida CCA - Chromated Copper Arsenate (Arsenato de cobre cromatado) CETREL - Central de Tratamento de Efluentes Líquidos CNSL - Cashew Nut Shell Liquid (Líquido da castanha do caju) CP - Corpo de Prova CPM - Could Press Moulding (Moldagem por prensagem a frio) DCE - Departamento de Construção e Estruturas - UFBA DCTM - Departamento de Ciências e Tecnologia dos Materiais - UFBA DfE - Design for Environment (Design orientado ao meio-ambiente) HB - Hard Board (Chapa dura) HPM - Hot press molding (Moldagem por prensagem a quente) IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovaveis ICME - International Council on Metals and the Environment (Conselho Internacional em metais e meio-ambiente) LABMAD - laboratório de madeira - UFBA MDF - Médium Density Fiberboard (Chapas de fibras de média densidade) OSB - Oriented Strand Board (Chapa de flocos orientados) PB - Particule Board (Chapa de partículas) PET - Polietileno Tereftalato PI - Poliéster Insaturado PRFV - Plástico Reforçado com Fibra de Vidro PU - Poliuretano PVA - Poliálcool Vinílico PVC - Policloreto de Vinila RSM - Reforço de Serragem de Madeira RTM - Resin transfer molding (Moldagem por transferência de resina) SPMP - Syndicat des Producteurs de Matières Plastiques (Sindicato dos Produtores de materiais plásticos) UFBA - Universidade Federal da Bahia WPC - Wood plastic composites (Compósitos de plástico com madeira) WWF - Wood Wast Flour (Farinha de madeira) SIMBOLOS ± - Imagem Inexistente xxvi 1 0 INTRODUÇÃO A crescente necessidade de preservação ambiental tem levado à adoção de tecnologias que utilizam os recursos naturais de maneira mais econômica e menos destruidora. Ao mesmo tempo, buscam-se soluções para diminuição ou mesmo eliminação de resíduos industriais, principalmente os classificados como tóxicos e perigosos. A indústria da madeira vista de maneira global usa os recursos naturais de maneira ineficiente, tanto na obtenção da matéria prima, quanto na fase de produção dos produtos, como também no descarte dos produtos no fim de sua vida útil, significando uma grande exploração dos recursos madeireiros principalmente das florestas nativas, levando a grande devastação desses recursos, e a grande geração de resíduos é a prova desta ineficiência. FREITAS (2000) afirma que “segundo o IBAMA, o aproveitamento de toda a árvore pelas indústrias madeireiras, está em torno de 30% a 60%, variando de empresa para empresa”. Este dado é reforçado pelo Greenpeace que afirma que “a atividade madeireira apresenta índices de desperdício incríveis. 2/3 de todas as árvores exploradas na Amazônia viram sobras ou serragem” (GREENPEACE, 1999. p. 2). Ou seja, apenas 1/3 da madeira extraída é transformada em produtos finais. Os resíduos desta produção, portanto, são uma grande quantidade de madeira e que não têm um destino correto. Segundo SILVA (2002-1), [...] tudo que não serve para o comércio regular vai para o lixo ou é queimado. Os resíduos da serragem nem sequer são depositados de forma adequada. Alguns são queimados em caldeiras, mas não é uma prática comum. A maioria deposita nas áreas periféricas das serrarias. Quando estes são queimados contribuem com aumento da poluição do ar provocando danos ao meio ambiente e às populações existentes próximas a essas indústrias. 2 De acordo com o IBAMA, a indústria brasileira produziu 166.310 milhões de m3 de madeira de reflorestamento ou nativa no ano de 2000 (IBAMA, 2002), estimando-se que pelo menos a metade desse volume, cerca de 80 milhões de m3 de madeira foi transformada em resíduos. Apesar de haver esforços para a reciclagem destas sobras principalmente na forma de lenha, queimada para a geração de energia elétrica e calor, ou como a cama-degalinha nas granjas, estas soluções agregam baixo valor ao resíduo. Se por um lado têmse o uso nobre da madeira para produtos de consumo tais como habitações, móveis, peças e equipamentos com grande utilidade e valor estético, por outro tem-se as sobras servindo como produto de baixo valor. Muitas vezes parte da mesma madeira que se faz um móvel de luxo vira briquete para incineração, quando não é descartado em aterros ou no meio-ambiente. O problema atinge um nível de grande preocupação quando se refere à grande exploração dos recursos madeireiros principalmente das florestas nativas, significando grande devastação de florestas, assim como impactando negativamente no meio biótico e antrópico, além de contribuir com problemas de ordem global, como o aumento do efeito estufa ou o desaparecimento da biodiversidade global. Essa situação permite levantar as seguintes questões: A. Como um material cujo uso é considerado tão nobre pode ter mais da metade de seu volume subutilizado ou descartado? B. Por que as sobras desta matéria-prima não podem ser consideradas de alto valor, apenas por se apresentar fisicamente diferente do estado de antes do beneficiamento, visto que é o mesmo material? C. Existem caminhos ou alternativas que permitam a valorização deste resíduo? A necessidade de estudos referentes a processos de produção, materiais e produtos eco-eficientes e eco-compatíveis torna-se, portanto, cada vez mais importante. Uma saída é a aplicação dos princípios das tecnologias limpas, o que inclui os conceitos da Ecologia Industrial, na busca destas metas. Através destes conceitos podemos agregar valor a resíduos do setor produtivo madeireiro, transformando-os em novos materiais que permitem novos produtos ecologicamente corretos e eficientes, contribuindo assim para a diminuição da pressão exercida aos recursos naturais pelo consumo e também diminuindo o descarte indiscriminado e a disposição prejudicial de resíduos no meioambiente, além de oferecer boas alternativas às matérias primas convencionais. PEREIRA et al, (2002).afirmam que 3 [...] a utilização de resíduo industrial de madeira na transformação de produtos, seja sob a forma de utilitários ou decorativos, é uma grande resposta ao meio ambiente. Além de gerar outros produtos de utilização com maior valor agregado, essa atitude traz outros benefícios, pois à medida que se utiliza melhor as árvores cortadas ou dá-se um melhor aproveitamento para os resíduos em madeira, contribui-se para diminuir a pressão sobre o desmatamento, promovendo-se o equilíbrio ecológico e reduzindo-se a poluição [...] Um material deixa de ser resíduo pela sua valorização como matéria prima, para a obtenção de novos produtos. Neste caso, o resíduo passa a ser tratado como subproduto do processo produtivo (VALLE, 1995 apud SAVASTRANO Jr, 2000). Do ponto de vista do produtor, esta pode ser uma excelente oportunidade de negócio, pois estará produzindo produtos a custos muito mais baixos, já que estará utilizando como matéria prima algo que era visto como descartável, além de usar de maneira quase completa toda madeira disponível, já que esta é uma matéria prima considerada nobre. A presente pesquisa fundamentou-se nas duas questões acima relacionadas: a existência do desperdício de madeira na forma de resíduos industriais e à possibilidade de reaproveitamento destes resíduos aplicando os princípios da Ecologia Industrial. PROBLEMATIZAÇÃO O processo de produção das indústrias beneficiadoras de madeira é feito em etapas bastante distintas: primeiramente suas toras são enviadas para a indústria para a transformação em bens de consumo. Depois, uma parte deste volume sofre um tratamento visando sua preservação contra fungos e insetos xilófagos. O restante não sofre tratamento, sendo usada industrialmente in-natura. No primeiro caso é usado o conservante CCA (arseniato de cobre cromatado), composto formulado a base dos metais pesados cobre (Cu), cromo (Cr) e arsênio (As), que têm alto poder tóxico. A maior parte do resíduo de madeira gerado pela indústria madeireira vem da madeira não tratada. É decorrente do beneficiamento dos troncos e posterior uso de peças comerciais já cortadas, quando tal material é serrado, furado, entalhado, aparelhado, lixado, entre outros processos, gerando assim a serragem (maravalha e pó de serra), as costaneiras, as pontas de peças. O resíduo de madeira tratada é similar ao da madeira não tratada acrescentado do produto preservante CCA. 4 Há também o resíduo do pós-uso, quando os bens de consumo já atingiram o fim da vida útil e são descartados como lixo ou queimados. No entanto, não importando se a madeira é tratada ou não, o resíduo é visto como inevitável e sua existência é um problema a ser enfrentado pela tecnologia atual. A necessidade de um destino para estes resíduos industriais de madeira de modo eco-eficiente aponta-se para o uso das Tecnologias Limpas, cujo propósito é reduzir os impactos ambientais negativos do processo produtivo, ou seja: tecnologias que promovem a preservação dos recursos naturais e a prevenção da poluição. KIPERSTOK (2003, p. 34) explica que [...] os caminhos para a não geração de resíduos são vários: devemos repensar as matérias primas que utilizamos e rever os processos de fabricação, discutindo porque estes geram perdas de material e energia, e considerando se algumas dessas perdas, devidamente processadas, não seriam insumos para outros processos [...] Todas essas ações resultariam na Preservação da Poluição [...] Neste novo discurso da produção industrial, os conceitos da Ecologia Industrial (parte integrante das Tecnologias Limpas) entram como ferramentas teóricas e práticas para solucionar problemas como este descrito acima. A Ecologia Industrial oferece o conceito da circulação de matéria-prima entre unidades produtivas: o que é considerado resíduo em um sistema industrial é usado em outro sistema como insumo. Neste caso, o resíduo de madeira será usado como matéria prima em outro processo produtivo na obtenção de um novo produto dentro da própria empresa ou de uma outra empresa. Outro conceito da Ecologia Industrial é o Eco-design que propõe um modelo de projeto orientado para o meio-ambiente por critérios ecológicos. Este conceito lista requisitos de projeto de bens de consumo orientado para a preservação do meio ambiente, os quais determinam produtos ecologicamente compatíveis em todo seu ciclo de vida, gastando menos recursos naturais, menos energia, minimizando, assim, os impactos ambientais. Uma das maneiras de utilizar os resíduos como meio de viabilizar a obtenção de produtos é usando conceitos de processo de fabricação tradicionais modificados com os conceitos oriundos das especificações da Ecologia Industrial tal como a tecnologia do Eco-Compósito. Esta se fundamenta no princípio do material compósito, ou seja, matérias primas de diferentes características e origens formando um material composto (compósito) o qual pode ser moldado de acordo com as especificações projetadas. 5 PROBLEMA Considerando todas essas questões levantamos o seguinte problema: É possível, aplicando conceitos da Ecologia Industrial, desenvolver um material ecologicamente correto, baseado na utilização de resíduos de madeira e usando o processo de fabricação dos compósitos? Desdobramento do problema. O problema pode ser desdobrado quanto às suas variáveis como se segue: A variável dependente, ponto de referência inicial do problema, afirma que a formulação de um ecocompósito depende da aplicação dos princípios da Ecologia Industrial, da utilização de resíduos de madeira e do processo de fabricação dos compósitos. Esses três elementos constituem-se como variáveis independentes, visto estabelecerem condições autônomas para o desenvolvimento da análise do ponto de referência inicial (variável dependente). OBJETIVOS Objetivo Geral: Levantar fundamentos teóricos apresentados pela Ecologia Industrial para suportar o desenvolvimento de um material ecológico baseado no aproveitamento de resíduos de madeira. Objetivos Específicos: • Eleger um processo produtivo da indústria madeireira selecionada pela pesquisa; • Verificar a geração de resíduos do processo produtivo escolhido da indústria selecionada; • Classificar os resíduos gerados pelo processo eleito; • Usar princípios da tecnologia dos compósitos como referencial de processo de fabricação para um material conceitual; • Desenvolver um eco-compósito baseado em resíduos de madeira usando processos de fabricação simples, conhecidos e de baixo impacto ambiental, buscando reduzir ao máximo os resíduos da produção • Levantar características físicas e mecânicas do compósito desenvolvido através de ensaios normatizados 6 JUSTIFICATIVAS • O grande volume de resíduos de madeira gerados pelos processos de produção de componentes usados na construção civil, em móveis ou em utilitários domésticos estimulam pesquisas de aproveitamento destes resíduos em outros processos produtivos. • Apesar da madeira ser uma fonte de recursos renováveis, é necessária uma forma de uso otimizada deste recurso natural, o que significa o estudo de formas de utilização dos resíduos do processo de beneficiamento da madeira. • O resíduo estudado é oriundo de recursos florestais e, portanto, considerado nobre. O uso deste resíduo como matéria-prima para novos produtos ajudam a preservação destes recursos florestais, diminuindo a pressão sobre as florestas nativas. • Os conceitos da Ecologia Industrial apresentam os requisitos para concepção de novos materiais que levam em consideração as necessidades tanto do ser humano quanto do meio ambiente, de forma a reduzir os impactos ambientais. • O princípio tecnológico do eco-compósito pode oferecer uma boa alternativa para aproveitamento de resíduos de madeira na forma de um material de fabricação a ser usado nas indústrias de plástico reforçado, como foi o exemplo do compósito desenvolvido neste estudo. METODOLOGIA Natureza da Pesquisa Considerando que existe um problema de natureza bem específica e concreta, de como aproveitar resíduos de madeira como novos produtos, levanta-se a necessidade de aplicação de uma metodologia igualmente específica para solucioná-lo. Baseado na classificação de SILVA E MENEZES (2001 p. 20) e considerando a natureza do problema pode-se caracterizar esta pesquisa como: • Aplicada – com o objetivo de aplicar conhecimentos dirigidos à solução de problemas específicos no caso o aproveitamento de resíduos industriais de madeira como novos produtos; • Quali-quantitativa – Os dados quantitativos constituem-se elementos comprobatórios para a análise dos valores colhidos diretamente no ambiente da pesquisa; 7 • Descritiva – com a descrição dos passos da experiência do seu começo à sua fase final; • Experimental – pois se determinou um objeto de estudo e foram selecionadas as variáveis capazes de influenciá-lo, submetendo o objeto a uma investigação que busque soluções para o problema. Etapas da metodologia aplicada na pesquisa 1. Levantamento do estado da arte – referenciando livros e revistas técnicas, recursos da Internet como acesso a dissertações, teses, artigos e publicações técnico-científicas e em bibliotecas digitais, nacionais e estrangeiras. 2. Visita técnica às indústrias – Etapa para coleta dados sobre os processos de fabricação, matérias primas usadas e coleta dos resíduos usados na pesquisa. 3. Quantificação e qualificação do resíduo coletado – Etapa de caracterização e qualificação do resíduo de madeira coletado no setor produtivo da indústria e reciclado no Laboratório de Madeira da UFBA (Universidade Federal da Bahia). 4. Desenvolvimento do eco-compósito – Etapa estruturada a partir da bibliografia selecionada e a partir de conceitos da Ecologia industrial quando se usou os resíduos coletados e o processo de fabricação eleito na pesquisa. Essa etapa pode ser dividida em: • Etapa de reciclagem do resíduo; • Etapa de seleção da resina ou matriz polimérica • Etapa de determinação dos traços de mistura da resina com o resíduo; • Etapa de moldagem dos corpos de prova; • Etapa de ensaios físicos e mecânicos à luz de normas técnicas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que foram: absorção de água, dureza Shore D e flexão com 3 pontos. O ensaio de absorção de água foi feito no LABMAD (Laboratório de Madeira do Departamento de Construção e Estruturas, DCE, da Escola Politécnica da UFBA), o ensaio de Dureza Shore, no laboratório de metrologia do SENAI-CIMATEC – Bahia e o de Flexão, no laboratório do DCTM - Departamento de Ciências e Tecnologia dos Materiais da UFBA. 8 LIMITES DA PESQUISA Este estudo não está voltado para a engenharia de materiais mas sim para a aplicação de conceitos da Ecologia Industrial para subsidiar uma nova proposta de material ecológico feito a partir de resíduos industriais. Os três ensaios foram escolhidos para uma avaliação preliminar com o propósito de verificar a viabilidade de uso deste material e também verificar a possibilidade de continuidade desta pesquisa. O processo de fabricação escolhido foi eleito visando a simplificação, acessibilidade à tecnologia, possibilidades de aplicação e produção a baixo custo, no entanto, este trabalho não visou o projeto de um produto, mas somente o desenvolvimento de novo material ecológico que poderá ser aplicado em novos produtos. Sugestões de ampliação da pesquisa encontram-se no último capítulo. ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO Esta dissertação está dividida em duas partes distintas: a primeira parte é destinada aos capítulos teóricos e da revisão de literatura, os quais embasam a pesquisa, compondo esta primeira parte os capítulos 1, 2 e 3. Os capítulos, 4, 5 e 6, descrevem os experimentos, incluindo o método de desenvolvimento do eco-compósito, os resultados da pesquisa, as conclusões e as recomendações. O Capítulo 1 apresenta uma visão geral sobre as Tecnologias Limpas e a explicação sobre os conceitos da Ecologia Industrial que embasam a pesquisa. O Capítulo 2 concentra-se na madeira e sua importância na indústria a ela associada, nos resíduos gerados na linha de produção das indústrias madeireiras e com o destino destes resíduos. No Capítulo 3 encontra-se a revisão da literatura referente aos novos materiais ecoeficientes, com exemplos de aplicações em produtos, incluindo os compósitos baseados em resíduos de madeira. Também se refere aos polímeros usados como matriz de compósitos e aos processos de fabricação usados na fabricação de produtos de compósitos. O Capítulo 4 refere-se à parte experimental da pesquisa, onde são descritos a coleta, quantificação, classificação, reciclagem e uso do resíduo de madeira em novo material eco-eficiente, moldado em dois tipos de corpos de prova, testados em três ensaios: Absorção de água, Dureza Shore D e Flexão. Os Capítulos seguintes, 5 e 6, fecham a pesquisa com a apresentação dos resultados dos ensaios e as conclusões e recomendações finais, respectivamente. 9 CAPÍTULO 1 ECOLOGIA INDUSTRIAL Este capítulo apresenta uma visão geral das Tecnologias Limpas, da Ecologia Industrial e os conceitos de Eco-eficiência, Circulação de Recursos, Eco-design e Análise do Ciclo de Vida, que são a base teórica da pesquisa. Ainda neste capítulo são apresentadas uma lista de requisitos de Eco-Design e uma ilustração do ciclo de vida material de bens de consumo. 1.1 – A PROPOSTA DAS TECNOLOGIAS LIMPAS Uma das principais causas da poluição e da degradação do meio ambiente vem do modelo atual de produção e consumo. Este se baseia na idéia que o meio ambiente é um fornecedor de energia e recursos abundantes ou mesmo ilimitados, assim como é visto, também, como um receptor ilimitado de resíduos (MANAHAN, 1999). Nesse sistema, conhecido como linear ou aberto, não há preocupação nem com a eficiência na produção ou com o uso dos produtos, nem com a origem das matérias primas, ou com a existência de substâncias tóxicas e nem com a disposição dos resíduos e as conseqüências destas ações. A FIGURA 01 mostra o sistema linear como descrito por TIBBS (1992) o qual foi adaptado para melhor adequação à pesquisa. Nesse modelo, a extração dos recursos e a disposição de resíduos são apontados como uma das causas dos impactos ambientais negativos sendo gerados não só a partir de sistemas industriais, mas sendo também originário do uso dos produtos pelos consumidores finais. FIGURA 01 – Sistema linear de produção e consumo. Adaptado de TIBBS, 1992. Esse modelo, que entende a geração de resíduos como inevitável e inerente ao processo produtivo e ao consumo, procura remediar tais problemas através de ações e tecnologias de controle da poluição. Essas tecnologias, no entanto, não a evitam, pois 10 atuam depois da sua geração. São, portanto conhecidas como Tecnologias Fim-de-Tubo, cujo propósito é remediar os prejuízos ambientais do atual sistema produtivo. Tais tecnologias, no entanto, não são tão eficientes quanto necessário; o simples fato de agir depois da geração de resíduos implica em grandes esforços financeiros e soluções pouco eficientes de remediação. O tratamento destes resíduos absorve novos recursos e energia, gerando novos resíduos que também precisam de tratamento. Quando há falhas, há também contaminação crônica ou aguda, resultando em desastres ambientais. Além disso, com o aumento do consumo, há o aumento de resíduo o que pressiona as tecnologias Fim-de-Tubo aos seus limites de operação. As Tecnologias Limpas propõem novos parâmetros para a produção industrial e consumo. Têm a finalidade de diminuição ou mesmo eliminação dos impactos ambientais negativos em todo ciclo de vida dos produtos, desde a obtenção das matérias primas, tanto na produção industrial, como também durante o uso dos produtos e no pós-uso dos mesmos. A sua filosofia é a da prevenção da poluição, atuando e interferindo no processo produtivo antes da geração de resíduos, na busca de eliminá-los e assim, preservar o meio ambiente. A FIGURA 02 mostra a evolução tecnológica da prevenção da poluição. Esta simplifica e sistematiza todas as etapas de prevenção da poluição organizadas por KIPERSTOK (2003), desde as tecnologias fim-de-tubo até o consumo sustentável. O gráfico original foi adaptado para melhor descrição neste trabalho. De maneira sistemática podemos separar estas tecnologias em três níveis crescentes de evolução: FIGURA 02 – Evolução tecnológica da prevenção da poluição (adaptado de KIPERSTOK, 2003 p. 86) NÍVEL 01 – São as tecnologias fim-de-tubo, como foram descritas anteriormente. Aqui o sistema industrial e o consumo usam a disposição de resíduos no meio ambiente ou os trata antes de dispô-los. Além de entender que os resíduos são ilimitados, bastando apenas remediá-los, essa filosofia também se estende para a obtenção dos recursos naturais e recursos energéticos que também são explorados sem a eficiência devida. 11 NÍVEL 02 – É o nível intermediário, compreendendo tecnologias que procuram interferir no processo produtivo ou em uma cadeia produtiva, a fim de localizar os locais de ineficiência e corrigí-los na fonte, melhorando, assim, sua resposta ao meio ambiente. Esta filosofia já emprega a gerência de operação e processos, além da possibilidade da reciclagem de matéria prima através de intervenções internas no processo produtivo. Sua atuação, no entanto, fica apenas no interior do processo produtivo, não questionando fatores importantes como o que é produzido ou como é usado o produto de tal processo dando, portanto, mais ênfase ao processo que ao produto. As alterações no produto, derivadas pela intervenção do design, visam apenas a melhoria do processo produtivo. Assim, para KIPERSTOK (2003), essas medidas de prevenção ainda possuem grau de eficiência insuficiente do ponto de vista ecológico. NÍVEL 03 – Sugere soluções ecologicamente mais eficientes, levando em consideração medidas que indicam caminhos para novos tipos de produtos, novos comportamentos de consumo, novas formas de produção, novos tipos de matéria primas, gerenciamento do ciclo de vida de produtos, dentre outros. Portanto, um novo horizonte no qual a produção e consumo seriam limitados pela capacidade do meio ambiente de fornecimento de recursos e absorção de resíduos, quando o uso sustentável dos recursos conduzirá a realização das necessidades humanas. Neste nível, a Ecologia Industrial é vista como uma ferramenta para concretizar estas tendências. Os conceitos da Ecologia Industrial concretizam os objetivos buscados no NÍVEL 3 e serão descritos a seguir. 1.2 – CONCEITOS DA ECOLOGIA INDUSTRIAL USADOS NA PESQUISA O conceito tradicional de ecologia a define como a ciência que estuda as relações entre os seres vivos e o meio ambiente em que vivem, e o conceito de ecossistema é definido como um conjunto de condições físicas e químicas de certo lugar, reunindo um conjunto de seres vivos que habitam esse lugar (FERRI, 1979). Num ecossistema em equilíbrio, cuja relação é uma seqüência de seres vivos, uns se alimentando dos outros sucessivamente num ciclo fechado, não há sobras nem o que se poderia chamar de “lixo”. É exatamente esse modelo natural de produção e reaproveitamento de recursos, que serve de base conceitual para a Ecologia Industrial. Parte-se da idéia que toda atividade industrial implica em impactos ambientais, pequenos ou grandes. A Ecologia Industrial aborda, então, a interação da indústria e do meio ambiente buscando a minimização destes impactos ambientais. Sua essência pode ser descrita como a forma de manter em evolução as necessidades econômicas, culturais e tecnológicas, levando em consideração que o sistema industrial não se encontra isolado 12 dos fatores ambientais e naturais, mas incluso nestes. Para isso as pesquisas vão ao encontro da otimização do ciclo material, indo da matéria prima virgem, passando pelo material processado industrialmente, pela transformação de materiais em componentes e produtos industrializados, pela obsolescência dos produtos e finalizando pela disposição final de materiais na forma de produtos descartados. Os fatores de otimização incluem fontes de matéria prima, energia e capital (GRAEDEL & ALLEMBY, 1995). A Ecologia Industrial funciona através de conceitos tais como a Eco-Eficiência, a Circulação de Recursos, o Eco-Design e o ACV (Análise do Ciclo de Vida). Estes conceitos foram escolhidos por estabelecerem requisitos e restrições que os processos industriais, materiais e os produtos devem ter para que possam infligir impactos mínimos ao meio ambiente. 1.2.1 – Eco-Eficiência Eco-eficiência é a maneira para se produzir mais, melhor, com menor consumo de materiais, água e energia, fazendo que a organização que a adote seja mercadologicamente competitiva, não comprometendo as finanças, contribuindo para a qualidade de vida e, ao mesmo tempo, reduzindo a carga, ônus, danos e impactos ambientais causados por bens e serviços (VERFAILLIE & BIDWELLA 2000 apud FURTADO, 2001). Assim, a Eco-Eficiência está fundamentada nos princípios econômico, social e ambiental descritos por BRITTO (2003) como princípios que devem ter como metas: a rentabilidade econômica, a compatibilidade ambiental e a justiça social. O ICME - International Council on Metals and the Environment (2001) define eco-eficiência como a maximização dos benefícios econômicos e ambientais enquanto reduz os custos tanto econômicos quanto ambientais simultaneamente, ou seja: é uma relação benefício / custo em que o denominador nunca pode ser maior que o numerador. Para que estas metas sejam alcançadas, são usados métodos e conceitos tais como a redução de resíduo na fonte, que aplica os conceitos da Produção Limpa, tais como descritos no NIVEL 2; o Ecodesign que oferece opções de produtos que atendam a uma produção limpa, buscando a economia de recursos naturais e energéticos além de apresentar produtos inovadores. A tabela 01 apresenta, segundo BRITTO (2003) os fatores da Eco-Eficiência: FATORES TABELA 01 – Fatores da Eco-Eficiência DESCRIÇÃO ÊNFASE NA QUALIDADE DE VIDA UMA VISÃO DO CICLO DE VIDA ECO-CAPACIDADE Fonte: BRITTO, 2003. Produtos e serviços que atendem necessidades reais Uso do ACV para gerenciar os produtos e serviços Respeito aos limites suportados pelos meios naturais 13 Assim, uma empresa eco-eficiente, ao mesmo tempo em que reduz o uso de recursos naturais, economiza recursos financeiros, preserva o meio-ambiente, sendo ainda competitiva ao apresentar novos produtos e serviços. 1.2.2- Circulação de Recursos A Ecologia Industrial é um conceito que visa prevenir a poluição pela redução da demanda de matérias primas e energia, assim como visa à diminuição da devolução de resíduos e poluentes à natureza. Para isso, busca a utilização de matérias primas e energia em ciclos fechados entre sistemas industriais, de modo análogo aos processos naturais e, também se compatibilizando com a natureza quando não for possível a eliminação de resíduos, possibilitando aos meios naturais o processamento de tais resíduos. Segundo KIPERSTOK e MARINHO (2001, p. 272): [...] A lógica de processamento interno de materiais e energia, com a recuperação de valores incorporados a elementos que seriam rejeitos de alguns processos, por sua utilização como alimentação de outros, é que leva à associação com a ecologia. O modelo ideal de referência seriam os sistemas naturais, fechados, nos quais não cabem os conceitos de resíduos e matéria prima. Não sendo possível repeti-los, procurar-se-ia aproximar-se deles o mais possível, reduzindo as pressões externas [...]. Desta maneira, segundo a Ecologia Industrial, o que é considerado resíduo em um processo produtivo é aproveitado como insumo em outro processo, formando, assim, um circuito fechado de aproveitamento de insumos e fazendo com que a quantidade de matéria que transita na biosfera se mantenha constante. Isso resulta em redução tanto da demanda de recursos naturais quanto na redução de resíduos, minimizando a pressão sobre a natureza. Na FIGURA 03 podemos ver o funcionamento gráfico do conceito básico da Ecologia Industrial. FIGURA 03 – Gráfico conceitual da Ecologia Industrial (TEIXEIRA e CÉSAR, 2004) 14 Aqui, segundo TEIXEIRA e CÉSAR (2004), o planeta Terra ainda é gerador de recursos e de energia, mas obtidos de maneira eficiente e sustentável. Esses recursos serão usados ao máximo das possibilidades num circuito fechado de aproveitamento de insumos entre indústrias, diminuindo sua demanda. No caso de geração de resíduos, estes são mínimos, ecologicamente compatíveis e não poluentes, minimizando, assim os impactos ambientais negativos. 1.2.3 – Análise do Ciclo de vida A Análise do ciclo de vida, ou ACV pode ser descrita como uma técnica de avaliação que relaciona atividades, produtos e materiais do início ao fim de sua existência, desde o projeto e suas pesquisas, passando pela seleção, extração, transformação das matérias primas; construção e produção dos produtos relacionados; processos de marketing, transporte, venda e distribuição, uso das mais variadas formas, incluindo o uso correto, incorreto, alternativo, reuso, desuso; desmontagem, conserto, remontagem, reaproveitamento de partes, reciclagem ou compostagem nas mais variadas formas e finalizando com o descarte final. Isso pode ocorrer não em todos esses itens nem nessa ordem propriamente dita. Enfim, segundo MANZINI (2002. p. 99), Análise de Ciclo de Vida é a implicação “do projeto de um produto, ou projeto de sistema produtivo inteiro entendido exatamente como o conjunto de acontecimentos que determinam o produto e o acompanha durante o seu ciclo de vida”. Sua importância para o meio ambiente é exatamente planejar a eco-eficiência, conhecer os impactos ambientais referentes a todas as etapas descritas, e, principalmente, permitir aos projetistas melhores escolhas no processo de desenvolvimento de um produto, desde o berço até o descarte final ou túmulo. Daí o ACV ser conhecido igualmente como análise do berço ao túmulo de um produto. É necessário, portanto, metodologias e estratégias para delimitar o número de detalhes, a profundidade dos estudos e o número de subsistemas a serem englobados em cada etapa no estudo de ACV. Quando um projeto de Design leva em conta o ciclo de vida de produtos em uma análise mais completa, que envolve todas as etapas de produção, iniciando pelo projeto à produção propriamente dita; incluindo fatores que não estão ligados diretamente no processo produtivo como o transporte, armazenagem e terminando no uso, reuso, reciclagem e descarte deste produto; análise de todo o conjunto de acontecimentos e toda a infra-estrutura associada que determina um produto, tem-se o conceito de Life Design Cicle (projeto do ciclo de vida), ou seja, a inclusão no design do produto o projeto do seu 15 ciclo de vida, adequando-o aos aspectos ambientais todo o seu ciclo de vida desde seu berço ao túmulo, já que [...] o objetivo do Life Cycle Design é o de reduzir a carga ambiental associada a todo o ciclo de vida de um produto. Em outras palavras, a intenção é criar uma idéia sistêmica de produto, em que inputs de materiais e de energia bem como o impacto de todas as emissões e refugos sejam reduzidos ao mínimo possível, seja em termos quantitativos ou qualitativos, ponderando assim a nocividades de seus efeitos (MANZINI, 2002, 99). Esta visão mais ampla leva a considerar, na fase de projeto, todas as atividades que caracterizam o produto durante o ciclo de vida, relacionando-as com o conjunto das trocas (os inputs e outputs dos vários processos) que elas terão com o meio ambiente (MANZINI, op cit). Um dos requisitos considerados pelo ACV é o uso de matérias primas e insumos de baixo impacto ambiental no maior número possível de etapas em toda cadeia produtiva do produto (IDHEA, 2004). 1.2.4 – Eco-Design Normalmente o termo inglês Design, cujo termo em português que mais se aproxima é Desenho Industrial, se refere a uma atividade multidisciplinar que converge conhecimentos de tecnologia, criatividade, arte, ergonomia dentre outros, com o propósito de projetar, através de metodologias próprias, soluções para problemas concretos. Eco-Design, conhecido também como DfE (Design for Envoironment ou Projeto para o Ambiente), é uma especialização do design que leva em consideração requisitos ambientais em todo ciclo de vida dos produtos. Apesar de ser uma atividade em evidência desde a Revolução Industrial, apenas na década de 1970 e que se começou a repensar o Design no que se refere a sua importância sobre problemas do mundo real, ou seja, problemas ambientais e sociais majoritariamente. Um dos seus primeiros pensadores, Victor Papanek, definiu assim o novo discurso para o Design: [...] A ecologia e o equilíbrio ambiental são os esteios básicos de toda a vida humana na Terra; não pode haver vida nem cultura humanas sem ela. O design preocupa-se com o desenvolvimento de produtos, utensílios, máquinas, artefatos e outros dispositivos, e esta atividade exerce uma influência profunda e direta sobre a ecologia. A resposta do design deve 16 ser positiva e unificadora; deve ser a ponte entre as necessidades humanas, a cultua e a ecologia (PAPANEK, 1998. p 31). O projeto orientado ao meio ambiente é o que estabelece, então, o conceito de EcoDesign que pode ser definido como um método projetual que incorpora as questões ambientais como parâmetros projetuais básicos para o desenvolvimento de projetos (BARBOSA, 2002). Isso significa que os produtos desenvolvidos a partir dos princípios do Eco-Design são produtos não só ecologicamente corretos, mas também economicamente, culturalmente e socialmente corretos. Estes produtos devem poluir menos, usar menos recursos naturais, menos energia, e ainda devem ser de fácil aquisição, buscando respeitar culturas locais. Tais produtos devem manter estas características em todo seu ciclo de vida, desde o momento em que é obtida a matéria prima de fabricação até seu descarte final. Tal comportamento pode ser confirmado pela Análise do Ciclo de Vida. 1.3 – REQUISITOS DO ECO-DESIGN Tradicionalmente, o projeto de design busca satisfazer as necessidades do consumidor, e atender também o setor produtivo, usando um conjunto de requisitos de várias origens que determinam o desenho de um produto; segundo MARGOLIN e MARGOLIN (2004) o objetivo primário do Design é atender o mercado, criando produtos para venda. Desta forma, um bom produto de design deve atingir os seguintes objetivos, conforme descritos na TABELA 02: TABELA 02 – Critérios gerais de Design OBJETIVOS DESCRIÇÃO UTILIDADE Garantia de uma performance mínima no cumprimento de uma função USABILIDADE Ter uma interface ergonômica para facilitar o uso e proteger o usuário ESTETICAMENTE DESEJÁVEL DE FÁCIL PRODUÇÃO VENDÁVEL DIFERENCIAÇÃO Ter aparência em sintonia com o desejo do usuário – beleza Projeto que o torne factível industrialmente Que atenda exigências mercadológicas Que seja inovador, atendendo a novas funções e oferecendo novos benefícios Baseado em BETTERPRODUCTDESIGN, (2002), MORAES (2004), LÖBACH (2001) Para atender os requisitos ambientais, no entanto, além dessas metas, deve haver outras específicas para que o produto seja eco-eficiente, e para se tornar operacional, o Eco-Design segue princípios ou critérios que permitem um desempenho ambiental otimizado. Diferentes critérios podem ser usados de maneira sistemática tal como visto na TABELA 03: 17 TABELA 03 – Critérios de Design para requisitos ambientais CRITÉRIOS AÇÕES • • REDUÇÃO DO USO • • DE RECURSOS • NATURAIS • • • Simplificação da forma; Agrupar funções / multi-funcionalidade / multi-configuração / modularidade; Evitar superdimensionamentos; Diminuir volume e peso; Diminuir uso de água; Usar materiais vindos de fontes abundantes; Usar materiais abundantes e sem restrição de uso; Reduzir o número de tipos de material de fabricação; • Reduzir energia na fabricação; REDUÇÃO DO USO • Reduzir energia na utilização do produto; DE ENERGIA • Reduzir a energia no transporte; • Usar fontes de energia alternativas, renováveis e limpas • • REDUÇÃO DE • RESÍDUOS • • Usar materiais reciclados e recicláveis; Usar materiais compatíveis entre si; Usar materiais que provenham de refugos de processos produtivos; Evitar material que produza emissões, resíduos ou efluentes tóxicos; Usar tecnologias e processos produtivos de baixo impacto e eco-eficientes; AUMENTAR A • Facilitar manutenção e substituição de peças; DURABILIDADE • Incentivar mudanças culturais (p. ex: descartável x durável); • Na mesma função ou em outras funções; PROJETAR PARA O • Possibilidade para reconhecer peças e materiais; REUSO • Possibilidade para um segundo ciclo de vida; • Projeto para revenda, redistribuição; • Facilitar desmontagem; PROJETAR PARA A • Possibilidade de ser recriado (re-design), sofrer adaptações melhorias e atualizações tecnológicas; REMANUFATURA • Projetar intercâmbio das peças; • Facilitar desmontagem; PROJETAR PARA A • Identificar diferentes materiais; RECICLAGEM • Agregar valor estético aos materiais reciclados; • Projeto para facilitar transporte e armazenamento; • Projeto para logística reversa, facilitando a recolha e transporte do produto após o uso para reuso ou reciclagem; OTIMIZAR A LOGÍSTICA • Projetar para que os produtos usem menos embalagem ou mesmo não usá-las; • Produção na exata demanda do consumo; • Trocar produtos por serviços; PLANEJAR FINAL DA • Utilizar materiais biodegradáveis e/ou compostáveis em produtos de vida útil breve; VIDA ÚTIL DOS • Possibilidade de ser usado como matéria prima para outros processos produtivos; PRODUTOS E • Utilizar materiais que possam ser incinerados para a geração de energia sem que produzam emissões tóxicas; MATERIAIS LEIS E NORMAS • Alcançar ou exceder metas regulatórias; • Preservar culturas, desenvolvendo produtos que preservem os recursos culturais e naturais locais; PROJETAR PARA • Gerar trabalho e empregos; SUSTENTABILIDADE • Buscar a manutenção de recursos humanos e econômicos nas comunidades locais, principalmente em zonas mais pobres evitando o êxodo para zonas ricas e populosas; SOCIO-AMBIENTAL • Contribuir para a educação sócio-ambiental dos usuários e seus vizinhos • Ser benéfico à saúde dos seres vivos e do eco-sistema • Promover custos competitivos sendo alternativa a produtos similares convencionais DIMINUIÇÃO DE • Permitir ser testado nos mesmos parâmetros técnicos de produtos convencionais CUSTOS • Economizar custos finais da produção Baseado em RAMOS E SELL (2002) e complementado por MANZINI (2002); MORIMOTO (2001); MASUI (2000); LINDBECK (1995) apud LIMA E FILHO (2002); BARBOSA (2002), SOUSA (2002), KIPERSTOK (2003); LEITE (2003); CASTILHOS (2003), JÚNIOR (2003), ROSE (2002), IDHEA (2004). 18 Para uma melhor integração das atividades do design, neste contexto, pode-se organizar os critérios por variáveis, passando a ser chamado de DfX ou Design para X variáveis, sendo que X representa as características que devem ser maximizadas e enfatizadas para atender um propósito específico, como visto na TABELA 04: TABELA 04 – Tipos de DfX X Df DIRIGIDO A: A ASSEMBLY (montagem) Facilitar a montagem, evitar erros de montagem, projetar peças multifuncionais, etc; C COMPLIANCE (conformidade) Cumprir as normas necessárias para manufatura e uso, como por exemplo, quantidade de substâncias tóxicas ou biodegradabilidade; D DISASSEMBLY (desmontagem) Possibilitar e facilitar a desmontagem do produto, facilitar a remoção e separação de peças, prever produtos modulados com partes de fácil desencaixe; E ENVIRONMENT (ambiente) ou Eco-Design Diminuir as emissões e os resíduos do produto desde sua fabricação até seu descarte, determinando o ACV do produto; L LOGISTIC (logística) Facilitar o transporte e armazenamento através do gerenciamento direto e reverso de materiais; minimizar embalagens; M MANUFACTURABILITY (processabilidade) O ORDERABILITY (ordenamento) Integrar o design do produto com os processos de fabricação, como processamento e montagem; Integrar o design no processo de manufatura e distribuição de forma a satisfazer às expectativas do consumidor; RELIABILITY (resistência) Atender condições de operação em condições de ambiente agressivo, como meios corrosivos ou de descarga eletrostática; RECYCLING (reciclagem) Permitir que partes dos produtos possam ser identificadas, separadas, recuperadas, reusadas. Determinar uso matérias primas recicláveis. Prever redesign, revenda e redistribuição; SL SAFETY AND LIABILITY PREVENTION (segurança e prevenção de falhas) Atender aos padrões de segurança, evitar usos equivocados, prevenção de falhas e de ações legais delas decorrentes; S(1) SERVICEABILITY (utilização) Facilitar a instalação inicial, o reparo e a modificação em campo ou em uso; TESTABILITY (testabilidade) Facilitar testes tanto no processo de fabricação como em campo; SUSTEINABILITY (sustentabilidade) Procurar favorecer a preservação dos recursos social, econômica e cultural de maneira que não cause impactos negativos na sociedade humana nem no meio ambiente; R(1) R (2) T (2) S Baseado em JUNIOR (2003) e complementado com LIMA E FILHO (2002), SOUZA (2002), SOUZA & PEREIRA (2003); GRAEDEL e ALLENBY (1995), MAZINI (2002). Nesta organização acima, as variáveis X são interdependentes e consideradas simultaneamente, se integrando e se complementando, em prol de um objetivo comum. O designer, desta forma, pode usar uma lista de requisitos que irão otimizar o produto tanto na função especificada quanto na busca de uma melhor eficiência ambiental. Por 19 exemplo, o design para reciclabilidade (DfR(2)) depende do design para desmontagem (DfD) pois este, ao facilitar a separação de peças, facilita o reaproveitamento e reciclagem das mesmas. O Eco-Design, ou DfE – Design for Environment – faz parte das ferramentas propostas pelo DfX (ROSE, 2002), propondo o uso de parâmetros ambientais no projeto de produtos e se integrando aos demais fatores X pelo uso do ACV, quando em cada etapa de vida do produto, desde a extração de material, manufatura, transporte, uso e descarte, há o uso dos requisitos dos demais fatores X, buscando interferir positivamente na eco-eficiência do produto desde sua fase de projeto. 1.3.1 – Atuação do Eco-Design no ciclo de vida do produto. A visão geral da aplicação do eco-design no ciclo de vida de um produto pode, então, ser visualizada na FIGURA 04, que demonstra graficamente as informações descritas anteriormente: FIGURA 04 – Ciclo de vida do produto e intervenção do Eco-design na cadeia produtiva (TEIXEIRA e CÉSAR, 2004 – MODIFICADO) A partir da FIGURA 04 pode-se enumerar cada etapa da produção de um produto, desde a extração da matéria virgem até o pós-uso, explicando as intervenções possíveis do Eco-design e as possibilidades tecnológicas mais compatíveis com o meio ambiente: Fluxo tradicional da produção: Descrito no NIVEL 01 como produção linear. O planeta Terra é visto aqui como fornecedor de matéria virgem, de água e de energia. Esses recursos são beneficiados e transformados em produtos que são distribuídos 20 para o consumo e, então, são finalmente descartados. Fabricação Eco-eficiente: representa o primeiro passo em direção a eco-eficiência. A aplicação de tecnologias e de gerenciamento (NÍVEL 02) que buscam a prevenção da poluição durante os processos industriais. Aqui o Eco-design propõe projetos que facilitem a manufatura, montagem e testes, que reduzem o uso de água e energia na fabricação, que faça uso de materiais e de processos de fabricação não poluentes, uso de materiais reciclados e recuperados. Otimizar a logística: prevê produtos que facilitem o transporte e armazenamento, que usem o mínimo ou zero de embalagem, que facilitem ao máximo o acesso dos consumidores aos produtos e que permitam o retorno dos produtos ao setor produtivo após o uso, com a aplicação da logística reversa (LEITE. 2003). Maximizar o uso: tudo que signifique aumentar a utilidade e a vida útil do produto além de diminuir o consumo de água e energia durante esta fase de uso. Assim, o Eco-Design prevê produtos multifuncionais, multiconfiguráveis, duráveis, econômicos, que possam ser de fácil manutenção, que possam ser substituídos por serviços, que possam servir a vários usuários (uso compartilhado), que tenham interface ergonômica e que agreguem valor estético, fortalecendo sua relação com o usuário. Reaproveitamento de produtos e peças: formas de agregar valor e recuperar produtos considerados no fim da vida útil com destinos ao descarte. Deve-se optar primeiramente pelo reuso do produto e depois pela a remanufatura através da reutilização das peças em boas condições de uso: Reuso: prevê produtos que possam ser recuperados, consertados, atualizados, revendidos e reusados. Conta para isso com a durabilidade: física, funcional, utilitária e estética, além do seu valor de mercado. Depende de uma logística reversa que permita sua devolução para o setor de recondicionamento (LEITE, 2003) e de revenda. Prevê o reuso na função original do produto ou em outras funções. Remanufatura: prevê produtos que possam ser desmontados, ter peças de fácil identificação, separação, limpeza e reparação, para permitir o aproveitamento de peças em outros produtos na mesma função ou em funções diferentes da original. Conta para isso a possibilidade de desmontagem, modularidade, montagem. 21 Reaproveitamento de material: Formas de reutilização da matéria prima residual oriunda tanto de processos industriais quanto oriunda de produtos e bens de consumo descartados, atitude que além de reutilizar matéria descartada, ajuda tanto a diminuir a demanda por matéria virgem e recursos naturais como também ajuda a poupar energia, dependendo do material e do processo de reaproveitamento. A meta é o reaproveitamento de 100% do material e para isso o Eco-Design prevê produtos de fácil desmontagem, com partes e peças modulares facilmente identificáveis permitindo separação rápida, diminuição do número de materiais de fabricação no produto, uso de material de fabricação reciclados e recuperados (oriundos de processos de reciclagem e de recuperação) e recicláveis ou recuperáveis (que permitam ser reciclados ou recuperados), uso de materiais similares e compatíveis entre si, uso de materiais não tóxicos e uso de materiais cuja reciclagem tenha impactos ambientais mínimos. Recuperação: prevê a reutilização da matéria prima de processos industriais ou do uso de produtos de consumo descartados, reintroduzindo-a em sistemas de produção igual ou similar à etapa produtiva inicial e em produtos similares à primeira transformação. Tal processo pode usar etapas de limpeza e purificação que demandam água e energia, mas que permite aproveitamento total de matérias primas de grande consumo tal como o vidro, o PET, o aço, o alumínio. Reciclagem: prevê a reutilização da matéria prima oriunda tanto de processos industriais considerada como resíduo (reciclagem pré-consumo ou pósindustrial), quanto àquela contida nos produtos finalizados e considerados no fim da vida útil, não sendo mais possível o seu reuso nem sua remanufatura (reciclagem pós-consumo). O material reciclado é então usado em processos e em produtos diferentes dos usados nos processos iniciais, já que há a possibilidade de perda de características que dificultam a reintegração destes materiais nestes processos iniciais. Os processos de reciclagem e de recuperação, dependendo das circunstâncias e do material a ser reprocessado, podem fazer uso de tecnologias que demandem de energia, novos insumos, água, o que fazem a reciclagem e a recuperação uma forma menos ecologicamente eficiente quanto o reuso ou a remanufatura, mas muito mais eficiente que a extração de matéria virgem, além de promover a utilização de materiais e insumos em ciclos fechados de produção, principalmente quando não há mais as possibilidades de reuso nem de remanufatura. 22 Opções para obtenção de energia: prevê produtos construídos com materiais que permitam a queima para obtenção de energia, assim há o reaproveitamento de energia. Esta retorna para a linha de produção e consumo, ajudando a diminuir a pressão exercida ao meio ambiente pela demanda energética. Neste caso, a matéria prima contida nos produtos é considerada como combustível e pode ser transformada em energia por processos termoquímico ou bioquímico, gerando calor, gás metano (combustível) ou eletricidade (KIPERSTOK 2003). A alternativa da queima de material deve ser a mais eco-eficiente possível, visto que pode apresentar o problema da geração de emissões atmosféricas prejudiciais ao meio ambiente. Técnicas como a biodigestão, que produzem gás metano como combustível e biofertilizante, são preferidas a processos convencionais de queima. Essa opção deve ser usada quando todas as demais já foram usadas. Para tal, o Eco-design prevê produtos construídos com materiais não tóxicos, biodegradáveis, compostáveis (com a possibilidade do uso do composto orgânico como fertilizantes ou adubos) e energéticos, assim como também prevê projetos de fácil desmontagem. Resíduos ecologicamente compatíveis: prevê a reintegração ao meio natural tanto do produto quanto do material de fabricação no final de sua vida útil. Portanto, é imperativa a característica de ser não poluente e não tóxico, assim como deve ter volume mínimo. Além disso, devem ser construídos de materiais biodegradáveis, putrescíveis ou compostáveis. O propósito de reunir vários requisitos, como vistos na TABELA 03 e 04, é de buscar requisitos compatíveis que torne um produto proposto realmente eco-eficiente, pois apenas o uso de um destes requisitos não garante sua boa performance ambiental. Baseado nos critérios citados acima, a decisão de elaborar um produto deve levar em conta algumas pré-condições já que a utilização de apenas uma estratégia ou o foco sobre a redução de um único impacto ambiental pode trazer resultados indesejados, quando se considera a performance ambiental do produto, desde o início e até o final da sua vida útil (RAMOS E SELL, 2002). A partir do esquema mostrado pela FIGURA 04, pode-se entender o caminho do resíduo estudado e traçar a melhor estratégia para aproveitá-lo num novo ciclo de produção. A possibilidade do uso de subprodutos industriais, antes considerados resíduos, como mostra a FIGURA 04, abre a possibilidade do aproveitamento destes em unidades fabris com objetivos sociais, gerando mais empregos e mais trabalho pela simples possibilidade da transformação de resíduos em novos produtos. 23 CAPÍTULO 2 A MADEIRA: INDÚSTRIA E RESÍDUOS Este capítulo apresenta a madeira como material de produção, sua origem, suas características, o problema do desmatamento, as diferenças da madeira serrada e reconstituída. Apresenta ainda os resíduos de pós-fabricação da indústria da madeira, como são gerados e como são usados tradicionalmente. 2.1 – A MADEIRA COMO RECURSO FLORESTAL A floresta é descrita como “a fonte de recursos naturais mais importante da terra” (CORSON, 2002, p.103). Entre estes recursos florestais, a madeira aparece como matéria prima considerada básica, mas também decisiva para o desenvolvimento do homem, aparecendo em todas as civilizações como a matéria prima de maior acesso e facilidade de manuseio. Dela se obtém a lenha para o fogo, proporcionando o cozimento, calor e proteção; construção de utensílios, armas, ferramentas e habitações; transporte como as embarcações, veículos; uso como carvão para extração e modelagem metalúrgica e de outros materiais como o cimento, cal, argamassa, telhas e blocos. A madeira pode ser considerada um agente que promove a revolução tecnológica em prol do progresso do homem. Sua importância para os povos antigos era tal que os gregos e os romanos a chamavam de “a matéria” referindo-se a uma matéria prima básica e elementar. A área ocupada pelas florestas, plantadas ou naturais, eram estimadas em 3,454 milhões de hectares em 1995, sendo que 55% desta área está localizada nos países em desenvolvimento ou sub-desenvolvidos e apenas 3% da área mundial é de floresta plantada, o restante 97% são de florestas naturais (SERRANO et al, 1998). SERRANO (op cit) ainda resume em sete países que, em 1995, detinham cerca de 60% das florestas mundiais, como visto na FIGURA 05: FIGURA 05 – Países com a maioria da área florestal mundial, em porcentagem. Fonte: SERRANO, 1998 24 2.2 – CAUSAS E CONSEQUENCIAS DO DESMATAMENTO Atualmente a devastação das florestas atinge valores preocupantes. Os dados mostram, em nível global, que a devastação varia de 10 a 20 milhões de hectares florestais por ano, (ou 10 quarteirões a cada minuto). As principais causas são, segundo CORSON (2002), a agricultura, a pecuária, os projetos de desenvolvimento em larga escala tais como a construção de estradas ou hidroelétricas, e a extração da madeira. Estes fatores são impulsionados pelo aumento da demanda por área para expansão territorial e pelos recursos florestais, áreas estas geralmente desmatadas pela aplicação de fogo, acarretando perda de biodiversidade (GERWING e VIDAL, 2002). A floresta ainda é considerada como uma fonte de recursos, entendida como inesgotável ou como um “obstáculo ao estabelecimento e desenvolvimento das populações humanas” (IBAMA, 2002 p.100). A indústria da madeira tem uma participação importante no desmatamento. Segundo CORSON (2002 p. 120) “a cada ano 5.000.000 de hectares, no mínimo, de florestas tropicais são cortados para a obtenção da madeira” sendo que as áreas mais devastadas estão na Ásia e África Ocidental. Este desmatamento é impulsionado pela pobreza dos países do terceiro mundo que são obrigados a transformar seus recursos naturais em recursos financeiros. O Brasil não está distante desta realidade, apesar de se considerar que a Amazônia ainda está no começo da exploração. As conseqüências são inúmeras e na maioria muito grave. Algumas chegam a ser irreversíveis e de grande prejuízo para o meio ambiente. A TABELA 05 discrimina as principais conseqüências do desmatamento. TABELA 05 – Conseqüências do desmatamento CONSEQUÊNCIA EXTINÇÃO DA BIODIVERSIDADE DESLOCAMENTO DE CULTURAS LOCAIS DEGRADAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA ALTERAÇÃO CLIMÁTICA PERDA DE RECURSOS NATURAIS DESCRIÇÃO A quebra dos elos do ecossistema põe em risco de extinção plantas e animais. O desaparecimento de algum destes elos, causado pela destruição de um habitat, atinge todo o ecossistema. As atividades humanas são apontadas como uma destas causas. Culturas que tradicionalmente habitam as regiões atingidas de forma harmônica com o meio ambiente são obrigadas a deslocar-se para outras regiões. Geralmente são culturas com conhecimentos sobre a biodiversidade do antigo habitat e que desaparecem ou se acomodam nos grandes centros urbanos, geralmente em locais pouco apropriados tal como favelas. Portanto são, sobretudo conseqüências sociais e econômicas. A degradação das florestas atinge diretamente tanto a qualidade do solo, que depende dos nutrientes para renovar a fertilidade quanto a qualidade ou mesmo a existência da água, pois a floresta age como reservatório natural de água regulando o ciclo das águas. A destruição das florestas atinge, portanto, o controle das enchentes, das secas e da erosão. As florestas são as responsáveis pelo controle do clima tanto regional quanto global. O desaparecimento de florestas descontrola primeiramente os ventos e as chuvas em nível regional. Em seguida descontrola principalmente o ciclo do carbono contribuindo com o desequilíbrio e aumento do efeito estufa. O aumento de temperatura global e o aumento do nível dos oceanos são apenas duas das conseqüências do desmatamento. A grande variedade de recursos contida na biodiversidade é um fator valioso para a obtenção de novos produtos agrícolas, industriais, medicinais e genéticos. A extinção desta biodiversidade pelo desflorestamento porá um fim a estes recursos naturais. Fonte: CORSON (2002), IBAMA (2002), MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI (2003), MARTINI (1998) 25 2.3 – A EXPLORAÇÃO DA MADEIRA NO BRASIL O Brasil ocupa lugar de destaque quanto à extensão de suas florestas. Sua cobertura florestal natural é atualmente de 550 milhões de hectares e que significa 14,5% da cobertura florestal nativa mundial (IBAMA, 2002). De acordo com o Museu Paraense Emílio Goeldi (2003), a “Amazônia é a maior e a mais diversa região de florestas tropicais no mundo”. Apesar da importância destas florestas, a devastação tem muito contribuído com o quadro de destruição florestal mundial atual e a diferença entre os dados de SERRANO (1998) na FIGURA 05, onde o Brasil contribui com 15,9% da cobertura mundial, e os dados do IBAMA acima são a prova do avanço do desflorestamento. Segundo o IBAMA (2002), o desmatamento de floresta nativa é preocupante apesar do aumento do consumo de madeira oriunda de florestas plantadas, basicamente pinnus e eucalipto. Esse consumo é o resultado da procura por madeira que alimenta os seguintes produtos dos setores industriais, segundo a TABELA 06. Podemos verificar, o peso de cada setor na extração, sendo que o setor de papel e celulose, por não usar madeira nativa e sim plantada, possivelmente não faça pressão na mata nativa. TABELA 06 – Consumo de madeira industrial em toras no Brasil no ano de 2000 (103 m3) PRODUTO NATIVAS PLANTADAS TOTAL 0 32.000 32.000 0,00 Carvão Vegetal 11.800 33.400 45.200 26,1 Lenha Industrial 16.000 13.000 29.000 55,2 Serrados 34.000 15.100 49.100 69,2 2.050 3.950 6.010 34,1 0 5.000 5.000. 0,00 63.850 102.460 166.310 38,4 Papel e Celulose Lâminas e Compensados * Painéis Reconstituídos TOTAL Fonte: IBAMA (2002 p. 106) % NATIVA *incluindo MDF e Chapas de Fibra Neste universo acima descrito, o mercado brasileiro tornou-se um dos grandes consumidores de madeira, rivalizando o consumo interno com o volume exportado, sendo que o consumidor brasileiro ainda não está consciente da diferença ou importância entre a madeira plantada e a nativa. Segundo SOBRAL (2002. p.7), o estado de São Paulo, que é o maior consumidor de madeira do Brasil principalmente de madeira nativa amazônica, [...] adquiriu o equivalente a 6,1 milhões de metros cúbicos em tora de madeira amazônica em 2001. A quase totalidade (99%) dessa madeira foi consumida no próprio Estado. Desse total, 69% foram comercializados pelos depósitos de madeira e 21% foram consumidos pelas indústrias de produtos de madeira. Por fim, a construção civil vertical (edifícios) adquiriu 10% da madeira amazônica no Estado. 26 Conforme SOBRAL (2002), as indústrias paulistas de beneficiamento de madeira consumiram 1,3 milhões de m3 de madeira amazônica em toras, transformada em móveis populares, 69%; móveis finos, 4%; forros, pisos e esquadrias, 14% e casas préfabricadas, 13%. Dentro da indústria de pisos e esquadrias, por exemplo, a madeira amazônica nativa corresponde a 98% de sua matéria prima e na indústria de móveis finos, 64%. A FIGURA 06 resume, segundo ABIMCI (2003), a cadeia produtiva do setor madeireiro brasileiro e que complementa as informações da TABELA 04. Aqui estão a fase de extração da madeira virgem (de floresta nativa ou plantada) na forma de toras sólidas e o beneficiamento quando a madeira é transformada em vários tipos de produtos para vários fins diferentes. FIGURA 06 – Cadeia industrial da madeira. Fonte: ABIMCI 2003 A participação da madeira nativa na indústria brasileira não é nova e um dos primeiros produtos a ter importância histórica é exatamente a madeira do Pau-brasil. Atualmente a Mata Atlântica foi quase exterminada e a Floresta Amazônica é alvo da exploração. No entanto, segundo CÉSAR, (2002), com o esgotamento das florestas de araucária no sul do Brasil, na década de 1966, se criou incentivos fiscais para o plantio de florestas de pinus e de eucalipto, sendo um fator determinante para a indústria madeireira nacional. A TABELA 07 mostra a extensão da produção nacional de madeira de floresta plantada no Brasil em 1998. Segundo dados da ABIMCI (1999), o consumo de madeira em geral está vinculado a três ramos industriais: a indústria moveleira, a indústria de embalagens e a construção civil. TABELA 07: Total de áreas plantadas em Pinus e Eucalyptus. AUTOR CALIL GARLIPP TOTAL DE ÁREA PLANTADA MILHÕES HECTARES 6.290.000 PINUS EUCALIPTO 1.862.000 3.231.000 OUTRAS ESPÉCIES 1.200 4.805.930 1.840.050 2.965.880 ---- Fonte: Adaptado de CALIL (2000) e GARLIPP (2000). 27 A grande demanda por tal produção vem, no entanto, das empresas de papel e celulose além da produção de lenha e carvão, que tem uma grande demanda nacional conforme a TABELA 06. 2.4 – CARACTERÍSTICAS DA MADEIRA 2.4.1 – Origem da madeira A madeira é um material orgânico de origem vegetal. Está presente na terra desde o período carbonífero e em grandes quantidades. Para alguns autores, a madeira é um recurso inesgotável, pois está em contínua formação. No entanto, deve-se considerá-la como um recurso renovável, dependente de boas condições naturais para sua existência. As árvores, seres vivos que fornecem a madeira, estão divididas em duas classes de diferentes características de madeira. Podemos ver na TABELA 08 as características destas subdivisões com exemplos. TABELA 08 - Subdivisões das árvores FAMÍLIA DESCRIÇÃO EXEMPLO GIMNOSPERMAS Árvores típicas do clima frio formando grandes florestas no hemisfério Norte, com algumas espécies tropicais e existentes desde o período carbonífero. Tem a copa de folhas em forma de cone, daí serem conhecidas também como coníferas. Sua madeira é mole e macia e têm grande importância comercial PINUS, ARAUCÁRIA, CIPESTRE, SEQUOIA. ANGIOSPERMAS São de evolução mais recente que as gimnospermas, desde o cretáceo e se dividem em dois subgrupos: MONOCOTILEDÔNEAS: São as palmas e as gramíneas. As palmas têm tronco de baixa duração e baixa resistência mecânica, apresentando difícil processamento. As gramíneas têm fibras duras e compactas que podem ter grande resistência mecânica como o bambu. DICOTILEDÔNEAS: São as árvores comuns, chamadas também como folhosas, presentes em todo o globo terrestre principalmente nos trópicos. São chamadas de madeiras duras, que tem grande resistência mecânica e portanto grande valor comercial e cuja copa de folhas se espalha de forma não ordenada. PALMAS: CÔCO, DENDÊ, CARNAUBA. GRAMÍNEAS: BAMBU EUCALÍPITO, CEDRO, MOGNO, IPÊ, PEROBA, PAU D’ÁRCO, JACARANDÁ. Fonte: HELLMEISTER, 1983. Dos exemplos citados na TABELA 07 e 08, destacam-se o pinus e o eucalipto, como madeiras escolhidas pelas indústrias madeireiras para o cultivo em florestas plantadas e certificadas. Apresentam rápido crescimento, facilidade de manejo e grande retorno comercial, apesar de serem espécies não nativas do Brasil. Atualmente ocupam a maioria dos investimentos no plantio de florestas renováveis, apesar de haver pesquisas no Brasil para que espécies nativas ocupem este lugar e permita melhor adequação com o meio ambiente. Esta dissertação baseia-se exatamente nos resíduos de pinus e de eucalipto plantados em florestas renováveis do Litoral Norte da Bahia. 28 2.4.2 – Componentes da madeira A madeira é formada por compostos químicos orgânicos baseados principalmente em 50% de carbono e 43% de oxigênio (HELLMEISTER, 1983). Os principais componentes são a Celulose e a Lignina, cuja proporção entre si depende da espécie de árvore e que operam funções vistas abaixo: • Celulose: Polímero natural (C6H10O5) que forma as fibras que constituem grande parte da massa da madeira, conferindo-a resistência mecânica. • Lignina: Composto de alto peso molecular que age como uma matriz de resina ou adesivo que une as fibras de celulose entre si. 2.4.3 – Componentes do tronco Um tronco de árvore pode ser estruturado em camadas sendo que nem todas destas partes têm um destino no comercio tradicional. A FIGURA 07 nos mostra as principais camadas de um tronco de madeira seguido da explicação funcional e importância comercial, visto na TABELA 09: FIGURA 07 – Camadas do tronco de árvore. Fonte: SZÜCS, 2003 – modificado TABELA 09 – Camadas do tronco de árvore CAMADA FUNÇÃO NA ÁRVORE DESTINO COMERCIAL Proteção contra impactos e agentes atmosféricos. Adubo – Paisagismo – Lenha Usualmente descartada como resíduo. ALBURNO Camada viva de formação recente, com canais de seiva bruta, células em plena atividade de proliferação e responsável pelo crescimento da árvore. CERNE Camada de madeira dura, formando anéis enquanto a árvore cresce. Desenvolve-se a partir do amadurecimento do alburno. Partes mais importantes do tronco, do ponto de vista comercial e industrial, para o ramo de móveis, objetos e utensílios, construção civil, lenha e outros fins. Grandes partes dos resíduos são geradas a partir do processamento mecânico destas partes. MEDULA Parte central do tronco, geralmente inseparável do cerne, mas que se apresenta, às vezes, como um material mole com rachaduras, buracos e partes podres. CASCA Fonte: TEIXEIRA (1999); SZÜCS (2003); FREITAS (2000) Usado junto com o cerne quando não se verificam os defeitos citados ao lado. Ocorrendo tais defeitos, a medula é descartada como resíduo. 29 2.4.4 – Vantagens e desvantagens do uso da madeira como material Como é visto acima, excluindo a casca e a medula quando se encontra estragada, o tronco é totalmente usado para fins comerciais e industriais, fortalecendo a afirmação sobre a nobreza do material. O uso da madeira como material de fabricação têm vantagens e desvantagens como listadas por TEIXEIRA (1999) na TABELA 10: TABELA 10 – Vantagens e desvantagens da madeira como material CLASSIFICAÇÃO DESCRIÇÃO VANTAGENS • Material de fácil obtenção, renovável por reflorestamento; • Relativamente leve de acordo com a espécie; • Facilidade no preparo industrial e de desdobro (corte em dimensões exigidas previamente); usando pouca energia; • Simplicidade e esteticamente agradável; • Bom isolante térmico em relação à pedra, concreto ou metal; elétrica (seca) DESVANTAGENS • Instabilidade dimensional: muda de dimensão de acordo com a umidade e temperatura, com possibilidade de rachar e empenar; • Higroscopicidade, ou a capacidade de absorver ou eliminar água; • Resistência unidirecional, somente no sentido das fibras, transversalmente é frágil; • Biodegradável pela ação de insetos e fungos; • Ignífuga, altamente combustível (quando não usados para esse fim específico); Fonte: TEIXEIRA, 1999 2.5 – PRODUTOS E PAINÉIS DE MADEIRA Excetuando os produtos energéticos (carvão e lenha), e os produtos de celulose, principalmente o papel, os principais produtos da madeira são construídos a partir da madeira sólida ou de chapas de madeira reconstituída. Esta produção é vista na FIGURA 06. Atualmente há um grande desenvolvimento e consumo de madeiras reconstituídas, sendo que o Brasil tem um desempenho fraco quanto à produção, consumo e exportação de madeiras reconstituídas. A FIGURA 08 mostra a participação do Brasil no comércio de PARTICIPAÇÃO MUNDIAL chapas de madeira aglomerada e de MDF. FIGURA 08 – Panorama mundial da produção de aglomerados e MDF em 2002. Fonte: JUVENAL (2003) 30 Este gráfico mostra que, em 2002, a participação do Brasil na produção mundial de madeira reconstituída era e ainda é muito pequena. Segundo IBAMA (2002), grande parte da madeira usada no Brasil é a madeira sólida serrada que contribui com o volume de 49.100 m3 do total da produção nacional de madeiras, que é de 166.310 m3, sendo que 69,2% destas madeiras serradas são de árvores nativas como visto na TABELA 06. 2.5.1 – Madeira sólida serrada Trata-se do uso de chapas ou peças oriundas do tronco que foi beneficiado apenas pelos processos de desdobro, serragem e secagem. Assim, estas partes são basicamente a madeira sólida, FIGURA 09, que são usadas pela indústria na fabricação de inúmeros produtos, principalmente para o setor mobiliário e a construção civil. Suas propriedades são as que foram apresentadas no item 2.4. FIGURA 09: Produção de madeira serrada. Baseada em TEIXEIRA (1999) 2.5.2 – Madeira reconstituída As tecnologias usadas na indústria da madeira permitem que algumas das desvantagens descritas no item 2.4.4 sejam minimizadas. O tratamento químico adequado protege-a contra fungos e insetos. A tecnologia da madeira reconstituída, ou transformada, segundo TEIXEIRA (1999), permitem corrigir limitações físicas, tornando chapas e painéis como produtos com propriedades homogêneas em toda a sua extensão através da reorientação das partículas e das fibras. Esses produtos, segundo CÉSAR (2002), destacam-se por serem de maior confiabilidade, estabilidade e pela possibilidade de produzir chapas de grandes dimensões. Outro fator positivo das chapas reconstituídas [...] é o aproveitamento significativo da tora de madeira, uma vez que a obtenção da madeira serrada resulta em perdas consideráveis. Neste aspecto, a constituição destes produtos permite inclusive o aproveitamento, em alguns casos, de resíduos de madeira como matéria-prima, tais como: pó-de-serra, refugos de usinagem, lascas, costaneiras, maravalhas, etc. Trata-se então de um produto ecologicamente correto [...] (GONÇALVES e CASTRO, 2003). 31 A seguir, na TABELA 11, está a lista dos principais tipos de madeira reconstituída. Nesta tabela buscou-se descrever as principais variedades de chapas de madeira reconstituída industrializadas: TABELA 11 – Classificação e descrição das madeiras reconstituídas TIPO CHAPAS DE PARTÍCULAS AGLOMERADO ou chapa de partículas (PB – Particule board) OSB Chapas de flocos orientados (Oriented Strand Board) FORMAÇÃO Formado por partículas de madeira secas e prensadas com cola sob ação de calor em disposição multicamada. Possibilidade de usar resíduos como matéria prima. Formado por flocos ou lascas de madeira orientadas em direções alternadas, dispostos em camadas coladas e prensadas ao calor. Impossibilidade de usar resíduos como matéria prima. DESCRIÇÃO USO Chapas de boa resistência física, com a tendência a se fragmentar com o tempo ou na presença de água. Móveis e na construção civil como pisos, degraus e divisórias. Usa cerca de 100% do tronco Chapas de grande resistência mecânica, melhor que o aglomerado e igualando as chapas de compensado, e de madeira sólida, mesmo usando madeiras de menor qualidade. Usadas na construção civil em peças estruturais, móveis, divisórias e outros objetos. Usa cerca de 100% do tronco CHAPAS DURAS CHAPAS DE FIBRA (HB – Hard Board) Construídas a partir da polpa de madeira, reduzidas à fibras que são prensadas a quente sem a adição de colas ou outros adesivos e resinas. Possibilidade de usar resíduos como matéria prima. MDF ( médium density fiberboard) ou chapas de média densidade Construídas a partir da polpa de madeira, reduzidas à fibras que são prensadas a quente com a adição de colas ou outros adesivos e resinas. Possibilidade de usar resíduos como matéria prima. Chapas de boa resistência física e de densidade variando entre semiduras, duras, extraduras e isolantes. Popularmente conhecidas como Eucatex. Indústria moveleira, divisórias e isolamento acústico Usa cerca de 100% do tronco Material de grande homogeneidade, grande resistência física. Facilmente trabalhável, permitindo usinagem e acabamento de grande qualidade em toda a sua extensão. Usa cerca de 100% do tronco Indústria moveleira em geral, objetos e utensílios, perfis de madeira. EXEMPLO 32 CHAPAS DE LÂMINAS TABELA 11 – Classificação e descrição das madeiras reconstituídas (continuação) COMPENSADOS (Plywood) Chapas de lâminas finas de madeira coladas alternadamente com orientação das lâminas de forma perpendicular às fibras. Impossibilidade de usar resíduos como matéria prima. SARAFEADOS Constituídas por um sanduíche de duas faces de laminados ou chapas de fibra com o interior formado de ripas de madeira maciça. OUTROS Possibilidade de usar resíduos como matéria prima. MADEIRA + CIMENTO Material produzido a partir da mistura de partículas de madeira com aglutinante mineral, ou cimento, e prensadas a frio. Usa processos de fabricação mais simples que os demais processos. Possibilidade de usar resíduos como matéria prima, tanto de madeira quanto as escórias minerais. Chapas de grande resistência devido a orientação perpendicular das lâminas. Usa cerca de 50% a 60% do tronco Grande resistência física e com excelentes propriedades estruturais. Usa cerca de 100% do tronco Grande resistência física e com excelentes propriedades estruturais. Resistente ao fogo, à água e umidade e a agentes biodegradantes. Material final similar ao Fibrocimento Indústria moveleira, naval; divisórias e tapumes. Industria da construção civil e transporte. Indústria da construção civil, vedação verticais, divisórias e fôrmas para concreto. Construção civil, peças pré-fabricadas, peças para uso externo, móveis urbanos. Usa cerca de 100% do tronco Fonte: CÉSAR (2002); GONÇALVES e CASTRO (2003); IWAKIRI (2003); MENDES, ALBUQUERQUE & IWAKIRI (2003); LATORRACA (2003), TIBURCIO e GONÇALVES (1998). Nota-se, na tabela acima, a variedade de tipos de chapas de madeira reconstituída. Atualmente no mercado surgem novas variedades de uso mais específicos, mas que seguem o mesmo conceito de usar a madeira em formas diferentes da madeira sólida. Nota-se também que é grande a possibilidade de uso do resíduos de madeira como matéria prima para fabricação da maioria destas chapas. Segundo LATORRACA (2003), o emprego de tais chapas é promissor, pois, além de oferecer excelentes possibilidades de uso, aumenta o valor agregado à madeira, ao utilizar os resíduos como matéria prima, minimizando o uso de depósitos e possibilitando a instalação de novas empresas. Esta afirmação vai ao encontro do conceito da Ecologia Industrial quanto ao uso de resíduos de uma indústria como matéria prima por outras industrias. 33 As vendas dos produtos listados na TABELA 11 atingiram, em 2002, o volume de 3.800.000 m3 (OLIVEIRA, 2003). O desempenho nacional das principais madeiras reconstituídas pode ser visto na FIGURA 10 que indica os aglomerados como a madeira VENDAS NO BRASIL reconstituída mais importante. FIGURA 10 – Vendas das principais chapas de madeira reconstituída no Brasil. Fonte: OLIVEIRA (2003) 2.6 – GERAÇÃO DOS RESÍDUOS INDUSTRIAIS DE MADEIRA Os resíduos de madeira são classificados como resíduos ligno-celulósicos, ou seja, contêm majoritariamente lignina e celulose, têm origem tanto em atividades industriais quanto atividades rurais, [...] como exemplo podemos citar todos rejeitos oriundos da madeira ou da indústria madeireira, até mesmo móveis velhos, restos em madeira de demolições, resíduos de culturas agrícolas ou de beneficiamento de produtos agrícolas, postes, estacas, dormentes, paletes e embalagens em fim de vida etc. A exploração florestal é uma grande fonte de resíduos ligno-celulósicos. Até mesmo no lixo urbano é encontrada uma porcentagem significativa de resíduos ligno-celulósicos proveniente de utensílios e embalagens em madeira [...] (QUIRINO, 2004). Inicialmente o resíduo de madeira pode ser considerado como bastante heterogêneo devido às muitas variedades apresentadas, às diversas granulometrias da serragem e às diversas condições de armazenamento, que alteram suas características físicas, e à dispersão geográfica que dificulta seu transporte. São de baixa densidade e não são tóxicos se no seu volume não houver outros materiais, principalmente produtos químicos tais como conservantes, fungicidas, inseticidas, vernizes, tintas, dentre outros, que possam emitir gases ou vapores tóxicos durante processos de reciclagem ou de queima (QUIRINO, op cit). Livre destes materiais contaminantes o resíduo pode ser considerado como banal e não inerte, pois é biodegradável, classificado pela NBR 10004 (ABNT, 34 1987) como classe 2, com possibilidades de ser reaproveitado em processos de reciclagem por processos diferentes dos processos industriais iniciais e de ser transformado em produtos de uso similar ou diferente ao da madeira serrada inicial. Os resíduos industriais de madeira são oriundos do processamento mecânico das toras de madeira sólida. Durante o corte e descasque, processamentos de desdobro, desengrosso, serragem e acabamento, há a geração de vários tipos de sobras sólidas peculiares a cada etapa citada. São assim vistos como resíduo, pois, segundo a revista REFERÊNCIA, resíduo de madeira é considerado a “sobra após uma ação ou processo produtivo e passam a ser descartados e acumulados no meio ambiente” (REFERÊNCIA, 2003. p. 28). De forma a sistematizar estes processamentos da madeira sólida, GONÇALVES E RUFFINO (1989) estabelecem etapas produtivas junto com os resíduos gerados por cada etapa respectiva, como visto na FIGURA 11 e na TABELA 12, a discriminação de cada tipo: FIGURA 11 – Etapas da industrialização e resíduos de madeira . Fonte: GONÇALVES E RUFFINO (1989) Comumente, estes resíduos são dispostos em silos expostos ao tempo ou em terrenos nas cercanias do setor produtivo. Este tipo de armazenamento pode levar à degradação do resíduo pelo encharcamento por água de chuva ou apodrecimento por agentes biológicos. Estes resíduos são discriminados na TABELA 12 que usa ilustrações para melhor entendimento da natureza física do resíduo. 35 TABELA 12 – Discriminação dos resíduos de madeira RESÍDUO DESCRIÇÃO EXEMPLO GALHOS E ÁPICES Sobras do processo para deixar apenas a árvore livre de partes finas e perpendiculares à parte principal do tronco. CASCAS Sobra do processo de descasque, quando se retira toda a parte da proteção natural do tronco (casca). COSTANEIRAS Sobra no formato de meia-lua contendo uma parte de madeira e casca não removida, proveniente da redução da tora em peças de seção retangular ou quadrada. DESTÔPO (tocos) Proveniente do corte das pontas estragadas ou inúteis dos troncos, tábuas ou pranchas. SERRAGEM Proveniente da ação mecânica de serras e máquinas de desbaste da madeira. Para cada tipo de máquina ou de serra há um resíduo peculiar, mas podem-se classificar tais sobras como finas ou grossas, conforme mostradas abaixo: • SERRAGEM GROSSA Formada de lascas, flocos, maravalha e cavacos. Mantêm uma boa quantidade das fibras do tronco. • SERRAGEM FINA Formada por pó de serra de diferentes tamanhos de partícula. Apresenta-se parecida como a farinha de mandioca PÓ DE LIXAMENTO Proveniente do processo de lixamento, na fase de acabamento, de uma peça. Apresenta-se como um pó muito fino cuja partícula varia de acordo com o número de aspereza da lixa. SOBRAS Peças processadas e acabadas, apresentando boa qualidade técnica e comercial, mas que não foram usadas nos produtos finais. REJEITOS Peças que, ao sofrer o processamento, ficaram abaixo dos padrões técnicos ou comerciais geralmente por estarem quebrados, empenados, rachados ou trincados. Fonte: Autor (2004) 36 A TABELA 12 visa apenas caracterizar por grupos os resíduos gerados no processo produtivo das indústrias que tem a madeira como matéria prima. A quantidade de tipos de resíduos, seja na forma de serragem ou na forma de partes sólidas, no entanto, é muito maior e de difícil classificação. Parte-se do princípio de que as características dependem das seguintes variáveis, organizadas após entrevista na empresa estudada: • Da espécie da madeira beneficiada, já que sua dureza e sua cor significam variação dos resíduos quanto a sua apresentação física; • Do tipo de produto fabricado. Como exemplo o resíduo do processamento de toras é totalmente diferente do resíduo do processamento de chapas de MDF ou de aglomerado; • Do tipo de indústria que irá determinar o tipo de madeira e conseqüentemente, o tipo de resíduo: indústrias de extração e desdobro, que trabalham apenas com toras geram um tipo de resíduo diferente das indústrias moveleiras, que trabalham principalmente com madeira reconstituída, tal como o MDF e o compensado. • Do tipo de máquina usada. Cada máquina produz um resíduo peculiar e diferente dos resíduos de outras máquinas. Também influenciam a variação do tipo de lâminas na mesma máquina e a calibração das máquinas para cada tipo de corte. • Da granulometria das partículas, visto que um tipo de resíduo têm diversas granulometrias; • Da ocasião e das circunstâncias. Há momentos em que são acionadas apenas algumas das etapas de processamento, gerando pouca variação de resíduos e volume variável destes resíduos. Portanto, do processo produtivo onde a madeira sólida ou reconstituída é a matéria prima, pode-se dizer que o resíduo gerado tem características múltiplas e variáveis de difícil classificação. Passa-se então a denominar o resíduo destas indústrias como um MULTIRESÍDUO. 2.6.1 – Uso tradicional do resíduo de madeira Tradicionalmente, o resíduo de madeira tem dois fins principais: como material para queima para produção de energia térmica e/ou elétrica, e o uso em granjas e currais como forragem de piso (cama de galinha). Outros usos menos importantes são o uso como adubo e também na indústria de madeiras reconstituídas, como descrita na 37 TABELA 11. Este uso não é uma prática largamente usada, pois há a preferência da industria de madeiras reconstituídas por insumos virgens, conforme informação obtida por correio eletrônico da DURATEX (LUNARDI, 2004) e descrito no ANEXO V. Esta madeira virgem pode vir tanto de florestas plantadas quanto de florestas nativas, apesar da grande oferta de resíduos de madeira. A TABELA 13 discrimina os principais usos do resíduo de madeira atualmente: TABELA 13 – Uso tradicional dos resíduos de madeira USO RESÍDUO DESCRIÇÃO ADUBO Serragem em geral e madeira sólida picada. Usada in natura ou após etapas de compostagem para proteção do solo e como adubo. Inclui a cama de galinha usada. CAMA DE GALINHA Serragem em geral Serragem macia para contato com animais. Após o uso, a serragem suja com estrume pode ser usada como adubo. CARVÃO E COMBUSTÍVEIS Pontas, tocos, sobras, rejeitos, costaneiras, cascas e galhos. Processos industriais para produção de carvão, álcool, metanol e gás combustível; ENERGIA ELÉTRICA Pontas, tocos, sobras, rejeitos, costaneiras, cascas e galhos. Briquetes de serragem prensada. Usado como lenha em usinas termoelétricas para obtenção de energia elétrica. Há o problema da emissão de poluentes na atmosfera. ENERGIA TÉRMICA Pontas, tocos, sobras, rejeitos, costaneiras, cascas e galhos. Briquetes de serragem prensada. Queima para obtenção de calor. Usado em fornos de padarias, pizzarias, olarias e em caldeiras industriais. Há o problema da emissão de poluentes na atmosfera. EXTRAÇÃO DE ÓLEOS E RESINAS Serragem em geral Extração industrial de óleos e resinas para uso como combustível, resinas plásticas, colas e essências. MADEIRA RECONSTITUÍDA Serragem em geral Na fabricação de chapas de madeira reconstituída. Fonte: JOHN (2003), TEIXEIRA (2003), LATORRACA (2003), GONÇALVES E RUFFINO (1989); QUIRINO (2004), MADEIRA (2004, 1 e 2) O uso de resíduos na forma de briquetes (serragem prensada em pequenos blocos cilíndricos), como fonte de energia, tem sido descrito como uma boa saída de produção de energia que preserva o meio ambiente, ao usar os resíduos na substituição á madeira comum, principalmente a madeira nativa, TEIXEIRA (2003). Ao mesmo tempo, há uma grande demanda pela serragem como cama de galinha, assim como os resíduos de madeira sólida como lenha. Esses usos, no entanto, não oferecem alternativa ao material a não ser seu desaparecimento durante os processos de queima ou de biodegradação, quebrando e impedindo o ciclo fechado de circulação de recursos proposto pela Ecologia Industrial, visto que os demais usos usam um volume muito pequeno de resíduos. 38 Segundo QUIRINO (2004) o resíduo de madeira pode ter dois destinos: • Eliminação: Ação de se desfazer de um resíduo sem tirar nenhum proveito, como por exemplo, a incineração sem recuperação de energia. • Valorização: está ligada a alguma ação de desenvolvimento de processo tecnológico, podendo ocorrer através de diversas maneiras, como reciclagem, reutilização, regeneração Há duas maneiras de valorizar o resíduo de madeira, segundo QUIRINO (2004), que são a valorização energética, quando o destino do resíduo é o aproveitamento da biomassa como fonte de energia, e a valorização da matéria, quando a biomassa do resíduo é aproveitada como matéria prima para fabricação de outros materiais. FIGURA 12 – Maneiras de valorização do resíduo de madeira Baseado em QUIRINO (2004), p. 6 (redesenhado) Essas maneiras são mostradas na FIGURA 12 onde é destacado o WPC (wood plastic composites), material compósito constituído de serragem de madeira e resinas plásticas com grande potencial de aproveitamento dos resíduos para a produção de diversos tipos de produtos e que será explicado nos capítulos seguintes. 39 CAPÍTULO 3 APLICAÇÃO DO RESÍDUO DE MADEIRA: MATERIAIS, PROCESSOS E PRODUTOS Este capítulo apresenta o eco-compósito de madeira como forma alternativa de utilização de resíduos e alguns produtos já fabricados com estes materiais. Apresenta uma visão geral de eco-compósito, além dos processos de fabricação mais usados na indústria de transformação de compósitos de plásticos reforçados com fibras. 3.1 – REVISÃO DO USO DE RESÍDUOS DE MADEIRA EM PRODUTOS INDUSTRIAIS O uso de resíduos de madeira e de outros materiais vegetais para a fabricação de produtos vem crescendo, impulsionando pesquisas e abrindo mercado. “O crescente interesse por pesquisas de materiais alternativos vem sendo incentivado por instituições de todo país, decorrência direta da crescente escassez mundial de madeiras de qualidade” (CHIELLE, 2003). Fuad-Luke (2002) mostra uma lista de materiais ecoeficientes, baseados principalmente em resíduos industriais e resíduos agrários e que têm potencialidade de substituir grande parte de materiais tradicionais tal como a madeira serrada. Os trabalhos pesquisados referem-se ao uso de resíduos de madeira ou similares na fabricação de chapas aglomeradas, construídas por processos convencionais, ou o uso de compósitos de cimento e madeira, e o compósito de madeira e plásticos, WPC, que usam geralmente resinas termoplásticas ou termofixas e processos de moldagem convencional, tal como a prensagem a frio. 3.1.1 – Chapas de madeira aglomerada Considerado o processo de reaproveitamento de serragem tradicional e convencional, como mostra a Pesquisa desenvolvida por GONÇALVES e RUFFINO (1989), que propõe a reciclagem em várias etapas da serragem fina e grossa de indústrias de beneficiamento de madeira para a fabricação de chapas de aglomerados de três camadas, uma interna feita de serragem grossa e as externas feitas de serragem fina. O produto final foi uma chapa de aglomerado para uso em móveis ou para 40 construção civil. Este estudo inclui o uso de outros tipos de resíduos de madeira, diferentes da serragem, tais como ripas, sarrafos, destopos e tábuas, na fabricação de chapas sarrafeadas, painéis de divisórias, forros e revestimento de paredes, embalagens, componentes para móveis. O uso destes outros resíduos não inclui processos de produção tal como a serragem usada na fabricação das chapas de aglomerados, sendo estas, portanto, um produto distinto dos demais. Também há alternativas para adubos e fertilizantes e extração de resinas. Este estudo propõe o uso total dos resíduos de madeira. Entretanto, há necessidade de várias etapas de reciclagem, segundo os autores, para adequar o resíduo para os processos de fabricação, e que podem prejudicar o produto quanto aos objetivos de preservação ambiental como já descrito anteriormente. A pesquisa desenvolvida por NASCIMENTO (2003) busca uma chapa de aglomerado usando madeiras nativas do Nordeste brasileiro. Como alternativa de matéria prima há “o aproveitamento de resíduos industriais grosseiros tais como costaneiras, sobras de destopo, miolos de toras laminadas e cavacos de madeira oriundos do beneficiamento de indústria de móveis e carpintaria” que foram coladas e prensadas ao calor, com a adição de adesivos. A principal fonte de matéria prima, no entanto, são as madeiras nativas no Nordeste, que, por se apresentarem em pequenas dimensões e com troncos tortuosos, seriam transformadas em partículas. A pretensão da pesquisa é oferecer uma alternativa industrial e econômica viável para esta região do Brasil e o resultado foi uma chapa de aglomerado que foi usada para a construção de diversos protótipos de móveis e utensílios domésticos e para escritórios (vistos nas FIGURAS 13) e demonstram as potencialidades do material proposto, usando a estética da própria superfície da chapa e recebendo apenas o acabamento superficial em verniz. O uso dos resíduos por sua vez, significa nesta pesquisa, etapas de reciclagem para tornar viável o seu aproveitamento em tais chapas. A) B) FIGURA 13 - A) Mesa Piano B)Porta Lápis - Fonte: NASCIMENTO (2003) 41 3.1.2 – Compósitos de matriz cimentícia Inúmeras são as pesquisas sobre a possibilidade do uso de resíduos agroindustriais como componente de materiais compósitos de matriz cimentícia. O objetivo não é só dar vazão ao volume de resíduos ou diminuir o volume de cimento pela substituição deste por tais resíduos, mas, principalmente, é o aproveitamento das características de reforço estrutural que tais resíduos trazem como benefício. SILVA (2002 -2) e SAVASTRANO Jr. (2000), descrevem exatamente as potencialidades da substituição do cimento-amianto por cimento de escória mineral e fibras vegetais, tidas como resíduos nas siderurgias e nas indústrias agrícolas respectivamente. O desempenho deste material composto atingiu, nos ensaios dessa pesquisa, um nível que o potencializa como substituto do cimento-amianto em telhas. Um material similar foi proposto na tese de doutorado de GRANDI (1995), um composto de cimento portland e serragem de madeira do tipo pó de lixamento e que se mostra adequado para confecção de placas pré-moldadas para utilização em forros e paredes. SAVASTRANO Jr. (1992), em tese de doutorado, demonstra o desempenho das fibras vegetais como reforço de cimento portland, tendo este atingido uma potencialidade satisfatória como reforço de pastas cimentícias, apesar da degradação das fibras pela umidade, o que reduz o desempenho mecânico do compósito a longo prazo. A possibilidade do uso de resíduos de madeira como componente neste tipo de compósito é considerada uma boa alternativa tanto para a construção de chapas e painéis para uso na construção civil, quanto para a preservação dos recursos florestais que inclui também um processo de fabricação simplificado e de baixo custo, similar ao processo de produção de aglomerados de madeira com resinas sintéticas (LATORRACA, 2003). 3.1.3 – Compósitos de matriz polimérica São materiais alternativos aos tradicionais e que estão aumentando sua participação no mercado. Usam como matéria prima principalmente madeira reflorestada e resinas sintéticas, por exemplo, o MDF e o OSB. Por sua vez, são inúmeros os produtos com possibilidade de serem construídos com os eco-compósitos, principalmente o WPC descrito a seguir, visto que estes foram idealizados para substituir as matérias primas tradicionais nas suas mais variadas aplicações. Produtos para as indústrias de construção civil, indústria de transportes, moveleira, artigos esportivos entre outros. ENGLISH et al (1996), referem-se às boas qualidades da farinha ou pó de resíduos de madeira e de papel usados como carga em resinas termoplásticas. Segundo os 42 autores, este resíduo em pó pode substituir as cargas inorgânicas e minerais, tais como talco ou carbonato de cálcio, na mesma função com as vantagens ecológicas da redução de resíduos sólidos e servindo, também como exemplo de aplicação da reciclagem de resíduos de madeira. As vantagens são o baixo custo de aquisição de matéria prima, o preço acessível dos produtos gerados além das boas propriedades mecânicas do compósito. Resultado similar conseguiram CORREA et al (2003) quanto à substituição de cargas minerais e fibras de vidro por pó de resíduos de madeira o qual é aplicado em um compósito com uma derivação do polipropileno. O resultado foi um “compósito que apresenta ganhos significativos de rigidez em relação aos compósitos não-modificados independentemente do tipo de farinha de madeira empregada” (CORREA et al, 2003). Outras pesquisas referem-se a compósitos que usam resíduos agro-industriais tal como a pesquisa apresentada por BISWAS et al (2004), que descreve o uso de compósitos baseados em resíduos agroindustriais, tal como fibras da casca do coco, bambu, cascas de cereais (arroz, trigo) e CNSL (líquido da casca de caju) Com este material foi possível construir vários produtos destinados à construção civil e à indústria moveleira entre outros, como mostra a TABELA 14. No entanto, a necessidade da cura à pressão e à alta temperatura como descrito em tal pesquisa indica o uso substancial de energia. No Brasil, várias pesquisas têm sido feitas: CARVALHO (2003, 1 e 2) vêm encabeçando as pesquisas sobre eco-compósitos baseados em fibras de sisal e côco, SILVA (2003) estudou o compósito sisal / poliuretano baseado em óleo de mamona; CITÓ (2004) e CITÓ et al (1998) que estudaram compósitos de fibras vegetais e CNSL. Também se aproxima do compósito proposto o material denominado Maderon,, (MANZINI, 2002), desenvolvido a partir de resíduos de cascas de noz e amêndoas trituradas pulverizadas com resinas sintéticas. O Maderon permite fácil moldagem e acabamento superficial e tem potencial para substituir as madeiras em diversas aplicações. Há a possibilidade de trocar a matriz sintética por resinas naturais. A TABELA 14 lista produtos construídos com os compósitos baseados em resíduos das indústrias agro-industriais incluindo resíduos de madeira. Mostra a potencialidade de compósitos quanto à variedade de aplicações que vão de perfilados, chapas de vedação e produtos para construção civil, produtos da indústria moveleira e objetos utilitários como bandejas entre outros. Alguns destes produtos são construídos com matéria prima similar ao WPC, mas a sua natureza conceitual, de ser construído com resíduos agro-industriais e resinas poliméricas, os fazem bons exemplos da aplicabilidade de resíduos como matéria prima para novos produtos. 43 TABELA 14 – Alguns produtos construídos com eco-compósitos PRODUTO COMPÓSITO APLICAÇÃO EIN Wood Madeira e/ou resíduos de madeira em pó + Resinas termoplásticas recicladas (poliestireno, polietileno) ou Resina termofixas (fenólicas, poliéster insaturado) CONSTRUÇÃO CIVIL Fachadas, decks, perfis estruturais, divisórias, basculantes, portas, janelas. INDÚSTRIA MOVELEIRA Móveis em geral, tampos de mesa, perfis, objetos utilitários e decorativos. OUTRAS APLICAÇÕES Equipamentos esportivos e de diversão, equipamentos e fôrmas Resíduos de madeira em pó ou de papel + Resinas termoplásticas recicladas de copos plásticos (polipropileno e polietileno) INDÚSTRIA AUTOMOTIVA Substitui peças de plásticos convencionais, tal como o ABS. INDÚSTRIA NAVAL Conteiners, equipamentos para barcos, pallets. INDÚSTRIA MOVELEIRA Móveis em geral, objetos utilitários e decorativos. Casca de arroz + Fibras de bambu + CNSL (cashew nut shell liquid) Resina da casca residual da castanha de caju CONSTRUÇÃO CIVIL Placas para fechamento vertical em casas populares, portas, esquadrias de janelas, divisórias. INDÚSTRIA MOVELEIRA Móveis, tampos de mesa, peças decorativas. Maderon Cascas de noz e amêndoas em pó + Resinas sintéticas ou naturais INDÚSTRIA MOVELEIRA Móveis, tampos de mesa, peças decorativas. Fibras e resíduos vegetais da Região Nordeste do Brasil + CNSL (cashew nut shell liquid) Resina da casca residual da castanha de caju OBJETOS UTILITÁRIOS e CONSTRUÇÃO CIVIL. Telhas, pisos, painéis, calhas Fonte: GLOBALCOMPOSITES (2004); MALI et al (2003); ENGLISH et al (1996); BISWAS et al (2004); MANZINI (2002); FUAD-LUKE (2002); RECICLÁVEIS (2004) 44 3.2 – MATERIAIS ECO-EFICIENTES Tomando como base os conceitos da Ecologia Industrial listados anteriormente, os materiais de fabricação de bens de consumo tornaram-se de importância fundamental no momento do projeto de produtos. O requisito é que tais materiais sejam eco-eficientes em todo ciclo de vida de um produto (MANZINI, 2002), se caracterizando por ter impacto mínimo ao ambiente e maximizar seu desempenho quanto aos requisitos de design (FUAD-LUKE, 2002), atendendo os requisitos de Eco-Design da TABELA 3 principalmente nos itens: • Redução do uso de recursos naturais; • Redução de resíduos; • Projetar para a reciclagem; • Planejar o final da vida útil dos produtos e materiais; Os materiais de fabricação eco-eficientes se caracterizam ainda pela energia consumida, armazenada e liberada no meio ambiente. Essa energia é relativa aos processos de extração, transformação, uso e descarte dos materiais na natureza. Para um material ser eco-eficiente essa energia deve ser mínima. Assim, quanto mais industrializado for o material, menos eco-eficiente ele será. Por outro lado, os materiais com alta energia incorporada têm a tendência de serem mais duráveis que os materiais mais naturais. Para certos bens de consumo, então, é mais interessante o uso de materiais mais duráveis que materiais menos duráveis, assim é importante considerar a energia incorporada no projeto de durabilidade do produto. Sendo assim, os materiais eco-eficientes devem ser de fácil reintegração aos processos industriais e/ou naturais. Estes materiais, segundo FUAD-LUKE (2002), podem ser separados em dois tipos: • Materiais da biosfera e litosfera: materiais de baixa energia incorporada, com a tendência de ser o mais in natura possível, sendo renováveis e/ou abundantes e que podem retornar a sua origem, se incorporando aos ciclos naturais por processos como a biodegradação. Toma-se como exemplo compostos derivados de vegetais. • Materiais da tecnosfera: tem alta energia incorporada por serem fruto de várias etapas de transformação industrial. São de baixa renovação e baixa incorporação aos ciclos naturais por serem geralmente de grande durabilidade ou imunes à decomposição, portanto, têm grande potencial poluidor se descartados na natureza. Porém muitos destes materiais podem ser reciclados, voltando aos ciclos industriais, o que minimiza os impactos ambientais negativos. 45 A relação dos materiais quanto ao consumo de energia é listado na TABELA 15: TABELA 15 – Valores de energia incorporada em materiais comuns TIPO DO MATERIAL ENERGIA MÉDIA INCORPORADA (mj/kg) MATERIAIS DA BIOSFERA / LITOSFERA Minerais cerâmicos – pedra; 2–4 Madeira serrada, bambu; 2–8 Algodão, seda, lã; 4 – 10 Madeira reconstituída; 6 – 12 MATERIAIS DA TECNOSFERA Aço carbono; 60 – 72 Termoplásticos em geral; 85 – 180 Alumínio e ligas leves; 235 – 335 Compostos Termoplásticos e Termofixos; 400 – 600 Ouro e demais metais preciosos; 5600 – 6000 Fonte: FUAD-LUKE (2002, p277) Tanto os materiais da biosfera – litosfera quanto os da tecnosfera podem ser ecoeficientes se reincorporados aos processos industriais ou retornando aos processos naturais no momento do descarte final, concordando com BARBOSA e TRAMONTANO (2004). Assim, um material eco-eficiente encaixa-se no conceito da circulação de recursos e do ciclo de vida descritos no Capítulo 1, principalmente se este material for subproduto de um processo produtivo que se torna matéria prima para outro processo. Como se vê acima, a madeira reconstituída incorpora grande energia em comparação com os outros materiais da biosfera, entretanto, incorpora bem menos energia que os materiais da tecnosfera. Além da eco-eficiência, os materiais para serem ecológicos devem atingir outras metas, principalmente quanto à diminuição ou eliminação de componentes tóxicos e danosos, ou que comprometam a segurança daqueles que entrem em contato com tal material em algum momento do ciclo de vida deste. 3.2.1- Classificação dos materiais eco-eficientes Pode-se classificar os materiais tanto quanto a disponibilidade na natureza quanto a possibilidade de reintegração destes materiais nos processos produtivos e nos processos naturais. A TABELA 16 mostra esta classificação e fornece os respectivos exemplos. 46 TABELA 16 – Classificação dos materiais quanto a disponibilidade e possibilidade de reintegração ORIGEM / DESTINO DESCRIÇÃO Materiais puros, sem misturas com outros materiais, que permitem fácil recuperação e reciclagem; MATERIAL ÚNICO OU UNIFORME EXEMPLO Alumínio, vidro, PET, aço; MATERIAL RESIDUAL Originários de resíduos industriais e de pós-uso dos consumidores; Papel, plásticos metal, madeira; MATERIAL ATÓXICO OU NÃO PERIGOSO Que não são capazes de promover perda de saúde aos seres vivos; Papel, plásticos, aço inox; MATERIAL BIODEGRADAVEL São degradados por agentes biológicos e facilmente reintegrados à natureza; Materiais de origem vegetal; MATERIAL RECICLAVEL São processados para um novo ciclo produtivo diferente do original; Metais, vidro, madeira; MATERIAL RECUPERADO São processados para um novo ciclo produtivo igual ao original; PET, vidro, alumínio, aço; MATERIAL ABUNDANTE Usados em grande quantidade devido a grande disponibilidade; Minerais e vegetais MATERIAL RENOVÁVEL São sempre disponíveis porque são sintetizados por processos naturais; Materiais vegetais e animais (ex. couro) MATERIAL DE FONTES SUSTENTÁVEIS Gerados a partir de gerenciamento eco-eficiente Madeira de floresta plantada; FONTE: FUAD-LUKE (2002), AMBIENTEBRASIL (2004), BARBOSA e TRAMONTANO (2004) Nota-se a importância de materiais que possam ser de origem residual e que possam ser abundantes, recicláveis e atóxicos tal como se caracteriza o resíduo de madeira. Uma das maneiras de viabilizar o resíduo de madeira em novos ciclos industriais é através da mistura com outros materiais em busca de um eco-compósito, um tipo de material descrito a seguir. 3.3 – ECO-COMPÓSITOS 3.3.1 – Definição de compósitos Segundo o boletim técnico da BRASKEM (2002 -1), “compósito é o material conjugado formado por pelo menos duas fases ou dois componentes, sendo geralmente uma fase polimérica (matriz polimérica) e uma outra fase de reforço, normalmente na forma de fibras”. Para tal é necessário haver uma interação física e/ou química entre o substrato e o reforço, com o objetivo da transferência de esforços mecânicos da matriz para o reforço. [...] Um compósito exibe uma proporção significativa das propriedades de suas fases constituintes resultando numa combinação de propriedades. Compósitos de matriz polimérica são constituídos por uma matriz (termoplástica, termorrígida ou elastomérica) e um reforço (fibras, cargas minerais etc). Estes materiais são usados na maior diversidade de 47 aplicações, como também nas mais diversas quantidades, levando-se em conta suas propriedades, temperaturas de uso, facilidade de fabricação e custos [...] (CARVALHO, 2003 – 2). As matrizes mais comuns são resinas derivadas do petróleo, termoplásticas e termofixas, tal como as resinas de poliéster. Os reforços mais usados são as fibras de vidro, de carbono e aramidicas. Outros componentes podem ser incluídos na formação de um compósito e um dos mais comuns são as cargas: material na forma de pó ou partículas que são misturados às resinas, alterando sua fluidez, cor, opacidade e propriedades físicas. O talco industrial é a carga de origem mineral mais usada. Os compósitos são fáceis de moldar, permitem formas complexas sem emendas, podem ser moldados na cor final do produto, permitem ótimo acabamento e são leves. Podem substituir metais como o aço ou alumínio e as madeiras em aplicações de uso geral na fabricação de móveis, utensílios domésticos, construção civil, indústria de equipamentos esportivos, tubulações industriais, assim como são bastante usados na indústria de transporte em automóveis, em embarcações e em aviões. 3.3.2 – Definição de Eco-compósito O eco-compósito surge quando os materiais componentes de um compósito (fibras e matriz) respeitam as metas ambientais, sendo tanto de origem vegetal, derivados de fontes renováveis, devendo ser atóxicos e abundantes e podendo ser ou não biodegradáveis, sendo neste caso, conhecidos como bio-compósitos (SCHUH e GAYER, 1997 apud SILVA 2003; BAINBRIDGE, 2004), como pode ser também originário do aproveitamento de resíduos agro-industriais, florestais ou ainda de outros tipos de resíduos tais como escória mineral e plásticos reciclados, aumentando ainda mais a sua eco-eficiência. Essas possibilidades o tornam um material inovador e não tradicional, com grandes possibilidades de uso na substituição de materiais tradicionais, baseados em matéria prima virgem (SILVA, 2002 -2). Portanto, existe a possibilidade da aplicação do conceito da ecologia industrial para o uso de eco-compósitos, no que se refere à circulação de resíduos entre indústrias, como foi descrito anteriormente. 3.3.3 – Reforços São impregnados pelas matrizes, quando líquidas, e tem função estrutural, dando resistência física e mecânica ao compósito. Segundo CARVALHO (2003 – 2) os reforços podem ser classificados como particulados ou fibrosos, e têm origens diferentes: 48 • Particulados: também chamados como cargas, apresentam-se como partículas esféricas, cúbicas ou plaquetas, aumentam a rigidez, podendo ou não aumentar a resistência do compósito. Devem ser inertes à matriz e podem ter origem mineral, vegetal ou artificial, como visto na FIGURA 14. As cargas tradicionais são o talco, carbonato de cálcio e caulim. A serragem de madeira exemplifica as cargas de origem natural. FIGURA 14 – Classificação das cargas quanto a composição (baseado em SETTI, 1994) • Fibrosos: fibras longas ou curtas de materiais inorgânicos e orgânicos incluindo as fibras vegetais, minerais ou artificiais. Aumentam a resistência física do compósito principalmente à tração, à flexão e ao impacto. As fibras tradicionais são artificiais e as mais usadas são as de vidro, carbono, amianto e aramidicas. Quanto aos reforços de fibras, podem ser classificadas por sua composição, tal como ZHU (1993 apud SILVA 2002 -2) organizou, mostrado na FIGURA 15. FIGURA 15 – Classificação das fibras quanto a composição (ZHU 1993 apud SILVA 2002 -2 - modificado) A possibilidade de mistura de reforços, aplicados simultaneamente num mesmo produto é muito benéfica, pois permite projetar laminados específicos com desempenho mecânico de acordo com as necessidades do produto. Neste contexto, pode-se usar qualquer material vegetal que tenha qualidades suficientes para serem usados como reforço, tanto na forma de particulados, tanto na forma de fibras, em matrizes poliméricas, incluindo a madeira. Os trabalhos acadêmicos pesquisados referem-se principalmente ao uso de vegetais fibrosos, cujas fibras seriam processadas industrialmente para o fim de 49 reforço. A origem destas fibras pode ser tanto insumos virgens, plantadas para este fim específico, como podem ser resíduos agro-industriais ou de outras indústrias, os quais seriam reciclados e aproveitados. A TABELA 17 relaciona algumas fibras vegetais mais usadas em eco-compósitos: TABELA 17 – Algumas fibras vegetais usadas em compósitos ORIGEM INSUMO VIRGEM E RENOVÁVEL FIBRA • • • • • • Sisal Bananeira Algodão Juta Bucha (esponja vegetal de banho) Malva • • • • • • Madeira Linho Piaçava Cânhamo Bromélia Bambu • Bagaço de cana e de outros vegetais • Casca do coco • Abacaxi (coroa) RESÍDUOS • Papel, papelão e celulose; • Cascas e palha de cereais: arroz, trigo, amendoim, etc. • Serragem e pó de Madeira Fonte: TANOBE et al (2003); BISWAS et al (2004); BAINBRIDGE (2004) A TABELA 17 mostra as fibras separadas por origem, sendo insumos virgens ou resíduos, no entanto, não há impedimento do uso de resíduos das fibras citadas como insumos virgens, se estes estiverem disponíveis. As vantagens e desvantagens do uso de fibras vegetais em compósitos são vistas na TABELA 18, segundo CARVALHO (2003-1): TABELA 18 – Vantagens e desvantagens das fibras naturais em compósitos. MODO VANTAGENS • • • • • • • • • • • • • • • • • • DESVANTAGENS • • • • Fonte: CARVALHO (2003 – 1) DESCRIÇÃO Baixo custo se comparadas às fibras artificiais Utilização completa da Fitomassa Ambientalmente amigáveis Não fraturam quando processadas Produzem resíduos de baixa toxicidade na incineração Não-Abrasivas aos equipamentos de processo Baixa densidade / Alto módulo específico Alta resistência, baixa elongação; Propriedades mecânicas: Peso vs Resistência Baixo consumo de energia Produtos recicláveis e biodegradáveis Eficientes na conversão de matérias-primas em produtos Atendem às pressões ambientais para o uso de Recursos Naturais Renováveis Contribuem com a criação de empregos rurais Marketing aproveitam matéria-prima biodegradável e produtos com baixa tecnologia e investimento podem ser gerados Produção depende do clima Grande variação nas propriedades Produção sazonal (coleta, armazenamento) Higroscópicas – absorvem umidade Dimensionalmente instáveis em contato com umidade Biodegradáveis – baixa resistência a fungos e bactérias Degradação da lignina em aproximadamente 200°C 50 Em relação aos requisitos de preservação ambientais, as fibras naturais podem ser usadas para substituir a madeira nativa, fibras sintéticas, como as de vidro e as poliméricas, e também os amiantos em diversas aplicações. No caso da substituição da madeira nativa, este material se mostra como um grande atrativo que ajudaria a preservar as reservas florestais (CARVALHO, 2003; BISWAS et al, 2004; BAKSI et al, 2004), desviando o consumo para os produtos construídos com eco-compósitos assim como abriria a possibilidade de criação de empregos e recursos em comunidades ou regiões mais pobres. No entanto, verificou-se nesta revisão bibliográfica a necessidade de várias etapas de preparo, no caso de insumos virgens, e muitas etapas de reciclagem, no caso de resíduos, que incluem tratamentos químicos, tratamentos térmicos, lavagens e processamentos mecânicos dentre outros que podem significar uma diminuição da ecoeficiência destes produtos em relação ao discurso das Tecnologias Limpas que prega a redução de gastos de recursos naturais, de energia e de resíduos na busca de um desempenho ambiental maior que nos processos habituais. 3.3.4 – Matrizes poliméricas As matrizes usadas nos compósitos são baseadas em resinas ou adesivos poliméricos, os quais são usados para impregnar os reforços, enquanto estiverem em uma fase líquida. Este processo geralmente é feito num molde do produto a ser construído. As resinas plásticas são constituídas essencialmente por polímeros orgânicos, podendo ser sintéticas, baseadas no petróleo, ou terem origem natural, oriundo de materiais vegetais. Permitem ser moldadas facilmente em formas variadas por processos que usam a fase líquida durante a moldagem (BRASKEM 2002-1). A maioria das resinas plásticas usadas atualmente é sintética. O uso de resinas plásticas industriais teve início na década de 1930, sendo que atualmente é um dos principais materiais industriais, transformados em bens de consumo, em embalagens, filmes e outros produtos. “A produção de plásticos no Brasil alcançou 3,4 milhões de toneladas em 1999, em comparação com 41,6 milhões de toneladas nos EUA e 26,3 milhões de toneladas na Europa (1994)” (FORLIN & FARIA 2002). As vantagens dos plásticos são inúmeras, e segundo GORNI (2004) algumas são: • Leveza • Boa resistência mecânica 51 • Transparência • Possibilidade de ser moldado na cor do produto • Baixas Temperaturas de Processamento, até 250ºC • Baixa Condutividade Elétrica • Baixa Condutividade Térmica • Baixo custo • Impermeabilidade • Toxicologicamente inertes As matrizes poliméricas podem ser classificadas como (BRASKEM (2002 -1); GORNI (2003)): • Termoplásticas: amolecem na presença de calor e enrijecem quando frios, permitindo serem usadas mais de uma vez, o que facilita processos de recuperação e reciclagem, apesar de alguns tipos sofrerem degradação a cada ciclo de amolecimento. São moldadas por equipamentos pesados e em moldes metálicos complexos e caros. Apesar de serem baseadas tradicionalmente no petróleo, algumas resinas termoplásticas têm como base matérias primas vegetais biodegradáveis. Exemplos: Poliestireno, Polipropileno, PET, PVC, Policarbonato, ABS, nylon. • Termofixas ou termorrígidas: são encontradas como resinas líquidas e que solidificam pelo calor ou pela ação de um agente catalisador. Uma vez solidificadas não mais voltam ao estado líquido inicial, portanto só podem ser usadas uma única vez. Tradicionalmente as resinas termofixas são originárias do petróleo, sendo que algumas são baseadas em óleos vegetais de recursos renováveis. As resinas termofixas podem ser moldadas por processos de fabricação bastante diferentes quanto à complexidade e custos, desde processos manuais e artesanais com o uso de moldes simples e baratos, passando por processos mistos de média complexidade entre manual e mecanizado até os processos caros e complexos como os usados nos termoplásticos. Exemplos: Poliéster insaturado, poliuretanos, resinas epóxi, resinas fenólicas, CNSL. • Elastômeros ou borrachas: Classificam-se entre os termoplásticos e os termofixos. Uma vez curados não se fundem na forma líquida inicial, mas apresentam características elásticas. O processo de reciclagem é mais difícil que a dos termoplásticos, sendo similar a dos termofixos. Podem ter origem vegetal ou sintética. Exemplos: Origem natural: látex - Origem sintética: silicone. 52 3.3.4.1 – Reaproveitamento de resíduos poliméricos Do ponto de vista ambiental os plásticos são vistos geralmente como vilões (OLIVEIRA e CASTRO 2002), pois, segundo BARBOSA e TRAMONTANO (2004), a baixa durabilidade do uso, que incentiva o descarte e o lixo, leva o plástico a uma categoria não ecológica. Os resíduos de plástico são classificados pela NBR 10004 como Classe 2 ou 3, não tóxico, são “considerados substratos inertes, com índices de decomposição variáveis (quase desprezíveis) por elementos ambientais, como luz, umidade, calor e microrganismos” (FORLIN e FARIA 2002). A maioria das resinas não é biodegradável ou não é reaproveitada, interferindo por muito tempo no meio ambiente pelo volume que se apresenta, deteriorando o aspecto de paisagens naturais, além de ser considerado um dos principais agentes na ocupação de espaço em lixões e aterros sanitários. No entanto, as pesquisas atuais os vêem como uma alternativa de material eco-eficiente, pois tendo esses materiais a capacidade de poder sofrer processos de recuperação e de reciclagem ou mesmo serem usados como combustíveis, isso os faz completamente eco-eficientes se associados com políticas e tecnologias que permitam tais processos. Segundo AMBIENTEBRASIL (2004), o uso de plástico reciclado economiza 70% de energia, durante quase a totalidade do seu ciclo de vida. O reaproveitamento pode ser também na forma de combustível (recuperação energética) como propõe GORNI (2004), mas, neste caso, há perda de matéria prima, quebrando o ciclo de circulação de material proposto pela Ecologia Industrial. Outras formas de reaproveitamento são a recuperação e a reciclagem. Os termoplásticos permitem vários ciclos de processamento, pois podem ser moldados várias vezes e são, portanto, materiais que permitem a recuperação ou reciclagem tanto para resíduos pós-industriais, quanto para o resíduo do pós-uso. Algumas resinas se degradam com um excesso de etapas de processamento e só permitem serem recicladas e usadas em outras finalidades. Outras, como o PET, permitem serem recuperadas com qualidade igual às resinas virgens várias vezes. Os termofixos e elastômeros só permitem a reciclagem devido à dificuldade de retornar à forma líquida inicial e principalmente se forem combinados com reforços de fibras e cargas que inviabilizam a recuperação da resina. Segundo RODRIGUES (2004), “os processos de reciclagem e aproveitamento de materiais compostos são mais complexos que os sistemas usados para reciclagem de materiais termoplásticos. No entanto, são mais eficientes e seu controle operacional é mais seguro, principalmente para os usuários dos produtos reciclados”. Há vários processos de reciclagem, mas os 53 que mostraram maior eficiência foram (RODRIGUES, 2004; BRASKEM 2002 -2; CARVALHO (2000); FORLIN e FARIA, 2002): Pirólise: processo de reciclagem térmica à 800Cº na ausência de oxigênio o qual produz gás e óleo combustível e também material sólido usado como carga na substituição de cargas minerais; Moagem: processo de reciclagem mecânica que transforma os resíduos em pó através da trituração. A moagem é a atividade de reciclagem mais barata e simples, sendo a mais usada no Brasil. O pó gerado pode ser usado tanto na indústria de compósitos quanto em outras indústrias, além de poder ser considerada mais eco-eficiente que a pirólise, levando em conta que esta tem grande consumo de energia para atingir a temperatura de operação. [...] Conforme as experiências realizadas, é possível utilizar até 30% de material reciclado em substituição à carga mineral e como parte do reforço, na composição do novo composto, sem perder as propriedades físicoquímicas do novo produto. Em alguns casos, tem-se conseguido valores superiores de resistência à tração e menor índice de contração do que nos compostos tradicionais. Outro fator importante é a diminuição, em até 10%, do peso final do produto moldado [...] (RODRIGUES, 2004). Outras aplicações para o pó de compósitos termofixos é a mistura com matrizes cimentícias na fabricação de argamassas e concreto para a construção civil, em matrizes cerâmicas na fabricação de telhas, como núcleo de blocos de concreto, em matrizes asfálticas para pavimentação de ruas e estradas e como massa de enchimento em diversos produtos (PLÁSTICO REFORÇADO, 2004; OLIVEIRA e CASTRO, 2002; CARVALHO; 2000). 3.4 – WPC - COMPÓSITOS BASEADOS EM MADEIRA A madeira ocupa um lugar de destaque como reforço em eco-compósitos. O compósito de madeira se refere ao uso da madeira, sob qualquer forma, reforçando resinas termofixas ou termoplásticas. Historicamente, o compósito constituído de pó de madeira e resinas fenólicas ficou conhecido como Baquelite, uma resina termofixa que foi o primeiro plástico sintetizado industrialmente (CLEMONS, 2002) e que revolucionou o design de produto, principalmente na fabricação de eletrodomésticos, nas décadas de 1920 até 1950 quando, então, novos plásticos o substituiram. Na década de 1970, um compósito de madeira e polipropileno foi largamente usado na indústria automobilística 54 sendo comercialmente conhecido como WOODSTOCK (CORREA et al, 2003; PEIJS, 2002). Atualmente, os compósitos de madeira são conhecidos como WPC (wood plastic compósites), sendo que as resinas mais usadas são as termoplásticas de baixo preço e de pós-consumo, tais como polietileno, polipropileno e poliestireno, podendo ser reforçadas com pó ou fibras de madeira numa proporção que vai de 2% à 50% (CLEMONS, 2002). Os compósitos são moldados por processos usuais da indústria de termoplásticos tais como a extrusão, compressão e injeção (ENGLISH, 1996 - 2). Seu mercado vem aumentando principalmente na Europa, EUA e Japão, tendo uma participação diferenciada das demais fibras naturais e sendo usado na indústria automobilística, moveleira e construção civil principalmente, em funções estruturais e não estruturais, sendo que as marcas industriais EINWood®, TECH-Wood® e FASAL® são desenvolvidas e comercializadas com teores de madeira de até 70% para diversas aplicações (PEIJS, 2002). De acordo com CORREA et al (2003), o resíduo de madeira em pó ou WWF (wood waste flour) como carga e reforço apresenta-se como alternativa de substituição da madeira convencional e ao reaproveitamento de resíduos. As vantagens são (ECKERT, 2000 e STARK,1996 apud CORREA et al, 2003): • • • • • • • • • • • Maior resistência à umidade, deterioração ambiental, a pragas e insetos; Apresentam melhor estabilidade dimensional; Resistência ao empenamento e trincas; Possuir menor custo de manutenção de rotina; Maior durabilidade em ambientes agressivos como marinas e piscinas; São totalmente recicláveis e imitam em aspecto a madeira; Dispensam o uso de proteção superficial como tintas e vernizes; São mais leves que os compósitos tradicionais – baixo peso; Trabalham com temperatura mais baixa, permitindo economia de energia; Aumento da resistência mecânica das matrizes; Baixa abrasividade, facilitando processos de acabamento; As limitações deste material são, primeiramente, a temperatura de trabalho limitada pela celulose, ou seja, em torno de 200ºC, e também problemas de interface de resinas termoplásticas com a madeira, que degradam a performance do compósito com o tempo. Apesar do uso majoritário de resinas termoplásticas no WPC, atualmente o uso de resinas e adesivos termofixos, tal como o poliéster insaturado, pode se tornar uma excelente alternativa aos termoplásticos na fabricação de produtos, principalmente devido 55 a acessibilidade à matéria prima e a possibilidade do uso de tecnologias simplificadas de moldagem. A madeira, usada na forma de fibra ou pó (farinha), pode ser oriunda de resíduo, o que diminui o preço e aumenta a disponibilidade da matéria prima. 3.4.1 – A eco-eficiência do WPC Como foi escrito no item 2.7.1, há muitas maneiras de reutilização da madeira considerada como resíduo, incluindo a tecnologia do WPC. Esta tecnologia, apesar de não ser um processo tradicional, está sendo citada pelos autores como uma das maneiras a se dar maior valor ao resíduo, evitando processos de descarte e eliminação, ou mesmo a queima. A FIGURA 16 mostra como QUIRINO (2004) considera o WPC no contexto de alternativas de aproveitamento e de valorização dos resíduos de madeira. FIGURA 16 – Contextualização do WPC Baseado em QUIRINO (2004), p. 6 (redesenhado) Do ponto de vista das Tecnologias Limpas, o WPC se associa aos conceitos da Ecologia Industrial se for considerado como um subproduto tanto de processos produtivos quanto do uso, que são aproveitados como matéria prima de outro processo, tanto para os resíduos de madeira quanto para resíduos de plásticos como matrizes poliméricas, satisfazendo o conceito de circulação de recursos por processos de reciclagem e satisfazendo também o requisito de redução de resíduos industriais. Portanto, há a promoção da substituição de recursos naturais por material abundante que antes era reconhecido como resíduo. Além disso, o compósito tem as características de ser atóxico, possui boa durabilidade, permitindo outros ciclos de produção e uso, tem baixa energia incorporada e tem a possibilidade de ser reciclável através de processos específicos, como descritos no próximo capítulo. 56 Apesar de ser considerada uma boa alternativa ao resíduo de madeira, o WPC, no entanto, ainda mostra limitações quando se fala em priorizar metas de preservação ambiental e redução de poluição. Autores como ENGLISH (1996 -1 e 2, 1998), CLEMONS (2002), CORREA (2003), CARASCHI (2000), escrevem apenas sobre o uso da farinha de madeira (WWF – wood waste flour), que é apenas uma fração dos muitos tipos de serragem residual como os mostrados nesta pesquisa, sem mencionar alternativas para os demais tipos de serragem e outros resíduos, incluindo as partes sólidas dos tocos e pontas. O ciclo fechado de circulação do resíduo de madeira, que pode ser usada na forma de WPC pode ser esquematizado na FIGURA 17, que é baseada na FIGURA 04, e que demonstra o caminho deste resíduo na busca de um melhor desempenho eco-eficiente. FIGURA 17 – Ciclo fechado do resíduo de madeira na forma de WPC, baseado no esquema do item 1.3.1 A partir da FIGURA 17, pode-se enumerar cada etapa da recuperação e aproveitamento do resíduo de madeira de pós-produção, conforme a TABELA 12, principalmente a serragem, que é o objeto da pesquisa demonstrada no Capítulo 4: Coleta de resíduos: Aqui o resíduo é coletado e armazenado corretamente logo após a sua geração, buscando conservá-lo contra umidade ou agentes degradantes. 57 Reciclagem: Formas de transformar o resíduo em matéria prima, propondo etapas de limpeza, separação de partículas grosseiras, peneiramento entre outros. Quanto mais etapas de reciclagem entretanto, maior a energia incorporada no resíduo, conforme visto no Item 3.2. Matéria Prima: Após a reciclagem, o resíduo pode ser considerado como insumo e estará apto a ser aproveitado em outros sistemas produtivos. A FIGURA 17 mostra, portanto, uma forma de ciclo fechado de aproveitamento de material, como propõe a Ecologia Industrial. Observa-se que as formas de aproveitamento energético ou reintegração ao meio ambiente, como explicado no Capítulo 1, não são uma opção, visto que significam a perda de massa do resíduo, interrompendo o ciclo de reaproveitamento de recursos. A possibilidade de produzir compósito a partir de componentes de reforço e matriz polimérica biodegradáveis tem sido bastante estudada ultimamente, como mostra a pesquisa de OZAKI (2004), que resultou em um compósito tipo WPC formulado com polímero baseado no PVA (poliálcool vinílico) e resíduos de madeira em pó. Apesar da bibliografia estudada considerar a propriedade de biodegradação como compatível com o meio ambiente, como mostram as TABELAS 03 e 16, ou como mostram FORLIN e FARIAS (2002), OZAKI (2004), BARBOSA e TRAMONTANO (2004) e ROSA et al (2004), deve-se considerar que, primeiramente, o fato do compósito ser biodegradável não o faz completamente eco-eficiente, já que tal característica não garante a redução de resíduos. Os produtos gerados por essa tecnologia, ao serem descartados, poderão aumentar o volume do lixo orgânico disposto sem controle no ambiente, possibilitando impactos ambientais negativos. Além disso, do ponto de vista da Ecologia Industrial, o fato de ser biodegradável significa a perda de material para o meio-ambiente, quebrando o ciclo de reaproveitamento de material, concordando com o SPMP -Syndicat des Producteurs de Matières Plastiques (2004), que considera a biodegradação de plásticos como “desperdício de um material nobre”, impossibilitando a recuperação de insumos pela cadeia produtiva, levando assim, ao consumo de novos insumos virgens, apesar da sua aplicação ser interessante em produtos putrescíveis, tal como fraldas descartáveis ou produtos higiênicos, “locais onde a aplicação é justificada e necessária” (SPMP - 2004). Portanto, pode-se considerar como uma possibilidade menos eco-eficiente que a circulação de recursos o aproveitamento energético pela proposta de incineração do material ou de uso destes na forma de adubo, considerando a capacidade de 58 biodegradação ou compostagem, pois em processos tais ocorre a quebra dos ciclos fechados e perda de material além de não garantir a redução da produção de resíduos. A possibilidade de recuperação ou de reciclagem de matéria prima pós-industrial ou pós-consumo é, então, uma maneira mais eco-eficiente, segundo os conceitos da Ecologia Industrial, de garantir o ciclo fechado de uso de insumos proposto pelo conceito da circulação de recursos. Assim, melhor que ser biodegradável é ser capaz de possibilitar a recuperação ou reciclagem de matéria prima. No caso do WPC, as matrizes poliméricas tanto termoplásticas quanto termofixas permitem processos de reciclagem, o que garante a sua recuperação pelos processos produtivos, diminuindo tanto a demanda por insumos virgens quanto a produção de resíduos dispostos no meio ambiente. De maneira geral, o WPC é apto a preencher os requisitos de um material ecoeficiente como descritos nos conceitos estudados. Devemos contudo considerar que tal material pode apresentar um desempenho ambiental melhor sintonizado com os conceitos da Ecologia Industrial, somente se estiver sustentado nos requisitos citados nos itens do Capítulo 1 e neste Capítulo 3, organizados na TABELA 19: TABELA 19 – Organização dos requisitos ambientais da Ecologia Industrial para materiais de fabricação CONCEITOS REQUISITOS E METAS • • • • • • • • • Usar materiais abundantes e sem restrição de uso Reduzir energia na fabricação Usar materiais reciclados e recicláveis; Usar materiais abundantes e compatíveis entre si; Usar materiais que provenham de refugos de processos produtivos; Evitar material que produza emissões, resíduos ou efluentes tóxicos; Usar tecnologias e processos produtivos de baixo impacto e eco-eficientes Agregar valor estético aos materiais reciclados Possibilidade de ser usado como matéria prima para outros processos produtivos • Permitir o uso de resíduos de um processo de produção como matéria prima de outro processo. CICLO DE VIDA (baseado no item 1.3.1) • • • Permitir o uso de materiais reciclados de processos de produção Permitir a maximização do uso de produtos construídos com tal material Permitir a durabilidade de produtos construídos com tal material ECO-EFICIÊNCIA (baseado nos itens 1.2.1 e 3.2.1 na TABELA 16) • • • • • • Material atóxico e não perigoso Material abundante Material renovável Material reciclável Material residual Material de fontes sustentáveis • • • • Usar matriz polimérica com possibilidade de reciclagem; Usar matriz polimérica atóxica; Usar reforço baseado em resíduos vegetais = resíduos de madeira Usar processos de fabricação de baixo impacto ambiental e de baixo consumo de energia e água. ECO-DESIGN (baseado na TABELA 03) CIRCULAÇÃO DE RECURSOS (baseado no item 1.2.2) ECO-COMPÓSITO (baseado nos itens 3.3 e 3.4) A partir desta tabela é possível prever um material compósito baseado em resíduos de madeira que melhor atinge as metas de preservação ambiental, não deixando de ser 59 uma boa alternativa como material para fabricação de novos produtos, atingindo assim a eco-eficiência. 3.5 – DESCRIÇÃO DA MATRIZ POLIMÉRICA USADA NA PESQUISA A matriz polimérica foi escolhida entre o grupo dos termofixos. Segundo CARVALHO (2003 – 2) os termofixos são particularmente adequados como materiais para a fabricação de compósitos, por sua facilidade de fabricação e adesão com a fibra. Foram exploradas as vantagens da cura a frio, facilidade de aquisição comercial e de processos de fabricação de baixo custo sintonizando os materiais e o processo de fabricação com os requisitos eco-eficientes. 3.5.1 – Resina de Poliéster Insaturado Apresenta-se como um líquido viscoso, formulado pela reação de ácidos e álcoois, que pode ser diluído em monômero de estireno, e, dependendo do ácido usado na formulação, pode-se produzir resinas ortoftálica, isoftálica dentre outras (ELEKEIROZ, s/d). As variedades de resinas de poliéster insaturado e suas propriedades são vistas na TABELA 20. A variação ortoftálica é mais rígida depois de curada, mas é também fisicamente e quimicamente mais frágil. Sua cura pode acontecer com o uso de calor ou na presença de catalisadores (cura a frio). Suas características químicas podem ser modificadas com a adição de aditivos , como os protetores contra raios ultravioletas, como os retardantes de chama ou como os corantes. As propriedades físicas podem ser modificadas pela adição de cargas e reforços fibrosos, caracterizando, portanto um compósito. TABELA 20 – Tipos de resina poliéster insaturado. RESINA ORTOFTÁLICA TEREFTÁLICA ISOFTÁLICA BISFENÓLICA ÉSTER VINILICA Fonte: ISAR (2004) CARACTERÍSTICAS Resinas de baixo custo e de uso geral. Suas propriedades físicas e mecânicas são inferiores que as demais resinas poliéster. É usada na confecção de barcos, carrocerias, calhas, tanques e revestimentos na construção civil, equipamentos esportivos, e esculturas artísticas. Tem grande resistência mecânica, elétrica e térmica, a maior entre as resinas poliéster. Resistência química um pouco maior que as Isoftálicas. Tem maior estabilidade das propriedades físicas e mecânicas que as ortoftálicas. Utilizadas para tubos, tanques e recipientes com especial resistência a agentes químicos. Alta resistência química e à hidrólise. Aprovada pelo Instituo Adolfo Lutz para produtos que entram em contato com alimentos. Usada para fins industriais. Elevada resistência química, a maior entre as resinas poliéster e elevada resistência mecânica. Grande longevidade, rivalizando com o aço inoxidável. Usada em equipamentos industriais em ambientes corrosivos, de alta temperatura tais como industrias químicas, petroquímicas, papel e celulose, cloro-soda e outras. 60 A resina ortoftálica é a resina termofixa mais conhecida e usada comercialmente devido ao baixo preço de aquisição, facilidade de manipulação e de moldagem. Os processos de moldagem e de produção são variados, incluindo processos de molde aberto ou processos de molde fechado que permitem maior controle dimensional e melhor qualidade dos produtos. As aplicações das resinas de poliéster ortoftálicos são para o uso geral, na grande maioria das aplicações, como o compósito conhecido com PRFV – plástico reforçado com fibras de vidro ou simplesmente fiberglass. São usadas nas indústrias náutica, automotivas e de transportes em geral, moveleira, piscinas, utensílios, indústria esportiva e outras. Sua resistência física e química a impede de ser usada em condições mais severas, enquanto que outros tipos de resinas têm melhor desempenho. Do ponto de vista ambiental, apesar de serem baseadas no petróleo, matéria prima não renovável e com potencial poluidor, as resinas de poliéster ortoftálicas tem a vantagem de ser curada a frio por processos de transformação em produtos que usam pouca ou nenhuma energia térmica ou elétrica, e também usam pouca água. A desvantagem é a toxidade da resina no estado líquido e dos solventes (classe 1), que podem emitir vapores para o ambiente ou podem causar acidentes tanto a seres humanos quanto para o meio ambiente, quando manipulados de forma inadequada (ver ANEXO II). Devido à característica dos termofixos não poderem retornar ao estado líquido inicial, as resinas de poliéster insaturado não podem ser recuperadas, mas podem ser recicladas pelo processo da moagem, para, então servir como carga para outros tipos de produtos de plásticos reforçados, como sugerem as pesquisas de ARAÚJO et al (2004), ou o processo de gerenciamento de resíduos sólidos, descrito por PLÁSTICO REFORÇADO (2004). O produto que usa o pó reciclado de poliéster insaturado tem boas propriedades físicas, o que o habilita para produtos de uso geral além de minimizar resíduos e diminuir custos com matéria prima. O resíduo, se descartado, é classificado pela NBR 10004 (ABNT, 1987) como Classe 2, não-tóxico, mas cujo volume pode trazer impactos ambientais negativos (PLÁSTICO REFORÇADO, 2004). 3.6 – METODOLOGIA DO PROCESSO DE FABRICAÇÃO A moldagem de compósitos de resinas termofixas reforçadas com fibras abrange um leque de processos de complexidade variável indo de processos manuais até processos industriais com uso de equipamentos tecnologias complexas. Tais processos podem ser organizados em dois tipos: Processos de Molde Aberto e Processos de Molde Fechado. 61 3.6.1 - Processos de Molde Aberto Emprega moldes fêmeas, de cavidade simples, e que permitem apenas uma face de acabamento, sendo que a outra face fica na textura do reforço (BARANOWSKI & SHREVE, 1981). Esse tipo de processo não permite um controle rigoroso na espessura da peça moldada nem o controle de volume de aparas ou de rebarbas. Há também o problema de emissão de vapores visto que há a manipulação de resinas ao ambiente aberto. Usam-se moldes simples feitos de madeira, gesso, alumínio, aço ou fiberglass, e as resinas são endurecidas a frio, com o uso de catalisadores. São os processos mais simples e baratos, sendo muito difundidos e usados na maioria das micro-indústrias de plásticos reforçados. Os principais processos são: • Hand-lay-up: É processo mais simples, no qual a resina pré-catalisada é disposta manualmente junto com o reforço de fibra em um molde aberto e compactados através da manipulação com roletes. FIGURA 18 – Processo de fabricação HAND-LAY-UP – baseado em CARVALHO (2003-2) • Spray-up: Processo que usa pistola para aplicar, simultaneamente a resina, catalisador e reforço picotado em um molde aberto. Depois da aplicação o processo torna-se similar ao Hand-lay-up. FIGURA 19 – Processo de fabricação SPRAY-UP – baseado em CARVALHO (2003-2) 3.6.2 - Processos de Molde Fechado Usam moldes de pares macho / fêmea que formam uma cavidade de moldagem quando unidas. Seus moldes, portanto, precisam de sistemas de fechamento mecânico que elimine espaços entre as metades do molde, impedindo que o material a ser moldado 62 vaze para fora. Tem as vantagens de permitir acabamento superficial em toda peça fabricada e controlar a espessura da peça de maneira rigorosa. Também há a diminuição de emissão de vapores, pois o processo de moldagem é em ambiente fechado, assim como há a diminuição de rebarbas. Os moldes são construídos com aço, borracha ou fiberglass, sendo mais caros e complexos que os moldes abertos (CLAVADETSCHER, 1981). As resinas podem ser endurecidas tanto por cura a quente como por cura a frio, os principais processos são descritos abaixo: • RTM (Resin Transfer Molding): Moldagem por transferência de resina e cura a frio é um processo que usa sistemas de moldes fechados reforçados e simples. O reforço pré-formado sem a resina é depositado dentro do molde e então a resina pré-catalisada é injetada depois que o molde é fechado. FIGURA 20 – Processo de fabricação RTM – baseado em CARVALHO (2003-2) • HPM (Hot Press Molding): Prensagem a quente onde a resina não catalisada é misturada com as cargas e reforços de fibras antes da aplicação no molde. Deposita-se a mistura no molde metálico e em seguida, com o molde fechado aplica-se calor durante um determinado tempo. A peça endurece pela pressão e calor aplicados. FIGURA 21 – Processo de fabricação HPM – baseado em CARVALHO (2003-2) • CPM (Could Press Moulding): Moldagem por Prensagem a Frio, realizado a baixas pressões e temperatura ambiente. A resina é curada através de catalisadores, podendo usar um tempo de processamento a partir de 20 minutos. (CARVALHO, 2003 – 2). 63 FIGURA 22 – Processo de fabricação CPM – baseado em CARVALHO (2003-2) Os sistemas usados para união dos moldes fechados podem ser resumidos a três tipos, sendo que a finalidade é de unir as abas e batentes laterais dos moldes não deixando espaços por onde o material a ser moldado possa vazar. O respiro permite a saída de ar e de excesso de material. • Fechamento à prensa hidráulica / mecânica: feito através de prensas que comprimem uma das partes do molde contra a outra parte. É necessária uma prensa para cada molde usado, o que encarece e diminui a produtividade da produção. • Fechamento à vácuo: usa sistemas à vácuo para pressionar as partes dos moldes entre-si e assim atingir a pressão de fechamento necessária. Segundo a Owens Corning (2001), este é um processo mais econômico que o uso de prensas convencionais por que pode usar um sistema de vácuo para vários moldes simultaneamente. • Fechamento com feches mecânicos: Permite baixa pressão de fechamento e usa grampos, parafusos e sistemas mecânicos simples para fechar o molde, portanto é um processo de fechamento manual. Apesar de ser o sistema mais barato e acessível, é necessário maior controle durante o processo para garantir o correto fechamento do molde. O processo de prensagem a frio é descrito pelos fabricantes de peças de Fiberglass como uma alternativa barata aos processos mais complexos tais como a prensagem a quente ou sistemas de transferência de resina (OWENS CORNING, 2001). Coloca-se resina e reforço pré-misturados ou não dentro do molde, em seguida, fecha-se o molde abrindo-o após a polimerização da resina. O tempo de polimerização e os ciclos de produção dependem das especificações do fabricante. Este tipo de moldagem reúne as seguintes vantagens: 64 • Equipamentos de baixo investimento; • Moldes simples, podendo ser construídos com plástico reforçado ou outros materiais de fácil manipulação; • Fechamento com prensas leves, a vácuo ou por com feches mecânicos; • Permite moldagem de peças pequenas e complexas • Acabamento superficial em ambas as faces do produto; • Controle da espessura das paredes do produto; • Baixa emissão de gases ou vapores; • Maior controle do volume de material, diminuição de rebarbas; • Baixo ou nenhum consumo de energia térmica ou elétrica; • Baixo ou nenhum consumo de água; 3.6.3 - Etapas da prensagem a frio É baseada na metodologia por etapas descrita pela Owens Corning (2001, p. 05) para a prensagem a vácuo e cura a frio de peças de fiberglass. Neste caso esta metodologia foi modificada para adaptar a pesquisa ao sistema de produção descrito no capítulo 4, usando para isso uma prensa leve, descrita no ANEXO III. Assim, seguem-se os seguintes passos mostrados na FIGURA 23: FIGURA 23 – Etapas do processo de prensagem a frio. (baseado em OWENS CORNING, 2001 e 2004; SAINT-GOBAIN, 2004) 1. O compósito (matriz mais reforço) é despejado na cavidade do molde; 2. O molde é fechado, a resina cura em contato com as duas metades do molde, o ar e o excesso de material saem pelo respiro, permitindo o completo fechamento do molde. 3. O molde é aberto e a peça é desmoldada pronta para o acabamento final 65 3.6.4 - Etapas de fabricação de moldes A fabricação de peças em plástico reforçado é feita em moldes construídos geralmente com o mesmo material de fabricação dos produtos finais, ou seja, plástico reforçado. Segundo JACKSON E DAY (1981) a fabricação de peças em plástico reforçado segue as etapas: 1. Fabricação do padrão ou “plug” – modelo nas dimensões externas do produto a ser fabricado, construído em madeira, gesso, plastilina, massa plástica ou qualquer material moldável e que não seja destruído pela resina usada no molde. Seu acabamento superficial será copiado para o molde e para todas as peças a serem fabricadas. O PLUG pode ser considerado como o molde do molde. 2. Construção do molde – O plástico reforçado é disposto sobre o plug, criando um molde com cavidades de dimensões iguais as do produto a ser fabricado. Para moldes fechados, o procedimento é repetido para ambas as partes do molde. 3. Fabricação das peças finais – Usando o molde final, o plástico reforçado é disposto na cavidade do molde até a cura da resina do compósito. São usados produtos desmoldantes para facilitar a desmoldagem, tal como ceras e filmes plásticos. As etapas de fabricação do molde podem ser vistas na FIGURA 24: FIGURA 24 – Fabricação de molde em plástico reforçado (JACKSON E DAY,1981, p. 57) 66 Essas etapas são assim descritas: 1. Preparação do PLUG, acabamento e aplicação de desmoldantes; 2. Aplicação de camadas de plástico reforçado, geralmente com fibras de vidro; 3. Separação do molde pronto do plug. O processo de fabricação descrito acima permite a obtenção de peças moldadas usando materiais residuais de partículas mais grosseiras, já que a massa de compósito pode ser misturada em recipientes antes da aplicação no molde. Por ser um processo simples e de baixo custo, é bastante usado nas pequenas e micro indústrias de PRFV (plásticos reforçados com fibras de vidro), na fabricação de produtos para variadas aplicações. Assim, esta é uma boa alternativa de processo de fabricação do ponto de vista da eco-eficiência, já que permite realizar uma produção usando materiais residuais como reforço e matrizes poliméricas recicláveis em um processo que gera pouco resíduos e emissões que possam causar impactos ambientais negativos. 67 CAPÍTULO 4 MATERIAIS E MÉTODOS Neste capítulo são descritos os métodos usados na utilização dos resíduos de madeira estudados como reforço de um eco-compósito e os ensaios que este foi submetido. Partiu-se de um planejamento dividido em três fases, vistas na FIGURA 25. FASE I MATERIAIS • • • • COLETA E CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS RECICLAGEM E CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS ESCOLHA DA RESINA DETERMINAÇÃO DOS TRAÇOS Æ FASE II MOLDAGEM DOS CORPOS DE PROVA • ESCOLHA DOS ENSAIOS • CONFECÇÃO DOS CORPOS DE PROVA Æ FASE III ENSAIOS • ENSAIO DE ABSORÇÃO DE ÁGUA • ENSAIO DE DUREZA SHORE • ENSAIO DE FLEXÃO FIGURA 25 – Planejamento experimental Na FASE I ocorreu a coleta do resíduo de madeira na usina estudada, essa fase procurou caracterizar o resíduo (serragem) para aplicá-lo como reforço de plásticos através de duas fases de reciclagem: a de secagem seguida da fase de peneiramento. Depois da classificação das partículas, estudou-se as possibilidades de misturas do resíduo com a resina plástica para a determinação dos traços do compósito a ser desenvolvido. Na FASE II se deu a moldagem dos corpos de prova, cujas dimensões foram determinadas pelas normas ABNT. Para a moldagem empregou-se o processo de fabricação de prensagem a frio, denomidada CPM. Na FASE III foram realizados os ensaios escolhidos na FASE II caracterização do compósito proposto na pesquisa. para a 68 Toda a fase experimental embasou-se na aplicação real de Ecologia Industrial entre duas indústrias de ramos diferentes, instaladas nas cercanias da Cidade de Salvador – Bahia denominadas de: • PROCESSO PRODUTIVO 01: CMVenturoli, usina de tratamento e produtora de produtos de madeira serrada, usando basicamente toras de eucalipto e pinus; • PROCESSO PRODUTIVO 02: BAKAR Fiberglass, indústria de produtos e serviços em PRFV – plástico reforçado com fibras de vidro. A FIGURA 26 mostra exatamente a relação entre estas indústrias durante a fase experimental. FIGURA 26 – Relação entre as empresas na fase experimental Os resíduos de madeira gerados pela CMVenturoli foram reciclados e transformados em reforço de resinas termofixas usadas pela BAKAR. Os produtos gerados pela BAKAR, usados na mistura do resíduo de madeira com a resina, resultaram nos CP (corpos de prova) usados pelos ensaios propostos na pesquisa. A relação dessas empresas caracterizou, então, o conceito da Ecologia Industrial do ciclo fechado da circulação de recursos materiais, visto que os resíduos reciclados, oriundos da usina de tratamento de madeira, foram usados como insumo na fabricação de novos produtos em outro processo produtivo. 4.1 - O PROCESSO DE PRODUÇÃO DAS FÁBRICAS ESTUDADAS As empresas descritas na pesquisa foram escolhidas por serem ao mesmo tempo conhecidas no mercado baiano e por também terem processos produtivos diferentes entre si: indústria de madeira e indústria de plásticos reforçados. O objetivo é reforçar a idéia de circulação de recursos materiais entre empresas, mesmo que estas tenham processos produtivos não relacionados entre si. 69 4.1.1- Processo produtivo 01 - Indústria de produtos de madeira serrada A usina de preservação de madeira considerada, estabelecida na região metropolitana de Salvador, fabrica produtos a partir de recursos de florestas plantadas como o pinus e eucalipto. Os produtos são variados, indo de peças por encomenda até uma linha de produtos tais como currais, cancelas, galpões, cercas decorativas e, principalmente, peças para uso em construção civil. A maior parte do resíduo gerado nos processos de produção destes produtos são de madeira in natura. O restante do resíduo é de madeira tratada com CCA (arseniato de cobre cromatado). Segundo depoimento do proprietário da empresa, 70% da matéria prima constitui-se de toras de eucalipto, 20% de toras de pinus e os 10% restantes de outras espécies de árvores e madeiras oriundas de reservas nativas. Os resíduos gerados são diferentes, basicamente pó de serra, maravalha em variadas dimensões além de tocos (pontas) que, exceto estes últimos, são reunidos num mesmo silo. Os tipos diferentes de resíduos têm um volume que varia de acordo com o volume de produção e o tipo do produto fabricado, portanto em um mês pode haver volume de um resíduo diferente do mês anterior. O resíduo tratado com o conservante CCA tem como destino a CETREL, empresa de saneamento e proteção ambiental, que trata os resíduos e efluentes industriais. Uma pequena parte dos resíduos em pedaços é aproveitada na própria usina como lenha para alimentar a caldeira da estufa de secagem. O restante dos pedaços de madeira e particulados são destinados ao comércio como lenha, usado em padarias, pizzarias e olarias, e a serragem também é usada em granjas de animais. Isso mostra que a direção da usina já tem um perfil de proteção ecológica ao destinar todo o seu resíduo para outros usos, principalmente na forma de cama-de-galinha e como lenha. Segundo depoimento de VENTUROLI (2003), a quantidade de resíduos em pedaços é em torno de 30 toneladas/mês e a quantidade de particulados, 25 a 30 toneladas/mês. Ambos os tipos são retirados por 3 e 4 caçambas respectivamente. 70 4.1.2- Processo produtivo 02 – Indústria de plásticos reforçados A BAKAR Fiberglass está estabelecida na região metropolitana de Salvador e trabalha com o serviço de concerto e fabricação de produtos em fibra de vidro, sendo os produtos fabricados por encomenda. Emprega como matérias primas, resinas comuns de poliéster insaturado, que correspondem a mais de 80% do consumo de resina, além do uso de resinas especiais quando solicitado no projeto. Estas resinas são reforçadas com fibras de vidro em diversas formas tais como mantas, tecidos, fios cortados e cordas trançadas. Também são usadas cargas minerais tais como talco industrial, carbonato de cálcio e sílica para modificar as propriedades físicas e mecânicas dos compósitos. Os processos de fabricação são na maioria o de molde aberto – o Hand Lay Up e o Spray Up que respondem em torno de 75% da produção, sendo que o processo de molde fechado de prensagem a frio, corresponde ao restante da produção. Os moldes são fabricados na maioria na própria indústria, construídos em madeira, fiberglass ou gesso, mas também se usam moldes metálicos fabricados em outras indústrias sob encomenda. As peças após a moldagem sofrem acabamento e rebarbação – extração de rebarbas com equipamentos pneumáticos de corte e usinagem. O gasto de energia elétrica corresponde ao uso das ferramentas de corte de madeira que são usadas nos moldes, ou no compressor de ar para os equipamentos pneumáticos. O uso de água é minimizado para lavagem dos moldes e dos produtos acabados antes da embalagem final. Este tipo de fabricação gera resíduos durante o processo de acabamento e rebarbação, inerentes aos processos de molde abertos, sendo que estes resíduos são dispostos nas cercanias dos galpões da indústria para, mas tarde serem transportados para lixões industriais. A geração de resíduos do processo CPM é mínimo em relação aos outros processos usados nesta indústria, se resumindo no excesso de material que é expelido pelo respiro do molde quando este é fechado. 71 4.2 – FASE I - MATERIAIS 4.2.1 – Coleta e caracterização dos resíduos Os resíduos coletados foram oriundos de máquinas de desdobro e beneficiamento de madeira do Processo Produtivo 01. Estes resíduos são de características diferentes, podendo ser classificados conforme descrição abaixo: • Serragem: Diversas variedades de pó-de-serra e maravalha, variando o tamanho, forma e textura da partícula. Para cada tipo de máquina, há uma serragem respectiva. Máquinas que operam diversos tipos de lâminas irão gerar diversos tipos de serragem. Geralmente esta serragem é disposta no chão da usina, ao redor da máquina, durante o processo de fabricação, sendo recolhida após a produção. Algumas máquinas têm formas de diminuir a dispersão de serragem, tal como a serra fita, que possui um corte com filete de água, processo que umidifica o resíduo. Outra forma é usada na plaina e na serra industrial, onde há um sistema de aspiração e tubulações que conduzem o resíduo até o silo de armazenagem. A quantidade de serragem é estimada em 25 a 30 ton/mês, sendo, portanto um volume expressivo e aqui considerado o principal resíduo da produção estudada quanto à variedade de características, sendo gerado por todas as máquinas com a possibilidade de transformação em eco-compósito. • Tocos de destopo: Gerados pela destopadeira, no processo de corte das pontas dos troncos, isolando pedaços com defeitos ou estragados. Têm tamanho variável entre 15cm a 1,5m e diâmetro de acordo com a tora trabalhada. É gerada uma quantidade de 30 ton/mês. A TABELA 21 discrimina a serragem quanto a sua geração pela respectiva máquina de beneficiamento e também descreve os tocos de destopo. É importante notar as diferentes características da serragem coletada tal como a cor que é referente à do tronco, cor da espécie de árvore ou mesmo a forma como a serragem é feita, podendo escurecer o resíduo pelo atrito com a lâmina. Diferentes, também, são os aspectos físicos, sendo que há fases de farinha, pó fibroso, maravalhas finas e grossas, lisas ou espiraladas. Por fim, há diferença na granolumetria dentro de um mesmo resíduo, podendo ser vistas fases de partículas grosseiras, fases de partículas médias e de partículas finas. 72 TABELA 21 - Discriminação da serragem quanto às máquinas de beneficiamento SERRA FITA FUNÇÃO: Desdobro e serragem em geral RESÍDUO: Pó de serra, apresentando-se como uma farinha granulosa de cor escura; SERRA CIRCULAR FUNÇÃO: Serragem em geral; RESÍDUO: Pó-de-serra, apresentando-se como um pó fibroso; DESTOPADEIRA SERRA INDUSTRIAL FUNÇÃO: Serragem de maior precisão RESÍDUO: Apresentando-se como uma mistura de pó e fibras; DESEMPENADEIRA FURADEIRA MÚLTIPLA FUNÇÃO: Furar RESÍDUO: Material fibroso e macio ao toque apresentandose como uma mistura de pó, fibras e maravalha de pequenas dimensões; PLAINA FUNÇÃO: Destopo FUNÇÃO: Desempeno e desbaste FUNÇÃO: Aparelhamento RESÍDUO 1: Material fibroso muito fino, apresentando-se como uma mistura de pó e de fibras curtas; RESÍDUO: Maravalha reta fina, média, grossa e lascas; RESÍDUO: Maravalha espiralada média e fina RESÍDUO 2: Tocos e pontas de toras e de tábuas; A FIGURA 27 mostra a geração dos resíduos no local da produção. Nota-se que a serragem e maravalha depositam-se no chão, ao redor das máquinas, marcados com uma seta, para depois serem recolhidos. A FIGURA 28 mostra o silo de estocagem da serragem descrita na TABELA 21. Neste silo toda a serragem é acondicionada, e, portanto misturada, independente da suas características listadas acima. Ficando expostas ao tempo, fatores atmosféricos podem umedecer ou mesmo encharcar tal serragem. 73 B) A) C) D) A) Plaina – B) Furadeira Múltipla – C) Desempenadeira - D) Serra Fita FIGURA 27 – Geração de resíduos no processo de fabricação de madeira serrada nas máquinas: 74 FIGURA 28 – Silo de estocagem da serragem • Sobras e rejeitos: São peças que foram descartadas por empenamento, que ficaram defeituosas durante o processo de fabricação ou que ficaram abaixo dos padrões técnicos. Sua geração é de pouca quantidade e geralmente seu volume é inserido junto ao volume dos tocos de destopo. Este resíduo não foi aqui estudado. A FIGURA 29 mostra os resíduos referentes aos tocos de destopo, sobras e rejeitos que são agrupados juntos em depósitos nos arredores do setor de produção. FIGURA 29 - Tocos de destopo, sobras e rejeitos. • Resíduos tratados: São gerados durante o tratamento químico com o conservante a base de CCA. São lascas e cascas que representam pouco volume, geralmente dois tonéis/mês e que são destinados ao tratamento na CETREL. Este resíduo é acondicionado de forma protegida em tonéis fechados. Os produtos são tratados após os processos de desdobro e serragem, minimizando assim a geração de resíduos impregnados com o preservante. Este resíduo não foi aqui estudado. Embora os resíduos observados acima sejam difíceis de quantificar devido às muitas variáveis da produção, pode-se prever que os resíduos mais volumosos têm origem dos processos mais usados pela empresa: o destopo e o desdobro. 75 4.2.2- Reciclagem e classificação dos resíduos coletados Para o experimento, na FASE I, foi coletada cerca de 11 kg de serragem de máquinas variadas. O objetivo da reciclagem é preparar o resíduo coletado para ser usado como um dos componentes do compósito proposto. Para isso foram escolhidas duas etapas de reciclagem: • Secagem – Destina-se a eliminar a umidade presente no resíduo, evitando problemas durante a mistura com a resina usada. Neste procedimento foi determinado o grau de umidade do resíduo e também a diferença de umidade determinada pela estocagem do resíduo no silo com o resíduo não estocado. • Peneiramento – Destina-se a separar o resíduo por granulometria das partículas, determinando três tipos de partículas (fina, média e grossa) assim como tem a finalidade de eliminar as partículas indesejadas, tais como cascas e palha. Essa etapa tem a função final de gerar o material reciclado necessário para montar uma tabela de porcentagens de misturas (TABELA 24), misturas estas que foram moldadas em corpos de prova. . 4.2.2.1- Secagem e medição da umidade da serragem Para a medição da umidade do resíduo foi usado o procedimento B.5 - Anexo B da norma NBR7190 (Projeto de estruturas de madeiras). Para Isso foi coletado o resíduo de quatro máquinas que estavam em operação no dia da visita técnica ao Processo produtivo 01. Uma parte do resíduo foi coletada ao redor das máquinas e o restante foi coletado diretamente no silo de estocagem. Determinou-se, assim, o grau de umidade e a diferença dos resíduos recém gerados e os estocados no silo. A TABELA 22 mostra quais as máquinas envolvidas na coleta, as condições do resíduo e a quantidade de material coletado. TABELA 22 – Coleta dos resíduos para medição de umidade por máquina. MÁQUINA TODAS AS MÁQUINAS DESEMPENO DESTOPADEIRA PLAINA LOCAL DA COLETA No silo de resíduos Ao redor da máquina Ao redor da máquina Ao redor da máquina MASSA ÚMIDA COLETADA (g) 5694,66 4324,89 686,35 532,23 O processo de secagem foi feito em estufa de laboratório, em temperatura de 105ºC durante 24 horas, buscando eliminar toda a umidade do resíduo coletado. Na seqüência, o resíduo separado por tipo de máquina foi pesado e calculada a umidade, seguindo a norma NBR7190. 76 4.2.2.2 - Classificação granulométrica da serragem A classificação dos resíduos foi feita a partir de peneiras com aberturas normatizadas pela ABNT. Para a classificação granulométrica foram usadas peneiras de laboratório, baseada na norma NBR 5734 (Peneiras para ensaio), com as seguintes malhas (em mm): 25,4; 19,10; 9,52; 4,76; 2,00; 0,84; 0,59; <0,59 (fundo), com com tempo de agitação de 30 minutos. Em seguida cada amostra foi pesada para o cálculo da porcentagem em relação à massa total obtida na coleta. Foram coletados resíduos das principais máquinas do Processo Produtivo 01 mostrado na TABELA 23. A FIGURA 30 mostra as peneiras usadas e o processo de secagem e pesagem do resíduo. TABELA 23 – Quantidade do resíduo coletado para a classificação granulométrica MÁQUINA SERRA FITA DESEMPENO FURADEIRA MULTIPLA SERRA CIRCULAR PLAINA SERRA INDUSTRIAL DESTOPO QUANTIDADE DE RESÍDUO COLETADO (g) 2903,18 4324,89 828,82 761,07 518,82 436,50 642,04 b) a) c) a) Secagem à 105ºC b) Peneiramento c) Pesagem FIGURA 30 - Procedimento da classificação granulométrica Após o processo de reciclagem (secagem e peneiramento) o resíduo foi classificado em quatro tipos de partículas, que serão melhor explicadas no Capítulo 5: • Descartada – peneiras acima de 19,10 mm • Média – peneiras entre 4,76 e 0,59mm • Fina – Peneiras iguais ou menores que 0,59mm • Grossa - peneiras entre 19,10 e 4,76mm 77 4.2.3 – Resina usada A resina de Poliéster Ortofitálico usada nesta pesquisa é a POLYDYNE 5061 da Cray Valley descrita por esta fábrica como resina de poliéster insaturado ortoftálico, rígido, de baixa reatividade, de média viscosidade, cristal pré-acelerado, descrito no ANEXO I. É uma resina de uso comercial usada em peças e serviços onde é necessária uma boa qualidade estética, atingida devido ao brilho e transparência da resina. 4.2.4 – Determinação dos traços Os traços foram determinados a partir da mistura dos resíduos de serragem de madeira, fino, médio e grosso, já reciclados, aqui denominados como SRM (Serragem Reciclada de Madeira), com a matriz de resina de poliéster ortoftálico. O SRM foi distribuído segundo o modelo de misturas proposto por NETO et al (2003). A resina foi distribuída com base em testes preliminares com 3 porcentagens de resíduo: 10%, 20% e 30%, sendo que o valor de 30% foi descartado por apresentar deficiência na cura da resina, como descrito no ANEXO IV. Assim, nesta pesquisa foram testados os valores de 10% e de 20% de SRM, na busca de valores de desempenho físico e mecânico em um traço que use o máximo de resíduo sem alterar as propriedades de cura da resina. O ensaio também inclui um traço de resina sem reforço que servirá como referência (padrão) e será denominado como T. A TABELA 24 reúne todos os traços propostos pela pesquisa: TABELA 24: Traços experimentais do compósito estudado SRM % GROSSO MÉDIO 0 0 T 100 0 G1 100 0 G2 0 100 M1 0 100 M2 0 0 F1 0 0 F2 50 50 GM1 50 50 GM2 0 50 MF1 0 50 MF2 50 0 GF1 50 0 GF2 33 33 GMF1 33 33 GMF2 T= Testemunha F= Fino M= Médio Fonte: NETO et al (2003) TRAÇO MASSA FINO SRM % 0 0 0 10 0 20 0 10 0 20 100 10 100 20 0 10 0 20 50 10 50 20 50 10 50 20 33 10 33 20 G= Grosso MASSA MATRIZ % 100 90 80 90 80 90 80 90 80 90 80 90 80 90 80 78 4.3- FASE II – MOLDAGEM DOS CORPOS DE PROVA 4.3.1 - Escolha dos ensaios O objetivo desta fase experimental foi verificar as possibilidades de mistura e moldagem do compósito estudado em relação ao processo produtivo CPM (moldagem por prensagem a frio). O objetivo foi moldar corpos de prova cujas dimensões são determinadas por normas técnicas. Desta forma foram escolhidos os seguintes ensaios: • Absorção de água: baseado na norma NBR 8514 ( Plásticos – Determinação de Absorção de Água) – forneceu dados sobre o comportamento do compósito na presença de água, permitindo determinar o uso em produtos utilitários que venham ter contato com líquidos aquosos. Ensaios similares foram efetuados por SILVA (2003), MORAIS e D'ALMEIDA (2003) e TITA et al (2002) na avaliação de compósitos de resinas termofixas reforçadas com diversos tipos de fibras naturais. • Dureza Shore D: Baseada na norma NBR 7456 (Plásticos – Determinação da Dureza Shore) – forneceu dados sobre o desempenho do material quanto à resistência a objetos penetrantes. Tal norma foi igualmente usada no compósito similar proposto na pesquisa de PAIVA et al (1999) para caracterizar a propriedade de dureza. • Propriedades de flexão: Baseada na norma NBR 7447 ( Plásticos Rígidos Determinação das propriedades de flexão) – forneceu dados sobre a resistência à flexão do compósito estudado, determinando a possibilidade de aplicação principalmente em produtos de superfícies planas. Ensaios semelhantes foram feitos por MORAIS e D'ALMEIDA (2003), OZAKI (2004) e SILVA (2003), entre outros, para caracterização de compósitos similares. 4.3.2 – Confecção dos corpos de prova Os corpos de prova (CP) foram construídos a partir das normas acima citadas, sendo que as dimensões e número de CP’s estão relacionados na TABELA 25. TABELA 25 – Dimensões dos Corpos de Prova por Norma NORMA DIMENSÕES (mm) h l b QUANTIDADE POR TRAÇO QUANTIDADE TOTAL NOME NBR 8514 4 50 50 3 45 CP1 NBR 7456 4 50 50 1 15 CP1 NBR 7447 13 200 25 5 75 CP2 Legenda: h = espessura l = comprimento b = largura 79 As dimensões prismáticas destes Corpos de Prova são vistas na FIGURA 31: CP1 = NBR 8514 / NBR 7456 CP2 = NBR 7447 FIGURA 31 – Dimensões dos Corpos de Prova em mm Os CP’s foram moldados em separado, respeitando o processo de fabricação CPM, conforme descrito no item 3.6.2. Para a fabricação dos corpos de prova foram usados moldes fabricados de acordo com o conceito CPM, prensagem a frio. Essa etapa foi executada no LABMAD - Laboratório de Madeira da UFBA, simulando o Processo Produtivo 2, respeitando o processo de fabricação, ferramentas e equipamentos existentes na empresa: 1. Fabricação dos PLUGS – peças em madeira com as dimensões externas do produto a ser fabricado, no caso os CP’s. Os plugs foram construídos com madeira compensada, que foi cortada nas dimensões requeridas pelas normas e depois foram lixadas para correção das falhas e buracos na superfície; 2. Fabricação dos moldes a partir dos plugs. Os plugs servem como matriz para a fabricação dos moldes. No caso foram construídos dois moldes de PRFV (Plásticos Reforçados com Fibras de Vidro) para peças CP1 e três para peças CP2; Foi usada uma prensa leve de mesa, descrita no ANEXO III, com pressão suficiente para fechar as duas partes do molde. A experiência de mistura e moldagem pode ser descrita pela na FIGURA 32 e explicada em seguida: FIGURA 32 – Seqüência do procedimento de mistura do compósito e de fabricação dos corpos de prova 80 1. Pesagem da resina e do SRM de acordo com as porcentagens da TABELA 23, caracterizando cada traço do compósito; 2. Mistura da resina com o catalisador à 1%; 3. Mistura da resina catalisada com o SRM; 4. Aplicação do compósito no molde; 5. Fechamento dos moldes na prensa; 6. Após 4h, abertura do molde e retirada dos CP’s. Na FIGURA 33, 34 e 35 são mostradas as fotografias do procedimento de fabricação, desde os plugs, moldes, mistura dos componentes do compósito, moldagem, prensagem e desmoldagem dos corpos de prova. Plugs de Madeira CP1 Plugs de Madeira CP2 Molde Fêmea CP1 Molde Fêmea CP2 FIGURA 33 – Plugs e Moldes CP1 e CP2 a) b) c) FIGURA 34 – Ingredientes da fabricação dos CP’s: a) Resina b) SRM c) Catalisador 81 Pesagem do SRM: Grosso Pesagem da Resina Mistura: Traço F2 Aplicação da mistura no molde: Traço G1 PRENSA BLOCO DE MADEIRA MANIVELA MOLDE BASE DE MADEIRA Prensagem Detalhe da prensagem Molde e Corpos de Prova CP1 Molde e Corpos de prova CP2 FIGURA 35 – Procedimento de fabricação dos Corpos de Prova 82 4.4 - FASE III - ENSAIOS O objetivo desta fase foi verificar e determinar algumas propriedades físicas e mecânicas do compósito estudado. Os ensaios foram assim descritos: 4.4.1 – Absorção de água Baseado na norma NBR 8514, Método 01, os corpos de prova CP1, 4 para cada traço formulado, foram fixados em suportes de madeira com rasgos de encaixe e depois foram mergulhados na água contida num recipiente plástico em temperatura ambiente (±30ºC, para o mês de outubro em Salvador), durante 15 dias, tendo seu peso medido duas vezes no dia, exceto os fins de semana, às 08:00 e ás 16:30, tal procedimento resultou em 20 medições para cada traço desenvolvido. O esquema de ensaio e o procedimento adotados são retratados na FIGURA 36. a) CP 1 b) CP 1 c) a) esquema do ensaio b) CP’s imersos c) pesagem dos CP’s FIGURA 36 – Ensaio de absorção de água: 4.4.2 – Dureza Shore D O ensaio de Dureza Shore D foi feito no laboratório de metrologia do SENAI CIMATEC Bahia, usando durômetros que atendiam a norma NBR 7456. Foi testado 1 CP1 para cada traço, sendo feita 5 medições em pontos diferentes do CP1, um destes pontos localizado no centro do CP e os demais em cada extremidade. O tempo de exposição à carga foi de 10 segundos e a massa usada como carga foi de ensaio foi feito à temperatura de laboratório (±25ºC). 5 kg. O 83 A FIGURA 37 mostra o esquema do ensaio e as zonas de ensaio em cada CP. CP 1 a) b) c) a) disposição dos equipamentos b) pontos de teste c) ensaio FIGURA 37 – Esquema do ensaio de Dureza Shore 4.4.3 – Flexão de 3 pontos O ensaio de flexão foi feito no laboratório do DCTM da Escola Politécnica da UFBA, usando uma prensa DL 30000 da marca EMIC assistida por computador, com célula de carga de 200kg. Para tal foi desenvolvido um script, rotina de controle digital, dedicado para o ensaio em questão, fornecido pela EMIC. Os parâmetros do ensaio de flexão foram: • Tipo do ensaio - 3 pontos sendo dois de pontos de apoio e ponto de carregamento. • Dimensões do CP2 - após a moldagem apresentou seção prismática de: o Comprimento ( l )= 200mm o Altura ( h )= 13mm o Largura ( b )= 25mm • Distância entre apoios ( L ) – determinado pela NBR 7447 em ±15h = 190mm • Velocidade de movimentação do ponto de carregamento ( V ) = 4,63 mm/min, determinado por: V= Sr ● L2 6h V Sr L H = Velocidade de carregamento = Taxa de deformação, dado pela norma = 0,01 = Distância entre apoios = 190mm = Espessura do CP2 = 13mm 84 Este ensaio foi feito à temperatura ambiente (±30ºC, para o mês de outubro em Salvador – Bahia). Foram ensaiados 5 CP2 para cada traço formulado. A FIGURA 38 mostra o esquema do ensaio de flexão, que segue a norma NBR 7447. A FIGURA 39 mostra as fotografias do ensaio de flexão em curso. FIGURA 38 – Esquema do ensaio de flexão PONTA DE CARREGAMENTO CP 2 SUPORTE CP 2 TRAÇO T FIGURA 39 – Ensaio de Flexão de 3 pontos 85 CAPÍTULO 5 ANÁLISE E RESULTADOS Este capítulo apresenta os resultados dos ensaios descritos no Capítulo 4, com explicações de cada Fase com o auxílio de gráficos, imagens dos resíduos e imagens dos compósitos em tamanho real, 1:1. 5.1 – RESULTADOS FASE I - Reciclagem 5.1.1 – Secagem Os resíduos, depois de secados e pesados de acordo com a norma NBR7190, permitiram a determinação do grau de umidade, obtida pela relação da massa de água e a massa da madeira seca, dada por: U(%) = mi – ms x 100 ms mi – massa inicial úmida ms – massa seca O resultado da secagem é mostrado na TABELA 26. Verifica-se que, quando armazenado no silo, a serragem apresenta grande umidade, apresentando-se como uma pasta molhada. TABELA 26 – Resultado da medição de umidade da serragem Nº RESÍDUO POR MÁQUINA 1 2 3 4 TODAS AS MÁQUINAS DESEMPENO DESTOPADEIRA PLAINA LOCAL DA COLETA No silo Ao redor da máquina Ao redor da máquina Ao redor da máquina mi (g) ms (g) % UMIDADE 5694,66 4324,89 686,35 532,23 2903,18 3591,73 566,26 466,52 96,15 20,41 21,21 14,09 Média dos valores de umidade do resíduo das máquinas 2,3 e 4 18,57 A umidade total do resíduo da serra fita é de 96,15%, portanto, quase a metade do peso era de água. Os demais resíduos apresentaram-se como um material parcialmente seco pelo fato de não ter sofrido ação da umidade e do relento no silo. Os valores de umidade, neste caso, variaram de 14,09% a 21,21%, com média de 18,57%, indicando 86 uma umidade referente à umidade natural da madeira presente nas toras e tábuas trabalhadas que é em torno de 15% (TANAAMI, 1986). Constatou-se, então, que a estocagem no silo expõe o resíduo à grande umidade, ou quase a um encharcamento, enquanto que os resíduos recém gerados e ainda não armazenados no silo apresentam a umidade normal das toras trabalhadas durante o processo de beneficiamento. 5.1.2 – Peneiramento O resultado do peneiramento indicou que o resíduo de madeira é composto de várias fases, partindo de um pó fino e passando por partículas médias e ásperas até partículas grosseiras como restos de cascas, de palha e pedaços de madeira sólida. Pode-se notar que a distribuição do tipo de resíduo por máquina e por granulometria é bastante diferenciada, podendo ser entendido como um multiresíduo. Para calcular a porcentagem de resíduo retido em cada peneira foi usado a fórmula a seguir, que toma como referência a massa seca de resíduo coletada em cada máquina do Processo Produtivo 01. mr X 100 mt Massa% = mr = Massa seca retida (gramas) mt = Massa seca total (gramas) O resultado do peneiramento é apresentado na TABELA 27 e no gráfico da FIGURA 40, gerado a partir desta tabela onde o resíduo é separado por máquina do Processo Produtivo 01. TABELA 27 – Resultado da peneiração seletiva PENEIRA (mm) SERRA FITA DESEMPENO mr1 (g) mr2 (g) % % FURADEIRA MULTIPLA mr3 (g) % SERRA CIRCULAR mr4 (g) % PLAINA mr5 (g) % SERRA INDUSTRIAL mr6 (g) % DESTOPO mr7 (g) % 25,4 7,25 0,25 47,88 0,97 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 39,22 6,11 19.10 1,35 0,05 480,93 2,69 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 22,24 3,46 9,52 10,91 0,38 2279,86 31,89 13,49 1,63 1,68 0,22 64,20 12,37 0,00 0,00 14,83 2,31 4,76 22,88 0,79 793,03 37,92 157,42 18,99 10,87 1,43 143,75 27,71 0,26 0,06 10,96 1,71 2,00 77,78 2,68 409,91 14,93 244,77 29,53 95,18 12,51 154,29 29,74 9,46 2,17 148,39 23,11 0,84 428,43 14,76 197,99 7,40 260,15 31,39 315,02 41,39 118,72 22,88 164,90 37,78 235,66 36,70 0,59 197,44 6,80 47,38 1,40 107,69 12,99 125,46 16,48 22,77 4,39 115,28 26,41 62,14 9,68 <0,59 2157,14 74,30 67,91 2,80 45,30 2,91 146,60 33,59 108,60 16,91 5,47 212,86 27,97 15,09 M TOTAL 2903,18 100,00 4324,89 100,00 828,82 100,00 761,07 100,00 518,82 100,00 436,50 100,00 642,04 100,00 87 FIGURA 40 - Gráfico da porcentagem de resíduo por máquina segundo a classificação granulométrica. FINO MÉDIO GROSSO FIGURA 41 – Curva Granulométrica do resíduo coletado Com este resultado, mostrado na TABELA 27 e nas FIGURAS 40 e 41, nota-se que a geração de resíduos seque uma forma não homogênea, sendo que cada máquina gera diferentes tipos de resíduos em proporções também diferentes. A FIGURA 41 mostra a curva de distribuição granulométrica do resíduo, demonstrando que grande parte do resíduo gerado tem composição média e fina. A FIGURA 42, que mostra as imagens em escala real (1:1), dos resíduos já classificados por máquina, permite o conhecimento mais abrangente das fases de partículas que formam o resíduo estudado. SERRA INDUSTRIAL DESTOPO DESEMPENO SERRA FITA 88 BANDEJA <0,59mm PENEIRA 0,59mm PENEIRA 0,84mm PENEIRA 2,00mm PENEIRA 4,76mm PENEIRA 9,52mm PENEIRA 19,10mm PENEIRA 25,40mm BANDEJA <0,59mm PENEIRA 0,59mm PENEIRA 0,84mm PENEIRA 2,00mm PENEIRA 4,76mm PENEIRA 9,52mm PENEIRA 19,10mm PENEIRA 25,40mm BANDEJA <0,59mm PENEIRA 0,59mm PENEIRA 0,84mm PENEIRA 2,00mm PENEIRA 4,76mm PENEIRA 9,52mm PENEIRA 19,10mm PENEIRA 25,40mm BANDEJA <0,59mm PENEIRA 0,59mm PENEIRA 0,84mm PENEIRA 2,00mm ± ± ± PENEIRA 9,52mm PENEIRA 19,10mm PENEIRA 25,40mm PENEIRA 4,76mm FIGURA 42 – - Imagens do resultado da classificação granulométrica por máquina PLAINA FURADEIRA MULTIPLA SERRA CIRCULAR 89 BANDEJA <0,59mm PENEIRA 0,59mm PENEIRA 0,84mm PENEIRA 2,00mm ± ± PENEIRA 4,76mm PENEIRA 9,52mm PENEIRA 19,10mm PENEIRA 25,40mm BANDEJA <0,59mm PENEIRA 0,59mm PENEIRA 0,84mm PENEIRA 2,00mm ± ± PENEIRA 4,76mm PENEIRA 9,52mm PENEIRA 19,10mm PENEIRA 25,40mm BANDEJA <0,59mm PENEIRA 0,59mm PENEIRA 0,84mm PENEIRA 2,00mm ± ± PENEIRA 19,10mm PENEIRA 25,40mm PENEIRA 4,76mm PENEIRA 9,52mm FIGURA 42 - Imagens do resultado da classificação granulométrica por máquina (CONTINUAÇÃO) A FIGURA 42 mostra, qualitativamente, a distribuição granulométrica do resíduo, sendo que algumas máquinas não geram todas as granulometrias. Os espaços marcadas com ± são referentes à ausência de partículas na respectiva peneira. A porcentagem total da granulometria por peneira foi calculada a partir da massa total do resíduo coletado e secado, cujo resultado é mostrado na TABELA 28. 90 TABELA 28 – Calculo da porcentagem total dos resíduos por granulometria. PENEIRA (mm) 25,4 19.10 9,52 4,76 2,00 0,84 0,59 <0,59 TOTAL SERRA FITA 7,25 1,35 10,91 22,88 77,78 428,43 197,44 2157,14 2903,18 DESEMPENO FURADEIRA MULTIPLA 47,88 480,93 2279,86 793,03 409,91 197,99 47,38 67,91 4324,89 0 0 13,49 157,42 244,77 260,15 107,69 45,3 828,82 SERRA CIRCULAR 0 0 1,68 10,87 95,18 315,02 125,46 212,86 761,07 SERRA INDUSTRIAL PLAINA 0 0 64,2 143,75 154,29 118,72 22,77 15,09 518,82 0 0 0 0,26 9,46 164,9 115,28 146,6 436,5 DESTOPO 39,22 22,24 14,83 10,96 148,39 235,66 62,14 108,6 642,04 SOMA 94,35 504,52 2384,97 1139,17 1139,78 1720,87 678,16 2753,5 10415,32 % 0,91 4,84 22,90 10,94 10,94 16,52 6,51 26,44 100,00 Após o peneiramento foi possível a classificação granulométrica em 4 níveis vistos na TABELA 29 (descartados, grosso, médio e fino): TABELA 29 – Classificação e descrição final da serragem CLASSIFICAÇÃO PENEIRA 25.40 % DESCRIÇÃO 5,75 Constituído de partículas grosseiras, compostas de lascas e maravalha de grandes dimensões e de restos de pontas, casca e palha. 0,91 DESCARTADO 19,10 4,84 9,52 22,90 4,76 10,94 2,00 10,94 GROSSO MÉDIO 0,84 16,52 0,59 6,51 FINO <0,59 % TOTAL 26,44 33,84 Constituído de lascas e maravalha, ásperas e rijas ao toque. 27,47 Material com fases entre granulosa e fibrosa, composto de pequenas lascas, maravalhas e raspas ásperas ao toque. 32,95 Material granuloso, com fases indo do pó fino como talco até grãos com textura similar à farinha de mandioca e ainda partículas fibrosas, macias e maleáveis ao toque. IMAGEM De acordo com tal distribuição pode-se visualizar o volume de cada parte classificada pela FIGURA 43. FIGURA 43 – Classificação granulométrica final do resíduo 91 A classificação acima permitiu concluir que uma pequena parte (5,75%) é constituída de restos de casca, palha e partículas grandes, os quais serão considerados como não aproveitáveis dentro da expectativa da pesquisa e serão descartados. As demais partículas, grossas médias e finas têm praticamente o mesmo volume, em torno de 30%. Sendo assim, pode-se considerar que em 30 toneladas de serragem, geradas como resíduo pelo Processo Produtivo 01, em um mês, teremos: • Serragem descartada: 5,75% = 1,72 toneladas • Serragem grossa: 33,84% = 10,15 toneladas • Serragem média: 27,47% = 8,24 toneladas • Serragem fina: 32,95% = 9,88 toneladas Considerando o uso das partes grossas, médias e finas do resíduo recuperado como matéria prima, conclui-se que há uma grande diminuição dos resíduos, que antes eram de 30 toneladas, passando para, aproximadamente, 1,72 toneladas. 5.1.3 – Comentário final da FASE I A FASE I destinou-se à reciclagem do resíduo de madeira, transformando-o em insumo para um processo produtivo em plásticos reforçados. Na busca de uma forma eco-eficiente de transformação do resíduo em insumo, esta fase resumiu-se em duas etapas de reciclagem: a secagem e a peneiração. Verificou-se, então, que grande parte do que era considerado resíduo pode ser reciclado de acordo com a classificação adotada na TABELA 29. Dentro das perspectivas das Tecnologias Limpas, verifica-se uma grande diminuição dos resíduos, cerca de 95%, do Processo Produtivo 01 se devidamente reciclado e transformado em insumo para outros processos produtivos. 5.2 – RESULTADOS FASE II - Moldagem No processo de moldagem verificou-se a possibilidade da mistura dos componentes do compósito, resina e SRM, dentro do processo de moldagem de prensagem a frio. O objetivo foi determinar quais os traços, descritos na TABELA 24, que permitem a mistura dos componentes de modo eficiente, como também permitem serem usados no processo de fabricação escolhido. O resultado da FASE II pode ser visto na FIGURA 44, que mostra em escala 1:1 o resultado da moldagem de cada traço. 92 F1 F2 M1 M2 MF1 MF2 G1 G2 GM1 GM2 GF1 GF2 GMF1 GMF2 FIGURA 44 – Detalhe de todos os traços em escala 1/1 Os traços de 10% de SRM são mais fluidos e, portanto, mais fáceis de aplicação no molde. Os traços de 20% de SRM formam uma massa, que é menos fluida que os traços de 10%, mas que permitem preencher a cavidade do molde sem dificuldade. Os traços que têm como componentes o SRM Grosso são mais difíceis de moldar, pois o tamanho destas partículas dificultam a moldagem nos cantos ou nas curvas do molde. O grau de homogenização da mistura variou com a granulometria. As partículas finas permitem um compósito mais homogêneo e que preenche os espaços entre as partículas médias e grossas nos traços mistos. Quanto maior for a partícula menos homogêneo será o compósito, ficando visíveis as fases de madeira e de resina. 5.2.1 – Limites da mistura Os traços demonstraram que existem limites de mistura da resina com o SRM. Os traços G2 e GM2 exigem mais resina que o determinado pela tabela de misturas (TABELA 24), ficando com as partículas de SRM expostas, sem que haja resina ao seu 93 redor. Assim, não foi possível a moldagem completa no processo de fabricação proposto e usado no Processo Produtivo 02. Também se deve levar em conta a dificuldade de assentamento das partículas grandes no molde, cujas cavidades são de pequenas dimensões. Essa dificuldade reflete na má distribuição das partículas e da resina, causando zonas não uniformes e bolhas de ar. A FIGURA 45 mostra o resultado da moldagem do CP2 destes dois traços, onde se visualiza as fibras expostas e sem resina. Traço G2 Traço GM2 FIGURA 45 – Limites da misturas dos traços. Estes traços mostram, portanto, que o limite do uso de partículas médias mais grossas ou grossas puras, nas condições impostas pelos ensaios, não podem atingir valores de 20%. 5.2.2 – Comentário final da FASE II A FASE II destinou-se ao ensaio de moldagem do compósito no processo de fabricação por prensagem à frio (CPM). Como resultado os traços com grande parte de partículas finas e médias permitiram uma fácil mistura e moldagem. As partículas grossas podem ser usadas em quantidades menores, cerca de 33% da massa do reforço ou 3% da massa total do compósito, junto com outras granulometrias, sem que haja dificuldade de moldagem. Observa-se também que a cor e a textura de cada traço varia de um para outro, obtendo-se padrões estéticos variados. Os traços G2 e GM2 não têm uso aconselhado devido à impossibilidade de moldagem assinalando o limite do uso do SRM grosso no processo de fabricação escolhido. 5.3 – RESULTADOS FASE III - Ensaios 5.3.1 - Absorção de água Segundo HELLMEISTER (1983), a madeira possui um grande poder de absorção de água devido à grande porosidade e presença de veios e canais na sua estrutura. O autor ainda determina que “o teor de umidade correspondente ao mínimo de água livre chamase ponto de saturação” e pode alcançar valores em torno de 30%, sendo que tal limite independe da espécie da madeira. 94 A TABELA 30 apresenta o resultado do ensaio de absorção de água seguindo a norma NBR 8514 para cada traço especificado na pesquisa, além do traço T composto de resina pura, sem madeira. TABELA 30 - Porcentagem e quantidade de água absorvida depois de 15 dias de imersão. TRAÇO T MASSA MASSA ÁGUA SECA ÚMIDA ABSORVIDA 12,10 12,17 0,07 % 0,58 F1 14,12 14,32 0,20 1,44 F2 15,10 15,67 0,57 3,77 M1 14,04 14,51 0,46 3,29 M2 15,59 16,17 0,58 3,75 G1 16,52 17,10 0,58 3,53 G2 16,30 17,34 1,04 6,38 GM1 17,06 17,26 0,20 1,19 GM2 18,58 19,53 0,95 5,09 MF1 14,16 14,48 0,32 2,24 MF2 16,44 17,06 0,63 3,80 GF1 14,34 14,67 0,32 2,25 GF2 16,82 17,67 0,86 5,08 GMF1 15,28 15,51 0,23 1,51 GMF2 18,05 18,84 0,80 4,42 A TABELA 30 mostra que o traço T (de resina pura) absorveu em torno de 0,5% de água, podendo concluir que tal absorção foi insignificante. Observou-se, também que os traços com 20% de SRM absorveram mais água que os traços com 10% de SRM similares, portanto, quanto mais madeira mais a absorção. A granulometria significou um fator que altera a absorção de água. Os traços com partículas mais finas apresentam uma absorção menor que as médias e a presença de partículas grandes significou um aumento da absorção de água. Então, quanto maior a partícula de madeira maior será a absorção de água. Para os traços G2 e GM2, que apresentaram baixa impregnação da resina e exposição das partículas, a absorção de água foi significativamente maior. A FIGURA 46 mostra o gráfico da absorção de água e demonstra visualmente o desempenho dos traços durante o ensaio. 95 FIGURA 46 - Gráfico da absorção de água depois de 15 dias de imersão baseado TABELA 25 Do ensaio de absorção foram coletado 20 medições durante o período de 15 dias para cada traço, gerando o gráfico da FIGURA 47, que ilustra o acompanhamento da absorção (não houve medições nos finais de semana). Observa-se que os traços absorvem água de forma lenta, com graduações de décimos de grama por dia nos traços mais absorventes. De modo geral, os gráficos demonstram uma linha quase reta, tal como o traço de referência T, mas com uma leve inclinação, sendo que os traços G2 e GM2 apresentando as inclinações maiores, devido ao maior índice de absorção apresentado por estes traços. FIGURA 47 – Gráfico da abosrçãp de umidade durante 15 dias – 20 medições 96 O ensaio de absorção de água permitiu entender que os traços na sua totalidade absorvem pouca água, e de maneira lenta, alcançando até 5% de umidade, o que pode ser considerado como de pequena monta, se comparados com os valores alcançados pela madeira sólida, que atinge 30% de umidade. Desta forma, entende-se que a resina envolve e protege a madeira da umidade, mesmo estando os compósitos imersos na água vários dias, fato também observado por SILVA (2003) em ensaio similar com compósitos de sisal e coco em matriz de PU de mamona. 5.3.2 – Dureza Shore D A dureza de um material mede o quanto este é resistente à penetração ou ao risco feitos por objetos de materiais mais duros que o testado. Há várias escalas de medidas de dureza, sendo que a escala SHORE é a escolhida para medir a dureza de polímeros e plásticos em geral. O teste é feito pela penetração de uma haste pontiaguda (penetrador) no material em um intervalo de tempo predeterminado e com uma carga constante, o medidor mostra os valores convertidos para a escala SHORE D. Quanto maior o valor medido, mais duro é o material ensaiado. A escala Shore é dividida primeiramente em escalas organizadas pelas normas americanas ASTM como Type A, B, C, D, DO, O, OO (ASTM, 1991). Em geral, a escala Type A é usada para plásticos moles e borrachas, e a Type D para os plásticos mais duros. Cada escala shore é, então, dividida em escalas menores, que vão de 0 (materiais moles) à 100 (materiais duros), sendo que há uma equivalência entre as escalas definidas pela FIGURA 48. FIGURA 48 - Equivalência entre escalas SHORE. Fonte: (ASTM D2240-91, 1991; CALCE, 2001). Como comparação entre materiais, podemos aproximar os plásticos mais duros, tal como o bakelite com os metais mais macios tais como o cobre ou alumínio, seguindo a escala SHORE D como sugere CALCE (2001). Nos ensaios de dureza do material pesquisado, foi usada a escala Shore D, de acordo com a NBR 7456, o que classifica o compósito estudado como um material polimérico duro. Pode-se verificar o resultado do ensaio na TABELA 31. 97 TABELA 31 - Resultado do ensaio de dureza SHORE D LEITURA 1 LEITURA 2 LEITURA 3 LEITURA 4 LEITURA 5 T 81 82 78 79 80 80,00 F1 77 78 78 74 77 76,80 F2 73 80 77 77 76 76,60 M1 73 61 76 77 73 72,00 M2 74 49 71 68 75 67,40 G1 64 77 52 79 80 70,40 G2 74 61 72 75 69 70,20 GM1 75 76 76 74 73 74,80 GM2 75 73 70 70 65 70,60 MF1 74 78 77 69 76 74,80 MF2 71 73 71 50 75 68,00 GF1 80 80 80 78 75 78,60 GF2 70 75 69 66 75 71,00 GMF1 71 60 64 72 70 67,40 GMF2 78 78 57 62 78 70,60 TRAÇO MÉDIA Tomando como base o valor obtido pelo traço T, com valor 80, pode-se notar que, de um modo geral, os valores das leituras individuais foram quase sempre inferiores à 80, normalmente entre 69 e 80, apesar que alguns valores se apresentam bem abaixo dos demais, entre 49 à 68. Observou-se que tais valores mais baixos foram feitos em regiões dos CP1’s com fibras de madeira muito próximas à superfície, o que serviu para reduzir o valor SHORE D destes pontos medidos. Os traços que têm resíduo médio e grosso são os mais propensos a tal redução de dureza, devido a possibilidade de fibras estarem na superfície dos CP’s. Os traços F1 e F2, mais homogêneos e sem partículas médias ou grossas, apresentaram grande aproximação com o valor do traço T. A quantidade de madeira também influenciou na medida da dureza sendo que os traços de 20% de SRM mostraram-se um pouco menos duras que os traços de 10% de SRM. A quantidade de SRM na superfície dos CP’s para os traços de 20% também é maior, o que influenciou nos valores de dureza menores. 98 FIGURA 49 - Gráfico comparativo da Dureza Shore D entre os traços A média dos traços, apesar da possibilidade de fibras na superfície, mostra que a madeira diminuiu pouco a dureza da resina pura (traço T) como mostra a FIGURA 49. A faixa cinzenta, entre os valores 65 e 80 mostra exatamente a faixa de dureza obtida pelos traços do compósito estudado. 5.3.3 – Flexão de 3 pontos Buscou-se no ensaio de flexão de 3 pontos, determinar a Força Máxima na Ruptura (F) em Newtons, Tensão de Flexão (σf) em MPa, a Deformação na Ruptura (d) em milímetros, o percentual de Alongamento na Ruptura, o Módulo de Elasticidade (Eb) em Newtons por milímetro quadrado. O software usado no controle da prensa foi o Tesc Versão 1.12. Para o calculo das tensões em flexão (σf) e módulo de elasticidade (Eb) foram utilizadas as fórmulas sugeridas pela norma NBR 7447: σf = 3FL 2bh2 Eb= L3 4bh3 • F2 Y Onde: σf = Tensão de flexão Eb = Módulo de elasticidade L = Distância entre suportes b = Largura do corpo de prova h = Espessura do corpo de prova F = Carga no ponto 1/2L F2 = Carga na porção linear (elástica) da curva carga x deflexão Y = Deflexão em F2 99 Os dados de Força máxima, Tensão máxima, Deformação e alongamento foram medidos automaticamente pelo software de controle da prensa usada no ensaio. Para o cálculo do módulo de elasticidade, foi retirado um valor médio dos valores de deformação de cada corpo de prova, equivalente à 1/3 da tensão de flexão para cada traço formulado, garantindo que o valor usado se encontrasse na zona elástica do compósito. Assim temse na TABELA 32 o desempenho dos traços estudados: TABELA 32 – Desempenho mecânico do ensaio de flexão em 3 pontos TRAÇO T F1 F2 M1 M2 G1 G2 GM1 GM2 MF1 MF2 GF1 GF2 GMF1 GMF2 FORÇA σf – TENSÃO DEFORMAÇÃO MAX NA RUPTURA NA RUPTURA (N) (mm) (MPa) 577,40 38,95 26,93 479,50 32,35 10,92 316,30 21,34 8,44 290,70 19,61 5,67 374,00 25,23 5,28 283,80 19,14 5,25 39,89 2,69 3,06 389,90 26,30 5,32 258,00 17,40 5,75 299,10 20,17 6,33 370,20 24,97 6,21 293,90 19,82 4,77 307,80 20,76 5,58 302,80 20,42 4,52 388,70 26,22 5,64 ALONGAMENTO NA RUPTURA (%) 5,82 2,36 1,82 1,23 1,14 1,13 0,66 1,15 1,24 1,37 1,34 1,03 1,21 0,98 1,22 MÓDULO DE ELASTICIDADE (N/mm2) 1368,26 1881,69 1737,90 2087,11 2737,28 2265,70 4308,03 2718,76 1701,56 1943,66 2442,09 2157,08 2407,50 2549,66 2799,33 Os gráficos do ensaio de flexão de 3 pontos podem ser vistos na FIGURA 50. FIGURA 50 – Gráficos do desempenho mecânico dos traços. 100 FIGURA 50 – Gráficos do desempenho mecânico dos traços (continuação) 101 O ensaio de flexão permitiu a seguinte análise: 1. De modo geral, os compósitos apresentaram uma tensão de flexão inferior ao traço T (de resina pura usado como referência). Este traço, no entanto apresentou uma deformação acima dos demais, de forma bastante plástica, estilhaçando-se no final do ensaio em vários pedaços, indicando a resistência à flexão do polímero sem a presença de reforço de fibras. Se por um lado se tem grande resistência à flexão, por outro há uma grande deformação, o que prejudica sua aplicação prática. 2. Comparando a deformação do traço T, de referência, com os demais traços, observouse que a serragem de madeira modifica a matriz quanto à rigidez, tornando-a mais rígida, visto que o traço T atingiu valor maior que 25mm e os demais atingindo em torno de 5mm de deformação, excetuando os traços F1 e F2 que ultrapassaram bastante esse valor. 3. Observa-se o aumento do módulo de elasticidade do compósito em relação ao traço T, que alcançou quase o dobro do valor do traço de referência em alguns casos. Relacionando esses valores do módulo de elasticidade com a diminuição da deformação atingida pelo compósito, conclui-se que essa característica é conseqüência da propriedade de reforço que o SRM transferiu para a matriz polimérica. Ou seja, a serragem de madeira atua verdadeiramente como um reforço quando empregada num compósito de matriz polimérica. 4. A análise da força aplicada em relação à deformação e do módulo de elasticidade permite visualizar que, embora o traço T tenha suportado mais carga, este também demonstrou maior deformação plástica, indicando um baixo desempenho útil. Já os demais traços mostraram uma melhor relação entre a força aplicada e a deformação, que pode ser entendido como um reforço pela presença do resíduo reciclado. Assim, os traços do compósito demonstram melhor desempenho útil que o traço de resina pura. 5. Os traços F2, M1, G1, GM2, MF1, GF1, GF2 e GMF1 apresentaram um desempenho muito semelhante, não importando a variação da mistura de serragem fina, média ou grossa. 6. Os traços M2, GM1, MF2 e GMF2 apresentaram-se como os traços mais resistentes, devido à presença de partículas médias. Apresentam, também, uma distribuição aleatória melhor das partículas que nos traços somente com SRM fino. Assim, houve uma melhor distribuição das tensões no interior dos CPs. 7. Os traços GMF1 e GMF2 representam um desempenho geral bastante satisfatório. Este desempenho torna-se relevante pois se trata dos traços que mais se aproximam 102 das amostras do resíduo in natura, de forma misturada e como é coletado, tendo apenas separado a parte muito grosseira e descartável, como classificada na TABELA 29. Portanto são traços que, devido a estas características, permitem prever não somente a simplificação dos processos de reciclagem, pois haverá apenas a separação de partes descartáveis, mas também o aumento da eco-eficiência do compósito estudado, pois há uma otimização do desempenho com simplificação da produção. 8. O desempenho dos traços G2 e GM2 devem ser analisados de modo diferenciado dos demais devido a pouca uniformidade da mistura matriz – SRM e a bolhas devido à dificuldade de acomodamento das partículas grandes nas cavidades do molde, que resultou em falhas estruturais nos corpos de prova, como descrito na FASE II. 9. Os traços com partículas grossas apresentaram fratura nos pontos em que havia partículas dispostas verticalmente e paralelamente em relação ao comprimento do corpo de prova, o que pode ser visto na FIGURA 51. FIGURA 51 – Região de fratura nos traços com partículas grossas Isso pode ser explicado pela propriedade da madeira em ser mais frágil mecanicamente no sentido transversal às fibras. As partículas grossas promovem uma descontinuidade do compósito, interrompendo a adesão da matriz ao mesmo tempo em que não suporta a carga aplicada. Desta forma, uma força aplicada perpendicularmente a uma das superfícies ao corpo de prova provoca componentes de tração na superfície oposta, fazendo com que a partícula de madeira localizada na região de aplicação da força seja rasgada, resultando na fratura do compósito. Partículas grossas dispostas perpendicularmente em relação ao comprimento do corpo de prova são, portanto, pontos de fragilidade do material. A resultado semelhante chegou SILVA (2003) testando um compósito de fibras de sisal e coco em matriz de poliuretano de mamona, segundo SILVA (2003, p. 79) “as fibras com orientação 103 perpendicular atuam no sentido de diminuir a resistência mecânica do compósito, e neste caso, a resistência à flexão é dominada pela resistência à flexão da matriz”. 5.3.4 – Comentário final da FASE III O propósito dos ensaios foi determinar algumas características dos traços, permitindo uma projeção do desempenho de futuros usos e produtos construídos com tais compósitos. A comparação com a resina pura não visou determinar se o desempenho físico ou mecânico do compósito é melhor nem pior que esta, mas apenas serviu como verificação da mudança destas características com o uso do SRM (serragem de madeira reciclada). Estes ensaios permitiram saber que os traços testados têm bom comportamento na presença de água, pois a absorção é muito inferior à da madeira sólida como descrita na literatura. Também a presença da madeira alterou pouco a dureza da matriz. No entanto, devido à provável presença de partículas que extrapolam a superfície do laminado e que influenciam tanto na absorção de água quanto na dureza, pode-se prever a necessidade de uma camada de proteção, ou Gel-Coat, descrita por STRADMANN (1993) como sendo uma camada de acabamento externo e de proteção contra agentes atmosféricos e água. Tem função de substituir a pintura convencional, ou servir como superfície de pintura em peças que devem ser pintadas como mostra a FIGURA 52. FIGURA 52 – Camada de proteção Gel-Coat O ensaio de flexão, por sua vez, mostrou que a serragem reciclada (SRM) melhora as propriedades mecânicas da resina na presença de uma carga de flexão, apesar da resina pura ter suportado mais carga. Também ouve aumento da rigidez do compósito em relação à resina pura, permitindo concluir que a serragem reciclada se comporta como carga e também como reforço para plásticos reforçados. 5.4 – COMPARAÇÃO COM MATERIAIS SEMELHANTES A TABELA 33 faz a comparação entre o WPC estudado e materiais semelhantes, fabricados com partículas ou fibras de madeira. O desempenho do WPC é estimado devido este estar em fase de desenvolvimento e por não ter sido ainda usado em aplicações práticas. 104 TABELA 33 – Comparação entre o WPC estudado e materiais semelhantes MATERIAL WPC PESQUISADO (Wood Plastic Composite) (DESEMPENHO ESTIMADO) OSB (Oriented Strand Board) MADEIRA AGLOMERADA MDF (Medium density fiberboard) CHAPA DE FIBRA USO VANTAGEM DESVANTAGEM ECO-EFICIÊNCIA ● Preço dependente da resina usada como matriz ALTA: ● Alta durabilidade ● Uso de resíduos como matéria prima ● Processo de moldagem não poluente ● Reciclável ● Móveis e perfis ● Equipamentos e produtos diversos ● Peças para uso externo ● Peças de formato complexo ou plano ● Alta resistência à água ● Alta dureza ● Boa resistência à flexão ● Bom acabamento superficial ● Móveis ● Vedação externa ● Uso estrutural ● Resistente à água ● Alta resistência mecânica ● Baixo preço ● Dificuldade de acabamento superficial BOA: ● Alta durabilidade ● Usa 100% da tora de madeira ● não usa resíduo. ● Reciclável. ● Móveis ● Divisórias ● Baixo preço ● Resistência à água ou umidade dependente da resina de adesão usada, mas geralmente é de baixa resistência ● Resistência física moderada MÉDIA: ● Baixa durabilidade ● Usa 100% da tora de madeira ● Não usa resíduo. ● Reciclável ● Móveis ● Perfis ● Acabamento uniforme ● Boa resistência física ● Não recomendado na presença de água BOA: ● alta durabilidade ● usa 100% da tora de madeira ● não usa resíduo. ● Reciclável ● Baixo preço ● Boa Resistência física ● Baixa resistência à água por não utilizar matriz polimérica na função de cola e de proteção. MÉDIA: ● Baixa à média durabilidade ● Usa 100% da tora de madeira ● Não usa resíduo. ● Reciclável ● Móveis ● Divisórias ● Isolantes Adaptado de CÉSAR, 2002 Observam-se, então, as reais possibilidades do material desenvolvido nesta pesquisa. Nota-se ainda que, por essa comparação, o WPC leva vantagens por ser altamente moldável, permitindo produtos e aplicações de formatos variados além de ter baixa absorção de água, ou seja grande resistência à umidade, boa dureza superficial e boa resistência mecânica. Finalmente, este WPC apresenta o melhor desempenho ecológico que os demais materiais. 105 CAPÍTULO 6 CONCLUSÕES 6.1 – RECICLAGEM A reciclagem de duas etapas, secagem e peneiramento, mostrou ser eficiente no uso de resíduos de madeira na forma de serragem em um material em pó e em partículas capazes de serem usadas em compósitos como carga. Uma pequena parte, 5%, foi descartada por não se caracterizar como serragem, mas cerca de 95% foi completamente aproveitada. Desta forma, pode-se fazer uma estimativa de aproveitamento de resíduos que a partir de um total de 30 toneladas (quantidade gerada na indústria pesquisada) 28 toneladas seria aproveitada e apenas cerca de 2 toneladas não poderia ser aproveitada nesta função, configurando-se, assim, a redução de resíduos que teriam um destino duvidoso. Essa parte não reciclada pode, então, ser destinada para os usos tradicionais tal como a queima para fins energéticos ou como adubo. Apesar da reciclagem ter sido feita no laboratório, usando peneiras especiais e estufas elétricas, a reciclagem poderá ser feita por processos simples, com a proposta de usar meios alternativos e mais eco-eficientes tais como: • Coleta da serragem no momento que é gerada e sua armazenagem em silos protegidos da umidade e de agentes biodegradantes. • Processo de peneiramento com o máximo de duas peneiras para separação das fases: descartadas, grossas, médias e finas, tal como a classificação da TABELA 29. • Moinhos e estufas eólicas ou solares tal como sugere TORRES e ÁVILA (1981) em pesquisa de um secador solar de insumos vegetais. Essa etapa de reciclagem, entretanto pode se tornar ainda mais eco-eficiente pela eliminação da etapa de secagem, bastando a coleta e armazenagem do resíduo ainda seco, logo após sua geração, evitando assim sua degradação por umidade ou por agentes biológicos. 106 6.2 – MOLDAGEM A moldagem em moldes fechados mostrou-se como um processo eco-eficiente, podendo ser entendida, segundo KIPERSTOK (1999), como a melhor tecnologia disponível, visto que houve um melhor controle tanto da quantidade de material usado quanto do controle da espessura das peças. Este processo, no entanto, pode ser melhorado visto que a viscosidade dos traços mais espessos pode levar a falhas e bolhas. Quanto ao resultado estético, foi verificado que cada traço teve uma cor e textura diferente entre si, mas com resultado agradável. Portanto, as boas qualidades plásticas e estéticas permitem concluir que este compósito poderá ter um bom aproveitamento na fabricação de diversos produtos e bens de consumo. 6.2 – PROPRIEDADES FISICAS E MECÂNICAS Os traços formulados nesta pesquisa demonstraram que a madeira altera as propriedades da matriz de poliéster, aumentando a absorção de água, mas em quantidade muito menor se comparada à madeira sólida, indicando uma proteção da madeira pela matriz. Ao mesmo tempo, a madeira não diminuiu de forma significativa a dureza da matriz, mas aumentou sua rigidez, conforme resultados dos ensaios de Dureza Shore D e de Flexão em 3 pontos. A inclusão da serragem reciclada alterou, no geral, a resistência à flexão da matriz, aumentando seu desempenho útil em relação à resina pura, além da modificação do aspecto físico, cor e textura. Verificou-se que as partículas finas não alteraram de maneira significativa o desempenho mecânico do compósito quanto à propriedades de flexão mesmo na variação de 10% ou 20%, mas partículas grossas apresentaram um desempenho ambíguo, podendo reforçar ou fragilizar o compósito de acordo com a disposição das partículas em relação às forças atuantes no compósito. As partículas médias apresentaram o melhor desempenho mecânico em relação às partículas finas e grossas. Concluiu-se que este tipo de madeira reciclada pode se comportar como carga concordando com ENGLISH et al (1996) e CORREA et al (2003), e também como um reforço moderado, como visto no ensaio de flexão. Recomenda-se, entretanto, que, para aumentar a resistência à flexão e possivelmente outras características mecânicas deste tipo de compósito, seja incluído fibras longas na formulação, tais como as fibras de sisal, coco e juta, dentre outras, como demonstram várias pesquisas descritas na bibliografia como SILVA (2003), CARVALHO (2003 -1), BISWAS et al (2004), JOSEPH (1999), PAIVA 107 (1999) dentre outros. Nessas pesquisas houve significativo reforço mecânico de matrizes poliméricas usando fibras longas naturais. A alteração das características mecânicas deste compósito em relação à resina pura (traço T) o habilita como matéria prima na fabricação de muitos produtos. Estes podem ser de vários tipos, desde peças de superfície plana, tais como tampos de mesa, móveis e utensílios e também produtos com formas complexas, possíveis graças à plasticidade do material. As propriedades de baixas absorções de água indicam ainda usos em ambientes com possibilidade de umidade. Uma vez que a madeira foi protegida pela matriz polimérica, espera-se que não haja processos de biodegradação, visto que essa proteção impede a penetração de umidade e possivelmente outros agentes biológicos prejudiciais às partículas de madeira. Desta forma há uma tendência de conservação do ciclo fechado de matérias primas, visto que não haverá desvio de material para o meio ambiente e nem ataque de cupins ou fungos. 6.3 - AS PARTÍCULAS GRANDES Durante as FASES II e III, verificou-se que as partículas grandes apresentaram-se como uma variável que dificultava a moldagem, principalmente nos cantos e nos detalhes do molde, devido as pequenas dimensões das cavidades, fragilizando, assim, o compósito nas propriedades mecânicas. Recomenda-se, então, que as partículas grandes, assim como foi classificada na ETAPA I, sejam: • Trituradas para atingir uma granulometria média e fina, configurando-se mais uma etapa de reciclagem, além da secagem e peneiramento, permitindo seu uso como componente dos compósitos, ou; • Usadas em quantidades que não excedam 3% da mistura da serragem reciclada, na massa total do compósito, tal como visto nos traços GMF, ou; • Destinadas ao uso tradicional. Como cama de galinha, adubo ou queima para fins energéticos, configurando um destino possível mas pouco nobre ao material. 6.4 – ECOLOGIA INDUSTRIAL O uso de resíduos oriundos de um processo produtivo usado como matéria prima em outros processos é a base da Ecologia Industrial. Usando este princípio, há menos consumo de matéria virgem e, ao mesmo tempo, há a diminuição da disposição de resíduos no meio ambiente. A pesquisa mostrou que a serragem de madeira pode ser usada como componente de um eco-compósito que, além de preencher os requisitos do princípio da circulação de 108 material, também mostrou ter boas propriedades físicas e mecânicas. Podem-se enumerar as seguintes vantagens verificadas na pesquisa: • Diminuição do resíduo de madeira na forma de serragem reciclada; • Possibilidade da serragem reciclada ser usada em outro sistema produtivo, configurando a circulação de recursos proposta pela Ecologia Industrial; • Uso de poucas etapas de reciclagem na transformação da serragem em componente de compósito; • Uso de sistema de fabricação simples, acessível e eco-eficiente; • Possibilidade do compósito baseado em serragem reciclada ser usado em diversos produtos conforme os resultados das propriedades físicas e mecânicas. • O compósito desenvolvido na pesquisa atende os requisitos de eco-design tal como vistos na TABELA 03. 6.5 – SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS A pesquisa aponta para um desdobramento que completará o entendimento das questões sobre o eco-compósito desenvolvido. A lista abaixo aponta os assuntos mais comentados e relevantes para dar seqüência à pesquisa: • Novos ensaios mecânicos tais como o ensaio de tração, de impacto e de envelhecimento, que ampliarão o conhecimento sobre as propriedades físicas e mecânicas do material. • Estudo de novos traços com porcentagens diferentes de resíduo. • Inclusão de materiais residuais de outras origens, tais como resíduos de fibras de sisal ou de outra fonte de fibras vegetais, cascas de cereais, resíduos inorgânicos tais como o pó encontrado em indústrias de mármore e granito, dentre outros. • Estudo do uso de outras matrizes poliméricas, de origem natural, cimentícias ou de outras origens. • Estudo de outras formas de fabricação de produtos construídos com compósitos diferentes ao proposto na pesquisa que foi a prensagem a frio. • Estudo da possibilidade do compósito ser reciclado para fins similares ou para outros fins. • Estudo das aplicações do material, assim como sistemas de fixação e união de peças do mesmo material ou de materiais diferentes do compósito. 109 6 REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA CONSULTADA REFERÊNCIAS ABIMCI, Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente. O Setor de Produtos de Madeira Sólida no Brasil e Contribuições à Política Industrial. Curitiba, PR. 2003. Disponível no Site: www.abimci.com.br. Capturado em janeiro de 2004 ABIMCI, Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente. Madeira Processada mecanicamente. Out.,1999.54p. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10004 – Resíduos Sólidos. Rio de Janeiro, 1987. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5734 – Peneiras para Ensaio. Rio de Janeiro, 1996. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7190 – Projeto de estruturas de madeiras. Rio de Janeiro, 1983. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 8514 – Plásticos – Determinação de Absorção de Água. Rio de Janeiro, 1984 ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7456 - Plásticos – Determinação da Dureza Shore. Rio de Janeiro, 1982. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7447 –Plásticos Rígidos. Determinação das propriedades de flexão. 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Propriedades Químicas e Físicas Viscosidade Brookfield a 25 °C Gel Time à 25°C* Pico Exotérmico Intervalo de Reação Teor de Sólidos Índice de Acidez Densidade à 25°C • (cP) Minutos ºC Minutos % mgKOH/g amostra g/cm3 1400 - 1800 10 - 13 135 - 160 15 - 20 69 - 71 30 máximo 1,13 - 1,15 100,0 g de resina 1,0 ml de BUTANOX M-50 Condições de Armazenamento: As resinas poliesteres insaturadas devem ser mantidas a temperatura de 25° C ou menor. O armazenamento do produto em condições diferentes acarretará em alterações das propriedades do mesmo, inclusive sua vida útil que é de 4 meses. Qualquer duvida queira consultar nosso departamento técnico. Depto. Técnico. Divisão Poliester. As recomendações ou sugestões de uso de nossos produtos, contidos neste boletim são fornecidas de boa fé como orientação ao usuário, porém sem nenhuma espécie de garantia explicita. Solicitamos aos nossos clientes que inspecionem e testem nossos produtos entes de sua utilização. Não assumimos qualquer responsabilidade decorrente do armazenamento e manuseio em condições inadequadas. Cray Valley do Brasil Ltda – Rua Áurea Tavares, 580 – Pq Industrial das Oliveiras – Taboão da Serra – SP – CEP:06765902 – tel/fax: 47882000 – e-mail: crayvalley@crayvalley.com 124 125 ANEXO II 126 RESUMO DOS DADOS RELEVANTES SOBRE A RESINA POLIÉSTER ORTOFTÁLICA CRISTAL (FONTE: FICHA DE EMERGÊNCIA DINU) • Nome do produto: RESINA POLIÉSTER • Fabricante: • Ingredientes principais: • o Resina poliéster - 60 à 70% o Estireno - 40 à 30% Composição e informações sobre ingredientes: o Aromáticos - 77% +/- 2 o Áloois - 22% +/- 2 o Glicois - 1% +/- 0,5 • Solubilidade: Insolúvel em água; solúvel em acetona e estireno. • Taxa de evaporação: 12,4 • Aparência e odor: Odor aromático característico do estireno • Identificação de perigo – informações gerais de emergência: • o Líquido incolor e inflamável, de odores aromáticos, tóxicos, na queima gera emissão de vapores tóxicos. Os vapores são mais pesados que o ar e podem movimentar-se a longa distância e acumular-se em áreas baixas. o O produto e seus vapores expostos em altas temperaturas podem causar rupturas explosivas nos recipientes de embalagem. o No combate ao fogo usar spray de água, espuma ou pó químico e usar equipamentos de proteção apropriados. Em caso de acidente, isolar a área para evitar danos ao meio ambiente. Efeitos potenciais para a saúde humana: o Olhos: Pode causar irritação moderada com lesões nas córneas. Os vapores podem irritar os olhos podendo causar lacrimejamento. o Pele: Uma exposição repetida ou prolongada pode causar irritação ou mesmo queimadura na pele. O contato repetido pode causar ressecamento ou descamação da pele. o Ingestão: Pequenas quantidades lesões pouco prováveis. Grandes quantidades podem causar lesões. Irritação na boca garganta e sistema gastrintestinal. Se for aspirado, líquido entrando nos pulmões, pode ser rapidamente absorvido e causar lesões com risco de morte devido a pneumonia química. o Inalação: Perigoso em inalação de elevadas concentrações de vapor causando efeitos analgésicos ou narcóticos. o Outros sintomas: Exposição excessiva e uso inadequado do produto e do solvente podem atacar sistema nervoso central, causar perda de audição, danos no fígado e até a morte. Produto não cancerígeno em testes de longa duração em animais. 127 ANEXO III MINI-PRENSA DE MESA A necessidade de uso de uma prensa que estivesse sempre disponível para a pesquisa levou ao projeto de uma prensa leve de mesa, de conceito e construção simples, mas robusta o bastante para permitir o uso no fechamento dos moldes dos corpos de prova. O conceito foi o do macaco sanfona, usado em automóveis, que foi fixado de cabeça para baixo em um chassi metálico. O movimento de extensão do macaco para baixo é usado como prensa. O chassi foi construído com uma haste de aço de 3/4” cortada e dobrada em peças posteriormente soldadas. Esta prensa foi construída, com baixo custo, especialmente para a pesquisa, usando peças compradas em ferro-velho, e construída pela empresa Ycaro Victal Metalurgica’s. A figura abaixo mostra as vistas da mini-prensa de mesa. MINI-PRENSA DE MESA 128 As fotos abaixo mostram a mini-prensa em uso: 129 ANEXO IV DETERMINAÇÃO DA PORCENTAGEM DE SERRAGEM RECICLADA NA MISTURA DO COMPÓSITO. Os testes preliminares foram feitos com o objetivo de determinar quais os valores percentuais de resíduo poderia ser usado. Inicialmente a meta era atingir valores de 50% ou mesmo superiores, mas estes testes apontaram para valores até 20%, que são adequados para garantir a cura da resina de forma normal. Os valores acima de 20% (25% e 30%) não obtiveram sucesso, pois a resina perdeu viscosidade e não curou corretamente. Essas porcentagens se apresentaram como uma massa espessa e mole mesmo decorrendo 3 semanas após a mistura dos ingredientes do compósito, gerando falhas de moldagem. TRAÇO COM 30% SRM FINO Partes moles, não curadas, depois de 3 semanas de misturados os ingredientes resina e pó fino. TRAÇO COM 25% SRM FINO Partes moles e não curadas depois de desmoldagem gerando grandes bolhas e falhas na superfície da peça. 130 131 ANEXO V MENSAGEM ELETRÔNICA DA DURATEX® Mensagem eletrônica obtida pela empresa fabricante de madeira reconstituída DURATEX®, ao ser questionada pela possibilidade do uso de serragem de madeira como matéria prima em seus produtos: De: "Tiago Di Giovani Lunardi" <tiago.lunardi@duratex.com.br> Adicionar à lista de contatos Para: <marcelomgt@ibest.com.br> Data: Ter, 04 Mai 2004 11:10:44 Assunto: Duratex Madeira - Serragem | Prezado Marcelo, Agradecemos por utilizar o Serviço de Atendimento ao Consumidor da Duratex. Em nosso processo produtivo não é utilizada a serragem. Apenas geramos como resíduo pó e refilo proveniente do corte e lixamento das chapas. Esse resíduo não é classificado e é utilizado como combustível (biomassa) em nossas caldeiras. Atenciosamente, Tiago Lunardi Tel. (11) 4588-2108 Fax. (11) 4588-2130 E-mail - tiago.lunardi@duratex.com.br MAT - Assistência Técnica e Serviços 132 133 UFBA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPTº DE ENGENHARIA AMBIENTAL - DEA MESTRADO PROFISSIONAL EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO Rua Aristides Novis, 02, 4º andar, Federação, Salvador BA CEP: 40.210-630 Tels: (71) 3235-4436 / 3203-9798 Fax: (71) 3203-9892 E-mail: cteclim@ufba.br Home page: http://www.teclim.ufba.br
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