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1 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto 2 Harry Potter e o Príncipe Mestiço JK ROWLING. TRADUÇÃO: O PACTO 3 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto O Pacto gostaria de informar que essa tradução foi protegida por uma Maldição das Bruxas Mancas da Calábria. Qualquer uso indevido ou lucro auferido com a mesma não é de nossa responsabilidade, o que acontecer com os insanos que a utilizarem indevidamente, também não. Todos os direitos reservados à autora. 4 Para Mackenzie*, minha linda filha, eu dedico seu gêmeo de tinta e papel. *Filha de J.K. Rowling. Também não sabemos de onde ela tirou esse nome... (N.T) 5 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto 6 Índice PREFÁCIO – A TRADUÇÃO DO PACTO ............................................................................ 9 CAPÍTULO 1 – O OUTRO MINISTRO ............................................................................. 11 CAPÍTULO 2 – SPINNER’S END ...................................................................................... 20 CAPÍTULO 3 – ÚLTIMA VONTADE, CONTRA VONTADE .............................................. 29 CAPÍTULO 4 – HORACE SLUGHORN .............................................................................. 37 CAPÍTULO 5 – UM EXCESSO DE FLEUMA ..................................................................... 48 CAPÍTULO 6 – O DESVIO DE DRACO .......................................................................... 60 CAPÍTULO 7 – O CLUBE DO SLUG ................................................................................ 71 CAPÍTULO 8 – SNAPE VITORIOSO ................................................................................. 83 CAPÍTULO 9 – O PRÍNCIPE MESTIÇO ........................................................................... 91 CAPÍTULO 10 – A CASA DE GAUNT ........................................................................... 102 CAPÍTULO 11 – UMA MÃOZINHA DE HERMIONE ..................................................... 113 CAPÍTULO 12 – PRATA E OPALAS ............................................................................... 121 CAPÍTULO 13 – O RIDDLE SECRETO ......................................................................... 131 CAPÍTULO 14 – FELIX FELICIS .................................................................................... 141 CAPÍTULO 15 – O JURAMENTO INQUEBRÁVEL ........................................................... 153 CAPÍTULO 16 – UM NATAL MUITO FRIO .................................................................. 163 CAPÍTULO 17 – A LEMBRANÇA SLUGGIANA .............................................................. 173 CAPÍTULO 18 – SURPRESAS DE ANIVERSÁRIO ............................................................ 184 CAPÍTULO 19 – ELFOS NA COLA ................................................................................. 195 CAPÍTULO 20 – O PEDIDO DE LORD VOLDEMORT .................................................. 206 CAPÍTULO 21 – A SALA INATINGÍVEL ........................................................................ 217 CAPÍTULO 22 – DEPOIS DO ENTERRO ....................................................................... 226 CAPÍTULO 23 – HORCRUXES ........................................................................................ 237 CAPÍTULO 24 – SECTUMSEMPRA .................................................................................. 247 CAPÍTULO 25 – A VIDENTE ENTREOUVIDA .............................................................. 257 CAPÍTULO 26 – A CAVERNA ....................................................................................... 267 CAPÍTULO 27 – A TORRE ATINGIDA PELO RAIO ..................................................... 278 CAPÍTULO 28 – A FUGA DO PRÍNCIPE ....................................................................... 286 CAPÍTULO 29 – O LAMENTO DA FÊNIX .................................................................... 292 CAPÍTULO 30 – O TÚMULO BRANCO ......................................................................... 302 7 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto 8 PREFÁCIO Harry Potter e o Príncipe Mestiço A TRADUÇÃO DO PACTO Há pouco mais de dois anos atrás, quando o livro Harry Potter and the Order of the Phoenix foi lançado em inglês, muitos fãs brasileiros ficaram desesperados: a tradução de Harry Potter e o Cálice de Fogo havia demorado um ano e meio para sair no Brasil, e todos que não liam em inglês temiam uma espera angustiante de mais de um ano para ler o novo título de J.K. Rowling Foi quando, no lançamento do livro no Rio de Janeiro, um grupo de fãs resolveu fazer uma tradução alternativa e distribuir para amigos que não pudessem ler em inglês. A intenção não era atrapalhar a comercialização do livro, mas dar uma oportunidade de levar a quem não lia em inglês uma tradução com duas características essenciais: qualidade e respeito ao fã. Nascia assim, O pacto. A tradução de Order of the Phoenix teve seus erros e tropeços, mas aprendemos muito com ela. Quando foi ao ar, um pouco depois do que os integrantes realmente queriam, todos tinham um senso de dever cumprido: nosso pacto havia pelo menos atingido os seus objetivos e seu trabalho foi considerado, por muitas pessoas, a melhor tradução alternativa publicada na internet. Em janeiro desse ano, com algumas ausências e muitas novas adesões, iniciamos o Segundo Pacto, com um grupo de 32 pessoas dispostas a fazer um trabalho ainda melhor e mais rápido que o Pacto original. Em 26 dias, tínhamos a nossa versão do livro, dessa vez com mais novidades e quatro revisões antes da versão final. Você encontrará notas explicativas em diversos capítulos para os termos cuja tradução nos deu mais trabalho. Esperamos levar a todo fã de Harry Potter uma tradução fiel e bem cuidada, como só um grupo de fãs seria capaz de elaborar. Estamos torcendo para que você curta tanto nosso trabalho quanto curtimos fazê-lo, porque, pode ter certeza: foi trabalhoso, mas foi muitíssimo divertido trazer o Pacto novamente à vida. Tenha uma boa leitura e divirta-se! Assinado: Todos os Tradutores do Pacto: Cap 01 – Mc.Gonnagal – LEIAM AFTER THE END Cap 02 – Starbuck – hum... isso tem alguma coisa a ver com P Sherman 42, Wallaby Way, Sidney, certo? Cap 03 – Hope Black – Nem todos me amam. As pessoas certas me odeiam. Cap 04 – Narcissa Black Malfoy – Sangue de Black e sobrenome de Malfoy. O que esperar de alguém assim? Não se deixe enganar pelo que já foi dito sobre ela, surpresas podem estar por vir. Cap 05 – Veruka Salt – Eu quero um esquilo, eu quero, eu queeeeeeero! Cap 06 – Queen Mab – A rainha das fadas, que considera a Titânia uma usurpadora supervalorizada pelo Shakespeare, gosta de Harry Potter, mas prefere mesmo o Dumbledore Cap 07 –Victor Krum – Mau-humorado? Imagina! Cap 08 – Penelope Clearwater, gosta de traduzir e comer chocolate enquanto faz isso. Cap 09 – Rapsberry – Doce e azedinha. Cap 10 – Griselda, que muito já viveu e aprendeu sobre Harry Potter. Cap 11 – Jane Scott – Doutora em Poções e HIPERPOP. Um pouco louca, um pouco sã, essa garota gosta de chuva, de superanalisar e de rock! 9 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Cap 12 – Aluado – Com problemas sérios de memória, vive no mundo da Lua, é capaz até de esquecer seu próprio nome! Mas, quando os amigos precisam, sempre está ali para ajudá-los. Cap 13 – Miss. J. McLane – “A Chefa”. The chosen one who rules it all (A escolhida para mandar nisso tudo). Criadora de um revolucionário estilo de democracia: todos votam, ela decide. Cap 14 – Penélope Charmosa: traduzindo o capítulo numa corrida maluca. Cap 15 – Miss J. McLane, fazendo hora extra e traduzindo mais um capítulo. Cap 16 – O Rei Shura – C++/Java/C#, Software Livre, Cultura Livre, orgulho da Lufa-Lufa e de ser Lufo! Cap 17 – Nymphadora Tonks, uma auror a favor da distribuição da cultura mágica para todos. E que acha ótimo ser metamorfomaga numa situação como essa!! Cap 18 – Molly Weasley – Mãezona, ótima cozinheira e traduzindo quando nenhum dos filhos está em perigo. Cap 19 – Morena Marzanna – que sabe que sua perversidade agrada a muitos por saber usá-la com arte. Cap 20 – Aluada – a que observa muito mais do que fala, mas que está sempre por perto. Cap 21 – K – sempre de vestes negras, de varinha em punho tentando convencer o mundo inteiro que não existe magia, que tudo é obra da imaginação fértil de algumas pessoas. Ah, você tem certeza que magia existe...peraí...Obliviate!!! Cap 22 – Wind-Headed Alchemist – que tem vento entre os ouvidos, e vive com a cabeça nas nuvens, mas anda flutuando apaixonado. Cap 23 – Elodie Deveraux – uma bruxa esperando ser resgatada do convívio dos trouxas por alguém em uma moto voadora. Algum meio-gigante aí se habilita??? Cap 24 – Vivi – Canceriana, emotiva, sentimental, chorona e romântica sim. Definitivamente, este capítulo foi (per)feito pra mim! Cap 25 – Mrs. Riddle. – Eu apóio Lord Voldemort. Algo contra? Cap 26 – Victor Krum mais uma vez. Sim, esse cara deve gostar de traduzir! Cap 27 – O Padawan – Monstrão de açúcar, sangue de barata, covarde confesso e louco furioso. “Louco? Passou um por aqui agorinha... ouvi dizer que tão pagando R$ 2,00 por quilo lá em Sampa...” Cap 28 – OX – Dumbledore’s man through and through. Pronto para qualquer missão no ar, Na terra, selvagem cão de guerra. Cap 29 – Menino mau que não entregou nem ninck nem mini bio! Cap 30 – Dagluma – Fala inglês desde os seis anos e já morou em muitos países, portanto fala também outras línguas. Ela também faz tradução ocasionalmente e você já pode ter lido algum de seus trabalhos se é fã de Jornada nas Estrelas. Agora ela foi sugada para dentro do universo de Harry Potter, onde encontrou muitos amigos tanto no mundo bruxo quanto no mundo trouxa e atualmente esconde-se em várias passagens secretas do Castelo de Hogwarts. Revisão: Griselda, Queem Mab, J. McLane. Revisão final e leitura de teste: Hanna – Bruxa artística e professora de trouxas adolescentes. Colaboradoras: Hannah e Cau Tonks, que ficou dodói e não pôde ajudar mais na tradução, mas nos deu força em tudo. Agradecimentos: a todos os malucos que incentivaram e esperaram a tradução do pacto. 10 – CAPÍTULO 1– O Outro Ministro Era quase meia-noite e o Primeiro Ministro encontrava-se sentado sozinho em seu escritório, lendo um longo memorando o qual passava pelo seu cérebro sem deixar nem um pingo de informação. Ele esperava uma ligação do presidente de um país distante, e entre estar imaginando quando o infeliz ligaria, e estar tentando suprimir lembranças desagradáveis do que tinha sido uma semana longa, cansativa e difícil, não havia muito espaço em sua cabeça para mais nada. Quanto mais ele tentava prestar atenção no que estava escrito no memorando à sua frente, mais claramente o Primeiro Ministro podia ver a cara de regozijo de um de seus oponentes políticos. Esse oponente em particular havia aparecido nos noticiários naquele mesmo dia, não apenas para enumerar todas as coisas terríveis que haviam acontecido na última semana (como se alguém precisasse ser lembrado), mas também para explicar por que cada uma delas tinha acontecido por culpa do governo. O pulso do Primeiro Ministro se acelerou apenas ao lembrar-se dessas acusações, já que elas não eram justas ou verdadeiras. Como o seu governo poderia ter impedido que aquela ponte caísse? Era revoltante que alguém sugerisse que eles não estavam gastando o suficiente em pontes. A ponte em questão tinha menos de dez anos de construção, e os melhores peritos não sabiam explicar como ela tinha se partido tão perfeitamente em duas partes, levando uma dúzia de carros para as profundezas do rio abaixo. E como alguém se atrevia a sugerir que os dois horrendos assassinatos super divulgados haviam acontecido devido à falta de policiamento? Ou que o governo devia ter previsto de alguma forma o estranho furacão que acontecera em West Country e que havia causado tantos danos materiais e tantos feridos? E por acaso era culpa dele que um de seus Ministros Juniores, Herbert Chorley, tivesse escolhido justamente esta semana para agir de forma tão peculiar, que agora ele teria que passar muito mais tempo com a sua família? – A depressão acomete o país – seu oponente havia concluído, mal contendo o sorriso. E infelizmente, era a pura verdade. O próprio Primeiro Ministro também sentia isso. As pessoas realmente pareciam mais infelizes que o usual. Mesmo o tempo estava horrível, com toda essa neblina fria no meio de julho...não era certo, não era normal... Ele virou o memorando para sua segunda página, verificou o quão longo ele era, e desistiu de lê-lo. Esticando os braços acima de sua cabeça ele olhou ao redor de seu escritório tristemente. Era um lindo aposento, com uma boa lareira de mármore de frente para a longa janela de guilhotina, que se encontrava fechada devido ao frio fora de época. Com um pequeno calafrio, o Primeiro Ministro se levantou e dirigiu-se à janela, olhando para a fina neblina que se pressionava contra o vidro. Foi nesse momento, quando estava de costas para o aposento, que ele escutou uma leve tossida atrás dele. Ele ficou paralisado por um momento, de frente para seu assustado reflexo no vidro enegrecido pela escuridão. Ele conhecia aquela tossida, pois já a havia escutado antes. Virando-se lentamente, ele olhou para o escritório vazio. – Olá? – Ele disse, tentando soar mais corajoso do que ele se sentia. 11 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Por um breve momento permitiu-se ter a esperança absurda de que ninguém lhe responderia. No entanto, a voz respondeu prontamente, de forma decisiva e seca, como se estivesse lendo uma declaração preparada. A voz vinha, como o Primeiro Ministro sabia desde a primeira tossida, do pequeno homem que lembrava um sapo e usava uma longa peruca prateada que estava representado em um pequeno e sujo quadro a óleo no canto mais distante do escritório. – Para o Primeiro Ministro dos Trouxas. Precisamos nos encontrar urgentemente. Por favor responda o mais rápido possível. Sinceramente, Fudge. O homem no quadro olhou de forma inquisitiva para o Primeiro Ministro. – Bem – disse o Primeiro Ministro – escute... este não é um bom momento para mim...Estou esperando uma ligação telefônica, entende?... Do President d...– – Isso pode ser arranjado – disse o quadro prontamente. O Primeiro Ministro empalideceu. Ele temera algo assim. – Mas eu estava realmente querendo falar... – Nós providenciaremos para que o Presidente se esqueça de ligar. Ele ligará amanhã à noite – disse o homenzinho. – Favor responder imediatamente ao Sr. Fudge. – Eu...bem...está certo – respondeu o Primeiro Ministro baixinho. – Sim, eu verei Fudge. Ele apressadamente voltou à sua mesa, ajeitando a gravata. Mal havia se sentado e estampado em seu rosto o que ele esperava que fosse uma expressão relaxada e despreocupada, quando chamas verdes brilhantes ganharam vida em sua lareira de mármore. Ele observou, tentando não aparentar surpresa ou alarme, um homem aparecer dentre as chamas, girando rápido como um pião. Segundos depois, este homem havia saído da lareira e estava de pé em um finíssimo tapete antigo, limpando as cinzas das mangas de seu casaco de risca de giz, um chapéu coco verde em sua mão. – Ah...Primeiro Ministro – disse Cornélio Fudge, dando alguns passos à frente com a mão estendida. – É bom vê-lo de novo. O Primeiro Ministro não poderia retribuir o elogio sinceramente, então preferiu não dizer nada. Ele não estava nem um pouco contente de ver Fudge, cujas aparições ocasionais, além de serem alarmantes por si só, geralmente significavam que estava prestes a ouvir péssimas notícias. Além disso, Fudge parecia claramente preocupado. Estava mais magro, mais careca, mais grisalho e seu rosto tinha um jeito amarrotado. O Primeiro Ministro tinha visto essa aparência em políticos antes, e nunca queria dizer boa coisa. – Como posso ajudá-lo? – perguntou, apertando a mão de Fudge rapidamente e apontando para a cadeira mais dura em frente a sua mesa. – É difícil saber por onde começar – murmurou Fudge, puxando a cadeira, sentando-se e colocando seu chapéu verde sobre os joelhos. – Que semana, que semana! – Também teve uma semana ruim? – perguntou o Primeiro Ministro secamente, esperando assim passar a Fudge a idéia de que ele sozinho já tinha problemas demais para se preocupar sem nenhuma ajuda extra de Fudge. – Sim, claro – disse Fudge, esfregando os olhos cansados e olhando mal-humorado para o Primeiro Ministro. – Eu tive a mesma semana que o senhor, Primeiro Ministro. A Ponte Brockdale... os assassinatos de Bones e Vance... sem mencionar a confusão em West Country ... – Você... bem... o seu... quer dizer, alguns de seu pessoal estavam... estiveram envolvidos nesses... nesses eventos? Fudge olhou fixamente para o Primeiro Ministro de um jeito meio severo. – Claro que estiveram. Com certeza você já se deu conta do que está acontecendo? – Eu... – o Primeiro Ministro hesitou. Era exatamente esse tipo de comportamento que o fazia desgostar tão profundamente das visitas de Fudge. Afinal de contas, ele era o Primeiro Ministro e não apreciava quando faziam-no se sentir um garoto ignorante. Mas é claro, tinha sido assim desde seu primeiro encontro com Fudge na sua primeira noite como Primeiro Ministro. Ele se lembrava como se tivesse acontecido na véspera e sabia que isso o assombraria até o dia de sua morte. 12 Capítulo 1 – O outro Ministro Estava de pé sozinho nesse mesmo escritório, saboreando o triunfo depois de tantos anos de sonhos e planejamentos, quando ouvira uma tosse atrás de si, exatamente como nesta noite, e ao virar-se se deparara com aquele pequeno e feioso quadro falando com ele, anunciando que o Ministro da Magia estava prestes a chegar e se apresentar. Naturalmente, ele pensara que a longa campanha e o estresse da eleição o tinham enlouquecido. Ele ficou completamente aterrorizado ao ver um quadro falando com ele, mas isso não foi nada comparado ao que sentira quando um homem que se dizia bruxo pulara de sua lareira e apertara sua mão. Ele permanecera sem palavras durante a gentil explicação de Fudge de que ainda existiam bruxos e bruxas vivendo em segredo por todo o mundo, e enquanto ele o assegurava de que não devia se preocupar com eles, já que o Ministério da Magia se responsabilizava por toda a comunidade bruxa e tomava as devidas precauções para que a população não-mágica nunca soubesse de sua existência. Era um trabalho difícil que abrangia tudo, desde regras sobre a forma responsável de se usar vassouras até como manter a população de dragões sob controle (o Primeiro Ministro lembravase de ter-se segurado em sua mesa buscando apoio para não cair nesse momento). Fudge então havia dado um tapinha paternal nas costas do estarrecido Ministro. – Não se preocupe – dissera. – O mais provável é que você nunca mais me veja. Eu só virei importuná-lo se alguma coisa realmente séria estiver acontecendo do nosso lado, algo que for capaz de afetar os trouxas, a população não-mágica, eu deveria dizer. Caso contrário é viva e deixe viver. E devo dizer, você está reagindo muito melhor que seu antecessor. Ele tentou me atirar para fora da janela, achando que eu era parte de um logro planejado pela oposição para o desacreditar. Nesse momento, o Primeiro Ministro recuperou finalmente sua voz. – Você...você não é parte de um logro, então? Esta havia sido sua última e desesperada esperança. – Não – dissera Fudge gentilmente. – Não, eu receio que não. Veja. E ele transformara a xícara do Primeiro Ministro num pequenino esquilo da Mongólia. – Mas – disse o Primeiro Ministro sem fôlego, assistindo sua xícara mastigando o canto de seu próximo discurso. – Mas por que... por que ninguém me contou...? – O Ministro da Magia apenas se revela para o Primeiro Ministro Trouxa da ocasião – respondeu Fudge, guardando sua varinha dentro do paletó. – Nós achamos esta a melhor forma de manter tudo em segredo. – Mas então – balbuciou o Primeiro Ministro. – Por que nenhum dos Primeiros Ministros eleitos até hoje me avisou...? Fudge gargalhou neste momento. – Meu caro Primeiro Ministro, você pensa em contar isso para alguém? Ainda rindo, Fudge jogou algum pó na lareira, adentrou as chamas verdes, e desapareceu com um chiado. O Primeiro Ministro ficou parado, de pé, e chegou à conclusão de que nunca, enquanto vivesse, ele se atreveria a contar sobre este encontro a alguma alma viva, pois quem em todo o mundo acreditaria nele? O choque demorara a passar. Por um tempo, ele tentara convencer-se de que Fudge havia sido uma alucinação causada pela falta de sono durante sua exaustiva campanha. Numa tentativa vã de se livrar de toda e qualquer lembrança do desagradável encontro, ele havia dado o esquilo para sua encantada sobrinha, e instruíra seu secretário particular a retirar o quadro do homenzinho feio que havia anunciado a chegada de Fudge. Para sua decepção, no entanto, era impossível remover o quadro. Depois que vários carpinteiros, um ou dois pedreiros, um historiador de arte e o Ministro da Fazenda haviam tentado sem sucesso retirar o quadro da parede, o Primeiro Ministro abandonara essa idéia e simplesmente passara a torcer para que a coisa permanecesse parada e em silêncio durante todo o resto de seu mandato. Ocasionalmente ele podia jurar ter visto de rabo de olho o ocupante do quadro bocejando, ou coçando o nariz, sendo que uma ou duas vezes ele parecia inclusive ter andado para fora da moldura, não deixando nada atrás de si além do fundo de tela marrom. No entanto, ele havia 13 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto se condicionado a não olhar muito para o retrato, e sempre dizia firmemente a si mesmo que seus olhos estavam lhe pregando peças quando algo assim acontecia. E então, três anos antes, numa noite como esta, o Primeiro Ministro estava sozinho em seu escritório quando o retrato mais uma vez anunciara a chegada iminente de Fudge, que pulara da lareira com as roupas todas molhadas e num estado de considerável pânico. Antes que o Primeiro Ministro pudesse perguntar por que Fudge estava molhando todo o carpete Axminster, Fudge começara a reclamar de uma prisão da qual o Primeiro Ministro nunca ouvira falar, um homem chamado “Sérios” Black, algo que soava parecido com “Hogwarts” e um garoto chamado Harry Potter, nenhum dos quais fazendo o menor sentido para o Primeiro Ministro. – ...acabo de chegar de Azkaban – Fudge dissera, sem fôlego, entornando a grande quantidade de água acumulada na aba do chapéu coco em seu bolso. – Fica no meio do Mar do Norte, sabe, vôo desagradável...os dementadores estão em polvorosa – estremeceu – pois nunca tinha havido uma fuga até hoje! De qualquer forma, eu tinha que vir até o senhor, Primeiro Ministro. Black é um conhecido assassino de trouxas, e pode estar planejando se juntar novamente a Você-Sabe-Quem... Mas é claro, o senhor sequer sabe quem é Você-Sabe-Quem! – Ele olhara desesperançado para o Primeiro Ministro por um momento, e então dissera: – Bem, sente-se, sente-se, é melhor eu lhe explicar... beba um uísque... O Primeiro Ministro se sentira um tanto incomodado por mandarem-no sentar em seu próprio escritório, sem contar oferecerem-lhe de seu próprio uísque, mas mesmo assim sentou-se. Fudge puxara sua varinha, conjurara do nada dois copos grandes cheios de líquido âmbar, entregara um ao Primeiro Ministro, e puxara uma cadeira. Fudge falara por mais de uma hora. Em um determinado momento, ele se recusara a falar um certo nome em voz alta, e acabara escrevendo-o em um pedaço de papel, colocando na mão livre do Primeiro Ministro. Quando finalmente Fudge se levantara para ir embora, o Primeiro Ministro também se levantou. – Então você acha que... – ele olhara para o nome em sua mão esquerda. – Lord Vol... – Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado! – grunhiu Fudge. – Desculpe...Você acha que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado ainda está vivo, então? – Bom, Dumbledore diz que ele está – disse Fudge, enquanto abotoava sua capa de risca de giz até o queixo. – Mas nós nunca o encontramos. Se você quer saber a minha opinião, ele só é perigoso se tiver aliados, então é com Black que temos que nos preocupar. Você vai divulgar o aviso, então? Excelente. Bom, eu espero que nós não precisemos ver um ao outro novamente, Primeiro Ministro! Boa noite. Mas eles haviam se encontrado novamente. Menos de um ano depois, um atormentado Fudge reaparecera do nada no escritório para informar ao Primeiro Ministro que havia ocorrido um pequeno problema na Copa Mundial de Quatribola (ou pelo menos era assim que soara) e que vários trouxas estiveram “envolvidos”, mas que o Primeiro Ministro não precisava se preocupar, o fato de que a marca de Você-Sabe-Quem havia sido vista novamente não significava nada; Fudge tinha certeza de que era um incidente isolado, e a Seção de Interrelações com Trouxas estava fazendo todas as modificações de memória necessárias naquele exato momento. – Ah, e eu quase esqueci – Fudge acrescentara. – Nós estamos importando três dragões estrangeiros e uma esfinge para o Torneio Tribruxo, coisa rotineira, mas o Departamento para a Regulação e Controle das Criaturas Mágicas me informou que está no regulamento que devemos notificá-lo quando trouxermos criaturas extremamente perigosas para o país. – Eu...o quê...dragões? – engasgara o Primeiro Ministro. – Sim, três – dissera Fudge. – E uma esfinge. Bom, tenha um bom dia. O Primeiro Ministro torcera fervorosamente na esperança de que dragões e esfinges fossem o pior que pudesse acontecer, mas não. Menos de dois anos mais tarde, Fudge havia surgido do fogo novamente, dessa vez com notícias de que havia ocorrido uma fuga em massa de Azkaban. – Uma fuga em massa? – repetira o Primeiro Ministro roucamente. 14 Capítulo 1 – O outro Ministro – Não precisa se preocupar, não precisa se preocupar! – gritara Fudge, já com um pé nas chamas. – Nós iremos prendê-los rapidamente, apenas pensei que você deveria saber! E antes que o Primeiro Ministro pudesse gritar “Espere um minuto!”, Fudge já havia desaparecido em uma chuva de faíscas verdes. Não importava o que a imprensa e a oposição dissessem, o Primeiro Ministro não era um homem simplório. Ele não havia deixado de notar que, apesar das afirmações de Fudge em seu primeiro encontro, eles agora estavam se vendo com freqüência e que Fudge a cada visita parecia mais abatido. Embora ele pensasse muito pouco sobre o Ministro da Magia (ou, como ele sempre pensava em Fudge, o Outro Ministro), o Primeiro Ministro não podia deixar de temer que a próxima vez que Fudge aparecesse seria com notícias ainda piores. Assim sendo, ver Fudge mais uma vez saindo de sua lareira, com aparência desarrumada e grave, além de surpreso pelo Primeiro Ministro não suspeitar o motivo dele estar em seu escritório, era o pior que havia acontecido em toda a sua semana extremamente deprimente. – Como eu deveria saber o que esta acontecendo com a... bem... com a comunidade bruxa? – explodiu o Primeiro Ministro – Eu tenho um país para governar e preocupações suficientes no momento sem... – Nós temos as mesmas preocupações – Fudge o interrompeu. – A ponte Brockdale não caiu por desgaste. E aquilo não era um furacão de fato. Os assassinatos não foram um trabalho de Trouxas. E a família de Herbert Chorley estaria mais segura sem ele. Estamos no momento fazendo preparativos para transferi-lo para o Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos. Ele deve ir para lá esta noite. – Do que você está... me desculpe mas eu...o quê? – gaguejou o Primeiro Ministro. Fudge tomou fôlego e disse: – Primeiro Ministro, sinto ter que informá-lo que ele voltou. Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado voltou. – Voltou? Quando você diz voltou....significa que ele está...vivo? O Primeiro Ministro procurou em sua memória por detalhes daquela horrível conversa de três anos antes, quando Fudge lhe contara sobre o bruxo que era temido mais que todos os outros, o bruxo que havia cometido milhares de crimes terríveis antes de seu misterioso desaparecimento quinze anos antes. – Sim, vivo – disse Fudge. – Quer dizer... eu não sei... um homem está realmente vivo se ele não pode ser morto? Eu não entendo muito bem, e Dumbledore não quer explicar direito, mas, de qualquer forma, ele certamente tem um corpo e está andando, falando e matando, então eu suponho que no que se refere à nossa conversa, sim, ele está vivo. O Primeiro Ministro não sabia como responder a esta afirmação, mas um hábito persistente de parecer bem informado sobre qualquer assunto que surgisse o fez procurar lembrar-se de quaisquer detalhes de suas conversas anteriores. – Sério Black se juntou Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado? – Black? Black? – disse Fudge distraidamente, girando o chapéu em seus dedos rapidamente. – Sirius Black, você quer dizer? Pela barba de Merlin, não, Black está morto. Descobriu-se que nós, bem, que nós estávamos errados sobre Black. Ele era inocente no final das contas. E ele não estava aliado Àquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado afinal. Quer dizer – disse defensivamente, girando o chapéu ainda mais rápido – todas as evidências apontavam... nós tínhamos mais de cinqüenta testemunhas oculares, mas de qualquer forma, como eu ia dizendo, ele está morto. Assassinado, para falar a verdade. Em um edifício do Ministério da Magia. Nós inclusive teremos um inquérito a bem da verdade... Para sua grande surpresa, o Primeiro Ministro sentiu uma pontada de pena por Fudge neste momento. Esta foi, no entanto, imediatamente suplantada por um sentimento de satisfação por saber que, embora ele fosse incapaz de se materializar das chamas de uma lareira, nunca havia ocorrido um assassinato em qualquer departamento de seu governo... Não ainda, pelo menos... 15 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Enquanto o Primeiro Ministro discretamente tocava a madeira de sua mesa, Fudge continuou: – Mas Black é caso encerrado agora. O que importa é que estamos em guerra, Primeiro Ministro, e certos passos têm que ser dados. – Em guerra? – repetiu o Primeiro Ministro, nervoso. – Tem certeza de que você não está exagerando? – Os seguidores de Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado que fugiram de Azkaban em janeiro agora se juntaram a ele – disse Fudge, falando cada vez mais rapidamente e girando seu chapéu coco tão rápido que este parecia um borrão verde. – Desde que se revelaram, eles vêem causando o caos. A ponte Brockdale, ele foi o responsável, Primeiro Ministro, ele ameaçou assassinatos de Trouxas em massa a não ser que eu permanecesse à distância e... – Meu Deus, então foi sua culpa que todas aquelas pessoas morreram e sou eu quem tem que ficar respondendo indagações sobre ferragens oxidadas, e juntas corroídas, e não sei mais o quê! – disse o Primeiro Ministro furiosamente. – Minha culpa! – disse Fudge, vermelho. – Você está dizendo que eu deveria ter cedido à chantagem como essa? – Talvez não – disse o Primeiro Ministro, se levantando e andando de um lado para o outro do escritório – mas eu teria concentrado todos os meus esforços em pegar o chantagista antes que ele cometesse tal atrocidade! – Você realmente acha que eu não estava me esforçando ao máximo? – perguntou Fudge, esquentado. – Todo Auror no Ministério estava, e está, tentando encontrá-lo e prender seus seguidores, mas nós estamos falando de um dos mais poderosos bruxos de todos os tempos, um bruxo que tem evitado ser capturado por quase três décadas! – Então eu suponho que agora você vai me dizer que ele causou o furacão no West Country, também? – disse o Primeiro Ministro, mais irritado a cada passo que ele dava. Era enfurecedor descobrir a razão de todos aqueles terríveis desastres e não poder contar ao povo; era quase pior do que se realmente tivesse sido culpa do governo. – Aquilo não era um furacão – disse Fudge desolado. – Desculpe-me – rosnou o Primeiro Ministro, agora pisando firme de um lado para o outro. – Árvores desenraizadas, telhados arrancados, postes de luz amassados, terríveis ferimentos... – Foram os Comensais da Morte – disse Fudge. – Os seguidores de Aquele-Que-Não-DeveSer-Nomeado. E... e suspeitamos do envolvimento de gigantes. O Primeiro Ministro parou de andar como se tivesse atingido uma parede invisível. – Que envolvimento? Fudge fez uma careta. – Ele usou gigantes da última vez, quando ele quis uma grande comoção. O Departamento de Desinformação está trabalhando vinte e quatro horas por dia, nós tivemos grupos de Obliviadores tentando modificar as memórias do todos os Trouxas que viram o que realmente aconteceu, nós temos a maior parte do Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas em toda Somerset, mas nós não conseguimos encontrar o gigante... foi um desastre. – Não me diga! – disse o Primeiro Ministro furiosamente. – Eu não nego que a moral anda bem baixa no Ministério, com tudo isso e ainda por cima com a perda de Amélia Bones. – Perda de quem? – Amélia Bones. Chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia. Nós achamos que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado a matou pessoalmente, porque ela era uma bruxa talentosa e... e todas as evidências são de que ela lutou bravamente. Fudge pigarreou e, com grande esforço, aparentemente, parou de girar seu chapéu. – Mas este assassinato estava nos jornais – disse o Primeiro Ministro, momentaneamente distraído de sua raiva. – Nossos jornais. Amélia Bones...apenas dizia que ela era uma mulher de meia-idade que morava sozinha. Foi... um assassinato terrível, não foi? Teve muita publicidade. A polícia não o sabe explicar. 16 Capítulo 1 – O outro Ministro Fudge suspirou. – Claro que não. Ela foi morta num aposento que estava trancado por dentro, não foi? Nós, por outro lado, sabemos exatamente quem é o assassino, mas isso não nos coloca mais próximos de sua captura. E depois tivemos o assassinato de Emelina Vance, talvez você não tenha sabido sobre este... – Sim, eu soube! – disse o Primeiro Ministro. – Aconteceu bem próximo daqui, na verdade. Os jornais tiveram um dia cheio com este assassinato, “Uma transgressão da lei e da ordem no quintal do Primeiro Ministro”... – E como se tudo isso não bastasse – disse Fudge, mal escutando o Primeiro Ministro – nós temos dementadores por todos os lados, atacando pessoas a torto e a direito ... Em um tempo mais feliz essa frase teria sido ininteligível para o Primeiro Ministro, mas ele sabia mais agora. – Eu achava que os Dementadores guardavam os prisioneiros de Azkaban – ele comentou com cautela. – Eles guardavam – disse Fudge cansado. – Mas não mais. Eles abandonaram a prisão e se juntaram Àquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Não vou fingir que não foi um grande golpe. – Mas – disse o Primeiro Ministro, ficando horrorizado – você não me disse que essas são as criaturas que sugam a esperança e a felicidade das pessoas? – Isso mesmo. E eles estão se reproduzindo. É o que está causando toda essa névoa. O Primeiro Ministro sentou-se, com os joelhos fracos, na cadeira mais próxima. A idéia de criaturas invisíveis passeando pelas cidades e pelos campos, espalhando desespero e desesperança em seus eleitores o fez sentir-se a ponto de desmaiar. – Agora, me escute Fudge, você tem que fazer alguma coisa! É sua responsabilidade como Ministro da Magia! – Meu estimado Primeiro Ministro, você honestamente pode pensar que eu ainda seja Ministro da Magia depois de tudo isso? Eu fui demitido três dias atrás! Toda a comunidade bruxa estava clamando pela minha renúncia nos últimos quinze dias. Eu nunca os vi tão unidos em todo o meu tempo como Ministro! – disse Fudge, com uma brava tentativa de um sorriso. O Primeiro Ministro ficou momentaneamente sem palavras. Apesar de sua indignação quanto à posição em que havia sido colocado, ele ainda sentiu pena pelo desgastado homem sentado a sua frente. – Sinto muito – disse afinal. – Há algo que eu possa fazer? – É muito gentil de sua parte, Primeiro Ministro, mas não há nada. Fui mandado aqui hoje à noite para atualizá-lo quanto aos últimos eventos e para apresentá-lo ao meu sucessor. Eu esperava que ele já estivesse aqui, mas é claro, ele está muito ocupado no momento, com tanto acontecendo. Fudge olhou para o retrato do homenzinho feio usando a longa e encaracolada peruca grisalha, que estava cutucando sua orelha com a ponta de uma pena. Sentindo o olhar de Fudge, o retrato disse: – Ele estará aqui em breve, está apenas terminando uma carta para Dumbledore. – Desejo-lhe sorte – disse Fudge, soando amargurado pela primeira vez. – Escrevi duas vezes por dia para Dumbledore nestes últimos quinze dias, mas ele não quer ceder. Se ele estivesse disposto a persuadir o garoto, talvez eu ainda fosse... Bom, talvez Scrimgeour tenha mais sucesso. Fudge se recolheu a um silêncio de desgosto, quase imediatamente quebrado pelo retrato, que de repente falava em sua voz ríspida e burocrática: – Para o Primeiro Ministro dos Trouxas. Solicito uma audiência. Urgente. Por favor, responder imediatamente. Rufus Scrimgeour, Ministro da Magia. – Sim, sim, está bem – disse o Primeiro Ministro distraidamente, e ele quase não estremeceu quando as chamas na lareira mais uma vez ficaram verde esmeralda, aumentaram, e revelaram um segundo bruxo rodando em seu cerne, cuspindo-o momentos depois no tapete antigo. Fudge se levantou e, após apenas um momento de hesitação, o Primeiro Ministro imitou-o, observando o recém-chegado se aprumar, limpar as cinzas de sua longa veste preta, e olhar ao seu redor. 17 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto A primeira impressão do Primeiro Ministro, um tanto quanto simplória, foi de que Rufus Scrimgeour parecia um leão velho. Havia fios de cabelo grisalho em sua juba de cabelos castanhoalaranjados e em suas sobrancelhas espessas; tinha penetrantes olhos castanho-amarelados por detrás de óculos de armação de metal, e uma certa elegância em seus passos, mesmo mancando ligeiramente ao andar. Ele passava uma impressão imediata de sagacidade e dureza; o Primeiro Ministro pareceu entender o porquê da comunidade bruxa preferir Scrimgeour como líder ao invés de Fudge nesses tempos perigosos. – Como você está passando? – perguntou o Primeiro Ministro educadamente, estendendo a mão. Scrimgeour apertou-a brevemente, seus olhos observando todo o aposento, e então retirou uma varinha de dentro de suas vestes. – Fudge lhe contou tudo? – perguntou, andando até a porta e tocando o buraco da fechadura com sua varinha. O Primeiro Ministro escutou a fechadura se trancar. – Bem... sim – disse o Primeiro Ministro. – E se você não se importa, eu preferiria que esta porta permanecesse destrancada. – Eu prefiro não ser interrompido – disse Scrimgeour rapidamente – ou vigiado – acrescentou, apontando sua varinha para as janelas e fazendo as cortinas se fecharam sobre elas. – Certo, bem, eu sou um homem muito ocupado, então vamos falar de negócios. Primeiramente, precisamos conversar sobre sua segurança. O Primeiro Ministro empertigou-se e respondeu: – Estou muito satisfeito com a segurança que eu já tenho, muito obrigado... – Bom, nós não estamos – Scrimgeour o cortou. – Vai ser um tanto ruim para os Trouxas se o Primeiro Ministro deles for colocado sob a maldição Imperius. O novo secretário de seu escritório... – Eu não vou demitir Quim Shacklebolt, se é o que está sugerindo! – disse o Primeiro Ministro acaloradamente. – Ele é muito eficiente, faz o dobro do trabalho que o resto da equipe... – Porque ele é um bruxo – disse Scrimgeour, sem sequer um traço de um sorriso. – Um Auror altamente treinado, que foi designado para sua proteção. – Agora, espere um minuto! – declarou o Primeiro Ministro. – Você não pode simplesmente colocar alguém da sua gente no meu escritório, eu decido quem trabalha para mim... – Eu pensei que você estivesse feliz com Shacklebolt? – disse Scrimgeour friamente. – Eu estou...quer dizer, eu estava...– – Então não há problema algum, há? – perguntou Scrimgeour. – Eu...bem, desde que o trabalho de Shackebolt continue sendo...er...excelente – disse o Primeiro Ministro meio estupidamente, mas Scrimgeour pareceu não o ouvir. – Bom, agora quanto a Herbert Chorley, seu Ministro Junior – continuou. – O que tem entretido o povo passando-se por um pato. – O que tem ele? – perguntou o Primeiro Ministro. – Ele obviamente está assim devido a uma maldição Imperius mal-feita. Esta confundiu seu cérebro, mas ele ainda pode ser perigoso. – Mas ele está apenas grasnando! – disse o Primeiro Ministro com voz fraca. – Certamente um pouco de descanso...talvez beber um pouco menos... – Uma equipe de Curandeiros do Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos o está examinando neste exato momento. Até agora ele tentou estrangular três deles – disse Scrimgeour. Acho melhor removê-lo da sociedade Trouxa por um tempo. – Eu...bem...ele vai ficar bem, não vai? – perguntou o Primeiro Ministro, ansioso. Scrimgeour apenas deu de ombros, já andando em direção à lareira. – Bom, isso é tudo o que eu tinha a dizer. Vou mantê-lo a par dos acontecimentos, Primeiro Ministro, ou, já que eu provavelmente estarei muito ocupado para vir pessoalmente, mandarei Fudge. Foi permitido que ele permanecesse no Ministério como conselheiro. Fudge tentou sorrir, mas não obteve sucesso: ele parecia estar com dor de dente. Scrimgeour já estava procurando em seu bolso pelo misterioso pó que fazia as chamas ficarem verdes. O Primeiro 18 Capítulo 1 – O outro Ministro Ministro olhou para eles por um momento sem saber bem o que fazer, e então as palavras que ele havia lutado para não pronunciar durante toda noite finalmente lhe escaparam. – Mas pelo amor de Deus, vocês são bruxos! Vocês podem fazer mágica! Certamente vocês podem resolver, bem, tudo! Scrimgeour se virou lentamente e trocou um olhar incrédulo com Fudge, que dessa vez conseguiu sorrir enquanto ele falava educadamente: – O problema, Primeiro Ministro, é que o outro lado também pode fazer mágica... E com essas palavras, os dois bruxos entraram um após o outro nas brilhantes chamas esverdeadas e desapareceram. 19 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – CAPÍTULO 2 – Spinner’s End* A quilômetros de distância, a névoa gelada que se prensara contra a janela do Primeiro Ministro pairava sobre um rio sujo, que serpenteava entre margens crescidas, cheias de entulhos. Uma imensa chaminé, relíquia de uma fábrica abandonada, se erguia sombria e ameaçadora. Não havia som algum além do sussurrar da água negra e nenhum sinal de vida além da raposa esquelética que se movia furtivamente pela margem, farejando esperançosa algumas velhas embalagens de comida na grama alta. Mas então, com um fraco estampido, uma figura esguia encapuzada apareceu do nada na beira do rio. A raposa congelou, fixando os olhos desconfiados neste estranho fenômeno novo. A figura pareceu analisar sua localização por alguns momentos, e então começou a andar com passos leves e rápidos, com a longa capa farfalhando sobre o gramado. Num segundo estouro, mais alto, outra figura encapuzada se materializou. – Espere! O grito áspero assustou a raposa, agora encolhida quase achatada na vegetação rasteira. Ela saltou do esconderijo e subiu a margem. Fez-se uma luz verde, um ganido, e a raposa caiu no chão, morta. A segunda figura virou o animal com os pés. – Só uma raposa – disse a voz desinteressada de uma mulher debaixo da capa. – Pensei que talvez fosse um Auror; Cissy, espere! Mas sua presa, que tinha parado e olhado o flash de luz, já estava escalando a margem por onde a raposa caíra. – Cissy, Narcisa, me escute... A segunda mulher pegou o braço da primeira e segurou-o, mas a outra puxou-o de volta com força. – Volte, Bella! – Você precisa me ouvir! – Eu já ouvi. Já decidi o que vou fazer. Me deixe em paz! A mulher chamada Narcisa alcançou o topo da margem, onde uma linha de trilhos velhos separava o rio de uma estreita rua pavimentada com pedras redondas. A outra mulher, Bella, seguiua imediatamente. Lado a lado, ficaram olhando além da estrada para as filas e filas de casas de tijolos arruinadas, com as janelas opacas e cobertas na escuridão. – Ele mora aqui? – perguntou Bella com uma voz de desdém. – Aqui? Nesse monte de estrume trouxa? Devemos ser as primeiras da nossa estirpe a colocar os pés... Mas Narcisa não estava ouvindo; tinha deslizado por uma brecha enferrujada dos trilhos e já se apressava pela rua. – Cissy, espere! * Intraduzível por ser o nome de uma rua ou beco (NT). 20 Capítulo 2 – Spinner’s End Bella seguiu-a, com a capa ondulando atrás, e viu Narcisa lançando-se por uma ruela entre as casas para uma segunda rua, quase idêntica. Algumas das luzes dos postes estavam quebradas, as duas mulheres corriam entre as manchas da luz e de profunda escuridão. A perseguidora alcançou sua presa quando ela virava em outra esquina, desta vez tendo sucesso em segurar-lhe pelo braço e virála para que ficassem frente a frente. – Cissy, você não deve fazer isso, não deve confiar nele... – O Lord das Trevas confia, não é? – O Lord das Trevas está... eu acredito... enganado – Bella ofegou e seus olhos brilharam momentaneamente debaixo do capuz, enquanto olhava ao redor checando se de fato estavam sozinhas. – Em todo caso, nos foi ordenado não falar sobre o plano para ninguém. Isso é uma traição ao Lord das Trevas... – Solte-me, Bella! – rosnou Narcisa, e puxou a varinha debaixo da capa, segurando-a ameaçadoramente sobre o rosto da outra. Bella meramente riu. – Cissy, sua própria irmã? Você não... – Não há mais nada que eu não faria! – Narcisa exalou, uma nota de histeria em sua voz, e enquanto abaixava a varinha como uma faca, outro flash de luz surgiu. Bella soltou o braço da irmã como se tivesse sido queimada. – Narcisa! Mas Narcisa já tinha se apressado à frente. Esfregando a mão, sua perseguidora a seguiu novamente, mantendo distância agora, enquanto se moviam mais para dentro no labirinto deserto das casas de tijolo. Por fim, Narcisa acelerou até uma rua chamada Spinner´s End, sobre a qual a alta chaminé da fábrica parecia pairar como um gigante dedo que lhes admoestava. Seus passos ecoavam nas pedras enquanto passava por janelas e vidros quebrados, até que alcançou a última casa, onde uma luz fraca brilhava por entre as cortinas do andar de baixo. Ela bateu na porta antes que Bella, resmungando maldições, a tivesse alcançado. Ficaram paradas esperando juntas, ofegando levemente, respirando o cheiro do rio sujo que lhe era trazido pela brisa noturna. Depois de alguns segundos, ouviram movimentos atrás da porta e ela abriu apenas uma fresta. Uma nesga de um homem podia ser vista olhando para elas, um homem com longo cabelo negro partido em cortinas ao redor do rosto pálido e olhos escuros. Narcisa jogou seu capuz para trás. Estava tão pálida que parecia brilhar na escuridão; o longo cabelo loiro escorrendo-lhe pelas costas dava-lhe a aparência de uma pessoa afogada. – Narcisa! – exclamou o homem, abrindo um pouco mais a porta, de forma que a luz caísse sobre ela e sua irmã. – Que surpresa agradável! – Severo, – sussurrou tensa. – Posso falar com você? É urgente. – Mas é claro. Ele recuou para permitir-lhe passar por ele e entrar na casa. Sua irmã ainda encapuzada a seguiu sem convite. – Snape – cumprimentou brevemente ao passar por ele. – Bellatrix* – respondeu, com a boca se torcendo num sutil sorriso de deboche enquanto fechava a porta bruscamente atrás deles. Entraram diretamente numa sala pequena, que dava uma sensação de uma cela almofadada escura. As paredes eram completamente cobertas por livros, em grande parte encadernados em velho couro preto ou marrom; um sofá esfarrapado, uma poltrona antiga, e uma mesa bamba ficavam agrupadas em uma poça de luz fraca projetada por um lustre cheio de velas pendurado no teto. Todo o lugar tinha um ar de negligência, como se não fosse normalmente habitado. Snape indicou o sofá para Narcisa. Ela tirou a capa, colocando-a de lado, e sentou-se, fitando as mãos brancas e trêmulas entrelaçadas no colo. Bellatrix abaixou o capuz mais lentamente. Tão *Talvez, mas muito talvez mesmo, você nunca tenha lido esse nome, e sim a sua horrível tradução, Belatriz. Quase todos os nomes já traduzidos foram mantidos, esse foi exceção, só por que achamos a tradução muito feia. Desculpe o mau jeito se você prefere Belatriz... (NT) 21 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto morena quanto sua irmã era loira, com cílios espessos e mandíbula forte, não desviou o olhar de Snape enquanto se movia para ficar de pé atrás de Narcisa. – Então, o que posso fazer por vocês? – Snape perguntou, se acomodando na poltrona oposta às duas irmãs. – Estamos... estamos sozinhos, não é? – perguntou Narcisa baixo. – Sim, é claro. Bem, o Rabicho está aqui, mas não contamos os vermes, contamos? – Ele apontou a varinha para a parede de livros atrás dele e com um estouro, uma porta escondida saltou aberta, revelando uma escada estreita sobre a qual um pequeno homem estava imóvel. – Como você obviamente notou, Rabicho, temos visitas – disse Snape preguiçosamente. O homem rastejou, corcunda, pelos últimos degraus e entrou no cômodo. Tinha olhos pequenos e aguados, um nariz pontudo e um sorriso asqueroso no rosto. Sua mão esquerda acariciava a direita, que parecia como se encapsulada numa luva prata resplandecente. – Narcisa! – disse com uma voz estridente. – E Bellatrix! Que encantador... – Rabicho vai pegar bebidas para todos nós, se quiserem – ofereceu Snape. – E então vai voltar para seu quarto. Rabicho recuou como se Snape tivesse atirado algo em sua direção. – Não sou seu servo! – grunhiu, evitando o olhar de Snape. – Mesmo? Tive a impressão de que o Lord das Trevas colocou-o aqui para me dar assistência. – Assistência, sim... mas não preparar bebidas e... e limpar sua casa! – Não sabia, Rabicho, que você ansiava por tarefas mais perigosas, – Snape disse suavemente. – Isso pode ser arranjado: devo falar com o Lord das Trevas... – Posso falar com ele pessoalmente se quiser! – Claro que pode – Snape zombou. – Mas enquanto isso, traga-nos bebidas. Um pouco de vinho feito por elfos será adequado. Rabicho hesitou por um momento, como se fosse discutir, mas então virou e andou até uma segunda porta escondida. Ouviram o bater e tinir dos copos. Dentro de alguns segundos estava de volta, carregando três copos e uma garrafa empoeirada sobre uma bandeja. Deixou a mesma sobre a mesa raquítica e fugiu da presença de todos, batendo a porta coberta de livros atrás de si. Snape serviu três copos de vinho cor de sangue e estendeu dois para as irmãs. Narcisa murmurou uma palavra de agradecimento, enquanto Bellatrix nada disse; mas continuou a olhar Snape com raiva. Aquilo não pareceu desestabilizá-lo; ao contrário, ele mostrava-se um tanto divertido. – Ao Lord das Trevas – disse erguendo o copo e bebendo. As irmãs o copiaram. Snape encheu os copos novamente. Enquanto Narcisa pegava a segunda bebida disse apressada: – Severo, sinto muito por vir aqui assim, mas precisava te ver. Acho que você é o único que pode me ajudar... Snape estendeu a mão para pará-la, então apontou a varinha novamente na direção da porta secreta que escondia a escadaria. Fez-se uma batida alta e um grunhir, seguindo pelo som de Rabicho correndo para o topo das escadas. – Minhas desculpas – disse Snape. – Ultimamente ele começou a ouvir atrás das portas, não sei o que ele quer com isso... estava dizendo, Narcisa? Ela respirou fundo tremendo e então recomeçou. – Severo, sei que não devia estar aqui, tive ordens de não dizer nada a ninguém, mas... – Então devia segurar sua língua! – rosnou Bellatrix. – Especialmente na presente companhia! – “Presente companhia”? – Snape repetiu cinicamente. – E como devo interpretar isso, Bellatrix? – Que eu não confio em você, Snape, como você bem sabe! Narcisa soltou um ruído que poderia ter sido um soluço seco e cobriu o rosto com as mãos. Snape colocou o copo sobre a mesa e sentou novamente, mãos sobre os braços da poltrona, sorrindo para o rosto ameaçador de Bellatrix. 22 Capítulo 2 – Spinner’s End – Narcisa, acho que devemos ouvir o que Bellatrix está quase explodindo para dizer; nos poupará interrupções entediantes. Bem, continue, Bellatrix – disse Snape. – Por que você não confia em mim? – Centenas de razões! – respondeu alto, saindo de trás do sofá para bater o copo na mesa. – Por onde começar? Onde você estava quando o Lord das Trevas caiu? Por que nunca fez nenhuma tentativa para encontrá-lo quando ele desapareceu? O que tem feito todos esses anos em que viveu no bolso de Dumbledore? Por que impediu o Lord das Trevas de obter a pedra filosofal? Por que não voltou de uma vez quando o Lord das Trevas renasceu? Onde estava, há algumas semanas atrás, quando lutamos para resgatar a profecia para o Lord das Trevas? E por que, Snape, Harry Potter ainda está vivo, quando o teve à sua mercê por cinco anos? Ela parou, o peito se erguendo e descendo rapidamente, a cor forte nas bochechas. Atrás dela, Narcisa continuou imóvel, o rosto ainda escondido nas mãos. Snape sorriu. – Antes de responder, oh, sim, Bellatrix, vou responder! Você pode levar minhas palavras de volta para os outros que sussurram pelas minhas costas e contam as histórias falsas da minha traição para o Lord das Trevas! Antes de te responder, deixe-me fazer uma pergunta de volta. Você realmente acha que o Lord das Trevas não me fez cada uma dessas perguntas? E você realmente acha que, não tivesse eu sido capaz de dar respostas satisfatórias, estaria aqui sentado falando com você? Ela hesitou. – Sei que ele acredita em você, mas... – Você acha que ele está errado? Ou que eu de alguma forma o ludibriei? Enganei o Lord das Trevas, o maior dos bruxos, o mais completo Legilimente que o mundo já viu? Bellatrix não pronunciou nada, mas pareceu, pela primeira vez, um pouco confusa. Snape não insistiu na questão. Pegou seu copo novamente, bebeu um gole e continuou: – Você me perguntou onde estava quando o Lord das Trevas caiu. Estava onde ele me ordenara ficar, na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, porque ele queria que eu espionasse Alvo Dumbledore. Você sabe, eu presumo, que foi sob as ordens do Lord das Trevas que assumi o posto? Ela acenou de forma quase imperceptível e então abriu a boca, mas Snape foi mais rápido. – Você perguntou porque não tentei encontrá-lo quando desapareceu. Pelo mesmo motivo que Avery, Yaxley, os Carrows, Greyback, Lúcio – inclinou a cabeça levemente para Narcisa – e muitos outros não tentaram encontrá-lo. Acreditei que ele tinha acabado. Não tenho orgulho disso, estava errado, mas aí está... se ele não tivesse perdoado aqueles que perderam a fé naquele momento, teria muito poucos seguidores restando. – Ele teria a mim! – Bellatrix exclamou com paixão – Eu, que passei muitos anos em Azkaban por ele! – Sim, de fato, muito admirável – respondeu Snape com uma voz de tédio. – Até onde sei, você não teve muito uso para ele na prisão, mas o gesto foi indiscutivelmente belo... – Gesto! – ela guinchou; em sua fúria, parecia ligeiramente louca. – Enquanto sofri com os Dementadores, você permaneceu em Hogwarts, confortavelmente brincando de ser o bichinho de estimação de Dumbledore! – Não exatamente – Snape calmamente negou. – Ele não me deu o cargo de Defesa Contra as Artes das Trevas, você sabe. Parecia pensar que tal coisa poderia, ahn, trazer uma recaída... tentarme a voltar aos meus velhos dias. – Esse foi seu sacrifício ao Lord das Trevas, não ensinar sua matéria preferida? – ridicularizou. – Por que ficou lá esse tempo todo, Snape? Ainda espiando Dumbledore para o Mestre que você deu como morto? – Claro que não – disse Snape, – apesar do Lord das Trevas estar satisfeito por nunca ter desertado meu posto: tive dezesseis anos de informações sobre Dumbledore para oferecer quando ele retornou, um presente de boas vindas muito mais útil que as reminiscências infinitas de como Azkaban é desagradável... – Mas você ficou... 23 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Sim, Bellatrix, eu fiquei – afirmou Snape, traindo uma ponta de impaciência pela primeira vez. – Tinha um trabalho confortável que preferi a uma temporada em Azkaban. Eles prenderam Comensais da Morte, você sabe. A proteção de Dumbledore me manteve fora da cadeia; era muito conveniente e eu a usei. Repito: o Lord das Trevas não reclama por eu ter ficado, então não vejo porque você o faz. – Acho que a próxima coisa que quer saber – insistiu um pouco mais alto, já que Bellatrix mostrava sinais de que iria interrompê-lo – é por que fiquei entre o Lord das Trevas e a pedra filosofal. Essa é fácil de responder. Ele não sabia se podia ou não confiar em mim. Pensou, como você, que tinha me transformado de um fiel Comensal da Morte em um bonequinho de Dumbledore. Estava em uma condição lamentável, muito fraco, compartilhando o corpo com um bruxo medíocre. Não ousou se revelar para um antigo aliado, que poderia entregá-lo para Dumbledore ou ao Ministério. Lamento profundamente que ele não tenha confiado em mim. Teria retornado ao poder três anos mais cedo. Como foi, vi apenas o ambicioso e insignificante Quirrell tentando roubar a pedra e, admito, fiz tudo que pude para impedi-lo. A boca de Bellatrix se torceu como se tivesse tomado uma dose de um remédio ruim. – Mas você não retornou quando ele voltou, você não foi até ele uma vez que sentiu a Marca Negra arder. – Correto. Voltei duas horas depois. Retornei sob as ordens de Dumbledore. – Sob as ordens de Dumble...? – ela começou em tons de horror. – Pense! – disse Snape, novamente impaciente. – Pense! Por esperar duas horas, apenas duas horas, me assegurei de que poderia continuar em Hogwarts como espião! Por permitir que Dumbledore pensasse que só voltei para o lado do Lord das Trevas porque recebi ordens para fazer tal coisa, fui capaz de passar informações sobre Dumbledore e a Ordem da Fênix desde então! Considere, Bellatrix: a Marca Negra estava ficando mais forte há meses. Sabia que ele devia estar prestes a retornar, todos os Comensais da Morte sabiam! Tive tempo bastante para pensar sobre o que queria fazer, para planejar meu próximo movimento, para escapar como Karkaroff, não tive? – A desaprovação inicial do Lord das Trevas por meu atraso desapareceu por inteiro, garanto a você, quando expliquei que permaneci fiel, mesmo com Dumbledore acreditando que era um dos seus. Sim, o Lord das Trevas pensou que o tinha deixado para sempre, mas estava errado. – Mas qual utilidade você teve? – ridicularizou Bellatrix. – Que informação proveitosa tivemos de você? – Minhas informações têm sido conduzidas diretamente para o Lord das Trevas – respondeu Snape. – Se ele decidiu não compartilhá-las com você ... – Ele compartilha tudo comigo! – Bellatrix retrucou, se inflamando de uma vez. – Ele me chama de sua mais leal, mais fiel... – Chama? – questionou Snape usando uma suave entonação na voz com a sugestão de que desacreditava em tal coisa. – Ele ainda a continua chamando, depois do fiasco no Ministério? – Aquilo não foi minha culpa! – Bellatrix respondeu, ficando vermelha. – O Lord das Trevas, no passado, confiou em mim sua mais preciosa... se Lúcio não tivesse... – Não ouse... não ouse culpar meu marido! – disse Narcisa, numa voz baixa e fatal, olhando para irmã. – Não tem sentido atribuir a culpa – interrompeu Snape suavemente. – O que está feito, está feito. – Mas não por você! – Bellatrix vociferou furiosa. – Não, você mais uma vez se absteve enquanto o resto de nós corríamos perigo, não é, Snape? – Minhas ordens foram para ficar para trás – respondeu Snape. – Talvez você discorde do Lord das Trevas, talvez ache que Dumbledore não teria notado se unisse forças com os Comensais para combater a Ordem da Fênix? E, perdoe-me, você fala em perigo... você estava enfrentando seis adolescentes, não foi? 24 Capítulo 2 – Spinner’s End – Metade da Ordem, como você bem sabe, se uniu a eles em pouco tempo! – rosnou com raiva. – E, já que estamos falando sobre a Ordem, você ainda alega que não pode revelar detalhes da localização da sede deles, não é? – Não sou o Fiel do Segredo; não posso contar o nome do lugar. Você entende como o feitiço funciona, suponho? O Lord das Trevas está satisfeito com as informações que lhe passei sobre a Ordem. Levaram, como talvez você possa ter adivinhado, à recente captura e assassinato de Emelina Vance, e certamente contribuíram para desfazermo-nos de Sirius Black, apesar de lhe dar total crédito por acabar com ele. Ele inclinou a cabeça e brindou a ela. A expressão dela não se suavizou. – Você está evitando minha última pergunta, Snape. Harry Potter. Poderia tê-lo matado em qualquer momento dos últimos cinco anos. Não o fez. Por que? – Já discutiu esse assunto com o Lord das Trevas? – perguntou Snape. – Ele... ultimamente, nós... estou perguntando a você, Snape! – Se tivesse assassinado Harry Potter, o Lord das Trevas não poderia ter utilizado seu sangue para se regenerar, tornando-se invencível... – Você reivindica ter previsto o uso do garoto! – zombou. – Não reivindico; não tinha idéia de seus planos; já confessei que achei que o Lord das Trevas estava morto. Meramente tentei explicar por que o Lord das Trevas não se arrepende por Potter ter sobrevivido, pelo menos até um ano atrás... – Por que o manteve vivo? – Você não me entendeu? Apenas a proteção de Dumbledore me manteve fora de Azkaban! Você discorda que matar seu aluno favorito poderia tê-lo virado contra mim? Mas isso envolve mais. Devo lembrar-lhe que quando Potter chegou em Hogwarts, ainda havia muitas histórias circulando sobre ele, rumores de que ele próprio era um grande bruxo das Trevas, que foi assim que sobreviveu ao ataque do Lord das Trevas. De fato, muito dos antigos seguidores do Lord das Trevas acreditavam que Potter poderia ser uma bandeira em torno da qual todos poderíamos nos reagrupar. Estava curioso, admito, e nem um pouco inclinado a assassiná-lo no momento que pôs os pés no castelo. – Claro, se tornou evidente para mim rapidamente que ele não tinha nenhum talento extraordinário. Lutou para escapar de um certo número de dificuldades com uma mera combinação de completa sorte e amigos mais talentosos. Ele é medíocre até o último grau, apesar de tão detestável e convencido quanto seu pai fora antes dele. Fiz meu máximo para fazê-lo ser expulso de Hogwarts, onde não acreditava ser o seu lugar, mas matá-lo, ou permitir que morresse na minha frente? Teria sido um tolo em arriscar tal coisa, com Dumbledore tão perto. – E com tudo isso, devemos acreditar que Dumbledore nunca suspeitou de você? – perguntou Bellatrix. – Ele não tem idéia de sua real lealdade, e ainda confia em você incondicionalmente? – Tenho feito bem meu papel,– disse Snape. – E você ignora a maior fraqueza de Dumbledore: ele precisa acreditar no melhor das pessoas. Eu o enrolei com uma história de profundo remorso quando entrei na sua equipe, recém saído dos meus dias de Comensal da Morte, e ele me recebeu de braços abertos... no entanto, como disse, nunca me permitindo ficar perto das Artes das Trevas, sempre que pôde evitar. Dumbledore foi um grande bruxo... oh, sim, ele foi, – pois Bellatrix fizera um ruído de desaprovação -, o Lord das Trevas reconhece isso. Tenho prazer em dizer, no entanto, que Dumbledore está ficando velho. O duelo com o Lord das Trevas mês passado o abalou. Desde então tem carregado um ferimento grave porque suas reações estão mais lentas do que costumavam ser. Mas durante todos estes anos, ele nunca deixou de confiar em Severo Snape, e nisto repousa meu grande valor para o Lord das Trevas. Bellatrix ainda aparentava infelicidade, embora parecesse insegura de como seria melhor atacar Snape em seguida. Tomando vantagem do seu silêncio, Snape se virou para sua irmã. – Agora ... você veio pedir minha ajuda, Narcisa? Narcisa olhou para ele, seu rosto eloqüente com desespero. 25 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Sim, Severo. Eu ... eu acho que é o único que pode me ajudar, não tenho mais a quem recorrer. Lúcio está na cadeia e... Ela fechou os olhos e duas grandes lágrimas correram debaixo de suas pálpebras. – O Lord das Trevas me proibiu de falar sobre o assunto – Narcisa continuou ainda com os olhos fechados. – É desejo dele que ninguém mais sabia do plano. É... muito secreto. Mas... – Se ele a proibiu, você não deve falar – disse Snape de uma vez. – A palavra do Lord das Trevas é a lei. Narcisa ofegou como se ele a tivesse submergido na água fria. Bellatrix pareceu satisfeita pela primeira vez desde que entrara na casa. – Viu! – disse triunfante para a irmã. – Até Snape o diz. Você ouviu que não deveria falar sobre isso, então mantenha seu silêncio! Mas Snape tinha ficado de pé e caminhado até a pequena janela, espiando a rua deserta por entre as cortinas, e então as fechou novamente com um puxão. Ele se voltou para Narcisa, franzindo a testa. – Acontece que sei do plano, – disse em voz baixa. – Sou um dos poucos a quem o Lord das Trevas contou. Não obstante, se não tivesse conhecimento do segredo, Narcisa, você seria culpada de uma grande traição contra o Lord das Trevas. – Achei que você devia saber sobre o plano! – exclamou Narcisa, respirando com mais facilidade. – Ele confia tanto em você, Severo... – Você sabe sobre o plano? – disse Bellatrix, sua passageira expressão de satisfação sendo substituída por uma de ultraje. – Você sabe? – Certamente, – respondeu Snape. – Mas que ajuda você requer, Narcisa? Se está imaginando que posso persuadir o Lord das Trevas a mudar de idéia, temo que não há esperança alguma. – Severo – ela sussurrou, lágrimas deslizando pelas faces pálidas. – Meu filho... meu único filho... – Draco deveria estar orgulhoso – alegou Bellatrix com indiferença. – O Lord das Trevas está lhe concedendo uma grande honra. E devo admitir quanto ao Draco: ele não vai se encolher diante de sua tarefa, parece feliz de ter uma chance de demonstrar sua capacidade, excitado com a perspectiva... Narcisa começou a chorar ardentemente, encarando Snape suplicante por todo o tempo. – É porque tem dezesseis anos e não tem idéia do que está por de trás de tudo isso! Por que, Severo? Por que meu filho? É muito perigoso! É uma vingança pelo erro de Lúcio, eu sei disso! Snape não pronunciou uma palavra. Afastou os olhos da visão das lágrimas como se elas fossem indecentes, mas não pôde fingir não ouvi-la. – É por isso que escolheu Draco, não é? – persistiu. – Para punir Lúcio? – Se Draco tiver sucesso – disse Snape, ainda afastando a visão dela – será o mais honrado entre todos. – Mas ele não vai ter sucesso! – chorou Narcisa. – Como pode, quando o Lord das Trevas pessoalmente...? Bellatrix arfou; Narcisa parecia ter perdido a coragem. – Apenas quero dizer... que ninguém teve sucesso ainda... Severo... por favor... você é, sempre foi, o professor preferido de Draco... é um amigo antigo de Lúcio... eu imploro... você é o favorito do Lord das Trevas, seu mais confiável conselheiro... Você pode falar com ele, persuadi-lo...? – O Lord das Trevas não será persuadido, e não sou estúpido o bastante para tentá-lo, – respondeu Snape sem emoção. – Não posso fingir que o Lord das Trevas não está com raiva de Lúcio. Lúcio deveria estar no controle. Foi capturado, junto com muitos outros, e falhou em obter a profecia na barganha. Sim, o Lord das Trevas está com raiva, Narcisa, com muita raiva de fato. – Então estou certa, ele escolheu Draco por vingança! – engasgou Narcisa. – Ele não quer que ele tenha sucesso, quer que ele morra tentando! 26 Capítulo 2 – Spinner’s End Quando Snape não disse nada, Narcisa pareceu perder o resto de autocontrole que ainda possuía. Ficando de pé, ela se balançou até Snape e agarrou-lhe pela parte da frente de suas vestes. Seu rosto estava próximo ao dele, as lágrimas caíam sobre seu peito, ela lutou para respirar. – Você pode fazer. Você pode cumprir a missão no lugar de Draco, Severo. Você teria sucesso, é claro que teria, e seria mais recompensado que qualquer um de nós... Snape prendeu-a pelos pulsos e removeu as mãos agarradas. Olhando para o rosto dela banhado por lágrimas, disse lentamente: – Ele quer que eu faça no final, acredito. Mas está determinado a que Draco deva tentar primeiro. Veja, caso o improvável aconteça e Draco tenha sucesso, devo permanecer em Hogwarts um pouco mais, desempenhando meu papel de espião. – Em outras palavras, não importa para ele se Draco for morto! – O Lord das Trevas está com muita raiva – repetiu Snape baixo. – Ele não conseguiu ouvir a profecia. Como você sabe tão bem quanto eu, Narcisa, ele não perdoa com facilidade. Ela desfez-se, caindo aos seus pés, soluçando e gemendo no chão. – Meu único filho... meu único filho... – Você devia ter orgulho! – Bellatrix exclamou sem piedade. – Se tivesse filhos, ficaria mais que feliz em entregá-los para servir o Lord das Trevas! Narcisa deu um pequeno grito de desespero e agarrou o longo cabelo loiro. Snape inclinou-se, pegou-a pelos braços, levantando-a, e levou-a de volta para o sofá. Então colocou mais vinho e forçou o copo para sua mão. – Narcisa, é o bastante. Beba isso. Escute-me. Ela se acalmou um pouco; derramando o vinho em si mesma, tomou um gole trêmulo. – Pode ser possível... que eu possa ajudar Draco. Ela sentou-se, rosto branco como papel, olhos arregalados. – Severo, oh, Severo – você pode ajudá-lo? Olharia por ele, cuidaria que ele não se machuque? – Posso tentar. Ela arremessou o copo longe; ele derrapou pela mesa enquanto ela deslizou pelo sofá, ajoelhandose aos pés de Snape, agarrando as mãos dele nas suas e pressionando-as contra os lábios. – Se vai protegê-lo... Severo, você juraria? Faria o Juramento Inquebrável? – O Juramento Inquebrável? – A expressão de Snape era vazia, indecifrável. Bellatrix, no entanto, soltou uma gargalhada cacarejante de triunfo. – Não está ouvindo, Narcisa? Oh, ele vai tentar, tenho certeza... as palavras vazias de sempre, a usual escapada da ação... oh, sob as ordens do Lord das Trevas, é claro! Snape não olhou para Bellatrix. Seus olhos negros estavam fixados nos azuis lacrimejantes de Narcisa, enquanto ela continuava a agarrar-lhe a mão. – Certamente, Narcisa, farei o Juramento Inquebrável – disse baixo. – Talvez sua irmã possa consentir ser nosso Elo. O queixo de Bellatrix caiu. Snape se abaixou de forma a ficar ajoelhado em frente a Narcisa. Debaixo do olhar estupefato de Bellatrix, eles uniram as mãos. – Vai precisar de sua varinha, Bellatrix, – Snape afirmou friamente. Ela a puxou, ainda parecendo completamente surpresa. – E vai precisar chegar um pouco mais perto. Ela deu alguns passos para frente ficando sobre os dois, e colocou a ponta da varinha em cima das mãos entrelaçadas. Narcisa falou. – Você, Severo, jura olhar pelo meu filho, Draco, enquanto ele tentar realizar os desejos do Lord das Trevas? – Eu juro. 27 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Uma fina língua brilhante de chama lançou-se da varinha e girou por suas mãos como um arame fervente. – E você jura, com o melhor de suas habilidades, protegê-lo do perigo? – Eu juro. Uma segunda língua foi atirada da varinha e se uniu com a primeira formando uma corrente fina e brilhante. – E, caso se prove necessário... se parecer que Draco irá falhar... – sussurrou Narcisa (a mão de Snape contorceu-se contra a dela, mas ele não a afastou), – você jura levar à frente a tarefa que o Lord das Trevas ordenou que Draco executasse? Fez-se um momento de silêncio. Bellatrix assistiu, a varinha sobre as mãos entrelaçadas, olhos arregalados. – Eu juro – disse Snape. O rosto chocado de Bellatrix brilhou vermelho com a chama de uma terceira e última labareda, que foi atirada da varinha, se enrolando nas outras, e fundindo-se em uma mais grossa ao redor das mãos, como uma corda, como uma cobra ardente. 28 – CAPÍTULO 3 – Última Vontade, Contra Vontade Harry Potter roncava alto. Tinha passado a maior parte das últimas quatro horas sentado em uma cadeira ao lado da janela do seu quarto, olhando a rua que escurecia. Agora tinha finalmente pego no sono com o rosto apoiado contra a esquadria fria, seus óculos estavam escorregando e sua boca estava aberta. A mancha embaçada que sua respiração tinha feito no vidro cintilava à claridade laranja do poste do lado de fora, e a luz artificial tirava toda a cor de seu rosto, fazendo-o parecer fantasmagórico por baixo do contraste trazido pelo seu cabelo negro e despenteado. O quarto estava cheio dos seus diversos objetos e mais uma boa quantidade de sujeira. Penas de coruja, caroços de maçã, e embalagens de doces enchiam o chão, livros de feitiços estavam empilhados de qualquer jeito em sua cama junto com as vestes emboladas, e uma mistura de jornais estava sob um foco de luz em sua escrivaninha. A manchete de um deles dizia: HARRY POTTER: O ESCOLHIDO? Continuam a surgir rumores a respeito do misterioso distúrbio no Ministério da Magia, durante a qual Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado foi visto mais uma vez. “– Não temos permissão para falar disso, não me pergunte nada -” falou um Obliviador agitado, que recusou a dar seu nome quando saía do Ministério noite passada. Apesar disso, fontes colocadas em altos cargos no Ministério confirmaram que o distúrbio estava concentrado na fabulosa Sala da Profecia. Apesar dos porta-vozes do Ministério até o presente momento terem se recusado até a confirmar a existência de tal lugar, uma porcentagem crescente da comunidade bruxa acredita que os Comensais da Morte, que agora estão cumprindo pena em Azkaban por invasão e tentativa de roubo, estavam tentando roubar uma profecia. A natureza desta é desconhecida, apesar das especulações indicarem que ela diz respeito a Harry Potter, a única pessoa que já sobreviveu a uma Maldição da Morte, e que se sabe que também estava no Ministério na noite em questão. Alguns chegam a ponto de chamar Potter de “O Escolhido”, acreditando que a profecia o indica como a única pessoa que será capaz de nos livrar d’Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. A localização atual da profecia, se esta existe, é desconhecida, porém... (continua na página 2, coluna 5) Um segundo jornal estava ao lado do primeiro. Este trazia uma manchete bombástica: SCRIMGEOUR SUBSTITUI FUDGE A maior parte da primeira página estava tomada por uma grande foto em preto-e-branco de um homem com cabelo parecendo uma juba de leão e um rosto com uma expressão bem feroz. A foto estava se movendo... o homem estava acenando para o teto. Rufus Scrimgeour, antigo Chefe da Seção de Aurores no Departamento de Execução das Leis da Magia, sucedeu Cornélio Fudge como Ministro da Magia. A indicação foi recebida com entusiasmo pela comunidade bruxa, apesar de haverem rumores a respeito de um rompimento entre o novo Ministro e Alvo Dumbledore, recentemente renomeado Presidente da Suprema Corte dos Bruxos, apenas horas depois de Scrimgeour receber o cargo. 29 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Os representantes de Scrimgeour admitem que ele se encontrou com Dumbledore assim que tomou posse do cargo, mas se recusaram a comentar os tópicos discutidos. Alvo Dumbledore é conhecido por... (continuação na página 3, coluna 2) À esquerda desse jornal havia um outro que fora dobrado de modo que o que estava visível era uma história intitulada MINISTÉRIO GARANTE A SEGURANÇA DE ESTUDANTES. Recém nomeado Ministro da Magia, Rufus Scrimgeour fez um pronunciamento hoje sobre as novas medidas tomadas pelo Ministério para garantir a segurança dos alunos que voltarão a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts neste outono. – Por motivos óbvios, o Ministério não vai entrar em detalhes sobre seu novo e rigoroso plano de segurança, – falou o Ministro, apesar de uma fonte do Ministério ter confirmado que as medidas incluem feitiços e encantamentos defensivos, um arranjo complexo de contra-maldições, e uma pequena força-tarefa de Aurores totalmente dedicados à proteção da Escola de Hogwarts. A maior parte das pessoas parecem confortadas pelas rígidas posições do novo Ministro a respeito da segurança dos estudantes. A Sra. Augusta Longbottom diz: – Meu neto Neville, por acaso um grande amigo de Harry Potter, lutou com ele contra os Comensais da Morte em junho no Ministério... Mas o resto da matéria estava ilegível devido à grande gaiola sobre ela. Dentro dela, havia uma magnífica coruja cor de neve. Seus olhos cor de âmbar observavam o quarto de forma imperativa, girando ocasionalmente sua cabeça para fitar seu dono roncando. Uma ou duas vezes ela estalou seu bico impacientemente, mas Harry dormia um sono muito pesado para ouvi-la. Bem no meio do quarto estava um malão. Sua tampa estava aberta, como se estivesse esperando algo, apesar de estar quase vazio exceto por cuecas velhas, potes vazios de tinta, doces e penas quebradas que cobriam o fundo No chão ali perto havia um panfleto roxo adornado com as palavras: ADVERTÊNCIAS DO MINISTÉRIO DA MAGIA COMO PROTEGER SUA FAMÍLIA E SUA CASA CONTRA AS ARTES DAS TREVAS Atualmente a comunidade bruxa está sob ameaça de uma organização que se auto-intitula “Comensais da Morte”. Essas simples orientações de segurança o ajudarão a proteger você, sua família e sua casa contra ataques. 1. Você é aconselhado a não sair de casa sozinho. 2. Precauções extras devem ser tomadas durante a noite. Sempre que possível, esteja em lugar seguro antes de escurecer. 3. Reveja todas as providências de segurança em volta de sua casa, tendo certeza que todos os membros da família conhecem as medidas de emergência, como os Feitiços Escudo e Desilusão, e em caso de haver menores de idade na família, Aparatação-carona. 4. Combine com seus amigos íntimos e sua família perguntas-chave que possam desmascarar Comensais da Morte disfarçados pelo uso da Poção Polissuco. (ver página 2). 5. Se você achar que um membro da família, colega, amigo ou vizinho está agindo de forma estranha, entre em contato com o Esquadrão de Execução das Leis da Magia na mesma hora. Essa pessoa pode estar sob a influencia da Maldição Imperius (ver página 4) 6. Se você vir a Marca Negra acima de uma residência ou qualquer outro prédio, NÃO ENTRE, mas contate imediatamente a Seção de Aurores. 7. Alguns registros não confirmados sugerem que os Comensais da Morte agora estão usando Inferi (ver página 10). Qualquer encontro com um Inferius, ou a visão de um destes deve ser IMEDIATAMENTE avisada ao Ministério. Harry grunhia durante o sono. Seu rosto tinha deslizado alguns centímetros pela janela, fazendo seus óculos ficarem ainda mais tortos, mas ele não acordou. Um despertador que tinha sido consertado 30 Capítulo 3 – Última vontade, contra vontade pelo garoto anos antes ticava alto no parapeito, marcando um minuto para as onze. Ao lado dele, preso no lugar pela mão relaxada de Harry, havia um pedaço de pergaminho coberto por uma letra fina e inclinada. Ele tinha lido tantas vezes a carta desde que ela tinha chegado, três dias antes, que apesar dela ter sido entregue bem enrolada agora estava absolutamente reta. Caro Harry, Se for conveniente para você, eu irei até a Rua dos Alfeneiros, n° 4 na próxima sexta feira, às onze da noite para o acompanhar até A Toca, onde você foi convidado a passar o resto de suas férias escolares. Caso você esteja disposto, eu gostaria de obter sua ajuda em uma questão que espero resolver no caminho para A Toca. Explicarei isso melhor quando nos encontrarmos. Por favor, mande sua resposta na volta desta coruja. Esperando vê-lo novamente esta sexta, Atenciosamente, Alvo Dumbledore. Apesar de já saber de cor o que estava escrito Harry continuava a lançar olhares para a mensagem de poucos em poucos minutos desde as sete da noite, hora que ele tinha sentado ao lado da janela do quarto, que tinha uma vista razoavelmente boa dos dois lados da Rua dos Alfeneiros. Ele sabia que era inútil continuar a reler as palavras de Dumbledore, Harry tinha mandando o “sim” de volta com a coruja, como ele havia pedido, e tudo que podia fazer agora era esperar: ou Dumbledore viria, ou não viria. Mas o rapaz não tinha arrumado as malas. Parecia bom demais para ser verdade o fato de ser levado embora da casa dos Dursley apenas uma quinzena depois de chegar. Ele não conseguia evitar o sentimento de que algo ia dar errado... sua resposta poderia ter sido extraviada, podiam impedir Dumbledore de vir pegá-lo, ou a carta poderia não ser realmente de Dumbledore, mas uma pegadinha, uma piada ou uma armadilha. Não tinha conseguido preparar a mala para depois se decepcionar e ter que desarrumar tudo de novo. A única coisa que ele fizera a respeito da possibilidade de viajar fora prender sua coruja branca, Edwiges, segura em sua gaiola. O ponteiro dos minutos chegou ao doze, e nesse exato momento, as lâmpadas dos postes do lado de fora se apagaram. Harry acordou, como se a súbita escuridão fosse um alarme. Ajeitou rapidamente seus óculos e afastando seu queixo do vidro comprimiu seu nariz contra a janela, e espremeu os olhos para ver melhor o térreo. Um vulto alto com uma capa comprida enfunada estava andando pela entrada do jardim. Harry pulou como se tivesse recebido uma descarga elétrica, derrubou a cadeira, e começou a pegar toda e qualquer coisa ao seu alcance e jogar dentro do malão. Ele tinha encestado um conjunto de vestes, dois livros de feitiços, e um pacote de batatas fritas quando a campainha tocou. Lá embaixo, na sala de estar, Tio Válter gritou: – Quem diabos está aqui a essa hora da noite? Harry congelou com um telescópio de latão numa mão e um par de tênis na outra. Ele tinha esquecido completamente de avisar os Dursley da possível vinda de Dumbledore. Sentindo ao mesmo tempo pânico e vontade de rir, ele arrastou o malão e abriu a porta do quarto a tempo de ouvir uma voz grave dizer: – Boa noite. Você deve ser o Sr. Dursley. Eu suponho que o Harry tenha lhe dito que eu vinha buscá-lo? Harry desceu as escadas correndo de dois em dois degraus, parando abruptamente alguns degraus antes do final: uma vasta experiência tinha lhe ensinado a ficar fora do alcance do braço de seu tio sempre que possível. No batente da porta estava parado um homem alto e magro, com cabelos e barba prateados que iam até a cintura. Em seu nariz torto havia um óculos de meia-lua, ele usava uma longa capa de viagem preta e um chapéu pontudo. Válter Dursley, cujo bigode era tão cheio 31 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto quanto o de Dumbledore, porém preto, e que estava usando um roupão vinho, olhava o visitante como se ele não pudesse acreditar em seus próprios olhos. – A julgar pelo seu olhar estarrecido de descrença, eu diria que Harry não o avisou que eu estava vindo – Dumbledore falou educadamente. – De qualquer forma, vamos presumir que você me convidou gentilmente a entrar. Não é prudente ficar muito tempo na porta nesses tempos problemáticos. Ele atravessou a soleira animado e fechou a porta da frente atrás de si. – Passou muito tempo desde minha última visita – comentou Dumbledore, olhando para tio Válter por trás de seu nariz torto. – Eu deveria dizer que seu agapanto está florescendo. Valter Dursley não falou absolutamente nada. Harry não tinha dúvidas que a sua fala voltaria, e logo, pois as veias pulsando em sua têmpora estavam chegando a um ponto perigoso, mas alguma coisa em Dumbledore parecia tê-lo deixado temporariamente sem fôlego. Talvez tenha sido a sua aparência tão evidentemente bruxa, mas talvez também fosse porque até tio Válter podia sentir que aquele era um homem a quem seria muito difícil intimidar. – Ah, boa noite Harry, – exclamou Dumbledore, olhando para ele através de seus óculos de meia-lua com uma expressão satisfeita. – Excelente, excelente. Essas palavras pareceram irritar o tio do menino. Estava muito claro que, até aonde ele sabia, qualquer homem que pudesse olhar para Harry e dizer “excelente” era um homem com quem ele jamais poderia estar cara a cara. – Eu não queria ser grosso... – ele começou, em um tom que mostrava grosseria em cada silaba. -... apesar disso, a grosseria acidental é alarmantemente freqüente – Dumbledore completou a frase, sério. – Melhor não falar nada, meu caro. Ah, e essa deve ser Petúnia. A porta da cozinha tinha se aberto, e lá estava a tia de Harry, usando luvas de borracha e um roupão sobre seu pijama, claramente no meio do caminho para sua usual limpeza de todas as superfícies da cozinha antes de ir dormir. Sua cara de cavalo não mostrava nada a não ser surpresa. – Alvo Dumbledore, – disse, quando tio Válter não conseguiu fazer uma apresentação. – Nós nos correspondemos, é claro – Harry achou essa uma forma estranha de lembrar a tia Petúnia que ele já tinha mandado a ela uma carta que explodia, mas o termo não foi contestado. – E esse deve ser o filho de vocês, Duda? Duda tinha acabado de aparecer na porta da sala de estar. Sua grande cabeça loira saindo da gola listrada de seu pijama parecia estranhamente desassociada do corpo, sua boca aberta pela surpresa e o medo. Dumbledore esperou alguns momentos, aparentemente para ver se algum dos Dursley ia dizer alguma coisa, mas como o silêncio se prolongou ele sorriu. – Vamos presumir que você me convidou para a sua sala de estar? Duda correu para fora do caminho enquanto Dumbledore passava por ele. Harry, ainda segurando o telescópio e os tênis, pulou os últimos degraus e seguiu o bruxo que tinha se ajeitado na poltrona mais próxima do fogo e estava olhando o ambiente com uma expressão de bondoso interesse. Ele parecia extraordinariamente fora de lugar. – Nós não... Nós não vamos embora, senhor? – Harry perguntou ansioso. – Sim, realmente vamos, mas antes disso há algumas coisas que temos que discutir – falou Dumbledore. – E eu preferia não fazê-lo ao ar livre. Nós vamos abusar só mais um pouco da hospitalidade de sua tia e seu tio. – Você vai, não vai? Válter Dursley tinha entrado no cômodo, com Petúnia em seu ombro e Duda se esquivando atrás dos dois. – Sim – disse Dumbledore. – Eu vou. Ele puxou sua varinha tão rápido que Harry mal a viu; com uma balançada casual o sofá deslizou para frente e bateu nos joelhos dos três de forma que eles caíram sobre este. Outro balanço da varinha, e o sofá deslizou novamente para sua posição original. – Nós também podemos ficar confortáveis – Falou Dumbledore gentilmente. 32 Capítulo 3 – Última vontade, contra vontade Conforme ele recolocou a varinha no bolso, Harry viu que sua mão estava enegrecida e ressecada, parecia que a carne desta tinha sido queimada. – Senhor... O que houve com sua...? – Mais tarde, Harry – cortou Dumbledore. – Sente-se, por favor. Harry sentou na poltrona restante, escolhendo não olhar para os Dursley que pareciam assustados o suficiente para se calarem. – Eu presumiria que vocês iriam me oferecer algo para beber – O bruxo disse para o tio Válter -, mas as evidências até agora me dizem que isso seria otimista demais, a ponto de ser tolo. Um terceiro movimento com a varinha e uma garrafa empoeirada e cinco copos apareceram no meio do ar. A garrafa se abriu e serviu uma dose generosa de um líquido cor de mel dentro de cada um dos copos, que então flutuaram para cada pessoa no cômodo. – O melhor hidromel maturado em barril de carvalho da Madame Rosmerta – explicou Dumbledore, erguendo o copo para Harry, que pegou o seu próprio copo e tomou um gole. Ele nunca tinha provado nada parecido antes, mas gostou imensamente. Os Dursley, depois de trocarem rápidos olhares assustados, tentaram ignorar totalmente seus copos, uma coisa complicada, já que estes estavam cutucando-os gentilmente ao lado de suas cabeças. O rapaz não podia evitar a impressão de que Dumbledore estava se divertindo. – Bem, Harry – disse Dumbledore virando-se para ele -, surgiu uma dificuldade que eu espero que você possa resolver para nós. Por nós estou me referindo à Ordem da Fênix. Mas antes de mais nada devo lhe dizer que há uma semana atrás o testamento de Sirius foi descoberto e ele lhe deixou tudo o que possuía. No sofá, a cabeça de tio Válter se virou, mas Harry não o olhou nem conseguiu pensar em nada para dizer além de: – Ah. Certo. – Isto significa, no principal, indo direto ao ponto – Dumbledore continuou. – que foi imediatamente adicionada uma quantidade considerável de ouro à sua conta em Gringotes e você herdou todas as posses pessoais de Sirius. A parte ligeiramente problemática desse legado... – O padrinho dele está morto? – indagou tio Válter alto, do sofá. Dumbledore e Harry olharam para ele. O copo de hidromel agora batia insistentemente no lado da cabeça de Tio Válter. Ele tentou jogá-lo longe. – Ele está morto? O padrinho dele? – Sim – respondeu Dumbledore. Ele não perguntou a Harry por que ele não tinha contado isso aos Dursley. – Nosso problema, – ele continuou falando como se não tivesse sido interrompido – é que Sirius também deixou para você o Largo Grimmauld, n° 12. – Ele herdou uma casa? – perguntou tio Válter gananciosamente, espremendo seus pequenos olhos, mas ninguém lhe respondeu. – Vocês podem continuar usando a casa como sede. Eu não me importo. Vocês podem ficar com ela, eu não quero. – Harry não queria nunca mais pisar no Largo Grimmauld, n° 12, se pudesse evitar. Ele achava que seria eternamente perseguido pela lembrança de Sirius perambulando sozinho por seus cômodos escuros e mofados, preso em um lugar do qual ele tinha desejado tão desesperadamente sair. – Isso é muito generoso – constatou Dumbledore. – Apesar disso, nós desocupamos a casa temporariamente. – Por que? – Bem – começou Dumbledore, ignorando os resmungos de Tio Válter, que agora estava sendo insistentemente golpeado por um copo de hidromel. – A tradição da família Black define que a casa é passada para frente em uma linha de sucessão direta, para o próximo homem com o sobrenome “Black”. Sirius era o último da linha já que seu irmão mais novo, Régulo, faleceu antes dele e ambos não tinham filhos. Apesar de seu testamento deixar bem claro que ele quer que a casa fique para você, é sempre possível que tenha sido posto algum feitiço ou encantamento no local para garantir que ele não possa ser possuído por ninguém que não seja puro-sangue. 33 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Uma imagem vivida do quadro da mãe de Sirius gritando e xingando, pendurado no hall do Largo Grimmauld, número doze, veio à mente de Harry. – Eu aposto que tem algum – ele disse. – Provavelmente – concordou Dumbledore. – E se tal encantamento existir, então a posse de casa provavelmente vai para o mais velho dos parentes vivos de Sirius, o que significaria sua prima, Bellatrix Lestrange. Sem perceber o que estava fazendo Harry ficou de pé, o telescópio e os tênis em seu colo rolaram pelo chão. Bellatrix Lestrange, a assassina de Sirius, herdando sua casa? – Não. – Bem, obviamente nós também preferimos que ela não fique com a casa – continuou Dumbledore calmamente. – A situação está cheia de complicações. Não sabemos se os encantamentos que nós colocamos lá, por exemplo, tornando-a não localizável, vão se manter agora que o Sirius não é mais o dono dela. Talvez Bellatrix bata na porta a qualquer momento. Naturalmente tivemos que sair de lá até que tenhamos esclarecido a questão. – Mas como vão descobrir se eu posso ficar com ela? – Felizmente – respondeu Dumbledore. – Existe um teste simples. Ele colocou o copo vazio na mesinha ao lado da cadeira, mas antes que ele pudesse fazer mais qualquer coisa, Tio Válter gritou: – Dá pra você tirar essas malditas coisas de cima da gente? Harry olhou em volta: todos os três Dursley estavam cobrindo suas cabeças com seus braços enquanto seus copos batiam em seus crânios, espalhando seu conteúdo por todos os lugares. – Ah, eu sinto muito – disse Dumbledore educadamente, e levantou sua varinha mais uma vez. Todos os copos desapareceram. – Mas teria sido boa educação tê-los bebido, vocês sabem. Parecia que tio Válter tinha em mente uma porção de respostas desagradáveis, mas ele meramente se encolheu em cima do estofado com tia Petúnia e Duda sem falar nada, mantendo seus pequenos olhos de porco na varinha de Dumbledore. – Você entende – disse Dumbledore, virando-se para Harry e novamente falando como se tio Válter não tivesse emitido nenhum som -, se você realmente herdou a casa, você também herdou... Ele sacudiu sua varinha pela quinta vez. Houve um estalo alto e um elfo-doméstico apareceu, com um focinho como nariz, enormes orelhas de morcego, e imensos olhos injetados, rastejando no tapete de pelo dos Dursley e coberto de trapos imundos. Tia Petúnia soltou um grito de arrepiar os cabelos: pelo que ela lembrava, nada tão sujo tinha entrado em sua casa que pudesse se lembrar. Duda puxou seus rosados pés descalços do chão e sentou com eles levantados quase acima de sua cabeça, como se pensasse que a criatura poderia subir pelas calças de se pijama e tio Válter rugiu: – Que diabos é isso? – Monstro – completou Dumbledore. – Monstro não vai, Monstro não vai, Monstro não vai – crocitou o elfo-doméstico, tão alto quanto tio Válter, batendo seus pés compridos e puxando suas orelhas. – Monstro pertence à Srta. Bellatrix, ah sim, Monstro pertence aos Black, Monstro quer sua nova dona, Monstro não vai ficar com o fedelho Potter, Monstro não vai, não vai, não vai... – Como você pode ver, Harry – disse Dumbledore alto, acima dos ruídos de Monstro ainda dizendo “não vai, não vai, não vai” – Monstro está mostrando alguma relutância em passar a ser seu. – Não me importo – repetiu o garoto, olhando com desgosto para o elfo que se contorcia e batia o pé. – Eu não o quero. – Não vai, não vai, não vai... – Você prefere que ele passe a pertencer a Bellatrix Lestrange? Tendo em mente que ele morou na sede da Ordem da Fênix pelo último ano inteiro? – Não vai, não vai, não vai... Harry encarou Dumbledore. Ele sabia que Monstro não poderia ir morar com Bellatrix Lestrange, mas a idéia de tê-lo, de ter responsabilidade sobre a criatura que tinha traído Sirius era repugnante. 34 Capítulo 3 – Última vontade, contra vontade – Dê uma ordem a ele – explicou Dumbledore. – Se ele agora é propriedade sua, ele vai ter que obedecer. Se não, então teremos que pensar em outras formas de impedi-lo de ficar com sua dona por direito. – Não vai, não vai, NÃO VAI... A voz de Monstro tinha aumentado até se tornar um grito. Harry não conseguiu pensar em nada para dizer a não ser: – Monstro, cale a boca! Por um momento pareceu que Monstro iria ter um colapso. Ele segurou sua garganta, sua boca ainda funcionando desesperadamente, seus olhos inchando. Depois de alguns segundos em que engasgou freneticamente, ele se jogou de cara no tapete (tia Petúnia soluçou) e bateu no chão com suas mãos e pés, dando a si mesmo uma repreensão violenta – porém inteiramente silenciosa. – Bem, isso simplifica as coisas – disse Dumbledore animadamente. – Parece que Sirius sabia o que estava fazendo. Você é por direito dono do Largo Grimmauld, número doze, e do Monstro. – Eu... Eu tenho que mantê-lo comigo? – perguntou Harry horrorizado, enquanto Monstro se debatia aos seus pés. – Não, se você não quiser – respondeu Dumbledore. – Se você quer uma sugestão, pode mandálo para Hogwarts para trabalhar nas cozinhas de lá. Dessa forma os outros elfos podem ficar de olho nele. – É... – Harry falou aliviado. – É, eu vou fazer isso. Hum... Monstro... Eu quero que você vá pra Hogwarts e trabalhe nas cozinhas com os outros elfos-domésticos. Monstro, que agora estava deitado de costas, com os braços e pernas no ar deu um olhar de profundo desprezo ao garoto, e com outro estalo alto e desapareceu. – Bom – disse Dumbledore. – Também temos o problema do hipogrifo, Bicuço. Desde que Sirius morreu, Hagrid vem tomando conta dele, mas agora Bicuço é seu, então se você preferir fazer alguma outra coisa com ele... – Não – ele disse imediatamente. – Ele pode ficar com Hagrid, acho que Bicuço iria preferir isso. – Hagrid vai ficar encantado – comentou Dumbledore sorrindo. – Ele ficou emocionado de ver Bicuço novamente. Aliás, nós decidimos, para a maior segurança de Bicuço, batizá-lo novamente como Witherwings* por enquanto, apesar de eu duvidar que o Ministério descobriria que ele é o hipogrifo que um dia sentenciaram à morte. Seu malão está pronto? – Erm... – Ficou em dúvida se eu iria aparecer? – sugeriu Dumbledore perspicazmente. – Eu vou lá e... bem... acabar de arrumar – falou Harry rapidamente, correndo para pegar o telescópio e os tênis que tinham caído no chão. Demorou pouco mais de dez minutos para que ele conseguisse pegar tudo que precisava. Por último ele conseguiu resgatar sua Capa da Invisibilidade debaixo da cama, atarraxar a tampa de seu pote de tinta cor-mutável, e forçar para fechar a mala com seu caldeirão dentro. Então, com o malão numa mão e a gaiola de Edwiges na outra, ele voltou para o andar de baixo. Ficou decepcionado ao descobrir que Dumbledore não estava o esperado no hall, o que o fez ter que voltar para a sala de estar. Ninguém falava nada. Dumbledore cantarolava baixinho, aparentemente bem à vontade, mas o ambiente estava muito pesado . Harry não ousou olhar para os Dursley, quando avisou: – Professor... Estou pronto. – Ótimo – disse Dumbledore – Só uma última coisa, então. – Ele se virou para falar com os Dursley mais uma vez. – Como vocês sem dúvida sabem, Harry se torna maior de idade em um ano... * O novo nome do Bicuço, Witherwings pode ser traduzido como asas murchas ou secas. Podemos interpreta-lo como um desincentivo a quem se interessar em dar uma voltinha entre suas asas. 35 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Não – interrompeu Tia Petúnia, falando pela primeira vez desde que Dumbledore chegara. – Como? – perguntou Dumbledore educadamente. – Ele não vai ser maior. Ele é um mês mais novo que Duda, e Dudoca não vai completar dezoito anos até o ano depois do próximo. – Ah – o diretor disse gentilmente. – Mas no mundo bruxo, nós nos tornamos maiores aos dezessete anos. Tio Válter murmurou “absurdo”, mas Dumbledore o ignorou. – Bem, como vocês já sabem, o bruxo chamado de Lord Voldemort voltou para este país. A comunidade bruxa está em estado de guerra. Harry, a quem Lord Voldemort já tentou matar diversas vezes, está correndo ainda mais risco do que quando eu o deixei aqui na sua porta, há quinze anos atrás, com uma carta explicando sobre o assassinato dos seus pais e expressando minha esperança de que vocês cuidassem dele como se fosse filho de vocês. Dumbledore fez uma pausa e apesar de sua voz permanecesse leve e calma, e ele não estar dando sinal evidente de raiva, Harry sentiu uma espécie de frio emanando do bruxo e notou que os Dursley se aproximaram bastante uns dos outros. – Vocês não fizeram o que eu pedi. Vocês jamais trataram Harry como um filho. Nas suas mãos tudo que ele conheceu foi negligência e constantemente, crueldade. O melhor que pode se dizer a respeito é que ele ao menos escapou do dano permanente que vocês infligiram a esse pobre garoto sentado entre vocês. Tia Petúnia e tio Válter instintivamente olharam em volta, como se esperassem ver alguém que não fosse Duda espremido entre eles. – Nós... Maltratamos o Dudoca? O que você... – começou tio Válter furioso, mas Dumbledore levantou seu dedo pedindo silencio, e este veio como se ele tivesse feito tio Válter ficar mudo. – A mágica que eu invoquei há quinze anos atrás significa que Harry tem uma proteção poderosa enquanto ele puder chamar esta casa de lar. Não importa o quão infeliz ele tenha sido aqui, o quão mal-vindo, o quão maltratado, vocês ao menos, relutantemente, permitiram que ele tivesse um lugar para ficar. Essa mágica vai parar de funcionar no momento em que Harry tiver dezessete anos, em outras palavras, no momento em que ele se tornar um homem. Eu só peço isso: que vocês deixem Harry voltar, mais uma vez, para essa casa antes de seu aniversário de dezessete anos, o que vai garantir que essa proteção vai continuar até aquele momento. Nenhum dos Dursley disse nada. Duda estava franzindo a testa levemente, como se ele ainda estivesse tentando descobrir quando era que tinha sido maltratado. Tio Válter parecia ter algo preso em sua garganta. Tia Petúnia, por sua vez, estava estranhamente enrubescida. – Bem Harry... É hora de nós irmos embora – finalmente falou Dumbledore, se levantando e ajeitando sua longa capa preta. – Até tornarmos a nos encontrar – disse para os Dursley, que pareciam pensar que esse momento poderia tardar eternamente no que dizia respeito a eles. Depois de colocar seu chapéu, ele saiu do cômodo. – Tchau – Harry falou rapidamente para os Dursley e seguiu Dumbledore que parou ao lado do malão, sobre o qual estava a gaiola de Edwiges. – Nós não queremos ter que nos preocupar com isso agora – ele falou, pegando novamente sua varinha. – Eu vou mandar isso para A Toca para nos esperar lá. Contudo gostaria que você trouxesse sua capa da invisibilidade... Só por precaução. Harry tirou sua capa do malão com alguma dificuldade, tentando não mostrar a Dumbledore a bagunça lá dentro. Quando ele tinha conseguido enfiá-la no bolso do seu casaco, o bruxo sacudiu a varinha e o malão, a gaiola e Edwiges desapareceram. Dumbledore então sacudiu novamente sua varinha e a porta da frente se abriu para a escuridão fria e brumosa. – E agora, Harry, vamos entrar na noite e perseguir essa tentadora fugaz, a aventura. 36 – CAPÍTULO 4 – Horace Slughorn Apesar do fato de que ele havia passado cada momento em que esteve acordado nos últimos dias esperando desesperadamente que Dumbledore viesse buscá-lo, Harry se sentia estranho enquanto andavam pela Rua dos Alfeneiros juntos. Ele nunca havia tido uma conversa adequada com o diretor fora de Hogwarts antes; normalmente sempre havia uma escrivaninha entre eles. A lembrança do último encontro frente a frente deles teimava em ficar voltando também, aumentando o sentimento de vergonha de Harry, ele havia gritado um bocado naquela ocasião, sem mencionar que havia se dedicado a quebrar vários dos mais estimados pertences de Dumbledore. Dumbledore, no entanto, parecia completamente relaxado. – Mantenha sua varinha a postos, Harry – disse ele animado. – Mas eu achei que não pudesse fazer mágica fora da escola, senhor? – Se formos atacados – respondeu Dumbledore – dou permissão a você para usar qualquer contra-feitiço ou maldição que lhe ocorra. Entretanto, não acho que você deva se preocupar em ser atacado hoje. – Por que não, senhor? – Você está comigo – respondeu Dumbledore com simplicidade. – É o suficiente, Harry. Ele parou abruptamente no final da Rua dos Alfeneiros. – Você não passou, claro, no seu teste de Aparatação – disse ele. – Não – retrucou Harry. – Não precisa ter dezessete anos? – É verdade – disse Dumbledore. – Então você vai precisar segurar bem firme no meu braço. Meu braço esquerdo, se você não se importa... como você notou, a mão que eu uso para segurar a varinha está um pouco frágil no momento. Harry segurou no braço estendido de Dumbledore. – Muito bem – disse Dumbledore. – Bem, aqui vamos nós. Harry sentiu o braço de Dumbledore se afastar dele e o segurou com força redobrada; a próxima coisa que viu foi tudo ficar preto; ele estava sendo pressionado com força em todas as direções; não conseguia respirar e sentia como se tiras de aço apertassem seu peito; seus olhos estavam sendo forçados contra sua cabeça; seus tímpanos estavam sendo puxados profundamente contra seu crânio e então... Ele aspirou grande quantidade de ar frio da noite e abriu os olhos lacrimejando. Ele se sentiu como se tivesse sido obrigado a passar por um tubo de borracha bem apertado. Isso poucos segundos antes de perceber que a Rua dos Alfeneiros havia desaparecido. Ele e Dumbledore estavam agora de pé no que parecia ser a praça de uma vila deserta, no centro da qual estava um velho memorial de guerra e alguns bancos. Quando sua compreensão alcançou os sentidos, Harry percebeu que havia aparatado pela primeira vez na vida. – Você está bem? – perguntou Dumbledore, olhando para ele. – Leva um certo tempo para se acostumar com a sensação. 37 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Estou bem – respondeu Harry, esfregando os ouvidos, que davam a sensação de ter deixado a Rua dos Alfeneiros com relutância. – Mas eu acho que ainda prefiro vassouras... Dumbledore sorriu, puxou seu casaco um pouco mais para perto do pescoço e disse – Por aqui. Ele se moveu num passo rápido, passou por uma hospedaria vazia e algumas casas. De acordo com um relógio numa igreja próxima, era quase meia– noite. – Me diga então, Harry – disse Dumbledore. – Sua cicatriz.... tem doído? Harry levantou a mão inconscientemente em direção à testa e esfregou sua marca em forma de raio. – Não – retrucou ele – e andei me perguntando sobre isso. Achei que estaria queimando o tempo todo agora que Voldemort está se tornando tão poderoso novamente. Ele olhou para Dumbledore e viu que ele tinha uma expressão satisfeita. – Eu, por outro lado, achei o contrário – disse Dumbledore. – Lord Voldemort finalmente entendeu o quanto foi perigoso você ter tido acesso a seus pensamentos e sentimentos. Parece que agora ele está usando Oclumência contra você. – Bem, eu não estou reclamando – respondeu Harry, que não sentia falta dos terríveis sonhos nem das vezes em que havia penetrado na mente de Voldemort. Eles viraram uma esquina, passaram por uma cabine telefônica e uma parada de ônibus. Harry olhou novamente para Dumbledore. – Professor? – Harry? – Hum ... onde exatamente nós estamos? – Esta, Harry, é a charmosa vila de Budleigh Babberton. – E o que estamos fazendo aqui? – Ah, claro, eu não lhe contei – disse Dumbledore. – Bem, eu perdi a conta de quantas vezes disse isso nos últimos anos, mas estamos, novamente, com um membro a menos no corpo docente. Viemos persuadir um antigo colega meu a sair da aposentadoria e retornar a Hogwarts. – Como posso ajudar nisso, senhor? – Oh, eu acho que vamos encontrar uma maneira – respondeu Dumbledore vagamente. – Vire à esquerda, Harry. Eles seguiram por uma rua íngreme e estreita ladeada de casas. Todas as janelas estavam escuras. O estranho frio que cobrira a Rua dos Alfeneiros por duas semanas persistia aqui também. Pensando que poderiam ser dementadores, Harry olhou por sobre seu ombro e agarrou sua varinha no bolso para se tranqüilizar. – Professor, por que não aparatamos diretamente dentro na casa de seu colega? – Porque isso seria tão rude quanto chutar a porta da frente – afirmou Dumbledore. – A cortesia manda que ofereçamos a um colega bruxo a oportunidade de nos negar a entrada. Em todo caso, a maioria das residências bruxas é protegida por magia contra Aparatadores indesejados. Como em Hogwarts, por exemplo... – .Você não pode aparatar em nenhum lugar dentro de Hogwarts ou na propriedade – disse Harry rapidamente. – Hermione Granger me contou. – E ela está certa. Temos que virar à esquerda novamente. O relógio da igreja batia meia noite atrás deles. Harry se perguntou por que Dumbledore não considerava rude visitar um amigo tão tarde, mas agora que a conversa havia começado, ele tinha perguntas mais importantes a fazer. – Senhor, eu li no Profeta Diário que Fudge foi demitido... – Correto – disse Dumbledore, virando para uma íngreme rua lateral. – Ele foi substituído, como você já deve ter visto, por Rufus Scrimgeour, que era Chefe da Seção de Aurores. – Ele é... O senhor acha que ele é bom? – Pergunta interessante – comentou Dumbledore. – Ele é capaz, certamente. Uma personalidade mais decidida e forte do que Cornélio. 38 Capítulo 4 – Horace Slughorn – Sim, mas eu quis dizer... – Eu entendi o que você quis dizer. Rufus é um homem de ação e, tendo lutado contra bruxos das trevas por quase toda sua vida de trabalho, não subestima Lord Voldemort. Harry esperou, mas Dumbledore não disse nada sobre o desentendimento com Scrimgeour que o Profeta Diário havia noticiado, e ele não tinha coragem para insistir, então mudou de assunto. – E... senhor... eu li sobre a senhora Bones. – Sim – lamentou Dumbledore em tom baixo. – Uma perda terrível. Ela era uma grande bruxa. Acho que chegamos. Ai... Ele tinha apontado com sua mão machucada. – Professor, o que aconteceu com a sua...? – Não tenho tempo para explicar agora – respondeu Dumbledore. – É uma história emocionante, e quero fazer-lhe justiça. Ele sorriu para Harry, que entendeu que não estava sendo repreendido, e que tinha permissão para continuar fazendo perguntas. – Senhor? Eu recebi um bilhete do Ministro da Magia por coruja, sobre medidas de segurança que todos devíamos adotar contra os Comensais da Morte... – Sim, eu também recebi – disse Dumbledore, ainda sorrindo. – Você achou útil? – Na verdade, não. – Eu imaginei que não. Você não me perguntou, por exemplo, qual meu sabor preferido de geléia, para ter certeza se realmente sou o Professor Dumbledore e não um impostor. – Não perguntei... – Harry disse, sem saber ao certo se estava sendo repreendido ou não. – Para referência futura, Harry, é framboesa... embora claro, se eu fosse um Comensal da Morte, eu teria procurado saber qual o meu sabor preferido de geléia antes de se passar por mim. – É verdade. Bem, no bilhete eles mencionaram algo chamado Inferi. – Harry perguntou: – O que exatamente eles são? O bilhete não deixou claro. – São cadáveres – respondeu Dumbledore calmamente. – Corpos mortos que foram encantados para cumprir as ordens de um bruxo das trevas. Inferi não têm sido vistos há muito tempo, pelo menos não desde a última vez em que Voldemort tinha poderes... Ele matou gente o suficiente para criar um exército deles, claro. Chegamos, Harry, é logo aqui... Eles estavam em frente a uma pequena casa de pedra com jardim próprio. Harry estava muito ocupado, digerindo a terrível idéia dos Inferi para prestar atenção a qualquer outra coisa, mas quando chegaram ao portão da frente, Dumbledore parou e Harry tropeçou nele. – Meu Deus. Meu Deus. Harry seguiu o olhar de Dumbledore pelo caminho frontal esmeradamente cuidado até que seu coração parou. A porta da frente estava pendurada pelas dobradiças. Dumbledore olhou para os dois lados da rua. Parecia deserta. – Varinha em punho e me siga, Harry – disse ele em tom baixo. Ele abriu o portão e andou rápida e silenciosamente pelo caminho do jardim, Harry logo atrás, e empurrou a porta da frente bem devagar, sua varinha levantada e preparada. – Lumos. A ponta da varinha de Dumbledore se acendeu, iluminando um vestíbulo estreito. À esquerda, outra porta estava aberta. Segurando sua varinha iluminada à frente, Dumbledore entrou na sala de estar com Harry bem atrás dele. Uma cena de devastação total estava diante de seus olhos. Um relógio de pêndulo estilhaçado estava jogado a seus pés, o mostrador rachado, seu pêndulo caído um pouco mais longe como uma espada abandonada. Um piano estava de lado, suas teclas espalhadas pelo chão. Os restos de um lustre que despencara um pouco à frente. Almofadas rasgadas, penas voando de dentro delas, fragmentos de porcelana e vidro como poeira sobre tudo. Dumbledore levantou sua varinha ainda mais alto, para que a luz chegasse até as paredes, onde algo escuro, vermelho e grudento estava espalhado pelo papel de parede. A respiração apressada de Harry fez Dumbledore olhar em volta. – Nada bonito, não é? – disse ele pesaroso. – É, algo horrível aconteceu aqui. 39 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Dumbledore se moveu com cuidado até o meio da sala, examinando os destroços no caminho. Harry o seguiu, olhando em volta, meio assustado com o que poderia ver por trás dos restos do piano ou do sofá virado, mas não havia nenhum sinal de um corpo. – Talvez tenha havido uma briga e... e eles o levaram embora, Professor? – Harry sugeriu, tentando não imaginar o quão terrivelmente ferido um homem teria que estar para deixar aquelas marcas espalhadas por metade da parede. – Eu não acho – respondeu Dumbledore em tom baixo, espiando por trás de uma poltrona super alcochoada que estava virada. – Você quer dizer que ele...? – Ainda está aqui em algum lugar? Sim. E sem aviso, Dumbledore bateu com a ponta de sua varinha no assento da poltrona virada, que gritou – Ai! – Boa noite, Horace – saudou Dumbledore, se endireitando. O queixo de Harry caiu. Onde um segundo atrás havia uma poltrona, agora encontrava-se agachado um homem velho, careca e muito gordo massageando sua barriga e olhando de lado para Dumbledore com olhos revoltados e cheios d’água. – Não havia necessidade de bater a varinha com tanta força – interrompeu ele brusco, se levantando. – Machucou. O brilho da varinha iluminou sua careca reluzente, seus olhos proeminentes, seu enorme bigode prateado parecido com o de uma morsa e os bem polidos botões de jaqueta de veludo marrom que estava usando por cima de um pijama de seda lilás. O topo de sua cabeça quase não alcançava o queixo de Dumbledore. – O que me entregou? – resmungou ele enquanto levantava, ainda esfregando sua barriga. Ele não parecia surpreendentemente não envergonhado para alguém acabara de ser descoberto se passando por uma poltrona. – Meu caro Horace – respondeu Dumbledore, parecendo se divertir – se realmente os Comensais da Morte tivessem vindo, a Marca Negra teria sido colocada sobre a casa. O bruxo bateu uma mão rechonchuda na sua larga testa. – A Marca Negra – ele murmurou. – Sabia que faltava alguma coisa... Não teria tido tempo mesmo assim, eu havia acabado de dar os toques finais no meu estofo quando vocês entraram na sala. Ele suspirou profundamente, o que fez as pontas do seu bigode tremularem. – Você apreciaria minha ajuda na arrumação? – perguntou Dumbledore educadamente. – Por favor – respondeu o outro. Eles ficaram de costas um para o outro, o bruxo alto e magro e o baixo e gordo, e balançaram suas varinhas em um mesmo e idêntico movimento de varredura. A mobília voltou para seu lugar de origem; ornamentos se refizeram no ar, penas voaram para dentro das almofadas, livros rasgados se consertaram e voltaram para suas prateleiras; lâmpadas a óleo flutuaram para suas mesas e se acenderam; uma coleção enorme de porta retratos de prata estilhaçados voaram brilhando pela sala pousando, intactos e sem manchas, sobre uma escrivaninha; rasgos, rachaduras e buracos reparados por toda parte, e as paredes limparam-se a si mesmas. – Aliás, que tipo de sangue era aquele? – perguntou Dumbledore mais alto que a badalada do relógio de pêndulo recém consertado. – Das paredes? Dragão – gritou o bruxo chamado Horace, enquanto o lustre se aparafusava de volta ao teto tilintando e rangendo surdamente. Ouviu-se uma última pancada vinda do piano, e silêncio. – Sim, dragão – repetiu o bruxo em tom de conversa. – Minha última garrafa, e os preços estão altíssimos hoje em dia. Mesmo assim, talvez eu possa reutilizá-lo. Ele pegou uma pequena garrafa de cristal que estava em cima de um aparador e segurou-a contra a luz, examinando o líquido grosso dentro dela. 40 Capítulo 4 – Horace Slughorn – Hummm, um pouco sujo. Ele colocou a garrafa de volta no aparador e suspirou. Foi nessa hora que seu olhar caiu sobre Harry. – Oh-ho! – disse ele, seus grandes olhos fixos na testa de Harry e em sua cicatriz. – Oh-ho! – Este – disse Dumbledore, se adiantando para fazer as apresentações – é Harry Potter. Harry, esse é um velho amigo e colega meu, Horace Slughorn. Slughorn se virou para Dumbledore com uma expressão sagaz. – Então é assim que você achou que poderia me persuadir, não é? Bem, a resposta é não, Alvo. Ele passou por Harry, seu rosto virado para o outro lado com o ar de um homem que está tentando resistir a uma tentação. – Acredito que podemos beber alguma coisa, pelo menos? – perguntou Dumbledore. – Pelos velhos tempos? Slughorn hesitou. – Tudo bem então, mas somente um – disse ele desagradavelmente. Dumbledore sorriu para Harry e o encaminhou para uma poltrona nada diferente daquela recentemente imitada por Slughorn, a qual estava logo ao lado da lareira recém acessa e de uma lâmpada a óleo que brilhava intensamente. Harry sentou-se com a distinta impressão que Dumbledore, por alguma razão, queria que ele ficasse o mais visível possível. Certamente quando Slughorn, que se encontrava ocupado com garrafas e copos, se virou de frente para a sala, seu olhar caiu imediatamente sobre Harry. – Hmpf – resmungou ele, desviando o olhar rapidamente como se tivesse medo de ferir seus olhos. – Aqui... – dando um copo para Dumbledore, que se sentou sem convite, empurrou a bandeja para Harry, afundando nas almofadas do sofá reparado e num silêncio desgostoso. Suas pernas eram tão curtas que não tocavam o chão. – Bem, como você tem se virado, Horace? – Dumbledore perguntou. – Não muito bem – retrucou Slughorn de imediato. – Pulmão ruim. Respiração difícil. Reumatismo também. Não me movimento como costumava. Bem, isso já era esperado. Idade avançada. Fadiga. – E ainda assim você deve ter se movido bem rápido para preparar tal recepção para nós em tão pouco tempo – disse Dumbledore. – Você não pode ter tido um aviso de mais três minutos? Slughorn responedu, meio irritado, meio orgulhoso: – Dois. Não ouvi meu Alarme contra Invasão disparar, eu estava tomando banho. Mesmo assim – acrescentou duramente, parecendo se recompor – o fato é que sou um homem velho, Alvo. Um homem cansado que ganhou o direito a uma vida calma e a uns poucos confortos materiais. Ele certamente os tinha conseguido, pensou Harry, olhando à sua volta. A casa era cheia de coisas e bagunçada, mas ninguém podia dizer que não era confortável; tinha cadeiras macias e apoios para os pés, bebidas e livros, caixas de chocolate e almofadas macias. Se Harry não soubesse quem vivia ali, ele diria que era uma mulher idosa, rica e exagerada. – Você ainda não está tão velho quanto eu, Horace – disse Dumbledore. – Bem, talvez você também devesse pensar em se aposentar – retrucou Slughorn rudemente. Seus olhos de um azul pálido haviam encontrado a mão ferida de Dumbledore. – Suas reações não são mais as mesmas, posso ver. – Você está certo – disse Dumbledore serenamente, puxando a ponta da manga revelando a ponta de seus dedos queimados e escurecidos; ao vê-los, os cabelos da parte de trás do pescoço de Harry se eriçaram desagradavelmente. – Eu estou sem dúvida mais lento do que era. Mas por outro lado... Ele encolheu os ombros e abriu as mãos, como se quisesse dizer que a idade tinha suas compensações, e Harry notou um anel em sua mão sã que ele nunca tinha visto Dumbledore usar antes: era grande, desajeitadamente feito do que parecia ser ouro, engastada com uma grande pedra 41 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto negra rachada no meio. Os olhos de Slughorn pararam por um instante no anel também, e Harry viu que ele franzira levemente sua larga testa por um momento. – Então, todas essas precauções contra invasores, Horace... são para protegê-lo de Comensais da Morte ou de mim? – Perguntou Dumbledore. – O que Comensais da Morte iam querer com um pobre e velho gordo como eu? – perguntou Slughorn. – Imagino que eles iriam querer que você utilizasse seus talentos consideráveis para coerção, tortura e assassinato – respondeu Dumbledore. – Você está realmente tentando me dizer que eles ainda não vieram te recrutar? Slughorn olhou para Dumbledore sinistramente por um instante, e então murmurou – Eu não dei a eles nenhuma chance. Eu tenho me mudado constantemente no último ano. Nunca fico no mesmo lugar por mais de uma semana. Vou de casa trouxa para casa trouxa. Os donos desse lugar estão de férias nas Ilhas Canárias. Tem sido ótimo, sentirei falta quando tiver que ir. É muito simples quando você sabe como, um único feitiço congelante lançado nesses absurdos alarmes contra ladrão que eles usam em vez de um bisbilhoscópio, e ter certeza de que os vizinhos não o flagrem trazendo o piano. – Engenhoso – elogiou Dumbledore. – Mas isso soa como uma existência muito cansativa para um pobre e velho gordo à procura de uma vida tranqüila. Mas, se você retornasse para Hogwarts... – Se você vai me dizer que minha vida será mais tranqüila naquela escola pestilenta, você pode poupar seu fôlego, Alvo! Eu posso estar vivendo escondido, mas alguns rumores interessantes têm chegado aos meus ouvidos desde que Dolores Umbridge foi embora! Se é daquele jeito que você trata seus professores hoje em dia... – A Professora Umbridge se meteu em confusão com a nossa manada de centauros – comentou Dumbledore. – Acredito que você, Horace, faria melhor do que entrar correndo na floresta e chamar uma horda de centauros zangados de ‘raça suja’. – Ela fez isso? – duvidou Slughorn. – Mulher idiota. Nunca gostei dela. Harry riu e Dumbledore e Slughorn olharam para ele. – Desculpe – Harry disse rapidamente. – Eu apenas... eu também não gostava dela. Dumbledore se levantou de repente. – Você já está indo? – Perguntou Slughorn, parecendo esperançoso. – Não, pensei se poderia usar seu banheiro – respondeu Dumbledore. – Oh – disse Slughorn, claramente desapontado. – Segunda porta do corredor à esquerda. Dumbledore saiu da sala. Assim que a porta se fechou, o silêncio se instalou. Pouco tempo depois, Slughorn se levantou, mas parecia não saber o que fazer. Ele olhou furtivamente para Harry, passou pela lareira e virou de costas para ela, aquecendo suas largas costas. – Não pense que não sei porque ele trouxe você – disse ele abruptamente. Harry somente olhou para Slughorn, cujos pálidos olhos deslizaram para a cicatriz dele, dessa vez olhando também para o resto do seu rosto. – Você se parece muito com seu pai. – É, me disseram. – Exceto seus olhos. Você tem... – Os olhos da minha mãe, eu sei. – Harry já ouvira isso tantas vezes que achava um pouco chato. – Humpf. É, bem. Na verdade não se deve favorecer alunos, sendo professor, mas ela era uma das minhas alunas favoritas. Sua mãe – Slughorn acrescentou, em resposta ao olhar de questionamento de Harry. – Lilian Evans. Uma das alunas mais inteligentes pra quem já dei aula. Animada, sabe? Garota encantadora. Eu costumava lhe dizer que ela devia estar na minha casa. Eu costumava receber respostas bem insolentes também. – Qual era sua casa? 42 Capítulo 4 – Horace Slughorn – Eu era Diretor da Sonserina – disse Slughorn. – Bem, agora – continuou ele rapidamente vendo a expressão de Harry e apontando um dedo gordinho para ele – não venha usar isso contra mim! Você é da Grifinória como ela, creio eu? Sim, costuma acontecer em famílias. Mas nem sempre. Já ouviu falar em Sirius Black? Você deve ter ouvido, esteve nos jornais nos últimos anos... morreu algumas semanas atrás... Foi como se uma mão invisível tivesse revirado os intestinos de Harry e os segurado com força. – Enfim, ele foi um grande amigo do seu pai na escola. Toda a família Black pertenceu à minha casa, mas Sirius acabou indo para a Grifinória! Uma pena, ele era um rapaz muito talentoso. Eu fiquei com o irmão dele, Regulus, quando ele veio, mas adoraria ter os dois na Sonserina. Ele parecia um colecionador entusiasmado que tivesse perdido um lance num leilão. Aparentemente perdido em suas lembranças, ele olhou para a parede oposta, se virando preguiçosamente no lugar para assegurar um calor uniforme em sua parte traseira. – Sua mãe nasceu em uma família trouxa, claro. Não consegui acreditar quando descobri. Achei que ela era puro-sangue, tão boa que era. – Uma das minhas melhores amigas também é – disse Harry – e ela é a melhor aluna no nosso ano. – Engraçado como isso acontece às vezes, não é? – Na verdade, não – respondeu Harry friamente. Slughorn olhou para ele surpreso. – Você não deve pensar que sou preconceituoso! – disse ele. – Não, não, não! Não acabei de dizer que sua mãe era uma das minhas alunas favoritas em todos os tempos? E havia Dirk Cresswell, um ano depois dela, agora Chefe da Seção de Relacionamento com os Duendes, é claro, outro nascido trouxa e um aluno muito talentoso, me deu várias informações sobre o que acontecia no Gringotes! Ele se inclinou um pouco, sorrindo de um jeito meio satisfeito e apontou para os vários portaretratos brilhantes em cima da cômoda, e seus pequenos ocupantes que se moviam. – Todos ex-alunos, todos autografados. Você poderá ver Barnabas Cuffe, editor do Profeta Diário, sempre interessado em ouvir o que acho das notícias que saem. E Ambrosius Flume, da Dedosdemel, me envia um grande cesto todo aniversário, e tudo porque o apresentei a Ciceron Harkiss que lhe deu seu primeiro emprego! Mais ao fundo, você poderá vê-la se esticar o pescoço, aquele é Gwenog Jones, capitã do Holyhead Harpies... As pessoas sempre ficam surpresas quando eu digo que a conheço pessoalmente e consigo ingressos de graça sempre que quero! A idéia parecia alegrá-lo bastante. – E todas essas pessoas sabem onde encontrá-lo, para lhe enviar coisas? – perguntou Harry, que não conseguia deixar de imaginar porque os Comensais da Morte não haviam ainda achado Slughorn, se cestos de doces, ingressos para jogos de Quadribol e visitantes procurando por conselhos, o conseguiam. O sorriso sumiu do rosto de Slughorn tão rápido quanto o sangue das paredes. – Claro que não – disse ele, olhando para Harry. – Eu não entro em contato com essas pessoas há mais de um ano. Harry teve a impressão que suas palavras haviam chocado o próprio Slughorn; pois ele parecia irrequieto. Então ele encolheu os ombros. – Ainda assim... o bruxo prudente mantém sua cabeça baixa em certos momentos. É fácil para Dumbledore falar, mas aceitar um cargo em Hogwarts justamente agora seria o equivalente a declarar minha aliança pública à Ordem da Fênix! E mesmo sabendo que eles são admiráveis, bravos e tudo mais, eu pessoalmente não aprecio muito a taxa de mortalidade.... – Você não precisa entrar pra Ordem da Fênix para ensinar em Hogwarts – disse Harry, que não conseguia esconder o tom de irritação em sua voz: era difícil simpatizar com a existência mimada de Slughorn quando ele se lembrava de Sirius, escondido numa caverna e comendo ratos. – A maioria 43 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto dos professores não faz parte, e nenhum deles jamais foi morto, a menos que você conte o Quirrel, e ele teve o que mereceu já que estava trabalhando para o Voldemort. Harry tinha certeza que Slughorn era um daqueles bruxos que não tolerava ouvir o nome de Voldemort sendo dito em voz alta, e não se desapontou: Slughorn deu um pulo e chiou em protesto, mas Harry o ignorou. – Eu acho que os professores estão mais seguros que a maioria das pessoas com Dumbledore como Diretor; ele não é o único que de quem Voldemort sente medo? – Harry continuou. Slughorn olhou para o nada por um momento: ele parecia estar pensando nas palavras de Harry. – Bem, sim, é verdade que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado nunca ganhou uma batalha contra Dumbledore – sussurrou ele de má vontade. – E imagino que alguns podem dizer que como eu não me tornei um Comensal da Morte, Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado dificilmente pode me considerar como amigo... sendo assim, eu talvez esteja mais seguro um pouco mais perto de Alvo... eu não posso fingir que a morte de Amelia Bones não me balançou... Se ela, com todos os contatos e proteção do Ministério... Dumbledore voltou à sala e Slughorn pulou como se tivesse esquecido que ele estava na casa. – Oh, aí está você, Alvo – disse ele. – Você ficou lá um bom tempo. Estômago ruim? – Não, eu estava apenas lendo as revistas trouxas – disse Dumbledore. – Eu adoro modelos de tricô. Bem, Harry, já abusamos bastante da hospitalidade de Horace; acho que é hora de irmos. Nem um pouco disposto a desobedecê-lo, Harry se levantou. Slughorn pareceu pego de surpresa. – Vocês estão indo? – Sim, estamos. Creio que reconheço uma causa perdida quando a vejo. – Perdida...? Slughorn parecia agitado. Ele girou seus polegares gordos enquanto olhava Dumbledore vestir seu casaco de viagem e Harry fechar sua jaqueta. – Bem, sinto muito que você não queira o posto, Horace – anuiu Dumbledore, levantando sua mão boa e dando adeus. – Hogwarts adoraria ter você de volta. Apesar de nossa segurança extremamente aumentada, você será sempre bem-vindo a nos visitar, caso o queira – Sim... bem... muito prazer... como eu diria... – Adeus, então. – Tchau – disse Harry. Eles estavam na porta da frente quando ouviram alguém chamar. – Tudo bem, tudo bem, eu aceito! Dumbledore se virou para ver Slughorn de pé e sem fôlego na porta da sala de estar. – Você vai desistir da aposentadoria? – Sim, sim – respondeu Slughorn impacientemente. – Eu devo estar louco, mas sim. – Maravilhoso – Dumbledore disse, radiante. – Então, Horace, nós o veremos no dia primeiro de setembro. – Sim, creio que você verá – resmungou Slughorn. Enquanto eles saíam pelo caminho do jardim, ouviram a voz de Slughorn: – Eu quero um aumento de salário, Dumbledore! Dumbledore riu. O portão do jardim se fechou por trás deles e voltaram colina abaixo pela névoa escura e rodopiante. – Bom trabalho, Harry – comentou Dumbledore. – Eu não fiz nada – disse Harry surpreso. – Ah sim, você fez. Você mostrou ao Horace o quanto ele ganhará retornando para Hogwarts. Você gostou dele? – Bem... 44 Capítulo 4 – Horace Slughorn Harry não estava certo se havia gostado dele ou não. Ele achou que Horace fora agradável à sua própria maneira, mas também parecia vaidoso e, embora ele tivesse negado, surpreso demais com o fato de que uma nascida trouxa fosse uma boa bruxa. – Horace – começou Dumbledore, dispensando Harry da responsabilidade de dizer qualquer uma dessas coisas – gosta de conforto. Ele também gosta da companhia de famosos, de bem-sucedidos e poderosos. Ele gosta da sensação de que influencia essas pessoas. Ele mesmo nunca quis ocupar o trono ele mesmo, prefere os bastidores, mais espaço para se espalhar, veja você. Ele costumava escolher a dedo seus favoritos em Hogwarts, alguns por sua ambição ou inteligência, outros por seu charme ou seu talento, e ele sempre teve um faro incomum para escolher aqueles que se destacariam em diversas áreas. Horace formou uma espécie de clube com seus alunos favoritos onde ele era o centro, apresentando pessoas, conseguindo contatos entre os membros, e sempre conseguindo algum benefício em retorno, fosse uma caixa grátis do seu abacaxi cristalizado favorito ou a chance de recomendar o próximo membro júnior para a Seção de Relacionamento com os Duendes . Harry teve uma súbita e vívida imagem mental de uma enorme aranha inchada, tecendo uma teia em volta deles, esticando uma linha aqui e ali para trazer suas grandes e saborosas moscas um pouco mais perto. – Eu estou dizendo isso tudo – Dumbledore continuou – não para colocar você contra Horace ou, como você deve chamá-lo agora, Professor Slughorn, mas para manter você alerta. Sem dúvida alguma ele vai tentar atraí-lo, Harry. Você seria a jóia da coleção dele, “o Menino Que Sobreviveu” ou, como você é chamado agora, “O Escolhido”. Ao ouvir isso, Harry sentiu um arrepio que nada tinha a ver com neblina em volta. Ele se lembrou das palavras que ouvira algumas semanas antes, palavras que tinham um significado particular e horrível para ele: Nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... Dumbledore parou de andar, na altura da igreja por onde haviam passado mais cedo. – Aqui já está bom, Harry. Segure meu braço. Preparado dessa vez, Harry estava pronto para Aparatar, mas ainda achou desagradável. Quando a pressão desapareceu e ele conseguiu respirar novamente, ela estava em uma alam’eda no campo ao lado de Dumbledore e olhando em frente para a silhueta torta de seu segundo lugar favorito no mundo: a Toca. Apesar do sentimento de terror que acabara de sentir, seu ânimo não deixava de melhorar ao vê-la. Rony estava lá... e também a Sra. Weasley, que cozinhava melhor que qualquer pessoa que ele conhecia... – Se você não se importa, Harry – disse Dumbledore, enquanto entravam pelo portão do jardim -, gostaria de ter uma pequena conversa com você antes de nos despedirmos. Em particular. Aqui está bom? Dumbledore apontou para uma casa de pedra desmantelada onde os Weasley guardavam suas vassouras. Um pouco intrigado, Harry seguiu Dumbledore pela porta que rangia até um espaço menor que o de um armário médio. Dumbledore iluminou a ponta de sua varinha, de modo que brilhava como uma tocha, e sorriu para Harry. – Espero que você me perdoe por mencionar isso, Harry, mas estou contente e um pouco orgulhoso por como você está lidando com tudo depois do que aconteceu no Ministério. Permita-me dizer que acredito que Sirius ficaria orgulhoso de você. Harry engoliu em seco, sua voz parecia tê-lo abandonado. Ele achava que não conseguiria falar sobre Sirius; já tinha sido doloroso o suficiente ouvir tio Valter dizer “O padrinho dele morreu?” e ainda pior ouvir o nome de Sirius sendo dito tão casualmente por Slughorn. – Foi cruel – acrescentou Dumbledore, suavemente – que você e Sirius tenham tido tão pouco tempo juntos. Um final brutal para algo que deveria ter sido uma longa e feliz relação. 45 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Harry concordou com a cabeça, seus olhos resolutamente fixos na aranha que agora subia pelo chapéu de Dumbledore. Ele sabia que Dumbledore entendia, que ele talvez até suspeitasse que até a chegada de sua carta, Harry passara todo seu tempo na casa dos Dursley deitado em sua cama, recusando-se a comer, olhando para a janela embaçada do quarto, sentindo um vazio gelado que ele passara a associar aos dementadores. – Só é muito difícil perceber – Harry disse finalmente em voz baixa – que ele não vai mais me escrever. Seus olhos de repente arderam e ele piscou. Ele se sentiu um idiota por admitir isso, mas o fato de que ele conhecia alguém fora de Hogwarts que se preocupava com o que lhe acontecia, quase como um pai, foi uma das melhores coisas desde que ele descobrira sobre seu padrinho... e agora o correio coruja nunca lhe traria esse tipo de conforto novamente... – Sirius representava tudo que você nunca tinha tido antes – disse Dumbledore gentilmente. – Naturalmente, a perda é devastadora... – Mas enquanto eu estava na casa dos Dursley... – interrompeu Harry, sua voz ficando mais forte – eu entendi que não posso me fechar para tudo o que está acontecendo ou me deixar abalar. Sirius não iria querer isso, certo? De qualquer modo, a vida é muito curta... Pense em Madame Bones e em Emelina Vance... eu posso ser o próximo, não é? E se for – disse ele com firmeza, agora olhando diretamente para os olhos azuis de Dumbledore que brilhavam à luz da varinha -, eu farei de tudo para levar comigo o máximo possível de Comensais da Morte que eu possa e Voldemort também, se eu puder dar um jeito. – Falou como um filho de seu pai e sua mãe e como um verdadeiro afilhado do Sirius! – sorriu Dumbledore, batendo de leve nas costas de Harry em aprovação. – Tiro meu chapéu para você, ou tiraria, se não receasse jogar um monte de aranhas em cima de você. – E agora, Harry, um outro assunto relacionado... concluo que você tenha lido o Profeta Diário nas últimas duas semanas? – Sim – disse Harry, e seu coração começou a bater mais rápido. – Então você viu que têm corrido mais boatos do que verdades sobre sua aventura na Sala da Profecia? – Sim – disse Harry novamente. – Agora todos sabem que eu sou aquele... – Não, eles não sabem – interrompeu Dumbledore. – Há somente duas pessoas no mundo que sabem sobre a profecia completa feita sobre você e Lord Voldemort, e ambas estão bem aqui nesse barraco de vassouras mal cheiroso e cheio de aranhas. É verdade, no entanto, que muitos devem ter adivinhado, corretamente, que Voldemort mandou seus Comensais da Morte para roubar uma profecia, e que ela é sobre você. – Agora, creio estar certo em dizer que você não contou a ninguém sobre o que dizia a profecia? – Não – respondeu Harry. – Uma sábia decisão – disse Dumbledore. – Embora eu ache que você deva contar para seus amigos,o Sr. Ronald Weasley e a Srta. Hermione Granger. Sim – continuou ele quando Harry pareceu perplexo -, acho que eles precisam saber. Você lhes faz um desserviço ao não lhes confiar algo dessa importância. – Eu não queria... – ...assustá-los ou preocupá-los? – perguntou Dumbledore, observando Harry por cima de seus óculos em forma de meia lua. – Ou talvez confessar a si próprio que você está assustado e preocupado? Você precisa dos seus amigos, Harry. Como você disse corretamente, Sirius não ia querer que você se fechasse para o mundo. Harry não disse nada, mas Dumbledore parecia não precisar de resposta. – Mudando de assunto, embora ligado a esse, é meu desejo que você tenha aulas particulares comigo este ano. – Particulares? Com você? – indagou Harry, arrancado do seu silêncio preocupado pela surpresa. – Sim, acho que é hora de acompanhar sua educação mais de perto. – O que o senhor vai me ensinar? 46 Capítulo 4 – Horace Slughorn – Ah, um pouco disso, um pouco daquilo – comentou Dumbledore despreocupadamente. Harry aguardou esperançoso, mas Dumbledore não entrou em detalhes, então ele resolveu perguntar algo que o estava incomodando ligeiramente há algum tempo. – Se eu tiver aulas com o senhor, eu não precisarei ter aulas de Oclumência com Snape, certo? – Professor Snape, Harry, e não, você não precisará. – Ótimo – respondeu Harry aliviado – porque elas foram um... Ele parou, cuidadoso para não dizer o que ele realmente pensava. – Eu acho que a palavra “fiasco” poderia ser usada aqui – concordou Dumbledore,. Harry riu. – Bem, isso quer dizer que não verei muito o Professor Snape a partir de agora – disse ele – porque ele não vai me deixar continuar tendo aulas de Poções se eu não tirar “Ótimo” no meu N.O.M., o que eu sei que não tirei. – Não conte suas corujas antes delas chegarem – aconselhou Dumbledore. – O que, agora que parei para pensar, deve acontecer hoje mais tarde. Mais duas coisas, Harry, antes que eu vá. – Em primeiro lugar, gostaria que você mantivesse consigo sua Capa da Invisibilidade o tempo todo de agora em diante. Mesmo dentro de Hogwarts. Só para o caso de você precisar, você me entendeu? Harry concordou. – Por último, enquanto você permanecer aqui, a Toca está sob o melhor esquema de segurança que o Ministério da Magia pode proporcionar. Tais medidas têm causado certa inconveniência para Arthur e Molly. Toda sua correspondência, por exemplo, está sendo examinada pelo Ministério antes de ser entregue. Eles não se incomodam nem um pouco porque a única preocupação deles é a sua segurança. Por isso, seria um péssimo meio de recompensá-los arriscando seu pescoço enquanto estiver aqui. – Eu entendo – disse Harry rapidamente. – Ótimo, então – terminou Dumbledore, abrindo a porta do pequeno armário e pisando no quintal. – Vejo que a luz da cozinha está acessa. Não vamos privar Molly nem mais um segundo da oportunidade de dizer o quanto você está magro. 47 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – CAPÍTULO 5 – Um Excesso de Fleuma* Harry e Dumbledore se aproximaram da porta dos fundos d’A Toca, ao redor da qual se concentrava a familiar bagunça de botas de borracha e caldeirões enferrujados. Harry podia ouvir o suave cacarejar das galinhas adormecidas, vindo de um ponto distante. Dumbledore bateu à porta três vezes, e Harry percebeu um movimento repentino vindo de trás da janela da cozinha. – Quem é? – perguntou uma voz nervosa que ele reconheceu como a da Sra. Weasley. – Identifique-se! – Sou eu, Dumbledore, trazendo o Harry. A porta se abriu imediatamente. Lá estava a Sra. Weasley, baixinha e rechonchuda, vestindo um roupão verde e velho. – Harry, querido! Meu Deus, Alvo, que susto você me deu! Você tinha me dito para esperá-los só pela manhã! – Nós tivemos sorte – disse Dumbledore, conduzindo Harry pela soleira. – Slughorn se provou muito mais fácil de persuadir do que eu havia esperado. Mérito do Harry, é claro. Ah, olá, Ninfadora! Harry olhou em volta e viu que a Sra. Weasley não estava sozinha, apesar do avançado da hora. Uma bruxa jovem, de rosto pálido com formato de coração, e cabelo marrom-camundongo estava sentada à mesa, segurando uma caneca grande entre suas mãos. – Olá, Professor – ela os cumprimentou. – E aí, Harry? Beleza? – Oi, Tonks. Harry achou que ela parecia abatida, talvez até doente, e que havia algo de forçado no sorriso dela. Definitivamente, a aparência dela, sem aquela costumeira cor rosa-chiclete no cabelo, estava menos colorida que o comum. – Acho que já está na minha hora – ela anunciou, de supetão, levantando-se e jogando sua capa sobre os ombros. – Obrigada pelo chá e pela compreensão, Molly. – Por obséquio, não vá embora por minha causa – disse Dumbledore, cortês. – Eu não posso ficar, tenho assuntos urgentes para discutir com Rufus Scrimgeour. – Imagina! Eu realmente preciso ir – retrucou Tonks, sem olhar nos olhos de Dumbledore. – Boa noite... – Minha querida, por que você não vem jantar conosco no fim-de-semana? Remo e OlhoTonto virão ... – Não vai dar mesmo, Molly... obrigada mesmo assim... boa noite, todo mundo. Tonks passou com pressa por Dumbledore e Harry em direção ao quintal. Pouco depois de passar pela soleira da porta, ela virou-se no lugar e desapareceu no ar. Harry percebeu que a Sra. Weasley parecia preocupada. *No original, Phlegm, fluido, ranho de nariz, muco. Traduzimos para Fleuma, que também pode ser fluido, mas usa-se normalmente para designar pessoas, digamos assim, formais.Melhor que chamar a coitada de Muco, não acham?(NT) 48 Capítulo 5 – Um excesso de Fleuma – Muito bem. Nos veremos novamente em Hogwarts, Harry – disse Dumbledore. – Cuidemse. Molly, às suas ordens. Ele fez uma pequena reverência à Sra. Weasley e seguiu Tonks, desaparecendo precisamente no mesmo ponto que ela. A Sra. Weasley fechou a porta para o agora vazio quintal, e em seguida, conduziu Harry pelos ombros em direção ao forte brilho da luminária que havia sobre a mesa, para examinar sua aparência. – Você é que nem o Rony – suspirou, examinando-o de cima a baixo. – Parece até que foram atingidos por Feitiços Para Esticar. Eu juro que o Rony cresceu pelo menos dez centímetros desde a última vez que eu comprei vestes escolares para ele. Você está com fome, Harry? – Estou, sim – respondeu Harry, percebendo repentinamente o quão faminto estava. – Sente-se, querido, que eu vou preparar alguma coisinha para você. Ao que Harry se sentou, um gato laranja, peludo e de cara amassada pulou em seu colo e lá se acomodou, ronronando. – Então a Hermione também está aqui? – perguntou, feliz, enquanto acariciava Bichento atrás da orelha. – Está, sim. Ela chegou aqui anteontem – respondeu a Sra. Weasley, tocando rapidamente com sua varinha uma panela grande de ferro, que quicou até o fogão com um tinido agudo, e, então, começou imediatamente a borbulhar. – Todos já estão na cama, é claro. A gente achava que você só chegaria daqui a várias horas. Aqui está... Novamente, bateu de leve na panela, que subiu pelo ar e então voou até Harry e foi se inclinando. Ela, então, empurrou uma tigela precisamente embaixo da panela, bem em tempo de receber a cascata da grossa e cheirosa sopa de cebola. – Quer pão, querido? – Obrigado, Sra. Weasley. Ela balançou sua varinha acima da linha de seu ombro e em seguida, um pão e uma faca surgiram e desceram em um movimento gracioso até a mesa. Enquanto o pão se fatiava sozinho e a panela de sopa voltava ao fogão, a Sra. Weasley se sentou em frente a Harry. – Quer dizer então que você convenceu Horace Slughorn a aceitar o emprego? Harry assentiu. Sua boca estava tão cheia da sopa quente que ele nem conseguia falar. – Ele deu aula para o Arthur e para mim – ela contou. – Ele já estava em Hogwarts havia séculos. Acho que começou lá pela mesma época que o Dumbledore. Você gostou dele? Com a boca dessa vez cheia de pão, Harry deu de ombros e fez um movimento não comprometedor com a cabeça. – Sei o que você quer dizer – disse a Sra. Weasley, assentindo com sabedoria. – Claro que ele pode ser encantador quando assim o quer, mas o Arthur nunca gostou muito dele. O Ministério está entulhado com os antigos favoritos do Slughorn. Ele sempre foi bom em dar esses pistolões, mas nunca teve muito tempo para o Arthur... nunca pareceu achar que ele voaria alto o suficiente. Enfim, isso só mostra que até mesmo o Slughorn comete erros. Não sei se o Rony já te contou sobre isso por carta... é que aconteceu faz muito pouco tempo: o Arthur foi promovido! Não poderia estar mais evidente que a Sra. Weasley estivera louca para contar a notícia. Harry, então, engoliu uma quantidade grande de sopa muito quente e, pensando até já poder sentir várias bolhas surgindo em sua garganta, disse, com a voz ainda meio sufocada: – Que ótimo! – Você é um amor – disse a Sra. Weasley, radiante, e, possivelmente interpretando os olhos cheios d’água de Harry como fruto da emoção pela notícia. – Sim, Rufus Scrimgeour criou várias novas repartições, por causa da situação atual, e o Arthur está dirigindo a Seção para a Detecção e o Confisco de Falsos Feitiços Defensivos e Objetos Protetores. É um cargo importante: agora ele tem dez pessoas trabalhando sob suas ordens. – O que exatamente... ? 49 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Veja só, com todo esse pânico por causa de Você-Sabe-Quem, começaram a aparecer coisas estranhas para vender em tudo que é canto, coisas que supostamente servem para proteger contra Você-Sabe-Quem e os Comensais da Morte. Você pode imaginar o tipo de coisa... as pretensas poções protetoras que não passam de molho de carne com um pouco de pus de bubotúberas, ou então, instruções de feitiços de defesa que na verdade fazem as suas orelhas caírem... bem, os perpetradores são na maioria gente do tipo do Mundungo Fletcher, que nunca tiveram um dia de trabalho honesto sequer na vida e que querem tirar vantagem do quão assustado todo mundo está, mas às vezes alguma coisa bem grave aparece. Outro dia, o Arthur confiscou uma caixa de Bisbilhoscópios amaldiçoados, que com certeza quase absoluta, foram plantados por um Comensal da Morte. Então, você vê, é um trabalho muito importante, e eu digo sempre a ele que é besteira sentir saudades de tomadas faiscantes e torradeiras e todo o resto daquelas quinquilharias dos trouxas. A Sra. Weasley terminou seu discurso com um olhar severo, como se houvesse sido Harry quem sugerira ser natural sentir saudades de tomadas faiscantes. – O Sr. Weasley ainda está no trabalho? – Harry perguntou. – Está, sim. Para dizer a verdade, está um pouquinho atrasado... ele disse que estaria de volta cerca de meia-noite... Ela virou-se para dar uma olhada no grande relógio que repousava estranhamente sobre uma pilha de lençóis na cesta de roupas. Harry o reconheceu imediatamente: tinha nove ponteiros, cada um com o nome de um membro da família e costumava ficar pendurado na sala de visitas dos Weasley, embora a sua posição atual sugerisse que a Sra. Weasley havia adquirido o hábito de carregá-lo consigo por todos os cantos da casa. Cada um dos nove ponteiros estava agora apontando para “perigo mortal”. – Está desse jeito já faz algum tempo – disse a Sra. Weasley, em um tom casual que não convencia. – Desde que Você-Sabe-Quem voltou a público. Imagino que todo mundo esteja em perigo mortal agora... não acho que seja só a nossa família... mas não conheço mais ninguém que tenha um relógio como esse, então não posso conferir. Oh! Com uma exclamação repentina, ela apontou para o visor do relógio. O ponteiro do Sr. Weasley havia mudado para “viajando”. – Ele está chegando! E, de fato, logo em seguida bateram à porta dos fundos. A Sra. Weasley se levantou com um pulo e correu até lá; com uma mão na maçaneta e com o rosto espremido contra a madeira, ela perguntou em voz baixa: – Arthur, é você? – Sim – respondeu a voz exausta do Sr. Weasley. – Mas eu diria isso mesmo se fosse um Comensal da Morte, querida. Faça a pergunta! – Ah, francamente... – Molly! – Tudo bem, tudo bem... qual é a sua maior ambição? – Descobrir como aviões conseguem se manter no ar. A Sra. Weasley assentiu e virou a maçaneta, mas aparentemente, o Sr. Weasley estava fazendo força contrária do outro lado, porque a porta permanecia firmemente fechada. – Molly! Eu preciso fazer a sua pergunta primeiro! – Arthur, francamente, isso é tão bobo... – Do que você gosta que eu te chame quando nós dois estamos sozinhos? Mesmo sob a fraca luz da luminária, Harry podia dizer com certeza que a Sra. Weasley havia adquirido um tom forte de vermelho no rosto; ele mesmo se sentiu subitamente quente ao redor das orelhas e pescoço, e engoliu a sopa com pressa, batendo sua colher contra a tigela com o máximo de barulho que pôde. – Molilucha – murmurou uma Sra. Weasley mortificada para a fissura no canto da porta. – Certo – disse o Sr. Weasley. – Agora você pode me deixar entrar. 50 Capítulo 5 – Um excesso de Fleuma A Sra. Weasley abriu a porta, através da qual surgiu seu marido, um bruxo magro, ruivo, cuja calvície já avançava, usando óculos de aro de chifre e uma capa de viagem comprida e poeirenta. – Eu ainda não consigo entender por que você tem que fazer isso toda vez que vem para casa – declarou a Sra. Weasley, ainda com a face corada, enquanto ajudava seu marido a retirar sua capa. – Digo, um Comensal da Morte poderia muito bem lhe arrancar a resposta antes de se fazer passar por você. – Eu sei, querida, mas é um procedimento do Ministério e eu tenho que dar o exemplo. Que cheiro bom é esse? Sopa de cebola? O Sr. Weasley virou-se, esperançoso, em direção à mesa. – Harry! Nós não o esperávamos antes de amanhã cedo! Eles apertaram as mãos e o Sr. Weasley se deixou cair na cadeira ao lado de Harry, enquanto a Sra. Weasley colocava uma tigela de sopa na frente dele também. – Obrigado, Molly. Essa noite foi difícil. Alguns idiotas começaram a vender MedalhasMetamorfas. “É só colocá-as no pescoço para poder mudar sua aparência como desejar. Cem mil disfarces por apenas dez galeões!”. – E o que realmente acontece quando se coloca uma dessas medalhas no pescoço? – Geralmente você só fica de uma cor laranja um tanto quanto desagradável, mas algumas pessoas ficaram com verrugas em forma de tentáculos pelo corpo todo. Como se o St. Mungo já não tivesse trabalho o suficiente. – Parece o tipo de coisa que o Fred e o Jorge achariam engraçado – disse a Sra. Weasley, hesitante. – Você tem certeza de que... ? – Claro que tenho! – retrucou o Sr. Weasley. – Os meninos não fariam esse tipo de coisa agora, não quando as pessoas estão desesperadas por proteção! – Então é por isso que você está atrasado, por causa dessas Medalhas-Metamorfas? – Não, nós tivemos um problema com um Feitiço Bate-Volta lá em Elephant e Castle, mas, felizmente, o Esquadrão para Execução das Leis da Magia já estava lá quando chegamos... Harry escondeu um bocejo por trás de sua mão. – Para a cama – disse a Sra. Weasley, sem cerimônia. – Eu já deixei o quarto do Fred e do Jorge arrumado. Você vai ter o quarto todo só para você. – Por quê? Onde eles estão? – Ah, eles estão no Beco Diagonal, morando em um apartamento pequeno em cima da loja de logros deles, já que andam tão ocupados – respondeu a Sra. Weasley. – Devo dizer que, de início, não aprovei, mas eles realmente parecem ter um instinto para os negócios! Vamos, querido, seu malão já está lá em cima. – Boa noite, Sr. Weasley – disse Harry, empurrando sua cadeira para trás. Bichento pulou de seu colo com leveza e saiu furtivamente do aposento. – Boa noite, Harry – respondeu o Sr. Weasley. Harry viu a Sra. Weasley dar uma olhada no relógio sobre a cesta de roupas quando eles deixaram a cozinha. Todos os ponteiros estavam, novamente, em perigo mortal. O quarto de Fred e Jorge era no segundo andar. A Sra. Weasley apontou sua varinha para o abajur sobre a mesinha de cabeceira e ele se acendeu imediatamente, banhando o cômodo num agradável brilho dourado. Apesar de um grande vaso de flores ter sido colocado sobre uma escrivaninha em frente à janela pequena, o perfume delas ainda não era capaz de disfarçar o cheiro remanescente daquilo que Harry supôs ser pólvora. Um espaço considerável do chão estava ocupado por um vasto número de caixas de papelão seladas, sem marcas, entre as quais repousava o malão de Harry. O quarto parecia estar sendo usado como um depósito temporário. Do seu poleiro, no topo de um grande armário, Edwiges piou feliz para Harry e então partiu para fora da janela: Harry sabia que ela estivera esperando para vê-lo antes de sair para caçar. Em seguida, deu boa noite à Sra. Weasley, vestiu seu pijama e deitou-se em uma das camas. Havia algo de duro na fronha. Apalpou seu interior e de lá, retirou um doce grudento, roxo com 51 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto laranja, que reconheceu como sendo uma Vomitilha. Sorrindo consigo mesmo, virou-se na cama e adormeceu instantaneamente. Alguns segundos depois, ou ao menos foi o que lhe pareceu, Harry foi acordado por algo que soava como tiro de canhão, quando a porta abriu-se violentamente. Sentando-se ereto de imediato, ele escutou o som áspero das cortinas sendo abertas: a ofuscante luz do sol parecia cutucá-lo com força em ambos os olhos. Protegendo-os com uma das mãos, ele usou a outra para procurar, desesperadamente, pelos seus óculos. – Quetáacontecendo? – A gente não sabia que você já tinha chegado! – disse uma voz alta e empolgada, ao que Harry recebeu um cascudo bem no topo da cabeça. – Rony, não bata nele! – exclamou uma voz de garota, em tom de reprovação. A mão de Harry achou seus óculos e ele os empurrou para cima do nariz, embora a luz brilhasse tanto que ele mal conseguisse enxergar nada, de qualquer maneira. Uma sombra comprida e indistinta estremeceu em frente a ele por um segundo; ele piscou e Rony Weasley apareceu dentro de foco, sorrindo para ele. – Tudo bem? – Melhor que nunca – respondeu Harry, massageando o topo da cabeça e aninhando-se novamente em seus travesseiros. – E você? – Nada mal – disse Rony, puxando uma caixa de papelão e sentando-se sobre ela. – Quando você chegou? Minha mãe só contou para a gente agora! – Tipo uma da manhã. – Tudo certo com os trouxas? Eles te trataram bem? – O mesmo de sempre – retrucou Harry, ao que Hermione se sentou na ponta de sua cama. – Eles não falaram muito comigo, mas eu prefiro desse jeito. Como vai, Hermione? – Ah, tudo bem – disse a garota, examinando Harry minuciosamente, como se ele estivesse enjoado com alguma coisa. Já imaginando o que estava por trás disso, e, não tendo vontade alguma de conversar sobre a morte de Sirius ou sobre nenhum assunto desagradável no momento, ele disse: – Que horas são? Eu perdi o café? – Não se preocupe com isso, minha mãe está te trazendo uma bandeja. Ela acha que você parece mal alimentado – respondeu Rony, revirando os olhos. – Então, o que você tem feito? – Nada de mais, eu só estive lá trancado na casa dos meus tios, não? – Deixa disso! – exclamou Rony. – Você saiu com o Dumbledore! – Não foi nada de muito interessante. Ele só queria que eu o ajudasse a convencer um professor antigo a sair da aposentadoria. O nome dele é Horace Slughorn. – Ah – fez Rony, com um quê de desapontamento. – A gente tinha achado que... Hermione lançou um olhar de advertência e ele mudou de tom em velocidade recorde. – ...a gente tinha achado que era mesmo algo do tipo. – Mesmo? – perguntou Harry, divertindo-se. – Aham... bem, depois que a Umbridge foi embora, era óbvio que precisávamos de um novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, não? Então, ahn... como ele é? – Ele lembra um pouco uma morsa, e foi o diretor da Sonserina – respondeu Harry. – Algo de errado, Hermione? Ela o estava observando como se esperasse que sintomas estranhos se manifestassem a qualquer momento. Então, reajustou os traços de seu rosto bruscamente sob o formato de um sorriso pouco convincente. – Não, não, de jeito nenhum! Então, ahn... o Slughorn parece ser um bom professor? – Sei lá – retrucou Harry. – Pior que a Umbridge não pode ser, pode? – Eu conheço alguém que é pior que a Umbridge – disse uma voz vinda da porta. A irmã caçula de Rony entrou, relaxada, no quarto, parecendo irritada, e continuou: 52 Capítulo 5 – Um excesso de Fleuma – Oi, Harry. – O que aconteceu com você? – perguntou Rony. – É ela – disse Gina, deixando-se cair sobre a cama de Harry. – Ela está me deixando maluca! – O que ela fez dessa vez? – quis saber Hermione, com compaixão. – É o jeito com que ela fala comigo... parece que eu tenho três anos de idade! – Eu sei – concordou Hermione, baixando o tom de sua voz. – Ela é tão cheia de si! Harry ficou espantado por ouvir Hermione falando da Sra. Weasley desse jeito, e não podia culpar Rony por dizer zangado: – Vocês não podem deixá-la em paz por cinco segundos? – Ah, claro, defenda ela – respondeu Gina, áspera. – Nós todos sabemos que você nunca se cansa dela. Esse parecia um comentário estranho a ser feito sobre a mãe de Rony. Começando a achar que não estava entendendo alguma coisa, Harry perguntou: – De quem vocês estão... ? Mas sua pergunta foi respondida antes que ele a pudesse concluir. A porta do quarto escancarouse novamente e Harry instintivamente puxou suas cobertas até o queixo, com tanta força que Hermione e Gina escorregaram da cama diretamente para o chão. Uma moça estava parada no vão da porta, uma mulher cuja beleza era tão de tirar o fôlego que, repentinamente, pareceu não haver ar algum dentro daquele quarto. Ela era alta e esbelta, com cabelos longos e loiros, e parecia emanar um brilho suave e prateado. Para completar essa visão de perfeição, ela estava carregando uma bandeja de café da manhã pesada de tão cheia. – Arry! – exclamou ela, numa voz gutural. – Há quanto tempo! Ao que ela passou da porta em direção a ele, a Sra. Weasley apareceu no campo de visão, vindo no seu rastro um tanto quanto mal-humorada. – Não havia necessidade alguma de trazer a bandeja, eu mesma já ia fazer isso! – Non foi sacrrifício algum – retrucou Fleur Delacour, repousando a bandeja sobre os joelhos de Harry e inclinando-se rapidamente para beijá-lo em cada uma de suas bochechas. Ele sentiu os pontos em que a boca dela havia tocado arderem. – Fazia muito tempo que eu querria vê-lo – continuou. – Lembrra de minha irrmã, Gabrrielle? Ela non se cansa de falarr sobrre Arry Potter. Ela vai adorrarr verr você novamente... – Ah... ela também está aqui? – fez Harry. – Non, non, bobim – disse Fleur, com uma risada que lembrava o tilintar de sinos. – Digo, no prróximo verron, quando nós... mas você non sabe? Seus grandes olhos azuis se arregalaram e ela lançou um olhar de reprovação à Sra. Weasley, que se defendeu: – Nós ainda não saímos contando para ele ... Fleur voltou-se para Harry, fazendo com que suas madeixas prateadas balançassem, atingindo o rosto da Sra. Weasley como um chicote. – Gui e eu vamos nos casarr! – Oh! – exclamou Harry, inexpressivo, sem deixar de notar como a Sra. Weasley, Hermione e Gina, todas evitavam, com determinação, o olhar uma das outras. – Uau! Hã... parabéns! Ela se abaixou até ele e o beijou novamente. – O Gui está muito ocupado no momento, trrabalhando muito, e eu só trrabalho porr meioperríodo no Grringotes, porr causa do meu inglês, enton ele me trrouxe aqui parra passar alguns dias e conhecerr melhorr a família dele. Eu fiquei tan contente de saberr que você estarria vindo... non há muito o que se fazerr aqui, a menos que você goste de cozinharr e de galinhas! Bem, bon apetit, Arry! Com essas palavras, ela virou-se graciosamente, e pareceu que flutuava para fora do quarto, fechando a porta silenciosamente atrás de si. A Sra. Weasley fez um barulho que soou como “tchah!”. – Mamãe a odeia – murmurou Gina. 53 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Eu não a odeio coisa nenhuma! – retrucou a Sra. Weasley, num sussurro atravessado. – Eu só acho que eles se precipitaram nesse noivado, só isso! – Eles se conhecem há um ano – disse Rony, que parecia estranhamente grogue e estava com o olhar parado em direção à porta. – Bem, isso não é tanto tempo! Mas eu sei por que aconteceu, claro. É toda essa incerteza. Com Você-Sabe-Quem de volta, as pessoas acham que podem estar mortas amanhã, então acabam precipitando todos os tipos de decisões que normalmente considerariam com cuidado. Foi a mesma coisa da última vez em que ele esteve poderoso, gente fugindo para casar em tudo quanto era canto... – Incluindo você e o papai – comentou Gina, com perspicácia. – É verdade, mas eu e seu pai fomos feitos um para o outro, então, por que esperar? – disse a Sra. Weasley. – Já no caso do Gui com a Fleur... bem, o que eles realmente têm em comum? Ele é uma pessoa esforçada, centrada, enquanto que ela é... – Uma vaca – completou Gina, assentindo. – Mas o Gui não é tão centrado assim. Ele é um desfazedor de feitiços, não é? Ele gosta de um pouco de aventura, de um pouco de glamour... eu imagino que é por isso que ele escolheu a Fleuma. – Pare de chamá-la assim, Gina – ralhou a Sra. Weasley, enquanto Harry e Hermione riam. – Bem, é melhor eu continuar ... coma seus ovos enquanto eles ainda estão quentes, Harry. Parecendo aflita, ela deixou o quarto. Rony ainda parecia um pouco aturdido: ele estava sacudindo a cabeça experimentalmente, como um cachorro tentando tirar água do ouvido. – Não dá para se acostumar com ela nem quando ela está ficando sob o mesmo teto? – quis saber Harry. – Bem, dá, sim – respondeu Rony. – Mas se ela pula em você, assim, do nada... – É patético – disse Hermione, furiosa, indo para o mais longe de Rony que podia e virando-se para encará-lo com os braços cruzados, assim que chegou à parede. – Você não quer realmente que ela fique por aqui para sempre? – Gina perguntou a Rony, incrédula. Ao que ele simplesmente sacudiu os ombros, ela continuou: – Bem, a mamãe vai dar um jeito de acabar com isso, se puder. Aposto o que quiser. – E como ela vai fazer isso? – perguntou Harry. – Ela está sempre tentando trazer a Tonks para cá, para o jantar. Eu acho que ela está com a esperança que o Gui acabe trocando a Fleuma pela Tonks, e eu espero mesmo que ele troque, porque realmente preferiria ter a Tonks na família. – Ah, claro, ia funcionar mesmo – disse Rony, sarcasticamente. – Escuta, nenhum cara em seu juízo perfeito ia desejar a Tonks, com a Fleur por perto. Digo, a Tonks é até bonitinha, quando não está fazendo coisas idiotas com o cabelo e o nariz, mas ... – Ela é muito mais legal que a Fleuma – protestou Gina. – E mais inteligente, ela é uma Auror! – completou Hermione, de seu canto. – A Fleur não é burra. Ela foi boa o suficiente para entrar para o Torneio Tribruxo – disse Harry. – Você também, não! – exclamou Hermione, em tom amargo. – Você deve gostar da maneira com que a Fleuma diz “Arry”, não gosta? – perguntou Gina, com desdém. – Não – retrucou Harry, desejando não ter falado nada. – Eu só estava querendo dizer que a Fleuma, digo, Fleur... – Eu gostaria muito mais de ter Tonks na família – disse Gina. – Pelo menos ela é engraçada. – Ela não tem sido tão engraçada assim ultimamente – comentou Rony. – A cada vez que eu a vejo, mais ela se parece com a Murta-Que-Geme. – Isso não é justo – reclamou Hermione. – Ela ainda não superou o que aconteceu... vocês sabem... quer dizer, ele era primo dela! 54 Capítulo 5 – Um excesso de Fleuma O ânimo de Harry despencou, eles haviam finalmente chegado em Sirius. Ele pegou um garfo e começou a enfiar ovos mexidos em sua boca, desejando desviar-se de qualquer convite para participar dessa parte da conversa. – A Tonks e o Sirius mal se conheciam – disse Rony. – O Sirius esteve em Azkaban metade da vida dela, e antes disso as famílias nunca se encontraram... – Não é isso – interrompeu Hermione. – Ela acha que foi por culpa dela que ele morreu! – De onde ela tirou isso? – perguntou Harry, a despeito de si próprio. – Bem, ela estava lutando com a Bellatrix Lestrange, não estava? Eu acho que ela sente que caso tivesse acabado com a Bellatrix, ela não teria matado o Sirius. – Isso é uma bobagem – fez Rony. – É culpa de sobrevivente – disse Hermione. – Eu sei que o Lupin tentou tirar isso da cabeça dela, mas ela ainda está muito deprimida. Ela está até mesmo tendo problema com as Metamorfoses dela. – Com o quê dela? – Ela não pode mais mudar sua aparência, como costumava fazer – explicou Hermione. – Eu acho que os poderes dela devem ter sido afetados pelo choque, ou algo do tipo. – Eu não sabia que isso podia acontecer – disse Harry. – Nem eu – afirmou Hermione. – Mas acho que, se você estiver muito deprimido... A porta abriu-se novamente e a Sra. Weasley enfiou sua cabeça para dentro do quarto. – Gina – sussurrou – desça comigo para me ajudar com o almoço! – Eu estou aqui conversando! – protestou a garota, revoltada. – Agora! – exigiu a Sra. Weasley, e foi embora. – Ela só me quer lá para não ter que ficar sozinha com a Fleuma! – exclamou Gina, atravessada. Ela sacudiu seus longos cabelos ruivos em uma excelente imitação de Fleur e começou a desfilar pelo quarto com as mãos para o ar, como uma bailarina. – Vocês tratem de descer logo também – disse ela, enquanto saía. Harry se aproveitou do silêncio temporário para comer mais de seu café-da-manhã. Hermione estava xeretando as caixas de Fred e Jorge, embora de vez em quando desse uma olhada de soslaio para o Harry. Rony, que ainda estava se servindo da torrada de Harry, ainda olhava sonhadoramente para a porta. – O que é isso? – quis saber Hermione, segurando algo que parecia com um pequeno telescópio. – Sei lá, – respondeu Rony – mas se o Fred e o Jorge deixaram isso aqui, deve ser porque ainda não está pronto para a loja de logros, então tome cuidado. – A sua mãe disse que a loja está indo bem – disse Harry. – Ela disse que o Fred e o Jorge levam jeito para os negócios. – “Jeito para os negócios” é pouco – afirmou Rony. – Eles estão montados nos galeões! Eu mal posso esperar para ver o lugar. A gente ainda não foi para o Beco Diagonal, porque a mamãe disse que, como medida extra de segurança, o papai também precisa estar lá e ele tem estado muito ocupado no trabalho, mas parece que a loja vai muito bem. – E o Percy? – quis saber Harry; o terceiro filho dos Weasley havia rompido com o resto da família. – Ele voltou a falar com os seus pais? – Não – respondeu Rony. – Mas ele sabe que o seu pai estava certo o tempo todo sobre o Voldemort ter voltado... – Dumbledore diz que as pessoas acham muito mais fácil perdoar os outros por estarem errados que por estarem certos – comentou Hermione. – Eu o escutei falando isso para a sua mãe, Rony. – Parece mesmo o tipo de coisa doida que o Dumbledore diria – disse Rony. – Ele vai me dar aulas particulares esse ano – disse Harry, em tom casual. Rony engasgou com sua torrada, e Hermione ofegou. – Você manteve isso em segredo! – exclamou Rony. 55 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Eu só lembrei agora – retrucou Harry, com sinceridade. – Ele me comunicou ontem à noite, no seu abrigo de vassouras. – Puxa... aulas particulares com o Dumbledore! – Rony pareceu impressionado. – Eu me pergunto por que ele... ? A voz dele esmaeceu. Harry o viu trocar olhares com Hermione, e então, largou seus talheres, com o coração batendo forte, levando-se em conta que tudo o que ele estava fazendo era estar sentado na cama. Dumbledore lhe havia dito que fizesse isso... então por que não agora? Ele fixou seu olhar no garfo, que estava refletindo a luz do sol em seu colo, e disse: – Eu não sei exatamente por que ele vai me dar aulas, mas imagino que seja por causa da profecia. Nem Rony nem Hermione disseram nada. Harry teve a impressão de que os dois haviam congelado, e continuou, ainda falando para seu garfo: – Vocês sabem, aquela que estavam tentando roubar no Ministério. – Mas ninguém sabe o que ela dizia – disse Hermione, rapidamente. – Ela foi estraçalhada. – Se bem que o Profeta disse que... – começou Rony, ao que Hermione fez “Shh!”. – O Profeta sacou bem – Harry levantou o olhar para eles, com grande esforço: Hermione parecia assustada e Rony, pasmo. – Aquela bola de vidro que foi quebrada não era o único registro da profecia. Eu escutei a versão completa no escritório do Dumbledore... foi para ele que a profecia foi feita, então ele pôde me contar. Pelo que sei – respirou fundo, – parece que sou eu que tenho que acabar com o Voldemort... pelo menos ela dizia que nenhum de nós pode viver enquanto o outro sobreviver. Os três se entreolharam em silêncio por um momento. Então se escutou uma grande pancada e Hermione desapareceu atrás de uma lufada de fumaça preta. – Hermione! – gritaram Harry e Rony, ao que a bandeja de café da manhã escorregou para o chão, causando um estrondo. Hermione reapareceu, tossindo, fora da fumaça, agarrando o telescópio e ostentando um olho brilhantemente roxo. – Eu apertei isso e ele... ele me deu um soco! – ela ofegou. E, de fato, agora eles podiam ver um minúsculo punho projetando-se da ponta do telescópio. – Não se preocupe – Rony estava claramente se segurando para não rir. – Mamãe vai dar um jeito nisso, ela é boa em curar ferimentos leves... – Ah, bem, deixe isso para lá agora – disse Hermione, impaciente. – Harry, ah, Harry... Ela sentou-se na ponta da cama dele novamente, e continuou: – A gente ficou se perguntando, depois que voltamos do Ministério... obviamente não quisemos dizer nada para você, mas pelo que o Lúcio Malfoy disse da profecia, de ela ser sobre você e Voldemort, bem, nós achamos que deveria ser algo do tipo... ah, Harry... – ela fixou o olhar nele, e então, sussurrou – Você está assustado? – Não tanto como eu estava – respondeu o garoto. – Quando eu a ouvi pela primeira vez, fiquei... mas agora, parece que eu sempre soube que teria de encará-lo no final... – Quando a gente ficou sabendo que o Dumbledore estava indo te buscar pessoalmente, pensamos que ele deveria te contar alguma coisa, ou te mostrar alguma coisa, que tivesse a ver com a profecia – contou Rony, ansioso. – E estávamos de certa maneira certos, não? Ele não estaria te dando aulas se pensasse que você ia morrer de qualquer jeito, ele não ia perder o seu tempo... ele deve achar que você tem chance! – Isso é verdade – concordou Hermione. – O que será que ele vai ensinar para você, Harry? Magia defensiva muito avançada, provavelmente... contra-maldições poderosas, anti-azarações... Harry não estava realmente escutando. Um calor tomava conta dele e não tinha nada a ver com a luz do sol, uma apertada obstrução em seu peito parecia estar se dissolvendo. Ele sabia que Rony e Hermione estavam mais chocados do que deixavam transparecer, mas o simples fato de que eles ainda estavam ali, um de cada lado, transmitindo-lhe palavras de conforto, e não se esquivando dele 56 Capítulo 5 – Um excesso de Fleuma como se estivesse contaminado ou fosse perigoso, era muito mais valioso do que ele poderia lhes dizer. – ... e encantamentos evasivos, em geral – concluiu a garota. – Bem, pelo menos você tem certeza de uma aula que vai ter esse ano, isso é mais do que eu e o Rony temos. Eu me pergunto quando os resultados dos nossos N.O.M.s vão chegar... – Não deve demorar muito, já faz um mês – palpitou Rony. – Esperem – fez Harry, ao que outra parte da conversa da noite anterior voltou a ele. – Eu acho que o Dumbledore comentou que os resultados dos nossos N.O.M.s chegariam hoje! – Hoje? – guinchou Hermione. – Hoje?! Mas por que você não... ai, meu Deus... você devia ter dito... Deu um salto e ficou de pé – Vou ver se chegou alguma coruja... Entretanto, quando Harry desceu, dez minutos depois, já vestido e carregando sua bandeja de café da manhã vazia, encontrou uma Hermione muito agitada sentada à mesa da cozinha, enquanto a Sra. Weasley tentava diminuir sua semelhança com metade de um panda. – Não sai de jeito nenhum – disse a Sra. Weasley, ansiosa, de pé em frente a Hermione segurando sua varinha em uma mão e uma cópia do Guia do Curandeiro aberta em “Hematomas, Cortes e Abrasões”. – Isto aqui costumava funcionar, eu não consigo entender o que está havendo. – É bem a idéia do Fred e do Jorge de piada engraçada, garantir que não dá para sair – disse Gina. – Mas tem que sair! – Hermione chiou. – Eu não posso ficar desse jeito para sempre! – Você não vai ficar assim para sempre, querida. A gente vai achar um antídoto, não se preocupe – a Sra. Weasley tentou acalmá-la. – Gui me contou como Frred e Jorrge son engrraçados! – comentou Fleur, sorrindo serenamente. – É. Eu mal consigo tomar fôlego, de tanto que estou rindo – retrucou Hermione, áspera. Então, ela se levantou, e começou a dar voltas pela cozinha, mexendo com os dedos. – Sra. Weasley, você tem certeza absoluta de que nenhuma coruja chegou esta manhã? – Tenho, sim, querida. Eu teria notado – respondeu a Sra. Weasley, com paciência. – Mas mal passou das nove, ainda. Ainda há bastante tempo... – Eu sei que me dei mal em Runas Antigas – murmurou Hermione exaltada. – Com certeza, eu fiz pelo menos uma tradução errônea. E a parte prática de Defesa Contra as Artes das Trevas também não foi nem um pouco bem. Na hora, eu até achei que me dei bem em Transfiguração, mas pensando agora... – Hermione, cala a boca! Você não é a única aqui que está nervosa! – reclamou Rony. – E quando você tiver os seus onze N.O.M.s “Ótimos”... – Não, não, não! – fez Hermione, balançando as mãos histericamente. – Eu sei que fui reprovada em tudo! – O que acontece se formos reprovados? – Harry perguntou a todos da cozinha, mas foi novamente Hermione que respondeu. – Nós discutimos nossas opções com o Chefe da Casa. Eu perguntei isso para a professora McGonagall no final do ano letivo. O estômago de Harry se contorceu e ele desejou ter comido menos no café da manhã. – Em Beauxbatons, – disse Fleur, complacente – nós tínhamos um método diferrente de fazerr as coisas. Eu considerro melhorr. Nós fazemos nossos exames após seis anos de estudo, e non cinco, e enton... As palavras de Fleur foram abafadas por um berro. Hermione estava apontando a janela da cozinha. Três manchas pretas estavam claramente visíveis no céu, aumentando gradativamente. – São corujas, com certeza – disse Rony, rouco, se levantando para juntar-se a Hermione na janela. – E são três – completou Harry, correndo para o outro lado da garota. 57 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Uma para cada um de nós – concluiu Hermione, num sussurro aterrorizado. – Oh, não... oh, não... não... Ela agarrou com força os cotovelos de Harry e de Rony. As corujas estavam voando diretamente para A Toca, três belas corujas amarelo-acastanhadas, cada uma delas – ficou claro à medida que voavam mais baixo pelo caminho em direção à casa – carregando um envelope grande e quadrado. – Oh, não! – fez Hermione. A Sra. Weasley se enfiou no meio deles e abriu a janela da cozinha. Uma, duas, três, as corujas voaram através dela e aterrissaram na mesa em uma linha precisa. Todas as três levantaram suas patas direitas. Harry deu um passo à frente. A carta endereçada e ele estava amarrada à perna da coruja do meio. Ele a desamarrou, com dedos desajeitados. À sua esquerda, Rony estava tentando soltar seus próprios resultados, e à sua direita, as mãos de Hermione estavam tremendo tanto que ela estava fazendo sua coruja tremer também. Ninguém na cozinha disse nada. Finalmente, Harry conseguiu soltar o envelope e o abriu rapidamente, desdobrando o pedaço de pergaminho que havia dentro. RESULTADOS DOS NÍVEIS ORDINÁRIOS DE MAGIA Notas de Aprovação: Ótimo (O) Excede Expectativas (E) Aceitável (A) Notas de Reprovação: Passável (P) Deplorável (D) Trasgo (T) HARRY TIAGO POTTER OBTEVE: Astronomia: A Trato das Criaturas Mágicas: E Feitiços: E Defesa Contra as Artes das Trevas: O Adivinhação: P Herbologia: E História da Magia: D Poções: E Transfiguração: E Harry leu e releu o pergaminho diversas vezes, acalmando sua respiração a cada releitura. Estava tudo certo: ele sempre soube que seria reprovado em Adivinhação, e não tinha chance alguma de passar em História da Magia, dado que ele havia desmaiado no meio da prova, mas ele havia passado em todas as outras matérias! Passou os dedos pelas notas... ele havia passado bem em Transfiguração e Herbologia, havia até Excedido Expectativas em Poções! E o melhor de tudo: obteve “Ótimo” em Defesa Contra as Artes das Trevas! Olhou em volta. Hermione estava de costas para ele e com a cabeça inclinada, mas Rony parecia maravilhado. – Só fui reprovado em Adivinhação e História da Magia, mas quem se importa com essas matérias? – disse a Harry, feliz. – Olha o meu, vamos trocar... Harry desceu o olhar para as notas de Rony: não havia nenhum “Ótimo” ali... – Sabia que você teria nota máxima em Defesa Contra as Artes das Trevas – comentou Rony, dando um soco de leve no ombro de Harry. – Nós fomos bem, não é? – Muito bem! – exclamou a Sra. Weasley, orgulhosa, passando a mão pelos cabelos de Rony. – Sete N.O.M.s, isso é mais do que o Fred e o Jorge conseguiram juntos! 58 Capítulo 5 – Um excesso de Fleuma – Hermione? – Gina tentou chamá-la, porque Hermione ainda não havia se virado. – Como você foi? – Eu... nada mal – respondeu Hermione, em um sussurro. – Ah, deixa disso – reclamou Rony, e foi a passos largos até ela, arrancando os resultados de sua mão. – Exatamente... dez “Ótimos” e um “Excede Expectativas” em Defesa Contra as Artes das Trevas – desceu o olhar para ela, meio divertido, meio exasperado. – Você está desapontada, não está? Ela balançou a cabeça, mas Harry deu uma risada. – Bem, nós somos alunos de N.I.E.M.s agora! – Rony sorriu. – Mãe, tem mais salsicha? Harry olhou de novo para os seus resultados. Eram exatamente aquilo que ele poderia ter esperado, mas ele sentiu apenas uma pontada de desapontamento: era o final de sua ambição de se tornar um Auror. Ele não havia obtido a nota de Poções necessária. Ele sempre soube que não conseguiria, mas ainda assim, sentiu seu estômago esmorecer ao olhar novamente para aquele pequeno e preto “E”. Era estranho, realmente, pensar que havia sido um Comensal da Morte disfarçado que havia lhe dito pela primeira vez que ele daria um bom Auror, mas, de algum modo, havia gostado da idéia, e não conseguia pensar em mais nada que gostaria de fazer. Além disso, parecia o destino certo para ele desde que ouvira a profecia, um mês antes... nenhum pode viver enquanto o outro sobreviver... não estaria ele vivendo de acordo com a profecia e dando a si próprio a melhor chance de sobrevivência, caso se juntasse àqueles bruxos altamente treinados, cujo trabalho era procurar e matar Voldemort? 59 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – CAPÍTULO 6 – O Desvio de Draco Harry permaneceu dentro dos limites do jardim da Toca pelas semanas seguintes. Ele passou a maior parte dos seus dias jogando Quadribol aos pares no pomar dos Weasleys (ele e Hermione contra Rony e Gina, Hermione era péssima e Gina era boa, então eles faziam uma combinação razoável) e suas noites comendo porções triplas de tudo o que a Sra. Weasley colocava na frente dele. Teriam sido férias felizes e pacíficas se não fosse pela série de desaparecimentos, acidentes estranhos, até mortes, que agora apareciam quase diariamente no Profeta. Algumas vezes, Gui e o Sr. Weasley traziam notícias para casa antes mesmo que estas chegassem aos jornais. Para o desgosto da Sra. Weasley, as celebrações do décimo sexto aniversário de Harry foram manchadas por novidades horríveis trazidas para a festa por Remo Lupin, que estava com uma aparência desolada e soturna, seu cabelo castanho amplamente irisado por fios grisalhos, suas roupas mais esfarrapadas e remendadas do que nunca. – Houve mais dois ataques de dementadores – ele anunciou, enquanto a Sra. Weasley lhe passava uma grossa fatia de bolo de aniversário. – E o corpo de Igor Karkaroff foi encontrado em uma cabana velha no norte. A Marca Negra foi deixada sobre ela – bem, francamente, estou surpreso que ele tenha permanecido vivo por quase um ano após desertar dos Comensais da Morte; pelo que me lembro, Régulo, o irmão de Sirius, só o conseguiu por poucos dias. – Certo, bem, – falou a Sra. Weasley, fechando a cara – talvez pudéssemos falar sobre algo difer... – Você soube do Florean Fortescue, Remo? – perguntou Gui, que estava sendo servido de vinho por Fleur. – O homem que trabalhava – – ...na loja de sorvetes no Beco Diagonal? – Harry interrompeu, com uma sensação desagradável de vazio no fundo do estômago. – Ele costumava me dar sorvete de graça. O que aconteceu com ele? – Desaparecido, foi arrastado , pela aparência do lugar. – Por quê? – Rony perguntou, enquanto a Sra. Weasley encarava Gui significativamente. – Quem sabe? Ele deve tê-los aborrecido de alguma maneira. Era um bom homem, Florean. – Falando do Beco Diagonal, – o Sr. Weasley disse, – parece que Olivaras também se foi. – O fabricante de varinhas? – Gina perguntou, surpreendida. – Esse mesmo. A loja está vazia. Sem sinais de luta. Ninguém sabe se ele foi embora voluntariamente ou se foi raptado. – Mas e as varinhas, como as pessoas vão fazer para conseguí-las? – Elas vão ter que conseguir com outros fabricantes – Lupin disse. – Mas Olivaras era o melhor, e se o outro lado o pegou, isso não é muito bom para nós. No dia seguinte a esse chá de aniversário especialmente deprimente, suas cartas e listas de livros chegaram de Hogwarts. A de Harry incluía uma surpresa: ele foi feito capitão do time de Quadribol. – Isso lhe dá o mesmo status que os Monitores! – Hermione gritou alegremente. – Agora você pode usar nosso banheiro especial e tudo o mais! 60 Capítulo 6 – O desvio de Draco – Uau, eu lembro de quando Carlinhos usou um desses – Rony falou, examinando o emblema com alegria. – Harry, é tão legal que você seja meu capitão, se você me deixar voltar para o time, espero, ha ha ha... – Bem, eu creio que não podemos mais adiar uma viagem ao Beco Diagonal agora que vocês receberam as cartas. – a Sra. Weasley suspirou, olhando a lista de livros de Rony. – Iremos no sábado, desde que seu pai não tenha que ir trabalhar de novo. Eu não vou lá sem ele. – Mãe, você acha honestamente que Você-Sabe-Quem vai estar escondido atrás de uma prateleira na Floreios e Borrões? – Rony riu. – Por acaso Fortescue e Olivaras saíram de férias? – a Sra. Weasley falou, se inflamando. – Se você pensa que segurança é um assunto engraçado, pode ficar em casa e eu vou trazer tudo eu mesma... – Não, eu quero ir, eu quero ver a loja do Fred e do Jorge! – Rony se apressou em dizer. – Então você guarde suas idéias, jovenzinho, antes que eu decida que você é imaturo demais para vir conosco! – a Sra. Weasley falou zangada, agarrando seu relógio, todos os nove ponteiros ainda apontando para “perigo mortal”, e o equilibrando no alto de uma pilha de toalhas recém lavadas. – E isso também vale para o retorno a Hogwarts! Rony se virou para encarar Harry incrédulo enquanto sua mãe levantava nos braços a cesta de roupa suja com o relógio oscilando em cima, saindo abruptamente da sala. – Por Deus... não se pode mais nem fazer uma piada por aqui... Mas Rony tomou cuidado para não ser petulante a respeito de Voldemort pelos próximos dias. Sábado amanheceu sem outras explosões da Sra. Weasley, apesar dela parecer muito tensa no café da manhã. Gui, que ficaria em casa com Fleur (para a alegria de Hermione e de Gina), passou uma bolsa cheia de dinheiro para Harry por cima da mesa. – Onde está a minha? – Rony perguntou imediatamente, de olhos arregalados. – Isso já é do Harry, seu idiota, – Gui falou. – Eu tirei do seu cofre pra você Harry, porque está levando cerca de cinco horas para o público pegar seu ouro no momento, os duendes reforçaram demais a segurança. Dois dias atrás Arkie Philpott teve uma Sonda de Probidade enfiada no seu... Bem, confie em mim, deste jeito é mais fácil. – Obrigado, Gui – Harry agradeceu, guardando seu ouro. – Ele é semprrre ton atencioso, – Fleur ronronou com adoração, afagando o nariz de Gui. Gina fingiu que estava vomitando no seu cereal por trás de Fleur. Harry se engasgou com seus flocos de milho, e Rony lhe deu tapas nas costas. Estava um dia escuro e nublado. Um dos carros especiais do Ministério da Magia, no qual Harry já havia andado antes, os estava aguardando na frente quando eles saíram da casa, vestindo suas capas. – É bom que o Papai possa nos arranjar desses novamente, – Rony falou com apreciação, se esticando deliciado enquanto o carro se afastava suavemente da Toca, Gui e Fleur acenavam da janela da cozinha. Ele, Harry, Hermione e Gina estavam todos sentados no conforto espaçoso do banco traseiro. – Não se acostume com isso, é só por causa do Harry, – falou o Sr. Weasley sobre o ombro. Ele e a Sra. Weasley estavam na frente com o motorista do Ministério; o assento do passageiro da frente havia cortesmente se esticado para o que se assemelhava a um sofá de dois lugares. – Ele recebeu status de segurança máxima. E nós estaremos contando com segurança adicional no Caldeirão Furado também. Harry não disse nada; não gostaria nada de fazer suas compras cercado por um batalhão de Aurores. Ele guardou sua Capa de Invisibilidade na mochila e sentiu que, se isso era bom o bastante para Dumbledore, devia ser bom o bastante para o Ministério, apesar de que agora que pensava nisso, não tinha certeza de que o Ministério soubesse de sua capa. 61 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Aqui está – o motorista disse, após um espaço de tempo surpreendentemente curto, falando pela primeira vez enquanto diminuía na Rua Charing Cross e parava na frente do Caldeirão Furado. – Eu devo esperar por vocês, alguma idéia de quanto vocês vão demorar? – Umas duas horas, eu espero, – o Sr. Weasley disse. – Ah, ótimo, aqui está ele! Harry imitou o Sr. Weasley e espiou pela janela; seu coração pulou. Não havia nenhum Auror esperando fora do bar, em vez disso, a forma gigantesca, de barba preta de Rúbeo Hagrid, o guardacaça de Hogwarts, vestindo um longo casaco de pele de castor, sorrindo ao ver o rosto de Harry e inconsciente dos olhares espantados dos Trouxas que passavam. – Harry! – ele gritou, envolvendo-o em um abraço esmagador de ossos no momento em que Harry saiu do carro. – Bicuço, quer dizer, Witherwings, você devia ver ele, Harry, ele tá tão feliz de estar novamente em espaço aberto... – Legal que ele está feliz, – Harry disse, sorrindo forçado enquanto massageava as costelas. – Não sabíamos que “segurança” significava você! – Eu sei, como nos velhos tempos, né? Olha, o Ministério queria mandar um bando de Aurores, mas Dumbledore disse que eu servia – Hagrid disse com orgulho, inchando o peito e enfiando os polegares nos bolsos. – Vamos indo então – primeiro vocês, Molly, Arthur... O Caldeirão Furado estava, pela primeira vez ao que Harry se lembrava, completamente vazio. Somente Tom, o estalajadeiro, enrugado e sem dentes, sobrara da antiga multidão. Ele olhou esperançosamente quando entraram, mas antes que pudesse falar, Hagrid falou cheio de si: – Só passando hoje, Tom, você entende, né? Negócio de Hogwarts. Tom concordou desanimado e voltou a esfregar copos; Harry, Hermione, Hagrid e os Weasleys atravessaram o bar para o pequeno e gelado pátio nos fundos onde as latas de lixo ficavam. Hagrid levantou seu guarda-chuva rosa e deu uma rápida pancada em um certo tijolo na parede, a qual se abriu imediatamente formando um arco para uma rua ventosa pavimentada com pedras arredondadas. Eles passaram pela entrada e pararam, olhando em volta. O Beco Diagonal havia mudado. Os mostruários brilhantes e coloridos com livros de feitiços, ingredientes de poções e caldeirões estavam fora de vista, escondidos atrás de grandes cartazes do Ministério da Magia que foram colados por cima deles. A maior parte desses cartazes roxos apresentava versões ampliadas dos conselhos de segurança dos panfletos que haviam sido entregues durante o verão, mas outros tinham fotografias em preto e branco em que Comensais da Morte sabidamente soltos se moviam.. Bellatrix Lestrange estava sorrindo com desprezo na frente do boticário mais próximo. Umas poucas janelas estavam tampadas, incluindo as da Loja de Sorvetes de Florean Fortescue. Contudo, várias barracas miseráveis haviam aparecido ao longo da rua. A mais próxima, que havia sido construída do lado de fora da Floreios e Borrões, embaixo de um toldo listado manchado, tinha um cartaz de papelão pregado na frente: AMULETOS Eficazes contra Lobisomens, Dementadores e Inferi Um pequeno bruxo andrajoso estava sacudindo para os passantes punhados de símbolos de prata em correntes. – Um para sua menininha, madame? – ele ofereceu à Sra. Weasley enquanto passavam, olhando malicioso para Gina. – Para proteger seu lindo pescocinho? – Ah, se eu estivesse em serviço.... – o Sr. Weasley falou, olhando com raiva para o vendedor de amuletos. – Certo, mas não saia prendendo ninguém agora, querido, estamos com pressa, – a Sra. Weasley disse, consultando nervosa uma lista. – Acho melhor irmos à Madame Malkin primeiro, Hermione quer novas vestes e os tornozelos de Rony estão aparecendo demais com suas vestes escolares, e você também deve estar precisando de novas, Harry, você cresceu tanto, vamos lá, pessoal. 62 Capítulo 6 – O desvio de Draco – Molly, não faz o menor sentido todos nós irmos até a Madame Malkin – disse o Sr. Weasley. – Por que os três não vão com Hagrid enquanto nós podemos ir à Floreios e Borrões comprar os livros escolares de todo mundo? – Não sei – a Sra. Weasley disse ansiosa, claramente dividida entre o desejo de acabar as compras rapidamente e o desejo de que todos permanecessem juntos. – Hagrid, você acha que...? – Não se preocupe, Molly, eles tão bem comigo – Hagrid respondeu acalmando-a, acenando com uma mão do tamanho de uma tampa de lata de lixo. A Sra. Weasley não parecia inteiramente convencida, mas permitiu a separação, disparando em seguida para dentro da Floreios e Borrões com seu marido e Gina, enquanto Harry, Rony, Hermione e Hagrid partiam para a Madame Malkin. Harry reparou que a maioria das pessoas que passavam por eles tinham a mesma aparência ansiosa e atormentada que a Sra. Weasley, e que ninguém mais parava para conversar; os compradores ficavam juntos em seus grupinhos fechados, andando interessados apenas em seus negócios. Ninguém parecia estar fazendo compras sozinho. – Vai ficar meio apertado lá com todo mundo – Hagrid falou, parando do lado de fora da loja e se abaixando para espiar pela janela. “Vou ficar de guarda aqui fora, tá bom? De modo que Harry, Rony e Hermione entraram na pequena loja juntos. Parecia, à primeira vista, estar vazia, mas assim que a porta se fechou atrás deles eles ouviram uma voz familiar reclamando por trás de uma estante com vestes de um azul e verde cintilantes. – ...mais criança, no caso da senhora não ter notado, Mãe. Sou perfeitamente capaz de fazer minhas compras sozinho. Houve um som de cacarejo e uma voz que Harry reconheceu como a de Madame Malkin, a proprietária, dizendo – Agora, querido, sua mãe está certa, nenhum de nós deve sair andando por aí sozinho, não tem nada a ver com ser criança... – Quer tomar cuidado com o lugar onde você está enfiando esse alfinete?! Um adolescente com um rosto pálido e pontudo e cabelos loiro quase brancos apareceu por trás da estante vestindo um belo conjunto de vestes verde-escuro que cintilavam com alfinetes em volta da bainha e nas extremidades das mangas. Ele foi em direção ao espelho e se examinou. Isso pouco antes de notar Harry, Rony e Hermione refletidos sobre seu ombro. Seus olhos de um cinza claro se estreitaram. – Se a senhora está imaginando que cheiro é esse, Mãe, uma sangue-ruim acabou de entrar – Draco Malfoy disse. – Não acho que haja necessidade para esse tipo de linguagem – Madame Malkin disse, se apressando para sair de trás da estante de roupas segurando uma fita métrica e uma varinha. – E eu também não quero varinhas erguidas na minha loja! – ela acrescentou às pressas, pois um olhar em direção à porta lhe mostrou que Harry e Rony estavam de pé com suas varinhas levantadas e apontadas para Malfoy. Hermione, que estava um pouco mais atrás deles, murmurou, – Não, nada disso, sinceramente, não vale a pena. – É, como se vocês ousassem fazer magia fora da escolha – Malfoy zombou – Quem acertou seu olho, Granger? Eu queria mandar flores para a pessoa. – Basta! – Madame Malkin falou, procurando por apoio por cima do seu ombro. – Madame, por favor... Narcisa Malfoy deslizou de trás do armário de roupas. – Afastem as varinhas – ela falou friamente para Harry e Rony. – Se vocês atacarem meu filho novamente, eu lhes asseguro que essa será a última coisa que vocês farão. – Verdade? – Harry perguntou, dando um passo a frente, encarando o rosto calmo e arrogante que, apesar de toda a sua palidez, ainda lembrava o da irmã. Ele estava tão alto quanto ela agora. – Vai chamar alguns Comensais da Morte para acabar com a gente, é? Madame Malkin guinchou e colocou a mão no peito. – Realmente, vocês não deveriam acusar.... que coisa perigosa para dizer... abaixem as varinhas por favor! 63 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Mas Harry não abaixou sua varinha. Narcisa Malfoy sorriu de forma desagradável. – Vejo que ser o favorito de Dumbledore lhe deu uma falsa sensação de segurança, Harry Potter. Mas nem sempre Dumbledore vai estar lá pra te proteger. Harry olhou em volta com ar de troça. – Uau... olha só... ele não está aqui agora! Então por que você não tenta? Talvez seja possível encontrar uma cela dupla em Azkaban para você e o perdedor do seu marido! Malfoy fez um movimento zangado em direção a Harry, mas tropeçou em sua veste muito comprida. Rony riu alto. – Não ouse falar com a minha mãe dessa maneira, Potter! – Malfoy rosnou. – Está tudo bem, Draco, – Narcisa disse, segurando-o com seus magros dedos brancos em seu ombro. – Espero que Potter venha a se reunir com o querido Sirius antes que eu me reúna com Lucio. Harry ergueu sua varinha mais alto. – Harry, não! – Hermione gemeu, agarrando seu braço e tentando puxá-lo para baixo. – Pense... Você não deve... vai se meter numa tremenda encrenca... Madame Malkin tremeu por um momento no lugar, então pareceu se decidir a agir como se nada estivesse acontecendo na esperança de que nada acontecesse. Ela se inclinou para Malfoy, que ainda estava encarando Harry. – Creio que a manga esquerda poderia ficar um pouco mais curta, queridinho, apenas me deixe... – Ai! – Malfoy berrou, afastando a mão dela com força. – Cuidado onde você está colocando seus alfinetes, mulher! Mãe, acho que eu não quero mais essa veste... – Ele tirou as vestes pela cabeça e as jogou no chão aos pés de Madame Malkin. – Você está certo, Draco, – Narcisa falou, com um olhar desdenhoso para Hermione, – agora eu sei o tipo de escória que compra aqui... Melhor irmos para Twilfitt e Tatting’s. E com isso, os dois saíram da loja, Malfoy se certificando de bater a porta em Rony o mais forte que podia em sua passagem para fora. – Bem, realmente! – Madame Malkin falou, pegando as vestes caídas e movendo a ponta da sua varinha por cima delas como um aspirador de pó, de modo a remover toda a poeira. Ela se distraiu durante um bom tempo ajustando as novas vestes de Rony e Harry, tentou vender a Hermione vestes de bruxo em vez de vestes de bruxa, e quando ela finalmente colocou-os para fora da loja foi com um ar de satisfação em vê-los pelas costas. – Conseguiram tudo? – Hagrid perguntou animado quando eles reapareceram ao seu lado. – Agora mesmo, – Harry disse. – Você viu os Malfoys? – Vi – Hagrid respondeu despreocupado. – Mas eles não se metem a criar problema no meio do Beco Diagonal, Harry, não se preocupe com eles. – Harry, Rony e Hermione trocaram olhares, mas antes que eles pudessem desiludir Hagrid desta impressão confortável, o Sr., a Sra. Weasley e Gina apareceram, todos carregando pesados pacotes de livros. – Todo mundo bem? – a Sra. Weasley perguntou. – Conseguiram suas vestes? Certo, então, podemos dar um pulo no boticário e no Empório no caminho para a loja do Fred e do Jorge, agora, fiquem juntos.... Nem Harry nem Rony compraram ingredientes no boticário, uma vez que eles não iam mais estudar Poções, mas os dois compraram grandes caixas de nozes de corujas para Edwiges e Pichitinho no Empório das Corujas. Então, com a Sra. Weasley verificando seu relógio a cada minuto, eles se encaminharam pela rua em busca de Gemialidades Weasley, a loja de logros, cujos donos eram Fred e Jorge. – Nós realmente não temos muito tempo, – a Sra. Weasley disse. – Nós vamos apenas dar uma olhada e então voltamos para o carro. Devemos estar perto, esse é o número noventa e dois...noventa e quatro... – Ôpa!!! – Rony avisou, parando na hora. 64 Capítulo 6 – O desvio de Draco Comparada com as frentes de loja feias e cheias de cartazes a volta deles, as vitrines da loja de Fred e Jorge atingiam os olhos como fogos de artifício. Passantes casuais estavam olhando por cima dos ombros para as vitrines, e algumas pessoas com olhares surpreendidos haviam realmente parado, atônitas. A vitrine da esquerda estava extraordinariamente cheia de uma grande variedade de mercadorias que giravam, pulavam, piscavam, balançavam e rangiam; os olhos de Harry começaram a lacrimejar só de olhar. A vitrine da direita estava coberta com um cartaz gigantesco, roxo como os do Ministério, mas enfeitado com brilhantes letras amarelas: POR QUE VOCÊ ESTÁ PREOCUPADO COM AQUELE-QUE-NÃO-DEVE-SER-NOMEADO? VOCÊ DEVIA ESTAR PREOCUPADO COM AQUILO-QUE-DEVE-SER-EVACUADO. A PRISÃO DE VENTRE É A SENSAÇÃO QUE ESTÁ ENLOUQUECENDO A NAÇÃO! Harry começou a rir. Ele ouviu um gemido fraco a seu lado e viu a Sra. Weasley olhando, estarrecida, para o cartaz. Seus lábios se moveram silenciosamente, como se falasse “Aquilo-quedeve-ser-evacuado”. – Eles vão ser assassinados em suas camas! – Ela sussurrou. – Não, eles não vão! – Rony falou, que, como Harry, estava rindo. – É brilhante! Ele e Harry lideraram o grupo para dentro da loja. Ela estava cheia de fregueses; Harry não conseguia chegar perto das prateleiras. Ele olhou em volta, observando as caixas empilhadas até o teto: Aqui estavam os Kits Mata-Aula que os gêmeos haviam aperfeiçoado durante seu último e incompleto ano em Hogwarts; Harry reparou que os Nugá Sangra-Nariz eram muitíssimo populares, com apenas uma caixa danificada deixada na prateleira. Haviam latas cheias de varinhas falsas, as mais baratas apenas virando galinhas de borracha ou pares de calças quando usadas, as mais caras se enrolando em volta da cabeça e do pescoço do dono incauto, e caixas de penas, que vinham nas variedades de Auto-Tinta, Corrige-Ortografia e Resposta-Abusada. Um espaço se abriu na multidão, e Harry encontrou um caminho até o balcão, onde um bando de deliciadas crianças de dez anos estava assistindo um homenzinho de madeira vagarosamente subir os degraus de uma forca verdadeira, ambos colocados em cima de uma caixa que dizia: enforcados reutilizáveis – soletre ou ele vai balançar! “Feitiços de Fantasia Patenteados” Hermione dera um jeito de se espremer até um grande mostruário próximo ao balcão e estava lendo a informação na parte de trás de uma caixa que trazia uma imagem super colorida de um belo jovem e uma garota desmaiada que estavam no convés de uma navio pirata. – Um simples encantamento e você vai entrar em uma fantasia de trinta minutos, de alta qualidade, super realista, fácil de encaixar em uma aula escolar padrão e virtualmente indetectável (efeitos colaterais incluem expressão vazia e um pouco de baba). Proibida a venda a menores de dezesseis anos. Sabe – Hermione disse, olhando para Harry – isso é magia realmente extraordinária! – Por essa, Hermione – disse um voz por trás deles -, você pode ter um de graça. Um Fred exultante estava atrás deles, vestindo um conjunto de vestes magenta que combinavam magnificamente com seu cabelo flamejante. – Como está, Harry? – eles apertaram as mãos. – E o que aconteceu com o seu olho, Hermione? – O seu telescópio socador, – ela respondeu triste. – Nossa, eu esqueci deles, – Fred falou. – Aqui... – Ele puxou um vidro do seu bolso e o entregou a ela; ela o desarrolhou cautelosamente para descobrir uma grossa pasta amarela. – Simplesmente aplique no olho, esse machucado vai sumir em uma hora, – Fred acrescentou. – Nós temos que encontrar um removedor de machucados decente. Estamos testando a maioria dos nossos produtos em nós mesmos. 65 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Hermione parecia nervosa. – Isso é seguro, não é? – Ela perguntou. – Claro que é, – Fred afirmou. – Venha Harry, vou te mostrar o lugar. Harry deixou Hermione aplicando a pasta em seu olho escuro e seguiu Fred em direção ao fundo da loja, onde ele viu uma banca de cartas e truques com cordas. – Truques mágicos de trouxas! – Fred disse alegremente, apontando para eles. – Para malucos como o Papai, você sabe, que adoram as coisas dos Trouxas. Não é tão lucrativo, mas nós temos um negócio estável, eles são grandes novidades... Ah, aqui está o Jorge... O gêmeo de Fred apertou as mãos de Harry energicamente. – Mostrando o lugar a ele? Venha para a traseira, Harry, é onde estamos fazendo dinheiro de verdade.... você, embolse qualquer coisa, e vai pagar mais do que em Galeões! – Ele avisou um menininho que rapidamente afastou a mão de um barril rotulado: MARCAS NEGRAS COMESTÍVEIS – ELAS VÃO DEIXAR QUALQUER UM DOENTE! Jorge puxou uma cortina ao lado dos truques trouxas e Harry viu um cômodo mais escuro e menos lotado. A embalagem dos produtos alinhados nas prateleiras era bem mais discreta. – Nós acabamos de desenvolver essa linha mais séria – Fred disse. – Engraçado como aconteceu... – Você não imaginaria quanta gente, até pessoas que trabalham no Ministério, são incapazes de fazer um Feitiço Escudo decente – George disse. – Claro, eles não tiveram você como professor, Harry. – Isso mesmo... Bem, pensamos que Chapéus Escudo eram uma boa piada, você sabe, desafie seu colega a te azarar enquanto você está vestindo um e veja a cara dele quando a azaração simplemente quicar. Mas o Ministério comprou quinhentos pra todo o seu pessoal de apoio! E nós ainda estamos recebendo pedidos enormes! – Então nós nos expandimos para toda uma série de Capas Escudo, Luvas Escudo... – ... quero dizer, elas não ajudariam muito contra as Maldições Imperdoáveis, mas servem para maldições e azarações fracas ou médias... – E então pensamos que era uma boa entrar no ramo de Defesa Contra as Artes das Trevas, porque é uma máquina de fazer dinheiro – Jorge continuou cheio de entusiasmo. – Isso é legal. Veja, Pó de Escuridão Instantânea, nós estamos importando do Peru. Vem a calhar quando você quer fugir rápido. – E os nossos Detonadores Chamarizes estão sumindo das prateleiras, veja, – Fred apontou para uma quantidade de objetos pretos e esquisitos com forma de nariz que estavam realmente tentando sair de vista. – Você simplesmente deixa cair um subrepticiamente e ele vai correr e fazer um barulhão longe da vista, dando a você algo para distrair a atenção se você precisar. – Prático, – Harry afirmou impressionado. – Aqui – Jorge falou, pegando dois e jogando-os para Harry. Uma jovem bruxa com cabelo loiro curto enfiou sua cabeça pela cortina; Harry viu que ela também vestia as vestes magenta da equipe. – Há um cliente aqui procurando por um caldeirão de brincadeira, Sr. Weasley e Sr. Weasley, – ela falou. Harry achou muito estranho ouvir Fred e Jorge serem chamados de “Sr. Weasley”, mas eles agiram normalmente. – Claro, Verity, já estou indo – Jorge respondeu prontamente. – Harry, você pode pegar o que quiser, certo? Por conta da casa. – Eu não posso fazer isso! – Harry falou, que já havia pego sua bolsa de dinheiro para pagar pelos Detonadores Chamarizes. – Você não paga aqui – Fred falou firmemente, afastando o ouro de Harry. – Mas... 66 Capítulo 6 – O desvio de Draco – Você nos deu o empréstimo para o início do negócio, nós não esquecemos, – Jorge disse inflexivelmente. – Pegue o que quiser e apenas se lembre de contar às pessoas onde você o conseguiu, se elas perguntarem. Jorge escorregou pelas cortinas para ajudar com os clientes, e Fred levou Harry de volta para a parte principal da loja para encontrar Hermione e Gina ainda olhando para os Feitiços de Fantasia Patenteados. – As meninas ainda não encontaram nossos produtos especiais BruxaMaravilha? – Fred perguntou. – Sigam-me, senhoras... Próximo à vitrine havia uma série de produtos violentamente rosa em volta dos quais um bando de garotas animadas estava rindo, cheio de entusiasmo. Hermione e Gina recuaram, desconfiadas. – Aí vocês têm – Fred falou cheio de orgunho. – A melhor linha de poções do amor que você vai achar em qualquer lugar. Gina levantou uma sobrancelha ceticamente. – Elas funcionam? – perguntou. – Claro que funcionam, por até vinte e quatro horas dependendo do peso do garoto em questão... – ... e do quanto a garota é atraente, – Jorge disse, reaparecendo subitamente ao lado deles. – Mas nós não vamos vendê-las para a nossa irmã, – acrescentou, tornando-se severo de repente, – não quando ela já tem cerca de cinco garotos interessados, pelo que nós ou.... – O que quer que vocês tenham ouvido do Rony é uma tremenda mentira, – Gina falou calmamente, inclinando-se para a frente para pegar um pequeno pote rosa da prateleira. – O que é isso? – Exterminador garantido de espinhas em dez segundos – Fred respondeu. – Excelente pata tudo, desde furúnculos a cravos, mas não mude de assunto. Você está ou não saindo atualmente com um garoto chamado Dino Thomas? – Sim, estou, – ela respondeu. – E na última vez que eu olhei, ele definitivamente era um garoto, não cinco. O que são aqueles? – Ela estava apontando para várias bolas peludas em tons de rosa e roxo, todas rolando em volta do fundo de uma gaiola e emitindo guinchos agudos. – Mini Pufosos – Jorge respondeu. – Pufosos miniaturas, nós não conseguimos criá-los rápido o suficiente. E o tal do Michael Corner? – Eu dei o fora nele, ele era um mau perdedor – Gina disse, colocando um dedo através das grades da gaiola e vendo os Mini Pufosos o rodearem. – Eles são uma gracinha! – Eles são realmente fofos, sim... – Fred concordou. – Mas você está mudando de namorados um pouco rápido, não está? Gina se virou para olhá-lo, as mãos nos quadris. O olhar dela apresentou uma semelhança tão grande com a Sra. Weasley que Harry se surpreendeu que Fred não tenha recuado. – Não é da sua conta. E eu vou te agradecer – ela acrescentou zangada para Rony, que havia acabado de aparecer ao lado de Jorge, carregado de mercadorias – se você não contar histórias sobre mim para esses dois! – São três galeões, nove sicles e um nuque – Fred disse, examinando as várias caixas nos braços do Rony. – Passe a grana pra cá. – Eu sou seu irmão! – E é nossa a mercadoria que você está segurando. Três galeões e nove sicles. Eu desconto o nuque. – Mas eu não tenho três galeões e nove sicles! – Então é melhor você devolver as coisas e tome cuidado para colocar nas prateleiras certas. Rony deixou cair diversas caixas, praguejou, e fez um gesto de mão rude para Fred que infelizmente foi visto pela Sra. Weasley, que havia escolhido aquele momento para aparecer. – Se eu vir você fazer isso novamente, eu vou azarar os seus dedos e deixá-los colados, – ela falou bruscamente. – Mãe, eu posso ter um Mini Pufoso? – Gina pediu imediatamente. 67 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Um o quê? – a Sra. Weasley perguntou desconfiada. – Veja, eles são tão lindos... A Sra. Weasley se afastou para olhar os Mini Pufosos, e Harry, Rony e Hermione tiveram por um momento uma visão desimpedida da vitrine. Draco Malfoy estava subindo apressado e sozinho pela rua. Quando ele passou pelas Gemialidades Weasley, ele olhou por cima do ombro. Segundos depois, ele se moveu para longe do alcance da vitrine e eles o perderam de vista. – Onde será que a mamãezinha dele está? – Harry falou, franzindo o cenho. – Fugiu dela, pelo jeito, – Rony respondeu. – Mas por que? – Hermione perguntou. Harry não disse nada; ele estava pensando furiosamente. Narcisa Malfoy não deixaria seu precioso filho longe de suas vistas de bom grado, Malfoy deve ter feito um grande esforço para se livrar das garras dela. Harry, conhecendo e detestando Malfoy, tinha certeza de que a razão não podia ser inocente. Ele olhou em volta. A Sra. Weasley e Gina estavam inclinadas sobre os Mini Pufosos. O Sr. Weasley estava examinando deleitado um pacote de cartas marcadas de baralho Trouxa. Fred e Jorge estavam ajudando clientes. Pelo outro lado do vidro, Hagrid estava de pé com suas costas para eles, olhando para cima e para baixo a rua. – Entrem aqui em baixo, rápido. – Harry disse, puxando sua Capa de Invisibilidade da mochila. – Ah, Harry, eu não sei não, Hermione falou, olhando incerta na direção da Sra. Weasley. – Vamos lá! – Rony chamou. Ela hesitou por mais um segundo, e então mergulhou debaixo da capa com Harry e Rony. Ninguém reparou que eles desapareceram; estavam todos muito interessados nos produtos de Fred e Jorge. Harry, Rony e Hermione se espremeram pela porta o mais rápido que puderam, mas no momento em que chegaram à rua, Malfoy havia desaparecido com tanto sucesso quanto eles. – Ele estava indo naquela direção – Harry murmurou o mais baixo possível, de modo que o cantarolante Hagrid não os ouvisse. – Vamos. Eles se apressaram, espiando para a esquerda e para a direita, pelas vitrines e portas das lojas, até que Hermione apontou à frente. – É ele, não é? – ela sussurrou. – Virando à esquerda? – Grande surpresa, – Rony sussurrou. Malfoy deu uma olhada em volta, então deslizou para a Travessa do Tranco e para fora de vista. – Rápido ou vamos perdê-lo – Harry disse, se apressando. – Nossos pés vão ser vistos! – Hermione disse ansiosa, já que a capa se agitava um pouco em volta das canelas deles; era muito mais difícil esconder os três embaixo da capa agora. – Isso não importa, – Harry estava impaciente – Só se apresse! Mas a Travessa do Tranco, a rua lateral dedicada às Artes das Trevas, parecia completamente deserta. Eles espiaram pelas vitrines enquanto passavam, mas nenhuma das lojas parecia ter cliente algum. Harry achou que era muito suspeito nesses tempos perigosos comprar objetos das Trevas, ou, no mínimo, ser visto os comprando. Hermione deu um forte beliscão no seu braço. – Ai! – Shh! Olhe! Ele está lá dentro – ela murmurou no ouvido de Harry. Eles pararam na frente da única loja na Travessa do Tranco que Harry já havia visitado, Borgin & Burkes, a qual vendia uma grande variedade de objetos sinistros. Lá, bem no meio de caixas cheias de crânios e antigas garrafas, estava Draco Malfoy com suas costas para eles, apenas visível atrás do grande armário negro no qual Harry havia se escondido uma vez para evitar Malfoy e seu pai. Julgando pelo movimento das mãos de Malfoy, ele estava falando animadamente. O proprietário da loja, Sr. Borgin, um homem encurvado com cabelo oleoso, estava de frente para Malfoy. Ele tinha uma curiosa expressão que misturava ressentimento e medo. 68 Capítulo 6 – O desvio de Draco – Se nós pudéssemos ouvir o que eles estão dizendo! – Hermione falou. – Mas nós podemos! – Rony falou animado. – Só um momento, droga... Ele deixou cair duas caixas que ainda estava segurando enquanto remexia na maior. – Orelhas Extensíveis, vejam! – Fantástico! – Hermione disse, enquanto Rony desenrolava os longos fios cor de pele e começava a passá-los por baixo da porta. – Espero que a porta não seja Impertubável.... – Não! – Rony falou satisfeito. – Ouçam! Eles juntaram suas cabeças e ouviram intensamente nas extremidades dos fios, através dos quais a voz de Malfoy podia ser ouvida alto e claro, como se um rádio tivesse sido ligado. – ... você sabe como consertar? – Talvez – Borgin respondeu, em um tom que sugeria que ele não queria se comprometer. – Vou precisar ver, no entanto. Por que você não traz para a loja? – Não posso, – Malfoy falou. – Tem que ficar no lugar. Eu só preciso que você me diga como consertar. Harry viu Borgin umedecendo os lábios nervosamente. – Bem, sem ver, eu devo dizer que será um trabalho muito difícil, talvez impossível. Não posso garantir nada. – Não? – Malfoy disse, e Harry sabia, apenas pelo seu tom de voz, que Malfoy estava sorrindo com desprezo. – Talvez isso o torne mais confiante. Ele se aproximou de Borgin e foi escondido pelo armário. Harry, Rony e Hermione mudaram de posição mais para o lado tentando mantê-lo à vista, mas tudo que puderam ver foi Borgin, parecendo muito assustado. – Se você contar a alguém – disse Malfoy -, será castigado. Você conhece Fenrir Greyback? Ele é um amigo da família. Ele virá aqui de tempos em tempos para ter certeza de que você estará dando ao problema toda a sua atenção. – Não há necessidade de... – Eu decido isso, – Malfoy falou. – Bem, é melhor eu ir. E não esqueça de manter esse em segurança, vou precisar dele. – Talvez você queira levá-lo agora? – Não, é claro que não quero, seu homenzinho estúpido, como eu pareceria carregando isso pela rua? Apenas não o venda. – É claro que não... senhor. Borgin fez uma mesura tão baixa quanto a que Harry o tinha visto fazer para Lúcio Malfoy. – Nem uma palavra para ninguém, Borgin, e isso inclui a minha mãe, compreende? – Naturalmente, naturalmente...– Borgin murmurou, se curvando novamente. No instante seguinte, o sino sobre a porta tocou alto quando Malfoy saiu da loja parecendo bastante satisfeito consigo mesmo. Ele passou tão perto de Harry, Rony e Hermione que eles sentiram a capa flutuar em volta de seus joelhos novamente. Dentro da loja, Borgin permanecia estático, seu sorriso hipócrita havia sumido, ele parecia preocupado. – Sobre o que eles estavam falando? – Rony sussurrou, enrolando as Orelhas Extensíveis. – Não sei – Harry falou, pensativo. – Ele quer alguma coisa consertada... e ele quer reservar alguma coisa lá dentro... Vocês conseguiram ver o que ele apontou quando ele falou “esse”? – Não, ele estava atrás do armário... – Vocês dois ficam aqui – Hermione murmurou. – O que você vai...? Mas Hermione já havia saído de debaixo da capa. Ela verificou seu cabelo no reflexo do vidro e entrou na loja, fazendo o sino soar novamente. Rony rapidamente desenrolou as Orelhas Extensíveis de volta por baixo da porta e passou um dos fios para Harry. 69 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Olá, manhã horrível, não é? – Hermione falou alegremente para Borgin, que não respondeu, mas lhe lançou um olhar de suspeita. Cantarolando satisfeita, Hermione passou pela confusão de objetos à mostra. – Este colar está à venda? – ela perguntou, parando ao lado de um mostruário com a frente de vidro. – Se você tiver mil e quinhentos galeões, – o Sr. Borgin respondeu friamente. – Ah... er... não, eu não tenho tanto, – Hermione falou, continuando. – E... que tal esse lindo... hum... crânio? – Sessenta galeões. – Então está à venda? Não está.... reservado para ninguém? O Sr. Borgin olhou de soslaio para ela. Harry tinha a sensação desagradável de que sabia exatamente o que Hermione estava tramando. Aparentemente ela sentiu que havia estragado tudo e subitamente jogou todo o cuidado para o alto. – O que acontece é que, bem... , o garoto que estava aqui agora mesmo, Draco Malfoy, bem, ele é um amigo meu e eu queria lhe dar um presente de aniversário, mas se ele já reservou alguma coisa, obviamente eu não queria lhe dar a mesma coisa, então... er... Era uma história nada convincente na opinião de Harry e, aparentemente, Borgin pensou da mesma maneira. – Fora, – ele disse rudemente. – Fora daqui! Hermione não esperou que ele mandasse duas vezes , mas se apressou a sair com Borgin logo atrás. Assim que o sino tocou novamente, Borgin bateu a porta por trás dela e colocou o aviso de “Fechado”. – Bem – Rony disse, jogando a capa de volta por cima de Hermione. – Valeu a tentativa, mas você foi um pouco óbvia... – Bem, na próxima vez você pode me mostrar como fazer, Mestre do Mistério! – ela retrucou. Rony e Hermione discutiram todo o caminho de volta até a Gemialidades Weasley, onde eles foram forçados a parar de modo que pudessem se esquivar escondidos de uma Sra. Weasley aparentemente muito ansiosa e de Hagrid, que claramente reparou na ausência deles. Uma vez dentro da loja, Harry arrancou a Capa da Invisibilidade, escondeu-a na mochila, e se juntou aos outros dois quando eles insistiram, em resposta às acusações da Sra. Weasley, que eles tinham estado o tempo todo na sala dos fundos, e que ela não devia ter olhado direito. 70 – CAPÍTULO 7 – O Clube do Slug* Harry passou a maior parte dos últimos dias das férias ponderando o comportamento de Malfoy na Travessa do Tranco. O que o perturbava mais era o olhar satisfeito no rosto do garoto ao sair da loja. Nada que deixasse Malfoy tão feliz poderia ser boa coisa. Contudo, para seu ligeiro aborrecimento, nem Rony nem Hermione estavam tão curiosos pelas atividades de Malfoy quanto o próprio Harry; ou pelo menos, ambos pareceram se cansar de debater o assunto depois de alguns dias. – É, eu já concordei que foi estranho, Harry – disse Hermione, ligeiramente impaciente. Ela estava sentada no parapeito da janela do quarto de Fred e Jorge, com os pés sobre uma das caixas de papelão, e acabara de levantar com má vontade os olhos de sua nova cópia de Tradução de Runas – Nível Avançado. – Mas a gente já não concordou que poderia haver muitas explicações? – Talvez ele tenha quebrado sua Mão da Glória – acrescentou Rony vagamente, enquanto tentava consertar as cerdas curvadas de sua vassoura. – Lembram daquela mão murcha que Malfoy tinha? – Mas e quando ele disse: “Não se esqueça de manter esse aqui em segurança?” – perguntou Harry pela enésima vez. – Isso soou para mim como se Borgin tivesse um dos objetos quebrados, e Malfoy quisesse ambos. – Você acha? – indagou Rony, agora tentando remover uma sujeirinha do cabo. – Acho. – disse Harry. Quando nem Rony nem Hermione responderam, ele continuou: – O pai de Malfoy está em Azkaban. Vocês não acham que ele quereria vingança? Rony ergueu os olhos, piscando. – Malfoy? Vingança? O que ele pode fazer? – Esse é o problema: não sei! – disse Harry, frustrado. – Mas ele está planejando alguma coisa e eu acho que a gente deveria levar isso a sério. O pai dele é um Comensal da Morte e... Harry se calou, seus olhos fixos na janela atrás de Hermione, sua boca aberta. Um pensamento alarmante havia acabado de lhe ocorrer. – Harry? – chamou Hermione, ansiosa. – Qual é o problema? – Sua cicatriz não está doendo de novo, está? – Perguntou Rony nervosamente. – Ele é um Comensal da Morte – Harry falou devagar. – Ele substituiu o pai como Comensal da Morte! Fez-se silêncio, então Rony começou a gargalhar. – Malfoy? Ele tem dezesseis anos, Harry! Você acha que Você-Sabe-Quem deixaria Malfoy se tornar um Comensal? – Parece ser muito improvável, Harry. – disse Hermione numa voz repressora. – O que faz você achar...? – Na Madame Malkin’s. Ela não o tocou, mas ele gritou e tirou o braço do alcance dela quando ela ia enrolar sua manga. Era o braço esquerdo dele. Ele foi tatuado com a Marca Negra. *Corruptela do sobrenome do professor (Slughorn), a palavra Slug, que em inglês quer dizer “lesma”. (N.T.) 71 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Rony e Hermione se entreolharam. – Bem... – disse Rony, parecendo completamente descrente. – Eu acho que ele só queria sair de lá, Harry – disse Hermione. – Ele mostrou a Borgin algo que não podíamos ver – insistiu Harry teimosamente. – Alguma coisa que o amedrontou de verdade. Foi a marca, eu sei... Ele estava mostrando a Borgin com quem estava lidando, vocês viram quão a sério ele levou Malfoy. Rony e Hermione entreolharam-se novamente. – Não sei não, Harry... – É, continuo achando que Você-Sabe-Quem não aceitaria Malfoy... Aborrecido, mas absolutamente convencido de que estava certo, Harry apanhou uma pilha de vestes de quadribol imundas e saiu do quarto. A Sra. Weasley havia implorado há dias para que não deixassem a lavagem de roupas e a arrumação das malas para a última hora. No térreo, ele esbarrou em Gina, que estava retornando para seu quarto carregando uma pilha de roupas recém passadas. – Eu não iria à cozinha agora – ela o avisou. – Tem muita Fleuma por lá. – Tomarei o cuidado para não ser notado – Harry sorriu. De fato, quando entrou na cozinha, foi para ver Fleur sentada à mesa discorrendo sobre os planos para sua festa de casamento com Gui, enquanto a Sra. Weasley prestava atenção em uma pilha de raízes auto-descascantes, parecendo mal-humorada. -... Gui e eu quase decidimos em só terrmos duas damas de honrra, Gina e Gabrielle von ficarr muito fofas juntas. Estou pensando em vestí-las de um dourrado suave... rosa, é clarro, ficarria horrível com os cabelos de Gina... – Ah, Harry! – Disse a Sra. Weasley alto, interrompendo o monólogo de Fleur. – Ótimo, eu queria explicar as medidas de segurança para a ida para Hogwarts amanhã. Conseguimos carros do ministério novamente, e haverá aurores esperando na estação... – Tonks vai estar lá? – perguntou Harry, entregando suas vestes de quadribol. – Acho que não, ela foi colocada em outro lugar, pelo que Arthur falou. – Ela está bem parra baixo, essa Tonks – refletiu Fleur, examinando o próprio reflexo formidável nas costas de uma colher de chá. – Um grrande erro, se querrem... – Sim, obrigada – mais uma vez interrompeu a Sra. Weasley abruptamente. – É melhor você continuar a arrumação, Harry, eu quero os malões prontos esta noite, se possível, assim não acontece aquela confusão costumeira de última hora. E, de fato, a saída na manhã seguinte foi mais calma que o usual. Os carros do Ministério deslizaram até a frente da Toca para encontrar todos esperando, os malões prontos; o gato de Hermione, Bichento, seguro em sua cesta de viagem; Edwiges; a coruja de Rony, Pichitinho; e o novo mini pufoso roxo de Gina, Arnold, engaiolados. – Au revoir, ‘Arry – disse Fleur, com sua pronúncia gutural, dando-lhe um beijo de despedida. Rony adiantou-se correndo, parecendo esperançoso, mas Gina esticou o pé no caminho e ele caiu esparramado no chão empoeirado aos pés de Fleur. Furioso, com o rosto corado e sujo, ele correu para dentro do carro sem dizer tchau. Não havia nenhum Hagrid animado os esperando na estação de King’s Cross. Em seu lugar, dois aurores barbudos de cara severa, vestidos em escuros ternos trouxas, adiantaram-se no momento em que os carros pararam e, ladeando o grupo, guiaram-no até a estação sem falar. – Rápido, rápido, pela barreira – disse a Sra. Weasley, que parecia um pouco aturdida por essa eficiência austera. – É melhor Harry ir primeiro, com... Ela olhou inquisitorialmente para um dos aurores, que assentiu rapidamente, pegou Harry pelo braço e tentou tangê-lo em direção à barreira entre as plataformas nove e dez. – Eu consigo andar, obrigado – disse Harry irritado, arrancando seu braço do aperto do auror. Ele empurrou seu carrinho diretamente para a sólida barreira, ignorando sua companhia silenciosa, e um segundo depois se descobriu de pé na plataforma nove e meia, onde o escarlate Expresso de Hogwarts cuspia fumaça sobre a aglomeração. 72 Capítulo 7 – O Clube do Slug Hermione e os Weasleys se juntaram a ele em segundos. Sem consultar seu auror de cara severa, Harry gesticulou para Rony e Hermione o seguirem pela plataforma, procurando um compartimento vazio. – Não podemos, Harry – falou Hermione, em tom de desculpas. – Rony e eu precisamos ir ao vagão dos monitores antes e depois patrulhar os corredores um pouco. – Ah, é, me esqueci – respondeu Harry. – É melhor que vocês entrem direto no trem, todos vocês, faltam poucos minutos – disse a Sra. Weasley, checando seu relógio. – Bem, Rony, tenha um bom semestre... – Sr. Weasley, posso dar uma palavrinha com o senhor? – perguntou Harry, decidindo-se no impulso do momento. – Claro – respondeu o Sr. Weasley, que parecia surpreso, mas ainda assim seguiu Harry para longe do alcance dos ouvidos dos outros. Harry havia pensado na situação cuidadosamente e concluiu que, se fosse contar a alguém, o Sr. Weasley seria a pessoa certa; primeiramente porque ele trabalhava no Ministério e, por isso, estaria na melhor posição para fazer maiores investigações e, em segundo lugar, porque Harry achou que não haveria tanto risco do Sr. Weasley explodir de fúria. Ele podia ver a Sra. Weasley e o auror de cara amarrada lançarem olhares suspeitos em direção aos dois, enquanto eles se afastavam. – Quando estávamos no Beco Diagonal – Harry começou, mas o Sr. Weasley antecipou-se a ele com uma careta. – Será que vou descobrir para onde você, Rony e Hermione foram quando estavam supostamente nos fundos da loja de Fred e Jorge? – Como o senhor...? – Harry, por favor. Você está falando com o homem que criou Fred e Jorge. – Hum... Tá, tudo bem, nós não estávamos no cômodo dos fundos. – Muito bem, então, vamos ouvir o pior. – Bem, seguimos Draco Malfoy. Usamos minha Capa da Invisibilidade. – Vocês tinham alguma razão em particular para fazer isso, ou foi um mero impulso? – Porque eu achei que Malfoy estava planejando alguma coisa – disse Harry, ignorando o olhar do Sr. Weasley de exasperação e divertimento misturados. – Ele conseguiu dar uma escapada da mãe e eu queria saber o porquê. – Claro que você queria – disse o Sr. Weasley, parecendo resignado. – e aí? Descobriu por quê? – Ele foi à Borgin & Burkes – respondeu Harry. – E começou a ameaçar o sujeito que estava lá, Borgin, para ajudá-lo a consertar alguma coisa. E disse que queria que Borgin guardasse outra coisa para ele. Parecia que era a mesma coisa que queria consertar. Como se fossem um par. E... Harry respirou fundo. – Tem mais uma coisa. Nós vimos Malfoy pular para longe quando madame Malkin tentou tocar o seu braço esquerdo. Eu acho que ele foi tatuado com a Marca Negra. Acho que ele substituiu seu pai como Comensal da Morte. O Sr. Weasley pareceu surpreso. Depois de um momento, disse: – Harry, eu duvido que VocêSabe-Quem fosse permitir que alguém de dezesseis anos... – Alguém realmente sabe o que Você-Sabe-Quem faria ou não? – Harry perguntou com raiva. – Sr. Weasley, desculpa, mas isso não vale a pena ser investigado? Se Malfoy quer alguma coisa consertada, e ele precisa ameaçar Borgin para isso, provavelmente é algo perigoso ou das trevas, não é? – Para ser honesto, Harry, eu duvido – disse o Sr. Weasley devagar. – Sabe, quando Lúcio Malfoy foi preso, nós revistamos sua casa. Levamos qualquer coisa que pudesse ser perigosa. – Eu acho que vocês deixaram alguma coisa passar – disse Harry, teimosamente. – Bem, talvez – disse o Sr. Weasley, mas Harry podia notar que ele apenas não queria contrariálo. 73 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Um apito soou por trás deles; quase todos já tinham subido a bordo do trem e as portas estavam se fechando. – É melhor você correr – disse o Sr. Weasley, enquanto a Sra. Weasley gritava: – Harry, rápido! Ele correu para o trem e o Sr. e a Sra. Weasley ajudaram-no a colocar seu malão na locomotiva. – Agora, querido, você vai passar o natal conosco. Já está tudo combinado com Dumbledore, então a gente se verá logo – disse a Sra. Weasley, através da janela, enquanto Harry fechava a porta atrás de si e o trem começava a se locomover. – Se cuida e... O trem estava adquirindo velocidade. -... Seja bom e... – agora ela estava correndo para se manter junto ao trem. -... fique em segurança! Harry acenou até que o trem fez uma curva e o Sr. e a Sra. Weasley perderam-se de vista, então se virou para olhar para onde os outros tinham ido. Ele supôs que Rony e Hermione estivessem reclusos no vagão dos monitores, mas Gina estava ligeiramente à frente no corredor, conversando com alguns amigos. Harry foi em sua direção, arrastando seu malão. As pessoas o encaravam indiscretamente à medida que ele se aproximava. Chegavam mesmo a pressionar seus rostos contra as janelas de seus compartimentos, para conseguir vê-lo. Ele esperara um aumento na quantidade de olhares arregalados e estúpidos que teria de aturar este ano letivo, depois de todos os boatos a respeito de “O Escolhido” nO Profeta Diário, mas a sensação de estar sob um holofote não o agradou. Harry deu um tapinha no ombro de Gina. – A fim de procurar um compartimento? – Não posso, Harry, combinei que ia encontrar Dino – disse Gina animadamente. – Vejo você mais tarde. – Certo – Harry respondeu. Ele sentiu uma estranha pontada de irritação, enquanto ela se afastava, seus longos cabelos vermelhos dançando as suas costas. Acostumara-se de tal maneira à presença de Gina durante o verão, que quase se esquecera que ela não andava com ele, Rony e Hermione na escola. Então piscou e olhou ao redor: estava rodeado de garotas parecendo fascinadas. – Oi, Harry – chamou uma voz familiar às suas costas. – Neville! – Harry exclamou, aliviado, virando-se para olhar um garoto de rosto redondo lutando para chegar até ele. – Olá, Harry – disse uma garota de cabelos longos e olhos grandes e misteriosos, logo atrás de Neville. – Luna, oi, como você está? – Ótima, obrigada – respondeu Luna. Ela segurava uma revista contra o peito; grandes letras na capa anunciavam que gratuitamente estava incluso um par de Espectróculos. – O Pasquim ainda está firme e forte, então? – Indagou Harry, que sentia um certo carinho pela revista, tendo lhe concedido uma entrevista exclusiva no ano anterior. – Ah, sim, está vendendo bem – disse Luna, feliz. – Vamos achar um lugar para sentar – Harry falou, e os três saíram pelo trem através da horda de estudantes que os encarava silenciosamente. Por fim eles acharam um compartimento vazio e Harry entrou correndo, satisfeito. – Até para nós eles estão olhando? – disse Neville, indicando a si próprio e a Luna. – Porque nós estamos juntos com você! – Eles estão olhando porque vocês também foram ao ministério – explicou Harry, enquanto levantava seu malão até o bagageiro. – A nossa aventurazinha lá foi estampada nO Profeta Diário, vocês devem ter visto. – É, eu pensei que vovó fosse ficar brava com toda a publicidade – disse Neville -, mas ela ficou realmente satisfeita, diz que estou começando a ficar à altura do meu pai, finalmente. Ela me comprou uma varinha nova, olha! Ele puxou o objeto para mostrar a Harry. 74 Capítulo 7 – O Clube do Slug – Cerejeira e pelo de unicórnio – disse orgulhoso. – Achamos que foi uma das últimas varinhas Olivaras vendidas; ele sumiu no dia seguinte... volta aqui, Trevo! E Neville mergulhou sob o acento para recapturar seu sapo, que fazia mais uma de suas freqüentes tentativas para conseguir sua liberdade. – Vamos continuar com os encontros da A.D. esse ano, Harry? – Perguntou Luna, que estava retirando um par de óculos psicodélicos do meio d’O Pasquim. – Não precisa, agora que a gente se livrou da Umbridge, né? – Perguntou Harry, se sentando. Neville bateu com a cabeça contra a cadeira, enquanto emergia de sob ela. Ele parecia muito desapontado. – Eu gostava da A.D.! Aprendi muito com você! – Eu também me divertia nos encontros – Luna falou serenamente. – Era como se eu tivesse amigos. Essa era uma das coisas desconfortáveis que Luna sempre dizia e que faziam Harry sentir uma confusa mistura de pena e constrangimento. Contudo, antes que pudesse responder, houve um tumulto do lado de fora da cabine na qual estavam: um grupo de garotas do quarto ano estavam sussurrando e dando risinhos do outro lado da porta de vidro. – Você chama ele! – Não, você! – Eu vou lá! E uma delas, uma garota de ar audacioso, grandes olhos escuros, queixo proeminente e longos cabelos negros forçou seu caminho pela porta. – Olá, Harry, eu sou Romilda, Romilda Vane – ela falou alto e confiante. – Por que você não se junta a nós no nosso compartimento? Você não precisa sentar aqui com eles – ela acrescentou em um sussurro teatral, indicando o traseiro de Neville, que aparecia por debaixo do acento enquanto o menino tateava ao redor procurando por Trevo, e Luna, que agora colocara seus espectróculos gratuitos, que faziam com que ela parecesse uma coruja demente e multicolorida. – Eles são meus amigos – Harry respondeu friamente. – Ah – disse a garota, parecendo muito espantada. – Ah. Tudo bem. E ela se retirou, fechando a porta atrás de si. – As pessoas esperam que você tenha amigos mais legais que a gente – disse Luna, mais uma vez mostrando sua habilidade para dizer verdades embaraçosas. – Vocês são legais – retrucou Harry brevemente. – Nenhuma delas estava no Ministério. Elas não lutaram comigo. – Isso é muito bacana de se dizer – sorriu Luna. E ela ajeitou os espectróculos no nariz e sentou-se confortavelmente para ler O Pasquim. – Mas a gente não o encarou – disse Neville, emergindo de sob o acento, com penugem e poeira no cabelo e um Trevo de ar resignado na mão. – Você, sim. Precisa ouvir vovó falando de você. “Aquele Harry Potter tem mais determinação que todo o Ministério da Magia junto!” Ela daria qualquer coisa para ter você como neto... Harry riu constrangido e mudou o assunto para o resultado dos N.O.Ms assim que pôde. Enquanto Neville recitava suas notas e se perguntava em voz alta se permitiriam que fizesse parte de uma turma de transfiguração de N.I.E.M, apenas com um “aceitável”, Harry o olhava sem realmente escutar. A infância de Neville havia sido tão assombrada por Voldemort quanto a sua, mas o menino não fazia idéia do quão próximo estivera de ter o destino de Harry. A profecia poderia ter se referido a qualquer um dos dois, e ainda assim, por suas próprias razões inescrutáveis, Voldemort decidira acreditar que Harry era aquele a quem ela se referia. Se Voldemort tivesse escolhido Neville, seria ele quem estaria agora sentado à frente de Harry, portando a cicatriz em forma de raio e o peso da profecia... Ou não seria? A mãe de Neville teria morrido para salvá-lo, como Lilian morreu por Harry? Certamente que sim... Mas e se ela fosse 75 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto incapaz de se colocar entre seu filho e Voldemort? Não haveria nenhum Escolhido, afinal? Um assento vazio onde Neville agora se sentava e um Harry sem cicatriz, que teria recebido um beijo de adeus de sua própria mãe, não da de Rony? – Tudo bem, Harry? Você parece estranho – indagou Neville. Harry começou: – Desculpa... Eu... – Um wrackspurt te pegou? – Perguntou Luna gentilmente, fitando Harry através de seus enormes óculos coloridos. – Eu... O que? – Um Wrackspurt... Eles são invisíveis. Entram na sua cabeça através das suas orelhas e fazem seu cérebro ficar confuso – disse ela. – Achei que senti um voando por aqui. Ela agitou as mãos no ar, como se afastando grandes mariposas invisíveis. Os olhos de Harry encontraram os de Neville e apressadamente começaram a falar sobre quadribol. O clima além das janelas do trem estava tão irregular quanto havia sido durante todo o verão; atravessavam extensões da névoa fria, então saíam para áreas claras com débeis raios de sol. Foi em um desses períodos claros, quando o sol podia ser visto quase diretamente sobre eles, que Rony e Hermione finalmente entraram no compartimento. – Tomara que o carrinho do almoço chegue logo, eu estou morrendo de fome – disse Rony, desejoso, jogando-se no lugar ao lado de Harry e massageando a barriga. – Oi, Neville. Oi, Luna. Adivinha? – acrescentou, virando-se para Harry. – Malfoy não está cumprindo suas obrigações de monitor. Está só sentado no seu compartimento com os outros sonserinos, nós o vimos quando passamos por lá. Harry endireitou-se na sua cadeira, interessado. Não fazia o tipo de Malfoy perder a chance de mostrar o seu poder como monitor, do qual havia abusado, feliz, durante todo o ano anterior. – O que ele fez quando viu vocês? – O de costume – Rony falou indiferentemente, fazendo um gesto rude com a mão. – Mas não faz o tipo dele, né? Bem, isso faz – ele repetiu o gesto -, mas porque ele não está lá abusando dos calouros? – Sei lá – Harry respondeu, mas sua cabeça estava a mil. Não parecia que Malfoy tinha coisas mais importantes em mente que abusar de estudantes mais novos? – Talvez ele tenha preferido a Brigada Inquisitorial – disse Hermione. – Talvez ser monitor tenha se tornado um pouco modesto demais, depois disso. – Não acho – disse Harry. – Acho que... Mas antes que pudesse expor sua teoria, a porta do compartimento abriu-se novamente e uma menina do terceiro ano entrou ofegante. – Tenho que entregar isso para Neville Longbottom e Harry P-Potter – ela hesitou, seus olhos encontraram os de Harry e ela corou. Estava segurando dois rolos de pergaminho enrolados com uma fita violeta. Perplexos, Harry e Neville apanharam o pergaminho endereçado a cada um e a garota saiu tropeçando para fora do compartimento. – O que é? – Rony perguntou, enquanto Harry desenrolava o seu. – Um convite – Harry respondeu. Harry, Ficaria encantado se você pudesse me fazer companhia para o almoço no compartimento C. Atenciosamente, Prof. H.E.F. Slughorn.” 76 Capítulo 7 – O Clube do Slug – Quem é o Professor Slughorn? – perguntou Neville, olhando perplexo para o seu próprio convite. – Professor novo – disse Harry. Bem, suponho que temos que ir, não? – Mas para que ele me chamou? – Perguntou Neville, nervoso, como se temesse uma detenção. – Não faço idéia – respondeu Harry, o que não era inteiramente verdade, apesar de ainda não ter nenhuma prova de que seu pressentimento estivesse correto. – Escuta – acrescentou, subitamente tomado por uma idéia -, vamos com a Capa da Invisibilidade, assim no caminho talvez a gente consiga dar uma boa olhada no que Malfoy está fazendo. Essa idéia, contudo, não deu em nada. O corredor, lotado de estudantes esperando o carrinho do almoço, estava impossível de percorrer vestindo a capa. Harry a devolveu à mochila com pesar, pensando que teria sido agradável vesti-la apenas para evitar todos os olhares, que pareciam ter aumentado de intensidade desde que ele atravessou o trem da última vez. Volta e meia, estudantes abandonavam ruidosamente seus compartimentos para conseguir uma vista melhor dele. A exceção foi Cho Chang, que escondeu-se dentro de sua cabine ao ver Harry se aproximar. Quando ele passou por sua janela, Harry a viu determinadamente absorvida em uma conversa com sua amiga Marieta, que usava uma pesada camada de maquiagem que não ocultava completamente a estranha formação de pústulas ainda marcadas em seu rosto. Sorrindo ligeiramente, Harry seguiu em frente. Quando eles chegaram ao compartimento C, perceberam imediatamente que não eram os únicos convidados de Slughorn, embora julgando pelo entusiasmo das boas vindas do professor, Harry era o mais calorosamente aguardado. – Harry, meu garoto! – exclamou Slughorn, colocando-se de pé de um salto ao vê-lo, de modo que sua enorme barriga coberta de veludo pareceu preencher o espaço restante na cabine. Sua careca reluzente e o grande bigode grisalho cintilavam à luz do sol com a mesma intensidade que os botões dourados do seu colete. – Bom vê-lo, bom vê-lo! E você deve ser o Sr. Longbottom? Neville assentiu, parecendo amedrontado. A um gesto de Slughorn, eles se sentaram, um oposto ao outro, nos dois únicos assentos vazios, que eram mais próximos à porta. Harry olhou ao redor para os outros convidados. Ele reconheceu um sonserino da sua série, um garoto negro e alto, de rosto comprido e olhos oblíquos; havia também dois estudantes do sétimo ano que ele não conhecia e, escondida no canto atrás de Slughorn e parecendo não estar completamente certa sobre como tinha ido parar ali, Gina. – Vocês conhecem todo mundo? – Slughorn perguntou a Harry e Neville. – Blás Zabini é do mesmo ano de vocês, é claro... Zabini não os cumprimentou ou deu qualquer sinal de reconhecimento, nem o fizeram Harry ou Neville; estudantes da Grifinória e Sonserina se odiavam por princípio. – Esse é Cormac McLaggen, talvez vocês já tenham se cruzado...? Não? McLaggen, um jovem grande de cabelos fibrosos, estendeu uma mão e Harry e Neville assentiram em sua direção. – ... E esse é Marcus Belby, não sei se...? Belby, que era magro e tinha um ar nervoso, deu um sorriso forçado. – ... E essa jovem encantadora me diz que já conhece vocês! – Slughorn finalizou. Gina fez uma careta por trás de Slughorn. – Bem, é um grande prazer – disse Slughorn acolhedoramente. – Uma chance de conhecê-los um pouco melhor. Aqui, apanhem um guardanapo. Eu trouxe meu próprio almoço; o carrinho, se bem me lembro, exagera nas varinhas de alcaçuz, e o sistema digestivo de um pobre velho não agüenta mais esse tipo de coisa... faisão, Belby? Belby adiantou-se e aceitou o que parecia uma metade fria de faisão. – Eu estava dizendo ao jovem Marcus aqui que tive o prazer de ensinar seu tio Damocles – Slughorn explicou a Harry e Neville, agora passando ao redor uma cesta de pãezinhos. – Excelente bruxo, excelente, e sua ordem de Merlim muito merecida. Você vê muito o seu tio, Marcus? 77 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Infelizmente, Belby estava com a boca cheia de faisão; e em sua pressa para responder Slughorn, engoliu rápido demais, ficou roxo e começou a sufocar. – Anapneo – disse Slughorn calmamente, apontando sua varinha para Belby, cujos canais de respiração pareceram se desentupir imediatamente. – Não... não muito, não senhor – respondeu Belby, seus olhos lacrimejando. – Bem, é claro, ouso dizer que ele é muito ocupado – disse Slughorn, olhando para Belby inquisitorialmente. – Duvido que ele tenha inventado a poção Mata-Cão sem trabalhar consideravelmente! – Suponho que sim... – Disse Belby, que parecia temeroso de pegar outro pedaço de faisão antes de estar certo que Slughorn havia concluído com ele. – Meu pai e ele não se dão muito bem, sabe, então realmente não sei muito... Sua voz sumiu quando Slughorn lhe dirigiu um sorriso frio e virou-se para McLaggen. – Agora, você, Cormac – disse Slughorn -, incidentalmente sei que você vê muito o seu tio Tiberius, porque ele tem uma linda foto dos dois caçando rabicurtos em Norfolk, penso eu? – Ah, é, foi divertido, muito divertido – respondeu McLaggen. – Fomos com Bertie Higgs e Rufus Scrimgeour, antes de ele se tornar ministro, obviamente... – Ah, você também conhece Bertie e Rufus? – Slughorn sorriu, agora oferecendo a todos uma pequena bandeja com tortas; de algum modo, Belby foi esquecido. – Agora me diga... Foi como Harry havia suspeitado. Todos ali pareciam ter sido convidados porque tinham contato com alguém conhecido ou influente – todos, exceto Gina. Zabini, que foi interrogado depois de McLaggen, tinha uma mãe que era uma bruxa famosa por sua beleza (pelo que Harry entendeu, ela se casou sete vezes, cada um dos seus maridos morrendo misteriosamente e deixando-lhe uma grande quantidade de dinheiro). Depois foi a vez de Neville. Foram dez minutos muito desconfortáveis, pois seus pais, aurores renomados, haviam sido torturados até a loucura por Belatrix Lestrange e um pequeno grupo de Comensais da Morte. Ao final da entrevista de Neville, Harry teve a impressão que Slughorn estava esperando para fazer qualquer julgamento sobre o menino, ainda para ver se ele teria algum dos talentos de seus pais. – E agora – disse Slughorn, remexendo-se pesadamente em seu acento, com um ar de um mestre de cerimônias prestes a apresentar sua grande atração. – Harry Potter! Por onde começar? Sinto que mal tocamos a superfície quando nos encontramos no verão! – Ele contemplou Harry por um momento, como se o garoto fosse um pedaço de faisão particularmente grande e suculento, então disse: – “O Escolhido”, é como o chamam agora! Harry não disse nada. Belby, McLaggen e Zabini estavam todos o encarando. – É claro – continuou Slughorn, observando Harry atentamente -, há rumores há anos... Eu me lembro quando... bem... depois daquela noite terrível... Lilian... Tiago... e você sobreviveu... dizia-se que você deveria ter poderes além do normal... Zabini deu uma pequena tossida que claramente deveria demonstrar seu ceticismo irônico. Uma voz por trás de Slughorn subitamente disse com raiva: – É, Zabini, porque você é muito talentoso... para atrapalhar... – Minha nossa! – Slughorn riu gostosamente, procurando ao redor por Gina, que estava encarando Zabini pelo lado da enorme barriga do professor. – Você deve ter cuidado, Blás! Quando passava por seu vagão, vi essa moça lançar uma maravilhosa Azaração para Rebater Bicho-papão! Eu não a aborreceria! Zabini meramente olhou com desdém. – De todo o modo – Slughorn continuou. – Esses boatos durante o verão... É claro, você não sabe no que acreditar, o Profeta é conhecido por publicar informações inexatas, cometer erros... mas parece haver poucas dúvidas, considerando o número de testemunhas, que aconteceu uma grande confusão no ministério e que você estava lá, no meio disso tudo! Harry, que não conseguia ver um modo de sair dessa sem mentir deslavadamente, assentiu mas ainda não falou nada. Slughorn sorriu para ele. 78 Capítulo 7 – O Clube do Slug – Tão modesto, tão modesto, não é de se estranhar que Dumbledore goste tanto... então, você estava mesmo lá? Mas o resto da história... tão sensacionalista, é claro, você não sabe no que acreditar... essa fabulosa profecia, por exemplo... – A gente nunca ouviu a profecia – disse Neville, ficando rosa gerânio ao dizer isso. – É verdade – Gina completou de supetão. – Neville e eu estávamos lá também, e toda essa bobagem de “O Escolhido” é só o Profeta inventando coisas, como sempre. – Vocês estavam lá também, é? – disse Slughorn, muito interessado, olhando de Gina para Neville, mas ambos ficaram calados diante de seu sorriso encorajador. – É... Bem... É verdade que o Profeta freqüentemente exagera, é claro... – Ele continuou, soando ligeiramente desapontado. – Me lembro da minha querida Gwenog me contando (Gwenog Jones, quero dizer, é claro, capitã do Holyhead Harpies)... Ele discursou em um fôlego só sobre uma reminiscência sinuosa, mas Harry tinha a distinta impressão de que Slughorn ainda não havia concluído com ele, e que fora convencido por Gina e Neville. A tarde passou com mais histórias sobre bruxos famosos a quem Slughorn ensinara, todos os quais ficaram encantados de se juntar ao que ele chamava de “Clube do Slug”, em Hogwarts. Harry mal podia esperar para deixar o lugar, mas não conseguia ver como fazê-lo de uma maneira educada. Finalmente, o trem saiu de outra extensão de névoa para o vermelho pôr do sol, e Slughorn olhou ao redor, piscando ao crepúsculo. – Minha nossa, já está ficando escuro! Não notei que eles acenderam as lâmpadas! É melhor vocês irem e colocarem suas vestes, todos vocês. McLaggen,apareça e pegue emprestado aquele livro sobre rabicurtos. Harry, Blás... a qualquer hora que estiverem passando. O mesmo para você, senhorita – ele piscou para Gina. “Vão indo, vão indo!” Quando passou por Harry no corredor escuro, Zabini lançou-lhe um olhar de repulsa que Harry retribuiu com interesse. Ele, Gina e Neville seguiram Zabini pelo trem. – Estou feliz que isso tenha acabado – Neville murmurou. – Cara estranho, não é? – É, um pouco – respondeu Harry, seus olhos em Zabini. – Como você foi parar lá, Gina? – Ele me viu azarando Zacarias Smith – Gina falou. – Se lembra daquele idiota da Lufa-Lufa que era da A.D.? Ele ficava me perguntando o que aconteceu no Ministério e no fim ele me irritou tanto que eu o azarei... quando Slughorn apareceu eu pensei que fosse levar detenção, mas ele achou que foi uma azaração realmente boa e me convidou para o almoço! Maluco, né? – Melhor que convidar alguém porque sua mãe é famosa – disse Harry, franzindo a testa para a parte de trás da cabeça de Zabini -, ou por causa do seu tio... Mas ele parou. Acabara de lhe ocorrer uma idéia, irresponsável, mas potencialmente maravilhosa... Em um minuto, Zabini retornaria ao compartimento de sonserinos do sexto ano e Malfoy estaria sentado lá, acreditando não ser escutado por mais ninguém exceto outros sonserinos...se Harry conseguisse só entrar, sem ser notado, atrás dele, o que ele não poderia ver ou escutar? Verdade, faltava pouco tempo de viagem, a estação de Hogsmeade deveria estar a menos de meia hora de distância, julgando pelos cenários inóspitos que passavam pela janela, mas mais ninguém parecia disposto a levar suas suspeitas a sério, então cabia a ele prová-las. – Vejo vocês dois mais tarde – disse Harry em um sussurro, tirando a capa da invisibilidade da mochila e se cobrindo com ela. – Mas o que você...? – perguntou Neville. – Depois – Harry sussurrou, correndo atrás de Zabini tão silenciosamente quanto possível, embora o barulho do trem tornasse essa medida de precaução quase desnecessária. Os corredores estavam quase completamente vazios agora. A maior parte das pessoas retornara para seus vagões para colocar suas vestes e guardar suas coisas. Embora estivesse tão próximo de Zabini quanto era possível sem tocá-lo, Harry não foi rápido o suficiente para entrar na cabine no 79 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto momento em que Zabini abriu a porta. O sonserino já a fechava quando Harry colocou apressadamente o pé no caminho para impedi-lo. – Qual é o problema? – Zabini disse com raiva, batendo a porta repetidamente no pé de Harry. Este segurou a porta e a abriu com força; Zabini, ainda segurando o puxador, caiu de lado no colo de Gregório Goyle e, na confusão subseqüente, Harry correu para dentro do compartimento, subiu no acento temporariamente vazio de Zabini e içou-se para o bagageiro. Foi sorte que Goyle e Zabini estavam reclamando um do outro, atraindo todos os olhares, pois Harry estava certo de que seus pés e calcanhares haviam aparecido quando a capa flutuou ao redor deles; de fato, por um horrível momento, ele acreditou ter visto os olhos de Malfoy seguirem seus tênis enquanto voltavam a desaparecer. Mas então Goyle fechou a porta e empurrou Zabini para longe de si; Zabini caiu em seu próprio acento parecendo irritado, Vicente Crabbe voltou para sua revistinha e Malfoy, rindo, deitou-se por cima de dois lugares com sua cabeça no colo de Pansy Parkinson. Harry encolheu-se desconfortavelmente sob a capa para assegurar-se de que cada centímetro de seu corpo permanecesse oculto por ela, e assistiu Pansy acariciar os cabelos louros e sedosos na testa de Malfoy, sorrindo enquanto o fazia, como se qualquer garota fosse amar estar em seu lugar. As luzes penduradas no teto do vagão lançavam uma claridade intensa sobre a cena; Harry conseguia ler cada palavra na revistinha de Crabbe diretamente abaixo de si. – E aí, Zabini – disse Malfoy -, o que Slughorn queria? – Só tentando se aproximar de pessoas com bons contatos – disse Zabini, ainda olhando para Goyle com raiva. – Não que ele tenha conseguido encontrar muitas. Essa informação não agradou Malfoy. – Quem mais ele convidou? – perguntou. – McLaggen da Grifinória – Zabini respondeu. – Ah, é, o tio dele é importante no ministério – disse Malfoy. – ... Um outro chamado Belby, da Corvinal... – Não, ele é um imbecil! – disse Pansy. – ... E Longbottom, Potter e aquela garota Weasley – Zabini concluiu. Malfoy sentou-se de repente, jogando a mão de Pansy para o lado. – Ele convidou Longbottom? – Bem, suponho que sim, considerando que Longbottom estava lá – respondeu Zabini, indiferente. – O que Longbottom tem que interessaria a Slughorn? Zabini deu de ombros. – Potter, o precioso Potter, obviamente ele queria dar uma olhada no “Escolhido” – caçoou Malfoy -, mas essa garota Weasley! O que tem de tão especial nela? – Muitos garotos gostam dela – disse Pansy, observando a reação de Malfoy pelo canto do olho. – Até você acha ela bonita, não é, Blás, e nós sabemos quão exigente você é! – Eu não tocaria em uma traidora do sangue imunda, não interessa quão bonita ela é – Zabini falou com frieza e Pansy pareceu satisfeita. Malfoy voltou a deitar-se no colo da garota e permitiu que ela continuasse a acariciar seu cabelo. – Bem, tenho pena do gosto de Slughorn. Vai ver ele está ficando meio senil. Pena, meu pai sempre disse que ele era um bom bruxo em seu tempo. Meu pai costumava ser um de seus favoritos. Slughorn provavelmente não sabe que eu estou no trem, ou... – Eu não esperaria por um convite – Zabini falou. – Ele me perguntou sobre o pai de Nott quando cheguei. Aparentemente eles eram velhos amigos, mas quando soube que ele foi pego no Ministério, Slughorn não ficou feliz, e Nott não recebeu um convite, recebeu? Não acho que ele esteja interessado em Comensais da Morte. Malfoy pareceu ficar com raiva, mas forçou uma risada sem graça. 80 Capítulo 7 – O Clube do Slug – Bem, quem se importa com o que ele está interessado? Quem é ele, afinal? Só um professor estúpido. – Malfoy bocejou ostensivamente. – Quero dizer, talvez eu nem volte para Hogwarts ano que vem, o que me importa se um velho gordo gosta de mim ou não? – O que você quer dizer com talvez você não volte para Hogwarts no ano que vem? – Pansy exclamou, indignada, parando de acariciar Malfoy imediatamente. – Bem, nunca se sabe – respondeu Malfoy, com a sombra de um sorriso. – Talvez eu tenha... hum... começado novas coisas maiores e melhores. Encolhido no bagageiro sob a capa, o coração de Harry disparou. O que Rony e Hermione diriam sobre isso? Crabbe e Goyle olhavam Malfoy estupidamente; aparentemente eles não tinham nenhum plano de começar novas coisas maiores e melhores. Mesmo Zabini permitiu que um olhar de curiosidade tomasse sua expressão orgulhosa. Pansy retomou as lentas carícias no cabelo de Malfoy, parecendo surpresa. – Você quer dizer...Ele? Malfoy deu de ombros. – Minha mãe quer que eu complete meus estudos, mas pessoalmente, não vejo isso como algo tão importante atualmente. Quero dizer, pensem bem... Quando o Lord das Trevas conseguir o poder, ele vai se preocupar com quantos N.O.M.s ou N.I.E.M.s a pessoa conseguiu? Claro que não... O que interessa é a qualidade do serviço que ele recebeu, o nível de devoção. – E você acha que vai conseguir fazer alguma coisa por ele? – Zabini perguntou acidamente. – Dezesseis anos e ainda sem ter se formado? – Eu acabei de dizer, não disse? Talvez ele não se importe que eu não seja formado. Talvez o trabalho que ele quer que eu faça não precise de um bruxo formado – Malfoy falou calmamente. Crabbe e Goyle ficaram parados boquiabertos, como gárgulas. Pansy estava olhando para Malfoy como se nunca tivesse visto nada tão maravilhoso. – Posso ver Hogwarts – disse Malfoy, apontando para fora da janela escura, claramente apreciando o efeito que havia criado. – É melhor colocarmos nossas vestes. Harry estava tão ocupado olhando para Malfoy que não percebeu que Goyle estava pegando seu malão; enquanto o puxava, o objeto bateu com força no lado da cabeça de Harry. Ele deixou escapar um gemido involuntário de dor, fazendo Malfoy olhar para o bagageiro com as sobrancelhas erguidas. Harry não tinha medo de Malfoy, mas ainda assim não gostava muito da idéia de ser descoberto por um grupo de sonserinos inamistosos, escondendo-se sob sua Capa da Invisibilidade. Com os olhos ainda lacrimejando e a cabeça ainda pulsando, ele puxou sua varinha, com cuidado para não retirar a capa de sobre si, e esperou, prendendo a respiração. Para seu alívio, Malfoy pareceu decidir que imaginara o barulho; colocou suas vestes como os outros, fechou seu malão e, no que o trem desacelerava para uma parada abrupta, vestiu uma nova capa de viagem ao redor do pescoço. Harry podia ver os corredores se enchendo novamente e esperou que Hermione e Rony apanhassem suas coisas por ele; estava preso onde estava até que a cabine se esvaziasse por completo. Finalmente, com um último solavanco, o trem parou inteiramente. Goyle escancarou a porta e forçou sua saída, empurrando com violência um grupo de alunos do segundo ano para o lado; Crabbe e Zabini o seguiram. – Você vai na frente – Malfoy disse a Pansy, que estava com a mão estendida, como se esperasse que ele fosse segurá-la. – Eu só preciso checar uma coisa. Pansy saiu. Agora Harry e Malfoy estavam sozinhos na cabine. As pessoas passavam por eles, para desembarcar na plataforma escura. Malfoy andou até a porta do compartimento e fechou as cortinas, de modo que quem passasse pelo corredor não o visse. Então inclinou-se sobre seu malão e o abriu mais uma vez. Harry espiou pela beirada do bagageiro, seu coração palpitando um pouco mais rápido. O que Malfoy quisera esconder de Pansy? Harry estaria próximo de ver o tal misterioso objeto quebrado que era tão importante ser consertado? 81 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Petrificus Totalus! Sem aviso, Malfoy apontara sua varinha para Harry, que foi paralisado imediatamente. Como se em câmera lenta, ele despencou do bagageiro e caiu aos pés de Malfoy, com uma pancada agonizante de sacudir o chão, a capa da invisibilidade amassada sob ele, seu corpo inteiro revelado, suas pernas ainda encolhidas absurdamente na posição de cócoras. Não podia mexer um músculo sequer; tudo o que podia fazer era olhar para Malfoy, que sorriu abertamente. – Achava que sim – disse, jubiloso. – Ouvi o malão de Goyle bater em você. E pensei ter visto alguma coisa branca no ar depois que Zabini voltou. Seus olhos fitaram o tênis de Harry por um momento. – Foi você bloqueando a porta quando Zabini entrou, suponho? Ele considerou Harry por um momento. – Você não escutou nada que me importe, Potter. Mas já que você está aqui... E ele chutou com força o rosto de Harry. O garoto sentiu seu nariz quebrar; sangue voou ao redor. – Isso foi pelo meu pai. Agora, vamos ver... Malfoy puxou a capa de sob o corpo imobilizado de Harry e a jogou por cima dele. – Acho que não vão te achar antes do trem estar de volta a Londres – disse calmamente. – Te vejo por aí, Potter... Ou não. E tomando cuidado para pisar nos dedos de Harry, Malfoy deixou a cabine. 82 – CAPÍTULO 8 – Snape Vitorioso Harry não conseguia mover um músculo. Ele permaneceu debaixo da Capa de Invisibilidade sentindo o sangue do seu nariz escorrer sobre sua face, quente e molhado, ouvindo as vozes e os passos no corredor. Seu pensamento imediato era que alguém com certeza verificaria os compartimentos antes que o trem partisse novamente. Mas logo veio a conclusão desanimadora que mesmo que se alguém olhasse o compartimento, ele não seria nem visto ou ouvido. Sua melhor esperança era que alguém mais entrasse e pisasse nele. Harry jamais odiara Malfoy tanto quanto agora enquanto estava caído lá, como uma tartaruga absurda virada para cima, sangue pingando asquerosamente dentro de sua boca aberta. Em que situação idiota ele havia se metido... E agora os últimos sons de passos estavam desaparecendo; todos estavam caminhando pela plataforma escura no lado de fora. Podia ouvir os malões sendo arrastados e o barulho alto de conversas. Rony e Hermione pensariam que ele tinha saído do trem sem eles. Quando chegassem a Hogwarts e sentassem em seus lugares no Salão Principal, olhassem para cima e para baixo algumas vezes pela mesa da Grifinória, e finalmente percebessem que não estava lá, ele, sem dúvidas, estaria na metade do caminho de volta à Londres. Tentou fazer algum som, mesmo um gemido, mas era impossível. Então se lembrou que alguns bruxos, como Dumbledore, conseguiam executar feitiços sem falar, assim tentou trazer sua varinha, que havia caído de sua mão, falando as palavras “Accio Varinha!” várias e várias vezes em sua mente, mas nada aconteceu. Achou que estava ouvindo o farfalhar das árvores que rodeavam o lago, e o distante som de uma coruja, mas nenhum traço de uma busca sendo feita ou mesmo (desprezou a si mesmo por desejar um pouco isso) vozes em pânico perguntando onde Harry Potter teria ido. Um sentimento de desespero se espalhou por ele conforme imaginava o comboio de carruagens puxadas por testrálios seguindo para a escola e as abafadas risadas saindo de qualquer que fosse a carruagem em que Malfoy estava indo, onde ele estaria contando seu ataque contra Harry aos colegas da Sonserina. O trem se moveu, fazendo com que Harry rolasse para o lado. Agora estava encarando o lado empoeirado debaixo dos bancos ao invés do teto. O chão começou a vibrar conforme a locomotiva ganhava vida. O Expresso estava indo embora e ninguém sabia que ele ainda estava nele... Então sentiu sua Capa de Invisibilidade ser retirada e uma voz acima dizer: – Opa, Harry. Beleza, hein? Houve um flash de luz vermelha e o corpo de Harry descongelou; foi capaz de se sentar em uma posição mais digna, limpando o sangue rapidamente do seu rosto machucado com as costas da mão, e levantou a cabeça para ver Tonks, que estava segurando a Capa de Invisibilidade que tinha acabado de retirar. – É melhor nós sairmos daqui, depressa – ela disse, enquanto as janelas do trem escureciam com vapor e eles começavam a sair da estação – Venha, vamos pular. 83 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Harry seguiu apressado atrás dela pelo corredor. Tonks abriu a porta do trem e pulou na plataforma, que parecia estar deslizando abaixo deles conforme o trem aumentava a velocidade. Harry a seguiu, perdendo um pouco o equilíbrio na aterrissagem, então se endireitou a tempo de ver a locomotiva a vapor vermelha brilhante pegar velocidade, fazer a curva e desaparecer de vista. O ar gelado da noite estava acalmando seu nariz pulsante. Tonks o olhava: sentiu raiva e vergonha por ter sido achado em posição tão ridícula. Silenciosamente ela lhe devolveu a Capa de Invisibilidade. – Quem fez isso? – Draco Malfoy – Harry disse amargamente – Obrigado por... Bem... – Sem problemas – disse Tonks, sem sorrir. Pelo que Harry podia ver na escuridão, ela ainda estava com o cabelo cor-de-rato e com a aparência infeliz tal qual quando ele a encontrara n’A Toca. – Eu posso arrumar seu nariz se você ficar parado. Harry não gostou muito da idéia; tinha intenção de visitar Madame Pomfrey, a enfermeira, em quem possuía um pouco mais de confiança quando se tratava de Feitiços de Cura, mas parecia rude dizer isso, então ficou parado e fechou seus olhos. – Episkey – disse Tonks. O nariz de Harry ficou muito quente, e então muito frio. Ergueu uma mão e o sentiu com cuidado. Parecia ter sido reparado. – Muito obrigado! – É melhor você colocar essa capa de volta, e então podemos ir para a escola – disse Tonks, ainda sem sorrir. Enquanto Harry colocou a capa por cima de si, ela balançou a varinha; uma enorme criatura de quatro pernas saiu dela e correu para dentro da escuridão. – Aquilo foi um Patrono? – perguntou Harry, que havia visto Dumbledore mandar mensagens daquela forma antes. – Sim, eu estou mandando um recado para o castelo avisando que eu o peguei ou eles vão se preocupar. Vamos, melhor não perder tempo. Eles seguiram através da alameda que dava na escola. – Como você me encontrou? – Eu percebi que você não tinha saído do trem e sabia que tinha essa capa. Pensei que você estava se escondendo por alguma razão. Quando vi que as cortinas estavam fechadas naquele compartimento resolvi verificar. – Mas o que você está fazendo aqui? – Harry perguntou. – Fui designada para Hogsmeade agora, para dar proteção extra para a escola – disse Tonks. – Só você está aqui ou... – Não, Proudfoot, Savage e Dawlish estão aqui também. – Dawlish, aquele Auror que Dumbledore atacou ano passado? – Isso mesmo. Eles andaram com dificuldade pela alameda escura e deserta, seguindo a trilha recente das carruagens. Harry olhou Tonks de lado debaixo de sua capa. Ano passado ela havia sido curiosa (ao ponto de ser um pouco irritante algumas vezes), ria com facilidade, fazia piadas. Agora parecia mais velha e muito mais séria e decidida. Tudo isso seria efeito do que acontecera no Ministério? Ele pensou embaraçado que Hermione provavelmente teria sugerido que dissesse alguma coisa para consolá-la sobre Sirius, que não havia sido sua culpa, mas ele não conseguia. Estava longe de culpála pela morte de Sirius; não era mais culpa dela do que de qualquer outra pessoa (e muito menos que dele), mas preferiria não falar sobre Sirius se pudesse evitar. E então eles caminharam através do frio da noite em silêncio, a longa capa de Tonks sussurrando ao chão atrás deles. Sempre tendo ido para lá de carruagem, Harry nunca antes percebera o quanto Hogwarts era longe da Estação de Hogsmeade. Com grande alívio ele finalmente viu os pilares altos dos dois lados dos portões, cada um encimado por um javali alado. Ele estava com frio, com fome e muito ansioso 84 Capítulo 8 – Snape vitorioso em deixar essa nova e deprimida Tonks para trás. Mas quando estendeu a mão para abrir os portões, os encontrou fechados com cadeados. – Alorromora! – disse confiante, apontando sua varinha para o cadeado, mas nada aconteceu. – Isso não vai funcionar nesses – disse Tonks. – O próprio Dumbledore os enfeitiçou. Harry olhou a sua volta. – Eu posso escalar a parede – sugeriu. – Não, você não pode – disse Tonks direta. – Há Azarações anti-invasores em todas elas. A segurança foi aumentada cem vezes este verão. – Bem, então – disse Harry, começando a ficar irritado com a falta de ajuda dela. – Suponho que vou ter que dormir aqui fora e esperar até de manhã. – Alguém está vindo te buscar – disse Tonks. – Olhe. Uma lanterna estava surgindo vinda do distante castelo. Harry estava tão contente em vê-la que até poderia agüentar os comentários asmáticos de Filch por seu atraso e os discursos sobre como sua pontualidade iria melhorar com a aplicação de anjinhos* em seus dedos. Foi apenas quando a luz brilhante amarela estava a três metros deles, e ele havia retirado sua Capa de Invisibilidade para ver melhor, que reconheceu, com incrível desgosto, o nariz de gancho arrogante e o longo e gorduroso cabelo de Severo Snape. – Ora, ora, ora – zombou Snape, retirando sua varinha e batendo de leve no cadeado uma vez, fazendo com que as correntes contorcessem para trás e os portões se abrissem – Gentil da sua parte aparecer, Potter, apesar de que você evidentemente decidiu que vestir o uniforme da escola seria ruim para sua aparência. – Eu não pude me trocar, não tinha minha... – Harry começou, mas Snape o interrompeu bruscamente. – Não há necessidade de esperar, Ninfadora, Potter está bem...ah... a salvo em minhas mãos. – Eu enviei a mensagem para o Hagrid – disse Tonks, franzindo a testa. – Hagrid estava atrasado para a festa de início do ano, como Potter aqui, então eu a recebi. E, por acaso, – disse Snape, recuando para deixar que Harry passasse por ele – Eu estava interessado em ver seu novo Patrono... Ele fechou os portões na cara de Tonks com um som estridente e bateu nas correntes com sua varinha mais uma vez, as fazendo deslizar, tinindo, de volta ao seu lugar. – ... mas acho que você estava melhor com o antigo – disse Snape, a malícia clara em sua voz. – O novo parece fraco. Enquanto Snape balançava a lanterna, Harry viu rapidamente, um olhar de choque e ira no rosto de Tonks. Logo ela estava coberta pela escuridão novamente. – Boa noite – Harry lhe exclamou por cima de seu ombro, ao começar a se dirigir à escola com Snape – Obrigado por... Tudo. – Até mais, Harry. Snape não falou nada por um minuto ou dois. Harry sentia-se como se seu corpo estivesse gerando ondas de ódio tão poderosas que parecia incrível que Snape não as pudesse sentir o queimando. Ele detestara Snape desde seu primeiro encontro, mas Snape havia perdido para sempre e sem volta a possibilidade de conseguir o perdão de Harry por sua atitude com Sirius. Independente do que Dumbledore havia dito, Harry tinha tido tempo para pensar sobre o assunto durante o verão e havia concluído que seus comentários maliciosos para Sirius sobre se esconder em segurança enquanto o resto da Ordem da Fênix estava combatendo Voldemort provavelmente haviam sido um fator poderoso para levar Sirius a correr para o Ministério na noite que morrera. Harry se agarrou àquela noção porque lhe permitia culpar Snape, o que lhe dava muita satisfação, e também porque sabia que se alguém não estava triste pela morte de Sirius, era o homem que estava agora caminhando ao seu lado na escuridão. * Não, não, esses anjinhos não tem nada de barrocos, pode acreditar: segundo a definição do Aurélio, são “anéis de ferro com que se prendiam e apertavam os dedos de criminosos”. Um instrumento de tortura. (N.T.) 85 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Cinqüenta pontos menos para a Grifinória pelo atraso, acredito – disse Snape. – E, vejamos, menos vinte por seus trajes trouxas. Sabe, eu não acredito que nenhuma Casa jamais começou com pontuação negativa tão cedo. E o pudim ainda nem foi servido. Deve ser um novo recorde, Potter. A fúria e o ódio que estavam borbulhando dentro de Harry pareciam inflamar em chamas, mas ele preferiria continuar imobilizado todo o caminho de volta para Londres do que contar a Snape porque estava atrasado. – Suponho que você queria fazer uma entrada especial, não é mesmo? – Snape continuou. – Sem carro voador disponível, decidiu que aparecer no Salão Principal no meio do banquete criaria um efeito dramático. Ainda assim Harry continuou sem falar nada, apesar de achar que seu peito iria explodir. Sabia que Snape havia ido buscá-lo por isso, pelos poucos minutos quando poderia irritar e atormentar Harry sem mais ninguém ouvindo. Eles chegaram aos degraus do castelo finalmente e quando as grandes portas de carvalho da frente se abriram para o vasto saguão de entrada cheio de bandeiras, uma explosão de conversas e risadas e de barulho de pratos e copos os receberam através das portas abertas do Salão Principal. Harry se perguntou se poderia colocar de volta rapidamente sua Capa de Invisibilidade, assim conseguindo chegar ao seu lugar na longa mesa da Grifinória (que inconvenientemente era a mais distante do saguão de entrada) sem ser visto. Mas como se ele lesse a mente de Harry, Snape disse: – Nada de capa. Você pode entrar de maneira que todos o vejam, o que era o que você queria, tenho certeza. Harry virou imediatamente e marchou direto através das portas abertas, qualquer coisa para ficar longe de Snape. O Salão Principal com suas quatro mesas longas das Casas e a mesa dos professores colocada na extremidade da sala, estava decorados com as velas flutuantes de sempre que faziam com que os pratos abaixo reluzissem e brilhassem. Mas era apenas um borrão de luz pálida para Harry, que andou tão rápido que estava já na mesa da Lufa-lufa quando pessoas começaram realmente a fitá-lo, e quando já estavam de pé para melhor vê-lo, ele havia encontrado Rony e Hermione, corrido entre os bancos em direção a eles e forçou sua entrada entre os dois. – Onde você... Caramba, o que aconteceu com sua cara? – disse Rony, arregalando os olhos e o encarando assim como todos por perto. – Por quê? O que há de errado com ela? – disse Harry, pegando uma colher e olhando sua reflexão distorcida. – Você está coberto de sangue! – disse Hermione. – Venha cá. Ela levantou sua varinha, disse “Tergeo!” e desapareceu com o sangue seco. – Obrigado – disse Harry, sentindo sua face agora limpa. – Como meu nariz está? – Normal – disse Hermione preocupada. – Por que não deveria estar? Harry, o que aconteceu? Ficamos preocupados! – Eu conto depois – disse Harry rapidamente. Ele estava bem ciente que Gina, Neville, Dino e Simas estavam ouvindo; até Nick QuaseSem-Cabeça, o fantasma da Grifinória, havia flutuado até o banco para escutar. – Mas... – disse Hermione – Agora não, Hermione – disse Harry, enfático. Tinha esperanças que todos concluíssem que ele estivera envolvido em algo heróico, de preferência envolvendo alguns Comensais e um dementador. Claro, Malfoy espalharia a história para todos que conseguisse, mas sempre havia a chance de que não chegasse a muitos ouvidos na Grifinória. Passou por Rony para pegar duas coxas de frango e um pouco de batatas, mas antes que pudesse pegá-las, elas desapareceram, dando lugar aos pudins. – Você perdeu a Seleção – disse Hermione, enquanto Rony cortava um grande bolo de chocolate. – O chapéu disse algo interessante? – perguntou Harry, pegando um pedaço de torta de caramelo. – O mesmo do ano passado, na verdade... Aconselhando todos a se unirem contra o inimigo em comum, sabe. 86 Capítulo 8 – Snape vitorioso – Dumbledore mencionou Voldemort? – Ainda não, mas ele sempre deixa seu discurso mais importante para depois do banquete, não é mesmo? Não vai demorar agora. – Snape disse que Hagrid estava atrasado para o banquete. – Você viu o Snape? Quando? – disse Rony entre mordidas frenéticas de bolo. – Encontrei com ele – disse Harry evasivo. – Hagrid estava só alguns minutos atrasado – disse Hermione. – Olha, ele está acenado para você, Harry. Harry olhou na direção da mesa dos professores e sorriu para Hagrid, que realmente estava acenado para ele. Hagrid nunca conseguira se comportar com a dignidade da Professora McGonagall, diretora da Grifinória, cujo topo da cabeça chegava a alguma altura entre o cotovelo de Hagrid e seu ombro já que estavam sentados lado a lado, e que estava desaprovando com seu olhar o cumprimento entusiástico do colega. Harry ficou surpreso em ver a professora de Adivinhação, Professora Trelawney, sentada do outro lado de Hagrid; ela raramente saía de seu quarto na torre, e ele nunca a havia visto no banquete de início de ano antes. Ela estava estranha como sempre, reluzindo com seus colares e xales, seus olhos aumentados para um tamanho enorme pelos seus óculos. Sempre tendo a considerado uma fraude, Harry ficou surpreso ao descobrir no fim do ano anterior que havia sido ela quem tinha feito a predição que levou Lord Voldemort a matar os pais de Harry e o atacar. O conhecimento o fez menos ansioso ainda por estar na companhia dela, mas felizmente este ano ele estaria largando Adivinhação. Os olhos luminosos como faróis rodaram em sua direção; ele olhou para a direção da mesa da Sonserina depressa. Draco Malfoy estava imitando o barulho de um nariz quebrando o que causou risadas e aplausos. Harry abaixou o olhar para sua torta de caramelo, suas entranhas queimando novamente. O que ele daria para lutar com Malfoy frente a frente... – Então, o que o professor Slughorn queria? – Hermione perguntou. – Queria saber o que realmente aconteceu no Ministério – disse Harry. – Ele e todo mundo aqui – fungou Hermione. – As pessoas estavam nos interrogando sobre isso no trem, não é mesmo, Rony? – É – disse Rony. – Todos querendo saber se você era mesmo “O Escolhido”. – Mesmo entre os fantasmas há muitas conversas sobre esse assunto – interrompeu Nick QuaseSem-Cabeça, inclinando sua cabeça quase solta na direção de Harry fazendo com que balançasse perigosamente em seu colarinho. – Eu sou considerado um tipo de autoridade em assuntos Potter; é plenamente conhecido que somos amigos. Porém, garanti à comunidade fantasma que eu não o perturbarei para conseguir informações. “Harry Potter sabe que pode confiar em mim com completa confiança” eu disse a eles. “Eu preferiria morrer a quebrar sua confiança”. – O que não quer dizer nada, afinal, você já está morto – Rony observou. – Mais uma vez, você mostrou o nível de delicadeza de um machado com lâmina cega – disse Nick Quase-Sem-Cabeça em um tom ofendido, e então ele flutuou para cima e deslizou para o lado mais distante da mesa da Grifinória no mesmo momento em que Dumbledore se levantou na mesa dos professores. As conversas e risadas que ecoavam pelo salão morreram quase instantaneamente. – As melhores das noites a vocês! – ele disse, sorrindo largamente, seus braços abertos como se ele pretendesse abraçar o salão inteiro. – O que aconteceu com a mão dele? – perguntou Hermione preocupada. Ela não foi a única que percebeu. A mão direita de Dumbledore estava tão escura e de aparência morta como na noite em que ele fora buscar Harry nos Dursleys. Murmúrios se espalharam pelo salão, e Dumbledore, interpretando-os corretamente, apenas sorriu e jogou sua manga roxa e dourada por cima do ferimento. – Nada para se preocupar – ele disse levemente. – Agora... Para os nossos novos estudantes: bem-vindos, para nossos antigos: bem-vindos de volta! Outro ano cheio de educação mágica os espera... 87 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – A mão dele estava assim quando eu o vi durante o verão – Harry sussurrou para Hermione. – Eu pensei que ele já a teria curado... Ou Madame Pomfrey. – Parece que está morta – disse Hermione, com uma expressão nauseada. – Mas há alguns ferimentos que não podemos curar... Maldições antigas e há venenos sem antídotos... – ...E o Sr.Filch, nosso zelador, pediu-me para que avisasse que quaisquer itens de logro comprados na loja Gemialidades Weasley estão banidos. – Aqueles interessados em jogar nos times de Quadribol de suas Casas devem dar seus nomes para os diretores de suas casas, como sempre. Estamos também procurando por novos comentaristas de Quadribol, que deverão fazer o mesmo. – Estamos muito felizes em dar boas vindas a um membro novo de nosso corpo docente este ano, Professor Slughorn... – Slughorn se levantou, sua cabeça careca brilhando à luz de velas, sua grande barriga fazendo sombra na mesa. – ... É um velho colega meu que aceitou voltar ao seu antigo cargo de mestre de poções. – Poções? – Poções? A palavra ecoou por todo Salão, pessoas se perguntando se haviam ouvido direito. – Poções? – disseram Rony e Hermione juntos, virando para encarar Harry. – Mas você disse... – Professor Snape, enquanto isso – disse Dumbledore, levantando sua voz para que fosse escutado acima de todos os murmúrios. – ...Lecionará como professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. – Não! – disse Harry, tão alto que muitas cabeças se viraram em sua direção. Ele não se importou; estava olhando para a mesa dos professores, irado. Como Snape conseguiu o posto de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas depois de todo aquele tempo? Não era conhecimento geral por anos que Dumbledore não confiava nele para o posto? – Mas Harry, você disse que Slughorn ia ensinar Defesa Contra as Artes das Trevas! – disse Hermione. – Achei que ele ia! – disse Harry, quebrando a cabeça para lembrar quando Dumbledore tinha lhe dito isso, mas agora que ele pensava no assunto, não conseguia lembrar Dumbledore dizendo o que Slughorn iria ensinar. Snape, que estava sentado à direita de Dumbledore, não se levantou quando seu nome foi mencionado; apenas ergueu uma mão em reconhecimento aos aplausos vindos da mesa da Sonserina, no entanto Harry tinha certeza que podia ver um olhar de triunfo no rosto que detestava tanto. – Bem, tem uma coisa boa em tudo isso – disse brutalmente. – Snape terá partido no final desse ano. – O que você quer dizer? – perguntou Rony. – O emprego está amaldiçoado. Ninguém dura mais que um ano... Quirrel até morreu... Pessoalmente estou cruzando os dedos para uma outra morte... – Harry! – disse Hermione, chocada, cheia de repreensão. – Ele pode só voltar a ensinar Poções no final do ano – ponderou Rony. – Esse tal de Slughorn pode não querer ficar muito tempo. Moody não quis. Dumbledore limpou a garganta. Harry, Rony e Hermione não eram os únicos que estavam falando; o Salão inteiro explodiu com zumbidos de conversa com a notícia de que Snape finalmente tinha realizado seu desejo. Parecendo ignorante da natureza surpreendente da notícia que acabara de transmitir, Dumbledore não disse mais nada sobre o corpo docente, mas esperou alguns segundos para garantir que o silêncio fosse absoluto antes de continuar. – Agora, como todos nesse Salão sabem, Lord Voldemort e seus seguidores estão mais uma vez à solta e ganhando força. O silêncio pareceu se tornar mais tenso e estressante enquanto Dumbledore falava. Harry olhou para Malfoy. Ele não estava olhando para Dumbledore, mas flutuando seu garfo com sua varinha, como se achasse as palavras do diretor desmerecedoras de sua atenção. 88 Capítulo 8 – Snape vitorioso – Não posso enfatizar mais o quão perigosa a situação atual é e o cuidado que cada um de nós em Hogwarts deve tomar para termos certeza que continuemos a salvo. As fortificações mágicas do castelo foram reforçadas durante o verão, nós estamos protegidos por novos e mais poderosos modos, mas devemos ainda ter extrema cautela contra falta de cuidado da parte de qualquer estudante ou membro do corpo docente. Eu peço a vocês, portanto, que sigam quaisquer restrições de segurança que seus professores possam lhes impor, não importando o quanto elas pareçam incômodas, em particular a regra de que ninguém deva estar fora de suas casas tarde da noite. Eu imploro a vocês que caso notem qualquer coisa estranha ou suspeita dentro ou fora do castelo, informem qualquer professor imediatamente. Confio que vocês se comportarão, sempre, com a máxima atenção no que diz respeito a suas próprias seguranças e dos outros. Os olhos azuis de Dumbledore correram pelos estudantes antes que ele sorrisse mais uma vez. – Mas agora, suas camas os esperam, tão quentes e confortáveis como vocês possam desejar, e sei que a sua prioridade maior é estarem descansados para suas aulas amanhã. Então vamos dizer boa noite. Pip pip! Com os rangidos de sempre, os bancos recuaram e centenas de estudantes começaram a sair do Salão Principal em direção a seus dormitórios. Harry, que não tinha nenhuma pressa em ir embora com a multidão, nem se aproximar de Malfoy o bastante para que contasse sua história da quebra do nariz, ficou para trás, fingindo amarrar o cadarço de seu tênis, deixando a maioria dos alunos da Grifinória passar a sua frente. Hermione correu para cumprir suas obrigações de monitora e encaminhar os alunos do primeiro ano, mas Rony permaneceu com Harry. – O que realmente aconteceu com seu nariz? – ele perguntou, assim que estavam bem atrás da multidão saindo do Salão, e fora do alcance dos ouvidos de todos. Harry contou. Rony não riu, o que foi uma prova da força da amizade dos dois. – Eu vi Malfoy imitando alguma coisa que tinha a ver com um nariz – disse, sério. – É, bem, deixa isso para lá – disse Harry amargamente. – Deixa eu contar o que ele estava dizendo antes de descobrir que eu estava lá... Harry esperava que Rony ficasse chocado com Malfoy se gabando. No entanto, com o que Harry considerou pura teimosia, Rony não ficou impressionado. – Ah vai, Harry, ele só estava se mostrando para a Parkinson. Que tipo de missão Você-SabeQuem poderia ter dado para ele? – Como você sabe se Voldemort não precisa de alguém dentro de Hogwarts? Não seria a primeira vez... – Preferia que você parasse de dizer esse nome, Harry – disse uma voz de censura atrás deles. Harry olhou por cima de seu ombro e viu Hagrid balançando sua cabeça. – Dumbledore chama ele assim – Harry disse, teimoso. – É, mas ele é o Dumbledore, né? – disse Hagrid misteriosamente. – Por que você se atrasou, Harry? Fiquei preocupado. – Tive um problema no trem – disse Harry. – Por que você se atrasou? – ‘Tava com Grope – disse Hagrid, feliz. – Perdi a noção do tempo. Ele tem agora uma nova casa nas montanhas, Dumbledore arranjou uma caverna bem grande. Está muito mais feliz do que estava na floresta. A gente ‘tava tendo uma boa conversa. – Verdade? – disse Harry, tomando cuidado para não olhar para Rony. A última vez que encontrou com o meio-irmão de Hagrid, um gigante cruel com talento para arrancar árvores com as raízes, seu vocabulário consistia em cinco palavras, duas das quais ele era incapaz de pronunciar corretamente. – É sim, ele ‘tá melhorando muito – disse Hagrid com orgulho. – Você vai ficar impressionado. Estou pensando em treinar ele para ser meu assistente. Rony deixou escapar uma risada alta, mas conseguiu disfarçar como um espirro violento. Estavam parados agora ao lado da porta da frente. – Bem, eu vejo vocês amanhã, primeira aula logo depois do almoço. Venham cedo para dar um olá para Bicu... Quer dizer, Witherwings. 89 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Erguendo o braço em uma despedida animada, ele saiu pelas portas para dentro da escuridão. Harry e Rony se entreolharam. Harry podia ver que Rony estava com a mesma sensação ruim que ele. – Você não vai fazer Trato de Criaturas Mágicas, vai? Rony balançou a cabeça negativamente. – E você também não? Harry fez o mesmo. – E Hermione – disse Rony. – Ela não vai, vai? Harry balançou a cabeça mais uma vez. O que exatamente Hagrid diria quando percebesse que seus três alunos favoritos tinham desistido de sua matéria, ele não queria imaginar. 90 – CAPÍTULO 9 – O Príncipe Mestiço Harry e Rony se encontraram com Hermione no Salão Comunal antes do café da manhã no dia seguinte. Com esperanças de obter algum apoio à sua teoria, Harry não perdeu tempo para contar a Hermione tudo o que ele ouvira Malfoy dizer no Expresso de Hogwarts. – Mas é claro que ele estava só querendo se mostrar para a Parkinson, não? – perguntou Rony rapidamente, antes que Hermione pudesse dizer qualquer coisa. – Bom – ela disse sem muita convicção – eu não sei... É bem a cara do Malfoy ficar dando uma de importante. Mas essa seria uma mentira muito grande para se espalhar... – Exatamente – disse Harry, mas ele não podia continuar o assunto, uma vez que muitas pessoas estavam tentando ouvir sua conversa, sem mencionar as que o olhavam fixamente e cochichavam por trás de suas mãos. – É feio apontar para os outros – Rony ralhou com um primeiranista particularmente minúsculo enquanto eles se juntavam à fila que se formava para sair pelo buraco do retrato. O garoto, que estivera sussurrando por trás de sua mão algo a respeito de Harry para seu amigo, imediatamente se ruborizou e tropeçou ao sair do buraco, alarmado. Rony deu uma risadinha – Eu adoro estar no sexto ano. E nós vamos ter bastante tempo livre este ano. Períodos inteiros em que podemos simplesmente sentar e relaxar. – Nós vamos precisar deste tempo para estudar, Rony! – disse Hermione ao caminharem em direção ao corredor. – É, mas não hoje – disse Rony – Acho que hoje vai ser uma moleza. – Parado! – disse Hermione, estendendo o braço e fazendo parar um quartanista que tentava passar por ela com um disco verde-limão seguro firmemente nas mãos. – Frisbees dentados estão banidos, passe para cá – ela falou com firmeza. O menino, fazendo uma careta, entregou o Frisbee rosnante, passou por baixo do braço dela e foi embora junto com seus amigos. Rony esperou que ele sumisse, e então puxou o Frisbee das mãos de Hermione. – Ótimo. Eu sempre quis um desses. A objeção de Hermione foi abafada por uma risada alta; Lilá Brown aparentemente tinha achado o comentário de Rony muito divertido. Ela continuou a rir ao passar por eles, olhando para Rony por cima de seu ombro. Rony parecia bastante satisfeito consigo mesmo. O teto do Salão Principal estava num azul sereno, cortado por finas e delicadas nuvens, exatamente como os quadrados de céu visíveis através das vidraças das altas janelas. Enquanto eles se empanturravam com mingau, ovos e bacon, Harry e Rony contaram a Hermione sobre a conversa embaraçosa com Hagrid na noite anterior. – Mas ele não pode realmente achar que nós continuaríamos Trato de Criaturas Mágicas! – ela disse, parecendo angustiada – quer dizer, quando foi que algum de nós demonstrou... assim... algum entusiasmo? – É assim, então, né? – disse Rony, engolindo um ovo frito inteiro – Nós éramos quem mais se esforçava nas aulas porque gostamos do Hagrid. Mas ele acha que a gente gostava daquela matéria boba. Vocês acham que alguém vai seguir para o N.I.E.M.? 91 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Nem Harry nem Hermione responderam; não havia necessidade. Eles sabiam perfeitamente bem que ninguém da sua turma iria querer continuar Trato de Criaturas Mágicas. Eles evitaram o olhar de Hagrid e acenaram de volta sem muito entusiasmo quando ele deixou a mesa dos professores dez minutos depois. Depois de terem comido, eles permaneceram em seus lugares, esperando que a Professora McGonagall descesse da mesa dos professores. A distribuição dos horários das aulas foi mais complicada do que o normal este ano, pois a Professora McGonagall primeiro precisava confirmar que todos haviam obtido as pontuações necessárias nos N.O.M.s para prosseguirem com seus N.I.E.M.s escolhidos. Hermione foi imediatamente autorizada a continuar com Feitiços, Defesa Contra as Artes das Trevas, Transfiguração. Herbologia, Aritmancia, Runas Antigas, e Poções, e correu para uma primeira aula, de Runas Antigas sem mais delongas. O caso de Neville demorou um pouco mais para ser resolvido; sua cara redonda se mostrava ansiosa enquanto a Professora McGonagall olhava seu pedido de matrícula e consultava seus resultados dos N.O.M.s. – Sem problemas com Herbologia – ela disse – A Professora Sprout ficará encantada ao revêlo com um N.O.M. “Ótimo”. E você está qualificado para Defesa Contra as Artes das Trevas com “Excede Expectativas”. Mas o problema é Transfiguração. Desculpe-me, Longbottom, mas um “Aceitável” realmente não é bom o bastante para você prosseguir para o nível N.I.E.M. Não sinto que você será capaz de se adaptar às exigências do curso. Neville baixou a cabeça. Através de seus óculos quadrados, a Professora McGonagall o observou. – Por que é que você quer continuar com Transfiguração, afinal? Você nunca me pareceu gostar particularmente da matéria. Neville, parecendo muito infeliz, murmurou algo como “minha avó quer”. – Hum – bufou a Professora McGonagall – Sua avó já deveria ter aprendido a se orgulhar do neto que tem, e não daquele que ela acha que deveria ter. Particularmente depois do que aconteceu no Ministério. Neville ficou cor-de-rosa e começou a piscar confusamente. A Professora McGonagall nunca o havia elogiado antes. – Desculpe-me, Longbottom, mas eu não posso aceitá-lo na minha turma de N.I.E.M. Mas eu vejo que você obteve um “Excede Expectativas” em Feitiços. Por que não tentar um N.I.E.M. em Feitiços? – Minha avó acha que Feitiços é para bobos – resmungou Neville. – Estude Feitiços – disse a Professora McGonagall – e eu escreverei para Augusta para lembrarlhe que não é só porque ela não passou em Feitiços quando prestou o N.O.M., que a matéria é necessariamente inútil. Sorrindo levemente em resposta à expressão de deliciosa incredulidade no rosto de Neville, a Professora McGonagall deu uma pancadinha com a ponta de sua varinha em um horário vazio e o entregou, agora preenchido com os detalhes de suas novas aulas, a Neville. A Professora McGonagall se virou então para Parvati Patil, cuja primeira pergunta foi se Firenze, o belo centauro, ainda estava lecionando Adivinhação. – Ele e a Professora Trelawney estão dividindo as turmas entre eles este ano – disse a Professora McGonagall com um leve toque de desaprovação em sua voz; era notório o fato de que ela desprezava Adivinhação – A Professora Trelawney ficará com o sexto ano. Parvati se dirigiu à aula de Adivinhação cinco minutos depois, ligeiramente desapontada. – Então, Potter, Potter... – disse a Professora McGonagall, consultando suas notas enquanto se virava para Harry – Feitiços, Defesa Contra as Artes das Trevas, Herbologia, Transfiguração... tudo certo. Devo dizer que fiquei muito satisfeita com sua nota em Transfiguração, Potter, muito satisfeita. Agora, por que você não fez uma requisição para continuar com Poções? Eu pensei que você ambicionasse se tornar um Auror? 92 Capítulo 9 – O Príncipe Mestiço – Sim, mas a senhora me disse que eu precisava de um “Ótimo” no meu N.O.M., Professora. – E você realmente precisava enquanto o Professor Snape lecionasse esta matéria. O Professor Slughorn, entretanto, contenta-se perfeitamente com um “Excede Expectativas” no N.O.M. para aceitar alunos em sua classe de N.I.E.M. Você deseja continuar com Poções? – Sim – disse Harry – Mas não comprei os livros, nem os ingredientes, nem nada... – Tenho certeza de que o Professor Slughorn poderá lhe emprestar o necessário – disse a Professora McGonagall – Muito bem, Potter, aqui está o seu horário. Ah, aliás, vinte aspirantes já se inscreveram para o time de quadribol da Grifinória. Passarei a lista a você mais tarde para que possa agendar os treinos quando quiser. Alguns minutos depois, Rony foi liberado para assistir às mesmas aulas que Harry, e os dois deixaram a mesa juntos. – Olhe – disse Rony, regozijando, ao olhar para seu quadro de horários – temos um período livre agora... E um período livre depois do intervalo... e depois do almoço... maravilha. Eles voltaram ao Salão Comunal, que estava vazio a não ser por meia-dúzia de alunos do sétimo ano, incluindo Katie Bell, o único membro restante do time original de quadribol da Grifinória do qual Harry fizera parte em seu primeiro ano. – Eu achava mesmo que você ganharia isso, parabéns – ela disse, chamando Harry, apontando para o distintivo de capitão em seu peito – Me avise quando você for fazer os testes para os jogadores. – Deixe de ser boba – disse Harry – você não precisa de teste. Eu a vi jogar por cinco anos... – Você não deve começar assim – ela replicou, avisando-o – Você pode saber de alguém muito melhor do que eu por aí. Bons times já foram arruinados porque os capitães só jogaram com os antigos, ou então colocaram os seus amigos para jogar... Rony pareceu um pouco incomodado e começou a brincar com o Frisbee Dentado que Hermione havia confiscado do aluno do quarto ano. Ele zuniu pelo Salão Comunal, rosnando e tentando morder a tapeçaria. Os olhos amarelos de Bichento o seguiram, e o gato se eriçou quando ele chegou perto demais. Uma hora depois eles deixaram com relutância o ensolarado Salão Comunal e seguiram para a sala de aula de Defesa Contra as Artes das Trevas quatro andares abaixo. Hermione já estava na fila do lado de fora, cheia de livros nos braços e com a cara amarrada. – Temos tanta lição de casa de Runas, – disse ansiosa quando Harry e Rony se juntaram a ela – Uma redação de 40 centímetros, duas traduções, e tenho que ler tudo isso até quarta! – Que droga – bocejou Rony. – Vocês não perdem por esperar, – ela disse, ressentida – Aposto que o Snape vai dar um montão. A porta da sala abriu enquanto ela falava, e Snape, com sua cara de sempre, amarelada e emoldurada por duas cortinas de cabelo negro gorduroso, pisou no corredor. A fila se calou imediatamente. – Para dentro – ele disse. Harry olhou à sua volta enquanto eles entravam. Snape já havia imposto sua própria personalidade à sala. Ela estava mais sombria do que o normal, pois cortinas haviam sido colocadas nas janelas, e a iluminação era de velas. Novos quadros adornavam as paredes, muitos dos quais retratando pessoas que pareciam estar sofrendo, ostentando ferimentos terríveis ou partes contorcidas do corpo. Ninguém falou nada enquanto se dirigiam para seus lugares, olhando para as figuras sombrias e repulsivas. – Eu não pedi que pegassem seus livros – disse Snape, fechando a porta e indo para trás de sua mesa para falar com a turma de frente; Hermione rapidamente largou sua cópia de Confrontando o Impossível de Encarar de volta dentro de sua bolsa, que colocou sob sua cadeira. – Eu desejo falar com vocês e quero sua mais profunda atenção. Seus olhos negros passearam pelos rostos atentos dos alunos, demorando um pouco mais no de Harry do que em qualquer outro. 93 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Vocês tiveram cinco professores desta matéria até o momento, creio eu. Você crê... como se você não tivesse visto cada um deles ir e vir, com esperanças de que você fosse o próximo, pensou Harry, mordaz. – Naturalmente, esses professores todos tiveram seus próprios métodos e prioridades. Com toda esta confusão, surpreendeu-me o fato de tantos de vocês conseguirem obter um N.O.M. nesta matéria. Ficarei ainda mais surpreso se vocês todos conseguirem acompanhar o trabalho do N.I.E.M., que será muito mais avançado. Snape se dirigiu ao canto da sala, falando agora em um tom de voz mais baixo. Os alunos esticaram os pescoços para conseguirem vê-lo. – As Artes das Trevas – continuou Snape – são muitas, variadas, em constante mutação, e eternas. Combatê-las é como combater um monstro de muitas cabeças, o qual, cada vez que um pescoço é atingido, faz brotar uma cabeça nova ainda mais feroz e inteligente do que antes. Você está lutando contra aquilo que é incerto, mutante, indestrutível. Harry olhou para Snape fixamente. Certamente uma coisa era respeitar as Artes das Trevas como um inimigo perigoso, e outra era falar a seu respeito como Snape estava fazendo, demonstrando carinho em sua voz? – Suas defesas – disse Snape, um pouco mais alto – devem, portanto, ser tão flexíveis e inventivas quanto as artes que vocês pretendem desfazer. Estas figuras – ele apontou para algumas ao caminhar – são uma representação acurada do que acontece com aqueles que sofrem, por exemplo, a Maldição Cruciatus – ele acenou para uma bruxa que estava claramente tremendo em agonia – que são beijados por um dementador – um bruxo encolhido e de olhos inexpressivos, jogado contra uma parede – ou provocam a agressão de um Inferi us – uma massa de sangue no chão. – Então algum Inferi us já foi visto? – perguntou Parvati Patil numa voz aguda – Está confirmado que ele os está usando? – O Lord das Trevas usou Inferi no passado, – disse Snape – o que significa que vocês podem supor que ele pode usá-los novamente. Agora... Ele se dirigiu para o outro lado da sala em direção à sua mesa, e, novamente, os alunos o viram passar com suas vestes negras enfunando atrás dele. – ...Vocês, creio, são completamente inexperientes no uso de feitiços não-verbais. Qual é a vantagem de se utilizar um feitiço não-verbal? A mão de Hermione disparou para cima. Snape passou os olhos por todos os outros alunos, sem pressa, para certificar-se que ele não tinha nenhuma outra opção antes de dizer secamente: – Muito bem, Srta. Granger? – O seu adversário não tem nenhum aviso de que tipo de magia você está prestes a executar – disse Hermione, – o que lhe dá uma fração de segundo de vantagem. – Uma resposta praticamente copiada palavra por palavra de O Livro Padrão de Feitiços (6a série) – disse Snape, com repúdio (no outro lado da sala, Malfoy riu com escárnio) – mas correta no essencial. Sim, aqueles que progridem no uso de magia sem gritar encantamentos ganham um elemento de surpresa ao conjurar seus feitiços. Nem todos os bruxos podem fazer isso, obviamente; é uma questão de concentração e poder da mente de que alguns – ele levou os olhos maldosamente a Harry mais uma vez – carecem. Harry sabia que Snape estava pensando nas suas lições desastrosas de Oclumência do ano anterior. Ele se recusou a baixar os olhos, e olhou com raiva para Snape até que ele olhasse para outra direção. – Vocês agora vão se dividir – Snape continuou – em pares. Um de vocês tentará azarar o outro sem falar. O outro tentará repelir a azaração também em silêncio. Comecem. Apesar de Snape não saber, Harry havia ensinado pelo menos à metade da classe (todos aqueles que foram membros da AD) como fazer um Feitiço Escudo no ano anterior. Porém, nenhum deles tinha jamais feito o feitiço sem falar. Seguiu-se então uma quantidade razoável de trapaças; muitos estavam apenas murmurando o encantamento em vez de dizê-lo em voz alta. Como sempre, com dez 94 Capítulo 9 – O Príncipe Mestiço minutos de prática Hermione conseguiu repelir a Azaração das Pernas Bambas sussurrada de Neville sem soltar nenhuma palavra, um feito que com certeza teria ganhado vinte pontos para a Grifinória de qualquer professor justo, Harry pensou amargamente, mas que Snape ignorou. Ele circulou por entre eles enquanto praticavam, tendo a mesma aparência de sempre de um morcego que crescera demais, demorando-se para assistir Harry e Rony se esforçando na tarefa. Rony, que deveria estar azarando Harry, estava com o rosto roxo, lábios comprimidos com força tentando se resguardar da tentação de murmurar o encantamento. Harry estava com a varinha erguida, ansioso para repelir uma azaração que parecia que não seria lançada nunca. – Patético, Weasley – disse Snape, depois de um tempo. – Aqui, deixe-me mostrar-lhe... Ele virou sua varinha para Harry tão rápido que Harry reagiu instintivamente; esquecendo-se completamente dos feitiços não-verbais, ele berrou: – Protego! Seu Feitiço Escudo foi tão forte que fez Snape perder o equilíbrio e bater em uma carteira. A turma toda olhara a sua volta e agora observava Snape se endireitar, franzindo a testa. – Você se lembra que eu disse que nós praticaríamos feitiços não-verbais, Potter? – Sim, – disse Harry duramente, – Sim, senhor. – Não precisa me chamar de senhor, Professor – as palavras pareciam ter escapado dele antes que ele soubesse o que estava dizendo. Muitas pessoas engasgaram, incluindo Hermione. Atrás de Snape, porém, Rony, Dino e Simas sorriam deliciados. – Detenção sábado à noite na minha sala – disse Snape – Eu não aceito atrevimento da parte de ninguém, Potter... Nem mesmo do “Escolhido”. – Essa foi brilhante, Harry! – disse Rony, rindo, pouco depois, quando eles já estavam a salvo no caminho para o intervalo. – Você realmente não deveria ter dito isso – disse Hermione, franzindo as sobrancelhas para Rony. – Por que você fez isso? – Ele tentou me azarar, caso você não tenha notado! – respondeu Harry enfurecido, – Eu já agüentei o suficiente durante aquelas aulas de Oclumência! Por que ele não usa uma outra cobaia só para variar? E qual é a do Dumbledore, deixando o Snape dar aula de Defesa? Vocês ouviram como ele falava das Artes das Trevas? Ele as adora! Toda aquela coisa de incerto, indestrutível... – Bom, – disse Hermione – Eu achei que ele falou de um jeito parecido com o seu. – Comigo? – É, quando você estava contando para a gente como é estar cara a cara com Voldemort. Você disse que não era simplesmente decorar um monte de feitiços, você disse que era só você, com a cara e a coragem, quer dizer, não era isso que o Snape estava dizendo? Que o que realmente conta é ter coragem e pensar rápido? Harry estava tão desarmado por ela ter achado que suas palavras eram tão dignas de serem decoradas quanto as do Livro Padrão de Feitiços que ele nem contra-argumentou. – Harry! Ei, Harry! Harry olhou em volta; Jack Sloper, um dos batedores do time de quadribol da Grifinória do ano anterior, corria em sua direção com um rolo de pergaminho nas mãos. – Para você – resfolegou Sloper – Escuta, eu ouvi falar que você é o novo capitão. Quando vão ser os testes para o time? – Eu ainda não sei – disse Harry pensando consigo mesmo que Sloper precisaria de muita sorte para voltar ao time. – Eu te aviso. – Ah, legal. Eu achava que seria neste fim-de-semana... Mas Harry não estava escutando; ele tinha acabado de reconhecer a letra delicada e inclinada no pergaminho. Abandonando Sloper no meio de sua frase, ele sumiu de lá com Rony e Hermione, desenrolando o pergaminho ao caminhar. 95 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Caro Harry, Eu gostaria de dar início às nossas aulas particulares neste sábado. Por favor venha à minha sala às 20:00. Espero que esteja aproveitando seu primeiro dia de volta à escola. Atenciosamente, Alvo Dumbledore. P.S. Eu gosto de Picolés Ácidos. – Ele gosta de Picolés Ácidos? – disse Rony, que havia lido a mensagem por sobre o ombro de Harry e estava perplexo. – É a senha para passar pela gárgula fora da sala – disse Harry em voz baixa. – Rá, o Snape não vai gostar... Não vou poder cumprir a detenção dele! Ele, Rony e Hermione passaram o resto do intervalo especulando sobre o que Dumbledore iria ensinar a Harry. Rony achava que provavelmente seriam azarações e pragas espetaculares do tipo que os Comensais da Morte não conheceriam. Hermione disse que tais coisas eram ilegais, e achava muito mais provável que Dumbledore quisesse ensinar a Harry magia defensiva avançada. Depois do intervalo, ela foi para sua aula de Aritmancia enquanto Harry e Rony retornaram ao Salão Comunal onde começaram a fazer a lição de casa de Snape com má vontade. A tarefa acabou se mostrando tão complexa que eles ainda não tinham terminado quando Hermione se juntou a eles para seu período livre depois do almoço (apesar de ela ter conseguido acelerar o processo consideravelmente). Eles tinham acabado de terminar quando a campainha soou para a aula dupla de Poções à tarde, e eles seguiram pelo caminho familiar em direção à sala de aula nas masmorras que, por tanto tempo, havia pertencido a Snape. Quando eles chegaram ao corredor, viram que só uma dúzia de pessoas estava avançando para o nível N.I.E.M. Crabbe e Goyle evidentemente não tinham conseguido obter a nota mínima necessária no N.O.M., mas quatro alunos da Sonserina haviam sido aprovados, inclusive Malfoy. Quatro alunos da Corvinal estavam lá, e um da Lufa-Lufa, Ernesto Macmillan, de quem Harry gostava, apesar do comportamento um pouco pedante. – Harry – Ernesto falou portentosamente, estendendo a mão quando Harry se aproximou -, não consegui falar com você em Defesa Contra as Artes das Trevas hoje de manhã. Achei que foi uma boa aula, mas Feitiços Escudo não são nenhuma novidade para nós, antigos companheiros da AD... E você, Rony, tudo certo? Hermione? Antes que eles pudessem dizer algo mais do que “bem”, a porta da masmorra se abriu e a barriga de Slughorn precedeu o dono pela porta. No que eles enchiam a sala, o seu grande bigode de morsa curvou-se acima de seu sorriso, e ele cumprimentou Harry e Zabini com particular entusiasmo. A masmorra já estava, incomumente, cheia de vapores e cheiros estranhos. Harry, Rony e Hermione farejaram, cheios de interesse, ao passarem por caldeirões grandes e borbulhantes. Os quatro da Sonserina ficaram juntos em uma mesa, assim como os quatro da Corvinal. Isso fez com que Harry, Rony e Hermione dividissem uma mesa com Ernesto. Eles escolheram uma perto de um caldeirão dourado que estava emitindo um dos aromas mais sedutores que Harry sentira em sua vida: de alguma maneira, lembrava-lhe simultaneamente torta de caramelo, o cheiro amadeirado do cabo de uma vassoura, e algo floral que ele pensava ter cheirado na Toca. Ele percebeu que estava respirando lenta e profundamente, e que a fumaça da poção parecia estar preenchendo-o como uma bebida. Um grande contentamento tomou conta dele; ele sorriu para Rony, que sorriu de volta preguiçosamente. – Bem, bem, bem – disse Slughorn, cuja enorme silhueta trepidava no meio dos vários vapores de luz trêmula. – balanças para fora, todos, kits de poções e não se esqueçam de suas cópias de Preparo de Poções – Nível Avançado... 96 Capítulo 9 – O Príncipe Mestiço – Senhor? – disse Harry, erguendo sua mão. – Harry, meu garoto? – Eu não tenho livro, ou balança ou qualquer outra coisa, nem o Rony. A gente não sabia que poderia cursar o N.I.E.M., porque... – Ah, sim, a Professora McGonagall mencionou... Não se preocupe, meu garoto, não se preocupe de jeito nenhum. Vocês podem usar os ingredientes guardados no armário por hoje, e tenho certeza de que podemos emprestar-lhes uma balança, e temos um pequeno estoque de livros antigos aqui que vão servir até que vocês escrevam para a Floreios e Borrões... Slughorn caminhou para um armário de canto e, depois de um pequeno saque, emergiu com cópias muito velhas de Preparo de Poções – Nível Avançado, de Libatius Borage, que deu a Harry e Rony junto com dois conjuntos de balanças desbotados. – Bem – disse Slughorn, retornando à frente da sala e inflando o seu peito já tão protuberante que os botões de seu colete ameaçavam rebentar – preparei algumas poções para vocês darem uma olhada, apenas por interesse, sabem. Este é o tipo de coisa que vocês devem estar aptos a prepararem depois de completarem seus N.I.E.M.s. Vocês já devem ter ouvido falar delas, se é que ainda não prepararam. Alguém pode me dizer o que é esta daqui? Ele indicou o caldeirão próximo à mesa da Sonserina. Harry ergueu-se levemente de seu lugar e viu o que parecia ser simplesmente água fervendo. A mão acostumada de Hermione levantou antes de qualquer outra, Slughorn apontou para ela. – É Veritaserum, uma poção incolor e inodora que força quem bebe a falar a verdade – disse Hermione. – Muito bem, muito bem! – disse Slughorn contente – Agora – ele continuou, apontando para o caldeirão próximo à mesa da Corvinal – este aqui é bastante conhecido... Tem aparecido em vários panfletos do Ministério ultimamente... quem pode? A mão de Hermione foi a mais rápida novamente. – É a Poção Polissuco, senhor – ela disse. Harry também reconhecera a substância parecida com lama, borbulhando lentamente no segundo caldeirão, mas não ficou ressentido por Hermione levar o crédito por responder à pergunta; afinal, ela é que havia tido êxito ao prepará-la, quando estavam no segundo ano. – Excelente, excelente! Agora, esta daqui... sim, querida? – disse Slughorn, parecendo ligeiramente divertido ao ver a mão de Hermione socar o ar mais uma vez. – É Amortentia! – E é isso mesmo. Parece até tolice perguntar – disse Slughorn, que parecia bastante impressionado – mas eu suponho que você saiba o que ela faz? – É a poção de amor mais potente do mundo! – disse Hermione. – Você está certa! Reconheceu-a, suponho, pelo característico brilho madrepérola? – E o vapor subindo em espirais típicos – disse Hermione entusiasmada – e ela deve ter um aroma diferente para cada um de nós de acordo com aquilo que nos atrai, e eu posso sentir o cheiro de grama recém-aparada e pergaminho novo e... Mas ela ficou ligeiramente vermelha e não terminou a frase. – Posso perguntar o seu nome, querida? – disse Slughorn, ignorando completamente o acanhamento de Hermione. – Hermione Granger, senhor. – Granger? Granger? Você poderia ser da família de Hector Dagworth-Granger, que fundou a Mais Extraordinária Sociedade de Preparadores de Poções? – Não. Acho que não, senhor. Eu sou nascida trouxa. Harry viu Malfoy se inclinar para Nott e cochichar algo; ambos deram uma risadinha, mas Slughorn não se abateu; ao contrário, ele sorriu e olhou de Hermione para Harry, que estava ao seu lado. 97 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Ah! “Uma das minhas melhores amigas é nascida trouxa e ela é a melhor do nosso ano!”. Suponho que esta seja a amiga de quem você me falou, não, Harry? – Sim, senhor – disse Harry. – Sim, sim, vinte pontos muito merecidos para a Grifinória, Srta. Granger – disse Slughorn alegremente. Malfoy fez uma cara parecida com a que tinha feito quando Hermione havia lhe dado um soco no rosto. Hermione se virou para Harry com uma expressão radiante e sussurrou, – Você realmente lhe disse que eu sou a melhor do nosso ano? Ah, Harry! – Ué, e o que tem de novo nisso? – sussurrou Rony, que parecia incomodado por algum motivo – Você é a melhor do ano. Eu teria dito a ele se ele tivesse me perguntado! Hermione sorriu, mas fez um gesto de “shhh” para que pudessem ouvir o que Slughorn estava dizendo. Rony pareceu um pouco aborrecido. – Amortentia, claro, não cria amor de verdade. É impossível fabricar ou imitar amor. Não, ela simplesmente criará uma paixão poderosa ou obsessão. É provavelmente a poção mais perigosa e poderosa nesta sala, ah sim. – ele disse, balançando a cabeça gravemente para Malfoy e Nott, os quais estavam ambos sorrindo com um sarcasmo cético. – Quando vocês já tiverem vivido tanto quanto eu, não subestimarão o poder do amor obsessivo... – E agora – disse Slughorn – é hora de começarmos a trabalhar. – Professor, o senhor não disse o que tem neste daqui – comentou Ernesto MacMillan, apontando para o pequeno caldeirão preto na mesa de Slughorn. A poção dentro dele se revirava alegremente; era da cor de ouro derretido, e grandes gotas pulavam como peixes dourados até a superfície, mas nenhuma partícula havia sido derramada. – Ahá... – disse Slughorn novamente. Harry tinha certeza de que ele não havia esquecido a poção, mas havia esperado até lhe perguntarem para causar um efeito dramático. – Sim. Aquela. Bom, aquela lá, senhoras e senhores, é uma poçãozinha bastante curiosa chamada Felix Felicis . Eu suponho – ele se virou, sorrindo, para Hermione, que havia ofegado audivelmente – que você saiba o efeito de Felix Felicis , Srta. Granger. – É sorte líquida – disse Hermione animada – Ela traz sorte! A classe inteira pareceu sentar-se de maneira mais ereta. Agora, tudo o que Harry podia ver de Malfoy era a parte de trás de sua cabeça loira, porque finalmente ele estava dando a Slughorn sua atenção total e irrestrita. – Perfeitamente, leve mais dez pontos para a Grifinória. Sim, Felix Felicis é uma poçãozinha muito singular – disse Slughorn – Desesperadamente traiçoeira de se fazer e desastrosa, se errada. Porém, se preparada da maneira correta, como esta foi, você verá que seus esforços tendem a ser um sucesso... Pelo menos até que os efeitos cessem. – Por que as pessoas não a tomam o tempo todo, senhor? – disse Terêncio Boot ansiosamente. – Porque, se tomada em excesso, causa leviandade, negligência e uma perigosa auto-confiança excessiva – disse Slughorn – É algo bom demais, entende... Altamente tóxica em grandes quantidades. Mas se tomada frugalmente, e apenas esporadicamente... – O senhor já a tomou, professor? – perguntou Miguel Corner com grande interesse. – Duas vezes em minha vida – disse Slughorn. – Uma, quando eu tinha vinte e quatro anos, e outra, quando tinha cinqüenta e sete. Duas colheres de sopa junto com o café da manhã. Dois dias perfeitos. Seus olhos se tornaram distantes, como se estivesse sonhando acordado. Se ele estava simplesmente fingindo ou não, para Harry o efeito foi bom. – E isso – disse Slughorn aparentemente voltando à Terra – é o que oferecerei como prêmio nesta aula. Houve um silêncio tal que cada borbulhar ou ruído das poções ao redor parecia dez vezes maior. 98 Capítulo 9 – O Príncipe Mestiço – Uma pequena garrafa de Felix Felicis – disse Slughorn, sacando uma minúscula garrafinha com uma rolha de dentro de seu bolso e mostrando a todos – suficiente para boa sorte durante doze horas. Do amanhecer ao entardecer, você terá sorte em tudo que tentar. Agora, devo avisá-los que Felix Felicis é uma substância proibida em competições organizadas... eventos esportivos, por exemplo, exames ou eleições. O vencedor, portanto, deve usá-la apenas em um dia comum... e ver como o dia comum se transforma em extraordinário! – Então – disse Slughorn, subitamente energético – como vocês ganharão este prêmio fabuloso? Bem, abrindo exemplares de Preparo de Poções – Nível Avançado na página dez. Nós temos pouco mais de uma hora de aula, o que deve ser suficiente para uma primeira tentativa decente da Poção do Morto-Vivo. Eu sei que é mais complexa do que qualquer coisa que vocês já tentaram fazer até hoje, e eu não espero uma poção perfeita de ninguém. Quem se sair melhor, entretanto, ganhará nosso pequeno Felix aqui. Podem começar! Ouviu-se um leve ruído dos caldeirões sendo colocados à frente dos alunos e alguns barulhos metálicos altos no que eles começaram a colocar os pesos nas balanças, mas ninguém falou. A concentração dentro da sala era quase tangível. Harry viu Malfoy folheando febrilmente seu exemplar de Preparo de Poções – Nível Avançado. Não poderia ser mais óbvio que Malfoy realmente queria aquele dia de sorte. Harry se inclinou sobre o velho livro que Slughorn lhe emprestara. Para seu desgosto, ele viu que o dono anterior havia rabiscado por todas as páginas, de modo que as margens estavam tão pretas quanto as partes impressas. Inclinando-se mais para decifrar os ingredientes (até aqui, o dono anterior tinha feito anotações e riscado coisas), Harry correu para o armário de ingredientes para pegar o que precisava. No que ele voltou para seu caldeirão, ele viu Malfoy cortando raízes de valeriana o mais rápido possível. Todos ficavam olhando em volta para ver o que o resto da turma estava fazendo; essa era tanto a vantagem quanto a desvantagem de Poções: era difícil manter seu trabalho privado. Dentro de dez minutos, o lugar todo estava tomado por um vapor azulado. Hermione, obviamente, parecia ser quem mais havia progredido. Sua poção já parecia o “líquido suave cor de groselha-preta” mencionado como o estágio intermediário ideal. Depois de terminar de picar suas raízes, Harry se curvou em direção ao seu livro novamente. Era realmente irritante ter que decifrar as instruções sob todos aqueles rabiscos estúpidos do dono anterior, que, por algum motivo implicara com a ordem de cortar a vagem de sopophorus e escrevera uma instrução alternativa: Esmagar com o lado chato de uma adaga de prata solta mais sumo do que cortar. – Senhor, acho que conheceu meu avô, Abraxas Malfoy? Harry olhou para cima; Slughorn estava justamente passando pela mesa da Sonserina. – Sim – disse Slughorn, sem olhar para Malfoy – Lamentei quando soube de sua morte, apesar de não ser de todo inesperada. Varíola dragonina na sua idade... E foi embora. Harry curvou-se sobre seu caldeirão, sorrindo maliciosamente. Ele tinha certeza que Malfoy desejava ser tratado como ele ou Zabini; talvez até tivesse esperanças de receber um tratamento especial do tipo que ele tinha se acostumado a esperar de Snape. Parecia que Malfoy teria que contar apenas com o próprio talento para ganhar a garrafa de Felix Felicis. A vagem sopophorus estava se mostrando muito difícil de cortar. Harry se voltou para Hermione. – Posso pegar a sua faca de prata emprestada? Ela fez que sim com a cabeça sem paciência, sem tirar os olhos de sua poção, que ainda estava roxo-escuro, apesar de o livro dizer que já deveria estar ficando um tom claro de lilás. Harry esmagou a vagem com o lato chato da faca. Para seu assombro, ela imediatamente liberou tanto sumo que ele ficou boquiaberto por aquela vagem tão pequena ter contido tudo aquilo. Ele colocou todo o conteúdo no caldeirão com pressa e viu, para sua surpresa, que a poção imediatamente ficou no tom exato de lilás descrito pelo livro. Sua irritação com o dono anterior desapareceu na hora, e Harry agora lia a próxima linha de instruções. De acordo com o livro, ele deveria mexer em sentido anti-horário até que a poção ficasse 99 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto tão transparente quanto água. De acordo com a nota adicional do dono anterior, entretanto, ele deveria adicionar uma mexida no sentido horário depois de sete no sentido anti-horário. Será que o dono anterior estaria certo duas vezes? Harry mexeu em sentido anti-horário, prendeu a respiração, e mexeu em sentido horário. O efeito foi imediato. A poção ficou rosa pálido. – Como você está fazendo isso? – perguntou Hermione, cujo rosto estava vermelho e cujo cabelo estava ficando cada vez mais emaranhado pela fumaça de seu caldeirão; sua poção ainda estava decididamente roxa. – Adicione uma mexida em sentido horário... – Não, não. O livro disse anti-horário – ela retrucou rispidamente. Harry deu de ombros e continuou o que estava fazendo. Sete anti-horários, um horário, pausa... sete anti-horários, um horário... Do outro lado da mesa, Rony não parava de xingar; sua poção parecia alcaçuz líquido. Harry deu uma olhada em volta. De acordo com o que conseguia ver, nenhuma outra poção estava tão pálida quanto a sua. Ele se encheu de orgulho, algo que nunca tinha acontecido naquela masmorra antes. – E o tempo... acabou! – chamou Slughorn. – Parem de mexer, por favor! Slughorn se moveu lentamente por entre as mesas, observando o conteúdo dos caldeirões. Ele não fez nenhum comentário, mas ocasionalmente mexia ou cheirava as poções. Até que chegou à mesa onde estavam sentados Harry, Rony, Hermione e Ernesto. Ele sorriu pesaroso para a substância parecida com piche dentro do caldeirão de Rony. Ele passou pela mistura azul-marinho de Ernesto. Balançou a cabeça em aprovação à poção de Hermione. E quando viu a de Harry, seu rosto se encheu de uma alegria incrédula. – O vencedor, sem dúvida! – Ele exclamou pela masmorra – Excelente, excelente, Harry! Meu Deus, você claramente herdou o talento de sua mãe. A Lilian realmente tinha uma mão maravilhosa para poções! Aqui está, então, para você: uma garrafa de Felix Felicis , como prometido, e faça bom uso! Harry deslizou a pequenina garrafa de líquido dourado para seu bolso interno, sentindo uma estranha combinação de deleite pelas caras furiosas dos membros da Sonserina e culpa pela expressão desapontada de Hermione. Rony estava simplesmente estupefato. – Como você fez aquilo? – ele sussurrou para Harry no que eles estavam saindo da masmorra. – Tive sorte, acho. – disse Harry, pois Malfoy estava por perto. Quando já estavam seguramente abrigados na mesa da Grifinória para o jantar, entretanto, ele se sentiu suficientemente a salvo para contar. A cara de Hermione ficava mais dura a cada palavra que ele pronunciava. – Pelo jeito você acha que eu trapaceei – ele finalizou, importunado pela expressão dela. – Bom, não foi exatamente o seu trabalho, foi? – ela disse secamente. – Ele só seguiu instruções diferentes de nós – disse Rony. – Poderia ter sido uma catástrofe, não? Mas ele assumiu um risco e se deu bem – e soltou um suspiro – Bem que o Slughorn poderia ter me dado esse livro, mas não, eu fico com aquele onde ninguém escreveu. E vomitado, pela aparência da página cinqüenta e dois, mas... – Espere aí – disse uma voz perto do ouvido esquerdo de Harry, e ele sentiu uma leve lufada daquele aroma floral que inalara na masmorra de Slughorn. Olhou ao seu redor e viu que Gina havia se juntado a eles – É isso mesmo que eu ouvi? Você está cumprindo ordens que alguém escreveu num livro, Harry? Ela parecia alarmada e brava. Harry percebeu logo de cara o que ela estava pensando. – Não é nada – ele disse, reconfortando-a, e baixando a voz – Não é como, você sabe, o diário do Riddle. É só um livro didático antigo onde alguém rabiscou umas coisas. – Mas você está fazendo o que ele diz? 100 Capítulo 9 – O Príncipe Mestiço – Eu só experimentei algumas das dicas escritas nas margens. Na boa, Gina, não tem nada de estranho... – A Gina tem razão – disse Hermione se empertigando – Nós deveríamos checar se não tem nada de esquisito nele. Quer dizer, com todas essas instruções estranhas, quem é que sabe? – Ei! – disse Harry indignado, no que ela puxou seu exemplar de Preparo de Poções – Nível Avançado da mala dele e levantou a varinha. – Specialis Revelio! – ela disse dando uma pancadinha seca na capa do livro. Nada aconteceu. O livro simplesmente ficou lá, com sua aparência velha, suja e usada. – Terminou? – disse Harry irritado – Ou você quer esperar para ver se ele dá um salto mortal para trás? – Parece estar tudo bem – disse Hermione, mantendo um olhar de suspeição sobre o livro. – Quer dizer, parece realmente ser apenas... um livro didático. – Ótimo. Então quero ele de volta – disse Harry, apanhando-o da mesa, mas ele escorregou e caiu aberto no chão. Ninguém mais estava prestando atenção. Harry se curvou para recuperar seu livro, e no que fez isso, viu algo rabiscado na base da contracapa na mesma letra pequena e ilegível das instruções que lhe tinham garantido a garrafa de Felix Felicis , agora muito bem-escondida dentro de um par de meias no seu malão no dormitório. Este livro é propriedade do Príncipe Mestiço. 101 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – CAPÍTULO 10 – A casa de Gaunt Pelo resto da semana os trabalhos de Poções de Harry continuaram a seguir as instruções do Príncipe Mestiço sempre que elas diferiam das de Libatius Borage, o que resultou que, na altura de sua quarta aula, Slughorn estava louvando a capacidade de Harry, dizendo que ele raramente tinha dado aulas a alguém tão talentoso. Nem Rony nem Hermione ficaram muito felizes com isso. Embora Harry tenha oferecido compartilhar seu livro com ambos, Rony teve mais dificuldade de decifrar a caligrafia do que Harry e não podia ficar pedindo a Harry para ler em voz alta para não parecer suspeito. Hermione, enquanto isso, resolutamente trabalhava com o que chamava de instruções “oficiais”, mas ficava cada vez mais mal– humorada à medida que elas produziam resultados piores do que as do Príncipe. Harry se perguntava vagamente quem teria sido o Príncipe Mestiço. Embora a quantidade de dever de casa que eles tinham para fazer impedisse que ele lesse toda a sua cópia de Preparo de Poções – Nível Avançado, ele tinha dado uma olhada nela o suficiente para ver que quase não havia páginas nas quais o Príncipe não tivesse feito notas adicionais, nem todas relacionadas ao preparo de poções. Aqui e ali havia indicações do que pareciam ser feitiços que o Príncipe tinha inventado ele mesmo. – Ou ela mesma – disse Hermione irritada, ouvindo por acaso quando Harry mostrava alguns deles a Rony no Salão Comunal na noite de sábado. – Podia ser uma garota. Acho que a caligrafia parece mais a de uma garota do que de um rapaz. – O Príncipe Mestiço, é assim que se chamava – Harry disse. – Quantas garotas foram Príncipes? Hermione pareceu ficar sem resposta. Ela apenas fechou a cara e puxou sua redação sobre Os Príncípios da Rematerialização para longe de Rony, que tentava lê-la de cabeça para baixo. Harry olhou seu relógio e colocou apressadamente a velha cópia de Preparo de Poções – Nível Avançado de volta na sua mochila. – São cinco para as oito, é melhor eu ir ou me atraso para encontrar o Dumbledore. – Aaah! Exclamou Hermione, imediatamente levantando os olhos. – Boa sorte! Vamos te esperar acordados, queremos ouvir o que ele vai te ensinar! – Espero que vá tudo bem, – disse Rony, e os dois observaram Harry sair pelo buraco do retrato. Harry seguiu pelos corredores desertos, embora tenha precisado ir depressa para trás de uma estátua quando a Professora Trelawney apareceu num canto, resmungando para si mesma, enquanto embaralhava um maço de cartas de baralho que pareciam sujas, lendo-as ao caminhar. – Dois de espadas: conflito – murmurou ao passar pelo local em que Harry estava agachado, escondido. – Sete de espadas: um mau presságio. Dez de espadas: violência. Valete de espadas: um jovem moreno, possivelmente com problemas, que não gosta da consulente... Ela parou bem do outro lado da estátua de Harry. – Bem, isso não pode estar certo – disse, chateada, e Harry a ouviu embaralhar vigorosamente, voltando a andar, sem deixar para trás nada além de um leve cheiro de xerez culinário. Harry esperou 102 Capítulo 10 – A Casa de Gaunt até que tivesse razoável certeza de que ela tinha ido embora e correu de novo até chegar ao ponto no corredor do sétimo andar em que uma única gárgula se postava junto à parede. – Picolés ácidos – disse Harry, e a gárgula saltou para o lado; a parede atrás dela se abriu e uma escada de pedra em espiral apareceu, na qual Harry subiu e foi levado para cima em círculos suaves até a porta com a aldrava de bronze que dava para a sala de Dumbledore. Harry bateu. – Entre – disse a voz de Dumbledore. – Boa noite, senhor – disse Harry, entrando na sala do diretor. – Ah, boa noite, Harry. Sente-se, – disse Dumbledore, sorrindo. – Espero que você tenha tido uma boa primeira semana de volta à escola? – Tive, obrigado senhor – disse Harry. – Deve ter andado ocupado, já com uma detenção em sua folha! – Hum – começou Harry sem jeito, mas Dumbledore não parecia muito zangado. – Combinei com o Prof. Snape que você vai cumprir sua detenção no próximo sábado. – Certo – disse Harry que tinha questões mais prementes na cabeça do que a detenção com Snape e então olhou em volta subrepticiamente, procurando algum indício do que Dumbledore estava planejando fazer com ele essa noite. A sala circular tinha o mesmo aspecto de sempre, os delicados instrumentos de prata sobre as mesas de perna fina emitiam baforadas de fumaça e zumbiam, retratos de diretores e diretoras anteriores cochilavam em suas molduras e a magnífica fênix de Dumbledore, Fawkes, estava em seu poleiro atrás da porta, observando Harry com vivo interesse. Não parecia que Dumbledore tinha aberto um espaço para a prática de duelo. – Então, Harry – disse Dumbledore, numa voz prática. – Você deve ter se perguntando, tenho certeza, o que planejei para você durante essas.... aulas, na falta de uma palavra melhor? – Sim, senhor. – Bem, decidi que chegou o momento, agora que você sabe o que levou Lord Voldemort a tentar matá -lo quinze anos atrás, de você obter certas informações. – Houve uma pausa. – O senhor disse no fim do último semestre, que ia me contar tudo – disse Harry. Era difícil afastar um leve tom acusatório de sua voz. – Professor – acrescentou. – E assim fiz – disse Dumbledore placidamente. – Eu lhe contei tudo que sei. A partir deste ponto, estaremos abandonando a fundação sólida dos fatos e caminhando juntos pelos pântanos turvos da memória até as matas das conjecturas mais desvairadas. Daqui por diante, Harry, posso estar tão lamentavelmente errado quanto Humphrey Belcher, que acreditou que já havia chegado o momento para um caldeirão de queijo. – Mas o senhor acha que está certo? – Harry perguntou. – Naturalmente que acho, mas como já provei a você, cometo erros como qualquer pessoa. Na verdade, sendo – perdoe-me – mais sagaz do que a maioria das pessoas, meus enganos tendem a ser correspondentemente maiores. – Senhor, disse Harry tentativamente – o que vai me contar tem alguma coisa a ver com a profecia? Vai me ajudar a... sobreviver? – Tem muito a ver com a profecia – disse Dumbledore, de modo tão casual quanto se Harry lhe tivesse perguntado sobre o tempo dos próximos dias – e certamente espero que o ajude a sobreviver. Dumbedore ficou de pé e rodeou a escrivaninha, passando por Harry, que se virou ansiosamente em sua cadeira para observar Dumbledore se curvando sobre a estante ao lado da porta. Quando Dumbledore se aprumou, segurava uma bacia familiar, de pedra rasa, com marcas estranhas na borda. Colocou a Penseira sobre a escrivaninha, diante de Harry. – Você parece preocupado. Harry de fato tinha estado olhando a Penseira com uma certa apreensão. Suas experiências anteriores com o estranho artefato que armazenava e revelava pensamentos e lembranças, embora altamente instrutivas, também tinham sido desconfortáveis. Da última vez em que tinha perturbado seu conteúdo, tinha visto muito mais do que desejaria. Mas Dumbledore estava sorrindo. 103 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Desta vez, você vai entrar na Penseira comigo... e, o que é ainda menos usual, com permissão. – Aonde vamos, senhor? – Numa viagem pelas sendas da memória de Bob Ogden, – disse Dumbledore, tirando de seu bolso uma garrafa de cristal contendo uma substância branco-prateada que girava. – Quem foi Bob Ogden? – Ele trabalhava no Departamento de Execução das Leis da Magia – disse Dumbledore. – Morreu há algum tempo, mas não antes que eu seguisse a sua pista e o persuadisse a confiar a mim estas recordações. Vamos acompanhá-lo numa visita que fez no cumprimento de suas obrigações. Se você puder ficar de pé, Harry... Mas Dumbledore estava tendo dificuldade para tirar a tampa da garrafa de cristal. Sua mão machucada parecia retesada e dolorida. – Posso, senhor? – Não precisa, Harry. Dumbledore apontou sua varinha para a garrafa e a rolha pulou fora. – Senhor, como machucou sua mão? – Harry perguntou de novo, olhando os dedos enegrecidos com um misto de repulsa e pena. – Agora não é o momento para essa história, Harry. Ainda não. Temos um encontro marcado com Bob Ogden. Dumbledore emborcou o conteúdo prateado da garrafa dentro da Penseira, onde ele girou e reluziu, nem líquido, nem gasoso. – Primeiro você, – disse Dumbledore, fazendo um gesto na direção da bacia. Harry se inclinou para a frente, respirou fundo e mergulhou seu rosto na substância prateada. Sentiu que seus pés deixavam o chão da sala, ele estava caindo, caindo por um redemoinho negro e então, subitamente, estava piscando numa ofuscante luz natural. Antes que seus olhos se ajustassem, Dumbledore aterrissou ao seu lado. Eles estavam numa estrada no campo ladeada por sebes emaranhadas, sob um céu de verão tão brilhante e azul quanto miosótis. Uns três metros à frente deles estava um homem baixo rechonchudo, com óculos incrivelmente grossos, que faziam seus olhos parecerem com os de uma toupeira. Ele estava lendo uma placa de madeira, que estava pregada no meio de amoreiras silvestres no lado esquerdo da estrada. Harry sabia que esse devia ser Ogden; ele era a única pessoa à vista e usava também o estranho conjunto de roupas tão comumente escolhido por bruxos inexperientes tentando se passar por trouxas: neste caso uma sobrecasaca e polainas sobre um traje de banho listrado, de uma peça. Antes que Harry tivesse tempo para fazer mais do que registrar sua aparência bizarra, todavia, Ogden tinha começado bruscamente a descer a estrada. Dumbledore e Harry seguiram. Quando passaram pela placa, Harry olhou para as suas duas setas. Uma apontava de volta para o lado de onde vinham e dizia: Great Hangleton, 5 milhas. A seta apontando para Ogden dizia Little Hangleton, 1 milha. Andaram um pouco sem ver nada além de sebes, o amplo céu azul acima e o vulto farfalhante de sobrecasaca que se movia à frente. Então a estrada se curvou para a esquerda e desceu, inclinandose íngreme por uma encosta, de modo que subitamente avistaram todo um vale que se estendia diante deles. Harry podia ver um povoado, indubitavelmente Little Hangleton, aninhada entre duas colinas íngremes, a igreja e o cemitério claramente visíveis. Do outro lado do vale, situada na encosta em frente, havia uma bela mansão cercada por uma ampla extensão de gramado verde aveludado. Ogden tinha iniciado um trote relutante devido à descida íngreme. Dumbledore ampliou suas passadas e Harry correu para acompanhá-lo. Pensava que Little Hangleton devia ser seu destino final e se perguntava, como tinha feito na noite em que encontraram Slughorn, por que tinham que partir de um ponto tão distante para chegar lá. Contudo, ele logo descobriu que estava enganado ao pensar que iam para o povoado. A estrada se curvava à direita e quando viraram a curva, viram a beira da sobrecasaca de Ogden desaparecer por um buraco na sebe. Dumbledore e Harry o seguiram por uma trilha suja e estreita margeada por sebes mais altas e mais selvagens do que as que tinham ficado para trás. O caminho era recurvado, pedregoso e 104 Capítulo 10 – A Casa de Gaunt esburacado, se inclinando para baixo como o anterior e parecia se dirigir a um grupo de árvores escuras um pouco abaixo deles. Realmente, a trilha logo deu no arvoredo e Dumbledore e Harry estacaram atrás de Ogden, que tinha parado e puxado sua varinha. A despeito do céu sem nuvens, as velhas árvores à frente projetavam sombras profundas, frias e escuras e passaram-se alguns segundos até que os olhos de Harry discernissem a construção meio escondida no emaranhado de troncos. Parecia-lhe um local muito estranho de se escolher para uma casa, ou então uma decisão singular a de deixar as árvores crescerem perto, bloqueando toda a luz e a vista do vale abaixo. Perguntou-se se era habitada; suas paredes eram cheias de musgo e tantas telhas tinham caído que os caibros eram visíveis em alguns pontos. Urtigas cresciam por toda a sua volta e suas pontas alcançavam as janelas, que eram pequenas e muito sujas. Todavia, assim que concluiu que não havia possibilidade de alguém viver ali, uma das janelas foi aberta com um estrondo, e um fio de vapor ou fumaça saiu por ela, como se alguém estivesse cozinhando. Ogden avançou silenciosamente e, pareceu a Harry, com muita cautela. Quando as sombras escuras das árvores o cobriram, ele parou de novo, olhando para a porta da frente, na qual alguém tinha pregado uma cobra morta. Então ouviu-se um farfalhar e um estalo e um homem esfarrapado caiu de pé da árvore mais próxima, bem diante de Ogden, que pulou para trás tão rápido, que pisou na cauda da sobrecasaca e tropeçou. – Você não é bem-vindo. O homem diante dele tinha cabelo grosso, tão sujo que podia ter qualquer cor. Faltavam muitos de seus dentes. Seus olhos eram pequenos e escuros e olhavam em direções diferentes. Poderia ter tido uma aparência cômica, mas não tinha. O efeito era amedrontador e Harry não podia culpar Ogden por dar muitos passos para trás antes de falar. – Hum... bom dia. Sou do Ministério da Magia. – Você não é bem– vindo. – Hum... desculpe... Não estou te entendendo, – disse Ogden nervoso. Harry achou que Ogden estava sendo extremamente estúpido, o estranho estava sendo muito claro na opinião de Harry, ainda mais que brandia a varinha numa mão e uma faca pequena e meio suja de sangue na outra. – Você o entende, Harry, estou certo? – Dumbledore perguntou baixo. – Sim, é claro – disse Harry,ligeiramente perplexo. – Por que o Ogden não pode...? Mas quando seus olhos pousaram de novo sobre a cobra morta na porta, ele entendeu subitamente. – Ele está falando língua de cobra? – Muito bem – disse Dumbledore, assentindo e sorrindo. O homem esfarrapado agora avançava para Ogden, faca numa mão, varinha na outra. – Olha aqui...– Ogden começou, mas era tarde demais. Houve um estampido e Ogden estava no chão, segurando o nariz, enquanto uma asquerosa gosma amarelada esguichava por entre seus dedos. – Morfin! – uma voz chamou. Um homem de idade tinha saído correndo da casa, batendo a porta atrás de si, de forma que a cobra balançou pateticamente. Este homem era mais baixo do que o primeiro e singularmente proporcionado; seus ombros eram muito largos e seus braços compridos demais, o que, junto com seus olhos castanhos brilhantes, o cabelo curto e ralo e o rosto enrugado, davam-lhe a aparência de um imponente macaco idoso. Ele parou do lado do homem com a faca, que agora gargalhava ao ver Ogden no chão. – Ministério, é? – disse o homem mais velho, olhando para Ogden. – Correto! – disse Ogden com raiva, tocando o rosto. – E o senhor, imagino, é o Sr. Gaunt? – Certo – disse Gaunt. – Te acertou na cara, ele? – Acertou – respondeu Ogden asperamente. 105 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Devia ter alertado sobre a sua presença, não? – perguntou Gaunt agressivamente. – Isto é propriedade privada. Não pode simplesmente entrar aqui e esperar que meu filho não se defenda. – Defender-se contra o quê, homem? – disse Ogden, levantando-se de novo. – Gente intrometida. Intrusos. Trouxas e escória. – Ogden apontou sua varinha para o próprio nariz, que agora soltava grande quantidade do que parecia ser um pus amarelo e o fluxo cessou de imediato. O Sr. Gaunt falou pelo canto da boca com Morfin. – Entre na casa. Sem discutir. Desta vez, preparado para isso, Harry reconheceu a língua de cobra. Mesmo podendo entender o que era dito, distinguia os ruídos esquisitos de silvos que era tudo o que Ogden podia ouvir. Morfin parecia estar a ponto de discordar, mas quando seu pai lançou-lhe um olhar ameaçador, mudou de idéia, e moveu-se pesadamente em direção da casa com um gingado estranho e batendo a porta atrás de si, fez a cobra balançar tristemente de novo. – Foi o seu filho que eu vim ver, Sr. Gaunt, – disse Ogden ao limpar o resto de pus da frente de seu casaco. – Ele era o Morfin, não? – Era o Morfin, – disse o velho indiferente. – Você é puro-sangue? – perguntou, subitamente agressivo. – Isso não vem ao caso – disse Ogden friamente e Harry sentiu aumentar seu respeito por Ogden. Aparentemente Gaunt pensou de modo diferente. Ele olhou de lado para o rosto de Ogden e resmungou no que claramente era para ser um tom ofensivo: – Agora que penso nisso, vi narizes como o seu no povoado. – Não duvido, se seu filho foi deixado solto entre eles, – disse Ogden. – Talvez possamos continuar esta discussão lá dentro? – Dentro? – Sim, Sr. Gaunt. Já lhe disse. Estou aqui por causa do Morfin. Mandamos uma coruja... – Não preciso de corujas – disse Gaunt. – Não abro cartas. Então não pode se queixar de não receber aviso dos visitantes – retrucou Ogden acidamente. – Estou aqui a propósito de uma séria infração à lei bruxa, que ocorreu aqui esta madrugada... – Certo, certo, certo! – gritou o Sr, Gaunt. – Entre na maldita casa então, e vai adiantar muito! A casa parecia ter três cômodos minúsculos. Duas portas saíam da sala principal, que servia de cozinha e sala de estar ao mesmo tempo. Morfin estava sentado numa poltrona imunda ao lado do fogo enfumaçado, revirando uma víbora viva entre seus dedos grossos e cantarolando suavemente para ela em língua de cobra. Siss, siss, minha cobrinha, No chão a deslizar Seja boa para o Morfin Ou na porta ele vai te pregar. Houve um ruído de raspar no canto junto à janela e Harry deu-se conta de que havia mais alguém na sala, uma moça, cujo vestido cinza esfarrapado era exatamente da mesma cor da parede de pedra suja atrás dela. Estava de pé ao lado de uma panela fumegante sobre um fogão preto sujo e mexia na prateleira de panelas e frigideiras miseráveis acima dele. Seu cabelo era escorrido e opaco, o rosto comum, pálido, meio abrutalhado. Os olhos dela, como os do irmão, olhavam cada um para um lado. Ela parecia um pouco mais limpa do que os dois homens, mas Harry achou que nunca tinha visto uma pessoa que parecesse tão derrotada. – Minha filha, Mérope – disse Gaunt, ressentido, quando Ogden olhou inquisitivo na direção dela. – Bom dia – disse Ogden. Ela não respondeu, mas com uma olhada amedrontada para o pai virou-se de costas para a sala e continuou a mexer nas panelas na prateleira atrás dela. – Bem, Sr. Gaunt – disse Ogden, – para ir direto ao ponto, temos motivos para crer que seu filho, Morfin, usou magia diante de um trouxa na noite passada. Houve um barulho metálico ensurdecedor. Mérope tinha derrubado uma das panelas. 106 Capítulo 10 – A Casa de Gaunt – Pegue-a! – Gaunt berrou para ela. – É isso, limpe o chão como uma trouxa nojenta, para que serve a sua varinha, seu monte de bosta imprestável? – Sr. Gaunt, por favor! – disse Ogden numa voz chocada, enquanto Mérope, que já tinha pego a panela, enrubesceu, ficando manchada de escarlate, largou a panela de novo, tirou com mão vacilante a varinha do bolso, apontou para a panela e resmungou um feitiço rápido, inaudível, que fez a panela disparar pelo chão se afastando dela, bater na parede em frente e se partir em duas. Morfin soltou uma gargalhada doida. Gaunt gritou – Conserte-a sua estúpida inútil, conserte-a! Mérope cambaleou do outro lado da sala, mas antes que ela tivesse tempo de puxar a varinha, Ogden tinha levantado a dele e disse firme: – Reparo. – A panela se autoconsertou imediatamente. Por um momento, pareceu que Gaunt ia gritar para Ogden, mas aparentemente mudou de idéia. Ao invés disso, zombou da filha: – Que sorte o simpático homem do Ministério estar aqui, não? Talvez ele a tire das minhas mãos, talvez ele não se incomode com Abortos sujos... Sem olhar para ninguém ou agradecer a Ogden, Mérope pegou a panela e a colocou de volta, com as mãos tremendo, na prateleira. Então ficou bem quieta, de costas para a parede entre a janela imunda e o fogão, como se não desejasse nada além do que afundar na pedra e desaparecer. – Sr. Gaunt – Ogden começou de novo – como eu dizia: a razão da minha visita... – Eu o ouvi da primeira vez!– retorquiu Gaunt. – E daí? Morfin fez o que lhe deu na telha com um trouxa... o que tem isso? – Morfin desrespeitou a lei bruxa – disse Ogden severamente. – Morfin desrespeitou a lei bruxa. – Gaunt imitou a voz de Ogden, mas com um jeito pomposo e cantado. Morfin gargalhou de novo. – Ele deu uma lição num trouxa sujo, isso agora é ilegal? – Sim, – disse Ogden. – Receio que seja. Tirou do bolso interno um pequeno rolo de pergaminho e desenrolou-o. – O que é isso, então, a sentença? – disse Gaunt, com a voz se elevando irada. – É uma convocação do Ministério para uma audiência... – Convocação! Convocação? Quem você acha que é para convocar meu filho a ir aonde quer que seja? – Sou o Chefe do Esquadrão para Execução das Leis da Magia – disse Ogden. – E você acha que somos ralé, não? – urrou Gaunt, agora avançando em Ogden, com um dedo sujo e de unha amarela apontando para o seu peito. – Ralé que vem correndo quando o Ministério chama? Você sabe com quem está falando, seu sanguinho-ruim nojento? – Tinha a impressão de que estava falando com o Sr. Gaunt – disse Ogden, parecendo desconfiado, mas mantendo-se firme. – Exatamente! – rugiu Gaunt. Por um momento, Harry pensou que Gaunt estava fazendo um gesto obsceno com a mão, mas então se deu conta de que ele estava mostrando a Ogden o feio anel de pedra preta que usava no seu dedo médio, brandindo-o diante dos olhos de Ogden. – Vê isto? Vê isto? Sabe o que é isto? Sabe de onde vem? Está há séculos em nossa família, é o tanto de tempo em que existimos, e o tempo todo puro-sangue! Sabe quanto me ofereceram por isto, com a cota de armas de Peverell grAvadana pedra? – De fato não tenho idéia, – disse Ogden, piscando quando o anel passou a menos de uma polegada de seu nariz – e realmente isso não vem ao caso, Sr. Gaunt. O seu filho cometeu... Com um uivo de fúria, Gaunt correu na direção da filha. Por uma fração de segundo, Harry pensou que ele ia estrangula-la quando sua mão voou até a garganta dela; no momento seguinte, ele a arrastava para Ogden por uma corrente de ouro que estava em seu pescoço. – Vê isto? – berrou a Ogden, sacudindo um pesado medalhão de ouro, enquanto Mérope silvava e arfava tentando respirar. – Vejo, vejo! – disse Ogden rapidamente. – Do Slytherin! – gritou Gaunt. – Do Salazar Slytherin! Somos seus últimos descendentes, o que você diz disso, hein? 107 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Sr. Gaunt, a sua filha! – disse Ogden alarmado, mas Gaunt já tinha soltado Mérope. Ela correu para longe dele de volta ao seu canto, massageando o pescoço e buscando ar. – É isso! – disse Gaunt triunfante, como se tivesse acabado de provar um ponto complicado, acima de qualquer contestação. Não saia por aí falando conosco como se fôssemos a sujeira do seu sapato! Gerações de puros-sangues, todos bruxos. Mais do que você pode alegar, não tenho dúvida! E cuspiu no chão aos pés de Ogden. Morfin gargalhou de novo. Mérope, encolhida do lado da janela, com a cabeça inclinada e o rosto escondido pelo cabelo escorrido, não disse nada. – Sr. Gaunt – disse Ogden obstinadamente -, receio que nenhum dos seus ancestrais nem dos meus tenham nada a ver com a questão em pauta. Estou aqui por causa de Morfin, Morfin e o trouxa a quem ele se dirigiu ontem, tarde da noite. Temos a informação -... ele olhou para o seu rolo de pergaminho... – de que Morfin fez uma azaração ou maldição no dito trouxa, fazendo com que nele estourassem pústulas altamente dolorosas. Morfin deu uma risadinha. – Fique quieto, garoto – rosnou Gaunt em língua de cobra e Morfin calou– se de novo. – E daí se ele fez isso? – Gaunt disse a Ogden, desafiador. – Espero que você tenha limpado a cara asquerosa do trouxa para ele e a sua memória também... – Essa não é a questão aqui, não é, Sr. Gaunt? – disse Ogden. – Foi um ataque sem motivo a um trouxa indefe... – Ah! Eu achei que você era um amante de trouxas no momento em que o vi – zombou Gaunt e cuspiu no chão de novo. – Esta discussão não vai nos levar a parte alguma – disse Ogden firmemente. – Agora está claro pela atitude de seu filho que ele não tem remorso por seus atos. – Deu uma olhada no seu pergaminho de novo. – Morfin comparecerá a uma audiência em 14 de setembro para responder pelas acusações de usar magia na frente de um trouxa e de causar dano e aborrecimento ao mesmo trou... Ogden se interrompeu. Os sons ritmados de cascos de cavalos e vozes altas, que riam, entravam pela janela aberta. Aparentemente a estrada sinuosa para o povoado passava muito próxima ao arvoredo em que ficava a casa. Gaunt congelou, escutando, com os olhos arregalados. Morfin sibilou e virou seu rosto na direção dos sons, com uma expressão ávida. Mérope levantou a cabeça. Seu rosto, Harry viu , estava completamente branco. – Meu Deus, que visão horrorosa! – ressoou do lado de fora a voz de uma moça, tão claramente audível pela janela aberta como se ela estivesse dentro da sala, ao lado deles. – Seu pai não podia acabar com aquela cabana e limpar a área, Tom? – Não é nossa – disse a voz de um jovem. – Tudo o que está do outro lado do vale nos pertence, mas aquela cabana é de um velho vagabundo, chamado Gaunt, e seus filhos. O filho é bem doido, você devia ouvir algumas das histórias que contam no povoado... A moça riu. Os barulhos ritmados de cascos estavam cada vez mais altos, Morfin esboçou um movimento para sair da poltrona. – Fique sentado no seu lugar – disse seu pai ameaçador, em língua de cobra. – Tom – disse a voz da moça de novo, agora tão perto, que eles claramente estavam do lado da casa. – Posso estar errada, mas alguém pregou uma cobra naquela porta? – Deus do céu, você tem razão! – disse a voz do homem. – Isso é coisa do filho. Eu lhe contei que ele não bate bem. Não olhe para ela, Cecilia querida. Os barulhos ritmados de cascos agora se tornavam mais fracos de novo. – Querida – sussurrou Morfin em língua de cobra, olhando para a irmã. – ele a chamou de querida. Quer dizer que não quer você de qualquer jeito. Mérope estava tão branca que Harry estava certo de que ela ia desmaiar. – O que foi isso? – disse Gaunt cortante, também em língua de cobra, correndo os olhos do filho para a filha. – O que você disse, Morfin? 108 Capítulo 10 – A Casa de Gaunt – Ela gosta de olhar para aquele trouxa – disse Morfin, com uma expressão perversa no rosto, enquanto olhava para a irmã, que agora parecia aterrorizada. – Sempre no jardim quando ele passa, espiando– o através da sebe, não é? E na noite passada... Mérope sacudiu a cabeça sem jeito, com ar suplicante, mas Morfin prosseguiu, sem piedade: – Pendurada na janela esperando ele ir para casa, não é? – Pendurada na janela para olhar um trouxa? – Gaunt perguntou baixinho. Os três Gaunts pareciam ter esquecido Ogden, que parecia tanto aturdido, quanto irritado com esse novo surto de silvos e sons ásperos incompreensíveis. – É verdade? – disse Gaunt numa voz letal, avançando um ou dois passos na direção da garota aterrorizada. – Minha filha, descendente puro-sangue de Salazar Slytherin, sonhando com um trouxa nojento, de veias imundas? Mérope negou freneticamente com a cabeça, se encolhendo contra a parede, aparentemente incapaz de falar. – Mas eu peguei ele, Pai! – gargalhou Morfin. – Eu o peguei quando ele passou e ele não ficou tão belo com pústulas por todo o lado, não é, Mérope? – Sua Abortinha asquerosa, sua traidorazinha do sangue nojenta! – rugiu Gaunt, perdendo o controle e suas mãos se fecharam em torno da garganta da filha. Tanto Harry como Ogden gritaram – Não! – ao mesmo tempo. Ogden levantou sua varinha e berrou – Relaxo! Gaunt foi atirado para trás, para longe da filha, passou por cima de uma cadeira e caiu de costas. Com um rugido de fúria, Morfin pulou da sua cadeira e precipitou-se sobre Ogden, brandindo sua faca ensangüentada e soltando maldições indiscriminadamente com a varinha. Ogden correu desabalado. Dumbledore indicou que eles deviam seguir e Harry obedeceu, os gritos de Mérope ecoando em seus ouvidos. Ogden se atirou pela trilha acima e irrompeu na estrada principal, com os braços acima da cabeça, onde colidiu com o cavalo castanho reluzente, montado por um jovem de cabelos negros, muito bonito. Tanto ele, como a bela moça ao seu lado, num cavalo cinzento, caíram na gargalhada ao ver Ogden, que pulou, desviando-se do flanco do cavalo, e disparou de novo, sua sobrecasaca voando, coberto de pó da cabeça aos pés, correndo atabalhoadamente estrada acima. – Acho que isso basta, Harry – disse Dumbledore. Pegou Harry pelo cotovelo e puxou. No momento seguinte estavam ambos pairando sem peso através da escuridão, até que aterrissaram diretamente sobre seus pés, de volta à sala de Dumbledore, agora na semi-escuridão. – O que aconteceu com a garota da cabana? – disse Harry de imediato, enquanto Dumbledore acendia mais luzes com uma pancadinha da varinha. – Mérope, ou sei lá que nome tinha? – Ah! Ela sobreviveu – disse Dumbledore, se sentando atrás da escrivaninha e indicando a Harry que ele também devia se sentar. – Ogden aparatou de volta no Ministério e voltou com reforços em quinze minutos. Morfin e seu pai tentaram lutar, mas ambos foram sobrepujados, tirados da cabana e posteriormente declarados culpados pela Suprema Corte dos Bruxos. Morfin, que já tinha uma ficha com ataques a trouxas, foi sentenciado a três anos em Azkaban. Servolo, que tinha machucado vários funcionários do Ministério além de Ogden, ganhou seis meses. – Servolo? – Harry repetiu pensativo. – Correto – disse Dumbledore, com um sorriso de aprovação. – Fico feliz em ver que você está acompanhando. – Aquele velho era...? – O avô de Voldemort, sim – disse Dumbledore. – Servolo, seu filho, Morfin, e sua filha, Mérope, foram os últimos Gaunt, uma família bruxa muito antiga, conhecida por uma veia de instabilidade e violência que floresceu por gerações, devido ao seu hábito de casar com os próprios primos. Falta de senso, acoplada a um enorme apreço pelo esplendor significaram que o ouro da família foi esbanjado várias gerações antes do nascimento de Servolo. Ele, como você viu, foi deixado à míngua e na miséria, com uma índole muito maldosa, uma fantástica quantidade de arrogância e 109 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto orgulho, e um par de relíquias familiares às quais dava tanto valor quanto ao filho e mais do que à filha. – Então Mérope é... – disse Harry, se inclinando para a frente em sua cadeira e encarando Dumbledore, – então Mérope era... Senhor, isso significa que ela era... a mãe de Voldemort? – Significa – disse Dumbledore. – E acontece que também tivemos um vislumbre do pai de Voldemort. Eu imagino que tenha notado? – O trouxa que Morfin atacou? O homem no cavalo? – Muito bom, mesmo – disse Dumbledore, sorrindo radiante. – Sim, aquele era Tom Riddle pai, o belo trouxa que costumava passar cavalgando pela cabana de Gaunt e por quem Mérope Gaunt nutria uma paixão secreta, ardente. – E eles terminaram por se casar? – Harry disse sem acreditar, incapaz de imaginar duas pessoas menos prováveis de se apaixonar. – Acho que você está se esquecendo – disse Dumbledore – que Mérope era uma bruxa. Não creio que os poderes mágicos dela tenham aparecido inteiramente quando ela era aterrorizada pelo seu pai. Uma vez que Servolo e Morfin estavam seguros em Azkaban, uma vez que ela ficou sozinha e livre pela primeira vez em sua vida, então, tenho certeza, ela foi capaz de liberar inteiramente suas capacidades e planejar como escapar da vida desesperada que tinha levado por dezoito anos. – Você não pode pensar em nenhuma medida que Mérope possa ter tomado para fazer Tom Riddle esquecer sua companheira trouxa e se apaixonar por ela? – A Maldição Imperius? – Harry sugeriu. – Ou uma poção de amor? – Muito bom. Pessoalmente, estou inclinado a pensar que ela usou uma poção de amor. Estou certo de que pareceria a ela mais romântico e não creio que fosse muito difícil, num dia quente, quando Riddle estivesse cavalgando só, persuadi-lo a tomar um pouco de água. De qualquer maneira, poucos meses depois da cena que acabamos de testemunhar, o povoado de Little Hangleton desfrutou de um tremendo escândalo. Você pode imaginar a fofoca causada pela fuga do filho do grande proprietário com a filha do vagabundo, Mérope. – Mas o choque das pessoas do povoado não foi nada diante do de Servolo. Ele voltou de Azkaban, esperando encontrar sua filha obedientemente aguardando seu retorno com uma refeição quente sobre a mesa. Ao invés disso, encontrou uma polegada de poeira e um recado de despedida explicando o que ela tinha feito. – De tudo o que pude descobrir, ele daí por diante nunca mais mencionou o nome ou a existência dela. O choque de sua deserção pode ter contribuído para a morte prematura dele, ou talvez ele simplesmente nunca tenha aprendido a se alimentar sozinho. Azkaban tinha enfraquecido muito Servolo, e ele não viveu para ver Morfin voltar à cabana. – E Mérope? Ela... ela morreu, não? Voldemort não foi criado num orfanato? – Foi, de fato – disse Dumbledore. – Aqui temos que fazer conjecturas num certo grau, embora eu não ache que seja difícil deduzir o que aconteceu. Veja, poucos meses depois de se fugir para casar, Tom Riddle reapareceu na mansão em Little Hangleton sem a sua esposa. Correu o boato pela vizinhança de que ele estava falando em ter sido “ludibriado” e “enganado”. O que ele quis dizer, tenho certeza, é que ele estava sob um encantamento que agora tinha sido eliminado, embora eu deva dizer que ele não ousou usar estas palavras exatas por medo de pensarem que estava louco. Quando ouviram o que ele dizia, no entanto, os habitantes do povoado acharam que a Mérope tinha mentido para Tom Riddle, fingindo que ia ter um filho dele e que ele tinha se casado com ela por essa razão. – Mas ela teve um filho dele. – Mas não antes de um ano depois de terem se casado. Tom Riddle a deixou quando ela ainda estava grávida. – O que deu errado? – perguntou Harry. – Por que a poção de amor parou de funcionar? – De novo conjecturas, – disse Dumbledore – mas creio que Mérope, que estava profundamente apaixonada por seu marido, não pôde suportar continuar a escravizá– lo por meios mágicos. Acho 110 Capítulo 10 – A Casa de Gaunt que ela fez a escolha de parar de lhe dar a poção. Talvez, embevecida como estava, tenha se convencido de que àquela altura ele tivesse se apaixonado por ela. Talvez ela pensasse que ele ficaria pelo bebê. Se foi assim, ela estava errada em ambas as questões. Ele a deixou, nunca mais a viu de novo e nunca se deu ao trabalho de descobrir o que aconteceu ao seu filho. O céu do lado de fora estava negro como piche e as lâmpadas da sala de Dumbledore pareciam brilhar mais intensamente do que antes. – Acho que chega por esta noite, Harry – disse Dumbledore depois de um instante. – Sim, senhor – disse Harry. Ele ficou de pé, mas não saiu. – Senhor... é importante saber tudo isso sobre o passado de Voldemort? – Muito importante, creio. – disse Dumbledore. – E isso... tem alguma coisa a ver com a profecia? – Tem tudo a ver com a profecia. – Certo – disse Harry, meio confuso, mas ao mesmo tempo com a confiança renovada. Ele se virou para ir e então outra questão lhe ocorreu,e virou– se de novo. – Senhor, posso contar ao Rony e a Hermione tudo o que me contou? Dumbledore refletiu por um momento e então disse. – Pode, acho que o Sr. Weasley e a Srta. Granger já provaram que são dignos de confiança. Mas Harry, vou lhe solicitar que lhes peça para não repetir nada disso para mais ninguém. Não seria uma boa idéia que se espalhasse por aí o quanto eu sei, ou suspeito, dos segredos de Lord Voldemort. – Não, senhor, Vou assegurar que sejam só Rony e Hermione. Boa noite. Virou-se para sair de novo e estava quase na porta quando o viu. Em cima de uma das mesinhas de perna fina que abrigavam tantos instrumentos de aparência frágil, havia um feio anel de ouro, com uma grande pedra negra, trincada. – Senhor – disse Harry, olhando para o anel. – Aquele anel... – Sim? – disse Dumbledore. – O senhor o estava usando quando visitamos o Professor Slughorn, aquela noite. – Estava – Dumbledore concordou. – Mas não é... senhor, não é o anel que Servolo Gaunt mostrou a Ogden? Dumbledore inclinou sua cabeça. – O próprio. – Mas como assim...? Ele sempre foi do senhor? – Não, eu o obtive muito recentemente – disse Dumbledore. – Alguns dias antes de ter ido busca-lo na casa de seus tios, na verdade. – Isso teria sido então na época em que machucou sua mão, senhor? – Por volta dessa época, sim, Harry. Harry hesitou. Dumbledore sorria. – Senhor, como exatamente...? – Muito tarde, Harry! Você ouvirá a história uma outra vez. Boa noite. – Boa noite, senhor 111 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – CAPÍTULO 11 – Uma mãozinha de Hermione Como Hermione havia previsto, os tempos livres dos alunos do sexto ano não eram os momentos de delicioso descanso que Rony tinha antecipado, mas sim momentos nos quais tentavam acompanhar a grande quantidade de dever de casa que estavam recebendo. Eles não estavam apenas estudando como se tivessem provas todos os dias, mas as próprias aulas tinham se tornado exaustivas como nunca. Harry mal entendia metade do que a professora McGonagall dizia a eles ultimamente, e até Hermione tinha precisado pedir a ela que repetisse instruções uma ou duas vezes. Inacreditavelmente, e para o crescente ressentimento de Hermione, Poções havia se tornado a melhor matéria de Harry, graças ao Príncipe Mestiço. Magia não-verbal agora era esperada não só em Defesa Contra Arte das Trevas, mas também em Feitiços e Transfiguração. Harry freqüentemente examinava seus colegas de turma no salão comunal ou nos horários das refeições com os rostos roxos e tensos como se eles tivessem sofrido uma overdose de Aquilo-Que-Deve-Ser-Evacuado; mas sabia que eles na verdade estavam se esforçando para fazer os feitiços sem precisar falar encantamentos em voz alta. Era um alívio sair para as estufas. Eles estavam lidando com plantas mais perigosas do que nunca em Herbologia, mas pelo menos ainda podiam xingar alto se uma das plantas com tentáculos venenosos os agarrasse inesperadamente por trás. Um resultado da enorme carga de trabalho e das suas horas frenéticas de prática de feitiços não-verbais era que Harry, Rony e Hermione não tinham, até agora, encontrado tempo para visitar Hagrid. Ele tinha parado de vir fazer suas refeições na mesa dos professores, um mau sinal, e nas poucas ocasiões em que eles haviam passado por Hagrid nos corredores ou pela propriedade, ele misteriosamente não tinha percebido suas presenças nem ouvido seus cumprimentos. – Nós temos que ir e explicar – comentou Hermione, olhando para a enorme cadeira vazia de Hagrid na mesa dos professores, no sábado seguinte, durante o café da manhã. – Mas a gente tem teste pro time de Quadribol esta manhã! – retrucou Rony. – E a gente deveria estar praticando aquele feitiço do Aguamenti para o Flitwick! De qualquer forma, explicar o quê? Como é que a gente vai dizer pro Hagrid que a gente odiava a matéria idiota dele? – Nós não odiávamos – disse Hermione. – Fale por si mesma, eu ainda não esqueci os explosivins – replicou Rony ameaçadoramente. – E ainda digo mais, a gente escapou por pouco. Você não o ouviu falando e falando sobre o irmão retardado dele. A gente estaria ensinando o Grope como dar laço no cadarço se a gente tivesse ficado. – Eu odeio não falar com o Hagrid – disse Hermione, parecendo chateada. – Descemos lá depois do Quadribol – Harry assegurou-lhe. Ele também sentia falta de Hagrid, mesmo que, como Rony, pensasse que estavam melhor sem Grope em suas vidas. – Mas o teste pode levar a manhã toda, com o número de pessoas que se inscreveram -, disse Harry, que estava um 112 Capítulo 11 – Uma Mãozinha de Hermione pouco nervoso em ter que confrontar seu primeiro obstáculo como capitão. – Eu não sei por que o time está tão popular de repente. – Ah, vai, Harry – disse Hermione, subitamente impaciente. – Não é o Quadribol que virou mais popular, é você! Você nunca esteve tão interessante e, francamente, você nunca esteve tão atraente. Rony se engasgou com um grande pedaço de peixe. Hermione deu a ele um olhar de desdém antes de se virar novamente para Harry. – Agora todos sabem que você sempre esteve falando a verdade, não sabem? Todo o mundo bruxo teve que admitir que você estava certo sobre a volta de Voldemort e que você realmente lutou contra ele duas vezes nos dois últimos anos e escapou em ambas. Estão todos o chamando de “O Escolhido”; bem, vamos lá, você não consegue ver por que as pessoas estão fascinadas por você? Harry estava achando o Salão Principal muito quente de repente, mesmo que o céu continuasse parecendo frio e chuvoso. – E você teve que passar por toda aquela perseguição por parte do Ministério quando eles tentavam fazer você parecer como instável e mentiroso. Ainda dá pra ver as marcas onde aquela mulher má fez você escrever com o seu próprio sangue, mas você manteve sua história mesmo assim... – Ainda dá pra ver onde aqueles cérebros me agarraram no Ministério, olha – disse Rony, levantando a manga da camisa. – E também não atrapalha o fato de que você cresceu quase trinta centímetros durante o verão – Hermione terminou, ignorando Rony. – Eu sou alto – disse Rony de modo irrelevante. As corujas do correio chegaram descendo pelas janelas respingadas de chuva, espirrando gotinhas d’água em cima de todos. A maior parte das pessoas estava recebendo mais correspondência do que o normal. Pais ansiosos estavam ávidos para ouvir de seus filhos e, em retorno, os reassegurar de que tudo estava bem em casa. Harry não tinha recebido nenhuma carta desde o começo do período letivo. O seu único correspondente regular agora estava morto e apesar de ter tido uma esperança de que Lupin pudesse escrever ocasionalmente, ele tinha, até agora, se decepcionado. Ele ficou muito surpreso, portanto, ao ver a coruja branca Edwiges circulando entre todas as corujas pardas e cinzas. Ela pousou em frente a ele carregando um pacote grande e quadrado. Um momento depois, um pacote idêntico pousou em frente de Rony, esmagando em baixo dele uma coruja minúscula e exausta, Píchi. – Há! – exclamou Harry, desembrulhando o pacote para revelar uma cópia nova do Preparo de Poções – Nível Avançado, direto da Floreios e Borrões. – Ah, que bom – disse Hermione, satisfeita. – Agora você pode devolver aquela cópia rabiscada. – Você está louca? – perguntou Harry. – Eu vou ficar com ela! Olha, eu já pensei sobre isso... Ele tirou a cópia velha do Preparo de Poções – Nível Avançado da mochila e bateu na capa com a sua varinha, murmurando, – Diffindo! – A capa do livro se soltou. Ele fez a mesma coisa com o livro novo em folha (Hermione pareceu escandalizada). Ele então trocou as capas, tocou com a varinha em cada uma delas e disse – Reparo! Ali estava a cópia do Príncipe, mascarada como um livro novo, e a cópia nova da Floreios e Borrões, parecendo exatamente como um de segunda-mão. – Eu vou devolver a Slughorn o livro novo. Ele não pode reclamar, custou nove Galeões. Hermione apertou os lábios, parecendo furiosa e desaprovadora, mas foi distraída por uma terceira coruja pousando em frente a ela e trazendo a cópia do dia do Profeta Diário. Ela a abriu apressadamente e passou os olhos na primeira página. – Alguém que a gente conhece morreu? – perguntou Rony em uma voz determinadamente casual; ele fazia sempre a mesma pergunta todas as vezes que Hermione abria o jornal. – Não, mas têm acontecido mais ataques de Dementadores – explicou Hermione – e uma prisão. 113 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Excelente, quem? – disse Harry, pensando em Belatrix Lestrange. – Stanislau Shunpike – respondeu Hermione. – Quê? – perguntou Harry, assustado. – “Stanislau Shunpike, condutor do popular transporte bruxo Nôitibus, foi preso por suspeita de agir como Comensal da Morte. O Sr Shunpike, 21 anos, foi levado em custódia, tarde na noite de ontem, após uma incursão na sua casa em Clapham...” – Lalau Shunpike, um Comensal da Morte? – disse Harry, lembrando do jovem de pele marcada por espinhas que havia conhecido três anos antes. – Sem chance! – Ele pode ter sido colocado sob a Maldição Imperius – comentou Rony logicamente – Nunca se sabe. – Não parece ter sido isso – começou Hermione, que ainda estava lendo. – Aqui diz que ele foi preso depois de o terem ouvido falar sobre planos secretos de Comensais da Morte em um bar. – Ela olhou pra cima com uma expressão preocupada. – Se ele estivesse sob a Maldição Imperius, ele dificilmente iria sair por aí, fofocando sobre os planos deles, iria? – Soa como se ele quisesse mostrar que sabia mais do que realmente sabia – disse Rony. – Não foi ele que disse que iria se tornar Ministro da Magia enquanto tentava jogar uma cantada em cima de umas Veelas? – É, foi ele – respondeu Harry. – Eu não sei o que eles estão querendo, levando o Lalau a sério. – Eles provavelmente querem mostrar que estão fazendo alguma coisa – concluiu Hermione, franzindo a testa. – As pessoas estão aterrorizadas. Vocês sabiam que os pais das gêmeas Patil querem que elas voltem para casa? E Heloísa Midgeon já saiu da escola. O pai dela veio buscá-la ontem à noite. – O que? – indagou Rony, arregalando os olhos para Hermione. – Mas Hogwarts é mais segura do que as casas delas, tem que ser! Nós temos Aurores, e todos aqueles feitiços de proteção, e nós temos Dumbledore! – Acho que não o temos o tempo todo – colocou Hermione com a voz baixa, olhando para a mesa dos professores por cima do Profeta. – Vocês não repararam? A cadeira dele tem estado tão vazia quanto a do Hagrid essa semana. Harry e Rony olharam para a Mesa Principal. A cadeira do diretor realmente estava vazia. Agora que Harry pensava sobre isso, ele não tinha visto Dumbledore desde a aula particular deles uma semana antes. – Acho que ele deixou a escola para fazer alguma coisa com a Ordem – sussurrou Hermione – Quero dizer... está tudo parecendo bem sério, não está? Harry e Rony não responderam, mas Harry sabia que eles estavam todos pensando a mesma coisa. Tinha acontecido um incidente terrível no dia anterior, quando Ana Abbott tinha sido tirada da aula de Herbologia para ser avisada de que sua mãe havia sido encontrada morta. Eles não tinham visto Ana desde então. Quando eles deixaram a mesa da Grifinória cinco minutos depois, para se dirigir ao campo de Quadribol, eles passaram por Lilá Brown e Parvati Patil. Lembrando do que Hermione havia dito a respeito dos pais das gêmeas Patil quererem que elas deixassem Hogwarts, Harry não se surpreendeu ao ver que as duas melhores amigas estavam cochichando juntas, parecendo aflitas. O que o surpreendeu foi que quando Rony se aproximou, Parvati de repente cutucou Lilá, que olhou em volta e deu um grande sorriso para Rony. Rony piscou pra ela e então devolveu um sorriso incerto. O andar dele instantaneamente se tornou exibido. Harry resistiu à tentação de rir, lembrando que Rony tinha se refreado da mesma coisa depois que Malfoy quebrou o seu nariz. Hermione, no entanto, pareceu fria e distante durante todo o caminho, debaixo da garoa fresca e nebulosa, até o estádio, e partiu para achar um lugar nas arquibancadas sem desejar boa sorte a Rony. Como Harry havia previsto, os testes levaram a maior parte da manhã. Parecia que metade da Grifinória tinha comparecido: dos calouros, que nervosamente seguravam uma variedade de terríveis vassouras velhas da escola, aos alunos do sétimo ano que, mais altos, se elevavam acima do grupo 114 Capítulo 11 – Uma Mãozinha de Hermione parecendo intimidadores. Dentre os últimos, Harry viu um garoto grande, de cabelos fibrosos, que reconheceu imediatamente do Expresso de Hogwarts. – Nos conhecemos no trem, no compartimento do velho Sluggy – ele disse confiante, saindo da multidão para apertar a mão de Harry. – Cormac McLaggen, goleiro. – Você não tentou o time ano passado, tentou? – perguntou Harry, notando a largura de McLaggen e pensando que ele provavelmente iria bloquear todos os três aros sem sequer se mexer. – Eu estava na ala hospitalar quando os testes aconteceram – respondeu McLaggen, com um tom meio orgulhoso. – Comi meio quilo de ovos de Fadas Mordentes por causa de uma aposta. – Certo – disse Harry. – Bem... se você esperar por ali... Ele apontou para o canto do campo, perto de onde Hermione estava sentada. Harry teve a impressão de que viu um certo aborrecimento no rosto de McLaggen e pensou que McLaggen podia estar esperando um tratamento preferencial por serem dois favoritos do “velho Sluggy”. Harry decidiu começar com um teste básico, pedindo a todos os candidatos a entrar no time que se dividissem em grupos de dez e voassem uma vez em volta do campo. Esta foi uma boa decisão. O primeiro grupo de dez era composto por alunos do primeiro ano, e não poderia ficar mais claro que eles dificilmente tinham voado antes. Apenas um menino conseguiu se manter no ar por mais de alguns segundos, e ele ficou tão surpreso que rapidamente bateu em um dos aros. O segundo grupo compreendia dez das garotas mais bobas que Harry já havia visto, que simplesmente caíram em risadinhas e tentaram se segurar umas nas outras quando ele soprou o apito. Romilda Vane estava entre elas. Quando ele lhes disse para deixarem o campo, elas o fizeram bem alegremente e foram se sentar nas arquibancadas para importunar todos os outros. O terceiro grupo sofreu um engavetamento na metade da volta pelo campo. A maior parte do quarto grupo tinha vindo sem vassouras. O quinto grupo era de alunos da Lufa-lufa. – Se tem mais alguém aqui que não é da Grifinória – rugiu Harry, que estava começando a ficar extremamente irritado -, vá embora já, por favor! Houve uma pausa, e então alguns pequenos corvinais saíram correndo do campo, às gargalhadas. Depois de duas horas, muitas reclamações e algumas explosões de raiva (uma delas envolvendo uma colisão de uma Comet 260, e vários dentes quebrados), Harry tinha encontrado três artilheiras: Katie Bell, que voltou para o time depois de um teste excelente, uma nova achado chamado Demelza Robins, que era particularmente boa em se esquivar de balaços, e Gina Weasley que tinha voado mais do que os seus competidores, além de ter marcado dezessete gols. Apesar de estar satisfeito com as suas escolhas, Harry também tinha gritado até ficar rouco com os muitos que reclamavam, e agora estava lutando uma batalha parecida com os batedores rejeitados. – Esta é a minha decisão final e se vocês não saírem do caminho para os goleiros, eu vou jogar uma azaração em vocês – ele falou elevando a voz. Nenhum dos batedores escolhidos tinha o velho brilhantismo de Fred e Jorge, mas Harry ainda estava razoavelmente satisfeito com eles: Jimmy Peakes, um aluno do terceiro ano, baixo, mas de tórax largo, que tinha conseguido fazer um calombo do tamanho de um ovo na parte de trás da cabeça de Harry com um balaço rebatido com ferocidade, e Ritchie Coote, que parecia franzino, mas mirava bem. Todos eles se juntaram a Katie, Demelza e Gina nas arquibancadas para assistir a seleção do último membro do time. Harry tinha propositalmente deixado o teste de goleiro para o fim, torcendo por um estádio mais vazio e menos pressão em cima de todos envolvidos. Infelizmente, contudo, todos os candidatos rejeitados e mais um número de pessoas que havia descido para assistir depois de um longo café da manhã tinham se juntado à multidão, que agora era maior do que nunca. Enquanto cada goleiro voava para os aros, a platéia rugia e zombava em intensidades iguais. Harry olhou para Rony, que sempre tivera um problema com os nervos. Ele tinha esperado que a vitória do último jogo do ano passado tivesse curado isto, mas aparentemente não; Rony apresentava um delicado tom esverdeado. Nenhum dos cinco primeiros candidatos defendeu mais do que dois gols cada. Para grande desapontamento de Harry, Cormac McLaggen defendeu quadro dos cinco pênaltis cobrados contra 115 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto ele. No último deles, contudo, ele foi em direção completamente oposta a que devia ir. A multidão riu e vaiou, e McLaggen retornou ao chão rangendo os dentes. Rony parecia pronto para desmaiar enquanto montava sua Cleansweep 11. – Boa sorte! – gritou uma voz das arquibancadas. Harry olhou em volta, esperando ver Hermione, mas tinha sido Lilá Brown. Ele bem que gostaria de esconder seu rosto em suas mãos, como ela fez momentos depois, mas pensou que, como capitão, ele deveria mostrar mais bravura, então se virou para assistir Rony fazer seu teste. No entanto, Harry não precisava ter se preocupado. Rony defendeu um, dois, três, quatro, cinco pênaltis seguidos. Contente, e resistindo com dificuldade à vontade de se juntar à multidão em sua comemoração, Harry se voltou para McLaggen para informá-lo que, infelizmente, Rony tinha conquistado a vaga, apenas para ver o rosto vermelho de McLaggen a centímetros do seu. Harry deu um passo para trás rapidamente. – A irmã dele não se empenhou de verdade – acusou McLaggen ameaçadoramente. Havia uma veia pulsando em sua testa como uma que Harry já tinha visto muitas vezes no Tio Válter. – Ela lhe deu uma defesa fácil. – Besteira – disse Harry friamente. – Aquela foi a que ele quase perdeu. McLaggen deu um passo a mais se aproximando de Harry, que desta vez não recuou. – Me dá outra chance. – Não – respondeu Harry. – Você teve a sua chance. Você defendeu quatro. Rony defendeu cinco. Rony é o goleiro, ele conquistou a posição justa e claramente. Saia do meu caminho. Ele pensou por um momento que McLaggen pudesse lhe dar um soco, mas ele se contentou com uma careta feia, e foi embora rosnando o que soava como ameaças para o vento. Harry se virou para encontrar o seu novo time sorrindo para ele. – Parabéns – ele falou com a voz rouca. – Vocês voaram muito bem. – Você foi ótimo, Rony! Desta vez era realmente Hermione correndo em direção a eles das arquibancadas. Harry viu Lilá saindo do campo, de braço dado com Parvati, com uma expressão bastante irritada no rosto. Rony parecia extremamente satisfeito consigo mesmo e até mais alto do que o normal enquanto sorria para o time e para Hermione. Depois de determinar o horário do primeiro treino do time na próxima quinta-feira, Harry, Rony e Hermione se despediram do resto do time e se dirigiram para a casa de Hagrid. Um sol fraco agora tentava aparecer entre as nuvens e tinha finalmente parado de chuviscar. Harry sentia muita fome, e estava torcendo para que tivesse alguma coisa para comer na cabana de Hagrid. – Eu pensei que não ia conseguir defender aquele quarto pênalti – Rony estava falando alegremente. – Disparo enganoso da Demelza, vocês viram? Tinha um efeito... – Vi, vi, você foi maravilhoso – disse Hermione, parecendo contente. – Eu fui melhor do que aquele McLaggen, pelo menos – continuou Rony em uma voz altamente satisfeita. – Vocês o viram se movimentando pesadamente para o lado errado no quinto dele? Parecia até que ele estava sob o efeito do Feitiço Confundus... Para surpresa de Harry, Hermione se tornou um tom de rosa bem forte. Rony não percebeu nada; ele estava tão ocupado descrevendo cada uma das suas defesas com detalhes carinhosos. O grande Hipogrifo cinza, Bicuço, estava amarrado em frente à casa de Hagrid. Ele clicou o seu bico afiado como navalha com a aproximação deles e virou sua enorme cabeça em sua direção. – Ai, céus! – exclamou Hermione nervosa. – Ele ainda é um pouco assustador, não? – Sai dessa, você até já montou nele, não foi? – perguntou Rony. Harry deu um passo à frente e se inclinou fazendo uma reverência para o Hipogrifo sem quebrar contato visual nem piscar. Depois de alguns segundos, Bicuço se inclinou em uma reverência também. – Como é que você está? – Harry perguntou para ele em uma voz baixinha, se aproximando para acariciar a cabeça cheia de penas. – Tem saudades dele? Mas você está bem aqui com Hagrid, não está? 116 Capítulo 11 – Uma Mãozinha de Hermione – Ei! – exclamou uma voz alta. Hagrid vinha caminhando pelo canto da sua cabana usando um grande avental florido e carregando um saco de batatas. Seu enorme cão de caçar javalis, Canino, deu um latido seco e veio saltitando à frente. – Sai de perto dele! Ele vai tirar seus dedos fora, ah... são vocês! Canino estava pulando em cima de Hermione e Rony, tentando lamber suas orelhas. Hagrid parou e olhou para todos eles por uma fração de segundo, depois virou e caminhou para a cabana, fechando a porta atrás de si. – Ai, céus! – disse Hermione, parecendo aflita. – Não se preocupe – assegurou Harry carrancudo. Ele andou até a porta e bateu com força. – Hagrid! Abre aqui, queremos falar com você! Não vinha som algum do lado de dentro. – Se você não abrir essa porta, nós vamos explodi-la! – berrou Harry, tirando sua varinha. – Harry! – disse Hermione, soando chocada. – Você não pode estar... – Posso sim! – retrucou Harry. – Sai de perto... Mas antes que ele pudesse fazer qualquer outra coisa, a porta se escancarou novamente, como Harry sabia que iria acontecer, e ali estava Hagrid, olhando com raiva para eles e parecendo, apesar do avental estampado por flores, verdadeiramente alarmante. – Eu sou um professor! – rugiu para Harry. – Um professor, Potter! Como se atreve a ameaçar pôr a minha porta abaixo! – Desculpe, senhor – disse Harry, enfatizando a última palavra enquanto guardava a varinha dentro de suas vestes. Hagrid parecia atônito. – Desde quando você me chama de “senhor”? – Desde quando você me chama de “Potter”? – Ah, muito esperto – rosnou Hagrid. – Muito engraçado. Tá aí você sendo mais inteligente que eu, não é? Muito bem, entrem então, seus pequenos ingratos... Resmungando ameaçadoramente, ele se afastou e os deixou passar. Hermione entrou apressada depois de Harry, parecendo particularmente assustada. – Então? – indagou Hagrid irritado, enquanto Harry, Rony e Hermione se sentavam em volta da sua enorme mesa de madeira. Canino deitou sua cabeça imediatamente em cima do joelho de Harry, babando toda a sua veste. – O que é isso? Tão com pena de mim? Acham que eu tô me sentindo sozinho ou coisa assim? – Não – respondeu Harry imediatamente. – Queríamos ver você. – Sentimos a sua falta! – completou Hermione tremendo. – Sentiram minha falta, foi? – bufou Hagrid. – É. Certo... Ele andava pela cabana, preparando chá em sua enorme chaleira de cobre, resmungando o tempo todo. Finalmente ele jogou na mesa, em frente a eles, três canecas do tamanho de baldes com seu chá cor de mogno marrom e um prato dos seus bolinhos duros. Harry estava com fome suficiente para a culinária de Hagrid e pegou um imediatamente. – Hagrid – começou Hermione timidamente, quando ele se juntou aos alunos na mesa e começou a descascar batatas com uma brutalidade que sugeria que cada bulbo lhe tinha feito uma grande ofensa pessoal -, nós realmente queríamos continuar com Trato das Criaturas Mágicas, você sabe. Hagrid deu mais uma grande bufada. Harry pensou que alguns perdigotos tinham pousado nas batatas, e ficou interiormente agradecido de que não iam ficar para o jantar. – Nós queríamos! – repetiu Hermione. – Mas nenhum de nós conseguiu encaixar a matéria em nossos horários. – É. Certo. – ele bufou novamente. Um som engraçado de sucção fez com que todos olhassem em volta: Hermione soltou um pequeno guincho e Rony pulou da sua cadeira e correu em volta da mesa para se distanciar do grande 117 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto barril encostado no canto e que só agora havia sido notado. Ele estava cheio do que pareciam larvas de uns trinta centímetros, finas, brancas, se retorcendo. – O que são, Hagrid? – perguntou Harry, tentando soar interessado e não enojado, mas colocando seu bolinho na mesa mesmo assim. – Apenas larvas gigantes – respondeu Hagrid. – E elas viram... – Rony começou, parecendo apreensivo. – Elas não vão virar nada – disse Hagrid. – Eu as consegui para alimentar Aragogue. E sem aviso, ele caiu no choro. – Hagrid! – gritou Hermione levantando, correndo em volta da mesa pelo lado mais longo para evitar passar pelo barril de larvas, e colocando um braço em volta do ombro trêmulo do meio gigante. – O que foi? – É que... ele ... – Hagrid engoliu em seco, seus olhos de besouros negros jorrando lágrimas enquanto ele secava o rosto com seu avental. – É... Aragogue... eu acho que ele tá morrendo... ficou doente durante o verão e não tá melhorando... eu não sei o que vou fazer se ele ... se ele ... a gente tá junto há tanto tempo... Hermione dava tapinhas no ombro de Hagrid, parecendo perdida sem ter o que dizer. Harry sabia como ela estava se sentindo. Ele sabia que Hagrid já havia presenteado um dragão bebê cruel com um ursinho de pelúcia, já o tinha visto falar docemente com escorpiões possuidores de ventosas e ferrões, tentar persuadir seu meio-irmão, um gigante rude, a agir civilizadamente, mas este era talvez o mais incompreensível de todos os seus casos de zelo por monstros: a aranha gigante e falante, Aragogue, que residia no coração da Floresta Proibida e da qual ele e Rony tinham escapado por pouco quatro anos antes. – Tem ... tem alguma coisa que nós possamos fazer? – Hermione perguntou, ignorando o balançar de cabeça e as caretas frenéticas de Rony. – Acho que não, Hermione – respondeu Hagrid com a voz engasgada, tentando parar o fluxo de suas lágrimas. – Olha, o resto da tribo ... a família de Aragogue ... eles tão ficando meio estranhos agora que ele tá doente ... um pouco inquietos ... – É, acho que vimos um pouco desse lado deles – murmurou Rony em uma voz baixinha. – ...não acho que seria seguro para outra pessoa, que não eu, se aproximar da colônia no momento – Hagrid concluiu, assoando o nariz com força em seu avental e olhando para eles. – Mas obrigado por oferecer, Hermione ... significa muito pra mim. Depois de a atmosfera ter ficado consideravelmente mais leve, e por mais que nem Harry nem Rony tivessem mostrado uma inclinação para ir alimentar com larvas uma gigantesca aranha assassina, Hagrid pareceu assumir que eles gostariam de fazê-lo e voltou a agir mais como ele mesmo. – Ah, eu sempre soube que vocês teriam dificuldade para me encaixar nos horários de vocês – disse rouco, servindo mais chá em suas canecas. – Mesmo que vocês solicitassem Vira-Tempos... – Não poderíamos fazer isso – explicou Hermione. – Nós quebramos todo o estoque de ViraTempos do Ministério quando estivemos lá no verão. Saiu no Profeta Diário. – Ah, bom, então... – disse Hagrid. – Não tinha como vocês fazerem ... me desculpem eu tenho estado, vocês sabem, eu tenho estado preocupado com Aragogue ... e eu pensei que se a professora Grubbly-Plank estivesse ensinando vocês... E nisto, todos os três declararam categoricamente e falsamente que a professora GrubblyPlank, que havia substituído Hagrid algumas vezes, era péssima professora. Como resultado disso, quando Hagrid se despediu deles ao anoitecer, ele parecia bem mais contente. – Estou morrendo de fome – comentou Harry, uma vez que a porta havia se fechado atrás deles e eles se apressavam pela propriedade escura e deserta. Ele havia abandonado o bolinho depois de ter ouvido um som ameaçador de estalo vir de um de seus dentes de trás. – E ainda tenho aquela detenção com Snape hoje à noite, não tenho muito tempo para jantar. Ao entrarem no castelo, eles localizaram Cormac McLaggen entrando no Salão Principal. Ele precisou de duas tentativas para passar pela porta, pois ricocheteou no batente na primeira tentativa. 118 Capítulo 11 – Uma Mãozinha de Hermione Rony meramente gargalhou da desgraça do outro e seguiu para o Salão Principal depois dele, mas Harry segurou o braço de Hermione e segurou-a atrás. – O que? – perguntou Hermione na defensiva. – Se você me perguntar – disse Harry baixinho -, parece mesmo que McLaggen estava Confundido. E ele estava em pé bem em frente de onde você estava sentada. Hermione corou. – Ai, está bom então, eu fiz o feitiço – ela sussurrou. – Mas você devia ter escutado o jeito como ele estava falando do Rony e da Gina! De qualquer forma, ele tem um temperamento péssimo, você viu como ele reagiu quando não conseguiu a vaga. Você realmente não gostaria de ter alguém assim no time. – Não – concordou Harry. – Não mesmo, acho que é verdade. Mas aquilo não foi desonesto, Hermione? Quero dizer, você é uma monitora, não é? – Ah, cala a boca – ela disse, enquanto ele ria afetadamente. – O que é que vocês estão fazendo? – perguntou Rony, reaparecendo na porta do Salão Principal, com uma expressão de suspeita. – Nada – responderam Harry e Hermione juntos, e eles se apressaram depois de Rony. O aroma do rosbife fez com que o estômago de Harry doesse de fome, mas eles mal tinham dado três passos em direção à mesa da Grifinória quando o professor Slughorn apareceu na frente deles bloqueando o caminho. – Harry, Harry, justamente quem eu queria encontrar! – ele rugiu alegremente, virando as pontas do seu bigode de morsa e inflando sua enorme barriga. – Estava torcendo para encontrar você antes do jantar! O que você diz de um jantar nos meus aposentos ao invés de aqui? Estamos tendo uma pequena festa, apenas algumas estrelas em ascensão. O McLaggen está vindo, o Zabini também, a encantadora Melinda Bobbin, não sei se você conhece. A família dela é dona de uma grande cadeia de boticas, e é claro, espero que a Senhorita Granger me dê o prazer de sua presença também. Slughorn fez uma pequena reverência para Hermione enquanto terminava de falar. Era como se Rony não estivesse presente; Slughorn sequer olhou para ele. – Não posso ir, professor – disse Harry imediatamente. – Eu tenho que cumprir detenção com o professor Snape. – Oh, céus! – exclamou Slughorn, sua expressão murchando comicamente. – Céus, céus, eu estava contando com você, Harry! Bem, agora eu terei que ter uma palavrinha com Severo para explicar a situação. Tenho certeza de que vou conseguir persuadi-lo de adiar a sua detenção. Sim, vejo vocês dois mais tarde! Ele se apressou para fora do Saguão de Entrada. – Ele não tem chance de persuadir o Snape – comentou Harry, no instante em que Slughorn já não podia ouvi-lo. – Esta detenção já foi adiada uma vez, Snape fez isso por Dumbledore, mas não vai fazê-lo para mais ninguém. – Ah, eu queria que você pudesse ir, não quero ir sozinha! – disse Hermione ansiosamente. Harry sabia que ela estava pensando em McLaggen. – Duvido que você fique sozinha, Gina provavelmente será convidada – Rony respondeu rispidamente, como quem não estava aceitando bem o fato de ter sido ignorado por Slughorn. Depois do jantar, eles voltaram para a Torre da Grifinória. O salão comunal estava bastante amontoado, já que a maioria das pessoas já tinham terminado o jantar, mas os três conseguiram achar uma mesa livre e se sentaram. Rony que estava de mau humor, desde o encontro com Slughorn, cruzou os braços e franziu a testa para o teto. Hermione pegou uma cópia do Profeta da Noite, que alguém havia abandonado em uma cadeira. – Algo de novo? – perguntou Harry. – Na verdade não ... – Hermione tinha aberto o jornal e estava lendo as páginas de dentro por alto. – Ah, olha, seu pai está aqui, Rony, ele está bem! – ela acrescentou rapidamente, porque Rony havia olhado em volta alarmado. – Só diz aqui que ele fez uma visita à casa dos Malfoy. “Esta 119 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto segunda investigação na residência do Comensal da Morte aparentemente não rendeu nenhum resultado. Arthur Weasley da Seção para a Detecção e o Confisco de Falsos Feitiços Defensivos e Objetos Protetores disse que a sua equipe estava seguindo uma denuncia confidencial”. – É, minha! – explicou Harry. – Eu disse a ele na Estação de King’s Cross sobre Malfoy e aquilo que ele queria fazer com que Borgin consertasse! Bem, se não está na casa deles, ele deve ter trazido o que quer que seja para Hogwarts com ele. – Mas como ele pode ter feito isso, Harry? – indagou Hermione, baixando o jornal como uma cara surpresa. – Todos nós passamos por uma revista quando chegamos, não passamos? – Vocês passaram? – perguntou Harry, surpreso. – Eu não! – Ah, não, claro que você não passou pela revista, eu esqueci que você chegou atrasado... bem, Filch passou um Sensor de Segredos quando chegamos no Saguão de Entrada. Qualquer objeto das trevas seria encontrado. Fiquei sabendo que Crabble teve uma cabeça jívara confiscada. Então Malfoy não pode ter trazido nada perigoso! Momentaneamente aturdido, Harry observou Gina Weasley brincando com Arnold, o mini pufoso, por uns instantes antes de ver uma saída para sua objeção. – Alguém mandou para ele por coruja, então – ele disse. – A mãe dele ou outra pessoa. – Todas as corujas estão sendo checadas também – afirmou Hermione. – Filch nos disse enquanto nos vistoriava com aqueles Sensores de Segredos em todos os lugares que podia alcançar. Realmente sem respostas desta vez, Harry não achou mais nada para dizer. Parecia que não havia nenhum jeito de Malfoy ter trazido um objeto perigoso ou das trevas para a escola. Ele olhou com esperança para Rony, que estava sentando com os braços cruzados, olhando para Lilá Brown. – Você pode pensar em alguma maneira com a qual Malfoy... – Ah, Harry, desiste – cortou Rony. – Olha, não é minha culpa que o Slughorn convidou a Hermione e eu para sua festa estúpida, nenhum de nós quer ir, você sabe! – fulminou Harry, se esquentando. – Bem, como não sou convidado para nenhuma festa – disse Rony, se levantando -, acho que vou dormir. Rony caminhou pesadamente em direção ao dormitório dos meninos, deixando Harry e Hermione olhando para ele. – Harry? – chamou a nova artilheira, Demelza Robins, aparecendo de repente no seu ombro. – Tenho uma mensagem para você. – É do professor Slughorn? – perguntou Harry, sentando esticado esperançosamente. – Não... do professor Snape, – respondeu Demelza. Harry ficou desapontado. – Ele disse que você deve ir à sua sala às oito e meia, hoje à noite, para a sua detenção... er ... não importa quantos convites para festas você tenha recebido. E ele queria que você soubesse que você estará separando vermes podres de vermes bons, para usar em Poções, e ... e ele disse que você não precisa trazer luvas de proteção. – Certo – disse Harry com raiva. – Muito obrigado, Demelza. 120 – CAPÍTULO 12 – Prata e Opalas Onde estava Dumbledore, e o que ele estava fazendo? Harry viu o diretor apenas duas vezes durante as semanas seguintes. Ele raramente aparecia às refeições, e Harry estava certo que Hermione tinha razão ao achar que ele estava deixando o colégio por mais de um dia a cada vez. Teria Dumbledore esquecido as aulas que deveria estar dando ao Harry? Dumbledore disse que as lições estavam conduzindo a algo relacionado à profecia; Harry sentira-se apoiado, confortado, e agora ele se sentia levemente abandonado. Na metade de Outubro, veio o primeiro passeio do ano letivo a Hogsmeade. Harry se perguntara se essas viagens ainda seriam permitidas, dado às medidas de segurança cada vez mais severas em torno da escola, mas ficou satisfeito em saber que elas continuariam; era sempre bom sair da propriedade do castelo por algumas horas. Harry acordou cedo na manhã do passeio, que se mostrava chuvosa, e passou o tempo até o café da manhã lendo sua cópia do Preparo de Poções – Nível Avançado. Ele geralmente não ficava deitado lendo seus livros escolares; esse tipo de comportamento, como Rony com razão disse, era vergonhoso para qualquer um exceto Hermione, que simplesmente era esquisita assim mesmo. Harry sentiu, porém, que a cópia do Preparo de Poções – Nível Avançado do Príncipe Mestiço dificilmente poderia ser qualificada como um livro escolar. Quanto mais Harry vasculhava o livro, mais percebia o quanto estava ali, não apenas as dicas úteis e atalhos para as poções que estavam lhe dando uma reputação brilhante junto a Slughorn, mas também imaginativos pequenos feitiços e azarações rabiscados nas margens, os quais, Harry tinha certeza, a julgar pelos riscos e revisões, que o Príncipe havia ele mesmo inventado. Harry já havia tentado alguns dos feitiços inventados pelo próprio Príncipe. Havia uma azaração que fazia com que as unhas do pé crescessem assustadoramente rápido (ele tentou isso com Crabbe no corredor, com resultados bastante divertidos); um que colava a língua no céu da boca (o qual ele usou duas vezes, para aplauso geral, em um desprevenido Argo Filch); e, talvez o mais útil de todos, Muffliato, um feitiço que enchia os ouvidos de qualquer um próximo com um zumbido não identificável, de modo que conversas longas podiam ser mantidas na sala de aula sem serem ouvidas. A única pessoa que não achou esses encantos divertidos foi Hermione, que mantinha uma expressão rígida de desaprovação o tempo todo e se recusava a falar qualquer coisa caso Harry houvesse usado o feitiço Muffliato em alguém nas vizinhanças. Sentado na cama, Harry girou o livro de lado para examinar mais de perto as instruções rabiscadas de um feitiço que pareceu causar ao Príncipe um pouco de problema. Havia muitos riscos e alterações, mas finalmente, esmagado em um canto da página, o rabisco: Levicorpus (n-vbl) Enquanto o vento e a chuva com neve golpeavam com crueldade as janelas, e Neville roncava alto, Harry fixou-se nas letras entre parênteses. N-vbl... aquilo deveria significar “não-verbal”. Harry duvidou que fosse capaz de lançar esse feitiço em particular; ainda estava tendo dificuldade em 121 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto feitiços não-verbais, algo que Snape apressara-se em comentar em todas as aulas de D.C.A.T. Por outro lado, o Príncipe tinha se mostrado até então um professor muito mais efetivo que Snape. Apontando sua varinha para nada em particular, ele deu uma leve sacudida para cima e disse Levicorpus! dentro de sua mente. – Aaaaaaaargh! Houve um flash de luz e o quarto encheu-se de vozes: todos acordaram com o grito que Rony havia soltado. Harry soltou o Preparo de Poções – Nível Avançado em pânico; Rony estava pendurado de cabeça para baixo no meio do ar como se um gancho invisível o tivesse içado pelo tornozelo. – Desculpa! – gritou Harry, enquanto Dino e Simas rolavam de rir e Neville levantava-se do chão, pois tinha caído da cama – Espere, eu vou deixar você descer... Ele procurou pelo livro de poções e o folheou em pânico, tentando achar a página; finalmente a localizou e decifrou a palavra espremida abaixo do feitiço: rezando para que aquilo fosse o contrafeitiço, Harry pensou Liberacorpus! com toda a sua força. Houve um outro flash de luz, e Rony caiu com tudo em seu colchão. – Desculpa – repetiu Harry fracamente, enquanto Dino e Simas continuavam a rolar de rir. – Amanhã – disse Rony com uma voz abafada – eu acho melhor que você prepare o despertador. Quando acabaram de se vestir, enchendo-se com vários suéteres tricotados à mão pela Sra. Weasley e carregando capas, cachecóis e luvas, o choque de Rony havia diminuído e ele concluiu que o feitiço novo de Harry era muito divertido; tão divertido, na verdade, que ele foi logo entretendo Hermione com a história quando eles sentaram-se para o café da manhã. – ...e houve um outro flash de luz e eu caí na cama novamente! – Rony sorriu, servindo-se de salsichas. Hermione não deu um sorriso durante a anedota, e depois virou-se com uma expressão de pura desaprovação para Harry. – Esse feitiço era, por um acaso, um outro daqueles do seu livro de poções? – perguntou. Harry olhou-a com a testa franzida. – Sempre tirando as piores conclusões, não é? – Era? – Bem... sim, era, mas e daí? – Então você apenas decidiu tentar um encantamento desconhecido e escrito à mão e ver o que acontecia? – Que diferença faz se era escrito à mão? – disse Harry, preferindo não responder o resto da pergunta. – Porque provavelmente não é aprovada pelo Ministério da Magia – disse Hermione – e também – acrescentou, enquanto Harry e Rony reviravam o olhos – porque estou começando a achar que a índole desse Príncipe era um pouco esquiva. Harry e Rony a calaram imediatamente com um berro. – Foi uma piada! – disse Rony, virando uma garrafa de ketchup sobre suas salsichas – Apenas uma piada, Hermione, só isso! – Pendurar pessoas de cabeça para baixo pelo tornozelo? – disse Hermione – Quem dedica seu tempo e energia a fazer feitiços como esses? – Fred e George – disse Rony, dando de ombros – é o tipo de coisa deles. E, er... – Meu pai – disse Harry. Ele havia acabado de lembrar. – O quê? – disseram Rony e Hermione juntos. – Meu pai usou esse feitiço – disse Harry – Eu... Lupin me contou. Esta última parte não era verdade; Harry havia visto seu pai usar esse feitiço em Snape, mas nunca havia contado a Rony e Hermione sobre essa sua excursão em particular à Penseira. Agora, porém, uma possibilidade maravilhosa ocorreu a ele. Poderia o Príncipe Mestiço ser... 122 Capítulo 12 – Prata e Opalas – Talvez seu pai o tenha realmente usado, Harry – disse Hermione – mas ele não foi o único. Nós já vimos um grande número de pessoas o usando, caso vocês tenham esquecido. Pendurando pessoas no ar. Fazendo-as flutuar, dormindo, indefesas. Harry a encarou. Com um sentimento de desânimo, ele também lembrou do comportamento dos Comensais da Morte na Copa do Mundo de Quadribol. Rony veio em sua ajuda: – Aquilo foi diferente – disse com firmeza – eles estavam maltratando. Harry e seu pai estavam apenas se divertindo. Você não gosta do Príncipe, Hermione – ele acrescentou, apontando-a severamente com uma salsicha – porque ele é melhor que você em Poções... – Não tem nada a ver com isso! – disse Hermione, suas faces avermelhando-se. – Eu só acho muita irresponsabilidade começar a lançar feitiços quando você sequer sabe para que servem, e pare de falar sobre “o Príncipe” como se fosse seu título, aposto que é apenas um estúpido apelido, e não me parece que ele fosse uma boa pessoa! – Não sei de onde você tirou isso – disse Harry esquentado. – Caso ele tivesse sido um Comensal da Morte em desenvolvimento, ele não estaria se gabando de ser “mestiço”, estaria? Enquanto dizia isso, Harry lembrou-se que seu pai era sangue-puro, mas tirou esse pensamento de sua cabeça, ele se preocuparia com isso depois... – Os Comensais da Morte não podem ser todos sangue-puros. Não restaram bruxos sanguepuros suficientes – disse Hermione com teimosia. – Eu acho que a maioria deles são mestiços que fingem ser puros. São apenas os nascidos trouxas que eles odeiam, eles ficariam muito felizes em deixar você e o Rony se juntarem a eles. – Não há como eles me deixarem ser um Comensal da Morte! – disse Rony indignado, enquanto um pedaço de salsicha voava do garfo que ele estava agora brandindo contra Hermione e acertou Ernesto Macmillan na cabeça – Toda a minha família é de traidores do sangue! Isto é tão ruim quanto nascidos trouxas para os Comensais da Morte! – E eles adorariam contar comigo – disse Harry sarcasticamente. – Nós seríamos grandes amigos se eles não continuassem tentando me matar. Isso fez Rony rir; até Hermione deu um sorriso relutante, e a distração chegou sob a forma de Gina. – Ei, Harry, eu tenho que te dar isto. Era um rolo de pergaminho no qual o nome de Harry estava escrito com uma letra fina e inclinada. – Obrigado, Gina... é a próxima aula do Dumbledore! – Harry disse a Rony e Hermione, abrindo o pergaminho e rapidamente lendo seu conteúdo. – Segunda à noite! – ele se sentiu de repente leve e alegre – Quer juntar-se a nós em Hogsmeade, Gina? – perguntou. – Eu estou indo com o Dino, talvez os encontre por lá – ela respondeu, acenando para eles enquanto saía. Filch estava em pé ao lado das portas de carvalho da frente como sempre, checando os nomes das pessoas que tinham permissão para ir a Hogsmeade. O processo demorou ainda mais que o normal, já que Filch estava checando três vezes todo mundo com seu Sensor de Segredos. – Por que importa se estamos contrabandeando coisas das Trevas para FORA? – perguntou Rony, olhando o Sensor de Segredos com apreensão – Com certeza você não deveria estar checando o que trouxermos para DENTRO? Seu atrevimento lhe rendeu alguns golpes extras com o Sensor, e ele ainda estava se encolhendo quando eles saíram ao vento gelado e a neve com chuva. A caminhada para Hogsmeade não foi prazerosa. Harry enrolou seu cachecol em torno da parte debaixo de seu rosto; a parte exposta logo ficou irritada e dormente. A estrada para o vilarejo estava repleta de estudantes curvados contra o vento severo. Mais de uma vez Harry imaginou se eles não teriam tido momentos melhores no salão comunal quentinho, e quando eles finalmente chegaram a Hogsmeade e viram que a Zonko’s – Logros e Brincadeiras havia sido coberta de tábuas, Harry tomou isso como uma confirmação de que aquele passeio não estava destinado a ser divertido. 123 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Rony apontou, com uma mão enluvada, em direção à Dedosdemel, que estava misericordiosamente aberta, e Harry e Hermione cambalearam atrás dele em direção à loja lotada. – Graças a Deus – disse Rony tremendo enquanto eram envolvidos pelo ar quente e cheirando a caramelo. – Vamos ficar aqui a tarde toda. – Harry, meu garoto! – disse uma voz rouca atrás deles. – Ah, não – resmungou Harry. Os três viraram-se para ver o Professor Slughorn, que estava vestindo um enorme chapéu peludo e um sobretudo com um colarinho de pele que combinava, segurando um grande saco de abacaxi cristalizado, e ocupando pelo menos um quarto da loja. – Harry, já são três os meus jantares que você perdeu agora! – disse Slughorn, batendo alegremente no seu peito – Não vai adiantar, meu garoto, eu estou determinado a tê-lo! A Srta. Granger os adora, não é? – Sim – disse Hermione desamparadamente – elas são muito... – Então por que você não vem junto, Harry? – reclamou Slughorn. – Bem, eu tenho tido treinos de Quadribol, professor – disse Harry, que realmente esteve marcando treinos toda vez que Slughorn lhe mandava um pequeno convite violeta adornado com uma fita. Esta estratégia tinha o propósito de não deixar o Rony de lado, e geralmente eles se divertiam com a Gina, imaginando Hermione calada com McLaggen e Zabini. – Bem, eu certamente espero que você ganhe sua primeira partida após todo esse trabalho duro! – disse Slughorn – Mas um pouco de recreação nunca machuca ninguém. Agora, que tal segunda à noite, seguramente você não pode querer treinar com esse tempo... – Eu não posso, professor, eu tenho... er... um encontro marcado com o Professor Dumbledore nessa noite. – Sem sorte de novo! – gritou Slughorn dramaticamente – Ah, bem... você não pode fugir de mim para sempre, Harry! E com um aceno majestoso, ele saiu com dificuldade da loja, mal notando Rony, como se ele fosse uma mostra de Torrões de Barata. – Eu não acredito que você escapou de mais um – disse Hermione, balançando sua cabeça. – Eles não são tão ruins, sabe... eles são até bem divertidos às vezes... – mas depois ela notou a expressão de Rony. – Oh, olhe, eles têm Penas de Açúcar de luxo, essas durariam horas! Feliz por Hermione ter mudado de assunto, Harry mostrou muito mais interesse nas novas Penas de Açúcar Extra Grandes do que normalmente teria, mas Rony ainda parecia mal-humorado e simplesmente deu de ombros quando Hermione lhe perguntou aonde ele gostaria de ir. – Vamos ao Três Vassouras – disse Harry. – Vai estar quente. Eles colocaram os cachecóis novamente ao redor de seus rostos e saíram da loja de doces. O vento severo parecia faca em seus rostos depois do açucarado calor da Dedosdemel. A rua não estava muito cheia; ninguém parava para conversar, apenas corriam em direção aos seus destinos. As exceções eram dois homens um pouco adiante deles, parados bem em frente ao Três Vassouras. Um era muito alto e magro; apertando os olhos através dos seus óculos molhados pela chuva, Harry reconheceu o barman que trabalhava no outro pub de Hogsmeade, o Cabeça de Javali. Conforme Harry, Rony e Hermione chegavam mais perto, o barman apertou mais a sua capa ao redor do pescoço e foi embora, deixando o homem mais baixo remexendo algo em seus braços. Eles estavam a poucos passos dele quando Harry percebeu quem era o homem. – Mudungo! O homem atarracado e de pernas arqueadas, com um cabelo ruivo longo e desgrenhado pulou e deixou cair uma valise velha, que abriu, deixando cair o que parecia todo o conteúdo de uma vitrine de loja de sucatas. – Oh, ‘lá, ‘arry – disse Mundungo Fletcher numa tentativa não convincente de aparentar naturalidade. – Bem, não me deixe prender vocês. E começou a escarafunchar rapidamente no chão para recuperar o conteúdo de sua valise com todo o jeito de um homem ansioso para ir embora. 124 Capítulo 12 – Prata e Opalas – Você esta vendendo essas coisas? – perguntou Harry, vendo Mundungo pegar do chão uma variedade de objetos que pareciam sujos. – Ah, bem, tenho que sobreviver – disse Mundungo. – Me dê isso! Rony inclinou-se e pegou algo de prata. – Espera aí – disse Rony devagar. – Isso parece familiar... – Obrigado! – disse Mundungo, arrancando o cálice da mão de Rony e enfiando-o de volta na mala. – Bem, vejo vocês em... AI! Harry prendeu Mundungo contra a parede do pub pela garganta. Segurando-o firmemente com uma mão, ele puxou a varinha. – Harry! – gritou Hermione. – Você roubou aquilo da casa do Sirius – disse Harry, que estava quase nariz com nariz com Mundungo e estava inspirando um cheiro desagradável de tabaco e álcool. – Aquilo tem o brasão da família Black. – Eu... não... o quê...? – balbuciou Mundungo, que estava aos poucos ficando roxo. – O que você fez, foi lá na noite em que ele morreu e esvaziou o lugar? – rosnou Harry. – Eu... não... – Dê-me isso! – Harry, você não pode! – berrou Hermione, enquanto Mundungo tornava-se azul. Houve um bang, e Harry sentiu sua mão voar do pescoço de Mundungo. Ofegante e resmungando, Mundungo pegou sua valise caída, e – CRACK – ele desaparatou. Harry xingou o mais alto que pôde, girando no local para ver aonde Mundungo havia ido. – VOLTE AQUI, SEU LADRÃO...! – Não adianta, Harry.– Tonks tinha aparecido do nada, seu cabelo de rato molhado com neve. – Mundungo deve estar em Londres agora. Não há sentido em gritar. – Ele roubou as coisas de Sirius! Roubou-as! – Sim, mas mesmo assim – disse Tonks, que parecia perfeitamente tranqüila com essa informação – vocês devem sair do frio. Ela os observou entrar pela porta do Três Vassouras. Assim que entrou, Harry explodiu. – Ele estava roubando as coisas do Sirius! – Eu sei, Harry, mas por favor não grite, as pessoas estão olhando – sussurrou Hermione. – Vá e sente-se, eu pegarei uma bebida para você. Harry ainda estava espumando quando Hermione voltou à mesa deles alguns minutos depois segurando três garrafas de cerveja amanteigada. – A Ordem não pode controlar Mundungo? – Harry reclamou com os outros dois em um sussurro furioso – Eles não podem ao menos fazê-lo parar de roubar tudo que não está preso na casa quando ele está na sede? – Shh! – disse Hermione desesperadamente, olhando em volta para ter certeza que ninguém estava ouvindo; havia alguns bruxos sentados próximos que estavam encarando Harry muito interessados, e Zabini estava apoiado contra um pilar não muito distante. – Harry, eu estaria chateada também, eu sei que são suas coisas que ele está roubando... Harry sentiu-se nauseado com sua cerveja amanteigada; ele momentaneamente esquecera que era o dono do Largo Grimmauld, número doze. – Sim, são minhas coisas! – disse – não é de se estranhar que ele não estivesse satisfeito em me ver! Eu vou dizer a Dumbledore o que está acontecendo, ele é o único que assusta Mundungo. – Boa idéia – sussurrou Hermione, claramente agradecida por Harry estar se acalmando. – Rony, o que você está olhando? – Nada – disse Rony, rapidamente olhando para longe do bar, mas Harry sabia que ele estava tentando obter a atenção da atraente dona do bar, Madame Rosmerta, por quem ele há tempos tinha um queda. – Espero que “nada” esteja lá atrás pegando mais uísques de fogo – disse Hermione ferina. 125 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Rony ignorou essa zombaria bebericando sua bebida no que evidentemente considerava um silêncio digno. Harry estava pensando em Sirius e em como odiava aqueles cálices de prata de qualquer forma. Hermione tamborilava os dedos na mesa, seus olhos alternando entre Rony e o bar. Quando Harry esvaziou as últimas gotas de sua garrafa, ela disse: – Devemos então dar por encerrado o dia e voltarmos pra escola? Os outros dois concordaram com a cabeça; não tinha sido um passeio agradável e o tempo estava ficando pior quanto mais eles permaneciam lá. Mais uma vez fecharam suas capas ao redor de si bem apertadas, ajeitaram seus cachecóis, vestiram suas luvas e então seguiram Katie Bell e uma amiga para fora do pub na Rua Principal. Os pensamentos de Harry vagaram até Gina enquanto eles andavam com dificuldade pela estrada para Hogwarts pela neve derretida e depois congelada. Eles não tinham se encontrado com ela, certamente, pensou Harry, porque ela e Dino estavam fechados e aconchegados na Casa de Chá da Madame Puddifoot, aquele lugar de casais felizes. De cara feia, ele abaixou a cabeça contra a chuva congelada e continuou a andar. Passou-se um pouco tempo até Harry perceber que as vozes de Katie Bell e sua amiga, que eram trazidas para trás com o vento, haviam se tornado mais agudas e altas. Harry deu uma olhada em suas figuras indistintas. As duas garotas estavam discutindo sobre algo que Katie tinha em suas mãos. – Você não tem nada a ver com isso, Leanne! – Harry ouviu Katie dizer. Eles dobraram uma esquina da estrada, a neve caindo mais grossa e rápida, embaçando os óculos de Harry. Assim que ele levantou sua mão enluvada para limpá-los, Leanne conseguiu agarrar o pacote que Katie estava segurando; Katie puxou novamente de volta com força e o pacote caiu no chão. De repente, Katie pairou no ar, não como Rony havia feito, suspendido comicamente pelo tornozelo, mas graciosamente, seus braços estendidos, como se ela estivesse prestes a voar. Porém, havia algo errado, algo assustador... seus cabelos agitavam-se rapidamente com o vento forte, mas seus olhos estavam fechados e seu rosto estava bastante sem expressão. Harry, Rony, Hermione e Leanne pararam todos em seus caminhos, observando. Então, dois metros acima do chão, Katie soltou um grito terrível. Seus olhos abriram-se, mas o que quer que ela podia ver, ou que estava sentindo, claramente lhe causava uma aflição terrível. Ela gritava e gritava; Leanne começou a gritar também e agarrou os tornozelos de Katie, tentando puxála vigorosamente de volta ao chão. Harry, Rony e Hermione correram pra ajudar, mas quando eles agarraram as pernas de Katie, ela caiu em cima deles; Harry e Rony conseguiram apanhá-la, mas ela contorcia-se tanto que eles mal conseguiam segurá-la. Ao invés disso, eles a abaixaram até o chão, onde ela se debateu e gritou, aparentemente incapaz de reconhecer qualquer um deles. Harry olhou em volta; a paisagem parecia deserta. – Fiquem aqui! – gritou aos outros acima do vento que assoviava. – Vou buscar ajuda! Ele disparou na direção da escola; nunca havia visto alguém se comportar como Katie acabara de fazer e não podia pensar no que poderia ter causado isso; virou correndo na curva da estrada e colidiu com algo que parecia ser um imenso urso de pé sobre as patas traseiras. – Hagrid! – exclamou ofegante, desembaraçando-se da moita em que caíra. – Harry! – disse Hagrid, que tinha flocos de neve presos em suas sobrancelhas e barba e estava usando seu grande e grosso casaco de pele de castor. – Acabei de visitar Grope, ele tá ficando tão bem que você nem poderia... – Hagrid, alguém foi machucado lá atrás, ou amaldiçoado, ou algo... – Quê? – disse Hagrid, inclinando-se para ouvir o que Harry estava dizendo acima do vento furioso. – Alguém foi amaldiçoado! – berrou Harry. – Amaldiçoado? Quem foi amaldiçoado? Não foi Rony? Hermione? – Não, não foram eles, foi Katie Bell. Por aqui. 126 Capítulo 12 – Prata e Opalas Juntos, correram de volta pela estrada. Não demorou muito para que eles achassem o pequeno grupo ao redor de Katie, que ainda se debatia e gritava no chão; Rony, Hermione e Leanne estavam todos tentando acalmá-la. – Para trás! – gritou Hagrid. – Deixe eu ver ela! – Alguma coisa aconteceu a ela! – choramingou Leanne. – Não sei o quê... Hagrid olhou para Katie por um segundo, depois sem dizer uma palavra, inclinou-se, agarroua em seus braços e correu em direção ao castelo com ela. Em segundos, os gritos agudos de Katie morreram ao longe e o único som era o uivo do vento. Hermione correu até a amiga lamentosa de Katie e colocou um braço ao redor dela. – É Leanne, não é isso? A garota concordou com a cabeça. – Aquilo aconteceu do nada, ou...? – Foi quando aquele pacote arrebentou – choramingou Leanne, apontando para o agora encharcado pacote de papel marrom no chão, que havia aberto, revelando um brilho esverdeado. Rony inclinou-se, suas mãos estendidas, mas Harry alcançou seu braço e o puxou de volta. – Não toque nisso! Ele se ajoelhou. Um colar de opalas ornamentado era visível, saindo do papel. – Eu já vi isso antes – disse Harry, olhando para a coisa. – Estava na vitrine da Borgin & Burkes anos atrás. A etiqueta dizia que era amaldiçoado. Katie deve tê-lo tocado – Ele olhou para Leanne, que estava começando a sacudir-se incontrolavelmente. – Como Katie conseguiu isso? – Bem, era por isso que estávamos discutindo. Ela voltou do banheiro do Três Vassouras segurando-o, disse que era uma surpresa para alguém de Hogwarts e ela tinha que entregá-lo. Ela parecia meio estranha quando disse isso... ah, não, ah não, aposto que ela estava sob a Imperius e eu nem percebi! Leanne tremeu com um choro renovado. Hermione bateu em seu ombro gentilmente. – Ela não disse quem deu lhe isso, Leanne? – Não... ela não me contou... e eu disse que ela estava sendo burra e para não levar aquilo para a escola, mas ela não queria ouvir e... e depois eu tentei pegar dela... e... e...Leanne soltou um grito de desespero. – É melhor a gente ir para a escola – disse Hermione, seu braço ainda ao redor de Leanne. – Nós poderemos descobrir como ela está. Vamos... Harry hesitou por um momento, depois puxou seu cachecol ao redor do pescoço e, ignorando o suspiro de Rony, cuidadosamente cobriu o colar dentro do cachecol e o pegou. – Vamos precisar mostrar isso à Madame Pomfrey – disse. Enquanto eles seguiam Hermione e Leanne pela estrada, Harry estava pensando rapidamente. Eles haviam acabado de entrar na escola quando ele falou, incapaz de segurar seus pensamentos consigo por mais tempo. – Malfoy sabe desse colar. Estava num estojo na Borgin & Burkes quatro anos atrás, eu o vi dando uma boa olhada nele enquanto estava me escondendo dele e de seu pai. Isso é o que ele comprou naquele dia quando nós o seguimos! Ele se lembrou dele e voltou lá para comprá-lo. – Eu... não sei, Harry – disse Rony hesitante. – Muitas pessoas vão à Borgin & Burkes... e aquela garota não disse que Katie pegou-o no banheiro feminino? – Ela disse que Katie voltou do banheiro com ele, não necessariamente o pegou dentro do próprio banheiro... – McGonagall! – disse Rony advertindo. Harry olhou para cima. Era certo que a Profa. McGonagall estava apressando-se pelos degraus de pedra através da nevasca para encontrá-los. – Hagrid disse que vocês quatro viram o que aconteceu com Katie Bell – subam para a minha sala imediatamente, por favor! O que está segurando, Potter? – É a coisa que ela tocou – disse Harry. 127 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Deus meu! – disse a Profa. McGonagall, parecendo alarmada enquanto pegava o colar do Harry. – Não, não, Filch, eles estão comigo! – ela acrescentou rapidamente, quando Filch veio ávido se arrastando através do saguão de entrada, segurando seu Sensor de Segredos no alto. – Leve este colar para o professor Snape imediatamente, mas certifique-se de não tocá-lo, mantenha-o embrulhado no cachecol! Harry e os outros seguiram a Professora McGonagall escada acima até a sua sala. As vidraças cobertas por gelo sacudiam-se em suas esquadrias e a sala estava fria apesar do fogo que crepitava na lareira. A Profa. McGonagall fechou a porta e deu a volta à sua mesa para encarar Harry, Rony, Hermione e a ainda chorosa Leanne. – Bem – disse secamente – o que aconteceu? Hesitante, e com muitas pausas enquanto tentava controlar seu choro, Leanne contou à Profa. McGonagall como Katie havia ido ao banheiro do Três Vassouras e voltara trazendo um pacote não identificado, como Katie parecera um pouco estranha e como elas discutiram sobre a imprudência de concordar entregar objetos desconhecidos, a discussão culminando na briga sobre o pacote, que se rasgou. Nesse ponto, Leanne estava tão emocionada que não houve como arrancar nenhuma outra palavra dela. – Tudo bem – disse a Profa. McGonagall, sem ser rude. – Suba para a ala hospitalar, por favor, Leanne, e peça a Madame Promfey algo para choque. Quando ela saiu da sala, a Professora McGonagall virou-se para Harry, Rony e Hermione. – O que aconteceu quando Katie tocou o colar? – Ela ergueu-se no ar – disse Harry, antes que Rony ou Hermione pudessem falar – e depois começou a gritar e caiu. Professora, eu posso ver o Prof. Dumbledore, por favor? – O diretor está ausente até segunda, Potter – disse a Professora McGonagall, parecendo surpresa. – Ausente? – Harry repetiu irado. – Sim, Potter, ausente! – disse a Professora McGonagall amargamente. – Mas qualquer coisa que você possa dizer sobre esse negócio horrível pode ser dito a mim, estou certa! Por uma fração de segundo, Harry hesitou. A Professora McGonagall não atraía confidências; Dumbledore, apesar de mais intimidador em muitos aspectos, parecia menos inclinado a desdenhar uma teoria, por mais louca que fosse. Essa era uma questão de vida ou morte, porém, e não momento para se preocupar se ririam dele. – Acho que Draco Malfoy deu à Katie o colar, professora. De um lado dele, Rony franziu o nariz com embaraço aparente; do outro, Hermione moveu seus pés como se fizesse questão de manter um pouco de distância entre ela mesma e Harry. – Essa é uma acusação muito séria, Potter – disse a Profa. McGonagall, após uma pausa de choque – você tem alguma prova? – Não – disse Harry – mas... – e ele contou-lhe sobre quando seguiu Malfoy à Borgin & Burkes e a conversa que ouviu entre Draco e o Sr. Borgin. Quando acabou de falar, a Professora McGonagall parecia um pouco confusa. – Malfoy levou algo à Borgin & Burkes para consertar? – Não, professora, ele apenas queria que Borgin lhe contasse como consertar algo, ele não tinha a coisa consigo. Mas esse não é o ponto, o ponto é que ele comprou algo na mesma ocasião, e eu acho que foi aquele colar... – Você viu Malfoy sair da loja com um pacote similar? – Não, professora, ele disse a Borgin para mantê-lo na loja para ele... – Mas Harry – Hermione interrompeu – Borgin perguntou-lhe se ele queria levar o colar consigo, e Malfoy disse que não... – Porque ele não queria tocá-lo, obviamente! – disse Harry com raiva. – O que ele de fato disse foi: “como eu pareceria carregando isso pela rua?” – disse Hermione. – Bem, ele pareceria meio idiota carregando um colar – interveio Rony. 128 Capítulo 12 – Prata e Opalas – Oh, Rony – disse Hermione desesperada – ele estaria todo enrolado, então Draco não teria que tocá-lo, e muito fácil de se esconder embaixo de uma capa, então ninguém o veria! Acho que o que quer que ele tenha reservado na Borgin & Burkes era barulhento ou volumoso, algo que sabia que chamaria muita atenção para si se ele carregasse pela rua e de qualquer modo – ela continuou alto, antes que Harry pudesse interromper – eu perguntei ao Borgin sobre o colar, não se lembra? Quando entrei para tentar descobrir o que Malfoy lhe havia pedido para guardar, eu o vi lá. E Borgin só me disse o preço, não disse que estava vendido ou algo parecido... – Bem, você foi muito óbvia, ele percebeu o que você queria em mais ou menos cinco segundos, é claro que não iria lhe contar. Enfim, Malfoy pôde ter ido buscâ-lo desde... – Já chega! – disse a Profa. McGonagall, quando Hermione abriu a boca para responder, parecendo furiosa. – Potter, eu agradeço que você tenha me contado isso, mas nós não podemos apontar o dedo e culpar o Sr. Malfoy somente porque ele visitou a loja de onde provavelmente esse colar foi comprado. O mesmo é verdade para provavelmente centenas de pessoas... – ...foi isso o que eu disse... – murmurou Rony. – e de qualquer modo, colocamos severas medidas de segurança aqui este ano. Não creio que esse colar pudesse ter entrado nesta escola sem o nosso conhecimento... – Mas... – ...e o mais importante – disse a Professora McGonagall com um terrível ar de ponto final – o Sr. Malfoy não estava em Hogsmeade hoje. Harry ficou boquiaberto, murchando. – Como sabe, professora? – Porque ele estava em detenção comigo. Ele não conseguiu terminar seu dever de casa de Transfiguração duas vezes seguidas. Assim, agradeço por contar-me as suas suspeitas, Potter – ela disse enquanto marchava por entre eles – mas agora preciso ir à Ala Hospitalar para ver como está Katie Bell. Bom dia para todos vocês. Ela manteve a porta de sua sala aberta. Eles não tinham escolha a não ser sair em fila sem dizer mais nenhuma palavra. Harry estava com raiva porque os outros dois tinham se unido à McGonagall; contudo, sentiuse compelido a se juntar a eles quando começaram a discutir o que havia acontecido. – Então para quem vocês acham que Katie deveria entregar o colar? – perguntou Rony enquanto eles subiam as escadas para o salão comunal. – Só Deus sabe – disse Hermione. – Mas para quem quer fosse, safou-se por pouco. Ninguém poderia ter aberto aquele pacote sem tocar no colar. – Poderia ter sido para muitas pessoas – disse Harry. – Dumbledore, os Comensais da Morte adorariam eliminá-lo, ele deve ser um de seus alvos principais. Ou Slughorn, Dumbledore acredita que Voldemort realmente o queria e ele não deve estar satisfeito por ele estar com Dumbledore. Ou... – Ou você – disse Hermione, parecendo aflita. – Não poderia ser – disse Harry – ou Katie teria simplesmente se virado na estrada e me entregado, não? Eu estava atrás dela todo o caminho desde o Três Vassouras. Teria feito muito mais sentido entregar o pacote fora de Hogwarts, com Filch revistando todo mundo que entra e sai. Eu me pergunto, porque Malfoy lhe disse para o levar para dentro do castelo? – Harry, Malfoy não estava em Hogsmeade! – disse Hermione, agora batendo os pés no chão com frustração. – Ele deve ter usado um cúmplice, então – disse Harry. – Crabbe ou Goyle... ou, parando para pensar, outro Comensal da Morte, ele deve ter muitos outros parceiros melhores que Crabbe e Goyle agora que se uniu a... Rony e Hermione trocaram olhares que claramente diziam que não havia sentido em discutir com ele. – Dilligrout – disse Hermione firmemente quando chegaram à Mulher Gorda. 129 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto O retrato abriu-se para admiti-los no salão comunal. Estava bastante cheio e cheirava a roupa úmida; muitas pessoas pareciam ter voltado de Hogsmeade mais cedo devido ao mau tempo. Não havia murmúrios sobre medo ou especulação contudo. Claramente, a notícia do ocorrido com Katie ainda não havia se espalhado. – Não foi um ataque muito bem feito, na verdade, se pararmos para pensar – disse Rony, despreocupadamente retirando um aluno do primeiro ano de uma das boas poltronas perto do fogo para que ele pudesse se sentar. A maldição não conseguiu sequer entrar no castelo. Não foi o que se poderia chamar de sem furos. – Você está certo – disse Hermione, cutucando Rony para fora da cadeira com seu pé e oferecendo-a de volta para o aluno do primeiro ano. – Não foi muito bem planejado mesmo. – Mas desde quando Malfoy tem sido um dos maiores pensadores do mundo? – perguntou Harry. Nem Rony nem Hermione responderam. 130 – CAPÍTULO 13 – O Riddle secreto Katie foi transferida para o Hospital St. Mungos para Doenças e Acidentes Mágicos no dia seguinte, quando a notícia de que ela havia sido amaldiçoada já se espalhara por toda a escola, ainda que os detalhes fossem relatados de forma confusa e aparentemente apenas Harry, Rony, Hermione e Leanne soubessem que Katie não era o alvo desejado. – Ah, sim, Malfoy sabe, é claro – disse Harry para Rony e Hermione que continuavam com a sua nova política de se fazerem de surdos cada vez que Harry mencionava sua teoria “Malfoy-é-umComensal-da-Morte”. Harry se perguntava se Dumbledore retornaria de onde tivesse ido a tempo da sua aula da noite de segunda-feira, mas, não tendo recebido nenhum aviso de adiamento, às oito horas postou-se à frente do gabinete de Dumbledore, bateu e foi convidado a entrar. Lá estava Dumbledore, sentado e parecendo anormalmente cansado. Sua mão parecia tão enegrecida e queimada quanto antes, mas ele sorriu quando convidou Harry a sentar-se. A penseira estava pousada sobre a mesa novamente, projetando espectros de luz prateada sobre o teto. – Você esteve ocupado enquanto estive fora – disse Dumbledore – Soube que testemunhou o acidente com Katie. – Sim, senhor. Como ela está? – Ainda mal, ainda que tenha tido alguma sorte. Aparentemente, ela tocou o colar com o menor pedaço de pele possível: havia um pequeno furo em sua luva. Se tivesse posto o colar, até mesmo se o tivesse tocado sem luvas, ela teria morrido, talvez instantaneamente. Por sorte o Professor Snape pôde evitar que a maldição se espalhasse rapidamente. – Por que ele? – perguntou Harry rapidamente – Por que não Madame Pomfrey? – Impertinente – disse uma voz suave de um dos retratos na parede, o de Fineus Nigellus Black, o tetra-tetra-avô de Sirius, que ergueu a cabeça saindo de um sono aparente – eu jamais permiti que um estudante questionasse a maneira que Hogwarts operava em meu tempo. – Sim, obrigado, Fineus – interrompeu Dumbledore – o Professor Snape sabe bem mais sobre Artes das Trevas que Madame Pomfrey, Harry. De qualquer maneira, o pessoal do St. Mungos me tem enviado relatórios de hora em hora, eu acredito que Katie estará plenamente recuperada em breve. – Onde o senhor esteve esse fim de semana? – Harry perguntou, achando que talvez estivesse querendo saber demais, sentimento aparentemente compartilhado por Fineus Nigguellus, que sibilou suavemente. – Prefiro não falar sobre isso agora – disse Dumbledore – mas eu explicarei a você futuramente. – Sério? – disse Harry, espantado. 131 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Sim, espero. – disse Dumbledore retirando um frasco de memórias prateadas de dentro das vestes e desarrolhando-o com um toque de sua varinha. – Senhor – Harry disse – eu encontrei Mundungo em Hogsmeade. – Ah, sim, eu já sei que Mundungo andou desrespeitando um pouco sua herança com sua mão leve, – disse Dumbledore, franzindo o cenho – ele tem ficado quieto desde que você o flagrou próximo ao Três Vassouras, eu creio que ele está apavorado com a idéia de me encarar. Contudo, fique certo que ele não vai mais sair por aí negociando nenhum dos objetos que pertenceram a Sirius. – Aquele velho mestiço sarnento andou roubando relíquias da família Black? – disse Fineus Nigellus incisivo, desaparecendo em seguida da sua moldura, sem dúvida para visitar seu retrato no nº 12 do Largo Grimmauld. – Professor – disse Harry, depois de uma pausa – A professora McGonnagall contou ao senhor o que eu disse a ela depois do ataque a Katie? Sobre Draco Malfoy? – Sim, ela me falou sobre suas suspeitas. – disse Dumbledore – E o senhor? – Eu certamente tomarei as medidas apropriadas para investigar qualquer um que possa ter alguma culpa no acidente com Katie. – disse Dumbledore – Mas o que me interessa agora, Harry, é a nossa aula. Harry sentiu-se um pouco ressentido com aquilo: se as aulas eram assim tão importantes, por que então houvera um espaço de tempo tão grande entre a primeira e a segunda? Contudo, ele não disse mais nada sobre Draco Malfoy, observando Dumbledore despejar as memórias na penseira e logo em seguida agitar levemente a bacia de pedra uma vez mais entre as suas longas mãos. – Você lembra, tenho certeza, que paramos a história da origem de Lord Voldemort no ponto em que o belo trouxa, Tom Riddle, abandonou sua esposa bruxa, Mérope, e retornou à casa de sua família em Little Hangleton. Mérope foi abandonada em Londres, grávida do bebê que um dia seria Lord Voldemort. – Como sabe que ela estava em Londres, senhor? – Por causa da evidência dada por Caractacus Burke – disse Dumbledore – que, por estranha coincidência, ajudou a fundar a mesma loja de onde veio o colar sobre o qual falávamos antes. Ele revolveu o conteúdo da penseira como Harry o vira fazer antes, como um garimpeiro procurando por ouro. Sobre a massa rodopiante prateada surgiu a imagem de um velho pequeno, ondulando suavemente, prateado como um fantasma, apenas mais sólido, cujo cabelo cobria completamente os olhos. – Sim, nós o adquirimos em curiosas circunstâncias. Ele nos foi trazido por uma jovem bruxa logo antes do Natal, ah, há muito tempo atrás. Ela disse que precisava demais do dinheiro, o que, aliás, era bem óbvio. Coberta de trapos, horrenda... nos últimos meses da gravidez, veja bem. Ela disse que o camafeu pertencera a Slytherin. Bem, nós ouvimos esse tipo de história o tempo todo, “Oh, isso pertenceu a Merlin, certamente, seu bule favorito!”, mas quando eu o olhei melhor, ele tinha a marca legítima, e alguns feitiços simples foram suficientes para constatar sua autenticidade. Claro, isso o tornava quase inestimável. Ela sequer fazia idéia do quanto era valioso e ficou bem feliz em receber dez galeões por ele. A melhor barganha que já fizemos. Dumbledore deu uma sacudida mais vigorosa na penseira e Caractacus Burke dissolveu-se na massa ondulante de lembranças de onde tinha vindo. – Ele só deu a ela dez Galeões? – disse Harry, indignado. – Caractacus Burke não era famoso por sua generosidade – disse Dumbledore – então, sabemos que quase no fim da gravidez, Mérope estava sozinha em Londres, precisando desesperadamente de ouro, desespero suficiente para vender a única coisa de valor que tinha, o precioso camafeu que Servolo herdara de sua família. – Mas ela podia fazer mágica – disse Harry impacientemente – ela podia conseguir comida e tudo mais através de magia, não podia? 132 Capítulo 13 – O Riddle Secreto – Ah, – disse Dumbledore – provavelmente podia, mas acredito que, estou supondo, novamente, mas creio que estou certo, que quando o marido a abandonou, Mérope parou de usar magia. Acho que ela não queria mais ser bruxa. Claro, há também a possibilidade de seu amor não correspondido e o subseqüente desespero terem feito com que ela perdesse seus poderes; isso pode acontecer. De qualquer modo, como você vai poder ver, Mérope recusou-se a levantar sua varinha mesmo para salvar a própria vida. – Ela sequer quis viver por seu filho? Dumbledore ergueu a sobrancelha: – Será que você está sentindo pena de Lord Voldemort? – Não. – disse Harry rapidamente – mas ela teve uma escolha, não? Ao contrário de minha mãe... – Sua mãe teve uma escolha, também – disse Dumbledore, gentilmente. – Sim, Mérope Riddle escolheu a morte a despeito de seu filho necessitar dela, mas não a julgue tão severamente, Harry. Ela estava enfraquecida por um longo período de sofrimentos e não tinha a coragem de sua mãe. Agora, se você se levantar... – Aonde vamos? – Harry perguntou, enquanto Dumbledore se juntava a ele em frente à mesa. – Desta vez – disse Dumbledore – entraremos em uma lembrança minha. Eu acho que vai achá-la bem rica em detalhes e satisfatoriamente acurada. Pode ir na frente, Harry... Harry inclinou-se sobre a penseira, seu rosto atravessou a superfície fresca da lembrança e então ele caiu através da escuridão, novamente... Segundos depois, seus pés tocaram o chão e ele abriu os olhos, descobrindo que ele e Dumbledore estavam numa rua movimentada e antiga de Londres. – Lá estou eu – disse Dumbledore, animado, apontando adiante uma figura alta atravessando a rua diante de uma carroça de leiteiro. Este Dumbledore mais jovem tinha os cabelos e a barba longos num tom acaju. Seguindo-o pela rua, viram-no subir a calçada atraindo muitos olhares curiosos para a veste pomposa de veludo cor-de-ameixa que ele usava. – Belo traje, senhor, – Harry comentou sem pensar, ao que Dumbledore simplesmente riu, enquanto seguiam a uma curta distância sua versão mais jovem, até passarem por uma série de portões de ferro num pátio austero, que dava para uma soturna construção cercada por grades altas de ferro. Ele subiu alguns degraus até a porta da frente e bateu uma vez. Após um tempo, a porta foi aberta por uma menina retraída que usava um avental. – Boa tarde. Tenho uma reunião marcada com uma Sra. Cole, que, acredito, deve ser a diretora daqui, certo? – Oh – disse a menina, parecendo atônita diante da aparência excêntrica de Dumbledore – ahn... só um mo... SRA. COLE – ela gritou sobre o ombro. Harry ouviu uma voz distante gritando algo em resposta. A garota virou-se para Dumbledore: – Pode entrar, ela está vindo. Dumbledore seguiu por um salão de piso ladrilhado em branco e preto; o lugar tinha uma aparência gasta, mas impecavelmente limpa. Harry e o Dumbledore mais velho o seguiram. Antes mesmo que a porta da frente se fechasse atrás deles, uma mulher magra de aparência atormentada veio rapidamente ao seu encontro. Ela tinha um rosto astuto, que parecia mais ansioso que rude, e vinha falando sobre o ombro com outra ajudante de avental enquanto andava até Dumbledore. – ... e leve o iodo lá em cima para Martha, Billy Stubs andou cutucando suas feridas e Eric Whalley sujou os lençóis, está coberto por catapora – disse para ninguém em particular, até que seus olhos encontraram Dumbledore e ela parou subitamente, atônita, como se houvesse acabado de dar de cara com uma girafa. – Boa tarde – disse Dumbledore, estendendo-lhe a mão. A Sra. Cole apenas abriu a boca. 133 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Meu nome é Alvo Dumbledore. Mandei uma carta à senhora solicitando um encontro e a senhora muito gentilmente convidou-me a vir aqui hoje. A Sra. Cole piscou. Decidindo, aparentemente, que Dumbledore não era uma alucinação, ela disse, debilmente: – Ah, sim... bem, então... melhor o senhor entrar na minha sala. Sim. Ela o conduziu a uma saleta que parecia uma mistura de sala de estar e escritório. Parecia tão gasto quanto o saguão, e a mobília era velha e desigual. Ela convidou Dumbledore a sentar-se numa cadeira frouxa e sentou-se atrás de uma mesa limpa, encarando-o nervosa. – Estou aqui, conforme expliquei em minha carta, para conversar sobre Tom Riddle e sobre preparativos para o seu futuro – disse Dumbledore. – O senhor é um parente? – perguntou a Sra. Cole. – Não. Sou um professor, – disse Dumbledore – vim aqui para oferecer a Tom uma vaga em minha escola. – Que escola? – Chama-se Hogwarts – disse Dumbledore. – E como se interessaram por Tom? – Acreditamos que ele tem qualidades que nos interessam. – O senhor diz que ele conseguiu uma bolsa de estudos? Como pode ter conseguido? Ele jamais se candidatou a nenhuma. – Bem, ele está inscrito em nossa escola desde o nascimento. – Quem o matriculou? Seus pais? Não havia dúvida de que a Sra. Cole era uma mulher inconvenientemente esperta. Aparentemente Dumbledore também havia percebido isso, porque Harry o viu tirar a varinha do bolso de sua veste de veludo e ao mesmo tempo pegar um papel perfeitamente em branco de sobre a mesa da Sra. Cole. – Aqui – ele disse, acenando com a varinha enquanto passava a ela o pedaço de papel – creio que isso irá esclarecer as coisas. Os olhos da Sra. Cole saíram de foco e retornaram ao normal assim que ela observou atentamente o papel em branco por um instante. – Parece tudo perfeitamente em ordem – disse ela placidamente, devolvendo-lhe o papel. Então seus olhos pousaram sobre uma garrafa de gim e dois copos pousados diante dela, o que certamente não estava ali segundos antes. – Er... posso oferecer-lhe uma dose de gim? – ela disse, num tom mais polido. – Muito obrigado – disse Dumbledore alegremente. Ficou logo bem claro que a Sra. Cole não era uma novata bebendo gim. Servindo os dois copos com doses generosas, ela bebeu a sua com um único gole. Estalando os lábios, satisfeita, ela sorriu pela primeira vez para Dumbledore e ele não hesitou em usar isso como vantagem. – Eu estava pensando se a senhora não poderia me contar um pouco da história de Tom Riddle. Creio que ele nasceu aqui, no orfanato? – Exato – disse a Sra. Cole, servindo-se com mais uma dose de gim – lembro claramente, porque foi logo que vim trabalhar aqui. Foi numa véspera de Ano Novo amarga e fria, nevava, o senhor pode imaginar. Noite horrível. E a moça, não muito mais velha que eu era na época, apareceu cambaleando na escada da frente. Bem, não era a primeira. Nós a recebemos, e ela teve o bebê uma hora depois. E na hora seguinte, estava morta. A Sra. Cole sacudiu a cabeça impressionada e tomou mais um gole generoso de gim. – Ela disse algo antes de morrer? – Perguntou Dumbledore – alguma coisa sobre a criança ou o pai, de alguma forma? – Agora me lembro: ela disse, sim. – disse a Sra. Cole, que parecia mais satisfeita agora, com o gim na mão e uma platéia ávida por sua história. – Lembro que ela disse a mim: “espero que ele pareça com seu papai”, e, não vou mentir, ela estava certa em esperar por isso, por que ela não era nada bonita. Então, ela me pediu que o chamasse 134 Capítulo 13 – O Riddle Secreto de Tom, como seu pai, Servolo, como o pai dela. É, acho que é um nome engraçado, não? Nós ficamos imaginando se ela não teria vindo de um circo. Ela disse também que o sobrenome dele seria Riddle. E morreu logo depois, sem dizer mais nada. – Bem, nós o nomeamos conforme ela disse, parecia importante para a pobre moça, mas nenhum Tom ou Servolo ou Riddle de espécie alguma jamais apareceu para procurá-lo, ou parente algum, então, ele ficou no orfanato e está aqui até hoje. A Sra. Cole, quase que distraidamente, serviu-se de mais uma dose de gim. Duas manchas rosadas agora apareciam em suas bochechas. Então ela disse: – É um garoto estranho. – Sim – disse Dumbledore – eu imaginei que ele fosse. – Foi um bebê esquisito, também. Raramente ele chorava, sabe? E quando cresceu um pouco mais ele se tornou... muito estranho. – Estranho como? – perguntou Dumbledore gentilmente. – Bem, ele... Mas a Sra. Cole calou-se, e não havia sombra de dúvida no olhar inquisidor com que encarou Dumbledore por sobre seu copo de gim. – Ele conseguiu definitivamente uma vaga em seu colégio, certo? – Definitivamente. – respondeu Dumbledore. – Nada do que eu diga poderá mudar isso? – Nada – disse Dumbledore. – Você vai levá-lo embora, de qualquer modo? – De qualquer modo. – repetiu Dumbledore, sério. Ela o olhou de esguelha, como se estivesse em dúvida se confiava ou não nele. Aparentemente, ela decidiu que sim, pois respondeu subitamente: – Ele assusta as outras crianças. – A senhora quer dizer que ele é um valentão? – perguntou Dumbledore. – Acho que ele parece ser... – disse a Sra. Cole franzindo o cenho – mas é bem difícil flagrá-lo nessa posição. Houve incidentes... coisas graves. Dumbledore não a pressionou, embora Harry tivesse certeza que ele estava interessado. Ela tomou mais um gole de gim e suas bochechas ficaram ainda mais rosadas. – O coelho de Billy Stubb... bem, Tom disse que não teve nada a ver com isso e não sei como ele poderia ter feito, mas... o coelho não poderia ter se enforcado sozinho no telhado. – Também creio que não – disse Dumbledore calmamente. – Mas eu estaria louca se dissesse que sei como ele fez isso. Tudo que sei é que ele e Billy tinham discutido no dia anterior. E aí... – a Sra. Cole tomou mais um gole, deixando escorrer um pouco pelo queixo dessa vez – no passeio de verão... nós costumamos levá-los, sabe, uma vez por ano, para o campo ou para a praia. Bem, Amy Benson e Dennis Bishop nunca foram os mesmos depois disso e tudo que sabemos por eles é que entraram numa caverna com o Tom Riddle. Ele jurou que estavam apenas explorando o lugar, mas alguma coisa aconteceu lá, tenho certeza. E, bem, houve mais uma série de coisas, coisas estranhas... Ela encarou Dumbledore novamente, e embora suas bochechas estivessem enrubecidas, seu olhar era firme. – Não acho que muita gente vá se importar em vê-lo pelas costas. – A senhora entende, tenho certeza, que não podemos ficar com ele permanentemente – disse Dumbledore – ele deverá voltar, até a conclusão, todo ano no verão. – Ah, bem, isso é melhor que levar na cara com um atiçador enferrujado... – disse a Sra. Cole com soluço débil. Ela ficou de pé e Harry ficou impressionada em como ela estava bem, apesar dos dois terços de garrafa de gim que havia entornado. – Creio que o senhor gostaria de vê-lo, não? – Muito – disse Dumbledore, erguendo-se também. 135 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Ela o levou do escritório até as escadas, passando instruções e repreendendo ajudantes e crianças pelo caminho. Os órfãos, Harry podia ver, usavam todos o mesmo tipo de túnica cinzenta. Pareciam todos razoavelmente bem cuidados, mas não havia forma de negar que era um lugar sinistro para se crescer. – Aqui estamos – Disse a Sra. Cole, conforme acabaram de subir o segundo lance de escadas e pararam diante da primeira porta num longo corredor. Ela bateu duas vezes e entrou. – Tom? Você tem uma visita. Esse é o senhor Dumberton, digo, Dunderbore. Ele veio para dizer-lhe... bem, diga a ele o senhor, é melhor. Harry e os dois Dumbledores entraram no quarto e a Sra. Cole bateu a porta atrás deles. Era um quarto pequeno e simples, sem nada além de um velho guarda-roupa e uma cama de ferro. Um menino estava sentado sobre os cobertores cinzentos com as pernas esticadas e segurando um livro. Não havia nenhum traço facial dos Gaunt em Tom Riddle. Mérope fora atendida em seu último desejo: ele era uma miniatura de seu belo pai, alto para onze anos, cabelos escuros, pálido. Seus olhos se estreitaram ligeiramente ao reparar na aparência excêntrica de Dumbledore. Houve um momento de silêncio. – Como está, Tom? – disse Dumbledore, adiantando-se e estendendo a mão. O menino hesitou, então estendeu a sua mão para o cumprimento. Dumbledore puxou a cadeira pesada de madeira ao lado da cama de Riddle, de forma que agora pareciam um paciente e um visitante em um hospital. – Eu sou o Professor Dumbledore. – Professor? – repetiu Riddle, parecendo cauteloso. – Seria “doutor”? O que você veio fazer aqui? Ela te disse que desse uma olhada em mim? Ele apontou a porta por onde a Sra. Cole acabara de sair. – Não, não. – disse Dumbledore sorrindo. – Não acredito em você – disse Riddle. – Ela quer que me vigie, certo? Diga a verdade! Falou as últimas palavras com uma força que era quase chocante. Foi uma ordem, e parecia que ele havia feito isso milhares de vezes antes. Seus olhos arregalaram-se e ele encarava Dumbledore, que nada fez a não ser continuar sorrindo agradavelmente. Depois de alguns segundos, Riddle desviou o olhar, embora parecesse, do mesmo modo, cauteloso. – Quem é você? – Já disse. Meu nome é Professor Dumbledore e eu trabalho em uma escola chamada Hogwarts. Eu vim oferecer a você uma vaga em minha escola. Sua nova escola, se você quiser vir. A reação de Riddle foi surpreendente. Ele pulou da cama e deu as costas a Dumbledore, parecendo furioso. – Você não vai me tapear! O hospício, é pára lá que você vai me levar, não é? “Professor”, pois sim! Bem, não quero ir, certo? Aquela gata velha que deveria ir para o hospício. Eu nunca fiz nada com a pequena Amy Benson e nem com Dennis Bishop, pode perguntar aos dois! – Não sou do hospício – disse Dumbledore pacientemente – eu sou um professor e se você recuperar a calma e sentar-se, falarei sobre Hogwarts. Claro que se você preferir não ir para a escola, ninguém irá forçá-lo. – Quero ver alguém tentar isso! – Hogwarts – começou Dumbledore, como se não houvesse escutado as últimas palavras proferidas pelo outro – é uma escola para pessoas com habilidades especiais... – Eu não sou louco! – Eu sei que você não é louco. Hogwarts não é uma escola para malucos. É uma escola de magia. Houve um silêncio. Riddle parou, sua expressão era neutra, mas os olhos percorriam Dumbledore de cima a baixo como se procurasse algum indício de que ele mentia. – Magia? – repetiu num sussurro. – Exato – respondeu Dumbledore.. 136 Capítulo 13 – O Riddle Secreto – O que eu posso fazer... é magia? – O que é que você pode fazer? – Todo tipo de coisa. – sussurrou Riddle. Um acesso de excitação subia pelo seu pescoço, percorria sua face encovada, ele parecia febril – eu posso fazer coisas se mexerem sem tocá-las. Posso obrigar animais a fazer o que eu quero, sem treiná-los. Eu posso fazer coisas ruins acontecerem com quem eu não gosto. Posso machucá-los, se quiser. Suas pernas estavam bambas. Ele cambaleou para trás e sentou-se na cama novamente, olhando espantando para as mãos, sua cabeça curvada como se estivesse orando. – Sabia que eu era diferente. – ele sussurrou para os próprios dedos trêmulos. – Sabia que eu era especial, sempre soube que havia alguma coisa. – Bem, você está totalmente certo – disse Dumbledore, que não estava mais sorrindo, mas observando Riddle atentamente. – Você é um bruxo. Riddle ergueu a cabeça. Seu rosto estava transfigurado. Havia uma alegria selvagem nele, que, por alguma razão, não lhe dava uma aparência melhor, ao contrário, dava a ele contornos de alguma forma mais rudes, uma expressão quase bestial. – Você também é bruxo? – Sim, sou. – Prove. – disse Riddle, no mesmo tom autoritário que havia usado quando dissera “diga a verdade”. Dumbledore ergueu as sobrancelhas. – Posso crer que você está aceitando a vaga que ofereci a você em Hogwarts, então? – Claro que aceito. – Então, dirija-se a mim como “professor” ou “senhor”. A expressão de Riddle endureceu um instante antes dele responder, num tom polido e irreconhecível: – Sinto muito, senhor. Digo, por favor, professor, o senhor poderia me mostrar...? Harry estava certo que Dumbledore iria recusar, dizer a Riddle que ele teria bastante tempo para demonstrações práticas em Hogwarts, que eles estavam numa construção cheia de trouxas e que deviam ter cautela. Para sua grande surpresa, contudo, Dumbledore pegou a varinha de dentro das vestes, apontou para o guarda-roupa surrado no canto e deu uma batida descuidada com ela. O guarda-roupa rompeu em chamas. Riddle levantou-se de um salto, Harry não podia culpá-lo por seu grito assustado e raivoso: tudo que possuía deveria estar ali. Mas antes que Riddle se virasse para Dumbledore, as chamas desapareceram, deixando o guarda roupa intacto. Riddle olhou atônito do guarda-roupa para Dumbledore com uma expressão gananciosa. Ele apontou a varinha: – Onde eu posso conseguir uma dessas? – Tudo a seu tempo – respondeu Dumbledore – creio que há alguma coisa querendo sair do seu guarda-roupa. E, de fato, um débil ruído podia ser ouvido de dentro. Pela primeira vez, Riddle parecia assustado. – Abra a porta – disse Dumbledore. Riddle hesitou, então cruzou o aposento e abriu a porta do guarda roupa. Na prateleira mais alta, sobre uma pilha de roupas surradas, uma pequena caixa de papelão sacudia-se e chacoalhava como se um bando de ratos assustados estivesse preso nela. – Pegue-a – disse Dumbledore. Riddle pegou a caixa trepidante. Ele parecia amedrontado. – Existe alguma coisa nessa caixa que não seja sua? – perguntou Dumbledore. Riddle deu um olhar longo, claro e calculado em direção a Dumbledore. – Sim, creio que sim, senhor. – ele respondeu finalmente, num tom inexpressivo. – Abra – disse Dumbledore. 137 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Riddle tirou a tampa e despejou o conteúdo dela na cama sem olhá-lo. Harry, que esperava algo muito mais excitante, viu um sortimento de objetos pequenos comuns: um ioiô, um dedal de prata, uma gaita fosca, entre outros, que uma vez fora da caixa, pararam de chocalhar e permaneceram inanimados sobre os cobertores finos. – Você vai devolver esses objetos aos donos e pedir desculpas. – disse Dumbledore calmamente, guardando a varinha no seu casaco. – Eu saberei se isso foi feito. E fique avisado: roubo não é tolerado em Hogwarts. Riddle nem de longe parecia envergonhado, continuava olhando friamente, avaliando Dumbledore. Finalmente, disse numa voz sem emoção: – Sim, senhor. – Em Hogwarts – começou Dumbledore – não ensinamos apenas a fazer magia, mas a controlála. Você, inadvertidamente, tenho certeza, tem usado seus poderes de forma que não é ensinada nem tolerada na escola. Você não é o primeiro e nem será o último a usar magia de forma descontrolada. Mas você deve saber que Hogwarts pode expulsar estudantes e o Ministério da Magia, sim, há um Ministério, pune os transgressores de forma ainda mais severa. Todo novo bruxo deve aceitar que, uma vez em nosso mundo, é preciso viver conforme nossas regras. – Sim, senhor – disse Riddle novamente. Era impossível adivinhar o que ele estava pensando: sua face permanecia inexpressiva conforme ele depositava o pequeno sortimento de objetos roubados de volta na caixa. Quando acabou, ele voltou-se para Dumbledore e disse, cruamente: – Não tenho dinheiro nenhum. – Isso é facilmente remediável – disse Dumbledore, pegando uma bolsinha de couro com dinheiro de dentro do bolso – Hogwarts mantém um fundo para estudantes que precisam de ajuda para comprar livros e vestes. Você terá de comprar seus livros de feitiços e tudo mais de segunda mão, mas... – Onde compro livros de feitiços? – interrompeu Riddle, que havia pego a pesada bolsa sem agradecer a Dumbledore e agora examinava um grande galeão de ouro. – Beco Diagonal – disse Dumbledore – eu tenho sua lista de livros e materiais comigo. Posso ajudá-lo a encontrar tudo que precisa... – Você vai comigo? – perguntou Riddle erguendo os olhos. – Claro, se você... – Não preciso de você – disse Riddle – estou acostumado a fazer minhas coisas sozinho, ando sozinho em Londres o tempo todo. Como se chega nesse Beco Diagonal... senhor? – ele perguntou, encarando Dumbledore. Harry achou que Dumbledore fosse insistir em acompanhar Riddle, mas mais uma vez surpreendeu-se. Dumbledore entregou a Riddle um envelope com sua lista de material e depois de explicar a Riddle exatamente como chegar ao Caldeirão Furado a partir do orfanato disse: – Você será capaz de enxergá-lo, apesar dos trouxas ao seu redor, pessoas não-mágicas, não conseguirem. Pergunte por Tom, o atendente do bar. Fácil de lembrar, já que ele tem o mesmo nome que você. Riddle encolheu-se irritado, como se tivesse de espantar uma mosca asquerosa. – Você não gosta do nome Tom? – Existem muitos Toms – resmungou Riddle. Então, como se não pudesse esquecer o assunto, como se ardesse de despeito, ele perguntou: – Meu pai era um bruxo? Ele chamava-se Tom Riddle, me disseram. – Infelizmente não sei – disse Dumbledore numa voz gentil. – Minha mãe não devia ser bruxa, se fosse não haveria morrido. – disse Riddle mais para si mesmo que para Dumbledore – Ele que devia ser. Então... depois de comprar meu material, quando irei para Hogwarts? 138 Capítulo 13 – O Riddle Secreto – Todos os detalhes estão no outro pergaminho em seu envelope – disse Dumbledore – você irá partir da estação King’s Cross no dia primeiro de setembro, há uma passagem nele também. Riddle concordou com a cabeça. Dumbledore ergueu-se e apertou sua mão novamente. Aproveitando isso, Riddle disse: – Posso falar com cobras. Descobri isso quando estive no campo. Elas me acham, sussurram comigo. Isso é normal num bruxo? Harry poderia jurar que ele havia guardado a menção a esse estranho poder até aquele momento, determinado a impressionar. – É incomum – disse Dumbledore, depois de um momento de hesitação – mas não inédito. Seu tom era casual, mas seus olhos moveram-se pelo rosto do garoto com curiosidade. Eles ficaram um instante, o homem e o menino, encarando-se mutuamente. Então o aperto de mão se desfez e Dumbledore saiu pela porta. – Adeus, Tom. Verei você em Hogwarts. – Creio que é tudo – disse o velho Dumbledore ao lado de Harry e, segundos depois, eles estavam flutuando no escuro mais uma vez, antes de aterrissar no escritório na época atual. – Sente-se – disse Dumbledore, aterrissando ao lado de Harry. Harry obedeceu, com a mente ainda cheia de tudo que acabara de ver. – Ele acreditou bem mais rápido que eu – disse Harry – digo, quando você lhe contou que era um bruxo – disse Harry. – Eu não acreditei em Hagrid imediatamente, quando ele me contou. – Sim, Riddle estava perfeitamente pronto para acreditar, nas suas palavras, que era “especial”. – disse Dumbledore. – Você sabia, então? – perguntou Harry. – Se eu sabia que ele se tornaria o mais perigoso bruxo das Trevas de todos os tempos? – disse Dumbledore – Não. Não fazia idéia que ele cresceria e seria o que foi. Contudo, certamente fiquei intrigado com ele. Voltei a Howarts determinado a ficar de olho nele, percebendo que até então ele fora solitário e sem amigos, o que, já naquela época, achei que devia fazer tanto pelo bem dos outros quando pelo dele. – Seus poderes, como você percebeu, eram já surpreendentemente bem desenvolvidos para um bruxo tão jovem e, mais interessante e assustador: ele já havia descoberto que possuía algum controle sobre esses poderes e começou a usá-los conscientemente. E, como você viu, não em experiências casuais comuns aos jovens bruxos: ele já usava mágica contra outras pessoas, para assustar, punir, controlar. As histórias sobre o coelho estrangulado e as crianças que ele atraiu para uma caverna e assustou eram extremamente sugestivas. “eu posso machucá-los se quiser...”. – E ele era ofidiglota. – interpôs Harry. – De fato, uma habilidade rara, e, supostamente, associada às artes das trevas, ainda que, sabemos, existam ofidiglotas entre os bons e os grandes também. Na verdade, seu dom de falar com serpentes não me alertou tanto quanto seu óbvio instinto para a crueldade, o sigilo e a dominação. – O tempo passou rápido – disse Dumbledore, mostrando o céu escuro pela janela – mas, antes de nos separarmos, gostaria de atrair sua atenção para alguns aspectos da cena que presenciamos, pois eles terão grande importância nos assuntos que discutiremos em reuniões futuras. – Primeiro: espero que tenha notado a reação de Riddle quando mencionei alguém que tinha o mesmo nome que ele, “Tom”. Harry assentiu. – Nesse ponto ele mostrou desprezo por qualquer coisa que o tornasse igual aos outros, qualquer coisa que o tornasse comum. Mesmo na época, ele queria ser diferente, ímpar, notório. Ele se livrou do seu nome, como você sabe, alguns anos depois dessa conversa e criou a máscara de “Lord Voldemort” atrás da qual se esconde há tanto tempo. – Creio também que você percebeu que Tom Riddle era também auto-suficiente, reservado, e, aparentemente, sem amigos. Ele não queria ajuda nem companhia na sua ida ao Beco Diagonal, preferia agir sozinho. O Voldemort adulto é igual. Você irá ouvir muitos de seus Comensais da Morte 139 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto alegando que são de sua confiança, que apenas eles são íntimos dele, que são os únicos a o entenderem. Eles estão iludidos. Lord Voldemort nunca teve um amigo e nem, acredito, jamais os quis ter. – E, finalmente, espero que você não esteja sonolento e preste atenção, Harry: o jovem Tom Riddle gostava de colecionar troféus. Você viu a caixa cheia de coisinhas roubadas que ele escondia no quarto. Elas haviam sido tiradas de vítimas do seu comportamento tirânico, suvenires, se prefere, resultantes de toques de mágica especialmente desagradáveis. Tenha em mente essa tendência a um comportamento gatuno, por que isso vai ser especialmente importante adiante. – E agora é realmente hora de dormir. Harry ficou de pé e enquanto ele atravessava a sala, seus olhos caíram sobre a mesinha onde o anel de Servolo Gaunt havia estado na última aula, mas o anel não estava mais lá. – Sim, Harry? – perguntou Dumbledore, uma vez que Harry havia parado. – O anel se foi – disse Harry, olhando em volta – mas acho que você deve ter guardado a gaita ou coisa parecida. Dumbledore sorriu para Harry, olhando por sobre os seus óculos de meia-lua. – Muito astuto, Harry. Mas a gaita era apenas uma gaita. E com essa enigmática observação acenou para Harry, que entendeu que estava sendo dispensado. 140 – CAPÍTULO 14 – Felix Felicis Herbologia era a primeira aula de Harry na manhã seguinte. Ele não conseguiu contar a Rony e Hermione sobre a aula com Dumbledore durante o café da manhã, com medo de que alguém o ouvisse, mas enquanto eles caminhavam através das hortas a caminho da estufa, ele pôs os amigos em dia. O terrível vento do fim de semana havia finalmente ido embora; a estranha névoa havia retornado, e eles levaram mais tempo do que o normal para encontrar a estufa certa. – Uau, que idéia assustadora, Você-Sabe-Quem garoto – disse Rony em voz baixa, enquanto eles se acomodavam em seus lugares em volta do toco retorcido de Snargaluff, que era o projeto daquele trimestre, e colocavam as luvas protetoras. – Mas eu ainda não entendo porque Dumbledore está te mostrando tudo isso. Quero dizer, é até interessante e tudo mais, mas qual é o motivo? – Não sei – disse Harry, fazendo um escudo protetor com goma – Mas ele disse que tudo era importante e ia me ajudar a sobreviver. – Eu acho fascinante – disse Hermione seriamente – Faz todo sentido do mundo saber tudo o que for possível sobre Voldemort. De que outra maneira você descobriria as fraquezas dele? – E como foi a última festa de Slughorn? – perguntou Harry através do escudo de goma. – Oh, na verdade foi bem divertida – disse Hermione, agora colocando os óculos de proteção – Quero dizer, ele exagera um pouco nas histórias de ex-alunos famosos, e definitivamente ele bajula McLaggen porque ele é tão bem relacionado, mas ele nos ofereceu boa comida e nos apresentou Gwenog Jones. – Gwenog Jones? – disse Rony arregalando os olhos por trás dos óculos de proteção – A Gwenog Jones? Capitã dos Holyhead Harpies? – Essa mesmo – disse Hermione – Particularmente eu a achei muito cheia de si mesma, mas... – Chega de conversa por aqui – interrompeu energicamente a Professora Sprout, parecendo nervosa enquanto andava de um lado para o outro. – Vocês estão ficando para trás, todo mundo já começou e Neville já consegiu a primeira vagem! Eles olharam em volta, certamente Neville estava sentado com o lábio ensangüentado e vários arranhões pelo rosto, mas segurando um desagradável objeto verde pulsante, do tamanho de um grapefruit. – Tudo bem, Professora, nós vamos começar agora – disse Rony, sussurrando quando ela se afastou novamente – Deveria ter usado Muffliato, Harry. – Não, nós não deveríamos – disse Hermione na mesma hora, mostrando-se como sempre totalmente contrária a qualquer pensamento e feitiço que tivesse ligação com o Príncipe Mestiço. – Bem, vamos lá... é melhor começarmos... Ela olhou apreensiva para os dois; os três respiraram fundo e então enfiaram a mão no toco retorcido que estava entre eles. Ele ganhou vida de imediato; ramos longos e espinhosos, parecidos com os da amora-preta, saíram do topo e chicotearam o ar. Um deles se emaranhou no cabelo de Hermione, e Rony o cortou 141 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto usando uma tesoura de jardinagem; Harry conseguiu amarrar alguns ramos dando nós neles mesmos, e um buraco se abriu no meio dos galhos parecidos com tentáculos; Hermione enfiou corajosamente o braço dentro do buraco, que fechou como um alçapão em volta de seu ombro; Harry e Rony torceram e forçaram os galhos e ramos, forçando o buraco a se abrir novamente, e Hermione estendeu seu braço livremente, segurando entre os dedos uma vagem igual a de Neville. De repente os ramos espinhosos se recolheram, e o toco retorcido ficou parecendo um inocente pedaço de madeira morta. – Eu não acho que vá querer nenhum desses em meu jardim quando eu tiver minha própria casa – disse Rony, puxando os óculos de proteção para a testa e limpando o suor do rosto. – Preciso de uma tigela – disse Hermione, segurando a vagem pulsante com toda a força; Harry entregou uma para ela, que colocou a vagem dentro, com uma expressão de nojo no rosto. – Não sejam melindrosos, espremam isso de uma vez, são melhores quando estão frescos! – gritou a Professora Sprout. – De qualquer maneira – continuou Hermione, como se a conversa não houvesse sido interrompida por um ataque de um pedaço de madeira – Slughorn irá dar uma festa de natal, Harry, e dessa vez não tem como você se esquivar, porque ele já me pediu para checar suas noites livres, para que ele tenha certeza de que irá marcar uma data em que você possa ir. Harry gemeu. Enquanto isso Rony, que estava de pé tentando estourar a vagem na tigela com as duas mãos, fazendo toda a força que podia, perguntou irritado: – E essa é outra festa apenas para os favoritos de Slughorn, não é? – Sim , é só para o Clube do Slug – disse Hermione A vagem voou dos dedos de Rony e atingiu o vidro da estufa, rebatendo na parte de trás da cabeça da Professora Sprout e derrubando o chapéu velho e remendado dela. Harry foi recuperar a vagem; quando voltou Hermione estava dizendo: – Olha, eu não inventei o nome Clube do Slug! – Clube do Slug – repetiu Rony com uma voz esnobe digna de Draco – É patético. Bem, espero que você aproveite a sua festa. Por que não tenta ajeitar as coisas com McLaggen, assim Slughorn pode transformar vocês em Rei e Rainha Slug? – Nós podemos levar convidados – disse Hermione, que por algum motivo ficou muito vermelha – e eu ia te convidar para vir comigo, mas se você acha tudo isso estúpido então eu não vou nem me incomodar! Harry desejou de repente que a vagem tivesse caído um pouco mais distante, para que ele não precisasse sentar no meio deles. Ignorado pelos dois, ele pegou a tigela com a vagem e tentou abri-la, da forma mais barulhenta e vigorosa que ele podia imaginar; infelizmente, ele ainda podia ouvir cada palavra da conversa deles. – Você ia me convidar? – perguntou Rony, com um tom de voz completamente diferente. – Sim – respondeu Hermione ainda nervosa – Mas obviamente, você prefere que eu ajeite tudo com McLaggen.... Houve uma pausa enquanto Harry continuava a forçar com uma pá a resistente vagem. – Não, eu não prefiro – disse Rony, numa voz baixa. Harry errou a vagem, acertou a tigela e a despedaçou totalmente. – Reparo – disse ele apressadamente, apontando para os pedaços com a varinha enquanto esses se juntavam e a tigela ficava perfeita novamente. O barulho, entretanto, pareceu avisar Rony e Hermione da presença de Harry. Hermione pareceu atrapalhada e imediatamente começou a folhear sua cópia de Plantas Carnívoras do Mundo para encontrar a maneira correta de extrair suco das vagens de Snargaluff; Rony, por outro lado, pareceu sem graça, mas também muito satisfeito consigo mesmo. – Entregue essa para mim, Harry – disse rapidamente Hermione – Aqui diz que nós devemos furá-la com alguma coisa pontuda... Harry entregou a tigela com a vagem para ela. Ele e Rony colocaram novamente os óculos de proteção e mergulharam os braços, mais uma vez, no toco. Na verdade ele não estava realmente 142 Capítulo 14 – Felix Felicis surpreso, pensou Harry, enquanto lutava com um ramo espinhoso que tentava estrangulá-lo; ele tinha uma vaga idéia de que isso aconteceria cedo ou tarde. Mas não tinha certeza de como se sentia quando pensava nesse assunto... Ele e Cho estavam agora muito constrangidos para olharem um para o outro, que dirá para conversarem; e se Rony e Hermione começassem a sair juntos e se separassem? A amizade deles poderia sobreviver? Harry se lembrou das poucas semanas quando eles não falaram um com o outro no terceiro ano; ele não gostou nadinha de tentar diminuir a distância entre os dois. E se eles não se separassem? E se eles ficassem como Gui e Fleur, e fosse excruciantemente embaraçoso estar na presença deles, de forma que ele tivesse que se manter distante? – Consegui! – gritou Rony, puxando uma segunda vagem do toco assim que Hermione conseguiu abrir a primeira, deixando a tigela cheia de tubérculos se contorcendo, como minhocas verdes e pálidas. O resto da aula transcorreu sem nenhuma menção à festa de Slughorn. Apesar de Harry ter observado mais de perto seus dois amigos nos dias seguintes, Rony e Hermione não pareciam diferentes, exceto pelo fato de estarem mais educados que o normal um com o outro . Harry achou que teria apenas que esperar para ver o que aconteceria sob a influência de Cerveja Amanteigada, na penumbra da sala de Slughorn, na noite da festa. Entretanto, apesar disso tudo, ele tinha outras preocupações. Katie Bell ainda estava no hospital St. Mungo, sem previsão de saída, o que significava que o promissor time grifinório que Harry vinha treinando com tanto cuidado desde setembro, estava com um artilheiro a menos. Ele adiou ao máximo substituir Katie com a esperança de que ela voltasse, mas o jogo de estréia contra a Sonserina estava se aproximando, e finalmente ele foi obrigado a aceitar que ela não estaria de volta a tempo. Harry não conseguiria suportar um novo teste com todos os integrantes da casa. Sentindo uma depressão que pouco tinha a ver com Quadribol, ele cercou Dino Thomas depois da aula de Transfiguração um dia. A maioria da classe já havia saído, apesar de alguns passarinhos amarelos continuarem a cantar voando pela sala, todos criações de Hermione; ninguém mais conseguiu nem uma pena. – Você continua interessado em jogar como artilheiro? – O quê? É claro que sim! -exclamou Dino excitado. Por cima do ombro de Dino Harry viu Simas Finnegan enfiando o livro na mochila, parecendo mal-humorado. Uma das razões pelas quais Harry havia preferido não chamar Dino para jogar é porque ele sabia que Simas não iria gostar. Por outro lado, ele precisava fazer o que fosse melhor para o time e Dino havia sido melhor do que Simas nos testes. – Bem, então você está dentro – disse Harry – Hoje às 7 da noite teremos um treino. – Certo – disse Dino – Puxa Harry! Nossa, mal posso esperar para contar para a Gina! Ele saiu da sala, deixando Harry e Simas sozinhos, um momento constrangedor que não ficou mais fácil quando um excremento de passarinho caiu na cabeça de Simas, quando um dos canários de Hermione sobrevoou a toda velocidade sobre eles. Simas não era a única pessoa contrariada pela escolha do substituto de Katie. Havia muitos murmúrios no salão comunal sobre o fato de Harry ter escolhido dois de seus colegas de classe para o time. Como Harry já tinha agüentado murmúrios e fofocas muito piores desde o começo de sua vida escolar, ele não se incomodou muito, mas ao mesmo tempo, a pressão estava aumentando para que eles conseguissem uma vitória no próximo jogo contra a Sonserina. Se a Grifinória vencesse, Harry sabia que toda a Casa esqueceria as críticas e juraria de pé junto que eles sempre acreditaram que tinham um grande time. Se eles perdessem.... bem, Harry pensou satisfeito que já tinha agüentado momentos bem piores. Após ver Dino voando naquela noite, Harry não teve motivos para se arrepender de sua escolha; ele funcionou muito bem com Gina e Demelza. Os batedores Peakes e Coote estavam melhorando cada vez mais. O único problema era Rony. Harry sempre soube que Rony era um jogador inconsistente, que ficava nervoso e sofria com a falta de confiança, e infelizmente, a perspectiva de abrirem a temporada pareceu trazer de volta sua 143 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto antiga insegurança. Após deixar que marcassem meia dúzia de gols, a maioria deles feitos por Gina, a técnica dele foi ficando cada vez mais agressiva, até que finalmente ele acertou um soco na boca de Demelza Robins quando ela se aproximou. – Foi um acidente! Por favor me desculpe, Demelza! – gritou Rony atrás dela enquando ela ziguezagueva até o chão, respingando sangue por todos os lugares – Eu apenas.... – Entrou em pânico? – gritou Gina nervosa, pousando ao lado de Demelza e examinando o seu lábio inchado. – Rony seu imbecil, olhe só o estado dela! – Eu posso arrumar isso – disse Harry, pousando ao lado das duas garotas e apontando a varinha para a boca de Demelza dizendo “Episkey”. – E Gina, não chame Rony de imbecil, você não é a capitã desse time. – Bem, você parecia muito ocupado para chamá-lo de imbecil então eu achei que alguém devia... Harry se controlou para não rir. – Para o ar todo mundo! Vamos lá! No geral, aquele foi um dos piores treinos que já haviam tido naquele ano, apesar de Harry achar que honestidade definitivamente não era a melhor política quando eles estavam tão próximos da partida. – Estão todos de parabéns! Eu acho que vamos arrasar com a Sonserina – disse ele animadamente, fazendo com que os artilheiros e batedores deixassem o vestiário muito satisfeitos com o próprio desempenho. – Eu joguei como um saco de bosta de dragão – disse Rony numa voz oca quando a porta foi fechada por Gina. – Não, você não jogou – disse Harry firmemente – Você é o melhor goleiro que eu testei, Rony! O seu único problema é o nervosismo! Ele continuou com o discurso de encorajamento por todo o caminho de volta para o castelo, e no momento em que atingiram o segundo andar, Rony parecia ligeiramente mais animado. Entretanto, quando Harry empurrou para abrir a tapeçaria que levava ao atalho costumeiro para a Torre da Grifinória, eles se encontraram olhando para Gina e Dino, que pareciam colados um no outro, num beijo impetuoso que confundia os dois. Foi como se alguma coisa grande e escamosa ganhasse vida dentro do estômago de Harry, arranhando ele por dentro: seu cérebro foi encharcado por sangue quente, apagando todo e qualquer pensamento e colocando uma única vontade no lugar, a necessidade de transformar Dino em geléia. Lutando com sua súbita loucura, ele ouviu a voz de Rony como se viesse de um lugar muito distante. – Ei! Dino e Gina se separaram e olharam em volta. – O que foi? – respondeu Gina. – Eu não quero encontrar minha própria irmã num amasso com alguém em público! – Esse corredor estava deserto até vocês dois chegarem! – disse Gina. Dino pareceu envergonhado. Ele sorriu levemente para Harry, que não retribuiu, enquanto o novo monstro dentro de Harry exigia que Dino fosse tirado do time no ato. – Er.... Gina, vamos... – disse Dino – vamos voltar para o salão comunal... – Vá você! – disse Gina – Eu quero dar uma palavrinha com o meu querido irmão! Dino saiu, parecendo nem um pouco chateado por não ter que presenciar a cena. – Certo – continuou Gina enquanto tirava os longos cabelos ruivos do rosto e encarava Rony – vamos acertar isso de uma vez por todas. Não é da sua conta com que eu saio ou o que faço com eles, Rony,... – É sim! – disse Rony ainda irritado – Você acha que eu quero ouvir as pessoas chamarem minha irmã de... – Chamar de que, Rony? – gritou Gina, sacando a varinha – Exatamente do que? 144 Capítulo 14 – Felix Felicis – Ele não tinha a intenção de dizer nada, Gina – disse Harry automaticamente, apesar do monstro estar aprovando cada palavra de Rony. – Ah, ele quis sim! – disse Gina ainda mais irritada – Só porque ele nunca ficou com ninguém na vida dele, só porque o melhor beijo que ele já teve foi da tia Muriel? – Cale a boca! – gritou Rony, passando da fisionomia vermelha para a púrpura. – Não eu não calo! – gritou Gina ainda mais – Eu vi como você é com a Fleuma, esperando que ela te beije na bochecha cada vez que você a vê, é patético! Se namorasse e conseguisse uns amssos por mérito próprio, não se importaria tanto ao ver os outros fazendo o mesmo. Rony também empunhou a varinha; Harry se colocou de pronto entre os dois. – Você não sabe sobre o que está falando! – rugiu Rony, tentando ter uma visão clara de Gina atrás de Harry, que estava na frente dela com os braços abertos. – Só porque eu não faço isso em público? Gina riu desdenhosamente, tentando tirar Harry de seu caminho. – Andou beijando Pichitinho? Ou você tem uma foto da tia Muriel guardada embaixo do travesseiro? – Sua... Uma luz alaranjada passou por baixo do braço esquerdo de Harry, errando Gina por milímetros; Harry empurrou Rony contra a parede. – Não seja idiota! – Harry ficou com a Cho Chang – gritou Gina, que parecia estar à beira das lágrimas agora – e Hermione ficou com o Victor Krum, você é o único que age como se isso fosse algo nojento, Rony, e isso só acontece porque você tem tanta experiência quanto um menino de doze anos! E depois disso ela foi embora. Harry rapidamente soltou Rony, que estava com uma fisionomia assassina. Os dois ficaram um tempo por ali, respirando de forma pesada até que Madame Nor-r-ra, a gata de Filch, apareceu, quebrando toda a tensão. – Vamos lá – disse Harry, ao ouvir os passos de Filch se aproximarem deles. Eles correram escada acima e por todo o corredor do sétimo andar. – Ei, saia do caminho! – grunhiu Rony para uma pequena menina que pulou assustada e derrubou uma garrafa de ovas de sapo. Harry mal ouviu o barulho de vidro quebrado; ele se sentiu desorientado e tonto; como se tivesse sido atingido por um raio. “É só porque ela é irmã do Rony” disse ele para si mesmo “Você apenas não gostou de vê-la beijando Dino porque ela é irmã do Rony”. Mas das profundezas de sua mente se intrometeu uma imagem do mesmo corredor deserto, com ele beijando Gina...o monstro dentro de seu peito ronronou de satisfação, mas aí ele viu Rony rasgando as cortinas da tapeçaria e apontando a varinha para Harry, gritando coisas como “traiu minha confiança” e “achava que você era meu amigo”... – Você acha mesmo que a Hermione ficou com o Krum? – perguntou Rony de repente, enquanto eles se aproximavam do retrato da Mulher Gorda. Harry se sobressaltou culpado e afastou seu pensamento de um corredor que não tinha sido invadido por Rony, onde ele e Gina estavam sozinhos. – O que? – perguntou confuso – Ah... er....er.... A resposta sincera seria sim, mas ele não queria dizê-la. No entanto, Rony pareceu ter entendido o pior, só de olhar para o rosto de Harry. – Dilligrout* – disse Rony sombrio para a Mulher Gorda, e eles entraram pelo retrato direto para o salão comunal. Nenhum dos dois mencionou Gina ou Hermione novamente, na verdade eles mal falaram um com o outro naquela noite, e foram deitar em silêncio, cada um absorvido com os próprios pensamentos. Harry permaneceu acordado por um longo período, olhando para o dossel da sua cama e tentando se convencer de que o que sentia por Gina era na verdade coisa de irmão mais velho. Eles conviveram como irmãos durante todo o verão, jogando Quadribol, atormentando Rony, e rindo de Gui e Fleuma. * Dilligrout – farinha de endro 145 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Ele conhecia Gina há anos.... é natural que se sentisse no dever de protegê-la... natural que ele se preocupasse com ela.... que quisesse arrancar cada costela do Dino por beijá-la... Não... ele precisava controlar este particular sentimento fraterno.... Rony roncou alto. Ela é a irmã do Rony, disse Harry para si mesmo, firmemente. Irmã do Rony. Está fora de cogitação. Ele não arriscaria a própria amizade com Rony por nada desse mundo. Ele ajeitou o travesseiro de uma maneira mais confortável e esperou o sono chegar, tentando manter todos seus pensamentos bem afastados de Gina. Harry acordou na manhã seguinte sentindo-se ligeiramente aturdido e confuso com a série de sonhos nos quais Rony o perseguia com um bastão de batedor, mas no meio do dia ele trocaria facilmente o Rony do sonho pelo real, que não só estava sendo desagradável com Gina e Dino, como também tratava com gelada indiferença uma Hermione confusa e magoada. Na verdade, Rony parecia ter se transformado da noite para o dia em algo tão inflamável e prestes a atacar quanto um explosivim. Harry passou o dia inteiro tentando manter a paz entre Rony e Hermione sem sucesso; finalmente Hermione foi dormir furiosa enquanto Rony caminhava para o dormitório masculino ameaçando vários calouros assustados, só por olharem para ele. Para o desespero de Harry, a nova fase agressiva de Rony não se dissipou nos dias seguintes. Pior, coincidiu com uma piora ainda maior de sua atuação como goleiro, tornando-o ainda mais agressivo, de modo que no último treino de Quadribol antes do jogo de sábado, ele não conseguiu defender nem um único arremesso que os artilheiros lançaram contra ele, mas ofendeu tanto a cada um, que Demelza Robins terminou o treino em prantos. – Você cale a sua boca e deixe ela em paz – gritou Peakes, que tinha cerca de dois terços da altura de Rony, embora fosse verdade que carregasse um pesado bastão de Quadribol. – CHEGA! – gritou Harry, que percebeu que Gina estava olhando ameaçadora para Rony e resolveu intervir, ao lembrar da sua reputação de lançadora de Azaração de Rebater Bicho-Papão e antes que as coisas saíssem de controle – Peakes, vá guardar os balaços. Demelza, se recomponha, você realmente jogou bem hoje, Rony... – ele esperou o resto do time ficar fora de alcance – Você é o meu melhor amigo, mas se você continuar a tratar os outros como fez hoje, eu serei obrigado a te tirar do time! Harry realmente acreditou por um momento que Rony iria acertá-lo, mas de repente, algo muito pior aconteceu: Rony pareceu afundar na vassoura, toda a agressividade pareceu abandoná-lo naquele momento e ele disse: – Eu estou fora. Sou patético.... – Você não é patético e você não vai sair do time! – disse Harry firmemente, segurando Rony pela frente das vestes – Você consegue defender qualquer coisa quando está em forma, o que você tem é um problema mental! – Você está me chamando de doido? – Sim, talvez eu esteja! Eles se olharam por um momento, até que Rony balançou a cabeça cansado. – Eu sei que você não tem tempo de encontrar outro goleiro, portanto vou jogar amanhã.... mas se nós perdermos, e nós iremos perder, eu sairei do time! Nada do que Harry dissesse faria diferença naquele momento. Ele tentou aumentar a confiança de Rony durante todo o jantar, mas Rony estava ocupado demais em ser rabugento e mal educado com Hermione, para notar. Naquela noite Harry ainda insistiu no salão comunal, mas o seu argumento principal, de que o time ficaria devastado se ele os abandonasse, foi por água abaixo com o resto do time reunido em um canto afastado deles, claramente conversando sobre Rony e lançando na direção dele olhares de reprovação. Finalmente Harry tentou ficar zangado, com a esperança de que se Rony fosse desafiado, quem sabe ele conseguiria ter uma atitude mais confiante na hora do jogo, mas a estratégia pareceu não ser melhor do que a do encorajamento, porque Rony foi se deitar mais cabisbaixo e deprimido do que nunca! 146 Capítulo 14 – Felix Felicis Harry permaneceu por um longo tempo acordado no escuro. Ele não queria perder o próximo jogo; não só porque esse era o primeiro jogo dele como capitão, mas porque ele estava determinado a vencer Draco Malfoy no Quadribol, mesmo que ainda não conseguisse comprovar suas suspeitas sobre ele. Mas se Rony continuasse a jogar como nos últimos treinos a chance deles seria mínima.... Se pelo menos houvesse alguma coisa que ele pudesse fazer para deixar Rony mais confiante... fazê-lo jogar com toda a sua capacidade... algo que desse certeza a Rony de que ele iria realmente bem naquele dia.... E a resposta chegou de repente, num momento súbito de gloriosa inspiração. Na manhã seguinte o café da manhã transcorreu com a excitação normal, os sonserinos vaiaram e provocaram o time grifinório assim que ele entrou no Salão Principal. Harry olhou para o teto e viu um céu azul, claro e límpido: um bom presságio. A mesa da Grifinória era uma massa só de vermelho e dourado, que cumprimentou animada a chegada de Harry e Rony. Harry sorriu e acenou; Rony sorriu sem graça e balançou a cabeça. – Anime-se, Rony! – gritou Lilá – Eu sei que você irá arrasar! Rony a ignorou. – Chá? – perguntou Harry – Café? Suco de abóbora? – Qualquer coisa – grunhiu Rony mordiscando uma torrada. Alguns minutos depois Hermione, que havia ficado tão cansada do comportamento insuportável de Rony que não desceu com eles para o café, parou ao lado deles. – Como vocês dois estão se sentindo? – perguntou com hesitação, com os olhos na parte de trás da cabeça de Rony. – Bem! – disse Harry, que estava concentrado em entregar o copo de suco de abóbora para Rony – Aqui está Rony. Agora beba! Foi só Rony encostar os lábios no copo que Hermione ordenou: – Não beba isso, Rony! Tanto Harry como Rony olharam para ela. – Por que não? – perguntou Rony Hermione olhou para Harry com cara de quem não estava acreditando no que estava vendo. – Você acabou de colocar algo na bebida dele! – Como? – perguntou Harry – Você me ouviu, eu vi o que você fez. Você simplesmente acabou de colocar algo na bebida do Rony. A garrafa está na sua mão agora mesmo. – Não sei do que você está falando – disse Harry, guardando rapidamente a pequena garrafa no bolso. – Rony, eu estou te avisando, não beba isto! – disse Hermione novamente, alarmada quando Rony pegou o copo, bebeu-o de uma vez e disse: – Pare de mandar em mim, Hermione. Ela pareceu escandalizada. Abaixando-se de uma forma que só Harry conseguisse ouvi-la, sussurrou: – Você deveria ser expulso por isso. Eu nunca esperei isso de você, Harry. – Olha só quem está falando – sussurrou Harry de volta – Tem confundido alguém ultimamente? Ela saiu batendo o pé para longe deles. Harry observou-a se afastar sem culpa. Na verdade Hermione nunca tinha entendido o quanto Quadribol era um assunto sério. Então Harry olhou para Rony, que estava estalando os lábios. – Está quase na hora – disse Harry tranqüilamente. A grama congelada estalava enquanto eles caminhavam para o estádio. – Que sorte que o tempo está tão bom hoje, não é mesmo? – Harry perguntou a Rony. – É.... – respondeu Rony, parecendo pálido e adoentado. Gina e Demelza já estavam usando o uniforme de Quadribol e esperando por eles no vestiário. 147 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Condições de jogo ideais! – disse Gina, ignorando Rony – E adivinhem só? Aquele artilheiro da Sonserina, o Vaisey, levou um balaço na cabeça ontem, durante o treino, e está muito machucado para jogar! E melhor ainda, Malfoy também ficou doente! – O quê? – perguntou Harry, virando-se para olhar diretamente para ela – Ele está doente? O que ele tem? – Não faço idéia, mas é ótimo para nós – disse Gina alegremente – Quem vai jogar no lugar é o Harper, ele está no mesmo ano que eu e é um idiota. Harry sorriu levemente, mas enquanto vestia seu uniforme escarlate, sua mente estava longe do Quadribol. Malfoy já havia reclamado uma vez que não poderia jogar porque estava machucado, mas naquela ocasião ele fez de tudo para que o jogo fosse remarcado para um momento mais propício para a Sonserina. Por que dessa vez ele estaria feliz por ser substituído? Ele realmente estaria doente ou estaria fingindo? – Estranho, você não acha? – Harry perguntou em voz baixa para Rony – Malfoy não jogar? – Eu chamaria de sorte! – disse Rony, parecendo muito mais animado – E Vaisey também está fora, ele é o melhor marcador do time, eu não achei ruim.... Ei! – disse Rony de repente, parando enquanto vestia as luvas de goleiro e olhando para Harry. – Que foi? – Eu... você... – Rony abaixou a voz, parecendo amedrontado e excitado ao mesmo tempo – Minha bebida, meu suco de abóbora... você não.... Harry levantou as sobrancelhas, mas apenas respondeu: – Nós vamos entrar em campo em 5 minutos, é melhor você calçar as suas botas. Eles entraram no campo sob aplausos e vaias. Um lado do campo era claramente vermelho e dourado, o outro, um mar de verde e prata. Muitos lufa-lufas e corvinais também tinham escolhido o lado que iriam apoiar: Debaixo de toda a gritaria e palmas Harry conseguia ouvir claramente o rugido do famoso chapéu de leão de Luna. Harry se aproximou de Madame Hooch, a juíza, que estava pronta para soltar as bolas da caixa. – Capitães, cumprimentem-se – disse ela, e Harry teve sua mão quase esmagada pelo novo capitão da Sonserina, Urquhart – Montem em suas vassouras. Ao sinal do meu apito.... 3...2...1... O apito soou e Harry e os outros jogadores deram o impulso inicial para voarem. Harry deu uma volta pelos perímetros do gramado, procurando pelo Pomo de Ouro e mantendo os olhos em Harper, que estava ziquezagueando bem abaixo dele. Então uma voz desafinada, diferente do locutor habitual das partidas, começou a narração do jogo. – Bem, e lá vão eles, e acho que todos estamos surpresos por ver o time que Potter formou neste ano. Muitos acham que o histórico como goleiro de Ronald Weasley no ano passado, fosse suficiente para que ele estivesse fora do time neste ano, mas é claro que uma amizade próxima com o capitão do time ajuda bastante..... Essas palavras foram recebidas com aplausos e zombaria pela arquibancada Sonserina. Harry se arrumou na vassoura para olhar melhor para o locutor da partida. Um garoto louro e alto, com um nariz meio torto, estava segurando o megafone enfeitiçado que havia pertencido a Lino Jordan, Harry reconheceu Zacarias Smith, um jogador da Lufa-Lufa por quem ele não nutria a menor simpatia. – Ah, e lá vem o primeiro arremesso da sonserina, é Urquhat quem se aproxima e... O estômago de Harry se revirou. – Weasley defende, bem, eu acho que até ele pode ter sorte alguma vez na vida... – Exatamente, Smith ele pode – murmurou Harry, rindo consigo mesmo, enquanto mergulhava entre os artilheiros com os olhos buscando por algum sinal do Pomo fugido. Com meia hora de jogo, a Grifinória liderava por sessenta a zero, tendo Rony feito algumas defesas espetaculares, algumas com as pontas das luvas, e Gina marcando quatro dos seis gols para a Grifinória. Isso definitivamente parou as considerações de Zacharias sobre os dois Weasleys estarem no time só porque Harry gostava deles, fazendo com que ele mudasse o assunto para Peakes e Coote. 148 Capítulo 14 – Felix Felicis – É claro que Coote não tem exatamente o corpo de um batedor – disse Zacharias com ar de zombaria – eles costumam ter um pouco mais de músculos... – Jogue um balaço nele! – gritou Harry para Coote enquanto voava na frente dele, mas ao invés disso Coote escolheu dirigir o próximo balaço para Harper, que estava passando na direção contrária de Harry. Harry ficou satisfeito ao ouvir o barulho surdo que indicava que o balaço havia atingido o alvo. Parecia que a Grifinória não podia fazer nada errado. Eles continuavam a marcar gols, enquanto do outro lado do campo Rony continuou a defender com facilidade todos os arremessos. Na verdade ele já estava até sorrindo, e quando após uma boa defesa a torcida começou o antigo coral de “Weasley é nosso Rei”, ele fingiu reger o coro do alto do campo. – Ele está se achando muito especial hoje, não é mesmo? – disse uma vozinha irritante e Harry quase caiu da vassoura quando Harper deliberadamente trombou com ele. – Seu traidor do próprio sangue.... Madame Hooch estava virada para o outro lado, e apesar dos Grifinórios gritarem com indignação, quando ela finalmente olhou, Harper já estava bem longe dele. Com o ombro doendo Harry o perseguiu, com vontade de dar o troco... – E eu tenho a impressão de que Harper, da Sonserina, avistou o Pomo de Ouro – disse Zacharias Smith através do megafone – Sim, ele definitivamente está enxergando algo que Harry ainda não viu... Zacharias era definitivamente um idiota, pensou Harry, será que ele não percebeu que ele havia acertado Harry? Mas no momento seguinte, Harry sentiu seu estômago gelar, Zacharias estava certo e Harry errado: Harper não havia disparado porque estava fugindo dele, ele havia visto algo que Harry não viu: o Pomo de Ouro estava voando em disparada bem acima deles, brilhando no céu azul. Harry acelerou, o vento assobiava tanto em seus ouvidos que ele deixou de ouvir todos os comentários de Smith e a torcida, mas Harper continuava na sua frente, e Grifinória liderava o jogo por apenas cem pontos... se Harper conseguisse pegar o Pomo de Ouro a Grifinória iria perder... e agora Harper estava esticando o braço.... – Ei Harper! – gritou Harry, em desespero – Quanto Malfoy te pagou para você vir no lugar dele? Ele não soube dizer de onde tirou essa frase, mas Harper hesitou por um minuto e ao manusear o Pomo de Ouro, deixou que ele escorregasse através dos dedos. Harry deu um impulso e conseguiu capturar a pequena bola flutuante. – CONSEGUI! – gritou Harry. Virando a vassoura, e voltando para o campo, exibindo o Pomo de Ouro. Quando a torcida percebeu o que havia acontecido um grande grito quase encobriu o som do apito que anunciou o fim da partida. – Onde você vai, Gina? – gritou Harry percebendo que estava envolvido num bloco de abraços no meio do ar, com o resto do time, mas Gina acelerou em direção às arquibancadas, e com um barulho estrondoso ela trombou com a cabine do locutor. Enquanto toda a arquibancada gargalhava e o time da Grifinória aterrisava ao lado dos destroços sob os quais Zacharias se movia com dificuldade; Harry ouviu Gina dizer calmamente para uma Professora MacGonnagal irada: – Esqueci de frear, Professora... me desculpe.... Rindo, Harry se libertou do resto do time e abraçou Gina, mas a soltou rapidamente. Evitando o olhar dela, ele bateu nas costas de um Rony animado, enquanto o time da Grifinória, todas as inimizades esquecidas, deixava o campo de braços dados, socando o ar e acenando para a torcida. O clima no vestiário era de alegria. – Simas disse que vai haver uma grande festa no Salão Comunal! – gritou Dino exultante – Vamos lá Gina, Demelza.... Rony e Harry foram os últimos a deixar o vestiário. Quando estavam prontos para saírem, Hermione entrou. Ela estava segurando o cachecol da Grifinória, e parecia aborrecida, mas determinada. 149 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Eu quero dar uma palavrinha com você, Harry – Ela respirou fundo – Você não deveria ter feito isso. Você ouviu o que Slughorn disse, é ilegal! – E o que você vai fazer? Nos entregar? – perguntou Rony. – Do que vocês dois estão falando? – perguntou Harry, enquanto se afastava vestindo as vestes, para que nenhum dos dois conseguisse ver ele sorrindo. – Você sabe perfeitamente do que estamos falando – disse Hermione irritada – Você colocou a poção da sorte no suco do Rony! Felix Felicis! – Não, eu não coloquei – disse Harry, virando-se para encará-los. – Sim, você colocou, Harry. E foi por isso que tudo deu tão certo, faltaram jogadores da Sonserina e Rony conseguiu salvar todos os arremessos. – Eu não coloquei poção nenhuma – disse Harry, agora com um sorriso largo. Ele colocou a mão dentro do bolso da capa e tirou uma pequena garrafa, que Hermione havia visto na sua mão de manhã. Estava cheia de um líquido dourado e a tampa continuava lacrada com cera. – Eu queria que Rony pensasse que eu havia colocado, então eu fingi que estava colocando quando percebi que você estava olhando. – ele olhou para Rony – você fez todas as defesas porque sentiu que estava com sorte. Mas você fez tudo por mérito próprio. Ele guardou novamente a poção no bolso. – Não havia nada no meu suco de abóbora? – perguntou Rony, assombrado. – Mas o tempo estava bom... e Vaisey não pôde jogar.... É sério que não tomei poção da sorte? Harry balançou a cabeça. Rony o encarou por um momento, e então se voltou para Hermione, imitando a voz dela: – Você colocou Felix Felicis no suco de abóbora do Rony esta manhã, foi por isso que ele conseguiu defender todos os arremessos! Viu só? Eu consigo defender gols sem precisar de ajuda, Hermione! – Eu nunca disse que você não conseguia! Rony, você também achou que o Harry havia te dado a poção! Mas Rony já havia passado por ela com a vassoura no ombro. – Bem... – disse Harry tentando quebrar o silêncio, ele não esperava que as coisas seguissem esse rumo – vamos.... vamos para a festa então? – Vá você! – disse Hermione, segurando as lágrimas – Eu estou cheia do Rony no momento, eu não sei o que foi que eu fiz.... E ela também precipitou-se para fora do vestiário. Harry caminhou lentamente de volta para o castelo, passando pela torcida, muitos deles gritando congratulações, mas sentiu uma grande sensação de fracasso. Ele tinha certeza de que se Rony vencesse o jogo, ele e Hermione seriam amigos de novo imediatamente. Ele não conseguia encontrar uma forma de explicar a Hermione que ela havia ofendido Rony ao beijar Victor Krum, não quando a ofensa tinha ocorrido há tanto tempo atrás. Harry não viu Hermione na festa da Grifinória, que estava no seu auge quando ele chegou. Novas palmas e gritos de comemoração saudaram seu aparecimento, e rapidamente ele foi envolvido por um grupo de pessoas que queria cumprimentá-lo. Tentando se livrar dos irmãos Creevey, que queriam uma análise sobre cada lance do jogo, e de um grupo de garotas que o cercou, rindo de seus comentários mais sem graça, enquanto batiam as pestanas, levou um bom tempo até ele conseguir encontrar Rony. Finalmente, ele se libertou de Romilda Vane, que estava dizendo com todas as letras o quanto ela gostaria de ser convidada por ele para ir a Festa de Natal de Slughorn. Enquanto ele se dirigia para a mesa de bebidas, ele encontrou Gina, com Arnold, o mini pufoso, equilibrando-se em seu ombro, e Bichento miando cheio de esperança em seus calcanhares. – Procurando Rony? – perguntou ela – Ele está logo ali, aquele hipócrita nojento. Harry olhou para o local onde ela estava indicando. Lá, bem à vista de todo o salão comunal, estava Rony tão agarrado com Lilá Brown, que era difícil dizer de quem era qual mão. 150 Capítulo 14 – Felix Felicis – Parece que ele está comendo a cara dela, não parece? – disse Gina friamente. – Mas eu acredito que ele precisa aprimorar a própria técnica de alguma maneira. Grande jogo, Harry. Ela deu um tapinha no braço dele, Harry sentiu como uma arremetida no estômago, mas então ela foi buscar mais cerveja amanteigada, com Bichento trotando logo atrás dela, com seus olhos amarelos fixos em Arnold. Harry virou de costas para Rony, que não parecia que iria sair dali tão cedo, bem a tempo de ver que o buraco do retrato estava se fechando. Com tristeza ele achou que viu uma juba de cabelos castanhos se afastarem. Ele voou naquela direção, desvencilhando-se de Romilda Vane novamente e abriu o retrato da mulher gorda. O corredor parecia deserto. – Hermione? Ele a encontrou na primeira sala de aula destrancada. Ela estava sentada na mesa do professor, sozinha, com exceção do círculo de pequenos pássaros amarelos que cantavam e sobrevoavam sua cabeça, que ela claramente havia conjurado do nada. Harry não pôde deixar de admirar o feitiço que ela havia acabado de fazer numa hora dessas. – Ah, olá Harry. – disse ela com a voz embargada – Eu estava apenas treinando. – Sim... eles são... er... realmente muito bons... – disse Harry. Ele não sabia o que dizer a ela. Ele estava imaginando se haveria alguma possibilidade dela não ter visto Rony, de ter apenas deixado o salão comunal porque a festa estava muito cheia... quando ela disse com a voz estranhamente alterada: – Rony pareceu estar aproveitando as comemorações. – É mesmo? – disse Harry – Não finja que não o viu – disse Hermione – Ele não estava exatamente se escondendo, estava? A porta abriu de repente. Para o horror de Harry, Rony entrou, rindo e puxando Lilá pelo mão. – Opa.... – disse ele se soltando dela ao avistar Harry e Hermione – Ops... – disse Lilá, e ela saiu da sala de aula rindo. A porta se fechou por trás dela. Houve um momento de terrível e constrangedor silêncio. Hermione estava encarando Rony, que se recusava a olhar para ela, mas que disse num estranho misto de embaraço e bravata: – Oi, Harry, eu estava pensando onde você poderia ter ido.... Hermione desceu da mesa. O pequeno grupo de pássaros ainda voava em círculos em volta da cabeça dela, fazendo com que de uma forma estranha, ela parecesse o sistema solar. – Você não devia deixar a Lilá esperando do lado de fora – ela disse calmamente – ela vai ficar se perguntando, onde você terá ido... Ela caminhou lentamente para a porta, com a cabeça erguida. Harry olhou de relance para Rony, que pareceu aliviado por nada pior ter acontecido. – Oppugno! – veio um grito da porta. Harry olhou a tempo de ver Hermione apontando a varinha para Rony, com uma expressão selvagem no rosto: o pequeno grupo de pássaros voou rapidamente em direção a Rony, como se fossem balas de uma metralhadora. Ele cobriu o rosto com as mãos, mas os pássaros atacaram, bicando em cada parte de carne que eles conseguiram alcançar. – TIRISSODAQUI!!!!!– gritou Rony, mas com um último olhar de fúria vingativa, Hermione abriu a porta e desapareceu por ela. Harry achou que ouviu um soluço antes da porta se fechar. 151 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – CAPÍTULO 15 – O Juramento Inquebrável A neve rodopiava novamente contra as vidraças geladas, o Natal se aproximava rapidamente. Hagrid já trouxera sozinho as doze usuais árvores de Natal para o Grande Salão, guirlandas cintilantes e de azevinho tinham sido torcidas à volta das balaustradas das escadas, velas permanentes brilhavam dentro dos elmos das armaduras e grandes ramos de visco* tinham sido espalhados em intervalos ao longo dos corredores. Grupos grandes de garotas tendiam a se agrupar em torno do visco cada vez que Harry passava, o que causava bloqueios nos corredores. Por sorte, contudo, Harry, andando constantemente pelo castelo à noite, adquirira um conhecimento incomum sobre suas passagens secretas, então conseguia, sem muita dificuldade, circular, entre uma aula e outra, por caminhos livres dos ramos. Rony, que poderia antes ter considerado a necessidade desses desvios um motivo para inveja, mais que para achar graça, simplesmente gargalhava disso tudo agora. Embora Harry preferisse esse novo Rony, risonho e piadista, ao mal-humorado e agressivo modelo que ele aturara nas semanas anteriores, o novo e melhorado Rony tinha um preço alto. Primeiramente, Harry havia sido obrigado a suportar a presença constante de Lilá Brown, que parecia considerar qualquer momento em que não estivesse beijando Rony como tempo perdido. Em segundo lugar, Harry tinha novamente como melhores amigos duas pessoas que pareciam que jamais se falariam outra vez. Rony, cujas mãos e antebraços tinham ainda as marcas das picadas do bando de passarinhos conjurados por Hermione para atacá-lo, adquirira um tom ressentido e defensivo. – Ela não tem do que se queixar – ele explicou a Harry – ela deu uns amassos no Krum, então, descobriu que alguém também queria me agarrar. Bem, estamos em um país livre. Não fiz nada demais. Harry não respondeu, mas fingiu estar muito absorto no livro que eles deveriam supostamente ler antes da aula de Feitiços da manhã seguinte (Quintessência: uma Busca). Determinado a manter a amizade tanto de Rony quanto de Hermione, ele vinha passando bastante tempo com a boca bem fechada. – Nunca prometi nada a Hermione – resmungou Rony – digo, tá certo, eu ia com ela à festa do Slughorn, mas ela não disse... só como amigos, sou uma pessoa livre... Harry virou a página do Quintessência, ciente que Rony o observava. A voz de Rony foi tornando-se uma série de murmúrios, quase inaudíveis sob o estalar alto da lareira, a ponto de Harry só conseguir perceber as palavras “Krum” e “não pode se queixar”, novamente. Hermione tinha o horário tão tomado, que Harry só podia falar com ela apropriadamente à noite, quando geralmente Rony estava tão agarrado com Lilá que nem notava o que Harry estava fazendo. Hermione se recusava a sentar no salão comunal quando Rony estava por perto, então, *Se você nunca viu nenhum filme sobre Natal americano ou inglês, não deve estar familiarizado com a tradição de se beijar a pessoa quando ela passa embaixo do galho de visco, que é uma planta muito comum na decoração de Natal desses países. 152 Capítulo 15 – O Juramento Inquebrável geralmente, Harry a encontrava na biblioteca, o que significava que suas conversas eram por meio de sussurros. – Ele é perfeitamente livre para beijar quem quiser – disse Hermione enquanto a bibliotecária, Madame Pince, circulava pelas estantes atrás deles – eu realmente não poderia ligar menos. Ela ergueu a pena e colocou um pingo num “i” com tanta força que fez um buraco no pergaminho. Harry não disse nada. Pensou que talvez sua voz logo desapareceria por falta de uso. Curvou-se mais sobre Preparo de Poções – Nível Avançado e continuou a fazer anotações acerca dos Elixires Perpétuos, parando ocasionalmente para decifrar os acréscimos úteis ao texto de Borage feitos pelo Príncipe. – A propósito – comentou Hermione, após alguns segundos – você precisa tomar cuidado. – Pela última vez – respondeu Harry com a voz meio rouca depois de três quatros de hora em silêncio – não vou devolver esse livro. Aprendi mais com o Príncipe do que Snape ou Slughorn me ensinaram em... – Não estou falando sobre o seu idiota auto-denominado Príncipe – disse Hermione, olhando aborrecida para o livro como se ele a houvesse ofendido. – Estava falando do assunto anterior. Entrei no banheiro feminino logo antes de vir para cá e havia uma dúzia de garotas lá, incluindo aquela Romilda Vane, elas tentavam decidir qual a melhor forma de te fazer tomar uma poção de amor. Todas tinham a esperança de conseguir ir com você à festa do Slughorn e todas haviam comprado as poções de amor de Fred e Jorge, que temo dizer que provavelmente funcionam. – Por que você não as confiscou, então? – perguntou Harry. Parecia extraordinário que a mania de Hermione de seguir as regras pudesse tê-la abandonado nesta situação crucial. – Elas não estavam com as poções no banheiro – replicou Hermione desdenhosamente. – só estavam discutindo tática. Como duvido que mesmo o Príncipe Mestiço – e lançou ao livro outro olhar maldoso – pudesse conceber um antídoto que servisse para uma dúzia de poções de amor ao mesmo tempo, eu simplesmente convidaria alguém para ir se eu fosse você. Isso faria todas as outras pararem de pensar que ainda têm uma chance. É amanhã à noite e elas estão ficando desesperadas. – Não há ninguém que eu queira convidar – resmungou Harry, que continuava tentando não pensar em Gina mais do que pudesse evitar, embora ela continuasse aparecendo com freqüência em seus sonhos de formas que o faziam agradecer por Rony não saber nada de Legilimência. – Bem, apenas cuidado com o que beber por que Romilda Vane parecia estar levando isso a sério – disse Hermione severamente. Ela puxou o longo rolo de pergaminho onde escrevia sua redação de Aritmancia e continuou a arranhá-lo com a pena. Harry a observava com a mente abstraída. – Espere um instante – ele disse lentamente – Filch não tinha dito que banira qualquer artigo das Gemialidades Weasley que encontrasse? – E desde quando alguém liga para o que Filch baniu? – perguntou Hermione, ainda concentrada na redação. – Mas eu achei que as corujas estavam sendo revistadas. Como essas garotas conseguiram trazer poções de amor para dentro da escola? – Fred e Jorge mandam tudo disfarçado como perfumes ou poções para tosse. – respondeu Hermione. – Faz parte do seu serviço de entrega por corujas. – Você sabe um bocado sobre isso. Hermione deu a ele o mesmo olhar feio que acabara de lançar para o seu livro de poções. – Estava tudo no verso dos frascos que eles mostraram para mim e para Gina nas férias – ela disse friamente. – Eu não saio por aí colocando poções na bebida dos outros... ou fingindo que coloquei, o que é tão ruim quanto. – É, bem, esquece isso – respondeu Harry rapidamente. – A questão é: Filch está sendo enganado, não? Essas garotas estão trazendo essas coisas para a escola disfarçadas sob outra forma! Então por que Malfoy não poderia ter trazido o colar para a escola...? – Ah Harry, de novo não... – Ah, fala aí, por que não? – questionou Harry. 153 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Olha – disse Hermione – Sensores secretos detectam azarações, maldições e feitiços ocultos, não? Eles são usados para encontrar magia negra e objetos das trevas. Eles teriam encontrado uma maldição poderosa, como aquela do colar, em poucos segundos. Mas algo colocado numa garrafa diferente não seria registrado. De todo modo, poções de amor não são perigosas nem ligadas à magia negra... – Pra você é fácil falar isso – murmurou Harry, pensando em Romilda Vane. – ...então, ficaria a cargo de Filch perceber que não era uma poção para tosse, e ele nem é um bruxo muito bom, duvido que distinga uma poção de... Hermione parou repentinamente. Harry ouvira também. Alguém movera-se atrás deles entre as prateleiras sombrias. Eles esperaram e um momento e depois o rosto semelhante a um urubu de Madame Pince apareceu no canto, suas faces encovadas, a pele como pergaminho e seu nariz comprido em forma de gancho, iluminados de modo a torná-la mais feia pela lamparina que carregava. – A biblioteca está fechada agora – ela disse – devolvam o que quer que tenham pego para as estantes certas... o que estava fazendo com o livro, garoto depravado? – Não é da biblioteca! É meu! – disse Harry apressadamente, sacando da mesa sua cópia de Preparo de Poções – Nível Avançado, conforme ela estendia uma mão em garra para o livro. – Degenerado! – ela sibilou – profanador, excomungado! – É só um livro com anotações – disse Harry, saindo do alcance dela. Ela parecia à beira de um ataque apoplético. Hermione, que rapidamente guardara seus pertences, puxou Harry pelo braço e o arrastou para longe. – Ela vai te banir da biblioteca se você não tomar cuidado. Por que levou esse livro idiota? – Não tenho culpa se a mulher ficou doida, Hermione. Será que ela te ouviu falando mal do Filch? Sempre achei que os dois tinham alguma coisa. – Ah, haha! Aproveitando o fato de poderem falar normalmente de novo, eles foram pelos corredores desertos e mal iluminados até a sala comunal conjeturando se Filch e Madame Pince tinham ou não um romance secreto. – Bugigangas! – disse Harry à mulher gorda essa nova e festiva senha. – O mesmo para você – respondeu a mulher gorda com um sorriso velhaco, e virou o retrato para que passassem. – Oi Harry! – saudou Romilda Vane, assim que ele passou pelo buraco do retrato – Aceita uma água-de-gilly? Hermione deu a ele um olhar de “que-foi-que-eu-te-disse?” sobre o ombro. – Não, obrigado – ele respondeu rápido – Não gosto muito. – Tudo bem, fique com esses, de qualquer forma – disse Romilda enfiando-lhe nas mãos uma caixa. – Caldeirões de chocolate recheados com uísque de fogo. Meu avô me mandou, mas eu não gosto. – Ah, tá... muito obrigado – respondeu Harry, que não encontrava mais nada para dizer – Er... eu estou indo com... – Ele correu atrás de Hermione, sua voz diminuindo debilmente. – Eu disse – comentou Hermione sucintamente – quanto mais cedo você chamar alguém, mais cedo elas te deixam em paz e... Mas seu rosto subitamente tornou-se inexpressivo, ela acabara de enxergar Rony e Lilá, que estavam sentados entrelaçados na mesma poltrona. – Bem... boa noite, Harry. – disse Hermione e, ainda que fossem apenas sete da noite, subiu para o dormitório das garotas sem mais nenhuma palavra. Harry foi para a cama confortado pela idéia de que havia apenas mais um dia de aula adiante, então, a festa de Slughorn e depois disso ele e Rony iriam juntos para A Toca. Agora parecia impossível que Rony e Hermione fizessem as pazes antes do início das férias, mas talvez, pelo menos, a folga poderia dar aos dois algum tempo para acalmar-se e pensar melhor no seu comportamento... 154 Capítulo 15 – O Juramento Inquebrável Mas essas esperanças não eram muito consistentes, e naufragaram depois de uma aula de Transfiguração com ambos no dia seguinte. Eles haviam acabado de entrar no tópico extremamente difícil da transfiguração humana, trabalhando em frente a espelhos, deviam supostamente mudar a cor de suas sobrancelhas. Hermione riu rudemente diante da desastrosa primeira tentativa de Rony, em que, de alguma forma, ele conseguira dar a si mesmo um espetacular bigode de pontas viradas. Rony revidou fazendo uma cruel, porém acurada, imitação de Hermione quicando para cima e para baixo na cadeira cada vez que a Professora Mac Gonnagall fazia uma pergunta, que Lilá e Parvati acharam profundamente divertida e que levou Hermione à beira das lágrimas novamente. Assim que o sinal tocou, ela saiu da sala de aula deixando metade das suas coisas para trás. Harry, decidindo que ela precisava mais dele do que Rony agora, recolheu o que ela deixara e a seguiu. Ele finalmente a descobriu quando ela saía do banheiro feminino do andar abaixo. Luna Lovegood a acompanhava, dando-lhe nas costas tapinhas vagos. – Oh, olá, Harry... – disse Luna – Você sabia que uma das suas sobrancelhas está amareloclara? – Oi Luna. Hermione, você deixou suas coisas... Ele entregou-lhe seus livros. – Ah, tá... – disse Hermione numa voz engasgada, pegando suas coisas e virando-se rapidamente para esconder o fato de que estava enxugando os olhos com seu estojo. – Obrigada, Harry. Bem, é melhor eu ir... E ela se foi, sem dar chance a Harry de dizer qualquer palavra de consolo, ainda que ele não houvesse pensado em nenhuma. – Ela está meio chateada – disse Luna – Primeiro eu achei que fosse a Murta-que-Geme lá, mas era a Hermione. Ela disse alguma coisa sobre Rony Weasley. – Eles se desentenderam – disse Harry. – Ele fala coisas engraçadas às vezes, né? – disse Luna conforme iam seguindo juntos pelo corredor – Mas ele pode ser meio rude. Notei isso no último ano. – Eu imagino – disse Harry. Luna demonstrava novamente sua habilidade típica de falar verdades desconfortáveis, ele nunca conhecera ninguém assim. – Então, está tendo um bom ano? – Ah, bem, tudo bem. Um pouco solitário sem as aulas da AD. Gina tem sido legal, no entanto. Ela calou dois garotos que estavam me chamando de Di-Lua na aula de Transfiguração outro dia. – O que você acha de ir comigo na festa do Slughorn hoje à noite? As palavras saíram da boca de Harry antes que pudesse evitá-las. Ele se ouviu dizendo-as como se fosse um estranho que houvesse falado. Luna virou os olhos protuberantes na sua direção, surpresa. – A festa do Slughorn? Com você? – É – disse Harry. – Nós devemos levar convidados, então achei que você gostaria... digo... – ele procurou um meio de deixar bem claras suas intenções – apenas como amigos, digo. Mas se você não quiser... Ele estava quase esperando que ela dissesse que não queria. – Ah, não, adoraria ir como sua amiga! – disse ela, radiante como ele jamais a vira antes – ninguém nunca me convidou para nenhuma festa antes, como amiga! Foi por isso que você tingiu a sobrancelha? Para a festa? Eu tenho que tingir a minha também? – Não – disse Harry firmemente – Isso foi um erro. Vou procurar Hermione para consertar para mim. Então, te encontro no saguão de entrada às oito. – AHÁ! – berrou uma voz vindo de cima e ambos pularam. Sem que nenhum dos dois percebesse, eles haviam passado bem debaixo de Pirraça, que estava pendurado de cabeça para baixo de um candelabro, rindo maliciosamente deles. – Pottinho chamou a DiLua pra festa! O Pottinho ama a Di-Lua! O Pottinho aaaaaaaaaaaama a Di-Lua! – E ele disparou cacarejando e berrando: – O Pottinho ama a DiLua! 155 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Legal manter segredo sobre essas coisas – disse Harry. E, realmente, logo a escola inteira parecia saber que Harry iria levar Luna Lovegood à festa de Slughorn. – Você podia levar qualquer uma – Rony demonstrou sua desaprovação após o jantar – qualquer uma! E você chama a Di-Lua Lovegood? – Não a chame desse jeito, Rony! – disparou Gina, parada atrás de Harry no caminho para encontrar os seus próprios amigos – Fiquei realmente feliz por que você a convidou, Harry, ela está tão animada! E ela foi para seu lugar à mesa, ao lado de Dino. Harry tentou sentir-se satisfeito por que Gina estava contente por ele levar Luna à festa, mas não conseguiu. Bem longe, Hermione estava sentada sozinha brincando com a comida. Harry percebeu que Rony a olhava furtivamente. – Você podia pedir desculpas a ela. – sugeriu Harry bruscamente. – Pra que? Para ser atacado de novo por uma revoada de canários? – resmungou Rony. – Por que você tinha de imitá-la? – Ela riu do meu bigode! – Eu também ri, foi a coisa mais idiota que eu já vi. Mas Rony não pareceu ter ouvido, Lilá acabara de chegar acompanhada de Parvati. Enfiandose entre ele e Rony, Lilá pendurou-se no pescoço de Rony. – Oi Harry! – disse Parvati, como ele, parecendo sem graça e chateada com o comportamento do casal de amigos. – Oi – respondeu Harry – como você está? Então você ficou em Hogwarts? Ouvi que seus pais queriam levá-la embora. – Eu consegui convencê-los a me deixar mais um tempo. – comentou Parvati – Aquela história com Katie realmente os assustou, mas como não aconteceu mais nada parecido depois... oi, Hermione! Parvati sorriu positivamente. Harry poderia jurar que ela estava se sentindo culpada por ter rido de Hermione na aula de Transfiguração. Ele olhou ao redor e viu Hermione rindo de volta ainda mais animada, se isso era possível. Garotas eram muito estranhas, às vezes. – Oi Parvati!– disse Hermione, ignorando completamente Rony e Lilá – você vai à festa do Slughorn hoje? – Não fui convidada – respondeu Parvati deprimida – adoraria ir, parece que vai ser realmente divertida. Você vai, né? – Vou. Eu marquei com o Cormac às oito e... Houve um barulho como o de um mergulho interrompido e Rony virou-se. Hermione agiu como se não tivesse percebido nada. – ... nós vamos juntos à festa. – Cormac? – perguntou Parvati – Você quer dizer Cormac McLaggen? – Exato – disse Hermione docemente – aquele que quase – ela pôs uma grande ênfase na palavra – foi escolhido goleiro da Grifinória. – Você vai com ele? – perguntou Parvati com os olhos arregalados. – Vou, você não sabia? – disse Hermione com uma risadinha nada “Hermiônica”. – Não! – respondeu Parvati, parecendo absolutamente atônita com essa fofoquinha – Puxa, você gosta de jogadores de Quadribol, hein? Primeiro Krum, agora MacLaggen. – Eu gosto de jogadores realmente bons de Quadribol – corrigiu Hermione, ainda sorrindo. – Bom, vejo vocês depois... preciso me arrumar para a festa. Ela saiu. Logo Parvati e Lilá estavam distraídas comentando essa novidade, com tudo que já haviam ouvido sobre McLaggen e tudo que já haviam suposto sobre Hermione. Rony parecia estranhamente inexpressivo e ficou quieto, Harry foi deixando pensando em silêncio no quão longe uma garota pode chegar querendo vingança. Quando chegou no saguão de entrada, às oito, ele viu um número incomumente grande de garotas espreitando por ali, todas parecendo muito ressentidas quando ele se aproximou de Luna. Ela usava uma veste prateada com lantejoulas que atraía alguns risinhos debochados das curiosas, mas 156 Capítulo 15 – O Juramento Inquebrável ainda assim parecia bonitinha. Harry ficou satisfeito, de todo modo, ao ver que ela abandonara seus brincos de rabanetes, seu colar de rolhas de cerveja amanteigada e seu espectróculos. – Oi – ele disse – podemos ir, então? – Ah, sim – ela respondeu alegremente – onde é a festa? – Na sala do Slughorn – disse Harry, conduzindo-a pela escadaria de mármore para longe do burburinho. – você soube que ele parece ter convidado um vampiro? – Rufus Scrimegeour? – perguntou Luna. – Eu... o quê? – disse Harry desconcertado. – você diz o Ministro da Magia? – Sim, ele é um vampiro – disse Luna, de modo prático – Meu pai escreveu um longo artigo sobre isso assim que Scrimgeour tomou o poder de Cornélio Fudge, mas foi forçado a não publicá-lo por alguém do Ministério. Obviamente não queriam que a verdade aparecesse. Harry, que achava altamente improvável que Scrimgeour fosse um vampiro, mas estava habituado a ver Luna repetindo as bizarrices de seu pai como sendo verdades, não respondeu. Eles já estavam bem perto do escritório de Slughorn e os sons de risadas, música e conversa altos vinham crescendo a cada passo que davam. Seja porque construído daquela maneira, ou por ter sido aumentado por truques de magia, a sala de Slughorn parecia muito maior que a de qualquer outro professor. O teto e as paredes haviam sido forrados de tecido verde, vinho e dourado, daí pareciam estar dentro de uma imensa tenda. A sala estava cheia e abafada, banhada por uma luz avermelhada que se irradiava de uma lâmpada dourada toda pomposa pendurada no centro do teto, em torno da qual fadas de verdade flutuavam, cada uma parecendo uma pequena mancha de luz. Uma cantoria alta acompanhada de um som que parecia ser de bandolins vinha do lado mais afastado da sala, uma névoa de fumaça era alimentada pelos cachimbos de um grupo de velhos magos imersos numa conversa e um bando de elfos domésticos tentava passar guinchando aqui e ali por entre a floresta dos joelhos, escondidos embaixo das pesadas salvas de prata com comida que carregavam, de forma que pareciam mesas ambulantes. – Harry, meu garoto! – ribombou Slughorn, assim que Harry e Luna espremeram-se através da entrada. – Entre, entre, tanta gente que eu gostaria que você conhecesse! Slughorn usava um chapéu de veludo enfeitado que combinava com seu paletó. Apertando tanto o braço de Harry que parecia querer desaparatar junto com ele, Slughorn o carregou decididamente para dentro da festa. Harry segurou a mão de Luna e a carregou consigo. – Harry, gostaria que conhecesse Eldred Worple, um antigo aluno meu, autor de Irmãos de Sangue: Minha vida entre os Vampiros e, claro, seu amigo, Sanguini. Worple, um homem baixo, corpulento e de óculos, apertou a mão de Harry e sacudiu-a entusiasticamente; o vampiro Sanguini, que era alto e macilento com olheiras escuras sombreandolhe os olhos, apenas acenou com a cabeça. Ele parecia um tanto entediado. Um grupinho de meninas estava parado próximo a ele, todas parecendo curiosas e excitadas. – Harry Potter, estou simplesmente extasiado! – disse Worple, esquadrinhando o rosto de Harry com um olhar míope. – Eu estava dizendo ao professor Slughorn outro dia: “Onde está a biografia de Harry Potter que todos temos esperado?” – Er.. – disse Harry – todos? – Tão modesto quanto Horace o descreveu! – exclamou Worple. – Mas, sério, – suas maneiras mudaram, subitamente, para um ar bem mais comercial – Eu amaria escrevê-la! As pessoas clamam saber mais sobre você, querido! Clamam! Se estiver preparado para me garantir algumas poucas entrevistas, digo umas quatro ou cinco horas de sessões, poderíamos ter o livro pronto em alguns meses. E com muito pouco esforço de sua parte, posso garantir! Pergunte a Sanguini se não é verdade... Sanguini! Fique aqui! – acrescentou Worple, subitamente áspero para o vampiro que cercava o grupinho de garotas próximo com um olhar faminto. – Aqui, coma um aperitivo! – disse Worple, pegando algo de uma bandeja carregada por um elfo e empurrando nas mãos de Sanguini antes de voltar sua atenção para Harry novamente. – Meu querido garoto, o ouro que você pode ganhar, você não tem idéia ... 157 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Definitivamente, não estou interessado – disse Harry firmemente – e acabo de ver uma amiga, desculpe – saiu puxando Luna atrás de si para o meio da multidão. Ele realmente vira uma longa cabeleira castanha desaparecendo entre o que ele reconheceu como dois membros do conjunto As Esquisitonas. – Hermione, Hermione! – Harry! Aí está você, graças a Deus! Oi, Luna! – O que aconteceu contigo? – perguntou Harry, já que Hermione encontrava-se desgrenhada, como se tivesse lutado com uma moita de visgo-do-diabo. – Ah, eu acabei de escapar, digo, de deixar Cormac. – disse – Debaixo do visco – completou explicando, já que Harry continuava olhando-a com um ar questionador. – Bem feito por tê-lo convidado – ele ralhou severamente. – Achei que ele aborreceria Rony mais – disse Hermione desapaixonadamente – Eu cogitei vir com Zacarias Smith, mas achei que no conjunto... – Você considerou vir com Smith? – retrucou Harry, pasmo. – Sim, e estou começando a achar que deveria ter vindo com ele, McLaggen faz Grope parecer um cavalheiro. Vamos por aqui, poderemos vê-lo chegar, ele é tão alto. – Os três seguiram para o outro lado da sala, catando cálices de hidromel no caminho, percebendo tarde demais que a Professora Trelawney estava sozinha ali. – Olá! – disse Luna polidamente para a professora. – Boa noite, minha querida – a Professora Trelawney focalizou Luna com dificuldade. – Harry podia sentir o odor de vinho vagabundo novamente. – Não a vi nas minhas aulas ultimamente. – Não. Eu estou na turma de Firenze esse ano. – disse Luna. – Oh, claro – respondeu a professora com uma risadinha bêbada cheia de raiva – ou Dobbin, como prefiro chamá-lo. Vocês não calculavam que agora que estou de volta à escola o Professor Dumbledore se livraria do cavalo? Mas não... nós dois “dividimos as turmas”... é um insulto, francamente, um insulto! A Professora Trelawney parecia embriagada demais para reconhecer Harry. Disfarçado pela furiosa desaprovação a Firenze pela professora, Harry chegou mais perto de Hermione e disse: – Vamos falar sério. Você planeja contar a Rony que interferiu no seu teste para goleiro? Hermione ergueu as sobrancelhas: – Você realmente acha que eu me rebaixaria assim? Harry a mirou astutamente: – Hermione, se você pôde convidar McLaggen... – Existe uma diferença – disse Hermione com dignidade. – Não tenho planos de contar para Rony nada do que pode ou não ter acontecido nos testes para goleiro. – Bom – respondeu Harry fervoroso – por que ele simplesmente desmoronaria de novo e perderíamos o próximo jogo. – Quadribol! – disse Hermione raivosa – É tudo no que os garotos pensam? Cormac não perguntou uma única coisa sobre mim, não, fui brindada apenas com “Uma Centena de Defesas Brilhantes de Cormac McLaggen” ininterruptamente. Ai, não, lá vem ele. Ela se retirou tão rápido que parecia ter desaparatado, num instante ela estava lá e no momento seguinte, ela havia se espremido entre duas bruxas gargalhando e desaparecera. – Viu Hermione? – perguntou McLaggen, forçando a passagem entre a aglomeração um minuto depois. – Não, sinto muito. – disse Harry virando-se rapidamente para aderir à conversa que Luna estava tendo, esquecendo por um segundo quem era a interlocutora. – Harry Potter! – disse a Professora Trelawney no seu tom profundo e vibrante, notando-o pela primeira vez. – Ah, olá. – disse Harry sem entusiasmo. 158 Capítulo 15 – O Juramento Inquebrável – Meu garoto querido! – ela disse num sussurro muito cuidadoso – Os rumores! As histórias! O Escolhido! É claro que eu já sabia há muito tempo...os presságios nunca foram bons, Harry...Mas por que você desistiu de Adivinhação? Para você, entre todos, a matéria seria a mais importante! – Ah, Sibila, todos nós achamos que a nossa matéria é sempre a mais importante – disse uma voz alta e Slughorn apareceu do outro lado da Professora Trelawney, seu rosto vermelho e seu chapéu de veludo desalinhado, um copo de hidromel numa das mãos e um enorme pedaço de torta na outra. – Mas creio que nunca vi ninguém com tanto talento natural para Poções – disse Slughorn, mirando Harry fixamente com os olhos afetuosos, ainda que injetados. – Instintivo, entende? Como sua mãe! Só poucas vezes encontrei esse tipo de habilidade, posso lhe garantir, Sibila. Bem, até Severo ... E, para horror de Harry, Slughorn esticou um braço e pareceu puxar Snape, aparentemente do nada, na direção deles. – Pare de se esconder e junte-se a nós, Severo! – soluçou Slughorn alegremente – estava agora mesmo falando como Harry é um excepcional preparador de poções! Algum crédito é devido a você, claro, por ter lhe ensinado durante cinco anos! Preso pelos ombros no abraço de Slugorn, Snape baixou para Harry o seu nariz de gancho e seus olhos pretos se estreitaram. – Engraçado. Nunca achei que tivesse conseguido ensinar coisa nenhuma a Potter. – Bem, então é uma habilidade natural! – exclamou Slughorn – Você deveria ter visto o que ele fez na minha primeira aula, Poção do Morto-Vivo. Nunca tive um aluno que a produzisse tão bem na primeira tentativa, creio que nem mesmo você, Severo. – É verdade? – disse Snape calmamente, ainda cravando seus olhos em Harry, que sentia um certo desconforto. A última coisa que queria era que Snape começasse a investigar a razão do seu recente brilhantismo em poções. – Relembre-me Harry, que outras matérias está cursando? – perguntou Slughorn. – Defesa contra as Artes das Trevas, Feitiços, Transfiguração, Herbologia... – Tudo o que é preciso, em suma, para tornar-se um Auror. – comentou Snape com um leve deboche. – Sim, bem, é o que eu pretendo ser – disse Harry desafiador. – E um dos bons é o que você será! – disparou Slughorn. – Não acho que você deva ser um Auror, Harry – disse Luna inesperadamente. Todos olharam para ela. – Os Aurores fazem parte da Conspiração Presapodre, achava que todos sabiam disso. Eles planejam depor o Ministro da Magia com uma combinação de Magia Negra e gengivite. Harry inalou metade do seu hidromel pelo nariz quando começou a rir. Realmente, havia valido a pena trazer Luna só por essa. Ao emergir de seu cálice, tossindo e encharcado, mas ainda assim rindo, viu mais uma coisa calculada para elevar seu humor ainda mais: Draco Malfoy sendo trazido pela orelha por Argo Filch. – Professor Slughorn, – chiou Filch, com o queixo tremendo e o brilho maníaco da detecção de travessura nos olhos protuberantes, – descobri esse moleque espreitando no corredor do andar de cima. Ele alega que foi convidado para sua festa e havia se atrasado ao se arrumar. O senhor mandou um convite para ele? Malfoy livrou-se das garras de Filch parecendo furioso. – Está certo! Eu não fui convidado, estava tentando entrar de penetra! Satisfeito? – Não. Não estou! – respondeu Filch, as palavras não combinando em nada com a sua aparência feliz. – Você está encrencado, está sim! O diretor não disse que ninguém podia andar por aí à noite sem permissão? Hein? – Tudo bem, Argo, tudo bem – disse Slughorn acenando – É Natal, e não é crime querer ir a uma festa. Só desta vez, esqueça qualquer castigo. Pode ficar, Draco. 159 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto A expressão de desapontamento ultrajado de Filch era perfeitamente previsível, mas por que, Harry ponderou, Malfoy parecia igualmente infeliz? E por que Snape estava olhando Malfoy num misto de raiva e... seria possível, um pouco de apreensão? Mas assim que Harry registrou essa impressão, Filch virou-se e sumiu na multidão, resmungando entredentes, Malfoy endireitou-se com um sorriso e agradeceu a Slughorn pela generosidade e o rosto de Snape tornou-se perfeitamente inescrutável novamente. – Não é nada, não é nada – respondeu Slughorn com um gesto vago para Malfoy. – Eu conheci seu avô, afinal... – Ele sempre falou muito bem do senhor! – disse Malfoy rapidamente. – Dizia que o senhor foi o melhor preparador de poções que ele conheceu. Harry olhou para Malfoy. Não era a bajulação o que o intrigava. Ela já vira Malfoy agindo da mesma forma com Snape por muito tempo. Era o fato de Malfoy parecer, afinal, um pouco adoentado. Era a primeira vez que o olhava de perto em muito tempo, ele agora via que Malfoy tinha manchas escuras sob os olhos e um tom peculiar de cinza tingia-lhe a pele. – Gostaria de dar uma palavrinha com você, Draco. – disse Snape subitamente. – Agora, Severo – soluçou Slughorn novamente – É Natal, não seja tão duro... – Sou o Chefe da Casa dele e posso decidir o quão duro ou não serei. – disse Snape secamente – siga-me, Draco. Eles saíram, Snape na frente e Draco parecendo ressentido. Harry esperou um instante, irresoluto e então disse: – Volto num instante, Luna? er...? Banheiro. – Tudo bem – ela respondeu simpaticamente e ele achou tê-la ouvido, enquanto ele se livrava da multidão, retomar o assunto da Conspiração Presapodre com a Professora Trelawney, que parecia sinceramente interessada. Foi fácil, ao sair da festa, puxar do bolso a capa de invisibilidade e jogá-la sobre si, já que o corredor estava deserto. O mais difícil foi encontrar Snape e Malfoy. Harry correu pelo corredor, o barulho dos seus pés mascarado pela música alta e o burburinho de vozes vindo da sala de Slughorn atrás dele. Talvez Snape houvesse levado Malfoy para sua sala nas masmorras... ou, talvez, o estivesse escoltando de volta ao Salão Comunal da Sonserina... Harry pressionou seu ouvido contra cada porta pela qual passou até que, com um solavanco de excitação, ele se abaixou contra o buraco da fechadura da última sala do corredor e ouviu vozes. – ... não pode se permitir enganos, Draco, porque se você for expulso... – Eu não tive nada a ver com isso, certo? – Espero que esteja contando a verdade, porque isso foi ao mesmo tempo desajeitado e estúpido. Você já é suspeito de ter uma mão nisso. – Quem suspeita de mim? – respondeu Malfoy irritado – Pela última vez, não fiz isso, certo? Aquela garota, Bell, deve ter inimigos que ninguém conhece. Não me olhe desse jeito, sei o que está fazendo! Não sou estúpido, mas não vai dar certo. Eu posso parar você! Houve uma pausa em que Snape disse calmamente: – Ah, tia Bellatrix andou ensinando Oclumência, vejo. Que pensamentos você quer esconder do seu mestre, Draco? – Não estou tentando esconder nada dele, só não quero você xeretando... – Harry pressionou a orelha mais fortemente contra o buraco da fechadura; o que acontecera para Malfoy falar com Snape dessa maneira? Snape, aquele por quem ele sempre mostrara respeito, até mesmo predileção? – Então, é por isso que você anda me evitando este ano? Teme minha interferência? Você percebe que se qualquer outra pessoa deixa de vir à minha sala quando digo repetidamente para estar lá, Draco... – Então me dê uma detenção! Denuncie-me a Dumbledore! – zombou Malfoy. Houve outra pausa. Então Snape disse: – Você sabe perfeitamente bem que eu não quero fazer nada disso. – Seria melhor parar de ficar me convocando para ir à sua sala, então! 160 Capítulo 15 – O Juramento Inquebrável – Ouça-me – disse Snape com a voz tão baixa que Harry teve de pressionar sua orelha com muita força contra o buraco da fechadura – estou tentando ajudá-lo. Eu jurei à sua mãe que o protegeria. Eu fiz o Juramento Inquebrável, Draco... – Então, parece que vai ter que quebrá-lo, porque eu não preciso da sua proteção! É minha tarefa, ele a confiou a mim e eu vou cumpri-la. Tenho um plano que irá funcionar, só está demorando mais do que eu achei que demoraria. – Qual o seu plano? – Não é da sua conta! – Se você me disser o que está tentando fazer, posso ajudá-lo. – Tenho toda a ajuda que preciso, obrigado. Não estou sozinho! – Você certamente estava sozinho hoje, o que foi extremamente tolo, andar por aí pelos corredores sem vigias ou apoio. São erros elementares. – Teria Crabbe e Goyle comigo se você não tivesse posto os dois em detenção. – Abaixe a sua voz! – disparou Snape para Malfoy, cujo tom se elevara nervosamente. – Se seus amigos Crabbe e Goyle quiserem passar desta vez nos seus NOMS de Defesa Contra as Artes das Trevas terão de se esforçar mais do que fazem no mo... – Qual a importância disso? – disse Malfoy – Defesa Contra as Artes das Trevas! É uma piada, não é, uma farsa? Como se algum de nós precisasse se defender contra as Artes das Trevas... – É uma farsa essencial para o sucesso, Draco, – disse Snape. – Onde acha que eu teria estado todos esses anos se eu não soubesse representar? Agora me escute! Você tem sido incauto, andando por aí à noite, se deixando apanhar e se você deposita a sua confiança em assistentes como Crabbe e Goyle ... – Não são eles os únicos! Tenho mais gente me ajudando, gente muito melhor! – Então, por que não confia em mim, e eu posso ... – Eu sei o que você está tramando! Quer roubar a minha glória! Houve outra pausa, então Snape disse, friamente: – Você fala como uma criança. Eu entendo perfeitamente que a captura e prisão do seu pai te transtornaram, mas... Harry mal teve um segundo de alerta; ouviu os passos de Malfoy do outro lado da porta e jogou-se para fora do caminho exatamente antes dela abrir-se de sopetão. Malfoy saiu com passadas largas pelo corredor, passou em frente à porta da sala de Slughorn do outro lado do corredor e então, sumiu de vista. Mal ousando respirar, Harry permaneceu agachado enquanto Snape emergia lentamente de dentro da sala. Com uma expressão imperscrutável, ele retornou à festa. Harry permaneceu no chão, escondido sob a capa, a mente acelerada. 161 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – CAPÍTULO 16 – Um Natal Muito Frio – Então Snape estava lhe oferecendo ajuda? Então Snape estava realmente oferecendo ajuda a Draco? – Se você me perguntar isso novamente – disse Harry – ,vou acabar enfiando essa couve-deBruxelas... – Estou apenas conferindo! – disse Rony. Eles estavam sozinhos na pia da cozinha da Toca, descascando uma montanha de couves-de-Bruxelas para a Sra. Weasley. A neve estava turbilhonando além na janela diante deles. – Sim, Snape estava se oferecendo para ajudá-lo! – disse Harry. – Ele disse que prometeu à mãe de Malfoy que iria protegê-lo, que ele havia feito uma Jura Inquebrável ou coisa assim... – Um Juramento Inquebrável? -, disse Rony, chocado. – Não, ele não faria isso... Você tem certeza? – Sim, tenho certeza – disse Harry. – Por que? O que isso significa? – Bem, você não pode quebrar um Juramento Inquebrável... – Por incrível que pareça, já havia chegado a essa conclusão sozinho. O que acontece se você o quebrar, então? – Você morre – disse Rony simplesmente. – Fred e Jorge tentaram me induzir a fazer um quando eu tinha por volta de cinco anos. Eu quase o fiz, eu estava segurando as mãos de Fred e tudo o mais quando papai nos encontrou. Ele ficou uma fera! – disse Rony, com um brilho de lembrança nos olhos. – Foi a única vez em que vi o papai ficar tão bravo quanto a mamãe. Fred acha que sua nádega esquerda nunca mais foi a mesma depois disso. – Bem, deixando de lado a nádega esquerda de Fred... – Como é que é? – disse a voz de Fred quando os gêmeos entraram na cozinha. – Ei, Jorge, olhe isso. Eles estão usando facas e tudo o mais, Deus os abençõe. – Em dois meses e pouco farei dezessete anos – disse Rony rabugento – e então poderei fazer isso usando magia! – Mas até lá – disse Jorge, sentando-se na mesa da cozinha e colocando a perna sobre ela – nós podemos observar você demonstrar o uso correto de uma... iih! -, completou Jorge, rindo. – Por sua causa eu me cortei! – disse Rony bravo, chupando o corte no dedo. – Espere até eu completar dezessete anos... – Eu tenho certeza que você irá impressionar todos nós com seus até agora desconhecidos talentos mágicos, – caçoou Fred. – E falando de talentos desconhecidos até agora, Ronald – disse Jorge, – é verdade o que ouvimos de Gina sobre você e uma jovem chamada... se não estou enganado... Lilá Brown? Rony ficou um pouco vermelho, mas não aparentava estar bravo quando voltou às couves. – Cuide da sua vida. 162 Capítulo 16 – Um Natal muito frio – Que resposta fina! – disse Fred. – Não sei como você pôde pensar nela. Não, o que queríamos saber era... Como isso aconteceu? – O que você quer dizer com isso? – Ela sofreu um acidente ou algo assim? – O que? – Bem, como ela agüentou tanto dano no cérebro? Cuidado, agora! A Sra. Weasley entrou na cozinha bem a tempo de ver Rony arremessar a faca que ele usava para descascar as couves-de-Bruxelas contra Fred, que a transformou em um avião de papel com um gesto de sua varinha. – Rony! – disse ela, furiosa. – Nunca mais quero ver você arremessando facas novamente! – Não vou... – disse Rony. – ...deixar você me ver. -, ele acrescentou para si mesmo, voltando para a pilha de couves. – Fred, Jorge, me desculpem, queridos, mas Remo está chegando hoje à noite, portanto Gui irá dividir o quarto com vocês dois. – Sem problema, – disse Jorge. – Assim, como Carlinhos não virá, ficamos apenas com Harry e o Rony no sótão, e se Fleur dividir o quarto com Gina ... – Que Natal ótimo para Gina... – murmurou Fred, irônico. – ...todos ficarão bem acomodados. Bem, de qualquer modo, todos terão uma cama, – disse a Sra. Weasley, levemente chateada. – Então Percy com certeza não vai mostrar sua cara feia? – perguntou Fred. A Sra. Weasley virou-se e respondeu, antes de sair. – Não, ele está ocupado, imagino, no Ministério. – Ou ele é o maior imbecil do mundo -, disse Fred, quando a Sra. Weasley deixou a cozinha. – Um dos dois. Bem, então vamos indo, Jorge. – O que vocês dois estão aprontando? – perguntou Rony. – Vocês não poderiam nos ajudar com essas couves? Vocês poderiam usar as varinhas e então ficaríamos liberados também! – Não, não acho que possamos fazer isso, – disse Fred, sério. – É uma atividade muito importante para a formação da personalidade, aprender a descascar couves-de-Bruxelas sem magia, isso faz você ver o quanto isso é difícil para os trouxas e abortos...– – ... e se você quer que as pessoas ajudem você, Rony – acrescentou Jorge, arremessando para ele o avião de papel – eu lhe aconselharia a não atirar facas contra elas. Só uma dica. Estamos indo para a vila. Tem uma garota muito bonita trabalhando na papelaria que acha meus truques com cartas algo maravilhoso..., quase como mágica de verdade... – Idiotas – disse Rony irritado, vendo Fred e Jorge saindo pelo quintal cheio de neve. – Lhes tomaria apenas dez segundos e então poderíamos sair também. – Não posso, – disse Harry. – Prometi a Dumbledore que não sairia por aí enquanto estivesse aqui. – Ah, claro – disse Rony. Ele descascou mais algumas couves-de-Bruxelas e disse: – Você vai contar para Dumbledore o que ouviu Snape e Malfoy dizendo um pro outro? – Vou – disse Harry. – Vou contar isso para todos que puderem fazer algo para acabar com isso, e Dumbledore é o primeiro da lista. Acho que vou tentar conversar novamente com seu pai, também. – É uma pena que você não tenha ouvido o que Malfoy realmente está planejando. – Eu não ia conseguir, ia? Essa era a questão, ele estava se recusando a contar para o Snape. Fez-se silêncio por alguns instantes, então Rony disse: – Claro, você sabe o que eles vão falar? Papai e Dumbledore e todos os outros? Vão dizer que Snape não está de fato tentando ajudar o Malfoy coisa nenhuma, e sim descobrir o que ele está tramando. 163 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Eles não o ouviram – disse Harry terminantemente. – Ninguém é um ator tão bom assim, nem mesmo Snape. – Certo... Eu apenas estava dizendo ... – disse Rony. Harry virou-se para ele, franzindo a testa. – Você acredita que eu estou certo, não? – Acredito! – disse Rony depressa. – Eu realmente acredito! Mas todos eles estão convencidos que o Snape está trabalhando para a Ordem, não? Harry não disse nada. Já havia lhe passado pela cabeça que essa poderia ser a objeção mais provável à sua nova evidência. Ele já podia até imaginar Hermione dizendo: “– Harry, é óbvio que ele apenas está fingindo oferecer ajuda para poder fazer Malfoy contar o que ele está aprontando...” Isso, porém, era apenas pura imaginação, pois ele não havia tido nenhuma chance de contar a Hermione o que tinha ouvido. Ela havia desaparecido da festa de Slughorn antes dele voltar para ela, ou ao menos foi o que lhe disse um McLaggen enfurecido, e ela já tinha ido dormir quando ele voltou ao Salão Comunal. Como ele e Rony iam partir para a Toca bem cedo na manhã do dia seguinte, ele mal teve tempo de desejar-lhe um Feliz Natal e contar-lhe que tinha algumas coisas importantes para lhe dizer quando voltassem do feriado. Ele não estava totalmente certo de que ela o ouvira, porém. Rony e Lilá estavam se despedindo de modo inteiramente não-verbal, bem atrás dele naquele momento. De qualquer modo, mesmo Hermione não podia negar um fato: Malfoy realmente estava planejando algo, e Snape sabia disso. Portanto Harry sentia-se completamente justificado em dizer – Eu te disse – o que ele já tinha feito várias vezes com Rony. Harry não teve oportunidade de falar com o Sr. Weasley, que estava trabalhando até tarde no Ministério, até a véspera do Natal. Os Weasley e seus convidados estavam sentados na sala de estar, que Gina tinha decorado tão abundantemente, que eles pareciam estar sentados em uma explosão de guirlandas de papel. Fred, Jorge, Harry e Rony eram os únicos que sabiam que o anjo no topo da árvore era na verdade um gnomo do jardim que havia mordido Fred no tornozelo, quando ele fora colher cenouras para o jantar de Natal. Estuporado, pintado de dourado, vestido com uma miniatura de saiote de bailarina e com asinhas coladas às suas costas, ele olhava zangado para todos, o anjo mais feio que Harry já tinha visto, com a cabeça careca parecida com uma batata e pés meio peludos. Todos pareciam estar ouvindo um espetáculo natalino da cantora favorita da Sra. Weasley, Celestina Warbeck, cujos trinados vinham pelo grande rádio de madeira sem fio. Fleur, que parecia achar Celestina muito chata, estava falando tão alto num canto, que uma Sra. Weasley muito carrancuda ficava mexendo constantemente no volume do rádio com a varinha, de forma que o som de Celestina ficava cada vez mais alto. Ao som de uma música peculiar de jazz chamada “A Cauldron Full of Hot, Strong Love”(Um caldeirão Cheio de Amor Forte e Ardente), Fred e Jorge começaram a jogar Snap Explosivo com Gina. Rony continuava a olhar de esguelha para Gui e Fleur, como se esperasse conseguir umas dicas. Nesse meio tempo, Remo Lupin, que estava mais magro e mais mal vestido do que nunca, estava sentado do lado do fogo, com o olhar perdido nele, como se não pudesse ouvir a voz da cantora. Oh, come and stir my cauldron, (Oh, venha e mexa o meu caldeirão) And if you do it right, (E se você fizer isso certo) I’ll boil you up some hot strong love (Eu vou preparar-lhe um amor forte e ardente) To keep you warm tonight. (Para mantê-lo quente esta noite) – Nós dançamos ao som dessa música quando tínhamos dezoito anos! – disse a Sra. Weasley, limpando as lágrimas com o seu tricô. – Você lembra, Arthur? 164 Capítulo 16 – Um Natal muito frio – Ahnn?– disse o Sr. Weasley, cuja cabeça estava voltada para a tangerina que ele estava descascando. – Oh, sim... Música maravilhosa... Com um esforço, ele se aprumou um pouco mais e olhou para Harry, que estava sentado ao seu lado. – Desculpe,– disse ele, virando sua cabeça para o rádio quando Celestina começou o refrão. – Deve acabar logo. – Sem problema,– disse Harry, rindo. – Muito serviço no Ministério? – Muito...– disse o Sr. Weasley. – Eu não ligaria se estivéssemos conseguindo alguma coisa, mas das três prisões que fizemos nos últimos meses, duvido que uma sequer seja de um Comensal da Morte de verdade... apenas não repita isso, Harry.– acrescentou rapidamente, parecendo muito desperto de repente. – Eles não estão mantendo o Lalau Shunpike preso ainda, não é? – perguntou Harry. – Temo que sim, – disse o Sr. Weasley. – Eu sei que Dumbledore tentou apelar diretamente a Scrimgeour sobre o Lalau... Quero dizer, qualquer um que realmente o tenha interrogado concorda que ele é tão Comensal da Morte quanto esta tangerina... mas o alto escalão quer fazer parecer que está fazendo algum progresso, e “três prisões” parece melhor que “três prisões e solturas completamente equivocadas...” mas novamente, tudo isso é sigilo absoluto... – Eu não vou dizer nada,– respondeu Harry. Ele hesitou um pouco, pensando qual a melhor forma de entrar no que queria dizer. Conforme organizava seus pensamentos, Celestina Warbeck começou uma balada chamada “You Charmed the Heart Right Out of Me.” (Você enfeitiçou o meu coração e o tirou de mim.) – Sr. Weasley, o senhor lembra do que eu lhe disse na plataforma 9 e 1/2 quando fomos para a escola? – Eu verifiquei, Harry,– disse o Sr. Weasley de pronto. – Eu fui e chequei a casa dos Malfoy. Não havia nada, quebrado ou inteiro, que não devesse estar lá. – Sei, entendo. Eu vi no Profeta que o senhor olhou... Mas isso é realmente diferente... Bem, algo mais... E ele contou ao Sr. Weasley tudo o que ele tinha ouvido Malfoy e Snape conversando. Conforme Harry falava, ele viu a cabeça de Lupin voltar-se um pouco para ele, prestando atenção em cada palavra. Quando terminou, houve um silêncio rompido apenas pela melodia de Celestina. Oh, my poor heart, where has it gone? It’s left me for a spell... (Oh, meu pobre coração, onde você está? Me abandonou por um feitiço...) – Já lhe passou pela cabeça, Harry – disse o Sr. Weasley, – que Snape esteja simplesmente fingindo... – Fingindo oferecer ajuda, de forma que ele pudesse descobrir o que Malfoy está aprontando? – disse Harry rapidamente. – Sim, eu já pensei que o senhor diria isso. Mas como podemos saber? – Não é nosso tarefa saber,– disse Lupin inesperadamente. Ele virou-se de costas para o fogo e olhou Harry através do Sr. Weasley. – Esse é um problema de Dumbledore. Dumbledore confia em Severo, e isso deveria bastar para todos nós. – Mas... – disse Harry, – vamos só supor... só supor... que Dumbledore esteja errado sobre Snape... – As pessoas já disseram isso muitas vezes. Isso nos leva à questão de se podemos ou não confiar no julgamento de Dumbledore. Eu confio. Portanto, confio em Severo. – Mas Dumbledore pode cometer erros – argumentou Harry. – Ele mesmo disse isso. E você ... Ele olhou Lupin diretamente nos olhos – ... você sinceramente gosta de Snape? – Não gosto nem deixo de gostar de Severo – disse Lupin. – Não Harry, estou falado a verdade – disse ele, quando Harry fez uma expressão cética. – Nunca vamos ser amigos do peito, talvez. Depois de tudo o que aconteceu envolvendo Tiago, Sirius e Severo, há rancor demais guardado. Mas 165 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto não, eu não me esqueço que durante o ano em que ensinei em Hogwarts, Severo preparou a poção Mata-Cão para mim todos os meses, e a fez perfeitamente, e graças a isso não tive que sofrer como sempre sofro durante as luas cheias. – Mas ele “acidentalmente” deixou escapar que você era um lobisomem, e você teve que ir embora!– disse Harry, bravo. Lupin deu de ombros. – Esse segredo vazaria de qualquer jeito. Nós dois sabemos que ele queria o meu cargo, mas ele poderia me fazer muito mais mal adulterando a poção. Ele me manteve saudável e sou grato a ele por isso. – Talvez ele não ousasse adulterar a poção, com Dumbledore a observá-lo! – disse Harry. – Você está determinado a odiá-lo, Harry, – disse Lupin com um leve sorriso. – E eu entendo. Sendo Tiago seu pai e Sirius seu padrinho, você herdou um preconceito antigo. Diga a Dumbledore tudo o que você disse para Arthur e para mim, mas não espere que ele compartilhe sua visão do assunto. Não espere sequer que ele fique surpreso pelo que você lhe disser. Pode ser que as ordens de Dumbledore sejam que Severo faça perguntas a Draco. ... and now you’ve torn it quite apart (... e agora que tudo acabou) I’ll thank you to give back my heart! (eu lhe agradeço por ter devolvido meu coração) Celestina acabou sua música com uma nota muito longa e aguda e aplausos altos foram transmitidos pelos rádios, aos quais a Sra.Weasley se uniu entusiasticamente. – Já acabô? – disse Fleur, alto. – Grraças a Dês, que horrrrível. – Então, que tal uma saideira? – disse o Sr. Weasley alto, ficando de pé. – Quem quer gemada com vinho? – O que você tem feito ultimamente? – Harry perguntou a Lupin, quando o Sr. Weasley correu para trazer a gemada e todos relaxaram e começaram a conversar. – Ah, estava escondido – disse Lupin. – Quase literalmente. Foi por isso que não pude lhe escrever, Harry. Mandar cartas para você poderia me denunciar. – O que você quer dizer? – Estive vivendo entre os meus companheiros, meus iguais, – disse Lupin. – Lobisomens – acrescentou, vendo que Harry não entendera. – Quase todos eles estão do lado de Voldemort. Dumbledore queria um espião entre eles e eu estava... preparado. Ele soava um pouco amargo, e talvez tenha percebido isso, pois deu um sorriso mais cálido ao prosseguir: – Não estou reclamando; é um trabalho importante e quem o pode fazer melhor do que eu? Porém foi difícil ganhar a confiança deles. Eu carrego todos os sinais de que tentei viver entre os bruxos, você sabe, enquanto eles simplesmente viraram as costas para a sociedade e vivem às margens dela, roubando, e às vezes matando, para comer. – Por que eles foram se aliar ao Voldemort? – Eles imaginam que, ao seu lado, eles terão uma vida melhor, – disse Lupin. – E é difícil argumentar quando Greyback está por aí... – Quem é Greyback? – Você nunca ouviu falar nele? – As mãos de Lupin fecharam-se nervosamente no seu colo. – Fenrir Greyback é, talvez, o lobisomem vivo mais brutal. Ele assumiu como missão de vida morder e contaminar o máximo de pessoas que puder; ele deseja criar lobisomens o suficiente para vencer os bruxos. Voldemort prometeu-lhe presas em troca de seus serviços. Greyback especializou-se em contaminar crianças... Morda-os quando jovens, ele diz, e os crie longe de seus pais, odiando os bruxos normais. Voldemort ameaçou soltá-lo sobre os filhos e filhas das pessoas; uma ameaça que costuma produzir bons resultados. Lupin fez uma pausa e então disse, – Foi Greyback que me mordeu. 166 Capítulo 16 – Um Natal muito frio – O que? – disse Harry, pasmado. – Quando... Quando você era criança, você quer dizer? – Sim. Meu pai o tinha ofendido. Por muito tempo eu não soube a identidade do lobisomem que tinha me atacado. Até cheguei a sentir pena dele, pensando que ele não tinha controle, sabendo àquela altura como alguém se sentia ao se transformar. Mas Greyback não é assim. Na lua cheia, ele se posiciona próximo às suas vítimas, garantindo que ele esteja próximo o suficiente para atacar. Ele planeja tudo. E este é o sujeito que Voldemort está usando para capitanear os lobisomens. Não posso fingir que meu tipo particular de argumentos racionais está tomando a dianteira contra a insistência de Greyback de que nós lobisomens merecemos sangue, de que devemos nos vingar nas pessoas normais. – Mas você é normal! – disse Harry exaltado. – Você tem apenas um... um problema... Lupin caiu na gargalhada. – Algumas vezes você me lembra demais o Tiago. Ele chamava isso de meu “probleminha peludo” quando estávamos com outras pessoas. Muitas pessoas imaginavam que eu era dono de um coelho mal-comportado. Ele aceitou um copo de gemada do Sr. Weasley com um “obrigado”, parecendo um pouco mais alegre. Harry, entrementes, sentiu uma urgência de agitação: esta última menção a seu pai lembroulhe que ele tinha algo a perguntar para Lupin. – Você conheceu alguém que se chamava o “Príncipe Mestiço”? – O “o quê” Mestiço? – Príncipe. – disse Harry, procurando atentamente por sinais de reconhecimento. – Não há príncipes entre os bruxos. – disse Lupin, agora sorrindo. – É um titulo que você está pensando em adotar? Pensei que você iria achar que ser o “Escolhido” era suficiente. – Isso não tem nada a ver comigo! -, disse Harry indignado. – O Príncipe Mestiço é alguém que já estudou em Hogwarts. Eu encontrei seu livro antigo de Poções. Ele anotou feitiços em todo o livro, feitiços que ele inventou. Um deles foi Levicorpus... – Ah, esse feitiço foi muito usado durante o meu tempo em Hogwarts, – disse Lupin, relembrando. – Houve meses no meu quinto ano em que você não podia se mover sem ser erguido ao ar pelos tornozelos. – Meu pai usou esse feitiço. – disse Hary. – Eu vi na Penseira, ele o usou no Snape. Ele tentou parecer casual, como se fosse apenas um comentário à toa, sem importância, mas ele não estava seguro de ter conseguido o seu objetivo; o sorriso de Lupin parecia de quem tinha entendido um pouco além da conta. – Sim, – ele disse, – mas ele não foi o único. Como eu disse, esse feitiço era muito popular... Você sabe como esses feitiço vêm e vão... – Mas parece como se ele tivesse sido inventado quando vocês estiveram na escola. – Harry persistiu. – Não necessariamente – disse Lupin. – Azarações entram e saem de moda como tudo o mais. Ele olhou para o rosto de Harry e então disse baixinho, – Tiago era sangue-puro, Harry, e eu juro para você que ele nunca pediu que o chamássemos de ‘Príncipe’. Abandonando qualquer fingimento, Harry disse, – E não poderia ter sido Sirius? Ou você? – Definitivamente não. – Oh. – Harry olhou para o fogo. – Eu apenas pensei... bem, ele me ajudou bastante nas aulas de Poções, o tal Príncipe. – Você tem idéia de quão velho esse livro é, Harry? – Não sei. Nunca verifiquei. – Bem, talvez isso possa lhe dar alguma pista de quando o Príncipe esteve em Hogwarts. – disse Lupin. Pouco depois disso, Fleur decidiu imitar Celestina cantando “A Cauldron Full of Hot, Strong Love,” o que foi a deixa para todos irem para a cama assim que notaram a expressão da Sra. Weasley. Harry e Rony subiram até o quarto de Rony, no sótão, onde uma cama de armar tinha sido colocada para Harry. 167 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Rony adormeceu praticamente de imediato, mas Harry mexeu em seu malão e puxou sua cópia de Preparo de Poções – Nível Avançado antes de ir para a cama. Então ele o folheou, procurando algo, até que finalmente encontrou, na capa do livro, a data em que ele foi publicado. Ele tinha quase cinqüenta anos. Nem seu pai, nem seus amigos, poderiam ter ido para Hogwarts há cinqüenta anos. Sentindo-se desapontado, Harry guardou o livro de volta no malão, desligou a lâmpada, e virou-se, pensando nos lobisomens e em Snape, Lalau Shunpike e no Príncipe Mestiço, e finalmente dormindo um sono inquieto cheio de sombras assustadoras e do choro de crianças mordidas... – Ela deve estar brincando... Harry acordou com um sobressalto encontrando uma pilha de presentes aos pés da cama. Ele colocou seus óculos e olhou ao redor; a pequena janela estava quase completamente escurecida pela neve e, diante dela, Rony estava sentado de comprido na cama e examinava o que parecia ser uma grossa corrente de ouro. – o que é isso? – disse Harry. – É da Lilá. – disse Rony, parecendo revoltado. – Ela não pode achar sinceramente que vou usar isso... Harry olhou mais de perto e deu uma gargalhada. Balançando na corrente estavam as letras douradas das palavras: “Meu amor”. – Legal. – ele disse. – Tem classe. Você definitivamente deveria usá-la diante de Fred e Jorge. – Se você contar para eles sobre isso, – disse Rony, escondendo a corrente debaixo do seu travesseiro, – eu... eu... eu vou... – Gaguejar? – disse Harry, rindo. – Anda, você acha que eu faria isso? – Como ela pode achar que eu ia querer algo assim? – Rony perguntava-se, parecendo chocado. – Bem, tente lembrar. – disse Harry. – Você chegou a mencionar que você gostaria de sair em público com as palavras “Meu amor” no seu pescoço? – Bem... nós não nos falamos muito na verdade. – disse Rony. – Basicamente é apenas... – Amassos. – disse Harry. – Bem, é. – disse Rony. Ele hesitou por um momento, então disse: – É sério que a Hermione está saindo com McLaggen? – Não sei. – disse Harry. – Eles estavam na festa do Slughorn juntos, mas eu não acho que tenha dado certo. Rony parecia um pouco mais feliz enquanto ele procurava mais fundo na sua pilha. Os presentes de Harry incluíam um suéter com um grande desenho de um Pomo de Ouro na frente, tricotado à mão pela Sra. Weasley, uma grande caixa de produtos das Gemialidades Weasley dos gêmeos, e um pacote um pouco úmido e levemente embolorado que veio endereçado “Ao Mestre, do Monstro.” Harry olhou para o pacote. – Você acha que é seguro eu abrir? – ele perguntou. – Não pode ser nada perigoso, todo o nosso correio ainda é revistado pelo Ministério. – respondeu Rony, que apesar disso olhava para o pacote com ar de suspeita. – Eu não pensei em dar nada ao Monstro. As pessoas normalmente dão presentes de Natal para seus elfos domésticos? – perguntou Harry, segurando com cuidado o pacote. – Hermione daria. – disse Rony. – Mas vamos ver o que é isso antes que você se comece a se sentir culpado. Um momento depois, Harry deu um grito e pulou fora de sua cama de armar; o pacote continha uma grande quantidade de larvas de insetos. – Legal. – disse Rony, rolando de rir. – Bem pensado. – Eu prefiro isso àquela corrente. – disse Harry, o que fez Rony ficar sério de imediato. Todos estavam vestindo novos suéteres quando se sentaram para o almoço de Natal, todos exceto Fleur (com quem, parecia, a Sra. Weasley não queria desperdiçar uma) e a própria Sra. Weasley, que agora estava usando um chapéu de bruxo azul meia-noite novinho em folha que parecia brilhar com o que pareciam pequenos diamantes em forma de estrela, e um colar de ouro estupendo. – Fred e Jorge me deram! Eles não são lindos? 168 Capítulo 16 – Um Natal muito frio – Bem, nós a estamos realmente admirando cada vez mais, mamãe, agora que temos que lavar nossas próprias meias. – disse George, fazendo um gesto descontraído. – Nabos, Remo? – Harry, tem uma larva no seu cabelo. – disse Gina rindo, inclinando-se por cima da mesa para retirá-lo; Harry sentiu um arrepio subir pelo seu pescoço que não tinha nada a ver com a larva. – Que horreur! -, disse Fleur, com uma cara afetada de nojo. – É mesmo. – disse Rony – Molho, Fleur? Na avidez de ajudá-la, ele fez a molheira voar; Gui fez um gesto com a varinha e o molho parou no ar e voltou para a molheira docilmente. – Você é tan desastrrado quanto aquela tall de Tonks! – disse Fleur para Rony, após terminar de beijar Gui em gratidão. – Ela semprre esbarra em tudo... – Eu convidei a querida Tonks para vir hoje. – disse a Sra.Weasley, colocando a travessa de cenouras na mesa com um pouco mais de força do que o necessário e olhando para Fleur. – Mas ela não pôde vir. Você tem falado com ela ultimamente, Remo? – Não, eu não estou mantendo muito contato com os outros. – disse Lupin – Mas Tonks tem sua própria família para visitar, não? – Hmmm. – disse a Sra. Weasley. – Pode ser. Mas ela me deu a impressão de que planejava passar o Natal sozinha, na verdade. Ela deu um olhar aborrecido para Lupin, como se ela achasse que era culpa dele que Fleur ia ser sua nora, e não Tonks. Mas Harry, observando o jeito como Fleur dava peru, do seu próprio garfo, a Gui, pensou que a Sra. Weasley estava lutando uma guerra há muito perdida. Lembrou-se, todavia de uma pergunta que ele queria fazer sobre Tonks, e quem melhor para a responder que Lupin, que sabia tudo sobre Patronos? – O Patrono de Tonks mudou de forma. – ele disse. – Ao menos foi o que Snape disse. Eu não sabia que isso podia acontecer. Como é que um Patrono pode mudar de forma? Lupin levou um tempo mastigando um pedaço de peru e engoliu-o antes de responder lentamente – Algumas vezes... um grande choque emocional... um revés sentimental... – Ele parecia grande, e tinha quatro pernas. disse Harry, quando lhe ocorreu um pensamento súbito e ele baixou a voz. – Ei... Não poderia ser...? – Arthur! disse a Sra. Weasley de repente. Ela ergueu-se da cadeira, as mãos no peito e ela voltou-se para a janela da cozinha. – Arthur... É o Percy! – O quê? O Sr. Weasley olhou ao redor. Todos olharam rapidamente para a janela; Gina levantou-se para ter uma visão melhor. Realmente era Percy Weasley, atravessando o quintal nevado, seus óculos de aro de tartaruga brilhando ao sol. Porém ele não estava sozinho. – Arthur, ele está... ele está com o Ministro! E realmente, o homem que Harry vira no Profeta Diário estava seguindo logo atrás de Percy, mancando levemente, sua juba de cabelos prateados e sua capa preta cheia de neve. Antes que eles pudessem dizer qualquer coisa, antes que o Sr. e a Sra. Weasley pudessem fazer qualquer coisa além de trocarem olhares espantados, a porta da cozinha se abriu e Percy entrou. Houve um silêncio doloroso durante um instante. Então Percy disse meio formal, – Feliz Natal, Mamãe. – Oh, Percy! – disse a Sra. Weasley, e jogou-se em seus braços. Rufus Scrimgeour parou à porta, apoiado em sua bengala e sorrindo enquanto observava aquela cena comovente. – Você me perdoem a intromissão, – ele disse, quando a Sra. Weasley voltou-se para ele, radiante e com lágrimas nos olhos. – Percy e eu estávamos na região... trabalhando, sabem... e ele não pôde resistir à idéia de vir e ver todos vocês. Mas Percy não dava sinais de querer desejar Feliz Natal para o resto da família. Ele permaneceu em pé, empertigado e levemente embaraçado, e olhava por cima dos demais. O Sr. Weasley, Fred e Jorge estavam todos o observando, impassíveis. 169 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Por favor, entre e sente-se, Ministro! – disse agitada a Sra. Weasley, ajeitando seu chapéu. – Quer um pouco de pedu ou purim ... quero dizer... – Não, não, minha cara Molly – disse Srimgeour. Harry supôs que ele tinha perguntado o nome deles para Percy antes de entrar na casa. – Eu não quero me intrometer, eu não estaria aqui de jeito nenhum se Percy não quisesse tanto vê-los ... – Oh, Perce! – disse a Sra. Weasley lacrimosa, se aproximando para beijá-lo. – ... que pensamos em dar apenas uma passada por uns cinco minutos, de modo que eu vou dar uma caminhada pelo quintal enquanto vocês ficam um pouco com Percy. Não, não, eu asseguro que eu não quero me meter! Bem, se algum de vocês quiser me mostrar seu belo jardim... Ah, acho que o jovem ali terminou seu almoço, por que ele não vem passear comigo? A atmosfera na mesa mudou perceptivelmente. Todos olharam de Scrimgeour para Harry. Ninguém se convenceu com o fingimento de Scrimgeour em não saber o nome de Harry, nem achou natural que ele devesse ser o escolhido para acompanhar o Ministro pelo jardim, sendo que Gina, Fleur e Jorge também tinham os pratos limpos. – ‘Tá, tudo bem – disse Harry no meio do silêncio. Ele não se deixara enganar: não interessava tudo o que Scrimgeour falou sobre apenas estar passando na área e que Percy queria visitar sua família, a verdadeira razão para Scrimgeour ter vindo era essa, falar a sós com Harry. – Está tudo bem – disse ele baixinho, quando passou por Lupin, que estava levantando-se de sua cadeira. – Tudo bem. – disse ele quando o Sr. Weasley abriu a boca para falar. – Maravilhoso! – disse Scrimgeour, deixando Harry passar pela porta à frente dele. – Vamos apenas dar uma volta ao redor do jardim e depois Percy e eu precisaremos ir embora. Continuem a festa! Harry cruzou o quintal na direção dos jardins nevados e não aparados dos Weasley, com Scrimgeour mancando levemente ao seu lado. Ele havia sido, Harry sabia disso, o Chefe dos Aurores; parecia forte e com cicatrizes de batalha, o que o fazia muito diferente do corpulento Fudge com seu chapéu-coco. – Lindo. – disse Scrimgeour, parando na cerca da grade e olhando para a grama nevada e para as plantas indistinguíveis. – Lindo. Harry não disse nada. Ele podia sentir Scrimgeour o observando. – Eu queria conhecê-lo há muito tempo. – disse Scrimgeour, após alguns momentos. – Você sabia disso? – Não – respondeu Harry com sinceridade. – Ah, sim, há muito tempo. Mas Dumbledore sempre foi muito protetor com relação a você – disse Scrimgeour. – Naturalmente, claro, naturalmente, após tudo por que você passou... Ainda mais o que aconteceu no Ministério... Ele esperou que Harry dissesse algo, mas Harry não disse nada, então ele continuou. – Eu estive esperando por uma chance de falar com você desde que consegui o cargo, mas Dumbledore... compreensivelmente, é claro... evitou. Novamente, Harry não disse nada, esperando. – Os rumores que começaram a surgir! – disse Scrimgeour. – Bem, é claro, nós sabemos o quanto as histórias são distorcidas... todos esses boatos sobre uma profecia e você ser o “Escolhido”... Eles estavam chegando ao assunto agora, pensou Harry, a razão pela qual Scrimgeour estava ali. – Eu acredito que Dumbledore tenha discutido esses assuntos com você? Harry pensou se era uma boa idéia mentir ou não. Ele olhou para as pegadas de gnomos nos canteiros de flores e o terreno esburacado, que marcava o local onde Fred pegara o gnomo que agora estava vestindo um saiote de bailarina no topo da árvore de Natal. Finalmente, ele decidiu contar a verdade... ou ao menos uma parte dela. – Claro, conversamos sobre isso. 170 Capítulo 16 – Um Natal muito frio – Você, você... – disse Scrimgeour. Harry notou, pelo canto dos olhos que Scrimgeour olhou de esguelha para ele, então fingiu estar muito interessado no gnomo que acabara de sair da terra debaixo de um rododendro congelado. – E o que Dumbledore lhe contou, Harry? – Desculpe, mas isso é assunto particular – disse Harry. Ele manteve a voz mais amigável que pode, e o tom de voz de Scrimgeour, também era descontraído e amigável quando disse, – Ah, claro, se é questão de confidências, eu não ia querer que você revelasse ... não, não ... e de todo modo, faz alguma diferença se você é o “Escolhido” ou não? Harry teve que digerir essa por alguns segundos antes de responder. – Realmente não entendi o que o senhor quer dizer, Ministro. – Bem, é claro que para você isso faz muita diferença. – disse Scrimgeour com uma risada. – Mas para a comunidade bruxa em geral... é tudo apenas uma questão de percepção, não? É no que as pessoas acreditam que é importante. Harry não disse nada. Ele achou que estava vendo, mais ou menos, o rumo que a conversa estava tomando, mas ele não ia ajudar Scrimgeour a chegar lá. O gnomo debaixo do rododendro agora procurava por minhocas nas suas raízes e Harry mantinha seus olhos fixos nele. – As pessoas acreditam que você seja o “Escolhido”, você sabe – disse Scrimgeour. – Elas pensam que você é algum tipo de herói... o que realmente você é, Harry, escolhido ou não! Quantas vezes você se encontrou cara-a-cara com Ele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado até agora? Bem, de qualquer modo -prosseguiu, sem esperar resposta – a questão é que você é um símbolo de esperança para muitos, Harry. A idéia de que exista alguém que seja capaz, alguém que até mesmo esteja destinado a destruir Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado... Bem, naturalmente, ela dá um estímulo às pessoas. E eu não posso deixar de sentir que, uma vez que você tenha compreendido isso, você possa refletir que é, bem, quase um dever seu permanecer apoiando o Ministério, e dar a todos nós a força para lutarmos. O gnomo tinha acabado de conseguir uma minhoca. Ele agora a estava puxando bem forte, tentando tirá-la do chão congelado. Harry ficou calado tanto tempo que Scrimgeour disse, olhando de Harry para o gnomo. – Criaturinhas engraçadas, não acha? Mas o que me diz Harry? – Eu não entendi exatamente aonde o senhor quer chegar. – disse Harry lentamente. – “Permanecer apoiando o Ministério...” O que o senhor quer dizer com isso? – Bem, na verdade nada de muito complicado, lhe asseguro. – disse Scrimgeour. – Se você fosse visto chegando e saindo de tempos em tempos no Ministério, por exemplo, isso daria a impressão certa. E claro, enquanto você ficasse lá, você teria muitas oportunidades para conversar com Gawain Robards, meu sucessor como Chefe dos Aurores. Dolores Umbridge me contou que você nutre uma ambição de tornar-se um Auror. Bem, isso poderia ser arranjado bem facilmente, sabe... Harry sentiu um calor de raiva no fundo do seu estômago: então Dolores Umbridge continuava trabalhando no Ministério? – Então basicamente, – ele disse, chegando à conclusão de que era preciso clarear as coisas, – o senhor gostaria de passar a impressão de que eu estou trabalhando para o Ministério... – Isso daria a todos um estímulo para pensar que você está mais envolvido, Harry, – disse Scrimgeour, parecendo aliviado que Harry tivesse entendido tudo tão rápido. – o “Escolhido”, você sabe... É tudo uma questão de dar às pessoas esperança, a sensação de que coisas excitantes estão acontecendo... – Mas se eu começar a ficar indo e voltando do Ministério, – disse Harry, lutando para manter a voz em um tom amigável, – não irá parecer que eu aprovo a política do Ministério? – Bem, – disse Scrimgeour, franzindo a testa levemente, – bem, é claro. Isso é em parte a razão por que gostaríamos... – Não, eu acho que isso não vai dar – disse Harry suave. – Sabe, eu não gosto de algumas das coisas que o Ministério está fazendo. Por exemplo, trancafiando Lalau Shunpike. Scrimgeour não falou por um instante, mas sua expressão se endureceu instantaneamente. 171 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Eu não devia esperar que você compreendesse – disse ele e não foi tão bem sucedido em manter a ira longe de sua voz como Harry havia sido. – Estes são tempos perigosos, e algumas medidas precisam ser tomadas. Você tem dezesseis anos... – Dumbledore tem muito mais de dezesseis anos e também acha que Lalau não deveria estar em Azkaban – disse Harry – O senhor está transformando Lalau em bode expiatório, assim como o senhor quer me tornar seu mascote. Eles se olharam firmemente, por muito tempo. Finalmente Scrimgeour disse, sem o menor traço de cordialidade, – Entendo. Você prefere... como o seu ídolo Dumbledore... desassociar-se do Ministério... – Eu apenas não quero ser usado. – disse Harry. – Algumas pessoas poderiam dizer que você tem o dever de ser usado pelo Ministério! – É, e outras poderiam dizer-lhe que o seu dever é checar se as pessoas realmente são Comensais da Morte antes de mandá-las para a prisão. – disse Harry, sua raiva aumentando. – O senhor está fazendo igual ao Bartô Crouch. Vocês nunca conseguem entender, não é? Não interessa se temos o Fudge liderando, e dando a impressão que tudo está bem enquanto pessoas são mortas debaixo do seu nariz, ou se é o senhor liderando, trancafiando inocentes na cadeia e tentando fingir que o “Escolhido” está trabalhando para o senhor! – Então você não é o “Escolhido”? – disse Scrimgeour. – Eu pensei ter ouvido o senhor dizer que isso não fazia diferença. – disse Harry, com uma risada fria – Pelo menos não para o senhor. – Eu não deveria ter lhe dito isso. – disse Scrimgeour rapidamente – Faltou-me tato... – Não, o senhor foi sincero – disse Harry. – Uma das poucas coisas sinceras que o senhor me disse. O senhor não está nem aí se vou viver ou morrer, mas se preocupa que eu consiga ajudar-lhe a convencer a todos que o senhor está ganhando a guerra contra Voldemort. Eu não me esqueci, Ministro... Ele ergueu seu punho direito. Nele, brilhando branca nas costas da mão gelada, estavam as cicatrizes que Dolores Umbrigde o forçara cravar em sua própria carne: “Eu não devo dizer mentiras.” – Eu não me lembro de ter visto o senhor sair em minha defesa quando eu estava tentando falar para todos que Voldemort estava de volta. O Ministério não estava tão ansioso por ser meu amigo no ano passado. Eles permaneceram em um silêncio tão gelado quanto o chão sob seus pés. O gnomo finalmente tinha conseguido arrancar a sua minhoca e agora a estava chupando feliz, atrás dos ramos mais baixos do arbusto de rododendro. – O que o Dumbledore anda fazendo? – disse Scrimgeour bruscamente. – Aonde ele vai quando ele se ausenta de Hogwarts? – Não tenho idéia. – disse Harry. – E você não iria me contar se soubesse, – disse Scrimgeour, – iria? – Não, não iria. – disse Harry. – Bem, então, acho que vamos ter que ver se conseguimos encontrá-lo de outra maneira. – O senhor pode tentar. – disse Harry indiferente. – Mas o senhor parece mais esperto que Fudge, por isso achava que o senhor tivesse aprendido com os erros dele. Ele tentou interferir em Hogwarts e o senhor deve ter reparado que ele não é mais o Ministro, enquanto Dumbledore ainda é o diretor de Hogwarts. Eu deixaria Dumbledore em paz, se fosse o senhor. Houve uma longa pausa. – Bem, está claro para mim que ele fez um ótimo trabalho com você – disse Scrimgeour, seus olhos frios e duros por trás dos óculos de metal. – Um partidário de Dumbledore até o fim, não é Potter? – Sim, eu sou. – disse Harry. – É bom saber que deixamos isso claro. E dando as costas para o Ministro da Magia, ele voltou para a casa dos Weasley. 172 – CAPÍTULO 17– A Lembrança Sluguiana* No fim da tarde, alguns dias depois do Ano Novo, Harry, Rony e Gina formaram uma fila perto do fogo da cozinha para regressarem a Hogwarts. O Ministério tinha arranjado esta conexão pela rede de pó de Flu exclusivamente para o retorno rápido e seguro dos alunos à escola. Só a sra. Weasley estava presente para dar adeus, pois o Sr. Weasley, Fred, Jorge, Gui, e Fleur estavam todos em seus trabalhos. A Sra. Weasley derretia-se em lágrimas no momento da partida. Na verdade, qualquer coisinha a fazia cair no choro ultimamente; chorava de tempos em tempos desde a repentina chegada de Percy em casa no dia de Natal, com seus óculos manchados de nabos amassados (pelo que Fred, George e Gina reclamavam os créditos). – Não chore, mamãe – disse Gina, dando tapinhas nas costas enquanto a Sra. Weasley soluçava em seu ombro. – Está tudo bem... – É, não se preocupe com a gente – disse Rony, deixando sua mãe cravar um beijo bem molhado em sua face – nem com o Percy. Ele é um idiota, não é realmente uma perda, não é?! A sra. Weasley soluçou mais forte do que nunca, enquanto abraçava Harry. – Prometa-me que você vai se cuidar... se manter longe de problemas... – Eu sempre o faço, sra. Weasley – disse Harry. – Eu curto uma vida quieta, a senhora me conhece. Ela deu um sorriso pálido e um passo para trás. – Comportem-se bem, então, todos vocês... Harry entrou no fogo esverdeado e gritou: – Hogwarts! – Ele deu uma última e ligeira olhada na cozinha dos Weasley e na face chorosa da Sra. Weasley antes das chamas o tragarem; girando muito rápido, ele viu imagens borradas de aposentos de outros bruxos, que sumiam antes que pudesse olhar melhor; então foi diminuindo a velocidade, finalmente parando na lareira da sala da Profa. McGonagall. Ela mal olhou de relance por cima do seu trabalho enquanto ele pulava a grade. – Boa-noite, Potter. Tente não deixar muitas cinzas no tapete. – Não deixarei, professora. Harry endireitou seus óculos e alisou os cabelos enquanto o Rony aparecia girando. Quando Gina chegou, todos os três saíram da sala de McGonagall e foram rumo à torre da Grifinória. Harry olhou pelas janelas do corredor enquanto passavam; o sol já se escondida por trás dos campos cobertos de neve mais profunda que a que se espraiava no jardim da Toca. Ao longe, pôde ver Hagrid alimentando o Bicuço na frente de sua cabana. * No original, “Sluggish memory”. É uma palavra inventada, trocadilho com o nome do professor Slughorn e a palavra Slug (lesma), mais uma vez. Como se a lembrança do professor fosse algo desagradável, nojento e embaraçoso, como uma lesma. 173 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Bugigangas! – disse Rony confiante, quando chegaram à Mulher Gorda, que parecia mais pálida que o usual e estremecendo com sua voz alta. – Não – disse ela. – Como assim, não? – Há uma nova senha – ela respondeu. – E, por favor, não grite. – Mas nós estávamos fora, como nós iríamos saber que... – Harry! Gina! Hermione vinha correndo na direção deles, com o rosto vermelho e vestindo capa, chapéu e luvas. – Eu cheguei há algumas horas atrás, estava visitando Hagrid e Bicu... quer dizer, Witherwings – disse ela, sem fôlego. – Tiveram um bom Natal? – Sim – disse Rony de imediato – grandes acontecimentos, Rufus Scrim... – Tenho uma coisa para você, Harry – disse Hermione, sem olhar para Rony nem dando algum sinal de que tivesse ouvido o que ele disse. – Oh, esperem ...a senha. Abstinência. – Exato – disse a Mulher Gorda numa voz fraca, e inclinando-se para revelar o buraco do quadro. – O que houve com ela? – perguntou Harry. – Excesso de animação do Natal, aparentemente – disse Hermione, enquanto os conduzia ao salão comunal. – Ela e sua amiga Violeta beberam todo o vinho que existia naquele quadro dos monges bêbados do corredor de Feitiços. Em todo caso... Ela remexeu em sua bolsa por um momento e puxou um rolo de pergaminho com a letra de Dumbledore. – Ótimo – disse Harry, desenrolando-o logo para descobrir que sua próxima lição com Dumbledore estava marcada para a noite seguinte. – Eu tenho um monte de coisas para contar para ele – e para você. Vamos sentar... Mas neste momento ouviu-se alguém guinchar alto – Bom-Bom! – e Lilá Brown veio correndo do nada e jogou-se nos braços do Rony. Vários espectadores riram; Hermione deu uma gargalhada estridente e disse – Tem uma mesa aqui... Vamos. Gina? – Não, obrigada, eu disse que iria me encontrar com o Dino – disse Gina, embora Harry não pudesse deixar de notar que ela não parecia muito entusiasmada. Deixando Rony e Lilá travando uma espécie de luta em pé, Harry levou Hermione para a mesa que estava sobrando. – Então, como foi o seu Natal? – Ah, bom – ela deu de ombros. – Nada especial. Como estava na casa do Bom-Bom? – Te conto num minuto – disse Harry. – Olha, Hermione, você não poderia... – Não, não posso – disse. – Por isso, nem peça. – Pensei que talvez, pelo Natal... – Foi a Mulher Gorda que bebeu um barril de vinho de 500 anos, Harry, não eu. Então, qual é esta notícia importante que você quer me contar? Ela parecia muito ameaçadora para discutir naquele momento, então Harry largou o assunto sobre Rony de lado e contou tudo o que ele tinha ouvido da conversa entre Malfoy e Snape. Quando ele terminou, Hermione ficou pensativa por um momento e então disse: – Você não acha que... – ... ele estava fingindo oferecer ajuda para enganar Malfoy e descobrir o que ele estava planejando? – Bem, sim – Hermione disse. – O pai do Rony e Lupin acham isso – Harry disse rancoroso. – Mas isto definitivamente prova que Malfoy está aprontando algo, você não pode negar isso. – Não, não posso – respondeu ela devagar. – E ele está a mando de Voldemort, como eu tinha dito! – Hum .. . Algum deles mencionou o nome de Voldemort? 174 Capítulo 17 – A Lembrança Sluggiana Harry franziu a testa, tentando lembrar. – Não tenho certeza... Snape definitivamente disse ‘seu mestre’, e quem mais poderia ser? – Não sei – disse Hermione, mordendo os lábios. – O pai dele, talvez? Ela olhava fixo através do salão, aparentemente perdida em seus pensamentos, nem mesmo notando Lilá fazendo cócegas em Rony. – Como está Lupin? – Não muito bem – disse Harry, e contou-lhe tudo sobre a missão de Lupin infiltrado entre os lobisomens e as dificuldades que estava encarando. – Você já ouviu falar em Fenrir Greyback? – Sim, já ouvi! – respondeu surpresa. – E você também, Harry! – Quando, em História da Magia? Você está cansada de saber que eu nunca presto atenção... – Não, não, História da Magia não! Malfoy intimidou Borgin com ele! – disse Hermione. Lá na Travessa do Tranco, não se lembra? Ele disse a Borgin que Greyback era um velho amigo da família e que ele estaria de olho nos progressos de Borgin! Harry arregalou os olhos, pasmo. – Eu esqueci! Mas isto prova que Malfoy é um Comensal da Morte, pois de que outra forma ele estaria em contato com Greyback e dizendo o que ele deve fazer? – É muito suspeito – murmurou Hermione. – A não ser que... – Ah, qual é? – disse Harry exasperado – você não vai conseguir contornar esse fato! – Bem... existe a possibilidade de ser apenas um mero blefe. – Você é inacreditável – disse Harry, sacudindo a cabeça. – Veremos quem está certo... Você vai engolir suas palavras, Hermione, assim como o Ministério. Ah sim, eu tive uma discussão com Rufus Scrimgeour também... E o resto da noite passou amigavelmente com ambos insultando o Ministro da Magia. Hermione, assim como Rony, pensou que, depois de tudo o que o Ministério tinha feito Harry passar no ano anterior, eles tinham muita cara-de-pau de pedir sua ajuda agora. O novo semestre começou na manhã seguinte com uma agradável surpresa para os alunos do sexto ano: um grande cartaz tinha sido afixado no quadro de avisos durante a noite. AULAS DE APARATAÇÃO Se você tem dezessete anos, ou fará dezessete até 31 de agosto próximo, você está apto para um curso de doze semanas de Aulas de Aparatação com um instrutor de Aparatação do Ministério da Magia. Por favor, assine abaixo se você quiser participar. Custo: 12 galeões. Harry e Rony juntaram-se à multidão que estava se formando em torno do aviso e revezandose para escreverem seus nomes. Rony estava acabando de pegar sua pena para assinar depois de Hermione quando Lilá veio por trás, deslizou as mãos sobre seus olhos e perguntou – Adivinha quem é, Bom-Bom? – Harry virou-se para ver Hermione saindo irritada; foi atrás dela, sem vontade de ficar para trás com Rony e Lilá, mas para sua surpresa, Rony alcançou-os logo depois de passarem pelo buraco do quadro, com suas orelhas vermelhas e uma expressão descontente. Sem uma palavra, Hermione se apressou para caminhar com Neville. – Então, Aparatação – disse Rony, deixando perfeitamente claro que ele não queria que Harry mencionasse o que tinha acontecido. – Deve ser moleza, né? – Não sei – disse Harry. – Talvez seja melhor quando você faz por si mesmo. Eu não gostei muito quando Dumbledore me levou para um passeio. – Eu esqueci que você já tinha feito... É melhor eu passar no meu primeiro exame – disse Rony, parecendo ansioso. – Fred e George conseguiram. – Mas Carlinhos repetiu, não foi? – Sim, mas Carlinhos é maior que eu – Rony manteve seus braços longe do corpo como se fosse um gorila – Por isso Fred e George não zoaram a respeito... pelo menos não na frente dele... 175 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Quando poderemos fazer o exame? – Assim que tivermos dezessete. Será já em março para mim! – Sim, mas você não estaria apto para aparatar aqui, não no castelo... – Não é essa a questão, todos saberiam que eu poderia aparatar se eu quisesse. Rony não era o único que estava animado com a perspectiva da Aparatação. Por todo aquele dia houve muita conversa sobre as futuras aulas, uma grande parte delas era sobre estar apto a desaparecer e aparecer em outro lugar que quisesse. – Como será legal quando nós já pudermos... – Simas estalou seus dedos indicando desaparecimento. – Meu primo Fergus faz isto só para me aborrecer, esperem até eu poder revidar... Ele não terá mais nenhum momento de paz... Perdido na visão da alegre perspectiva, ele brandiu sua varinha um pouco entusiasticamente demais e, ao invés de produzir uma fonte de água pura que era o assunto da aula de Feitiços do dia, fez surgir um forte jato que ricocheteou no teto e golpeou o Professor Flitwick direto no rosto. – Harry já aparatou – Rony contou ao ligeiramente descomposto Simas, depois do Professor Flitwick ter se secado com um movimento de sua varinha e feito Simas escrever: – Sou um bruxo, não um macaco sacudindo um galho.– Dum... er... alguém o levou. Aparatação-Carona, sabe. – Uau! – sussurrou Simas, e ele, Dino e Neville uniram mais suas cabeças para ouvir qual era a sensação de aparatar. Pelo resto do dia, Harry foi cercado com pedidos de outros alunos do sexto ano para descrever a sensação da Aparatação. Todos pareciam mais para impressionados do que desagradados, quando contou quão desconfortável era, e ainda estava respondendo questões detalhadamente faltando dez minutos para as oito da noite, quando foi forçado a mentir e dizer que precisava devolver um livro à biblioteca, para escapar em tempo para sua aula com Dumbledore. As lâmpadas da sala de Dumbledore estavam acesas, os retratos dos antigos diretores estavam roncando calmamente em seus quadros e a Penseira estava preparada em cima da mesa mais uma vez. As mãos de Dumbledore repousavam em cada lado do objeto, a direita parecendo tão enegrecida e queimada como sempre. Não parecia ter melhorado nada e Harry pensou, talvez pela centésima vez, o que poderia causado um ferimento como aquele, mas não perguntou; Dumbledore tinha dito que ele saberia em algum momento e havia, em todo caso, outro assunto que ele desejava discutir. Mas antes que Harry pudesse dizer algo sobre Snape e Malfoy, Dumbledore falou. – Ouvi dizer que você se encontrou com o Ministro da Magia no Natal? – Sim – disse Harry. – Ele não está muito contente comigo. – Não – suspirou Dumbledore. – Ele não está muito contente comigo também. Devemos tentar não ceder às nossas angústias Harry, mas combatê-las. Harry sorriu. – Ele queria que eu dissesse à comunidade dos Bruxos que o Ministério está fazendo um trabalho maravilhoso. Dumbledore deu um sorriso. – Era a idéia de Fudge originalmente, sabe. Durante seus últimos dias no escritório, quando estava tentando desesperadamente manter seu posto, ele procurou ter um encontro com você, esperando que lhe desse seu apoio... – Depois de tudo que Fudge fez no último ano? – disse Harry furioso. – Depois de Umbridge? – Eu disse a Cornélio que não havia chance disso acontecer, mas a idéia não morreu quando ele deixou o cargo. Algumas horas depois da indicação de Scrimgeour nos encontramos e ele pediu que eu arranjasse um encontro com você... – Então foi por isso que vocês discutiram! – disse num ímpeto Harry. – Estava no Profeta Diário. – O Profeta é obrigado a noticiar a verdade eventualmente – disse Dumbledore – mas só se for por acidente. Sim, foi por isso que nós discutimos. Bem parece que Rufus encontrou uma maneira de encurralar você no final das contas. – Ele me acusou de ser um “partidário de Dumbledore até o fim”. 176 Capítulo 17 – A Lembrança Sluggiana – Que grosseria da parte dele. – Eu disse-lhe que era. Dumbledore abriu sua boca para falar e então a fechou novamente. Atrás de Harry, Fawkes, a fênix soltou uma profunda e agradável nota musical. Para intenso embaraço de Harry, ele percebeu que os brilhantes olhos azuis de Dumbledore estavam marejados e Harry fixou o olhar rapidamente em seus próprios joelhos. Quando Dumbledore falou, contudo, sua voz estava firme. – Estou muito emocionado, Harry. – Scrimgeour queria saber onde o senhor vai quando não está em Hogwarts – disse Harry, ainda olhando fixamente seus joelhos. – Sim, ele está muito curioso a respeito disso – disse Dumbledore, agora soando alegre, e Harry pensou que era seguro levantar a cabeça novamente. – Ele até mesmo tentou mandar me seguir. Engraçado, mesmo! Pôs Dawlish no meu encalço. Não foi agradável. Já fui forçado a enfeitiçar Dawlish uma vez, e fiz isso de novo com grande pesar. – Então eles ainda não sabem onde o senhor vai? – perguntou Harry, esperando mais informações sobre este intrigante assunto, mas Dumbledore apenas sorriu por cima de seus óculos de meia lua. – Não, eles não sabem, e ainda não é o momento para você saber também. Agora eu sugiro que prossigamos, a não ser que haja mais alguma coisa? – Na verdade, há sim, senhor – disse Harry. – É sobre Malfoy e Snape. – Professor Snape, Harry. – Sim, senhor. Eu os ouvi durante a festa do professor Slughorn... bem, eu os segui, na verdade... Dumbledore escutou a história de Harry com um rosto impassível. Quando Harry terminou, ele ficou alguns minutos em silêncio, e então, disse: – Obrigado por me contar, Harry, mas sugiro que você tire isso da cabeça. Acredito que não seja muito importante. – Não é muito importante? – repetiu Harry incrédulo. – Professor, o senhor entendeu...? – Sim, Harry, abençoado como eu sou com uma inteligência extraordinária, entendi tudo o que você me contou – disse Dumbledore um pouco ríspido. – Acho que você deveria considerar a possibilidade de eu ter entendido mais que você mesmo. Novamente, fico feliz por ter confiado em mim, mas deixe-me assegurar-lhe que você não me contou nada que me deixasse inquieto. Harry manteve seu olhar em Dumbledore, silencioso. O que estava acontecendo? Isto significava que Dumbledore realmente mandou Snape descobrir o que Malfoy está tramando, e neste caso já teria ouvido do Snape o que Harry acabara de contar? Ou será que ele realmente estava preocupado com o que tinha acabado de ouvir, mas estava fingindo que não? – Então, senhor – disse Harry, no que ele esperava ser uma voz educada e calma – definitivamente o senhor ainda confia em... – Tenho sido tolerante o suficiente para responder a essa pergunta outras vezes – respondeu Dumbledore, apesar de não parecer mais tão tolerante. – Minha resposta não mudou. – Eu deveria saber que não – disse uma voz acusadora; Fineus Nigellus estava claramente fingindo estar dormindo. Dumbledore o ignorou. – E agora, Harry, eu insisto que devemos seguir adiante. Tenho coisas mais importantes para debater com você esta noite. Harry ficou sentado lá sentindo-se rebelde. Como seria se ele se recusasse a mudar de assunto, se ele insistisse em continuar as acusações contra Malfoy? Como se tivesse lido a mente de Harry, Dumbledore sacudiu a cabeça. – Ah, Harry. Como isso acontece com freqüência, até mesmo, entre melhores amigos! Cada um de nós acredita que o que tem a dizer é muito mais importante do que qualquer coisa que o outro tem a contribuir. – Não acho que o que o senhor tem a dizer é sem importância, professor – disse Harry rígido. – Bem, você está certo, porque é importante – disse Dumbledore vivamente. – Tenho mais duas memórias para lhe mostrar nesta noite, ambas obtidas com enorme dificuldade, e a segunda delas é, acredito eu, a mais importante que coletei. 177 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Harry não disse nada a isso, ainda se sentia com raiva pela forma como suas confidências foram recebidas, mas não podia ver o que iria ganhar se continuasse discutindo. – Então – disse Dumbledore – nos encontramos esta noite para continuar a história de Tom Riddle, a quem deixamos na última aula pronto para iniciar seus anos em Hogwarts. Você se lembra o quanto ele ficou animado ao descobrir que era bruxo, e que recusou minha companhia na ida para o Beco Diagonal, ao mesmo tempo em que eu o proibi de continuar roubando quando chegasse à escola. – Bem, o início ano letivo chegou e junto com ele veio Tom Riddle, um menino quieto em suas roupas de segunda mão, que entrou na fila dos alunos do primeiro ano para ser sorteado. Ele foi posto na Sonserina quase no momento em que o Chapéu Seletor tocou sua cabeça – continuou Dumbledore, sacudindo sua mão negra em direção à prateleira onde estava o Chapéu Seletor, muito antigo e imóvel. – Quando Riddle descobriu que o famoso criador de sua casa podia falar com cobras, eu não sei – talvez naquela mesma noite. Esse conhecimento só pode tê-lo excitado e aumentou seu senso de auto-importância. – No entanto, se ele estava assustando ou impressionando seus colegas sonserinos com sua habilidade de ofidioglota no salão comunal, não o fazia perto dos professores. Ele não mostrou nenhum sinal de arrogância ou de agressividade. Como era um órfão talentoso como poucos, e muito bonito, ele chamou a atenção e a simpatia dos professores quase que no mesmo momento em que chegou à escola. Parecia educado, quieto e sedento de conhecimento. Quase todos tiveram uma boa impressão dele. – O senhor não contou como ele era quando o encontrou no orfanato? – perguntou Harry. – Não, não contei. Embora ele não mostrasse nenhuma ponta de remorso, era possível que se sentisse arrependido pela forma como tinha se comportado antes e resolvido a ter um novo começo. Eu escolhi lhe dar esta chance. Dumbledore fez uma pausa e olhou curiosamente Harry, que tinha aberto sua boca para falar. Aqui, de novo, estava a tendência de Dumbledore de confiar nas pessoas a despeito das evidências mais avassaladoras de que elas não mereciam! Mas, então, Harry lembrou-se de uma coisa... – Mas o senhor não confiou nele realmente, não é? Ele me contou... o Riddle que saiu do diário disse: “Dumbledore nunca pareceu gostar de mim como os demais professores.”. – Vamos dizer que eu realmente não pressupus que ele fosse de todo confiável – disse Dumbledore. Eu tinha decidido, como já indiquei, que ficaria de olhos bem atentos sobre ele, e assim o fiz. Não posso fingir que obtive muitas informações sobre ele no início. Ele era muito reservado comigo; ele sentia, tenho certeza, que na emoção de ter descoberto sua verdadeira identidade tinha me contado demais. Ele teve cuidado de nunca mais revelar tanto novamente, mas não poderia tomar de volta o que já tinha deixado aparecer em sua excitação, nem o que Sra. Cole tinha me confidenciado. No entanto, ele teve o bom senso de não tentar me seduzir assim como ele seduziu tantos de meus colegas. – À medida que ele seguia em frente na escola, formou à sua volta um grupo de amigos dedicados; chamo-os assim, por falta de uma palavra melhor, pois como já indiquei, Riddle sem dúvida não sentia nenhuma afeição por nenhum deles. Este grupo tinha uma espécie de encanto sombrio dentro do castelo. Eles eram um grupo bem heterogêneo; uma mistura de fracos procurando proteção, de ambiciosos procurando uma fração de glória compartilhada e os violentos gravitando em torno de um líder que lhes podia mostrar as mais refinadas formas de crueldade. Em outras palavras, eram os antecessores dos Comensais de Morte, e, de fato, alguns deles se tornaram os primeiros Comensais depois que saíram da escola. – Rigidamente controlados por Riddle, eles nunca foram pegos abertamente fazendo alguma coisa errada, apesar de seus sete anos de Hogwarts terem sido marcados por incidentes suspeitos aos quais eles nunca estavam satisfatoriamente ligados; o mais grave de todos foi, é claro, a abertura da Câmara Secreta, que resultou na morte de uma garota. Como você sabe, Hagrid foi injustamente acusado deste crime. 178 Capítulo 17 – A Lembrança Sluggiana – Não fui capaz de encontrar muitas memórias de Riddle em Hogwarts – disse Dumbledore, pousando sua mão ferida sobre a Penseira. – Poucos que o conheceram então estão preparados para falar sobre ele; estão muito aterrorizados. O que eu sei, descobri depois que ele saiu de Hogwarts, depois de muito esforço, depois de procurar alguns que poderiam ser, com um logro, induzidos a conversar, depois de procurar por velhos registros e de questionar testemunhas tanto trouxas quanto bruxas. – Aqueles que eu persuadi a falar me contaram que Riddle tinha obsessão por sua linhagem. Isso era compreensível, é claro; ele cresceu em um orfanato e naturalmente desejava saber como tinha parado lá. Parece que procurou inutilmente algum traço de Tom Riddle pai nos escudos da Sala dos Troféus, nas listas de monitores antigos da escola, e até mesmo nos livros de história do mundo dos bruxos. Finalmente foi forçado a aceitar que seu pai nunca tinha posto os pés em Hogwarts. Acredito que foi neste momento que ele deixou de usar o nome de seu pai para sempre, assumiu a identidade de Lord Voldemort e começou a investigação da anteriormente desprezada família de sua mãe – a mulher que, você se lembra, ele achou que não poderia ser bruxa já que tinha sucumbido à vergonhosa fraqueza humana da morte. – Tudo o que ele tinha para procurar era somente o nome Servolo, que sabia nos tempos de orfanato, ter sido do pai de sua mãe. Finalmente, depois de esforçada pesquisa em velhos livros de famílias de Bruxos, descobriu a existência da linhagem sobrevivente de Slytherin. No verão de seu décimo sexto aniversário, ele saiu do orfanato para onde voltava todo ano e foi à procura de seus parentes Gaunt. E agora, Harry, se você se levantar... Dumbledore se levantou e Harry pôde ver que ele novamente segurava uma pequena garrafa de cristal cheia com uma espiral prateada de lembrança. – Tive muita sorte para coletar esta aqui – ele disse, colocando a matéria brilhante na Penseira. – Como você vai entender quando mergulharmos nela. Vamos? Harry deu um passo em direção a base de pedra e curvou-se obediente até seu rosto afundar na lembrança. Ele sentiu a familiar sensação de cair no nada e aterrissou em um chão sujo quase na escuridão total. Demorou alguns segundos para reconhecer o local, tempo em que Dumbledore pousou atrás dele. A casa dos Gaunt estava agora mais indescritivelmente suja do qualquer lugar onde Harry já houvesse estado. O teto estava repleto de teias de aranha e o chão coberto de sujeira; comida mofada e apodrecida estava em cima da mesa junto a um amontoado de panelas com crostas de sujeira. A única luz vinha de uma vela de luz fraca que estava aos pés de um homem com cabelos e barba tão grandes que Harry não conseguia ver seus olhos ou boca. O homem estava jogado em uma poltrona perto do fogo e Harry se perguntou, por um momento, se ele estava morto. Porém, alguém bateu na porta e o homem moveu-se, erguendo uma varinha na mão direita e uma faca pequena na esquerda. A porta se abriu rangendo. Ali, no limiar da porta, segurando uma velha lamparina a óleo, encontrava-se um garoto que Harry reconheceu no ato: alto, pálido, cabelos escuros, e muito bonito – Voldemort adolescente. Os olhos de Voldemort moveram-se lentamente ao redor da cabana até que encontrou o homem na poltrona. Por alguns segundos, ambos se olharam, então o homem se levantou cambaleante e as garrafas vazias que se encontravam a seus pés fizeram barulho pelo chão. – VOCÊ! – gritou. – VOCÊ! E correu em direção a Riddle, varinha e faca erguidas. – Pare. Riddle falou em língua de cobra. O homem escorregou e bateu na mesa, derrubando as panelas sujas no chão. Encarou Riddle. Houve um longo silêncio enquanto se olhavam. Até que o homem o quebrou: – Você também fala? – Sim, eu falo – disse Riddle. Ele andou para frente, deixando que a porta batesse atrás de si. Harry não pode deixar de sentir uma admiração ressentida pela completa falta de medo de Voldemort. Seu rosto meramente mostrava nojo ou, até mesmo, decepção. 179 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Onde está Servolo? – perguntou. – Morto – disse o outro. – Morreu há alguns anos atrás. Riddle franziu a testa. – Quem é você, então? – Sou Morfin, não sou? – Filho de Servolo? – Claro que sou, então... Morfin tirou o cabelo de seu rosto imundo para poder ver Riddle melhor e Harry viu que ele usava em sua mão direita o anel contendo a pedra negra que pertencera a Servolo. – Pensei que você fosse aquele trouxa – sussurrou Morfin. – Você se parece muito com ele. – Que trouxa? – perguntou Riddle asperamente. – O trouxa que minha irmã gostava, o trouxa que mora na mansão do outro lado – disse Morfin, e cuspiu inesperadamente no chão. – Você se parece muito com ele. Mas ele está mais velho agora, não? Ele é mais velho que você, agora que penso nisso... Morfin parecia meio confuso e chegou para o lado um pouco, ainda se apoiando na quina da mesa. – Ele voltou, sabe – acrescentou. Voldemort olhava para Morfin, pensando em suas possibilidades. Então, moveu-se um pouco mais perto de Morfin e disse: – Riddle voltou? – Er, ele a largou, e que isso sirva de lição a ela, casar com escória – disse Morfin, mais uma vez cuspindo no chão. – Nos roubou, antes de fugir. Onde está o medalhão, o medalhão de Slytherin? Voldemort não respondeu. Morfin estava ficando irado novamente, sacudiu a faca e gritou: – Ela nos desonrou, sim, ela nos desonrou, aquela vadia imunda! E quem é você, vindo aqui e perguntando coisas a respeito disso tudo? Acabou..., não?... acabou... Ele desviou o olhar e cambaleou um pouco, e Voldemort andou em sua direção. E quando fez isso uma estranha escuridão surgiu, apagando a lamparina de Voldemort e a vela de Morfin, apagando tudo... Os dedos de Dumbledore seguraram firmemente o braço de Harry e eles voltaram ao presente. A suave luz dourada da sala de Dumbledore ofuscou os olhos de Harry depois da impenetrável escuridão. – Isso é tudo? – disse Harry de uma vez. – Por que tudo ficou tão escuro, o que aconteceu? – Porque Morfin não conseguia lembrar de mais nada deste ponto em diante – disse Dumbledore, apontando para que Harry se sentasse novamente em sua cadeira. – Quando ele acordou na manhã seguinte, estava deitado no chão, sozinho. O anel de Servolo havia desaparecido. – Enquanto isso, no povoado de Little Hangleton, uma empregada corria pela rua principal, gritando que havia três corpos estendidos na sala de jantar da mansão; Tom Riddle Senior, sua mãe e seu pai. As autoridades trouxas ficaram perplexas. Até onde eu sei, eles não sabem até hoje como os Riddles morreram, já que a maldição AvadaKedavra não deixa nenhum sinal de dano... A exceção está em minha frente – Dumbledore acrescentou olhando para a cicatriz de Harry. – O Ministério, por outro lado, sabia que isto tinha sido um assassinato cometido por um bruxo. Eles também sabiam que um bruxo sentenciado que odiava trouxas morava depois do vale perto da mansão dos Riddle, alguém que odiava trouxas e que já havia sido preso por atacar uma das pessoas assassinadas. – Assim, o Ministério convocou Morfin. Eles não precisaram interrogá-lo, usando Veritaserum ou Legilimência. Ele admitiu o assassinato na hora, dizendo detalhes que só o assassino poderia saber. Estava orgulhoso, disse, por ter matado os trouxas, esteve esperando a chance todos esses anos. Ele entregou sua varinha, e ficou imediatamente provado que ela fora utilizada no assassinato dos Riddles. E ele se deixou levar direto para Azkaban sem luta. Só o que o perturbava era o fato de que o anel de seu pai havia desaparecido. – Ele vai me matar por tê-lo perdido – disse várias vezes às pessoas que o prenderam. – Ele vai me matar por ter perdido seu anel – E isso, aparentemente, foi 180 Capítulo 17 – A Lembrança Sluggiana tudo o que ele disse novamente. Durante o período em que ficou em Azkaban, ele reviveu esta lembrança, lamentando a perda da última herança de família de Servolo, e está enterrado ao lado da prisão, junto a muitas outras pobres almas que faleceram lá dentro. – Então, Voldemort roubou a varinha de Morfin e a usou? – disse Harry, sentando direito. – Isso mesmo – disse Dumbledore. – Não temos nenhuma lembrança que possa nos mostrar isso, mas acho que podemos ter razoável certeza que foi isso o que aconteceu. Voldemort estuporou seu tio, pegou sua varinha e foi em direção à mansão do outro lado do vale. Lá, ele matou o trouxa que havia abandonado sua mãe, e, também, seus avós trouxas, exterminando a linhagem indigna dos Riddle e vingando-se do pai que nunca o desejou. Então, retornou à cabana dos Gaunt, fez a magia complexa que implantaria uma falsa lembrança na mente de seu tio, deixou a varinha de Morfin ao lado de seu dono inconsciente, pegou o velho anel que ele usava e foi embora. – E Morfin nunca percebeu que ele não fez nada daquilo? – Nunca – disse Dumbledore. – ele fez uma confissão orgulhosa e plena. – Mas ele tinha essa lembrança verdadeira o tempo todo! – Sim, mas foi preciso um grande esforço de poderosa Legilimência para obter isso dele – disse Dumbledore – e por que alguém investigaria a fundo a mente de Morfin quando ele já havia confessado o crime? No entanto, eu consegui fazer uma visita a Morfin nas suas últimas semanas de vida, pois naquele momento eu estava tentando descobrir o máximo possível sobre o passado de Voldemort. Obtive essa lembrança com muita dificuldade. Quando vi o que continha, tentei utilizá-la para retirar Morfin de Azkaban. Mas antes do Ministério chegar a uma decisão, ele já havia morrido. – Mas como o Ministério não havia percebido que Voldemort tinha feito isso tudo com Morfin? – Harry perguntou com raiva. – Ele era menor de idade naquela época, não era? Achei que era possível detectar magia feita por menores de idade! – Você tem razão – eles podem detectar magia, mas não quem a fez. Você se lembra de que foi acusado de usar um Feitiço de Levitação, quando na verdade quem o fez foi ... – Dobby – resmungou Harry; essa injustiça ainda o amargurava. – Então, se você é menor de idade e faz magia dentro da casa de uma bruxa ou bruxo adulto, o Ministério não vai saber? – O Ministério certamente não saberá dizer quem praticou a magia – disse Dumbledore, sorrindo ligeiramente enquanto olhava a grande indignação de Harry. – Eles dependem dos pais bruxos para que imponham a seus filhos a obediência enquanto estão dentro da casa. – Isso é tudo bobagem – esbravejou Harry. – Veja o que aconteceu aqui, veja o que aconteceu com Morfin! – Eu concordo – disse Dumbledore. – Fosse Morfin o que fosse, ele não merecia morrer da forma que morreu, acusado de assassinatos que não cometeu. Mas está ficando tarde, e ainda quero que você olhe esta outra lembrança antes de nos separarmos... Dumbledore tirou de um bolso interno outra garrafinha de cristal e Harry ficou quieto imediatamente, lembrando que Dumbledore havia dito que esta era a mais importante que ele conseguira coletar. Harry percebeu que o conteúdo foi difícil de ser despejado na Penseira, como se ela tivesse se solidificado ligeiramente, será que as lembranças se estragavam? – Isto não vai demorar – disse Dumbledore, quando finalmente esvaziou o vidrinho. – Devemos estar de volta antes de você notar. Bem, vamos entrar mais uma vez na Penseira... Harry caiu mais uma vez dentro do liquido prateado e aterrissou, desta vez, em frente a um homem que ele logo reconheceu. Era um Horace Slughorn bem mais jovem. Harry estava tão acostumado com ele careca, que vê-lo com cabelo grosso, brilhante e cor de palha era um pouco desconcertante, parecia que ele tinha feito uma cobertura de sapê, apesar de já haver uma careca do tamanho de um galeão no topo de sua cabeça. Seu bigode, mais fino do que o atual era de um louro avermelhado. Ele não era tão rotundo quanto o Slughorn que Harry conhecia, ainda que os botões dourados de seu colete ricamente bordado estivessem sendo puxados ao máximo. Seus pequenos pés repousavam em cima de um pufe de veludo 181 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto e ele estava bem sentado numa poltrona confortável, uma das mãos segurando uma pequena taça de vinho e a outra vasculhando uma caixa de abacaxi cristalizado. Harry olhou em volta enquanto Dumbledore aparecia ao seu lado, e percebeu que estavam na sala de Slughorn. Uma meia dúzia de garotos estava sentada ao redor de Slughorn, todos em cadeiras mais duras ou menores que a dele e todos em torno do meio da adolescência. Harry reconheceu Riddle logo de cara. Ele era o mais bonito entre todos e o que parecia mais relaxado. Sua mão direita repousava relaxada sobre o braço de sua poltrona; com um susto, Harry percebeu que ele usava o anel dourado e preto de Servolo, ele já havia matado seu pai. – Senhor, é verdade que a Professora Merrythought está se aposentando? – Riddle perguntou. – Tom, Tom, mesmo se eu soubesse, não poderia lhe contar – disse Slughorn, apontando para Riddle um dedo açucarado de desaprovação, mas arruinando um pouco o efeito ao piscar. – Devo dizer que gostaria de saber qual é sua fonte de informação, menino, você é mais bem informado que metade do corpo docente. Riddle sorriu e os demais garotos deram risada e olharam-no com admiração. – Com sua fantástica habilidade de descobrir coisas que você não deveria saber e sua cuidadosa habilidade de lisonjear pessoas importantes...a propósito, obrigado pelos abacaxis, você está absolutamente certo, são meus favoritos... Depois que alguns garotos riram nervosos, uma coisa muito estranha aconteceu. Toda a sala encheu-se com uma grossa névoa branca, e Harry não podia ver nada além do rosto de Dumbledore, que estava ao seu lado. Então a voz de Slughorn ressoou por entre a névoa, estranhamente alta – Você vai pelo caminho errado, garoto, lembre-se de minhas palavras! A névoa sumiu tão subitamente quanto surgiu, e ninguém pareceu reparar nisso nem ninguém parecia como se algo diferente tivesse acontecido. Alarmado, Harry olhou à volta e viu um grande relógio dourado acima da cabeça de Slughorn marcando onze horas da noite. – Nossa, já é tão tarde assim? Melhor vocês irem, meninos, ou todos estaremos encrencados. Lestrange, quero seu trabalho amanhã pela manhã ou lhe darei detenção. O mesmo vale para você, Avery. Slughorn levantou-se da cadeira e levou seu copo vazio até a mesa, enquanto os meninos saíam da sala. Riddle, no entanto, ficou para trás. Harry sabia que ele se atrasou de propósito para poder ficar a sós com Slughorn. – Fique atento, Tom, você não iria querer ser pego andando por aí fora do horário, você é monitor... – Senhor, eu queria lhe perguntar uma coisa. – Pergunte então, meu garoto, pergunte... – Senhor, estava imaginando o que sabe sobre... sobre Horcruxes? E, então, aconteceu tudo de novo: a densa névoa encheu a sala de forma que Harry não conseguia ver nem Slughorn nem Riddle; somente Dumbledore, que sorria serenamente ao seu lado. Então, a voz de Slughorn ressoou novamente, assim como antes. – Eu não sei nada sobre Horcruxes e, mesmo se soubesse, não diria! Agora saia daqui de uma vez e não permita que eu ouça você mencionando isso de novo! – Bem, é isso – disse Dumbledore calmamente ao lado de Harry. – É hora de irmos. Os pés de Harry saíram do chão para cair, segundos mais tarde, no tapete em frente à escrivaninha de Dumbledore. – Isso é tudo? – perguntou Harry confuso. Dumbledore havia dito que esta era a lembrança mais importante de todas, mas ele não conseguia ver o que tinha de tão significante a respeito. Com certeza a névoa e o fato de ninguém tê-la percebido foram estranhos, mas, além disso, nada pareceu ter acontecido, a não ser o fato de Riddle ter feito uma pergunta e não ter obtido resposta. – Como você deve ter percebido – disse Dumbledore, sentando atrás da escrivaninha -, esta lembrança foi adulterada. 182 Capítulo 17 – A Lembrança Sluggiana – Adulterada? – repetiu Harry, sentando-se também. – Certamente – disse Dumbledore. – O Professor Slughorn interferiu em suas próprias lembranças. – Mas por que ele faria isso? – Porque, eu acredito, ele está envergonhado do que se lembra – disse Dumbledore. – Ele tentou refazer a lembrança para mostrar-se a si mesmo sob uma perspectiva melhor, escondendo as partes que ele não desejava que eu visse. Foi, como você pode perceber, mal feito e isso foi uma coisa boa, pois mostra que a verdadeira memória ainda está lá por baixo das alterações. – E então, pela primeira vez, eu estou lhe dando um dever de casa, Harry. Será seu trabalho persuadir o Professor Slughorn a divulgar a lembrança verdadeira, que será, sem dúvida, a peça mais crucial de informação dentre todas. Harry olhou fixamente. – Mas, com certeza, senhor – disse ele, mantendo sua voz tão respeitável quanto possível – você não precisa de mim – você pode usar Legilimência... ou Veritaserum... – O Professor Slughorn é um bruxo extremamente capaz, que estará na expectativa de que ambos sejam tentados – disse Dumbledore. – Ele é muito mais preparado em Oclumência do que o pobre Morfin Gaunt, e eu me surpreenderia se ele não carregasse consigo um antídoto para Veritaserum desde quando eu tentei fazer com que ele me desse esta versão travestida de suas memória. – Não, eu acho que seria tolice tentar obter a verdade do professor Slughorn utilizando a força e seria muito mais prejudicial do que benéfico; eu não quero que ele saia de Hogwarts. No entanto, ele tem fraquezas como todos nós e eu tenho certeza de que você é uma pessoa que seria capaz de penetrar em suas defesas. É muito importante que obtenhamos a verdadeira lembrança, Harry... o quão importante só saberemos quando a tivermos em mãos. Então, boa sorte... e boa-noite. Um pouco surpreso pela dispensa súbita, Harry levantou-se rapidamente. – Boa-noite, senhor. Enquanto fechava a porta da sala atrás de si, pôde ouvir Fineus dizer: – Não consigo ver como o garoto se sairia melhor que você, Dumbledore. – Eu não esperaria que você visse, Fineus – respondeu Dumbledore e Fawkes soltou mais uma suave nota musical. 183 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – CAPÍTULO 18 – Surpresas de Aniversário No dia seguinte Harry confiou a Rony e Hermione a tarefa que Dumbledore tinha dado a ele, ainda que separadamente, pois Hermione ainda se recusava a tolerar a presença de Rony por mais tempo do que o necessário para lhe dar um olhar de desprezo. Rony pensou que era improvável que Harry tivesse qualquer problema com Slughorn. – Ele ama você! – Ele disse no café da manhã, balançando no ar um garfo cheio de ovos fritos. – Não recusará nada a você, não é mesmo? Não ao seu pequeno Príncipe de Poções. Só precisa se demorar um pouco mais após a aula da tarde e perguntar a ele. Hermione, entretanto, tinha uma opinião pessimista. – Ele deve estar determinado a esconder o que realmente aconteceu, se Dumbledore não foi capaz de retirar a informação dele. – ela disse em voz baixa, enquanto estavam no pátio deserto e cheio de neve durante o intervalo. – Horcruxes... Horcruxes... Eu nunca ouvi nada sobre eles.. – Nunca ouviu? – Harry estava desapontado, ele havia esperado que Hermione pudesse lhe dar uma dica do que eram Horcruxes. – Devem ser Artes das Trevas realmente avançadas, senão por que Voldemort iria querer saber sobre eles? Eu acho que será difícil conseguir a informação, Harry, você terá que agir com muita cautela ao se aproximar de Slughorn, pensar em uma estratégia... – Rony acha que eu deveria simplesmente me demorar mais na saída da aula de Poções esta tarde... – Ah, claro, se “Bom-Bom” pensa assim, é melhor fazê-lo! – ela disse, explodindo imediatamente – Além do mais, quando foi que a opinião de “Bom-Bom” esteve errada? – Hermione, você não poderia... – Não! – Ela disse com raiva, e se afastou violentamente, deixando Harry sozinho com neve até as canelas. As aulas de Poções eram bastante incômodas ultimamente, visto que Harry, Rony e Hermione tinham que compartilhar uma mesa. Hoje, Hermione havia movido seu caldeirão pela mesa de modo que ficasse perto de Ernesto, e ignorou tanto Harry quanto Rony. – O que você fez? – Rony murmurou para Harry, olhando o perfil insolente de Hermione. Mas antes que Harry pudesse responder, Slughorn estava pedindo silêncio em frente à classe. – Se acomodem, se acomodem, por favor! Rápido, agora, temos muito trabalho pela frente esta tarde! A terceira lei de Golpalott, alguém pode me dizer qual é? A senhorita Granger pode, com certeza! Hermione recitou em alta velocidade: – A-terceira-Lei-de-Golpalott-diz-que-o-antídoto-paraum-veneno-será-igual-à-soma-dos-antídotos-para-cada-um-dos-componentes-que-o-compõe. – Precisamente! – disse Slughorn radiante – Dez pontos para Grifinória! Agora, se nós aceitarmos que a terceira Lei de Golpalott é verdade... Harry estava aceitando que a palavra de Slughorn sobre essa terceira Lei de Golpalott era verdadeira, porque ele não havia entendido nada dela. Ninguém além de Hermione pareceu entender o que Slughorn disse depois, também. 184 Capítulo 18 – Surpresas de Aniversário – ...o que significa, claro, que assumindo que nós venhamos a conseguir a identificação correta dos ingredientes pelo feitiço de revelação de Scarpin, nosso primeiro alvo não é aquele relativamente simples de selecionar antídotos para os ingredientes da mesma, mas encontrar o componente adicionado que, por um processo quase alquímico, transforme esses diversos elementos... Rony estava sentado ao lado de Harry com a boca meio-aberta, olhando fixamente seu novo livro de Poções – Nível Avançado. Rony continuava sem lembrar de que não poderia confiar em Hermione para socorrê-lo quando não entendesse o que estava acontecendo. – E então – finalizou Slughorn – eu quero que cada um de vocês venha aqui e pegue um desses frascos na minha mesa. Vocês devem criar um antídoto para o veneno dentro dele antes do fim da aula. Boa sorte, e não se esqueçam de suas luvas protetoras. Hermione deixou seu assento e já havia atravessado a metade do caminho em direção à mesa de Slughorn antes que o resto da turma compreendesse que era hora de se mexer, e quando Harry, Rony e Ernesto retornaram à mesa, ela já havia virado o conteúdo de seu frasco no caldeirão, e estava acendendo o fogo embaixo dele. – É uma pena que o Príncipe não poderá ajudá-lo muito nisto, Harry. – Ela disse de maneira vivaz enquanto se endireitava. – Você tem que entender os princípios envolvidos desta vez. Nada de atalhos ou trapaças! Irritado, Harry abriu o veneno que tinha pegado na mesa de Slughorn, que era de um rosa extravagante, o despejou em seu caldeirão e acendeu o fogo embaixo dele. Ele não fazia a mínima idéia do que deveria fazer a seguir. Olhou de relance para Rony, que o observava com um olhar idiota, copiando tudo o que Harry fazia. – Tem certeza de que o Príncipe não deixou nenhuma dica? – Rony resmungou para Harry. Harry pegou sua confiável cópia de Poções – Nível Avançado e abriu no capítulo sobre Antídotos. Lá estava a terceira Lei de Golpalott, palavra por palavra, como Hermione havia recitado, mas nenhuma simples dica esclarecedora pela mão de Príncipe explicando o que significava. Aparentemente o Príncipe, como Hermione, não tinha dificuldades em entender aquilo. – Nada. – Harry respondeu desapontado. Hermione estava agora agitando sua varinha entusiasticamente sobre o seu caldeirão. Infelizmente, eles não poderiam copiar o feitiço que esta estava fazendo porque ela agora dominava tão bem os feitiços não verbais que ela não precisou mencionar as palavras em voz alta. Ernesto Macmillan, entretanto, murmurava “Specialis Revelio!” sobre seu caldeirão, soando imponente, então Harry e Rony rapidamente o imitaram. Levou somente cinco minutos para que Harry compreendesse que sua reputação como o melhor aluno de poções da classe estava desmoronando ao seu redor. Slughorn tinha espiado o seu caldeirão esperançosamente em sua primeira inspeção pela masmorra, preparado para exclamar deliciado como sempre, e havia retirado sua cabeça rapidamente, tossindo, ao sentir o cheiro de ovos podres sobre si. A expressão de Hermione não poderia estar mais satisfeita; ela havia odiado ser deixada para trás em cada aula de Poções. Ela estava agora decantando os misteriosos ingredientes separados de seu veneno em dez frascos de cristal diferentes. Mais para evitar essa visão irritante do que por qualquer outra coisa, Harry inclinou-se sobre o livro de Príncipe, virando algumas páginas com força desnecessária. E lá estava, rabiscado através de uma longa linha de antídotos. Apenas empurre um bezoar pelas suas gargantas. Harry fitou as palavras longamente. Ele não havia ouvido, há muito tempo, sobre os bezoars? Snape não havia mencionado eles na primeira aula de Poções? “Uma pedra tirada do estômago de uma cabra, que o livrará da maioria dos venenos”. Não era uma resposta para o problema de Golpalott, e se Snape ainda fosse o seu professor, Harry não ousaria fazê-lo, mas este era um momento para medidas desesperadas. Ele foi em direção ao armário de estoques e, empurrando para o lado os chifres de unicórnio e um emaranhado de ervas ressecadas, encontrou, bem no fundo, uma pequena caixa onde se lia a palavra “Bezoars”. Ele abriu a caixa exatamente quando Slughorn avisou: – Mais dois minutos, pessoal! – Dentro dela havia uma dúzia de objetos marrons enrugados, parecendo mais rins secos do que pedras. Harry apanhou um, devolveu a caixa para o armário e voltou apressado ao seu caldeirão. 185 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – O tempo.... acabou! – Disse Slughorn animadamente. – Bem, vamos ver como vocês se saíram! Blaise... O que você tem para mim? Lentamente, Slughorn se moveu pela sala, examinando os vários antídotos. Ninguém havia conseguido terminar a tarefa, embora Hermione estivesse tentando colocar à força alguns poucos ingredientes em sua garrafa antes de Slughorn a alcançar. Rony havia desistido completamente, e estava tentando meramente parar de respirar os aromas pútridos que saíam de seu caldeirão. Harry permaneceu esperando, o bezoar seguro em uma mão ligeiramente suada. Slughorn chegou à mesa deles por último. Cheirou a poção de Ernesto e passou sobre Rony com uma careta. Ele não se demorou no caldeirão de Rony, mas se afastou rapidamente, ligeiramente nauseado. – E você, Harry. – ele disse – O que você tem para me mostrar? – Harry mostrou sua mão, o bezoar repousando em sua palma. Slughorn olhou para baixo por dez longos segundos. Harry imaginou, por um momento, se ele iria gritar com ele. Então ele jogou sua cabeça para trás e rugiu em gargalhadas. – Você é ousado, garoto! – explodiu ele, pegando o bezoar e mantendo-o no alto para que toda a classe pudesse ver. – Oh, você é como sua mãe... Bem, eu não posso criticá-lo... Um bezoar certamente agiria como antídoto para todas estas poções! Hermione, com a face suada e fuligem em seu nariz, ficou lívida. Seu antídoto não terminado, compreendendo cinqüenta e dois ingredientes, incluindo um chumaço do seu próprio cabelo, borbulhou lentamente atrás de Slughorn, que só tinha olhos para Harry. – E você pensou no bezoar sozinho, não pensou, Harry? – Ela perguntou por entre os dentes. – Este é o espírito próprio que um verdadeiro fazedor de poções precisa! – Disse Slughorn alegremente, antes que Harry pudesse responder. – Exatamente como sua mãe, ela tinha a mesma compreensão intuitiva fazendo poções, definitivamente você herdou isso de Lílian... Sim, Harry, sim, se você tiver um bezoar à mão, é claro que você fará o truque... apesar de que como eles não funcionem em todos os casos, e sejam muito raros, ainda vale a pena saber como preparar antídotos. A única pessoa na sala com um olhar mais bravo do que Hermione era Malfoy, que, Harry ficou encantado em ver, havia derramado algo que parecia como vômito de gato sobre si mesmo. Antes que qualquer um deles pudesse expressar sua fúria por Harry ficar em primeiro lugar na classe sem fazer nada, o sino bateu. – Guardem o material! – Disse Slughorn. – E dez pontos extras para Grifinória pelo simples descaramento! Ainda rindo, ele voltou gingando para sua mesa à frente da masmorra. Harry ficou para trás, gastando uma grande quantidade de tempo para fechar sua mochila. Nem Rony e nem Hermione lhe desejaram boa sorte quando saíram; ambos pareciam aborrecidos. Finalmente Harry e Slughorn eram os únicos na sala. – Vamos Harry, você se atrasará para a próxima aula! – Disse Slughorn amavelmente, estalando os ganchos dourados de sua pasta de couro de dragão. – Senhor, – disse Harry, lembrando-se inevitavelmente de Voldemort – eu queria lhe perguntar algo. – Pergunte o que quiser, então, meu querido, pergunte o que quiser... – Professor, eu queria saber o que o senhor sabe sobre... sobre Horcruxes? Slughorn congelou. Sua face redonda pareceu afundar dentro de si. Ele umedeceu os lábios e disse asperamente: – O que você disse? – Eu perguntei se o senhor sabe alguma coisa sobre os Horcruxes... Veja... – Dumbledore lhe pediu isso! – sussurrou Slughorn. Sua voz havia mudado completamente. Não era mais jovial, e sim chocado, estarrecido. Ele levou a mão ao bolso da camisa e retirou um lenço, e esfregou sua testa suada. – Dumbledore lhe mostrou aquela... aquela memória! – Disse Slughorn. – Então? Ele não mostrou? – Sim – Disse Harry, decidindo na hora que era melhor não mentir. 186 Capítulo 18 – Surpresas de Aniversário – Sim, é claro. – Slughorn falou em voz baixa, ainda esfregando sua face pálida. – É claro... bem, se você viu aquela memória Harry, você sabe que eu não sei nada – NADA – ele repetiu a palavra com ênfase – sobre Horcruxes. Ele agarrou sua pasta de couro de dragão, enfiou o lenço no bolso e avançou para a porta da masmorra. – Senhor, – disse Harry desesperadamente. – Eu só pensei que poderia haver um pouco mais daquela memória... – Pensou? – Slughorn perguntou. – Então pensou errado, está ouvindo? ERRADO! Ele berrou a última palavra e, antes que Harry pudesse dizer qualquer coisa, bateu a porta da masmorra atrás dele. Nem Rony nem Hermione se mostraram solidários quando Harry lhes contou a entrevista desastrosa. Hermione ainda estava chateada por Harry ter triunfado sem fazer o trabalho corretamente. Rony estava ressentido que Harry não lhe tivesse passado um bezoar também. – Teria parecido estúpido se nós dois tivéssemos feito isto! – disse Harry irritado. – Olha, eu tinha que tentar amolecê-lo para poder lhe perguntar sobre Voldemort, não tinha? Ah, veja se se controla! – ele acrescentou exasperado, quando Rony estremeceu ao som do nome. Enfurecido pelo fracasso dele e pelas atitudes de Rony e Hermione, Harry remoeu pelos dias seguintes o que fazer a seguir sobre Slughorn. Por enquanto, ele decidiu que ele deixaria Slughorn pensar que ele tinha esquecido totalmente sobre os Horcruxes; era certamente melhor para o acalmar, causando uma falsa sensação de segurança antes de voltar ao ataque. Quando Harry não questionou Slughorn novamente, o mestre de Poções voltou a tratá-lo da forma afetuosa habitual, e parecia ter tirado o assunto da mente. Harry esperou um convite a uma das pequenas festas de inicio de noite de Slughorn, determinado a aceitá-lo desta vez, mesmo se tivesse que remarcar seus treinos de Quadribol. Porém, infelizmente, nenhum convite chegou. Harry conferiu com Hermione e Gina: nenhuma delas tinha recebido convite algum e nem, até onde elas soubessem, ninguém recebeu. Harry não podia evitar de pensar se isso significava que Slughorn não era tão esquecido quanto aparentava, ele simplesmente estava determinado a não dar a Harry nenhuma outra oportunidade para questioná-lo. Enquanto isso, pela primeira vez na vida, a biblioteca de Hogwarts havia desapontado Hermione. Ela estava tão chocada, que até esqueceu que estava aborrecida com Harry pelo truque com o bezoar. – Eu não achei uma única explicação sobre o que Horcruxes fazem! – ela lhe contou. – Nem uma! Eu estive olhando na seção restrita e até mesmo nos livros mais horríveis onde eles lhe contam como fabricar as poções mais horripilantes, nada! Tudo que eu pude achar foi isto, no Introdução para Magia Mais Diabólica, escute, “do Horcrux, a mais maligna das invenções mágicas, nós não falaremos nem daremos instruções”... Por que mencionar isto, então? – ela questionou impacientemente, fechando o velho livro com força, ele soltou uma lamúria fantasmagórica. – Oh, cala a boca! – ela resmungou, enquanto o colocava de volta na bolsa. A neve derretia ao redor da escola quando fevereiro chegou, sendo substituída por uma fria umidade melancólica. Nuvens roxa acinzentadas pairavam baixas sobre o castelo e uma constante chuva fria caindo tornavam os gramados escorregadios e enlameados. O ponto alto disso foi que a primeira aula de Aparatação para os sextanistas, que foi agendada para uma manhã de sábado, de forma que nenhuma das matérias normais fosse prejudicada, aconteceu no Salão Principal, em vez de nos jardins. Quando o Harry e Hermione chegaram ao Salão (Rony tinha descido com Lilá), eles perceberam que as mesas haviam desaparecido. A chuva chicoteava contra as janelas altas e o teto encantado se erguia escuro sobre eles, enquanto se juntavam em frente aos Professores McGonagall, Snape, Flitwick e Sprout – os Chefes das Casas – e a um bruxo pequeno, que Harry acreditou ser o Instrutor de Aparatação do Ministério. Ele era estranhamente pálido, com cílios transparentes, cabelo ralo e um jeito tênue, como se uma única rajada de vento pudesse levá-lo embora. Harry imaginou se desaparecimentos, e reaparições constantes tinham diminuído a solidez dele de alguma maneira, ou se sua constituição frágil era a ideal para qualquer um que desejasse desaparecer. 187 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Bom dia, – disse o bruxo de Ministério, quando todos os alunos tinham chegado e os Chefes das Casas pediram silêncio. – Meu nome é Wilkie Twycross e eu serei seu Instrutor de Aparatação do Ministério durante as próximas doze semanas. Eu espero poder prepará-los para seu teste de Aparatação neste período... – Malfoy, fique quieto e preste atenção! – rosnou a Professora McGonagall. Todo mundo olhou em volta. Malfoy tinha corado; ele pareceu tão furioso quando se afastou de Crabbe, com quem estava tendo uma discussão aos sussurros. Harry olhou depressa para Snape, que também parecia aborrecido, o que Harry suspeitou ser menos pela falta de Malfoy do que pelo fato de McGonagall ter repreendido um aluno da casa dele. – ... após o qual, muitos de vocês estarão prontos a prestar seu exame – , Twycross continuou, como se não tivesse havido nenhuma interrupção. – Como vocês devem sabem, normalmente é impossível Aparatar ou Desaparatar dentro de Hogwarts. O Diretor desfez este encanto, somente dentro do Salão Principal, durante uma hora, para possibilitar nossa prática. Eu devo avisar que vocês não serão capazes de Aparatar fora das paredes deste Salão, e que seria uma imprudência tentar. – Eu gostaria que cada um de vocês se posicionasse agora de tal forma que tenha uns cinco passos de espaço livre em frente. Houve um grande tumulto com pessoas se acotovelando enquanto tentavam se afastar, colidindo umas com as outras, deixando outras sem espaço. Os Chefes das Casas moveram-se entre os estudantes, colocando-os em posição e interrompendo discussões. – Harry aonde você vai? – Hermione perguntou. Mas Harry não respondeu; ele estava se movendo depressa pela multidão, além do lugar onde o professor Flitwick estava tentando posicionar alguns Corvinais, todos querendo ficar na frente, passando pela professora Sprout, que alinhava os Lufa-Lufas, até que, se esquivando em torno de Ernesto Macmillan, ele conseguiu se posicionar na parte de trás da multidão, exatamente atrás de Malfoy que estava tirando proveito da confusão generalizada para continuar a discussão com Crabbe, de pé a cinco passos de distância parecendo revoltado. – Eu não sei quanto mais, certo? – Malfoy disse a ele, sem perceber que Harry estava logo atrás. – Está demorando mais do que eu pensei que levaria. Crabbe abriu a boca, mas Malfoy pareceu adivinhar o que ele ia dizer. – Olha, não é da sua conta o que estou fazendo, Crabbe, você e Goyle só devem fazer o que foi mandado e ficar de vigia! – Eu digo a meus amigos o que eu faço, se quero que eles fiquem de vigia para mim, – disse Harry , alto o suficiente para Malfoy ouví-lo. Malfoy girou no lugar, a mão dele agarrando a varinha, mas nesse preciso momento os quatro Chefes das Casas gritaram, – Quietos! – , e fez-se silêncio novamente. Malfoy virou-se para frente lentamente. – Obrigado disse Twycross. – Agora então... Ele balançou sua varinha. Aros antiquados de madeira apareceram imediatamente no chão em frente a cada estudante. – As coisas importantes a se lembrar quando Aparatar são os três Dês! – disse Twycross. – Destino, Determinação, Deliberação! – Passo um: focalize sua mente firmemente no destino desejado, – ordenou Twycross. – Neste caso, o interior de seu aro. Por favor concentrem-se agora neste destino. Todo mundo olhava furtivamente em volta, para conferir se os outros estavam fitando seu aro, então apressadamente fizeram como lhes foi falado. Harry contemplou o trecho de chão empoeirado dentro de seu aro e tentou não pensar em nada mais. Isto se mostrou impossível, uma vez que ele não podia deixar de pensar no que Malfoy estava fazendo que precisasse de vigias. – Passo dois, – disse Twycross, – focalize sua determinação em ocupar o espaço visualizado! Deixe este seu desejo em entrar no aro partir de sua mente e inundar cada partícula de seu corpo!. 188 Capítulo 18 – Surpresas de Aniversário Harry olhou sorrateiramente ao redor. Um pouco a sua esquerda, Ernesto Macmillan estava encarando o aro dele tão firme que seu rosto tinha ficado rosa; olhava como se estivesse tentando botar um ovo do tamanho de uma Goles. Harry engoliu o riso e apressadamente voltou o olhar para seu próprio aro. – Passo três, – gritou Twycross, – e somente quando eu der o comando... tenham em vista o lugar, sentindo seu caminho em direção ao vazio, movendo-se com deliberação. Em meu comando, agora... um – Harry olhou ao redor novamente; muitas pessoas pareciam positivamente alarmadas, com o pedido para aparatar tão depressa. Harry tentou fixar os pensamentos dele novamente no aro; ele já tinha esquecido o que três Dês representavam. – TRÊS! Harry girou naquele mesmo lugar, perdeu o equilíbrio e quase caiu. Ele não foi o único. O Salão inteiro estava, de repente, cheio de pessoas cambaleantes; Neville estava caído de costas, Ernesto Macmillan, por outro lado, tinha feito um tipo de pirueta saltando dentro do seu aro e pareceu momentaneamente emocionado, até que viu Dino Thomas arfando de tanto rir dele. – Não se preocupem, não se preocupem, – Twycross declarou secamente, que não parecia estar esperando qualquer coisa melhor. – Ajustem seus aros, por favor, e voltem para suas posições originais... A segunda tentativa não foi melhor que a primeira. A terceira foi tão ruim quanto. Até a quarta nada de excitante aconteceu. Houve um guincho horrível de dor e todo mundo olhou em volta, apavorado, para ver Susana Bones da Lufa-Lufa que cambaleava no aro dela com a perna esquerda ainda a cinco pés de distância do lugar de onde ela tinha começado. Os Chefes das Casas foram até a ela; houve um grande estrondo e uma nuvem de fumaça roxa apareceu, se dissipando em seguida para revelar Susan soluçando, com a perna no lugar, mas, horrorizada. – A Fraturação ou separação aleatória de partes do corpo, – esclareceu Twycross desapaixonadamente, – acontece quando a mente está insuficientemente determinada. Você tem que se concentrar continuamente em seu destino, e se mover, sem pressa, mas com deliberação... assim. Twycross pisou adiante, graciosamente girando no mesmo lugar com os braços estendidos e desapareceu em um redemoinho de roupas,reaparecendo na parte de trás do Salão. – Lembrem-se dos três Dês, – ele disse, – e tentem novamente... um, dois, três... Mas uma hora depois, a Fraturação de Susan ainda era coisa mais interessante que tinha acontecido. Twycross não parecia desencorajado. Fechando sua capa no pescoço, ele somente disse, -Até sábado que vem, e não esqueçam: Destinação. Determinação. Deliberação. Com isso, ele balançou a varinha, sumindo com os aros e saiu do Salão acompanhado pela Professora McGonagall. As conversas começaram na hora enquanto as pessoas se dirigiam para o Saguão de Entrada. – Como você se saiu? – perguntou Rony se apressando na direção de Harry. – Eu acho que senti algo da última vez que tentei, um tipo de formigamento em meus pés. – Suponho que seus sapatos sejam muito pequenos, “Bom-Bom”, – disse uma voz atrás deles, e Hermione os olhou, enquanto sorria maliciosamente. – Eu não senti nada, – disse Harry, ignorando a interrupção. – Mas não me importo com isso agora... – O que você quer dizer, que não se importa... Você não quer aprender a Aparatar? – perguntou Rony incrédulo. – Eu não estou preocupado, realmente. Eu prefiro voar, – disse Harry, enquanto olhava por cima do ombro para ver onde Malfoy estava, e acelerou quando eles entraram no Saguão de Entrada. – Olhe, se apresse, vamos, há algo que eu quero fazer.... 189 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Perplexo, Rony seguiu Harry para a torre da Grifinória correndo. Eles foram temporariamente detidos por Pirraça, que tinha emperrado uma porta no quarto andar fechando-a e se recusando a deixar qualquer um passar até que ateassem fogo às próprias calças, mas Harry e Rony simplesmente voltaram e foram por um dos atalhos já conhecidos. Dentro de cinco minutos, eles estavam entrando pelo buraco do retrato. – Você vai me contar o que nós estamos fazendo, então? – Perguntou Rony, arquejando ligeiramente. – Lá em cima, – Harry respondeu, cruzando a sala comunal e entrando pela porta para a escadaria dos meninos. O dormitório deles estava, como Harry esperava, vazio. Ele abriu sua mala e começou a procurar algo, enquanto Rony assistia impacientemente. – Harry... – Malfoy está usando Crabbe e Goyle como vigias. Ele estava discutindo agora mesmo com Crabbe. Quero saber... aha! Ele tinha achado, um quadrado dobrado de pergaminho aparentemente em branco que ele abriu e bateu com a varinha. – Juro solenemente não fazer nada de bom... ou Malfoy também não fará, Imediatamente, o Mapa do Maroto apareceu na superfície do pergaminho. Era um mapa detalhado de todo os andares do castelo e, movendo-se nele, minúsculos, pontos pretos com nomes que representavam cada dos ocupantes do castelo. – Me ajude a achar Malfoy, – Harry pediu com pressa. Ele pôs o mapa na cama dele, e ele e Rony se apoiaram nela, procurando. -Ali! – disse Rony, depois de um minuto. – Ele está na sala comunal da Sonserina, olhe... com Parkinson, Zabini, Crabbe e Goyle... Harry olhou para o mapa, desapontado, mas se recobrou quase que imediatamente. – Bem, vou manter o olho nele de agora em diante nele, – disse firmemente. – E no momento que eu o vir espreitando em algum lugar com Crabbe e Goyle vigiando do lado de fora, será com a Capa da Invisibilidade que vou descobrir o que ele... Ele se interrompeu quando Neville entrou no dormitório, trazendo com ele um cheiro forte de material chamuscado, e começou a procurar em sua mala um novo par de calças. Apesar da determinação de capturar Malfoy, Harry não teve sorte pelas duas semanas seguintes. Embora ele consultasse o mapa tão freqüentemente quanto podia, às vezes fazendo visitas desnecessárias ao banheiro entre as aulas para olhar, ele não viu Malfoy em algum lugar suspeito nenhuma vez. Realmente ele flagrou Crabbe e Goyle andando pelo castelo sozinhos com mais freqüência do que o habitual, às vezes permanecendo parados em corredores desertos, mas nessas horas, Malfoy não apenas não estava em nenhuma parte perto deles, mas também impossível de ser localizado no mapa. Isto era muito misterioso. Harry pensou na possibilidade de Malfoy estar realmente deixando os terreno da escola, mas não pôde ver como ele poderia estar fazendo isto, devido ao alto nível de segurança que funcionava agora dentro do castelo. Ele poderia somente supor que estivesse perdendo Malfoy entre as centenas de minúsculos pontos pretos no mapa. No que diz respeito a Malfoy, Crabbe e Goyle, eles pareciam estar tomando caminhos diferentes, quando normalmente eram inseparáveis, estas coisas aconteciam quando as pessoas ficavam mais velhas; Rony e Hermione, Harry refletiu tristemente, eram prova viva disso. Fevereiro se tornou março sem mudanças no tempo, a não ser que ficou ventoso, além de úmido. Para indignação geral, um cartaz apareceu em todos os quadros de aviso das salas comunais, anunciando que a próxima viagem a Hogsmeade tinha sido cancelada. Rony estava furioso. – Era no meu aniversário! – ele disse, – eu estava esperando ansiosamente por isso! – Não é uma surpresa grande, né? – disse Harry. – Não depois do que aconteceu a Katie. Ela ainda não tinha voltado do St. Mungus. E ainda mais, tinham sido notificados mais desaparecimentos no Profeta Diário, incluindo vários parentes de estudantes de Hogwarts. 190 Capítulo 18 – Surpresas de Aniversário – Mas agora tudo o que tenho são essas lições de Aparatação estúpidas! – disse Rony emburrado. – Grande festa de aniversário... . Três lições depois, Aparatação estava se mostrando tão difícil quanto sempre, apesar de que mais algumas pessoas tivessem conseguido se Fraturar. A frustração era grande e haviam piadas sobre Wilkie Twycross e o três Dês que tinham inspirado vários apelidos para ele, os mais educados deles eram Desodorante Vencido e Desmiolado. – Feliz aniversário Rony, – disse Harry, quando eles foram acordados no dia primeiro de março por Simas e Dino saindo ruidosamente para o café da manhã. – Tenho um presente. – Ele jogou um pacote na cama de Rony onde se juntou a uma pequena pilha deles que deviam, Harry imaginou, ter sido entregues à noite por elfos domésticos. – Oba... – Rony disse sonolento, e enquanto arrancava o papel, Harry saiu da cama, abriu a própria mala e começou a procurar o Mapa do Maroto que ele escondia depois de cada olhada. Ele tirou metade das coisas da mala antes de encontrá-lo escondido debaixo de suas meias enroladas nas quais ele ainda estava mantendo a garrafa de sua poção de sorte, Felix Felicis. – Certo, – ele murmurou, levando o mapa de volta para a cama com ele, batendo e murmurando, – Eu juro solenemente não fazer nada de bom, – de modo que Neville, que estava passando próximo a cama dele na hora, não ouvisse. – Legal, Harry! – Disse Rony entusiasmado, agitando o par novo de luvas de goleiro de quadribol que Harry tinha lhe dado. – Sem problemas, – disse Harry distraidamente, enquanto ele procurava o dormitório da Sonserina para localizar Malfoy. – Ei... eu não acho que ele esteja na cama dele... Rony não respondeu, ele estava muito ocupado desembrulhando presentes e soltava uma exclamação de prazer de vez em quando. – Sério, este é um bom ano! – Ele anunciou, mostrando um relógio de ouro pesado com símbolos estranhos na borda e estrelas minúsculas se movendo em vez de ponteiros. – Veja o que mamãe e papai me deram! Uau, quero chegar à maioridade ano que vem também... – Legal.. – Harry resmungou, dando uma olhada no relógio antes de verificar mais de perto o mapa. Onde Malfoy estava? Ele não parecia estar à mesa da Sonserina no Salão Principal, tomando o café da manhã... ele não estava em nenhuma parte perto de Snape que estava sentando na sala dele... ele não estava em quaisquer dos banheiros ou na ala hospitalar... – Quer um? – Rony perguntou com voz abafada, oferecendo uma caixa de Caldeirões de Chocolate. – Não obrigado, – Harry respondeu, levantando os olhos. – Malfoy sumiu novamente! – Não pode ser, – disse Rony, enfiando um segundo Caldeirão na boca, deslizando para fora da cama para se vestir. – Vamos lá. Se você não se apressar terá de aparatar de estômago vazio... Poderia tornar isto mais fácil, eu suponho... Rony olhou pensativamente a caixa de Caldeirões de chocolate, então encolheu os ombros e se serviu de um terceiro. Harry bateu no mapa com a varinha, murmurando, – Mal-feito feito, – apesar de não ter conseguido fazer, e foi se vestir pensando. Devia haver uma explicação para os desaparecimentos periódicos de Malfoy, mas ele não podia simplesmente pensar no que poderia ser. O melhor modo de descobrir seria o seguindo, mas mesmo com a Capa da Invisibilidade esta não era uma idéia prática; ele tinha as aulas, treino de quadribol, deveres e Aparatação; ele não podia seguir Malfoy pela escola toda sem que sua ausência fosse notada. – Pronto? – ele perguntou para Rony. Ele estava a meio caminho da porta do dormitório quando ele percebeu que Rony não tinha se movido, mas estava apoiado em um dos pilares da cama, fitando o lado de fora da janela molhada de chuva com um estranho olhar desfocado no rosto. – Rony? O café da manhã. – Eu estou sem fome. 191 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Harry olhou para ele. – Eu achei que você tinha acabado de dizer...? – Bem, tudo certo. Eu vou descer com você, – Rony suspirou, – mas eu não quero comer. Harry o examinou cheio de suspeitas. – Você acabou de comer metade de uma caixa de Caldeirões de Chocolate, não foi? – Não é isso, – Rony suspirou novamente. – Você... você não ia entender. – Como quiser. – Harry falou, ainda que confuso enquanto se virava para abrir a porta. – Harry! – disse Rony de repente. – O que? – Harry, eu não posso suportar! – Você não pode suportar o que? – Harry perguntou, agora começando, definitivamente, a se sentir alarmado. Rony estava bastante pálido e parecia doente. – Eu não posso deixar de pensar nela! – disse Rony roucamente. O queixo de Harry caiu. Ele não tinha esperado isto e não tinha certeza se queria ouvir isto. Eles podiam ser amigos, mas se Rony começasse chamar Lilá de “Balinha”, ele sairia correndo escada abaixo. – Por que isso impede você de tomar café da manhã? – Harry perguntou tentando injetar uma nota de bom senso na conversa. – Eu não acho que ela saiba que eu existo, – disse Ron com um gesto desesperado. – Ela definitivamente sabe que você existe, – disse Harry, confuso. – Ela tem ficado com você, não tem? Rony piscou. – Sobre quem você está falando? – Sobre quem você está falando?, Harry perguntou, com uma sensação crescente de que toda a razão tinha escapado da conversa. – Romilda Vane, – Rony respondeu suavemente e seu rosto inteiro pareceu se iluminar quando ele disse isto, como se atingido por um raio da mais pura luz solar. Eles se encararam durante quase um minuto inteiro, antes que Harry dissesse, – Isto é uma piada, certo? Você está brincando. – Eu acho... Harry, eu acho que eu a amo, – disse Rony numa voz estrangulada. – OK, disse Harry e caminhou até Rony para dar uma olhada nos olhos vidrados e no rosto pálido, – OK... diga isso novamente olhando para mim. – Eu a amo, – repetiu Rony sem fôlego. – Você já viu o cabelo dela, todo negro, brilhante e sedoso... E os olhos dela? Os olhos escuros e grandes dela? E o... – Isto é realmente engraçado e tudo mais, – disse Harry impacientemente, – mas a piada acabou, certo? Chega. Ele virou para sair e tinha dado dois passos para a porta quando um soco o acertou na orelha direita. Cambaleando, ele olhou em volta. O punho de Rony preparado, o rosto contorcido de raiva; ele estava a ponto de golpear novamente. Harry reagiu instintivamente, a varinha estava fora do bolso e o encantamento saiu sem um pensamento consciente: – Levicorpus! Rony gritou quando seu calcanhar foi puxado para cima mais uma vez; ele oscilou indefeso de cabeça para baixo, as vestes penduradas. – O que foi isso? – Harry berrou. – Você a insultou, Harry! Você disse que era uma piada! – gritou Rony que estava ficando com o rosto púrpura lentamente à medida que o sangue descia para a cabeça dele. – Isso é loucura! – disse Harry. – O que deu...? E então ele viu a caixa aberta na cama de Rony e a verdade o atingiu com a força de um trasgo em fuga. – Onde você conseguiu esses caldeirões de chocolate? 192 Capítulo 18 – Surpresas de Aniversário – Eles foram um presente de aniversário! – gritou Rony, revirando lentamente no ar enquanto lutava para se libertar. – Eu lhe ofereci um, não foi? – Você só os apanhou do chão, não é? – Eles tinham caído da minha cama, certo? Me solta! – Eles não caíram da sua cama, seu idiota, você não entende? Eles eram meus, eu os atirei para fora do meu malão quando eu estava procurando o mapa. Eles são os caldeirões de chocolate que Romilda me deu antes do Natal e eles estão cheios de poção do amor! Mas somente uma palavra disto parecia ter sido registrada por Rony. – Romilda? – ele repetiu. – Você disse Romilda? Harry, você a conhece? Você pode me apresentar? Harry encarou o Rony pendurado, cujo rosto agora parecia tremendamente esperançoso e lutou contra uma forte vontade de rir. Uma parte dele, a parte da orelha direita que ainda pulsava, tinha um forte desejo de soltar Rony e assisti-lo desvairado até os efeitos da poção passar... mas por outro lado, eles eram amigos, Rony não tinha sido ele mesmo quando o atacou e Harry pensou que ele mereceria outro soco se ele permitisse que Rony declarasse amor eterno para Romilda Vane. – Sim, eu o apresentarei, – disse Harry, pensando rapidamente. – Eu vou te soltar agora, OK? Ele deixou Rony se chocar contra o chão (a orelha dele ainda doía um bocado), mas Rony simplesmente saltou novamente de pé e sorriu. – Ela estará no escritório de Slughorn, – Harry disse confiante, indo na direção da porta. – Por que ela estará lá? – perguntou Rony ansiosamente, se apressando em alcançá-lo. – Oh, ela tem lições extras de Poções com ele, – disse Harry inventando rapidamente. – Talvez eu possa perguntar se eu posso tê-las com ela? – disse Rony avidamente. – Grande idéia, – disse Harry. Lilá estava esperando ao lado do buraco do retrato, uma complicação que Harry não tinha previsto. – Você está atrasado, Bom-Bom! – ela fez beicinho. – Eu tenho um presente pra você.. – Deixe-me sozinho, – Rony interrompeu impaciente, – Harry vai me apresentar à Romilda Vane. E sem outra palavra para ela, empurrou o quadro e se foram. Harry tentou fazer uma cara de desculpas para Lilá, mas simplesmente fez uma cara que pode ter parecido divertida, porque ela olhava mais ofendida que nunca quando a Mulher Gorda se fechou atrás deles. Harry estava levemente preocupado pois Slughorn poderia estar tomando café da manhã, mas ele atendeu a porta de escritório dele à primeira batida, usando um traje aveludado verde e gorro de dormir combinando, com os olhos embaçados. – Harry, – ele murmurou. – É muito cedo para uma visita... Eu geralmente durmo até tarde no sábado... – Professor, eu realmente sinto muito em lhe perturbar, – disse Harry tão baixo quanto possível, enquanto Rony estava nas pontas dos pés, tentando ver atrás de Slughorn, dentro do quarto dele, – mas meu amigo Rony bebeu uma poção de amor por engano. O senhor não poderia lhe fazer um antídoto? Eu o levaria à Madame Pomfrey, mas nós não podemos ter nada das Gemialidade Weasley, o senhor entende... perguntas embaraçosas... – Eu achava que você poderia ter preparado um antídoto, Harry, um preparador de poções especialista como você? – Slughorn perguntou. – Er..., – disse Harry, um pouco distraído pelo fato de que Rony estava lhe dando cotoveladas nas costelas agora em uma tentativa para forçar a entrada dele no quarto, – bem, eu nunca preparei um antídoto para uma poção de amor, senhor, e até que eu acerte, Rony certamente poderia ter feito algo sério... Felizmente, Rony escolheu este momento para gemer, – Eu não posso vê-la. Harry – ele a está escondendo? – Esta poção estava no prazo de validade? – Perguntou Slughorn, agora olhando Rony com interesse profissional. – Elas podem ficar mais fortes, você sabe, quanto mais tempo ficarem guardadas. 193 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Isso explicaria um bocado, – disse Harry, lutando ferozmente com Rony agora para impedir que ele passasse por cima de Slughorn. – É o aniversário dele, Professor, – ele acrescentou implorando. – Oh, certo, entre, então, entre..., disse Slughorn cedendo. – Eu tenho o necessário aqui em minha bolsa, não é um antídoto difícil... Rony correu pela porta adentro da sala super aquecida e abarrotada de Slughorn, tropeçou numa banqueta, recuperou o equilíbrio se agarrando ao pescoço de Harry e murmurou, – Ela não viu isso, né? – Ela não está aqui ainda!, – disse Harry, assistindo Slughorn abrir o kit de poção dele e ir adicionando algumas pitadas disto e daquilo numa pequena garrafa de cristal. – Isso é bom, – disse Rony ardorosamente. – Como eu estou? – Muito bonito, – disse Slughorn suavemente e deu para Rony um copo de líquido transparente. – Agora beba, é um tônico para os nervos, manterá você calmo quando ela chegar, você sabe... – Fantástico, – disse Rony ansioso e ele bebeu o antídoto ruidosamente. Harry e Slughorn o observaram. Por um momento, Rony sorriu para eles. Então, muito lentamente, o sorriso dele despencou e desapareceu, para ser substituído por uma expressão de horror extremo. – Voltou ao normal, então? – Harry perguntou sorrindo. Slughorn riu. – Muito obrigado Professor. – Não tem de quê, garoto, não tem de quê, – disse Slughorn, quando Rony desmoronou em uma poltrona perto com o olhar devastado. – Um estimulante, é disso que ele precisa! – Slughorn continuou, agora atarefado se apressando na direção de uma mesa carregada com bebidas. – Eu tenho cerveja amanteigada, tenho vinho, tenho uma última garrafa de hidromel de carvalho envelhecido... hmm... pretendia dar isso a Dumbledore no Natal... ah bem... – ele encolheu os ombros ... – Ele não pode sentir falta do que nunca teve! Por que nós não abrimos isto agora e celebramos o aniversário do Sr. Weasley? Nada como um bom licor para esquecer as agonias das decepções de amor... Ele riu novamente e Harry se uniu a ele. Este era o primeiro momento que ele estava praticamente só com Slughorn desde a desastrosa primeira tentativa de extrair a verdadeira lembrança dele. Talvez, se ele pudesse manter Slughorn de bom humor... Talvez se eles consumissem bastante do hidromel de carvalho envelhecido... – Aqui está, então, – disse Slughorn e deu a Harry e Rony um copo de hidromel para cada, antes de erguer o próprio. – Bem, um feliz aniversário, Ralph.. – Rony... – sussurrou Harry. Mas Rony que não aparecia estar escutando ao brinde já tinha jogado o hidromel na boca e o engolido. Houve um segundo, dificilmente mais que uma batida do coração no qual Harry soube que havia algo terrivelmente errado e Slughorn não, pelo que parecia – ... e que você possa ter muitos outros...– – Rony! – Rony tinha derrubado o copo dele, meio que levantado da poltrona e então se encolhido, suas extremidades se sacudindo incontrolavelmente. Uma espuma estava pingando da sua boca e os olhos estavam se arregalando. – Professor! – Harry berrou. – Faça algo! Mas Slughorn parecia paralisado pelo choque. Rony se contraiu e sufocou: a pele dele estava ficando azul. – O que... mas – gaguejou Slughorn. Harry pulou sobre uma mesa baixa e correu para o kit de poção aberto de Slughorn, tirando jarros e bolsas, enquanto o som terrível da respiração gargarejante de Rony enchia o quarto. Então ele achou – a pedra enrugada parecida com um rim que Slughorn tinha pegado dele na aula de Poções. Ele se arremessou para o lado de Rony, escancarou a mandíbula dele e empurrou o bezoar para dentro de sua boca. Rony estremeceu fortemente, respirou com um estertor e o corpo dele ficou flácido e imóvel. 194 – CAPÍTULO 19 – Elfos na cola – Então, no final das contas, não foi um dos melhores aniversários do Rony? – disse Fred. Era noite, a ala hospitalar estava quieta, as janelas com as cortinas fechadas, as lâmpadas acesas. A cama de Rony era a única ocupada. Harry, Hermione e Gina estavam sentados em torno dele; eles passaram todo o dia esperando do lado de fora das portas duplas, tentando olhar para dentro sempre que alguém entrava ou saía. Madame Pomfrey os deixou entrar apenas às oito. Fred e Jorge chegaram após dez minutos. – Não foi bem assim que imaginamos entregar o seu presente – disse Jorge soturnamente, colocando um grande pacote de presente no criado-mudo de Rony e sentando ao lado de Gina. – É, quando vimos a cena, ele estava consciente – disse Fred. – Nós estávamos lá em Hogsmeade, esperando para surpreendê-lo... – disse Jorge. – Vocês estavam em Hogsmeade? – perguntou Gina, olhando para cima. – Estávamos pensando em comprar a Zonko’s – disse Fred melancolicamente. – Uma filial em Hogsmeade, mas de muito nos adianta se vocês forem proibidos de sair nos fins de semana para comprar nossas coi.... Mas isso não importa agora. Ele puxou uma cadeira ao lado de Harry e olhou para o rosto pálido de Rony. – Como isto aconteceu exatamente, Harry? Harry recontou a história que parecia que ele já havia narrado cem vezes, para Dumbledore, para McGonagall, para Madame Pomfrey, para Hermione e para Gina. – ...e então eu enfiei o bezoar na garganta dele e a sua respiração melhorou um pouco, Slughorn correu para pedir ajuda, McGonagall e Madame Pomfrey surgiram e eles trouxeram Rony aqui para cima. Eles acham que ele vai ficar bem. Madame Pomfrey diz que ele vai ter que ficar aqui uma semana, mais ou menos ... para continuar tomando a essência de arruda... – Caramba, que sorte que você pensou no bezoar – disse Jorge em voz baixa. – Sorte que tinha um na sala – disse Harry, que continuava gelando só de pensar o que poderia ter acontecido caso ele não conseguisse botar as mãos na pequena pedra. Hermione deu um suspiro quase inaudível. Ela passou o dia excepcionalmente quieta. Pálida, perseguiu Harry para fora da ala hospitalar e exigiu saber o que tinha acontecido, ela quase não tomou parte na discussão obsessiva de Harry e Gina sobre como Rony tinha sido envenenado, mas simplesmente ficou parada ao lado deles, de mandíbulas cerradas e olhar assustado, até o momento em que eles foram autorizados a vê-lo. – Mamãe e papai estão sabendo? – perguntou Fred para Gina. – Eles já o viram, chegaram uma hora atrás – eles estão na sala de Dumbledore agora, mas eles voltam logo... Houve uma pausa enquanto todos observavam Rony resmungar um pouco em seu sono. – Então o veneno estava na bebida? – disse Fred baixo. 195 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Sim – disse Harry prontamente; ele não podia pensar em nada mais e estava satisfeito pela oportunidade de começar a discutir isso de novo. – Slughorn encheu ... – Ele seria capaz de colocar alguma coisa no copo de Rony sem você ver? – Provavelmente – disse Harry, – Mas por que Slughorn iria querer envenenar Rony? – Não faço idéia – disse Fred, com olhar carrancudo. – Você não acha que ele poderia ter trocado os copos por engano? Imaginando envenenar você? – Por que Slughorn iria querer envenenar Harry? – perguntou Gina. – Não faço idéia – disse Fred, – mas deve haver muita gente que gostaria de envenenar Harry, não deve? O Escolhido e tal? – Então você acha que Slughorn é um Comensal da Morte? – disse Gina. – Qualquer coisa é possível – disse Fred ameaçador. Ele podia estar sob a Maldição Imperius – disse Jorge. – Ou ele poderia ser inocente – disse Gina. – O veneno possivelmente estava na garrafa, que nesse caso provavelmente era para o próprio Slughorn. – Quem iria querer matar Slughorn? – Dumbledore crê que Voldemort queria Slughorn do seu lado – disse Harry – Slughorn estava escondido há um ano antes de vir a Hogwarts. E... – Ele lembrou da memória que Dumbledore não conseguiu extrair de Slughorn. – E talvez Voldemort o queira fora do caminho, talvez acredite que ele possa ser valioso para Dumbledore. Mas você disse que Slughorn tinha planejado dar a garrafa para Dumbledore de Natal – Gina lembrou – Então o envenenador poderia facilmente estar atrás de Dumbledore. – Então o envenenador não conhecia bem Slughorn – disse Hermione, falando pela primeira vez em horas e soando como se estivesse gripada. – Qualquer um que conheça Slughorn saberia que havia uma boa chance dele ficar com algo tão delicioso para si próprio. – Er-mi-ne – resmungou Rony inesperadamente entre eles. Todos caíram em silêncio, prestando atenção nele ansiosamente, mas depois de resmungar incompreensivelmente por um momento, ele meramente começou a roncar. As portas do dormitório se abriram de repente, fazendo todos pularem: Hagrid vinha marchando na direção deles, seu cabelo salpicado de chuva, seu casaco de pele de urso sacudindo atrás dele, um arco em sua mão, deixando um rastro de pegadas enlameadas do tamanho de golfinhos por todo o piso. – Tive na floresta todo o dia – ele ofegou – Aragogue tá pior, eu tive lendo pra ele, num tinha vindo jantar até agora, aí a Professora Sprout me falou do Rony! Como ele tá? – Não está mal – disse Harry. – Dizem que vai ficar bem. – No máximo seis visitantes de cada vez! – disse madame Pomfrey, saindo correndo de sua sala. – Mas estamos em seis com o Hagrid – Jorge ressaltou. – Ah...certo...– disse madame Pomfrey, que parecia estar contando Hagrid como várias pessoas devido ao seu tamanho imenso. Para disfarçar sua confusão, ela correu para limpar as pegadas de lama com sua varinha. – Num acredito nisso – disse Hagrid num tom de voz rouco, sacudindo sua cabeça grande e desgrenhada enquanto olhava para Rony – Realmente num acredito... olha pra ele, deitado lá... quem ia querer machucar ele, hein? – É justamente o que estávamos discutindo – disse Harry – Não sabemos. – Alguém podia estar com inveja do time de Quadribol da Grifinória, num podia? – disse Hagrid ansioso – Primeiro Katie, agora Rony... – Eu não consigo imaginar ninguém tentando exterminar um time de Quadribol, – disse Jorge. – Wood teria feito isso com a Sonserina, caso ele pudesse se safar – disse Fred com justiça. – Bom, eu não acho que é Quadribol, mas eu acho que existe uma conexão entre os ataques – disse Hermione em voz baixa. – Como você concluiu isso? – perguntou Fred 196 Capítulo 19 – Elfos na cola – Bom, pra começar, os dois deveriam ter sido ataques fatais e não foram, ainda que por pura sorte. Por outro lado, nem o veneno nem o colar parecem ter chegado até a pessoa a quem deveriam matar. É claro – acrescentou considerando – o que faz essa pessoa ainda mais perigosa, num certo sentido, porque não parece se importar com quantas pessoas terá que liquidar até que atinja sua vítima. Antes que qualquer um pudesse responder a esse nefasto pronunciamento, as portas do dormitório se abriram novamente e o Sr. e a Sra. Weasley correram pela ala. Eles não fizeram nada mais que assegurar-se que Rony se recuperaria completamente na sua última visita; agora a Sra. Weasley agarrou Harry e abraçou-o com muita força. – Dumbledore nos contou que você o salvou com o bezoar – ela gemeu – Oh, Harry, o que podemos dizer? Você salvou a Gina...você salvou o Arthur... agora você salvou o Rony. – Não seja... Eu não... – murmurou Harry sem jeito. – Metade de nossa família parece dever suas vidas a você, se parar para pensar – o Sr. Weasley disse numa voz abafada. – Bom, tudo que eu posso dizer é que foi um lance de sorte para os Weasleys quando o Rony decidiu sentar na sua cabine no Expresso de Hogwarts, Harry. Harry não conseguia pensar em nenhuma resposta para isso e ficou quase feliz quando Madame Pomfrey relembrou que deveria haver no máximo seis pessoas em torno da cama de Rony; ele e Hermione levantaram de imediato para sair e Hagrid decidiu ir com eles, deixando Rony com sua família. – Isto é terrível – rosnou Hagrid em sua barba, enquanto of três caminhavam pelo corredor em direção à escadaria de mármore. – Toda essa nova segurança, e os garotos ainda estão sendo feridos... Dumbledore está terrivelmente preocupado... Ele num diz muito, mas eu posso dizer garantir... – Ele não tem nenhuma idéia, Hagrid? – perguntou Hermione desesperadamente. – Eu creio que ele tem centenas de idéias, um cérebro como o dele – disse Hagrid. – Mas ele num sabe quem mandou o colar ou pôs o veneno naquele vinho, ou ele já tava preso, num tava? O que me preocupa – disse Hagrid, abaixando seu tom de voz e olhando sobre seus ombros (Harry, como medida de segurança, procurou no teto por Pirraça) – é por quanto tempo Hogwarts vai ficar aberta se os garotos estão sendo atacados. Câmara Secreta, tudo de novo, num é? Vai ter pânico, mais pais tirando seus filhos da escola, e depois aquela coisa, você sabe, o Conselho Diretor... Hagrid parou de falar quando o fantasma de uma mulher de cabelos longos deslizou serenamente, depois recomeçou em um suspiro rouco.-...o Conselho Diretor com certeza vai falar em fechar a escola por segurança. – Com certeza que não? – disse Hermione, olhando preocupada. – ‘cê tem que ver do ponto de vista deles – disse Hagrid gravemente – Quer dizer, sempre teve um pouco de risco mandar um garoto pra Hogwarts, né? ‘Cê espera acidentes, com centenas de bruxos menores de idade trancados juntos, mas tentativas de assassinato, isto é diferente. Inda mais agora que Dumbledore tá bravo com o Sn... Hagrid parou no meio do caminho, uma expressão de culpa familiar na parte visível do seu rosto, acima da densa barba negra. – O quê? – disse prontamente Harry – Dumbledore está bravo com o Snape? – Eu nunca disse isso – disse Hagrid, apesar de que seu olhar de pânico não poderia entregá-lo mais. – Como tá tarde, é quase meia-noite, eu preciso... – Hagrid, por que Dumbledore está bravo com o Snape? – perguntou Harry num tom de voz alto. – Shhh! – disse Hagrid, parecendo nervoso e bravo. – Num grite coisas desse tipo, Harry, ‘cê quer que eu perca o emprego? Esquece, acho que ninguém dá a mínima, em especial agora que vocês desistiram de Trato das Criaturas Ma... – Não tente me fazer sentir culpado, isto não vai funcionar! – disse Harry firmemente. – O que Snape fez? 197 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Num sei Harry, eu nem devia ter ouvido nada! Eu, bom, eu tava saindo da floresta outra noite e ouvi sem querer eles falando, quer dizer discutindo. Num queria atrair a atenção pra mim, então eu meio que me escondi e tentei num ouvir, mas ,bom, era uma discussão calorosa e foi difícil me isolar. – E? – Harry o apressou, enquanto Hagrid arrastava os pés inquieto. – Bom, eu apenas ouvi Snape falando pro Dumbledore que ele achava demais que era garantido e talvez ele, Snape, não queria fazer isso mais... – Fazer o quê? – Eu não sei, Harry, parecia que o Snape estava se sentindo um pouco sobrecarregado, só isso, de qualquer maneira, Dumbledore falou para ele se apressar em fazer tudo que tinha combinado. Muito firme com ele. E ele disse alguma coisa sobre Snape fazer investigações na sua Casa, na Sonserina. Bom, num tem nada de estranho nisso! – Hagrid acrescentou prontamente, enquanto Harry e Hermione trocaram olhares interessados. – Todos os Chefes das Casas foram solicitados para pesquisar em suas casas sobre a história do colar. – É, mas o Dumbledore não está tendo discussões com o restante deles, está? – disse Harry. – Olha – Hagrid, embaraçado, torceu o arco em suas mãos; houve um som alto de estilhaços e ele se quebrou em dois. – Eu sei como você é com o Snape, Harry, e eu não quero que vejam nisso mais do que realmente existe. – Cuidado! – disse Hermione bruscamente. Eles viraram para trás bem na hora em que a sombra de Argus Filch apareceu na parede atrás deles, antes que o próprio homem virasse no canto da parede, curvado, seu queixo tremendo. – Aha! – ele gemeu – Fora da cama tão tarde, isto significa detenção! – Não, não significa, Filch, – disse Hagrid em bate-pronto. – Eles tão comigo, não tão? – E que diferença isso faz? – perguntou Filch com ar arrogante. – Eu sou um professor, num sou, seu Aborto xereta! – disse Hagrid, explodindo de uma vez. Houve um barulho nojento e sibilante enquanto Filch inchava com fúria; Madame Nor-r-ra tinha chegado, despercebida, e estava se retorcendo sinuosamente em torno dos tornozelos magros de Filch. – Vão indo, – disse Hagrid do canto de sua boca. A Harry, não precisava falar duas vezes; ele e Hermione se apressaram; as vozes altas de Hagrid e Filch ecoavam atrás deles enquanto corriam. Eles passaram por Pirraça perto de virar para a torre da Grifinória, mas ele estava disparando feliz na direção da gritaria, gargalhando e declamando: Quando há briga e problema no ar, Chame o Pirraça, ele o fará dobrar! A mulher gorda estava cochilando e não ficou nada feliz de ser despertada, mas se balançou para frente de má vontade para permiti-los subir ao Salão Comunal, afortunadamente tranqüilo e vazio. Não parecia que as pessoas já soubessem sobre Rony; Harry estava muito aliviado: ele já tinha sido bastante interrogado todo o dia. Hermione deu boa noite a ele e subiu para o dormitório feminino. Harry, no entanto, ficou para trás, sentando-se perto da lareira e olhando as brasas se apagando. Então, Dumbledore tinha discutido com Snape. A despeito de tudo que havia dito a Harry, a despeito de sua insistência em que confiava em Snape completamente, ele simplesmente perdeu a paciência com ele... Ele não achava que Snape havia tentado investigar os Sonserinos o bastante ... ou, talvez, investigar um único Sonserino: Malfoy? Seria porque Dumbledore não queria que Harry fizesse nenhuma besteira, então tomou o assunto em suas mãos e fingiu que não acreditou nas suspeitas de Harry? Parecia verossímil. Talvez pudesse ser até que Dumbledore não quisesse que nada tirasse a atenção de Harry de suas lições, ou da tarefa de procurar aquela lembrança de Slughorn. Talvez Dumbledore não achasse correto confiar suas suspeitas sobre docentes para garotos de 16 anos. 198 Capítulo 19 – Elfos na cola – Aí está você, Potter! Harry pulou de pé, chocado, com a varinha em mãos, a postos. Ele estava plenamente convencido de que o salão comunal estava vazio; não estava preparado para a figura gigantesca que se levantou de repente de uma cadeira distante. Um olhar mais próximo revelou a ele que se tratava de Cormac McLaggen. – Eu estava esperando você voltar – disse McLaggen, ignorando a varinha de Harry em posição de ataque. – Devo ter caído no sono. Olha, eu os vi levando o Weasley para a ala hospitalar hoje cedo. Não parece que ele vai estar bem para a partida da próxima semana. Demorou alguns momentos até que Harry percebesse do que McLaggen estava falando. – Ah... certo... Quadribol, – disse ele, guardando sua varinha no cinto do jeans e passando a mão pelo cabelo. – É...é possível que ele não participe. – Bom, então, eu serei o goleiro, não serei? – McLaggen disse. – Sim – disse Harry – É, acredito que sim... Ele não conseguia pensar em um argumento contra isso; afinal, McLaggen tinha certamente sido o segundo melhor durante a seleção. – Excelente – disse McLaggen com uma voz satisfeita. – Então, quando é o treino? – O quê? Ah... Tem um amanhã à noite. – Ótimo. Escuta, Potter, devíamos ter uma conversa antes. Eu tive algumas idéias para a estratégia que você talvez ache úteis. – Certo. – Disse Harry desanimado. – Bom, eu vou ouvi-las amanhã, então. Eu estou muito cansado agora... até... A notícia que Rony tinha sido envenenado se espalhou rapidamente no outro dia, mas não causou a sensação gerada pelo ataque a Katie. As pessoas pareciam pensar que podia ter sido um acidente, dado que ele estava na sala do professor de poções na hora, e como recebeu o antídoto imediatamente, nenhum estrago real havia acontecido. Na realidade, os Grifinórios estavam geralmente muito mais interessados na partida seguinte de Quadribol com a Lufa-Lufa, já que muitos deles queriam ver Zacharias Smith, que era artilheiro no time da Lufa-lufa, punido sonoramente por seus comentários durante o jogo de abertura contra a Sonserina. Harry, de qualquer forma, nunca esteve menos interessado em Quadribol; ele estava ficando rapidamente obcecado por Draco Malfoy. Continuava olhando o Mapa do Maroto sempre que tinha uma oportunidade, algumas vezes fazia desvios para ir a qualquer lugar onde Malfoy estava, mas ainda não o havia detectado fazendo qualquer coisa fora do comum. E ainda havia aqueles momentos inexplicáveis quando Malfoy simplesmente sumia do mapa... Mas Harry não tinha muito tempo para considerar o problema, com os treinos de Quadribol, o dever de casa e o fato que agora ele estava sendo seguido a todos os lugares que fosse por Cormac McLaggen e Lilá Brown. Ele não conseguia decidir qual dos dois era mais irritante. McLaggen continuava com o seu constante fluxo de dicas de que seria um goleiro titular melhor que Rony, e agora que Harry o estava vendo jogar regularmente ele certamente se aproximaria de sua forma de pensar; ele também era ávido por criticar os outros jogadores e fornecer a Harry esquemas detalhados de treino, de forma que Harry foi forçado mais de uma vez a relembrá-lo de quem era o capitão. Enquanto isso, Lilá continuava tentando acercar-se de Harry para discutir sobre Rony, o que Harry achava quase tão desgastante quanto as palestras de Quadribol de McLaggen. No princípio, Lilá tinha ficado muito irritada porque ninguém pensou em contar a ela que Rony estava na ala hospitalar: – Quer dizer, eu sou sua namorada! – mas infelizmente agora tinha decidido perdoar Harry por este lapso de memória e estava ávida para ter várias conversas profundas com ele sobre os sentimentos de Rony, uma experiência extremamente desconfortável da qual Harry gostaria de se abster. 199 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Olha, por que você não fala com Rony sobre tudo isso? – Harry perguntou, depois de um longo interrogatório de Lilá a respeito de tudo, desde o que Rony havia dito extamente sobre suas novas vestes até o que Harry achava que Rony pensava sobre o relacionamento com Lilá ser “sério”. – Bom, eu falaria, mas ele está sempre dormindo quando eu vou vê-lo – disse Lilá, preocupada. – Ah, é? – perguntou Harry, surpreso, pois tinha encontrado Rony perfeitamente alerta em todas as vezes que esteve na ala hospitalar, ambos altamente interessados nas notícias a respeito da discussão entre Dumbledore e Snape e afiados em falar mal de McLaggen tanto quanto possível. – Hermione Granger ainda o está visitando? – Lilá questionou de repente. – É, acho que sim. Bom, eles são amigos, não são? – disse Harry, constrangido. – Amigos, não me faça rir – disse Lilá com ar de desdém. – Ela não falou mais com ele por semanas depois que ele começou a sair comigo! Mas eu suponho que ela queira compensar agora que ele está todo interessante... – Você chamaria ser envenenado de estar interessante? – perguntou Harry. – De qualquer maneira, sinto muito, tenho que ir, aí vem McLaggen para uma conversa sobre Quadribol – disse Harry apressadamente, e ele deslizou de lado através de uma porta que fingia ser uma parede sólida e correu para o atalho que o levaria para a aula de Poções onde, afortunadamente, nem Lilá nem McLaggen poderiam segui-lo. Na manhã da partida de Quadribol contra a Lufa-Lufa, Harry passou na ala hospitalar antes de se dirigir para o jogo. Rony estava muito agitado; Madame Pomfrey não o deixaria descer para assistir ao jogo, sentindo que isto o excitaria além da conta. – Então, como está o preparo físico de McLaggen? – ele perguntou a Harry nervosamente, aparentemente esquecendo que já havia feito a mesma pergunta duas vezes. – Já falei para você – disse Harry pacientemente – ele poderia ser um jogador de nível mundial e eu não iria mantê-lo. Ele fica tentando dizer para todo mundo o que fazer, ele acha que pode jogar em qualquer posição melhor do que o resto de nós. Eu mal posso esperar para me livrar dele. E falando de se livrar das pessoas – Harry acrescentou, ficando de pé e pegando sua Firebolt – você vai parar de fingir que está dormindo quando Lilá vier aqui ver você? Ela está me deixando louco também. – Oh – disse Rony, parecendo embaraçado. – É, está certo. – Se você não quiser mais ficar com ela, apenas diga a ela – disse Harry. – É... bem... não é tão fácil assim, não é? – disse Rony. Ele fez uma pausa.– Hermione vem me visitar antes da partida? – acrescentou casualmente. – Não, ela já foi para o campo com a Gina. – Ah – disse Rony, parecendo meio melancólico – Certo. Bem, boa sorte. Espero que você bata no McLag ... quer dizer no Smith. – Vou tentar – disse Harry, empunhando sua vassoura – Vejo você após o jogo. Ele correu para baixo pelos corredores desertos; a escola inteira estava lá fora, alguns já sentados no estádio e outros se dirigindo a ele. Ele olhava para fora pelas janelas pelas quais passava, tentando avaliar quanto vento estariam enfrentando, quando um ruído a sua frente o fez olhar adiante e viu Malfoy andando em sua direção, acompanhado por duas garotas, ambas parecendo mal-humoradas e ressentidas. Malfoy parou de repente ao ver Harry, então deu uma risada curta, sem graça e continuou andando. – Onde você está indo? – inquiriu Harry. – É, eu realmente vou contar para você, porque é da sua conta, Potter – zombou Malfoy. – É melhor você correr, eles devem estar esperando pelo “Capitão Escolhido”, “o Garoto Que Marcou”, qualquer coisa de que eles o chamem estes dias. Uma das garotas deu uma risadinha inesperada. Harry olhou para ela. Ela corou. Malfoy empurrou Harry para passar e ela e sua amiga o seguiram a passos rápidos, virando a esquina e sumindo de vista. 200 Capítulo 19 – Elfos na cola Harry ficou plantado no lugar e observou-os desaparecer. Isto era enfurecedor; ele já estava em cima da hora para chegar à partida e agora havia Malfoy, saindo furtivamente enquanto o resto da escola estava ausente: a melhor oportunidade que Harry teria de descobrir o que Malfoy estava aprontando. Os segundos passaram silenciosos, e Harry se lembrou de onde estava, congelado, contemplando o lugar onde Malfoy havia desaparecido... – Onde você esteve? – perguntou Gina, enquanto Harry corria para o vestiário. O time todo já estava trocado e pronto; Coote e Peakes, os batedores, estavam batendo seus bastões nervosamente contra suas pernas. – Encontrei Malfoy – Harry disse a ela baixinho, enquanto enfiava suas vestes escarlate pela cabeça. – Então, eu queria saber o que ele estaria fazendo lá em cima no castelo com um par de amigas enquanto todo mundo está aqui em baixo. – E isso importa agora? – Bem, não é provável que eu descubra, é? – disse Harry, apoderando-se de sua Firebolt e ajeitando os óculos – Vamos lá então! E sem mais uma palavra, marchou em direção ao campo para enfrentar aplausos e vaias. Havia um pouco de vento; a nebulosidade variava; em alguns momentos havia clarões deslumbrantes de luz do sol. – Condições traiçoeiras! McLaggen disse energicamente para o time – Coote, Peakes, vocês vão ter que voar para fora do sol, assim eles não vêem vocês vindo. – Eu sou o capitão, McLaggen, cala a boca, não é para você dar instruções – disse Harry bravo – Apenas tome conta dos aros! Uma vez que McLaggen tinha ido embora, Harry se voltou para Coote e Peakes. – Assegurem-se de voarem fora do sol – disse a eles relutantemente. Ele apertou as mãos do capitão da Lufa-Lufa, e então, no apito de Madame Hooch, tomou impulso e voou pelo ar, mais alto do que o restante do time, investigando o campo em busca do Pomo. Se ele pudesse agarrá-lo logo e bem, poderia haver alguma chance de voltar ao castelo, pegar o Mapa do Maroto e descobrir o que Malfoy estava fazendo... – E aí está Smith da Lufa-lufa com a Goles – disse uma voz sonhadora, ecoando pelos campos. – Ele fez narrou o jogo da última vez, é claro, e Gina Weasley voou em sua direção, eu acho que provavelmente de propósito, é o que parecia. Smith estava sendo muito rude a respeito da Grifinória. Eu espero que ele se arrependa, agora que está jogando com eles, ah, veja, ele perdeu a goles, Gina a tomou dele, eu gosto dela, ela é muito legal... Harry olhou para o palanque dos comentaristas. Ninguém em sã consciência deixaria Luna Lovegood narrar uma partida. Mas mesmo da altura onde estava, não havia como errar com aquele cabelo longo, louro-sujo, ou o colar de tampinhas de cerveja amanteigada... Ao lado de Luna, a Professora McGonnagall estava parecendo ligeiramente constrangida, como se ela estivesse realmente reavaliando esta designação. – ...Mas agora o grande jogador da Lufa-lufa tomou a Goles dela, eu não lembro seu nome, é alguma coisa parecida com Bibble, não, Buggins. – É Cadwallader! – disse a professora McGonnagall alto ao lado de Luna. A multidão riu. Harry olhava ao redor em busca do Pomo; não havia nem sinal dele. Momentos depois, Cadwallader marcou. McLaggen gritava censuras para Gina por ter perdido a posse da Goles, o que resultou que ele não percebeu quando a grande bola vermelha passou voando ao lado de sua orelha direita. – McLaggen, preste atenção no que você tem obrigação de fazer e deixe os outros em paz – berrou Harry, girando para encarar seu goleiro. – Você não está dando um grande exemplo! – McLaggen gritou em resposta, vermelho e furioso. – E Harry Potter agora está tendo uma discussão com seu goleiro – disse Luna serenamente, enquanto Lufa-Lufas e Sonserinos abaixo na platéia comemoravam e gracejavam. – Não acho que isto vá ajudá-lo a encontrar o pomo, mas talvez seja um artifício esperto. 201 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Xingando enfurecidamente, Harry girou e saiu em busca do Pomo de novo, examinando o céu em busca de algum sinal da pequena bola dourada e alada. Gina e Demelza marcaram um gol cada, dando aos torcedores do time vermelho e dourado alguma coisa para comemorar. Então Cadwallader marcou de novo, empatando, mas Luna não parecia ter percebido; ela parecia singularmente desinteressada em coisas mundanas como o placar e tentava chamar a atenção da multidão para coisas como as nuvens com formatos interessantes e a possibilidade de que Zacharias Smith, que não tinha até agora tido êxito em manter a posse da Goles por mais de um minuto, estar sofrendo de algo chamado “Alergia do Perdedor” – Setenta a quarenta para a Lufa-Lufa, – gritou a professora McGonagall no microfone de Luna. – Já está? – disse Luna vagamente – oh, olhe! O goleiro da Grifinória está com um dos bastões dos batedores. Harry se virou no ar. Certamente, McLaggen, por razões que só ele conhecia, tomou o bastão de Peakers e parecia estar demonstrando como rebater o balaço em direção a Cadwallader, que vinha chegando. – Entregue de volta o bastão a ele e volte ao gol! – rugiu Harry, indo para cima de McLaggen enquanto este deu um feroz golpe no Balaço batendo mal na bola. Uma dor cruel, cegante... um clarão de luz... gritos distantes... e a sensação de queda através de um longo túnel... E a próxima coisa que Harry percebeu, ele estava deitado numa cama bastante aquecida e confortável e olhando para uma lâmpada acima espalhando um círculo de luz dourada num teto sombreado. Ele levantou sua cabeça desajeitadamente. Havia à sua direita alguém de aparência familiar, sardento e ruivo. – Simpático de sua parte ter aparecido – disse Rony, sorrindo. Harry piscou e olhou em volta. É claro: estava na ala hospitalar. O céu lá fora estava índigo com listras rubras. A partida deve ter acabado horas atrás... assim como qualquer esperança de cercar Malfoy. A cabeça de Harry parecia estranhamente pesada; ele levantou uma mão e sentiu um rígido turbante de bandagens. – O que aconteceu? – Fratura do crânio – disse Madame Pomfrey, correndo e empurrando-o de volta sobre seus travesseiros. – Nada com que se preocupar, eu o emendei na hora, mas vou mantê-lo durante esta noite. Você não deve fazer muito esforço durante algumas horas. – Eu não quero ficar aqui esta noite – disse Harry bravo, sentando e arrancando os cobertores. – Eu quero encontrar o McLaggen e matá-lo. – Receio que isto poderia estar dentro da definição de “muito esforço” – disse Madame Pomfrey, empurrando-o firmemente para trás na cama e levantando sua varinha de maneira ameaçadora. – Você vai ficar aqui até eu dispensá-lo, Potter, ou eu vou chamar o diretor. Ela voltou agitada para seu escritório, e Harry afundou de volta em seus travesseiros, raivoso. – Você sabe de quanto a gente perdeu? – perguntou a Rony através dos dentes cerrados. – Bom, eu sei – disse Rony, se desculpando. – O placar final foi trezentos e vinte a sessenta. – Brilhante – disse Harry ferozmente. – Realmente brilhante! Quando eu pegar o McLaggen... – Você não quer pegar o McLaggen, ele é do tamanho de um trasgo, – ponderou Rony. – Pessoalmente, eu acho que há muito a ser dito por azará-lo com aquela coisa da unha do dedo do pé do Príncipe. De qualquer maneira, o resto do time já vai ter lidado com ele antes de você sair daqui, eles não estão felizes... Havia um tom de alegria mal disfarçado na voz de Rony; Harry podia perceber que ele não estava vibrando pouco por McLaggen realmente ter estragado tudo. Harry ficou deitado, olhando para a mancha de luz no teto, seu crânio recém remendado não doía exatamente, mas sentindo-o ligeiramente dolorido debaixo de todas as bandagens. – Eu pude ouvir a narração daqui – disse Rony, sua voz agora sacudindo com a risada. – Eu espero que Luna sempre comente daqui em diante ... Alergia do Perdedor... 202 Capítulo 19 – Elfos na cola Mas Harry ainda estava muito bravo para ver alguma graça na situação, e após algum tempo a risadinha de Rony parou. – Gina veio visitá-lo enquanto estava inconsciente – ele disse, após uma longa pausa, e a imaginação de Harry começou a viajar, rapidamente construindo uma cena na qual Gina, chorando sobre seu corpo quase sem vida, confessava seus sentimentos de atração profunda por ele enquanto Rony lhes dava sua benção... – Ela percebeu que você chegou em cima da hora para a partida. Como foi isso? Você saiu daqui cedo o bastante. – Oh ... – disse Harry, enquanto a cena implodia na sua mente. – É... bem..., eu vi Malfoy saindo furtivamente com um par de garotas que não pareciam querer estar com ele, e é a segunda vez que ele seguramente não estava no campo de Quadribol com o resto da escola; ele fugiu da última partida também, você lembra? – Harry suspirou. – Eu deveria tê-lo seguido, já que a partida foi mesmo um fiasco... – Não seja estúpido – disse Rony rispidamente. – Você não poderia perder uma partida de Quadribol só pra seguir o Malfoy, você é o Capitão! – Eu quero saber o que ele está aprontando – disse Harry. – E não me diga que isto é coisa da minha cabeça, não depois que eu ouvi a conversa entre ele e Snape. – Eu nunca disse que era coisa da sua cabeça, Harry – disse Rony, levantando-se sobre um cotovelo e olhando carrancudo para Harry -, mas não há uma regra dizendo que apenas uma pessoa de cada vez pode estar conspirando neste lugar! Você está um pouco obcecado com Malfoy, Harry. Quer dizer, pensar em perder uma partida só para segui-lo... – Eu quero pegá-lo no ato – disse Harry, frustrado. – Quer dizer, para onde ele vai quando some do mapa? – Sei lá... Hogsmeade? – sugeriu Rony, bocejando. – Eu nunca o vi saindo por nenhuma das passagens secretas do mapa. Eu acho que elas estão sendo vigiadas agora, de qualquer modo. – Bom, então eu não sei. – disse Rony. O silêncio caiu entre eles. Harry olhou para o círculo de luz da lâmpada acima dele, pensando... Se ele tivesse o poder de Rufus Scrimegeour, ele seria capaz de pôr alguém na cola de Malfoy, mas infelizmente Harry não tinha um escritório cheio de aurores sob seu comando...Ele pensou rapidamente em armar alguma coisa com alguém da AD, mas havia o problema que as pessoas poderiam notar seus sumiços das aulas; e a maioria deles, afinal, tinha ainda agendas cheias... Houve um grave e retumbante ronco vindo da cama de Rony. Num instante Madame Pomfrey saiu de sua sala, desta vez vestindo um pesado avental. Era fácil fingir estar dormindo; Harry virouse de lado e ouviu as cortinas se fechando enquanto ela sacudia a varinha. As luzes diminuíram e ela voltou ao seu escritório; ele ouviu o click da porta atrás dela e soube que ela tinha ido para a cama. Esta era, Harry refletiu na escuridão, a terceira vez em que ele havia sido trazido para a ala hospitalar por um ferimento no Quadribol. Na última vez ele havia caído de sua vassoura devido à presença dos dementadores próximos ao campo, e na vez anterior, seus ossos haviam sido totalmente removidos do braço pelo incuravelmente inepto Professor Lockhart... Aquele tinha sido de longe o ferimento mais doloroso... ele lembrou-se da agonia do crescimento de uma braçada de ossos em uma noite, um desconforto não aliviado pela chegada de um visitante inesperado no meio da ... Harry sentou-se depressa, seu coração batendo forte, o turbante de bandagens pendendo para um lado. Afinal, ele tinha a solução: havia uma maneira de ter Malfoy sendo seguido – como ele poderia ter esquecido, por que não havia pensado nisso antes? Mas a questão era, como chamá-lo? O que se faz? Sorrateiramente, de maneira experimental, Harry falou na escuridão: – Monstro? Houve um estalo muito baixo, e sons de brigas e rangidos encheram o quarto silencioso. Rony acordou com um grito. – O que é que está ... 203 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Harry apontou sua varinha imediatamente para a porta da sala de Madame Pomfrey e murmurou: – Muffliato! – a fim de que ela não viesse correndo. Então ele pulou para os pés da cama para dar uma olhada melhor no que estava acontecendo. Dois elfos domésticos estavam rolando no chão no meio do dormitório, um deles vestindo suéter cor de tijolo encolhido e vários chapéus de lã, o outro, um trapo velho e imundo amarrado em seus quadris como uma tanga. Então houve outro estrondo alto, e Pirraça, o poltergeist, apareceu no meio do ar sobre os elfos em luta corporal. – Eu estava assistindo isto, Pottinho! – ele disse a Harry, indignadamente, apontando para a briga abaixo, antes de soltar uma alta gargalhada: – Olhe para estas criaturas brigando, morde, morde, bate, bate... – Monstro não vai insultar Harry Potter na frente de Dobby, não, ele não vai, ou Dobby vai calar a boca de Monstro para ele – bradou Dobby em um tom de voz muito agudo. – Chuta, arranha! – gritou Pirraça contente, agora arremessando pedaços de giz nos elfos para enraivecê-los ainda mais. – Belisca, prende! – Monstro vai dizer o que ele gosta no seu mestre, ah sim, e o que o mestre é, amigo imundo dos Sangues-Ruins, ah, o que a pobre senhora de Monstro iria dizer... Eles não descobriram o quê exatamente a senhora de Monstro iria dizer, porque neste momento Dobby afundou seu protuberante punho na boca de Monstro e arrancou metade de seus dentes. Harry e Rony pularam de suas camas e apartaram os elfos, ainda que eles continuassem tentando chutar e socar um ao outro, encorajados por Pirraça, que flutuava em torno do lustre gritando: – Enfie seus dedos no nariz dele, arranque seu couro e puxe suas orelhas... Harry apontou sua varinha para Pirraça e disse: – Tranca-língua! – Pirraça segurou sua garganta, sufocado, então flutuou para fora do quarto fazendo gestos obscenos mas incapaz de falar, devido ao fato de que sua língua havia grudado no céu da boca. – Boa essa, – disse Rony em aprovação, levantando Dobby no ar de maneira que seus membros a se debater não mais fizessem contato com Monstro. – Esse é outra azaração do Príncipe, não é? – É – disse Harry, torcendo o braço enrugado de Monstro em meia chave de braço. – Certo, eu estou proibindo vocês de lutarem um com o outro! Bom, Monstro, você está proibido de lutar com Dobby. Dobby, eu sei que não tenho permissão para dar ordens a você... – Dobby é um elfo doméstico livre e pode obedecer a quem ele quiser e Dobby fará qualquer coisa que Harry Potter queira que ele faça! – disse Dobby, com lágrimas agora escorrendo por sua pequena face enrugada até seu suéter. – Certo então – disse Harry, e ele e Rony soltaram os elfos, que caíram no chão mas não continuaram a lutar. – O Mestre me chamou? – grasnou Monstro, mergulhando em uma reverência enquanto lançava a Harry um olhar de que claramente lhe desejava uma morte dolorosa. – Sim, eu chamei – disse Harry, dando uma olhada na direção da sala de Madame Pomfrey para verificar se o feitiço Muffliato ainda estava funcionando; não havia sinal de que ela tinha ouvido algo do confusão. – Tenho um trabalho para você. – Monstro vai fazer qualquer coisa que o Mestre quiser – disse Monstro, dobrando-se tão baixo que seus lábios quase tocaram seus dedos do pé nodosos – porque Monstro não tem outra opção, mas Monstro está envergonhado de ter este tipo de Mestre, sim... – Dobby vai fazer, Harry Potter, – bradou Dobby, com seus olhos do tamanho de bolas de tênis marejados de lágrimas. – Dobby se sentiria honrado em ajudar Harry Potter! – Pensando nisso, seria bom ter você dois – disse Harry. – Certo, bom... eu quero que vocês sigam Draco Malfoy. Ignorando o olhar mesclado de surpresa e exasperação no rosto de Rony, Harry continuou: – Quero saber onde ele está indo, quem está encontrando e o que está fazendo. Quero que vocês o sigam o tempo todo. – Sim, Harry Potter – disse Dobby na hora, seus grandes olhos brilhando de entusiasmo. – E se Dobby falhar, Dobby vai se jogar da torre mais alta, Harry Potter! 204 Capítulo 19 – Elfos na cola – Isto não será necessário – disse Harry de pronto. – O Mestre que eu siga o mais jovem dos Malfoys? – resmungou Monstro. – O Mestre quer que eu espie o sobrinho-neto puro-sangue de minha antiga senhora? – Esse mesmo – disse Harry, prevendo um grande perigo e determinado a preveni-lo imediatamente. – E você está proibido de avisá-lo, Monstro, ou demonstrar a ele o que você está fazendo, ou falar com ele de qualquer maneira, ou escrever mensagens a ele ou... ou contatá-lo de qualquer jeito. Entendeu? Ele pensou que podia ver Monstro se esforçando para achar uma brecha nas instruções que acabaram de ser dadas e esperou. Após um ou dois minutos, e para grande satisfação de Harry, Monstro suspirou fundo de novo e disse, com um ressentimento amargo: – O Mestre pensa em tudo, e Monstro deve obedecê-lo, mesmo quando Monstro preferiria mesmo é ser servo do garoto Malfoy, ah sim... – Está combinado, então – disse Harry. – Eu quero relatórios regulares, mas tenham certeza de que eu não esteja cercado de pessoas quando vocês aparecerem. Rony e Hermione tudo bem. E não digam a ninguém o que estão o fazendo. Apenas colem no Malfoy como um par de emplastros de verruga. 205 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – CAPITULO 20 – O Pedido de Lord Voldemort Harry e Rony deixaram a ala hospitalar nas primeiras horas da manhã de segunda-feira, a saúde plena e restabelecida pelos cuidados de Madame Pomfrey e agora capazes de apreciar os benefícios de ter sido nocauteado e envenenado, respectivamente, o melhor dos quais era Hermione ter retomado a amizade com Rony. Hermione até os escoltou para o café da manhã, trazendo com ela as notícias de que Gina tinha discutido com Dino. A criatura sonolenta no tórax de Harry subitamente levantou a cabeça, aspirando o ar esperançosamente. – Por que eles discutiram? – ele perguntou, tentando soar casual quando eles viravam no corredor do sétimo andar, que estava vazio exceto por uma garotinha que examinava a tapeçaria dos trasgos vestidos de bailarina. Ela pareceu apavorada ao ver os sextanistas se aproximando e derrubou a pesada balança de latão que estava carregando. – Está tudo bem! – disse Hermione amavelmente, adiantando-se para ajudá-la. – Aqui... Ela bateu a sua varinha na balança quebrada e disse – Reparo. – A menina não agradeceu, mas permaneceu parada no lugar enquanto eles passavam. Rony virou e deu um olhar de relance para ela. – Eu juro que eles estão ficando menores – ele disse. – Não ligue pra ela – disse Harry, um pouco impaciente. – O que fez Gina e Dino discutirem, Hermione?. – Oh, Dino estava rindo de McLaggen ter acertado você com aquele balaço – disse Hermione. – Deve ter sido engraçado – disse Rony justificando. – Não pareceu nada engraçado – disse Hermione severamente – pareceu terrível e se Coote e Peakes não tivessem pegado Harry, ele poderia ter se machucado seriamente. – Sim, bem, não havia necessidade para Gina e Dino se separarem por causa disso – disse Harry, ainda tentando soar casual. – Ou eles ainda estão juntos? – Estão, mas por que você está tão interessado? – Hermione perguntou, dando a Harry um olhar aguçado. – Eu só não quero meu time de Quadribol bagunçado novamente! – ele disse apressadamente, mas Hermione continuou olhando com suspeita, e ele ficou muito aliviado quando uma voz atrás dele o chamou, – Harry! – dando-lhe uma desculpa para virar as costas para ela. – Oh, oi Luna. – Eu fui até a ala hospitalar procurar você – disse Luna, remexendo em sua bolsa – mas me disseram que você tinha saído... Ela empurrou o que pareceu ser uma cebola verde, um grande cogumelo manchado, e uma quantidade considerável do que parecia areia sanitária de gato nas mãos de Rony. Finalmente retirou um rolo de pergaminho bastante sujo, que deu para Harry. 206 Capítulo 20 – O Pedido de Lord Voldemort -... Me disseram para entregar isso pra você. Era um rolo pequeno de pergaminho, que Harry reconheceu como mais um convite para aula com Dumbledore. – Hoje à noite – ele disse a Rony e Hermione, quando o desenrolou. – Narração legal na última partida! – disse Rony devolvendo a Luna a Cebola verde, o cogumelo, e areia sanitária de gato. Luna sorriu vagamente. – Você está caçoando de mim, não é? – ela disse – Todo mundo diz que eu estava terrível. – Não, estou falando sério! – disse Rony determinadamente – Eu não lembro de ter apreciado mais uma narração! O que é isto, a propósito? – ele perguntou, segurando a cebola ao nível do olho. – Oh, é um Gurdyroot – ela disse, colocando a areia e o cogumelo de volta em sua bolsa. – Você pode ficar com ele se você gostar, eu tenho alguns deles. Eles são realmente excelentes para afastar Gulping Plimpies. – Sabe, ela cresceu no meu conceito, a Luna – ele disse, quando eles saíram novamente para o Salão Principal – Eu sei que ela é insana, mas de um modo bem... – ele parou de falar repentinamente. Lilá Brown estava ao pé da escadaria de mármore parecendo trovejante – Oi – disse Rony nervoso. – Vamos – Harry murmurou para Hermione, e eles aceleraram o passo, não antes de ouvirem Lilá dizer: – Por que você não me disse que ia sair hoje? E por que ela estava com você? Rony parecia mal-humorado e aborrecido quando apareceu no café da manhã, meia hora mais tarde, e embora tenha se sentado com Lilá, Harry não os viu trocando uma palavra sequer durante todo o tempo que estiveram juntos. Hermione estava agindo como se estivesse totalmente alheia a tudo isso, mas uma ou duas vezes Harry a viu com um inexplicável sorriso malicioso. Durante todo aquele dia ela pareceu particularmente bem-humorada, e naquela noite no Salão Comunal ela consentiu em dar uma olhada (em outras palavras, terminar de escrever) a redação de herbologia de Harry, coisa que ela tinha se recusado a fazer até então, pois ela sabia que Harry deixaria Rony copiar o seu trabalho. – Muito obrigado, Hermione – disse Harry, dando um tapinha leve em suas costas, então verificou seu relógio e viu que já eram quase oito horas – Escute, preciso me apressar ou chegarei atrasado para Dumbledore... Ela não respondeu, somente riscou algumas das frases mais fracas dele com um ar meio aborrecido. Sorrindo, Harry saiu pelo buraco do retrato apressado e foi para a sala do diretor. A Gárgula saltou de lado à menção de bombas de caramelo, e Harry subiu a escadaria em espiral, de dois em dois degraus, batendo a porta exatamente no momento em que o relógio bateu oito horas. – Entre – chamou Dumbledore, mas quando Harry estendeu uma mão para empurrar a porta, ela foi aberta violentamente pelo lado de dentro ... Lá estava a professora Trelawney. – Aha! – ela gritou, apontando dramaticamente para Harry piscando para ele através de seus óculos de aumento. – Então esta é a razão de eu ser expulsa sem cerimônia de seu escritório Dumbledore! – Minha querida Sibila – disse Dumbledore em tom levemente exasperado – não há motivo para eu expulsá-la sem cerimônia de lugar algum, mas Harry tem um encontro agendado e eu realmente acho que não há nada mais a dizer. – Muito bem – disse a Professora Trelawney, com uma voz profundamente ferida – Se você não vai banir aquele cavalo velho usurpador, que assim seja... – Talvez eu encontre uma escola onde meus talentos sejam mais apreciados... Ela empurrou Harry e desapareceu pela escada em espiral abaixo; Eles ouviram-na tropeçar no meio do caminho, Harry achou que ela deve ter pisado em um de seus xales esvoaçantes. – Por favor, feche a porta e sente-se, Harry – disse Dumbledore, soando bastante cansado. Harry obedeceu, observando, ao sentar-se na cadeira habitual na frente da mesa de Dumbledore, que a Penseira se localizava entre eles mais uma vez, assim como mais duas minúsculas garrafas de cristal cheias de memórias rodopiantes. 207 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – A professora Trelawney não está feliz por Firenze continuar ensinando, não é? – Harry perguntou. – Não – disse Dumbledore – Adivinhação está mostrando muito mais dificuldades do que eu poderia ter previsto, nunca tendo eu mesmo estudado o assunto. Eu não posso pedir a Firenze para voltar à floresta, de onde ele foi banido, nem posso pedir para Sibila Trelawney partir. Só entre nós, ela não tem nenhuma idéia do perigo que correria fora do castelo. Ela não sabe, e eu penso que não seria sensato esclarecê-la, que ela fez a profecia sobre você e Voldemort. Dumbledore deu um suspiro profundo, então disse – Mas deixe estar meus problemas com o corpo docente. Nós temos assuntos muito mais importantes para discutir. Em primeiro lugar, conseguiu realizar a tarefa que eu determinei ao término de nossa aula anterior? – Ah – disse Harry, pensando rápido. Com lições de Aparatação, Quadribol, Rony sendo envenenado e ele rachando a cabeça e a determinação de descobrir o que Draco Malfoy estava fazendo, Harry quase tinha se esquecido da lembrança que Dumbledore tinha lhe pedido que extraísse do Professor Slughorn – Bem, eu perguntei para o Professor Slughorn sobre isto ao término da aula de Poções, senhor, mas, er..., ele não disse nada para mim – houve um certo silêncio. – Entendo – Dumbledore custou a dizer, investigando Harry por cima dos seus óculos de meia-lua e dando-lhe a impressão habitual de que estava sendo radiografado – e você sente que empreendeu seus melhores esforços neste assunto, sente? Que você utilizou toda a sua considerável engenhosidade? Que você não deixou de sondar nenhuma profundidade de astúcia para recuperar a memória? – Bem... – Harry protelou, perdido quanto ao que ia dizer. A única tentativa para conseguir recuperar a memória, de repente, pareceu embaraçosamente fraca. – Bem. . . no dia que Rony engoliu a poção do amor por engano, eu o levei ao Professor Slughorn. Eu pensei que talvez se eu conseguisse pegar o Professor Slughorn com bastante bom humor. – E deu resultado? – Dumbledore perguntou. – Bem, não, senhor, porque Rony foi envenenado... – ...o que, naturalmente, o fez esquecer qualquer tentativa de conseguir a lembrança. Eu não teria esperado outra coisa, já que seu melhor amigo estava em perigo. Porém, uma vez que ficou claro que Sr. Weasley iria ter uma recuperação plena, eu teria esperado que você voltasse à tarefa que eu lhe estabeleci. Pensei que tinha deixado claro para você quão importante é aquela lembrança. Realmente, eu fiz o melhor para embutir em você que aquela lembrança é a mais crucial de todas e que estaremos desperdiçando nosso tempo sem ela. Um sentimento quente e espinhoso de vergonha se espalhou do topo da cabeça de Harry até os pés. Dumbledore não tinha erguido a voz, ele nem mesmo fez um tom bravo, mas Harry teria preferido que ele gritasse; esta decepção fria era pior que qualquer coisa. – Senhor – ele disse, um pouco desesperadamente – não é que eu não esteja preocupado, é que eu tive outras... outras coisas. . . – Outras coisas em sua mente – Dumbledore terminou a sentença por ele – Entendo. O silêncio caiu novamente entre eles, o silêncio mais incômodo que Harry jamais tinha experimentado com Dumbledore; parecia não ter fim, só pontuados pelos pequenos roncos grunhidos do retrato de Armando Dippet acima da cabeça de Dumbledore. Harry se sentiu estranhamente diminuído, como se ele tivesse encolhido um pouco desde que entrara na sala. Ele disse: – Professor Dumbledore, eu realmente sinto muito. Eu deveria ter feito mais... Eu deveria ter percebido que o senhor não teria me pedido para fazer isto se não fosse realmente importante. – Obrigado por dizer isso, Harry – disse Dumbledore baixo – Eu posso esperar, então, que você dará, de agora em diante, alta prioridade para este assunto? Não haverá muito sentido em nos encontrarmos depois de hoje à noite a menos que nós tenhamos aquela memória. – Eu farei isto, senhor, eu a obterei dele – ele disse sério. – Então, nós não falaremos mais sobre isso agora – disse Dumbledore mais amável – mas continuaremos com nossa história onde nós paramos. Você se lembra onde foi isso? 208 Capítulo 20 – O Pedido de Lord Voldemort – Sim, senhor – disse Harry depressa. – Voldemort matou o pai dele e os avós e fez parecer como se seu tio Morfin tivesse feito isto. Então ele voltou para Hogwarts e perguntou... ele perguntou para o Professor Slughorn por Horcruxes – ele resmungou envergonhado. – Muito bem – disse Dumbledore. – Agora, você se lembra, eu espero, do que eu lhe disse no início destas nossas reuniões que nós estaríamos entrando nos reinos de conjecturas e especulações? – Sim, senhor. – Até agora, como espero que você concorde, eu lhe mostrei fontes razoavelmente bem estabelecidas de fatos para minhas deduções sobre o que Voldemort fez até a idade de dezessete anos? Harry concordou com a cabeça. – Mas agora, Harry – disse Dumbledore – agora as coisas ficam mais obscuras e mais estranhas. Se era difícil encontrar evidência sobre o garoto Riddle, fica quase impossível achar alguém preparado para se lembrar sobre o homem Voldemort. Na realidade, eu duvido que haja uma alma viva, além dele mesmo, que poderia nos dar um relato completo da vida dele desde que deixou Hogwarts. Porém, eu tenho duas últimas recordações que gostaria de compartilhar com você – Dumbledore indicou as duas pequenas garrafas de cristal reluzentes ao lado da Penseira. – Eu ficarei feliz, então, de ter sua opinião sobre se as conclusões que eu tirei delas parecerem prováveis. A idéia que Dumbledore tinha a opinião de Harry em alta conta, o fez se sentir ainda mais profundamente envergonhado por ter falhado na tarefa de conseguir a memória do Horcrux, e ele se mexeu culpado na cadeira quando Dumbledore ergueu a primeira das duas garrafas à luz e a examinou. – Espero que você não esteja cansado de mergulhar nas recordações de outras pessoas, porque elas são lembranças curiosas, estas duas – ele disse – esta primeiro veio de uma elfa doméstica muito velha de nome Hokey. Antes de vermos o que Hokey testemunhou, eu tenho que contar depressa como Lord Voldemort deixou Hogwarts. – Ele chegou ao sétimo ano da sua instrução com notas altas em todos exames que tinha prestado, como se poderia esperar. Ao redor dele, os colegas estavam decidindo quais empregos iriam procurar uma vez que tivessem deixado Hogwarts. Quase todo o mundo esperava coisas espetaculares de Tom Riddle, monitor chefe, ganhador do Prêmio por Serviços Especiais Prestados a Escola. Sei que vários professores, Professor Slughorn entre eles, sugeriram que ele entrasse para o Ministério de Magia, marcando encontros, colocando-o em contato com pessoas importantes. Ele recusou todas as ofertas. A próxima coisa que o pessoal soube, foi que Voldemort estava trabalhando na Borgin & Burkes. – Na Borgin & Burkes? – Harry repetiu, atordoado. – Na Borgin & Burkes – Dumbledore repetiu calmamente. – Penso que você verá que atrativos o seguraram naquele lugar quando nós entrarmos na memória de Hokey. Mas esta não foi a primeira escolha de Voldemort para trabalho. Quase ninguém soube disto na ocasião – eu era um dos poucos em quem o diretor confiou – mas Voldemort chegou ao Professor Dippet primeiro e perguntou se ele poderia permanecer em Hogwarts como professor. – Ele quis ficar aqui? Por que? – Harry perguntou, mais pasmo ainda. – Eu acredito que ele teve várias razões, entretanto ele não confiou nenhuma deles ao Professor Dippet – disse Dumbledore. – Primeiro e mais importante, Voldemort estava, eu acredito, mais ligado a esta escola do que jamais foi a uma pessoa. Hogwarts era onde ele tinha estado mais contente; o primeiro e único lugar onde tinha se sentido em casa. Harry se sentiu ligeiramente incomodado por estas palavras, pois era assim exatamente como ele também se sentia sobre Hogwarts. – Segundo, o castelo é um bastião de magia antiga. Indubitavelmente Voldemort tinha descoberto muito mais sobre seus segredos que a maioria dos estudantes que passaram pelo lugar, mas ele pode ter sentido que ainda havia mistérios para desvendar, estoques de magia para descobrir. – E em terceiro lugar, como um professor, ele teria tido grande poder e influência sobre jovens bruxas e bruxos. Talvez ele tenha tido a idéia com o Professor Slughorn, o professor com o qual ele 209 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto se dava melhor e que tinha demonstrado quão influente o papel de professor pode ser. Não imagino nem por um momento que Voldemort tenha considerado passar o resto da sua vida em Hogwarts, mas penso que ele viu a escola como um local de recrutamento útil, um lugar onde ele poderia começar a construir um exército para si. – Mas ele não conseguiu o emprego, senhor? – Não, não conseguiu. O Professor Dippet lhe falou que ele era muito jovem aos dezoito, mas o convidou a tentar novamente em alguns anos, se ele ainda desejasse ensinar. – Como se sentiu sobre isso, senhor? – Harry perguntou indeciso. – Profundamente intranqüilo – disse Dumbledore. – Eu tinha desaconselhado ao Armando a contratação, não dei as mesmas razões que eu lhe dei, pois o Professor Dippet gostava muito de Voldemort e estava convencido da sua honestidade. Mas eu não queria Lord Voldemort de volta a esta escola, e, especialmente, não numa posição de poder. – Qual posto ele quis, senhor? Que matéria ele quis ensinar? De alguma maneira, Harry sabia a resposta antes mesmo de Dumbledore falar. – Defesa Contra as Artes das Trevas. Estava sendo ensinada na ocasião por uma velha professora de nome Galatea Merrythought que tinha estado em Hogwarts durante quase cinqüenta anos. – Assim Voldemort foi embora para Borgin & Burkes e todo o corpo docente que o tinha admirado, disse que isso era um desperdício, um jovem bruxo brilhante como ele, trabalhando numa loja. Porém, Voldemort não era um mero assistente. Cortês, bonito e inteligente, ele logo passou a fazer determinadas tarefas particulares do tipo que só existe em lugares como Borgin & Burkes, que se especializa, como você sabe, Harry, em objetos com propriedades incomuns e poderosas. Voldemort foi enviado a persuadir as pessoas a colocarem à venda seus tesouros para os sócios, e ele era, em todos os aspectos, extraordinariamente talentoso nisto. – Aposto que sim – disse Harry, incapaz se conter. – Bem, realmente – disse Dumbledore, com um leve sorriso – e agora está na hora de ter notícias de Hokey, a elfa doméstica que trabalhou para uma bruxa muito velha, muito rica de nome Hepzibah Smith. Dumbledore bateu na garrafa com a varinha dele, a rolha voou fora e ele derramou a memória rodopiante na penseira, dizendo: – Primeiro você, Harry. Harry levantou e se curvou sobre o conteúdo prateado ondulante da bacia de pedra mais uma vez até que a face dele o tocou. Ele caiu pelo escuro e pousou numa sala de estar, em frente a uma senhora velha imensamente gorda que usava uma elaborada peruca ruiva e um conjunto rosa brilhante de vestes que flutuavam ao seu redor, dando a ela uma aparência de bolo gelado derretendo. Ela estava olhando num pequeno espelho enfeitado com jóias e passando ruge de leve sobre as bochechas já escarlates com uma grande esponja de pó facial, enquanto a elfa doméstica mais minúscula e velha que Harry alguma vez já vira estava colocando nos pés carnudos os seus chinelos apertados de cetim. – Se apresse, Hokey! – disse Hepzibah imperiosa. – Ele disse que viria às quatro, é só faltam alguns minutos e ele nunca chegou atrasado até hoje! Ela pôs de lado a esponja de pó facial quando a elfa doméstica se endireitou. O topo da cabeça da elfa mal alcançava o assento da cadeira de Hepzibah e a sua pele fina estava pendurada no corpo, do mesmo modo que o lençol amassado que ela vestia preso como uma toga. – Como estou? – disse Hepzibah, virando a cabeça para admirar os vários ângulos do rosto no espelho. – Graciosa, senhora – chiou Hokey. Harry só poderia assumir que estava no contrato de Hokey que ela tinha que mentir entredentes quando lhe fizessem essa pergunta, porque Hepzibah Smith não estava graciosa nem de longe na opinião dele. A campainha da porta tocou e senhora e a elfa saltaram. 210 Capítulo 20 – O Pedido de Lord Voldemort – Rápido, rápido, ele está aqui, Hokey! – choramingou Hepzibah e a elfa correu para fora do quarto, que estava tão cheio de objetos que era difícil ver como qualquer pessoa poderia andar por ele sem derrubar pelo menos uma dúzia de coisas: havia armários cheios de pequenas caixas envernizadas, estojos cheios de livros com relevos em ouro, estantes de orbes e globos celestiais e muitos vasos de plantas em cachepots de latão. Na realidade, o quarto parecia um cruzamento entre uma loja de antiguidades mágica e um solário. A elfa doméstica retornou dentro de alguns minutos, seguida por um homem jovem e alto, que Harry não teve nenhuma dificuldade em reconhecer como Voldemort. Ele estava vestido de modo simples, com um terno preto; seu cabelo estava um pouco mais longo do que tinha estado na escola e suas bochechas mais encovadas, mas isso tudo lhe caía bem: ele estava mais bonito do que nunca. O modo que ele andou pelo quarto mostrava que o tinha visitado muitas vezes antes e se inclinou sobre a mãozinha gorducha de Hepzibah, tocando-a com os lábios. – Trouxe flores para a senhora – ele disse baixo, produzindo um ramalhete de rosas do nada. – Você é um menino travesso, não devia! – guinchou a velha Hepzibah, embora Harry tenha notado que ela tinha um vaso vazio pronto na pequena mesa mais próxima. – Você estraga esta velha senhora, Tom... Sente-se, sente-se... Onde Hokey está? Ah... A elfa doméstica tinha voltado enérgica ao quarto trazendo uma bandeja com vários bolos que ela colocou próxima ao cotovelo de sua senhora. – Sirva-se, Tom – disse Hepzibah – eu sei como você ama meus bolos. Agora, como está você? Parece pálido. Eles o exploram naquela loja, eu disse isso uma centena de vezes ... Voldemort sorriu mecanicamente e Hepzibah deu um sorriso afetado. – Bem, qual é sua desculpa para me visitar desta vez? – ela perguntou, batendo os cílios. – O Sr. Burke gostaria de fazer uma oferta melhor para a armadura feita por elfos – disse Voldemort. – Quinhentos Galeões, ele sente que é uma oferta mais que j... – Ora, ora, não tão rápido, ou eu pensarei que você está aqui só por causa das minhas quinquilharias! – Hepzibah fez beicinho. – Mandam-me aqui por causa delas – disse Voldemort baixo. – Eu sou só um pobre assistente, senhora, que tem que fazer o que lhe mandam. O Sr. Burke deseja que eu indague... – Oh, Sr. Burke, pff! – disse Hepzibah, balançando a mãozinha. – Eu tenho algo a lhe mostrar que nunca mostrei ao Sr. Burke! Você pode manter segredo, Tom? Você promete que não contará para o Sr. Burke que eu tenho isto? Ele nunca me deixaria descansar se ele soubesse que eu mostrei isto a você, e eu não estou vendendo, não para Burke, nem para ninguém! Mas você, Tom, você apreciará isto pela sua história, e não pelos galeões que você pode conseguir por ele. – Eu ficaria alegre em ver qualquer coisa que a Senhorita Hepzibah mostrar para mim – disse Voldemort baixinho e Hepzibah deu outra risadinha de garota. – Eu mando Hokey buscar para mim. . . Hokey onde você está? Eu quero mostrar para o sr. Riddle nosso melhor tesouro. ... Na realidade, traga ambos, já que está fazendo isso. ... – Aqui, senhora – chiou a elfa doméstica e Harry viu duas caixas de couro, uma em cima da outra, movendo-se pelo quarto como se tivesse vontade própria, embora soubesse que a elfa minúscula os estava segurando acima da sua cabeça, passando entre mesas, pufes e apoios para pé. – Agora – disse Hepzibah, pegando as caixas da elfa, colocando-as no colo e preparando-se para abrir a de cima – eu penso que você gostará disto, Tom ... Oh, se minha família soubesse que eu estou lhe mostrando isto ... Eles não podem esperar para colocarem as mãos nisto! Ela abriu a tampa. Harry se esticou para ter uma visão melhor e viu o que parecia uma taça dourada pequena com duas asas finamente forjadas. – Eu me pergunto se você sabe o que é isso, Tom? Apanhe, dê uma boa olhada! – Hepzibah sussurrou e Voldemort esticou uma mão longa e fina e ergueu a taça através de uma asa para fora de suas capas sedosas. Harry pensou ter visto um vislumbre vermelho nos olhos escuros dele. A expressão gananciosa dele se refletiu curiosamente na face de Hepzibah, mas os olhos minúsculos dela estavam fixos nos belos traços de Voldemort. 211 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Um texugo – Voldemort murmurou, examinando a gravação na taça. Então isto era. . . ? – De Helga Hufflepuff , como você muito bem sabe, você é um menino inteligente! – disse Hepzibah, se inclinando para frente com um ranger alto das roupas e beliscando a bochecha oca dele. – Eu não lhe falei que era uma descendente distante? Isto foi passado na família durante anos e anos. Graciosa, não é? E supõe-se que também possui todos os tipos de poderes, mas não os testei completamente, eu só a mantenho sã e salva bem aqui. . . Ela retirou a taça do longo dedo indicador de Voldemort e guardou suavemente na sua caixa, muito preocupada em colocá-la de volta em seu lugar para notar a sombra que cruzou a face de Voldemort quando a taça foi tomada. – Agora então – disse Hepzibah feliz – onde Hokey está? Oh sim, lá está você – guarde o objeto agora, Hokey. A elfa levou a taça em sua caixa obedientemente e Hepzibah voltou a sua atenção para a outra caixa mais aplainada em seu colo. – Penso que você gostará muito mais deste, Tom – ela sussurrou. – Incline-se um pouco, querido menino, assim você pode ver... Claro que Burke sabe que eu tenho este aqui, eu o comprei dele, e tenho certeza que ele adoraria voltar a tê-lo quando eu tiver partido... Ela deslizou o gancho de filigrana para trás e abriu a caixa. Lá, sobre o veludo carmesim liso, havia um medalhão dourado pesado. Voldemort retirou o medalhão, sem esperar o convite, e segurou-o contra a luz, fitando-o. – A marca de Slytherin – ele disse baixo, quando a luz refletiu num S serpentino ornado. – Correto! – disse Hepzibah, aparentemente encantada, à vista de Voldemort que contemplava paralisado o seu medalhão. – Eu tive que pagar os olhos da cara por isto, mas eu não pude deixar passar, não um real tesouro assim, tinha que ter isto na minha coleção. Burke comprou isto, aparentemente, de uma mulher pobre, devia ter roubado isto, mas não tinha nenhuma idéia de seu verdadeiro valor... Não havia nenhum equívoco desta vez: os olhos de Voldemort brilharam escarlate às palavras, e o Harry viu as juntas dele embranquecerem na corrente do medalhão. – ...eu soube que Burke lhe pagou uma ninharia, mas você ... bonito, não é? E novamente, atribuíram a isto todos os tipos de poderes, embora, eu só o mantenha são e salvo... Ela pegou de volta o medalhão. Por um momento, Harry pensou que Voldemort não ia deixála fazer isso, então já tinha deslizado pelos dedos dele e voltado para sua almofada aveludada vermelha. – Então, é isso, Tom, querido, e espero que você tenha desfrutado disso! Ela o olhou em cheio no rosto, e pela primeira vez Harry viu o sorriso tolo dela hesitar. – Você está bem, querido? – Oh, sim – disse Voldemort baixo. – Sim, eu estou muito bem... – Eu pensei – foi um truque da luz, eu suponho – disse Hepzibah, olhando nervosa, e Harry adivinhou que ela também tinha visto o vislumbre vermelho momentâneo nos olhos de Voldemort – Aqui, Hokey, leve embora estes e os tranque novamente... Os encantos habituais... – Hora de partir, Harry – disse Dumbledore baixo e quando a elfa doméstica subiu e desceu, pegando as caixas, Dumbledore agarrou Harry uma vez mais pelo cotovelo e juntos, eles se levantaram e voltaram para o escritório de Dumbledore. – Hepzibah Smith morreu dois dias depois daquela pequena cena – disse Dumbledore, enquanto retomava seu assento e indicava que Harry deveria fazer o mesmo – Hokey, a elfa da casa, foi condenada pelo Ministério por envenenar o chocolate de sua senhora acidentalmente. – Sem chance! – disse Harry furiosamente. – Vejo que nós temos a mesma opinião – disse Dumbledore. – Certamente, são muitas as semelhanças entre esta morte e as dos Riddle. Em ambos os casos, alguém mais levou a culpa, alguém que teve uma lembrança clara de ter causado a morte. – Hokey confessou? 212 Capítulo 20 – O Pedido de Lord Voldemort – Ela se lembrou de pôr algo no chocolate da senhora que no final não era açúcar, mas um veneno letal e pouco conhecido – disse Dumbledore. – Foi concluído que ela não tinha intenção de fazer isso, mas sendo velha e confusa... – Voldemort modificou a memória dela, assim como fez com Morfin! – Sim, essa também é minha conclusão – disse Dumbledore. – E, da mesma maneira que com Morfin, o Ministério estava predisposto a suspeitar de Hokey... – ...porque ela era um elfo domestico – disse Harry. Ele raramente tinha se sentido mais em sintonia com a sociedade que Hermione tinha lançado, a F.A.L.E. – Precisamente – disse Dumbledore – ela era velha, ela admitiu ter mexido na bebida, e ninguém do Ministério se preocupou em investigar mais. Como no caso de Morfin, até que eu a localizasse e conseguisse extrair esta memória, a vida dela já estava quase terminada, mas a sua lembrança, claro, não prova nada a não ser que Voldemort sabia da existência da taça e do medalhão. – Na época que Hokey foi condenada, foi que a família de Hepzibah percebeu que estavam faltando dois dos seus maiores tesouros. Levou tempo para perceberem, porque ela tinha muitos esconderijos, tendo sempre vigiado sua coleção com ciúmes. Mas antes de estarem absolutamente seguros de que a taça e o medalhão haviam sido levados, o assistente que tinha trabalhado para Borgin & Burkes, o homem jovem que tinha visitado Hepzibah tão regularmente e a tinha encantado tão bem, tinha renunciado ao seu posto e desaparecido. Seus superiores não tinham nenhuma idéia de onde ele tinha ido; eles estavam tão surpresos quanto qualquer um com seu desaparecimento. E essa foi a última coisa que se viu ou ouviu falar de Tom Riddle durante muito tempo. – Agora – disse Dumbledore – se você não se importar, Harry, quero fazer mais uma pausa para chamar sua atenção para certos pontos de nossa história. Voldemort tinha cometido outro assassinato; se era o primeiro desde que ele matou os Riddle, não sei, mas acho que era. Agora, como você deve ter visto, ele não matou por vingança, mas para ganho. Ele quis os dois troféus fabulosos que a tola senhora mostrou para ele. Da mesma maneira que ele havia roubado as outras crianças no orfanato, da mesma maneira que ele tinha roubado o anel de seu tio Morfin, assim ele escapou com a taça e o medalhão de Hepzibah. – Mas... – Harry disse,franzindo a testa – parece coisa de doido ... arriscando tudo, jogando fora o emprego, só por esses... – Doido para você, talvez , mas não para Voldemort – disse Dumbledore. – Espero que, no momento devido, você entenda exatamente o que esses objetos significaram para ele, Harry, mas você que tem que admitir que não é difícil imaginar que ele viu o medalhão, pelo menos, como legitimamente seu. – O medalhão talvez – disse Harry – mas por que levar a taça também? – Tinha pertencido a outro dos fundadores de Hogwarts – disse Dumbledore. – Acho que ele ainda sentia um grande apego à escola e não podia resistir a um objeto tão embebido da história de Hogwarts. Havia outras razões, acho... Espero poder as mostrar a você no tempo certo. – E agora vamos para a última lembrança que eu tenho que lhe mostrar, pelo menos até que você consiga a do Professor Slughorn para nós. Dez anos separam a memória de Hokey e esta aqui, dez anos durante os quais nós só podemos imaginar o que Lord Voldemort esteve fazendo... Harry juntou mais uma vez seus pés, quando Dumbledore esvaziou a última lembrança na Penseira. – De quem é essa memória? – ele perguntou. – Minha – disse Dumbledore. E Harry mergulhou depois de Dumbledore pela matéria prateada inconstante, e pousou na mesma sala, de onde há pouco tinha partido. Fawkes dormia feliz no poleiro, e lá, atrás da escrivaninha, estava Dumbledore, bem parecido ao Dumbledore de pé ao lado de Harry, no entanto, as mãos estavam inteiras e não danificadas e o seu rosto era, talvez, um pouco menos enrugado. A diferença entre a sala atual e esta aqui era que estava nevando no passado; flocos azulados estavam vagueando além da janela na escuridão, e acumulando-se no lado de fora em sua borda. 213 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto O Dumbledore mais jovem parecia estar esperando por algo e, com certeza, momentos depois da chegada deles, houve uma batida na porta e ele disse – Entre. Harry deixou escapar um suspiro apressadamente abafado. Voldemort tinha entrado na sala. Suas feições não eram as que Harry tinha visto emergir do grande caldeirão de pedra quase dois anos atrás. Elas não eram tão parecidas com cobra, os olhos não eram escarlates, a face não parecia uma máscara, no entanto, já não era mais o bonito Tom Riddle. Era como se as suas feições tivessem sido queimadas e borradas; eram esquisitamente torcidas e como cera, e os brancos dos olhos tinham agora, uma aparência permanentemente sangrenta, entretanto, as pupilas não eram ainda as fendas do que Harry sabia que elas se tornariam. Ele estava usando uma capa preta longa, e seu rosto era tão pálido quanto a neve que brilhava em seus ombros. O Dumbledore que estava atrás da escrivaninha não mostrou nenhum sinal de surpresa. Evidentemente, esta visita tinha sido agendada. – Boa noite, Tom – disse Dumbledore docilmente – Você não quer se sentar? – Obrigado – disse Voldemort, e ele tomou o assento para o qual Dumbledore tinha gesticulado – o mesmo assento, pelo visto, que Harry há pouco tinha desocupado no presente. – Ouvi que você tinha se tornado o diretor – ele disse, a voz dele era ligeiramente mais alta, fria – Uma escolha merecida. – Eu estou feliz que você aprove – disse Dumbledore, enquanto sorria – posso lhe oferecer uma bebida? – Seria ótimo – disse Voldemort – eu vim de longe. Dumbledore se levantou e dirigiu-se para a estante onde mantinha a penseira agora, mas que então estava cheia de garrafas. Tendo dado para Voldemort uma taça de vinho e servido uma para si, voltou à cadeira atrás da escrivaninha. – Então, Tom... a que devo o prazer? Voldemort não respondeu imediatamente, mas somente tomou um gole do seu vinho. – Não me chamam mais de Tom – ele disse – Agora, sou conhecido como... – Eu sei como você é conhecido – disse Dumbledore, enquanto sorria, agradavelmente – mas para mim, me desculpe, você sempre será Tom Riddle. É um das coisas irritantes de professores velhos. Receio que eles não esqueçam totalmente do início juvenil de seus tutelados. Ele ergueu o copo brindando com Voldemort cuja face permaneceu inexpressiva. Não obstante, Harry sentia a atmosfera da sala sutilmente mudando: a recusa de Dumbledore em usar o nome escolhido de Voldemort era uma recusa em permitir que Voldemort ditasse as condições da reunião, e Harry podia contar que Voldemort a entendeu assim. – Estou surpreso por você ainda ter permanecido aqui por tanto tempo – disse Voldemort, depois de uma pausa curta – Sempre me perguntei por que um bruxo como você nunca desejou deixar a escola. – Bem – disse Dumbledore, enquanto ainda sorria – para um bruxo como eu, não pode haver nada mais importante que passar adiante habilidades antigas, ajudando a afiar as mentes jovens. Se me lembro corretamente, você também já se sentiu atraído para o ensino uma vez. – E ainda me sinto – disse Voldemort.– Eu somente quis saber por que você – que recebe freqüentemente pedidos de conselhos para o Ministério, e a quem por duas vezes, eu acho, já foi oferecido o posto de Ministro... – Três vezes à última conta, de fato – disse Dumbledore – Mas o Ministério nunca me atraiu como uma carreira. Novamente, algo que nós temos em comum, eu penso. Voldemort inclinou a cabeça, sério, e tomou outro gole de vinho. Dumbledore não rompeu o silêncio que se estendia entre eles, mas esperou, com um olhar de expectativa agradável, que Voldemort falasse primeiro. – Retornei – ele disse, depois de um tempinho – talvez mais tarde do que Professor Dippet esperava... mas voltei, não obstante, para pedir o que ele me disse uma vez que eu era muito jovem para ter. Eu vim a você pedir que me permita voltar a este castelo para ensinar. Eu acho que você 214 Capítulo 20 – O Pedido de Lord Voldemort sabe que tenho visto e feito muito desde que eu deixei este lugar. Eu poderia mostrar e contar coisas a seus estudantes que eles não terão de qualquer outro bruxo. Dumbledore olhou Voldemort durante algum tempo por cima do topo da própria taça antes de falar. – Sim, eu certamente sei que você viu e fez muito desde que nos deixou – ele disse baixo – Rumores de suas ações chegaram à sua velha escola, Tom. Eu lamentaria acreditar na metade deles. A expressão de Voldemort permaneceu impassível quando ele disse: – Grandeza inspira inveja, inveja engendra despeito, despeito gera mentiras. Você deve saber disto, Dumbledore. – Você chama de “grandeza”, o que você tem feito? – Dumbledore perguntou delicadamente. – Certamente – disse Voldemort, e os olhos dele pareciam arder, vermelhos. – Eu tenho experimentado; ampliado os limites da magia, talvez, mais do que nunca foram ampliados... – De alguns tipos de magia – Dumbledore o corrigiu mansamente. – De alguns. De outros, você permanece... me perdoe... completamente ignorante. Pela primeira vez, Voldemort sorriu. Era um esgar, uma coisa má, mais ameaçadora que um olhar de raiva. – A velha discussão – ele disse suavemente. – Mas nada que eu vi no mundo apoiou seus famosos pronunciamentos de que o amor é mais poderoso que meu tipo de magia, Dumbledore. – Talvez você tenha procurado nos lugares errados – sugeriu Dumbledore. – Bem, então, que lugar melhor para começar minhas novas pesquisas que aqui, em Hogwarts? – disse Voldemort – Você me deixará voltar? Compartilhar meu conhecimento com seus estudantes? Eu coloco meus talentos à sua disposição. Eu estou sob suas ordens. Dumbledore levantou suas sobrancelhas. – E o que se tornarão aqueles a quem você comanda? O que acontecerá a esses que se autodenominam, ou assim dizem os boatos, os Comensais da Morte? Harry podia jurar que Voldemort não esperava que Dumbledore soubesse este nome; ele viu os olhos de Voldemort flamejarem vermelhos novamente assim como suas narinas, semelhantes a fendas. – Meus amigos – ele disse, depois de um momento de pausa – continuarão sem mim, seguramente. – Eu fico feliz em ouvir que você os considera como amigos – disse Dumbledore.. – Eu tinha a impressão que eles eram pra você mais como servos. – Você está enganado – disse Voldemort. – Então, se eu fosse esta noite ao Cabeça de Javali, eu não acharia um grupo deles, Nott, Rosier, Mulciber, Dolohov, esperando seu retorno? Amigos devotados realmente, para viajar esta distancia com você em uma noite nevada, somente para lhe desejar sorte em sua tentativa de conseguir um posto de professor. Não poderia haver nenhuma dúvida de que o conhecimento detalhado de Dumbledore acerca de seus companheiros de viagem era ainda menos bem acolhido por Voldemort; no entanto, ele se recompôs quase que imediatamente. – Você é onisciente como sempre, Dumbledore. – Oh, não, apenas amigo dos taberneiros locais – disse Dumbledore ligeiramente. – Agora, Tom... Dumbledore baixou seu copo vazio e ajeitou-se na sua cadeira, as pontas dos dedos juntas em um gesto muito característico. – ...falemos abertamente. Por que você veio aqui esta noite, cercado por asseclas, pedir um posto que nós dois sabemos que você não quer? Voldemort olhou friamente surpreso. – Um trabalho que eu não quero? Pelo contrário, Dumbledore, eu quero muito. – Oh, você quer voltar a Hogwarts, mas você não quer ensinar mais do que quis quando tinha dezoito anos. Você está atrás de que, Tom? Por que não tenta um pedido às claras, uma vez que seja? Voldemort zombou. – Se você não quer me dar um emprego ... 215 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Claro que não quero – disse Dumbledore. – E eu não acho que por algum momento você esperou outra coisa. Não obstante, você veio aqui, você pediu, você deve ter tido um propósito. Voldemort levantou. Ele parecia menos com Tom Riddle que nunca, transformado pela raiva. – Esta é sua palavra final? – É – disse Dumbledore, também de pé. – Então nós não temos nada mais dizer a um ao outro. – Não, nada – disse Dumbledore, e uma grande tristeza tomou o seu rosto. – Já vai longe o tempo em que eu podia assustar você com um armário em chamas e forçá-lo a pagar pelos seus crimes. Mas eu gostaria de poder, Tom... Eu gostaria de poder... Durante um segundo, Harry estava à beira de gritar uma advertência insensata: Ele estava seguro de que a mão de Voldemort tinha se contraído na direção do bolso e da varinha; entretanto o momento tinha passado, Voldemort tinha se virado, a porta estava fechando, e ele tinha ido. Harry sentiu a mão de Dumbledore se fechar novamente em seu braço e momentos depois, eles estavam juntos, quase no mesmo lugar, mas não havia nenhuma neve na borda de janela, e a mão de Dumbledore estava enegrecida e com aspecto necrosado, mais uma vez. – Por que? – disse Harry imediatamente, enquanto observava a face de Dumbledore – Por que ele voltou? O senhor chegou a descobrir? – Eu tenho idéias – disse Dumbledore – mas não mais que isso. – Que idéias, senhor? – Eu, Harry, lhe contarei quando você conseguir aquela memória do Professor Slughorn – disse Dumbledore. – Quando você tiver essa última peça do quebra-cabeça, tudo vai, espero, ser esclarecido... para nós dois. Harry ainda estava ardendo de curiosidade e embora Dumbledore tivesse caminhado para a porta e a segurasse aberta para Harry, ele não se moveu imediatamente. – Ele queria como antes Defesa Contra as Artes das Trevas, senhor? Ele não disse ... – Oh, ele definitivamente queria Defesa Contra as Artes das Trevas – disse Dumbledore. – O que se seguiu à nossa pequena reunião provou isso. Veja, nós nunca conseguimos manter um professor por um período mais longo que um ano, desde que eu recusei o pedido de Lord Voldemort. 216 – CAPÍTULO 21 – A Sala Inatingível Harry arruinou seu cérebro durante toda a semana seguinte em como convencer Slughorn em entregar a lembrança verdadeira, mas nenhuma idéia brilhante lhe ocorreu e ele ficou restrito a fazer algo que cada vez repetia mais: folhear seu livro de poções, esperando que o Príncipe tivesse rabiscado algo útil em uma margem, como já havia feito muitas vezes antes. – Você não achará nada aí – afirmou Hermione no domingo tarde da noite. – Não comece, Hermione – disse Harry. – Se não fosse pelo Príncipe, Rony não estaria sentado conosco agora. – Ele estaria se você tivesse ouvido o que Snape disse no nosso primeiro ano – disse Hermione encerrando. Harry a ignorou. Acabara de encontrar um feitiço “Sectumsempra!” rabiscado em uma margem sobre as palavras intrigantes “para inimigos”, e estava louco para experimentá-lo, mas pensando bem, não na frente da Hermione. Ao invés disso, dobrou discretamente o canto da página. Eles estavam sentados ao lado da lareira na sala comunal; os únicos outros estudantes ainda acordados eram colegas do sexto ano. Tinha havido uma certa excitação mais cedo quando voltaram do jantar e encontraram no quadro de avisos a data do Teste de Aparatação. Aqueles que tivessem ou completassem 17 anos até o primeiro dia de teste em 21 de abril, tinham a opção de se inscreverem para aulas práticas adicionais, que seriam (altamente supervisionadas) em Hogsmeade. Rony entrou em pânico ao ler isto, ele ainda não conseguira aparatar e tinha medo de não estar pronto para o teste. Hermione, que já tinha conseguido aparatar duas vezes, estava um pouco mais confiante, mas Harry, que só faria dezessete depois de mais quatro meses, não poderia fazer o teste, estando pronto ou não. – Ao menos você é capaz de aparatar – disse Rony tenso. – Você não terá problemas em Julho! – Só consegui uma vez – Harry lembrou. Ele finalmente conseguira desaparecer e se rematerializar dentro de seu círculo durante a última lição. Tendo perdido bastante tempo se preocupando em voz alta sobre Aparatação, Rony estava agora se esforçando para terminar uma redação extremamente difícil para Snape que Harry e Hermione já haviam acabado. Harry tinha certeza que receberia nota baixa na sua redação por discordar de Snape quanto à melhor maneira de bloquear dementadores, mas não se importava: a lembrança de Slughorn era a coisa mais importante para ele no momento. – Estou te dizendo, este Príncipe estúpido não vai te ajudar com isto Harry! – disse Hermione ainda mais alto. – Só existe um jeito de forçar alguém a fazer o que você quer e é a maldição Império, que é proibida... – Sim, eu sei, obrigado! – Disse Harry sem levantar os olhos do livro. – É por isso que estou procurando algo diferente. Dumbledore disse que Veritasserum não ajudaria, mas deve ter alguma outra coisa, uma magia ou poção... 217 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Você está no caminho errado, – disse Hermione. – Dumbledore disse que só você pode recuperar a lembrança. Isto significa que você tem meios para convencer Slughorn que outras pessoas não têm. Não é questão de lhe dar uma poção, qualquer um poderia fazer isso. – Como se soletra “beligerante”? – Perguntou Rony chacoalhando sua pena enquanto olhava seu pergaminho – Não pode ser B,I,M... – Não é ,– disse Hermione, pegando a redação de Rony. – E “augúrio” não começa com O,U também. Que tipo de pena você está usando? – Uma daquelas Corrige-Ortografia de Fred e Jorge, mas acho que a magia deve estar acabando. – Sim, deve ser isso – disse Hermione, apontando para o título – porque deveríamos falar de enfrentar Dementadores e não Emendadores e não lembro que você tenha mudado seu nome para Donald Visgo. – Ah, não! – exclamou Rony olhando horrorizado para o pergaminho. – Não me diga que tenho que reescrever isso tudo de novo! – Tudo bem, a gente pode consertar – disse Hermione, puxando o pergaminho para si e pegando sua varinha. – Eu te amo, Hermione – disse Rony, afundando em sua cadeira esfregando os olhos cansados. Hermione corou, mas apenas disse – Não deixe Lilá escutá-lo dizendo isso. – Não deixarei – comentou Rony para as próprias mãos. – Ou talvez eu deixe, assim ela me larga. – Por que você não larga ela, se quer terminar com isso? – Harry perguntou. – Você nunca deu um fora em ninguém, né Harry? disse Rony. – Você e Cho apenas... – Meio que nos separamos, é – disse Harry. – Queria que isso acontecesse comigo e Lilá – disse Rony tristonho, olhando Hermione que silenciosamente tocava cada uma das palavras erradas com a ponta de sua varinha, de modo que elas se consertavam sozinhas no pergaminho. – Mas quanto mais eu insinuo que quero terminar, mais firme ela me agarra. É como lutar contra a Lula Gigante. – Pronto – disse Hermione, depois de uns vinte minutos, devolvendo a redação para Rony. – Muitíssimo obrigado – agradeceu Rony. – Pode me emprestar sua pena para eu fazer a conclusão? – Harry, que não havia encontrado nada útil nas anotações do Príncipe Mestiço até aquele momento, olhou ao redor e viu que os três eram os únicos acordados na Sala Comunal, Simas acabara de sair amaldiçoando Snape e a redação. Os únicos sons eram o crepitar das chamas na lareira e Rony escrevendo o último parágrafo sobre dementadores usando a pena de Hermione. Harry acabara de fechar o livro do Príncipe Mestiço, bocejando, quando... CRACK! Hermione deu um gritinho, Rony derramou tinta em todo o recém acabado pergaminho e Harry exclamou: – Monstro! O elfo doméstico fez uma reverência e se dirigiu aos próprios torcidos dedos do pés – O mestre solicitou relatórios regulares sobre o que o garoto Malfoy anda fazendo e é isso que Monstro veio... CRACK! Dobby apareceu ao lado de Monstro, com seu chapéu de coador de chá torto. – Dobby estava ajudando também, Harry Potter! – ele resmungou, com um olhar ressentido para Monstro. – E Monstro deveria dizer a Dobby quando ele iria ver Harry Potter e assim nós faríamos o relatório juntos! – O que é isso? – Perguntou Hermione olhando ainda assustada pelas aparições repentinas. – O que está acontecendo Harry? – Harry hesitou antes de responder, porque não tinha avisado Hermione que mandara Monstro e Dobby seguirem Malfoy, os elfos domésticos eram assunto delicado para ela. – Bem... Eles estão seguindo Malfoy para mim, – disse enfim. – Dia e noite, – coachou Monstro. – Dobby não dorme há uma semana, Harry Potter! – afirmou Dobby orgulhoso, balançando onde estava. Hermione parecia indignada. 218 Capítulo 21 – A sala inatingível – Você não dormiu, Dobby? Mas certamente, Harry, você não mandou ele não... – Não, claro que não! – disse Harry rapidamente. – Dobby, você pode dormir, certo? Mas algum de vocês descobriu algo? – Ele se apressou em perguntar antes que Hermione interrompesse de novo. – Mestre Malfoy se move com a nobreza existente em seu puro sangue – guinchou Monstro. – Suas feições lembram a delicadeza da constituição de minha senhora e os seus modos são aqueles de... – Draco Malfoy é um garoto mau, – respondeu Dobby com raiva. – Um mau garoto que...que... – Ele estremeceu da ponta do seu chapéu de coador de chá até a ponta das meias e então correu para lareira, como se fosse pular dentro dela. Harry, para quem isso não era completamente inesperado, pegou-o pelo meio e o segurou bem. Por alguns segundos Dobby estremeceu e depois ficou quieto. – Obrigado, Harry Potter – ele agradeceu sem fôlego. – Dobby continua achando difícil falar mal de seus antigos mestres. – Harry soltou-o e Dobby ajeitou seu coador de chá e disse em desafio a Monstro. – Mas Monstro deveria saber que Draco Malfoy não é um bom mestre para um elfo doméstico! – Sim e nós não precisamos ouvir você dizer que ama Malfoy – Harry disse para Monstro. – Vamos passar direto para os lugares aonde ele tem ido. Monstro fez nova reverência, parecendo furioso, e então disse: – Mestre Malfoy come no Salão Principal, dorme no dormitório das masmorras e assiste a aulas em vários ... – Dobby, você me diz, disse Harry, cortando Monstro. – Ele tem ido a algum lugar aonde não deveria? – Harry Potter, meu senhor – Dobby guinchou, com seus grandes olhos brilhando à luz da lareira -, O garoto Malfoy não está quebrando nenhuma regra que Dobby possa saber, mas ele é mestre em evitar ser descoberto. Ele vem visitando regularmente o sétimo andar com vários outros alunos, que ficam vigiando enquanto ele entra... – A Sala Precisa! – Harry exclamou, batendo com força na testa o Preparo de Poções – Nível Avançado. Hermione e Rony olharam para ele. – É para lá que ele vem escapulindo! É ali que está fazendo.... seja lá o que esteja fazendo. E aposto que é por isso que ele desaparece do mapa... Pensando nisso, eu nunca vi a Sala Precisa no mapa!!! – Talvez os marotos não soubessem que a sala estava lá – disse Rony. – Acho que pode ser parte da mágica da sala – Hermione sugeriu. – Se você quer ela fique oculta, ela será. – Dobby, você conseguiu entrar e ver o que Malfoy anda fazendo? – perguntou Harry ansioso. – Não, Harry Potter, isto é impossível, disse Dobby. – Não é não – replicou Harry de imediato. – Malfoy entrou em nosso quartel general ano passado, então eu poderei entrar e espiá-lo sem problemas. – Mas eu acho que você não vai conseguir, Harry – Hermione disse devagar. – Malfoy já sabia exatamente como estávamos usando a sala, porque a estúpida da Marieta nos dedurou. Ele precisava que a sala se tornasse o QG da AD, então foi o que aconteceu. Mas você não sabe em que a sala se transforma quando Malfoy está lá, então você não sabe o que pedir para que a sala se transforme. – Deve existir um jeito – disse Harry finalizando. – Você foi brilhante, Dobby. – Monstro também foi – disse Hermione gentilmente, mas longe de parecer grato, Monstro desviou seus grandes olhos avermelhados e grasnou para o teto: – A sangue ruim está falando com Monstro, Monstro vai fingir que não a escuta. – Some daqui – Harry gritou para Monstro que fez uma última reverência e desaparatou. – É melhor você ir também e dormir um pouco, Dobby. – Obrigado, Harry Potter, meu senhor! – Dobby agradeceu alegre, desaparecendo também. – Não é ótimo?, Harry perguntou entusiasmado, virando-se para Rony e Hermione, logo que os elfos deixaram a sala. – Sabemos onde Malfoy está indo! Agora o encurralamos! – É... é ótimo, – disse Rony triste, tentando enxugar um borrão de tinta do que era sua redação recém terminada. Hermione a puxou para si e começou a remover a tinta com sua varinha. 219 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Mas, por que ele está indo lá com “vários outros alunos”? – Hermione perguntou. – Quantas pessoas estão envolvidas? Ninguém imaginaria que ele deixaria vários colegas saberem o que ele anda fazendo... – É, isto é esquisito– disse Harry franzindo o cenho. – Eu ouvi ele dizendo a Crabbe que o que ele estava fazendo não era da conta dele...então o que ele anda dizendo a todos estes ... estes ... – Harry foi emudecendo, enquanto encarava o fogo. – Cara, como sou estúpido, – disse em voz baixa. – É óbvio, não é mesmo? Tinha um grande caldeirão daquilo nas masmorras...ele poderia ter pego um pouco em qualquer momento durante aquela aula.... – Pego o quê? – Rony perguntou. – Poção Polissuco. Ele roubou um pouco da Poção Polissuco que Slughorn nos mostrou na primeira aula de Poções. Não existe aquela quantidade de alunos montando guarda para Malfoy. São somente Crabbe e Goyle como sempre. Sim, tudo se encaixa – disse Harry ficando de pé e andando de um lado para o outro em frente à lareira. – Eles são estúpidos o bastante para fazerem o que Malfoy diz sem que ele diga o que está fazendo, mas também não quer que eles sejam vistos perambulando perto da Sala Precisa, então ele deu Poção Polissuco para eles se parecerem com outras pessoas. Aquelas duas garotas que vi com ele quando ele faltou o Quadribol... ha! Crabbe e Goyle! – Você quer dizer que, disse Hermione com voz apagada, – Que aquela garotinha para quem eu consertei a balança ... – Sim, claro! – disse Harry mais alto, olhando para ela. – É claro! Malfoy devia estar dentro da sala naquela hora, então ela... o que estou dizendo?... ele derrubou a balança para avisar a Malfoy para não sair, porque tinha alguém ali! E a outra garota que derrubou as ovas de sapo também. Estávamos passando por ele o tempo todo e não sabíamos! – Então ele transformou Crabbe e Goyle em meninas? – Rony gargalhava.– Caramba!.. não admira eles não estarem contentes aqueles dias. Estou surpreso que eles não tenham mandado Malfoy se catar. – Bem, eles não o fariam se Malfoy tivesse mostrado sua Marca Negra, não é? – disse Harry. – Bem... a Marca Negra que não sabemos se existe – disse Hermione cética, enrolando a redação seca de Rony antes que pudesse sofrer mais algum dano e entregando-a a ele. – Nós veremos – disse Harry confiante. – Sim, veremos – confirmou Hermione ficando de pé e se esticando. – Mas Harry, antes de você ficar todo ouriçado, eu ainda não acho que você conseguirá entrar na Sala Precisa sem saber o que tem lá primeiro. E acredito que você não deve esquecer... – ela jogou a mochila sobre um ombro e lhe endereçou um olhar muito sério – ...que aquilo em que você deveria estar se concentrando é em como reaver a lembrança de Slughorn. Boa noite. Harry olhou ela sair , sentindo-se um tanto desconfortável. Após a porta do dormitório feminino fechar atrás dela ele virou-se para Rony. – O que você acha? – Que eu queria desaparatar como um elfo doméstico – disse Rony, olhando o local onde Dobby desaparecera. – Eu estaria com o Teste de Aparatação no papo. Harry não dormiu bem aquela noite. Ficou acordado pelo que pareceram horas, imaginando como Malfoy estava usando a Sala Precisa e o que ele, Harry, veria quando fosse lá no dia seguinte, pois apesar do que Hermione dissera, Harry tinha certeza que se Malfoy fora capaz de ver o QG da AD, então ele seria capaz de ver a... de Malfoy. O que poderia ser? Uma sala de reuniões? Um quarto de despejo? uma oficina? A mente de Harry trabalhava febrilmente e seus sonhos, quando finalmente conseguiu dormir, eram fragmentados e perturbados por imagens de Malfoy, se transformando em Slughorn, que se transformava em Snape... Harry estava num estado de grande expectativa durante o café da manhã do dia seguinte; ele tinha um horário livre antes de Defesa Contra as Artes das Trevas, e estava determinado a usá-lo tentando entrar na Sala Precisa. Hermione tentava ostensivamente não mostrar o menor interesse 220 Capítulo 21 – A sala inatingível pelos planos sussurrados para forçar a entrada na sala, o que irritou Harry, porque ele pensou que ela seria de grande ajuda se ela quisesse. – Olhe – ele disse em voz baixa, se inclinando para a frente e colocando uma mão sobre o Profeta Diário, o qual ela acabara de retirar de uma coruja, para impedi-la de abri-lo e se esconder atrás dele. – Eu não me esqueci de Slughorn, mas não tenho a menor idéia de como arrancar a lembrança dele e até aparecer uma idéia brilhante, por que eu não tentaria descobrir o que Malfoy anda fazendo? – Já lhe disse que você tem que persuadir Slughorn, disse Hermione. – Não é questão de enganá-lo ou enfeitiçá-lo, ou Dumbledore teria feito isso num segundo. Ao invés de ficar à toa, rondando do lado de fora da Sala Precisa – ela puxou o Profeta das mãos de Harry e o abriu para dar uma olhada na primeira página, – ...você deveria ir procurar Slughorn e começar a apelar à sua boa índole. – Alguém que conhecemos...? – perguntou Rony, enquanto Hermione olhava as manchetes. – Sim! – Hermione respondeu, – fazendo Harry e Rony engasgarem com o café da manhã. – Mas tudo bem, ele não morreu. É Mundungo, que foi preso e enviado para Azkaban! Algo a ver com imitar um Inferius durante uma tentativa de roubo e alguém chamado Octavius Pepper desapareceu. E, oh, que horrível, um garoto de nove anos foi preso tentando matar seus avós. Eles acham que estava sob a influência da maldição Império. Eles acabaram seu café da manhã em silêncio. Hermione levantou rapidamente para ir para a aula de Runas Antigas; Rony foi para o salão comunal, onde ainda tinha que terminar a conclusão da redação sobre dementadores do Snape, e Harry foi para o corredor do sétimo andar e para o trecho de parede oposto à tapeçaria de Barnabás o Amalucado ensinando balé para os trasgos. Harry colocou sua capa da invisibilidade assim que achou uma passagem vazia, mas não precisava ter se preocupado. Quando chegou ao local, ele estava deserto. Harry não tinha certeza se suas chances de conseguir entrar na sala eram melhores com Malfoy dentro ou fora da sala, mas pelo menos sua primeira tentativa não seria dificultada pela presença de Crabbe ou Goyle fingindo ser uma menina de onze anos. Ele fechou seus olhos assim que se aproximou do local em que a porta da Sala Precisa estava escondida. Ele sabia o que tinha que fazer, ele se tornara perito nisso no último ano. Concentrou-se com toda a força e pensou, “Eu preciso ver o que Malfoy está fazendo aqui dentro... Eu preciso ver o que Malfoy está fazendo aqui dentro... Eu preciso ver o que Malfoy está fazendo aqui dentro...” Por três vezes ele passou pela porta, então com o coração aos pulos de emoção, ele abriu os olhos e olhou para o local da porta, mas ele continuava a ver uma parede prosaicamente vazia. Ele avançou e experimentou dar um empurrão. A rocha permaneceu sólida e imóvel. – Ok, Harry disse alto. – Ok...eu pensei a coisa errada... – Ele pensou por um momento e começou novamente, olhos fechados, concentrando-se o mais forte possível... “Eu quero ver o local onde Malfoy está indo secretamente...Eu quero ver o local onde Malfoy está indo secretamente...Eu quero ver o local onde Malfoy está indo secretamente...” Após três passagens, ele abriu os olhos esperançosamente. Não havia nenhuma porta. – Ah, qual é – ele reclamou para a parede irritado. – As instruções foram bem claras. Está bom, então. – Ele pensou forte por vários minutos antes de tentar de novo. “Eu preciso que você se torne o local que se torna para Draco Malfoy...” Ele não abriu os olhos de imediato, quando terminou suas voltas ao redor, estava de ouvidos atentos, como se fosse escutar um barulho da porta revelando sua existência. No entanto, exceto pelo chilrear distante dos pássaros do lado de fora, ele não ouviu nada. Abriu os olhos. Ainda não havia nenhuma porta. Harry praguejou. Alguém gritou. Ele olhou ao redor e viu uma turma de primeiranistas correndo contornando o canto, aparentemente com a impressão de ter encontrado um fantasma especialmente desbocado. 221 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Harry tentou todas as variações de “Eu preciso ver o que Draco Malfoy está fazendo aí dentro” que ele pôde pensar durante toda uma hora, ao fim da qual ele teve que dar o braço a torcer para Hermione e reconhecer que ela tinha razão: a sala simplesmente não quis abrir para ele. Frustrado e chateado, ele desceu para a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, retirando sua Capa da Invisibilidade e guardando-a em sua mochila, enquanto caminhava. – Atrasado de novo, Potter, – Snape disse friamente, assim que Harry correu para a sala de aula iluminada por velas. – Menos dez pontos para Grifinória. – Harry fechou a cara para Snape enquanto se jogava no assento ao lado de Rony. Metade da classe ainda estava de pé, retirando seus livros e organizando seu material. Ele não estava mais atrasado do que ninguém. – Antes de começarmos, quero as redações sobre dementadores, – disse Snape, movendo sua varinha descuidadamente, de modo que vinte e cinco pergaminhos flutuaram pelo ar e foram parar em uma pilha perfeita na sua mesa. – E espero que para o bem de vocês que estejam melhor que o lixo que tive que aturar sobre resistir à Maldição Império. Agora se abrirem o livro na página... o que deseja senhor Finnigan? – Senhor – começou Simas -, estava pensando em como se diferencia um Inferius de um fantasma? Porque havia algo escrito nos jornais sobre um Inferius... – Não, não havia, – disse Snape entediado. – Mas, senhor, eu ouvi pessoas comentando... – Se você realmente leu o artigo em questão, Sr. Finnigan, você saberia que o assim-chamado Inferius era nada além de um ladrãozinho fedorento com o nome de Mundungo Fletcher. – Eu pensei que Snape e Mundungo estavam do mesmo lado – cochichou Harry para Rony e Hermione. – Ele não deveria ficar chateado pelo Mundungo ter sido preso...? – Mas parece que Potter tem muito a dizer sobre o assunto,– disse Snape apontando repentinamente para o fundo da sala com seus olhos negros fixados em Harry. – Vamos perguntar a Potter se ele pode nos dizer a diferença entre um Inferius e um fantasma. Toda a classe virou-se para Harry, que rapidamente tentou lembrar o que Dumbledore havia dito aquela noite que visitaram Slughorn. – Er... bem... fantasmas são transparentes, – ele declarou. – Ah, muito bem, – interrompeu Snape, com seus lábios crispando. – Sim, é fácil perceber que os quase seis anos de ensino mágico não foram desperdiçados por você Potter...”Fantasmas são transparentes” . Pansy Parkinson soltou um risinho agudo. Outros alunos sorriram sarcasticamente. Harry respirou fundo e continuou calmamente, embora por dentro estivesse fervendo. – Sim, fantasmas são transparentes, mas Inferi são corpos mortos, não são? Então eles são sólidos.. – Uma criança de cinco anos poderia nos ter dito isso, – desdenhou Snape. – O Inferius é um cadáver que foi reanimado pela magia de um bruxo das trevas. Não está vivo, ele é meramente usado como uma marionete para cumprir as ordens do bruxo. Um fantasma, e eu tenho certeza que vocês já sabem, é apenas a impressão de uma alma que se foi deixada na terra, e é claro, como Potter tão sabiamente nos informou, transparente. – Bem, o que Harry disse é o mais útil, se quisermos diferenciar os dois! – disse Rony. – Se estivermos frente a frente com um num beco escuro, só precisamos olhar para ver se é sólido, não é? Não vamos perguntar “Desculpe, você é o reflexo de uma alma que se foi?”. Houve o início de uma gargalhada, logo interrompida pelo olhar que Snape dirigiu à classe. – Outros dez pontos a menos para Grifinória – disse Snape. – Eu não deveria esperar nada mais sofisticado de você, Ronald Weasley, o garoto tão sólido que não consegue aparatar um centímetro que seja dentro da mesma sala. – Não! – sussurrou Hermione, segurando o braço de Harry quando ele abriu a boca furioso. – Não faz sentido, você somente iria pegar outra detenção. Deixe pra lá! – Agora abram os livros na página duzentos e treze – Snape disse com um pequeno sorriso sarcástico – e leiam os primeiros dois parágrafos sobre a maldição Cruciatus. 222 Capítulo 21 – A sala inatingível Rony ficou cabisbaixo o restante da aula. Quando a sineta tocou ao final da classe, Lilá alcançou Rony e Harry (Hermione desapareceu misteriosamente quando a viu se aproximar) e ofendeu Snape vigorosamente pelo comentário sobre a aparatação de Rony, mas isto pareceu apenas irritar Rony ainda mais e ele se livrou dela fazendo um desvio para o banheiro masculino com Harry. – Mas o Snape está certo, não é? Rony falou, após ficar olhando para o espelho rachado por um minuto ou dois. – Não sei se vale à pena fazer o teste. Eu simplesmente não consigo pegar o jeito da aparatação. – Você deve fazer as aulas práticas extras em Hogsmeade e ver se elas te ajudam – Harry disse, sendo razoável. – De qualquer maneira, vai ser mais interessante que tentar aparatar dentro de um aro estúpido. Então, se você não estiver... você sabe... tão bom quanto gostaria, você pode adiar o teste e fazer comigo durante o ve... Murta! Este é o banheiro dos garotos! O fantasma de uma garota subiu pela privada em um reservado atrás deles e estava agora flutuando a meia altura, olhando-os através de seus óculos redondos, grossos e brancos. – Ah, são você dois – ela disse triste. – Quem você esperava? – Rony perguntou, olhando-a no espelho. – Ninguém – a Murta respondeu, coçando de má vontade seu queixo. – Ele disse que voltaria para me ver, mas você também disse que viria me visitar – ela endereçou um olhar reprovador a Harry. – E eu não o vi há meses e meses. Aprendi a não esperar muito dos garotos. – Eu achava que você morava naquele banheiro feminino. – disse Harry que havia tido o cuidado de evitar o lugar por algum tempo. – Eu moro – ela respondeu com um dar de ombros amuado -, mas isso não significa que eu não possa visitar outros lugares. Eu até já vi você tomar banho uma vez, lembra? – Nitidamente – Harry respondeu. – Mas eu pensava que ele gostava de mim – ela se lamentou. – Talvez se vocês dois saíssem, ele voltasse. Nós temos tanto em comum, tenho certeza que ele sentiu isso. E ela olhou esperançosa para a porta. – Quando você disse que vocês tem tanto em comum – disse Rony, parecendo divertido – Você queria dizer que ele vive em um sifão também? – Não – a Murta respondeu desafiante, sua voz ecoando alto pelos ladrilhos do antigo banheiro. – Eu quis dizer que ele é sensível, que as pessoas o maltratam também e ele se sente solitário e não tem ninguém com quem conversar, sendo que ele não tem medo de mostrar seus sentimentos e chorar! – Então um garoto vem aqui chorar? – perguntou Harry curioso. – Um menininho? – Esquece! – disse Murta, com seus pequenos olhos lacrimejantes fixos em Rony que agora estava definitivamente sorrindo. – Eu prometi que não iria dizer a ninguém e irei levar seu segredo para... – Não para o túmulo, com certeza? Rony afirmou com desdém. – Para os esgotos, talvez. – Murta deu um urro de raiva e mergulhou de volta na privada, fazendo a água pular e molhar os lados e o piso. Irritar Murta pareceu dar um novo ânimo a Rony. – Você está certo! – disse enquanto colocava a mochila nos ombros. Eu terei as aulas práticas em Hogsmeade antes de decidir se faço o teste. E assim, no fim de semana seguinte, Rony se juntou a Hermione e ao restante dos alunos do sexto ano que completariam dezessete anos a tempo de fazer o teste em quinze dias. Harry sentiu uma certa inveja olhando os colegas se aprontarem para ir à vila, ele sentia falta de ir até lá e estava fazendo um dia de primavera particularmente bonito, um dos primeiros dias de céu limpo após um longo tempo. Entretanto, decidiu usar este tempo para tentar outra invasão à Sala Precisa. – Você faria melhor – disse Hermione, quando Harry contou seu plano a ela e Rony, no Saguão de Entrada – indo direto ao escritório de Slughorn para tentar reaver a lembrança dele. – Eu estive tentando – Harry reclamou, mal-humorado, o que era inteiramente verdade. Ele se deixara ficar para trás um pouco mais após cada aula de poções daquela semana numa tentativa de encurralar Slughorn, mas o professor de Poções sempre deixava as masmorras tão rápido que Harry 223 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto não conseguira alcançá-lo. Duas vezes Harry foi ao seu escritório e bateu à porta, mas não teve resposta, apesar de que na segunda vez, tinha a certeza de ter ouvido um velho gramofone sendo rapidamente abafado. – Ele não quer falar comigo, Hermione! Ele sabe que estou tentando encontrá-lo sozinho, e ele não vai deixar acontecer! – Bem, você tem que continuar tentando, não é? A pequena fila de alunos esperando para passar por Filch, que estava fazendo seu teste usual com o Sensor de Segredos, moveu-se alguns passos e Harry não respondeu no caso de ter sido ouvido pelo zelador. Ele desejou boa sorte para Rony e Hermione, se virou e subiu as escadas de mármore novamente, determinado, a despeito do que Hermione disse, a dedicar uma hora ou duas à Sala Precisa. Uma vez fora das vista do saguão de entrada, Harry pegou o Mapa do Maroto e a Capa da Invisibilidade de sua mochila. Após ficar escondido, tocou o mapa e murmurou. – Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom! – E olhou-o com cuidado. Como era domingo de manhã, quase todos os estudantes estavam dentro de seus salões comunais, os grifinórios em uma torre, os corvinais em outra, os sonserinos nas masmorras e os lufalufas no térreo próximo à cozinha. Aqui e ali uma e outra pessoa vagueava próximo à biblioteca ou em um corredor. Havia alguns poucos do lado de fora, na propriedade, e sozinho no corredor do sétimo andar estava Gregório Goyle. Não havia sinal da Sala Precisa, mas Harry não se preocupava com isso, se Goyle estava de guarda do lado de fora, então a sala estava aberta, o mapa mostrando ou não. Portanto, ele subiu as escadas correndo, diminuindo antes de dobrar a esquina para o corredor, quando começou a andar pé ante pé, bem devagar, em direção à mesma garotinha, segurando pesada balança de bronze, aquela que Hermione gentilmente havia ajudado, quinze dias atrás. Ele esperou até estar bem próximo dela, se dobrou bem baixo e sussurrou: – Oi, você é lindinha, não é mesmo? Goyle deu um grito agudo de terror, jogou a balança para o alto e saiu em disparada, desaparecendo de vista antes do som da balança quebrando no chão ter parado de ecoar pelo corredor. Rindo, Harry virou-se para contemplar a parede vazia atrás da qual, ele tinha certeza, Draco Malfoy estava agora congelado de pavor, consciente de que alguém indesejado estava lá fora, mas não tendo a ousadia para se revelar. Isto deu a Harry um sentimento agradável de poder, enquanto tentava lembrar as combinações de palavras que ele ainda não tentara. Mas este sentimento de esperança não durou muito. Meia hora depois, após ter tentado diversas variações do seu pedido para ver o que Malfoy estava fazendo, a parede estava tão sem porta como sempre. A frustração tomou conta de Harry, Malfoy devia estar a meio metro dele e ainda assim não havia a menor evidência do que ele estava fazendo lá dentro. Perdendo completamente a paciência, Harry correu para a parede e lhe deu um chute. “AI!” Ele pensou que devia ter quebrado o dedão; e assim que o segurou pulando em um só pé, a Capa da Invisibilidade escorregou... – Harry? Ele girou em um só pé e caiu no chão. Ali, para seu espanto, estava Tonks, andando em sua direção como se sempre passasse por aquele corredor. – O que você está fazendo aqui? – ele perguntou, se esforçando para ficar de pé novamente; por que ela sempre o achava caído no chão? – Vim ver Dumbledore – Tonks respondeu. Harry pensou que ela estava com uma péssima aparência, mais magra que o normal, seu cabelo acinzentado escorrido. – A sala dele não é aqui, – disse Harry. – Fica do outro lado do castelo atrás da gárgula... – Eu sei – Tonks disse. – Ele não está lá. Aparentemente saiu novamente. – Saiu? – perguntou Harry colocando devagar o pé machucado de volta ao chão. – Ei, imagino que você não saiba onde ele vai, não é? – Não – Tonks respondeu. 224 Capítulo 21 – A sala inatingível – Por que você quer ver Dumbledore? – Nada em particular – Tonks desconversou, tocando distraída a manga de sua veste. – Eu só pensei que ele poderia saber o que está acontecendo. Ouvi rumores de pessoas sendo machucadas. – Sim, eu sei, está tudo nos jornais, – disse Harry. – Aquela criança tentando matar seus... – O Profeta está quase sempre atrasado – observou Tonks, que pareceia não o estar escutando. – Você não tem recebido cartas de ninguém da Ordem recentemente? – Ninguém da Ordem me escreve mais – Harry respondeu -, não desde que Sirius... – Ele viu que os olhos dela se encheram de lágrimas. – Sinto muito, – ele murmurou desajeitado. – Quero dizer...eu sinto falta dele também. – O quê? – Tonks perguntou meio aérea, como se ela não o tivesse ouvido bem. – Vejo você por aí, Harry. E ela se virou abruptamente e voltou pelo corredor, deixando Harry olhando atrás dela. Após um ou dois minutos, ele vestiu novamente a Capa da Invisibilidade e reiniciou os esforços para entrar na Sala Precisa, mas não conseguiu se concentrar. Finalmente, com um buraco no estômago e sabendo que Rony e Hermione logo estariam de volta para o almoço, Harry abandonou a tentativa e deixou o corredor para Malfoy, que ele esperava que ficasse com medo de sair pelas próximas horas. Ele encontrou Rony e Hermione no Salão Principal a meio caminho de um almoço antecipado. – Consegui!... bem, mais ou menos – Rony contou entusiasmado para Harry quando o viu. – Eu deveria aparatar do lado de fora da Loja de Chá da Madame Puddifoot e eu errei por um pouquinho, parando perto da Escriba Penas Especiais, mas ao menos consegui me mover! – Boa, Rony – disse Harry. – E você, como foi, Hermione? – Oh, ela foi perfeita, é óbvio, – disse Rony, antes que Hermione pudesse responder. – Perfeita deliberação, ‘divinhação e desespero ou o que diabos seja. Depois nós fomos para uma bebida rápida no Três Vassouras e você deveria ouvir o que Twycross estava falando dela. Ficarei surpreso se ele não trouxer logo à baila a questão... – E quanto a você? – perguntou Hermione, ignorando Rony. – Ficou este tempo todo tentando entrar na Sala Precisa? – Sim – disse Harry. – E advinha quem passou correndo por lá? Tonks! – Tonks? – repetiram Rony e Hermione juntos, parecendo surpresos. – Sim, ela disse que tinha vindo visitar Dumbledore. – Se você quer saber – disse Rony assim que Harry terminou de descrever sua conversa com Tonks, – Ela tá meio doidinha. Perdeu o espírito depois do que aconteceu no Ministério. – Isso é meio estranho, – disse Hermione que por alguma razão parecia bem preocupada. – Ela deveria estar guardando a escola, por que subitamente abandonaria seu posto para vir ver Dumbledore quando ele nem está lá? – Eu andei pensando – Harry disse experimentalmente. Ele estava se sentindo estranho em colocar isso em palavras, pois era mais o território da Hermione do que dele. – Vocês não acham que ela podia estar... vocês sabem... apaixonada por Sirius? Hermione estava encarando-o. – O que te faz você pensar isso? – Não sei – disse Harry dando de ombros.– mas ela estava quase chorando quando mencionei o nome dele e seu Patrono agora é uma coisa grande de quatro patas. Imagino se não se transformou ... vocês sabem... nele. – É uma possibilidade – disse Hermione devagar. – Mas ainda não sei por que ela teria entrado no castelo atrás de Dumbledore, se essa é realmente a razão dela estar aqui. – Combina com o que eu disse, não é? – Rony disse enfiando purê de batatas na boca. – Ela ficou meio esquisita. Perdeu a resistência. Mulheres – ele disse sabiamente para Harry – elas se abalam facilmente. – E ainda assim, – disse Hermione, saindo de seus devaneios -, eu duvido que você ache uma mulher que fique emburrada por meia hora porque Madame Rosmerta não riu de sua piada sobre a bruxa velha, o curandeiro e a Mimbulus Mimbletonia. Rony fechou a cara... 225 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – CAPITULO 22 – Depois do Enterro Pedaços de um céu azul começavam a aparecer sobre as torres do castelo, mas esses sinais da chegada do verão não melhoraram o astral de Harry. Ele não estava conseguindo nada, nem nas suas tentativas de descobrir o que Malfoy estava tramando, nem em iniciar uma conversa com Slughorn, que pudesse levá-lo a revelar a lembrança que ele aparentemente reprimira por décadas. – Pela ultima vez, simplesmente esquece o Malfoy! – Hermione disse rispidamente a Harry. Eles estavam sentados com Rony num canto ensolarado do pátio após o almoço. Hermione e Rony estavam segurando um folheto do Ministério da Magia: Erros Comuns em Aparatação e Como Evitá-los, já que eles iriam fazer seus testes de aparatação naquela tarde, mas aquilo não estava ajudando em nada a acalmá-los. De súbito, Rony tentou se esconder atrás de Hermione quando uma garota saiu do corredor na direção deles. – Não é a Lilá – disse Hermione, entediada. – Ah, tá... – Disse Rony, relaxando. – Harry Potter? – Disse a garota. – Me pediram para te entregar isso. – Obrigado... O coração de Harry encolheu, enquanto ele pegava o pequeno pergaminho enrolado. Assim que a garota estava fora de alcance, ele comentou – Dumbledore disse que nós não teríamos mais aulas extras até que eu conseguisse a lembrança! – Talvez ele queira saber como está o seu progresso – sugeriu Hermione, enquanto Harry desenrolava o pergaminho. Mas ao invés da letra longa, estreita e inclinada de Dumbledore, ele viu uma letra esparramada e embaralhada, bem difícil de decifrar devido à presença de grandes manchas onde a pena havia escrito. Caros Harry, Rony e Hermione, Aragogue morreu ontem à noite. Harry e Rony, vocês o conheceram, e sabem como ele era especial. Hermione, eu sei que você teria gostado dele. Significaria muito para mim se vocês pudessem dar uma passadinha no enterro dele mais tarde. Eu estou planejando fazê-lo por volta do anoitecer, pois era a hora favorita do dia para ele. Eu sei que vocês não deveriam esta fora do castelo tão tarde, mas vocês podem usar a capa. Não deveria pedir, mas não posso enfrentar isso sozinho. Hagrid – Olha isso – disse Harry, passando o recado para Hermione. 226 Capítulo 22 – Depois do enterro – Ah, faça– me o favor... – ela comentou, passando os olhos rapidamente, e passando o bilhete para Rony, que o leu inteiro, parecendo cada vez mais incrédulo. – Ele é demente! – exclamou furioso. – Aquela coisa disse para os seus coleguinhas nos comerem! Disse para eles se servirem! E agora Hagrid espera que a gente vá até lá e chore por aquele corpo peludo horroroso! – Não é só isso – observou Hermione. – Ele está pedindo para a gente sair do castelo à noite, e ele sabe que a segurança esta muito mais reforçada, e quão ferrados nós vamos estar se nos pegarem! – Nós já fomos lá para vê-lo à noite antes – Harry comentou. – Sim, mas por algo assim? – perguntou Hermione – Nós já nos arriscamos várias vezes para ajudar Hagrid, mas afinal, Aragogue está morto. Se fosse uma questão de salvá– lo... – Aí é que eu não ia mesmo! – Rony a interrompeu com firmeza. – Você não o conheceu, Hermione. Acredite, estar morto melhorou-o muito. Harry pegou o bilhete de volta, e ficou observando os grandes borrões por todo lado. Certamente, as lágrimas tinham caído rápidas e grandes sobre o pergaminho. – Harry, você não pode estar pensando em ir até lá – Hermione disse. – Não tem sentido você tomar uma detenção por isso. – Eu sei – Harry suspirou. – Acho que Hagrid vai ter que enterrar Aragogue sem a gente. – É, vai – Hermione concordou, parecendo aliviada. – Olha, a aula de poções vai estar bem vazia hoje, com tantos de nós fazendo os testes... Você pode tentar amolecer um pouco o Slughorn! – – Na qüinquagésima sétima vez, talvez eu tenha sorte, não é? – perguntou Harry entredentes. – Sorte... – Rony disse, de repente. – Harry, é isso – seja sortudo! – O que você quer dizer? – Use a sua poção da sorte! – Rony, é...é isso! – Hermione disse, parecendo aturdida. – Claro! Por que eu não pensei nisso antes? Harry ficou olhando fixamente para os dois. – Felix Felicis? – ele murmurou. – Eu estava guardando para outra coisa... – Pra que? – Rony quis saber, incrédulo. – O que raios pode ser mais importante do que essa lembrança, Harry? Harry não respondeu. O pensamento naquela garrafa dourada o fez flutuar aos confins da sua imaginação por algum tempo; planos vagos e incompletos envolvendo Gina e Dino terminando o namoro, e Rony de alguma forma feliz vendo ela com um novo namorado estavam fermentando nas profundezas do seu cérebro, desconhecidas exceto durante sonhos ou naqueles momentos entre o sono e a vigília... – Harry? Você ainda está aqui conosco? – perguntou Hermione. – Hã... Ah, sim, claro... ele respondeu, voltando a si – Hum... Está certo. Se eu não conseguir fazer o Slughorn falar esta tarde, vou tomar um pouco da poção, e tentar novamente hoje à noite. – Então está decidido – encerrou Hermione, levantando-se e fazendo uma graciosa pirueta. – Destinação... Determinação... Deliberação – ela sussurrou. – Ah, pára com isso – Rony suplicou – Eu já estou ficando enjoado com... Rápido, me esconde! – – Não é a Lilá. Hermione disse impaciente, enquanto mais um par de garotas aparecia no pátio, e Rony pulava para trás dela. – Beleza... – respondeu Rony, espiando por trás do ombro de Hermione, por garantia. – Poxa, elas não parecem alegres, não é? – Elas são as irmãs Montgomery, e é claro que não estão felizes. Você não soube o que aconteceu com o irmão menor delas? – Sinceramente, já não consigo me lembrar do que tem acontecido com os parentes de todo mundo. – Ele comentou. 227 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Bem, o irmão delas foi atacado por um lobisomem. O boato é que a mãe delas se recusou a ajudar os comensais. De qualquer forma, o garoto só tinha cinco anos, e morreu no St. Mungus, não conseguiram salvá-lo. – Ele morreu? – repetiu Harry, chocado. – Mas lobisomens normalmente não matam, eles só te transformam em mais um deles? – Eles matam, de vez em quando – respondeu Rony, muito sério agora. – Eu já ouvi falar disso acontecer quando o lobisomem se deixa levar. – Qual era o nome do lobisomem? – Harry perguntou rapidamente. – O boato é que foi o tal de Fenrir Greyback – respondeu Hermione. – Eu sabia, o maníaco que gosta de atacar crianças, aquele que o Lupin comentou comigo! – Harry disse com raiva. Hermione o olhou desolada. – Harry, você tem que conseguir aquela lembrança! – ela disse. – Não é para parar o Voldemort? Essas coisas horríveis estão acontecendo por culpa dele... A sineta ressoou no castelo, e Hermione e Rony se colocaram de pé, parecendo aterrorizados. – Vai dar tudo certo! – Harry disse aos dois, enquanto eles já se dirigiam para o saguão de entrada, para se juntar aos outros que fariam o teste de Aparatação. – Boa sorte! – Para você também! – Disse Hermione, com um olhar significativo, enquanto Harry se dirigia para as masmorras. Só havia três alunos na aula de Poções naquela tarde: Harry, Ernesto e Draco Malfoy. – Ainda muito jovens para aparatar? – disse Slughorn cordialmente. – Ainda não fizeram dezessete? Os três balançaram a cabeça, negativamente. – Muito bem – continuou Slughorn, animado. – Como há tão poucos de nós aqui, vamos fazer algo interessante. Quero que vocês me preparem algo divertido. – Isso parece legal, senhor. – Ernie disse, bajulador, esfregando as mãos excitado. Malfoy, por outro lado, sequer deu um sorriso. – O que o senhor quer dizer com “algo divertido”? – perguntou irritado. – Ah, me surpreenda – respondeu Slughorn, afetado. Malfoy abriu a sua cópia de Preparo de Poções – Nível Avançado com uma expressão carrancuda. Não era possível deixar mais claro que ele pensava que aquela aula era uma perda de tempo. Sem duvida, Harry pensou, olhando-o por cima de seu livro, ele podia fazer muito melhor uso daquele tempo na Sala Precisa. Era impressão dele, ou Malfoy, assim como Tonks, estava parecendo mais magro? Certamente estava mais pálido, sua pele estava com um tom acinzentado, provavelmente por tão raramente ele ver a luz do sol nesses últimos dias. Mas não havia aquele ar presunçoso, de excitação, ou de superioridade, nem um pouco daquela arrogância que ele mostrou no Expresso de Hogwarts, quando se gabou abertamente da missão ordenada por Voldemort... Só se poderia chegar a uma conclusão, na opinião de Harry: a missão, fosse ela qual fosse, estava indo de mal a pior. Animado por esse pensamento, Harry abriu a sua copia de Preparo de Poções – Nível Avançado e achou uma versão do Príncipe Mestiço, altamente corrigida, de um Elixir para Induzir Euforia, que parecia não só estar dentro das instruções de Slughorn, mas também podia levar (e o coração de Harry disparou quando ele pensou nisso) Slughorn a um bom humor tamanho, que poderia levá-lo a dispor da memória, se Harry conseguisse fazê-lo provar um pouco da poção... – Bem, isso aqui parece realmente fabuloso! – Exclamou Slughorn, batendo palmas depois de uma hora e meia, enquanto olhava para a poção amarela, brilhante como o sol, que estava no caldeirão de Harry. – Euforia, não é? E o que é esse aroma... Humm... Você adicionou um pouco de hortelã, não foi? Não é ortodoxo, mas que inspiração, Harry. É claro, isso tende a contrabalançar efeitos colaterais como cantoria excessiva e nariz torcido... Eu realmente não sei onde você conseguiu essas idéias, meu rapaz... A não ser... 228 Capítulo 22 – Depois do enterro Harry empurrou o livro do Príncipe Mestiço para o fundo de sua mochila com o pé. – ... São os genes da sua mãe aflorando em você! – Er... Talvez seja isso... – Harry respondeu, aliviado. Ernie estava parecendo ranzinza; determinado a superar Harry pelo menos uma vez, ele praticamente inventara uma nova poção, que embolotou, e formou um tipo de bolo roxo no fundo do seu caldeirão. Malfoy já estava guardando suas coisas, com uma cara azeda; Slughorn disse que sua Solução para fazer Soluçar estava “passável”. A sineta tocou, e tanto Ernie como Malfoy saíram rapidamente. – Senhor... – Harry começou a falar, Mas Slughorn imediatamente olhou a sua volta; quando ele viu que apenas ele e Harry estavam na sala, ele se apressou o mais rápido possível. – Professor... Professor, o senhor não quer provar a minha po... – Harry o chamava desesperadamente. Mas Slughorn já tinha ido. Desapontado, Harry esvaziou o caldeirão, guardou suas coisas, e saiu da masmorra, andando devagar de volta a sala comunal. Rony e Hermione voltaram no final da tarde. – Harry! – Hermione gritava, enquanto entrava pelo buraco do retrato. – Harry, eu passei! – Que legal! – Ele disse. – E Rony? – Ele... Ele não conseguiu. – Hermione sussurrou, enquanto Rony se arrastava para dentro, parecendo anestesiado. – Foi muita falta de sorte, uma coisinha de nada, o examinador viu que ele deixou metade de uma sobrancelha para trás... Como foi com o Slughorn? – Não fui feliz. – Respondeu Harry, enquanto Rony se juntava a eles. – Que falta de sorte cara, mas você vai passar da próxima vez, nós podemos fazer os exames juntos. – É... Eu acho que sim... – Rony respondeu, ranzinza. – Mas metade de uma sobrancelha! Como se isso importasse! – Eu sei. – Hermione tentou consolá-lo. – Isso realmente pareceu muito severo... Eles passaram a maior parte do jantar falando mal do examinador de Aparatação, e Rony parecia um pouquinho mais animado na hora em que eles voltavam para a sala comunal, agora discutindo o problema pendente sobre Slughorn e a lembrança. – E então Harry, vai usar a Felix Felicis ou não? – Rony perguntou incisivamente. – Sim, eu acho melhor usar. – Respondeu Harry. – Mas com certeza eu não preciso tomá-la toda, não vale a pena usar todas as doze horas, isso não pode levar a noite toda... Eu vou tomar só um gole. Duas ou três horas devem ser o suficiente. – É uma sensação muito boa quando você toma a poção... – Lembrou Rony. – É como se nada pudesse dar errado. – Do que você esta falando? – Hermione perguntou, rindo. – Você nunca a tomou! – Sim, mas eu pensei que tinha tomado, lembra? – Rony devolveu, como se estivesse explicando o óbvio. – Realmente, grande diferença... Como eles tinham acabado de ver Slughorn entrar no Salão Principal, e sabiam que ele gostava de se demorar bastante nas refeições, eles enrolaram um pouco na sala comunal, sendo que o plano era que Harry deveria ir até a sala de Slughorn somente quando o professor já tivesse retornado para lá. Quando o sol já estava baixo, no nível do topo das árvores da Floresta Proibida, eles decidiram que havia chegado a hora, e após checar cuidadosamente que Neville, Dino e Simas estavam todos na sala comunal, eles escapuliram para o dormitório dos meninos. Harry tirou um bolo de meias do fundo do seu malão, e de lá saiu a pequena garrafa brilhante. – Bom, lá vamos nós. – Harry disse, levantou a garrafinha, e tomou um gole calculado cuidadosamente. – Como é que é? – Hermione perguntou baixinho. Harry não respondeu a principio. Então, lenta, mas decididamente, um transbordante senso de oportunidades infinitas correu através dele; ele sentiu que era capaz de fazer qualquer coisa, qualquer 229 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto coisa mesmo... E, de repente, conseguir a lembrança de Slughorn parecia não só possível, mas definitivamente fácil. Ele se levantou sorrindo, cheio de confiança. – Excelente. – Ele disse. – Muito bem mesmo. Certo... Vou até lá embaixo, até a cabana de Hagrid. – O quê? – Rony e Hermione falaram ao mesmo tempo, angustiados. – Não, Harry! Você tem que sair e ir falar com Slughorn, lembra? – Continuou Hermione. – Não. – Harry respondeu, confiante. – Eu vou até a cabana do Hagrid, eu estou com uma sensação legal em ir até lá. – Você esta tendo uma sensação legal em enterrar uma aranha gigante? – Rony perguntou, atordoado. – É isso ai. – Respondeu Harry, puxando a sua capa da Invisibilidade da mochila. – Eu estou achando que é o lugar a se estar hoje, entendem o que eu quero dizer? – Não! – Os dois responderam juntos, agora completamente alarmados. – Essa é a Felix Felicis mesmo? – Perguntou Hermione, ansiosa, segurando a garrafinha na luz. – Você não pegou uma outra garrafa cheia de, sei lá o quê... – Essência de Insanidade? – Sugeriu Rony, enquanto Harry jogou a Capa sobre seus ombros. Harry riu, e Rony e Hermione ficaram ainda mais alarmados. – Confiem em mim. – Ele disse. – Eu sei o que eu estou fazendo... Ou, pelo menos... – Ele foi confiante ate a porta. -...Felix sabe! Ele puxou a capa sobre a sua cabeça, e se encaminhou para as escadas, com Rony e Hermione se apressando atrás dele. No final da escada, Harry passou pela porta aberta. – O que você estava fazendo lá em cima com ela? – Gritou Lilá Brown, olhando diretamente através de Harry para Hermione e Rony saindo juntos do dormitório dos rapazes. Harry ainda ouviu Rony falar atabalhoadamente atrás dele, enquanto ele corria pela sala para longe deles. Passar pelo retrato foi fácil; enquanto ele se aproximava, Gina e Dino estavam entrando, e Harry conseguiu passar entre eles. Quando ele passou, ele acidentalmente encostou-se em Gina. – Não me empurra, Dino. Ela disse, com irritação. – Você está sempre fazendo isso, eu posso perfeitamente passar por aqui sem ajuda... O retrato se fechou atrás de Harry, mas não antes de escutar uma resposta rude de Dino. Com um sentimento de otimismo crescente, Harry saiu correndo pelo castelo. Ele não tinha que se assustar, já que ele não encontrou ninguém pelo seu caminho, mas isso não o preocupava nem um pouco: nesta noite, ele era a pessoa mais sortuda de Hogwarts. Ele não tinha a menor idéia de porque a melhor coisa a se fazer era ir até a cabana de Hagrid. Era como se a poção estivesse mostrando um pedaço do caminho de cada vez: ele não podia ver o final da viagem, ele não podia ver onde Slughorn se encaixava, mas ele sabia que estava no caminho certo para conseguir a lembrança. Quando ele chegou ate o Salão Principal, ele viu que Filch se esquecera de trancar a porta da frente. Rapidamente, Harry a abriu, e sentiu o aroma de ar puro e grama por um momento antes de descer as escadas na direção da escuridão. Quando ele chegou no final da escada, ocorreu a ele que seria muito agradável passar pela horta no caminho para a cabana. Não era realmente no caminho, mas pareceu claro para Harry que era como ele deveria fazer, então ele se dirigiu para a horta, onde, para sua alegria, embora não estivesse surpreso com isso, ele encontrou o Professor Slughorn conversando com a Professora Sprout. Harry se esgueirou por trás de uma pequena parede de pedras, se sentindo em paz com o mundo, e para escutar a conversa deles. – ... Eu é que agradeço pelo tempinho, Pomona. – Slughorn agradeceu, com cortesia. – A maior parte das autoridades desse assunto concordam que elas são mais eficazes quando colhidas à luz do crepúsculo. – Ah, eu também concordo. – Sprout respondeu, calorosamente. – Isso é suficiente para você? 230 Capítulo 22 – Depois do enterro – Sim, sim... – Slughorn respondeu, e Harry viu que ele estava carregando uma braçada de plantas cheias de folhas. – Isso deve ser suficiente para dividir algumas folhas para os meus alunos do terceiro ano, e deixar algumas a disposição para o caso de alguém estragar as próprias. Bem, boa noite para você, e muito obrigado de novo! A Professora Sprout se dirigiu na direção, cada vez mais escura, das estufas, enquanto Slughorn vinha na direção de onde Harry estava, invisível. Tomado por uma vontade de se revelar, Harry tirou a Capa da Invisibilidade, com um floreio. – Boa noite, Professor. – Pelas barbas de Merlin, Harry, você me assustou! – Slughorn disse, parecendo assustado e preocupado, parado no meio do caminho. – Como você conseguiu sair do castelo? – Eu acho que Filch deve ter se esquecido de trancá-lo. – Harry respondeu, candidamente, se deliciando em ver Slughorn desconfortável. – Eu vou chamar a atenção dele, ele tem estado mais preocupado com o lixo do que propriamente com a segurança, se você me entende... Mas o que você esta fazendo aqui, Harry? – Bem, senhor, é o Hagrid. – Respondeu Harry, que sabia que a coisa certa a fazer naquele momento era contar a verdade. – Ele está muito chateado... Mas por favor, o senhor poderia não contar a ninguém? Eu não quero criar problemas para ele... A curiosidade de Slughorn estava se tornando visível. – Eu não posso prometer nada. – Ele considerou, sombriamente. – Mas eu sei que Dumbledore confia muito em Hagrid, logo tenho certeza que ele não pode estar fazendo nada muito assustador... – Bem, é a aranha gigante dele, ele a criou por muitos anos... Ela vivia na Floresta... Podia falar e tudo mais... – Eu ouvi rumores que haviam Acromântulas na Floresta Proibida. – Disse Slughorn baixinho, olhando vagamente para a parede de arvores escuras. – Então é verdade? – Sim. – Respondeu Harry. – Mas essa em especial, Aragogue, a primeira que Hagrid conseguiu, morreu ontem à noite. Ele está devastado. E ele quer companhia enquanto a enterra, e eu disse que iria até lá. – Tocante, tocante... – Slughorn disse, divagando, e olhando com seus olhos cansados para as luzes da cabana de Hagrid. – Mas o veneno da Acromântula é muito valioso... Se ela tiver morrido há pouco tempo, talvez ele ainda não tenha secado. É claro, eu não faria algo tão insensível com Hagrid tão chateado... Mas se tivesse alguma maneira de se conseguir um pouco... Eu quero dizer, é quase impossível de se conseguir um pouco de veneno de uma Acromântula enquanto ela está viva... Slughorn parecia estar falando mais para si do que com Harry. – ...Seria um desperdício não pegar um pouco... Dá para conseguir 100 galeões por dose... Para ser franco, meu salário não é tão bom assim... E aí Harry viu claramente o que deveria ser feito. – Bem... – Ele sugeriu, com convincente hesitação. – Se o senhor quiser vir comigo, Professor, eu acho que Hagrid ficaria realmente agradecido. Se despedir de uma maneira melhor de Aragogue, o senhor entende... – Sim, claro. – Slughorn concordou, com seus olhos brilhando com o entusiasmo. – Vou te dizer Harry, eu vou encontrar você lá embaixo com uma garrafa, ou duas... Vamos beber à memória da pobre fera, bem, não à saúde dela, mas vamos nos despedir dela com estilo, claro, depois de enterrá-la. E eu vou trocar a minha gravata, essa aqui esta muito exuberante para a ocasião... Ele disparou de volta para o castelo, e Harry foi para a cabana de Hagrid, satisfeito consigo mesmo. – Você veio. – Hagrid disse, choroso, quando ele abriu a porta, e viu Harry saindo debaixo da capa na sua frente. – Sim. Porém Rony e Hermione não puderam vir. – Harry disse. – Eles sentem muito. – Não... não importa... Ele ficaria tocado por você ter vindo aqui, Harry... 231 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Hagrid deu um grande soluço. Ele estava usando uma faixa de luto feita por ele mesmo, feita de algo parecido com um trapo besuntado de graxa para botas, e seus olhos estavam vermelhos, inchados e cheios de lagrimas. Harry, tentando consolá-lo, deu tapinhas no cotovelo, que era o ponto mais alto de Hagrid onde ele poderia alcançar. – Onde vamos enterrá-lo? – Ele perguntou. – Na Floresta? – Caramba, não! – Hagrid respondeu, enxugando os seus olhos lacrimejantes com a sua blusa. – As outras aranhas não me deixam mais chegar perto das suas teias, agora que Aragogue se foi. Descobri que era por ordens dele que eles não me comiam! Você acredita nisso, Harry? A resposta honesta era sim. Harry lembrou-se, dolorosamente, do cenário quando ele e Rony estiveram face a face com a Acromântula; estava claro para eles que Aragogue era a única coisa que impedia as aranhas de comer Hagrid. – Nunca houve um lugar da Floresta onde eu não pudesse ir antes! – Hagrid continuou, balançando a sua cabeça. – Não foi fácil tirar o corpo de Aragogue de lá, isso eu posso garantir, eles costumam comer os próprios mortos, entende... Mas eu gostaria de lhe dar um enterro decente... Uma despedida apropriada... Ele começou a soluçar e a chorar novamente, e Harry recomeçou a dar tapinhas no cotovelo dele, dizendo o que tinha acontecido, já que era o que a poção indicava que era a coisa certa a se fazer. – O Professor Slughorn me encontrou a caminho daqui. – Não está com problemas, está? – Hagrid disse, olhando alarmado. – Você não deveria estar fora do castelo à noite, eu sei, a culpa é minha... – Não, não, quando ele ouviu o que eu estava fazendo ele disse que gostaria de vir, e prestar uma última homenagem a Aragogue também. – Harry disse. – Ele foi vestir algo mais apropriado, eu acho... E ele disse que ia trazer algumas bebidas, para que a gente possa beber em memória de Aragogue. – Ele disse isso? – Hagrid disse, parecendo espantado e tocado. – Isso... Isso é muito legal da parte dele, não estou desdenhando de você, mas é que eu nunca tive muito contato com Horace Slughorn antes... Então ele vai vir ver o velho Aragogue, né? Poxa... Ele teria gostado disso, Aragogue realmente teria gostado... Harry pensou para si próprio que o que Aragogue realmente teria gostado em Slughorn era a enorme quantidade de carne macia que ele proveria, mas ele simplesmente se moveu para a janela de trás da cabana de Hagrid, onde ele teve a horrível visão da enorme aranha morta, jogada do lado de fora, com suas pernas encurvadas e emboladas. – Nós vamos enterrá-lo aqui no seu jardim, Hagrid? – Eu pensei em enterrá-lo logo depois do canteiro de abóboras. Hagrid respondeu, com a voz engasgada. – Eu já cavei o.. você entende... o túmulo. Estava pensando em falar algumas coisas legais sobre ele... Lembranças felizes, você sabe.. Sua voz murchou e parou. Houve uma batida na porta, e ele foi atender, assoando o nariz no seu gigantesco lenço manchado. Slughorn entrou porta adentro, carregando varias garrafas em seus braços, e vestindo uma sóbria túnica preta. – Hagrid. – Disse ele com uma voz grave e profunda. – Eu sinto muito pela sua perda. – É muito legal de sua parte. – Hagrid respondeu. – Muito obrigado. E obrigado por não ter dado uma detenção para o Harry também... – Eu não teria sonhado em fazer isso. – Slughorn respondeu. – Que noite triste... Que noite triste... Onde está a pobre criatura? – – Aqui fora. – Hagrid disse, com a voz já tremula. – Vamos... Vamos fazer isso então? Os três então foram para os fundos. A lua brilhava palidamente através das árvores, e o luar se misturava à luz que saía da janela da cabana Hagrid iluminando o corpo de Aragogue , que jazia na borda de um grande buraco, perto de um monte com mais de dois metros de altura, feito de terra recém-escavada. 232 Capítulo 22 – Depois do enterro – Magnífico. – Disse Slughorn, se aproximando da cabeça da aranha, onde oito olhos, de aparência leitosa, olhavam sem foco para o céu, e duas grandes pinças curvadas brilhavam, sem movimento, a luz do luar. Harry pensou ter ouvido o tilintar de garrafas, enquanto Slughorn se curvou próximo das pinças, aparentemente examinando a enorme cabeça peluda. – Não é todo mundo que sabe apreciar quão bonitos eles são. Hagrid disse atrás de Slughorn, com as lagrimas escorrendo do canto de seus olhos. – Eu não sabia que você era interessado em criaturas como Aragogue, Horace. – Interessado? Meu caro Hagrid, eu as reverencio! – Slughorn disse, se afastando do corpo. Harry viu o brilho de uma garrafa desaparecendo dentro da capa dele, enquanto Hagrid, enxugando os seus olhos mais uma vez, não notara nada.. – Agora... Vamos conduzir o enterro? – Hagrid concordou, e foi para a frente. Ele levantou a aranha gigante em seus braços, e com um grande gemido, a rolou para dentro do buraco. Ela caiu no fundo, fazendo um barulho horrível, de algo sendo esmigalhado. Hagrid, então, começou a chorar de novo. – É claro, é difícil para você, que era mais próximo dele. – Disse Slughorn, que, como Harry, só conseguia alcançar o cotovelo de Hagrid, mas dava tapinhas da mesma forma. – Por que não deixar que eu fale algumas palavras? Ele deve ter conseguido bastante veneno de boa qualidade de Aragogue, Harry pensou, enquanto Slughorn tinha um pequeno sorriso satisfeito no rosto, ao caminhar para a beira do buraco, e só então disse, num tom lento e imponente. – Boa viagem, Aragogue, rei dos aracnídeos, aqueles que desfrutaram de sua amizade nunca o esquecerão! Pode ser que seu corpo se decomponha, mas seu espírito permanecerá nos silenciosos recantos cheios de teias da Floresta que foi a sua casa. Que seus descendentes de muitos olhos possam florescer, e que seus amigos humanos tenham consolo pela perda que tiveram. – Isso... Isso foi... Foi lindo! – Uivou Hagrid, e então ele caiu em prantos, chorando ainda mais do que antes. – Aqui, aqui. – Slughorn o consolava, e, fazendo um movimento com a varinha, fez com que o monte de terra enchesse o buraco, com um barulho abafado, formando um montinho. – Vamos para dentro, e beber algo. Fique do outro lado, Harry, Isso...Vamos lá, Hagrid... Muito bem... Eles colocaram Hagrid numa cadeira, perto da mesa, e Canino, que tinha ficado em sua casinha durante o enterro, agora veio calmamente no meio deles, e colocou sua cabeça pesada no colo de Harry, como sempre. Slughorn então abriu uma das garrafas de vinho que ele havia trazido. – Eu procurei venenos em todas elas. – Ele assegurou a Harry, enquanto colocava a maior parte do conteúdo da primeira garrafa numa caneca gigantesca, e a passava para Hagrid. – Fiz com que um elfo doméstico provasse um pouco de cada garrafa, após o que aconteceu com o seu amigo Rodolfo. Harry pensou na expressão que Hermione faria quando escutasse sobre esse abuso dos elfos domésticos, e decidiu nunca comentar isso com ela. – Um pouco para Harry... – disse Slughorn, dividindo a segunda garrafa entre duas canecas. – ... E um pouco para mim. Então. – Ele levantou a sua caneca. – Ao Aragogue. – Ao Aragogue. – Disseram Harry e Hagrid juntos. Tanto Slughorn quanto Hagrid beberam bastante. Harry, porém, com o caminho a seguir iluminado pela Felix Felicis, sabia que ele não devia beber, então ele simplesmente fingiu tomar um gole e colocou a caneca de volta na mesa. – Eu o criei desde que era um ovo, você sabe. – Hagrid disse, lentamente. – Uma coisinha pequenininha quando chocou. Do tamanho de um pequinês... – Que lindo. – Respondeu Slughorn. – Costumava mantê-lo num armário lá na escola, até que... bem... O rosto de Hagrid ficou serio de repente, e Harry soube o porque: Tom Riddle contribuiu para que Hagrid fosse expulso da escola, culpado por abrir a Câmara Secreta. Slughorn, porém, parecia 233 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto não escutá-lo; ele estava olhando para o teto, onde um número de panelas de cobre estavam pendurados, e também uma mecha de um pelo brilhante, branco e sedoso. – Aquilo é pelo de unicórnio, Hagrid? – Ah, sim. – Confirmou Hagrid, indiferente. – Sai do rabo deles, e fica preso nos galhos por aí na Floresta, entende... – Meu amigo, você sabe quanto aquilo ali vale? – Eu uso para fazer bandagens, e coisas desse tipo, quando um animal fica ferido. – Hagrid respondeu com um muxoxo. – É muito útil. Bem forte. Slughorn tomou outro gole, esvaziando sua caneca, com seus olhos se movendo cuidadosamente pela cabana, procurando, Harry sabia, por mais tesouros que ele poderia converter num grande suprimento de vinhos amadurecidos em carvalho, abacaxi cristalizado, e jaquetas de veludo. Ele encheu novamente a caneca de Hagrid, e a sua própria, e o questionou sobre as criaturas que viviam na Floresta atualmente, e como Hagrid fazia para cuidar de todas elas. Hagrid, cada vez mais expansivo devido à influencia da bebida, e com o interesse falso de Slughorn, parou de enxugar os seus olhos, e começou a falar alegremente sobre o acasalamento dos Tronquilhos. A Felix Felicis deu a Harry um aviso nesse ponto, e ele notou que o estoque de bebida que Slughorn tinha trazido estava acabando rapidamente. Harry ainda não tinha conseguido fazer o Encantamento para Encher sem dizer as palavras mágicas, mas a idéia que ele não conseguiria fazêlo naquela noite era risível: ao invés disso, Harry sorriu, enquanto, sem que Hagrid ou Slughorn percebessem (agora trocando histórias sobre comércio ilegal de ovos de dragão), ele apontou a varinha para as garrafas vazias, por baixo da mesa, e imediatamente elas começaram a se encher. Depois de mais ou menos uma hora, Hagrid e Slughorn começaram a fazer brindes extravagantes: a Hogwarts, a Dumbledore, ao vinho feito por elfos, e a... – Harry Potter! – Bradou Hagrid, derrubando metade da caneca pela sua bochecha, e bebendo o resto. – É isso mesmo! – Gritou Slughorn, já um pouco enrolado. – Parry Otter, O Menino Escolhido que... er... ou algo do tipo... – Ele murmurou, e tomou o conteúdo da caneca, também. Não muito depois disso, Hagrid começou a ficar choroso de novo, e empurrou o tufo de pelos de unicórnio para cima de Slughorn, que rapidamente o colocou no bolso, aos brados de – À amizade! à generosidade! A dez galeões o pêlo! E, por um tempo depois, Hagrid e Slughorn ficaram sentados lado a lado, abraçados, cantando uma musica triste e lenta, sobre um mago moribundo chamado Odo. – Ahhhh, os bons morrem cedo. – Murmurou Hagrid, já se esparramando na mesa, com os olhos se cruzando, enquanto Slughorn continuava a cantar o refrão fora do tom. – O meu pai não era tão velho para ter ido. Nem sua mãe, nem seu pai, Harry. Grandes lágrimas rolaram dos cantos dos olhos marejados de Hagrid; ele agarrou o braço de Harry, e o sacudiu. – O melhor bruxo... e bruxa... da idade deles que... eu já conheci.... coisa terrível... coisa terrível... Slughorn cantou cheio de remorso: – “E então trouxeram Odo, o herói, de volta para casa/ Para o lugar onde era conhecido como um amigo incrível/ Eles o deitaram para descansar, com o seu chapéu virado ao avesso/ E a sua varinha quebrada em duas, o que foi triste...” – ...Terrível. – Hagrid gemeu, e a sua grande cabeça rolou para junto de seus braços, e ele adormeceu, roncando profundamente. – Desculpe. – Slughorn disse, com um soluço. – Não poderia manter o tom mesmo que fosse para salvar a minha vida. – Hagrid não estava falando de sua cantoria. – Harry disse baixo. – Ele estava falando sobre meu pai e minha mãe. 234 Capítulo 22 – Depois do enterro – Oh. – Slughorn disse, reprimindo um grande arroto. – Meu caro. Sim, isso... Isso foi terrível mesmo. Terrível... Terrível... Ele pareceu um pouco perdido sobre o que dizer, e se resumiu a encher as canecas. – Eu acho... que você não se lembra do que aconteceu, não é Harry? – ele perguntou, desconfortável. – Não. Eu só tinha um ano de idade quando eles morreram.. – Harry respondeu, com seus olhos na chama de uma vela que tremulava com o ronco pesado de Hagrid. – Mas eu descobri o suficiente sobre o que aconteceu naquela noite. Meu pai morreu primeiro. O senhor sabia disso? – Eu... Eu não sabia. – Slughorn disse apressadamente. – Sim... Voldemort o assassinou, e passou por cima do corpo dele na direção da minha mãe. – Harry continuou. Slughorn teve um grande calafrio, mas foi incapaz de desviar o olhar aterrorizado do rosto de Harry. – Ele disse para ela sair do caminho. – Harry disse, sem remorso. – Ele me contou que ela não precisava morrer. Ele só queria a mim. Ela poderia ter fugido. – Meu Deus... – Slughorn respirou profundamente. – Ela poderia... Ela não precisava... Que abominável... – Realmente, não é? – Harry disse, quase como num sussurro.. – Mas ela não se moveu. Meu pai já estava morto, mas ela não queria me perder também. Ela tentou implorar a Voldemort.. Mas ele apenas gargalhou. – Chega! – Slughorn disse de repente, levantando uma mão tremula. – Realmente, meu garoto, já chega... Eu sou um homem velho. Eu não preciso escutar isso... Eu não quero escutar isso. – Eu me esqueci. – Harry mentiu, conduzido pela Felix Felicis. – O senhor gostava dela, não é? – – Gostava dela? – perguntou Slughorn, com seus olhos novamente cheios de lágrimas. – Eu não consigo imaginar ninguém que a tenha conhecido que não gostasse dela. Muito corajosa... Muito engraçada... Isso foi a coisa mais horrível... – Mas você não está ajudando o filho dela. – Harry retrucou. – Ela me deu a vida, mas você não me daria uma lembrança. Os roncos de Hagrid retumbaram pela cabana. Harry prontamente olhou para os olhos cheios de lágrimas de Slughorn. O mestre de Poções parecia incapaz de desviar o olhar. – Não diga isso. – Ele sussurrou. – Não é essa a questão... Se fosse para ajudá-lo, é claro, mas isso não vai servir para nenhum propósito. – Vai sim. – Harry disse claramente. – Dumbledore precisa de informações. Eu preciso de informações! Ele sabia que era seguro: a poção lhe dizia que Slughorn não iria se lembrar de nada pela manhã. Olhando Slughorn olho no olho, Harry se aproximou um pouco. – Eu sou o “Escolhido”.. Eu tenho que matar Voldemort. Eu preciso daquela lembrança. Slughorn ficou mais pálido do que nunca; sua testa brilhava com o suor. – Você é o “Escolhido”? – Claro que sou. – Harry respondeu calmamente. – Mas então... Meu rapaz... Você esta me pedindo algo grande. Você esta me pedindo, de fato, a ajudá-lo em sua tentativa de destruir... – Você não quer acabar com o bruxo que matou Lílian Evans? – Harry, Harry, é claro que eu quero, mas... – Você tem medo de que ele descubra que você me ajudou? Slughorn não disse nada; ele parecia aterrorizado. – Seja corajoso como a minha mãe, Professor. Slughorn levantou uma mão gorda, e a levou, com os dedos trêmulos, a sua boca; Por um momento, ele parecia um enorme bebê gigante. 235 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Eu não me orgulho... – Ele sussurrou por entre os dedos. – Eu me envergonho do que... do que aquela memória mostra. Eu acho que causei um grande estrago naquele dia... – Você pode equilibrar as coisas que você fez me dando aquela lembrança. – Harry insistiu. – Isso seria muito corajoso, e uma coisa nobre a se fazer. Hagrid se mexeu no seu sono, e logo voltou a roncar. Slughorn e Harry ficaram se olhando nos olhos através da chama da vela. O silencio durou por muito tempo, mas a Felix Felicis indicou a Harry que ele não deveria o quebrar, que ele deveria esperar. Então, bem lentamente, Slughorn colocou a mão no seu bolso, e tirou sua varinha. Ele colocou sua outra mão dentro de sua capa, e tirou uma pequena garrafa vazia. Ainda olhando para os olhos de Harry, Slughorn tocou a têmpora com a ponta da sua varinha, e quando a moveu, um longo fio prateado de memória acompanhou a varinha, se concentrando na ponta dela. Cada vez mais longo, a lembrança se estreitou ate que terminou, e ficou balançando, com seu brilho prateado, na varinha. Slughorn a conduziu então para dentro da garrafa, onde ela se enfiou e alojou, turbilhonando como se fosse um gás. Ele arrolhou a garrafa com uma mão tremula, e então a passou pela mesa ate Harry. – Muito obrigado, Professor. – Você é um bom garoto. – disse o professor Slughorn, com as lágrimas rolando pelas suas bochechas gordas até o seu grosso bigode. – E você tem os olhos dela.... Não... não faça um mau juízo de mim depois de ver essa lembrança... Então, ele também, pondo a cabeça entre os braços, deu um grande bocejo, e dormiu. 236 – CAPÍTULO 23 – Horcruxes* Harry podia sentir o efeito do Felix Felicis se esgotando enquanto voltava lentamente para o castelo. A porta de entrada permanecia destrancada, mas no terceiro andar ele encontrou Pirraça e por pouco evitou ser encontrado desaparecendo por um de seus atalhos. Quando chegou ao retrato da Mulher Gorda e tirou sua capa de invisibilidade, não se surpreendeu ao encontrá-la terrivelmente mal humorada. – Isso são horas de aparecer? – Eu sinto muito... precisei sair por causa de algo importante... – Bem, a senha foi alterada à meia-noite, então você terá que dormir no corredor, não é mesmo? – Você está brincando! – exclamou Harry – Por que a senha teve que ser trocada a meia-noite? – É assim que as coisas são – respondeu a Mulher Gorda – Se está bravo, vá discutir com o Diretor, são deles as ordens de reforçar a segurança. – Fantástico – Harry acrescentou amargamente olhando para o chão duro – Realmente brilhante. E sim, eu iria discutir isso com Dumbledore se ele estivesse aqui, pois foi ele quem quis que eu... – Ele está aqui – uma voz soou atrás de Harry. – O Professor Dumbledore retornou a escola há uma hora atrás. Nick-quase-sem-cabeça estava deslizando em direção ao Harry, sua cabeça balançando como sempre sobre a gola de rufos. – Fui informado pelo Barão Sangrento que o viu chegar – explicou Nick. – Ele parecia estar, de acordo com o Barão, bastante animado embora um pouco cansado, claro. – Aonde ele está? – perguntou Harry com o coração aos saltos. – Oh, gemendo e arrastando correntes no alto da Torre de Astronomia, é o passatempo favorito dele... – Não o Barão Sangrento, Dumbledore! – Oh, na sala dele – falou Nick – Acredito, pelo que o Barão disse, que ele tinha assuntos a resolver antes de ir para... – Sim, ele tem – interrompeu Harry, a excitação ardendo em seu peito diante da perspectiva de contar a Dumbledore que ele tinha conseguido a lembrança. Ele virou-se e saiu correndo, ignorando a Mulher Gorda que o estava chamando. – Volte! Tudo bem, eu menti! Fiquei aborrecida porque você me acordou! A senha ainda é “lombriga”! Mas Harry já estava correndo de volta pelo corredor e em poucos minutos estava dizendo “bomba de caramelo” para a gárgula do escritório de Dumbledore, que saltou para o lado e permitiu que ele entrasse na escada em espiral. 237 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Entre – respondeu Dumbledore quando Harry bateu à porta. Sua voz soou exausta. Harry abriu a porta. Lá estava o escritório de Dumbledore, parecendo o mesmo de sempre a não ser pelo céu negro pontilhado de estrelas além das janelas. – Nossa, Harry, – exclamou Dumbledore surpreso – A que devo esse prazer tão tarde da noite? – Senhor, eu consegui. Consegui a lembrança de Slughorn. Harry pegou o pequeno frasco de vidro e o mostrou a Dumbledore. Por um instante, o diretor pareceu paralisado. Então abriu um largo sorriso. – Harry, que notícia sensacional. Muito boa mesmo. Eu sabia que você conseguiria! E aparentemente esquecido de quão tarde era, ele se apressou em pegar o frasco com a lembrança de Slughorn em sua mão machucada e avançou em direção à estante onde guardava a Penseira. – E agora – acrescentou Dumbledore, colocando a bacia de pedra sobre a mesa e esvaziando o conteúdo do frasco dentro dela – Agora, finalmente nós veremos. Rápido Harry... Harry obedientemente curvou-se sobre a Penseira e sentiu seus pés deixarem o chão da sala... Mas uma vez ele se viu em meio à escuridão e aterrisou na sala de Horace Slughorn muitos anos antes. E lá estava um Slughorn muito mais novo, com seu brilhante cabelo grosso cor de palha e seu bigode ruivo-aloirado, sentado novamente na confortável poltrona em seu escritório, seus pés descansando em um pufe de veludo, uma pequena taça de vinho em uma das mãos, enquanto a outra remexia uma caixa de abacaxis cristalizados. E lá estavam meia dúzia de adolescentes em volta de Slughorn, com Tom Riddle no meio deles, o anel dourado e preto de Servolo brilhando em seu dedo. Dumbledore pousou ao lado de Harry quando Riddle perguntou: – Senhor, é verdade que a Professora Merrythought está se aposentando? – Tom, Tom, mesmo se eu soubesse eu não poderia lhe contar – respondeu Slughorn agitando seu dedo repreensivamente para Riddle, apesar de dar uma piscadela ao mesmo tempo. – Devo dizer que gostaria de saber qual é sua fonte de informação menino, você é mais bem informado que metade do corpo docente. Riddle sorriu. Os outros meninos deram risadas e lançaram olhares admirados a ele. – Com sua fantástica habilidade de descobrir coisas que você não deveria saber e sua cuidadosa habilidade de lisonjear pessoas importantes... a propósito, obrigado pelos abacaxis, você está absolutamente certo, são meus favoritos... Vários dos garotos deram risadinhas novamente. -...acredito que você deva ocupar um alto cargo no Ministério da Magia em uns vinte anos. Quinze, se continuar a me enviar abacaxis, eu tenho excelentes contatos dentro do Ministério. Tom Riddle meramente sorriu enquanto os outros garotos gargalhavam novamente. Harry notou que ele não era de modo algum o mais velho do grupo de garotos, mas todos pareciam considerá-lo o líder. – Não tenho certeza que a carreira política me atraia, senhor – comentou quando o riso dos garotos diminuiu – não tenho o tipo certo de ascendência, para começar. Dois garotos ao lado trocaram sorrisos maliciosos. Harry tinha certeza que eles estavam compartilhando uma piada particular, pois sem dúvida nenhuma sabiam ou suspeitavam sobre o ancestral famoso do líder da gangue. – Tolice – retrucou Slughorn veementemente – não poderia ser mais claro que você vem de uma linhagem bruxa decente, tendo habilidades como as suas. Não, você irá longe, Tom, nunca me enganei sobre um estudante antes. O pequeno relógio dourado em cima da mesa de Slughorn anunciou 11 horas e ele olhou a sua volta. – Nossa, já é tão tarde assim? Melhor vocês irem, meninos, ou todos estaremos encrencados. Lestrange, quero seu trabalho amanhã pela manhã ou lhe darei detenção. O mesmo vale para você Avery! 238 Capítulo 23 – Horcruxes Um após o outro, os meninos saíram da sala. Slughorn se levantou de sua poltrona e colocou sua taça vazia em cima da mesa. Um movimento o fez olhar para trás. Riddle ainda estava lá. – Fique atento, Tom, você não iria querer ser pego andando por aí fora do horário, você é monitor... – Senhor, eu queria lhe perguntar uma coisa. – Pergunte então meu garoto, pergunte... – Senhor, estava imaginando o que sabe sobre... sobre Horcruxes? Slughorn olhou-o fixamente, seus dedos grossos apertando a haste de sua taça de vinho com a cabeça longe. – Projeto de Defesa Contras as Artes da Trevas, eu suponho? Mas Harry podia apostar que Slughorn sabia perfeitamente que não era nada relacionado a trabalho escolar. – Não exatamente senhor – disse Riddle – deparei com o termo enquanto estava lendo, mas não o entendi completamente. – Não... bem... você estaria querendo demais ao tentar encontrar um livro em Hogwarts que lhe desse detalhes sobre Horcruxes, Tom, isso é magia negra, artes das trevas mesmo! – exclamou Slughorn. – Mas obviamente o senhor sabe tudo sobre eles, não? Quero dizer, um bruxo como o senhor; desculpe-me, quero dizer, se o senhor não puder me falar, obviamente; Eu só pensei que se alguém pudesse me falar a respeito, esse alguém seria o senhor. Então, pensei que deveria... Tudo foi perfeito, pensou Harry. A hesitação, o tom casual, a discreta adulação, nenhum dos quais em excesso. Harry tinha experiência suficiente em tentar extrair informações de pessoas relutantes para não reconhecer um mestre em serviço. Ele podia dizer que Riddle queria a informação muito, mas muito mesmo. Talvez ele estivesse se preparando para aquele momento há semanas. – Bem – comentou Slughorn, sem olhar para Riddle, brincando com a fita da tampa da caixa de abacaxis cristalizados – bem, não deve haver mal algum em lhe dar uma visão geral, claro. Apenas o suficiente para entender o termo. Um Horcrux é uma palavra usada para nomear um objeto no qual uma pessoa escondeu parte de sua alma. – Eu não entendo como isso funciona, senhor – comentou Riddle. Sua voz estava cuidadosamente controlada, mas Harry podia sentir a excitação. – Bem, você divide a sua alma, entenda – continuou Slughorn – e guarda parte dela dentro de um objeto que esteja fora do corpo. Então, mesmo se o corpo for atacado ou destruído, a pessoa não pode morrer, pois parte de sua alma permanece presa à terra e sem danos. Mas claro, existir em tal forma... – A expressão de Slughorn se contraiu e Harry lembrou-se de palavras que ele havia ouvido quase dois anos antes: – “Fui arrancado do meu corpo, me tornei menos que um espírito, menos que o fantasma mais insignificante... mas, ainda assim, continuei vivo.” – Poucos desejariam isso, Tom, muito poucos. Seria preferível a morte. Mas a voracidade de Riddle estava agora aparente, sua expressão cobiçosa, ele não conseguia mais esconder sua ânsia. – Como se divide uma alma? – Bem – continuou Slughorn desconfortavelmente – você deve entender que a alma deveria permanecer intacta e inteira. Dividi-la é um ato de violação, é contra a natureza. – Mas como se divide? – Por um ato de maldade... o supremo ato de maldade. Tornando-se um assassino. Cometer um assassinato rompe a alma em pedaços. O bruxo que pretende criar um Horcrux usa o dano causado em seu favor. Ele poderia encapsular a parte rompida... – Encapsular? Mas como...? 239 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Através de um feitiço, não me pergunte qual, eu não sei! – interrompeu Slughorn, sacudindo a cabeça como um velho elefante incomodado por mosquitos – Eu pareço ser alguém que já tenha tentado isso? Pareço ser um assassino? – Não, claro que não senhor – respondeu Riddle rapidamente – Sinto muito... não quis ofendêlo... – Não ofendeu, absolutamente, não ofendeu – comentou Slughorn asperamente – é natural sentir certa curiosidade sobre esse tipo de coisa... bruxos de certo calibre têm sido atraídos por esse tipo de mágica... – Sim, senhor – interrompeu Riddle – O que eu não entendo, porém, somente por curiosidade, quero dizer, um Horcrux teria muita utilidade? Somente é possível dividir sua alma uma vez? Não seria melhor, não o faria mais forte, dividir a alma em mais pedaços, digo, por acaso sete não é o mais poderoso número mágico, não seria sete... – Pelas barbas de Merlin, Tom! – Slughorn gemeu – Sete! Já não é ruim suficiente matar uma pessoa? Em todo o caso, já é ruim suficiente dividir a alma... mas dividir a alma em sete pedaços... Slughorn parecia profundamente perturbado agora. Ele estava olhando para Riddle como se nunca o tivesse visto claramente antes, e Harry poderia jurar que ele havia se arrependido de ter tido aquela conversa. – Mas claro – ele murmurou – que tudo o que conversamos é hipotético, não é? Tudo para fins acadêmicos... – Sim, claro que sim, senhor – respondeu Riddle rapidamente. – Mas mesmo assim, Tom... não comente nada do que eu lhe contei; por assim dizer, do que discutimos. As pessoas não gostariam de saber que estivemos conversando sobre Horcruxes. É um assunto proibido em Hogwarts, você sabe... Dumbledore é particularmente severo sobre isso... – Eu não direi uma palavra, senhor – prometeu Riddle, e então ele deixou a sala, mas não antes de Harry notar que sua expressão estava carregada de uma felicidade selvagem, a mesma de quando descobriu que era um bruxo, o tipo de felicidade que não realçava suas feições bonitas, mas o fazia parecer, de alguma forma, menos humano. – Obrigado, Harry – murmurou Dumbledore baixinho – Hora de ir... Quando Harry pisou novamente no chão da sala, Dumbledore já estava se sentando atrás de sua mesa. Harry sentou-se também e aguardou que Dumbledore falasse. – Tenho desejado essa evidência há muito tempo – disse Dumbledore finalmente. – Ela confirma a teoria na qual eu tenho trabalhado, diz que estou certo e também o quanto ainda deve ser feito... Harry notou subitamente que cada um dos antigos diretores e diretoras dos retratos das paredes estavam acordados e ouvindo a sua conversa. Um bruxo corpulento de nariz vermelho colocou uma trompa de ouvido. – Bem, Harry – continuou Dumbledore – tenho certeza que você entendeu o significado do que acabamos de ouvir. Com a mesma idade que você tem agora, ou com poucos meses de diferença, Tom Riddle estava fazendo tudo o que podia para descobrir como se tornar imortal. – O Senhor acha que ele teve sucesso? – perguntou Harry – Que ele fez um Horcrux ? E que foi por isso que não morreu quando me atacou? Que tinha um Horcux escondido em algum lugar? Um pedaço de sua alma estava a salvo? – Um pedaço... ou mais de um – explicou Dumbledore – Você ouviu Voldemort, o que ele queria particularmente de Horace era uma opinião sobre o que aconteceria com um bruxo que criasse mais de um Horcrux , o que aconteceria a um bruxo tão determinado a escapar da morte que estaria pronto para matar diversas vezes, dividir a alma repetidamente e encapsular os pedaços em Horcuxes separados e escondidos. Nenhum livro lhe daria esse tipo de informação. Até onde sei, e até onde Voldemort sabe, tenho certeza – nenhum bruxo jamais dividiu sua alma mais de duas vezes. Dumbledore hesitou por um momento, ordenando seus pensamentos, então continuou: – Quatro anos atrás eu recebi o que considerei uma prova de que Voldemort havia dividido sua alma. 240 Capítulo 23 – Horcruxes – Onde? – perguntou Harry – Como? – Você me entregou, Harry – respondeu Dumbledore – O diário, o diário de Riddle, aquele que deu instruções de como reabrir a Câmara Secreta. – Eu não entendo, senhor – exclamou Harry. – Bem, apesar de não ter visto o Riddle que saiu do diário, o que você me descreveu foi um fenômeno o qual nunca havia testemunhado. Uma mera memória agindo e pensando por ela mesma? Uma mera memória sugando a vida de uma garota em cujas mãos tinha ido parar? Não, algo muito mais sinistro tinha vivido dentro daquele livro. Um fragmento de alma, tinha quase certeza disso. O diário tinha sido um Horcrux . Mas esse fato levantou mais questões do que respondeu. O que me intrigou e preocupou mais do que tudo é que o diário havia sido criado para ser tanto uma arma quanto uma salvaguarda. – Eu ainda não entendo – disse Harry. – Bem, funcionou exatamente como um Horcrux supostamente deve funcionar – em outras palavras, o fragmento da alma encarcerado dentro dele permaneceu a salvo e sem dúvida alguma ajudou a prevenir a morte de seu dono. Mas não havia dúvida que Riddle queria que o diário fosse lido, queria que o fragmento de sua alma possuísse ou controlasse alguém, para que o monstro de Slytherin fosse novamente solto. – Bem, ele não queria que todo o trabalho fosse desperdiçado – comentou Harry – Queria que as pessoas soubessem que ele era o herdeiro de Slytherin, porque ele não pôde levar o crédito na época. – Correto – Dumbledore concordou com a cabeça – Mas você não vê Harry, que se ele pretendia que o diário fosse passado, ou infiltrado, para algum estudante futuro de Hogwarts, ele estaria sendo consideravelmente relapso com o precioso fragmento de alma encarcerado dentro dele? O objetivo de um Horcrux é, como o Professor Slughorn explicou, manter uma parte do ser escondida e segura, não arremessá-la no caminho de alguém e correr assim o risco de que seja destruída, como aconteceu, na verdade. Aquele fragmento de alma, em particular, não existe mais, você providenciou isso. – O modo descuidado com que Voldemort considerou esse Horcrux me pareceu suspeito. Sugeriu que ele pudesse ter feito, ou estaria planejando fazer, mais Horcruxes, de modo que a perda de seu primeiro não seria tão prejudicial. Eu não queria acreditar, mas nada mais fazia sentido. – Então você me contou, dois anos atrás, na noite em que Voldemort retornou a seu corpo que ele havia feito uma afirmação alarmante e esclarecedora aos seus Comensais da Morte. “Eu, que cheguei mais longe do que qualquer outro no caminho que leva à imortalidade”. Foi o que você me contou que ele disse. “Mais longe do que qualquer outro”. E eu pensei saber o significado, mesmo que os Comensais da Morte não soubessem. Ele estava se referindo a seus Horcruxes, Horcruxes no plural, Harry, o que eu não acredito que algum outro bruxo já tenha feito. Mesmo assim tudo se encaixava; Lord Voldemort parecia cada vez menos humano com o passar dos anos, e a transformação pela qual ele passou me parecia somente explicável se sua alma houvesse sido mutilada além do domínio do que podemos chamar de ‘mal comum’... – Então ele se fez impossível de matar assassinando outras pessoas? – perguntou Harry – Por que ele não podia fazer uma Pedra Filosofal, ou roubar uma, se ele estava tão interessado em imortalidade? – Bem, nós sabemos que ele tentou fazê-lo, cinco anos atrás – respondeu Dumbledore – Mas há diversas razões pelas quais, acho eu, uma Pedra Filosofal teria parecido menos atraente do que Horcruxes para Voldemort. – O Elixir da Vida realmente prolonga a existência, mas deve ser ingerido regularmente por toda a eternidade, se quem o bebe quiser manter a imortalidade. Conseqüentemente, Voldemort ficaria dependente do elixir, e se ele se acabasse, ou fosse contaminado, ou a Pedra fosse roubada, ele morreria como qualquer outro homem. Voldemort gosta de trabalhar sozinho, lembre-se. Eu acredito que ele deva ter considerado a idéia de tornar-se dependente, mesmo que do Elixir, insuportável. 241 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Claro que ele estava disposto a tomá-lo se isso o livrasse da horrenda semi-vida a que foi condenado após atacar você, mas somente até recuperar seu corpo. Estou convencido de que depois disso, ele pretendia continuar confiando em seus Horcruxes. Ele não precisaria de mais nada, se apenas ele conseguisse retomar a forma humana. Ele já era imortal, veja você... ou estava tão perto de ser imortal quanto um homem pode estar. – Mas agora Harry, armados com essa informação decisiva que você obteve para nós, estamos mais perto do segredo de como liquidar Lord Voldemort do que qualquer um jamais esteve. Você o ouviu Harry: “Não seria melhor, o faria mais forte, dividir a alma em mais pedaços, digo, por acaso sete não é o mais poderoso número mágico...” Sim, eu acho que a idéia de partir a alma em sete pedaços pareceria incrivelmente atraente para Lord Voldemort. – Ele fez sete Horcruxes? – disse Harry horrorizado, enquanto diversos retratos na parede fizeram ruídos similares de choque e ultraje – Mas eles poderiam estar em qualquer lugar do mundo, escondidos, enterrados, invisíveis... – Fico feliz que você tenha entendido a magnitude do problema – comentou Dumbledore calmamente – Mas, primeiramente, não Harry, não sete, mas seis. A sétima parte da alma, por mais que esteja mutilada, é aquela que reside dentro do corpo regenerado. É a parte que viveu uma existência espectral por tantos anos durante seu exílio, sem a qual ele não teria mais um eu. O sétimo pedaço da alma deverá ser o último a ser atacado por quem deseje matar Voldemort; o pedaço que ainda vive em seu corpo. – Seis Horcruxes, então – corrigiu-se Harry um pouco de desesperado. – Como vamos encontrálos? – Você está se esquecendo... você já destruiu um deles. E eu destruí outro. – O senhor destruiu? – perguntou Harry ansiosamente. – Na verdade, sim – respondeu Dumbledore, e ergueu sua mão enegrecida e queimada. – O anel, Harry. O anel do Servolo. E também uma terrível maldição que havia sido lançada nele. Se não fosse por, desculpe-me pela aparente falta de modéstia, minha prodigiosa habilidade e pela pronta ação do Professor Snape quando retornei a Hogwarts, desesperadamente machucado, eu não teria vivido para contar a história. Entretanto, uma mão murcha não me parece um preço muito alto a se pagar por um dos sete pedaços da alma de Voldemort. O anel não é mais um Horcrux. – Mas, como o senhor o descobriu? – Bem, como você sabe agora, por muitos anos eu assumi a tarefa de descobrir tanto quanto pude sobre o passado de Voldemort. Eu tenho viajado muito, visitado os lugares em que ele esteve. Tropecei no anel escondido nas ruínas da casa dos Gaunt. Parece-me que uma vez que Voldemort encarcerou uma parte de sua alma dentro do anel, ele não quis mais usá-lo. Ele o escondeu e protegeu com encantamentos poderosos, na choupana onde seus ancestrais viveram (após Morfin ter sido levado para Azkaban, claro), nunca imaginando que eu me daria ao trabalho de visitar as ruínas, ou que eu manteria meus olhos abertos em busca de traços de esconderijos mágicos. – Entretanto, nós não devemos nos sentir tão confiantes. Você destruiu o diário e eu o anel, mas se nós estivermos corretos em nossa teoria da alma ter sido dividida em sete partes, quatro Horcruxes permanecem. – E eles poderiam ser qualquer coisa? – perguntou Harry – Poderiam ser, não sei, latas de metal ou recipientes de poções vazios... – Você está pensando em Chaves de Portal Harry, as quais podem ser objetos comuns, fácil de passarem despercebidos. Mas Lord Voldemort usaria latas de metal ou recipientes de poções vazios para guardar sua preciosa alma? Você está esquecendo o que lhe mostrei. Lord Voldemort gosta de colecionar troféus, e ele tem preferência por objetos com um passado mágico poderoso. Seu orgulho, sua crença na própria superioridade, sua determinação em cavar para si um lugar de destaque no mundo mágico; tudo isso me faz crer que Voldemort teria escolhido seus Horcruxes com algum cuidado, dando preferência a objetos que merecessem tal honra. – O diário não era tão especial. 242 Capítulo 23 – Horcruxes – O diário, como você mesmo disse, era a prova que ele era o herdeiro de Slytherin. Tenho certeza que Voldemort o considerava de extrema importância. – Bem, e os outros Horcruxes? – perguntou Harry – O senhor acha que sabe o que são? – Eu só posso imaginar – respondeu Dumbledore – Pelas razões que já lhe dei, acredito que Lord Voldemort preferiria objetos que, em si mesmos, tenham uma certa grandeza. Por esta razão, tenho vasculhado o passado de Voldemort para encontrar alguma evidência de artefatos que desapareceram em sua trajetória. – O medalhão! – disse Harry estridentemente – A taça de Hufflepuff! – Sim – concordou Dumbledore sorrindo – eu apostaria, talvez não minha outra mão, mas uns dois dedos, que eles se tornaram os Horcruxes três e quatro. Os dois restantes, assumindo que ele tenha criado seis no total, são mais problemáticos, porém eu arriscaria um palpite que, uma vez que ele havia adquirido objetos de Hufflepuff e Slytherin, ele começaria a procurar por objetos de Gryffindor e Ravenclaw. Quatro objetos dos quatro fundadores teriam, tenho certeza, exercido uma poderosa atração sobre a imaginação de Voldemort. Não sei dizer se ele conseguiu encontrar alguma coisa de Ravenclaw. Estou seguro porém, que a única relíquia conhecida de Gryffindor permanece em segurança. Dumbledore apontou seus dedos enegrecidos para a parede atrás, onde uma espada com cabo incrustado com rubis permanecia dentro de uma redoma de vidro. – O senhor acha que é por isso que ele realmente queria voltar a Hogwarts? – perguntou Harry – Para tentar encontrar alguma coisa dos outros fundadores? – Exatamente o que penso – respondeu Dumbledore – Mas infelizmente, isso não nos ajuda em nada, pois ele foi recusado, ou assim acredito, sem ter a chance de vasculhar a escola. Sou forçado a concluir que ele nunca completou sua ambição de colecionar quatro objetos dos fundadores. Ele definitivamente conseguiu dois, ele pode ter encontrado três, mas isso é o máximo que podemos concluir por ora. – Mesmo se ele conseguiu algo de Ravenclaw ou de Gryffindor, ainda resta o sexto Horcrux – argumentou Harry, contando nos dedos – A menos que ele tenha conseguido ambos? – Eu não acredito – disse Dumbledore – Penso saber o que deva ser o sexto Horcrux. Imagino o que você diria quando eu lhe confessar que estive curioso por um tempo sobre o comportamento da cobra, Nagini? – A cobra? – exclamou Harry surpreso – Animais podem ser usados como Horcruxes? – Bem, não é aconselhável fazê-lo – comentou Dumbledore – Porque confiar parte de sua alma a algo que pode pensar e mover-se por si só é obviamente muito arriscado. Entretanto, se meus cálculos estão corretos, faltava a Voldemort pelo menos um Horcrux quando ele entrou na casa de seus pais com a intenção de matá-lo. – Ele parece ter reservado o processo de criar Horcruxes para mortes particularmente importantes. E a sua certamente teria sido. Ele acreditava que ao lhe matar, estaria destruindo o perigo que a profecia havia esboçado. Acreditava estar se tornando invencível. Tenho certeza que ele pretendia fazer seu último Horcrux com a sua morte. – Mas como você sabe, ele falhou. Após um intervalo de alguns anos, ele usou Nagini para matar um velho trouxa, e pode ter lhe ocorrido a idéia de transformá-la em seu último Horcrux . Ela salienta a conexão com Slytherin, a qual aumenta a mística em torno de Lord Voldemort. Eu penso que ele é afeiçoado a ela mais do que a qualquer outra coisa. Certamente gosta de mantê-la próxima, e parece ter um incomum controle sobre ela, mesmo para um Ofidioglota. – Então – concluiu Harry – o diário está anulado, o anel também. A taça, o medalhão e a cobra ainda estão intactos, e o senhor acha que talvez exista um Horcrux feito com algo que Ravenclaw ou Gryiffindor possuíram? – Resumindo de um modo admiravelmente sucinto e correto, sim – concordou Dumbledore acenando com a cabeça. – Então... o senhor ainda está procurando por eles? Era aonde o senhor ia quando deixava a escola? 243 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Correto – respondeu Dumbledore – Eu tenho procurado por um longo tempo. E acredito... talvez... que esteja perto de encontrar mais um. Há sinais animadores. – E se o senhor encontrar – acrescentou Harry rapidamente – eu posso ir com o senhor para ajudar a destruí-lo? Dumbledore olhou intensamente para Harry por um momento antes de responder: – Sim, acho que pode. – Posso? – exclamou Harry completamente surpreso. – Oh, pode – confirmou Dumbledore sorrindo levemente – Acho que você conquistou esse direito. Harry sentiu seu coração mais leve. Era muito bom não ouvir palavras de proteção e cautela pelo menos uma vez. Os diretores e diretoras por toda a parede pareceram menos impressionados com a decisão de Dumbledore. Harry viu que alguns sacudiam a cabeça enquanto Fineus Nigellus bufava na verdade. – Voldemort percebe quando um Horcrux é destruído senhor? Ele pode sentir? – Harry perguntou ignorando os retratos. – Uma pergunta muito interessante, Harry. Acredito que não. Acredito que Voldemort esteja tão imerso em maldade, e que essas partes cruciais estão separadas dele há tanto tempo, que ele não tem mais a percepção que temos. Talvez, quando estiver próximo da destruição, ele venha a ter consciência de sua perda... mas ele não estava ciente, por exemplo, que o diário havia sido destruído até arrancar a verdade de Lúcio Malfoy. Fui informado de que quando Voldemort descobriu que o diário havia sido mutilado e despojado de seus poderes, sua fúria foi terrível de se ver. – Mas eu pensei que ele pretendesse que Lúcio Malfoy infiltrasse o diário em Hogwarts? – Sim, ele pretendia, anos atrás, quando estava certo que poderia criar mais Horcruxes, mas ainda assim Lúcio deveria aguardar a ordem de Voldemort, a qual nunca recebeu, pois Voldemort desapareceu logo após ter lhe dado o diário. Não há dúvidas que ele imaginou que Lúcio não ousaria fazer nada com o Horcrux além de guardá-lo cuidadosamente, mas estava depositando muita fé no medo que Lúcio tinha de um mestre que havia desaparecido há anos e o qual considerava morto. É claro que Lúcio não sabia exatamente o que o diário realmente era. Entendo que Voldemort somente contou a ele que o diário faria que a Câmara Secreta fosse reaberta porque estava habilmente enfeitiçado. Se Lúcio soubesse que tinha uma fração da alma do seu mestre em suas mãos, sem dúvida teria tratado o diário com mais respeito; mas ao invés disso, ele prosseguiu com o antigo plano em prol de seus próprios interesses. Infiltrando o diário com a filha de Arthur Weasley, ele esperava desacreditar Arthur e se livrar de um objeto mágico altamente incriminador de uma só vez. Ah, pobre Lúcio... com Voldemort furioso por ele ter se desfeito do Horcrux em proveito próprio e o fracasso no Ministério no ano passado, eu não ficaria surpreso em saber que ele está secretamente satisfeito em estar seguro em Azkaban no momento. Harry perdeu-se em pensamentos por um instante e então perguntou: – Então, se todos os Horcruxes forem destruídos, Voldemort poderia ser morto? – Eu acredito que sim – respondeu Dumbledore – Sem seus Horcruxes, Voldemort seria um homem mortal com uma alma mutilada e diminuta. Nunca se esqueça porém, apesar de sua alma poder ter sido danificada além da possibilidade de reparo, seu cérebro e poderes mágicos permanecem intactos. Seriam necessárias habilidades e poderes excepcionais para matar um bruxo como Voldemort, mesmo sem seus Horcruxes. – Mas eu não tenho nenhuma habilidade ou poder excepcional – acrescentou Harry antes que pudesse evitar. – Sim, tem – contradisse Dumbledore firmemente. – Você tem um poder que Voldemort nunca teve. Você consegue... – Já sei – interrompeu Harry impacientemente – Eu consigo amar – E foi com muita dificuldade que não acrescentou “Grande coisa!”. 244 Capítulo 23 – Horcruxes – Sim, Harry, você consegue amar – confirmou Dumbledore que parecia saber perfeitamente bem o que Harry refreara dizer. – O quê, considerando tudo o que aconteceu a você, é realmente uma coisa extraordinária. Você ainda é muito jovem para entender o quão notável você é, Harry. – Então, quando a profecia diz que eu terei “o poder que o Lord das Trevas desconhece” significa somente... amor? – Harry perguntou se sentindo um pouco desapontado. – Sim... somente amor – respondeu Dumbledore – Mas Harry, nunca esqueça que, o que a profecia diz só tem significado porque Voldemort assim o fez. Eu lhe disse isso no final do ano passado. Voldemort o escolheu como a pessoa que seria mais perigosa para ele... e assim fazendo, ele realmente o tornou a pessoa mais perigosa para ele. – Mas é a mesma coisa... – Não, não é – interrompeu Dumbledore parecendo impaciente agora. Apontando para Harry com sua mão preta e murcha, ele acrescentou: – Você está dando muito crédito à profecia! – Mas – gaguejou Harry – Mas o senhor disse que a profecia significa... – Se Voldemort nunca tivesse ouvido a profecia, ela teria sido cumprida? Teria significado alguma coisa? É claro que não! Você acha que toda as profecias que estão na Sala da Profecia foram realizadas? – Mas – exclamou Harry confuso – no ano passado, o senhor me disse que um teria que matar o outro... – Harry, Harry, somente porque Voldemort cometeu um grave erro e agiu baseado nas palavras da Professora Trelawney. Se Voldemort nunca tivesse assassinado seu pai, teria despertado em você um furioso desejo de vingança? Claro que não! Se ele não tivesse forçado sua mãe a morrer para te proteger, teria lhe dado uma proteção mágica que nem ele pode transpor? Claro que não, Harry! Você não entende? O próprio Voldemort criou seu pior inimigo, como tiranos geralmente fazem. Você tem idéia de quanto os tiranos temem as pessoas que eles oprimem? Todos eles percebem que, um dia, dentre todas as suas vítimas, com certeza haverá uma que se erguerá e revidará. Voldemort não é diferente. Ele sempre esteve aguardando por aquele que o desafiaria. Ele ouviu a profecia e apressouse a agir, resultando que ele não somente escolheu o homem mais provável para derrotá-lo, mas também o equipou com armas mortais e únicas. – Mas... – É essencial que você entenda isso! – interrompeu Dumbledore, levantando-se e avançando pela sala, suas vestes brilhantes farfalhando atrás de si. Harry nunca o tinha visto tão agitado. – Ao tentar assassinar você, o próprio Voldemort escolheu a pessoa extraordinária que está na minha frente, e lhe deu instrumentos para a tarefa. É culpa de Voldemort que você possa sentir seus pensamentos, suas ambições, que você entenda a língua ofídica na qual ele dá ordens, e ainda, Harry, apesar de sua privilegiada percepção do mundo de Voldemort (a qual, casualmente, é um dom que qualquer Comensal da Morte mataria para ter), você nunca foi seduzido pelas Artes das Trevas, nunca, nem por um segundo mostrou o menor desejo de se tornar um seguidor de Voldemort. – Mas é claro que não! – Harry retrucou indignado – Ele matou meus pais! – Você está protegido, em resumo, por sua capacidade de amar – Dumbledore concluiu alto – A única proteção que possivelmente funcionaria contra a atração de um poder como o de Voldemort! Apesar de toda a tentação a qual você foi submetido, de todo o sofrimento, você permaneceu puro de coração, tão puro quanto você era com onze anos de idade, quando se olhou em um espelho encantado que refletia o desejo mais profundo de seu coração, e ele somente lhe mostrou uma maneira de impedir Voldemort, e não imortalidade ou riquezas. Harry, você tem alguma idéia de quão poucos bruxos poderiam ter visto o que você viu naquele espelho? Voldemort deveria ter percebido então com o que estava lidando, mas ele não o fez. – Você se infiltrou na mente de Voldemort sem nenhum dano a si mesmo, mas ele não consegue possuí-lo sem passar por uma agonia mortal, como ele descobriu no Ministério. Eu não acho que ele 245 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto entenda o porquê Harry, mas estava com tanta pressa em mutilar sua própria alma que nunca parou para compreender o poder incomparável de uma alma imaculada e inteira. – Mas senhor – continuou Harry fazendo valentes esforços para não soar discutidor -, tudo acaba sendo a mesma coisa, não é? Eu tenho que matá-lo, ou... – Tem que? – interrompeu Dumbledore – É claro que você tem que matá-lo! Mas não por causa da profecia! Por sua causa, Harry, porque você nunca vai descansar até ter tentado! Nós dois sabemos disso! Imagine, por favor, por um momento que você nunca houvesse ouvido a profecia! Como se sentiria sobre Voldemort agora? Pense! Harry observou Dumbledore indo de um lado para o outro na sua frente e pensou. Pensou em sua mãe, seu pai e Sirius. Pensou em Cedrico Diggory. Pensou em todos os feitos terríveis de Lord Voldemort. Uma chama pareceu se erguer em seu peito, secando a sua garganta. – Eu gostaria que ele fosse liquidado – respondeu Harry baixinho – e gostaria de ser a pessoa que o derrotaria. – Claro que você gostaria! – bradou Dumbledore – Entenda, a profecia não significa que você tem que fazer alguma coisa. Mas a profecia levou a que Voldemort o marcasse como seu igual... em outras palavras, você é livre para escolher seu caminho, totalmente livre para virar as costas para a profecia! Mas Voldemort continua levando a profecia em consideração. Ele continuará a caçá-lo... o que torna certo, que realmente... – Um de nós irá matar o outro no final – completou Harry – Sim... Mas ele entendeu finalmente o que Dumbledore estava tentando dizer. Era, ele pensou, a diferença entre ser arrastado a uma arena para enfrentar uma batalha mortal e entrar na arena com a cabeça erguida. Algumas pessoas, talvez, diriam que há muita pouca diferença entre os dois, mas Dumbledore sabia... “ e eu também” pensou Harry, com um ímpeto de orgulho feroz, e também sabiam meus pais... que havia toda a diferença do mundo. 246 – CAPÍTULO 24 – Sectumsempra Exausto, mas muito satisfeito com seu trabalho da noite anterior, Harry contou a Rony e Hermione tudo o que acontecera durante a aula de Feitiços da manhã seguinte (depois de lançar o feitiço Muffliato naqueles que estavam mais próximos). Ambos estavam satisfeitos e impressionados pela maneira como ele conseguira adular Slughorn e obter a lembrança e completamente atônitos quando ele lhes contou sobre os Horcruxes de Voldemort e sobre a promessa de Dumbledore de levá-lo consigo, caso encontrasse mais um. – Uau! – exclamou Rony, quando Harry finalmente acabou de contar-lhes tudo. Rony sacudia sua varinha vagamente na direção do teto, sem prestar um pingo de atenção no que fazia. – Uau! Você realmente vai com o Dumbledore... e tentar e destruir... uau! – Rony, você está fazendo nevar – avisou Hermione pacientemente, agarrando seu pulso e apontando sua varinha para longe do teto de onde, como era de se esperar, grandes flocos de neve começaram a cair. Numa mesa próxima, Lilá Brown, Harry notou, olhou fixamente para Hermione com seus olhos muito vermelhos e Hermione imediatamente soltou o braço de Rony. – Ah, é – constatou Rony, observando seus ombros com vaga surpresa. – Desculpe... agora parece que todos nós pegamos uma caspa horrível. Ele espanou a falsa neve do ombro de Hermione e Lilá desatou a chorar. Rony parecia imensamente culpado e virou-se de costas para ela. – Nós terminamos – ele contou a Harry pelo canto da boca – na noite passada. Quando ela me viu saindo do dormitório com a Hermione. Obviamente, ela não podia ver você, então ela achou que éramos só nós dois. – Ah – exclamou Harry. – Bem... você não se importa de ter terminado, né? – Não – admitiu Rony. Foi muito ruim enquanto ela gritava, mas pelo menos eu não tive que terminar. – Covarde – acusou Hermione, apesar de parecer estar se divertindo. – Bem, foi uma noite ruim para romances em todo lugar. Gina e Dino terminaram também, Harry. Harry achou que ela tinha um olhar de que quem conhecia a situação enquanto lhe contava, mas não havia a menor possibilidade de ela saber que de repente suas entranhas estavam dançando uma conga. Mantendo seu rosto o mais imóvel e sua voz o mais indiferente que podia, ele perguntou: – Como assim? – Ah, algo muito bobo... Ela falou que ele estava sempre tentando ajudá-la a passar pelo buraco do retrato, como se ela não conseguisse subir sozinha... mas eles estão brigando há tempos. Harry espiou Dino no outro lado da sala. Ele parecia triste com toda certeza. – Claro que isto te coloca num dilema, né? – perguntou Hermione. 247 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Que você quer dizer? – revidou Harry rapidamente. – O time de quadribol. – respondeu Hermione. – Se a Gina e o Dino não estão se falando... – Ah... ah, sim. – concordou Harry. – Flitwick – avisou Rony. O pequenino mestre de Feitiços andava em sua direção e Hermione era a única que conseguira transformar vinagre em vinho. Seu frasco de vidro estava cheio de um líquido carmesim escuro, enquanto o conteúdo dos frascos de Harry e Rony ainda estava turvo e marrom. – Agora, rapazes – chiou o professor Flitwick, repreendendo-os. – Um pouco menos de conversa, um pouco mais de ação... Deixe-me vê-los tentando... Juntos, eles levantaram suas varinhas, concentrando toda sua força, e apontaram-nas para seus frascos. O vinagre de Harry virou gelo. O frasco de Rony explodiu. – Sim... trabalho de casa, – disse o professor Flitwick ressurgindo de debaixo da mesa e tirando cacos de vidro do topo de seu chapéu, – pratiquem. Eles tiveram um dos seus raros tempos livres juntos depois de Feitiços e voltaram para o salão comunal juntos. Rony parecia estar completamente feliz com o fim de seu relacionamento com Lilá e Hermione parecia contente também, apesar de que quando lhe perguntavam por que estava rindo à toa, ela respondia simplesmente: – Está um dia ótimo. – Nenhum dos dois parecia ter notado que uma batalha feroz acontecia dentro do cérebro de Harry: Ela é irmã do Rony. Mas ela descartou o Dino! Ela ainda é irmã do Rony. Sou seu melhor amigo! Isso piora as coisas. Se eu falar com ele primeiro... Ele vai te bater. E se eu não ligar? Ele é seu melhor amigo! Harry mal notou que eles passaram pelo buraco do retrato para o ensolarado salão comunal e só registrou vagamente um pequeno grupo de alunos do sétimo ano agrupados ali, até que Hermione gritou: – Katie! Você voltou! Você está bem? Harry olhou fixamente: realmente era Katie Bell parecendo totalmente saudável e cercada pelos seus amigos contentes. – Estou muito bem! – exclamou alegremente. – Eles me deram alta do St Mungo na segunda, passei uns dias em casa com mamãe e papai e então voltei para cá esta manhã. Leanne estava me contando agora sobre McLaggen e a última partida, Harry... – É – concordou Harry – bem, agora você está de volta, Rony está em forma, teremos uma chance decente de bater a Corvinal, o que significa que ainda podemos estar na briga pela Taça. Ouça, Katie... Ele teve que lhe perguntar de uma vez. Sua curiosidade tirou até mesmo Gina da sua cabeça temporariamente. Abaixou a voz à medida que os amigos de Katie começaram a juntar suas coisas. Aparentemente, estavam atrasados para Transfiguração. – ...aquele colar... agora você consegue lembrar quem te deu? – Não – respondeu Katie, sacudindo a cabeça com ar lamentoso. – Todos estão me perguntando isso, mas não tenho nenhuma pista. A última coisa que me lembro foi entrar no banheiro feminino no Três Vassouras. – Então você definitivamente entrou no banheiro? – perguntou Hermione. – Bem, sei que empurrei a porta e a abri – respondeu Katie -, então suponho que quem quer que tenha me lançado a Maldição Imperius estava em pé atrás da porta. Depois disso, não lembro de 248 Capítulo 24 – Sectumsempra nada até mais ou menos duas semanas atrás no St. Mungos. Ouçam, melhor eu ir, não duvido que McGonagall me dê uma detenção, mesmo que seja meu primeiro dia de volta à escola... Ela pegou sua bolsa e seus livros e correu atrás de seus amigos, deixando Harry, Rony e Hermione sentados na janela próxima à mesa e refletindo sobre o que ela havia lhes contado. – Então, com certeza foi uma garota ou uma mulher que deu o colar a Katie, – concluiu Hermione, – para estar no banheiro feminino. – Ou alguém que parecia com uma garota ou uma mulher. – corrigiu Harry. – Não esqueça, havia um caldeirão cheio de poção polissuco em Hogwarts. Sabemos que um pouco dela foi roubada. Em seu pensamento, ele viu uma fila de Crabbes e Goyles rebolando, todos transformados em garotas. – Acho que tomarei outro gole de Felix e darei uma passada na Sala Precisa de novo. – comentou Harry. – Isto seria um total desperdício de poção. – condenou Hermione diretamente, largando a cópia de Silabário de Feitiços que acabara de tirar da bolsa. – A sorte só pode melhorar um pouco as coisas para você, Harry. A situação com Slughorn era diferente; você já tinha a capacidade de persuadilo, só precisava ajustar um pouquinho as circunstâncias. Mas sorte não é suficiente para fazê-lo passar por um encantamento poderoso. Não fique gastando o resto da poção! Você precisará de toda a sorte que puder ter se Dumbledore levá-lo com ele... – ela baixou a voz para um sussurro. – Não podíamos fazer um pouco mais? – Rony perguntou a Harry, ignorando Hermione. Seria bom ter um estoque da poção... Dê uma olhada no livro... Harry puxou sua cópia de Preparo de Poções – Nível Avançado da sua bolsa e procurou Felix Felicis. – Caramba, é muito complicada, – comentou correndo os olhos pela lista de ingredientes – e leva seis meses... Você tem que deixar em banho-maria... – Era de se esperar. – concluiu Rony. Harry estava a ponto de guardar o livro novamente, quando notou a ponta de uma página dobrada. Indo para esta página, viu o feitiço Sectumsempra com a legenda “para inimigos” que havia marcado algumas semanas antes. Ele ainda não descobrira o que fazia, principalmente porque não queria testá-lo perto da Hermione, mas considerava testá-lo no McLaggen da próxima vez que ele o seguisse sem avisar. A única pessoa que não estava muito satisfeita de ver Katie Bell de volta à escola era Dino Thomas, porque não seria mais necessário que tomasse seu lugar como artilheiro. Ele até agüentou bem o golpe quando Harry contou-lhe e meramente grunhiu e deu de ombros, mas Harry teve a clara sensação que Dino e Simas resmungavam rebeldemente pelas suas costas enquanto se afastava deles. As duas semanas seguintes viram os melhores treinos de quadribol que Harry presenciara como capitão. Seu time estava tão satisfeito de ter se livrado do McLaggen, tão feliz por ter Katie finalmente de volta que voava extremamente bem. Gina não parecia nem um pouco transtornada com o término com Dino. Pelo contrário, ela era a vida e alma do time. Suas imitações de Rony sacudindo para cima e para baixo na frente da baliza enquanto a goles zunia em sua direção ou de Harry gritando ordens para McLaggen antes de ser nocauteado mantinham todos muito entretidos. Harry, rindo com os outros, estava satisfeito por ter uma razão inocente para olhar para Gina. Ele recebera muitas pancadas a mais do balaço durante os treinos por não manter seus olhos no pomo. A batalha ainda fervia dentro de seu cérebro: Gina ou Rony? Às vezes, achava que o Rony pósLilá talvez não ligasse tanto se ele a pedisse em namoro, mas então se lembrava da expressão de Rony quando a vira beijando Dino e estava certo que Rony consideraria uma traição baixa se Harry apenas segurasse sua mão... Ainda assim, Harry não conseguia deixar de falar com Gina, rir com ela, voltar dos treinos com ela. Por mais que sua consciência pesasse, ele se pegava pensando em como encontrá-la sozinha. Teria sido perfeito se Slughorn tivesse dado outra das suas festinhas, para que Rony não estivesse por 249 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto perto, mas, infelizmente, Slughorn parecia ter desistido delas. Uma ou duas vezes Harry cogitou pedir a ajuda da Hermione, mas achava que não agüentaria ver o seu olhar presunçoso. Ele pensou tê-lo visto algumas vezes quando Hermione o pegou encarando Gina ou rindo de suas piadas. E, para complicar ainda mais, ele tinha a preocupação irritante de que se não o fizesse, outra pessoa certamente logo pediria para namorar Gina. Rony e ele ao menos concordavam que seria melhor que ela não fosse tão popular, para seu próprio bem. Considerando tudo, a tentação de tomar outro gole de Felix Felicis ficava mais forte a cada dia, certamente esta era uma ocasião para, como Hermione colocou, “ajustar um pouquinho as circunstâncias”? Dias agradáveis deslizaram suavemente por maio e Rony parecia estar no pé de Harry toda vez que via Gina. Harry se pegou desejando um golpe de sorte que, de alguma maneira, fizesse Rony descobrir que nada o faria mais feliz do que seu melhor amigo e sua irmã apaixonados um pelo outro e os deixasse sozinhos por mais do que alguns segundos. Não parecia haver chance para isso enquanto o jogo final de quadribol da temporada se aproximava. Rony queria falar sobre táticas com Harry o tempo todo e não pensava em mais nada. Rony não era o único a agir assim; o interesse pelo jogo Grifinória-Corvinal crescia desesperadamente por toda a escola, já que a partida decidiria o Campeonato que ainda estava bastante indefinido. Se a Grifinória ganhasse da Corvinal por uma diferença de trezentos pontos (uma missão complicada, ainda que Harry nunca tivesse visto seu time voar melhor), então ganharia o Campeonato. Se ganhassem por menos de trezentos pontos, ficariam em segundo e a Corvinal em primeiro; se perdessem por cem pontos, ficariam em terceiro atrás da Lufa-Lufa e se perdessem por mais de cem pontos, ficariam em quarto lugar e ninguém, Harry pensava, nunca, nunca mais o deixaria esquecer que foi ele quem capitaneou a Grifinória na sua primeira lanterninha na tabela em dois séculos. As vésperas desta partida crucial tinham todas as características normais: membros de casas rivais tentando intimidar os times oponentes pelos corredores; músicas desagradáveis sobre certos jogadores ensaiadas em voz alta enquanto eles passavam; os próprios membros dos times ou ficavam vangloriando-se pela escola e aproveitando toda a atenção dispensada ou corriam para os banheiros entre as aulas para vomitar. De alguma maneira, na mente de Harry, o jogo se tornara inseparavelmente unido ao sucesso ou fracasso de seus planos para com Gina. Ele não conseguia parar de sentir que se ganhassem por mais de trezentos pontos, as cenas de euforia e uma boa e barulhenta festa póspartida poderiam ser tão boas quanto um grande gole de Felix Felicis. No meio de todas as suas preocupações, Harry não esqueceu sua outra ambição: descobrir o que Malfoy tramava na Sala Precisa. Ele ainda verificava o Mapa do Maroto e, como freqüentemente não podia localizar Malfoy nele, deduziu que o outro ainda passava bastante tempo na sala. Embora Harry estivesse perdendo as esperanças de que conseguiria algum dia entrar na Sala Precisa, tentava toda vez que estava próximo, mas a parede continuava firmemente sem portas, não importando como reformulasse seu pedido. Alguns dias antes da partida contra a Corvinal, Harry se encontrava saindo do salão comunal para o jantar sozinho. Rony correra para um banheiro próximo para vomitar de novo e Hermione saíra apressada para conversar com a Profa. Vector sobre um erro que achava ter cometido no seu último trabalho de Aritimancia. Mais por hábito do que por qualquer outra coisa, Harry deu sua passada habitual pelo corredor do sétimo andar, checando o mapa dos marotos enquanto caminhava. Por um instante, ele não conseguiu encontrar Malfoy em lugar algum e presumiu que ele certamente devia estar dentro da Sala Precisa de novo, mas então viu o pequeno ponto escrito Malfoy no banheiro dos meninos no andar de baixo, acompanhado não por Crabbe e Goyle, mas pela Murta Que Geme. Harry só parou de olhar para este casal improvável quando atropelou uma armadura. A colisão barulhenta o trouxe de volta de seus pensamentos. Correndo da cena do crime para prevenir-se, antes que Filch aparecesse, saiu apressado pela escadaria de mármore e pela passagem de baixo. Fora do banheiro, pressionou seu ouvido contra a porta. Não podia ouvir nada. Muito silenciosamente, empurrou a porta para abri-la. 250 Capítulo 24 – Sectumsempra Draco Malfoy estava de pé de costas para a porta, suas mãos agarrando com força os dois lados da pia, sua cabeça loira-esbranquiçada abaixada. – Não... – murmurou a voz da Murta que Geme de um dos cubículos – Não... diga-me o que está errado... posso ajudá-lo. – Ninguém pode me ajudar. – disse Malfoy. Seu corpo todo tremia. – Não posso fazer isso... Não posso... Não vai funcionar... e, a menos que eu faça isso rápido... ele diz que vai me matar... E Harry percebeu, com um choque tão grande que o deixou plantado no lugar, que Malfoy estava chorando, chorando de verdade, lágrimas escorrendo pela sua face pálida até a pia suja. Malfoy ofegou e engoliu seco e então, com um grande estremecimento, olhou para o espelho quebrado e viu Harry fitando-o pelas suas costas. Malfoy virou-se, puxando sua varinha. Instintivamente, Harry puxou a sua própria varinha. A azaração de Malfoy errou Harry por centímetros, despedaçando a lâmpada na parede a seu lado. Harry jogou-se para o lado, pensou Levicorpus e agitou rapidamente sua varinha, mas Malfoy bloqueou a azaração e levantou sua varinha para uma outra... – Não! Não! Parem com isso! – esgoelou a Murta que Geme, sua voz ecoando alto pelo aposento de azulejos. – Parem! PAREM! Houve um grande baque e a lata de lixo atrás de Harry explodiu. Harry tentou a maldição das pernas presas que ricocheteou na parede atrás da orelha de Malfoy e quebrou a cisterna debaixo da Murta, que gritou alto. A água derramou para todos os lados e Harry escorregou enquanto Malfoy, com seu rosto contorcido, gritou: – Cruci... – SECTUMSEMPRA! – gritou Harry, do chão, agitando sua varinha desordenadamente. O sangue jorrava da face e do tórax de Malfoy como se ele tivesse sido retalhado com uma espada invisível. Ele cambaleou para trás e despencou no chão encharcado fazendo um grande barulho, sua varinha caindo da sua mão direita enfraquecida. – Não... – ofegou Harry. Escorregando e cambaleando, Harry ficou de pé e precipitou-se na direção de Malfoy, cuja face estava agora escarlate e brilhante, suas mãos brancas arranhando seu tórax ensopado de sangue. – Não... Eu não... Harry não sabia o que dizia. Caiu de joelhos ao lado de Malfoy que tremia incontrolavelmente numa piscina de seu próprio sangue. A Murta que Geme deixou sair um grito ensurdecedor: – ASSASSINATO! ASSASSINATO NO BANHEIRO! ASSASSINATO! A porta abriu-se com um estrondo atrás de Harry e ele olhou para cima, apavorado: Snape aparecera no aposento, seu rosto furioso. Empurrando Harry rudemente para o lado, ajoelhou-se ao lado de Malfoy, puxou sua varinha e passou-a pelas profundas feridas que a azaração de Harry fizera, murmurando um encantamento que soava quase como uma canção. O fluxo de sangue pareceu se acalmar. Snape limpou o resíduo do rosto de Malfoy e repetiu seu feitiço. Agora, as feridas pareciam fechar. Harry ainda assistia, horrorizado com o que fizera, muito pouco consciente de que ele também estava ensopado de sangue e água. A Murta Que Geme ainda soluçava e lamentava sobre suas cabeças. Quando Snape executou sua contra-maldição pela terceira vez, ele levantou Malfoy parcialmente para colocá-lo de pé. – Você precisa ir para a ala hospitalar. Pode ser que fiquem algumas cicatrizes, mas se você tomar dictamno imediatamente, é possível que evitemos até isso... Venha... Ele ajudou Malfoy para saírem do banheiro, virando-se na porta para dizer em uma voz fria de fúria: – E você, Potter... Espere-me aqui. Em nenhum segundo, passou pela cabeça de Harry desobedecer. Ele levantou-se devagar, tremendo e olhou para o chão molhado. Havia manchas de sangue flutuando como flores carmesins 251 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto na superfície. Ele não conseguia encontrar forças nem mesmo para pedir à Murta Que Geme para ficar quieta, já que ela continuava se lamentando e soluçando com um prazer cada vez mais evidente. Snape voltou dez minutos depois. Entrou no banheiro e fechou a porta atrás de si. – Vá – ordenou à Murta, e ela lançou-se de volta em seu banheiro imediatamente, deixando um silêncio retumbante atrás dela. – Não queria que isso acontecesse. – explicou-se Harry de uma vez. Sua voz ecoou no espaço gelado e molhado. – Eu não sabia o que aquela azaração fazia. Mas Snape ignorou: – Aparentemente, subestimei-o, Potter. – disse baixo. – Quem poderia imaginar que você sabia Magia Negra deste nível? Quem lhe ensinou esta azaração? – Eu... li sobre ela em algum lugar. – Onde? – Foi... num livro da biblioteca. – Harry inventou irrefletidamente. – Não consigo lembrar como ele se cham... – Mentiroso – interrompeu Snape. A garganta de Harry ficou seca. Ele sabia o que Snape faria e ele nunca tinha conseguido evitar... O banheiro pareceu tremular diante de seus olhos. Ele esforçou-se para afastar todos os pensamentos, mas por mais que tentasse, a cópia de Preparo de Poções – Nível Avançado do Príncipe Mestiço flutuava confusamente para o primeiro plano de sua mente. E então lá estava ele, encarando Snape novamente, no meio deste banheiro destruído e ensopado. Encarou os olhos pretos de Snape, esperando sem esperanças que Snape não tivesse visto o que ele temia, mas... – Traga-me sua mochila da escola, – Snape pediu suavemente, – e todos os seus livros. Todos eles. Traga-os para mim aqui. Agora! Não havia sentido em discutir. Harry virou-se imediatamente e espalhou água para fora do banheiro. Uma vez no corredor, começou a correr em direção à Torre da Grifinória. A maioria das pessoas andava no sentido oposto e olhava-o boquiaberta, encharcado de água e sangue, mas ele não respondeu nenhuma das perguntas que lhe foram disparadas enquanto corria. Ele ficou abalado. Era como se um querido bichinho de estimação de repente se tornasse selvagem. Em que o Príncipe estava pensando para copiar esta azaração em seu livro? E o que aconteceria quando Snape visse o livro? Ele contaria a Slughorn... O estômago do Harry embrulhou – como Harry conseguira resultados tão bons em Poções todo este ano? Ele confiscaria ou destruiria o livro que tinha ensinado tanto a Harry... o livro que se tornara uma espécie de guia e amigo? Harry não podia deixar que isso acontecesse... não podia. – Onde você...? Por que você está encharcado...? Isso é sangue? – Rony estava parado no topo das escadas, parecendo confuso ao ver Harry. – Preciso do seu livro. – Harry ofegou. – Seu livro de poções. Rápido... me dê... – Mas e o Príncipe... – Explico depois! Rony tirou sua cópia de Preparo de Poções – Nível Avançado da mochila e o entregou. Harry passou por ele a toda velocidade, voltou para a sala comunal. Lá, ele pegou sua mochila, ignorando o olhar surpreso de várias pessoas que já haviam terminado seu jantar, jogou-se pelo buraco do retrato e lançou-se para o corredor do sétimo andar. Ele derrapou ao parar ao lado da tapeçaria dos trasgos dançantes, fechou seus olhos e começou a andar. – Preciso de um lugar para esconder meu livro... Preciso de um lugar para esconder meu livro... Preciso de um lugar para esconder meu livro... Por três vezes ele passou em frente ao trecho de parede vazia. Quando abriu seus olhos, lá estava ela afinal: a porta da Sala Precisa. Harry puxou com força para abrir, atirou-se dentro da sala e bateu a porta. 252 Capítulo 24 – Sectumsempra Ele ofegou. Apesar de sua pressa, seu pânico, seu medo do que lhe esperava de volta no banheiro, não podia evitar ficar assustado com o que via. Estava de pé em uma sala do tamanho de uma grande catedral, cujas janelas altas enviavam feixes de luz sobre o que parecia uma cidade com paredes elevadas, construídas por, Harry sabia que deviam ser, objetos escondidos por gerações de habitantes de Hogwarts. Havia vielas e estradas delimitadas por pilhas enormes e desequilibradas de mobília quebrada e danificada, armazenadas fora de vista, talvez para esconder a evidência de magia mal feita ou ainda escondida por orgulhosos elfos domésticos do castelo. Havia milhares e milhares de livros, sem dúvida proibidos ou rabiscados ou roubados. Havia atiradeiras com asas e frisbees dentados, alguns ainda com energia suficiente para pairar desmotivadamente sobre as montanhas de outros itens proibidos; havia garrafas quebradas de poções congeladas, chapéus, jóias, capas; havia algo que parecia com casca de ovo de dragão. Garrafas tampadas cujo conteúdo ainda brilhava maleficamente, várias espadas enferrujadas e um pesado machado ensangüentado. Harry correu por um dos muitos corredores no meio de todos estes tesouros escondidos. Virou à direita num trasgo empalhado, correu um pouco, virou à esquerda no Armário Sumidouro quebrado no qual Montague se perdera no ano anterior, detendo-se finalmente ao lado de um grande armário que parecia ter ácido jogado na sua superfície empolada. Abriu uma das portas rangentes do armário: já havia sido usado como esconderijo para algo em uma gaiola que havia morrido há muito tempo; o seu esqueleto tinha cinco pernas. Entulhou o livro do Príncipe Mestiço atrás da gaiola e bateu a porta. Deteve-se por um momento, seu coração saltando horrivelmente, observando toda a confusão em volta... Ele seria capaz de achar este ponto novamente no meio de todo este lixo? Agarrando o busto esculpido de um feiticeiro feio e velho do alto de uma caixa de madeira próxima, colocou-o no topo do armário onde o livro estava escondido agora, vestiu uma peruca velha e empoeirada e uma tiara machada na cabeça da estátua para torná-la mais peculiar e então correu de volta a toda velocidade pelos corredores de lixo escondido o mais rápido que podia ir, de volta pela porta, de volta para o corredor, onde bateu a porta atrás de si e ela voltou a ser pedra imediatamente. Harry correu depressa em direção ao banheiro no andar debaixo, empurrando a cópia de Preparo de Poções – Nível Avançado de Rony na mochila enquanto corria. Um minuto depois, estava de volta de frente para Snape, que estendeu sua mão para a mochila de Harry sem dizer nada. Harry a entregou, ofegando, uma dor ardente em seu peito, e esperou. Um por um, Snape tirou os livros de Harry e os examinou. Finalmente, o único livro restante era o de Poções, que examinou muito cautelosamente antes de falar: – Esta é a sua cópia de Preparo de Poções – Nível Avançado, é, Potter? – Sim – afirmou Harry ainda respirando pesadamente. – Você tem certeza absoluta disso, Potter? – Sim – confirmou Harry, com um toque mais desafiador. – Esta é a cópia de Preparo de Poções – Nível Avançado que você comprou da Floreios e Borrões? – Sim – respondeu Harry firmemente. – Então por que, – perguntou Snape, – o nome “Roonil Wazlib” está escrito na parte interna da capa da frente? O coração de Harry deu um salto: – É meu apelido. – inventou. – Seu apelido. – repetiu Snape. – É... é como meus amigos me chamam. – explicou Harry. – Eu sei o que é um apelido. – retrucou Snape. Os olhos frios e negros perfuravam mais uma vez os de Harry; ele tentou não olhá-los. Feche sua mente... Feche sua mente... Mas ele nunca aprendera a fazer isso corretamente. – Você sabe o que eu acho, Potter? – perguntou Snape, muito calmamente. – Acho que você é um mentiroso e um trapaceiro e que você merece detenção comigo todos os sábados até o fim deste semestre. O que você acha, Potter? 253 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Eu... Eu não concordo, senhor. – respondeu Harry ainda se recusando a olhar nos olhos de Snape. – Bem, vamos ver como você se sente após as suas detenções. Dez horas, sábado de manhã, Potter. Na minha sala. – Mas, senhor... – argumentou Harry, olhando para cima desesperadamente. – Quadribol... a última partida da... – Dez horas – sussurrou Snape, com um sorriso que mostrou seus dentes amarelos. – Pobre Grifinória... quarto lugar este ano, eu receio. E deixou o banheiro sem falar mais nada, deixando Harry a encarar o espelho quebrado, sentindose mais enjoado, ele tinha certeza, do que Rony já se sentira em toda sua vida. – Não vou dizer: “Eu te disse”. – comentou Hermione, uma hora depois na sala comunal. – Deixa disso, Hermione. – pediu Rony, irritado. Harry não apareceu para jantar, não tinha apetite nenhum. Acabara de contar a Rony, Hermione e Gina o que acontecera, não que houvesse necessidade de fazê-lo. As notícias tinham andado muito rápido: aparentemente, a Murta Que Geme dera-se ao trabalho de aparecer em todos os banheiros do castelo para contar a história. Malfoy já fora visitado na ala hospitalar por Pansy Parkinson, que não perdera tempo para começar a caluniar Harry por toda parte, e Snape contara aos professores exatamente o que acontecera. Harry já fora chamado para deixar o salão comunal e agüentar quinze minutos altamente desagradáveis na companhia da professora McGonagall, que lhe dissera que ele tivera a sorte de não ser expulso e que ela apoiava incondicionalmente a punição de Snape de detenções todo sábado até o fim do semestre. – Te disse que havia algo errado com este tal de Príncipe. – Hermione lembrou, evidentemente incapaz de se controlar – E eu estava certa, não estava? – Não, eu não acho que estava – contestou Harry teimosamente. Ele já estava passando por um período muito ruim sem Hermione lhe dar sermão. As caras do time da Grifinória quando ele lhes contou que não poderia jogar no sábado haviam sido o pior de todos os castigos. Ele podia sentir os olhos de Gina nele agora, mas não os encarou, não queria ver desapontamento ou raiva ali. Apenas lhe disse que ela jogaria como apanhadora no sábado e que Dino se juntaria ao time novamente como artilheiro em seu lugar. Talvez, se ganhassem, Gina e Dino fizessem as pazes durante a euforia pós-partida... O pensamento passou por Harry como uma faca gelada. – Harry, – insistiu Hermione, – como você ainda pode ser leal a este livro quando aquela azaração... – Pára de falar deste livro o tempo todo! – irritou-se Harry. – O Príncipe só copiou a azaração. Não é como se ele estivesse aconselhando alguém a usá-la! Pelo que sabemos, ele podia estar anotando algo que fora usado contra ele! – Não acredito nisso – discordou Hermione. – Você está defendendo mesmo... – Não estou defendendo o que fiz! – interrompeu Harry rapidamente. – Eu queria não ter feito aquilo e não é só porque tenho mais ou menos uma dúzia de detenções. Você sabe que não usaria uma azaração como aquela, nem mesmo no Malfoy, mas você não pode culpar o Príncipe, ele não escreveu “experimente esta, é realmente boa.”... Ele estava apenas fazendo anotações para si mesmo, não estava? Não era para mais ninguém. – Você está me dizendo, – perguntou Hermione, – que você vai voltar...? – E pegar o livro? É, vou sim. – completou Harry energicamente. – Ouça, sem o Príncipe eu nunca teria ganhado a Felix Felicis. Não saberia como salvar Rony do envenenamento, nunca teria... – ...conseguido uma boa reputação pelo seu brilhantismo em Poções que você não merece. – completou Hermione grosseiramente. – Dá um tempo, Hermione! – pediu Gina e Harry ficou tão surpreso, tão agradecido que levantou os olhos. – Pelo jeito, Malfoy estava tentando usar uma maldição imperdoável, você deveria ficar feliz por Harry ter alguma carta boa na manga! 254 Capítulo 24 – Sectumsempra – Bem, é claro que fico feliz por Harry não ter sido amaldiçoado! – disse Hermione evidentemente atormentada. – Mas você não pode chamar a azaração Sectumsempra de boa, Gina, veja onde levou Harry! E eu pensaria, vendo o que isso fez com suas chances na partida... – Ah, não comece a agir como se você entendesse de Quadribol – irritou-se Gina – você só vai conseguir ficar embaraçada. Harry e Rony olharam fixo: Hermione e Gina, que sempre haviam se dado muito bem, estavam agora sentadas com os braços cruzados, fitando furiosamente em direções opostas. Rony olhou nervosamente para Harry, então agarrou um livro aleatoriamente e se escondeu atrás dele. Harry, no entanto, apesar de saber que não merecia isso, sentiu-se inacreditavelmente animado de repente, mesmo que nenhum deles tenha se falado de novo pelo resto da noite. Sua despreocupação durou pouco. Haveria insultos sonserinos para serem suportados no dia seguinte, para não mencionar a enorme raiva dos amigos grifinórios, que estavam muito infelizes por seu capitão ter conseguido ser banido da última partida da temporada. No sábado de manhã, não importa o que ele tivesse dito a Hermione, Harry trocaria prazerosamente toda Felix Felicis do mundo para estar caminhando para a quadra de quadribol com Rony, Gina e os outros. Era quase insuportável desviar-se da massa de alunos fluindo para a luz do sol, todos eles usando rosetas e chapéus e agitando bandeiras e cachecóis, para descer pelos degraus de pedra em direção à masmorra e andar até que o som distante da multidão estivesse quase inaudível, sabendo que ele não seria capaz de ouvir uma palavra dos comentários, ou um aplauso, ou um berro. – Ah, Potter, – exclamou Snape, quando Harry bateu na sua porta e entrou na desagradavelmente familiar sala que Snape, apesar de lecionar andares acima agora, não desocupara. Estava debilmente iluminada como sempre e os mesmos objetos pegajosos e mortos suspensos em poções coloridas por todas as paredes. Preocupantemente, haviam muitas caixas com teias de aranha empilhadas numa mesa na qual evidentemente supunha-se que Harry se sentasse. Elas tinham uma aura de trabalho tedioso, pesado e sem propósito. – O Sr. Filch estava procurando alguém para passar a limpo estes arquivos antigos. – explicou Snape suavemente. – São registros de outros malfeitores de Hogwarts e de suas punições. Naqueles em que a tinta está se apagando ou as fichas foram danificadas por ratos, nós gostaríamos que você copiasse os crimes e as punições novamente e, certificando-se que de que estejam em ordem alfabética, coloque-as de volta nas caixas. Você não usará mágica. – Certo, professor. – concordou Harry com todo o desdém que ele podia colocar nas últimas três sílabas. – Achei que você poderia começar, – disse Snape com um sorriso maligno nos lábios, – com as caixas mil e doze até a mil e cinqüenta e seis. Você encontrará alguns nomes familiares nelas, o que deve deixar a tarefa interessante. Aqui, veja... Ele puxou uma ficha de uma das caixas superiores sacudindo-a e leu: – Tiago Potter e Sirius Black. Capturados usando uma azaração ilegal em Betram Aubrey. A cabeça de Aubrey ficou com duas vezes o tamanho normal. Detenção dupla. Snape ridicularizou: – Deve ser algo reconfortante saber que, apesar de eles se terem ido, um registro de suas grandes realizações perdure. Harry sentiu a sensação familiar de queimação na boca do estômago. Mordendo sua língua para impedir-se de revidar, sentou-se em frente às caixas e puxou uma para si. Foi, como Harry previra, trabalho chato, inútil, pontuado (como Snape evidentemente planejara) por sacudidelas no estômago regulares que significavam que ele acabara de ler os nomes de seu pai ou de Sirius, geralmente juntos em vários malfeitos insignificantes, ocasionalmente acompanhados pelos nomes de Remo Lupin e Pedro Pettigrew. E enquanto ele copiava todos os seus vários crimes e castigos, perguntava-se o que acontecia lá fora, onde a partida já deveria ter começado... Gina jogando de apanhadora contra Cho... 255 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Harry espiou de novo e de novo o relógio grande tiquetaqueando na parede. Parecia estar se movendo com a metade da velocidade de um relógio normal; talvez Snape o tivesse enfeitiçado para andar super devagar? Ele não podia estar ali por meia hora somente... uma hora... uma hora e meia... O estômago de Harry começou a roncar quando o relógio marcou meio-dia e meia. Snape, que não falara nada desde que passara a Harry a sua tarefa, finalmente olhou para cima a uma e dez. – Acho que é o suficiente. – ele informou friamente. – Marque o lugar onde parou. Você continuará às dez horas no próximo sábado. – Sim, senhor. Harry empurrou uma ficha dobrada aleatoriamente na caixa e correu pela porta antes que Snape pudesse mudar de idéia, correndo de volta pelos degraus de pedra, apurando os ouvidos para ouvir algum som do campo, mas estava tudo quieto... Tinha acabado, então. Ele hesitou fora do Salão Principal lotado, então subiu correndo pela escadaria de mármore; se a Grifinória tivesse ganhado ou perdido, o time geralmente comemorava ou se compadecia no seu próprio salão comunal. – Quid agis*? – perguntou experimentalmente para a Mulher Gorda, imaginando o que encontraria lá dentro. Sua expressão foi indecifrável enquanto ela respondia: – Você verá. E ela abriu-se para frente. Um urro de comemoração irrompeu pelo buraco atrás dela. Harry ficou boquiaberto quando as pessoas começaram a gritar ao vê-lo; várias mãos o puxaram para dentro da sala. – Nós ganhamos! – berrou Rony, saltando à vista e agitando a Taça de prata para Harry. – Nós ganhamos! Quatrocentos e cinqüenta a cento e quarenta! Nós ganhamos! Harry olhou em volta. Lá estava Gina correndo em sua direção; ela tinha um olhar penetrante e brilhante em seu rosto quando jogou seus braços em volta dele. E sem pensar, sem planejar nada, sem se preocupar com o fato de que cinqüenta pessoas assistiam, Harry a beijou. Após vários longos momentos... ou podia ter sido meia hora ... ou possivelmente vários dias ensolarados... eles se separaram. A sala ficara muito silenciosa. Então, várias pessoas assobiaram e houve uma explosão de risinhos nervosos. Harry olhou por cima da cabeça de Gina para ver Dino Thomas segurando um copo quebrado em sua mão e Romilda Vane parecendo que ia atirar alguma coisa. Hermione estava radiante, mas os olhos de Harry procuravam Rony. Finalmente, ele o encontrou ainda agarrado à Taça e com uma expressão apropriada para quem levou uma pancada na cabeça. Por uma fração de segundo eles se olharam, então Rony balançou a cabeça e Harry entendeu que queria dizer: “Bem... se é o que você quer...” Com a criatura dentro de seu peito urrando de triunfo, ele riu para Gina e apontou sem dizer nada para o buraco do retrato. Uma longa caminhada nos jardins parecia indicada, durante a qual, se tivessem tempo, poderiam discutir a partida. *Agis=agir, fazer. Quid agis? Significa “Que fazes?” 256 – CAPÍTULO 25 – A Vidente entreouvida O fato de que Harry Potter estava namorando Gina Weasley parecia interessar a um grande número de pessoas, a maioria garotas. Harry viu-se pela primeira vez sem se deixar afetar por fofocas nas próximas semanas. Afinal de contas, era uma mudança boa falarem dele por causa de algo que o estava fazendo mais feliz do que podia lembrar ter sido por muito tempo, ao invés de comentarem seu envolvimento em cenas terríveis de Magia Negra. – A gente sempre acha que as pessoas têm assuntos melhores para fofocar – comentou Gina, enquanto se sentava no salão comunal, apoiando-se nas pernas de Harry e lendo o Profeta Diário. – Três ataques de dementadores em uma semana e tudo que Romilda Vane faz é me perguntar se é verdade que você tem um hipogrifo tatuado no peito. Rony e Hermione rolaram de rir. Harry ignorou-os. – O que você disse a ela? – Eu disse que era um Rabo-Córneo Húngaro, – respondeu Gina, virando uma página do jornal. – Muito mais macho. – Valeu! – disse Harry, sorrindo. – E o que você disse que Rony tem? – Um mini pufoso, mas eu não contei onde. Rony fechou a cara enquanto Hermione chorava de rir. – Fiquem espertos, – ele disse, apontando ameaçadoramente para Harry e Gina. – Só porque eu dei minha permissão não quer dizer que eu não possa voltar atrás... – Sua permissão – gozou Gina. – Desde quando você precisa me dar permissão para alguma coisa? De qualquer forma, você mesmo disse que preferia Harry ao Miguel ou Dino. – É, eu prefiro – disse Rony mal-humorado. – Contanto que vocês não comecem a dar amassos em público. – Seu hipócrita! E você e a Lilá, se agarrando por todo lugar como um par de enguias? – retrucou Gina. Mas não haveria muita chance de testar a tolerância de Rony, já que, entrando no mês de junho, o tempo que Harry e Gina tinham para ficar juntos estava diminuindo consideravelmente. Os N.O.M.s de Gina estavam se aproximando e ela era obrigada a revisar a matéria durante horas e horas noite adentro. Em uma destas noites, quando Gina havia se retirado para a biblioteca e Harry estava sentado perto da janela do salão comunal, supostamente terminando seu dever de casa de Herbologia, mas na realidade relembrando um momento particularmente feliz passado com Gina perto do lago na hora do almoço, Hermione sentou-se entre ele e Rony com uma expressão cheia de determinação nada agradável em seu rosto. – Eu quero falar com você, Harry. 257 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Sobre o quê? – disse Harry, desconfiado. No dia anterior, Hermione tinha dado uma bronca nele por distrair Gina quando ela deveria estar estudando com afinco para os exames. – O assim chamado Príncipe Mestiço. – Ah, de novo não – ele gemeu. – Será que não dá para você deixar isso pra lá? Ele não tinha ousado voltar à Sala Precisa para recuperar seu livro, e seu desempenho nas aulas de poções estava decaindo proporcionalmente (embora Slughorn, que aprovava o namoro com Gina, tivesse atribuído isso ao fato de Harry estar apaixonado). Mas Harry tinha certeza que Snape não havia perdido as esperanças de botar as mãos no livro do Príncipe, e estava determinado a deixá-lo lá onde estava enquanto Snape continuasse de olho. – Eu não vou deixar para lá – disse Hermione com firmeza, – até que você me escute. Bom, eu tenho tentado encontrar alguma dica sobre quem poderia ter como hobby a invenção de feitiços malignos... – Ele não tinha isso como hobby... – Ele, ele, quem disse que é ele? – Nós já discutimos isso – interrompeu Harry. – Príncipe, Hermione, Príncipe!– – Certo! – respondeu Hermione, manchas vermelhas brilhando em suas bochechas quando ela puxou um velho recorte de jornal de seu bolso e jogou-o na mesa na frente de Harry. – Olhe isso! Olhe a foto! Harry pegou o recorte amassado e fitou a fotografia em movimento, amarelada pelo tempo; Rony inclinou-se para olhar também. A foto era de uma menina magricela de seus quinze anos. Ela não era bonita; parecia ao mesmo tempo entediada e rabugenta, tinha sobrancelhas grossas e um rosto comprido e pálido. Embaixo da fotografia estava a legenda: Eileen Príncipe*, Capitã do Time de Bexigas de Hogwarts. – E daí? – disse Harry, passando os olhos pela curta notícia à qual a foto pertencia; era uma matéria bastante tediosa sobre competições entre escolas. – O nome dela era Eileen Príncipe. Príncipe, Harry. Eles se entreolharam e Harry percebeu o que Hermione estava tentando dizer. Ele caiu na gargalhada. – De jeito nenhum. – O que? – Você acha que ela era o Príncipe Mestiço ...? Ah, fala sério. – Bem, por que não? Harry, não existem príncipes de verdade no mundo bruxo! Então, ou é um apelido, um título inventado que alguém se atribuiu, ou poderia ser um nome de verdade, não poderia? Não, escute! Se, por exemplo, o pai dela era um bruxo cujo sobrenome era “Príncipe” , e sua mãe era uma trouxa, então isso faria dela um “Príncipe mestiço”! – É, muito engenhoso, Hermione ... – Mas é verdade! Talvez ela se orgulhasse de ser “meio” Príncipe! – Escute, Hermione, eu posso dizer que não é uma menina. Eu simplesmente sei... A verdade é que você acha que uma garota não seria inteligente o bastante– retrucou Hermione com raiva. – Como eu poderia ser seu amigo por cinco anos e achar que meninas não são inteligentes? – perguntou Harry, magoado. – É o jeito de escrever. Eu simplesmente sei que o Príncipe é um cara, eu posso sentir. Essa garota não tem nada a ver com isso. Aliás, onde você encontrou isso? – Na biblioteca – respondeu Hermione, previsível. – Eles têm um acervo de Profetas antigos lá. Bom, eu vou tentar descobrir mais coisas sobre Eileen Príncipe, se eu puder. – Divirta-se – respondeu Harry irritado. – Vou me divertir – retrucou Hermione. – E o primeiro lugar onde eu vou procurar – ela gritou para ele, chegando ao buraco do retrato, – é nos arquivos de prêmios de Poções antigos! *Prince, em Inglês, no original. Traduzido apenas para dar algum sentido ao título, como se pode constatar. 258 Capítulo 25 – A vidente entreouvida Harry acompanhou-a com o olhar por alguns instantes, depois continuou a contemplar o céu que escurecia. – Ela nunca superou o fato de você ser melhor do que ela em Poções, – comentou Rony, voltando a atenção para seu exemplar de Mil Ervas e Fungos Mágicos. – Você não acha que eu sou louco por querer o livro de volta, acha? – Claro que não, – respondeu Rony firmemente. – Ele era um gênio, o Príncipe. De qualquer modo ... sem a dica do bezoar ... – ele levou o dedo à garganta, – Eu não estaria aqui para discutir sobre isso, não é mesmo? Quero dizer, não estou afirmando que o feitiço que você lançou no Malfoy é legal... – Nem eu – acrescentou Harry, rapidamente. – Mas ele sarou direitinho, não foi? De volta à ativa em um instante. – É – respondeu Harry; isso era verdade, muito embora a sua consciência pesasse um pouco de qualquer modo. – Graças ao Snape ... – Você ainda tem detenção com Snape este sábado? – continuou Rony. – Sim e no sábado seguinte, e no próximo... – suspirou Harry. – E agora ele está insinuando que se eu não conseguir terminar todas as caixas até o final do ano, nós continuaremos ano que vem. Ele estava achando essas detenções particularmente detestáveis porque elas interferiam no já escasso tempo que ele poderia estar passando com Gina. De fato, ele vinha desconfiando ultimamente que Snape sabia disso, uma vez que ele estava o prendendo até mais tarde a cada vez, enquanto fazia observações sobre o fato de Harry estar perdendo o bom tempo e as oportunidades variadas que ele oferecia. Harry foi interrompido dessas amargas reflexões pela aparição de Jimmy Peakes, que estava segurando um pedaço de pergaminho. – Obrigado, Jimmy ... ei, é do Dumbledore! – exclamou Harry animado, desenrolando o pergaminho e correndo os olhos por ele. – Ele quer que eu vá à sua sala o mais rápido possível! Eles se entreolharam. – Nossa – sussurrou Rony. – Você não acha que ... ele não encontrou ...? – Melhor eu ir checar, não é? – respondeu Harry, pulando da cadeira. Ele saiu correndo do salão comunal e passou voando pelo sétimo andar, o mais rápido que podia, encontrando apenas Pirraça pelo caminho, que voou em sentido oposto, jogando pedaços de giz em Harry, como uma coisa de rotina, e gargalhando bem alto ao desviar do feitiço defensivo lançado por Harry. Assim que Pirraça sumiu, houve silêncio nos corredores, faltavam apenas quinze minutos para o toque de recolher, a maioria das pessoas já havia retornado aos seus respectivos salões comunais. E então Harry escutou um grito e um estrondo. Ele parou, escutando. – Como... você... ousa... aaaaargh! O barulho vinha de um corredor próximo; Harry correu até lá, sua varinha a postos, dobrou a outra esquina e avistou a Professora Trelawney estendida no chão, sua cabeça coberta por um de seus muitos xales, várias garrafas de vinho vagabundo caídas ao lado dela, uma delas quebrada. – Professora ... Harry avançou e ajudou a Professora Trelawney a se levantar. Alguns de seus colares tinham se enganchado nos óculos. Ela soluçou alto, ajeitou os cabelos e se levantou, apoiada no braço de Harry. – O que aconteceu, Professora? – Você deve mesmo tentar saber! – ela disse gritando estridentemente. – Eu estava passando por aqui, preocupada com certos sinais sombrios que me apareceram... Mas Harry não estava prestando muita atenção. Ele tinha acabado de perceber onde eles estavam: à direita estava a tapeçaria com a figura dos trasgos bailarinos e, à esquerda, a parede de pedra impenetrável que escondia ... – Professora, a senhora estava tentando entrar na Sala Precisa? 259 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – ... presságios que me foram revelados... o quê? Sua expressão mudou de repente. – A Sala Precisa, – repetiu Harry. – A senhora estava tentando entrar lá? – Eu... bem... eu não sabia que os alunos sabiam desse ... – Nem todos sabem – disse Harry. – Mas o que aconteceu? A senhora gritou... parecia que estava ferida... – Eu... bem, – disse a Professora Trelawney, puxando os xales em sua volta, na defensiva, e olhando para ele com seus olhos muito aumentados pela lente. – Eu queria... er... depositar certos... hum... itens pessoais na Sala... – E ela murmurou algo sobre “acusações horríveis”. – Sei, – retrucou Harry, espiando as garrafas de vinho. – Mas a senhora não conseguiu entrar e escondê-los? Ele achou aquilo muito esquisito; afinal de contas, a Sala havia se aberto para ele quando ele desejou esconder o livro do Príncipe Mestiço. – Ah, eu consegui entrar sim – disse a Professora Trelawney, olhando fixamente para a parede. – Mas já havia alguém lá dentro. – Alguém lá? Quem? – perguntou Harry. – Quem estava lá? – Não faço idéia – respondeu a Professora Trelawney, parecendo um pouco surpresa com a urgência na voz de Harry. – Eu entrei na Sala e escutei uma voz, o que jamais havia acontecido antes em todos esse anos em que tenho escondido... quero dizer, usado a Sala. – Uma voz? E o que dizia? – Eu não sei se estava dizendo alguma coisa – respondeu a Professora Trelawney. – Estava... dando gritos de entusiasmo. – Entusiasmo? – Alegremente, – ela respondeu, balançando a cabeça afirmativamente. Harry encarou a Professora. – Era voz de homem ou de mulher? – Eu apostaria num homem – respondeu a Professora Trelawney. – E parecia feliz? – Muito feliz – disse a Professora Trelawney fungando. – Como se estivesse comemorando? – Definitivamente. – E então ? – E então eu gritei: – Quem está aí? – A senhora não poderia ter descoberto quem era sem perguntar? – Harry perguntou a ela, um pouco frustrado. – A visão interior – respondeu a Professora Trelawney com dignidade, arrumando seus xales e as várias voltas de colares de contas brilhantes, – estava concentrada em assuntos muito mais relevantes que vozes mundanas gritando de alegria. – Certo – disse Harry, apressado; ele já tinha ouvido falar demais sobre a visão interior da professora – E a voz respondeu quem era? – Não, não respondeu, – ela disse. – Tudo ficou completamente escuro e de repente, eu fui lançada de cabeça para fora da Sala! – E a senhora não percebeu que isso aconteceria? – disse Harry, sem conseguir se conter. – Não, não percebi, como eu lhe disse, tudo ficou escu... – Ela parou e olhou para ele, desconfiada. – Acho que a senhora deveria relatar o acontecido ao Professor Dumbledore – disse Harry. – É bom que ele saiba que o Malfoy está comemorando – quero dizer, que alguém jogou a senhora para fora da Sala. Para a surpresa de Harry, a Professora Trelawney se afastou um pouco, ao ouvir tal sugestão, parecendo desdenhosa. 260 Capítulo 25 – A vidente entreouvida – O Diretor deu a entender que prefere que eu não o visite tanto – comentou, friamente. Não sou de forçar a minha companhia a quem não a preza. Se o Dumbledore prefere ignorar os avisos que as cartas mostram... Sua mão ossuda de repente se fechou em volta do pulso de Harry. – De novo e de novo, não importa como eu as tire ... E, com um gesto dramático, ela puxou uma carta de baixo de seus xales. – ... a torre atingida pelo raio – ela sussurrou. – Calamidade. Desastre. Cada vez mais próximos... – Certo – repetiu Harry. – Bem ... eu ainda acho que a senhora deveria contar ao Dumbledore sobre essa voz e tudo ficando escuro e a senhora sendo jogada para fora da Sala... – Você acha? – a Professora Trelawney pareceu considerar a proposta por um instante, mas Harry pôde perceber que ela gostou da idéia de poder recontar a sua pequena aventura. – Vou vê-lo agora mesmo – disse Harry. – Tenho um encontro com ele. Nós poderíamos ir juntos. – É, bom, nesse caso, – disse a Professora Trelawney, com um sorriso. Ela se agachou, recolheu as garrafas de vinho e, sem qualquer cerimônia, as jogou dentro de um grande vaso azul num nicho ali perto. – Sinto falta de você nas minhas aulas, Harry – ela disse, sentida, enquanto caminhavam juntos. – Você nunca foi um grande vidente ... mas era um ótimo objeto... Harry não respondeu; ele odiava ser o objeto das contínuas previsões de ruína da Professora Trelawney. – Eu receio – ela continuou – que o pangaré, perdão, o centauro, não saiba nada de cartomancia. Eu perguntei a ele... de vidente para vidente... se ele também não tinha sentido as vibrações distantes da catástrofe que está por vir? Mas ele pareceu me achar quase cômica. Sim, cômica! A voz dela se elevou para um tom quase histérico e Harry pôde sentir um bafo de vinho, embora as garrafas tivessem sido deixadas lá atrás. – Talvez o cavalo tenha ouvido as pessoas dizendo que eu não herdei o dom da minha tataravó. Esses rumores têm sido espalhados pelos invejosos há anos. Você sabe o que eu digo a essas pessoas, Harry? O Dumbledore deixaria que eu ensinasse nesta grande escola, confiaria tanto em mim por todos estes anos, se eu não tivesse mostrado a ele do que sou capaz? Harry murmurou algo ininteligível. – Eu me lembro bem da minha primeira entrevista com o Dumbledore – continuou a Professora Trelawney, em tom alto e rouco. – Ele ficou profundamente impressionado, claro, profundamente impressionado ... Eu estava hospedada no Cabeça de Javali, que, aliás, não recomendo... insetos na cama, meu querido... mas os fundos eram parcos. Dumbledore fez a cortesia de me visitar no meu quarto na hospedaria. Ele me perguntou ... Devo confessar que, no começo, achei que ele não estava com boa predisposição quanto à Adivinhação... e eu lembro de ter me sentido meio esquisita, eu não tinha comido muito naquele dia... mas daí ... Agora Harry estava prestando atenção de verdade pela primeira vez, pois sabia o que tinha acontecido então: a Professora Trelawney tinha feito a profecia que alterou o curso de toda a sua vida, a profecia sobre ele e Voldemort. – ...mas então nós fomos rudemente interrompidos por Severo Snape! – O que? – Sim, houve uma comoção do lado de fora e a porta abriu-se de repente, e lá estavam aquele taberneiro estúpido e Snape, que ficou embromando sobre ter vindo pelo caminho errado escada acima, embora eu tenha achado que ele estava na verdade, tentando escutar a minha entrevista com Dumbledore, veja bem, ele mesmo estava procurando emprego naquela época, e sem dúvida estava querendo algumas dicas! Bom, depois disso, você sabe, o Dumbledore pareceu muito mais disposto a me conceder o emprego e eu não posso evitar de pensar, Harry, que foi porque ele percebeu o contraste gritante entre as minhas maneiras humildes e talento modesto, comparados àquele jovem 261 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto rapaz intrometido e agressivo que estava disposto a escutar através do buraco da fechadura... Harry, querido? Ela olhou para trás por cima do ombro e só então percebeu que Harry não mais a estava acompanhando; ele havia parado de andar e estavam a cinco metros de distância um do outro. – Harry? – ela repetiu, hesitante. Talvez o rosto de Harry estivesse pálido, para fazê-la parecer tão preocupada e amedrontada. Harry estava imóvel enquanto ondas de choque incidiam sobre ele, fazendo-o esquecer de tudo, menos aquela informação que lhe havia sido negada por tanto tempo ... Foi Snape quem tinha ouvido a profecia. Foi Snape quem tinha levado as novidades da profecia para Voldemort. Snape e Pedro Pettigrew juntos haviam mandado Voldemort atrás de Lílian, Tiago e do filho deles... Nada mais importava a Harry naquele exato instante. – Harry? – chamou a Professora Trelawney novamente. – Harry.. eu achei que nós fossemos juntos encontrar o Diretor? – Fique aqui – disse Harry, com os lábios cerrados. – Mas, querido ... eu ia contar a ele como eu fui atacada na Sala... – Fique aqui! – Harry repetiu furioso. Ela pareceu alarmada, enquanto ele passou correndo, virando a esquina para entrar no corredor da sala de Dumbledore, onde ficava a gárgula solitária. Harry gritou a senha para a gárgula e subiu correndo a escada de espiral, três degraus por vez. Ele não bateu na porta da sala de Dumbledore, ele esmurrou a porta; e a voz calma respondeu – Entre – depois que Harry já tinha se jogado para dentro da sala. Fawkes, a fênix, olhou ao redor, seus olhinhos pretos brilhando com o reflexo do sol poente dourado que batia na janela. Dumbledore estava parado perto da janela, olhando para fora, com uma longa capa preta de viagem nos braços. – Bem, Harry, eu prometi que você poderia ir comigo. Por alguns instantes, Harry não compreendeu; a conversa com Trelawney tinha varrido todo o resto para fora de sua mente e seu cérebro parecia estar funcionando muito lentamente. – Ir ... com você ... ? – Apenas se você desejar, é claro. – Se eu... E então Harry recordou-se porque estava tão ansioso para chegar à sala de Dumbledore, antes de tudo. – Você achou? Você achou um Horcrux? – Acredito que sim. Raiva e ressentimento lutaram contra surpresa e ansiedade: por alguns momentos, Harry não conseguiu falar. – É natural sentir medo, – disse Dumbledore. – Eu não estou com medo! – retrucou Harry de pronto; e era verdade, medo era uma emoção que ele definitivamente não estava sentindo. – Qual Horcrux é esse? Onde está? – Não sei exatamente qual deles é, muito embora eu acredite que nós possamos descartar a cobra, mas eu acredito que esteja escondido numa caverna na costa a quilômetros daqui, uma caverna que eu tenho tentado localizar há muito tempo: a caverna onde Tom Riddle aterrorizou duas criancinhas do seu orfanato no passeio anual, lembra-se? – Sim – disse Harry. – Como está protegido? – Não sei. Tenho algumas suspeitas que podem estar completamente equivocadas. – Dumbledore hesitou e disse, então – Harry, eu prometi a você que poderia vir comigo, e mantenho a minha promessa, mas seria muito errado da minha parte não alertá-lo que essa excursão será extremamente perigosa. 262 Capítulo 25 – A vidente entreouvida – Eu vou – disse Harry, quase antes de Dumbledore terminar de falar. Fervendo de raiva de Snape, sua vontade de fazer algo desesperado e arriscado tinha aumentado dez vezes nos últimos poucos minutos. Isso devia estar estampado nas feições de Harry, pois Dumbledore afastou-se da janela e o observou mais de perto, com uma pequena ruga entre as sobrancelhas prateadas. – O que aconteceu com você? – Nada – mentiu Harry prontamente. – O que o deixou nervoso? – Não estou nervoso. – Harry, você nunca foi muito bom em Oclumência... A palavra foi a faísca que acendeu a fúria de Harry. – Snape! – disse, muito alto, e Fawkes deu um piado suave atrás deles. – Snape é o que aconteceu! Ele contou a Voldemort sobre a profecia, foi ele que escutou por trás da porta, Trelawney me contou! A expressão de Dumbledore não se alterou, mas Harry achou que ele estava mais pálido sob a luz avermelhada que o sol poente deixava penetrar. Por um longo período, Dumbledore não disse nada. – Quando você descobriu isso? – ele perguntou, finalmente. – Agora mesmo! – disse Harry, se controlando com dificuldade para não gritar. E então, de repente, ele não pôde mais se conter: – E VOCÊ DEIXOU QUE ELE DESSE AULAS AQUI E ELE INCITOU VOLDEMORT A IR ATRÁS DA MINHA MÃE E DO MEU PAI! Respirando pesadamente, como se estivesse lutando, Harry se afastou de Dumbledore, que ainda não tinha movido um músculo, e caminhando de um lado para o outro da sala, esfregando as mãos e exercitando o restante da sua capacidade de se conter para evitar sair chutando tudo. Ele queria bradar e jogar sua fúria em Dumbledore, mas ele também queria ir com ele procurar e destruir o Horcrux; ele queria dizer que ele era um velhote bobo por confiar em Snape, mas estava com medo que Dumbledore não o levasse com ele se não controlasse sua raiva... – Harry – disse Dumbledore calmamente. – Por favor, escute o que eu tenho a dizer. Era tão difícil parar de caminhar de um lado para o outro quanto era difícil conter-se e não gritar. Harry parou, mordendo os lábios, e olhou para o rosto marcado de Dumbledore. – O Professor Snape cometeu um terrível... – Não me diga que foi um erro, ele estava ouvindo atrás da porta! – Por favor, deixe-me terminar. – Dumbledore esperou até que Harry tivesse balançado a cabeça afirmativamente e então prosseguiu. – O Professor Snape cometeu um equívoco terrível. Ele ainda estava sob as ordens de Voldemort na noite em que ouviu a primeira metade da profecia feita pela Professora Trelawney. Naturalmente, ele correu para contar ao seu Mestre o que tinha ouvido, uma vez que o envolvia profundamente. Mas ele não sabia, ele não tinha como saber, qual garoto Voldemort caçaria a partir de então, nem sabia que os pais que ele destruiria em sua missão homicida eram pessoas que o Professor Snape conhecia: sua mãe e seu pai. Harry deixou escapar uma gargalhada falsa. – Ele odiava o meu pai assim como odiava o Sirius! O senhor não notou, Professor, como as pessoas que o Snape odeia sempre acabam sendo mortas? – Você não pode imaginar o remorso que o Professor Snape sentiu quando percebeu como Lord Voldemort tinha interpretado a profecia, Harry. Acredito que seja esse o maior remorso da sua vida e a razão pela qual retornou ... – Mas ele é muito bom em Oclumência, não é, senhor? – disse Harry, cuja voz tremia com o esforço de mantê-la estável. – E Voldemort não está convencido de que Snape está do lado dele, mesmo agora? Professor ... como o senhor pode ter certeza de que o Snape está do nosso lado? Dumbledore não falou por alguns instantes; ele pareceu estar tentando decidir a respeito de algo. Ao final, ele disse: 263 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Eu tenho certeza. Confio em Severo Snape completamente. Harry respirou fundo por alguns instantes, tentando manter-se calmo. Não funcionou. – Bem, eu não confio! – gritou ele, tão alto quanto antes, – Ele está armando alguma coisa com o Draco Malfoy agora mesmo, bem debaixo do seu nariz e o senhor ainda... – Nós já discutimos isso, Harry – interrompeu Dumbledore, e agora ele soava severo novamente. – Eu já lhe externei minha opinião. – O senhor vai deixar a escola essa noite e eu aposto que o senhor nem considerou a hipótese de que Snape e Malfoy podem decidir... – Decidir o que? – perguntou Dumbledore, suas sobrancelhas levantadas. – O que exatamente você suspeita que eles estão fazendo? – Eu ... eles estão armando alguma coisa! – disse Harry e ele cerrou o punho enquanto falava. – A Professora Trelawney estava agora mesmo na Sala Precisa, tentando esconder suas garrafas de vinho, e ela escutou Malfoy dando gritos de alegria, comemorando! Ele está tentando consertar alguma coisa perigosa lá dentro e se o senhor quer saber, eu acho que ele finalmente conseguiu e agora o senhor está prestes a deixar a escola sem... – Chega – disse Dumbledore. Ele o fez com bastante calma, mas ainda assim, Harry calou-se de uma vez por todas, ele sabia que tinha finalmente passado dos limites. – Você acha que alguma vez eu deixei a escola desprotegida durante as minhas ausências? Eu jamais deixei. Hoje à noite, quando eu partir, novamente haverá proteção extra. Por favor, não sugira que eu não levo a sério a segurança de meus alunos, Harry. – Eu não o fiz – resmungou Harry, um pouco confuso, mas Dumbledore o interrompeu. – Eu não quero mais discutir esse assunto. Harry engoliu a resposta, com medo de ter ido muito longe e estragado a chance de acompanhar Dumbledore, mas Dumbledore continuou – Você deseja ir comigo esta noite? – Sim – respondeu Harry prontamente. – Muito bem, então, escute. Dumbledore levantou-se. – Eu levarei você com uma condição: que você obedeça imediatamente e sem contestar qualquer ordem que eu lhe dê. – É claro. – Tenha certeza de que você me entende, Harry. Eu quero dizer que você deve seguir mesmo as ordens de “correr”, “esconder-se” ou “recuar”. Tenho a sua palavra? – Eu ... sim, é claro. – Se eu mandar que você se esconda, você o fará? – Sim. – Se eu mandar que você fuja, você obedecerá? – Sim. – Se eu ordenar que você me deixe e salve sua vida, você fará como eu lhe disser? – Eu ... – Harry? Eles se entreolharam por alguns momentos. – Sim, senhor. – Muito bem. Então eu quero que você vá buscar a sua capa da invisibilidade e encontre-se comigo no saguão de entrada em cinco minutos. Dumbledore virou-se para contemplar a paisagem da janela, o sol era agora um brilho vermelhorubi no horizonte. Harry caminhou rapidamente para fora da sala e desceu a escada em espiral. Seus pensamentos estavam estranhamente claros de repente. Ele sabia o que fazer. Rony e Hermione estavam sentados juntos no salão comunal quando ele chegou de volta. – O que Dumbledore queria? – perguntou Hermione imediatamente. – Harry, você está bem? – ela acrescentou, ansiosa. 264 Capítulo 25 – A vidente entreouvida – Estou ótimo – respondeu Harry simplesmente, passando por eles correndo. Ele voou escada acima para o seu dormitório, onde abriu o malão e puxou para fora o Mapa do Maroto e um par de meias embrulhadas. Então, ele desceu novamente as escadas correndo e voltou para o salão comunal, deslizando até o local onde Rony e Hermione estavam sentados, parecendo chocados. – Não tenho muito tempo – Harry soltou -, Dumbledore acha que eu estou pegando a minha capa da Invisibilidade. Escutem ... Rapidamente, ele esclareceu a eles onde estava indo e por quê. Ele não interrompeu a narrativa nem com as manifestações de horror de Hermione nem com as perguntas ansiosas de Rony; eles poderiam decifrar os detalhes sozinhos depois. – ... então vocês percebem o que isso significa? – terminou Harry. – Dumbledore não estará aqui essa noite, então Malfoy terá outra oportunidade de concretizar seja lá o que ele está armando. Não, me escutem! – ele chiou, com raiva, já que tanto Rony quanto Hermione faziam menção de interrompê-lo. – Eu sei que era Malfoy quem estava comemorando na Sala Precisa. Aqui – colocou o Mapa do Maroto nas mãos de Hermione. – Você deve ficar de olho nele e de olho no Snape também. Peça ajuda a quem quer que seja que tenha feito parte da AD. Hermione, esses galeões de contato ainda funcionam, não é? Dumbledore diz que colocará proteção extra na escola, mas se Snape está envolvido, ele saberá qual é essa proteção e como evitá-la... mas ele não saberá que vocês estão à espreita, certo? – Harry – começou Hermione, com olhos arregalados de medo. – Não tenho tempo para discutir – afirmou Harry. – Fiquem com isso também – jogou as meias nas mãos de Rony. – Valeu – disse Rony. – Er... para que preciso de meias? – Você precisa do que está embrulhado nelas, é o Felix Felicis. Dividam entre vocês e entre Gina também. Digam adeus a ela por mim. É melhor eu ir. Dumbledore está esperando. – Não! – gritou Hermione, enquanto Rony desembrulhava a pequena garrafa cheia de poção dourada, parecendo admirado. – Nós não queremos, leve você, sabe-se lá o que você terá que enfrentar? – Eu estarei bem, estarei com Dumbledore – disse Harry. – Eu quero ter certeza de que vocês ficarão bem... não me olhe desse jeito, Hermione, eu vejo vocês em breve ... E ele partiu, correndo pelo buraco do quadro em direção ao saguão de entrada. Dumbledore estava esperando ao lado das portas de carvalho na entrada. Ele se virou ao ver Harry descendo os degraus de pedra, ofegante, sentindo uma pontada do lado. – Eu gostaria que você vestisse a sua capa, por favor – disse Dumbledore, e esperou até que Harry tivesse jogado a capa por cima de si mesmo, antes de dizer: – Muito bem. Vamos? Dumbledore desceu os degraus de pedra, sua capa de viagem mal balançando no ar parado de verão. Harry correu ao lado dele debaixo da Capa da Invisibilidade, ainda ofegante e suando muito. – Mas o que as pessoas vão pensar ao vê-lo partir, Professor? – Harry indagou, pensando em Malfoy e Snape. – Que eu estou indo a Hogsmeade tomar um drinque, – disse Dumbledore calmamente. – Às vezes faço uma visita à Rosmerta ou ao Cabeça de Javali... ou pelo menos parece que faço. É um disfarce tão bom quanto qualquer outro, para esconder o meu verdadeiro destino. Caminharam pela trilha, no crepúsculo. O ar cheirava a grama morna, água do lago e fumaça de madeira, que vinha da cabana de Hagrid. Era difícil acreditar que eles estavam em uma missão perigosa ou ameaçadora. – Professor, – murmurou Harry, quando os portões no final da estrada já podiam ser avistados – vamos aparatar? – Sim – respondeu Dumbledore. – Você agora já sabe aparatar, acredito eu? – Sim – disse Harry -, mas ainda não tenho uma autorização. Ele achou melhor ser honesto; o que aconteceria se ele estragasse tudo, aparatando a milhas do local onde eles deveriam ir? 265 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Não tem problema – disse Dumbledore, – Posso ajudá-lo novamente. Eles saíram pelos portões na luz crepuscular, pegando a estrada deserta para Hogsmeade. A escuridão chegava cada vez mais rápido enquanto eles caminhavam e quando alcançaram a rua principal, já era noite. Luzes piscavam das vitrines das lojas e quando eles se aproximaram do Três Vassouras, escutaram gritos altos. – ... e fique longe! – gritou Madame Rosmerta, empurrando para fora um bruxo de aparência desleixada. – Oh, olá, Alvo ... você está vindo tarde... – Boa noite, Rosmerta, boa noite ... perdoe-me, estou indo ao Cabeça de Javali... sem ofensas, preciso de um ambiente mais tranqüilo essa noite... No minuto seguinte, eles viraram a esquina, entrando na rua lateral onde a placa do Cabeça de Javali balançava um pouco, embora não houvesse brisa alguma. Diferentemente do Três Vassouras, o bar parecia completamente vazio. – Não será necessário entrar – murmurou Dumbledore, olhando ao redor. – Contanto que ninguém nos veja ... agora, coloque a sua mão sobre o meu braço, Harry. Não é preciso apertar com força, eu estou apenas te guiando. No número três: um, dois, três... Harry virou-se. Logo, sentiu a sensação horrível de estar sendo espremido dentro de um tubo de borracha grosso; não conseguia respirar, cada parte dele parecia estar sendo mais comprimida do que podia agüentar, e então, justamente quando pensava que ia morrer sufocado, as amarras invisíveis pareceram soltá-lo e ele estava de pé na escuridão gelada, respirando golfadas de um ar puro e salgado. 266 – CAPÍTULO 26 – A Caverna Harry podia sentir o cheiro de sal e ouvir ondas erguendo-se; uma brisa leve e fria despenteava seus cabelos enquanto olhava adiante para o mar iluminado pela lua e o céu repleto de estrelas. Ele estava de pé sobre uma elevada língua de rocha negra, sob a qual a água remexia-se e agitava-se vigorosamente. Harry olhou por cima do próprio ombro. Um gigantesco penhasco estendia-se às suas costas a perder-se de vista, negro e liso. Alguns grandes pedaços de rocha, como aquele onde Dumbledore e Harry estavam, pareciam ter se desprendido do despenhadeiro em algum momento no passado. Era uma visão seca, desagradável, a rocha sem a suavização de nenhuma árvore, um vestígio de grama ou de areia. – O que você acha? – disse Dumbledore. Ele poderia estar questionando Harry se esse era um bom lugar para se fazer um piquenique. – Eles traziam as crianças do orfanato aqui? – perguntou Harry, que não conseguia imaginar um lugar menos acolhedor para um passeio. – Não aqui, precisamente – disse Dumbledore. – Há um a espécie de vila aproximadamente no meio do caminho dos penhascos atrás de nós. Acredito que os órfãos eram levados lá para respirar um pouco de ar marítimo e uma vista das ondas. Não, acho que Tom Riddle e suas jovens vítimas foram os únicos a jamais visitarem esse local. Nenhum trouxa conseguiria chegar a essa rocha, a não ser montanhistas extraordinariamente bons, e barcos não podem se aproximar dos desfiladeiros, as águas ao seu redor são perigosas demais. Imagino que Riddle tenha descido escalando; mágica funcionaria melhor que cordas. E trouxe duas pequenas crianças consigo, provavelmente apenas pelo prazer de aterrorizá-las. Acho que a escalada por si só já seria o suficiente, e você? Harry levantou novamente os olhos para o desfiladeiro e sentiu um calafrio. – Mas seu destino final, e o nosso, encontra-se um pouco mais adiante. Venha. Dumbledore guiou Harry até a beirada da rocha, onde uma série de cavidades cortantes formavam um caminho até pedras semi-submersas na água e mais próximas ao desfiladeiro. Era uma descida traiçoeira e Dumbledore, um pouco atrapalhado por causa de sua mão enfraquecida, moviase devagar. As rochas mais baixas estavam cobertas pelo mar. Harry sentia respingos de sal gelado baterem em seu rosto. – Lumos – disse Dumbledore, ao chegar na pedra mais próxima da face do despenhadeiro. Milhares de gotas de luz dourada se refletiam na superfície escura da água alguns metros abaixo de onde o bruxo se inclinara; a parede de rocha negra ao seu lado também se iluminou. – Consegue ver? – Dumbledore disse calmamente, segurando sua varinha um pouco mais alto. Harry viu uma fissura no penhasco por onde a água escura passava. – Você não fará objeção a se molhar um pouco? 267 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Não – Harry respondeu. – Então retire a sua capa da invisibilidade; não existe necessidade alguma para ela agora; e vamos mergulhar – e subitamente, com a agilidade de um homem muito mais jovem, Dumbledore deslizou da pedra, caiu no mar e começou a nadar com braçadas perfeitas em direção ao vão negro na face do rochedo, sua varinha acesa segura em seus dentes. Harry retirou a capa, guardou-a em seu bolso e o seguiu. A água estava gélida; as roupas encharcadas de Harry pesavam no seu corpo e o puxavam para baixo. Respirando profundamente o ar que enchia suas narinas de um perfume de sal e algas, ele avançou seguindo a luz trêmula e hesitante, agora se movendo mais para o interior do penhasco. A fissura logo se abriu para um túnel escuro, que Harry poderia dizer que se encheria de água com a maré cheia. As paredes úmidas mal se distanciavam um metro e brilhavam como alcatrão molhado à passagem da luz da varinha de Dumbledore. Um pouco mais adiante, a passagem curvava-se para a esquerda e Harry viu que ela se estendia profundamente no interior do penhasco. Ele continuou nadando no rastro do professor, as pontas congeladas de seus dedos raspando a rocha irregular e molhada. Então ele viu Dumbledore saindo d’água a sua frente, suas vestes negras e cabelo prateado brilhando. Quando Harry chegou ao local, encontrou degraus que levavam a uma grande caverna. Ele os subiu, com água pingando de suas roupas ensopadas, e emergiu, tremendo incontrolavelmente, no ar parado e gélido. Dumbledore estava de pé no meio da caverna, sua varinha segura no alto enquanto ele rodava no mesmo lugar, examinando o teto e as paredes. – Sim, este é o lugar – disse ele. – Como o senhor sabe? – Harry falou em um sussurro. – Já foi feita magia aqui – disse Dumbledore com simplicidade. Harry não conseguia dizer se os arrepios que estava experimentando deviam-se ao frio intenso ou à mesma sensação de presença de encantamentos. Ele assistiu Dumbledore revirar-se no mesmo lugar, evidentemente concentrando-se em coisas que Harry não conseguia ver. – Essa é apenas a antecâmara, o salão de entrada – Dumbledore falou depois de um ou dois minutos. – Precisamos entrar no interior... Agora serão os obstáculos de Lord Voldemort que estarão em nosso caminho, não os que a natureza construiu. Dumbledore aproximou-se da parede da caverna e acariciou-a com as pontas enegrecidas de seus dedos, murmurando em uma língua estranha que Harry não entendia. Duas vezes Dumbledore caminhou por toda a caverna, tocando tanto da rocha áspera quanto podia, parando ocasionalmente, passando seus dedos de cima a baixo em um ponto particular, até que finalmente parou, sua mão pressionada contra a parede. – Aqui – disse. – Prosseguimos por aqui. A entrada está escondida. Harry não perguntou como ele sabia. O garoto jamais vira um bruxo concluir coisas dessa maneira, simplesmente olhando e tocando; mas havia tempos Harry aprendera que explosões e fumaça freqüentemente eram marcas de incompetência e não de verdadeiro conhecimento. Dumbledore afastou-se da parede da caverna e apontou sua varinha para a rocha. Por um momento, o contorno de um arco tornou-se visível, com um brilho branco como se houvesse uma poderosa luz atrás da abertura. – O senhor c-conseguiu! – Harry exclamou, seus dentes se chocando à medida que tremia; mas antes que as palavras deixassem seus lábios, o contorno desaparecera, deixando a rocha tão nua e sólida como antes. Dumbledore olhou ao redor. – Harry, sinto muito, me esqueci – disse, apontando agora sua varinha para o garoto e imediatamente suas roupas ficaram tão secas e quentes quanto se tivessem ficado estendidas em frente a um fogo incandescente. – Obrigado – Harry disse, agradecido, mas Dumbledore havia voltado sua atenção para a sólida parede da caverna. Ele não tentou mais magia, apenas continuou parado no mesmo lugar, 268 Capítulo 26 – A Caverna olhando a parede atentamente, como se algo extremamente interessante estivesse escrito nela. Harry manteve-se completamente imóvel; não queria quebrar sua concentração. Então, depois de dois longos minutos, Dumbledore disse calmamente: – Ah, certamente que não. Tão tosco. – O que é, professor? – Acho – disse Dumbledore, colocando sua mão sadia dentro de suas vestes e retirando uma faca do tipo que Harry usava para cortar ingredientes de poções -, que nós precisamos fazer um pagamento para passar. – Pagamento? – Harry indagou. – Você precisa dar alguma coisa à porta? – Sim – respondeu o professor. – Sangue, se não estiver enganado. – Sangue? – Eu disse que era tosco – disse o bruxo, parecendo desdenhoso, mesmo desapontado, como se Voldemort estivesse abaixo do padrão que Dumbledore esperava. – A idéia, como tenho certeza de que você concluiu, é que o inimigo se enfraqueça para entrar. Mais uma vez, Lord Voldemort falha ao perceber que existem coisas muito mais terríveis que ferimentos físicos. – É, mas se o senhor puder evitar... – Disse Harry, que já experimentara dor o suficiente para não ansiar por mais. – Contudo, às vezes é inevitável – disse Dumbledore, sacudindo a manga de suas vestes e expondo o antebraço de sua mão ferida. – Professor! – Harry protestou, adiantando-se no momento em que Dumbledore erguia a faca. – Eu farei, eu sou... – ele não sabia o que dizer: mais jovem, mais saudável? Mas Dumbledore meramente sorriu. Houve um flash prateado e um jato escarlate; a rocha estava repleta de gotas escuras e brilhantes. – Você é muito gentil, Harry – disse Dumbledore, agora passando sua varinha no corte profundo que fizera no próprio braço, de modo que este se curou imediatamente, exatamente como Snape curara a ferida de Malfoy -, mas o seu sangue vale mais que o meu. Ah, isto parece ter feito o trabalho, não é? O contorno prateado e brilhante de um arco surgiu novamente na parede, mas desta vez não sumiu; a rocha suja de sangue desapareceu, deixando uma abertura para o que parecia total escuridão. – Primeiro eu, acho – disse Dumbledore, e ele atravessou o arco com Harry em seus calcanhares, acendendo apressadamente a própria varinha ao seguir o professor. Uma visão lúgubre alcançou seus olhos: estavam de pé à beira de um enorme lago negro, tão grande que Harry não conseguia distinguir as margens distantes, em uma caverna tão alta que o teto também estava fora do alcance da vista. Uma névoa de luz esverdeada brilhava longe, onde parecia ser o meio do lago; ela se refletia abaixo, na água completamente parada abaixo. O brilho esverdeado e a luz das duas varinhas eram as únicas coisas que quebravam a escuridão de outro modo impenetrável, embora seus raios não fossem tão longe quanto Harry esperaria. A escuridão era de algum modo mais densa que o normal. – Vamos caminhar – Dumbledore falou calmamente. – Tenha muito cuidado para não pisar na água. Mantenha-se próximo a mim. Ele começou a andar pela beira do lago e Harry seguiu-o de perto. Seus passos faziam sons reverberantes de batidas na estreita margem rochosa que circundava a água. Mais e mais eles caminharam, mas a vista não se alterou: de um lado, a parede áspera da caverna, do outro, a expansão infindável de escuridão uniforme e lisa como um vidro, no meio da qual estava aquele misterioso brilho esverdeado. Harry achou o lugar e o silêncio opressivos, enervantes. – Professor? – disse finalmente. – O senhor acha que o Horcrux está aqui? – Oh, sim – respondeu Dumbledore. – Tenho certeza de que está. A questão é: como chegar até ele? 269 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – A gente não poderia... Nós não poderíamos simplesmente tentar um feitiço convocatório? – Harry disse, certo de que seria uma sugestão estúpida, mas ele estava mais ansioso do que admitiria para sair deste lugar o mais rapidamente possível. – Certamente – disse Dumbledore, parando tão subitamente que Harry quase foi de encontro a ele. – Por que você não tenta? – Eu? Ah... OK... – Harry não esperara por isso, mas limpou a garganta e disse em voz alta, varinha em punho: – Accio Horcrux! Com um barulho de explosão, algo muito grande e pálido emergiu da água a uns seis metros deles. Antes que Harry conseguisse ver o que era, a coisa tornara a desaparecer com um ruído de algo colidindo com a água, causando ondulações grandes e profundas na superfície espelhada. Harry recuou em choque, batendo na parede; seu coração ainda estava acelerado ao dirigir-se a Dumbledore: – O que era aquilo? – Alguma coisa, penso, que está pronta para responder a nossa tentativa de apanhar o Horcrux. Harry tornou a olhar para a água. A superfície do lago era novamente um brilhante vidro negro; as ondulações tinham desaparecido de modo incomumente rápido, contudo, o coração do garoto ainda estava batendo acelerado. – O senhor achava que isso iria acontecer? – Achava que alguma coisa aconteceria se fizéssemos uma tentativa óbvia para colocar nossas mãos no Horcrux. Essa foi uma idéia muito boa, Harry; o modo mais simples de descobrirmos o que nos aguarda. – Mas não sabemos o que a coisa era – disse Harry, olhando para a água sinistramente calma. – O que as coisas são, você quis dizer – corrigiu-o Dumbledore. – Duvido muito que seja apenas uma. Vamos continuar? – Professor? – Sim, Harry? – O senhor acha que precisaremos entrar no lago? – Dentro dele? Apenas se tivermos muito pouca sorte. – O senhor não acha que o Horcrux está no fundo? – Ah, não... Acho que está no meio. – E Dumbledore apontou na direção da névoa de luz esverdeada no centro do lago. – Então precisaremos atravessar o lago para chegar lá? – Sim, penso que sim. Harry não falou nada. Todos os seus pensamentos estavam em monstros aquáticos, serpentes gigantes, demônios, cavalos-do-lago e fadas marinhas. – Ahá – exclamou Dumbledore, parando de novo; e desta vez, Harry realmente foi de encontro a ele. Por um momento, o garoto balançou perigosamente na beira do lago, e Dumbledore segurou a parte superior do braço de Harry firmemente com sua mão saudável, puxando-o para trás. – Desculpe-me, Harry, deveria ter avisado. Fique de pé contra a parede, por favor, acho que encontrei o lugar. Harry não fazia idéia do que Dumbledore queria dizer; este trecho da margem escura era exatamente igual a todos os outros, pelo que podia perceber, mas Dumbledore parecia ter detectado algo especial no local. Desta vez ele estava passando a mão, não na parede rochosa, mas através do ar, como se esperasse encontrar e segurar alguma coisa invisível. – Ohô – Dumbledore exclamou alegremente, segundos depois. Sua mão se fechara no meio do ar sobre alguma coisa que Harry não conseguia ver. O professor aproximou-se da água. Harry assistiu nervosamente enquanto as pontas dos sapatos afivelados de Dumbledore encontravam o limite da borda da rocha. Mantendo sua mão fechada no meio do ar, o bruxo levantou a varinha com a outra e bateu no punho fechado com a ponta. Imediatamente uma grossa corrente de cobre verde surgiu do meio do ar, estendendo-se do fundo da água até a mão fechada de Dumbledore. Ele deu um toque de varinha na corrente, que 270 Capítulo 26 – A Caverna começou a escorregar por seu pulso como uma cobra, amontoando-se no chão com um som metálico que ecoou nas paredes rochosas, erguendo alguma coisa do fundo da água negra. Harry ofegou enquanto a proa fantasmagórica de um pequeno barco, com o mesmo brilho verde da corrente, emergia a superfície e flutuava, quase sem ondular na água, na direção da margem onde Harry e Dumbledore estavam. – Como o senhor sabia que isso estava ali? – Harry indagou, surpreso. – A magia sempre deixa vestígios – disse Dumbledore, enquanto o barco alcançava a margem com um ruído suave, – as vezes vestígios muito perceptíveis. Ensinei a Tom Riddle. Conheço seu estilo. – Esse... Esse barco é seguro? – Ah, sim, acho que sim. Voldemort precisava criar um meio de atravessar o lago sem despertar a ira das criaturas que colocou dentro dele, para o caso de querer visitar ou remover seu Horcrux. – Então as coisas na água não nos farão nada se atravessarmos no barco de Voldemort? – Acho que devemos nos resignar ao fato de que, em algum momento, eles irão perceber que não somos Lord Voldemort. Contudo, estamos indo bem até agora. Nos permitiram erguer o barco. – Mas por que nos deixaram? – Perguntou Harry, que não conseguia evitar a visão de tentáculos saindo da água no momento em que tivessem perdido a margem de vista. – Voldemort estaria relativamente confiante de que ninguém, exceto um grande bruxo, seria capaz de encontrar o barco – disse Dumbledore. – Acho que ele estava pronto para arriscar o que seria, em sua cabeça, a possibilidade extremamente improvável de que alguém encontrasse a embarcação, sabendo que adiante aguardavam outros obstáculos que apenas ele seria capaz de penetrar. Veremos se estava certo. Harry olhou para baixo, para o interior do barco. Era realmente muito pequeno. – Não parece ter sido construído para duas pessoas. Ele agüentará nós dois? Seremos muito pesados juntos? Dumbledore deu um risinho. – Voldemort não teria se importado com o peso, mas com a quantidade de poder mágico que cruzaria seu lago. Penso que um encantamento foi colocado neste barco, de modo que apenas um bruxo por vez possa navegá-lo. – Então... – Não acho que você conta, Harry; você é menor de idade e não formado. Voldemort nunca esperaria que alguém de dezesseis anos de idade chegasse a este lugar. Acho improvável que seus poderes sejam registrados comparados com os meus. Essas palavras não fizeram nada para levantar a moral de Harry. Talvez Dumbledore tenha notado isso, pois acrescentou: – Engano de Voldemort, Harry, engano de Voldemort... A idade é tola e facilmente se esquece das coisas quando menospreza a juventude... Agora, você primeiro, e tenha cuidado para não tocar na água. Dumbledore ficou ao lado e Harry subiu cuidadosamente no barco. O diretor também entrou, soltando a corrente no chão. Ficaram apertados, juntos; Harry não podia sentar-se confortavelmente, então se encolheu, seus joelhos na mesma altura da borda do barco, que começou a mover-se imediatamente. Não havia nenhum som, exceto o sussurrar sedoso da proa do barco cortando a água; o barco movia-se sem a ajuda deles, como se uma corda invisível estivesse puxando-o em direção à luz no centro. Logo eles não conseguiam mais ver as paredes da caverna; poderiam estar no mar, exceto que não havia ondas. Harry olhou para baixo e viu o reflexo dourado da luz de sua varinha faiscando e brilhando na água negra enquanto passavam. O barco esculpia ondulações profundas na superfície de vidro, sulcos no espelho negro... Então Harry viu, branca como mármore, flutuando centímetros abaixo da superfície. – Professor! – exclamou, e sua voz alarmada ecoou alto por sobre a água silenciosa. 271 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Harry? – Acho que vi uma mão na água... uma mão humana! – Sim, tenho certeza de que viu – disse Dumbledore calmamente. Harry fitou a água abaixo, procurando pela mão desaparecida, e uma sensação de mal estar subiu-lhe à garganta. – Então aquela coisa que saltou da água...? Mas ele teve sua resposta antes que Dumbledore pudesse replicar; a luz da varinha passara por um trecho de água mostrando, dessa vez, um homem morto boiando de rosto para cima centímetros abaixo da superfície, seus olhos anuviados como se cobertos por uma teia, seus cabelos e vestes flutuando ao seu redor como fumaça. – Têm corpos aqui! – Disse Harry, e sua voz soou muito mais alta que o usual, tão diferente da sua própria. – Sim – Dumbledore falou placidamente -, mas não precisamos nos preocupar com eles por ora. – Por ora? – Harry repetiu, desviando seu olhar da água para encarar o professor. – Não enquanto eles estão flutuando pacificamente abaixo de nós – disse Dumbledore. – Não há por que temer um corpo, Harry, como não há por que temer o escuro. Lord Voldemort, que, é claro, secretamente teme a ambos, discorda. Mas mais uma vez ele revela sua falta de sabedoria. É o desconhecido que tememos ao olhar a morte e a escuridão, nada mais. Harry não disse nada; não queria discutir, mas achava a idéia de corpos flutuando ao seu redor horrível, e mais, não acreditava que eles não fossem perigosos. – Mas um deles saltou – disse, tentando deixar sua voz tão controlada e calma quanto a de Dumbledore. – Quando tentei convocar o Horcrux, um corpo ergueu-se da água. – Sim – Dumbledore concordou. – Estou certo de que assim que pegarmos o Horcrux, eles não serão tão pacíficos. Contudo, como tantas criaturas que vivem no frio e na escuridão, eles temem a luz e o calor, o que então chamaremos em nosso auxílio, caso se faça necessário. Fogo, Harry – ele acrescentou com um sorriso, em resposta à expressão confusa do garoto. – Ah... Certo... – disse Harry rapidamente. Ele virou sua cabeça para olhar o brilho esverdeado, na direção do qual o barco ainda navegava inexoravelmente. Agora não podia mais fingir não estar com medo. O grande lago negro, repleto de morte... parecia ter passado horas e horas desde que encontrara a Profª. Trelawney, desde que dera Felix Felicis a Rony e Hermione... Subitamente desejou ter se despedido melhor deles... E simplesmente não vira Gina... – Quase lá – disse Dumbledore animado. De fato, a luz esverdeada parecia estar finalmente aumentando e em minutos o barco parou, batendo gentilmente em alguma coisa que Harry não conseguia ver de início, mas ao levantar sua varinha iluminada, percebeu que tinham chegado a uma pequena ilha de rocha plana no centro do lago. Cuidado para não tocar na água – Dumbledore alertou mais uma vez, enquanto Harry desembarcava. A ilha não era maior que a sala do diretor, uma extensão de pedra lisa e escura, onde não havia nada exceto a fonte daquela luz esverdeada, que parecia muito mais forte quando vista de perto. Harry perscrutou com os olhos semi-abertos; a princípio, achou se tratar de algum tipo de lâmpada, mas então viu que a luz estava vindo de uma bacia de pedra bastante parecida com a penseira, apoiada em um pedestal. Dumbledore aproximou-se da bacia e Harry o seguiu. Lado a lado, eles olharam para baixo, dentro dela. A bacia estava cheia de um líquido esmeraldino, emitindo o brilho fosforescente. – O que é isso? – Harry perguntou baixinho. – Não tenho certeza – Dumbledore respondeu. – Alguma coisa mais preocupante que corpos e sangue, contudo. Dumbledore puxou a manga de suas vestes de sobre sua mão enegrecida, esticando os dedos na direção da superfície da poção. 272 Capítulo 26 – A Caverna – Professor, não, não toque...! – Não posso tocar – Dumbledore assegurou-lhe, sorrindo fracamente. – Está vendo? Não posso me aproximar mais do que isso. Tente. Olhando, Harry colocou sua mão dentro da bacia e tentou tocar a poção. Encontrou uma barreira invisível que o impedia de chegar mais de dois centímetros perto da substância. Não importava quão fortemente pressionasse, seus dedos não encontravam nada a não ser o que parecia ser ar sólido e flexível. – Com licença, Harry – Pediu Dumbledore. Ele ergueu sua varinha e fez movimentos complicados em cima da poção, murmurando silenciosamente. Nada aconteceu. Exceto, talvez, a substância ter se tornado um pouco mais brilhante. Harry manteve-se calado enquanto o diretor trabalhava, mas depois de um tempo Dumbledore guardou sua varinha, e Harry sentiu que podia falar novamente. – O senhor acha que o Horcrux está lá dentro? – Ah, sim. Dumbledore perscrutou a bacia mais de perto. Harry viu seu rosto refletido, de cabeça para baixo, na superfície plana da poção. – Mas como apanhá-lo? Essa poção não pode ser penetrada pela mão, desaparecer, ser destruída, esvaziada ou retirada daqui, também não pode ser transfigurada, encantada ou mudar de natureza de qualquer outra maneira. Quase despreocupadamente, Dumbledore ergueu novamente sua varinha, sacudiu-a uma vez no ar e apanhou o cálice de cristal que conjurara do nada. – Só posso concluir que essa poção deve ser bebida. – O quê? – exclamou Harry. – Não! – Sim, acho que sim. Apenas bebendo conseguirei esvaziar a bacia e ver o que está no fundo. – Mas... mas e se ela matar o senhor? – Ah, duvido que funcione desse modo – disse Dumbledore tranqüilamente. – Lord Voldemort não quereria matar a pessoa que chegou a essa ilha. Harry não conseguia acreditar. Seria mais uma vez a determinação insana de Dumbledore de ver o bem em todo o mundo? – Professor – Harry falou, tentando manter sua voz razoável -, professor, é de Voldemort que estamos... – Desculpe-me, Harry; deveria ter dito: ele não quereria matar imediatamente a pessoa que chegou a essa ilha – Dumbledore se corrigiu. – Ele quereria mantê-la viva até descobrir como conseguira penetrar tão longe em suas defesas e, mais importante que tudo, por que estava tão interessada em esvaziar a bacia. Não se esqueça que Lord Voldemort acredita que apenas ele sabe sobre seus Horcruxes. Harry fez que falaria novamente, mas desta vez Dumbledore levantou sua mão pedindo silêncio, erguendo ligeiramente as sobrancelhas para o líquido esmeraldino, evidentemente pensando. – Sem dúvida – disse finalmente -, essa poção deve agir de um modo que me impeça de pegar o Horcrux. Talvez me paralise, faça com que eu esqueça porque estou aqui, cause tanta dor que me distraia ou me deixe incapacitado de algum outro modo. Se for esse o caso, Harry, cabe a você assegurar que eu continuarei bebendo, mesmo se tiver que forçar a poção na minha boca relutante. Entendeu? Seus olhos encontraram-se por sobre a bacia, os dois rostos pálidos iluminados por aquela estranha luz verde. Harry não respondeu. Havia sido por isso que fora convidado a vir junto... para forçar Dumbledore a beber uma poção que poderia causar-lhe uma dor insuportável? – Você se lembra – disse Dumbledore, – a condição sob a qual eu o trouxe comigo? Harry hesitou, olhando dentro dos olhos azuis que haviam se tornado verdes, refletindo a luz da bacia. – Mas e se...? 273 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Você jurou obedecer a todas as ordens que eu lhe desse, não jurou? – Sim, mas... – Eu o avisei que talvez houvesse perigo, não avisei? – Sim – disse Harry, – mas... – Bem, então – disse Dumbledore, mais uma vez puxando sua manga para cima e erguendo o cálice vazio, – aqui estão minhas ordens. – Por que eu não posso beber a poção no seu lugar? – Harry perguntou, desesperado. – Porque eu sou muito mais velho, muito mais esperto e tenho muito menos valor que você – disse Dumbledore. – De uma vez por todas, Harry, tenho sua palavra de que você fará tudo que estiver ao seu alcance para me manter bebendo? – Não posso ...? – Tenho? – Mas... – Sua palavra, Harry. – Eu... tudo bem, mas... Antes que Harry pudesse protestar mais, Dumbledore desceu o cálice de cristal até a poção. Por uma fração de segundo, Harry teve esperança de que ele não conseguisse tocá-la com o objeto, mas o cristal mergulhou na superfície como nada mais o fizera; quando o copo estava cheio até a boca, Dumbledore levou o cálice aos lábios. – À sua saúde, Harry. E ele esvaziou o cálice. Harry observou-o, aterrorizado, suas mãos apertando a borda da bacia com tanta força que as pontas de seus dedos ficaram dormentes. – Professor? – Harry chamou ansiosamente, enquanto Dumbledore abaixava o copo. – Como o senhor se sente? Dumbledore sacudiu a cabeça, seus olhos fechados. Harry se perguntou se ele estaria sentindo dor. O professor mergulhou o copo cegamente na bacia, tornou a enchê-lo e bebeu mais uma vez. Em silêncio, Dumbledore bebeu três cálices cheios de poção. Então, no meio do quarto, perdeu o equilíbrio e caiu para a frente sobre a bacia. Seus olhos ainda estavam fechados, sua respiração pesada. – Professor Dumbledore? – disse Harry, sua voz saindo com dificuldade. – O senhor pode me ouvir? O bruxo não respondeu. Seu rosto se contorcia como se estivesse dormindo, mas tendo um sonho horrível. Seu aperto no cálice estava afrouxando; a poção estava quase caindo. Harry adiantouse e apanhou a taça de cristal, segurando-a com firmeza. – Professor, o senhor pode me ouvir? – repetiu alto, sua voz ecoando pela caverna. Dumbledore arquejou e falou em uma voz que Harry não reconheceu, pois jamais ouvira o diretor amedrontado desse jeito. – Eu não quero... Não me faça... Harry olhou para a face envelhecida que conhecia tão bem, para o nariz adunco e os óculos de meia-lua, e não soube o que fazer. – ... Não gosto... quero parar... – murmurou Dumbledore. – O senhor... o senhor não pode parar, professor – disse Harry. – O senhor precisa continuar bebendo, se lembra? O senhor me disse que precisava continuar bebendo. Aqui... Odiando-se, enojado pelo que estava fazendo, Harry forçou o cálice de volta à boca de Dumbledore e o virou, de modo a forçá-lo a beber o restante da poção no copo. – Não – grunhiu, enquanto Harry descia o cálice até a bacia e o enchia novamente. – Não quero... Não quero... Deixe-me ir... – Está tudo bem, professor – disse Harry, sua mão tremendo. – Está tudo bem, eu estou aqui... – Faça parar, faça parar – murmurou Dumbledore. – Sim... sim, isto vai fazer parar – mentiu Harry. 274 Capítulo 26 – A Caverna Ele virou o conteúdo do cálice na boca aberta de Dumbledore. O bruxo gritou; o barulho ecoou por toda a enorme câmara, por sobre a água negra e morta. – Não, não, não, não, eu não posso, não posso, não me faça, não quero... – Está tudo bem, professor, tudo bem! – Harry falou alto, suas mãos tremendo tanto que mal conseguia encher o sexto cálice de poção; a bacia estava pela metade, agora. – Nada está acontecendo, o senhor está em segurança, isso não é real, juro que não é real... beba isso, agora, beba... E obedientemente, Dumbledore bebeu, como se Harry lhe oferecesse um antídoto, mas depois de esvaziar o cálice, caiu de joelhos, tremendo incontrolavelmente. – É tudo minha culpa, minha culpa – soluçou. – Por favor, faça isso acabar, sei que agi errado, oh, por favor, faça isso acabar e eu nunca, nunca de novo... – Este fará acabar, professor – disse Harry, sua voz falhando enquanto virava o sétimo copo de poção na boca do bruxo. Dumbledore começou a encolher-se, como se torturadores invisíveis o rodeassem; sua mão se sacudindo quase derrubando o cálice recém-cheio das mãos trêmulas de Harry, enquanto gemia: – Não os machuque, não os machuque, por favor, por favor, é minha culpa, machuque a mim no lugar deles... – Aqui, beba isso, beba isso, o senhor vai ficar bem – Harry falou, desesperado, e mais uma vez Dumbledore lhe obedeceu, abrindo sua boca ainda que mantivesse seus olhos firmemente fechados e tremesse dos pés à cabeça. E então caiu para a frente, gritando novamente, batendo com os punhos no chão, enquanto Harry enchia o nono cálice. – Por favor, por favor, por favor, não... não isso, não isso, faço qualquer coisa... – Apenas beba, professor, apenas beba. Dumbledore bebeu como uma criança morrendo de sede, mas ao terminar, gritou novamente, como se suas entranhas estivessem em fogo: – Não mais, por favor, não mais... Harry encheu um décimo cálice de poção e sentiu o cristal bater no fundo da bacia. – Estamos quase lá, professor, beba isso, beba... Ele segurou os ombros de Dumbledore e mais uma vez o bruxo esvaziou o copo; e Harry estava de pé novamente, tornando a encher o cálice quando Dumbledore começou a gritar em mais agonia que nunca: – Quero morrer! Quero morrer! Faça parar, faça parar, quero morrer! – Beba isso, professor. Beba isso... Dumbledore bebeu, e mal acabara, gritou: – MATE-ME! – Este... Este vai! – Harry ofegou. – Apenas beba... Isso tudo vai passar... Tudo vai passar... Dumbledore sorveu do cálice, bebendo até a última gota, e então, com um grande suspiro gorgolejante, caiu de bruços. – Não! – gritou Harry, que levantara para encher novamente o cálice. Em vez disso, deixou a taça cair na bacia, jogou-se ao lado de Dumbledore e virou-o de barriga para cima; os óculos do professor estavam tortos, sua boca aberta, seus olhos fechados. – Não. – disse Harry, sacudindo o professor – Não, o senhor não está morto, o senhor disse que não era veneno, acorde, acorde... Rennervate! – Gritou, sua varinha apontando para o peito de Dumbledore; houve um flash de luz vermelha, mas nada aconteceu. – Rennervate... senhor... por favor... As pálpebras de Dumbledore moveram-se; o coração de Harry ficou mais leve. – Professor, o senhor está...? – Água – Dumbledore falou em uma voz baixa e rouca. – Água – ofegou Harry. – Sim... 275 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Colocou-se de pé e apanhou o cálice que deixara cair na bacia, mal notando o medalhão dourado que estava sob o cristal. – Aguamenti! – Gritou, tocando o cálice com sua varinha. O objeto encheu-se de água limpa. Harry caiu de joelhos ao lado de Dumbledore, ergueu a cabeça do bruxo e levou o copo até seus lábios – mas ele se esvaziara. Dumbledore grunhiu e começou a ofegar. – Mas tinha água aqui... espera... Aguamenti! – Harry repetiu, apontando a varinha para o cálice. Mais uma vez, por um segundo, a taça cintilou, cheia de água limpa. Mas ao aproximar o cálice da boca de Dumbledore, a água tornou a desaparecer. – Professor, eu estou tentando, estou tentando! – Disse Harry, desesperado, embora não achasse que Dumbledore conseguia escutá-lo; o bruxo rolara para o lado e respirava longamente, de modo cortante, parecendo agonizante. – Aguamenti... Aguamenti... AGUAMENTI! O cálice encheu-se e esvaziou-se mais uma vez. E então a respiração de Dumbledore tornouse fraca. Seu cérebro enchendo-se de pânico, Harry soube, instintivamente, o único jeito restante de conseguir água, porque Voldemort planejara assim... Ele correu até a beira da rocha e mergulhou o cálice no lago, trazendo-o de volta cheio até a boca de água gelada que não desapareceu. – Professor... aqui! – Harry gritou, adiantando-se correndo e jogando a água no rosto do bruxo. Era o melhor que podia fazer, pois a sensação gélida em seu braço que não estava segurando a taça não era causada pela água fria. Uma mão branca e viscosa segurava seu pulso, e a criatura a quem ela pertencia estava puxando-o lentamente de costas através da rocha. A superfície do lago não era mais um espelho plácido; estava agitada, e em todas as direções que Harry olhava, via cabeças e mãos brancas emergindo da água negra, homens e mulheres e crianças de olhos encovados e cegos, movendo-se na direção da rocha: um exército da morte erguendo-se da água negra. – Petrificus Totalus! – Gritou Harry, lutando para manter-se na superfície sólida da ilha enquanto apontava sua varinha para o Inferius que segurava seu braço. O morto soltou-o, caindo de costas com um som de alguma coisa colidindo com água. Harry colocou-se de pé, mas muitos outros Inferi estavam alcançando a rocha, suas mãos ossudas agarrandose a superfície escorregadia, seus olhos vazios e imóveis no garoto, deixando vestígios de água por onde passavam; rostos encovados e desejosos. – Petrificus Totalus! – Harry gritou mais uma vez, recuando enquanto sacudia sua varinha no ar; seis ou sete deles caíram, mas mais vinham em sua direção. – Impedimenta! Incarcerous! Alguns perderam o equilíbrio, um ou dois foram presos por cordas, mas aqueles que subiam a rocha logo atrás meramente pisaram por cima ou nos corpos caídos. Ainda cortando o ar com sua varinha, Harry gritou: – Sectumsempra! SECTUMSEMPRA! Mas embora tenham se aberto buracos em seus trapos encharcados e em suas peles enregeladas, eles não tinham sangue para perder: continuaram a andar, indiferentes, suas mãos enrugadas esticadas na direção de Harry, e enquanto recuava ainda mais, o garoto sentiu braços segurando-o por trás, braços magros, sem carne, frios como a morte. E seus pés deixaram o chão enquanto os braços o levantavam e começavam a carregá-lo, lenta e inexoravelmente, para a água. E ele soube que não seria solto, que afundaria e se tornaria mais um guardião morto de um fragmento da alma mutilada de Voldemort... Mas então, através da escuridão, fogo irrompeu: vermelho e dourado, um anel de fogo que circundou a rocha, de modo que os Inferi segurando Harry com tanta firmeza tropeçaram e perderam o equilíbrio; não ousavam atravessar o fogo para chegar até a água. Soltaram Harry; ele bateu no chão, escorregou pela rocha e caiu, ferindo os braços. Então se levantou, erguendo a varinha e olhando ao redor. Dumbledore estava novamente de pé, tão pálido quanto os Inferi ao redor, mas mais alto também, o fogo dançando em seus olhos; sua varinha estava levantada como uma tocha e de sua ponta emanavam 276 Capítulo 26 – A Caverna as chamas, como um grande laço, circundando a todos com calor. Os Inferi chocavam-se uns contra os outros, tentando cegamente escapar do fogo onde estavam presos... Dumbledore retirou o medalhão do fundo da bacia de pedra e guardou-o dentro de suas vestes. Silenciosamente, gesticulou para Harry ficar ao seu lado. Distraídos pelas chamas, os Inferi pareciam ignorar que aqueles a quem perseguiam estavam partindo. No que Dumbledore guiava Harry de volta ao barco, o anel de fogo moveu-se com eles, ao redor deles; os Inferi amedrontados seguiram-nos até a margem, onde mergulharam, satisfeitos, de volta para suas águas negras. Harry, tremendo por inteiro, achou por um momento que Dumbledore não conseguiria subir no barco – ele se desequilibrou um pouco ao tentar – todas as suas forças pareciam estar concentradas em manter o anel de chamas protetoras ao redor deles. Harry agarrou-o e ajudou-o a sentar-se. Uma vez seguramente espremidos no interior do barco, este começou a mover-se através da água negra, para longe da rocha, ainda circundados pelo anel de fogo, e parecia que os Inferi, que se moviam juntos abaixo deles, não ousavam emergir novamente. – Professor – ofegou Harry – professor, me esqueci... o fogo... eles estavam vindo em minha direção e entrei em pânico... – Completamente compreensível – murmurou Dumbledore. Harry ficou alarmado ao escutar quão fraca sua voz estava. Chegaram à margem com uma pequena batida e Harry desembarcou e virou-se rapidamente para ajudar Dumbledore. No momento em que o diretor pisou na rocha, deixou a mão da varinha cair; o anel de fogo desapareceu, mas os Inferi não voltaram a emergir da água. O barquinho afundou dentro d’água novamente; tilintando e retinindo, a corrente também submergiu no lago. Dumbledore suspirou profundamente e apoiou-se na parede da caverna. – Estou fraco... – disse. – Não se preocupe, senhor – disse Harry, ansioso com a excessiva palidez e ar de exaustão de Dumbledore. – Não se preocupe, vou tirar-nos daqui... Apóie-se em mim, senhor... E colocando o braço sadio do bruxo ao redor dos ombros, Harry guiou seu diretor de volta ao redor do lago, carregando a maior parte de seu peso. – A proteção era... afinal... bem planejada – Dumbledore disse, fraco. – Alguém sozinho não conseguiria... Você trabalhou bem, muito bem, Harry... – Não fale agora – disse Harry, assustado com o quanto a voz de Dumbledore soava indistinta e com o modo como seus pés se arrastavam. – Guarde sua energia, senhor... Logo estaremos fora daqui... – O arco terá se fechado de novo... Minha faca... – Não precisa, me cortei na rocha – disse Harry com firmeza. – Só me diga onde... – Aqui... Harry esfregou o antebraço cortado na pedra: tendo recebido seu tributo de sangue, o arco reabriu instantaneamente. Atravessaram a caverna exterior e Harry ajudou Dumbledore a descer até a gélida água do mar que preenchia a cavidade do penhasco. – Vai ficar tudo bem, professor – Harry repetia de novo e de novo, mais preocupado com o silêncio de Dumbledore do que estivera com sua voz enfraquecida. – Estamos quase lá... Posso aparatar nós dois de volta... Não se preocupe... – Não estou preocupado, Harry – disse Dumbledore, sua voz um pouco mais forte a despeito da água congelante. – Estou com você. 277 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – CAPÍTULO 27– A Torre Atingida Pelo Raio Uma vez de volta sob o céu estrelado, Harry levantou Dumbledore até uma pedra grande e então o ajudou a ficar de pé. Ensopado e tremendo, com o peso de Dumbledore sobre si, Harry se concentrou em seu destino mais do que jamais o tinha feito: Hogsmeade. Fechando seus olhos e segurando o braço de Dumbledore o mais apertado possível, ele adentrou naquele terrível sentimento de aperto. Soube que tinha dado certo antes de abrir os olhos: o cheiro de sal, a brisa do mar haviam desaparecido. Ele e Dumbledore estavam tremendo e gotejando no meio do escuro na rua Principal em Hogsmeade. Por um momento horrível, a imaginação de Harry mostrou-lhe mais Inferi se arrastando em sua direção a partir dos lados das lojas, mas ele piscou e viu que nada estava acontecendo; tudo estava parado, a escuridão era total, exceto por uns poucos postes de luz da rua e janelas iluminadas de andares superiores. – Nós conseguimos, professor! – Harry sussurrou com dificuldade; ele percebeu de repente que tinha um ponto chamuscado em seu peito. – Nós conseguimos! Pegamos o Horcrux! Dumbledore vacilou contra ele. Por um momento, Harry pensou que sua Aparatação inexperiente havia tirado o equilíbrio de Dumbledore; então ele viu seu rosto, mais pálido e desanimado que nunca à luz distante do poste. – Está bem, senhor? – Já estive melhor – disse Dumbledore com voz fraca, apesar disso os cantos de sua boca se levantaram. – Aquela poção... não era uma bebida saudável... E para o horror de Harry, Dumbledore desabou no chão. – Senhor ... está tudo bem, o senhor vai ficar bem, não se preocupe... Ele procurou ajuda ao redor desesperadamente, mas não havia ninguém para ser visto e tudo o que ele podia pensar era que devia haver alguma maneira de levar Dumbledore rapidamente à ala hospitalar. – Precisamos levá-lo para a escola, senhor... a Madame Pomfrey... – Não – disse Dumbledore. – É do... Prof. Snape que eu preciso... mas eu não acho que ainda... possa andar até muito longe... – Certo. Senhor, escute. Eu vou bater em uma porta, encontrar um lugar onde você ficar ... então eu posso correr e buscar a Madame... – Severo – disse Dumbledore claramente. – Preciso do Severo... – Tudo bem, então, Snape – mas eu vou ter que deixá-lo por um momento para poder... Contudo, antes que Harry pudesse se mover, ele ouviu passos correndo. Seu coração pulou: alguém tinha visto, alguém sabia que eles precisavam de ajuda e olhando ao redor ele viu Madame 278 Capítulo 27 – A torre atingida pelo raio Rosmerta de chinelos de salto alto e macios, correndo rapidamente pela rua escura até eles, usando um roupão de seda bordado com dragões. – Vi você Aparatar quando estava fechando as cortinas do meu quarto! Graças a Deus, Graças a Deus, eu não podia pensar o que ... mas o que há de errado com Alvo? Ela parou, ofegando e olhou para baixo com os olhos esbugalhados para Dumbledore. – Ele está ferido – disse Harry. – Madame Rosmerta, ele pode ir até o Três Vassouras enquanto eu subo até a escola e consigo ajuda pra ele? – Você não pode ir lá sozinho! Você não percebe, você não viu ...? – Se você me ajudar a carregá-lo – disse Harry, sem dar ouvidos a ela – Acho que podemos levá-lo pra dentro... – O que aconteceu? – perguntou Dumbledore. – Rosmerta, o que está errado? – A ... a Marca Negra, Alvo. E ela apontou para o céu, na direção de Hogwarts. O medo tomou conta de Harry ao som dessas palavras... ele se virou e olhou pra cima. Lá estava, suspenso no céu acima da escola: o crânio verde resplandecente com uma serpente por língua, a marca que os Comensais da Morte deixavam para trás sempre que entravam em um prédio... sempre que tinham matado... – Quando apareceu? – perguntou Dumbledore, e sua mão apertou dolorosamente o ombro de Harry enquanto ele lutava pra ficar de pé. – Deve ter sido há alguns minutos atrás, não estava lá quando eu coloquei o gato pra fora, mas quando eu subi as escadas... – Precisamos retornar ao castelo imediatamente – disse Dumbledore. – Rosmerta – e apesar de cambalear um pouco, ele parecia completamente no comando da situação – nós precisamos de transporte ... vassouras... – Eu tenho um par atrás do bar – ela disse, parecendo muito amedrontada. – Devo correr e trazer...? – Não, Harry pode fazê-lo. Harry levantou sua varinha imediatamente. – Accio vassouras da Rosmerta. Um segundo depois eles ouviram um grande barulho quando as portas da frente do bar abriram com violência; duas vassouras se atiraram pra fora até a rua e apostaram corrida entre si até o lado de Harry, quando pararam, estremecendo levemente à altura da cintura. – Rosmerta, por favor envie uma mensagem ao Ministério – disse Dumbledore, ao montar na vassoura mais próxima de si. – Pode ser que ninguém dentro de Hogwarts ainda tenha percebido nada de errado ... Harry, coloque sua Capa de Invisibilidade. Harry tirou a Capa do bolso e a atirou sobre si mesmo antes de montar em sua vassoura; Madame Rosmerta já estava cambaleando de volta ao seu bar quando Harry e Dumbledore se lançaram do chão e se ergueram no ar. Enquanto aceleravam em direção ao castelo, Harry olhou para Dumbledore ao seu lado, pronto para pegá-lo se caísse, mas a visão da Marca Negra pareceu ter agido em Dumbledore como um estimulante: ele estava inclinado sobre sua vassoura, seus olhos fixos na Marca, seu longo cabelo e barba prateados esvoaçando atrás de si no ar noturno. E Harry, também, olhou à frente para o crânio, e o medo aumentou dentro de si como uma bolha venenosa, comprimindo seus pulmões, tirando qualquer outro desconforto de sua mente... Quanto tempo eles tinham ficado fora? A sorte de Rony, Hermione e Gina já teria se esgotado agora? Foi um deles que fez a Marca ser colocada sobre a escola, ou foi Neville, ou Luna, ou algum outro membro da AD? E se foi... tinha sido ele que lhes dissera para patrulhar os corredores, ele pedira para abandonarem a segurança de suas camas... ele seria responsável novamente pela morte de um amigo? Enquanto voavam sobre a rua serpenteante pela qual tinham andado mais cedo, Harry ouviu, acima do assobio do ar noturno em seus ouvidos, Dumbledore murmurar em alguma língua estranha 279 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto novamente. Ele pensou entender por que ao sentir sua vassoura estremecer por um momento quando eles voaram sobre o muro para dentro dos terrenos da escola: Dumbledore estava desfazendo os encantamentos que ele mesmo tinha colocado ao redor do castelo, para que pudessem entrar em velocidade alta. A Marca Negra estava brilhando diretamente acima da Torre de Astronomia, a mais alta do castelo. Significava que a morte tinha acontecido lá? Dumbledore já tinha cruzado o parapeito com ameias e estava desmontando; Harry pousou perto dele segundos depois e olhou ao redor. O baluarte estava deserto. A porta para a escada em espiral que conduzia para dentro do castelo estava fechada. Não havia sinal de arrombamento, de luta até a morte, de um corpo. – O que isso significa? – Harry perguntou a Dumbledore, olhando pra cima para o crânio verde e sua língua de serpente brilhando maldosamente sobre eles. “É uma Marca verdadeira? Alguém definitivamente foi ... professor? No lânguido brilho verde da Marca Harry viu Dumbledore apertar seu peito com a mão enegrecida. – Entre e acorde Severo, – disse Dumbledore fraca mas claramente. – Diga-lhe o que aconteceu e traga-o até mim. Não faça mais nada, não fale com mais ninguém e não tire sua Capa. Eu vou esperar aqui. – Mas... – Você jurou me obedecer, Harry. Vá! Harry foi depressa para a porta que conduzia à escada espiral, mas sua mão tinha acabado de se fechar sobre o anel de ferro da porta quando ele ouviu passos correndo do outro lado. Ele olhou para Dumbledore, que gesticulou para ele recuar. Harry andou para trás, pegando sua varinha enquanto o fazia. A porta abriu com força e alguém passou por ela e gritou – Expelliarmus! O corpo de Harry ficou rígido e imóvel instantaneamente, e ele se sentiu cair pra trás contra a parede do castelo, apoiado como uma estátua desequilibrada, incapaz de se mover ou falar. Ele não conseguia entender como isso aconteceu, Expelliarmus não era um Feitiço de Congelamento... Então, com a luz da Marca, ele viu a varinha de Dumbledore voando em um arco por cima da beira da torre e entendeu... Dumbledore tinha imobilizado Harry sem palavras, e o segundo que ele levou para conjurar o feitiço custou sua chance de se defender. De pé contra o parapeito, com o rosto muito branco, Dumbledore ainda não exibia sinais de pânico ou aflição. Ele meramente olhou para quem o desarmou e disse. – Boa noite, Draco. Malfoy andou para frente, olhando ao redor rapidamente para checar se ele e Dumbledore estavam sozinhos. Seus olhos caíram sobre a segunda vassoura. – Quem mais está aqui? – Uma pergunta que eu poderia lhe fazer. Ou está agindo sozinho? Harry viu os olhos pálidos de Malfoy se voltarem para Dumbledore à luz do brilho verde da Marca. – Não – disse ele. – Eu tenho reforços. Há Comensais da Morte aqui na sua escola esta noite. – Bem, bem – disse Dumbledore, como se Malfoy estivesse mostrando a ele um projeto ambicioso como dever de casa.– Muito bom mesmo. Você encontrou um modo de deixá-los entrar? – É – disse Malfoy, que estava ofegante. – Bem debaixo do seu nariz e você nunca percebeu! – Engenhoso – disse Dumbledore. – Ainda assim... perdoe-me.. onde eles estão agora? Você parece sem apoio. – Eles encontraram alguns da sua guarda. Estão tendo uma luta lá embaixo. Não vão demorar muito... eu vim na frente. Eu... eu tenho um trabalho a fazer. – Bem, então você deve prosseguir e fazê-lo, meu caro rapaz. – disse Dumbledore suavemente. Houve silêncio. Harry permaneceu de pé, aprisionado dentro de seu próprio corpo invisível e paralisado, fitando ambos, seus ouvidos se esforçando para ouvir os sons da distante luta dos Comensais 280 Capítulo 27 – A torre atingida pelo raio da Morte, e na frente dele, Draco Malfoy não fez nada a não ser fitar Alvo Dumbledore que, inacreditavelmente, sorriu. – Draco, Draco, você não é um assassino. – Como você sabe? – disse Malfoy rapidamente. Ele pareceu perceber quão infantis essas palavras soaram; Harry o viu ficar vermelho à luz esverdeada da Marca. – Você não sabe do que sou capaz – disse Malfoy mais agressivamente – você não sabe o que eu fiz! – Oh, sim, eu sei – disse Dumbledore suavemente. – Você quase matou Katie Bell e Ronald Weasley. Você tem tentado, com desespero crescente, matar-me durante o ano todo. Perdoe-me, Draco, mas foram tentativas débeis... tão débeis, que para ser sincero, que eu imagino se seu coração realmente estava nisso... – Estava nisso! – afirmou Malfoy veementemente.– Eu trabalhei nisso o ano todo, e esta noite... Em algum lugar das profundezas do castelo abaixo Harry ouviu um grito abafado. Malfoy se retesou e olhou por cima do ombro. – Alguém deve estar mantendo uma boa luta – disse Dumbledore em tom de conversa. – Mas você estava dizendo... sim, você conseguiu dar acesso aos Comensais da Morte à minha escola, o que eu admito, pensava ser impossível... como você fez isso? Mas Malfoy não disse nada: ele ainda estava ouvindo o que quer que estivesse acontecendo lá embaixo e parecia quase tão paralisado quanto Harry estava. – Talvez você devesse prosseguir com a tarefa sozinho – sugeriu Dumbledore. – E se os seus reforços foram afugentados pela minha guarda? Como você talvez tenha percebido, há membros da Ordem da Fênix aqui esta noite também. E afinal de contas, você não precisa de ajuda realmente... eu não tenho varinha neste momento ... não posso me defender. Malfoy simplesmente o fitou. – Eu entendo – disse Dumbledore gentilmente, quando Malfoy não se moveu nem falou. – Você está com medo de agir até que se reúnam a você. – Eu não estou com medo! – rosnou Malfoy, apesar dele ainda não fazer nenhum movimento para ferir Dumbledore. – É você que deveria estar com medo! – Mas por quê? Eu não acho que você vai me matar, Draco. Matar não é nem de longe tão fácil quanto os inocentes acreditam ... então diga-me, enquanto esperamos seus amigos ... como você os contrabandeou aqui pra dentro? Parece que levou muito tempo para você descobrir como fazer isso. Malfoy parecia como se estivesse lutando contra a vontade de gritar, ou de vomitar. Engoliu em seco e respirou várias vezes profundamente, olhando para Dumbledore, sua varinha apontada diretamente para o coração dele. Então, como se não pudesse evitar, disse: – Tive que consertar aquele Armário Sumidouro que ninguém usou por anos. Aquele em que Montague se perdeu ano passado. – Aaaaah. O suspiro de Dumbledore foi meio que um gemido. Ele fechou seus olhos por um momento. – Isso foi inteligente ... então havia um par? – O outro está na Borgin & Burkes – disse Malfoy – e eles fazem um tipo de passagem entre si. Montague me disse que quando estava preso no de Hogwarts, ele estava aprisionado em um limbo, mas algumas vezes ele podia ouvir o que estava acontecendo na escola e algumas vezes o que estava acontecendo na loja, como se o Armário estivesse viajando entre os dois locais, mas ele não podia fazer ninguém ouvi-lo... no final ele conseguiu Aparatar para fora, mesmo que nunca tenha passado em seu teste. Ele quase morreu ao fazer isso. Todos pensaram que era de fato uma boa história, mas eu fui o único que percebeu o que significava, mesmo Borgin não sabe, eu fui o único que percebeu que poderia haver um caminho pra dentro de Hogwarts através dos Armários se eu pudesse consertar o quebrado. 281 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Muito bem – murmurou Dumbledore. – Então os Comensais da Morte puderam passar da Borgin & Burkes para dentro da escola para te ajudar... um plano inteligente, um plano inteligente ... e, como você disse, bem debaixo do meu nariz. – É – disse Malfoy que, de forma bizarra, parecia retirar coragem e conforto do elogio de Dumbledore.– É, foi! – Mas houve momentos – Dumbledore continuou, – em que você não tinha certeza de que conseguiria consertar o Armário, não houve? E você recorreu a medidas prematuras e impensadas, como me mandar um colar amaldiçoado que estava destinado a chegar em mãos erradas... envenenar hidromel que havia apenas a mais leve chance de eu beber... – É, bem, você ainda não percebeu quem estava por trás dessas coisas, percebeu? – zombou Malfoy, quando Dumbledore escorregou um pouco contra a muralha, a força em suas pernas aparentemente esmorecendo, e Harry lutou inutilmente, mudo, contra o encantamento que o aprisionava. – Na verdade, percebi – disse Dumbledore. – Eu tinha certeza que era você. – Por quê não me deteve então? – Malfoy exigiu. – Eu tentei, Draco. O Prof. Snape tem mantido você sob vigilância sob minhas ordens ... – Ele não esteve cumprindo suas ordens, ele prometeu à minha mãe... – É claro que é isso que ele te contaria, Draco, mas... – Ele é um agente-duplo, seu velho estúpido, ele não está trabalhando para você, você só pensa que ele está! – Devemos concordar que não pensamos da mesma forma sobre isso, Draco. Acontece que eu confio no Prof. Snape. – Bem, então você está perdendo seu jeito! – zombou Malfoy. – Ele tem me oferecido muita ajuda, querendo toda a glória só pra si, querendo um pouco da ação: “O quê você está fazendo? Você foi responsável pelo colar, isso foi estúpido, podia ter estragado tudo.” Mas eu não contei a ele o que estive fazendo na Sala Precisa, ele vai acordar amanhã e tudo terá acabado e ele não será mais o favorito do Lord das Trevas, ele não será nada comparado a mim, nada! – Muito gratificante, – disse Dumbledore suavemente. – Todos gostamos que apreciem nosso próprio trabalho duro, é claro ... mas você deve ter tido um cúmplice, ainda assim ... alguém em Hogsmeade, alguém capaz de passar para Katie o... o... aaaah... Dumbledore fechou seus olhos de novo e assentiu com a cabeça, como se estivesse quase adormecendo. – ... é claro... Rosmerta. Por quanto tempo ela tem estado sob a Maldição Imperio? – Até que enfim pegou essa, hein? – zombou Malfoy. Houve outro grito vindo de baixo, ainda mais alto que o último. Malfoy olhou nervosamente sobre seu ombro de novo, então de volta a Dumbledore, que prosseguiu – Então a pobre Rosmerta foi forçada a se esconder no próprio banheiro e passar aquele colar a alguma estudante de Hogwarts que entrasse no aposento desacompanhada? E o hidromel envenenado... bem, naturalmente Rosmerta teria possibilidade de envenená-lo para você antes de enviar a garrafa para Slughorn, acreditando que seria meu presente de natal... sim, muito limpo... muito limpo... o pobre Sr. Filch não poderia, é claro, pensar em checar uma garrafa da Rosmerta... diga-me, como você tem se comunicado com Rosmerta? Pensei que todos os métodos de comunicação para dentro e para fora da escola estivessem monitorados. – Moedas encantadas – disse Malfoy, como se estivesse compelido a continuar conversando, apesar de sua varinha estar tremendo muito. – Eu tinha uma e ela tinha a outra e eu podia enviar mensagens pra ela... – Não foi esse o método de comunicação secreto que o grupo auto-denominado Armada de Dumbledore usou no ano passado? – perguntou Dumbledore. Sua voz era leve e casual, mas Harry o viu escorregar mais um centímetro contra a parede quando o disse. – É, eu peguei a idéia deles – disse Malfoy, com um sorriso retorcido. 282 Capítulo 27 – A torre atingida pelo raio – Eu peguei a idéia de envenenar o hidromel da sangue-ruim Granger também, eu a ouvi falando na biblioteca sobre Filch não reconhecer poções... – Por favor, não use essa palavra ofensiva na minha frente, – disse Dumbledore. Malfoy riu rispidamente. – O senhor se importa que eu diga “Sangue-Ruim” quando estou prestes a matá-lo? – Sim, me importo – disse Dumbledore, e Harry viu seu pé deslizar mais um pouco no chão enquanto ele lutava pra se manter de pé. – Mas quanto a estar prestes a me matar, Draco, você já teve muitos tempo até agora. Nós estamos completamente sozinhos. Eu estou mais indefeso do que você jamais pode ter sonhado me encontrar, e ainda assim você não agiu... A boca de Malfoy se contorceu involuntariamente, como se tivesse experimentado algo muito amargo. – Agora, sobre esta noite – Dumbledore continuou – estou um pouco confuso acerca de como isso aconteceu... você sabia que eu saí da escola? Mas é claro – ele respondeu sua própria pergunta – Rosmerta me viu sair, ela lhe deu a dica usando suas engenhosas moedas, tenho certeza... – Está correto – disse Malfoy. – Mas ela disse que você só saiu para tomar uma bebida, que estaria de volta... – Bem, eu certamente bebi alguma coisa... e voltei... de certa forma – resmungou Dumbledore. – Então você decidiu preparar uma armadilha para mim? – Nós decidimos colocar a Marca Negra sobre a Torre e deixá-lo correr aqui pra cima, para ver quem tinha sido morto, disse Malfoy. – E funcionou! – Bem... sim e não... – disse Dumbledore. – Mas então estou correto em assumir que ninguém foi assassinado? – Alguém está morto – disse Malfoy e sua voz pareceu subir uma oitava quando disse isso.– Alguém da sua gente ... eu não sei quem, estava escuro ... eu passei pelo corpo... eu devia estar esperando aqui em cima quando você voltasse, só que sua gente da Fênix ficou no caminho... – Sim, eles fazem isso – disse Dumbledore. Houve um estrondo e gritos vindos de baixo, mais altos que nunca; parecia que pessoas estavam lutando na própria escada em espiral que levava onde Dumbledore, Malfoy e Harry estavam, e o coração de Harry batia fortemente sem ser ouvido em seu peito invisível... alguém estava morto... Malfoy tinha passado por cima do corpo... mas quem era? – Há pouco tempo, de um modo ou de outro – disse Dumbledore. – Então vamos discutir suas opções, Draco. – Minhas opções! – disse Malfoy alto. – Estou de pé aqui com uma varinha. Estou prestes a matar você ... – Meu caro rapaz, não vamos mais nos enganar quanto a isso. Se você fosse me matar, você teria feito isso quando me desarmou, você não teria parado para esta agradável conversa sobre modos e meios. – Eu não tenho opção! – disse Malfoy, e de repente ele estava tão branco quanto Dumbledore. – Eu tenho que fazer isso! Ele vai me matar! Vai matar minha família inteira! – Eu entendo a dificuldade da sua posição – disse Dumbledore. – Por que outra razão você acha que eu não confrontei você antes? Porque eu sabia que você seria assassinado se Lord Voldemort percebesse que eu suspeitava de você. Malfoy se encolheu ao som do nome. – Eu não ousei falar com você da missão que eu sabia que lhe tinha sido confiada, no caso dele usar Legilimência contra você – continuou Dumbledore. – Mas agora finalmente nós podemos falar claramente um ao outro... nenhum dano foi causado, você não machucou ninguém, apesar de você ser muito sortudo de suas vítimas não-intencionais terem sobrevivido... eu posso te ajudar, Draco. – Não, não pode,– disse Malfoy, sua mão da varinha tremendo muito realmente. – Ninguém pode. Ele me disse pra fazê-lo ou ele me mataria. Eu não tenho escolha. 283 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Venha para o lado certo, Draco, e nós podemos esconder você mais completamente do que pode imaginar. E mais, posso mandar membros da Ordem até sua mãe esta noite para escondê-la também. Seu pai está a salvo em Azkaban neste momento... quando o momento chegar nós podemos protegê-lo também... venha para o lado certo, Draco... você não é um assassino ... Malfoy fitou Dumbledore. – Mas eu já cheguei até aqui, não foi? – disse lentamente. – Eles pensaram que eu morreria na tentativa, mas estou aqui... você está em meu poder... Sou eu quem tem a varinha... você está à minha mercê... – Não, Draco – disse Dumbledore baixo.– É a minha mercê, e não a sua, que importa agora. Malfoy não respondeu. Sua boca estava aberta, a mão da varinha ainda tremendo. Harry pensou vê-la se abaixar um pouquinho... Mas de repente havia forte estrondo de passos escadas acima e um segundo depois Malfoy estava lutando para sair do caminho de quatro pessoas em roupas negras que saíram rapidamente pela porta para o platô. Ainda paralisado, seus olhos sem piscar, Harry olhou em terror para os quatro estranhos: parecia que os Comensais da Morte tinham vencido a luta lá de baixo. Um homem pesadão com uma olhar malicioso deu uma risadinha ofegante. – Dumbledore encurralado! – disse, e se virou para uma mulher atarracada que parecia poder ser sua irmã e estava sorrindo avidamente. – Dumbledore sem varinha, Dumbledore sozinho! Bom trabalho, Draco, bom trabalho! – Boa noite, Amycus – disse Dumbledore calmamente, como se dando boas-vindas a um homem para uma xícara de chá. – E você trouxe Alecto também... encantador... A mulher deu uma risadinha raivosa. – Então pensa que suas piadinhas vão te ajudar no leito de morte? – ela ridicularizou. – Piadas? Não, não, isso são modos – respondeu Dumbledore. – Faça, – disse de pé o estranho mais próximo de Harry, um homem grande, alto e magro com cabelo grisalho desgrenhado e suíças, cujas roupas de Comensal da Morte pareciam desconfortavelmente apertadas. Ele tinha uma voz como nenhuma outra que Harry já tinha ouvido: parecia um latido áspero. Harry podia sentir o cheiro de uma mistura poderosa de sujeira, suor e, sem dúvidas, de sangue vindo dele. Suas mãos imundas tinham longas unhas amareladas. – É você, Fenrir?– perguntou Dumbledore. – Está certo – disse o outro asperamente. – Feliz em me ver, Dumbledore? – Não, não posso dizer que esteja. Fenrir Greyback sorriu, exibindo dentes pontiagudos. Sangue escorreu para baixo pelo seu queixo e ele lambeu os lábios lentamente, obscenamente. – Mas você sabe o quanto eu gosto de crianças, Dumbledore. – Devo assumir que você está atacando mesmo sem a lua cheia agora? Isso é muito incomum... você desenvolveu um gosto pela carne humana que não pode ser satisfeito uma vez por mês? – Está certo – disse Greyback. – Isso o choca, Dumbledore? O amedronta? – Bem, eu não posso fingir que isso não me repugna um pouco – disse Dumbledore.– E, sim, eu estou um pouco chocado que Draco tenha convidado você, entre todas as pessoas, para dentro da escola onde seus amigos vivem... – Não convidei – respirou Malfoy. Ele não estava olhando para Greyback; não parecia querer sequer dar uma olhada rápida nele. – Eu não sabia que ele vinha... – Eu não perderia uma vinda a Hogwarts, Dumbledore – rosnou Greyback. – Não, quando há gargantas para serem rasgadas... delicioso, delicioso... E ele ergueu uma unha amarela e tamborilou em seus dentes frontais, lançando um olhar malicioso para Dumbledore. – Eu poderia deixar você para o fim, Dumbledore... – Não – disse o quarto Comensal da Morte rispidamente. Ele tinha um rosto pesado e brutal. – Temos ordens. Draco tem que fazer isso. Agora, Draco, e rápido. 284 Capítulo 27 – A torre atingida pelo raio Malfoy estava demonstrando menos resolução que nunca. Ele parecia aterrorizado e fitou o rosto de Dumbledore, que estava ainda mais pálido, e ainda mais baixo que habitualmente, já que tinha escorregado tanto contra o parapeito. – De qualquer forma, se me perguntarem, digo que ele não vai ficar neste mundo por muito tempo. – disse o homem pesadão, acompanhando as risadinhas abafadas da irmã. – Olhe para ele ... o quê aconteceu com você, hein Dumby? – Oh, resistência mais fraca, reflexos mais lentos, Amycus – disse Dumbledore. Idade avançada, em suma ... talvez um dia aconteça com você ... se tiver sorte... – O que você quer dizer com isso, hein? – gritou o Comensal da Morte, repentinamente violento – Sempre o mesmo, não é, Dumby, falando e não fazendo nada, nada, nem sei porquê o Lord das Trevas se importa em matar você! Vamos, Draco, mate-o! Mas nesse momento, houve sons renovados da luta lá de baixo e uma voz gritou – Eles bloquearam as escadas ... Reducto! REDUCTO! O coração de Harry pulou: então esses quatro não tinham eliminado toda a oposição, mas simplesmente tinham atravessado a briga até o topo da Torre, e, pelo que parecia, criaram uma barreira atrás deles... – Agora, Draco, rápido! – disse bravo o homem de rosto brutal. Mas a mão de Malfoy estava tremendo tanto que ele mal podia mirar. – Eu faço isso – rosnou Greyback, se movendo para Dumbledore com suas mãos estendidas, os dentes à mostra. – Eu disse não! – gritou o homem de rosto brutal; houve um lampejo de luz e o lobisomem voou para fora do caminho; ele atingiu o parapeito e cambaleou, parecendo furioso. O coração de Harry estava batendo tão forte que parecia impossível que ninguém o ouvisse ali, aprisionado pelo feitiço de Dumbledore, se apenas ele pudesse se mexer, ele poderia mirar uma maldição por debaixo da Capa ... – Draco, mate-o ou fique de lado para que um de nós – guinchou a mulher, mas nesse exato momento a porta para a torre se abriu mais uma vez com violência e lá estava Snape, sua varinha firme na mão enquanto seus olhos negros varriam a cena, de Dumbledore caído contra a parede, até os quatro Comensais da Morte, incluindo o lobisomem enraivecido, e Malfoy. – Temos um problema, Snape – disse o pesadão Amycus, cujos olhos e varinha também estavam fixos em Dumbledore – o garoto não parece capaz... Porém mais alguém falou o nome de Snape, de modo brando. – Severo... O som amedrontou Harry além de qualquer coisa que ele tivesse experimentado toda a noite. Pela primeira vez, Dumbledore estava implorando. Snape não disse nada, mas andou para frente e empurrou Malfoy rudemente para fora do caminho. Os três Comensais da Morte recuaram sem uma palavra. Até o lobisomem parecia acovardado. Snape olhou por um momento para Dumbledore, e havia repulsa e ódio gravados nas linhas rudes de seu rosto. – Severo... por favor... Snape ergueu sua varinha e a apontou diretamente para Dumbledore. – AvadaKedavra! Um jato de luz verde explodiu da ponta da varinha de Snape e atingiu Dumbledore exatamente no peito. O grito de horror de Harry nunca saiu de sua boca; silencioso e imóvel, ele foi forçado a assistir enquanto Dumbledore era jogado para o ar, por uma fração de segundo ele pareceu flutuar suspenso no ar sob o crânio brilhante, e então ele caiu lentamente de costas, como uma grande boneca de pano, por cima do parapeito e fora do campo de visão. 285 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – CAPITULO 28 – A Fuga do Príncipe Harry sentiu como se ele, também, estivesse flutuando pelo ar. “Não aconteceu... não podia ter acontecido”. – Fora daqui, rápido, disse Snape. Ele agarrou Malfoy pela nuca e o empurrou pela porta, à frente dos outros, Greyback e os irmãos atarracados seguiram, os últimos arfando de excitação. Assim que eles sumiram pela porta, Harry percebeu que podia se mover de novo. O que o estava segurando paralisado contra a parede agora não era mágica, mas horror e choque. Ele jogou a capa da invisibilidade de lado, assim que o comensal da morte de rosto brutal, último a deixar o topo da torre, estava desaparecendo pela porta. – Petrificus Totalus. O comensal da morte cambaleou como se tivesse sido atingido nas costas por algo sólido e caiu no chão, rígido como um boneco de cera, mas assim que atingiu o chão, Harry já estava passando por cima dele e descendo pela escuridão. O terror tomou conta do coração de Harry, ele tinha que chegar a Dumbledore e tinha que pegar Snape. De alguma maneira as duas coisas estavam ligadas, poderia reverter tudo que tinha acontecido assim que colocasse os dois juntos.... Dumbledore não poderia ter morrido. Ele pulou os últimos dez degraus da escada em espiral e parou onde aterrissou, varinha em punho. O corredor mal iluminado estava empoeirado, metade do teto parecia ter desabado, e uma batalha estava acontecendo à sua frente, mas enquanto tentava descobrir quem lutava com quem ele ouviu uma voz gritando, – Acabou, hora de ir embora! – e viu Snape desaparecer virando o corredor, ele e Malfoy pareciam ter aberto caminho através da luta ilesos. Assim que Harry arremeteu atrás deles, um dos lutadores sobressaiu-se da batalha e voou para cima dele, era Fenrir, o lobisomem. Ele já estava em cima de Harry antes que este pudesse apontar sua varinha. Harry caiu para trás, com pêlos imundos e embaraçados em seu rosto, o fedor de suor e sangue enchendo seu nariz e boa, a respiração quente e faminta em sua garganta... – Petrificus Totalus. Harry sentiu Fenrir cair sobre ele. Com um estupendo esforço, empurrou o lobisomem para o lado no momento em que viu um jato de luz verde vindo direto em sua direção; ele desviou e correu, de cabeça, para a luta. Seus pés encontraram algo molhado e escorregadio no chão e ele caiu, havia dois corpos caídos, com os rostos para baixo numa piscina de sangue, mas não havia tempo para investigações. Harry agora via cabelos vermelhos voando em sua frente como chamas: Gina estava lutando contra o brutal comensal da morte, Amycus, que estava lançando-lhe maldição atrás de maldição e, enquanto ela os desviava, ficava rindo e aproveitando o esporte – Crucio, Crucio, você não pode dançar para sempre gracinha. 286 Capítulo 28 – A fuga do príncipe – Impedimenta! – gritou Harry. Seu feitiço atingiu Amycus no peito, ele deu um grunhido de dor e foi lançado contra a parede caindo para fora de vista atrás de Rony, Professora McGonagall e Lupin cada um enfrentando um comensal da morte. Alem deles, Harry viu Tonks lutando contra um enorme bruxo louro que estava enviando maldições em todas as direções, que ricocheteavam nas paredes em torno deles, rachando as pedras e quebrando uma janela próxima. – Harry, de onde você veio? – disse Gina, mas ele não tinha tempo para respondê-la. Recomeçou a correr, evitando por pouco uma explosão que ocorreu sobre sua cabeça, lançando pedaços de parede sobre todos eles. Snape não pode escapar, ele tinha que alcançar Snape... – Tome isso! – gritou a Professora McGonagall, e Harry viu a comensal da morte, Alecto, correndo pelo corredor com os braços erguidos acima da cabeça, seu irmão logo atrás dela. Lançouse atrás deles mas tropeçou nas pernas de alguém e caiu novamente, olhando em volta ele viu a face pálida de redonda de Neville contra o chão. – Neville, você está...? – ‘Tô bem – murmurou Neville que estava com as mãos no estômago. – Harry, Snape e Malfoy passaram correndo... – Eu sei, eu estou nisso – disse Harry mirando do chão uma azaração no enorme comensal da morte louro que estava causando todo aquele caos. O homem deu um grito de dor quando o feitiço atingiu seu rosto, ele rodou, cambaleou, e correu pesadamente atrás do irmão e da irmã. Harry levantouse do chão e começou a correr pelo corredor, ignorando os estrondos ecoando atrás de si, os gritos dos outros para voltar, e o mudo chamado das figuras no chão cujo destino ele ainda não conhecia... Ele derrapou virando no corredor, seus tênis escorregadios por causa do sangue, Snape tinha uma enorme dianteira. Seria possível que eles já tivessem entrado no armário na Sala Precisa, ou a Ordem já tinha tomado providências para impedir que os comensais da morte fugissem por esse caminho? Ele não conseguia ouvir nada além de seus próprios passos, o seu coração martelando cada vez que ele entrava em mais um corredor vazio, mas então ele localizou uma pegada de sangue que mostrava que ao menos um comensal da morte estava fugindo pela porta da frente, talvez a Sala Precisa estivesse mesmo bloqueada... Ele virou em outro corredor e uma maldição passou voando por ele; ele mergulhou atrás de uma armadura que explodiu. Ele viu os irmãos correndo pelas escadas à frente e mirou azarações neles, mas apenas atingiu várias bruxas de peruca em um retrato no térreo que correram berrando para pinturas vizinhas. Assim que pulou sobre os destroços da armadura, Harry ouviu mais gritos e berros, outras pessoas dentro do castelo pareciam ter acordado. Ele correu para um atalho, na esperança de ultrapassar os irmãos e se aproximar de Snape e Malfoy, que certamente já deviam estar nos terrenos da escola agora. Lembrando-se de saltar o degrau que ficava invisível no meio do caminho para as escadas ocultas, ele atravessou uma tapeçaria no final para um corredor cheio de confusos alunos da Lufa-Lufa de pijamas. – Harry! Nos ouvimos um barulho e alguém falou algo sobre a marca negra... – começou Ernesto McMillan. – Fora do caminho! – gritou Harry, empurrando dois garotos para os lados enquanto corria na direção do térreo e descendo o restante da escada de mármore. As portas de carvalho da frente haviam sido explodidas, havia manchas de sangue no piso, e muitos alunos aterrorizados encostados nas paredes, um ou dois ainda agachados com seus braços sobre os rostos. A ampulheta gigante da Grifinória tinha sido atingida por uma maldição, e os rubis dentro dela ainda estavam caindo no chão com muito barulho. Harry voou pelo salão de entrada e correu para os terrenos escuros, ele apenas conseguia distinguir três figuras correndo pelos gramados, na direção dos portões, além dos quais eles poderia desaparatar, pela aparência deles, o gigante comensal da morte louro e, um pouco mais à frente dele, Snape e Malfoy... 287 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto O ar frio da noite rasgou os pulmões de Harry quando ele arrancou atrás deles; ele viu um clarão de luz à distância que momentaneamente mostrou a silhueta da sua presa. Ele não sabia o que era mas continuou correndo, ainda não estava próximo o suficiente para uma boa mira... Outro clarão, gritos, jatos de luz em retaliação, e Harry entendeu: Hagrid tinha saído de sua cabana e estava tentando impedir os comensais da morte de escapar, e embora cada respiração retalhasse os pulmões de Harry, e a pontada em seu peito fosse como fogo, Harry aumentou a velocidade enquanto uma voz indesejada ficava dizendo em sua cabeça: Hagrid não... Hagrid também não...... Algo atingiu Harry duramente pelas costas e ele caiu para frente, o rosto no chão, sangue jorrando pelas narinas. Ele sabia, mesmo enquanto rolava, com sua varinha pronta, que os irmãos que ele havia ultrapassado usando o atalho estavam se aproximando por trás dele... – Impedimenta! – ele gritou enquanto rolava novamente, agachando-se próximo ao chão escuro, e milagrosamente sua azaração atingiu um deles, que cambaleou e caiu, fazendo o outro tropeçar, Harry pulou de pé e voltou a correr atrás de Snape. E agora ele via a vasta silhueta de Hagrid, iluminado pela luz de uma lua crescente revelada de repente por detrás das nuvens. O comensal da morte louro estava mirando e atirando maldição atrás de maldição no guarda-caça, mas a imensa força e pele resistente, herança da mãe gigante de Hagrid, pareciam estar protegendo-o. Snape e Malfoy, por outro lado, continuavam correndo, eles estariam em breve além dos portões, podendo desaparatar... Harry passou correndo por Hagrid e seu oponente, fez mira nas costas do Snape e gritou – Estupefaça! Ele errou, o jato de faíscas vermelhas passou perto da cabeça de Snape, que gritou – Corra Draco! – e virou-se. Cerca de vinte metros separavam os dois, ele e Harry olharam um para o outro antes de puxar suas varinhas simultaneamente. – Cruci... Mas Snape se defendeu da maldição, derrubando Harry para trás antes dele conseguir completála. Harry rolou pelo chão de novo e se esforçou para levantar enquanto o imenso comensal da morte atrás dele gritou – Incendio! – Harry ouviu um barulho explosivo e uma linha de luz laranja dançante passar sobre ele, a casa de Hagrid estava em chamas. – Canino esta lá, seu traiçoeiro – gritou Hagrid. – Cruci... – gritou Harry pela segunda vez, mirando a figura a frente iluminada pela luz das chamas, mas Snape bloqueou o feitiço novamente. Harry podia vê-lo zombando. – Nada de maldições imperdoáveis de você, Potter! – ele gritou acima do crepitar das chamas, dos gritos de Hagrid e ganir terrível de Canino preso. – Você não tem nem a coragem nem a habilidade... – Incarc... – Harry gritou, mas Snape refletiu o feitiço com um movimento de seu braço que era quase preguiçoso. – Lute! – Harry gritava para ele. – Lute, seu covarde... – Covarde? Você me chamou de covarde, Potter? – gritou Snape. – Seu pai nunca me atacaria com menos de quatro para um, do que você o chamaria...? – Estupe... – Bloqueado de novo e de novo e de novo, até você aprender a manter sua boca calada e sua mente fechada, Potter! – zombou Snape, refletindo a maldição mais uma vez. – Agora vamos! – ele gritou para o imenso comensal da morte atrás de Harry. – É hora de ir, antes do ministério aparecer... – Impedi.... Mas antes que pudesse terminar esta azaração uma dolorosa agonia atingiu Harry, que se ajoelhou na grama. Alguém estava gritando, ele certamente ia morrer de agonia, Snape ia torturá-lo ate a morte ou loucura... – Não! – rugiu Snape e a dor parou de repente assim como tinha começado. 288 Capítulo 28 – A fuga do príncipe Harry jazia encolhido na grama escura, agarrado à sua varinha e ofegando, em algum lugar acima Snape estava gritando, – Você esqueceu nossas ordens? Potter pertence ao Lord das Trevas! Nós devemos deixá-lo! Vamos! Vamos! E Harry sentiu o chão estremecer sob seu rosto assim que os irmãos e o enorme comensal da morte obedeceram, correndo para os portões. Harry emitiu um inarticulado grito de raiva, naquele instante, ele não se importava se ia viver ou morrer. Pondo-se em pé novamente, cambaleou cegamente em direção a Snape, o homem que ele agora odiava tanto quanto odiava Voldemort... – Sectum... Snape girou sua varinha e a maldição foi repelida novamente, mas Harry estava a poucos metros dele agora e podia ver o rosto de Snape perfeitamente, ele não estava mais zombando ou escarnecendo, mas as chamas mostraram um rosto cheio de raiva. Agrupando todo o seu poder de concentração, Harry pensou, – Levi... – Não, Potter! – gritou Snape. Houve um estrondo alto e Harry estava caindo e atingindo o solo com força novamente, desta vez sua varinha voou para longe de sua mão. Ele podia ouvir Hagrid gritando e Canino uivando quando Snape se aproximou e olhou para baixo, onde Harry estava deitado, sem varinha, sem defesa, assim como Dumbledore esteve. O rosto pálido de Snape, iluminado pela cabana em chamas, estava banhado em ódio assim como estava antes dele amaldiçoar Dumbledore. – Você se atreve a usar meus próprios feitiços contra mim, Potter? Fui eu que os inventei, EU, o Príncipe Mestiço! E você ia virar minhas invenções contra mim, assim como o imundo do seu pai, não ia? Eu acho que não... não. Harry mergulhou atrás de sua varinha, Snape lançou uma azaração nela que a fez voar metros para dentro da escuridão se perdendo de vista. – Me mate então, – ofegou Harry, que não sentia medo, mas apenas raiva e desprezo. – Me mata assim como você o matou, seu covarde... – NÃO... – gritou Snape, e seu rosto ficou subitamente demente, inumano, como se ele estivesse em tanta agonia quanto o cão que gritava e uivava, preso dentro da cabana pegando fogo atrás deles. – ... ME CHAME DE COVARDE! E ele cortou o ar. Harry sentiu algo como uma chicotada fervendo atingir seu rosto e foi jogado para trás no chão. Pontos de luz apareceram na frente de seus olhos, e por um momento pareceu que todo ar saíra de seus pulmões, de repente ele ouviu o barulho de asas acima dele e uma algo enorme obscureceu a luz das estrelas. Bicuço voou até Snape, que cambaleou para trás quando as garras afiadas o cortaram. Enquanto Harry se erguia para uma posição sentada, sua cabeça ainda girando de seu último contato com o chão, ele viu Snape correndo o mais rápido que podia, o enorme hipogrifo voando atrás dele e guinchando como Harry nunca o tinha visto guinchar antes... Harry se esforçou a ficar de pé, procurando sua varinha em volta, vacilante, esperando voltar à perseguição, mas mesmo enquanto seus dedos procuravam atrapalhados na grama, descartando gravetos, ele sabia que já seria muito tarde, e realmente, na hora em que localizou sua varinha, ele se virou somente para ver o hipogrifo voando em círculos acima dos portões. Snape conseguira desaparatar logo após os limites da escola. – Hagrid, – murmurou Harry, ainda aturdido, olhando em volta. – HAGRID? Ele foi aos tropeços até a cabana e viu uma enorme figura emergindo das chamas carregando Canino nas costas. Com um choro de agradecimento, Harry caiu de joelhos, estava com o corpo todo tremendo, dor por todo o corpo, e sua respiração vinha em punhaladas doloridas. – Você tá bem Harry? Tá bem? Fala comigo Harry... O rosto grande e desgrenhado de Hagrid ficava girando acima de Harry, bloqueando a luz das estrelas. Harry podia sentir o cheiro de madeira queimada e pelo de cachorro. Ele colocou a mão ao lado e sentiu a presença tranqüilizadora do corpo quente e vivo de Canino tremendo ao lado dele. – Eu estou bem, – disse Harry. – E você? – Claro que tô... é preciso mais do que isso pra acabar comigo. 289 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Hagrid colocou suas mãos embaixo dos braços de Harry e o levantou com tanta forca que por um momento os pés de Harry saíram do chão antes de Hagrid colocá-lo de pé novamente. Harry podia ver uma linha de sangue escorrendo pela bochecha de Hagrid, por causa de um profundo corte abaixo de um dos olhos, que estava inchando rapidamente. – Nós devemos cuidar da sua casa, – disse Harry, – O feitiço Aguamenti... – Sabia que era algo assim, – murmurou Hagrid, e apontando o seu guarda-chuva cor-de-rosa florido e dizendo, – Aguamenti! Um jato de água voou da ponta do guarda-chuva. Harry levantou a mão da varinha, que parecia chumbo, e murmurou, – Aguamenti – também. Juntos, ele e Hagrid apagaram todas as chamas da cabana. – Num tá tão ruim – disse Hagrid, esperançoso, alguns minutos depois, olhando para a fumaça nos destroços. – Nada que Dumbledore não dê um jeito... Harry sentiu uma dor no estômago ao ouvir o nome. – Hagrid... – Eu estava ocupado com um par de pernas de tronquilhos quando os ouvi vindo. – disse Hagrid tristemente, ainda olhando para os destroços da cabana. – Eles devem ter queimados todos, pobres coisinhas... – Hagrid... – Mas o que aconteceu Harry? Eu apenas vi os comensais da morte correndo do castelo, mas por que raios Snape tava com eles? Onde ele foi... ele tava perseguindo eles? – Ele... – Harry limpou sua garganta que estava seca do pânico e da fumaça. – Hagrid, ele matou... – Matou? – disse Hagrid alto olhando para Harry. – Snape matou? Do que você tá falando, Harry? – Dumbledore, – disse Harry. – Snape matou... Dumbledore. Hagrid apenas olhou para ele, o pouco que se via do seu rosto estava completamente confuso. – Dumbledore o que, Harry? – Ele esta morto. Snape o matou... – Nem fala isso, – disse Hagrid, bruscamente. – Snape matar Dumbledore? Não seja estúpido Harry. O que fez você dizer isso? – Eu vi acontecer... – Você não poderia... – Eu vi, Hagrid! Hagrid balançou a cabeça, sua expressão era de descrença, mas benevolente, e Harry sabia que Hagrid pensava que ele tinha levado uma pancada forte na cabeça, por isso estava confuso, talvez pelos efeitos de um feitiço... – O que deve ter acontecido, é que Dumbledore deve ter dito a Snape pra ir com os comensais da morte, – disse Hagrid confiante. – Eu acho que ele foi manter o disfarce. Olhe, vamos levar você de volta pra escola. Vamos, Harry... Harry não tentou discutir ou explicar. Ele continuava tremendo incontrolavelmente. Em breve Hagrid iria descobrir, breve demais... Enquanto eles voltavam para o castelo, Harry viu muitas janelas iluminadas. Ele podia imaginar, claramente, as cenas do lado de dentro à medida que as pessoas iam de sala em sala, contando uns aos outros que comensais da morte haviam entrado, que a marca negra brilhava sobre Hogwarts, que alguém devia ter sido assassinado... Os portões de carvalho estavam abertos à frente deles, a luz iluminava o caminho e o gramado. Devagar, incertas, vestidas com roupas de dormir, as pessoas estava descendo as escadas, olhando em volta com nervosismo procurando por algum sinal dos comensais da morte que haviam desaparecido na noite. Os olhos de Harry, entretanto estava fixos na área aos pés da torre mais alta. Ele imaginou ver uma massa negra sobre a grama, embora ele realmente estivesse muito longe para ver qualquer coisa desse tipo. Mas enquanto ele olhava para o lugar onde imaginava que o corpo de Dumbledore estava, percebeu que as pessoas estavam se aproximando de lá. 290 Capítulo 28 – A fuga do príncipe – O que todos eles tão olhando? – disse Hagrid, assim que ele e Harry se aproximaram da frente do castelo, Canino se mantendo tão perto dos calcanhares deles quanto podia. – O que é aquilo na grama? – Hagrid disse de forma aguda, se dirigindo agora para a base da torre de Astronomia, onde se juntava um pequeno grupo de pessoas. – Vê aquilo Harry? Bem na base da torre? Abaixo da marca... nossa... você não acredita que alguém foi jogado...? Hagrid caiu em silencio, um pensamento aparentemente horrível demais para ser expresso em voz alta. Harry andou ao lado dele, sentindo os machucados e as dores em seu rosto e em suas pernas onde os vários feitiços o haviam acertado na última meia hora, apesar de ser de uma estranha forma distante, como se alguém perto dele as estivesse sofrendo. O que era real e inescapável era o terrível sentimento de opressão em seu peito... Ele e Hagrid andaram, como num sonho, através da multidão até a frente, onde os estudantes e professores silenciosos deixaram um espaço. Harry ouviu o lamento de choque e dor de Hagrid, mas não parou, ele andou vagarosamente até chegar no lugar onde Dumbledore estava e agachou-se ao lado dele. Ele soube que não havia esperança no momento em que o feitiço do corpo-preso lançado por Dumbledore perdera o efeito, ele sabia que só podia ter acontecido porque quem o lançara estava morto, mas não havia preparação vê-lo ali, estirado, quebrado, o maior bruxo que Harry conheceu, ou conheceria. Os olhos de Dumbledore estavam fechados, mas pelo estranho ângulo que estavam seu braços e pernas, parecia estar dormindo. Harry aproximou-se, arrumando os óculos de meia lua no nariz curvado, e limpou o sangue da boca com sua própria manga. Então ele olhou para aquele sábio rosto e tentou absorver a enorme e incompreensível verdade, que Dumbledore jamais falaria com ele novamente, jamais o ajudaria novamente... A multidão murmurou atrás de Harry. Depois do que pareceu um longo tempo, ele percebeu que estava ajoelhado em algo duro, e olhou para baixo. O medalhão que eles tinham roubado algumas horas antes tinha caído do bolso de Dumbledore. Ele estava aberto, talvez devido à força com que havia batido no chão. E embora não pudesse sentir mais choque, horror ou tristeza do que já sentia, Harry soube, enquanto o pegava, que havia algo errado... Ele virou o medalhão em suas mãos. Não era nem tão grande quanto o que ele lembrava ter visto na penseira, nem havia marca alguma nele, nenhum sinal de um S ornamentando, o que se supunha ser o símbolo de Sonserina. Além disso, não havia nada alem de um pedaço de pergaminho bem dobrado no lugar onde deveria haver um retrato. Automaticamente, sem realmente pensar no que estava fazendo, Harry puxou o pedaço de pergaminho, abriu-o, e leu usando a luz de várias varinha que estavam acesas atrás dele. Para o Lord das Trevas, Eu sei que estarei morto há muito antes que você leia isto, mas eu quero que você saiba que fui eu quem descobriu o seu segredo. Eu roubei o verdadeiro Horcrux e pretendo destruí-lo assim que puder. Eu encaro a morte na esperança de que, quando você encontrar seu antagonista, você será mortal novamente. R.A.B. Harry não sabia e nem se importava com o significado da mensagem. Apenas uma coisa importava, isto não era um Horcrux. Dumbledore se enfraquecera, bebendo aquela terrível poção, por nada. Harry amassou o pergaminho em suas mãos, e seus olhos arderam com lágrimas no momento em que Canino, atrás dele, começou a uivar. 291 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – CAPÍTULO 29 – O Lamento da Fênix – Vem cá, Harry ... – Não. – Você não pode ficar aqui, Harry ... vem cá... – Não. Ele não queria sair do lado de Dumbledore, não queria ir pra lugar nenhum. A mão de Hagrid em seu ombro estava tremendo. Então outra voz disse: – Harry, vem cá. Uma mão muito menor e mais quente tinha pego a sua e o estava puxando para cima. Ele obedeceu à pressão dela sem nem ao menos pensar. Apenas enquanto andava de volta cegamente, através da multidão, ele percebeu, pelo aroma de flores no ar, que era Gina que o estava levando de volta para o castelo. Vozes incompreensíveis chegavam aos seus ouvidos, soluços, gritos e lamentos cortavam a noite, mas Harry e Gina continuavam, subindo os degraus do saguão de entrada. Pelo canto dos olhos Harry podia ver muitos rostos, pessoas o olhando detidamente, cochichando, imaginando... e, quando eles chegaram à escadaria de mármore, os rubis de Grifinória brilhavam no chão, como gotas de sangue. – Nós vamos para a ala hospitalar – disse Gina. – Não estou ferido – contestou Harry. – São ordens de McGonagall – disse Gina – Todo mundo está lá cima, Rony, Hermione, Lupin, e todo os... Um sentimento de medo apertou o peito de Harry novamente: ele havia esquecido das figuras inertes que tinham ficado pra trás. – Gina, quem mais morreu? – Nenhum de nós, não se preocupe. – Mas e a Marca Negra, Malfoy disse que pisou em um corpo ... – Ele pisou no Gui, mas tudo bem, ele está vivo. Harry percebeu, entretanto, que havia algo errado na voz dela. – Tem certeza? – É claro que eu tenho certeza... ele está... só machucado. Greyback o atacou. Madame Pomfrey disse que ele não... não vai mais ter a mesma aparência – a voz de Gina tremeu um pouco. – Nós não sabemos realmente quais serão as complicações, quero dizer, Greyback sendo um lobisomem, mas não estando transformado no momento. – Mas os outros... Havia outros corpos no chão... 292 Capítulo 29 – O lamento da fênix – Neville está na ala hospitalar, mas Madame Pomfrey acha que ele vai se recuperar plenamente, e o Prof. Flitwick foi nocauteado, mas ele está bem, só um pouco trêmulo. E um Comensal da Morte foi morto, atingido por uma Maldição da Morte que o louro grandalhão estava atirando para todos os lados. Harry, se nós não tivéssemos tomado a sua poção Felix, acho que teríamos sido todos mortos, mas todas as maldições lançadas contra nós simplesmente pareciam errar o alvo. Eles alcançaram a ala hospitalar. Abrindo as portas, Harry viu Neville deitado, aparentemente dormindo, numa cama próxima à porta. Rony, Hermione, Luna, Tonks, e Lupin estavam reunidos em torno de outra cama, próxima ao final da ala. Ao som de portas se abrindo, todos olharam para cima. Hermione correu até Harry e o abraçou; Lupin veio também, parecendo ansioso. – Você está bem Harry? – Eu estou bem. Como está o Gui? Ninguém respondeu. Harry olhou por cima do ombro de Hermione e viu um rosto irreconhecível sobre o travesseiro de Gui, tão cortado e rasgado que parecia grotesco. Madame Pomfrey estava passando uma pomada verde de cheiro desagradável em suas feridas. Harry lembrou-se de como Snape tinha curado, tão facilmente com sua varinha, as feridas de Malfoy causadas pelo Sectumsempra. – Você não pode consertá-las com um feitiço ou algo assim? – ele perguntou à enfermeira. – Nenhum feitiço vai funcionar nisso – disse Madame Pomfrey. – Eu tentei tudo o que sei, mas não há cura para mordidas de lobisomem. – Mas ele não foi mordido na lua cheia – disse Rony, que estava olhando fixamente para o rosto do irmão, como se pudesse de algum modo curá-lo apenas com o olhar. – Greyback não tinha se transformado, então certamente Gui não vai ser um... verdadeiro... ? Ele lançou um olhar de dúvida para Lupin. – Eu não acho que Gui será um lobisomem verdadeiro – disse Lupin –, mas isso não quer dizer que não haja algum tipo de contaminação. Essas são feridas amaldiçoadas. É improvável que elas sarem completamente, e... é possível que Gui tenha algumas características lupinas daqui pra frente. – Dumbledore deve saber de algo que funcione, entretanto – disse Rony. – Onde ele está? Gui lutou com estes maníacos por ordem de Dumbledore, Dumbledore lhe deve isso, não pode deixá-lo neste estado... – Rony... Dumbledore está morto – disse Gina. – Não! – Lupin olhava freneticamente de Gina para Harry, como se ele fosse contradizê-la, mas quando Harry não o fez, Lupin desabou sobre uma cadeira ao lado da cama de Gui, com as mãos sobre o rosto. Harry nunca tinha visto Lupin perder o controle antes; sentiu como se estivesse se intrometendo em algo privado, inapropriado. Ele virou e se deparou com Rony, trocando com ele em silêncio um olhar que confirmava o que Gina tinha dito. – Como ele morreu? – sussurrou Tonks – Como foi que aconteceu? – Snape o matou – disse Harry. – Eu estava lá, eu vi. Nós chegamos de volta à Torre de Astronomia por que era lá que a Marca estava... Dumbledore estava doente, fraco, mas acredito que ele percebeu que era uma armadilha quando ouvimos o som de passos subindo rapidamente os degraus. Ele me imobilizou, não pude fazer nada, estava sob a capa de invisibilidade... e então Malfoy veio pela porta e o desarmou... Hermione levou as mãos à boca e Rony gemeu. Os lábios de Luna tremeram. – ... mais Comensais da Morte chegaram.. e então Snape... Snape o fez. A AvadaKedavra. – Harry não pôde prosseguir. Madame Pomfrey irrompeu em lágrimas. Ninguém prestou atenção a ela exceto Gina, que sussurrou: – Shh! Ouçam! Engolindo o choro, Madame Pomfrey levou as mãos à boca, seus olhos arregalados. Em algum lugar lá fora, na escuridão, uma fênix estava cantando de uma maneira que Harry nunca tinha ouvido antes: um impressionante lamento de terrível beleza. E Harry sentiu, como ele havia sentido antes 293 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto com relação ao canto da fênix, que a música estava dentro dele: era sua própria tristeza transformada magicamente em som que ecoava pela propriedade e através das janelas do castelo. Por quanto tempo eles ficaram lá, escutando, ele não sabia; nem por que ouvir o som do luto parecia amenizar um pouco a dor; mas muito tempo pareceu passar até que as portas da ala hospitalar se abriram novamente e a Profa. McGonagall entrou. Como o resto, ela trazia marcas da batalha recente: havia escoriações em seu rosto e suas vestes estavam rasgadas. – Molly e Arthur estão vindo – ela avisou, e o encanto da música foi quebrado: todos despertaram como se estivessem saindo de transes, virando-se novamente para olhar para Gui, ou para esfregar seus próprios olhos, balançar as cabeças. – Harry, o que houve? De acordo com Hagrid você estava com o Prof. Dumbledore quando ele... quando aconteceu. Ele disse que o Prof. Snape estava envolvido em alguma ... – Snape matou Dumbledore – disse Harry. Ela olhou para ele fixamente por um momento, depois cambaleou perigosamente; Madame Pomfrey, que parecia ter se recomposto, correu à frente, conjurando uma cadeira do ar, que empurrou para baixo de McGonagall. – Snape – repetiu a Profa. McGonagall fracamente, caindo na cadeira. – Todos nós imaginamos... mas ele confiava... sempre... Snape... Não posso acreditar... – Snape era um oclumente muito hábil – disse Lupin, sua voz estranhamente severa. – Sempre soubemos disso. – Mas Dumbledore jurou que ele estava do nosso lado! – sussurrou Tonks. – Eu sempre pensei que Dumbledore sabia algo sobre Snape que nós não sabíamos... – Ele sempre deu a entender que ele tinha um razão à prova de tudo para confiar em Snape – murmurou a Profa. McGonagall, enxugando os cantos dos olhos com um lenço com bordas xadrez. – Quero dizer... com a história de Snape... é claro que as pessoas eram levadas a se perguntar... mas Dumbledore me disse explicitamente que o arrependimento de Snape era absolutamente genuíno... Não ouviria uma palavra contra ele! – Eu adoraria saber o que Snape contou a ele para convencê-lo – disse Tonks. – Eu sei – disse Harry, e todos se viraram para olhá-lo – Snape passou a Voldemort a informação que fez com que ele perseguisse minha mãe e meu pai. Depois ele disse a Dumbledore que não tinha percebido o que estava fazendo, que lamentava muito o que havia feito, lamentava que eles tivessem morrido. – E Dumbledore acreditou nisso? – disse Lupin incrédulo. – Dumbledore acreditou que Snape sentia muito pela morte de Tiago? Snape odiava Tiago... – E ele não achava que a minha mãe valia muito também – disse Harry – por que ela era nascida trouxa... ele a chamava de “sangue-ruim”... Ninguém perguntou como Harry sabia disso. Todos pareciam estar imersos em um choque de horror, tentando digerir a monstruosa verdade do que acontecera. – Isto é tudo culpa minha – disse a Profa. McGonagall repentinamente. Ela parecia desorientada, torcendo seu lenço molhado nas mãos. – Minha culpa. Eu mandei Filius buscar Snape esta noite; fiz isso para que ele viesse e nos ajudasse! Se eu não tivesse alertado Snape para o que estava acontecendo, ele poderia nunca ter juntado forças aos Comensais da Morte. Não creio que ele estivesse ciente de que eles estavam lá antes de Filius ter lhe contado. Não acho que ele soubesse que estavam vindo. – Não é sua culpa, Minerva – disse Lupin em tom firme. – Todos nós queríamos mais ajuda, ficamos felizes em pensar que Snape estava a caminho... – Então quando chegou à luta, ele entrou do lado dos Comensais da Morte? – perguntou Harry, que queria cada detalhe da falsidade e da infâmia de Snape, coletando febrilmente mais razões para odiá-lo, para jurar vingança. – Eu não sei exatamente como aconteceu – disse McGonagall distraidamente. – É tudo tão confuso... Dumbledore tinha nos alertado que sairia da escola por algumas horas e que deveríamos patrulhar os corredores, por segurança... Remo, Gui, e Ninfadora se juntariam a nós... então 294 Capítulo 29 – O lamento da fênix patrulhamos. Tudo parecia quieto. Cada passagem secreta que levava para fora da escola estava coberta. Nós sabíamos que ninguém poderia invadi-la voando. Havia poderosos encantamentos em cada entrada do castelo. Ainda não sei como os Comensais da Morte podem ter entrado... – Eu sei – disse Harry, e ele explicou, rapidamente, sobre o par de Armários Sumidouros e o caminho mágico que eles formavam. – ...Então eles entraram pela Sala Precisa. Quase contra a vontade, ele olhou rapidamente de Rony para Hermione, ambos parecendo devastados. – Eu estraguei tudo Harry – disse Rony em tom desolado. – Fizemos como você mandou: checamos o Mapa do Maroto e, como não conseguimos ver Malfoy nele, pensamos que ele deveria estar na Sala Precisa. Então eu, Gina, e Neville fomos lá olhar... mas Malfoy passou por nós. – Ele saiu da sala mais ou menos uma hora depois que começamos a vigiar – disse Gina. – Estava sozinho, segurando aquele horrível braço murcho... – A sua Mão da Glória – disse Rony. – Dá luz apenas a quem a carregar, lembra? – De qualquer jeito – continuou Gina –, ele devia estar checando se a barra estava limpa para deixar os Comensais da Morte saírem, por que no momento em que nos viu jogou uma coisa no ar e tudo ficou escuro como breu... – O Pó de Escuridão Instantânea Peruano – disse Rony amargurado – de Fred e Jorge. Vou ter uma palavrinha a respeito de quem eles deixam comprar seus produtos. – Nós tentamos tudo... Lumos, Incendio – disse Gina. – Nada penetrava na escuridão; tudo que podíamos fazer era tatear para sair do corredor, enquanto ouvíamos pessoas passando rapidamente por nós. Obviamente Malfoy podia ver, por causa daquela mão, e os estava guiando. Não nos atrevemos a usar nenhuma maldição ou coisa parecida, porque podíamos nos acertar, e na hora em que alcançamos um corredor iluminado eles já tinham ido. – Por sorte – disse Lupin roucamente – Rony, Gina, e Neville nos acharam quase imediatamente e nos contaram o que tinha acontecido. Encontramos os Comensais da Morte minutos depois, indo em direção à Torre de Astronomia. Malfoy obviamente não tinha esperado que mais pessoas estivessem vigiando; ele parecia ter esgotado o seu estoque de Pó de Escuridão, de qualquer jeito. Uma luta se seguiu, eles se separaram e nós os perseguimos. Um deles, Gibbon, fugiu e foi em direção às escadas da torre. – Para conjurar a Marca? – perguntou Harry. – É o que ele deve ter feito, sim; eles devem ter combinado isso antes de saírem da Sala Precisa – disse Lupin. – Mas eu não acho que Gibbon gostou da idéia de esperar lá sozinho por Dumbledore, porque ele veio correndo de volta para baixo se juntar à luta e foi atingido por uma Maldição da Morte que tinha passado perto de mim. – Então se Rony estava olhando a Sala Precisa com Gina e Neville – disse Harry, virando-se para Hermione – você estava... ? – Exatamente, do lado de fora da sala de Snape – sussurrou Hermione, seus olhos brilhando com as lágrimas – com Luna. Ficamos esperando um bom tempo e nada aconteceu... Nós não sabíamos o que se passava lá em cima, Rony tinha pego o Mapa do Maroto... Era quase meia-noite quando o Prof. Flitwick veio correndo a toda velocidade masmorra abaixo. Ele estava gritando sobre Comensais da Morte no castelo, eu acho que ele não percebeu realmente que eu e Luna estávamos lá, apenas foi direto para a sala de Snape e o ouvimos dizer que Snape tinha que voltar com ele para ajudar, depois ouvimos um estampido alto. Snape saiu como um raio da sua sala e então ele nos viu e... e... – O quê? – apressou Harry. – Eu fui tão estúpida, Harry! – disse Hermione num sussurro agudo.– Ele disse que o Prof. Flitwick tinha desmaiado e que nós deveríamos cuidar dele enquanto ele... enquanto ele ia ajudar a lutar contra os Comensais da Morte... Ela cobriu seu rosto de vergonha e continuou a falar por entre os dedos, de modo que a voz ficou abafada. 295 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Nós entramos na sala dele para ver se poderíamos ajudar o Prof. Flitwick e o encontramos inconsciente no chão... e, oh, é tão óbvio agora, Snape deve ter estuporado Flitwick, mas nós não nos demos conta, Harry, não percebemos, simplesmente deixamos Snape ir! – Não é culpa de vocês – disse Lupin firmemente. – Se você não tivesse obedecido Snape, Hermione, e saído do caminho, ele teria provavelmente matado você e Luna. – Então ele foi lá pra cima – disse Harry, que estava imaginando Snape correndo pela escadaria de mármore, com suas vestes negras enfunadas atrás dele como sempre, sacando sua varinha pra fora da capa enquanto subia – e achou o lugar onde vocês estavam lutando... – Nós estávamos com problemas, estávamos perdendo – disse Tonks em voz baixa – Gibbon estava fora, mas o resto dos Comensais da Morte parecia pronto para lutar até a morte. Neville estava ferido, Gui tinha sido atacado por Greyback... Estava tudo escuro... maldições voando pra todo o lado... O garoto Malfoy tinha desaparecido, ele deve ter escapado pelas escadas para a torre ... e depois mais comensais foram atrás dele. Um deles bloqueou a escada com algum tipo de maldição ... Neville correu pra lá e foi jogado no ar... – Nenhum de nós conseguia atravessar – disse Rony, – e aquele Comensal da Morte corpulento ainda estava atirando azarações por todo o lado, que ricocheteavam nas paredes e não nos acertavam por muito pouco... – E então Snape estava lá – disse Tonks – e em seguida já não estava mais... – Eu o vi correndo em nossa direção, mas um feitiço daquele Comensal da Morte enorme passou perto de mim naquele instante então eu mergulhei e perdi o rastro dos acontecimentos – disse Gina. – Eu o vi correr direto para a barreira, como se ela não estivesse lá – disse Lupin. – Tentei segui-lo, mas fui jogado pra trás do mesmo jeito que Neville... – Ele devia saber de um feitiço que nós não conhecíamos – sussurrou McGonagall. – Afinal de contas... ele era o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas... Pensei que ele estava com pressa para perseguir os Comensais da Morte que tinham escapado para a torre... – Ele estava – disse Harry brutalmente – mas para ajudá-los, não para pará-los... e eu aposto que você precisava ter uma Marca Negra para atravessar aquela barreira... Então, o que aconteceu quando ele voltou? – Bom, o Comensal enorme lançou um feitiço que fez com que metade do teto caísse, e também quebrou o encantamento que estava bloqueando as escadas – disse Lupin. – Todos corremos para a frente, aqueles que ainda estavam de pé, e então Snape e o garoto emergiram da poeira – e é claro que nenhum de nós os atacou... – Nós simplesmente os deixamos passar – disse Tonks numa voz oca. – Pensamos que eles estivessem sendo perseguidos pelos Comensais da Morte – e depois os outros Comensais e Greyback tinham voltado e nós estávamos lutando novamente... Eu acho que ouvi Snape gritar alguma coisa, mas não sei o que era... – Ele gritou “acabou”, – disse Harry. – Ele tinha feito o que queria. Todos ficaram em silêncio. O lamento de Fawkes ainda estava ecoando pelo terreno escuro lá fora. Enquanto a música reverberava pelo ar, sem ter sido requisitada, pensamentos desagradáveis afloravam na mente de Harry... Será que eles já haviam retirado o corpo de Dumbledore do pé da torre? O que aconteceria com ele em seguida? Onde ele descansaria? Ele apertou os punhos firmemente dentro dos bolsos. Podia sentir a pequena protuberância do falso Horcrux contra os nós da sua mão direita. As portas da ala hospitalar se abriram de repente, fazendo todos pularem: o Sr. e a Sra. Weasley estavam entrando a passos largos, Fleur logo atrás, seu lindo rosto aterrorizado. – Molly... Arthur – disse a Profa. McGonagall, levantando e apressando-se em recebê-los. – Eu sinto muito... – Gui – sussurrou a Sra. Weasley, passando direto por McGonagall, assim que viu o rosto destroçado de Gui – Oh, Gui! 296 Capítulo 29 – O lamento da fênix Lupin e Tonks levantaram-se rapidamente, dando espaço para que o Sr. e a Sra. Weasley pudessem chegar mais perto da cama. A Sra. Weasley se debruçou sobre o filho e pôs os lábios em sua testa ensangüentada. – Você disse que Greyback o atacou ? – perguntou o Sr. Weasley distraidamente à Profa. McGonagall. – Mas ele não tinha se transformado? Então o que isto significa? O que vai acontecer com Gui? – Nós não sabemos ainda – disse McGonagall, olhando desamparadamente para Lupin. – É provável que haja alguma contaminação, Arthur – disse Lupin. – É um caso estranho, possivelmente único... Nós não sabemos como será o seu comportamento quando ele acordar... A Sra. Weasley pegou a pomada fedorenta de Madame Pomfrey e começou a aplicar nas feridas de Gui. – E Dumbledore ... – disse o Sr. Weasley. – Minerva, é verdade ... Ele realmente está... ? Enquanto McGonagall assentia, Harry sentiu Gina se mexendo ao seu lado e olhou para ela. Seus olhos semi cerrados estavam fixos em Fleur, que estava fitando Gui com uma expressão imóvel em seu rosto. – Dumbledore se foi – sussurrou o Sr. Weasley. A Sra. Weasley, entretanto, tinha olhos apenas para seu primogênito; ela começou a soluçar, lágrimas caindo sobre o rosto mutilado de Gui. – É claro que a aparência dele não importa... Não é r-realmente importante... Mas ele era um lindo ra-rapaz... sempre muito bonito...e ele ia se ca-casar! – E o que você querr dizerr com isso? – disse Fleur repentinamente, em voz alta. – O que você querr dizerr com “ia se casarr” ? A Sra. Weasley levantou seu rosto manchado de lágrimas, parecendo surpresa. – Bem, apenas que... – Você acha que o Gui non vai quererr se casarr comigo mais? – esbravejou Fleur. – Você acha que, porr causa dessas morrdidas, ele non vai mais me amarr? – Não, não foi isso que eu... – Porrque ele vai! – disse Fleur, levantando-se totalmente e jogando pra trás sua longa cabeleira prateada. – Vai serr preciso mais do que um lobisomem parra fazerr com que o Gui deixe de me amarr! – Claro, sim, tenho certeza – disse a Sra. Weasley – mas pensei que talvez... agora que... no estado em que... – Você pensou que eu non ia quererr casarr com ele? Ou talvez esperrou por isso? – disse Fleur, suas narinas dilatadas. – O que me imporrta a aparrência dele? Eu sou bonita o suficiente por nós dois, eu acho! Todas essas cicatrrizes mostraron que o meu marrido é corrajoso! E eu é que devo fazerr isso! – acrescentou ferozmente, empurrando a Sra. Weasley de lado e tirando a pomada das mãos dela. A Sra. Weasley caiu de encontro ao seu marido, e viu Fleur esfregando as feridas de Gui, com uma curiosa expressão em seu rosto. Ninguém disse nada; Harry não se atrevia a fazer um movimento. Como todo mundo, ele estava esperando pela explosão. – Nossa tia-avó Muriel – disse a Sra. Weasley, depois de uma longa pausa – tem uma linda tiara, feita por duendes. Eu tenho certeza que poderia persuadi-la a emprestar-lhe para o casamento. Ela é muito afeiçoada ao Gui, e a tiara ficaria linda no seu cabelo. – Obrrigada– disse Fleur formalmente. – Tenho cerrteza de que ela serrá linda. E então – Harry não viu muito bem como aconteceu, ambas estavam chorando e abraçando uma a outra. Completamente confuso, imaginando se o mundo havia ficado louco, ele se virou: Rony parecia tão atônito quanto ele, e Gina e Hermione estavam trocando olhares surpresos. – Viu só? – disse uma voz cansada. Tonks estava fitando Lupin. – Ela ainda quer casar com ele, mesmo que ele tenha sido mordido! Ela não liga! – É diferente – disse Lupin, mal movendo seus lábios e parecendo repentinamente tenso. – Gui não será um lobisomem completo. Os casos são completamente... 297 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – Mas eu também não ligo, não ligo! – disse Tonks, puxando a parte da frente da veste de Lupin e a sacudindo. – Eu já te disse um milhão de vezes... E o significado do patrono de Tonks e seu cabelo cor-de-rato, e a razão pela qual ela tinha vindo correndo procurar Dumbledore quando ouviu um rumor, de que alguém havia sido atacado por Greyback, tudo se tornou repentinamente claro para Harry. Não era por Sirius que Tonks tinha se apaixonado afinal de contas. – E eu já te disse um milhão de vezes – disse Lupin, se recusando a olhá-la nos olhos, olhando o chão – que eu sou velho demais para você, pobre demais... perigoso demais... – Eu te disse o tempo todo que você está assumindo uma postura ridícula nesta questão, Remo – disse a Sra. Weasley por cima do ombro de Fleur, enquanto lhe dava tapinhas nas costas. – Eu não estou sendo ridículo – disse Lupin categoricamente. – Tonks merece alguém jovem e inteiro. – Mas ela quer você – disse o Sr. Weasley, com um pequeno sorriso. – E afinal de contas, Remo, homens jovens e inteiros não necessariamente permanecem assim... – Ele acenou tristemente em direção ao seu filho, deitado entre eles. – Este... não é o momento de discutir isto – disse Lupin, evitando os olhares de todos, enquanto olhava em volta distraidamente. – Dumbledore está morto... – Dumbledore ficaria mais feliz do que qualquer um em pensar que existe um pouco mais de amor no mundo – disse McGonagall brevemente, no momento em que as portas da ala hospitalar se abriram novamente e Hagrid entrou. O pouco de seu rosto que não estava encoberto pelo cabelo ou pela barba estava encharcado e inchado; ele estava tremendo com o choro, um grande lenço de bolinhas em suas mãos. – Eu... já fiz, professora – disse engasgando. – Ti-tirei ele de lá. A Profa. Sprout colocou os alunos de volta na cama. O Prof. Flitwick está deitado, mas diz que vai ficar bom num instante e o Prof. Slughorn disse que o Ministério já foi informado. – Obrigada, Hagrid – disse a Profa. McGonagall, levantando-se de súbito e virando-se para olhar o grupo em volta da cama de Gui. – Eu vou ter que falar com o Ministério quando eles chegarem aqui. Hagrid, por favor, diga aos Diretores das Casas, Slughorn pode representar Sonserina, que eu quero vê-los na minha sala imediatamente. Gostaria que você se juntasse a nós também. Enquanto Hagrid assentiu, virou-se e saiu da sala arrastando os pés, ela baixou a cabeça para Harry. – Antes que eu encontre com eles eu gostaria de dar uma palavrinha rápida com você, Harry. Se você puder vir comigo... Harry se levantou e murmurou – Vejo vocês num instante – para Rony, Hermione e Gina, e seguiu a Profa. McGonagall para fora da ala. Os corredores lá fora estavam desertos e o único barulho era o distante som da canção da fênix. Vários minutos se passaram até que ele percebeu que eles não estavam se dirigindo para a sala da Profa. McGonagall, mas para a de Dumbledore, e alguns segundos até que ele percebesse que, logicamente, já que ela tinha sido diretora adjunta... aparentemente ela era a Diretora agora... então a sala atrás da gárgula agora era dela. Em silêncio, eles subiram a escada móvel em espiral e entraram na sala circular. Ele não sabia o que esperar: que a sala estivesse decorada de preto, talvez, ou até, quem sabe, que o corpo de Dumbledore estivesse repousando ali. De fato a sala parecia quase do mesmo jeito que ele e Dumbledore tinham deixado apenas umas horas atrás: os instrumentos prateados zumbindo e fumegando em suas mesas de pernas finas a espada de Gryffindor dentro de sua redoma de vidro brilhando à luz da lua, o Chapéu Seletor numa prateleira atrás da escrivaninha. Mas o poleiro de Fawkes vazio, ele ainda estava emitindo seu lamento na propriedade da escola. E um novo retrato tinha entrado para o rol de diretores falecidos de Hogwarts: Dumbledore estava dormindo em uma moldura dourada em cima da mesa, seus óculos em meia-lua sobre o nariz torto, parecendo calmo e tranqüilo. 298 Capítulo 29 – O lamento da fênix Depois de olhar rapidamente para aquele retrato, McGonagall fez um estranho movimento, como se estivesse reunindo forças, depois contornou a escrivaninha para olhar para Harry, seu rosto tenso e marcado. – Harry – disse ela –, eu gostaria de saber o que você e o Prof. Dumbledore estavam fazendo esta noite quando deixaram a escola. – Eu não posso lhe contar isso, professora – disse Harry. Ele estava esperando por esta pergunta e já tinha sua resposta pronta. Tinha sido ali, naquela mesma sala, que Dumbledore lhe dissera para não contar a ninguém sobre os assuntos de suas aulas, exceto Rony e Hermione. – Harry, isso pode ser importante – disse a Profa. McGonagall. – E é – disse Harry – muito, mas ele não queria que eu contasse a ninguém. A Profa. McGonagall lançou-lhe um olhar fulminante. – Potter – (Harry notou o renovado uso do seu sobrenome) – à luz da morte do Prof. Dumbledore, acredito que você precisa entender que a situação mudou um pouco. – Eu não acho – disse Harry, dando de ombros. – O Prof. Dumbledore nunca me disse para parar de seguir suas ordens se ele morresse. – Mas ... – Tem mais uma coisa que a senhora precisa saber antes que o Ministério chegue aqui. Madame Rosmerta está sob a Maldição Imperius. Ela estava ajudando Malfoy e os Comensais da Morte, foi assim que o colar e o hidromel envenenado... – Rosmerta? – perguntou McGonagall incrédula. Antes que ela pudesse continuar, entretanto, houve uma batida na porta atrás deles, e os professores Sprout, Flitwick, e Slughorn adentraram a sala, seguidos por Hagrid, que ainda estava chorando copiosamente. Sua enorme figura tremia com o pesar. – Snape! – gritou Slughorn, que parecia o mais abalado, pálido e suarento. – Snape! Eu ensinei a ele! Pensei que o conhecia! Mas antes que qualquer um deles pudesse dizer algo mais, uma voz perspicaz falou do alto da parede. Um bruxo de rosto amarelado, com uma curta franja negra tinha voltado para sua tela vazia. – Minerva, o ministro vai estar aqui em segundos. Ele acabou de desaparatar do ministério. – Obrigado, Everard – disse McGonagall, e virou-se apressadamente para seus professores. – Eu quero conversar com vocês sobre o que acontece com Hogwarts antes que ele chegue aqui – disse ela rapidamente. – Pessoalmente, não estou convencida de que a escola deva reabrir no próximo ano. A morte do diretor pelas mãos de um de nossos colegas é uma terrível mancha na história de Hogwarts. É horrível. – Eu tenho certeza de que Dumbledore gostaria que a escola continuasse aberta – disse a Profa. Sprout. – Eu acho que se um único aluno quiser vir, a escola deveria permanecer aberta para aquele aluno. – Mas será que ainda teremos algum aluno depois disso? – disse Slughorn, agora enxugando sua testa molhada com um lenço de seda. – Os pais vão querer que seus filhos fiquem em casa, e eu não posso dizer que os culpo. Pessoalmente, não acho que estejamos em mais perigo em Hogwarts do que estaríamos em qualquer outro lugar, mas não se pode esperar que mães pensem desse jeito. Elas vão querer manter suas famílias unidas, é natural. – Eu concordo – disse McGonagall. – E, de qualquer forma, não é verdade que Dumbledore nunca tenha vislumbrado uma situação em que Hogwarts pudesse fechar. Quando a Câmara Secreta foi reaberta ele considerou o fechamento da escola, e é preciso dizer que o assassinato do Prof. Dumbledore é mais perturbador para mim do que a idéia do monstro de Slytherin vivendo não detectado pelos dutos do castelo.... – Precisamos consultar os conselheiros – disse o Prof. Flitwick com sua vozinha chiada. Ele tinha um grande roxo na testa, mas parecia, fora isso, ileso da queda na sala de Snape. – Precisamos seguir os procedimentos estabelecidos. Uma decisão não deve ser tomada precipitadamente. – Hagrid, você ainda não falou nada – disse McGonagall. – Qual a sua opinião? Hogwarts deve continuar aberta? 299 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto Hagrid, que estava, ao longo da conversa, enxugando as lágrimas silenciosamente em seu enorme lenço de bolinhas, levantou seus olhos vermelhos e inchados e disse tom rouco – Eu não sei, professora... isso deve ser decidido entre os diretores das Casas e a Diretora... – O Prof. Dumbledore sempre deu valor à sua opinião – disse McGonagall gentilmente – E eu também dou. – Bom, eu vou ficar – disse Hagrid, grandes lágrimas escorrendo pelos cantos dos olhos e caindo em sua barba emaranhada. – É a minha casa, tem sido a minha casa desde que eu tinha treze anos. E se houver alunos que queiram ser ensinados por mim, eu o farei. Mas não sei... Hogwarts sem Dumbledore... – Ele engoliu o choro e desapareceu atrás de seu lenço mais uma vez. Todos ficaram em silêncio. – Muito bem – disse McGonagall, olhando para fora da janela, para o terreno, para checar se o Ministro já estava se aproximando – então preciso concordar com Filius de que a coisa certa a fazer é consultar os conselheiros, que tomarão a decisão final. – Agora, com relação à volta dos estudantes pra casa... há argumentos para que façamos isso o quanto antes. Poderíamos pedir para que o Expresso de Hogwarts venha amanhã, se necessário... – E o funeral de Dumbledore? – disse Harry, finalmente falando. – Bem... – disse McGonagall, perdendo um pouco de sua empáfia enquanto sua voz tremia. – Eu... sei que era desejo de Dumbledore ser enterrado aqui, em Hogwarts... – Então é isto o que vai acontecer, não? – disse Harry enfaticamente. – Se o ministério achar que é apropriado – disse a Profa. McGonagall. – Nenhum outro diretor foi... – Nenhum outro diretor deu mais a esta escola – rosnou Hagrid. – Hogwarts deve ser o lugar do descanso final de Dumbledore – disse o Prof. Flitwick. – Com certeza – disse a Profa. Sprout. – E, neste caso – disse Harry, – a senhora não deveria mandar os estudantes para casa, até que o funeral tenha acabado. Eles vão querer dizer... A última palavra lhe ficou presa na garganta, mas a Profa. Sprout completou a frase para ele. – Adeus. – Bem falado – disse o Prof. Flitwick, em sua voz chiada. – Muito bem falado de fato! Nossos estudantes devem pagar tributo, é o mais adequado. Nós podemos arranjar o transporte para casa depois. – Apoiado – disse a Profa. Sprout. – Eu acredito que... sim... – disse Slughorn em voz agitada, enquanto Hagrid dava um soluço sufocado concordando. – Ele está vindo – disse a Profa. McGonagall repentinamente, olhando para fora. – O Ministro... e ao que parece, trouxe uma delegação... – Posso ir embora professora? – disse Harry subitamente. Ele não tinha nenhum desejo de ver, ou ser interrogado por Rufus Scrimgeour naquela noite. – Pode – disse McGonagall – e rápido. Ela deu passos largos em direção à porta e a segurou aberta para ele. Harry desceu a escada em espiral apressadamente e saiu para o corredor deserto. Tinha deixado sua Capa de Invisibilidade no topo da Torre de Astronomia, mas isso não importava; não havia ninguém nos corredores para vê-lo passar, nem mesmo Filch, Madame Nor-r-a, ou Pirraça. Ele não encontrou viva alma até virar na passagem que levava à sala comunal de Grifinória. – É verdade? – sussurrou a Mulher Gorda enquanto ele se aproximava – É realmente verdade? Dumbledore ... morto? – Sim – disse Harry. Ela soltou um grito de dor e, sem esperar pela senha, girou para frente para admiti-lo. Assim como Harry suspeitava, a sala comunal estava lotada. Todos ficaram em silêncio quando ele entrou pelo buraco do retrato. Ele viu Dino e Simas sentados em um grupo próximo: isso significava 300 Capítulo 29 – O lamento da fênix que seu dormitório deveria estar vazio, ou quase. Sem falar com ninguém, sem olhar ninguém nos olhos, Harry atravessou o salão e abriu a porta para o dormitório dos garotos. Como ele havia antecipado, Rony estava esperando por ele, ainda totalmente vestido, sentado na cama. Harry sentou-se na sua e, por um momento, eles simplesmente se olharam. – Eles estão falando em fechar a escola – disse Harry. – Lupin disse que falariam – disse Rony. Houve uma pausa. – Então? – disse Rony em uma voz muito baixa, como se a mobília pudesse estar escutando. – Vocês acharam um? Pegaram? Um Horcrux? Harry meneou a cabeça. Tudo que ocorreu naquele lugar próximo ao lago negro parecia um pesadelo antigo agora; teria aquilo tudo realmente acontecido, e apenas há algumas horas atrás? – Vocês não pegaram? – disse Rony, parecendo cabisbaixo. – Não estava lá? – Não – disse Harry. – Alguém já tinha pego e deixado um falso no lugar. – Já tinha pego... ? Sem dizer palavra, Harry tirou o falso medalhão de seu bolso, abriu-o, e passou a Rony. A história completa poderia esperar... Não importava naquela noite... nada importava exceto o fim, o fim de sua aventura sem sentido, o fim da vida de Dumbledore... – R.A.B. – sussurrou Rony. – Mas quem é esse? – Não sei – disse Harry, deitando de costas em sua cama, totalmente vestido, e olhando sem expressão para cima. Ele não sentia nenhuma curiosidade a respeito de R.A.B., de fato, ele duvidava que se sentiria curioso novamente. Enquanto estava deitado, Harry percebeu que o terreno estava silencioso. Fawkes tinha parado de cantar. E ele sabia, sem saber como, que a fênix tinha ido, tinha deixado Hogwarts para sempre, assim como Dumbledore tinha deixado a escola, tinha deixado o mundo... tinha deixado Harry. 301 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – CAPÍTULO 30 – O Túmulo Branco Todas as aulas foram suspensas, todos os exames adiados. Alguns estudantes foram retirados às pressas de Hogwarts por seus pais nos dias que se seguiram – as gêmeas Patil já tinham ido antes mesmo do café na manhã seguinte à morte de Dumbledore e Zacarias Smith foi escoltado do castelo por seu pai, que tinha uma aparência arrogante. Simas Finnegan, por sua vez, recusou-se terminantemente a acompanhar sua mãe para casa; eles discutiram a altos brados no Hall de Entrada até que ficou resolvido que ele podia ficar para o funeral. Ela teve dificuldade em arrumar um lugar para dormir em Hogsmeade, Simas disse a Harry e Rony, porque bruxos e bruxas estavam chegando às pencas à vila, preparando-se para prestar as últimas homenagens a Dumbledore. Foi grande a trepidação entre os alunos mais novos, que nunca a tinham visto antes, quando uma carruagem azul do tamanho de uma casa, puxada por uma dúzia de cavalos palominos alados gigantes, apareceu no céu ao final da tarde antes do funeral e aterrissou à beira da Floresta. Harry olhou da janela quando uma gigantesca e atraente mulher de pele oliva e cabelos pretos desceu da carruagem e jogou-se nos braços de Hagrid, que a esperava. Enquanto isso, uma delegação de autoridades do Ministério, incluindo o Ministro da Magia em pessoa, foi acomodada dentro do castelo. Harry estava cuidadosamente evitando contato com qualquer um deles, ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, alguém pediria que ele falasse sobre a última saída de Dumbledore de Hogwarts. Harry, Rony, Hermione e Gina estavam passando todo o tempo juntos. O clima glorioso parecia fazer troça deles; Harry podia imaginar como seria se Dumbledore não tivesse morrido e eles tivessem esse tempo juntos bem no finalzinho do ano, as provas de Gina terminadas, a pressão dos deveres de casa suspensa... e hora após hora, ele adiava dizer o que ele sabia que precisava, fazer o que ele sabia que era o certo, porque era muito difícil abrir mão de sua melhor fonte de conforto. Eles visitavam a ala médica duas vezes por dia: Neville tinha ganhado alta, mas Gui continuava sob os cuidados de Madame Pomfrey. Suas cicatrizes continuavam tão feias quanto antes; na verdade, agora ele tinha uma semelhança clara com Olho-Tonto Moody, embora felizmente com ambos os olhos e pernas, mas na personalidade, ele parecia o mesmo de sempre. Só o que parecia ter mudado era que ele agora parecia ter grande preferência por filés mal-passados. – ...Enton ele tem sorrte de se casarr comigo -, disse Fleur alegremente, afofando os travesseiros de Gui, – porque os brritânicos cozinham demais a carne, eu semprre disse isso. – Suponho que preciso aceitar a realidade de que ele realmente vai se casar com ela – suspirou Gina mais tarde naquele dia, enquanto ela, Harry, Rony e Hermione sentavam-se ao lado da janela aberta do salão comunal da Grifinória, olhando para o terreno no entardecer. – Ela não é tão ruim – disse Harry. – Mas é feia – acrescentou rapidamente, quando Gina ergueu as sobrancelhas, e ela soltou uma risada relutante. 302 Capítulo 30 – O túmulo branco – Bom, suponho que se mamãe pode suportá-la, então eu também posso. – Algum outro conhecido morreu? – perguntou Rony a Hermione, que estava folheando o Profeta da Tarde. Hermione fez uma careta diante da dureza forçada da voz dele. – Não – ela disse de maneira reprovadora, dobrando o jornal. – Ainda estão procurando Snape, mas não há sinal... – Claro que não – disse Harry, que ficava irritado toda vez que esse assunto aparecia – Não vão achar Snape até achar Voldemort, e já que eles nunca conseguiram isso todo esse tempo... – Vou dormir – bocejou Gina. – Não tenho dormido bem desde... bem... Eu preciso de um pouco de sono. Ela beijou Harry (Rony olhou para o outro lado explicitamente), acenou para os outros dois e foi para o dormitório feminino. No momento em que a porta se fechou atrás dela, Hermione se virou para Harry com um olhar que tinha todo o jeito de Hermione. – Harry, eu descobri uma coisa hoje de manhã, na biblioteca... – R.A.B.? – perguntou Harry, sentando-se ereto. Ele não se sentia do jeito que tantas vezes se sentira antes: excitado, curioso, ansioso por chegar ao fundo do mistério; ele simplesmente sabia que a tarefa de descobrir a verdade sobre o verdadeiro Horcrux tinha que ser completada antes que ele andasse um pouco adiante no longo e sinuoso caminho que se abria à sua frente, o caminho em que ele e Dumbledore tinham começado a andar juntos, e onde agora sabia que teria que percorrer sozinho. Podia haver ainda até quatro Horcruxes em algum lugar e cada um deles tinha que ser localizado e destruído antes que houvesse sequer a possibilidade de Voldemort ser morto. Ele ficava repetindo os nomes para si mesmo, como se os listando ele pudesse trazê-los para seu alcance: “o medalhão... o cálice... a cobra... alguma coisa de Grifinória ou Corvinal... o medalhão... o cálice... a cobra... alguma coisa de Grifinória ou Corvinal...” Esse mantra parecia pulsar na mente de Harry quando ele adormeceu aquela noite, e seus sonhos estavam recheados de cálices, medalhões e misteriosos objetos que ele não conseguia alcançar, embora Dumbledore prestativamente oferecesse a Harry uma escada de corda que se transformava em cobras no momento que ele começava a subir ... Ele tinha mostrado a Hermione o bilhete dentro do medalhão na manhã seguinte à morte de Dumbledore, e embora ela não tivesse reconhecido imediatamente as iniciais como pertencentes a algum bruxo obscuro sobre o qual lera, ela tinha desde então corrido à biblioteca com mais freqüência do que era estritamente necessário para uma pessoa que nem tinha dever de casa para fazer. – Não – ela disse tristemente -, eu tentei, Harry, mas não achei nada... Há alguns bruxos razoavelmente conhecidos com essas iniciais: Rosalinda Antígona Bungs ... Rupert “Axebanger” Brookstanton ... Mas eles não parecem se encaixar de jeito nenhum. A julgar pelo bilhete, a pessoa que roubou o Horcrux conhecia Voldemort, e eu não consigo encontrar a mínima evidência de que Bungs ou Axebanger em algum momento tiveram qualquer coisa a ver com ele... Não, na verdade, é sobre... bem, Snape. Ela parecia nervosa até de voltar a pronunciar o nome. – O que tem ele? – perguntou Harry pesadamente, afundando de novo na cadeira. – Bem, é que eu meio que estava certa sobre toda essa coisa do Príncipe Mestiço – ela disse cuidadosamente. – Você tem que esfregar isso na minha cara, Hermione? Como acha que eu me sinto sobre isso agora? – Não, não Harry, eu não quis dizer isso! – ela disse rapidamente, olhando em volta para checar se tinha alguém ouvindo. – É só que eu estava certa sobre Eileen Príncipe ser dona do livro. Veja... ela era mãe do Snape! – Eu achei que ela era meio feia – disse Rony. Hermione o ignorou. – Eu estava vasculhando o resto dos Profetas antigos e havia um pequeno anúncio sobre Eileen Príncipe se casando com um homem chamado Tobias Snape, e mais tarde um anúncio dizendo que ela tinha dado à luz um... 303 Harry Potter e o Príncipe Mestiço – J.K. Rowling – Tradução: O Pacto – ... assassino – cuspiu Harry. – Bem... é – disse Hermione. – Então... eu estava meio que certa. Snape deve ter tido orgulho de ser “meio Príncipe”, entende? Tobias Snape era um trouxa, pelo que dizia no Profeta. – É, faz sentido – disse Harry. – Ele bancaria o sangue-puro para se juntar a Lucius Malfoy e o resto deles... ele é igual a Voldemort. Mãe sangue-puro, pai trouxa... envergonhado de seus pais, tentando se fazer temido usando as Artes das Trevas, deu a si mesmo um nome pomposo: Lorde Voldemort... O Príncipe Mestiço. Como Dumbledore pode ter deixado passar...? Ele se interrompeu, olhando para o lado de fora da janela. Não podia deixar de pensar na indesculpável confiança de Dumbledore em Snape... mas como Hermione acabara de inadvertidamente lembrar-lhe, ele, Harry, também tinha sido igualmente enganado... apesar da maldade crescente daqueles feitiços rabiscados, ele tinha se recusado a pensar mal do menino que tinha sido tão esperto, que o tinha ajudado tanto... Ajudado... Era um pensamento quase insuportável agora... – Eu ainda não entendo por que ele não dedurou você por usar esse livro – disse Rony. – Ele deve ter sabido de onde você estava tirando tudo aquilo. – Ele sabia – disse Harry amargamente. – Ele soube quando eu usei Sectumsempra. Ele nem precisou usar Legilimência... ele pode ter sabido até antes disso, com Slughorn falando como eu era brilhante em Poções... Ele não devia ter deixado o seu velho livro no fundo daquele armário, não é? – Mas por que ele não entregou você? – Eu não acho que ele quisesse ser associado àquele livro – disse Hermione. – Eu não acho que Dumbledore ia gostar muito se soubesse. E mesmo que Snape fingisse não ser dele, Slughorn teria reconhecido a letra dele na hora. De qualquer modo, o livro foi deixado na antiga sala de aula de Snape, e eu aposto como Dumbledore sabia que a mãe dele se chamava “Príncipe.” – Eu devia ter mostrado o livro a Dumbledore – disse Harry. – Todo esse tempo ele estava me mostrando que Voldemort era maldoso quando esteve na escola, e eu tinha provas de que Snape também era... – “Maldoso” é uma palavra forte – disse Hermione baixinho. – Era você que vivia me dizendo que o livro era perigoso! – Eu estou tentando dizer, Harry, que você está se culpando demais. Eu achei que o Príncipe tinha um senso de humor malvado, mas eu jamais teria adivinhado que ele era um assassino em potencial... – Nenhum de nós teria adivinhado que Snape iria... você sabe... – disse Rony. Silêncio se fez entre eles, cada um perdido em seus próprios pensamentos, mas Harry tinha certeza de que os dois, como ele, estavam pensando na manhã seguinte, quando o corpo de Dumbledore iria para o seu repouso final. Harry nunca tinha ido a um funeral antes; quando Sirius morreu, não havia corpo para ser enterrado. Ele não sabia o que esperar e estava um pouco preocupado com o que poderia ver e o que poderia sentir. Ele imaginou se a morte de Dumbledore seria mais real para ele depois que o funeral acabasse. Embora houvesse momentos em que o fato horrível ameaçasse fazêlo perder o controle, havia períodos em branco de total embotamento em que, a despeito do fato de que ninguém falasse sobre qualquer outra coisa no castelo, ele ainda achava difícil acreditar que Dumbledore tinha realmente se ido. Ele não tinha reconhecidamente, como acontecera com Sirius, procurado alguma espécie de brecha, algum modo através do qual Dumbledore pudesse voltar... Ele mexeu no bolso, procurando a corrente fria do falso Horcrux, que agora ele carregava consigo para todo lugar, não como um talismã, mas como uma lembrança do que aquilo tinha custado e o que ainda restava fazer. Harry acordou cedo para fazer as malas no dia seguinte; o Expresso Hogwarts partiria uma hora depois do funeral. Lá embaixo, achou o clima no Salão Principal deprimido. Todos estavam usando vestes de gala e ninguém parecia ter fome. A Professora McGonagall tinha deixado vazia a cadeira parecida com trono do meio da mesa principal. A cadeira de Hagrid também estava deserta, mas o lugar de Snape tinha sido ocupado sem a menor cerimônia por Rufus Scrimgeour. Harry evitou seus olhos amarelados quando eles vasculharam o salão; Harry tinha a certeza desconfortável que 304 Capítulo 30 – O túmulo branco Scrimgeour estava procurando por ele. Na comitiva de Scrimgeour, Harry localizou o cabelo vermelho e os óculos com armação de chifre de Percy Weasley. Rony não deu mostras de ter consciência da presença de Percy, a não ser pelo esfaqueamento de pedaços de salmão com raro furor. Na mesa de Sonserina, Crabbe e Goyle estavam resmungando. Massivos como eram, eles pareciam estranhamente solitários sem a figura alta e pálida de Malfoy entre eles, mandando neles. Harry não tinha pensado muito em Malfoy. Sua animosidade era toda para Snape, mas ele não tinha esquecido o medo na voz de Malfoy no topo da torre, ou o fato de que ele tinha abaixado a varinha antes dos outros Comensais da Morte chegarem. Harry não acreditava que Malfoy teria matado Dumbledore. Ele ainda desprezava Malfoy por causa de sua ligação com as Artes das Trevas, mas agora a mais ínfima gota de piedade estava misturada ao seu desprezo. Onde, imaginava Harry, estaria Malfoy agora, e o que Voldemort o estaria obrigando a fazer sob ameaça de matá-lo e a seus pais? Os pensamentos de Harry foram interrompidos por Gina cutucando-lhe as costelas. A Professora McGonagall tinha ficado de pé e o burburinho lamentoso do salão morreu imediatamente. – Está quase na hora – disse ela. – Por favor, acompanhem o diretor de sua casa até os terrenos. Grifinórios, atrás de mim. Eles seguiram em fila de seus bancos em silêncio quase total. Harry observou Slughorn à frente da coluna da Sonserina, usando magníficas vestes longas verde-esmeralda, bordadas em prata. Ele nunca vira a Professora Sprout, diretora de Lufa-Lufa, parecendo tão limpa; não havia um único remendo em seu chapéu, e quando eles chegaram ao Hall de Entrada, encontraram Madame Pince ao lado de Filch, ela com um espesso véu preto que chegava até os joelhos, ele num terno antiqüíssimo e gravata fedendo a naftalina. Eles estavam se dirigindo ao lago, como Harry viu quando eles chegaram aos degraus de pedra das portas