digitais - Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE

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digitais - Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE
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Teses e Disser tações originais em formato digital
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D
2000
Programa de
Pós-Graduação
em Letras
Ficha Técnica
Coordenação do Projeto Letras Digitais
Angela Paiva Dionísio e Anco Márcio Tenório Vieira (orgs.)
Consultoria Técnica
Augusto Noronha e Karla Vidal (Pipa Comunicação)
Projeto Gráfico e Finalização
Karla Vidal e Augusto Noronha (Pipa Comunicação)
Digitalização dos Originais
Maria Cândida Paiva Dionízio
Revisão
Angela Paiva Dionísio, Anco Márcio Tenório Vieira e Michelle Leonor da Silva
Produção
Pipa Comunicação
Apoio Técnico
Michelle Leonor da Silva e Rebeca Fernandes Penha
Apoio Institucional
Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação em Letras
Apresentação
Criar um acervo é registrar uma história. Criar um acervo digital é dinamizar a
história. É com essa perspectiva que a Coordenação do Programa de Pós-Graduação
em Letras, representada nas pessoas dos professores Angela Paiva Dionisio e Anco
Márcio Tenório Vieira, criou, em novembro de 2006, o projeto Letras Digitais: 30
anos de teses e dissertações. Esse projeto surgiu dentre as ações comemorativas
dos 30 anos do PG Letras, programa que teve início com cursos de Especialização
em 1975. No segundo semestre de 1976, surgiu o Mestrado em Linguística e Teoria
da Literatura, que obteve credenciamento em 1980. Os cursos de Doutorado em
Linguística e Teoria da Literatura iniciaram, respectivamente, em 1990 e 1996. É
relevante frisar que o Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE, de longa
tradição em pesquisa, foi o primeiro a ser instalado no Nordeste e Norte do País. Em
dezembro de 2008, contava com 455 dissertações e 110 teses defendidas.
Diante de tão grandioso acervo e do fato de apenas as pesquisas defendidas a partir
de 2005 possuirem uma versão digital para consulta, os professores Angela Paiva
Dionisio e Anco Márcio Tenório Vieira, autores do referido projeto, decidiram
oferecer para a comunidade acadêmica uma versão digital das teses e dissertações
produzidas ao longo destes 30 anos de história. Criaram, então, o projeto Letras
Digitais: 30 anos de teses e dissertações com os seguintes objetivos:
(i) produzir um CD-ROM com as informações fundamentais das 469
teses/dissertações defendidas até dezembro de 2006 (autor, orientador, resumo,
palavras-chave, data da defesa, área de concentração e nível de titulação);
(ii) criar um Acervo Digital de Teses e Dissertações do PG Letras, digitalizando
todo o acervo originalmente constituído apenas da versão impressa;
(iii) criar o hotsite Letras Digitais: Teses e Dissertações originais em formato
digital, para publicização das teses e dissertações mediante autorização dos
autores;
(iv) transportar para mídia eletrônica off-line as teses e dissertações digitalizadas,
para integrar o Acervo Digital de Teses e Dissertações do PG Letras, disponível
para consulta na Sala de Leitura César Leal;
(v) publicar em DVD coletâneas com as teses e dissertações digitalizados,
organizadas por área concentração, por nível de titulação, por orientação etc.
O desenvolvimento do projeto prevê ações de diversas ordens, tais como:
(i) desencadernação das obras para procedimento alimentação automática de
escaner;
(ii) tratamento técnico descritivo em metadados;
(iii) produção de Portable Document File (PDF);
(iv) revisão do material digitalizado
(v) procedimentos de reencadernação das obras após digitalização;
(vi) diagramação e finalização dos e-books;
(vii) backup dos e-books em mídia externa (CD-ROM e DVD);
(viii) desenvolvimento de rotinas para regularização e/ou cessão de registro de
Direitos Autorais.
Os organizadores
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Dilma Tav
2000
Copyright © DilmaTavares Luciano, 2000
Reservados todos os direitos desta edição. Reprodução proibida, mesmo parcialmente,
sem autorização expressa do autor.
PROSODIA E ENVOLVIMENTd~A COMPREENSAO DO
TELEJORNAL
UFPE
2000
Pros6dia e Envolvimento na Compreensao do
Telejornal
Tese apresentada ao Programa de PosGradua9ao em Letras da Universidade
Federal de Pernambuco, como requisito
parcial para obten9ao do titulo de
Doutora em Lingiiistica, sob orienta9ao
do Prof. Dr. Luiz Antonio Marcuschi
Recife
2000
PROSODIA E ENVOLVIMENTO NA COMPREENSAO DO
TELEJORNAL
Professor Doutor Luiz Antonio Marcuschi - UFPE - Letras
- Orientador -
Ao Professor Dr. Luiz Antonio Marcuschi, pela orienta<;ao e compreensao dos meus
limites quanta it forma de eu me deixar (des )orientar.
Aos Professores do Programa de P6s-Gradua<;ao em Letras, a quem minha forma<;ao e
devedora, e em especial it Profa. Dra. Nelly Carvalho, pelo apoio it minha decisao de
prestar concurso para Professora Assistente de Lingua Portuguesa, durante 0 meu
processo de doutoramento.
A professora e amiga Dra. Marigia Viana, a quem devo nao s6 minha forma<;ao como
pesquisadora, como as primeiras palavras de incentivo e de confian<;a no meu ingresso
no Departamento de Letras, na qualidade de Professora de Lingua Portuguesa, em 27 de
novembro de 1997.
A Marcia Mendon<;a, grande Mestra e amiga, pelas diversas formas de apOlO, e,
especialmente, pelas palavras encorajadoras quando pensei em desistir.
Aos alunos de Jornalismo Luiza e Fernanda, na fase piloto, e Clecio e Ana Carolina,
pela valorosa colabora<;ao na digita<;ao dos telejornais.
As Professoras Doutoras Cristina Teixeira, Isaltina Mello Gomes e Virginia Collares,
pelas palavras de entusiasmo e incentivo constantes.
A FACEPE e ao CNPq, pelo suporte fmanceiro.
Ao meu pai, Prof. Sergio Tavares, exemplo de pesquisador dedicado it preserva<;ao do
meio ambiente, uma gratidao muito especial pelo significativo apoio academico aliado
ao carinho essenciais it minha vida.
Ao trio - Eyner Luciano, Mariana e Danilo - com todo
este estudo com 0 maior prazer.
0
meu amor, agrade<;o e dedico
Este trabalho tem como proposta urna pnmeua caracteriza9ao do comportamento
pros6dico na locu9ao do telejomal e verifica9ao da interferencia de fenomenos
entoativos na compreensao do te1espectador. 0 eixo organizador dessa caracteriza9ao
ou, em outras palavras, a questao a ser respondida e como a pros6dia participa do
processo de textualiza9ao com a leitura em voz alta (LVA), influindo na compreensao.
Na discussao, a pros6dia e deslocada de sua atua9ao restrita a fala, pennitindo a
defini9ao de estrategias de oralidade, como
0
meio pelo qual
0
leitor distingue a
complexidade da informa9ao textual. Como produto dessa discussao, verifica-se que: (a)
a coesao pros6dica e urn fenomeno textual observado dentre os mecanismos de
distribui9ao e progressao da informa9ao, que, ao lado do contomo entoacional na LVA,
permite a identifica9ao de tipos de leitura - htanica, padrao e eloquente - na dimensao
sonora; (b) a expressividade na LVA e
0
resultado da a9ao do locutor sobre
0
escrito,
seja estruturando de modo particular a materia fOnica, seja rea19ando/acrescentando
significados por meio de substancia fOnica e do jogo de pausas (ele recorre as
estrategias de oralidade necesslirias a retextualiza9ao na LVA, ao mesmo tempo em que
revela
0
grau de envolvimento no trinomio leitor-texto-ouvinte). Finalmente, os
resultados dos testes de compreensao mostraram diferen9a de rendimento relacionada ao
myel de letramento dos informantes, bem como apontaram para urna melhora no
aproveitamento dos trechos em que a LVA foi mais envolvente sobre segmentos
narrativos.
Este trabajo tiene como propuesta una primeira caracterizaci6n
del comportamiento
pros6dico en la 10cuci6n de los telediarios y la verificaci6n de fen6menos entonativos en
la comprensi6n del telespectador. El eje ordenador de esta caracterizaci6n 0, en otras
palabras, la quest6n a ser respondida es c6mo la prosodia participa del proceso de
textualizaci6n con la lectura en voz alta (LV A) influyendo en la comprensi6n. En la
discusi6n la prosodia es deplazada de su actuaci6n restringida al habla permitiendo la
definici6n de estrategias de oralidad como el medio por el cual el lector distingue la
complejidad de la informaci6n textual. Como producto de esta discusi6n se veri fica que:
(a) la cohesi6n pros6dica es un fen6meno textual observado dentro de los mecanismos
de distribuci6n y progresi6n de la informaci6n, que junto al contomo entonativo en la
LVA permite la identificaci6n de tipos de lectura - litimica, patr6n y elocuente - en la
dimensi6n sonora; (b) la expresividad en la LVA es el resultado dela acci6n del locutor
sobre el escrito,
sea estructurando
realzando/acrecentando
de modo
particular
la materia
f6nica,
sea
significados por medio de sustancia f6nica y de juegos de
pausas (el recorre alas estrategias de oralidad necesarias a la retextualizaci6n en la LVA
al mismo tiempo en que revela el grado de envolvimiento en el trinomio lector-textooyente). Finalmente, los resultados de los tests de comprensi6n mostraron diferencia de
rendimiento
relacionada
con el nivel de instrucci6n1 comprensi6n
lectora de los
informantes, as! como apuntaron haia una mejora en el aprovechamiento de los trechos
en que la LVA fue mas envolvente sobre segmentos narrativos.
The purpose of this work is to establish a first charaterization of the prosodic behaviour
on TV News broadcasting
watcher's
comprehension.
and the verification
of the intonative phenomenous
The point of this characterization
on
or, in other words, the
question to be answered is how prosody participates of the textualization process from
reading aloud, influencing comprehension. In the discussion, prosody is dislocated from
its restricted relevance to speech, leading to the notion of oral strategies as means
available to reader distinguishing textual information complexity. As a result of the
discussion, one verifies that: (a) prosodic cohesion is a textual phenomenon observed
beside distributive and progressive mechanisms for information flow, which, added to
intonational contour in reading aloud activity bring about the identification of different
types of reading - litanic, pattern and eloquent reading - within sound dimension; (b) in
reading aloud activity, expressivity comes up from reader's actions on text in two
different ways like giving certain structrure to phonic substance, or emphasizing/adding
meaning to the text through phonic substance and intervals combinations (any reader
resorts to oral strategies necessary to "re-textualization"
process by reading aloud, while
reveals reader-text-hearer involvement). At last, comprehension tests results pointed out
firstly to relevant differences in individual performances which can be attributed to ones
"literacy"
and secondly, to the participation
of reader's
performance
on hearer's
comprehension due to more involvement observed on narrative passages inside news.
e
pois
e
"A musica a essencia da ordem;
eleva para tudo que born,justo e belo,
do bom, do justo e do belo a forma imsivel,
mas deslumbrante, apaixonqda, efliWn4'1."
e
I.
N.
Identificando 0 problema
Definindo 0 objeto
Estabelecendo os objetivos
Visao geral do trabalho
001
008
012
014
1.1
1.2
1.2.1
1.3
Compreensao - Interpreta~ao - Constru~ao de Sentido
Expressividade - Envolvimento - Legibilidade
A Expressividade na Leitura em Voz Alta e a Compreensao
As Teorias Interacionistas do Tom
0 17
024
041
062
2.1
2.2
2.3
2.3.1
2.3.2
Uma Breve Reflexao
Recursos de Composi~ao do Telejornal.
A Estrutura do Telejornal e a Compreensao do Telespectador..
0 Evento
As Marcas de Fronteira:
• A abertura
• As chamadas
• 0 fechamento
'"
0 Envolvimento no Telejomal...
No Evento
A Noticia
Estrategias de Envolvimento na Noticia
083
088
095
096
l0 1
103
105
117
118
121
128
140
0 Teste Piloto
149
150
157
157
157
159
163
164
166
167
169
n.
m.
2.4
2.4.1
2.4.2
2.4.3
3.1
3.1.1
3.1.2
3.2
3.3
3.4
3.5
3.6
3.7
'"
Questionario
Teste Preliminar de Compreensao
• sele~ao das noticias
• os resultados
Como testar a compreensao 1
A constru~ao do material de teste: 0 corpus
Os Informantes
Aplica~ao do Teste de Compreensao
Tratamento dos Dados
Hip6teses
Capitulo 4: A Prosodia e a Constru~ao de Sentido no Telejornal. ..170
4.1
4.2
4.3
5.1
5.2
5.2.1
5.3
Coesao pros6dica e contorno entoacional: as unidades de leitura (UL)
• Noticia 1: "Hamar quebra protocolo"
• Noticia 2: "Alerta it popula<;ao contra ped6filos
• Noticia 3: "Vitor Buaiz deixa 0 PT"
• Noticia 4: "Repressao a roubo de carga"
• Noticia 5: "Pitta demite Secretario da Educa<;ao"
• Noticia 6: "Petroleiros impedem lan<;amento de plataforma"
• Noticia 7: "Sem-terra invadem predio publico"
• Noticia 8: "Frangogate"
Leitura manipulada
• Noticia 2: "Alerta it popula<;ao contra ped6fi1os"
• Noticia 4: "Repressao a roubo de carga"
• Noticia 6: "Petroleiros impedem lanyamento de plataforma"
• Noticia 7: "Sem-terra invadem predio publico"
• Noticia 8: "Frangogate"
• Noticia 5: "Pitta demite Secretario da Educa<;ao"
MinaI, 0 que faz a pros6dia ?
As Comunidades de Leitores
(a) leitura na infancia
(b) a leitura no ambiente familiar..
(c) h<ibito de 1eitura
(d) "A gente Ie Telejornal"
Aplica<;ao e interpretayao dos testes
Os testes de compreensao: leitura origina11leitura manipulada
• Noticia 1: "Hamar quebra protocolo"
• Noticia 2: "Alerta it popula<;ao contra ped6filos"
• Noticia 3: "Vitor Buaiz deixa 0 PT"
• Noticia 4: "Repressao a roubo de carga"
• Noticia 6: "Petroleiros impedem lanyamento de plataforma"
• Noticia 7: "Sem-terra invadem predio publico"
Avalia<;ao global.
173
176
180
184
188
193
196
199
200
203
205
208
.212
214
216
.220
222
230
230
231
.232
233
.237
.239
241
.246
251
.255
257
261
266
Anexos
Anexo
Anexo
Anexo
Anexo
1
2
3
4
'"
285
292
293
295
Figura 1
Dominios de Conhecimento do Processamento Textual
025
Figura2
Estrategias de Processamento Textual
027
Figura 3
Esquema da Expressividade
035
Figura 4
Tipos de Leitura Fluente
057
Figura 5
o significado
075
Figura 6
Estrutura do Telejomal
098
Figura 7
Nitmero de Chamadas por Telejomal
107
Figura 8
Estrutura das Chamadas
112
Figura 9
As chamadas:
114
Figura 10
Genero comunicativo: narrativa
130
Figura 11
Temas das noticias do teste de compreensao
163
Figura 12
Contextos Interativos da Pros6dia na LP
225
Figura 13
Contextos Interativos da Pros6dia na LN
226
dos niveis de fa1a sobre as proeminencias
0 jogo
da sedm;ao
Tabela 1: Tabela quantitativa da composi<;ao das noticias: tipos de locu<;ao
141
Tabela 2: Distribui<;ao dos informantes por edi<;ao
166
GrMico 1: Audiencia <!asemissoras
152
Gnifico 2: Fatores relevantes para a locuyao
154
LV A: leitura em voz alta
LV: locU<;aoao vivo (apenas
0
locutor aparece no video)
LOFF: locU<;ao em off (apenas a voz do locutor e ouvida, durante a exibiyao de
imagens)
LN: leitura padrao do tipo natural
LP: leitura padrao do tipo nao-natural
EH: eixo horizontal da pros6dia
EV: eixo vertical da pros6dia
EO: estrategias de oralidade
o : tom neutro ou obiquo, nem ascendente nem descendente.
p: tom descendente
p+ : tom descendente dominante (ha uma ascendencia anterior
r: tom ascendente dominante (ha uma descendencia anterior
r+: tom ascendente
a descida
a subida
no tom)
no tom)
Introducao
I.
Identificando 0 problema
A partir do momenta em que tomamos por objeto de pesquisa a pros6dia no processo
comunicativo, passamos a refletir sobre a funyao dos pad roes pros6dicos na fala
espontan-eae nos textos oralizados1 (lidos em vm alta ou memorizados para serem
encenados). Essa focalizayao nos levou a reflexoes sobre conceitos ainda urn pouco
nebulosos para a lingiiistica, tais como as noyoes de expressividade, legibilidade e
envolvimento.
Distante das perspectivas te6ricas classicas de Ret6rica e Estilistica, entendiamos
empiricamente que os padroes pros6dicos durante uma LVA assumiam fun90es
pragmaticas importantes para a construyao de sentido do texto numa via de mao dupla,
para
0
leitor e para
0
ouvinte (estes envolvidos em atividades cognitivas distintas, mas
similares em alguns aspectos). A pros6dia parecia-nos sobrepor-se ao texto escrito
atribuindo-lhe caracterfsticas de natureza fugaz, mas constituinte do ato em si mesmo
de
apropriayao
da
lingua
numa
individual(ista) como ler em voz alta.
atividade
lingiiistico-social
aparentemente
Surge, asslm,
0
nosso primeiro pressuposto: a LVA e uma atividade interativa. A
interatividade fundamenta-se no aspecto dial6gico da ac;ao da lingua com prop6sitos
bem definidos e delineados pelos interactantes (sempre numa relac;ao triadica leitortexto-ouvinte, falante-texto-ouvinte), sob a influencia de restric;oessociais e lingiiisticas
propriamente ditas, estas entendidas como instanciadas pelo texto - unidade
comunicativa.
Como 0 nosso interesse era compreender se (nao) existe urn significado veiculado pela
pros6dia durante os processos de comunicac;ao e em que medida ele participa da
construc;ao de sentido pelo leitor/ouvinte,
algum evento comunicativo para
0
0
nosso primeiro passo deveria ser isolar
qual os padroes pros6dicos na leitura tivessem
relevancia, nao apenas do ponto de vista estetico como principalmente para a
significac;ao.Tinhamo-nos imposto como exigencia que 0 evento escolhido deveria ter
historicidade, portanto, relevancia social, e atingisse os usuarios da lingua
indistintamente. Nesse momento, afastavamo-nos das situac;oes formais de interac;ao
(sala de aula, palestras, sermoes, etc.). Assim, chegamos ao Telejornal.
A Hist6ria da leitura no mundo ocidental revela a importancia da leitura em voz alta
(LVA) da Antigiiidade Classica aos dias atuais.
"No mundo antigo, na Idade Media, nos seculos XVI e XVII ainda, a leitura
implicita mas tambem efetiva de numerosos textos e uma oralizac;lio, e seus
'leitores' slio os ouvintes de uma voz leitora. Dirigido assim tanto ao ouvido
quanta aos olhos,
0
texto joga com formas e formulas
aptas a submeter
0
E no
seculo XVIII que encontramos
0
germen do telejomalismo
quando a LVA em
publico assume urna funl;ao social relevante (cf. Cavallo e Chartier, 1998; Manguel,
1997, entre outros), tempo em que ocorre urn "furor de ler", companivel ao momenta
atual com seus multiplos objetos de leitura.
o
seculo
:xx registra
urna mudanl;a de funl;ao social da LVA quando a aprisiona em
relal;oes assimetricas nas quais a represental;ao do "leitor" (seu papel social)
0
distancia
do publico ouvinte, turvando a capacidade de analise criteriosa da eficacia dos modos
de aproprial;ao do texto na LVA.
Sao exemplos dessa realidade, a LVA de urn texto didMico pelo aluno para que the seja
avaliada a performance pelo professor( a), nao importando
com
0
publico ouvinte, nem mesmo
0
0
que acontece no entomo
texto lido, objeto "passivo" no processo de
avalial;ao; ou a situal;ao do palestrante diante de sua plateia, ao erguer algumas folhas
para serem lidas ... com expressividade?
"acompanhou"
0
Conseguiu envolver
0
publico? 0 publico
que estava dizendo?
Talvez essa mudanl;a de paradigma social na atividade de LV A justifique
historiadores
0
fato de
como Manguel (1997) e Petrucci (1998), por exemplo, nao fazerem
referencias ao telejomalismo como atividade social relevante para a hist6ria da LV A.
Nem mesmo os lectores das fabricas cubanas de charuto em 1850 (Manguel, 1997)
al;oes cotidianas2~ ou, ainda, a busca de informal;ao especifica ou generica, fato que se
De qualquer forma, com
"0
mundo aprisionado no papel"3, a leitura tomou-se uma
Em trabalho intitulado "A Gente Le Telejornal", apresentado no 120 COLE, verifiquei que mais de
50% dos informantes (de urn total de 55) com baixo grau de escolaridade reconheceram assistir ao
Telejomal enquanto realizam tarefas domesticas, como jantar, costurar, etc.
3 Referencia it obra de Olson 0 Mundo no Papel, traduzido e editado em portugues pela Atica em 1997.
2
texto, ajudando-os a decidir quanto a intencionalidade (0 produtor, pelas escolhas que
faz, e
0
receptor, pela interpreta<;ao dessas escolhas).
Observando
os
"rnassificantes"
aprendizagem
textos
da
midia,
verificamos
que
eles
que podem e deveriam ser desveladas durante
da leitura nas escolas. Entendemos
constru<;ao de sentido para
0
ocultam
0
estrategias
processo de ensino-
a leitura como urn processo de
qual concorrern estrategias nao apenas lingilisticas, mas
cognitivas e culturais. Sem privilegiar ou depreciar
0
valor dos dados lingiiisticos, isto
significa partirrnos do pressuposto de que a compreensao
e
urna forma de dialogo
leitor-texto a partir das pistas oferecidas pelo proprio texto, que levam a acionar
lhe
e
0
que
externo e deve ser recuperado pelo leitor nurna atividade de interlocuyao (cf.
Geraldi, 1991; Koch, 1996; Marcuschi, 1989; Suassuna, 1998; entre outros).
Cavallo e Chartier (1998) propoem urna reflexao historic a sobre a maneira pela qual se
da
0
encontro entre
"0
mundo do texto" e
"0
mundo do leitor,,4, e ressaltam que
0
sentido do texto esta intrinsecarnente ligado as forrnas e as circunstancias por meio das
quais
0
texto
e recebido
e apropriado pOI seus leitores (ou seus ouvintes - lernbrarn os
autores). Usam tais reflexoes para afirrnarem que os leitores "manipulam objetos,
ouvem palavras Gujas modalidades governam a leitura (ou a "esGuta'') e, ao faze-la,
Gomandam a possivel Gompreensiio do texto" (p.6). Os leitores nao sao confrontados
corn textos abstratos, ideais, desligados, portanto, de qualquer rnaterialidade, nern sao
passivos no confronto. Assim,
e preciso
nao desprezar
0
fato de que
"as formas produzem sentido e que um texto se reveste de significac;ao e de um
estatuto ineditos quando mudam os suportes que os propfJem
a
leitura"
Por outro lado, a divisao grosseira entre letrados e (semi)analfabetos para se falar da
diferen<;areal entre as competencias de leitura carece de explica<;oeste6ricas que
tornem possfvel a verifica<;aode fatores lingiifsticos, cognitivos e interacionais que de
fato distingam as chamadas comunidades de leitores
pOI aqueles autores. Cavallo e
Chartier (1998) afirmam que a leitura e sempre uma pnitica encarnada pOI gestos,
espa<;ose habitos que identificam grupos de leitores distintos. Desde a Antigiiidade,
"e
grande a distancia entre os grandes letrados e os menos habeis dos leitores" (p.6).
Falam de expectativas e interesses diversificados percebidos na pratica de leitura de
diferentes comunidades de leitores, das quais dependem as maneiras pelas quais os
textos podem ser lidos. Afirmam, ainda, que as comunidades distintas mantem rela<;oes
tambem distintas com
0
escrito,
0
que se revela nas atribui<;oes de significado
diferenciadas. Propoem, portanto, que cada comunidade de leitores partilha urn mesmo
conjunto de competencias, de usos, ou seja, partilham uma 'mesma rela<;aocom
0
escrito.
Esses pesquisadores, Cavallo e Chartier, tomam os diferentes gestos de leitura por
objeto de investiga<;ao para veriJicar como as diferen<;as sociais se traduzem
culturalmente. Como ja mencionamos, curiosamente nao fazem nenhurna referencia
a
atividade de LVA no telejornal que, ao nosso ver, ja constitui uma das pr::iticassociais
relevantes desse infcio de seculo. Dentro da perspectiva hist6rica desses autOIes, ao
falarem dos processos de leitura suscitam, em nos, lingiiistas, algumas indagal(oes
acerca das diferenl(as sociais aludidas, a saber:
•
Quais aspectos do mundo textual (co-texto e sua relal(ao com
0
contexto)
traduzem as diferenl(as sociais ?
•
as textos produzidos na TV aberta nao representam uma oportunidade de
insewao dos sujeitos (telespectadores) no mundo letrado pela atividade de
leitura de que se constituem, seja ela mediada6 ou nao?
•
Pode-se postular que os (semi)analfabetos nao san capazes de entender urn
texto escrito tal como os letrados ?
Para a Lingiiistica e Ciencia da Comunical(ao, tais questoes servem para ressaltar a
importancia de se pesquisar os processos de produl(ao e de recepl(ao de textos, nas mais
diferentes situal(oes de interal(ao comunicativa servindo, posteriormente,
a discussao
acerca da pnitica de leitura e produl(ao de textos na escola e nos meios de comunical(ao,
que parecem nao considerar alguns eventos comunicativos do cotidiano fundamentais
para a consciencia da cidadania.
Para cada meio onde os diferentes generos textuais san veiculados, os processos de
atribuil(ao
de senti do possuem
especificidades
cujos
fatores
compreensao devem ser identificados para se saber mais sobre
usmirio tern da lingua e de como agir com ela e a partir dela.
0
intervenientes
conhecimento que
na
0
Classificar os textos de TV mistos quanta
a modalidade,
os quais saD escritos para
serem lidos em voz aha (cf. Crystal, 1995) representa uma posiyao reducionista porque
nao oferece um entendimento dos aspectos constitutivos dos textos da midia de modo
geral. A proposta de classificayao
fala/escrita
dos generos textuais dentro de um continuum
(cf. Chafe, 1982; Biber, 1988; Marcuschi, 2000) permite que se percebam
alguns eventos comunicativos
(dentre eles, certos textos de TV) na interface desse
continuum. Tal posiyao nos distancia de urn entendimento do telejomal, por exemplo,
simplesmente como urn exemplar da lingua falada (como
apud Carvalho, 1990, porque prioriza
escrita quando focalizado
0
0
0
quer Blanche Benveniste,
canal em sua observayao), ou como lingua
modo de concepyao do noticiario para a TV.
Considerar
que existem alguns textos que se situam na interface do continuum
fala/escrita
e assumir
0
conceito de «semi-oralidade"
(cf. Pessoa, 1997; Cavalcanti,
1999, entre outros) por reconhecer a possibilidade de interseyao entre os modos de
concepyao e de realizayao, resultando em textos oralizados (peyas de teatro, cinema,
discursos, telejomal, telenovela, etc.).
A proposta do continuum com seus principios e categorias de analise (Marcuschi, 1995,
2000) nos permite verificar em que medida os generos textuais estao mais pr6ximos da
escrita ou da fala,
0
que possibilita
0
conhecimento dos textos oralizados nao mais pelo
vies da escrita. Desse modo, passamos a compreender melhor alguns fenomenos antes
apenas empiricamente observaveis.
evento7. Entretanto possui urn segundo momento de produ9ao8: a leitura em voz alta.
E ao
seu primeiro momento que nos referimos quando afirmamos ser
0
telejomal urn
Nos capitulos 1 e 2 discutiremos essa questao.
Com rela~ao it sintaxe, nao podemos afirmar que esteja mais proximo da fala ou da escrita, pois este
aspecto nao foi analisado e tudo 0 que dissermos sera fruto de observa~oes empiricas. 0 trabalho de
Cavalcanti (1999), no entanto, refor~a a nossa ideia de que estamos avaliando os eventos da interface do
continuum FIE pelo vies da escrita, quando confirma a nossa afrrmativa de que a narrativa laboviana e
tipica do telejornal (cf 0 Sensacionalismo no Telejornal, Investigal;oes, n° 11 ,trabalho apresentado no
GELNE, 1998) onde conclui ser 0 envolvimento 0 aspecto caracteristico desse evento.
7
8
.presente, pennitindo a concep98o de runa voz interior (Chafe, 1987)9, exigencia minima
ja sabemos, sobre a qual se destaca
0
envolvimento10. No processo de produ<.;aotextual,
9 Mattoso Camara Jr. (1977:21), ao fa1ar da fun~ao expressiva do tom para a elocu~ao, afirma que "na
lingua escrita, onde ele nfio pode figurar, temos de recria-Io na leitura mesmo mental, para podermos
apreciar e ate compreender 0 texto".
10 Teoricamente apresentado no capitulo 1.
enunciador-enunciatirio mediado pelo enunciado no processo de enuncia<;ao.Esse
envolvimento se da em niveis diferentes defmidos socialmente e caracteriza e
(re)textualiza<;aopromovida com a leitura.
Pode-se dizer que, quanto maior
0
envolvimento no telejomal, melhor a compreensao
do telespectador, porque de quanto mais estrategias de textualiza<;ao 0 emissor se
utilizar para definir a expressao que deseja imprimir ao seu texto, mais ele estara
atendendo ao principio pragmatico essencial para a intera<;ao: 0 Principia da
Caoperac;iio (Grice, 1975).
Falar em maior ou menor envolvimento nao significa estabelecer urn indice aferidor
dos mecanismos utilizados nos processos discursivos, mas perceber
de urn continuum envolvimentofdistanciamento sobre
0
0
fen6meno dentro
qual as atividades
comunicativas se deslocam em funyao de uma adequa<;aosocial, portanto, de fatores
tambem extralingiiisticos de coeryao no uso da lingua. Em sentido amplo, esse
fen6meno representa a func;aotripartida da linguagem - dizerffazerfmostrar11 - ora pela
enfase que da ao conteudo da informac;ao,ora suscitando urna a<;aodo enunciatario, ou
ainda, mostrando ao enunciatario algum(ns) aspecto(s) do enunciador ou do proprio
enunciado (essas questoes serao retomadas no capitulo I).
A partir de agora,
0
problema sera construir um aparato te6rico-metodol6gico
sobre a
nOyao de expressividade no telejomal, buscando identificar se e como a pros6dia na
LVA participa da construyao de senti do da noticia interferindo na compreensao do
telespectador. Nosso terceiro pressuposto e concebermos esta interferencia como uma
relayao de maior ou menor legibilidade do texto, de corrente, tambem, da habilidade de
construyao de uma representayao textual (modelo mental) pelo leitor/telespectador.
Quanto a existencia de "voz" no texto escrito, partimos da hip6tese central de que a
pros6dia participa do processo de textualizayao, portanto da expressividade do texto,
que se da com a realizayao da LV A. Para verificar esta asseryao, precisamos tambem
desenvolver um conceito de compreensao adequado a perspectiva de observayao do
objeto de investigayao deste trabalho, para observar como a pros6dia participa do
processo de textualizayao do telejomal e, assim, testar a recepyao da leitura pelo
telespectador.
Sabemos estar incursionando em uma "floresta", qual um botanico diante de tantos
"objetos" a serem descritos, face as infuneras perguntas a responder.
Sobre
0
Telejornal:
(a) Quais os elementos constitutivos do telejomal ?
(b) Os elementos ou fatores constitutivos do evento interferem no
processo de compreensao ?
Sobre
0
Locutor:
(a) Existe urn modelo ideal de entoa<;ao ou a entoa<;ao, sendo urn
aspecto essencial da compreensao do proprio leitor/locutOI,
e
variavel?
(b) Ha leitOIes/locutores entoacionalmente melhores? 0
que os
caracteriza ?
(c) Existem entoa<;oesidiossincraticas ?
Sobre
0
Telespectador:
(a) 0
individuo habituado ao telejomal
e
malS competente na
compreensao das noticias do que aquele que nao 0 e ?
(b) Os telespectadores constituem comunidades de leitores claras ?
Sobre a rela~ao locutor/telespectador:
(a) Que tipos de marcas prosodicas do locutor traz implica<;oespara a
compreensao do telespectador ?
Sobre os tip os de noticia:
(a) A compreensao do telespectador e facilitada pelo tipo de noticia ?
Na tentativa de responder a algumas dessas perguntas, este trabalho tern pOI objetivo
tres a<;oes (de naturezas distintas) - uma teorica, uma descritiva e a ultima,
experimental- quais sejam:
1.
Desenvolver urn conceito de expressividade que permita a identifica<;aodo
significado veiculado pela prosodia~
11.
Realizar urn estudo descritivo do telejomal caracterizando
para
111.
0
envolvimento
reconhecimento da dimensao pros6dica nesse genero comunicativo; e
Testar a compreensao
de leituras de urna mesma noticia, realizadas por
locutores distintos (observando em que difere
o
0
objetivo te6rico e
0
experimento
comportamento pros6dico).
desta pesquisa buscam responder
fomentadora
deste trabalho
de que a pros6dia
telespectador
de forma sistematica. Acreditamos
deveremos primeiro responder
0
a pergunta:
0
que e
participa
a hip6tese
da compreensao
do
que, para verificar esta hip6tese,
0
envolvimento no telejomal ?
Para tanto, faz-se necessaria a descri9ao do evento visando
a identifica9ao
do papel da
pros6dia na constru9ao de sentido do texto telejomalistico. Na realidade, ainda pouco
se sabe sobre como a entoa9ao intervem na significa9ao participando efetivamente da
compreensao. Embora a pros6dia tenha sido estudada, por urn lado, como urn elemento
constitutivo da competencia lexical e sintatica (Chafe, 1981 e Halliday, 1985 sao os
trabalhos mais representativos dessa corrente) e, por outro, da competencia pragmatica
(cf. Bolinger, 1958; Brazil, Coulthard & Johns, 1981; entre outros) ha ainda muito
caminho a percorrer para
veiculada pela pros6dia.
0
conhecimento da natureza da contribui9ao informacional
:U~1.igUi.sl,lC~
iJliPJ:\l
o capitulo
5 apresenta os resultados dos testes de compreensao, expondo as diferen9as
e semelhan9as no desempenho dos grupos expostos as leituras manipulada e original.
Este capitulo identifica aspectos que nos permitem falar em comunidades de leitores
distintas.
Finalmente, na tentativa de nao ser urn mero repetidor dos capitulos precedentes,
0
ultimo capitulo apresenta nossas conclusoes sobre os resultados obtidos com a analise
pros6dica e com os testes de compreensao, alem de fazer algumas sugestoes para outros
estudos, a partir do tema abordado nesta pesquisa.
~itulo
1: Fundamentos Te6ricos
"as sentidos nao SaG simplesmente codificados
(depositados no interior do codigo), pois eles
SaG sempre produzidos na relar;iio dos sujeitos
com a lingua, dos sujeitos entre si e na camplera
arttcular;iio cam autras instancias de pradur;ao e
funcionamenta da lingua. "
Marcuschi (1996:9)
faz produzir textos. 0 texto
e, pois, a unidade comunicativa basica da linguagem
II Para autores que propoem rnodelos textuais nessa perspectiva ver Van Dijk (1981), Beaugrande e
Dressler (1981), Koch (1989,1990,1992), Marcuschi (1983), entre outros.
11
e
simultaneamente,
aqui incluidos os aspectos pros6dicos, apenas aludidos brevemente
poI Koch.
Do ponto de vista do leitor/ouvinte para a interpreta<;ao ou constru<;ao de urn sentido
possivel para
0
texto, temos que observar quais opera<;oes de atribui<;ao de sentido e1e
realiza, e a partir do que tais opera<;5es sao acionadas.
Neste momento, estamos prontos a assumir
modelo cognitivo de compreensao
0
e
produ<;ao de discurso de Van Dijk (1992) e reelaborado pOI Koch (1997), no qual as
diversas informa<;oes provindas dos varios niveis da lingua (morfofonoI6gico, sintatico,
semantico e pragmatico) interagem de forma complexa.
E,
portanto, urn mode1o de
processadores (cf Van Dik, 1992). E mais, reafirmamos a existencia de pros6dia na
escrita, postulado central em Chacon, (1996, 1998) e Chafe (1987),
dicotomiza
a
analise
opondo
a
fala
a
escrita,
mas
0
busca
que nao
identificar
semelhan<;as/diferen<;as e regularidades para os generos comunicativos dentro de urn
continuum.
as
diferentes
generos estariam situados em determinadas
esferas de
conhecimento identificadas pelas exigencias das condi<;5es de comunica<;ao de cada
evento comunicativo.
Se considerarmos que as informa<;oes provindas desses niveis da lingua interagem, as
unidades utilizadas para anaIise sao entendidas como usadas estrategicamente. Ou seja,
o usuario esta continuamente construindo hip6teses operacionais a partir de marc as dos
diversos niveis no discurso para, " num mecanismo de realimentac;ao entre as unidades
que compoem a estrutura e
0
significado do texto, reconstruir tanto
0
significado
sentido.
E, portanto,
urn conhecimento procedural de que todo usrnirio dispOe.
falando de estrategias de textualiza~ao14. Para produzir seu discurso de forma ordenada,
14 Fundamenta-se no Principio da Textualidade
(Halliday & Hasan, 1976), apresentado pela corrente da
teoria da produ~ao de texto, que pretende explicar "0 que faz com que urn texto seja um texto" (Koch,
1989:20). Marcuschi (1983), partindo da observ~ao dos seis elementos ou fatores responsaveis pela
textualidade identificados por Beaugrande e Dressler (1981) - coesao, coerencia, informatividade,
situacionalidade, intertextualidade e aceitabilidade - acrescenta aqueles os fatores de contextualiza~ao
(titulo, recursos visuais, data, assinatura, fonte, etc.). 0 texto ira cumprir cada um deles dependendo da
situa~ao comunicativa em que se encontrar.
conhecimento15 de que
15 Nos limitaremos
aprofundamento.
0
a proposta
homem se utiliza para processar textos. Tal conhecimento nos
de Koch (1997), sobre
0
que remetemos
0
leitor a esta obra para maior
"Ser surdo as modulaJ;;oes da voz significa
ser cego as modalidades de sentido"
Leonardo Boff
Seguindo
0
percurso do texto nas teorias aCIOnalSda linguagem15 e inspirada nos
modelos cognitivos de processamento textual16, Koch (1997) afirma que na atividade
Sistemas
De
Conhecimentos
l\~ 7\~
Conhecimento
gramatical
lexical
Conhecimento
declarativo
enciclopedico
--11__
Dominio do sistema
LingOistico
.
Domlnio de conhecimento
(Background 18)
Conhecimento
socio-interaconal
textual, "formatando" apropriadamente a unidade lingiiistica ao evento comunicativo
em quesmo e "ajustando" as "regras do jogo".
Em outras palavras, 0 conhecimento socio-interacional se junta (nao como urn
somatorio) ao conhecimento lingiiistico para produzir 0 texto, que sera influenciado em
seu conteudo e distribui~ao das inform~oes pel0 conhecimento enciclopedico do
produtor, no momento da elabora~ao. Ancorados no conhecimento enciclopedico, os
conhecimentos lingiiistico e socio-interacional atuam sobre a habilidade de textualizar
as a~oes verbais.
Koch (1997) distribui 0 conjunto de estrategias necessarias para acionar esses dominios
ou esferas de conhecimento em tres grupos distintos: as estrategias cognitivas; as
estrategias
textuais
ou textualizadoras;
e as estrategias
socio-interacionais
(mencionadas anteriormente).
As estrategias cognitivas saD aquelas que caracterizam 0 uso mesmo dos diferentes
dominios de conhecimento. Consistem, portanto, na realiza~ao ou execu~ao de algum
calculo mental que viabiliza a constru~ao de sentido. Como 0 proprio nome sugere, as
estrategias
textuais ou textualizadoras
dao conta das a~oes lingiiisticas (que nao
deixam de ser tambem cognitivas) sobre conteudos informacionais especificos
transformando-os em urna unidade comunicativa. Para que esta seja eficaz19, entram em
cena as estrategias socio-interacionais, que, como ja dissemos, saDuteis inclusive para
Estratt~giastextuais
Estrategias
cognitivas
calculo mental
Organiza~ao/formula~aol
referencia~aolbalanceamento
Estrategias s6ciointeracionais (levar a bom
termo 0 jogo de linguagem)
como aspecto em comurn 0 fato de nao representarem setores/unidades isolados, mas
de constituirem 0 modus operandi da linguagem verbal. Reafirmamos
0
pressuposto de
que estamos falando de texto nao apenas como artefato lingiiistico bem organizado,
mas como evento comunicativo socialmente relevante, que se realiza(atualiza) na
interayao. Isto significa que a cada evento correspondem estrategias de processamento
especificas constituindo, desse modo, urn conjunto aberto, como postulam Koch
(1997), Van Dijk (1992), mencionado anteriormente.
Para observarmos esse modus operandi
texto restituido de voz,
Concebendo
0
0
necessitamos deslocar do individuo para
0
foco de observayao das estrategias de processamento.
texto como urn processo, passamos a vislumbrar a textualizayao como
urn estado dinamico perceptivel quando analisadas as estrategias de construyao de
sentido em duas esferas de atividade verbal: as estrategias de formulac;ao textual stricto
sensu, e as estrategias de envolvimento. A observayao dessas estrategias compreende as
condiyoes de organizayao da informayao e as condiyoes de comunicayao. Para definilas, e necessario explicitar 0 que significa falar em restituir voz ao texto.
Nesse momento, a oralidade em sentido amplo, antes descartada, e vista como urn dos
aspectos constitutivos da textualidade, que participa do processo de atribuiyao de
sentido dos interlocutores por meio de recursos pros6dicos, e faz parte do modus
faciendi da linguagem.
Para
0
locutor do telejomal,
compreendido.
E justamente
0
texto escrito
e
mentalmente "oralizado" para ser
essa oralizayao interior (mental), que vai sugerir quais
elementos, ou poryoes maiores do texto, devem ser destacados prosodicamente, para
composi~ao visuae2, dizemos que:
texto se incluirmos as estrategias de oralidade23 no processamento textual.
22 "as variayoes de luz ou de tom sac meios pelos quais distinguimos oticamente a complexidade da
informayao visual do ambiente"(Dondis, 1997:61).
23 Aqui percebemos uma diferenya entre oralidade e fala. Fala seria urn sentido estrito de oralidade. As
descontinuidades que interferem na fluencia sintatica (cf. Marcuschi, 1996) sao caracteristicas da fala no
processo de comunicayao em situayoes de interayao espontanea. Tannen (1985) usa 0 termo estrategias
orais para se referir aos "indicios prosodicos" ou "sinais paralingliisticos"
como recursos do
processamento textual deficiente em termos de fluencia sintatica na fala espontanea. Voltaremos a isso
mais adiante.
23 Tomamos de emprestimo as expressoes a Platao & Fiorin (1987). Reservamos a expressao voz
mostrada no texto a representayao da fala do outro no texto (discurso direto e indireto). Na verdade, essas
express6es sac originalmente de Authier-Revuz (1982), para tratar da heterogeneidade discursiva como
manifestayao dos tipos de negociayao intersubjetiva no discurso. Ao distinguir uma "heterogeneidade
mostrada" de uma "heterogeneidade discursiva", a autora prop6e a analise da presenya do outro no
discurso.
regular,
e
a rela9ao entre os elementos novos e dados24. A rela9ao DADOINOVO
24 Brazil (1985) prop5e uma teoria pragmaticista
do tom baseada fundamentalmente
teoria seni apresentada mais adiante.
neste aspecto. Esta
argumento26 distintas, porque situadas na dimensao pragmatica da lingua.
a constru<;ao de sentido (frasal ou textuali7,
podemos postular que as estraMgias de
Cf Brazil, 1985, 1995; Chafe, 1987; Halliday, 1985; na perspectiva sintatica; e Gumperz, 1982; Viana
1992; Luciano, 1995; na textual.
27
interpessoal.
o principio
A fon;a ilocut6ria28
e
parte integrante
de ambos os conjuntos
de
de selec;ao29 conduz it. textualizac;ao pela integrac;ao/agregac;ao de elementos
legibilidade30 do texto.
Voltaremos a esta questao mais adiante.
Entendemos que a sele~ao e condi~ao minima essencial para a atividade comumcativa (cfBrazil,
1995).
30 Concebemos a legibilidade na esfera da cogni~ao, e nao da percep~ao. Para esta ultima, influem fatores
tais como 0 desconhecimento da lingua, a impossibilidade de reconhecimento do signo e a deficiencia
visual! auditiva.
28
29
Ao restituirmos voz ao texto, passamos a considerar fenomenos pros6dicos entre as
estrategias de formula<;ao textual, especialmente observados dentre os mecanismos de
distribui<;ao e progressao da informa<;ao - coesao pros6dica. A respeito das estrategias
de envolvimento no processo de textualiza<;ao, sobre
composi<;ao, reafirmamos nosso postulado de que
0
0
qual a expressividade resulta da
envolvimento nao diz respeito
a
(nao) pessoalidade nas situa<;oes comunicativas verbais, mas a possibilidade de facultar
a
linguagem
uma
argumentativa, com
orienta<;ao para
0
a interpreta<;ao preferida.
orienta<;ao
auxilio do contomo entoacional, favorece a a<;aoda linguagem.
Podemos dizer que a falacia inicial sobre
1985, 1989), atribuido
Essa
a fala
0
envolvimento (cf Chafe, 1985; Tannen,
em oposi<;ao ao distanciamento como
escrita, resulta de dois aspectos basicamente.
caracteristico da
0 primeiro deles, ja apontado por
Marcuschi (1995:02), deve-se ao seguinte fato:
"certos autores como Chafe (l985) ...nao se dao conta de que estes
SaD
dois
criterios gerais que podem ter como conseqiiencia a elaborar;aode categorias
que permitam a identificar;ao de certas caracterfsticas fundadas nesses
criterios ".
o segundo
aspecto e consequencia do envolvimento/distanciamento
nao ser focalizado
nos generos comunicativos, buscando-se estabelecer rela<;oes desse fenomeno dentro de
urn dominio de conhecimento,
que apontaria para uma tipologia textual integrada.
Acreditamos que a imprecisao a respeito dos tipos textuais (apontada por Marcuschi,
1995) decorra de urn enviesamento
nas abordagens resultantes,
cultural, uma vez que, no caso do envolvimento especificamente,
tambem, do fator
0
interesse por esse
(Tannen, 1985: - p.04 da traduyaoi1
etnias32. Este aspecto guiou os pesquisadores para urn entendirnento dos aspectos
31
Tradu~o feita por Roberta Lima, disponivel para os alunos da P6s-graduayao em Letrasistica da
UFPE.
expressividade. A analise segue tres perspectivas definidas (propostas por Chafe
1985:116, conforme a figura a pagina 35): 0 ego-envolvimento, 0 envolvimento com
0
texto, e 0 envolvimento com 0 outro.
o
ego-envolvimento sugere uma determinada constru~ao de sentido por ""mostrar" 0
posicionamento do emissor sobre
0
dito. No caso do telejornal, essa "mostra~ao" dira
respeito ora ao editor do texto ora ao seu leitor/locutor. As estrategias de envolvimento
com
0
texto, por sua vez, demonstram uma preocupa~ao do emissor, tanto na edi<;ao
quanta na locu~ao, com a compreensao do leitor e do telespectador. Revelam-se por
meio de recursos lingiiistico-textuais de natureza semantico-cognitiva que van auxiliar
a constru<;aode sentido. Neste caso, 0 locutor assume a responsabilidade de sinalizar as
marcas necessarias a compreensao do telespectador, fazendo-se co-autor do texto. 0
envolvimento com
0
outro realiza-se por meio de recursos lingiiistico-textuais e
paralingiiisticos cuja fun<;aoe primordialmente interacional, ao pretender instigar
outro a "jogar
0
jogo". Para este aspecto,
0
0
locutor dara realce as marcas ja existentes
no texto, previstas, portanto, pelo produtor da noticia.
Talvez seja correto propor que
0
ego-envolvimento seja uma categoria superior com
fun<;aobipartida: com 0 texto (explicitamente ou implicitamente) e com 0 outro. 0 fato
e que, concebemos
0
envolvimento/distanciamento uma condi<;ao de comunica<;ao
essencial em alguns generos comunicativos, que necessitam apresentar certas
caracteristicas textuais e discursivas para serem eficazes.
(1999:101)33,
ora refletindo sobre
0
investimento na "for~a expressiva" como urn
Em outras palavras, na atividade de LVA, assumindo que a pros6dia da luz (se
sobrep5e)34 ao texto como os refletores de um palco durante uma performance teatral, a
sobre as semelhan((as e diferen((as entre uma mesma noticia veiculada pela Folha de Sao Paulo e pelo
telejornal da Rede Globo, Jomal Nacional
34 Para Halliday (1985) a pros6dia esta ao lado da oravao (beside the clause).
telespectador pode ser afetada pela expressividade dos diferentes locutores.
E preciso,
"F; importante( ..)niio nos deixarmos levar
pela tendencia ao menor esforr,:o, atribuindo aos leitores ou ouvintes
o encargo da interpretac;ao justa. Nenhum expositor tem 0 direito de faze-Io.
Muito ao contrario cabe-Ihe 0 dever de ser meridianamente claro,
em vez de solicitar uma colaborac;ao indevida da inteligencia alheia. "
(Mattoso Camara Jr., 1977:61)
aquisiy3.o da linguagem.
E, portanto, parte da competencia
comunicativa dos usuarios
da lingua (cf Gumperz, 1982i5. Fonologicamente, esse tipo de conhecimento para a
Dentro da perspectiva s6cio-interacionista, Gurnperz (1982:209) retoma 0 conceito de competencia
comunicativa de Hymes (1974) para incluir as convenyoes comunicativas que auxiliam 0 falante a
manter a interayao verbal, revelando urn conhecimento de manipulayao da lingua que extrapoIa as
fronteiras do sistema lingiiistico.
35
secundaria (labializa~ao,palataliza~ao, nasaliza9ao)35, ou pelo acrescimo de tra90s
A articula9ao secundilria caracteriza as variedades regionais para as diferen9as de articula~ao de alguns
fonemas e tambem as idiossincrasias articulat6rias. Alguns manuais de jornalismo defendem a
neutraliza~ao desses tra~os.
35
No telejornal, a leitura revela a consciencia metalingiiistica do locutor/reporter para
alem da atividade pura e simplesmente de decodifica<;ao do fonema/grafema
(constitutiva do texto), a qual e caracteristica da LVA desatenta it compreensao, do
proprio leitor e do ouvinte. Tem-se uma habilidade lingiiistico-cognitiva em atribuir
marcas ao texto - com as estrategias de oralidade - constituintes do sentido, e com
objetivo de atingir
0
0
telespectador. A expressividade se manifesta pelas marcas
lingiiisticas segmentais e suprassegmentais decorrentes da intera<;ao entre
(locutor), seu interlocutor (telespectador) e
0
proprio enunciado.
0
E importante,
leitor
pois,
observar que tipo de implica<;oesas marcas prosodicas trazem para a compreensao do
ouvinte. Estamos admitindo, implicitamente, que existem diferentes comportamentos
prosodicos na LVA, mesmo em urn evento que se pretende tao padronizado quanto os
telenoticiarios. Essas diferen<;asdizem respeito it expressividade da LVA das noticias e
envolvem, igualmente, as estruturas textual, ilocutoria e interacional.
A estrutura ilocutoria diz respeito it fun<;aodos suprassegmentos dentro do discurso, ou
seja, diz respeito a urn processo de hierarquiza<;aodas informa<;oes,condicionado it
situa((ao de comunica((ao. Assim, as fun((oes exercidas pela pros6dia caracterizam-se
por revelarem duas naturezas distintas: urna sintatica e outra pragmatica. Isto significa
dizer que a prosodia participa da expressao de significados em diferentes niveis de
produ<;aode sentido. A expressividade na leitura devera pOr em harmonia essas duas
perspectivas, respeitando, assim,
(re)construir
0
0
principio da textualidade e auxiliando
0
ouvinte a
sentido do texto. A estrutura textual revela-se com as estrategias de
formula<;ao para
0
processamento do texto com
0
auxilio das estrategias de
envolvimento constitutivas da estrutura interacional. As estrategias de oralidade sac
recursos complementares dessas estruturas e constitutivas da estrutura ilocut6ria.
Dentro da perspectiva sintatica, e possivel reconhecer na fala caracteristicas da
entoayaOmais ou menos universais para as linguas ocidentais, mais precisamente no
que diz respeito aos contornos me16dicos. As gramaticas normativas prescritivas e as
descritivas servem para corroborar essa afmnativa, quando identificam padroes
entoativos para as ora90es interrogativas e as afirmativas.
Ha tambem trayos naturais fisio16gicos e psico16gicos comuns a todos os seres
hurnanos, especialmente quando observados os fenomenos pros6dicos que envolvem a
expressao das emoyoes. No entanto, nao se esta dizendo que exista urn carater universal
nas realizayoes foneticas das linguas, pois, se assim 0 fosse, se os "contornos entoativos
fossem universais,
0
aprendizado de uma lingua estrangeira no tocante aos pad roes
entoacionais, e consequente adequar;iio dos atos de fala, seria bastante simples e
diferente da realidade das linguas" (Cagliari, 1992:138).
Na perspectiva pragmatica, os suprassegmentos servem para marcar uma expressao.
"De todos os elementos supra-segmentais pros6dicos, a entoar;iio
e
0
que esta
e
mais intimamente ligado afatos sintaticos. Por outro lado, a entoar;iio ainda
0
elemento mais usado para caracterizar;iio das atitudes do falante, fato muito
explorado pelos atores de teatro, cinema e televisiio" (Cagliari, 1992:139).
expressivos,
e
necessario identificar na elocuc;ao37
fatores que permitarn
A partir de agora, vamos tomar este tenDO a Mattoso Camara Ir. (1977) para nos referirmos
oralizavao do texto escrito com a LV A do locutor do Telejornal.
37
0
it
proeminencias (saliencias fonicas), varia90es do eixo mel6dico39, nao ha como nao
13 possivel dizer que a expressividade na fala
e0
comportamento pros6dico natural,
Cadencia: regularidade na sucessao de sons breves (U) e longos (-). A fonoestilistica reconhece tipos
distintos de cadencias: jambos (U-), troqueus (-U), espondeus (--), datilos (-UU) ou anapestos (UU-),
peons primos (-UUU) ou peons quartos (UUU-). Interessada em descrever esse fen6meno, limita-se as
formas encontradas nos constituintes da frase.
39 Sucessao sistematica de sons de que resulta uma impressao sonora.
38
No ensino de leitura nas escolas, inclui-se a LVA entre as atividades realizadas pelo
aluno em sala de aula, seja como uma transi<;aoda leitura do professor (em voz alta)
para 0 momento de interpreta<;aodo texto, seja como urn apendice, no final do trabalho
com
0
texto. 0 que deveria ser urna etapa dentro de um processo de atribui<;aode
sentido, passa a ser urn elo sem que se saiba, ao certo, do que, nem para que. Em
momento algum, concebe-se a LVA como urna das formas de constru<;ao da
"caminhada interpretativa" dos ouvintes que ali estao, ou mesmo do pr6prio leitor.
Lembramos aqui as palavras de Geraldi (1997:113), a respeito da compreensao na
leitura, para ele urna atividade dial6gica:
"Recompor a caminhada interpretativa do leitor (que, evidentemente, pode ser
o professor
enquanto
leilor dos textos) exige atenr;iio ao conhecimento
dialogico que ocorre no interior da sala de aula.
texto constroi-se como possibilidade
E por
isso que a presenr;a do
de reapropria£iio, pelo professor, e pelos
alunos, de seu papel produtivo. Por esta via pode se dar a desconstrur;iio da
identidade
atual (exerC£cio de capatazia)
e a construr;iio de uma nova
identidade". (grifos nossos)
E como urn feitor,
0
professor acompanha a execu<;aomecfulica da LVA pelos alunos,
exigindo-lhes destreza na elocu<;ao.Devem demonstrar fluencia sintatica sem, contudo,
fazer reflexoes acerca do processo de atribui<;ao de sentido. Tais reflexoes, se
houvessem, permitiriam que fossem ultrapassadas as fronteiras da plasticidade na
realiza9ao da LVA.
A
semelhan9a da copia~ao39 nos exercicios escritos de
de "seduzir" por fUll<;aocomunicativa.40
39 Marcuschi (1996) em artigo intitulado "Exercfcios de compreensao ou copia~ao nos manuais de ensino
de lingua?" observa a limita~ao das quest6es de interpreta~ao detexto no livro didatico, mostrando que
na realidade nao sao de natureza interpretativa por exigirem do aluno apenas a identifica~ao de
determinadas passagens do texto resultando numa c6pia de tais trechos.
40 Cf Paternostro (1987), Maciel (1994, 1995), Chantler & Harris (1998).
Mas, assim como se aprende a entoar diferente melodias,
e possivel
aprender a ler em
voz alta, ou talvez seja melhor dizer atribuir expressividade a leitura, desde que se
credite a esse tipo de atividade, parte da responsabilidade
conseqiiencias para a compreensRo. Por outro 1000,
pela textualizayRo, com
e importante
ressaltar que 0 texto a
ser lido possui caracteristicas que cerceiam a liberdade do leitor, como nos lembra
Chartier (1996:20):
"com eftito, todo autor, todo escrito impiJe uma ordem, uma postura,
uma atitude de leitura".
A leitura, constituinte de certos eventos comunicativos, fundamenta-se no Principio da
Expressividade, proposto por Searle (1969),
dizer exatamente
0
0
qual estabelece que
e possivel
que ele desejar e demonstrar sua atitude para com
0
ao falante
dito. Oleitor
reconhece esta condiyRo do escrito.
Tomando os atos de fala como unidade basica da cOmuniCayRO,Searle reconhece a
existencia de regras constitutivas e de regras regulativas no uso da lingua, a partir das
quais
e possivel
a lingua
POI
perceber a habilidade que todo e qualquer falante possui de operar com
meio de atos enunciativos, proposicionais e ilocuciomirios, suscetiveis as
condiyoes de produyRO e de comunicayRo. As regras constitutivas permitem a criayRO
ou definiyRo de novas formas de comportamento
lingiiistico adequado as situayoes
comunicativas, enquanto as regulativas apenas controlamlregulam as formas existentes,
independentemente
da SituayRO.Com base nesse principio,
e possivel
pensarmos na
LVA como urn processo de retextualizayRo, e buscarmos entender que aspectos da
em unidades de informa~ao41,as quais, na perspectiva sintatica, tern a frase como
(1985:40) aflrma: "0 grupo tonal e uma unidade de informalYao. 0 falante decide como quer
dividir a mensagem - inconscientemente, e claro - em blocos ou unidades de informacao, e cada um
deles e expresso como um grupo tonal".
41 Halliday
jonicas"
44.
Esse pesquisador devolve
0
ritmo
a Linguagem,
ou seja, assume uma
43 "Se podernos afirrnar que a escrita tern urn ritrno e porque aquilo que Ihe serve inicialmente
como
referencia e a que ela se vincula em sua genese - a oralidade - tern urn ritmo". (Chacon,1998:54)
44 Massini-Cagliari
(1992), ainda que presa a uma perspectiva sintatica, prop6e 0 termo em referencia aos
acentos, ou proeminencias, buscando ampliar 0 fenomeno ao tratar a relayao deste com outros fenomenos
pros6dicos foneticamente observados.
significa(:iio
A linguagem
,,45 ,
mas, para nos, numa dimensao superior a da frase.
e expressiva
por natureza. Ser expressivo na LVA, por sua vez,
e, a partir
do objetivamente inscrito no texto, agir sobre ele de duas maneiras46:
45 A teona do signa de Saussure reUne duas teses: (1) a lingua nao e substancia, mas forma; e (2) toda
lingua e ao mesmo tempo EXPRESSAO e CONTEUDO. (Curso de Linguistica Geral, 1975, trad.).
46 Obviamente esses aspectos dizem respeito a expressividade no tocante a elocuyao, pois como ja foi
abordado na seyao anterior, varios sao os fatores no ambito da formulayao textual que concorrem para a
expressividade do texto.
movimentos do corpo - jogo fisionomico, movimentos de maos, bra~os, cabe~a, busto,
membros inferiores47
-
capazes de uma linguagem significativa e complementar
Mattoso Camara Jr. (1977) denomina 0 conjunto desses movimentos de MiMICA edit urn destaque
significativo a este aspecto para 0 que ele denomina de "boa expressao oral".
47
pode ser submetida a analise instrumental. Por conseguinte, se 0 interesse e observar a
relayao da expressividade na LVA com a compreensao do ouvinte, interessa-nos, dessa
dimensao, identificar em que medida fatos articulat6rios podem interferir na relayao
leitura/compreensao.
Grosso
modo,
as
singularidades
articulat6rias
do
leitor,
verificadas
nos
suprassegmentos resultantes de tuna articulayao secundaria, poderao influir na
compreensao do ouvinte de tres maneiras:
(1) interferindo na percepyao enquanto inteligibilidade dos segmentos;
(2) suscitando urna avaliayao quanta a competencia do leitor; e
(3) identificando
0
leitor como membro de urn gropo de falantes pelo
reconhecimento de sua variedade lingiiistica,ja mencionado.
Nesta dimensao,
0
leitor insipiente demonstrara falta de controle da respirayao,
imprecisao no ponto de articulayao, deficiencia na fonayao, ou mesmo falta de
ajustamento entre a elocuyao e a sua pr6pria compreensao, quando a articulayao de
determinados elementos perturbarem a fruiyao da leitura. Para leitores proficientes, a
analise neste ambito pouco dira acerca do processo de textualizayao.
Assim, podemos concluITque estudar a LVA do telejomal na dimensao articulat6ria,
sem antes compreender
talvez fosse
0
0
comportamento pros6dico regular no evento comunicativo,
caminho mais eficiente ate se chegar
a
participayao da leitura na
interpretayao do ouvinte, mas, com certeza, tamrem representaria
0
percurso mais
longo porque partiria do principio de classificayao das arvores dessa imensa e
multifacetada floresta. Ao focalizarmos a dimensao sonora como ponto de partida,
buscamos nao perder de vista as percep~oes dos usmirios na intera~ao com a lingua
nurnaperspectiva textual, e identificamos os fatores concorrentespara tais perceNoes.
E urna busca de entendimento dos fenomenos pros6dicos na dinamica textual.
Na dimensao sonora,
0
resultado das a~oes do leitor sobre
0
texto (estrutura~ao e
enfase/acrescimo de significados) permite que sejam identificados tipos distintos de
leitura. Sao eles: (l) leitura litanica; (2) leitura eloqiiente; e (3) leitura padrao. Os
diferentes usos da leitura sao determinados socialmente, ou seja, os eventos
comunicativos que tenham a LVA como urna de suas atividades, senao a Unica, se
apropriam de urn desses tipos de leitura em fun~ao de exigencias pragmaticas atinentes
a cada evento. Assim, es~amos
urn esquema bastante provis6rio dos tipos de leitura e
seus contextos de usos (na figura, nao sao incluidas as realiza~oes decoradas, nos
limitamos as realiza~oes de LVA). Veja-o na pagina a seguir.
LEITURA
SITUACAo
CONTEXTO FISICO
L1TANICA
COMUNICATIVA
Nas igrejas
Ora'(oes
No radio
Radiojomalismo
Na televisao
Programas religiosos
Na escola
Leitura em coro
PADRAO:
(a)
Nao-natural;
(b)
Natural
ou
Na igreja
(LV A de modo geral)
Nonidio
Na televisao
Em institui'(oes de ensino
ELOQOENTE:
(a)
narrativa
Na escola
Leitura de narrativas especialmente
na pre-escola
NaTV
Programas infantis (narradores)
No Teleiornql (nas narrativas de
Arnaldo Jabou )
Nos lares
(b)
ret6rica
T
Reunioes publicas
A'''''''' "
'
. . ~
Discursos (politicos, de formatura,
de agradecimentos, juridico, etc.)
NaTV
Programas eleitorais e politicos
No radio
Programas eleitorais e politicos
Os textos oralizados (da LVA aos textos decorados e recitados ou encenados) estao na
interface
do
continuum
FIE.
Esses
textos
se
deslocam
sobre um
elXO
envolvimento/distanciamento, caracterizando tipos distintos de oralizayao. Assim, a
leitura litanica esta em um extremo (maior distanciamento) e a interpretayao teatral
favorecendo uma focalizal;ao do ritmo numa perspectiva duraciona148. Nesse tipo de
(Cavalcanti & Tavares, 1997)49.
48 Massini-Cagliari (1992) destaca que "a maioria dos estudos sobre 0 ritmo do portugues do Brasil
privilegiam a visao temporal - duracional - do ritmo.
49 Apresentado na XV Jomada de Estudos Lingiiisticos do Nordeste, de 26 a 28 de novembro de 1997, na
UFPE em Recife.
A leitura de passagens biblicas em rituais religiosos tambem serve de ilustra<;ao a esse
tipo de leitura. A prop6sito, como
remonta
a
0
pr6prio nome pretende sugerir, a leitura litanica
vida em monasterios, quando se apregoava que
0
efeito produzido pela
leitura em "retotonurn", assim designada pelos monges, favorecia a medita<;ao.
A leitura eloqiiente ocorre em eventos que pretendem envolver ao maximo
0
ouvinte,
por meio de estrategias de oralidade (segmenta<;ao, ritmo, enfase). Na verdade, pOI
vezes pode chegar a lun entusiasmo descabido e retumbante, como no caso das leituras
de discursos por politicos, caracterizando a leitura eloquente retorica. Por outro lado, a
leitura eloquente pode servir
a
caracteriza<;ao de urn tipo de texto especifico - a
narrativa - nurna sincronia com a expectativa do ouvinte que, nessas situa<;oes, poe-se
como que diante de urn palco, onde se encontra
comunicativa
0
seu "narrador". Nesse caso, a fun<;ao
desse ultimo tipo de leitura eloquente, a narrativa,
primeira, a retorica, pela tensao que exerce sobre
retorica,
0
0
difere daquela
ouvinte. Nesta ultima, na leitura
leitor pretende mais do que envolver , mas convencer
apresentadas no texto, e tenta faze-lo superdimensionando
0
ouvinte das ideias
a estrutura ilocut6ria do
texto lido. Nesses dois tipos de leitura eloquente, a narrativa e a ret6rica,
0
movimento
cinestesico pode, tambem, ganhar em dimensao.
Reconhecemos a leitura padrao pelo comportamento pros6dico tipico da LVA, assim
percebido com a regularidade nas estrategias de oralidade, as quais exigem do ouvinte
urna atitude tensa, em certa medida, para
0
entendimento
do texto. Isto porque as
unidades de informa<;ao se sucedem a interval os regulares, sem que haja espa<;o para
reformula<;oes. Quando as ha, dizem respeito
a pequenos
reparos
articulat6rios,
limitando-se a atividade interacional intersubjetiva
a dimensao sonora. Nesse tipo de
leitura, 0 leitor apresenta urn cornportamento gestual (movimento dos olhos, da cabec;a,
das maos e doshibios) facilmente reconhecido como caracteristico de alguem que esta
realizando urna LVA. Exposto a esse modelo,
0
ouvinte deve ser urn "leitor" experiente
nessa atividade interpretativa. A LVA do tipo padrao eXlge que se demonstre
habilidade pros6dica na interac;ao com
texto escrito, e urn ouvinte que saiba
0
acompanhar e interpretar essa atividade: construir urn sentido para
habilidade de ambos os leitores
(0
oralizador e
0
0
texto. Essa
ouvinte) representa a capacidade
adquirida pelos usuarios da lingua de interagir com e a partir do texto escrito. Na
realidade, ela e inerente a qualquer atividade lingiiistica em que esteja envolvida a
cornpreensao lato sensu, e tambem reflete
0
grau de letramento do individuo na
realizac;aoda leitura. A obediencia ao Principio da Textualidade e urna das maximas
para sua execuc;ao.
Ao observarmos empiricamente diversas situac;oes comunicativas em que a leitura
padrao figura rotineiramente (congressos, sala de aula em cursos de graduac;aoe pOsgraduac;ao,leitura de algum texto para urn amigo, telejomal, etc.), sejam elas situac;oes
formais ou informais, publicas ou privadas, reconhecemos dois comportamentos
pros6dicos sutilmente distintos, tomando-se a expressividade como criterio de
observac;ao.Sao eles, a leitura padrao nao-natural (LP) e a que podemos chamar de
leitura natural (LN). Nessa Ultima, 0 Principio da Cooperar;ao parece fundamentar as
a~oes do leitor, na mesma medida que
0
das estrategias de oralidade necessarias
processo de retextualiza~ao com a LVA,
Principio da Textualidade. Para tanto, alem
a
0
organizac;ao da unidade comunicativa no
leitor lanc;a mao das mesmas estrategias
tambem para envolver
0
ouvinte, ajudando-o a dar sentido ao texto, ou, pelo menos,
tentando influir nesse processo. Transformada em uma atividade ainda mais interativa,
a leitura padrao natural (LN) "apaga" da intera9ao a "impressao do escrito".
E0
que
podemos dizer, por exemplo, da locuyao do Telejornal por muitos de seus locutores.
A inven9ao do teleprompter serve para confirmar esse aspecto. Quando
0
locutor desvia
os olhos do papel para os "olhos do te1espectador", a LVA assume uma caracteristica
intimista, como a querem os comunicadores, tambem para os eventos televisivos de
modo geral. Dentro desse objetivo, as estrategias de oralidade caminham em terreno
limitrofe entre a fala e a escrita, ou talvez seja me1hor dizer que elas criam seus
proprios espayos. Observa-Ios e afastar-se de uma classificayao meridianamente tecnica
dos fen6menos entoativos, em busca da construyao de uma teoria que, posteriormente
Ihe servini de base.
Esta decisao nos afasta da tarefa mo dificil quanto preSUllyosa de classificayao dos
diferentes
apresentam.
tipos
de leitura,
E preciso,
segundo
0
comportamento
pros6dico
peculiar
que
antes, que sejam conhecidas as estrategias de textualiza9ao da
LVA nos diferentes eventos comunicativos, para que se possa chegar
a identifica9ao
de
um sistema de significados exercido pela prosodia.
Na leitura padrao ( LP ou LN ), a expressividade na elocuyao ira balizar a interpretayao
do ouvinte, ajudando-o a selecionar e organizar
0
materiallingiiistico,
e facilitando-Ihe
o acesso aos diferentes dominios de conhecimento que permitira a formulayao de uma
hip6tese de sentido.
"A constru9ao de um objeto lingiiistico abstrato
nao pode (..) legitimar-se senao no final da pesquisa,
pela inteligibilidade propria que se manifesta no objeto abstrato,
e por aquela que
e conftrida
ao dado observavel. "
(Ducrot &Todorov, 1998: 123)
pragmatica para 0 campo lingu.istico,feito este iniciado por Searle (1969) com rela<;aoa
Teoria dos Atos de Fala.
Ao optarmos por uma "fonologia pragmatica", nossa motiva<;aocentral foi a cren<;aem
que "a pragmatica pode e deve ocupar-se mais precisamente dos mecanismos por meio
dos quais
° falante
pode querer dar mais significac;iio ou expressar alguma coisa
completamente diferente do que contem seu enunciado, explorando criativamente as
convenc;oes comunicativas" (Levinson, 1983: 27).
Em 1938, Charles Morris propoe a Teoria dos Signos (Semi6tica) introduzindo 0 termo
pragmatica na conhecida triparti<;ao dos estudos semi6ticos: sintaxe, semantica e
pragmatica (cf Levinson, 1983:01). Para Morris, a sintaxe era vista como 0 estudo da
"rela<;ao formal dos signos entre si"; a semantica se definia como
0
estudo das
"rela<;oesentre os signos e os objetos aos quais os signos se aplicavam"; e a pragmatica
tratava de investigar as "rela<;oesentre os signos e seus usuanos".
Por algum tempo esta coloca<;aosimplificada permaneceu como f6rmula, mas em seu
conteudo tanto programatico como metodol6gico e te6rico, fOl amplamente criticada
resultando em reformula<;oessignificativas. Ainda assim, a quantidade de trabalhos
surgidos sohre pragmatica lingilistica nos ultimos cinquenta anos tomou praticamente
impossivel ohter uma visao do conjunto de todas as questoes tratadas no ambito da
pragmatica. Para a Fonologia, s6 hem mais recentemente os estudos lingilisticos
mcurslOnaram no campo da pragmatica (a partir da decada de 80, mais
especificamente).
50 Surgem a Sociolingiiistica, a Analise Conversacional, a Psicolingiiistica,
Lingiiistica Textual, entre outras derivayoes da pragmiltiC2.
a Analise do Discurso, a
criticas, mas "e uma forma legitima de delimitac;ao do campo da pragmatica porque
chega a resultados precisos" (Levinson, 1983:15).
Longe da tendencia behaviorista inicial, hoje a pragmatica busca identificar processos
que podem ser ditos pragmaticos, e nao fenomenos reconhecidos como objetos
pragmliticos. Portanto, a pragmatica nao
e
aqui vista como mais um dos nlveis de
analise da linguagem (ao lado da fonologia, sintaxe e semantica), mas siro como uma
perspectiva analitica tal que considera aspectos do uso contextualizado nao
convencional da linguagem. Ou seja, assumindo-se que a semantica trata do sentido das
senten~as enquanto entidades formais construidas no discurso, a pragmlitica trata dos
enunciados enquanto entidades em contexto, operadas por seres humanos hist6ricos e
sociais com cren~as, vontades, desejos, inten~oes, etc.; a dependencia da semantica
e,
pois, parcial.
Finalizando essa defini~ao sumaria de pragmatica, tomemos uma importante indaga~ao
que Levinson (1983:38) se faz:
"de que condic;oes dispomos para apontar as pistas, os propositos implicitos, as
suposic;oes, as condutas socia is e outras inferencias que sao comunicadas
atraves do uso da lingua, sem mencionar os recursos discursivos (metafora,
ironia, perguntas retoricas, etc.)?"
As inferencias de que nos fala Levinson sao as do tipo pragmliticas, que refletem nossa
habilidade de determinar, numa sequencia de enunciados, as presun~oes contextuais
que elas implicam, os fatos sobre as rela~oes espaciais, temporais e sociais entre os
participantes e suas cren<;as e inten<;oes envolvidas no uso da lingua. Existem, sim,
principios
regulares
de prodU<;80 dessas
inferencias,
as quais sao sistematicas,
decodificadas pOI diferentes interpretes de maneira identica, e sem a maiOIia delas nao
ha. eficacia na comunica<;ao.
Na perspectiva pragmatica,
como
0
0
foco de aten<;ao nao sao mais as senten<;as, mas
enunciado e proferido (incluindo-se
0
modo
a elocu((ao na LV A) numa intera((ao
verbal. E assim, entende-se que todos os enunciados realizam atos de fala, cujas
condi<;oes de realiza<;ao dependem do contexto e do pr6prio texto.
A condi((ao essencial de realiza((ao dos atos, com base em Austin (1962) e Searle
(1969), e
0
"pelo que"
0
enunciado vale, ou seja,
0
que
0
falante pretende com
detenninado ato. Certos elementos lingiiisticos sao vistos como dispositivos indicativos
da for((a ilocutoria e podem, tambem, revelar procedimentos convencionais por meio
dos quais se deve realizar urna determinada a((ao com a linguagem. Searle sugere uma
variedade de formas que funcionam dentro dessa capacidade, das quais destacamos:
0
contomo entoacional, as enfases, a OIdem das palavras e a pontua((ao.
No campo da Fonologia, Pike (1945) foi
0
primeiro lingiiista a apresentar urn estudo
sistematico da entoa((ao atribuindo-lhe um potencial semantico. No entanto, s6 bem
mais tarde, com a obra pioneira de Brazil (1978 e 1985) - The Communicative Value of
Intonation - a natureza do significado veiculado pela pros6dia foi sistematicamente
apresentada,
numa abordagem pragmatic a desse fenomeno. Dois anos mais tarde,
Chafe (1987) apresenta urn trabalho de peso, numa abordagem sintaticista do tom,
demonstrando a existencia de uma "voz interior" (inner voice) capaz de segmentar urn
texto dentro de coewoes sintaticas. as resultados demonstraram que a voz interior nao
e afetada pelo grau de escolaridade ou mvel de letramento dos individuos, apontando
para condi<;oespragmaticas de segmenta<;aodo texto pelo leitor, para a constru<;aode
sentido.
Brazil (1985) lidera urn grupo de analistas do discurso que observa a entoa<;aocomo
uma das estrategias do falante para orientar
0
ouvinte a apreender
0
significado
comunicativo dos enunciados (ao lado de Hewings, 1987; Coulthard, 1987; entre
outros). Este autor monta urn aparato te6rico que fomece urn sistema de identifica<;ao
de valores comunicativos da entoa<;ao.Para Brazil,
0
padrao entoacional na fala de
qualquer indivfduo mantem uma rela<;aodireta corn sua inten<;aocomunicativa. Nao
questiona
0
aspecto idiossincnitico do comportamento pros6dico na fala, mas a
possibilidade de "estabelecimento de uma rela<;aosistematica entre mudan<;asfisicas e
semanticas" no discurso (Coulthard, 1987:47). Este grupo de analistas entende a
pros6dia como urn conhecimento socialmente construido.
Sobre a LVA, Brazil (op.cit.) afirma que se urn individuo realizar essa atividade
preocupado corn a compreensao do ouvinte, ele devera estar atento as suas op<;oes
tonais. Com base nessa teoria, Viana (1992:02) condui que
"0
leitor tern que estar
atento a leitura, tal equal ele esta quando interage verbalmente corn alguem" . Esta
afirmativa parece ser
0
principio que fundamenta a atividade de leitura no
Telejomalismo, nao s6 pelos recursos de que se utiliza para manter a aten<;aodo
obliquo,
e caracteristico de urn discurso
centrado na lingua em sua superficie, nao
direcionado para urn destinatario51. Nesse tipo de discurso ha apenas 2 tons: urn
(LEVEL), nem ascendente nem descendente, para todas as outras situayoes.
Florestan52:
E
l/c.onfirma~1
::::l
II govemador do espirito santo// vitor buaizJI esta fora do partido dos trabalhadoresll
'-.J
51 As gralmiticas norrnativas,
no capitulo dedicado a pontuayao, em alguns momentos apontam a
atividade de leitura em voz alta dentro dessa orientayao, resultado da perspectiva sintatica que adotam.
52 Florestan Fernandes Junior, locutor-apresentador
do Jomal da Manchete, ao lado de Marcia Peltier,
ediyao do dia 11/08/97. As barras paralelas II servem para indicar os pontos de segmentayao da fala na
estrutura lingiiistica.
Brito Jr (em OFFi3: lip Eles fizeram 0 publico DElirarl1
~
11r+ LOtaram eSTAdio~
//r+ e foram emBOr~
/Ip MUItos d6lares mais Rlcos//
~
Para uma aplicayao do modelo de Brazil (1985) conferir Luciano (1993) dissertayao de Mestrado
intitulada 0 papel do padroo entoacional na fala do professor no discurso em sala de aula, defendida no
Programa de P6s-Graduayao em Letras e Lingiiistica da UFPE (nao publicada). Observei como 0 tom
organiza a fala do professor na interayao com os alunos em uma aula de lingua estrangeira e constatei
que os marcadores conversacionais nesse tipo de discurso possuem funyoes (informativa e/ou
interacional) distintas conforme a impressao tonal sobre eles e 0 ponto onde se encontram no discurso.
54
observayao de que os falantes tambem se utilizam de determinados recursos tonais para
dar indicayoes acerca do conteudo informacional propriamente dito. Na realidade,
0
que Brazil esta definindo por funyao informativa (distinguindo conteudos novos de
conteudos partilhados)
e
0
reconhecimento da existencia de pistas entoacionais
orientadoras da construyao de sentido pelo interlocutor, sinalizando as proposiyoes
mais relevantes. 0 efeito que
0
conjunto total dessas pistas traz para a construyao de
sentido do texto resultante da interayao deve ser resgatado pelo analista com a
observayao do evento comunicativo.
Dentro dessa perspectiva pragmatica, Brazil propoe a nOyao de contexto interativo
resultante da enunciayao, ou seja, nao sao aspectos da situayao comunicativa que levam
as escolhas de tons pelo falante, mas sao as escolhas tonais que vao sendo feitas ao
longo da interayao que constroem urn «contexto": as opyoes tonais vao construindo
0
sentido do texto situativamente. Compete ao analista reconstruir esse contexto/sentido
partindo da projeyao dos tons alusivos e informativos para entender
interayao. E esse mesmo contexto que
0
0
que acontece na
ouvinte vai percebendo e, com base nele, vai
construindo suas respostas (ou sua interpretayao da LVA).
A nOyao de contexto interativo de Brazil coincide com
0
que propoe Parret (1988),
quando afirmou que, para se explicar ou descrever pragmaticamente qualquer discurso,
e importante que se defina 0 tipo de contexto, pois a situayao comunicativa restringe ou
mesmo define os significados. Entende-se que
contexto interativo
0
fenomeno
0
qual Brazil denomina
e 0 reconhecimento de que 0 comportamento pros6dico do falante
constr6i urn contorno entoacional 55(Gurnperz,1982)significativo porque interpretado
pelo ouvinte como constitutivo do conteudo informacional.
Com a introdl19aO do conceito de contexto interativo, Brazil abandona nOyoes
gramaticais que definem as sentenyas em declarativas e interrogativas e passa a falar
em contexto narrativo ("telling context") e contexto indagativo ("asking context"). 0
contexto narrativo caracteriza-se por trechos de fala em que 0 falante produz mais tons
descendentes (informativos) para destacar informayoes novas e menos tons ascendentes
(alusivos) para os conteudos partilhados. No contexto indagativo, 0 falante utiliza tons
ascendentes em pontos onde espera a participayao de seu interlocutor com urna
"contribuiyao de ouvinte", ou seja, pequenas contribuiyoes do ouvinte para demonstrar
sua atenyao ao dito. Os tons descendentes sao usados quando
0
falante buscar
informayoes do ouvinte. As duvidas na percepyao do contexto sao elucidadas com as
proeminencias durante a interayao. Essa perspectiva analitica permite que se pense que,
na LVA, as proeminencias servirao para evitar possiveis duvidas sobre
0
material
relevante, 0 que obviamente repercute sobre a hip6tese de sentido do ouvinte.
Para construir seu modelo te6rico, Brazil partiu da observayao de que, quando os
usmlrios estao interagindo por meio da fala, eles segmentam as estruturas nao apenas
devido a respirayao ou as coeryoes sintaticas. A secyao dos enunciados em pequenas
unidades se da com
partes, Brazil da
0
0
objetivo de facilitar a compreensao do interlocutor. A estas
nome de unidades tonais (tone units) e define certas propriedades
para e1as. Para esse autor, 0 movimento tonal 6 urn fenomeno significativamente
padronizado que pode ser observado a partir das unidades tonais.
Esse termo - unidade tona1- foi primeiro empregado por Crystal (1969) com base nessa
mesma propriedade espontanea da fa1a, a qual mostra-se aparentemente como urn fio
continuo, mas que, durante a enuncia9ao, parece ser composta por uma serie de "jatos
de linguagem" (Chafe, 1980). Dessa propriedade bastante proficua terminologicamente,
surgiram termos como "b10cos de informa9ao"(Grimes,
1975, apud Chafe, 1980),
unidades de id6ia (Kroll, 1977 apud Chafe, 1980), ou ainda "grupos de sentido",
"grupos de respira9ao" ou "grupos de tom" (Crystal, 1969; Halliday, 1967; O'Connor
& Arnold, 1973 apud Chafe, 1980) cujos autores parecem concordar que essas partes
podem ou nao corresponder a urna estrutura sintatica comp1eta, compondo os chamados
"estagios"
do discurso (Syder & Pawley apud Chafe, 1980:11). A critica
nesse
momento 6 que, embora estivessem partindo da observa9ao da mesma propriedade da
fala, ao construirem seus aparatos te6rico-metodo16gicos nao houve a defini9ao de urn
principio que justificasse as divergencias quanto
a extensao
da unidade tomada para
analise.
Para Brazil (1985), as unidades tonais saD p1anejadas no momento em que 0 falante vai
organizando
sua fa1a, e caracterizam-se
por uma
subida
ou descida
no tom,
contrariando, assim, 0 principio de defini9ao pela segmenta9ao decorrente da fOf9a
articulat6ria. Em cada unidade de tom, saD fornecidas ao ouvinte pistas da inten9ao
comunicativa
selecionados
do falante. Para tanto, alguns elementos
por meio de proeminencias,
entendidas
da estrutura
sintlitica saD
como a fOf9a articulat6ria
A esse respeito Cagliari (1992) reconhece os tres niveis - alto, medio e baixo - como fatores que
comp5em a melodia da fala, ao lado do tom e da tessitura. Estabelece uma relayao entre os diferentes
niveis e a organizayao sintatica dos enunciados.
56
o SIGNIFICADO DOS NlvEIS DA FALA
E AS PROEMINENCIAS
BAIXO
A informl\9ao
e a mesma
PISTA
que outra - nao hit intenyao
EQUATIVA
A intenyao
e dizer
concorda com
ALTO
A intenyao
0
estabelecida; ou urna
dec1arayao conc1usiva
de acrescentar
MEDIO
Nao hit expectativa
que
PISTA
outro
e contradizer
implica urn julgamento
ADITIVA
-
PISTA
CONTRASTIV A
o falante espera
concordiincia do ouvinte
Oferece ao ouvinte uma
chance para contestar
A pnmerra vista, hci uma tendencia a se pensar na proeminencia como sendo
o acento tonico da palavra, ou com 0 acento da palavra na estrutura. A diferen~a esta na
possibilidade de op~oes altemativas de proeminencia numa mesma unidade de tom, as
quais correspondem significados distintos pelas fun~oes que assurnem dentro do
discurso. Na LVA, esse aspecto toma-se bastante evidente, quando observamos a
re1a~aodas proeminencias com a hierarquiza~ao das informa~oes.
Tanto a presen~a quanto a ausencia de proeminencias saD significativas para
0
enunciado. 0 falante sabe por que esta fazendo uma determinada silaba proeminente,
como sabe tamb~m, nurna intera<;aoface a face, se
comunicativa. Discutir
0
0
ouvinte percebeu sua inten<;ao
que faz urn falante decidir-se por uma proeminencia e analisar
implica~oes conversacionais desse fenomeno pros6dico que ocorre por um ato de
selecao do falante. Esse aspecto deve ser cuidadosamente pensado no caso da LVA do
telejomal, que pretende atingir urn publico tao amplo quanto diversificado. Entre as
estrategias de compreensao do ouvinte esta a atividade interpretativa dos significados
transmitidos pela incidencia de proeminencias nas unidades de tom, entendidas essas
unidades como "um todo funcionando comunicativamente"
(Brazil, 1985:21).
Resumindo, pode-se dizer que a incidencia de proeminencias fixa
variaveis do modelo de Brazil - a base, a termina~ao e
0
0
dominio das tres
tom. Essas variaveis se
constituem de dois tra~os distintivos: a diversidade de tons e a varia~ao de nivel tonal.
Para Brazil, essas variaveis compoem tres sistemas de significados pela atribui<;aode
valores comunicativos diferenciados para as unidades de tom.
nao interfira na legibilidade do texto57, mas aponte para uma interpretayao preferida, e
57 Vma prova empirica
dessa habilidade pros6dica do ator na TELENOVELA e a oplmao do
te1espectador. Resolvi, entao, analisar a fala de Igor , personagem representado pelo ator Ricardo Macchi
na novela Explode Corayao, que esteve no ar no primeiro semestre de 1996 (Rede Globo de Te1evisao),
justamente porter sido esse ator avaliado negativamente pe10 publico telespectador (cf. Luciano, 1996 "A
Importancia da Entom;ao para a Fala na Telenoveld', mimeo). Os resultados mostraram que, mesmo
num momento de extrema tensao da narrativa, 0 de resolu~ao do point da est6ria, 0 ator mantem uma
base na identificayao das func5es comunicativas exercidas pelos aspectos pros6dicos. 0
autor sugere duas dimensoes gerais de analise, as quais acredita serem validas tambem
para a LVA: (a) a dimensilo horizontal e (b) a dimensilo vertical. Na dimensao
horizontal da pros6dia, observa os efeitos causados pe1a segmentayao em niveis tonais
e pela diferenya de urn grupo para outro em volume (crescendo/decrescendo).
E
possivel dizer-se que essa dimensao permite ao analista uma macro-visao da pros6dia
segmentayao em umdades tonais, as proeminencias e a tomcidade dos grupos tonais.
orientac;:ao obliqua em seu discurso nao conseguindo atribuir a forc;:a ilocut6ria adequada para aquele
momento do texto.
estrutura tematica coesiva, Gumperz postula que a entoa9ao ira marcar uma
determinada
linha de argumento (op.cit: 104).58 Podemos dizer que este autor
58 Para uma aplicayao desse modelo, realizamos um trabalho intitulado A ProsOdia no Jogo lnteracional,
apresentado no XV Jornada de Estudos Linguisticos do Nordeste, UFPE,Recife,27J] 1/97.
lexical, representando,
portanto, urn sistema convencionalizado
de sinaliza<;ao. A
compreensao se <hipor meio de processos inferenciais construidos, tambem, a partir
dessa argumentatividade pros6dica.Para
descrever
0
funcionamento dessas inferencias
(identificando os significados veiculados pela pros6dia), Gurnperz propoe a amilise dos
dados empiricos em tres perspectivas:
1. contomo entoacional (observando os efeitos causados pela segmenta<;ao em
niveis tonais e pela diferen<;a de urn grupo a outro em volume - dimensao
horizontal da pros6dia);
2. a enfase da palavra na senten~a (por meio de uma proeminencia ou de um
nivel tonal distinto - dimensao vertical da pros6dia); e
3. alguns fenomenos paralingiiisticos (movimento
dos olhos, facial, corporal).
Em linhas gerais, e possivel dizer que a proposta de amilise de Gurnperz considera a
pros6dia dentro das dimensoes vertical e horizontal de Bennett e engloba a proposta de
Brazil como modelo operacional. A perspectiva analitica da varia<;ao em niveis tonais
proposta por Gumperz abarca os fenomenos pros6dicos numa dimensao maior do que
aquela observada por Brazil, urna vez que a unidade de analise para aquele e
0
evento
comunicativo. lsto permite a observa~ao das fun~oes exercidas pela diversidade de
niveis tonais no discurso.
Retomando a quesmo da fala no telejomal, nao e possivel analisar a pros6dia apenas no
ambito da pragmatica, quando
no processo de textualiz~ao
0
nosso objetivo e observar a participa<;ao da pros6dia
com a LV A. Utilizar apenas a Teoria Interacionista da
Entoa~ao resultaria em mais urn tratamento de aspectos isolados. Sendo assim, atenta
a
dimensao sonora da LVA, a observa9ao das variaveis do modelo de Brazil - a
proeminencia, 0 tom e 0 nivel tonal- sac focalizadas na dinftmicatextual.
A corrente pragmaticista do tom faz uma analise da dinamica social do texto
administrada/gerenciada/organizada pela pros6dia. A corrente sintaticista observa como
a pros6dia sinaliza
0
comportamento sintatico da lingua, ou seja, sua participa9ao no
sistema. Cada uma dessas correntes
e,
portanto, uma instancia diferente dos
significados veiculados pelos fenomenos pros6dicos. 0 que se pretende aqui
e
a
sistematiza9ao de outra natureza do significado veiculado pela pros6dia, uma que
constitui
0
texto, logo, que precisa dos conhecimentos das duas perspectivas analiticas
mencionadas. A integra9ao dessas duas abordagens na analise da LVA, observando
0
envolvimento e a organiza9ao textual, permite a verifica9ao da natureza dos
significados da pros6dia na dimensao sonora no processo de textualiza9ao. Ou seja, a
pros6dia e observada na dinamica do processamento textual.
Este trabalho busca se situar dentro do Principio da Textualidade de forma efetiva, para
responder a pergunta de como se da a constru9ao dos sentidos na intera9ao. Destarte, os
fenomenos pros6dicos sac entendidos como uma dinamica dentro do processo de
constru9ao textual (escrito ou oral), e nao apenas como elementos constitutivos.
A grande dificuldade continua sendo conseguir categorizar os fenomenos pros6dicos
observados na LVAdos locutores, numa perspectiva textual-discursiva para a descri9ao
do telejomal. Desse modo,
e
necessario considerar a existencia de duas ordens de
observa9ao (tal como se apresentam as anaIises):
(1) uma linha de observa~ao na rela~ao com
0
c6digo em que se dao
determina~oes sinbiticas e semanticas (caracterizando a coesao pros6dica);
(2) uma linha de observa~ao na perspectiva funcional e, neste caso, e observada
a contribui~ao da pros6dia no caso das decisoes de sentidos e das estrategias
interacionais (caracterizando 0 contomo entoacional).
~itulo
2: Descricao do Telejornal
"A tecnologia projeta estrategias de textualizar;iio,
gera um genero e subverte, ate certo ponto, canones bem
estabelecidos no processo de construr;iio textual epistolar".
(Marcuschi, 2000: 12)
analisados (das emissoras SBT, Globo, Manchete59 e Cultura), e refletindo sobre a
possibilidade da estrutura organizacional influir na compreensao do telespectador.
No segundo momento, observamos as estrategias de envolvimento em duas dire~oes.
Uma delas voltada para a organiza~ao do telejomal, portanto, como fator estrutural do
evento discursivo; e, por fim, observamos as estrategias de envolvimento na
constitui~ao da noticia. Nessa Ultimaetapa,
0
nosso interesse era decidir quanta ao tipo
de noticia mais favonivel a analise da pros6dia sobre a LVAdos locutores. 0 criterio
tematico seria desconsiderado, para nao comprometer
0
nosso interesse de permanecer
atentos as estrategias de oralidade na caracteriza~ao do evento. E born destacarmos, no
entanto, que a analise mais detalhada do envolvimento no telejomal, sobre a qual versa
este capitulo, se deu ap6s a elabora~ao e coleta do material fmal do teste de
compreensao.
A respeito da organiza~ao do jomal televisivo, alguns trabalhos da area de
Comunica~ao devem ser mencionados, ainda que brevemente, por duas razoes:
(1) Para destacar a relevancia das descri~oes interdisciplinares que possam
contribuir para
0
entendimento dos fenomenos de comunica~ao, quando
observados sob a influencia de aspectos extralingtiisticos e contextuais; e
(2) Para identificar lacunas te6ricas sobre as quais a Lingtiistica representa urn
avan~o, por rejeitar
0
esquema dicotomico codifica~ao/decodifica~ao da
mensagem, pilar na teoria da commrica~ao.
Poucas sao as publicayoes que versam sobre 0 telejornalismo. As descriyoes, quando as
ha, tratam da estrutura de funcionamento do veiculo, falando da rotina profissional dos
responsaveis direta ou indiretamente pela produyao do evento. As orientayoes sobre
0
texto propriamente dito limitam-se ao nivel da linguagem adequado ao veiculo e it
caracterizayao da estrutura de composiyao (cf. Maciel, 1994 e 1995; Paternostro, 1981;
entre outros). A imagem ganha em dimensao, superpondo-se ao texto escrito sem,
contudo, fazer-se uma reflexao sobre a influencia de aspectos pragmaticos no
processamento cognitivo das informayoes. Ao contrario. Postula-se a autonomia do
texto (imagem + texto escrito) denunciando
0
paradigma da teoria da comunicayao
centrado no c6digo.
Por outro lado, comeyam a surgir trabalhos de jomalistas que buscam em outras
disciplinas
0
alargamento te6rico na abordagem ao texto jornalistico. A esse respeito,
destacamos a pesquisa desenvolvida por Cavalcanti (1999:41) "que assume
dia16gico da comunicac;ao de massa e aborda
0
discurso jornalfstico
0
caniter
sob a 6tica do
modelo interacionista da comunicac;ao, definido por Schiffrin (1994) ".
Ao afirmar que a dificuldade de produyao textual do jorna1ista iniciante e consequencia
da falta de "costume" em lidar com
0
processamento dentro da relayao imagemltexto,
ou em outras palavras, de considerar os recursos extraverbais na constituiyao textual,
Cavalcanti nos faz refletir sobre
0
que diz Marcuschi (2000:12) acerca das estrategias
de textualizayao na produyao de textos que se constr6em com os recursos da
tecnologia:
"a tecnologia projeta estrategias de textualizac;ao, gera um genero e subverte,
ate certo ponto, canones bem estabelecidos no processo de construc;ao textual
epistolar ".
E importante,
pois, reconhecer a relevancia da Etnografia da Comunicayao para os
Nesse momento, buscamos saber a influencia que a forma60 desse evento (e suas
de que
0
aspecto relevante
e a organizac;aotextual e a retextualizac;ao61 resultante do
"Uma forma textual se dli como urn evento de fala e e uma ocorrencia empirica de urn tipo possive!,
mas raramente se realiza como urn tipo puro numa dada circunstancia, jli que as realiza~oes textuais sao
em geral heterogeneas quanto as formas manifestadas" (Marcuschi, 1996:36).
61 Reconstru~oes significativas.
60
sejam identificadas as seguintes formas de apresentac;ao61:
Para apresentayao pelo vies do jornalismo, ver Cavalcanti (1999: 24 e 25), Maciel (1995), Paternostro
(1987).
61
denominado nota coberta no jargao jomalistico);
111
63 Na
PASSAGEM63:
inseryao da imagem do reporter falando intercalada por trechos
proxima seyao e nos dados, identificamos as elocuyoes das passagens com 0 termo reporter. Assim,
distinguimos esses trechos dos outros dois tipos de locuyao: locutor ao vivo e locutor em off.
E interessante observar, como urn
"mostrar" sobre
0
mesmo fato jomalistico apresenta focalizayoes bem
fato64. Vejamos, a seguir, dois exemplos que nos chamaram a
Cavalcanti (1999) destaca a diferenva de enfoque relacionada a baixa informatividade. Verifica que "0
Iugar da inforrnavao e tornado pela avaliavao no TelejornaI, fato que nao se da no jornaI". Para a autora, a
funvao desse recurso estilistico tern dois objetivos distintos: "transrnitir opiniao formada" e "tornar 0
texto rnais atraente" (p. 68 - 69).
64
cmCAO BRlGIDO
SBT - NOTICIA 15
GLOBO - NOTICIA 6
(01 )Lillian W. Fibe (locutor vivo ): Nova denfulcia contra
deputado acusado de vender 0 voto II em favor da
reelei~aoll numa fita gravada 0 deputado Chicao Brigido
disse II que alugava II 0 mandato II para a suplente
0
Hermano Henning (locutor vivo): deputado de aluguel
Chicao Brigido do PMDB do Acre confessa .. ./1 cobrava
mesmo da suplente delell parte do salano que elarecebia II
eM denfulcia de que ate os funcionanos do gabinetell
tinham que pagar ao deputadoll parte do que ganhavam. ../I
o reporter Eraldo Pereira tem as informayoes
(07)Zileide Silva (em OFF): Nas grava~oes que teriam sido
feitas no proprio gabinete do deputado Chidlo Brigidoll ele
tenta convencer a suplente Adelaide Neri II a dividir com
ele 0 pagamento pela convocayao extraordinana de julho .. ./I
doze mil reais II nesse periodo /1 0 deputado Chieao Brigido
estava licellciado
Heraldo Pereira (em OFF) : Neste easo 0 deputado e reu
confessoll e mais...11reincidente II Chicao Brigido do
PMDB do Acre '" que ja responde a processo ... acusado de
reeeber duzentos mil reais para votar a favor da reelei~ao ...
esta envolvido agora .., numa outra negociata '" de numeros
mais modestos e igualmente condenavel ... aluguel de
mandato ... seguido de uma mordida ... em parte do salano
dos funcionanos do proprio gabinete .../10 escaudalo ...
revelado hoje pelo jomal Folha de Sao Pallia ... tem recibo
de deposito bancano ... e ate a grava~ao de uma conversa do
proprio deputado ... II na epoca ... entre maio e julho ...
licenciado do cargo ... Cmeao cobrava da suplente dele ...
Adelaide N eri ... 0 pagamento de parte do que ela recebeu
(20)Chicao Brigido (depoimento em OFF): "Vamos
combinar 0 seguinte: nesta convocarao do meio do ano
agora, a gente divide. Fico com tres mif'
(23)Adelaide Neri (depoimento em OFF): ''Nao senhor,
eu}6 gastei tudo. Como que vou te dar ?"
(25)Chicao Brigido (depoimento em OFF): "Tu paga de
mil em mil, todo mes"
(27)Adelaide Neri (depoimento em OFF): "0 que e isso?"
Chicao Brigido (depoimento em OFF): "Vamos combinar
o seguinte: essa convocarao que esta entrando agora a
gente divide, fica comR$ 3.000."
(28)Zileide Silva (reporter): Nesse outro trecho ele conta III
como ficava com parte do salano dos funcionanosll de seu
gabinete em Brasilia
Heraldo Pereira (reporter): Em outro trecho fica claro
como a deputado cobrava ... mais de cinqtienta por cento de
comissao ... dos salanos dos funcionanos do gabinetede1e
(31)Chicao Brigido (depoimento em OFF): "Por exemplo,
a Neide cadastrada com R$ 3 mil, ela me repassa R$
1.600. Pra voce fer uma ideia, ela morreu em R$ 1.400 e 0
salario dela aqui R$ 600.
resto 0 imposto de renda come quase, come quase tudo"
Chieao Brigido (depoimento em OFF): "Por exemplo, a
Neide cadastrada com R$ 3.000 e me repassa R$ 1.600
(36)Zileide Silva (em OFF): Para 0 deputado essa denUncia
do jomal A Folha de Sao Pallioll pode terminar num novo
processoll agorall por falta de decoro parlamentarl I 0
segundo pfOcessol I em apenas quatro meses
Heraldo Pereira (reporter): os dois principais envolvidos
desse caso estao no Acre ... Chicao Brigido promete voltar a
Brasilia na quarta-feira ... a suplente dele Adelaide Neri que
esta em Rio Branco ... partiu hoje para 0 ataque ... nos
conversamos com os dois por telefone ... foi uma autentica
lavagem de roupa suja
e
e
o
I
e
e
(40)Zileide Silva (reporter): no :fmal do mes 0 deputado
Chicao Brigido ja teria que dar explica~5es na Comissao de
Constituiyao e Justi9a aqui da Camara sobre uma outra
denUncial I a de que teria recebidol I ate duzentos mil reais/!
pra votar a favor da emenda da reeleiyaoll por causa dessa
denUnciai / ele ja coma 0 risco de ter 0 mandato cassadol/
agorall a situa~ao do deputadoll fica bem mais complicada
(47)Michel Temer - Presidente da Camara( depoimento):
eu vou reunir a mesa amanhii// e amanhii mesmo havera
proposta possivelmente da mesa de cassa9iio// do mandato
Adelaide Neri (depoimento em OFF): "If uma vergonha
para 0 BrasiL fer politicos desse quilate ... desse tipo de
Chiciio BriJ<ido...
(50)Chicao Brigido (depoimento em OFF): "rapaz essa
mulher ta com um monte de calunia rapazll ela::
que:realmente
assumir 0 nosso mandato (
)
e:
(53)Zileide Silva (em OFF): mas no Acre
Chicao Brigido rebateu as aeus~5es
0
deputado
(55)Chieao Brigido Cdepoimento em OFF): "essa mulher
esta querendo 0 meu mandato a qualquer custo rapazll eu
nem dtscuto uma questao dessall t6 tentando me dtfamar
exatamente pra isso"
e
Heraldo Pereira (reporter): Deputadoll
verdade que
senhor alugava 0 mandato e eobrava por isso ?
0
Cmeao Brigido (depoimento em OFF): "a conversa que
nos tivemos fot exatamente nesse senti do... que ela: ta
entendendoll se 0 Congresso fosse convocado
extraordinariamente ela devia dividir comigo '" fot a unica
coisa que eu pedi a ela"
e
(60)Heraldo Pereira (reporter): 0 senhor tambem
acusado
de eobrar parte do salano dos nmeionanos do gabinete
(62)Chieao Brigido (depoimento em OFF): "isso n(fo tem
sentido rapazll iS80 at mentira dela"
e
(64)Adelaide NeD (depoimento em OFF): "depots que eu
assumi (
) na convocaif(fo 0 pessoal comeifou a
reclamar pra mim ver 0 que e que eu podia fazer"
(67)Hermano Henning (locutor vivo): Voltamos a Brasilia
agora ao vivo ... Heraldo Pereira II 0 que que vai aeonteeer
com esse deputado ?
e
(70)Heraldo Pereira (reporter): Hermanol/o Presidente da
Camara Michel Temer reime amanha a mesa diretoralJ e
caso seja confrrmada a autenticidade dessas gravac5es ... ele
pede direto Comissao de JustiCa ... que abra um processo
de eassacao do deputado
a
(75)Hermano Henning (locutor vivo): entao
eassaCao esse 6:
e easo pra
e
(77)Heraldo Pereira (reporter): em tese 0 easo para
eassaCao/ I mas tudo vai depender Hermano/ / primeiro da
Comissao de Justica da Camara ... e depois do eonjunto de
deputados no Plenario em sessao seeretall portanto a
eassacao do deputado Cmeao Brigido ... no momenta
aiuda imprevisivel
e
(83)Hermano Henniug (locutor vivo); esse foi Heraldo
Pereira falando ao vivo de Brasilia/I brigado Heraldo
Exemplo (03)
Deputado de aluguel (linha 01)
Reu confesso (1. 07)
Reincidente (1. 08)
Negociata (1. 11)
Condenavel (1. 12)
Escandalo (1. 14)
Vender voto em favor da reeleiy8.o (1.02)
Disse que alugava 0 mandato (1.04)
Tenta convencer a suplente a dividir 0
dinheiro (1. 09)
Nesse outro trecho ele conia como ficava
com parte do salano (1. 28 e 29)
Adelaide Neri ... partiu para 0
o ataque (1. 38)
autentica lavagem de roupa suja
(1.39 e 40)
No Acre 0 deputado Chicao Brigido
rebateu as acusayoes
(1. 53 e 54)
desses aspectos no processo de comunica~ao
Confessa (1.02)
Cobrava da suplente (1.02)
Jd responde a processo (1.09)
Estd envolvido numa
outra negociata (1. 11)
Em outro trecho fica claro como
o deputado cobrava (1.28 e 29)
65.
Em trabalho intitulado "Quando dizer e fazer: a noticia no telejornal", testamos esta noticia, dentre
outras, e verificamos a interferencia da composiyao na compreensao de informantes com baixo grau de
escolariza98.o. (mimeo).
65
(01 )Carlos Nascimento (locutor vivo ): 0 governador do
Espirito Santo Vitor Buaiz II deixa 0 Partido dos
Trabalhadores
Milton Jung (locutor vivo): 0 governador do espirito Santo
Vitor Buaiz sai do PT e provoca reayoes desencontradas ...
a direyiio nacional do partido se reuniu com Buaiz em Sao
Paulo e lamentou a decisao ... mas em Vit6ria urn grupo de
militantes foi as ruas comemorar '" a crise petista comeyou
h:i mais de dois anos.
(07)Carlos Nascimento (em OFF): 0 governador disse que
saiu porque 0 partido que mais faz oposiyiio a ele no
Espirito Santo 6 Justamente 0 PTII 0 Presidente Nacional do
Partido II 0 deputado Jos6 Dirceull considerou a saida do
govemador urna derrotall segundo e1ell 0 Divel de luta
intema que existe hoje no PTII coloca em risco a
sobrevivencia do partidoll
(07) Enio Lucccioia (em OFF): Militante de movimentos
sociais fundador do partido Vitor buaiz parecia ao PT 0
nome certo para ocupar 0 govemo do Espirito Santo ... mas
os problemas comeyaram nos prirneiros dias
Buaiz nunca teve apoio da bancada do partido ... 0 palacio
Anchieta chegou a ser invadido por urna passeata liderada
por urn deputado PETlSTA ... houve vanas tentativas de
acordo '" fracassadas ...
(14) Carlos Nascimento (locutor vivo): 0 PT passa a ter
apenas urn governadorll Cristovao Buarque II do Distrito
Federal
.(14) Enio Lucciola (reporter): No centro dessa briga existe
urna equayao dillcil de resolver ... 0 Espirito Santo arrecada
por mes 86 milhoes e gasta 100 milhoes ... uma conta que
nao fecha ... s6 para pagar 0 funcionalismo 0 estado gasta
95 milhOes de reais .. , 0 govemador Buaiz cortou algumas
vantagens dos funcionanos e planeja demitir 5 mil dos 75
mil funcionanos ... 0 PT 6 contra ... depois de 4 horas de
discussiio com a Direyao nacional do Partido 0 govemador
comunicou a sua saida do PT.
(23) Enio Lucccioia (em OFF): Na hora de falar com a
imprensa Vitor Buaiz elogiou 0 presidente do PTJose
Dirceu ...
mas confmnou que sai para ter liberdade de
tocar uma ampla reforma administrativa.
ao vivo): Esses grupos tern
rejeir;iioa ser governo ... principalmente numa crise como
essa ... portanto stio contradir;oes internas que existem
dentro do partido que acabam ressaltando essa esse
sectarismo que acaba ntio contribuindo para que 0 partido
possa mostrar a sociedade que tem um projeto politico que
esse projeto politico pode ser enfrentado estando no poder
mermo diante de uma crise tao profUnda como esta na
sociedade
(27) Vitor Buaiz (depoimento
e
(36) Enio Lucciola (reporter):O futuro de Buaiz ainda
incerto ... ele cortejado por dois partidos de oposiyao PPS
e 0 PSB e diz que nao e candidato il ree1eiyao '" quanta ao
PT a propria direyao do partido reconhece que 0 prejuizo
foi grande
e
(41) Jos6 Dirceu - Presidente do PT (depoimento
30
vivo):
Acredito que vamos superar mas 0 partido tem que tirar
lir;oes '" desta situar;ao do Espirito Santo ... 0 nivel de
sectarismos 0 nivel de luta interna que existe no partido
hoje c%ca em risco a sobrevivencia do partido.
I
I
Nesse caso, a discrepancia aponta para
0
espavo destinado ao fato jomalistico,
interferindo na informatividade do texto. As questoes dai advindas saD inumeras e
sugerem a necessidade de uma serie de pesquisas interdisciplinares relevantes
especialmente para a ciencia da comunicavao. 0 que nos interessa objetivamente
descobrir e a influencia que as diferentes formas de composivao tern sobre a
compreensao do telespectador. Mais especificamente, investigamos dentre essas formas
sobre qual delas a LVA do locutor pode interferir mais diretamente na construvao de
sentido, tanto do proprio locutor quanto do telespectador.
Diante do exposto ate aqui, podemos reafirmar a natureza experimental deste trabalho
de pesquisa. Como tal, as decisoes vao se dando, quanto mais profundamente vamos
conhecendo 0 objeto de nossa investigac;ao.E com essa intenvao que passamos agora a
descrivao do telejomal.
A identificavao de caracteristicas do texto telejomalistico e uma etapa fundamental para
o reconhecimento dos elementos que participam do processo de compreensao do
telespectador. 0 trabalho de Edwardson, Grooms e Proudlove (1981 apud BerberSardinha, 1997) sobre
0
telejomal, por exemplo, constatou haver urn melhor grau de
compreensao dos ouvintes, quando as noticias eram acompanhadas de imagens
identificadas como capazes de interferir na construc;aodo sentido da informac;ao66.
Os resultados a que chegaram os autores desaguam na obviedade do fato de que,
estando seus informantes nurna situayao de sala de aula de lingua estrange ira, ao serem
expostos aquela outra lingua, ancoram-se as imagens para construirem
texto.
0
interessante
contrariamente
proficientes
foi a verificayao
as expectativas
na lingua
de que
0
0
sentido do
apoio nas imagens
se deu,
da pesquisa, de igual modo, tanto para os alunos
estrangeira,
quanta
para
os alunos
ainda
nurn esmgio
intermediario no estudo da lingua em questao. Os autores parecem desconhecer urn
aspecto extremamente relevante da compreensao, qual seja,
0
de que os sistemas de
conhecimento envolvidos no processamento textual nao se restringem ao conhecimento
lingiiistico do individuo.
Passemos a descriyao da estrutura de organizayao do telejomal, a fim de identificarmos
os seus elementos constitutivos.
Reconhecer
0
telejomal como urn evento comunicativo significa percebe-Io como urn
"tpo de entidade delimitada" (Saville-Troike, 1982:04) sendo evidente a existencia de
fronteiras bem definidas nessa atividade lingiiistica. Mas como SaD as fronteiras nos
telejomais das emissoras brasileiras e que importancia tern para a interayao ?
As fronteiras de urn evento comunicativo podem ser comparadas, por exemplo, as
marcas textuais que sinalizam
0
inicio CEra urna vez ...") e
0
final de urna narrativa ("e
foram felizes para sempre!"). No telejomal, as marc as de abertura e de fechamento do
evento sao registradas com a utilizayao de recursos de diferentes naturezas (lingiiisticos
e nao-lingiiisticos).
Para a identificayao dessas fronteiras, as quais tambem se dao intemamente ao evento,
observou-se que os noticiarios das divers as emissoras apresentam uma estrutura formal
basic a valida para qualquer telejomal. Essa estrutura, modelo ou super-estrutura (cf
Van Dijk, 1983) pode ser ilustrada mediante
0
diagrama it pagina a seguir.
De modo geral, as diferenyas entre as emissoras estao nos recursos lingUisticos e extralingUisticos usados para marcar as fronteiras; na quantidade de noticias por blocos; na
quantidade de blocos de noticias; no momento em que e apresentado
Meteorol6gico e sua forma de composiyao; e na durayao do jomal.
essas diferenyas, alem de nao esgotarem as disparidades
relativas ao evento, e nao ao texto telejomalistico;
E bom
0
Boletim
lembrar que
entre os noticiarios,
sao
sao os elementos constituintes do
telejomal.
Entende-se, tambem, que a nOyao de texto enquanto estrutura "composta de unidades
sequenciais" (constituidas de proposiyoes), em cujo "encadeamento proposicional e ao
mesmo tempo uma especie de encaixamento
em pIanos hierarquicos"
(Adam, 1993
apud Marcuschi, 1996:20) retrata a dinfunica do texto teIejomalistico - das noticias.
A "unidade" de que se reveste a aparente "colcha de retalhos" de que se constitui
teIejomal, e 0 resultado de uma serie de operayoes textuais em niveis diferenciados.
0
ESTRUTURA DO TELEJORNAL
ABERTURA
+
CHAMADA67
+
ABERTURA
Locutor ao vivo
Locutor em OFF
Reporter
Locutor ao vivo
Locutor em OFF
Rep6rter
Locutor ao vivo
Locutor em OFF
Reporter
FECBAMENTO
+
DESPEDIDA
No jomalismo, esta chamada denomina-se escalada. E 0 procedimento de abertura do jamal, no qual
os apresentadores "chamam" as principais materias que estarao distribuidas ao longo da noticilirio.
67
A constitutividade do texto telejomalistico se da por meio de uma serie de estrategias
de organiza<;ao, sobre as quais foram identificadas 5 categorias. Sao elas:
a. Prosodicas
•
Mudan<;a de nivel: alto/medio/baixo
•
Ritmo da fala: acelera<;ao
desacelerayao
•
Curva entoacional: tons ascendentes
tons descendentes
tons neutros
•
Segmentayao: proposicional
sintatica
•
Proeminencias
•
Pausas
b. Gramaticais
•
Tipos de estruturas
•
Elementos lexicais
c. Cinesicas (pelo movimento de )68
•
Cabeya
•
Olhos
•
Maos
•
Corpo
•
Camera
Locutor + legenda
Locutor + fundo de tela
Locutor + fundo de tela + imagem
•
Deslocamento de imagem
•
Deslocamento de fundo de tela
•
Imagem com legenda
•
Imagem sem legenda
e. Sonoras
•
Vinheta69
•
Sons que podem acompanhar os aspectos do item (d)
6,} No diciornirio, essa palavra refere-se a uma pequena ilustra.;:ao em livro ou a algum ornamento
tipognifico. Para 0 Radio e a Televisao, este termo nomeia tambem uma marca sonora, que exerce a
fun.;:ao de logotipo do evento.
locutor-apresentador70.
Estes momentos
SaD
precedidos, acompanhados ou seguidos pOI
No inicio de 1998, a Globo fez uma experiencia modificando 0 final da abertura do Jomal Nacional
com a locuyao de urn apresentador em OFF 0 qual anuncia os nomes dos apresentadores do telejomal e
marca 0 inicio do evento dizendo: "Esta no ar 0 Jomal Nacional com (nome do locutor) e (nome da
loeutora)" - a imagem dos locutores a mesa de locuyao. Esta mudanya substituia as legendas com os
nomes dos loeutores que aparecem quando 0 locutor inieia a leitura de sua primeira noticia. No dia 30105
nao hit mais essa voz.
70
o que
na figura 6 (p.98) denomina-se chamada70 corresponde as manchetes no jomal
impresso. Em certa medida, assemelha-se ao lead71 das entrevistas, particularizando-se
70 0 termo chamada foi "origina1mente utilizado para designar os pequenos textos que constam da
primeira pagina de um joma1 impressa e que resumem as principais materias da ediyao"
(Cavalcanti,1999:24-25).
•
REDEGLOBO
Jomal Nacional
09/09/96 e 11/08/97;
SBT
Jomal do SBT
11/08/97 e 23/08/98;
CULTURA
Jomal da Cultura
11/08/97 e 12/08/97; e
MANCHETE
Jomal da Manchete
09/09/96 e 11/08/97
A Abertura
se da com duas marcas bem evidentes, em qualquer das
A abertura do telejomal
emissoras: urna verbal e outra nao verbal. A marca nao verbal
e a primeira
de1as na
ordem de apresenta<;ao do evento. Na realidade, essa marca registra a abertura do
evento stricto sensu, e foram identificados os seguintes recursos que podem estar em
composi<;ao:
y Vinheta + logotipo do telejomal (fundo de tela);
y Paine! com nfuneros em contagem regressiva, cujo fundo de tela
e 0 logotipo
do
telejomal;
y Imagem does) locutor(es) no studio it mesa de locu<;ao + vinheta;
y Imagem do locutor mudando de posi<;ao (de camera) it mesa de locu<;ao + vinheta.
Segue-se a essas marcas
0
inicio da locu<;ao da chamada,
0
qual pode ser antecedido
por urn curnprimento ("Boa noite", ou "Muito boa noite", por exemplo), abrindo a
escalada. Nesse inicio, encontram-se as chamadas de algumas noticias, encerrando-se
com a segunda marca de abertura (desta vez verbal): urna ora<;ao. No Jomal do SBT
nao hli essa ora<;ao. Quando
0
curnprimento nao ocorre antes da escalada, ele antecede a
LV A da primeira noticia. 0 Jomal da Cultura usa
0
mesmo procedimento atualmente
73,
de abertura nas emissoras selecionadas para este trabalho74:
Veja aGOrai/ no Jomal NacioNAL
+ vinheta
~
a Jomal da ManCHEte// esta Came~ando + vinbeta (11/08/97)
"'::J
a Jomal da CulTUral/ coME~a aGOra + vinbeta
(11/08/97)
~
a Jomal da CulTUral/ come~a aGOra + vinbeta
(12/08/97)
'::J
73 Desde junho do corrente ano vimos observando que 0 locutor Her6doto Barbeiro cumprimenta 0
telespectador antes de iniciar a primeira noticia, ap6s a vinheta de abertura que encerra a escalada,
dizendo' "ala boa noite"
74 Sao ~sadas'as iniciais dos nomes dos locutores. Asslln, temos: LWF (Lillian Wite Fibe); CN (Carlos
Nascimento); HH (Hermano Henning); EA (Eliaquin Araujo); LC (Leila Cordeiro); MP (Marcia Peltier);
MJ (Milton Jung).
75 Nesse ano de 2000, a oracao ao final da escalada tern sido: "Nos voItamos em 30 segundos".
o elemento
"agora", na primeira unidade tonal na abertura da GLOBO, tanto pode se
referir ao conteudo apresentado nas proposiyoes que compoem a chamada anterior a
essa segunda marca de abertura, quanto pode estar sendo usado para informar ao
telespectador que essas noticias anunciadas ha. pouco vao ser apresentadas "agora" em alguns instantes - portanto, uma referencia ao conteudo que esti por vir. Assim,
esse item lexical esta apontando para ambos,
0
texto e
0
evento.
E importante
dizer que
este nao e urn exemplo de uma ocorrencia exclusiva da Rede Globo. Pode estar
presente em qualquer urna das emissoras.
A semelhanya entre as aberturas e que elas estllo segmentadas em duas unidade tonais,
com comportamentos entoacionais tambem semelhantes. Com urna orienta<;ao obliqua
no discurso, os recursos cinesicos se encarregam de atribuir maior interatividade a essas
marc as de fronteira, com sorrisos, piscar de olhos, leves gestos com a cabe<;a, os quais
coincidem com
0
final daunidade
de tom e com as proeminencias. Nesse ponto, a
expressividade evidencia-se no "quadro geral" resultante do conjunto de recursos que
para ali convergem.
E urn
momento de descontrac;ao, convite mesmo para participac;ao
no evento que se inicia.
•
As Chamadas
Ha uma varia<;ao na quantidade de chamadas por telejomal. Esta diferenya resulta do
nlimero de noticias em cada edi<;ao, logo, depende da decisao do editor (produtor) do
telenoticiario
circunstancial.
sobre quais noticias
serao apresentadas.
Portanto,
e urna variante
dos noticiarios da G1obo (09/09/96), do SBT (23/03/98), da Cultura (11108/97) e da
Manchete (11108/97).
Receita cancela
Mil Iitros de um aditivo de combustivel
33% dos CPFs e
vazam de um gazoduto em
Outros 14% irregulares
Parapambu,
RJ.
GLG80
58T
ABERTURA
ABERTURA
~CHAMADAll
(5 noticias)
CUI-TURfi.
ABERTURA
i:~~~i~111
Mfi. HCHETE
ABERTURA
~~=~~lli,
(l noticias)
(5 noticias)
marcadorde
abertura
I:=:~·
3 NOTfCIAS
7 NOTiCIAS
II~i~±~;1;ciil::ilii ·~I
(2 noticias)
(Blocode
Noticias)
Publicidade
..1
&letim
Meteol'oWgico
l.~~ri~j,
'E~~~I, ~~=~~'I'I
(2 noticias)
(3 noticias)
(3 noticias)
Boletim
MeteorolOgico
1!~E~;~1
~~~~~~III
(2 noticias)
(3 noticias)
li~E~~il
(2 noticias)
NOTiCIAS
Publicidade
Boletim
MeteorolOgico
2 NOTiCIAS
;~!~;~i,
(2 noticias)
~NOTiCIAS
l-.-..JnCHAMENTO
BN
.>
antecedendo
as chamadas (proposi~5es enunciativas das noticias que esHio
finahzando
por vir)
Observe alguns exemplos76:
Chamada 2: Ll
L2
Chamada 3:Ll
L2
Chamada 4:Ll
L2
em instantesll
a denuncia de aluguel de mandato de Deputado FederaVI
As promo~5es II e arrnadilhas por traz das ofertas na venda de carroll
veja a segnirll mutirao contra a violencia/I tira arrnas das maos de crian~asll
E PMs san acusados de matar trabalhadores em Sao Pauloll
Daqni a ponco!! a cerim6nia simples no adeus a Betinholl
Anderson ganha a vaga de titular depois de salvar
0
BrasiV I
SEM MARCADOR
Chamada 4: Ll
L2
0
escandalo dos precatorios tern mais sete empresas envolvidas//
Vinte anos depois da morte do mito// Elvis Presley ... continua embalando
SBT(23/08/98)
ANTECEDENDO
E FINALIZANDO
Chamada 2: Ll
Nio perea no proximo bloeo ... Fernando Hemique muda
0
Ministerio
para tentar a ree1eil;ao
(em off) Yeltsin tambem muda tudo na Russia
(imagem)
(em off) E veja quem esta na corrida para
(imagem)
0
Oscar
ANTECEDENDO
Chamada 3: Ll
Nio perea no proximo bloeo ... para
0
govemo a Reforma Agraria vai ser
feita na Amazonia! /
L 1 tumulto na chegada de Clinton ao primeiro pais africano
(imagem)
L 1 Titanic entra com forl;a total na disputa do Oscar
Legenda: "Ansiedade"
ANTECEDEND
(imagem)
E FINALIZANDO
Chamada 2: Ll
A seguir ... a familia de Paulo Maluf nao aparece para depor na Policia
Federal no caso dos frangos ...
L2
Deputado acusado de alugar mandato// pode ser cassado por faha de
decoro parlamentar
(em off) E ainda ... a maratona artistica que leva milhares de visitantes
Escocia II
Chamada 3: Ll
Legenda: "Gaitas a pastas"
a capital
(imagem)
Em instantes ... Gustavo Kii.erten supera a propria expectativa e ja e
melhor tenista do mundo ...
da
0
quarto
Veja tambem ... a cerimonia de despedida ao brasileiro que mais lutou contra
a miseria nos ultimos tempos
ANTECEDENDO
E FINALIZANDO
Chamada 2: Ll
A seguir
Henrique
acordo sobre lei eleitoral beneficia
0
presidente Fernando
.
A cassacao deve atingir nao s6
tambem a suplente que tomou
0
0
deputado que alugou
0
mandato mas
lugar dele
E ainda nessa edi.;ao ... as imagens impressionantes da revolta de urn
vulcao no Havai
Legenda: "Onclas de Fogo" (imagem)
ANTECEDENDO
Chamada 3: Ll
Em instantes II volta a cooperacao entre palestinos e israelenses na area
de seguranca...
(muda de camera)
um dos maiores jornais de economia no mundo investe na America Latina ...
jornalistas brasileiros ajudam a fazer em Nova York
0
Wall Street Journal com
sotaque Latino
Legenda: "Jomal Latino"
(mapa do Brasil ao jundo)
ANTECEDENDO
Chamada 2: Ll
E a seguir ... a ocupacao policial continua em dois morros de Copacabana
Legenda: "Guerra de traficantes"
L2
Chamada 3: Ll
L2
Chamada 4: Ll
e a faccao curda favonivel a Sadan Russein ja controla
0
A seguir ... um furacao chamado Hortencia atravessa
Caribe
e Paulo Nunes do Gremio e
A segnir ...
0
0
artilheiro do campeonato brasileiro
maior hospital de Espirito Santo fecha
faha de condicoes para atendimento
L2
0
norte do Iraque
e os italianos elegem uma negra para Miss ItaIia
0
Pronto Socorro por
ANTECEDENDO
Chamada 2: LI
L2
Chamada 3: Ll
A seguir ... os estudantes abrern guerra contra a violencia
e Sao Paulo afasta os PMs acusados de rnatar urn trabalhador
A seguir ...
0
Banco Central decreta ... liquida oito ernpresas financeiras
envolvidas no escandalo dos titulos publicos
L2
Charnada 4: LI
L2
E possivel
os cornerciantes decretarn urn boicote aos cartoes de credito
A seguir ...
0
governador Vitor Buaiz do Espirito Santo estafora do PT
e a Camara pode cassar deputado acusado de alugar
0
mandato
MARCADOR
+ N proposiyoes
+ vinheta
N proposiyoes
+ MARCADOR
+ vinheta
N proposi90es
+ MARCADOR
+ N' proposi90es
N proposicoes
+ MARCADOR
N proposiyoes
+ vinheta
+ vinheta
observar que esses marcadores de fronteira inseridos na chamada, da mesma
a abertura
indiretamente se prestam
da publicidade, que e tambem urn dos aspectos
constituintes do telejornal- do evento.
Urn outro dado marcante das chamadas, e que tambem diz respeito
noticiario na televisao, e
0
a organiza<;aodo
jogo interacional na distribui<;ao das noticias que sao
anunciadas na chamada. Uma das regras desse "jogo" parece ser
0
fato de se poder
"chamar" uma noticia duas vezes no mesmo noticiario. Nao e preciso grandes
elucubra<;5este6ricas para se perceber
0
efeito pretendido com essa estrutura<;ao.0
telespectador que tenha sido "fisgado" por uma noticia na escalada, continuara "preso"
ao telenoticiario, ate que "aquela noticia" seja apresentada. Essa organiza<;aoestrutural
constitui a "linguagem da sedu<;ao" do telejomal, ao lado de outros recursos mais
especificos de linguagem. Observe, na pagina seguinte, urn exemplo de como se da esse
jogo de sedu<;aorelativo
a ordem de apresenta<;aodas noticias (vide anexo
1, p. 285-
291 para as sete demais edi<;5esselecionadas).
A figura segue
0
mesmo esquema da estrutura do telejornal (p.107). Foram usadas
cores distintas para enfatizar a rela~ao entre a apresenta~ao das noticias e
0
ponto em
que foram anunciadas. As noticias que nao figuram nas chamadas saD identificadas
AS CHAMADAS: 0 JOGO DA SEDUCAo
CHAMADAI
Noticia
1
• Noticia
2
Noticia
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Noticia
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II Noticia
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abertura
vinheta
J'
(Bloeo
de noticias:
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CHAMADA2
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vinheta
iBloeodenotieias:
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CHAMADA3
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vinheta
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vinheta
4°Bloeo de noticias: •
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CHAMADA5
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Noticia
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9
objetivo comunicativo77. Sao e1es:
OIL V: "Denuncia ...
0
governo esta empurrando a Reforma Agniria para a Amazonia"
02 Loff. "Esperan~a brasileira em Hollywood" (imagem do filme 0 que
e isso companheiro?)
03 LV: "Luz camera e gl6ria" (imagem do filme Titanic depois volta para a imagem
dos locutores)
04 LV: "Perna de pau High Tee" + Loff
"engenheiros
tentam fazer roMs virar craque de
futebol"
(imagem de mini carrinhos sobre tabuleiro de futebol)
Exemplo (20)
05 LV: "E um problema que preocupava milh5es de pessoas no mundo ja tem solu~ao"
06 LV: "A seguir ... como gastar menos na presta~ao"
A esse respeito, escrevi urn artigo intitulado "As chamadas no telejomal: anunciar ou seduzir '!"
(mimeo).
77
07 LV: " A crise na prefeitura de Silo Paulo se agrava ...falta dinheiro sobra
denuncia ... agora ha. tambem briga politica"
E
possivel fazer uma distinc;ao entre fechamento
01 (1l/08/97)L.
W. F.: amanhi
e despedida para essa posic;ao de
voce vai verll os absurdos na porta de saida da exportayaOJI
e possive1 ganhar
02
0 1ugar onde
03
E nossos reporteres mostram em Hong Kong/I um porto que
04
Liyao para
05
/I boa noitell
dinheiro sem traba1har/1
e uma
0 Brasi111
Exemplo (23)
SBT
01 (11/08/97)
H.H.:
//boa noitell e ate amanhall
Despedida
Exemplo (24)
CULTURA
01 (11/08/97)
M.J.:
o Jornal da Cu1tura termina aqui//
nos voltaremos amanha II as dez horasll
uma boa noite pra voce!! ate Iii
~
Fechamento
Despedida
Exemplo (25)
MANCHETE
01 (09/09/96)
02
M.P.:
Boa noita pra voce
Despedida
e ce fica agora com Tocaia Grande
Fechamento
Exemplo (26)
"A preOcupGl;{jo com 0 estilo -- no artes{jo e no artista que convivem
em cada jomalista - indispensavel para atrair a aten9{jo do leitor. "
o Globo. Manual de Reda~ao e Estilo (1992: 16)
e
cromaqu/8 e demais recursos
a mesa
de edic;ao79, resultam num evento comunicativo
Chromakey: equipamento que elimina uma cor, em geral 0 azul, para colocar imagens atnis do
ajresentador
7 como 0 Ampex DigitalOptics - A. D. O. - amplia, divide, funde e inverte imagens.
78
"Quanto mais a linguagem escrita se aproximar da linguagem falada maior
sera a possibilidade
semi-analfabetd'
de entendimento pelos telespectadores cuja maioria e
(p.26);
"Para ser entendido
0
texto do jornalista deve ter clareza" (p.26);
"...exige uma linguagem simples, direta, objetiva, com a maior clareza
possivel" (p.31);
"0
ideal e que cada frase contenha uma ideia" (idem); e
"Em resumo: a informac;ao jornal£stica transmitida pela televisao deve ser
simples, clara e didatica "(idem).
noticiario televisivo cleve assumir para a eficacia no processo comunicativo. Sao elas79:
79 De modo geral, sac essas tambem as condiyoes de produyao apresentadas pelos autores analisados (cf
Paternostro, ]987; Amaral, ]996; Maciel, ]995; Yorke, ]998).
falantes na composivao das chamadas; e com a composivao da noticia)81;e, por fim, a
interactantes. Este aspecto inovador no telejomalismo82 decorre diretamente dos
A seyao anterior traz exemplos ilustrativos dessa ordem de observayao.
Essa dinamica s6 foi possivel quando surgiram os equipamento portateis menores e mais leves para a
gravayao das externas e, no studio, com a utilizayao de mais de uma camera posicionadas em angulos
diferentes e mesmo locomovendo-se durante a gravayao.
81
82
onde
0 jornalista
saiba onde esta
esta olhando) do outro lado da tela
0
0
ouvinte aguarda ate que
0
falante
seu interlocutor, para com ele interagir.
Nas imagens externas, a movimentac;ao de camera define
0
olhar do "telespectador"
sobre os eventos e pessoas neles envolvidos. Desse modo, uma investigac;ao sobre a
dinfunica
das
imagens
esclarecedores para
0
e a construc;ao
de
sentido
traria
resultados
bastante
estudo da compreensao do telejornal.
Como vimos na sec;ao anterior, as marcas de fronteira no telejornal, tanto as de abertura
e as de fechamento, quanto as internas ao evento, realizam-se com a referencia direta a
presenc;a do outro na intera<;ao. 0 locutor "fala" com
0
telespectador
seguir ...", "Nao percam ...", "Veja ainda nessa edi<;ao..." - tentando
- "Veja a
seduzi-lo a
continuar envolvido na "conversa". 0 apelo representado por essas marcas de fronteira
pode, ainda, aguc;ar a curiosidade do ouvinte para que retorne no dia seguinte "Amanha voce vai ver..." - ou encerrar
0
dialogo com um cumprimento
ao seu
interlocutor: "Boa noite e ate amanha", "Nos voltaremos amanha as dez horas// uma
boa noite pra voce// ate hi".
Podemos conduir ser a tentativa de envolvimento com
0
outro um trac;o caracteristico
do evento, pois esse tipo de estrategia, primordialmente interacional, pretende instigar
outro a "jogar
0 jogo",
condi<;ao intrinseca da propria comunicac;ao.
0
A forma de organizayao de urn evento produz sentido, e essa forma exerce uma foWa
sobre os interactantes, aurnentando ou diminuindo
0
envolvimento entre eles.
Extrapolando os limites da relayao interpessoal, as estrategias de envolvimento no uso
da linguagem saD fatores que contribuem para a compreensao porque constituem a
habilidade de operar com a lingua, atribuindo maior legibilidade ao texto.
No telejomal, a dinfunica da composiyao espelha uma organizayao na qual
outro esta
0
essencialmente implicado. 0 telespectador participa dessa estrutura como interlocutor
anteriormente a interayao.
:E
justamente esse "dialogo" que amolda
0
evento,
caracterizando sua estrutura organizacional. 0 jogo interacionallevado a termo com a
distribuiyao das noticias em relayao as respectivas chamadas, bem como a forma de
composiyao da noticia, revelam a intenyao de envolver
0
telespectador para
participayao no evento. A troca de falantes na composiyao das chamadas
(principalmente na escalada) tambem constitui urna estrategia de envolvimento ao
tentar driblar a dispersividade de 3 maneiras: aurnentando a tensao naquele ponto, por
exigir que
0
telespectador esteja mais atento a quem vai falar naquele momento;
investindo nas estrategias de oralidade (segmentayao, enfase, ritmo) com vistas a agir
sobre 0 telespectador, definindo quem sao os participantes da conversa.
Todas as emissoras demonstram estar conscientes dessa forya exercida pela forma de
organizayao do evento, urna vez que investem nas diversas possibilidades de sua
construyao. As diferenyas entre elas caracterizam os estilos de cada telejornal.
conversacionais que tern a fum;ao de marcar
0
fim de t6pico e inicio de outro )83.
83 Cf. Luciano (1993), dissertayao de Mestrado (pPGLL-UFPE),
Aplicada (1995), UNICAMP-SP. (pp.247-254)
e ANAIS do Congresso de Lingiiistica
ImagemlSom
Tema
bolsa de
(01) Locutor em OFF (sem definiyao):
valores de Sao Paulo fechou em baixa de 1,48% e
movimentou 521 milh5es 738 mil reais ... a bolsa do Rio
fechou em baixa de 0,5%
Os numeros e indicadores
econ6micos aparecem na
tela, cujo fundo
avermelhado exibe um
computador e papeis
espalhados. 0 tema da
noticia aparece em legenda
juntamente com os dados
numericos
Ruido sonoro
Boisa de
valores
(05) Locutor em OFF (sem definkao): 0 d6lar comercial
foi negociado a 1,0853 decimos de milesimo ... fechou
com uma desvalorizayao de 0,05% ... 0 paralelo a um real
e quatorze centavos sofreu desvalorizayao de 0,44% eo
d6lar turismo a um real e dez centavos tambem valorizou
s6 que 0,18%
Mesma imagem, mudam a
legenda e os dados
numericos
Cota~ao do
(11) Locutor em OFF (sem definil;;ao): a caderneta de
poupanya que vence amanha vai render 1,09%
Ruido sonoro
Texto
D61ar
Caderneta de
poupam;a
Idem
(13) Locutor em OFF (sem definic;ao): e os CDBs prefixados de 30 dias estao pagando juros liqiiidos no periodo
de 1,40%
Ruido sonoro
Idem
Ruido son oro
CDB
5)84. Nesse bloeo, diferentemente do anterior, a mudanva de imagem
E possivel
auxiliada pe1a
dizer, ainda, que outra earaeteristiea de urn bloeo de notieias dessa natureza
BLOCO 1 - NOTiCIAS EM OFF
TEXTO
IMAGEM/SOM
I
Campanha para
desarmamento
l
0
(0 l) Locutor em OFF (sem defmicao): entidades
lmagem da abertura da
estudantis lan~am a campanha do desarmamento e contra campanha em Sao Paulo
\ a violencia '" com 0 apoio do govemo paulista/I OAB II
Legenda: "Desarme-se"
Ministerio PUblico II CUria metropolitana e vmas
,
I personalidades (
) portar urna arma ",
1
0 Brasil e 0 primeiro pais do mundo em homicidios com
'I arms
'" serao veiculados anUncios publicitlirios
alertando as pessoas para 0 risco de armas representando
Ruido sonoro + imagem
setenta por cento das mortes
movimenta-se em diagonal
Noticia 4
•
I
l
I (10) Locutor em OFF (sem defmicao):
I
I Imagem
dos sem-terra na serle
IdoINCRA
urn gropo de
I. cinqiienta sem-terra ocupa pela sexta vez a sede do
I INCRA na capital pemambucana
...eles pressionam 0
!orgiio a desapropriar urn engenho no municipio de
Condadoll onde trezentas familias estao acampadas ha
urn ano e tres meses .,'
a procuradoria geral do INCRA esta estudando tres
I. vistorias realizadas na area pedindo a desapropria~ao da
1 fazenda
Sem-terra ocupa sede do
INCRA-PE
I
I
Imagem do Jaime Amorim
dando informa~5es a urna
reporter
Ruido sonoro + imagem
movimenta-se em diagonal
t
I
l (19) Locutor
Noticia5
em OFF (sem defmiciio): urn manobrista
I morto em Sao Paulo depois de urna abordagem
e
I
!
I
I
policiais militares",
. bala na coluna ...
a corregedoria da PM abriu inquerito e cinco policiais
estao em prisao administrativa ,., os PMs disseram que
teriam confundido os trabalhadores com assaltantes ... de
acord~ com a~ vitimas os policiais chegaram de forma
I
t
I
Imagem das costas de urn
homem: focaliza urn ferimento
com curativo
de
urn colega dele foi ferido com uma
Imagem das outras vitimas e
falando a urn
, reporter
I de u'i'n policial
agresslva e atlrando
I (28) Locutor
Noticia 6
em OFF (sem defmicao): a
'\'desmiIitariza~ao da policia militar e 0 principal assunto
. do Encontro Nacional de Comandantes Gerais das PMs
em Foz do 19ua~u no Parana .., eles acreditam que a
proposta defendida pelo Govemo Federal pode incentivar
a insubordina~ao da tropa e a realiza~ao de novas graves
e reclamam tambem da ideia de dar mais autonomia Ao
cstado para defmir as politicas de seguran~a publica
I
Ruido sonoro + imagem
movimenta-se em diagonal
-
t
Imagem no local do congresso
dos chefes da PM com
Legenda: "Ordem unida"
I Encontro
Nacional de PMs
I
1
I
I
I
I
\
II
Entra a imagem do locutor it
mesa de locn ao
o telejomal
abarca urna "constela<;ao de eventos" e funciona como urn suporte (Steger
et alii, 1974 apud Marcuschi,
1996:35) que tern como "modelo
prototipico
de
formu1a<;ao textual" a noticia com caracteristicas de relata. Entrevistas, publicidade,
est6rias, saD alguns dos eventos de que se servem os produtores do texto noticioso na
formula<;ao dos relatos jomalisticos de televisao.
Enquanto materia-prima do te1ejomalismo, a noticia caracteriza-se pel a veracidade. A
supervaloriza<;ao dos espa<;os na TV exige que todas as noticias sejam de primeira
grandeza (nos "dizeres" da linguagem jomalistica),
0
que para a lingiiistica significa
que devem atender as maximas griceanas. Teodoro (1980: 62) afirrna que a escolha de
urna noticia e determinada, ainda que impHcita ou subjetivarnente, quando os fatos ou
pessoas e lugares envolvidos nos fatos assurnem urn carater inusitado transformando-se
ern algo "grande", "vultoso", "estupefato", ou mesmo
"0
inacreditavel" (difici1mente
urn lingiiista usaria tais termos para definir sua unidade de trabalho, a menos que fosse
desvelada a inten<;ao comunicativa subjacente a tal op<;aol).
Deixamos as questoes acerca da escolha dos fatos jomalisticos ao analista do discurso,
preocupado em aclarar os aspectos extemos da constru<;ao dos sentidos. Desse campo
de pesquisa interessa-nos a defmi<;ao de narrativa a fim de explicitarmos a no<;ao de
relato atribuido a caracteriza<;ao da noticia de TV, da qual resultarn as observa<;oes
sobre as estrat6gias de envolvimento nessa unidade lingiiistica.
seyoes, mas devem preencher alguns pre-requisitos minimos de condiyoes de
narrabilidade84.
Para detalhes dessas se~5es remetemos 0 leitor as obras de rerencia mencionadas, ou a Cavalcanti
(1999), ou ainda a Luciano (2000) Investiga~5es,noll, artigo intitulado 0 Sensacionalismo no Telejornal.
84
GENERO COMUNICATIV086
NARRATIVA
Narrativa
Vicirria
Narrativa
de experiencia
pessoal
Narrativa
Literirria
Narrativas
Hipoteticas
Narrativas
especificas
Narrativas
genericas
contradi9ao,
0
narrador teni como recur so auxiliar a avalia9ao (conforme ja havia
afirmado com Waletzky, 1967) e a busca do equilibrio resultante da articula9ao entre os
eventos objetivos e subjetivos .
as
eventos
testemunhou
objetivos
0
saD aqueles
que podem
ocorrido. Os subjetivos, como sugere
ser contestados
0
por alguem
que
pr6prio nome, dizem respeito as
impressoes subjetivas dos narradores frente aos fatos narrados. Esse tipo de evento nao
pode ser contestado porque nao ha
0
que conte star. A segunda maxima do jornalismo,
caracterizada pela veracidade irrefutavel, sugere a predomimlncia dos eventos objetivos
no texto noticioso. As impressoes pessoais dos jornalistas ou do veiculo, as avaliayoes
internas
a narrativa
ficam sujeitas
a critic a na discussao
acerca
do mito da
imparcialidade da midia.
Mas, ainda assim, ha uma certa distin9ao entre a noticia do jornal impressa e a do
Telejornal que, em certa medida, sugere uma observancia a distin9ao de est6ria e relato
proposta por Polanyi (1985).
Urn relato conta
0
que aconteceu e pode dar alguma informa9ao contextualizadora,
situando as a90es em urn determinado local e descrevendo quem estava envolvido com
as ocorrencias. Por que aqueles eventos aconteceram e por que eles saD considerados
merecedores de urn relata e deixado implicito. Isto significa dizer que nesse tipo de
narrativa
0
narrador
acontecimentos,
nao precisa
destacar
urn point
durante
a exposiyao
dos
mas ele esta comprometido com a atividade de recontar os eventos
objetivos do passado ou do presente (narrativa especifica); narrar eventos hipoteticos
do futuro (descrever desejos ainda nao realizados, e inten90es de a90es); ou ainda,
narrar fatos simultaneamente ao seu acontecimento (pIanos). E mais, em urn relato,
0
narrador nao esta entre os protagonistas da narrativa, exceto em alguma circunstancia
especial, durante a realiza9ao dos pIanos.
Parece claro serem estes os tipos de narrativa encontrados no jomalismo. No entanto,
afirmar a nao existencia de eventos subjetivos ou mesmo a ausencia de avalia90es no
texto noticioso, e revelar urn desconhecimento das peculiaridades da narrativa dos
jomais, impresso ou televisivo.
Teoricamente poderiamos dizer que a noticia e urn relato que deve ter urn grau maximo
de relatabilidade e uma total ausencia de recursos avaliativos intemos ao relato. 0 para
que da noticia, ou seja,
0
point da narrativa fica implicito. Nao cabe ao rep6rter ou
locutor demonstrar a relevancia de sua narrativa, tendo
responsabilidade de discemir quanto
a relevancia
0
leitor/ouvinte a
dos eventos apresentados. Logo,
0
jomal ou telejomal comprometido com urn alto grau de credibilidade devera evitar
"contar a est6ria do que aconteceu", mas sim "relatar"
0
acontecimento. Porem, na
prlitica, a situa9ao e diferente, especialmente quando observamos
0
jomalismo de
televisao. 0 envolvimento, terceira maxima do telejomalismo, favorece a fuga ao
canone, resultando numa diversidade textual que atribui identidade aos telejomais.
As noticias a seguir pretendem ilustrar 3 tipos de relato comuns nos telenoticiarios. 0
primeiro deles representa a forma regular de estrutura9ao da noticia nas locu90es sem
imagem (LV). 0 segundo exemplo e tambem caracteristico do telejomal, e se da com a
proprio em programas de grande audiencia87. No SBT, ele continua presente no
01 Eliaquim:
IIp+ e Atenc.;AOII ...110duas pessoas moRREram em dois aciDENtesl1
02
7Tr+ agora
ha POUcoilp
na via AnchiEta em Sao PAUlol1
110 SEte veicu10s baTEram/l p e DOIs pegaram FOgo11
lip
urn Onibus e uma fioRIno II
110
0
lip
morreu carboniZAdol1
Ilr
logo atnlsll.. lip
motorista da fiorinoll r ainda NAo identificadoll
um caminhao carregando urn containerll. ..
II r+ NAo conseguiu frearll p e baTEU num san@na//
Ilr
0
Ilr
maTANdo
container acabou virando sobre
0
0
sarrillna/I
motorista/I p ricardo lopes teixeira/I
Nas linhas 1 e 2, tem-se a ocorrencia do que caracteriza uma abertura da noticia nesse
tipo de evento na voz do locutor. Iniciada por um item lexical em nivel mais alto
(representado pelo afastamento entre as linhas), este recurso aumenta
com
0
0
envolvimento
ouvinte pela for<;a ilocut6ria de que se reveste ao se realizar com duas
proeminencias (a primeira e Ultima silabas) e pelo tom descendente (informal;ao nova)
seguido de uma pausa. Dessa forma,
que
POSSl.U
0
e preparado
ouvinte
um grau maximo de relatabilidade:
e
para este resumo da noticia
sobre a morte sui generis de duas
pessoas comuns, num duplo acidente em Sao Paulo( duas pessoas morreram agora h(i
pouco na via Anchieta em Silo Paulo).
o
inusitado come<;a logo em seguida
a chamada
com a infonna<;ao de que foram em
nllinero de sete os veiculos envolvidos, dos quais dois pegaram fogo - um onibus e uma
Fiorino -(linha n03), e que uma das mortes foi a do motorista do carro passeio: morreu
carbonizado.
Da linha 7
a linha
10M urna mudanl;a no tempo verbal que coincide com a narrativa da
"est6ria" da segunda morte. A op<;ao por essa forma textual abandonando a de relato
parece urn recurso utilizado para ressaltar
0
segundo fato,
0
qual, indubitavelmente,
possui um grau maximo de relatabilidade as linhas 09 e 10: morte por esmagamento (0
container acabou virando sobre
Teixeira).
0
Santana matando
0
motorista Ricardo Lopes
Como pode ser observado, nao se percebem avalia~5es explicitas que definam a
perspectiva do narrador. Ele esta neutralizado no texto na sua funyao de locutorapresentador da noticia que, apesar de conter uma narrativa do tipo est6ria no momento
fmal (linhas 07 a 10), mantem-se neutra exercendo sua funyao informativa,
consequencia da formu1a~aodo texto.
A aparente neutralidade da noticia desaparece no momento da retextualizayao, pela
forya ilocut6ria de que e acrescida, quando observados os aspectos pros6dicos na
leitura, em combinayao com os fatores cinesicos:
0
contomo entoacional na voz do
locutor; as palavras enfatizadas entoacionalmente (alem da ja mencionada como
marcador de fronteira) e sua relayao com 0 comportamento gestual.
Na noticia ilustrada acima, observa-se urna segmenta~ao do enunciado em tres niveis
tonais em ordem decrescente - alto(linhas 1 e 2); medio (linhas 3 a 6); e baixo (linhas 7
a 10). Ha, tambem, urn decrescendo em volume. Estes dois aspectos somados ao ritmo
da leitura, a qual segmenta sintaticamente os enunciados, constroem urn contomo
entoacional que cria urn contexto de tensao sobre
0
ouvinte, pela expectativa de uma
informa~ao de catastrofe, tragedia, crime hediondo, enfim, uma '"noticia de ultima
Nesse tipo de evento comunicativo,
0
marcador de fronteira tipico para auxiliar no
exercicio dessa inten~ao comunicativa - preparar
0
ouvinte para urna informayao
daquela natureza - e 0 que foi utilizado no exemplo acima. A sele~ao de duas silabas na
palavra que constitui uma unica unidade tonal por meio das proeminencias na primeira
e Ultima silabas - //p+ e AtenCAO// - aurnenta a fon;a ilocut6ria desse elemento
tornando-o mais eficaz no prop6sito de alem de prender a atenyao do ouvinte prepani-lo
para
0
tema da noticia. Nesse genero comunicativo, pode-se dizer que tal "preparativo"
equivale ao eufemismo necessario para que uma noticia desse quilate seja dada a
alguem nurna situayao informal de interayao. Mesmo que as pessoas envolvidas no fato
nao sejam conhecidas dos interactantes, ha sempre urn marcador de fronteira dessa
natureza para preparar
sabe
0
0
ouvinte para a narrativa - basta lembrar-se da frase "voce nao
que aconteceu ... !" - comuns
a narrativa vicaria, que sempre tern urn contomo
entoacional peculiar. Nao se pode ficar indiferente a informayoes de tal natureza. Este e
o comportamento socialmente esperado dos interactantes.
Nesse sentido, a neutralidade deixa de existir dando lugar ao comportamento social de
prestigio na sociedade
(0
narrador deve estar penalizado com
0
episodio), numa
atividade verbal dificil de envolver ambos: leitor e ouvinte. A expressao facial do
locutor tambem exerce
0
seu papel nesse momento. A sobriedade na leitura, a voz
firme, os leves movimentos de cabeya coincidentes com as proeminencias de maior
importancia para
0
com a palavra nao,
conteudo proposicional da noticia - na palavra sete,
a linha08
- confirmam
0
a linha 03
envolvimento do locutor com
0
e
texto,
reafirmando 0 contexte de estupefayao diante do fato.
Essa noticia 1 serve para destacar a importancia das estrategias de oralidade para a
textualizayao durante a LVA. A voz do locutor complementa
facultando
a leitura parte
0
sentido do texto
da responsabilidade pela compreensao do telespectador. A
LVA e, pois, uma estrategia de envolvimento para esse tipo de noticia.
183 J.F.(LV):
184
185
acidente numa obra do bairro do Recife
o cabo de urn elevador quebrou
quando transportava DO:is opeRAnos
186 C.(LOFF):
187
188
o acidente aconteceu por volta das dez horas da manha ...
nesta obra para construc;ao de urn silo de armazenamento de trigo ...
da Empresa Santista Alimentos.
189 C(LOFF):
190
191
192
193
194
195
o encarregado de pedreiro Mauro dos Santos de 25 anos e 0
guincheiro Jose Alfredo Veloso Neto de 34 anos estavam
carregando concreto neste elevador quando 0 cabo nao agiientou
o peso e quebrou
eles cairam de uma altura de cerca de dez metros
os dois trabalhadores foram levados em estado grave ... para a
emergencia do hospital da restaurac;ao
Orientar;ii.o
Complica<;ii.o
196 C(Reporter): revoltados com 0 acidente os outros operiuios acusaram a
197
empresa responsavel pela obra ... a Sulbras Engenharia Limitada ...
198
de obrigar os trabalhadores a usarem 0 elevador de passageiros
199
para transportar carga ... 0 que e proibido
Avaliac;ao
200 JS(depoimento):n6sja tivemos aqui '" a semana passada eh: batemo
201
dissemos que a empresa nao usasse esse comportamento
202
eles diz que nao usa ... mas quando nos da as costa ele
203
obriga os pessoal fazer
0
pe
204 M.(depoimento):nos vamos esperar que: 0: a pericia tecnica seja feito ...
204
pe10s orgaos de direito '" e nos Santista Alimentos vamos
205
tambem chamar 0 pessoal da Sulbras ... e saber 0 porque do
206
do usa indevido do elevador
Resolu<;ii.o
207JF:
208
209
210
211
212
213
214
e: ...infelizmente 0 guincheiro Jose Alfredo Veloso Neto ... NAo
resistiu aos ferimentos e morreu
ja 0 encarregado Mauro dos Santos continua internado na
emergencia do HR
Coda
os medicos informaram que ele sofreu T-R-A-U-M-A-T-I-S-M-O
C-R-A-N-I-A-N-O
Fim do Relato
NIN-guem da empresa Sulbras Engenharia Limitada foi encontrado na obra ...
para falar sobre 0 acidente
A noticia acima exemplifica urn relato tipico do jornalismo na TV. Nesse caso, 0
produtor do texto optou pela estrutura basica da narrativa imprimindo objetividade ao
relato. A avalia<;ao se da implicitamente pe10 envolvimento do telespectador que
devera, ele proprio, avaliar os fatos a partir dos eventos subjetivos na fala dos
depoentes. A objetividade da forma nao se da com rela<;aoit informatividade do texto,
uma vez verificada a ausencia de depoimentos dos principais responsaveis pelo fato ou
de autoridades competentes no assunto. 0 texto pretende envolver 0 telespectador
criando urn contexto interativo de consterna<;ao pela morte de trabalhadores no
exercicio de sua profissao. ALVA dos jornalistas demonstra fluencia sintatica e a
expressividade do texto funde-se it estrutura<;ao. Permitindo-nos um pouco de
"linguagem jornalistica", diriamos ser urna "noticia morna". A voz nao e utilizada para
enfatizar a expressividade do texto.
o mesmo nao se da com a noticia de nu.mero3. A locu<;aoinicial no studio (LV) realiza
a fun<;aode resumo da narrativa mista, em seguida it LV de abertura, construida pelo
proprio Jota Ferreira (desta vez na fun<;ao de reporter, em imagens externas), pela
vitima, por urna testemunha e pelo acusado. 0 cenario e em uma delegacia de policia e
o reporter passa a ser 0 "contador dessa estoria", permitindo-nos propor que 0 reporter
produziu um texto espontaneo, com tra<;osclaramente caracteristicos de uma narrativa
oral.
Resumo
(Ol)JotaFerreira(locutor
vivo): IIp e vejam que estoria abSURda ...l1
nesta madrugada a policia prendeu em flaGRANte urn
estudante acusado de tentar estuprar a PROpria colega ...de sala de aula
(04)Jota Ferreira (reporter): Iquando se diz que satanas tern mil faces . Em frente a uma deIegacia, ao lado
eh: isso e uma verdade .. eh: a imagem que nos mostramos desse carro . de urn carro
e que de faz parte de uma estoria ... muito triste ... enfrentada: par uma
moc,:aque esta Ia dentro nesse momenta sendo ouvida aqui na delegacia
de pIantao do Cordeiro .. .11p BOM. ..l1
a garota que sofreu uma tentativa de estupro ... e que Iutou ... so Deus
sabe como para nao ser estuprada ...peio moc,:oque estava dirigindo ...
Batendo no carro com a milo que
esse carro aqui ...
esta livre do microfone
(41) a moc,:aque estava ... agonizando sofrendo aqui dentro desse
carro nesse momento ... poderia estar numa situac,:ao desgrac,:ada...
(59) Ah:: ... durante tantos anos esse cara estudou com essa mocinha ... e
sabia conhecia a moc,:a... e ontem ... ou na madrugada de hoje ...
resoIveu dar uma Carona...
Lendo 0 nome em urn pequeno
e1aja estava retomando pra sua residencia junto com uma coiega ... a
papeI em uma milo
Maria Rodrigues do Nascimento ...mas eIe insistiu tanto "nao eu Ie: :vo
num tern probIe::ma coisa e tal gatinha entra ai: "...a Suzana ficou no
banco traseiro do carro ... a Maria Jose Rodrigues no banco da frente ...
e Ia vai ... 0 sem vergonha dirigindo
(93) ...nos vamos conversar com a Suzana ... que esta conversando com
a escriva ... Aida ... daqui nas costas voce ja ve: ...marcas ... uns
arranh6::es ...
Dentro da deIegacia, ao Iado de uma
moc,:aque esta sentada de costas para
a camera e a sua frente esta a escriva
por tras do bir6 datiIografando
Faz 0 gesto com a mao como se
estivesse puxando alguem pelos
cabe10s
investindo excessivamente na expressividade88. Nesse tipo de relato,
0
envolvimento
Cf Luciano (2000), Revista Investigac;:ao, nOll, para uma analise desta noticia do ponto de vista do
sensacionalismo no teIejomaiismo.
88
e
o jornalismo
ortodoxo condena esse Ultimo tipo de noticia, mas nao pode negar sua
existencia e aceita~ao pelos leitores/ouvintes. Esse tipo de relato ganhou espa~o proprio
na televisao brasileira e nao pode ser tido como caracteristico dos telejornais de hoje
(embora
0
tenha sido para alguns ha uns 5 anos). Podemos dizer que sua existencia
reflete urn periodo de busca por urn modelo de telejornalismo capaz de envolver
0
publico na medida certa. 0 equilibrio parece ter surgido com a utiliza~ao das estrategias
interativo-organizacionais a que vimos nos referindo, quando falamos do envolvimento
na estrutura~ao do telejornal.
Vejamos, enta~, quaIS as estrategias de envolvimento malS evidentes como
comportamento regular na composi~ao das noticias.
De urn total de 137 noticias, constatamos haver urna certa regularidade em rela~ao a
estrutura da noticia. Nas 8 edi~oes analisadas, 27 realizam-se unicamente com a
locu~ao do apresentador (LV), 61 apresentam urna composi~ao mais completa (LV;
LOFF; reporter; e depoimentos), 25 tem a locu~ao ao vivo e a locu~ao em off
(LV+LOFF), e apenas 18 ocorreram com a locu~ao exclusivamente em off(LOFF). As
notas escritas acontecem apenas no Jornal da Cultura, num total de 5 ocorrencias.
TABELA QUANTITATIVA
DA COMPOSICAO
DAS NOTICIAS:
TIPOS DE LOCUCAO
Apl~ta~
······SDT···COC~
....
~........
···MANCHEfif
'o9J69Tli/08T
11/08
23J03
11108 ·····iiiof·····09109
.19%
.1997
1997
1998
1997
1997
1996
1997
................. -_ ........
. 111081
LV
3
3
4
4
2
3
6
2
LV +LOFF
4
1
3
6
3
3
4
I
5
12
8
6
7
4
11
9
LOFF
0
0
3
6
7
2
0
0
Nota escrita
0
0
0
0
3
2
0
0
Total de noticias
12
16
18
22
22
14
21
12
LV+LOFF+Rep6rter+Depoimento
Tabela 1
Em nossa analise, nao houve essa focalizac;ao pelas raz5es que acreditamos ja terem
sido definidas ao longo do nosso texto.
Nao postulamos que a pros6dia seja a responsavel pela argumentatividade
do texto
durante a LV A, mas que ela faz parte do processo de textualizac;ao de forma efetiva, e
que essa participac;ao pode afetar a compreensao do ouvinte.
Afirmamos que
0
envolvimento no telejomal caracteriza-se pela presenc;a sistematica
dos seguintes recursos, sobre os quais incidem as estrat6gias de oralidade. Sao eles:
•
express5es interativas (com
•
express5es interativas explicativas ( com express5es explicativas dirigidas
0
usa de "voce"; verbos na 1a pessoa do plural);
ao ouvinte);
•
frases nominais (nas chamadas);
•
estruturac;ao do texto (diferentes formas de composic;ao; a utilizac;ao de
generos textuais distintos - est6ria, relato, pIanos, publicidade, etc.);
•
coloquialismo
(destacando-se
a presenc;a de express5es coloquiais, itens
lexicais, estruturas tipicas da oralidade).
A malOr ou
menor
presenc;a desses
envolvimento/distanciamento
recursos
do leitor/locutor,
afeta
a LVA,
e deste com
0
resultando
no
telespectador.
Na
dimensao sonora, a incidencia de estrategias explicitas de envolvimento exige do leitor
a habilidade de restituir a voz ao texto escrito, de modo a que parec;a "natural". Assim,
a naturalidade na LVA e percebida pela capacidade do leitor de interagir com e a partir
do texto escrito, aumentando a legibilidade para
0
ouvinte.
As estrategias listadas acima nao pretendem esgotar os recursos existentes no te1ejornal,
mas apontar para urna perspectiva analitica muito frutifera para
0
entendimento dos
Globo (09/09/96)
Noticia 10: Gol de Craque
Composta de apenas duas partes (LV e LOFF), ambas trazem marcas explicitas de
envolvimento do locutor com
0
telespectador ao «conversar" com
GB (LV):
"Voce gosta de ver gol bonito... entiiose prepare" .
GB (LOFF):
... "reveja ajogada de George Weah".
0
ouvinte.
Cultura (12/08/97)
Noticia 14: Financiamento para obras da Encol
Uma noticia em LV, dirige-se a urn telespectador especifico, como anuncia
MJ (LV):
0
locutor:
"Uma boa noticia para os mutuarios da EncoL Banco Central informou hoje
SBr (23/03/98)
Noticia 5: Reforma no Ministerio
Alem da linguagem coloquial que aproxima os locutores do telespectador,
apresenta marcas explicativas claramente voltadas para
0
0
entendimento do ouvinte:
texto
LC (LV):
"( ...) Serra volta ao governo de olho no dinheiro gerado pela CPMF ...
0
chamado imposto de cheque (...)".
HP (LOFF):
" (. ..) fazer um balan~o de cada ministerio na vespera dessa reforma parece ser
impossivel.. . os ministros
demissiomirios
insistem
em dizer que fizeram
verdadeiras revoluc;5es (...)".
Quem vai fazer
0
balanyo? 0 telejomal? Sera que ha urna certa ironia ao sugerir que os
demissiomlrios esperam reconhecimento pelas suas ayoes ?
SBT (11108/97)
Noticia 2: Alerta contra Ped6filos
Em LV, esta noticia pode ser dividida em tres partes: (1)
esclarecimento para
0
telespectador, onde
0
fato noticioso; (2)
se encontra a marca explicita de
envolvimento; e (3) relevancia da noticia + dados informativos.
HH(LV):
"ped6filos ...para quem nao sabe ... sac as pessoas que tem um obsessao sexual
por crianc;as" .
GLOBO (09/09/96)
Noticia 7: Compra de Carro Financiado
Composta de 5 partes (LV, LOFF, Reporter, LOFF e LV), 0 texto se propoe a revelar as
vantagens e desvantagens na compra de urn carro a prazo. Com 0 objetivo de admoestar
o telespectador para as armadilhas por tras de ofertas atraentes, as marcas de
envolvimento/distanciamento vao
assumindo
uma funyao textual
claramente
elucidativa da questao focada na materia.
Bonner (LV):
"( ...) fica dificil saber qual
e
a melhor qual
e
a menos cara... os nossos
rep6rteres fizerarn as contas"
AA (reporter):
"( ...) mas e bom redobrar a atenc;ao nas contas para nao pagar caro demais por
este sonho (...)" (envolvimento com
0
telespectador:
voce tern que redobrar a
atenc;ao!)
"( ...) em alguns casos a taxa de juros
e tao
alta que
carro ... acaba pagando por dois" (distanciamento)
AA (LOFF): "veja
0
exemplo ..."
0
consumidor compra
0
Abertura do jornal:
CN (LV):
"na boca do forno ... a policia estoura no Umguai uma fabrica de
reais falsos"
LWF(LV):
"fora de controle ...
LWF (LOFF): "uma cadeia em minas onde quem manda saD os presos"
CN(LV):
"desperdicio"
LWF (LV):
"burocracia"
CN(LOFF):
SBT (23/03/98)
Noticia 1: Venda de Diplomas.
A noticia se constitui de 3 generos observados na composi<;ao em partes distintas:
(1) a noticia, propriamente
dita, com a LV de abertura feita por dois locutores
(Eliaquim Araujo e Leila Cordeiro), e a presen<;a de um elemento de sedUl;ao na
primeira fala:
EA(LV):
"0
Brasil continua sendo
0
para"isso dos falscirios...
0
Jomal do SBT com
exc1usividade mostra um esquema para a venda de diplomas"
"a quadrilha leva apenas dois ou tres dias para providenciar
0
diploma com
todos os selos e assinaturas de um documento original..."
(2)a estoria, com a cria<;ao de uma personagem
-
0
Sandro - que, com uma
microcamera e microfone escondidos, "vive a estoria" (1 minuto de dura<;ao) de alguem
que pretende comprar um diploma de conclusao do Ensino Medio, cujo protagonista e
urn produtor do SBT disfar<;ado e a narradora e a reporter em OFF; e
(3) a reportagem, quando a narradora passa it fun<;ao de repOrter:
SQ (reporter):
"outras duas visitas ao escritorio localizado nesta movimentada
de Sao Paulo mais
0
pagamento de seiscentos reais ...
0
rua do centro
suficiente para transformar a tal amostra
num diploma que parece de verdade ... assinaturas carimbos e selos de autenticidade
e 0 que nao
faltam".
o
encerramento
da noticia pelo locutor do noticiario (Hermano Henning) tambem
representa uma marca de envolvimento com
segunda parte da estoria, no dia seguinte:
0
telespectador, por "acenar-lhe" com a
"amanha
voce
vai ver
como
os fa1sificadores
conseguem
1ega1izar os
documentos em cartorio e vai conhecer os donos da Esco1a Atlas" .
Globo (11/08/97)
Noticia 9: Futebol de Robos.
Composta de 5 partes,
0
registro da fala coloquial
e utilizado
nas expressoes definidoras
do objeto da noticia e na apresenta9ao do fato noticioso, capaz de criar urn contexte
interativo de proximidade com
EP (LOFF):
0
telespectador.
"vestem a mesma camisa pra fazerem essas caixinhas baterem bola feito gente
grande ..."
" ...de vez em quando um robozinho parece ter crise de identidade e sofre um
ataque de enceradeira mas logo parte pra outra"
EP (reporter):
" ...a gente MO ta com essa bola toda mas ja conseguiu botar
0
pe nesse campo
de futebo1 entre os robos ..."
" ...esse apare1hinho aqui nao e nenhum Pele ou Ronaldinho ..."
EP (LOFF):
"0
desafio dos cientistas brasi1eiros e fazer bravo merecer nome de craque ate
ju1ho do ano que vem pra e1e poder vestir a camisa canarinho ... enquanto as
chuteiras
de carne e chuteira
transistorizados
estiverem
tentando
0
penta os baixinhos
vao tentar fria e humi1demente a sua primeira participayao
numacopa"
Ego-envolvimento (tudo
0
que demonstrar opiniao)
•
itens lexicais (representa90es; operadores argumentativos);
•
frases opinativas (avali~oes);
•
a sele9ao e 0 espa90 destinado aos depoimentos (quando demonstra a
opiniao do jornal);
•
expressoes faciais; e
Envolvimento com
0
telespectador (alinhamento, preserva9ao das faces, polidez e
sedu9ao)
•
expressoes interativas
•
frases nominais
•
expressoes coloquiais
•
itens lexicais (coloquialismo)
•
marcas de oralidade
•
cria9ao de urn personagem
•
uso de "voce" ou da 1a pessoa do plural
•
expressao facial
•
pros6dia nas marcas de fronteira
Envolvimento com
0
texto (destacar
0
senti do auxiliando a compreensao)
•
expressoes interativas explicativas
•
estrutura9ao da noticia (hierarquizando as informa90es)
•
tipo de texto: est6ria (cria9ao de urn personagem); entrevista
(esclarecimento)
•
pros6dia na noticia
Em sintese, podemos afirmar que essas estrategias presentes no telejornal sao de tres
naturezas distintas, orientadas para a constru9ao de sentido, do "produtor" e do "leitor":
gramaticais (estrutural e lexical); organizacional (percebidas na composi<;ao que orienta
tambem
0
tipo textual); e pros6dica (que participam da organiza9ao, do conteudo e do
jogo interacional).
Agora que conhecemos
0
telejomal, estamos prontos para relatar os procedimentos
desta pesquisa na realiza9ao do experimento,
LVA na compreensao do telespectador.
0
qual pretende verificar a participa9ao da
Nos capitulos a seguir, apresentamos respectivamente
a metodologia adotada na fase
experimental deste trabalho, a analise pros6dica das noticias selecionadas para
de compreensao, e os resultados nele obtidos.
0
teste
~itulo
3: Aspectos Metodol6gicos
Este capitulo se constitui de duas partes. Na primeira de1as, encontra-se um breve relato
da fase inicial da pesquisa, cujos resultados nortearam duas avoes: (i) a formavao de
grupos de informantes,
com vistas
a
identificavao
das comunidades de leitores
(mencionadas na Introduvao); e (ii) a construvao dos testes de compreensao, a partir da
manipula9ao da leitura. Na segunda parte, estao descritos
procedimento
de forma sucinta
de e1aboravao e aplicavao dos testes, a apresentavao
informantes a eles submetidos, e
0
0
do perfil dos
tratamento dos dados. Encerramos este capitulo
mencionando as hip6teses testadas neste trabalho.
Tendo decidido investigar
0
te1ejoma1 pelas razoes expostas na Introduvao, foram
gravadas em fitas de video K7, 90' , 2 edil;oes dos noticiarios locais (de dezembro de
1996) e 14 edivoes dos te1ejomais exibidos em rede naciona1, distribuidas ao longo de
1996 a 1998. Perfazendo
aproximadamente
urn. total de 8 horas de gravavao, este
material serviu as duas etapas do trabalho, a experimental (teste piloto) e aquela da qual
resultou a analise apresentada nos pr6ximos capitulos.
88
Nesta etapa inicial de investigayao, optamos pela aplicayao de urn. questiomlrio
nfunero significativo
a urn.
de individuos, para a decisao sobre quais emissoras seriam
selecionadas para analise. Procedeu-se, enta~, a urn teste preliminar de compreensao
conforme apresentamos a seguir.
Perfazendo urn total de 73 informantes submetidos ao questionario escrito, estes foram
agrupados por faixa eta-ria e de acordo com
0
grau de escolaridade que possuiam. Deste
modo, foram identificados quatro grupos com as seguintes caracteristicas:
Numero de informantes - 18
Escolaridade - Nivel Superior completo (2 mestres)
Faixa etaria - entre 25 e 45 anos.
Nfunero de informantes - 17
Escolaridade - Nivel Superior completo (1 mestre)
Faixa etaria- entre 46 e 66 anos.
Numero de informantes - 27
Escolaridade - Ensino Fundamental incompleto
Faixa etaria - entre 46 e 66 anos.
NUmero de informantes - 11
Escolaridade - Ensino Fundamental completo
Faixa etaria- entre 25 e 33 anos.
Como 0 questionario tinha urn carater explorat6rio, para orientar 0 desenvolvimento da
pesquisa propriamente dita, ele se realizou na fase piloto anterior
a
elabor3-9aodo
projeto final, e e perceptivel a superficialidade com que aborda questoes tao
importantes, tais como: (a)
avaliar
0
0
conhecimento da metalinguagem necessaria para se
desempenho dos locutores do teIejornal (com a questao de nfunero 8); (b)
0
porque da preferencia por algum ou alguns telejornais (questao 4); (c) a consciencia da
dificuldade (ou nao) de compreensao desse genero textual (questoes 5, 6 e 7); (d) a
percep9ao de variantes regionais entre os locutores (questao 8); e (e) a identifica9ao
pelo telespectador de problemas sintaticos ou morfol6gicos nos textos (questoes 9 e
10). Contudo, achamos importante relatar os resultados dessa fase porque, ao lado da
investiga9ao do envolvimento no telejomal, foi decisiva para a elabora9ao do teste de
compreensao, dadas as dificuldades de se observar os fatores intervenientes na
constru9ao de sentido peIo telespectador diante de urn evento discursivo de tamanha
complexidade.
Como era de se esperar, foi constatado haver urna certa preferencia dos telespectadores
por determinados telejomais e, tambem, uma certa rejei9ao a alguns momentos do
noticiarios, quer pelo tema da noticia, quer pela sua composi9ao. Por exemplo, a
maioria dos informantes com Ensino Fundamental (completo ou nao) - Grupos 3 e 4 declararam nao gostar do momento em que
0
locutor fala sem que haja urna imagem
(noticias em LV): aproximadamente 80% dos sujeitos. Sobre 0 Grupo 2, urn exemplo
significativo foi a rejei9ao a temas de violencia, por alguns informantes com idade
superior a 55 anos, aparentemente representando urn comportamento social comum a
essa faixa etaria para aqueles com alto grau de escolaridade. De modo geral, os
informantes dos Grupos 1 e 2 aludiram ao poder de manipula9ao da opiniao publica,
ou pela focaliza<;ao do texto noticioso ou pelo espayo destinado aos fatos.
100
90
80
70
60
60
40
13GRUP01
30
ImGRUP02
20 •
10 •
O·
OGRUP03
ti
ElGRUPO 4
t1)
que tambem assistissem a algum outro notichirio91. Nesse grupo, nenhum participante
demonstrou ter
0
grupo 3, composto por informantes mais jovens (entre 18 e 36 anos),
todos com baixissimo grau de escolaridade (Ensino Fundamental incompleto).
Como os hOI:irios de exibi9ao nao coincidem rigorosamente, foi compreensivel
0
fato
de alguns informantes preferirem mais de urn telejomal do mesmo turno. E foi assim
que de fato se deu.
Os motivos apresentados
Telejomal
(em resposta
como justificativa
a
para a preferencia
por tal ou qual
questao de nu.mero 4, sobre a preferencia
por alguma
emissora), apresenta urna semelhan9a por grupo que, em certa medida, reve1a urna
interpreta9ao diferenciada do questiomirio servindo
a identifica9ao
das comunidades de
leitores de que nos fala Cavallo & Chartier (1998). Viu-se que urn grupo significativo
dos grupos 3 e 4 referiram-se
a programa9ao
de modo geral, incluindo
0
telejomal entre
suas preferencias, fato que nao ocorreu com os grupos 1 e 2 (informantes com Nive1
Superior completo). Nestes grupos de "mais letrados", as referencias ao texto noticioso
propriamente dito surgiram com justificativas do tipo:
informa9ao
e melhor";
referencias
a
"e mais
objetivo";
"pela qualidade do material jomalistico".
"0
estilo de
Hi, ainda, algumas
leitura, quando alguns afirmaram preferir determinado
noticiario por
acharem os "locutores melhores".
Sobre a compreensao do telejomal, os grupos 1 e 2 foram umlnimes em dizer que nao
sentem nenhurn tipo de dificuldade de entendimento.
0 resultado obtido com os
grupos 3 e 4, por sua vez, aponta para a dificuldade em acompanhar a leitura sem
imagem (em LV), conforme declararam.
100
80
60
ElGrupo 1
Ell Grupo 2
o Grupo3
E1Grupo4
40
20
0
i
(,)0
as
Sc
w
0
I\'CI
(,)0
c.>
0
0
g
i2
as
as
0-
+:i
E
en
grupos 1 e 2, apenas distingue estes grupos daqueles com baixo grau de letramento pe1a
demonstrayao da falta de competencia lexical nesse dominio92 dos grupos 3 e 4. Em
no capitulo sobre inte:rjeiyoes (cf. Cunha, 1982; Cegalla, 1985; entre outras)93. Este fato
E importante mencionar 0 fato de que os informantes dos grupos 3 e 4 pediram ao documentador para
elucidar a questao e tambem para explicar 0 significado dos termos entoayao, dicyao e ritmo da fala.
92
Bonner, da Globo, como urn "modelo" de apresentador94.
94 Castro (1998), em livro intitulado "A Imprensa e 0 Caos na Ortografia", dispensa varias paginas a
rasgados elogios a esse locutor. Os radialistas que colaboraram para este trabalho tambem mencionaram
enfaticamente a competencia do reporter como locutor.
o
passo seguinte, foi a decisao por urn teste preliminar de compreensao. Para isso,
foram selecionadas 5 noticias, submetidas
a compreensao
de 8 informantes ( dois casais
do grupo 1 e dois do gropo 3). Estes casais tinham todos entre 30 e 45 anos.
A selec;ao das 5 noticias observou os seguintes criterios relativos
1. 1 noticia em LV ("Alerta
a populac;ao
2. 1 noticia em LOFF("Frangogate",
a composic;ao:
contra ped6filos", reutilizada no teste final);
tambem presente no teste final);
3. 1 noticia com os tres tipos de participac;ao do locutor, LV, LOFF, Reporter
("Chicao Brigido: Deputado acusado de alugar mandato", exemplo 3, p.91);
4. 1 noticia do tipo nota coberta, LV + LOFF ("Vitor Buaiz dixa
0
PT" mais urna
noticia reutilizada); e
5. 1 noticia em situac;ao de reportagem
envolvimento com
0
texto e com
0
em que
0
apresentador
demonstrasse
telespectador bastante acentuados ("T entativa de
estupro", exemplo 4, p.94).
(em video), ap6s
0
que lhes foi indagado acerca de seu conteudo. Neste momento,
enquanto falavam sobre
0
que viram, suas respostas iam sendo gravadas em fita K7.
Em seguida a cada resume da noticia, perguntava-lhes sobre alguma palavra-chave ou
expressao primordial para a compreensao do texto.
Os resultados obtidos nesse teste revelaram uma queda de rendimento em ambos os
grupos na noticia em LOPP, na nota coberta (LV + LOPF) e na noticia em LV. E mais,
revelou que a imagem nao garantiu uma melhor compreensao.
Do ponto de vista de resultados especificos,
essa fase piloto nao trouxe grandes
contribui90es. No entanto, serviu objetivamente para orientar na linha do que seria mais
interessante observar, influindo sobre as seguintes decisoes:
y controlar a entoacao: com a manipulac;iio da leitura, buscando-se produzir
uma leitura padrao mais envolvente - leitura natural (LN) - para
0
teste de
compreensao;
y formacao de 2 gropos de informantes em funcao do nivel de escolaridade:
resultado do teste pilote confirmou a necessidade
0
de manuten9ao dessa
variavel;
y cruzamento dos dados: os informantes nao podem assistir as noticias mais
de uma vez, fazendo-se necessario
0
cruzamento de dados para a analise dos
testes de compreensao. Esta preocupa9ao influiu diretamente no modo de
aplica9ao dos testes, compreendendo este cruzamento a presen9a de noticias
nao manipuladas para todos os informantes.
Para controlar a entoa9ao, convidamos dois radialistas para serem informantes desta
pesquisa, ao mesmo tempo em que colaboraram para a constru9ao do material de testes.
A manipulac;iio da leitura de algumas noticias visou a isolar aspectos pros6dicos para a
observa9ao da influencia das estrategias de oralidade na LVA dos locutores no processo
de compreensao
dos informantes com diferentes nlveis de escolaridade.
Com esse
procedimento, a pesquisa passou a lidar com duas variaveis distintas, urna independente
e a outra dependente. A variavel independente e
com todo
0
seu formato,
0
0
texto noticioso, propriamente dito,
qual, sem dlivida alguma, mantem estreitas rela95es com a
tematica abordada. Como variavel dependente, tem-se a pros6dia, por haver urna
modifica9ao intencional da LVA. E a essa modifica9ao que aqui denominamos leitura
manipulada,
realizada com a colabora9ao de Antonio Carlos Xavier e Gabriela
Kopinitz.
A analise da pros6dia incidiu sobre as noticias manipulados com vistas
a identifica<;ao
das estrategias de oralidade conscientemente atribuidas aos textos pelos informantes
radialistas. Eles tinham
0
objetivo de imprimir maior naturalidade
a LVA. Fizemos urn
recorte desse material para montannos os testes de compreensao a que foram
submetidos dois grupos de informantes.
Antes de apresentarmos
0
processo de constru<;aodo material de teste, passemos a
algumas considera<;5es te6ricas a respeito das formas possiveis de se testar a
compreensao pertinentes a este trabalho.
E necessario
estar atento ao alerta feito por Clark (1977), quando demonstrou haver
divergencias surpreendentes
a pergunta sobre "0 que e a compreensao da linguagem".
Segundo 0 autor, e preciso nao partir de "idealizac;oes que transformam a concepc;fio
de compreensfio
em uma pre-concepC;fio, a qual bloqueia
° progresso
cientifico"
(Clark, 1977:568). Conhecer de quais recursos de constru<;ao textual
0
telejomalismo se
utiliza para auxiliar a legibilidade da noticia demonstra uma concep<;ao empirica de
compreensao para a qual todos os aspectos nao emicos do texto sac importantes.
Dada a natureza do texto selecionado -
0
telejornal-
nao se pode desprezar
0
fato de
que a objetividade e a inten<;ao primordial revelada pelos redatores. Este aspecto sugere
que a compreensao
exigini mais trabalho da mem6ria diante da pr6pria forma de
estrutura<;ao das proposi<;oes, tornando ainda mais relevante a participa<;ao da pros6dia
pelo afeito no texto causado com as estrategias de oralidade do leitor. A pros6dia, como
fator coesivo do texto, auxilia
0
estabelecimento do nexo entre as unidades de sentido.
Para decidir acerca do teste adequado para este trabalho, partiu-se da observa<;ao do que
propos Marcuschi (1989:19) ao reunir em tres grandes gropos os tipos de teste de
compreensao: (a) reprodu<;ao do texto original; (b) resposta a algum tipo de pergunta; e
(preenchimento de lacuna. Segundo este autor, os testes do gropo (a) esperam que
informante
reproduza
integral ou parcialmente
0
conteudo
apresentado
0
no texto
selecionado para a pesquisa. Esta reprodu<;ao pode ser feita oralmente, por escrito ou
em pausas protocoladas. Os testes do gropo (b) preveem perguntas voltadas para
0
interesse do pesquisador que, mais uma vez, podeni ter as respostas ou por escrito, ou
oralmente. 0 terceiro gropo de testes. 0 gropo (c), contem uma gama de possibilidades
de preenchimento
estrangeira:
0
de lacunas, em grande parte encontradas nos exercicios de lingua
teste CLOZE, por exemplo. Alem disso, aponta tambem
de levantamento protocolado, em que se Ie
e proje<;ao de sentido.
0
0
teste do tipo
texto aos poucos, com reprodu<;ao parcial
Em sua pesquisa, Marcuschi (1989) descobriu que a leitura pessoal nas series mais
baixas apresentou urn baixo rendimento, justificado pelo fato dos alunos daquelas series
nao estarem habituados a lerem sozinhos. 0 rendimento desses mesmos alunos foi mais
satisfatorio quando a leitura foi realizada em voz alta pelo pesquisador para
Este resultado
destacou
individual para treinar
0
a necessidade
de mais atividades
0
aluno.
de leitura silenciosa
aIuno a compreender urn texto a partir de sua propria leitura ja
naquele myel de escolaridade. Para tanto, Marcuschi sugere como atividade a leitura
em voz baixa individualmente, seguida de retextualiza<;ao oral: LV A. 0 autor observa,
tambem, que a situa<;ao se inverte para os adultos acostumados a ler muito, bem como
destaca que algumas pessoas nao conseguem manter a aten<;ao quando ouvem urn texto
lido por alguem.
Ao conhecermos os resultados de sua pesquisa, pensamos que se os alunos SaG mais
receptivos a textos lidos por outros,
0
mesmo deve se dar com os individuos de forma
geral, especialmente quando os textos lidos em voz alta SaGveiculados pela midia, a
qual se mune de recursos facilitadores
(ou nao?) da compreensao. E mais, esses
mesmos individuos estao mais habituados aos textos da midia (impressa ou televisiva)
do que aqueles veiculados no ambiente da eduCal;ao formal.
Voltando aos objetivos desta pesqUlsa, que procura conceber
0
texto como urna
proposta de sentido passivel de ser influenciada pela leitura do locutor, os testes de
compreensao utilizados limitaram-se a dois tipos basicos pertencentes ao primeiro e
segundo grupos apresentados acima (cf Marcuschi, 1989). Sao eles:
Noticia
E !tamar Franco quebra protocolo
D Alerta it popular;:ao contra ped6:filos
I Vitor Buaiz deixa 0 PT
<; Repressao it roubo de carga
A Crise na prefeitura de Sao Paulo
0 Petroleiros impedem lanc;amento de Plataforma
Sem-terra invadem sede do Ministerio Reforma Agraria
1 Frangogate - escandalo em Sao Paulo
E Hamar Franco quebra protocolo
D Alerta it populac;ao contra ped6filos
I Vitor Buaiz deixa 0 PT
<; Repressao a roubo de carga
A Crise na prefeitura de Sao Paulo
0 Petroleiros impedem lanc;amento de Plataforma
Sem-terra invadem sede do Ministerio Reforma Agraria
2 Frangogate - esdlndalo em Sao Paulo
E Hamar Franco quebra protocolo
D Alerta it populacao contra ped6filos
Apresentador
Carlos Chagas
Hermano Henning
Carlos Nascimento
Hermano Henning
Milton Jung + Teresa de Barros
Marcia Peltier
Lilian Witte Fibe
Teresa de Barros
Carlos Chagas
Antonio Carlos - LN
Carlos Nascimento
Antonio Carlos - LP
Milton Jung + Teresa de Barros
Marcia Peltier
Gabriela Kopinitz - LN
Gabriela Kopinitz - LN
Carlos Chagas
Antonio Carlos - LP
Rede
Manchete
SBT
Globo
SBT
Cultura
Manchete
Globo
Cultura
Manchete
SBT
Globo
SBT
Cultura
Manchete
Globo
Cultura
Manchete
SBT
Vitor Buaiz deixa 0 PT
<; Repressao a roubo de carga
A Crise na prefeitura de Sao Paulo
0 Petroleiros impedem lanyamento de Plataforma
Sem-terra invadem sede do Ministerio Reforma Agniria
3 Frangogate - escandalo em Sao Paulo
I
Carlos Nascimento
Antonio Carlos - LN
Milton Jung + Anto Carlos
Gabriela Kopinitz - LP
Gabriela Kopinitz - LP
Gabriela Kopinitz - LP
Globo
SBT
Cultura
Manchete
Globo
Cultura
94
escolaridade. Assim, temos os seguintes grupos de informantes
:
0 equilibrio entre 0 numero de informantes por sexo teve por objetivo observar se ha diferenya de
compreensao entre homens e mulheres.
94
e nao compareceram em minha residencia: local combinado para
decidi ir
a casa das pessoas,
com gravador e fita de video
0
teste. Foi, entao, que
a mao. Desse
modo,
0
Grupo
1 foi formado.
o
teste de compreensao
da fase piloto foi menos problematico,
porque os quatro
informantes sao meus irmaos (um irmao e uma irma) e seus respectivos conjuges.
Com
0
Grupo 2, a dificuldade foi a mesma. Dos 12 informantes que compoem esse
grupo, 4 sao empregadas domestic as tambem do meu predio, urna outra trabalha para
minha cunhada e a ultima integrante feminina do grupo trabalha como auxiliar em urn
salao de beleza. Os 6 informantes do sexo masculino sao todos funcionarios de uma
firma de pintura automotiva,
"Auto ShOW,,95. Exceto esses ultimos,
que foram
submetidos ao teste no local do trabalho, as demais integrantes do grupo vieram
a
minha residencia, onde foram testadas.
Durante a aplicayao do teste de compreensao da noticia 6, houve a necessidade de
convidar mais alguns infonnantes, conforme relatamos no capitulo 5. Em nu.mero de
tres, a nova componente do Grupo 1, uma advogada de 33 anos, ja havia participado do
teste da fase piloto. Para
0
Grupo 2, dois porteiros do nosso predio, N40 e C28,
concordaram em colaborar mais uma vez com a nossa pesquisa, submetendo-se ao teste
complementar da noticia 6.
Ap6s a aplicayao dos testes de compreensao, constituido das ediyoes acima descritas, os
informantes
responderam
0
questionario
escrito(anexo
3, p. 293.), que visou a
rela90es entre
0
grau de compreensao e
0
grau de letramento de cada individuo. Este foi
preenchido pelo proprio informante ou com
esse questiomirio sobre
0
0
perfil dos telespectadores,
Gru 01
Edi~ao1
Edi~ao2
Edi~ao3
Numero
Total
nosso auxilio, quando solicitado. Com
2 a F41
R37
2 ~ K36 2 ~
535
1 a J43 2a
M26
MI23
Z35
F35
G134
1~ Ca34 2 ~ N28
N 39
1 a A29 2a Gv34
G28
1 ~ Fa29 2~ Mv2
Eu45
8
objetivamos perceber em qual
Informantes
4 a
8
4~
6
3 a
3¥
6
3 a
3~
12
Tabelall
98
Situada it Avenida Recife, 1588.
l(b) ate
99Antes
0
termino da 2(b). A coleta desse materia199 compoe os dados analisados no
de iniciar 0 teste, 0 informante, sentado ao sofa, foi avisado de que alguns locutores nllo eram
conhecidos da televisao. Disse-lhes, tambem, que 0 meu objetivo era estudar 0 telejornal e que a
participa~ao de cada um nao estava em julgamento sob nenhum aspecto. No estudo, cada um estava no
papel de telespectador mesmo, e que a televisao "precisava me1horar", para 0 que e1es estariam
contribuindo. Pretendendo deixa-los mais it vontade diante do gravador, ainda assim tive que "inventar"
que 0 havia desligado, com alguns informantes do gropo 1 e com uma mulher do gropo 2.
Interacional
do Tom de Brazil (1985) para a identificac;ao dos tons, mas sua
segmentac;ao em unidades tonais (TU) nao foi tomada como base de amilise, embora
realizada. A segmentac;ao em blocos de unidades tonais, revelada pela leitura, foi a
unidade preferida, por revelar
0
contomo entoacional (Gumperz, 1982) necessario para
a analise do comportamento
pros6dico nos eixos vertical e horizontal da pros6dia
(Bennett, 1981), incluindo-se a observac;ao das enfases. Alem disso, esta observac;ao se
da tambem no plano do conteudo, pois as unidades entoacionais sempre constituem
unidades sintaticas e semanticas, como se fossem unidades proposicionais.
Qutro aspecto relevante para a investigac;ao da construc;ao de sentidos e a distinc;ao dos
mveis de analise, sobre os quais foram focalizadas as estrategias de oralidade, quais
sejam:
1.
11.
111.
nivel segmental (caracterizando a fluencia sintatica);
myel interacional (observando
0
envolvimento); e
myel suprassegmental (caracterizando a organizac;ao estrutural e a orientac;ao
do senti do).
o Laborat6rio
de Fonetica do Programa de P6s-Graduac;ao em Letras da UFPE serviu
explicitac;ao do comportamento
a
pros6dico de pontos criticos nos dados. As noticias
selecionadas para a analise pros6dica, apresentada no capitulo 4, foram submetidas ao
programa computacional
"Multi-Speech",
instrumento fundamental para delimitac;ao
dos blocos de unidades de leitura (UL), com a identifica<;ao precisa das pausas e da
curva entoacional, e pelo estabelecimento
dos correlatos fisicos do acento (durac;ao,
intensidade
imprescindivel
e freqiiencia
fundamental),
para a identificac;ao das
acentual regular durante a LVA97.
Os dados desta etapa do trabalho nao constam na apresenta~ao dos resultados, pelas raz5es expostas no
capitulo de fundamentac;ao te6rica.
97
~itulo
4: A Pros6dia e a Construcao
de Sentido no Telejornal
No capitulo dois, as observayoes sistematicas sobre
0
envolvimento/distanciamento
salientaram a presenya dos recursos prosodicos sobre a LVA, alargando as fronteiras
desse subsistema da lingua para aMm dos limites do jogo interacional, emergindo
a
superficie do texto. Aquele capitulo mostrou, ainda, a presenya de estrategias de
oralidade na expressividade das chamadas e da noticia especificamente. Essa primeira
focalizayao permitiu a identifica9ao dos aspectos constitutivos do texto telejomalistico
e de suas estrategias organizacionais com propositos comunicativos bem determinados
(pp. 99 e 100). Tal identifica9ao serviu
a
revela9ao de que para analisarmos a
participa9ao da prosodia na constru9ao de sentido da noticia, deveriamos verificar a
presen9a de recursos recorrentes na LVA contributivos do conteudo da informa9ao, e
nao apenas da forma de estrutura9ao da noticia.
Ao considerarmos os suprassegmentos entre as estrategias de textualiza9ao com a LVA,
verificamos urn comportamento prosodico parcialmente regular para tres tipos de
composi9ao das noticias: LV, LV + LOFF e LOFF. A coesao prosodica eo contomo
entoacional nessas composi90es asseguram a unidade textual, diferentemente das
materias complexas (que apresentam as quatro formas: LV, LOFF, Reporter e os
depoimentos), para as quais a composi9ao fragmentada desfaz a unidade na dimensao
sonora Dentre aquelas, as noticias em LV destacam-se pela tendencia a nao
apresentarem marcas explicitas de envolvimento. Este distanciamento do telespectador
em certa medida
e
determinado pelo tema abordado na noticia, ou ainda pela
focaliza9ao do fato noticioso. A formula9ao do texto escrito impoe urna atitude de
leitura, 0 que cerceia a liberdade do locutor.
Assim,
0
produtor imprime expressividade
ao texto limitando-se
as estrategias de
formulac;ao em sentido estrito, exigindo do locutor maior atenc;ao para realc;ar as pistas
orientadoras do sentido pretendido, e, entao, envolver
0
telespectador.
A voz presente no texto retextualizado com a LVA define unidades de leitura, que
mantem estreitas relac;oes com
0
conteudo proposicional da noticia. Este
e distribuido
de forma ordenada consoante a organizac;ao dos dados informativos do fato noticioso,
0
que fica evidente quando identificamos as unidades com a observac;ao da pros6dia na
dimensao horizontal do discurso.
as resultados
da analise da pros6dia
compreensao, nos permite apresentar
0
sobre a LVA das 3 edic;oes do teste de
que se segue:
a caracterizac;ao das unidades de leitura, pela aplicac;ao do modelo te6rico
da fonologia pragmatic a definida neste trabalho;
a identificac;ao do comportamento
pros6dico regular na LV A, no plano
sintatico;
A identificac;ao do comportamento
das noticias, caracterizando
0
pros6dico adequado as especificidades
plano discursivo; e
Uma avali8.9ao da participac;ao da pros6dia na construc;ao de sentido.
4.1 Coesao pros6dica e contorno entoacional: as unidades de leitura
Ao acessar
0
dominio do sistema lingiiistico, para acionar as estrategias responsaveis
pela seleyao e organizayao do material na superficie do texto a fim de produzir uma
leitura expressiva,
0
leitor e orientado em suas ayoes pelos outros dois dominios do
processamento textual:
0
proposicional do texto~ e
dominio
0
de conhecimento,
desenhado pelo conteudo
dominio das atividades verba is, refletidas nas marcas
interativo-organizacionais da noticia e em sua composiyao. A expressividade na LVA
de cada noticia e, assim, 0 resultado da interayao leitor/texto.
Em nossa analise, a focaliza9ao da voz no processo de retextualizayao pelo locutor
evidenciou haver uma segmentayao do texto em grupos tonais tipicos por constituirem
blocos de informacao. Estes coincidem com uma distribui9ao do fato noticioso em
segmentos textuais, os quais demonstram prop6sitos comunicativos bem definidos. No
eixo horizontal da pros6dia,
0
contomo entoacional em cada bloco de informayao
permitiu a identificayao de unidades de leitura. Essas unidades de leitura assemelhamse a pequenas estrofes musicais, compondo blocos de leitura. Esses blocos que
caracterizam os movimentos de leitura, ou lances, dao-se por estrategias de oralidade
responsaveis por realyar conteudos especificos centrais para a ativayao de referentes
proposicionais pelo telespectador, bem como revelar uma obediencia as regras
regulativas da atividade de LVA.
Ao responder as imposi90es morfossintaticas do texto, a
voz
apresenta padroes
pros6dicos regulares comuns a nossa lingua, os quais caracterizam as regras regulativas
proposicional do texto98.
Em parte, Mareuschi (1992) refere-se a esse fen6meno como "coesao ritmica" quando identifica
naturezas distintas para a repeti~ao na fala.
98
L'
lJf1111
!tamar quebra protocolo - LV
Texto
Observa.;oes
(I)Carlos Chagas: 11r+ eo EX II p presidente II r !tamar Franco .. .11
11r+ assumiu IIr+ hQie Ilr em Washington ...
(2)
Ilr SUas fun<;6esllp de RE presentante//r do Brasil ...11
(3)
11r+ na Organiza~/p
dos esTAdos americanos ...11.••..
(4)
Orienta~ao do relato
1a a~ao de Itamar
(5)
(6)
(7)
(8)
(9)
(10)
(11)
(12)
(13)
(14)
Ilr mas ...11
Ilr aBAgun<;OUllp tudo ...11
11r+ quebrou II
110 com~tamentel Ip 0 protocolo ...11.••..
Ilr+ que 0 costume ...11
Ilr+ ill na oeA ...11
Ilr e de que 0 novo embaixador ...11
seja recemdo ...11
Ilr
Ilr por TOdos os seus coLEgas ...11
lip no gabinete do Secretano Geral .. .11.••..
(15)
(16)
(17)
lip FAzemllr pe~nos
discursos ...11
11r+ ~ depois ...11
lip ha uma ~~a de chamllli@e ...11.••..
(18)
/lr+ pois !tamarll
IIr+chegou dizendo II
(19)
Avalia~ao
Fato noticioso: quebra de
protocolo - 2a a~ao
Relato do protocolo:
(a) Contexto( orienta~ao )
(b) A~5es do protocolo
(c)complica~ao
(21)
(22)
(23)
(24)
lip REjeitou .. .11
Ilr a chamllillille ...11
Ilr e na hora do discursoll r+ ficou ...11
lip SQ!!!-ple-ta-mente !!!!!do ...11..••.
(25)
(26)
(27)
(28)
(29)
(30)
(31)
Ilr aos jornalistas ...11
Ilr no FIM da cerim6nia ...11
lip ele Qisse .. .11...••
110 "naollo tenholl roque falar .. ./1
110 e nao tenholl
lip QQrta-voz" .. II ...••
(32)
(33)
11r+ Itamar continua .. .11
IIp Itamar II ...••
(e)coda
Exemplo (32)
ilocut6ria por nao estar reah;ada com proeminencias e, aMm disso, por se dar com
urna curva entoacional descendente, 0 que, ao acontecer em seguida a proeminencia
sobreposta
a
mudan9a de ritmo (silaba9ao) na unidade de leitura anterior (em
"Abagun<;OU', linha 6), diminui a for9a ilocut6ria da ultima unidade ("quebrou
completamente
0
protocolo", linhas 7 e 8), transformando-a num marcador de
fronteira daquele bloco de leitura, cuja fun9ao e primordialmente organizacional;
'" Das linhas 9 a 17
0
texto apresenta urn relato do "protocolo", cuja fun9ao
contextualizadora pretende servir de ancoragem
a
explica9ao do fato noticioso:
como Itamar quebrara 0 protocolo. Divididas em dois blocos de unidades de leitura,
da linha 9
a
14 a elocu9ao apresenta urna se9ao de orienta9ao capaz de criar
0
contexto interativo de descontra9ao para apresentar a situa9ao do fato noticioso, que
e enunciado da linha 15 a 17. Poucas san as proeminencias nesses dois trechos.
Prevalecendo os tons ascendentes,
0
tom descendente acrescido de proeminencia
sobre 0 item lip FAzemJl (linha 15) e sobre a ultima unidade desse bloco (em lip ha
urna ta9a de champagne") garante a fowa ilocut6ria daquele elemento garantido
pelo contomo entoacional informativo nesse bloco, necessario
a
recupera9ao da
informa9ao que vem no bloco seguinte;
'" Da linha 18 a 20 e apresentada a complica9ao. Nesse bloco informativo (linhas 15,
16 e 17), a informa9ao principal encontra-se na ultima UL, a qual e real9ada pelo
locutor que faz urna proeminencia no eixo horizontal
(EH) aurnentando a
focaliza9ao sobre 0 elemento central a inform~ao: cafezinho;
'" Da linha 21
a 24, 0 locutor faz a leitura lan9ando mao (voz!!) das estrategias de
oralidade de forma a criar urn contexto interativo propicio
a
reten9ao do dado
informativo: tons descendentes para as informa90es principais ("rejeitou", linha 21,
e "completamente mudo", linha 24); proeminencia no EH na palavra central para
fato noticioso ("REjeitou", linha 21); destaque para
0
0
ponto critico da informayao
com a mudanya de ritmo na palavra "completamente" (linha 24) e mudanya de mvel
(decrescendo) em toda essa unidade, destacando-a das demais;
~ A unidade de leitura seguinte, que sozinha constitui urn movimento de leitura (linha
25), serve para aurnentar a forya ilocut6ria pretendida pelo texto. A ausencia de
proeminencias sobre essa unidade nao desfaz sua intenyao comunicativa, porque
conteUdo e funyao textual (reformulayao hetero-condicionada)
de envolvimento
com
0
telespectador
0
constitui urna marca
a qual pode prescindir de um reforyo
pros6dico afora as pausas, que antecede e sucede essa unidade;
.,
Os dois blocos finais da leitura separam
0
relato da terceira ayao no fato noticioso
(linhas 26 a 31), !tamar recusa-se a falar, de urn trecho a que podemos chamar de
coda (linhas 32 e 33) pela natureza apendicular e avaliativa dos elementos ali
encontrados.
Podemos dizer que nessa primeira noticia
0
contomo entoacional na LV A do locutor
Carlos Chagas busca criar urn contexto interativo de proximidade
linha 20 em diante) com
0
(especialmente da
telespectador determinado pela segmentayao em pequenas
unidades de leitura seguidas por pausas. A voz, sem grandes inflex5es, aproxima-se da
naturalidade na fala de urn usuario que, ao contar sobre um "epis6dio", nao procura
superdimensiomi-Io influindo sobre a avaliayao do fato pelo interlocutor.
Complementar it voz estao os recursos cinesicos, ou a mimica como
0
quer Matloso
Camara Jr (1977). Verificamos haver urn leve movimento de cabeya ou perceptivel
Ped6filos - LV
Texto
(1) H. Henning: Ilr as autoridades briTANicasJ/
lip VaG lanl;ar urn ficHAriol1
(2)
(3)
lip com 0 nome dos peDOfilosl1
Ilr que esTAO em liberdade condicioNALl1
(4)
(5)
J/p ou que foram SOLtoslI
lip depois de cumprirem PEna .. ./1 .••.
(6)
(7)
(8)
(9)
(10)
(11)
(16)
IIp+ peDOfilosl1
lip para quem nao SAbe11
Ilr+ silo as peSSOas que teml/p+ uma obseSSAO sexual par criAN~as// .•.
Ilr+ 0 objeTIvo II
Ilr e alerTAR a popula<;AO II
lip sabre a preSEN9a de uma pesSOa .. ./1
Observa~oes
Fato noticioso
Envolvimento com
telespectador
0
Relevancia do fato noticiosa
(16)
(16)
Ilr morador da vizinHANc;a/l
lip que pode ser periGO sa/I 'r
(16)
(16)
Ilr+ 0 fichario tern .. .11
IIp+ Nove mil Nomesll
Fim do fato noticioso
Evento objetivo
'r
centrais da informayao: "briTA.Nicas" (linha 1); "fiCHArio" (linha 2); "peD6filos"
regularidade na disposic;ao das proerninencias cria urn contexto interativo de tensao
para
0
ouvinte;
'Y 0 bloco seguinte (linhas 7,8 e 9) desfaz
contorno entoacional
0
contexto interativo inicial criado com
na voz do locutor. Textualrnente
rnornento tipico de envolvimento com
0
caracteriza-se
telespectador. Com
0
0
por urn
objetivo de facilitar a
cornpreensao de seu interlocutor e atender ao prop6sito cornunicativo do texto,
locutor deve rnodificar sua elocuc;ao naquele ponto, e assirn ele
0
0
faz. Nesse trecho,
as unidades de leitura tem extensoes diferentes urnas das outras, ocorrern em urn
myel rnais baixo do que no bloeo anterior, e a coesao pros6dica intensificada na
ultima unidade de leitura aurnenta a focalizac;ao sobre esses dados, identificando urn
contexto interativo de proximidade. Nao ha, no entanto, a me sma intensidade na
proje<;ao de voz sobre as proerninencias desse bloco.
'Y Da linha 10 it linha 16, cornpondo rnais dois blocos de unidades de leitura,
retorna
0
locutor
contorno entoacional do primeiro rnovirnento de leitura e, ao faze-Io, da
continuidade
it apresentac;ao do fato noticioso. Este comportamento
assegura a coesao desse bloco com
0
prirneiro, urna vez que retoma
"fichario" apresentado it linha 2, que esta irnplicito it linha 10:
fichario)
0
e alertar
0
pros6dico
0
referente
objetivo (do
a populac;ao. 0 contorno entoacional na voz do locutor, recriando
o contexto interativo de tensao, pretende preencher a lacuna na superficie textual,
que pode ser gerada com
0
trecho de envolvimento com
e 9). Nesse penultimo lance da leitura, mais urna vez
itens fundarnentais
0
0
te1espectador (linhas 7, 8
locutor faz proerninentes
it construc;ao de sentido: "objeTlvo"
(linha 10); "alerTAR
...populaCAO" (linha 11); "preSENc;a ...peSSOa" (linha 12); "viziNHAN<;a" (linha
13); e "periGOsa" (linha 14). Ha, no entanto, urna pausa na terceira unidade de
leitura (lIp sobre a preSENCiade urna peSSOa ...II, linha 12)ap6s 0 que a elocuc;ao
retoma a expressividade do bloco anterior (linhas 7, 8 e 9), envolvendo
0
telespectador;
?- As duas ultimas unidades de leitura (no quarto e ultimo bloco) acompanham
0
contomo entoacional do bloco precedente, s6 que nesse trecho a mudanc;a de
camera auxilia a expressividade da elocuc;ao,a qual optou pelo envolvimento com 0
telespectador durante a textualizac;ao:a segrnentac;aodo trecho em duas unidades de
leitura garantem sua forc;a ilocut6ria reforc;ada com as proeminencias no eixo
vertical seguida de pausa na linha 15, e ampliada com as proeminencias no eixo
horizontal na ultima unidade de leitura(linha 16).
Podemos conduir dizendo que essa segunda noticia apresenta urna leitura padrao do
tipo nao-natural (LP) no primeiro bloco de unidades de leitura, mas que vai se
modificando, aproximando-se do tipo natural de leitura padrao (LN), motivada pela
formulac;aotextual.
Uma idiossincrasia observada na locuc;ao do Hermano Henning refere-se as
proeminencias no eixo horizontal. Elas ocorrem com uma breve expansao da silaba
proeminente, como urn alongamento. Semelhante comportamento foi tambem
encontrado na LVA de Grac;aAraujo, locutora da edic;aolocal (Recife) do Jomal do
SBT, "TV Jomal Meio-Dia". Como dissemos anteriormente a respeito da mimica,
tambem com
0
Hermano Henning
0
movimento de cabec;a e piscar de olhos ou leve
movimento de maos coincidem com essas proeminencias.
Vitor Buaiz deixa
0
PT - LV + LOFF
Total de palavras: 83
Tempo de leitura
Texto
Observacoes
JJ r+ 0 governador JJ
JJ r+ do Espirito Santo JJ
JJ r Vitor BuAIZ JJ
JJp deixa 0 partido dos trabalhaDOresJJ
(Ol2Nascimento(LV):
(02)
(03)
(04)
(05)Nascimento(LOFF):J 10 o governadorll
(06)
Ilr DISse que saID II
(07)
110 porque 0 partidollp+ que MAIS FAZII
(08)
IJr oposi~ao a ~ell
IJr no Espirito Santo ... II
(09)
0 pt ••.!1 T
(10)
IIp+ e JUStaMENteJlp
(11)
(12)
(13)
(14)
Ilr
0
presidente naciona1 do parTIdo II
Ilr 0 depumdo Jose DirCEU ...11
Ilr consideROU a saida do governaDOR II
IIp+ uma DE-RRo-tall
T
(15)
(16)
(17)
(18)
(19)
Ilr segyndo ~le ...11
11r+ 0 Nive111p de Luta interna II
J/r que existe hQie no lTI .. .11
11r+ coloca em riscol I
lip a sobrevivencia do parTIdo ...l1
(20)Nascimento(L V)
(21)
(22)
11r+ o PTII
11r+ passa a ter arumaslI
IIp+ UM governador ...11
(23)
(24)
110 Crist6vao Bum:quell
lip do Distrito Federal/ I
T
T
T
Imagem
Fato noticioso
Evento objetivo
Locutor
Voz dooutro
Evento subjetivo
Motivo da "saida"
Imagemdo
governador
sentado diante de
urn birD em
entrevista co1etiva
voz do outro
evento subjetivo
conseqiiencia da
saida
Imagemdo
Deputado Jose
Dirceu
T
depoimento
reportado
evento subjetivo
confrrma 0
motivo da saida
dado informativo
do fato noticioso
evento objetivo
Locutor
sendo
0
primeiro e
OS
dois finais realizados em locuc;3.o ao vivo.
E justamente
na
(1) 0 governador do Esp:irito Santo, Vitor Buaiz, deixa 0 Partido dos Trabalhadores ...••
(2) 0 govemador disse que saiu porque 0 partido que mais faz oposiyao a ele, no Esp:irito
Santo, e justamente 0 PT. ..••
(3) 0 Presidente Nacional do Partido, 0 Deputado Jose Dirceu, considerou a saida do
govemador uma derrota. ..••
(4) Segundo ele, 0 nlvel de luta intema que existe hoje no PT coloca em risco a sobrevivencia
do partido ...••
(5) 0 PT passa a ter apenas urn govemador:....
(6) Crist6vao Buarque, do Distrito Federal ...••
deseendeneia entre
0
bloeo 5 eo 6, eonstituindo dois movimentos de leitura, e tambem
o eomportamento pros6dieo regular para aquela estrutura de ora~ao. Sao sintatieas as
pausas eneontradas nas unidades de leitura a linha 9, 12 15, 19 e 22. Essa ultima
eorresponde ao signo grafieo : (dois pontos) naquela posi~ao, enfatizado com
0
tom
deseendente.
No entanto, a regularidade no nivel tonal nas unidades de leitura, espeeialmente no
final de eada bloeo, eria urn eontexto interativo de tensao que aurnenta a for~a
ilocut6ria do fato noticioso, em uma notieia que, contrariamente as expeetativas para
esse tipo de eontorno entoaeional usado para admoestar, anuneiar fatalidades, trata de
urn conflito interno no Partido dos Trabalhadores, envolvendo figuras de cujos nomes,
no contexto social da epoea, saDapenas "mais-alguns-nomes" em meio a discordaneia
politica.
o contorno entoacional do Carlos Nascimento
pela fluencia diseursiva e, assim, real~asse
seria mais efi.eaz se ele tivesse optado
0
proemineneias e segmenta~oes, para confirmar
foco central do fato noticioso, com
0
contexto interativo de tensao que
permitiria a inferencia pragmatica relevante sobre a crise no PT. Tal nao se deu. A
dificuldade pode ter sido consequencia da pr6pria formula~ao do texto. Se tivesse
realizado uma LVA do tipo LN, talvez
0
resultado fosse desastroso, transformando a
noticia em "trivialidades da vida de urn politico".
o
locutor poderia ter "driblado" as coer~oes impostas pelo texto sem optar pelo
prosaismo. Deslocando-se sobre 0 eixo vertical da pros6dia, logo no primeiro bloco de
Ilr+ 0 govemadorll
Ilr+ do Espirito Santol I
Ilr Vitor BuAIZ/I
lip deixa 0 Partido dos TrabalhaDOresl I
Ilr+ 0 govemadorll
Ilr do EsPIrito SANtol1
Ilr Vitor BuAIZ .../1
lip DElxal1
lip 0 parTIdo dos TrabalhaDOresl1
Exemplo (35)
bloco de unidades de leitura. Este bloco de unidades, embora reporte a fala de outrem,
central para
com
0
0
e
sentido da noticia e, ao contnlrio dos demais, nao foi sequer destacado
recurso da mudam;a de myel.
Com a noticia 4 temos mais uma composivao do tipo LV + LOFF realizada com a
locuvao do apresentador Hermano Henning. Observe a seguir:
noticioso, linhas 1 a 5; (b) a la a9ao narrativa, linhas 6 a 9; (c) sua resolu9ao, linha 16 it
18; e (d) 2a narrativa, linha 20 e 21. E mais, e clara a diferen9a do contomo entoacional
na abertura da materia, com a locu9ao ao vivo, para a locu9ao em OFF no restante da
LV A, especialmente da linha 6 it linha 21, onde
0
texto se constr6i com
0
discurso
narrativo.
No primeiro trecho (linha 1 it 5) a voz do locutor cria urn contexto interativo de tensao
com
sobre
0
prop6sito de ser ao mesmo tempo informativo e alertar a popula9ao (envolver)
0
problema - roubo de carga - do qual decorre
0
fato noticioso: a cria9ao de urna
delegacia (linha 24)/grupo de trabalho (linha 3), para "reprimir
0
roubo de carga" (linha
4). Esse comportamento pros6dico serve, ainda, it fun9ao organizacional por registrar a
"abertura" da materia, como urn marcador de fronteira. Dai em diante, a forma textual
impoe urna atitude de leitura de maior proximidade (com a narrativa da linha 6 a 18 e
0
relato da linha 19 a 21), caracterizando-se pela menor extensao dos blocos de unidades
de leitura. Estes apresentam,
tambem, urn contomo
entoacional
informativo
pela
recorrencia aos tons descendentes, com a segmenta9ao em blocos de unidades de leitura
de menor extensao.
No eixo vertical da pros6dia,
0
locutor demonstra urn cuidado em real9ar determinados
elementos do texto, observado com as proeminencias que terminam afetando
horizontal (elementos destacados em negrito). No entanto,
0
rela9ao it diversidade de niveis tonais nao permite identificar
0
eixo
seu comportamento com
0
trecho narrativo como
leitura natural, LN. 0 breve alongamento das silabas proeminentes tambem contribui
para este efeito nao-natural. As unidades de leitura a seguir ilustram esse aspecto:
(31)
(32)
11r+mas pelo men::nosllo QQdeII
110agilizar::llp as investiga~5esll ..•.
(06)
Ilr s6 em Sao Pauloll
(07)
11r+foram roubadasll
(08)
110noventa e duasllr mil sacasll
Exemplo (40)
A linha
22,
0
texto retoma a apresentayao do fato noticioso, que se encerra it linha 28. 0
referente devemos inferir para desfazer a incoerencia existente naquele ponto. Sao os
ladroes de carga que agiriam nos estados da regiao" (linha 28) ou
0
grupo de trabalho
(linha 3) lotado na '"delegacia especializada" (linha 23) '"entao" criada (linha23) pelo
'"Conselho de Seguranya do Sudeste" (linha 22) para '"agilizar as investigayoes (linha
33) ? e, ainda,
0
operador argumantativo '"entao" (linha 23) naquele ponto interno da
unidade de senti do nao auxilia a textualizayao com a LVA, do mesmo modo que
0
faria
se viesse na fronteira de abertura do bloco de unidade leitura a que pertence (linhas 22 a
28). Se naquele ponto, a voz auxiliaria no exercicio da triade funcional possivel para os
recursos pros6dicos: marcando a mudanya de t6pico - funyao organizaciona1; definindo
a linha de argumento - funyao informativa; e chamando a aten9ao do telespectador para
o conteudo proposicional seguinte - funyao interacional.
Os eventos subjetivos nos dois ultimos lances de leitura (linhas 29-30 e 31-32)
demonstram urn envolvimento do locutor com a avaliayao do fato noticioso, observado
pela expressividade na LVA
a linha
30 e urn apagamento da forya ilocut6ria das duas
ultimas unidades de leitura, com tendencia ao discurso obliquo pela recorrencia de tons
neutros.
A notfcia 5, de igual
composiyao
a
anterior
(LV + LOFF),
apresenta
comportamento pros6dico de leitura padrao, comum nos telejornais. Observe:
urn
Noticia 5
Crise na prefeitura de Sao Paulo: Demissao de Regis de Oliveira
LV + LOFF
Imagem
(Ol)M.Jung (LV): Ilr a CRIse11
(02)
Ilr na prefeitura de Sao Pauloll
(03) lip ganha tambem contomo poLIticol1
(04)
(05)
(06)
(07)
(08)
Locutor no centro do video
lip 0 Prefeito Ce1so Pitta/I
lip deMItellr 0 Secretano da Educa<;AO//
Ilr+ e conVOca//r RE uniAOII
Ilr para fazer urn LEvan taMENtol1
Ilr das RE aliza<;OESllp do seu goVERnol1 "Y
(09)T. Barros(LOFF): lip !!tual mente...!1
(10) Ilr a CRIse .. .!1
(11) lip poderia ser 0 simbolo da prefeitura .. .!1
(13)
(14)
Imagem de urn caminhao de
lixo em uma rua e os homens
fazendo a coleta
110eo que 0 prefeitollp Ce1so Pitta//r mais faz...11
lip e responder acusayoes ...11 "Y
Imagem do prefeito, de pe em
urn ambiente onde esta rodeado
de rep6rteres que 0
acompanham
(16) lip eIe tirou 0 cargoll r+ de Secreffirio da Educayao .../I
(17) Ilr+ do vice-prefeito//p Regis de Oliveira/I
"Y
(18) Ilr 0 prefeito justifieou ...!1
(19)llrdizendo que Regis/I r+ vai se CANdidatar as//p pr6ximas
elei@s//"Y
(20) Ilr para 0 seu IUgM .. .I1
(21) lip ehamou Dutro pefelista//...
lmagem do Regis de Oliveira,
tambem assediado pelos
rep6rteres
"Y
(23) lip mas pelo tom/I r+ de Regis de Oliveira/I
(24) Ilr 0 pe efe ~e ...!1
(25) IIp+ pode dar mais DOR de cabe~a ao prefeitoll
"Y
Diferentemente da noticia 4, a LV de abertura realizada pelo locutor Milton Jung, da
e expressividade na voz do locutor durante a textualiza<;ao esta refletida no conjunto de
estrategias de oralidade presentes naquele trecho.
No eixo horizontal da pros6dia, exceto uma unidade de leitura (linha 4), quase todas as
demais unidades contem elementos proeminentes: CRIse (linha 1); Sao PAUlo (linha
2); poLitico (linha 3); deMIte, educaCAO (linha 5); conVOca, reunAO (linha 6)~ LEvan-ta-MEN-to (linha 7), REalizacoes (linha 8); goVERno (linha 8). A cinesis facial
acompanha esses destaques. A mudan<;a de ritmo ocorrida nas duas ultimas unidades
serve tambem
para assegurar
a fluencia
discursiva
na LV A desse locutor.
0
comportamento pros6dico nessa abertura da materia constr6i um contexto interativo de
envolvencia cuja fun<;ao comunicativa e facilitar a compreensao
elementos
das unidades
de leitura julgados
fundamentais
pelo realce dado a
para
sentido pelo
0
leitor/locutor. Os itens destacados revelam a decisao do locutor acerca da relevancia
destes para a interpreta<;ao. Sem marcas de envolvimento
presentes
no texto, a
expressividade na leitura se encarrega de faze-lo. As estrategias de oralidade garantem
essa for<;a ilocut6ria ao mesmo tempo em que se prestam a assegurar
0
exercicio da
fun<;ao organizacional exigida daquela posi<;ao do discurso: marcador de abertura da
materia.
o
texto da locu<;ao em OFF em seguida
a locu<;ao de
Milton Jung (LV), traz urn
elemento inicial util para marcar a fronteira desse novo trecho: em tom descendente e
seguido de pausa (lIp atualmente .../I, linha 9). A palavra "atualmente"
assemelha-se
prosodicamente ao marcador de fronteira usado para registrar a mudan<;a de t6pico, ou
sub-t6pico, da fala espontanea, com os itens "Bom ...", "Bern ...".
L(ll)
lip poderia ser 0 SIMbolo da prefeiTUra. ..I1
L(12) Ilr faha diNHEIrollp pra quase tudo ...l1
LID
LII
Ilr a CRIse...l1
lip poderia ser 0 SiMbolo da prefeiTUra ...l1
L13 110e 0 que 0 prefeitollp Celso Pittal/r mais faz...l1
LI4 lip e responder acusa~s .. .l1
LI6
LI?
lip ele tirou 0 cargoll r+ de SecreLano da Educa~
11r+ do vice-prefeitollp Regis de Oliveirall
L2D Ilr para 0 seu lugm:...l1
L22 lip chamou OUtro pefelistall
...l1
•
I (1)
recaem sobre os eventos subjetivos: "a CRIse" (LI0)~ "SlMbolo da prefeitura"
Rebeliao de Petroleiros - LV
Texto
Marcia Peltier (LY): Ilr tres mil funciomrios
Observa~oes
Fato noticioso
(2) Ilr ocuparn 0 estaleiro Veron/I
(3) 11r+em Angra dos reisllp no Rio de Janeiro ......•..
1 al;ao: ocupal;ao do
estaleiro
(4) IIp eles danificaram//r dois tarnpos de ernbarcayoes
(5) 110para irnpedir 0 lanyarnentollp de urna plataforma da Petrobras ......•..
i
ay1io: dano a urn tarnpo
de ernbarca91iol objetivo
fato noticioso
Exemplo (46)
sint:itica e a expressividade decorre da formula<;ao textual.
13 uma
LVA tipicamente
(Ol)Marcia Peltier (LV): Ilr tres mil funcionitrios
(02)
Ilr ocupam 0 estaleiro Veron/I
(03)
Ilr+ em Angra dos reisllp no Rio de Janeiro ....••
Exemplo (47)
Sem- Terra invadem predio ~liblico
Texto
(1)L.w. Fibe (LV)://r+ urn grupollo de cento e cinquentallr pessoas
(2)//0 liGAdasllo ao movimento dos sem-~rrallr de corumbiara .../I
(3)llr invadiu hQiello a sedel/r do minis~rio da reforma agrnriall
(4)/lp em Jaru ...!1
(5)//r+ no norte//p do estado de rondonia//
Fato noticioso
l' as;ao: sem-terral invasao pnldio
publico
z' as;ao: refem
(6)llp urn funcion8.rio foi feito refem/I ..••
(7) /Ir em BraMHall
(8)110ministro Raul Jungmam II
(9)llr mante:m a posiOOI
(10)llode naollo negociar//o com os sem-~rrallr+
~dios )lliblicos ..••
(ll)//r segundo 0 ministro
(12)110TAL atitude .../I
..•.
(13) lip fere Ilr+os direitos lip humanosll
Observa~oes
Fato noticioso
Ministro nao negocia
que ocupam//p
Voz do ministro
..Fran
0
ate" -
LOFF
Texto
(l)Teresa de Barros (LOFF)://p outra crisello que esta respingan:dollp
prefeitura
(2) 110 eo casollr+ que vem sendo chamadode ... IIp FRANgogate .. .!1
Observa oes
na
Reporter ao microfone
(3) //r+ envolvendo emI1@sas.. .!1
(4) IIp de parentes de Paulo Maluf ...!I .•.
(5) 110 ha susQ§tas de .. .!1
(6) Ilr favorecimento ...//p e superfaturamento ...!1 .•.
Imagem de urn documento
A camera fecha sobre 0
texto focalizando os nomes
(10) 11r+na verdadello estariam servindollr de faCHAda II
(11) Ilr para lavar dinheirollp do caixa DO:is de camMnha .. .!1 ••..
(12) IIp Hillell
(13) Ilr agyi no Ministerio PUblico .. .!1
(14) IIp Silvia Malufllr e Ligiall
(15) IIp respectivamente ...!1
(16)llp a mulher...
(17) IIp e filhallr do EX-prefeitoll
(18) lip deveriam vir dew II
(19) IIp mas nao compareceram ... II .•..
Imagem externa do
Ministerio Publico
(20)llr 0 advo1@do disse... 11
(21)llp que elas nao foram notificadas oficialmentell
Imagem do advogado
sendo abordado por
jornalistas, no ministerio
..••.
(22) Ilr na ~poca...!1
(23)llp estavam viaj@do pela Europa...!1 ..••.
(24) IIp 0 llitimo depoimentollr+ do dial/r no Ministerio PUblico
(25) lip foi do secremriollr+ de abastecimentollp na gestao MaIuf...!1 ..••.
(26)
(27)
(28)
(29)
IIp Waldemarllr Costa FI lholl
IIp afrrmou que assumellr toTAL responsabilidadell
Ilr pela licita<;AO ...!1
IIp para 0 fornecimentollr+ de frangollp a prefeiturall .•..
(30) IIp que demis de ser vengdal/r pela SaDlall
(31) 11r+acabou ficandollp com aA'doro ...I1 .•..
(32) IIp ele repetiullr que nao ve neNHUma irregulflridade .. .!1
(33)IIr+em parente slIp fornecer sery!yo a prefeitura .. .!1 ..••.
(34) IIp e demonstroullr que tantas pergyntasll
(35)llp 0 deixaraml/p irrilildoll .•..
(depoimento )
Imagem do Waldemar
Costa Filho sendo
abordado pelos jornalistas
aten9ao para acompanhar os movimentos de leitura102.
102 A informatividade
do texto e a quantidade de informa~iio previa partilhada necessaria para a constru~iio de
sentido certamente exigiriio muito trabalho do ouvinte para a formula~iio de uma hip6tese de sentido. Na realidade, 0
caso "Frangogate" foi apresentado na midia algumas semanas antes dessa materia 0 que consideramos ser mais uma
variavel que pode interferir na formula~iio textual e, obviamente, na compreensiio.
da amilise pros6dica comparativa apenas das noticias manipuladas e originais que
constam dos testes realizados com os 20 informantes que participaram desta pesquisa.
Iniciemos esta parte clareando 0 sentido da expressao leitura manipulada. Segundo
consta no Michaelis: Moderno Diciomirio da Lingua Portuguesa, (1998), uma das
acepvoes do termo manipular e "engendrar, fOljar", que exemplifica com a frase
"manipular ideias". Com 0 objetivo de verificar se a pros6dia e capaz de "manipular" a
construvao de sentido do texto pelo telespectador, resolvemos "gerar", "produzir" uma
leitura sobre a qual pudessemos identificar em que consistiam as mudanc;as.
Nessa fase da investigavao, a experiencia profissional na atividade de 10cu9ao nos
serviria de ponto de partida. Desse modo, a manipulac;ao e entendida como
0
conhecimento que os locutores tern das possibilidades de modificac;ao do
comportamento pros6dico na LVA dos noticiarios, de radio e de televisao. Nesse
contexto, uma outra perspectiva de manipulac;ao da pros6dia seria a interferencia
consciente no sentido, propriamente dito, do texto. Para este caso, a analise pros6dica
da locuc;aooriginal deveria anteceder a gravavao da leitura manipulada, de forma que
fossem identificados os pontos em que a incidencia de estrategias de oralidade
acarretariam mudanc;as de sentido. Mastamo-nos dessa segunda possibilidade de
investigac;ao da interferencia da pros6dia na compreensao do telespectador, ao
decidirmos pela caracteriza9ao do comportamento pros6dico na locu9ao do telejomal.
Em outras palavras, optamos pela descri<;ao da pros6dia enquanto fenomeno textual
tipico da LV A desse genero comunicativo.
Convidamos, entao, os dois radialistas ja mencionados para manipular a LV A das
noticias selecionadas.
Ap6s uma conversa inicial, ambos afirmaram
ser possivel
realizar dois tipos de leitura: uma "mais natural", mais "envolvente", "que parece fala
espontanea"; e outra "menos natural". Segundo eles, a leitura nao-natural figura com
frequencia nos noticiarios de radio e de televisao, em consequencia do tema abordado
na noticia. Confirmam,
portanto, urn conhecimento
social partilhado
de que os
diferentes textos impoem atitudes de leitura, determinadas, tambem, pelas condi<;oes de
comunica<;ao.
Com base nessa discussao, os radialistas receberam seus textos para leitura previa,
anterior
a grava<;ao no studio
do Laborat6rio de Comunica<;ao do C.A.C. De posse de 3
noticias, cada urn deles deveria realizar a primeira leitura de modo "mais natural",
buscando "envolver
0
telespectador", distanciando-se na realiza<;ao da segunda leitura.
A analise, a seguir, apresenta urna descri<;ao comparativa
das 3 diferentes leituras
coletadas: a leitura original (analisada na se<;ao anterior a esta); a LN pretendida pelos
locutores; e a LP produzida por ultimo. Retomamos os exemplos da se<;aoanterior para
as noticias 2, 4, 5, 6, 7 e 8.
De modo geral, as noticias demonstram
claramente nao haver mudan<;a no elXO
horizontal da pros6dia, com rela<;ao a distribui<;ao da informa<;ao. Nesse eixo, a coesao
Texto
Observacoes
(1)H. Henning: Ilr as autoridades briTANicasl1
(2)
IIp vao lanc;ar urn fiCHAriol1
(3)
IIp com 0 nome dos peD0fi1osl1
(4)
Ilr que esTAO em liberdade condicioNALl1
(5)
IIp ou que foram SOLtos11
(6)
IIp depois de cumprirem PEna .../1 .•.
(7)
(8)
(9)
Fato noticioso
IIp+ peD0fi1osl1
IIp para quem nao SAbe11
11r+silo as peSSOas que temJlp+ urna obseSSA.Qsexual por criAN~as/l ..•..
(10)
(11)
(12)
(13)
(14)
11r+ 0 objeTIvo II
Ilr e alerTAR a populaCAO II
IIp sobre a preSENc;a de uma pesSOa .../1
Ilr morador da vizinHANC;a/l
IIp que pode ser periGOsa/l .•.
(15)
(16)
11r+0 ficha.rio tern .../1
IIp+ Nove mil Nomesll .•.
Edi~ao2-LN
(l)AntOCarlos: lip as autoridades britiinicasll
(2)
/lr vilo lan~ar urn fichilrioll
(3)
110com 0 nome dos peDOfilosl1
(4)
lip que estao em liberdadellr CONdicional//
(5)llr+ ou que foram soltos lip depois de cumprirem
ill:.!!a .. ./1 ..•..
Envolvimento com
telespectador
0
Fim do fato noticioso
Evento objetivo
Edi~ao3-LP
(l)
110 as autoridades britiinicaslI
(2) 110vilo lan~ar urn fichilrioll
(3) 110com 0 nome dos ped6:filosll
(4) lip que estlio em liberdadellr condicional/l
110 ou que foram SOLtosllpdepois de cumprirem
ill:.!!a .. ./1 ..•..
(9)
Ilr 0 objetivo ... II
(10)
Ilr alertar a popula<;AO ... II
(11) 110 sobre a presem;a//o de uma pessoa Ilr moradorllr
da vizinhan:~a/I
(12)
110 que pode ser...llp perigg.;sa/I ..•.
e
(13)
(14)
(9)
Ilr 0 objetivo II
(10)llr alerta:r a popula<;AO Ilr sobre a presen~a de uma
pessoa morador da vizinhan:~a/I
(11)
lip que pode ser periGOsa/l ..•.
e
(12)
(13)
Ilr 0 fichlirio ... II
IIp+ NO ve mil nomesll ..•.
Ilr+ 0 ficMrio te@ ...11
IIp+ NO ve mil nomesll ..•.
(03) lip com 0 nome dos ped6:ilosll
(10) 11r+ 0 objeti:vo II
(13) Ilr
sobre a presen~a de uma pessoa morador da vizinhan:~a/I
Exemplo (53)
{,{'
e
"' ".",rul.6\,\Cll>
.L·1U·O
(03) 110 com 0 nome do peDOfilosl1
(04) lip que esHio em liberdadell r CONdicionalll
Noticia 4 - Orlginal- Hermano Hennmg
Roubo de Carga - LV + LOFF
Observacoes
Texto
(1)H.Henning(L V): lip Carga pesada .. .11
(2) II r Comandoll r de Seguran9a PUblica do SuDESte II
(3) 110degde criar::umllr GRUpo de traBAlhol1
(4) 110 para reprimirllr 0 roubo de carga ...11
(5) Ilr nos esTAdosllp daregiaoll ..•..
Contextualizador
Fato notieioso
avalia9ao
evento subjetivo
(10) 11r+ 0 ultimo assaltoll
(11) lip foi extremamente audaciQsol1 ..•..
(12) 11r+ os ladroes intercegIDram//r sete carretas//
(13) lip carregadas com eletroeletr6nieosll
(14) lip na Rodovia dos Bandeirantes ...11 ..•..
elas estavam vindo de Belem .. .l1 ..•..
I
(16) 11r+ as carretasllr+ foram localiza:dasllr pela policia II
(17)11r+ num galJlliQllo do bairro do Ipirangal/r em Sao Pauloll
(18) 110 e a cargallp ainda estava intaetall ..•..
..•..
(19) Ilr+em Minas Geraisllr+a situa~/lp
nao
(20) 11r+ foram ON zellr roubos de grrgasll
(21) lip em 3 meses ...l1 ..•..
e diferente ...l1 ..•..
I
2° narrativa: roubos em
MG(relato)
Resumo/orienta9ao
..•..
(22)
(23)
(24)
(25)
(26)
(27)
(28)
11r+ 0 Conse1ho de Seguran9a do Sudestell
Ilr reso1veu entao eriar::11
110 uma de1egacia espeeializadall
11r+ em roubos II
11r+ furtos II
Ilr e desvios de cargall
110 que agiriam//p nos est--l!dosda regiao ...l1 ..•..
(29) Ilr a inieiativa e urn tanto timidall
(30) 110 per::to dollp tamanho do problema ...11 ..•..
(31) 11r+ mas pelo men: :nosllo QQdeII
(32) 110agilizar::I/p as investigacoesll ..•..
Locutor
1a narrativa: roubos em Imagem de
SaoPaulo
eaminhoes em
evento objetivo
umarodovia
(sem de:fini9ao)
(06)H.Henning(Lofl): Ilr s6 em Sao PAUlol1
(07) 11r+ foram roubadasll
(08)
110noventa e duasllr mil sacas II
(09) 110 de eafe::I(neste anoll ..•..
(15) lip
Imagem
Fato notieioso
Evento objetivo
Ava1ia9ao
Evento subjetivo
Noticia 4 -Mampulada - Antonio Carlos XavIer
Roubo de Car~a - LV + LOFF
Edicao 3 - LN
Edicao 2- LP
(I)Anto Carlos(LV): Ilr Cargal/p pesada ...11
(2) II r CoMAN: doll r de Seguranya llliblica do
Sudeste II
(3) 110deCIde criar:l/r GRUpo de trabalholl
(4) 110para reprimirllr 0 roubo de carga ...11
(5) Ilr nos esrndosllp+ DA regiaoll .•.
(1)Anto Carlos(L V): 11r+Cargal/p pesada ...11
(2) IIr+Coman:dollr de Seguranya Pu:blica do
Sudeste II
(3) 110decide criar urn grupo detrabalho .../I
(4) 110para reprimirllr 0 roubo de carga II
(5) //r nos estados da regiaoll .•.
(6)(Lofi): 11r+so em Sao Paulollr foram roubadas .../I
(7) Ilr noventa e DUas mil sacasllr+de cafellp neste
ano// ....•.
(06)(L0fi): Ilr so em Sao Paulo foram roubadasllr
DUAS mil sacas de cafellp neste anoll .•.
(7)llp
(8) Ilr 0 ULtimo assalto .../I
(9) lip foi extremamente audaciQso ...l1 .•.
(10) lip os ladroes interceIlli!ramJ/r SEte carretas ...l1
(11) 11r+ carre~dasllr com eletroeletr6nicosllp
na
RodoYia dos Bandeirantes ...11 .•.
...
0 ultimo
assalto foi extremamente audaciQsol1
(8) Ilr os ladroes interceptaram SEte carretasll
(9) 11r+carre~dasllr com eletroeletr6nicosll
(IO)llp na RodoYia dos Bandeirantesll ..•..
(12) IIr+as carretasllr+foram localizadas pela
do bairro do Ipiranga em Sao
(13) 11r+as carretas foram localizadas pela policia ... II policial/r num gal~
Pauloll
(14) 11r+num galP AO//r do bairro do Ipiranga//p+ em
(13) lip e a carga ainda estava inTACtail ..•..
Sao Paulo.../I
(15) 11r+e a ca:rgal/p ainda estava inTACtail .•.
(14) IIr+em Minas Gera:isllp+a situa~ nao e
diferente .../I .•.
(16) IIr+em Minas Geraisllr+a situa~llp
nao E
diferente .../I .•.
(15) 11r+ foram ON zellp roubos de cargasll
(16) lip em tnes meses .../I .•.
(17) lip foram ON ze roubos de cargas...//
(18) IIp+ emTRES MEses .../1 ..•..
(17) Ilr 0 Conselho de Seguranya do Sudestell
(18) lip decidiu entaollo criar:: lip uma delegacia
(19) Ilr 0 Conselho de Seguranya do Sudestell
(20) lip DEcidiullo entao criar::l/r+ uma delegacial/p especializadal/r em roubos... 1/
(19) 11r+ furtosllr e desvios de cargall
especializada em ROUbos... II
(20) lip que agiriam nos esmdos da regiao ...l1 .•.
(21) 11r+ furtos ... II
(22) lip e des~os de CARgail
(23)llr que agiriam nos esmdos ...//p DA regiao .../I .•. (22)11r+ a iniciativall
(23)llr e urn tanto timidall
(24) 110 perto do tamanho do tral/r do problemall ..•..
(24) Ilr ainicia1iva .../1
(25) IIp+ e urn tanto Ti mida ... II
(26)llr PER::toll r+do tamanho do problema .../1 .•. (25) 11r+mais pelo menosll
(26) lip pode agilizar as investigayoesll ..•..
(27) 110mas lli'lo mennosllr+ QQde... II
(28) 11r+Agilizar: :lIp as investigacoesii .•.
caracteristico no eixo horizontal a manuten9ao de nivel ao longo da unidade de leitura e
aproxima9ao entre os blocos de unidades. As pausas sao tambem mais frequentes nessa
locu9ao. No eixo vertical, os acentos das palavras sao ligeiramente real9ados a
intervalos regulares, resultando num artificialismo que
000
consegue ser suplantado
com as proeminencias do eixo horizontal, apesar de presentes em todos os blocos de
leitura. Essa mecanicidade, de modo semelhante ao que ocorreu com a noticia 7
(originalmente lida por Lilian Witte Fibe), suprime do texto a sua voz, aprisionando-o
no papel. Desse modo, 0 contomo entoacional e util para textualizar a sintaxe textual, e
anula 0 potencial discursivo da pros6dia.
LN - Manipulada
Na versao natural dessa noticia em OFF, as mudan9as SaDrelativas
a
tentativa de
apagamento da escrita, com a voz criando um contexto interativo de descontra9ao que,
no entanto, nao e capaz de aumentar a for9a ilocut6ria do texto. Optando pelo contexto
interativo de descontra9ao, as estrategias de oralidade nao sao utilizadas para
hierarquizar informa90es, limitando-se a acompanhar 0 ritmo da escrita. A diferen9a e
que a regularidade dos movimentos de leitura da LP, produzida pela obliqiiidade de
nivel e aproxima9ao entre os blocos com 0 aumento da velocidade, se desfaz na LN. As
proeminencias do EV na LN revelam 0 movimento mental sincronizado do locutor com
a textualiza9aO, sem, contudo, buscar acrescentar informa90es. Antes, servem
atividade de elocu9ao. Em ambos
0
locutor nao the empresta a "voz", e
0
a
potencial
discursivo do texto e desperdi9ado.
o mesmo ocorre com a leitura da noticia 6, sobre a rebeliao de petroleiros, manipulada
pela Gabriela Kopinitz. Observe:
Rebeliao de Petroleiros - LV
Texto
Observa~oes
(1)Marcia Peltier (LV): //r tn§s mil funcionarios//
(2)//r ocupam 0 esta1eiro Veron//
(3)//r+ em Angra dos Reis//p no Rio de Janeiro .....•.
Fato noticioso
l' a9ao: ocupa9ao do
estaleiro
i
a9ao:dano a urn tampa
de embarca9ao/ objetivo
(4)//p e1es danificaraml/r dois tampos de embarcas-oes//
(5)//0 para impedir 0 lan9amento//p de uma plataforma da Petrobras .....•.
(6)//0 a ocupa~
e uma reswtal/p
a amea9a de demissao dos funcionarios .....•.
(7V/r e1es ameacam//r fechar a estrada Rio-Santos//p
amanha ..••..
motivo da oeupa9ao
fato noticioso
Rebeliao de Petroleiros
Edi~ao3 - LP
LN
(l)G.Kopinitz(LV): //r+TRES//r+ mil/lr
funcionarios/ /
(2)//p oCUpaml/r 0 estaleiro Veron//
(3)//r+em Angra dos Reis//p no Rio de Janeiro ...!'"
(4)//0 e1es danificaraml/
(5)//p dois tillnPos//r de embarca~//
(6)//r para 1M pedir//p 0 lan9aMENto//p de uma
plataFORma da Petrobras ...11.•.
(7)//0 a ocupa~
.. .11
(8)/lr e uma resPOStal/r+a ameA9a1/p+ de
demiSSAo dos funcionarios ....•.
(1)G.Kopinitz(L V): //r tres mil funcionarios//
(2)//r oCUpam 0 esta1eiro Veron//
(3)//r+em Angra dos Reis//p no RIO de Janeiro ...!..•.
(4)//r eles danificaraml/r dois tampos de
embarca~//
(5)//r para impedir 0 lan9aMENto//p de uma
plataforma da Petrobras ...11.•.
(6)I/r a ocupa~ e urna reswta
(7)IIr+a ame~allp de demiSSAo dos
funcionarios ....•.
(8)I/r eles ame~am fecharl/p+a estrada Rio(9)//r eles ameAvam//r+ fechar//p+a estrada RioSantos/I ..•.
Santosll'"
marcar a fronteira, contando tambem com 0 refowo do tom descendente naquele ponto.
A pouca incidencia de proeminencia no eixo horizontal da pros6dia mais uma vez
confirma ser este 0 comportamento regular nesse tipo de leitura LP.
Como a Marcia Peltier nao se utilizou da mudanya de nivel para marcar as fronteiras, e
suas unidades de leitura sao muito longas, a presenya de pausas as linhas 5, 6 e 7
exercem essa funyao organizacional. Mais urna vez, a regularidade ritmica e
0
aspecto
que caracteriza a nao espontaneidade nesse tipo de leitura.
Na versao natural da LVA, a Gabriela atende ao que the foi solicitado, criando urn
contexto interativo de envolvencia,
0
que, ao nosso ver, pode influir positivamente na
compreensao. Nessa leitura padrao LN, 0 envolvimento da leitora com 0 texto e com
0
telespectador revela-se na maior presenya de proeminencias no eixo horizontal (linhas
1,2, 6, 8 e 9) e no movimento de leitura mais segmentado em cada bloco. 0 discreto
movimento de cabeya ou de maos (quando visiveis no monitor), bem como urn
expressivo aumento na abertura dos olhos, coincidem com os pontos proeminentes.
De modo geral, urn trayo marcante na locuyao da Gabriela Kopinitz diz respeito ao
crescendo de nivel nas ultimas unidades de leitura em cada bloco (destacadas em
negrito na ilustrayao). Esse comportamento, presente em todas as suas leitura LN, foi
observado em outras noticias do corpus, principalmente para as noticias breves em
OFF (tempo inferior a 1 minuto). A funyao exercida por esse crescendo e claramente
organizacional, servindo para reforyar 0 trabalho de textualizayao com a impressao do
tom descendente para a Ultima unidade de leitura de cada bloco. Nas leituras naturais
pOT
essa radialista,
0
contomo entoacional em sua voz cria um contexto interativo de
Sem- Terra invadem predio ~ublico
Texto
(l)L.W. Fibe (LV)://r+ urn grnpollo de cento e cinqiiental/r pessoas
(2)110 liGAdasllo ao movimento dos sem-.terral/r de corumbiMa .../1
(3)/Jr invadiu hQiello a sedellr do minis~rio da reforma agffiriall
(4)llp em Jaru •.•11
(5)11r+ no nortelJp do estado de rondoniall
Observa.;oes
Fato noticioso
l' ayao: sem-terral invasao predio
publico
i
(6)J/p urn funcionfuio foi feito refemll .•.
(7) Ilr em BraIDliall
(8)110 ministro Raul Jungmam II
(9)I/r mante:m a posi~l/
(lO)llode naollo negociarllo com os sem-.terral/r+ que ocupaml/p
mdios Illiblicos .•.
ayao: refem
Fato noticioso
Ministro nao negocia
Voz do ministro
(ll)llr segundo 0 ministro
(12)/10 TAL atitude .../I
(13) IIp fure /Jr+os direitos IIp humanosll
.•.
ciinQUENtaJ/r peSSOas ...l1
(2)//0 li£@dasllr ao moviMENto dos sem-TErraJ/r de
corumbiAra .. .II
(3)llr invadiu HOjellr a sedellp+ do minist~rio da
reforma agWiaJ I
(4)110 no NORtellp+ do esTAdo de RondoniaJl
pessoasll
(2)110 liGAdasllo ao moviMENto dos sem-~allr
de
corumbiara .../1
(3)llr envadiu hQie...l1
(4)llp+ a serle do minis~rio da reforma aGRAriaJ I
(5)//0 no nortellp do es,illdo de RondoniaJl
(6) Ilr em Bra.§iliaJl
(7)11r+ 0 miNlStrollr da Reforma AGRAriaJ/r Raul
JUNgmamll
(8)llr mante:m a posi@Qllode NAO negociar://o com
os sem-~rraJl
(9)llp+ que ocupam ~dios Illiblicos
(7) Ilr em BraIDIia...l1
(8)110 ministro da Reforma Agffiria
(9)//r+ Raul Jungmam ... II
(lO)//r+ mante:m a posi@Q11
(l0)//r segundo 0 miNlStro .../1
(1)IIr+ TAL atitude ...l1
(12) lip Fere os direitos humanos/I
(13)llr segundo 0 ministroll
(12)//r tal atitude .. .l1
(13) lip FEre lip os direitos humanosl!
T
T
LN
UL
(ll)llpde NAO negociAR//r com os sem-~rraJl
(l2)11r+ que oCUpaml/p predios Illiblicos .•.
LP
.•.
UL
01
GRUpo! CENto cinQOENtai peSSOas
02
moviMENto sem- TErral CorumbiAra
moviMENto
02
03
Boje/ minisTErio aGRAria
aGRAria (I/p/I)
04
04
NORte! esTAdo RonDOnia
<I>
05
05
UMIreFEM
<I>
06
07
miNIStro! aGRAriai JUNgman
aGRAria (l1r/1)
08
08
manTEMI nao negociar: (I/r/I)
NAO negociAR
09
oCUpam
oCUpam
10
miNIStro
miNIStro
11
TAL
12
FEre
01
<I>
(I/p/I)
11
11
(l1r/1)
13
<I>
FE re (I/p+/I)
Exemplo (58)
"Fran
0
ate" -
LOFF
Observa<;oes
Texto
(l)Teresa de Barros (LOFF):llp outra crisello que esta respingan:dollp
prefeitura
2 110 0 casol/r+ ue vem sendo chamadode ... II
e
na
Reporter ao microfone
(3) 11r+envolvendo emlill'sas ...l1
(4) lip de parentes de Paulo Maluf ...11.•.
(5) 110hit susQritas de...l1
(6) Ilr favorecimento ...llp e superfaturamento ...l1 .•.
(7) Ilr alemDI sso..l1
(8) Ilr tambem existe a hiQ6tesell
(9) lip de que os negQciosi/o da A'dorollr e da Obeliscoll
(10) 11r+na verdadello estariam servindollr de faCHAda II
(11) Ilr para lavar dinheirollp do caixa DO:is de cammmha ...!1 .•.
Imagem de um documento
A camera fecha sobre 0
texto focalizando os nomes
das duas empresas
(12) lip HQiell
(13) Ilr agyi no Ministerio PUblico ...l1
(14) lip Silvia Malu£'lr e Ugiall
(15) lip respectivamente ...!1
(16)llp a mulher...
(24) lip e filhal/r do EX-prefeitoll
(25) lip deveriam vir deQQIII
(26) lip mas nao compareceram '" II .•.
Imagem externa do
Ministerio PUblico
(27)llr 0 advo~do .disse... II
(28)llp que elas nao foram notificadas oficialmentell
Imagem do advogado
sendo abordado por
jornalistas, no ministerio
.•.
(22) IIr na ~poca...11
(23)llp estavam viallilldo pela Europa...l1 .•.
(24) lip 0 llitimo depoimentollr+ do .dial/r no Ministerio Publico
(25) lip foi do secreWiollr+ de abastecimentollp na gestao Maluf...l1 .•.
(32)
(33)
(34)
(35)
lip
lip
Ilr
lip
Waldemarllr Costa FI lholl
afirmou que assumellr toTAL responsabilidadell
pela licita<;AO ...l1
para 0 fornecimentollr+ de frangollp a prefeiturall
Imagem do Waldemar
Costa Filho sendo
abordado pelos jornalistas
.•.
(36) lip que deQills de ser vengdal/r pela SaDlail
(37) 11r+acabou ficandollp com a A'doro ...l1 .•.
(32) lip ele repetiul/r que nao ve neNHUma irreguWidade ...!1
(34)IIr+em parentesllp fornecer seI'Yi90 a prefeitura ...!1 ..•..
(34) lip e demonstroullr que tantas pergJIDtasll
(36)llp 0 deixaram//p irri:rndoll .•.
. (depoimento)
Edi ao2-LN
(1)G.Kopinitz(LOFF):llr outra crise que esta
respinGANdo na prefeitura II
(2) 110e 0 caso que vem sendo cha!lli!dollp de
FRAN 0 ate ...!1
Edi 803 - LP
(1)G.Kopinitz(LOFF):llr outra crise que esta
respinGANdo na prefeitura II
(2) 110e 0 caso que vem sendo chamadollp de
FRAN 0 ate...!1
(3) lip envolvendo empresas de paRENtes
Maluf ...!I ..••
de Paulo
(4) 110hit sus~tas dellr FA vorecimentollp
SuperfaturaMENto ...!1 ..••
e
(5)//r alem dI sso ..!1
(6) 110aINda existe a hij2Qtese...!1
(7) Ilr de que os neg6cios da A'DOro e da Obeliscoll
(8) 110na verdade ...!1
(9) lip estariam servindo de faCHAda II
(10) Ilr para lavar diNHElrollp do caixa dois de
camllliilha ...!1 ..••
(11) Ilr HQje...!1
(12) Ilr agyi no Ministerio PUblico ...!1
(13) Ilr Silvia Malufll
(14) Ilr e Ligia ...11
(15) 110respectivamente ...llr+ a muLHERIlp e FI Iha
do prefeitol I
(16) lip deveriam vir dellQI II
(17) lip mas NAO compareceram ... II ..••
(18)110advogado ilissello que elasllr+ NAOllr foram
notifigdasllp
oficialmentell ..••
(19) Ilr na ~pocall
(20)//p elas estavam viaJANdo
(3) lip envolvendo empresas de paRENtes de Paulo
Maluf ...11 ..••
(4) Ilr hit suspeitas FA vorecimentollp
SuperfaturaMENto
.•.l1 ..•..
e
(5)llr f!lem disso ...!1
(6) lip aINdai/o existe a hij2Qtesellode que os
negQcios da A'Dorollr+ e da Obeliscoll
(7)llr na verdade ...!I
(8)11r+estariam serVINdo de fachada 11r+para lavar
diNHEIrollp do caixa dois de campanha ...!1 ..••
(9) Ilr HQjell
(10) Ilr aQUI no Ministerio PUblico ...!1
(11) Ilr Silvia Maluf e !dgia ...!1
(12) lip respectivamentello a mulherllr+ e filha do
prefeitoll
(13) Ilr deveriam vir depoT... II
(14) IIp+ mas NAo compareceram ... II ..•..
(15)110advogf!do dissello que elas nao foramll
r+notificadasllp oficialMENtel1 ..••
(16) Ilr na Epoca ...!1
(17)11r+elas estavam viaJANdollp
Eu!QPa ...!I..••
pela
pela Europa ...!1 ..•..
(21) 1100 @imollr+ depoimento do mall
(22) Ilr no Ministerio PUblicoll
(23) Ilr foi do secreTAriollp de abastecimento na
gestao Malufl/
(24) 110Waldemarllp+ COSta FI lholl
(25)110ele afirmoull r+que assume toTALllp
responsabilidade
pela Iicita<;AOII
(26) IIp+ para 0 fornecimento de FRANgo a
prefeitura/ I ..••
(27) 110que de12Qisllrde ser vengda pela Sadiall
(28) lip acabou ficando com a A'doro ...11..••
(29) Ilr e1e repetiu/I
(30) lip que nao ve neNHUmal/r+ irreguillridadell
(31)IIr+em parente ...!1
(32) lip fornecer serVI~o a prefeitura •..11..••
(33» Ilr e demonstrou que tantas pergyntasll
(33)llp 0 deixaram irritJ,do// .•
(18) 1100 llitimollo depoimento do mallr+ no
Ministerio PUblicoll
(19) Ilr foi do secreillriollr+ de abastecimentollp+
gestao MaLUFl1
na
(20) 11r+Waldemar costa FI lho...!1
(21)//r+ afirmou/I
(22)llr que assume toTAL responsabilidadellp pela
licitaCAOl1
(23)110para 0 fornecimentollo de frango a prefeiturall
(24) 11r+ que deQQisllr de ser veneIda pela Sadiall
(25) lip acabou ficando com a A'doro ...l1 ..••
(26)11r+ ele repetiullr+ que nao veil
(27)//0 neNHUma irreguillridadello em parentel/p+
fornecer serVI<;o a prefeitura ...!1 ..••
(28) I/o e demonstrou//r que tantas pergyntasll
(29)//p 0 deixaram irritJ,doll ..••
E possive1verificar a nao regularidade esperada dos movimentos de leitura do tipo LP,
alem da pouca incidencia de proeminencias no eixo horizontal que, nesse tipo de
leitura, tende a ocorrer no final das UL. A Gabriela opta pe10 distanciamento do
telespectador, 0 que parece ter sido consequencia da LOFF que, diante das imposiyoes
do escrito, aproximou a leitura LP manipulada da LN original.
Quanto a versao natural manipulada, destacamos 0 aumento das proeminencias no EH e
o investimento na coesao pros6dica, criando urn contexto interativo de maior
proximidade com 0 telespectador que, na realidade, parece demonstrar 0 envolvimento
da locutora com 0 conteudo proposicional do texto, pela aproximayao dos blocos de
informayao.
Nesse momento, a reflexao que devemos fazer aponta para as hip6teses 2 e 3 deste
trabalho.
Ao entendermos que a dificuldade de compreensao para as noticias apenas com 0
locutor (LV) pode estar relacionada
a LVA
(H2) e que tal dificuldade e minorada
quanta mais envolvente for 0 texto (H3), acreditamos em alguns indicios que precisam
ser verificados com urn teste de compreensao.
A analise da pros6dia sobre as leituras originais e manipuladas verificou a semelhanya
de comportamento pros6dico na LVA padrao LP ou LN. Ou seja, quando a noticia
original se deu em LP, a leitura manipulada em LP apresentou caracteristicas
semelhantes, conforme demonstramos anteriormente. 0 mesmo se deu com as leituras
LN. 0 aspecto mais marcante da diferen~a entre os dois tipos - LP e LN - diz respeito
a maior incidencia de elementos proeminentes e ao modo de segmenta~ao, durante a
LVA que demonstra fluencia discursiva. Responsaveis por real~ar
0
foco central do
fato noticioso, as estrategias de oralidade figuram a leitura mais envolvente, seja ela
natural ou nao, caracterizando a fluencia discursiva na LVA.
o
teste de compreensao deve verificar, portanto, em que medida as leituras malS
envolventes foram melhor compreendidas. Isto significa dizer que a maior incidencia
de proeminencias no EH, bem como a organizayao do texto decorrente do contomo
entoacional e da coesao pros6dica, influenciarao nos resultados dos testes, para as
leituras cujos contextos interativos forem de maior envolvencia.
Para finalizar, resolvemos comparar a leitura de urn mesmo texto por locutores de sexos
diferentes. Assim, realizamos a manipula~ao da leitura da noticia de ntunero 5,
originalmente lida pela Teresa de Barros no trecho em OFF, com a locu~ao do Antonio
Carlos. Observe:
Noticia 5
Crise na prefeitura de Sao Paulo: demissao de Regis de Oliveira
LV + LOFF
Teresa de Barros: edi~oes1 e 3
Antonio Carlos Xavier: edi~ao3
(OI)M.Jung(LV):llr
aCRIsel1
(03)
Ilr na prefeitura de Sao Paulol!
(03) lip ganha tambem contomo poLiticoll.....
(OI)M.Jung(LV):l!r
aCRIsel1
(2) Ilr na prefeitura de Sao Pauloll
(3) lip ganha tambem contomo poLiticol1
(04)
(05)
(06)
(07)
(08)
(4)
(5)
(6)
(7)
(8)
lip 0 Prefeito Celso Pittall
lip deMItellr 0 Secretano da Educa<;AOII
11r+e conVOcal/r RE uniAol1
Ilr para fazer um LEvan taMENtol1
Ilr das RE aliza<;6ESllp do seu goVERnol1
(09)T. Barros(LOFF): lip fltual mente ...!1
(10)
Ilr a CRIse ...!1
(11) lip poderia ser 0 simbolo da prefeitura ...!1
(12)
Ilr falta diNHElrollp pra quase tudo ...!1
e
(15) 11r+hoje
brigall
..••.
0
prefeitollp+ comprou MAis uma
(16) lip ele tirou 0 cargoll r+ de Secrellirio da
Educavao ...!I
(17) 11r+do vice-prefeitollp Regis de Oliveirall
(18) Ilr 0 prefeito justificou ...!1
(19)llrdizendo que Regisll r+ vai se CANdidatar
asllp pr6ximas elei~sll"'"
0 seu lugm: .. .11
(21) lip chamou Outro pefelistall...
lip 0 Prefeito Celso Pittall
lip deMItellr 0 Secretano da Educa<;AOII
11r+e conVOcal/r RE uniA011
Ilr para fazer um LEvan taMENtol1
Ilr das RE aliza<;6ESllp do seu goVERnol1
(9)ACXavier(LOFF): Ilr f!tual mente ...!1
(10)
11r+a crisellp+ poderia ser 0 SMoio
..••. prefeitura ...!I
..••.
..••. (11)
(12)
(13)110 eo que 0 prefeitollp Celso Pittal/r mais faz ...!1 (13)
(14) lip responder acusavoes ...!1
..••.
..••.
da
IIp+ faha dinheiro pra quase TUdo11
Ilr e 0 que 0 prefeito Celso Pitta mais faz/I
lip responder acusavoes .. .!1
..••.
e
(14) lip hQie 0 prefeitollp+ comprou MAis uma
briga/I
(15) lip ele tirou 0 cargoll r+ de Secrellirio da
Educavao ...!I
(16)11r+ do vice-prefeito ...!1
(17)llp Regis de Oliveirall
..••.
(18) Ilr 0 prefeito justificoull
(19)llr dizendo que Regisll
(20)llp vai se candidatar as pr6ximas elei@s1I ..••.
(20) Ilr para
..••.
(23) lip mas pelo tom/I r+ de Mgis de Oliveirall
(24) Ilr 0 pe efe rle ...!1
(38) IIp+ pode dar mais DOR de cabe~a ao
prefeitoll
..••.
(21) 11r+para 0 seu luwllr+
pefelista//...
..••.
chamoullp+ OUtro
(23) 11r+rnai:sllr pelo tom de Regis de Oliveirall
(24) 1100 pe efe rle ...11
(25)llr po de dar MArS dor de cabeya/I
(26) I!p ao prefeitol! ..••.
..••.
Mais urna vez, os movimentos
semelhante, quando focalizamos
de leitura em geral segmentam
0
0
texto de modo
eixo horizontal da pros6dia. As ocorrencias distintas
(linhas 9-10~ 16-17~19-20; 21; 25-26 com Antonio Carlos) com
pros6dica na locu<;ao do Antonio Carlos, produz
0
0
aurnento na coesao
mesmo efeito de sentido da original,
porque nao interfere na distribui<;ao da informa<;ao: os tons descendentes indicativos
das fronteiras entre os blocos de UL permanecem
marc ante nesse eixo sao as proeminencias:
equivalentes.
poucas
Outra seme1han<;a
e comcidentes
nas palavras
"simbolo", "mais", outro", quase a metade na locu<;ao da Teresa de Barros (nurn total
de 7) e exatos 50% das proeminencias do Antonio Carlos.
Tambem na manipula<;ao
0
locutor optou por poucas saliencias textuais, mantendo urn
certo distanciamento do texto, mas decidindo por urn contomo entoacional capaz de
criar urn contexto interativo de descontra<;ao para, conforme dissemos anteriormente
sobre a LV A da Teresa de Barros, investir na informatividade do texto, pela saliencia
de sua formula<;ao sintatica. Longe dos "olhos do telespectador",
parece ser esse
0
comportamento preferido na maioria das locu<;oes em OFF: LN com fluencia sintatica.
Com base no exposto ate esse momento, podemos postular que os movimentos de LVA
atendem ao ritmo da escrita. 0 eixo horizontal da pros6dia, na realiza<;ao de uma leitura
LP, retrata a dinamica textual, deixando a impressao
do escrito na interface do
processamento com a textualiza<;ao pelo leitor. Nesse tipo de leitura,
0
eixo vertical
assegura sua posi9ao na superficie lingu.istica. Na 0P9ao por urna leitura LN, a
impressao do escrito se desfaz, na medida em que a textualiza9ao aurnentar 0 grau de
envolvencia.
o
leitor/locutor deve estar consciente de que, para a realiza9ao de uma LVA
expressiva, a voz presente no texto e sua essencia, a que the da forma e, assim, faz
sentido. Para produzir urna leitura com legibilidade, e necessario, no minimo, que siga
as regras regulativas da LVA, apresentando 0 comportamento pros6dico regular,
balizado pelas imposi90es do escrito na superficie lingo.istica.Ir aMm dessa legibilidade
e sentir-se "autor" durante a textualiza9ao promovida pela leitura, e al9ar os recursos
pros6dicos
a
esfera do discurso. As regras constitutivas para urn comportamento
discursivo durante a LVA, sao aquelas que partem do principio de que as estrategias de
oralidade servem a esse prop6sito. E mais, que reconhece no texto uma atitude de
leitura, da qual decorrem os contextos interativos promovidos pelos padroes
pros6dicos. POI tim, a regra basica, fundamental para 0 sucesso da comunica9ao, e
saber que 0 que se tempara dizer destina-se a urn alguem, e que a verdade do dito esta
na utilidade a que se lhe atribui.
Por fun, a analise do comportamento pros6dico da LVA na rela9ao com a constru9ao
de sentido e a compara9ao entre as diferentes leituras de urna mesma noticia permite
que sejam feitas algumas generaliza90es. Sao elas:
>-
0 ritmo da leitura assemelha-se ao ritmo da escrita: a distribui9ao da informa9ao no
eixo horizontal da pros6dia, assegurada com a coesao pros6dica, organiza a
informac;ao de modo similar na leitura padrao (LP e LN), identificada
nos
movimentos de leitura;
y as proeminencias no eixo horizontal da pros6dia revelam urn maior envolvimento
do leitor e a preocupac;ao com urn ouvinte, porque realc;a elementos centrais da
informac;ao, servindo para ativar referentes necessarios a compreensao;
y a potencializac;ao das estraU:gias de oralidade nos dois eixos aurnenta a forya
ilocut6ria pretendida pelo texto, definindo-lhe urna linha de argumento que destaca
a macroproposic;ao - urna consequencia possivel disto
e que,
mesmo nao havendo
mudanc;a informacional, haveria mud.anc;a na forma de interpretar ou enfatizar a
informac;ao;
y as estrategias de oralidade no eixo vertical da pros6dia podem diferir dentro dos
limites impostos pelo texto;
y no eixo vertical da pros6dia a opc;ao tonal pode exercer a mesma func;ao sintatica da
proeminencia
ou da pausa:
completude
sintatica;
completude
proposicional;
continuidade discursiva.
De modo geral, foi observado como tendencia na produc;ao de urna leitura LP,
acentuado
apagamento
do potencial
discursivo
da pros6dia,
acarretando
0
uma
sonoridade sem a forya ilocut6ria trazida pelo texto. 0 leitor, "distante", submete
0
ouvinte as impressoes do escrito, tornando arida a comunicac;ao.
A expressividade na LV A do locutor cria contextos interativos que podem auxiliar
0
ouvinte a acessar os diferentes dominios de conhecimento do processamento textual.
ENVOLVIMENTO
LP - contexto interativo de tensao:
tons R
admoestar
anunciar uma fatalidade
. tons P no final das UL
· tendencia a manter
nive1
0
· regularidade ritmica na
DS
proeminencias no EH
preferencialmente no
final da UL
. tendencia ao discurso
obliquo
(caminha em dire9ao
a leitura litanica)
}
· tons P no final das UL
. quase ausencia de
proeminencia no EH
. regularidade ritmica na
DS
ENVOLVIMENTO
LN - contexte interativo de envolvencia:
diversidade tonal
censurar
mostrar estupefac;ao
seduzir
aumentar a legibilidade
LN - contexte interativo de proximidade:
· fronteiras bem
demarcadas com EO
· a extensao da UL
depende do material
real~ado
"mudan~a de nivel para
hierarquizar a informa~ao
" proeminencias no EH
· proeminencias no EV
para destacar a
informayao
}" UL
(serve as mesmas func;oes do contexto
anterior, mas e menor a fon;a ilocut6ria)
de menor extensao
" regularidade nas pausas
. sem muita proeminencia
no EH
LN - contexte interativo de descontrac;ao:
. preferencialmente
(fluencia sintatica > fluencia discursiva)
a
proeminencia no final
}
daUL
. tons R e P com funyao
organizacional
adequado
a
atitude de leitura esperada do texto. A sintaxe textual jamais deve ser
violada na retextualiza<;ao,
locutor. Ai esta
0
0
que obviamente e a exigencia minima para a fun<;ao de
diferencial entre urn leitor e urn locutor. Este ultimo deve desenvolver
sua competencia em apagar as impressoes do escrito, fazendo-o com os recursos da
prosodia. Consciente das estrategias de oralidade constitutivas da fluencia discursiva,
locutor age sobre
0
0
texto voltado para a constru<;ao de sentido por urn interlocutor, que
deixa de ser virtual, como lhe impoem as condi<;oes de comunica<;ao dos textos
oralizados no contexto de televisao. Abstrair-se dessa condi<;ao resulta na produ<;ao
expressiva do texto "lido". Este efeito so e possivel quando
0
locutor envolve-se ele
proprio com a constru<;ao de sentido do texto numa retextualiza<;ao. A hierarquiza<;ao
da estrutura proposicional
durante
0
do texto nao e feita a priori, mas nurn processo on-line
acesso aos diferentes dominios de conhecimento por urn leitor que tenha
desenvolvido a competencia de leitura em situa<;oes interativas.
Descobrir as consequencias desse comportamento
comunicativo sobre as percep<;oes
dos ouvintes e urna tarefa difieil e estimulante. Reconhecemos a influencia da prosodia
na constru<;ao de sentido da leitura como urn fator que se encontra na interface dos
demais aspectos constitutivos da textualidade. Nas palavras de Platao, a respeito da
musica, e dessa "forma invisive1,
0
justa ou
cognitivas adequadas ao processamento textual.
0
belo", capaz de ativar estrategias
~itulo
5: A Compreensao do Telespectador
Para esta pesqUlsa, a noc;ao de lingua situada no ambito da sociolingilistica
interacionista permitiu tratar a compreensao como fmto do di,Uogo entre
0
leitor e
0
texto, dialogo no qual os tumos do leitor/locutor saD as contribuic;oes que ele cia ao
texto com os movimentos ou lances de leitura, observados nos eixos horizontal e
vertical da prosodia. Para
0
leitor/telespectador, esses movimentos viabilizam
0
acesso
aos dominios de conhecimento motivado pelas marcas presentes no proprio texto,
promovendo as inferencias. Consideramos ser possivel conceber a prosodia como urn
fator que prove informac;ao adicional de naturezas distintas (interacional e
informacional), util para
0
processo inferencial do leitor/telespectador, atuando como
organizadora da compreensao.
Desse modo,
a
semelhanc;a do que diz Marcuschi (1988:42), entendemos a
compreensao como urn jogo de inferencias ern cuja base atuam processos de
envolvimento, cooperac;aoe negociac;ao,este ultimo observado na interac;aoface a face
e que na LVA assume urn carater diferente e diz respeito
texto.
a interac;aodo locutor corn 0
LVA 100, pois originalmente foi desenhado para situa90es tipicas de intera9ao
100 Com sucesso, Viana (1992) aplicou 0 modelo de Brazil it analise da LV A de urna fabula para a
compreensao de urn interlocutor. Em sua pesquisa, 0 leitor e 0 ouvinte eram alunos da gradua~ao em Letras e
os resultados obtidos demonstraram interferencia na compreensao decorrentes do jogo tonal e da segmenta~ao
em unidades tonais em pontos que, ao inves de auxiliar, interferiram na constru~ao de sentido do ouvinte.
figuram na ultima sel(ao deste capitulo, momenta em que buscamos responder as
perguntas formuladas na Introdul(ao (pp. 12 e 13), com a verifical(ao das hip6teses de
Presa ao modelo de Brasil, ao nosso ver os resultados a que chegou aquela pesquisadora demonstram a
importancia da fluencia sintatica para a compreensao da LV A
pai estudou ate a 3a. serie do Ensino Fundamental.
Mae com Nive1 Superior comp1eto.
J43:
pai com nive1 Superior.
Mae concluiu 0 Ensino Medio.
F41: pai concluiu 0 Ensino Medio.
Mae concluiu 0 Ensino Fundamental.
Ca34: pai concluiu 0 Ensino Medio.
Mae tern 0 Ensino Fundamental completo.
Fa29: pai e mae concluiram 0 Ensino Medio.
K36: pai nao concluiu 0 Ensino Fundamental.
Mae com Nive1 Superior comp1eto.
A39:
Pais analfabetos (45%): Mv28; My39; Eu45; Z35; N28; e G28.
Mae analfabeta e pai alfabetizado (16,6%): Gv34 e Ml23;
Pai analfabeto e mae com Ensino Fundamental incompleto (16,6%): G134e
F035;
Pai e mae alfabetizados: M26;
Pai com Ensino Medio incompleto e mae com Ensino Fundamental: 028.
Assim, observamos que, no Grupo 2, poucos sao os informantes cUJos palS
frequentaram a escola. A leitura nao fez parte de suas vidas na inflincia e jamais viram
seus pais lendo, exceto 3 informantes que declararam ter presenciado suas maes
o trayo comurn entre os grupos diz respeito
it desculpa apresentada pela maioria de
"nao terem tempo para ler". 0 Grupo 1 unanimemente afirma ler pelo menos urn
peri6dico nos finais de semana. R37 tern assinatura diaria do jomal local "Diario de
Pernambuco". No Grupo 2, tres informantes se destacaram por terem declarado
interesse nao s6 pelos peri6dicos locais como tambem por revistas (1 homem, 028, e 2
mulheres, Ml23 e Eu45). A diferenya entre os grupos diz respeito ao jornal lido:
"Diario de Pernambuco" ou "Jornal do Commercio", para
0
Grupo 1; e "Folha de
Pernambuco" para 0 Grupo 2. Dez informantes desse ultimo grupo afirmaram ler quase
que diariamente algumas noticias daquele peri6dico (no ambiente de trabalho ou a
caminho deste, nas conduyoes ou numa banca de revista vizinha ao trabalho), exceto
A maioria dos informantes do Gmpo 1 reconhecem a limitayao de suas leituras ao
material de trabalho. Tres integrantes desse grupo (dois homens, R37 e A39, e urna
mulher, S35) foram urna exce<;ao,afirmando serem leitores habituais de revistas e
jomais. R37, Mestre em Administra<;ao,ressalta
0
seu interesse por qualquer tipo de
leitura. Este informante diz, ainda, ser espectador diario de varios telejomais,
destacando que "as vezes a noticia muda de urna emissora para outra". Vale ressaltar
que os pais deste informante tern
0
seguinte grau de escolaridade:
0
pai e professor
universitario e pesquisador com duas teses de Doutorado e a mae possui dois cursos de
gradua<;aoe e leitora contumaz de livros de fic<;ao.
Na realidade, em ambos os grupos, os informantes que leem habitualmente se destacam
entre aqueles que apresentaram urn melhor rendimento nos testes de compreensao. Sao
eles: Grupo 1: 2 homens, R37 e A39, e 2 mulheres, Fa29 e S35; e Grupo 2: 1 homem,
028, e 2 mulheres, MI23 e Eu45.
(d) "A gente Ie Te/ejornal"
Os informantes foram unanimes em declarar que os telenoticiarios dao a oportunidade
aqueles que nao tern tempo livre para a leitura de se manterem informados. Os
informantes do Grupo 1 identificam dois te1ejomais em sua preferencia diana, sendo
urn deles
0
"Jomal Nacional" (Rede Globo). Os informantes do Grupo 2 tambem
declaram ser este
0
noticiario preferido, mas a segunda op<;aorecai sobre
0
jomal
vespertino do SBT (as 18:00h), ou programas policiais especificos.
Curiosamente, a malOna do Grupo 1 refere-se a impormncia dos noticilirios de
televisao, identificando
0
"Jomal da Cultura" como urn dos melhores, ainda que "nao
tenha tempo para assisti-lo".
Itamar quebra protocolo - LV
Texto
Observac;oes
(1)Carlos Chagas: 11r+ eo EX II p presidente II r !tamar Franco ...11
(2)
11r+ assumiu Ilr+ hQie Ilr em Washington '"
Ilr SUas funCOesllp de RE presentantellr do Brasil ...11
(3)
11r+ na Organiza~1 Ip dos esT Ados americanos ...11"'"
(4)
Orienta<;:ao do relato
l' a<;:aode !tamar
(5)
(6)
(7)
(8)
Ilr mas .. .11
Ilr aBAgunCOUllp tudo .../1
11r+ quebrou II
I/o comnktamentellp 0 protocolo ...11"'"
(9)
(10)
(11)
(12)
(13)
(14)
11r+ que 0 cos!JJme ...11
11r+ ill na oeA ...11
Ilr e de que 0 novo embaixador ...11
/Ir seja recebido ...11
Ilr por TOdos os seus coLEgas .../1
IIp no gabinete do Secretario Geral ...11 ...,.
(15)
(16)
(17)
IIp FAzern//r pe~nos
discursos ...11
11r+ ~ depois ...11
IIp lui uma l1Wade chamPillme ...11 ...,.
(18)
(19)
(20)
11r+ pois !tamarll
IIr+chegou dizendo II
IIp+que queria um CA fezinho ...11...,.
Avalia<;:ao
Fato noticioso: quebra de
protocolo - 2' a<;:ao
Relato do protocolo:
(c) Contexto( orienta<;:ao)
(d) A<;:5esdo protocolo
(c)complica<;:ao
(21)
(22)
(23)
(24)
flp
Ilr
Ilr
lip
REjeitou .../1
a chamwgne .../1
e na hora do discursoll r+ ficou .../1
9!!!!-ple-ta-mente !!!]!do .../1 .•.
(25)
(26)
(28)
(28)
(29)
(30)
(31)
Ilr aos jornalistas .../1
Ilr no FIM da cerim6nia ...11
lip ele disse ...11.•.
110"naollo tenholl roque fa1ar .../1
110 e nao tenholl
lip 12Qrta-voz"... II'"
(32)
(33)
11r+Hamar continua .../1
lip Hamar II .•.
(e)coda
Exemplo (61)
Texto
(10)H. Henning: Ilr as autoridades briTANicas/l
(11)
lip vao lan~ar urn fiCHArio11
(12)
flp com 0 nome dos peDOfilos/1
(13)
Ilr que esTAO em liberdade condicioNALl1
(14)
lip ou que foram SOLtos/1
(15)
lip depois de cumpriremPEna .../1 ..••
(7)
(8)
(9)
IIp+ peDOfilos/1
lip para quem nao SAbe11
flr+ sao as peSSOas que temllp+ uma obsessAo sexual por criANl;asll ""
(10)
(11)
(17)
(17)
(17)
Ilr+ 0 objeTIvo II
fir e alerTAR a popula<;AO II
lip sobre a preSEN~a de uma pesSOa .../1
Ilr morador da vizinHAN~a/l
lip que pode ser peri GOsa/ I ..••
(17)
(17)
11r+0 fichario te@ .../1
IIp+ Nove mil Nomes/I .•.
Observa<;oes
Fato noticioso
Envolvimento com
telespectador
0
Fim do fato noticioso
Evento objetivo
noticia 8, sobre
0
caso "Frangogate"io1 funcionaram como contextualizadoras, e,
101 Durante 0 periodo de grava~ao dos testes, 0 caso "Celso Pitta e as declara~5es de sua ex-mulher"
estava sendo muito badalado pela midia. 0 teste das noticias 5 e 8 foi extremamente influenciado por
aquele contexto situacional, interferindo na hip6tese de sentido proposta pelos informantes. Por esta
razao, decidimos exclui-las de nossas amilises.
Procedendo
da forma aClma descrita,
acreditamos
ser capazes
de responder
as
perguntas sobre 0 telespectador e a rela<;ao de sua compreensao da noticia com a LV A
dos locutores, sem perdermos de vista
0
nosso interesse pelo conhecimento da natureza
da contribui<;ao da pros6dia na LVA do Telejomal.
Antes, porem, achamos necessario mencionar algumas dificuldades encontradas nesta
etapa do trabalho.
A primeira delas diz respeito a apresenta<;ao dos resultados obtidos com os testes de
compreensao. A ideia de uma tabela para mostrar as diferen<;as globais de rendimento
entre os grupos foi logo descartada. Sem podermos estabelecer indices que servissem
de panimetro para a compara9ao, optamos por descrever os passos interpretativos,
conforme mencionamos acima. As men90es a visao global do desempenho dos grupos
resultam da analise e confronto de graficos feitos para cada noticia, os quais continham
as macro-proposi<;oes observadas nos blocos de leitura em urn eixo, e a identifica<;ao
dos informantes no outrolO2. Esse procedimento
nos permitiu fazer generaliza90es,
presentes na ultima se<;aodesse capitulo.
Gutra dificuldade encontrada nessa fase da pesquisa refere-se diretamente a aplica9ao
do teste de compreensao. Ao observarmos nao ter havido diferen<;as significativas de
rendimento intemo aos grupos (de uma edi9ao para outra), ou seja, a diferen<;a de
comportamento pros6dico na 10cu9ao de uma mesma noticia entre a leitura original e a
manipulada nao influiu na compreensao, reconhecemos a importancia de urna analise
preliminar das noticias. Uma analise pros6dica anterior a sele<;ao do material de teste
nos teria feito decidir por materias para as quais a mudan<;a na leitura pudesse influir na
legibilidade do texto, como foi especialmente verificado com as noticias 6 e 7, em
decorrencia dos problemas na formula<;ao textual. Por outro lado, da forma como foi
realizado, tomou-se evidente a relevancia do envolvimento promovido pela pros6dia,
especialmente para os informantes com baixo grau de letramento. Assim sendo, diante
da natureza experimental do teste de compreensao e da dificuldade em lidar com tantas
variaveis dadas as peculiaridades
do objeto escolhido, acreditamos ter conseguido
superar os obstaculos encontrados ao longo da realiza<;ao do experimento.
Para analisarmos
0
dialogo entre
hip6tese de sentido para
0
0
telespectador e a noticia, do qual resultou uma
texto, foi observado em que medida a contribui<;ao do
locutor nos eixos horizontal e vertical da pros6dia (EH e EV) homogeneizou
os
resultados.
Uma vez constatado nao haver mudan<;as substanciais na leitura manipulada quando
esta se deu com urn comportamento pros6dico similar a original, estivemos atentos as
ocorrencias que implicaram mudan<;as significativas de interpreta<;ao. Desse modo,
lidamos com as varia<;oes de rendimento intemas aos grupos e entre os grupos, em
fun<;ao dos aspectos distintos na LVA.
A partir de agora, faremos a exposi<;ao dos resultados obtidos com as noticias, deixando
para
0
final uma avalia<;ao global.
Como dissemos no capitulo da metodologia, algumas noticias originais esmo presentes
em todas as edi~oes. Sao elas: a noticia 1, sobre 0 "Hamar Franco"~ a noticia 3, sobre 0
"Vitor Buaiz"~e a noticia 5, sobre "Celso Pitta". Ha, tambem, a leitura manipulada em
apenas uma edi9ao, para a noticia 6, sobre Petroleiros, na Edivao 3. Este procedimento
visou ao que denominamos cruzamento dos dados,
0
que significa a presen~a de
noticias identicas para todos os informantes, a fim de observarmos, no rendimento
individual e no rendimento coletivo, a interferencia da manipula<;ao(que nao dispoe
dos mesmos recursos de edi~ao no studio que a noticia original, vale lembrar). Como as
noticias nao foram analisadas antes da grava~ao das edi~oes, assumimos
0
risco de ter
que fazer adapta~oes no teste durante sua aplica~ao.
De modo geral, as diferen~as pros6dicas entre as leituras original e manipulada
demonstram ser secundarias com rela~ao
a
compreensao dos telespectadores. Isto
porque a formula<;ao do texto impoe limites a textualiza<;aona LVA. 0 locutor atende
as exigencias do escrito e as possibilidades de modifica~oes na LVA em fun~ao da
distin~ao LPILN saD restritas a tais exigencias. Sendo assim, os resultados
demonstraram nao haver mudanyas significativas de uma edi~ao para outra, dentro do
mesmo grupo, relativa a mudanya da leitura original para a manipulada, exceto com a
noticia 6 (sobre petroleiros), cuja manipula9ao aumentou a legibilidade do texto. Os
resultados revelaram a interferencia da pros6dia na compreensao do telespectador
relativa ao grau de envolvimento proporcionado pelas estrategias de oralidade e ao
comportamento interpretativo das comunidades de leitores.
•
Noticia 1: "Itamar Franco Quebra Protocolo"
Para lidar com a formula<;ao do texto, a expressividade na LV A do Carlos Chagas nessa
primeira noticia demonstra a opyao por urna leitura padrao do tipo natural (LN), que
divide
0
texto em dois momentos: (i) da linha 1 a linha 19, com a constrw;ao de sentido
instanciada pelo contexto interativo de descontrac;i1o, caracteristico,
especialmente,
pel a presen<;a de poucas proeminencias no eixo horizontal da pros6dia, que diminui sua
fOf9a ilocut6ria~ e (ii) da linha 20 ao final, com a mudanya de contexto interativo para
urn de maior proximidade, aumentando
primeiro momento,
0
0
foco sobre as informa<;oes naquele trecho. No
texto traz informayoes contextuais do fato noticioso: a quebra de
protocolo pelo Itamar Franco no momento "solene" em que assumira sua funyao de
embaixador do Brasil na OEA, em Washington. No segundo momento, as estrategias
de oralidade
aurnentam
a focaliza<;ao sobre
0
relato das ayoes do Itamar
que
significaram a quebra de protocolo. Desse modo, podemos dizer que a voz presente no
texto hierarquizou as informal;oes, trazendo
0
segundo momento da LV A para urn
plano superior ao primeiro.
o resultado
obtido com
0
teste de compreensao desta noticia comprova esta afirmativa
com algumas diferen<;as por grupo.
Na fase inicial do teste, dos oito informantes
que compoem
0
Grupo 1, 75%
transformam a primeira parte da noticia em uma "retmiao" no exterior. Apenas dois
homens, R37 e A39, recuperam tambem as proposiyoes daquele primeiro trecho, com
melhor desempenho global. Assim,
0
0
sentido proposto para a noticia pelos demais
informantes resume-se as a<;oesocorridas no segundo trecho da LVA, sem afetar a
compreensao.
Com 0 Grupo 2, exceto por uma informante (Eu45), na constru<;aode sentido do texto
proposta na primeira etapa do teste, nao ha men<;aoaquele trecho inicial da leitura.
Quando indagados acerca da situa<;aoem que 0 epis6dio se deu (no segundo momento
do teste, com a interferencia do pesquisador), as respostas parecem resultar da
inferencia pragmatica fundada no contexto da segunda parte da leitura: uma festa, uma
reuniao, onde todo mundo estava bebendo. Ja os informantes do primeiro grupo
referem-se a uma ocasiao em que
0
!tamar estava "assumindo" algum "cargo" e uma
integrante desse grupo (Ca34) desvia-se do sentido do texto, afirmando que teria sido
no momento em que
palavra "assumir"
0
!tamar estava "assumindo a Presidencia da Republica". A
e, pois, recuperada em sua hip6tese de
sentido, acionando-Ihe urn
conhecimento extemo ao texto.
Voltando aos resumos propostos na pnmelra etapa do teste, ambos os grupos
apresentaram problemas de decisao de sentido relativo ao segundo momento de leitura,
sobre os quais a analise pros6dica sugere explica<;oes, diante de sua fun<;ao
organizadora da compreensao. Vejamos porque.
No Grupo 1, todos os informantes referem-se ao epis6dio do cafezinho e da champagne
(linha 18 a 24). No entanto, ha diferen<;asquanto a a<;aoespecificamente: recusa do
champagne e pedido do cafezinho, ou seria
!tamar tomou ambas as bebidas,
0
0
contrario ? A informante K36 diz que
F41 acha que "ele nem tomou
0
0
cafe direito", e a
Ca34 afirma que ele "s6 aceitou
0
cafezinho". Os demais nao apresentaram desvios
nesse ponto. De resto, com excec;ao do F41, os outros informantes desse grupo
apresentam esse trecho como secundario, propondo a negativa do discurso pelo Hamar
como informac;ao principal. 0 F41 tenta se esquivar de falar inicialmente do texto,
afirmando estar muito cansado do dia de trabalho, mas prop5e, logo em seguida, que a
noticia "e sobre
0
cafezinho de ltamar ... acho que ele nem tomou
0
cafe direito ... fala
que ele nem notou que tava tomando cafe".
Do Grupo 2, por sua vez, cinco informantes reconstroem globalmente
trecho sobre
0
0
sentido do
cafezinho e a champagne (menos de 50%). Desses cinco, um afirmou
que 0 !tamar "enjeitou
mas nao tomou "nem
0
0
cafezinho" (G134)e outra disse que
0
!tamar ''pediu os dois",
cafezinho nem tomou a champagne" (Mv28). Os tres restantes
tern 0 melhor desempenho (3 mulheres, Ma39, Eu45 e Ml23) formulando uma hip6tese
de sentido mais completa para a noticia.
Os sete demais integrantes desse segundo grupo apresentam os seguintes resultados:
028 e G28 nao prop5em nenhum sentido para 0 texto, referindo-se apenas ao tema ou
ao objetivo da noticia ("e sobre polftica ... mas nao me interesso", afirma 028; e G28
diz "essa ai eu nao entendi ... e sobre
0
ltamar Franco"); M26 refere-se apenas ao
cafezinho ("ltamar pediu um cafezinho ... acho que porque ele tava aperriado");
a
informante Z35 prop5e como sentido do texto unicamente a negativa do discurso (cuja
expressividade encontra-se realc;ada prosodicamente na LVA) e dois elementos do
primeiro trecho da leitura ("ltamar assumiu Washington. ..ele ficou mudo ... disse que
nao tinha
0
que falar ..."), e quando indagada acerca das palavras "cafezinho" e
N28:
"M uma reuniao ... e Itamaro Presidente Itamarcome90u
a bebero
champagne ..." (primeira parte do teste);
"niio falou de tiio embriagado que ficou" (quando indagada sabre
0
contexto
Exemplo (62)
A ausencia de proeminencias no eixo horizontal da pros6dia no trecho que vai da linha
Com a proeminencia anterior sobre a palavra cafezinho, nao ha elementos
intermediarios entre as duas proeminencias no eixo horizontal que, ainda por cima, se
dao em tom descendente dominante (p+ ), e a fon;a ilocut6ria naquele ponto e intensa,
enfraquecendo ainda mais 0 operador argumentativo que se encontra "apagado"
18 ("pois ltamar ...").
0
a linha
telespectador deve recupera-lo da superficie do texto sem
0
auxflio da linha de argumento construida pela pros6dia, e segmentar a superficie de
modo adequado: "queria um cafezinho/ e rejeitou a champagne".
Quanto
a ultima etapa do teste,
a frase '"'"ltamarcontinua !tamar" foi tomada como
ponto de partida e os informantes foram estimulados a falarem da relevancia do fato
noticioso. Nesse momento, a diferen<;aentre os grupos toma-se mais acentuada, trecho
em que 0 grau de partilhamento de informa<;aoprevia e bastante acentuado.
Dos informantes do Grupo 1, apenas Fa29 e F41 nao atribuem
"quebra de protocolo", mesmo ap6s a referencia
0
sentido negativo de
a "abagun<;ou",no segundo momento
do teste. Para Fa29, a for<;ailocut6ria do enunciado referia-se a "ltamar manter a
simplicidade, ser autentico". F41 nao propoe urn sentido para
0
texto, definindo sua
dificuldade em falar sobre a noticia dizendo nao gostar de politica. Sua contribui<;ao
restringe-se ao epis6dio do cafezinho de forma especial, como foi mencionado
anteriormente.
A rea<;aodo Grupo 2 ao ultimo lance de leitura na fase final do teste revela urn
conhecimento partilhado de que qualquer fato ocorrido com figuras publicas deve ser
noticiado. Dos 12 integrantes desse grupo, dois nao conseguiram formular uma
hip6tese de sentido para
sentido
a ideia
0
texto, 028103 e G28, e apenas dois informantes nao limitam
de "bagunya por nao ter tornado a champagne", como
0
0
fez a maioria,
inferindo ter sido para mostrar a "irresponsabilidade
dele", (afirma MI23), ou para
chamar a atelll;ao do telespectador de que "ele (Itamar)
ta agindo
de mal fe ... pelo que
ele (reporter)falou ai", (propoe G134).
Nesse momento final do teste, os informantes do Grupo 1 sao cidadaos que nao so
criticam as ayoes dos politicos, como questionam a relevancia desse fato transformado
em noticia, diante de tantas outras coisas mais importantes que deveriam ser mostradas
a populayao.
0 Grupo 2, pOI sua vez, sao cidadaos passivos que se limitam a relatar
0
fato noticioso, atitude que reflete a assimetria da relayao com a documentadora. Desse
grupo, os 3 unicos informantes que nao demonstraram interferencia da interayao em
suas opinioes e, de modo geral, apresentaram urn melhor desempenho nos testes, foram
justamente aqueles com maiOI envolvimento com a leitura: 028, M123 e Eu45.
A expressividade
na LV A do Hermano Henning nessa noticia 2 ilustrada aClma
demonstra a imposiyao do escrito sobre a distribuiyao
permitindo
a identificayao
de 3 momentos
pros6dica da informayao,
de leitura
distintos
significativa do contomo entoacional. Sao eles: (1) da linha 1
pelo contexto interativo de tensao, favoHivel
a construyao
a linha
pel a mudanya
6, com a Opyao
de sentido do fato noticioso
(a divulgayao elas autoridades britilnicas de urn fichario com
0
nome de pedofilos),
tipico pela 0P9ao por unidades de leitura de maior extensao e a intervalos regulares
0
interativo de tensao no 3 momento da leitura, consequencia da formula9ao do texto que
apresenta "problemas" na superficie104, esse trecho (linhas 12, 13 e 14) destaca-se
resultado dessa primeira noticia
104 Vide p.] 80.
a dispersao
causada pela situayao de teste.
prosodicamente nao sao capazes de realc;ar a informac;ao principal que deu origem ao
fato noticioso (0 fichario).
Os resultados
obtidos com os testes de compreensao
dessa segunda noticia sao
especialmente
reveladores da influencia da pros6dia na construc;ao de sentido pelo
telespectador,
alem confirmar a hip6tese sobre a relevancia
do envolvimento
na
compreensao. Vejamos como.
o teste
com a noticia 2 apresenta como comportamento regular em ambos os grupos a
nao referencia ao primeiro e ultimo blocos de unidades de leitura, justamente aqueles
onde
0
fato noticioso
e apresentado
e a pros6dia e menos relevante: a divulgac;ao de urn
fichario com 9 mil nomes de ped6filos, pelas autoridades briffinicas.
Dos oito informantes que comp5em
0
Grupo 1, 50% recuperam
0
sentido global da
noticia, referindo-se aos 3 momentos de leitura. Estes 4 informantes sao aqueles com
maior grau de letramento dentro do pr6prio grupo. Sao eles: a professora frequentando
urn curso de especializac;ao em lingua portuguesa (Fa29);
Mestrado em Administrac;ao de Empresas (R37);
(J43) e
0
0
0
engenheiro mecanico com
Mestre na area de Educa<;ao Fisica
veterinario (A39). Os demais informantes prop5em como sentido do texto
trecho da noticia no 2° momenta da leitura (linha 7
servir de ancoragem para a compreensao
a 9), justamente
do telespectador,
0
0
aquele que pretende
qual caracteriza uma
marca explicita de envolvimento. E e nesse trecho do segundo bloco de unidades de
leitura que a modifica<;ao do contomo entoacional mostra-se significativa por contagiar
o bloco seguinte (linha 10
a
14). Desse modo, a voz presente no texto transformou a
inferem ser
0
objetivo "da noticia". Os demais informantes desse Grupo 1 propoem
0
como sentido do texto na primeira etapa do teste, as informa<;oes daquele 2 momenta
M26:
"e sobre fichove
fichove sei
Ia
E sobre crianca acho que falava coisa boa ne?
Pra fala de crianca e coisa boa ne?"
MI23: "e sobre esses home que tern obsessao sexual por crian~as"
N28: "e pra falar desses homens que tern obsessao sexual ne ,__uma tara por crian~as"
Exemplo (65)
gerado com
0
contomo entoacional exigi do pela formula<;ao do texto (no
i momento
0
de leitura), al<;ou as informa<;5es ali contidas a um patamar superior as demais (do 1 e
no Brasil, e sem recuperar 0 contexto em que aparece a palavra "nomes" (ultima linha).
Seria correto propor que as proeminencias no eixo vertical, limitadas it. fluencia
sintatica da LVA, nao sac capazes de realvar elementos de modo a facilitar it. memoria a
retenvao das informavoes, como aquelas do primeiro momento da leitura, por exemplo.
Exemplo tipico de leitura padrao nao-natural (LP),conforme mostrou a analise no
capitulo 4, a noticia 3 caracteriza-se por apresentar unidades de leitura que tiveram a
fluencia sintatica como comportamento prosodico tipico: as estrategias de oralidade
sinalizam a sintaxe textual. Urn aspecto interessante na formulavao do texto diz respeito
it. sua composivao, que apresenta os eventos objetivos na voz do locutor ao vivo,
deixando os subjetivos para a locuvao em OFF.
Preocupado em sinalizar a sintaxe textual,
0
locutor Carlos Nascimento nao utiliza
estrategias de oralidade para realvar 0 foco central do fato noticioso, embora 0 contomo
entoacional em sua leitura crie urn contexto interativo de tensao eficaz para a
hierarquizavao das informavoes quando a fluencia discursiva e observada. Esse tipo de
fluencia auxilia
0
ouvinte no processo inferencial, porque aumenta
0
foco sobre as
informavoes principais para a construvao de sentido.
as resultados dos testes com esta terceira noticia revelaram uma queda de rendimento
em ambos os gropos, especialmente na recuperavao das informavoes dos blocos de
unidades de leitura que estao em OFF.
Sobre isto podemos sugerir ter sido
consequencia da opyao pela fluencia sintatica na LVA, em consequencia do
distanciamento imposto pela formulayao do texto que, naquele trecho, se constr6i com
a voz do outro.
No Grupo 1, durante a primeira etapa do teste de compreensao, identificamos uma
diferenya de rendimento interna ao grupo na ordem de 50%. S35, A29, R37 E J43
acompanham sem problemas os movimentos de leitura, com mais detalhes fomecidos
pelos informantes A39 e R37. Os outros quatro integrantes do grupo tern
aproveitamentos distintos e com urn rendimento em certa medida inferior.
Uma informante apresentou urna possibilidade de sentido desviante do texto original,
mas motivada pela proeminencia no eixo horizontal sobre a palavra "deixa", Ii linha 4:
"pediu demissilo do governo por causa do PT', afirma K36. Assim,
0
motivo da
demissao voluntaria do govemo (por causa do PT), para a informante, nos revela uma
ativayao dessa hip6tese fundada no segundo lance de leitura (linhas 5 a 10), no primeiro
trecho da locuyao em OFF. Os outros tres informantes desse grupo nao recuperam
informayoes da LOFF nessa primeira etapa do teste de compreensao. Sao eles duas
mulheres (Fa29 e Ca34) e urn homem (F41). Para Ca34, a noticia refere-se ao fato
inacreditavel do PT ter apenas urn govemador (''por incrivel que parec;a", afirma). Seu
resumo da noticia revela a influencia dos dois ultimos blocos de unidades de leitura,
trecho em que
0
locutor opta por unidades de leitura menores e
0
tom informativo
e
predominante (linha 20 Ii 24). Fa29 e F41 referem-se ao texto ancorados no primeiro
bloco de unidades de leitura: a saida do partido pelo governador. Quando indagados
sobre 0 contexto da palavra "derrota", esses quatro componentes do Grupo 1 formulam
uma hip6tese de sentido relacionada ao trecho final da LV, no penultimo bloco de
unidades de leitura (linhas 20, 21 e 22): 0 fato de ficar apenas urn govemador membro
do PT. Mas, nao ha men9ao it "luta intema" existente no partido, referida it linha 16.
Quando inquiridos sobre essa "luta", suas respostas demonstram uma ancoragem no
conhecimento previo do que ocorre no mundo da politica.
Na etapa final do teste,
0
comportamento geral do grupo caracteriza-se pelo
envolvimento do telespectador com a tematica abordada, nesse caso, gostar ou nao
gostar de poHtica. R37 e A29 san exce90es, porque alem de nao mencionarem seus
interesses pessoais nessa etapa do teste, fazem referencias explicitas ao modo como
0
texto e formulado e a inten9ao da emissora com rela9ao a este aspecto.
Quanto ao Grupo 2, apenas urn casal demonstrou ter acompanhado par e passo a
apresenta9ao da noticia: 028, telespectador diario do Jomal Nacional (Rede Globo) e
do programa Cidade Alerta (TV Record); e MI23, que tambem assiste ao Jomal
Nacional "enquanto espera a novela".
Tambem nesse grupo, as propostas de sentido do texto tern seus referentes na LVAdos
trechos em LV. De dez informantes, dois casais afirmam ser a noticia sobre a "saida do
governador do PT" (Z35 e Ma39, mulheres; e G134 e G28, homens). Quando
requisitados para "explicarem urn pouco mais", desfazem a ambigiiidade de suas
respostas afirmando ser a noticia sobre urn govemador que resolveu "deixar"
nao van muito alem. Urn outro informante,
0
0
PT, mas
Gv34, da sua primeira contribui9ao no
teste retomando as informa<;5esdo penUltimo bloco de unidades de leitura (linhas 20,
21 e 22): "e que
0
PT agora tem so um governador". Na segunda etapa do teste, esse
informante limita-se a dizer que nao entendeu muito bem a noticia.
Na etapa final do teste, estes cinco informantes mencionados acima sao estimulados a
falarem da relevancia da noticia ("pOI que esse fato e urna noticiaT,
"0
que 0 jomalista
quer dizer pra gente falando nisso?", "qual a importancia dessa noticia?"). nessa
ocasiao, limitam-se a dizer que nao entenderam muito bem a noticia, porque nao
entendem de politica. Varias hip6teses podem ser levantadas como explica9ao para
0
fato. Dentre elas, a do desperdicio na LVA do potencial discursivo dos elementos
centrais
a informa9ao; a formul~ao
do texto com a presen9a de eventos subjetivos na
"voz do outro" caracterizando-se pelo distanciamento do locutor e do telespectadOI; a
ancoragem excessiva em conhecimento previo partilhado no texto; etc. Nesse
momento, nao podemos apresentar conclus5es sem corrermos
0
risco de fazermos
conjecturas infundadas. Limitamo-nos, pois, a chamar a aten9ao para 0 fato.
Os 41% restantes desse segundo grupo comportam-se do seguinte modo: 4 informantes
(Eu45, N28, Mv28 e M26) referem-se apenas a temlitica da noticia - "e sobre politica",
"e sobre 0 PT" - sem propor urn sentido para
foi exibida desde
0
0
texto; e Fo35 afirma que a noticia nao
principio, e que as imagens teriam sido colocadas pela
documentadora de "forma mal feita", impossibilitando
0
entendimento. Estando no
subgrupo da Edigao 2, parece ter sido motivado pelo conhecimento de que a grava9ao
da noticia anterior, com 0 Antonio Carlos Xavier, foi realizada em laborat6rio. Segundo
ele, a falha na edi9ao impediu 0 seu entendimento.
ALVA
do locutor Hermano Henning na notfcia 4, aClma, apresenta urn contorno
entoacional que divide 0 texto em 3 momentos bem definidos: (1) da linha 1 a linha 5,
na LP com urna expressividade na 10cU(;aoao vivo criando urn contexto interativo de
tensao durante a apresenta<;ao do fato noticioso; (2) da linha 6
a linha
21, na LN com a
voz do locutor criando urn contexto interativo de proximidade na locu<;ao em OFF de
epis6dios narrativos, que servem para destacar a relevancia do fato noticioso; e (3) da
linha 22 ao final do texto, na tentativa de retorno ao contexto interativo de tensao na
retomada do fato noticioso, mas que limita-se
a fluencia
sintatica na LP. Os testes de
compreensao dessa noticia destacam urna diferen<;a marcante entre os grupos.
o Grupo
1 preocupa-se em formular urna hip6tese de sentido global da noticia e, ao
faze-lo, 75% dos informantes mencionam
elementos fundamentais
para a estrutura
proposicional do texto. Recuperam informa<;oes que se encontram nos tres momentos
de leitura, focalizando
especialmente
0
fato noticioso: cria<;ao de urna delegacia;
reprimir 0 roubo de carga; no Sudeste; Conselho de Seguran<;a Publica; agilizar as
investiga<;oes. Quando estimulados a falarem mais especificamente da noticia, surgem
referencias aos epis6dios narrativos (ao tipo de carga, de "cafe"; onde aconteceram os
roubos mencionados na noticia, em "Sao Paulo" e em "Minas Gerais").
Apenas dois informantes desse grupo, F41 e Ca34, tern urn comportamento urn pouco
0
distinto. 0 F41 prop5e urn sentido do texto ancorado nos elementos apenas do 1 bloco
de unidades de leitura:
"0
governo decide criar um grupo tatico para combater esse
tipo de roubo". Quando indagado sobre a iniciativa do govemo para esse tipo de
problema,
F41 se mantem preso aquele primeiro bloco, afirmando
organizando criando uma especie de equipe para
0
que "tao se
pessoal ficar mais tranquilo".
0
Quanto ao segundo momento da leitura, limita-se a mencionar dados contidos no 2
bloco de unidades de leitura: "carga de cafe ...duas mil parece". A informante Ca34,
pOI sua vez, tambem
apresentado
restringe-se
ao primeiro
momento
de leitura, no qual
0 fato noticioso, sobre 0 que infere a cria<;ao de urn "sindicato".
e
Sua
resposta parece resultar do estimulo da 3" unidade de leitura, Ct90 comportamento
pros6dico hierarquiza a informa<;ao naquele ponto, com 0 aumento da fOI<;ailocut6ria
sobre a expressao "grupo de trabalho" (linha 3).
o
Grupo 2 demonstra
urna tendencia
a ser "fisgado"
pe10s trechos de malOr
envolvimento, onde se encontram as narrativas. 50% de seus integrantes propoem um
sentido para 0 texto ancorados no trecho narrativo da linha 6 a 18 (caracteristico pelo
contexto interativo de proximidade) e incluem em suas propostas de formula<;ao textual
informa<;5es que se encontram ap6s 0 trecho narrativo (linhas 22 a 28). As duas etapas
seguintes
do teste de compreensao
permanecem
nesse contexto.
Dos outros
6
informantes, a Mv28 restringe-se ao tema ("e sobre roubo de carga de cafe'""),e afirma
nao se lembrar dos "detalhes" nas etapas posteriores
do teste. Hi, tambem, uma
"perturba<;ao" na constru<;ao de sentido do texto pela informante Z35, quando prop5e
ser a noticia sobre uma delegacia para "resolver esses caso de desvio de carro, ne ?".
Sua resposta pode ter sido deeorrente de urna falha na pereep9ao auditiva, porque ap6s
ser indagada aeerea do estimulo visual da noticia - imagens de caminh5es em urna
rodovia na LOFF - a informante eomplementa sua resposta afirmando serem os roubos
"de carro e de carga tambem". Os demais informantes - G28, G134, Gv34 e N28 limitam-se
a primeira
narrativa, da linha 6
a
18, sem refereneia ao fato notieioso
propriamente dito.
o que podemos pensar e, em que medida 0 contexto interativo de tensao resultante do
contomo entoaeional da LVA no bloeo 1 e nos tres finais favoreceu
0
resultado do
Grupo 1. Atraidos pelo treeho de maior proximidade, os informantes do Grupo 2
perdem 0 sentido global da noticia, enfatizando 0 treeho narrativo como fato noticioso.
A mudan9a de leitura na manipulavao (LN ou LP) nao afeta esse resultado,
0
qual
reflete a influeneia da estrategia de formula9ao do texto com as narrativas na
compreensao do Grupo 2.
As tres versoes da noticia 6 gravadas para
0
teste (duas originais, nas Edi90es 1 e 2, e
uma manipulada, na Edi9ao 3) SaDrealiza90es em LP. Durante a aplicavao do teste,
observamos urna queda de rendimento bastante aeentuada em ambos os grupos.
No pnmeuo momento, alguns informantes do Grupo 1 demonstraram urn eerto
deseonforto, ou mesmo inseguran9a, para formular uma hip6tese de sentido, inieiando
suas respostas com uma hesita<;ao: "nao entendi muito bem" (K36); "nao estou bem
F41: "3 mil funcionanos que tavam pra ser demitidos ne ?"
E iam bloquear as estradas pra nao passar caminhao tanque".
R37: "e sobre a parcial greve de funcionarios num estaleiro
Ameayando fechar uma estrada e bloquea-la com rnedo de demissao"
K35: "sobre uma estrada que devia ser interditada".
J43: "e a revolta de funcionanos que pelo estaleiro ai que eu ouvi ... deve ser
0
pessoal que trabalha ai de carregar frete de navio '" essas coisas
entao estao revoltados querendo fechar reivindicando
0
pagamento deles que
eu acho que e justa pelo trabalho brayal que eles tern".
C34:
"e a greve depetroleiros
pela:: nao sei se
"nao deu pra pegar". (em resposta
e dernissao desses funcionanos"
Ii pergunta
sobre
0
contexto da palavra estrada)
Fa29: "sobre os grevistas da Petrobras ... fala numa estrada mas eu nao entendi".
Para
0
A39, no entanto, a dificuldade foi superada porque ele tinha
mundo necessario para preencher a lacuna naquele ponto:
Rio e em Sao Paulo e conhece bem
0
0
0
conhecimento de
informante tern parentes no
contexto fisico do fato noticioso. As outras duas
informantes, S35 e D33, prop5em urn sentido textual similar ao que propos R37 na
primeira sessao do teste, exceto pela referencia
a Rio-Santos.
teste, quando indagadas sobre a "estrada", elas apenas repetem
Na segunda etapa do
0
conteudo da unidade
de leitura, recuperando-a da memoria, sem mais comentarios - "eles ameac;am fechar a
estrada Rio-Santos"
- mesmo quando inquiridas sobre esse "fechamento".
atribuir esta dificuldade
a
Podemos
presen9a de urna lacuna no dominio de conhecimento
(enciclopedico) do individuo testado, que
0
auxiliaria a recuperar
0
senti do do texto,
funcionando como urn elo entre aquela unidade de leitura ("eles ameayam fechar a
estrada Rio-Santos") e as anteriores, a exemplo do que aconteceu com A39.
No terceiro momento do teste, 50% dos informantes referem-se
a relevancia
da noticia
inferindo que desse fato resultaria mais urn prejuizo para a populayao, ja que envolvia a
Petrobnls. Sao eles: S35, J43, R37 e A39. Os demais declaram nao terem gostado da
noticia, por razoes distintas. Fa29 afirma que "a noticia esta mal feita", F41 diz que
"nao deu pra pegar muito bem nao", e K36 e Ca34 declararam-se desatentas durante a
exibiyao da noticia.
De qualquer modo, esta queda de rendimento refenda acima nos fez decidir pela
mesma interferencia no teste com
0
segundo grupo.
028:
"e sobre
a Petrobnis e uma plataforma que seria fechada ...nao entendi".
M123: "essas pessoas ... num sei se foi 2 mil ... eu num entendi
pessoas tava fazendo ... que num sei
Mv28: "
e sobre
0
0
que era que essas
que que era que ia fechar hoje".
os funcionarios em Angra dos Reis ... da Petrobras ... que eles
Tentam impedir a passagem da plataforma".
E45:
"e uma
ameac;a pra demitir os funcionarios da Petobnis Petobrits ... e eles
ameac;a fechar um neg6cio lit no Rio Santos ... num sei diretamente
N40:
"e sobre
0
que
e".
a greve dos funcionarios da Petrobrits ... dois mil ... que eles ameac;am
fechar a estrada Rio-Santos pra forc;ar 0 govemo a negociar com eles e nao
demitir eles".
C28:
"e sobre
os funcionarios da Petrol no Rio de Janeiro ... que eles danificaram
um neg6cio lit e tao ameac;ando fechar a estrada".
recep9ao, "apagando" as impress5es do modo como 0 dito foi textualizado na LVA. A
formula9ao do texto pode tambem ser considerada mais urn fator interferente na
compreensao, se nao 0 principal nesse caso.
As diferen9as de rendimento intemas aos grupos repete
noticias anteriores, na medida em que retrata
0
0
resultado obtido com as
desempenho do individuo em rela9ao
aos seus companheiros. No entanto, a dificuldade registrada dos informantes que nao
vinham apresentando grandes problemas despertou-nos a aten9ao. Passemos, entao, as
nossas ultimas considera95es.
A semelhan9a entre as 3 vers5es da LVA da noticia 7 esta na fun9ao claramente
organizacional da pros6dia, observada na segmenta9ao resultante dos movimentos de
leitura. A distin9ao significativa entre elas esta na LN da versao manipulada, a qual
apresenta urn aurnento da for9a ilocut6ria em alguns trechos, urna vez que a Gabriela
Kopinitz opta pela fluencia discursiva em sua leitura. Desse modo, observamos como e
em que medida os informantes submetidos ao teste com essa versao foram afetados
pelaLVA.
Por outro lado, essa noticia revela urna descontinuidade na superficie textual que, sem
diwida, compromete sua expressividade, afetando a legibilidade para
0
telespectador.
Dividida em duas partes (linha 1 a linha 5, sobre a a9ao dos sem-terra; e linha 7 a 13,
sobre a posi9ao do Ministro da Reforma Agraria), urna informa9ao fundamental para
0
fato noticioso flutua entre essas partes ("urn funcionario foi feito refem" , a linha 6),
sem que the seja dada
0
devido tratamento textual, necessario a continuidade
discursiva. A segunda parte do texto e erigida sobre urna base informacional
supostamente partilhada. Observe:
LV:
em Brasilia ...
0 Ministro
da Reforma Agniria ...Raul Jungman ... mantem a
posivao de nao negociar com os sem-terra que ocupam predios publicos
Exemplo (69)
o
elemento no texto que serve de pista para
0
processo inferencial necessario it
interpreta~ao desse trecho, com a palavra "mantem", encontra-se em urna posi~ao que,
por alguma razao, nao favoreceu sua enfase na retextualiza9ao com a LVA. Nao ha
hierarquiza~ao das informa~5es e a expressividade do texto apresenta-se em uma
superficie textual empobrecida.
De modo geral,
0
comportamento regular do Grupo 2 foi a recupera~ao apenas da
primeira parte da noticia, motivados pelos elementos referentes it a~ao dos sem-terra,
que "invadiram urn lugar em Rondonia e fizeram urn refem". Apenas urn informante da
Edi9ao 1 (028) e urna da Edi9ao 2 (Ma39) recuperaram informa~5es da segunda parte
do texto, sobre
0
Ministro da Reforma Agraria. Surpreendeu-nos, pois, que as duas
informantes (MI23, Edi~ao 1 e Eu45, Edi9ao 3) que vinham apresentando
0
melhor
rendimento nos testes ao lado de 028, nao tivessem recuperado as informay5es desse
segundo trecho.
Fa29: "uma hora ta num lugar outra hora ta em outro lugar e ai nao da pra gente
entender nada ... s6 sei que
e sobre
Ca34: "6 sobre os sem-terra que ocuparam
mais uma invasao dos sem-terra".
0
Congresso pra falar de: de reforma
Agraria e 0 Ministro da Reforma Agraria acha que nao 6 legal (fora da lei)
que eles estao querendo fazer".
0
Na segunda etapa do teste, nao houve modificac;ao do resultado obtido no primeiro
momento
do teste com 0 Grupo 2, mesmo quando indagados
sobre a palavra
"ministro". Os informantes desse grupo limitam-se a dizer que nao se lembram do que
foi dito. Apenas 4 informantes (dois homens, Gv34 e F035, e duas mulheres, Ml23 e
Eu45), propoem que "devia ser pra ele resolver 0 problema" (Ml23), "pra negociar com
os sem-terra" (F035), "0 ministro
e porque
ou ainda, "nao lembro muito bem mas
(Gv34). Podemos conduir
ele vai negociar com os sem-terra" (Eu45),
e porque
os sem-terra querem negociar com ele"
que suas respostas fundam-se em urn conhecimento
mundo que permitiu a inferencia pragmatica necessaria
a formulayao
de
da hip6tese de
sentido.
Com 0 Grupo 1, apenas as informantes que demonstraram urn rendimento insatisfat6rio
no primeiro momento do teste - K36, Ca34 e Fa29 - foram submetidas
a segunda
etapa,
desta feita, sem sucesso. K36 e Ca34 agem do mesmo modo que os 4 informantes do
Grupo 2, mencionados acima. Fa29, no entanto, demonstrou impaciencia impedindo-a
de cooperar:
Fa29: "eu nao ja falei ... essa noticia esta muito mim ...
e sobre os
sem-terra".
Exemplo (72)
Finalmente, a 3" etapa do teste reforc;a a passividade do Grupo 2, 0 qual limita-se a
reconhecer a import:ancia do tema da noticia, contra a vontade de expressar suas
opinioes a respeito do assunto pelo Grupo 1. Excec;ao feita aos informantes R37 e A39
que, mais urna vez, procuram avaliar a noticia enquanto objeto jomalistico.
Ao fazermos uma avaliayao global dos resultados obtidos com os testes das 6 noticias
analisadas, constatamos a relevancia do cruzamento dos dados, a fim de que
pudessemos perceber a influencia da pros6dia e do envolvimento na compreensao do
Telejomal.
A dificuldade de formulayao de uma hip6tese de sentido global para a noticia, por parte
de alguns informantes, se mantem ao longo de todo
0
teste. Assim, integrantes de
ambos os grupos demonstraram nao acompanhar os movimentos de leitura ad
continuum. Mas,
0
interessante neste aspecto foi
0
fato de as dificuldades recairem
sobre os mesmos pontos, homogeneizando os resultados.
Com a noticia 1 ("!tamar quebra protocolo"), a queda de rendimento se deu no trecho
em que a voz do locutor nao conseguiu aumentar
0
foco sobre os elementos do
segmento narrativo, de modo a auxiliar a legibilidade do texto. Em ambos os grupos, os
problemas de decisao de sentido referem-se aquele momento da leitura.
o
mesmo ocorre com as noticias 6 ("Petroleiros") e 7 ("Sem-Terra"). Ambas
apresentando problemas de formulayao, as versoes em LN aumentaram a legibilidade
do texto, acarretando uma melhora de rendimento no Grupo 1 e no Grupo 2. A
intervenyao no teste com a noticia 6 (relatada na seyao anterior), confirmou a influencia
da pros6dia na compreensao, porque assegurou um aproveitamento global superior para
os informantes submetidos
a versao
LN, em contraste com a queda de rendimento
daqueles
que ouvuam
a versao LP, em ambos os grupos (verificada
com os
informantes que nao apresentavam baixo rendimento anteriormente).
Outra seme1han<;ade comportamento entre
entre
a pros6dia
e
0
envolvimento
0
Grupo 1 e
0
Grupo 2 diz respeito
na expressividade
do texto,
a rela<;ao
influindo
na
compreensao. A analise da noticia 2 ("Ped6filos") ilustra este aspecto, quando verifica
uma mudan<;a de comportamento pros6dico na LVA original e na manipulada, a partir
do 2° lance de leitura, mudan<;a esta determinada pela marca explicita de envolvimento
naquele ponto. 0 fato de ambos os grupos terem apresentado
constru<;ao
de
sentido
centrada
naquele
trecho
envolvente,
uma tendencia
resultando
it.
num
"apagamento" do fato noticioso, reve1a a importancia das estrategias de envolvimento
na formula<;ao textual para a compreensao. Mais uma vez, podemos afirmar que os
segmentos mais envolventes atraem a aten<;ao do ouvinte, influindo na constru<;ao de
sentido, conforme verificamos com a leitura LN das noticias 6 e7, mencionadas acima.
As noticias 3 ("Vitor Buaiz") e 4 ("Roubo de Carga") servem it. comprova<;ao desse
aspecto de modo especia1. Vimos que a noticia 3 caracteriza-se pelo distanciamento, ao
passo que a noticia 4 recorre as estrategias de oralidade (contexto interativo de tensao,
com LP na LV; contexto interativo de proximidade, com LN na LOFF) e
textual
(trechos
narrativos
na LOFF),
para
aumentar
0
a constru<;ao
envolvimento
com
0
te1espectador. Nesse momento, estabelece-se uma distin<;ao entre os grupos que deve
ser ressaltada.
o
Grupo 1 apresentou urn rendimento geral satisfat6rio, com 50% dos informantes
demonstrando urn aproveitamento total da noticia 3 ("Vitor Buaiz"). Os demais
integrantes do grupo recuperaram as informa<;oesrelativas ao fato noticioso, dispostas
nos trechos de maior envolvimento promovido pela pros6dia, que se da na LV de
abertura da materia (em LP, com urn contexto interativo de tensao). Estes ultimos
informantes sao aqueles que apresentaram sempre
0
menor rendimento, ou seja,
tiveram por comportamento regular a centraliza<;aoem algum ponto do texto (que pode
decorrer da influencia da mem6ria na formula<;aode urna hip6tese de sentido para a
noticia).
o Grupo 2, por sua vez, teve 0 pior desempenho no teste justamente
com essa terceira
noticia ("Vitor Buaiz"). Apenas 2 informantes formularam uma hip6tese de sentido
(028 e ML23) que revelou a recupera<;aodo fato noticioso, sem referencia ao trecho de
maior distanciamento, na LOFF. Os demais membros do grupo fazem apenas
referencias soltas relativas ao tema da noticia, sem formularem uma proposta textual
em que estas referencias pudessem figurar. Vale destacar que, caracterizando-se pela
presen<;ada "voz do outro" no texto, portanto mantendo urn distanciamento do locutor
e do telespectador, a compreensao dessa noticia exige urn grande numero de inferencias
pragmMicas necessarias a sua interpreta<;ao.
Com a noticia 4 CRoubo de Carga"),
0
Grupo 1 obtem urn dos seus melhores
resultados. 0 Grupo 2 demonstrou urna tendencia
a constru<;aode sentido fundada no
contexto interativo de maior proximidade, no segmento narrativo. E born lembrar que a
narrativa como estrategia de formula<;ao textual tern por finalidade envolver
0
telespectador, visto aumentar a proximidade entre os interactantes, exigindo do ouvinte
uma atitude avaliativa sobre 0 fato reportado. 0 aproveitamento do texto pelo Grupo 2
se da sobre os trechos em que os eventos objetivos estao presentes (segmentos
narrativos), ainda que estes nao representem 0 foco central do fato noticioso.
Ao avaliarmos as diferem;as de rendimento entre os grupos, damos por certa a
confirma~ao da HI, a qual previa a interferencia do grau de escolaridade na
compreensao do ouvinte. Uma avalia9ao intema aos grupos nos permite ampliar essa
afirmativa, tomando por base a nQ9aode letramento. Em ambos os grupos, a queda de
rendimento se deu numa rela9ao direta com
0
grau de letramento do individuo,
observado pelo envolvimento com a leitura (aqui inc1uidosos objetos midiaticos).
Podemos, tambem, conc1uir que a compreensao foi maior, e de algum modo mais
adequada, nos trechos mais envolventes, confirmando a H3 de nosso trabalho. A
acentuada queda de rendimento com a noticia 3 ("Vitor Buaiz deixa
0
PT"), a menos
envolvente do corpus, ilustra essa assertiva de modo particular, bem como a tendencia it
constru9ao de sentido da noticia 2 ("Ped6filos") ter sido sobre
0
segmento com marca
explicita de envolvimento (a qual interferiu na LVA dos locutores). E, ainda, 0 fato da
versao LN da noticia 6 ("Petroleiros") ter aumentado a legibilidade do texto, com isso
auxiliando a constru~ao de sentido, nos permite destacar a importancia da pros6dia e
sua rela~ao com
0
envolvimento, como a principal fun9ao das estrategias de oralidade
na LVA do telejomal. Afinal, ter maior legibilidade implica uma a~ao de envolvimento
na intera~ao leitor/texto (ouvintelLVA), imprescindivel para a ativa9ao das estrategias
cognitivas necessarias Ii interpreta~ao.
Por fim, a hip6tese que previa urn baixo rendimento para as noticias em LV, na razao
direta do grau de escolaridade e relacionada ao comportamento
pros6dico na leitura
(H2), confirmou-se apenas parcialmente. Ha, de fato, urna queda de rendimento em
fun<;ao da diferen<;a de escolaridade que, no entanto, relaciona-se
a LV A em fun<;ao do
como foi observado nas analises, e nao da forma de composi<;ao. As noticias em LV,
por terem esta forma de apresenta<;ao, nao saD mais dificeis do que aquelas em LOFF.
A compreensao de uma noticia em LV sera dificultada, tanto quanto urna em LOFF,
quando houver
"perturba<;5es" na superficie
textual e/ou
0
locutor nao real<;ar
elementos do texto com estrategias de oralidade, para produzir efeitos de sentido
necessarios
a hierarquiza<;ao
das informa<;5es. A formula<;ao textual e, pois,
0
aspecto
definitivo para a constru<;ao de sentido durante a interpreta<;ao, e a pros6dia e urn dos
fatores auxiliares no processamento: na leitura e na compreensao.
HE
importante ... nfio nos deixarmos levar pela tendencia ao menor esfor<;o,
atribuindo aos leitores au ouvintes a encargo da interpreta<;fiojusta. Nenhum
expositor tem a direito de faze-lo. Muito pelo contrario, cabe-lhe a dever de ser
meridianamente
claro, em vez de solicitar uma colabora<;fio indevida da
inteligencia alheia ".
Conclusoes
o referencial te6rico desenvolvido neste trabalho permitiu a definil;ao de estrategias de
oralidade como
0
meio pelo qual
0
locutor imprime expressividade
produzindo efeitos de sentido necessarios
a hierarquizal;ao das
a
leitura,
informal;oes textuais,
com implical;oes para a compreensao do ouvinte. 0 produto da discussao te6rica
propoe que fenomenos promovidos pela voz (audivel ou mentalizada), tais como a
coesao pros6dica eo contomo entoacional, sejam vistos no processo de textualizal;ao,
observados entre os mecanismos de distribuil;ao e progressao da informal;ao, ou mesmo
acrescentando significados ao escrito. Esta abordagem dos fenomenos pros6dicos
permitiu a identifical;ao de tipos de leitura - litanica, padrao e eloquente - observaveis
nos diversos eventos comunicativos que tenham a LVA como atividade constitutiva, e
relacionados
aos
contextos
interativos,
que
se
deslocam
sobre
0
elXO
envolvimento/distanciamento.
A descril;ao dos noticiarios de televisao - apresentada no capitulo 2 - permitiu
0
estabelecimento dos aspectos constitutivos do Telejornal, revelando a importancia da
pros6dia na estrutural;ao do evento, e sua participal;ao no jogo interacional promovido
pelo texto, como uma das estrategias de envolvimento caracteristicas desse genero
comunicativo. A descril;ao salientou a relevancia das chamadas e da forma de
composil;ao da noticia para a compreensao do telespectador. Revelou, ainda, a presen9a
de estrategias de oralidade nas charnadas, exercendo a triade funcional da lingua:
informativa, ao anunciar sobre
0
fato, servindo de pistas contextualizadoras
do texto
noticioso; organizacional, ao participar da estrutura9ao do evento de forma especifica; e
interacional,
ao envolver
encarregarn de aumentar
0
0
telespectador.
Sao as estrategias de oralidade que se
envolvirnento, nos textos que nao trouxerern explicitas essas
marcas.
Uma vez conhecidas
as especificidades
do telejomal,
0
passo seguinte buscou
identificar padroes pros6dicos regulares, distinguindo a fluencia sintatica (LVA atenta
as irnposi90es rnorfossintaticas do texto, caracterizando as regras regulativas da leitura,
pp.173, 174) da fluencia discursiva (LVA atenta as exigencias cornunicativas do texto,
busca, nas estrategias
dernonstrando
0
de oralidade, recursos constitutivos
envolvimento do locutor com
0
texto e com
0
do sentido pretendido,
ouvinte, na realiza9ao da
leitura). Essa identifica9ao foi possivel, a partir do desenvolvimento
expressividade, que permitiu
0
do conceito de
postulado da existencia de urn plano de observa9ao da
pros6dia na dinfunica textual, com a identificayao dos tipos de leitura
(conforme
rnencionado acima), na dimensao sonora do texto.
o evento
analisado caracteriza-se pela leitura padrao natural (LN) ou nao-natural (LP),
cuja expressividade reflete as imposiyoes do escrito. A LVA expressiva e aquela em
que a voz conjuga-se
a forma e produz
sentidos.
A diferen9a entre a LP e a LN esta na presen9a da voz durante a textualiza98.0,
permitindo a identificay8.o de contextos interativos distintos especificos de cada uma,
que podem auxiliar 0 ouvinte
a interpreta98.0 justa.
Assim, no quarto capitulo, a observay8.o da pros6dia na LVA de diferentes noticias,
bem como a decis8.o por uma leitura manipulada, analisadas
a luz da perspectiva
te6rica
basilar assumida neste trabalho, permitiu a identificay8.o de: (a) unidades de leitura
enquanto
segmentos
caracteristicos
do processo
de textualizay8.o na LVA; (b)
comportamentos pros6dicos distintos na elocuy8.o, confirmando a existencia de tipos de
fluencia na LV A (fluencia discursiva e a fluencia sintatica), a partir de mudanyas
significativas no eixo horizontal da pros6dia (EH), para destacar a estrutura ilocut6ria
do
texto;
(c)
contextos
envolvimento/distanciamento
interativos
(pros6dicos)
promovidos
pelo
com a LVA, caracteristicos pela recorrencia a estrategias
de oralidade, que retratam, na atitude de leitura, a maior ou menor focalizay8.o no
discurso, e que podem influir na compreens8.o; e (d) mudanya de contexto interativo
estimulada pela formulay8.o textual, revelando a interferencia do texto na atitude de
leitura.
Para verificarmos em que medida a expressividade da LVA interfere na legibilidade do
texto, para informantes com diferentes graus de escolaridade, a analise apresentada no
capitulo 5 demonstrou diferen9as significativas na constru98.0 de sentido da noticia,
permitindo a identifica98.0 de duas comunidades de leitores (com a mesma faixa etaria,
entre 23 a 45 anos): informantes com Nivel Superior completo (Grupo 1) e informantes
com Ensino Fundamental (in)completo em escola da Rede Publica (Grupo 2). Podemos
afirmar que os resultados obtidos nos testes confirmam a H3, que previa urna melhora
na compreensao relacionada a urn maior envolvimento. Observamos que a
compreensao dos informantes com baixo grau de escolariza<;aofoi mais adequada nos
textos cujas leituras apresentaram contextos interativos de maior envolvencia, em LN,
preferencialmente, e sobre segmentos narrativos. Com
0
Grupo 1, a melhora de
rendimento tambem se deu nesses contextos.
Os informantes com Nivel Superior completo sao menos suscetiveis ao comportamento
pros6dico da leitura, e as "falhas" na constru<;aode sentido do texto sao decorrentes de
lacunas em espa<;os especificos nos dominios de conhecimento (lingiiistico ou
enciclopedico). Nesse Grupo 1, a familiaridade com
0
evento revelou uma otimiza<;ao
da interpreta<;aodo texto, no resultado dos testes de tres informantes que declararam
assistir a no minimo dois telejomais diarios, aMmde realizarem alguma leitura semanal
de materia informativa: com urn indice percentual bastante expressivo em todas as
noticias assistidas pelo A39 (graduado em Medicina Veterimiria) e
pela S35
(Fonoaudi6loga), e praticamente 100% de aproveitamento pelo informante R37 (Mestre
em Administra<;ao de Empresas e leitor voraz de revistas informativas, jomais e
telejomais).
Por outro lado, os informantes com baixo grau de letramento (Grupo 2)
sao
diretamente afetados pelo contomo entoacional da leitura, mostrando um melhor
rendimento para os contextos interativos mais envolventes. Este grupo demonstrou
tambem uma preferencia pelos contextos narrativos. A diferen<;a acentuada na
competencia de leitura do telejomal por individuos de urn mesmo grupo tambem
mostrou urna estreita rela<;ao com
0
habito de leitura de modo geral (sao informantes
que (quase) nao mantem contato voluntario com a escrita), e, de modo mais especifico,
com a LVAdos noticiarios de televisao. 0 destaque no desempenho de 028, Ml23 e
E45 (do Grupo 2) e
0
baixo rendimento de K36, Ca34 e F41 (do Grupo 1) comprova
essa afirmativa, por serem aqueles individuos os que dec1araram assistir ao telejomal
diariamente, e disseram buscar informa<;ao semanalmente em material escrito Gomais e
revistas), disponiveis no local de trabalho, enquanto os informantes
do Grupo 1,
mencionados acima, dificilmente realizam algum tipo de leitura.
Um ponto surpreendente
nos resultados da pesqUlsa refere-se
a
nao interferencia
negativa da composi<;ao em LV prevista com a segunda hip6tese (H2), que supunha
uma queda do grau de compreensao para as noticias sem imagem, na razao direta do
grau de escolaridade e relacionada ao comportamento pros6dico na leitura. A analise
demonstrou que a dificuldade de formula<;ao de uma hip6tese de sentido a partir da LV
decorre de urna falha na superficie lingilistica do texto, que pode ser superada, em certa
medida, com a leitura do tipo LN com mais envolvimento,
como ocorreu com as
noticias 6 e 7. Podemos, entao, dizer que a pros6dia auxiliou a compreensao do ouvinte,
porque aumentou a legibilidade textual.
Por fim, a expressividade na leitura do noticiano de televisao mantem estreita rela<;ao
com as estrategias de envolvimento presentes na noticia, as quais impoem uma atitude
de leitura adequada it eficacia comunicativa do texto. A LVA expressiva e, por assim
dizer, uma tentativa de repeti<;ao do comportamento espontaneo na fala. Afinal, nao
contamos urn epis6dio tragico, por que tenhamos passado, do mesmo modo como
falamos sobre a nossa impressao ao visitarmos
0
atelier
do artista phistico
pernambucano Francisco Brennand, por exemplo.
E mais, na tentativa de evitar
LVA,
0
0
artificialismo imposto pela atividade em si mesma de
locutor usa estrategias de oralidade para selecionar elementos que the foram
importantes a pr6pria compreensao, durante a leitura previa que antecede
Disse-o bern, PROGRAMA.
E nisso que
0
programa.
vem se transformando, e a passos largos,
0
telejomal. Urn programa de variedades vestido de fraque e cartola, com direito a
aprova9ao inconteste do cidadao que, "do lado de ca.", ainda reconhece naquele
0
argumento de autoridade que the foi concedido (mantido?) pelo status quo.
Ao professor cidadao compete desvelar para os leitores iniciantes, que sao os alunos, os
segredos escondidos na tessitura dos diversos e variados objetos de leitura disponiveis
na sociedade, ensinando-os verdadeiramente a ler. Os problemas de compreensao de
leitura nao decorrem de uma deficiencia ou incompetencia individual, mas de uma
inadequa9ao metodol6gica por limita9ao te6rica quanto a relevancia do entendimento
dos sistemas de conhecimento acessados por ocasiao do processamento textual
(produ9ao e compreensao), e da falta de consciencia do papel da escola no
preenchimento das lacunas nos dominios de conhecimento (lingiiistico, interacional,
enciclopedico) do aluno mediado/instanciado pela leitura comprometida com 0 desvelo
dos sentidos para alem dos conteudos especificos.
Acreditamos que cumprimos 0 nosso objetivo nesta pesquisa ao respondermos, senao a
todas, pelo menos as perguntas referentes a re1a9ao da LVA com a constru9ao de
sentido das noticias pelo telespectador, e it interferencia do letramento na compreensao.
as resultados obtidos com a analise do desempenho geral dos dois grupos e da rela<;ao
com
0
habito de leitura e com a observa<;ao do desempenho
revelaram
a interferencia
do grau de escolaridade
intemo aos grupos,
na compreensao,
servindo
it
confirma<;ao da HI deste trabalho. Vimos, ainda, que esta interferencia decorre do
baixo letramento do individuo e do pouco conhecimento dos objetos de leitura, e nao de
uma suposta incompetencia
sugerida pela sociedade, quando concebe, a priori, a
dificuldade de compreensao como resultado da pouca escolariza<;ao dos individuos.
as resultados da descri<;ao do telejomal e da analise comparativa da pros6dia na LVA
de uma mesma noticia, nao se fecham neste trabalho nem esgotam as possibilidades
analiticas, mas abrem
0
leque a novas pesquisas que possam enta~ explicar:
)r
Se ha locutores entoacionalmente melhores;
)r
Em que medida os contomos entoacionais apontam para uma c1assifica<;ao das
noticias;
)r
a papel da imagem no processo de textualiza<;ao;
)r
Se ha rela<;ao da forma de composi<;ao com as comunidades de lei/ores.
A contribui<;ao do nosso trabalho
desenvolvidas
interdisciplinares
nesta
pesqmsa.
acreditamos
Elas
apontam
resultar das reflexoes
para
a impomncia
que possam gerar frutos nao s6 para a Lingiiistica:
conceituais
de
estudos
(a)para a
Fonologia Estetica, promovendo a elabora<;ao de novos manuais de locu<;ao; (b) para a
Ciencia da Comunica<;ao, como uma nova abordagem te6rica fundada nos preceitos
lingO.isticos numa perspectiva s6cio-interacionista;
(c) para os cursos de Radialismo e
Jomalismo como material didatico, promovendo a discussao dos resultados e sua
aplica~ao em outros generos do radio e da televisao; (d) para a Hist6ria da Leitura, com
a inclusao do telejomal entre seus objetos de pesquisa, bem como de outros textos
midiMicos.
Por ultimo, acreditamos na relevancia do nosso trabalho por estarmos conscientes da
importancia da Tecnologia da Informayao para as mudan~as sociais ocorridas nos
ultimos anos, promovidas pelo desenvolvimento da capacidade de produzir, armazenar
e transmitir informayao. Por esta razao, cada pesquisa que se fizer estara contribuindo
de forma valiosa para a compreensao da linguagem e do que
com ela e a partir dela.
0
homem
e capaz de fazer
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ANEXOI
GLOBO(11/08/97)
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AS CHAMADAS: 0 JOGO DA SEDUC;AO
MANCHETE(09/09/96)
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MANCHETE(08/08/97)
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Dados Pessoais
Nome:
Idade:.......
naturaliade:
Endereyo:
Residencia propria: ( ) sim
( ) nao
Renda familiar:
( ) 1 a 5 salarios minimos
()5alO"
"
()10a15
"
( ) 15 a 20 "
( ) mais de 20 salarios minimos
Atividade profissional:
.
Grau de Formal;ao
Seu:
Pai:
Mae:
.
.
.
.
.
.
Televisao
1) Voce gosta de televisao 7
2) Que programa(s) gosta de assistir 7
3) Voce assiste ao telejornal 7
.
4) A qual telejornal voce assiste 7 Caso nao saiba
SBT
.
BAND
.
Manchete
.
Cultura
.
Globo
.
5) Por que prefere essa emissora 7
6) Por que prefere esse telejornal 7
.
.
0
nome do telejornal indique
0
horario.
.
.
7) ao assistir ao te1ejornal voce:
8)
a)
b)
c)
d)
a) nao sente dificu1dade de compreender.
b) sente dificuldade de compreender em alguns momentos.
c) nao sente dificuldade.
Assina1e a alternativa que corresponde aquilo que ocorre com voce ao assistir 0 telejornal.
Sente dificuldade de compreender porque eles falam muito rapido.
Sente dificuldade de compreender apenas algumas noticias, independentemente do tema abordado.
Sente dificuldade apenas quando as noticias sao sobre temas qe voce nao dominaJentende.
Sente dificuldade apenas em determinada emissora. Qual 7
.
Locul;ao
1) Enumere a coluna abaixo de acordo com 0 grau de prioridade (numero 1 para
sucessivamente). 0 que e importante para 0 locutor de telejornal 7
0
mais importante e assim
HOMEM:
( ) voz ( ) beleza ( ) entoayao ( ) traje ( ) juventude
( ) simpatia ( ) dicyao ( ) sotaque ( ) ritmo
MULHER:
( ) voz ( ) beleza ( ) entoayaO ( ) traje ( ) juventude
( ) simpatia ( ) dicyao ( ) sotaque ( ) ritmo
( Ide 1 a 5 8a.Lariosm1nimos
{ Ide 5 a 10 salfuios nrinimos
( Ide 10 a 15 salfuios m1nimos
Ide 15 a 20 salarios rninirnos
( Ide 20 a 25 salfuios minimos
)mais de 25 salarios minim os
pai
primeiro gran
segUIldo grau
terceiro grau
()completo
()completo
()completo
( )incompleto
( )incompleto
( )incompleto
)!\·lestre em
)Doutor em
mile
( )
(
()
(
(
( )
_
_
ATIVIDADE PROFISSIONAL:
3ua:
_
Seu pai:
. Sua mile:
l)Que tipo
(
(
(
(
(
_
_
de leitura gosta de realizar em casa?
)nenhuma
')revistas:
)jomais:
)Iivros:
)outr08:
.
.
3)Em sua casa, habitualmente silo adquiridos(dasr
Utilize a numera.,:ao para identificar a frequencia.
( )revi.stas
1. semanalmente
( )jomais
2. qui.nzenalmente
( )romances
3. mensalmente
{ )OU1.1'08
4. Esporadicamente
5. s6 entra em casa quando
4 )Qumtdo crianqa'o que''Costumava ler?
( )s6 as Iivros da escola
( ) os Ii'TOs da escola e gibi.
( ) os Ii'TOS da escola, gibi e livros"'.
( ) as li'TOs da escola e linos.
( ) os liVTOSda escola gibL livros e re\istas.
( ) os livros da escola e revistas.
( ) os liV\,<1S
da escola g,ibi e rev-ista!':
() l1SliVfC1Sda escola tivrOR e revisla..S.
( ) l,g livrl's da cscl..,!a e jl..)lTIaiR.
( }lodos os iteus aci.ma
5)Costuma(va) ver sens pais lendo:
revi.'Jtas:
jornai..'3:
( )pai
( )pai
( )mae
{ )mUe
livros:
material de trabalho:
( )pai
( )pai
( )m3e
( )ml1e
.
.
.
_
_
_
_
e dado
por algurn antigo au parente
E1R37
IIf41
OJ42
60
40·
OA39
IIlIK36
20 :
CS35
o '
BCa34
Grupo
1
OFa29
0-33: referencia apenas ao tema
33-66: referencia ao tema e ao contexto do fato noticioso
66-80: referencia ao tema, ao contexto do fato noticioso e recupera~ao
parcial do fato noticioso
100: construcao do sentido da noticia similar
0028
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CF035
OGI34
IIIG28
o Gv34
BMI23
0Z35
BN28
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a noticia
apresentada