belga federacion judo

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belga federacion judo
Aceleração e tempo de duração de impacto em
segmentos corporais do judoca durante a realização
de ukemi em diferentes tipos de tatames
Acceleration and impact time on judo’s athlete body segmets
during ukemi movement on different tatame types
Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M.
Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis
Effects of different handle techniques during the back pull
exercise on the angular kinematic and production of strength
Análise cinemática de duas técnicas de “pegada” no exercício puxada alta
Luciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo, Josiele V. Alves,
Carlos B. Mota
Características dinâmicas de movimentos
seleccionados do basquetebol
Dynamical characteristics of basketball specific movements
Fernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro,
Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão
Efeito da posição da omoplata na força máxima
isométrica de flexão do ombro
Effect of scapular position on shoulder flexion maximum isometric strength
Otília Sousa, Fernando Ribeiro, Mário Leite,
Francisco Silva, Ana P. Azevedo
O efeito da interferência contextual em idosos
The contextual interference effect in elderly people
Wesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage, Alexandro B.
da Silva, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda
Actividade física, equilíbrio e medo de cair.
Um estudo em idosos institucionalizados
Physical activity, balance and fear of falling.
A study with institutionalized older people
Joana Carvalho, Joana Pinto, Jorge Mota
Situações de estresse no vôlei de praia de alto rendimento:
um estudo de caso com uma dupla olímpica
Situations of stress in high performance beach volley:
a case study with an olympic pair
Joice Stefanello
Torcida familiar: a complexidade das inter-relações
na iniciação esportiva ao futebol
Parental support: inter-relationships complexity in football sportive initiation
Fabrício M. Filgueira, Gisele M. Schwartz
ARTIGOS DE REVISÃO
[Reviews]
Stress oxidativo e dano oxidativo muscular esquelético:
influência do exercício agudo inabitual e do treino físico
Oxidative stress and damage in skeletal muscle: influence of unusual acute
exercise and physical conditioning
Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte
A RPCD tem o apoio da FCT
Programa Operacional
Ciência, Tecnologia, Inovação
do Quadro Comunitário
de Apoio III
Maio·Agosto 07
Publicação quadrimestral
Vol. 7, Nº 2, Maio·Agosto 2007
ISSN 1645–0523
Dep. Legal 161033/01
Vol. 7, Nº 2
Análise das componentes da prova como ponto de partida
para a definição de objectivos na natação na categoria de
cadetes
Chronometric analyses of swimming events in infantile swimmers:
An objective model for goal setting
António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis,
Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais,
Felipe Aidar
Efeito da complexidade da tarefa na direção da transferência
bilateral em habilidades motoras seriadas
Effect of task complexity in the bilateral transfer direction in serial motor skills
Dayane M. Pinho, Guilherme M. Lage,
Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda
revista portuguesa de
ciências do desporto
Volume 7 · Nº 2
Maio·Agosto 2007
portuguese journal
of sport sciences
Determinação da gemelaridade: do questionário de Peeters
aos micro-satélites aleatórios espalhados pelo DNA
Zygosity determination: From Peeters’ questionnaire to DNA microsatelites
José Maia, Sónia Fernandes, António Amorim,
Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira
Ritmo dos jogos das finais das competições europeias de
basquetebol (1988-2006) e as estatísticas que discriminam
os jogos mais rápidos dos jogos mais lentos
Basketball game rhythm in the European Competitions Finals’ (1988-2006) and
the game-related statistics that discriminate between fast and slow paced games
Jorge M. Malarranha, Jaime Sampaio
revista portuguesa de ciências do desporto [portuguese journal of sport sciences]
ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO
[RESEARCH PAPERS]
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto
[Portuguese Journal of Sport Sciences]
Publicação quadrimestral da
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
Vol. 7, Nº 2, Maio·Agosto 2007
ISSN 1645-0523 · Dep. Legal 161033/01
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ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO [RESEARCH PAPERS]
147 Determinação da gemelaridade: do questionário de
Peeters aos micro-satélites aleatórios espalhados
pelo DNA
Zygosity determination: From Peeters’ questionnaire to
DNA microsatelites
José Maia, Sónia Fernandes, António Amorim,
Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira
156 Aceleração e tempo de duração de impacto em
segmentos corporais do judoca durante a realização
de ukemi em diferentes tipos de tatames
Acceleration and impact time on judo’s athlete body segmets
during ukemi movement on different tatame types
Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto
M. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis
167 Effects of different handle techniques during the
back pull exercise on the angular kinematic and
production of strength
Análise cinemática de duas técnicas de “pegada” no exercício puxada alta
Luciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo,
Josiele V. Alves, Carlos B. Mota
174 Características dinâmicas de movimentos
seleccionados do basquetebol
Dynamical characteristics of basketball specific movements
Fernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro,
Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão
183 Efeito da posição da omoplata na força máxima
isométrica de flexão do ombro
Effect of scapular position on shoulder flexion maximum
isometric strength
Otília Sousa, Fernando Ribeiro, Mário Leite,
Francisco Silva, Ana P. Azevedo
189 Análise das componentes da prova como ponto
de partida para a definição de objectivos na
natação na categoria de cadetes
Chronometric analyses of swimming events in infantile swimmers:
An objective model for goal setting
António Silva, Filipa Silva, António Reis,
Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro,
Jorge Morais, Felipe Aidar
202 Ritmo dos jogos das finais das competições europeias de basquetebol (1988-2006) e as estatísticas
que discriminam os jogos mais rápidos dos jogos
mais lentos
Basketball game rhythm in the European Competitions Finals’ (1988-2006) and the game-related statistics that discriminate between fast
and slow paced games
Jorge M. Malarranha, Jaime Sampaio
209 Efeito da complexidade da tarefa na direção da tra n sferência bilateral em habilidades motoras seriadas
Effect of task complexity in the bilateral transfer direction
in serial motor skills
Dayane M. Pinho, Guilherme M. Lage,
Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda
217 O efeito da interferência contextual em idosos
The contextual interference effect in elderly people
Wesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage,
Alexandro B. da Silva, Herbert Ugrinowitsch,
Rodolfo N. Benda
225 Actividade física, equilíbrio e medo de cair.
Um estudo em idosos institucionalizados
Physical activity, balance and fear of falling.
A study with institutionalized older people
Joana Carvalho, Joana Pinto, Jorge Mota
232 Situações de estresse no vôlei de praia de alto rendimento: um estudo de caso com uma dupla olímpica
Situations of stress in high performance beach volley:
a case study with an olympic pair
Joice Stefanello
245 Torcida familiar: a complexidade das inter-relações
na iniciação esportiva ao futebol
Parental support: inter-relationships complexity
in football sportive initiation
Fabrício M. Filgueira, Gisele M. Schwartz
ARTIGOS DE REVISÃO [REVIEWS]
257 Stress oxidativo e dano oxidativo muscular esquelético: influência do exercício agudo inabitual e do
treino físico
Oxidative stress and damage in skeletal muscle:
influence of unusual acute exercise and physical conditioning
Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte
Revista Portuguesa de Ciências do Desporto
[Portuguese Journal of Sport Sciences]
Vol. 7, Nº 2, Maio·Agosto 2007
ISSN 1645-0523, Dep. Legal 161033/01
A RPCD tem o apoio da FCT
Programa Operacional Ciência,
Tecnologia, Inovação do Quadro
Comunitário de Apoio III
Nota editorial
Em defesa do desporto
Jorge Bento
Decidi elaborar este editorial, recorrendo a algumas
citações, todas complementares e contribuintes para
o objectivo pretendido.
1. A primeira é da autoria de José Manuel
Constantino: “O desporto precisa de ser defendido.
Defendido perante os seus desvios. Defendido
perante os seus opositores. Essa defesa requer um
pensamento crítico e actualizado sobre as suas práticas, sob pena de se acumularem intenções e objectivos que o desporto, supostamente, deveria garantir e
que teima em não atingir.
Muitas das posições críticas ao desporto, particularmente incisivas por parte dos novos ascetas do higienismo, repousam no facto de os defensores do desporto permanecerem prisioneiros de perspectivas
redutoras e defensivas, que aprisionam o desporto a
uma lógica de sentido único, quase que pedindo
licença para ocupar o seu espaço.
O espectáculo desportivo e a sua comercialização
arrastando fenómenos de perturbação à sua matriz
identitária e a desregulação que isso originou alteraram o equilíbrio de muitas das suas teses e interpretações e desfizeram mitos com os quais muitos anos
conviveu.
A defesa do desporto é, também, isso. A avaliação do
capital de experiência que a história do desporto acumulou (...) Um capital de experiência que é contraditório: tem aspectos positivos ao lado de negativos”.1
Para contribuirmos para a defesa do desporto, para o
defendermos dos seus desvios e desvarios, assim
como dos seus opositores, devemos entender que
ele, como qualquer organismo, é dotado de mecanismos endógenos de regeneração. A sua defesa e credibilidade têm que vir de dentro, do esforço daqueles
que o pensam, investigam, teorizam e ensinam,
organizam e dirigem, praticam e usufruem. Por isso
ele deve merecer, de todos quantos perfazem o seu
sujeito plural, um esforço constante de renovação e
melhoria. Como disse Ortega y Gasset, nós “temos o
dever de pressentir o novo”.
2. Aos opositores ao desporto, nomeadamente àqueles que lançam sobre ele a acusação de ser da ordem
do efémero e contingente, quero expressar alguma
concordância formal e total discordância substancial.
Sim, o desporto está aí para cultivar a ética e estética
da contingência, a beleza e alegria do contingente e
imanente na peripécia que a vida encarna, celebrando tanto o brilho do que nos é dado como a sombra
do que nos falta e inquieta.
Convida-nos a optar “pelo aperfeiçoamento humildemente tentativo e resignadamente inabalável do que
sempre nos parecerá de algum modo imperfeito, em
vez de o recusar com desânimo culpável ou de tentar
agigantá-lo até que a sua enormidade inumana nos
esmague”.
Ao exaltar o contingente ele não impede de apontar
para a excelência, entendida não como “a busca de
nenhum absoluto (o excelente conseguido será tão
contingente como o medíocre rebaixado), mas o afã
de ir mais além e aperfeiçoar o que conseguimos (...)
embora sem nunca sairmos da limitação que nos
define e baliza o sentido a que podemos aspirar”.2
3. Muitos mitos alimentam o desporto, tal como a
vida. Alguns carecem de ser esclarecidos e quiçá
abandonados. Todavia outros são essenciais. Assim
devemos ter bem presente a advertência seguinte:
“Precisamos de mitos para tornar suportáveis os
nossos dilemas irresolúveis. (…) Se fôssemos demolidores irresponsáveis de mitos, rasgaríamos os nossos direitos humanos e começaríamos de novo:
repensando o que queremos dizer com vida humana
e dignidade humana. Por enquanto, se quisermos
continuar a acreditar que somos humanos, e justificar o status especial que nos atribuímos – se, na verdade, quisermos permanecer humanos através das
mudanças que enfrentamos -, é melhor não descartar
o mito, mas começar tentando viver à sua altura”.3
Defender o desporto é, a esta luz, procurar viver à
altura do mito desportivo, aproximar-se da concretização dos sentidos, axiomas, fins e ideais que ele
aponta. Mesmo sabendo quão difícil é chegar lá.
4. A defesa do desporto exige, portanto, uma nova
atitude perante ele. Necessitamos de renovar a
maneira de o encarar; de voltar a despertar, nas
crianças e jovens, o entusiasmo e a paixão por ele.
Urge que o discurso oficial enfatize a substância que
ele encerra, o quanto a excelência desportiva é
essencial à formação de uma geração moldada pelo
desejo de vencer, de transcender defeitos e fracassos,
assumir esforços para atingir metas sobre-humanas e
evitar o inumano, de não se acomodar a um passado
e destino de perdedores crónicos. Não, não chega
participar, é imperioso ousar triunfar e não se resignar, mesmo que a derrota bata sucessivas vezes à
nossa porta.
Em suma, há que retomar o projecto de um país
desportivo, por fora e por dentro, no corpo e na
alma, nos sonhos e ambições, nos princípios e convenções. Mobilizar para o desporto é acordar e
envolver o país com uma causa social e cultural.
BENTO, Jorge Olímpio; CONSTANTINO, José Manuel (2007): Em Defesa do Desporto – Mutações e Valores em Conflito. Coimbra:
Edições Almedina.
2 SAVATER, Fernando (2004): A CORAGEM DE ESCOLHER. Lisboa: Publicações Dom Quixote.
3 FERNÁNDEZ-ARMESTO, Felipe (2004): Então você pensa que é humano? São Paulo: Companhia das Letras.
1
ARTIGOS DE
INVESTIGAÇÃO
[RESEARCH PAPERS]
Determinação da gemelaridade: do questionário de Peeters
aos micro-satélites aleatórios espalhados pelo DNA
José António Ribeiro Maia1
Sónia Cristina de Tavares e Cruz Fernandes1
António Amorim2
Cíntia Alves2
Leonor Gusmão2
Luísa Pereira2
1
RESUMO
Com a realização deste estudo pretendíamos testar a validade
de um método indirecto para avaliação da gemelaridade em
estudos na população portuguesa. Da pesquisa participaram 96
gémeos (45 grupos gemelares monozigóticos e dizigóticos), de
ambos os sexos, dos 6 aos 12 anos de idade, e as respectivas
mães biológicas, num total de 141 sujeitos. A determinação da
zigotia foi efectuada com recurso a dois métodos: (1) Método
indirecto, através da aplicação do questionário de Peeters et al.
(1998) às mães dos gémeos; (2) Método directo, através da
recolha de sangue (pequena picadela no dedo) a cada um dos
membros dos grupos de gémeos e posterior análise do DNA
em laboratório. A proporção global de gémeos correctamente
classificados como monozigóticos e dizigóticos com recurso ao
questionário foi de 97,8%. O valor do teste do qui-quadrado é
altamente significativo (!2=41.053, p<0.0001), reforçado pelo
teste de McNemar (p<0.0001). Face aos resultados obtidos,
conclui-se que o questionário de Peeters et al. (1998) apresenta
validade transcultural para avaliação da gemelaridade em estudos na população portuguesa.
ABSTRACT
Zygosity determination: From Peeters’ questionnaire
to DNA microsatelites
Laboratório de Cineantropometria
Universidade do Porto
Portugal
2 IPATIMUP
Universidade do Porto
Portugal
This study had the purpose of testing the validity of an indirect method
to assess zygosity in twin studies in the Portuguese population. The
sample included 96 twins (45 monozygotic and dizygotic twin groups),
of both sexes, from 6 to 12 yrs old, and their biological mothers, summing 141 subjects. Two methods were used to determine zygosity: (1)
Indirectly, through Peeters et al. (1998) questionnaire filled out by the
mothers; (2) Directly, through blood sampling of each twin member,
and their DNA was analysed in the laboratory. Proportion of correct
classification of twins as monozygotic or dizygotic through Peeters et
al. (1998) Questionnaire was 97,8%. The Qui-Square test was highly
significant (!2=41.053, p<0.0001), and it was reinforced by
McNemar test (p<0.0001). The results allow us to conclude that
Peeters et al. (1998) Questionnaire shows transcultural validity to
assess zygosity in twin studies in the Portuguese Population.
Key-words: gemelarity, twins, questionnaire, DNA, validity
Palavras-chave: gemelaridade, gémeos, questionário, DNA, validade
Rev Port Cien Desp 7(2) 147–155
147
José Maia, Sónia Fernandes, António Amorim, Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira
INTRODUÇÃO
A existência de gémeos é um fenómeno que tem interessado não exclusivamente os investigadores de ciências biológicas e sociais, mas também a população em
geral desde longa data(28). Este é, sem dúvida, um
grupo populacional fascinante no domínio das mais
variadas características do ser humano, uma espécie
de “experiência da própria Natureza” que se prende
ao esclarecimento da enorme variabilidade nas mais
diversas características do ser humano.
Cada pessoa tem duas séries de cromossomas, uma
transmitida pelo pai a outra pela mãe. Cada cromossoma pode ser imaginado como uma sequência de
genes, cada um desempenhando uma função particular. Espalhados entre os genes existem marcadores
que não lhe são conhecidas quaisquer funções biológicas mas cuja transmissão é idêntica à dos genes. A
ordem dos genes (e marcadores) num cromossoma é
fixa, pelo que cada gene é encontrado sempre na
mesma posição, chamada locus. Cada pessoa tem
dois genes em cada locus, um da série de cromossomas herdada do pai e o outro da mãe. Em cada locus
os genes assumem diferentes formas, cada uma chamada de alelo. Dois genes que assumem a mesma
forma são designados de idênticos pelo estado (do
inglês identical-by-state – IBS). Dois genes podem ser
IBS, por serem originários do mesmo descendente, e
são réplicas do mesmo gene ascendente. Este tipo de
partilha de genes é designado de identidade pela descendência (identity-by-descendent – IBD). Os genes
podem também ser IBS não por causa de serem IBD
mas devido a uma coincidência. Os gémeos monozigóticos (MZ) têm ambos os genes IBD em todos os
loci do genoma. Em contraste, os gémeos dizigóticos
(DZ) têm 25% de probabilidades de terem ambos os
genes IBD, 50% de que um gene seja IBD e 25% de
nenhum gene ser IBD em cada locus. Se um par de
gémeos, num dado locus não for IBD em ambos os
genes será, portanto, DZ.
A distinção de gémeos em MZ e DZ tem origens no
século XIX, com Sir Francis Galton (1822-1902), mas
foi apenas no século XX que surgiram os primeiros
estudos(24, 18), com o intuito de averiguar uma base
objectiva para o diagnóstico da zigotia, os quais
deram origem ao método clássico de estudos com
gémeos que ao longo do século assumiu uma enorme
aplicabilidade(19). Até aos procedimentos mais actuais,
com base no DNA houve certamente um caminho
148
Rev Port Cien Desp 7(2) 147–155
interessante onde alguns nomes deram passos marcantes na história da determinação da zigotia1.
A identificação precisa da zigotia dos gémeos, i.e.,
saber se a gemelaridade é MZ ou DZ, não tem sido
tarefa fácil para os geneticistas interessados no fenómeno da gemelaridade, tão pouco para os obstetras
no momento do parto gemelar(11), a não ser que as
membranas fetais sejam monocoriónicas. Apesar do
exame das membranas fetais ser considerado por
Derom et al.(5) como o único método que permite ter
a certeza da identificação de gémeos MZ, Segal(27)
estimou que mesmo os obstretas mais experientes
classificam erradamente a zigotia em 6% dos casos e
Elston et al.(7) referiram a necessidade de observação
microscópica para distinguir a placentação monocorial
(verificada nos gémeos MZ) de placentas dicoriónicas
de dois embriões que se fundiram (gémeos DZ).
A investigação no vasto território da Genética do
comportamento (do inglês Behavioral Genetics) ou da
Epidemiologia Genética aplicada às Ciências do
Desporto com delineamentos gemelares necessita
que se distingam claramente os gémeos MZ dos DZ
(ver extensas aplicações deste tipo de pesquisa em
Bouchard et al.(2). Por exemplo, a qualidade e generalização dos resultados de investigação “relativamente
simples” de agregação familiar nos níveis e padrões
de actividade física(20, 15, 25), até matérias de maior
repercussão, como transplante de órgãos, tratamentos farmacológicos ou transfusões sanguíneas (33, 12,
32) exigem a determinação precisa da gemelaridade
dos grupos.
É pois da maior relevância a identificação precisa,
fiável e válida da zigotia(33) respondendo, de modo
inequívoco, à seguinte questão: estes gémeos são
MZ ou DZ? Claro que se forem os dois de sexo
oposto (cerca de 1/3 dos nascimentos gemelares), a
resposta é óbvia – só podem ser dizigóticos2.
Contudo, se forem do mesmo sexo, a resposta já não
é tão óbvia.
Ao longo do tempo, os geneticistas foram desenvolvendo um conjunto variado de procedimentos de
complexidade técnica e computacional diversa, que
colectivamente podem ser agrupadas em dois tipos
de métodos: directos e indirectos(ver por exemplo 28, 1, 23).
Uma aventura interessante é a leitura da dissertação
de doutoramento do geneticista belga Robert
Vlietinck(33) ao dedicar-se, exclusivamente, ao lato e
difícil assunto da determinação da gemelaridade,
Determinação da gemelaridade
desenvolvendo técnicas simples cuja utilização o
autor deseja generalizar.
Apesar de técnicas moleculares poderem estabelecer o
diagnóstico com uma taxa de precisão de cerca de
100% e formas não invasivas de obtenção do DNA
terem sido desenvolvidas(6), o custo destes procedimentos limita o seu uso em estudos epidemiológicos
em larga escala(4). Portanto, não será de estranhar que
o uso de questionários em matéria de determinação da
zigotia tenha sido crescente nos últimos anos3.
A estratégia centrada na utilização dos questionários
é bem simples – tornar acessível um procedimento
válido e fiável, de baixíssimo custo, para estimar a
zigotia do grupo. É evidente que o processo de validação concorrente do questionário tem sido objecto
de sofisticação e refinamento por parte de procedimentos técnicos mais actuais e também do recurso a
análises estatísticas mais poderosas(ver, por exemplo, 4, 37).
O propósito deste nosso estudo radica precisamente
nesta estratégia, pelo que pretendemos testar, uma
vez mais, a qualidade do questionário de Peeters et
al. (21) na determinação da zigotia. Este propósito é
tanto mais válido quando não existe nenhum questionário, que seja do nosso conhecimento, de determinação da zigotia validado para a população portuguesa e quando se pretende que o seu uso seja
“generalizado” por investigadores portugueses,
nomeadamente das Ciências do Desporto, sempre
que a sua amostra for constituída por pares de
gémeos e enfrentar problemas sérios de financiamento para determinar a zigotia dos sujeitos com
base no seu DNA.
METODOLOGIA
Amostra
A amostra do estudo foi recolhida fundamentalmente em dois Encontros de Gémeos realizados no
Centro de Portugal: Cantanhede e Viseu, durante os
quais foi feita uma reunião com os pais das crianças
onde lhes foram explicados os propósitos e alcances
da pesquisa e os procedimentos que seriam adoptados. Foi obtido consentimento expresso para participarem por parte dos pais em somente 52 casos.
Porém, apenas foram validados para o nosso estudo,
por questões processuais, 45 destes grupos gemelares assim distribuídos (ver quadro 1): 40 pares de
gémeos, 4 grupos de trigémeos e 1 grupo de quadrigémeos, o que perfaz 96 gémeos dos 6 aos 12 anos
de idade, 47 do sexo masculino e 49 do sexo feminino (uma distribuição praticamente equitativa quanto
à variável género). Participaram também, através do
preenchimento do questionário de Peeters, as respectivas mães (45).
Quadro 1. Distribuição da amostra por grupos gemelares e sexo
grupos
sexo
n
%
Par gémeos (40; 88.9%)
MM
MF
FF
40
4
36
41.7
4.2
37.5
Trigémeos (4; 8.9%)
MMM
FFF
3
9
3.1
9.3
Quadrigémeos (1; 2.2%)
MMFF
4
4.2
96
100
45
M – Masculino; F - Feminino
Instrumentos e Procedimentos
Actualmente poderemos considerar dois tipos de
métodos: directos e indirectos. Os métodos directos
incluem: (1) exame das membranas materno-fetais,
(2) marcadores genéticos clássicos, (3) DNA. Os
indirectos são constituídos por uma plêiade de técnicas: (1) apreciação somatoscópica pericial da morfologia externa, (2) dermatóglifos, (3) questionários.
O quadro 2 mostra como é possível efectuar o diagnóstico com graus crescentes de fiabilidade.
Quadro 2. Sumário dos procedimentos usados para determinação da zigotia
apresentados por Borges-Osório e Robinson (1) e Elston et al. (7). Sequência
crescente em termos de Validade.
Determinação da zigotia
1. Regra diferencial de Weinberg
2. Comparação da similaridade
3. Questionários de similaridade
Auto-registo
Registo de outros
4. Dermatóglifos
5. Exame das membranas materno-fetais
6. Marcadores genéticos
Grupos sanguíneos
Sistema HLA
Proteínas séricas
Enxertos de pele
7. Análise do DNA: marcadores moleculares altamente polimórficos
Rev Port Cien Desp 7(2) 147–155
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José Maia, Sónia Fernandes, António Amorim, Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira
Destes métodos, só trataremos de forma brevíssima
as técnicas que mais nos interessam – o exame de
micro-satélites ou STRs (Short Tandem Repeats4) dispersos de forma aleatória no genoma e os questionários que incluem perguntas de grau de similaridade
distinta cujas estimativas de heritabilidade, para as
características em apreço, são muito altas.
Determinação da zigotia com base
em micro-satélites do DNA
A análise do DNA dos membros de cada par implica
obtenção de uma amostra muito reduzida de sangue.
Trata-se, pois, de um procedimento “algo invasivo”,
para o qual foi obtido consentimento por parte dos
pais, realizado por um elemento experiente. Também
poderia ser feito através de saliva ou esfregaço bucal,
mas o sangue foi o material preferido. A técnica de
extracção e amplificação do DNA por cadeia de reacção da polimerase é bem conhecida e está suficientemente explicada em qualquer manual de genética
médica (uma leitura interessante sobre o assunto em
língua portuguesa é o livro de Regateiro(23). A
extracção do DNA a partir das amostras de sangue
de 96 indivíduos foi efectuada com um método
baseado na utilização da resina Chelex (13).
Em todas as amostras de DNA, a análise de 17 STRs
autossómicos (CSF1PO, D2S1338, D3S1358,
D5S818, D7S820, D8S1179, D13S317, D16S539,
D18S51, D19S433, D21S11, FGA, PD, PE, TH01,
TPO e VWA) e o locus da Amelogenina (determinação do sexo), foi efectuada por amplificação por
PCR, utilizando os kits comerciais Powerplex 16
System (Promega Corporation) e Identifiler (AB
Applied Biosystems), de acordo com as instruções
dos fabricantes.
A genotipagem foi efectuada em aparelhos ABI 310
Genetic Analyzer (AB Applied Biosystems), de acordo com as instruções do fabricante, por determinação do tamanho dos fragmentos de DNA e comparação com escalas alélicas fornecidos com os kits
comerciais.
Nos casos onde os indivíduos apresentavam perfis
genéticos de STRs idênticos, foi efectuado o cálculo de
probabilidade de monozigotia, que segue, no fundamental, a metodologia de Essen-Møller(8) e que se
baseia nas frequências génicas, neste caso determinadas
150
Rev Port Cien Desp 7(2) 147–155
na população residente no Centro e Norte de Portugal.
Dada a relevância da informação obtida, particularmente para os gémeos e seus pais, foi elaborado um
relatório com os resultados que posteriormente lhes
foi enviado.
Questionário de Peeters et al. (1998)
Esta técnica não invasiva, facilmente operacionalizável, de custo baixíssimo, permite obter informação
preciosa acerca da zigotia dos pares de forma quase
imediata. O questionário de Peeters et al.(21) foi
desenvolvido na Bélgica pela equipa do Professor
Robert Vlietinck (Departamento de Genética
Humana da Universidade Católica de Lovaina). É
constituído por um conjunto muito simples de questões (ver anexo) apreciado exclusivamente pela mãe.
Está organizado do seguinte modo: um grupo de
perguntas simples acerca da similaridade dos membros do par e índices de similaridade que contêm
questões relativamente à parecença dos membros de
cada par, tal como são apreciados pelos pais, irmãos,
professores, amigos e estranhos. Esta informação
está dispersa no questionário do seguinte modo: opinião da mãe (item 1); similaridade global e confusão
gemelar (itens 2 a 7) e similaridade específica (itens
8 e 9).
Entre outros, é possível calcular um índice designado por índice simples de similaridade que foi o utilizado nesta pesquisa. O seu cálculo é efectuado do
seguinte modo: adiciona-se 1 ponto a cada resposta
que indique similaridade entre os gémeos e subtraise 1 ponto a cada resposta que sugira dissemelhança. Gémeos DZ duvidosos são cotados com – 1/2 e
gémeos MZ duvidosos com +1/2. Se a soma simples
das cotações das respostas for igual ou superior a
zero, os sujeitos são considerados gémeos MZ. Caso
contrário, são referidos como gémeos DZ.
A recolha dos dados com base nos questionários foi
feita durante os Encontros. Estes foram sempre cotados pelo mesmo investigador (J.A.R.M.), muito
experiente e bem familiarizado com o instrumento e
procedimentos. Conforme é descrito na literatura,
uma amostra menor foi re-cotada para se obter uma
estimativa da fiabilidade dos resultados. A consistência das cotações foi elevada, confirmando a qualidade
da avaliação efectuada.
Determinação da gemelaridade
Procedimentos estatísticos
Inicialmente, e após o procedimento descrito para
estimar a fiabilidade dos resultados, foi calculada a
percentagem de acordos de classificação (questionário – DNA) com base nas percentagens de classificações correctas nos gémeos MZ e DZ. O Kappa de
Cohen foi utilizado para a correcção desta estatística,
assumindo que classificações certas podem ter ocorrido de modo “casual”. Com o intuito de testar formalmente a qualidade da informação das mães
recorremos ao teste de qui-quadrado e ao teste de
McNemar, esperando uma forte associação entre as
duas classificações.
O software estatístico utilizado foi o SPSS 13.0.
RESULTADOS
Os principais resultados encontram-se sumariados
no Quadro 3.
Quadro 3. Tabela de dupla entrada relativa às frequências e percentagens de
classificação gemelar obtidas com o Questionário e os micro-satélites do
DNA dos sujeitos
Classificação
Informação do DNA
Informação do Questionário DZ
MZ
DZ
MZ
18 (94.7%)
40%
1 (5.3%)
2.2%
0 (0%)
0%
26 (100%)
57.8%
18
27
DZ – Dizigótico; MZ - Monozigótico. Total: 45 grupos de gémeos
O teste da zigotia com base nos micro-satélites de
DNA permitiu classificar correctamente os 96 indivíduos da amostra: 35 (40%) são gémeos DZ e os restantes 61 (60%) são gémeos MZ. Dos 19 grupos de
gémeos DZ que foram identificados como tal através
da cotação do questionário, 18 (94.7% dos gémeos
DZ) foram confirmados com a informação proveniente do DNA. Apenas 1 par (i.e., 2.2% do total da
amostra) foi erradamente classificado. A sua zigotia
correcta é MZ. Nos gémeos MZ a percentagem de
classificação correcta é de 100%, i.e. 26 em 26 grupos de gémeos foram correctamente classificados
através do questionário.
A proporção global de acordo é calculada somando
os resultados correctamente classificados como MZ e
DZ, obtendo-se deste modo o seguinte valor:
(18+26)/45 = 0.977, i.e. 97.8%, um valor bastante
elevado. Decorrente deste procedimento chegamos
também ao valor da percentagem de erros de classificação de 2.2%.
Os resultados significativos obtidos no teste Kappa
de Cohen (0.954 ±0.045, p<0.000), mostram claramente a relevância e a qualidade da informação obtida através do questionário, já que este é um teste
que permite aferir a concordância ou semelhança
entre os procedimentos por nós utilizados, cujo
valor máximo é 1 e valores acima de 0.75 significam
uma excelente concordância entre as variáveis.
O valor do teste do qui-quadrado é altamente significativo (!2(1)=41.053, p<0.0001). Estes resultados
implicam uma forte associação entre a classificação
reportada pelas mães e os resultados do DNA, resultados que são reforçados pelo teste de McNemar
(p<0.0001). Este último, também designado nas
ciências sociais de teste de mudança de opinião,
compara em termos percentuais as respostas dicotomizadas de duas variáveis, no nosso caso a classificação com base nos questionários e a classificação proveniente da análise do DNA, em amostras emparelhadas, o que igualmente se verifica no estudo por
nós efectuado uma vez que os gémeos classificados
nos dois procedimentos foram os mesmos. O valor
de prova obtido com o teste foi menor que 1/1 000, o
que nos leva à conclusão de que a classificação dos
gémeos através dos questionários não alterou significativamente a classificação obtida pelo outro procedimento utilizado. O valor encontrado salienta o
facto de não haver qualquer diferença significativa
entre os resultados das frequências de respostas de
zigotia do questionário e o exame do DNA.
DISCUSSÃO
Destes resultados emergem os seguintes comentários:
— A elevada associação entre a classificação das
mães e os resultados do DNA vem confirmar a qualidade da informação do progenitor e a “capacidade”
do questionário em determinar de modo simples e
altamente económico a zigotia dos pares de gémeos.
— A validade dos questionários já havia sido ante-
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151
José Maia, Sónia Fernandes, António Amorim, Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira
riormente confirmada(21, 4, 31, 26) e é suportada em
toda a magnitude no caso dos gémeos MZ. Já nos
DZ, os valores mostram erros de classificação de
cerca de 2.2%. Resultados equivalentes aos nossos
foram já reportados por outros autores, cuja percentagem de erros varia entre 0 e 7%. Convém referir
que as amostras de estudos referenciados na introdução, bem como a que foi utilizada no questionário
de Peeters, se situam entre os 100 e os 150 pares de
gémeos, manifestamente superiores às do presente
estudo. Daqui que apresentemos a sugestão de ser
efectuado um estudo com uma amostra maior, tal
como é sugerido por Mange e Mange(17) para comprovar, de modo cruzado, a fiabilidade dos resultados, ainda que estejamos convictos que os resultados na população portuguesa não serão muito distintos dos que foram por nós obtidos.
— O facto do grau de concordância entre a classificação através do questionário e do teste de DNA, relativamente aos gémeos MZ, ter sido de 100% poderia
eventualmente suscitar a curiosidade dos motivos
conducentes a uma total concordância entre a informação proveniente dos dois métodos, já que vários
autores(e.g. 24, 14, 9, 32, 22) estudaram e assinalaram as
diferenças comportamentais, físicas, genéticas e epigenéticas nos gémeos MZ, tendo inclusive conduzido à subdivisão destes em três tipos(23, 33, 11, 1).
Clarificando melhor: os gémeos MZ provêm de um
ovo que foi fecundado e que em determinado
momento se divide em duas “cópias genéticas”. O
momento da divisão dos blastómeros5 traduz-se
depois em diferenças, mesmo físicas (cujo exemplo,
talvez o mais perceptível seja o dos gémeos siameses), dissimilitudes que frequentemente se acentuam
ao longo da vida dos gémeos. As dissemelhanças dos
gémeos, a que as mães tendem a ser mais sensíveis,
e o esforço que fazem por tratar os seus filhos individualmente foram os motivos apontados pela equipa de investigação do Professor Vlietinck, no estudo
de Peeters et al.(21), para o facto de ter verificado
valores inferiores de concordância nos gémeos MZ
do que nos gémeos DZ. Porém, os pais usualmente
distinguem os gémeos MZ(32). De facto, “apesar de os
gémeos MZ parecerem indistinguíveis aos estranhos,
nenhuns gémeos são tão idênticos que as suas mães não os
consigam distinguir sem errar” (10, p.105), o que torna
este questionário ainda mais válido.
152
Rev Port Cien Desp 7(2) 147–155
— O valor de erros de classificação é altamente aceitável no domínio da investigação no âmbito das
Ciências do Desporto. Talvez não o fosse em outros
campos da investigação, como o demonstra claramente a experiência vivenciada pelos gémeos St.
Clair(32). Desde bastante cedo pensaram ser gémeos
DZ por apresentarem alguns traços discordantes,
ainda que fossem muito similares na aparência. John
St. Clair, após uma intoxicação com cogumelos venenosos, recebeu um transplante renal do seu irmão
David. Durante 15 anos John foi submetido a tratamentos de imunossupressão, com bastantes complicações daí derivadas. Perante a possibilidade de
interromper o tratamento, caso se verificasse monozigotia, efectuaram vários testes de DNA que confirmaram serem MZ. Nove meses depois de ter interrompido os tratamentos com imunossupressores
John mantinha uma função renal normal, confirmando 15 anos de tratamentos escusados. Não obstante
os erros passíveis de serem encontrados na determinação da zigotia através deste procedimento, não há
que retirar qualquer valor à informação do questionário. Bem pelo contrário!
— Ainda que o valor do erro seja baixo e seja o esperado, cremos que este tem uma explicação no contexto deste estudo. Nenhuma das mães tinha a certeza absoluta da zigotia dos seus filhos. Não tinha
informação proveniente do exame do DNA, ou de
qualquer exame de anatomia patológica à placenta.
Curiosamente, a mãe que afirmava que os seus
filhos eram gémeos DZ (pelo menos foram estes os
resultados emergentes das suas respostas ao questionário), sempre tratou os seus filhos de modo diferente. Isto é, ainda que sejam MZ, procurou sempre
um espaço de intervenção de forte dissemelhança
entre os membros do par. A diferença foi o seu
toque no processo de relacionamento e educação. E
de algum modo sugeriu que todos os tratassem
desse modo. Este é um tipo de comportamento frequente entre as mães que vêem os seus filhos de
forma diferente, ainda que possam ser “iguais” do
ponto de vista genético. Este fenómeno é bem reportado na literatura, de que o texto “gémeos, trigémeos e mais”(3) dá conta.
— É evidente que a determinação da gemelaridade é
um fenómeno que encerra em si mesmo um espaço
para a incerteza, ainda que a probabilidade de se
Determinação da gemelaridade
errar com os resultados dos micro-satélites seja baixíssima(24, 4, 35, 36). Contudo, não é impossível. Mais
“fácil” é o erro de classificação com base nos questionários. Enquanto que na primeira técnica a probabilidade é muito próxima de 0%, na segunda é cerca
de 1 a 5%. Há pois aqui que estabelecer um compromisso entre precisão do resultado e o respectivo
custo, que é sempre elevado quando se recorre ao
exame do DNA e se lida com centenas de sujeitos.
— Da aplicação do questionário fica-nos porém a
seguinte sugestão: ainda que o valor do inventário
de Peeters seja inquestionável, há que recolher das
mães um rigor ainda maior no modo como respondem às questões. Verificámos que porventura são
confundidos os aspectos de natureza comportamental com as características físicas dos filhos para permitir tornar mais perceptíveis as “igualdades ou
desigualdades” perante elas próprias e terceiros.
Com esta ênfase serão claramente distinguidas
impressões subjectivas e atitudes relativamente ao
comportamento dos gémeos das suas opiniões quanto às características físicas dos mesmos.
Em conclusão, o questionário de Peeters de determinação da zigotia é um instrumento válido e fiável
para ser utilizado em pesquisa gemelar no espaço
lusófono.
NOTAS
AGRADECIMENTOS
1) este estudo foi financiado por uma bolsa de investigação da Fundação para a Ciência e Tecnologia
(POCI/DES/62499/2004); (2) ao revisor anónimo,
cujas sugestões ajudaram a melhorar alguns aspectos
do texto.
CORRESPONDÊNCIA
José António Ribeiro Maia
Laboratório de Cineantropometria
Faculdade de Desporto, Universidade do Porto
Rua Dr. Plácido Costa, 91
4200-450 Porto
A este propósito ver os percursos históricos sumariamente
descritos por Vlietinck (33), Borges-Osório e Robinson (1) e
Spector et al. (30).
2 Gringras e Chen (10) descreveram vários efeitos intra-uterinos
e mecanismos genéticos que podem resultar em diferenças
fenotípicas, genéticas e epigenéticas nos gémeos MZ, inclusive
no que respeita ao sexo.
3 Um percurso histórico pode ser efectuado nos textos de Sarna
et al. (26), de Chen et al. (4) e de von Wurmb-Shwark et al. (34).
4 Short Tandem Repeat Polimorphism, também designado por
micro-satélites, são repetições de 3 ou 4 nucleótidos com
extensão reduzida e bem localizada ao longo do genoma humano que permite mapear informação importante, neste caso, a
presença dos mesmos micro-satélites nos mesmos lugares dos
cromossomas dos gémeos MZ.
5 É hoje aceite pela comunidade científica distintos momentos
de separação dos blastómeros: se a separação for precoce, até
ao 3º dia, os dois embriões implantam-se de forma autónoma
no endométrio, originando uma placentação bicorial biamniótica; se a divisão do embrião ocorre entre o 3º e o 7º dia (a mais
frequente), formam-se assim dois gémeos MZ com uma placenta comum, mas cada um com o seu saco amniótico – monocorial biamniótica; se a divisão ocorre após a primeira semana
(com uma frequência <1% dos gémeos MZ), os gémeos partilham uma mesma placenta e um saco amniótico comuns. No
caso dos gémeos siameses (que chegam a partilhar órgãos) a
divisão do embrião ocorre para além das duas semanas de
desenvolvimento.
1
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153
José Maia, Sónia Fernandes, António Amorim, Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Determinação da gemelaridade
6. ANEXO
Rev Port Cien Desp 7(2) 147–155
155
Aceleração e tempo de duração de impacto em segmentos
corporais do judoca durante a realização de ukemi em
diferentes tipos de tatames
156
Saray G. dos Santos1
Sebastião I.L. Melo2
Roberto M. Heidrich3
António R.P. Moro1
Diogo C. Reis1
1
RESUMO
Este estudo, de cunho exploratório, objectivou verificar e comparar as acelerações e os tempos de duração dos impactos sofridos por diferentes segmentos corporais de judocas (punho,
quadril e tornozelo) através de quedas em diferentes tipos de
tatames. Para a realização do estudo foram seleccionados sete
tipos diferentes de tatames (seis sintéticos e um de palha),
assim como, dois judocas para executarem a técnica “IponSeoi-Nague” e respectivo amortecimento “Zempo-KaitenUkemi”. Como instrumento de medida, foi utilizado um acelerômetro triaxial da Bruel & Kjaer®, conectado a um sistema de
aquisição de sinais. Para a colecta de dados, o acelerómetro foi
fixado sucessivamente no punho, no quadril e no tornozelo,
medindo as acelerações provenientes de 10 impactos em cada
segmento em cada um dos sete tipos de tatames. Os resultados
obtidos permitem afirmar que os valores dos impactos recebidos pelos judocas, principalmente no punho e tornozelo, ultrapassam os limites considerados seguros em todos os tipos de
tatames, os quais, mesmo sendo impactos de curta duração,
encontram-se em limites considerados geradores de severas
lesões (aceleração > 200 g). De acordo com os resultados deste
trabalho, os tatames “A”, “B” e “F” foram os que se apresentaram mais apropriados para o amortecimento de quedas no
Judô.
ABSTRACT
Acceleration and impact time on judo’s athlete body segmets
during ukemi movement on different tatame types
Palavras-chave: impacto, ukemi, tatame.
Key-words: impact, ukemi, tatami.
Rev Port Cien Desp 7(2) 156–166
Laboratório de Biomecânica
DEF/CDS/UFSC
Florianópolis SC, Brasil
2 Laboratório de Biomecânica
CEFID/UDESC
Florianópolis SC, Brasil
3 Departamento de Engenharia Mecânica
CTC/UFSC
Florianópolis SC, Brasil
This exploratory study was conducted to detect and compare the accelerations and the time intervals of impacts suffered by different body
segments of a judoka (wrist, hip, and ankle) using different types of
tatami. In order to accomplish this study, seven different types of tatami were selected intentionally (six of them synthetic and one natural straw). We had the help of two judoka to execute the “Ipon-SeoiNague” technique and the respective “Zempo-Kaiten-Ukemi” reduction.
A Bruel&Kjaer triaxial accelerometer was used for the measurements.
It was connected through cables to preamplifiers linked to a system of
terminals with divisors where the signal was acquired. For the data collection, the accelerometer was fastened on the wrist, on the hip, and on
the ankle. The device measured the accelerations of 10 impacts of every
segment in each of the seven types of tatami, totaling 210 measures.
The results obtained allow us to state, based on tolerance criteria, that
the values of the impacts received by the judoka, mainly in the fist and
ankle body segments, exceed the limits considered safe. Even though
these impacts were of short duration, they are in limits considered
causer of severe injuries (acceleration >200g). From the results of this
work, the more appropriate for Judo falls damping were the tatami
“A”, “B” and “F”.
Impacto em jodocas nas técnicas de ukemi
INTRODUÇÃO
Entre as preocupações de pesquisadores em diferentes áreas, tais como Ergonomia, Engenharia
Mecânica, Biomecânica e algumas áreas da Saúde,
encontram-se as respostas do corpo humano a diferentes tipos de impactos e vibrações. Há muitas actividades que produzem vibrações e impactos, sendo
grande parte delas relacionadas com actividades
laborais e esportivas.
O efeito do impacto em corpos acelerados tem sido
estudado em tecidos rígidos(23), mostrando que a
exposição a vibrações provocadas pelo impacto causa
lesões.
Com relação à prática de esportes, apesar do entendimento incompleto das causas e da natureza dos
danos relacionados à mesma, a crença de que a
exposição repetitiva aos impactos pode induzir ao
dano tem recebido um considerável interesse por
parte de pesquisadores em biomecânica do esporte
(4,1,2,5,14,15,16,22).
De maneira geral, qualquer tipo de impacto advindo
dos esportes é um evento caracterizado pela ocorrência de forças de grande intensidade e curta duração,
isto é, forças impactantes, e estas são frequentes em
vários esportes, como exemplo, pode-se citar a prática do judô, onde para toda a projeção (Nage-Waza)
existe uma queda (ukemi). As quedas são realizadas
por técnicas de amortecimento, as quais dependem
do tipo de técnica de projecção utilizada. A prática
das quedas faz parte do treinamento sistemático dos
judocas, sendo utilizadas com o objectivo de amenizar os efeitos deletérios no organismo, a curto,
médio ou longo prazo, provenientes do impacto do
corpo do judoca com o tatame.
O tatame é um material específico para a prática do
judô, como para outros esportes de combate, o qual
tem por objectivo contribuir para a amenização dos
efeitos das quedas. Embora haja estudos que apontam os tatames como um dos causadores de lesões
em judocas (21, 19, 20, 18, 17), não se encontrou na literatura, nem nas especificações dos fabricantes e/ou
representantes de tatames, as características que
propiciem ao consumidor conhecer o material que
está adquirindo.
Partindo do pressuposto que os diferentes tipos de
tatames podem influenciar nas acelerações resultantes do impacto do corpo do judoca com o solo, é que
se realizou este estudo com o objectivo de verificar
as acelerações e a duração dos tempos dos impactos
sofridos por diferentes segmentos corporais de judocas (mão, quadril e pé) após quedas nos diferentes
tipos de tatame, assim como comparar as respectivas
acelerações nos diferentes pontos corporais.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram testados sete diferentes tipos de tatame,
sendo um de palha (C) e seis sintéticos (A, B, D, E,
F, G) com diferentes espessuras (6,0 cm, 4,0 cm, 3,5
cm, 3,8 cm, 3,0 cm, 4,0 cm, 3,2 cm, pela ordem referida), escolhidos intencionalmente. Os testes foram
realizados em laboratório por dois judocas, sendo
que o “tori” (judoca que projecta) executava a técnica “Ipon-Seoi-Nague”, técnica escolhida por não
haver necessidade da utilização do “judogui” (indumentária adequada para a prática do judô), e o “uke”
(judoca que é projectado) amortecia a queda com o
“Zempo-Kaiten-Ukemi” (Figura 1).
Figura 1. Técnica “Ipon-Seoi-Nague”.
Para quantificar os impactos resultantes das colisões
de segmentos corporais do judoca (punho, quadril e
tornozelo) contra os tatames, utilizou-se um acelerô-
Rev Port Cien Desp 7(2) 156–166
157
Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis
metro triaxial do Tipo 4321, da Brüel & Kjaer®.
O acelerómetro foi fixado com fita adesiva (Figura
2), de forma a evitar o movimento do acelerómetro
sobre o local escolhido. Os pontos de fixação foram:
no punho, sobre a articulação radioulnar distal
esquerda (Figura 2); no quadril, na porção superior
da crista ilíaca direita (Figura 3); e na perna, dois
centímetros proximais ao maléolo medial esquerdo
(Figura 4). O sistema de coordenadas utilizado foi
determinado com base na posição do acelerómetro
no instante do contato do segmento com o tatame
(queda), sendo: sentido vertical para o eixo z, sentido antero-posterior para o eixo y e sentido laterolateral para o eixo x (Figura 5).
Figura 4. Ponto de fixação do acelerômetro no tornozelo
Z
X
Y
Figura 5. Sistema de referência tridimensional utilizado
Figura 2. Forma de fixação do acelerômetro no punho
Figura 3. Ponto de fixação do acelerômetro no quadril
158
Rev Port Cien Desp 7(2) 156–166
Foram obtidos sinais de dez projecções e quedas,
com êxito, em cada segmento corporal e em cada um
dos sete tipos de tatames, totalizando 210 projecções/quedas. As colectas foram realizadas em diversos dias, organizados em sessões de 10
projecções/quedas com intervalo de um minuto
entre elas, duas vezes por semana ao longo de três
meses, visando preservar a integridade física dos
judocas participantes do estudo. Para a obtenção dos
dados foi estipulada uma frequência de aquisição de
5000 Hz e tempo total de aquisição de 4 s para cada
projecção/queda.
Os sinais eléctricos gerados no acelerómetro (em
mV) pelo impacto dos segmentos com os tatames
foram amplificados por pré-amplificadores de carga
tipo 2635 da Brüel & Kjaer® e enviados a uma placa
de aquisição de dados multicanal CIO-DAS 16/1600
que compreende 16 canais absolutos ou 8 canais
Impacto em jodocas nas técnicas de ukemi
diferenciais, com conversor analógico/digital de 12
bites com um limite de tensão de entrada de , da
Computer Board®, tendo sido processados e registrados no software SAD32® (1977).
Após a realização do estudo piloto, para o qual dois
judocas realizaram projecções e quedas nos diferentes
tatames com o acelerómetro fixado em diferentes
segmentos corporais (punho, quadril e tornozelo),
definiram-se os factores de correcção do acelerómetro, via pré-amplificadores, como mostra o Quadro 1.
Tanto um divisor resistivo de 1/2, quanto os factores
de correcção dos pré-amplificadores, foram necessários para que se evitasse saturação dos sinais, devido
aos diferentes tipos de materiais a serem testados e
à colocação do acelerômetro em diferentes segmentos corporais.
Para as análises dos tempos de duração do impacto,
os valores em cada eixo (x,y,z) foram obtidos com o
seguinte critério: obtenção do tempo inicial e do
tempo final de cada curva (Figura 7). O valor de
duração do impacto, em cada componente (x, y ou
z), resulta da subtracção entre o tempo final e o
tempo inicial (tF – tI = ti).
Os dados foram processados usando a estatística
descritiva em termos de média, desvio padrão e coeficiente de variação, assim como a análise de variância (ANOVA) com p!0,05.
Quadro 1. Factores de correcção dos pré-amplificadores
para aquisição dos sinais via acelerometria.
Seg. Corporal
Tipo de tatame
x (mV)
y (mV)
z (mV)
Punho
“A”, “B”, “C” e “E”
“D”, “F” e “G”
1
1
1
10
3,16
1
Todos
10
10
1
“B”, “C” e “E”
“A”, “D”, “F” e “G”
10
10
100
10
10
10
Tornozelo
Quadril
Para quantificar a magnitude do impacto utilizou-se
o valor máximo absoluto da aceleração, conforme
apresenta a Figura 6, corrigidos pelos factores citados no Quadro 1 e normalizados por 9,81 m/s2 (aceleração da gravidade – g).
Figura 7. Representação gráfica do critério utilizado para retirar das curvas o
factor tempo inicial e tempo final
A partir do atendimento das exigências internacionais de experimentação com humanos (Declaração
de Helsínquia de 1975), e legais conforme o que dispõem as Resoluções 196 e 251, de 07/08/97 do
Conselho Nacional da Saúde (Brasil), no que concerne ao Comitê de Ética da Universidade Federal de
Santa Catarina (processo 055/2000 em
06/09/2000), os dados foram colectados após os
atletas assinarem um termo de consentimento informado.
RESULTADOS
Os resultados obtidos referentes às magnitudes das
acelerações e tempo de duração dos impactos dos
três segmentos corporais (punho, quadril e tornozelo) nos sete diferentes tipos de tatames, estão contidos nos Quadros 2, 3, 4, 5, 6 e 7 a seguir.
Figura 6. Representação gráfica dos valores de impacto nos eixos x, y e z
Rev Port Cien Desp 7(2) 156–166
159
Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis
Quadro 2. Va lores das magnitudes de impacto no PUNHO nos diferentes tatames (eixos x, y e z). Onde: é a média, s é o desvio padrão e CV é o coeficiente de va r iação
Variáveis
Tatames/Aceleração
Eixos
A
B
C
D
E
F
G
Média
x
X (g)
s (g)
CV (%)
170,35
33,49
19,66
202,00
33,84
16,75
218,27
39,65
18,17
130,39
27,14
20,82
155,29
24,94
16,06
150,16
31,81
21,19
156,30
28,70
18,36
168,97
31,37
18,71
y
X (g)
s (g)
CV(%)
63,00
12,02
19,08
67,97
10,47
15,40
61,48
12,00
19,53
39,52
9,70
24,55
58,73
12,89
21,96
39,99
12,42
31,05
64,91
18,97
29,22
56,51
12,64
22,97
z
X (g)
s (g)
CV(%)
221,69
22,44
10,12
230,87
16,31
7,06
300,94
24,13
8,02
270,74
19,01
7,02
301,11
25,80
8,57
231,51
23,52
10,16
267,05
30,13
11,28
260,56
23,05
8,89
Quadro 3. Valores do tempo de duração de impacto no PUNHO nos diferentes tatames (eixos x, y e z). Simbologia equivalente à do quadro 2.
Variáveis
Tatames/Tempo de duração do Impacto
Eixos
A
B
C
D
E
F
G
Média
x
X (s)
s (s)
CV (%)
0,0087
0,0009
10,30
0,0079
0,0006
7,08
0,0060
0,0011
18,09
0,0076
0,0012
15,44
0,0049
0,0010
20,32
0,0086
0,0011
13,30
0,0059
0,0006
9,33
0,0071
0,0009
13,41
y
X (s)
s (s)
CV (%)
0,0095
0,0011
11,85
0,0079
0,0012
15,63
0,0048
0,0007
15,01
0,0059
0,0007
12,73
0,0043
0,0012
27,40
0,0086
0,0015
16,98
0,0073
0,0016
21,80
0,0069
0,0012
17,34
z
X (s)
s (s)
CV (%)
0,0117
0,0018
15,35
0,0122
0,0015
12,35
0,0085
0,0012
13,55
0,0057
0,0005
8,99
0,0055
0,0007
12,80
0,0091
0,0015
16,67
0,0079
0,0008
9,82
0,0087
0,0011
12,79
Quadro 4. Valores das magnitudes de impacto no QUADRIL nos diferentes tatames (eixos x, y e z). Simbologia equivalente à do quadro 2.
Variáveis
Tatames/Aceleração
Eixos
160
A
B
C
D
E
F
G
Média
x
X (g)
s (g)
CV (%)
13,41
1,60
11,97
11,19
1,53
13,69
14,17
1,85
13,02
15,26
2,23
14,61
17,17
2,05
11,92
18,30
2,10
11,45
18,79
2,63
14,00
15,47
2,00
12,95
y
X (g)
s (g)
CV (%)
12,89
4,19
32,49
5,96
1,34
22,49
6,64
0,93
13,95
9,03
2,08
23,00
8,81
1,25
14,18
8,83
2,16
24,41
10,32
2,64
25,53
8,93
2,08
22,29
z
X (g)
s (g)
CV (%)
12,88
1,37
10,65
6,65
0,70
10,52
9,50
0,66
6,98
17,63
1,81
10,30
8,00
1,05
13,13
13,84
2,02
14,60
16,06
1,75
10,86
12,08
1,34
11,00
Rev Port Cien Desp 7(2) 156–166
Impacto em jodocas nas técnicas de ukemi
Quadro 5. Valores do tempo de duração de impacto no QUADRIL nos diferentes tatames (eixos x, y e z). Simbologia equivalente à do quadro 2.
Variáveis
Tatames/Tempo de duração do Impacto
Eixos
A
B
C
D
E
F
G
Média
x
X (s)
s (s)
CV (%)
0,0254
0,0031
12,02
0,0132
0,0032
24,10
0,0148
0,0030
20,63
0,0198
0,0040
19,98
0,0074
0,0013
17,80
0,0189
0,0037
19,46
0,0170
0,0027
15,95
0,0167
0,0030
18,56
y
X (s)
s (s)
CV (%)
0,0231
0,0044
18,91
0,0247
0,0041
16,78
0,0167
0,0024
14,66
0,0229
0,0027
11,75
0,0095
0,0025
25,88
0,0286
0,0039
13,52
0,0196
0,0050
25,60
0,0207
0,0036
18,16
z
X (s)
s (s)
CV (%)
0,0235
0,0046
19,54
0,0150
0,0029
19,24
0,0177
0,0022
12,29
0,0222
0,0024
10,99
0,0064
0,0018
27,83
0,0220
0,0038
17,33
0,0128
0,0025
19,40
0,0171
0,0029
18,09
Quadro 6. Valores das magnitudes de impacto no TORNOZELO nos diferentes tatames (eixos x, y e z). Simbologia equivalente à do quadro 2.
Variáveis
Eixos
A
B
C
Tatames/Aceleração
D
E
F
G
Média
x
X (g)
s (g)
CV (%)
108,99
11,19
10,27
111,04
6,82
6,14
56,77
7,91
13,94
101,15
18,68
18,47
118,87
5,45
4,58
111,30
10,96
9,85
114,90
8,03
6,99
103,29
9,86
10,03
y
X (g)
s (g)
CV (%)
94,03
7,05
7,50
69,93
11,94
17,07
82,72
15,61
18,87
48,37
6,82
14,11
61,21
9,61
15,71
42,14
6,72
15,94
60,51
5,87
9,70
65,56
9,09
14,13
z
X (g)
s (g)
CV (%)
371,37
47,48
12,79
297,12
28,84
9,71
349,94
26,90
7,69
296,01
46,40
15,68
304,56
32,83
10,78
159,01
25,51
16,05
211,11
34,22
16,21
284,16
34,60
12,70
Quadro 7.Valores do tempo de duração do impacto no TORNOZELO nos diferentes tatames (eixos x, y e z). Simbologia equivalente à do quadro 2.
Variáveis
Tatames/Tempo de duração do Impacto
Eixos
A
B
C
D
E
F
G
Média
x
X (s)
s (s)
CV (%)
0,0084
0,0014
17,16
0,0115
0,0022
18,85
0,0046
0,0013
29,26
0,0098
0,0020
20,07
0,0077
0,0011
13,88
0,0195
0,0031
16,11
0,0172
0,0029
16,67
0,0112
0,0020
18,86
y
X (s)
s (s)
CV (%)
0,0075
0,0011
14,62
0,0086
0,0011
12,34
0,0059
0,0008
13,41
0,0079
0,0025
31,68
0,0056
0,0009
16,36
0,0228
0,0032
14,24
0,0198
0,0056
28,13
0,0111
0,0022
18,68
z
X (s)
s (s)
CV (%)
0,0075
0,0009
11,45
0,0087
0,0015
17,46
0,0060
0,0010
16,08
0,0136
0,0028
20,34
0,0061
0,0008
13,48
0,0224
0,0024
10,70
0,0216
0,0027
12,35
0,0123
0,0017
14,55
Rev Port Cien Desp 7(2) 156–166
161
Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis
Com relação à comparação das acelerações nos diferentes pontos corporais entre os tatames, nos três
eixos, os resultados são apresentados nos Quadros
8, 9 e 10.
Quadro 8. Comparação dos valores de impactos do segmento corporal
PUNHO (eixos x, y e z) entre diferentes tatames.
EIXO
FONTE DE
VARIAÇÃO
Gl
QUADRADOS
MÉDIOS
F
P
X
entre grupos
dentro grupo
6
63
9522,98
1004,79
9,48 0,00*
y
entre grupos
dentro grupo
6
63
1391,61
167,51
8,31 0,00*
Z
entre grupos
dentro grupo
6
63
11094,24
548,54
20,23 0,00*
* estatisticamente significativo
Quadro 9. Comparação dos valores de impacto no segmento corporal
QUADRIL (eixos x, y e z) entre diferentes tatames.
EIXO
FONTE DE
VARIAÇÃO
Gl
QUADRADOS
MÉDIOS
F
P
X
entre grupos
dentro grupo
6
63
77,06
4,11
18,73 0,00*
y
entre grupos
dentro grupo
6
63
52,79
5,38
9,82 0,00*
Z
entre grupos
dentro grupo
6
63
171,90
2,05
83,94 0,00*
* estatisticamente significativo
Quadro 10. Comparação dos valores de impacto no segmento corporal
TORNOZELO (eixos x, y e z) entre diferentes tatames.
EIXO
FONTE DE
VARIAÇÃO
Gl
QUADRADOS
MÉDIOS
X
entre grupos
dentro grupo
6
63
4504,272
113,9534
39,53 0,00*
y
entre grupos
dentro grupo
6
63
3354,736
93,51304
35,87 0,00*
Z
entre grupos
dentro grupo
6
63
56092,85
1266,163
44,30 0,00*
* estatisticamente significativo
162
Rev Port Cien Desp 7(2) 156–166
F
P
DISCUSSÃO
De acordo com os dados contidos no Quadro 2,
constata-se que no punho, os maiores valores de
aceleração ocorrem nos tatames “E” (301,11 g) e
“C” (300,94 g), ambos no eixo z, e os menores nos
tatames “F” (39,99 g) e “D” (39,52 g) ambos no
eixo y. De maneira geral, os valores mais altos ocorreram no eixo z, (X = 260,56 g), os intermediários
no eixo x (X = 168,97 g) e os menores no eixo y (X
= 56,61 g). Quanto ao tempo de duração do impacto
(Quadro 3), verifica-se que os menores valores
médios foram obtidos no punho, no tatame “E”, nos
três eixos (x, y e z), enquanto que as maiores médias
ocorreram no tatame “A”, também nos três eixos.
Quanto aos valores de aceleração do quadril, com
base no Quadro 4, verifica-se que os valores mais
altos de aceleração foram obtidos nos tatames “G”
(18,79 g) e “F” (18,30 g), no eixo x. De uma maneira geral, foi no quadril que ocorreram os menores
valores de aceleração em todos os eixos, sendo o
menor valor médio de 5,96 g no eixo y, tatame “B”, e
o maior de 18,79 g no eixo x, tatame “G”. Com referência ao tempo de duração de impacto (Quadro 5),
os menores tempos, nos três eixos, foram obtidos
nos tatames “E” e, os maiores no tatame “A” para os
eixos x e z, e no tatame “F” para o eixo y. De forma
geral o tatame “E” foi aquele que apresentou menor
tempo de impacto e o tatame “A” o maior.
Analisando os resultados contidos no Quadro 6, verifica-se que para o tornozelo, o valor de aceleração
maior foi obtido no eixo z, no tatame “A” (371,37 g).
Enquanto que a menor aceleração foi registada no
eixo y, tatame “F” (42,14 g). Quanto ao tempo de
duração do impacto, pode-se verificar que as menores
médias foram de: 0,0046 s no tatame “C” (eixo x) ;
0,0056 s no tatame “E” (eixo y); 0,0060 s no tatame
“C” (eixo z). Já os maiores tempos de impacto foram
no tatame “F”, em todos os eixos.
Muito embora não se tenha encontrado na literatura
pesquisada estudos que possam ser comparados com
estes dados, parece que existe uma relação entre
tempo de impacto e espessura do material, uma vez
que os materiais utilizados para esportes com grandes impactos têm que ser mais espessos, como o
caso dos colchões utilizados para o salto com vara,
dado que os saltadores caem de grandes alturas e
colidem a altas velocidades(12). Deste modo, o tempo
Impacto em jodocas nas técnicas de ukemi
de duração do impacto é aumentado para reduzir as
forças de impacto médio a níveis mais seguros.
Assim, acredita-se que os tatames que apresentam
maior tempo de impacto são mais apropriados para a
realização dos “ukemis” no Judô.
Utilizando-se como parâmetro o critério de tolerância à aceleração do corpo inteiro no sentido posteroanterior de Macaulay(11), o qual afirma que há uma
tendência global de que quanto menores as durações
dos eventos maiores acelerações o organismo suporta, pode-se afirmar que os valores de tempo de duração de impacto obtidos nos três segmentos corporais
avaliados podem ser considerados de curta duração.
Por outro lado, os valores das acelerações recebidos
pelos judocas, principalmente nos segmentos corporais punho e tornozelo ultrapassam os limites considerados seguros (dependendo do tempo de duração
podem chegar a 100 g), estando por vezes as acelerações recebidas pelos judocas acima de 200 g, valores
considerados geradores de severas lesões.
Mesmo que o critério de Macaulay(11) não apresente o
tempo total diário de exposição permitido, como citam
as Normas ISO 5349 (1986) e ISO 2631(1985), que
trazem o tempo de tolerância limite para as exposições
em diferentes frequências e acelerações para mãos e
braços e corpo todo, respectivamente, não se podem
utilizar estas normas, dado que o fenómeno estudado
neste trabalho consiste de impactos causando vibrações transitórias e não periódicas.
Ademais, torna-se difícil afirmar qual o número de
impactos que seriam necessários para que causassem
lesões em um judoca, pois, por um lado, os “ukemis”
(22), são destinados a minorar os efeitos da queda, e
por outro lado, encontrou-se apenas um estudo que
cita números de “ukemis” por treino(17), mesmo
assim para um grupo heterogéneo de judocas e não
para atletas de alto nível.
Além da técnica de amortecimento de quedas, a
estrutura do corpo humano tem excelentes propriedades para resistir aos impactos, tanto em termos de
articulações e músculos, como com os ossos, sendo
que principalmente o osso tem a capacidade de autoreparo(21). Deste modo, para que se possa fazer qualquer inferência sobre a capacidade de autoreparo dos
biomateriais, deve ser considerado além do número
de repetições das quedas, o intervalo entre as repetições e entre as sessões.
Outro factor que também deve ser levado em consideração é a qualidade da técnica do executante,
tanto aquele que projecta (“tori”) como aquele que é
projectado (“uke”), pois há estudos que detectaram
que o maior número de lesões em competições ocorreram em judocas iniciantes advindos da deficiência
técnica(9,10). Outro estudo(20), realizado em judocas
catarinenses por um período de 12 meses, identificou que as causas de lesões em treinamentos de
22/42 judocas, foi a não realização dos “ukemis” de
forma correcta.
Em relação aos sintomas posteriores à prática, em
uma investigação diagnóstica (17), foi detectado que
mais de um terço (24/86) dos judocas que participaram do estudo, sentem dores no tronco, mais especificamente na região lombar (rins) no dia posterior a
um treino com maior número de repetições de “ukemis”, do que aqueles executados em média por treino (73,60±42,34 vezes).
No que concerne ao objectivo de comparar as acelerações nos diferentes pontos corporais entre os tatames nos três eixos, quanto aos resultados obtidos no
punho (Tabela 1) verifica-se que, pelo menos em um
dos tatames, os valores de aceleração foram diferentes dos demais nos eixos x, y e z. Com a aplicação de
um teste “post hoc” (Tukey) a p ! 0,05, detectou-se
que: no eixo x o tatame “C” apresentou a maior
média dos valores de aceleração e o tatame “D” a
menor; não houve diferenças significativas entre as
médias dos valores de aceleração do tatame “A” com
“B”, “D”, “E”, “F” e “G”; “B” com “C”; “D” com
“E”, “F” e “G”; “E” com “F” e “G”, e “F” com “G”;
e, em ordem crescente dos valores de aceleração, os
tatames podem ser classificados no eixo x: “D”, “F”,
“E”, “G”, “A”, “B”, “C”. No eixo y, o tatame “B”
apresentou o maior valor de aceleração, semelhante
aos valores de impacto dos tatames “E”, “C”, “A” e
“G” que, por sua vez, foram semelhantes entre si; e
o tatame “D” o menor valor, equivalente ao do tatame “F”. Independentemente das diferenças significativas, os tatames foram classificados em ordem crescente de valores médios de impacto, para o segmento corporal punho, no eixo z, em: “A”; “B”; “F”; “G”;
“D”; “C”; e “E”.
Com relação ao quadril, analisando os resultados das
comparações (Tabela 2) constata-se que nos três
eixos, pelo menos um tatame apresentou valores de
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163
Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis
impacto diferentes dos demais. Após o “post-hoc”
(Tukey) para cada eixo, detectou-se que: para o eixo x
o tatame “G” foi o que apresentou maior valor de
aceleração, porém, não diferiu estatisticamente de
“F” e “E”; o tatame “B” exibiu o menor valor, mas
não diferente do tatame “A” que, por sua vez, foi
semelhante aos valores dos tatames “C” e “D”; os
tatames “C”, “D” e “E” apresentaram valores de aceleração intermediários, porém, diferentes entre si em
ordem crescente. Independentemente dos níveis de
significância, em ordem crescente, os tatames foram
classificados em termos de aceleração no quadril,
eixo x em: “B”; “A”; “C”; “D”; “E”; “F”; e “G”. Para
o eixo y o tatame “A” apresentou o maior valor de
aceleração, porém, semelhante ao tatame “G”; o
tatame “B” foi o menor, mas não diferente dos tatames “C”, “D”, “E” e “F”; retirando-se os extremos
(“B” e “A”), os demais tatames exibiram valores de
impacto semelhantes. Independentemente das diferenças significativas, os tatames foram classificados
em ordem crescente de valores de aceleração para o
quadril, no eixo y, em: “B”; “C”; “E”; “F”; “D”; “G”;
e “A”. Para o eixo z o tatame “D” apresentou o maior
valor de aceleração, contudo semelhante ao tatame
“G”; o “B” o menor valor, porém, semelhante ao
tatame “E”. Em ordem crescente os valores médios
de aceleração, para o quadril eixo z, os tatames apresentam a seguinte classificação: “B”; “E”; “C”; “A”;
“F”; “G”; e “D”.
Quanto ao tornozelo, observando o resultado da
análise ANOVA na Tabela 3, pode-se afirmar que,
em pelo menos um dos tatames, houve diferença
significativa em todos os eixos (x, y e z), e com a
aplicação do “post-hoc” (Tukey) para cada eixo, verificou-se que no eixo x, o tatame “C” apresentou o
menor valor, o “E” o maior valor de aceleração,
porém, semelhante aos tatames “A”, “B”, “F” e “G”.
Em ordem crescente ficaram classificados em: “C”;
“D”; “A”; “B”; “F”; “G”; e “E”. Quanto ao eixo y, o
tatame “A” apresentou o maior valor de aceleração e
o “F” o menor; não houve diferença significativa
entre os tatames “A” com “C”; “B” com “C”, “E” e
“G”; “D” com “E”, “F” e “G”, e “E” com “G”; em
ordem crescente, independentemente de diferenças
significativas, ficaram classificados em: “F”; “D”;
“G”; “E”; “B”; “C”; e “A”. Com relação ao eixo z, o
tatame “A” apresentou o maior valor de aceleração e
o “F” o menor; não houve diferença entre: os tata-
164
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mes “A” com “C”; “E” com “B”, “C” e “D”. Em
ordem crescente, independentemente das diferenças
serem significativas, os tatames ficaram classificados
em: “F”; “G”; “D”; “B”; “E”; “C”; e “A”.
Para o tornozelo, os valores mais altos foram encontrados nos tatames “A” (eixos y e z) e “E” (eixo x), e os
mais baixos nos tatames “C” (eixo x) e “F” (eixos y e z) .
Com base nas comparações anteriores, pode-se sintetizar que nos eixos x, y e z, respectivamente, os
valores mais altos para o punho foram obtidos nos
tatames “C”, “B” e “E”, para o quadril foram os tatames “G”, “A” e “D” e, para o tornozelo, os tatames
“E”, “A” e “A”.
Vale ressaltar que os valores das magnitudes de
impactos foram apresentados e discutidos apenas
por eixo, não apresentando a resultante das forças
de aceleração, tendo em vista que o fenómeno estudado apresenta tempos diferenciados em cada eixo.
Este fato pode ser justificado em virtude do movimento proporcionado entre o acelerómetro e os tecidos moles (pele) do judoca.
Muito embora não se tenham encontrado referências
bibliográficas para comparar os resultados obtidos,
tendo em vista a metodologia adoptada na qual judocas realizam “ukemi” em diferentes tatames, encontrou-se um estudo(13) onde foi analisado o coeficiente de restituição e as acelerações em diferentes tipos
de tatames, por meio de ensaio mecânico. Este estudo apontou que tatames que apresentaram maiores
valores de coeficientes de restituição também apresentaram menores valores de impacto, ou seja,
enquanto o impacto apresenta uma relação mais
forte com a deformação (maciez) o coeficiente de
restituição tem uma relação com a capacidade de
resiliência. Este fato contribuiu para se deduzir que
os resultados deste estudo ratificam as colocações de
McGinnis(12), quando ele relata que pode existir uma
relação entre tempo de impacto e espessura do
material. Portanto, mesmo sendo altos os valores de
aceleração obtidos, dentro dos diferentes tipos de
tatames estudados, os mais espessos apresentaram
menores valores de aceleração.
CONCLUSÕES
Com base nos resultados obtidos, no referencial teórico e respeitando as limitações do estudo, concluise que:
Impacto em jodocas nas técnicas de ukemi
a) os valores de aceleração, nos diferentes pontos
do corpo do judoca, registados por acelerómetro,
foram altos, principalmente no punho e no tornozelo, no eixo z (vertical). Por outro lado, o segmento quadril foi o que apresentou os menores valores
de aceleração;
b) tanto os maiores valores de aceleração como a
direcção destes, serviram para ratificar a importância
do “ukemi” na amenização dos efeitos dos impactos,
haja em vista que a área de maior massa e consequentemente com maior número de órgãos internos,
apresentou menores acelerações;
c) quanto maior o tempo de contacto do segmento
corporal com o material, menor foi o valor da aceleração, sendo os tatames “A”, “B” e “F” os que mais
apresentaram tais características, sendo também os
mais espessos dos tatames em estudo.
Face aos altos valores de aceleração obtidos, vale ressaltar a necessidade de tatames com propriedades
visco-elásticas mais apropriadas para as características dessa modalidade, visando a integridade física do
judoca, a curto, a médio e a longo prazo.
CORRESPONDÊNCIA
Saray Giovana dos Santos
Universidade Federal de Santa Catarina
Laboratório de Biomecânica, CDS
Campus Universitário da Trindade, Florianópolis,
Santa Catarina, Brasil
CEP: 88040-900 Telefone: (+48) 3331-8530
e-mail: saray@cds.ufsc.br
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Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis
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Effects of different handle techniques during the back pull
exercise on the angular kinematic and production of strength
Luciano P. da Silva1
Juliano Dal Pupo2
Josiele V. Alves2
Carlos B. Mota2
1
ABSTRACT
The present investigation aims to verify the kinematic pattern of movement in the back pull exercise through the evaluation of the articular
angle of the joint of the elbow and shoulder between two different handle techniques in the bar: open and closed, considering the spans of the
individuals. Furthermore, the possible interference about these different
techniques on the maximal dynamic strength (MDS) and the located
muscular resistance were related. The bidimensional videography with a
camera operating at the frequency of 60Hz was used to capture images
which were later analyzed and processed by the Peak Motus System.
Twenty six (26) young individuals of both sexes took part in the kinematic analysis of the movement, 11 male individuals for the determination of the maximum dynamic strength and 10 also male for the determination of the located muscular resistance. The indicates significant
angular discrepancies among the distinct handle techniques for each
involved joint (elbow and shoulder). The closed handle technique has
presented a largest flexion angle at the end of the movement for the
elbow joint, witch implicate a higher acting of the flexor muscles on
that joint. The results have also showed that the size of the span exerts
influence on the articular movement as long as the bar remains with
the same length for all individuals. For the maximal dynamic strength
the individuals have achieved a better result on the through the closed
handle technique unlike the behavior of the strength of located muscular resistance where the individuals have achieved a better result
through the open handle.
RESUMO
Análise cinemática de duas técnicas de “pegada”
no exercício puxada alta
Key-Words: resisted exercises with weight, kinematic, back pull exercise
Federal University of Santa Catarina
Brasil
2 Federal University of Santa Maria
Brasil
A presente investigação objectivou investigar, no exercício com
pesos denominado “puxada alta”, os ângulos articulares do
ombro e cotovelo em duas diferentes técnicas de pegada: aberta
e fechada, considerando a envergadura dos indivíduos e ainda
verificar a interferência desta técnicas na força máxima e força
muscular localizada. Para análise cinemática utilizou-se videografia bidimensional e um teste de 1RM e RMs para determinar
a força máxima e de resistência, respectivamente. Participaram
deste estudo 26 indivíduos de ambos os sexos para realizar a
análise cinemática, 11 indivíduos do sexo masculino para
determinação da força máxima e 10 para a força de resistência
muscular localizada. Os resultados mostraram que na técnica
de pegada fechada houve maior flexão do cotovelo no final do
movimento, implicando maior acção dos músculos flexores
desta articulação. O tamanho da envergadura também influenciou nos ângulos articulares, mostrando que os indivíduos de
maior envergadura tendem a flexionar mais o cotovelo no fim
do movimento. Em relação à força máxima, os indivíduos tiveram melhor desempenho na técnica de pegada fechada,
enquanto que na força de resistência muscular o melhor
desempenho foi na pegada aberta. Conclui-se que as variações
nas técnicas de execução podem ser um factor interveniente no
treinamento resistido com pesos.
Palavras-chave: biomecânica, cinemática, exercícios com pesos
Rev Port Cien Desp 7(2) 167–173
167
Luciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo, Josiele V. Alves, Carlos B. Mota
INTRODUCTION
Resisted exercises with weights (REW) have been
attracting a large number of practitioners in order to
avoid diseases, health promotion, aesthetic, competitive reasons and for leisure only (8). The popularity
of this practice has increased mainly, due to the fact
that several researches had demonstrated the benefit
from this activity. That activity makes use of external
overloads in order to offer resistance to the muscle
making them able to be applied in several ways
among which stand out the free loads or the specific
machines.
It is essential to know the biomechanical and kinesiologic bases in order to allow a perfect accomplishment of the movements in REW. A better knowledge
about these areas will permit a critical evaluation of
the applied techniques and, thus, carry out a better
prescription of the exercises, besides, correcting postures and preventing lesions (14). Kinesiology is an
area which provides a deep understanding about the
human movement. The kinesiologic analysis allows
to know the acting muscles in certain movements,
as well as distinguishing the agonists, the antagonists and the synergists of the movement (12).
Kinesiologic analysis intends to determine the characteristic muscular activity during the specific phases of the acting and the movements of the joints.
One of the methods applied on this analysis is the
use of kinematics joined to videography. The digitalization of these recorded images allows the data
obtaining which provides subsidies for a full and
objective description of the movement (8, 22, 11).
The human body movements work through a biocrowbars system which is established according to
physical principles (2,4). The angular variations or the
width degree adopted in certain exercises can exert
influence on the training in REW regarding the muscular action and also the strength production (15).
The shoulder adduction on the vertical puller
referred as “back pull with high pulley ” (6) is one of
the more frequently applied exercises inside the
REW room. Thus, we can observe the importance of
biomechanics/kinesiologic analysis for the efficiency
and safety of this exercise. According to the literature (18) this exercise intends to develop the latissimus dorsi muscle but not involving the whole
fibers of this muscle, emphasizing that the variation
168
Rev Port Cien Desp 7(2) 167–173
of the “handle” techniques (the way of holding the
bar) would be an option for the strengthening of a
certain muscular group as a whole.
The extant theoretical references about REW often
provide contradictory information with insufficient
scientific bases. Frequently, the literature shows
simple introductions without wider and deeper
explanations.
The variations on the execution technique due to the
adoption of different joint angles can exert influence
on the training in REW (19, 7). Thus, taking in to
account that the movement width is an important
intensity variable (1, 3, 5, 23, 24), the purpose of this
study has been to determining the kinematic pattern
of the movement developed during the concentric
phase of the back pull exercise, when it is accomplished behind the head, verifying if there is any
angular difference in the joint (shoulder and elbow)
involved with the open and closed “handle” techniques relating with the individuals’ span. Besides,
we have observed the behavior of the maximum
dynamic strength and the located muscular resistance
strength in relation to the different types of handle.
MATERIALS AND METHODS
The present research has been developed in two
stages, in order to attend to the proposed objectives.
The first one was the determination of a movement
pattern for the analyzed exercise. The second was
the accomplishment of a maximum dynamic
strength protocol (1RM test) (16) and located muscular resistance strength protocol (RMs test) (11).
Aiming to determine the angles of the joints of the
shoulder and of the elbow during the accomplishment of the exercise, took part voluntarily in that
research 26 individuals of both sexes (5 females and
21 males) already introduced in the REW with average age 22 ± 4,42 years. The trained/not trained factor has been unconsidered for not being an intervening variable. For the application of the one
Maximum Repetition Test (1RM), were selected 11
male with average age 24,3 ± 5,2 years and for
application of the Maximum Repetitions test (RMs),
were selected 10 male individuals with average age
22,64 ± 3,64 years, being both groups considered
trained and with at least one year of continued practice in REW.
Kinematic analyses of the back pull exercise
Each individual was invited to take part in the
research with a previously established schedule and
they were asked to wear training clothes with men
wearing no shirts and women wearing tops allowing,
thus, the specific demarcations in the established
areas to be done.
During the first stage, an angular pattern of movement for the joint of the shoulder and elbow was
determined along the concentric phase (determined
as a complete cycle) of the “Back pull exercise with
high pulley” (6) by using two different “handle” techniques denominated opened and closed (figure1).
The images captured in this stage have been made
through the bidimensional videography with a camera operating in the frequency of images acquisition
of 60Hz. The position angle of the camera was perpendicular to the front plan (posterior view) in
which the movement took place. From these images,
a process of reconstruction of the movement was
made through the digitalization of the referring
anatomical references. The variables have been analyzed through the Peak Motus system (Peak
Performance Inc 5.0, USA). The calibration has been
made starting from an aluminum scale with two
demarcations of one meter between them.
After the explanations about the procedures, the
individual’s span was verified by using measuring
ribbon with 1mm of resolution, according portuguese protocol (9). Subsequently, external reflexive
markers were fixed in the following anatomical references: medial point between the styloid process of
the radio and of the ulna, right and left, lateral
condile of the right and left humerus, right and left
acromial process, 7th cervical vertebra, vertebra
located in the medial line between the lower angles
of the scapulas and right and left iliac crests.
The figure 1 shows the reflexive marks on the
anatomical references, the delimiting point of the
end of the movement besides the location of the
“handles” for the two techniques. The elbow joint
angle was defined between the markers of styloid
process of the radio and of the ulna and the shoulder joint angle was defined between the markers of
lateral epicondile of elbow, acromial process and
iliac crests.
Figure 1. Illustration of the back pull exercise
Firstly, each individual has accomplished 30 complete back pull movements with an inferior load in
relation to the usual training load in order to establish that as a slight load (23) starting from this number of repetitions. If the individual has been making
30 repetitions, this same load was used for record
the movement. In case the individuals did not to
carry 30 repetitions, the procedure with a lesser load
was repeated. Soon after a small recovery interval,
the individual has accomplished five complete back
pull movements with a wider “handle” in the
extremities of the bar, here referred as open “handle”. After such repetitions were made without any
interval the “handle” type was changed. Now the
individual had to hold the bar more internally
(closed “handle”) for the accomplishment of more
five complete repetitions.
It is worthwhile to emphasize that the end of the
considered movement (6) (end of the concentric
phase) has been predetermined through the mark
placed in each individual’s higher nape line, being
this point aligned with the inferior lobes of the ears
in the Frankfurt’s plan (see figure 1).
In the second stage of the research the protocol of
maximum neuromuscular progressive effort, the test
of one Maximum Repetition (1RM) and the
Maximum Repetitions test (RMs) has been applied,
for obtaining the Maximum Dynamic Strength (MDS)
and located muscular resistance strength, respectively.
In the RMs test, the execution speed was controlled
by one metronome in the cadence of 60 bpm.
Rev Port Cien Desp 7(2) 167–173
169
Luciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo, Josiele V. Alves, Carlos B. Mota
RESULTS
According to the figure 2, referring to the movement
pattern for the elbow, an initial medial angulation of
150.46º was evidenced for the open “handle” technique while 148.22º was the value of the angle for
the closed “handle” technique. We can notice that in
the beginning of the movement the angular values of
both elbow techniques were similar with a variation
of 2.24º (without statistic difference).
However, the final pattern of the concentric phase
shows a difference of 24.4º between the two “handle” types. The final value found for the elbow joint
during the open “handle” was 83.55º, which is significantly larger (p<0.01) than those 59.21º found
in the closed “handle”.
170
Rev Port Cien Desp 7(2) 167–173
155
Open Handle
Angles (°)
135
Closed handle
115
95
75
55
1
8
15 22 29 36 43 50 57 64 71 78 85 92 99
% of cycle
Figure 2. Movement pattern for the elbow in both “handle”
techniques during the concentric phase of the exercise
On the other hand, for the shoulder joint, as it may
be seen in figure 3, the movement pattern of the
open “handle” exercise began with an angulation of
119.4º, unlike the closed “handle” which began with
a value of 128.9º. An angular variation of 9.5º,
which statistically differs to p<0.01, can be observed
for the shoulder joint in the beginning of the exercise.
Nevertheless, the final pattern of this movement for
the shoulder joint during the concentric phase was
shown similar between the two adopted techniques
(without statistic difference). For the open “handle”
the value found was 42.64º, while in the closed
“handle” was 43.82º occurring, thus, a variation of
only 1.18°.
140
120
Angles (°)
In order to accomplish the movement of back pull
the chosen equipment was the High Pulley machine
of the INBAF model with lowest load of 07 kg and
the maximum load of 96 kg. The bar used in this
equipment is the same that is usually seen in academies (figure 1).
An average has been made for every situation of
each variable movement for all individuals. Thus,
average data was obtained on the way as the movement has occurred in every moment. Soon after, a
Student “t” test has been applied to verify the ex i stence of an angular difference between the right
and the left upper limbs for the shoulder and elbow
joints. Once there has been no significant difference we worked with the averages of the right and
left joint.
The Shapiro-Wilk test showed that the dates presented normal distribution. The comparisons between
the joints angles of different “handles”, results of
the 1RM and RMs tests were analyzed through the
parametric paired “t” test. Aiming to analyze the
influence of the spans related to different “handles”,
an average was made for the span of the 26 individuals and the value found was 1,80m. Thus, the group
became separated in two: higher than 1,80m and
lower than 1,80m. Afterwards, an analysis has been
accomplished through the paired t test in order to
verify possible differences between groups regarding
the spans and the final and initial angles of movement in both techniques.
Open Handle
Closed Handle
100
80
60
40
1
8
15 22
29 36
43 50 57 64
% of cycle
71
78 85
92 99
Figure 3. Movement pattern for the shoulder in both “handle”
techniques during the concentric phase of the exercise
The values of the angular variables referring to the
different spans in the exercise are shown bellow in
the table 1.
Kinematic analyses of the back pull exercise
Table 1. Angulations of the shoulder along the
different spans in the beginning of the movement
Spans
<1.80 m (n=13)
>1.80 m (n=13)
Table 3. Values of 1RM and RMs from both “handle” techniques
O.H.
C.H.
117.62° ±3.14º
120.96°*±4.12º
126.74° ±4.35º
131.28°** ±3.78º
*statistic difference between columns *p< 0,05 ; **p< 0,01
O.S.( open handle); C.S.(closed handle)
The elbow angle joint was not presented in table 1
because that in the beginning of the movement all
individuals had the elbows in complete extension,
not suffering angular alterations related to the size
of span.
Table 2. Angulations of the shoulder and elbow
along the different spans at the end of the movement
Spans
O.H.
C.H.
Shoulder
O.H.
C.H.
Elbow
<1,80m (n=13)
44,27°
± 9,67°
43,82°
± 6,28°
87,17°
± 6,63°
63,43°
± 5,57°
>1,80m (n=13)
41,01°
± 2,74°
43,81°
± 3,93°
79,93°*
± 8,11°
55,00°**
± 6,91°
*statistic difference between columns *p< 0,05 ; **p< 0,01
O.H.( open Handle); C.H.(closed Handle)
In relation to the individuals’ spans, regarding the
different “handles”, we can observed that there was
significant discrepancy between two groups (higher
than 1,80m and lower than 1.80m).Those ones with
span higher than 1.80m have presented an angulation of the elbow joint smaller at the end of the
movement in relation to the ones lower than that.
Thus, the elbow reaches a larger flexion during the
concentric phase of the exercise for those ones with
spans higher than 1.80m. For the shoulder joint this
angular variation has occurred in the beginning of
the movement (table 1), however, at the end of the
movement that discrepancy didn’t occur (table 2).
Tests of 1RM developed with different “handle”
types in the back pull exercise have shown higher
performance results (p<0,001) by using the closed
“handle” technique according to the table 3. On the
other hand, regarding the RMs tests, the results
have shown that the individuals accomplished a larger number of repetitions in the open “handle”
(p<0,001).
1RM (n=11)
RMs (n=10)
Closed handle
Open handle
76 ±11.89 kg
23 ±2.16 RMs
70.7±11.44 kg *
26.7 ±2.21 RMs *
* p < 0,05 (level of significance)
1RM: one maximum repetition
RMs: number of maximum repetitions at 60% of 1RM
The maximum strength has presented higher values
in an average of 7.5% in the closed “handle” in relation to the open one. It means about 5 kg heavier
(or one plate of the equipment). On the other hand,
the values of the located muscular resistance
strength were larger in an average of 13.8% for the
open “handle” technique.
DISCUSSION
Starting from the obtained results we can state that
during the closed “handle” technique there has been
an angular displacement in the joint of the higher
elbow in relation to the other analyzed technique.
This larger width of movement allows us to infer
that has been occurred a larger work of the acting
muscles in this joint during the movement (flexors
of the elbow).
In a physical analysis we can state that with the
largest movement arch traveled (angular distance),
since the force (external resistance) is maintained,
the largest will be the work developed once W = f x
d. That verification exerts straight influence on the
intensity of the exercise once that the movement
width is one of the variables of training (24).
Physiologically, the largest width of the muscular
movement in the exercise results in a larger crossed
bridges recruitment of the antagonists muscles of
movement as well as in a largest shortening of the
sarcomeres allowing, thus, the development of this
musculature in its whole width (13).
One factor that has influenced on this larger displacement during the closed “handle” is the verification that in the movement pattern for the open
“handle” there is an instant when the elbow stops
presenting constant angular alteration or, in other
words, still there is movement in the shoulder joint
but in the elbow joint occurs a stagnation of the displacement. From this moment on the muscles start
Rev Port Cien Desp 7(2) 167–173
171
Luciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo, Josiele V. Alves, Carlos B. Mota
acting in an almost isometric way. That apparent
isometry occurs in the last 15% of the cycle when
the angulation stabilize near to the value of 85º (see
figures 2 and 3).
In relation to the shoulder, the results have shown a
statistically significant difference only for the beginning of the movement. That is due to the type of the
adopted “handle”, once in the closed “handle” the
shoulder starts from a more abducted position than
in the open one. Thus, the muscular action of the
adductors muscles of the shoulder produce differentiated displacements in the segments with the variation of the “handle”.
In relation to the spans, regarding the different handles in the bar, we have verified, that according to
the tables 1 and 2, keeping the same bar and the
same handle places for all the individuals it would
happen different angular courses for the same analyzed joint.
In relation to the tests of maximum dynamic
strength (1RM) and Maximum Repetitions (RMs),
the results suggest that the use of the different techniques can exert influence on the appropriate prescription in REW when that has been based on
these tests. The largest results obtained for the
MDS, as it may be seen in the table 3, were always
observed in the closed “handle” technique that was
exactly the one that presented a largest course of the
agonists muscles of each joint. The resistance
strength (table 3) has presented an opposite behavior to the MDS, once the largest number of repetitions has been reached through the open “handle”.
Regarding the shoulder joint there is a pre-stretching of the adductor musculature which due to the
length-strain curve of the skeletal muscle (21) it will
be able to develop a better performance. On the
other hand, for the elbow joint, that largest course
of the flexor musculature as it was already seen
doesn’t necessarily implicate in a largest production
of strength for contributing in the exercise, once for
this muscular group the leverage factor overlaps the
length-strain curve where the musculature generates
a larger torque (articular useful strength) in the
middle of the movement or, in other words, 90° (21).
Thus, the pre-stretching of the adductor musculature of the shoulder seems to be the best explanation for the superior performance of the closed “han-
172
Rev Port Cien Desp 7(2) 167–173
dle” technique in the test of maximum dynamic
strength. A similar phenomena has been already
shown for the horizontal adductors of the shoulder,
prone-supinators of the forearm, and flexors and
abductors/adductors of the hips (21). On the other
hand, in the located muscular resistance strength
test, what seems best explain the performance on
the open “handle” technique is the possible fatigue
of the flexor muscles of the elbow by being a small
musculature tends to resist for less time to the
work, disabling, thus, a largest performance in the
exercise.
CONCLUSION
The obtained results have allowed us to observe that
the type of adopted “handle” exerts straight influence on the exercise. The results generate analyzes
allowing us to state that the articular angles which
suffer these variations (elbow and shoulder) are
linked to the type of “handle”, the size of the bar as
well as to the spans of the individual . In this way, if
the individual’s span increases it generates, in the
joint angles, the same result that if the size of the
bar was reduced or if the “handle” was more closed.
We have observed that the individuals with the
largest spans present a larger flexion their elbows at
the end of the concentric phase in relation to the
ones with smaller span. Besides, they start from a
more prolonged position of the shoulder adductors
concluding, thus, that the flexors muscles of the
elbow work harder and that the shoulder adductors
muscles have a larger useful force.
It was verified that in the application of the closed
“handle” technique there was more efficient for to
work the flexor muscles of the elbow. Besides modifying the muscular action, still in this technique,
there have been higher performance results in the
1RM test showing, thus, that is possible to achieve a
larger performance through the closed “handle”
when the maximum dynamic strength is the analyzed
strength. However, when the located muscular resistance strength is analyzed, the best performance is
reached through the open “handle” because the
action of the elbow flexors muscles is smaller in this
case, once that the precocious muscular fatigue of
these muscles is a limiting factor on the performance
of the shoulder adductors muscles in the exercise.
Kinematic analyses of the back pull exercise
Considering and in according the literature, the
application of different REW execution techniques
or the change of implements and machines in order
to modify the articular angles must be carefully analyzed and applied in the daily occupation.
REFERENCES
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CORRESPONDENCE
Josiele Vanessa Alves
Universtity of Santa Catarina State – UDESC
Physical Education, Fisioterapy and Sports -CEFID
Laboratory of Biomechanics
Street: Pascoal Simone, 358 – Coqueiros, ZIPCODE:
88080-350
Florianópolis – SC - Brazil
e-mail: josialves_ef@yahoo.com.br
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Rev Port Cien Desp 7(2) 167–173
173
Características dinâmicas de movimentos
seleccionados do basquetebol
Fernanda M. Acquesta
Germano M. Peneireiro
Roberto Bianco
Alberto C. Amadio
Júlio C. Serrão
Laboratório de Biomecânica
Escola de Educação Física e Esporte
Universidade de São Paulo
RESUMO
O objectivo do estudo se pautou em determinar as características de parâmetros das forças de reacção do solo (FRS) em
movimentos típicos do basquetebol executados por jogadores
profissionais. Também se objectivou determinar correlações
entre o desempenho nos saltos e sua carga mecânica durante as
aterrissagens. Oito atletas realizaram cinco tentativas em seis
movimentos: arremesso em suspensão (jump), salto com contramovimento (jump & reach), bandeja, rebote e corrida com
bola rápida (v=6m/s) e lenta (v=4m/s). Os parâmetros dinâmicos da FRS foram colectados através de uma plataforma de
força (KISTLER AG 9287). Os resultados do primeiro pico da
força vertical na aterrissagem, do tempo para o para o pico e do
impulso foram: no jump 4,54 ± 1,10 PC, 0,08 ± 0,01s, 0,13 ±
0,04 PC.s; no rebote 5,39 ± 1,26 PC, 0,07 ± 0,01s, 0,18 ±
0,04 PC.s; e na bandeja 7,27 ± 2,71 PC, 0,08 ± 0,13 s, 0,24 ±
0,04 PC.s. Os resultados evidenciam que o aparelho locomotor
é submetido a uma carga mecânica relativamente alta durante
os movimentos. As baixas correlações entre o desempenho do
salto e o primeiro pico da força vertical na aterrissagem (0,44
no jump; 0.22 no rebote; e 0.34 na bandeja) sugerem que o
desempenho do salto não tem influência determinante na carga
gerada.
ABSTRACT
Dynamical characteristics of basketball specific movements
Palavras-chave: biomecânica, basquetebol, força de reacção do
solo, carga, desempenho
174
Rev Port Cien Desp 7(2) 174–182
The purpose of this study was to evaluate dynamical parameters of the
ground reaction force (GRF) in specific basketball movements performed by Brazilian professional players. It was also aimed to determine correlations between jump performance and its impact shock during landings. Eight athletes performed 5 trials in each movement: jump
shot, jump and reach, layup, rebound and dribble at two different
speeds (control: v=4m/s and speed: v=6m/s). Dynamical parameters
of GRF were sampled by a force platform (KISTLER AG 9287).
Results of the first peak of vertical force in landing, peak rise time and
impulse were, respectively: in jump shot 4.54 ± 1.10 BW, 0.08 ±
0.01s, and 0.13 ± 0.04 BW.s; in rebound 5.39 ± 1.26 BW, 0.07 ±
0.01s, and 0.18 ± 0.04 BW.s; and in layup 7.27 ± 2.71 BW, 0.08
± 0.13 s, and 0.24 ± 0.04 BW.s. These results showed that the player´s body is submitted to a relatively high impact shock during basketball movements. The low correlations between jump high and the first
peak of vertical force (r=0.44 in jump shot, r=0.22 in rebound, and
r=0.34 in layup) demonstrated that jump performance did not have a
relevant influence on impact shock during landings.
Key-words: biomechanics, basketball, ground reaction force, load,
performance.
Características dinâmicas do basquetebol
INTRODUÇÃO
O basquetebol é uma modalidade esportiva que
envolve corridas, saltos, mudanças de direcção. Tais
movimentos condicionam a geração de cargas externas, cuja aplicação está relacionada com o surgimento de lesões por estresse em modalidades esportivas
como a corrida (17, 29, 26, 9). No entanto, essa relação
ainda não foi bem determinada para o basquetebol.
Apesar da popularidade do basquetebol, raros são os
estudos que abordam questões relativas aos parâmetros mecânicos que regem os movimentos típicos da
modalidade. Como exemplo, tem-se o estudo de
McClay et al. (18) e de Miller e Bartlett (22), que abordam características cinemáticas dos movimentos
usuais do basquetebol. Dados relativos a parâmetros
eletromiográficos são raros, bem como aqueles que
descrevem os parâmetros dinâmicos dos movimentos, como o trabalho de McClay et al. (19).
Torna-se interessante observar que apesar do pequeno número de estudos que caracterizam as respostas
dinâmicas, e que em ultima instância poderiam contribuir no entendimento da relação entre a carga
mecânica e seu potencial lesivo, muitos são os estudos que descrevem as lesões mais comuns na modalidade.
Segundo Henry et al. (11), Zelisko et al. (33),
Colliander et al. (8), Apple (5), Iwamoto e Takeda (13),
Arena (4), Harmer (10), Junge et al. (15) e Major (16), os
estudos apontam uma prevalência das lesões no basquetebol nas extremidades inferiores. O joelho e tornozelo são as articulações mais frequentemente lesadas por torções, luxações e tendinites. Os pés, especificamente o quinto metatarso, são os mais acometidos por fracturas por estresse. Segundo esses estudos, a maioria das lesões no basquetebol, está associada ao excesso de treinamento, condicionado pela
combinação entre a intensidade e o volume em que
os movimentos são realizados. Haas1 apud McClay et
al. (19) reportou, no período entre 1983 e 1987, um
total de 44 lesões em 36 jogadores da liga profissional norte-americana de basquete. Estimou-se uma
incidência de uma fractura por estresse a cada 32
jogadores. Zelisko et al. (33) apontam um índice de
0,7%, enquanto Junge (15) estimou que, durante os
jogos olímpicos de 2004, houve um índice de 0,65
lesões por partida de basquetebol (ou 65 lesões a
cada 1000 partidas). Têm-se na literatura evidências
apontando que alterações no padrão de movimento
de corredores correspondem a uma das causas associadas a fracturas por estresse e outras lesões por
excesso de treinamento (7, 21, 14, 27), no entanto relações similares precisam de ser melhor determinadas
no basquetebol. Valiant e Cavanagh (28) afirmam que
forças aplicadas em grande magnitude e repetidamente podem representar uma condição suficientemente crítica para o desenvolvimento de lesões por
estresse nos jogadores de basquetebol.
Um outro factor que necessita de mais estudos diz
respeito à influência do desempenho do salto na
determinação da sobrecarga gerada nas aterrissagens. Em estudo sobre a influência do uso de instruções relacionadas à cinemática das articulações para
redução do impacto, McNair et al. (20) concluíram
que técnicas de aterrissagem mais eficientes resultam em atenuações na magnitude da força de reação
do solo (FRS). Hoffman et al. (12), concluíram que a
diferença na FRS encontrada na aterrissagem de saltadores experientes e inexperientes pode ser devido
à utilização mais eficiente da capacidade de atenuação de carga por parte da musculatura esquelética.
Para que uma eventual relação entre as demandas do
basquetebol e a incidência de lesões possa ser estabelecida, são necessários estudos preliminares sobre
as características de dados dinâmicos dos movimentos usuais do jogo. Neste contexto, este estudo teve
como objectivo central determinar características de
parâmetros da FRS em seis movimentos típicos do
basquetebol: arremesso em suspensão (jump), salto
com contramovimento (jump & reach), bandeja, rebote e corrida com bola rápida e lenta, em jogadores
brasileiros profissionais. Teve-se como objetivo específico do estudo a análise da influência do desempenho do salto nas características da carga gerada nas
aterrissagens.
MATERIAIS E MÉTODOS
Amostra
Considerando o interesse em estudar atletas profissionais, a amostra foi seleccionada intencionalmente
dentre os jogadores que integravam a seleção brasileira de basquetebol. Como membros da selecção, os
voluntários participaram do Torneio Pr é -Olimpico e
do Campeonato Brasileiro de Basquete no ano de
2003. Atletas que nos últimos seis meses tivessem
sofrido lesões ósteo- m i o-articulares que os incapacitasse a participar de sua rotina de treinamento e
Rev Port Cien Desp 7(2) 174–182
175
Fernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro, Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão
competição, foram excluídos da amostra. A avaliação
da condição ósteo-mio-articular do aparelho locomotor e do histórico de lesões foi determinada por intermédio de exames clínicos e anamnese ortopédica.
Em função dos critérios de inclusão estabelecidos, a
amostra foi composta por oito jogadores. Os voluntários seleccionados para o estudo apresentam
24±2,8 anos de idade, 92±13,5 kg, e estatura de
1,96±0,09 m. Todos foram informados acerca dos
propósitos e procedimentos adoptados e assinaram
um termo de concordância, no qual afirmaram estarem cientes e de acordo com os procedimentos
empregados no estudo.
Instrumentos
Para determinação das variáveis dinâmicas dos movimentos selecionados, utilizou-se uma plataforma de
força (KISTLER AG, 9287 A). Esta plataforma possui
transdutores de força do tipo piezoelétricos localizados nos cantos da superfície de medição (0,6x0,9m).
Os sinais obtidos pelos transdutores são enviados
por intermédio de cabos e interruptores a um amplificador de sinais (KISTLER AG, 9865 B), programados automaticamente para obtenção dos valores das
três componentes da força de reacção do solo. O controle sobre a aquisição, análise e armazenamento dos
dados foi realizado pelo programa de funções BIOWARE (282A1-20). Na execução das colectas utilizou-se frequência de amostragem igual a 1 kHz.
Variáveis analisadas
As variáveis dinâmicas da FRS seleccionadas para a
análise dos saltos e da corrida encontram-se descritas nas Tabelas 1 e 2 e representadas graficamente
nas Figuras 1 e 2.
Tabela 1. Variáveis analisadas para os movimentos de salto.
176
Va r i á veis
Símbolo
a) Menor valor da força vertical na decolagem (PC)
b) Maior valor da força vertical na decolagem (PC)
c) Tempo para atingir o Fy máximo na decolagem (s)
d) Impulso para a decolagem (PC. s )
e) Tempo de fase aérea (s)
f) Maior valor da força vertical na aterrissagem (PC)
g) Tempo pa ra atingir o Fy máximo na aterrissagem(s)
h) Impulso nos primei ros 75 ms da aterrissagem (PC.s)
i) Altura dos saltos (m)
Fy Min
Fy max D
"t Fy max D
Imp_D
"t f aer
Fy max_A
"t Fy max_A
Imp_75
Alt_sa lto
Rev Port Cien Desp 7(2) 174–182
Figura 1. Curva representativa dos parâmetros da componente vertical da
FRS seleccionados para a análise, para o movimento da bandeja.
Tabela 2. Variáveis analisadas para os movimentos de deslocamento.
Variáveis
Símbolo
a) Primei ro pico da força vertical (PC)
b) Tempo para atingir Fy max 1 (s)
c) Segundo pico da força vertical (PC)
d) Tempo para atingir Fy max 2 (s)
e) Impulso nos primeiros 75 ms da aterrissagem (PC.s)
f) Maior magnitude da força de frenagem (PC)
g) Tempo para atingir Fx mínima (s)
h) Maior magnitude força de propulsão (PC)
i) Tempo para atingir Fx máxima (s)
j) Impulso de fr enagem (PC. s )
l) Impulso de Propulsão (PC. s )
Fy max 1
"t Fy max 1
Fy max 2
"t Fy max 2
Imp_75
Fx min
"tFx min
Fx max
"tFx max
Imp_fren
Imp_prop
Características dinâmicas do basquetebol
Apesar da força reactiva médio-lateral ter sido colectada, não foram evidenciados resultados significantes,
uma vez que no protocolo não foram executados movimentos com mudanças bruscas de direcção. Dessa
forma, optou-se pela omissão desses dados.
Figura 2. Curva representativa dos parâmetros seleccionados das componentes vertical e horizontal da FRS para os deslocamentos com bola. A figura
(1) representa a corrida lenta, a uma velocidade média de 4m.s-1 e a figura
(2) representa a corrida rápida, a uma velocidade média de 6m.s-1.
Os principais indicadores das cargas externas podem
ser obtidos pela análise da componente vertical da
FRS. Entre eles, o primeiro pico de força (Fy max_A)
e o tempo para alcançar Fy max_A ("t Fy max_A) são
de reconhecida relevância para análise dos movimentos por permitirem a quantificação do impacto aplicado ao aparelho locomotor (2). Considerando que a resposta muscular dos membros inferiores não ocorre
antes de 40 ms (32), optou-se por determinar o impulso nos primeiros 75 ms (Imp_75), como parâmetro
indicador da carga externa aplicada num momento
crítico para o aparelho locomotor.
Dessa forma, pode-se dizer que as variáveis da FRS
referentes à aterrissagem dos saltos servem como
indicadores da carga mecânica dos saltos, enquanto
que a altura do salto e as variáveis referentes à decolagem servem como parâmetros indicadores do
desempenho do salto.
A altura dos saltos (Alt_salto) foi determinada através da fórmula:
(1 / 2TV .g )
h=
2g
2
, onde:
h = Altura em metros;
TV = Tempo de vôo em segundos;
g = aceleração da gravidade (9,81 m.s2)
Procedimento Experimental
Os movimentos seleccionados para analise foram o
arremesso em suspensão (jump), a bandeja, o rebote e
o deslocamento com bola a duas velocidades (4 e
6m.s-1). Tais movimentos foram seleccionados em função da importância que desempenham na consecução
das acções ofensivas e defensivas que caracterizam o
Basquete. Além destes que são movimentos típicos do
basquete, optou-se por analisar ainda o salto com contramovimento (jump&re a c h), que apesar de não compor
os movimentos fundamentais do basquete, é um bom
indicador das características do salto dos jogadores (6).
Todas as colectas de dados foram realizadas em
ambiente de laboratório. Objectivando a redução da
potencial influência que a ausência de importantes
referenciais de jogo, como a tabela e as marcações de
quadra, poderiam exercer na realização dos movimentos a serem analisados, buscou-se a adequação do
ambiente no qual a colecta dos dados foi realizada.
Para tanto, delimitou-se uma área com as mesmas
dimensões do garrafão no qual foi montada, também
em acordo com as dimensões oficiais, uma tabela. A
plataforma de força encontrava-se fixada no chão, e a
tabela era movimentada de acordo com o movimento
realizado. Ainda que tais adaptações não tenham permitido reproduzir com a necessária fidelidade as características de uma quadra de basquete, pode-se considerar que os voluntários executaram os movimentos planejados numa condição bastante próxima da condição
real.
Para a execução do jump solicitou-se que o voluntário
executasse o arremesso na linha de lance livre. Foram
analisados apenas os dados relativos aos arremessos
bem sucedidos. Para a execução do rebote, o voluntário era instruído a retomar a posse de uma bola arremessada por um auxiliar na altura do aro. Para tanto
solicitava-se que o voluntário executasse o salto na sua
expressão máxima de rendimento. Foram consideradas
apenas as tentativas nas quais o voluntário conseguiu
recuperar a posse de bola. A bandeja foi executada a
partir da recepção da bola, passada por um auxiliar,
para o voluntário já em movimento. A bola era recebi-
Rev Port Cien Desp 7(2) 174–182
177
Fernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro, Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão
da na proximidade da área de lance livre para que o
voluntário pudesse realizar a bandeja. Foram avaliadas
apenas as tentativas que resultaram em arremessos
bem sucedidos. A condução de bola foi realizada em
direcção a tabela, com uma distância mínima de partida da ordem de 10 m. Os voluntários foram instruídos
a realizar o movimento em duas velocidades, uma
representando sua velocidade típica de condução de
bola em situação de armação de jogadas (4m.s-1). e a
outra numa condição típica de contra ataque (6m.s-1).
OJ u m p & Reach foi executado estando o voluntário com
as mãos na cintura. Após o comando o voluntário
deveria flexionar os segmentos do membro inferior,
caracterizando um movimento de preparação que antecede o salto final. Solicitou-se ao voluntário executar o
salto empregando a sua maior capacidade de geração
de força.
Todos os voluntários executaram todos os movimentos
seleccionados para análise até se atingisse um número
mínimo de dez tentativas válidas. A ordem de execução dos movimentos foi determinada por intermédio
de sorteio. Os movimentos foram executados sem a
presença de nenhuma espécie de marcação adversária.
Durante a realização da colecta de dados, os voluntários utilizaram os calçados esportivos que usualmente
utilizam em suas rotinas de treinamento e competição.
Apesar de serem de marcas distintas, as características
de construção dos calçados utilizados eram acentuadamente semelhantes.
Tratamento dos dados e análise estatística
Para eliminar ruídos provenientes de factores externos aos movimentos realizados, os dados provenientes da plataforma de forças foram filtrados através de
um filtro butterworth recursivo de 2ª. ordem passabaixa de 40 Hz.
Após a normalização dos dados pelo peso corporal de
cada atleta, esses foram submetidos a um tratamento
estatístico através do programa Statistica (versão 5.1,
StatSoft, Inc.). A estatística descritiva foi baseada na
apresentação dos valores médios e respectivos desviospadrão para cada movimento realizado. Através de
uma correlação de Pearson, realizou-se as correlações
entre a altura dos saltos e as variáveis indicadoras da
carga mecânica.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Movimentos de salto
Os valores médios de pico da componente vertical da
FRS relatados nos movimentos de salto do basquetebol se assemelham aos encontrados por McClay et al.
(19), que oscilam de 2,7 vezes o peso corporal (PC) a
8,9 PC. Os valores médios de pico obtidos para a
componente vertical da FRS nos movimentos de salto
(Tabela 3, Figura 3), oscilam entre os 2,7 PC na decolagem do jump & reach aos 7,27 PC na aterrissagem da
bandeja. O valor mais alto do impulso 75 ms (0,24
Peso Corporal segundo – PC.s), também foi encontrado na bandeja. O rebote apresentou as maiores magnitudes médias para o Impulso para a decolagem (0,90
PC.s) e o jump apresentou os menores valores médios
(0.55 PC.s).
Esses valores (Tabela 3) correspondem a uma carga
externa que se pode caracterizar como de média magnitude, levando em consideração a carga mecânica
relatada na literatura (1, 24, 25, 30) em outras actividades, como a marcha (1,2 PC), a corrida (2,3 PC), o
salto em altura (11 PC) e o salto triplo (20 PC).
Tabela 3. Média e desvio-padrão dos parâmetros relativos à componente vertical da Força de Reacção do Solo para os movimentos
jump and reach, jump, rebote e bandeja, para os oito voluntários estudados. Os picos de força são apresentados na unidade peso corporal (PC),
os intervalos de tempo em segundos (s), e a altura dos saltos em metros (m).
Variáveis
Jump & Reach
Fy max_A (PC)
"t Fy max_A (s)
Imp_75 (PC.s)
Fy Min (PC)
Fy max_D (PC)
"tFymax_D (s)
Imp_prop (PC.s)
Alt_salto (m)
178
Rev Port Cien Desp 7(2) 174–182
5,05 ± 0,87
0,07 ± 0,04
0,17 ± 0,03
0,45 ± 0,24
2,7 ± 0,42
0,43 ± 0,09
0,7 ± 0,11
0,63 ± 0,20
Movimentos analisados
Jump
Rebote
4,54 ± 1,10
0,08 ± 0,01
0,13 ± 0,04
0,54 ± 0,20
2,96 ± 0,32
0,34 ± 0,06
0,55 ± 0,07
0,33 ± 0,06
5,39 ± 1,26
0,07 ± 0,01
0,18 ± 0,04
—
3,19 ± 0,78
0,46 ± 0,22
0,90 ± 0,19
0,51 ± 0,06
Bandeja
7,27 ± 2,71
0,08 ± 0,13
0,24 ± 0,04
—
—
—
0,61 ± 0,04
0,44 ± 0,02
Características dinâmicas do basquetebol
(a)
7
6
Uma possível relação entre essas forças externas,
caracterizadas como de média magnitude, e o índice
de lesões, pode ser estabelecida levando-se em consideração a frequência em que o aparelho locomotor
dos atletas é submetido a elas. Além disso, torna-se
importante ressaltar que é altamente provável que
em situações reais de jogo a carga seja maior do que
as reportadas, dada a dificuldade de motivar atletas
competitivos a desempenhar os movimentos a níveis
máximos em situação não competitiva.
(b)
6
5
5
Fy (PC)
Fy (PC)
4
4
3
3
2
2
1
1
0
0
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
1,6
1,8
2,0
Tempo(s)
7
0,5
(d)
(c)
6
1,0
6
5
5
Fy (PC)
Fy (PC)
4
4
3
3
2
2
1
1
0
0
1
2
3
4
5
6
0,5
1,0
Tempo(s)
(b)
6
5
Fy (PC)
4
3
2
1
0
2,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
Tempo(s)
6
(d)
5
4
Fy (PC)
1,8
3
2
1
0
6
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
Tempo(s)
Figura 3. Curva representativa da componente vertical da FRS para o movimento da bandeja (a), do rebote (b), do jump (c) e do jump & reach (d).
1,5
2,0
2,5
3,0
Tempo(s)
Deslocamentos
com bola
Os valores médios da componente vertical da FRS
encontrados para os movimentos de corrida com bola
(Tabela 4) são similares às magnitudes reportadas na
literatura (24). Para a corrida rápida com bola (6m.s-1)
encontrou-se o valor médio de 2,16 PC para o primeiro pico da componente vertical da FRS (Fy max1)
e o tempo para o pico (DtFy max1) foi de 0,03s. O
valor do Imp_75 foi de 0,10 PC.s. Para a componente
horizontal antero-posterior (Fx), encontrou-se um
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
pico de
desaceleração
(Fx min)
de 0,48 PC e o tempo
Tempo(s)
para esse pico foi de 0,05s. O impulso de frenagem
foi de 0,02 PC.s.
Na corrida lenta (4m.s-1), os valores médios para Fy
max1, DtFy max 1 e Imp_75 foram, respectivamente,
1,85 PC, 0,03s e 0,09 PC.s. Para a Fx min e DtFx
min, encontrou-se valores médios de 0,42 PC e
0,06s. O impulso de frenagem foi de 0,02 PC.s.
As variáveis acima citadas indicam as condições de
desaceleração do membro inferior e a consequente
transmissão do choque mecânico ao aparelho locomotor durante a corrida. A analise dos dados e consequente comparação com dados da literatura (9, 19, 24)
evidenciou que a condução de bola não afectou de
forma significativa nenhuma dessas variáveis.
Os valores médios encontrados para as variáveis indicadoras dos eventos relacionados à fase propulsiva na
corrida com bola rápida (6m.s-1) foram: 2,48 PC para
o segundo pico da força vertical (Fy max2), 0,09s
para o tempo para o pico (DtFy max2), 0,35 PC para
o pico da componente antero-posterior (Fx Max),
0,17s para o tempo para esse pico (DtFx Max) e de
0,02 PC.s para o impulso de propulsão (Imp_prop).
Para a corrida com bola lenta (4m.s-1), os valores
médios para Fy max2, DtFy max2, Fx Max, DtFx
Max e Imp_prop foram, respectivamente, 2,52 PC,
0,11s, 0,30 PC, 0,19s e 0,02 PC.s.
Rev Port Cien Desp 7(2) 174–182
179
Fernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro, Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão
Esses resultados sugerem que, bem como as variáveis relacionadas à desaceleração do membro inferior, as variáveis relacionadas à fase propulsiva da
corrida também não foram influenciadas pela condução da bola, evidenciando que tanto o controle do
choque mecânico quanto a produção de força propulsiva não foram afectadas pela execução da tarefa
em questão.
Tabela 4. Média e desvio-padrão dos parâmetros relativos à componente vertical e ântero-posterior da Força de Reacção do Solo para a corrida rápida
(v=6m.s-1) e lenta com bola (v=4m.s-1) para os oito voluntários estudados.
Os picos de força são apresentados na unidade peso corporal (PC), os intervalos de tempo em segundos (s).
Variáveis
Movimentos analisados
Corrida Rápida
Corrida Lenta
com Bola
com Bola
Fy max 1(PC)
"tFy max 1(s)
Fy max 2 (PC)
"tFy max 2 (s)
Imp_75 (PC.s)
Fx min (PC)
"tFx min (s)
Fx max (PC)
"tFx max (s)
Imp_fren (PC.s)
Imp_prop (PC.s)
2,16 ± 0,37
0,03 ± 0,008
2,48 ± 0,37
0,09 ± 0,02
0,10 ± 0,02
0,48 ± 0,14
0,05 ± 0,01
0,35 ± 0,08
0,17 ± 0,03
0,02 ± 0,01
0,02 ± 0,003
1,85 ± 0,28
0,03 ± 0,009
2,52 ± 0,42
0,11 ± 0,02
0,09 ± 0,02
0,42 ± 0,10
0,06 ± 0,01
0,30 ± 0,12
0,19 ± 0,04
0,02 ± 0,005
0,02 ± 0,004
Correlação entre o desempenho do salto e a FRS
na aterrissagem
Conforme considerado anteriormente, outro objectivo desse estudo foi determinar a influência do
desempenho do salto, traduzido pela altura do salto,
na determinação da sobrecarga externa gerada nas
aterrissagens.
Nesse sentido, é interessante destacar que a aterrissagem da bandeja, embora correspondesse à maior
média de magnitude de pico da força reactiva vertical
(7,27 ± 2,71 PC) e do Imp 75 (0,24 ± 0,04 PC.s),
não resultou de saltos com as médias mais elevadas
das alturas atingidas (0,44 ± 0,02m - Tabela 3), condicionando a baixa correlação encontrada (r=0,34 e
0,44) entre as duas variáveis e a altura do salto
(Tabela 5). Esse fato evidencia uma considerável
independência entre indicadores de carga e a altura
de queda.
180
Rev Port Cien Desp 7(2) 174–182
As correlações (r) entre a altura do salto no jump &
reach e a Fy max_A e Imp 75 foram, respectivamente,
0,36 e 0,58. Para a altura do jump, as correlações
foram de 0,44 para a Fy max_A e de 0,62 para o Imp
75. No rebote, as correlações entre a altura do salto
e Fy max_A e o Imp 75 foram de 0,22 e 0,43, respectivamente.
Tabela 5. Correlação (r) entre altura dos saltos realizados e as variáveis
indicadoras da carga e do rendimento (*p<0,05, **p<0,001).
Altura salto Altura salto Altura salto Altura salto
no jump&reach no jump
no rebote na bandeja
Fy max_A
Imp 75
0,36*
0,58*
0,44**
0,62**
0,22
0,43*
0,34
0,44
Os dados evidenciam que a baixa correlação encontrada para o movimento da bandeja também ocorre
para os outros movimentos seleccionados para o
estudo (Tabela 5), fato que corrobora a ideia de que
a técnica de movimento possui maior influência na
atenuação das forças externas do que a altura de
queda isoladamente. O estudo de Zhang et al. (34)
suporta esta hipótese. Os resultados apresentados
por estes autores sugerem que os extensores do joelho desempenham importante papel na atenuação da
sobrecarga mecânica gerada durante as aterrissagens.
CONCLUSÕES
Os resultados obtidos evidenciam que o aparelho
locomotor experiencia cargas relativamente altas
durante a realização dos movimentos típicos do basquetebol, fato que, quando associado à frequência de
exposição dos atletas, pode explicar as lesões características da modalidade. Deve-se considerar que um
melhor entendimento acerca desta questão ainda
depende de uma análise do volume de aplicação destas cargas.
Foi verificado, também, que o desempenho do salto
não possui influência determinante na carga gerada
nas aterrissagens, o que nos permite concluir que a
estrutura de movimento pode desempenhar papel de
destaque no controle das forças externas geradas nas
aterrissagens. Novos estudos são necessários para
identificar as características cinemáticas, dinâmicas e
eletromiográficas empregadas nessa condição de
controle.
Características dinâmicas do basquetebol
NOTA
Médico do time de basquete norte-americano Washington
Bullets.
1
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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14.
15.
CORRESPONDÊNCIA
Fernanda Michelone Acquesta
Rua do Manifesto, 2810 – Ipiranga
CEP 04209-003 São Paulo SP, Brasil
ou
Laboratório de Biomecânica da Escola de Educação
Física e Esporte da Universidade de São Paulo
Av. Mello Moraes, 65 - Cidade Universitária
CEP 05508-900 São Paulo SP, Brasil
e-mail: acquesta@usp.br
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21(1):3-17
182
Rev Port Cien Desp 7(2) 174–182
Efeito da posição da omoplata na força máxima isométrica
de flexão do ombro
Otília Sousa1
Fernando Ribeiro2
Mário Leite1
Francisco Silva1
Ana Paula Azevedo1
1
RESUMO
Pelo crescente ênfase colocado na avaliação, prevenção e reabilitação de disfunções da omoplata e pela importância atribuída
à omoplata e aos seus músculos motores na biomecânica do
ombro, os objectivos do nosso estudo foram avaliar o efeito das
posições de abdução e adução da omoplata na força máxima
isométrica de flexão do ombro medida no plano sagital, e testar
a hipótese de que esta é significativamente menor nas posições
de adução e abdução comparativamente à posição neutra.
Participaram no estudo dezoito sujeitos aparentemente saudáveis (10 mulheres e 8 homens), com idade compreendida entre
os 20 e 24 anos. Os sujeitos realizaram 3 contracções isométricas máximas de flexão do ombro a 90º no plano sagital com a
omoplata em posição neutra, abdução e adução. Para comparação dos valores médios de força isométrica foi utilizada a análise de variância a um factor. A força isométrica foi significativamente superior na posição neutra da omoplata quando comparada com a força medida com a omoplata na posição de abdução (10,09±2,41vs.8,14±2,31; p=0,047) e adução
(10,09±2,41vs.8,11±2,31; p=0,043). Os nossos resultados
demonstraram que a produção de força isométrica de flexão do
ombro é significativamente reduzida nas posições de abdução e
adução da omoplata comparativamente à posição neutra.
ABSTRACT
Effect of scapular position on shoulder flexion
maximal isometric strength
Palavras-chave: ombro, posição da omoplata, força máxima isométrica
Key-Words: shoulder, scapular position, maximal isometric strength
Departamento de Ortofisiatria
Serviço de Fisiatria
Hospital Geral de Santo António
Porto
Portugal
2 Centro de Investigação em Actividade Física,
Saúde e Lazer
Faculdade de Desporto
Universidade do Porto
Portugal
Because of the increased emphasis on assessing, preventing and rehabilitating scapular dysfunctions and because of the great importance given
to scapula and to scapular muscles in the shoulder kinetics, the purposes of our study were to assess the effect of scapular abduction and
scapular adduction on maximal isometric shoulder elevation strength
measured in the sagittal plane, and to test the hypothesis that isometric
shoulder strength would be significantly less in the scapular abdution
and adduction positions relative to the neutral position. Eighteen
healthy volunteers (8 men, 10 women) ages 20 to 24 years were
recruited to participate in the study. Subjects completed 3 maximal isometric shoulder elevation contractions at 90° of sagittal plane elevation
in the scapular neutral, abduction and adduction positions. Mean isometric strength values were compared using One-way anova. Isometric
strength was significantly higher for the neutral position compared
with the scapular abduction (10,09 ± 2,41 vs. 8,14 ± 2,31; p =
0,047) and adduction positions (10,09 ± 2,41 vs. 8,11 ± 2,31; p =
0,043). Our results showed that the production of shoulder flexion isometric strength is significantly lower in scapular abduction and adduction positions compared with scapular neutral position.
Rev Port Cien Desp 7(2) 183–188
183
Otília Sousa, Fernando Ribeiro, Mário Leite, Francisco Silva, Ana P. Azevedo
INTRODUÇÃO
Dor e disfunção do complexo articular do ombro são
causas comuns em sujeitos que recorrem aos serviços de saúde. Nos últimos anos, têm-se dado particular ênfase ao papel da omoplata e dos seus músculos motores na génese e perpetuação da patologia do
ombro. A omoplata desempenha um importante
papel na funcionalidade do complexo articular do
ombro, sendo a ponte de ligação que assegura a
transferência de forças de alta intensidade dos membros inferiores e tronco para os membros superiores
(7). É também um ponto de ancoragem de vários
músculos (1), uns com actuação na omoplata e
outros com actuação ao nível da articulação glenoumeral.
Alterações na função dos músculos estabilizadores
da omoplata podem-se traduzir em alterações na sua
posição de repouso, condicionando desta forma
todos os parâmetros de movimento do complexo
articular do ombro. Diminuição da força dos músculos motores da omoplata pode exercer efeito deletério na sua cinemática (1), alterando a função do
ombro e o seu centro de rotação instantânea e desta
forma conduzir à lesão e à incapacidade (7, 11).
Alguns autores (2, 3, 7) têm relacionado as disfunções
da omoplata, fisiologia e biomecânica anormal induzida por comprometimento da sua função muscular,
com a predisposição para lesões de sobrecarga do
ombro.
Pelo crescente ênfase colocado na avaliação, prevenção
e reabilitação de disfunções da omoplata e pela importância que lhe é atribuída e aos seus músculos motores na biomecânica do ombro, foi realizado um estudo
para investigar a relação entre a posição da omoplata
e a função muscular do ombro. Desta forma, os objectivos do estudo foram: examinar o efeito da posição
de abdução e de adução da omoplata na força máxima
isométrica de flexão do ombro medida no plano sagital; e testar a hipótese de que a força é significativamente menor nas posições de adução e abdução comparativamente à posição neutra. Esta hipótese baseiase na suposição de que as posições de adução e abdução da omoplata ao alterarem a relação de tensãoalongamento dos seus estabilizadores mediais (músculo trapézio e rombóides) induzem uma redução na
efectividade do par déltoide-coifa dos rotadores no
movimento de flexão do ombro.
184
Rev Port Cien Desp 7(2) 183–188
MATERIAL E MÉTODOS
Participantes
A amostra foi constituída por 18 sujeitos aparentemente saudáveis, 10 do sexo feminino e 8 do sexo
masculino, com idade compreendida entre os 20 e
24 anos (idade média ± desvio padrão: 22,2 ± 1,4
anos). Os sujeitos foram recrutados por conveniência na Escola Superior de Tecnologias da Saúde do
Porto. Para inclusão no estudo os sujeitos deveriam
apresentar amplitude articular do ombro completa
(flexão 180º; rotação externa 90º; rotação interna
70º), sem dor e simétrica, e não apresentar nenhum
dos seguintes critérios de exclusão: dor actual na
região cervical ou ombro; história de fractura, luxação ou cirurgia na região cervical, torácica e ombro;
escoliose ou cifose dorsal superior a 30º; patologia
degenerativa ou congénita da coluna cervical; alteração congénita da omoplata; patologia neuromuscular
conhecida; instabilidade do ombro conhecida ou suspeita; com o membro superior na posição anatómica
a omoplata apresentar-se em abdução ou adução;
história de patologia cardiopulmonar; gravidez (11).
Todos os sujeitos completaram a recolha de dados
numa única sessão matinal, após familiarização com
o protocolo experimental e com os instrumentos de
avaliação. Foi testado o membro superior dominante, o direito em todos os sujeitos. Todos os sujeitos
deram o seu consentimento informado por escrito e
todos os procedimentos foram efectuados de acordo
com a declaração de Helsínquia. O estudo foi aprovado pela comissão de ética local.
Avaliação da força muscular dos flexores do ombro
A força máxima isométrica dos flexores do ombro foi
medida com recurso a um dinamómetro (Globus Ergo
Meter, Globus Itália) em três posições diferentes da
omoplata: posição neutra, abdução e adução. Foi
pedido aos sujeitos para não praticarem actividade
física com o tronco superior nas 48 horas precedentes à avaliação. Todos os testes de avaliação da força
muscular foram realizados pelo mesmo investigador.
Na posição de teste o sujeito estava sentado numa
cadeira, sob uma gaiola de Rocher, com encosto rígido
e sem limitação dos movimentos de abdução e adução da omoplata. O tronco foi imobilizado ao encosto
da cadeira por meio de bandas estabilizadoras para
evitar movimentos de flex ã o / extensão e/ou rotação
do tronco durante a avaliação. Todos os testes de ava-
Efeito da posição da omoplata na força muscular
liação da força muscular foram efectuados com o
membro superior posicionado a 90º de elevação no
plano sagital, ou seja 90º de flexão, com o cotovelo
em extensão e a mão fechada. Apesar do plano da
omoplata permitir uma medição mais funcional, o
plano sagital foi escolhido para permitir maior simplicidade na determinação das três posições da omoplata, pela maior amplitude de movimento de abdução da omoplata disponível e pela definição de abdução da omoplata mais comummente usada determinar a posição com o membro superior a 90 de elevação no plano sagital. O membro foi suportado por
uma suspensão axial, permitindo a manutenção da
posição de teste e o descanso do membro durante os
períodos de repouso. A célula de força do dinamómetro foi fixada ao sujeito e à gaiola de Rocher por um
sistema que permitia redireccionar a linha de tensão
quando o sujeito obtinha as diferentes posições da
omoplata, mantendo um ângulo de 90º entre o membro do sujeito e o dinamómetro durante as 3 posições de teste. As três posições de teste da omoplata
(neutra, abdução e adução) foram obtidas activamente pelos sujeitos. A posição neutra foi definida como
a posição de repouso mais confortável entre os ex t r emos de abdução e adução activas, subjectivamente
determinadas pelos sujeitos. As posições de abdução
e adução foram determinadas como sendo a máxima
adução e abdução que os sujeitos eram capazes de
obter e manter activamente, tendo como distância
mínima da posição neutra 5 cm para a abdução e 3
cm para a adução (Figura 1), sendo a extremidade
distal do terceiro metacarpo o ponto de referência. A
posição do membro superior e tronco foi confirmada
com recurso a um goniómetro universal, tendo as
distâncias de abdução e adução da omoplata sido
confirmadas através de uma fita métrica.
1
2
Antes da avaliação da força máxima isométrica os
sujeitos realizaram um breve aquecimento composto
por 5 movimentos de amplitude total do ombro em
todas as direcções e por 2 contracções isométricas
sub-máximas durante cinco segundos na posição de
90º de elevação do ombro no plano sagital para cada
uma das três posições da omoplata avaliadas. Após
um minuto de repouso, foi pedido aos sujeitos que
realizassem 3 contracções isométricas máximas, com
5 segundos de duração, para cada uma das posições
de teste da omoplata, sendo escolhido para análise o
valor mais elevado resultante das três medições. O
tempo de repouso entre contracções foi de um
minuto e o tempo de repouso entre posições de
teste foi de dois minutos, repousando o membro
superior suspenso pela suspensão axial.
Para minimizar os efeitos da fadiga e de aprendizagem sobre a última posição de teste, cada uma das
possíveis sequências das posições de teste foi efectuada a igual número de sujeitos. Durante o teste a
posição do sujeito foi constantemente monitorizada
por um fisioterapeuta. Após a mudança de posição
da omoplata todos os ângulos eram verificados e o
dinamómetro isométrico ajustado, para assegura
consistência na posição de teste.
Análise Estatística
Foi utilizada a estatística descritiva para calcular a
média e o desvio padrão dos valores da força isométrica em cada uma das 3 posições de teste da omoplata. Foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk para testar
a normalidade de distribuição dos dados. Para comparação de médias foi utilizada a análise de variância
a um factor. O teste de Bonferroni foi usado para
identificar entre que posições de teste se verificaram
diferenças significativas. O nível de significância foi
estabelecido em 5%.
3
Figura 1. Sujeito na
posição de teste com
a omoplata em posição de abdução (1),
posição neutra (2)
e adução (3)
Rev Port Cien Desp 7(2) 183–188
185
Otília Sousa, Fernando Ribeiro, Mário Leite, Francisco Silva, Ana P. Azevedo
RESULTADOS
Todos os sujeitos que participaram no estudo completaram com sucesso as tarefas que lhes foram
determinadas.
* diferença estatisticamente significativa para a posição neutra; p! 0,05
Figura 1. Média e desvio padrão da força máxima
isométrica para as posições da omoplata testadas
A força máxima isométrica dos flexores do ombro é
significativamente superior na posição neutra da
omoplata quando comparada com a força medida
com a omoplata na posição de abdução (10,09 ±
2,41 vs. 8,14 ± 2,31; p = 0,047) e adução (10,09 ±
2,41 vs. 8,11 ± 2,31; p = 0,043). Não se verificaram
diferenças estatisticamente significativas entre a
força máxima isométrica produzida pelos flexores do
ombro com a omoplata na posição de adução e na
posição de abdução (Figura 1 e Quadro 1).
A produção de força isométrica pelos flexores do
ombro com a omoplata em abdução e adução é aproximadamente 20% inferior à força produzida quando
a omoplata se encontra na posição neutra (Quadro 1).
Quadro 1. Valores de força máxima isométrica (Kg) e
percentagem de diminuição comparativamente à posição neutra
Posição da
omoplata
n
Força máxima
isométrica
% de
diminuição
Neutra
Abdução
Adução
18
18
18
10,09 ± 2,41
8,14 ± 2,31*
8,11 ± 2,31**
—
19,82 ± 9,55
19,97 ± 9,05
* diferença estatisticamente significativa para a posição neutra; p= 0,047
** diferença estatisticamente significativa para a posição neutra; p= 0,043
186
Rev Port Cien Desp 7(2) 183–188
DISCUSSÃO
Este estudo vem na linha dos estudos iniciados em
2002 por Smith e colaboradores (11) na Clínica Mayo,
Rochester, Minessota, no qual se verificou que a função muscular do ombro é significativamente alterada
pela posição da omoplata. Os resultados do corrente
estudo indicam que a posição da omoplata altera significativamente a função muscular do ombro na
posição de 90º de flexão, suportando a nossa hipótese de que a força produzida pelos flexores do ombro
é significativamente menor nas posições de adução e
abdução da omoplata comparativamente à posição
neutra. Tendo-se verificado uma diminuição de cerca
de 20% na produção de força isométrica pelos flexores do ombro com a omoplata em posição de adução
e abdução comparativamente à posição neutra.
Utilizando um protocolo idêntico ao usado neste
estudo, Smith et al. (11) reportaram redução de 30%
na força máxima isométrica dos flexores do ombro
com a omoplata em adução e 23% com a omoplata
em abdução. Da mesma forma Kebaetse et al. (5)
encontraram uma redução de 16% da força máxima
isométrica de abdução em sujeitos saudáveis com
uma postura ligeiramente cifótica; a medição da
força foi efectuada a 90º de elevação do ombro no
plano escapular. Recentemente, Smith et al. (10) verificaram que a posição de abdução da omoplata reduzia significativamente a força isométrica dos rotadores internos e externos do ombro em diversos ângulos articulares. Estes dados indicam que a função
muscular do ombro pode estar comprometida quando a omoplata se desvia da sua posição neutra. Os
resultados deste estudo reforçam a importância da
posição da omoplata na função e na reabilitação do
complexo articular ombro tal como sugerido em
estudos anteriores (6, 7, 9, 13).
O desvio da omoplata, em relação à sua posição neutra, pode comprometer a capacidade desta fornecer
uma base de suporte estável e colocar os músculos
estabilizadores da mesma em posição desvantajosa
na sua curva de comprimento- tensão (10-12). De
facto, a modificação na relação comprimento-tensão
ou sinergias musculares verificadas no desvio da
omoplata da posição neutra, parece ser uma hipótese
plausível para explicar os resultados deste estudo.
Ellenbecker e Mattalino (4) demonstraram que a
força muscular do ombro é alterada em função do
Efeito da posição da omoplata na força muscular
plano em que este está posicionado. Da mesma
forma que a posição de abdução e adução da omoplata induz desvantagem nos seus músculos estabilizadores, o desvio desta da sua posição neutra também reduz a capacidade de gerar força por parte da
coifa dos rotadores, comprometendo desta forma a
geração de força de todo o complexo articular do
ombro (7, 8). Neste caso particular o desvio da omoplata da posição neutra parece reduzir a eficácia do
par deltóide-coifa dos rotadores durante o movimento de flexão do ombro (11).
Este estudo apresenta algumas limitações: (i) foram
investigados jovens aparentemente saudáveis sem
alterações no complexo articular do ombro. A opção
foi feita para diminuir a presença de factores clínicos
potencialmente confundidores tais como a etiologia
do sintoma, a duração e a severidade; (ii) a avaliação
isométrica da força muscular pode não se correlacionar com a maioria das actividades da vida diária e
com as actividades laborais. No entanto, face ás
opções disponíveis, este método de avaliação da
força muscular foi o que se revelou mais útil na realização deste estudo; (iii) a posição da omoplata
relativamente ao seu movimento de rotação superior/inferior não foi objectivamente monitorizada.
Apesar da posição inicial do membro superior e do
tronco ter sido confirmada com recurso a um goniómetro universal, sugere-se que futuros estudos
monitorizem objectivamente os movimentos de rotação superior/inferior da omoplata.
Apesar das limitações do nosso estudo os nossos
resultados indicam que a força isométrica máxima
dos flexores do ombro, a 90º de flexão, é dependente
da posição da omoplata. É importante realçar que o
efeito deletério exercido pela posição da omoplata na
capacidade de gerar força foi similar para a posição
de abdução e adução. Estes resultados têm importantes implicações para todos aqueles que previnem,
avaliam e tratam patologias do ombro. Especial atenção deve ser dada ao impacto que a posição da omoplata exerce na função dos músculos do ombro.
Várias actividades desportivas, tais como a natação,
voleibol, ténis, andebol, colocam o complexo articular do ombro em posições vulneráveis possibilitando
a ocorrência de patologias inerentes à realização de
esforços repetidos. A diminuição na produção de
força de flexão do ombro induzida por alterações na
posição de repouso da omoplata poderá desta forma,
para além de predispor a lesões de sobre-uso (6,7),
diminuir a qualidade e eficiência do gesto desportivo. Os resultados deste estudo realçam a importância dos profissionais da área das ciências do desporto
e educação física na prevenção de alterações na posição de repouso da omoplata secundárias à diminuição da capacidade muscular dos seus músculos estabilizadores, procurando não só optimizar o gesto
técnico como também prevenir a ocorrência de
lesões. Da mesma forma, em contexto clínico, a avaliação funcional do complexo articular do ombro realizada por médicos e fisioterapeutas a atletas de
modalidades que incluem frequentemente movimentos das extremidades superiores acima da cabeça,
deverá contemplar a avaliação da posição de repouso
da omoplata.
Futuros estudos são necessários para elucidar sobre
o impacto da posição da omoplata na função muscular do ombro em sujeitos com patologia sintomática
do ombro, bem como em atletas de modalidades nos
quais o uso do membro superior seja preponderante.
Este estudo demonstrou que a produção de força
isométrica de flexão do ombro é significativamente
reduzida nas posições de abdução e adução da omoplata comparativamente à posição neutra.
AGRADECIMENTOS
Este estudo foi parcialmente apresentado nas 1ªs
Jornadas de Fisioterapia em Saúde Ocupacional, que
se realizaram de 17 a 18 de Fevereiro de 2006, em
Coimbra, Portugal, sendo de inteira justiça agradecer
as contribuições que nessa ocasião foram feitas para
a melhoria da redacção final deste trabalho.
CORRESPONDÊNCIA
Fisioterapeuta Otília Sousa
Serviço de Fisiatria, Hospital Geral de Santo António
Largo Prof. Abel Salazar
4099-001 Porto, Portugal
e-mail: fisiootilia@gmail.com
Rev Port Cien Desp 7(2) 183–188
187
Otília Sousa, Fernando Ribeiro, Mário Leite, Francisco Silva, Ana P. Azevedo
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Análise das componentes da prova como ponto de partida para
a definição de objectivos na natação na categoria de cadetes
António Silva1,2
Filipa Silva1
António Reis1
Victor Reis1
Daniel Marinho1
André Carneiro1
Felipe Aidar1
1
RESUMO
Os objectivos do presente trabalho foram: (i) determinar as
expressões preditivas para as diferentes variáveis cronométricas
para os 400 e os 200 metros livres e para os 100 metros mariposa, costas, bruços e livres; por género e por prova; (ii) desenvolver normativas para cada uma das variáveis cronométricas
estudadas, por género e por prova; (iii) operacionalizar um
modelo para a definição de objectivos do processo, de acordo
com os dois objectivos anteriores. Para o efeito, foram estudados 446 nadadores (230 do sexo feminino e 216 do sexo masculino) portugueses da categoria cadetes. Através da estatística
dedutiva foi possível determinar os valores de A (declive) e de
B (ordenada na origem), de forma a construir as equações de
regressão lineares para o Tempo de Partida (TP), Tempo de
Viragem (TV), Tempo de Chegada (TChg) e Tempo de Nado
(TN), nas diferentes provas. As principais conclusões do estudo foram: (i) todas as variáveis cronométricas obtiveram relações estatisticamente significativas com o Tempo Total de Prova
(TTP) e foram estabelecidas as respectivas expressões de predição de rendimento; (ii) com o aumento da distância de prova
houve uma diminuição da importância relativa do TP e um
aumento da importância relativa do TV; (iii) para a generalidade das provas estudadas, os nadadores do G5/G6 masculino
são mais rápidos a partir, a virar e a chegar do que as nadadoras pertencentes ao G4/G5 feminino.
ABSTRACT
Chronometric analyses of swimming events in infantile
swimmers: An objective model for goal setting
Departamento de Desporto
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Vila Real
Portugal
2 Centro de Estudos de Tecnologia, Ambiente e Vida
(CETAV)
Vila Real
Portugal
The aims of the present work were: (i) to determine for each gender
predictive equations for the different chronometric variables in 400 and
200 m freestyle and in 100 m butterfly, backstroke, breaststroke and
freestyle; (ii) to develop models for each of the chronometric variables
that were studied in the two genders; (iii) to construct an objective
model for goal setting. For this purpose, 446 Portuguese swimmers
(230 female and 216 male) belonging to the infant age group category
were studied. Through deductive statistic procedures it was possible to
determine linear regression equations to predict the Starting Time (ST),
the Turning Time (TT), the Finishing Time (FT) and the Swimming
Time (SwT) in each studied event. The major findings of this study
were: (i) all the chronometric variables were significantly related to
Total Race Time and the respective performance predictive equations
were established; (ii) with the increase of the race distance a decrease
in the relative importance of ST and an increase in the relative importance of TT were observed; (iii) to the majority of the studied events,
male swimmers were faster to start, to turn and to finish than female
swimmers.
Key-words: swimming, chronometric analyses, goal setting
Palavras-chave: natação, análise cronométrica, definição de
objectivos
Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201
189
António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar
INTRODUÇÃO
Programar significa sistematizar os conteúdos do
processo de treino, segundo objectivos, bem definidos, da preparação de um atleta e dos princípios
específicos que determinam a forma racional de
organização das cargas de treino (25) num período de
tempo bem definido (28). Com o objectivo de elevar
ao máximo a prestação do atleta, maximizar o seu
rendimento desportivo e consolidar essas melhorias,
torna-se necessário ao treinador observar o comportamento do seu atleta e/ou equipa em competição
(33), de modo a obter os instrumentos necessários
para o treino específico, permitindo assim: (i) elaborar simuladores com tempos parciais, frequências e
distâncias de ciclo específicas da competição; (ii)
comparar os tempos individuais de partida e viragem
com os tempos realizados em competição e com os
valores da norma (8, 22); (iii) determinar o número de
repetições para o treino da força-resistência, especialmente nos desportos cíclicos.
Actualmente, em natação, existem várias metodologias de observação da competição que avaliam o
desempenho do nadador (27). Cada metodologia ou
sistema de análise orienta-se segundo um protocolo
de observação, de forma a determinar parâmetros
cinemáticos julgados convenientes para avaliar o
comportamento e desempenho do nadador (33).
As competições constituem um terreno de observação privilegiado, que não pode ser nem minimizado
nem negligenciado na análise dos factores que concorrem para a optimização da prestação desportiva
(24). É possível e desejável recolher certas informações relativas ao desenrolar cronológico e técnico de
diferentes provas (10, 11, 13, 18, 21, 32).
Segundo Reischle (21), para se poder treinar especificamente para a competição são necessários os dados
obtidos nesta. Dois nadadores podem realizar o
mesmo tempo em determinada prova, mas os meios,
as soluções motoras, tácticas, técnicas, etc., podem
ser diametralmente opostas. É difícil quantificar de
que modo os vários factores da prova sobressaem
relativamente a outros.
No entanto, Haljand e Saagpakk (14) referem que,
quando se pretende realizar a análise da competição,
tem que se decompô-la nos seus elementos constituintes. Assim sendo, entendemos que a análise da
competição consiste em medir as diferentes compo-
190
Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201
nentes do tempo total de prova, ou seja, o tempo de
partida (TP), o tempo de nado (TN), o tempo de
viragem (TV) e o tempo de chegada (TChg).
Neste sentido, e sempre tendo como base estas quatro componentes de prova, diversos foram os estudos efectuados até à data. Arellano (4), no seu estudo
sobre a variabilidade entre as variáveis cronométricas, concluiu que: (i) a importância da partida e da
chegada diminui percentualmente à media que a distância de prova aumenta; (ii) a importância do
tempo relativo de viragem aumenta à medida que
aumenta a distância das provas; e (iii) o tempo relativo de nado aumenta à medida que a distância da
prova aumenta.
Arellano et al. (4), nos seus estudos sobre as provas
de 50 e 100 metros dos Jogos Olímpicos de 1992,
obtiveram coeficientes de correlação e equações de
predição lineares, como sendo o resultado de a
(declive) e b (ordenada na origem). O tipo de equações que obtiveram foi (equação 1):
Componente da Prova = (a x tempo da prova) + b
(equação 1)
Neste sentido, o problema central deste trabalho reside na normalização de cada uma das componentes da
prova do calendário nacional português para nadadores
da categoria cadetes face ao Tempo Total de Prova
(TTP), de forma a poder ser utilizado como um meio
indispensável para a definição de objectivos de processo, com implicações na programação e execução do
programa de treino à qual o nadador está submetido.
Assim, o propósito deste trabalho foi o de: (i) determinar as expressões preditivas para as diferentes variáveis cronométricas, tendo em conta o conhecimento
do TTP para os 400 e os 200 metros livres e para os
100 metros mariposa, costas, bruços e livres; por género e por prova; (ii) desenvolver normativas para cada
uma das variáveis cronométricas estudadas, por género
e por prova; (iii) operacionalizar um modelo para a
definição de objectivos orientado para a prestação, de
acordo com os dois objectivos anteriores.
MATERIAL E MÉTODOS
Amostra
Participaram neste estudo 446 nadadores portugueses (230 do sexo feminino e 216 do sexo masculino)
Definição de objectivos na natação
da categoria cadetes (10-11 anos nadadoras e 11-12
anos nadadores), que participaram no Torneio
Regional da Associação de Natação do Norte de
Portugal (ANNP) de piscina curta.
No Quadro 1 apresentamos a distribuição absoluta
de casos observados por prova e por género.
Quadro 1. Distribuição absoluta do número de nadadores por género pelas
diferentes provas em estudo, que fazem parte da amostra.
400 m 200 m 100 m 100 m 100 m 100 m
Livres Livres Livres Bruços Mariposa Costas
Femininos 40
Masculinos 31
35
14
38
34
52
57
18*
23*
47
57
* O número de atletas na prova de 100m Mariposa foi menor que nas demais
provas corroborando para estudo anterior feito por Barbosa et al. (7) onde o
número de nadadores de mariposa foi menor que os demais estilos.
Metodologia
Procedimentos para captação e registo de imagens
A recolha de imagens para posterior tratamento realizou-se numa piscina de 25,0 x 12,5 x 2,0 metros, e
com água à temperatura ambiente. Os registos de
vídeo dos nadadores foram feitos em simultâneo
através da colocação de três sistemas de captação de
imagens aéreas (JVC-SVHS). Todas as câmaras
foram apoiadas em suportes de fixação vertical (tripés) e sincronizadas em tempo real com uma mesa
de mistura (Panasonic WJMX50). Os sistemas foram
colocados na parte superior das bancadas destinadas
ao público, no prolongamento de uma linha relativa
a um par de marcas de referência, colocadas nas
TChg
5m
paredes laterais da piscina, que permitiram o registo
de imagens aéreas dos nadadores. Estas marcas
foram colocadas, paralelamente, aos 7,5m de cada
um dos lados da piscina.
Os sistemas de captação de imagem n.º1 e n.º 3 permitiram integrar respectivamente no campo de captação a totalidade do corpo do nadador durante a
realização da partida (7,5 m iniciais – sistema de
captação n.º1), a viragem (7,5 m de aproximação e
7,5 m de separação – sistemas de captação n.º1 e 3)
e a chegada (últimos 5 m – sistema de captação
n.º1). O sistema de captação de imagem n.º2, por
sua vez, permitiu integrar no campo de captação a
totalidade do corpo do nadador durante a realização
do percurso central da piscina (distância entre os 7,5
metros iniciais e os 7,5 metros finais) (Figura 1).
Todas as câmaras, foram sincronizadas utilizando um
sistema visual (foco) tradicional, visível por todas as
câmaras.
Procedimentos após a realização da prova
As características cinemáticas dos registos de imagem efectuados foram determinadas a partir da
introdução de um cronómetro no filme e utilizando
o dispositivo de “frame by frame”, para a cronometragem dos diversos tempos efectuada. Foi considerado
como referencial anatómico a passagem da cabeça,
porção Frontal (vertex), do nadador por uma linha
vertical traçada no ecrã, desde a base de uma marca
de referência até à outra (29).
A velocidade média de nado foi deduzida a partir do
desenvolvimento da diferença expressa pela equação 2.
TV/ TP
7,5 m
TV 7,5 m
25 m
Figura 1. Ilustração Esquemática do Modelo de Observação (TChg – Tempo de chegada, TV – Tempo de viragem, TP – Tempo de partida).
Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201
191
António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar
n
r
$1
V ( m.s ) = TTP $ (TPi + 1# TVi )
i =1
(equação 2)
Redução dos resultados dos dados,
obtidos pelo software de análise cronométrica
A redução dos dados, obtidos pelo software adobe premier,
2 0 0 6, para parâmetros estatísticos de tendência central,
foi efectuada em folha de cálculo “Excel”. Nesta folha
de cálculo foram introduzidos os valores absolutos de
tempo em cada instante de avaliação. A diferença entre
os diferentes instantes consecutivos, foram calculados
obtendo assim os valores de cada uma das componentes da prova. Estes valores foram utilizados para o cálculo dos parâmetros normativos desejados.
Procedimentos estatísticos
Com o intuito de avaliar as associações entre as
variáveis em estudo, efectuámos uma análise exploratória das matrizes de correlação. Para o efeito,
recorremos aos coeficientes de correlação simples de
Pearson (r), para a totalidade das variáveis. A porção
de variância comum, associada a ambas as variáveis,
foi avaliada pelo coeficiente de determinação (r2
ajustado). O nível de significância foi mantido em
5%. Através da estatística dedutiva foi possível
determinar os valores de B (declive) e de A (ordenada na origem), de forma a ser possível construir as
equações de regressão lineares para o TP, TV, TChg e
TN, nas diferentes provas (20).
O Quadro 2 pretende apresentar o conjunto de parâmetros analisados.
Quadro 2. Parâmetros cronométricos globais, determinados a partir dos procedimentos de software de analise [adaptado de Vicente (17)].
Acção
Parâmetro
Tempo total de prova
Abreviatura e
Unidade de medida
Caracterização e meios de determinação
TTP (s)
Medida composta pela TP, TN, TV e TChg
TTP= % variáveis cronométricas
Valor determinado a partir do tempo cronometrado, automaticamente e equivale ao somatório das variáveis cronométricas utilizadas (11).
192
Partida
Tempo de partida
TP (s)
Valor determinado a partir do tempo cronometrado, automaticamente, desde
o sinal de partida até que a cabeça do nadador passe uma marca colocada a
7,5 metros do topo da parede onde se encontram os blocos de partida (4).
Viragem
Tempo de viragem
TV (s)
Valor determinado a partir do tempo cronometrado, automaticamente, para
percorrer os 7,5 metros antes da parede (tempo de aproximação) e os 7,5
metros depois (tempo de separação), medido a partir da cabeça do nadador
(2, 4, 15, 17).
Chegada
Tempo de chegada
TChg (s)
Valor determinado a partir do tempo cronometrado, automaticamente, para
percorrer os últimos 5 m, medido a partir do momento que a cabeça do nadador passa esta linha (15).
Nado
Tempo de nado
TN (s)
Medida composta pela TTP, TP e TV.
TN = TTP – (TP + % TV)
Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201
Definição de objectivos na natação
Quadro 3. Média (x) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 100 m mariposa, costas, bruços e livres; para
a categoria G4/G5 feminino. M - mariposa; C - costas; B - bruços; L - livres; TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg –
tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo total que os nadadores demoram a cumprir determinada componente da prova.
G4/G5 – FEMININO
Prova
TTP
100 m
X±DP
%
TP
X±DP
%
TV
X±DP
%
TChg
X±DP
%
TN
X±DP
%
M
101.18 ±10.56
100
4.45 ±0.58
4.39
44.92 ±4.68
44.40
5.62 ±0.63
5.55
51.81 ±5.66 51.19
C
101.67 ±10.89
100
5.67 ±0.58
5.58
45.77 ±5.68
45.02
5.59 ±0.68
5.50
50.24 ±5.54 49.41
B
110.75 ±10.91
100
4.98 ±0.65
4.50
48.25 ±5.47
43.57
6.04 ±1.56
5.45
57.52 ±5.21
L
85.29 ±7.89
100
4.12 ±0.53
4.83
34.65 ±5.17
40.63
5.09 ±1.94
5.97
46.52 ±3.48 54.54
x
99.72
100
4.81
4.83
43.40
43.52
5.59
5.62
51.52
51.77
DP
±10.58
-
± 0.68
±0.01
± 6.00
±0.02
±0.39
±0.00
± 4.57
±0.02
51.94
Quadro 4. Média (X) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 200m livres, para a categoria G4/G5 feminino. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo
total que os nadadores demoram a cumprir determinada componente da prova.
G4/G5 – FEMININO
Prova
TTP
200 m
X±DP
Livres
196.47
±16.20
%
100
TP
X±DP
4.15
±0.34
TV
X±DP
%
2.11
94.03
±7.68
%
47.86
TChg
X±DP
5.39
±0.71
%
2.74
TN
X±DP
89.28
± 7.94
%
45.44
Quadro 5. Média (X) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 400m livres, para a categoria G4/G5 feminino. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo
total que os nadadores demoram a cumprir determinada componente da prova.
G4/G5 – FEMININO
Prova
TTP
400 m
X±DP
Livres
378.85
±31.72
%
100
TP
X±DP
3.92
± 0.52
TV
X±DP
%
1.03
210.37
±20.12
Variáveis Dependentes: Tempo de Partida, Tempo de
Nado, Tempo de Viragem, Tempo de Chegada.
Variável Independente: Tempo Total de Prova.
O estudo apresentou algumas limitações com relação
a idade e a colecta de dados no que se refere ao
tamanho da piscina. Assim, a pesquisa foi realizada
para um determinado grupo etário, a recolha de
dados se deu em piscina de 25,0 x 12,5 x 2,0m.
Neste sentido, os resultados se limitam inicialmente
ao factor etário e a predições em piscinas curtas.
%
55.53
TChg
X±DP
4.91
±0.80
%
1.30
TN
X±DP
164.56
±12.65
%
43.44
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
De seguida, vamos apresentar o perfil das provas do
G4/G5 feminino (Quadros 3, 4 e 5).
Na prova dos 100 m nas diferentes técnicas, o comportamento dos parâmetros de tendência central
confirma os valores descritos na literatura, nomeadamente a importância relativa do TN e do TV e um
menor contributo relativo do TChg. e TP respectivamente (Quadro 4). Na prova dos 200 m livres, verificou-se que o aumento na distância de prova se tra-
Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201
193
António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar
duziu, comparativamente às provas mais curtas,
numa maior duração no TN e nas competências
motoras associadas à viragem (Quadro 5).
Tal como já havíamos observado na prova dos 200 m
livres também aqui na prova dos 400 m livres se
acentua o crescente contributo relativo nas competências motoras associadas às viragens e uma diminuição relativamente uniforme nas restantes componentes. As viragens apresentam uma acção diferenciada, uma vez que estão condicionadas à visualização da borda da piscina, noção de espaço e uma
acção motora diferenciada dos gestos cíclicos presentes na natação pura desportiva.
De seguida, apresentaremos o perfil das provas da
categoria G5/G6 masculino (Quadros 6, 7 e 8).
A distribuição relativa do contributo das diferentes
componentes nos nadadores evidencia a mesma tendência já observada para as nadadoras (Quadro 7).
Tal como já havíamos verificado para o género feminino, existe uma prevalência relativa da TV face às
restantes componentes em estudo para a prova dos
200 livres (quadro 7) e 400 livres (Quadro 8).
Também o caso dos nadadores demonstra a importância relativa que o domínio específico das componentes motoras associadas às viragens parece ter na
prestação destes sujeitos (Quadro 8).
Quadro 6. Média (x) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 100 m mariposa, costas, bruços e livres; para
a categoria G5/G6 masculino. M - mariposa; C - costas; B - bruços; L - livres; TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg –
tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo total que os nadadores demoram a cumprir determinada componente da prova.
G5/G6 – MASCULINO
Prova
TTP
100 m
X±DP
%
TP
X±DP
%
TV
X±DP
%
TChg
X±DP
M
93.03 ±8.87
100
4.05 ±0.47
4.35
41.66 ±4.53
44.78
5.35 ±0.56
5.75
47.32 ±5.11 50.87
C
94.72 ±8.92
100
5.20 ±0.63
5.49
41.35 ±4.24
43.65
5.45 ±1.37
5.75
48.17 ±4.73 50.86
B
104.78 ±9.46
100
4.48 ±0.52
4.28
45.87 ±4.40
43.78
5.68 ±0.72
5.42
54.43 ±5.43 51.95
L
80.40 ±7.33
100
3.84 ±0.43
4.78
36.07 ±6.22
44.86
4.56 ±1.31
5.67
41.47 ±4.19
51.58
x
93.23
100
4.39
4.73
41.24
44.27
5.26
5.65
47.85
51.32
DP
± 10
± 0.0
± 0.60
±0.01
±4.01
±0.64
±0.49
±0.00
± 5.30
± 0.01
%
TN
X±DP
%
Quadro 7. Média (x) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 200m livres, para a categoria G5/G6 masculino. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo
total que os nadadores demoram a cumprir determinada fase da prova.
G5/G6 – MASCULINO
Prova
TTP
200 m
X±DP
Livres
188.14
± 9.05
%
100
TP
X±DP
4.29
± 0.14
%
2.28
TV
X±DP
89.95
± 4.90
%
47.81
TChg
X±DP
5.21
± 0.45
%
2.77
TN
X±DP
85.3
± 3.92
%
45.34
Quadro 8. Média (x) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 400m livres, para a categoria G5/G6 masculino. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo
total que os nadadores demoram a cumprir determinada fase da prova.
G5/G6 – MASCULINO
Prova
TTP
400 m
X±DP
Livres
194
360.74
±21.18
%
100
Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201
TP
X±DP
3.66
±0.37
%
1.01
TV
X±DP
205.50
±24.03
%
56.97
TChg
X±DP
4.67
±0.67
%
1.29
TN
X±DP
151.58
±17.75
%
42.02
Definição de objectivos na natação
Na perspectiva da determinação das equações de
regressão linear das componentes TP, TV, TChg e TN
nas diferentes provas, fomos calcular os valores de A
(declive) e de B (ordenada na origem) através de
procedimentos estatísticos inferenciais.
Nos quadros que se seguem (Quadros 9, 10 e 11)
encontram-se descritos os valores de A e de B, e o
valor do erro relativo de cada uma das componentes
da prova, para o G4/G5 feminino e G5/G6 masculi-
no, relativamente às provas de 100 m (mariposa,
costas, bruços e livres), 200 m e 400 m livres.Na
teoria da probabilidade e na estatística, a variância
de uma variável aleatória é uma medida da sua dispersão estatística, indicando quão longe em geral os
seus valores se encontram do valor esperado. A
variância é o valor esperado do quadrado do desvio
de X da sua própria média (Quadro 12).
Quadro 9. Valores de A (declive) e de B (ordenada na origem) para cada uma das componentes da prova 100 m (mariposa, costas, bruços e livres); e respectivo
erro relativo para categoria de cadetes - G4/G5 femininos e G5/G6 masculinos. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg –
tempo de chegada; TN – tempo de nado.
Prova
100m
Componentes
A
M
TP
TV
TChg
TN
C
MASCULINO
B
Erro Relativo
A
0.0329
0.445
0.0517
0.523
0.989
0.267
0.544
-1.297
9.27%
5.45%
6.09%
4.68%
TP
TV
TChg
TN
0.0529
0.448
0.07667
0.499
0.189
-1.047
-1.814
0.858
B
TP
TV
TChg
TN
0.0473
0.418
0.05
0.535
L
TP
TV
TChg
TN
0.04194
0.347
0.09186
0.557
FEMININO
B
Erro relativo
0.04957
0.427
0.0474
0.523
-0.566
1.718
0.826
-1.151
5.66%
5.76%
7.12%
2.38%
8.11%
3.47%
22.08%
3.36%
0.04346
0.487
0.0455
0.470
1.249
-3.730
0.967
2.481
6.09%
4.51%
8.41%
4.26%
-0.475
2.114
0.438
-1.639
5.77%
4.27%
9.64%
3.64%
0.0473
0.491
0.0618
0.462
-0.260
-6.084
-0.808
6.344
8.06%
2.53%
23.51%
2.28%
0.466
8.182
-2.825
-3.266
7.81%
2.69%
25.04%
2.41%
0.04939
0.200
0.127
0.350
-0.0913
-5.511
-5.726
16.622
8.9%
6.06%
33.08%
10.31%
Quadro 10. Valores de A (declive) e de B (ordenada na origem) para cada uma das componentes da prova 200m livres, e respectivo erro relativo para a categoria
de cadetes - G4/G5 femininos e G5/G6 masculinos. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN –
tempo de nado.
Prova
200m
Livres
MASCULINO
Variáveis
A
TP
TV
TChg
TN
0.00918
0.514
0.0375
0.398
FEMININO
B
Erro Relativo
A
2.56
-6.684
-1.835
10.486
2.65%
1.60%
5.98%
1.89%
0.00961
0.466
0.03498
0.482
B
Erro relativo
2.257
2.489
-1.478
-5.384
7.29%
1.39%
8.08%
1.67%
Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201
195
António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar
Quadro 11. Valores de A (declive) e de B (ordenada na origem) para cada uma das componentes da prova 400m livres, e respectivo erro relativo para a categoria
de cadetes - G4/G5 femininos e G5/G6 masculinos. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN –
tempo de nado.
Prova
400m
MASCULINO
Componentes
A
TP
TV
TChg
TN
0.009639
0.792
0.02072
0.198
Livres
FEMININO
B
Erro Relativo
A
0.186
-80.19
-2.8
80.005
8.55%
8.52%
10.94%
11.57%
0.01405
0.616
0.0154
0.370
B
Erro relativo
-1.4
-23.049
-0.921
24.449
6.85%
2.30%
13.02%
2.91%
Quadro 12. Percentagem das variâncias de cada uma das componentes da prova dos 100 metros (mariposa, costas, bruços e livres) e 200 e 400 metros livres,
para cada um dos géneros ( - género feminino,
- género masculino); e respectivas diferenças entre os géneros ( / ). TTP - tempo total de prova; TP –
tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado.
Prova Téc.
TP
100m
M
C
B
L
81
65
62
52
36
55
75
51
45
10
13
2
92
87
95
84
75
89
80
91
17
2
15
7
60
52
17
25
66
23
42
24
6%
29
25
1
95
85
94
62
81
88
87
94
14
3
7
32
200m
L
19
32
12
97
92
5
62
53
10
97
83
13
400m
L
73
28
45
94
47
47
36
41
6
86
2
83
"
( / )
TV
"
( / )
Na prova dos 100 m mariposa, o TTP está mais condicionado ao TN, com 95% e 81%, para os géneros
feminino e masculino respectivamente e grupos
(G4/G5 e G5/G6).
Em relação à prova dos 100 m costas, também para
ambos os géneros (feminino e masculino) e grupos
(G4/G5 e G5/G6) é o TV com 87% e 89% do TTP a
variável que melhor explica o TTP. De referir ainda
que a percentagem do TChg assume uma importância substancialmente diferente em cada um dos
géneros. Para o G4/G5 feminino, 52% do TTP é
explicado pelo TChg, enquanto que para o G5/G6
masculino, o TCgh representa apenas 23% do TTP.
Relativamente aos 100 m bruços, verifica-se uma
diferença entre os dois géneros relativamente à
importância do TChg. Para as provas do grupo feminino, 17% do TTP é explicado por esta componente.
Em contrapartida, para as provas do grupo masculino, a percentagem explicativa do TChg. no TTP é de
42%. Ainda respeitante a esta prova, a variável que
explica melhor o TTP para o G4/G5 é o TV e para o
G5/G6 é o TN com 95% e 87%, respectivamente.
196
Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201
TChg
"
( / )
TN
"
( / )
De todas as provas, é nos 100m livres que o G5/G6
obteve uma percentagem maior nas variáveis explicativas do TTP. Verifica-se que 94% do TTP é explicado
pelo TN, o que significa que esta variável assume
grande importância nas provas masculinas. No grupo
feminino, a variável que melhor explica o TTP é o
TV (84%).
Ainda com base no quadro 12, podemos verificar que
para o G4/G5 feminino, na prova dos 200m livres,
97% do TTP é explicado pela variável TV. Ainda na
mesma prova, a variável que melhor explica o TTP
para o G5/G6 masculino é também o TV, o qual assume uma importância igualmente elevada, 92%.
Por último, temos a prova dos 400m livres, na qual
existe uma maior discrepância entre os valores do
G4/G5 e do G5/G6. Em ambos os grupos, é o TV
que melhor explica o TTP. No entanto, para o grupo
feminino, a percentagem é bastante maior, 94%,
enquanto que para o grupo masculino, o TV apenas
consegue explicar 47% do TTP. De referir ainda que
as percentagens explicativas do TP e do TN entre os
géneros são bastante diferentes, sendo que no
Definição de objectivos na natação
G4/G5 as percentagens são bastante mais significativas. No que respeita ainda aos 400m livres femininos, 86% do TTP é explicado pelo TN, enquanto que
para o género masculino, a mesma variável explica
apenas 2,4% do TTP.
Exemplo concreto para a definição de objectivos
Este tópico tem por objectivo apresentar um exemplo prático relativo a uma situação hipotética - preparação de um nadador para uma competição importante. A prova a que nos reportamos será a dos 100
m livres e os tempos que aqui apresentamos referem-se a um caso real de uma nadadora, que acompanhamos ao longo das nossas filmagens.
Assim, no seguimento da metodologia preconizada,
a primeira etapa será a de se proceder a uma análise
diagnóstico relativamente às diferentes componentes
da prova, padrão que se quer programar, face aos
valores reais de uma nadadora pertencente à amostra
de estudo (Quadro 13).
Quadro 13. Tempos absolutos efectivos que uma nadadora da categoria de
cadetes - G4/G5 femininos - apresentou na prova de 100 m livres. TTP tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg –
tempo de chegada; TN – tempo de nado.
TTP
(s)
TP
(s)
TV
(s)
TChg
(s)
TN
(s)
72,57
3,07
28,24
3,81
37,45
A segunda etapa a ser efectuada é a de, com base
nos valores de A e de B obtidos, e com base no
objectivo de prestação da nadadora em questão (TTP
de 68 segundos), definir os tempos preditos para
cada uma das componentes da prova (Quadro 14).
A terceira e última etapa será a de com base na análise comparativa entre os valores reais e os valores
preditos da prestação objectivo (TTP de 68 segundos) definir as componentes prioritárias a desenvolver (Quadro 15).
Quadro 14. Tempos (em segundos) a realizar pela nadadora da categoria cadete - G4/G5 femininos, na prova de 100 m livres, nas diferentes componentes de
prova, de acordo com a aplicação das equações de regressão. TTP – tempo total de prova; TP – tempo de partida; TVs – tempo das viragens; TChg – tempo de
chegada; s – segundos.
G4/G5 – Feminino
Valores de A e B
Determinados para a categoria de Cadetes
Desenvolvimento das equações de regressão
(2ª etapa)
TP= 0,04939xTTP + (-0,0913)
TV = 0,600xTTP + (-16,531)
TChg = 0,127xTTP + (-5,726)
TN = 0,350xTTP + 16,622
TP = 0,04939 * 68 + (-0,0913)
TV = 0,600 * 68 + (-16,531)
TChg = 0,127*68 + (-5,756)
TN = 0,350 * 68 + 16,622
TTP = 68 segundos
3,26 s
24,26 s
2,88 s
37,58 s
Quadro 15. Comparação entre os valores referentes ao processo de definição de objectivos e os valores obtidos na avaliação diagnóstico pela nadadora da categoria cadete - G4/G5 femininos, na prova de 100 m livres, nas diferentes componentes de prova, de acordo com a aplicação das equações de regressão. TTP –
tempo total de prova; TP – tempo de partida; TVs – tempo das viragens; TChg – tempo de chegada; s – segundos.
100 metros Livres – G4/G5 Feminino
Componentes (s)
Modelo Real
TP
TV
TChg
TN
TTP
3,07
28,24
3,81
37,45
72,57
Modelo Ideal
Diferenças
Componentes Prioritárias a Trabalhar
3,26
24,26
2,88
37,58
67,98
- 0,19
+ 3,98
+ 0,93
- 0,13
+ 4,59
3ª
1ª
2ª
4ª
Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201
197
António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar
Com base nos dados, podemos verificar que o modelo real não está muito desfasado do modelo ideal. A
nadadora possui um tempo de partida e de nado
inferior ao do modelo ideal. Tal acontece, porque utilizamos a melhor nadadora para efectuar a demonstração. Contudo, através deste exemplo, sabemos
que alguns aspectos devem ser melhorados durante
o treino, ou seja, sabemos que a viragem e a chegada
são as componentes prioritárias a serem trabalhadas.
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Tendo em consideração que os objectivos deste trabalho se centraram: (i) na determinação das expressões preditivas para as diferentes variáveis cronométricas, tendo em conta o conhecimento do TTP para
os 400 e os 200 metros livres e para os 100 metros
mariposa, costas, bruços e livres; por género e por
prova; (ii) no desenvolvimento das normativas para
cada uma das variáveis cronométricas estudadas, por
género e por prova; (iii) e na operacionalização de
um modelo para a definição de objectivos orientado
para a prestação, podemos verificar que os resultados demonstraram diferenças entre as diversas provas e distâncias estudas, havendo uma variação da
importância das diferentes componentes de nado de
acordo com a prova, o género e a técnica de nado.
Quando efectuámos uma comparação entre as várias
provas estudadas e analisamos os valores expressos
nos Quadros 3, 4, 5, 6, 7 e 8, verificou-se que à
medida que a distância de prova aumenta a importância do TP diminuiu enquanto que a do TV
aumenta. Estes dados vêm confirmar os resultados
obtidos por diferentes autores (1, 4, 15, 31, 32), que afirmam que com o aumento da distância de prova, é
previsível a ocorrência de uma diminuição da importância do TP e, inversamente, um aumento da
importância relativa do somatório do TV.
A par desta situação, verificou-se também uma diminuição percentual da importância da chegada, à
medida que a distância de prova aumenta, o que vai
ao encontro das conclusões retiradas do estudo
sobre a variabilidade entre as variáveis cronométricas preconizadas por Arellano (4). No entanto, o
valor percentual para cada uma das variáveis é diferente, o que é perfeitamente normal, já que os autores realizaram os seus estudos a partir de provas disputadas em piscinas de 50 metros (22, 27). Como este
198
Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201
estudo foi elaborado numa piscina de 25 metros, os
valores obtidos para o TN são claramente inferiores
e os obtidos para o TV são claramente superiores,
comparando com os resultados publicados pelos
autores acima referenciados (9).
Na análise comparativa entre o G4/G5 feminino e o
G5/G6 masculino, verificámos que os parâmetros TP,
TChg, TN e TV são consideravelmente inferiores nos
nadadores quando comparados com as nadadoras.
Isto talvez possa ser explicado pelo facto da amostra
apresentar uma idade em que o nível maturacional
tende a ser diferenciado com repercussões nas características antropométricas (12, 17).
No entanto, não se verifica o mesmo para o TP na
prova dos 200 metros livres e para o TV na prova
dos 100 metros livres. Estes dados não são totalmente concordantes com a análise pormenorizada
efectuada por Arellano et al. (5) nos Jogos Olímpicos
de Barcelona, uma vez que demonstraram que as
mesmas variáveis, incluindo também a distância por
ciclo, são significativamente maiores em homens do
que em mulheres. Também o estudo de Arellano et
al. (6), realizado com os nadadores que participaram
no dia olímpicos da juventude em 2001, concluiu
que os nadadores do género masculino são mais
rápidos em cada uma das fases da prova, e demonstraram um maior índice de nado e distância por
ciclo, enquanto que a frequência gestual é idêntica.
A diferença do TP em cada um dos géneros é, em
média, de 1 segundo para as provas de 100 metros.
O mesmo acontece no estudo realizado por Arellano
et al. (6), realizado com nadadores cujas idades estavam compreendidas entre os 15 os 16 anos, e com
nadadoras com 13 e 14 anos.
A diferença do TV entre os dois géneros para a prova
de 100 metros mariposa é de 1,08 segundos, para a
prova dos 100m costas é de 1,48 segundos, para a
prova dos 100m bruços é de 0,82 segundos, e para a
prova dos 100 m livres é de 0,14 segundos. Os
dados do estudo realizado por Arellano et al. (6)
demonstram que a diferença entre o TV para os dois
géneros, nas provas dos 100 m mariposa e bruços, é
de 1,4 segundos, e nas provas de 100 m costas e
livres é de 1 segundo.
Relativamente aos coeficientes de correlação e às
equações de predição lineares obtidas no nosso estudo, podemos desde já referir que não temos termo
Definição de objectivos na natação
de comparação, uma vez que não foram encontrados
estudos realizados para esta categoria de nadadores.
Podemos analisar os dados obtidos pelo estudo realizado por Arellano et al. (5). No entanto receamos
que não seja uma comparação muito válida, uma vez
que a nossa amostra é de uma categoria bastante
mais jovem e, para além disso, os autores analisaram
apenas provas de 50 e 100 metros livres, realizadas
numa piscina de 50 metros. Por tudo isto, julgamos
que se compreende o facto de as diferenças serem
notórias.
O desenvolvimento da equação 1, para a prova dos
100 metros livres, permitiu obter para os dois géneros os seguintes valores de cada uma das componentes da prova.
Quadro 16. Valores de A (declive) e B (ordenada na origem), para as diferentes componentes de prova dos dois géneros na prova de 100 m livres, em
nadadores da categoria de cadetes - G4/G5 femininos e G5/G6 masculinos.
TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem;
TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado.
G4/G5 – Feminino
Tempo médio efectivo (s)
G5/G6 Masculino
Tempo médio efectivo (s)
TP = 4.81
TV = 43.40
TChg = 5.59
TN = 51.52
TP = 4.39
TV = 41.24
TChg = 5.26
TN = 47.85
Para além das diferenças existentes entre o estudo
de Arellano et al. (6) e o nosso relativamente ao nível
prestativo dos nadadores da amostra, as quais já
foram acima referenciadas, convém mencionar ainda
que a metodologia relativa aos procedimentos para
captação e registo de imagens foi diferente, atendendo a que se tratava de uma piscina de 50 m (marcas
de referência utilizadas foram: (i) o TP foi medido
aos 10m, (ii) a marca de referência para calcular o
TV foi de 7,5m, (iii) o TChg foi medido aos 10 m.
Em relação ao objectivo geral deste trabalho, podemos concluir que todas as variáveis cronométricas
obtiveram relações estatisticamente significativas
com o TTP e foram estabelecidas as respectivas
equações de predição de rendimento. Deste modo,
com a elaboração deste estudo, pensamos ter contribuído para o desenvolvimento da natação em
Portugal, uma vez que tornamos possível aos treina-
dores saberem quais as componentes de prova que
deverão em cada momento ser prioritariamente trabalhadas, bem como a modelação da prestação esperada para os mesmos nadadores. Esta tarefa foi conseguida tendo como base não só o tempo final da
prova, mas também o tempo de cada uma das variáveis constituintes da mesma. Segundo Arellano (4), o
treinador deve elaborar o modelo de competição
mais conveniente para cada um dos seus nadadores,
fazendo adaptações baseadas nas características individuais de cada um. A análise das componentes da
prova durante a época ajudará a monitorizar o plano
de treino, e a fazer as respectivas adaptações necessárias ao modelo de treino proposto.
Tal como foi apresentado no modelo para a definição
de objectivos orientado para a prestação, concluímos
que este modelo oferece algumas vantagens para o
planeamento do treino, pois permite aos treinadores
saberem se os objectivos parciais e gerais para a prova
em questão foram conseguidos ou não. Permite-lhes
ainda saber quais as etapas prioritárias a serem trabalhadas, para que se possa atingir o objectivo previamente estabelecido. Com o nosso exemplo, podemos
concluir ainda que a nadadora precisa de melhorar a
execução das viragens e da chegada (26).
Os resultados apurados no decurso do presente estudo permitem-nos o estabelecimento ainda das
seguintes conclusões:
(i) Verificou-se, para a generalidade dos parâmetros
estudados, variação entre géneros;
(ii) Com o aumento da distância de prova houve
uma diminuição da importância relativa do TP e,
inversamente, um aumento da importância relativa
do TV. Assim, é indiscutível a influência que a
melhoria de qualquer um destes segmentos de prova
pode ter sobre a prestação final, tal como corrobora
com outros estudos (2, 22, 26). Aliás, os resultados
sugerem-nos que do ponto de vista do modelo habitual de preparação utilizado para esta categoria de
nadadores, provavelmente os técnicos deverão dar
maior ênfase a este segmento de prova.
Relativamente ainda a este parâmetro, concluiu-se
também que, a prova dos 100 metros livres é a que
apresenta partidas mais rápidas, tanto no G4/G5
feminino como no G5/G6 masculino;
(iii) O estilo de bruços é aquele em que o tempo de
viragem é superior;
Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201
199
António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar
(iv) As provas de maior distância (200 e 400
metros) apresentam uma percentagem de nado
menor, enquanto que as provas de 100 metros
(livres e bruços) são as que apresentam a percentagem mais elevada. Estes dados parecem-nos importantes, na medida em que nos levam a crer que os
nadadores passam mais tempo a nadar nas provas de
100m (livres e bruços), do que nas provas dos 200 e
400m livres. Assim, pensamos que durante o processo de treino dos nadadores, se deve dar mais ênfase
à técnica de nado nas provas de distância mais curta.
Por outro lado, nas provas de maior distância o treino das viragens deve assumir maior relevância (8);
(v) Foi ainda possível verificar que, para todas as
provas à excepção do TP nos 200m livres e do TV
nos 100m livres, os nadadores do G5/G6 masculino
são mais rápidos a partir, a virar e a chegar do que as
nadadoras pertencentes ao G4/G5.
Tendo como base as conclusões apresentadas, este
estudo tende a apresentar-se como uma boa forma
de predizer os tempos de cada uma das componentes da prova, para as faixas etárias, géneros sexuais e
provas realizadas em piscina curta (25 m), não generalizáveis para outras condições uma vez que a prestação depende de uma multiplicidade de factores (3,
19, 30).
200
Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201
CORRESPONDÊNCIA
António José Silva
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro,
Departamento de Desporto
CIFOP
Rua Dr. Manuel Cardona
5000 Vila Real, Portugal
e-mail: ajsilva@utad.pt
Definição de objectivos na natação
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Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201
201
Ritmo dos jogos das finais das competições europeias
de basquetebol (1988-2006) e as estatísticas que discriminam
os jogos mais rápidos dos jogos mais lentos
Jorge Malarranha1
Jaime Sampaio2
1
RESUMO
O objectivo deste estudo foi caracterizar o ritmo dos jogos de
Basquetebol, medido pelo número de posses de bola, e identificar diferenças nas variáveis estatísticas entre os jogos realizados a ritmos mais elevados e os jogos realizados a ritmos mais
reduzidos. Os dados utilizados reportam-se aos registos estatísticos colectivos dos jogos das finais das três competições europeias de clubes referentes às épocas entre 1987-88 e 2005-06
(Euroliga, ULEBCUP e FIBACUP, n=27). Foram constituídos
dois grupos de análise a partir do número de posses de bola
por jogo: jogos mais rápidos e jogos mais lentos. Os resultados
sugerem uma tendência para um aumento do número de posses de bola e pontos marcados e uma diminuição da eficácia
ofensiva nos jogos analisados. Por outro lado, a eficácia ofensiva dos jogos mais lentos foi significativamente superior à eficácia ofensiva dos jogos mais rápidos (p0,05). A função discriminante obtida foi baseada na análise dos coeficientes canónicos estruturais (CCE) e identificou as faltas cometidas
(CCE=0,44), as faltas sofridas (CCE=0,43), os ressaltos defensivos (CCE=0,38) e os lançamentos livres falhados
(CCE=0,37) como as estatísticas que melhor discriminam os
jogos mais lentos dos mais rápidos (p!0,05). Os treinadores
podem utilizar estes resultados na selecção dos jogadores e na
preparação das suas equipas, decidindo o ritmo de jogo a impor
durante os jogos e os jogadores mais adequados para desempenhar essas tarefas.
ABSTRACT
Basketball game rhythm in the European Competitions Finals’
(1988-2006) and the game-related statistics that discriminate
between fast and slow paced games
Palavras-chave: Basquetebol, estatísticas, ritmo de jogo.
202
Rev Port Cien Desp 7(2) 202–208
Comissão Instaladora dos Ensinos
na Área da Saúde e do Bem Estar
Universidade de Évora
2 Departamento de Desporto
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
The aim of this study was to characterize Basketball game rhythm, as
measured by ball possessions, and to identify the differences in gamerelated statistics between high and low rhythm games. Archival data
report to team game-related statistics from the final games of the three
European competitions for clubs from 1987-88 to 2005-06 season
(Euroleague, ULEBCUP and FIBACUP, n=27). Two groups were
made according to the number of ball possessions per game: fastest
games and slowest games. The results seem to suggest an increase in
ball possessions per game and a decrease in points per game and offensive rating. Slowest games’ offensive ratings were significantly superior
to the fastest games’ ratings (p!0,05). The analysis of the discriminant function was based on the observation of the structure coefficients
(SC), and identified committed fouls (SC=0,44), received fouls
(SC=0,43), defensive rebounds (SC=0,38) and unsuccessful freethrows (SC=0,37) as the game-related statistics that best discriminate
fastest from slowest games. Coaches can use these results in players’
selection and to prepare the team, deciding which game rhythm to
impose during games and which players’ are best prepared to perform
these tasks.
Key-words: Basketball, statistics, game rhythm
Estatísticas discriminantes do ritmo do jogo de Basquetebol
INTRODUÇÃO
Nos jogos desportivos colectivos, o processo de preparação desportiva das equipas de alto-nível centrase no objectivo de preparar a equipa para ser capaz
executar, em situação de competição, acções tácticas
que corporizam uma estratégia colectiva para defrontar determinado adversário, no sentido de vencer o
jogo. Este processo de preparação é complexo e
implica cada vez mais que as equipas técnicas necessitem da contribuição de especialistas nos domínios
da análise do jogo, no sentido de melhor caracterizarem os adversários e consequentemente, melhor
definirem e prepararem a estratégia para os defrontar. Particularmente no jogo de Basquetebol, os estudos que recorrem às estatísticas dos jogos têm sido
utilizados e explorados, quer na investigação quer no
processo de treino, porque permitem que se realize
uma caracterização dos adversários na perspectiva de
várias dimensões – táctica, técnica, psicológica,
física(1, 2, 5, 13,14).
O controlo do ritmo do jogo, entendido como o controlo da velocidade a que decorre o jogo nas suas
diferentes fases (transições defesa-ataque e ataquedefesa, ataque e defesa organizados) é um dos aspectos que os treinadores consideram como mais relevantes para o desfecho final dos jogos(4, 9). Contudo,
a investigação científica não tem tratado deste problema de acordo com a sua importância. De facto,
apenas existe a ideia de que os jogos mais decisivos
decorrem a ritmos mais lentos.
No Basquetebol profissional norte-americano,
Oliver(4) estudou a variação das posses de bola, pontos marcados e eficácia ofensiva (pontos marcados
divididos pelas posses de bola) nos jogos da fase
regular referentes às épocas entre 1973 e 1995. Os
resultados encontrados revelaram um decréscimo do
número de posses de bola e pontos marcados, mas
revelam, simultaneamente, um aumento da eficácia
ofensiva das equipas. O número de posses de bola é
uma medida válida do ritmo do jogo(4). Este autor
identificou também uma diminuição do número de
perdas de bola e de lançamentos durante os jogos,
enquanto que o número de lançamentos livres e de
ressaltos ofensivos permanece semelhante.
As referências disponíveis na literatura que tratam
destes objectivos procuraram analisar as diferenças
entre os valores das posses de bola(que representam o ritmo
de jogo - 4, 5) em jogos disputados na fase regular e no
playoff da liga portuguesa de Basquetebol(6). Os
resultados obtidos pelos autores permitiram sugerir
que, face à importância diferenciada dos jogos (os
jogos do playoff são mais importantes), as equipas
em confronto dispuseram de um menor número de
posses de bola nos jogos do playoff, o que sugere um
ritmo de jogo mais lento e, consequentemente,
resultou em valores mais baixos de pontos
marcados(6). Este estudo acrescenta ainda que nestes
jogos de playoff realizados a ritmos mais lentos, as
equipas cometeram mais faltas, converteram mais
lançamentos-livres e menos lançamentos de 2 pontos(6). Neste domínio particular, as faltas cometidas,
os ressaltos ofensivos, os lançamentos livres convertidos e falhados foram identificados como as estatísticas do jogo que melhor discriminam as equipas
que vencem das equipas que perdem os jogos do
playoff(5). Por outro lado, Sampaio(9) apresentou um
estudo sobre o ritmo dos jogos da equipa do Leche
Rio Breogán realizados durante a 1ª e a 2ª voltas da
fase regular da liga espanhola de Basquetebol (Liga
ACB). Neste trabalho, foram definidos dois grupos
de jogos (mais rápidos e mais lentos) através de
uma análise de classificação automática (cluster analysis) e analisaram-se as posses de bola e a eficácia
ofensiva em função dos grupos resultantes dessa
análise estatística prévia. Os resultados encontrados
evidenciaram uma diminuição do ritmo da 1ª para a
2ª volta (menor número de posses de bola) e, simultaneamente, um aumento na percentagem de vitórias sempre que o jogo decorria de forma mais lenta
(valores superiores na eficácia ofensiva). Acrescentese ainda que a estatística do jogo que discriminou
cada tipo de jogos (mais rápidos vs. mais lentos)
foram os lançamentos de 3 pontos convertidos (9).
Este estudo foi realizado com uma amostra de jogos
disputados numa fase regular e sempre pela mesma
equipa. Neste sentido, a validade de generalização
dos resultados é limitada a esse mesmo contexto
estratégico-táctico e daqui decorre a necessidade de
confirmar estes resultados noutros contextos de análise mais diversificados e abrangentes.
Neste quadro operativo, o objectivo do presente trabalho é caracterizar o ritmo dos jogos de
Basquetebol e identificar as estatísticas que melhor
discriminam os jogos de ritmo mais elevado dos
Rev Port Cien Desp 7(2) 202–208
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Jorge Malarranha, Jaime Sampaio
jogos de ritmo mais lento. Este tipo de informação
poderá constituir-se de elevada importância para que
as equipas se preparem melhor para este tipo de
confrontos.
METODOLOGIA
Amostra
Os dados utilizados neste estudo foram recolhidos
através dos registos estatísticos oficiais das três
competições europeias por clubes (Euroliga, ULEBCUP e FIBA CUP). Foram utilizados os registos do
jogo final de cada competição em cada época desportiva, o que constituiu uma amostra total de 27 jogos
(Quadro 1). Esta opção foi tomada devido à elevada
importância atribuída aos jogos finais, dado que o
vencedor se torna campeão europeu. Neste sentido,
é provável que os cuidados a ter na preparação destas competições sejam incrementados e que aumente
a importância que se coloca nas decisões dos treinadores e dos jogadores.
Quadro 1. Distribuição da amostra por competição disputada
e caracterização da diferença pontual final dos jogos.
Competição
Épocas Desportivas
n
Diferença pontual
(x±sd)
Euroliga
ULEBCUP
FIBACUP
1987-88 a 2005-06
2002-03 a 2005-06
2003-04 a 2005-06
19
5
3
7±4,5
8±4,7
18±7,5
TOTAL
1987-88 a 2005-06
27
8±5,4
Procedimentos
As estatísticas dos jogos foram recolhidas por técnicos especializados da FIBA (Fédération Internationale de
Basketball) e consistiram no registo de frequências
das seguintes acções técnico-tácticas: lançamentos de
2 e 3 pontos (convertidos e falhados), lançamentos
livres (convertidos e falhados), ressaltos defensivos e
ofensivos, assistências, roubos de bola, desarmes de
lançamento, perdas de bola, faltas cometidas e sofridas. Posteriormente, todas as estatísticas recolhidas
foram divididas pelos valores das posses de bola do
jogo, no sentido de as normalizar à medida padrão de
100 posses de bola e assim garantir que a análise
posterior dos dados não sofre contaminação do ritmo
de jogo(4). Depois de normalizadas, todas as estatísticas de jogo foram multiplicadas por 100(5).
204
Rev Port Cien Desp 7(2) 202–208
Considerou-se que uma equipa tem a posse da bola
quando tem um controlo ininterrupto e completo da
bola. As posses de bola, que representam o ritmo do
jogo, foram calculadas através da seguinte
equação(4):
Posses de bola = (lançamentos de campo tentados)
– (ressaltos ofensivos) + (perdas de bola)
– 0,4 x (lançamentos livres tentados)
Os lançamentos tentados representam o número
total de vezes que os jogadores de uma equipa executam uma tentativa para lançar ao cesto, que terminará com sucesso ou insucesso.
Segundo este conceito, considera-se a conquista do
ressalto ofensivo não como uma nova posse de bola
mas como um “reavivar” da posse de bola anterior.
Desta forma, poderemos constatar que no final dos
jogos, as equipas em confronto, usufruíram aproximadamente do mesmo número de posses de bola,
uma vez que uma equipa não pode dispor de posses
de bola consecutivas(4).
Tratamento dos dados
No sentido de dar resposta ao objectivo formulado, o
tratamento dos dados iniciou-se pela identificação de
jogos outliers de acordo com a diferença pontual
final. De seguida procedeu-se à análise de clusters
onde se constituíram 2 grupos de jogos, em função
do número de posses de bola do jogo. Estes dois
grupos foram categorizados como jogos mais rápidos
e jogos mais lentos. Posteriormente passou-se à análise da função discriminante no sentido de identificar, através dos coeficientes canónicos estruturais
(CCE) superiores a |0,30|, as estatísticas do jogo
que mais contribuem para separar os jogos mais lentos dos jogos mais rápidos. A análise estatística foi
realizada através do software estatístico SPSS versão
13.0 e o nível de significância foi mantido em 5%.
RESULTADOS
Na Figura 1 encontram-se os resultados da variação
do número de posses de bola, pontos marcados e eficácia ofensiva das finais europeias realizadas entre
1988 e 2006. Nestes resultados pode-se identificar
uma tendência para a diminuição da eficácia ofensiva
das equipas desde a época de 2002.
Estatísticas discriminantes do ritmo do jogo de Basquetebol
Figura 1. Variação do número de posses de bola, pontos marcados e eficácia ofensiva desde 1988 até 2006
Os valores médios de
cada grupo de jogos
produzidos pela análise
de classificação automática foram para os jogos
mais rápidos de
49,4±5,02 posses de
bola e para os jogos
mais lentos de
40,5±5,63 posses de
bola. As diferenças na
eficácia ofensiva das
equipas destes dois contextos foram estatisticamente significativas,
com valores de 149±19
nos jogos mais rápidos
e de 167±28 nos jogos
mais lentos. No Quadro
2 encontram-se os valores médios das estatísticas dos jogos para cada
grupo de jogos (mais
rápidos e mais lentos),
bem como os resultados
da comparação de
médias.
Quadro 2. Médias e desvios-padrão dos indicadores estatísticos dos jogos mais rápidos e jogos mais lentos.
Estatísticas dos jogos
Lançamentos de 2 pontos Convertidos
Lançamentos de 2 pontos Falhados
Lançamentos de 3 pontos Convertidos
Lançamentos de 3 pontos Falhados
Lançamentos Livres Convertidos
Lançamentos Livres Falhados*
Ressaltos Defensivos*
Ressaltos Ofensivos
Assistências
Roubos de Bola
Desarmes de Lançamento
Perdas de Bola
Faltas Sofridas*
Faltas Cometidas*
Jogos mais rápidos
(45,1!PB!54,4)
Jogos mais lentos
(34,9!PB<45,1)
37,95 ± 09,14
42,19 ± 11,66
12,49 ± 04,58
22,58 ± 10,83
35,75 ± 13,55
12,82 ± 06,12
40,53 ± 10,06
22,46 ± 09,63
22,93 ± 11,17
16,52 ± 07,80
5,46 ± 05,39
26,57 ± 08,06
49,40 ± 08,98
49,36 ± 08,97
43,93 ± 09,88
46,00 ± 10,42
12,15 ± 05,09
25,27 ± 09,21
42,84 ± 17,79
19,33 ± 09,46
50,27 ± 10,86
24,54 ± 06,38
18,86 ± 06,75
17,82 ± 10,12
5,28 ± 05,15
22,06 ± 07,26
61,04 ± 15,30
61,04 ± 15,30
* p 0 , 0 5 (ANOVA)
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205
Jorge Malarranha, Jaime Sampaio
A função discriminante obtida para diferenciar os
jogos mais lentos dos jogos mais rápidos foi estatisticamente significativa (p!0,05). Os CCE mais relevantes para o compósito linear desta função foram
os das faltas cometidas e sofridas, dos ressaltos
defensivos e dos lançamentos livres falhados (ver
Quadro 3).
Quadro 3. Estatísticas do jogo que discriminam
os jogos mais rápidos dos jogos mais lentos.
Estatísticas dos jogos
CCE
Faltas Sofridas*
Faltas Cometidas*
Ressaltos Defensivos*
Lançamentos Livres Falhados*
Lançamentos de 2 pontos Convertidos
Perdas de Bola
Lançamentos Livres Convertidos
Assistências
Lançamentos de 2 pontos Falhados
Lançamentos de 3 pontos Falhados
Ressaltos Ofensivos
Roubos de Bola
Lançamentos de 3 pontos Convertidos
Desarmes de Lançamento
0,44
0,43
0,38
0,37
0,26
-0,23
0,19
-0,16
0,13
0,10
0,09
0,06
-0,03
-0,01
Wilks’ Lambda
Qui-Quadrado
P
Eigenvalue
Correlação Canónica
0,46
31,82
<0,05
1,17
0,74
* |CCE| # 0,30
DISCUSSÃO
O objectivo do presente trabalho foi caracterizar o
ritmo dos jogos de Basquetebol e identificar as estatísticas que melhor discriminam os jogos de ritmo mais
elevado dos jogos de ritmo mais lento. Existem opiniões de que os jogos mais lentos são característicos
das fases mais decisivas das épocas desportivas, como
por exemplo os jogos da 2ª volta da fase regular (que
decidem a classificação para os playoffs, ou a manutenção na divisão) e os jogos dos playoffs (que decidem a
continuação ou não na luta pelo título de campeão ou
pelo acesso às competições europeias)(6, 9).
206
Rev Port Cien Desp 7(2) 202–208
Os valores de corte apresentados para o presente
estudo que permitiram diferenciar os jogos disputados a ritmos lentos dos jogos disputados a ritmos
rápidos, devem ser entendidos no contexto particular da amostra estudada. De facto, os valores médios
obtidos para os jogos da presente amostra são substancialmente inferiores aos obtidos em estudos que
recorreram à mesma metodologia realizados noutros
contextos(4, 9). Contudo, estes valores sugerem que
todos os jogos da presente amostra decorreram a ritmos mais lentos, facto que confirma as opiniões previamente apresentadas.
Na literatura científica internacional, estes assuntos
têm sido tratados exclusivamente em jogos da Liga
Profissional Norte-Americana (NBA) por Oliver(4).
Neste diferente contexto, o autor identificou um
aumento na eficácia ofensiva e uma diminuição nas
posses de bola e nos pontos marcados por jogo.
Grosso modo, os resultados encontrados no presente
estudo parecem distintos das opiniões apresentadas
e dos estudos disponíveis, porque sugerem uma tendência recente para a diminuição da eficácia ofensiva
e dos pontos marcados. Por outro lado, o número de
posses de bola por jogo tem aumentado. O sentido
de variação deste conjunto de macro-estatísticas do
jogo de Basquetebol sugere que os jogos das finais
mais recentes são disputados a ritmos mais elevados, mas com prejuízo nos pontos marcados e na eficácia ofensiva. O facto destes jogos serem decisivos
para a atribuição dos títulos de campeão europeu,
provavelmente reflectir-se-á numa percepção diferente do jogo pelos jogadores, que lhe atribuirão mais
importância porque todas as acções que executem
podem ser decisivas para o resultado final do confronto(3, 7). Provavelmente, este é um aspecto que se
vai reflectir mais no seu desempenho ofensivo, onde
é necessária mais concentração na execução das
estratégias colectivas e na conversão de lançamentos(10, 12, 13). Em caso contrário, podem ocorrer selecções de lançamento pouco favoráveis e com poucas
possibilidades de conquista do ressalto ofensivo. É
neste sentido que se verifica a superioridade das
defesas sobre os ataques, levando à consequente
diminuição dos pontos marcados e ao aumento do
número de posses de bola por jogo. Este aumento
das posses de bola não é necessariamente positivo
para as equipas pois, no presente estudo, foram
Estatísticas discriminantes do ritmo do jogo de Basquetebol
identificadas diferenças estatisticamente significativas entre o ritmo dos jogos e a eficácia ofensiva, com
valores superiores para os jogos mais lentos (jogos
mais rápidos 149±19 vs. jogos mais lentos 167±28).
Neste sentido, tentar disputar um destes jogos finais
de forma mais lenta, explorando constantemente as
situações de ataque organizado de modo a colocar os
jogadores nas suas posições de melhor eficácia individual de lançamento e de maiores possibilidades de
disputa dos ressaltos ofensivos, pode ajudar a obter
melhores eficácias ofensivas. Neste assunto particular, a literatura sugere que, nestes momentos, se
explorem os jogadores que desempenham funções
mais próximo do cesto(11, 12). Por outro lado, também se diminui as hipóteses da equipa adversária
explorar situações de transição defesa-ataque em
superioridade numérica, caracterizadas pelas elevadas probabilidades de sucesso (5, 8, 14).
No que diz respeito à identificação das estatísticas
que melhor discriminam os jogos de ritmo mais elevado (45,1 ! posses de bola ! 54,4) dos jogos de
ritmo mais lento (34,9 ! posses de bola <45,1), os
resultados do presente estudo identificaram as faltas
(cometidas e sofridas), os ressaltos defensivos e os
lançamentos livres falhados como as estatísticas que
melhor discriminaram estes dois contextos.
Alguns estudos(9, 10) indicam que o aumento da frequência e do poder discriminante do número de faltas cometidas e de lançamentos livres tem caracterizado estes jogos decisivos onde o ritmo é mais lento.
Sampaio(9) refere o número de lançamentos de 3 pontos convertidos como o indicador estatístico que mais
diferencia os jogos mais lentos dos mais rápidos.
O poder discriminante das faltas sugere que o ritmo
de jogo pode ser imposto (acelerado ou desacelerado) pelo recurso a esta estratégia. Ou seja, as equipas que participaram nestes confrontos recorreram
às faltas, como meio de impedir a realização de lançamentos fáceis, por exemplo parar as situações de
superioridade numérica do adversário, parar as
recepções de bola em espaços de elevada eficácia
ofensiva (i.e., a zona mais próxima do cesto habitualmente ocupada pelos postes baixos) e mesmo
parar jogadores de elevada eficácia ofensiva(11). Desta
forma, aumenta o número de faltas cometidas e
sofridas nestes jogos e diminui o seu ritmo. Esta
situação implica, também, um aumento do número
de lançamentos livres (quer seja como consequência
das faltas em acto de lançamento, quer seja como
resultado do acumular de faltas). O aumento do
número de lançamentos livres tentados e a importância de converter pontos nestes jogos, é uma explicação provável para o aumento do número de lançamentos livres falhados. Este facto, pode favorecer a
conquista da posse de bola por parte da equipa
defensora.
Os resultados do presente estudo realçam igualmente o poder discriminante dos ressaltos defensivos.
Este aspecto pode resultar do facto de ocorrerem
mais lançamentos livres falhados, o que aumenta as
possibilidades de conquistar mais ressaltos, em
especial da equipa que está a defender (devido à vantagem posicional da defesa no lançamento livre).
Em suma, os jogos das finais das competições europeias de Basquetebol estão a decorrer a ritmos mais
elevados, mas com menor eficácia e menos pontos
marcados. O ritmo dos jogos é essencialmente controlado pelas faltas cometidas e sofridas, facto que
também é a expressão da estratégia preconizada
pelos treinadores.
CORRESPONDÊNCIA
Jaime Sampaio
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Quinta de Prados, Ap. 202
5000-911 Vila Real
e-mail: ajaime@utad.pt
Rev Port Cien Desp 7(2) 202–208
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Jorge Malarranha, Jaime Sampaio
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Efeito da complexidade da tarefa na direção da
transferência bilateral em habilidades motoras seriadas
Dayane M. Pinho1
Guilherme M. Lage1,2
Herbert Ugrinowitsch3
Rodolfo N. Benda3
1
RESUMO
O efeito da complexidade da tarefa na direção da transferência
bilateral em habilidades motoras seriadas foi investigado através de dois experimentos. Vinte participantes praticaram uma
tarefa de menor complexidade (digitação de uma seqüência de
teclas) no primeiro experimento, e outros vinte participantes
praticaram uma tarefa de maior complexidade (posicionamento
de bolas de tênis entre recipientes) no segundo experimento. A
meta para ambas as tarefas foi executar os movimentos na
maior velocidade possível. Em ambos os experimentos, os
sujeitos foram designados aleatoriamente para: 1) grupo de
sujeitos que praticou com a mão preferida e foi testado com a
mão não-preferida (GMP) e outro grupo que praticou com a
mão não-preferida e foi testado com a mão preferida (GMNP).
Os experimentos constaram de pré-teste, aquisição e pós-teste.
As análises entre o pré e o pós-teste indicaram que, independente da direção da transferência e complexidade da tarefa, os
dois grupos se beneficiaram da transferência bilateral, tanto em
termos de desempenho quanto de consistência. A análise dos
resultados entre o fim da aquisição e o pós-teste permitiu
observar uma relação inversa entre a direção da transferência e
complexidade da tarefa. Os resultados são discutidos em termos do tipo de processamento requerido nas tarefas.
ABSTRACT
Effect of task complexity in the bilateral transfer direction in
serial motor skills
Palavras-chave: aprendizagem motora, efeito de transferência,
transferência bilateral, complexidade da tarefa
Laboratório do Comportamento Humano (LACOH)
Faculdades Unidas do Norte de Minas
Brasil
2 Faculdade de Ciências da Saúde (FCS)
Universidade FUMEC
Brasil
3 Grupo de Estudo em Desenvolvimento e
Aprendizagem Motora (GEDAM)
Universidade Federal de Minas Gerais
Brasil
The effect of task complexity in the bilateral transfer direction in serial
motor skills was investigated through two experiments. In the first,
twenty participants performed a less complex task (typing a key
sequence) and in the second, another group of twenty participants performed a more complex task (positioning). The goal in both tasks was
to perform the movements as quickly as possible. In both experiments,
the subjects were randomly assigned 1) to the group that practiced
with the preferred hand (GPH) and was tested with the non-preferred
hand or 2) to the group that practiced with the non-preferred hand
(GNPH) and was tested with the preferred hand. The experiment phases consisted of pre-test, acquisition and post-test. The analysis between
pre and post-test indicated that independently of the direction of bilateral transfer and task complexity, all groups had the benefits of bilateral transfer in terms of performance and consistency. The analysis
between the end of acquisition and the post-test pointed out an inverse
relation between the direction of transfer and task complexity. The
results are discussed in terms of the kind of processing required in the
tasks.
Key-words: motor learning, transfer effect, bilateral transfer,
task complexity
Rev Port Cien Desp 7(2) 209–216
209
Dayane M. Pinho, Guilherme M. Lage, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda
INTRODUÇÃO
Aprendizagem motora é o conjunto de processos
associados com a prática ou a experiência, conduzindo a mudanças relativamente permanentes na capacidade de executar performance habilidosa(16).
Mudanças são observadas no eixo temporal e podem
ser caracterizadas como fruto da crescente interação
entre vários elementos envolvidos no desempenho
motor. De acordo com Manoel(11), esses elementos
correspondem aos órgãos sensoriais, à percepção, à
tomada de decisão, à programação, ao sistema de
feedback e ao sistema muscular. Através do fortalecimento dessa interação, ocorre uma gradativa transposição de estados desorganizados para estados
organizados, emergindo assim, comportamentos que
podem ser distinguidos por padrões espaço-temporais bem definidos, com metas no ambiente, caracterizados como habilidades ou tarefas motoras.
Dentre os estudos sobre habilidades motoras, um
tema que tem despertado interesse dos pesquisadores é como uma habilidade aprendida com um membro pode ser transferida para o outro, o que é conhecido como transferência bilateral. Estudos sobre a
transferência bilateral indicam que a aprendizagem é
independente do membro efetor(5, 7, 8, 13). Em outras
palavras, o desempenho de um membro pode ser
otimizado pela prática do membro homólogo. De
forma geral, as explanações sobre a transferência
bilateral se baseiam na aprendizagem de elementos
cognitivos envolvidos na execução das habilidades(7,
8) e nos mecanismos de controle motor, como programação motora, que definem os aspectos temporais e espaciais requeridos nos movimentos (5, 13).
De acordo com Wrisberg(24), o achado mais significante sobre transferência bilateral é que essa transferência
é assimétrica entre os membros, ou seja, existem diferenças em termos de direção da transferência. Em
situações práticas em que a preferência manual não é
restringida, observa-se uma tendência de utilização
inicial do lado preferencial1, para posteriormente praticar com o lado não preferencial. Este comportamento
pode estar relacionado à maior segurança e conforto
gerados na execução com o membro preferido.
Entretanto, resultados de pesquisa são contraditórios
em relação a melhor direção da transferência.
Resultados de pesquisas têm demonstrado que a
melhor direção da transferência pode ocorrer do
210
Rev Port Cien Desp 7(2) 209–216
membro preferido para o não-preferido(2, 6, 23) ou do
membro não-preferido para o preferido(9, 10, 15, 17) e
ainda, que a direção da transferência entre membros
depende de parâmetros específicos da tarefa, como
força e timing(18, 19, 20). Como exemplo, Thut, Cook,
Regard, Leenders, Haslband e Landis(20) utilizaram
uma tarefa de desenho de padrões geométricos e
observaram que, para a medida de tempo de movimento, a direção da transferência mais efetiva foi do
membro preferencial para o membro não-preferencial, enquanto para a medida de precisão espacial a
melhor direção ocorreu no sentido contrário.
Diferentes hipóteses explanativas são encontradas
sobre os níveis de ativação hemisférica gerados pelo
membro praticado, preferencial ou não-preferencial,
e pela característica das tarefas. Taylor e Heilman(17)
afirmam que a prática com a mão não-preferencial
leva a uma ativação cerebral bihemisférica, facilitando assim a transferência para o membro preferencial.
Por outro lado, a prática com a mão preferencial
levaria a uma maior ativação do hemisfério esquerdo
levando a um menor grau de transferência para o
membro não-preferencial. Já para Teixeira(19), determinados componentes da tarefa como o controle de
força e timing coincidente são controlados com a
mesma proficiência por ambos os hemisférios cerebrais, o que gera uma transferência simétrica entre
os membros nesses parâmetros.
Em uma análise restrita aos estudos que utilizaram
tarefas de natureza seriada, a direção mais efetiva da
transferência entre membros foi do membro nãopreferencial para o membro preferencial(9, 10, 15, 17).
Esses resultados suportam a hipótese de Taylor e
Heilman(17) sobre os diferentes níveis de processamento gerados pela prática com o membro preferencial ou não-preferencial.
Resultados de estudos recentes que utilizaram medidas obtidas por neuroimagem e eletromiografia,
apontam para uma relação entre complexidade da
tarefa e ativação entre os hemisférios. Tinazzi e
Zanette(21) encontraram uma maior ativação bihemisférica, em movimentos mais complexos. Assim,
uma maior complexidade geraria maiores interações
inter-hemisféricas trazendo maiores vantagens para
o sistema(4, 14). Apoiado nos achados descritos
acima, pode-se esperar que em tarefas de maior
complexidade, a transferência entre membros seja
Direção da transferência bilateral
simétrica. Isto contraria a hipótese de que em movimentos complexos a melhor direção da transferência
é do membro não-preferencial para o preferencial(15).
Entende-se o aumento da complexidade da tarefa
como o aumento do número de elementos(3), ou
mais especificamente, um maior número de graus de
liberdade envolvidos na execução da habilidade(1, 22).
Em suma, resultados de estudos que utilizaram tarefas de natureza seriada sugerem que a direção mais
efetiva da transferência entre membros parte do
membro não-preferencial para o membro preferencial. Entretanto, a possibilidade de diferentes níveis
de ativação hemisférica emergir não só pela prática
de um determinado membro(17), mas também pela
complexidade da tarefa(4, 14, 21), justifica a realização
de novas pesquisas sobre a direção da transferência
entre membros. Dessa forma, foi objetivo deste estudo investigar o efeito da complexidade da tarefa na
direção da transferência bilateral em habilidades
seriadas. Para isso, foram realizados dois experimentos com tarefas seriadas de diferentes complexidades.
EXPERIMENTO 1 - TAREFA DE MENOR COMPLEXIDADE
MÉTODO
Amostra
Vinte sujeitos universitários, de ambos os sexos, na
faixa etária entre 18 e 35 anos, participaram como
voluntários desse experimento. Todos os sujeitos
eram inexperientes na tarefa e participaram com
consentimento livre e esclarecido.
Instrumentos e Tarefa
Para a determinação do índice de dominância lateral,
foi empregado o Inventário de Dominância Lateral
de Edimburgo(12) e uma pergunta sobre a auto-classificação do lado preferencial. A tarefa consistiu em
digitar uma seqüência de teclas pré-determinadas(2, 8,
6 e 4), com o dedo Indicador, na região alfanumérica
de um teclado. A tarefa teve como meta realizar os
movimentos em maior velocidade possível. Foi utilizado um software desenvolvido especificamente para
o controle de tarefas seriadas no teclado do computador e o armazenamento de dados sobre o tempo
total. O tempo total foi definido pelo momento entre
o pressionamento da primeira tecla e o pressionamento da última tecla. Os dados foram registrados
no microcomputador ao final de cada tentativa.
Delineamento Experimental
Os participantes foram designados aleatoriamente
para dois grupos de prática: 1) Grupo MãoPreferencial (GMP) e 2) Grupo Mão NãoPreferencial (GMNP). O experimento constou de
três fases: 1) pré-teste com cinco tentativas de prática, 2) fase de aquisição com 30 tentativas de prática
com o membro contrário ao utilizado no pré-teste e,
cinco minutos após a aquisição, 3) pós-teste com
cinco tentativas de prática com a mão utilizada no
pré-teste. A denominação GMP ou GMNP relacionase à mão que executou a tarefa na fase de aquisição.
O GMP realizou o pré-teste com a mão não-preferencial, a fase de aquisição com a mão preferencial e
o pós-teste com a mão não-preferencial. O tratamento inverso foi aplicado ao GMNP, ou seja, os sujeitos
iniciaram com a mão preferencial, praticaram com a
mão não-preferencial e foram testados novamente
com a mão preferencial.
Procedimentos
Inicialmente, os sujeitos preencheram o Inventário
de Dominância Lateral de Edimburgo e responderam
a questão sobre auto-definição da dominância lateral. Análises indicaram o lado direito como o preferido a todos os sujeitos. Em seguida, foram fornecidas instruções padronizadas sobre a tarefa. A informação “inicie a tentativa” era fornecida na tela do
microcomputador e o sujeito iniciava a seqüência de
digitação. Cinco segundos após o término de cada
tentativa foi fornecido aos sujeitos o conhecimento
de resultados (CR) em relação ao tempo total de
movimento. O CR não foi fornecido durante o préteste e o pós-teste.
Tratamento dos Dados
Os dados foram organizados em blocos de 5 tentativas em todas as fases do experimento, tanto para a
medida de desempenho quanto para a medida do
desvio padrão do desempenho. O teste de
Kolmogorov-Smirnov foi aplicado para verificar a
normalidade dos dados, o qual indicou uma distribuição normal dos mesmos. As análises inferenciais
foram realizadas através de três Anovas two-way (2
grupos X 2 blocos no pré-teste e pós-teste; 2 grupos
X 6 blocos na fase de aquisição; 2 grupos X 2 blocos
entre o último bloco da aquisição e o bloco do pó-
Rev Port Cien Desp 7(2) 209–216
211
Dayane M. Pinho, Guilherme M. Lage, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda
teste). Para análises Post Hoc, foi utilizado o teste de
Tukey, quando necessário. O valor de significância
adotada foi de p<0,05. Essas análises foram realizadas para permitir inferências sobre a transferência da
aprendizagem entre membros e a melhor direção da
transferência (pré e pós-teste), as mudanças no comportamento durante a prática em relação ao membro
praticado (aquisição) e a direção da transferência
entre membros do final da prática para o pós-teste
(último bloco da aquisição e bloco do pós-teste).
RESULTADOS
Análise entre o pré e o pós-teste
A análise do desempenho entre o pré e pós-teste
(Figura 1) não indicou diferença significativa entre
Grupos [F(1,18)=0,42, p=0,52], assim como na
interação Grupos X Blocos [F(1,18)=0,12, p=0,72].
Foi encontrada uma diferença significativa para o
fator Blocos [F(1,18)= 14, 65, p<0,01]. O teste Post
Hoc de Tukey indicou que o bloco do pré-teste apresentou maior tempo de resposta comparado ao bloco
do pós-teste (p<0,01).
A análise do desvio padrão do desempenho não indicou diferença significativa entre Grupos
[F(1,18)=0,005, p=0,94], Blocos [F(1,18)=1,66,
p=0,21] e na interação entre Grupos X Blocos
[F(1,18)=1,98, p=0,17].
Análise entre o último bloco da aquisição
e o bloco do pós-teste
A análise de desempenho (Figura 1) não indicou
diferença significante para o fator Grupos
[F(1,18)=0,02, p=0,88]. Entretanto, foi detectada
diferença para o fator Blocos [F(1,18)=8,88,
p<0,01] e na interação entre Grupos X Blocos
[F(1,18)=17,23, p<0,01]. O teste Post Hoc de Tukey
conduzido entre os blocos indicou que o último
bloco da aquisição apresentou menor tempo de resposta comparado ao bloco do pós-teste (p<0,01). Na
análise da interação entre Grupos X Blocos, o último
bloco da aquisição do GMNP apresentou maior
tempo de resposta comparado ao último bloco da
aquisição do GMP (p<0,01). O último bloco da
aquisição do GMP apresentou menor tempo de resposta comparado ao bloco do pós-teste do mesmo
grupo (p<0,01).
A análise do desvio padrão do desempenho (Figura
2) não indicou diferença significante para o fator
Grupos [F(1,18)=0,11, p=0,74], assim como na
interação entre Grupos X Blocos [F(1,18)=3,26,
p=0,08]. Foi encontrada diferença significante para
o fator Blocos [F(1,18)=4,37, p=0,05]. O último
bloco da aquisição apresentou menor variabilidade
comparado ao bloco do pós-teste (p<0,05).
Análise da fase de aquisição
A análise do desempenho na fase de aquisição
(Figura 1) indicou diferença significante para o fator
DISCUSSÃO
O objetivo do presente experimento foi investigar a
direção da transferência bilateral em uma tarefa
700
GMNP
GMP
TResposta (ms.)
650
600
550
500
450
400
Pré
1
2
3
4
5
6
Pós
Figura 1. Médias dos tempos de resposta dos grupos
experimentais em todas as fases do experimento 1.
212
Grupos [F(1,18)=4,57, p<0,05], Blocos
[F(5,90)=2,43, p<0,05] e na interação entre Grupos
X Blocos [F(5,90)=2,91, p<0,01]. O teste Post Hoc
de Tukey conduzido no fator Grupos indicou que o
GMP apresentou menor tempo de resposta comparado ao GMNP (p<0,05). Na análise do fator Blocos, o
1o bloco da fase de aquisição apresentou maior
tempo de resposta comparado ao 6o bloco (p<0,05).
A análise da interação entre Grupos X Blocos mostrou que o 1o bloco do GMNP apresentou maior
tempo de resposta comparado ao 1o bloco do GMP
(p<0,01).
Na análise do desvio padrão do desempenho da fase
de aquisição (Figura 2) não houve diferença entre
Grupos [F(1,18)=0,16, p=0,68], Blocos
[F(5,90)=1,21, p=0,30] e na interação entre Grupos
X Blocos [F(5,90)=1,02, p=0,4].
Rev Port Cien Desp 7(2) 209–216
Direção da transferência bilateral
seriada considerada de menor complexidade. Os
resultados indicaram que houve efeito de transferência bilateral para ambos os grupos de prática. Tanto
o GMP quanto o GMNP apresentaram uma melhora
do desempenho do pré-teste para o pós-teste, o que
corrobora a proposição de que transferência bilateral
indica que a aprendizagem é independente do membro efetor(4, 7, 8, 13). Em relação à variabilidade do
desempenho, ambos os grupos apresentaram maior
consistência ao final da prática comparado ao bloco
do pós-teste.
Entretanto, em relação à direção da transferência,
houve uma deterioração do desempenho por parte
do GMP do último bloco da aquisição para o bloco
do teste, o mesmo não ocorrendo para o GMNP. Este
resultado sugere uma melhor transferência da mão
não-preferencial para a mão preferencial em uma
tarefa de menor complexidade. Este resultado corrobora prévios achados sobre a direção da transferência mais eficaz em tarefas seriadas(9, 10, 15, 17).
EXPERIMENTO 2 - TAREFA DE MAIOR COMPLEXIDADE
MÉTODO
Amostra
Vinte sujeitos universitários, de ambos os sexos, na
faixa etária entre 18 e 35 anos, participaram como
voluntários deste experimento. Todos os sujeitos
eram inexperientes na tarefa, não foram voluntários
do experimento anterior, e participaram com consentimento livre e esclarecido.
Instrumentos e Tarefa
Para a determinação do índice de dominância lateral
foi empregado o Inventário de Dominância Lateral
de Edimburgo(12) e uma pergunta sobre a auto-classificação do lado dominante. A tarefa consistiu em
soltar uma chave pressionada e transportar duas
bolas de tênis em uma seqüência pré-definida entre
quatro recipientes numerados de uma caixa de
madeira (comprimento: 1m; largura: 0,66m; Altura:
0,10m). A tarefa teve como meta realizar os movimentos de posicionamento em maior velocidade
possível. Foi utilizado um software desenvolvido
especificamente para o controle de tempo e armazenamento de dados sobre o tempo total. O instrumento consistiu de um conjunto de diodos emissores de luz, uma chave de resposta para controlar o
início da tarefa e uma segunda chave de resposta
para marcar o final da mesma. O tempo total foi
definido a partir da soltura da primeira chave e o
pressionamento da segunda chave. Os dados foram
registrados em um microcomputador ao final de
cada tentativa.
Delineamento Experimental
O delineamento experimental foi o mesmo do primeiro experimento.
Procedimentos
Inicialmente, os sujeitos preencheram o Inventário
de Dominância Lateral de Edimburgo e responderam
a questão sobre auto-definição da dominância lateral, os quais indicaram o lado direito como o preferido a todos os sujeitos. Em seguida, foram fornecidas
instruções padronizadas sobre a tarefa. Ao sinal
“prepara”, fornecido pelo experimentador, o sujeito
pressionava a chave de resposta e, após um estímulo
visual (acendimento dos diodos), a chave deveria ser
solta para iniciar o transporte das bolas de tênis,
uma a uma, com a mão pré-determinada, na seqüência pré-definida no menor tempo possível. Ao repousar a segunda bola sobre o último recipiente, uma
segunda chave era acionada medindo o tempo total
de movimento e caracterizando o fim da tarefa.
Cinco segundos após o término de cada tentativa foi
fornecido aos sujeitos o conhecimento de resultados
(CR) em relação ao tempo total de movimento. O
CR não foi fornecido no pré-teste e no pós-teste.
Tratamento dos Dados
O tratamento de dados foi o mesmo ao realizado no
experimento 1. O teste de Kolmogorov-Smirnov
indicou uma distribuição normal dos dados.
RESULTADOS
Análise entre o pré e o pós-teste
A análise do desempenho entre o pré e pós-teste
(Figura 3) não indicou diferença significativa entre
Grupos [F(1,18)=0,39, p=0,53], assim como na
interação entre Grupos X Blocos [F(1,18)=0,42,
p=0,72]. Foi encontrada uma diferença significativa
para o fator Blocos [F(1,18)=13, 36, p<0,01]. O
teste Post Hoc de Tukey indicou que o bloco do préteste apresentou maior tempo de resposta comparado ao bloco do pós-teste (p<0,01).
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213
Dayane M. Pinho, Guilherme M. Lage, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda
GMP
GMNP
2500
2350
TResposta (ms.)
2200
2050
1900
1750
1600
1450
1300
Pré
1
2
3
4
5
6
Pós
Blocos de 5 te ntativas
Figura 3. Médias dos tempos de resposta dos grupos
experimentais em todas as fases do experimento 2.
A análise do desvio padrão do desempenho (Figura
4) não indicou diferença significativa entre Grupos
[F(1,18)=0,005, p=0,94], assim como na interação
entre Grupos X Blocos [F(1,18)=0,05, p=0,81]. Foi
encontrada uma diferença significativa para o fator
Blocos [F(1,18)=8,17, p<0,01]. O teste Post Hoc de
Tukey indicou que o bloco do pré-teste apresentou
maior variabilidade comparado ao bloco do pós-teste
(p<0,01).
Figura 4. Desvio padrão das médias dos tempos de resposta
dos grupos experimentais em todas as fases do experimento 2.
Análise entre o último bloco da aquisição
e o bloco do pós-teste
A análise do desempenho não indicou diferença significante entre Grupos [F(1,18)=0,05, p=0,82].
Entretanto, foi detectada diferença para o fator
Blocos [F(1,18)=7,83, p<0,01] e na interação entre
Grupos X Blocos [F(1,18)=5,28, p<0,05]. Na análise do fator Blocos, o teste Post Hoc de Tukey indicou
que o último bloco da aquisição apresentou menor
tempo de resposta comparado ao bloco do pós-teste
(p<0,01). Na análise da interação entre Grupos X
Blocos, o último bloco da aquisição do GMNP apresentou menor tempo de resposta comparado ao
bloco do pós-teste do mesmo grupo (p<0,01).
A análise do desvio padrão do desempenho não indicou diferença significante para o fator Grupos
[F(1,18)=0,11, p=0,74], Blocos [F(1,18)=0,21,
p=0,64] e na interação entre Grupos X Blocos
[F(1,18)=0,92, p=0,34].
Análise da fase de aquisição
A análise do desempenho da fase de aquisição
(Figura 3) indicou diferença significante para o fator
Grupos [F(1,18)=4,59, p<0,05], Blocos
DISCUSSÃO
O objetivo do experimento 2 foi investigar a direção
da transferência bilateral em uma tarefa seriada de
maior complexidade. Os resultados indicaram que
900
GMP
GMNP
DP do TResposta (ms.)
800
700
600
500
400
300
200
100
0
Pré
214
[F(5,90)=4,70, p<0,01] e na interação entre Grupos
X Blocos [F(5,90)=3,72, p<0,01]. O teste Post Hoc
de Tukey indicou que o GMNP apresentou menor
tempo de resposta comparado ao GMP (p<0,05). Na
análise do fator Blocos, o 1o bloco da fase de aquisição apresentou maior tempo de resposta comparado
ao 2o (p<0,05), 3o, 4o, e 6o blocos (p<0,01, respectivamente). A análise da interação entre Grupos X
Blocos mostrou que o 5o bloco do grupo GMP apresentou maior tempo de resposta que o 2o, 3o, 4o e 6o
blocos (p<0,01).
A análise do desvio padrão do desempenho (Figura
4) indicou diferença significante para o fator Grupos
[F(1,18)=0,53, p<0,05] e na interação entre Grupos
X Blocos [F(5,90)=3,35, p<0,01]. O teste Post Hoc
de Tukey indicou que o GMP apresentou maior
variabilidade comparado ao GMNP (p<0,05). A análise da interação entre Grupos X Blocos mostrou que
o 5o bloco do GMP apresentou maior variabilidade
que o 2o, 3o, 4o e 6o blocos do mesmo grupo
(p<0,01). Não houve diferença significativa para o
fator Blocos [F(5,90)=2,19, p=0,06].
1
2
Rev Port Cien Desp 7(2) 209–216
3
4
5
6
Pós
Direção da transferência bilateral
houve efeito de transferência bilateral para ambos os
grupos de prática. Tanto o GMP quanto o GMNP
apresentaram uma melhora do desempenho e de sua
consistência do pré-teste para o pós-teste. Na fase de
aquisição, o grupo que praticou com a mão não-preferencial obteve melhor desempenho e consistência
comparado ao grupo que praticou com a mão preferencial. Esse resultado não esperado, pode ter sido
gerado mais pelos altos níveis de variabilidade
encontrados no bloco 5 da fase de aquisição do que
pela maior proficiência geral em todos os blocos por
parte do sujeitos do GMNP.
O resultado mais interessante refere-se à indicação
de uma melhor transferência na direção oposta à
observada na tarefa de menor complexidade do primeiro experimento. O GMNP apresentou uma deterioração do desempenho do último bloco da aquisição para o bloco do pós-teste, o mesmo não ocorrendo para o GMP. Este resultado sugere uma melhor
transferência da mão preferencial para a mão nãopreferencial em uma tarefa de maior complexidade.
Este resultado contraria a hipótese que a melhor
direção da transferência ocorre do membro não-preferencial para o preferencial(17), principalmente em
tarefas complexas(15).
DISCUSSÃO FINAL E CONCLUSÃO
A análise conjunta dos resultados dos dois experimentos possibilita inferir que, independente do nível
de complexidade das tarefas seriadas utilizadas no
estudo, o efeito da transferência bilateral é observado. Esses achados corroboram os resultados de estudos que encontraram efeitos positivos da prática de
um determinado membro sobre o membro contralateral(2, 5, 6, 7, 8, 13, 23).
Apesar de não ter havido diferença no desempenho
entre os grupos no pós-teste, as análises realizadas
entre o final da prática e a transferência para o
membro homólogo mostraram um efeito da complexidade da tarefa na direção da transferência. Na
tarefa de menor complexidade, os sujeitos que praticaram com a mão não-preferencial mantiveram o
mesmo desempenho com a mão preferencial na
transferência (pós-teste). Para a tarefa de maior
complexidade, a melhor direção da transferência
ocorreu no sentido contrário, ou seja, os sujeitos
que iniciaram a prática com a mão preferencial
mantiveram, na transferência, o mesmo desempenho com o membro contralateral.
O resultado encontrado na tarefa de maior complexidade contraria a hipótese de Puretz(15), que em tarefas mais complexas, a melhor direção para a transferência entre membros ocorre na direção não-preferencial para a preferencial. Apoiado nos achados de
Passarotti, Banich, Sood e Wang(14) e Tinazzi e
Zanette(21), é possível inferir que uma maior complexidade leva a uma maior ativação bihemisférica,
tendo o sistema se beneficiado desse processo na
transferência da aprendizagem do membro preferencial para o não-preferencial. Na direção contrária,
esse benefício pode não ser tão claro. Seria possível
sugerir que o hemisfério esquerdo (responsável pelo
controle da mão preferencial direita) não se beneficie
do processamento gerado pelo hemisfério direito ao
mesmo nível que o hemisfério direito (responsável
pelo controle da mão não-preferencial esquerda) se
beneficia do processamento mais especializado na
produção de movimentos do hemisfério esquerdo.
De acordo com Passarotti, Banich, Sood e Wand(14),
os hemisférios cerebrais são dois diferentes processadores que podem acoplar ou desacoplar os seus
processos para aumentar as funções cerebrais dependendo das demandas específicas da tarefa.
A análise do ocorrido na tarefa de menor complex idade pode ser realizada no mesmo sentido discutido acima. A prática com o membro preferencial
direito pode ter levado a ativação somente do
hemisfério esquerdo(4, 17) não otimizando assim a
transferência para o membro não-preferencial.
Níveis iniciais de assimetria de desempenho entre
os membros podem ter sido mantidos durante
todas as fases do experimento. A análise conjunta
dos resultados nos dois experimentos sugere uma
restrição na hipótese de Taylor e Heilman(17) sobre
os diferentes níveis de ativação hemisférica gerados
pela prática de um determinado membro. Devido às
evidências, o fator complexidade da tarefa pode ter
também um papel decisivo na ativação bihemisférica(4) em habilidades seriadas. Em suma, os presentes achados apontam para um efeito da complex i d ade da tarefa na direção da transferência bilateral em
habilidades motoras seriadas.
Rev Port Cien Desp 7(2) 209–216
215
Dayane M. Pinho, Guilherme M. Lage, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda
NOTA
No presente estudo assume-se que o membro direito é o
membro preferencial e o membro não-preferencial é o esquerdo. Os resultados de estudos discutidos se referem aos dados
obtidos com sujeitos destros.
1
REFERÊNCIAS
1.
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17.
18.
19.
20.
CORRESPONDÊNCIA
Prof. Guilherme Lage
Universidade FUMEC / FCS
Faculdade de Ciências da Saúde
Departamento de Educação Física
Rua da Paisagem, 240 – Vila da Serra
Nova Lima – Minas Gerais, Brasil
CEP 34000-000
e-mail: menezeslage@gmail.com
216
Rev Port Cien Desp 7(2) 209–216
21.
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O efeito da interferência contextual em idosos
Wesley R. Gonçalves1,3
Guilherme M. Lage2,3
Alexandro B. da Silva3
Herbert Ugrinowitsch3
Rodolfo N. Benda3
1
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo verificar o efeito da interferência contextual (EIC) na aquisição de habilidades motoras
em idosos. Foi utilizada uma tarefa de posicionamento manual,
caracterizada pelo transporte de três bolas de tênis em uma
seqüência e tempo alvo pré-determinados. O experimento constou de 4 fases: 1) aquisição, 2) transferência 1 (T1), 3) transferência 2 (T2) e 4) retenção da aquisição. Os sujeitos foram divididos aleatoriamente em quatro grupos (n=12): grupo de prática aleatória-aleatória (A-A), que realizou a tarefa de forma aleatória na aquisição e na retenção; grupo de prática aleatória-blocos (A-B), que realizou a aquisição de forma aleatória e a retenção em blocos; grupo de prática em blocos-blocos (B-B), que
realizou a aquisição e a retenção em blocos; grupo de prática em
blocos-aleatória (B-A), que realizou a aquisição em blocos e a
retenção de forma aleatória. Os resultados mostraram que um
dos grupos que praticou em regime aleatório apresentou-se
mais variável durante a fase de aquisição que os grupos que praticaram em blocos. Entretanto, este mesmo grupo aleatório, no
primeiro bloco do teste de retenção da aquisição, mostrou-se
mais preciso que um dos grupos em blocos. Esses resultados
confirmaram parcialmente o EIC em idosos.
ABSTRACT
The contextual interference effect in elderly people
Palavras-chave: aprendizagem motora, estrutura de prática, interferência contextual.
Universidade Presidente Antonio Carlos (UNIPAC)
Conselheiro Lafaiete, MG, Brasil
2 Universidade FUMEC
Belo Horizonte, MG, Brasil
3 Gedam (Grupo de Estudos em Desenvolvimento e
Aprendizagem Motora)
Escola de Educação Física,
Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Brasil
The purpose of this study was to investigate the contextual interference
effect (CIE) in the acquisition of motor skills in elderly people. A manual positioning task was used, it was characterized by the transport of
three tennis ball in a movement sequence and predetermined target
times. The experiment consisted of 4 phases: 1) acquisition, 2) transfer 1 (T1), 3) transfer 2 (T2) and 4) retention of the acquisition. The
subjects were randomly distributed into four groups: random-random
group (R-R), which performed the tasks in a random order in the
acquisition and retention; random-blocked group (R-B), which performed the acquisition in a random order and the retention in a blocked
order; blocked-blocked group (B-B), which performed the tasks in a
blocked order in the acquisition and retention; blocked-random group
(B-R), which performed the acquisition in a blocked order and the
retention in a random order. The results showed that one of the random groups was more variable during the acquisition compared to the
both blocked groups. However, this random group, in the first block of
the retention was more precise than one of the blocked groups. These
results partially confirm the CIE in elderly people.
Key-words: motor learning, structure of practice, contextual interference
Rev Port Cien Desp 7(2) 217–224
217
Wesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage, Alexandro B. da Silva, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda
INTRODUÇÃO
Uma das variáveis de maior influência na aprendizagem motora é a estruturação da prática. A forma
como a prática é organizada interfere na qualidade e
na quantidade de informações recebidas, processadas
e geradas através das restrições impostas ao aprendiz. A área de estudo que investiga os efeitos da
ordem de execução de duas ou mais habilidades na
aprendizagem motora é conhecida como interferência contextual.
A interferência contextual foi primeiramente definida por Battig(2), como a interferência produzida por
outras tarefas e as formas pelas quais elas são processadas. De forma geral, os estudos sobre interferência contextual comparam os efeitos das práticas
variadas em blocos e aleatória(18, 19, 22, 24). A prática
em blocos, considerada de baixa interferência contextual, caracteriza-se pela execução de todas as tentativas de uma determinada habilidade para então
iniciar-se as execuções da seguinte (ex. WWW XXX
YYY). Já a prática aleatória, considerada de alta
interferência contextual, é baseada em uma ordem
de execução não sistemática das habilidades a serem
praticadas (ex. X W Y W X Y X W Y)(5). Apesar de a
prática em blocos produzir melhor performance
durante a fase de aquisição, quando a performance
dos grupos é comparada nos testes de retenção e
transferência, a prática aleatória conduz a um
melhor desempenho que a prática em blocos(14).
A maioria dos estudos que investigou o efeito da
interferência contextual (EIC) contou com crianças,
adolescentes ou adultos como sujeitos(1, 22, 24). Dick,
Beth, Shankle, Dick-Muehlke, Cotman e Kean(7) e
Dick, Hsieh, Dick-Muehlke, Daves e Cotman(8)
investigaram a hipótese da variabilidade de prática
entre idosos saudáveis e portadores do mal de
Alzeimer. Entretanto, apenas o trabalho de Dick,
Hsieh, Dick-Muehlke, Daves e Cotman(8) seguiu os
delineamentos dos estudos da área de aprendizagem
motora, incluindo os testes de retenção e transferência e permitiu, devido ao delineamento utilizado e
resultados encontrados, fazer algumas inferências
quanto ao EIC em idosos. Participaram desse trabalho 56 idosos saudáveis e 56 idosos portadores do
mal de Alzeimer distribuídos em grupos controle, de
prática constante, prática em blocos e prática aleatória consistindo de fases de aquisição, transferência
218
Rev Port Cien Desp 7(2) 217–224
próxima, transferência distante ou intermediária e
retenção, em uma tarefa de arremessar a um alvo a
diferentes distâncias. Os resultados mostraram que
os sujeitos portadores do mal de Alzeimer se beneficiaram apenas da prática constante e não conseguiram em nenhum outro regime de prática uma transferência para uma nova tarefa com um nível de dificuldade intermediário. Entre os sujeitos saudáveis, o
grupo de prática aleatória apresentou melhor performance que o grupo em blocos na fase de retenção e
foi o único grupo a apresentar desempenho superior
ao grupo controle durante a fase de transferência
distante. No trabalho de Dick, Hsieh, Dick-Muehlke,
Daves e Cotman(8) o grupo de prática aleatória não
alternava a distância de lançamento a cada tentativa
devido à dificuldade de entendimento apresentada
pelo grupo portador do mal de Alzeimer. O grupo de
prática aleatória limitou-se então, em alternar as distâncias de forma não hierárquica depois de um quarto das tentativas. Esse procedimento pode ter contribuído para um enfraquecimento do efeito da interferência contextual.
Dois estudos encontrados preocuparam-se especificamente em investigar o EIC em idosos(4, 6). Del
Rey(6) verificou a relação entre nível de atividade física e interferência contextual. O estudo contou com
48 mulheres idosas, distribuídas em grupos de praticantes e não praticantes de atividade física, que realizaram uma tarefa de timing coincidente em regime
de prática aleatória e em blocos. Na fase de aquisição, os grupos que praticaram em blocos apresentaram-se mais precisos e menos variáveis. Na interação entre velocidade do estímulo, nível de atividade
e contexto de aquisição, para análise do erro constante, verificou-se que nos sujeitos ativos a aquisição
de forma aleatória facilitou a retenção da aquisição
nas velocidades consideradas mais difíceis (as velocidades mais baixas) para aprendizagem da tarefa
investigada (5 e 7 mph) Esses resultados deram
suporte para o EIC entre idosos ativos e para relação
entre nível de atividade física e função cognitiva em
idosos. Nesse trabalho não foi aplicado teste de
transferência, o que não permitiu verificar a capacidade de adaptação dessa população a uma nova tarefa, considerando o regime de prática.
Carnahan, Vandervoort e Swanson(4), com o objetivo
de discutir o EIC em função dos efeitos da idade na
Efeito da interferência contextual em idosos
aquisição de habilidades, contaram com um grupo de
jovens além de um grupo de idosos com 24 sujeitos
divididos em grupos de prática aleatória e em blocos.
A tarefa do estudo foi pressionar, o mais rápido o possível, três diferentes seqüências pré-determinadas de
um conjunto de quatro teclas na região alfanumérica
de um computador. O teste de retenção da aquisição
foi aplicado com metade das tentativas executadas de
forma aleatória e metade de forma em blocos. O teste
de transferência, como no estudo de Del Rey(6), também não foi aplicado por Carnahan e colegas(4). Os
resultados apontaram para um limitado efeito da interferência contextual em idosos, pois apenas na fase de
retenção e apenas em uma seqüência de movimentos,
na seqüência teoricamente mais difícil segundo os
autores do estudo, foi verificado o EIC, com o grupo
de prática aleatória executando a tarefa mais rápido
que o grupo de prática em blocos.
Com o avanço da idade, o desempenho motor e cognitivo decresce e a prática de atividade física pode
interferir positivamente, minimizando as perdas
decorrentes da terceira idade(20, 21). Apesar de serem
mais lentos nas medidas de desempenho, devido
possivelmente a déficits de processamento central,
como dificuldade na seleção das informações, dificuldades em ignorar informações irrelevantes e na
tomada de decisão, os idosos apresentam capacidade
de se adaptar tanto às demandas ambientais quanto
à aprendizagem motora(9, 12). Todavia, pouco se
sabe como a estruturação da prática pode contribuir
para a aprendizagem nessa população.
Assim, o objetivo deste estudo é verificar o EIC na
aprendizagem de uma tarefa de posicionamento
manual em idosos.
em uma seqüência e tempo alvo pré-determinados
entre 3 conjuntos de 2 recipientes de uma plataforma identificados com as letras A, B e C. Uma central
de controle ligada a um microcomputador, constituída por um conjunto de diodos (estímulo visual para
o início da tarefa) e uma chave de respostas (controle dos tempos para início e fim da tarefa) foi controlada por um software que mediu os tempos de reação, de movimento e de resposta em cada tentativa e
armazenou esses dados (Figura 1).
Antes de cada tentativa, era fornecida a informação
da seqüência de movimentos a ser realizada através
da apresentação de um cartão de 8 x 11 cm. Ao sinal
“prepara”, fornecido pelo experimentador, a chave era
pressionada, e, após um estímulo visual (acendimento dos diodos), a chave era solta, medindo o tempo
de reação, devendo então se iniciar o transporte das
bolas de tênis com a mão dominante na seqüência
pré-definida em determinado tempo alvo. Ao término
da seqüência de posicionamento das bolas, a chave
era pressionada novamente medindo o tempo de
movimento e caracterizando o fim da tarefa.
Figura 1. Esquema do aparelho utilizado no experimento.
MATERIAL E MÉTODO
A amostra foi constituída por 48 sujeitos de ambos
os sexos, com idade média de 66,45 ± 4,89 anos,
todos participantes de um programa de atividades
físicas da Escola de Educação Física, Fisioterapia e
Terapia Ocupacional (UFMG). Os sujeitos não relataram qualquer patologia e nunca haviam tido contato com a tarefa utilizada. Todos assinaram um termo
de consentimento livre e esclarecido para participarem do estudo.
Foi utilizada uma tarefa de posicionamento manual,
caracterizada pelo transporte de três bolas de tênis
Os sujeitos foram designados aleatoriamente para
quatro grupos experimentais (n=12): grupo de prática aleatória-aleatória (A-A), que realizou a tarefa
de forma aleatória na aquisição e na retenção da
aquisição; grupo de prática aleatória-blocos (A-B),
que realizou a aquisição de forma aleatória e a retenção da aquisição em blocos; grupo de prática em blocos-blocos (B-B), que realizou a aquisição e a retenção da aquisição em blocos; grupo de prática em blocos-aleatória (B-A), que realizou a aquisição em blocos e a retenção da aquisição de forma aleatória.
Rev Port Cien Desp 7(2) 217–224
219
Wesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage, Alexandro B. da Silva, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda
O experimento constou de quatro fases: 1) aquisição, 2) transferência 1 (T1), 3) transferência 2 (T2)
e 4) retenção da aquisição (R). Na aquisição, os grupos praticaram 45 tentativas de três diferentes
seqüências de movimento (A/B/C; C/B/A; B/C/A)
em um tempo alvo de 3.500ms, sendo que os grupos
B-B e B-A praticaram em blocos, executando 15 tentativas consecutivas de cada tarefa, na ordem apresentada acima, e os grupos A-A e A-B praticaram
aleatoriamente, não repetindo consecutivamente a
mesma tarefa ao longo da fase de aquisição. Antes
de iniciar a fase de prática, cada sujeito, sem restrição de tempo, realizou uma tentativa de cada
seqüência de movimentos para familiarização com o
equipamento e os procedimentos.
Foi fornecido feedback qualitativo em direção e magnitude para todos os sujeitos cinco segundos após o
final de cada tentativa válida durante a fase de aquisição. Se o sujeito realizou a tarefa exatamente no
tempo alvo foi dito: “você acertou”, se o sujeito
apresentou o erro absoluto até 100ms, foi dito:
“você está próximo”, se o erro absoluto foi entre 100
e 250ms foi dito, conforme o caso: “você está um
pouco atrasado” ou “você está um pouco adiantado”
e caso o erro absoluto tenha sido superior a 250ms
do tempo alvo, foi dito, de acordo com a direção
desse erro: “você está muito atrasado” ou “você está
muito adiantado”.
O teste de transferência (T1) foi realizado três minutos após a aquisição, no qual os sujeitos realizaram 12
tentativas de uma nova tarefa (C/A/B), com complex idade similar, em termos de números de componentes
envolvidos na execução, às tarefas da aquisição e no
mesmo tempo alvo, sem fornecimento de feedback.
O segundo teste de transferência (T2) foi realizado
três minutos após o término do primeiro, no qual os
sujeitos realizaram 12 tentativas de uma nova
seqüência (C/A/B/A), sem fornecimento de feedback, com um tempo alvo de 4.500ms e complexidade maior que as anteriores, pois possuía quatro componentes, consistindo no retorno da bola do recipiente A para sua posição original.
No teste de retenção da aquisição foram realizadas
12 tentativas das mesmas seqüências (A/B/C;
C/B/A; B/C/A) praticadas na fase de aquisição, com
o mesmo tempo alvo e sem o fornecimento de feed-
220
Rev Port Cien Desp 7(2) 217–224
back. Ressalta-se que, apesar das seqüências da fase
de retenção da aquisição serem as mesmas da fase
de aquisição, os grupos B-A e A-B realizaram a fase
de retenção da aquisição com um regime de prática
inverso ao que tinham praticado na aquisição (Tabela
1). Esse procedimento foi aplicado no sentido de
analisar a influência da especificidade da prática
durante o teste de retenção e a capacidade de adaptação de um regime de prática a outro(18).
Tabela 1. Regime de prática dos grupos experimentais
nas fases de aquisição e retenção da aquisição.
Grupos experimentais Ordem de execução das tarefas na fase
de aquisição e teste de retenção
Aquisição
Retenção
A-A
A-B
B-B
B-A
Aleatória
Aleatória
Blocos
Blocos
Aleatória
Blocos
Blocos
Aleatória
As variáveis dependentes analisadas nesse estudo
foram as médias do erro absoluto (ms) e as médias
do desvio-padrão do erro absoluto (ms).
Os dados da fase de aquisição foram organizados em
nove blocos de cinco tentativas cada. Os testes de
transferência e retenção da aquisição foram organizados em blocos com média de seis tentativas cada.
Isto se justifica pela escolha da execução de duas
tentativas de cada uma da seqüências de movimento,
tanto na estrutura de prática que foi aplicada na fase
de aquisição, como na estrutura de prática não
vivenciada na aquisição.
RESULTADOS
Erro Absoluto
Para a fase de aquisição (Figura 1), foi conduzida
uma ANOVA two-way (4 grupos x 9 blocos) com
medidas repetidas no segundo fator que não indicou
diferença significante entre grupos [F(3,44)=0,44,
p=0,72], assim como não indicou interação entre
grupos e blocos [F(24,352)=1,25, p=0,19]. Houve
diferença significante entre blocos [F(8,24)=24,08,
p<0,001] e o teste Post Hoc de Tukey registrou diferença entre o primeiro e os demais blocos de tentativas (p<0,001).
Efeito da interferência contextual em idosos
Para comparação entre o último bloco de tentativas
da fase de aquisição e os testes foi conduzida uma
ANOVA two-way (4 grupos x 7 blocos) com medidas repetidas no segundo fator que não indicou diferenças entre grupos [F(3,44)=1,05,p=0,38].
Observou-se diferença significante entre blocos
[F(6,18)=13,12,p<0,001] e o teste Post Hoc de
Tukey registrou as seguintes diferenças: o último
bloco de tentativas da fase de aquisição foi mais preciso que os primeiros blocos dos testes T1 e T2,
segundo bloco do teste T2 e que os dois blocos da
retenção (p<0,05); o primeiro bloco do T1 foi
menos preciso que o segundo bloco do T1, segundo
bloco do T2 e que os dois blocos da fase de retenção
(p<0,001); o primeiro bloco do T2 foi menos preciso que o segundo bloco do T2 e que os dois blocos
da retenção (p<0,001).
Foi também observada interação entre grupos e blocos [F(18,264)=1,68,p<0,05] e o teste Post Hoc de
Tukey registrou as seguintes diferenças: o grupo B-A
foi mais preciso no último bloco de tentativas da
fase de aquisição que em seu primeiro bloco do teste
de retenção (p<0,01); o grupo A-B foi mais preciso
que o grupo B-A no primeiro bloco do teste de
retenção (p<0,01); o primeiro bloco do T1 do grupo
B-B foi mais preciso que o seu segundo bloco
(p<0,05); o segundo bloco do T2 do grupo B-B foi
mais preciso que o seu primeiro bloco (p<0,01).
A-A
Erro Absoluto (ms)
A-B
800
B-B
700
B-A
600
500
400
300
200
100
0
1
2 3
4
5 6
7 8
9
T1 T1
T2 T2
Blocos de Tentativas
Figura 2. Erro absoluto dos grupos
experimentais nas fases de aquisição e testes.
R R
Desvio-padrão do erro absoluto
Para fase de aquisição (Figura 2), foi conduzida uma
ANOVA two-way (4 grupos x 9 blocos) com medidas repetidas no segundo fator que indicou diferença
significante entre grupos [F(3,44)=3,24,p<0,05] e o
teste Post Hoc de Tukey registrou maior variabilidade do grupo A-B sobre B-B (p<0,05). Observou-se
também diferença significante entre blocos
[F(8,24)=4,25,p<0,01] e o teste Post Hoc de Tukey
indicou maior variabilidade, com exceção do 4º bloco
de tentativas, do primeiro para os demais blocos
(p<0,01). Houve ainda interação entre grupos e blocos [F(24,352)=2,06,p<0,01] e o teste de Post Hoc
Tukey registrou as seguintes diferenças: maior variabilidade do grupo A-B sobre os grupos B-A
(p<0,001) e B-B (p<0,05) no terceiro bloco de tentativas; maior variabilidade do primeiro sobre o último bloco do grupo A-A (p<0,01); maior variabilidade do primeiro sobre o 2º, 3º, 5º, 6º, 8º e último
bloco do grupo B-B (p<0,01).
Para a comparação entre o último bloco de tentativas
da fase de aquisição e os testes foi conduzida uma
ANOVA two-way (4 grupos x 7 blocos) com medidas repetidas no segundo fator que não encontrou
diferença significante para grupos
[F(3,44)=1,57,p=0,209]. Entretanto, observou-se
diferença para blocos [F(6,18)=9,08,p<0,001] e o
teste Post Hoc de Tukey registrou as seguintes diferenças:o último bloco de tentativas da fase de aquisição apresentou menor variabilidade que os primeiros
blocos de tentativas dos testes T1 e T2 (p<0,01); o
primeiro bloco do T1 apresentou maior variabilidade
que o segundo bloco desse mesmo teste, primeiro e
segundo blocos do T2 e que os dois blocos da retenção (p<0,01); o segundo bloco do T1 apresentou
menor variabilidade que o primeiro bloco do T2
(p<0,01); o primeiro bloco do T2 foi mais variável
que o segundo bloco desse mesmo teste e que os
dois blocos da retenção (p<0,01).
Houve também interação entre grupos e blocos
[F(18,264)=2,12, p<0,01] e o teste Post Hoc de
Tukey indicou as seguintes diferenças: maior variabilidade do primeiro sobre o segundo bloco de tentativas no T1 do grupo A-A (p<0,001) e grupo B-B
(p<0,05); maior variabilidade do primeiro sobre o
segundo bloco do T2 no grupo B-B (p<0,001).
Rev Port Cien Desp 7(2) 217–224
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Wesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage, Alexandro B. da Silva, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda
Desvio Padrão do Erro Absoluto (ms)
A-A
A-B
500
B-B
450
B-A
400
350
300
250
200
150
100
50
0
1
2
3
4
5 6
7
8
9
T1 T1
T2 T2
R R
Blocos de Te ntativas
Figura 3. Desvio-padrão do erro absoluto nas fases de aquisição e testes.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
O objetivo do estudo foi verificar o efeito da interferência contextual na aprendizagem de uma tarefa de
posicionamento manual em idosos.
Os resultados mostraram que houve considerável
queda no erro absoluto e aumento na consistência
entre os grupos no decorrer da fase de aquisição,
confirmando a melhora no desempenho já observada
em outros estudos(6, 8, 9).
Em relação à variabilidade, os grupos apresentaram
consistência semelhante no último bloco de tentativas da fase de aquisição. Entretanto, na análise de
toda a fase de aquisição, o grupo A-B apresentou-se
mais variável que o grupo B-B. Assim como mostrou-se mais variável que os grupos que praticaram
em blocos, B-B e B-A, no terceiro bloco de tentativas, resultado que está de acordo com Del Rey(6) e
os pressupostos do EIC de forma geral.
Nos estudos que confirmam o EIC, o grupo de prática aleatória apresenta melhor desempenho nos testes, principalmente naqueles em que é exigida uma
maior complexidade da tarefa(3, 4, 6, 8, 18). No presente
estudo os grupos apresentaram desempenho semelhante durante os testes de transferência.
Em relação à igualdade de desempenho verificada
nos testes de transferência, vale ressaltar que houve
uma tendência entre os sujeitos, quando foi retirado
o feedback e apresentado novas tarefas, de focalizarem a atenção na correta execução da seqüência,
sacrificando a precisão temporal em prol da precisão
espacial. Segundo Larish e Stelmach(9) essa população tende a valorizar aspectos espaciais, como a cor-
222
Rev Port Cien Desp 7(2) 217–224
reta seqüência, em detrimento da precisão temporal
ou velocidade de execução. Logo, essa estratégia
pode ter contribuído para igualar os grupos durante
os testes de transferência.
A interpretação dos resultados dos testes de transferência, quando utilizados nos estudos, ainda não
está clara. Segundo Schmidt(13), os efeitos da manipulação da prática poderiam influenciar os aspectos
da aprendizagem tanto na retenção quanto na transferência. Magill e Hall(10) confirmam que quando os
efeitos do EIC são encontrados na retenção tendem
a aparecer também nos testes de transferência. Por
sua vez, Sekiya e Magill(15) confirmaram o EIC nos
testes de retenção e transferência, somente quando
houve manipulação de parâmetros. Eles afirmam que
seus resultados são limitados ao delineamento utilizado, pois a transferência carece de mais estudos e
pode depender do que está sendo variado na prática
e mensurado no estudo, como parâmetros ou programas. O presente estudo variou programas durante a prática e segundo Magill e Hall(10), o EIC tende
a ser confirmado quando se procede dessa maneira.
Entretanto, uma série de trabalhos tem contestado
essa afirmação, sugerindo que a variação de parâmetros seria a condição mais provável para verificar os
efeitos da interferência contextual(15, 16, 17, 19).
Mesmo assim, os resultados mostraram uma dificuldade de adaptação do grupo que praticou em blocos
durante a aquisição e foi exigido em um regime aleatório na fase de retenção, grupo B-A. Este grupo
apresentou uma queda no desempenho durante o
primeiro bloco da retenção, quando comparado com
seu último bloco de tentativas da fase de aquisição.
Observou-se também superioridade do grupo A-B
sobre o B-A no primeiro bloco do teste de retenção.
Esses resultados estão de acordo com o trabalho de
Shea e Morgan(18) e Carnahan, Vandervoort e
Swanson(4) e demonstram certa rigidez da estrutura
de prática em blocos para se adaptar a uma nova
condição de prática. No sentido contrário, observa-se
uma maior capacidade do grupo de prática aleatória
em se ajustar a uma nova condição de prática. Del
Rey(6), ao contrário do presente estudo, verificou na
fase de retenção uma menor precisão e consistência
do grupo que praticou de forma aleatória durante a
aquisição. Os resultados do teste de retenção contribuem para conclusão de um efeito parcial da interfe-
Efeito da interferência contextual em idosos
rência contextual e vai ao encontro de outros resultados observados na literatura(4, 11, 23).
Sob uma perspectiva de desenvolvimento, o EIC em
idosos não tem sido consistentemente investigado.
De forma geral, os poucos estudos realizados comprovaram parcialmente(4, 6, 8) os efeitos benéficos da
prática aleatória para essa população. A análise dos
resultados dos estudos encontrados na literatura e
os do presente estudo não apresenta evidências claras do EIC em idosos em todos os contextos de testes. Pode-se destacar os efeitos positivos da prática
aleatória em idosos em alguns aspectos dos testes de
retenção. Dele Rey(6) e Carnahan e colegas(4) encontraram um maior efeito de aprendizagem por parte
dos sujeitos do grupo de prática aleatória somente
nas tarefas que esses autores definiram como as
mais difíceis. Esses aspectos foram a velocidade do
estímulo(6) e a ordem espacial dos eventos(4). No
presente estudo, um fator que confirma parcialmente os efeitos da interferência contextual em idosos
em aspectos de maior exigência, foi a melhor adaptação do grupo A-B comparado ao B-A no 1º bloco da
retenção quando os mesmos praticaram as mesmas
habilidades exigidas na aquisição, porém em uma
outra estrutura de prática.
Resultados inconsistentes sobre o EIC vêm também
sendo encontrados quando os sujeitos analisados se
encontram em outros níveis de desenvolvimento. De
acordo com Ugrinowitsch e Manoel(22), estudos realizados com crianças tendem a não confirmar o EIC,
enquanto um maior número de confirmações é
encontrado em pesquisas com sujeitos adultos.
Esses resultados sugerem que muito por ser esclarecido em relação ao EIC e níveis de desenvolvimento.
Em suma, o presente estudo fornece subsídios para
se confirmar parcialmente o efeito da interferência
contextual em idosos, mostrando maior potencial de
adaptação a um novo regime de prática do grupo que
praticou de forma aleatória. Seria interessante a
investigação de outras questões envolvendo o EIC e
idosos, como distinção na aprendizagem de parâmetros e programas e complexidade da tarefa. Assim
sendo, novos estudos que investiguem o EIC com
idosos precisam ser realizados.
CORRESPONDÊNCIA
Wesley Rodrigo Gonçalves
Rua Monsenhor João Martins, 2144
Bairro Novo Progresso – Contagem / MG
32140-470 Brasil
e-mail: wesleyrgoncalves@hotmail.com
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Wesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage, Alexandro B. da Silva, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda
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Actividade física, equilíbrio e medo de cair.
Um estudo em idosos institucionalizados
Joana Carvalho
Joana Pinto
Jorge Mota
Centro de Investigação em Actividade Física,
Saúde e Lazer
Faculdade de Desporto
Universidade do Porto
Portugal
RESUMO
O objectivo deste trabalho foi determinar qual a relação entre o
medo de cair, o equilíbrio e a prática de actividade física em
idosos institucionalizados.
A amostra foi constituída por 56 idosos institucionalizados (65
e 95 anos) divididos em função do padrão de prática de actividade física e do sexo. O equilíbrio, o medo de cair e a ocorrência de quedas nos últimos 12 meses foram estudados como factores de risco para as quedas. Os resultados mostraram que: i)
não se verificaram diferenças estatisticamente significativas no
equilíbrio em função do sexo; ii) os idosos do sexo masculino
apresentaram menor medo de cair que os do sexo feminino; iii)
os praticantes de actividade física apresentaram maior equilíbrio e menor medo de cair do que os não praticantes; iv) verificou-se uma associação positiva entre o medo de cair e o equilíbrio, entre o medo de cair e a prática de actividade física e
entre o equilíbrio e a prática de actividade física. Conclui-se
que, em idosos institucionalizados, o sexo não influencia o
equilíbrio mas influencia negativamente o medo de cair e que a
ocorrência de quedas não parece ter grande impacto no medo
de cair. Os resultados deste trabalho sugerem ainda que a prática de actividade física está associada a um maior equilíbrio e a
um menor medo de cair.
ABSTRACT
Physical activity, balance and fear of falling.
A study with institutionalized older people
The aim of the present study was to investigate the relationship
between fear of falling, balance and physical activity in institutionalized older adults.
Fifty six subjects aged 65 or older living in nursing homes participated
in this study. Balance, fear of falling and the occurrence of falls during
the last 12 months were assessed as risk factors for falls. The results
showed: (i) no significant differences in balance according to gender;
(ii) men reported less fear of falling than women; (iii) active elderly
subjects showed significantly higher values of balance and less fear of
falling compared to non-participants peers; (iv) a positive association
was observed between fear of falling and balance, between fear of
falling and physical activity and between balance and physical activity.
We concluded that gender did not influence balance but negatively
affects fear of falling. Participation in physical activity programs seems
to be associated and to have positive effects on balance and fear of
falling.
Key-words: aging, falls, balance, fear of falling, physical activity
Palavras-chave: envelhecimento, quedas, equilíbrio, medo de
cair, actividade física.
Rev Port Cien Desp 7(2) 225–231
225
Joana Carvalho, Joana Pinto, Jorge Mota
INTRODUÇÃO
A população idosa é, actualmente, uma realidade
demográfica cada vez mais significativa na população
mundial. Por exemplo, em Portugal, entre 1960 e
2001, o fenómeno do envelhecimento demográfico
traduziu-se por um incremento de 140% da população idosa com decréscimo de cerca de 36% na população jovem(12).
O número de idosos institucionalizados tem vindo a
aumentar, quer em lares, centros de dia ou casas de
repouso. Em Portugal, cerca de 33% dos utentes
ligados a estabelecimentos de segurança social, são
idosos, nomeadamente 12% em lares, 11% em apoio
domiciliário e 10% em centros de dia(12).
Viver na comunidade ou em instituições são duas
condições de vida distintas geralmente associadas a
diferenças nos índices de actividade física e níveis de
incapacidade(10). Apesar de, muitas vezes, os idosos
serem institucionalizados ainda com um nível de
autonomia bastante elevado, a habitual desobrigação
da realização de várias das tarefas do dia a dia neste
contexto, contribui para o aumento da inactividade,
para a redução da aptidão física e consequentemente, para o aumento do risco de quedas, da morbilidade e mortalidade(10).
As quedas são um dos mais sérios problemas associados com a idade e um dos maiores problemas de
Saúde Pública(3, 13). Vários trabalhos mostram que
40 a 60 % dos indivíduos acima dos 65 anos já experimentaram pelo menos uma queda, sendo esta mais
frequente nos utentes de lares e nas mulheres (23).
São vários os factores relacionados com a maior susceptibilidade de ocorrência de quedas e consequentes fracturas, facilitadas pela desmineralização óssea
comum neste escalão etário(3, 6). Entre outros, a
diminuição do equilíbrio e o medo de cair são aspectos determinantes em todo este quadro(3). Estudos
como os de Tinetti et al.(29) e MacAuley et al.(16)
referem o medo de cair como um factor psicológico
presente em 50% das pessoas idosas reportando
uma experiência prévia de queda.
As alterações do equilíbrio e o medo de cair afectam
a auto-confiança, repercutindo-se negativamente na
quantidade de actividade física diária, nos níveis de
aptidão física e no envolvimento das actividades da
vida diária (AVD), factos estes que por sua vez contribuem para o isolamento social e aumento da
226
Rev Port Cien Desp 7(2) 225–231
dependência de outrem(14, 27, 3). Assim, parece existir
um ciclo vicioso negativo entre a inactividade, o
fraco equilíbrio, o medo de cair e a maior probabilidade de ocorrência de quedas(3).
A prática de actividade física regular tem sido referida como uma importante e eficaz estratégia de prevenção das quedas(15) ao promover o aumento dos
níveis de aptidão física e de auto-confiança na realização de tarefas do dia a dia, particularmente nos
idosos com maior grau de incapacidade(4).
Tomando em consideração o atrás exposto, o objectivo deste estudo consistiu em determinar qual a relação entre o medo de cair, o equilíbrio e a prática de
actividade física em idosos institucionalizados. Para
além disso, este trabalho procurou analisar a
influência das variáveis sexo e prática de actividade
física regular sobre o equilíbrio e o medo de cair. Por
fim, pretendeu-se observar de que forma é que a história de quedas nos últimos doze meses influenciam
o medo de cair.
MATERIAL E MÉTODOS
Amostra
Participaram voluntariamente 58 voluntários residentes em 2 lares da região de Guimarães. A presença de patologias crónicas e o uso de medicamentos
foram obtidos através de informação reportada pelos
sujeitos da amostra e pelo médico assistente do
corpo clínico das instituições a que pertenciam,
mediante autorização prévia dos idosos.
Pelas próprias características dos sujeitos, a amostra
inicial foi alterada de forma a serem controladas
todas as variáveis que poderiam influenciar nos
resultados finais. Assim, foram excluídos 2 indivíduos, um por apresentar problemas de visão e outro
pelo facto de se encontrar sob efeito farmacológico
de anti-depressivos.
Assim, a amostra final passou a ser constituída por
56 indivíduos com idades compreendidas entre os 65
e os 95 anos (idade média=77.5±7.8 anos), dos
quais 32 do sexo feminino e 24 do sexo masculino.
A avaliação da prática regular de actividade física
estruturada (no período de 12 meses prévios ao inicio do presente estudo) para posterior classificação e
alocação dos idosos em grupos, foi efectuada através
de um questionário que incluiu questões referentes
ao tipo de atividade física praticada, a freqüência
Actividade física e quedas em idosos
semanal de tal prática e a duração das sessões de
treinamento. Consideraram-se praticantes os indivíduos que participavam regularmente em, pelo
menos, sessões bissemanais de actividade física
estruturada, com uma duração de pelo menos 50
minutos e dirigidas para várias componentes de aptidão física (treino de resistência aeróbia, força muscular, equilíbrio, flexibilidade e coordenação).
Os idosos foram assim subdivididos em dois grupos
em função dos hábitos de prática actividade física
regular: P - praticantes de actividade física envolvendo 28 sujeitos com idades compreendidas entre os
65 e os 92 anos (idade média=77.1±7.2 anos), dos
quais 16 mulheres e 12 homens e NP - não praticantes de actividade física compreendendo 28 indivíduos com idades compreendidas entre os 65 e os 95
anos (idade média=79.4±8.1 anos), dos quais 16
mulheres e 12 homens.
Através do questionário determinou-se, também, a
ocorrência de quedas no período de doze meses
anteriores ao estudo.
Foram considerados os aspectos éticos referidos na
Declaração de Helsínquia (1986) da Associação
Médica Mundial, incluindo a adequada informação
dos participantes em relação ao estudo, a manutenção da sua confidencialidade e anonimato através da
codificação dos participantes, assim como, a obtenção do seu consentimento informado escrito antes
de se efectuar a recolha de dados.
Avaliação do medo de cair
Para avaliar o medo de cair utilizou-se a versão portuguesa da Falls Efficacy Scale (FES). Este instrumento foi desenvolvido para medir o medo de cair por
Tinetti et al.(29), tendo sido validado para a população portuguesa por Melo(17). É baseado na definição
operacional de medo como “percepção de diminuta
auto-confiança para evitar quedas durante tarefas
essenciais, potencialmente não lesivas”(29). Esta
escala mede o medo de cair, perguntando-se ao individuo qual o grau de confiança que tem na realização
de determinadas tarefas sem cair ou perder o equilíbrio. É constituída por um questionário com 10 tarefas (vestir e despir; preparar uma refeição ligeira;
tomar um banho ou duche; sentar/levantar da cadeira; deitar/levantar da cama; atender a porta ou o
telefone; chegar aos armários; trabalho doméstico
ligeiro; fazer pequenas compras) que são avaliadas
numa escala de 10 pontos, onde o zero (0) representa nenhuma confiança e o 10 muito confiante.
Assim, após somatório dos valores, aqueles mais
baixos significam pouca confiança ou maior medo de
cair, e aqueles mais altos significam muita confiança
ou menor medo de cair.
Avaliação do equilíbrio
Para a avaliação do equilíbrio utilizou-se a versão
portuguesa da Performance-Oriented Mobility Assessment
(POMA I). Este instrumento foi desenvolvido por
Tinetti(28) e validado para a população portuguesa
por Petiz(21). Estima a predisposição para quedas em
idosos institucionalizados através da avaliação quantitativa de um conjunto de tarefas relacionadas com
a mobilidade e o equilíbrio.
Está dividido em duas partes que totalizam 28 pontos onde quanto mais alto o valor melhor o equilíbrio. A primeira parte diz respeito à avaliação do
equilíbrio estático, com 9 itens, dos quais dois são
pontuáveis de 0 a 1 e sete de 0 a 2, permitindo um
máximo de 16 pontos. A segunda parte avalia o
equilíbrio dinâmico e envolve 10 itens dos quais oito
são pontuáveis de 0 a 1 e dois de 0 a 2 num total de
12 pontos.
De acordo com Petiz(21), a versão portuguesa da
POMA I apresenta elevada homogeneidade de conteúdo (&=0,97) e fiabilidade após teste-reteste (r de
Pearson=0,96). A validade de critério deste teste de
equilíbrio foi, também, estudada, tendo sido utilizados, para o efeito, o functional reach test e o timed up
and go test, para o equilíbrio estático e dinâmico, respectivamente(21). A autora descreveu elevadas correlações entre os testes anteriormente referidos, comprovando a validade de critério, quer da sub-escala
de equilíbrio estático (r=0,78), quer do equilíbrio
dinâmico (r=0,89).
Procedimentos estatísticos
A descrição das variáveis em estudo foi efectuada a
partir das medidas descritivas média e desviopadrão.
Procedeu-se a uma análise exploratória dos dados
(Shapiro-Wilk) com o objectivo de averiguar a normalidade da distribuição correspondente a cada uma
das variáveis em estudo, assim como a presença de
Rev Port Cien Desp 7(2) 225–231
227
Joana Carvalho, Joana Pinto, Jorge Mota
“outliers”. A análise das diferenças entre os grupos
foi efectuada a partir do t-teste de medidas independentes e do teste Mann-Whitney. De forma a averiguar o grau de correlação existente entre as variáveis
medo de cair, equilíbrio e prática de actividade física
utilizamos o coeficiente de correlação de Spearman.
Foi seleccionado um nível de significância de 5%.
RESULTADOS
Influência do sexo no equilíbrio e medo de cair
O quadro 1 representa os valores relativos ao teste
de equilíbrio (POMA) e ao medo de cair (FES) de
acordo com a variável sexo.
Quadro 1. Valores médios do equilíbrio e medo de cair
em função do sexo (média± desvio padrão).
Sexo
Homens
Mulheres
Equilíbrio
Medo de cair
23.5±4.15
20.94±6.54
68,79±15,99*
51,72±23,18
Relação entre o medo de cair, equilíbrio e prática de
actividade física
O quadro 3 representa a matriz de correlação das
diferentes variáveis analisadas.
Quadro 3. Matriz de correlação entre o equilíbrio,
o medo de cair e a prática de actividade física.
Medo de cair
Medo de cair
Equilíbrio
Actividade Física
Equilíbrio Actividade física
1
0.76**
0.47**
0.76**
1
0.67**
0.47**
0.67**
1
**p<0.01
Influência da actividade física no equilíbrio
e medo de cair
No quadro 2 podemos visualizar a comparação entre
idosos praticantes e não praticantes de actividade
física relativamente ao equilíbrio e medo de cair.
Verifica-se uma associação positiva e estatisticamente significativa (r=0.76; p<0.01) entre as variáveis
medo de cair (pontuação da FES) e equilíbrio (pontuação do POMA). É possível verificar que um
aumento ao nível da pontuação da FES, que indicia
um menor medo de cair, é, tendencialmente, acompanhado por um maior equilíbrio. Constata-se a
existência de uma associação positiva e estatisticamente significativa (r=0.47; p<0.01), entre as variáveis medo de cair e prática de actividade física.
Existe, igualmente, uma associação positiva e estatisticamente significativa (r=0.67; p<0.01) entre as
variáveis equilíbrio e a prática de actividade física.
O quadro 4 apresenta os resultados obtidos na FES,
relativos ao medo de cair, em função da história de
quedas anteriores (últimos 12 meses).
Quadro 2. Valores médios do equilíbrio e medo de cair
em função da prática de actividade física (média± desvio padrão).
Quadro 4. Medo de cair em função da
história de quedas (média± desvio padrão).
*Homens vs. Mulheres (p<0.05)
Podemos constatar que não foram encontradas diferenças com significado estatístico entre homens e
mulheres no equilíbrio (Mann-Whitney U=303.50,
p=0.18), apresentando, no entanto, os homens pontuações médias na FES significativamente superiores
comparativamente com as mulheres (Mann-Whitney
U=225, p=0.01), sugerindo que estas apresentam
um maior medo de cair.
Equilíbrio
Medo de cair
Praticantes
Não praticantes
Ocorrência de quedas
n
Medo de cair
25.68 ± 2.78
69.14 ±16.45
18.39 ± 5.65
48.93 ± 22.37
Sim
Não
21
35
49.33±22.87
64.86±19.49
A análise do quadro anterior mostra que os valores
médios do POMA e FES dos praticantes de actividade física são significativamente superiores aos dos
228
não praticantes (t(39.34)=-6.13, p<0.001 e t(54)=3.85, p<0.001, respectivamente), sugerindo que os
idosos que praticam actividade física têm maior
equilíbrio e menor medo de cair comparativamente
aos não praticantes.
Rev Port Cien Desp 7(2) 225–231
Podemos constatar que não foram encontradas diferenças com significado estatístico no medo de cair
em função da história de quedas recentes.
Actividade física e quedas em idosos
DISCUSSÃO
Um dos objectivos deste trabalho foi identificar o
efeito da variável género sobre o equilíbrio e medo
de cair em sujeitos idosos institucionalizados como
factor importante para o risco de quedas. Os resultados deste estudo mostraram não existirem diferenças entre homens e mulheres na capacidade de equilíbrio. Embora a maioria dos estudos descreva a
existência de diferenças no equilíbrio entre homens
e mulheres, a ausência de diferenças observadas no
presente estudo têm também sido descritas por
outros autores. Por exemplo, Hageman et al.(9) não
relataram nenhuma diferença entre homens e
mulheres idosos (60-75 anos) nas medidas de controlo postural observadas, quer mediante a utilização
de uma plataforma de forças, quer no teste de “functional reach”. Mais recentemente, Musselman e
Brouwer(19) também não encontraram diferenças
entre géneros nos limites de estabilidade. Contudo,
a comparação destes resultados com estudos anteriores é, de certo modo, limitada dadas as diferenças
nas metodologias, amostra e protocolos utilizados.
Os estudos que reportam diferenças entre homens e
mulheres na capacidade de equilíbrio justificam os
seus resultados, quer em factores músculo-esqueléticos nomeadamente ao nível dos membros inferiores(5), quer nos diferentes padrões de actividade física(32). Assim, e considerando que os idosos da nossa
amostra são institucionalizados, onde as diferenças
nos índices de actividade física em função do género
não são tão evidentes, este facto poderá justificar os
nossos resultados. De facto, nenhum dos estudos
que refere o maior equilíbrio dos homens foi efectuado em idosos institucionalizados ao contrário da
presente investigação.
No que respeita ao medo de cair, os resultados do
nosso estudo estão de acordo com diferentes trabalhos que referem que as mulheres idosas apresentam
mais medo de cair do que os homens idosos(14, 25).
Autores como Tinetti et al.(30) e McAuley et al.(16)
sugerem que o menor medo de cair nos indivíduos
do sexo masculino comparativamente aos do sexo
feminino, poderá estar relacionado com o facto de os
homens não reconhecerem esse medo, evitando um
potencial estigma. De facto, a quantificação do medo
de cair, através da escala FES, depende da resposta
dos indivíduos em estudo a uma série de questões e,
consequentemente, os resultados poderão ser manipulados por estes, no caso de não responderem com
sinceridade às perguntas que lhes são colocadas.
Para além destes factores, alguns estudos justificam
o facto de as mulheres apresentarem um maior
medo de cair dado o seu maior declínio na funcionalidade do sistema muscular esquelético comparativamente aos homens(18, 14).
Outro dos objectivos do presente estudo está relacionado com a influência da actividade física formal
sobre o equilíbrio e o medo de cair dos idosos institucionalizados. Os nossos resultados sugerem que
os idosos que praticam actividade física apresentam
melhores resultados no POMA, ou seja, melhor
mobilidade e equilíbrio, quando comparados com
aqueles que não praticam actividade física. Este facto
está de acordo com a literatura, onde a maioria dos
estudos sugere que a prática de actividade física
regular é eficaz no aumento de equilíbrio(20, 1, 7) e
que, pelo contrário, um estilo de vida sedentário
associado com o envelhecimento leva à sua consequente diminuição(24). Isto significa que, as estratégias que induzam melhorias a este nível são fundamentais para a prevenção de quedas. O equilíbrio é,
então, uma capacidade que deverá ser desenvolvida
nestes escalões etários mais velhos, particularmente
naqueles mais inactivos e mais incapacitados como é
o caso da maioria dos idosos institucionalizados(10).
No que diz respeito ao medo de cair, e em concordância com estudos anteriores(16, 26, 2, 22) observamos
no presente estudo que os indivíduos praticantes de
actividade física apresentavam valores mais altos da
FES, isto é, menor medo de cair comparativamente
com aqueles que não praticavam actividade física.
Recentemente, Schoenfelder e Rubenstein(22) verificaram que um programa de exercícios com duração de
três meses induziu melhorias significativas no equilíbrio e na diminuição do medo de cair avaliada, tal
como no presente estudo, através da escala da FES.
Taggart(26) obteve resultados semelhantes, tendo
demonstrado o efeito benéfico observado pelo
aumento do equilíbrio e uma diminuição do medo de
cair que um programa de actividade física baseado no
Tai Chi teve em mulheres idosas institucionalizadas.
O medo de cair é comum entre os idosos, particularmente entre os idosos institucionalizados, sendo considerado como um factor de risco independente para
Rev Port Cien Desp 7(2) 225–231
229
Joana Carvalho, Joana Pinto, Jorge Mota
a redução da mobilidade e da qualidade de vida(2, 8).
Neste sentido, o medo da queda é uma barreira psicológica importante que necessita de ser vencida de
forma a favorecer estilos de vida mais activos.
No presente trabalho foi possível verificar a existência de uma associação positiva e significativa entre a
pontuação da FES, que indicia um menor medo de
cair, com um maior equilíbrio.
Suzuki et al.(25) verificaram que ter muito medo de
cair estava fortemente associado não apenas com
uma diminuição do equilíbrio mas igualmente com a
redução da mobilidade, da actividade física e com o
aumento de quedas.
De igual modo, Brouwer et al.(2) sugerem que indivíduos que apresentam reduzidos níveis de equilíbrio
apresentam uma elevada preocupação com a ocorrência de quedas e pouca confiança no seu próprio
equilíbrio, limitando, por consequência, as suas actividades. Ou seja, existe um ciclo vicioso onde a inactividade acentua a perda funcional determinante na
manutenção do equilíbrio postural e, por seu lado,
esta perda de equilíbrio e o medo de cair restringem
a actividade quotidiana do idoso(2).
A actividade física, pelo contrário, ao influenciar
positivamente capacidades como a força muscular e
o equilíbrio e reduzir o medo de cair poderá ajudar a
“quebrar” este ciclo, devolvendo a funcionalidade, a
autonomia e a qualidade de vida aos idosos(15).
Por fim no nosso estudo não foram encontradas diferenças com significado estatístico no medo de cair
entre idosos com e sem história de quedas recentes
(12 meses). Tinetti e Williams(31) relatam uma prevalência do medo de cair em cerca de 50- 60% dos
idosos com história de queda recente e 20-46%
naqueles que não tem história de queda. Em oposição ao nosso estudo, diversos estudos retrospectivos
demonstram que, após ocorrências de uma queda, se
desenvolve um maior medo de cair(11, 14). Todavia,
escasseiam estudos prospectivos que determinem
com clareza qual o risco de ocorrência de quedas em
idosos que apresentem medo de cair.
Os resultados deste estudo sugerem que: i) apesar
dos homens apresentarem menor medo de cair, não
existem diferenças na capacidade de equilíbrio entre
homens e mulheres; ii) a prática de actividade física
está associada a um maior equilíbrio e menor medo
de cair; iii) a história de quedas recentes não
230
Rev Port Cien Desp 7(2) 225–231
influência sobremaneira o medo de cair de idosos
institucionalizados.
O presente estudo reforça a importância da prática
de actividade física como uma estratégia preventiva
para a menor ocorrência de quedas, uma vez que
parece influenciar positivamente o equilíbrio e o
medo de cair em idosos institucionalizados.
CORRESPONDÊNCIA
Joana Carvalho
Faculdade de Desporto
Universidade do Porto
Rua Plácido Costa, 91
4200 Porto, Portugal
Telefone: 351-22-5074785
Fax: 351-22-5500689
e-mail: jcarvalho@fade.up.pt
Actividade física e quedas em idosos
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231
Situações de estresse no vôlei de praia de alto rendimento:
um estudo de caso com uma dupla olímpica
Joice Stefanello
Departamento de Educação Física
Universidade Federal do Paraná
Brasil
RESUMO
O estresse competitivo é um dos factores psicológicos mais
determinantes para o desempenho esportivo no alto rendimento, pois, neste contexto, os atletas são submetidos às mais
diversas pressões competitivas. Este estudo, realizado com uma
dupla masculina do vôlei de praia brasileiro, primeira colocada
no ranking nacional/internacional da modalidade (2003), pretendeu analisar as situações geradoras de estresse aos atletas
nas etapas do circuito mundial 2004 que antecederam sua participação nos Jogos Olímpicos de Atenas, como os atletas
vivenciaram o estresse competitivo e que técnicas de controle
do estresse utilizaram. Para a coleta de dados, usou-se um segmento específico do instrumento de feedback de execução
(adaptado de Ravizza, 1991), onde os atletas registravam as
situações estressantes de cada partida, o modo como vivenciavam o estresse e as técnicas de controle empregadas. Os resultados demonstraram que os fatores situacionais foram os mais
determinantes e, dentre estes, os aspectos relacionados ao jogo
foram os fatores específicos mais influentes, tendo na facilidade/dificuldade da partida a principal fonte de estresse para os
atletas. Os pensamentos e as emoções/sensações corporais corresponderam ao principal modo como o estresse foi vivenciado;
e as técnicas cognitivas (auto-informe, concentração, imaginação), as mais empregadas pelos atletas.
ABSTRACT
Situations of stress in high performance beach volley:
a case study with an olympic pair
Palavras-chave: estresse competitivo, vôlei de praia, alto rendimento
232
Rev Port Cien Desp 7(2) 232–244
Competitive stress is one of the most determining psychological factors
to high performance sport, for, in that context, the athletes face all
kinds of competitive pressure. This research, done with a brasilian
beach volley Olympic pair, first on the national/international ranking
(2003), intends to analyse the stress-generator situations for athletes
in the 2004 World Tour, which preceded their participation on the
Athens Olympic Games, how the athletes lived competitive stress and
what stress-controlling techniques they used. The data were collected
with a specific performance feedback instrument (adapted from
Ravizza, 1991), in which the athletes registered their every-game
stressing situations, how they lived them and the controlling techniques
used. Results show that situational elements were the most determinating and, among them, the game-related aspects were the most influent
specific factors, being the difficulty/easyness of the match the main
source of stress for the athletes. Thoughts and body emotions/sensations
correspond to the main way through which athletes face stress; the cognitive techniques (self-information, concentration, imagination), the
most used by the athletes.
Key-words: competitive stress, beach volley, high performance
Situações de estresse no vôlei de praia
INTRODUÇÃO
O estresse competitivo tem sido considerado um dos
factores psicológicos mais determinantes para o
desempenho esportivo, especialmente no alto rendimento. Nesse contexto, os atletas são, frequentemente, submetidos aos mais diversos tipos de pressão
competitiva, tendo de superar limites de forma vigorosa e manter a efectividade e a regularidade do seu
desempenho diante dos mais elevados níveis de ex igências físicas, técnicas, tácticas e psicológicas(8, 32, 36).
Os diferentes tipos de pressão que o atleta sofre
durante a competição podem gerar altos níveis de
estresse, transformando-se em factores negativos e
redutores do desempenho. Níveis elevados de estresse, em geral, aumentam a tensão muscular e criam
déficits de atenção. Uma tensão muscular excessiva
reduz a flexibilidade, a coordenação motora e a eficiência muscular, impedindo que os atletas adoptem
rápidos comportamentos e padrões motores para
evitar situações perigosas ou agir de maneira apropriada a um bom rendimento. Os déficits de atenção
causam redução da capacidade de atenção, dúvidas
acerca da capacidade pessoal, maior vulnerabilidade
ou predisposição para a distracção e maior atenção a
aspectos irrelevantes à tarefa(5, 17, 19, 25, 34).
A competição esportiva, contudo, nem sempre representa uma fonte de estresse para o atleta. A experiência prática e a pesquisa empírica têm demonstrado
que para alguns atletas a competição esportiva pode
representar uma forte ameaça ao seu bem estar físico,
psicológico e social e, para outros, pode ter um carácter desafiador e motivador. Compreende-se, assim,
que o estresse pode ser gerado por situações directa
ou indirectamente relacionadas a elas ou por situações inerentes ao processo competitivo, dependendo
do próprio indivíduo e/ou do meio ambiente (10, 32, 33).
Uma situação de estresse, portanto, só irá se manifestar quando houver um desequilíbrio entre a condição
da acção individual e a condição situacional; isto é,
quando ocorrer uma discrepância entre as capacidades
da pessoa e as exigências da situação, ou entre as suas
necessidades e as possibilidades de satisfazê-las, com
importantes consequências para o indivíduo(35, 36).
As respostas dos atletas para os eventos competitivos parecem, pois, depender da avaliação da demanda e da qualidade de recursos que o indivíduo dispõe
para lidar com cada situação. Assim, da mesma
forma que situações já vivenciadas poderão influenciar as respostas dos atletas, novos conhecimentos e
experiências poderão fazer com que o atleta desenvolva um sistema integrado de estruturas e conteúdos que irão interferir na sua análise. Por outro lado,
as características e especificidades da modalidade
esportiva também exercem um importante papel na
compreensão do estresse competitivo, pois quando
as características da modalidade são aliadas à pressão da competição, as situações geradoras de estresse para o atleta poderão assumir uma proporção
ainda maior(8, 9, 27).
Nessa perspectiva, a compreensão do estresse competitivo num contexto específico torna-se fundamental para que o atleta aprenda a manter o controle e o
estado de fluidez e equilíbrio necessários para ser
bem sucedido. O conhecimento das situações geradoras de estresse e do modo como os atletas vivenciam essas situações em diferentes contextos são
partes importantes do processo de tomada de consciência, considerado um elemento crítico para que o
atleta obtenha o necessário autocontrole para actuar
num alto nível de rendimento(34). A tomada de consciência, além de permitir que o atleta reconheça seus
pontos fortes e frágeis para potencializar suas capacidades e corrigir seus déficits, permite que o atleta se
prepare mentalmente para a competição e desenvolva estratégias apropriadas para fazer frente àquelas
situações que podem afectar negativamente a sua
actuação esportiva.
Contudo, apesar de o vôlei de praia de alto rendimento ser um esporte extremamente dinâmico, no
qual o atleta precisa desenvolver e colocar à prova
um repertório de padrões e estratégias adequados aos
mais elevados níveis de exigências competitivas,
ainda há uma grande carência de investigações acerca
das variáveis que predispõem atletas dessa modalidade a experimentarem uma maior ou menor percepção
de ameaça na competição e, consequentemente,
maior ou menor estresse, embora muitas investigações tenham examinado a natureza e a intensidade
das respostas de estresse durante a competição em
diferentes modalidades esportivas(7, 17, 23, 28, 41).
Assim, baseado no trabalho de suporte psicológico
desenvolvido com uma dupla masculina de atletas
profissionais do vôlei de praia brasileiro, este estudo
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Joice Stefanello
procurou analisar as situações geradoras de estresse
para os atletas nas etapas do circuito mundial que
antecederam a sua participação nos Jogos Olímpicos
de 2004, como os atletas vivenciaram o estresse competitivo nessas situações e quais as técnicas mais eficientes de controle do estresse utilizadas pela dupla
para eliminar ou minimizar os efeitos das situações
estressantes sobre seu rendimento esportivo.
Cuidados éticos
Inicialmente, atletas e comissão técnica foram informados a respeito do trabalho a ser realizado (aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa de uma
Universidade Federal) e das formas de divulgação
dos resultados. Foi assegurado aos atletas que poderiam afastar-se do estudo no momento em que desejassem, obtendo-se, assim, o consentimento, a adesão e o comprometimento do grupo para o trabalho
pretendido.
mento psicológico (fase de prática), os atletas deveriam reconhecer seus pontos fortes e frágeis frente
às diversas situações de pressão competitiva, procurando integrar, em situações competitivas reais e de
forma sistemática na sua actuação esportiva, as competências psicológicas treinadas na fase anterior
(fase de aquisição de técnicas e estratégias psicológicas), a fim de potencializar suas capacidades (pontos
fortes) e corrigir seus déficits (pontos fracos), de
modo a obter o necessário autocontrole para actuar
no seu mais alto nível de rendimento.
O treinamento psicológico envolveu várias competências psicológicas, porém apenas os aspectos relacionados ao estresse competitivo foram abordados no
presente estudo. Dessa forma, um segmento específico do instrumento feedback de execução, adaptado de
Ravizza(34), destinado à avaliação do estresse competitivo em situações competitivas reais, foi empregado.
O instrumento feedback de execução (modelo completo em anexo) é uma técnica que auxilia o atleta a
reconhecer as situações que tendem a afectar negativamente o seu rendimento, aumentando a sua conscientização acerca da sua própria actuação e permitindo-lhe desenvolver estratégias de confronto para
enfrentá-las apropriadamente. No segmento específico do feedback de execução utilizado no presente estudo, os atletas deveriam registrar as situações geradoras de estresse em cada partida, o modo como vivenciavam o estresse (pensamentos, ações e/ou sensações) e as técnicas e/ou estratégias psicológicas utilizadas para manter ou recuperar o autocontrole diante
dos diferentes agentes estressantes. O preenchimento
da ficha era feito por escrito pelos próprios atletas 30
minutos após o encerramento de cada partida, para
que pudessem reflectir sobre os acontecimentos do
jogo e sobre a sua actuação.
Coleta de dados
É importante ressaltar que o período referente à
colecta dos dados tratados especificamente neste
estudo (Maio a Agosto) correspondeu, apenas, a
uma das fases do programa de treinamento de competências psicológicas, contemplando seis etapas do
circuito mundial que antecederam os Jogos
Olímpicos de 2004 (etapas da China, Sérvia e
Montenegro, Portugal, Suíça, Alemanha e Noruega),
totalizando 26 jogos. Durante essa fase do treina-
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
De acordo com os objectivos propostos, serão apresentados, primeiramente, os resultados referentes às
situações consideradas pelos atletas como geradoras
de estresse; em seguida, os dados relativos ao modo
como os atletas experimentaram as situações estressantes (pensamentos, acções e/ou sensações) e, por
fim, as técnicas psicológicas utilizadas pelos atletas
para eliminar ou minimizar os efeitos dos factores
estressantes sobre seu rendimento esportivo.
METODOLOGIA
Participantes do estudo
Este estudo de caso descritivo foi realizado com uma
dupla masculina de atletas profissionais do vôlei de
praia, primeira colocada no ranking nacional (campeã do circuito brasileiro) e internacional (campeã
do circuito mundial e campeã mundial) em 2003,
tendo por base o trabalho de suporte psicológico
desenvolvido, por cerca de dois anos, durante a sua
preparação para as Olimpíadas de Atenas (2004). As
idades dos atletas eram de 29 e 31 anos (Atletas A e
B, respectivamente) e ambos já haviam participado
de olimpíadas anteriores: em 1996 (Atleta B) e 2000
(Atletas A e B). Importante ressaltar que não são
conhecidos dados de atletas de alto rendimento
nessa modalidade.
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Situações de estresse no vôlei de praia
Os dados de cada atleta foram analisados, individualmente, de acordo com os procedimentos propostos
por Giglione e Matalon(11) para a análise de conteúdo. Dessa forma, inicialmente, os indicadores referidos pelos atletas em cada jogo (situações geradoras
de estresse, modo como o estresse foi experimentado e estratégias utilizadas) foram listados tal como
expressos pelos atletas, sem excluir ou agrupar qualquer item. Em seguida, considerando os 26 jogos
disputados pela dupla, juntaram-se num único indicador os itens referidos pelos atletas que apresentavam significados comuns (proposições idênticas ou
com o mesmo complemento), obtendo-se, assim, o
percentual com que cada indicador foi apontado
pelos atletas nos 26 jogos analisados. Todos esses
indicadores foram, posteriormente, analisados e discutidos conjuntamente com os atletas (uma vez que
faziam parte do trabalho de suporte psicológico
desenvolvido com a dupla), assegurando-se, assim, a
sua confiabilidade.
Situações causadoras de estresse
Tomando por base o estudo desenvolvido por De
Rose Junior, Deschamps e Ko r s a kas com atletas
profissionais de basquetebol(8), as situações consideradas pelos atletas do vôlei de praia como geradoras de estresse que apresentavam características
similares foram agrupadas em fontes específicas de
estresse (lesões, competência, conduta dos adversários, facilidade/dificuldade da partida, arbitragem,
torcida, condições climáticas, equipe, organização
dos jogos), que, por sua vez, foram classificadas em
factores específicos de estresse (aspectos físicos,
estados psicológicos, jogo, planejamento/organização), que, quando novamente agrupados em função
da sua origem e/ou características, foram categorizados em factores gerais de estresse (individuais e
situacionais).
Os Quadros 1 e 2 mostram as situações, as fontes e
os factores (específicos e gerais) de estresse vivenciados pelos Atletas A e B, respectivamente.
Quadro 1. Situações, fontes e factores (específicos e gerais) de estresse vivenciados pelo Atleta A
Fatores
Situacionais
(61,3%)
O percentual apresentado entre parêntese no Quadro 1 corresponde ao número de jogos em que cada situação, fonte
e factores (específicos e gerais) de estresse foram vivenciados pelo atleta A, considerando os 26 jogos disputados.
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Joice Stefanello
Quadro 2. Situações, fontes e factores (específicos e gerais) de estresse vivenciados pelo Atleta B
O percentual apresentado entre parêntese no Quadro 2 corresponde ao número de jogos em que cada situação,
fonte e factores (específicos e gerais) de estresse foram vivenciados pelo atleta B, considerando os 26 jogos disputados.
Conforme indicam os Quadros 1 e 2, os factores
situacionais predominaram em relação aos individuais. Os factores situacionais, referindo-se aos
aspectos objectivos do evento, estão relacionados
com a natureza imediata da situação estressante e
ocorrem a partir de situações que são comuns ao
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Rev Port Cien Desp 7(2) 232–244
contexto competitivo. Os factores pessoais ou individuais, voltados às tentativas individuais de resolução
de um problema, dependem quase exclusivamente
do indivíduo(8). Apesar de representarem situações
diferenciadas, vale ressaltar que ambos os factores
estão intimamente relacionados, isto é, a avaliação
Situações de estresse no vôlei de praia
situacional está relacionada com a selecção individual de respostas para um dado problema(24).
Dessa forma, o presente estudo dá ênfase aos processos de avaliação cognitiva, que, de acordo com
alguns estudiosos(5, 14, 38), assumem o papel de
mediador entre as circunstâncias ambientais enfrentadas, os objectivos e as crenças pessoais dos atletas
e sua resposta emocional, sendo considerados o primeiro estágio no processo de resolução de um problema. De acordo com essa perspectiva teórica, o
estresse competitivo depende da avaliação que o
atleta faz das exigências, dos recursos que julga dispor para lidar com essas exigências, da avaliação das
conseqüências se essas exigências não forem correspondidas e do significado que as possíveis consequências terão para ele(14). Assim, tal como se poderá perceber nos dados analisados a seguir, a avaliação de uma circunstância como ameaçadora, parecem não depender apenas do perigo objectivo inerente a cada situação, mas também das características individuais da pessoa, das suas experiências passadas e da sua própria capacidade de controle.
Fatores competitivos situacionais
O jogo foi o principal factor específico situacional de
estresse vivenciado pelos atletas, aparecendo em
53,6% das partidas disputadas pelo Atleta A e em
80,6% das partidas disputadas pelo Atleta B. Como
fontes de estresse mais significativas relacionadas a
esse factor, encontrou-se a facilidade/dificuldade da
partida, a competência dos atletas e a conduta dos
adversários. A facilidade/dificuldade da partida pareceu ser a fonte de estresse mais influente, sendo
referida em 15,3% e 34,6% dos jogos, respectivamente, para os Atletas A e B e decorreram do bom
desempenho dos adversários, por um lado, e da inferioridade técnica destes, por outro.
A facilidade/dificuldade da tarefa/jogo como fonte
de estresse também foi encontrada num estudo conduzido com atletas adultos masculinos de basquetebol, todos com participação em Jogos Olímpicos
e/ou Campeonatos Mundiais(8). Para os autores
desse estudo, a displicência gerada em jogos considerados mais fáceis, leva muitas vezes a um aumento dos níveis de estresse e a um mau desempenho,
ocasionando, inclusive, derrotas inesperadas.
Contrariamente, tem-se constatado que quando o
desafio é maior do que a percepção da capacidade do
atleta em superá-lo, sua preocupação poderá conduzi-lo a um excesso de inquietude e ansiedade, impedindo-o de actuar no seu nível potencial(19), tal como
pareceu ocorrer com os atletas do vôlei de praia
diante da inferioridade técnica dos adversários.
A competência, envolvendo capacidades e habilidades no desempenho de movimentos específicos,
pareceu ser responsável pelo estresse competitivo do
Atleta A em 11,5% dos jogos, sendo decorrente dos
erros de passe/levantamento e da dificuldade em
marcar pontos. No caso do Atleta B (15,3%), deu-se
devido aos erros cometidos (ataque/levantamento) e
à ineficácia do ataque (ataque defendido consecutivamente). Em jogadores olímpicos de basquetebol(8),
a competência também demonstrou ser uma importante fonte de estresse. Os atletas desse estudo reconheceram que errar, repetir os mesmos erros ou não
tentar, omitindo-se no jogo, são situações comuns
de estresse durante as partidas. Também, num estudo sobre o estresse psíquico em atacantes de voleibol(32), não superar uma marcação específica de um
jogador durante uma partida constituiu-se numa
situação muito estressante para os atletas, assim
como a falha do levantador, colocando o atacante em
uma situação de pressão e cobrança.
A conduta dos adversários teve nas provocações/atitudes desafiadoras dos oponentes as situações de
estresse mais significativas para ambos os atletas do
vôlei de praia (em 11,5% e 15,4% dos jogos, respectivamente, para os Atletas A e B). Em atletas olímpicos
de basquetebol(8), os adversários também tiveram sua
parcela de contribuição para elevar os níveis de
estresse dos atletas. Para os autores desse estudo,
isso ocorre mais em função de comportamentos
como provocar e usar de deslealdade para tentar
parar um jogador, do que da capacidade técnica ou da
ameaça que os adversários representam para a equipe. Estudos com jogadores de voleibol(29, 32) d e m o n straram que as intimidações ou provocações dos
adversários partem de gestos, palavras e olhares,
muitas vezes, sutis e imperceptíveis para a arbitragem e, em outras vezes, acontecem de forma mais
acintosa e directa, podendo, inclusive, levar o atleta a
uma atitude mais agressiva. Tem-se evidenciado,
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Joice Stefanello
ainda, que o uso sistemático, intencional e planejado
da guerra psicológica pelo adversário(5) visa a debilitar o rendimento do atleta, através do aumento da
ansiedade e/ou nervosismo, da diminuição da autoconfiança e dos consequentes erros e dificuldades,
pois quebra a atenção/concentração, perturba a preparação psicológica e mental do atleta, quebra o rendimento e provoca estados emocionais e psicológicos
extremamente vulneráveis e pouco adequados às
tomadas de decisão ou processamento da informação.
As condições climáticas (vento/frio durante as partidas) também foram fontes de estresse para os atletas
do vôlei de praia (11,5% dos jogos), assim como os
erros de arbitragem (para o Atleta A) e a torcida
contra (para o Atleta B), presentes em 3,8% dos
jogos. O planejamento/organização, por sua vez, representando o segundo factor competitivo situacional
encontrado para os atletas dessa modalidade, teve
como fonte de estresse mais significativa a organização dos jogos (7,7%), especialmente, devido a demora em iniciar a partida.
Tanto as condições climáticas quanto o planejamento/organização dos jogos, parecem constituir-se em
potenciais fontes de estresse para os atletas do vôlei
de praia, por ocasionar alguma influência na actuação dos atletas e na sua preparação para a competição, impedindo-os de actuar no seu nível potencial.
Alguns autores(31, 35, 39, 40) têm referido que variações
climáticas, ruídos/estímulos visuais (movimentação
e agitação da torcida), fadiga, pressão dos adversários e arbitragem constituem distracções características de determinadas modalidades, podendo influenciar nos níveis de activação e de ansiedade dos atletas. Em outros estudos, englobando situações relacionadas à estrutura administrativa das equipes ou
entidades esportivas, o planejamento/organização
dos jogos(8) e as situações ou acontecimentos imprevistos(5, 21) também representaram significativas
situações de estresse para os atletas.
Fatores competitivos individuais
Nessa categoria, os aspectos físicos foram os factores
específicos de estresse encontrados para ambos os
atletas do vôlei de praia, assim como os estados psicológicos para o Atleta B. Quanto aos aspectos físicos,
as lesões pareceram ser as principais fontes de estres-
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se para ambos os atletas (11,5% e 3,8% dos jogos,
respectivamente para os Atletas A e B) e os estados
físicos (para o Atleta B em 11,5% dos jogos), representados pelo desconforto muscular/corporal e cansaço físico. Por outro lado, a pressão interna (para o
Atleta B, em 3,8% dos jogos), teve nas reacções do
próprio atleta frente aos erros cometidos a principal
fonte específica de estresse.
Os aspectos físicos, também para atletas olímpicos
de basquetebol(8), têm sido apontados como um
importante factor individual de estresse, estando
relacionados às condições físicas dos atletas (tal
como jogar mal preparado) e às contusões.
Resultados semelhantes também foram encontrados
em esportes como atletismo, patinação artística,
futebol, handebol e natação(1, 14, 21, 22).
Os estados psicológicos, representados por fontes
como medos/inseguranças, expectativas/objectivos e
pressões internas, também corresponderam a factores específicos de estresse para atletas olímpicos de
basquetebol(8). Nesse estudo, as pressões internas
tiveram destaque e mostraram que a maioria dos
atletas tinha muita responsabilidade, conhecendo
seu papel como atleta de alto nível, apresentando
um nível de autocobrança muito elevado e não aceitando o erro. Ainda, as expectativas dos níveis de
rendimento esperados e exigidos (preocupação com
o fato de ter que render em nível de suas capacidades; preocupação com companheiros e/ou expectativas dos outros; dúvidas pessoais quanto à actuação
física, técnica e/ou psicológica; medo ou receio de
falhar numa situação importante e/ou de ter um rendimento inadequado; medo ou receio de lesões)
também foram apontados por diferentes estudiosos(5, 13, 18) como principais factores geradores de
estresse no esporte de alto rendimento.
Esses dados parecem reforçar a ideia de que o grau
de ameaça percebido (do qual se originam os sentimentos de preocupação e ansiedade, característicos
de uma situação de estresse) depende da avaliação
que o atleta faz do contexto global da situação, ou
seja, da comparação que ele estabelece entre as exigências da situação e a relevância, a congruência
motivacional, as opções, os recursos pessoais e as
perspectivas de confronto que o atleta julga dispor
para conseguir o êxito desejado(5).
Situações de estresse no vôlei de praia
Quadro 3. Modo como o estresse foi vivenciado pelos Atletas
Modo como os atletas vivenciaram o estresse
No presente estudo, o modo como os atletas vivenciaram o estresse competitivo corresponde às consequências por eles percebidas como decorrentes das
situações geradoras de estresse. Dessa maneira, as
respostas dos atletas do vôlei de praia às situações
geradoras de estresse foram agrupadas, tal como
sugere Ravizza(34), em três categorias gerais: pensamentos, emoções/sensações corporais e acções
(Quadro 3).
Os pensamentos pareceram representar o principal
modo pelo qual o Atleta A vivenciou o estresse competitivo (38,4% dos jogos), enquanto as emoções/sensações corporais foram a forma como o estresse pareceu se manifestar no caso do Atleta B (61,5%). Os
pensamentos voltados para a preocupação com a
própria actuação (15,4%) e com a necessidade de
buscar novamente a concentração (11,5%) foram
comuns a ambos os atletas. Por outro lado, enquanto o pensamento do Atleta A esteve voltado para o
receio de lesões (11,5%), os pensamentos do Atleta
B estiveram centrados na necessidade de buscar
novos meios para pontuar (7,7%) e na dor originada
pela contusão (3,8%). As emoções e/ou sensações corporais pareceram estar, no caso do Atleta A, relacionadas à irritação com erros, adversários e arbitragem
(15,4%) e à falta de ânimo/motivação diante da inferioridade dos adversários (15,4%). Para o Atleta B, o
estresse competitivo pareceu manifestar-se por meio
da ira/irritação diante das provocações ou atitudes
desafiadoras dos adversários (15,4%), da impaciência diante dos erros cometidos (7,7%), da falta de
motivação (11,5%) e apatia (7,7%) diante dos adversários mais fracos, do cansaço/desconforto corporal
(11,5%) e do despreparo no início do set (7,7%). No
que diz respeito às acções, o estresse competitivo
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Joice Stefanello
vivenciado pelo Atleta A manifestou-se na pouca
agressividade de algumas jogadas (11,7%), na sua
passividade em outras (7,7%) e numa maior agressividade em 7,7% das suas ações. No caso do Atleta
B, o estresse competitivo tornou-o pouco agressivo
em 11,5% dos jogos, displicente em 7,7% das partidas e calado diante das provocações dos adversários
em 7,7% dos jogos disputados.
Alguns estudos também têm demonstrado que o
estresse competitivo pode apresentar sintomas negativos na área mental, física e comportamental, manifestando-se por meio da preocupação, medo, ansiedade,
dificuldade de concentração(3, 31), confusão, esquecimento de detalhes, volta a antigos hábitos e incapaci-
dade para tomar decisões(5, 19), oscilação nos níveis de
activação(15, 37), sensação de fadiga, sensação de frio,
aceleração do ritmo cardíaco, aumento da tensão arterial, respiração mais rápida(5, 19), perda da motivação,
agressividade, nervosismo, irritabilidade (15), falta de
confiança e performances fracas(12, 30, 35).
O que se percebe, é que pensamentos pouco apropriados ou erróneos, geralmente, conduzem a sentimentos negativos e a uma execução pobre e que os
pensamentos que se centram na pessoa, especificamente, são os que causam maiores problemas aos
atletas(20). Quando os indivíduos se orientam no
sentido interno, preocupando-se demasiadamente
com o seu próprio bem-estar e sentimentos, a sua
Quadro 4. Técnicas utilizadas pelos atletas para o controle do estresse.
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Situações de estresse no vôlei de praia
preocupação poderá conduzir a reacções físicas e
mentais aumentadas, interferindo consideravelmente
na actuação dos atletas: a sua capacidade de prever e
interpretar estímulos externos e informações relevantes reduz-se; a sua inquietude acerca de uma
actuação iminente gera ansiedade (somática e/ou
cognitiva); a sua tolerância diante da frustração e da
dor diminui (tendendo à irritação e à queixa); e os
seus erros são maximizados e interpretados como
mais desastrosos do que na realidade o são(19, 20).
A oscilação nos níveis de activação dos atletas
durante uma partida, por sua vez, tem sido referido(37) como um factor que pode levar um atleta destacado a performances fracas. Alguns estudiosos(2, 19,
31) têm constatado que as motivações para a competição e as sensações positivas que acompanham as
realizações esportivas podem levar a um aumento da
activação positiva, promovendo um estado ideal de
execução, enquanto que a ansiedade, o aborrecimento, a raiva e o medo do fracasso parecem repercutir
num aumento da activação negativa, deteriorando o
desempenho do atleta. Além disso, estados emocionais, como euforia, raiva, irritabilidade, entre outros,
especialmente quando intensos e persistentes, parecem consumir rapidamente a energia do atleta, contribuindo para o surgimento de um estado de fadiga
(cansaço físico ou emocional)(12, 30).
Diante desses achados, parece ser plausível que o
estresse competitivo não depende apenas do perigo
objectivo inerente à situação, mas também do modo
como o atleta o percebe e a ele reage.
Técnicas para o controle do estresse
As técnicas para o controle do estresse correspondem às estratégias de intervenção utilizadas conscientemente pelos atletas diante das situações geradoras de estresse e das suas consequências sobre a
actuação do esportista. Essas técnicas objectivam
auxiliar o atleta a obter o necessário autocontrole
para actuar no seu mais alto nível de rendimento
esportivo, evitando interferências provenientes de
distracções internas e externas sobre o seu desempenho. No presente estudo, as técnicas ou estratégias
referidas pelos atletas do vôlei de praia para manter
e/ou recuperar o seu autocontrole foram agrupadas
em técnicas cognitivas e somáticas.
As técnicas cognitivas, as mais utilizadas por ambos os
atletas, baseiam sua acção na modificação ou no
ajuste dos principais determinantes do comportamento (pensamento, percepção, memória, afecto,
linguagem). Essas técnicas ressaltam que, para ocorrer uma melhora na conduta ou nos estados emocionais, o sujeito deve promover uma mudança nos
pensamentos subjacentes a esses comportamentos(5,
35). Essa ideia reforça o entendimento de que os processos de avaliação cognitiva cumprem um importante papel como mediadores do estresse e da ansiedade no contexto esportivo, auxiliando os atletas a
manter o autocontrole e o equilíbrio necessários a
uma boa actuação.
Dentre as técnicas cognitivas referidas pelos atletas
do vôlei de praia, o auto-informe ou monólogo interno foi a mais utilizada. O Atleta A valeu-se do autoinforme em 30,7% dos jogos, recorrendo à estratégia
de pensamento positivo para a manutenção da tranquilidade e autoconfiança. O Atleta B utilizou-se do
auto-informe em 42,2% dos jogos, recorrendo ao
pensamento positivo (23%) e a mudança de pensamento para esquecer os erros cometidos (19,2%).
O auto-informe, conversa interna do praticante com
ele mesmo(2), objectiva bloquear ou modificar pensamentos e estados emocionais negativos, compreendendo desde experiências silenciosas até vocalizações em voz baixa. Alguns estudiosos(4, 20, 30) também têm apontado que o auto-informe pode ser utilizado para a reprogramação de técnicas/estratégias a
fim de evitar a repetição de erros, para manter a
mente focalizada, para o controle do esforço e manutenção do estado de ânimo e para a
promoção/manutenção da autoconfiança e expectativa de êxito. Dentre as estratégias mais referidas na
literatura(4, 20, 34) para manutenção do autocontrole
estão também a interrupção de pensamentos negativos ou contraproducentes, a manutenção de pensamentos positivos e a mudança de pensamento.
Os atletas do vôlei de praia fizeram, ainda, uso das
técnicas cognitivas de concentração e de imaginação.
O Atleta A recorreu à técnica de concentração em
11,5% dos jogos, voltando seu pensamento para a
próxima acção. O Atleta B utilizou-se da técnica de
concentração em 24,5% dos jogos, procurando focar
sua atenção nas próprias acções/jogo (7,7%), pensar
no próximo ponto (11,5%), não ouvir as provoca-
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241
Joice Stefanello
ções dos adversários (11,5%) e descobrir as falhas
ou os pontos fracos dos adversários (3,8%).
As técnicas de concentração objectivam ajudar o atleta
a desenvolver a conscientização sobre factores que desviam sua atenção e por que o fazem, permitindo- l h e
modificar aspectos do seu rendimento e/ou trabalho
que são ineficientes e distanciar-se de padrões de comportamento e pensamentos negativos ou não produtivos(31). Usar palavras-chave para focalizar a atenção,
concentrar-se na situação presente, na tarefa a realizar,
nos momentos decisivos da actuação esportiva e na
próxima acção também foram algumas das estratégias
referidas na literatura científica(31, 35, 40) para auxiliar os
atletas diante dos agentes estressantes.
A técnica de imaginação foi utilizada pelo Atleta A
em 11,5% dos jogos, por meio da
mentalização/visualização dos movimentos antes de
cada acção. O Atleta B usou a imaginação em 23%
dos jogos para lembrar dos gestos (3,8%) e das
melhores acções (11,5%) e vivenciar os bons
momentos (7,7%).
A técnica da imaginação consiste na repetição planejada da imaginação consciente de uma acção esportiva, sendo apontada(6, 20, 35, 39, 40) como uma importante ferramenta psicológica para melhorar o rendimento dos atletas e utilizada com sucesso para a manutenção de competências motoras, para a regulação da
activação, para o controle de respostas emocionais e
para a promoção da autoconfiança.
As técnicas somáticas, embora num menor percentual,
também foram empregadas pelos atletas do vôlei de
praia (Atleta A em 19,2% dos jogos e Atleta B, em
38,4% dos jogos). A técnica somática mais utilizada
pelos atletas foi a respiração, em 19,2% dos jogos
(diminuição da frequência respiratória, com uma
expiração mais forte). O Atleta B fez uso também do
movimento para melhorar o seu nível de activação,
movimentando-se mais rapidamente em 11,5% dos
jogos e procurou extravasar a tensão e a raiva vivenciadas durante alguns jogos, gritando (7,7%).
As técnicas somáticas são intervenções voltadas para
o ajuste de reacções corporais como tensão muscular, frequência cardíaca e frequência respiratória, a
fim de oportunizar maior controle sobre o estresse, a
ansiedade e o aperfeiçoamento motor(2).
Alguns estudos(2, 19, 35) também têm evidenciado que
o aumento da frequência respiratória (com uma ins-
242
Rev Port Cien Desp 7(2) 232–244
piração mais forte) é bastante eficiente diante de
situações que requerem aumento nos níveis de activação do atleta, assim como a diminuição da frequência respiratória (com uma expiração mais forte) tem
conseguido reduzir os níveis de activação dos atletas,
propiciando o relaxamento e a diminuição da tensão
gerada pela pressão competitiva. Por outro lado, o
aumento da intensidade do movimento (movimentação mais rápida) tem sido eficaz para aumentar os
níveis de activação dos atletas, na intenção de auxiliálos a actuar mais proximamente ao seu estado ideal
de execução em diferentes momentos da competição,
assim como a diminuição da intensidade do movimento (movimentação mais lenta) tem contribuído
para reduzir os seus níveis de activação, quando estes
demonstram ser excessivos(2).
CONCLUSÃO
No presente estudo, para ambos os atletas, as situações geradoras de estresse relacionadas aos factores
situacionais predominaram em relação aos fatores
individuais. Dentre os factores competitivos situacionais, o factor jogo foi o principal factor específico
de estresse vivenciado pelos atletas, tendo na facilidade/dificuldade da partida a fonte de estresse mais
influente, devido, especialmente, ao bom desempenho dos adversários e à inferioridade técnica destes.
A competência, a conduta dos adversários e as condições climáticas foram as demais fontes de estresse
relacionadas ao factor jogo que se mostraram significativas aos atletas. A competência esteve associada,
principalmente, aos erros cometidos; a conduta dos
adversários, às provocações/atitudes desafiadoras
destes; e, as condições climáticas, ao vento/frio
durante as partidas. Por outro lado, os factores competitivos individuais mais influentes para os atletas
foram os aspectos físicos. Destes, o medo/receio de
lesões foi a fonte de estresse mais evidente para o
Atleta A, enquanto os estados físicos, como desconforto muscular/corporal e cansaço físico, foram os
mais significativos para o Atleta B.
O modo como os atletas vivenciaram o estresse competitivo manifestou-se nos seus pensamentos, nas
suas emoções e/ou sensações corporais e nas suas
ações durante a partida. Os pensamentos decorrentes das situações de estresse, comuns a ambos os
atletas, centraram-se na preocupação com a própria
Situações de estresse no vôlei de praia
actuação e perda da concentração. As emoções e/ou
sensações corporais originadas a partir do estresse
percebido foram a ira ou irritação com os próprios
erros, com os erros da arbitragem e com as provocações/atitudes desafiadoras dos adversários, além da
falta de ânimo ou motivação diante dos oponentes
mais fracos. No que diz respeito às acções, as respostas às situações de estresse mais evidentes para
ambos os atletas foram a pouca agressividade nas
jogadas e a passividade ou displicência dos atletas
nas acções.
Para o controle do estresse, os atletas recorreram,
predominantemente, às técnicas cognitivas, fazendo
uso, especialmente, do auto-informe para a manutenção do pensamento positivo ou mudança do pensamento. As técnicas de concentração (focalização da
atenção nas próximas acções ou no próximo ponto) e
de imaginação (visualização dos movimentos antes
de cada acção e lembrança das melhores acções) também foram utilizadas pelos atletas. Em muitos casos,
ambos os atletas recorreram, ainda, ao uso de técnicas somáticas, sendo a respiração a mais empregada.
Tal como se pode constatar no presente estudo, muitos factores, internos (pessoais ou individuais) e
externos (situacionais), foram responsáveis pelo
estresse competitivo no vôlei de praia de alto rendimento, sendo de fundamental importância que o
atleta aprenda a lidar eficazmente com esses factores, a fim de conseguir recuperar e/ou manter o
necessário autocontrole para actuar no seu mais alto
nível de rendimento esportivo. De tal modo, como
no esporte de alto rendimento sempre existirão formas reais de pressão, mais importante do que eliminar totalmente o estresse competitivo (o que é praticamente improvável), a preparação psicológica dos
atletas deve procurar auxiliar o esportista a adquirir
conhecimentos e estratégias mentais e físicas que
lhe permitam responder de forma adaptativa às
diversas situações de pressão que são inerentes ao
processo competitivo. O reconhecimento das situações geradoras de estresse que podem afectar negativamente a sua actuação esportiva e dos efeitos que
essas situações exercem na sua conduta, poderá ajudar o atleta a desenvolver a conscientização necessária acerca do seu próprio padrão de comportamento,
permitindo-lhe usar estratégias de confronto apropriadas para enfrentá-las.
A utilização de técnicas cognitivas e somáticas, ora
de forma isolada, ora conjuntamente, buscou atender
as necessidades pessoais dos atletas, da equipe ou
situacionais, compreendendo uma interessante possibilidade de abordagem para o estresse competitivo
no vôlei de praia de alto rendimento. Contudo, vale
ressaltar que o seu uso requer cautela, pois as técnicas e estratégias psicológicas antes de serem aplicadas em situações competitivas reais, necessitam ser
bem aprendidas e treinadas adequadamente, considerando a que se propõem e para quais situações e
indivíduos adaptam-se melhor.
Espera-se, por fim, que os resultados do presente
estudo sejam de grande valia para todos os profissionais envolvidos na prática esportiva (treinadores,
atletas, preparadores físicos etc.). Contudo, para
ampliar a compreensão do estresse competitivo,
recomenda-se, que estudos com outros atletas,
outras modalidades esportivas e níveis competitivos
sejam também realizados.
CORRESPONDÊNCIA
Joice Mara Facco Stefanello
Rua Alferes Ângelo Sampaio, 2125 – Aptº 703
Bigorrilho – Curitiba – Paraná
Cep: 80730-460 Brasil
e-mail: joicestefanello@ig.com.br
Rev Port Cien Desp 7(2) 232–244
243
Joice Stefanello
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Torcida familiar: a complexidade das
inter-relações na iniciação esportiva ao futebol
Fabrício M. Filgueira
Gisele M. Schwartz
LEL – Laboratório de Estudos do Lazer
DEF/IB/UNESP
Rio Claro SP
Brasil
RESUMO
Este estudo, de carácter qualitativo, discutiu a efectividade das
interacções pessoais e os aspectos intervenientes da torcida em
relação à criança, na prática competitiva do futebol, em fase de
iniciação esportiva. O estudo constou da união entre pesquisa
bibliográfica e de campo, utilizando-se um questionário misto
como instrumento para colecta dos dados. Esse instrumento foi
aplicado a 20 crianças, do sexo masculino, matriculadas em
uma escola especializada no ensino do futebol, com faixa etária
entre 11 e 12 anos. Os dados foram analisados de forma descritiva, pela Técnica de Análise de Conteúdo Temático e identificam a grande participação dos pais na torcida, durante os jogos
de futebol dessas crianças; a aceitação das crianças em relação à
presença de seus pais nos jogos; os efeitos negativos da crítica
da torcida; as influências da torcida sobre a forma de jogar das
crianças e o papel importante do incentivo da torcida como
fator motivacional. Com base nos resultados da pesquisa, sugere-se que novos estudos sejam elaborados, para implementarem a preparação psicológica de crianças nesta fase de aprendizado esportivo.
ABSTRACT
Parental support: inter-relationships complexity
in football sportive initiation
Palavras-chave: relacionamento interpessoal, iniciação esportiva,
futebol, psicologia do esporte
Key-words: interpersonal relationship, sport initiation, soccer, sport
psychology
This study, with a qualitative trait, discussed the usefulness of personal
interactions and the interventional aspects of cheerers in relation to
children, in the competitive practice of soccer, when initiating in sports.
The study consisted of an alliance between a bibliographic research and
field research, using an assorted questionnaire as an instrument of data
collection. This instrument was applied to 20 male children, between
the ages of 11 and 12, enrolled in a specialized soccer school. The data
were analyzed in a descriptive way by the Analysis Technique of
Thematic Content and they identify a great participation of parents
when cheering in these children’s soccer matches; children’s approval of
their parents’ presence in the games; the negative effects when the
cheerers criticize, the cheerer’s influence on the way these children play;
and the important role of cheerers’ incentive as a motivational factor.
Basing on the research results, it is suggested that new studies should
be elaborated to implement the children psychological preparation in
this stage of sport learning.
Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253
245
Fabrício M. Filgueira, Gisele M. Schwartz
INTRODUÇÃO
Nas relações humanas, as influências interpessoais
desenvolvem-se como um processo que envolve
componentes como os modos de ser, de pensar, de
sentir, de agir e de mudança de comportamento(11).
Dentre as relações mais primárias encontra-se o
complexo processo que é a relação entre pais e
filhos, especialmente quando se focaliza directamente o âmbito da iniciação esportiva.
Tanto a criança como os pais possuem valores, atitudes, condutas e expectativas semelhantes, os quais
são resultados da qualidade dessa interacção. Assim,
compreender-se a qualidade do relacionamento
interpessoal entre os envolvidos é de crucial importância no esporte, especialmente no que tange ao
modo como os iniciantes percebem e interpretam a
participação de seus pais durante a sua prática
esportiva.
A psicologia do esporte tornou-se cada vez mais
importante no desenvolvimento dos programas atléticos a fim de promover um desenvolvimento físico e
psicológico saudável de iniciantes(16). Sendo estas as
bases de sustentação para este estudo, a fim de
entender melhor como os iniciantes recebem e se
comportam, diante das atitudes e comportamentos
da torcida durante os jogos, composta, nesta fase
inicial, basicamente pelos pais, e os caminhos de
influência directa na condução e orientação de
acções que norteiam a qualidade desses relacionamentos entre os envolvidos, a fim de contribuir para
a reflexão sobre as estratégias para minimizar seus
efeitos negativos.
Um programa de treinamento projectado para ajudar
técnicos nos esportes na juventude a relacionar-se
mais eficazmente com seus jogadores(16), onde a iniciação esportiva é um fenómeno humano absolutamente complexo, especialmente no que concerne aos
aspectos envolvendo as interacções pessoais e ainda
a presença da torcida.
Para tanto, cabe evidenciar as influências paternais
sobre o processo linear de desenvolvimento e
desempenho esportivo dos participantes iniciantes
em uma modalidade esportiva.
O crescimento e o desenvolvimento da criança
sofrem influências culturais, sociais e biológicas
directa dos pais, desde os primeiros anos de vida.
Especialmente quando se focaliza o aspecto esporti-
246
Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253
vo, no caso o futebol, essas interferências são inequívocas, principalmente quando se trata de crianças
do sexo masculino.
Em relação ao esporte infantil, verifica-se que a torcida é composta, em sua maioria, por pais(15), o que
reforça a necessidade de se analisar a participação
desses no contexto do futebol infantil, tanto no
âmbito da aprendizagem, quanto no contexto competitivo.
A competição é alvo deste estudo, uma vez que pode
gerar inúmeros efeitos sobre o comportamento das
crianças, como atletas, nesses eventos. Além disso,
pesquisas mostram que quanto mais jovem e menos
experiente o atleta, maior será o efeito da torcida
sobre seu comportamento(7).
Na literatura ainda são tímidos os estudos relacionados aos efeitos da torcida sobre o comportamento das crianças, uma vez que existem relatos de
sentimentos positivos (competência, orgulho, motivação, etc.) e sentimentos negativos (fracasso, abatimento, etc.).
A presença dos pais nos treinos, nos jogos, ou em
qualquer outro lugar vai despertar alguma reacção
no atleta/criança, seja ela de contentamento ou
constrangimento, de aprovação ou desaprovação(10).
Segundo estudos da psicologia do esporte(6, 8, 10) relata-se que algumas crianças podem se sentir incomodadas com a presença dos pais, enquanto outras se
sentem bem com a presença dos familiares.
Portanto, o relacionamento que o atleta tem e teve
com os pais, o modo como este atleta foi criado, as
lembranças, os acontecimentos, os fatos que marcaram sua vida, tudo isto pode exercer influência
directa sobre o atleta e seu modo de agir, do início
da actividade física até o treinamento e a
competição(10).
Algumas centenas de milhões de crianças estão
envolvidas na prática de uma modalidade esportiva
em todo o mundo(1).
No Brasil, o futebol é um fenómeno cultural que
cativa e impressiona pela sua grandeza, e cuja prática
tem crescido rapidamente, envolvendo um número
significativo de participantes, desde a infância até a
idade adulta.
Especificamente, na iniciação esportiva ao futebol,
em um país como o Brasil, em que um único esporte
A complexidade das relações na iniciação ao futebol
merece a esmagadora atenção da mídia, é complicado mostrar às crianças que, muitas vezes, a escolha
por esta modalidade esportiva é muito mais uma
questão cultural do que um gosto pessoal. Até
mesmo os pais são influenciados por isso, já que
muitos pais, fanáticos por futebol, têm dificuldades
em permitir que seus filhos optem por outro caminho para a prática esportiva.
Porém, o esporte na infância deve ser tratado de
maneira adequada, respeitando-se a individualidade
da criança, independente dos interesses ou objectivos das instituições formais ou informais.
O esporte deve se adaptar às condições técnica, física
e psíquica da criança de forma compatível com suas
necessidades e possibilidades, adequando-se à sua
maturação orgânica funcional.
Um dos primeiros passos a serem dados é perguntar
às crianças se é isso mesmo que elas querem, atendendo as suas próprias expectativas e necessidades,
não às dos pais, técnicos, dirigentes ou de outros
interesses alheios aos dos agentes principais: as
crianças(5).
Em fase de iniciação, a criança precisa aprender e
conviver com o esporte, vivenciar diferentes situações, construir ideias e valores, descobrir sentimentos e incorporar transformações sociais, afectivas,
intelectuais e motoras essenciais para a formação do
carácter do indivíduo e para o seu futuro esportivo.
Todo esse processo de transferência e formação ocorre de forma natural e envolve a genética e a interrelação social(6).
O sistema humano é considerado como grupo de
pessoas que interagem com crianças, em função de
fins e objectivos comuns, englobando essa interacção, inclusive, no esporte(14). Entre os principais protagonistas das relações interpessoais na fase de iniciação esportiva estão os familiares, os quais compõem o que se convencionou chamar de “torcida
familiar”. Este tipo de torcida está envolvida no
complexo processo que é a relação entre os pais e as
crianças no âmbito da iniciação esportiva ao futebol.
Os pais são pessoas importantes, não apenas no
cotidiano da criança, mas, de uma forma ou de
outra, estão inseridos no processo de iniciação
esportiva. Existe então, nesse contexto, uma relação
dialéctica entre esses elementos:
Muito mais que um simples aprendizado técnico,
nesta complexa relação existe factores intervenientes
que asseveram a necessidade de compreensão deste
quadro, de maneira a perceber o envolvimento directo da criança neste processo.
Destarte, para melhor penetrar neste universo, esta
pesquisa se restringe, apenas, a um determinado
público, as crianças e pais, como familiares e torcedores inter-relacionados directamente com a formação esportiva, já que estes podem ter influência
directamente no comportamento das crianças, em
seus valores e atitudes e em suas relações.
As atitudes e condutas dos pais podem exercer reflexos e influenciar a participação da criança no esporte, inclusive nos campos de futebol.
A esse respeito, Machado(10) evidencia que a interacção da criança na sociedade sofre influências, em primeira instância dos pais, depois, ao iniciar a vida
escolar, sofre influências dos professores e de outros
grupos, como por exemplo, de uma equipe esportiva.
A partir dessas inter-relações, a criança vai construindo sua subjectividade e moldando suas condutas, daí advindo a necessidade de análises aprofundadas sobre as influências destes segmentos e, mais
especificamente, da torcida, procurando investigar
sobre como as crianças recebem e se comportam
diante da “torcida familiar”, dentro da prática esportiva do futebol.
Segundo Filgueira(3) os professores, os técnicos, os
pais e os dirigentes esportivos estão mais preocupados com seus anseios e pensando na sua satisfação
em ver a criança jogar, ser titular, ser melhor que os
outros, em vencer, ser campeão, do que com o próprio aprendizado daí advindo.
Em estudos realizados por Smith e Smoll(16) foram
encontrados que os resultados os mais positivos
ocorreram quando as crianças jogaram para os técni-
Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253
247
Fabrício M. Filgueira, Gisele M. Schwartz
cos que acoplaram em níveis elevados do reforço
positivo para o desempenho desejável e o esforço, e
ainda que respondessem aos erros com incentivo e
instrução técnica, e que enfatizaram a importância
do divertimento e da melhoria pessoal excedente a
acção de vencer.
Exactamente esta satisfação pessoal dos técnicos e
não a satisfação e prazer da criança é que gera inúmeros conflitos, fazendo desta um instrumento de
autopromoção ou vaidade.
A torcida familiar, que está presente no âmbito do
processo de formação esportiva no futebol, passa a
ser aceita como um possível e importante factor de
influência sobre atitudes e comportamentos das
crianças envolvidas nesse processo.
Neste texto, pretende-se identificar o significado da
presença dos pais e da torcida familiar para as crianças, durante os jogos, evidenciando como elas consideram esta participação da torcida e as influências de
suas atitudes e comportamentos sobre a forma de
jogar das crianças envolvidas, a fim de compreender
melhor o envolvimento das inter-relações neste processo, no âmbito da iniciação esportiva ao futebol.
Para tanto, foi desenvolvida a pesquisa exploratória,
no sentido de se penetrar neste universo.
METODOLOGIA
Este estudo está restrito à análise qualitativa referente aos dados colectados, adequando-os ao contexto das inter-relações entre os alunos-atletas “mirins”
e a torcida.
A pesquisa qualitativa adequa-se a esta finalidade,
tendo em vista suas características e seu poder de
penetração no âmago dos fenómenos sociais, conforme salienta Richardson(12).
O estudo foi realizado com base em duas etapas
complementares, sendo a primeira referente a uma
pesquisa bibliográfica, sobre as temáticas em foco e
a segunda relativa a uma pesquisa exploratória, utilizando-se como instrumento para a colecta de dados
um questionário misto.
Também segundo apregoa Richardson(12), esta técnica
permite maior facilidade de apreensão dos resultados,
tendo em vista que este tipo de questões favorece a
fluência e a participação efectiva dos participantes.
O estudo foi desenvolvido utilizando-se como instrumento para colecta de dados um questionário conten-
248
Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253
do perguntas mistas, as quais se caracterizam
em abertas, fechadas e/ou de múltipla escolha. As
questões mistas ampliam e enriquecem a maneira de
participação do sujeito, adequando-se ao tipo de pesquisa proposta no estudo.
Ruiz(13), assim como Filho e Santos(4) consideram o
questionário misto favorável para a colecta de informações desta natureza, pelo fato de
questões deste tipo seguirem uma linha menos rígida ou fechada, ampliando
a perspectiva de respostas mais directas dos sujeitos
e fomentando dados
mais aprofundados. Uma outra justificativa para a
utilização do questionário misto para este estudo
recai na perspectiva de que o entrevistado pode
expressar suas colocações de forma mais espontânea
e livre durante a colecta dos dados.
O instrumento foi composto por cinco questões mistas, ressaltando-se os factores de relações interpessoais e foi aplicado a uma amostra intencional, composta por vinte alunos-atletas participantes, de sexo
masculino, iniciantes de futebol, na faixa etária entre
11 e 12 anos, de uma escola especializada de futebol,
a Escola de Futebol Oficial do São Paulo Futebol
Clube, da cidade de Ribeirão Preto-SP, sendo que os
alunos-atletas realizam treinamentos de uma hora e
meia, duas vezes por semana.
O questionário foi aplicado, com a autorização do
técnico da categoria, antes dos treinamentos, no
local onde os mesmos estavam sendo realizados. As
instruções para preencher o questionário foram
comentadas, como também, as dúvidas dos alunosatletas foram esclarecidas antes de se iniciar as respostas em forma de questões abertas.
Os dados obtidos por meio do instrumento proposto
foram analisados descritivamente, por meio da utilização da técnica de Análise de Conteúdo Temático, a
qual(12) permite obter, diretamente, a informação
relativa ao tema da pesquisa, eliminando-se outras
possíveis variáveis intervenientes.
Deste modo, para facilitar a análise das respostas,
foram formulados indicadores, os quais congregavam
a incidência de elementos comuns entre as respostas
dos participantes.
Esses indicadores levaram em consideração as pessoas que mais assistem aos jogos; a reacção dos atletas sobre a presença dos pais nos jogos; os senti-
A complexidade das relações na iniciação ao futebol
mentos dos atletas perante a crítica da torcida; as
influências da torcida na sua forma de jogar e, finalmente, os aspectos motivacionais resultantes do
incentivo da torcida.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As ordens de apresentação dos resultados encontram-se, respectivamente, na forma das respostas
comuns relacionadas aos factores acima mencionados. Cada resposta é agrupada em indicadores
comuns relatados pelos atletas e exemplificados a
partir da pergunta a que pertence (Quadro 1).
Os relatos apontam a presença dos pais como um
factor importante, pois são os integrantes da família
que mais assistem aos jogos de futebol, conforme
resposta à questão 1.
O crescimento e o desenvolvimento da criança
sofrem influência directa dos pais, independente de
qual sociedade se insere a família(10). Esta relação
pais-crianças é bastante evidente no esporte, especialmente em fase inicial, o que se confirmou com o
resultado deste estudo.
Entretanto, esta presença dos pais que acompanham
os filhos na prática esportiva pode gerar problemas
de efeitos positivos, neutros ou negativos em treinamentos e competições.
Quadro I . Respostas dos atletas.
Resposta à questão1:
Quem assiste mais aos seus jogos de futebol?
Meu Pai (14)
Meus Pais (3)
Meu Técnico (3)
Resposta à questão 2:
Você gosta que seus pais assistam aos seus jogos de futebol? Por quê?
Sim (17): incentivam; motivam; jogar melhor.
Não (3): gritando; falando muito.
Resposta à questão 3:
Como você se sente quando a torcida o critica?
Mal (18): “me sinto mal”
Triste (1)
Com mais responsabilidade (1)
Resposta à questão 4:
Você acha que a torcida pode influenciar sua forma de jogar? Explique.
Sim (9):“posso melhorar”
Sim (2):“fico abatido”
Não (9):
“não dou atenção para torcida”(2)
“não dou ouvido”(2)
“não ligo para o que as pessoas falam de mim”(1)
“falam mal das pessoas”(1)
“eles só atrapalham”(1)
“jogo do meu jeito”(1)
“ignoro a torcida”(1)
Resposta à questão 5:
Você se motiva mais com o incentivo da torcida? Explique.
Sim (17):
“jogar melhor”(4)
“é um incentivo”(3)
“não estou jogando mal”(2)
“torce para mim”(2)
“motivado” (2)
“me sinto mais a vontade”(1)
“ajuda dentro de campo”(1)
“não esta tudo perdido”(1)
“dão força”(1)
Não (3): “não escuto”
Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253
249
Fabrício M. Filgueira, Gisele M. Schwartz
Segundo Cratty(2), o atleta nunca deixa de sofrer
influência de alguma assistência, em qualquer etapa
de seu envolvimento esportivo.
Os pais sempre estarão interagindo ou interferindo
com a criança em sua vida e, quando estes fazem
parte da torcida, há a influência sobre o desempenho
do atleta. Vale ressaltar que outros elementos são
também intervenientes nesse processo, como a
idade, a experiência e a importância do jogo, os
quais representam factores que podem agravar ou
aprimorar o desempenho do atleta.
Deste modo, a reacção da criança perante a presença
dos pais em seus jogos dependerá da maneira como
esta foi educada, do tipo de sua personalidade e,
ainda, das ressonâncias das experiências anteriormente vivenciadas.
Segundo alguns estudos(8, 9) existem crianças que se
sentem incomodadas com a presença dos pais,
enquanto algumas se sentem bem, podendo haver,
inclusive, uma melhoria em seu desempenho. Tudo
vai depender da qualidade do relacionamento entre
pais e filhos, influenciando directamente na maneira
da criança agir durante o treinamento e a competição.
Quando um pai faz um comentário durante uma
competição, sua intenção, na maioria das vezes, é
motivar o filho e conduzi-lo a um desempenho mais
adequado ou à vitória; no entanto, nem sempre a
forma empregada para fazê-lo é a mais adequada (15).
Em se tratando do processo de iniciação esportiva,
pode-se constatar que a torcida, na sua maioria, é
composta pelos pais. Os pais são um dos elementos
do grupo de pessoas que acompanham e interagem
com a criança na iniciação esportiva e como agentes
envolvidos influenciam directamente no seu desenvolvimento.
De acordo com os relatos, resposta 2, as crianças se
sentem motivadas e incentivas, favorecendo, desta
maneira, um melhor desempenho. Porém, em alguns
casos, as crianças se sentiram incomodadas, em virtude dos gritos dos pais.
A actuação da torcida poderá ser um factor que altera a performance do atleta ou atinja o atleta de alguma maneira(10).
Nesta questão, as respostas demonstram a presença
dos pais durante os jogos de futebol com efeitos
positivos para o desempenho das crianças, como
forma de incentivo, motivação ou como influência
250
Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253
para jogar melhor, resultados que corroboram com o
estudo realizado por Isler(6), no qual o autor aponta
a presença dos pais nos jogos como um fato importante para o desempenho positivo ou o bem-estar
do filho.
Os relatos evidenciaram a significância da presença
dos pais como um factor que altera o desempenho
da criança para níveis melhores de desempenho.
Ter uma experiência mais positiva com o esporte é
importante(15), visto que a prática de uma actividade
física bem conduzida propicia melhoria da condição
nos níveis físicos e motor, aprimorando a auto-imagem e a autoconfiança e contribuindo para uma vida
mais saudável.
Ao contrário, alguns relatos caminham para o desconforto mediante acções por meio de gritos e verbalizações constrangedoras para as crianças.
Sobre a presença dos pais, Filgueira(3) salienta que
estes deveriam passar tranquilidade aos filhos e se
divertirem, o que, geralmente, não acontece, já que
ficam nervosos, gritam, criticam e alguns são, inclusive, violentos.
O fato é que, com base nos resultados do estudo,
pode-se afirmar que, para algumas crianças, a presença dos pais é importante para o seu desenvolvimento no processo ensino-aprendizagem-treinamento, contrariando alguns posicionamentos de senso
comum, de que seria melhor se os pais não estivessem presentes durante as actividades esportivas das
crianças, para se evitar esses constrangimentos
acima relatados.
Na resposta 3, as crianças demonstram, de forma bem
clara, suas reacções perante a crítica. As criticas
transmitidas pela torcida, muitas vezes vindas de
pais autoritários, geram influências negativas sobre o
comportamento das crianças.
Referenciado por diferentes autores(10), a proximidade do público, a maneira como o atleta o encara e
como recebe os elogios e as criticas, vai influenciar
sua conduta no jogo e suas reacções frente à torcida.
De certa forma, os pais acreditam que as críticas
podem melhorar o desempenho da criança durante a
competição, no entanto, se forem feitas de maneira
agressiva ou em forma de cobranças violentas, ao
contrário, podem alterar negativamente a sua autoimagem, implementando sentimentos de inferioridade e de medo do fracasso.
A complexidade das relações na iniciação ao futebol
A criança pode gerar um sentimento de que não é
competente o suficiente, desistindo de tentar ou
esquivando-se de situações nas quais possa ser avaliada negativamente e criticada(15).
Os pais devem entender que as criticas, muitas
vezes, ao invés de ajudarem, acabam atrapalhando.
Nas melhores das intenções, os pais querem tanto
ajudar e fazer com que seus filhos tenham um bom
desempenho, que se esquecem que não depende
apenas deles, e sim, muito mais dos próprios filhos
se tornarem bons jogadores.
Deste mesmo modo(6), a maneira como o atleta
encara o público, como ele o valoriza ou como recebe as críticas são factores que influenciam seu
desempenho e suas reacções diante dos torcedores.
De uma forma bem clara: ser deselegante com
outros pais, com seus filhos, com a arbitragem,
supervalorizar a vitória ou a derrota da criança, são
equívocos e tendem a atrapalhar, não só a criança,
mas também o meio esportivo(14).
Vale ressaltar que a escolha pela prática de uma actividade esportiva pelos filhos se deve muito ao
ambiente social vivido pela família. A família tem
papel primordial no envolvimento das crianças com
o esporte, reproduzindo suas características culturais
económicas como factores do ambiente físico e emocional, atitudinal e de condutas dos filhos, durante a
prática de actividades esportivas.
Para Isler(6), a presença da família, como de toda a torcida, inibe ou estimula a actuação da criança, dependendo do nível de habilidade em que se encontra.
O potencial de avaliação de uma torcida é um dos
factores mais importantes que se acredita existirem
como modificador do desempenho do atleta, segundo estudos realizados por Cratty(2).
Não procede haver tantas criticas na maneira de
jogar da criança, tendo a preocupação imediata com
o desempenho. Exactamente nessa inter-relação
começam a surgir questões passíveis de questionamentos, como o efeito do comportamento dos pais,
e, também dos outros elementos como: técnicos,
dirigentes, organizadores, árbitros, já que, muitas
vezes, as críticas são destrutivas e não são posicionadas em momento adequado, para servirem, talvez,
como incentivo a mudanças.
Para algumas crianças, a torcida exerce uma influência
positiva para o seu desempenho, enquanto para
outras essa influência não é percebida ou é prejudicial
a sua forma de jogar, conforme relatos da resposta 4.
A torcida, através de seus artifícios, certamente
actuará sobre o desempenho do atleta de alguma
maneira sendo que a experiência de vida, a idade e
personalidade são variáveis importantes no desempenho da criança iniciante.
O relacionamento que o atleta tem e teve com os
pais, o modo como ele foi criado, as lembranças, os
acontecimentos, os fatos que marcaram sua vida,
tudo isto vai influenciar o atleta e seu modo de agir,
do início da actividade física até o treinamento e a
competição(10).
Ainda segundo o autor, consequentemente, cada um
vai reagir ou agir de formas diferentes a mesma
situação. A questão é que nem todos estão conscientes disto, bem como, do risco que isto provoca.
Neste contexto, o professor, o técnico ou a torcida
familiar são pessoas inconscientes de seus deveres e
responsabilidades sobre suas atitudes e comportamentos, para que não se tornem exigentes demais, a
ponto de estragarem o prazer da criança em jogar
futebol, ou, o que é mais trágico, interferirem na
possibilidade de esta criança ter aversão ao esporte,
entrando em um processo sedentário.
Conforme o resultado do estudo, a torcida pode
influenciar ou não a forma de jogar e o desempenho
da criança durante a partida, uma vez que as respostas foram muito próximas, sendo 11 afirmativas contra 9 negativas. Esta comparação é importante porque evidencia a presença de outras variáveis, as
quais dizem respeito a que, dependendo da personalidade do aluno-atleta, a torcida pode representar,
tanto estímulo positivo como negativo para a criança
em seu desempenho.
Ao contrário, em relação ao incentivo, este indubitavelmente é extremamente necessário aos iniciantes
futebolistas, uma vez que os tornam mais motivados, modificando ou influenciando seu comportamento e desempenho durante a prática esportiva,
conforme observado nas respostas 5.
Para os autores(10), o incentivo pode tomar a forma
de um impulso interno para o sucesso, para provar
ou conseguir algo para se auto-realizar.
Nestes casos, os incentivos se tornam efeitos de
motivação positivos, potencializando o desempenho
do indivíduo, tornando-se um apoio à aquisição de
segurança e um estado motivacional que o desperta
para jogar melhor.
Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253
251
Fabrício M. Filgueira, Gisele M. Schwartz
Sobre os elogios e incentivos(15), os autores complementam que, com comentários de natureza positiva,
os pais mostram que valorizam o que a criança faz
de bom. Por sua vez, as crianças se sentem mais
valorizadas, seguras e competentes.
No entanto, os mesmos autores(15, 3) comentam
sobre alguns cuidados necessários para utilização
dos recursos que incentivam como os elogios, palavras de apoio, sinceridade e encorajamento, são eles:
1 — Descontrair a criança antes da competição;
2 — Evitar críticas e ofensas durante a competição;
3 — Não exceder na quantidade de instruções;
4 — Não depreciar outras crianças ou equipes;
5 — Valorizar as acções positivas com sinceridade.
Sobre a presença da família, como de toda a
torcida(6), o efeito da inibição ou estimulação será
proporcional à importância que a torcida tem na
vida do atleta.
O mesmo autor defende que, considerando-se o
papel fundamental da família na vida da criança,
quanto maior apoio familiar, maior será o empenho
da criança dentro da actividade.
Sendo assim, quando uma criança, além de ser motivada extrinsecamente pelos pais ou pela torcida, de
modo geral, torna-se extrinsecamente motivada para
o futebol, ela o faz pelo simples prazer e satisfação
obtidos pela prática da actividade, tendo neste bojo
todos os factores anteriormente apontados, como
elementos capazes de gerar, não só a aderência ao
esporte, mas a forma consciente de introjeção no
mesmo.
A torcida pode ser um factor de cobranças e exigências, mas, aparentemente, conforme os dados obtidos pelos instrumentos aplicados, os alunos-atletas
se sentem motivados por esta forma de pressão
social no esporte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados decorrentes deste estudo evidenciam
alguns indicadores importantes das inter-relações
entre torcida e atletas iniciantes, como a importância
do papel do pai na relação da criança com o futebol;
a dinamização propiciada pela presença dos pais nos
jogos, tornando-se um factor de motivação para
criança; os aspectos negativos causados pela crítica
da torcida, em que os iniciantes se sentem mal
quando recebem a desaprovação da torcida; e, por
fim, o incentivo da torcida como sendo um recurso
252
Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253
motivacional positivo para a actuação da criança.
As atitudes e comportamentos das crianças futebolistas recorrentes das interferências da torcida
durante os jogos são efectivamente influenciadas,
com base nos diversos níveis de interpretação pessoal, o que tem directa relação com as vivências
anteriores de uma criança, assim como, com seu
enredo psicológico.
Como sugestões advindas com base nos resultados
desta pesquisa, têm-se a importância de o técnico,
assim com o professor envolvido no processo de
acompanhamento das crianças iniciantes no esporte,
promover encontros e reuniões periódicas com os
pais e com os próprios alunos-atletas, evidenciando
todas estas questões que permearam as discussões
neste estudo.
De igual importância são as preparações psicológica
e pedagógica do professor ou técnico, para lidar com
os estados subjectivos que envolvem a dinâmica da
prática profissional, salientando estas temáticas nos
cursos de formação nas Ciências da Motricidade,
além da necessidade de se implementar a leitura de
bibliografia actualizada.
Os resultados apontam para uma relação mais harmoniosa entre os alunos-atletas e os pais e a compreensão por parte desses de que o esporte praticado
pelas crianças, no caso o futebol, têm sua finalidade
na socialização, e ainda, a torcida, composta na
maioria pelos pais, tem papel extremamente importante para que, cada vez mais, se possa interagir com
a criança de maneira saudável.
Os pais que convivem com ela diariamente e a acompanham no esporte influenciam directamente, assim
como os professores e técnicos e outros elementos,
especialmente àquelas crianças mais sensíveis e com
personalidade mais vulnerável a criticas.
À medida que todos os elementos envolvidos puderem interagir de forma mais positiva e equilibrada,
pensando, não apenas no momento do afã do jogo,
mas sim, na possibilidade de concretização de objectivos educacionais, acompanhando e apoiando as crianças, estes poderão efectivamente fazer a diferença,
investindo em uma formação mais autónoma e motivada, impelindo-as a incorporarem o esporte em suas
vidas de maneira prazerosa e por opção própria, transformando a simples experiência corporal, na perspectiva de assimilação de valores existenciais qualitativos.
A complexidade das relações na iniciação ao futebol
Torna-se importante a elaboração de novos estudos,
capazes de levar em consideração a pedagogia do
esporte, bem como a psicologia do esporte, envolvendo a iniciação esportiva do futebol em suas relações com uma rede de evidências de complexidades,
as quais devem ser melhor discutidas, tendo em
vista a decisiva e directa influência no que concernem às relações interpessoais pertinentes ao esporte
e, especificamente, à formação esportiva da criança,
em fase inicial.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CORRESPONDÊNCIA
Fabrício Moreira Filgueira
Rua Dr. João Palma Travassos, 576 apt. 42
Jardim Macedo – Ribeirão Preto/SP
Cep: 14.091-18
e-mail: fmfmoreira@terra.com.br
Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253
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ARTIGOS DE
REVISÃO
[REVIEWS]
Stress oxidativo e dano oxidativo muscular esquelético:
influência do exercício agudo inabitual e do treino físico
Filipe Ferreira
Rita Ferreira
José Alberto Duarte
Centro de Investigação em Actividade Física, Saúde e Lazer
Faculdade de Desporto
Universidade do Porto
Portugal
RESUMO
A designação “espécies reactivas” (ER) é utilizada para englobar os radicais livres e outras moléculas, as quais, apesar de
não possuírem átomos com electrões desemparelhados, são
potencialmente geradoras desses radicais. Estas substâncias,
naturalmente formadas em situações basais pelo metabolismo
celular, são capazes, devido à sua elevada reactividade, de
modificar a maioria das moléculas biológicas, colocando em
risco a funcionalidade e a viabilidade celular. Particularmente a
nível muscular esquelético, a mitocôndria parece constituir a
principal fonte e, simultaneamente, o principal alvo das ER. No
entanto, a Xantina Oxidase, a Fosfolipase A2, a desaminação
das catecolaminas, assim como a infiltração tecidual pós-exercício de leucócitos, poderão contribuir também como fontes adicionais de ER nos músculos exercitados. A ocorrência e a
intensidade do resultante dano oxidativo, tanto no músculo
esquelético, como nos restantes órgãos e tecidos corporais,
para além da taxa de síntese de ER, estão também dependente
da capacidade antioxidante que o tecido expressa, quer à custa
de antioxidantes endógenos, quer exógenos provenientes da
dieta. Essa capacidade antioxidante depende não só do papel
específico de cada um dos mecanismos antioxidantes, enzimáticos e não enzimáticos, como também da cooperação entre os
mesmos. Como resultado do exercício físico agudo, as taxas de
produção de ER de oxigénio aumentam, tal como o dano muscular causado por estes mesmos compostos. Contudo, com a
repetição regular do exercício físico (treino), os resultados da
literatura mostram que os músculos aumentam a sua capacidade antioxidante, tornando-os mais protegidos contra as ER formadas, não só em repouso, como também durante os exercícios agudos subsequentes.
ABSTRACT
Oxidative stress and damage in skeletal muscle:
Influence of unusual acute exercise and physical conditioning
Palavras-chave: radicais livres, espécies reactivas, antioxidantes,
lesão oxidativa, exercício exaustivo, exercício regular
The designation “reactive species” (RS) is currently used to classify the
free radicals and other kind of molecules that despite not containing
atoms with unpaired electrons are potentially producers of those radicals. These substances are naturally created at basal conditions by the
cellular metabolism, and due to its high reactivity are able of modifying
the structure of most of the biological molecules, placing in risk the cellular functionality and viability. Particularly in the skeletal muscle, the
mitochondria seem to be the main source of RS and, simultaneously,
the main target of these compounds. Xanthine Oxidase, the
Phospholipase A2, the catecholamine deamination, as well as the tissue
infiltration by leukocytes after exercise, may also contribute as additional sources of RS in exercised muscles. The occurrence and the intensity of the RS-induced oxidative damage in the skeletal muscle or in the
remaining organs and tissues, behind the rate of RS synthesis, are also
dependent of the antioxidant capacity of the tissue carried out by
endogenous and exogenous substances. This antioxidant capacity, performed by enzymatic and non-enzymatic mechanisms, is dependent of
the specific paper of each antioxidant and, moreover, also depends of
the cooperation between them. As a consequence of the acute and
unusual exercise, the production rate of RS of oxygen in skeletal muscle
increases severely as well as the oxidative damage caused by these compounds. However, with the regular practice of physical exercise the
recruited skeletal muscles increase their antioxidant capacity, becoming
more protected against RS, not only at rest conditions but also during
the subsequent practice of acute exercises.
Key-words: free radicals, reactive species, antioxidants, oxidative
damage, exhaustive exercise, physical training
Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275
257
Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte
INTRODUÇÃO
Hoje é unanimemente aceite que o exercício físico,
quando praticado de forma regular, é determinante
para a aquisição de um estilo de vida saudável, comportando-se como um agente terapêutico e/ou de
prevenção para numerosas situações de morbilidade,
com a consequente diminuição da mortalidade que
lhes está associada(18, 75). No entanto, em franca oposição aos seus potenciais efeitos benéficos, o exercício físico agudo pode, sobretudo se inabitual e
exaustivo, também induzir alterações orgânicas
nefastas, especialmente quando os diferentes tecidos, órgãos ou sistemas não se encontram suficientemente adaptados para suportar, sem grandes alterações homeostáticas, os diferentes tipos de sobrecarga que lhes são exigidas(75, 92, 99, 100). De facto,
para além do aumento do stress mecânico imposto,
por exemplo, às fibras musculares esqueléticas solicitadas e às células dos sistemas osteo-articular e
cardiovascular, também as elevações da temperatura
corporal e da taxa metabólica, que se fazem sentir
quer a nível muscular esquelético quer sistémico,
ocorrem durante o exercício agudo(99, 100, 101). Para
além destas solicitações orgânicas, há cada vez mais
evidências de que, durante o exercício físico agudo,
tal como em qualquer outra situação que envolva
um aumento súbito do metabolismo celular, ocorre
também uma concomitante sobrecarga orgânica oxidativa, com a consequente lesão oxidativa(7, 29, 31, 36,
41, 49, 67, 82, 89, 92, 93, 95, 98, 111, 117), cuja magnitude parece
ser dependente da intensidade, da duração e do tipo
de exercício realizado(107). Esta sobrecarga oxidativa,
normalmente designada por stress oxidativo, para
além de se fazer sentir mais intensamente nos músculos esqueléticos, tem sido relatada também em
muitos outros órgãos e sistemas corporais responsáveis pela regulação e manutenção da homeostasia
orgânica(7, 8, 10, 17, 29, 64), cuja funcionalidade se encontra igualmente aumentada durante o exercício(99).
Estando o stress oxidativo fortemente associado à
fisiopatologia de numerosas patologias e doenças de
carácter crónico/degenerativo, assim como às alterações degenerativas teciduais que caracterizam o
envelhecimento orgânico(2, 15, 51, 52, 53), poderá ser
difícil, numa primeira análise, conciliar o incremento
do stress oxidativo induzido pelo exercício agudo
com os seus potenciais efeitos benéficos para a
258
Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275
saúde de quem o pratica. Contudo, a prática regular
de exercício físico (o treino físico), pode, quando eficazmente adaptado para cada indivíduo, aumentar a
capacidade de defesa orgânica contra a ocorrência
dessas lesões oxidativas em diferentes órgãos e tecidos corporais, dando uma maior protecção celular e
tecidual aos indivíduos treinados, a qual se faz sentir
quer em situações de repouso, quer durante a prática do exercício agudo(41, 61, 62, 65, 84).
Com o presente trabalho pretende-se mostrar que as
evidências quanto à ocorrência de stress oxidativo
com o exercício físico e à influência do treino físico,
não só não são contraditórias como se encontram
em perfeita sintonia. Para esse fim, serão analisados
nos músculos esqueléticos, especialmente em situações fisiológicas, quer seja em repouso, quer seja
durante ou após o exercício agudo, as principais fontes de radicais livres e de espécies reactivas de oxigénio, as suas repercussões moleculares bem como os
mecanismos de defesa antioxidante de que as fibras
musculares estão munidas. Será também analisado o
potencial efeito benéfico do treino físico na capacidade antioxidante muscular esquelética e as suas
repercussões na magnitude do stress oxidativo e da
lesão oxidativa, quer em situação de repouso, quer
durante o exercício físico agudo.
RADICAIS LIVRES VS. ESPÉCIES REACTIVAS
Em 1954, a argentina Rebeca Gerschman sugeria,
pela primeira vez, que os radicais livres (RL) eram
agentes tóxicos e potencialmente geradores de condições patológicas ou de doenças(para refs. ver 46). Estes
agentes constituem um grupo de substâncias químicas que se caracterizam por possuírem um ou mais
electrões desemparelhados numa das suas orbitais
externas(32, 43, 51, 61, 102, 110). É esta particularidade que
lhes confere a reactividade e a instabilidade química
que os caracterizam, tendendo a interagir com
outras moléculas na sua proximidade, através da
captação (comportando-se como oxidantes) ou da
cedência (actuando como redutores) de electrões
e/ou de átomos de hidrogénio(44, 109, 125). Deste
modo, particularmente quando presentes em elevadas concentrações, eles podem induzir alterações
severas na estrutura de moléculas fundamentais para
a manutenção da homeostasia celular, resultando
numa possível perda de funcionalidade ou até
Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético
mesmo na perda de viabilidade da célula(38, 51, 74, 86).
Contudo, para além desta potencial acção nefasta
sobre a integridade e a funcionalidade das diferentes
moléculas, os RL e outras substâncias com eles relacionadas, têm também sido responsabilizados pela
regulação de importantes mecanismos fisiológicos,
tais como a sinalização celular, a regulação da
expressão de alguns genes(32, 66, 85, 124), a mediação da
reacção inflamatória e a potenciação dos mecanismos de defesa orgânica, uma vez que fazem parte
integrante do arsenal de armas letais leucocitárias(32,
56, 102). A nível muscular esquelético, estas substâncias têm sido largamente estudadas, quer em situações de patologia ou de doença (local ou sistémica
com repercussões musculares), quer em situações
fisiológicas (em condição basal ou durante o exercício físico). Assim, é hoje unanimemente aceite que a
taxa de produção de RL a nível muscular esquelético
se encontra elevada em algumas situações de doença
ou patologia(28, 37, 51, 114) e que, em indivíduos saudáveis, em situações fisiológicas, pode ser incrementada, comparativamente às situações de repouso, em
função da intensidade, duração e tipo de exercício
físico efectuado (107).
Os RL podem ser encontrados em grande quantidade na natureza associados aos átomos de carbono,
enxofre, azoto e de oxigénio(51, 102), sendo classificados em função do átomo portador do(s)
electrão(ões) desemparelhado(s) (Figura 1).
mais prevalentes nos organismos vivos que utilizam
o oxigénio como comburente(51, 102). Existem, contudo, outras moléculas altamente reactivas e potencialmente tóxicas para o organismo, as quais, pelo facto
de não conterem qualquer electrão desemparelhado
nas suas orbitais, não se enquadram na definição de
RL(102). Apesar de não serem verdadeiros radicais,
estas moléculas, onde se incluem o peróxido de
hidrogénio (H2O2) e o ácido hipocloroso (HOCl),
são potenciais geradoras de RL e, por essa razão, as
suas repercussões orgânicas, fisiológicas ou tóxicas,
devem ser igualmente tidas em consideração(43, 51, 61,
74, 102, 109). Por essa razão, em detrimento da designação RL, passou a utilizar-se a designação “espécies
reactivas”, para englobar os RL e também essas
moléculas que, apesar de não possuírem átomos
com electrões desemparelhados, são potencialmente
geradoras desses radicais (Figura 2). À semelhança
do assumido para os RLO, as espécies reactivas de
oxigénio (ERO) parecem ser aquelas com maior
expressão e com maiores repercussões orgânicas,
apesar de algumas espécies reactivas de nitrogénio
poderem também desempenhar importantes funções
na sinalização celular, quer em situações fisiológicas,
quer patológicas(19).
Figura 2. Espécies reactivas de ox igénio, radicais e não radicais, potencialmente sintetizadas nos organismos que uti l izam o ox igénio como comburente.
Figura 1. Classificação dos radicais livres de acordo com o átomo que contém o(s) electrão(ões) desemparelhado(s). Por norma, a existência destes
electrões é assinalada na fórmula química da molécula com a colocação de
um ponto (. ) no átomo em causa, tal como assinalado na figura.
Todavia, os radicais livres de oxigénio (RLO),
nomeadamente o radical superóxido (O2•–) e o radical hidroxilo (HO•), são aqueles que possuem uma
maior relevância biológica, não só devido à sua elevada toxicidade, mas também pelo facto de serem os
O O2•– é a forma reduzida do oxigénio molecular
formado através da captação de um electrão(32, 51, 74,
102). Esta molécula não consegue atravessar facilmente as membranas celulares, ficando normalmente
confinada ao compartimento onde é produzida
(habitualmente na matriz mitocondrial)(38). Pode, no
entanto, desencadear uma série de reacções químicas
com os ácidos gordos dos fosfolípidos e, dessa
forma, comprometer a organização membranar, a
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259
Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte
qual é fundamental para o normal funcionamento
celular(38, 48, 61, 62, 63, 102). O O2•– pode sofrer dismutação, espontaneamente ou por acção enzimática,
motivando a formação de H2O2 (32, 44, 74). Ao contrário do O2•–, o H2O2 possui a capacidade de atravessar
facilmente as membranas biológicas, apresentandose como a ERO menos reactiva da sua espécie e cuja
estabilidade está dependente, entre outros factores,
da presença de iões metálicos livres nas suas proximidades(32, 51, 74, 102). De facto, esta espécie pode
comportar-se como um intermediário decisivo para a
síntese de ERO mais reactivas, como o HO•, a partir
da oxidação de metais de transição que se encontrem na sua forma livre, nomeadamente, o ferro
(Fe2+) e o cobre (Cu+)(24, 32, 74, 104). O principal metal
de transição responsável pela transformação do H2O2
em HO• é o Fe2+, através da reacção de Fenton, que
ocorre, basicamente, através da reacção de um
átomo de Fe2+ e uma molécula de H 2O2, com a consequente produção de uma molécula de HO• (Figura
3). O Fe3+ pode ser novamente reduzido a Fe2+, sob
a acção do O2•– (51, 102).
Figura 3. Reacções de Fenton e de Haber-Weiss,
com a formação do radical hidroxilo.
O HO• possui uma elevada reactividade para com as
biomoléculas adjacentes, sendo, provavelmente, a
ERO que mais alterações estruturais induz nos sistemas biológicos(61, 74, 102, 109). Esta ERO, ao retirar um
átomo de hidrogénio aos ácidos gordos poli-insaturados das membranas celulares, inicia o processo de
peroxidação lipídica, com as consequentes alterações
estruturais e funcionais membranares(102, 107, 114). A
reacção de uma ERO com uma outra molécula adjacente pode produzir uma ERO diferente, podendo,
esta última, ser mais ou menos reactiva do que a ERO
inicial. Este processo tende a repetir-se continuamen-
260
Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275
te, terminando apenas quando a extremidade radical
que contém o electrão desemparelhado formar uma
ligação covalente com o electrão desemparelhado de
outro radical(32, 80, 102). As principais alterações estruturais e funcionais induzidas pelas ERO nos diferentes componentes orgânicos, assim como as suas consequentes repercussões na funcionalidade celular,
estão ilustradas, de forma resumida, na figura 4.
FONTES DE PRODUÇÃO DE ERO
Pelo simples facto de consumir oxigénio, o metabolismo celular, mesmo em situações basais, promove
uma contínua formação de ERO, através da redução
da molécula de oxigénio(15, 32, 41, 43, 58, 85, 86). Estas
ERO podem ser produzidas em vários locais da célula, nomeadamente nas mitocôndrias, no retículo
endoplasmático, nos lisossomas, nas membranas
celulares, nos peroxissomas e no citosol(2, 15, 72, 74, 85).
Contudo, de todas as fontes referidas, a mitocôndria
parece constituir a principal fonte de ERO no músculo esquelético, quer em repouso, quer durante o
exercício agudo(2, 15, 16, 31, 72, 115). Estima-se que este
organelo consuma cerca de 90% da totalidade do
oxigénio utilizado pelo organismo, constituindo-se
como a principal fonte de energia das células eucarióticas através da fosforilação oxidativa(30, 31, 72, 99).
Neste processo, a mitocôndria utiliza a energia obtida nas transferências de electrões entre os complexos da cadeia de transporte de electrões (CTE) para
bombear protões da matriz para o espaço intermembranar(30, 31, 58). Deste processo, para além da criação
de um gradiente electroquímico transmembranar
(entre a matriz e o espaço intermembranar), originase também um produto final inócuo para as células:
a água(30, 31, 43, 46, 51, 58). Todavia, o transporte de electrões na CTE pode não ser totalmente canalizado
para o transporte transmembranar de protões e para
formação de água, podendo haver uma pequena porção de electrões que reage directamente com o oxigénio molecular, conduzindo à formação de ERO
(Figura 5)(51, 58, 61, 102). De acordo com a configuração
electrónica da sua molécula, o oxigénio pode ser
considerado um bi-radical uma vez que possui na
sua orbital externa dois electrões desemparelhados
com spins paralelos, sendo dessa forma considerada
uma molécula potencialmente oxidativa pela sua
tendência para captar electrões(80, 85). Assim, através
Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético
da redução do oxigénio
molecular com um, dois
ou três electrões, origina-se, respectivamente,
o O2•–, o H2O2 ou o
HO• (Figura 5)(85).
Estima-se que cerca de
2 a 5% do oxigénio
total consumido origine, por este processo, a
síntese de ERO, particularmente nos complexos I e III (46, 58, 74, 87,
121). Uma vez que taxa
de formação destes
compostos na mitocôndria parece ser proporcional à quantidade de
oxigénio aí consumido
por unidade de tempo,
Figura 4. Mecanismos indutores de lesão celular motivados pela interacção das espécies reactivas de oxigénio com os
diferentes componentes da célula (DNA – Ácido desoxirribonucleico; AGEP – Produtos de glicação avançada).
com o aumento da contracção muscular e com
o consequente aumento
da taxa do consumo de
oxigénio, é aumentada
também a taxa de síntese de ERO, agravando
desse modo a agressão
oxidativa muscular(61, 62,
65, 86, 119). Como já referido, devido à sua elevada reactividade, as ERO
são capazes de modifiFigura 5. Distribuição dos electrões na orbital externa da molécula de oxigénio e redução da molécula a água, com o
car a maioria das moléconjunto de reacções intermédias não enzimáticas que justificam a formação de espécies reactivas de oxigénio na
culas biológicas(50, 52, 53,
cadeia de transporte de electrões.
85, 102). Por exemplo, a
cas, sugere que este organelo é, não só, o principal
reacção do HO• com outras moléculas biológicas é
local de formação de ERO nas células em geral mas,
bastante lesiva para a estrutura e funcionalidade
possivelmente também, o maior alvo da acção nefascelular, sendo responsável por alterações estruturais
ta destes compostos(80).
nas moléculas de ADN (reagindo, quer com as bases
Apesar da mitocôndria se apresentar como o principúricas, quer com as pirimídicas), nas proteínas e
pal local de produção de ERO, existem, contudo,
por destruição das membranas, fruto da sua reacção
outras fontes celulares para a sua formação(15, 72),
com os ácidos gordos poli-insaturados, dando oriestando algumas activas em condições fisiológicas
gem a uma série de reacções em cadeia de peroxidabasais, enquanto outras são activadas apenas em cirção lípidica (Figura 4)(58, 74, 80, 112). A elevação de
cunstâncias especiais, tais como durante o exercício
marcadores indirectos de peroxidação lipídica em
físico exaustivo e inabitual(2, 3, 23, 26, 44). À semelhança
mitocôndrias isoladas com perturbações homeostáti-
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261
Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte
do verificado nas situações de isquemia/reperfusão
muscular(3), supõe-se que a Xantina Oxidase (XO)
possa também contribuir para a exagerada produção
tecidual de ERO motivada pelo exercício físico
agudo(20, 32, 34, 49, 54, 55). Esta enzima está presente em
grandes quantidades no endotélio vascular dos músculos esqueléticos e é responsável pela conversão da
Hipoxantina em Xantina e esta em Ácido Úrico
(Figura 6)(20, 91, 122). Apesar da designação, a XO, in
vivo, e em condições homeostáticas, actua quimicamente como uma desidrogenase, utilizando a
Nicotinamida Adenina-dinucleótido (NAD+) como
receptor de átomos de hidrogénio. No entanto, em
circunstâncias especiais, tais como as que ocorrem
em situações de isquemia/reperfusão ou durante o
exercício físico agudo exaustivo, a XO pode converter-se, por acção proteolítica, numa oxidase oxigénio-dependente, passando a utilizar o oxigénio adjacente como receptor de electrões, motivando, assim,
a formação de ERO (Figura 6)(20, 34, 49, 55, 91). Na base
desta alteração funcional da XO pensa-se estar a
activação das calpaínas, uma família de proteases
citoplasmáticas especialmente estimuladas pela elevação térmica tecidual e/ou pelas elevadas concentrações intracelulares do ião cálcio na sua forma
livre(20, 54, 59, 91). A conversão da XO, da forma de
desidrogenase para a forma de oxidase oxigéniodependente, associada a situações de grande disponibilidade dos substratos desta enzima, decorrentes do
facto da elevada taxa de utilização de Adenosina
Trifosfato (ATP) ser, pelo menos nos momentos de
ajuste metabólico, superior à sua taxa de resíntese
(99), constituem situações propícias para a síntese
adicional de ERO no músculo esquelético exercitado
(Figura 6)(20, 54, 55, 59).
Também a Fosfolipase A2 (PLA2) muscular, particularmente activada durante o exercício físico, poderá
constituir outra fonte importante para a produção de
ERO(4, 59, 61, 76). Esta enzima, localizada no sarcolema, na membrana dos diferentes organelos, no sarcoplasma e no interior dos lisossomas, utiliza os fosfolípidos das membranas para a síntese de Ácido
Araquidónico, o qual é substrato para a acção subsequente da Ciclo-oxigenase e da Lipo-oxigenase motivando a formação de prostaglandinas, leucotrienos,
tromboxanos e, concomitantemente, ERO (76). Se,
por um lado, a PLA2 parece ter algum papel protec-
262
Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275
tor nas membranas celulares, pela remoção dos
hidroperóxidos resultantes da peroxidação lipídica,
por outro, os lisofosfolípidos e o ácido araquidónico
resultantes da acção desta enzima, têm um efeito
detergente nas membranas celulares podendo,
assim, motivar a perda da permeabilidade selectiva
do sarcolema, favorecendo a perda da homeostasia
celular ao ião cálcio e a difusão de compostos sarcoplasmáticos para o espaço intercelular(4, 32, 67, 76).
Este fenómeno poderá explicar a forte correlação,
descrita em humanos, entre a concentração sérica de
substâncias reactivas ao ácido tiobarbitúrico
(TBARS), um marcador indirecto de peroxidação
lipídica, e a actividade plasmática da Creatina Kinase
(CK) após situações de exercício agudo exaustivo(90).
São muitas as evidências do aumento da actividade
da PLA2 durante e/ou após o exercício físico agudo.
Por exemplo, Symons et al.(113) demonstraram a acumulação de prostaglandina E2 (PGE2) no músculo
esquelético após um breve período de electro-estimulação e, também em situação de estimulação
mecânica passiva, Vandenburgh et al.(116) observaram
nas fibras musculares um aumento da produção de
PGE2 e da proteólise tecidual(para mais refs. ver 6).
Não é, por isso, de surpreender que, após a realização de um exercício físico, particularmente se este
for inabitual, efectuado com elevada intensidade
e/ou com elevada percentagem de contracções
excêntricas, se observem alterações degenerativas
das células musculares nos músculos exercitados,
quer em animais de laboratório, quer em humanos
(Figura 7)(para refs. ver 4, 6, 38, 62, 119).
Muitos trabalhos têm sugerido que entre as causas
destas alterações degenerativas, para além da
excessiva tensão exercida sobre os sarcómeros(79) e
do aumento da temperatura corporal, esteja também a lesão oxidativa tecidual motivada pela produção exagerada de ERO(36, 79, 82). Estas situações
favorecem a desregulação homeostática ao ião cálcio, a qual é especialmente sensível à acção das
ERO, seja pelo facto destas interagirem negativamente com a actividade de muitas enzimas envolvidas no metabolismo daquele ião, nomeadamente
as AT Pases transportadoras de cálcio(47, 121), seja
pelo facto de induzirem disfunção membranar por
peroxidação lipídica (51, 58). Ao criar condições favoráveis à acumulação intracelular exagerada e pro-
Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético
Figura 6. Produção de espécies reactivas de oxigénio pela Xantina Oxidase durante o exercício agudo (NADPH/NADP+ – Formas reduzida
e oxidada da Nicotinamida Adenina-dinucleótido; ATP – Adenosina Trifosfato; ADP – Adenosina Difosfato; AMP – Adenosina Monofosfato).
Figura 7. Fotografia de
microscopia óptica de um
corte transversal do músculo soleus de ratinho sacrificado 24 horas após um exercício físico exaustivo. Para
além do alargamento do
espaço intersticial, é notória
uma área de necrose com
infiltração adjacente de
fagócitos, sugerindo a presença de uma reacção inflamatória muscular.
Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275
263
Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte
longada do ião cálcio livre nas fibras musculares, o
exercício físico excessivo pode, assim, induzir uma
activação de enzimas proteolíticas dependentes do
ião cálcio, as quais poderão comprometer a viabilidade das células ou, como no caso das fibras musculares, de algumas das suas áreas (47). Assim, para
além da hipotética contribuição dos detritos celulares, resultantes destes processos degenerativos
motivados pelo exercício(4, 33), também os leucócitos que posteriormente se infiltram no tecido
podem ser uma importante fonte muscular adicional de produção de ERO, contribuindo, dessa
forma, para a agressão oxidativa associada ao
aumento agudo da actividade muscular(33, 54, 55, 59),
especialmente algumas horas após o término do
ex e r c í c i o (33). Um a três dias após o ex e r c í c i o
agudo, a resposta inflamatória nos músculos agredidos parece estar completamente estabelecida(4,
33) , com alguns polimorfonucleares e numerosos
mononucleares dispersos pelo endomísio e no
interior de algumas fibras lesadas(4) . Para além dos
trabalhos realizados com animais de laboratório, a
infiltração muscular de leucócitos tem também
sido descrita em humanos, particularmente após
exercícios realizados com grande percentagem de
contracções ex c ê n t r i c a s(40, 82, 83). De facto, durante
a resposta de fase aguda, os neutrófilos são atraídos para a área lesada, libertando enzimas lisossómicas e ERO(32, 54, 59, 83). Na presença de agentes
perturbadores da estabilidade da membrana citoplasmática dos neutrófilos, é estimulada a produção de O2•– por acção da enzima NADPH
Oxidase (54, 59), a qual, na presença de Ad e n o s i n a
Difosfato (ADP) e Fe3+, cataliza a transferência de
um electrão da forma reduzida da Nicotinamida
Adenina-dinucleótido Fosfato (NADPH+H+ ) para
o O2, dando origem à formação do radical superóxido(16). Para além do O2•–, os neutrófilos têm sido
também referidos como fonte de um conjunto de
outras ER, incluindo o H2O2 e o HOCl, as quais se
têm mostrado decisivas para um eficaz combate a
agentes patogénicos invasores (Figura 8)(54, 59).
Tendo em consideração os tempos de maior ou
menor actividade das fontes de ERO atrás referidas, a figura 9 ilustra, de forma grosseira, a hipotética contribuição relativa de cada uma dessas fontes, durante e após o exercício físico agudo(4, 33, 34).
264
Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275
Figura 8. Vias de produção de espécies reactivas de oxigénio pelos fagócitos
que infiltram o tecido (SOD – Superoxido Dismutase; MPO – Mieloperoxidase;
NADPH/NADP+ – Formas reduzida e oxidada da Nicotinamida Adenina-dinucleótido Fosfato).
Figura 9. Hipotética contribuição relativa das principais fontes musculares
esqueléticas de produção de espécies reactivas de oxigénio durante e após
o exercício físico agudo (PLA2 – Fosfolipase A2).
Um outro possível mecanismo de formação de ERO
durante a contracção muscular esquelética pode
estar relacionado com a oxidação das catecolaminas
circulantes(23, 35). Estas hormonas são normalmente
inactivadas in vivo de duas formas: i) ou por via enzimática, pela acção da Monoamina Oxidase (MAO) e
da Catecol-O-Metiltransferase (COMT), ou então ii)
por via não enzimática, pela sua própria auto-oxidação, que ocorre normalmente quando as vias enzimáticas estão saturadas(121). Por cada molécula oxidada pela MAO origina-se uma molécula de H 2O2.
Na sua auto-oxidação, a formação de derivados quinónicos, a partir das catecolaminas, leva também à
formação de ERO(23, 42, 91, 121). Assim, como resultado do aumento da estimulação do sistema nervoso
autónomo simpático, durante o exercício físico
agudo há um aumento das concentrações de catecolaminas circulantes, o qual parece ser proporcional à
intensidade do exercício efectuado(99). Esta situação
motiva o incremento da taxa de oxidação das aminas
Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético
biogénicas, podendo resultar numa formação acrescida de ERO, em particular de H2O2. Resultados experimentais sugerem que o metabolismo destas aminas
também pode ocorrer no músculo esquelético(35),
especialmente em situações onde as suas concentrações séricas estão elevadas, tal como ocorre durante
o exercício físico agudo, uma vez que a inibição da
MAO pela pargilina, motiva uma diminuição acentuada da taxa de produção muscular de H2O2.
Para além da MAO e à semelhança do ocorrido noutros tecidos, é possível que outros sistemas enzimáticos possam também participar activamente na produção de H2O2 no músculo esquelético em situações
basais e durante o exercício físico(1, 74, 123). Contudo,
nestas situações fisiológicas, acredita-se que a dismutação do O2•–, de forma espontânea ou por acção
da superóxido dismutase (SOD), deva ser a mais
importante fonte de produção de H2O2 no músculo
esquelético(74).
SISTEMA DE DEFESA ANTIOXIDANTE
Devido ao elevado potencial de toxicidade do oxigénio e à sua grande utilização pelos organismos aeróbios, torna-se necessário que estes estejam suficientemente munidos de uma diversidade de sistemas
antioxidantes para proteger as suas células dos efeitos nocivos das ERO(14, 38, 70, 74). Com o aumento
agudo da taxa de produção de ERO, não só nos músculos recrutados mas também no organismo em
geral, o exercício físico pode estar a comprometer, a
longo prazo, a funcionalidade dos diferentes órgãos e
sistemas e, dessa forma, a longevidade dos indivíduos que o praticam(86). Contudo, apesar da lógica
deste pressuposto, numerosos trabalhos realizados
com Drosophila, submetidas ao exercício físico regular, e com ratos, submetidos a restrição calórica e
inactividade física, têm evidenciado um efeito benéfico notório da actividade física regular, quer na longevidade dos animais quer nos marcadores de lesão
oxidativa tecidual em situações basais e de exercício
agudo(para refs. ver 80, 86, 119). De facto, o aumento, em
situações basais, da actividade dos sistemas celulares
de defesa directamente relacionados com a inactivação das ERO, parecem constituir adaptações crónicas
induzidas por um período prévio de treino físico, as
quais atenuam a agressividade das ERO para com as
estruturas biológicas(17, 86). Tais adaptações parecem
conferir às células uma maior resistência ao potencial efeito nefasto das ERO, não só para as que são
formadas normalmente em repouso, atenuando
assim as lesões oxidativas diárias e, hipoteticamente,
os fenómenos degenerativos associados ao envelhecimento orgânico(2, 15), mas também para aquelas
originadas mais intensamente pelo exercício agudo,
protegendo os atletas da sobrecarga oxidativa induzida pelos seus exercícios diários e, dessa forma, favorecendo a sua recuperação orgânica(24, 41, 99, 100).
Um antioxidante é, por definição, qualquer substância que, quando presente em baixas concentrações
relativamente às dos potenciais substratos oxidáveis,
atrasa significativamente, ou inibe, a oxidação desses
substratos pelas ERO(32, 51, 110). Estas substâncias
possuem a capacidade de fornecer electrões/átomos
de hidrogénio às ERO sem se transformarem em
moléculas instáveis. Os mecanismos de defesa antioxidante nos diferentes tecidos compreendem sistemas enzimáticos e não enzimáticos(48) e podem ser
classificados em função do seu mecanismo de acção
predominante (antioxidantes de prevenção, de intercepção e de reparação), da sua localização orgânica
(antioxidantes intracelulares e extracelulares) e da
sua proveniência, seja da dieta (antioxidantes exógenos), seja da síntese endógena (antioxidantes endógenos) (Tabela 1). Os antioxidantes de prevenção
são aqueles que criam condições favoráveis para evitar a formação de ERO, e dos quais são exemplos as
proteínas que se ligam aos iões metálicos de transição, prevenindo a sua presença na forma livre ou,
então, as enzimas responsáveis pela manutenção do
equilíbrio redox da célula e pela redução de antioxidantes de intercepção previamente oxidados, como é
o caso da glutationa; o zinco e o selénio, provenientes da dieta, apesar de não terem, por si só, uma
acção antioxidante directa, estão englobados no
grupo dos antioxidantes de prevenção porque são
imprescindíveis para a correcta funcionalidade de
algumas enzimas antioxidantes; os antioxidantes de
intercepção são todos aqueles que reagindo directamente com as ERO, as transformam em substâncias
menos reactivas ou até não reactivas, impedindo
dessa forma o seu ataque às estruturas celulares; os
antioxidantes de reparação favorecem a remoção dos
danos moleculares causados pelas ERO e a reconstituição da estrutura e da homeostasia celular(32, 45, 60).
Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275
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Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte
Tabela 1. Origem (endógena ou exógena), localização (intracelular ou extracelular) e mecanismos
de acção (prevenção, intercepção ou reparação) dos principais antioxidantes orgânicos.
Antioxidantes Exógenos
Prevenção
Zinco
Selénio
Intercepção
Ácido Ascórbico
Alfa-tocoferol
Carotenoides
Antioxidantes Endógenos
Extracelulares
Intracelulares
Prevenção
Prevenção
Albumina
Glutationa Peroxidase
Bilirrubina
Superóxido Dismutase
Ceruloplasmina
Catalase
Ferritina
Glutationa Redutase
Mioglobina
Metalotioneína
Intercepç ã o
Haptoglobina
Glutationa
Ácido Úrico
Coenzima Q
Repara ç ã o
Metaloenzimas
No interior da célula, a eliminação dos compostos
reactivos, efectuada quer por antioxidantes exógenos, quer endógenos, constitui um pré requisito para
a sobrevivência celular, sendo normalmente efectuada por: 1) sistemas enzimáticos, englobados nos
antioxidantes classificados de prevenção, tais como a
SOD, a Catalase (CAT) e a Glutationa Peroxidase
(GPx); 2) moléculas que neutralizam os radicais no
meio aquoso, classificadas como antioxidantes de
intercepção, como o Ascorbato, Urato e a Glutationa
reduzida (GSH); 3) moléculas que neutralizam os
radicais no interior das membranas, classificadas
como antioxidantes de intercepção, como os
Tocoferois, Flavonoides, Carotenoides e Ubiquinol;
4) enzimas envolvidas na redução de formas oxidadas de pequenos antioxidantes moleculares, também
consideradas antioxidantes de prevenção, tais como,
a Glutationa Redutase (GR), a Dihidroascorbato
Redutase (DR) ou aqueles que são responsáveis pela
manutenção dos grupos tiol das proteínas, como a
Tioredoxina Redutase (TR); e 5) mecanismos celulares que mantêm um meio reduzido, nomeadamente,
a Glucose-6-fosfato Desidrogenase, que regenera a
forma oxidada da Nicotinamida Adenina-dinucleótido Fosfato(15, 51, 74, 108, 110). Destes, os agentes que
apresentam um papel mais preponderante dentro
dos sistemas intracelulares de defesa antioxidante
são a SOD, a GPx e a CAT(14, 32, 48, 51, 74, 108, 110). Em
266
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situações de produção exagerada de ERO, cada uma
destas enzimas possui a capacidade de catalizar reacções que conduzem à produção de espécies menos
reactivas ou de neutralizar metabolitos do oxigénio
reactivo(100). A capacidade antioxidante de um organismo depende não só do papel específico de cada
mecanismo antioxidante, como também da cooperação entre os mesmos (Figuras 10 e 11). A forma
como as defesas se complementam difere não só
entre os organismos ou tecidos, mas também entre
os compartimentos celulares(108). Não parece pois
haver dúvidas de que, para além da taxa de produção
de ERO, o nível de lesão celular oxidativa motivada
pelas ERO está também intimamente dependente da
capacidade de defesa orgânica dos diferentes agentes
antioxidantes de prevenção ou de intercepção, assim
como da capacidade celular de reparação do hipotético dano sofrido.
Mecanismos enzimáticos
A GPx tem um papel determinante nos mamíferos e
nos processos de neutralização das ERO(14, 86) pois é
considerada a enzima mais importante para a oxidação do H2O2 a água(74). A GPx dos mamíferos tem
uma maior afinidade pelo H2O2 do que a CAT, o que
significa que em concentrações baixas de H2O2, a
GPx apresenta um papel muito mais activo na sua
remoção celular(74, 85, 103). O seu correcto funciona-
Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético
mento está dependente da presença de selénio na
sua constituição e da disponibilidade de H2O2 e de
outros hidroperóxidos, utilizando a GSH como dador
de electrões/hidrogénios, formando Glutationa oxidada (GSSH) e água (Figura 10)(14, 51, 85, 86, 120, 125).
Este funcionamento atribui à GPx um papel importante na protecção celular das membranas lipídicas,
proteínas e ácidos nucleicos contra os ERO(86).
Contrastando com a sua elevada actividade noutros
órgãos, nos músculos esqueléticos dos mamíferos a
actividade da GPx é muito reduzida(51) e varia em
função do tipo de fibra muscular, sendo as fibras
com características mais oxidativas, em oposição às
fibras glicolíticas, aquelas que apresentam uma
maior actividade desta enzima(98).
A GPx celular distribui-se pela mitocôndria e pelo
citosol(86). No músculo-esquelético, aproximadamente 45% da actividade da GPx é encontrada no citosol,
estando os restantes 55% na mitocôndria(63). Esta
localização mitocondrial e citoplasmática da GPx
permite a sua proximidade às diversas fontes de formação de hidroperóxidos, fazendo desta enzima um
dos principais neutralizadores de hidroperóxidos
provenientes das diferentes fontes celulares(86). A
mitocôndria possui dois tipos de enzimas com a função de peroxidase, a GPx clássica e a GPx dos hidroperóxidos lipídicos, sendo esta a única enzima intracelular capaz de reduzir directamente os hidroperóxidos de fosfolípidos e colesterol das membranas(5).
Devido ao facto da GSH ser oxidada pela GPx convertendo-se em GSSG, as células deverão possuir
uma via de regeneração de GSH. Esta reacção é catalisada pela enzima GR, que utiliza a Nicotinamida
Adenina-dinucleótido Fosfato na sua forma reduzida
(NADPH) como cofactor, transformando a GSSG
novamente em GSH(32, 51). Os níveis intracelulares
de GSH estão, deste modo, dependentes da interacção das enzimas GPx e GR, bem como dos mecanismos de resíntese intracelular e de captação de GSH a
partir do meio extracelular (Figura 11)(98). Por seu
lado, a GR não possui características antioxidantes
directas, sendo porém muito importante para o normal funcionamento do sistema antioxidante(86), uma
vez que a funcionalidade da GPx está dependente
dos níveis de GSH como dador de hidrogénios/electrões (Figura 10). Para além disso, a presença de
GSH em quantidades adequadas é também determi-
nante para a manutenção da homeostasia orgânica,
tendo em consideração a sua participação na síntese
de ADN e proteínas, na actividade de numerosas
enzimas intracelulares, na libertação de neurotransmissores no sistema nervoso e na eliminação hepática de compostos carcinógenicos(16, 32). Em condições
fisiológicas normais, a GR mantém mais de 98% da
GSH intracelular no estado reduzido, contribuindo,
assim, para a manutenção do meio intracelular em
estado reduzido(98). Para além da GPx, a redução dos
hidroperóxidos orgânicos com recurso à GSH pode
também ser catalisada por uma enzima independente do selénio, a Glutationa-S-Transferase (GST), a
qual pode actuar, quer como uma peroxidase, quer
como uma transferase(103, 109, 120). A actividade da
GPx parece ser particularmente importante na redução de hidroperóxidos orgânicos, enquanto que a
actividade da GST parece amplamente envolvida na
eliminação de compostos, particularmente a nível
hepático, através da conjugação com a glutationa(51).
A SOD, como já referido, metaboliza o O2•– com formação de H2O2 (Figura 10)(74, 85, 86). Nos mamíferos,
existem três isoenzimas da SOD, codificadas e reguladas de forma independente: a citosólica (Cu,ZnSOD ou SOD1), a mitocondrial (Mn-SOD ou SOD2)
e uma forma extracelular da Cu,Zn-SOD ou
(SOD3)(44, 105). A actividade da SOD total no músculo esquelético é inferior à do fígado e do rim, semelhante à do cérebro, coração e pâncreas e superior à
dos eritrócitos(para refs. ver 51). No músculo-esquelético,
15 a 35% da actividade total da SOD está localizada
nas mitocôndrias, estando as restantes 65 a 85% no
citosol(77). A actividade total desta enzima varia também com as características histoquímicas do músculo-esquelético, sendo os músculos com maior percentagem de fibras oxidativas aqueles que evidenciam uma maior percentagem desta enzima, comparativamente aos músculos com menor capacidade
oxidativa(25, 98).
A CAT é uma enzima presente na maioria dos organismos aeróbios e é responsável pela conversão do
H2O2 intracelular em água e oxigénio (Figura 10)(57,
74, 81, 86, 97), estando a maior parte da actividade desta
enzima localizada nos peroxissomas, tanto nos tecidos animais como nas plantas(51). As mitocôndrias e
o retículo endoplasmático contêm também alguma
actividade da CAT, embora muito reduzida, pelo que
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267
Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte
qualquer H2O2 formado in vivo nestes organelos não
deverá ser degradado expressivamente por esta via(51,
62). Na generalidade dos animais, a CAT está presente em praticamente todos os órgãos, estando particularmente concentrada no fígado e nos eritrócitos(51).
O cérebro, o coração, e os músculos esqueléticos
contêm pequenas quantidades, porém, a sua actividade é muito variável nos diversos músculos e em
diferentes regiões do mesmo músculo(51). Tal como a
SOD e a GPx, a actividade da CAT é mais elevada
nos músculos com predominância de fibras oxidativas e mais reduzida nos músculos com uma grande
percentagem de fibras glicolíticas(98).
Pelo exposto, fica claro que o organismo possui a
capacidade de oxidar o H2O2 a água, através de reacções catalizadas por duas enzimas: a CAT e a
GPx(57). Esta conversão é efectuada predominantemente pela GPx, estando a contribuição relativa
desta enzima na dependência das concentrações de
H2O2(57). De facto, a partir do momento em que a
taxa de H2O2 se eleva, podendo esta molécula constituir de substrato, via reacção de Fenton, para formar o HO•, acredita-se que a CAT adquira um papel
importante como um mecanismo adicional de defesa
antioxidante celular, limitando a acumulação intracelular de H2O2(57).
Figura 10. Reacções catalizadas pelas enzimas antioxidantes (GPx –
Glutationa Peroxidase; SOD – Superóxido Dismutase; CAT - Catalase; GR –
Glutationa Redutase; GSH e GSSG – Formas reduzida e oxidada da Glutationa;
NADPH e NADP+ - Formas reduzida e oxidada da Nicotinamida Adenina-dinucleótido Fostato).
No que respeita à influência imediata do exercício
físico agudo sobre a actividade destas enzimas antioxidantes, os resultados da literatura são confusos e
muitas vezes contraditórios(14, 70, 84), havendo necessidade de estudos adicionais esclarecedores daquele
efeito no tecido muscular esquelético. De facto, ape-
268
Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275
sar de se esperar que, devido à oxidação das proteínas musculares pelas elevadas taxas de formação de
ERO(21, 71, 96), a actividade enzimática em geral
pudesse ficar negativamente afectada, com diminuição simultânea da funcionalidade das diferentes
enzimas antioxidantes, nem todos os trabalhos experimentais o têm revelado(82). Independentemente do
potencial efeito negativo imediato sobre a capacidade antioxidante, é consensual que algumas ERO,
particularmente o H2O2, desempenham um importante papel na indução celular da expressão de
numerosos genes, entre os quais se encontram os
responsáveis pela síntese das enzimas antioxidantes(para mais refs. ver 14, 65, 66, 80, 88, 107). Assim, com o treino físico, à medida que os picos de produção de
ERO motivados pelo exercício agudo se vão sucedendo no tempo, será de esperar que a taxa de síntese dos antioxidantes vá também aumentando, proporcionando às células uma maior capacidade de
defesa contra esse tipo de situações agudas futuras(84, 111). Por essa razão, a quantificação da actividade das enzimas antioxidantes em situações basais
tem também permitido, de forma indirecta, inferir
sobre o nível de agressão oxidativa a que o músculo
foi sujeito em cada exercício agudo efectuado(71).
Os resultados da literatura são consensuais quanto a
este assunto, evidenciando um aumento da actividade do sistema de defesa antioxidante muscular após
um programa de treino físico(84, 117). Importa salientar que esta maior capacidade antioxidante não se faz
sentir apenas durante os momentos de exercício físico agudo, estando presente durante todas as restantes horas do dia onde a actividade contráctil muscular é mais reduzida (Figuras 12 e 13). Talvez este
facto explique a maior longevidade demonstrada nos
animais treinados, provavelmente pela maior atenuação das lesões oxidativas normalmente induzidas
pelo metabolismo basal das células(65, 86). Este
aumento da capacidade de defesa contra as ERO não
se faz sentir apenas no músculo esquelético, estando
presente em numerosos órgãos e tecidos. Por ex e mplo, em indivíduos treinados, comparativamente aos
sedentários, está descrita uma maior capacidade antioxidante no plasma(22, 94) e nos eritrócitos(106). Em
animais, tem sido demonstrado que o coração, o fígado e o pulmão evidenciam também melhorias na sua
capacidade anti-oxidante após treino físico(8, 10, 17, 117).
Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético
Mecanismos
não-enzimáticos
Conforme já referido,
para além das enzimas
antioxidantes, os organismos aeróbios possuem outras substâncias
antioxidantes não enzimáticas, umas de características lipofílicas
(Vitamina E, b-carotenos, ubiquinona e ubiquinol e flavonóides) e
outras hidrofílicas
(Vitamina C e GSH)(41,
51, 61, 62). Todas as referidas actuam por intercepção das ERO (Tabela
1), convertendo-as em
Figura 11. Acção integrada dos diferentes mecanismos antioxidantes, enzimáticos e não enzimáticos (SOD –
espécies menos reactiSuperoxido Dismutase; GR – Glutationa Redutase; GSH e GSSG – Formas reduzida e oxidada da Glutationa; CAT –
vas, e participam na
Catalase; DNA – Ácido Desoxirribonucleico; RNA – Ácido Ribonucleico).
reparação das alterações
estruturais da célula, iniciadas pelas ERO, contrimente à situação de repouso, constituem bons indibuindo em conjunto com os outros agentes antioxicadores dos níveis de stress oxidativo surgido durandantes, para a manutenção do equilíbrio do estado
te e/ou logo após o exercício(12).
redox da célula (Figura 11)(108, 118). Outros agentes
antioxidantes não enzimáticos, também referidos na
STRESS OXIDATIVO
tabela 1, actuam por prevenção, evitando a presença
Por definição, a situação de stress oxidativo (SO)
de metais de transição na sua forma livre (preveninocorre quando existe um desequilíbrio entre a acção
do a ocorrência de reacções de Fenton e de Haberdos agentes oxidantes e dos antioxidantes, a favor dos
Weiss). Para além destes compostos, também os
primeiros (Figura 12)(43, 46, 50, 85, 102, 104, 109, 110, 119). Em
estrogénios parecem aumentar a capacidade celular
termos gerais, o estado de SO orgânico parece variar
de resistência à formação de ERO, funcionando de
com a concentração de oxigénio envolvente, com o
uma forma cooperativa entre si, embora independentipo de tecido analisado e com o seu estado fisiológico
te dos restantes antioxidantes(11, 69, 118).
(incluindo aqui as situações de repouso e de exercício
Em consequência do exercício físico agudo, é de
físico agudo), com a dieta e a idade do indivíduo, com
esperar que muitos dos antioxidantes de intercepção
a ingestão de fármacos, com a exposição a condições
diminuam as suas concentrações musculares. Por
ambientais impróprias, tais como radiação ultra violeexemplo, a nível muscular esquelético, numerosos
ta, a poluição, a humidade relativa e a temperatura
trabalhos têm analisado as concentrações de GSH e
ambiente e com o stress emocional(80).
de antioxidantes de intercepção exógenos (vitamiEsta situação de SO traduz-se, de forma imediata, na
nas) no músculo esquelético após exercício físico
incapacidade de impedir ou reparar as repercussões
agudo(para refs. ver 61, 66). Assim, no músculo esquelétinefastas das ERO sobre as estruturas celulares e é
co, a demonstração de uma acentuada redução das
assumido que ocorra em todos os seres biológicos,
concentrações de GSH (com a concomitante elevação
mesmo em situações de funcionalidade basal, isto é,
das concentrações de GSSG) assim como uma reduem repouso (Figura 12)(86). Aumentos do SO podem
ção dos níveis de vitamina E tecidual, comparativadever-se não só a um aumento da taxa de produção
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Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte
voláteis(73), um potencial indicador dos níveis
de peroxidação lipídica.
À semelhança do descrito para o músculo
esquelético, é hoje unanimemente aceite que o
exercício agudo, sobretudo se exaustivo, induz
também a nível cardíaco
um aumento dos marcadores de lesão oxidatiFigura 12. Conceito de stress oxidativo baseado no desequilíbrio entre as acções pró-oxidante e antioxidante teciduais.
va(62), sugestivo da elevação do SO tecidual. De
facto, o miocárdio parece ser particularmente suscepde ERO, mas também a uma redução da capacidade
tível a todas as situações que promovam uma elevação
antioxidante ou, ainda, à conjugação destes dois facdo seu metabolismo, nas quais se incluem o exercício
tores(16, 104).
físico agudo, uma vez que a sua capacidade metabóliNo que diz respeito ao músculo esquelético, tendo
ca oxidativa é muito elevada e, simultaneamente, posem consideração que este parece ser muito mais
sui uma actividade relativamente baixa das enzimas
dependente da GSH para a neutralização das ERO do
que compõe o seu sistema antioxidante(17, 64). De
que o fígado e o rim(9), a medição das concentrações
facto, existem evidências directas de que o exercício
de GSH e GSSG e/ou da actividade das enzimas relaagudo aumenta de forma significativa, comparativacionadas com a sua homeostasia, é considerada o
mente às situações de repouso, a taxa de produção do
melhor meio de quantificação indirecta do SO neste
radical hidroxilo neste órgão(93). Os dados existentes
tecido(62, 63, 109). Apesar dos marcadores utilizados
sugerem que as principais fontes desta taxa aumentanem sempre revelarem alterações significativas após
da de ERO no coração são semelhantes às do músculo
exercícios suaves (habituais)(para refs. ver 107, 108, 119), a
esquelético: a mitocôndria e a xantina oxidase(para mais
grande maioria dos trabalhos efectuados tem relatarefs.
ver 17, 64). Para além do músculo esquelético e do
do um incremento dos indicadores de stress e de
coração, a elevação dos níveis de SO e de lesão oxidalesão oxidativa no músculo esquelético durante ou
tiva têm também sido descritas em muitos outros
após o exercício físico intenso, quer em animais(95),
órgãos e tecidos(8, 10, 17, 20, 22, 29, 67, 68, 78, 92, 93). Esta
quer em humanos(13), estando a magnitude do fenósituação não será de estranhar se tiver em considerameno intimamente dependente das características do
ção que, durante o exercício físico agudo, as alteraexercício efectuado(107).
ções metabólicas não se restringem apenas ao sistema
muscular esquelético ou ao sistema cardiovascular(7,
REPERCUSSÕES OXIDATIVAS SISTÉMICAS
29,
67, 68, 89, 92, 99, 117). De facto, as acentuadas alterações
DO EXERCÍCIO AGUDO
hormonais,
assim como as alterações térmicas, assoEm humanos, por razões éticas e logísticas, associaciadas
ao
exercício
intenso e exaustivo far-se-ão sentir,
das aos necessários métodos invasivos, as evidências
de
forma
mais
ou
menos
intensa, na maior parte das
de stress e de lesão oxidativa motivados pelo exercícélulas
corporais,
tais
como
no pulmão, no rim e no
cio agudo têm sido essencialmente estudadas a nível
fígado(8, 10, 17, 29, 67, 78, 92, 93).
sanguíneo, quer no plasma, quer nas células circulantes(27, 39, 89). A ocorrência de lesão oxidativa no
CONCLUSÕES
organismo em geral, particularmente de peroxidação
Pelo exposto, não parece haver dúvidas que a realizalipídica, foi também testemunhada em humanos
ção de exercício físico agudo, especialmente se
com indicadores indirectos obtidos por meios não
exaustivo e inabitual, agrava os níveis de SO, quer
invasivos de fiabilidade duvidosa, tais como a quantificação da excreção pulmonar de hidrocarbonetos
nos músculos esqueléticos recrutados, quer nos dife-
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Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético
Figura 13. Comparação dos níveis de stress oxidativo entre indivíduos sedentários e treinados, em situações de repouso e de exercício físico agudo.
rentes órgãos e tecidos associados com a regulação
da homeostasia orgânica. A magnitude deste processo está intimamente dependente da duração, da
intensidade e do tipo de exercício efectuado. Por
outro lado, o exercício físico quando praticado de
forma regular induz um aumento crónico da actividade do sistema de defesa antioxidante, protegendo
o músculo esquelético do ataque das ERO, quer em
situações de repouso, quer durante o exercício
agudo. Pelo facto de, no dia-a-dia dos atletas, o
tempo passado em situações basais ser manifestamente superior aquele dispendido em exercício
agudo, é possível que, pelo aumento dos sistemas de
defesa antioxidante, os níveis basais de SO nestes
sujeitos sejam bem mais reduzidos do que nos
sedentários, dando-lhes assim mais protecção contra
os processos degenerativos decorrentes do seu próprio metabolismo basal, os quais estão intimamente
associados ao processo de envelhecimento biológico.
Esta hipótese é suportada pelo aumento da longevidade observado em animais treinados, sujeitos ou
não à restrição calórica.
CORRESPONDÊNCIA
José Alberto Duarte
CIAFEL, FADEUP
R. Dr. Plácido Costa, 91
4200-450 Porto
Tel: 225074784; Fax: 225500689
e-mail: jarduarte@fade.up.pt
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Revista Portuguesa de Ciências do Desporto
NORMAS DE PUBLICAÇÃO
Tipos de publicação
Regras gerais de publicação
Preparação dos manuscritos
Investigação original
A RPCD publica artigos originais relativos a todas as áreas
das ciências do desporto.
Os artigos submetidos à
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Agradecimentos.
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fase, avaliados pelos editores-chefe e terão como critérios iniciais de aceitação:
normas de publicação, relação do tópico tratado com
as ciências do desporto e
mérito científico. Depois
desta análise, o artigo, se
for considerado previamente
aceite, será avaliado por 2
“referees” independentes e
sob a forma de análise
“duplamente cega”. A aceitação de um e a rejeição de
outro obrigará a uma 3ª
consulta.
Aspectos gerais
Cada artigo deverá ser
acompanhado por uma
carta de rosto que deverá
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– Título do artigo e nomes
dos autores;
– Declaração de que o artigo
nunca foi previamente
publicado;
Revisões da investigação
A RPCD publica artigos de
síntese da literatura
que contribuam para a generalização do conhecimento
em ciências do desporto.
Artigos de meta-análise e
revisões críticas de literatura
são dois possíveis
modelos de publicação.
Porém, este tipo de publicação só estará aberto a
especialistas convidados
pela RPCD.
Comentários
Comentários sobre artigos
originais e sobre revisões da
investigação são, não só
publicáveis, como são francamente encorajados pelo
corpo editorial.
Estudos de caso
A RPCD publica estudos de
caso que sejam considerados
relevantes para as ciências do
desporto. O controlo rigoroso da metodologia é aqui um
parâmetro determinante.
Ensaios
A RPCD convidará especialistas a escreverem ensaios,
ou seja, reflexões profundas
sobre determinados temas,
sínteses de múltiplas abordagens próprias, onde à
argumentação científica, filosófica ou de outra natureza
se adiciona uma forte componente literária.
Revisões de publicações
A RPCD tem uma secção
onde são apresentadas revisões de obras ou artigos
publicados e que sejam considerados relevantes para as
ciências do desporto.
Formato
– Os manuscritos deverão
ser escritos em papel A4
com 3 cm de margem, letra
12 e com duplo espaço e
não exceder 20 páginas;
– As páginas deverão ser
numeradas sequencialmente, sendo a página de título
a nº1;
Dimensões e estilo
– Os artigos deverão ser o
mais sucintos possível; A
especulação deverá ser apenas utilizada quando os
dados o permitem e a literatura não confirma;
– Os artigos serão rejeitados
quando escritos em português ou inglês de fraca
qualidade linguística;
– As abreviaturas deverão
ser as referidas internacionalmente;
Página de título
A página de título deverá
conter a seguinte informação:
– Especificação do tipo de
trabalho (cf. Tipos de
publicação);
– Título conciso mas suficientemente informativo;
– Nomes dos autores, com a
primeira e a inicial média
(não incluir graus académicos)
– “Running head” concisa
não excedendo os 45 caracteres;
– Nome e local da instituição onde o trabalho foi
realizado;
– Nome e morada do autor
para onde toda a correspondência deverá ser
enviada, incluindo endereço de e-mail;
Página de resumo
– Resumo deverá ser informativo e não deverá referir-se ao texto do artigo;
– Se o artigo for em português o resumo deverá ser
feito em português e em
inglês;
– Deve incluir os resultados
mais importantes que
suportem as conclusões do
trabalho;
Deverão ser incluídas 3 a 6
palavras-chave;
– Não deverão ser utilizadas
abreviaturas;
– O resumo não deverá exceder as 200 palavras;
Introdução
– Deverá ser suficientemente
compreensível, explicitando claramente o objectivo
do trabalho e relevando a
importância do estudo face
ao estado actual do conhecimento;
– A revisão da literatura não
deverá ser exaustiva;
Material e métodos
– Nesta secção deverá ser
incluída toda a informação
que permite aos leitores
realizarem um trabalho com
a mesma metodologia sem
contactarem os autores;
– Os métodos deverão ser
ajustados ao objectivo do
estudo; deverão ser replicáveis e com elevado grau de
fidelidade;
– Quando utilizados humanos deverá ser indicado
que os procedimentos utilizados respeitam as normas internacionais de
experimentação com
humanos (Declaração de
Helsínquia de 1975);
– Quando utilizados animais
deverão ser utilizados
todos os princípios éticos
de experimentação animal
e, se possível, deverão ser
submetidos a uma comissão de ética;
– Todas as drogas e químicos
utilizados deverão ser
designados pelos nomes
genéricos, princípios activos, dosagem e dosagem;
– A confidencialidade dos
sujeitos deverá ser estritamente mantida;
– Os métodos estatísticos
utilizados deverão ser cuidadosamente referidos;
estatísticos não deverão ser
evitadas;
– Sempre que possível, deverão ser incluídas recomendações;
– A discussão deverá ser
completada com um parágrafo final onde são realçadas as principais conclusões do estudo;
Resultados
– Os resultados deverão apenas conter os dados que
sejam relevantes para a
discussão;
– Os resultados só deverão
aparecer uma vez no
t exto: ou em quadro ou
em figura;
– O texto só deverá servir
para relevar os dados mais
relevantes e nunca duplicar
informação;
– A relevância dos resultados
deverá ser suficientemente
expressa;
– Unidades, quantidades e
fórmulas deverão ser utilizados pelo Sistema
Internacional (SI units).
– Todas as medidas deverão
ser referidas em unidades
métricas;
Referências
– As referências deverão ser
citadas no texto por número e compiladas alfabeticamente e ordenadas numericamente;
– Os nomes das revistas
deverão ser abreviados
conforme normas internacionais (ex: Index
Medicus);
– Todos os autores deverão
ser nomeados (não utilizar
et al.)
– Apenas artigos ou obras
em situação de “in press”
poderão ser citados. Dados
não publicados deverão ser
utilizados só em casos
excepcionais sendo assinalados como “dados não
publicados”;
– Utilização de um número
elevado de resumos ou de
artigos não “peer-reviewed” será uma condição de
não aceitação;
Discussão
– Os dados novos e os aspectos mais importantes do
estudo deverão ser relevados
de forma clara e concisa;
– Não deverão ser repetidos
os resultados já apresentados;
– A relevância dos dados
deverá ser referida e a comparação com outros estudos deverá ser estimulada;
– As especulações não
suportadas pelos métodos
Agradecimentos
Se o artigo tiver sido parcialmente apresentado
publicamente deverá aqui
ser referido o facto;
Qualquer apoio financeiro
deverá ser referido;
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FIGURAS
Figuras e ilustrações deverão ser utilizadas quando
auxiliam na melhor compreensão do texto;
As figuras deverão ser
numeradas em numeração
árabe na sequência em que
aparecem no texto;
As figuras deverão ser
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gráfico, a preto e branco e
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QUADROS
Os quadros deverão ser
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Os quadros deverão ser
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Revista Portuguesa de
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– Declaration that the paper
has never been published
Format
– All manuscripts are to be
typed in A4 paper, with
margins of 3 cm, using
Times New Roman style
size 12 with double space,
and having no more than
20 pages in length.
– Pages are to be numbered
sequentially, with the title
page as nr.1.
Size and style
– Papers are to be written in
a very precise and clear
language. No place is
allowed for speculation
without the boundaries of
available data.
– If manuscripts are highly
confused and written in a
very poor Portuguese or
English they are immediately rejected by the editor
in chief.
– All abbreviations are to be
used according to international rules of the specific
field.
Title page
– Title page has to contain
the following information:
– Specification of type of
manuscript (but see working materials-manuscripts).
– Brief and highly informative title.
– Author(s) name(s) with
first and middle names (do
not write academic degrees)
– Running head with no
more than 45 letters.
– Name and place of the academic institutions.
– Name, address, fax number and email of the person to whom the proof is
to be sent.
Abstract page
– The abstract has to be very
precise and contain no
more than 200 words,
including objectives,
design, main results and
conclusions. It has to be
intelligible without reference to the rest of the
paper.
– Portuguese and English
abstracts are mandatory.
– Include 3 to 6 key words.
– Do not use abbreviations.
Introduction
– Has to be highly comprehensible, stating clearly the
purpose(s) of the manuscript, and presenting the
importance of the work.
– Literature review included
is not expected to be
exhaustive.
Material and methods
– Include all necessary information for the replication
of the work without any
further information from
authors.
– All applied methods are
expected to be reliable and
highly adjusted to the
problem.
– If humans are to be used
as sampling units in experimental or non-experimental research it is expected
that all procedures follow
Helsinki Declaration of
Human Rights related to
research.
– When using animals all
ethical principals related to
animal experimentation are
to be respected, and when
possible submitted to an
ethical committee.
– All drugs and chemicals
used are to be designated
by their general names,
active principles and
dosage.
– Confidentiality of subjects
is to be maintained.
– All statistical methods
used are to be precisely
and carefully stated.
Results
– Do provide only relevant
results that are useful for
discussion.
– Results appear only once
in Tables or Figures.
– Do not duplicate information, and present only the
most relevant results.
– Importance of main results
is to be explicitly stated.
– Units, quantities and formulas are to be expressed
according to the
International System (SI
units).
– Use only metric units.
Discussion
– New information coming
from data analysis should
be presented clearly.
– Do no repeat results.
– Data relevancy should be
compared to existing information from previous
research.
– Do not speculate, otherwise carefully supported,
in a way, by insights from
your data analysis.
– Final discussion should be
summarized in its major
points.
Acknowledgements
– If the paper has been partly presented elsewhere, do
provide such information.
– Any financial support
should be mentioned.
References
– Cited references are to be
numbered in the text, and
alphabetically listed.
– Journals’ names are to be
cited according to general
abbreviations (ex: Index
Medicus).
– Please write the names of
all authors (do not use et
al.).
– Only published or “in
press” papers should be
cited. Very rarely are
accepted “non published
data”.
– If non-reviewed papers are
cited may cause the rejection of the paper.
Examples
PEER-REVIEW PAPER
1 Pincivero DM, Lephart
SM, Kurunakara RA
(1998). Reliability and precision of isokinetic
strength and muscular
endurance for the quadriceps and hamstrings. In J
Sports Med 18:113-117
COMPLETE BOOK
Hudlicka O, Tyler KR
(1996). Angiogenesis. The
growth of the vascular system. London:Academic
Press Inc. Ltd.
BOOK CHAPTER
Balon TW (1999).
Integrative biology of nitric
oxide and exercise. In:
Holloszy JO (ed.). Exercise
and Sport Science Reviews
vol. 27. Philadelphia:
Lippincott Williams &
Wilkins, 219-254
FIGURES
Figures and illustrations
should be used only for a
better understanding of the
main text.
Use sequence arabic numbers for all Figures.
Each Figure is to be presented in a separated sheet
with a short and precise
title.
In the back of each Figure
do provide information
regarding the author and
title of the paper. Use a
pencil to write this information.
All Figures and illustrations should have excellent
graphic quality I black and
white.
Avoid photos from equipments and human subjects.
TABLES
Tables should be utilized
to present relevant numerical data information.
Each table should have a
very precise and short title.
Tables should be presented
within the same rules as
Legends and Figures.
Tables’ footnotes should be
used only to describe
abbreviations used.
Manuscript submission
The manuscript submission
could be made by post sending one hard copy of the
article together with an electronic version [Microsoft
Word (*.doc)] on CD-ROM
or DVD.
Manuscripts could also be
submitted by e-mail attaching an electronic file version [Microsoft Word
(*.doc)] together with the
declaration that the paper
has never been previously
published.
Address for
manuscript submission
Revista Portuguesa de
Ciências do Desporto
Faculdade de Desporto
da Universidade do Porto
Rua Dr. Plácido Costa, 91
4200.450 Porto
Portugal
E-mail: rpcd@fade.up.pt
Aceleração e tempo de duração de impacto em
segmentos corporais do judoca durante a realização
de ukemi em diferentes tipos de tatames
Acceleration and impact time on judo’s athlete body segmets
during ukemi movement on different tatame types
Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M.
Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis
Effects of different handle techniques during the back pull
exercise on the angular kinematic and production of strength
Análise cinemática de duas técnicas de “pegada” no exercício puxada alta
Luciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo, Josiele V. Alves,
Carlos B. Mota
Características dinâmicas de movimentos
seleccionados do basquetebol
Dynamical characteristics of basketball specific movements
Fernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro,
Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão
Efeito da posição da omoplata na força máxima
isométrica de flexão do ombro
Effect of scapular position on shoulder flexion maximum isometric strength
Otília Sousa, Fernando Ribeiro, Mário Leite,
Francisco Silva, Ana P. Azevedo
O efeito da interferência contextual em idosos
The contextual interference effect in elderly people
Wesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage, Alexandro B.
da Silva, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda
Actividade física, equilíbrio e medo de cair.
Um estudo em idosos institucionalizados
Physical activity, balance and fear of falling.
A study with institutionalized older people
Joana Carvalho, Joana Pinto, Jorge Mota
Situações de estresse no vôlei de praia de alto rendimento:
um estudo de caso com uma dupla olímpica
Situations of stress in high performance beach volley:
a case study with an olympic pair
Joice Stefanello
Torcida familiar: a complexidade das inter-relações
na iniciação esportiva ao futebol
Parental support: inter-relationships complexity in football sportive initiation
Fabrício M. Filgueira, Gisele M. Schwartz
ARTIGOS DE REVISÃO
[Reviews]
Stress oxidativo e dano oxidativo muscular esquelético:
influência do exercício agudo inabitual e do treino físico
Oxidative stress and damage in skeletal muscle: influence of unusual acute
exercise and physical conditioning
Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte
A RPCD tem o apoio da FCT
Programa Operacional
Ciência, Tecnologia, Inovação
do Quadro Comunitário
de Apoio III
Maio·Agosto 07
Publicação quadrimestral
Vol. 7, Nº 2, Maio·Agosto 2007
ISSN 1645–0523
Dep. Legal 161033/01
Vol. 7, Nº 2
Análise das componentes da prova como ponto de partida
para a definição de objectivos na natação na categoria de
cadetes
Chronometric analyses of swimming events in infantile swimmers:
An objective model for goal setting
António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis,
Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais,
Felipe Aidar
Efeito da complexidade da tarefa na direção da transferência
bilateral em habilidades motoras seriadas
Effect of task complexity in the bilateral transfer direction in serial motor skills
Dayane M. Pinho, Guilherme M. Lage,
Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda
revista portuguesa de
ciências do desporto
Volume 7 · Nº 2
Maio·Agosto 2007
portuguese journal
of sport sciences
Determinação da gemelaridade: do questionário de Peeters
aos micro-satélites aleatórios espalhados pelo DNA
Zygosity determination: From Peeters’ questionnaire to DNA microsatelites
José Maia, Sónia Fernandes, António Amorim,
Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira
Ritmo dos jogos das finais das competições europeias de
basquetebol (1988-2006) e as estatísticas que discriminam
os jogos mais rápidos dos jogos mais lentos
Basketball game rhythm in the European Competitions Finals’ (1988-2006) and
the game-related statistics that discriminate between fast and slow paced games
Jorge M. Malarranha, Jaime Sampaio
revista portuguesa de ciências do desporto [portuguese journal of sport sciences]
ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO
[RESEARCH PAPERS]