belga federacion judo
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Aceleração e tempo de duração de impacto em segmentos corporais do judoca durante a realização de ukemi em diferentes tipos de tatames Acceleration and impact time on judo’s athlete body segmets during ukemi movement on different tatame types Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis Effects of different handle techniques during the back pull exercise on the angular kinematic and production of strength Análise cinemática de duas técnicas de “pegada” no exercício puxada alta Luciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo, Josiele V. Alves, Carlos B. Mota Características dinâmicas de movimentos seleccionados do basquetebol Dynamical characteristics of basketball specific movements Fernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro, Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão Efeito da posição da omoplata na força máxima isométrica de flexão do ombro Effect of scapular position on shoulder flexion maximum isometric strength Otília Sousa, Fernando Ribeiro, Mário Leite, Francisco Silva, Ana P. Azevedo O efeito da interferência contextual em idosos The contextual interference effect in elderly people Wesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage, Alexandro B. da Silva, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda Actividade física, equilíbrio e medo de cair. Um estudo em idosos institucionalizados Physical activity, balance and fear of falling. A study with institutionalized older people Joana Carvalho, Joana Pinto, Jorge Mota Situações de estresse no vôlei de praia de alto rendimento: um estudo de caso com uma dupla olímpica Situations of stress in high performance beach volley: a case study with an olympic pair Joice Stefanello Torcida familiar: a complexidade das inter-relações na iniciação esportiva ao futebol Parental support: inter-relationships complexity in football sportive initiation Fabrício M. Filgueira, Gisele M. Schwartz ARTIGOS DE REVISÃO [Reviews] Stress oxidativo e dano oxidativo muscular esquelético: influência do exercício agudo inabitual e do treino físico Oxidative stress and damage in skeletal muscle: influence of unusual acute exercise and physical conditioning Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte A RPCD tem o apoio da FCT Programa Operacional Ciência, Tecnologia, Inovação do Quadro Comunitário de Apoio III Maio·Agosto 07 Publicação quadrimestral Vol. 7, Nº 2, Maio·Agosto 2007 ISSN 1645–0523 Dep. Legal 161033/01 Vol. 7, Nº 2 Análise das componentes da prova como ponto de partida para a definição de objectivos na natação na categoria de cadetes Chronometric analyses of swimming events in infantile swimmers: An objective model for goal setting António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar Efeito da complexidade da tarefa na direção da transferência bilateral em habilidades motoras seriadas Effect of task complexity in the bilateral transfer direction in serial motor skills Dayane M. Pinho, Guilherme M. Lage, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda revista portuguesa de ciências do desporto Volume 7 · Nº 2 Maio·Agosto 2007 portuguese journal of sport sciences Determinação da gemelaridade: do questionário de Peeters aos micro-satélites aleatórios espalhados pelo DNA Zygosity determination: From Peeters’ questionnaire to DNA microsatelites José Maia, Sónia Fernandes, António Amorim, Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira Ritmo dos jogos das finais das competições europeias de basquetebol (1988-2006) e as estatísticas que discriminam os jogos mais rápidos dos jogos mais lentos Basketball game rhythm in the European Competitions Finals’ (1988-2006) and the game-related statistics that discriminate between fast and slow paced games Jorge M. Malarranha, Jaime Sampaio revista portuguesa de ciências do desporto [portuguese journal of sport sciences] ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO [RESEARCH PAPERS] Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Publicação quadrimestral da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Vol. 7, Nº 2, Maio·Agosto 2007 ISSN 1645-0523 · Dep. Legal 161033/01 Director Jorge Olímpio Bento (Universidade do Porto) Editores António Teixeira Marques (Universidade do Porto) José Oliveira (Universidade do Porto) Conselho editorial [Editorial Board] Adroaldo Gaya (Universidade Federal Rio Grande Sul, Brasil) António Prista (Universidade Pedagógica, Moçambique) Eckhard Meinberg (Universidade Desporto Colónia, Alemanha) Gaston Beunen (Universidade Católica Lovaina, Bélgica) Go Tani (Universidade São Paulo, Brasil) Ian Franks (Universidade de British Columbia, Canadá) João Abrantes (Universidade Técnica Lisboa, Portugal) Jorge Mota (Universidade do Porto, Portugal) José Alberto Duarte (Universidade do Porto, Portugal) José Maia (Universidade do Porto, Portugal) Michael Sagiv (Instituto Wingate, Israel) Neville Owen (Universidade de Queensland, Austrália) Rafael Martín Acero (Universidade da Corunha, Espanha) Robert Brustad (Universidade de Northern Colorado, USA) Robert M. Malina (Universidade Estadual de Tarleton, USA) Comissão de Publicação [Publication Committee] Amândio Graça (Universidade do Porto, Portugal) António Manuel Fonseca (Universidade do Porto, Portugal) Eunice Lebre (Universidade do Porto, Portugal) João Paulo Vilas Boas (Universidade do Porto, Portugal) José Pedro Sarmento (Universidade do Porto, Portugal) Júlio Garganta (Universidade do Porto, Portugal) Maria Adília Silva (Universidade do Porto, Portugal) Olga Vasconcelos (Universidade do Porto, Portugal) Ovídio Costa (Universidade do Porto, Portugal) Rui Garcia (Universidade do Porto, Portugal) Design gráfico e paginação Armando Vilas Boas Impressão e acabamento Multitema Assinatura Anual Portugal e Europa: 37,50 Euros Brasil e PALOP: 45 Euros, outros países: 52,50 Euros Preço deste número Portugal e Europa: 15 Euros Brasil e PALOP: 15 Euros, outros países: 20 Euros Tiragem 500 exemplares Copyright A reprodução de artigos, gráficos ou fotografias só é permitida com autorização escrita do Director. Endereço para correspondência Revista Portuguesa de Ciências do Desporto Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Rua Dr. Plácido Costa, 91 4200.450 Porto · Portugal Tel: +351–225074700; Fax: +351–225500689 www.fade.up.pt – expediente@fade.up.pt Consultores [Consulting Editors] Alberto Amadio (Universidade São Paulo) Alfredo Faria Júnior (Universidade Estado Rio Janeiro) Almir Liberato Silva (Universidade do Amazonas) Anthony Sargeant (Universidade de Manchester) António José Silva (Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro) António Roberto da Rocha Santos (Univ. Federal Pernambuco) Carlos Balbinotti (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Carlos Carvalho (Instituto Superior da Maia) Carlos Neto (Universidade Técnica Lisboa) Cláudio Gil Araújo (Universidade Federal Rio Janeiro) Dartagnan P. Guedes (Universidade Estadual Londrina) Duarte Freitas (Universidade da Madeira) Eduardo Kokubun (Universidade Estadual Paulista, Rio Claro) Francisco Alves (Universidade Técnica de Lisboa) Francisco Camiña Fernandez (Universidade da Corunha) Francisco Carreiro da Costa (Universidade Técnica Lisboa) Francisco Martins Silva (Universidade Católica de Brasília) Glória Balagué (Universidade Chicago) Gustavo Pires (Universidade Técnica Lisboa) Hans-Joachim Appell (Universidade Desporto Colónia) Helena Santa Clara (Universidade Técnica Lisboa) Hugo Lovisolo (Universidade Estado do Rio de Janeiro) Isabel Fragoso (Universidade Técnica de Lisboa) Jaime Sampaio (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) Jean Francis Gréhaigne (Universidade de Besançon) Jens Bangsbo (Universidade de Copenhaga) João Barreiros (Universidade Técnica de Lisboa) José A. Barela (Universidade Estadual Paulista, Rio Claro) José Alves (Escola Superior de Desporto de Rio Maior) José Luis Soidán (Universidade de Vigo) José Manuel Constantino (Oeirasviva, EM) José Vasconcelos Raposo (Univ. Trás-os-Montes Alto Douro) Juarez Nascimento (Universidade Federal Santa Catarina) Jürgen Weineck (Universidade Erlangen) Lamartine Pereira da Costa (Universidade Gama Filho) Lilian Teresa Bucken Gobbi (Univ. Estadual Paulista, Rio Claro) Luiz Cláudio Stanganelli (Universidade Estadual de Londrina) Luís Sardinha (Universidade Técnica Lisboa) Manoel Costa (Universidade de Pernambuco) Manuel João Coelho e Silva (Universidade de Coimbra) Manuel Patrício (Universidade de Évora) Manuela Hasse (Universidade Técnica de Lisboa) Marco Túlio de Mello (Universidade Federal de São Paulo) Margarida Espanha (Universidade Técnica de Lisboa) Margarida Matos (Universidade Técnica de Lisboa) Maria José Mosquera González (INEF Galiza) Markus Nahas (Universidade Federal Santa Catarina) Mauricio Murad (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Pablo Greco (Universidade Federal de Minas Gerais) Paula Mota (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) Paulo Farinatti (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Paulo Machado (Universidade Minho) Pedro Sarmento (Universidade Técnica de Lisboa) Ricardo Petersen (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Sidónio Serpa (Universidade Técnica Lisboa) Silvana Göllner (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Valdir Barbanti (Universidade São Paulo) Víctor Matsudo (CELAFISCS) Víctor da Fonseca (Universidade Técnica Lisboa) Víctor Lopes (Instituto Politécnico Bragança) Wojtek Chodzko-Zajko (Universidade Illinois Urbana-Champaign) A Revista Portuguesa de Ciências do Desporto está indexada na plataforma SciELO Portugal - Scientific Electronic Library Online (http://www.scielo.oces.mctes.pt), no SPORTDiscus e no Directório e no Catálogo Latindex – Sistema regional de informação em linha para revistas científicas da América Latina, Caribe, Espanha e Portugal ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO [RESEARCH PAPERS] 147 Determinação da gemelaridade: do questionário de Peeters aos micro-satélites aleatórios espalhados pelo DNA Zygosity determination: From Peeters’ questionnaire to DNA microsatelites José Maia, Sónia Fernandes, António Amorim, Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira 156 Aceleração e tempo de duração de impacto em segmentos corporais do judoca durante a realização de ukemi em diferentes tipos de tatames Acceleration and impact time on judo’s athlete body segmets during ukemi movement on different tatame types Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis 167 Effects of different handle techniques during the back pull exercise on the angular kinematic and production of strength Análise cinemática de duas técnicas de “pegada” no exercício puxada alta Luciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo, Josiele V. Alves, Carlos B. Mota 174 Características dinâmicas de movimentos seleccionados do basquetebol Dynamical characteristics of basketball specific movements Fernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro, Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão 183 Efeito da posição da omoplata na força máxima isométrica de flexão do ombro Effect of scapular position on shoulder flexion maximum isometric strength Otília Sousa, Fernando Ribeiro, Mário Leite, Francisco Silva, Ana P. Azevedo 189 Análise das componentes da prova como ponto de partida para a definição de objectivos na natação na categoria de cadetes Chronometric analyses of swimming events in infantile swimmers: An objective model for goal setting António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar 202 Ritmo dos jogos das finais das competições europeias de basquetebol (1988-2006) e as estatísticas que discriminam os jogos mais rápidos dos jogos mais lentos Basketball game rhythm in the European Competitions Finals’ (1988-2006) and the game-related statistics that discriminate between fast and slow paced games Jorge M. Malarranha, Jaime Sampaio 209 Efeito da complexidade da tarefa na direção da tra n sferência bilateral em habilidades motoras seriadas Effect of task complexity in the bilateral transfer direction in serial motor skills Dayane M. Pinho, Guilherme M. Lage, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda 217 O efeito da interferência contextual em idosos The contextual interference effect in elderly people Wesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage, Alexandro B. da Silva, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda 225 Actividade física, equilíbrio e medo de cair. Um estudo em idosos institucionalizados Physical activity, balance and fear of falling. A study with institutionalized older people Joana Carvalho, Joana Pinto, Jorge Mota 232 Situações de estresse no vôlei de praia de alto rendimento: um estudo de caso com uma dupla olímpica Situations of stress in high performance beach volley: a case study with an olympic pair Joice Stefanello 245 Torcida familiar: a complexidade das inter-relações na iniciação esportiva ao futebol Parental support: inter-relationships complexity in football sportive initiation Fabrício M. Filgueira, Gisele M. Schwartz ARTIGOS DE REVISÃO [REVIEWS] 257 Stress oxidativo e dano oxidativo muscular esquelético: influência do exercício agudo inabitual e do treino físico Oxidative stress and damage in skeletal muscle: influence of unusual acute exercise and physical conditioning Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte Revista Portuguesa de Ciências do Desporto [Portuguese Journal of Sport Sciences] Vol. 7, Nº 2, Maio·Agosto 2007 ISSN 1645-0523, Dep. Legal 161033/01 A RPCD tem o apoio da FCT Programa Operacional Ciência, Tecnologia, Inovação do Quadro Comunitário de Apoio III Nota editorial Em defesa do desporto Jorge Bento Decidi elaborar este editorial, recorrendo a algumas citações, todas complementares e contribuintes para o objectivo pretendido. 1. A primeira é da autoria de José Manuel Constantino: “O desporto precisa de ser defendido. Defendido perante os seus desvios. Defendido perante os seus opositores. Essa defesa requer um pensamento crítico e actualizado sobre as suas práticas, sob pena de se acumularem intenções e objectivos que o desporto, supostamente, deveria garantir e que teima em não atingir. Muitas das posições críticas ao desporto, particularmente incisivas por parte dos novos ascetas do higienismo, repousam no facto de os defensores do desporto permanecerem prisioneiros de perspectivas redutoras e defensivas, que aprisionam o desporto a uma lógica de sentido único, quase que pedindo licença para ocupar o seu espaço. O espectáculo desportivo e a sua comercialização arrastando fenómenos de perturbação à sua matriz identitária e a desregulação que isso originou alteraram o equilíbrio de muitas das suas teses e interpretações e desfizeram mitos com os quais muitos anos conviveu. A defesa do desporto é, também, isso. A avaliação do capital de experiência que a história do desporto acumulou (...) Um capital de experiência que é contraditório: tem aspectos positivos ao lado de negativos”.1 Para contribuirmos para a defesa do desporto, para o defendermos dos seus desvios e desvarios, assim como dos seus opositores, devemos entender que ele, como qualquer organismo, é dotado de mecanismos endógenos de regeneração. A sua defesa e credibilidade têm que vir de dentro, do esforço daqueles que o pensam, investigam, teorizam e ensinam, organizam e dirigem, praticam e usufruem. Por isso ele deve merecer, de todos quantos perfazem o seu sujeito plural, um esforço constante de renovação e melhoria. Como disse Ortega y Gasset, nós “temos o dever de pressentir o novo”. 2. Aos opositores ao desporto, nomeadamente àqueles que lançam sobre ele a acusação de ser da ordem do efémero e contingente, quero expressar alguma concordância formal e total discordância substancial. Sim, o desporto está aí para cultivar a ética e estética da contingência, a beleza e alegria do contingente e imanente na peripécia que a vida encarna, celebrando tanto o brilho do que nos é dado como a sombra do que nos falta e inquieta. Convida-nos a optar “pelo aperfeiçoamento humildemente tentativo e resignadamente inabalável do que sempre nos parecerá de algum modo imperfeito, em vez de o recusar com desânimo culpável ou de tentar agigantá-lo até que a sua enormidade inumana nos esmague”. Ao exaltar o contingente ele não impede de apontar para a excelência, entendida não como “a busca de nenhum absoluto (o excelente conseguido será tão contingente como o medíocre rebaixado), mas o afã de ir mais além e aperfeiçoar o que conseguimos (...) embora sem nunca sairmos da limitação que nos define e baliza o sentido a que podemos aspirar”.2 3. Muitos mitos alimentam o desporto, tal como a vida. Alguns carecem de ser esclarecidos e quiçá abandonados. Todavia outros são essenciais. Assim devemos ter bem presente a advertência seguinte: “Precisamos de mitos para tornar suportáveis os nossos dilemas irresolúveis. (…) Se fôssemos demolidores irresponsáveis de mitos, rasgaríamos os nossos direitos humanos e começaríamos de novo: repensando o que queremos dizer com vida humana e dignidade humana. Por enquanto, se quisermos continuar a acreditar que somos humanos, e justificar o status especial que nos atribuímos – se, na verdade, quisermos permanecer humanos através das mudanças que enfrentamos -, é melhor não descartar o mito, mas começar tentando viver à sua altura”.3 Defender o desporto é, a esta luz, procurar viver à altura do mito desportivo, aproximar-se da concretização dos sentidos, axiomas, fins e ideais que ele aponta. Mesmo sabendo quão difícil é chegar lá. 4. A defesa do desporto exige, portanto, uma nova atitude perante ele. Necessitamos de renovar a maneira de o encarar; de voltar a despertar, nas crianças e jovens, o entusiasmo e a paixão por ele. Urge que o discurso oficial enfatize a substância que ele encerra, o quanto a excelência desportiva é essencial à formação de uma geração moldada pelo desejo de vencer, de transcender defeitos e fracassos, assumir esforços para atingir metas sobre-humanas e evitar o inumano, de não se acomodar a um passado e destino de perdedores crónicos. Não, não chega participar, é imperioso ousar triunfar e não se resignar, mesmo que a derrota bata sucessivas vezes à nossa porta. Em suma, há que retomar o projecto de um país desportivo, por fora e por dentro, no corpo e na alma, nos sonhos e ambições, nos princípios e convenções. Mobilizar para o desporto é acordar e envolver o país com uma causa social e cultural. BENTO, Jorge Olímpio; CONSTANTINO, José Manuel (2007): Em Defesa do Desporto – Mutações e Valores em Conflito. Coimbra: Edições Almedina. 2 SAVATER, Fernando (2004): A CORAGEM DE ESCOLHER. Lisboa: Publicações Dom Quixote. 3 FERNÁNDEZ-ARMESTO, Felipe (2004): Então você pensa que é humano? São Paulo: Companhia das Letras. 1 ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO [RESEARCH PAPERS] Determinação da gemelaridade: do questionário de Peeters aos micro-satélites aleatórios espalhados pelo DNA José António Ribeiro Maia1 Sónia Cristina de Tavares e Cruz Fernandes1 António Amorim2 Cíntia Alves2 Leonor Gusmão2 Luísa Pereira2 1 RESUMO Com a realização deste estudo pretendíamos testar a validade de um método indirecto para avaliação da gemelaridade em estudos na população portuguesa. Da pesquisa participaram 96 gémeos (45 grupos gemelares monozigóticos e dizigóticos), de ambos os sexos, dos 6 aos 12 anos de idade, e as respectivas mães biológicas, num total de 141 sujeitos. A determinação da zigotia foi efectuada com recurso a dois métodos: (1) Método indirecto, através da aplicação do questionário de Peeters et al. (1998) às mães dos gémeos; (2) Método directo, através da recolha de sangue (pequena picadela no dedo) a cada um dos membros dos grupos de gémeos e posterior análise do DNA em laboratório. A proporção global de gémeos correctamente classificados como monozigóticos e dizigóticos com recurso ao questionário foi de 97,8%. O valor do teste do qui-quadrado é altamente significativo (!2=41.053, p<0.0001), reforçado pelo teste de McNemar (p<0.0001). Face aos resultados obtidos, conclui-se que o questionário de Peeters et al. (1998) apresenta validade transcultural para avaliação da gemelaridade em estudos na população portuguesa. ABSTRACT Zygosity determination: From Peeters’ questionnaire to DNA microsatelites Laboratório de Cineantropometria Universidade do Porto Portugal 2 IPATIMUP Universidade do Porto Portugal This study had the purpose of testing the validity of an indirect method to assess zygosity in twin studies in the Portuguese population. The sample included 96 twins (45 monozygotic and dizygotic twin groups), of both sexes, from 6 to 12 yrs old, and their biological mothers, summing 141 subjects. Two methods were used to determine zygosity: (1) Indirectly, through Peeters et al. (1998) questionnaire filled out by the mothers; (2) Directly, through blood sampling of each twin member, and their DNA was analysed in the laboratory. Proportion of correct classification of twins as monozygotic or dizygotic through Peeters et al. (1998) Questionnaire was 97,8%. The Qui-Square test was highly significant (!2=41.053, p<0.0001), and it was reinforced by McNemar test (p<0.0001). The results allow us to conclude that Peeters et al. (1998) Questionnaire shows transcultural validity to assess zygosity in twin studies in the Portuguese Population. Key-words: gemelarity, twins, questionnaire, DNA, validity Palavras-chave: gemelaridade, gémeos, questionário, DNA, validade Rev Port Cien Desp 7(2) 147–155 147 José Maia, Sónia Fernandes, António Amorim, Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira INTRODUÇÃO A existência de gémeos é um fenómeno que tem interessado não exclusivamente os investigadores de ciências biológicas e sociais, mas também a população em geral desde longa data(28). Este é, sem dúvida, um grupo populacional fascinante no domínio das mais variadas características do ser humano, uma espécie de “experiência da própria Natureza” que se prende ao esclarecimento da enorme variabilidade nas mais diversas características do ser humano. Cada pessoa tem duas séries de cromossomas, uma transmitida pelo pai a outra pela mãe. Cada cromossoma pode ser imaginado como uma sequência de genes, cada um desempenhando uma função particular. Espalhados entre os genes existem marcadores que não lhe são conhecidas quaisquer funções biológicas mas cuja transmissão é idêntica à dos genes. A ordem dos genes (e marcadores) num cromossoma é fixa, pelo que cada gene é encontrado sempre na mesma posição, chamada locus. Cada pessoa tem dois genes em cada locus, um da série de cromossomas herdada do pai e o outro da mãe. Em cada locus os genes assumem diferentes formas, cada uma chamada de alelo. Dois genes que assumem a mesma forma são designados de idênticos pelo estado (do inglês identical-by-state – IBS). Dois genes podem ser IBS, por serem originários do mesmo descendente, e são réplicas do mesmo gene ascendente. Este tipo de partilha de genes é designado de identidade pela descendência (identity-by-descendent – IBD). Os genes podem também ser IBS não por causa de serem IBD mas devido a uma coincidência. Os gémeos monozigóticos (MZ) têm ambos os genes IBD em todos os loci do genoma. Em contraste, os gémeos dizigóticos (DZ) têm 25% de probabilidades de terem ambos os genes IBD, 50% de que um gene seja IBD e 25% de nenhum gene ser IBD em cada locus. Se um par de gémeos, num dado locus não for IBD em ambos os genes será, portanto, DZ. A distinção de gémeos em MZ e DZ tem origens no século XIX, com Sir Francis Galton (1822-1902), mas foi apenas no século XX que surgiram os primeiros estudos(24, 18), com o intuito de averiguar uma base objectiva para o diagnóstico da zigotia, os quais deram origem ao método clássico de estudos com gémeos que ao longo do século assumiu uma enorme aplicabilidade(19). Até aos procedimentos mais actuais, com base no DNA houve certamente um caminho 148 Rev Port Cien Desp 7(2) 147–155 interessante onde alguns nomes deram passos marcantes na história da determinação da zigotia1. A identificação precisa da zigotia dos gémeos, i.e., saber se a gemelaridade é MZ ou DZ, não tem sido tarefa fácil para os geneticistas interessados no fenómeno da gemelaridade, tão pouco para os obstetras no momento do parto gemelar(11), a não ser que as membranas fetais sejam monocoriónicas. Apesar do exame das membranas fetais ser considerado por Derom et al.(5) como o único método que permite ter a certeza da identificação de gémeos MZ, Segal(27) estimou que mesmo os obstretas mais experientes classificam erradamente a zigotia em 6% dos casos e Elston et al.(7) referiram a necessidade de observação microscópica para distinguir a placentação monocorial (verificada nos gémeos MZ) de placentas dicoriónicas de dois embriões que se fundiram (gémeos DZ). A investigação no vasto território da Genética do comportamento (do inglês Behavioral Genetics) ou da Epidemiologia Genética aplicada às Ciências do Desporto com delineamentos gemelares necessita que se distingam claramente os gémeos MZ dos DZ (ver extensas aplicações deste tipo de pesquisa em Bouchard et al.(2). Por exemplo, a qualidade e generalização dos resultados de investigação “relativamente simples” de agregação familiar nos níveis e padrões de actividade física(20, 15, 25), até matérias de maior repercussão, como transplante de órgãos, tratamentos farmacológicos ou transfusões sanguíneas (33, 12, 32) exigem a determinação precisa da gemelaridade dos grupos. É pois da maior relevância a identificação precisa, fiável e válida da zigotia(33) respondendo, de modo inequívoco, à seguinte questão: estes gémeos são MZ ou DZ? Claro que se forem os dois de sexo oposto (cerca de 1/3 dos nascimentos gemelares), a resposta é óbvia – só podem ser dizigóticos2. Contudo, se forem do mesmo sexo, a resposta já não é tão óbvia. Ao longo do tempo, os geneticistas foram desenvolvendo um conjunto variado de procedimentos de complexidade técnica e computacional diversa, que colectivamente podem ser agrupadas em dois tipos de métodos: directos e indirectos(ver por exemplo 28, 1, 23). Uma aventura interessante é a leitura da dissertação de doutoramento do geneticista belga Robert Vlietinck(33) ao dedicar-se, exclusivamente, ao lato e difícil assunto da determinação da gemelaridade, Determinação da gemelaridade desenvolvendo técnicas simples cuja utilização o autor deseja generalizar. Apesar de técnicas moleculares poderem estabelecer o diagnóstico com uma taxa de precisão de cerca de 100% e formas não invasivas de obtenção do DNA terem sido desenvolvidas(6), o custo destes procedimentos limita o seu uso em estudos epidemiológicos em larga escala(4). Portanto, não será de estranhar que o uso de questionários em matéria de determinação da zigotia tenha sido crescente nos últimos anos3. A estratégia centrada na utilização dos questionários é bem simples – tornar acessível um procedimento válido e fiável, de baixíssimo custo, para estimar a zigotia do grupo. É evidente que o processo de validação concorrente do questionário tem sido objecto de sofisticação e refinamento por parte de procedimentos técnicos mais actuais e também do recurso a análises estatísticas mais poderosas(ver, por exemplo, 4, 37). O propósito deste nosso estudo radica precisamente nesta estratégia, pelo que pretendemos testar, uma vez mais, a qualidade do questionário de Peeters et al. (21) na determinação da zigotia. Este propósito é tanto mais válido quando não existe nenhum questionário, que seja do nosso conhecimento, de determinação da zigotia validado para a população portuguesa e quando se pretende que o seu uso seja “generalizado” por investigadores portugueses, nomeadamente das Ciências do Desporto, sempre que a sua amostra for constituída por pares de gémeos e enfrentar problemas sérios de financiamento para determinar a zigotia dos sujeitos com base no seu DNA. METODOLOGIA Amostra A amostra do estudo foi recolhida fundamentalmente em dois Encontros de Gémeos realizados no Centro de Portugal: Cantanhede e Viseu, durante os quais foi feita uma reunião com os pais das crianças onde lhes foram explicados os propósitos e alcances da pesquisa e os procedimentos que seriam adoptados. Foi obtido consentimento expresso para participarem por parte dos pais em somente 52 casos. Porém, apenas foram validados para o nosso estudo, por questões processuais, 45 destes grupos gemelares assim distribuídos (ver quadro 1): 40 pares de gémeos, 4 grupos de trigémeos e 1 grupo de quadrigémeos, o que perfaz 96 gémeos dos 6 aos 12 anos de idade, 47 do sexo masculino e 49 do sexo feminino (uma distribuição praticamente equitativa quanto à variável género). Participaram também, através do preenchimento do questionário de Peeters, as respectivas mães (45). Quadro 1. Distribuição da amostra por grupos gemelares e sexo grupos sexo n % Par gémeos (40; 88.9%) MM MF FF 40 4 36 41.7 4.2 37.5 Trigémeos (4; 8.9%) MMM FFF 3 9 3.1 9.3 Quadrigémeos (1; 2.2%) MMFF 4 4.2 96 100 45 M – Masculino; F - Feminino Instrumentos e Procedimentos Actualmente poderemos considerar dois tipos de métodos: directos e indirectos. Os métodos directos incluem: (1) exame das membranas materno-fetais, (2) marcadores genéticos clássicos, (3) DNA. Os indirectos são constituídos por uma plêiade de técnicas: (1) apreciação somatoscópica pericial da morfologia externa, (2) dermatóglifos, (3) questionários. O quadro 2 mostra como é possível efectuar o diagnóstico com graus crescentes de fiabilidade. Quadro 2. Sumário dos procedimentos usados para determinação da zigotia apresentados por Borges-Osório e Robinson (1) e Elston et al. (7). Sequência crescente em termos de Validade. Determinação da zigotia 1. Regra diferencial de Weinberg 2. Comparação da similaridade 3. Questionários de similaridade Auto-registo Registo de outros 4. Dermatóglifos 5. Exame das membranas materno-fetais 6. Marcadores genéticos Grupos sanguíneos Sistema HLA Proteínas séricas Enxertos de pele 7. Análise do DNA: marcadores moleculares altamente polimórficos Rev Port Cien Desp 7(2) 147–155 149 José Maia, Sónia Fernandes, António Amorim, Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira Destes métodos, só trataremos de forma brevíssima as técnicas que mais nos interessam – o exame de micro-satélites ou STRs (Short Tandem Repeats4) dispersos de forma aleatória no genoma e os questionários que incluem perguntas de grau de similaridade distinta cujas estimativas de heritabilidade, para as características em apreço, são muito altas. Determinação da zigotia com base em micro-satélites do DNA A análise do DNA dos membros de cada par implica obtenção de uma amostra muito reduzida de sangue. Trata-se, pois, de um procedimento “algo invasivo”, para o qual foi obtido consentimento por parte dos pais, realizado por um elemento experiente. Também poderia ser feito através de saliva ou esfregaço bucal, mas o sangue foi o material preferido. A técnica de extracção e amplificação do DNA por cadeia de reacção da polimerase é bem conhecida e está suficientemente explicada em qualquer manual de genética médica (uma leitura interessante sobre o assunto em língua portuguesa é o livro de Regateiro(23). A extracção do DNA a partir das amostras de sangue de 96 indivíduos foi efectuada com um método baseado na utilização da resina Chelex (13). Em todas as amostras de DNA, a análise de 17 STRs autossómicos (CSF1PO, D2S1338, D3S1358, D5S818, D7S820, D8S1179, D13S317, D16S539, D18S51, D19S433, D21S11, FGA, PD, PE, TH01, TPO e VWA) e o locus da Amelogenina (determinação do sexo), foi efectuada por amplificação por PCR, utilizando os kits comerciais Powerplex 16 System (Promega Corporation) e Identifiler (AB Applied Biosystems), de acordo com as instruções dos fabricantes. A genotipagem foi efectuada em aparelhos ABI 310 Genetic Analyzer (AB Applied Biosystems), de acordo com as instruções do fabricante, por determinação do tamanho dos fragmentos de DNA e comparação com escalas alélicas fornecidos com os kits comerciais. Nos casos onde os indivíduos apresentavam perfis genéticos de STRs idênticos, foi efectuado o cálculo de probabilidade de monozigotia, que segue, no fundamental, a metodologia de Essen-Møller(8) e que se baseia nas frequências génicas, neste caso determinadas 150 Rev Port Cien Desp 7(2) 147–155 na população residente no Centro e Norte de Portugal. Dada a relevância da informação obtida, particularmente para os gémeos e seus pais, foi elaborado um relatório com os resultados que posteriormente lhes foi enviado. Questionário de Peeters et al. (1998) Esta técnica não invasiva, facilmente operacionalizável, de custo baixíssimo, permite obter informação preciosa acerca da zigotia dos pares de forma quase imediata. O questionário de Peeters et al.(21) foi desenvolvido na Bélgica pela equipa do Professor Robert Vlietinck (Departamento de Genética Humana da Universidade Católica de Lovaina). É constituído por um conjunto muito simples de questões (ver anexo) apreciado exclusivamente pela mãe. Está organizado do seguinte modo: um grupo de perguntas simples acerca da similaridade dos membros do par e índices de similaridade que contêm questões relativamente à parecença dos membros de cada par, tal como são apreciados pelos pais, irmãos, professores, amigos e estranhos. Esta informação está dispersa no questionário do seguinte modo: opinião da mãe (item 1); similaridade global e confusão gemelar (itens 2 a 7) e similaridade específica (itens 8 e 9). Entre outros, é possível calcular um índice designado por índice simples de similaridade que foi o utilizado nesta pesquisa. O seu cálculo é efectuado do seguinte modo: adiciona-se 1 ponto a cada resposta que indique similaridade entre os gémeos e subtraise 1 ponto a cada resposta que sugira dissemelhança. Gémeos DZ duvidosos são cotados com – 1/2 e gémeos MZ duvidosos com +1/2. Se a soma simples das cotações das respostas for igual ou superior a zero, os sujeitos são considerados gémeos MZ. Caso contrário, são referidos como gémeos DZ. A recolha dos dados com base nos questionários foi feita durante os Encontros. Estes foram sempre cotados pelo mesmo investigador (J.A.R.M.), muito experiente e bem familiarizado com o instrumento e procedimentos. Conforme é descrito na literatura, uma amostra menor foi re-cotada para se obter uma estimativa da fiabilidade dos resultados. A consistência das cotações foi elevada, confirmando a qualidade da avaliação efectuada. Determinação da gemelaridade Procedimentos estatísticos Inicialmente, e após o procedimento descrito para estimar a fiabilidade dos resultados, foi calculada a percentagem de acordos de classificação (questionário – DNA) com base nas percentagens de classificações correctas nos gémeos MZ e DZ. O Kappa de Cohen foi utilizado para a correcção desta estatística, assumindo que classificações certas podem ter ocorrido de modo “casual”. Com o intuito de testar formalmente a qualidade da informação das mães recorremos ao teste de qui-quadrado e ao teste de McNemar, esperando uma forte associação entre as duas classificações. O software estatístico utilizado foi o SPSS 13.0. RESULTADOS Os principais resultados encontram-se sumariados no Quadro 3. Quadro 3. Tabela de dupla entrada relativa às frequências e percentagens de classificação gemelar obtidas com o Questionário e os micro-satélites do DNA dos sujeitos Classificação Informação do DNA Informação do Questionário DZ MZ DZ MZ 18 (94.7%) 40% 1 (5.3%) 2.2% 0 (0%) 0% 26 (100%) 57.8% 18 27 DZ – Dizigótico; MZ - Monozigótico. Total: 45 grupos de gémeos O teste da zigotia com base nos micro-satélites de DNA permitiu classificar correctamente os 96 indivíduos da amostra: 35 (40%) são gémeos DZ e os restantes 61 (60%) são gémeos MZ. Dos 19 grupos de gémeos DZ que foram identificados como tal através da cotação do questionário, 18 (94.7% dos gémeos DZ) foram confirmados com a informação proveniente do DNA. Apenas 1 par (i.e., 2.2% do total da amostra) foi erradamente classificado. A sua zigotia correcta é MZ. Nos gémeos MZ a percentagem de classificação correcta é de 100%, i.e. 26 em 26 grupos de gémeos foram correctamente classificados através do questionário. A proporção global de acordo é calculada somando os resultados correctamente classificados como MZ e DZ, obtendo-se deste modo o seguinte valor: (18+26)/45 = 0.977, i.e. 97.8%, um valor bastante elevado. Decorrente deste procedimento chegamos também ao valor da percentagem de erros de classificação de 2.2%. Os resultados significativos obtidos no teste Kappa de Cohen (0.954 ±0.045, p<0.000), mostram claramente a relevância e a qualidade da informação obtida através do questionário, já que este é um teste que permite aferir a concordância ou semelhança entre os procedimentos por nós utilizados, cujo valor máximo é 1 e valores acima de 0.75 significam uma excelente concordância entre as variáveis. O valor do teste do qui-quadrado é altamente significativo (!2(1)=41.053, p<0.0001). Estes resultados implicam uma forte associação entre a classificação reportada pelas mães e os resultados do DNA, resultados que são reforçados pelo teste de McNemar (p<0.0001). Este último, também designado nas ciências sociais de teste de mudança de opinião, compara em termos percentuais as respostas dicotomizadas de duas variáveis, no nosso caso a classificação com base nos questionários e a classificação proveniente da análise do DNA, em amostras emparelhadas, o que igualmente se verifica no estudo por nós efectuado uma vez que os gémeos classificados nos dois procedimentos foram os mesmos. O valor de prova obtido com o teste foi menor que 1/1 000, o que nos leva à conclusão de que a classificação dos gémeos através dos questionários não alterou significativamente a classificação obtida pelo outro procedimento utilizado. O valor encontrado salienta o facto de não haver qualquer diferença significativa entre os resultados das frequências de respostas de zigotia do questionário e o exame do DNA. DISCUSSÃO Destes resultados emergem os seguintes comentários: — A elevada associação entre a classificação das mães e os resultados do DNA vem confirmar a qualidade da informação do progenitor e a “capacidade” do questionário em determinar de modo simples e altamente económico a zigotia dos pares de gémeos. — A validade dos questionários já havia sido ante- Rev Port Cien Desp 7(2) 147–155 151 José Maia, Sónia Fernandes, António Amorim, Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira riormente confirmada(21, 4, 31, 26) e é suportada em toda a magnitude no caso dos gémeos MZ. Já nos DZ, os valores mostram erros de classificação de cerca de 2.2%. Resultados equivalentes aos nossos foram já reportados por outros autores, cuja percentagem de erros varia entre 0 e 7%. Convém referir que as amostras de estudos referenciados na introdução, bem como a que foi utilizada no questionário de Peeters, se situam entre os 100 e os 150 pares de gémeos, manifestamente superiores às do presente estudo. Daqui que apresentemos a sugestão de ser efectuado um estudo com uma amostra maior, tal como é sugerido por Mange e Mange(17) para comprovar, de modo cruzado, a fiabilidade dos resultados, ainda que estejamos convictos que os resultados na população portuguesa não serão muito distintos dos que foram por nós obtidos. — O facto do grau de concordância entre a classificação através do questionário e do teste de DNA, relativamente aos gémeos MZ, ter sido de 100% poderia eventualmente suscitar a curiosidade dos motivos conducentes a uma total concordância entre a informação proveniente dos dois métodos, já que vários autores(e.g. 24, 14, 9, 32, 22) estudaram e assinalaram as diferenças comportamentais, físicas, genéticas e epigenéticas nos gémeos MZ, tendo inclusive conduzido à subdivisão destes em três tipos(23, 33, 11, 1). Clarificando melhor: os gémeos MZ provêm de um ovo que foi fecundado e que em determinado momento se divide em duas “cópias genéticas”. O momento da divisão dos blastómeros5 traduz-se depois em diferenças, mesmo físicas (cujo exemplo, talvez o mais perceptível seja o dos gémeos siameses), dissimilitudes que frequentemente se acentuam ao longo da vida dos gémeos. As dissemelhanças dos gémeos, a que as mães tendem a ser mais sensíveis, e o esforço que fazem por tratar os seus filhos individualmente foram os motivos apontados pela equipa de investigação do Professor Vlietinck, no estudo de Peeters et al.(21), para o facto de ter verificado valores inferiores de concordância nos gémeos MZ do que nos gémeos DZ. Porém, os pais usualmente distinguem os gémeos MZ(32). De facto, “apesar de os gémeos MZ parecerem indistinguíveis aos estranhos, nenhuns gémeos são tão idênticos que as suas mães não os consigam distinguir sem errar” (10, p.105), o que torna este questionário ainda mais válido. 152 Rev Port Cien Desp 7(2) 147–155 — O valor de erros de classificação é altamente aceitável no domínio da investigação no âmbito das Ciências do Desporto. Talvez não o fosse em outros campos da investigação, como o demonstra claramente a experiência vivenciada pelos gémeos St. Clair(32). Desde bastante cedo pensaram ser gémeos DZ por apresentarem alguns traços discordantes, ainda que fossem muito similares na aparência. John St. Clair, após uma intoxicação com cogumelos venenosos, recebeu um transplante renal do seu irmão David. Durante 15 anos John foi submetido a tratamentos de imunossupressão, com bastantes complicações daí derivadas. Perante a possibilidade de interromper o tratamento, caso se verificasse monozigotia, efectuaram vários testes de DNA que confirmaram serem MZ. Nove meses depois de ter interrompido os tratamentos com imunossupressores John mantinha uma função renal normal, confirmando 15 anos de tratamentos escusados. Não obstante os erros passíveis de serem encontrados na determinação da zigotia através deste procedimento, não há que retirar qualquer valor à informação do questionário. Bem pelo contrário! — Ainda que o valor do erro seja baixo e seja o esperado, cremos que este tem uma explicação no contexto deste estudo. Nenhuma das mães tinha a certeza absoluta da zigotia dos seus filhos. Não tinha informação proveniente do exame do DNA, ou de qualquer exame de anatomia patológica à placenta. Curiosamente, a mãe que afirmava que os seus filhos eram gémeos DZ (pelo menos foram estes os resultados emergentes das suas respostas ao questionário), sempre tratou os seus filhos de modo diferente. Isto é, ainda que sejam MZ, procurou sempre um espaço de intervenção de forte dissemelhança entre os membros do par. A diferença foi o seu toque no processo de relacionamento e educação. E de algum modo sugeriu que todos os tratassem desse modo. Este é um tipo de comportamento frequente entre as mães que vêem os seus filhos de forma diferente, ainda que possam ser “iguais” do ponto de vista genético. Este fenómeno é bem reportado na literatura, de que o texto “gémeos, trigémeos e mais”(3) dá conta. — É evidente que a determinação da gemelaridade é um fenómeno que encerra em si mesmo um espaço para a incerteza, ainda que a probabilidade de se Determinação da gemelaridade errar com os resultados dos micro-satélites seja baixíssima(24, 4, 35, 36). Contudo, não é impossível. Mais “fácil” é o erro de classificação com base nos questionários. Enquanto que na primeira técnica a probabilidade é muito próxima de 0%, na segunda é cerca de 1 a 5%. Há pois aqui que estabelecer um compromisso entre precisão do resultado e o respectivo custo, que é sempre elevado quando se recorre ao exame do DNA e se lida com centenas de sujeitos. — Da aplicação do questionário fica-nos porém a seguinte sugestão: ainda que o valor do inventário de Peeters seja inquestionável, há que recolher das mães um rigor ainda maior no modo como respondem às questões. Verificámos que porventura são confundidos os aspectos de natureza comportamental com as características físicas dos filhos para permitir tornar mais perceptíveis as “igualdades ou desigualdades” perante elas próprias e terceiros. Com esta ênfase serão claramente distinguidas impressões subjectivas e atitudes relativamente ao comportamento dos gémeos das suas opiniões quanto às características físicas dos mesmos. Em conclusão, o questionário de Peeters de determinação da zigotia é um instrumento válido e fiável para ser utilizado em pesquisa gemelar no espaço lusófono. NOTAS AGRADECIMENTOS 1) este estudo foi financiado por uma bolsa de investigação da Fundação para a Ciência e Tecnologia (POCI/DES/62499/2004); (2) ao revisor anónimo, cujas sugestões ajudaram a melhorar alguns aspectos do texto. CORRESPONDÊNCIA José António Ribeiro Maia Laboratório de Cineantropometria Faculdade de Desporto, Universidade do Porto Rua Dr. Plácido Costa, 91 4200-450 Porto A este propósito ver os percursos históricos sumariamente descritos por Vlietinck (33), Borges-Osório e Robinson (1) e Spector et al. (30). 2 Gringras e Chen (10) descreveram vários efeitos intra-uterinos e mecanismos genéticos que podem resultar em diferenças fenotípicas, genéticas e epigenéticas nos gémeos MZ, inclusive no que respeita ao sexo. 3 Um percurso histórico pode ser efectuado nos textos de Sarna et al. (26), de Chen et al. (4) e de von Wurmb-Shwark et al. (34). 4 Short Tandem Repeat Polimorphism, também designado por micro-satélites, são repetições de 3 ou 4 nucleótidos com extensão reduzida e bem localizada ao longo do genoma humano que permite mapear informação importante, neste caso, a presença dos mesmos micro-satélites nos mesmos lugares dos cromossomas dos gémeos MZ. 5 É hoje aceite pela comunidade científica distintos momentos de separação dos blastómeros: se a separação for precoce, até ao 3º dia, os dois embriões implantam-se de forma autónoma no endométrio, originando uma placentação bicorial biamniótica; se a divisão do embrião ocorre entre o 3º e o 7º dia (a mais frequente), formam-se assim dois gémeos MZ com uma placenta comum, mas cada um com o seu saco amniótico – monocorial biamniótica; se a divisão ocorre após a primeira semana (com uma frequência <1% dos gémeos MZ), os gémeos partilham uma mesma placenta e um saco amniótico comuns. No caso dos gémeos siameses (que chegam a partilhar órgãos) a divisão do embrião ocorre para além das duas semanas de desenvolvimento. 1 Rev Port Cien Desp 7(2) 147–155 153 José Maia, Sónia Fernandes, António Amorim, Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 154 Borges-Osório, M.; Robinson, W. (2002). Genética humana. Artmed. Porto Alegre. Bouchard, C.; Malina, R.; Pérusse, L. (1997). Genetics of fitness and physical performance. Human Kinetics. Champaign. Bryan, E. (1995). Twins, triplets & more. Their nature, development & care. Penguin Books. London. Chen, W.; Chang, H.; Wu, M.; Lin, C.; Cheng, C.; Chiu, YN.; Soong, W-T. (1999). Diagnosis of zygosity by questionnaire and polymarker polymerase chain reaction in young twins. Behaviour Genetics 29 (2):115-123. Derom, R.; Vlietick, R.; Derom, C.; Keith, L.; Van Den Derghe, H. (1991). 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Como instrumento de medida, foi utilizado um acelerômetro triaxial da Bruel & Kjaer®, conectado a um sistema de aquisição de sinais. Para a colecta de dados, o acelerómetro foi fixado sucessivamente no punho, no quadril e no tornozelo, medindo as acelerações provenientes de 10 impactos em cada segmento em cada um dos sete tipos de tatames. Os resultados obtidos permitem afirmar que os valores dos impactos recebidos pelos judocas, principalmente no punho e tornozelo, ultrapassam os limites considerados seguros em todos os tipos de tatames, os quais, mesmo sendo impactos de curta duração, encontram-se em limites considerados geradores de severas lesões (aceleração > 200 g). De acordo com os resultados deste trabalho, os tatames “A”, “B” e “F” foram os que se apresentaram mais apropriados para o amortecimento de quedas no Judô. ABSTRACT Acceleration and impact time on judo’s athlete body segmets during ukemi movement on different tatame types Palavras-chave: impacto, ukemi, tatame. Key-words: impact, ukemi, tatami. Rev Port Cien Desp 7(2) 156–166 Laboratório de Biomecânica DEF/CDS/UFSC Florianópolis SC, Brasil 2 Laboratório de Biomecânica CEFID/UDESC Florianópolis SC, Brasil 3 Departamento de Engenharia Mecânica CTC/UFSC Florianópolis SC, Brasil This exploratory study was conducted to detect and compare the accelerations and the time intervals of impacts suffered by different body segments of a judoka (wrist, hip, and ankle) using different types of tatami. In order to accomplish this study, seven different types of tatami were selected intentionally (six of them synthetic and one natural straw). We had the help of two judoka to execute the “Ipon-SeoiNague” technique and the respective “Zempo-Kaiten-Ukemi” reduction. A Bruel&Kjaer triaxial accelerometer was used for the measurements. It was connected through cables to preamplifiers linked to a system of terminals with divisors where the signal was acquired. For the data collection, the accelerometer was fastened on the wrist, on the hip, and on the ankle. The device measured the accelerations of 10 impacts of every segment in each of the seven types of tatami, totaling 210 measures. The results obtained allow us to state, based on tolerance criteria, that the values of the impacts received by the judoka, mainly in the fist and ankle body segments, exceed the limits considered safe. Even though these impacts were of short duration, they are in limits considered causer of severe injuries (acceleration >200g). From the results of this work, the more appropriate for Judo falls damping were the tatami “A”, “B” and “F”. Impacto em jodocas nas técnicas de ukemi INTRODUÇÃO Entre as preocupações de pesquisadores em diferentes áreas, tais como Ergonomia, Engenharia Mecânica, Biomecânica e algumas áreas da Saúde, encontram-se as respostas do corpo humano a diferentes tipos de impactos e vibrações. Há muitas actividades que produzem vibrações e impactos, sendo grande parte delas relacionadas com actividades laborais e esportivas. O efeito do impacto em corpos acelerados tem sido estudado em tecidos rígidos(23), mostrando que a exposição a vibrações provocadas pelo impacto causa lesões. Com relação à prática de esportes, apesar do entendimento incompleto das causas e da natureza dos danos relacionados à mesma, a crença de que a exposição repetitiva aos impactos pode induzir ao dano tem recebido um considerável interesse por parte de pesquisadores em biomecânica do esporte (4,1,2,5,14,15,16,22). De maneira geral, qualquer tipo de impacto advindo dos esportes é um evento caracterizado pela ocorrência de forças de grande intensidade e curta duração, isto é, forças impactantes, e estas são frequentes em vários esportes, como exemplo, pode-se citar a prática do judô, onde para toda a projeção (Nage-Waza) existe uma queda (ukemi). As quedas são realizadas por técnicas de amortecimento, as quais dependem do tipo de técnica de projecção utilizada. A prática das quedas faz parte do treinamento sistemático dos judocas, sendo utilizadas com o objectivo de amenizar os efeitos deletérios no organismo, a curto, médio ou longo prazo, provenientes do impacto do corpo do judoca com o tatame. O tatame é um material específico para a prática do judô, como para outros esportes de combate, o qual tem por objectivo contribuir para a amenização dos efeitos das quedas. Embora haja estudos que apontam os tatames como um dos causadores de lesões em judocas (21, 19, 20, 18, 17), não se encontrou na literatura, nem nas especificações dos fabricantes e/ou representantes de tatames, as características que propiciem ao consumidor conhecer o material que está adquirindo. Partindo do pressuposto que os diferentes tipos de tatames podem influenciar nas acelerações resultantes do impacto do corpo do judoca com o solo, é que se realizou este estudo com o objectivo de verificar as acelerações e a duração dos tempos dos impactos sofridos por diferentes segmentos corporais de judocas (mão, quadril e pé) após quedas nos diferentes tipos de tatame, assim como comparar as respectivas acelerações nos diferentes pontos corporais. MATERIAIS E MÉTODOS Foram testados sete diferentes tipos de tatame, sendo um de palha (C) e seis sintéticos (A, B, D, E, F, G) com diferentes espessuras (6,0 cm, 4,0 cm, 3,5 cm, 3,8 cm, 3,0 cm, 4,0 cm, 3,2 cm, pela ordem referida), escolhidos intencionalmente. Os testes foram realizados em laboratório por dois judocas, sendo que o “tori” (judoca que projecta) executava a técnica “Ipon-Seoi-Nague”, técnica escolhida por não haver necessidade da utilização do “judogui” (indumentária adequada para a prática do judô), e o “uke” (judoca que é projectado) amortecia a queda com o “Zempo-Kaiten-Ukemi” (Figura 1). Figura 1. Técnica “Ipon-Seoi-Nague”. Para quantificar os impactos resultantes das colisões de segmentos corporais do judoca (punho, quadril e tornozelo) contra os tatames, utilizou-se um acelerô- Rev Port Cien Desp 7(2) 156–166 157 Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis metro triaxial do Tipo 4321, da Brüel & Kjaer®. O acelerómetro foi fixado com fita adesiva (Figura 2), de forma a evitar o movimento do acelerómetro sobre o local escolhido. Os pontos de fixação foram: no punho, sobre a articulação radioulnar distal esquerda (Figura 2); no quadril, na porção superior da crista ilíaca direita (Figura 3); e na perna, dois centímetros proximais ao maléolo medial esquerdo (Figura 4). O sistema de coordenadas utilizado foi determinado com base na posição do acelerómetro no instante do contato do segmento com o tatame (queda), sendo: sentido vertical para o eixo z, sentido antero-posterior para o eixo y e sentido laterolateral para o eixo x (Figura 5). Figura 4. Ponto de fixação do acelerômetro no tornozelo Z X Y Figura 5. Sistema de referência tridimensional utilizado Figura 2. Forma de fixação do acelerômetro no punho Figura 3. Ponto de fixação do acelerômetro no quadril 158 Rev Port Cien Desp 7(2) 156–166 Foram obtidos sinais de dez projecções e quedas, com êxito, em cada segmento corporal e em cada um dos sete tipos de tatames, totalizando 210 projecções/quedas. As colectas foram realizadas em diversos dias, organizados em sessões de 10 projecções/quedas com intervalo de um minuto entre elas, duas vezes por semana ao longo de três meses, visando preservar a integridade física dos judocas participantes do estudo. Para a obtenção dos dados foi estipulada uma frequência de aquisição de 5000 Hz e tempo total de aquisição de 4 s para cada projecção/queda. Os sinais eléctricos gerados no acelerómetro (em mV) pelo impacto dos segmentos com os tatames foram amplificados por pré-amplificadores de carga tipo 2635 da Brüel & Kjaer® e enviados a uma placa de aquisição de dados multicanal CIO-DAS 16/1600 que compreende 16 canais absolutos ou 8 canais Impacto em jodocas nas técnicas de ukemi diferenciais, com conversor analógico/digital de 12 bites com um limite de tensão de entrada de , da Computer Board®, tendo sido processados e registrados no software SAD32® (1977). Após a realização do estudo piloto, para o qual dois judocas realizaram projecções e quedas nos diferentes tatames com o acelerómetro fixado em diferentes segmentos corporais (punho, quadril e tornozelo), definiram-se os factores de correcção do acelerómetro, via pré-amplificadores, como mostra o Quadro 1. Tanto um divisor resistivo de 1/2, quanto os factores de correcção dos pré-amplificadores, foram necessários para que se evitasse saturação dos sinais, devido aos diferentes tipos de materiais a serem testados e à colocação do acelerômetro em diferentes segmentos corporais. Para as análises dos tempos de duração do impacto, os valores em cada eixo (x,y,z) foram obtidos com o seguinte critério: obtenção do tempo inicial e do tempo final de cada curva (Figura 7). O valor de duração do impacto, em cada componente (x, y ou z), resulta da subtracção entre o tempo final e o tempo inicial (tF – tI = ti). Os dados foram processados usando a estatística descritiva em termos de média, desvio padrão e coeficiente de variação, assim como a análise de variância (ANOVA) com p!0,05. Quadro 1. Factores de correcção dos pré-amplificadores para aquisição dos sinais via acelerometria. Seg. Corporal Tipo de tatame x (mV) y (mV) z (mV) Punho “A”, “B”, “C” e “E” “D”, “F” e “G” 1 1 1 10 3,16 1 Todos 10 10 1 “B”, “C” e “E” “A”, “D”, “F” e “G” 10 10 100 10 10 10 Tornozelo Quadril Para quantificar a magnitude do impacto utilizou-se o valor máximo absoluto da aceleração, conforme apresenta a Figura 6, corrigidos pelos factores citados no Quadro 1 e normalizados por 9,81 m/s2 (aceleração da gravidade – g). Figura 7. Representação gráfica do critério utilizado para retirar das curvas o factor tempo inicial e tempo final A partir do atendimento das exigências internacionais de experimentação com humanos (Declaração de Helsínquia de 1975), e legais conforme o que dispõem as Resoluções 196 e 251, de 07/08/97 do Conselho Nacional da Saúde (Brasil), no que concerne ao Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Catarina (processo 055/2000 em 06/09/2000), os dados foram colectados após os atletas assinarem um termo de consentimento informado. RESULTADOS Os resultados obtidos referentes às magnitudes das acelerações e tempo de duração dos impactos dos três segmentos corporais (punho, quadril e tornozelo) nos sete diferentes tipos de tatames, estão contidos nos Quadros 2, 3, 4, 5, 6 e 7 a seguir. Figura 6. Representação gráfica dos valores de impacto nos eixos x, y e z Rev Port Cien Desp 7(2) 156–166 159 Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis Quadro 2. Va lores das magnitudes de impacto no PUNHO nos diferentes tatames (eixos x, y e z). Onde: é a média, s é o desvio padrão e CV é o coeficiente de va r iação Variáveis Tatames/Aceleração Eixos A B C D E F G Média x X (g) s (g) CV (%) 170,35 33,49 19,66 202,00 33,84 16,75 218,27 39,65 18,17 130,39 27,14 20,82 155,29 24,94 16,06 150,16 31,81 21,19 156,30 28,70 18,36 168,97 31,37 18,71 y X (g) s (g) CV(%) 63,00 12,02 19,08 67,97 10,47 15,40 61,48 12,00 19,53 39,52 9,70 24,55 58,73 12,89 21,96 39,99 12,42 31,05 64,91 18,97 29,22 56,51 12,64 22,97 z X (g) s (g) CV(%) 221,69 22,44 10,12 230,87 16,31 7,06 300,94 24,13 8,02 270,74 19,01 7,02 301,11 25,80 8,57 231,51 23,52 10,16 267,05 30,13 11,28 260,56 23,05 8,89 Quadro 3. Valores do tempo de duração de impacto no PUNHO nos diferentes tatames (eixos x, y e z). Simbologia equivalente à do quadro 2. Variáveis Tatames/Tempo de duração do Impacto Eixos A B C D E F G Média x X (s) s (s) CV (%) 0,0087 0,0009 10,30 0,0079 0,0006 7,08 0,0060 0,0011 18,09 0,0076 0,0012 15,44 0,0049 0,0010 20,32 0,0086 0,0011 13,30 0,0059 0,0006 9,33 0,0071 0,0009 13,41 y X (s) s (s) CV (%) 0,0095 0,0011 11,85 0,0079 0,0012 15,63 0,0048 0,0007 15,01 0,0059 0,0007 12,73 0,0043 0,0012 27,40 0,0086 0,0015 16,98 0,0073 0,0016 21,80 0,0069 0,0012 17,34 z X (s) s (s) CV (%) 0,0117 0,0018 15,35 0,0122 0,0015 12,35 0,0085 0,0012 13,55 0,0057 0,0005 8,99 0,0055 0,0007 12,80 0,0091 0,0015 16,67 0,0079 0,0008 9,82 0,0087 0,0011 12,79 Quadro 4. Valores das magnitudes de impacto no QUADRIL nos diferentes tatames (eixos x, y e z). Simbologia equivalente à do quadro 2. Variáveis Tatames/Aceleração Eixos 160 A B C D E F G Média x X (g) s (g) CV (%) 13,41 1,60 11,97 11,19 1,53 13,69 14,17 1,85 13,02 15,26 2,23 14,61 17,17 2,05 11,92 18,30 2,10 11,45 18,79 2,63 14,00 15,47 2,00 12,95 y X (g) s (g) CV (%) 12,89 4,19 32,49 5,96 1,34 22,49 6,64 0,93 13,95 9,03 2,08 23,00 8,81 1,25 14,18 8,83 2,16 24,41 10,32 2,64 25,53 8,93 2,08 22,29 z X (g) s (g) CV (%) 12,88 1,37 10,65 6,65 0,70 10,52 9,50 0,66 6,98 17,63 1,81 10,30 8,00 1,05 13,13 13,84 2,02 14,60 16,06 1,75 10,86 12,08 1,34 11,00 Rev Port Cien Desp 7(2) 156–166 Impacto em jodocas nas técnicas de ukemi Quadro 5. Valores do tempo de duração de impacto no QUADRIL nos diferentes tatames (eixos x, y e z). Simbologia equivalente à do quadro 2. Variáveis Tatames/Tempo de duração do Impacto Eixos A B C D E F G Média x X (s) s (s) CV (%) 0,0254 0,0031 12,02 0,0132 0,0032 24,10 0,0148 0,0030 20,63 0,0198 0,0040 19,98 0,0074 0,0013 17,80 0,0189 0,0037 19,46 0,0170 0,0027 15,95 0,0167 0,0030 18,56 y X (s) s (s) CV (%) 0,0231 0,0044 18,91 0,0247 0,0041 16,78 0,0167 0,0024 14,66 0,0229 0,0027 11,75 0,0095 0,0025 25,88 0,0286 0,0039 13,52 0,0196 0,0050 25,60 0,0207 0,0036 18,16 z X (s) s (s) CV (%) 0,0235 0,0046 19,54 0,0150 0,0029 19,24 0,0177 0,0022 12,29 0,0222 0,0024 10,99 0,0064 0,0018 27,83 0,0220 0,0038 17,33 0,0128 0,0025 19,40 0,0171 0,0029 18,09 Quadro 6. Valores das magnitudes de impacto no TORNOZELO nos diferentes tatames (eixos x, y e z). Simbologia equivalente à do quadro 2. Variáveis Eixos A B C Tatames/Aceleração D E F G Média x X (g) s (g) CV (%) 108,99 11,19 10,27 111,04 6,82 6,14 56,77 7,91 13,94 101,15 18,68 18,47 118,87 5,45 4,58 111,30 10,96 9,85 114,90 8,03 6,99 103,29 9,86 10,03 y X (g) s (g) CV (%) 94,03 7,05 7,50 69,93 11,94 17,07 82,72 15,61 18,87 48,37 6,82 14,11 61,21 9,61 15,71 42,14 6,72 15,94 60,51 5,87 9,70 65,56 9,09 14,13 z X (g) s (g) CV (%) 371,37 47,48 12,79 297,12 28,84 9,71 349,94 26,90 7,69 296,01 46,40 15,68 304,56 32,83 10,78 159,01 25,51 16,05 211,11 34,22 16,21 284,16 34,60 12,70 Quadro 7.Valores do tempo de duração do impacto no TORNOZELO nos diferentes tatames (eixos x, y e z). Simbologia equivalente à do quadro 2. Variáveis Tatames/Tempo de duração do Impacto Eixos A B C D E F G Média x X (s) s (s) CV (%) 0,0084 0,0014 17,16 0,0115 0,0022 18,85 0,0046 0,0013 29,26 0,0098 0,0020 20,07 0,0077 0,0011 13,88 0,0195 0,0031 16,11 0,0172 0,0029 16,67 0,0112 0,0020 18,86 y X (s) s (s) CV (%) 0,0075 0,0011 14,62 0,0086 0,0011 12,34 0,0059 0,0008 13,41 0,0079 0,0025 31,68 0,0056 0,0009 16,36 0,0228 0,0032 14,24 0,0198 0,0056 28,13 0,0111 0,0022 18,68 z X (s) s (s) CV (%) 0,0075 0,0009 11,45 0,0087 0,0015 17,46 0,0060 0,0010 16,08 0,0136 0,0028 20,34 0,0061 0,0008 13,48 0,0224 0,0024 10,70 0,0216 0,0027 12,35 0,0123 0,0017 14,55 Rev Port Cien Desp 7(2) 156–166 161 Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis Com relação à comparação das acelerações nos diferentes pontos corporais entre os tatames, nos três eixos, os resultados são apresentados nos Quadros 8, 9 e 10. Quadro 8. Comparação dos valores de impactos do segmento corporal PUNHO (eixos x, y e z) entre diferentes tatames. EIXO FONTE DE VARIAÇÃO Gl QUADRADOS MÉDIOS F P X entre grupos dentro grupo 6 63 9522,98 1004,79 9,48 0,00* y entre grupos dentro grupo 6 63 1391,61 167,51 8,31 0,00* Z entre grupos dentro grupo 6 63 11094,24 548,54 20,23 0,00* * estatisticamente significativo Quadro 9. Comparação dos valores de impacto no segmento corporal QUADRIL (eixos x, y e z) entre diferentes tatames. EIXO FONTE DE VARIAÇÃO Gl QUADRADOS MÉDIOS F P X entre grupos dentro grupo 6 63 77,06 4,11 18,73 0,00* y entre grupos dentro grupo 6 63 52,79 5,38 9,82 0,00* Z entre grupos dentro grupo 6 63 171,90 2,05 83,94 0,00* * estatisticamente significativo Quadro 10. Comparação dos valores de impacto no segmento corporal TORNOZELO (eixos x, y e z) entre diferentes tatames. EIXO FONTE DE VARIAÇÃO Gl QUADRADOS MÉDIOS X entre grupos dentro grupo 6 63 4504,272 113,9534 39,53 0,00* y entre grupos dentro grupo 6 63 3354,736 93,51304 35,87 0,00* Z entre grupos dentro grupo 6 63 56092,85 1266,163 44,30 0,00* * estatisticamente significativo 162 Rev Port Cien Desp 7(2) 156–166 F P DISCUSSÃO De acordo com os dados contidos no Quadro 2, constata-se que no punho, os maiores valores de aceleração ocorrem nos tatames “E” (301,11 g) e “C” (300,94 g), ambos no eixo z, e os menores nos tatames “F” (39,99 g) e “D” (39,52 g) ambos no eixo y. De maneira geral, os valores mais altos ocorreram no eixo z, (X = 260,56 g), os intermediários no eixo x (X = 168,97 g) e os menores no eixo y (X = 56,61 g). Quanto ao tempo de duração do impacto (Quadro 3), verifica-se que os menores valores médios foram obtidos no punho, no tatame “E”, nos três eixos (x, y e z), enquanto que as maiores médias ocorreram no tatame “A”, também nos três eixos. Quanto aos valores de aceleração do quadril, com base no Quadro 4, verifica-se que os valores mais altos de aceleração foram obtidos nos tatames “G” (18,79 g) e “F” (18,30 g), no eixo x. De uma maneira geral, foi no quadril que ocorreram os menores valores de aceleração em todos os eixos, sendo o menor valor médio de 5,96 g no eixo y, tatame “B”, e o maior de 18,79 g no eixo x, tatame “G”. Com referência ao tempo de duração de impacto (Quadro 5), os menores tempos, nos três eixos, foram obtidos nos tatames “E” e, os maiores no tatame “A” para os eixos x e z, e no tatame “F” para o eixo y. De forma geral o tatame “E” foi aquele que apresentou menor tempo de impacto e o tatame “A” o maior. Analisando os resultados contidos no Quadro 6, verifica-se que para o tornozelo, o valor de aceleração maior foi obtido no eixo z, no tatame “A” (371,37 g). Enquanto que a menor aceleração foi registada no eixo y, tatame “F” (42,14 g). Quanto ao tempo de duração do impacto, pode-se verificar que as menores médias foram de: 0,0046 s no tatame “C” (eixo x) ; 0,0056 s no tatame “E” (eixo y); 0,0060 s no tatame “C” (eixo z). Já os maiores tempos de impacto foram no tatame “F”, em todos os eixos. Muito embora não se tenha encontrado na literatura pesquisada estudos que possam ser comparados com estes dados, parece que existe uma relação entre tempo de impacto e espessura do material, uma vez que os materiais utilizados para esportes com grandes impactos têm que ser mais espessos, como o caso dos colchões utilizados para o salto com vara, dado que os saltadores caem de grandes alturas e colidem a altas velocidades(12). Deste modo, o tempo Impacto em jodocas nas técnicas de ukemi de duração do impacto é aumentado para reduzir as forças de impacto médio a níveis mais seguros. Assim, acredita-se que os tatames que apresentam maior tempo de impacto são mais apropriados para a realização dos “ukemis” no Judô. Utilizando-se como parâmetro o critério de tolerância à aceleração do corpo inteiro no sentido posteroanterior de Macaulay(11), o qual afirma que há uma tendência global de que quanto menores as durações dos eventos maiores acelerações o organismo suporta, pode-se afirmar que os valores de tempo de duração de impacto obtidos nos três segmentos corporais avaliados podem ser considerados de curta duração. Por outro lado, os valores das acelerações recebidos pelos judocas, principalmente nos segmentos corporais punho e tornozelo ultrapassam os limites considerados seguros (dependendo do tempo de duração podem chegar a 100 g), estando por vezes as acelerações recebidas pelos judocas acima de 200 g, valores considerados geradores de severas lesões. Mesmo que o critério de Macaulay(11) não apresente o tempo total diário de exposição permitido, como citam as Normas ISO 5349 (1986) e ISO 2631(1985), que trazem o tempo de tolerância limite para as exposições em diferentes frequências e acelerações para mãos e braços e corpo todo, respectivamente, não se podem utilizar estas normas, dado que o fenómeno estudado neste trabalho consiste de impactos causando vibrações transitórias e não periódicas. Ademais, torna-se difícil afirmar qual o número de impactos que seriam necessários para que causassem lesões em um judoca, pois, por um lado, os “ukemis” (22), são destinados a minorar os efeitos da queda, e por outro lado, encontrou-se apenas um estudo que cita números de “ukemis” por treino(17), mesmo assim para um grupo heterogéneo de judocas e não para atletas de alto nível. Além da técnica de amortecimento de quedas, a estrutura do corpo humano tem excelentes propriedades para resistir aos impactos, tanto em termos de articulações e músculos, como com os ossos, sendo que principalmente o osso tem a capacidade de autoreparo(21). Deste modo, para que se possa fazer qualquer inferência sobre a capacidade de autoreparo dos biomateriais, deve ser considerado além do número de repetições das quedas, o intervalo entre as repetições e entre as sessões. Outro factor que também deve ser levado em consideração é a qualidade da técnica do executante, tanto aquele que projecta (“tori”) como aquele que é projectado (“uke”), pois há estudos que detectaram que o maior número de lesões em competições ocorreram em judocas iniciantes advindos da deficiência técnica(9,10). Outro estudo(20), realizado em judocas catarinenses por um período de 12 meses, identificou que as causas de lesões em treinamentos de 22/42 judocas, foi a não realização dos “ukemis” de forma correcta. Em relação aos sintomas posteriores à prática, em uma investigação diagnóstica (17), foi detectado que mais de um terço (24/86) dos judocas que participaram do estudo, sentem dores no tronco, mais especificamente na região lombar (rins) no dia posterior a um treino com maior número de repetições de “ukemis”, do que aqueles executados em média por treino (73,60±42,34 vezes). No que concerne ao objectivo de comparar as acelerações nos diferentes pontos corporais entre os tatames nos três eixos, quanto aos resultados obtidos no punho (Tabela 1) verifica-se que, pelo menos em um dos tatames, os valores de aceleração foram diferentes dos demais nos eixos x, y e z. Com a aplicação de um teste “post hoc” (Tukey) a p ! 0,05, detectou-se que: no eixo x o tatame “C” apresentou a maior média dos valores de aceleração e o tatame “D” a menor; não houve diferenças significativas entre as médias dos valores de aceleração do tatame “A” com “B”, “D”, “E”, “F” e “G”; “B” com “C”; “D” com “E”, “F” e “G”; “E” com “F” e “G”, e “F” com “G”; e, em ordem crescente dos valores de aceleração, os tatames podem ser classificados no eixo x: “D”, “F”, “E”, “G”, “A”, “B”, “C”. No eixo y, o tatame “B” apresentou o maior valor de aceleração, semelhante aos valores de impacto dos tatames “E”, “C”, “A” e “G” que, por sua vez, foram semelhantes entre si; e o tatame “D” o menor valor, equivalente ao do tatame “F”. Independentemente das diferenças significativas, os tatames foram classificados em ordem crescente de valores médios de impacto, para o segmento corporal punho, no eixo z, em: “A”; “B”; “F”; “G”; “D”; “C”; e “E”. Com relação ao quadril, analisando os resultados das comparações (Tabela 2) constata-se que nos três eixos, pelo menos um tatame apresentou valores de Rev Port Cien Desp 7(2) 156–166 163 Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis impacto diferentes dos demais. Após o “post-hoc” (Tukey) para cada eixo, detectou-se que: para o eixo x o tatame “G” foi o que apresentou maior valor de aceleração, porém, não diferiu estatisticamente de “F” e “E”; o tatame “B” exibiu o menor valor, mas não diferente do tatame “A” que, por sua vez, foi semelhante aos valores dos tatames “C” e “D”; os tatames “C”, “D” e “E” apresentaram valores de aceleração intermediários, porém, diferentes entre si em ordem crescente. Independentemente dos níveis de significância, em ordem crescente, os tatames foram classificados em termos de aceleração no quadril, eixo x em: “B”; “A”; “C”; “D”; “E”; “F”; e “G”. Para o eixo y o tatame “A” apresentou o maior valor de aceleração, porém, semelhante ao tatame “G”; o tatame “B” foi o menor, mas não diferente dos tatames “C”, “D”, “E” e “F”; retirando-se os extremos (“B” e “A”), os demais tatames exibiram valores de impacto semelhantes. Independentemente das diferenças significativas, os tatames foram classificados em ordem crescente de valores de aceleração para o quadril, no eixo y, em: “B”; “C”; “E”; “F”; “D”; “G”; e “A”. Para o eixo z o tatame “D” apresentou o maior valor de aceleração, contudo semelhante ao tatame “G”; o “B” o menor valor, porém, semelhante ao tatame “E”. Em ordem crescente os valores médios de aceleração, para o quadril eixo z, os tatames apresentam a seguinte classificação: “B”; “E”; “C”; “A”; “F”; “G”; e “D”. Quanto ao tornozelo, observando o resultado da análise ANOVA na Tabela 3, pode-se afirmar que, em pelo menos um dos tatames, houve diferença significativa em todos os eixos (x, y e z), e com a aplicação do “post-hoc” (Tukey) para cada eixo, verificou-se que no eixo x, o tatame “C” apresentou o menor valor, o “E” o maior valor de aceleração, porém, semelhante aos tatames “A”, “B”, “F” e “G”. Em ordem crescente ficaram classificados em: “C”; “D”; “A”; “B”; “F”; “G”; e “E”. Quanto ao eixo y, o tatame “A” apresentou o maior valor de aceleração e o “F” o menor; não houve diferença significativa entre os tatames “A” com “C”; “B” com “C”, “E” e “G”; “D” com “E”, “F” e “G”, e “E” com “G”; em ordem crescente, independentemente de diferenças significativas, ficaram classificados em: “F”; “D”; “G”; “E”; “B”; “C”; e “A”. Com relação ao eixo z, o tatame “A” apresentou o maior valor de aceleração e o “F” o menor; não houve diferença entre: os tata- 164 Rev Port Cien Desp 7(2) 156–166 mes “A” com “C”; “E” com “B”, “C” e “D”. Em ordem crescente, independentemente das diferenças serem significativas, os tatames ficaram classificados em: “F”; “G”; “D”; “B”; “E”; “C”; e “A”. Para o tornozelo, os valores mais altos foram encontrados nos tatames “A” (eixos y e z) e “E” (eixo x), e os mais baixos nos tatames “C” (eixo x) e “F” (eixos y e z) . Com base nas comparações anteriores, pode-se sintetizar que nos eixos x, y e z, respectivamente, os valores mais altos para o punho foram obtidos nos tatames “C”, “B” e “E”, para o quadril foram os tatames “G”, “A” e “D” e, para o tornozelo, os tatames “E”, “A” e “A”. Vale ressaltar que os valores das magnitudes de impactos foram apresentados e discutidos apenas por eixo, não apresentando a resultante das forças de aceleração, tendo em vista que o fenómeno estudado apresenta tempos diferenciados em cada eixo. Este fato pode ser justificado em virtude do movimento proporcionado entre o acelerómetro e os tecidos moles (pele) do judoca. Muito embora não se tenham encontrado referências bibliográficas para comparar os resultados obtidos, tendo em vista a metodologia adoptada na qual judocas realizam “ukemi” em diferentes tatames, encontrou-se um estudo(13) onde foi analisado o coeficiente de restituição e as acelerações em diferentes tipos de tatames, por meio de ensaio mecânico. Este estudo apontou que tatames que apresentaram maiores valores de coeficientes de restituição também apresentaram menores valores de impacto, ou seja, enquanto o impacto apresenta uma relação mais forte com a deformação (maciez) o coeficiente de restituição tem uma relação com a capacidade de resiliência. Este fato contribuiu para se deduzir que os resultados deste estudo ratificam as colocações de McGinnis(12), quando ele relata que pode existir uma relação entre tempo de impacto e espessura do material. Portanto, mesmo sendo altos os valores de aceleração obtidos, dentro dos diferentes tipos de tatames estudados, os mais espessos apresentaram menores valores de aceleração. CONCLUSÕES Com base nos resultados obtidos, no referencial teórico e respeitando as limitações do estudo, concluise que: Impacto em jodocas nas técnicas de ukemi a) os valores de aceleração, nos diferentes pontos do corpo do judoca, registados por acelerómetro, foram altos, principalmente no punho e no tornozelo, no eixo z (vertical). Por outro lado, o segmento quadril foi o que apresentou os menores valores de aceleração; b) tanto os maiores valores de aceleração como a direcção destes, serviram para ratificar a importância do “ukemi” na amenização dos efeitos dos impactos, haja em vista que a área de maior massa e consequentemente com maior número de órgãos internos, apresentou menores acelerações; c) quanto maior o tempo de contacto do segmento corporal com o material, menor foi o valor da aceleração, sendo os tatames “A”, “B” e “F” os que mais apresentaram tais características, sendo também os mais espessos dos tatames em estudo. Face aos altos valores de aceleração obtidos, vale ressaltar a necessidade de tatames com propriedades visco-elásticas mais apropriadas para as características dessa modalidade, visando a integridade física do judoca, a curto, a médio e a longo prazo. CORRESPONDÊNCIA Saray Giovana dos Santos Universidade Federal de Santa Catarina Laboratório de Biomecânica, CDS Campus Universitário da Trindade, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil CEP: 88040-900 Telefone: (+48) 3331-8530 e-mail: saray@cds.ufsc.br Rev Port Cien Desp 7(2) 156–166 165 Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 166 Chang YH, Hamerski CM, Kram R (2001). Applied horizontal force increases impact loading in reduced-gravity running. J Biomech 34: 679–685. Dufet JS, Bates BT (1991). Biomechanical factors associated with injury during landing in jump sports. Sports Med 12(5): 326-337. Frost HM (1971). 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The bidimensional videography with a camera operating at the frequency of 60Hz was used to capture images which were later analyzed and processed by the Peak Motus System. Twenty six (26) young individuals of both sexes took part in the kinematic analysis of the movement, 11 male individuals for the determination of the maximum dynamic strength and 10 also male for the determination of the located muscular resistance. The indicates significant angular discrepancies among the distinct handle techniques for each involved joint (elbow and shoulder). The closed handle technique has presented a largest flexion angle at the end of the movement for the elbow joint, witch implicate a higher acting of the flexor muscles on that joint. The results have also showed that the size of the span exerts influence on the articular movement as long as the bar remains with the same length for all individuals. For the maximal dynamic strength the individuals have achieved a better result on the through the closed handle technique unlike the behavior of the strength of located muscular resistance where the individuals have achieved a better result through the open handle. RESUMO Análise cinemática de duas técnicas de “pegada” no exercício puxada alta Key-Words: resisted exercises with weight, kinematic, back pull exercise Federal University of Santa Catarina Brasil 2 Federal University of Santa Maria Brasil A presente investigação objectivou investigar, no exercício com pesos denominado “puxada alta”, os ângulos articulares do ombro e cotovelo em duas diferentes técnicas de pegada: aberta e fechada, considerando a envergadura dos indivíduos e ainda verificar a interferência desta técnicas na força máxima e força muscular localizada. Para análise cinemática utilizou-se videografia bidimensional e um teste de 1RM e RMs para determinar a força máxima e de resistência, respectivamente. Participaram deste estudo 26 indivíduos de ambos os sexos para realizar a análise cinemática, 11 indivíduos do sexo masculino para determinação da força máxima e 10 para a força de resistência muscular localizada. Os resultados mostraram que na técnica de pegada fechada houve maior flexão do cotovelo no final do movimento, implicando maior acção dos músculos flexores desta articulação. O tamanho da envergadura também influenciou nos ângulos articulares, mostrando que os indivíduos de maior envergadura tendem a flexionar mais o cotovelo no fim do movimento. Em relação à força máxima, os indivíduos tiveram melhor desempenho na técnica de pegada fechada, enquanto que na força de resistência muscular o melhor desempenho foi na pegada aberta. Conclui-se que as variações nas técnicas de execução podem ser um factor interveniente no treinamento resistido com pesos. Palavras-chave: biomecânica, cinemática, exercícios com pesos Rev Port Cien Desp 7(2) 167–173 167 Luciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo, Josiele V. Alves, Carlos B. Mota INTRODUCTION Resisted exercises with weights (REW) have been attracting a large number of practitioners in order to avoid diseases, health promotion, aesthetic, competitive reasons and for leisure only (8). The popularity of this practice has increased mainly, due to the fact that several researches had demonstrated the benefit from this activity. That activity makes use of external overloads in order to offer resistance to the muscle making them able to be applied in several ways among which stand out the free loads or the specific machines. It is essential to know the biomechanical and kinesiologic bases in order to allow a perfect accomplishment of the movements in REW. A better knowledge about these areas will permit a critical evaluation of the applied techniques and, thus, carry out a better prescription of the exercises, besides, correcting postures and preventing lesions (14). Kinesiology is an area which provides a deep understanding about the human movement. The kinesiologic analysis allows to know the acting muscles in certain movements, as well as distinguishing the agonists, the antagonists and the synergists of the movement (12). Kinesiologic analysis intends to determine the characteristic muscular activity during the specific phases of the acting and the movements of the joints. One of the methods applied on this analysis is the use of kinematics joined to videography. The digitalization of these recorded images allows the data obtaining which provides subsidies for a full and objective description of the movement (8, 22, 11). The human body movements work through a biocrowbars system which is established according to physical principles (2,4). The angular variations or the width degree adopted in certain exercises can exert influence on the training in REW regarding the muscular action and also the strength production (15). The shoulder adduction on the vertical puller referred as “back pull with high pulley ” (6) is one of the more frequently applied exercises inside the REW room. Thus, we can observe the importance of biomechanics/kinesiologic analysis for the efficiency and safety of this exercise. According to the literature (18) this exercise intends to develop the latissimus dorsi muscle but not involving the whole fibers of this muscle, emphasizing that the variation 168 Rev Port Cien Desp 7(2) 167–173 of the “handle” techniques (the way of holding the bar) would be an option for the strengthening of a certain muscular group as a whole. The extant theoretical references about REW often provide contradictory information with insufficient scientific bases. Frequently, the literature shows simple introductions without wider and deeper explanations. The variations on the execution technique due to the adoption of different joint angles can exert influence on the training in REW (19, 7). Thus, taking in to account that the movement width is an important intensity variable (1, 3, 5, 23, 24), the purpose of this study has been to determining the kinematic pattern of the movement developed during the concentric phase of the back pull exercise, when it is accomplished behind the head, verifying if there is any angular difference in the joint (shoulder and elbow) involved with the open and closed “handle” techniques relating with the individuals’ span. Besides, we have observed the behavior of the maximum dynamic strength and the located muscular resistance strength in relation to the different types of handle. MATERIALS AND METHODS The present research has been developed in two stages, in order to attend to the proposed objectives. The first one was the determination of a movement pattern for the analyzed exercise. The second was the accomplishment of a maximum dynamic strength protocol (1RM test) (16) and located muscular resistance strength protocol (RMs test) (11). Aiming to determine the angles of the joints of the shoulder and of the elbow during the accomplishment of the exercise, took part voluntarily in that research 26 individuals of both sexes (5 females and 21 males) already introduced in the REW with average age 22 ± 4,42 years. The trained/not trained factor has been unconsidered for not being an intervening variable. For the application of the one Maximum Repetition Test (1RM), were selected 11 male with average age 24,3 ± 5,2 years and for application of the Maximum Repetitions test (RMs), were selected 10 male individuals with average age 22,64 ± 3,64 years, being both groups considered trained and with at least one year of continued practice in REW. Kinematic analyses of the back pull exercise Each individual was invited to take part in the research with a previously established schedule and they were asked to wear training clothes with men wearing no shirts and women wearing tops allowing, thus, the specific demarcations in the established areas to be done. During the first stage, an angular pattern of movement for the joint of the shoulder and elbow was determined along the concentric phase (determined as a complete cycle) of the “Back pull exercise with high pulley” (6) by using two different “handle” techniques denominated opened and closed (figure1). The images captured in this stage have been made through the bidimensional videography with a camera operating in the frequency of images acquisition of 60Hz. The position angle of the camera was perpendicular to the front plan (posterior view) in which the movement took place. From these images, a process of reconstruction of the movement was made through the digitalization of the referring anatomical references. The variables have been analyzed through the Peak Motus system (Peak Performance Inc 5.0, USA). The calibration has been made starting from an aluminum scale with two demarcations of one meter between them. After the explanations about the procedures, the individual’s span was verified by using measuring ribbon with 1mm of resolution, according portuguese protocol (9). Subsequently, external reflexive markers were fixed in the following anatomical references: medial point between the styloid process of the radio and of the ulna, right and left, lateral condile of the right and left humerus, right and left acromial process, 7th cervical vertebra, vertebra located in the medial line between the lower angles of the scapulas and right and left iliac crests. The figure 1 shows the reflexive marks on the anatomical references, the delimiting point of the end of the movement besides the location of the “handles” for the two techniques. The elbow joint angle was defined between the markers of styloid process of the radio and of the ulna and the shoulder joint angle was defined between the markers of lateral epicondile of elbow, acromial process and iliac crests. Figure 1. Illustration of the back pull exercise Firstly, each individual has accomplished 30 complete back pull movements with an inferior load in relation to the usual training load in order to establish that as a slight load (23) starting from this number of repetitions. If the individual has been making 30 repetitions, this same load was used for record the movement. In case the individuals did not to carry 30 repetitions, the procedure with a lesser load was repeated. Soon after a small recovery interval, the individual has accomplished five complete back pull movements with a wider “handle” in the extremities of the bar, here referred as open “handle”. After such repetitions were made without any interval the “handle” type was changed. Now the individual had to hold the bar more internally (closed “handle”) for the accomplishment of more five complete repetitions. It is worthwhile to emphasize that the end of the considered movement (6) (end of the concentric phase) has been predetermined through the mark placed in each individual’s higher nape line, being this point aligned with the inferior lobes of the ears in the Frankfurt’s plan (see figure 1). In the second stage of the research the protocol of maximum neuromuscular progressive effort, the test of one Maximum Repetition (1RM) and the Maximum Repetitions test (RMs) has been applied, for obtaining the Maximum Dynamic Strength (MDS) and located muscular resistance strength, respectively. In the RMs test, the execution speed was controlled by one metronome in the cadence of 60 bpm. Rev Port Cien Desp 7(2) 167–173 169 Luciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo, Josiele V. Alves, Carlos B. Mota RESULTS According to the figure 2, referring to the movement pattern for the elbow, an initial medial angulation of 150.46º was evidenced for the open “handle” technique while 148.22º was the value of the angle for the closed “handle” technique. We can notice that in the beginning of the movement the angular values of both elbow techniques were similar with a variation of 2.24º (without statistic difference). However, the final pattern of the concentric phase shows a difference of 24.4º between the two “handle” types. The final value found for the elbow joint during the open “handle” was 83.55º, which is significantly larger (p<0.01) than those 59.21º found in the closed “handle”. 170 Rev Port Cien Desp 7(2) 167–173 155 Open Handle Angles (°) 135 Closed handle 115 95 75 55 1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 71 78 85 92 99 % of cycle Figure 2. Movement pattern for the elbow in both “handle” techniques during the concentric phase of the exercise On the other hand, for the shoulder joint, as it may be seen in figure 3, the movement pattern of the open “handle” exercise began with an angulation of 119.4º, unlike the closed “handle” which began with a value of 128.9º. An angular variation of 9.5º, which statistically differs to p<0.01, can be observed for the shoulder joint in the beginning of the exercise. Nevertheless, the final pattern of this movement for the shoulder joint during the concentric phase was shown similar between the two adopted techniques (without statistic difference). For the open “handle” the value found was 42.64º, while in the closed “handle” was 43.82º occurring, thus, a variation of only 1.18°. 140 120 Angles (°) In order to accomplish the movement of back pull the chosen equipment was the High Pulley machine of the INBAF model with lowest load of 07 kg and the maximum load of 96 kg. The bar used in this equipment is the same that is usually seen in academies (figure 1). An average has been made for every situation of each variable movement for all individuals. Thus, average data was obtained on the way as the movement has occurred in every moment. Soon after, a Student “t” test has been applied to verify the ex i stence of an angular difference between the right and the left upper limbs for the shoulder and elbow joints. Once there has been no significant difference we worked with the averages of the right and left joint. The Shapiro-Wilk test showed that the dates presented normal distribution. The comparisons between the joints angles of different “handles”, results of the 1RM and RMs tests were analyzed through the parametric paired “t” test. Aiming to analyze the influence of the spans related to different “handles”, an average was made for the span of the 26 individuals and the value found was 1,80m. Thus, the group became separated in two: higher than 1,80m and lower than 1,80m. Afterwards, an analysis has been accomplished through the paired t test in order to verify possible differences between groups regarding the spans and the final and initial angles of movement in both techniques. Open Handle Closed Handle 100 80 60 40 1 8 15 22 29 36 43 50 57 64 % of cycle 71 78 85 92 99 Figure 3. Movement pattern for the shoulder in both “handle” techniques during the concentric phase of the exercise The values of the angular variables referring to the different spans in the exercise are shown bellow in the table 1. Kinematic analyses of the back pull exercise Table 1. Angulations of the shoulder along the different spans in the beginning of the movement Spans <1.80 m (n=13) >1.80 m (n=13) Table 3. Values of 1RM and RMs from both “handle” techniques O.H. C.H. 117.62° ±3.14º 120.96°*±4.12º 126.74° ±4.35º 131.28°** ±3.78º *statistic difference between columns *p< 0,05 ; **p< 0,01 O.S.( open handle); C.S.(closed handle) The elbow angle joint was not presented in table 1 because that in the beginning of the movement all individuals had the elbows in complete extension, not suffering angular alterations related to the size of span. Table 2. Angulations of the shoulder and elbow along the different spans at the end of the movement Spans O.H. C.H. Shoulder O.H. C.H. Elbow <1,80m (n=13) 44,27° ± 9,67° 43,82° ± 6,28° 87,17° ± 6,63° 63,43° ± 5,57° >1,80m (n=13) 41,01° ± 2,74° 43,81° ± 3,93° 79,93°* ± 8,11° 55,00°** ± 6,91° *statistic difference between columns *p< 0,05 ; **p< 0,01 O.H.( open Handle); C.H.(closed Handle) In relation to the individuals’ spans, regarding the different “handles”, we can observed that there was significant discrepancy between two groups (higher than 1,80m and lower than 1.80m).Those ones with span higher than 1.80m have presented an angulation of the elbow joint smaller at the end of the movement in relation to the ones lower than that. Thus, the elbow reaches a larger flexion during the concentric phase of the exercise for those ones with spans higher than 1.80m. For the shoulder joint this angular variation has occurred in the beginning of the movement (table 1), however, at the end of the movement that discrepancy didn’t occur (table 2). Tests of 1RM developed with different “handle” types in the back pull exercise have shown higher performance results (p<0,001) by using the closed “handle” technique according to the table 3. On the other hand, regarding the RMs tests, the results have shown that the individuals accomplished a larger number of repetitions in the open “handle” (p<0,001). 1RM (n=11) RMs (n=10) Closed handle Open handle 76 ±11.89 kg 23 ±2.16 RMs 70.7±11.44 kg * 26.7 ±2.21 RMs * * p < 0,05 (level of significance) 1RM: one maximum repetition RMs: number of maximum repetitions at 60% of 1RM The maximum strength has presented higher values in an average of 7.5% in the closed “handle” in relation to the open one. It means about 5 kg heavier (or one plate of the equipment). On the other hand, the values of the located muscular resistance strength were larger in an average of 13.8% for the open “handle” technique. DISCUSSION Starting from the obtained results we can state that during the closed “handle” technique there has been an angular displacement in the joint of the higher elbow in relation to the other analyzed technique. This larger width of movement allows us to infer that has been occurred a larger work of the acting muscles in this joint during the movement (flexors of the elbow). In a physical analysis we can state that with the largest movement arch traveled (angular distance), since the force (external resistance) is maintained, the largest will be the work developed once W = f x d. That verification exerts straight influence on the intensity of the exercise once that the movement width is one of the variables of training (24). Physiologically, the largest width of the muscular movement in the exercise results in a larger crossed bridges recruitment of the antagonists muscles of movement as well as in a largest shortening of the sarcomeres allowing, thus, the development of this musculature in its whole width (13). One factor that has influenced on this larger displacement during the closed “handle” is the verification that in the movement pattern for the open “handle” there is an instant when the elbow stops presenting constant angular alteration or, in other words, still there is movement in the shoulder joint but in the elbow joint occurs a stagnation of the displacement. From this moment on the muscles start Rev Port Cien Desp 7(2) 167–173 171 Luciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo, Josiele V. Alves, Carlos B. Mota acting in an almost isometric way. That apparent isometry occurs in the last 15% of the cycle when the angulation stabilize near to the value of 85º (see figures 2 and 3). In relation to the shoulder, the results have shown a statistically significant difference only for the beginning of the movement. That is due to the type of the adopted “handle”, once in the closed “handle” the shoulder starts from a more abducted position than in the open one. Thus, the muscular action of the adductors muscles of the shoulder produce differentiated displacements in the segments with the variation of the “handle”. In relation to the spans, regarding the different handles in the bar, we have verified, that according to the tables 1 and 2, keeping the same bar and the same handle places for all the individuals it would happen different angular courses for the same analyzed joint. In relation to the tests of maximum dynamic strength (1RM) and Maximum Repetitions (RMs), the results suggest that the use of the different techniques can exert influence on the appropriate prescription in REW when that has been based on these tests. The largest results obtained for the MDS, as it may be seen in the table 3, were always observed in the closed “handle” technique that was exactly the one that presented a largest course of the agonists muscles of each joint. The resistance strength (table 3) has presented an opposite behavior to the MDS, once the largest number of repetitions has been reached through the open “handle”. Regarding the shoulder joint there is a pre-stretching of the adductor musculature which due to the length-strain curve of the skeletal muscle (21) it will be able to develop a better performance. On the other hand, for the elbow joint, that largest course of the flexor musculature as it was already seen doesn’t necessarily implicate in a largest production of strength for contributing in the exercise, once for this muscular group the leverage factor overlaps the length-strain curve where the musculature generates a larger torque (articular useful strength) in the middle of the movement or, in other words, 90° (21). Thus, the pre-stretching of the adductor musculature of the shoulder seems to be the best explanation for the superior performance of the closed “han- 172 Rev Port Cien Desp 7(2) 167–173 dle” technique in the test of maximum dynamic strength. A similar phenomena has been already shown for the horizontal adductors of the shoulder, prone-supinators of the forearm, and flexors and abductors/adductors of the hips (21). On the other hand, in the located muscular resistance strength test, what seems best explain the performance on the open “handle” technique is the possible fatigue of the flexor muscles of the elbow by being a small musculature tends to resist for less time to the work, disabling, thus, a largest performance in the exercise. CONCLUSION The obtained results have allowed us to observe that the type of adopted “handle” exerts straight influence on the exercise. The results generate analyzes allowing us to state that the articular angles which suffer these variations (elbow and shoulder) are linked to the type of “handle”, the size of the bar as well as to the spans of the individual . In this way, if the individual’s span increases it generates, in the joint angles, the same result that if the size of the bar was reduced or if the “handle” was more closed. We have observed that the individuals with the largest spans present a larger flexion their elbows at the end of the concentric phase in relation to the ones with smaller span. Besides, they start from a more prolonged position of the shoulder adductors concluding, thus, that the flexors muscles of the elbow work harder and that the shoulder adductors muscles have a larger useful force. It was verified that in the application of the closed “handle” technique there was more efficient for to work the flexor muscles of the elbow. Besides modifying the muscular action, still in this technique, there have been higher performance results in the 1RM test showing, thus, that is possible to achieve a larger performance through the closed “handle” when the maximum dynamic strength is the analyzed strength. However, when the located muscular resistance strength is analyzed, the best performance is reached through the open “handle” because the action of the elbow flexors muscles is smaller in this case, once that the precocious muscular fatigue of these muscles is a limiting factor on the performance of the shoulder adductors muscles in the exercise. Kinematic analyses of the back pull exercise Considering and in according the literature, the application of different REW execution techniques or the change of implements and machines in order to modify the articular angles must be carefully analyzed and applied in the daily occupation. REFERENCES 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. CORRESPONDENCE Josiele Vanessa Alves Universtity of Santa Catarina State – UDESC Physical Education, Fisioterapy and Sports -CEFID Laboratory of Biomechanics Street: Pascoal Simone, 358 – Coqueiros, ZIPCODE: 88080-350 Florianópolis – SC - Brazil e-mail: josialves_ef@yahoo.com.br 20. 21. 22. 23. 24. Badilllo JJG, Ayesterán, EG (2001). Fundamentos do Treinamento de Força – Aplicação ao Método Resistido. Porto Alegre: Artmed, 2nd ed. Baechle T (1994). Essentials of strength training and conditioning. National Strength and Conditioning Association. Champaign: Human Kinetics. Bompa TO, Cornacchia LJ (2000). Treinamento de Força Consciente. São Paulo: Phorte. Campos MA (2002). Biomecânica da musculação. Rio de Janeiro: Sprint. Dantas EHM (1995). A prática da Preparação Física. Rio de Janeiro: Shape. Delavier F (2002). Guia dos movimentos de musculação – abordagem anatômica. São Paulo: Manole. Escamilla RF, Fleisig GS, Zheng N, Lander JE, Barrentine SW, Andrews JR (2001). 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Serrão Laboratório de Biomecânica Escola de Educação Física e Esporte Universidade de São Paulo RESUMO O objectivo do estudo se pautou em determinar as características de parâmetros das forças de reacção do solo (FRS) em movimentos típicos do basquetebol executados por jogadores profissionais. Também se objectivou determinar correlações entre o desempenho nos saltos e sua carga mecânica durante as aterrissagens. Oito atletas realizaram cinco tentativas em seis movimentos: arremesso em suspensão (jump), salto com contramovimento (jump & reach), bandeja, rebote e corrida com bola rápida (v=6m/s) e lenta (v=4m/s). Os parâmetros dinâmicos da FRS foram colectados através de uma plataforma de força (KISTLER AG 9287). Os resultados do primeiro pico da força vertical na aterrissagem, do tempo para o para o pico e do impulso foram: no jump 4,54 ± 1,10 PC, 0,08 ± 0,01s, 0,13 ± 0,04 PC.s; no rebote 5,39 ± 1,26 PC, 0,07 ± 0,01s, 0,18 ± 0,04 PC.s; e na bandeja 7,27 ± 2,71 PC, 0,08 ± 0,13 s, 0,24 ± 0,04 PC.s. Os resultados evidenciam que o aparelho locomotor é submetido a uma carga mecânica relativamente alta durante os movimentos. As baixas correlações entre o desempenho do salto e o primeiro pico da força vertical na aterrissagem (0,44 no jump; 0.22 no rebote; e 0.34 na bandeja) sugerem que o desempenho do salto não tem influência determinante na carga gerada. ABSTRACT Dynamical characteristics of basketball specific movements Palavras-chave: biomecânica, basquetebol, força de reacção do solo, carga, desempenho 174 Rev Port Cien Desp 7(2) 174–182 The purpose of this study was to evaluate dynamical parameters of the ground reaction force (GRF) in specific basketball movements performed by Brazilian professional players. It was also aimed to determine correlations between jump performance and its impact shock during landings. Eight athletes performed 5 trials in each movement: jump shot, jump and reach, layup, rebound and dribble at two different speeds (control: v=4m/s and speed: v=6m/s). Dynamical parameters of GRF were sampled by a force platform (KISTLER AG 9287). Results of the first peak of vertical force in landing, peak rise time and impulse were, respectively: in jump shot 4.54 ± 1.10 BW, 0.08 ± 0.01s, and 0.13 ± 0.04 BW.s; in rebound 5.39 ± 1.26 BW, 0.07 ± 0.01s, and 0.18 ± 0.04 BW.s; and in layup 7.27 ± 2.71 BW, 0.08 ± 0.13 s, and 0.24 ± 0.04 BW.s. These results showed that the player´s body is submitted to a relatively high impact shock during basketball movements. The low correlations between jump high and the first peak of vertical force (r=0.44 in jump shot, r=0.22 in rebound, and r=0.34 in layup) demonstrated that jump performance did not have a relevant influence on impact shock during landings. Key-words: biomechanics, basketball, ground reaction force, load, performance. Características dinâmicas do basquetebol INTRODUÇÃO O basquetebol é uma modalidade esportiva que envolve corridas, saltos, mudanças de direcção. Tais movimentos condicionam a geração de cargas externas, cuja aplicação está relacionada com o surgimento de lesões por estresse em modalidades esportivas como a corrida (17, 29, 26, 9). No entanto, essa relação ainda não foi bem determinada para o basquetebol. Apesar da popularidade do basquetebol, raros são os estudos que abordam questões relativas aos parâmetros mecânicos que regem os movimentos típicos da modalidade. Como exemplo, tem-se o estudo de McClay et al. (18) e de Miller e Bartlett (22), que abordam características cinemáticas dos movimentos usuais do basquetebol. Dados relativos a parâmetros eletromiográficos são raros, bem como aqueles que descrevem os parâmetros dinâmicos dos movimentos, como o trabalho de McClay et al. (19). Torna-se interessante observar que apesar do pequeno número de estudos que caracterizam as respostas dinâmicas, e que em ultima instância poderiam contribuir no entendimento da relação entre a carga mecânica e seu potencial lesivo, muitos são os estudos que descrevem as lesões mais comuns na modalidade. Segundo Henry et al. (11), Zelisko et al. (33), Colliander et al. (8), Apple (5), Iwamoto e Takeda (13), Arena (4), Harmer (10), Junge et al. (15) e Major (16), os estudos apontam uma prevalência das lesões no basquetebol nas extremidades inferiores. O joelho e tornozelo são as articulações mais frequentemente lesadas por torções, luxações e tendinites. Os pés, especificamente o quinto metatarso, são os mais acometidos por fracturas por estresse. Segundo esses estudos, a maioria das lesões no basquetebol, está associada ao excesso de treinamento, condicionado pela combinação entre a intensidade e o volume em que os movimentos são realizados. Haas1 apud McClay et al. (19) reportou, no período entre 1983 e 1987, um total de 44 lesões em 36 jogadores da liga profissional norte-americana de basquete. Estimou-se uma incidência de uma fractura por estresse a cada 32 jogadores. Zelisko et al. (33) apontam um índice de 0,7%, enquanto Junge (15) estimou que, durante os jogos olímpicos de 2004, houve um índice de 0,65 lesões por partida de basquetebol (ou 65 lesões a cada 1000 partidas). Têm-se na literatura evidências apontando que alterações no padrão de movimento de corredores correspondem a uma das causas associadas a fracturas por estresse e outras lesões por excesso de treinamento (7, 21, 14, 27), no entanto relações similares precisam de ser melhor determinadas no basquetebol. Valiant e Cavanagh (28) afirmam que forças aplicadas em grande magnitude e repetidamente podem representar uma condição suficientemente crítica para o desenvolvimento de lesões por estresse nos jogadores de basquetebol. Um outro factor que necessita de mais estudos diz respeito à influência do desempenho do salto na determinação da sobrecarga gerada nas aterrissagens. Em estudo sobre a influência do uso de instruções relacionadas à cinemática das articulações para redução do impacto, McNair et al. (20) concluíram que técnicas de aterrissagem mais eficientes resultam em atenuações na magnitude da força de reação do solo (FRS). Hoffman et al. (12), concluíram que a diferença na FRS encontrada na aterrissagem de saltadores experientes e inexperientes pode ser devido à utilização mais eficiente da capacidade de atenuação de carga por parte da musculatura esquelética. Para que uma eventual relação entre as demandas do basquetebol e a incidência de lesões possa ser estabelecida, são necessários estudos preliminares sobre as características de dados dinâmicos dos movimentos usuais do jogo. Neste contexto, este estudo teve como objectivo central determinar características de parâmetros da FRS em seis movimentos típicos do basquetebol: arremesso em suspensão (jump), salto com contramovimento (jump & reach), bandeja, rebote e corrida com bola rápida e lenta, em jogadores brasileiros profissionais. Teve-se como objetivo específico do estudo a análise da influência do desempenho do salto nas características da carga gerada nas aterrissagens. MATERIAIS E MÉTODOS Amostra Considerando o interesse em estudar atletas profissionais, a amostra foi seleccionada intencionalmente dentre os jogadores que integravam a seleção brasileira de basquetebol. Como membros da selecção, os voluntários participaram do Torneio Pr é -Olimpico e do Campeonato Brasileiro de Basquete no ano de 2003. Atletas que nos últimos seis meses tivessem sofrido lesões ósteo- m i o-articulares que os incapacitasse a participar de sua rotina de treinamento e Rev Port Cien Desp 7(2) 174–182 175 Fernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro, Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão competição, foram excluídos da amostra. A avaliação da condição ósteo-mio-articular do aparelho locomotor e do histórico de lesões foi determinada por intermédio de exames clínicos e anamnese ortopédica. Em função dos critérios de inclusão estabelecidos, a amostra foi composta por oito jogadores. Os voluntários seleccionados para o estudo apresentam 24±2,8 anos de idade, 92±13,5 kg, e estatura de 1,96±0,09 m. Todos foram informados acerca dos propósitos e procedimentos adoptados e assinaram um termo de concordância, no qual afirmaram estarem cientes e de acordo com os procedimentos empregados no estudo. Instrumentos Para determinação das variáveis dinâmicas dos movimentos selecionados, utilizou-se uma plataforma de força (KISTLER AG, 9287 A). Esta plataforma possui transdutores de força do tipo piezoelétricos localizados nos cantos da superfície de medição (0,6x0,9m). Os sinais obtidos pelos transdutores são enviados por intermédio de cabos e interruptores a um amplificador de sinais (KISTLER AG, 9865 B), programados automaticamente para obtenção dos valores das três componentes da força de reacção do solo. O controle sobre a aquisição, análise e armazenamento dos dados foi realizado pelo programa de funções BIOWARE (282A1-20). Na execução das colectas utilizou-se frequência de amostragem igual a 1 kHz. Variáveis analisadas As variáveis dinâmicas da FRS seleccionadas para a análise dos saltos e da corrida encontram-se descritas nas Tabelas 1 e 2 e representadas graficamente nas Figuras 1 e 2. Tabela 1. Variáveis analisadas para os movimentos de salto. 176 Va r i á veis Símbolo a) Menor valor da força vertical na decolagem (PC) b) Maior valor da força vertical na decolagem (PC) c) Tempo para atingir o Fy máximo na decolagem (s) d) Impulso para a decolagem (PC. s ) e) Tempo de fase aérea (s) f) Maior valor da força vertical na aterrissagem (PC) g) Tempo pa ra atingir o Fy máximo na aterrissagem(s) h) Impulso nos primei ros 75 ms da aterrissagem (PC.s) i) Altura dos saltos (m) Fy Min Fy max D "t Fy max D Imp_D "t f aer Fy max_A "t Fy max_A Imp_75 Alt_sa lto Rev Port Cien Desp 7(2) 174–182 Figura 1. Curva representativa dos parâmetros da componente vertical da FRS seleccionados para a análise, para o movimento da bandeja. Tabela 2. Variáveis analisadas para os movimentos de deslocamento. Variáveis Símbolo a) Primei ro pico da força vertical (PC) b) Tempo para atingir Fy max 1 (s) c) Segundo pico da força vertical (PC) d) Tempo para atingir Fy max 2 (s) e) Impulso nos primeiros 75 ms da aterrissagem (PC.s) f) Maior magnitude da força de frenagem (PC) g) Tempo para atingir Fx mínima (s) h) Maior magnitude força de propulsão (PC) i) Tempo para atingir Fx máxima (s) j) Impulso de fr enagem (PC. s ) l) Impulso de Propulsão (PC. s ) Fy max 1 "t Fy max 1 Fy max 2 "t Fy max 2 Imp_75 Fx min "tFx min Fx max "tFx max Imp_fren Imp_prop Características dinâmicas do basquetebol Apesar da força reactiva médio-lateral ter sido colectada, não foram evidenciados resultados significantes, uma vez que no protocolo não foram executados movimentos com mudanças bruscas de direcção. Dessa forma, optou-se pela omissão desses dados. Figura 2. Curva representativa dos parâmetros seleccionados das componentes vertical e horizontal da FRS para os deslocamentos com bola. A figura (1) representa a corrida lenta, a uma velocidade média de 4m.s-1 e a figura (2) representa a corrida rápida, a uma velocidade média de 6m.s-1. Os principais indicadores das cargas externas podem ser obtidos pela análise da componente vertical da FRS. Entre eles, o primeiro pico de força (Fy max_A) e o tempo para alcançar Fy max_A ("t Fy max_A) são de reconhecida relevância para análise dos movimentos por permitirem a quantificação do impacto aplicado ao aparelho locomotor (2). Considerando que a resposta muscular dos membros inferiores não ocorre antes de 40 ms (32), optou-se por determinar o impulso nos primeiros 75 ms (Imp_75), como parâmetro indicador da carga externa aplicada num momento crítico para o aparelho locomotor. Dessa forma, pode-se dizer que as variáveis da FRS referentes à aterrissagem dos saltos servem como indicadores da carga mecânica dos saltos, enquanto que a altura do salto e as variáveis referentes à decolagem servem como parâmetros indicadores do desempenho do salto. A altura dos saltos (Alt_salto) foi determinada através da fórmula: (1 / 2TV .g ) h= 2g 2 , onde: h = Altura em metros; TV = Tempo de vôo em segundos; g = aceleração da gravidade (9,81 m.s2) Procedimento Experimental Os movimentos seleccionados para analise foram o arremesso em suspensão (jump), a bandeja, o rebote e o deslocamento com bola a duas velocidades (4 e 6m.s-1). Tais movimentos foram seleccionados em função da importância que desempenham na consecução das acções ofensivas e defensivas que caracterizam o Basquete. Além destes que são movimentos típicos do basquete, optou-se por analisar ainda o salto com contramovimento (jump&re a c h), que apesar de não compor os movimentos fundamentais do basquete, é um bom indicador das características do salto dos jogadores (6). Todas as colectas de dados foram realizadas em ambiente de laboratório. Objectivando a redução da potencial influência que a ausência de importantes referenciais de jogo, como a tabela e as marcações de quadra, poderiam exercer na realização dos movimentos a serem analisados, buscou-se a adequação do ambiente no qual a colecta dos dados foi realizada. Para tanto, delimitou-se uma área com as mesmas dimensões do garrafão no qual foi montada, também em acordo com as dimensões oficiais, uma tabela. A plataforma de força encontrava-se fixada no chão, e a tabela era movimentada de acordo com o movimento realizado. Ainda que tais adaptações não tenham permitido reproduzir com a necessária fidelidade as características de uma quadra de basquete, pode-se considerar que os voluntários executaram os movimentos planejados numa condição bastante próxima da condição real. Para a execução do jump solicitou-se que o voluntário executasse o arremesso na linha de lance livre. Foram analisados apenas os dados relativos aos arremessos bem sucedidos. Para a execução do rebote, o voluntário era instruído a retomar a posse de uma bola arremessada por um auxiliar na altura do aro. Para tanto solicitava-se que o voluntário executasse o salto na sua expressão máxima de rendimento. Foram consideradas apenas as tentativas nas quais o voluntário conseguiu recuperar a posse de bola. A bandeja foi executada a partir da recepção da bola, passada por um auxiliar, para o voluntário já em movimento. A bola era recebi- Rev Port Cien Desp 7(2) 174–182 177 Fernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro, Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão da na proximidade da área de lance livre para que o voluntário pudesse realizar a bandeja. Foram avaliadas apenas as tentativas que resultaram em arremessos bem sucedidos. A condução de bola foi realizada em direcção a tabela, com uma distância mínima de partida da ordem de 10 m. Os voluntários foram instruídos a realizar o movimento em duas velocidades, uma representando sua velocidade típica de condução de bola em situação de armação de jogadas (4m.s-1). e a outra numa condição típica de contra ataque (6m.s-1). OJ u m p & Reach foi executado estando o voluntário com as mãos na cintura. Após o comando o voluntário deveria flexionar os segmentos do membro inferior, caracterizando um movimento de preparação que antecede o salto final. Solicitou-se ao voluntário executar o salto empregando a sua maior capacidade de geração de força. Todos os voluntários executaram todos os movimentos seleccionados para análise até se atingisse um número mínimo de dez tentativas válidas. A ordem de execução dos movimentos foi determinada por intermédio de sorteio. Os movimentos foram executados sem a presença de nenhuma espécie de marcação adversária. Durante a realização da colecta de dados, os voluntários utilizaram os calçados esportivos que usualmente utilizam em suas rotinas de treinamento e competição. Apesar de serem de marcas distintas, as características de construção dos calçados utilizados eram acentuadamente semelhantes. Tratamento dos dados e análise estatística Para eliminar ruídos provenientes de factores externos aos movimentos realizados, os dados provenientes da plataforma de forças foram filtrados através de um filtro butterworth recursivo de 2ª. ordem passabaixa de 40 Hz. Após a normalização dos dados pelo peso corporal de cada atleta, esses foram submetidos a um tratamento estatístico através do programa Statistica (versão 5.1, StatSoft, Inc.). A estatística descritiva foi baseada na apresentação dos valores médios e respectivos desviospadrão para cada movimento realizado. Através de uma correlação de Pearson, realizou-se as correlações entre a altura dos saltos e as variáveis indicadoras da carga mecânica. RESULTADOS E DISCUSSÃO Movimentos de salto Os valores médios de pico da componente vertical da FRS relatados nos movimentos de salto do basquetebol se assemelham aos encontrados por McClay et al. (19), que oscilam de 2,7 vezes o peso corporal (PC) a 8,9 PC. Os valores médios de pico obtidos para a componente vertical da FRS nos movimentos de salto (Tabela 3, Figura 3), oscilam entre os 2,7 PC na decolagem do jump & reach aos 7,27 PC na aterrissagem da bandeja. O valor mais alto do impulso 75 ms (0,24 Peso Corporal segundo – PC.s), também foi encontrado na bandeja. O rebote apresentou as maiores magnitudes médias para o Impulso para a decolagem (0,90 PC.s) e o jump apresentou os menores valores médios (0.55 PC.s). Esses valores (Tabela 3) correspondem a uma carga externa que se pode caracterizar como de média magnitude, levando em consideração a carga mecânica relatada na literatura (1, 24, 25, 30) em outras actividades, como a marcha (1,2 PC), a corrida (2,3 PC), o salto em altura (11 PC) e o salto triplo (20 PC). Tabela 3. Média e desvio-padrão dos parâmetros relativos à componente vertical da Força de Reacção do Solo para os movimentos jump and reach, jump, rebote e bandeja, para os oito voluntários estudados. Os picos de força são apresentados na unidade peso corporal (PC), os intervalos de tempo em segundos (s), e a altura dos saltos em metros (m). Variáveis Jump & Reach Fy max_A (PC) "t Fy max_A (s) Imp_75 (PC.s) Fy Min (PC) Fy max_D (PC) "tFymax_D (s) Imp_prop (PC.s) Alt_salto (m) 178 Rev Port Cien Desp 7(2) 174–182 5,05 ± 0,87 0,07 ± 0,04 0,17 ± 0,03 0,45 ± 0,24 2,7 ± 0,42 0,43 ± 0,09 0,7 ± 0,11 0,63 ± 0,20 Movimentos analisados Jump Rebote 4,54 ± 1,10 0,08 ± 0,01 0,13 ± 0,04 0,54 ± 0,20 2,96 ± 0,32 0,34 ± 0,06 0,55 ± 0,07 0,33 ± 0,06 5,39 ± 1,26 0,07 ± 0,01 0,18 ± 0,04 — 3,19 ± 0,78 0,46 ± 0,22 0,90 ± 0,19 0,51 ± 0,06 Bandeja 7,27 ± 2,71 0,08 ± 0,13 0,24 ± 0,04 — — — 0,61 ± 0,04 0,44 ± 0,02 Características dinâmicas do basquetebol (a) 7 6 Uma possível relação entre essas forças externas, caracterizadas como de média magnitude, e o índice de lesões, pode ser estabelecida levando-se em consideração a frequência em que o aparelho locomotor dos atletas é submetido a elas. Além disso, torna-se importante ressaltar que é altamente provável que em situações reais de jogo a carga seja maior do que as reportadas, dada a dificuldade de motivar atletas competitivos a desempenhar os movimentos a níveis máximos em situação não competitiva. (b) 6 5 5 Fy (PC) Fy (PC) 4 4 3 3 2 2 1 1 0 0 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 Tempo(s) 7 0,5 (d) (c) 6 1,0 6 5 5 Fy (PC) Fy (PC) 4 4 3 3 2 2 1 1 0 0 1 2 3 4 5 6 0,5 1,0 Tempo(s) (b) 6 5 Fy (PC) 4 3 2 1 0 2,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 Tempo(s) 6 (d) 5 4 Fy (PC) 1,8 3 2 1 0 6 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 Tempo(s) Figura 3. Curva representativa da componente vertical da FRS para o movimento da bandeja (a), do rebote (b), do jump (c) e do jump & reach (d). 1,5 2,0 2,5 3,0 Tempo(s) Deslocamentos com bola Os valores médios da componente vertical da FRS encontrados para os movimentos de corrida com bola (Tabela 4) são similares às magnitudes reportadas na literatura (24). Para a corrida rápida com bola (6m.s-1) encontrou-se o valor médio de 2,16 PC para o primeiro pico da componente vertical da FRS (Fy max1) e o tempo para o pico (DtFy max1) foi de 0,03s. O valor do Imp_75 foi de 0,10 PC.s. Para a componente horizontal antero-posterior (Fx), encontrou-se um 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 pico de desaceleração (Fx min) de 0,48 PC e o tempo Tempo(s) para esse pico foi de 0,05s. O impulso de frenagem foi de 0,02 PC.s. Na corrida lenta (4m.s-1), os valores médios para Fy max1, DtFy max 1 e Imp_75 foram, respectivamente, 1,85 PC, 0,03s e 0,09 PC.s. Para a Fx min e DtFx min, encontrou-se valores médios de 0,42 PC e 0,06s. O impulso de frenagem foi de 0,02 PC.s. As variáveis acima citadas indicam as condições de desaceleração do membro inferior e a consequente transmissão do choque mecânico ao aparelho locomotor durante a corrida. A analise dos dados e consequente comparação com dados da literatura (9, 19, 24) evidenciou que a condução de bola não afectou de forma significativa nenhuma dessas variáveis. Os valores médios encontrados para as variáveis indicadoras dos eventos relacionados à fase propulsiva na corrida com bola rápida (6m.s-1) foram: 2,48 PC para o segundo pico da força vertical (Fy max2), 0,09s para o tempo para o pico (DtFy max2), 0,35 PC para o pico da componente antero-posterior (Fx Max), 0,17s para o tempo para esse pico (DtFx Max) e de 0,02 PC.s para o impulso de propulsão (Imp_prop). Para a corrida com bola lenta (4m.s-1), os valores médios para Fy max2, DtFy max2, Fx Max, DtFx Max e Imp_prop foram, respectivamente, 2,52 PC, 0,11s, 0,30 PC, 0,19s e 0,02 PC.s. Rev Port Cien Desp 7(2) 174–182 179 Fernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro, Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão Esses resultados sugerem que, bem como as variáveis relacionadas à desaceleração do membro inferior, as variáveis relacionadas à fase propulsiva da corrida também não foram influenciadas pela condução da bola, evidenciando que tanto o controle do choque mecânico quanto a produção de força propulsiva não foram afectadas pela execução da tarefa em questão. Tabela 4. Média e desvio-padrão dos parâmetros relativos à componente vertical e ântero-posterior da Força de Reacção do Solo para a corrida rápida (v=6m.s-1) e lenta com bola (v=4m.s-1) para os oito voluntários estudados. Os picos de força são apresentados na unidade peso corporal (PC), os intervalos de tempo em segundos (s). Variáveis Movimentos analisados Corrida Rápida Corrida Lenta com Bola com Bola Fy max 1(PC) "tFy max 1(s) Fy max 2 (PC) "tFy max 2 (s) Imp_75 (PC.s) Fx min (PC) "tFx min (s) Fx max (PC) "tFx max (s) Imp_fren (PC.s) Imp_prop (PC.s) 2,16 ± 0,37 0,03 ± 0,008 2,48 ± 0,37 0,09 ± 0,02 0,10 ± 0,02 0,48 ± 0,14 0,05 ± 0,01 0,35 ± 0,08 0,17 ± 0,03 0,02 ± 0,01 0,02 ± 0,003 1,85 ± 0,28 0,03 ± 0,009 2,52 ± 0,42 0,11 ± 0,02 0,09 ± 0,02 0,42 ± 0,10 0,06 ± 0,01 0,30 ± 0,12 0,19 ± 0,04 0,02 ± 0,005 0,02 ± 0,004 Correlação entre o desempenho do salto e a FRS na aterrissagem Conforme considerado anteriormente, outro objectivo desse estudo foi determinar a influência do desempenho do salto, traduzido pela altura do salto, na determinação da sobrecarga externa gerada nas aterrissagens. Nesse sentido, é interessante destacar que a aterrissagem da bandeja, embora correspondesse à maior média de magnitude de pico da força reactiva vertical (7,27 ± 2,71 PC) e do Imp 75 (0,24 ± 0,04 PC.s), não resultou de saltos com as médias mais elevadas das alturas atingidas (0,44 ± 0,02m - Tabela 3), condicionando a baixa correlação encontrada (r=0,34 e 0,44) entre as duas variáveis e a altura do salto (Tabela 5). Esse fato evidencia uma considerável independência entre indicadores de carga e a altura de queda. 180 Rev Port Cien Desp 7(2) 174–182 As correlações (r) entre a altura do salto no jump & reach e a Fy max_A e Imp 75 foram, respectivamente, 0,36 e 0,58. Para a altura do jump, as correlações foram de 0,44 para a Fy max_A e de 0,62 para o Imp 75. No rebote, as correlações entre a altura do salto e Fy max_A e o Imp 75 foram de 0,22 e 0,43, respectivamente. Tabela 5. Correlação (r) entre altura dos saltos realizados e as variáveis indicadoras da carga e do rendimento (*p<0,05, **p<0,001). Altura salto Altura salto Altura salto Altura salto no jump&reach no jump no rebote na bandeja Fy max_A Imp 75 0,36* 0,58* 0,44** 0,62** 0,22 0,43* 0,34 0,44 Os dados evidenciam que a baixa correlação encontrada para o movimento da bandeja também ocorre para os outros movimentos seleccionados para o estudo (Tabela 5), fato que corrobora a ideia de que a técnica de movimento possui maior influência na atenuação das forças externas do que a altura de queda isoladamente. O estudo de Zhang et al. (34) suporta esta hipótese. Os resultados apresentados por estes autores sugerem que os extensores do joelho desempenham importante papel na atenuação da sobrecarga mecânica gerada durante as aterrissagens. CONCLUSÕES Os resultados obtidos evidenciam que o aparelho locomotor experiencia cargas relativamente altas durante a realização dos movimentos típicos do basquetebol, fato que, quando associado à frequência de exposição dos atletas, pode explicar as lesões características da modalidade. Deve-se considerar que um melhor entendimento acerca desta questão ainda depende de uma análise do volume de aplicação destas cargas. Foi verificado, também, que o desempenho do salto não possui influência determinante na carga gerada nas aterrissagens, o que nos permite concluir que a estrutura de movimento pode desempenhar papel de destaque no controle das forças externas geradas nas aterrissagens. Novos estudos são necessários para identificar as características cinemáticas, dinâmicas e eletromiográficas empregadas nessa condição de controle. Características dinâmicas do basquetebol NOTA Médico do time de basquete norte-americano Washington Bullets. 1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. CORRESPONDÊNCIA Fernanda Michelone Acquesta Rua do Manifesto, 2810 – Ipiranga CEP 04209-003 São Paulo SP, Brasil ou Laboratório de Biomecânica da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo Av. Mello Moraes, 65 - Cidade Universitária CEP 05508-900 São Paulo SP, Brasil e-mail: acquesta@usp.br 16. 17. Amadio AC (1989). Fundamentos da biomecânica do esporte: considerações sobre a análise cinética e aspectos neuromusculares do movimento. São Paulo. 119p. Tese (Livre Docência) Escola de Educação Física, Universidade de São Paulo. Amadio AC, Duarte M (1996). Fundamentos biomecânicos para análise do movimento humano. São Paulo: Laboratório de Biomecânica/EEFEUSP Amadio AC, Serrão JC (1997). Instrumentação em cinética. In: SAAD, M. Análise da marcha, manual do CAMOSBMFR, São Paulo. 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Effects of various midsole densities of basketball shoes on impact attenuation during landing activities. J Appl Biomech 21(1):3-17 182 Rev Port Cien Desp 7(2) 174–182 Efeito da posição da omoplata na força máxima isométrica de flexão do ombro Otília Sousa1 Fernando Ribeiro2 Mário Leite1 Francisco Silva1 Ana Paula Azevedo1 1 RESUMO Pelo crescente ênfase colocado na avaliação, prevenção e reabilitação de disfunções da omoplata e pela importância atribuída à omoplata e aos seus músculos motores na biomecânica do ombro, os objectivos do nosso estudo foram avaliar o efeito das posições de abdução e adução da omoplata na força máxima isométrica de flexão do ombro medida no plano sagital, e testar a hipótese de que esta é significativamente menor nas posições de adução e abdução comparativamente à posição neutra. Participaram no estudo dezoito sujeitos aparentemente saudáveis (10 mulheres e 8 homens), com idade compreendida entre os 20 e 24 anos. Os sujeitos realizaram 3 contracções isométricas máximas de flexão do ombro a 90º no plano sagital com a omoplata em posição neutra, abdução e adução. Para comparação dos valores médios de força isométrica foi utilizada a análise de variância a um factor. A força isométrica foi significativamente superior na posição neutra da omoplata quando comparada com a força medida com a omoplata na posição de abdução (10,09±2,41vs.8,14±2,31; p=0,047) e adução (10,09±2,41vs.8,11±2,31; p=0,043). Os nossos resultados demonstraram que a produção de força isométrica de flexão do ombro é significativamente reduzida nas posições de abdução e adução da omoplata comparativamente à posição neutra. ABSTRACT Effect of scapular position on shoulder flexion maximal isometric strength Palavras-chave: ombro, posição da omoplata, força máxima isométrica Key-Words: shoulder, scapular position, maximal isometric strength Departamento de Ortofisiatria Serviço de Fisiatria Hospital Geral de Santo António Porto Portugal 2 Centro de Investigação em Actividade Física, Saúde e Lazer Faculdade de Desporto Universidade do Porto Portugal Because of the increased emphasis on assessing, preventing and rehabilitating scapular dysfunctions and because of the great importance given to scapula and to scapular muscles in the shoulder kinetics, the purposes of our study were to assess the effect of scapular abduction and scapular adduction on maximal isometric shoulder elevation strength measured in the sagittal plane, and to test the hypothesis that isometric shoulder strength would be significantly less in the scapular abdution and adduction positions relative to the neutral position. Eighteen healthy volunteers (8 men, 10 women) ages 20 to 24 years were recruited to participate in the study. Subjects completed 3 maximal isometric shoulder elevation contractions at 90° of sagittal plane elevation in the scapular neutral, abduction and adduction positions. Mean isometric strength values were compared using One-way anova. Isometric strength was significantly higher for the neutral position compared with the scapular abduction (10,09 ± 2,41 vs. 8,14 ± 2,31; p = 0,047) and adduction positions (10,09 ± 2,41 vs. 8,11 ± 2,31; p = 0,043). Our results showed that the production of shoulder flexion isometric strength is significantly lower in scapular abduction and adduction positions compared with scapular neutral position. Rev Port Cien Desp 7(2) 183–188 183 Otília Sousa, Fernando Ribeiro, Mário Leite, Francisco Silva, Ana P. Azevedo INTRODUÇÃO Dor e disfunção do complexo articular do ombro são causas comuns em sujeitos que recorrem aos serviços de saúde. Nos últimos anos, têm-se dado particular ênfase ao papel da omoplata e dos seus músculos motores na génese e perpetuação da patologia do ombro. A omoplata desempenha um importante papel na funcionalidade do complexo articular do ombro, sendo a ponte de ligação que assegura a transferência de forças de alta intensidade dos membros inferiores e tronco para os membros superiores (7). É também um ponto de ancoragem de vários músculos (1), uns com actuação na omoplata e outros com actuação ao nível da articulação glenoumeral. Alterações na função dos músculos estabilizadores da omoplata podem-se traduzir em alterações na sua posição de repouso, condicionando desta forma todos os parâmetros de movimento do complexo articular do ombro. Diminuição da força dos músculos motores da omoplata pode exercer efeito deletério na sua cinemática (1), alterando a função do ombro e o seu centro de rotação instantânea e desta forma conduzir à lesão e à incapacidade (7, 11). Alguns autores (2, 3, 7) têm relacionado as disfunções da omoplata, fisiologia e biomecânica anormal induzida por comprometimento da sua função muscular, com a predisposição para lesões de sobrecarga do ombro. Pelo crescente ênfase colocado na avaliação, prevenção e reabilitação de disfunções da omoplata e pela importância que lhe é atribuída e aos seus músculos motores na biomecânica do ombro, foi realizado um estudo para investigar a relação entre a posição da omoplata e a função muscular do ombro. Desta forma, os objectivos do estudo foram: examinar o efeito da posição de abdução e de adução da omoplata na força máxima isométrica de flexão do ombro medida no plano sagital; e testar a hipótese de que a força é significativamente menor nas posições de adução e abdução comparativamente à posição neutra. Esta hipótese baseiase na suposição de que as posições de adução e abdução da omoplata ao alterarem a relação de tensãoalongamento dos seus estabilizadores mediais (músculo trapézio e rombóides) induzem uma redução na efectividade do par déltoide-coifa dos rotadores no movimento de flexão do ombro. 184 Rev Port Cien Desp 7(2) 183–188 MATERIAL E MÉTODOS Participantes A amostra foi constituída por 18 sujeitos aparentemente saudáveis, 10 do sexo feminino e 8 do sexo masculino, com idade compreendida entre os 20 e 24 anos (idade média ± desvio padrão: 22,2 ± 1,4 anos). Os sujeitos foram recrutados por conveniência na Escola Superior de Tecnologias da Saúde do Porto. Para inclusão no estudo os sujeitos deveriam apresentar amplitude articular do ombro completa (flexão 180º; rotação externa 90º; rotação interna 70º), sem dor e simétrica, e não apresentar nenhum dos seguintes critérios de exclusão: dor actual na região cervical ou ombro; história de fractura, luxação ou cirurgia na região cervical, torácica e ombro; escoliose ou cifose dorsal superior a 30º; patologia degenerativa ou congénita da coluna cervical; alteração congénita da omoplata; patologia neuromuscular conhecida; instabilidade do ombro conhecida ou suspeita; com o membro superior na posição anatómica a omoplata apresentar-se em abdução ou adução; história de patologia cardiopulmonar; gravidez (11). Todos os sujeitos completaram a recolha de dados numa única sessão matinal, após familiarização com o protocolo experimental e com os instrumentos de avaliação. Foi testado o membro superior dominante, o direito em todos os sujeitos. Todos os sujeitos deram o seu consentimento informado por escrito e todos os procedimentos foram efectuados de acordo com a declaração de Helsínquia. O estudo foi aprovado pela comissão de ética local. Avaliação da força muscular dos flexores do ombro A força máxima isométrica dos flexores do ombro foi medida com recurso a um dinamómetro (Globus Ergo Meter, Globus Itália) em três posições diferentes da omoplata: posição neutra, abdução e adução. Foi pedido aos sujeitos para não praticarem actividade física com o tronco superior nas 48 horas precedentes à avaliação. Todos os testes de avaliação da força muscular foram realizados pelo mesmo investigador. Na posição de teste o sujeito estava sentado numa cadeira, sob uma gaiola de Rocher, com encosto rígido e sem limitação dos movimentos de abdução e adução da omoplata. O tronco foi imobilizado ao encosto da cadeira por meio de bandas estabilizadoras para evitar movimentos de flex ã o / extensão e/ou rotação do tronco durante a avaliação. Todos os testes de ava- Efeito da posição da omoplata na força muscular liação da força muscular foram efectuados com o membro superior posicionado a 90º de elevação no plano sagital, ou seja 90º de flexão, com o cotovelo em extensão e a mão fechada. Apesar do plano da omoplata permitir uma medição mais funcional, o plano sagital foi escolhido para permitir maior simplicidade na determinação das três posições da omoplata, pela maior amplitude de movimento de abdução da omoplata disponível e pela definição de abdução da omoplata mais comummente usada determinar a posição com o membro superior a 90 de elevação no plano sagital. O membro foi suportado por uma suspensão axial, permitindo a manutenção da posição de teste e o descanso do membro durante os períodos de repouso. A célula de força do dinamómetro foi fixada ao sujeito e à gaiola de Rocher por um sistema que permitia redireccionar a linha de tensão quando o sujeito obtinha as diferentes posições da omoplata, mantendo um ângulo de 90º entre o membro do sujeito e o dinamómetro durante as 3 posições de teste. As três posições de teste da omoplata (neutra, abdução e adução) foram obtidas activamente pelos sujeitos. A posição neutra foi definida como a posição de repouso mais confortável entre os ex t r emos de abdução e adução activas, subjectivamente determinadas pelos sujeitos. As posições de abdução e adução foram determinadas como sendo a máxima adução e abdução que os sujeitos eram capazes de obter e manter activamente, tendo como distância mínima da posição neutra 5 cm para a abdução e 3 cm para a adução (Figura 1), sendo a extremidade distal do terceiro metacarpo o ponto de referência. A posição do membro superior e tronco foi confirmada com recurso a um goniómetro universal, tendo as distâncias de abdução e adução da omoplata sido confirmadas através de uma fita métrica. 1 2 Antes da avaliação da força máxima isométrica os sujeitos realizaram um breve aquecimento composto por 5 movimentos de amplitude total do ombro em todas as direcções e por 2 contracções isométricas sub-máximas durante cinco segundos na posição de 90º de elevação do ombro no plano sagital para cada uma das três posições da omoplata avaliadas. Após um minuto de repouso, foi pedido aos sujeitos que realizassem 3 contracções isométricas máximas, com 5 segundos de duração, para cada uma das posições de teste da omoplata, sendo escolhido para análise o valor mais elevado resultante das três medições. O tempo de repouso entre contracções foi de um minuto e o tempo de repouso entre posições de teste foi de dois minutos, repousando o membro superior suspenso pela suspensão axial. Para minimizar os efeitos da fadiga e de aprendizagem sobre a última posição de teste, cada uma das possíveis sequências das posições de teste foi efectuada a igual número de sujeitos. Durante o teste a posição do sujeito foi constantemente monitorizada por um fisioterapeuta. Após a mudança de posição da omoplata todos os ângulos eram verificados e o dinamómetro isométrico ajustado, para assegura consistência na posição de teste. Análise Estatística Foi utilizada a estatística descritiva para calcular a média e o desvio padrão dos valores da força isométrica em cada uma das 3 posições de teste da omoplata. Foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk para testar a normalidade de distribuição dos dados. Para comparação de médias foi utilizada a análise de variância a um factor. O teste de Bonferroni foi usado para identificar entre que posições de teste se verificaram diferenças significativas. O nível de significância foi estabelecido em 5%. 3 Figura 1. Sujeito na posição de teste com a omoplata em posição de abdução (1), posição neutra (2) e adução (3) Rev Port Cien Desp 7(2) 183–188 185 Otília Sousa, Fernando Ribeiro, Mário Leite, Francisco Silva, Ana P. Azevedo RESULTADOS Todos os sujeitos que participaram no estudo completaram com sucesso as tarefas que lhes foram determinadas. * diferença estatisticamente significativa para a posição neutra; p! 0,05 Figura 1. Média e desvio padrão da força máxima isométrica para as posições da omoplata testadas A força máxima isométrica dos flexores do ombro é significativamente superior na posição neutra da omoplata quando comparada com a força medida com a omoplata na posição de abdução (10,09 ± 2,41 vs. 8,14 ± 2,31; p = 0,047) e adução (10,09 ± 2,41 vs. 8,11 ± 2,31; p = 0,043). Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre a força máxima isométrica produzida pelos flexores do ombro com a omoplata na posição de adução e na posição de abdução (Figura 1 e Quadro 1). A produção de força isométrica pelos flexores do ombro com a omoplata em abdução e adução é aproximadamente 20% inferior à força produzida quando a omoplata se encontra na posição neutra (Quadro 1). Quadro 1. Valores de força máxima isométrica (Kg) e percentagem de diminuição comparativamente à posição neutra Posição da omoplata n Força máxima isométrica % de diminuição Neutra Abdução Adução 18 18 18 10,09 ± 2,41 8,14 ± 2,31* 8,11 ± 2,31** — 19,82 ± 9,55 19,97 ± 9,05 * diferença estatisticamente significativa para a posição neutra; p= 0,047 ** diferença estatisticamente significativa para a posição neutra; p= 0,043 186 Rev Port Cien Desp 7(2) 183–188 DISCUSSÃO Este estudo vem na linha dos estudos iniciados em 2002 por Smith e colaboradores (11) na Clínica Mayo, Rochester, Minessota, no qual se verificou que a função muscular do ombro é significativamente alterada pela posição da omoplata. Os resultados do corrente estudo indicam que a posição da omoplata altera significativamente a função muscular do ombro na posição de 90º de flexão, suportando a nossa hipótese de que a força produzida pelos flexores do ombro é significativamente menor nas posições de adução e abdução da omoplata comparativamente à posição neutra. Tendo-se verificado uma diminuição de cerca de 20% na produção de força isométrica pelos flexores do ombro com a omoplata em posição de adução e abdução comparativamente à posição neutra. Utilizando um protocolo idêntico ao usado neste estudo, Smith et al. (11) reportaram redução de 30% na força máxima isométrica dos flexores do ombro com a omoplata em adução e 23% com a omoplata em abdução. Da mesma forma Kebaetse et al. (5) encontraram uma redução de 16% da força máxima isométrica de abdução em sujeitos saudáveis com uma postura ligeiramente cifótica; a medição da força foi efectuada a 90º de elevação do ombro no plano escapular. Recentemente, Smith et al. (10) verificaram que a posição de abdução da omoplata reduzia significativamente a força isométrica dos rotadores internos e externos do ombro em diversos ângulos articulares. Estes dados indicam que a função muscular do ombro pode estar comprometida quando a omoplata se desvia da sua posição neutra. Os resultados deste estudo reforçam a importância da posição da omoplata na função e na reabilitação do complexo articular ombro tal como sugerido em estudos anteriores (6, 7, 9, 13). O desvio da omoplata, em relação à sua posição neutra, pode comprometer a capacidade desta fornecer uma base de suporte estável e colocar os músculos estabilizadores da mesma em posição desvantajosa na sua curva de comprimento- tensão (10-12). De facto, a modificação na relação comprimento-tensão ou sinergias musculares verificadas no desvio da omoplata da posição neutra, parece ser uma hipótese plausível para explicar os resultados deste estudo. Ellenbecker e Mattalino (4) demonstraram que a força muscular do ombro é alterada em função do Efeito da posição da omoplata na força muscular plano em que este está posicionado. Da mesma forma que a posição de abdução e adução da omoplata induz desvantagem nos seus músculos estabilizadores, o desvio desta da sua posição neutra também reduz a capacidade de gerar força por parte da coifa dos rotadores, comprometendo desta forma a geração de força de todo o complexo articular do ombro (7, 8). Neste caso particular o desvio da omoplata da posição neutra parece reduzir a eficácia do par deltóide-coifa dos rotadores durante o movimento de flexão do ombro (11). Este estudo apresenta algumas limitações: (i) foram investigados jovens aparentemente saudáveis sem alterações no complexo articular do ombro. A opção foi feita para diminuir a presença de factores clínicos potencialmente confundidores tais como a etiologia do sintoma, a duração e a severidade; (ii) a avaliação isométrica da força muscular pode não se correlacionar com a maioria das actividades da vida diária e com as actividades laborais. No entanto, face ás opções disponíveis, este método de avaliação da força muscular foi o que se revelou mais útil na realização deste estudo; (iii) a posição da omoplata relativamente ao seu movimento de rotação superior/inferior não foi objectivamente monitorizada. Apesar da posição inicial do membro superior e do tronco ter sido confirmada com recurso a um goniómetro universal, sugere-se que futuros estudos monitorizem objectivamente os movimentos de rotação superior/inferior da omoplata. Apesar das limitações do nosso estudo os nossos resultados indicam que a força isométrica máxima dos flexores do ombro, a 90º de flexão, é dependente da posição da omoplata. É importante realçar que o efeito deletério exercido pela posição da omoplata na capacidade de gerar força foi similar para a posição de abdução e adução. Estes resultados têm importantes implicações para todos aqueles que previnem, avaliam e tratam patologias do ombro. Especial atenção deve ser dada ao impacto que a posição da omoplata exerce na função dos músculos do ombro. Várias actividades desportivas, tais como a natação, voleibol, ténis, andebol, colocam o complexo articular do ombro em posições vulneráveis possibilitando a ocorrência de patologias inerentes à realização de esforços repetidos. A diminuição na produção de força de flexão do ombro induzida por alterações na posição de repouso da omoplata poderá desta forma, para além de predispor a lesões de sobre-uso (6,7), diminuir a qualidade e eficiência do gesto desportivo. Os resultados deste estudo realçam a importância dos profissionais da área das ciências do desporto e educação física na prevenção de alterações na posição de repouso da omoplata secundárias à diminuição da capacidade muscular dos seus músculos estabilizadores, procurando não só optimizar o gesto técnico como também prevenir a ocorrência de lesões. Da mesma forma, em contexto clínico, a avaliação funcional do complexo articular do ombro realizada por médicos e fisioterapeutas a atletas de modalidades que incluem frequentemente movimentos das extremidades superiores acima da cabeça, deverá contemplar a avaliação da posição de repouso da omoplata. Futuros estudos são necessários para elucidar sobre o impacto da posição da omoplata na função muscular do ombro em sujeitos com patologia sintomática do ombro, bem como em atletas de modalidades nos quais o uso do membro superior seja preponderante. Este estudo demonstrou que a produção de força isométrica de flexão do ombro é significativamente reduzida nas posições de abdução e adução da omoplata comparativamente à posição neutra. AGRADECIMENTOS Este estudo foi parcialmente apresentado nas 1ªs Jornadas de Fisioterapia em Saúde Ocupacional, que se realizaram de 17 a 18 de Fevereiro de 2006, em Coimbra, Portugal, sendo de inteira justiça agradecer as contribuições que nessa ocasião foram feitas para a melhoria da redacção final deste trabalho. CORRESPONDÊNCIA Fisioterapeuta Otília Sousa Serviço de Fisiatria, Hospital Geral de Santo António Largo Prof. Abel Salazar 4099-001 Porto, Portugal e-mail: fisiootilia@gmail.com Rev Port Cien Desp 7(2) 183–188 187 Otília Sousa, Fernando Ribeiro, Mário Leite, Francisco Silva, Ana P. Azevedo REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 188 Cools AM, Witvrouw EE, Declercq GA, Vanderstraeten GG, Cambier DC (2004). Evaluation of isokinetic force production and associated muscle activity in the scapular rotators during a protraction-retraction movement in overhead athletes with impingement symptoms. Br J Sports Med 38(1): 64-68 Doukas WC, Speer KP (2001). Anatomy, pathophysiology, and biomechanics of shoulder instability. Orthop Clin N Am 32(3): 381-391 Ellen MI, Gilhool JJ, Rogers DP (2000). Scapular instability. The scapulothoracic joint. Phys Med Rehabil Clin N Am 11(4): 755-770 Ellenbecker TS, Mattalino AJ (1997). Concentric isokinetic shoulder internal and external rotation strength in professional baseball pitchers. J Orthop Sports Phys Ther 25(5): 323-328 Kebaetse M, McClure P, Pratt NA (1999). Thoracic position effect on shoulder range of motion, strength, and three-dimensional scapular kinematics. Arch Phys Med Rehabil 80(8): 945-950 Kibler WB (1991). The role of the scapular in overhead throwing motion. Contemp Orthop 22(5): 525-532 Rev Port Cien Desp 7(2) 183–188 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. Kibler WB (1998). The role of scapula in athletic shoulder function. Am J Sports Med 26(2): 325-337 Kibler WB, McMullen J, Uhl T (2001). Shoulder rehabilitation strategies, guidelines and practise. Orthop Clin North Am 32(3): 527-538 Paine RM, Voight M (1993). The role of the scapula. J Orthop Sports Phys Ther 18(1): 386-391 Smith J, Dietrich CT, Kotajarvi BR, Kaufman KR (2006). The effect of scapular protraction on isometric shoulder rotation strength in normal subjects. J Shoulder Elbow Surg 15(3): 339-343 Smith J, Kotajarvi BR, Padgett DJ, Eischen JJ (2002). Effect of scapular protraction and retraction on isometric shoulder elevation strength. Arch Phys Med Rehabil 83(3): 367370 Su C-Y, Lin J-H, Chien T-H, Cheng K-F, Sung Y-T (1994). Grip strength in different positions of the elbow and shoulder. Arch Phys Med Rehabil 75(7): 812-815 Wilk KE, Arrigo C (1993). Current concepts in the rehabilitation of the athletic shoulder. J Orthop Sports Phys Ther 18(1): 365-378 Análise das componentes da prova como ponto de partida para a definição de objectivos na natação na categoria de cadetes António Silva1,2 Filipa Silva1 António Reis1 Victor Reis1 Daniel Marinho1 André Carneiro1 Felipe Aidar1 1 RESUMO Os objectivos do presente trabalho foram: (i) determinar as expressões preditivas para as diferentes variáveis cronométricas para os 400 e os 200 metros livres e para os 100 metros mariposa, costas, bruços e livres; por género e por prova; (ii) desenvolver normativas para cada uma das variáveis cronométricas estudadas, por género e por prova; (iii) operacionalizar um modelo para a definição de objectivos do processo, de acordo com os dois objectivos anteriores. Para o efeito, foram estudados 446 nadadores (230 do sexo feminino e 216 do sexo masculino) portugueses da categoria cadetes. Através da estatística dedutiva foi possível determinar os valores de A (declive) e de B (ordenada na origem), de forma a construir as equações de regressão lineares para o Tempo de Partida (TP), Tempo de Viragem (TV), Tempo de Chegada (TChg) e Tempo de Nado (TN), nas diferentes provas. As principais conclusões do estudo foram: (i) todas as variáveis cronométricas obtiveram relações estatisticamente significativas com o Tempo Total de Prova (TTP) e foram estabelecidas as respectivas expressões de predição de rendimento; (ii) com o aumento da distância de prova houve uma diminuição da importância relativa do TP e um aumento da importância relativa do TV; (iii) para a generalidade das provas estudadas, os nadadores do G5/G6 masculino são mais rápidos a partir, a virar e a chegar do que as nadadoras pertencentes ao G4/G5 feminino. ABSTRACT Chronometric analyses of swimming events in infantile swimmers: An objective model for goal setting Departamento de Desporto Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Vila Real Portugal 2 Centro de Estudos de Tecnologia, Ambiente e Vida (CETAV) Vila Real Portugal The aims of the present work were: (i) to determine for each gender predictive equations for the different chronometric variables in 400 and 200 m freestyle and in 100 m butterfly, backstroke, breaststroke and freestyle; (ii) to develop models for each of the chronometric variables that were studied in the two genders; (iii) to construct an objective model for goal setting. For this purpose, 446 Portuguese swimmers (230 female and 216 male) belonging to the infant age group category were studied. Through deductive statistic procedures it was possible to determine linear regression equations to predict the Starting Time (ST), the Turning Time (TT), the Finishing Time (FT) and the Swimming Time (SwT) in each studied event. The major findings of this study were: (i) all the chronometric variables were significantly related to Total Race Time and the respective performance predictive equations were established; (ii) with the increase of the race distance a decrease in the relative importance of ST and an increase in the relative importance of TT were observed; (iii) to the majority of the studied events, male swimmers were faster to start, to turn and to finish than female swimmers. Key-words: swimming, chronometric analyses, goal setting Palavras-chave: natação, análise cronométrica, definição de objectivos Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201 189 António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar INTRODUÇÃO Programar significa sistematizar os conteúdos do processo de treino, segundo objectivos, bem definidos, da preparação de um atleta e dos princípios específicos que determinam a forma racional de organização das cargas de treino (25) num período de tempo bem definido (28). Com o objectivo de elevar ao máximo a prestação do atleta, maximizar o seu rendimento desportivo e consolidar essas melhorias, torna-se necessário ao treinador observar o comportamento do seu atleta e/ou equipa em competição (33), de modo a obter os instrumentos necessários para o treino específico, permitindo assim: (i) elaborar simuladores com tempos parciais, frequências e distâncias de ciclo específicas da competição; (ii) comparar os tempos individuais de partida e viragem com os tempos realizados em competição e com os valores da norma (8, 22); (iii) determinar o número de repetições para o treino da força-resistência, especialmente nos desportos cíclicos. Actualmente, em natação, existem várias metodologias de observação da competição que avaliam o desempenho do nadador (27). Cada metodologia ou sistema de análise orienta-se segundo um protocolo de observação, de forma a determinar parâmetros cinemáticos julgados convenientes para avaliar o comportamento e desempenho do nadador (33). As competições constituem um terreno de observação privilegiado, que não pode ser nem minimizado nem negligenciado na análise dos factores que concorrem para a optimização da prestação desportiva (24). É possível e desejável recolher certas informações relativas ao desenrolar cronológico e técnico de diferentes provas (10, 11, 13, 18, 21, 32). Segundo Reischle (21), para se poder treinar especificamente para a competição são necessários os dados obtidos nesta. Dois nadadores podem realizar o mesmo tempo em determinada prova, mas os meios, as soluções motoras, tácticas, técnicas, etc., podem ser diametralmente opostas. É difícil quantificar de que modo os vários factores da prova sobressaem relativamente a outros. No entanto, Haljand e Saagpakk (14) referem que, quando se pretende realizar a análise da competição, tem que se decompô-la nos seus elementos constituintes. Assim sendo, entendemos que a análise da competição consiste em medir as diferentes compo- 190 Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201 nentes do tempo total de prova, ou seja, o tempo de partida (TP), o tempo de nado (TN), o tempo de viragem (TV) e o tempo de chegada (TChg). Neste sentido, e sempre tendo como base estas quatro componentes de prova, diversos foram os estudos efectuados até à data. Arellano (4), no seu estudo sobre a variabilidade entre as variáveis cronométricas, concluiu que: (i) a importância da partida e da chegada diminui percentualmente à media que a distância de prova aumenta; (ii) a importância do tempo relativo de viragem aumenta à medida que aumenta a distância das provas; e (iii) o tempo relativo de nado aumenta à medida que a distância da prova aumenta. Arellano et al. (4), nos seus estudos sobre as provas de 50 e 100 metros dos Jogos Olímpicos de 1992, obtiveram coeficientes de correlação e equações de predição lineares, como sendo o resultado de a (declive) e b (ordenada na origem). O tipo de equações que obtiveram foi (equação 1): Componente da Prova = (a x tempo da prova) + b (equação 1) Neste sentido, o problema central deste trabalho reside na normalização de cada uma das componentes da prova do calendário nacional português para nadadores da categoria cadetes face ao Tempo Total de Prova (TTP), de forma a poder ser utilizado como um meio indispensável para a definição de objectivos de processo, com implicações na programação e execução do programa de treino à qual o nadador está submetido. Assim, o propósito deste trabalho foi o de: (i) determinar as expressões preditivas para as diferentes variáveis cronométricas, tendo em conta o conhecimento do TTP para os 400 e os 200 metros livres e para os 100 metros mariposa, costas, bruços e livres; por género e por prova; (ii) desenvolver normativas para cada uma das variáveis cronométricas estudadas, por género e por prova; (iii) operacionalizar um modelo para a definição de objectivos orientado para a prestação, de acordo com os dois objectivos anteriores. MATERIAL E MÉTODOS Amostra Participaram neste estudo 446 nadadores portugueses (230 do sexo feminino e 216 do sexo masculino) Definição de objectivos na natação da categoria cadetes (10-11 anos nadadoras e 11-12 anos nadadores), que participaram no Torneio Regional da Associação de Natação do Norte de Portugal (ANNP) de piscina curta. No Quadro 1 apresentamos a distribuição absoluta de casos observados por prova e por género. Quadro 1. Distribuição absoluta do número de nadadores por género pelas diferentes provas em estudo, que fazem parte da amostra. 400 m 200 m 100 m 100 m 100 m 100 m Livres Livres Livres Bruços Mariposa Costas Femininos 40 Masculinos 31 35 14 38 34 52 57 18* 23* 47 57 * O número de atletas na prova de 100m Mariposa foi menor que nas demais provas corroborando para estudo anterior feito por Barbosa et al. (7) onde o número de nadadores de mariposa foi menor que os demais estilos. Metodologia Procedimentos para captação e registo de imagens A recolha de imagens para posterior tratamento realizou-se numa piscina de 25,0 x 12,5 x 2,0 metros, e com água à temperatura ambiente. Os registos de vídeo dos nadadores foram feitos em simultâneo através da colocação de três sistemas de captação de imagens aéreas (JVC-SVHS). Todas as câmaras foram apoiadas em suportes de fixação vertical (tripés) e sincronizadas em tempo real com uma mesa de mistura (Panasonic WJMX50). Os sistemas foram colocados na parte superior das bancadas destinadas ao público, no prolongamento de uma linha relativa a um par de marcas de referência, colocadas nas TChg 5m paredes laterais da piscina, que permitiram o registo de imagens aéreas dos nadadores. Estas marcas foram colocadas, paralelamente, aos 7,5m de cada um dos lados da piscina. Os sistemas de captação de imagem n.º1 e n.º 3 permitiram integrar respectivamente no campo de captação a totalidade do corpo do nadador durante a realização da partida (7,5 m iniciais – sistema de captação n.º1), a viragem (7,5 m de aproximação e 7,5 m de separação – sistemas de captação n.º1 e 3) e a chegada (últimos 5 m – sistema de captação n.º1). O sistema de captação de imagem n.º2, por sua vez, permitiu integrar no campo de captação a totalidade do corpo do nadador durante a realização do percurso central da piscina (distância entre os 7,5 metros iniciais e os 7,5 metros finais) (Figura 1). Todas as câmaras, foram sincronizadas utilizando um sistema visual (foco) tradicional, visível por todas as câmaras. Procedimentos após a realização da prova As características cinemáticas dos registos de imagem efectuados foram determinadas a partir da introdução de um cronómetro no filme e utilizando o dispositivo de “frame by frame”, para a cronometragem dos diversos tempos efectuada. Foi considerado como referencial anatómico a passagem da cabeça, porção Frontal (vertex), do nadador por uma linha vertical traçada no ecrã, desde a base de uma marca de referência até à outra (29). A velocidade média de nado foi deduzida a partir do desenvolvimento da diferença expressa pela equação 2. TV/ TP 7,5 m TV 7,5 m 25 m Figura 1. Ilustração Esquemática do Modelo de Observação (TChg – Tempo de chegada, TV – Tempo de viragem, TP – Tempo de partida). Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201 191 António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar n r $1 V ( m.s ) = TTP $ (TPi + 1# TVi ) i =1 (equação 2) Redução dos resultados dos dados, obtidos pelo software de análise cronométrica A redução dos dados, obtidos pelo software adobe premier, 2 0 0 6, para parâmetros estatísticos de tendência central, foi efectuada em folha de cálculo “Excel”. Nesta folha de cálculo foram introduzidos os valores absolutos de tempo em cada instante de avaliação. A diferença entre os diferentes instantes consecutivos, foram calculados obtendo assim os valores de cada uma das componentes da prova. Estes valores foram utilizados para o cálculo dos parâmetros normativos desejados. Procedimentos estatísticos Com o intuito de avaliar as associações entre as variáveis em estudo, efectuámos uma análise exploratória das matrizes de correlação. Para o efeito, recorremos aos coeficientes de correlação simples de Pearson (r), para a totalidade das variáveis. A porção de variância comum, associada a ambas as variáveis, foi avaliada pelo coeficiente de determinação (r2 ajustado). O nível de significância foi mantido em 5%. Através da estatística dedutiva foi possível determinar os valores de B (declive) e de A (ordenada na origem), de forma a ser possível construir as equações de regressão lineares para o TP, TV, TChg e TN, nas diferentes provas (20). O Quadro 2 pretende apresentar o conjunto de parâmetros analisados. Quadro 2. Parâmetros cronométricos globais, determinados a partir dos procedimentos de software de analise [adaptado de Vicente (17)]. Acção Parâmetro Tempo total de prova Abreviatura e Unidade de medida Caracterização e meios de determinação TTP (s) Medida composta pela TP, TN, TV e TChg TTP= % variáveis cronométricas Valor determinado a partir do tempo cronometrado, automaticamente e equivale ao somatório das variáveis cronométricas utilizadas (11). 192 Partida Tempo de partida TP (s) Valor determinado a partir do tempo cronometrado, automaticamente, desde o sinal de partida até que a cabeça do nadador passe uma marca colocada a 7,5 metros do topo da parede onde se encontram os blocos de partida (4). Viragem Tempo de viragem TV (s) Valor determinado a partir do tempo cronometrado, automaticamente, para percorrer os 7,5 metros antes da parede (tempo de aproximação) e os 7,5 metros depois (tempo de separação), medido a partir da cabeça do nadador (2, 4, 15, 17). Chegada Tempo de chegada TChg (s) Valor determinado a partir do tempo cronometrado, automaticamente, para percorrer os últimos 5 m, medido a partir do momento que a cabeça do nadador passa esta linha (15). Nado Tempo de nado TN (s) Medida composta pela TTP, TP e TV. TN = TTP – (TP + % TV) Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201 Definição de objectivos na natação Quadro 3. Média (x) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 100 m mariposa, costas, bruços e livres; para a categoria G4/G5 feminino. M - mariposa; C - costas; B - bruços; L - livres; TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo total que os nadadores demoram a cumprir determinada componente da prova. G4/G5 – FEMININO Prova TTP 100 m X±DP % TP X±DP % TV X±DP % TChg X±DP % TN X±DP % M 101.18 ±10.56 100 4.45 ±0.58 4.39 44.92 ±4.68 44.40 5.62 ±0.63 5.55 51.81 ±5.66 51.19 C 101.67 ±10.89 100 5.67 ±0.58 5.58 45.77 ±5.68 45.02 5.59 ±0.68 5.50 50.24 ±5.54 49.41 B 110.75 ±10.91 100 4.98 ±0.65 4.50 48.25 ±5.47 43.57 6.04 ±1.56 5.45 57.52 ±5.21 L 85.29 ±7.89 100 4.12 ±0.53 4.83 34.65 ±5.17 40.63 5.09 ±1.94 5.97 46.52 ±3.48 54.54 x 99.72 100 4.81 4.83 43.40 43.52 5.59 5.62 51.52 51.77 DP ±10.58 - ± 0.68 ±0.01 ± 6.00 ±0.02 ±0.39 ±0.00 ± 4.57 ±0.02 51.94 Quadro 4. Média (X) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 200m livres, para a categoria G4/G5 feminino. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo total que os nadadores demoram a cumprir determinada componente da prova. G4/G5 – FEMININO Prova TTP 200 m X±DP Livres 196.47 ±16.20 % 100 TP X±DP 4.15 ±0.34 TV X±DP % 2.11 94.03 ±7.68 % 47.86 TChg X±DP 5.39 ±0.71 % 2.74 TN X±DP 89.28 ± 7.94 % 45.44 Quadro 5. Média (X) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 400m livres, para a categoria G4/G5 feminino. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo total que os nadadores demoram a cumprir determinada componente da prova. G4/G5 – FEMININO Prova TTP 400 m X±DP Livres 378.85 ±31.72 % 100 TP X±DP 3.92 ± 0.52 TV X±DP % 1.03 210.37 ±20.12 Variáveis Dependentes: Tempo de Partida, Tempo de Nado, Tempo de Viragem, Tempo de Chegada. Variável Independente: Tempo Total de Prova. O estudo apresentou algumas limitações com relação a idade e a colecta de dados no que se refere ao tamanho da piscina. Assim, a pesquisa foi realizada para um determinado grupo etário, a recolha de dados se deu em piscina de 25,0 x 12,5 x 2,0m. Neste sentido, os resultados se limitam inicialmente ao factor etário e a predições em piscinas curtas. % 55.53 TChg X±DP 4.91 ±0.80 % 1.30 TN X±DP 164.56 ±12.65 % 43.44 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS De seguida, vamos apresentar o perfil das provas do G4/G5 feminino (Quadros 3, 4 e 5). Na prova dos 100 m nas diferentes técnicas, o comportamento dos parâmetros de tendência central confirma os valores descritos na literatura, nomeadamente a importância relativa do TN e do TV e um menor contributo relativo do TChg. e TP respectivamente (Quadro 4). Na prova dos 200 m livres, verificou-se que o aumento na distância de prova se tra- Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201 193 António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar duziu, comparativamente às provas mais curtas, numa maior duração no TN e nas competências motoras associadas à viragem (Quadro 5). Tal como já havíamos observado na prova dos 200 m livres também aqui na prova dos 400 m livres se acentua o crescente contributo relativo nas competências motoras associadas às viragens e uma diminuição relativamente uniforme nas restantes componentes. As viragens apresentam uma acção diferenciada, uma vez que estão condicionadas à visualização da borda da piscina, noção de espaço e uma acção motora diferenciada dos gestos cíclicos presentes na natação pura desportiva. De seguida, apresentaremos o perfil das provas da categoria G5/G6 masculino (Quadros 6, 7 e 8). A distribuição relativa do contributo das diferentes componentes nos nadadores evidencia a mesma tendência já observada para as nadadoras (Quadro 7). Tal como já havíamos verificado para o género feminino, existe uma prevalência relativa da TV face às restantes componentes em estudo para a prova dos 200 livres (quadro 7) e 400 livres (Quadro 8). Também o caso dos nadadores demonstra a importância relativa que o domínio específico das componentes motoras associadas às viragens parece ter na prestação destes sujeitos (Quadro 8). Quadro 6. Média (x) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 100 m mariposa, costas, bruços e livres; para a categoria G5/G6 masculino. M - mariposa; C - costas; B - bruços; L - livres; TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo total que os nadadores demoram a cumprir determinada componente da prova. G5/G6 – MASCULINO Prova TTP 100 m X±DP % TP X±DP % TV X±DP % TChg X±DP M 93.03 ±8.87 100 4.05 ±0.47 4.35 41.66 ±4.53 44.78 5.35 ±0.56 5.75 47.32 ±5.11 50.87 C 94.72 ±8.92 100 5.20 ±0.63 5.49 41.35 ±4.24 43.65 5.45 ±1.37 5.75 48.17 ±4.73 50.86 B 104.78 ±9.46 100 4.48 ±0.52 4.28 45.87 ±4.40 43.78 5.68 ±0.72 5.42 54.43 ±5.43 51.95 L 80.40 ±7.33 100 3.84 ±0.43 4.78 36.07 ±6.22 44.86 4.56 ±1.31 5.67 41.47 ±4.19 51.58 x 93.23 100 4.39 4.73 41.24 44.27 5.26 5.65 47.85 51.32 DP ± 10 ± 0.0 ± 0.60 ±0.01 ±4.01 ±0.64 ±0.49 ±0.00 ± 5.30 ± 0.01 % TN X±DP % Quadro 7. Média (x) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 200m livres, para a categoria G5/G6 masculino. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo total que os nadadores demoram a cumprir determinada fase da prova. G5/G6 – MASCULINO Prova TTP 200 m X±DP Livres 188.14 ± 9.05 % 100 TP X±DP 4.29 ± 0.14 % 2.28 TV X±DP 89.95 ± 4.90 % 47.81 TChg X±DP 5.21 ± 0.45 % 2.77 TN X±DP 85.3 ± 3.92 % 45.34 Quadro 8. Média (x) e respectivos desvios padrão (DP) de cada uma das componentes cronométricas da prova dos 400m livres, para a categoria G5/G6 masculino. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado; % - percentagem relativa do tempo total que os nadadores demoram a cumprir determinada fase da prova. G5/G6 – MASCULINO Prova TTP 400 m X±DP Livres 194 360.74 ±21.18 % 100 Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201 TP X±DP 3.66 ±0.37 % 1.01 TV X±DP 205.50 ±24.03 % 56.97 TChg X±DP 4.67 ±0.67 % 1.29 TN X±DP 151.58 ±17.75 % 42.02 Definição de objectivos na natação Na perspectiva da determinação das equações de regressão linear das componentes TP, TV, TChg e TN nas diferentes provas, fomos calcular os valores de A (declive) e de B (ordenada na origem) através de procedimentos estatísticos inferenciais. Nos quadros que se seguem (Quadros 9, 10 e 11) encontram-se descritos os valores de A e de B, e o valor do erro relativo de cada uma das componentes da prova, para o G4/G5 feminino e G5/G6 masculi- no, relativamente às provas de 100 m (mariposa, costas, bruços e livres), 200 m e 400 m livres.Na teoria da probabilidade e na estatística, a variância de uma variável aleatória é uma medida da sua dispersão estatística, indicando quão longe em geral os seus valores se encontram do valor esperado. A variância é o valor esperado do quadrado do desvio de X da sua própria média (Quadro 12). Quadro 9. Valores de A (declive) e de B (ordenada na origem) para cada uma das componentes da prova 100 m (mariposa, costas, bruços e livres); e respectivo erro relativo para categoria de cadetes - G4/G5 femininos e G5/G6 masculinos. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado. Prova 100m Componentes A M TP TV TChg TN C MASCULINO B Erro Relativo A 0.0329 0.445 0.0517 0.523 0.989 0.267 0.544 -1.297 9.27% 5.45% 6.09% 4.68% TP TV TChg TN 0.0529 0.448 0.07667 0.499 0.189 -1.047 -1.814 0.858 B TP TV TChg TN 0.0473 0.418 0.05 0.535 L TP TV TChg TN 0.04194 0.347 0.09186 0.557 FEMININO B Erro relativo 0.04957 0.427 0.0474 0.523 -0.566 1.718 0.826 -1.151 5.66% 5.76% 7.12% 2.38% 8.11% 3.47% 22.08% 3.36% 0.04346 0.487 0.0455 0.470 1.249 -3.730 0.967 2.481 6.09% 4.51% 8.41% 4.26% -0.475 2.114 0.438 -1.639 5.77% 4.27% 9.64% 3.64% 0.0473 0.491 0.0618 0.462 -0.260 -6.084 -0.808 6.344 8.06% 2.53% 23.51% 2.28% 0.466 8.182 -2.825 -3.266 7.81% 2.69% 25.04% 2.41% 0.04939 0.200 0.127 0.350 -0.0913 -5.511 -5.726 16.622 8.9% 6.06% 33.08% 10.31% Quadro 10. Valores de A (declive) e de B (ordenada na origem) para cada uma das componentes da prova 200m livres, e respectivo erro relativo para a categoria de cadetes - G4/G5 femininos e G5/G6 masculinos. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado. Prova 200m Livres MASCULINO Variáveis A TP TV TChg TN 0.00918 0.514 0.0375 0.398 FEMININO B Erro Relativo A 2.56 -6.684 -1.835 10.486 2.65% 1.60% 5.98% 1.89% 0.00961 0.466 0.03498 0.482 B Erro relativo 2.257 2.489 -1.478 -5.384 7.29% 1.39% 8.08% 1.67% Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201 195 António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar Quadro 11. Valores de A (declive) e de B (ordenada na origem) para cada uma das componentes da prova 400m livres, e respectivo erro relativo para a categoria de cadetes - G4/G5 femininos e G5/G6 masculinos. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado. Prova 400m MASCULINO Componentes A TP TV TChg TN 0.009639 0.792 0.02072 0.198 Livres FEMININO B Erro Relativo A 0.186 -80.19 -2.8 80.005 8.55% 8.52% 10.94% 11.57% 0.01405 0.616 0.0154 0.370 B Erro relativo -1.4 -23.049 -0.921 24.449 6.85% 2.30% 13.02% 2.91% Quadro 12. Percentagem das variâncias de cada uma das componentes da prova dos 100 metros (mariposa, costas, bruços e livres) e 200 e 400 metros livres, para cada um dos géneros ( - género feminino, - género masculino); e respectivas diferenças entre os géneros ( / ). TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado. Prova Téc. TP 100m M C B L 81 65 62 52 36 55 75 51 45 10 13 2 92 87 95 84 75 89 80 91 17 2 15 7 60 52 17 25 66 23 42 24 6% 29 25 1 95 85 94 62 81 88 87 94 14 3 7 32 200m L 19 32 12 97 92 5 62 53 10 97 83 13 400m L 73 28 45 94 47 47 36 41 6 86 2 83 " ( / ) TV " ( / ) Na prova dos 100 m mariposa, o TTP está mais condicionado ao TN, com 95% e 81%, para os géneros feminino e masculino respectivamente e grupos (G4/G5 e G5/G6). Em relação à prova dos 100 m costas, também para ambos os géneros (feminino e masculino) e grupos (G4/G5 e G5/G6) é o TV com 87% e 89% do TTP a variável que melhor explica o TTP. De referir ainda que a percentagem do TChg assume uma importância substancialmente diferente em cada um dos géneros. Para o G4/G5 feminino, 52% do TTP é explicado pelo TChg, enquanto que para o G5/G6 masculino, o TCgh representa apenas 23% do TTP. Relativamente aos 100 m bruços, verifica-se uma diferença entre os dois géneros relativamente à importância do TChg. Para as provas do grupo feminino, 17% do TTP é explicado por esta componente. Em contrapartida, para as provas do grupo masculino, a percentagem explicativa do TChg. no TTP é de 42%. Ainda respeitante a esta prova, a variável que explica melhor o TTP para o G4/G5 é o TV e para o G5/G6 é o TN com 95% e 87%, respectivamente. 196 Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201 TChg " ( / ) TN " ( / ) De todas as provas, é nos 100m livres que o G5/G6 obteve uma percentagem maior nas variáveis explicativas do TTP. Verifica-se que 94% do TTP é explicado pelo TN, o que significa que esta variável assume grande importância nas provas masculinas. No grupo feminino, a variável que melhor explica o TTP é o TV (84%). Ainda com base no quadro 12, podemos verificar que para o G4/G5 feminino, na prova dos 200m livres, 97% do TTP é explicado pela variável TV. Ainda na mesma prova, a variável que melhor explica o TTP para o G5/G6 masculino é também o TV, o qual assume uma importância igualmente elevada, 92%. Por último, temos a prova dos 400m livres, na qual existe uma maior discrepância entre os valores do G4/G5 e do G5/G6. Em ambos os grupos, é o TV que melhor explica o TTP. No entanto, para o grupo feminino, a percentagem é bastante maior, 94%, enquanto que para o grupo masculino, o TV apenas consegue explicar 47% do TTP. De referir ainda que as percentagens explicativas do TP e do TN entre os géneros são bastante diferentes, sendo que no Definição de objectivos na natação G4/G5 as percentagens são bastante mais significativas. No que respeita ainda aos 400m livres femininos, 86% do TTP é explicado pelo TN, enquanto que para o género masculino, a mesma variável explica apenas 2,4% do TTP. Exemplo concreto para a definição de objectivos Este tópico tem por objectivo apresentar um exemplo prático relativo a uma situação hipotética - preparação de um nadador para uma competição importante. A prova a que nos reportamos será a dos 100 m livres e os tempos que aqui apresentamos referem-se a um caso real de uma nadadora, que acompanhamos ao longo das nossas filmagens. Assim, no seguimento da metodologia preconizada, a primeira etapa será a de se proceder a uma análise diagnóstico relativamente às diferentes componentes da prova, padrão que se quer programar, face aos valores reais de uma nadadora pertencente à amostra de estudo (Quadro 13). Quadro 13. Tempos absolutos efectivos que uma nadadora da categoria de cadetes - G4/G5 femininos - apresentou na prova de 100 m livres. TTP tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado. TTP (s) TP (s) TV (s) TChg (s) TN (s) 72,57 3,07 28,24 3,81 37,45 A segunda etapa a ser efectuada é a de, com base nos valores de A e de B obtidos, e com base no objectivo de prestação da nadadora em questão (TTP de 68 segundos), definir os tempos preditos para cada uma das componentes da prova (Quadro 14). A terceira e última etapa será a de com base na análise comparativa entre os valores reais e os valores preditos da prestação objectivo (TTP de 68 segundos) definir as componentes prioritárias a desenvolver (Quadro 15). Quadro 14. Tempos (em segundos) a realizar pela nadadora da categoria cadete - G4/G5 femininos, na prova de 100 m livres, nas diferentes componentes de prova, de acordo com a aplicação das equações de regressão. TTP – tempo total de prova; TP – tempo de partida; TVs – tempo das viragens; TChg – tempo de chegada; s – segundos. G4/G5 – Feminino Valores de A e B Determinados para a categoria de Cadetes Desenvolvimento das equações de regressão (2ª etapa) TP= 0,04939xTTP + (-0,0913) TV = 0,600xTTP + (-16,531) TChg = 0,127xTTP + (-5,726) TN = 0,350xTTP + 16,622 TP = 0,04939 * 68 + (-0,0913) TV = 0,600 * 68 + (-16,531) TChg = 0,127*68 + (-5,756) TN = 0,350 * 68 + 16,622 TTP = 68 segundos 3,26 s 24,26 s 2,88 s 37,58 s Quadro 15. Comparação entre os valores referentes ao processo de definição de objectivos e os valores obtidos na avaliação diagnóstico pela nadadora da categoria cadete - G4/G5 femininos, na prova de 100 m livres, nas diferentes componentes de prova, de acordo com a aplicação das equações de regressão. TTP – tempo total de prova; TP – tempo de partida; TVs – tempo das viragens; TChg – tempo de chegada; s – segundos. 100 metros Livres – G4/G5 Feminino Componentes (s) Modelo Real TP TV TChg TN TTP 3,07 28,24 3,81 37,45 72,57 Modelo Ideal Diferenças Componentes Prioritárias a Trabalhar 3,26 24,26 2,88 37,58 67,98 - 0,19 + 3,98 + 0,93 - 0,13 + 4,59 3ª 1ª 2ª 4ª Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201 197 António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar Com base nos dados, podemos verificar que o modelo real não está muito desfasado do modelo ideal. A nadadora possui um tempo de partida e de nado inferior ao do modelo ideal. Tal acontece, porque utilizamos a melhor nadadora para efectuar a demonstração. Contudo, através deste exemplo, sabemos que alguns aspectos devem ser melhorados durante o treino, ou seja, sabemos que a viragem e a chegada são as componentes prioritárias a serem trabalhadas. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Tendo em consideração que os objectivos deste trabalho se centraram: (i) na determinação das expressões preditivas para as diferentes variáveis cronométricas, tendo em conta o conhecimento do TTP para os 400 e os 200 metros livres e para os 100 metros mariposa, costas, bruços e livres; por género e por prova; (ii) no desenvolvimento das normativas para cada uma das variáveis cronométricas estudadas, por género e por prova; (iii) e na operacionalização de um modelo para a definição de objectivos orientado para a prestação, podemos verificar que os resultados demonstraram diferenças entre as diversas provas e distâncias estudas, havendo uma variação da importância das diferentes componentes de nado de acordo com a prova, o género e a técnica de nado. Quando efectuámos uma comparação entre as várias provas estudadas e analisamos os valores expressos nos Quadros 3, 4, 5, 6, 7 e 8, verificou-se que à medida que a distância de prova aumenta a importância do TP diminuiu enquanto que a do TV aumenta. Estes dados vêm confirmar os resultados obtidos por diferentes autores (1, 4, 15, 31, 32), que afirmam que com o aumento da distância de prova, é previsível a ocorrência de uma diminuição da importância do TP e, inversamente, um aumento da importância relativa do somatório do TV. A par desta situação, verificou-se também uma diminuição percentual da importância da chegada, à medida que a distância de prova aumenta, o que vai ao encontro das conclusões retiradas do estudo sobre a variabilidade entre as variáveis cronométricas preconizadas por Arellano (4). No entanto, o valor percentual para cada uma das variáveis é diferente, o que é perfeitamente normal, já que os autores realizaram os seus estudos a partir de provas disputadas em piscinas de 50 metros (22, 27). Como este 198 Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201 estudo foi elaborado numa piscina de 25 metros, os valores obtidos para o TN são claramente inferiores e os obtidos para o TV são claramente superiores, comparando com os resultados publicados pelos autores acima referenciados (9). Na análise comparativa entre o G4/G5 feminino e o G5/G6 masculino, verificámos que os parâmetros TP, TChg, TN e TV são consideravelmente inferiores nos nadadores quando comparados com as nadadoras. Isto talvez possa ser explicado pelo facto da amostra apresentar uma idade em que o nível maturacional tende a ser diferenciado com repercussões nas características antropométricas (12, 17). No entanto, não se verifica o mesmo para o TP na prova dos 200 metros livres e para o TV na prova dos 100 metros livres. Estes dados não são totalmente concordantes com a análise pormenorizada efectuada por Arellano et al. (5) nos Jogos Olímpicos de Barcelona, uma vez que demonstraram que as mesmas variáveis, incluindo também a distância por ciclo, são significativamente maiores em homens do que em mulheres. Também o estudo de Arellano et al. (6), realizado com os nadadores que participaram no dia olímpicos da juventude em 2001, concluiu que os nadadores do género masculino são mais rápidos em cada uma das fases da prova, e demonstraram um maior índice de nado e distância por ciclo, enquanto que a frequência gestual é idêntica. A diferença do TP em cada um dos géneros é, em média, de 1 segundo para as provas de 100 metros. O mesmo acontece no estudo realizado por Arellano et al. (6), realizado com nadadores cujas idades estavam compreendidas entre os 15 os 16 anos, e com nadadoras com 13 e 14 anos. A diferença do TV entre os dois géneros para a prova de 100 metros mariposa é de 1,08 segundos, para a prova dos 100m costas é de 1,48 segundos, para a prova dos 100m bruços é de 0,82 segundos, e para a prova dos 100 m livres é de 0,14 segundos. Os dados do estudo realizado por Arellano et al. (6) demonstram que a diferença entre o TV para os dois géneros, nas provas dos 100 m mariposa e bruços, é de 1,4 segundos, e nas provas de 100 m costas e livres é de 1 segundo. Relativamente aos coeficientes de correlação e às equações de predição lineares obtidas no nosso estudo, podemos desde já referir que não temos termo Definição de objectivos na natação de comparação, uma vez que não foram encontrados estudos realizados para esta categoria de nadadores. Podemos analisar os dados obtidos pelo estudo realizado por Arellano et al. (5). No entanto receamos que não seja uma comparação muito válida, uma vez que a nossa amostra é de uma categoria bastante mais jovem e, para além disso, os autores analisaram apenas provas de 50 e 100 metros livres, realizadas numa piscina de 50 metros. Por tudo isto, julgamos que se compreende o facto de as diferenças serem notórias. O desenvolvimento da equação 1, para a prova dos 100 metros livres, permitiu obter para os dois géneros os seguintes valores de cada uma das componentes da prova. Quadro 16. Valores de A (declive) e B (ordenada na origem), para as diferentes componentes de prova dos dois géneros na prova de 100 m livres, em nadadores da categoria de cadetes - G4/G5 femininos e G5/G6 masculinos. TTP - tempo total de prova; TP – tempo de partida; TV – tempo de viragem; TChg – tempo de chegada; TN – tempo de nado. G4/G5 – Feminino Tempo médio efectivo (s) G5/G6 Masculino Tempo médio efectivo (s) TP = 4.81 TV = 43.40 TChg = 5.59 TN = 51.52 TP = 4.39 TV = 41.24 TChg = 5.26 TN = 47.85 Para além das diferenças existentes entre o estudo de Arellano et al. (6) e o nosso relativamente ao nível prestativo dos nadadores da amostra, as quais já foram acima referenciadas, convém mencionar ainda que a metodologia relativa aos procedimentos para captação e registo de imagens foi diferente, atendendo a que se tratava de uma piscina de 50 m (marcas de referência utilizadas foram: (i) o TP foi medido aos 10m, (ii) a marca de referência para calcular o TV foi de 7,5m, (iii) o TChg foi medido aos 10 m. Em relação ao objectivo geral deste trabalho, podemos concluir que todas as variáveis cronométricas obtiveram relações estatisticamente significativas com o TTP e foram estabelecidas as respectivas equações de predição de rendimento. Deste modo, com a elaboração deste estudo, pensamos ter contribuído para o desenvolvimento da natação em Portugal, uma vez que tornamos possível aos treina- dores saberem quais as componentes de prova que deverão em cada momento ser prioritariamente trabalhadas, bem como a modelação da prestação esperada para os mesmos nadadores. Esta tarefa foi conseguida tendo como base não só o tempo final da prova, mas também o tempo de cada uma das variáveis constituintes da mesma. Segundo Arellano (4), o treinador deve elaborar o modelo de competição mais conveniente para cada um dos seus nadadores, fazendo adaptações baseadas nas características individuais de cada um. A análise das componentes da prova durante a época ajudará a monitorizar o plano de treino, e a fazer as respectivas adaptações necessárias ao modelo de treino proposto. Tal como foi apresentado no modelo para a definição de objectivos orientado para a prestação, concluímos que este modelo oferece algumas vantagens para o planeamento do treino, pois permite aos treinadores saberem se os objectivos parciais e gerais para a prova em questão foram conseguidos ou não. Permite-lhes ainda saber quais as etapas prioritárias a serem trabalhadas, para que se possa atingir o objectivo previamente estabelecido. Com o nosso exemplo, podemos concluir ainda que a nadadora precisa de melhorar a execução das viragens e da chegada (26). Os resultados apurados no decurso do presente estudo permitem-nos o estabelecimento ainda das seguintes conclusões: (i) Verificou-se, para a generalidade dos parâmetros estudados, variação entre géneros; (ii) Com o aumento da distância de prova houve uma diminuição da importância relativa do TP e, inversamente, um aumento da importância relativa do TV. Assim, é indiscutível a influência que a melhoria de qualquer um destes segmentos de prova pode ter sobre a prestação final, tal como corrobora com outros estudos (2, 22, 26). Aliás, os resultados sugerem-nos que do ponto de vista do modelo habitual de preparação utilizado para esta categoria de nadadores, provavelmente os técnicos deverão dar maior ênfase a este segmento de prova. Relativamente ainda a este parâmetro, concluiu-se também que, a prova dos 100 metros livres é a que apresenta partidas mais rápidas, tanto no G4/G5 feminino como no G5/G6 masculino; (iii) O estilo de bruços é aquele em que o tempo de viragem é superior; Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201 199 António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar (iv) As provas de maior distância (200 e 400 metros) apresentam uma percentagem de nado menor, enquanto que as provas de 100 metros (livres e bruços) são as que apresentam a percentagem mais elevada. Estes dados parecem-nos importantes, na medida em que nos levam a crer que os nadadores passam mais tempo a nadar nas provas de 100m (livres e bruços), do que nas provas dos 200 e 400m livres. Assim, pensamos que durante o processo de treino dos nadadores, se deve dar mais ênfase à técnica de nado nas provas de distância mais curta. Por outro lado, nas provas de maior distância o treino das viragens deve assumir maior relevância (8); (v) Foi ainda possível verificar que, para todas as provas à excepção do TP nos 200m livres e do TV nos 100m livres, os nadadores do G5/G6 masculino são mais rápidos a partir, a virar e a chegar do que as nadadoras pertencentes ao G4/G5. Tendo como base as conclusões apresentadas, este estudo tende a apresentar-se como uma boa forma de predizer os tempos de cada uma das componentes da prova, para as faixas etárias, géneros sexuais e provas realizadas em piscina curta (25 m), não generalizáveis para outras condições uma vez que a prestação depende de uma multiplicidade de factores (3, 19, 30). 200 Rev Port Cien Desp 7(2) 189–201 CORRESPONDÊNCIA António José Silva Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Departamento de Desporto CIFOP Rua Dr. Manuel Cardona 5000 Vila Real, Portugal e-mail: ajsilva@utad.pt Definição de objectivos na natação BIBLIOGRAFIA 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. Alves F (1989). Bases mecânicas da natação desportiva. Manual do curso de treinadores de II grau. Lisboa: Federação Portuguesa de Natação. Alves F, Lopes A, Ribeiro JP (1991). Análise da competição em natação desportiva. Natação 4 (14): 8-12. Alves JGB (2003). 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Foram constituídos dois grupos de análise a partir do número de posses de bola por jogo: jogos mais rápidos e jogos mais lentos. Os resultados sugerem uma tendência para um aumento do número de posses de bola e pontos marcados e uma diminuição da eficácia ofensiva nos jogos analisados. Por outro lado, a eficácia ofensiva dos jogos mais lentos foi significativamente superior à eficácia ofensiva dos jogos mais rápidos (p0,05). A função discriminante obtida foi baseada na análise dos coeficientes canónicos estruturais (CCE) e identificou as faltas cometidas (CCE=0,44), as faltas sofridas (CCE=0,43), os ressaltos defensivos (CCE=0,38) e os lançamentos livres falhados (CCE=0,37) como as estatísticas que melhor discriminam os jogos mais lentos dos mais rápidos (p!0,05). Os treinadores podem utilizar estes resultados na selecção dos jogadores e na preparação das suas equipas, decidindo o ritmo de jogo a impor durante os jogos e os jogadores mais adequados para desempenhar essas tarefas. ABSTRACT Basketball game rhythm in the European Competitions Finals’ (1988-2006) and the game-related statistics that discriminate between fast and slow paced games Palavras-chave: Basquetebol, estatísticas, ritmo de jogo. 202 Rev Port Cien Desp 7(2) 202–208 Comissão Instaladora dos Ensinos na Área da Saúde e do Bem Estar Universidade de Évora 2 Departamento de Desporto Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro The aim of this study was to characterize Basketball game rhythm, as measured by ball possessions, and to identify the differences in gamerelated statistics between high and low rhythm games. Archival data report to team game-related statistics from the final games of the three European competitions for clubs from 1987-88 to 2005-06 season (Euroleague, ULEBCUP and FIBACUP, n=27). Two groups were made according to the number of ball possessions per game: fastest games and slowest games. The results seem to suggest an increase in ball possessions per game and a decrease in points per game and offensive rating. Slowest games’ offensive ratings were significantly superior to the fastest games’ ratings (p!0,05). The analysis of the discriminant function was based on the observation of the structure coefficients (SC), and identified committed fouls (SC=0,44), received fouls (SC=0,43), defensive rebounds (SC=0,38) and unsuccessful freethrows (SC=0,37) as the game-related statistics that best discriminate fastest from slowest games. Coaches can use these results in players’ selection and to prepare the team, deciding which game rhythm to impose during games and which players’ are best prepared to perform these tasks. Key-words: Basketball, statistics, game rhythm Estatísticas discriminantes do ritmo do jogo de Basquetebol INTRODUÇÃO Nos jogos desportivos colectivos, o processo de preparação desportiva das equipas de alto-nível centrase no objectivo de preparar a equipa para ser capaz executar, em situação de competição, acções tácticas que corporizam uma estratégia colectiva para defrontar determinado adversário, no sentido de vencer o jogo. Este processo de preparação é complexo e implica cada vez mais que as equipas técnicas necessitem da contribuição de especialistas nos domínios da análise do jogo, no sentido de melhor caracterizarem os adversários e consequentemente, melhor definirem e prepararem a estratégia para os defrontar. Particularmente no jogo de Basquetebol, os estudos que recorrem às estatísticas dos jogos têm sido utilizados e explorados, quer na investigação quer no processo de treino, porque permitem que se realize uma caracterização dos adversários na perspectiva de várias dimensões – táctica, técnica, psicológica, física(1, 2, 5, 13,14). O controlo do ritmo do jogo, entendido como o controlo da velocidade a que decorre o jogo nas suas diferentes fases (transições defesa-ataque e ataquedefesa, ataque e defesa organizados) é um dos aspectos que os treinadores consideram como mais relevantes para o desfecho final dos jogos(4, 9). Contudo, a investigação científica não tem tratado deste problema de acordo com a sua importância. De facto, apenas existe a ideia de que os jogos mais decisivos decorrem a ritmos mais lentos. No Basquetebol profissional norte-americano, Oliver(4) estudou a variação das posses de bola, pontos marcados e eficácia ofensiva (pontos marcados divididos pelas posses de bola) nos jogos da fase regular referentes às épocas entre 1973 e 1995. Os resultados encontrados revelaram um decréscimo do número de posses de bola e pontos marcados, mas revelam, simultaneamente, um aumento da eficácia ofensiva das equipas. O número de posses de bola é uma medida válida do ritmo do jogo(4). Este autor identificou também uma diminuição do número de perdas de bola e de lançamentos durante os jogos, enquanto que o número de lançamentos livres e de ressaltos ofensivos permanece semelhante. As referências disponíveis na literatura que tratam destes objectivos procuraram analisar as diferenças entre os valores das posses de bola(que representam o ritmo de jogo - 4, 5) em jogos disputados na fase regular e no playoff da liga portuguesa de Basquetebol(6). Os resultados obtidos pelos autores permitiram sugerir que, face à importância diferenciada dos jogos (os jogos do playoff são mais importantes), as equipas em confronto dispuseram de um menor número de posses de bola nos jogos do playoff, o que sugere um ritmo de jogo mais lento e, consequentemente, resultou em valores mais baixos de pontos marcados(6). Este estudo acrescenta ainda que nestes jogos de playoff realizados a ritmos mais lentos, as equipas cometeram mais faltas, converteram mais lançamentos-livres e menos lançamentos de 2 pontos(6). Neste domínio particular, as faltas cometidas, os ressaltos ofensivos, os lançamentos livres convertidos e falhados foram identificados como as estatísticas do jogo que melhor discriminam as equipas que vencem das equipas que perdem os jogos do playoff(5). Por outro lado, Sampaio(9) apresentou um estudo sobre o ritmo dos jogos da equipa do Leche Rio Breogán realizados durante a 1ª e a 2ª voltas da fase regular da liga espanhola de Basquetebol (Liga ACB). Neste trabalho, foram definidos dois grupos de jogos (mais rápidos e mais lentos) através de uma análise de classificação automática (cluster analysis) e analisaram-se as posses de bola e a eficácia ofensiva em função dos grupos resultantes dessa análise estatística prévia. Os resultados encontrados evidenciaram uma diminuição do ritmo da 1ª para a 2ª volta (menor número de posses de bola) e, simultaneamente, um aumento na percentagem de vitórias sempre que o jogo decorria de forma mais lenta (valores superiores na eficácia ofensiva). Acrescentese ainda que a estatística do jogo que discriminou cada tipo de jogos (mais rápidos vs. mais lentos) foram os lançamentos de 3 pontos convertidos (9). Este estudo foi realizado com uma amostra de jogos disputados numa fase regular e sempre pela mesma equipa. Neste sentido, a validade de generalização dos resultados é limitada a esse mesmo contexto estratégico-táctico e daqui decorre a necessidade de confirmar estes resultados noutros contextos de análise mais diversificados e abrangentes. Neste quadro operativo, o objectivo do presente trabalho é caracterizar o ritmo dos jogos de Basquetebol e identificar as estatísticas que melhor discriminam os jogos de ritmo mais elevado dos Rev Port Cien Desp 7(2) 202–208 203 Jorge Malarranha, Jaime Sampaio jogos de ritmo mais lento. Este tipo de informação poderá constituir-se de elevada importância para que as equipas se preparem melhor para este tipo de confrontos. METODOLOGIA Amostra Os dados utilizados neste estudo foram recolhidos através dos registos estatísticos oficiais das três competições europeias por clubes (Euroliga, ULEBCUP e FIBA CUP). Foram utilizados os registos do jogo final de cada competição em cada época desportiva, o que constituiu uma amostra total de 27 jogos (Quadro 1). Esta opção foi tomada devido à elevada importância atribuída aos jogos finais, dado que o vencedor se torna campeão europeu. Neste sentido, é provável que os cuidados a ter na preparação destas competições sejam incrementados e que aumente a importância que se coloca nas decisões dos treinadores e dos jogadores. Quadro 1. Distribuição da amostra por competição disputada e caracterização da diferença pontual final dos jogos. Competição Épocas Desportivas n Diferença pontual (x±sd) Euroliga ULEBCUP FIBACUP 1987-88 a 2005-06 2002-03 a 2005-06 2003-04 a 2005-06 19 5 3 7±4,5 8±4,7 18±7,5 TOTAL 1987-88 a 2005-06 27 8±5,4 Procedimentos As estatísticas dos jogos foram recolhidas por técnicos especializados da FIBA (Fédération Internationale de Basketball) e consistiram no registo de frequências das seguintes acções técnico-tácticas: lançamentos de 2 e 3 pontos (convertidos e falhados), lançamentos livres (convertidos e falhados), ressaltos defensivos e ofensivos, assistências, roubos de bola, desarmes de lançamento, perdas de bola, faltas cometidas e sofridas. Posteriormente, todas as estatísticas recolhidas foram divididas pelos valores das posses de bola do jogo, no sentido de as normalizar à medida padrão de 100 posses de bola e assim garantir que a análise posterior dos dados não sofre contaminação do ritmo de jogo(4). Depois de normalizadas, todas as estatísticas de jogo foram multiplicadas por 100(5). 204 Rev Port Cien Desp 7(2) 202–208 Considerou-se que uma equipa tem a posse da bola quando tem um controlo ininterrupto e completo da bola. As posses de bola, que representam o ritmo do jogo, foram calculadas através da seguinte equação(4): Posses de bola = (lançamentos de campo tentados) – (ressaltos ofensivos) + (perdas de bola) – 0,4 x (lançamentos livres tentados) Os lançamentos tentados representam o número total de vezes que os jogadores de uma equipa executam uma tentativa para lançar ao cesto, que terminará com sucesso ou insucesso. Segundo este conceito, considera-se a conquista do ressalto ofensivo não como uma nova posse de bola mas como um “reavivar” da posse de bola anterior. Desta forma, poderemos constatar que no final dos jogos, as equipas em confronto, usufruíram aproximadamente do mesmo número de posses de bola, uma vez que uma equipa não pode dispor de posses de bola consecutivas(4). Tratamento dos dados No sentido de dar resposta ao objectivo formulado, o tratamento dos dados iniciou-se pela identificação de jogos outliers de acordo com a diferença pontual final. De seguida procedeu-se à análise de clusters onde se constituíram 2 grupos de jogos, em função do número de posses de bola do jogo. Estes dois grupos foram categorizados como jogos mais rápidos e jogos mais lentos. Posteriormente passou-se à análise da função discriminante no sentido de identificar, através dos coeficientes canónicos estruturais (CCE) superiores a |0,30|, as estatísticas do jogo que mais contribuem para separar os jogos mais lentos dos jogos mais rápidos. A análise estatística foi realizada através do software estatístico SPSS versão 13.0 e o nível de significância foi mantido em 5%. RESULTADOS Na Figura 1 encontram-se os resultados da variação do número de posses de bola, pontos marcados e eficácia ofensiva das finais europeias realizadas entre 1988 e 2006. Nestes resultados pode-se identificar uma tendência para a diminuição da eficácia ofensiva das equipas desde a época de 2002. Estatísticas discriminantes do ritmo do jogo de Basquetebol Figura 1. Variação do número de posses de bola, pontos marcados e eficácia ofensiva desde 1988 até 2006 Os valores médios de cada grupo de jogos produzidos pela análise de classificação automática foram para os jogos mais rápidos de 49,4±5,02 posses de bola e para os jogos mais lentos de 40,5±5,63 posses de bola. As diferenças na eficácia ofensiva das equipas destes dois contextos foram estatisticamente significativas, com valores de 149±19 nos jogos mais rápidos e de 167±28 nos jogos mais lentos. No Quadro 2 encontram-se os valores médios das estatísticas dos jogos para cada grupo de jogos (mais rápidos e mais lentos), bem como os resultados da comparação de médias. Quadro 2. Médias e desvios-padrão dos indicadores estatísticos dos jogos mais rápidos e jogos mais lentos. Estatísticas dos jogos Lançamentos de 2 pontos Convertidos Lançamentos de 2 pontos Falhados Lançamentos de 3 pontos Convertidos Lançamentos de 3 pontos Falhados Lançamentos Livres Convertidos Lançamentos Livres Falhados* Ressaltos Defensivos* Ressaltos Ofensivos Assistências Roubos de Bola Desarmes de Lançamento Perdas de Bola Faltas Sofridas* Faltas Cometidas* Jogos mais rápidos (45,1!PB!54,4) Jogos mais lentos (34,9!PB<45,1) 37,95 ± 09,14 42,19 ± 11,66 12,49 ± 04,58 22,58 ± 10,83 35,75 ± 13,55 12,82 ± 06,12 40,53 ± 10,06 22,46 ± 09,63 22,93 ± 11,17 16,52 ± 07,80 5,46 ± 05,39 26,57 ± 08,06 49,40 ± 08,98 49,36 ± 08,97 43,93 ± 09,88 46,00 ± 10,42 12,15 ± 05,09 25,27 ± 09,21 42,84 ± 17,79 19,33 ± 09,46 50,27 ± 10,86 24,54 ± 06,38 18,86 ± 06,75 17,82 ± 10,12 5,28 ± 05,15 22,06 ± 07,26 61,04 ± 15,30 61,04 ± 15,30 * p 0 , 0 5 (ANOVA) Rev Port Cien Desp 7(2) 202–208 205 Jorge Malarranha, Jaime Sampaio A função discriminante obtida para diferenciar os jogos mais lentos dos jogos mais rápidos foi estatisticamente significativa (p!0,05). Os CCE mais relevantes para o compósito linear desta função foram os das faltas cometidas e sofridas, dos ressaltos defensivos e dos lançamentos livres falhados (ver Quadro 3). Quadro 3. Estatísticas do jogo que discriminam os jogos mais rápidos dos jogos mais lentos. Estatísticas dos jogos CCE Faltas Sofridas* Faltas Cometidas* Ressaltos Defensivos* Lançamentos Livres Falhados* Lançamentos de 2 pontos Convertidos Perdas de Bola Lançamentos Livres Convertidos Assistências Lançamentos de 2 pontos Falhados Lançamentos de 3 pontos Falhados Ressaltos Ofensivos Roubos de Bola Lançamentos de 3 pontos Convertidos Desarmes de Lançamento 0,44 0,43 0,38 0,37 0,26 -0,23 0,19 -0,16 0,13 0,10 0,09 0,06 -0,03 -0,01 Wilks’ Lambda Qui-Quadrado P Eigenvalue Correlação Canónica 0,46 31,82 <0,05 1,17 0,74 * |CCE| # 0,30 DISCUSSÃO O objectivo do presente trabalho foi caracterizar o ritmo dos jogos de Basquetebol e identificar as estatísticas que melhor discriminam os jogos de ritmo mais elevado dos jogos de ritmo mais lento. Existem opiniões de que os jogos mais lentos são característicos das fases mais decisivas das épocas desportivas, como por exemplo os jogos da 2ª volta da fase regular (que decidem a classificação para os playoffs, ou a manutenção na divisão) e os jogos dos playoffs (que decidem a continuação ou não na luta pelo título de campeão ou pelo acesso às competições europeias)(6, 9). 206 Rev Port Cien Desp 7(2) 202–208 Os valores de corte apresentados para o presente estudo que permitiram diferenciar os jogos disputados a ritmos lentos dos jogos disputados a ritmos rápidos, devem ser entendidos no contexto particular da amostra estudada. De facto, os valores médios obtidos para os jogos da presente amostra são substancialmente inferiores aos obtidos em estudos que recorreram à mesma metodologia realizados noutros contextos(4, 9). Contudo, estes valores sugerem que todos os jogos da presente amostra decorreram a ritmos mais lentos, facto que confirma as opiniões previamente apresentadas. Na literatura científica internacional, estes assuntos têm sido tratados exclusivamente em jogos da Liga Profissional Norte-Americana (NBA) por Oliver(4). Neste diferente contexto, o autor identificou um aumento na eficácia ofensiva e uma diminuição nas posses de bola e nos pontos marcados por jogo. Grosso modo, os resultados encontrados no presente estudo parecem distintos das opiniões apresentadas e dos estudos disponíveis, porque sugerem uma tendência recente para a diminuição da eficácia ofensiva e dos pontos marcados. Por outro lado, o número de posses de bola por jogo tem aumentado. O sentido de variação deste conjunto de macro-estatísticas do jogo de Basquetebol sugere que os jogos das finais mais recentes são disputados a ritmos mais elevados, mas com prejuízo nos pontos marcados e na eficácia ofensiva. O facto destes jogos serem decisivos para a atribuição dos títulos de campeão europeu, provavelmente reflectir-se-á numa percepção diferente do jogo pelos jogadores, que lhe atribuirão mais importância porque todas as acções que executem podem ser decisivas para o resultado final do confronto(3, 7). Provavelmente, este é um aspecto que se vai reflectir mais no seu desempenho ofensivo, onde é necessária mais concentração na execução das estratégias colectivas e na conversão de lançamentos(10, 12, 13). Em caso contrário, podem ocorrer selecções de lançamento pouco favoráveis e com poucas possibilidades de conquista do ressalto ofensivo. É neste sentido que se verifica a superioridade das defesas sobre os ataques, levando à consequente diminuição dos pontos marcados e ao aumento do número de posses de bola por jogo. Este aumento das posses de bola não é necessariamente positivo para as equipas pois, no presente estudo, foram Estatísticas discriminantes do ritmo do jogo de Basquetebol identificadas diferenças estatisticamente significativas entre o ritmo dos jogos e a eficácia ofensiva, com valores superiores para os jogos mais lentos (jogos mais rápidos 149±19 vs. jogos mais lentos 167±28). Neste sentido, tentar disputar um destes jogos finais de forma mais lenta, explorando constantemente as situações de ataque organizado de modo a colocar os jogadores nas suas posições de melhor eficácia individual de lançamento e de maiores possibilidades de disputa dos ressaltos ofensivos, pode ajudar a obter melhores eficácias ofensivas. Neste assunto particular, a literatura sugere que, nestes momentos, se explorem os jogadores que desempenham funções mais próximo do cesto(11, 12). Por outro lado, também se diminui as hipóteses da equipa adversária explorar situações de transição defesa-ataque em superioridade numérica, caracterizadas pelas elevadas probabilidades de sucesso (5, 8, 14). No que diz respeito à identificação das estatísticas que melhor discriminam os jogos de ritmo mais elevado (45,1 ! posses de bola ! 54,4) dos jogos de ritmo mais lento (34,9 ! posses de bola <45,1), os resultados do presente estudo identificaram as faltas (cometidas e sofridas), os ressaltos defensivos e os lançamentos livres falhados como as estatísticas que melhor discriminaram estes dois contextos. Alguns estudos(9, 10) indicam que o aumento da frequência e do poder discriminante do número de faltas cometidas e de lançamentos livres tem caracterizado estes jogos decisivos onde o ritmo é mais lento. Sampaio(9) refere o número de lançamentos de 3 pontos convertidos como o indicador estatístico que mais diferencia os jogos mais lentos dos mais rápidos. O poder discriminante das faltas sugere que o ritmo de jogo pode ser imposto (acelerado ou desacelerado) pelo recurso a esta estratégia. Ou seja, as equipas que participaram nestes confrontos recorreram às faltas, como meio de impedir a realização de lançamentos fáceis, por exemplo parar as situações de superioridade numérica do adversário, parar as recepções de bola em espaços de elevada eficácia ofensiva (i.e., a zona mais próxima do cesto habitualmente ocupada pelos postes baixos) e mesmo parar jogadores de elevada eficácia ofensiva(11). Desta forma, aumenta o número de faltas cometidas e sofridas nestes jogos e diminui o seu ritmo. Esta situação implica, também, um aumento do número de lançamentos livres (quer seja como consequência das faltas em acto de lançamento, quer seja como resultado do acumular de faltas). O aumento do número de lançamentos livres tentados e a importância de converter pontos nestes jogos, é uma explicação provável para o aumento do número de lançamentos livres falhados. Este facto, pode favorecer a conquista da posse de bola por parte da equipa defensora. Os resultados do presente estudo realçam igualmente o poder discriminante dos ressaltos defensivos. Este aspecto pode resultar do facto de ocorrerem mais lançamentos livres falhados, o que aumenta as possibilidades de conquistar mais ressaltos, em especial da equipa que está a defender (devido à vantagem posicional da defesa no lançamento livre). Em suma, os jogos das finais das competições europeias de Basquetebol estão a decorrer a ritmos mais elevados, mas com menor eficácia e menos pontos marcados. O ritmo dos jogos é essencialmente controlado pelas faltas cometidas e sofridas, facto que também é a expressão da estratégia preconizada pelos treinadores. CORRESPONDÊNCIA Jaime Sampaio Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Quinta de Prados, Ap. 202 5000-911 Vila Real e-mail: ajaime@utad.pt Rev Port Cien Desp 7(2) 202–208 207 Jorge Malarranha, Jaime Sampaio BIBLIOGRAFIA 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 208 De Rose D (2004). Statistical analysis of basketball performance indicators according to home/away games and winning and losing teams. Journal of Human Movement Studies 47: 327-336. Ibanez SJ, Sampaio J, Saenz-Lopez P, Gimenez J, Janeira MA (2003). Game statistics discriminating the final outcome of Junior World Basketball Championship matches (Portugal 1999). Journal of Human Movement Studies 45: 119. Kozar B, Whitfield KE, Lord RH, Mechikoff RA (1993). Timeouts before Free-Throws - Do the statistics support the strategy. Perceptual and Motor Skills 76: 47-50. Oliver D (2004). Basketball On Study: Rules and Tools for Performance Analysis. Dulles: Brassey’s, Inc. 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Vinte participantes praticaram uma tarefa de menor complexidade (digitação de uma seqüência de teclas) no primeiro experimento, e outros vinte participantes praticaram uma tarefa de maior complexidade (posicionamento de bolas de tênis entre recipientes) no segundo experimento. A meta para ambas as tarefas foi executar os movimentos na maior velocidade possível. Em ambos os experimentos, os sujeitos foram designados aleatoriamente para: 1) grupo de sujeitos que praticou com a mão preferida e foi testado com a mão não-preferida (GMP) e outro grupo que praticou com a mão não-preferida e foi testado com a mão preferida (GMNP). Os experimentos constaram de pré-teste, aquisição e pós-teste. As análises entre o pré e o pós-teste indicaram que, independente da direção da transferência e complexidade da tarefa, os dois grupos se beneficiaram da transferência bilateral, tanto em termos de desempenho quanto de consistência. A análise dos resultados entre o fim da aquisição e o pós-teste permitiu observar uma relação inversa entre a direção da transferência e complexidade da tarefa. Os resultados são discutidos em termos do tipo de processamento requerido nas tarefas. ABSTRACT Effect of task complexity in the bilateral transfer direction in serial motor skills Palavras-chave: aprendizagem motora, efeito de transferência, transferência bilateral, complexidade da tarefa Laboratório do Comportamento Humano (LACOH) Faculdades Unidas do Norte de Minas Brasil 2 Faculdade de Ciências da Saúde (FCS) Universidade FUMEC Brasil 3 Grupo de Estudo em Desenvolvimento e Aprendizagem Motora (GEDAM) Universidade Federal de Minas Gerais Brasil The effect of task complexity in the bilateral transfer direction in serial motor skills was investigated through two experiments. In the first, twenty participants performed a less complex task (typing a key sequence) and in the second, another group of twenty participants performed a more complex task (positioning). The goal in both tasks was to perform the movements as quickly as possible. In both experiments, the subjects were randomly assigned 1) to the group that practiced with the preferred hand (GPH) and was tested with the non-preferred hand or 2) to the group that practiced with the non-preferred hand (GNPH) and was tested with the preferred hand. The experiment phases consisted of pre-test, acquisition and post-test. The analysis between pre and post-test indicated that independently of the direction of bilateral transfer and task complexity, all groups had the benefits of bilateral transfer in terms of performance and consistency. The analysis between the end of acquisition and the post-test pointed out an inverse relation between the direction of transfer and task complexity. The results are discussed in terms of the kind of processing required in the tasks. Key-words: motor learning, transfer effect, bilateral transfer, task complexity Rev Port Cien Desp 7(2) 209–216 209 Dayane M. Pinho, Guilherme M. Lage, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda INTRODUÇÃO Aprendizagem motora é o conjunto de processos associados com a prática ou a experiência, conduzindo a mudanças relativamente permanentes na capacidade de executar performance habilidosa(16). Mudanças são observadas no eixo temporal e podem ser caracterizadas como fruto da crescente interação entre vários elementos envolvidos no desempenho motor. De acordo com Manoel(11), esses elementos correspondem aos órgãos sensoriais, à percepção, à tomada de decisão, à programação, ao sistema de feedback e ao sistema muscular. Através do fortalecimento dessa interação, ocorre uma gradativa transposição de estados desorganizados para estados organizados, emergindo assim, comportamentos que podem ser distinguidos por padrões espaço-temporais bem definidos, com metas no ambiente, caracterizados como habilidades ou tarefas motoras. Dentre os estudos sobre habilidades motoras, um tema que tem despertado interesse dos pesquisadores é como uma habilidade aprendida com um membro pode ser transferida para o outro, o que é conhecido como transferência bilateral. Estudos sobre a transferência bilateral indicam que a aprendizagem é independente do membro efetor(5, 7, 8, 13). Em outras palavras, o desempenho de um membro pode ser otimizado pela prática do membro homólogo. De forma geral, as explanações sobre a transferência bilateral se baseiam na aprendizagem de elementos cognitivos envolvidos na execução das habilidades(7, 8) e nos mecanismos de controle motor, como programação motora, que definem os aspectos temporais e espaciais requeridos nos movimentos (5, 13). De acordo com Wrisberg(24), o achado mais significante sobre transferência bilateral é que essa transferência é assimétrica entre os membros, ou seja, existem diferenças em termos de direção da transferência. Em situações práticas em que a preferência manual não é restringida, observa-se uma tendência de utilização inicial do lado preferencial1, para posteriormente praticar com o lado não preferencial. Este comportamento pode estar relacionado à maior segurança e conforto gerados na execução com o membro preferido. Entretanto, resultados de pesquisa são contraditórios em relação a melhor direção da transferência. Resultados de pesquisas têm demonstrado que a melhor direção da transferência pode ocorrer do 210 Rev Port Cien Desp 7(2) 209–216 membro preferido para o não-preferido(2, 6, 23) ou do membro não-preferido para o preferido(9, 10, 15, 17) e ainda, que a direção da transferência entre membros depende de parâmetros específicos da tarefa, como força e timing(18, 19, 20). Como exemplo, Thut, Cook, Regard, Leenders, Haslband e Landis(20) utilizaram uma tarefa de desenho de padrões geométricos e observaram que, para a medida de tempo de movimento, a direção da transferência mais efetiva foi do membro preferencial para o membro não-preferencial, enquanto para a medida de precisão espacial a melhor direção ocorreu no sentido contrário. Diferentes hipóteses explanativas são encontradas sobre os níveis de ativação hemisférica gerados pelo membro praticado, preferencial ou não-preferencial, e pela característica das tarefas. Taylor e Heilman(17) afirmam que a prática com a mão não-preferencial leva a uma ativação cerebral bihemisférica, facilitando assim a transferência para o membro preferencial. Por outro lado, a prática com a mão preferencial levaria a uma maior ativação do hemisfério esquerdo levando a um menor grau de transferência para o membro não-preferencial. Já para Teixeira(19), determinados componentes da tarefa como o controle de força e timing coincidente são controlados com a mesma proficiência por ambos os hemisférios cerebrais, o que gera uma transferência simétrica entre os membros nesses parâmetros. Em uma análise restrita aos estudos que utilizaram tarefas de natureza seriada, a direção mais efetiva da transferência entre membros foi do membro nãopreferencial para o membro preferencial(9, 10, 15, 17). Esses resultados suportam a hipótese de Taylor e Heilman(17) sobre os diferentes níveis de processamento gerados pela prática com o membro preferencial ou não-preferencial. Resultados de estudos recentes que utilizaram medidas obtidas por neuroimagem e eletromiografia, apontam para uma relação entre complexidade da tarefa e ativação entre os hemisférios. Tinazzi e Zanette(21) encontraram uma maior ativação bihemisférica, em movimentos mais complexos. Assim, uma maior complexidade geraria maiores interações inter-hemisféricas trazendo maiores vantagens para o sistema(4, 14). Apoiado nos achados descritos acima, pode-se esperar que em tarefas de maior complexidade, a transferência entre membros seja Direção da transferência bilateral simétrica. Isto contraria a hipótese de que em movimentos complexos a melhor direção da transferência é do membro não-preferencial para o preferencial(15). Entende-se o aumento da complexidade da tarefa como o aumento do número de elementos(3), ou mais especificamente, um maior número de graus de liberdade envolvidos na execução da habilidade(1, 22). Em suma, resultados de estudos que utilizaram tarefas de natureza seriada sugerem que a direção mais efetiva da transferência entre membros parte do membro não-preferencial para o membro preferencial. Entretanto, a possibilidade de diferentes níveis de ativação hemisférica emergir não só pela prática de um determinado membro(17), mas também pela complexidade da tarefa(4, 14, 21), justifica a realização de novas pesquisas sobre a direção da transferência entre membros. Dessa forma, foi objetivo deste estudo investigar o efeito da complexidade da tarefa na direção da transferência bilateral em habilidades seriadas. Para isso, foram realizados dois experimentos com tarefas seriadas de diferentes complexidades. EXPERIMENTO 1 - TAREFA DE MENOR COMPLEXIDADE MÉTODO Amostra Vinte sujeitos universitários, de ambos os sexos, na faixa etária entre 18 e 35 anos, participaram como voluntários desse experimento. Todos os sujeitos eram inexperientes na tarefa e participaram com consentimento livre e esclarecido. Instrumentos e Tarefa Para a determinação do índice de dominância lateral, foi empregado o Inventário de Dominância Lateral de Edimburgo(12) e uma pergunta sobre a auto-classificação do lado preferencial. A tarefa consistiu em digitar uma seqüência de teclas pré-determinadas(2, 8, 6 e 4), com o dedo Indicador, na região alfanumérica de um teclado. A tarefa teve como meta realizar os movimentos em maior velocidade possível. Foi utilizado um software desenvolvido especificamente para o controle de tarefas seriadas no teclado do computador e o armazenamento de dados sobre o tempo total. O tempo total foi definido pelo momento entre o pressionamento da primeira tecla e o pressionamento da última tecla. Os dados foram registrados no microcomputador ao final de cada tentativa. Delineamento Experimental Os participantes foram designados aleatoriamente para dois grupos de prática: 1) Grupo MãoPreferencial (GMP) e 2) Grupo Mão NãoPreferencial (GMNP). O experimento constou de três fases: 1) pré-teste com cinco tentativas de prática, 2) fase de aquisição com 30 tentativas de prática com o membro contrário ao utilizado no pré-teste e, cinco minutos após a aquisição, 3) pós-teste com cinco tentativas de prática com a mão utilizada no pré-teste. A denominação GMP ou GMNP relacionase à mão que executou a tarefa na fase de aquisição. O GMP realizou o pré-teste com a mão não-preferencial, a fase de aquisição com a mão preferencial e o pós-teste com a mão não-preferencial. O tratamento inverso foi aplicado ao GMNP, ou seja, os sujeitos iniciaram com a mão preferencial, praticaram com a mão não-preferencial e foram testados novamente com a mão preferencial. Procedimentos Inicialmente, os sujeitos preencheram o Inventário de Dominância Lateral de Edimburgo e responderam a questão sobre auto-definição da dominância lateral. Análises indicaram o lado direito como o preferido a todos os sujeitos. Em seguida, foram fornecidas instruções padronizadas sobre a tarefa. A informação “inicie a tentativa” era fornecida na tela do microcomputador e o sujeito iniciava a seqüência de digitação. Cinco segundos após o término de cada tentativa foi fornecido aos sujeitos o conhecimento de resultados (CR) em relação ao tempo total de movimento. O CR não foi fornecido durante o préteste e o pós-teste. Tratamento dos Dados Os dados foram organizados em blocos de 5 tentativas em todas as fases do experimento, tanto para a medida de desempenho quanto para a medida do desvio padrão do desempenho. O teste de Kolmogorov-Smirnov foi aplicado para verificar a normalidade dos dados, o qual indicou uma distribuição normal dos mesmos. As análises inferenciais foram realizadas através de três Anovas two-way (2 grupos X 2 blocos no pré-teste e pós-teste; 2 grupos X 6 blocos na fase de aquisição; 2 grupos X 2 blocos entre o último bloco da aquisição e o bloco do pó- Rev Port Cien Desp 7(2) 209–216 211 Dayane M. Pinho, Guilherme M. Lage, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda teste). Para análises Post Hoc, foi utilizado o teste de Tukey, quando necessário. O valor de significância adotada foi de p<0,05. Essas análises foram realizadas para permitir inferências sobre a transferência da aprendizagem entre membros e a melhor direção da transferência (pré e pós-teste), as mudanças no comportamento durante a prática em relação ao membro praticado (aquisição) e a direção da transferência entre membros do final da prática para o pós-teste (último bloco da aquisição e bloco do pós-teste). RESULTADOS Análise entre o pré e o pós-teste A análise do desempenho entre o pré e pós-teste (Figura 1) não indicou diferença significativa entre Grupos [F(1,18)=0,42, p=0,52], assim como na interação Grupos X Blocos [F(1,18)=0,12, p=0,72]. Foi encontrada uma diferença significativa para o fator Blocos [F(1,18)= 14, 65, p<0,01]. O teste Post Hoc de Tukey indicou que o bloco do pré-teste apresentou maior tempo de resposta comparado ao bloco do pós-teste (p<0,01). A análise do desvio padrão do desempenho não indicou diferença significativa entre Grupos [F(1,18)=0,005, p=0,94], Blocos [F(1,18)=1,66, p=0,21] e na interação entre Grupos X Blocos [F(1,18)=1,98, p=0,17]. Análise entre o último bloco da aquisição e o bloco do pós-teste A análise de desempenho (Figura 1) não indicou diferença significante para o fator Grupos [F(1,18)=0,02, p=0,88]. Entretanto, foi detectada diferença para o fator Blocos [F(1,18)=8,88, p<0,01] e na interação entre Grupos X Blocos [F(1,18)=17,23, p<0,01]. O teste Post Hoc de Tukey conduzido entre os blocos indicou que o último bloco da aquisição apresentou menor tempo de resposta comparado ao bloco do pós-teste (p<0,01). Na análise da interação entre Grupos X Blocos, o último bloco da aquisição do GMNP apresentou maior tempo de resposta comparado ao último bloco da aquisição do GMP (p<0,01). O último bloco da aquisição do GMP apresentou menor tempo de resposta comparado ao bloco do pós-teste do mesmo grupo (p<0,01). A análise do desvio padrão do desempenho (Figura 2) não indicou diferença significante para o fator Grupos [F(1,18)=0,11, p=0,74], assim como na interação entre Grupos X Blocos [F(1,18)=3,26, p=0,08]. Foi encontrada diferença significante para o fator Blocos [F(1,18)=4,37, p=0,05]. O último bloco da aquisição apresentou menor variabilidade comparado ao bloco do pós-teste (p<0,05). Análise da fase de aquisição A análise do desempenho na fase de aquisição (Figura 1) indicou diferença significante para o fator DISCUSSÃO O objetivo do presente experimento foi investigar a direção da transferência bilateral em uma tarefa 700 GMNP GMP TResposta (ms.) 650 600 550 500 450 400 Pré 1 2 3 4 5 6 Pós Figura 1. Médias dos tempos de resposta dos grupos experimentais em todas as fases do experimento 1. 212 Grupos [F(1,18)=4,57, p<0,05], Blocos [F(5,90)=2,43, p<0,05] e na interação entre Grupos X Blocos [F(5,90)=2,91, p<0,01]. O teste Post Hoc de Tukey conduzido no fator Grupos indicou que o GMP apresentou menor tempo de resposta comparado ao GMNP (p<0,05). Na análise do fator Blocos, o 1o bloco da fase de aquisição apresentou maior tempo de resposta comparado ao 6o bloco (p<0,05). A análise da interação entre Grupos X Blocos mostrou que o 1o bloco do GMNP apresentou maior tempo de resposta comparado ao 1o bloco do GMP (p<0,01). Na análise do desvio padrão do desempenho da fase de aquisição (Figura 2) não houve diferença entre Grupos [F(1,18)=0,16, p=0,68], Blocos [F(5,90)=1,21, p=0,30] e na interação entre Grupos X Blocos [F(5,90)=1,02, p=0,4]. Rev Port Cien Desp 7(2) 209–216 Direção da transferência bilateral seriada considerada de menor complexidade. Os resultados indicaram que houve efeito de transferência bilateral para ambos os grupos de prática. Tanto o GMP quanto o GMNP apresentaram uma melhora do desempenho do pré-teste para o pós-teste, o que corrobora a proposição de que transferência bilateral indica que a aprendizagem é independente do membro efetor(4, 7, 8, 13). Em relação à variabilidade do desempenho, ambos os grupos apresentaram maior consistência ao final da prática comparado ao bloco do pós-teste. Entretanto, em relação à direção da transferência, houve uma deterioração do desempenho por parte do GMP do último bloco da aquisição para o bloco do teste, o mesmo não ocorrendo para o GMNP. Este resultado sugere uma melhor transferência da mão não-preferencial para a mão preferencial em uma tarefa de menor complexidade. Este resultado corrobora prévios achados sobre a direção da transferência mais eficaz em tarefas seriadas(9, 10, 15, 17). EXPERIMENTO 2 - TAREFA DE MAIOR COMPLEXIDADE MÉTODO Amostra Vinte sujeitos universitários, de ambos os sexos, na faixa etária entre 18 e 35 anos, participaram como voluntários deste experimento. Todos os sujeitos eram inexperientes na tarefa, não foram voluntários do experimento anterior, e participaram com consentimento livre e esclarecido. Instrumentos e Tarefa Para a determinação do índice de dominância lateral foi empregado o Inventário de Dominância Lateral de Edimburgo(12) e uma pergunta sobre a auto-classificação do lado dominante. A tarefa consistiu em soltar uma chave pressionada e transportar duas bolas de tênis em uma seqüência pré-definida entre quatro recipientes numerados de uma caixa de madeira (comprimento: 1m; largura: 0,66m; Altura: 0,10m). A tarefa teve como meta realizar os movimentos de posicionamento em maior velocidade possível. Foi utilizado um software desenvolvido especificamente para o controle de tempo e armazenamento de dados sobre o tempo total. O instrumento consistiu de um conjunto de diodos emissores de luz, uma chave de resposta para controlar o início da tarefa e uma segunda chave de resposta para marcar o final da mesma. O tempo total foi definido a partir da soltura da primeira chave e o pressionamento da segunda chave. Os dados foram registrados em um microcomputador ao final de cada tentativa. Delineamento Experimental O delineamento experimental foi o mesmo do primeiro experimento. Procedimentos Inicialmente, os sujeitos preencheram o Inventário de Dominância Lateral de Edimburgo e responderam a questão sobre auto-definição da dominância lateral, os quais indicaram o lado direito como o preferido a todos os sujeitos. Em seguida, foram fornecidas instruções padronizadas sobre a tarefa. Ao sinal “prepara”, fornecido pelo experimentador, o sujeito pressionava a chave de resposta e, após um estímulo visual (acendimento dos diodos), a chave deveria ser solta para iniciar o transporte das bolas de tênis, uma a uma, com a mão pré-determinada, na seqüência pré-definida no menor tempo possível. Ao repousar a segunda bola sobre o último recipiente, uma segunda chave era acionada medindo o tempo total de movimento e caracterizando o fim da tarefa. Cinco segundos após o término de cada tentativa foi fornecido aos sujeitos o conhecimento de resultados (CR) em relação ao tempo total de movimento. O CR não foi fornecido no pré-teste e no pós-teste. Tratamento dos Dados O tratamento de dados foi o mesmo ao realizado no experimento 1. O teste de Kolmogorov-Smirnov indicou uma distribuição normal dos dados. RESULTADOS Análise entre o pré e o pós-teste A análise do desempenho entre o pré e pós-teste (Figura 3) não indicou diferença significativa entre Grupos [F(1,18)=0,39, p=0,53], assim como na interação entre Grupos X Blocos [F(1,18)=0,42, p=0,72]. Foi encontrada uma diferença significativa para o fator Blocos [F(1,18)=13, 36, p<0,01]. O teste Post Hoc de Tukey indicou que o bloco do préteste apresentou maior tempo de resposta comparado ao bloco do pós-teste (p<0,01). Rev Port Cien Desp 7(2) 209–216 213 Dayane M. Pinho, Guilherme M. Lage, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda GMP GMNP 2500 2350 TResposta (ms.) 2200 2050 1900 1750 1600 1450 1300 Pré 1 2 3 4 5 6 Pós Blocos de 5 te ntativas Figura 3. Médias dos tempos de resposta dos grupos experimentais em todas as fases do experimento 2. A análise do desvio padrão do desempenho (Figura 4) não indicou diferença significativa entre Grupos [F(1,18)=0,005, p=0,94], assim como na interação entre Grupos X Blocos [F(1,18)=0,05, p=0,81]. Foi encontrada uma diferença significativa para o fator Blocos [F(1,18)=8,17, p<0,01]. O teste Post Hoc de Tukey indicou que o bloco do pré-teste apresentou maior variabilidade comparado ao bloco do pós-teste (p<0,01). Figura 4. Desvio padrão das médias dos tempos de resposta dos grupos experimentais em todas as fases do experimento 2. Análise entre o último bloco da aquisição e o bloco do pós-teste A análise do desempenho não indicou diferença significante entre Grupos [F(1,18)=0,05, p=0,82]. Entretanto, foi detectada diferença para o fator Blocos [F(1,18)=7,83, p<0,01] e na interação entre Grupos X Blocos [F(1,18)=5,28, p<0,05]. Na análise do fator Blocos, o teste Post Hoc de Tukey indicou que o último bloco da aquisição apresentou menor tempo de resposta comparado ao bloco do pós-teste (p<0,01). Na análise da interação entre Grupos X Blocos, o último bloco da aquisição do GMNP apresentou menor tempo de resposta comparado ao bloco do pós-teste do mesmo grupo (p<0,01). A análise do desvio padrão do desempenho não indicou diferença significante para o fator Grupos [F(1,18)=0,11, p=0,74], Blocos [F(1,18)=0,21, p=0,64] e na interação entre Grupos X Blocos [F(1,18)=0,92, p=0,34]. Análise da fase de aquisição A análise do desempenho da fase de aquisição (Figura 3) indicou diferença significante para o fator Grupos [F(1,18)=4,59, p<0,05], Blocos DISCUSSÃO O objetivo do experimento 2 foi investigar a direção da transferência bilateral em uma tarefa seriada de maior complexidade. Os resultados indicaram que 900 GMP GMNP DP do TResposta (ms.) 800 700 600 500 400 300 200 100 0 Pré 214 [F(5,90)=4,70, p<0,01] e na interação entre Grupos X Blocos [F(5,90)=3,72, p<0,01]. O teste Post Hoc de Tukey indicou que o GMNP apresentou menor tempo de resposta comparado ao GMP (p<0,05). Na análise do fator Blocos, o 1o bloco da fase de aquisição apresentou maior tempo de resposta comparado ao 2o (p<0,05), 3o, 4o, e 6o blocos (p<0,01, respectivamente). A análise da interação entre Grupos X Blocos mostrou que o 5o bloco do grupo GMP apresentou maior tempo de resposta que o 2o, 3o, 4o e 6o blocos (p<0,01). A análise do desvio padrão do desempenho (Figura 4) indicou diferença significante para o fator Grupos [F(1,18)=0,53, p<0,05] e na interação entre Grupos X Blocos [F(5,90)=3,35, p<0,01]. O teste Post Hoc de Tukey indicou que o GMP apresentou maior variabilidade comparado ao GMNP (p<0,05). A análise da interação entre Grupos X Blocos mostrou que o 5o bloco do GMP apresentou maior variabilidade que o 2o, 3o, 4o e 6o blocos do mesmo grupo (p<0,01). Não houve diferença significativa para o fator Blocos [F(5,90)=2,19, p=0,06]. 1 2 Rev Port Cien Desp 7(2) 209–216 3 4 5 6 Pós Direção da transferência bilateral houve efeito de transferência bilateral para ambos os grupos de prática. Tanto o GMP quanto o GMNP apresentaram uma melhora do desempenho e de sua consistência do pré-teste para o pós-teste. Na fase de aquisição, o grupo que praticou com a mão não-preferencial obteve melhor desempenho e consistência comparado ao grupo que praticou com a mão preferencial. Esse resultado não esperado, pode ter sido gerado mais pelos altos níveis de variabilidade encontrados no bloco 5 da fase de aquisição do que pela maior proficiência geral em todos os blocos por parte do sujeitos do GMNP. O resultado mais interessante refere-se à indicação de uma melhor transferência na direção oposta à observada na tarefa de menor complexidade do primeiro experimento. O GMNP apresentou uma deterioração do desempenho do último bloco da aquisição para o bloco do pós-teste, o mesmo não ocorrendo para o GMP. Este resultado sugere uma melhor transferência da mão preferencial para a mão nãopreferencial em uma tarefa de maior complexidade. Este resultado contraria a hipótese que a melhor direção da transferência ocorre do membro não-preferencial para o preferencial(17), principalmente em tarefas complexas(15). DISCUSSÃO FINAL E CONCLUSÃO A análise conjunta dos resultados dos dois experimentos possibilita inferir que, independente do nível de complexidade das tarefas seriadas utilizadas no estudo, o efeito da transferência bilateral é observado. Esses achados corroboram os resultados de estudos que encontraram efeitos positivos da prática de um determinado membro sobre o membro contralateral(2, 5, 6, 7, 8, 13, 23). Apesar de não ter havido diferença no desempenho entre os grupos no pós-teste, as análises realizadas entre o final da prática e a transferência para o membro homólogo mostraram um efeito da complexidade da tarefa na direção da transferência. Na tarefa de menor complexidade, os sujeitos que praticaram com a mão não-preferencial mantiveram o mesmo desempenho com a mão preferencial na transferência (pós-teste). Para a tarefa de maior complexidade, a melhor direção da transferência ocorreu no sentido contrário, ou seja, os sujeitos que iniciaram a prática com a mão preferencial mantiveram, na transferência, o mesmo desempenho com o membro contralateral. O resultado encontrado na tarefa de maior complexidade contraria a hipótese de Puretz(15), que em tarefas mais complexas, a melhor direção para a transferência entre membros ocorre na direção não-preferencial para a preferencial. Apoiado nos achados de Passarotti, Banich, Sood e Wang(14) e Tinazzi e Zanette(21), é possível inferir que uma maior complexidade leva a uma maior ativação bihemisférica, tendo o sistema se beneficiado desse processo na transferência da aprendizagem do membro preferencial para o não-preferencial. Na direção contrária, esse benefício pode não ser tão claro. Seria possível sugerir que o hemisfério esquerdo (responsável pelo controle da mão preferencial direita) não se beneficie do processamento gerado pelo hemisfério direito ao mesmo nível que o hemisfério direito (responsável pelo controle da mão não-preferencial esquerda) se beneficia do processamento mais especializado na produção de movimentos do hemisfério esquerdo. De acordo com Passarotti, Banich, Sood e Wand(14), os hemisférios cerebrais são dois diferentes processadores que podem acoplar ou desacoplar os seus processos para aumentar as funções cerebrais dependendo das demandas específicas da tarefa. A análise do ocorrido na tarefa de menor complex idade pode ser realizada no mesmo sentido discutido acima. A prática com o membro preferencial direito pode ter levado a ativação somente do hemisfério esquerdo(4, 17) não otimizando assim a transferência para o membro não-preferencial. Níveis iniciais de assimetria de desempenho entre os membros podem ter sido mantidos durante todas as fases do experimento. A análise conjunta dos resultados nos dois experimentos sugere uma restrição na hipótese de Taylor e Heilman(17) sobre os diferentes níveis de ativação hemisférica gerados pela prática de um determinado membro. Devido às evidências, o fator complexidade da tarefa pode ter também um papel decisivo na ativação bihemisférica(4) em habilidades seriadas. Em suma, os presentes achados apontam para um efeito da complex i d ade da tarefa na direção da transferência bilateral em habilidades motoras seriadas. Rev Port Cien Desp 7(2) 209–216 215 Dayane M. Pinho, Guilherme M. Lage, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda NOTA No presente estudo assume-se que o membro direito é o membro preferencial e o membro não-preferencial é o esquerdo. Os resultados de estudos discutidos se referem aos dados obtidos com sujeitos destros. 1 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. CORRESPONDÊNCIA Prof. Guilherme Lage Universidade FUMEC / FCS Faculdade de Ciências da Saúde Departamento de Educação Física Rua da Paisagem, 240 – Vila da Serra Nova Lima – Minas Gerais, Brasil CEP 34000-000 e-mail: menezeslage@gmail.com 216 Rev Port Cien Desp 7(2) 209–216 21. 22. 23. 24. 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O experimento constou de 4 fases: 1) aquisição, 2) transferência 1 (T1), 3) transferência 2 (T2) e 4) retenção da aquisição. Os sujeitos foram divididos aleatoriamente em quatro grupos (n=12): grupo de prática aleatória-aleatória (A-A), que realizou a tarefa de forma aleatória na aquisição e na retenção; grupo de prática aleatória-blocos (A-B), que realizou a aquisição de forma aleatória e a retenção em blocos; grupo de prática em blocos-blocos (B-B), que realizou a aquisição e a retenção em blocos; grupo de prática em blocos-aleatória (B-A), que realizou a aquisição em blocos e a retenção de forma aleatória. Os resultados mostraram que um dos grupos que praticou em regime aleatório apresentou-se mais variável durante a fase de aquisição que os grupos que praticaram em blocos. Entretanto, este mesmo grupo aleatório, no primeiro bloco do teste de retenção da aquisição, mostrou-se mais preciso que um dos grupos em blocos. Esses resultados confirmaram parcialmente o EIC em idosos. ABSTRACT The contextual interference effect in elderly people Palavras-chave: aprendizagem motora, estrutura de prática, interferência contextual. Universidade Presidente Antonio Carlos (UNIPAC) Conselheiro Lafaiete, MG, Brasil 2 Universidade FUMEC Belo Horizonte, MG, Brasil 3 Gedam (Grupo de Estudos em Desenvolvimento e Aprendizagem Motora) Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Brasil The purpose of this study was to investigate the contextual interference effect (CIE) in the acquisition of motor skills in elderly people. A manual positioning task was used, it was characterized by the transport of three tennis ball in a movement sequence and predetermined target times. The experiment consisted of 4 phases: 1) acquisition, 2) transfer 1 (T1), 3) transfer 2 (T2) and 4) retention of the acquisition. The subjects were randomly distributed into four groups: random-random group (R-R), which performed the tasks in a random order in the acquisition and retention; random-blocked group (R-B), which performed the acquisition in a random order and the retention in a blocked order; blocked-blocked group (B-B), which performed the tasks in a blocked order in the acquisition and retention; blocked-random group (B-R), which performed the acquisition in a blocked order and the retention in a random order. The results showed that one of the random groups was more variable during the acquisition compared to the both blocked groups. However, this random group, in the first block of the retention was more precise than one of the blocked groups. These results partially confirm the CIE in elderly people. Key-words: motor learning, structure of practice, contextual interference Rev Port Cien Desp 7(2) 217–224 217 Wesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage, Alexandro B. da Silva, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda INTRODUÇÃO Uma das variáveis de maior influência na aprendizagem motora é a estruturação da prática. A forma como a prática é organizada interfere na qualidade e na quantidade de informações recebidas, processadas e geradas através das restrições impostas ao aprendiz. A área de estudo que investiga os efeitos da ordem de execução de duas ou mais habilidades na aprendizagem motora é conhecida como interferência contextual. A interferência contextual foi primeiramente definida por Battig(2), como a interferência produzida por outras tarefas e as formas pelas quais elas são processadas. De forma geral, os estudos sobre interferência contextual comparam os efeitos das práticas variadas em blocos e aleatória(18, 19, 22, 24). A prática em blocos, considerada de baixa interferência contextual, caracteriza-se pela execução de todas as tentativas de uma determinada habilidade para então iniciar-se as execuções da seguinte (ex. WWW XXX YYY). Já a prática aleatória, considerada de alta interferência contextual, é baseada em uma ordem de execução não sistemática das habilidades a serem praticadas (ex. X W Y W X Y X W Y)(5). Apesar de a prática em blocos produzir melhor performance durante a fase de aquisição, quando a performance dos grupos é comparada nos testes de retenção e transferência, a prática aleatória conduz a um melhor desempenho que a prática em blocos(14). A maioria dos estudos que investigou o efeito da interferência contextual (EIC) contou com crianças, adolescentes ou adultos como sujeitos(1, 22, 24). Dick, Beth, Shankle, Dick-Muehlke, Cotman e Kean(7) e Dick, Hsieh, Dick-Muehlke, Daves e Cotman(8) investigaram a hipótese da variabilidade de prática entre idosos saudáveis e portadores do mal de Alzeimer. Entretanto, apenas o trabalho de Dick, Hsieh, Dick-Muehlke, Daves e Cotman(8) seguiu os delineamentos dos estudos da área de aprendizagem motora, incluindo os testes de retenção e transferência e permitiu, devido ao delineamento utilizado e resultados encontrados, fazer algumas inferências quanto ao EIC em idosos. Participaram desse trabalho 56 idosos saudáveis e 56 idosos portadores do mal de Alzeimer distribuídos em grupos controle, de prática constante, prática em blocos e prática aleatória consistindo de fases de aquisição, transferência 218 Rev Port Cien Desp 7(2) 217–224 próxima, transferência distante ou intermediária e retenção, em uma tarefa de arremessar a um alvo a diferentes distâncias. Os resultados mostraram que os sujeitos portadores do mal de Alzeimer se beneficiaram apenas da prática constante e não conseguiram em nenhum outro regime de prática uma transferência para uma nova tarefa com um nível de dificuldade intermediário. Entre os sujeitos saudáveis, o grupo de prática aleatória apresentou melhor performance que o grupo em blocos na fase de retenção e foi o único grupo a apresentar desempenho superior ao grupo controle durante a fase de transferência distante. No trabalho de Dick, Hsieh, Dick-Muehlke, Daves e Cotman(8) o grupo de prática aleatória não alternava a distância de lançamento a cada tentativa devido à dificuldade de entendimento apresentada pelo grupo portador do mal de Alzeimer. O grupo de prática aleatória limitou-se então, em alternar as distâncias de forma não hierárquica depois de um quarto das tentativas. Esse procedimento pode ter contribuído para um enfraquecimento do efeito da interferência contextual. Dois estudos encontrados preocuparam-se especificamente em investigar o EIC em idosos(4, 6). Del Rey(6) verificou a relação entre nível de atividade física e interferência contextual. O estudo contou com 48 mulheres idosas, distribuídas em grupos de praticantes e não praticantes de atividade física, que realizaram uma tarefa de timing coincidente em regime de prática aleatória e em blocos. Na fase de aquisição, os grupos que praticaram em blocos apresentaram-se mais precisos e menos variáveis. Na interação entre velocidade do estímulo, nível de atividade e contexto de aquisição, para análise do erro constante, verificou-se que nos sujeitos ativos a aquisição de forma aleatória facilitou a retenção da aquisição nas velocidades consideradas mais difíceis (as velocidades mais baixas) para aprendizagem da tarefa investigada (5 e 7 mph) Esses resultados deram suporte para o EIC entre idosos ativos e para relação entre nível de atividade física e função cognitiva em idosos. Nesse trabalho não foi aplicado teste de transferência, o que não permitiu verificar a capacidade de adaptação dessa população a uma nova tarefa, considerando o regime de prática. Carnahan, Vandervoort e Swanson(4), com o objetivo de discutir o EIC em função dos efeitos da idade na Efeito da interferência contextual em idosos aquisição de habilidades, contaram com um grupo de jovens além de um grupo de idosos com 24 sujeitos divididos em grupos de prática aleatória e em blocos. A tarefa do estudo foi pressionar, o mais rápido o possível, três diferentes seqüências pré-determinadas de um conjunto de quatro teclas na região alfanumérica de um computador. O teste de retenção da aquisição foi aplicado com metade das tentativas executadas de forma aleatória e metade de forma em blocos. O teste de transferência, como no estudo de Del Rey(6), também não foi aplicado por Carnahan e colegas(4). Os resultados apontaram para um limitado efeito da interferência contextual em idosos, pois apenas na fase de retenção e apenas em uma seqüência de movimentos, na seqüência teoricamente mais difícil segundo os autores do estudo, foi verificado o EIC, com o grupo de prática aleatória executando a tarefa mais rápido que o grupo de prática em blocos. Com o avanço da idade, o desempenho motor e cognitivo decresce e a prática de atividade física pode interferir positivamente, minimizando as perdas decorrentes da terceira idade(20, 21). Apesar de serem mais lentos nas medidas de desempenho, devido possivelmente a déficits de processamento central, como dificuldade na seleção das informações, dificuldades em ignorar informações irrelevantes e na tomada de decisão, os idosos apresentam capacidade de se adaptar tanto às demandas ambientais quanto à aprendizagem motora(9, 12). Todavia, pouco se sabe como a estruturação da prática pode contribuir para a aprendizagem nessa população. Assim, o objetivo deste estudo é verificar o EIC na aprendizagem de uma tarefa de posicionamento manual em idosos. em uma seqüência e tempo alvo pré-determinados entre 3 conjuntos de 2 recipientes de uma plataforma identificados com as letras A, B e C. Uma central de controle ligada a um microcomputador, constituída por um conjunto de diodos (estímulo visual para o início da tarefa) e uma chave de respostas (controle dos tempos para início e fim da tarefa) foi controlada por um software que mediu os tempos de reação, de movimento e de resposta em cada tentativa e armazenou esses dados (Figura 1). Antes de cada tentativa, era fornecida a informação da seqüência de movimentos a ser realizada através da apresentação de um cartão de 8 x 11 cm. Ao sinal “prepara”, fornecido pelo experimentador, a chave era pressionada, e, após um estímulo visual (acendimento dos diodos), a chave era solta, medindo o tempo de reação, devendo então se iniciar o transporte das bolas de tênis com a mão dominante na seqüência pré-definida em determinado tempo alvo. Ao término da seqüência de posicionamento das bolas, a chave era pressionada novamente medindo o tempo de movimento e caracterizando o fim da tarefa. Figura 1. Esquema do aparelho utilizado no experimento. MATERIAL E MÉTODO A amostra foi constituída por 48 sujeitos de ambos os sexos, com idade média de 66,45 ± 4,89 anos, todos participantes de um programa de atividades físicas da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (UFMG). Os sujeitos não relataram qualquer patologia e nunca haviam tido contato com a tarefa utilizada. Todos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido para participarem do estudo. Foi utilizada uma tarefa de posicionamento manual, caracterizada pelo transporte de três bolas de tênis Os sujeitos foram designados aleatoriamente para quatro grupos experimentais (n=12): grupo de prática aleatória-aleatória (A-A), que realizou a tarefa de forma aleatória na aquisição e na retenção da aquisição; grupo de prática aleatória-blocos (A-B), que realizou a aquisição de forma aleatória e a retenção da aquisição em blocos; grupo de prática em blocos-blocos (B-B), que realizou a aquisição e a retenção da aquisição em blocos; grupo de prática em blocos-aleatória (B-A), que realizou a aquisição em blocos e a retenção da aquisição de forma aleatória. Rev Port Cien Desp 7(2) 217–224 219 Wesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage, Alexandro B. da Silva, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda O experimento constou de quatro fases: 1) aquisição, 2) transferência 1 (T1), 3) transferência 2 (T2) e 4) retenção da aquisição (R). Na aquisição, os grupos praticaram 45 tentativas de três diferentes seqüências de movimento (A/B/C; C/B/A; B/C/A) em um tempo alvo de 3.500ms, sendo que os grupos B-B e B-A praticaram em blocos, executando 15 tentativas consecutivas de cada tarefa, na ordem apresentada acima, e os grupos A-A e A-B praticaram aleatoriamente, não repetindo consecutivamente a mesma tarefa ao longo da fase de aquisição. Antes de iniciar a fase de prática, cada sujeito, sem restrição de tempo, realizou uma tentativa de cada seqüência de movimentos para familiarização com o equipamento e os procedimentos. Foi fornecido feedback qualitativo em direção e magnitude para todos os sujeitos cinco segundos após o final de cada tentativa válida durante a fase de aquisição. Se o sujeito realizou a tarefa exatamente no tempo alvo foi dito: “você acertou”, se o sujeito apresentou o erro absoluto até 100ms, foi dito: “você está próximo”, se o erro absoluto foi entre 100 e 250ms foi dito, conforme o caso: “você está um pouco atrasado” ou “você está um pouco adiantado” e caso o erro absoluto tenha sido superior a 250ms do tempo alvo, foi dito, de acordo com a direção desse erro: “você está muito atrasado” ou “você está muito adiantado”. O teste de transferência (T1) foi realizado três minutos após a aquisição, no qual os sujeitos realizaram 12 tentativas de uma nova tarefa (C/A/B), com complex idade similar, em termos de números de componentes envolvidos na execução, às tarefas da aquisição e no mesmo tempo alvo, sem fornecimento de feedback. O segundo teste de transferência (T2) foi realizado três minutos após o término do primeiro, no qual os sujeitos realizaram 12 tentativas de uma nova seqüência (C/A/B/A), sem fornecimento de feedback, com um tempo alvo de 4.500ms e complexidade maior que as anteriores, pois possuía quatro componentes, consistindo no retorno da bola do recipiente A para sua posição original. No teste de retenção da aquisição foram realizadas 12 tentativas das mesmas seqüências (A/B/C; C/B/A; B/C/A) praticadas na fase de aquisição, com o mesmo tempo alvo e sem o fornecimento de feed- 220 Rev Port Cien Desp 7(2) 217–224 back. Ressalta-se que, apesar das seqüências da fase de retenção da aquisição serem as mesmas da fase de aquisição, os grupos B-A e A-B realizaram a fase de retenção da aquisição com um regime de prática inverso ao que tinham praticado na aquisição (Tabela 1). Esse procedimento foi aplicado no sentido de analisar a influência da especificidade da prática durante o teste de retenção e a capacidade de adaptação de um regime de prática a outro(18). Tabela 1. Regime de prática dos grupos experimentais nas fases de aquisição e retenção da aquisição. Grupos experimentais Ordem de execução das tarefas na fase de aquisição e teste de retenção Aquisição Retenção A-A A-B B-B B-A Aleatória Aleatória Blocos Blocos Aleatória Blocos Blocos Aleatória As variáveis dependentes analisadas nesse estudo foram as médias do erro absoluto (ms) e as médias do desvio-padrão do erro absoluto (ms). Os dados da fase de aquisição foram organizados em nove blocos de cinco tentativas cada. Os testes de transferência e retenção da aquisição foram organizados em blocos com média de seis tentativas cada. Isto se justifica pela escolha da execução de duas tentativas de cada uma da seqüências de movimento, tanto na estrutura de prática que foi aplicada na fase de aquisição, como na estrutura de prática não vivenciada na aquisição. RESULTADOS Erro Absoluto Para a fase de aquisição (Figura 1), foi conduzida uma ANOVA two-way (4 grupos x 9 blocos) com medidas repetidas no segundo fator que não indicou diferença significante entre grupos [F(3,44)=0,44, p=0,72], assim como não indicou interação entre grupos e blocos [F(24,352)=1,25, p=0,19]. Houve diferença significante entre blocos [F(8,24)=24,08, p<0,001] e o teste Post Hoc de Tukey registrou diferença entre o primeiro e os demais blocos de tentativas (p<0,001). Efeito da interferência contextual em idosos Para comparação entre o último bloco de tentativas da fase de aquisição e os testes foi conduzida uma ANOVA two-way (4 grupos x 7 blocos) com medidas repetidas no segundo fator que não indicou diferenças entre grupos [F(3,44)=1,05,p=0,38]. Observou-se diferença significante entre blocos [F(6,18)=13,12,p<0,001] e o teste Post Hoc de Tukey registrou as seguintes diferenças: o último bloco de tentativas da fase de aquisição foi mais preciso que os primeiros blocos dos testes T1 e T2, segundo bloco do teste T2 e que os dois blocos da retenção (p<0,05); o primeiro bloco do T1 foi menos preciso que o segundo bloco do T1, segundo bloco do T2 e que os dois blocos da fase de retenção (p<0,001); o primeiro bloco do T2 foi menos preciso que o segundo bloco do T2 e que os dois blocos da retenção (p<0,001). Foi também observada interação entre grupos e blocos [F(18,264)=1,68,p<0,05] e o teste Post Hoc de Tukey registrou as seguintes diferenças: o grupo B-A foi mais preciso no último bloco de tentativas da fase de aquisição que em seu primeiro bloco do teste de retenção (p<0,01); o grupo A-B foi mais preciso que o grupo B-A no primeiro bloco do teste de retenção (p<0,01); o primeiro bloco do T1 do grupo B-B foi mais preciso que o seu segundo bloco (p<0,05); o segundo bloco do T2 do grupo B-B foi mais preciso que o seu primeiro bloco (p<0,01). A-A Erro Absoluto (ms) A-B 800 B-B 700 B-A 600 500 400 300 200 100 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 T1 T1 T2 T2 Blocos de Tentativas Figura 2. Erro absoluto dos grupos experimentais nas fases de aquisição e testes. R R Desvio-padrão do erro absoluto Para fase de aquisição (Figura 2), foi conduzida uma ANOVA two-way (4 grupos x 9 blocos) com medidas repetidas no segundo fator que indicou diferença significante entre grupos [F(3,44)=3,24,p<0,05] e o teste Post Hoc de Tukey registrou maior variabilidade do grupo A-B sobre B-B (p<0,05). Observou-se também diferença significante entre blocos [F(8,24)=4,25,p<0,01] e o teste Post Hoc de Tukey indicou maior variabilidade, com exceção do 4º bloco de tentativas, do primeiro para os demais blocos (p<0,01). Houve ainda interação entre grupos e blocos [F(24,352)=2,06,p<0,01] e o teste de Post Hoc Tukey registrou as seguintes diferenças: maior variabilidade do grupo A-B sobre os grupos B-A (p<0,001) e B-B (p<0,05) no terceiro bloco de tentativas; maior variabilidade do primeiro sobre o último bloco do grupo A-A (p<0,01); maior variabilidade do primeiro sobre o 2º, 3º, 5º, 6º, 8º e último bloco do grupo B-B (p<0,01). Para a comparação entre o último bloco de tentativas da fase de aquisição e os testes foi conduzida uma ANOVA two-way (4 grupos x 7 blocos) com medidas repetidas no segundo fator que não encontrou diferença significante para grupos [F(3,44)=1,57,p=0,209]. Entretanto, observou-se diferença para blocos [F(6,18)=9,08,p<0,001] e o teste Post Hoc de Tukey registrou as seguintes diferenças:o último bloco de tentativas da fase de aquisição apresentou menor variabilidade que os primeiros blocos de tentativas dos testes T1 e T2 (p<0,01); o primeiro bloco do T1 apresentou maior variabilidade que o segundo bloco desse mesmo teste, primeiro e segundo blocos do T2 e que os dois blocos da retenção (p<0,01); o segundo bloco do T1 apresentou menor variabilidade que o primeiro bloco do T2 (p<0,01); o primeiro bloco do T2 foi mais variável que o segundo bloco desse mesmo teste e que os dois blocos da retenção (p<0,01). Houve também interação entre grupos e blocos [F(18,264)=2,12, p<0,01] e o teste Post Hoc de Tukey indicou as seguintes diferenças: maior variabilidade do primeiro sobre o segundo bloco de tentativas no T1 do grupo A-A (p<0,001) e grupo B-B (p<0,05); maior variabilidade do primeiro sobre o segundo bloco do T2 no grupo B-B (p<0,001). Rev Port Cien Desp 7(2) 217–224 221 Wesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage, Alexandro B. da Silva, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda Desvio Padrão do Erro Absoluto (ms) A-A A-B 500 B-B 450 B-A 400 350 300 250 200 150 100 50 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 T1 T1 T2 T2 R R Blocos de Te ntativas Figura 3. Desvio-padrão do erro absoluto nas fases de aquisição e testes. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO O objetivo do estudo foi verificar o efeito da interferência contextual na aprendizagem de uma tarefa de posicionamento manual em idosos. Os resultados mostraram que houve considerável queda no erro absoluto e aumento na consistência entre os grupos no decorrer da fase de aquisição, confirmando a melhora no desempenho já observada em outros estudos(6, 8, 9). Em relação à variabilidade, os grupos apresentaram consistência semelhante no último bloco de tentativas da fase de aquisição. Entretanto, na análise de toda a fase de aquisição, o grupo A-B apresentou-se mais variável que o grupo B-B. Assim como mostrou-se mais variável que os grupos que praticaram em blocos, B-B e B-A, no terceiro bloco de tentativas, resultado que está de acordo com Del Rey(6) e os pressupostos do EIC de forma geral. Nos estudos que confirmam o EIC, o grupo de prática aleatória apresenta melhor desempenho nos testes, principalmente naqueles em que é exigida uma maior complexidade da tarefa(3, 4, 6, 8, 18). No presente estudo os grupos apresentaram desempenho semelhante durante os testes de transferência. Em relação à igualdade de desempenho verificada nos testes de transferência, vale ressaltar que houve uma tendência entre os sujeitos, quando foi retirado o feedback e apresentado novas tarefas, de focalizarem a atenção na correta execução da seqüência, sacrificando a precisão temporal em prol da precisão espacial. Segundo Larish e Stelmach(9) essa população tende a valorizar aspectos espaciais, como a cor- 222 Rev Port Cien Desp 7(2) 217–224 reta seqüência, em detrimento da precisão temporal ou velocidade de execução. Logo, essa estratégia pode ter contribuído para igualar os grupos durante os testes de transferência. A interpretação dos resultados dos testes de transferência, quando utilizados nos estudos, ainda não está clara. Segundo Schmidt(13), os efeitos da manipulação da prática poderiam influenciar os aspectos da aprendizagem tanto na retenção quanto na transferência. Magill e Hall(10) confirmam que quando os efeitos do EIC são encontrados na retenção tendem a aparecer também nos testes de transferência. Por sua vez, Sekiya e Magill(15) confirmaram o EIC nos testes de retenção e transferência, somente quando houve manipulação de parâmetros. Eles afirmam que seus resultados são limitados ao delineamento utilizado, pois a transferência carece de mais estudos e pode depender do que está sendo variado na prática e mensurado no estudo, como parâmetros ou programas. O presente estudo variou programas durante a prática e segundo Magill e Hall(10), o EIC tende a ser confirmado quando se procede dessa maneira. Entretanto, uma série de trabalhos tem contestado essa afirmação, sugerindo que a variação de parâmetros seria a condição mais provável para verificar os efeitos da interferência contextual(15, 16, 17, 19). Mesmo assim, os resultados mostraram uma dificuldade de adaptação do grupo que praticou em blocos durante a aquisição e foi exigido em um regime aleatório na fase de retenção, grupo B-A. Este grupo apresentou uma queda no desempenho durante o primeiro bloco da retenção, quando comparado com seu último bloco de tentativas da fase de aquisição. Observou-se também superioridade do grupo A-B sobre o B-A no primeiro bloco do teste de retenção. Esses resultados estão de acordo com o trabalho de Shea e Morgan(18) e Carnahan, Vandervoort e Swanson(4) e demonstram certa rigidez da estrutura de prática em blocos para se adaptar a uma nova condição de prática. No sentido contrário, observa-se uma maior capacidade do grupo de prática aleatória em se ajustar a uma nova condição de prática. Del Rey(6), ao contrário do presente estudo, verificou na fase de retenção uma menor precisão e consistência do grupo que praticou de forma aleatória durante a aquisição. Os resultados do teste de retenção contribuem para conclusão de um efeito parcial da interfe- Efeito da interferência contextual em idosos rência contextual e vai ao encontro de outros resultados observados na literatura(4, 11, 23). Sob uma perspectiva de desenvolvimento, o EIC em idosos não tem sido consistentemente investigado. De forma geral, os poucos estudos realizados comprovaram parcialmente(4, 6, 8) os efeitos benéficos da prática aleatória para essa população. A análise dos resultados dos estudos encontrados na literatura e os do presente estudo não apresenta evidências claras do EIC em idosos em todos os contextos de testes. Pode-se destacar os efeitos positivos da prática aleatória em idosos em alguns aspectos dos testes de retenção. Dele Rey(6) e Carnahan e colegas(4) encontraram um maior efeito de aprendizagem por parte dos sujeitos do grupo de prática aleatória somente nas tarefas que esses autores definiram como as mais difíceis. Esses aspectos foram a velocidade do estímulo(6) e a ordem espacial dos eventos(4). No presente estudo, um fator que confirma parcialmente os efeitos da interferência contextual em idosos em aspectos de maior exigência, foi a melhor adaptação do grupo A-B comparado ao B-A no 1º bloco da retenção quando os mesmos praticaram as mesmas habilidades exigidas na aquisição, porém em uma outra estrutura de prática. Resultados inconsistentes sobre o EIC vêm também sendo encontrados quando os sujeitos analisados se encontram em outros níveis de desenvolvimento. De acordo com Ugrinowitsch e Manoel(22), estudos realizados com crianças tendem a não confirmar o EIC, enquanto um maior número de confirmações é encontrado em pesquisas com sujeitos adultos. Esses resultados sugerem que muito por ser esclarecido em relação ao EIC e níveis de desenvolvimento. Em suma, o presente estudo fornece subsídios para se confirmar parcialmente o efeito da interferência contextual em idosos, mostrando maior potencial de adaptação a um novo regime de prática do grupo que praticou de forma aleatória. Seria interessante a investigação de outras questões envolvendo o EIC e idosos, como distinção na aprendizagem de parâmetros e programas e complexidade da tarefa. Assim sendo, novos estudos que investiguem o EIC com idosos precisam ser realizados. CORRESPONDÊNCIA Wesley Rodrigo Gonçalves Rua Monsenhor João Martins, 2144 Bairro Novo Progresso – Contagem / MG 32140-470 Brasil e-mail: wesleyrgoncalves@hotmail.com Rev Port Cien Desp 7(2) 217–224 223 Wesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage, Alexandro B. da Silva, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda REFERÊNCIAS 1. Arnone-Bates M, Hebert E, Titzer R (1999). The contextual interference effect with children learning an applied task. Research Quarterly for Exercises and Sport 70: a-65. 2. Battig WE (1979). 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Os resultados mostraram que: i) não se verificaram diferenças estatisticamente significativas no equilíbrio em função do sexo; ii) os idosos do sexo masculino apresentaram menor medo de cair que os do sexo feminino; iii) os praticantes de actividade física apresentaram maior equilíbrio e menor medo de cair do que os não praticantes; iv) verificou-se uma associação positiva entre o medo de cair e o equilíbrio, entre o medo de cair e a prática de actividade física e entre o equilíbrio e a prática de actividade física. Conclui-se que, em idosos institucionalizados, o sexo não influencia o equilíbrio mas influencia negativamente o medo de cair e que a ocorrência de quedas não parece ter grande impacto no medo de cair. Os resultados deste trabalho sugerem ainda que a prática de actividade física está associada a um maior equilíbrio e a um menor medo de cair. ABSTRACT Physical activity, balance and fear of falling. A study with institutionalized older people The aim of the present study was to investigate the relationship between fear of falling, balance and physical activity in institutionalized older adults. Fifty six subjects aged 65 or older living in nursing homes participated in this study. Balance, fear of falling and the occurrence of falls during the last 12 months were assessed as risk factors for falls. The results showed: (i) no significant differences in balance according to gender; (ii) men reported less fear of falling than women; (iii) active elderly subjects showed significantly higher values of balance and less fear of falling compared to non-participants peers; (iv) a positive association was observed between fear of falling and balance, between fear of falling and physical activity and between balance and physical activity. We concluded that gender did not influence balance but negatively affects fear of falling. Participation in physical activity programs seems to be associated and to have positive effects on balance and fear of falling. Key-words: aging, falls, balance, fear of falling, physical activity Palavras-chave: envelhecimento, quedas, equilíbrio, medo de cair, actividade física. Rev Port Cien Desp 7(2) 225–231 225 Joana Carvalho, Joana Pinto, Jorge Mota INTRODUÇÃO A população idosa é, actualmente, uma realidade demográfica cada vez mais significativa na população mundial. Por exemplo, em Portugal, entre 1960 e 2001, o fenómeno do envelhecimento demográfico traduziu-se por um incremento de 140% da população idosa com decréscimo de cerca de 36% na população jovem(12). O número de idosos institucionalizados tem vindo a aumentar, quer em lares, centros de dia ou casas de repouso. Em Portugal, cerca de 33% dos utentes ligados a estabelecimentos de segurança social, são idosos, nomeadamente 12% em lares, 11% em apoio domiciliário e 10% em centros de dia(12). Viver na comunidade ou em instituições são duas condições de vida distintas geralmente associadas a diferenças nos índices de actividade física e níveis de incapacidade(10). Apesar de, muitas vezes, os idosos serem institucionalizados ainda com um nível de autonomia bastante elevado, a habitual desobrigação da realização de várias das tarefas do dia a dia neste contexto, contribui para o aumento da inactividade, para a redução da aptidão física e consequentemente, para o aumento do risco de quedas, da morbilidade e mortalidade(10). As quedas são um dos mais sérios problemas associados com a idade e um dos maiores problemas de Saúde Pública(3, 13). Vários trabalhos mostram que 40 a 60 % dos indivíduos acima dos 65 anos já experimentaram pelo menos uma queda, sendo esta mais frequente nos utentes de lares e nas mulheres (23). São vários os factores relacionados com a maior susceptibilidade de ocorrência de quedas e consequentes fracturas, facilitadas pela desmineralização óssea comum neste escalão etário(3, 6). Entre outros, a diminuição do equilíbrio e o medo de cair são aspectos determinantes em todo este quadro(3). Estudos como os de Tinetti et al.(29) e MacAuley et al.(16) referem o medo de cair como um factor psicológico presente em 50% das pessoas idosas reportando uma experiência prévia de queda. As alterações do equilíbrio e o medo de cair afectam a auto-confiança, repercutindo-se negativamente na quantidade de actividade física diária, nos níveis de aptidão física e no envolvimento das actividades da vida diária (AVD), factos estes que por sua vez contribuem para o isolamento social e aumento da 226 Rev Port Cien Desp 7(2) 225–231 dependência de outrem(14, 27, 3). Assim, parece existir um ciclo vicioso negativo entre a inactividade, o fraco equilíbrio, o medo de cair e a maior probabilidade de ocorrência de quedas(3). A prática de actividade física regular tem sido referida como uma importante e eficaz estratégia de prevenção das quedas(15) ao promover o aumento dos níveis de aptidão física e de auto-confiança na realização de tarefas do dia a dia, particularmente nos idosos com maior grau de incapacidade(4). Tomando em consideração o atrás exposto, o objectivo deste estudo consistiu em determinar qual a relação entre o medo de cair, o equilíbrio e a prática de actividade física em idosos institucionalizados. Para além disso, este trabalho procurou analisar a influência das variáveis sexo e prática de actividade física regular sobre o equilíbrio e o medo de cair. Por fim, pretendeu-se observar de que forma é que a história de quedas nos últimos doze meses influenciam o medo de cair. MATERIAL E MÉTODOS Amostra Participaram voluntariamente 58 voluntários residentes em 2 lares da região de Guimarães. A presença de patologias crónicas e o uso de medicamentos foram obtidos através de informação reportada pelos sujeitos da amostra e pelo médico assistente do corpo clínico das instituições a que pertenciam, mediante autorização prévia dos idosos. Pelas próprias características dos sujeitos, a amostra inicial foi alterada de forma a serem controladas todas as variáveis que poderiam influenciar nos resultados finais. Assim, foram excluídos 2 indivíduos, um por apresentar problemas de visão e outro pelo facto de se encontrar sob efeito farmacológico de anti-depressivos. Assim, a amostra final passou a ser constituída por 56 indivíduos com idades compreendidas entre os 65 e os 95 anos (idade média=77.5±7.8 anos), dos quais 32 do sexo feminino e 24 do sexo masculino. A avaliação da prática regular de actividade física estruturada (no período de 12 meses prévios ao inicio do presente estudo) para posterior classificação e alocação dos idosos em grupos, foi efectuada através de um questionário que incluiu questões referentes ao tipo de atividade física praticada, a freqüência Actividade física e quedas em idosos semanal de tal prática e a duração das sessões de treinamento. Consideraram-se praticantes os indivíduos que participavam regularmente em, pelo menos, sessões bissemanais de actividade física estruturada, com uma duração de pelo menos 50 minutos e dirigidas para várias componentes de aptidão física (treino de resistência aeróbia, força muscular, equilíbrio, flexibilidade e coordenação). Os idosos foram assim subdivididos em dois grupos em função dos hábitos de prática actividade física regular: P - praticantes de actividade física envolvendo 28 sujeitos com idades compreendidas entre os 65 e os 92 anos (idade média=77.1±7.2 anos), dos quais 16 mulheres e 12 homens e NP - não praticantes de actividade física compreendendo 28 indivíduos com idades compreendidas entre os 65 e os 95 anos (idade média=79.4±8.1 anos), dos quais 16 mulheres e 12 homens. Através do questionário determinou-se, também, a ocorrência de quedas no período de doze meses anteriores ao estudo. Foram considerados os aspectos éticos referidos na Declaração de Helsínquia (1986) da Associação Médica Mundial, incluindo a adequada informação dos participantes em relação ao estudo, a manutenção da sua confidencialidade e anonimato através da codificação dos participantes, assim como, a obtenção do seu consentimento informado escrito antes de se efectuar a recolha de dados. Avaliação do medo de cair Para avaliar o medo de cair utilizou-se a versão portuguesa da Falls Efficacy Scale (FES). Este instrumento foi desenvolvido para medir o medo de cair por Tinetti et al.(29), tendo sido validado para a população portuguesa por Melo(17). É baseado na definição operacional de medo como “percepção de diminuta auto-confiança para evitar quedas durante tarefas essenciais, potencialmente não lesivas”(29). Esta escala mede o medo de cair, perguntando-se ao individuo qual o grau de confiança que tem na realização de determinadas tarefas sem cair ou perder o equilíbrio. É constituída por um questionário com 10 tarefas (vestir e despir; preparar uma refeição ligeira; tomar um banho ou duche; sentar/levantar da cadeira; deitar/levantar da cama; atender a porta ou o telefone; chegar aos armários; trabalho doméstico ligeiro; fazer pequenas compras) que são avaliadas numa escala de 10 pontos, onde o zero (0) representa nenhuma confiança e o 10 muito confiante. Assim, após somatório dos valores, aqueles mais baixos significam pouca confiança ou maior medo de cair, e aqueles mais altos significam muita confiança ou menor medo de cair. Avaliação do equilíbrio Para a avaliação do equilíbrio utilizou-se a versão portuguesa da Performance-Oriented Mobility Assessment (POMA I). Este instrumento foi desenvolvido por Tinetti(28) e validado para a população portuguesa por Petiz(21). Estima a predisposição para quedas em idosos institucionalizados através da avaliação quantitativa de um conjunto de tarefas relacionadas com a mobilidade e o equilíbrio. Está dividido em duas partes que totalizam 28 pontos onde quanto mais alto o valor melhor o equilíbrio. A primeira parte diz respeito à avaliação do equilíbrio estático, com 9 itens, dos quais dois são pontuáveis de 0 a 1 e sete de 0 a 2, permitindo um máximo de 16 pontos. A segunda parte avalia o equilíbrio dinâmico e envolve 10 itens dos quais oito são pontuáveis de 0 a 1 e dois de 0 a 2 num total de 12 pontos. De acordo com Petiz(21), a versão portuguesa da POMA I apresenta elevada homogeneidade de conteúdo (&=0,97) e fiabilidade após teste-reteste (r de Pearson=0,96). A validade de critério deste teste de equilíbrio foi, também, estudada, tendo sido utilizados, para o efeito, o functional reach test e o timed up and go test, para o equilíbrio estático e dinâmico, respectivamente(21). A autora descreveu elevadas correlações entre os testes anteriormente referidos, comprovando a validade de critério, quer da sub-escala de equilíbrio estático (r=0,78), quer do equilíbrio dinâmico (r=0,89). Procedimentos estatísticos A descrição das variáveis em estudo foi efectuada a partir das medidas descritivas média e desviopadrão. Procedeu-se a uma análise exploratória dos dados (Shapiro-Wilk) com o objectivo de averiguar a normalidade da distribuição correspondente a cada uma das variáveis em estudo, assim como a presença de Rev Port Cien Desp 7(2) 225–231 227 Joana Carvalho, Joana Pinto, Jorge Mota “outliers”. A análise das diferenças entre os grupos foi efectuada a partir do t-teste de medidas independentes e do teste Mann-Whitney. De forma a averiguar o grau de correlação existente entre as variáveis medo de cair, equilíbrio e prática de actividade física utilizamos o coeficiente de correlação de Spearman. Foi seleccionado um nível de significância de 5%. RESULTADOS Influência do sexo no equilíbrio e medo de cair O quadro 1 representa os valores relativos ao teste de equilíbrio (POMA) e ao medo de cair (FES) de acordo com a variável sexo. Quadro 1. Valores médios do equilíbrio e medo de cair em função do sexo (média± desvio padrão). Sexo Homens Mulheres Equilíbrio Medo de cair 23.5±4.15 20.94±6.54 68,79±15,99* 51,72±23,18 Relação entre o medo de cair, equilíbrio e prática de actividade física O quadro 3 representa a matriz de correlação das diferentes variáveis analisadas. Quadro 3. Matriz de correlação entre o equilíbrio, o medo de cair e a prática de actividade física. Medo de cair Medo de cair Equilíbrio Actividade Física Equilíbrio Actividade física 1 0.76** 0.47** 0.76** 1 0.67** 0.47** 0.67** 1 **p<0.01 Influência da actividade física no equilíbrio e medo de cair No quadro 2 podemos visualizar a comparação entre idosos praticantes e não praticantes de actividade física relativamente ao equilíbrio e medo de cair. Verifica-se uma associação positiva e estatisticamente significativa (r=0.76; p<0.01) entre as variáveis medo de cair (pontuação da FES) e equilíbrio (pontuação do POMA). É possível verificar que um aumento ao nível da pontuação da FES, que indicia um menor medo de cair, é, tendencialmente, acompanhado por um maior equilíbrio. Constata-se a existência de uma associação positiva e estatisticamente significativa (r=0.47; p<0.01), entre as variáveis medo de cair e prática de actividade física. Existe, igualmente, uma associação positiva e estatisticamente significativa (r=0.67; p<0.01) entre as variáveis equilíbrio e a prática de actividade física. O quadro 4 apresenta os resultados obtidos na FES, relativos ao medo de cair, em função da história de quedas anteriores (últimos 12 meses). Quadro 2. Valores médios do equilíbrio e medo de cair em função da prática de actividade física (média± desvio padrão). Quadro 4. Medo de cair em função da história de quedas (média± desvio padrão). *Homens vs. Mulheres (p<0.05) Podemos constatar que não foram encontradas diferenças com significado estatístico entre homens e mulheres no equilíbrio (Mann-Whitney U=303.50, p=0.18), apresentando, no entanto, os homens pontuações médias na FES significativamente superiores comparativamente com as mulheres (Mann-Whitney U=225, p=0.01), sugerindo que estas apresentam um maior medo de cair. Equilíbrio Medo de cair Praticantes Não praticantes Ocorrência de quedas n Medo de cair 25.68 ± 2.78 69.14 ±16.45 18.39 ± 5.65 48.93 ± 22.37 Sim Não 21 35 49.33±22.87 64.86±19.49 A análise do quadro anterior mostra que os valores médios do POMA e FES dos praticantes de actividade física são significativamente superiores aos dos 228 não praticantes (t(39.34)=-6.13, p<0.001 e t(54)=3.85, p<0.001, respectivamente), sugerindo que os idosos que praticam actividade física têm maior equilíbrio e menor medo de cair comparativamente aos não praticantes. Rev Port Cien Desp 7(2) 225–231 Podemos constatar que não foram encontradas diferenças com significado estatístico no medo de cair em função da história de quedas recentes. Actividade física e quedas em idosos DISCUSSÃO Um dos objectivos deste trabalho foi identificar o efeito da variável género sobre o equilíbrio e medo de cair em sujeitos idosos institucionalizados como factor importante para o risco de quedas. Os resultados deste estudo mostraram não existirem diferenças entre homens e mulheres na capacidade de equilíbrio. Embora a maioria dos estudos descreva a existência de diferenças no equilíbrio entre homens e mulheres, a ausência de diferenças observadas no presente estudo têm também sido descritas por outros autores. Por exemplo, Hageman et al.(9) não relataram nenhuma diferença entre homens e mulheres idosos (60-75 anos) nas medidas de controlo postural observadas, quer mediante a utilização de uma plataforma de forças, quer no teste de “functional reach”. Mais recentemente, Musselman e Brouwer(19) também não encontraram diferenças entre géneros nos limites de estabilidade. Contudo, a comparação destes resultados com estudos anteriores é, de certo modo, limitada dadas as diferenças nas metodologias, amostra e protocolos utilizados. Os estudos que reportam diferenças entre homens e mulheres na capacidade de equilíbrio justificam os seus resultados, quer em factores músculo-esqueléticos nomeadamente ao nível dos membros inferiores(5), quer nos diferentes padrões de actividade física(32). Assim, e considerando que os idosos da nossa amostra são institucionalizados, onde as diferenças nos índices de actividade física em função do género não são tão evidentes, este facto poderá justificar os nossos resultados. De facto, nenhum dos estudos que refere o maior equilíbrio dos homens foi efectuado em idosos institucionalizados ao contrário da presente investigação. No que respeita ao medo de cair, os resultados do nosso estudo estão de acordo com diferentes trabalhos que referem que as mulheres idosas apresentam mais medo de cair do que os homens idosos(14, 25). Autores como Tinetti et al.(30) e McAuley et al.(16) sugerem que o menor medo de cair nos indivíduos do sexo masculino comparativamente aos do sexo feminino, poderá estar relacionado com o facto de os homens não reconhecerem esse medo, evitando um potencial estigma. De facto, a quantificação do medo de cair, através da escala FES, depende da resposta dos indivíduos em estudo a uma série de questões e, consequentemente, os resultados poderão ser manipulados por estes, no caso de não responderem com sinceridade às perguntas que lhes são colocadas. Para além destes factores, alguns estudos justificam o facto de as mulheres apresentarem um maior medo de cair dado o seu maior declínio na funcionalidade do sistema muscular esquelético comparativamente aos homens(18, 14). Outro dos objectivos do presente estudo está relacionado com a influência da actividade física formal sobre o equilíbrio e o medo de cair dos idosos institucionalizados. Os nossos resultados sugerem que os idosos que praticam actividade física apresentam melhores resultados no POMA, ou seja, melhor mobilidade e equilíbrio, quando comparados com aqueles que não praticam actividade física. Este facto está de acordo com a literatura, onde a maioria dos estudos sugere que a prática de actividade física regular é eficaz no aumento de equilíbrio(20, 1, 7) e que, pelo contrário, um estilo de vida sedentário associado com o envelhecimento leva à sua consequente diminuição(24). Isto significa que, as estratégias que induzam melhorias a este nível são fundamentais para a prevenção de quedas. O equilíbrio é, então, uma capacidade que deverá ser desenvolvida nestes escalões etários mais velhos, particularmente naqueles mais inactivos e mais incapacitados como é o caso da maioria dos idosos institucionalizados(10). No que diz respeito ao medo de cair, e em concordância com estudos anteriores(16, 26, 2, 22) observamos no presente estudo que os indivíduos praticantes de actividade física apresentavam valores mais altos da FES, isto é, menor medo de cair comparativamente com aqueles que não praticavam actividade física. Recentemente, Schoenfelder e Rubenstein(22) verificaram que um programa de exercícios com duração de três meses induziu melhorias significativas no equilíbrio e na diminuição do medo de cair avaliada, tal como no presente estudo, através da escala da FES. Taggart(26) obteve resultados semelhantes, tendo demonstrado o efeito benéfico observado pelo aumento do equilíbrio e uma diminuição do medo de cair que um programa de actividade física baseado no Tai Chi teve em mulheres idosas institucionalizadas. O medo de cair é comum entre os idosos, particularmente entre os idosos institucionalizados, sendo considerado como um factor de risco independente para Rev Port Cien Desp 7(2) 225–231 229 Joana Carvalho, Joana Pinto, Jorge Mota a redução da mobilidade e da qualidade de vida(2, 8). Neste sentido, o medo da queda é uma barreira psicológica importante que necessita de ser vencida de forma a favorecer estilos de vida mais activos. No presente trabalho foi possível verificar a existência de uma associação positiva e significativa entre a pontuação da FES, que indicia um menor medo de cair, com um maior equilíbrio. Suzuki et al.(25) verificaram que ter muito medo de cair estava fortemente associado não apenas com uma diminuição do equilíbrio mas igualmente com a redução da mobilidade, da actividade física e com o aumento de quedas. De igual modo, Brouwer et al.(2) sugerem que indivíduos que apresentam reduzidos níveis de equilíbrio apresentam uma elevada preocupação com a ocorrência de quedas e pouca confiança no seu próprio equilíbrio, limitando, por consequência, as suas actividades. Ou seja, existe um ciclo vicioso onde a inactividade acentua a perda funcional determinante na manutenção do equilíbrio postural e, por seu lado, esta perda de equilíbrio e o medo de cair restringem a actividade quotidiana do idoso(2). A actividade física, pelo contrário, ao influenciar positivamente capacidades como a força muscular e o equilíbrio e reduzir o medo de cair poderá ajudar a “quebrar” este ciclo, devolvendo a funcionalidade, a autonomia e a qualidade de vida aos idosos(15). Por fim no nosso estudo não foram encontradas diferenças com significado estatístico no medo de cair entre idosos com e sem história de quedas recentes (12 meses). Tinetti e Williams(31) relatam uma prevalência do medo de cair em cerca de 50- 60% dos idosos com história de queda recente e 20-46% naqueles que não tem história de queda. Em oposição ao nosso estudo, diversos estudos retrospectivos demonstram que, após ocorrências de uma queda, se desenvolve um maior medo de cair(11, 14). Todavia, escasseiam estudos prospectivos que determinem com clareza qual o risco de ocorrência de quedas em idosos que apresentem medo de cair. Os resultados deste estudo sugerem que: i) apesar dos homens apresentarem menor medo de cair, não existem diferenças na capacidade de equilíbrio entre homens e mulheres; ii) a prática de actividade física está associada a um maior equilíbrio e menor medo de cair; iii) a história de quedas recentes não 230 Rev Port Cien Desp 7(2) 225–231 influência sobremaneira o medo de cair de idosos institucionalizados. O presente estudo reforça a importância da prática de actividade física como uma estratégia preventiva para a menor ocorrência de quedas, uma vez que parece influenciar positivamente o equilíbrio e o medo de cair em idosos institucionalizados. CORRESPONDÊNCIA Joana Carvalho Faculdade de Desporto Universidade do Porto Rua Plácido Costa, 91 4200 Porto, Portugal Telefone: 351-22-5074785 Fax: 351-22-5500689 e-mail: jcarvalho@fade.up.pt Actividade física e quedas em idosos REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. Barnett A, Smith B, Lord SR, Williams M, Baumand A (2003). Community-based group exercise improves balance and reduces falls in at-risk older people: a randomised controlled trial. Age Ageing 32: 407-414. Brouwer BJ, Walker C, Rydahl SJ, Culham EG (2003). Reducing fear of falling in seniors through education and activity programs: a randomized trial. J Am Geriatr Soc 51(6): 829-34. Carter ND, Kannus P, Khan KM (2001). 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Wojcik LA, Thelen DG, Schultz AB, Ashton-Miller JA, Alexander NB (1999). Age and gender differences in single-step recovery from a forward fall. J Gerontol 54(1): M44-M50. Rev Port Cien Desp 7(2) 225–231 231 Situações de estresse no vôlei de praia de alto rendimento: um estudo de caso com uma dupla olímpica Joice Stefanello Departamento de Educação Física Universidade Federal do Paraná Brasil RESUMO O estresse competitivo é um dos factores psicológicos mais determinantes para o desempenho esportivo no alto rendimento, pois, neste contexto, os atletas são submetidos às mais diversas pressões competitivas. Este estudo, realizado com uma dupla masculina do vôlei de praia brasileiro, primeira colocada no ranking nacional/internacional da modalidade (2003), pretendeu analisar as situações geradoras de estresse aos atletas nas etapas do circuito mundial 2004 que antecederam sua participação nos Jogos Olímpicos de Atenas, como os atletas vivenciaram o estresse competitivo e que técnicas de controle do estresse utilizaram. Para a coleta de dados, usou-se um segmento específico do instrumento de feedback de execução (adaptado de Ravizza, 1991), onde os atletas registravam as situações estressantes de cada partida, o modo como vivenciavam o estresse e as técnicas de controle empregadas. Os resultados demonstraram que os fatores situacionais foram os mais determinantes e, dentre estes, os aspectos relacionados ao jogo foram os fatores específicos mais influentes, tendo na facilidade/dificuldade da partida a principal fonte de estresse para os atletas. Os pensamentos e as emoções/sensações corporais corresponderam ao principal modo como o estresse foi vivenciado; e as técnicas cognitivas (auto-informe, concentração, imaginação), as mais empregadas pelos atletas. ABSTRACT Situations of stress in high performance beach volley: a case study with an olympic pair Palavras-chave: estresse competitivo, vôlei de praia, alto rendimento 232 Rev Port Cien Desp 7(2) 232–244 Competitive stress is one of the most determining psychological factors to high performance sport, for, in that context, the athletes face all kinds of competitive pressure. This research, done with a brasilian beach volley Olympic pair, first on the national/international ranking (2003), intends to analyse the stress-generator situations for athletes in the 2004 World Tour, which preceded their participation on the Athens Olympic Games, how the athletes lived competitive stress and what stress-controlling techniques they used. The data were collected with a specific performance feedback instrument (adapted from Ravizza, 1991), in which the athletes registered their every-game stressing situations, how they lived them and the controlling techniques used. Results show that situational elements were the most determinating and, among them, the game-related aspects were the most influent specific factors, being the difficulty/easyness of the match the main source of stress for the athletes. Thoughts and body emotions/sensations correspond to the main way through which athletes face stress; the cognitive techniques (self-information, concentration, imagination), the most used by the athletes. Key-words: competitive stress, beach volley, high performance Situações de estresse no vôlei de praia INTRODUÇÃO O estresse competitivo tem sido considerado um dos factores psicológicos mais determinantes para o desempenho esportivo, especialmente no alto rendimento. Nesse contexto, os atletas são, frequentemente, submetidos aos mais diversos tipos de pressão competitiva, tendo de superar limites de forma vigorosa e manter a efectividade e a regularidade do seu desempenho diante dos mais elevados níveis de ex igências físicas, técnicas, tácticas e psicológicas(8, 32, 36). Os diferentes tipos de pressão que o atleta sofre durante a competição podem gerar altos níveis de estresse, transformando-se em factores negativos e redutores do desempenho. Níveis elevados de estresse, em geral, aumentam a tensão muscular e criam déficits de atenção. Uma tensão muscular excessiva reduz a flexibilidade, a coordenação motora e a eficiência muscular, impedindo que os atletas adoptem rápidos comportamentos e padrões motores para evitar situações perigosas ou agir de maneira apropriada a um bom rendimento. Os déficits de atenção causam redução da capacidade de atenção, dúvidas acerca da capacidade pessoal, maior vulnerabilidade ou predisposição para a distracção e maior atenção a aspectos irrelevantes à tarefa(5, 17, 19, 25, 34). A competição esportiva, contudo, nem sempre representa uma fonte de estresse para o atleta. A experiência prática e a pesquisa empírica têm demonstrado que para alguns atletas a competição esportiva pode representar uma forte ameaça ao seu bem estar físico, psicológico e social e, para outros, pode ter um carácter desafiador e motivador. Compreende-se, assim, que o estresse pode ser gerado por situações directa ou indirectamente relacionadas a elas ou por situações inerentes ao processo competitivo, dependendo do próprio indivíduo e/ou do meio ambiente (10, 32, 33). Uma situação de estresse, portanto, só irá se manifestar quando houver um desequilíbrio entre a condição da acção individual e a condição situacional; isto é, quando ocorrer uma discrepância entre as capacidades da pessoa e as exigências da situação, ou entre as suas necessidades e as possibilidades de satisfazê-las, com importantes consequências para o indivíduo(35, 36). As respostas dos atletas para os eventos competitivos parecem, pois, depender da avaliação da demanda e da qualidade de recursos que o indivíduo dispõe para lidar com cada situação. Assim, da mesma forma que situações já vivenciadas poderão influenciar as respostas dos atletas, novos conhecimentos e experiências poderão fazer com que o atleta desenvolva um sistema integrado de estruturas e conteúdos que irão interferir na sua análise. Por outro lado, as características e especificidades da modalidade esportiva também exercem um importante papel na compreensão do estresse competitivo, pois quando as características da modalidade são aliadas à pressão da competição, as situações geradoras de estresse para o atleta poderão assumir uma proporção ainda maior(8, 9, 27). Nessa perspectiva, a compreensão do estresse competitivo num contexto específico torna-se fundamental para que o atleta aprenda a manter o controle e o estado de fluidez e equilíbrio necessários para ser bem sucedido. O conhecimento das situações geradoras de estresse e do modo como os atletas vivenciam essas situações em diferentes contextos são partes importantes do processo de tomada de consciência, considerado um elemento crítico para que o atleta obtenha o necessário autocontrole para actuar num alto nível de rendimento(34). A tomada de consciência, além de permitir que o atleta reconheça seus pontos fortes e frágeis para potencializar suas capacidades e corrigir seus déficits, permite que o atleta se prepare mentalmente para a competição e desenvolva estratégias apropriadas para fazer frente àquelas situações que podem afectar negativamente a sua actuação esportiva. Contudo, apesar de o vôlei de praia de alto rendimento ser um esporte extremamente dinâmico, no qual o atleta precisa desenvolver e colocar à prova um repertório de padrões e estratégias adequados aos mais elevados níveis de exigências competitivas, ainda há uma grande carência de investigações acerca das variáveis que predispõem atletas dessa modalidade a experimentarem uma maior ou menor percepção de ameaça na competição e, consequentemente, maior ou menor estresse, embora muitas investigações tenham examinado a natureza e a intensidade das respostas de estresse durante a competição em diferentes modalidades esportivas(7, 17, 23, 28, 41). Assim, baseado no trabalho de suporte psicológico desenvolvido com uma dupla masculina de atletas profissionais do vôlei de praia brasileiro, este estudo Rev Port Cien Desp 7(2) 232–244 233 Joice Stefanello procurou analisar as situações geradoras de estresse para os atletas nas etapas do circuito mundial que antecederam a sua participação nos Jogos Olímpicos de 2004, como os atletas vivenciaram o estresse competitivo nessas situações e quais as técnicas mais eficientes de controle do estresse utilizadas pela dupla para eliminar ou minimizar os efeitos das situações estressantes sobre seu rendimento esportivo. Cuidados éticos Inicialmente, atletas e comissão técnica foram informados a respeito do trabalho a ser realizado (aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa de uma Universidade Federal) e das formas de divulgação dos resultados. Foi assegurado aos atletas que poderiam afastar-se do estudo no momento em que desejassem, obtendo-se, assim, o consentimento, a adesão e o comprometimento do grupo para o trabalho pretendido. mento psicológico (fase de prática), os atletas deveriam reconhecer seus pontos fortes e frágeis frente às diversas situações de pressão competitiva, procurando integrar, em situações competitivas reais e de forma sistemática na sua actuação esportiva, as competências psicológicas treinadas na fase anterior (fase de aquisição de técnicas e estratégias psicológicas), a fim de potencializar suas capacidades (pontos fortes) e corrigir seus déficits (pontos fracos), de modo a obter o necessário autocontrole para actuar no seu mais alto nível de rendimento. O treinamento psicológico envolveu várias competências psicológicas, porém apenas os aspectos relacionados ao estresse competitivo foram abordados no presente estudo. Dessa forma, um segmento específico do instrumento feedback de execução, adaptado de Ravizza(34), destinado à avaliação do estresse competitivo em situações competitivas reais, foi empregado. O instrumento feedback de execução (modelo completo em anexo) é uma técnica que auxilia o atleta a reconhecer as situações que tendem a afectar negativamente o seu rendimento, aumentando a sua conscientização acerca da sua própria actuação e permitindo-lhe desenvolver estratégias de confronto para enfrentá-las apropriadamente. No segmento específico do feedback de execução utilizado no presente estudo, os atletas deveriam registrar as situações geradoras de estresse em cada partida, o modo como vivenciavam o estresse (pensamentos, ações e/ou sensações) e as técnicas e/ou estratégias psicológicas utilizadas para manter ou recuperar o autocontrole diante dos diferentes agentes estressantes. O preenchimento da ficha era feito por escrito pelos próprios atletas 30 minutos após o encerramento de cada partida, para que pudessem reflectir sobre os acontecimentos do jogo e sobre a sua actuação. Coleta de dados É importante ressaltar que o período referente à colecta dos dados tratados especificamente neste estudo (Maio a Agosto) correspondeu, apenas, a uma das fases do programa de treinamento de competências psicológicas, contemplando seis etapas do circuito mundial que antecederam os Jogos Olímpicos de 2004 (etapas da China, Sérvia e Montenegro, Portugal, Suíça, Alemanha e Noruega), totalizando 26 jogos. Durante essa fase do treina- APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS De acordo com os objectivos propostos, serão apresentados, primeiramente, os resultados referentes às situações consideradas pelos atletas como geradoras de estresse; em seguida, os dados relativos ao modo como os atletas experimentaram as situações estressantes (pensamentos, acções e/ou sensações) e, por fim, as técnicas psicológicas utilizadas pelos atletas para eliminar ou minimizar os efeitos dos factores estressantes sobre seu rendimento esportivo. METODOLOGIA Participantes do estudo Este estudo de caso descritivo foi realizado com uma dupla masculina de atletas profissionais do vôlei de praia, primeira colocada no ranking nacional (campeã do circuito brasileiro) e internacional (campeã do circuito mundial e campeã mundial) em 2003, tendo por base o trabalho de suporte psicológico desenvolvido, por cerca de dois anos, durante a sua preparação para as Olimpíadas de Atenas (2004). As idades dos atletas eram de 29 e 31 anos (Atletas A e B, respectivamente) e ambos já haviam participado de olimpíadas anteriores: em 1996 (Atleta B) e 2000 (Atletas A e B). Importante ressaltar que não são conhecidos dados de atletas de alto rendimento nessa modalidade. 234 Rev Port Cien Desp 7(2) 232–244 Situações de estresse no vôlei de praia Os dados de cada atleta foram analisados, individualmente, de acordo com os procedimentos propostos por Giglione e Matalon(11) para a análise de conteúdo. Dessa forma, inicialmente, os indicadores referidos pelos atletas em cada jogo (situações geradoras de estresse, modo como o estresse foi experimentado e estratégias utilizadas) foram listados tal como expressos pelos atletas, sem excluir ou agrupar qualquer item. Em seguida, considerando os 26 jogos disputados pela dupla, juntaram-se num único indicador os itens referidos pelos atletas que apresentavam significados comuns (proposições idênticas ou com o mesmo complemento), obtendo-se, assim, o percentual com que cada indicador foi apontado pelos atletas nos 26 jogos analisados. Todos esses indicadores foram, posteriormente, analisados e discutidos conjuntamente com os atletas (uma vez que faziam parte do trabalho de suporte psicológico desenvolvido com a dupla), assegurando-se, assim, a sua confiabilidade. Situações causadoras de estresse Tomando por base o estudo desenvolvido por De Rose Junior, Deschamps e Ko r s a kas com atletas profissionais de basquetebol(8), as situações consideradas pelos atletas do vôlei de praia como geradoras de estresse que apresentavam características similares foram agrupadas em fontes específicas de estresse (lesões, competência, conduta dos adversários, facilidade/dificuldade da partida, arbitragem, torcida, condições climáticas, equipe, organização dos jogos), que, por sua vez, foram classificadas em factores específicos de estresse (aspectos físicos, estados psicológicos, jogo, planejamento/organização), que, quando novamente agrupados em função da sua origem e/ou características, foram categorizados em factores gerais de estresse (individuais e situacionais). Os Quadros 1 e 2 mostram as situações, as fontes e os factores (específicos e gerais) de estresse vivenciados pelos Atletas A e B, respectivamente. Quadro 1. Situações, fontes e factores (específicos e gerais) de estresse vivenciados pelo Atleta A Fatores Situacionais (61,3%) O percentual apresentado entre parêntese no Quadro 1 corresponde ao número de jogos em que cada situação, fonte e factores (específicos e gerais) de estresse foram vivenciados pelo atleta A, considerando os 26 jogos disputados. Rev Port Cien Desp 7(2) 232–244 235 Joice Stefanello Quadro 2. Situações, fontes e factores (específicos e gerais) de estresse vivenciados pelo Atleta B O percentual apresentado entre parêntese no Quadro 2 corresponde ao número de jogos em que cada situação, fonte e factores (específicos e gerais) de estresse foram vivenciados pelo atleta B, considerando os 26 jogos disputados. Conforme indicam os Quadros 1 e 2, os factores situacionais predominaram em relação aos individuais. Os factores situacionais, referindo-se aos aspectos objectivos do evento, estão relacionados com a natureza imediata da situação estressante e ocorrem a partir de situações que são comuns ao 236 Rev Port Cien Desp 7(2) 232–244 contexto competitivo. Os factores pessoais ou individuais, voltados às tentativas individuais de resolução de um problema, dependem quase exclusivamente do indivíduo(8). Apesar de representarem situações diferenciadas, vale ressaltar que ambos os factores estão intimamente relacionados, isto é, a avaliação Situações de estresse no vôlei de praia situacional está relacionada com a selecção individual de respostas para um dado problema(24). Dessa forma, o presente estudo dá ênfase aos processos de avaliação cognitiva, que, de acordo com alguns estudiosos(5, 14, 38), assumem o papel de mediador entre as circunstâncias ambientais enfrentadas, os objectivos e as crenças pessoais dos atletas e sua resposta emocional, sendo considerados o primeiro estágio no processo de resolução de um problema. De acordo com essa perspectiva teórica, o estresse competitivo depende da avaliação que o atleta faz das exigências, dos recursos que julga dispor para lidar com essas exigências, da avaliação das conseqüências se essas exigências não forem correspondidas e do significado que as possíveis consequências terão para ele(14). Assim, tal como se poderá perceber nos dados analisados a seguir, a avaliação de uma circunstância como ameaçadora, parecem não depender apenas do perigo objectivo inerente a cada situação, mas também das características individuais da pessoa, das suas experiências passadas e da sua própria capacidade de controle. Fatores competitivos situacionais O jogo foi o principal factor específico situacional de estresse vivenciado pelos atletas, aparecendo em 53,6% das partidas disputadas pelo Atleta A e em 80,6% das partidas disputadas pelo Atleta B. Como fontes de estresse mais significativas relacionadas a esse factor, encontrou-se a facilidade/dificuldade da partida, a competência dos atletas e a conduta dos adversários. A facilidade/dificuldade da partida pareceu ser a fonte de estresse mais influente, sendo referida em 15,3% e 34,6% dos jogos, respectivamente, para os Atletas A e B e decorreram do bom desempenho dos adversários, por um lado, e da inferioridade técnica destes, por outro. A facilidade/dificuldade da tarefa/jogo como fonte de estresse também foi encontrada num estudo conduzido com atletas adultos masculinos de basquetebol, todos com participação em Jogos Olímpicos e/ou Campeonatos Mundiais(8). Para os autores desse estudo, a displicência gerada em jogos considerados mais fáceis, leva muitas vezes a um aumento dos níveis de estresse e a um mau desempenho, ocasionando, inclusive, derrotas inesperadas. Contrariamente, tem-se constatado que quando o desafio é maior do que a percepção da capacidade do atleta em superá-lo, sua preocupação poderá conduzi-lo a um excesso de inquietude e ansiedade, impedindo-o de actuar no seu nível potencial(19), tal como pareceu ocorrer com os atletas do vôlei de praia diante da inferioridade técnica dos adversários. A competência, envolvendo capacidades e habilidades no desempenho de movimentos específicos, pareceu ser responsável pelo estresse competitivo do Atleta A em 11,5% dos jogos, sendo decorrente dos erros de passe/levantamento e da dificuldade em marcar pontos. No caso do Atleta B (15,3%), deu-se devido aos erros cometidos (ataque/levantamento) e à ineficácia do ataque (ataque defendido consecutivamente). Em jogadores olímpicos de basquetebol(8), a competência também demonstrou ser uma importante fonte de estresse. Os atletas desse estudo reconheceram que errar, repetir os mesmos erros ou não tentar, omitindo-se no jogo, são situações comuns de estresse durante as partidas. Também, num estudo sobre o estresse psíquico em atacantes de voleibol(32), não superar uma marcação específica de um jogador durante uma partida constituiu-se numa situação muito estressante para os atletas, assim como a falha do levantador, colocando o atacante em uma situação de pressão e cobrança. A conduta dos adversários teve nas provocações/atitudes desafiadoras dos oponentes as situações de estresse mais significativas para ambos os atletas do vôlei de praia (em 11,5% e 15,4% dos jogos, respectivamente, para os Atletas A e B). Em atletas olímpicos de basquetebol(8), os adversários também tiveram sua parcela de contribuição para elevar os níveis de estresse dos atletas. Para os autores desse estudo, isso ocorre mais em função de comportamentos como provocar e usar de deslealdade para tentar parar um jogador, do que da capacidade técnica ou da ameaça que os adversários representam para a equipe. Estudos com jogadores de voleibol(29, 32) d e m o n straram que as intimidações ou provocações dos adversários partem de gestos, palavras e olhares, muitas vezes, sutis e imperceptíveis para a arbitragem e, em outras vezes, acontecem de forma mais acintosa e directa, podendo, inclusive, levar o atleta a uma atitude mais agressiva. Tem-se evidenciado, Rev Port Cien Desp 7(2) 232–244 237 Joice Stefanello ainda, que o uso sistemático, intencional e planejado da guerra psicológica pelo adversário(5) visa a debilitar o rendimento do atleta, através do aumento da ansiedade e/ou nervosismo, da diminuição da autoconfiança e dos consequentes erros e dificuldades, pois quebra a atenção/concentração, perturba a preparação psicológica e mental do atleta, quebra o rendimento e provoca estados emocionais e psicológicos extremamente vulneráveis e pouco adequados às tomadas de decisão ou processamento da informação. As condições climáticas (vento/frio durante as partidas) também foram fontes de estresse para os atletas do vôlei de praia (11,5% dos jogos), assim como os erros de arbitragem (para o Atleta A) e a torcida contra (para o Atleta B), presentes em 3,8% dos jogos. O planejamento/organização, por sua vez, representando o segundo factor competitivo situacional encontrado para os atletas dessa modalidade, teve como fonte de estresse mais significativa a organização dos jogos (7,7%), especialmente, devido a demora em iniciar a partida. Tanto as condições climáticas quanto o planejamento/organização dos jogos, parecem constituir-se em potenciais fontes de estresse para os atletas do vôlei de praia, por ocasionar alguma influência na actuação dos atletas e na sua preparação para a competição, impedindo-os de actuar no seu nível potencial. Alguns autores(31, 35, 39, 40) têm referido que variações climáticas, ruídos/estímulos visuais (movimentação e agitação da torcida), fadiga, pressão dos adversários e arbitragem constituem distracções características de determinadas modalidades, podendo influenciar nos níveis de activação e de ansiedade dos atletas. Em outros estudos, englobando situações relacionadas à estrutura administrativa das equipes ou entidades esportivas, o planejamento/organização dos jogos(8) e as situações ou acontecimentos imprevistos(5, 21) também representaram significativas situações de estresse para os atletas. Fatores competitivos individuais Nessa categoria, os aspectos físicos foram os factores específicos de estresse encontrados para ambos os atletas do vôlei de praia, assim como os estados psicológicos para o Atleta B. Quanto aos aspectos físicos, as lesões pareceram ser as principais fontes de estres- 238 Rev Port Cien Desp 7(2) 232–244 se para ambos os atletas (11,5% e 3,8% dos jogos, respectivamente para os Atletas A e B) e os estados físicos (para o Atleta B em 11,5% dos jogos), representados pelo desconforto muscular/corporal e cansaço físico. Por outro lado, a pressão interna (para o Atleta B, em 3,8% dos jogos), teve nas reacções do próprio atleta frente aos erros cometidos a principal fonte específica de estresse. Os aspectos físicos, também para atletas olímpicos de basquetebol(8), têm sido apontados como um importante factor individual de estresse, estando relacionados às condições físicas dos atletas (tal como jogar mal preparado) e às contusões. Resultados semelhantes também foram encontrados em esportes como atletismo, patinação artística, futebol, handebol e natação(1, 14, 21, 22). Os estados psicológicos, representados por fontes como medos/inseguranças, expectativas/objectivos e pressões internas, também corresponderam a factores específicos de estresse para atletas olímpicos de basquetebol(8). Nesse estudo, as pressões internas tiveram destaque e mostraram que a maioria dos atletas tinha muita responsabilidade, conhecendo seu papel como atleta de alto nível, apresentando um nível de autocobrança muito elevado e não aceitando o erro. Ainda, as expectativas dos níveis de rendimento esperados e exigidos (preocupação com o fato de ter que render em nível de suas capacidades; preocupação com companheiros e/ou expectativas dos outros; dúvidas pessoais quanto à actuação física, técnica e/ou psicológica; medo ou receio de falhar numa situação importante e/ou de ter um rendimento inadequado; medo ou receio de lesões) também foram apontados por diferentes estudiosos(5, 13, 18) como principais factores geradores de estresse no esporte de alto rendimento. Esses dados parecem reforçar a ideia de que o grau de ameaça percebido (do qual se originam os sentimentos de preocupação e ansiedade, característicos de uma situação de estresse) depende da avaliação que o atleta faz do contexto global da situação, ou seja, da comparação que ele estabelece entre as exigências da situação e a relevância, a congruência motivacional, as opções, os recursos pessoais e as perspectivas de confronto que o atleta julga dispor para conseguir o êxito desejado(5). Situações de estresse no vôlei de praia Quadro 3. Modo como o estresse foi vivenciado pelos Atletas Modo como os atletas vivenciaram o estresse No presente estudo, o modo como os atletas vivenciaram o estresse competitivo corresponde às consequências por eles percebidas como decorrentes das situações geradoras de estresse. Dessa maneira, as respostas dos atletas do vôlei de praia às situações geradoras de estresse foram agrupadas, tal como sugere Ravizza(34), em três categorias gerais: pensamentos, emoções/sensações corporais e acções (Quadro 3). Os pensamentos pareceram representar o principal modo pelo qual o Atleta A vivenciou o estresse competitivo (38,4% dos jogos), enquanto as emoções/sensações corporais foram a forma como o estresse pareceu se manifestar no caso do Atleta B (61,5%). Os pensamentos voltados para a preocupação com a própria actuação (15,4%) e com a necessidade de buscar novamente a concentração (11,5%) foram comuns a ambos os atletas. Por outro lado, enquanto o pensamento do Atleta A esteve voltado para o receio de lesões (11,5%), os pensamentos do Atleta B estiveram centrados na necessidade de buscar novos meios para pontuar (7,7%) e na dor originada pela contusão (3,8%). As emoções e/ou sensações corporais pareceram estar, no caso do Atleta A, relacionadas à irritação com erros, adversários e arbitragem (15,4%) e à falta de ânimo/motivação diante da inferioridade dos adversários (15,4%). Para o Atleta B, o estresse competitivo pareceu manifestar-se por meio da ira/irritação diante das provocações ou atitudes desafiadoras dos adversários (15,4%), da impaciência diante dos erros cometidos (7,7%), da falta de motivação (11,5%) e apatia (7,7%) diante dos adversários mais fracos, do cansaço/desconforto corporal (11,5%) e do despreparo no início do set (7,7%). No que diz respeito às acções, o estresse competitivo Rev Port Cien Desp 7(2) 232–244 239 Joice Stefanello vivenciado pelo Atleta A manifestou-se na pouca agressividade de algumas jogadas (11,7%), na sua passividade em outras (7,7%) e numa maior agressividade em 7,7% das suas ações. No caso do Atleta B, o estresse competitivo tornou-o pouco agressivo em 11,5% dos jogos, displicente em 7,7% das partidas e calado diante das provocações dos adversários em 7,7% dos jogos disputados. Alguns estudos também têm demonstrado que o estresse competitivo pode apresentar sintomas negativos na área mental, física e comportamental, manifestando-se por meio da preocupação, medo, ansiedade, dificuldade de concentração(3, 31), confusão, esquecimento de detalhes, volta a antigos hábitos e incapaci- dade para tomar decisões(5, 19), oscilação nos níveis de activação(15, 37), sensação de fadiga, sensação de frio, aceleração do ritmo cardíaco, aumento da tensão arterial, respiração mais rápida(5, 19), perda da motivação, agressividade, nervosismo, irritabilidade (15), falta de confiança e performances fracas(12, 30, 35). O que se percebe, é que pensamentos pouco apropriados ou erróneos, geralmente, conduzem a sentimentos negativos e a uma execução pobre e que os pensamentos que se centram na pessoa, especificamente, são os que causam maiores problemas aos atletas(20). Quando os indivíduos se orientam no sentido interno, preocupando-se demasiadamente com o seu próprio bem-estar e sentimentos, a sua Quadro 4. Técnicas utilizadas pelos atletas para o controle do estresse. 240 Rev Port Cien Desp 7(2) 232–244 Situações de estresse no vôlei de praia preocupação poderá conduzir a reacções físicas e mentais aumentadas, interferindo consideravelmente na actuação dos atletas: a sua capacidade de prever e interpretar estímulos externos e informações relevantes reduz-se; a sua inquietude acerca de uma actuação iminente gera ansiedade (somática e/ou cognitiva); a sua tolerância diante da frustração e da dor diminui (tendendo à irritação e à queixa); e os seus erros são maximizados e interpretados como mais desastrosos do que na realidade o são(19, 20). A oscilação nos níveis de activação dos atletas durante uma partida, por sua vez, tem sido referido(37) como um factor que pode levar um atleta destacado a performances fracas. Alguns estudiosos(2, 19, 31) têm constatado que as motivações para a competição e as sensações positivas que acompanham as realizações esportivas podem levar a um aumento da activação positiva, promovendo um estado ideal de execução, enquanto que a ansiedade, o aborrecimento, a raiva e o medo do fracasso parecem repercutir num aumento da activação negativa, deteriorando o desempenho do atleta. Além disso, estados emocionais, como euforia, raiva, irritabilidade, entre outros, especialmente quando intensos e persistentes, parecem consumir rapidamente a energia do atleta, contribuindo para o surgimento de um estado de fadiga (cansaço físico ou emocional)(12, 30). Diante desses achados, parece ser plausível que o estresse competitivo não depende apenas do perigo objectivo inerente à situação, mas também do modo como o atleta o percebe e a ele reage. Técnicas para o controle do estresse As técnicas para o controle do estresse correspondem às estratégias de intervenção utilizadas conscientemente pelos atletas diante das situações geradoras de estresse e das suas consequências sobre a actuação do esportista. Essas técnicas objectivam auxiliar o atleta a obter o necessário autocontrole para actuar no seu mais alto nível de rendimento esportivo, evitando interferências provenientes de distracções internas e externas sobre o seu desempenho. No presente estudo, as técnicas ou estratégias referidas pelos atletas do vôlei de praia para manter e/ou recuperar o seu autocontrole foram agrupadas em técnicas cognitivas e somáticas. As técnicas cognitivas, as mais utilizadas por ambos os atletas, baseiam sua acção na modificação ou no ajuste dos principais determinantes do comportamento (pensamento, percepção, memória, afecto, linguagem). Essas técnicas ressaltam que, para ocorrer uma melhora na conduta ou nos estados emocionais, o sujeito deve promover uma mudança nos pensamentos subjacentes a esses comportamentos(5, 35). Essa ideia reforça o entendimento de que os processos de avaliação cognitiva cumprem um importante papel como mediadores do estresse e da ansiedade no contexto esportivo, auxiliando os atletas a manter o autocontrole e o equilíbrio necessários a uma boa actuação. Dentre as técnicas cognitivas referidas pelos atletas do vôlei de praia, o auto-informe ou monólogo interno foi a mais utilizada. O Atleta A valeu-se do autoinforme em 30,7% dos jogos, recorrendo à estratégia de pensamento positivo para a manutenção da tranquilidade e autoconfiança. O Atleta B utilizou-se do auto-informe em 42,2% dos jogos, recorrendo ao pensamento positivo (23%) e a mudança de pensamento para esquecer os erros cometidos (19,2%). O auto-informe, conversa interna do praticante com ele mesmo(2), objectiva bloquear ou modificar pensamentos e estados emocionais negativos, compreendendo desde experiências silenciosas até vocalizações em voz baixa. Alguns estudiosos(4, 20, 30) também têm apontado que o auto-informe pode ser utilizado para a reprogramação de técnicas/estratégias a fim de evitar a repetição de erros, para manter a mente focalizada, para o controle do esforço e manutenção do estado de ânimo e para a promoção/manutenção da autoconfiança e expectativa de êxito. Dentre as estratégias mais referidas na literatura(4, 20, 34) para manutenção do autocontrole estão também a interrupção de pensamentos negativos ou contraproducentes, a manutenção de pensamentos positivos e a mudança de pensamento. Os atletas do vôlei de praia fizeram, ainda, uso das técnicas cognitivas de concentração e de imaginação. O Atleta A recorreu à técnica de concentração em 11,5% dos jogos, voltando seu pensamento para a próxima acção. O Atleta B utilizou-se da técnica de concentração em 24,5% dos jogos, procurando focar sua atenção nas próprias acções/jogo (7,7%), pensar no próximo ponto (11,5%), não ouvir as provoca- Rev Port Cien Desp 7(2) 232–244 241 Joice Stefanello ções dos adversários (11,5%) e descobrir as falhas ou os pontos fracos dos adversários (3,8%). As técnicas de concentração objectivam ajudar o atleta a desenvolver a conscientização sobre factores que desviam sua atenção e por que o fazem, permitindo- l h e modificar aspectos do seu rendimento e/ou trabalho que são ineficientes e distanciar-se de padrões de comportamento e pensamentos negativos ou não produtivos(31). Usar palavras-chave para focalizar a atenção, concentrar-se na situação presente, na tarefa a realizar, nos momentos decisivos da actuação esportiva e na próxima acção também foram algumas das estratégias referidas na literatura científica(31, 35, 40) para auxiliar os atletas diante dos agentes estressantes. A técnica de imaginação foi utilizada pelo Atleta A em 11,5% dos jogos, por meio da mentalização/visualização dos movimentos antes de cada acção. O Atleta B usou a imaginação em 23% dos jogos para lembrar dos gestos (3,8%) e das melhores acções (11,5%) e vivenciar os bons momentos (7,7%). A técnica da imaginação consiste na repetição planejada da imaginação consciente de uma acção esportiva, sendo apontada(6, 20, 35, 39, 40) como uma importante ferramenta psicológica para melhorar o rendimento dos atletas e utilizada com sucesso para a manutenção de competências motoras, para a regulação da activação, para o controle de respostas emocionais e para a promoção da autoconfiança. As técnicas somáticas, embora num menor percentual, também foram empregadas pelos atletas do vôlei de praia (Atleta A em 19,2% dos jogos e Atleta B, em 38,4% dos jogos). A técnica somática mais utilizada pelos atletas foi a respiração, em 19,2% dos jogos (diminuição da frequência respiratória, com uma expiração mais forte). O Atleta B fez uso também do movimento para melhorar o seu nível de activação, movimentando-se mais rapidamente em 11,5% dos jogos e procurou extravasar a tensão e a raiva vivenciadas durante alguns jogos, gritando (7,7%). As técnicas somáticas são intervenções voltadas para o ajuste de reacções corporais como tensão muscular, frequência cardíaca e frequência respiratória, a fim de oportunizar maior controle sobre o estresse, a ansiedade e o aperfeiçoamento motor(2). Alguns estudos(2, 19, 35) também têm evidenciado que o aumento da frequência respiratória (com uma ins- 242 Rev Port Cien Desp 7(2) 232–244 piração mais forte) é bastante eficiente diante de situações que requerem aumento nos níveis de activação do atleta, assim como a diminuição da frequência respiratória (com uma expiração mais forte) tem conseguido reduzir os níveis de activação dos atletas, propiciando o relaxamento e a diminuição da tensão gerada pela pressão competitiva. Por outro lado, o aumento da intensidade do movimento (movimentação mais rápida) tem sido eficaz para aumentar os níveis de activação dos atletas, na intenção de auxiliálos a actuar mais proximamente ao seu estado ideal de execução em diferentes momentos da competição, assim como a diminuição da intensidade do movimento (movimentação mais lenta) tem contribuído para reduzir os seus níveis de activação, quando estes demonstram ser excessivos(2). CONCLUSÃO No presente estudo, para ambos os atletas, as situações geradoras de estresse relacionadas aos factores situacionais predominaram em relação aos fatores individuais. Dentre os factores competitivos situacionais, o factor jogo foi o principal factor específico de estresse vivenciado pelos atletas, tendo na facilidade/dificuldade da partida a fonte de estresse mais influente, devido, especialmente, ao bom desempenho dos adversários e à inferioridade técnica destes. A competência, a conduta dos adversários e as condições climáticas foram as demais fontes de estresse relacionadas ao factor jogo que se mostraram significativas aos atletas. A competência esteve associada, principalmente, aos erros cometidos; a conduta dos adversários, às provocações/atitudes desafiadoras destes; e, as condições climáticas, ao vento/frio durante as partidas. Por outro lado, os factores competitivos individuais mais influentes para os atletas foram os aspectos físicos. Destes, o medo/receio de lesões foi a fonte de estresse mais evidente para o Atleta A, enquanto os estados físicos, como desconforto muscular/corporal e cansaço físico, foram os mais significativos para o Atleta B. O modo como os atletas vivenciaram o estresse competitivo manifestou-se nos seus pensamentos, nas suas emoções e/ou sensações corporais e nas suas ações durante a partida. Os pensamentos decorrentes das situações de estresse, comuns a ambos os atletas, centraram-se na preocupação com a própria Situações de estresse no vôlei de praia actuação e perda da concentração. As emoções e/ou sensações corporais originadas a partir do estresse percebido foram a ira ou irritação com os próprios erros, com os erros da arbitragem e com as provocações/atitudes desafiadoras dos adversários, além da falta de ânimo ou motivação diante dos oponentes mais fracos. No que diz respeito às acções, as respostas às situações de estresse mais evidentes para ambos os atletas foram a pouca agressividade nas jogadas e a passividade ou displicência dos atletas nas acções. Para o controle do estresse, os atletas recorreram, predominantemente, às técnicas cognitivas, fazendo uso, especialmente, do auto-informe para a manutenção do pensamento positivo ou mudança do pensamento. As técnicas de concentração (focalização da atenção nas próximas acções ou no próximo ponto) e de imaginação (visualização dos movimentos antes de cada acção e lembrança das melhores acções) também foram utilizadas pelos atletas. Em muitos casos, ambos os atletas recorreram, ainda, ao uso de técnicas somáticas, sendo a respiração a mais empregada. Tal como se pode constatar no presente estudo, muitos factores, internos (pessoais ou individuais) e externos (situacionais), foram responsáveis pelo estresse competitivo no vôlei de praia de alto rendimento, sendo de fundamental importância que o atleta aprenda a lidar eficazmente com esses factores, a fim de conseguir recuperar e/ou manter o necessário autocontrole para actuar no seu mais alto nível de rendimento esportivo. De tal modo, como no esporte de alto rendimento sempre existirão formas reais de pressão, mais importante do que eliminar totalmente o estresse competitivo (o que é praticamente improvável), a preparação psicológica dos atletas deve procurar auxiliar o esportista a adquirir conhecimentos e estratégias mentais e físicas que lhe permitam responder de forma adaptativa às diversas situações de pressão que são inerentes ao processo competitivo. O reconhecimento das situações geradoras de estresse que podem afectar negativamente a sua actuação esportiva e dos efeitos que essas situações exercem na sua conduta, poderá ajudar o atleta a desenvolver a conscientização necessária acerca do seu próprio padrão de comportamento, permitindo-lhe usar estratégias de confronto apropriadas para enfrentá-las. A utilização de técnicas cognitivas e somáticas, ora de forma isolada, ora conjuntamente, buscou atender as necessidades pessoais dos atletas, da equipe ou situacionais, compreendendo uma interessante possibilidade de abordagem para o estresse competitivo no vôlei de praia de alto rendimento. Contudo, vale ressaltar que o seu uso requer cautela, pois as técnicas e estratégias psicológicas antes de serem aplicadas em situações competitivas reais, necessitam ser bem aprendidas e treinadas adequadamente, considerando a que se propõem e para quais situações e indivíduos adaptam-se melhor. Espera-se, por fim, que os resultados do presente estudo sejam de grande valia para todos os profissionais envolvidos na prática esportiva (treinadores, atletas, preparadores físicos etc.). Contudo, para ampliar a compreensão do estresse competitivo, recomenda-se, que estudos com outros atletas, outras modalidades esportivas e níveis competitivos sejam também realizados. CORRESPONDÊNCIA Joice Mara Facco Stefanello Rua Alferes Ângelo Sampaio, 2125 – Aptº 703 Bigorrilho – Curitiba – Paraná Cep: 80730-460 Brasil e-mail: joicestefanello@ig.com.br Rev Port Cien Desp 7(2) 232–244 243 Joice Stefanello REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 244 Barbosa, LG, Cruz, JF (1997). Estudo do stress, da ansiedade e das estratégias de confronto psicológico no andebol de alta competição. Psicologia: teoria e investigação prática 2: 523-48. Becker Júnior, B, Samulski, D (2002). Manual de treinamento psicológico para o esporte. 2.ed. Erechin, Fevale. 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Esse instrumento foi aplicado a 20 crianças, do sexo masculino, matriculadas em uma escola especializada no ensino do futebol, com faixa etária entre 11 e 12 anos. Os dados foram analisados de forma descritiva, pela Técnica de Análise de Conteúdo Temático e identificam a grande participação dos pais na torcida, durante os jogos de futebol dessas crianças; a aceitação das crianças em relação à presença de seus pais nos jogos; os efeitos negativos da crítica da torcida; as influências da torcida sobre a forma de jogar das crianças e o papel importante do incentivo da torcida como fator motivacional. Com base nos resultados da pesquisa, sugere-se que novos estudos sejam elaborados, para implementarem a preparação psicológica de crianças nesta fase de aprendizado esportivo. ABSTRACT Parental support: inter-relationships complexity in football sportive initiation Palavras-chave: relacionamento interpessoal, iniciação esportiva, futebol, psicologia do esporte Key-words: interpersonal relationship, sport initiation, soccer, sport psychology This study, with a qualitative trait, discussed the usefulness of personal interactions and the interventional aspects of cheerers in relation to children, in the competitive practice of soccer, when initiating in sports. The study consisted of an alliance between a bibliographic research and field research, using an assorted questionnaire as an instrument of data collection. This instrument was applied to 20 male children, between the ages of 11 and 12, enrolled in a specialized soccer school. The data were analyzed in a descriptive way by the Analysis Technique of Thematic Content and they identify a great participation of parents when cheering in these children’s soccer matches; children’s approval of their parents’ presence in the games; the negative effects when the cheerers criticize, the cheerer’s influence on the way these children play; and the important role of cheerers’ incentive as a motivational factor. Basing on the research results, it is suggested that new studies should be elaborated to implement the children psychological preparation in this stage of sport learning. Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253 245 Fabrício M. Filgueira, Gisele M. Schwartz INTRODUÇÃO Nas relações humanas, as influências interpessoais desenvolvem-se como um processo que envolve componentes como os modos de ser, de pensar, de sentir, de agir e de mudança de comportamento(11). Dentre as relações mais primárias encontra-se o complexo processo que é a relação entre pais e filhos, especialmente quando se focaliza directamente o âmbito da iniciação esportiva. Tanto a criança como os pais possuem valores, atitudes, condutas e expectativas semelhantes, os quais são resultados da qualidade dessa interacção. Assim, compreender-se a qualidade do relacionamento interpessoal entre os envolvidos é de crucial importância no esporte, especialmente no que tange ao modo como os iniciantes percebem e interpretam a participação de seus pais durante a sua prática esportiva. A psicologia do esporte tornou-se cada vez mais importante no desenvolvimento dos programas atléticos a fim de promover um desenvolvimento físico e psicológico saudável de iniciantes(16). Sendo estas as bases de sustentação para este estudo, a fim de entender melhor como os iniciantes recebem e se comportam, diante das atitudes e comportamentos da torcida durante os jogos, composta, nesta fase inicial, basicamente pelos pais, e os caminhos de influência directa na condução e orientação de acções que norteiam a qualidade desses relacionamentos entre os envolvidos, a fim de contribuir para a reflexão sobre as estratégias para minimizar seus efeitos negativos. Um programa de treinamento projectado para ajudar técnicos nos esportes na juventude a relacionar-se mais eficazmente com seus jogadores(16), onde a iniciação esportiva é um fenómeno humano absolutamente complexo, especialmente no que concerne aos aspectos envolvendo as interacções pessoais e ainda a presença da torcida. Para tanto, cabe evidenciar as influências paternais sobre o processo linear de desenvolvimento e desempenho esportivo dos participantes iniciantes em uma modalidade esportiva. O crescimento e o desenvolvimento da criança sofrem influências culturais, sociais e biológicas directa dos pais, desde os primeiros anos de vida. Especialmente quando se focaliza o aspecto esporti- 246 Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253 vo, no caso o futebol, essas interferências são inequívocas, principalmente quando se trata de crianças do sexo masculino. Em relação ao esporte infantil, verifica-se que a torcida é composta, em sua maioria, por pais(15), o que reforça a necessidade de se analisar a participação desses no contexto do futebol infantil, tanto no âmbito da aprendizagem, quanto no contexto competitivo. A competição é alvo deste estudo, uma vez que pode gerar inúmeros efeitos sobre o comportamento das crianças, como atletas, nesses eventos. Além disso, pesquisas mostram que quanto mais jovem e menos experiente o atleta, maior será o efeito da torcida sobre seu comportamento(7). Na literatura ainda são tímidos os estudos relacionados aos efeitos da torcida sobre o comportamento das crianças, uma vez que existem relatos de sentimentos positivos (competência, orgulho, motivação, etc.) e sentimentos negativos (fracasso, abatimento, etc.). A presença dos pais nos treinos, nos jogos, ou em qualquer outro lugar vai despertar alguma reacção no atleta/criança, seja ela de contentamento ou constrangimento, de aprovação ou desaprovação(10). Segundo estudos da psicologia do esporte(6, 8, 10) relata-se que algumas crianças podem se sentir incomodadas com a presença dos pais, enquanto outras se sentem bem com a presença dos familiares. Portanto, o relacionamento que o atleta tem e teve com os pais, o modo como este atleta foi criado, as lembranças, os acontecimentos, os fatos que marcaram sua vida, tudo isto pode exercer influência directa sobre o atleta e seu modo de agir, do início da actividade física até o treinamento e a competição(10). Algumas centenas de milhões de crianças estão envolvidas na prática de uma modalidade esportiva em todo o mundo(1). No Brasil, o futebol é um fenómeno cultural que cativa e impressiona pela sua grandeza, e cuja prática tem crescido rapidamente, envolvendo um número significativo de participantes, desde a infância até a idade adulta. Especificamente, na iniciação esportiva ao futebol, em um país como o Brasil, em que um único esporte A complexidade das relações na iniciação ao futebol merece a esmagadora atenção da mídia, é complicado mostrar às crianças que, muitas vezes, a escolha por esta modalidade esportiva é muito mais uma questão cultural do que um gosto pessoal. Até mesmo os pais são influenciados por isso, já que muitos pais, fanáticos por futebol, têm dificuldades em permitir que seus filhos optem por outro caminho para a prática esportiva. Porém, o esporte na infância deve ser tratado de maneira adequada, respeitando-se a individualidade da criança, independente dos interesses ou objectivos das instituições formais ou informais. O esporte deve se adaptar às condições técnica, física e psíquica da criança de forma compatível com suas necessidades e possibilidades, adequando-se à sua maturação orgânica funcional. Um dos primeiros passos a serem dados é perguntar às crianças se é isso mesmo que elas querem, atendendo as suas próprias expectativas e necessidades, não às dos pais, técnicos, dirigentes ou de outros interesses alheios aos dos agentes principais: as crianças(5). Em fase de iniciação, a criança precisa aprender e conviver com o esporte, vivenciar diferentes situações, construir ideias e valores, descobrir sentimentos e incorporar transformações sociais, afectivas, intelectuais e motoras essenciais para a formação do carácter do indivíduo e para o seu futuro esportivo. Todo esse processo de transferência e formação ocorre de forma natural e envolve a genética e a interrelação social(6). O sistema humano é considerado como grupo de pessoas que interagem com crianças, em função de fins e objectivos comuns, englobando essa interacção, inclusive, no esporte(14). Entre os principais protagonistas das relações interpessoais na fase de iniciação esportiva estão os familiares, os quais compõem o que se convencionou chamar de “torcida familiar”. Este tipo de torcida está envolvida no complexo processo que é a relação entre os pais e as crianças no âmbito da iniciação esportiva ao futebol. Os pais são pessoas importantes, não apenas no cotidiano da criança, mas, de uma forma ou de outra, estão inseridos no processo de iniciação esportiva. Existe então, nesse contexto, uma relação dialéctica entre esses elementos: Muito mais que um simples aprendizado técnico, nesta complexa relação existe factores intervenientes que asseveram a necessidade de compreensão deste quadro, de maneira a perceber o envolvimento directo da criança neste processo. Destarte, para melhor penetrar neste universo, esta pesquisa se restringe, apenas, a um determinado público, as crianças e pais, como familiares e torcedores inter-relacionados directamente com a formação esportiva, já que estes podem ter influência directamente no comportamento das crianças, em seus valores e atitudes e em suas relações. As atitudes e condutas dos pais podem exercer reflexos e influenciar a participação da criança no esporte, inclusive nos campos de futebol. A esse respeito, Machado(10) evidencia que a interacção da criança na sociedade sofre influências, em primeira instância dos pais, depois, ao iniciar a vida escolar, sofre influências dos professores e de outros grupos, como por exemplo, de uma equipe esportiva. A partir dessas inter-relações, a criança vai construindo sua subjectividade e moldando suas condutas, daí advindo a necessidade de análises aprofundadas sobre as influências destes segmentos e, mais especificamente, da torcida, procurando investigar sobre como as crianças recebem e se comportam diante da “torcida familiar”, dentro da prática esportiva do futebol. Segundo Filgueira(3) os professores, os técnicos, os pais e os dirigentes esportivos estão mais preocupados com seus anseios e pensando na sua satisfação em ver a criança jogar, ser titular, ser melhor que os outros, em vencer, ser campeão, do que com o próprio aprendizado daí advindo. Em estudos realizados por Smith e Smoll(16) foram encontrados que os resultados os mais positivos ocorreram quando as crianças jogaram para os técni- Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253 247 Fabrício M. Filgueira, Gisele M. Schwartz cos que acoplaram em níveis elevados do reforço positivo para o desempenho desejável e o esforço, e ainda que respondessem aos erros com incentivo e instrução técnica, e que enfatizaram a importância do divertimento e da melhoria pessoal excedente a acção de vencer. Exactamente esta satisfação pessoal dos técnicos e não a satisfação e prazer da criança é que gera inúmeros conflitos, fazendo desta um instrumento de autopromoção ou vaidade. A torcida familiar, que está presente no âmbito do processo de formação esportiva no futebol, passa a ser aceita como um possível e importante factor de influência sobre atitudes e comportamentos das crianças envolvidas nesse processo. Neste texto, pretende-se identificar o significado da presença dos pais e da torcida familiar para as crianças, durante os jogos, evidenciando como elas consideram esta participação da torcida e as influências de suas atitudes e comportamentos sobre a forma de jogar das crianças envolvidas, a fim de compreender melhor o envolvimento das inter-relações neste processo, no âmbito da iniciação esportiva ao futebol. Para tanto, foi desenvolvida a pesquisa exploratória, no sentido de se penetrar neste universo. METODOLOGIA Este estudo está restrito à análise qualitativa referente aos dados colectados, adequando-os ao contexto das inter-relações entre os alunos-atletas “mirins” e a torcida. A pesquisa qualitativa adequa-se a esta finalidade, tendo em vista suas características e seu poder de penetração no âmago dos fenómenos sociais, conforme salienta Richardson(12). O estudo foi realizado com base em duas etapas complementares, sendo a primeira referente a uma pesquisa bibliográfica, sobre as temáticas em foco e a segunda relativa a uma pesquisa exploratória, utilizando-se como instrumento para a colecta de dados um questionário misto. Também segundo apregoa Richardson(12), esta técnica permite maior facilidade de apreensão dos resultados, tendo em vista que este tipo de questões favorece a fluência e a participação efectiva dos participantes. O estudo foi desenvolvido utilizando-se como instrumento para colecta de dados um questionário conten- 248 Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253 do perguntas mistas, as quais se caracterizam em abertas, fechadas e/ou de múltipla escolha. As questões mistas ampliam e enriquecem a maneira de participação do sujeito, adequando-se ao tipo de pesquisa proposta no estudo. Ruiz(13), assim como Filho e Santos(4) consideram o questionário misto favorável para a colecta de informações desta natureza, pelo fato de questões deste tipo seguirem uma linha menos rígida ou fechada, ampliando a perspectiva de respostas mais directas dos sujeitos e fomentando dados mais aprofundados. Uma outra justificativa para a utilização do questionário misto para este estudo recai na perspectiva de que o entrevistado pode expressar suas colocações de forma mais espontânea e livre durante a colecta dos dados. O instrumento foi composto por cinco questões mistas, ressaltando-se os factores de relações interpessoais e foi aplicado a uma amostra intencional, composta por vinte alunos-atletas participantes, de sexo masculino, iniciantes de futebol, na faixa etária entre 11 e 12 anos, de uma escola especializada de futebol, a Escola de Futebol Oficial do São Paulo Futebol Clube, da cidade de Ribeirão Preto-SP, sendo que os alunos-atletas realizam treinamentos de uma hora e meia, duas vezes por semana. O questionário foi aplicado, com a autorização do técnico da categoria, antes dos treinamentos, no local onde os mesmos estavam sendo realizados. As instruções para preencher o questionário foram comentadas, como também, as dúvidas dos alunosatletas foram esclarecidas antes de se iniciar as respostas em forma de questões abertas. Os dados obtidos por meio do instrumento proposto foram analisados descritivamente, por meio da utilização da técnica de Análise de Conteúdo Temático, a qual(12) permite obter, diretamente, a informação relativa ao tema da pesquisa, eliminando-se outras possíveis variáveis intervenientes. Deste modo, para facilitar a análise das respostas, foram formulados indicadores, os quais congregavam a incidência de elementos comuns entre as respostas dos participantes. Esses indicadores levaram em consideração as pessoas que mais assistem aos jogos; a reacção dos atletas sobre a presença dos pais nos jogos; os senti- A complexidade das relações na iniciação ao futebol mentos dos atletas perante a crítica da torcida; as influências da torcida na sua forma de jogar e, finalmente, os aspectos motivacionais resultantes do incentivo da torcida. RESULTADOS E DISCUSSÃO As ordens de apresentação dos resultados encontram-se, respectivamente, na forma das respostas comuns relacionadas aos factores acima mencionados. Cada resposta é agrupada em indicadores comuns relatados pelos atletas e exemplificados a partir da pergunta a que pertence (Quadro 1). Os relatos apontam a presença dos pais como um factor importante, pois são os integrantes da família que mais assistem aos jogos de futebol, conforme resposta à questão 1. O crescimento e o desenvolvimento da criança sofrem influência directa dos pais, independente de qual sociedade se insere a família(10). Esta relação pais-crianças é bastante evidente no esporte, especialmente em fase inicial, o que se confirmou com o resultado deste estudo. Entretanto, esta presença dos pais que acompanham os filhos na prática esportiva pode gerar problemas de efeitos positivos, neutros ou negativos em treinamentos e competições. Quadro I . Respostas dos atletas. Resposta à questão1: Quem assiste mais aos seus jogos de futebol? Meu Pai (14) Meus Pais (3) Meu Técnico (3) Resposta à questão 2: Você gosta que seus pais assistam aos seus jogos de futebol? Por quê? Sim (17): incentivam; motivam; jogar melhor. Não (3): gritando; falando muito. Resposta à questão 3: Como você se sente quando a torcida o critica? Mal (18): “me sinto mal” Triste (1) Com mais responsabilidade (1) Resposta à questão 4: Você acha que a torcida pode influenciar sua forma de jogar? Explique. Sim (9):“posso melhorar” Sim (2):“fico abatido” Não (9): “não dou atenção para torcida”(2) “não dou ouvido”(2) “não ligo para o que as pessoas falam de mim”(1) “falam mal das pessoas”(1) “eles só atrapalham”(1) “jogo do meu jeito”(1) “ignoro a torcida”(1) Resposta à questão 5: Você se motiva mais com o incentivo da torcida? Explique. Sim (17): “jogar melhor”(4) “é um incentivo”(3) “não estou jogando mal”(2) “torce para mim”(2) “motivado” (2) “me sinto mais a vontade”(1) “ajuda dentro de campo”(1) “não esta tudo perdido”(1) “dão força”(1) Não (3): “não escuto” Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253 249 Fabrício M. Filgueira, Gisele M. Schwartz Segundo Cratty(2), o atleta nunca deixa de sofrer influência de alguma assistência, em qualquer etapa de seu envolvimento esportivo. Os pais sempre estarão interagindo ou interferindo com a criança em sua vida e, quando estes fazem parte da torcida, há a influência sobre o desempenho do atleta. Vale ressaltar que outros elementos são também intervenientes nesse processo, como a idade, a experiência e a importância do jogo, os quais representam factores que podem agravar ou aprimorar o desempenho do atleta. Deste modo, a reacção da criança perante a presença dos pais em seus jogos dependerá da maneira como esta foi educada, do tipo de sua personalidade e, ainda, das ressonâncias das experiências anteriormente vivenciadas. Segundo alguns estudos(8, 9) existem crianças que se sentem incomodadas com a presença dos pais, enquanto algumas se sentem bem, podendo haver, inclusive, uma melhoria em seu desempenho. Tudo vai depender da qualidade do relacionamento entre pais e filhos, influenciando directamente na maneira da criança agir durante o treinamento e a competição. Quando um pai faz um comentário durante uma competição, sua intenção, na maioria das vezes, é motivar o filho e conduzi-lo a um desempenho mais adequado ou à vitória; no entanto, nem sempre a forma empregada para fazê-lo é a mais adequada (15). Em se tratando do processo de iniciação esportiva, pode-se constatar que a torcida, na sua maioria, é composta pelos pais. Os pais são um dos elementos do grupo de pessoas que acompanham e interagem com a criança na iniciação esportiva e como agentes envolvidos influenciam directamente no seu desenvolvimento. De acordo com os relatos, resposta 2, as crianças se sentem motivadas e incentivas, favorecendo, desta maneira, um melhor desempenho. Porém, em alguns casos, as crianças se sentiram incomodadas, em virtude dos gritos dos pais. A actuação da torcida poderá ser um factor que altera a performance do atleta ou atinja o atleta de alguma maneira(10). Nesta questão, as respostas demonstram a presença dos pais durante os jogos de futebol com efeitos positivos para o desempenho das crianças, como forma de incentivo, motivação ou como influência 250 Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253 para jogar melhor, resultados que corroboram com o estudo realizado por Isler(6), no qual o autor aponta a presença dos pais nos jogos como um fato importante para o desempenho positivo ou o bem-estar do filho. Os relatos evidenciaram a significância da presença dos pais como um factor que altera o desempenho da criança para níveis melhores de desempenho. Ter uma experiência mais positiva com o esporte é importante(15), visto que a prática de uma actividade física bem conduzida propicia melhoria da condição nos níveis físicos e motor, aprimorando a auto-imagem e a autoconfiança e contribuindo para uma vida mais saudável. Ao contrário, alguns relatos caminham para o desconforto mediante acções por meio de gritos e verbalizações constrangedoras para as crianças. Sobre a presença dos pais, Filgueira(3) salienta que estes deveriam passar tranquilidade aos filhos e se divertirem, o que, geralmente, não acontece, já que ficam nervosos, gritam, criticam e alguns são, inclusive, violentos. O fato é que, com base nos resultados do estudo, pode-se afirmar que, para algumas crianças, a presença dos pais é importante para o seu desenvolvimento no processo ensino-aprendizagem-treinamento, contrariando alguns posicionamentos de senso comum, de que seria melhor se os pais não estivessem presentes durante as actividades esportivas das crianças, para se evitar esses constrangimentos acima relatados. Na resposta 3, as crianças demonstram, de forma bem clara, suas reacções perante a crítica. As criticas transmitidas pela torcida, muitas vezes vindas de pais autoritários, geram influências negativas sobre o comportamento das crianças. Referenciado por diferentes autores(10), a proximidade do público, a maneira como o atleta o encara e como recebe os elogios e as criticas, vai influenciar sua conduta no jogo e suas reacções frente à torcida. De certa forma, os pais acreditam que as críticas podem melhorar o desempenho da criança durante a competição, no entanto, se forem feitas de maneira agressiva ou em forma de cobranças violentas, ao contrário, podem alterar negativamente a sua autoimagem, implementando sentimentos de inferioridade e de medo do fracasso. A complexidade das relações na iniciação ao futebol A criança pode gerar um sentimento de que não é competente o suficiente, desistindo de tentar ou esquivando-se de situações nas quais possa ser avaliada negativamente e criticada(15). Os pais devem entender que as criticas, muitas vezes, ao invés de ajudarem, acabam atrapalhando. Nas melhores das intenções, os pais querem tanto ajudar e fazer com que seus filhos tenham um bom desempenho, que se esquecem que não depende apenas deles, e sim, muito mais dos próprios filhos se tornarem bons jogadores. Deste mesmo modo(6), a maneira como o atleta encara o público, como ele o valoriza ou como recebe as críticas são factores que influenciam seu desempenho e suas reacções diante dos torcedores. De uma forma bem clara: ser deselegante com outros pais, com seus filhos, com a arbitragem, supervalorizar a vitória ou a derrota da criança, são equívocos e tendem a atrapalhar, não só a criança, mas também o meio esportivo(14). Vale ressaltar que a escolha pela prática de uma actividade esportiva pelos filhos se deve muito ao ambiente social vivido pela família. A família tem papel primordial no envolvimento das crianças com o esporte, reproduzindo suas características culturais económicas como factores do ambiente físico e emocional, atitudinal e de condutas dos filhos, durante a prática de actividades esportivas. Para Isler(6), a presença da família, como de toda a torcida, inibe ou estimula a actuação da criança, dependendo do nível de habilidade em que se encontra. O potencial de avaliação de uma torcida é um dos factores mais importantes que se acredita existirem como modificador do desempenho do atleta, segundo estudos realizados por Cratty(2). Não procede haver tantas criticas na maneira de jogar da criança, tendo a preocupação imediata com o desempenho. Exactamente nessa inter-relação começam a surgir questões passíveis de questionamentos, como o efeito do comportamento dos pais, e, também dos outros elementos como: técnicos, dirigentes, organizadores, árbitros, já que, muitas vezes, as críticas são destrutivas e não são posicionadas em momento adequado, para servirem, talvez, como incentivo a mudanças. Para algumas crianças, a torcida exerce uma influência positiva para o seu desempenho, enquanto para outras essa influência não é percebida ou é prejudicial a sua forma de jogar, conforme relatos da resposta 4. A torcida, através de seus artifícios, certamente actuará sobre o desempenho do atleta de alguma maneira sendo que a experiência de vida, a idade e personalidade são variáveis importantes no desempenho da criança iniciante. O relacionamento que o atleta tem e teve com os pais, o modo como ele foi criado, as lembranças, os acontecimentos, os fatos que marcaram sua vida, tudo isto vai influenciar o atleta e seu modo de agir, do início da actividade física até o treinamento e a competição(10). Ainda segundo o autor, consequentemente, cada um vai reagir ou agir de formas diferentes a mesma situação. A questão é que nem todos estão conscientes disto, bem como, do risco que isto provoca. Neste contexto, o professor, o técnico ou a torcida familiar são pessoas inconscientes de seus deveres e responsabilidades sobre suas atitudes e comportamentos, para que não se tornem exigentes demais, a ponto de estragarem o prazer da criança em jogar futebol, ou, o que é mais trágico, interferirem na possibilidade de esta criança ter aversão ao esporte, entrando em um processo sedentário. Conforme o resultado do estudo, a torcida pode influenciar ou não a forma de jogar e o desempenho da criança durante a partida, uma vez que as respostas foram muito próximas, sendo 11 afirmativas contra 9 negativas. Esta comparação é importante porque evidencia a presença de outras variáveis, as quais dizem respeito a que, dependendo da personalidade do aluno-atleta, a torcida pode representar, tanto estímulo positivo como negativo para a criança em seu desempenho. Ao contrário, em relação ao incentivo, este indubitavelmente é extremamente necessário aos iniciantes futebolistas, uma vez que os tornam mais motivados, modificando ou influenciando seu comportamento e desempenho durante a prática esportiva, conforme observado nas respostas 5. Para os autores(10), o incentivo pode tomar a forma de um impulso interno para o sucesso, para provar ou conseguir algo para se auto-realizar. Nestes casos, os incentivos se tornam efeitos de motivação positivos, potencializando o desempenho do indivíduo, tornando-se um apoio à aquisição de segurança e um estado motivacional que o desperta para jogar melhor. Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253 251 Fabrício M. Filgueira, Gisele M. Schwartz Sobre os elogios e incentivos(15), os autores complementam que, com comentários de natureza positiva, os pais mostram que valorizam o que a criança faz de bom. Por sua vez, as crianças se sentem mais valorizadas, seguras e competentes. No entanto, os mesmos autores(15, 3) comentam sobre alguns cuidados necessários para utilização dos recursos que incentivam como os elogios, palavras de apoio, sinceridade e encorajamento, são eles: 1 — Descontrair a criança antes da competição; 2 — Evitar críticas e ofensas durante a competição; 3 — Não exceder na quantidade de instruções; 4 — Não depreciar outras crianças ou equipes; 5 — Valorizar as acções positivas com sinceridade. Sobre a presença da família, como de toda a torcida(6), o efeito da inibição ou estimulação será proporcional à importância que a torcida tem na vida do atleta. O mesmo autor defende que, considerando-se o papel fundamental da família na vida da criança, quanto maior apoio familiar, maior será o empenho da criança dentro da actividade. Sendo assim, quando uma criança, além de ser motivada extrinsecamente pelos pais ou pela torcida, de modo geral, torna-se extrinsecamente motivada para o futebol, ela o faz pelo simples prazer e satisfação obtidos pela prática da actividade, tendo neste bojo todos os factores anteriormente apontados, como elementos capazes de gerar, não só a aderência ao esporte, mas a forma consciente de introjeção no mesmo. A torcida pode ser um factor de cobranças e exigências, mas, aparentemente, conforme os dados obtidos pelos instrumentos aplicados, os alunos-atletas se sentem motivados por esta forma de pressão social no esporte. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os dados decorrentes deste estudo evidenciam alguns indicadores importantes das inter-relações entre torcida e atletas iniciantes, como a importância do papel do pai na relação da criança com o futebol; a dinamização propiciada pela presença dos pais nos jogos, tornando-se um factor de motivação para criança; os aspectos negativos causados pela crítica da torcida, em que os iniciantes se sentem mal quando recebem a desaprovação da torcida; e, por fim, o incentivo da torcida como sendo um recurso 252 Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253 motivacional positivo para a actuação da criança. As atitudes e comportamentos das crianças futebolistas recorrentes das interferências da torcida durante os jogos são efectivamente influenciadas, com base nos diversos níveis de interpretação pessoal, o que tem directa relação com as vivências anteriores de uma criança, assim como, com seu enredo psicológico. Como sugestões advindas com base nos resultados desta pesquisa, têm-se a importância de o técnico, assim com o professor envolvido no processo de acompanhamento das crianças iniciantes no esporte, promover encontros e reuniões periódicas com os pais e com os próprios alunos-atletas, evidenciando todas estas questões que permearam as discussões neste estudo. De igual importância são as preparações psicológica e pedagógica do professor ou técnico, para lidar com os estados subjectivos que envolvem a dinâmica da prática profissional, salientando estas temáticas nos cursos de formação nas Ciências da Motricidade, além da necessidade de se implementar a leitura de bibliografia actualizada. Os resultados apontam para uma relação mais harmoniosa entre os alunos-atletas e os pais e a compreensão por parte desses de que o esporte praticado pelas crianças, no caso o futebol, têm sua finalidade na socialização, e ainda, a torcida, composta na maioria pelos pais, tem papel extremamente importante para que, cada vez mais, se possa interagir com a criança de maneira saudável. Os pais que convivem com ela diariamente e a acompanham no esporte influenciam directamente, assim como os professores e técnicos e outros elementos, especialmente àquelas crianças mais sensíveis e com personalidade mais vulnerável a criticas. À medida que todos os elementos envolvidos puderem interagir de forma mais positiva e equilibrada, pensando, não apenas no momento do afã do jogo, mas sim, na possibilidade de concretização de objectivos educacionais, acompanhando e apoiando as crianças, estes poderão efectivamente fazer a diferença, investindo em uma formação mais autónoma e motivada, impelindo-as a incorporarem o esporte em suas vidas de maneira prazerosa e por opção própria, transformando a simples experiência corporal, na perspectiva de assimilação de valores existenciais qualitativos. A complexidade das relações na iniciação ao futebol Torna-se importante a elaboração de novos estudos, capazes de levar em consideração a pedagogia do esporte, bem como a psicologia do esporte, envolvendo a iniciação esportiva do futebol em suas relações com uma rede de evidências de complexidades, as quais devem ser melhor discutidas, tendo em vista a decisiva e directa influência no que concernem às relações interpessoais pertinentes ao esporte e, especificamente, à formação esportiva da criança, em fase inicial. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. Becker BJ, Teloken E (2000). A Criança no Esporte. In: Becker BJ. Manual de Psicologia do Esporte & Exercício. Porto Alegre: Ed. Nova Prova, p. 131-156. Cratty BJ (1984). Psicologia no esporte. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil. Filgueira FM (2004). Futebol: uma visão da iniciação esportiva. Ribeirão Preto: Ribergráfica. Filho DP, Santos JA (2001). Metodologia científica. 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CORRESPONDÊNCIA Fabrício Moreira Filgueira Rua Dr. João Palma Travassos, 576 apt. 42 Jardim Macedo – Ribeirão Preto/SP Cep: 14.091-18 e-mail: fmfmoreira@terra.com.br Rev Port Cien Desp 7(2) 245–253 253 ARTIGOS DE REVISÃO [REVIEWS] Stress oxidativo e dano oxidativo muscular esquelético: influência do exercício agudo inabitual e do treino físico Filipe Ferreira Rita Ferreira José Alberto Duarte Centro de Investigação em Actividade Física, Saúde e Lazer Faculdade de Desporto Universidade do Porto Portugal RESUMO A designação “espécies reactivas” (ER) é utilizada para englobar os radicais livres e outras moléculas, as quais, apesar de não possuírem átomos com electrões desemparelhados, são potencialmente geradoras desses radicais. Estas substâncias, naturalmente formadas em situações basais pelo metabolismo celular, são capazes, devido à sua elevada reactividade, de modificar a maioria das moléculas biológicas, colocando em risco a funcionalidade e a viabilidade celular. Particularmente a nível muscular esquelético, a mitocôndria parece constituir a principal fonte e, simultaneamente, o principal alvo das ER. No entanto, a Xantina Oxidase, a Fosfolipase A2, a desaminação das catecolaminas, assim como a infiltração tecidual pós-exercício de leucócitos, poderão contribuir também como fontes adicionais de ER nos músculos exercitados. A ocorrência e a intensidade do resultante dano oxidativo, tanto no músculo esquelético, como nos restantes órgãos e tecidos corporais, para além da taxa de síntese de ER, estão também dependente da capacidade antioxidante que o tecido expressa, quer à custa de antioxidantes endógenos, quer exógenos provenientes da dieta. Essa capacidade antioxidante depende não só do papel específico de cada um dos mecanismos antioxidantes, enzimáticos e não enzimáticos, como também da cooperação entre os mesmos. Como resultado do exercício físico agudo, as taxas de produção de ER de oxigénio aumentam, tal como o dano muscular causado por estes mesmos compostos. Contudo, com a repetição regular do exercício físico (treino), os resultados da literatura mostram que os músculos aumentam a sua capacidade antioxidante, tornando-os mais protegidos contra as ER formadas, não só em repouso, como também durante os exercícios agudos subsequentes. ABSTRACT Oxidative stress and damage in skeletal muscle: Influence of unusual acute exercise and physical conditioning Palavras-chave: radicais livres, espécies reactivas, antioxidantes, lesão oxidativa, exercício exaustivo, exercício regular The designation “reactive species” (RS) is currently used to classify the free radicals and other kind of molecules that despite not containing atoms with unpaired electrons are potentially producers of those radicals. These substances are naturally created at basal conditions by the cellular metabolism, and due to its high reactivity are able of modifying the structure of most of the biological molecules, placing in risk the cellular functionality and viability. Particularly in the skeletal muscle, the mitochondria seem to be the main source of RS and, simultaneously, the main target of these compounds. Xanthine Oxidase, the Phospholipase A2, the catecholamine deamination, as well as the tissue infiltration by leukocytes after exercise, may also contribute as additional sources of RS in exercised muscles. The occurrence and the intensity of the RS-induced oxidative damage in the skeletal muscle or in the remaining organs and tissues, behind the rate of RS synthesis, are also dependent of the antioxidant capacity of the tissue carried out by endogenous and exogenous substances. This antioxidant capacity, performed by enzymatic and non-enzymatic mechanisms, is dependent of the specific paper of each antioxidant and, moreover, also depends of the cooperation between them. As a consequence of the acute and unusual exercise, the production rate of RS of oxygen in skeletal muscle increases severely as well as the oxidative damage caused by these compounds. However, with the regular practice of physical exercise the recruited skeletal muscles increase their antioxidant capacity, becoming more protected against RS, not only at rest conditions but also during the subsequent practice of acute exercises. Key-words: free radicals, reactive species, antioxidants, oxidative damage, exhaustive exercise, physical training Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275 257 Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte INTRODUÇÃO Hoje é unanimemente aceite que o exercício físico, quando praticado de forma regular, é determinante para a aquisição de um estilo de vida saudável, comportando-se como um agente terapêutico e/ou de prevenção para numerosas situações de morbilidade, com a consequente diminuição da mortalidade que lhes está associada(18, 75). No entanto, em franca oposição aos seus potenciais efeitos benéficos, o exercício físico agudo pode, sobretudo se inabitual e exaustivo, também induzir alterações orgânicas nefastas, especialmente quando os diferentes tecidos, órgãos ou sistemas não se encontram suficientemente adaptados para suportar, sem grandes alterações homeostáticas, os diferentes tipos de sobrecarga que lhes são exigidas(75, 92, 99, 100). De facto, para além do aumento do stress mecânico imposto, por exemplo, às fibras musculares esqueléticas solicitadas e às células dos sistemas osteo-articular e cardiovascular, também as elevações da temperatura corporal e da taxa metabólica, que se fazem sentir quer a nível muscular esquelético quer sistémico, ocorrem durante o exercício agudo(99, 100, 101). Para além destas solicitações orgânicas, há cada vez mais evidências de que, durante o exercício físico agudo, tal como em qualquer outra situação que envolva um aumento súbito do metabolismo celular, ocorre também uma concomitante sobrecarga orgânica oxidativa, com a consequente lesão oxidativa(7, 29, 31, 36, 41, 49, 67, 82, 89, 92, 93, 95, 98, 111, 117), cuja magnitude parece ser dependente da intensidade, da duração e do tipo de exercício realizado(107). Esta sobrecarga oxidativa, normalmente designada por stress oxidativo, para além de se fazer sentir mais intensamente nos músculos esqueléticos, tem sido relatada também em muitos outros órgãos e sistemas corporais responsáveis pela regulação e manutenção da homeostasia orgânica(7, 8, 10, 17, 29, 64), cuja funcionalidade se encontra igualmente aumentada durante o exercício(99). Estando o stress oxidativo fortemente associado à fisiopatologia de numerosas patologias e doenças de carácter crónico/degenerativo, assim como às alterações degenerativas teciduais que caracterizam o envelhecimento orgânico(2, 15, 51, 52, 53), poderá ser difícil, numa primeira análise, conciliar o incremento do stress oxidativo induzido pelo exercício agudo com os seus potenciais efeitos benéficos para a 258 Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275 saúde de quem o pratica. Contudo, a prática regular de exercício físico (o treino físico), pode, quando eficazmente adaptado para cada indivíduo, aumentar a capacidade de defesa orgânica contra a ocorrência dessas lesões oxidativas em diferentes órgãos e tecidos corporais, dando uma maior protecção celular e tecidual aos indivíduos treinados, a qual se faz sentir quer em situações de repouso, quer durante a prática do exercício agudo(41, 61, 62, 65, 84). Com o presente trabalho pretende-se mostrar que as evidências quanto à ocorrência de stress oxidativo com o exercício físico e à influência do treino físico, não só não são contraditórias como se encontram em perfeita sintonia. Para esse fim, serão analisados nos músculos esqueléticos, especialmente em situações fisiológicas, quer seja em repouso, quer seja durante ou após o exercício agudo, as principais fontes de radicais livres e de espécies reactivas de oxigénio, as suas repercussões moleculares bem como os mecanismos de defesa antioxidante de que as fibras musculares estão munidas. Será também analisado o potencial efeito benéfico do treino físico na capacidade antioxidante muscular esquelética e as suas repercussões na magnitude do stress oxidativo e da lesão oxidativa, quer em situação de repouso, quer durante o exercício físico agudo. RADICAIS LIVRES VS. ESPÉCIES REACTIVAS Em 1954, a argentina Rebeca Gerschman sugeria, pela primeira vez, que os radicais livres (RL) eram agentes tóxicos e potencialmente geradores de condições patológicas ou de doenças(para refs. ver 46). Estes agentes constituem um grupo de substâncias químicas que se caracterizam por possuírem um ou mais electrões desemparelhados numa das suas orbitais externas(32, 43, 51, 61, 102, 110). É esta particularidade que lhes confere a reactividade e a instabilidade química que os caracterizam, tendendo a interagir com outras moléculas na sua proximidade, através da captação (comportando-se como oxidantes) ou da cedência (actuando como redutores) de electrões e/ou de átomos de hidrogénio(44, 109, 125). Deste modo, particularmente quando presentes em elevadas concentrações, eles podem induzir alterações severas na estrutura de moléculas fundamentais para a manutenção da homeostasia celular, resultando numa possível perda de funcionalidade ou até Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético mesmo na perda de viabilidade da célula(38, 51, 74, 86). Contudo, para além desta potencial acção nefasta sobre a integridade e a funcionalidade das diferentes moléculas, os RL e outras substâncias com eles relacionadas, têm também sido responsabilizados pela regulação de importantes mecanismos fisiológicos, tais como a sinalização celular, a regulação da expressão de alguns genes(32, 66, 85, 124), a mediação da reacção inflamatória e a potenciação dos mecanismos de defesa orgânica, uma vez que fazem parte integrante do arsenal de armas letais leucocitárias(32, 56, 102). A nível muscular esquelético, estas substâncias têm sido largamente estudadas, quer em situações de patologia ou de doença (local ou sistémica com repercussões musculares), quer em situações fisiológicas (em condição basal ou durante o exercício físico). Assim, é hoje unanimemente aceite que a taxa de produção de RL a nível muscular esquelético se encontra elevada em algumas situações de doença ou patologia(28, 37, 51, 114) e que, em indivíduos saudáveis, em situações fisiológicas, pode ser incrementada, comparativamente às situações de repouso, em função da intensidade, duração e tipo de exercício físico efectuado (107). Os RL podem ser encontrados em grande quantidade na natureza associados aos átomos de carbono, enxofre, azoto e de oxigénio(51, 102), sendo classificados em função do átomo portador do(s) electrão(ões) desemparelhado(s) (Figura 1). mais prevalentes nos organismos vivos que utilizam o oxigénio como comburente(51, 102). Existem, contudo, outras moléculas altamente reactivas e potencialmente tóxicas para o organismo, as quais, pelo facto de não conterem qualquer electrão desemparelhado nas suas orbitais, não se enquadram na definição de RL(102). Apesar de não serem verdadeiros radicais, estas moléculas, onde se incluem o peróxido de hidrogénio (H2O2) e o ácido hipocloroso (HOCl), são potenciais geradoras de RL e, por essa razão, as suas repercussões orgânicas, fisiológicas ou tóxicas, devem ser igualmente tidas em consideração(43, 51, 61, 74, 102, 109). Por essa razão, em detrimento da designação RL, passou a utilizar-se a designação “espécies reactivas”, para englobar os RL e também essas moléculas que, apesar de não possuírem átomos com electrões desemparelhados, são potencialmente geradoras desses radicais (Figura 2). À semelhança do assumido para os RLO, as espécies reactivas de oxigénio (ERO) parecem ser aquelas com maior expressão e com maiores repercussões orgânicas, apesar de algumas espécies reactivas de nitrogénio poderem também desempenhar importantes funções na sinalização celular, quer em situações fisiológicas, quer patológicas(19). Figura 2. Espécies reactivas de ox igénio, radicais e não radicais, potencialmente sintetizadas nos organismos que uti l izam o ox igénio como comburente. Figura 1. Classificação dos radicais livres de acordo com o átomo que contém o(s) electrão(ões) desemparelhado(s). Por norma, a existência destes electrões é assinalada na fórmula química da molécula com a colocação de um ponto (. ) no átomo em causa, tal como assinalado na figura. Todavia, os radicais livres de oxigénio (RLO), nomeadamente o radical superóxido (O2•–) e o radical hidroxilo (HO•), são aqueles que possuem uma maior relevância biológica, não só devido à sua elevada toxicidade, mas também pelo facto de serem os O O2•– é a forma reduzida do oxigénio molecular formado através da captação de um electrão(32, 51, 74, 102). Esta molécula não consegue atravessar facilmente as membranas celulares, ficando normalmente confinada ao compartimento onde é produzida (habitualmente na matriz mitocondrial)(38). Pode, no entanto, desencadear uma série de reacções químicas com os ácidos gordos dos fosfolípidos e, dessa forma, comprometer a organização membranar, a Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275 259 Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte qual é fundamental para o normal funcionamento celular(38, 48, 61, 62, 63, 102). O O2•– pode sofrer dismutação, espontaneamente ou por acção enzimática, motivando a formação de H2O2 (32, 44, 74). Ao contrário do O2•–, o H2O2 possui a capacidade de atravessar facilmente as membranas biológicas, apresentandose como a ERO menos reactiva da sua espécie e cuja estabilidade está dependente, entre outros factores, da presença de iões metálicos livres nas suas proximidades(32, 51, 74, 102). De facto, esta espécie pode comportar-se como um intermediário decisivo para a síntese de ERO mais reactivas, como o HO•, a partir da oxidação de metais de transição que se encontrem na sua forma livre, nomeadamente, o ferro (Fe2+) e o cobre (Cu+)(24, 32, 74, 104). O principal metal de transição responsável pela transformação do H2O2 em HO• é o Fe2+, através da reacção de Fenton, que ocorre, basicamente, através da reacção de um átomo de Fe2+ e uma molécula de H 2O2, com a consequente produção de uma molécula de HO• (Figura 3). O Fe3+ pode ser novamente reduzido a Fe2+, sob a acção do O2•– (51, 102). Figura 3. Reacções de Fenton e de Haber-Weiss, com a formação do radical hidroxilo. O HO• possui uma elevada reactividade para com as biomoléculas adjacentes, sendo, provavelmente, a ERO que mais alterações estruturais induz nos sistemas biológicos(61, 74, 102, 109). Esta ERO, ao retirar um átomo de hidrogénio aos ácidos gordos poli-insaturados das membranas celulares, inicia o processo de peroxidação lipídica, com as consequentes alterações estruturais e funcionais membranares(102, 107, 114). A reacção de uma ERO com uma outra molécula adjacente pode produzir uma ERO diferente, podendo, esta última, ser mais ou menos reactiva do que a ERO inicial. Este processo tende a repetir-se continuamen- 260 Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275 te, terminando apenas quando a extremidade radical que contém o electrão desemparelhado formar uma ligação covalente com o electrão desemparelhado de outro radical(32, 80, 102). As principais alterações estruturais e funcionais induzidas pelas ERO nos diferentes componentes orgânicos, assim como as suas consequentes repercussões na funcionalidade celular, estão ilustradas, de forma resumida, na figura 4. FONTES DE PRODUÇÃO DE ERO Pelo simples facto de consumir oxigénio, o metabolismo celular, mesmo em situações basais, promove uma contínua formação de ERO, através da redução da molécula de oxigénio(15, 32, 41, 43, 58, 85, 86). Estas ERO podem ser produzidas em vários locais da célula, nomeadamente nas mitocôndrias, no retículo endoplasmático, nos lisossomas, nas membranas celulares, nos peroxissomas e no citosol(2, 15, 72, 74, 85). Contudo, de todas as fontes referidas, a mitocôndria parece constituir a principal fonte de ERO no músculo esquelético, quer em repouso, quer durante o exercício agudo(2, 15, 16, 31, 72, 115). Estima-se que este organelo consuma cerca de 90% da totalidade do oxigénio utilizado pelo organismo, constituindo-se como a principal fonte de energia das células eucarióticas através da fosforilação oxidativa(30, 31, 72, 99). Neste processo, a mitocôndria utiliza a energia obtida nas transferências de electrões entre os complexos da cadeia de transporte de electrões (CTE) para bombear protões da matriz para o espaço intermembranar(30, 31, 58). Deste processo, para além da criação de um gradiente electroquímico transmembranar (entre a matriz e o espaço intermembranar), originase também um produto final inócuo para as células: a água(30, 31, 43, 46, 51, 58). Todavia, o transporte de electrões na CTE pode não ser totalmente canalizado para o transporte transmembranar de protões e para formação de água, podendo haver uma pequena porção de electrões que reage directamente com o oxigénio molecular, conduzindo à formação de ERO (Figura 5)(51, 58, 61, 102). De acordo com a configuração electrónica da sua molécula, o oxigénio pode ser considerado um bi-radical uma vez que possui na sua orbital externa dois electrões desemparelhados com spins paralelos, sendo dessa forma considerada uma molécula potencialmente oxidativa pela sua tendência para captar electrões(80, 85). Assim, através Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético da redução do oxigénio molecular com um, dois ou três electrões, origina-se, respectivamente, o O2•–, o H2O2 ou o HO• (Figura 5)(85). Estima-se que cerca de 2 a 5% do oxigénio total consumido origine, por este processo, a síntese de ERO, particularmente nos complexos I e III (46, 58, 74, 87, 121). Uma vez que taxa de formação destes compostos na mitocôndria parece ser proporcional à quantidade de oxigénio aí consumido por unidade de tempo, Figura 4. Mecanismos indutores de lesão celular motivados pela interacção das espécies reactivas de oxigénio com os diferentes componentes da célula (DNA – Ácido desoxirribonucleico; AGEP – Produtos de glicação avançada). com o aumento da contracção muscular e com o consequente aumento da taxa do consumo de oxigénio, é aumentada também a taxa de síntese de ERO, agravando desse modo a agressão oxidativa muscular(61, 62, 65, 86, 119). Como já referido, devido à sua elevada reactividade, as ERO são capazes de modifiFigura 5. Distribuição dos electrões na orbital externa da molécula de oxigénio e redução da molécula a água, com o car a maioria das moléconjunto de reacções intermédias não enzimáticas que justificam a formação de espécies reactivas de oxigénio na culas biológicas(50, 52, 53, cadeia de transporte de electrões. 85, 102). Por exemplo, a cas, sugere que este organelo é, não só, o principal reacção do HO• com outras moléculas biológicas é local de formação de ERO nas células em geral mas, bastante lesiva para a estrutura e funcionalidade possivelmente também, o maior alvo da acção nefascelular, sendo responsável por alterações estruturais ta destes compostos(80). nas moléculas de ADN (reagindo, quer com as bases Apesar da mitocôndria se apresentar como o principúricas, quer com as pirimídicas), nas proteínas e pal local de produção de ERO, existem, contudo, por destruição das membranas, fruto da sua reacção outras fontes celulares para a sua formação(15, 72), com os ácidos gordos poli-insaturados, dando oriestando algumas activas em condições fisiológicas gem a uma série de reacções em cadeia de peroxidabasais, enquanto outras são activadas apenas em cirção lípidica (Figura 4)(58, 74, 80, 112). A elevação de cunstâncias especiais, tais como durante o exercício marcadores indirectos de peroxidação lipídica em físico exaustivo e inabitual(2, 3, 23, 26, 44). À semelhança mitocôndrias isoladas com perturbações homeostáti- Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275 261 Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte do verificado nas situações de isquemia/reperfusão muscular(3), supõe-se que a Xantina Oxidase (XO) possa também contribuir para a exagerada produção tecidual de ERO motivada pelo exercício físico agudo(20, 32, 34, 49, 54, 55). Esta enzima está presente em grandes quantidades no endotélio vascular dos músculos esqueléticos e é responsável pela conversão da Hipoxantina em Xantina e esta em Ácido Úrico (Figura 6)(20, 91, 122). Apesar da designação, a XO, in vivo, e em condições homeostáticas, actua quimicamente como uma desidrogenase, utilizando a Nicotinamida Adenina-dinucleótido (NAD+) como receptor de átomos de hidrogénio. No entanto, em circunstâncias especiais, tais como as que ocorrem em situações de isquemia/reperfusão ou durante o exercício físico agudo exaustivo, a XO pode converter-se, por acção proteolítica, numa oxidase oxigénio-dependente, passando a utilizar o oxigénio adjacente como receptor de electrões, motivando, assim, a formação de ERO (Figura 6)(20, 34, 49, 55, 91). Na base desta alteração funcional da XO pensa-se estar a activação das calpaínas, uma família de proteases citoplasmáticas especialmente estimuladas pela elevação térmica tecidual e/ou pelas elevadas concentrações intracelulares do ião cálcio na sua forma livre(20, 54, 59, 91). A conversão da XO, da forma de desidrogenase para a forma de oxidase oxigéniodependente, associada a situações de grande disponibilidade dos substratos desta enzima, decorrentes do facto da elevada taxa de utilização de Adenosina Trifosfato (ATP) ser, pelo menos nos momentos de ajuste metabólico, superior à sua taxa de resíntese (99), constituem situações propícias para a síntese adicional de ERO no músculo esquelético exercitado (Figura 6)(20, 54, 55, 59). Também a Fosfolipase A2 (PLA2) muscular, particularmente activada durante o exercício físico, poderá constituir outra fonte importante para a produção de ERO(4, 59, 61, 76). Esta enzima, localizada no sarcolema, na membrana dos diferentes organelos, no sarcoplasma e no interior dos lisossomas, utiliza os fosfolípidos das membranas para a síntese de Ácido Araquidónico, o qual é substrato para a acção subsequente da Ciclo-oxigenase e da Lipo-oxigenase motivando a formação de prostaglandinas, leucotrienos, tromboxanos e, concomitantemente, ERO (76). Se, por um lado, a PLA2 parece ter algum papel protec- 262 Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275 tor nas membranas celulares, pela remoção dos hidroperóxidos resultantes da peroxidação lipídica, por outro, os lisofosfolípidos e o ácido araquidónico resultantes da acção desta enzima, têm um efeito detergente nas membranas celulares podendo, assim, motivar a perda da permeabilidade selectiva do sarcolema, favorecendo a perda da homeostasia celular ao ião cálcio e a difusão de compostos sarcoplasmáticos para o espaço intercelular(4, 32, 67, 76). Este fenómeno poderá explicar a forte correlação, descrita em humanos, entre a concentração sérica de substâncias reactivas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS), um marcador indirecto de peroxidação lipídica, e a actividade plasmática da Creatina Kinase (CK) após situações de exercício agudo exaustivo(90). São muitas as evidências do aumento da actividade da PLA2 durante e/ou após o exercício físico agudo. Por exemplo, Symons et al.(113) demonstraram a acumulação de prostaglandina E2 (PGE2) no músculo esquelético após um breve período de electro-estimulação e, também em situação de estimulação mecânica passiva, Vandenburgh et al.(116) observaram nas fibras musculares um aumento da produção de PGE2 e da proteólise tecidual(para mais refs. ver 6). Não é, por isso, de surpreender que, após a realização de um exercício físico, particularmente se este for inabitual, efectuado com elevada intensidade e/ou com elevada percentagem de contracções excêntricas, se observem alterações degenerativas das células musculares nos músculos exercitados, quer em animais de laboratório, quer em humanos (Figura 7)(para refs. ver 4, 6, 38, 62, 119). Muitos trabalhos têm sugerido que entre as causas destas alterações degenerativas, para além da excessiva tensão exercida sobre os sarcómeros(79) e do aumento da temperatura corporal, esteja também a lesão oxidativa tecidual motivada pela produção exagerada de ERO(36, 79, 82). Estas situações favorecem a desregulação homeostática ao ião cálcio, a qual é especialmente sensível à acção das ERO, seja pelo facto destas interagirem negativamente com a actividade de muitas enzimas envolvidas no metabolismo daquele ião, nomeadamente as AT Pases transportadoras de cálcio(47, 121), seja pelo facto de induzirem disfunção membranar por peroxidação lipídica (51, 58). Ao criar condições favoráveis à acumulação intracelular exagerada e pro- Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético Figura 6. Produção de espécies reactivas de oxigénio pela Xantina Oxidase durante o exercício agudo (NADPH/NADP+ – Formas reduzida e oxidada da Nicotinamida Adenina-dinucleótido; ATP – Adenosina Trifosfato; ADP – Adenosina Difosfato; AMP – Adenosina Monofosfato). Figura 7. Fotografia de microscopia óptica de um corte transversal do músculo soleus de ratinho sacrificado 24 horas após um exercício físico exaustivo. Para além do alargamento do espaço intersticial, é notória uma área de necrose com infiltração adjacente de fagócitos, sugerindo a presença de uma reacção inflamatória muscular. Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275 263 Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte longada do ião cálcio livre nas fibras musculares, o exercício físico excessivo pode, assim, induzir uma activação de enzimas proteolíticas dependentes do ião cálcio, as quais poderão comprometer a viabilidade das células ou, como no caso das fibras musculares, de algumas das suas áreas (47). Assim, para além da hipotética contribuição dos detritos celulares, resultantes destes processos degenerativos motivados pelo exercício(4, 33), também os leucócitos que posteriormente se infiltram no tecido podem ser uma importante fonte muscular adicional de produção de ERO, contribuindo, dessa forma, para a agressão oxidativa associada ao aumento agudo da actividade muscular(33, 54, 55, 59), especialmente algumas horas após o término do ex e r c í c i o (33). Um a três dias após o ex e r c í c i o agudo, a resposta inflamatória nos músculos agredidos parece estar completamente estabelecida(4, 33) , com alguns polimorfonucleares e numerosos mononucleares dispersos pelo endomísio e no interior de algumas fibras lesadas(4) . Para além dos trabalhos realizados com animais de laboratório, a infiltração muscular de leucócitos tem também sido descrita em humanos, particularmente após exercícios realizados com grande percentagem de contracções ex c ê n t r i c a s(40, 82, 83). De facto, durante a resposta de fase aguda, os neutrófilos são atraídos para a área lesada, libertando enzimas lisossómicas e ERO(32, 54, 59, 83). Na presença de agentes perturbadores da estabilidade da membrana citoplasmática dos neutrófilos, é estimulada a produção de O2•– por acção da enzima NADPH Oxidase (54, 59), a qual, na presença de Ad e n o s i n a Difosfato (ADP) e Fe3+, cataliza a transferência de um electrão da forma reduzida da Nicotinamida Adenina-dinucleótido Fosfato (NADPH+H+ ) para o O2, dando origem à formação do radical superóxido(16). Para além do O2•–, os neutrófilos têm sido também referidos como fonte de um conjunto de outras ER, incluindo o H2O2 e o HOCl, as quais se têm mostrado decisivas para um eficaz combate a agentes patogénicos invasores (Figura 8)(54, 59). Tendo em consideração os tempos de maior ou menor actividade das fontes de ERO atrás referidas, a figura 9 ilustra, de forma grosseira, a hipotética contribuição relativa de cada uma dessas fontes, durante e após o exercício físico agudo(4, 33, 34). 264 Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275 Figura 8. Vias de produção de espécies reactivas de oxigénio pelos fagócitos que infiltram o tecido (SOD – Superoxido Dismutase; MPO – Mieloperoxidase; NADPH/NADP+ – Formas reduzida e oxidada da Nicotinamida Adenina-dinucleótido Fosfato). Figura 9. Hipotética contribuição relativa das principais fontes musculares esqueléticas de produção de espécies reactivas de oxigénio durante e após o exercício físico agudo (PLA2 – Fosfolipase A2). Um outro possível mecanismo de formação de ERO durante a contracção muscular esquelética pode estar relacionado com a oxidação das catecolaminas circulantes(23, 35). Estas hormonas são normalmente inactivadas in vivo de duas formas: i) ou por via enzimática, pela acção da Monoamina Oxidase (MAO) e da Catecol-O-Metiltransferase (COMT), ou então ii) por via não enzimática, pela sua própria auto-oxidação, que ocorre normalmente quando as vias enzimáticas estão saturadas(121). Por cada molécula oxidada pela MAO origina-se uma molécula de H 2O2. Na sua auto-oxidação, a formação de derivados quinónicos, a partir das catecolaminas, leva também à formação de ERO(23, 42, 91, 121). Assim, como resultado do aumento da estimulação do sistema nervoso autónomo simpático, durante o exercício físico agudo há um aumento das concentrações de catecolaminas circulantes, o qual parece ser proporcional à intensidade do exercício efectuado(99). Esta situação motiva o incremento da taxa de oxidação das aminas Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético biogénicas, podendo resultar numa formação acrescida de ERO, em particular de H2O2. Resultados experimentais sugerem que o metabolismo destas aminas também pode ocorrer no músculo esquelético(35), especialmente em situações onde as suas concentrações séricas estão elevadas, tal como ocorre durante o exercício físico agudo, uma vez que a inibição da MAO pela pargilina, motiva uma diminuição acentuada da taxa de produção muscular de H2O2. Para além da MAO e à semelhança do ocorrido noutros tecidos, é possível que outros sistemas enzimáticos possam também participar activamente na produção de H2O2 no músculo esquelético em situações basais e durante o exercício físico(1, 74, 123). Contudo, nestas situações fisiológicas, acredita-se que a dismutação do O2•–, de forma espontânea ou por acção da superóxido dismutase (SOD), deva ser a mais importante fonte de produção de H2O2 no músculo esquelético(74). SISTEMA DE DEFESA ANTIOXIDANTE Devido ao elevado potencial de toxicidade do oxigénio e à sua grande utilização pelos organismos aeróbios, torna-se necessário que estes estejam suficientemente munidos de uma diversidade de sistemas antioxidantes para proteger as suas células dos efeitos nocivos das ERO(14, 38, 70, 74). Com o aumento agudo da taxa de produção de ERO, não só nos músculos recrutados mas também no organismo em geral, o exercício físico pode estar a comprometer, a longo prazo, a funcionalidade dos diferentes órgãos e sistemas e, dessa forma, a longevidade dos indivíduos que o praticam(86). Contudo, apesar da lógica deste pressuposto, numerosos trabalhos realizados com Drosophila, submetidas ao exercício físico regular, e com ratos, submetidos a restrição calórica e inactividade física, têm evidenciado um efeito benéfico notório da actividade física regular, quer na longevidade dos animais quer nos marcadores de lesão oxidativa tecidual em situações basais e de exercício agudo(para refs. ver 80, 86, 119). De facto, o aumento, em situações basais, da actividade dos sistemas celulares de defesa directamente relacionados com a inactivação das ERO, parecem constituir adaptações crónicas induzidas por um período prévio de treino físico, as quais atenuam a agressividade das ERO para com as estruturas biológicas(17, 86). Tais adaptações parecem conferir às células uma maior resistência ao potencial efeito nefasto das ERO, não só para as que são formadas normalmente em repouso, atenuando assim as lesões oxidativas diárias e, hipoteticamente, os fenómenos degenerativos associados ao envelhecimento orgânico(2, 15), mas também para aquelas originadas mais intensamente pelo exercício agudo, protegendo os atletas da sobrecarga oxidativa induzida pelos seus exercícios diários e, dessa forma, favorecendo a sua recuperação orgânica(24, 41, 99, 100). Um antioxidante é, por definição, qualquer substância que, quando presente em baixas concentrações relativamente às dos potenciais substratos oxidáveis, atrasa significativamente, ou inibe, a oxidação desses substratos pelas ERO(32, 51, 110). Estas substâncias possuem a capacidade de fornecer electrões/átomos de hidrogénio às ERO sem se transformarem em moléculas instáveis. Os mecanismos de defesa antioxidante nos diferentes tecidos compreendem sistemas enzimáticos e não enzimáticos(48) e podem ser classificados em função do seu mecanismo de acção predominante (antioxidantes de prevenção, de intercepção e de reparação), da sua localização orgânica (antioxidantes intracelulares e extracelulares) e da sua proveniência, seja da dieta (antioxidantes exógenos), seja da síntese endógena (antioxidantes endógenos) (Tabela 1). Os antioxidantes de prevenção são aqueles que criam condições favoráveis para evitar a formação de ERO, e dos quais são exemplos as proteínas que se ligam aos iões metálicos de transição, prevenindo a sua presença na forma livre ou, então, as enzimas responsáveis pela manutenção do equilíbrio redox da célula e pela redução de antioxidantes de intercepção previamente oxidados, como é o caso da glutationa; o zinco e o selénio, provenientes da dieta, apesar de não terem, por si só, uma acção antioxidante directa, estão englobados no grupo dos antioxidantes de prevenção porque são imprescindíveis para a correcta funcionalidade de algumas enzimas antioxidantes; os antioxidantes de intercepção são todos aqueles que reagindo directamente com as ERO, as transformam em substâncias menos reactivas ou até não reactivas, impedindo dessa forma o seu ataque às estruturas celulares; os antioxidantes de reparação favorecem a remoção dos danos moleculares causados pelas ERO e a reconstituição da estrutura e da homeostasia celular(32, 45, 60). Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275 265 Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte Tabela 1. Origem (endógena ou exógena), localização (intracelular ou extracelular) e mecanismos de acção (prevenção, intercepção ou reparação) dos principais antioxidantes orgânicos. Antioxidantes Exógenos Prevenção Zinco Selénio Intercepção Ácido Ascórbico Alfa-tocoferol Carotenoides Antioxidantes Endógenos Extracelulares Intracelulares Prevenção Prevenção Albumina Glutationa Peroxidase Bilirrubina Superóxido Dismutase Ceruloplasmina Catalase Ferritina Glutationa Redutase Mioglobina Metalotioneína Intercepç ã o Haptoglobina Glutationa Ácido Úrico Coenzima Q Repara ç ã o Metaloenzimas No interior da célula, a eliminação dos compostos reactivos, efectuada quer por antioxidantes exógenos, quer endógenos, constitui um pré requisito para a sobrevivência celular, sendo normalmente efectuada por: 1) sistemas enzimáticos, englobados nos antioxidantes classificados de prevenção, tais como a SOD, a Catalase (CAT) e a Glutationa Peroxidase (GPx); 2) moléculas que neutralizam os radicais no meio aquoso, classificadas como antioxidantes de intercepção, como o Ascorbato, Urato e a Glutationa reduzida (GSH); 3) moléculas que neutralizam os radicais no interior das membranas, classificadas como antioxidantes de intercepção, como os Tocoferois, Flavonoides, Carotenoides e Ubiquinol; 4) enzimas envolvidas na redução de formas oxidadas de pequenos antioxidantes moleculares, também consideradas antioxidantes de prevenção, tais como, a Glutationa Redutase (GR), a Dihidroascorbato Redutase (DR) ou aqueles que são responsáveis pela manutenção dos grupos tiol das proteínas, como a Tioredoxina Redutase (TR); e 5) mecanismos celulares que mantêm um meio reduzido, nomeadamente, a Glucose-6-fosfato Desidrogenase, que regenera a forma oxidada da Nicotinamida Adenina-dinucleótido Fosfato(15, 51, 74, 108, 110). Destes, os agentes que apresentam um papel mais preponderante dentro dos sistemas intracelulares de defesa antioxidante são a SOD, a GPx e a CAT(14, 32, 48, 51, 74, 108, 110). Em 266 Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275 situações de produção exagerada de ERO, cada uma destas enzimas possui a capacidade de catalizar reacções que conduzem à produção de espécies menos reactivas ou de neutralizar metabolitos do oxigénio reactivo(100). A capacidade antioxidante de um organismo depende não só do papel específico de cada mecanismo antioxidante, como também da cooperação entre os mesmos (Figuras 10 e 11). A forma como as defesas se complementam difere não só entre os organismos ou tecidos, mas também entre os compartimentos celulares(108). Não parece pois haver dúvidas de que, para além da taxa de produção de ERO, o nível de lesão celular oxidativa motivada pelas ERO está também intimamente dependente da capacidade de defesa orgânica dos diferentes agentes antioxidantes de prevenção ou de intercepção, assim como da capacidade celular de reparação do hipotético dano sofrido. Mecanismos enzimáticos A GPx tem um papel determinante nos mamíferos e nos processos de neutralização das ERO(14, 86) pois é considerada a enzima mais importante para a oxidação do H2O2 a água(74). A GPx dos mamíferos tem uma maior afinidade pelo H2O2 do que a CAT, o que significa que em concentrações baixas de H2O2, a GPx apresenta um papel muito mais activo na sua remoção celular(74, 85, 103). O seu correcto funciona- Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético mento está dependente da presença de selénio na sua constituição e da disponibilidade de H2O2 e de outros hidroperóxidos, utilizando a GSH como dador de electrões/hidrogénios, formando Glutationa oxidada (GSSH) e água (Figura 10)(14, 51, 85, 86, 120, 125). Este funcionamento atribui à GPx um papel importante na protecção celular das membranas lipídicas, proteínas e ácidos nucleicos contra os ERO(86). Contrastando com a sua elevada actividade noutros órgãos, nos músculos esqueléticos dos mamíferos a actividade da GPx é muito reduzida(51) e varia em função do tipo de fibra muscular, sendo as fibras com características mais oxidativas, em oposição às fibras glicolíticas, aquelas que apresentam uma maior actividade desta enzima(98). A GPx celular distribui-se pela mitocôndria e pelo citosol(86). No músculo-esquelético, aproximadamente 45% da actividade da GPx é encontrada no citosol, estando os restantes 55% na mitocôndria(63). Esta localização mitocondrial e citoplasmática da GPx permite a sua proximidade às diversas fontes de formação de hidroperóxidos, fazendo desta enzima um dos principais neutralizadores de hidroperóxidos provenientes das diferentes fontes celulares(86). A mitocôndria possui dois tipos de enzimas com a função de peroxidase, a GPx clássica e a GPx dos hidroperóxidos lipídicos, sendo esta a única enzima intracelular capaz de reduzir directamente os hidroperóxidos de fosfolípidos e colesterol das membranas(5). Devido ao facto da GSH ser oxidada pela GPx convertendo-se em GSSG, as células deverão possuir uma via de regeneração de GSH. Esta reacção é catalisada pela enzima GR, que utiliza a Nicotinamida Adenina-dinucleótido Fosfato na sua forma reduzida (NADPH) como cofactor, transformando a GSSG novamente em GSH(32, 51). Os níveis intracelulares de GSH estão, deste modo, dependentes da interacção das enzimas GPx e GR, bem como dos mecanismos de resíntese intracelular e de captação de GSH a partir do meio extracelular (Figura 11)(98). Por seu lado, a GR não possui características antioxidantes directas, sendo porém muito importante para o normal funcionamento do sistema antioxidante(86), uma vez que a funcionalidade da GPx está dependente dos níveis de GSH como dador de hidrogénios/electrões (Figura 10). Para além disso, a presença de GSH em quantidades adequadas é também determi- nante para a manutenção da homeostasia orgânica, tendo em consideração a sua participação na síntese de ADN e proteínas, na actividade de numerosas enzimas intracelulares, na libertação de neurotransmissores no sistema nervoso e na eliminação hepática de compostos carcinógenicos(16, 32). Em condições fisiológicas normais, a GR mantém mais de 98% da GSH intracelular no estado reduzido, contribuindo, assim, para a manutenção do meio intracelular em estado reduzido(98). Para além da GPx, a redução dos hidroperóxidos orgânicos com recurso à GSH pode também ser catalisada por uma enzima independente do selénio, a Glutationa-S-Transferase (GST), a qual pode actuar, quer como uma peroxidase, quer como uma transferase(103, 109, 120). A actividade da GPx parece ser particularmente importante na redução de hidroperóxidos orgânicos, enquanto que a actividade da GST parece amplamente envolvida na eliminação de compostos, particularmente a nível hepático, através da conjugação com a glutationa(51). A SOD, como já referido, metaboliza o O2•– com formação de H2O2 (Figura 10)(74, 85, 86). Nos mamíferos, existem três isoenzimas da SOD, codificadas e reguladas de forma independente: a citosólica (Cu,ZnSOD ou SOD1), a mitocondrial (Mn-SOD ou SOD2) e uma forma extracelular da Cu,Zn-SOD ou (SOD3)(44, 105). A actividade da SOD total no músculo esquelético é inferior à do fígado e do rim, semelhante à do cérebro, coração e pâncreas e superior à dos eritrócitos(para refs. ver 51). No músculo-esquelético, 15 a 35% da actividade total da SOD está localizada nas mitocôndrias, estando as restantes 65 a 85% no citosol(77). A actividade total desta enzima varia também com as características histoquímicas do músculo-esquelético, sendo os músculos com maior percentagem de fibras oxidativas aqueles que evidenciam uma maior percentagem desta enzima, comparativamente aos músculos com menor capacidade oxidativa(25, 98). A CAT é uma enzima presente na maioria dos organismos aeróbios e é responsável pela conversão do H2O2 intracelular em água e oxigénio (Figura 10)(57, 74, 81, 86, 97), estando a maior parte da actividade desta enzima localizada nos peroxissomas, tanto nos tecidos animais como nas plantas(51). As mitocôndrias e o retículo endoplasmático contêm também alguma actividade da CAT, embora muito reduzida, pelo que Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275 267 Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte qualquer H2O2 formado in vivo nestes organelos não deverá ser degradado expressivamente por esta via(51, 62). Na generalidade dos animais, a CAT está presente em praticamente todos os órgãos, estando particularmente concentrada no fígado e nos eritrócitos(51). O cérebro, o coração, e os músculos esqueléticos contêm pequenas quantidades, porém, a sua actividade é muito variável nos diversos músculos e em diferentes regiões do mesmo músculo(51). Tal como a SOD e a GPx, a actividade da CAT é mais elevada nos músculos com predominância de fibras oxidativas e mais reduzida nos músculos com uma grande percentagem de fibras glicolíticas(98). Pelo exposto, fica claro que o organismo possui a capacidade de oxidar o H2O2 a água, através de reacções catalizadas por duas enzimas: a CAT e a GPx(57). Esta conversão é efectuada predominantemente pela GPx, estando a contribuição relativa desta enzima na dependência das concentrações de H2O2(57). De facto, a partir do momento em que a taxa de H2O2 se eleva, podendo esta molécula constituir de substrato, via reacção de Fenton, para formar o HO•, acredita-se que a CAT adquira um papel importante como um mecanismo adicional de defesa antioxidante celular, limitando a acumulação intracelular de H2O2(57). Figura 10. Reacções catalizadas pelas enzimas antioxidantes (GPx – Glutationa Peroxidase; SOD – Superóxido Dismutase; CAT - Catalase; GR – Glutationa Redutase; GSH e GSSG – Formas reduzida e oxidada da Glutationa; NADPH e NADP+ - Formas reduzida e oxidada da Nicotinamida Adenina-dinucleótido Fostato). No que respeita à influência imediata do exercício físico agudo sobre a actividade destas enzimas antioxidantes, os resultados da literatura são confusos e muitas vezes contraditórios(14, 70, 84), havendo necessidade de estudos adicionais esclarecedores daquele efeito no tecido muscular esquelético. De facto, ape- 268 Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275 sar de se esperar que, devido à oxidação das proteínas musculares pelas elevadas taxas de formação de ERO(21, 71, 96), a actividade enzimática em geral pudesse ficar negativamente afectada, com diminuição simultânea da funcionalidade das diferentes enzimas antioxidantes, nem todos os trabalhos experimentais o têm revelado(82). Independentemente do potencial efeito negativo imediato sobre a capacidade antioxidante, é consensual que algumas ERO, particularmente o H2O2, desempenham um importante papel na indução celular da expressão de numerosos genes, entre os quais se encontram os responsáveis pela síntese das enzimas antioxidantes(para mais refs. ver 14, 65, 66, 80, 88, 107). Assim, com o treino físico, à medida que os picos de produção de ERO motivados pelo exercício agudo se vão sucedendo no tempo, será de esperar que a taxa de síntese dos antioxidantes vá também aumentando, proporcionando às células uma maior capacidade de defesa contra esse tipo de situações agudas futuras(84, 111). Por essa razão, a quantificação da actividade das enzimas antioxidantes em situações basais tem também permitido, de forma indirecta, inferir sobre o nível de agressão oxidativa a que o músculo foi sujeito em cada exercício agudo efectuado(71). Os resultados da literatura são consensuais quanto a este assunto, evidenciando um aumento da actividade do sistema de defesa antioxidante muscular após um programa de treino físico(84, 117). Importa salientar que esta maior capacidade antioxidante não se faz sentir apenas durante os momentos de exercício físico agudo, estando presente durante todas as restantes horas do dia onde a actividade contráctil muscular é mais reduzida (Figuras 12 e 13). Talvez este facto explique a maior longevidade demonstrada nos animais treinados, provavelmente pela maior atenuação das lesões oxidativas normalmente induzidas pelo metabolismo basal das células(65, 86). Este aumento da capacidade de defesa contra as ERO não se faz sentir apenas no músculo esquelético, estando presente em numerosos órgãos e tecidos. Por ex e mplo, em indivíduos treinados, comparativamente aos sedentários, está descrita uma maior capacidade antioxidante no plasma(22, 94) e nos eritrócitos(106). Em animais, tem sido demonstrado que o coração, o fígado e o pulmão evidenciam também melhorias na sua capacidade anti-oxidante após treino físico(8, 10, 17, 117). Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético Mecanismos não-enzimáticos Conforme já referido, para além das enzimas antioxidantes, os organismos aeróbios possuem outras substâncias antioxidantes não enzimáticas, umas de características lipofílicas (Vitamina E, b-carotenos, ubiquinona e ubiquinol e flavonóides) e outras hidrofílicas (Vitamina C e GSH)(41, 51, 61, 62). Todas as referidas actuam por intercepção das ERO (Tabela 1), convertendo-as em Figura 11. Acção integrada dos diferentes mecanismos antioxidantes, enzimáticos e não enzimáticos (SOD – espécies menos reactiSuperoxido Dismutase; GR – Glutationa Redutase; GSH e GSSG – Formas reduzida e oxidada da Glutationa; CAT – vas, e participam na Catalase; DNA – Ácido Desoxirribonucleico; RNA – Ácido Ribonucleico). reparação das alterações estruturais da célula, iniciadas pelas ERO, contrimente à situação de repouso, constituem bons indibuindo em conjunto com os outros agentes antioxicadores dos níveis de stress oxidativo surgido durandantes, para a manutenção do equilíbrio do estado te e/ou logo após o exercício(12). redox da célula (Figura 11)(108, 118). Outros agentes antioxidantes não enzimáticos, também referidos na STRESS OXIDATIVO tabela 1, actuam por prevenção, evitando a presença Por definição, a situação de stress oxidativo (SO) de metais de transição na sua forma livre (preveninocorre quando existe um desequilíbrio entre a acção do a ocorrência de reacções de Fenton e de Haberdos agentes oxidantes e dos antioxidantes, a favor dos Weiss). Para além destes compostos, também os primeiros (Figura 12)(43, 46, 50, 85, 102, 104, 109, 110, 119). Em estrogénios parecem aumentar a capacidade celular termos gerais, o estado de SO orgânico parece variar de resistência à formação de ERO, funcionando de com a concentração de oxigénio envolvente, com o uma forma cooperativa entre si, embora independentipo de tecido analisado e com o seu estado fisiológico te dos restantes antioxidantes(11, 69, 118). (incluindo aqui as situações de repouso e de exercício Em consequência do exercício físico agudo, é de físico agudo), com a dieta e a idade do indivíduo, com esperar que muitos dos antioxidantes de intercepção a ingestão de fármacos, com a exposição a condições diminuam as suas concentrações musculares. Por ambientais impróprias, tais como radiação ultra violeexemplo, a nível muscular esquelético, numerosos ta, a poluição, a humidade relativa e a temperatura trabalhos têm analisado as concentrações de GSH e ambiente e com o stress emocional(80). de antioxidantes de intercepção exógenos (vitamiEsta situação de SO traduz-se, de forma imediata, na nas) no músculo esquelético após exercício físico incapacidade de impedir ou reparar as repercussões agudo(para refs. ver 61, 66). Assim, no músculo esquelétinefastas das ERO sobre as estruturas celulares e é co, a demonstração de uma acentuada redução das assumido que ocorra em todos os seres biológicos, concentrações de GSH (com a concomitante elevação mesmo em situações de funcionalidade basal, isto é, das concentrações de GSSG) assim como uma reduem repouso (Figura 12)(86). Aumentos do SO podem ção dos níveis de vitamina E tecidual, comparativadever-se não só a um aumento da taxa de produção Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275 269 Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte voláteis(73), um potencial indicador dos níveis de peroxidação lipídica. À semelhança do descrito para o músculo esquelético, é hoje unanimemente aceite que o exercício agudo, sobretudo se exaustivo, induz também a nível cardíaco um aumento dos marcadores de lesão oxidatiFigura 12. Conceito de stress oxidativo baseado no desequilíbrio entre as acções pró-oxidante e antioxidante teciduais. va(62), sugestivo da elevação do SO tecidual. De facto, o miocárdio parece ser particularmente suscepde ERO, mas também a uma redução da capacidade tível a todas as situações que promovam uma elevação antioxidante ou, ainda, à conjugação destes dois facdo seu metabolismo, nas quais se incluem o exercício tores(16, 104). físico agudo, uma vez que a sua capacidade metabóliNo que diz respeito ao músculo esquelético, tendo ca oxidativa é muito elevada e, simultaneamente, posem consideração que este parece ser muito mais sui uma actividade relativamente baixa das enzimas dependente da GSH para a neutralização das ERO do que compõe o seu sistema antioxidante(17, 64). De que o fígado e o rim(9), a medição das concentrações facto, existem evidências directas de que o exercício de GSH e GSSG e/ou da actividade das enzimas relaagudo aumenta de forma significativa, comparativacionadas com a sua homeostasia, é considerada o mente às situações de repouso, a taxa de produção do melhor meio de quantificação indirecta do SO neste radical hidroxilo neste órgão(93). Os dados existentes tecido(62, 63, 109). Apesar dos marcadores utilizados sugerem que as principais fontes desta taxa aumentanem sempre revelarem alterações significativas após da de ERO no coração são semelhantes às do músculo exercícios suaves (habituais)(para refs. ver 107, 108, 119), a esquelético: a mitocôndria e a xantina oxidase(para mais grande maioria dos trabalhos efectuados tem relatarefs. ver 17, 64). Para além do músculo esquelético e do do um incremento dos indicadores de stress e de coração, a elevação dos níveis de SO e de lesão oxidalesão oxidativa no músculo esquelético durante ou tiva têm também sido descritas em muitos outros após o exercício físico intenso, quer em animais(95), órgãos e tecidos(8, 10, 17, 20, 22, 29, 67, 68, 78, 92, 93). Esta quer em humanos(13), estando a magnitude do fenósituação não será de estranhar se tiver em considerameno intimamente dependente das características do ção que, durante o exercício físico agudo, as alteraexercício efectuado(107). ções metabólicas não se restringem apenas ao sistema muscular esquelético ou ao sistema cardiovascular(7, REPERCUSSÕES OXIDATIVAS SISTÉMICAS 29, 67, 68, 89, 92, 99, 117). De facto, as acentuadas alterações DO EXERCÍCIO AGUDO hormonais, assim como as alterações térmicas, assoEm humanos, por razões éticas e logísticas, associaciadas ao exercício intenso e exaustivo far-se-ão sentir, das aos necessários métodos invasivos, as evidências de forma mais ou menos intensa, na maior parte das de stress e de lesão oxidativa motivados pelo exercícélulas corporais, tais como no pulmão, no rim e no cio agudo têm sido essencialmente estudadas a nível fígado(8, 10, 17, 29, 67, 78, 92, 93). sanguíneo, quer no plasma, quer nas células circulantes(27, 39, 89). A ocorrência de lesão oxidativa no CONCLUSÕES organismo em geral, particularmente de peroxidação Pelo exposto, não parece haver dúvidas que a realizalipídica, foi também testemunhada em humanos ção de exercício físico agudo, especialmente se com indicadores indirectos obtidos por meios não exaustivo e inabitual, agrava os níveis de SO, quer invasivos de fiabilidade duvidosa, tais como a quantificação da excreção pulmonar de hidrocarbonetos nos músculos esqueléticos recrutados, quer nos dife- 270 Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275 Exercício agudo e stress oxidativo muscular esquelético Figura 13. Comparação dos níveis de stress oxidativo entre indivíduos sedentários e treinados, em situações de repouso e de exercício físico agudo. rentes órgãos e tecidos associados com a regulação da homeostasia orgânica. A magnitude deste processo está intimamente dependente da duração, da intensidade e do tipo de exercício efectuado. Por outro lado, o exercício físico quando praticado de forma regular induz um aumento crónico da actividade do sistema de defesa antioxidante, protegendo o músculo esquelético do ataque das ERO, quer em situações de repouso, quer durante o exercício agudo. Pelo facto de, no dia-a-dia dos atletas, o tempo passado em situações basais ser manifestamente superior aquele dispendido em exercício agudo, é possível que, pelo aumento dos sistemas de defesa antioxidante, os níveis basais de SO nestes sujeitos sejam bem mais reduzidos do que nos sedentários, dando-lhes assim mais protecção contra os processos degenerativos decorrentes do seu próprio metabolismo basal, os quais estão intimamente associados ao processo de envelhecimento biológico. Esta hipótese é suportada pelo aumento da longevidade observado em animais treinados, sujeitos ou não à restrição calórica. CORRESPONDÊNCIA José Alberto Duarte CIAFEL, FADEUP R. Dr. Plácido Costa, 91 4200-450 Porto Tel: 225074784; Fax: 225500689 e-mail: jarduarte@fade.up.pt Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275 271 Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte BIBLIOGRAFIA 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 272 Agostinelli E, Arancia G, Vedova L, Belli F, Marra M, Salvi M, Toninello A (2004). The biological functions of polyamine oxidation products by amine oxidases: perspectives of clinical applications. Amino Acids. 27: 347-358. Ames B, Shigenaga M, Hagen T (1993). Oxidants, antioxidants, and the degenerative diseases of aging. Proc Natl Acad Sci USA. 90(17): 7915-7922. Appell HJ, Duarte JA, Glöser S, Remião F, Carvalho F, Bastos M, Soares J. (1997). Administration of tourniquet. II. Prevention of postischemic oxidative stress can reduce muscle edema. Arch Orthop Trauma Surg. 116(1-2): 101-105. Appell HJ, Soares J, Duarte JA (1992). Exercise, muscle damage and fatigue. Sports Med. 13(2): 108-115. 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Rev Port Cien Desp 7(2) 257–275 275 Revista Portuguesa de Ciências do Desporto NORMAS DE PUBLICAÇÃO Tipos de publicação Regras gerais de publicação Preparação dos manuscritos Investigação original A RPCD publica artigos originais relativos a todas as áreas das ciências do desporto. Os artigos submetidos à RPCD deverão conter dados originais, teóricos ou experimentais, na área das ciências do desporto. A parte substancial do artigo não deverá ter sido publicada em mais nenhum local. Se parte do artigo foi já apresentada publicamente deverá ser feita referência a esse facto na secção de Agradecimentos. Os artigos submetidos à RPCD serão, numa primeira fase, avaliados pelos editores-chefe e terão como critérios iniciais de aceitação: normas de publicação, relação do tópico tratado com as ciências do desporto e mérito científico. Depois desta análise, o artigo, se for considerado previamente aceite, será avaliado por 2 “referees” independentes e sob a forma de análise “duplamente cega”. A aceitação de um e a rejeição de outro obrigará a uma 3ª consulta. Aspectos gerais Cada artigo deverá ser acompanhado por uma carta de rosto que deverá conter: – Título do artigo e nomes dos autores; – Declaração de que o artigo nunca foi previamente publicado; Revisões da investigação A RPCD publica artigos de síntese da literatura que contribuam para a generalização do conhecimento em ciências do desporto. Artigos de meta-análise e revisões críticas de literatura são dois possíveis modelos de publicação. Porém, este tipo de publicação só estará aberto a especialistas convidados pela RPCD. Comentários Comentários sobre artigos originais e sobre revisões da investigação são, não só publicáveis, como são francamente encorajados pelo corpo editorial. Estudos de caso A RPCD publica estudos de caso que sejam considerados relevantes para as ciências do desporto. O controlo rigoroso da metodologia é aqui um parâmetro determinante. Ensaios A RPCD convidará especialistas a escreverem ensaios, ou seja, reflexões profundas sobre determinados temas, sínteses de múltiplas abordagens próprias, onde à argumentação científica, filosófica ou de outra natureza se adiciona uma forte componente literária. Revisões de publicações A RPCD tem uma secção onde são apresentadas revisões de obras ou artigos publicados e que sejam considerados relevantes para as ciências do desporto. Formato – Os manuscritos deverão ser escritos em papel A4 com 3 cm de margem, letra 12 e com duplo espaço e não exceder 20 páginas; – As páginas deverão ser numeradas sequencialmente, sendo a página de título a nº1; Dimensões e estilo – Os artigos deverão ser o mais sucintos possível; A especulação deverá ser apenas utilizada quando os dados o permitem e a literatura não confirma; – Os artigos serão rejeitados quando escritos em português ou inglês de fraca qualidade linguística; – As abreviaturas deverão ser as referidas internacionalmente; Página de título A página de título deverá conter a seguinte informação: – Especificação do tipo de trabalho (cf. Tipos de publicação); – Título conciso mas suficientemente informativo; – Nomes dos autores, com a primeira e a inicial média (não incluir graus académicos) – “Running head” concisa não excedendo os 45 caracteres; – Nome e local da instituição onde o trabalho foi realizado; – Nome e morada do autor para onde toda a correspondência deverá ser enviada, incluindo endereço de e-mail; Página de resumo – Resumo deverá ser informativo e não deverá referir-se ao texto do artigo; – Se o artigo for em português o resumo deverá ser feito em português e em inglês; – Deve incluir os resultados mais importantes que suportem as conclusões do trabalho; Deverão ser incluídas 3 a 6 palavras-chave; – Não deverão ser utilizadas abreviaturas; – O resumo não deverá exceder as 200 palavras; Introdução – Deverá ser suficientemente compreensível, explicitando claramente o objectivo do trabalho e relevando a importância do estudo face ao estado actual do conhecimento; – A revisão da literatura não deverá ser exaustiva; Material e métodos – Nesta secção deverá ser incluída toda a informação que permite aos leitores realizarem um trabalho com a mesma metodologia sem contactarem os autores; – Os métodos deverão ser ajustados ao objectivo do estudo; deverão ser replicáveis e com elevado grau de fidelidade; – Quando utilizados humanos deverá ser indicado que os procedimentos utilizados respeitam as normas internacionais de experimentação com humanos (Declaração de Helsínquia de 1975); – Quando utilizados animais deverão ser utilizados todos os princípios éticos de experimentação animal e, se possível, deverão ser submetidos a uma comissão de ética; – Todas as drogas e químicos utilizados deverão ser designados pelos nomes genéricos, princípios activos, dosagem e dosagem; – A confidencialidade dos sujeitos deverá ser estritamente mantida; – Os métodos estatísticos utilizados deverão ser cuidadosamente referidos; estatísticos não deverão ser evitadas; – Sempre que possível, deverão ser incluídas recomendações; – A discussão deverá ser completada com um parágrafo final onde são realçadas as principais conclusões do estudo; Resultados – Os resultados deverão apenas conter os dados que sejam relevantes para a discussão; – Os resultados só deverão aparecer uma vez no t exto: ou em quadro ou em figura; – O texto só deverá servir para relevar os dados mais relevantes e nunca duplicar informação; – A relevância dos resultados deverá ser suficientemente expressa; – Unidades, quantidades e fórmulas deverão ser utilizados pelo Sistema Internacional (SI units). – Todas as medidas deverão ser referidas em unidades métricas; Referências – As referências deverão ser citadas no texto por número e compiladas alfabeticamente e ordenadas numericamente; – Os nomes das revistas deverão ser abreviados conforme normas internacionais (ex: Index Medicus); – Todos os autores deverão ser nomeados (não utilizar et al.) – Apenas artigos ou obras em situação de “in press” poderão ser citados. Dados não publicados deverão ser utilizados só em casos excepcionais sendo assinalados como “dados não publicados”; – Utilização de um número elevado de resumos ou de artigos não “peer-reviewed” será uma condição de não aceitação; Discussão – Os dados novos e os aspectos mais importantes do estudo deverão ser relevados de forma clara e concisa; – Não deverão ser repetidos os resultados já apresentados; – A relevância dos dados deverá ser referida e a comparação com outros estudos deverá ser estimulada; – As especulações não suportadas pelos métodos Agradecimentos Se o artigo tiver sido parcialmente apresentado publicamente deverá aqui ser referido o facto; Qualquer apoio financeiro deverá ser referido; Exemplos de referências ARTIGO DE REVISTA 1 Pincivero DM, Lephart SM, Karunakara RA (1998). Reliability and precision of isokinetic strength and muscular endurance for the quadriceps and hamstrings. Int J Sports Med 18: 113-117 LIVRO COMPLETO Hudlicka O, Tyler KR (1996). Angiogenesis. The growth of the vascular system. London: Academic Press Inc. Ltd. CAPÍTULO DE UM LIVRO Balon TW (1999). Integrative biology of nitric oxide and exercise. In: Holloszy JO (ed.). Exercise and Sport Science Reviews vol. 27. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 219-254 FIGURAS Figuras e ilustrações deverão ser utilizadas quando auxiliam na melhor compreensão do texto; As figuras deverão ser numeradas em numeração árabe na sequência em que aparecem no texto; As figuras deverão ser impressas em folhas separadas daquelas contendo o corpo de texto do manuscrito. No ficheiro informático em processador de texto, as figuras deverão também ser colocadas separadas do corpo de texto nas páginas finais do manuscrito e apenas uma única figura por página; As figuras e ilustrações deverão ser submetidas com excelente qualidade gráfico, a preto e branco e com a qualidade necessária para serem reproduzidas ou reduzidas nas suas dimensões; As fotos de equipamento ou sujeitos deverão ser evitadas; QUADROS Os quadros deverão ser utilizados para apresentar os principais resultados da investigação. Deverão ser acompanhados de um título curto; Os quadros deverão ser apresentados com as mesmas regras das referidas para as legendas e figuras; Uma nota de rodapé do quadro deverá ser utilizada para explicar as abreviaturas utilizadas no quadro. Formas de submissão A submissão de artigos para a RPCD poderá ser efectuada por via postal, através do envio de 1 exemplar do manuscrito em versão impressa em papel, acompanhada de versão gravada em suporte informático (CDROM ou DVD) contendo o artigo em processador de texto Microsoft Word (*.doc). Os artigos poderão igualmente ser submetidos via email, anexando o ficheiro contendo o manuscrito em processador de tex t o Microsoft Word (*.doc) e a declaração de que o artigo nunca foi previamente publicado. E n d e reços para envio de artigos Revista Portuguesa de Ciências do Desporto Faculdade de Desporto da Universidade do Po r t o Rua Dr. Plácido Costa, 91 4200.450 Po r t o Portugal E-mail: rpcd@fade.up.pt Portuguese Journal of Sport Sciences PUBLICATION NORMS Working materials (manuscripts) Original investigation The PJSS publishes original papers related to all areas of Sport Sciences. Reviews of the literature (state of the art papers) State of the art papers or critical literature reviews are published if, and only if, they contribute to the generalization of knowledge. Meta-analytic papers or general reviews are possible modes from contributing authors. This type of publication is open only to invited authors. Commentaries Commentaries about published papers or literature reviews are highly recommended by the editorial board and accepted. Case studies Highly relevant case studies are favoured by the editorial board if they contribute to specific knowledge within the framework of Sport Sciences research. The meticulous control of research methodology is a fundamental issue in terms of paper acceptance. Essays The PJSS shall invite highly regarded specialists to write essays or careful and deep thinking about several themes of the sport sciences mainly related to philosophy and/or strong argumentation in sociology or psychology. Book reviews The PJSS has a section for book reviews. General publication rules Manuscript preparation All papers submitted to the PJSS are obliged to have original data, theoretical or experimental, within the realm of Sport Sciences. It is mandatory that the submitted paper has not yet been published elsewhere. If a minor part of the paper was previously published, it has to be stated explicitly in the acknowledgments section. All papers are first evaluated by the editor in chief, and shall have as initial criteria for acceptance the following: fulfilment of all norms, clear relationship to Sport Sciences, and scientific merit. After this first screening, and if the paper is firstly accepted, two independent referees shall evaluate its content in a “double blind” fashion. A third referee shall be considered if the previous two are not in agreement about the quality of the paper. After the referees receive the manuscripts, it is hoped that their reviews are posted to the editor in chief in no longer than a month. General aspects The first page of the manuscript has to contain: – Title and author(s) name(s) – Declaration that the paper has never been published Format – All manuscripts are to be typed in A4 paper, with margins of 3 cm, using Times New Roman style size 12 with double space, and having no more than 20 pages in length. – Pages are to be numbered sequentially, with the title page as nr.1. Size and style – Papers are to be written in a very precise and clear language. No place is allowed for speculation without the boundaries of available data. – If manuscripts are highly confused and written in a very poor Portuguese or English they are immediately rejected by the editor in chief. – All abbreviations are to be used according to international rules of the specific field. Title page – Title page has to contain the following information: – Specification of type of manuscript (but see working materials-manuscripts). – Brief and highly informative title. – Author(s) name(s) with first and middle names (do not write academic degrees) – Running head with no more than 45 letters. – Name and place of the academic institutions. – Name, address, fax number and email of the person to whom the proof is to be sent. Abstract page – The abstract has to be very precise and contain no more than 200 words, including objectives, design, main results and conclusions. It has to be intelligible without reference to the rest of the paper. – Portuguese and English abstracts are mandatory. – Include 3 to 6 key words. – Do not use abbreviations. Introduction – Has to be highly comprehensible, stating clearly the purpose(s) of the manuscript, and presenting the importance of the work. – Literature review included is not expected to be exhaustive. Material and methods – Include all necessary information for the replication of the work without any further information from authors. – All applied methods are expected to be reliable and highly adjusted to the problem. – If humans are to be used as sampling units in experimental or non-experimental research it is expected that all procedures follow Helsinki Declaration of Human Rights related to research. – When using animals all ethical principals related to animal experimentation are to be respected, and when possible submitted to an ethical committee. – All drugs and chemicals used are to be designated by their general names, active principles and dosage. – Confidentiality of subjects is to be maintained. – All statistical methods used are to be precisely and carefully stated. Results – Do provide only relevant results that are useful for discussion. – Results appear only once in Tables or Figures. – Do not duplicate information, and present only the most relevant results. – Importance of main results is to be explicitly stated. – Units, quantities and formulas are to be expressed according to the International System (SI units). – Use only metric units. Discussion – New information coming from data analysis should be presented clearly. – Do no repeat results. – Data relevancy should be compared to existing information from previous research. – Do not speculate, otherwise carefully supported, in a way, by insights from your data analysis. – Final discussion should be summarized in its major points. Acknowledgements – If the paper has been partly presented elsewhere, do provide such information. – Any financial support should be mentioned. References – Cited references are to be numbered in the text, and alphabetically listed. – Journals’ names are to be cited according to general abbreviations (ex: Index Medicus). – Please write the names of all authors (do not use et al.). – Only published or “in press” papers should be cited. Very rarely are accepted “non published data”. – If non-reviewed papers are cited may cause the rejection of the paper. Examples PEER-REVIEW PAPER 1 Pincivero DM, Lephart SM, Kurunakara RA (1998). Reliability and precision of isokinetic strength and muscular endurance for the quadriceps and hamstrings. In J Sports Med 18:113-117 COMPLETE BOOK Hudlicka O, Tyler KR (1996). Angiogenesis. The growth of the vascular system. London:Academic Press Inc. Ltd. BOOK CHAPTER Balon TW (1999). Integrative biology of nitric oxide and exercise. In: Holloszy JO (ed.). Exercise and Sport Science Reviews vol. 27. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 219-254 FIGURES Figures and illustrations should be used only for a better understanding of the main text. Use sequence arabic numbers for all Figures. Each Figure is to be presented in a separated sheet with a short and precise title. In the back of each Figure do provide information regarding the author and title of the paper. Use a pencil to write this information. All Figures and illustrations should have excellent graphic quality I black and white. Avoid photos from equipments and human subjects. TABLES Tables should be utilized to present relevant numerical data information. Each table should have a very precise and short title. Tables should be presented within the same rules as Legends and Figures. Tables’ footnotes should be used only to describe abbreviations used. Manuscript submission The manuscript submission could be made by post sending one hard copy of the article together with an electronic version [Microsoft Word (*.doc)] on CD-ROM or DVD. Manuscripts could also be submitted by e-mail attaching an electronic file version [Microsoft Word (*.doc)] together with the declaration that the paper has never been previously published. Address for manuscript submission Revista Portuguesa de Ciências do Desporto Faculdade de Desporto da Universidade do Porto Rua Dr. Plácido Costa, 91 4200.450 Porto Portugal E-mail: rpcd@fade.up.pt Aceleração e tempo de duração de impacto em segmentos corporais do judoca durante a realização de ukemi em diferentes tipos de tatames Acceleration and impact time on judo’s athlete body segmets during ukemi movement on different tatame types Saray G. dos Santos, Sebastião I.L. Melo, Roberto M. Heidrich, António R.P. Moro, Diogo C. Reis Effects of different handle techniques during the back pull exercise on the angular kinematic and production of strength Análise cinemática de duas técnicas de “pegada” no exercício puxada alta Luciano P. da Silva, Juliano Dal Pupo, Josiele V. Alves, Carlos B. Mota Características dinâmicas de movimentos seleccionados do basquetebol Dynamical characteristics of basketball specific movements Fernanda M. Acquesta, Germano M. Peneireiro, Roberto Bianco, Alberto C. Amadio, Júlio C. Serrão Efeito da posição da omoplata na força máxima isométrica de flexão do ombro Effect of scapular position on shoulder flexion maximum isometric strength Otília Sousa, Fernando Ribeiro, Mário Leite, Francisco Silva, Ana P. Azevedo O efeito da interferência contextual em idosos The contextual interference effect in elderly people Wesley R. Gonçalves, Guilherme M. Lage, Alexandro B. da Silva, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda Actividade física, equilíbrio e medo de cair. Um estudo em idosos institucionalizados Physical activity, balance and fear of falling. A study with institutionalized older people Joana Carvalho, Joana Pinto, Jorge Mota Situações de estresse no vôlei de praia de alto rendimento: um estudo de caso com uma dupla olímpica Situations of stress in high performance beach volley: a case study with an olympic pair Joice Stefanello Torcida familiar: a complexidade das inter-relações na iniciação esportiva ao futebol Parental support: inter-relationships complexity in football sportive initiation Fabrício M. Filgueira, Gisele M. Schwartz ARTIGOS DE REVISÃO [Reviews] Stress oxidativo e dano oxidativo muscular esquelético: influência do exercício agudo inabitual e do treino físico Oxidative stress and damage in skeletal muscle: influence of unusual acute exercise and physical conditioning Filipe Ferreira, Rita Ferreira, José Alberto Duarte A RPCD tem o apoio da FCT Programa Operacional Ciência, Tecnologia, Inovação do Quadro Comunitário de Apoio III Maio·Agosto 07 Publicação quadrimestral Vol. 7, Nº 2, Maio·Agosto 2007 ISSN 1645–0523 Dep. Legal 161033/01 Vol. 7, Nº 2 Análise das componentes da prova como ponto de partida para a definição de objectivos na natação na categoria de cadetes Chronometric analyses of swimming events in infantile swimmers: An objective model for goal setting António Silva, Filipa Silva, António Reis, Victor Reis, Daniel Marinho, André Carneiro, Jorge Morais, Felipe Aidar Efeito da complexidade da tarefa na direção da transferência bilateral em habilidades motoras seriadas Effect of task complexity in the bilateral transfer direction in serial motor skills Dayane M. Pinho, Guilherme M. Lage, Herbert Ugrinowitsch, Rodolfo N. Benda revista portuguesa de ciências do desporto Volume 7 · Nº 2 Maio·Agosto 2007 portuguese journal of sport sciences Determinação da gemelaridade: do questionário de Peeters aos micro-satélites aleatórios espalhados pelo DNA Zygosity determination: From Peeters’ questionnaire to DNA microsatelites José Maia, Sónia Fernandes, António Amorim, Cíntia Alves, Leonor Gusmão, Luísa Pereira Ritmo dos jogos das finais das competições europeias de basquetebol (1988-2006) e as estatísticas que discriminam os jogos mais rápidos dos jogos mais lentos Basketball game rhythm in the European Competitions Finals’ (1988-2006) and the game-related statistics that discriminate between fast and slow paced games Jorge M. Malarranha, Jaime Sampaio revista portuguesa de ciências do desporto [portuguese journal of sport sciences] ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO [RESEARCH PAPERS]
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