Sobre abacaxis, pepinos e afins
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Sobre abacaxis, pepinos e afins
Editorial Sobre abacaxis, pepinos e afins... E sta edição da REVISTA PROCON-SP tem como destaque o Cadastro de Reclamações Fundamentadas, dispositivo que permite ao consumidor conhecer todas as empresas que tiveram processos administrativos registrados no Procon-SP no ano anterior – no caso, 2009. Basicamente, é um instrumento para que consumidores possam consultar antes de comprar um serviço ou contratar um produto. Simbolicamente, o Procon-SP divulga também o ranking com as empresas que mais tiveram reclamações fundamentadas – aquelas que, em vez de soluções, criaram abacaxis (ou pepinos?) aos consumidores. E já que estamos falando de comida... Ganha um doce quem acertar que empresa ficou em primeiro lugar. Essa é fácil, né? Pelo quarto ano consecutivo, a pouco honrosa liderança é da Telefônica. Disparado. Sem margem para dúvida. O número de reclamações da concessionária de telefonia fixa é dez vezes superior ao segundo colocado, o Grupo Itaú. Na terceira colocação, aparece a Eletropaulo. O “avanço” no ranking revela uma situação preocupante, que reflete uma piora na qualidade do atendimento e do serviço prestado. Um detalhe: os recentes episódios de corte de energia NÃO estão computados ainda, uma vez que as eventuais reclamações fazem parte dos dados de 2010. Será que a Eletropaulo vai continuar galgando posições nesta indesejada lista? O leitor também encontrará nas páginas que seguem reportagem sobre a melhora do atendimento do Procon-SP. Novos procedimentos estão trazendo maior eficiência ao órgão e conforto ao consumidor. Os resultados já estão começando a ser sentidos no dia a dia dos postos do Poupatempo. Para finalizar, recomendo a entrevista com José Geraldo Brito Filomeno, uma verdadeira história viva do movimento consumerista. Na área desde 1983, ele foi um dos membros da comissão que elaborou o anteprojeto de lei que deu origem ao CDC, além de ter criado e chefiado o centro de apoio operacional das promotorias do consumidor, no Ministério Público de São Paulo. Vale a pena! Boa leitura a todos. Felipe Neves Editor chefe janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 1 Notas Fraudes na mira A Fundação Procon-SP e a Secretaria da Fazenda estão colocando em prática Lei do Perdimento (Lei 12.675/07), Compensação causando prejuízo aos fraudadores e, por conseguinte, combatendo o crime organizado da adulteração de combustível. Em 24 de fevereiro, 1.300 litros de gasolina armazenada nas bombas do “Auto Posto 108”, localizado na Rua Camargo, 159/165, no bairro Butantã, foram apreendidos após constatação de que havia mistura de álcool em proporção superior ao permitido, além do uso de solvente. Em novembro de 2009, foram recolhidos 11 mil litros de combustível que estavam armazenados em um posto da zona sul de São Paulo. Deste total, seis mil litros passaram pelo processo de filtragem e já podem ser doados ou aproveitados em veículos do Corpo de Bombeiros, ambulâncias, polícia ou outros veículos oficiais, sem prejuízo aos seus desempenhos. Segundo a Lei do Perdimento, o combustível recuperado pode ser incorporado ao patrimônio do Estado. Estas operações foram viabilizadas pela assinatura de convênio entre o governo de São Paulo e o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom). A parceria com os distribuidores agregou ao trabalho de combate à venda de produtos adulterados a estrutura técnica necessária para a reutilização de combustíveis apreendidos. que deixar de ser atendido. Se a companhia deixar de disponibilizar o canal de atendimento, ficará sujeita a multa diária no valor de R$ 10.000. apresentou o maior índice de uso da banda larga, com 93,4%, enquanto a norte foi a que apresentou a menor proporção (70,4%). Os dados fazem parte do Suplemento da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2008 sobre Acesso à Internet e Posse de Telefone Móvel Celular para Uso Pessoal. Na rede Em função do episódio do rompimento da adutora da Sabesp na zona sul da capital, que deixou milhares de consumidores sem fornecimento de água por até 5 dias, a Fundação Procon-SP firmou Termo de Ajustamento de Conduta com a companhia. O acordo obrigou a empresa a compensar os atingidos mediante a não cobrança da tarifa mínima de consumo do serviço de abastecimento de água e coleta de esgoto – o equivalente a 10 mil litros ou cerca de R$ 27 para o consumidor residencial normal. Ficou acertado também que a Sabesp informaria, junto à conta, sem prejuízo de outros meios, de forma clara, ostensiva e detalhada, o método empregado para a compensação. O acordo determinou ainda, que a empresa disponibilizasse, atendimento gratuito para os pedidos de reparação de danos dos consumidores. Em caso de descumprimento, a Sabesp arcará com o pagamento de multa de R$ 1.000 para cada imóvel 2 Dor de cabeça Alguém consegue imaginar a vida no século 21 sem internet? Pois é. O brasileiro está cada dia mais conectado à rede mundial de computadores. E mais exigente. A velha conexão discada também já virou pré-histórica. Pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgada em dezembro, revelou que 80,3% da população brasileira que acessou a internet em casa em 2008 usou banda larga. Do restante, 18% conectou unicamente por conexão discada e 1,7% através das duas formas. Para se ter uma ideia, em 2005, o percentual do uso da banda larga era de 41,2%. Isto é, dobrou a participação da conexão mais rápida entre os usuários de internet do país. A região centro-oeste foi a que Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 No meio de janeiro, a Johnson & Johnson fez recall de diversos medicamentos, nos Estados Unidos, devido a um cheiro de mofo que fez usuários ficarem doentes. Entre os medicamentos está o Tylenol. Segundo a companhia, o recall inclui cerca de 500 lotes. A Johnson & Johnson no Brasil afirmou que nenhum dos lotes marcados no recall chegou ao país. O recall inclui lotes regulares e extras de Tylenol, Tylenol infantil, Tylenol de oito horas, Tylenol para artrite, Tylenol PM, Motrin para crianças, Motrin Notas IB, Benadryl Rolaids, Simply Sleep e a aspirina St. Joseph. Em novembro, a empresa chamou para recall o Tylenol Artrite em pílulas devido ao cheiro --que causou náuseas, dor de estômago, vômito e diarreia. e “atendimento”. Já a outra irregularidade ocorreu pela espera pelo atendimento ter ultrapassado três minutos, sendo que o limite é de um minuto. Papel do regulador Os juros médios cobrados dos consumidores registraram, em dezembro, o menor percentual desde janeiro de 1995, de acordo com a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças). A taxa média teve queda de 0,10 ponto percentual, em comparação com novembro, passando de 6,96% ao mês (124,21% ao ano) para 6,86% ao mês (121,71% ao ano). Entre as seis linhas de crédito para pessoa física pesquisadas, somente o cartão de crédito manteve a taxa inalterada, as demais tiveram os juros reduzidos no mês. A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) aplicou duas multas à operadora Oi por descumprimento de metas de qualidade na prestação dos serviços. No total, a empresa teve que pagar R$ 5 milhões. A primeira multa, de R$ 1,72 milhão, refere-se ao período de outubro de 2005 a setembro de 2006 e diz respeito à área original de atuação da companhia, em 18 Estados, do Rio de Janeiro ao Amazonas. A segunda multa, de R$ 3,28 milhões, refere-se ao período de setembro de 2006 a setembro de 2007 e abrange a mesma área de autorização. Recorde Boa referência Grosseria Alô? Tem alguém aí? Desrespeitar as regras do Serviço de Atendimento ao Consumidor custa caro. Recentemente, a Fundação Procon-SP aplicou mais 28 multas contra 23 fornecedores que desrespeitaram o Decreto 6.523/08. Somadas às 22 multas que haviam sido aplicadas em julho, o Procon-SP já puniu 50 casos de desrespeito à norma – totalizando 43 empresas denunciadas e sanções que superam R$ 35 milhões. Agora em fevereiro foi a vez da TAM receber uma multa salgada: R$ 1,9 milhão. Quem aplicou a sanção foi o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), órgão do Ministério da Justiça. Segundo o DPDC, a empresa cometeu duas irregularidades em novembro do ano passado. A primeira ilegalidade foi pela não inclusão no menu inicial das opções “reclamação” operadoras de telefonia móvel de encaminharem mensagens de texto não solicitadas a seus consumidores. Segundo a agência, todas as operadoras receberam um ofício informando sobre a obrigação, a partir de 1º de maio de 2010, de que os contratos de adesão ao serviço de telefonia móvel contenham cláusulas em que o cliente possa optar por receber ou não mensagens publicitárias. As cláusulas devem ser redigidas de forma clara, acrescidas de um campo no qual o usuário deverá assinalar se deseja ou não receber tais mensagens. O desrespeito ao consumidor chegou às vias de fato na cidade de Wanganui, na Nova Zelândia. Uma cliente de uma operadora de celular – identificada como Vanessa – ligou para reclamar do serviço. Até aí, sem novidades. Alguns minutos depois ela recebeu um SMS, com a seguinte mensagem: “Fuck you, customer”. É melhor não traduzir, né? Depois que o caso ganhou publicidade, um porta-voz da empresa se manifestou. Disse que o episódio está sendo investigado com rigor, mas ressaltou que os funcionários do call center são treinados da melhor forma possível. Será? Privacidade Atendendo a uma recomendação feita pelo MPF (Ministério Público Federal), a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) proibiu todas as O Inmetro divulgou recentemente seu ranking 2010, que indica o consumo de combustível e eficiência energética de veículos. A Etiqueta Nacional de Conservação de Energia mostra informações sobre o desempenho do automóvel em relação ao gasto médio na cidade e na estrada (em km/l ou km/m3, no caso dos motores a gás natural), e classifica o modelo de acordo com seu nível de consumo. Os carros flex com nota máxima no ranking são: o Fiat Mille Fire Economy 1.0, com 8,8 km/l de álcool (no ciclo urbano), o Honda Fit 1.4 manual com 7,6 km/l, Volkswagen Gol 1.0 e Polo Blue Motion, ambos com 7,4 km/l, e o Honda Civic 1.8 manual com 7,2 km/l. Já os modelos a gasolina mais bem posicionados são o Kia Picanto com a média de 12,4 km/l de gasolina e o Cerato, com 10,1 km/l. A avaliação atribui nota de A a E, do menor para o maior consumo, respectivamente. Ao todo, foram testadas seis marcas, 35 modelos e 67 versões diferentes. A lista completa está no site do Inmetro (www.inmetro.gov.br). janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 3 Entrevista Fotos: Glauber Ribeiro História viva Por Felipe Neves José Geraldo Brito Filomeno participou da comissão que elaborou o anteprojeto de lei que deu origem ao CDC P rimeiro promotor de justiça do consumidor do país, José Geraldo Brito Filomeno participou efetivamente da construção do movimento consumerista brasileiro. No MP-SP, criou e comandou por 13 anos o centro de apoio operacional da área. Envolvido com o assunto desde 1983, participou da seleta comissão que elaborou o anteprojeto de lei que deu origem ao CDC. Veja a seguir os principais trechos da entrevista exclusiva à REVISTA PROCON-SP. O senhor é um desbravador da defesa do consumidor. Como começou a trabalhar na área? Minha experiência na área do consumidor remonta a 1983, quando fui promotor distrital no Ipiranga. Embora eu nunca tivesse tido nenhum contato com o Procon-SP, eu fui designado pelo procurador-geral de Justiça a participar da reunião do Conselho Estadual de Defesa do Consumidor, junto com o Edis Milaré, que 4 Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 já estava envolvido com meio ambiente. Essa reunião ocorreu no Palácio dos Bandeirantes, sob o comando do governador Montoro. Essa convocação foi uma surpresa? Até hoje não sei por que eu fui o escolhido [risos]. Só sei que acabou sendo histórico. Na reunião, foram estabelecidas as diretrizes do governo para a defesa do consumidor e, dentre essas diretrizes, estava a participação do Ministério Público. Só aí que eu entendi o que estava fazendo lá. E qual foi a sua reação? Comecei a pensar como um promotor de Justiça poderia trabalhar na defesa do consumidor. Fiz um relatório e apresentei ao procurador-geral. Ele aprovou e passei a trabalhar no Procon-SP, em paralelo ao meu trabalho na promotoria. Era muito limitado o que um promotor poderia Entrevista O CDC continua tão atual quanto era há 20 anos. Continua sendo o CDC mais moderno do mundo. Não demanda qualquer tipo de modificação fazer na área de defesa do consumidor, basicamente abrir inquéritos policiais na antiga Decon [Delegacia do Consumidor]. Mas eu sou o primeiro promotor de justiça do consumidor do Brasil, porque nenhum outro MP do país tinha essa estrutura. Em 1985, criamos um centro de apoio das promotorias do consumidor. Foi essa experiência que o levou a participar da elaboração do anteprojeto que deu origem ao CDC, certo? Com relação ao CDC, foi automático. Como eu estava na área desde 1983, em 1988 o ministro da Justiça na época, Paulo Brossard, criou uma comissão composta por cinco pessoas – depois ingressaram mais duas –, que foi incumbida de fazer um anteprojeto do CDC, em junho de 1988. Eu era o coordenador adjunto dessa comissão. A coordenadora era a Profª Ada Pellegrini Grinover. Como foi o trabalho desta comissão? A comissão se reunia toda semana, na Secretaria de Direito e Defesa do Consumidor, criada em 1991, onde ficavam a sub chefia do Procon-SP e do Ipem-SP. Não foi um trabalho fácil. Para chegarmos ao texto final, fizemos mais ou menos uns seis esboços. Em novembro de 1988, entregamos o trabalho para o Ministro da Justiça e foi publicado no Diário Oficial da União, em janeiro de 1989, para pedir sugestões do cidadão comum. Como foi a pesquisa? Nós levantamos mais de 20 leis diferentes de diversos países. Portugal, Espanha, Itália, que tinha um projeto inferior aos demais, mas já tinha alguma coisa, França tinha um projeto muito bom, o Canadá já tinha um código na província de Quebec, do qual nós aproveitamos muita coisa, o México tinha uma lei pioneira, a Venezuela também. Nós analisamos todas e aproveitamos o que elas tinham de melhor. E a base fundamental do CDC foi uma chamada Lei Tipo, um esboço aprovado em uma conferência internacional, realizada em Montevidéu, em 1987. Lá, foi criado uma espécie de chassi de um automóvel. O que tinha essa lei tipo? Primeiro, definição de consumidor. Segundo, definição de fornecedor. Terceiro, direitos básicos do consumidor. Ou seja, ela padronizou os conceitos fundamentais. Em que medida o CDC colabora com a Constituição Federal no sentido de promover a cidadania? O professor Miguel Reale, pai, escreveu o livro “Teoria do Direito do Estado”, que diz o seguinte: ‘quando se fala em defesa do consumidor, fala-se da finalidade da existência do próprio estado. O estado, o poder público, existe para promover o bem comum dos seus cidadãos’. O que é este bem comum? É a realização de todos que se resume ao direito da cidadania. Ou seja, se você coloca produtos e serviços de qualidade, do qual existe uma publicidade transparente, não enganosa, você está na verdade protegendo os direitos do cidadão enquanto consumidores. Ninguém faz nada visando ao nada. Todo mundo produz alguma coisa visando a que este produto venha a ser consumido. O bem comum se confunde com os próprios direitos dos consumidores. Na verdade, os consumidores são cidadãos, que devem ter sua saúde protegida, segurança, sua boa-fé levada em consideração. O CDC coloca o direito à informação como essencial às relações de consumo. Como se chegou à conclusão de que esse deveria ser um ponto central? O direito à informação é um dos direitos fundamentais. É o fio da meada. Para você ser um bom consumidor, antes de qualquer coisa, precisa ser muito bem informado sobre aquilo que está prestes a comprar ou contratar. Ou seja, as características, os malefícios que pode acarretar, o preço, a qualidade, a quantidade, se é um produto de consumo durável. Tem que saber como operar o produto. O direito à informação começa desde a oferta e a publicidade, passando pela embalagem, pelo manual de instrução e até pelos cuidados que o consumidor deve ter para evitar danos à sua saúde e segurança. É um fator fundamental. É dele, aliás, que deriva todos os demais direitos. A informação é onde começa o direito do consumidor. É o início de tudo. Outra inovação do Código é a inversão do ônus da prova. Por que esse dispositivo é importante para a proteção do consumidor? A justificativa principal é que, quando o fornecedor detém em suas mãos todas as informações relativas ao produto e ao serviço que vem apresentar algum problema, o consumidor é obrigado a acreditar. O consumidor é considerado a parte fraca. Tem que se levar em conta sua vulnerabilidade. Às vezes, ele até é bem informado, mas não sabe as minúcias técnicas, por exemplo, que cercam um produto. O senhor poderia dar um exemplo? Quando se adquire um remédio, por exemplo, embo- janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 5 Entrevista Glauber Ribeiro Para você ser um bom consumidor, antes de qualquer coisa, precisa ser muito bem informado sobre aquilo que está prestes a comprar ou contratar A realidade do mercado brasileiro no início dos anos 90 é muito diferente da de agora. Como o CDC consegue se manter atual? O CDC continua tão atual quanto era há 20 anos. Continua sendo o CDC mais moderno do mundo. Não demanda qualquer tipo de modificação. Ele consegue esta proeza porque não foi especifico. É um código de defesa do consumidor, mas não entra em muitos detalhes, a não ser em questões fundamentais. Apesar disso, não deixa de ser uma lei especial, no sentido de tratar diferentemente uma categoria especial de pessoas. Filomeno criou e comandou por 13 anos o centro de apoio operacional das promotorias do consumidor no MP-SP ra esteja com receita médica, quem garante que aquele medicamento não vai fazer mais mal do que bem? O juiz, quando julgar este caso, poderá partir do pressuposto que o consumidor é mal informado, ele é vulnerável. Portanto, ele não dispõe de meios de comprovar aquilo que ele alega. Que outro dispositivo o senhor considera inovador no CDC? Aliado à inversão do ônus da prova, há responsabilidade civil objetiva, e as duas coisas andam juntas. Ou seja, aquele que causa dano ao consumidor é obrigado a indenizar independentemente de culpa, porque a regra geral do Código Civil era de que a pessoa prejudicada tinha que provar, primeiro, que houve prejuízo; segundo, quem foi o autor do prejuízo e, terceiro, e mais importante, por que houve este prejuízo. Com o CDC, quando se tratar de prejuízo ao consumidor, a responsabilidade é objetiva, isto é, produziu dano tem que indenizar. É um ponto alto do CDC. 6 Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 O CDC também trouxe novidade no tratamento coletivo das demandas dos consumidores, certo? O CDC criou uma outra categoria de interesses coletivos, que são os interesses individuais homogêneos de origem comum. Os interesses individuais homogêneos de origem comum são aqueles em que, embora sejam manifestamente individuais, podem ser tratados coletivamente, porque tiveram uma origem comum. Por exemplo, se cai um avião, esta é a origem comum; resultado: a morte de todos os passageiros. Cada uma das famílias dessas pessoas poderia entrar com uma indenização individualmente, mas devido ao fato de elas terem sofrido da mesma origem, isso dá legitimidade ao Ministério Público para agir em benefício de todos. A ação pode ser global. O senhor tem uma visão polêmica em relação às atividades dos Procons estaduais. Continua sendo contra a fiscalização? Os Procons sempre tiveram três funções fundamentais: a função de orientação dos consumidores; pesquisa com relação aos direitos do consumidor; e resolução de conflitos individuais. Com o CDC, erroneamente interpretado desta forma, continuo defendendo isso, entendo que o Procon não é órgão de fiscalização, ou pelo menos não deveria ser. Não é de sua natureza. Ele não foi criado com essa finalidade. Quando você fala de poder de polícia, você tem duas questões fundamentais: o poder de regular e o poder de fiscalizar e impor sanções. Cada atividade econômica tem um órgão especifico para fazer a fiscalização. Dia-a-dia Promessa não cumprida Por Ricardo Camilo A oferta é tentadora: TV a cabo, telefone e internet por “apenas” R$ 69,90 nos três primeiros meses de assinatura. Um erro na cobrança, no entanto, transforma a pechinha em dor de cabeça. Foi o que ocorreu com a professora Kátia Cristina Johann, 35. Em 14 de agosto do ano passado, ela contratou o serviço Combo Compacto Conforto da empresa Net. Ao invés de receber a primeira fatura com o valor combinado, foi surpreendida com a cobrança de R$ 131,94, em setembro. Após o recebimento da cobrança indevida, Kátia teve a desagradável experiência de tentar resolver o caso com o Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) da Net. “Foram ao menos cinco tentativas, todas com número de protocolo diferente. As ligações foram demoradas, sempre me transferiam de um setor para o outro e em todos casos eu tive que repetir o meu problema”, desabafa. Assessor chefe do Procon-SP, Carlos Augusto Coscarelli explica que “os problemas relatados pela consumidora, quanto ao atendimento da empresa, desrespeitam o decreto 6.253/08, que regulamenta o SAC” e ressalta a importância das denúncias do consumidor: “Com a denúncia, que pode ser feita no site do Procon-SP, é instaurado um procedimento de apuração que poderá resultar em processo sancionatório. A Net, inclusive, já foi multada em mais de R$ 85 mil”, comenta. Perdida a “batalha” para a ineficiência demostrada pelo setor de atendimento, a professora não desistiu e resolveu buscar auxílio do Procon-SP. A consumidora dirigiu-se ao posto do órgão, localizado no Poupatempo Santo Amaro, e formalizou sua reclamação. Ela solicitou o cumprimento da oferta (valor total do combo de R$ 69,90 nos três primeiros meses e a partir daí R$ 99,90) e a devolução da diferença paga entre o valor cobrado e o ofertado. Diante da reclamação da consumidora junto ao órgão, a Net apresentou proposta de acordo, ou seja, prometeu cumprir o que já havia prometido antes. Kátia, entretanto, não recebeu nada por escrito – sequer o contrato. “Qual garantia que eu tenho de não mais acontecer esses problemas na minha fatura?”, questiona. Segundo Carlos Coscarelli, a falta de documentos por escrito “mostrou, mais uma vez, a ineficiência nos procedimentos da empresa, e isso causou duplo prejuízo à consumidora: pois além da cobrança indevida, ela deixou de ser devidamente informada da proposta de solução”, finaliza. Empresas desrespeitam o decreto 6.253/08, que regulamenta o SAC Em nota à REVISTA PROCON-SP, a NET informou que enviou para a assinante, no dia 29 de janeiro, a formalização do acordo feito junto ao Procon-SP. A empresa ainda disse que a cobrança de R$131,94 ao invés de R$ 69,90 ocorreu por causa de “um erro operacional já identificado e corrigido pela empresa”. Quanto à não entrega da cópia do contrato, a operadora alegou que “todos os técnicos são orientados a entregar a cópia do contrato no ato da instalação dos serviços. O contrato também está disponível para consulta no site da empresa”. janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 7 Serviços Essenciais Crédito: Assessoria de Imprensa da Comgás De olho na conta Por Katia Blandino N o final do ano passado, não foram apenas as concessionárias de distribuição de gás natural que comemoraram com os 19% de aumento no consumo do país. Uma parte dos consumidores residenciais do Estado de São Paulo também foi surpreendida com uma boa notícia: a queda no valor cobrado em sua conta de gás. O benefício atingiu os usuários da concessionária Gás Brasiliano, que atende 375 municípios do interior do estado. Consumidores residenciais tiveram abatimento de até 31,39%. Na data, indústria, comércio e postos que comercializam gás natural veicular (GNV) também foram contemplados com a redução. O desconto se deu por conta da revi- 8 são tarifária definida pela Arsesp (Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo), que acontece a cada cinco anos, no aniversário da assinatura do termo de concessão. Este processo, que dura cerca de um ano, prevê a realização de audiências e consultas públicas, com o objetivo de assegurar a participação dos agentes econômicos e da sociedade, envolvidos com a prestação dos serviços de gás canalizado. A Fundação Procon-SP também participa deste processo por meio de sua diretoria executiva. Na Comgás, maior distribuidora do país, este mesmo processo foi concluído em 31 de maio de 2009, com reduções de até 62% para usuários residenciais, 28,59% para a indústria e de 16,6% Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 para os postos de GNV. No caso da Gás Natural São Paulo Sul, a revisão vai ocorrer em 31 de maio deste ano. Para cada segmento, as reduções tarifárias variam de acordo com a faixa de consumo. Por exemplo, o usuário residencial da Comgás que tinha uma tarifa mínima de R$ 16,51 (1m3) teve uma redução superior a 60%, passando a pagar R$ 6,14. Já os que consumiam 5m3 tiveram o beneficio de 20%. Robson Santos Campos, diretor de atendimento e orientação ao consumidor da Fundação Procon-SP, destaca que as mudanças tarifárias devem acompanhar o movimento econômico do país. “As agências reguladoras têm a competência legal de fazer com que os preços reflitam o que ocorre no mercado, obe- Serviços Essenciais decendo ao princípio da eficiência e da modicidade tarifária. Assim, o consumidor paga um preço justo pelo serviço público concessionado prestado”, ressalta. Outras mudanças Mas as mudanças tarifárias ocorrem também por outros motivos e em datas distintas. Ainda em dezembro de 2009, Comgás e Gás Natural São Paulo Sul, apresentaram reduções em suas tarifas. O motivo foi o repasse tarifário, definido pela Arsesp, estimulado pela queda do dólar e pelos efeitos financeiros observados com a compra de gás mais barato nos leilões feitos pela Petrobrás. Porém, os consumidores residenciais não foram contemplados com a redução neste período. Para entender por que esse mercado ficou de fora é preciso esclarecer como é calculada a tarifa. Os custos de compra do gás e do transporte refletem de 15% a 20% no valor total das tarifas para os consumidores residenciais e de 50% a 80% para as industriais. O percentual restante refere-se aos custos operacionais das concessionárias. Por conta disso, a queda do dólar e a compra de gás mais barato nos leilões feitos pela Petrobrás tornaram a tarifa para a indústria mais barata, sem influenciar na conta do segmento residencial. “Buscamos permanentemente estabelecer tarifas adequadas para todos os segmentos de usuários. O consumidor paga um preço justo, baseado nos custos operacionais das concessionárias que são acompanhados e documentados mensalmente pela agência”, ressalta o diretor de gás canalizado da Arsesp, Zevi Kann. Tratando de outra categoria de consumidor, os usuários de GNV, a dica é ficar atento. Ao contrário do que acontece com os consumidores residenciais, comerciais e da indústria, as reduções nos preços do GNV, nem sempre são repassadas para os usuários. A Arsesp não regula o preço de venda deste produto ao consumidor. Quem regulamenta a atividade de revenda varejista é Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP, porém, estes preços são livres. Por isso, é preciso ficar de olho e pesquisar antes de abastecer. Aumento de tarifa Apesar das recentes baixas nas tarifas, não são apenas reduções que ocorrem durante esses processos. Em maio do ano passado, a Gás Natural São Paulo Sul apresentou suas tarifas baseadas no reajuste anual. Para a indústria, houve uma redução entre 6% e 14%. Para o GNV, a queda foi de 16,1%. Já para o usuário residencial houve um reajuste de 5,21%. Neste caso, apesar da queda nos custos referentes à compra do gás e transporte, houve variação no IGPM (Índice Geral de Preços de Mercado) de 5,38%. Este valor incide diretamente na porcentagem referente aos custos operacionais das concessionárias (80% a 85% no valor da tarifa residencial) e é aplicado somente uma vez ao ano, baseado na variação dos meses anteriores. Considerando o período, o usuário residencial não absorveu todo o aumento referente ao índice, porque houve também uma pequena queda no preço do gás que influenciou na composição da tarifa. Na Comgás as reduções foram de até 62% para usuários residenciais Saiba Mais Revisão Tarifária Este processo ocorre a cada cinco anos, conforme previsto nos contratos de concessão. Na oportunidade, um novo plano de negócios é estabelecido com a revisão dos custos operacionais e de manutenção das concessionárias e os investimentos previstos para os próximos anos. Com base nesses dados, as tarifas são reestruturadas. Reajuste Anual É a atualização anual das tarifas. Neste caso, são considerados os custos operacionais e de manutenção das concessionárias e a atualização do preço do gás e do transporte. A variação anual do IGPM se aplica sobre a parcela da tarifa correspondente aos custos da concessionária: operação, manutenção e depreciação. Repasse Tarifário É um mecanismo utilizado para atualizar extraordinariamente os preços do gás adquirido pela concessionária. O resultado pode ser um acréscimo ou decréscimo, considerando os valores do gás e do transporte. Consumidor Gás Brasiliano Comgás * Gás Natural SP Sul * Residencial 21% a 31,39. Sem redução Sem redução Comercial 25,99% a 34,05%. 2,04% a 2,33% 2,35% a 2,52% Industrial 11,55% a 32% 3,87% a 5,59% 4,11% a 6,25% GNV 7,59%, 6,43% 7,46% Fonte: Arsesp * repasse tarifário janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 9 Lado a lado Crédito: Divulgação/Ipem-SP Fiscalizações de verão Por Bernadete Aquino Na “Operação Litoral” os fiscais verificaram bombas de combustível, pré-medidos e balanças de restaurantes O Instituto de Pesos e Medidas do Estado de São Paulo (Ipem-SP), autarquia vinculada à Secretaria da Justiça, realizou, simultaneamente duas operações especiais para fiscalizar os produtos mais consumidos na estação mais quente do ano – Verão e Litoral. “Em uma tivemos como foco o interior do estado e, na outra, o litoral sul, um dos pontos turísticos mais visitados nesta época”, informa o superintendente Fabiano Marques de Paula. O trabalho teve início no dia do aniversário da capital, 25 de janei- 10 ro, com a “Operação Verão” nos laboratórios das cidades de Bauru, Campinas, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, São Carlos, São José dos Campos e São José do Rio Preto. Fiscais examinaram produtos pré-medidos – medidos sem a presença do consumidor – como cosméticos (filtro solar, repelentes, etc.), bebidas de verão (água, água de coco, hidrotônicos, refrigerantes e sucos) e sorvetes. O resultado dos exames feitos em 62 lotes desses produtos foi a reprovação de 6,45% deles por apre- Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 sentarem menos conteúdo do que o citado na embalagem. “Encontramos produtos com até 30 gramas a menos e isso é muito grave por representar prejuízo ao consumidor”, informa Marques de Paula. No litoral No mesmo dia, uma grande equipe do Ipem-SP estava na Baixada Santista e começava a “Operação Litoral”, que, além dos pré-medidos, verificou bombas de combustível e balanças de restaurantes, produtos que só podem ser Lado a lado comercializados com o selo do Instituto de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) e eletroeletrônicos, que devem ter o selo de eficiência energética. Durante a operação, que durou uma semana, enquanto fiscais percorreram os municípios de Santos, São Vicente, Praia Grande, Guarujá, Mongaguá e Itanhaém, o laboratório da Delegacia de Ação Regional (DAR) de Santos era utilizado para exames dos 50 lotes de pré-medidos coletados. Dos cinquenta lotes examinados, 12 (24%) apresentaram erros na quantidade do conteúdo em relação ao que estava citado na embalagem. O destaque negativo, entretanto, foi o que os fiscais detectaram em 36 (60%) dos supermercados visitados. As principais irregularidades estavam nas embalagens de produtos pesados pelo próprio estabelecimento, como frutas, carnes e queijos. “Algumas embalagens não informavam o peso e outras não tinham o conteúdo indicado na etiqueta”, esclarece o superintendente do Ipem. A maior diferença encontrada foi no Carrefour da avenida Castello Branco, na Praia Grande, onde o queijo minas Quatá chegou a ter 32 gramas de diferença entre o que era cobrado e o que de fato estava à disposição do consumidor. Vamos continuar trabalhando firme e intensificar ainda mais a fiscalização para reduzir ou até eliminar de vez as irregularidades Fabiano Marques de Paula Em relação aos produtos de certificação obrigatória, dos 71 estabelecimentos comerciais visitados para fiscalização de produtos que só podem ser vendidos se contarem com o selo do Inmetro, 16 (22,53%) apresentaram erros (veja o quadro). Biquínis, sungas, cangas e toalhas não ficaram de fora da inspeção do Ipem-SP e, dentre 83 lojas visitadas, 47 foram autuadas por irregularidades. As peças têm de seguir normas do Inmetro, que exige etiqueta com informações sobre o fabricante, composição têxtil e cuidados para conservação. Das 84.142 peças vistoriadas, 1.887 não continham essas informações. Bombas de combustível e balanças em restaurantes e sorveterias foram aprovadas pelos fiscais durante a operação. Segundo Marques de Paula, o saldo das iniciativas foi positivo e as operações seguem firmes em 2010. “Vamos continuar trabalhando firme e intensificar ainda mais a fiscalização para reduzir ou até eliminar de vez as irregularidades”, conclui. A Fundação Procon-SP também realizou uma Operação Verão, que ocorreu entre 15 de janeiro a 08 de fevereiro, no litoral de São Paulo. A fiscalização, que teve como finalidade coibir irregularidades ao Código de Defesa do Consumidor (CDC), visitou 593 estabelecimentos no comércio local e 118 foram autuados (20% do total) – o índice de autuações deste ano foi menor do que em 2009, quando 195 estabelecimentos foram visitados e 68 autuados (35% do total). Ao todo, em 2010, foram constatadas 156 irregularidades – o mesmo estabelecimento pode ter apresentado mais de uma situação irregular. As principais irregularidades encontradas foram: produtos sem informação de preço (52) e produtos com prazo de validade vencido (34). As cidades visitadas foram Bertioga, Caraguatatuba, Cubatão, Guarujá, Ilhabela, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande, Santos, São Sebastião, São Vicente e Ubatuba. Fiscalização no litoral de produtos com certificação obrigatória Produto Bicicletas infantis Número de verificados Reprovados Empresas Autuadas 138 20 (14,50%) 3 35.736 438 (12,25%) 8 Eletroeletrônicos com selo de eficiência energética 1.083 106 (9,79%) 5 Capacetes para motociclistas 1.640 0 (0%) - Brinquedos Fonte: Ipem-SP janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 11 Crédito: Guilherme Moraes/Procon-Marília Procon municipal Município interligado Por Patrícia Paz E stourar um balão e ganhar um celular é muita sorte. Melhor ainda é recarregar um pré-pago e ter disponível uma promoção exclusiva que, para ser beneficiado, apenas é necessário fornecer o número do CPF. Promoções como essas atraíram os consumidores de Marília, que, entretanto, se surpreenderam com um detalhe: a vantagem oferecida era apenas pretexto para um golpe. Ao fornecer os dados pessoais, as pessoas eram cadastradas em um contrato de prestação de serviço pós-pago, sem ter solicitado. “Somente no período de novembro de 2009 ao começo de janeiro de 2010, foram registradas 40 demandas no Procon, causando estranheza e chamando atenção para o ato crimi- 12 Ação integrada aperfeiçoa a capacidade do poder público de identificar empresas que desrespeitam o Código Penal Brasileiro noso”, conta Dirceu Fonseca Siqueira, coordenador do Procon de Marília. Embora os consumidores tenham sido lesados, o episódio serviu de “estopim” para uma parceria em benefício de toda a população: o Procon Assim, os casos que chegaram ao Procon foram registrados na polícia por meio de boletim de ocorrência, para dar o suporte e amparo na contestação e elucidação dos problemas. Na sequência, acrescenta Siqueira, “foi feito contato com a Defensoria Pública do Estado de São Paulo, através do 6o Defensor Público do Estado em Marília, Dr. Bruno Haddad Galvão, que prontamente comprou a briga e, hoje, estuda a possibilidade de ajuizamento de ação civil pública, visando ao tratamento do problema no âmbito coletivo”. uniu-se com a Delegacia Seccional de Policia e com a Defensoria Pública Parceria para tratar da questão de maneira co- Para assegurar o direito dos cidadãos, o Procon, a Delegacia Seccional de Policia de Marília e a Defensoria letiva – e afastar de vez golpes como esse da cidade. Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 Procon municipal Conheça o Procon de Marília O Procon-Marília teve 6.084 reclamações registradas no ano de 2009 Pública juntaram forças e conhecimentos no intuito de sanar eventuais desrespeitos às relações de consumo, em especial no que tange ao artigo 66 do Código de Defesa do Consumidor: “Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços”. Com a ação integrada, além de facilitar o registro de boletim de ocorrência ligado às relações de consumo, a intenção é aperfeiçoar a capacidade do poder público de identificar empresas que possam eventualmente ter condu- Serviços de telefonia são os campeões de reclamação na cidade de Marília tas que se enquadrem no previsto pelo artigo 171 do Código Penal Brasileiro. No caso específico da telefonia móvel, como todos os casos resultavam no mesmo dano ao consumidor, a Defensoria Pública optou por uma ação coletiva. “O Processo de Tutela Coletiva do Consumidor é mais uma forma de unir forças na defesa do direito do indivíduo”, conclui o coordenador do órgão mariliense. Conveniado à Fundação Procon-SP, o órgão do município de Marília teve 6.084 reclamações registradas no ano de 2009, sendo Serviços Essenciais a área com mais problemas (2.399), seguida de Assuntos Financeiros (1.717). Atualmente, o Procon mariliense conta com sete colaboradores, em que o município vai abrir concurso para mais quatro servidores municipais destinados ao Procon – três fiscais e um advogado. A sede do Procon de Marília está localizada na Rua Amazonas, 527, e presta atendimento ao público em geral de segunda a sextafeira das 8 às 17 horas. O cidadão também pode entrar em contato pelo telefone (14) 3454-6444. Com mais de 225 mil habitantes, Marília tem história de vinte anos em Defesa do Consumidor. O Procon mariliense foi criado a partir da lei municipal de novembro de 1990 e atende tanto a cidade como consumidores dos municípios de Getulina, Guaimbê, Júlio Mesquita, Álvaro de Carvalho, Vera Cruz, Ocauçu, Campos Novos Paulista, Echaporã, Oriente e Pompéia que consomem em Marília. O campeão do mês Usualmente, os serviços de telefonia são os campeões de reclamação em Marília. Nos números do ano todo, isso se confirmou. No entanto, quando se analisam os dados apenas de dezembro, constata-se uma alteração: os assuntos financeiros pulam na primeira colocação. Os maiores problemas são: cobranças indevidas (boleto bancário, cálculos errados de comissão de permanência, taxa de cadastro, serviços de terceiros, serviços não solicitados, seguros não solicitados, etc.); falha bancária; e – a novidade – cálculo de desconto, principalmente em outorga de crédito e concessão de financiamento. “A resposta por parte dos bancos e financeiras foi o uso indevido da Resolução do Conselho Monetário Nacional, emitida pelo Banco Central do Brasil, nº 3516/07, que trata de operações financeiras e estabelece: a vedação da cobrança da taxa de liquidação dos contratos de concessão de crédito e leasing, bem com norma para cálculo de desconto para liquidação antecipada de contratos desta natureza, que usa a variação da taxa SELIC da contratação e da liquidação, em lugar do art. 52 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), que sempre foi usado, desde sua vigência, que determina que os juros devem ser informados prévia e adequadamente”, explica Siqueira. Diante da verificação de uma lesão coletiva dos consumidores, foi protocolada no Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) uma representação contra os bancos e financeiras reclamadas. janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 13 Capa Predomínio indesejável Por Felipe Neves e Gabriela Amatuzzi O grande “abacaxi” do ano de 2009 atende – trocadilhos à parte – por um nome: Telefônica. A empresa, a maior de telefonia fixa do Estado, lidera com muita (mas muita mesmo!) folga o ranking do Cadastro de Reclamações Fundamentadas da Fundação ProconSP. Isto é, foi a empresa que mais trouxe dor de cabeça aos consumidores de São Paulo. Se fosse um campeonato de pontos corridos, como o Brasileirão, a concessionária venceria muito antes do término do primeiro turno. Pena que a vitória, neste caso, seja um demérito. Enquanto no futebol o time que ganha o campeonato é aquele com melhor planejamento e organização, a liderança da Telefônica representa exatamente o oposto – é resultado da insatisfação de seus consumidores em relação aos produtos e serviços disponíveis no mercado, bem como da sua deficiência de atendimento. Capa Infelizmente, não é a primeira vez que a empresa ocupa este pouco cobiçado primeiro posto. Já é o quarto “título” consecutivo – uma façanha desoladora, cuja imagem da soberania não poderia ser outra senão a coroa do imenso abacaxi que fica na mão de cada um dos consumidores lesados. Os números não mentem. A Telefônica teve mais de 15 mil reclamações fundamentadas – aquelas em que houve necessidade de abertura de processo administrativo – registradas em 2009. Um número astronômico sob qualquer perspectiva que se queira analisar. Por exemplo, em um recorte das 20 piores empresas, a soma de todas as reclamações diante das 19 que aparecem abaixo da Telefônica é 12.692. Portanto, ainda bastante inferior ao montante da multinacional espanhola. Diante do histórico da operadora em repetir a liderança do ranking e da alta demanda verificada nos primeiros quatro meses do ano de 2009, a partir de abril, o Procon-SP passou a instaurar o processo administrativo assim que o consumidor apresentava a sua queixa. O objetivo foi pressionar por uma diminuição no número de demandas – o que de fato ocorreu –, fazendo com que a própria empresa encontre soluções para seus conflitos. “A mudança de procedimento foi um importante instrumento para forçar a Telefônica a melhorar seu serviço e, em especial, seu atendimento. Historicamente, grande parte das demandas que chegam ao ProconSP são facilmente solucionáveis, mas a empresa só as resolvia quando o consumidor nos procurava. Esta conduta deixou de ser interessante. Prova disso é que, apesar da liderança, o total de demandas diminuiu consideravelmente no segundo semestre”, afirma Roberto Pfeiffer, diretorexecutivo do Procon-SP. Para se ter ideia, o número de consumidores que procuraram o Procon-SP insatisfeitos com a Telefônica foi de 2.944 em janeiro para 586 em dezembro – uma diferença substancial. O segundo colocado do ranking é o Grupo Itaú (que engloba o banco, a financeira, a administradora de cartão de crédito, entre outras empresas que utilizam a marca Itaú para prestar os mais variados serviços financeiros), com “apenas” 1.410. O número, quando comparado com o da concessionária de telefonia fixa, até parece pequeno, mas deve ser devidamente lamentado se considerado que as reclamações fundamentadas traduzem problemas não resolvidos pela empresa nem quando o consumidor a procurou diretamente, nem na primeira intervenção do Procon-SP. Na terceira colocação, aparece a Eletropaulo, com 1.340 reclamações fundamentadas. Trocadilhos à parte novamente, é necessário acender uma luz vermelha. O lugar no “pódio”, cabeça a cabeça com o segundo colocado, ratifica a sensação da sociedade de uma piora significativa na qualidade do serviço. Vale lembrar que as reclamações decorrentes dos diversos cortes de energia deste verão só serão computadas nos dados do próximo cadastro, referente a 2010. Na quarta e na quinta colocações figuram um fabricante e uma operadora de celular: a Sony Ericsson, com 1.288 reclamações fundamentadas, e a TIM, com 1.112. Também em 2009, repetindo o feito de 2008, celular foi um assunto bastante significativo – infelizmente de forma negativa – para o consumidor. A maior parte das queixas está concentrada basicamente em três áreas: serviços, assuntos financeiros e produtos. A primeira, que trabalha fornecimento de água, telefonia e luz, escolas, clubes, oficinas mecânicas, etc., foi disparada a que mais levou consumidores ao Procon-SP: 57% do total de reclamações fundamentadas. Assuntos financeiros, que concentra os problemas de bancos, cartões de crédito, financeiras etc., representa 22%, enquanto produtos, SETOR QUE GEROU MAIS RECLAMAÇÕES FUNDAMENTADAS * Empresas de telefonia que estão entre as cinquenta mais reclamadas janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 15 Capa que trata das demandas relativas a móveis, eletrônicos, vestuário, etc., responde por 18%. “Os números de 2009 revelam que mais uma vez os serviços estão no topo dos conflitos de consumo. É lamentável que itens essenciais como telefonia e energia elétrica ainda sejam motivo de tanta dor de cabeça aos consumidores”, salienta Pfeiffer. “Estamos cumprindo nosso papel de mediar soluções e fiscalizar estas empresas pela ótica do CDC, mas para mudar esse quadro de vez é fundamental que as agências reguladoras cumpram seu papel de coibir condutas que prejudiquem os usuários, o que não vem ocorrendo adequadamente.” Buscando soluções O Cadastro de Reclamações Fundamentadas – que lista os processos administrativos instaurados pela Fundação Procon-SP atendendo à de- terminação do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) – revela que a busca do Procon-SP por soluções nos conflitos de consumo foi árdua e contínua. O número chama a atenção. Foram nada menos do que 41.685 reclamações fundamentadas ao longo do ano de 2009, cada uma delas representando um atendimento inadequado ou uma resposta insatisfatória do fornecedor, um problema que persiste ou uma falha não solucionada pela empresa. A boa notícia fica por conta de um dado mais amplo. Apesar da quantidade de reclamações fundamentadas ser grande, frente a todos os atendimentos prestados pela fundação no ano de 2009, representa apenas 7,8%. Entre simples consultas, atendimentos preliminares, orientações, etc., foram 533.805 atendimentos, dado que revela que – excetuando-se os cidadãos que não apresentavam conflitos de consumo e que, portan- to, não poderiam ser mediados pelo Procon-SP – quase 90% dos consumidores tiveram sua demanda solucionada logo no primeiro atendimento da fundação. Dos casos que não foram solucionados nesse primeiro momento, e que se tornaram reclamações fundamentadas, 58% foram mediadas positivamente pelo ProconSP, ou seja, o consumidor teve o seu pedido acatado pela empresa. Frise-se que o correto seria que todas as empresas solucionassem as queixas de seus clientes, muitas vezes simples e bastante pontuais, assim que fossem procuradas por eles, evitando – como acontece em muitas situações – transferir os seus balcões de atendimento para um órgão público. De todo modo, para aquele percentual que não foi atendido sequer com a mediação dos técnicos do Procon-SP, é fornecido uma documentação para que, caso seja de interesse do consumidor, ingresse judicialmente. RECLAMAÇÃO FUNDAMENTADAS - ANO 2009 16 Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 Capa Ranking das empresas mais reclamadas no Procon-SP RANKING FORNECEDOR ATENDIDAS GERAL NÃO ATENDIDAS TOTAL janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 17 Capa Além do trabalho desenvolvi- fornecedores. No entendimento do Robson Campos, diretor de atendi- do individualmente com cada con- Procon-SP, a regulação da Agência mento e orientação ao consumidor sumidor que procura o órgão na Nacional de Telefonia (Anatel) está do Procon-SP. busca de solução para sua queixa, desatualizada e insuficiente, pois o Procon-SP adotou medidas de continua a tratar os serviços de ma- caráter coletivo: das dez primeiras neira separada. colocadas no ranking, todas foram Ainda em TV por assinatura, a autuadas pela fiscalização e res- insistência na cobrança de ponto ex- pondem a processo administrativo. tra ou adicional, apesar da proibição Além disso, o Procon-SP notificou as pela Anatel, também levou muitos vinte primeiras empresas colocadas consumidores ao Procon-SP. do ranking, assim como as três pri- Das cinco primeiras colocações meiras de cada área, questionando do ranking da área, apenas uma não o alto índice de reclamações funda- é um fabricante de aparelho de celu- mentadas e exigindo metas de redu- lar, item que despontou na área de ção das demandas. produtos. Vícios recorrentes e não sanados pela assistência técnica do fabricante sob a discutível alegação de mau uso foram as questões mais O grande vilão da área de assun- relatadas pelos consumidores. tos financeiros foi o cartão de cré- Tal fato, somado à quantidade dito, em especial por compras não de demandas de telefonia móvel, reconhecidas e cobranças indevidas. revela que o consumidor paulista se Outro tema importante foi a fami- vê em grandes dificuldades para uti- A área mantém-se na tradicio- gerada tarifa de emissão de boleto, lizar esse bem de consumo tão va- nal posição de líder nos conflitos de procedimento considerado indevido consumo, puxada pelo setor de tele- lorizado atualmente. Para o Procon- pelo Procon-SP e proibido pelas re- fonia fixa, móvel e de fornecimento SP, a quantidade de queixas indica a gras do Banco Central – além da me- de energia elétrica. Tais serviços, que necessidade de adequação dos pro- diação individual dos consumidores são de prestação contínua e essen- dutos a padrões mais satisfatórios que procuraram a fundação, foram ciais ao dia a dia do consumidor, de qualidade. instaurados processos administrati- somaram 49% do total de reclama- vos contra as cinco primeiras coloca- ções fundamentadas. O dado reflete das da área por causa disso. a gravidade da situação, principal- Em função de normas benéfi- mente, se considerarmos que muitas cas instituídas recentemente, como dessas empresas atuam praticamen- as Resoluções do Banco Central nº te sozinhas no mercado, deixando o 3.477, que determinam implemen- consumidor sem opção. tação de ouvidoria pelas institui- Destacou-se também o setor de ções, e nº 3.517, que dispoem sobre Setor com 3% de reclamações TV por assinatura, em especial por a informação e a divulgação do cus- fundamentadas, saúde é uma área causa da prática de comercializar o to efetivo total (CET) dos encargos que tem sua importância devida ao serviço em conjunto com empresas e despesas de operações de crédito, tipo de demanda trazida pelos con- de telefonia e de internet – os cha- a expectativa era de um aprimora- sumidores: problemas com planos de mados pacotes. Em inúmeros casos, mento do setor, que não ocorreu. saúde e odontológicos. o consumidor viu-se negligenciado “Houve certa decepção, uma vez Além das queixas contra opera- de informações adequadas sobre o que se esperava que as novas regras doras de planos de saúde por mo- conjunto de serviços, o que gerou resultassem em uma redução do tivos como negativas de cobertura, insatisfação e, logo, conflitos com os número de reclamações”, lamenta descredenciamento de prestadores, 18 Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 Capa dificuldades de acesso e atendimento, a questão que mais despontou em 2009 foi relativa à empresa Imbra, que presta serviços odontológicos com foco em implante dentário. O fornecedor com o maior número de reclamações, assim como em 2008, foi Nutriplus – TBA. Foram sete e apenas uma atendida. A empresa, que adota estratégia de marketing agressivo, oferece serviços odontológicos à população de menor renda, com a promessa de acesso a tratamentos mais caros – o que não se concretiza. Outra realidade que preocupa no segmento de plano de saúde são os processos de intervenção da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em especial os que resultam na liquidação de uma operadora. Os consumidores afetados, sobretudo idosos e portadores de doenças, vivem situações de total insegurança quanto à continuidade do serviço. Isso ficou claro com o drama vivido pelos beneficiários da Avimed em 2009, que resultou na autorização concedida à operadora Itálica de ofertar seus planos a estes consumidores. A área, responsável por menos de 1% das reclamações, teve a Construtora Tenda como a empresa que mais apresentou problemas. Foram 79 no total, das quais 63 não foram atendidas, isto é, a empresa deixou de atender 80% das demandas apresentadas. Os problemas apresentados por esse fornecedor foram o não cumprimento do prazo de entrega, questões relativas à devolução de valores pagos em negócio não concretizado e falhas na informação, quando da oferta ao consumidor. ATENDIMENTO GERAL - ANO 2009 Área que gera demanda consideravelmente pequena ao Procon-SP, Alimentos foi responsável por 31 das mais de 41 mil reclamações fundamentadas. Apesar de poucas demandas individuais chegarem ao Procon-SP, esse setor reclamações fundamentadas - ano 2009 demanda atenção e atuação de caráter coletivo e preventivo, em especial, em questões relativas à oferta publicitária veiculada por diferentes meios (publicidades, rótulos, embalagens), dificilmente perceptíveis pelos consumidores e, portanto, não se refletindo no número de reclamações. janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 19 Projeto de lei Glauber Ribeiro Atendimento integral Por Bruna Toni Para o Procon-SP é competência do município legislar sobre o horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais C om saúde não se brinca, já dizia o velho ditado popular. Quem nunca precisou sair correndo atrás de uma farmácia para comprar o medicamento necessário? Antibióticos, anti-inflamatórios, pomadas, sprays, diversos comprimidos destinados a nos fazer melhorar e até a nos curar. O problema é quando essa necessidade surge durante a noite ou madrugada. Não é fácil encontrar drogarias ou farmácias que fiquem abertas durante 24 horas em muitos dos municípios do Estado de São Paulo. “A saúde é direito de todos e dever do Estado”, garante a Constituição Federal (art. 6°). A partir disso, há divisão de papel entre representantes dos po- 20 Projeto de lei queria estabelecer sistema de plantão 24 horas de farmácias do Estado de São Paulo deres públicos e empresários do setor. Um aspecto importante diz respeito ao horário de funcionamento das farmácias e drogarias. De acordo com o artigo 56 da Lei Federal n° 5.991/73, estes estabelecimentos, que oferecem produtos essenciais à vida de seus consumidores, devem realizar plantões, num sistema de rodízio, “para aten- Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 dimento ininterrupto à comunidade”. Pensando nisso, em 2009, o deputado estadual Cássio Navarro (PSDB) apresentou à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo um projeto de lei, segundo o qual as farmácias teriam que estabelecer entre si um sistema de plantão 24 horas, semanalmente, incluindo sábados, domingos e feriados – informando aos consumidores o endereço das farmácias abertas. Na justificativa, o parlamentar salienta que “a disponibilização de medicamentos não é uma questão secundária; é emergencial”. “Não podemos permitir que o doente vá em busca do remédio de que tanto necessita e encontre cerradas as portas da farmá- Projeto de lei cia”, acrescenta Navarro. Para ele, a escala de plantão “evitaria gastos desnecessários” com a compra de medicamentos que ficam armazenados no estoque de casa, usados apenas em casos de urgência. A lei estadual valeria para os municípios que tivessem, no mínimo, sete farmácias ou drogarias. Para aqueles com número de estabelecimentos inferior, ficaria obrigatório o atendimento telefônico 24 horas. Inconstitucional Apesar de reconhecer a importância das intenções do projeto, a Fundação Procon-SP manifestou-se contrária ao projeto de lei estadual, por entender que o mesmo é inconstitucional. De acordo com Tarsila Bergamo, técnica do Procon-SP e autora do parecer técnico do órgão sobre o assunto, “não seria competência do estado, mas sim do município, legislar sobre o horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais, que incluem as farmácias e drogarias”. É o que diz a própria Carta Magna e o Supremo Tribunal Federal: “Compete ao Município legislar sobre assuntos de interesse local. Não se pode negar a competência do município para regular as atividades urbanas estritamente ligadas à vida da cidade e ao bem-estar de seus habitantes”. Além disso, a técnica alerta para o fato de que o critério utilizado pelo deputado para delimitar a aplicação da lei em cidades com apenas mais de sete farmácias não seria o ideal. “Não vislumbramos a razoabilidade de se impor um sistema de plantão/rodízio unicamente pelo fato de o mesmo contar com no mínimo sete farmácias ou drogarias. Entendemos que critério mais justo e equitativo seria a imposição de referido sistema considerando a população do município”, afirma Bergamo. Em relação ao atendimento telefônico 24 horas, a fundação ressalta que não enxerga condições práticas para que O funcionário de uma rede de farmácias explica como funciona o sistema de plantão onde trabalha as farmácias ofereçam tal serviço, bem como o PL não deixa claro como isso supriria as necessidades dos consumidores que necessitam de medicamentos. Atualmente, segundo o Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo, existem inscritas no estado 14.440 farmácias. Em muitos dos municípios, o sistema de plantão já existe, como conta Francisco de Carvalho, funcionário de uma das unidades da rede Droga Fácil na capital. “Anualmente, a prefeitura manda um calendário com os dias que cada farmácia deve fazer plantão, de acordo com os bairros onde elas ficam”. Quem planeja e regula esta planilha na cidade de São Paulo é o órgão sindical representante da classe dos farmacêuticos, juntamente com a Secretaria Municipal da Saúde. Entretanto, o funcionamento durante o horário noturno – entre 21h e 8h – é facultativo. Para a estudante de Farmácia da Universidade de São Paulo, Marília Tamaki, a proposta é boa, mas inviável. Segundo ela, “seria muito bom se realmente houvesse um rodízio de farmácias e esquema de plantão, mas acho que também devemos considerar que muitas das farmácias registradas provavelmente são pequenas; sendo pequenas, e tendo que competir com as grandes redes, não acho que elas tenham um número de funcionários suficientes pra ficarem abertas por 24h, pois muitas são administradas por famílias, sem funcionários externos”. O projeto, que havia sido aprovado sem nenhuma alteração pela Alesp, foi vetado pelo governador José Serra, em dezembro do ano passado, pelos mesmos motivos já apresentados pela Fundação Procon-SP em sua manifestação técnica. Como alguns municípios já possuem normas jurídicas que tratam de assunto tão relevante e importante aos consumidores paulistas, cabe às cidades que não as possuem colocar na ordem do dia essa discussão. Afinal, quando o assunto é saúde, 24 horas de atenção nunca é demais. janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 21 Comércio eletrônico Renata Ferraz S eguindo a tendência do tal “mundo moderno”, as pessoas têm cada vez menos tempo e paciência de sair de casa para fazer suas compras. A pesquisa “Estudo sobre o Neoconsumidor” ouviu 5.500 pessoas em três cidades brasileiras e mostra que 92% dos entrevistados já fizeram alguma compra online. O mesmo estudo, realizado pela consultoria Gouvêa de Souza, indica que os brasileiros são os consumidores mais desapontados com lojas que não fazem vendas 22 Acho a internet prática, mas ainda não alcançamos um grau de segurança Pedro de Camargo pela rede mundial de computadores. O e-commerce ou comércio eletrônico faz parte da vida de 70% da população mundial há cinco anos. Por aqui, o uso desse tipo de comércio cresce numa escala de 1500% ao Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 ano, de acordo com dados da Boston Consulting Group. Para a servidora pública federal, Marta Lucia, não há nada que não possa ser comprado pela internet. “Acho prático e, além disso, fica muito mais fácil pesquisar o melhor preço. Geralmente, encontramos promoções muito melhores do que na própria loja. Compro de tudo, principalmente eletrodomésticos.” Mas, apesar de toda essa facilidade, é preciso estar atento para o consumo consciente. “Tenho que admitir que, devido à facilidade, Comércio eletrônico Compro para economizar tempo e dinheiro. Não tenho medo de fornecer meus dados Marta Lucia Fonte: “Estudo sobre o Neoconsumidor”, da consultoria Gouvêa de Souza. às vezes compro supérfluos, algumas coisas que eu nem uso. Mas por outro lado faço até supermercado.” Não é preciso ir muito longe para encontrar outro tipo de consumidor, aquele desconfiado com as novas tecnologias. Marido de Marta Lucia, o economista Pedro de Camargo está entre os 55% de usuários brasileiros que têm medo de fornecer seus dados em transações online. “Uso a internet, mas sigo o princípio de correr o mínimo de riscos, portanto, não acesso nem minha conta bancária pelo computador.” Quando precisa fazer alguma transação online, Pedro de Camargo conta com a ajuda da esposa. “Acho a internet prática, mas ainda não alcançamos um grau de segurança e nem de civilidade da humanidade que nos proteja do risco”. A segurança é a principal preocupação dos consumidores. Afinal, comprar pela internet é seguro? Sim, porque a maioria das empresas que disponibilizaram o serviço de venda pela internet usam tecnolo- gia de segurança SSL. Essa tecnologia codifica secretamente as informações na medida em que elas são transmitidas pela Internet. As compras são feitas da maneira mais simples possível. Na maioria dos sites, existem ferramentas de busca para que o consumidor encontre o produto desejado. Encontrado o produto, ao clicar no link correspondente, o internauta é levado a um formulário ASP (Active Server Pages) onde preencherá seus dados pessoais, endereço para entrega e o número do cartão de crédito. Automaticamente, o cartão é verificado pelo servidor ASP que autoriza ou veta a compra. O webdesigner Rodrigo Placeres compra quase tudo pela internet. “Compro para economizar tempo e dinheiro. Não tenho medo de fornecer meus dados, sempre verifico a idoneidade do site, leio o procedimento, verifico se tem certificado de segurança e se a URL (Uniform Resource Locator ou Localizador Padrão de Recurso) é segura”. As compras online não estão livres dos contratempos, por isso é importante o consumidor estar atento sobre os seus direitos. Marta Lucia já teve alguns problemas que no final foram resolvidos. “Comprei um eletrodoméstico e depois do pagamento ter sido autorizado, a loja entrou em contato dizendo que não tinha o produto em estoque, que eu deveria escolher outro produto ou ficar com um bônus. Mas entrei no site e o produto continuava à venda e com promoção. Briguei, disse que iria ao Procon e escrevi uma carta para um jornal. Depois da dor de cabeça a loja, finalmente, me entregou o produto”, conta. O consumidor tem prazo de sete dias, a contar da contratação ou do recebimento do produto ou serviço, para arrependimento. O cancelamento deve ser efetuado por escrito, com cópia protocolada. Devolvendo o produto neste prazo, o consumidor tem direito à restituição integral do que pagou, inclusive das despesas referentes ao frete, não apenas o de envio do produto para sua casa, mas também o de devolução do produto à loja. A loja virtual não pode se isentar de atender a queixa do consumidor, alegando ser defeito de fábrica. Afinal, o consumidor não comprou o produto na fábrica! janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 23 Atendimento Fotos dos CICs: Créditos: Divulgação/CIC Fotos do Poupatempo: Crédito: Glauber Ribeiro/Procon-SP Hora marcada Por Gabriela Amatuzzi Q uem é que não gosta da comodidade de marcar uma consulta previamente e, ao chegar no dia e hora marcados, receber o seu atendimento sem transtorno nem atraso? Agora o consumidor paulista que tiver problemas com o serviço ou produto que comprou já pode contar com esse benefício ao procurar um dos postos da Fundação Procon-SP. Numa metrópole como São Paulo, em que as pessoas têm uma rotina repleta de compromissos e desperdiçar tempo significa perder dinheiro, paciência e muitas vezes outros compromissos, essa novidade significa uma importante inovação para o consumidor, que poderá agendar o seu atendimento para a data e horário que considerar mais conveniente, programando sua agenda com antecedência. 24 Com o novo sistema, o consumidor pode agendar o atendimento para dia e hora mais conveniente Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 Atendimento O consumidor paulista pode marcar hora para ser atendido nos postos de atendimento do Procon-SP Com o objetivo de dar mais conforto ao cidadão, o novo sistema, implementado em caráter experimental a partir de julho de 2009 e, oficialmente, em março deste ano, permite que o consumidor, após relatar o seu problema na triagem, escolha entre ser atendido no mesmo dia e, se não puder aguardar, marcar o seu atendimento para uma data próxima. A ideia é que o cidadão ganhe tempo e comodidade e que o seu agendamento seja feito na data mais próxima possível, para que o seu problema seja resolvido com a maior brevidade. “O sistema facilita a vida do usuário/consumidor que, ciente do dia e horário em que será atendido, não necessitará aguardar em filas, podendo se programar e dispor de seu tempo para outras atividades. Isto consequentemente vai melhorar a qualidade dos atendimentos, haja vista o não acúmulo de consumidores em fila de espera nos postos”, afirma o diretor de atendimento e orientação ao consumidor da Fundação, Robson Campos. Mudança agrada A advogada Katia Gomes Campione, que procurou o posto Sé para resolver a demora na entrega de um produto, já pôde sentir os benefícios do novo sistema. Ao chegar no horário do almoço, foi informada pelo atendente que poderia aguardar para fazer sua reclamação, mas como tinha que voltar logo ao O novo sistema de atendimento por agendamento facilitou também o consumidor que prefere ser atendido na hora Opinião de quem conhece “Estávamos sentindo a necessidade de arrumar a casa, de estruturar melhor o trabalho. Com essa nova organização conseguimos, inclusive, ampliar a nossa capacidade de atendimento e melhorar nossas metas”. Adelino Machado Medeiros, supervisor do posto Sé “Em São Paulo, que é uma cidade em que as pessoas vivem uma correria, o agendamento futuro é um grande avanço. Os consumidores têm elogiado bastante”. Regina Custódio, supervisora do posto Santo Amaro, primeiro local em que o sistema foi testado “Antes ouvíamos reclamação de alguns consumidores com relação à espera. Com o agendamento ficou muito mais eficiente, a pessoa pode resolver outros compromissos e voltar no dia marcado com a certeza de ser atendida na hora.” Joyce Gatti Hirata, supervisora do posto Itaquera janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 25 Atendimento trabalho optou por agendar para a semana seguinte. “Para quem trabalha, é muito bom. Acho que todos os órgãos públicos deveriam ter os dois sistemas, o agendamento e a possibilidade de ser atendido na hora”, opina. De fato, a melhora foi sentida não somente por aqueles consumidores que optam por agendar o seu atendimento para uma data próxima, mas também por aqueles que preferem ser atendidos sem hora marcada, já que o sistema de agendamento permitiu a diminuição das filas como um todo. Trata-se de uma lógica diferente de trabalhar a proteção e defesa do consumidor Robson Campos Para a auxiliar de enfermagem Eliana Araújo, que procurou o posto do Procon-SP no Poupatempo Itaquera pela segunda vez, o atendimento melhorou. “O funcionário me orientou que eu poderia marcar hora Atendimento Especial de Natal Pensando no grande volume de compras que marcam o final de ano e na importância da entrega dos itens até o Natal, nos dias que antecederam a data, os técnicos do Procon trabalharam em horário especial e esquema diferenciado. O atendimento telefônico, que tradicionalmente nesta época recebe muitos consumidores com dúvidas sobre prazo de entrega e troca de produto, ficaram disponíveis no final de semana das 10h às 18h e nos dias próximos ao Natal das 7h às 20h30. Além disso, muitos casos de atraso na entrega de produtos foram resolvidos com sucesso a partir de um contato do técnico do Procon com o fornecedor. Nos postos do CIC, o atendimento aos cidadãos foi ampliado para quatro dias por semana (de segunda à quinta-feira) 26 Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 e dia para o atendimento, mas eu preferi o atendimento sem hora marcada. Como já tinha usado o serviço do Procon-SP, estava imaginando que iria aguardar muito mais tempo. Mesmo sem marcar hora a espera foi muito menor do que a primeira vez que eu vim. Uma boa surpresa!” Os postos do Procon-SP, que recebem diariamente uma demanda muito grande da população, tiveram uma diminuição bastante significativa de suas filas de espera. Dados da ouvidoria, setor para o qual são direcionados os elogios, críticas e sugestões do cidadão ao órgão, apontam para uma queda de 52% nas críticas ao atendimento pessoal. Para complementar as melhorias voltadas para o consumidor paulista, o Procon-SP passa a atender também de forma itinerante, por meio de duas unidades móveis adaptadas para realizar o atendimento presencial de forma ágil e eficiente, não só em diversas regiões da capital, como também em outros municípios paulistas. Outros locais em que o Procon-SP atende de forma presencial são os Centros de Integração da Cidadania – CICs, programa da Secretaria da Justiça que proporciona o acesso da população a serviços públicos e gratuitos. Até o ano passado, por questões operacionais, os técnicos da fundação compareciam duas ve- Atendimento zes por semana para prestar orientação aos consumidores daquelas comunidades. Em 2010, o atendimento a estes cidadãos foi ampliado para quatro dias por semana, de segunda a quinta-feira. “Trata-se de uma lógica diferente de trabalhar a proteção e defesa do consumidor, de forma que facilite o acesso à justiça, ser mais eficiente no atendimento ao cidadão e obter maior efetividade na solução de conflitos de consumo, promovendo a participação popular, integração cooperativa e solidária entre o estado, fornecedores, consumidores e o meio que eles vivem”, declara Robson Campos. Atendimento a distância As inovações para melhorar o trabalho voltado ao consumidor não ficam restritas aos postos de atendimento pessoal. Além do atendimento presencial, a fundação dispõe também do atendimento eletrônico: por email e por telefone, meios bastante procurados pelo consumidor para sanar suas dúvidas e resolver os seus problemas com o fornecedor. O atendimento telefônico 151, que presta orientações e tira dúvidas dos paulistas, também conta com novidades. O horário de atendimento e a quantidade de pontos de atendimento foram ampliados. Anteriormente, o atendimento telefônico ficava disponível em horário comercial, das 8h às 17h. Agora, Como Funciona Triagem - O cidadão chega ao posto de atendimento e apresenta o seu problema para que o técnico identifique se se trata de um conflito de consumo. Caso seja uma dúvida simples, o consumidor já recebe, neste primeiro momento, a orientação do técnico que fica na triagem. Atendimento no mesmo dia - Caso seja um problema mais complexo e que demande uma avaliação mais apurada, o consumidor é orientado sobre qual o prazo de espera para receber o atendimento e recebe a senha para ser atendido no mesmo dia. Agendamento - Se não puder aguardar, o atendente da triagem orienta sobre a possibilidade de agendar o atendimento para o dia e horário mais conveniente ao consumidor. Os horários disponíveis para agendamento são de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 18h30. Na hora marcada - Ao retornar ao posto no dia marcado, o consumidor mostra a senha recebida e é atendido no horário previamente estipulado. Horário de funcionamento dos postos - De segunda a sexta-feira, das 7h às 19h; aos sábados das 7h às 13h passou a atender pelo período de 12 horas. Hoje, o consumidor pode tirar suas dúvidas pelo 151 das 7h às 19h. Comparando os dados de janeiro de 2010 com janeiro de 2009 constatase um aumento de 309,5% no total dos atendimentos prestados. Outra importante mudança implementada para o consumidor que busca o atendimento telefônico são as orientações automáticas de consumo. São mensagens que o consumidor recebe enquanto aguarda e que versam sobre os problemas mais recorrentemente apresentados pelo consumidor à fundação, a exemplo das perguntas mais frequentes disponíveis no site da fundação, como cobranças indevidas, defeitos nos produtos, etc. Com a medida, os técnicos ficam disponíveis para atender demandas de maior complexidade, sem que isso prejudique a qualidade da orientação aos consumidores. Além disso, a expectativa é que o consumidor melhor informado tenha mais subsídios para enfrentar os conflitos de consumo. Atividades que integram o “Atendimento Comunitário - Integração e Cidadania” • atendimentos individuais e coletivos para abertura e tratamento de reclamações; • orientação individual e coletiva ao cidadão de segunda a sexta-feira, das 9h às 15h nos postos do CIC Oeste, Sul, Norte, Leste, Feitiço da Vila; • orientação ao fornecedor com foco na harmonização das relações de consumo e no desenvolvimento social e econômico sustentável; • incentivo e capacitação para participação social no processo legislativo e regulatório das relações de consumo; • realização de audiências públicas de conciliação de demandas individuais e/ou coletivas; • instalação do projeto observatórios sociais das relações de consumo; • fiscalização do mercado de consumo local. janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 27 Coleguinhas Crédito: Acácia Paes Cidadãos iguais Por Mário Malina o o e s Equipe da Coordenação de Políticas para a População Negra e Indígena (da esq. para a dir.): Maria do Carmo dos Santos, Roberto de Oliveira, Roseli de Oliveira, Claudia Martins, Regina da Costa e Edson Junior “N a maioria dos lugares que eu frequento sou chamada de negrinha pelos funcionários dos estabelecimentos”. “Escolhi um produto e o vendedor falou que tinha um mais barato. Falei que queria aquele que eu escolhi, mas ele insistiu em oferecer o 28 mais barato. É uma forma de preconceito”. “Professor da academia disse que meu tipo físico é ótimo para exercícios pesados e comentou: - Força, negão, você pode mais”. Esses são os relatos de alguns dos consumidores que participaram da pesquisa Discriminação Étnico-racial nas Relações Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 de Consumo – perfil e percepção do consumidor afrodescendente, realizada por técnicos da Fundação ProconSP com a colaboração de alunos da Faculdade Zumbi dos Palmares, em novembro de 2009. O levantamento revela que a discriminação racial nas relações de Coleguinhas É a primeira vez que se faz esse tipo de pesquisa sobre discriminação nas relações de consumo e ela pode apontar dados para futuros estudos e incentivar novas pesquisas Valéria Rodrigues consumo é uma realidade no Brasil e que, apesar do tema ser discutido em todas as esferas das relações sociais, é pouco abordado nas relações de consumo. O dado aponta, portanto, para a importância de se firmar ações, políticas e legislações específicas sobre o tema. Sensíveis a essa necessidade, a Fundação Procon-SP e a Coordenação de Políticas para a População Negra e Indígena da Secretaria daJustiça do Estado de São Paulo firmaram recentemente uma parceria de trabalho. A missão da Coordenação é a promoção de atividades voltadas ao respeito e à dignidade da pessoa humana, de afrodescendentes e de grupos étnica e historicamente vulneráveis. O objetivo do trabalho conjunto é criar mecanismos contra a discriminação nas relações de consumo e para isso estão sendo desenvolvidas atividades como pesquisa, capacitação dos Procons municipais, educação preventiva sobre discriminação nas relações de consumo e elaboração de legislação específica. A pesquisa foi um dos primeiros resultados dessa parceria. “É a primeira vez que se faz esse tipo de pesquisa sobre discriminação nas relações de consumo e ela pode apontar dados para futuros estudos e incentivar novas pesquisas”, comenta Valéria Rodrigues, diretora de estudos e pesquisas da fundação e coordenadora do estudo. Para a diretora de relações institucionais da Fundação Procon-SP, Regina Lunardelli, as ações de capacitação dos Procons municipais conveniados e dos funcionários do Procon-SP nos Poupatempos, a partir da parceria com a Coordenação, “visam à humanização dos atendimentos”. As diretoras salientam a importância da iniciativa no sentido de ajudar a mudar uma cultura arraigada na sociedade. “A discriminação é algo cultural e para mudar essa realidade temos que propor novos comportamentos”, afirma Valéria. Fiscalização e prevenção Outro resultado importante da parceria foi a elaboração da Portaria Normativa nº 33, do Procon-SP. A norma, criada a partir de discussões com a Coordenação de Políticas para a População Negra e Indígena, envolve todo o tipo de discriminação e estabelece que a empresa que tiver uma conduta discriminatória contra o consumidor poderá ter sua pena base agravada de um terço ao dobro no processo administrativo. De acordo com a portaria, consideram-se circunstâncias agravantes “ser a conduta infrativa discriminatória de qualquer natureza, referente à cor, etnia, idade, sexo, opção sexual, religião, entre outras, caracterizada por ser constrangedora, intimidatória, vexatória, de predição, restrição, distinção, exclusão ou preferência, que anule, limite ou dificulte o gozo e exercício de direitos relativos às relações de consumo”. Além das penalidades administrativas, o Procon-SP tem combatido a discriminação por meio de mecanismos preventivos. Duas ações im- portantes estão sendo desenvolvidas em cooperação. A primeira é a capacitação dos Procons municipais, que será ministrada pela Coordenação de Políticas para a População Negra e Indígena e irá preparar os técnicos dos Procons conveniados à fundação para saber identificar e lidar com o problema da discriminação. O segundo é a produção de vídeos educativos, que fazem parte de um projeto que busca aproximar a população do tema das relações de consumo. Eles irão abordar, entre outros assuntos, a discriminação. A ideia é que os vídeos, que já estão em fase de execução, sejam veiculados em locais onde há grande acesso de pessoas. “Acredito que, com esta parceria, estamos dando um salto muito importante para o combate da discriminação racial. Estamos preparados para colher todas as denúncias que ocorrem com os consumidores negros e de outros grupos vulneráveis a fim de erradicarmos o preconceito”, diz Roseli de Oliveira, coordenadora da Coordenação de Políticas para a População Negra e Indígena. Saiba mais A Coordenação de Políticas para a População Negra e Indígena foi criada pelo decreto 54.429/09 e tem por objetivo “promover, elaborar, coordenar, desenvolver e acompanhar programas, projetos e atividades voltados ao respeito e à dignidade da pessoa humana, de afrodescendentes e de grupos étnica e historicamente vulneráveis, como comunidades tradicionais de terreiros, quilombolas e indígenas”. janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 29 Fiscalização Desrespeito custa caro Por Ricardo Camilo Divulgação Em menos de 1 ano, Cadastro para Bloqueio de Ligações de Telemarketing recebeu mais de 330 mil inscrições C om o intuito de preservar a privacidade do cidadão, o Estado de São Paulo criou o Cadastro para Bloqueio de Ligações de Telemarketing. Em vigor desde 1o de abril do ano passado e sob a responsabilidade da Fundação Procon-SP, o “Cadastro” recebeu mais de 330 mil inscrições de consumidores que não querem mais receber chamadas com ofertas de produtos e serviços. Mesmo com milhões de outros telefones disponíveis, algumas empresas, por erro, incompetência ou descaso, incomodaram consumidores que manifestaram sua vontade de não mais receber tais chamadas. Para puni-las, o Procon-SP instaurou, no fim de janeiro, nove processos administrativos. Os fornecedores autuados (veja 30 quadro) terão direito a ampla defesa, mas podem ser multados, ao final do processo, em até R$ 3,2 milhões, conforme o artigo 57 da Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor). Paulo Arthur Goes, diretor de fiscalização do Procon-SP, explica como funciona o processo de análise para saber se determinado fornecedor desrespeitou o “Bloqueio”: “Fazemos uma análise detalhada das denúncias dos consumidores, cruzando as chamadas recebidas com as feitas pelas empresas reclamadas e comparando também com os números apontados pelos consumidores em alguns casos”. Apesar do desrespeito constatado, no caso das empresas autuadas, o diretor executivo do órgão, Roberto Pfeiffer, faz um balanço positivo do Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 “Cadastro”: “O baixo número de reclamações (pouco mais de 2.900) em relação ao significativo número de consumidores cadastrados é sinal de que a lei foi bem recebida pela sociedade e está sendo cumprida pela maioria das empresas. Mas o trabalho da fiscalização é fundamental para que esses índices não se elevem, portanto, o monitoramento deve continuar”, afirma Pfeiffer. Para efetuar o cadastro, o consumidor (pessoa física ou jurídica) deve acessar o site www.procon.sp.gov.br ou ir pessoalmente a um dos postos de atendimento do órgão com as seguintes informações: nome ou razão social (empresa privada); número do registro geral (RG) ou inscrição estadual; número de inscrição no cadastro de pessoas físicas (CPF) ou no cadastro nacional da Fiscalização pessoa jurídica (CNPJ); endereço; código de endereçamento postal (CEP); telefone a ser cadastrado (físico ou móvel, do Estado de São Paulo); endereço eletrônico (e-mail). Após 30 dias da inscrição, as empresas ficam proibidas de ligar, a não ser que tenham autorização por escrito (o padrão para essa autorização também está disponível no site do Procon-SP). Novo adepto O oficial administrativo Lucimauro Ricardo de Sousa, 34, ainda não efetuou cadastro, mas pretende fazê-lo em breve. “Muitos atendentes insistem demais para tentarem realizar suas vendas, outros são compreensivos, quando falo que não posso atender em determinado horário e perguntam qual é o melhor período do dia para retornarem a chamada. Mas a maioria não quer nem saber e ligam de noite e até em finais de semana”, explica. Lucimauro também reclama da dificuldade que encontra quando é a vez dele ligar para as empresas para obter alguma informação ou resolver problemas. “Na hora de vender, é tudo uma beleza, mas quando eu tento contato com a mesma empresa que faz telemarketing insistindo para que eu compre algo, não me atende bem se eu tenho algum problema e preciso de auxílio”, desabafa. Além de bloquear ou desbloquear linhas telefônicas no espaço disponibilizado no site do Procon-SP, o consumidor (pessoa física ou jurídica) pode registrar reclamação contra alguma empresa que tenha desrespeitado o bloqueio. Basta entrar no endereço virtual e formalizar a denúncia. Para ter acesso aos números que não podem mais receber chamadas com oferta de produtos e serviços, os fornecedores têm um ícone (no site do Procon-SP) para se cadastrarem e, assim, realizarem a consulta – os demais dados dos consumidores serão mantidos sob sigilo. As empresas de outros estados também ficam proibidas de efetuar ligações para os números bloqueados. Fotos: Carlos Alberto Damiano/Procon-sp Outro lado O Bradesco limitou-se a afirmar que “cumpre a legislação referente ao assunto”. Já a Net informou “que investiu em sistemas e processos para atender as determinações da Lei 13.226/08, que criou o Cadastro para o bloqueio do recebimento de ligações de telemarketing. As ligações realizadas pelo telemarketing da empresa passam por um filtro e os nomes de clientes que solicitaram inclusão no cadastro de bloqueios são excluídos automaticamente”. A empresa também disse “que respeita a legislação vigente e vai apurar e esclarecer os casos registrados pelo Procon-SP”. O Citibank informou que “examinará, caso a caso, as queixas para identificar oportunidades de melhoria nos seus processos, além de reafirmar seu compromisso de sempre permanecer em absoluta conformidade com a legislação”. Empresas Autuadas • Banco Bradesco S/A • Banco Citibank S/A • Banco Santander S/A • Beach Park Hotéis e Turismo S/A • Brasfilter Indústria e Comércio Ltda (Filtros Europa) • Net Serviços de Comunicação S/A • Oficial Listas Telefônicas • Ossel - Organização Andreense Empreendimentos de Luto Ltda • Telecomunicações de São Paulo S/A (Telefônica) Cansado de ser incomodado, Sousa decide se cadastrar O Santander comunicou que “está apurando os casos informados pelo Procon-SP, a fim de verificar sua procedência e eventualmente buscar a solução para que não haja futuros apontamentos”. A empresa argumentou, ainda, que “apoiou e colaborou com a construção desta lei (bloqueio de telemarketing)”; além de informar que “efetua a exclusão das ações de telemarketing dos clientes que manifestam tal vontade, antes mesmo da vigência da legislação atual.” A Telefônica comunicou que “reafirma sua atitude quanto ao cumprimento da legislação e dos regulamentos setoriais brasileiros, tomando todas as medidas necessárias para o cumprimento da lei estadual que trata do tema específico”. A empresa oficial Listas Telefônicas informou apenas que o caso será analisado pelo seu advogado. A Ossel alegou que “respeita a lei e que irá verificar a procedência das reclamações contra a empresa”. Também procuradas pela REVISTA PROCON-SP, as empresas Brasfilter e Beach Park não quiseram se manifestar. janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 31 Recall Mais defeitos ou mais transparência? Por Acácia Paes SXC Somente em 2009 foram feitos 45 recalls convocando proprietários de carros e motos C omprar um carro novo para evitar dor de cabeça. Esse é o pensamento da maioria dos consumidores que optam por um modelo zero quilômetro. Mas a maioria das pessoas não espera por uma surpresinha que vem se tornando frequente no país: o defeito de fábrica. O número de campanhas de recall no Brasil tem crescido ano a ano. Segundo dados da Fundação ProconSP, em 2007 e 2008, foram 32 e 34 convocações, respectivamente. Em 2009, este número subiu para 45. “O aumento no número de campanhas de recall não indica necessariamente algo problemático com o setor, pois o crescimento da produção e o aperfeiçoamento tecnológico refletem diretamente nesses números, porém, quando um mesmo veículo passa a ser 32 objeto de várias convocações, aí sim há sinal de falhas que precisam ser investigadas”, diz Paulo Goes, diretor de fiscalização do Procon-SP. Em outras palavras, descobriu-se, só no ano passado, que aproximadamente 730 mil veículos que estavam em circulação poderiam oferecer risco à segurança ou à integridade física dos condutores, passageiros e até mesmo pedestres. “Pelos nossos registros, constatamos que no ano passado, entre as ocorrências mais frequentes, o sistema de freios aparece em primeiro lugar, seguido pelo sistema eletroeletrônico. A terceira maior ocorrência diz respeito ao sistema de combustível”, afirma Goes. Como uma forma de mitigar os defeitos e suas causas surgem muitas vezes Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 justificativas mirabolantes, que apontam para um eventual e longínquo risco ao consumidor. A ideia é simples: tentar convencer as pessoas que o recall é uma iniciativa de boa vontade da montadora, não uma obrigação legal. Os comunicados indicam falhas pontuais de projeto, problemas com a matéria-prima, dificuldades com novas tecnologias. De carona, aparecem argumentos como a pressão da concorrência no mercado nacional e até os recentes recordes de vendas. Tudo isso contribuiria para esse aumento do volume de convocações. Especulações à parte, o que fica claro é que este é um assunto que não agrada associações de fabricantes, montadoras, concessionárias e autopeças. Procurados pela REVISTA PROCON-SP, ninguém quis se manifestar sobre o tema. Para eles, recall pode ser sinônimo de prejuízo financeiro e à imagem das empresas, embora a impressão que se quer passar ao consumidor é de seriedade e de preocupação com a qualidade e segurança. Embora a Peugeot Citroën tenha batido recorde de número de convocações em 2009 (oito), o maior volume de carros foi da Volkswagen. Em três convocações, a montadora alemã teve 269 mil veículos envolvidos, contra 51 mil da marca francesa. Problema cultural Apesar de o setor automotivo representar 66% do total de recalls no país – também costumam ser chamados produtos alimentícios, de informática, medicamentos e brinquedos, entre outros –, ainda há uma cultura de esconder ou retardar as convocações. “Enquanto no Brasil há, em média, 50 campanhas ao longo de um ou dois anos, nos Estados Unidos, onde a cultura do recall está mais difundida, ocorre uma média de 500 no mesmo período”, diz Goes. “Mesmo considerando-se as diferenças conceituais Recall A responsabilidade é sempre de quem coloca o produto defeituoso no mercado Paulo Arthur Goes – nos EUA, qualquer tipo de problema, ainda que não implique em risco à saúde e segurança, pode dar causa a um recall – a diferença é muito grande entre um mercado e outro.” Por outro lado, enquanto as montadoras fazem suas campanhas de recall em ritmo acelerado, os proprietários andam em marcha lenta. Segundo as montadoras, a média de consumidores que levam o carro para reparo é de 65%. Primeiras convocações do ano Audi Brasil: veículo Audi Q5 Defeito: grampo de fixação do revestimento da coluna dianteira. Em caso de acidente, há a possibilidade do revestimento da coluna dianteira, do lado em que o airbag for disparado, se soltar e se deslocar para o interior do veículo. Peugeot Citroën do Brasil: veículo Peugeot 307 Defeito: falha na identificação da posição do comando do acendedor dos faróis, o que pode provocar o apagamento dos faróis sem solicitação do condutor. Honda Automóveis do Brasil Ltda: veículo Honda Fit Defeito: penetração de umidade no interruptor de comando dos vidros que pode comprometer seu funcionamentos e, em casos mais extremos, gerar curto-circuito e incêndio. Não existe, porém, uma lei que obrigue o consumidor a procurar uma concessionária para reparar o erro, nem um órgão específico que controle a qualidade dos veículos, como nos EsArquivo/Revista Procon-SP 21 unidades da Ferrari foram convocadas em março de 2009 • Assim que for informado sobre o recall, o proprietário deverá entrar em contato com uma concessionária do fabricante para agendar a troca da peça com defeito; • O consumidor deve exigir o comprovante de que o serviço de reparação foi efetuado; • O documento deverá ser conservado e repassado para o futuro proprietário em caso de venda do veículo; • No caso de o veículo ter sido comercializado mais de uma vez, o atual proprietário tem o mesmo direito ao conserto gratuito; • Os consumidores que já passaram por algum acidente causado pelo defeito podem solicitar na Justiça a reparação por danos morais e patrimoniais, eventualmente sofridos. tados Unidos. Por aqui, vale o Código de Defesa do Consumidor, que obriga as empresas a apresentar os esclarecimentos quanto ao defeito e os riscos à saúde e à segurança, com informações claras e precisas sobre aos perigos para o consumidor. “A responsabilidade é sempre de quem coloca o produto defeituoso no mercado; tanto faz se ele é o fabricante ou o importador”, explica Goes. É fundamental, portanto, que as empresas entendam a importância de tomar a iniciativa de convocar o recall espontaneamente – informando ao consumidor amplamente sobre os riscos a que ele está submetido se não atender ao chamado. A pior situação é aquela em que o fabricante espera o problema aparecer para tomar a decisão, deixando consumidores expostos para evitar um suposto prejuízo à imagem – como o recente caso da Toyota nos EUA ou o da linha Fox, aqui no Brasil. Recall de 2010 Neste ano, segundo o Procon-SP, foram abertas até o início de fevereiro, sete APs (Averiguações Preliminares) de recall – três para acompanhar se a campanha feita na mídia está adequada ao CDC e as outras quatro para averiguar a possibilidade de recall no Brasil em razão da ocorrência no exterior. janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 33 Saúde Revisão saudável Créditos: Divulgação Por Patrícia Paz Planos de saúde darão cobertura para acidentes de trabalho S ão nomes estranhos, compridos e complexos como desoxicorticosterona, broncoplastia e/ou arterioplastia por videotoracoscopia ou PET-SCAN oncológico (com diretriz de utilização), dentre outros. Muito complicado? Não se você precisar de uma terapia de reposição na doença de Allison (falência da glândula suprarrenal); fazer uma retirada de fragmento ou reconstrução dos brônquios ou artérias; e, ainda, um exame para diagnóstico de metástase em cânceres, doenças neurológicas e cardíacas. Esses e mais 67 procedimentos foram incluídos pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) no Rol 34 de Procedimentos 2010, que entra em vigor em 07 de junho de 2010. São 70 procedimentos (54 para planos de saúde médico-hospitalar e 16 para planos odontológicos) que os planos de saúde deverão oferecer a seus usuários. As medidas valem para os planos contratados a partir de janeiro de 1999 ou adaptados à Lei 9656/98 – totalizando mais de 43 milhões de consumidores. Mas o que é o rol de procedimentos? “O rol é a cobertura mínima obrigatória a ser oferecida pelas operadoras de planos privados de assistência à saúde”, explica a assistente de direção da Fundação Procon-SP, Selma do Amaral. Segundo ela, o rol foi revisado Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 por um Grupo Técnico (GT), formado por representantes que compõem a Câmara de Saúde Suplementar, da qual faz parte o Procon-SP. “O GT discutiu a revisão do rol de procedimentos e eventos em Saúde e odontológicos da ANS, de forma a qualificar, democratizar e tornar transparente o processo”, ressalta Selma. A nova versão do rol foi precedida também por uma consulta pública, para receber contribuições e demandas dos usuários de planos de saúde e odontológicos. Neste caso, ela foi feita entre 08 de setembro e 30 de outubro de 2009, com um total de 8.039 contribuições. Saúde Inclusões O rol de procedimentos incluiu, entre outros procedimentos, cirurgias por vídeo no tórax e 17 exames laboratoriais. Foram incluídos ainda exames preventivos, como o teste do olhinho (para recém-nascidos) e o teste rápido de HIV para gestantes. Outra novidade é o transplante de medula óssea feito por doação de outra pessoa viva, o chamado alogênico, para o tratamento de leucemia. Segundo a gerente geral técnicoassistencial de produtos na ANS, Martha Oliveira, os planos só cobriam transplantes autológicos, ou seja, do próprio paciente, além de transplantes de rim e de córnea com doações de terceiros. “O problema hoje é a captação de órgãos. Então, não adianta incorporar outros transplantes se não há captação de órgãos”, explica Oliveira sobre a inclusão apenas do transplante de medula. A gerente ressalta que a cobertura do plano tem que incluir todas as consultas e procedimentos hospitalares que tiverem a ver com o transplante, exceto o medicamento domiciliar. As novas regras também contemplam alguns tipos de exames na área de genética, indicados para a detecção de leucemia. Outros procedimentos importantes foram incluídos no rol, como o PETScan, exame indicado para a detecção de câncer pulmonar e linfomas, e implante de marcapasso multissítio. O rol prevê ainda, pela primeira vez, a cobertura para acidentes de trabalho e doenças ocupacionais para planos coletivos. Além disso, foi ampliado o número de consultas com fonoaudiólogos (de 6 para 24 por ano), nutricionistas (6 para 12), terapeutas ocupacionais (6 para 12) e psicólogos (12 para 40). No caso da saúde mental, caiu a limitação de 180 dias por ano para atendimentos em hospitais psiquiátricos, passando a ilimitado, como alternativa à internação hospitalar, para portadores de esquizofrenia e de transtorno bipolar, entre outros casos graves. Além da inclusão de novos procedimentos, é uma vitória para o consumidor o compromisso da ANS de promover revisão periódica do rol – antiga reivindicação do ProconSP. “É um avanço, no sentido de que as novas tecnologias na área médica poderão ser avaliadas dentro de uma periodicidade mínima e, assim, incorporadas ao rol mínimo obrigatório”, conclui Selma. Chiadeira Apesar dos evidentes benefícios aos consumidores, sempre que há atualização do rol de procedimentos, as operadoras de planos de saúde reclamam. “As pequenas e médias operadoras já lutam para vencer taxas e obrigações impostas pela ANS e, com o novo rol terão, mais dificuldades para sobreviver”, diz Arlindo de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), para quem é um “absurdo” incluir no rol acidentes do trabalho. O rol entra em vigor em junho, e o reajuste dos planos de saúde só será autorizado pela ANS em maio de 2011. Portanto, a iniciativa beneficia os consumidores e não traz nenhum aumento imediato de preço. Cirurgias por vídeo no tórax - São 26 novas cirurgias cobertas por este método. Para diversas doenças, esse tipo de procedimento é menos invasivo que o convencional, pois não demanda abertura da caixa torácica. Exames laboratoriais - Os consumidores terão acesso a mais 17 novos exames, incluindo diversas dosagens de anticorpos para diagnóstico, tais como o anti GAD (para diabetes) e exames para avaliação de imunodeficiências primárias. Exames de genética - Novos exames para orientação do tratamento de alterações cromossômicas em leucemias. Promoção à saúde e prevenção de doenças - Foram ampliados os números de consultas para nutricionistas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos. Entre os exames preventivos estão do olhinho (para recém-nascidos) e o teste de HIV em gestantes. Transplante de medula óssea - Procedimento indicado em tratamentos de leucemias e outras doenças hematológicas. O transplante alogênico (de outro doador) é mais uma opção de tratamento, além do autológico (retirado do próprio paciente), já coberto atualmente. Saúde mental - O atendimento em hospital-dia tornou-se ilimitado, como alternativa à internação hospitalar. Odontologia - Agora, o tratamento odontológico na saúde suplementar ficou mais completo. Entre os 16 novos procedimentos, estão a colocação de coroa e bloco. Novas tecnologias - Destaque para o implante do marcapasso multissítio, utilizado no tratamento de insuficiência cardíaca refratária, além do PET-SCAN oncológico e da oxigenoterapia hiperbárica (procedimento que se aplica ao tratamento de doenças para as quais um maior aporte de oxigênio é benéfico, tais como gangrenas e algumas intoxicações e lesões traumáticas). janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 35 Evento Créditos: Carlos Damiano Consumo e violência Por Redação Evento abordou temas como cultura do consumo e inclusão do jovem na sociedade M uitos não sabem, mas existe uma grande diferença no significado das palavras consumo e consumismo. No primeiro, os gastos são utilizados para aquisição de mercadorias e serviços para satisfação das necessidades humanas, como alimentos e vestuários, ou seja, necessidades básicas. Já o consumismo está associado ao exagero e ao supérfluo. Presa fácil das propagandas, boa parte da população mundial possui a ideia de que é preciso adquirir bens para ser feliz. E é por causa destas compras impensadas e desenfreadas que a sociedade tem sofrido com o excesso de violência. Mas o que uma 36 coisa tem a ver com a outra? É preciso pensar que para adquirir é preciso ter dinheiro, o que não está sobrando para grande parte da sociedade. A saída, então, é entrar na vida do crime e, consequentemente, apelar à violência. Foi pensando neste problema que a Fundação Procon-SP realizou no fim de 2009 o V Fórum Anual do Observatório das Relações de Consumo, com o tema “Consumo como fator gerador de violência”. O encontro teve a participação dos parceiros Assessoria da Defesa da Cidadania da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, Ipem-SP e Ministério Público do Estado de São Paulo. Como o assunto atinge todos, o auditório da Secretaria da Justiça e da Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 Defesa da Cidadania na capital paulista ficou lotado ao receber em peso estudantes, professores universitários, representantes de Procons municipais, entidades da sociedade civil e público em geral. O evento foi aberto pelo diretor executivo do Procon-SP, Roberto Pfeiffer, que salientou que o órgão vem trabalhando a questão do superendividamento, justamente porque ela tem um grande potencial para ser geradora de violência. Os painéis foram mediados pela diretora de relações institucionais, Regina Lunardelli. “Criamos um fórum integrado, que contou com a participação da comunidade acadêmica, de órgãos públicos e da sociedade, para Evento estudar e tentar entender até que ponto o consumo influencia a violência na sociedade”, comentou. No primeiro painel, intitulado “Vidas à venda: Uma reavaliação crítica da cultura do consumo”, os palestrantes Eduardo Bittar (livre-docente em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela USP), Celso Naoto Kashiura Jr. e Tarso de Melo (ambos pesquisadores da Faculdade de Direito da USP) e Mariana Fischer (pesquisadora da Escola de Direito da FGV e doutora em filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco) criticaram o estímulo consumista em que a preocupação estética – o parecer – leva a um consumo desenfreado e confunde o ser com o ter. Para Bittar, a sociedade contemporânea vivencia uma experiência histórica e específica de ênfase plural e ideológica no indivíduo, o que trará inúmeras consequências, como a desimportância da família. “Ela não é mais necessária para se atingir os objetivos do mercado, mas sim o indivíduo que nela está”, disse. Kashiura levantou a tese de que superação tecnológica desenfreada aumenta cada vez mais o consumismo. “A religião do mundo contemporâneo é o consumo, pois a compra de determinados materiais estabelece padrão e lugar na sociedade”, comentou. “Até os manequins consomem hoje em dia. Vocês podem ver como eles trocam de roupas nas vitrines e como ganham novos looks ao longo dos tempos. São mais descolados que muitas pessoas”, brincou. Já Mariana Fischer mencionou que o consumo é visto como conforto, o que não significa felicidade. “Estamos no meio de uma cultura que não sabe encarar a infelicidade e angústia. É impossível parar para analisar e ver o que está errado porque não podemos perder tempo, pois precisamos trabalhar a todo o momento para satisfazermos a ideologia que empregamos num Evento contou com a Assessoria da Defesa da Cidadania da Secretaria da Justiça, IPEM-SP e Ministério Público certo produto. Só ficamos contentes quando conseguimos levar este bem para dentro de nossas casas. Ninguém consegue escapar desta necessidade de consumir.” No segundo painel – “Desafios da inclusão do jovem na sociedade de consumo” –, Maria Cecília Cortez de Sousa, vice-reitora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, e Paula Nascimento da Silva, mestre em Educação pela Universidade de São Paulo, comentaram o estudo que realizaram sobre os hábitos de consumo de jovens carentes. Elas acompanharam por três anos um grupo de adolescentes de uma instituição localizada na periferia de São Paulo. “O objetivo foi fazer um recorte do mundo consumista contemporâneo a partir do ponto de vista destes jovens. Discutimos como eles enfrentam a dificuldade de conseguir o primeiro emprego e como eles fazem uso do dinheiro que ganham em determinados bicos”, disse Paula Nascimento da Silva. “Todos fazem parte de famílias de baixa renda e estudam em escolas públicas precárias. Constatamos que eles não possuem acesso a atividades culturais, mas estão preocupados em andar na moda. Muitos têm aparelhos de celular de última geração e roupas e tênis de grife comprados com esforço pelo pai pedreiro ou pela mãe que trabalha como doméstica.” O último painel (“O Direito da Criança e do Adolescente em uma Sociedade de Consumo”) teve a participação da psicóloga e diretora do Cedeca (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente) de Interlagos, Fernanda Lavarello, que analisou a sociedade de consumo à luz do Estatuto da Criança e do Adolescente e do Código do Direito do Consumidor. Ela falou sobre o abuso da publicidade para atrair as crianças e as mães. “Precisamos de controle social dos meios de comunicação e de uma publicidade digna para evitar o desejo impulsivo que nasce cada vez mais cedo nas crianças”, concluiu. No encerramento, houve a apresentação de esquete – Geração Consciente – realizado pelos estudantes da Faculdade de Diadema FAD/UNIESP e o número musical dos Jovens do Ato Cidadão do escritório de inclusão social do projeto Nós do Centro. janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 37 Pesquisa Saúde do bolso 38 Maior diferença entre um medicamento de referência e um genérico: Hidantal (Fenitoína) Por Ricardo Camilo Maior diferença entre os medicamentos de referência: Depo Provera (Acetato de Medroxiprogesterona) Maior diferença entre os medicamentos genéricos: Fenitoína R$ 4,04 R$ 30,25 R$ 6,06 R$ 7,64 R$ 0,40 R$ 0,40 Drogaria Farmalife São Geraldo Farmalife Drogão (referência) (genérico) Drogaria Onofre Farmalife Percentual de itens, por estabelecimento, com preços menores ou iguais aos preços médios obtidos : A pesquisa abrangeu 15 estabelecimentos farmacêuticos distribuídos pelas cinco regiões da capital 100,00% 80,00% 60,00% 40,00% 20,00% o do gã al ro er G o D a rto Fa Ve m ria ga Sã ro D ria ga D ro a o ai ul ro ga R Pa o Sã ria D ia fre no O ga ro ria D ga de C & a rm ga Fa D ro D D ro l a m ar Ve r of ga ro D ã si ga ro D om Pr ife pe al ro ga ria C am de rm Fa on C a rm ria ro ga Fa Pa ch ec o 0,00% D O ano de 2010 começou com mais uma “arma” para o consumidor não ficar no prejuízo, a 1o pesquisa de preços de medicamamentos, elaborada pelo Procon-SP. Realizado com base em duas tabelas de medicamentos, elaborada em conjunto com a Secretaria da Saúde. O levantamento, que terá periodicidade bimestral, provou que a velha dica de pesquisar antes de comprar também é válida para cuidar da saúde. Os técnicos que foram a campo verificaram que, enquanto o medicamento “de marca” Hidantal (princípio ativo Fenitoína) custava R$ 6,06, na Drogaria Drogão, da região Sul, o seu genérico com a mesma apresentação (100 mg. – 25 comprimidos), era encontrado a R$ 0,40, na Farmalife (região central) – direrença de 1.415%. O resultado mostra que, na comparação entre preços de medicamentos de referência e genéricos, observa-se que a diferença pode ser exorbitante. O Procon-SP também efetuou comparativos somente entre os medicamentos comparativos, em que a maior diferença de valores constatada foi de 295,94% – no Depo Provera (Acetato de Medroxiprogesterona), do laboratório Pfizer, com apresentação em 150 mg/ml, injeção com uma ampola. Na Drogaria São Geraldo (região oeste), o valor do item é R$ 30,25, enquanto na Farmalife (no centro) o mesmo medicamento podia ser encontrado por R$ 7,64. Já entre os genéricos, que, mesmo sendo mais baratos, também podem apresentar grandes diferenças de preço entre si, o mesmo medicamento com o princípio ativo Fenitoína, foi encontrado por 0,40, também na Farmalife (centro de São Paulo), e por R$ 4,04, na Drogaria Onofre, na Região Leste – diferença de 910%. Crédito: Divulgação Orientação • Nunca adquira medicamento sem prescrição médica; • Siga sempre as indicações da receita médica; • A bula deve ser sempre original e nunca cópia; • Nunca interrompa um tratamento sem conhecimento de seu médico; • Guarde sempre o medicamento em local seco, arejado e fora do alcance de crianças. A diretora de estudos e pesquisas do Procon-SP, Valéria Rodrigues Garcia, fala da importância de comparar preços antes de comprar. “Os resultados do levantamento mostraram que a pesquisa de preço é fundamental, pois os valores dos produtos podem ter variações consideráveis de um estabelecimento para outro, inclusive por causa de descontos especiais e promoções”, explica. A pesquisa, realizada entre os dias 19 e 21 de janeiro, abrangeu 15 esta- Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 belecimentos farmacêuticos distribuídos pelas cinco regiões da cidade de São Paulo. Foram pesquisados 103 ítens, sendo 62 de referência e 41 genéricos. Participaram da coleta: Profarma, Droga Vema e Drogasil (zona norte); Drogaria São Paulo, Drogaria Farto e Drogaria São Geraldo (zona oeste); Farmalife, Droga Campeã e Droga Pacheco (centro); Farma & Cia., Drogaria Onofre e Droga Verde (zona leste); Drogão, Droga Raia e Droga Conde (zona Sul). Biblioteca Teoria e prática O consumidor é um ramo relativamente novo do direito, principalmente no Brasil. Somente a partir dos anos cinquenta, após a Segunda Guerra Mundial, quando surge a sociedade de massa com contratos e produtos padronizados, é que se iniciou uma construção mais sólida no sentido de harmonizar as relações de consumo. Os consumidores passaram a ganhar proteção contra os abusos sofridos, tornando-se uma preocupação social, principalmente nos países da América e da Europa Ocidental que se destacaram por serem pioneiros na criação de Órgãos de defesa do consumidor. No Brasil, desde sua vigência, no início dos anos 90, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) proporcionou grande desenvolvimento doutrinário e jurisprudencial da disciplina do Direito do Consumidor. Todo esse processo histórico, no Brasil e no mundo, é exposto, de forma abrangente, na obra de Bruno Miragem, doutor e mestre em direito pela UFRGS e especialista em Direito Internacional e em Direito Civil. Com prefácio de Cláudia Lima Marques, professora titular de Direito Internacional na Universidade do Rio Grande do Sul e doutora em Direito pela Universidade de Heidelberg, Alemanha, o Direito do Consumidor tem dois objetivos: em primeiro lugar, expor de modo mais completo possível a disciplina jurídica do Direito do Consumidor no Brasil, a partir da vigência do CDC. Além disso, a obra busca realizar esta tarefa de modo conectado com a realidade do direito do consumidor nos foros, na academia, nos órgãos públicos e todos os demais organismos, governamentais ou não, que têm papel decisivo na sedimentação desta nova disciplina jurídica. “É uma análise sólida e útil a estudantes, advogados, magistrados, membros do Ministério Público e todos aqueles que buscam conhecer mais da rica e dinâmica realidade do direito do consumidor no Brasil”, fecha o prefácio de Cláudia Lima Marques. O caminho coletivo Manual de consulta A ação coletiva é um tema que gera discussões há vários anos. Tanto em 1974, com o Congresso de Pavia – na Itália, ou em 1983, com o VII Congresso Internacional de Direito Processual, ocorrido em Würzburg/ Alemanha, já se aprofundavam os estudos sobre os interesses coletivos e a superação do modelo individualista tradicional. Em 2000, reuniram-se em Genebra professores de várias partes do mundo para debater e confrontar as respectivas experiências nacionais envolvendo class actions, desastres de grande escala, complexlitigation, direitos do consumidor, civil rights, interesses difusos e assuntos relacionados com a tutela coletiva. Para quem se interessa pelo tema, uma boa leitura é o livro Ações Coletivas – no Direito Comparado e Nacional, do Juiz Federal Aluisio Gonçalves de Castro Mendes, que analisa os impactos desses congressos no ordenamento jurídico brasileiro. “Podem ser evocados, como exemplos, a Lei da Ação Civil Pública, de 1985, a Constituição da República, de 1988, o Código de Defesa do Consumidor, que veio a lume em 1990, e a atual discussão em torno da elaboração do Código Brasileiro de Processos Coletivos”, salienta. O professor de Direito Processual Civil na Faculdade de Direito da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e especialista nos aspectos processuais do Código de Defesa do Consumidor (CDC), Luiz Paulo da Silva Araújo Filho, traz uma abordagem dos preceitos mais relevantes do texto do CDC, como a questão da inversão do ônus da prova, os mecanismos de defesa coletiva, a atuação do Ministério Público, entidades oficiais e associações, a antecipação da tutela, as restrições à intervenção de terceiros e a ação regressiva, entre outros. O livro Comentários ao Código de Defesa do Consumidor pontua cada disposição da parte processual do CDC com o enfoque da aplicabilidade da matéria e a situações concretas que demandem do profissional um posicionamento fundado em credenciada doutrina. A obra evidencia menos conceitos já sedimentados para atribuir maior profundidade ao tratamento de problemas que têm lugar na vida concreta e que ainda não vinham sendo abordados de maneira ampla pela literatura específica. Título: Ações coletivas – no Direito Comparado e Nacional Autor: Aluisio Gonçalves de Castro Mendes Coordenação: L uiz Guilherme Marinoni e José Roberto dos Santos Bedaque Editora: Editora Revista dos Tribunais Preço: R$ 69,00 Título: Direito do consumidor Coordenação: Bruno Miragem Editora: Editora Revista dos Tribunais Preço: R$ 95,00 Título: Comentários ao Código de Defesa do Consumidor Autor: Luiz Paulo da Silva Araújo Filho Editora: Editora Saraiva Preço: R$ 54,90 janeiro e fevereiro de 2010 | Revista Procon-SP 39 Direto ao ponto Casamento feliz Por Rosi Palma Crédito: Glauber Ribeiro O convênio entre o Procon-SP e a PGE garente o aprimoramento do trabalho desenvolvido com o trabalho de equipe D esde setembro de 1998, a Fundação Procon-SP e a Procuradoria Geral do Estado (PGE) mantêm um convênio para o fornecimento de suporte jurídico nas questões pertinentes à defesa do consumidor. A parceria consiste no fornecimento, pelo Procon-SP, de todo suporte técnico e, pela PGE, na representação judicial, assessoria e consultoria jurídica. Desse modo, a PGE representa judicialmente a Fundação Procon-SP em todos os feitos judiciais que forem processados perante comarcas e foros situados no Estado de São Paulo, de jurisdição estadual ou federal, em que ela figure como autora ou ré, ou 40 ainda naqueles em que a fundação intervenha ou participe. O convênio ainda garante a prestação de consultoria jurídica, que consiste na emissão de pareceres sobre matéria jurídica de interesse tanto da administração quanto da gestão da Fundação Procon-SP (como, por exemplo, entendimentos para aplicação de alguma legislação). No tocante à assessoria jurídica, trata-se da emissão de pareceres jurídicos nos autos dos procedimentos administrativos instaurados pela instituição e, também, no controle da dívida ativa e da remessa das respectivas certidões aos órgãos de execução competentes ao ajuizamento das execuções fiscais. Revista Procon-SP | janeiro e fevereiro de 2010 À Fundação Procon-SP cabe, dentre outros: fornecer documentos, informações e esclarecimentos solicitados pelos procuradores do estado e disponibilizar instalações, equipamentos, material e pessoal de apoio. Para executar este trabalho estão comprometidos 17 técnicos de defesa do consumidor da fundação e três procuradores do estado. “A celebração do convênio permitiu maior proximidade da Fundação Procon-SP com a PGE/SP e, consequentemente, o aprimoramento do trabalho desenvolvido”, explica a procuradora Paula Cristina Rigueiro Barbosa Engler Pinto, coordenadora do convênio.