COPYRIGHT BY ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY

Transcription

COPYRIGHT BY ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY
COPYRIGHT© BY ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY
da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Proibida a reprodução, total ou parcial, por qualquer meio e sistema,
sem a devida autorização da Comissão Editorial.
Proibida a utilização para fins comerciais da matéria publicada.
Todos conceitos, idéias e pressupostos
contidos nas matérias publicadas
por este periódico são de inteira
responsabilidade de seus autores.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Reitor/President/Rector
Prof. Dr. Aloísio Teixeira
CENTR
O DE CIÊNCIAS DDAA SAÚDE
CENTRO
Decano/Dean/Decano
Prof. Dr. Almir Fraga Valladares
ESCOLA DE ENFERMA
GEM ANN
ENFERMAGEM
ANNAA NER
NERYY
Diretora/Director/Directora
Profa. Dra. Maria Antonieta Rubio Tyrrell
Escola de Enfermagem Anna Nery
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rua Afonso Cavalcanti, 275 - Cidade Nova
Rio de Janeiro - RJ - Brasil
CEP: 20211-110
Telefax: +55 (21) 2293-8999
Telefone: +55 (21) 2293-0528 - ramal 209
Home page: www.eean.ufrj.br/revista_enf/revista_enf.htm
E-mail: revista@eean.ufrj.br / annaneryrevista@gmail.com
INDEXADORES
BDENF - Base de Datos de Enfermería - BIREME;
CINAHL - Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature ;
CUIDEN - Fundación Index;
LA
TINDEX-Sistema Regional de Información en Línea para Revistas
LATINDEXCientíficas de America Latina, el Caribe, España y Portugal;
LILACS - Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la
Salud, Biblioteca Vir tual enm Salud - BIREME;
MINER
MINERVVA - Base de dados da UFRJ;
SECS - Seriados em Ciências da Saúde - BIREME;
Vice-diretora/Vce-director/Vice-directora
Profa. Dra. Regina Celia Gollner Zeitoune
Coordenadora Geral de Pós-Graduação e Pesquisa/
Postgraduation and Research General Co-ordinator/
Coordinadora General de Postgrado e Investigación
Profa. Dra. Neide Aparecida Titonelli Alvim
Coordenador de Ensino de Graduação e Corpo Discente/
Graduation Teaching and Student Body Co-ordinator/
Coordinador de Enseñanza de Graduación y Cuerpo Discente
Prof. Dr. Paulo Vaccari Caccavo
Coordenadora de Extensão/
Extension Co-ordinator/
Coordinadora de Extensión
Profa. Dra. Maria Catarina Salvador da Motta
Escola Anna Nery Revista de Enfermagem/ Universidade
Federal do Rio de Janeiro, v.1,n. de lançamento, (1997).
Rio de Janeiro: EEAN/UFRJ
(1997 - )
Trimestral
ISSN 1414-8145
EEAN
UFRJ
1937 - 2007
1.Enfermagem - Periódicos. I. Universidade Federal do
Rio de Janeiro
CDD 61073
Data de impressão/ Printing date/ Fecha de impresión:
Março 2007/ March 2007/ Marzo 2007
Tiragem/ Number of issues/ Tiraje: 500
ANOS
ESCOLA ANNA NERY
REVISTA DE ENFERMAGEM
ISSN: 1414-8145
Anna Nery School
Journal of Nursing
Escuela Anna Nery
Revista de Enfermería
volume 11
. número 1 . março 2007
POLÍTICA EDITORIAL
Como órgão oficial de difusão científica da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, a Escola Anna Nery Revista de Enfermagem tem por finalidade a
publicação de trabalhos originais de autores brasileiros e de outros países, relativos à
Enfermagem, Saúde e outras áreas afins. Assim, o processo editorial da Revista procura
apresentar à comunidade científica, textos que apresentem uma contribuição significativa para
a área. Com periodicidade trimestral, a Revista publica resultados de investigações, estudos
teóricos, revisões críticas da literatura e atualidades relevantes para a profissão, em consonância
com as tendências contemporâneas de interdisciplinaridade entre áreas de conhecimento. Os
requisitos necessários ao encaminhamento de manuscritos para publicação neste periódico
estão fundamentados nos “Requisitos uniformes para manuscritos apresentados a periódicos
biomédicos”, denominado estilo “Vancouver”, do Comitê Internacional de Editores de Revistas
Médicas e em outros documentos normalizadores de publicações.
EDITORIAL POLICY
POLITICA EDITORIAL
As the official institution of scientific diffusion
of the Anna Nery School of Nursing of the
Federal University of Rio de Janeiro, the Anna
Nery School Journal of Nursing has the
purpose of publishing original works from
Brazilian authors and from other countries
related to Nursing, health, and related areas.
Thus, the publishing process of the Journal
looks forward to presenting to the scientific
community texts that show a significant
contribution to the area. Every quarter the
Journal publishes investigation results,
theoretical studies, critical literature reviews
and relevant updated information for the
profession. The necessary requirements for
submitting manuscripts for publication in this
periodical are based on the “Unifor m
requirements for manuscripts presented to
biomedical periodicals”, named “Vancouver”
style, described by the International Committee
of Publishers of Medical Magazines and other
documents that normalize publications.
Como órgano oficial de difusión científica de
la Escuela de Enfermería Anna Nery, de la
Universidad Federal de Rio de Janeiro, la
Escuela Anna Nery Revista de Enfermería
tiene por finalidad la publicación de trabajos
originales de autores brasileños y de otros
países referentes a la Enfermería, a la Salud y
a otras áreas afines. Así, el proceso editorial
de Revista procura presentar a la comunidad
científica textos que tengan una contribuición
significativa para el área. Con periodicidad
trimestral, la revista publica resultados de
investigaciones, estudios teóricos, revisiones
críticas de la literatura y actualidades
relevantes para la profesión. Los requisitos
necesarios para el envío de manuscritos para
publicación en este periódico están basados
en los “Requisitos Uniformes para Manuscritos
presentados a periódicos biomedicos”,
denominado de estilo “Vancouver”, del Comité
Internacional de Revistas Médicas, y en otros
documentos normalizadores de publicaciones.
CONSELHO DELIBERA
TIV
O
DELIBERATIV
TIVO
COMISSÃO EDITORIAL
DELIBERATIVE BODY / CONSEJO DELIBERATIVO
Profa. Dra. Maria Antonieta Rubio Tyrrell / EEAN - UFRJ
Prof.a Dr.a Neide Aparecida Titonelli Alvim / EEAN - UFRJ
Prof. Dr. Paulo Vaccari Caccavo / EEAN - UFRJ
Prof.a Dr.a Maria Catarina Salvador da Motta / EEAN - UFRJ
Prof.a Dr.a Isaura Setenta Porto / EEAN - UFRJ
EDITORIAL COMMITTEE / COMISIÓN EDITORIAL
CONSELHO EDITORIAL
Profª. Drª. Ana Beatriz Queiroz / EEAN - UFRJ
Profª. Drª. Marluci Conceição Stipp / EEAN - UFRJ
Prof. Dr. Antonio José de Almeida Filho / EEAN - UFRJ
EDITORIAL BODY / CONSEJO EDITORIAL
N A CION
AL / NNAATION
CIONAL
TIONAL
AL
Prof.ª Dr.ª Ana Fátima Carvalho Fernandes / DE - UFC
Prof. Dr. André de Faria Pereira Neto / FIOCRUZ - Ministério da Saúde
Prof.ª Dr.ª Antônia Regina Ferreira Furegato / EERP - USP
Profª. Drª. Cristina Douat Loyola / EEAN - UFRJ
Prof.ª Dr.ª Conceição Vieira da Silva /DE - UNIFESP
Prof.ª Emérita Dr.ª Elvira de Felice Souza / EEAN -UFRJ
Profª. Drª. Ieda de Alencar Barreira / EEAN - UFRJ
Profª. Drª. Isabel Amélia Costa Mendes / EERP - USP
Prof.ª Dr.ª Isabel Cristina dos Santos Oliveira / EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Ivone Evangelista Cabral / EEAN - UFRJ
Prof.ª Emérita Dr.ª Josete Luzia Leite / EEAP - UNIRIO
Prof.ª Dr.ª Ligia Paim / Curso de Enfermagem Universidade do Vale do Itajaí
Prof.ª Dr.ª Lorita Marlena Freitag Pagliuca / DE - UFC
Profª. Drª. Maria Antonieta Rubio Tyrrell / EEAN - UFRJ
Profª. Drª. Maria Itayra Coelho de Souza Padilha / DE - UFSC
Profª. Drª. Maria Cecília Puntel de Almeida / EERP - USP
Profa. Dra. Namie Okino Sawada / EERP - USP
Profª. Drª. Nébia Maria Almeida de Figueiredo / EEAP - UNIRIO
Profª. Drª. Nilce Piva Adami / DE - UNIFESP
Profa. Dra. Raimunda Magalhães da Silva / UNIFOR
Profa. Dra. Regina Célia Gollner Zeitoune / EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Rosângela da Silva Santos / EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Semiramis Melani Melo Rocha / EERP - USP
Profª. Drª. Suely de Souza Baptista / EEAN - UFRJ
Profª. Emérita Drª. Vilma de Carvalho / EEAN - UFRJ
I NTERN
AL / INTERN
AL
NTERNAA CION
CIONAL
INTERNAA T ION
IONAL
Beatriz Arana Gómez /Universidad Autónoma del Estado de México
Carolyn Waltz Ph.D / University of Maryland (USA)
Elvira Rodriguez Antinori Ph.D / Universidad Nacional de Trujillo (Peru)
Jacques Henri Maurice Gauthier Ph.D / Université de Paris VIII
Kelly Myrian Jimenez de Aliaga Ph.D /
Universidad Autónoma de Tamaulipas (México)
Luz Angélica Muñoz Gonzalez Ph.D /Universidad Andrés Bello (Chile)
Manuel Lillo Crespo Ph. D / Universidad de Alicante (ES)
Maria da Glória Miotto Wright Ph.D /
Organization of the American States
Marta Hetsell / University of New YorK (USA)
Michel Perreault Ph.D / Université du Montreal (Canadá)
Robbie Davis Floyd Ph.D / University of Texas (USA)
Rosa Maria Nájera Ph.D /
Universidad Autonoma Metropolitana - Xochimilco
Sara Torres RN Ph.D /
University of Medicine and Dentristy of New Jersey (USA)
Sebastián Bustamante Edquén Ph.D /
Universidad Nacional de Trujillo (Peru)
Violeta Ribeiro Ph.D / University of New Foundland (USA)
Editor Chefe / Chief Editor / Editor Jefe
Profa. Dra. Isaura Setenta Porto / EEAN - UFRJ
Editor Assistente / Assistent Editor / Editor Asistente
Profª Drª Maria Helena do Nascimento Souza / EEAN - UFRJ
Editores Associados / Associated Editors / Editores Asociados
CONSELHO DE C ONSUL
ONSULTT ORES AD HOC
AD HOC ADVISERS BODY / CONSEJEROS AD HOC
Profª. Drª. Aidê Ferreira Ferraz / UFMG
Profª. Drª. Ana Inês Sousa / EEAN - UFRJ
Profª. Drª. Ana Maria Domingos / EEAN - UFRJ
Prof.ª Dr.ª Angela Maria Mendes Abreu / EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Beatriz Guitton Renaud Baptista de Oliveira / EEAAC - UFF
Profa. Dra. Benedita Maria Rêgo Deusdará Rodrigues /FE - UERJ
Profª. Drª. Carla Luzia França Araújo / EEAN - UFRJ
Prof.ª Dr.ª Claudete Ferreira de Souza Monteiro / DE - UFPI
Profa. Dra. Claudia Mara de Mello Tavares / EEAAC - UFF
Profa. Dra. Claudia Santos/ EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Denize Cristina de Oliveira / FE - UERJ
Profa. Dra. Deyse Conceição Santoro Batista / EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Elisabete Pimenta Araújo Paz / EEAN - UFRJ
Profª. Drª. Elizabeth Teixeira / DE - UEPA
Profa. Dra. Emiko Yoskikawa Eguy / EE - USP
Profa. Dra. Enedina Soares/ EEAP - UNIRIO
Profa. Dra. Enilda Rosenda do Nascimento/ EE - UFBA
Profa. Dra. Enirtes Caeteno Prates Melo / EEAP - UNIRIO
Profa. Dra. Fátima Helena do Espírito Santo / EEAAC - UFF
Prof. Dr. Francisco Carlos Félix Lana / EE - UFMG
Profa. Dra. Florence Romijn Tocantins / EEAP - UNIRIO
Profa. Dra. Gertrudes Teixeira Lopes / FE - UERJ
Profa. Dra. Glória da Conceição Mesquita Leitão / DE - UFC
Profa. Dra. Ida Hauns de Freitas Xavier / EE - UFFGS
Profa. Dra. Iraci dos Santos / FE - UERJ
Prof.ª Dr.ª Inez Sampaio Nery / DE - UFPI
Dra. Jaqueline da Silva / EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Jane Márcia Progianti / FE - UERJ
Prof. Dr. João Ferrreira da Silva Filho / IPUB - UFRJ
Profa. Dra. Kaneji Shiratori / EEAP - UNIRIO
Profa. Dra. Lolita Dopico / FE - UERJ
Profa. Dra. Lúcia Helena Silva Corrêia Lourenço / EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Márcia de Assunção Ferreira / EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Márcia Teresa Luz Lisboa / EEAN - UFRJ
Prof. Dr. Marcos Antonio Gomes Brandão / EEAN - UFRJ
Profª. Drª. Margarethe Maria Santiago Rêgo / EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Maria Aparecida de Luca Nascimento / EEAP - UNIRIO
Profa. Dra. Maria Aparecida Vasconcelos Moura / EEAN - UFRJ
Profª. Drª. Maria Catarina Salvador da Motta / EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Maria da Luz Barbosa Gomes / EEAN - UFRJ
Prof.ª Dr.ª Maria da Soledade Simeão dos Santos / EEAN - UFRJ
Prof.ª Dr.ª Maria do Livramento Fortes Figueiredo / DE - UFPI
Profª. Drª. Maria Eliete Batista Moura / UFPI
Profa. Dra. Maria Grasiela Teixeira Barroso / DE - UFC
Profa. Dra. Maria Henriqueta Luce Kruce / EE - UFRGS
Profa. Dra. Maria José Coelho / EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Maria Luiza Gonzales Riesgo / EE - USP
Prof.ª Dr.ª Maria Magda Ferreira Gomes Balieiro / EE - USP
Profa. Dra. Maria Tereza Coimbra de Carvalho /
Centro Universitário Vila Velha (ES)
Profa. Dra. Maria Tereza Leopardi / DE - UNESC
Profa. Dra. Maria Therezinha Nóbrega da Silva / FE - UERJ
Profa. Dra. Marialda Christoffel / EEAN - UFRJ
Profª. Drª. Marilurde Donato / EEAN - UFRJ
Profª. Drª. Marlea Chagas Moreira / EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Marlene Alves de Oliveira Carvalho /
Faculdade de Educação - UFRJ
Profª. Drª. Marli Villela Mamede / EERP - USP
Prof.ª Dr.ª Miriam Struchiner / NUTES - UFRJ
Prof.ª Dr.ª Mirian Paiva / EE - UFBA
Profa. Dra. Neide Aparecida Titonelli Alvim / EEAN - UFRJ
Prof. Dr. Osnir Claudiano da Silva Junior / EEAP - UNIRIO
Prof. Dr. Paulo Vaccari Caccavo / EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Rita Batista Santos / EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Rosane Harter Griep / FIOCRUZ - Ministério da Saúde
Profa. Dra. Rosane Mara Pontes de Oliveira / EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Ruth Mylius Rocha / FE - UERJ
Profa. Dra. Sheila Nascimento Pereira Farias / EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Sílvia Teresa Carvalho de Araújo / EEAN - UFRJ
Profa. Dra. Sonia Mara Farias Simões/ EEAAC - UFF
Prof.ª Dr.ª Stela Maris de Mello Padoin / DE - UFSM
Profa. Dra. Sueli Rezende Cunha / FIOCRUZ - Ministério da Saúde
Profa. Dra. Tânia Cristina Franco Santos / EEAN - UFRJ
Enf.ª Drª. Teresa Caldas Camargo /
Instituto Nacional do Câncer - Ministério de Ciência e Tecnologia
Prof.ª Dr.ª Telma Maria Evangelista Araújo / DE - UFPI
Profa. Dra. Thelma Leite de Araújo / DE - UFC
Prof.ª Dr.ª Violante Augusta Batista Braga / DE - UFC
Prof. Dr. Wellington Mendonça de Amorim / EEAP - UNIRIO
Prof. Dr. William César Alves Machado/Faculdade de Enfermagem
Juiz de Fora - Universidade Presidente Antonio Carlos
Profa. Dra. Zenith Rosa Silvino / EEAAC - UFF
Profa. Dra. Zuila Maria de Figueiredo Carvalho / DE - UFC
PRODUÇÃO
Central de Eventos Científicos e Culturais EEAN//UFRJ
Coordenação Acadêmica
Profª Drª Maria Helena do Nascimento Souza
Jornalista Responsável
Raphaela Ximenes Machado
(Registro MT: JP23872 RJ)
Bibliotecárias
Lúcia Marina Boiteux de F. Rodrigues
Lúcia Maria Pinho
Apoio Administrativo
Fabiana dos Santos Ramada
Gina Caruso Mac Donald Brouck
Projeto Gráfico /Capa/Editoração Eletrônica
Raphaela Ximenes Machado
Revisão de Português, Inglês e Espanhol
Mariana Villanova Vieira
Raphaela Ximenes Machado
SUMÁRIO ESCOLA ANNA NERY
SUMMARY6
6
SUMARIO
REVISTA DE ENFERMAGEM
ANNA NERY SCHOOL
JOURNAL OF NURSING
ESCUELA ANNA NERY
REVISTA DE ENFERMERÍA
volume 11
09
. número 1 . março 2007
EDITORIAL
52
70 Anos da Escola de Enf
er
ma
Enfer
erma
maggem Anna Ner
Neryy
na Uni
sidade: a Glória de ser e os Desaf
ios a Conquistar
Univver
ersidade:
Desafios
Operative Groups of Learning in the Health Services:
Basis and Methodologies Systematization
Los Grupos Operativos de Aprendizaje en los Servicios de Salud:
Sistematización de Fundamentos y Metodologias
Sônia Maria Soares Aidê Ferreira Ferraz
70 Years of the Anna Nery Nursing School in the University:
the Glory of Being and the Challenges to Conquer
70 Anõs de la Escuela de Enfermería Anna Nery en la Universidad:
la Gloria de Ser y los Desafíos a Conquistar
Maria Antonieta Rubio Tyrrell
Regina Célia Gollner Zeitoune
FAC-SÍMILE
58
Perf
xuais de Uni
sitários da Ár
ea de Saúde
erfilil e Práticas Se
Sexuais
Univv er
ersitários
Área
66
Estresse no Cotidiano Acadêmico: o Olhar dos Alunos
de Enf
er ma
eder
al do Piauí
ederal
Enfer
magg em da Uni
Univv er sidade FFeder
FACSIMILE/FACSÍMILE
15
Apresentação
Apresentação// Presentation/Presentación
Lúcia Helena Silva Corrêa Lourenço
Antonio José de Almeida Filho
Fernando Porto
Documento original
original// Original document/Documento original
O De
par tamento de Enf
er ma
Depar
Enfer
magg em
n uma Uni
tólica dos Estados Unidos
Univv er sidade Ca
Católica
23
30
73
Qualidade de Vida de Clientes
Pós-Inf
ar to Agudo do Miocár
dio
Pós-Infar
Miocárdio
80
Non-V
erbal Comm
unica
tion: Aspects Obser v ed
Non-Verbal
Communica
unication:
During Nur sing Consulta
tions with Blind PPaa tients
Consultations
Comunicação não-verbal: Aspectos Observados
Durante a Consulta de Enfermagem com o Paciente Cego
Comunicación non-verbal: Aspectos Observados
Durante la Consulta de Enfermería con el Paciente Ciego
Cristiana Brasil de A. Rebouças
Lorita Marlena F. Pagliuca
Paulo César de Almeida
44
Clientes com Doença Renal Crônica: Avaliação de
Enf
er ma
Enfer
magg em sobr e a Competência par
paraa o A utocuidado
Clients with Chronic Renal Disease: Nursing Evaluation
about the Competence for the Selfcare
Clientes con Enfermedad Renal Crónica: Evaluación de Enfermería
sobre la Competencia para el Auto-cuidado
Gilvanice de Sousa Pacheco
Iraci dos Santos
Rachel Bregman
Entr
er ma
ter
na
Entree a Enf
Enfer
magg em e a Ma
Mater
terna
nagg em: um Estudo sobr
sobree
ação Enf
er meir
ecém-Nascido
Interação
Enfer
meiraa e RRecém-Nascido
a Inter
Between Nursing and Mother Nursing: a Study on the Nurse and
the New-Born Interaction
Entre La Enfermería y la Maternería: un Estudio Sobre la Interacción
Enfermera y Recién Nacido
Flávia Cristina Cordeiro Biesbroeck
Mariana Gomes Cardim
Maria Aparecida de Luca Nascimento
Client’s Quality of Life After Myocardial Infarction
Calidad de Vida de los Pacientes Pós-Infarto Agudo del Miocárdio
Joselany Afio Caetano
Enedina Soares
38
Os Pr
of
issionais de Enf
er ma
Prof
ofissionais
Enfer
magg em Diante do Nascimento
da Criança com Malf
or mação Congênita
Malfor
Nursing Professionals Before of the Birth of a Child with
Congenital Malformation
Los Profesionales de Enfermería Adelante del Nacimiento de un
Niño con Malformación Congénita
Iêda Maria Ávila Vargas Dias
Rosangela da Silva Santos
P erf
erfilil dos Idosos Inter nados no
Hospital geral em Belém (Pará)
Profile of the Elderly Admited in a General Hospital at Belém (Pará)
Perfil de los Ancianos Internados en un Hospital General en Belém (Pará)
Maria Izabel Penha de Oliveira Santos
Profile and Sexual Practical of College Students from Health Area
Perfil y Practicas Sexuales de Universitarios del Area de Salud
José Stênio Pinto Falcão Júnior
Samia Thábida de Oliveira Rabelo
Emeline Moura Lopes
Lydia Vieira Freitas
Ana Karina Bezerra Pinheiro
Lorena Barbosa Ximenes
Stress in the Academic Daily: A Nursing Student View from the
Federal University of Piauí - Brazil
Estrés en el Cotidiano Académico: El Mirar de los Estudiantes de
Enfermería de la Universidad Federal del Piauí – Brasil
Claudete Ferreira de Souza Monteiro Jairo Francisco de Medeiros Freitas
Artur Assunção Pereira Ribeiro
The Nursing Department in a Catholic University
of the United States of America
El Departamento de Enfermería en una
Universidad Católica de los Estados Unidos
PESQUISA
RESEARCH/INVESTIGACIÓN
Gr upos Oper
endiza
Operaa titivv os de A pr
prendiza
endizagg em nos Ser viços de
Saúde: Sistematização de Fundamentos e Metodologias
86
P er
ce
pções Ma
ter nas Sobr
to
erce
cepções
Mater
Sobree o Neona
Neonato
em Uso de Fototerapia
Maternal Perceptions About the Newborn in Use of Phototherapy
Percepciones Maternales Sobre el Recién Nacido en Uso de Fototerapia
Francisca Leonilda Sampaio Rodrigues
Isolda Pereira da Silveira
Antonia do Carmo Soares Campos
92
A FFamília
amília da Criança De
pendente de Tecnolo
gia:
Dependente
ecnologia:
Aspectos Fundamentais para a Prática de
Enf
er ma
Enfer
magg em no Ambiente Hospitalar
The Family of the Technology-Dependent Child:
Fundamental aspects for hospital nursing practices
La familia del Niño Dependiente de Tecnología: Aspectos fundamentales
para la práctica de enfermería en el ambiente hospitalario
Noélia Silva Ladislau Leite
Sueli Rezende Cunha
7
98
105
A Vi vência de Mulher
es no PPar
ar to Domiciliar e Hospitalar
Mulheres
Women Experience with Home and Hospital Childbirth
La Vivencia de Mujeres en el Parto Domiciliar y Hospitalario
Cilene Delgado Crizóstomo
Inez Sampaio Nery
Maria Helena Barros Luz
REFLEXÃO
REFLECTION/REFLEXIÓN
138
Seventy Years of the Anna Nery School of Nursing’s University Life:
a Brief Reflection
Setenta Años de Vida Universitaria de la Escuela de Enfermería
Anna Nery: una Breve Reflexión
Maria Antonieta Rubio Tyrrel
Tânia Cristina Franco Santos
A Percepção de Mulheres sobre Atenção Pré-Natal
em uma Unidade Básica de Saúde
Women’s Perception About Pre-Conception Attention in a Basic Health Unit
La Percepción de Mujeres Sobre Atención Pre-Natal
en una Unidad Básica de Salud
Maria Celeste Landerdahl
Lúcia Beatriz Ressel
Fernanda Badineli Martins
Fernanda Bheregaray Cabral
Mariam de Oliveira Gonçalves
112
As Práticas Populares de Cura Utilizadas por Rezadores
no PPoo v oado Br
ejinho
Brejinho
ejinho,, Município de Luiz Cor r eia – PI
The Popular Healing Practical Used by Prayers in the
Brejinho Village, in Luiz Correia City - Piauí - Brazil
Las Practicas Populares de Cura Usadas por los Rezadores
en el Pueblo Brejinho, Ciudad de Luiz Correia - Piauí – Brasil
Lis Cardoso Marinho Medeiros Gláucia Antonia Viana de Azevedo
Fábio Mota Machado
Simone Ramos de Sousa
118
A Enf
er
ma
ea de Conhecimento no CNPq:
Enfer
erma
magg em Como Ár
Área
Resgate Histórico da Representação de Área
RELATO DE EXPERIÊNCIA
EXPERIENCE REPORT/RELATO DE EXPERIENCIA
143
127
150
155
The subject search at and of the nursing work:
The Foucaul’s event and the worker’s subjections
La procura del sujeto en/del trabajo de enfermería:
El acontecimiento “Foucaultiano” y las sujeciones del trabajador
Mara Ambrosina Vargas
Flávia Regina Souza Ramos
Joel Rolim Mancia
Denise Pires
133
Práticas Educa
titivv as em Gr
upo com uma Tecnolo
gia
Educati
Grupo
ecnologia
Sócio-Educativa: Vivências na Ilha de Caratateua, Belém
Educational practices in group with a partner-educational technology:
Existences in the Caratateua Island, Belém - Brazil
Prácticas educativas en el grupo con una tecnología socio-educativa:
Viviencias en la Isla de Caratateua, Belém – Brasil
Elizabeth Teixeira
160
INSTRUÇÕES PARA
PUBLICAÇÃO DE MANUSCRITOS
PUBLISHING INSTRUCTIONS FOR MANUSCRIPT
PUBLICATION
INTRUCCIONES PARA LA
PUBLICACIÓN DE MANUSCRITOS
169
FICHA DE ASSINATURA
SUBSCRIPTION FORM
FICHA DE SUSCRIPCIÓN
Estudo Eletr
lação por Ca
teter :
Eletrof
ofisiológico
Ablação
Cateter
of
isiológico e Ab
er ma
ecisa Sa
ber
Enfer
magg em Pr
Precisa
Saber
o que a Enf
Electrophysiologic study and catheter ablation:
what the nursing should know
Estudio electrofisiológico y ablación por catéter:
qué la enfermería precisa saber
Lutgarde Magda Suzanne Vanheusden
Deyse Conceição Santoro
T he Li
ving Lif
or Tr aining
Living
Lifee Pr
Proo g r am – a Str
Straa te
tegg y ffor
of Comm
unity Health Ag
ents as Social Educa
tor
Community
Agents
Educator
torss to
Give Community Attention in Mental Health
O Programa Viva a Vida – uma estratégia de capacitação de
agentes comunitários de saúde como educadores sociais
capazes de prestar atenção comunitária em saúde mental
El Programa Viva la Vida – una estrategia para entrenamiento
de agentes comunitarios de salud como educadores sociales
capaces de prestar atención comunitaria en salud mental
Cristina Loyola
Sebastião Rocha
A Pr
ocur
er
ma
Procur
ocuraa do Sujeito no/do Tr abalho de Enf
Enfer
erma
maggem:
O Acontecimento “F
oucaultiano” e as Sujeições do Trabalhador
“Foucaultiano”
REVISÃO
REVISION/REVISIÓN
Potencial Ter
eraa pêutico da FFenitoína
enitoína na
trização de RRadioder
adioder mites
Cicatrização
Cica
Therapeutical potential of the phenytoin in
the cicatrisation of radiotherapy lesions
Potencial terapéutico de la fenitoína en
la cicatrización de radiodermitis
Flavia Firmino
Nursing as an Area of Knowledge in the CNPq:
Historical Rescue of the Representation of the Area
Enfermería como Área de Conocimiento en el CNPq:
Rescate Histórico de la Representación del Área
Alacoque Lorenzini Erdmann
Isabel Amélia Costa Mendes
Joséte Luzia Leite
ENSAIO
ESSAY/ENSAYO
Setenta Anos de V ida Uni
Univv er sitária da Escola de
Enf
er ma
ef
le
xão
Enfer
magg em Anna Ner y: Uma Br
Bree v e RRef
efle
lexão
8
70 Anos da Escola de Enfermagem Anna Nery: a Glória se ser e os Desafios a Conquistar
Tyrrell MAR et al
9
EDITORIAL
70 ANOS DA ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY NA
UNIVERSIDADE: A GLÓRIA DE SER E OS DESAFIOS A CONQUISTAR
Maria Antonieta Rubio Tyrrell
Regina Célia Gollner Zeitoune
A Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN/UFRJ), durante 70 anos de inserção no sistema universitário
e 84 anos de existência a serviço da vida, criou-se e fortaleceu-se dotada de uma estrutura de extraordinária
vitalidade, o que tem lhe permitido persistir durante oito décadas dedicando-se, principalmente, à formação
e qualificação de Enfermeiros em níveis de graduação e licenciatura, pós-graduação (lato e stricto sensu),
construção de conhecimento e extensão universitária, e, com isto, contribuir com a preservação da qualidade
da gestão dos serviços e da assistência à população brasileira.
A EEAN, graças ao seu papel de guardiã da profissão e de sua história, do conhecimento, mediadora
entre gerações antigas e gerações novas e de crítica do estado e da sociedade, tem a função precípua de
formar profissionais capacitados e comprometidos que sejam também cidadãos com capacidade para
tomar decisões e posições de defesa dos direitos humanos na sociedade e que contribuam para o
desenvolvimento da profissão e da qualidade da vida e de saúde da população brasileira.
Além de demarcar a implantação do modelo de enfermagem nightingaleano no Brasil com um novo
modelo de Enfermeira no país, decorrente da influência da missão de enfermeiras americanas liderada
pela insigne Miss Ethel Parsons (1922), chefe daquela missão, a EEAN é, também, marco de referência na
criação dos Cursos Lato Sensu (década de 1940), Cursos Stricto Sensu - Mestrado (década de 1970),
empreendimentos que representam verdadeiros legados históricos que asseguram a memória, a
institucionalização do Padrão Anna Nery (PAN) e o desenvolvimento do ensino e da prática da Enfermagem
no Brasil.
A EEAN/UFRJ, contando com os legados da missão Parsons, constitui-se berço da Associação Brasileira
de Enfermagem - ABEn, à época denominada Associação de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras (1926),
e da Revista Brasileira de Enfermagem (REBEn), à época intitulada Annaes de Enfermagem (1ª edição em
1932). Estes acontecimentos continuam assegurando aos seus herdeiros, e principalmente aos desta
Escola, a convicção de que os feitos político-sociais significam para uma profissão seus “indicadores de
progresso” e, em nosso entendimento, suas “fortalezas” para a “unidade e identidade profissional”.
A EEAN/UFRJ, numa avaliação de desempenho acadêmico nos últimos cinco anos, por meio de uma
avaliação qualitativa, se apresenta, fundamentalmente, no cenário nacional e internacional, como segue:
- Vinculada à ABEn Nacional desde 2005, marcada pelo apoio ao seu Projeto PolíticoPedagógico-Científico;
- Filiada à Asociación Latinoamericana de Escuelas y Facultades de Enfermería da União das Universidades
da América Latina (ALADEF/UDUAL), 1997, apoiando seus Projetos Educacionais e de Investigação;
- Com conceito atribuído ao Curso de Graduação pelo MEC/INEP de 4 (MB), mas esforçando-se para
empreender uma reestruturação curricular tomando como base as atuais “Diretrizes Curriculares dos
Cursos de Graduação e as necessidades societárias”;
- Com conceito da CAPES ao programa de Pós-Graduação de 4 (sendo que em todo o país o conceito
máximo obtido pela Enfermagem é de 5), com processo iniciado para uma reforma curricular tomando
como base as exigências da CAPES. Este programa tem seu destaque para os indicadores de formação e
qualificação de Recursos Humanos de Enfermagem, na perspectiva de solidariedade e intercâmbio técnicocientífico e cultural na perspectiva nacional e internacional;
- Avaliação pela CAPES da Escola Anna Nery Revista de Enfermagem como Qualis Internacional “C”. Esta
Revista encontra-se empreendendo esforços para conquistar a inserção na coleção SciELO;
- Premiação significativa na “Jornada Cientifica da UFRJ” (2005): de 25 melhores trabalhos, 05 foram da
EEAN; e nos concursos públicos no Estado do Rio de Janeiro;
Anna
Nery
Enferm
2007 mar; 11 (1): 9 - 14.
Esc Anna Nery R EnfermEsc
2007
mar;
11 R(1):
9 - 14.
10
70 Anos da Escola de Enfermagem Anna Nery: a Glória se ser e os Desafios a Conquistar
Tyrrell MAR et al
- Qualificação do seu corpo docente: de seus 75 professores, 55 professores são doutores; 16 professores encontramse inscritos no curso de doutorado, 100% dos professores são Especialistas e Mestres.
No marco histórico e de celebração dos 70 anos de inserção na Universidade e 84 de vida no país, adotamos Barreira
(1999), quando ela diz que:
[É] uma melhor compreensão da trajetória de nossa profissão, necessária à formação de uma consciência crítica
além do conhecimento da história da enfermagem brasileira (aqui expressa num Editorial), que faz parte da
cultura profissional de cada qual, depende também do interesse e da consciência que nós mulheres e homens de
algum modo envolvidos tivermos das relações passado/presente, o que faz com que valorizemos nossos papéis
históricos, como observadores atentos dos sinais de nossa época, como pessoas que nós empenhamos em formar
uma opinião esclarecida, como atores que participam do movimento da história e como estudiosos que pretendem
contribuir para a compreensão do que nos ocorreu e do que nos ocorre, posto que (parafraseando Hobsbawm),
somos parte dessa história e ela é parte de nós.
Tomando como base estas considerações, com justiça e merecimento, é que nesta oportunidade dirigimos as nossas
homenagens às sempre Diretoras da EEAN:
Clara Louise Kieninger (1922 - 1925)
Bertha L. Pullen (1928 - 1931 / 1934 - 1938)
Lais Netto dos Reys (1938 - 1950)
Maria Dolores Lins de Andrade (1967 - 1971)
Cecília Pecego Coelho (1975 - 1980)
Vilma de Carvalho (1986 - 1989)
Maria Cecília Cordeiro Pedro (1994 - 1997)
Loraine G. Denhardt (1925 - 1928)
Rachel Haddock Lobo (1931 - 1933)
Waleska Paixão (1950 - 1967)
Elvira De Felice Souza (1971 - 1975)
Cilei Chaves Rhodus (1980 - 1985)
Raimunda da Silva Becker (1990 - 1993)
Ivone Evangelista Cabral (1998 - 2002)
Maria Antonieta Rubio Tyrrell (2002 - 2006 / 2006 - 2010)
Prof.ª Dr.ª Maria Antonieta Rubio Tyrrell, Diretora da EEAN / UFRJ.
Prof.ª Dr.ª Regina Célia Gollner Zeitoune, Vice-Diretora da EEAN / UFRJ.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 9 - 14.
70 Anos da Escola de Enfermagem Anna Nery: a Glória se ser e os Desafios a Conquistar
Tyrrell MAR et al
11
EDITORIAL
70 YEARS OF THE ANNA NERY NURSING SCHOOL IN THE UNIVERSITY:
THE GLORY OF BEING AND THE CHALLENGES TO CONQUER
Maria Antonieta Rubio Tyrrell
Regina Célia Gollner Zeitoune
The Anna Nery School of Nursing (EEAN/UFRJ) during 70 years of inser tion in the university
system and 84 years of existence in service of the life, was created and for tified endowed with a
structure of extraordinary vitality, which has allowed it to persist during eight decades dedicating
itself, mainly, to the formation and qualification of Nurses in graduation levels and bachelor’s degree,
postgraduation ( lato and stricto sensu ), knowledge construction, university extension and, in this
way, to contribute with the quality preservation of the management of the services and the assistance
to the Brazilian population.
The EEAN, because of this role been guard of the profession and of its history, of the knowledge,
mediating between old generations and new generations and been critic of the state and the society, has
the main function to form able and engaged professionals who could be also citizens with capacity to
take decisions and position of defense of the human rights in the society and could contribute for the
development of the profession and the quality of the life and health of the Brazilian population.
Besides demarcating the implantation of the nightingale’s model of nursing in Brazil with a new
model of Nurse in the country, decurrent of the influence of the mission of American nurses led by
the insigne Miss Ethel Parsons (1922), chief of that mission, the EEAN is also, landmark of reference
in the creation of the Lato Sensu Courses (decade of 40), Stricto Sensu Courses - Mestrado (decade
of 70), enter prises that represent tr ue historical legacies that assure the memor y, the
institutionalization of Anna Nery Standard (PAN) and the development of the learning and of the
practice of the nursing in Brazil.
The EEAN/UFRJ, counting on the legacies of the Parsons mission, consist itself as the cradle of the
Brazilian Association of Nursing - ABEn, in the time called Association of Brazilian Diplomee Nurses
(1926) and of the Brazilian Magazine of Nursing (REBEn) in that time entitled Annaes of Nursing (1st
edition in 1932). These events continue assuring to its heirs and mainly, to the ones of this School, the
conviction of that the politics and social actions mean for a profession as its “indicatives of progress”
and, in our agreement its “strength” for the “professional unit and identity”.
The EEAN/UFRJ, in an evaluation of academic performance in the last five years by a qualitative
evaluation, presents itself basically, in the national and international scene as it follows:
- Linked to the National ABEn since 2005 marked by the suppor t to its Political, Pedagogical
and Scientific Project;
- Affiliated to the Asociación Latinoamericana de Escuelas y Facultades de Enfermería of the
United Universities of Latin America (ALADEF/UDUAL), 1997, suppor ting its Projects of
Education and Investigation;
- With concept attributed to the Course of Graduation by MEC/INEP of 4 (MB), but strengthening
itself to embark a curricular reorganization taking as basis the current “Curricular Lines of
direction of the Courses of Graduation and the Society Necessities”;
- With the CAPES concept to the Post graduation Program of 4, (being that in the whole
country the maximum concept gotten by the Nursing is of five), with the process initiated for
a curricular reform, taking as basis the requirements of the CAPES. This program has its
prominence for the formation indicatives and qualification of Human Resources of Nursing, in
the perspective of solidarity and technician-scientific and cultural interchange in the national
and international perspective;
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 9 - 14.
12
70 Anos da Escola de Enfermagem Anna Nery: a Glória se ser e os Desafios a Conquistar
Tyrrell MAR et al
- Evaluation by CAPES of the Anna Nery School Journal of Nursing as Qualis International “C”. This Journal finds
itself making efforts to conquer the inser tion in SciELO collection;
- Significant awarding in the “Scientific Journey of UFRJ” (2005): of the 25 best works, 05 was from EEAN; and in
the public concourses in Rio de Janeiro State;
- Qualification of its teaching staff: of its 75 professors, 55 professors are doctors; 16 professors are enrolled in
the doctorate course, 100% of the professors are Specialists and Masters.
In the historical landmark and celebrating the 70 years of University insertion and 84 of life in the country, we adopt
Barreira (1999, p. ), when she says:
It is a better understanding of the trajectory of our profession, necessary to the formation of a critical conscience
beyond knowledge of the Brazilian nursing history (here expressed in an Editorial), that take par t of the
professional culture of each one, depends also on the interest and on the conscience that we women and men of
some way involved will have of relations past/ present, what makes with that we value ours historical roles, as
intent observers of the signals of ours time, as people that we pledge in forming a clarified opinion, as actors
that participate of the movement of the history and as studious that intend to contribute for the understanding
of what occurred with us and of what occur with us, placing that (paraphrasing Hobsbawm), we are par t of this
history and it is par t of us.
Taking as basis these considerations, with justice and merit, in this oppor tunity we conduct our tribute to the
always Head Directors of EEAN:
Clara Louise Kieninger (1922 - 1925)
Bertha L. Pullen (1928 - 1931 / 1934 - 1938)
Lais Netto dos Reys (1938 - 1950)
Maria Dolores Lins de Andrade (1967 - 1971)
Cecília Pecego Coelho (1975 - 1980)
Vilma de Carvalho (1986 - 1989)
Maria Cecília Cordeiro Pedro (1994 - 1997)
Loraine G. Denhardt (1925 - 1928)
Rachel Haddock Lobo (1931 - 1933)
Waleska Paixão (1950 - 1967)
Elvira De Felice Souza (1971 - 1975)
Cilei Chaves Rhodus (1980 – 1985)
Raimunda da Silva Becker (1990 - 1993)
Ivone Evangelista Cabral (1998 - 2002)
Maria Antonieta Rubio Tyrrell (2002 - 2006 / 2006 - 2010)
PhD Professor Maria Antonieta Rubio Tyrrell, Head Director of the EEAN / UFRJ.
PhD Professor Regina Célia Gollner Zeitoune, Vicedirector of the EEAN / UFRJ.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 9 - 14.
70 Anos da Escola de Enfermagem Anna Nery: a Glória se ser e os Desafios a Conquistar
Tyrrell MAR et al
13
EDITORIAL
70 ANÕS DE LA ESCUELA DE ENFERMERÍA ANNA NERY EN LA
UNIVERSIDAD: LA GLORIA DE SER Y LOS DESAFÍOS A CONQUISTAR
Maria Antonieta Rubio Tyrrell
Regina Célia Gollner Zeitoune
La Escuela de Enfermería Anna Nery (EEAN/UFRJ) durante 70 años de inserción en el sistema
universitario y 84 años de existencia a servicio de la vida, fue creada y for tificada dotada de una
estructura de extraordinaria vitalidad, que ha permitido que persista durante ocho décadas
dedicándose principalmente, a formación y calificación de Enfermeros en niveles de graduación y
licenciatura, postgrado ( lato y stricto sensu ), construcción del conocimiento, extensión universitaria
y, de esta manera, contribuir con la preservación de la calidad de la gerencia de los ser vicios y de
la ayuda a la población brasileña.
La EEAN, gracias a su papel de protectora de la profesión y de su historia, del conocimiento,
mediando entre las generaciones antiguas y generaciones nuevas y de crítica del estado y de la
sociedad, tiene la función principal de formar profesionales capaces y comprometidos que sean
también ciudadanos con capacidad de tomar decisiones y posición de defensa de los derechos humanos
en la sociedad y que contribuyan para el desarrollo de la profesión y de la calidad de la vida y de la
salud de la población brasileña.
Además de demarcar la implantación del modelo de enfermería nightingaleano en el Brasil con un
nuevo modelo de la Enfermera en el país, decurrente de la influencia de la misión de enfermeras
americanas conducidas por la insigne Miss Ethel Parsons (1922), jefe de esa misión, la EEAN es
también, marco de referencia en la creación de los Cursos Lato Sensu (década de 40), Cursos Stricto
Sensu - Maestría (década de 70), emprendimientos que representan verdaderos legados históricos que
aseguran la memoria, la institucionalización del Patrón Anna Nery (PAN) y el desarrollo de la enseñanza
y de la práctica de la enfermería en el Brasil.
La EEAN/UFRJ, contando en los legados de la misión Parsons, se constiuye cuna de la Asociación
Brasileña de Enfermería - ABEn, a la época llamada Asociación de Enfermeras Diplomadas
Brasileñas (1926) y de la Revista Brasileña de Enfermería (REBEn) a la época intitulada Annaes
de Enfermería (1 ra edición en 1932). Estos acontecimientos continúan asegurando a sus herederos
y principalmente, a los de esta Escuela, la convicción de que los hechos políticos y sociales
significan para una profesión, sus “indicativos de progreso” y, en nuestro entendimiento su
“for taleza” para la “unidad y identidad profesional”.
La EEAN/UFRJ, en una evaluación del desempeño académico en los últimos cinco años por
medio de una evaluación cualitativa, presentase básicamente, en el escenario nacional e
internacional como sigue:
- Vinculada a ABEn desde 2005 marcada por el apoyo a su Proyecto Político-PedagógicoCientífico;
- Filiada, a la Asociación Latinoamericana de Escuelas y Facultades de Enfermería de la Unión
de las Universidades de la Latinoamérica (ALADEF/UDUAL), 1997, apoyando sus Proyectos
Educacionales y de Investigación;
- Con el concepto atribuido al Curso de Graduación por el MEC/INEP de 4 (MB), pero esforzándose
para emprender una reestructuración curricular que toma como base las actuales “Directrices
Curriculares de los Cursos de Graduación y de las Necesidades de la Sociedad”;
- Con concepto de la CAPES al programa de Postgrado de 4, (siendo que en el país entero el
concepto máximo conseguido por la Enfermería es de cinco), con el proceso iniciado para una
reforma curricular, tomando como base los requisitos de la CAPES. Este programa tiene su
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 9 - 14.
14
70 Anos da Escola de Enfermagem Anna Nery: a Glória se ser e os Desafios a Conquistar
Tyrrell MAR et al
destaque para los indicadores de formación y calificación de Recursos Humanos de Enfermería, en la perspectiva
de solidaridad e intercambio técnico-científico y cultural en la perspectiva nacional e internacional;
- Evaluación por la CAPES de la Escuela Anna Nery Revista de Enfermería como Qualis Internacional “C”. Esta
Revista encuéntrase emprendiendo esfuerzos para conquistar la inserción en la colección SciELO;
- Premiación significativa en la “Jornada Científica de la UFRJ” (2005): de 25 mejores trabajos, 05 fueron de la
EEAN; y en los concursos públicos en el Estado del Rio de Janeiro;
- Calificación de su cuerpo docente: de sus 75 profesores, 55 profesores son doctores; 16 profesores están
cursando el doctorado, 100% de los profesores son Especialistas y Maestros.
En el marco histórico e de celebración de los 70 años de inserción en la Universidad y 84 de vida en el país, adoptamos
Barreira (1999, p. ), cuando ella dice:
(Es) una mejor comprensión de la trayectoria de nuestra profesión necesaria a la formación de una conciencia
critica además del conocimiento de la historia de la enfermería brasileña (acá expresa en un Editorial), que hace
parte de la cultura profesional de cada cual, depende también del interés y de la conciencia que nosotros mujeres
y hombres de algún modo envueltos tuviéramos de las relaciones pasado/presente, el que hace con que valoramos
nuestros papeles históricos, como observadores atentos de las señales de nuestra época, como personas que
nosotros empeñámonos en formar una opinión aclarada, como actores que participan del movimiento de la historia
y como estudiosos que pretenden contribuir para la comprensión do que nos ocurrió y do que no ocurre, siendo que
(parafraseando Hobsbawm), somos parte de esta historia y ella es parte de nosotros.
Tomando como base estas consideraciones, con justicia y merecimiento, es que en esta oportunidad conducimos
nuestras homenajes a las siempre Directoras de la EEAN:
Clara Louise Kieninger (1922 - 1925)
Bertha L. Pullen (1928 - 1931 / 1934 - 1938)
Lais Netto dos Reys (1938 - 1950)
Maria Dolores Lins de Andrade (1967 - 1971)
Cecília Pecego Coelho (1975 - 1980)
Vilma de Carvalho (1986 - 1989)
Maria Cecília Cordeiro Pedro (1994 - 1997)
Loraine G. Denhardt (1925 - 1928)
Rachel Haddock Lobo (1931 - 1933)
Waleska Paixão (1950 - 1967)
Elvira De Felice Souza (1971 - 1975)
Cilei Chaves Rhodus (1980 – 1985)
Raimunda da Silva Becker (1990 - 1993)
Ivone Evangelista Cabral (1998 - 2002)
Maria Antonieta Rubio Tyrrell (2002 - 2006 / 2006 - 2010)
Doctora Profesora Maria Antonieta Rubio Tyrrell, Directora de la EEAN / UFRJ.
Doctora Profesora Regina Célia Gollner Zeitoune, Vice-directora de la EEAN / UFRJ.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 9 - 14.
Fac-símile - Documento original
15
FAC-SÍMILE
FACSIMILE
FACSÍMILE
Apresentação
O artigo de Marina Vergueiro Forjaz, publicado em junho de 1951, na Revista Annaes de
Enfermagem, surpreende o leitor. A multiplicidade de informações descritas de forma concisa
e objetiva sobre a Universidade de Notre Dame, fundada em 1842, em Indiana, nos Estados
Unidos da América, permite apreender o “olhar” de uma estudante estrangeira. A autora,
diplomada no Brasil pela Escola de Enfermeiras do Hospital São Paulo, descreve as descobertas
e as experiências vivenciadas naquela Universidade, enfocando de forma peculiar o colégio
feminino – St. Mary’s College, que congrega os Departamentos de Filosofia, Letras, Artes,
Economia Doméstica e Enfermagem. Forjaz dedica especial atenção ao ensino de enfermagem
na Universidade de Notre Dame, através do Departamento de Enfermagem. A escola, doze
anos após a inauguração, já incorporava as transformações no ensino que a enfermagem
moderna recomendava. Para melhor compreensão do desenvolvimento do ensino de
enfermagem nos Estados Unidos, a autora faz breve resgate histórico sobre a estrutura
curricular e os ajustes necessários na duração do curso. Por último, destaca que a Universidade
de Notre Dame oferecia aos estudantes sólida educação profissional, oferecendo atividades
culturais, religiosas, sociais e espor tivas de forma igualitária, independentemente do
Departamento ou da Escola o qual estavam inseridos. Identificou como finalidade maior desta
Universidade formar profissionais educados e cultos. O texto nos leva a refletir sobre a formação
que temos e aquela que queremos.
Lúcia Helena Silva Corrêa Lourenço
Antonio José de Almeida Filho
Fernando Porto
Diretoria Colegiada do Nuphebras
Esc Anna
R Enferm
2007 mar; 11 (1): 15 - 22.
Esc Anna Nery R Enferm 2007
mar;Nery
11 (1):
15 - 22.
16
Fac-símile
Fac-símile
- Documento
- apresentação
original
Presentation
The article from Marina Vergueiro Forjaz, published in june of 1951, in the Annaes de Enfermagem Magazine, surprises the
reader. The multiplicity of describe information in a concise and objective way, about the University of Notre Dame,
founded in 1842, on Indiana in the United States of America, allow us to understand the “view” of a foreign student. The
author, graduated in Brazil by the School of Nurses of the São Paulo Hospital, describes the discovers and experiences
lived in that University, focusing, in a peculiar way, the women college – St. Mary’s College, that reunite the Philosophy,
English, Arts, Domestic Economic and Nursing Departments. Forjaz pay attention, specially, to the learning of nursing in
the University of Notre Dame, trough the Nursing Department. The school, twelve years after its inauguration, already had
incorporated the transformations in the learning that the modern nursing recommended. To a better comprehension of
the learning development in nursing in the United States of America, the author does a brief historical rescue about the
curricular structure and the necessary adjustments in the course duration. For the last, detaches that the University of
Notre Dame offered to the students solid professional education, besides cultural, religious, social and sportive activities,
in the same way for every student, independent of the Department or of the School in which they were. She identified as
major finality of this University, to graduate well educated and cult professionals. The text leads us to reflect about the
formation that we have and the one we want.
Lúcia Helena Silva Corrêa Lourenço
Antonio José de Almeida Filho
Fernando Porto
Board College of Nuphebras
Presentación
El artículo de Marina Vergueiro Forjaz, publicado en junio de 1951, en la Revista Annaes de Enfermagem, sorprende el
lector. La multiplicidad de informaciones descritas de forma corta y objetiva, sobre la Universidad de Notre Dame,
fundada en 1842, en Indiana en los Estados Unidos de América, permite aprehender el “mirar” de una estudiante
extranjera. La autora, graduada en Brazil por la Escuela de Enfermeras del Hospital São Paulo, describe las descubiertas
y las experiencias vividas en aquella Universidad, enfocando de forma peculiar el colegio femenino – St. Mary’s Collage,
que reúne los Departamentos de Filosofía, Letras, Artes, Economía Doméstica y Enfermería. La escuela, doce años
después de la inauguración, ya incorporaba las transformaciones en la enseñanza que la enfermería moderna recomendaba.
Para mejor comprensión del desarrollo de la enseñanza de enfermería en los Estados Unidos de América, la autora hace
un breve rescate histórico sobre la estructura curricular y los ajustes necesarios en la duración del curso. Por último
destaca que la Universidad de Notre Dame ofrecía a los estudiantes sólida educación profesional, ofreciendo actividades
culturales, religiosas, sociales y deportistas de la misma forma, independientemente del Departamento o de la Escuela en
la cual estaban inseridos. Identificó como finalidad mayor de esta Universidad, formar profesionales educados y cultos. El
texto llévanos a reflejar sobre la formación que tenemos y aquella que queríamos.
Lúcia Helena Silva Corrêa Lourenço
Antonio José de Almeida Filho
Fernando Porto
Directoria Colegiada del Nuphebras
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 15 - 22.
Fac-símile - Documento original
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 15 - 22.
17
18
Fac-símile - Documento original
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 15 - 22.
Fac-símile - Documento original
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 15 - 22.
19
20
Fac-símile - Documento original
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 15 - 22.
Fac-símile - Documento original
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 15 - 22.
21
22
Fac-símile - Documento original
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 15 - 22.
Fac-símile - Documento original
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 15 - 22.
23
23
Perfil de Idosos Internados
Santos MIPM et al
PESQUISA
RESEARCH - INVESTIGACIÓN
PERFIL DOS IDOSOS INTERNADOS NO
HOSPITAL GERAL EM BELÉM (PARÁ)a
Profile of the Elderly Admited in a
General Hospital at Belém (Pará - Brazil)
Perfil de los Ancianos Internados en el
Hospital General en Belém (Pará – Brasil)
Maria Izabel Penha de Oliveira Santos
Resumo
O estudo objetivou identificar o perfil dos idosos internados em um hospital geral da rede pública de saúde em Belém
(Pará). Estudo transversal, retrospectivo, analítico. Foram analisadas variáveis sociodemográficas, causas da internação,
tempo de permanência, complicações e dependência para cuidados de enfermagem, em 160 prontuários, em 2001. A
análise estatística foi processada pelo programa eletrônico Epi-info 6.04. Os resultados apontam: A idade variou entre 65
e 74 anos (43,1%), e os idosos eram do sexo masculino (53,1%). A maior freqüência das internações foi por doenças
respiratórias (53,7%); os sintomas evidentes foram dispnéia, hipertemia e hipertensão; e o tempo médio de permanência
foi de 16 dias. O tempo de internação prolongado aparece como um fator de risco no desenvolvimento de incapacidades,
pela imobilidade no leito, complicações como úlceras de decúbito e demais iatrogenias. Houve dependência para os
cuidados de enfermagem e necessidade de intervenção interdisciplinar.
Pala
vr
as-c
ha
alavr
vras-c
as-cha
havve: Idosos. Enfermagem. Fatores de Risco.
Abstract
Resumen
The study has as objective to identify the profile of the
elderly internee in a general hospital of health public service,
in Belém (Pará). It was a quantitative, retrospective and
descriptive study. It was analyzed social-demographics
variables, causes of hospitalization, time of stay,
complications and dependence of nursing care in 160 record,
2001. The statistics analysis was made by an electronic
program Epi-info 6.04. The results point: The age group
was between 64-74 years old (43,1%), and (53,1%) was
elderly of the male sex, the respiratory diseases were more
prevalence (53,7 %), symptoms evidents were dyspnea,
hyperthermia and hypertension, the time stay was 16 days.
The hospitalization time look as a factor risk for disability,
because the limitation of the bed, wound and other
iatrogenics, it was a dependency of nursing care, and
necessity of interdisciplinary interview.
El estudio tiene como objetivo identificar el perfil de ancianos
hospitalizados en hospital general de salud pública, en Belém,
Estado Pará. Estudio cuantitativo, retrospectivo y analitico.
Analizadas variables sócio-demográficas, causas de internación,
tiempo de permanencia, complicaciónes y dependencias de la
enfermería en muestra de 160 historias en 2001. Analisys
estadística fué a través del programa electrónico Epi-info 6.04.
Los resultados apuntaran: La edad varió de 64 a 74 años
(43,) y 85 (53,1%) y los ancianos eran del sexo masculino, la
major frecuencia de la internaciónes fueron enfermedades
respiratorias (53,7%), los síntomas evidentes disnea,
hipertermia na hipertensión, tiempo promedio de 16 dias. Los
ancianos se internaron en media dos veces al año , tiempo de
internación largo aparece como factor de riesgo en el
desarrollo de incapacidad, por la inmobilidad en las camas,
complicaciónes como úlceras de presion y demás
iatrogenias, con dependencia para los cuidados de
enfermería y necesidades de intervención interdisciplinar.
Keywords:
Elderly. Nursing. Risk factors
Palabras clave:
Ancianos. Enfermería. Factores de Riesgo.
Esc Anna
Enferm
Esc Anna Nery R Enferm
2007 Nery
mar; R11
(1): 232007
- 9. mar; 11 (1): 23 - 9.
24
Perfil de Idosos Internados
Santos MIPM et al
INTRODUÇÃO
MÉTODO
O rápido crescimento populacional no Brasil gerou um
impacto importante em todos os segmentos da sociedade. Houve
mudanças no perfil de morbimortalidade, levando o Brasil a uma
chamada “transição”, tanto demográfica como epidemiológica,
o que aponta para desafios quanto a uma nova forma de “olhar”,
bem como de “cuidar” da população idosa1,2,3, 5.
Devido ao crescente processo de envelhecimento, estimase que, a partir de 2025, o Brasil se torne o sexto país em
população na faixa etária de 60 e mais anos de vida. Acreditase que esse fenômeno seja justificado pelas melhorias das
condições médico-sanitárias ocorridas ao longo dos anos e
que tiveram, como conseqüência, a queda nas taxas de
fecundidade e mortalidade1-5.
Com efeito, na cidade de Belém, Estado do Pará, a
população de idosos vem experimentando um crescimento a
partir de 1994, e, em 2001, as pessoas com 60 anos e mais já
representavam 6,9% da população5.
Pesquisas vêm mostrando que, qualquer que sejam os indicadores
observados na avaliação da qualidade de saúde da população idosa,
eles apontam para maior utilização de serviços e custos maiores,
quando comparados com os da população mais jovem1,3,4,5.
Desse modo, a hospitalização de pessoas idosas passou a
ser um motivo de preocupação para os profissionais de saúde,
principalmente para os enfermeiros, devido aos possíveis riscos,
complicações, tempo de internação e custos que podem surgir
dessa modalidade de assistência.
Estudo realizado em hospital geral público, na região Sudeste,
apontou para uma alta taxa de internação de pessoas com mais de
60 anos. A maioria dos idosos foi submetida a procedimentos de
baixo risco, as doenças cardiovasculares foram as mais prevalentes,
e as especialidades cirúrgicas corresponderam a 60,3% do total
das internações. Indicava, porém, que os idosos precisariam ser
mais bem avaliados pela equipe de saúde2.
Tomando por base essa última afirmação, o objetivo deste
estudo foi o de identificar o perfil dos idosos internados em um
hospital geral público, na cidade de Belém, Estado do Pará, no
intuito de conhecer as causas de internação, as possíveis
complicações que surgiram em decorrência da hospitalização,
o número de dias de internação e os cuidados de enfermagem
dispensados a esses idosos, a partir de sua dependência, assim
como os riscos a que estiveram expostos nesse período.
A justificativa para realizar este estudo, na época, foi a de que
ainda eram escassas, em nossa Região, pesquisas que informassem
sobre essa realidade. Um outro ponto que também considerei foi o de
que, até momento da realização deste estudo, não dispúnhamos de
um centro de referência de atenção à pessoa idosa, de onde
informações acerca da saúde dessa população pudessem ser obtidas.
Assim, acredito que esta pesquisa venha ao encontro da
necessidade de produzir investigações que possam ajudar os
enfermeiros e outros profissionais da área da saúde que atuam
com pessoas idosas, informando-os sobre as doenças que mais
acometem os idosos e que possam levá-los à hospitalização,
bem como sobre suas necessidades assistenciais, durante o
período de internação.
O estudo caracterizou-se como do tipo transversal,
retrospectivo, analítico, documental, realizado em prontuários
de idosos que estiveram internados no ano de 2001. Foi
realizado em um hospital universitário, localizado no bairro
do Guamá, na cidade de Belém, Estado do Pará, e que está
ligado ao Sistema Único de Saúde (SUS)6,,20.
O hospital oferece para internação as especialidades de
clínica médica, pneumologia, doenças infecciosas e parasitárias,
pediatria, cirurgia, neurologia e doença de Alzheimer. Em
nível ambulatorial, fisioterapia respiratória e assistência
ambulatorial aos egressos da hospitalização por doenças
crônicas. É também um hospital de referência no diagnóstico
da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e de doenças
respiratórias agudas e crônicas.
A pesquisa foi desenvolvida após aprovação pelo
departamento de ensino e pesquisa do hospital, conforme
declaração em anexo. Neste ano de 2001 for am
hospitalizadas aproximadamente 5.000 pessoas, de todas
as faixas etárias, pelo menos 1.000, dentre elas, na faixa
etária de 60 anos ou mais.
Foram considerados, para atender aos critérios de inclusão
na pesquisa, os prontuários de pacientes que tivessem idade
igual ou superior a 60 anos, de ambos os sexos, hospitalizados
por um período superior a 48 horas, entre janeiro e dezembro de
2001. Os que não obedeceram a esses critérios foram excluídos.
Os cálculos foram realizados através da fórmula de
distribuição normal, com base no número de internações de
idosos, que resultou em um valor aproximado a 300 (N=300).
Ou seja, a amostra constou de 300 prontuários de pacientes
internados no período (janeiro a dezembro de 2001), e, destes
300 prontuários, somente 160 atendiam aos critérios de
inclusão da pesquisa, tendo sido excluídos os demais.
Foi solicitada, inicialmente, ao Depar tamento de
Arquivo Médico e Estatístico (DAME) da instituição, uma
listagem com o número de matrícula dos pacientes, a clínica
em que haviam sido admitidos para tratamento e as datas
da admissão e alta no hospital.
Para a obtenção dos dados, foi constr uído um
instrumento subdividido em três partes. Na primeira, foi
dada ênfase às variáveis sociodemográficas, como sexo,
idade, procedência, estado civil e profissão. Na segunda
constavam as informações sobre a hospitalização, como
diagnóstico médico, tempo de internação, número de
internações no ano, procedimentos e os tipos de cuidados
registrados pela equipe de enfermagem. E uma terceira
parte foi reservada para observações necessárias, que não
tivessem sido contempladas nas partes anteriores, como a
classificação da doença pelo CID-10, tipo de alta e custo da
internação, conforme os registros na Autorização de
Internação Hospitalar – Sistema Único de Saúde (AIH-SUS)7.
Os dados foram processados no programa eletrônico Epiinfo 6.04, e as tabelas e gráficos, construídos no Microsoft
Excel 2000, com a descrição apenas das freqüências simples,
expressas em percentuais.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 23 - 9.
25
Perfil de Idosos Internados
Santos MIPM et al
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 evidenciou que, entre os idosos da amostra, e
que foram internados no período da pesquisa, 53,1% eram do
sexo masculino. A faixa etária de maior freqüência ficou entre
65 e 74 anos de idade (43,1%).
Quanto à questão do gênero, os indicadores demográficos
populacionais, no Brasil, apontam que os idosos do sexo
masculino apresentam maiores riscos de adoecer e morrer em
relação aos do sexo feminino, com as mulheres apresentando
uma expectativa de vida de 10 anos a mais que os homens 3,8.
Estudo sobre a freqüência de internação de homens, em
relação a mulheres, informa que ela é progressivamente maior
nos homens dos 20 aos 69 anos de idade. E se torna menor,
a partir dos 80 anos, pois o predomínio, a partir dessa idade,
passa a ser das internações de mulheres 5.
Sobre a questão etária, ficou caracterizado que, neste
estudo, os idosos ainda eram jovens, segundo a classificação
proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU), que
divide os idosos em três categorias: os pré-idosos (entre 55 e
64 anos); os idosos jovens (entre 65 e 79 anos) e os idosos
de idade avançada (com mais de 75 ou 80 anos). Estes
últimos, com mais de 80 anos, são e vão continuar sendo do
sexo feminino (IBGE) 1,4.
Tabela 1:
Distribuição da freqüencia por sexo, faixa etária e estado civil dos
idosos internados em hospital geral. Belém/Pará – 2001.
IDENTIFICAÇÃO
SEXO
Masculino
Feminino
N = 160
%
85
75
53,1
47,8
IDADE (em anos)
< 65
65 a 74
75 a 84
> = 85
47
69
31
13
29,3
43,1
19,3
8,1
EST
ADO CIVIL
ESTADO
Casado
Viúvo
Solteiro
68
39
34
42,5
24,4
21,3
Em relação à clínica onde os idosos foram admitidos para
tratamento, neste estudo, a maior freqüência das internações
dos idosos foi na clínica de doenças respiratórias – pneumologia
(53,7%), muito embora 28,1% dos pacientes tenham sido
submetidos a algum tipo de tratamento cirúrgico, como
evidenciado na Tabela 2.
A especificidade do hospital em doenças do aparelho
respiratório e o fato de ser ele um hospital de referência para
essas patologias na região Norte foram decisivos para essa
freqüência de internações na referida clínica, assim como a
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 23 - 9.
Tabela 2:
Distribuição da freqüencia por clínica e segundo o sexo dos idosos
internados em hospital geral. Belém/Pará – 200.
SEXO
CLÍNICA
Pneumologia
Cirúrgica
Médica
DIP
T O TAL
Masculino
T O TAL
Feminino
Freq.
Freq.
%
Freq.
%
44
24
9
8
85
51,7
28,2
10,5
9,4
53,1
42
21
9
3
75
56,0
28,0
12,0
4,0
46,8
%
86 53,7
45 28,1
18 11,2
11
6,8
160 46,2
prevalência das doenças respiratórias para essa faixa etária.
Um outro fator, que contribuiu também para a demanda na
clínica de pneumologia, está relacionado às condições climáticas
da região – extremamente quente e úmida – o que influencia
a agudização das doenças crônicas respiratórias 9.
Com efeito, as doenças pulmonares obstrutivas crônicas
(DPOC) aparecem como a segunda causa de morte em idosos,
após as doenças cardiovasculares, e, de certa forma, essa duas
patologias podem se manifestar associadas nos idosos 9-10.
A Tabela 3 faz referência à distribuição das freqüências dos
procedimentos realizados nos idosos durante o período de sua
internação. Nesse aspecto, para os que apresentavam quadro
clínico compatível com doenças respiratórias crônicas, foi possível
observar que, nos procedimentos em que houve a participação
da enfermagem, destacaram-se a oxigenoterapia e nebulização,
indicados para esses casos. Eles foram prestados a 78,1% e
62,5% dos pacientes, respectivamente.
Tabela 3:
Distribuição da freqüencia dos procedimentos a que foram
submetidos os idosos durante a internação em Hospital Geral –
Belém/Pará – 2001.
PROCEDIMENTOS
Higiene Oral e Corporal
Oxigênio
Nebulização
Curativos
Sondagens
Biópsias
Endoscopia
Gasometria
Broncoscopia
Toracocentese
Freqüência
%
(N = 160)
145
125
100
72
13
9
7
6
5
2
90,6
78,1
62,5
45,0
8,1
5,6
4,4
3,7
3,1
1,2
Convém ilustrar aqui o papel da enfermagem, na avaliação
clínica do paciente portador de doença crônica e na tomada de
decisões, implementando adequadamente a assistência, no sentido
de promover o bem-estar dos pacientes, através de procedimentos
que ajudem na manutenção do fluxo aéreo adequado.
26
Perfil de Idosos Internados
Santos MIPM et al
Com relação aos sinais e sintomas apresentados pelos
idosos e sua freqüência, durante esse período de internação,
eles se encontram destacados na Tabela 4.
Tabela 4:
Distribuição da freqüencia dos sinais e sintomas em idosos
internados em Hospital Geral – Belém/Pará – 2001.
SINAIS E SINTOMAS
Dispnéia
Hipertemia
Tosse Progressiva
Hipertensão
Edema MMII
Escarro de Sangue
Icterícia
Freqüência
%
(N = 160)
106
97
91
78
45
15
12
66,2
60,6
56,8
48,7
28,1
9,3
7,5
A dispnéia foi um sintoma freqüente em 66,2% dos idosos,
já que um número considerável desses pacientes foi internado
na clínica de pneumologia. Esse sintoma, em geral, está
presente e aparece em função da descompensação nos pacientes
obstrutivos crônicos e também nos quadros clínicos de
Insuficiência Cardíaca Esquerda, podendo ser noturno, no idoso,
o que sugere um sono intranqüilo, com pesadelos. Está
associado a outras condições clínicas, como em pós-operatório,
no tromboembolismo pulmonar, ou também pode surgir de
forma súbita, o que é caracterizado, em idosos, como uma
manifestação solitária de angina ou infarto do miocárdio, e
ainda por ser manifestação de edema agudo de pulmão 10-11.
Dessa forma, sintomas agudos ou crônicos, como a dispnéia, em
pacientes idosos, precisam ser alvo de avaliação constante pela equipe
de enfermagem, devido às complicações que podem estar associadas.
Um outro sintoma presente nos idosos da amostra, durante
a internação, foi a hipertermia em 60,6% dos pacientes. Esse
sintoma, em idosos, geralmente está associado a processos
infecciosos ou inflamatórios, sendo então motivo de
preocupação, pois, no curso desses processos, pode estar
mascarado um quadro clínico de delirium que, muitas vezes,
passa despercebido ou pode ser confundido com alterações do
processo do envelhecimento11-17.
A hipertensão arterial (HA) também foi um dado nosológico
importante, que esteve presente em 48,7% da amostra.
Estudos informam que a HA é um fator de risco para a saúde do
idoso, podendo vir a desenvolver eventos cardiovasculares,
como: acidente vascular cerebral, infarto do miocárdio,
insuficiência cardíaca, insuficiência renal, aneurisma de aorta,
insuficiência vascular periférica, independente de sexo ou raça,
em termos de risco relativo, risco absoluto, gradiente de risco
e risco atribuível10-6.
Com efeito, segundo estudo realizado na população do Rio
de Janeiro, as doenças que mais acometem os idosos são as de
características crônicas, que podem perdurar por 15, 20 ou
mais anos, e que deverão consumir mais recursos da área da
saúde. Porém, nem sempre esses custos são revertidos
adequadamente às suas necessidades, e essa inadequação não
ocorre somente no serviço público 12.
O curso das doenças crônicas que acometem os idosos é
um dos fatores que favorecem um tempo de internação mais
longo para esse grupo. Ou seja, as pessoas acima de 60 anos
levam um tempo maior para produzir as respostas do seu
sistema imunológico, bem como maior tempo para as respostas
terapêuticas, em relação aos mais jovens. Isto se deve ao
processo normal de envelhecimento, que tende a ficar mais
comprometido quando essas doenças estão presentes.
Nesta pesquisa, foi encontrado um tempo médio de 16
dias de internação, e 25% dos idosos tiveram um tempo de
internação entre 11 e 20 dias. Sobre esse aspecto, foi possível
pensar nos riscos e complicações advindas de um período longo
de internação, provocados pela imobilidade no leito, como é
caso da formação de úlceras de decúbito, piora das condições
respiratórias, exposição maior às infecções hospitalares e
ansiedade pelo afastamento familiar, que podem agravar ainda
mais o quadro clínico dos idosos (Tabela 5).
Pelos registros obtidos nos prontuários individuais,
empiricamente foi possível inferir que o retardo nos
procedimentos complementares de diagnóstico foi
também um outro fator que contribuiu para um tempo
prolongado de internação, além de gerar elevação dos
custos com as diárias hospitalares.
Tabela 5:
Distribuição da freqüencia dos idosos internados quanto ao tempo
de permanência em Hospital – Belém/Pará – 2001.
TEMPO DE
PERMANÊNCIA
(em dias)
Freqüência
%
1 a 10
11 a 20
21 a 30
31 a 40
> 40
92
40
11
12
5
57,5
25,0
6,9
7,5
3,1
T O TAL
160
100,0
MÉDIA GERAL
16,0
—
Um outro fator considerado nas pesquisas sobre
hospitalização de idosos é a iatrogenia, que pode ser causada
pela própria equipe multiprofissional, decorrente das diferentes
formas de assistência prestadas aos pacientes. Esse conceito,
em geriatria, pode ter um significado amplo, quando relacionado
às condutas tomadas por vários membros da equipe 13-14.
Sobre esse aspecto, alguns autores citam como
complicações as iatrogenias de qualquer natureza, sendo
importantes na pessoa idosa, dentre elas, a própria dificuldade
de adaptação ao meio, maior vulnerabilidade do idoso às
agressões, incluindo inter venções propedêuticas e
terapêuticas, e incidência maior de doenças crônicas,
tornando-se necessário uso maior de drogas. Também são
incluídas a plurimorbidade, procedimentos invasivos –
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 23 - 9.
27
Perfil de Idosos Internados
Santos MIPM et al
diagnósticos e terapêuticos, uso incorreto de medicações e
déficits sensoriais e mnemônicos13,14,16-17.
Quanto aos procedimentos realizados durante a
internação dos idosos, ficou mais evidente nos registros dos
prontuários analisados a assistência realizada pela equipe
médica e de enfer magem, em relação aos demais
profissionais da área de saúde.
Sobre esse aspecto, é proposta do Plano Nacional de
Atenção à Pessoa Idosa (PNAPI), que as pessoas idosas sejam
assistidas por uma equipe multiprofissional, pois elas estão,
cada vez mais, preenchendo os leitos hospitalares e estão
carentes dessa forma de assistência19.
É proposta também, dessa política, que os serviços de
saúde elaborem protocolos de assistência voltados para as
pessoas idosas, levando em conta as características dessa
faixa etária. Nos prontuários analisados neste estudo, não foi
observado nenhum item específico voltado ao paciente
geriátrico. Muito embora a análise de tais protocolos não
tenha sido um dos objetivos do estudo, identifiquei essa lacuna.
O quadro clínico apresentado pelos idosos, em decorrência
das doenças agudas ou crônicas durante a internação,
compromete, muitas vezes, suas condições físicas e cognitivas
para o autocuidado. A enfermagem, nesse momento, assume
papel importante quanto à ajuda na manutenção da autonomia
e independência dos idosos. As alterações para o autocuidado
que foram apresentadas pelos componentes deste estudo,
durante a internação, encontram-se distribuídas na Tabela 6.
Tabela 6:
Distribuição da freqüencia das alterações para o autocuidado
apresentado pelos idosos internados em Hospital Geral –
Belém/Pará – 2001
Nesse contexto, pesquisas referem que, entre os mais
importantes indicadores de saúde na velhice, estão as capacidades
funcional e cognitiva. E que a capacidade funcional está
relacionada com as condições do indivíduo para se adaptar aos
problemas cotidianos. Ou seja, trata-se daquelas capacidades
que lhe são requeridas pelo ambiente em que vive21-22.
As capacidades funcional e cognitiva, em idosos, estão
diretamente relacionadas à autonomia e independência.
Trata-se da capacidade de autogoverno, de liberdade e de
administrar sua própria vida. Porém, quando alteradas, seja
por doença ou por outra condição, isto os limita e, às vezes,
até os exclui do meio social.
Uma outra dimensão que se pode acrescentar à perda da
capacidade funcional é a fragilidade, entendida como uma
vulnerabilidade que o indivíduo apresenta aos desafios do próprio
ambiente. Nestes, estão incluídas as condições materiais,
econômicas e sociais da pessoa, que possam levá-la à dependência.
As repercussões da hospitalização são seguidas, em geral, por
uma diminuição da capacidade funcional e por mudanças na
qualidade de vida, muitas vezes irreversíveis 14,21-22.
Em relação ao tipo de alta médica evidenciada, a
“melhorada” esteve presente na maioria dos idosos da amostra.
O custo médio das internações, no período, foi de R$ 406,13,
porém não foi possível, naquele momento, estabelecer
comparações com os custos para outras faixas etárias, pois as
demais faixas etárias não foram objeto deste estudo, além de
existirem limitações quanto a registros que tornassem possível
realizar um análise mais detalhada sobre esses custos. No
entanto, estudos demonstram que a faixa etária de 60 anos e
mais é a que consome os maiores recursos do SUS 1,3,8,5, 16,18,21.
CONCLUSÕES
AL
TERAÇÕES PPARA
ARA
ALTERAÇÕES
AUTOCUIDADO
Freqüência
%
(N = 147)
Alimentação
Deambulação
Higiene
Vestir-se
124
117
104
4
84,3
79,5
70,7
2,7
Pelas descrições da equipe de enfermagem, as
necessidades mais freqüentes dos idosos foram quanto à
alimentação (84,3%), deambulação (79,5%) e realização
de higiene pessoal (70,2%), exigindo cuidados específicos de
enfermagem, mesmo que temporariamente.
Nesse patamar, destaco a participação da enfermagem na
atenção para com as pessoas que envelhecem, principalmente as
fragilizadas e que necessitam desses cuidados durante a
hospitalização, ajudando na manutenção da independência e
qualidade de vida, em especial dos portadores de doenças crônicas.
Estudos vêm sendo realizados, no sentido de enfatizar os
cuidados de enfermagem ao paciente idoso, com fundamentos
no campo da gerontologia e na habilidade de aplicação de
técnicas de tratamentos geriátricos específicos. Como
exemplo, cito casos de imobilidade, incontinência urinária,
instabilidade postural e riscos de quedas 20.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 23 - 9.
O presente estudo foi realizado com o propósito de identificar
o perfil dos idosos internados em 2001 em um hospital de
referência na cidade de Belém. Dos 160 prontuários de idosos
que foram internados nesse período, 53,1% eram do sexo
masculino, e, entre os idosos da amostra, 43,1% estavam na
faixa etária de 65 a 74 anos de idade.
Os resultados do estudo demonstraram que os sintomas
apresentados pelos idosos, durante a internação, eram
compatíveis com o quadro clínico de doenças respiratórias
crônicas, como a dispnéia (66,2%), hipertermia (60,6%),
tosse progressiva (56,8%) e hipertensão arterial (48,7%).
Outro fato considerado importante no estudo foi o tempo
longo de internação dos idosos, em média 16 dias, que não
difere dos perfis nacionais. Esse período prolongado de
internação concorre para o estabelecimento de incapacidades,
maior exposição a risco de infecção hospitalar, entre outras
complicações que podem refletir na recuperação das pessoas idosas.
Os idosos deste estudo apresentaram incapacidades para
realização de atividades básicas da vida diária, como alimentação
(84,3%), deambulação (79,5%) e higiene (70,7%). Isto
implicou em uma avaliação adequada pela equipe de
enfermagem, que teve participação importante, realizando
intervenções e os cuidados necessários para suprir tais
28
Perfil de Idosos Internados
Santos MIPM et al
incapacidades, muito embora elas possam ter sido geradas
pela agudização das próprias doenças. Quanto a esse aspecto,
é preciso entender que a identificação e reabilitação precoce
de problemas, nessa população, se tornam imprescindíveis para
a prevenção de novas incapacidades.
Um dos fatores limitantes para o estudo foi quanto aos
registros deficientes e incompletos dos profissionais nos
prontuários individuais dos pacientes, prejudicando a coleta
de dados, impedindo que a análise de uma amostra maior
pudesse ter sido realizada. A grafia pouco legível foi outro
aspecto que, muitas vezes, tornou incompreensível o
entendimento das informações.
Devido ao crescimento populacional na faixa etária de 60
anos e mais, maior contingente de pessoas nessa faixa irá,
forçosamente, procurar assistência hospitalar. Sobre esse
aspecto, sugiro a adequação pelos serviços, nos prontuários
de itens e/ou protocolos que identifiquem características físicas
e cognitivas do paciente geriátrico.
Acredito que essa discussão não finda aqui e que os
resultados deste estudo possam incentivar novas pesquisas
pelos enfermeiros na área geronto-geriátrica e demais
profissionais de saúde. Principalmente sobre pessoas que
envelhecem na Região Nor te, carentes ainda de uma
sistematização para sua assistência.
Referências
11. Costa MFL, Guerra HL, Firmo JOA, Uchôa E.Projeto Bambuí: um estudo
epidemiológico de características sócio-demográficas, suporte social e
indicadores de condição de vida de saúde em idosos em comparação com
adultos jovens. Inf Epidemiol SUS: 2001 out/dez; 10(4): 147-61.
12. Ribeiro EE, Guimarães RM, Toledo AV. Sinais e sintomas do aparelho
respiratório. In: Guimarães RM, Cunha UGV. Sinais e sintomas em
geriatria. São Paulo(SP): Atheneu; 2004.
13. Veras R P. Terceira idade: gestão contemporânea em saúde. Rio
de Janeiro(RJ): Relume-Dumará; 2002.
14. Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB.O essencial em clínica geriátrica
Tradução de Martha Müller Romiti Araf. São Paulo(SP): Andrei;1985.
15. Giacomin KC. A iatrogenia na atenção médica aos idosos
[atualização científica]. Med CF; 2002 out ; 17(138):13-4
16. Veras RP. Em busca de uma assistência adequada à saúde do idoso:
revisão de literatura e aplicação de um instrumento de detecção precoce
e previsibilidade de agravos. Cad Saúde Pública 2002 jun; 19(3): 705-15
17.Elie M, Cole MG, Primeau FJ, Bellavance F Delirium risk factors in
elderly hospitalized patients. J Gen Intern Med 1998 May; 13: 204-12.
18.Siqueira AB,Cordeiro RC, Perracini MR, Ramos LR.Impacto funcional
da internação hospitalar de pacientes idosos. Rev Saúde Pública
2004 out; 38(5): 687-94
1. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE. Perfil dos idosos
responsáveis por domicílio no Brasil 2000. Rio de Janeiro (RJ); 2000.
2. Motta LB. Levantamento do perfil dos idosos internados em hospital
geral: análise do processo de internação frente às demandas da população
geriátrica. Textos sobre envelhecimento 2001 ago/dez; 3(6): 47-77.
3. Camarano AA. Envelhecimento da população brasileira: uma contribuição
demográfica. In: Freitas EV et al,organizadores. Tratado de Geriatria e
Gerontologia. Rio de Janeiro(RJ):Guanabara Koogan; 2002.
4. Mendes MRSSB, Gusmão JL, Faro AGM , Leite RCBO. A situação do idoso
no Brasil: uma breve consideração. Acta Paul Enferm 2005 18(4): 422-26
5. Chaimowicz F. Os idosos brasileiros no século XXI: demografia,
saúde e sociedade. Belo Horizonte (MG):Posgraduate;1999.
6. Rea LM, Parker Metodologia da pesquisa:do planejamento à execução.
Tradução de Nivaldo Montiguelli Junior. São Paulo (SP): Pioneira; 2000.
7. Organização Mundial da Saúde-OMS. CID-10: Classificação estatística
internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. Tradução
do Centro Colaborador da OMS para a classificação de doenças em
português. 3ª ed. São Paulo (SP): USP;1996
8. Chaimowicz. F. Epidemiologia e o envelhecimento no Brasil. In:
Freitas EV et al, organizadores. Tratado de Geriatria e Gerontologia.
Rio de Janeiro(RJ): Guanabara Koogan; 2006.
9. Costa MFL, Guerra HL, Barreto SM, Guimarães RM.Diagnóstico da
situação de saúde da população idosa brasileira: um estudo da situação
da mortalidade e das internações hospitalares públicas. Inf Epidemiol
SUS out/dez: 2000; 9(1), 23-41.
10. Lourenço RA, Veras RP, Silva NAS. Hipertensão arterial e outros
fatores de risco de doença cardiovascular: prevalência em uma
população de idosos.In: Veras RP.Terceira idade: gestão
contemporânea em saúde. Rio de Janeiro(RJ): Relume Dumará; 2002
19.Lei 8.842, de 4 de janeiro de 1994.Dispõe sobre a política
nacional de atenção ao idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e
da outras providências.[on-line] Brasília,1994.[citado 5 nov
2002].Disponível em: http//www.planalto.gov.br/ccivil-3/leis/
20.Santos I, Clos AC. Pesquisa quantitativa e metodologia. In:
Santos I et al. Pesquisa em enfermagem: novas metodologias
aplicadas. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan:1998
21.Caldas CP. Conversando sobre o autocuidado: a qualidade de vida
como meta. In: Pacheco JL, Sá JLM, Py L, Goldman SN, organizadores.
Tempo rio que arrebata. São Paulo (SP):Setembro; 2005
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 23 - 9.
29
Perfil de Idosos Internados
Santos MIPM et al
22.Veras RP. O custo hospitalar crescente no setor público: conseqüência
do envelhecimento populacional. In:___. Terceira idade gestão
contemporânea e saúde. Rio de Janeiro (RJ): Relume Dumará; 2002
Nota
Este artigo é fragmento da monografia do Curso de Especialização
Envelhecimento e Saúde do Idoso, realizado na Faculdade de Ciências
Médicas de Belo Horizonte-MG
a
Sobre a Autora
Maria Izabel Penha de Oliveira Santos
Enfermeira, Ms. em Educação, Gerontóloga pela SBGG. Coordenadora
do Projeto de Extensão Universidade Aberta à Terceira Idade. Membro
do Grupo de Pesquisa-Saúde do Adulto e Idoso da Universidade do
Estado do Pará (UEPA). Professora do curso de EnfermagemUniversidade do Estado do Pará. e-mail:princesa@nautilus.com.br
Recebido em 20/10/2006
Reapresentado em 27/02/2007
Aprovado em 10/03/2007
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 23 - 9.
30
Qualidade de Vida Após Infarto Agudo do Miocárdio
Caetano JA et al
QUALIDADE DE VIDA DE CLIENTES
PÓS-INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO
Client’s Quality of Life After
Myocardial Infarction
Calidad de Vida de los Clientes
Pós-Infarto Agudo del Miocardio
Joselany Afio Caetano
Enedina Soares
Resumo
Objetivou-se neste estudo avaliar a qualidade de vida de clientes que sofreram infarto agudo do miocárdio. A amostra
constou de 30 clientes selecionados pela busca em prontuários de uma unidade cardiológica, que nos permitiu a
identificação e localização desses clientes, internados no ano de 2004. Para coleta de dados utilizamos a Escala de
Qualidade de Vida de Flanagan e o tratamento estatístico com desvio-padrão. Os resultados mostraram maior índice de
respostas nos níveis “indiferentes” a “pouco satisfeitos” em suas qualidades de vida. A relação interpessoal apresentou
o mais alto índice de satisfação, contrariando o bem-estar físico e material, com o mais baixo índice de satisfação.
Concluiu-se que a avaliação da qualidade de vida de clientes que sofreram infarto agudo do miocárdio se mostra
comprometida, o que vem corroborar outros estudos anteriormente realizados.
Pala
vr
as-c
ha
alavr
vras-c
as-cha
havve: Infarto do Miocárdio. Qualidade de Vida. Enfermagem.
Abstract
Resumen
This study evaluates the quality of life of clients who suffered
myocardial infarction. The sample consisted of 30 clients
selected by search in medical records of a cardiac unit,
which let us to identify and locate these clients, admitted in
the year 2004. For the data collection was used the Quality
of Life Scale of Flanagan and the statistic with standard
deviation treatment. The results showed a bigger index of
answers in the “indifferent” to “little satisfaction” levels in
their quality of life. The interpersonal relation showed the
higher index of satisfaction, against the physical and material
wellness, with the lowest index of satisfaction. It was
concluded that the client’s quality of life evaluation that
suffered myocardial infarction is compromised, witch comes
to confirm other previous studies that was carried trough.
El objetivo del estudio fue evaluar la calidad de vida de los
clientes que han sufrido infarto agudo del miocardio. La muestra
ha consistido de 30 pacientes escogidos por la búsqueda en
historias clínicas de una unidad cardiológica, que nos permitió
la identificación y localización de estos clientes, internados en
el año 2004. Para la colecta de los datos utilizamos la Escala
de Calidad de Vida de Flanagan y el tratamiento estadístico con
desvío medio. Los resultados muestran mayor índice de
respuestas en los niveles “indiferentes” a “poco satisfechos”
en sus calidades de vida. La relación interpersonal presentó el
más alto índice de satisfacción, contrariando el bienestar físico
y material, con el más bajo índice de satisfacción. Ha concluído
que la evaluación de la calidad de vida de clientes que sufrieron
infarto agudo del miocardio muéstrase comprometida, lo que
viene a confirmar otros estudios anteriormente realizados.
Keywords:
Myocardial Infarction. Quality of Life. Nursing.
Palabras clave:
Infarto Agudo del Miocardio. Calidad de Vida. Enfermería.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 30 - 7.
31
Qualidade de Vida Após Infarto Agudo do Miocárdio
Caetano JA et al
INTRODUÇÃO
O conceito de qualidade de vida é relativamente recente e
decorre, em parte, de novos paradigmas que têm influenciado
as políticas e as práticas de saúde nas últimas décadas.
Consoante a essa mudança de paradigma, a qualidade de vida
passou a ser um dos resultados esperados tanto das práticas
assistenciais quanto das políticas públicas para o setor da
promoção de saúde e da prevenção de doenças1.
O termo qualidade de vida é amplo e inclui uma variedade
maior de condições que podem afetar a percepção do indivíduo,
seus sentimentos e comportamentos relacionados com o seu
funcionamento diário, incluindo a sua condição de saúde e as
intervenções médicas.
A satisfação com a vida e sensação de bem-estar pode,
muitas vezes, ser um sentimento momentâneo. Porém, acreditase que o investimento na conquista de uma vida com qualidade
pode ser construído e consolidado em um processo que inclui a
reflexão sobre o que é definitório para sua qualidade de vida e
o estabelecimento de metas a serem atingidas, tendo como
inspiração o desejo de ser feliz.
Qualidade de vida (QV), em seu sentido geral, aplica-se ao
indivíduo aparentemente saudável do ponto de vista físico e
diz respeito ao seu grau de satisfação com a vida nos múltiplos
aspectos que a integram: moradia, transporte, alimentação,
lazer, satisfação/ realização profissional, vida sexual e amorosa,
bom relacionamento com outras pessoas, liberdade, autonomia
e segurança financeira. A qualidade de vida pode estar vinculada
ao estilo de vida, incluindo padrão de alimentação, prática de
atividades físicas, não-aderência a hábitos, como o cigarro, e a
forma como encara o trabalho, a família e as chamadas “tensão
de vida moderna”2.
Avaliar a QV de pessoas com doenças crônicas tem sido
uma maneira de determinar o impacto do cuidado de saúde
quando a cura não é possível. São considerados importantes
aspectos de avaliação dos resultados dos procedimentos
terapêuticos não apenas os aspectos relacionados à redução
dos sintomas e prolongamento da vida, mas, também, os
relacionados à sobrevida do doente e como a QV se apresenta
para ele próprio e para a sociedade 3.
Estudiosos desta temática apontam três razões que
explicam a ênfase dada à qualidade de vida relacionada às
doenças cardiovasculares, que justificam a preocupação em
aferi-la: primeiro, o dilema das intervenções que, embora
prolonguem a vida, comprometem sua qualidade; segundo, a
relação que há entre os efeitos de uma droga sobre a qualidade
de vida e a aderência do paciente à prescrição; e terceira, a
aferição da validade, do ponto de vista econômico de uma dada
intervenção2. A importância da aferição da qualidade de vida
afigura-se, pois, como inquestionável, principalmente nas
doenças crônicas e incuráveis, como é o caso da maior parte
das enfermidades cardiovasculares4. Por isso, cada vez mais
são valorizadas as avaliações do impacto que uma nova
terapêutica promove na qualidade de vida de um indivíduo.
Entendemos que a avaliação da qualidade de vida em
pacientes com infarto do miocárdio tem a ver mais com os
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 30 - 7.
benefícios do que com os eventuais prejuízos da intervenção
terapêutica. O que se vai medir é o quanto a insuficiência
cardíaca impede ou dificulta a vida do paciente, pois esses
portadores desenvolvem mecanismos para tentar diminuir os
desconfortos que o tratamento lhes ocasiona e, dependendo
da intensidade, acabam por afetar o seu estilo de vida. A escolha
de um instrumento holístico para avaliar a QV nesta clientela
é impor tante. A Escala de QV de Flanagan 5 é um dos
instrumentos de avaliação.
A enfermagem sempre teve e terá grandes preocupações
com os cuidados prestados a uma pessoa em uma variedade
de situações relacionadas à saúde, como o estado geral, o
bem-estar, a qualidade de vida, dentre outras. Esse cuidado
inclui papéis significativos na educação para a saúde, dentro
da promoção da saúde, e a prevenção de doenças, bem
como o cuidado individual do paciente, visto que este é o
maior responsável pela manutenção de sua saúde e
prevenção das doenças6.
A enfermagem é co-participante direta na difusão de
medidas preventivas à população, por incluir, em suas principais
atribuições, a atenção primária à educação em saúde, atividades
educativas, informativas e interativas direcionadas à população.
Por tanto, a implementação de estratégias baseadas na
promoção de um estilo de vida saudável requer esforço
coordenado entre os provedores de cuidados com a saúde, tais
como médicos, enfermeiros, nutricionistas e fisioterapeutas,
odontólogos, o sistema escolar, outros órgãos governamentais,
a indústria como a de alimentos e a farmacêutica.
Diante destas considerações, objetivou-se para este estudo
identificar as dimensões da qualidade de vida afetadas pelos
pacientes pós-infarto agudo do miocárdio, tendo em vista a
melhoria da assistência prestada por profissionais de saúde
após a alta hospitalar.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, realizado
com pessoas que sofreram infarto agudo do miocárdio, usuários
do Sistema Único de Saúde (SUS), atendidos em hospital de
referência estadual em doenças torácicas e cardiovasculares,
situado na cidade de Fortaleza-CE.
Participaram do estudo 30 clientes que sofreram infarto
agudo do miocárdio – IAM, residentes da cidade de Fortaleza/
CE e que aceitaram contribuir com a pesquisa. A seleção dos
participantes deveu-se aos registros de entrada na unidade de
cardiologia clínica do hospital em estudo, nos quais foram
levantados os números dos prontuários com historia de IAM,
internados no ano de 2004. Por meio desses registros podemos
localizar, no Serviço de Arquivo Medico – SAME, 30 prontuários
contendo as informações que nos propiciaram a identificação e
a localização desses clientes.
Para coleta de dados, utilizamos, como instrumentos, um
roteiro de entrevista composta de duas partes: a primeira, com
dados de identificação e sociodemográficos e a segunda, com
aplicação da Escala de Qualidade de Vida (EQV) de Flanagan,
na qual estão contidos os itens conceituais da qualidade de
32
vida e representadas em cinco dimensões: bem-estar físico e
material; relação com outras pessoas; atividades sociais,
comunitárias e cívicas; desenvolvimento pessoal e realização;
recreação.
Essas dimensões são mensuradas através de quinze itens
nos quais os respondentes têm sete pontos que variam entre:
1 = extremamente insatisfeito, 2 = bastante insatisfeito; 3
= insatisfeito; 4 = nem insatisfeito, nem satisfeito; 5 =
satisfeito; 6 = bastante satisfeito e 7 = extremamente
satisfeito. A pontuação máxima alcançada na avaliação da
qualidade de vida proposta por Flanagan é de 105 pontos, e a
mínima, de 15 pontos, que refletem baixa qualidade de vida5.
Para aplicação das entrevistas e da Escala da Qualidade
de Vida de Flanagan, foram realizadas visitas domiciliares. Os
dados coletados foram tratados em conformidade com as
alternativas mais adequadas ao conteúdo dos instrumentos
utilizados e apresentados em gráfico e quadro e análise da
distribuição das características dos escores da qualidade de
vida de acordo com a Escala, assim como dos escores da média
e do desvio-padrão obtidos por itens da escala em consonância
com o referencial teórico.
Vale ressaltar que os princípios éticos contidos na
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que trata
da pesquisa com seres humanos, foram devidamente
respeitados, garantindo-se o anonimato dos partícipes e sua
saída da pesquisa quando considerasse necessário.
RESULTADOS
Caracterização da amostra Dados de identificação e sociodemográficos
Para que pudéssemos caracterizar os participantes deste
estudo, selecionamos algumas informações que julgamos
pertinentes e que nos possibilitaram trabalhar os dados obtidos
sob os enfoques planejados.
O estudo foi realizado com a participação de 30 clientes
acometidos com IAM, sendo 19 (63,3%) do sexo masculino e
11 (36,7%) do sexo feminino. Estudos realizados
recentemente mostraram que doenças da artéria coronária
atingem mais homens do que mulheres; entretanto, depois da
menopausa, a incidência em mulheres aumenta rapidamente
e passa a ser quase igual a dos homens jovens na faixa etária
de 30 anos ou menos7,8.
A prevalência de IAM no sexo masculino em relação ao
feminino pode ser atribuída a uma menor tendência
trombolítica e à proteção hormonal natural, determinada pelos
níveis de estrogênios, cujos mecanismos estão relacionados à
interferência nos níveis de lipídios plasmáticos (elevação do
nível de HDL-colesterol e redução do LDL-colesterol), efeito
direto na parede do vaso, reduzindo a captação de lipídios e a
vasodilatação, com melhoria da pulsatilidade arterial8.
Com relação à incidência de IAM em mulheres, cientistas
revelaram que devem ser consideradas, além da causa fixa,
que é a proteção hormonal, também as causas modificáveis,
como, por exemplo, maior atenção às enfermidades e,
consequentemente, maior utilização dos serviços de saúde,
Qualidade de Vida Após Infarto Agudo do Miocárdio
Caetano JA et al
comportamento e condutas menos agressivas, hábitos mais
saudáveis (sem o consumo de álcool e tabaco) e menor
exposição aos riscos do trabalho9.
A partir da década de 1980, este perfil vem mudando. A
ocorrência entre as mulheres vem crescendo significativamente
pelas transformações sociais e culturais que estimularam a maior
participação da mulher no mercado de trabalho e a progressiva
adoção de hábitos nocivos à saúde - tabagismo e etilismo que,
aliados ao estresse e ao uso de contraceptivos orais, representam
sérios fatores de risco. O excesso de adrenalina, gerado pela
ansiedade e pela fadiga constantes, acelera o ritmo cardíaco,
contrai as artérias e favorece a formação de coágulos,
desencadeando, portanto, a angina e o IAM8.
A doença do coração nas mulheres é uma preocupação
mundial, por ser a primeira causa de morte feminina nos países
mais desenvolvidos. Estatísticas nos Estados Unidos mostram
que, em 1989, cerca de 329 mil mulheres morreram de doença
cardiovascular. Esse número equivale a 3,8% do total de
mortes entre as mulheres naquele ano. No Brasil, 40% das
pessoas com problemas cardíacos são mulheres, sendo a
proporção de morte de 3,5 homens para 1 mulher. Apesar das
mudanças de hábitos, a probabilidade de o coração feminino
infartar é quatro vezes menor do que o coração masculino,
graças à ação do estrogênio10, 11.
Neste estudo a faixa etária foi de 48 a 78 anos, com média
de idade de 62 anos; com relação ao estado civil, os casados
predominaram nesta amostra, com 24 (80,0%); seguidos pelos
viúvos, três (10,0%); separados, dois (6,7%); e solteiros, um
(3,3%). Dados estatísticos verificados em outros estudos12,13
mostraram que há relação entre estado civil e os processos de
morbidade e mortalidade por doenças crônico-degenerativas.
A freqüência das doenças eleva-se nos solteiros e a mortalidade
é maior entre viúvos, divorciados e solteiros. A relação entre
estado civil e saúde é vulnerável a mudanças, na proporção em
que outros tipos de relacionamentos sejam incorporados ao
conceito de vida conjugal. Na sociedade atual, o cônjuge tem
papel fundamental na reabilitação do cliente coronariopata.
Esse apoio favorece aquele que tem parceiro fixo, mesmo porque
terá mais chances de reintegração em menor tempo9.
As questões religiosas têm grande influência nesse momento
da vida, de forma que 100% da população pesquisada (30)
demonstraram afinidade com algum tipo de atividade ou prática
religiosa, predominando o engajamento na religião católica com
25 (83,3%), seguida da religião evangélica, cinco (16,7%).
Quanto às razões para a ocorrência desse fato, verifica-se que
a prática de alguma religião permite estabelecer um elo entre
as limitações e o aproveitamento de suas potencialidades, ou
quando isso não ocorre, ajuda-o a vencer com mais facilidade
essa fase que está vivenciando12.
A tarefa de lidar consigo mesmo e a busca de paz interior
parece ter um significado maior para a aceitação das condições
de vida e de encontrar conforto na perda e na dor. A prática
religiosa também tem papel social na convivência entre as
pessoas, na terapia de relaxamento e nos problemas, pela
conquista do céu diante da iminência da morte. A religião serve
também de lenitivo à incapacidade humana de enfrentar
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 30 - 7.
33
Qualidade de Vida Após Infarto Agudo do Miocárdio
Caetano JA et al
fracasso e sofrimento – entrega-se tudo a Deus e aí vem o
consolo. Os movimentos religiosos promovem um
preenchimento saudável do tempo e de convivência social.
Representam um compromisso na regularidade de uma ação
agradável que serve de estímulo à pessoa com vistas à
participação social13.
A moradia e a convivência têm sido a grande preocupação,
porém, nesta amostra. Constatou-se que 20 (66,7%) possuem
casa própria, significando que a maioria acumulou ao longo
dos anos algum patrimônio; três (10,0%) residem em casa
alugada; dois (6,7%) moram com os filhos, e cinco (16,7%)
residem na casa de outras pessoas. Possuir casa própria dá,
acima de tudo, segurança e autonomia. Morar no que é seu e
não ser hóspede tem forte valor significativo no processo de
relacionamento familiar. Constatou-se que 24 (80,0%) vivem
com os seus cônjuges; por outro lado, cinco (16,7%) convivem
com outros familiares e um (1,3%) vive sozinho.
Outro fator de relevância para a caracterização da amostra
é a renda familiar dos seus integrantes. Agrupamos estes dados
em quatro segmentos, tomando como base o salário mínimo
nacional vigente (R$ 260, 00, em 2005). Verificamos que 26
(86,7%) dos clientes sobrevivem com um a três salários
mínimos e somente dois (6,7%) informaram ter renda mensal
superior a três salários mínimos.
Observamos que os aposentados constituem o maior grupo
- 21 (70,0%); seguidos de outras atividades - sete (23,3%);
e doméstica - dois (6,7%). Incluídas na amostra estão outras
categorias cujo esforço físico desempenhado é considerado
de maior intensidade, como os profissionais de serviços
gerais, quatro (13,3%), e os pedreiros, três (10,0%).
Entende-se que o trabalho físico que produz exercícios
sistemáticos estimula o miocárdio tornando-o menos
vulnerável aos agravos isquêmicos. Ressalta-se também que
os indivíduos habitualmente voltados para o desenvolvimento
de atividades que exigem gastos energéticos significativos
conseguem reduzir a influência dos fatores de risco com
relação à mortalidade coronária9.
O grupo que merece destaque é o dos profissionais que
trabalham no período da noite, por vezes, inclusive, sem a
compensação adequada do repouso necessário, ou excedendo
as horas trabalhadas em duplas jornadas contínuas. Na
realidade, podemos constatar que esta amostra é constituída
por pessoas que não dispõem de condições sócio-econômicas
para o custeio de despesas hospitalares, fazendo parte,
portanto, da população usuária dos serviços públicos de saúde.
Mesmo com o SUS garantindo o direito à saúde para todos, os
cidadãos brasileiros têm sido vítimas da diminuição progressiva
de recursos alocados para a garantia deste direito, e esta
condição vem gerando uma assistência com pouca
resolutividade e triagens contínuas14. A queda da qualidade da
atenção prestada tem sido a principal fonte de desgaste e
descrédito do SUS. É notório que a sociedade brasileira, com
relação à opção de serviços de saúde, está classificada de
acordo com o poder aquisitivo do usuário, ou seja, aqueles que
podem escolher livremente profissionais e procedimentos e
aqueles que são obrigados a recorrer às instituições públicas
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 30 - 7.
e, conseqüentemente, submeter-se ao descaso das filas, às
listas de espera, ao sucateamento dos serviços e aos
atendimentos impessoais ou inadequados11.
Observa-se que o acesso aos serviços de saúde não é igual
ou universal e o poder aquisitivo vem se transformando em um
determinante fator que assegura a poucos o direito à saúde.
Esta realidade discriminatória e excludente, além de expor as
fragilidades das políticas públicas de saúde e de tornar cada
vez mais explícitas e cruéis as desigualdades sociais geradas
pela concentração de renda, também interfere diretamente na
qualidade de vida da sociedade, por ser a saúde considerada
uma das dimensões fundamentais que possibilita ao ser humano
uma vida plena e produtiva.
Avaliação da Qualidade de Vida
Na Escala da Qualidade de Vida de Flanagan, essa
qualidade é alcançada pela interação de dimensões que se
harmonizam segundo a concepção pessoal de cada indivíduo
sobre suas condições de vida. Ela pode ser utilizada como
atributo e também como variável, pois determina a existência
e a continuidade das organizações (sistemas, processos,
produtos e serviços) e a dos próprios indivíduos (vida) de uma
comunidade (coletividade). O termo qualidade pode ser usado
como valorização, comparação e caracterização na busca de
estabelecer processo de juízo15.
A mensuração da qualidade de vida vem-se tornando
impor tante na avaliação de tecnologias e terapêuticas
utilizadas na área da saúde. Com a evolução da ciência, que
envolve condutas clínicas e procedimentos cirúrgicos,
problemas oriundos da idade e do status no processo saúdedoença tornaram-se um fator primordial na adoção de novas
alternativas de tratamento, para a recuperação e a respectiva
melhora da vida. O interesse de pesquisadores em transformar
o conceito de qualidade de vida em uma medida quantitativa
para uso em ensaios clínicos e em modelos econômicos é
crescente, para que esta medida possa ser comparada entre
diversas populações e patologias12.
Tomando-se como base a pontuação máxima alcançada na
avaliação da qualidade de vida proposta por Flanagan, de 105
pontos, e a mínima, de 15 pontos, que refletem baixa qualidade
de vida, podem-se observar, no Gráfico 1, a seguir, levando em
conta os limites dos escores de 30-40, três pacientes neste
limiar; nos limites de 41-50, somente um; 51-60, seis; 61-70,
cinco; 71-80, nove e de 81-90, seis. Nenhum apresentou
pontuação máxima, nem tampouco mínima, porém os limites que
apresentaram maior número de pacientes foram no escore de 7180, o que mostra, neste estudo, que a qualidade de vida entre os
participantes era alta. Tal resultado foi semelhante ao encontrado
por outros autores que avaliaram a qualidade de vida.
A qualidade de vida, além de ser ímpar, também é temporal,
pois a vivência de uma determinada situação pode ou não
proporcionar uma qualidade de vida momentânea ou por um
período longo. Portanto, quem pode definir a qualidade de vida
de uma pessoa é ela própria, vivendo e interconectando o
interior com o exterior. Por isso, devemos ter consciência que a
interconexão com o ambiente, a família e a sociedade pode
causar mudanças relevantes na vida do portador de IAM.
34
Qualidade de Vida Após Infarto Agudo do Miocárdio
Caetano JA et al
Gráfico 1 - Distribuição das características segundo escores totais na EQV* apresentada pelos clientes do Hospital de Messejana
da cidade de Fortaleza-CE, 2005 - Escala de qualidade de vida, segundo Flanagan.
105
Escala de Flangan
90
86
83
79
75
60
58
45
39
30
74
69
74
72 71
57
56
70 68
68
60
7981 81 81
79 78 81
80
59
65
60
44
34
32
15
0
5
10
15
20
25
30
Clientes
Pelo caráter multifatorial da doença coronariana, e sendo
a saúde vista como um fenômeno multidimensional que envolve
aspectos físicos, psicológicos, sociais e espirituais, é necessário
entender que a doença física pode ser contrabalanceada por
uma atitude mental positiva e por um apoio social, de modo
que o estado global do indivíduo seja de bem-estar 16.
Como pode ser observado no quadro 1, a seguir, a média
total da escala de qualidade de vida foi de 67,26 e a média de
todos os itens foi de 4,48. Este resultado foi obtido somando
todos os itens médios da escala - o resultado reflete que os
participantes estão aproximadamente no grau 4-5, que com
base nas respostas da escala de sete escores. O número 4
representa nem insatisfeito, nem satisfeito; já o 5 é satisfeito.
O bem-estar físico e material, dimensão 1 da EQV de Flanagan,
representada pelos itens “conforto material” e “saúde”, apresentaram
médias de 5,20 e 4,20; respectivamente. O conforto material está
diretamente vinculado à renda - vinte e seis dos pesquisados recebem
até três salários mínimos, como renda familiar.
Sentir a vida difícil tem a ver, também, com a escassez de
recursos econômicos. Embora a renda seja um problema com
o qual lidaram toda a vida, nesse momento se agudiza pela
saída social do trabalho, pelo escasso valor da aposentadoria
ou pensão, ou pelas dificuldades para conseguir, o que dizem
eles, seus direitos. “Estar bem vigoroso”, para eles, está
relacionado com a possibilidade de ter, ser, poder e saber. O ter
traz referência ao conjunto de necessidades básicas parcialmente
resolvidas, a possibilidade de contar com bom estado de saúde
e capacidade para realizar suas atividades de vida diária.
Possuir uma moradia própria gera uma sensação de bemestar, dá segurança e autonomia; alimentar-se bem, para eles,
significa comer “tudo” do que gosta, sem restrições. A
modificação da alimentação faz par te da terapia não
farmacológica, pois a dieta inadequada pode comprometer mais
ainda as coronárias; assim, essa modificação, por vezes, não é
vista como parte do tratamento, deixando-os insatisfeitos e, às
vezes, até deprimidos. Esta incompreensão pode estar relacionada
com a falta de orientação sobre a doença e o tratamento, devendo,
por conseguinte, ser realizada por médicos e enfermeiros logo
após a estabilização da crise aguda do infarto17.
Verifica-se, portanto, que, na área da saúde, a vida se torna
difícil em virtude das dificuldades para acessar o sistema de
saúde, da ineficiência desse sistema, dos problemas para compra
de remédios ou para fazer o tratamento, da ansiedade por não
compreender sua doença ou pela enfermidade de um ser querido.
Nas relações interpessoais, representada pela dimensão 2
da EQV de Flanagan, observa-se que a média das respostas dos
participantes no quesito relacionamento com a família foi 5,27,
que se encontram satisfeitos. Registram-se aqui as expressões
de afetividade percebidas nas respostas a este item, tendo algum
cliente colocado a família como maior responsável pela sua
recuperação. É de suma importância o apoio dos grupos,
principalmente da família, dos filhos e amigos, em que o indivíduo
pode se sentir intimamente aceito, respeitado e considerado, o
que, sem dúvida, representa um fator de proteção para o coração14.
Na relação da criação dos filhos, as respostas apresentaram
uma média de 5,63, ou seja, os clientes não sentiram alterações
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 30 - 7.
35
Qualidade de Vida Após Infarto Agudo do Miocárdio
Caetano JA et al
Quadro 1:
Estatística descritiva das respostas dos participantes aos itens da Escala de Qualidade de Vida de Flanagan. Fortaleza/CE. 2005.
Escores
Dimensões/Itens da EQV de Flanagan
Média
(x)
Desvio-Padrão
(s)
1. Conforto material: casa, alimentação,
situação financeira.
5,20
0,76
2. Saúde: fisicamente bem e vigoroso(a)
4,20
1,97
3. Relacionamento com pais, irmãos e outros
parentes: comunicação, visita e ajuda
5,27
1,44
4. Constituir família: ter filhos
5,63
0,49
5. Relacionamento íntimo com o esposo(a),
namorado(a) ou outra pessoa relevante.
3,57
1,96
6. Amigos próximos: compartilhar interesses,
atividades e opiniões.
4,97
1,38
7. Voluntariamente, ajudar e apoiar a outras
pessoas
5,47
0,68
8. Participação em associações e atividade de
interesse público
4,50
1,53
9. Aprendizagem: freqüentar outros cursos para
conhecimentos gerais
4,13
1,59
10. Autoconhecimento: reconhecer seus
potenciais e limitações
3,53
1,83
11. Trabalho (emprego ou em casa): atividade
interessante, gratificante, que vale a pena.
3,23
2,0
12. Comunicação criativa
4,53
1,61
13. Participação em recreação ativa
4,23
1,59
14. Ouvir música, assistir à TV ou cinema,
leitura ou outros entretenimentos.
4,33
1,73
15. Socialização: fazer amigos.
4,47
1,74
ou incapacidades. A família e os filhos são a primeira rede social
do indivíduo, é nela que as relações acontecem e se desenvolvem9.
Em um estudo realizado18 sobre QV do diabético, o autor
identificou que o grau de satisfação familiar com a vida está
relacionado às condições de saúde, à relação familiar harmônica
e à resolução de problemas financeiros, familiares e de trabalho.
O relacionamento íntimo com companheiro apresentou-se
prejudicado, com uma média de 3,57, o que representa o ponto
3-4, onde temos no número 3 = insatisfeito e 4 = nem
insatisfeito, nem satisfeito. A ansiedade, a depressão, o medo
de morrer, a simbologia do coração doente, a revisão dos valores
vitais, baixa auto-estima e, conseqüentemente, o sentimento
de impotência diante da vida, decorrentes da doença, são
generalizados para a área sexual, gerando um sentimento de
que não vai conseguir lidar com os eventos da vida, simbolizados
pela incapacidade e insatisfação sexual18.
Quanto às relações com os amigos, as respostas
apresentaram média de escore 4,97, quase 5, satisfeito. Mesmo
justificando o apoio de amigos para o enfrentamento do
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 30 - 7.
problema, das novas adaptações, ressaltamos, porém, a
manifestação de sentimento como medo, limitações, dúvida,
depressão, desânimo e mudanças de hábitos de vida, que
retratam os desafios propostos ao ser humano pelo processo de
adoecimento, pois a recuperação dos pacientes deve,
necessariamente, ser complementada com outras ações que
envolvem, além dos profissionais de saúde, a família e a
comunidade, possibilitando a sua reintegração sócio-econômica19.
Na participação em atividades sociais, comunitárias e
cívicas, registrou-se uma baixa média, 4,50, nem insatisfeito,
nem satisfeito. Em relação à ajuda e apoio a outras pessoas,
5,47, satisfeito. Portanto, foi possível constatarmos que a doença
pode interferir no cotidiano dos indivíduos. Adoecer pode levar a
um isolamento social, aumento da depressão e diminuição das
expectativas de melhora, contribuindo para um sentimento de
desesperança20. Há necessidade de compartilhar a experiência
do adoecimento com outras pessoas que tenham passado por
vivência semelhante, uma vez que a troca de informações poderia
ser de grande valia nas conversas ou reuniões.
36
No desenvolvimento pessoal e realização, dimensão 4 da
EQV de Flanagan, o processo de aprendizagem, que apresentou
baixa média de escore, 4,13, nem insatisfeito, nem satisfeito,
o que pode ser interpretado como uma estagnação no processo
de conhecimento, em que a maioria dos clientes, com mais de
60 anos, já se encontram “aposentados”. No que diz respeito
ao autoconhecimento, os clientes apresentaram média de 3,53,
insatisfeito. A formação do indivíduo é refletida na vivência de
situações estressantes, em que o indivíduo mostra a aceitação
de seus limites e compreensão das perdas de suas capacidades5.
O item trabalho apresentou 3,23 na média de escore,
insatisfeito. A maior parte do grupo, 21, era inativa e atribuiu essa
inatividade à doença. Esses achados reproduzem o que a literatura
tem trazido sobre o impacto das doenças cardíacas na sociedade,
que além de serem doenças com formas graves de manifestações
clínicas, retiram precocemente o sujeito da vida produtiva, com
conseqüências negativas para ele e para a sociedade12.
Quanto ao retorno às atividades domésticas, dois clientes
relataram que não houve alteração significante em relação ao
trabalho doméstico. Estudos mostram um percentual entre 52
a 70% de respostas positivas ao trabalho doméstico. Em relação
às atividades profissionais, sete (23,3%) se encontravam na
ativa. As dificuldades em relação ao retorno ao trabalho
ocorrem especialmente pelo cansaço físico e a dor. Um fator
também observado, durante as entrevistas, é que os
respondentes apresentavam-se pouco comunicativos, o que
para eles pode dificultar a socialização. Entretanto, é nosso
entendimento que a ajuda aos seus pares no processo de
adaptação ao novo estilo de vida faz par te de sua
personalidade, e não é em decorrência do infarto.
A recreação/atividades/sociais teve dimensão 5,
representada pelos itens “participação em recreação ativa”,
média 4,23, nem insatisfeito, nem satisfeito; “ouvir música,
assistir à TV ou ao cinema, leitura ou outros entretenimentos”,
média 4,33, nem insatisfeito, nem satisfeito; “socialização:
fazer amigos”, média 4,47, nem insatisfeito, nem satisfeito;
com algumas restrições, desde o praticar esporte a sair de
casa. A socialização/fazer amigos tem a ver com a capacidade de
comunicação; é prejudicada não pelo agravo, mas, sim, pelas suas
personalidades. Grande parte dos clientes continuou com sua
atividade de lazer considerada passiva - cinemas, TV, leitura,entre
outros, atividades de lazer que não requerem esforços.
Com relação às viagens e às atividades “ativas”, como
praticar algum tipo de esporte, os clientes demonstraram
restrições. A maior parte do grupo, 21 (70%), era inativa e
atribuiu essa inatividade à doença.
Recreação com destaque para socialização, fazer amigos,
apresentou uma média de escore 4,47, nem insatisfeito, nem
satisfeito. O fato de receber apoio das pessoas queridas faz o
doente sentir-se melhor. A doença, de certa forma, é também
da família e dos amigos, e, quando essas pessoas estão
presentes, dando apoio, a angústia é compartilhada, diluída12.
O item ouvir música, assistir a TV, cinema, leitura ou outros
entretenimentos apresentou uma média de escore de 4,33;
participação em associações e atividades de interesse público,
4,23. Em nosso estudo foi possível constatar que a doença
Qualidade de Vida Após Infarto Agudo do Miocárdio
Caetano JA et al
interfere no cotidiano dos indivíduos. Adoecer pode levar
ao isolamento social, a um aumento da depressão e
diminuição das expectativas de melhora, contribuindo para
um sentimento de desesperança20.
Na dimensão bem-estar físico e material, o item saúde
apresentou média de escore 4,20. A doença cardíaca é para
muitos dos nossos entrevistados fator limitante para ter uma
“vida normal”, pois sabe-se que as doenças cardiovasculares
podem levar a uma forte tensão, à medida que impingem outros
desafios. Surgem as novas incumbências, como fazer regime e
tomar medicação diariamente, além dos medos que podem
aparecer em alguma fase da doença, como morrer ou evoluir
para alguma deficiência.
No item conforto material, nota-se um escore 5,20,
satisfeito, pois, para os nossos entrevistados, ter uma casa
própria representa segurança e autonomia.
CONCLUSÃO
O estudo revelou aspectos bastante importantes sobre a
população estudada. Percebemos o quanto o infarto agudo do
miocárdio afeta a qualidade de vida das pessoas, alterando
diversos fatores de suas vidas.
Pelos resultados, a investigação permitiu reafirmar que,
indubitavelmente, as doenças da artéria coronária atingem
mais o homem (63,3%) do que a mulher (36,7%), tendo
como predominante neste estudo a faixa etária de 48 a 70
anos. Também pudemos constatar que a amostra foi composta
de clientes que se encontravam na faixa etária de 48 a 78
anos, dos quais 80% eram casados e conviviam com os seus
cônjuges; os aposentados representaram 70%; outras
ocupações, 23,3%; e domésticos, 6,7%.
Pontuamos a questão salarial quando identificamos que
somente 6,7% dos clientes tinham renda mensal de 3 a 5
salários mínimos e que 86,7%, recebiam de 1 a 3 salários
mínimos, contribuindo, de certa forma, para a determinação
do nível de vida, uma vez que os clientes possuíam também
índices menores de qualidade de vida. Apesar de apresentarem
renda baixa, 66,7% possuíam moradia própria. Outro fator
relevante observado foi a prevalência da religião católica
(83,3%), seguida da religião evangélica, (16,7%).
A adequação da EQV de Flanagan apontou dados gerais
acerca da qualidade de vida, tendo sido detectadas
restrições para o cliente acometido pelo IAM, como, por
exemplo, autoconhecimento e trabalho. Em relação à escala
como um todo, o maior índice de respostas se posicionou
no nível 4, “nem insatisfeito, nem satisfeito”, a 5,
“satisfeito”, com suas qualidades de vida.
Os itens levantados como fontes de maior satisfação entre
os par ticipantes foram: confor to material; moradia,
alimentação, situação financeira; relacionamento familiar
(pais, o irmão e outros parentes); comunicação, visita e
ajuda; constituir família: ter filhos; e, voluntariamente, ajudar
e apoiar outras pessoas.
Quanto aos itens de insatisfação foram pontuados:
relacionamento íntimo com esposo (a) ou outra pessoa
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 30 - 7.
37
Qualidade de Vida Após Infarto Agudo do Miocárdio
Caetano JA et al
relevante; autoconhecimento de seus potenciais e limitações;
o trabalho (emprego ou em casa) como atividade gratificante,
que vale a pena.
Na perspectiva de que qualidade de vida digna é um direito do
homem, ressaltamos a missão dos profissionais da saúde, com
destaque para o enfermeiro, que, através da continência e da
sensibilidade do saber e da cidadania, podem contribuir para a
transformação das pessoas e da sociedade. Por isso, é importante
que os profissionais de saúde se conscientizem da relevância dos
programas de saúde preventiva para as doenças crônicodegenerativas e apliquem seus esforços na preservação da saúde
e melhoria da qualidade de vida das pessoas sob seus cuidados.
A escala de Flanagan é um instrumento genérico de avaliação
da qualidade de vida, que pode ser usada pelos profissionais de
saúde, especialmente diante do cliente com doença crônica,
afetando vários aspectos do cotidiano de sua vida.
Referências
12. Gallani MCBJ, Colombo RCR, Alexandre NMC, Bressan-Biojone AM.
Qualidade de vida em pacientes coronariopatas. Rev Bras Enferm
2003 jan/mar; 56(1): 40-43.
13. Ide CAC, Schneck CA, Paz MO. Compartilhando uma vivência limite:
as representações de familiares acerca do processo de hospitalização.
O mundo da saúde 2000 jul/ago; 24(4): 278-83.
14. Ministério da Saúde(BR). Secretaria Nacional de Epidemiologia.
Classificação brasileira de ocupação para o subsistema de informações
sobre mortalidade. Brasília (DF); 1993.
15. Coelho Neto A. Planejamento estratégico para melhoria da qualidade
de vida. Rio de Janeiro (RJ): Qualitymark; 1998.
16. Santos ZMA, Martins ZMDP, Valdés MTM. Doença cardíaca e a
vivência da internação hospitalar para a pessoa idosa. Esc Anna Nery
Rev Enferm 2005 ago; 9(2): 199-206.
17. Lomba M. Especialidades médicas. Olinca 2002;1.
18. Romano BW. Psicologia e cardiologia: encontros possíveis. São
Paulo(SP): Casa do Psicólogo; 2001.
19. Sousa SMA. Qualidade de vida em clientes ostomizados. Texto &
Contexto Enferm 1999 set/dez; 8(3): 162-82.
20. Martins J, Bicudo MAV. A pesquisa qualitativa em psicologia:
fundamentos e recursos básicos 2ª ed. São Paulo (SP): Moraes; 1994.
1. Seidl EMF, Zannon CMLC. Qualidade de vida e saúde: aspectos conceituais
e metodológicos. Cad Saúde Pública 2004 mar/abr; 20(2): 580-88.
2. Silva MAD, Sousa AGMR, Schargodsky H. Fatores de Risco Para
Infarto Agudo do Miocárdio no Brasil. Estudo FRICAS. Arq Bras Cardiol
1998 nov; 71(5): 667-75.
3. Dantas RAS, Góis CFL, Silva LM. Utilização da versão adaptada da
escala de qualidade de vida de Flanagan em pacientes cardíacos. Rev
Latino-Am Enfermagem 2005 jan/fev; 13(1): 15-20.
4. Romano BW. Psicologia e cardiologia: encontros possíveis. São
Paulo (SP): Casa do Psicólogo; 2001.
5. Flanagan JC. Measurent of quality of life: current state of the art.
Arch Phys Med-Rehabil. 1982 Mar/Abr; 63(2): 56-59.
6. Ellis JR, Hartley CL. Enfermagem contemporânea: desafios, questões
e tendências. Tradução de Maria Virgínia Godoy da Silva. 5ª ed. Porto
Alegre (RS): Artmed; 1998.
7. Lima CAS. Ser mulher hoje: da ambivalência da vida à possibilidades de
prevenção dos distúrbios cardíacos [monografia de graduação]. Sobral
(CE): Universidade Estadual Vale do Acaraú/UVA. Enfermagem; 2000.
8. Hafe P, Andrade MJ, Fernando PB, Lopes C, Maciel MJ, Coelho R, et
al. Fatores de risco de enfarto do miocárdio: um estudo de casocontrole no Porto. Rev Port Cardiol 1997 jun; 16(9): 695-702.
9. Oliveira SC. Doença cardíaca coronária: qualidade de vida do cliente
revascularizado [disser tação de Mestrado]. For taleza (CE):
Universidade Estadual do Ceará/. Saúde Pública; 1998.
10. Miranda LHS, Porto CC. Aspectos psicossociais das doenças
cardiovasculares. In: Porto CC. Doenças do coração: prevenção e
tratamento. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara koogan; 1998.
11. Dever GEA. A epidemiologia na administração dos serviços de
saúde. São Paulo (SP): Pioneira; 2001.
Sobre as Autoras
Joselany Afio Caetano
Enfermeira, Doutora Professora do Departamento de Enfermagem
da Universidade Federal do Ceará. joselanyafio@uol.com.br.
Enedina Soares
Enfermeira, Livre Docente, Prof. aposentada da Universidade Federal
do Rio de Janeiro UNIIO. soaresene@ig.com.br.
Recebido em 29/05/2006
Reapresentado em 23/08/2006
Aprovado em 15/12/2006
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 30 - 7.
38
Nonverbal Communication: Aspects Observed During the Nursing Consultations
Rebouças CBA et al
NON-VERBAL COMMUNICATION: ASPECTS OBSERVED
DURING NURSING CONSULTATIONS WITH BLIND PATIENTSa
Comunicação não-verbal: Aspectos Observados Durante
a Consulta de Enfermagem com o Paciente Cego
Comunicación no-verbal: Aspectos Observados Durante
la Consulta de Enfermería con el Paciente Ciego
Cristiana Brasil de Almeida Rebouças
Lorita Marlena Freitag Pagliuca
Paulo César de Almeida
Abstract
Exploratory-descriptive study on non-verbal communication among nurses and blind patients during nursing
consultations to diabetes patients, based on Hall’s theoretical reference framework. Data were collected by recording
the consultations. The recordings were analyzed every fifteen seconds, totaling 1,131 non-verbal communication
moments. The analysis shows intimate distance (91.0%) and seated position (98.3%); no contact occurred in 83.3%
of the interactions. Emblematic gestures were present, including hand movements (67.4%); looks deviated from the
interlocutor (52.8%), and centered on the interlocutor (44.4%). In all recordings, considerable interference occurred
at the moment of nurse-patient interaction. Nurses need to know about and deepen non-verbal communication
studies and adequate its use to the type of patients attended during the consultations.
Keyw
or
ds
ywor
ords
ds:: Communication Nonverbal. Nursing. Blindness.
Resumo
Resumen
Estudo exploratório-descritivo sobre comunicação nãoverbal entre o enfermeiro e o cego durante a consulta
de enfermagem ao diabético, a par tir do referencial
teórico de Hall. Coleta de dados com filmagem da
consulta, analisadas a cada quinze segundos, totalizando
1.131 momentos de comunicação não-verbal. A análise
mostra distância íntima (91,0%) e postura sentada
(98,3%); em 83,3% das interações não houve contato.
Esteve presente o gesto emblemático de mover as mãos
(67,4%); o olhar desviado do interlocutor, (52,8%) e
o olhar centrado no interlocutor (44,4%). Em todas as
filmagens, houve interferências consideráveis no
momento da interação enfermeiro-paciente. Concluise, que o enfermeiro precisa conhecer e aprofundar os
estudos em comunicação não-verbal e adequar o seu
uso ao tipo de pacientes assistidos durante as consultas.
Estudio exploratorio y descriptivo sobre comunicación noverbal entre el enfermero y el paciente ciego durante la consulta
de enfermería al diabético, desde el referencial teórico de
Hall. Colecta de datos con filmación de la consulta, analizadas
a cada quince segundos, totalizando 1.131 momentos de
comunicación no-verbal. El análisis muestra alejamiento íntimo
(91,0%) y postura sentada (98,3%), en 83,3% de las
intervenciones no hubo contacto. Estubo presente el gesto
emblemático mover las manos (67,4%); el mirar desviado
del interlocutor (52,8%) y al mirar centrado en el interlocutor
(44,4%). En todas las filmaciones, hubieron interferencias
considerables en el momento de la interacción enfermero
y paciente. Concluyese que el enfermero precisa conocer
y profundizar los estudios en comunicación no-verbal y
adecuar su utilización al tipo de pacientes asistidos
durante las consultas.
Palavras-chave
Palavras-chave::
Comunicação Não-verbal. Enfermagem. Cegueira.
Palabras clave:
Comunicación No verbal. Enfermería. Ceguera.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 38 - 43.
Nonverbal Communication: Aspects Observed During the Nursing Consultations
Rebouças CBA et al
39
INTRODUCTION
THEORETICAL FRAMEWORK
In all manifestations of life, communication is present
and represents an essential element for interaction between
human beings. The communication process is a basic
instrument in social experience. Thus, for communication to
occur, comprehension must exist as, this way, ideas, images
and experiences will be moved to a common area (1). In this
process, social relations are established, understood in
interpersonal communication, where experiences, feelings,
emotions and discoveries are exchanged. Basically,
communication can be classified as verbal and non-verbal
(2)
. While verbal communication is completely voluntary, the
non-verbal type can be an involuntary reaction or an
intentional communicative act.
Non-verbal communication refers to messages sent by
human actions and behaviors instead of words, representing
the majority of messages sent and received, through facial
expressions, mannerisms, voice, attitude and clothing. This
kind of communication mainly occurs in personal meetings.
Non-verbal signs can be categorized as follows: kinetic,
proxemic and paralinguistic. Kinetics studies body
movements, proxemics studies body position and spatial
relations and paralanguage focuses on the study of the voice
and vocalization. Many non-verbal behaviors are interrelated
in a message, as one single body movement in itself rarely
communicates a meaning (3).
In nursing care delivery to patients, communication will
facilitate the achievement of care objectives (4) .
Communication should be seen in the relationship context it
occurs in, as it is meaningless when removed from its context.
It must be planned according to the clients, each interaction
and each person in particular.
In consultations to blind people, nurses can adopt
therapeutic techniques, such as using silence for example,
as non-verbal communication also occurs at these moments
and validates messages sent and received by both sides. In
this interaction, seeing nurses perceive both the verbal and
non-verbal communication sent by the blind. However, these
professionals should pay attention to their gestual
expression, because the non-verbal signs they send to the
blind do not refer to what they are verbally expressing. On
the other hand, the non-verbal signs sent by the blind can
have a different meaning for a seeing person, as it will
depend on the social context and visual experiences or not
which people live across life.
Visual impair ment can hinder the nur se-patient
relationship and jeopardize these professionals’ work in
patient orientation, treatment adherence, understanding and
interpretation of communication. It interferes with nurseblind patient communication, as vision is one of the main
senses in the reception of non-verbal communication. Thus,
this study aimed to analyze nurses’ non-verbal communication
with blind patients during nursing consultations (7).
Scholars have studied non-verbal communication, also
known as the theory of non-verbal signs. In this study, Hall’s
Theory of Proxemics (6) was chosen, which assesses individuals’
body posture and spatial relations as an elaboration of the
culture they are inserted in.
This theory recommends eight analytic factors, which
constitute its primary categories: 1) Posture-gender:
participants’ gender and interlocutors’ basic position (standing,
seated, lying). 2) Sociofugal-sociopetal axis: while the former
discourages interaction, sociopetal implies the opposite; the
shoulders’ angle is analyzed in relation to the other person,
and the interlocutors’ position as face to face, back turned or
in any other angle. 3) Kinesthetic: short-distance physical
contact, such as touching or brushing the skin and the positioning
of body parts. 4) Contact behavior: tactile relations, such as
caressing, grabbing, feeling, prolonged holding, pressing
against, spot touching, accidental brushing or no physical
contact. 5) Visual code: the visual contact mode in interactions,
such as eye-to-eye, or the absence of contact. 6) Thermal
code: heat perceived by the interlocutors. 7) Olfactory code:
characteristics and degree of odor perceived by the
interlocutors. 8) Voice loudness: interlocutors’ perception of
voice volume and intensity.
Besides studying various types of signs and distinctive traits
related to the use of space in human relations, proxemics
considers four interpersonal distances: intimate distance (from
0 to 50cm), involving physical contact, human warmth,
transmission of odors and the most intimate personal meetings;
personal distance (from 50cm to 1.20m): although close, physical
contact may not occur and odors and body warmth may no longer
be felt. In social distance (1.20m to 3.60m), there is no physical
contact, but visual contact with the interlocutor; public distance
(more than 3.60m) occurs in public speaking and conferences,
with no individual but collective visual contact.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 38 - 43.
METHODS
This exploratory, descriptive and quantitative study
analyzed non-verbal communication between nurses and blind
patients in order to suppor t interventions and quality
improvements in care delivery to these clients. The project
was elaborated according to the National Health Council
guidelines for research involving human beings, as established
in Resolution 196/96 by the Brazilian Ministry of Health (6),
and approved under protocol No. 327/04. Data collection
started after nurses, blind patients and their companions had
signed the Free and Informed Consent Term.
The research was carried out at a secondary health unit in
Fortaleza-CE, which is a state referral institution for diabetes
and hypertension care (5). Nurses were included if they
delivered care to diabetes patients, a disease that can cause
eye diseases like cataract, glaucoma and diabetic retinopathy.
The choice of this service is justified by the fact that blind
40
Nonverbal Communication: Aspects Observed During the Nursing Consultations
Rebouças CBA et al
diabetics were followed-up at the institution. These blind
diabetes patients were selected through a convenience sample,
including patients with a medical diagnosis of blindness, who
were attended by nurses who agreed to participate in the
research. Inclusion criteria were blindness and age over 18,
considering ethics and aptitude for decision making.
Data were collected between February and April 2005,
using a camera to film the nursing consultations between the
nurse and the blind patient. Thus, non-verbal data were filed
for analysis. Recordings were made at the nursing consultation
room. The camera was strategically positioned on a fixed
tripod. During care, one researcher remained inside the
consultation room, without interfering with communication.
The data analysis instrument to assess nurses’ non-verbal
communication with the blind was elaborated on the basis of
Hall’s theoretical reference framework (7) and was called NonVerbal Nurse-Blind Communication (CONVENCE)(8). The
CONVENCE assesses Spatial Distance, as the first category or
variable, divided in four subcategories. These are: 1. Distance,
classified as intimate, personal, social and public; 2. Posture,
delimited as: standing, seated, lying; 3. Axis, identified as: faceto-face, back turned, another angle, sociofugal and sociopetal;
4. Contact, called: touching, caressing, grabbing, feeling,
prolonged holding, pressing against, spot touching, accidental
brushing and no physical contact. The second category, social
behavior, was subdivided into: 1. Emblematic gestures, classified
as resisting, moving hands and others; 2. Illustrating gestures:
either complementing verbal communication or not; 3. Regulating
gestures: head nods, eye movements and others. The third
category, called Facial Behavior, contained: perplexity, disgust,
joy, fear, anger, sadness and others. The fourth category, Visual
Code, covered two subdivisions of Eye opening: surprise, joy,
sadness and others; and Eye direction: centered on or deviated
from the speaker. The fifth, Voice Loudness, was classified as
whispering, yelling, normal and silence.
The recordings were analyzed by three experts, who
watched the films and assessed the non-verbal categories of
the communication instrument. Agreement levels among the
experts’ answers ranged around 80%. Researchers adopt
this rate, including because subjectivity in this research line
never allows for clear-cut reliability among experts (8).
All experts saw the full version of the film and, after
this phase, analyzed it as previously established. Data
were analyzed as absolute frequencies through a univariate
table with relative frequencies and percentages, processed
in Stats Direct (ST) software.
RESULTS
We analyzed five consultations, realized by four nurses.
Each recording was analyzed every fifteen seconds, totaling a
sample of 1,131 non-verbal communication analyses. The
mean duration of the recordings was nineteen minutes, ranging
between fifteen and twenty-four minutes.
Table 1 shows absolute frequencies and percentages of
non-verbal sign categories analyzed through the CONVENCE.
TABLE 1
Univariate synthesis of non-verbal communication categories
according to Hall (6)
NUMBERS
%
1.1 Distance
Intimate
Personal
Absent
1,030
89
12
91.0
7.9
1.1
1.2 Posture
Seated
Absent/ Other
1,112
19
98.3
1.7
645
445
41
57.0
39.3
3.7
892
203
36
78.9
18.0
3.1
943
140
48
83.3
12.4
4.3
2.1 Emblematic gestures
Moving the hands
Not observed/ No contact
Absent/ Other
762
247
122
67.4
21.8
10.8
2.2 Illustrating gestures
Complement the verbal one
Do not complement the verbal one
Absent/ Other
566
510
55
50.0
45.1
4.9
2.3 Regulating gestures
Not observed/ No contact
Eye movement
Head nod
Absent/ Other
582
273
176
100
51.4
24.1
15.6
8.9
499
155
97
380
44,1
13.7
8.6
33.6
4.1 Ocular Opening
Not observed/ No contact
Joy
Attention
Absent/ Other
873
53
51
154
77.2
4.7
4.5
13.6
4.2 Eye Direction
Deviated from the speaker
Centered on the speaker
Absent/ Other
597
502
32
52.8
44.4
2.8
746
365
20
66.0
32.3
1.7
1,131
100.0
CA
TEGORIES
CATEGORIES
1. SPATIAL DISTANCE
1.3 Axis
1.3.1 Axis/ Position
Another angle
Face to face
Absent/ Other
1.3.2 Axis / Interaction
Sociopetal
Sociofugal
Absent/ Other
1.4 Contact
No Contact
Localized touch
Absent/ Other
2. SOCIAL BEHAVIOR
3. FACIAL BEHAVIOR
Not observed/ No contact
Attention
Joy
Absent/ Other
4. VISUAL CODE
5. VOICE VOLUME
Normal
Silent
Absent/ Other
TOTAL
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 38 - 43.
Nonverbal Communication: Aspects Observed During the Nursing Consultations
Rebouças CBA et al
DISCUSSION
Blind people are entitled to receive specialized nursing care.
For this care to be successful, nurses need to develop specific
skills for communicating with the blind. This can preserve and
increase the efficacy of health care (5). As mentioned above, nonverbal communication allows for the direct expression of feelings
and emotions, and its functions are to complement, contradict
and replace verbal communication (9).
During interpersonal relations, like in nursing consultations,
the expression of these non-verbal signs can be perceived. The
distances maintained in an interaction can vary according to the
people’s culture and characteristics (gender, stature). The ideal
distance for Latinos and Europeans to hold a dialogue is different.
A very close distance can be considered an invasion of one’s intimacy,
while too far a distance can be interpreted as a lack of interest.
Exper ts disagreed about voice loudness and the
subcategories emblematic and regulatory gestures and ocular
opening. It can be inferred that this result derived from the
large number of non-observed answers during the scenes.
Voice loudness refers to a more subjective answer as, according
to one expert, the nurse was talking normally, while another
considered she was whispering and vice-versa. Moreover,
loudness was influenced by the recording technique and the
type of environment, as recordings were made in the actual
consultation environment.
As to Spatial Distance, intimate distance (91%) prevailed,
followed by personal distance (7.9%) and cases in which the
nurse was not seen or did not appear in the image (1.1%).
The nurse should keep a distance that demonstrates interest
(10)
. Na attitude capable of inducing approximation can be very
important during an initial contact, when the nurse-patient
relation does not exist yet (11).
During consultations, the seated position was predominant
(98.3%) in the analyzed images. When the sender and the
receiver maintain the same attitude, this means that they are in
tune, sharing the same rhythm, level of interest and movement.
Posture reveals the type of relation established with the other,
demonstrating mastering or submission, territoriality, intensity
of the relationship and attempts to strengthen the bond (5). During
nursing consultations, the seated position is comfortable to realize
anamnesis, record in the patient file what the patient is saying
and expressing, measuring glucose levels and checking blood
pressure. Literature recommends that the adequate posture
should manifest availability (10).
Body position reflects thoughts and feelings. The latter
are communicated through the language of behavior (12). As to
the axis/ position, 57% of interactions were related to another
angle, 39.3% to the face-to-face position, and absent/other in
3.7%. As to the position of the shoulders towards the other
person, among the total number of interactions, 78.9%
demonstrated encouragement or were sociopetal, 18% showed
discouragement or were sociofugal, and this aspect was absent in
3.1%. In a restricted environment, one tends to look at the other
person less (9). Therefore, the most detected positions during
consultations were different angles between sender and receiver.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 38 - 43.
41
The assessment of contact showed interactions without any
contact (83.3%), but localized touch or touch occurred in 12.4%.
Human beings’ contact with the world starts through the senses,
which are capable of transmitting pleasure and displeasure (13).
Touching objects makes it possible to get a precise
perception of their forms and textures. This feeling is not only
limited to the hand, but extends throughout the human body
(13)
. Among all sensations, touch is experienced most personally
and can be defined as the skin’s faculty to issue and detect
feelings. As it is extraordinarily developed, it is believed that,
in the past, touch provided a decisive contribution to the survival
of mankind. And it still performs a certain role in this respect.
Blind people, for example, perceive daylight or cold at night
through thermal sensations (6).
Touch can have different meanings for nurses as well as for
patients. When used as a care humanization object, it can
become a source of support to minimize patients’ suffering
and create affective bonding, with a view to delivering a better
form of care (14). A firm and secure touch is worth more than
words (15). Nurses need to be aware of the importance of this
resource in care humanization for clients and should use it
effectively, in order to avoid turning it into a mechanical act, a
source of distancing between nurses and patients and a barrier
in the communication process.
Social Behavior includes emblematic, illustrating and
regulatory gestures. Emblematic gestures are cultural, learned
and can directly express what is verbally pronounced. These
gestures are supported by different body parts, mainly the
upper limbs and the head. The characteristics of this gestuality
are present in a wide range of cultures (9). In this research, the
most observed gesture was moving one’s hands (67.4%).
People move their hands when they face difficulties to
express themselves or when their efforts to make themselves
understood are enormous (16). Nurses gesticulated to try and
make the blind patient understand what was being expressed.
As blind patients do not have visual capacity, these professionals
need to pay attention to explore other communication forms.
Illustrating gestures are learned through imitation. They
accompany discourse by emphasizing a pronounced word or
sentence (9). This type of gestures refers to the signs sent by the
hands and arms. There may be more than 700,000 different
signs (16). The nurses’ illustrating gestures either complemented
(50%) or did not complement (45.1%) verbal communication.
Regulatory gestures regulate and maintain communication
among people and guide the sender so as to continue, repeat,
elaborate and give opportunity for other persons to speak (16).
No contact/ not observed was identified in 51.4%, eye movements
in 24.1% and head nods in 15.6%, while this aspect was absent
or other categories were observed in 8.9%. Nodding one’s head
reinforces the other person’s discourse and moving one’s eyes
towards that person reinforces discourse, while deviating them
inhibits. These gestures are at the periphery of our awareness
and, therefore, they are difficult to inhibit, ad body movements
are involuntary. The rest of the body and its position towards
other persons reveal what is unconscious in the individual (10).
The face is the most exposed part of the human body,
where emotions are more explicit and more clearly
42
Nonverbal Communication: Aspects Observed During the Nursing Consultations
Rebouças CBA et al
demonstrated. The study of human facial expressions is difficult,
because movements are often extremely subtle and ephemeral
and because they are innate or hereditary, although they can
partially be modified by learning or imitation (17).
Some expressions are easily recognizable, but each person
can judge them differently, depending on his/her imaginative
capacity and way of acting. Expressions are better analyzed
when they are not influenced by imagination. Moreover, facial
muscles are quite confounding. Their physical structure is
very variable, making it difficult to find equal muscles in half a
dozen individuals (17). The study of blind and deaf children’s
facial expressions made it possible to observe smile, laugh, anger
and some other fundamental expressions, which demonstrated
that these behaviors are innate. Moreover, from a cultural point
of view, the main mimic expressions exhibited by people from
different countries display important similarities (18).
The nurses’ facial expressions during the consultations
were either not observed (44.1%), or showed attention (13.7%)
and joy (8.6%), or were absent/other (33.6%). Facial
expressions are interrelated with the context in which the
interaction occurs. The face is also considered as the best “liar”
in non-verbal communication, as it is the body area people are
most aware of and where control attempts are more constant (9).
Face movements grant vivacity and energy to the words, revealing
thoughts and intentions better than words themselves (17). Hence,
nurses mainly need to observe the patients’ face (4).
Blind patients are not capable of visually perceiving what
nurses express through their faceo mais explis exposta do ser
humano e onde as emoçcesso comunicativo./
APOSTILA_COMN_mpreender o mundo d. Nurses, however,
can assess the efficacy of their communication with patients
by observing their facial expressions. However, the blind’s
facial expression can be poor in communicative terms, as they
do not perceive the other person’s expressions, causing
difficulties to communicate these expressions (19). But it is
through this understanding that patients’ real needs are
assessed and an individualized action plan can be programmed,
considering the person as a whole (20). Hence, further
knowledge about non-verbal communication is needed with a
view to an effective interpersonal relationship.
Looks also deserve emphasis in the human face, due to
the wide range of signs they can issue (21). The Visual Code
category is analyzed by ocular opening and eye direction. In
this study, only nurses were observed in this sense, as blind
people do not react to this stimulus. Thus, either contact was
not observed or did not occur (77.2%), or the films showed
joy (4.7%), attention (4.5%), and absent/other (13.9%).
Looks can pass countless messages, including interest,
disinterest, encouragement, attention and joy, and can even
define domain. Another important function of looks is to
establish and regulate the conversation flow (22).
The eyes often reveal what is hidden in the soul and can
arouse emotive feelings like love, sympathy, enthusiasm and
tiredness (23). The eye direction subcategory registered: deviated
from the interlocutor (52.8%), centered on the interlocutor
(44.4%) and absent (2.8%). It is known that maintaining
visual contact means avoiding to deviate one’s look frequently,
which does not mean looking fixedly, as good contact suggests
interest in listening to the other person. Deviating one’s eyes
frequently suggests reluctance or discomfort about being with
the person. When looks are a bit more intense, this suggests
that the person is self-assured, sincere and interactive, which
favors the deepening of the interpersonal relation (11). Nurses
cannot expect the blind to react to a look, as there exists an
obstacle that impedes this visual contact, although this does not
mean a lack of interaction and harmony during care (19).
The fifth category contemplated in the analysis of nurses’
non-verbal communication with blind patients was Voice
Loudness, resulting in: normal tone (66%), silence (32.3%)
and absent/other (1.7%). Tone of voice and gestures reinforce
discourse; they are one of the most elaborate forms of human
interaction (12). The act of listening to other persons is a nonverbal communication attitude inser ted in interpersonal
relations, which is essential to achieve further understanding among
the people involved in the process (24), as human beings are much
more talkative than capable of listening (13). Effective listening
occurs when the receiver is capable of discerning and understanding
the meaning of the message issued by the other (25).
The act of teaching and guiding requires people who learn
and know how to listen (26). Active listening is a technique that
must be learned and practiced, mainly by professionals dealing
with the public, such as nurses in this study (25,26). Nurses need
to actively and critically listen to patients with a view to positive
communication. Listening requires maintaining silence,
demonstrating interest and, mainly, learning how to control
feelings, emotions and prejudices (9).
CONCLUSION
Nurses need to get to know and deepen studies about nonverbal communication theories and adapt its use to the type of
clients they attend during consultations. These professionals
should assess their behavior, gestures and attitudes, in short,
their non-verbal communication, with a view to making effective
interventions involving blind patients. Moreover, nurses should
obtain deeper knowledge about blind people’s behavior in order
to decode the non-verbal signs they send, as these can be
expressed differently from seeing persons.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 38 - 43.
Nonverbal Communication: Aspects Observed During the Nursing Consultations
Rebouças CBA et al
References
1. Mendes IAC. Enfoque humanístico à comunicação em enfermagem.
São Paulo (SP): Sarvier; 1994.
2. Stefanelli MC. Comunicação com o paciente: teoria e ensino. São
Paulo (SP): Robe; 1993.
3. Littlejohn SW. Fundamentos teóricos da comunicação humana. Rio
de Janeiro (RJ): Guanabara; 1998.
4. Silva LMG, Brasil VV, Guimarães HCQCP, Savonitti BHRA, Silva MJP.
Comunicação não-verbal: reflexões acerca da linguagem corporal.
Rev Latino- Am Enferm 2000; 8 (4): 52-8.
5. Rebouças CBA. Características da comunicação não-verbal entre o
enfermeiro e o cego [dissertação de mestrado]. Fortaleza (CE):
Departamento de Enfermagem, Universidade Federal do Ceará; 2005.
6. Resolução no196, de 10 de outubro de 1996. Dispõe sobre
diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres
humanos. Bioética 1996; 4 (supl 2): 15-25.
7. Hall ET. A dimensão oculta. Lisboa(PO): Relógio D’água; 1986.
8. Sawada NO. Dimensão não verbal da interação enfermeiro-paciente
em situação pré-operatória. Ribeirão Preto, 1990. 97p. [dissertação
de mestrado]. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP; 1990.
9. Silva MJP. Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações
interpessoais em saúde. São Paulo (SP): Gente; 1996.
10. Landeros LM. Uso de simulação filmada para avaliar o
relacionamento interpessoal enfermeiro-paciente no cuidado ao adulto
hospitalizado [tese de doutorado]. Ribeirão Preto (SP): Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto/USP; 2004.
11. Leite AM, Silva IA, Scochi CGS. Comunicação não-verbal: uma
contribuição para o aconselhamento em amamentação. Rev LatinoAm Enferm 2004; 12 (2): 258-64.
12. Hall ET. A linguagem silenciosa. Lisboa(PO): Relógio D’água; 1994.
13. Oliveira JVG. Do essencial invisível: arte e beleza entre os cegos.
Rio de Janeiro (RJ): Revan / FAPERJ; 2002.
14. Castro RCBR, Tabet K. O uso do toque como fator de humanização
da assistência de enfermagem em UTI. Anais do 8º Simpósio Brasileiro
de Comunicação em Enfermagem; 2002 maio 2-3, Ribeirão Preto
(SP), Brasil. Ribeirão Preto (SP): EERP/USP; 2002.
15. Araújo STC, Porto IS, Santos I, Santoro DC. Os sentidos corporais
dos estudantes de enfermagem na aprendizagem sociopoética da
comunicação não-verbal do cliente em recepção pré-operatória. Anais
do 8º Simpósio Brasileiro de Comunicação em Enfermagem; 2002 maio
2-3, Ribeirão Preto (SP), Brasil. Ribeirão Preto (SP): EERP/USP; 2002.
16. Davis F. A comunicação não verbal. 4ª ed. São Paulo (SP):
Summus; 1979.
17. Darwin C. A expressão das emoções no homem e nos animais.
São Paulo (SP): Companhia das Letras; 2000.
43
18. Bitti PR, Zani B. A comunicação como processo social. 2ª ed.
Lisboa(PO): Estampa; 1997.
19. Barczinski MCC. Reações psicológicas à perda da visão. Rev
Benjamin Constant [periódico on-line] 2001 abr; [citado 10 jul 2005];
1(18): [aprox. 5 telas]. Disponível em: http://www.ibc.gov.br/Paginas/
Nossos_Meios/RBC/public/RevAbr2001/Artigo%203.rtf
20. Silva MJP. Construção e validação de um programa sobre
comunicação não verbal para enfermeiros [tese de doutorado]. São
Paulo (SP): Escola de Enfermagem/ USP; 1993.
21. Silva MJP. A percepção das enfermeiras sobre a comunicação
não verbal dos pacientes [dissertação de mestrado]. São Paulo
(SP): Escola de Enfermagem/USP; 1989.
22. Mazza VA. A comunicação não-verbal como forma de cuidado de
enfermagem: ensino e prática [dissertação de mestrado]. Curitiba
(PR): Departamento de Enfermagem/ UFP; 1998.
23. Peto AC. Terapia através da dança com laringectomizados: relato
de experiência. Rev Latino-Am Enferm 2000; 8 (6): 35-9.
24. Braga EM. Competência em comunicação: uma ponte entre
aprendizado e ensino na enfermagem [tese de doutorado]. São
Paulo (SP): Escola de Enfermagem/USP; 2004.
25. Freire P. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro (RJ):
Paz e Terra; 1997.
26. Guedes MTS, Figueiredo NMA, Nascimento MAL, Ghidini Junior R.
Transpondo a barreira do silêncio e da solidão do cliente
laringectomizado através das ações de enfermagem. Esc Anna Nery
R Enferm 2004 dez; 8(3): 464-69.
Note
Manuscript derivated of Master Dissertation granted in 2002 (as in
reference 5).
About the Authors
Cristiana Brasil de Almeida Rebouças
RN. M.Sc., Graduate Nursing Program /UFC. Doctoral Student in
Nursing, Ceará Federal University.
Lorita Mar lena FFrr eita
eitagg PPaa g liuca
Full Professor, Nursing Depar tment, UFC. CNPq Researcher.
Coordinator of the LabCom_Saúde Project/ CNPq.
Paulo César de Almeida
Professor. PhD in Statistics, UFC.
Recebido em 23/03/2006
Reapresentado em 06/11/2006
Aprovado em 20/12/2006
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 38 - 43.
44
Avaliação de Enfermagem Acerca de Pacientes com Doença Renal Crônica: Competência para o Autocuidado
Pacheco GS et al
CLIENTES COM DOENÇA RENAL CRÔNICA: AVALIAÇÃO DE
ENFERMAGEM SOBRE A COMPETÊNCIA PARA O AUTOCUIDADO
Clients with Chronic Renal Disease: Nursing Evaluation about
the Competence for the Selfcare
Clientes con Enfermedad Renal Crónica: Evaluación de Enfermería
Sobre la Competencia para el Auto-cuidado
Gilvanice de Sousa Pacheco
Iraci dos Santos
Rachel Bregman
Resumo
O ingresso em terapias dialíticas em condições inadequadas demanda desconforto e sofrimento aos clientes com
doença renal crônica (DRC), além de custos ao sistema de saúde e do trabalho de enfermagem. Visando incentivar
o cliente para a adesão ao tratamento conservador dessa patologia, tem-se como objetivo: avaliar a competência e
o déficit para o autocuidado do cliente com DRC. Implementou-se o método epidemiológico mediante entrevista com
51 clientes do ambulatório de uremia do HUPE/UERJ), em 2005. Evidenciou-se o déficit do conhecimento sobre as
conseqüências da hipertensão arterial e diabetes associados à DRC e os limites na escolha e adesão das terapêuticas
médica, nutricional e de enfermagem. Concluiu-se que dúvidas sobre essa doença permeiam a vida dos clientes e
podem interferir na adesão ao tratamento e comprometer sua qualidade de vida. Esse achado reforça a importância
do ensino do autocuidado para demonstrar seu potencial para enfrentar a DRC.
Pala
vr
as-c
ha
alavr
vras-c
as-cha
havve: Enfermagem. Insuficiência Renal Crônica. Autocuidado.
Abstract
Resumen
The admission in dialysis therapies in inappropriate
conditions demand discomfort and suffering to the clients
with chronicle renal disease (CRD), besides the cost to the
health system and of the nursing work. Aim to encourage
the client for the adhesion to the treatment that preserves
this pathology, it has as objective: to evaluate the competency
and the deficit to the self care of the client with CRD. It was
implanted the epidemiologic method trough interviews with
51 clients of the clinics of uremia of the HUPE/UERJ, in
2005. It became evident the deficit of the knowledge about
the consequences of the arterial hypertension and diabetes
linked to the CRD and the limits in the choice and adhesion of
the medical therapies, nutritional and of nursing. It was
conclude that the doubts about this disease, permeates the
life of the clients and may interfere in the adhesion to the
treatment and to compromise the client’s quality of life. This
found it is a reinforcement to the importance of the self care
learning to demonstrate its potential to face the CRD.
El ingreso en terapias dialíticas en condiciones inadecuadas
demanda incomodidad y sufrimiento a los clientes con
enfermedad renal crónica (ERC), allende costas al sistema
de salud y del trabajo de enfermería. Teniendo en vista
incentivar el cliente para la adhesión al tratamiento
conservador de esta patología, se objetiva: evaluar la
competencia y el déficit para el auto cuidado del cliente con
ERC. Implementóse el método epidemiológico por entrevista
con 51 clientes del ambulatorio de uremia del HUPE/UERJ,
en 2005. Evidencióse el déficit del conocimiento sobre las
consecuencias de la hipertensión ar terial y diabetes
asociados a la ERC y los limites en la elección y adhesión de
las terapéuticas médica, nutricional y de enfermería.
Concluyese que dudas sobre esa enfermedad atravesan la
vida de los clientes y poden interferir en la adhesión al
tratamiento y comprometer su cualidad de vida. Ese hallado
refuerza la importancia de la enseñanza del auto cuidado
para demostrar su potencial para enfrentar la ERC.
Keywords:
Nursing. Chronicle Renal Insufficiency. Self Care.
Palabras clave:
Enfermería. Insuficiencia Renal Crónica. Auto Cuidado.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 44 - 51.
Avaliação de Enfermagem Acerca de Pacientes com Doença Renal Crônica: Competência para o Autocuidado
Pacheco GS et al
INTRODUÇÃO
O cliente iniciante em um programa de diálise é submetido a
muitas mudanças em seu cotidiano, tais como cuidados com a dieta,
controle da ingestão de líquidos, cuidados com a fístula arteriovenosa,
além da necessidade de seguir um programa terapêutico delimitado
por uma escala para cujos dias aprazados é imprescindível seu
comparecimento e adesão. Todas essas mudanças geram estresse e
desencadeiam sentimentos de revolta e conflito nessas pessoas, os
quais interferem na adesão à sua terapia.
Entende-se, então, a importância de se oferecer e
desenvolver um programa de orientação e educação para que
o cliente tenha consciência de sua doença renal, do autocuidado
e escolha da terapia de substituição renal quando ainda se
encontra na fase inicial da doença, acompanhado pelo
tratamento conservador.
OBJETO DE ESTUDO E OBJETIVOS
Com a implementação do programa de orientação e educação
para o autocuidado, pretende-se diminuir a ansiedade do cliente
a respeito do seu tratamento e estimular seu interesse para o
autocuidado e, conseqüentemente, a maior adesão ao tratamento,
com a intenção de torná-lo membro ativo do processo saúdedoença e responsável por sua qualidade de vida.
Nesse contexto, sobreleva-se a concepção de promoção da
saúde explicitada na Carta de Ottawa, adotada durante a
primeira Conferência Internacional sobre Promoção de Saúde1.
Esse documento define promoção de saúde como o processo de
oferecer à população capacidade de implementar o controle sobre
sua saúde e de melhorá-la, e ressalta que a promoção da saúde
ajuda no desenvolvimento individual e social oferecendo
informações, assegurando a educação para a saúde e aperfeiçoando
atitudes indispensáveis à vida, e, dessa forma, permitindo às
pessoas aprenderem e terem controle sobre sua situação.
O intuito, portanto, é propiciar as vantagens referidas,
inclusive lembrando da afirmação de que 2:311: o cuidado
prestado ao cliente em insuficiência renal irreversível na fase
de tratamento conservador, estágio da doença que antecede a
falência total do rim, é pouco discutido se comparado com o
tratamento dialítico ou transplante renal.
Do mesmo modo, ressalte-se o compromisso social do
enfermeiro para com a sociedade que se concretiza na sua prática
social interligada à técnico-científica, administrativa e de
pesquisa, junto aos clientes em regime de internação ou não.
Aqui destaca-se esta prática lembrando-se que 3:123: o enfermeiro
que educa para o autocuidado desenvolve um papel diretamente
político ao facilitar a autonomia de grupos sociais (...).
Neste trabalho, reforça-se que a atuação do enfermeiro
como educador do cliente com doença renal crônica é
indispensável, pois o mesmo é responsável pelas orientações
sobre o autocuidado, tornando-o membro ativo no processo
saúde-doença. Nesse processo educativo é essencial que o
indivíduo seja respeitado em sua totalidade, ou seja,
holisticamente dentro do complexo biopsicossocial.
Para desenvolver essa prática educativa, o enfermeiro
necessita ter, além da fundamentação científica e da
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 44 - 51.
45
competência técnica, conhecimentos dos aspectos que levam
em consideração os sentimentos, as necessidades e desejos
dos clientes sob sua orientação4. Assim, o papel do enfermeiro
é de grande colaboração na tentativa de ajudá-los a adaptarse a um novo estilo de vida.
O desempenho deste papel ressalta a responsabilidade
do enfermeiro, como membro de uma equipe multidisciplinar,
ao identificar os problemas de saúde do cliente com doença
renal e tentando resolvê-los, junto com ele, mediante uma
assistência de enfermagem que proporcione a esta pessoa
uma melhor qualidade de vida2.
Ainda sobre a prática social e educativa, concorda-se com
a seguinte concepção5:86: será a partir da situação presente,
existencial, concreta, refletindo o conjunto de aspirações do
povo, que poderemos organizar o conteúdo programático da
educação ou da ação política. A partir dela determinou-se
como objeto de estudo: a avaliação de enfermagem sobre a
competência para o autocuidado.
Neste trabalho, destaca-se como objetivo: avaliar a
competência e o déficit para o autocuidado do cliente com DRC.
MÉTODO
Escolheu-se o método descritivo, para identificar as
expectativas dos sujeitos sobre o tratamento e competência
para se autocuidar. O referido método consistiu na quantificação
de dados através da estatística descritiva, visando o estudo de
fatos que se relacionam à compreensão de fatores
determinantes para evolução do processo saúde/doença 6.
Após aprovação do Comitê de Ética do Hospital
Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (HUPE/UERJ), iniciou-se a pesquisa mediante
a técnica de observação indireta através da entrevista
orientada por formulário, estruturando-se o instrumento de
coleta de dados com questões objetivas.
Foram entrevistados, em 2005, 51 clientes com DRC
em tratamento conservador, acompanhados pela equipe
multiprofissional, no ambulatório de uremia da disciplina
de nefrologia desta instituição. Em cumprimento às
normas éticas de pesquisa em seres humanos, essas
pessoas foram convidadas e concordaram em par ticipar
da investigação, após ciência dos riscos e benefícios da
mesma. Ressalte-se que as entrevistas ocorreram no
ambulatório de uremia durante o horário de
atendimento, ou seja, na pré ou pós-consulta de saúde.
Foram selecionadas como variáveis do estudo:
conhecimento sobre DRC quanto a: funções dos rins,
complicações da hipertensão arterial sistêmica e diabetes
melito, hábitos de vida para manter PA e controlar a glicemia,
modalidade e periodicidade de exercício físico praticado,
ocorrência da anemia e doença óssea associadas à DRC.
Os dados obtidos na entrevista através do formulário foram
tabulados pelo programa Microsoft Excel ® , tratados
estatisticamente por freqüência absoluta e percentual,
representados em tabelas e descritos em linguagem numérica.
46
Avaliação de Enfermagem Acerca de Pacientes com Doença Renal Crônica: Competência para o Autocuidado
Pacheco GS et al
RESULTADOS
Conhecimento dos sujeitos
sobre HAS e Diabetes
Constatou-se sobre o conhecimento dos clientes que: 41
(80,39%) clientes responderam que a hiper tensão
compromete o coração, 41 (80,39%) clientes responderam
que compromete os rins, 48 (94,12%) clientes responderam
que pode causar derrame, nenhum cliente marcou a opção D
(não acontece nada), e, para a opção “outros”, obtivemos as
seguintes respostas: 1 (1,96%) perda da visão e 1 (1,96%)
falta de ar. Entende-se que, a partir desses resultados, a
maioria dos clientes tem noção das complicações ocasionadas
pelo não-controle da HAS, sendo a complicação mais conhecida
o AVC, comumente designado como “derrame”; entretanto,
percebe-se que 10 clientes desconhecem a doença renal como
conseqüência da hipertensão (Tabela 1).
Tabela 1
Complicações da hipertensão arterial sistêmica, segundo
informações dos clientes. Ambulatório de uremia. HUPE/UERJ.
Rio de Janeiro, 2005.
Complicações
Cardiopatia
Doença renal
AVC
SIM
TOTAL
NÃO
N
%
N
%
N
%
41
41
48
80,39
80,39
94,12
10
10
3
19,61
19,61
5,88
51
51
51
100
100
100
A hipertensão arterial provoca uma agressão mecânica ao
sistema cardiovascular e renal que refletem o alto risco que
apresentam os clientes a desenvolver vasculopatias graves,
tais como as coronariopatias (como exemplo, angina e infarto
do miocárdio) e os acidentes vasculares cerebrais. A hipertrofia
cardíaca, conseqüência da maior quantidade de trabalho
mecânico realizado pelo coração quando a pressão arterial
está elevada, pode ocasionar a insuficiência cardíaca. Outra
complicação é a doença renal crônica devida à exposição do
tecido renal durante muitos anos a altas pressões de perfusão,
acarretando fibrose crônica do parênquima renal e a perda
irreversível da função desse órgão 7, 8.
Nesta pesquisa, os principais sintomas citados pelos
clientes quando estão com a pressão arterial alta são tontura,
12 (23,53%), e cefaléia, 11 (21,57%). Além destes sintomas
apresentados na tabela, identificaram-se outros sintomas
relatados de forma subjetiva por 11 clientes, os quais são: dor
na nuca, visão turva, sensação de levitação, formigamento nas
mãos, enjôo, sangramento pelo nariz, “agonia na cabeça”,
“sangue fervendo no corpo” e “coração batendo no ouvido”.
Portanto, deve-se ouvir com muita atenção a queixa do cliente
quanto a esses sintomas, haja vista que pode indicar que o
cliente não está seguindo a dieta ou tomando os medicamentos,
ou mesmo a necessidade de adequação da dose da medicação,
ou ainda que o cliente pode estar sofrendo problemas
psicossociais (dificuldades financeiras, problemas familiares,
negação da doença), os quais estão influenciando no
controle da pressão arterial.
É importante ressaltar que na maioria dos indivíduos a
hipertensão arterial é absolutamente assintomática. Por isso,
esses clientes devem ser orientados também quanto à
importância da monitorizarão da pressão arterial, que pode
ser feita não só durante a consulta médica, mas também em
domicílio, em postos de saúde ou farmácia, desde que realizada
por profissionais ou pessoas treinadas 8. Considera-se que dessa
forma se pode evitar complicações como AVC, infar to,
insuficiência cardíaca e comprometimento da visão e progressão
da doença renal.
Em relação à pergunta sobre quais medidas de pressão
arterial são consideradas normais, a maioria dos clientes
marcou as opções A e/ou C, embora existisse uma opção que
engloba medidas apresentadas por estas opções, ou seja, a
letra D (< que 140 x 90 mmHg). Considera-se que a maioria
está informada sobre a pressão ideal.
De acordo com as versões das Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão Arterial 9, conceitua-se hipertensão arterial os
valores de pressão sistólica igual ou superior a 140 mmHg ou
de pressão diastólica igual ou superior a 90 mmHg.
Conforme relatado previamente, o controle adequado da
pressão arterial retarda a progressão da DRC. Nos clientes
com doença renal crônica, a pressão arterial deve se manter
<125/75 mmHg, se apresentarem proteinúria > 1g/24horas,
e naqueles com proteinúria <1g/24horas, a pressão arterial
deve se manter < 130/80 mmHg 10.
De acordo com os resultados apresentados na Tabela 2
referente à pergunta sobre o que fazer para manter a pressão
ar terial dentro do limite normal, 3 (5,88%) clientes
responderam somente exercício físico, 49 (96,08%) clientes
marcaram não comer sal, 43 (84,31%) assinalaram não comer
gordura, e 2 (3,92%) acharam correta a opção tomar remédio
apenas quando a pressão estiver alta.
A hipertensão arterial é o fator de risco mais importante
para a perda progressiva da função renal, antecipando o início
do tratamento dialítico; por sua vez, o controle da hipertensão
Tabela 2
Hábitos de vida indicados para manter PA normal, conforme
respostas dos clientes. Ambulatório de uremia. HUPE/UERJ. Rio
de Janeiro, 2005.
Hábitos
de Vida
SIM
NÃO
TOTAL
N
%
N
%
N
%
Só exercício
físico
3
5,88
48
94,12
51
100
Não comer sal
49
96,08
2
3,92
51
100
Não comer
gordura
43
84,31
8
15,69
51
100
Remédio só
qdo a pressão
estiver alta
2
3,92
49
96,08
51
100
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 44 - 51.
Avaliação de Enfermagem Acerca de Pacientes com Doença Renal Crônica: Competência para o Autocuidado
Pacheco GS et al
é a intervenção clínica mais importante para retardar a
progressão para insuficiência renal crônica terminal 11.
O tratamento da hipertensão arterial sistêmica tem como
principal objetivo melhorar a qualidade de vida dos clientes e
diminuir o risco de complicações e pode ser dividido em
tratamento não-medicamentoso e medicamentoso. O primeiro
baseia-se em modificações do estilo de vida e consiste em:
redução da ingestão de sal, prática de exercícios físicos
regulares, controle do estresse, abandono do tabagismo e
eliminação ou redução do consumo de álcool 8,12.
Considera-se relevante informar aos clientes, sobre os
benefícios do uso contínuo dos medicamentos, que, além da
nefroproteção proporcionada pelo uso do inibidor da enzima
conversora de angiotensina (IECA), controlam a hipertensão e
previnem complicações como pico hipertensivo, AVC, infarto e
outras, em decorrência de alguns acreditarem que só devem
usar o medicamento quando a pressão arterial está elevada,
fato comprovado por este estudo em que 3,92% dos clientes
têm essa prática (Tabela 2). Esses clientes correm o risco de
sofrer hipertensão por rebote ocasionada pela interrupção da
terapia medicamentosa, além de favorecer a aceleração da DRC.
Para o sucesso do tratamento e manutenção do bemestar é necessário o entendimento dos clientes sobre a
importância da combinação de hábitos saudáveis e uso
contínuo dos medicamentos.
Quanto à cura da hipertensão arterial, 18 (35,29%) clientes
responderam que acreditam e 33 (64,71%) clientes não acreditam.
Conhecimento dos sujeitos sobre
hábitos de saúde e bem-estar
A resposta dos 51 clientes entrevistados foi unânime ao
considerarem a prática de exercício físico importante para a
sua saúde; no entanto, apenas 20 (39,22%) clientes praticam
exercício físico: 14 (27,45%) clientes fazem caminhada, 3
(5,88%) exercitam-se na bicicleta e 2 (3,92%) realizam
caminhada e bicicleta, e 1 (1,96%) cliente pratica dança
(Tabela 3). A periodicidade varia de 2 a 6 vezes por semana,
e 9 clientes relataram a prática diária (Tabela 3).
A prática de exercício físico regular corresponde a uma das
modificações do estilo de vida essencial para o controle da
hipertensão arterial, do diabetes e das dislipidemias, além de
prevenir complicações e melhorar a auto-imagem e a auto-estima.
O exercício físico aeróbico ou isotônico regular é capaz de
reduzir a pressão arterial, favorecer a perda de peso e/ou
reduzir os fatores de risco cardiovascular. Tais exercícios (andar,
correr, nadar, andar de bicicleta, futebol, dança e outros) devem
ser realizados pelo menos três vezes por semana por um
período mínimo de 40 minutos. Clientes com suspeita de doença
coronária ou com idade superior a 50 anos devem ser,
preliminarmente, submetidos a teste ergométrico. Caso
contrário, devem apenas andar 8,13.
No caso específico de clientes com DRC, a presença de proteinúria
pode ser um fator limitante para a realização de determinados
exercícios; portanto, esses clientes devem ser avaliados
individualmente quanto ao tipo de exercício que podem realizar.
Conhecimento dos sujeitos
sobre complicações em DRC
Nos dados sobre a questão subjetiva a respeito das possíveis
complicações ocasionadas pela dislipidemia, observou-se que a
principal complicação citada por 16 clientes foi o aumento do colesterol,
7 clientes falaram infarto, 4 clientes referiram-se à deficiência ou
perda da função renal e 16 clientes não souberam responder.
Clientes com DRC apresentam um perfil lipídico tipicamente
trombogênico, com elevações dos níveis de triglicérides e reduções
do HDL-colesterol, e devem ser considerados como de alto risco
para doença cardiovascular, ou seja, apresentam risco equivalente
ao dos indivíduos com insuficiência coronariana conhecida. As
alterações do metabolismo lipídico na DRC podem ser observadas
em fases iniciais do declínio da função renal (TFG < 60 ml/min)14.
Indivíduos com hipertrigliceridemia devem ser tratados com
modificações do estilo de vida (dieta, abstinência alcoólica,
tratamento de hiperglicemia, atividade física), e, caso não haja
redução dos níveis até abaixo de 150mg/dl, a utilização de
drogas hipolipemiantes se faz necessária, já o LDL-colesterol
deve ser de 100mg/dl ou menos 14.
Tabela 3
Distribuição da modalidade e periodicidade de exercícios, realizados pelos clientes. Ambulatório de uremia. HUPE/UERJ.
Rio de Janeiro, 2005.
Bicicleta e
Caminhada
Modalidade
Caminhada
Bicicleta
Periodicidade
N
%
N
%
N
%
N
%
N
%
3 vezes / sem
2 vezes / sem
4 vezes / sem
6 vezes / sem
Diariamente
Não praticam
4
3
1
1
5
-
28,57
21,42
7,14
7,14
35,71
-
1
2
-
33,33
66,67
-
2
-
100
-
1
-
100
-
31
100
Total
14
100
3
100
2
100
1
100
31
100
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 44 - 51.
47
Dança
Não Praticam
48
Avaliação de Enfermagem Acerca de Pacientes com Doença Renal Crônica: Competência para o Autocuidado
Pacheco GS et al
De acordo com a análise dos resultados, sobre o tipo de
doença ocasionada devido ao não-controle do nível glicêmico,
percebeu-se que 41 (80,39%) clientes citaram o diabetes
melito. No entanto, 10 (19,61%) clientes não sabiam sobre a
patologia ocasionada pelo não-controle glicêmico.
O DM é uma síndrome decorrente da falta de insulina e/ou
da incapacidade da insulina de exercer adequadamente seus
efeitos. Caracteriza-se por hiperglicemia crônica com distúrbios
do metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas 15.
Em relação ao nível de glicemia ideal em jejum, 16
(31,37%) clientes assinalaram a opção correta (opção B), 25
(49,02%) clientes não responderam e os demais assinalaram
opções incorretas. Nota-se que predominou a clientela
desinformada sobre o nível ideal da glicemia capilar ou
plasmática em jejum, considerada uma das medidas primordiais
para o controle do DM. Recorda-se que nessa pesquisa foram
incluídos clientes com e sem diabetes melito.
A medida da glicose plasmática em jejum, pela sua
praticidade, é o procedimento básico empregado para fazer o
diagnóstico de DM. Níveis de glicemia maior que 110 mg/dl e
menor que 126 mg/dl são categorizados como glicemia de
jejum alterada, e valor maior ou igual a 126 mg/dl é diagnóstico
para diabetes melito15.
Em clientes com nefropatia diabética, são desejáveis valores de
glicemia de jejum entre 80 mg/dl e 120 mg/dl 10. O controle rigoroso
da glicemia é fundamental, haja vista que o controle glicêmico em
clientes com nefropatia clínica, associado a um controle dos níveis
pressóricos, pode reduzir a perda de função renal.
Conforme resultados da Tabela 4 referentes aos cuidados
que o cliente deve tomar para o controle do diabetes melito,
predominou o número de acertos referentes às opções de 1 a
4. Ressalte-se a maioria de 47 (92,16) clientes que
responderam afirmativamente à opção 2, enquanto todos 51
(100%) responderam que não se deve comer doces.
Tabela 4
Hábitos de vida indicados para o controle glicêmico, conforme
respostas dos clientes. Ambulatório de uremia. HUPE/UERJ.
Rio de Janeiro, 2005.
Hábitos
de Vida
SIM
NÃO
TOTAL
N
%
N
%
N
%
Verificar
glicemia capilar
diariamente
40
78,43
11
21,57
51
100
Usar
medicamentos
prescritos
47
92,16
4
7,84
51
100
Seguir dieta
prescrita
46
90,2
5
9,8
51
100
Fazer exercícios
regulamente
42
82,35
9
17,65
51
100
-
-
51
100
51
100
Comer doces
todos os dias
Entretanto, considerando o somatório de 29 (56,14%) sujeitos
que responderam incorretamente, o fato é significativo para
nos certificar de que todos precisam ser orientados sobre a
importância da combinação de todos os cuidados para que o
controle do diabetes melito seja eficiente.
O tratamento para o controle do DM inclui as seguintes
estratégias: educação, modificações do estilo de vida que
compreendem a suspensão do fumo, abandono da bebida alcoólica,
realização de atividade física e reorganização dos hábitos
alimentares, e uso de medicamentos conforme orientação médica.
Quanto à cura do DM, 15 (29,41%) clientes responderam
que acreditam, e 34 (66,67%) clientes não acreditam.
As conseqüências do DM a longo prazo incluem danos,
disfunção e falência de vários órgãos, especialmente rins
(nefropatia), olhos (retinopatia), nervos (neuropatia), coração
e vasos sangüíneos (micro e macroangiopatia). Essas
complicações podem surgir precocemente caso não haja o
controle da doença. A complicação mais conhecida e citada por
18 clientes é o comprometimento ou perda da visão; em segundo
lugar, 11 clientes citaram a amputação de membros e/ou morte.
Identificou-se que 38 (74,51%) clientes assinalaram
associação da anemia e doença renal crônica e 38 (74,51%)
clientes consideraram a ocorrência da doença óssea na vigência
da doença renal crônica. Dois (3,92%) clientes afirmaram que
não ocorre anemia na DRC e 11 (21,57%) clientes não sabiam
responder. Quanto à doença óssea, 3 (5,88%) clientes falaram
que não ocorre a doença óssea na DRC e 10 (19,61%) clientes
não sabiam a resposta (Tabela 5).
Tabela 5
Ocorrência de anemia e/ou doença óssea em pessoas com DRC,
de acordo com as respostas dos clientes. Ambulatório de uremia.
HUPE/UERJ. Rio de Janeiro, 2005.
Ocorrência de
anemia
e doença óssea
Anemia
Doença óssea
Sim
Não
Não sabe
N
38
2
11
%
74,51
3,92
21,57
N
38
3
10
%
74,51
5,88
19,61
Total
51
100
51
100
A anemia e a doença óssea são algumas das principais
complicações surgidas no curso da DRC, particularmente quando
a FG diminui a valores < 60ml/min/1,73m2 16. Portanto,
considera-se importante a orientação dos clientes quanto a
essas complicações para que se sintam motivados para o
autocuidado, haja vista que alguns deixam de seguir as
orientações por desconhecerem as complicações da doença e
os benefícios de seguir as orientações para o controle dela.
A anemia ocorre em todos os clientes com DRC, inicialmente
devido à deficiência da absorção intestinal de ferro e
posteriormente devido à deficiência de eritropoetina, haja vista
que uma das funções do rim é endócrina, em que o mesmo é
responsável pela produção da eritropoetina. Em clientes com
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 44 - 51.
49
Avaliação de Enfermagem Acerca de Pacientes com Doença Renal Crônica: Competência para o Autocuidado
Pacheco GS et al
DRC acompanhados pelo tratamento conservador, pode ocorrer
a resistência à ação da eritropoetina, ou seja, os níveis séricos
de eritropoetina são normais, porém a medula óssea não
responde adequadamente a ela 17.
A anemia estigmatiza o cliente, conferindo-lhe um aspecto
de doente, além de provocar também incapacidade física e
mental, prejudicando de maneira importante sua recuperação
social, sendo responsável pela redução da qualidade de vida 18.
Desse modo, o principal objetivo do tratamento da anemia
na doença renal consiste na promoção do restabelecimento
social do cliente, evitando complicações e proporcionando-lhe
melhor qualidade de vida.
Os rins também têm importante papel na manutenção das
quantidades adequadas de fósforo e cálcio no organismo, pois
esses minerais juntos ajudam a manter os ossos saudáveis. No
cliente com DRC, como os rins não funcionam adequadamente, o
equilíbrio entre esses dois minerais está prejudicado. Assim, a
eliminação de fósforo pela urina diminui, acumulando-se no sangue.
Altos níveis de fósforo no sangue facilitam a retirada de
cálcio dos ossos. Essa situação de desequilíbrio dos dois minerais
pode levar à doença óssea, que provoca dores, enfraquecimento
e quebra dos ossos se não tratada adequada e precocemente.
Dessa forma, o controle dos níveis de fósforo e cálcio é o primeiro
passo para prevenir e tratar essas condições.
Geralmente, a primeira estratégia de controle dos níveis
de fósforo e cálcio é a dieta planejada pelo nutricionista. No
entanto, quando, apesar da restrição dietética, não houver o
controle desses minerais, torna-se necessária a prescrição
médica de quelantes de fósforo, medicamentos ingeridos
junto com a alimentação para evitar a absorção intestinal
do fósforo e conseqüente equilíbrio do cálcio, haja vista
que o aumento dos níveis séricos do fósforo ocasionam uma
queda dos níveis séricos de cálcio2.
Referente ao comprometimento dos rins pela hipertensão
arterial sistêmica, 49 (96,08%) clientes referiram que ocorre
e apenas 2 (3,92%) clientes não souberam responder.
Quanto ao acometimento renal pelo diabetes, 40
(78,43%) clientes afirmaram que pode ocorrer o
comprometimento, 4 (7,84%) clientes falaram que não ocorre
e 7 (13,73%) clientes não souberam responder .
Aproximadamente 25% dos pacientes que são submetidos
à diálise crônica e que necessitam de transplante renal têm
como única causa da insuficiência renal a hipertensão arterial.
Esses dados adquirem ainda maior importância quando a
hipertensão está associada ao diabetes melito19.
A hipertensão arterial compromete principalmente as
estruturas vasculares renais (artérias, arteríolas e capilares
glomerulares). Entretanto, são nas arteríolas e glomérulos
que ocorrem as conseqüências mais sérias da hipertensão
arterial sobre os rins. A parede das arteríolas renais sofre
espessamento das camadas muscular e elástica, reduzindo o
fluxo efetivo para o glomérulo e túbulo interstício.
O diabetes melito constitui-se hoje na primeira causa
de DRC em diversos países e na segunda causa no Brasil.
A nefropatia diabética acomete de 30 a 40% dos
indivíduos com DM tipo 1 e 10 a 40% daqueles com o tipo
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 44 - 51.
2, sendo os glomérulos as principais estruturas renais
acometidas pelo diabetes melito20.
A par tir dessas referências, torna-se evidente o
comprometimento renal pela hipertensão e pelo diabetes, sendo
estes considerados as principais causas da doença renal crônica.
Ressalta-se a importância da prevenção secundária por meio do
controle dos níveis pressóricos e glicêmicos, e dessa forma
considera-se a educação desses clientes para o autocuidado a
ferramenta ideal para incentivá-los à adesão ao tratamento. Tudo
isso tem a finalidade de minimizar as conseqüências da doença
já instalada e adiar o ingresso desses clientes em uma das terapias
de substituição renal, além de prepará-los para que ingressem
em condições clínicas adequadas.
Conhecimento dos sujeitos sobre
função renal e ocorrência da DRC
Quanto às funções dos rins, a Tabela 6 expõe que 26
(50,98%) clientes escolheram a opção A, considerada correta
(filtração, regulação de substâncias necessárias ao organismo
e produção de hormônios). Os demais assinalaram as opções
incorretas; entre eles, 14 (27,45%) clientes optaram pela
letra B, a qual dizia que a função dos rins é somente filtração
do sangue, e 4 (7,84%) clientes assinalaram a opção C
(somente eliminação de substâncias nocivas ao organismo).
Tabela 6
Conhecimento dos clientes acerca das funções dos rins.
Ambulatório de uremia. HUPE/UERJ. Rio de Janeiro, 2005.
N
%
26
50,98
14
27,45
4
7,84
Não sabe
7
13,73
Total
51
100
Funções dos rins
A) Filtração, regulação de
substâncias necessárias
ao organismo e
produção de hormônios.
B) Somente filtração do
sangue
C) Somente eliminação de
substâncias nocivas ao
organismo
O rim possui duas funções: função endócrina e
homeostática21
- Função endócrina: consiste na produção de hormônios
como renina, 1,25 diidroxicalciferol e eritropoetina 21.
- Função homeostática: manutenção de um volume
hídrico adequado, a qual ocorre em função da excreção de
água e solutos; regulação da concentração de íons como
sódio, potássio, cloreto, bicarbonato, magnésio e fosfato;
manutenção do pH, contando também com o auxílio do
50
Avaliação de Enfermagem Acerca de Pacientes com Doença Renal Crônica: Competência para o Autocuidado
Pacheco GS et al
pulmão; manutenção da concentração adequada de
metabólitos, devida à capacidade de reabsorção presente
nos túbulos renais; eliminação de produtos do metabolismo
como uréia, ácido úrico e timina, além de drogas ou
substâncias tóxicas presentes nos alimentos, em função da
capacidade de excreção renal 21.
Perguntou-se quando a doença renal ocorre, e 37
(72,55%) clientes optaram pela resposta correta, opção A;
no entanto, os demais clientes demonstraram desconhecimento
a respeito deste assunto.
A doença renal crônica caracteriza-se pela incapacidade
dos rins de remover os produtos de degradação metabólica do
corpo ou de realizar as funções reguladoras. As substâncias
normalmente eliminadas pela urina ficam retidas no sangue
em conseqüência da excreção renal comprometida e levam a
uma ruptura das funções endócrinas e metabólicas, bem como
a distúrbios hidroeletrolíticos e acidobásicos 22.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Alcançando-se o objetivo referente à pré-avaliação,
identificaram-se o déficit e o conhecimento dos clientes acerca
da hipertensão arterial sistêmica e do diabetes melito (inclusive
a crença na cura dessas patologias), conhecimento acerca das
complicações da dislipidemia, modalidade de exercício físico
praticada, atividade de lazer desenvolvida, hábitos de higiene
corporal, conhecimento acerca das funções dos rins, da anemia
e doença óssea associadas à DRC. Concluiu-se, através dos
dados produzidos na pré-avaliação, que, para os clientes, as
principais complicações da HAS são AVC, DRC e cardiopatia.
Apesar de os clientes estarem cientes da não-ingestão de
gordura e sal para o controle da pressão arterial, identificouse um déficit de autocuidado, haja vista que poucos clientes
afirmaram só tomar remédio quando a pressão estava alta,
Referências
1. Brienza AM, Mishimia SM, Frederico P, Clápis MJ. Grupo de reeducação
alimentar: uma experiência holística em saúde na pespectiva familiar.
Rev Bras Enferm 2002 nov /dez; 55(6): 697-700.
2. Lima EX.Atenção de enfermagem em nefrologia clínica e cirúrgica e
o cuidar dialógico em transplante renal. In: Santos I, Figueiredo NMA,
Padilha MICS, Cupello AJ, Souza SROS, Machado WCA. Enfermagem
assistencial no ambiente hospitalar: realidade, questões, soluções.
São Paulo (SP): Atheneu; 2004. p.311-40.
3. Gauthier J, Hirata M. A enfermeira como educadora. In: Santos I,
Figueiredo NMA, Duarte MJRS, Sobral VRS, Marinho AM. Enfermagem
fundamental: realidade, questões, soluções. São Paulo(SP): Atheneu;
2001. p.123-41.
4. Cesarino CB, Casagrande LDR. Paciente com insuficiência renal crônica
em tratamento hemodialítico: atividade educativa do enfermeiro. Rev
Latino-Am Enfermagem 1998; 6 (4): 31-40.
5. Freire P. Pedagogia do oprimido. 36. ed. Rio de Janeiro(RJ):
Paz e Terra; 2003.
enquanto a minoria considerou somente o exercício físico
importante no controle da pressão arterial.
Quanto aos hábitos de saúde e lazer, conclui-se que todos
consideraram o exercício físico importante, embora poucos o
praticassem, sendo a caminhada e a bicicleta, ou ambas, as
modalidades mais praticadas.
Evidenciou-se que um menor percentual de clientes
considerou a verificação regular da glicemia capilar e o exercício
físico importantes para o controle do DM.
A maioria dos clientes demonstrou estar ciente do
comprometimento renal pelo DM e pela HAS, bem como da
ocorrência da anemia e doença óssea na DRC.
Apenas a metade dos clientes respondeu corretamente
sobre todas as funções dos rins, apesar da predominância
daqueles que acertaram sobre a origem da DRC.
Considera-se que é preciso que os clientes tenham
consciência do seu potencial para se autocuidar, pois partese do princípio de que as pessoas não estão por completo
doentes, dentro delas existe um núcleo saudável. Estes
sujeitos devem ser incentivados para perderem a noção de
passividade e tornarem-se protagonistas do seu próprio
cuidado, este é um ato de cidadania.
A educação à saúde é um direito de cidadania, muitas vezes
não garantido pela instituição de saúde por questões
financeiras, políticas e até por falta de conhecimento dos
profissionais sobre sua importância para favorecer a adesão
do cliente ao tratamento, garantindo-lhes qualidade de vida,
além de reduzir os custos do sistema de saúde 23.
Entre os resultados, observou-se o conhecimento dos clientes
sobre seus próprios limites na escolha e adesão das terapêuticas
médica, nutricional e de enfermagem, fato que leva à reflexão
sobre o imperativo de se buscar entender o cotidiano do cliente e
seus modos de viver a vida e sobreviver com a DRC. O ensino do
autocuidado, portanto, deve valorizar os saberes, as vozes, a cultura
e as forças de luta pela vida das pessoas, conduzindo-as à sua
autonomia em questões de bem-estar e bem viver .
6. Pereira MG. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro(RJ):
Guanabara Koogan; 1995.
7. Heimann JC, Krieger JE, Zatz R. Fisiopatologia da hipertensão arterial.
In: Zatz R. Fisiopatologia renal. São Paulo(RJ): Atheneu; 2002. p. 173-88.
8. Almeida FA, Rodrigues CIS. Hipertensão arterial primária. In: Riella
MC. Princípios de nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos. 4ª ed. Rio
de Janeiro(RJ): Guanabara Koogan; 2003. p.730-56.
9. IV Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial. Sociedade Brasileira
de Hipertensão. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Sociedade
Brasileira de Nefrologia. Campos do Jordão(SP); 2002.
10. Bregman R. Prevenção da progressão da doença renal crônica
(DRC). In: Sociedade Brasileira de Nefrologia. Diretrizes de condução
de doença renal crônica.[on-line] [citado 27 de julho de
2004.Disponível em: http://www.sbn.org.br.
11. Pereira ERS, Pascoal IF, Mion Junior D. Hipertensão arterial e
doença renal parenquimatosa. In: Riella MC. Princípios de nefrologia e
distúrbios hidroeletrolíticos. 4ª ed. Rio de Janeiro(RJ): Guanabara
Koogan; 2003. p. 769-86.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 44 - 51.
Avaliação de Enfermagem Acerca de Pacientes com Doença Renal Crônica: Competência para o Autocuidado
Pacheco GS et al
12. Tavares A, Ribeiro AB, Rodrigues CJO. Hipertensão arterial:
diagnóstico e tratamento. In: Ajzen H, Schor N. Guia de medicina
ambulatorial e hospitalar de nefrologia. 2ª ed. São Paul(SP): Manole;
2005. p. 171-82.
13. Berlin J.A, Colditz GA. A meta-analysis of physical activity in the prevention
of coronary heart disease. Am J Epidemiol 1990; 132: 612-28.
14. Batista M, Oliveira CJR. Alterações metabólicas. In:
Sociedade Brasileira de Nefrologia. Diretrizes de condução de
doença renal crônica. [on-line] [citado 27 julho
2004].Disponível em: http://www.sbn.org.br.
15. Gross JL, Ferreira SRG, Franco LJ, Schimidt MI, Motta DG, Quintão
E. Consenso: diagnóstico e classificação do diabetes melito e
tratamento do diabetes melito tipo 2. Arq Bras Endocrinol Metab
2000; 44(4):1-32.
16. Batista LKC, Pinheiro HS, Fuchs RC, Oliveira T, Belchior FJE, Galil
AGS. Manuseio da doença renal crônica em pacientes com hipertensão
e diabetes. J Bras Nefrol 2005; 27(1): 8-14.
17. Mcgonigle RJ, Wallin JD, Shadduck RK et al: Erythropoietin
deficiency na inhibition of erythropoiesis in renal insufficiency. Kidney
Int 1984; 25: 437-44.
18. Abensur H, Alves MAR. Diretrizes da Sociedade Brasileira de
Nefrologia para a condução da anemia na insuficiência renal crônica.
J Bras Nefrol 2000; 22 (5):1-3.
19. Almeida FA, Rodrigues CIS. Hipertensão arterial primária. In: Riella
MC. Princípios de nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos. 4ª ed. Rio
de Janeiro(RJ): Guanabara Koogan; 2003. p.730-56.
20. Kohlmann Jr O, Zanella MT. Nefropatia diabética: diagnóstico e
tratamento. In: Ajzen H, Schor N. Guia de medicina ambulatorial e hospitalar
de nefrologia. 2ª. ed. São Paulo(SP): Manole; 2005. p.359-366.
51
21. Boim MA, Teixeira VPC, Schor N. Rim e compostos vasoativos. In:
Zatz R. Fisiopatologia renal. São Paulo(SP): Atheneu; 2002. p. 21-39.
22. Smeltzer SC, Bare BG. Tratamento de pacientes com distúrbios
urinários e renais. In: Smeltzer SC. Brunner& Suddarth: Tratado de
Enfermagem Médico-Cirúrgica 9ª ed. Rio de Janeiro(RJ): Guanabara
Koogan; 2002 . v. 3 p. 1086-1134.
23. Pacheco GS. O ensino do autocuidado junto a clientes com doença
renal crônica em tratamento conservador: estudo epidemiológico e
sociopoético [dissertação de mestrado]. Rio de Janeiro (RJ): Faculdade
de Enfermagem/UERJ; 2005.
24. Santos I, Figueiredo NMA. A enfermagem como instituição
hospitalar. In: Santos I, Figueiredo NMA, Padilha MICS, Cupello AJ,
Souza SROSS, Machado WCA. Enfermagem assistencial no ambiente
hospitalar. Rio de Janeiro(RJ): Atheneu p. 93-104.
Sobre as Autoras
Gilvanice de Sousa Pacheco
Mestre em Enfermagem (FENF/UERJ). Especialista em Enfermagem
em Nefrologia (Universidade Gama Filho/RJ). Especialista em
Enfermagem Clínico-Cirúrgica (UFMA) e Saúde Pública (UNAERP). Email: gilvanicepacheco@yahoo.com.br
Iraci dos Santos
Doutora em Enfermagem. Profª Titular da Universidade do Rio de
Janeiro (UERJ). Professora do Programa de Mestrado em Enfermagem
da UERJ.
Rachel Bregman
Doutora em Nefrologia. Profª da Disciplina de Nefrologia da Faculdade
de Medicina da UERJ.
Recebido em 21/03/2006
Reapresentado em 10/11/2006
Aprovado em 03/01/2007
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 44 - 51.
52
Grupos Operativos de Aprendizagem nos Serviços de Saúde
Soares SM et al
GRUPOS OPERATIVOS DE APRENDIZAGEM NOS
SERVIÇOS DE SAÚDE: SISTEMATIZAÇÃO DE
FUNDAMENTOS E METODOLOGIAS
Operative Groups of Learning in the Health Services:
Basis and Methodologies Systematization
Los Grupos Operativos de Aprendizaje en los Servicios de Salud:
Sistematización de Fundamentos y Metodologías
Sônia Maria Soares
Aidê Ferreira Ferraz
Resumo
Trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa, modalidade estudo de caso, que teve como objetivo analisar a
aplicação da teoria e da metodologia dos grupos operativos, proposta por Pichon-Rivière em grupos de portadores de
doenças crônico-degenerativas. Foi desenvolvida em um hospital universitário da cidade de Belo Horizonte – Minas Gerais/
Brasil, por meio de entrevistas e observação direta de um grupo de sete adultos com diabetes tipo 1, com idade entre 18
e 45 anos, durante os encontros no grupo operativo. A análise dos dados fundamentou-se no referencial dos indicadores do
processo grupal, propostos por Pichon-Rivière (1998): afiliação e pertença, cooperação, comunicação, aprendizagem e
pertinência. A aplicação da teoria e da metodologia proposta por Pichon-Rivière permitiu ao coordenador do grupo
operativo e às pesquisadoras ampliar o olhar em relação à dinâmica grupal, o que contribuiu para que os conteúdos
subjetivos, implícitos nas interações dos participantes fossem trabalhados, mas não verbalizados. Além disso, os indicadores
do processo grupal permitiram reavaliar e adaptar o desenvolvimento do grupo operativo, norteando as ações desenvolvidas
a cada encontro. Fundamentadas nos achados deste estudo, as autoras acreditam que esta pode ser uma estratégia eficaz
para os profissionais de saúde, na construção de modelos que envolvam trabalhos com grupos.
Pala
vr
as-c
ha
alavr
vras-c
as-cha
havve: Estrutura de Grupo. Serviços de Saúde. Diabetes Mellitus.
Abstract
Resumen
It is a research with qualitative approach, case study modality,
witch had as purpose to analyze the theoretical application
and the methodology of the operative groups, proposed by
Pichon-Rivière in groups of people carrier of chronic
degenerative disease. The research was developed in a
universitarian hospital of Belo Horizonte city – Minas Gerais/
Brazil, by interview and direct observation of a group of
seven adults with diabetes type 1, in age between 18 and 45
years old, during the meetings of the operative group. The
analysis of the data was based in the indicatives of the group
process referential, proposed by Pichon-Rivière (1998):
affiliation and related, cooperation, communication, learning
and importance. The application of the theory and of the
methodology proposed by Pichon-Rivière allowed to the
coordinator of the operative group and to the researchers
to amplify the view about the group dynamics, what has
contributed to the subjective contents, implicit in the
participants’ interaction was worked, but not verbalized.
Besides this, the indicatives of the group process allowed to
re-evaluate and to adapt the development of the operative
group, guiding the developed actions in every encounter.
Based in the founds of this study, the authors believe that this
could be a, effectual strategy to the health professionals, in
the construction of models that could involve group works.
Tratase de una investigación con abordaje cualitativa, modalidad
estudio de caso, que tubo como objetivo analizar la aplicación
de la teoría y de la metodología de los grupos operativos,
propuesta por Pichon-Rivière en grupos de portadores de
enfermedades crónico-degenerativas. Fue desarrollada en un
hospital universitario de la ciudad de Belo Horizonte – Minas
Gerais/Brasil, por medio de entrevistas y observación directa
de un grupo de siete adultos con diabetes tipo 1, con edad
entre 18 y 45 años, durante el encuentro en el grupo operativo.
El análisis de los datos fue fundamentado en el referencial de los
indicadores de proceso grupal, propuestos por Pichon-Rivière
(1998): afiliación y pertenencia, cooperación, comunicación,
aprendizaje y pertinencia. La aplicación de la teoría e de la
metodología propuesta por Pichon-Rivière permitió al
coordinador del grupo operativo y a las investigadoras ampliar
el mirar en relación a la dinámica grupal, lo que contribuyó para
que los contenidos subjetivos, implícitos en las interacciones de
los participantes fuesen trabajados, pero non verbalizados. A
más de los indicadores del proceso grupal permitieran reevaluar
y adaptar el desarrollo del grupo operativo, norteando las acciones
desarrolladas a cada encuentro. Fundamentadas en los hallados
de este estudio, las autoras acreditan que esta puede ser una
estrategia eficaz para los profesionales de salud, en la construcción
de modelos que envuelvan trabajos con grupos.
Keywords:
Group Structure. Health Services. Diabetes Mellitus.
Palabras clave:
Estructura de Grupo. Servicios de Salud. Diabetes Mellitus.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 52 - 7.
53
Grupos Operativos de Aprendizagem nos Serviços de Saúde
Soares SM et al
INTRODUÇÃO
OBJETIVO
Uma longa tradição tem marcado a utilização de grupos na
área da saúde. Na década de 1970, os grupos denominados
operativos ganharam a atenção dos profissionais de saúde pelo
seu grande potencial de aplicabilidade e pela sistematização
que traziam para o processo grupal1,2.
A organização de grupos como modalidade de atenção
coletiva à população tem sido cada vez mais freqüente nos
serviços de saúde, o que se pode verificar pela participação de
muitos clientes em vários grupos nos centros de saúde.
Em geral, esses grupos têm como critérios organizadores
o tipo de doença, a idade e outros. Dentre os benefícios dessa
modalidade de atendimento destacam-se: maior otimização
do trabalho com a diminuição das consultas individuais,
participação ativa do cliente no processo educativo e o
envolvimento da equipe de profissionais com o cliente.
Entretanto, percebe-se a falta de referências teóricas e
metodológicas que orientem as ações dos profissionais na
coordenação de grupos nos serviços de saúde.
É indispensável aos profissionais de saúde a discussão e a
aprendizagem sobre os fenômenos grupais, com a finalidade
de compreender os fundamentos teóricos da dinâmica grupal e
ampliar o seu olhar sobre o grupo.
As doenças crônico-degenerativas vêm merecendo, por
parte do setor saúde, atenção cada vez maior, seja pela sua
elevada prevalência em nosso meio, como também pelo alto
custo que representam para os serviços de saúde. O diabetes
mellitus, por exemplo, é hoje um dos mais significantes
problemas de saúde pública, tanto em número de pessoas
afetadas quanto em número de incapacitações e mortalidade
prematura. Segundo dados do Ministério da Saúde3, sabe-se
que mais de 40% da clientela atendida na rede básica é
prioritariamente composta de pessoas acometidas por
doenças crônico-degenerativas.
É nesse contexto que os serviços de saúde têm enfatizado
a importância do atendimento a essa clientela, seja no âmbito
da atenção individual, seja no da coletiva, como é o caso dos
grupos operativos. A partir desse quadro, o Ministério da Saúde,
em parceria com as Secretarias Estaduais, Municipais e a
Estratégia de Saúde da Família em todo território nacional,
criou, em novembro de 2000, o Plano de Reorganização da
Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus3 com a
finalidade de capacitar os profissionais de saúde que atuam na
área da atenção básica, destacando-se nessa proposta a
especificidade do trabalho com grupos operativos e a sua
importância no acompanhamento e no controle do cliente.
Diante do exposto, este estudo poderá ser um elemento
facilitador para a construção e a sistematização de metodologia
visando à sua aplicação mais definida para a educação
permanente de profissionais e a formação do estudante na
área da saúde. Assim, evidencia-se a necessidade de
sistematização de metodologias com a finalidade de capacitar
os profissionais de saúde para esse tipo de intervenção.
Analisar a aplicação da teoria e da metodologia dos grupos
operativos, proposta por Pichon-Rivière em grupos de
portadores de diabetes mellitus e sua contribuição à assistência
e ao ensino na área da saúde.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 52 - 7.
REFERENCIAL TEÓRICO
Foi Pichon-Rivière4, psiquiatra e psicanalista argentino,
quem elaborou, na década de 1940, a teoria do grupo
operativo. Ele definiu o grupo como um conjunto de pessoas,
ligadas no tempo e espaço, articuladas por sua mútua
representação interna, que se propunham, explícita ou
implicitamente, a uma tarefa, interatuando em uma rede de
papéis com o estabelecimento de vínculos entre si. Assim, a
teoria dá grande importância aos vínculos sociais, que são a
base para os processos de comunicação e aprendizagem,
considerando que o ser humano é essencialmente um sujeito
social. O grupo se põe como uma rede de relações com base
em vínculos entre cada componente e todo o grupo e vínculos
interpessoais entre os participantes4 .
O grupo se une em torno de uma tarefa, que é compreendida
em nível consciente, mas que também implica uma dimensão
afetiva que existe no inconsciente do grupo. Assim, um nível de
funcionamento do grupo é lógico e relacionado à tarefa e outro
está envolvido com as emoções e a dinâmica psíquica do grupo,
seus medos e fantasias. Os objetivos conscientes do grupo
delimitam a sua tarefa externa. Mas ele também tem uma
tarefa interna, que é trabalhar com os processos vividos, em
nível consciente e inconsciente, que dificultam ou mesmo
impedem a realização da tarefa externa4,5.
Conforme nos explicam Portarrieu e Tubert-Oaklander6, o
grupo operativo constitui uma modalidade de processo grupal
que, em princípio, deve ser: dinâmico - permitindo-se o fluir da
interação e da comunicação para fomentar o pensamento e a
criatividade; reflexivo – uma parte da tarefa é a reflexão sobre
o próprio processo grupal, particularmente quando se trata de
compreender os fatores que obstruem a tarefa; e democrático
quanto à tarefa – o grupo origina suas próprias ações e
pensamentos, em um princípio de autonomia.
Todo grupo, ao formular seus objetivos, se propõe a uma
mudança ou realização de uma tarefa; mas também apresenta
um grau menor ou maior de resistência a essa mudança,
diante da qual evidenciam-se os medos básicos de perda e de
ataque; isto é, de um lado, o medo de perder o que já se tem
– até mesmo a própria identidade – e que se relaciona a uma
ansiedade depressiva, e, de outro, o medo do desconhecido,
que se liga a uma ansiedade paranóica ou persecutória. Tal
resistência à mudança provoca entraves psíquicos e afetivos
à aprendizagem e à comunicação no grupo. Inspirado no
filósofo Gaston Bachelard, Pichon-Rivière denomina esses
entraves de obstáculos epistemofílicos4,5,6,7. Obstáculos que
representam as dificuldades de apreender um objeto de
conhecimento para efetuar uma leitura correta da realidade.
54
Os processos vividos no grupo geram uma ressonância, ou
seja, o processo individual entra no campo grupal provocando
identificações e reações em cadeia, conforme a distância psíquica
entre os membros. Assim, um membro serve de suporte para
processos psíquicos de outros membros e do grupo4,5,6.
Conseqüentemente, o trabalho com o grupo visa à integração
de duas dimensões: a verticalidade, que se refere à história de
cada participante, e que o leva a uma reatualização emocional
no grupo e a um processo transferencial; e a horizontalidade,
que se refere ao campo grupal, consciente e inconsciente, que
vai sendo modificado pela ação e interação dos membros4,5.
No grupo operativo, instrumentaliza-se um processo que
passa fundamentalmente pela diminuição dos medos básicos,
com o fortalecimento do Eu e uma adaptação ativa à realidade.
Hierarquiza-se, como tarefa grupal, a construção de um
Esquema Conceitual, Referencial e Operativo (ECRO) comum,
condição necessária para a comunicação e a realização da
tarefa. A tarefa depende, portanto, do campo operativo do
grupo: sua percepção, sua interação, sua linguagem4,5,6.
Mas, se a realização da tarefa acrescenta experiência ao
grupo, ela também o força a rever seus conflitos e formas de
organização, de forma que o processo grupal envolve uma
constante desestruturação e reestruturação desse campo e
dos sujeitos nele envolvidos4.
No processo do grupo, há os momentos da pré-tarefa, da
tarefa e do projeto. A pré-tarefa é o momento em que
predominam mecanismos de dissociação, com a finalidade de
defender os sentimentos de culpa e ambivalência, a situação
depressiva básica, as dificuldades de tolerância, a frustração
e a postergação. A tarefa é o momento em que se rompe a
estereotipia e se elabora a pré-tarefa, avançando na elaboração
de seu objetivo. Nesse momento, alcança-se maior
operatividade e criatividade, podendo-se sistematizar
objetivos e realizar tarefas propostas e/ou novas. No momento
do projeto, uma vez alcançado um nível de operatividade, o
grupo pode se planejar3,4,5,6.
O grupo vai se tornando mais consciente e flexível quanto
aos seus papéis, centrando-se no rompimento de estereótipos
e na modificação de vínculos internos e externos. Centra-se
no campo grupal. Cada indivíduo, ao expressar-se, é portavoz de uma dimensão ou especificidade do campo grupal7,8.
Esses momentos do grupo não seguem uma lógica linear e
cumulativa. Pelo contrário, todo gr upo apresenta
ambivalências, regressão, dispersão diante da constante
demanda de sustentar seu processo e refletir sobre ele. Isso
significa que ele tem de estar continuamente se reorganizando
e se recriando. Ou seja, é necessário que se proceda a revisão –
em um sentido imaginário, a destruição – de seus ideais para
que se possa reconstruí-los no contexto, procurando a realização
da tarefa. Pichon-Rivière4 aponta então para uma recriação do
objeto destruído, isto é, a recuperação de uma imagem do grupo
e dos seus objetivos, mas sempre de forma renovada4,7.
Pichon-Rivière apresenta a concepção de uma espiral
dialética relativa aos momentos do grupo, ou seja, diante da
situação grupal, uma interpretação é gerada e provoca uma
desestruturação, e, a seguir, o grupo responde tentando se
Grupos Operativos de Aprendizagem nos Serviços de Saúde
Soares SM et al
transformar para dar conta de seu processo, passando por uma
reestruturação, em uma nova situação (“emergente”). Cada
ciclo abrange e supera o anterior4,6,8,910.
A espiral dialética4 abrange o todo do processo grupal,
como um movimento constante entre processos internos ao
grupo. Esse movimento pode ser observado tomando como
referência os indicadores do processo grupal, quais sejam:
afiliação/per tença, comunicação, cooperação, tele,
aprendizagem e pertinência.
A afiliação e a pertença dizem respeito ao grau de
identificação dos membros do grupo entre si e com a tarefa.
Enquanto a afiliação indica apenas uma aquiescência em
pertencer ao grupo, a pertença envolve um sentimento de
identificação com o grupo. A pertença possibilita a identidade,
mas também contém a diferenciação. A afiliação e a pertença
são indicadores básicos para o desenvolvimento dos outros
processos no grupo.
A cooperação pressupõe ajuda mútua e se dá mediante o
desempenho de diferentes papéis e funções. Na tentativa de
articular demandas do grupo e dos indivíduos, muitas vezes
surge a competição. A flexibilização dos papéis é uma forma de
se trabalhar esse problema, buscando a “co-operatividade”.
“Co-operar” não significa não discordar ou confrontar, mas, sim,
atuar quando se é cúmplice (ou não ser cúmplice daquilo de
que se discorda). Cooperação e comunicação interligam-se e
favorecem a aprendizagem.
A comunicação é um processo que leva em conta as redes
de comunicação no grupo, contendo possibilidades e entraves.
Envolve também o conflito e a necessidade de trabalhar sobre
ele. É preciso elaborar o que se chama de “mal-entendido”, que
está associado a conflitos diversos, tanto aqueles relacionados
à organização do grupo quanto os concernentes a conflitos
psíquicos7 8,9. A aprendizagem vai além da mera incorporação
de informações e pressupõe o desenvolvimento da capacidade
de criar alternativas – por meio dela percebe-se o grau de
plasticidade grupal diante dos obstáculos e da criatividade para
superar as contradições e mesmo integrá-las. Com a atenuação
da ansiedade básica, o grupo pode operar melhor seus afetos e
sua tarefa. A aprendizagem está inter-relacionada à
comunicação, e o grupo precisa compreender seus obstáculos à
comunicação para analisar os obstáculos à aprendizagem. Ao
mesmo tempo, é apenas na dimensão da tele que o grupo
consegue deslanchar todos os seus outros processos.
A tele caracteriza a disposição positiva ou negativa dos membros
do grupo entre si. Refere-se às relações no grupo tais como são
percebidas e vividas. É uma disposição para atuar em conjunto e,
assim, pode ser positiva ou negativa. As percepções entre os membros
do grupo estão vinculadas aos processos transferenciais. Assim, a
tele aparece como uma rede de transferências.
É importante assinalar que, para Pichon-Rivière4, o que se
encontra no grupo não é uma neurose transferencial, mas, sim,
processos transferenciais em uma rede de relações. A
transferência é um processo de atribuição de papéis ao outro
com base nas expectativas inscritas na vida psíquica do sujeito.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 52 - 7.
55
Grupos Operativos de Aprendizagem nos Serviços de Saúde
Soares SM et al
Comporta a reprodução de sentimentos inconscientes, que
indica a reprodução estereotipada de situações, característica
de uma forma de adaptação passiva, na qual o sujeito se vê
atado a conflitos psíquicos não trabalhados. Essa reprodução
tem o efeito de proteger contra o medo da mudança e, portanto,
de fortalecer a resistência a ela4,7.
A pertinência refere-se à produtividade do grupo, à sua
capacidade de centrar-se em seus objetivos, de forma coerente
com seus outros processos. A realização de objetivos em um
contexto requer pertinência do agir, que se afasta tanto do
conformismo quanto da ruptura total do contexto.
Esses processos do grupo não são estanques e nem lineares.
Há um constante ir-e-vir entre os momentos. Para PichonRivière4, são aspectos do processo grupal que interatuam de
forma dinâmica permitindo mudanças no seu desenvolvimento.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa na abordagem qualitativa na
modalidade de estudo de caso. O estudo foi desenvolvido no
serviço de endocrinologia de um hospital universitário de
Belo Horizonte - MG/Brasil.
A coleta de dados constou de entrevista durante a consulta
de enfermagem e observação de um grupo de sete adultos,
sendo cinco mulheres e dois homens com diabetes mellitus tipo
1, na faixa etária entre 18 e 45 anos, no período de novembro de
2003 a julho de 2004. Os princípios ético-legais foram observados
conforme previsto na Resolução 196/96 do Conselho Nacional
de Saúde. As atividades grupais foram desenvolvidas em
encontros quinzenais, compreendendo as seguintes etapas:
identificação dos clientes diabéticos para inserção no grupo;
planejamento das atividades do grupo; observação e descrição
do processo grupal; e elaboração e reflexão desse processo.
Inicialmente, cada cliente foi submetido a uma avaliação
individual por meio da consulta de enfermagem, onde foram
levantados os principais fatores de risco para o aparecimento
de complicações agudas e crônicas, além de ser avaliado o seu
potencial para o autocuidado. As etapas subseqüentes
constaram de atividades grupais, nas quais foram discutidas
crenças em relação ao diabetes, os sentimentos que emergiram
após o diagnóstico, temas relativos ao autocuidado para o
controle da doença, riscos de complicações agudas e crônicas.
Os participantes foram submetidos a uma segunda consulta
de enfermagem três meses após o início do trabalho de campo,
com a finalidade de avaliar o controle da doença e o impacto
imediato da sua inserção no grupo. Nessa etapa foram utilizados
jogos educativos para avaliar os indicadores relacionados ao
processo grupal e o seu potencial para o autocuidado.
Os grupos foram conduzidos pela pesquisadora e uma aluna
do curso de graduação de Enfermagem, que atuou como
observadora do grupo operativo, registrando cada encontro e
elaborando relatórios de campo. A observação foi feita mediante
o registro cursivo das reuniões do grupo, considerando os
indicadores do processo grupal propostos por Pichon- Rivière4.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 52 - 7.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Caracterização do grupo
Cinco participantes do grupo dedicavam-se ao trabalho
doméstico, um era aposentado por invalidez e outro trabalhava
como cobrador de ônibus. O nível de escolaridade de seis
participantes é o ensino fundamental incompleto, apenas uma
participante tinha o curso superior incompleto. O tempo de
diagnóstico da doença foi bem diversificado, sendo que três
pessoas tinham mais de cinco anos de convivência com a
doença, enquanto os demais tinham menos de dois anos.
Demanda e formação dos grupos
Observou-se que o critério organizador do grupo apoiavase nos seguintes aspectos: o diagnóstico de diabetes mellitus,
a idade, o processo de tratamento, a avaliação dos resultados
de exames e o tempo de convivência com a doença.
Desde o primeiro encontro foi formalizado o contrato com o
grupo, no qual foram definidos como e quando seriam realizadas
as reuniões, os horários, os temas que seriam trabalhados, as
expectativas dos participantes e a apresentação do coordenador.
A forma de organização do grupo confirmava que a
patogênese era o eixo norteador para abordagem clínica do
mesmo com enfoque no modelo biomédico e na doença11, 12.
Desenvolvimento do grupo
O desenvolvimento do grupo ocorreu nas seguintes etapas:
primeiro, cada participante foi avaliado individualmente para a
realização do exame de glicemia capilar, controle de peso e sinais
vitais. Em seguida, foi discutido um tema escolhido anteriormente
pelo grupo com o apoio de jogos educativos e dinâmicas.
A realização do exame de glicemia capilar para alguns pacientes,
mesmo convivendo com a doença por muitos anos, ainda despertava
resistência e tensão, como menciona uma das participantes:
Eu não me acostumei com essa coisa de furar o dedo...
não consigo nem olhar...
A abordagem dos temas de interesse do grupo ocorreu por
meio de dinâmicas e vivências11, que incentivavam as pessoas
a falarem sobre si, daquilo que gostavam de fazer no seu
cotidiano de convívio com a doença, e a linha da vida que
discutiu as mudanças ocorridas antes e depois da doença por
meio de desenhos que expressavam as dificuldades de seu
controle, como menciona uma das participantes:
Eu curto e faço esporte duas vezes por semana. O que
eu não curto e faço é fumar... Eu não curto e não faço é
beber, não gosto. Eu curto e não faço é ir em festas, eu
adoro e não faço muito, gostaria de fazer mais.
Esse foi um momento lúdico do grupo, que permitiu a cada
membro se apresentar e falar de fatos que constituem a sua
vida cotidiana, o seu trabalho, a sua família, a sua vida social.
O fato de o grupo operativo falar do cotidiano é importante
como forma de cada um ir reconhecendo o outro, suas
necessidades e aquilo que identifica cada um2, 10.
56
Grupos Operativos de Aprendizagem nos Serviços de Saúde
Soares SM et al
Para o desenvolvimento das atividades foram elaborados folderes
explicativos sobre complicações agudas e crônicas do diabetes
mellitus e jogos educativos que discutiam temas sobre o uso de
medicamentos orais, dieta e exercício físico. O jogo sobre dieta foi
um dos mais utilizados. Ele propiciava ao cliente combinação de
cardápios diferenciados, que eram discutidos em grupo, avaliando a
composição e a combinação alimentar sobre o que devem e o que
não devem comer e como preparar seus alimentos.
unicação no grupo não ocorreu de forma linear, ou
A com
comunicação
seja, apenas entre coordenador e participante. De modo geral,
os participantes processavam uma comunicação integrada, entre
eles próprios e entre a coordenação.
endiza
A a pr
prendiza
endizagg em foi claramente obser vada nos
participantes do grupo. Novos conhecimentos foram adquiridos,
o que foi explicitado pela preocupação com o manejo da doença
e melhoria do controle glicêmico. Os integrantes que já tinham
maior convivência com a doença expressaram preocupação com
a qualidade de vida. A oportunidade de rever como estava sendo
realizado o tratamento e o seu acompanhamento, nem sempre
bem-sucedido, trouxe reflexões sobre o estilo de vida e o resgate
de matrizes de aprendizagem que foram marcantes para as
mudanças que cada um sabe que precisa realizar no seu
cotidiano de vida. A relação dos participantes ocorreu de forma
harmoniosa e caracterizou-se pelo respeito às diferenças.
No tocante aos momentos do processo grupal, observou-se
que nos primeiros encontros os participantes se mostraram
receosos, possivelmente porque ainda não se conheciam. As
primeiras impressões foram se formando e, mesmo participando
dos momentos iniciais do trabalho em grupo, essa participação
não era integral. Em geral, os clientes não se identificavam com
as atividades do grupo, mostrando-se na fase de pré-tarefa.
Depois de alguns encontros, os integrantes foram se desinibindo
e se integrando ao grupo, contando suas experiências, propondo
atividades. A partir de então, todos já se conheciam e as
impressões do primeiro encontro foram dando lugar ao desejo
de interagir e de atingir os objetivos que se tornaram comuns.
Nessa etapa, o grupo já estava mais integrado com a tarefa.
Em relação à tele
tele, observamos que houve uma disposição
positiva dos membros do grupo entre si, o que facilitou a atuação
do coordenador e a interação entre os membros do grupo.
Os indicadores do processo grupal
Os processos intragrupos
Retomando os indicadores de avaliação e acompanhamento
do processo grupal propostos por Pichon- Rivière4, observa-se
iliação e à per tença, desde o primeiro
que, em relação à af
afiliação
encontro os integrantes demonstraram o interesse em estar
no grupo, expresso no compromisso com a participação em
todas as atividades propostas, indicadores que foram
aumentando gradativamente a cada reunião.
Mesmo com o interesse em discutir temas do cotidiano
que emergiam no grupo, como o desemprego, a violência
nos grandes centros urbanos, obser vou-se que foi
preponderante na per tinência do grupo a tarefa de
aprender o manejo do diabetes. Com objetivos comuns, os
membros do grupo trocaram conhecimentos sobre o
diabetes, além de exporem suas experiências e dificuldades,
aprendendo, assim, a conviver com a doença.
A cooperação foi demonstrada à medida que os membros
do grupo buscaram complementar o outro com base em
situações que eram trazidas do seu cotidiano. Isso ficou mais
evidente quando um dos membros do grupo teve a confirmação
que precisaria fazer uma pequena cirurgia, mas a glicemia
estava muito descontrolada. Todos demonstraram
solidariedade, e duas se ofereceram como acompanhantes.
Um dos participantes do grupo, ao assumir uma posição de
resistência, mantinha-se em pré-tarefa, sabotando as atividades
que estavam previstas para o desenvolvimento do mesmo.
Obser vou-se no grupo que tanto os aspectos da
horizontalidade como os da verticalidade, que integram os
processos intragrupos, mobilizaram ações capazes de modificar
conceitos, crenças e valores em relação à doença.
Temas emergentes
Emergiram da discussão nos grupos as seguintes unidades
temáticas: a revolta e o inconformismo no enfrentamento da
doença; a consciência sobre os riscos de complicações advindas
da doença; o inconformismo com a falta de assistência de
saúde; a dificuldade em aderir à dieta; a influência emocional no
controle do diabetes; e o medo das complicações futuras. Os
depoimentos abaixo expressam cada um dos temas emergentes:
... 17 anos descobri o diabetes, foi uma revolta, estava
na adolescência, foi difícil demais. Acho que o problema
é a comida, a gente não pode comer e fica com vontade.
[relato do participante se referindo a dificuldades de
freqüentar festas.]
É muito melhor fazer bem a dieta do que ficar uma
semana no hospital, eu te garanto. Perdi o braço por
causa de um acidente, o pronto-socorro engessou
apertado, o sangue não circulou, a diabetes alterou e
não conseguiram controlar, tiveram que amputar...
Na finalização de cada encontro, era reafirmado o contrato
grupal e eram discutidas as datas dos próximos encontros,
horários e temas que seriam trabalhados.
Elaboração de material didático
O papel do coordenador no processo grupal
No grupo operativo, a principal função do coordenador,
após estabelecer um enfoque adequado para a operação do
grupo, é ajudar, por meio de intervenções interpretativas, o
grupo a realizar sua tarefa interna reflexiva, para colocar-se
em condições de desenvolver sua tarefa externa. A explicitação
e a interpretação dos fatores implícitos no acontecer grupal
permitem aos membros tomar consciência e enfrentar
obstáculos que, ao permanecerem inconscientes, continuariam
a interferir na realização da tarefa externa12.
Nos grupos atendidos na área da saúde, pode-se pensar
até que ponto o processo grupal é específico, por exemplo,
em relação à demanda por saúde, às fantasias e aos medos
relativos à doença que identifica a escolha de participantes.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 52 - 7.
57
Grupos Operativos de Aprendizagem nos Serviços de Saúde
Soares SM et al
Assim, o coordenador poderá conduzir melhor o grupo se puder
interligar as dificuldades diante da tarefa externa (a
necessidade de mudar os hábitos alimentares dos componentes
do grupo) e ansiedades e angústias que essa tarefa provoca,
como o medo de ser estigmatizado pela família ou pelo círculo
de amigos e que pode ser vivida por um ou mais participantes
do grupo. Assim, a troca de experiências entre eles pode ser
esclarecedora e motivadora para a mudança necessária.
O coordenador realizou seu papel assimétrico assinalando
diferenças, esclarecendo dúvidas, estabelecendo um contrato
com o grupo, que foi sempre respeitado. Ressalte-se que as
intervenções realizadas pelo coordenador foram apropriadas,
ajudando o grupo no processo de contenção e interação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A teoria de grupos operativos proposta por Pichon-Rivière4
permitiu organizar o fazer grupal com referências conceituais
e sistematizadas, o que facilitou de forma significativa a
Referências
1. Fernandes MT. O trabalho com grupos na Saúde da Família:
concepções e estratégias para o cuidado transcultural. [dissertação
de mestrado]. Belo Horizonte (MG): Escola de Enfermagem,
Universidade Federal de Minas Gerais; 2006
2. Soares SM. Os grupos operativos de aprendizagem nos serviços
de saúde:uma análise crítica segundo a concepção de Pichon-Rivière.
Anais do 48º Congresso Brasileiro de Enfermagem; 1996 out. 06-14;
São Paulo(SP), Brasil.1996. São Paulo(SP): Aben; 1997.
3. Ministério da Saúde(BR). Manual de hipertensão arterial e diabetes
mellitus: plano de reorganização da atenção à hipertensão arterial e
ao diabetes mellitus. Brasília(DF); 2002.
4. Pichon-Rivière E. O processo grupal. São Paulo(SP): Martins Fontes; 1998.
5. Baremblitt G. Grupos: teoria e técnica. Rio de Janeiro(RJ): Graal; 1996.
6. Portarrieu ML, Tubert-Oklander J. Grupos operativos. In: Osório LC,
organizador. Grupoterapia hoje. Porto Alegre(RS): Artes Médicas; 1989.
7. Berstein M. Contribuições de Pichón-Rivière à psicoterapia de grupo.
In: Osório LC, organizador. Grupoterapia hoje. Porto Alegre(RS):
Artes Médicas; 1986.
8. Osório LC, organizador. Grupoterapia hoje. Porto Alegre(MG):
Artes Médicas; 1986.
coordenação do grupo. Além disso, propiciou aos clientes
um espaço terapêutico de discussão, no qual foi possível
confrontar as fantasias inconscientes e medos sobre a
repercussão do diabetes no seu cotidiano, contribuindo para
o seu crescimento pessoal.
Obser vou-se que a experiência do gr upo trouxe
aprendizagem para melhor convivência com a doença,
possibilitando a alguns dos participantes a ressignificação da
experiência, o que transcendeu as limitações que ela provoca.
Todo grupo tem a possibilidade de em algum momento se
tornar um grupo de processo que contribua para que tudo o
que emerge na sua dinâmica seja expresso e interpretado de
forma contextualizada e no nível real. Assim, obser vou-se
que os indicadores do processo grupal permitiram interpretar
e reavaliar o desenvolvimento do grupo operativo, norteando
as ações desenvolvidas a cada encontro. Certamente que essa
pode ser uma estratégia, para os profissionais de saúde, na
construção de modelos que envolvam os trabalhos com grupos.
9. Osório LC. Grupos, teorias e práticas: acessando a era da
grupalidade. Porto Alegre(RS): Artes Médicas, 2000
10. Gayotto MLC, Domingues I. Liderança: aprenda a mudar em grupo.
Petrópolis(RJ): Vozes, 1998
11. Minicucci A. Dinâmica de grupo: teorias e sistemas. 4ª ed. São
Paulo(SP): Atlas; 1997.
12. Andaló C. O papel de coordenador de grupo. Psicol. USP
2001;12(1): 135-52.
Sobre as Autoras
Sônia Maria Soares
Enfermeira. Doutora em Saúde Pública, Profa. Adjunta da Escola de
Enfermagem da UFMG – Departamento de Enfermagem Básica.
Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Cuidado e
Desenvolvimento Humano.
E-mail: smsoares.bhz@terra.com.br.
Aidê FFer
er r eir
er r az
eiraa FFer
Enfermeira. Doutora em Enfermagem, Profa. Associada da Escola de
Enfermagem da UFMG – Departamento de Enfermagem Básica.
Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Comunicação
em Enfermagem - NEPCE. E-mail: afferraz@terra.com.br.
Recebido em 21/03/2006
Reapresentado em 06/11/2006
Aprovado em 07/01/2007
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 52 - 7.
58
Perfil e Práticas Sexuais Entre Universitários
Falcão Júnior JSP et al
PERFIL E PRÁTICAS SEXUAIS DE UNIVERSITÁRIOS
DA ÁREA DE SAÚDE
Profile and Sexual Practical of
College Students from Health Area
Perfil y Prácticas Sexuales de
Universitarios del Área de Salud
José Stênio Pinto Falcão Júnior
Lydia Vieira Freitas
Samia Thábida de Oliveira Rabelo
Ana Karina Bezerra Pinheiro
Emeline Moura Lopes
Lorena Barbosa Ximenes
Resumo
O estudo teve como finalidade descrever o perfil sexual de acadêmicos da área da saúde da Universidade Federal do Ceará
e investigar o conhecimento dos mesmos acerca das condutas e práticas voltadas para a contracepção e prevenção das
doenças sexualmente transmissíveis (DST). Os dados foram obtidos através da aplicação de um questionário composto de
16 questões objetivas, abordando dados biográficos e relacionados à educação sexual, práticas sexuais, aquisição de DST
e gravidez não planejada. Os resultados encontrados mostram que não há uma associação direta entre o nível de
escolaridade e o nível de conhecimento e a utilização dos métodos que previnem as DST/AIDS e gravidez indesejada.
Pala
vr
as-c
ha
alavr
vras-c
as-cha
havve: Sexualidade. Doenças Sexualmente Transmissíveis. Gravidez não Desejada. Comportamento Sexual.
Abstract
Resumen
The study had as purpose to describe the sexual profile
of academics of the health area of the Federal University
of Ceará and to investigate their knowledge about the
behavior and practices directed to the contraception and
prevention of the sexual transmission disease (STD). The
data was collected through the application of a composed
questionnaire with 16 objective questions, approaching
biographical data and related them to the sexual education,
sexual practice, acquisition of STD and no planned
pregnancy. The found results didn’t showed that there
isn’t a direct association between the level of knowledge
and the use of the methods to prevent STDs and AIDS
besides not desired pregnancy.
El estudio tuvo como finalidad describir el perfil sexual de
académicos del área de salud de la Universidad Federal
del Ceará e investigar el conocimiento de los mismos acerca
de las conductas y prácticas relacionadas a la contracepción
y prevención de las Enfer medades Sexualmente
Transmisibles (ETS). Los datos fueron obtenidos a través
de la aplicación de un cuestionario compuesto de 16
preguntas objetivas, abordando datos biográficos y
relacionados a la educación sexual, prácticas sexuales,
adquisición de ETS y embarazo no planeado. Los
resultados encontrados muestran que no hay una asociación
directa entre el nivel de escolaridad y el nivel de
conocimiento y la utilización de los métodos que previenen
las ETS/SIDA y el embarazo indeseado.
K e yw
or
ds: Sexuality. Sexually Transmitted Diseases.
ywor
ords:
Pregnancy Unwanted. Sexual Behavior.
Pala
br
as ccla
la
alabr
bras
lavve: Sexualidad. Enfermedades Sexualmente
Transmisibles. Embarazo no Deseado. Conducta Sexual.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 58 - 65.
59
Perfil e Práticas Sexuais Entre Universitários
Falcão Júnior JSP et al
INTRODUÇÃO
A sexualidade é vista como um conjunto de expressões ou
comportamentos do ser humano, de modo a influenciar todo o
ciclo de vida, por estar relacionada a fatores biológicos,
psicológicos e sociais, dentre estes a procriação e a autoafirmação social e individual1.
De acordo com Souza e Osório, a sexualidade faz parte da
vida e o seu equilíbrio depende da estabilidade emocional do
indivíduo. Entre os seres humanos, a sexualidade não diz
respeito apenas às funções de reprodução; ela inclui
necessariamente o amor e o prazer2.
A sexualidade humana também é entendida como uma
construção histórica e cultural com base nas experiências vivenciadas
pelos indivíduos em seus vários ambientes de inserção3. Esta
quando tratada como fator isolado a outros aspectos sócio-culturais
é utópica, por ser um processo ininterrupto, acompanhando o
indivíduo por todo o seu ciclo de vida, recebendo diversas influências,
sendo estas fisiológicas, emocionais, culturais4.
A sexualidade humana é um assunto inerente a todos os
seres humanos e de suma importância, porém esta acarreta
uma série de tabus no que diz respeito à sua discussão. Mesmo
com o amplo avanço científico e tecnológico ocorrido nas
últimas décadas, a sexualidade humana continua sendo
considerada um tema repleto de mitos e preconceitos4.
A concepção sobre a sexualidade humana tem evoluído
historicamente. O século XVII marcou a história da sexualidade
porque criou um conjunto de pudores que valorizava a decência
e condenava o sexo pré-nupcial. As opiniões e as regras da
época começaram a ser questionadas até que, no século XX,
esses questionamentos chegaram a romper com as proibições
da sociedade, eliminando muitos tabus relacionados à sexualidade
humana, diminuindo o constrangimento e a recriminação5.
Assim, as relações sexuais tornaram-se menos
comprometedoras e a sexualidade feminina não inteiramente
ligada à procriação, caracterizando a isenção às
responsabilidades futuras, bem como um maior enfoque a
conduzida pela busca do prazer6.
Dessa forma, muitos jovens, em face da nova concepção
liberal, passaram a iniciar a prática sexual de maneira
desordenada, não se prevenindo contra as doenças sexualmente
transmissíveis (DST) e de uma gravidez indesejada.
A consciência de que algumas precauções são necessárias
para se realizarem certas prática sexuais pode depender do
nível sócio-econômico, de escolaridade e da idade. A taxa de
fecundidade tende a ser maior entre adolescentes e jovens que
apresentam menor escolaridade e que não possuem nenhuma
atividade remunerada, e o uso de contraceptivos é menor
quanto menor a idade do adolescente. Porém, é real o fato de
que o uso de métodos contraceptivos não está necessariamente
associado ao conhecimento. Um menor índice de uso de
métodos anticoncepcionais não está relacionado diretamente
com a falta de informação7.
A adolescência é um estágio da vida em que a pessoa
passa por profundas transformações e vivencia novas
experiências no que diz respeito à sexualidade, porém, muitas
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 58 - 65.
pessoas não estão preparadas para a iniciação sexual e
submetem-se aos riscos ou até mesmo às frustrações. A idade
da primeira relação sexual está entre 15 anos para os homens
e 17 anos para as mulheres; dentre estes, apenas 51,4%
fizeram o uso de métodos contraceptivos8. A atividade sexual
tem se iniciado cada vez mais precocemente e é mantida de
forma freqüente entre adolescentes9.
Assim, a população jovem é considerada um grupo de
relevância nas práticas de ações preventivas e em pesquisas
acerca do tema DST/AIDS, isto por conta da alta exposição aos
fatores e atividades que predispõem à contaminação.
No Brasil, do total de 13.844 casos de AIDS diagnosticados
em 2004, 1.085 casos (28,22%) são de jovens com idade de
13 a 24 anos3. Já quanto ao risco para aquisição de outras
DST’s, indivíduos na faixa etária de 15 a 24 anos de ambos os
sexos são os que apresentam as mais altas taxas de infecção
na maioria dos países10.
Certas práticas sexuais provocam uma maior exposição do
jovem às doenças e/ou à gravidez não planejada, deixando-o
em risco quanto a sua saúde. O não-uso do preservativo e de
métodos contraceptivos estão incluídos entre os fatores que
são considerados ao analisarmos as práticas de risco. Ao
negligenciarem a prática da contracepção e de prevenção às
doenças sexualmente transmissíveis, adolescentes e jovens
podem se expor ao HIV/ AIDS e às demais doenças sexualmente
transmissíveis, bem como à gravidez não planejada, revelandose esta realidade como potencialmente imediata10.
Apesar de no meio acadêmico haver maior acesso às
informações acerca da sexualidade humana e aos fatores de
exposição às possíveis conseqüências de práticas sexuais inseguras,
torna-se relevante o estudo do perfil sexual da população
universitária, por estar a mesma em um período de transição em
sua vida, no que diz respeito aos comportamentos social e sexual.
Assim, surgiu o interesse em investigar as condutas e
práticas voltadas para a contracepção e prevenção das doenças
sexualmente transmissíveis na população de acadêmicos da
Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem da
Universidade Federal do Ceará.
METODOLOGIA
Estudo de corte transversal realizado através de um
inquérito. Pesquisa com desenho exploratório, em que interessa
descrever e categorizar fenômenos em um grupo de pessoas.
Utilizou-se abordagem quantitativa que se fundamenta no ser
humano como um complexo de muitos sistemas que podem ser
medidos objetivamente, de forma separada ou combinada, onde
a pesquisa mede uma ou mais características humanas,
controlando variáveis enfocadas no estudo11.
A população foi composta pelos acadêmicos da Faculdade
de Farmácia, Odontologia e Enfermagem (FFOE), da
Universidade Federal do Ceará, durante os meses de maio e
junho 2005. Foram escolhidos os alunos destes cursos por
serem pertinentes à área da saúde, ou seja, um grupo que
deveria possuir conhecimentos sobre o assunto e manter hábitos
de vida saudável, estando aptos a expandir informações
inerentes à sexualidade humana. Foi considerado ainda o fato
60
de que estes cursos per tencem ao mesmo centro da
Universidade e se localizam na mesma área geográfica.
A amostra foi composta por 303 alunos, sendo 129 alunos
do curso de Farmácia, 78 alunos do curso de Odontologia e
96 alunos do curso de Enfermagem. A seleção da amostragem
deu-se de forma aleatória, utilizando como critério de exclusão
a recusa em preencher o questionário proposto, bem como
buscou-se manter a proporcionalidade da amostra em relação
ao número de acadêmicos matriculados em cada curso.
Foi aplicado aos alunos selecionados um questionário
composto de 16 questões objetivas, abordando dados
biográficos e relacionados à educação sexual, práticas sexuais,
aquisição de DST e gravidez não planejada.
Os dados foram apresentados por meio de tabelas,
analisados estatisticamente por meio do programa Epi Info
versão 3.3 e discutidos a partir da literatura pertinente.
Este trabalho foi previamente aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará. Os
entrevistados assinaram Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, que permitia utilizar os dados na pesquisa e
garantia-lhes sigilo e anonimato com relação às suas respostas.
Com isto, seguimos as diretrizes e normas de pesquisa
envolvendo seres humanos da Resolução Nº 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde-Ministério da Saúde.
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO
DOS RESULTADOS
Para se obter uma caracterização geral da amostra, foram
investigados sexo, idade, estado civil, crença religiosa, curso
superior e semestre que está cursando e a idade de cada um
deles quando ingressou no ensino superior. (Tabela 1)
A maioria dos estudantes entrevistados cursava o segundo
ano acadêmico (25,7%), seguidos pelos alunos de primeiro e
terceiro ano universitário que alcançaram a mesma
porcentagem (25,4%). Em seguida, verificam-se os alunos
do quarto ano (20,2%) e os estudantes de quinto ano
universitário (3,3%).
A amostra desta pesquisa foi composta em sua maioria
pelo sexo feminino, que representou 66% do total, enquanto
a participação masculina foi de 34%.
Os estudantes, no momento da entrevista, apresentavam faixa
etária predominante de 20 a 22 anos, correspondendo a 56,4%
da amostra, seguida pelos intervalos de idade de 17 a 19 anos
(23,0%), de 23 a 25 anos (17,2%) e de 26 a 29 anos (3,4%).
Com relação ao estado civil dos entrevistados, observa-se
que sua maioria foi composta por jovens solteiros,
correspondendo a 92,1% do total. Também foram encontradas
nesta amostra pessoas casadas (4,6%), pessoas unidas
consensualmente (2,6%) e divorciadas (0,7%). Ao se
investigar a situação conjugal, pode-se constatar que o
adiamento do casamento é uma atitude comum aos jovens
universitários, porém esse fato é reflexo do comportamento
que está se estabelecendo no Brasil.
Em pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), ao comparar a idade dos
Perfil e Práticas Sexuais Entre Universitários
Falcão Júnior JSP et al
Tabela 1:
Caracterização do perfil geral dos universitários da FFOE.
Fortaleza, 2005.
Caracterização da amostra
Sexo
Feminino
Masculino
Total
Idade
17 a 19 anos
20 a 22 anos
23 a 25 anos
26 a 29 anos
Total
Estado civil
Solteiro
Casado
Divorciado
União consensual
Total
Crença religiosa
Católico
Evangélico
Espírita
Não possui religião
Outros
Não respondeu
Total
Semestre em andamento
Primeiro ou segundo
Terceiro ou quarto
Quinto ou sexto
Sétimo ou oitavo
Nono
Total
Idade de ingresso
na Uni
Univv er sidade
16 a 18 anos
19 a 21 anos
22 a 25 anos
Maior de 26 anos
Total
Freqüência
Porcentagem
200
103
303
66,0%
34,0%
100,0%
70
171
52
10
303
23,0%
56,4%
17,2%
3,4%
100,0%
279
14
02
08
303
92,1%
4,6%
0,7%
2,6%
100,0%
189
38
16
39
13
08
303
62,4%
12,5%
5,3%
12,9%
4,3%
2,6%
100,0%
77
78
77
61
10
303
25,4%
25,7%
25,4%
20,2%
3,3%
100,0%
162
120
20
01
303
53,5%
39,5%
6,5%
0,5%
100,0%
cônjuges que se casaram nos anos de 1991 e 2002, averiguouse que, em 2002, as mulheres tinham, em média, 26,7 anos, e
os homens, 30,3 anos; enquanto que, em 1991, tanto as
mulheres quanto os homens casavam mais cedo (23,7 e 27
anos, respectivamente)12. Pessoas com maior número de anos
de estudos adiam as relações matrimoniais e ainda preferem
famílias menores, fazendo também um maior uso de métodos
anticoncepcionais (quando usando o condom, protegem-se não
só de uma gravidez indesejada, mas também de possíveis DSTs)9.
A maioria dos pesquisados era católica (62,4%), seguidos
pelas pessoas que não possuíam religião (12,9%), evangélicos
(12,5%) e espíritas (5,3%), e 4,3% dos estudantes referiram
possuir outra crença. Existe influência da religião na sexualidade
humana, pois a moral cristã, de um modo geral, associa a
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 58 - 65.
61
Perfil e Práticas Sexuais Entre Universitários
Falcão Júnior JSP et al
sexualidade ao pecado, com exceção apenas para o aspecto
reprodutivo das relações sexuais13. Este aspecto é agravado
quando as relações sexuais ocorrem fora do matrimônio, sendo
isto o acontece com a maioria dos jovens atualmente.
A maioria dos discentes ingressou na universidade dos 16
aos 18 anos (53,5%), seguidos pelas pessoas que iniciaram
seu curso superior dos 19 aos 21 anos (39,5%), dos 22 aos
25 anos (6,5%) e com mais de 26 anos (0,3%).
Ao se averiguar a continuidade do tipo de parceria nos
relacionamentos atuais dos indivíduos investigados,
observaram-se os dados apresentados na Tabela 2:
Tabela 2:
Caracterização da vida sexual atual de universitários da FFOE.
Fortaleza, 2005.
Não
Total
Número de parceiros
nos últimos três meses
1–3
4–6
Mais de 6
Nenhum
Não respondeu
Total
Freqüência de relações
nos últimos três meses
Diariamente
Semanalmente
Mensalmente
Outros1
Nenhum
Não respondeu
Total
Porcentagem
Parceiro fixo
Sim
Freqüência
V ida Se
xual Atual dos Uni
Sexual
Univv er sitários
sitários,, FFOE, 2005
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
102
58
17
34
119
92
85,7%
63,0%
14,3%
37,0%
100,0%
100,0%
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
113
82
1
5
0
3
2
1
3
1
119
92
95,0%
89,1%
0,8%
5,4%
0,0%
3,3%
1,7%
1,1%
2,5%
1,1%
100,0%
100,0%
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
Feminino
Masculino
8
4
66
47
32
32
10
6
1
1
2
2
119
92
6,7%
4,3%
55,5%
51,1%
26,9%
34,8%
8,4%
6,5%
0,8%
1,1%
1,7%
2,2%
100,0%
100,0%
Nota 1: Alguns entrevistados especificaram em seus questionários freqüencias que não se
enquadravam nas respostas propostas, tais como anualmente.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 58 - 65.
Dentre outros riscos que suscetibilizam os indivíduos às
infecções por DST, vale ressaltar o aumento desses em
proporção à quantidade de parceiros sexuais; as vias de sexo
adotadas, dentre as quais o sexo oral e anal expõe a uma carga
virótica e bacteriana potencialmente maior; o não-uso do
preservativo nas relações sexuais14.
Das 211 pessoas investigadas que já iniciaram sua vida
sexual, 160 (75,8%) relatam possuir parceiro sexual fixo,
enquanto 51 (24,2%) não o possuem. A existência de uma
relação de confiança entre os parceiros pode ocasionar a
displicência com relação ao uso de métodos contraceptivos
que previnam a ocorrência de DST.
Questionaram-se os nossos entrevistados sobre o número
de parceiros sexuais nos últimos três meses, e foi verificado
que a grande maioria, tanto dos homens quanto das mulheres,
respondeu que o número variou entre 1 e 3 parceiros (89,1%
para homens e 95,0% para mulheres). As mulheres ainda
responderam 4 a 6 parceiros (0,8%) ou nenhum (1,7%).
Nenhuma mulher respondeu que possuiu mais de 6 parceiros
nos últimos três meses. Com relação aos homens, estes
responderam que possuíram de 4 a 6 parceiros (5,4%), mais
de 6 parceiros (3,3%) ou nenhum parceiro (1,1%). Assim
observado, enfatiza-se a vulnerabilidade dos jovens que mais
se expõem em proporção a um maior número de parceiros
sexuais e a não-proteção pelo não uso do preservativo15.
Quando se indagou sobre a freqüência de relações sexuais
dos participantes nos últimos três meses, constatou-se que a
maioria, tanto dos homens quanto das mulheres, relatou ter
relações semanalmente (55,5% para mulheres e 51,1% para
os homens). As mulheres relataram as freqüências:
mensalmente (26,9%), anualmente (8,4%), diariamente
(6,7%), e 0,8% não tiveram relações sexuais nos três meses
antecedentes à pesquisa. Os homens relataram as seguintes
freqüências: mensalmente (34,8%), anualmente (6,5%),
diariamente (4,3%), e 1,1% dos homens não tiveram relação
sexual nos últimos três meses.
Durante o ato sexual, há uma relevante troca de fluidos
sexuais, o que se relaciona diretamente à transmissão de
diversos microorganismos, inclusive o HIV, dependendo
principalmente da prática sexual realizada. O sexo vaginal e o
anal apresentam um grande risco para ambos os parceiros,
quando realizados sem camisinha, já que a troca de fluidos é
intensa. Na prática de sexo oral, este risco está presente,
porém em menor intensidade. Se houver pequenas lesões, o
risco é potencialmente aumentado15.
Com base na tabela 3, observa-se que a porcentagem
dos entrevistados que mais se expõem às infecções é
daqueles que sempre têm relação sexual sem camisinha,
penetração oral (19,9%), vaginal (14,7%) ou anal (1,4%);
e dos que freqüentemente fazem uso dessas práticas,
igualmente sendo elas oral (32,2%), vaginal (20,4%) ou
anal (3,3%). Já quanto à freqüência das práticas de menor
risco, observa-se que 6,6% praticam a masturbação e as
carícias, ditas como sexo sem penetração.
Os entrevistados que afirmaram sempre fazer o uso de
preservativos apresentaram, segundo o tipo de penetração, as
62
Perfil e Práticas Sexuais Entre Universitários
Falcão Júnior JSP et al
Tabela 3:
Caracterização por freqüência das práticas sexuais por uso de preservativo de universitários da FFOE.
Fortaleza, 2005.
Nunca
Raramente
Freqüente
Sempre
Não Respondeu
Total
Sexo sem penetração
%
32
15,2%
88
41,7%
61
28,9%
14
6,6%
16
7,6%
211
100,0%
Sem pr
eser v a titivv o
preser
Sexo oral
%
44
20,9%
52
24,6%
68
32,2%
42
19,9%
5
2,4%
211
100,0%
Sexo vaginal
%
75
35,5%
56
25,5%
43
20,4%
31
14,7%
6
2,8%
211
100,0%
Sexo anal
%
150
71,1%
20
9,5%
7
3,3%
3
1,4%
31
14,7%
211
100,0%
Com pr
eser v a titivv o
preser
Sexo oral
%
149
70,6%
34
16,1%
19
9,0%
4
1,9%
5
2,4%
211
100,0%
Sexo vaginal
%
17
8,1%
47
22,3%
64
30,3%
78
37,0%
5
2,4%
211
100,0%
Sexo anal
%
134
63,5%
32
15,2%
7
3,3%
16
7,6%
22
10,4%
211
100,0%
seguintes freqüências: 37,0% (vaginal), 7,6% (anal) e 1,9%
(oral). É importante ressaltar que aqueles que afirmaram fazer
uso do preservativo com maior freqüência somente estarão
protegidos nas relações com o uso de condom. Os indivíduos que
usam condom freqüentemente (30,3% vaginal, 9,0% oral e 3,3%
anal) apresentam menor risco que aqueles que raramente utilizam
o preservativo (22,3% vaginal, 15,2% anal e 16,1% oral) ou
nunca (8,1% vaginal, 63,5% anal e 70,6% oral).
De acordo com as freqüências apresentadas, verificou-se que
alguns jovens, apesar do maior nível de escolaridade, negligenciam
o uso do preservativo durante as práticas sexuais, estando
vulneráveis à aquisição de DST e a uma gravidez indesejada.
São inúmeras as vantagens de se usar o preservativo.
Dentre elas, destacam-se: a prevenção de DST/AIDS; a nãointerferência no ciclo menstrual; a divisão da responsabilidade
da contracepção entre o homem e a mulher; a distribuição
gratuita; e a ausência de efeitos colaterais, com exceção de
uma possível irritação, que pode ser solucionada com a troca
do tipo de condom e com o uso de lubrificante à base de
água16. Contudo, o indivíduo somente estará protegido nas
relações que estiver utilizando o preservativo. Por este motivo,
a freqüência do uso do condom torna-se um determinante na
prevenção a DST e a gravidez.
Quando indagados se atualmente possuíam ou não parceiro
sexual fixo, observou-se que 52,8% dos participantes o têm, e
47,2%, não. Das 211 pessoas entrevistadas, 199 (94,3%) usam
algum método contraceptivo, sendo que destes, 153 (72,5%)
possuem parceiro fixo e 46 (21,8%) não possuem. Das 12 (5,7%)
pessoas que relataram não utilizar método contraceptivo, 7
(3,3%) possuem parceiro fixo e 5 (2,4%) não o possuem.
A maioria dos entrevistados demonstrou uso consistente
do preservativo, pois 38,9% das pessoas que iniciaram a vida
sexual declararam utilizar preservativo em todas as suas
relações sexuais, seguidos por aqueles que usam preservativo
com parceiros fixos (20,9%). Já aqueles que apresentam uso
inconsistente do preservativo são os representantes da amostra
que somente o usam com parceiros esporádicos (10,0%) e os
que nunca o usam (8,5%), bem como aqueles que nem sempre
o utilizam (18,0%). Não responderam a esta pergunta 3,8%
dos sexualmente ativos. Àqueles que em todas as relações
fizeram uso e acondicionamento do preservativo de forma
correta, submeteram-se à margem de segurança de 99% contra
a AIDS e, durante o ano, de 97% para gravidez não planejada,
com uso correto, e de 86% se usado sem muitos cuidados 17.
Dentre as pessoas que tem maior grau de escolaridade, o
uso de preservativo mostrou-se com maior consistência, porém
esse não é o único fator que influencia na adoção da prática
sexual com o condom. Sabe-se, ainda, que a idade, tipo de
vínculo com o parceiro e o nível de informação quanto aos
métodos preventivos e DST/AIDS são outros fatores que
interferem nessa prática18. Os jovens atualmente possuem alto
nível de conhecimento em relação a métodos anticoncepcionais,
porém ainda ocorrendo relações sexuais isentas do uso do
preservativo19. Acredita-se, assim, que o não-uso do preservativo
está fortemente relacionado com a esporadicidade e a falta de
planejamento das relações sexuais, dentre outros fatores.
Na tabela 4, dentre os entrevistados que utilizam métodos
contraceptivos, a camisinha é o método mais aceito, sendo
usado por 148 (74,4%) pessoas, seguido pelos
anticoncepcionais hormonais, que são usados por 92 (46,2%)
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 58 - 65.
63
Perfil e Práticas Sexuais Entre Universitários
Falcão Júnior JSP et al
pessoas; coito interrompido, que é usado por 17 (8,5%)
pessoas; tabelinha, com 12 (6,0%) usuários; e a camisinha
feminina, que foi o método contraceptivo menos usado, apenas
com 1 usuário (0,5%). Algumas pessoas relataram utilizar
mais de um método contraceptivo.
Tabela 4:
Classificação por freqüência do uso de método contraceptivo por
parceria sexual da FFOE. Fortaleza, 2005.
Parceiro sexual fixo
Sim
Não
Total
153
7
160
46
5
51
199
12
211
Qual o método
contraceptivo utilizado
Camisinha
105
Anticoncepcionais hormonais 81
Coito interrompido
14
Tabelinha
12
Camisinha feminina
1
Outros métodos
2
43
11
3
0
0
0
148
92
17
12
1
2
Usa método
contraceptivo
Sim
Não
Total
Entre as pessoas que não possuem parceiro sexual fixo e
que utilizam algum método contraceptivo, o método mais aceito
é a camisinha masculina com 93,5% de aceitação. Entre estes
universitários também são aceitos os anticoncepcionais
hormonais (23,9%) e o coito interrompido (6,5%). Os outros
métodos não foram citados pelas pessoas que não possuem
parceiro fixo. É importante ressaltar que métodos como coito
interrompido e tabelinha são considerados de baixa eficácia
quando utilizados isoladamente.
Tabela 5 :
Classificação por freqüência de ocorrência de DST da FFOE.
Fortaleza, 2005.
Freqüência
Porcentagem
Contraiu DST
Não
Não respondeu
Não sabe
Sim
Total
174
1
20
16
211
82,5%
0,5%
9,5%
7,6%
100,0%
Contraiu qual DST
Candidíase
Gonorréia
Herpes Genital
Outros
Total
9
1
1
6
17
52,9%
5,9%
5,9%
35,3%
100,0%
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 58 - 65.
As doenças sexualmente transmissíveis (DST) constituemse um crescente problema de saúde nas últimas décadas.
Embora os dados relacionados às DST não revelem de forma
fidedigna sua real magnitude, e não permitam a realização de
inferências sobre sua ocorrência no Brasil, a conjugação desses
dados com outros obtidos no âmbito internacional permite a
realização de estimativas que confirmam sua elevada prevalência.
A Organização Mundial de Saúde estima que ocorram cerca de
340 milhões de casos de DST por ano, no mundo20.
Na tabela 4, quando se questionou sobre a ocorrência de
doenças sexualmente transmissíveis nos participantes,
constatou-se que a maioria que iniciou vida sexual referiu nunca
ter contraído uma delas (82,5%), seguida daquelas pessoas
que não sabem se já contraíram uma DST (9,5%) e das pessoas
que já foram contaminadas durante o ato sexual (7,6%).
Entre os jovens que já contraíram uma DST, houve 9
(52,9%) casos de candidíase, 1 (5,9%) caso de gonorréia,
1 (5,9%) caso de herpes genital, 6 (35,3%) de outras
DST e nenhum caso de AIDS, sífilis, cancro mole ou cancro
duro. Ressalta-se que um mesmo jovem referiu ter contraído
duas diferentes DST.
As DST acarretam não somente afecções físicas, que podem
levar às disfunções sexuais, esterilidade, danos fetais,
abortamentos, alguns tipos de câncer e até à morte, mas
também geram impactos psicossociais em seus portadores.
Além disso, os custos gerados para o tratamento da crescente
demanda acarretam um importante impacto no sistema de
saúde, produzindo gastos de milhões todos os anos, decorrentes
de internações e procedimentos para o tratamento de suas
complicações. E, embora a prevenção e o controle das DST
estejam sendo priorizados, essas ainda se constituem um dos
mais comuns problemas de saúde21.
Outro fator também passível de prevenção, aqui investigado
por sua considerável importância como fator modificador de
papéis sociais, especialmente quando se trata de pessoas na
faixa etária aqui especificada, foi a freqüência de gravidezes
ocorridas nesse grupo de universitários. Através desse
inquérito obtiveram-se os dados que seguem, na tabela 6.
Nesta pesquisa foram encontradas 18 gestações. Duas
mulheres relataram ter tido duas gestações, nove mulheres
tiveram somente uma gestação e os cinco homens que relataram
ter engravidado suas parceiras o fizeram somente uma vez.
Essas gestações resultaram, na maioria das vezes, em crianças
nascidas vivas (66,7%), e as outras em aborto provocado
(22,2%) e aborto espontâneo (11,1%).
Constatou-se que das 16 pessoas que engravidaram, 3
(18,75%) eram casadas, 2 (12,5%) eram divorciadas, 8
(50,0%) eram solteiras e 3 (18,75%) viviam em situação
de uniões consensuais.
Verificou-se que a maioria dos casos de gravidez aconteceu
entre universitários solteiros (50,0%). O namoro pode ser a
principal maneira como universitários mantêm uma relação
afetivo-sexual, favorecendo, juntamente com a esporadicidade
e o não- planejamento do ato sexual, o fato de a maioria das
gravidezes ter ocorrido fora de uniões reconhecidamente
estáveis. O namoro é o principal cenário das relações sexuais
64
Perfil e Práticas Sexuais Entre Universitários
Falcão Júnior JSP et al
Tabela 6:
Caracterização por freqüência das gestações dos universitários da
FFOE. Fortaleza, 2005.
Freqüência Porcentagem
Ocor r eu ggrr a vide
videzz
Sim
Não
16
287
5,29%
94,71%
Sexo
Feminino
Masculino
Total
5
11
16
31,2%
68,8%
100,00%
Estado civil
Casado
Solteiro
Divorciado
União consensual
Total
3
8
2
3
16
18,75%
50,00%
12,50%
18,75%
100,00%
Usa método contraceptivo
Camisinha
Anticoncepcional hormonal
Coito interrompido
Tabelinha
Camisinha feminina
Outros
4
13
4
1
0
1
25,0%
81,25%
25,0%
6,25%
0,0%
6,25%
Contraiu DST
Candidíase
Herpes genital
Total
3
1
4
18,75%
6,25%
100,0%
Resultado da gravidez
Aborto provocado
Aborto espontâneo
Nascido vivo
Nascido morto
Total
4
2
12
0
18
22,2%
11,1%
66,7%
0,0%
100,0%
e é uma variável impor tante para a compreensão do
comportamento sexual e reprodutivo9.
Após a experiência de pelo menos uma gestação, poucos
universitários (25,0%) utilizam condom, contrastando com
um alto índice do uso de anticoncepcionais (81,25%). A
utilização do anticoncepcional hormonal gera certa acomodação
com relação ao uso do condom, fazendo com que 25,0% dos
universitários que afirmaram gravidez nesta pesquisa já tenham
contraído alguma DST. Apesar de o conhecimento ser
importante, o uso de contraceptivos, tanto de barreira como
hormonais, não estão sempre associados aos conhecimentos22,
mesmo com maior nível de instrução.
A maioria dos entrevistados obteve informações acerca de
sexualidade entre amigos, ou seja, uma fonte que é considerada
infiel, já que as pessoas podem transmitir informações errôneas
acerca do tema, inclusive pela falta de experiência. Os jovens
recebem informações limitadas e inadequadas, proveniente
de amigos, de pessoas pouco preparadas para esta função23.
CONCLUSÕES
O tipo de prática sexual realizada pode determinar uma
maior ou menor exposição aos riscos. Os estudantes
entrevistados parecem ser conscientes disto, pois, no tipo de
relação sexual comprovadamente mais exposto a riscos para a
saúde, eles utilizavam preservativo.
Os resultados encontrados mostram que, mesmo se tratando
de pessoas com um maior nível de escolaridade, não há uma
grande diferença quanto às porcentagens daqueles que tomam
os devidos cuidados em relação àqueles que negligenciam a
segurança, variando de acordo com a prática sexual adotada.
De acordo com a pesquisa, os universitários utilizam com
maior freqüência o condom quando realizam sexo vaginal e
menos quando do sexo oral. Destaca-se o baixo número de
universitários que usam o condom em todas as relações sexuais.
Os demais usam apenas com determinados tipos de parceiros
(fixo ou esporádico) ou até mesmo nunca usam. Isto nos mostra
que estes universitários, conscientemente ou não, podem ter
determinados critérios para o uso do preservativo, estando
sujeitos aos riscos inerentes a uma relação sexual desprotegida.
Verificou-se, ainda, o alto índice do uso de métodos
contraceptivos e a baixa ocorrência de gravidez, de aborto e
DST. O método anticoncepcional mais relatado foi a camisinha,
tanto por aqueles que não têm parceiro fixo como por aqueles
que o possuem. Entendemos que isto se deve à dupla função
do condom: prevenção de DST e de gravidez indesejada.
O relacionamento com parceiro fixo foi o tipo mais citado
pelos universitários, o que significa um menor risco à aquisição
de DST, pois quanto menor o número de parceiros, menor o
risco de adquirir uma DST.
Esse estudo revelou que, mesmo lidando com pessoas de
um alto nível intelectual (universitários), ainda se faz
necessária a implantação de políticas educacionais no âmbito
da sexualidade, visando à orientação de jovens quanto às
práticas sexuais, a fim de reduzir a incidência de DST/AIDS e
gravidez indesejada nessa população; tornar os jovens mais
responsáveis e mais atentos quanto aos cuidados com a saúde
sexual deles e de seus parceiros e, imprescindivelmente, tornálos multiplicadores da saúde, com a dispersão de informações
confiáveis e, assim, diminuir a exposição dos jovens a riscos
que prejudiquem a saúde.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 58 - 65.
65
Perfil e Práticas Sexuais Entre Universitários
Falcão Júnior JSP et al
Referências
1. Freitas F, Menke CH, Rivore W, Passos EP. Rotinas em ginecologia.
4ªed. Porto Alegre (RS): Artmed; 2003.
2. Berger I, Hutz CS. O perfil do educador gaúcho em relação à
sexualidade. Rev Bras Sex Hum 1999 jan/ jun; 10 (1): 89-118.
3. Ribeiro PRC, Souza NGS, Souza DO. Sexualidade na sala de aula:
pedagogias escolares de professoras das séries iniciais do Ensino
Fundamental. Rev Estud Fem 2004; 12 (1) .
4. Gir E, Nogueira MS, Pelá NTR. Sexualidade humana na formação do
enfermeiro. Rev Latino-Am Enfermagem, Ribeirão Preto, 2000 abr; 8
(2): 33-40.
5. Martins PCR, Soldatelli MM. Sexo e poder: uma reflexão histórica.
Rev Bras Sex Hum 1998 jan/ jun; 9 (1): 33.
6. Loyola MA. Sexualidade e medicina: a revolução do século XX. Cad
Saúde Pública 2003 jul/ago; 19 (4): 875-84.
7. Pirotta KCM, Schor N. Intenções reprodutivas e práticas de regulação
da fecundidade entre universitários. Rev Saúde Publica 2004 ago;
38(4): 495-502.
8. Fonseca MG, Bastos FI, Derrico M, Andrade CLV, Travassos C,
Szwarcwald CL. AIDS e grau de escolaridade no Brasil: evolução
temporal de 1986 a 1996. Cad Saúde Pública 2000; 16 (1):77-87.
9. Aquino PS, Eduardo KGT, Barbosa RCM, Pinheiro AKB. Reações da
adolescente frente à gravidez. Esc Anna Nery Rev Enferm 2005 ago;
9 (2): 214-20.
10. Ministério da Saúde (BR). Coordenação Nacional de DST e AIDS.
Pesquisa de conhecimento, atitudes e práticas na população brasileira
de 15 a 54 anos, 2004. Bol Epidemiol AIDS, 2004; [on line] 18 (1):
18-24 [citado 13 out 2005] Disponível em: <http://www.aids.gov.br/
final/dados/BOLETIM2.pdf.>
11. Wood GL, Habeer. Pesquisa em enfermagem: métodos, avaliação
crítica e utilização. 4ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2001.
12. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Síntese de
indicadores sociais: [on-line] [citado 05 out 2005]. Disponível em:
< h t t p : / / w w w. i b ge . go v. b r / h o m e / p r e s i d e n c i a / n o t i c i a s /
13042004sintese2003html.shtm.>
13. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Políticas de Saúde.
Coordenação Nacional de DST e Aids. Guia de prevenção das DST/Aids
e cidadania para homossexuais. Brasília (DF); 2002.
14. Smeltzer SC. Brunner& Suddarth: Tratado de Enfermagem MédicoCirúrgica 9ªed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2002.
15. Ministério da Saúde (BR). Secretaria da Saúde. Coletânea de textos
para subsídio da capacitação de profissionais facilitadores da JESS e
JECSS. Fortaleza (CE); 1998.
16. Silva CV, Brêtas JRS, Ferrreira D, Correa DS, Cintra CC. Uso da
camisinha por adolescentes e jovens: avaliação da seqüência dos
procedimentos. Acta Paul Enferm 2004 out./dez; 17 (4): 392-99
17. Bezerra VC. Sexualidade, uso do preservativo e direito reprodutivo.
Rev Saber Viver 2004 jan; ed esp profissionais de saúde: 24-26.
18. Paiva V, Venturi G, França Junior I, Lopes F. Uso de preservativos.
Pesquisa Nacional MS /Ibope 2003. [on line] [citado 27 nov 2005].
Disponível em: <http// www.aids.gov.br>
19. Pirotta KCM, Schor N. Intenções reprodutivas e práticas de
regulação da fecundidade entre universitários. Rev Saúde Publica
2004 ago; 38(4):495-502.
20. Organização Mundial de Saúde-OMS. Infecciones de transmisión y
otras infecciones del tracto reproductivo: una guía para la práctica
basica. [on line] [citado 25 jan 2006]. Disponível em: http://www.who.int/
reproductivehealth/publications/es/stis_gep/ text_es.pdf
21. Loudermilk DL, Perry SE, Bobak IM. O cuidado em enfermagem
materna. 5ª ed. São Paulo (SP): Artmed; 1999.
22. Bello MV, Silva JLP. Conhecimento, atitude e prática sobre métodos
anticoncepcionais entre adolescentes gestantes. Rev Saúde Pública
2004 ago; 38 (4): 479-87
23. Gomes WA, Costa COM, Sobrinho CLN, Santos CAST, Bacelar EB.
Nível de informação sobre a adolescência, puberdade e sexualidade
entre adolescentes. J Pediatr 2002; 78 (4):301-08
Sobre os Autores
José Stênio Pinto Falcão Júnior
Acadêmico do curso de Enfermagem da Universidade Federal do
Ceará. Bolsistas do Programa Especial de Treinamento-PET
Emeline Moura Lopes
Acadêmica do curso de Enfermagem da Universidade Federal do
Ceará. Bolsistas do Programa Especial de Treinamento-PET
Lydia Vieira de Freitas
Acadêmica do curso de Enfermagem da Universidade Federal do
Ceará. Bolsistas do Programa Especial de Treinamento-PET
Samia Thábida de Oliveira Rabelo
Acadêmica do curso de Enfermagem da Universidade Federal do
Ceará. Bolsistas do Programa Especial de Treinamento-PET
Ana KKarina
arina Be
Pinheiroo
Bezz er
errr a Pinheir
Enfermeira; Doutora em Enfermagem; Docente do Departamento de
Enfermagem – FFOE/UFC; Co-tutora do PET-Enfermagem/UFC
Lorena Barbosa Ximenes
Enfermeira; Doutora em Enfermagem; Docente do Departamento de
Enfermagem – FFOE/UFC; Tutora do PET-Enfermagem/UFC
Recebido em 07/06/2006
Reapresentado em 26/02/2007
Aprovado em 06/03/2007
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 58 - 65.
66
Estresse no Cotidiano dos Alunos de Enfermagem da UFPI
Monteiro CFS et al
ESTRESSE NO COTIDIANO ACADÊMICO:
O OLHAR DOS ALUNOS DE ENFERMAGEM
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
Stress in the Academic Daily: A Nursing Student View
from the Federal University of Piauí - Brazil
Estrés en el Cotidiano Académico: La Visión de los Estudiantes
de Enfermería de la Universidad Federal del Piauí - Brasil
Claudete Ferreira de Souza Monteiro
Jairo Francisco de Medeiros Freitas
Artur Assunção Pereira Ribeiro
Resumo
Este estudo objetivou conhecer situações geradoras de estresse vivenciadas pelos alunos do Curso de Graduação em
Enfermagem da Universidade Federal do Piauí – UFPI no âmbito acadêmico. A metodologia constou de estudo exploratório,
qualitativo, com produção de dados por meio de entrevista semi-estruturada aplicada a 22 alunos.Os resultados possibilitaram
a construção das categorias de análise: situações estressoras, sintomas do estresse e desempenho das atividades acadêmicas.
Constatou-se que as situações de estresse estão presentes durante o transcorrer do curso, com relevâncias em determinados
momentos, como o ingresso na universidade, o cursar da disciplina Farmacologia para Enfermagem e o cumprimento de
carga horária semanal irregular em períodos específicos do curso. Constatou-se que os sintomas apresentados pelos alunos
foram de aspectos fisiológico e emocional. Por fim, revelou-se que as situações de estresse repercutem de forma negativa
no desempenho das atividades acadêmicas desenvolvidas pelos alunos.
Pala
vr
as-c
ha
alavr
vras-c
as-cha
havve: Estresse. Programas de Graduação em Enfermagem. Ensino Superior.
Abstract
Resumen
This study aimed at know stress’ situations lived by graduate
students of nursing from Federal University of Piauí (UFPI)
in the academic scope. The methodology consisted of an
exploratory study, qualitative, with data collection through
semistructured interview applied to 22 students. The results
made possible the construction of categories of analysis:
stressor situations, stress symptoms and the development
of academic activities. It has been verified that stress
situations are present during the course, with relevance in
certain moments, such as the ingression in the university,
the attending pharmacology course for nursing and
irregular weekly course load in specific periods of the
course. It was evidenced that the symptoms presented by
the students was of physiological and emotional aspects.
At last, was concluded that stress situations have a negative
influence upon the development of academic activities
developed by students.
Este estudio tubo el objetivo de conocer situaciones
generadoras de estrés vivenciadas por alumnos del Curso
de Graduación en Enfermaría de la Universidad Federal del
Piauí (UFPI) en el ámbito académico. La metodología constató
de un estudio exploratorio, cualitativo, con colecta de dados
basada en entrevistas semi-estructurada a 22 alumnos. Los
resultados posibilitaron la construcción de categorías de
análisis: situaciones de estrés, síntomas de estrés y el
desempeño de las actividades académicas. Fue constatado
que las situaciones de estrés están presentes durante el
transcurso del curso, con relevancia en determinados
momentos, tales como el ingreso en la universidad, como el
curso de Farmacología para Enfermería y carga horaria
semanal irregular en períodos específicos del curso. Los
síntomas presentados por alumnos fueran de aspecto
fisiológico y emocional. Por fin, se concluye que las situaciones
de estrés repercuten de forma negativa en el desempeño de
las actividades académicas desarrolladas por alumnos.
Keyw
or
ds: Stress. Education, Nursing, Diploma Programs.
ywor
ords:
Palabras clave: Estrés. Programas de Graduación en
Enfermería. Enseñanza Superior.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 66 - 72.
Estresse no Cotidiano dos Alunos de Enfermagem da UFPI
Monteiro CFS et al
INTRODUÇÃO
A sociedade, nas últimas décadas, tem utilizado a palavra
estresse e suas derivações de forma corriqueira e quase
instintiva. Sem maiores reflexões, diferentes formas de mídia
colaboram para este acontecimento, o que generaliza e
simplifica os reais significados da problemática do estresse.
No transcurso da vida, em determinadas ocasiões, as
pressões biopsicossociais são responsáveis por desequilíbrios
na homeostase do indivíduo, prejudicando seu desempenho
nas mais variadas circunstâncias. Essas pressões geradoras
de estresse são vivenciadas em diversas oportunidades tanto
na vida pessoal, social, profissional e, não menos diferente,
durante a trajetória acadêmica.
No ambiente acadêmico, a resolução de problemas se faz
imperiosa. Além disso, é sabido que os estudantes
universitários passam por momentos de mudança,
desenvolvimento, frustração, crescimento, temores e angústias.
Assim, o ambiente que contribuiria na edificação do
conhecimento e ser a base para as suas experiências de
formação profissional se torna, por vezes, o desencadeador de
distúrbios patológicos, quando ocorre uma exacerbação da
problemática do estresse acadêmico nos estudantes.
Devido à complexidade do curso de enfermagem e o lidar
com os limites humanos, o estudante desse curso freqüentemente
desenvolve sentimentos de incapacidade frente às atividades
exigidas durante sua formação profissional. Isto faz com que o
mesmo possa desenvolver problemas advindos do estresse como
baixa capacidade de concentração e memorização, favorecendo
a diminuição do rendimento acadêmico e da qualidade da
assistência de enfermagem durante os estágios. Como aquele
que irá prestar cuidado, o estudante de enfermagem também
necessita “estar sendo cuidado” e manter sua saúde física e
mental em níveis adequados.
Historicamente, o termo estresse (do inglês, “stress”) foi
utilizado inicialmente na Física para traduzir o grau de
deformidade sofrido por um material quando submetido a um
esforço ou tensão. Em 1956, Hans Selye, endocrinologista
americano, transpôs o significado para a Fisiologia, indicando-o
como esforço de adaptação do organismo para enfrentar situações
que considere ameaçadoras à sua vida e ao seu equilíbrio interno,
as quais podem ser definidas como estressores.¹
O estresse é desencadeado a partir de “estressores”
advindos do meio externo (como frio e calor), do ambiente
social (como o trabalho insalubre) e do mundo interno
(como as alegrias, os medos e angústias). Quando ocorre
após o esforço em adaptação e há sensação de realização
pessoal é dito eustresse. Quando porém ocorre quando há
rompimento do equilíbrio biopsocossocial por uma
sobrecarga ou falta de esforço, ocorrendo manifestações
de doença é chamado distress. ²
Stacciarini e Tróccoli 3 expõem três formas de definição
para estresse: (1) como estímulo, com o enfoque no impacto
dos estressores; (2) como resposta, quando examina a tensão
produzida pelos estressores; e (3) como processo, quando
entendido a partir da interação entre pessoa e ambiente. Essas
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 66 - 72.
67
diferenças de abordagem têm propiciado o questionamento se
o estresse é uma demanda do ambiente, uma característica do
indivíduo ou uma interação entre indivíduo e o ambiente.
Neste estudo, utilizou-se a definição de estresse apontada por
Molina4:18 como “qualquer situação de tensão aguda ou crônica
que produz uma mudança no comportamento físico e no estado
emocional do indivíduo”. Exige adaptações tanto físicas quanto
psicológicas, entretanto o potencial do agente estressor pode ser
maior ou menor dependendo do sujeito que o sente ou percebe.
De certa maneira, a compreensão do mecanismo fisiológico
de uma resposta ao estresse é necessária. Os caminhos do
estresse são diversos e envolvem muitas regiões do cérebro.
De acordo com Salposky5, a caracterização fisiológica da
resposta estressora ocorre da seguinte maneira: (1) quando
uma ameaça é percebida ocorre a ativação dos centros
sensoriais, das áreas de raciocínio e da amídala (estrutura
cerebral responsável por percepção e resposta ao medo); (2) a
amídala libera o hormônio de controle da corticotropina (CRH),
estimulando o tronco encefálico; (3) a via espinhal transmite
impulsos do tronco até as glândulas adrenais ocasionando a
produção de epinefrina (adrenalina) e glicocorticóides; (4) estes
hormônios agem nos músculos, coração, pulmões, entre outros
órgãos, para preparar o corpo para “luta” ou “fuga”.
Se o estresse se torna crônico, há uma indução de uma
região do cérebro chamada locus coereleus a liberar
norepinefrina. Esse neurotransmissor, por fim, induz a amídala
à produção de mais CRH com a concomitante reativação do
sistema indutor do estresse. Ou seja, quanto mais se deixa de
controlar o estresse mais este se torna evidente por conta da
retroalimentação de seu mecanismo gerador, levando a uma
exacerbação de sua sintomática.
Entre os sinais e sintomas que ocorrem com maior
freqüência, os sintomas físicos são os mais relatados: aumento
da sudorese, tensão muscular, taquicardia, hipertensão,
hiperatividade, náuseas, mãos e pés frios. Em termos
psicológicos, vários sintomas podem ocorrer tais como:
ansiedade, tensão, angústia, insônia, alienação, dificuldades
interpessoais, dúvidas quanto a si própria, preocupação
excessiva, inabilidade de concentrar-se em outros assuntos
que não o relacionado ao estressor, dificuldade de relaxar, ira e
hipersensibilidade emotiva6.
Caso não haja uma resolutividade à situação estressora ou se
nada é feito para aliviar a tensão, o organismo estará cada vez
mais exaurido e sem energia. Na área física, muitos tipos de
doenças podem ocorrer, dependendo da herança genética. Afecções
cardiovasculares, funções imunológicas comprometidas, além de
problemas como ansiedade, depressão e crises de pânico são
comprometimentos que podem ter origem em situações de estresse
contínuo ou não resolvido6.
É justamente na resolução ineficaz da problemática e na
sobrecarga de estímulos estressores durante a formação
universitária que está fundamentada a premissa de que estudantes
de enfermagem estão propícios em apresentar características
evidenciáveis de estresse.
O estudante de enfermagem, ao ingressar na vida
acadêmica, passa por diversas situações de crises, vivenciando
68
Estresse no Cotidiano dos Alunos de Enfermagem da UFPI
Monteiro CFS et al
diversos sentimentos. Entre esses destacam a formação de
um novo ciclo de amigos, adaptação a novos horários,
problemas financeiros, preocupações com seu futuro mercado
de trabalho, afastamento de seu ambiente familiar, as
cobranças, o encontro com a dor, o sofrimento, a doença e a
morte de pessoas são pontos que favorecem o desequilíbrio
emocional. Todos esses fatores podem ser entendidos como
estressores, desencadeando o estresse e fazendo com que o
sujeito não consiga se adaptar a novas situações7.
quais se encontravam na faixa etária entre 19 (dezenove) e 43
(quarenta e três) anos. Em relação ao momento no curso, 10
(dez) dos alunos se encontravam matriculados nos períodos da
formação básica e 12 (doze) na fase profissionalizante.
Os resultados foram obtidos por meio das respostas
apresentadas pelos sujeitos aos questionamentos sobre as
situações geradoras de estresse no cotidiano acadêmico do curso.
Esses resultados são analisados e discutidos em três categorias:
METODOLOGIA
Percebemos que, ao longo da graduação em enfermagem da
UFPI, os alunos se defrontam com variadas situações estressoras,
as quais se fazem presentes durante o transcorrer do curso. Como
essas circunstâncias são notadamente deflagradas e vivenciadas
desde os primeiros períodos acadêmicos, a percepção desta
problemática pelos sujeitos adquire destaque.
Diante da problemática apresentada, figura como objetivo
do estudo conhecer situações geradoras de estresse advindas
do cotidiano acadêmico do curso de enfermagem –
bacharelado, da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Trata-se de um estudo exploratório descritivo, realizado
segundo a abordagem qualitativa. Os termos exploratório e
descritivo são utilizados para buscar informações precisas
sobre as características dos sujeitos da pesquisa, grupos,
instituições e ocorrência de um determinado fenômeno8. A
análise do tipo qualitativa é caracterizada como “modos de
inquisição sistemática preocupada com a compreensão dos
seres humanos e da natureza de suas transações consigo
mesmos e com seus arredores”9:270.
O cenário de estudo foi o Departamento de Enfermagem
da UFPI, Campus Ininga, situado na cidade de Teresina, PI. Os
sujeitos da pesquisa foram os alunos regularmente
matriculados no curso de enfermagem - bacharelado.
Como instrumentos de coleta de dados foram utilizados o
roteiro de entrevista, fitas cassete e gravador. A entrevista é um
tipo de pesquisa em que o entrevistador faz questionamentos
verbais ao sujeito da pesquisa 8.
A escolha dos sujeitos que fizeram parte da pesquisa
ocorreu de forma aleatória entre os alunos, até que se
estabeleceu a saturação das falas, a qual, de acordo com Polit e
Hungler9, refere-se à sensação de fechamento vivenciada pelo
pesquisador quando a produção de dados deixa de trazer novas
informações. Os sujeitos que aceitaram participar da pesquisa
foram informados dos objetivos e da preservação do seu anonimato.
Após estas informações, os sujeitos ofereceram seu consentimento
autorizando a divulgação de seus discursos sobre o fenômeno
tanto no meio acadêmico da UFPI como em publicações cientificas
da área. Para tanto assinaram um Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido, em conformidade com a Resolução 196/96. O
projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFPI e
autorizado para a realização do estudo.
Foram realizadas leituras e re-leituras para identificar
núcleos comuns nos discursos a fim de categorizá-los. A analise
realizada foi, portanto, do tipo qualitativo e subsidiada no
referencial teórico sobre o fenômeno estudado.
DISCUSSÃO E ANÁLISE
Foram entrevistados 22 (vinte e dois) alunos, sendo 15
(quinze) do sexo feminino e 06 (seis) do sexo masculino, os
Situações Estressoras
[...] um período em especial foi o primeiro período. Era
tudo novidade para mim e eu não sabia como contornar
ainda a situação. (Aluno c, sexo feminino, formação
profissionalizante)
[...] No terceiro período, quando a gente ia começar a
disciplina de fisiologia. Todo mundo ansioso com a
disciplina, por que tem laboratório, que tem aquelas
práticas de trabalhar com rato, com cachorro [...] (Aluno
h, sexo masculino, formação profissionalizante)
Bernik¹0 afirma que mudanças no decurso da vida, sejam elas
boas ou ruins, são caracterizadas por possuir o potencial efeito de
repercutir em condição de estresse. O autor exemplifica mudança
com situações de casamento, nascimento de um filho, divórcio,
iniciar um novo emprego, morar longe da família, entre outras.
No nosso estudo, a mudança que existe a princípio é o ingresso
na universidade. O aluno inicia uma nova fase em sua vida e isso
é um fato claramente caracterizado como mudança, e, portanto,
é considerado como uma situação estressora. Ou seja, esta é
traduzida em circunstâncias de adaptabilidade imediata como o
ingresso na graduação ou o cursar de disciplinas que exijam um
primeiro contato com práticas laboratoriais.
O cumprimento das atividades acadêmicas distribuídas em
uma carga horária dividida em dois turnos é também apontado
pelos alunos como uma situação geradora de estresse. Os períodos
acadêmicos, as atividades são distribuídas ao longo da semana
nos dois turnos (manhã e tarde), pois não há no curso um turno
único para cursar as disciplinas, o que os alunos apontam como
situação estressora durante o curso.
[...] tem dias que você assiste aula o dia inteiro, tem
outros dias em que você não assiste aula de jeito
nenhum. (Aluno v, sexo feminino, formação básica)
Está sendo muito corrido, está tomando muito meu
tempo e eu não estou conseguindo me organizar. (Aluno
g, sexo masculino, formação profissionalizante)
Eu fico época sobrecarregada e tem épocas em que passo
dias até bem livres, assim, sem afazeres acadêmicos. É
mais é essa inconstância. (Aluno r, sexo masculino,
formação profissionalizante)
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 66 - 72.
69
Estresse no Cotidiano dos Alunos de Enfermagem da UFPI
Monteiro CFS et al
Molina4 contempla que a exacerbação no cumprimento de
tarefas pelo homem no cotidiano das grandes cidades é uma
das mais marcantes situações geradoras de estresse. A elevada
dose diária dos mais diversos afazeres torna o homem urbano
uma vítima da construção do seu próprio progresso e o estresse
é então deflagrado. Em cer tos períodos do curso, a
irregularidade dos horários destinados à realização das
atividades, no transcorrer da semana, repercute de forma
negativa no que é lembrado pelos alunos. Em certos momentos,
há um excesso de atividades, o que ocasiona uma inabilidade
de atender às demandas, gerando tensão e, por conseguinte,
estresse. Outras vezes, o aluno se defronta com situações livres
de afazeres acadêmicos, tornando-se confuso e inapto. E é
justamente esta percepção confusa quanto à realização de suas
atividades acadêmicas que resulta em sentimentos típicos de
estresse nos alunos, como desgaste e sentimentos de inabilidade.
Como exposto anteriormente, encontramos que as
circunstâncias estressoras estão presentes em diversas
ocasiões da graduação. Contudo, em determinados períodos
do curso, a situação de estresse é apontada de forma notória
e mais incisiva em detrimento de outros. Há um marcante
momento referido por muitos alunos: o cursar da disciplina
“Farmacologia para Enfermagem”, disposta no quarto período
da formação acadêmica.
A situação de estresse que melhor caracteriza foi no
quarto período, durante farmacologia (Aluno b, sexo
feminino, formação profissionalizante)
[...] é uma disciplina bastante pesada, do curso em si,
em que você tem que se dedicar muito. Praticamente
ter uma dedicação bastante priorizada desta em relação
às outras. (Aluno e, sexo masculino, formação
profissionalizante)
Às vezes a gente tinha aula prática, tinha aula teórica
e tinha prova no mesmo dia. É uma situação de estresse,
ansiedad, e ficou marcado especificamente em
farmacologia. (Aluno s, sexo feminino, formação
profissionalizante)
De acordo com o seu plano de curso, a disciplina
“Farmacologia para Enfermagem” oferece as seguintes
atividades: aulas teóricas, aulas práticas (consistindo em
atividade experimental com uso de drogas e animais de
laboratório), grupos de discussão (discussão em grupos de
temas previamente estudados), pequenos testes (avaliações
compostas por pequena quantidade de questões a respeito
do conteúdo de uma aula prática), seminários e avaliações
teóricas. As atividades são distribuídas de tal forma no
calendário acadêmico que em alguns dias há a realização de
mais de uma dessas atividades.
Podemos considerar que a forma do processo educacional utilizado
pela disciplina com várias atividades em um mesmo dia torna-se
estressante para o aluno, conforme o depoimento do alunos.
[...] você vê que tem uma situação que está lhe
prejudicando e prejudicando seu desempenho, que você
poderia se sair bem melhor e você não poder fazer
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 66 - 72.
nada. É muita exigência e sempre aquela sensação de
que não sabe o que vai acontecer se vai tirar boa nota
ou não, se estuda só farmacologia ou não. (Aluno v,
sexo feminino, formação básica)
Então, basicamente, fica a sensação de impotência mesmo,
de ficar esperando ver o que vai dar. (Aluno n, sexo
masculino, formação básica)
Acreditamos que é justamente nesta neutralidade que
reside uma das gêneses do processo de estresse do aluno que
cursa a disciplina de Farmacologia para Enfermagem. Além
da caracterizada exacerbação no número de atividades diárias,
fundamentada anteriormente como circunstância estressora,
encontramos na passividade do aluno uma fonte irradiadora
de estresse. Isto é defendido por Lipp 6, quando afirma que a
ausência ou a redução da participação do indivíduo em eventos
que compõem e influenciam diretamente na sua vida implica
estresse. Estresse esse que é derivado de sentimentos de
frustração e da impressão tida por parte do homem de não
estar sendo o responsável, ao menos em par te, pelos
acontecimentos constituintes de seu dia-a-dia.
Sintomas do Estresse
A investigação da sintomática de estresse vivenciada pelos
alunos revelou uma problemática tanto de âmbito fisiológico
quanto de caráter psico-emocional. No entanto, o
questionamento resultou num acentuado predomínio de
sintomas de ordem emocional, tendo esses características de
subjetividade. Destacou-se, ainda, a demonstração por parte
dos alunos de sentimentos, muitas vezes, de revolta,
passividade e frustração.
Os sintomas são taquicardia, ansiedade, falta de
paciência, suor nas mãos, às vezes tremor, às vezes
tinha dificuldade pra falar, a voz não saía. (Aluno l,
sexo feminino, fase profissionalizante).
Os sintomas foram palpitação, tremedeira e pele fria.
(Aluno m, sexo feminino, fase profissionalizante).
Brunner e Suddart¹¹ relatam os mecanismos da resposta
estressora, a qual é constituída inicialmente pela percepção
de uma situação geradora de estresse pelo cérebro. É atribuído
um significado àquela situação e há o desencadeamento de
uma resposta efetuada por meio de mecanismos neuroquímicos
com condução pelas vias neuroendócrinas. Ocorre
primeiramente a descarga inicial do sistema nervoso simpático,
a qual se dá por meio da liberação hormonal de noradrenalina
e adrenalina, esta última pelas glândulas adrenais, visando
aumentar a função de órgãos vitais e determinar o estado de
alerta geral do organismo. A freqüência cardíaca aumenta, as
pupilas dilatam, a pressão arterial eleva-se e há a constrição
de vasos sanguíneos da pele e extremidades. Por conta disso,
subjetivamente, o indivíduo refere sentir os pés frios, pele e
mãos pegajosas, calafrios e palpitações. O indivíduo também se
encontra tipicamente tenso devido ao aumento da contração
muscular nas regiões do ombro e pescoço, além de apresentar
respirações rápidas e superficiais. Tudo isso contribui para dificular
70
Estresse no Cotidiano dos Alunos de Enfermagem da UFPI
Monteiro CFS et al
o processo da verbalização. Ressalta-se, por fim, que esta
sintomática está inter-relacionada e presente na fase inicial de
uma resposta estressora, ou seja, na fase de alarme.
Em alguns depoimentos foram relatados outros sintomas
mais freqüentemente relacionados às fases secundárias de
resposta ao estresse.
[...] eu sentia dor de cabeça, sonolência, muita
sonolência, desânimo mesmo. (Aluno t, sexo feminino,
formação profissionalizante)
Me irrito bastante, dor de cabeça [...] Não me concentro
mais em nada com o que eu tenho que resolver. (Aluno
f, sexo masculino, formação profissionalizante)
[...] sintomas, pode-se dizer que nervosismo é um deles.
Falta de concentração ocorre muito da minha parte.
(Aluno e, sexo masculino, formação profissionalizante)
A fase secundária de resposta ao estresse, ou fase de
resistência, de acordo com a “Síndrome da Adaptação Geral”
proposta por Selye 12, é caracterizada por reações de
manutenção do estado de alerta. O autor afirma que o
organismo busca ajustar-se continuamente à situação em que
se encontra. A partir daí, ocorre a provisão de fontes de
energia rapidamente metabolozáveis, ou seja, uma elevada
produção e consumo de glicose. Toda essa mobilização de
energia traz algumas conseqüências como cefaléia, sensação
de desgaste, fraqueza, sonolência, falta de concentração e
lapsos de memória. Recentes pesquisas relacionam estes
últimos sintomas aos efeitos nocivos do estresse em uma das
áreas do cérebro responsável pela memorização e aprendizado,
o hipocampo. Sapolsky 5 aponta que a perduração do estresse
aumenta a produção de glicocorticóides. Estes hormônios atuam
em áreas hipocampais e possuem a propriedade de ocasionar a
atrofia de neurônios e suas ramificações, implicando dificuldades
de concentração e de memória.
Em outros depoimentos demonstraram problemática de
ordem emocional caracterizada mais subjetivamente. O que
significa dizer que muitos alunos verbalizaram sentimentos
advindos da representação que as situações estressoras
ofereciam a eles.. Isto é exemplificado nas seguintes falas:
[...] num momento como esse é comum o sintoma de
raiva. Também de passividade. (Aluno h, sexo masculino,
formação profissionalizante)
Os sintomas foram muita raiva, muito cansaço e desestímulo
(Aluno i, sexo feminino, formação básica)
Muito nervosismo, irritação, falta de paciência,
agressividade. Fico agressiva com as pessoas mais próximas
a mim. (Aluno o, sexo feminino, formação básica)
Essa obliqüidade no conteúdo das respostas poderia ser
justificada pelo fato de o estresse ser uma problemática que traz
ampla repercussão no organismo humano. Lazarus e Folkman 13
defendem que o sujeito vítima de uma situação de estresse
desenvolve reações de adaptação qualificadas como bem ou mal
sucedidas. Perturbações orgânicas ligadas ao estresse possuem
uma etapa fisiológica, a qual sabemos não ser administrada
voluntariamente pelo indivíduo. Mas também existe a fase na qual
estão incluídas funções cognitivas, emocionais e comportamentais
que refletem em outros tipos de sensações. No processo de
adaptação a uma nova circunstância, o indivíduo controla a relação
com o meio a fim de manter os estados físico, psicológico e social
estáveis e controlar estressores potenciais, antes que estes se tornem
um risco. Ter-se-á efetividade quando o comportamento utilizado
amenizar os sentimentos desconfortáveis associados às ameaças.
Ocorrerá ineficácia, se a situação ameaçadora não for manejada de
forma eficaz, resultando em crise. Esta, se não for resolvida, pode
implicar desequilíbrios traduzidos pelos sentimentos de raiva,
agressividade, passividade, cansaço e desestímulo, os quais tiveram
menção nos depoimentos.
Situações Estressoras e o Desempenho
das Atividades Acadêmicas
Observamos que o estresse vivenciado pelos alunos implica de
forma negativa no desenvolvimento das suas atividades acadêmicas.
Em suas falas, muitos alunos expuseram que a repercussão das situações
estressoras conduz a problemas de ordem motivacional em relação às
atividades desempenhadas durante o curso. Outra interferência relatada
é o próprio desgaste advindo do estresse ao atuar como agente condutor
de baixo rendimento escolar.
A primeira coisa que acontece é que você fica desmotivado.
E essa desmotivação faz com que você não procure mais
desempenhar as suas atividades acadêmicas com o mesmo
vigor e com o mesmo afinco de antes. (Aluno a, sexo
masculino, formação profissionalizante)
Até pra vir pra universidade eu vinha porque eu tinha a
obrigação de querer passar, mas eu não tinha aquela
vontade de assistir aula, aquela vontade de participar
[...]. (Aluno i, sexo feminino, formação profissionalizante)
Eu costumo faltar às aulas. Tenho muitas faltas. Então
eu vou perdendo os assuntos, vou perdendo o interesse
pelo curso, pelas matérias e o desempenho vai diminuindo
cada vez mais. (Aluno q, sexo feminino, formação básica)
O homem, ao enfrentar uma situação estressora, possui dois
caminhos: adaptar-se positivamente ou negativamente àquela situação.
A adaptação positiva aos agentes agressores representa uma situação
de saúde do ponto de vista biopsicossocial. Já a doença advém de um
resultado negativo oriundo da má adaptação à circunstância estressora.
Somente haverá respostas positivas de adaptação quando o homem
adquire sucesso no enfrentamento dos estressores. Caso contrário,
sobrevém as respostas de má adaptação, o que leva o homem condições
consideradas como doenças da má adaptação14.
Quando os alunos vivenciam situações estressoras com
adaptação negativa ocorrem sentimentos de retração. Esta retração
é por fim traduzida em sensações de apatia e falta de motivação
para realização das atividades acadêmicas.
De acordo com o conceito exposto por Pereira e Fávero15,
“motivação” é considerada como a inclinação para ação que tem
origem em um motivo. O motivo seria uma necessidade que, ao
atuar sobre o intelecto, faz a pessoa movimentar-se ou agir.
Percebemos, então, que alguns alunos, após sofrerem uma má
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 66 - 72.
71
Estresse no Cotidiano dos Alunos de Enfermagem da UFPI
Monteiro CFS et al
adaptação a determinada circunstância de estresse, obtêm
a sensação de não “se movimentarem” ao exprimirem
subjetivamente como problemática a falta de motivação. E
isto possui caráter negativo no discurso destes alunos, por
comprometer desfavoravelmente o desempenho das
atividades acadêmicas.
Observamos que muitos alunos relacionam os danos inerentes
da problemática do estresse com uma baixa produtividade de
seus afazeres acadêmicos, como visto nos seguintes discursos:
O estresse em si desgasta muito e o desgaste traz o
cansaço. Com o cansaço você acaba não estudando
direito, você acaba não assimilando os conteúdos
direito, acaba tirando nota baixa, perdendo aula [...]
Acaba afetando o seu rendimento acadêmico (Aluno c
sexo feminino, formação profissionalizante)
[...] era muita coisa pra fazer e que você acabava não
fazendo nada direito. Então, era sobrecarga demais e
eu acho que não fica bem feito. (Aluno b, sexo feminino,
formação profissionalizante)
[...] quando não consigo me concentrar não consigo
estudar de forma adequada e as notas tendem a não ser
muito boas. (Aluno e, sexo feminino, formação básica)
É notório o efeito negativo do estresse no âmbito cognitivo
do ser humano. Souza16 destaca a importância que as situações
estressoras adquirem na implicação de problemas de ordem
de aprendizado, raciocínio, memória e outras funções do
intelecto. O autor afirma que essa relação é alvo de diversas
pesquisas que buscam explicações fisiopatológicas para
fundamentação de como o mecanismo de estresse conduz às
dificuldades no desempenho das funções cognitivas pelo
homem. Muitas dessas pesquisas apontam que hormônios e
mediadores químicos específicos, quando liberados durante as
crises de estresse, são os responsáveis, a médio e longo prazo,
pela baixa capacidade do indivíduo de deliberar suas funções
cognitivas de maneira satisfatória.
Outra explicação seria a utilização inconsciente de um
mecanismo de autoproteção às demandas indesejáveis do meio,
mediante o não cumprimento de determinados afazeres, como
é defendido por Rodrigues 17. Sobrecarregados de afazeres, os
alunos poderiam adotar como estratégia de enfrentamento a
desvinculação a algumas atividades, com a finalidade de evitar
sofrimentos adicionais ligados ao desgaste do estresse. Essa
atitude, no entanto, é encarada negativamente como a
responsável por ser prejudicial à performance no desenvolvimento
das atividades acadêmicas. O estresse, por se constituir em
alterações oriundas de situações novas ou de enfrentamento,
exige esforço de adaptações físicas e psicológicas que pode ser
negativo ou positivo para o organismo18.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 66 - 72.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com o exposto, o estudo revelou o olhar
dos alunos de graduação em enfermagem da UFPI a
respeito da problemática do estresse por eles vivenciado
no âmbito acadêmico.
Verificou-se que as situações de estresse estão presentes
no transcorrer do curso de graduação. Independentemente do
período de formação em que estavam matriculados, se
destacaram menções por parte dos alunos de outros momentos
estressores do curso, que não aqueles em que se encontravam.
O estudo apresentou que os alunos referem como ocasiões
estressoras o ingresso na universidade e o cursar de
determinadas disciplinas que exigem práticas laboratoriais
não antes realizadas. Os alunos também apontaram como
situação geradora de estresse o cumprimento de uma carga
horária semanal distribuída em dois turnos.
De acordo com o observado no discurso de muitos alunos,
figura como momento estressor de bastante relevância o cursar
da disciplina Farmacologia para Enfermagem. Determinados
alunos, mesmo matriculados em períodos finais do curso,
referiam o cursar da disciplina como circunstância estressora
de maior destaque no âmbito acadêmico.
Em relação à sintomática do estresse experimentada pelos
alunos durante as situações estressoras, constatou-se a
referência à sintomatologia clássica da fase de alarme ao
estresse: taquicardia, tensão muscular, pele e extremidades
frias, dentre outras. Houve também a menção da problemática
relacionada às fases secundárias de resposta ao estresse, como
cefaléia, sonolência, irritabilidade e dificuldade de
concentração, além da citação de sentimentos subjetivos como
raiva, passividade e o desestímulo.
Por fim, o estudo demonstrou a relação da problemática
do estresse e o desenvolver das atividades acadêmicas. Os
discursos demonstraram a repercussão negativa do estresse
na realização dos afazeres do curso, ou por excesso de
estímulos ou por mecanismos de proteção, traduzindo-se
em quedas da performance acadêmica.
Os resultados evidenciam que os alunos vivenciam
situações estressoras e que estas refletem na qualidade da
sua saúde mental, deixando-os mais irritados, ansiosos,
com baixa auto-estima e desestimulados.
A partir das análises, é possível indicar algumas sugestões
para o fenômeno estudado, entre elas citamos a distribuição
da carga horária do curso em um único turno, o que facilitaria
a disponibilidade de tempo para estudar e desenvolver outras
atividades, bem como favorecer mais escuta e acolhimento aos
alunos para detectar situações de estresse e buscar construir
juntos formas de administrá-las.
72
Referências
1. Mendes IAC. Convivendo e enfrentando situações de stress
profissional. Rev. Latino-Am Enfermagem 2001 mar/dez; 9 (2): 1-5.
2. Cataldi MJG. O stress no meio ambiente de trabalho. São Paulo(SP):
LTR; 2002.
3. Stacciarini JM, Trocolli BT. O estresse na atividade ocupacional do
enfermeiro. Rev Latino-Am Enfermagem 2001 abr; 9(2):17-25.
4. Molina OF. Estresse no cotidiano. São Paulo(SP): Pancast; 1996.
5. Sapolsky R. Assumindo o controle do estresse. Scientific American
2003 out;13.
6. Lipp MEN. Pesquisas sobre stress no Brasil: saúde, ocupações e
grupos de risco. Campinas (SP): Papirus; 1996.
7. Figueiredo RM, Oliveira MAP. Necessidades de estudantes
universitários para a implantação de um serviço de orientação e educação
em saúde. Rev Latino-Am Enfermagem 1995 jan/fev; 3(1): 05-14.
8. Lobiondo-Wood G, Harber J. Pesquisa em enfermagem:
métodos e avaliação crítica e utilização. Rio de Janeiro (RJ):
Guanabara Koogan; 2001.
9. Polit DF, Hungler BP. Fundamentos de pesquisa em enfermagem.
Porto Alegre(RS): Artes Médicas; 1995.
10. Bernik V. Estresse: o assassino silencioso.[on-line] [citado 06
ago 2006]. Disponível em: http://www.cerebromente.org.br/n03/
doencas/stress.htm.
11. Smeltzer SC. Brunner& Suddarth: Tratado de enfermagem médicocirúrgica. 9ª ed. Rio de Janeiro(RJ): Guanabara Koogan; 2002.
12. Selye H. Stress in health and disease. Boston (USA):
Butterworths;1976
13. Lazarus RS. Stress appraisal and coping. New York (USA):
Springer Publ; 1984.
Estresse no Cotidiano dos Alunos de Enfermagem da UFPI
Monteiro CFS et al
14. Ballone GJ. Estresse: introdução. [on-line] [citado 12 ago 2006].
Disponível em: http://www.psiqweb.med.br/cursos/estresse.html.
15. Pereira MCA, Favero N. A motivação no trabalho da equipe de
enfermagem. Rev Latino-Am Enfermagem 2001 set; 9(4):7-12.
16. Souza FP. O estresse e as doenças psicossomáticas.[on
line][citado 14 ago 2006]. Disponível em: http://www.icb.ufmg.br/
lpf/revista/index_revista.htm.
17. Rodrigues AL. Stress e trabalho: uma abordagem psicossomática.
São Paulo(SP): Atlas; 1999.
18. Meireles NF, Zeitone RCG. Satisfação no trabalho e fatores de
estresse da equipe de enfermagem de um centro cirúrgico oncológico.
Esc Anna Nery Rev Enferm 2003 abr; 7(1): 78-88.
Sobre os Autores
Claudete FFer
er r eir
eiraa de Souza Monteir
Monteiroo
Enfermeira.Doutora em enfermagem pela EEAN. Professora adjunto
da Universidade Federal do Piauí (UFPI)/Depar tamento de
Enfermagem. Coordenadora do Programa de Pós-Graduação
Mestrado em Enfemagem da UFPI. Sub-Coordenadora do Núcleo de
Estudos e Pesquisas Sobre a Mulher e Relações de Gênero da UFPI
Teresina-PI. e-mail: claudetefmonteiro@hotmail.com .
Jairo Francisco de Medeiros Freitas
Aluno do 9º período do curso de enfermagem da UFPI.
Ar tur Assunção PPer
er
eir
ereir
eiraa Ribeir
Ribeiroo
Aluno do 9º período do curso de enfermagem da UFPI.
Recebido em 26/09/2006
Reapresentado em 22/12/2006
Aprovado em 09/01/2007
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 66 - 72.
73
Profissionais de Enfermagem e a Criança com Malformação Congênita
Dias IAMV et al
OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DIANTE DO
NASCIMENTO DA CRIANÇA COM MALFORMAÇÃO CONGÊNITA
Nursing Professionals Before of the Birth of
a Child with Congenital Malformation
Los Profesionales de Enfermería En el
Nacimiento de un Niño con Malformación Congénita
Iêda Maria Ávila Vargas Dias
Rosangela da Silva Santos
Resumo
Estudo de natureza qualitativa utilizou o Método História de Vida e teve por objeto de estudo a percepção da equipe de
enfermagem de sua experiência em atuar no nascimento de uma criança portadora de malformação congênita. Os
resultados permitiram a construção de três categorias temáticas: a percepção da equipe de enfermagem ao assistir o
nascimento de uma criança com malformação congênita; as estratégias empregadas pela equipe de enfermagem; e os
fatores que influenciam a atuação da equipe. O estudo evidenciou que a experiência de atuar no nascimento de criança
malformada é percebida tanto como uma experiência prazerosa e gratificante quanto como uma experiência estressante
e incômoda. A percepção dessa experiência é influenciada pela história de vida do indivíduo; processo de formação do
profissional; tempo de atuação e suporte institucional em relação aos aspectos técnicos, científicos e emocionais.
Pala
vr
as-c
ha
alavr
vras-c
as-cha
havve: Anormalidades. Saúde da Criança. Enfermagem.
Abstract
Resumen
Study of qualitative nature that used the History of Life
Method and had as study subject the perception of the
nursing staff about the experience acting in a child’s
bir th with congenital malformation. The result allowed
the construction of three thematic categories: the
perception of the nursing staff when attending a child’s
bir th with congenital malformation; the strategies used
by the nursing team; and the factors that infuse on the
performance of the team. The study evidenced that the
experience of acting in malformed child’s birth is noticed
as much a pleased and gratifying experience, as a
stressful and uncomfor table experience. The perception
of that experience is influenced by the history of the
individual’s life; process of the professional’s
formation; time of performance and institutional
suppor t, concerning to the relation to the technical
aspects, scientific and emotional ones.
Estudio de naturaleza cualitativa que utilizó el Método
Historia de Vida y tuvo por objeto de estudio la percepción
del equipo de enfermería a través de la experiencia en
actuar al nacimiento de un niño portador de malformación
congénita. Los resultados permitieron la construcción de
tres categorías temáticas: La percepción del equipo de
enfermería al asistir el nacimiento de un niño con
malformación congénita; Las estrategias empleadas por el
equipo de enfermería; y los factores que influencian la
actuación del equipo. El estudio evidenció que la experiencia
de actuar en el nacimiento de un niño malformado es
percibida tanto como una experiencia que da placer y que
gratifica, así como una experiencia estresante e incómoda.
La percepción de esa experiencia es influenciada por la
historia de vida del individuo; proceso de formación del
profesional; tiempo de actuación y soporte institucional en
relación a los aspectos técnicos, científicos y emocionales.
Keywords:
Abnormalities. CHild Health. Nursing.
Palabras clave:
Anormalias. Salud del Niño. Enfermería.
Esc Anna
Enferm
Esc Anna Nery R Enferm
2007 Nery
mar; R11
(1): 732007
- 9. mar; 11 (1): 73 - 9.
74
Profissionais de Enfermagem e a Criança com Malformação Congênita
Dias IAMV et al
INTRODUÇÃO
A malformação congênita existe desde os tempos mais
remotos, havendo inúmeros tipos e gravidades variáveis.
Algumas quase não causam problemas ao portador; outras
são totalmente incompatíveis com a vida e contribuem
consideravelmente para a morbimortalidade infantil.
As malformações podem ser de origem genética, como as
anomalias cromossômicas ou de genes mutantes, ou não
genética, cuja causa é, muitas vezes, desconhecida, embora
existam fatores inter-relacionados, como infecções perinatais,
idade materna, uso de drogas e irradiação durante a gravidez.
As gestações planejadas são as de menor risco para defeitos
congênitos, por isso, a importância do acompanhamento
gestacional por profissionais de saúde. O pré-natal efetivo é
uma importante medida preventiva, pois permite a elaboração
de um histórico de saúde da mãe e da criança, podendo indicar
uma gravidez de risco.
A habilidade dos profissionais em conduzir essa situação
vai ter profundo impacto na assistência prestada. Em muitos
casos, é no nascimento que a família é informada da
malformação, o que torna este momento decisivo. Por isso,
acredita-se que o nascimento de uma criança malformada é
uma situação conflitante não só para os pais e familiares, mas
também para a equipe de saúde que assiste este nascimento.
Dentro deste contexto, a presente investigação teve como
objetivo de estudo analisar a percepção que a equipe de
enfermagem tem de sua experiência profissional diante do
nascimento de uma criança com malformação congênita;
descrever de que forma o profissional de enfermagem reage
diante do nascimento de uma criança nesta circunstância e
discutir as estratégias utilizadas pelos profissionais de
enfermagem no enfrentamento desta conjuntura.
Acredita-se que este estudo seja relevante para a assistência,
o ensino e a pesquisa, porque oferece subsídios para melhorar a
qualidade da assistência de enfermagem prestada no nascimento
de uma criança com malformação congênita.
REFERENCIAL TEÓRICO
A Organização Pan-Americana da Saúde1 (OPAS) conceitua
malformação congênita como toda anomalia funcional ou
estrutural do desenvolvimento do feto, devido a fatores
originados antes do nascimento, sejam estes genéticos,
ambientais ou desconhecidos. Mesmo quando o defeito não é
aparente e somente se manifeste clinicamente mais tarde, é
considerado uma malformação congênita.
Vários fatores influenciam a aceitação de uma criança
malformada pela família. Pelchat et al.2 relacionam os principais
fatores agrupados em três grandes categorias, a saber:
preparação dos pais durante a gravidez, fatores sociais e
culturais e atitudes da equipe de profissionais que assiste esse
nascimento. As autoras referem que a preparação da mãe
durante a gestação permite que ela se prepare, tanto física
quanto psicologicamente, para a chegada de sua criança.
Durante esse período, a mãe visualiza a imagem de sua criança,
e essa imagem é composta das representações de seus
preferidos, como: marido, mãe, pai, irmão, irmã. Este processo
antecipatório de arranjos e adaptação faz parte da preparação
à maternidade, mas é interrompido bruscamente pelo
nascimento da criança malformada. Trabalhar de forma
adequada e precoce essa possibilidade diminui o impacto e a
frustração da mãe no momento do nascimento.
No que diz respeito à atuação do profissional de saúde,
Pelchat et al.3 destacam a sua relevância, uma vez que esta
poderá desencadear reações negativas ou positivas nos pais.
Para uma intervenção terapêutica, as autoras recomendam que a
enfermeira se posicione como instrumento facilitador do processo
vivenciado pelos pais, assegurando-lhes que tem tempo e está
interessada em ouvir, encorajando os pais a falarem a respeito da
malformação, compartilhando com eles seus próprios sentimentos
de angústia ante o processo de luto pela ‘morte’ do filho idealizado,
buscando compreender esse processo e, principalmente,
reconhecendo as próprias reações diante da situação.
Ao discutir a relação estabelecida entre os profissionais e
as crianças com malformação congênita, é importante ressaltar
duas questões apontadas por Glat4: a primeira se refere à relação
de poder estabelecida entre a criança com malformação e o
profissional que a atende; a segunda diz respeito ao que Omote
apud Glat4 chama de processo de fabricação e manutenção da
deficiência, que está estreitamente ligado aos mecanismos
conceituais e operacionais de legitimização do estigma. Esse
processo é a maneira de a sociedade garantir a coesão, mantendo
o desvio inevitável, em nível controlável. Os profissionais que
atendem as crianças com malformação congênita, apesar do
desejo genuíno de ajudá-las, sofrem das mesmas representações
estereotipadas que o resto da população.
Santos 5 a partir dos resultados obtidos em tese de
doutorado infere que o atendimento recebido pelas mães de
crianças com malformação não tem atendido às expectativas
maternas, trazendo conseqüências drásticas para a criança.
Segundo os resultados apontados pela autora, essas mães
ressentem-se da falta de orientação, de informação correta e
de apoio profissional. Parafraseando Santos5, a comunicação
do diagnóstico deve ser feita de maneira simples. Como a mãe
se encontra sob forte comoção, muito do que for falado acaba
não sendo totalmente assimilado por ela, independente do seu
nível de esclarecimento. O fato de ser esclarecida ou até de ter
tido experiência prévia com a deficiência, profissionalmente ou
não, não impede nem facilita que o choque ocorra ou que ela
aceite a deficiência. Ressalta que a notícia do diagnóstico pode
ser comunicada por qualquer integrante da equipe de saúde,
desde de que este esteja devidamente preparado. O importante
é que não haja postergação ou omissão da informação.
No período do nascimento e da infância, tanto a criança
malformada como os pais necessitam de ajuda. Souza e
Carvalho6 destacam a grande dificuldade em realizá-la. Para
as autoras, a desinformação e desorientação dos familiares
em relação ao cuidado com o filho malformado repercutem de
forma decisiva no desenvolvimento da criança, na sua
integração e na reestruturação do sistema familiar. As
orientações são importantes e devem ser transmitidas pelos
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 73 - 9.
75
Profissionais de Enfermagem e a Criança com Malformação Congênita
Dias IAMV et al
profissionais tão logo possível, pois a estimulação precoce
favorece o desenvolvimento da criança malformada. Sendo
assim, compete ao profissional o papel de conscientizar e
capacitar as pessoas a conhecer e refletir sobre a realidade,
auxiliando-as a transformar ou redimensionar suas práticas,
visando melhorar a qualidade de suas vidas.
REFERENCIAL METODOLÓGICO
Considerando a forma interpretativa com que se tratou o
objeto de estudo, escolheu-se a abordagem metodológica
qualitativa, por acreditar que esta fosse a mais apropriada para
conduzir a presente investigação. A pesquisa qualitativa, também
chamada de naturalística, de um modo geral, enfatiza a
importância de conhecer, entender e interpretar a natureza das
situações e eventos quer sejam eles passados ou presentes7.
Dentro da abordagem qualitativa, elegeu-se o Método
História de Vida como método de estudo da presente
investigação. Também denominado Método Biográfico, é uma
situação de intervenção social, de comunicação, onde se
defrontam o pesquisador, com um projeto definido, e o
pesquisado, que, aceitando a proposta, faz um relato de sua
existência em que está contida uma mensagem destinada ao
seu interlocutor. Segundo Brioschi e Trigo8, o método se
constitui numa narrativa, cabendo ao narrador dar uma
interpretação pessoal aos fatos de sua própria vida.
No presente estudo, as participantes, após terem assinado
o termo de consentimento livre e esclarecido, abordaram o
tema de forma livre, com o mínimo de interferência, pelo tempo
que acharam conveniente. Os depoimentos foram gravados
em fitas magnéticas com aquiescência das depoentes e
garantia de sigilo e anonimato, respeitando as diretrizes e
normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres
humanos, previstas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional
de Saúde. Ressalta-se que o estudo obteve a aprovação do
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Instituto Fernandes
Figueira, parecer nº 213/02 e do CEP do Hospital Universitário
Pedro Ernesto, parecer 789/HUPE.
Seguindo a recomendação de Bertaux9, os registros dos
relatos foram transcritos imediatamente após as entrevistas,
o que permitiu à pesquisadora organizar as idéias em relação
ao questionamento e ao ponto de saturação. Assim como é
proposto no Método História de Vida, por Daniel Bertaux9,
foram realizadas, concomitantemente à coleta de depoimentos,
a transcrição e análise das entrevistas.
Na busca de atingir os significados manifestos e latentes
no material, recorreu-se à Análise Temática, também chamada
Análise Categorial. De acordo com Rodrigues e Leopardi10, este
tipo de análise comporta um feixe de relações que podem ser
graficamente apresentadas através de uma palavra, uma frase
ou um resumo. Funciona pelo desmembramento do texto em
unidades, em categorias, segundo reagrupamentos analógicos.
Foram convidadas para participar do estudo as integrantes
da equipe de enfermagem (enfermeiras, técnicas e auxiliares
de enfermagem) que prestam assistência de enfermagem no
período perinatal e pós-natal imediato de crianças com
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 73 - 9.
malformação congênita, de três maternidades públicas da
cidade do Rio de Janeiro. Como critério de inclusão das
participantes no estudo, foi estabelecida a necessidade de a
profissional atuar em sala de parto ou alojamento conjunto; ter
presenciado o nascimento de alguma criança malformada,
independentemente do tempo de atuação no serviço ou na
unidade; e aceitar participar do estudo, voluntariamente.
Desta forma, obteve-se um total de 30 participantes, sendo
dezesseis enfermeiras, quatro técnicas de enfermagem e dez
auxiliares de enfermagem. No processo de coleta de dados,
soube-se que, dentre as auxiliares e técnicas de enfermagem,
cinco estavam em processo de formação acadêmica no Curso
de Graduação em Enfermagem, e que uma das participantes
passou pela vivência de ter concebido uma criança com
malformação congênita, incompatível com a vida.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO
DOS RESULTADOS
A discussão e análise dos depoimentos foram construídas
a partir da transcrição, leitura, codificação, desdobramento,
agrupamento e síntese dos depoimentos, resultando nas
três categorias seguintes:
I - A percepção da equipe de enfermagem
ao assistir o nascimento de uma criança com
malformação congênita.
Esta categoria aborda a percepção que as participantes
têm de sua experiência em assistir o nascimento de uma criança
malformada, as dificuldades e os sentimentos que permeiam
essa experiência. As participantes descreveram diversos casos
de nascimento de crianças malformadas que assistiram ao longo
de suas atuações profissionais. Inicialmente, falavam com muita
naturalidade, contavam detalhes das características estéticas do
recém-nascido malformado, mas à medida que a conversa evoluía,
tornavam-se visivelmente mais reflexivas, chegando a mencionar
o quanto o nascimento de uma criança malformada gera
desconforto entre os profissionais de enfermagem e como é difícil
enfrentar esta situação. O depoimento ilustra essa percepção:
(...) A gente se sente muito mal quando nasce uma
criança malformada, é difícil e vou ser sincera eu não
gosto, acho muito ruim, é sempre muito chocante, a
gente sofre muito quando a gente vê (...). (Colias)
A partir da leitura do depoimento, podemos aludir que o
nascimento de uma criança portadora de malformação congênita
é uma situação difícil e estressante para a equipe de
enfermagem. As depoentes, ao descreverem o desconforto em
lidar profissionalmente com o diferente e com os limites da vida,
referiram que a experiência resulta em sofrimento. O depoimento
abaixo evidencia o sofrimento da equipe de enfermagem ao
assistir o nascimento de uma criança com malformação congênita:
(...) A gente procura dar um bom atendimento. Hoje
tem cirurgia para isso, cirurgia para aquilo, mas tem
horas que desanima, o sofrimento é tanto que tem
momentos que a gente desanima mesmo. É legal quando
você acompanha uma ameaça de parto prematuro,
76
Profissionais de Enfermagem e a Criança com Malformação Congênita
Dias IAMV et al
fica no berçário, como a gente fala, aquecendo na
incubadora até ter peso, mas depois vai embora e
tudo bem, mas é bem diferente a hora que vê um
malformado, se não sobreviver é triste e se sobreviver
é triste também (...). (Eurema)
Diante do depoimento, fica evidenciado que, por ocasião
do nascimento de uma criança malformada, os profissionais
experimentam um certo grau de estresse que resulta em
sofrimento. Uma das possíveis razões que levam a esse
sofrimento está relacionada ao fato de que, conforme Santos5,
a criança malformada remete o ser humano à mais profunda de
suas raízes, que, de alguma forma, procuramos sufocar e
fazemos questão de não ver. Devido a isso, nesta situação, os
profissionais têm dificuldade de trabalhar com seus próprios
sentimentos, reagindo com frustração e ressentimento diante
de uma situação que lhes causa impotência.
Finalizando a análise da categoria denominada “A
percepção da equipe de enfermagem ao assistir o nascimento
de uma criança com malformação congênita”, cabe ressaltar a
relevância desses dados, que possibilitaram evidenciar o quanto
esta é uma situação estressante para a equipe de enfermagem,
pela frustração que lhe é inerente.
II - As estratégias empregadas pela equipe
de enfermagem ao assistir o nascimento de
uma criança malformada.
Esta categoria trata das reações desencadeadas pela
experiência de atuar profissionalmente ante a malformação
congênita e das estratégias utilizadas pelas participantes no
enfrentamento dessa situação.
Os depoimentos evidenciam que várias reações emergem
dessa experiência, tais como: empatia, busca pela
espiritualidade e sublimação da situação, isolamento e
banalização. Além dessas reações, outras estratégias defensivas
foram mencionadas pelas participantes: procurar esquecer a qualquer
custo o sofrimento cotidiano, procurar manter a vida social separada
das situações do mundo do trabalho e vivenciar crises manifestadas
através de doenças, tornando o corpo uma válvula de escape.
Observou-se que as participantes reagem de maneira
distinta diante do nascimento de uma criança com malformação
congênita. A estratégia defensiva predominante foi a empatia,
que é o esforço realizado para reconhecer e compreender os
sentimentos e atitudes do outro, assim como as circunstâncias
que os afetam num determinado momento, ou seja, é o exercício
de se colocar no lugar do outro. Segundo Haddad11, a empatia
nasce da autoconsciência: quanto mais abertos formos às
nossas próprias emoções, mais capazes seremos de ler os
sentimentos dos outros. O depoimento ilustra essa reação:
Aqui tem muita mulher trabalhando, a maioria são
mulheres e mulheres jovens, que estão em plena
fertilidade e com certeza vão engravidar e aí vem esse
tormento, porque, além da profissional, tem uma
mulher. Você conviver com essas situações é complicado
porque, querendo ou não, você reporta para você essa
situação de gerar uma criança assim (...). (Adelpha)
Quase na mesma freqüência da empatia, as participantes
mencionaram a busca pela religião. A religiosidade foi
fortemente pontuada tanto pelas participantes como, segundo
os depoimentos, pelos familiares das crianças que apresentam
malformação congênita. Deve-se ratificar essa busca pela
espiritualidade da barganha, definida por Kubler-Ross12 como
mecanismo psicológico que busca retardar o inevitável,
envolvendo um processo de negociação, geralmente com Deus
ou com algum poder maior. No caso, as participantes não
chegam a propor uma troca, ou seja, não fazem barganha com
ninguém, nem mesmo com Deus; apenas buscam neste Ser
Supremo um conforto para superar as adversidades surgidas
em sua prática profissional. O depoimento abaixo ilustra esta
busca pela religiosidade:
(...) Eu acredito muito em Deus, eu faço minhas
orações, sempre rezo muito por isso, rezo para que
Ele tire essa impressão da minha cabeça, que não
deixe eu me influenciar por isso, para eu não ficar
pensando (...). (Lysimnia)
Diante dos depoimentos, pode-se aludir que a fé constitui
uma fonte de conforto para as participantes, favorecendo o
aparecimento da estratégia defensiva de sublimação.
Uma outra estratégia defensiva observada em nosso estudo
foi o afastamento, também chamado de isolamento. Segundo
Gauderer13, o enfrentamento de uma situação difícil é muito
desgastante, e como tudo o que é penoso precisa ser eliminado,
o profissional desenvolve um sentimento de rejeição; mas como
sabe que sentimentos de raiva, rejeição e agressão vão de
encontro aos preceitos preconizados pela profissão, passa a se
sentir culpado. Esse sentimento, em geral, é inconsciente e se
camufla em inúmeras justificativas. Um dos mecanismos
utilizados para trabalhar com a situação causadora de
sofrimento é promover o afastamento. Desta forma, o
profissional se isola, não participa, não compartilha, não se
envolve e, conseqüentemente, não sofre, conforme está
expresso no depoimento a seguir:
(...) mas depois ela ficou chorosa, e eu saí até porque
eu acho que eu não estava preparada, acho que eu não
queria chorar junto com ela, independente de ter muito
trabalho, porque às vezes você faz questão de ficar
quase que distante (...). (Martia)
O distanciamento é mencionado como uma tática para
evitar o envolvimento e, conseqüentemente, o sofrimento. O
emprego desse recurso, como forma de aliviar o desconforto
sentido durante o trabalho, transmite a impressão de
insensibilidade, podendo até parecer uma indiferença, o que
pode ser deletério, pois que isso interfere sobremaneira nas
relações estabelecidas no ambiente de trabalho. Acredita-se
que a utilização dessa estratégia é empregada no sentido de
autoproteção das participantes, embora este não seja o meio
mais apropriado para estabelecer possibilidades de resolução
dos problemas iminentes.
A banalização, outra estratégia evidenciada neste estudo,
é conceituada por Beck14 como um modo de enfrentamento de
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 73 - 9.
Profissionais de Enfermagem e a Criança com Malformação Congênita
Dias IAMV et al
situações importantes que provocam sofrimento e são
encaradas como comuns e inerentes ao contexto em que o
trabalhador vive. Pode-se ainda entender a banalização como
um processo de simplificação dos acontecimentos, como se os
eventos passassem a ser apenas mais um. É como fazer de
conta que nada está acontecendo, ou como se os
acontecimentos fossem esperados e não requeressem decisões.
Além das estratégias defensivas supracitadas, outras foram
mencionadas pelas participantes para serem feitas diante do
sofrimento, algumas delas consideradas positivas, outras nem
tanto. Dentre estas últimas, destacam-se: Procurar esquecer
a qualquer custo o sofrimento cotidiano, o que se considera
inapropriado, porque em qualquer situação o custo deve ser
sempre avaliado e, sensatamente, a relação custo-benefício é
uma constante. Anular as emoções: isso pode ser uma
estratégia pouco eficaz porque o beneficio, isto é, se
conseguido, pode ser temporário, rever tendo-se,
posteriormente, em mais sofrimento.
Finalizando a categoria denominada “As estratégias
empregadas pela equipe de enfermagem ao assistir o
nascimento de uma criança malformada”, ressalta-se que a
relevância da equipe permite traçar uma intervenção
apropriada para o aprimoramento da mesma.
III - Os fatores que influenciam a
atuação da equipe de enfermagem em
assistir o nascimento de uma criança
portadora de malformação
Essa categoria apresenta os fatores que exercem influência
na atuação da equipe de enfermagem, como: história de vida
do sujeito, tempo de experiência, processo de formação
acadêmica e suportes que a experiência demanda. Vários
fatores são suscetíveis de influenciar a forma como o
profissional interpreta essa situação, o que tem repercussão
direta na sua postura. Entre estes fatores, foram identificados
nos depoimentos da equipe de enfermagem: a história de vida
do sujeito, o tempo de experiência, o processo de formação
acadêmica e os suportes que a experiência demanda. Esses
fatores consistiram-se em subcategorias, descrita a seguir:
A influência da história de vida das depoentes na
experiência de assistir o nascimento da criança
portadora de malformação:
Nossa história de vida é construída ao longo do tempo e
assinalada pelas lembranças e impressões significativas de nossa
existência. A relação afetiva estabelecida com a figura materna,
no início da vida, constitui-se em uma das mais importantes
significações do indivíduo. Segundo Bowlby15, o desabrochar da
personalidade e da consciência só pode se dar satisfatoriamente
se as primeiras relações humanas forem constantes e satisfatórias.
De acordo com os depoimentos, a frustração da mãe ao
ver que seu filho é malformado, completamente diferente do
idealizado, associada à preocupação em saber como vai ser a
vida deste novo ser, dificulta a aceitação dessa criança e
estabelece um processo relacional permeado por angústia e
tristeza. A equipe de enfermagem compar tilha com os
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 73 - 9.
77
familiares essa vivência e, ao fazê-lo, defronta-se com os conflitos
estabelecidos a partir de sua própria história de vida. Dejours16
refere que, como a percepção do sofrimento alheio provoca um
processo afetivo, perceber o sofrimento alheio resulta numa
experiência sensível a par tir das quais se associam
pensamentos, cujo conteúdo depende da história particular do
sujeito que percebe. A maioria dos profissionais de enfermagem
mostrou-se sensibilizada pela fragilidade em que os pais se
encontravam ao vivenciarem o nascimento de uma criança
malformada. Reconheceram que o próprio encaminhamento para
um hospital que atende gestações de alto risco já era causador
de angústia e apreensão. E, de modo geral, mostraram-se
solidárias e desejosas de confortar a mãe que teve um filho
malformado. No entanto, algumas profissionais mostraram-se mais
sensibilizadas do que outras; dentre esse grupo, algumas pessoas
tinham uma vivência social, familiar, ou até mesmo particular, com
malformação congênita, configurando-se essa experiência prévia
um aspecto de forte repercussão na atuação profissional.
A influência do tempo de atuação na experiência
de assistir o nascimento da criança portadora
de malformação:
Se a experiência anterior com malformação congênita é um
aspecto de for te repercussão na atuação profissional,
conseqüentemente, o tempo de experiência vai ser um fator
determinante. Quanto a isto, os depoimentos evidenciaram que
esta é uma questão divergente, pois enquanto algumas participantes
referiram que, com o passar do tempo, vão se habituando a esta
situação, na medida em que as vivenciam constantemente, outras
dizem não se acostumarem nunca, sendo para elas sempre um
impacto vivenciar tal fato, conforme ilustra o depoimento abaixo:
(...) Eu já estou acostumada, mas no início, quando eu
comecei a trabalhar aqui eu dizia: caramba! Como é que
eu vou cuidar dessa criança? Porque tem umas
malformações gritantes, realmente o bebê parece um
monstrinho, mas isso foi muito na fase inicial, depois
você se acostuma (...). (Lycorea)
Como se percebe no depoimento, parece haver uma
habituação das participantes a tal situação. Contudo, concebese a idéia de que esta habituação esteja relacionada com os
mecanismos de defesa dos quais o profissional lança mão no
enfrentamento de uma situação de sofrimento, pois, ao refletirem
sobre o cuidado prestado à unidade mãe e filho, nos casos de
malformação congênita, caracterizam-no como complexo,
requerendo conhecimento técnico e expressão afetiva, com isso
estabelecendo uma estreita relação entre o ser cuidado e o ser
cuidador, mesmo quando se deseja que esse envolvimento não
aconteça. Mas como o cuidado demanda uma aproximação muito
estreita, ela se torna inevitável. Por conta disso, o profissional
procura se resguardar desenvolvendo estratégias defensivas
pessoais, conforme foi visto na categoria em questão.
A influência do processo de formação profissional
na experiência de assistir o nascimento da criança
portadora de malformação:
Outro fator que exerce influência na experiência de assistir
o nascimento de uma criança malformada, segundo os
78
Profissionais de Enfermagem e a Criança com Malformação Congênita
Dias IAMV et al
depoimentos, é o processo de formação acadêmica do
profissional. No que se refere a este processo, a quase
totalidade das participantes referiram que percebem uma
lacuna em suas formações acadêmicas em relação à
malformação congênita, que pode ser confirmada no
depoimento que se segue:
(...) Eu vi muito pouco de malformação congênita na
faculdade e quando você chega para assumir o cargo daí
que você vai ver o que realmente é, porque quando eu fiz
materno-infantil eu não me lembro de terem abordado
nada disso. A gente aprende no dia-a-dia. Ah! e como a
gente aprende! Tem que aprender porque, se não, como os
profissionais da saúde iriam sobreviver? (...). (Cytheritis)
Pelchat e Lefèbvre17 referem que a maioria dos profissionais
ainda não está preparada para este evento. Com isso, acabam
transmitindo para os pais seus próprios sentimentos de choque,
fracasso e rejeição, além de desenvolverem sentimentos de
culpa e impotência, que resultam em sofrimento diante das
muitas dificuldades do seu cotidiano.
A própria experiência da pesquisadora confirma esses
achados, pois ao cursar a graduação em Enfermagem não se
deparou com a discussão desse tema no processo formal de
ensino. A aproximação de forma sistemática ao tema se deu
como bolsista do Programa de Iniciação Científica, participante
de uma pesquisa, o que não é uma experiência prevista para
todo e qualquer aluno da graduação, fato suficiente para
desper tar as inquietações que motivaram o percurso
profissional da pesquisadora. No próprio Curso de
Especialização em Enfermagem Pediatria e Neonatal, realizado
posteriormente, este tema não foi objeto de uma abordagem
específica, e as discussões a respeito surgiam no decorrer das
aulas, esporadicamente.
De acordo com Popim18, há um hiato na formação dos
profissionais de saúde no que se refere ao preparo destes para
lidarem com situações críticas, como nos casos de morte e de
malformação. Há uma tendência em falar mais sobre a vida, às
vezes até negando a iminência da morte, posição que pode
inviabilizar uma correta atuação profissional.
Por fim, cabe destacar que, apesar de a literatura mostrar
uma ascensão progressiva deste tema no cenário acadêmico,
ainda é relativamente ínfima, tendo em vista o corolário suscitado
pelo nascimento de uma criança malformada, demandando, desta
forma, a contínua conquista de novos espaços de reflexão.
Os suportes que a situação demanda e a influência
desses na experiência de assistir o nascimento da
criança portadora de malformação:
O despreparo acadêmico do profissional para atuar
especificamente nos casos de malformação congênita exige
um aprimoramento profissional e pessoal para que ele possa
fazer frente a tal situação. Neste contexto, são abordadas as
questões referentes aos suportes que essa situação demanda
e a influência desses na experiência de assistir o nascimento
da criança portadora de malformação congênita.
O primeiro suporte refere-se aos cursos de aprimoramento.
As profissionais da equipe de enfermagem entrevistadas
relataram perceber a fragilidade e a especificidade do cuidado
a ser prestado nos casos de nascimento de uma criança portadora
de malformação congênita, experiência tida como de grande
complexidade e de muita responsabilidade, que demanda constante
aprimoramento e muita sensibilidade nas ações de cuidar.
O nascimento de uma criança malformada constitui-se numa
experiência que, sem dúvida, torna mais difícil a vida dos pais
e até mesmo o desempenho dos profissionais. Por conta disso,
esta experiência pode resultar em uma ocasião de aprendizagem
para todos envolvidos. O contínuo aprimoramento dos
profissionais é fundamental ao seu desempenho e tem
repercussões significativas na assistência prestada, pois aquele
que obtém a devida qualificação, além de se apresentar mais
seguro, é mais eficiente em sua atuação.
Para as participantes do estudo, quando se pensa em qualidade
do cuidado especializado, o suporte emocional dos profissionais se
constitui num requisito indispensável, pois a efetiva preparação
para tal situação demanda um preparo que vai além do técnicocientífico. Ou seja, o preparo do profissional está além dos livros;
não basta que ele esteja preparado cientificamente.
Em síntese, esta categoria evidenciou os fatores que
influenciam a experiência de assistir o nascimento da criança
portadora de malformação congênita, considerando que as
par ticipantes das três instituições, indistintamente,
reconheceram essa experiência como especial, além de exigir
constante aprimoramento técnico-científico e emocional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A equipe de enfermagem, ao assistir o nascimento da
criança malformada, percebe sua experiência como estressante,
incômoda e desconfortável, permeada por dificuldades, sendo
a principal delas mostrar a criança ao pai, aos familiares e, em
especial, à mãe. Surgem sentimentos de angústia, raiva,
repulsão e frustração, que levam ao sofrimento.
Tal experiência, ao mesmo tempo, é vista como prazerosa
e gratificante, por propiciar o desenvolvimento pessoal e
profissional, despertando, inclusive, sentimentos de orgulho e
satisfação por permitir a utilização de tecnologia de ponta e a
oportunidade de trabalhar com o diferente.
Essa variação de sentimento entre perceber a experiência
como frustrante ou prazerosa depende da singularidade do
sujeito. Enquanto algumas pessoas vão achar sofrimento em
tudo, até como estratégia de valorização do seu trabalho,
pessoas vão usar a criatividade e buscar formas de atenuar
este sofrimento. Ambas as posturas terão reflexos na saúde do
indivíduo, deteriorando-a e causando ou propiciando condições
que resultam na impossibilidade de mantê-la.
Neste último caso, faz-se necessário que o profissional
apresente maturidade e sensibilidade para tomar consciência
da própria singularidade, o que se constitui num desafio para
os componentes da equipe de enfermagem, pois demanda a
busca por melhores condições de trabalho que permitam um
efetivo aprimoramento profissional e pessoal, atendendo as
necessidades do ser que cuida, mas que também precisa ser
cuidado. A Enfermagem desempenha importante papel junto
aos pais de crianças malformadas, em especial na orientação
dos cuidados físicos, incentivando-os no sentido de que se
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 73 - 9.
Profissionais de Enfermagem e a Criança com Malformação Congênita
Dias IAMV et al
responsabilizem pelo cuidado da criança, como um preparo
para o retorno ao lar, quando esses cuidados deverão continuar;
e também na identificação de desvios de comportamento dos
pais que possam levá-los a negligenciar ou superproteger a
criança, situação que precisaria de encaminhamento especial.
Mas para isso, torna-se necessário que a Enfermagem
compreenda o seu papel diante desse nascimento.
Indubitavelmente, cuidar da família de uma criança
malformada é tarefa de grande complexidade, por isso a prática
requer um cuidado transdisciplinar, que traz como resultado
79
uma riqueza de experiências e uma assistência efetiva a essa
clientela. A família deve ser trabalhada como um todo, incluindo
avós, outros filhos do casal, normais ou não, e outros membros
julgados impor tantes, para que se consiga êxito no
desenvolvimento e na integração da criança malformada. Temos
que convir que cuidar de uma criança malformada é tarefa
árdua, que adquire importância significativa na medida em
que a família deseja, efetivamente, tornar-se responsável pelo
cuidado. Sendo assim, a interação entre profissionais e
familiares deve ser permeada por sentimentos de partilha.
Referências
1. Organización Panamericana de Salude – OPS. Salud materno infantil
y atención primária en las Américas. Washington, DC(USA); 1994.
2. Pechalt D, Stefanelli RM, Spinks PE. Différences et similitudes dans
l’experience des méres et péres d’un enfant ayant deficience. Les
Cahiers Internationaux de Psychologie Sociale 2003; 3(5): 73-82.
3. Pechalt D. Lánnonce de la deficience et processus dádaptation de la famille
handicap, medecine, éthique. Les Cahiers de l’Afrée 1994, 6(8): 81-88.
4. Glat R. Questões atuais em educação especial. A integração social
dos portadores de deficiência: uma reflexão. Rio de Janeiro(RJ): Sette
Letras; 1995.
5. Santos RS. Ser mãe de uma criança especial: do sonho à realidade.
[tese de doutorado]. Rio de Janeiro (RJ): Escola de Enfermagem Anna
Nery/UFRJ; 1995.
6. Souza MJ, Carvalho V. A família da pessoa Down na ótica da mãe: um
estudo para a prática de cuidar. Rio de Janeiro (RJ):UFRJ/EEAN; 2000.
7. Minayo MCS. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 16ª
ed.Petrópolis (RJ): Vozes; 2000.
8. Brioschi LR, Trigo MHB. Relatos de vida em ciências sociais:
considerações metodológicas. Ciência e Cultura 1987; 7 (39): 631-36.
9. Bertaux D. L’Approche biografique: sa valideté méthodologique, ses
otenctialialités. Cahiers Internationaux de Sociologie 1980; 69: 197-25.
10. Rodrigues MSP, Leopardi MT. O método de análise de conteúdo:
uma versão para enfermeiros. Fortaleza (CE): Fundação Cearense
de Pesquisa e Cultura; 1999.
11. Haddad MCL. Importância do apoio psicológico aos enfermeiros que
assistem pacientes terminais. Rev Enferm Moderna 2004; 3(2):9-16.
12. Kubbler-Ross E. Sobre a morte e o morrer. São Paulo (SP): EDART; 1997.
13. Gauderer EC. Autismo. 3ª ed. São Paulo (SP): Atheneu; 1993.
14. Beck CLC. O sofrimento do trabalhador - da banalização à resignificação ética na organização da enfermagem. Florianópolis (SC):
UFSC; 2001.
15. Bowlby J. Cuidados maternos e saúde mental. 5ªed. São Paulo
(SP): Martins Fontes; 1996.
16. Dejours C. A loucura do trabalho. 3ª ed. São Paulo (SP): Cortez; 1994.
17. Pechalt D, Lefèbvre H. Intervention précoce auprés de parents
ayant une déficience: un lieu d’apprentissages pour les families et les
intervenantes. Apprentissage et Socialisation 2004; 1(7): 105-17.
18. Popim RC. O cuidador na ação cuidar na enfermagem oncológica:
uma perspectiva orientada sob o enfoque de Alfred Schütz. [tese de
doutorado]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirão
Preto/USP; 2001.
Sobre as Autoras
Iêda Maria Ávila Var
argg as Dias
Professora Doutora da Faculdade de Enfermagem da Universidade
Federal de Juiz de Fora.
Rosangela da Silva Santos
Professora Doutora em Enfermagem na Escola de Enfermagem Anna
Nery/ Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Recebido em 25/01/2006
Reapresentado em 25/09/2006
Aprovado em 15/01/2007
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 73 - 9.
80
Enfermagem ou Maternagem : Interação Enfermeira - Recém Nascido
Falcão Júnior JSP et al
ENTRE A ENFERMAGEM E A MATERNAGEM: UM ESTUDO
SOBRE A INTERAÇÃO ENFERMEIRA E RECÉM-NASCIDO
Between Nursing and Mother Nursing: a Study on the
Nurse and the New-Born Interaction
Entre La Enfermería y la Maternería: un Estudio Sobre
la Interacción Enfermera y Recién Nacido
Flávia Cristina Cordeiro Biesbroeck
Mariana Gomes Cardim
Maria Aparecida de Luca Nascimento
Resumo
Estudo descritivo exploratório que tem por objetivo correlacionar o comportamento afetivo e interacional das enfermeiras
durante a oferta de alimento ao recém-nascido por meio da técnica do copinho, em uma unidade neonatal, a um cuidado
essencial de enfermagem, tendo em vista a vulnerabilidade desta clientela. Foram observadas, através de imagens, vinte
enfermeiras durante a execução do referido procedimento, e os seus gestuais são discutidos à luz de referenciais da
fisiologia humana, da interação e da psicologia infantil, dentre outros. Conclui-se que o cuidado de enfermagem dispensado
ao recém-nascido, além de cientificamente complexo, requer, de quem o pratica, atenção, ternura e sensibilidade, elementos
subjetivos implícitos no cuidado de enfermagem, que não devem ser creditados à maternagem, mas ao cuidado revestido
de profissionalismo, responsabilidade, cientificidade e ética.
Pala
vr
as-c
ha
alavr
vras-c
as-cha
havv e: Enfermagem. Recém-nascido. Comportamento.
Abstract
Resumen
Descriptive and exploratory study with the objective to
correlate the affective and inter-rational behavior of the
nurses during the offer of food to the new-born by the
technique of the small glass, in a neonatal unit, to a
essential nursing care, aiming the vulnerability of these
clientele. Was observed, trough images, twenty nurses
during the execution of the cited procedure, and their
gestures are discussed based in referential of the human
physiology, of the interaction and of the child psychology,
among others. It was conclude that the nursing care give
to the new-born, besides be scientifically complex,
demands, from whom do it, attention, tenderness and
sensitivity, subjective elements implicit in the nursing care,
that not must be credited to the mother nursing, but to
the care dressed in the professionalism, responsibility,
scientificity and ethics.
Estudio descriptivo y exploratorio con el objetivo de
correlacionar el comportamiento afectivo e inter-racional
de las enfermeras durante la oferta del alimento al recién
nacido por medio de la técnica del vaso pequeño, en una
unidad neonatal, a un cuidado esencial de enfermería,
teniendo en vista la vulnerabilidad de esta clientela. Fué
observada, a través de imágenes, veinte enfermeras durante
la ejecución del procedimiento citado, y sus gestos son
discutidos a la luz de referencias de la fisiología humana, de
la interacción y de la psicología infantil, entre otras.
Concluyese que el cuidado de enfermería al recién nacido,
además de científicamente complejo, demanda, de quien lo
practica, atención, ternura y sensibilidad, elementos
subjetivos implícitos en el cuidado de enfermería, que no se
deben acreditar a la maternería, pero al cuidado revestido
de profesionalismo, responsabilidad, cientificidad y ética.
K eyw
or
ds: Nursing. New-Born. Behavior.
ywor
ords:
Pala
br
as ccla
la
alabr
bras
lavve: Enfermería. Recíen Nacido. Conducta.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 80 - 5.
Enfermagem ou Maternagem : Interação Enfermeira - Recém Nascido
Falcão Júnior JSP et al
INTRODUÇÃO
Este estudo foi elaborado a partir da observação de uma de
suas autoras, quando, ainda acadêmica de enfermagem do último
período da graduação, especificamente no estágio supervisionado
da disciplina Atenção à saúde da criança, passou a notar os
efeitos que o simples fato de cantar para um recém-nascido (RN)
portador do diagnóstico de epidermólise bolhosa produzia.
À época supracitada, não era comum observar, entre as
enfermeiras, o comportamento descrito quando da realização
dos procedimentos técnicos rotineiros, e o fato de cantar ao
cuidar do RN supracitado podia ser creditado à descontração
própria dos jovens. No entanto, o RN em referência se acalmava,
participava do seu tratamento, por demais doloroso, e, sem dúvida
nenhuma, uma forma de interação era estabelecida com ele.
Nesse sentido, vale ressaltar que o ato de cantar ao cuidar,
em uma unidade neonatal, pode ser uma atitude terapêutica
de enfermagem, desde que a emissão do som permaneça dentro
de uma faixa de freqüência de onda entre 65 e 80 Hz.1
A partir da observação da interação evidenciada em
diversas literaturas sobre o tema no processo de cuidar de um
ser humano em geral, e mais especificamente do recém-nascido,
as autoras supracitadas desenvolveram este estudo
evidenciando o quanto de ciência existe no ato de oferecer,
aparentemente de forma afetiva, o alimento ao RN,
procedimento que, muitas vezes, ao ser analisado pela
sociedade, é creditado ao instinto materno da enfermeira, e
não ao seu conhecimento sobre a importância da interação
humana durante a execução de seus cuidados.
Neste sentido, tem sido observado em alguns estudos que,
quando se fala em interação, não se pensa em um bebê que
apenas é estimulado pelas ações dos adultos, mas em trocas
entre parceiros de capacidades distintas2.
Entendemos que os comportamentos referentes ao diálogo
comportamental que se estabelece entre a enfermeira e o RN,
mas especialmente os da enfermeira, podem ser confundidos
com compor tamentos meramente instintivos, por serem
similares aos da mãe, mas que são, na verdade, revestidos de
profissionalismo na medida em que incorporam/contemplam
cuidados não apenas biológicos.
Deste modo, com este estudo, pretendemos atingir o
seguinte objetivo: Correlacionar o comportamento afetivo e
interacional das enfermeiras a um cuidado essencial de
enfermagem durante a oferta de alimento ao recém-nascido,
utilizando a técnica do copinho em uma unidade neonatal,
tendo em vista a vulnerabilidade desta clientela.
Entendemos como cuidado essencial aquele que é
dispensado ao RN com vistas à preservação da vida, focado em
sua necessidade e vulnerabilidade.
Este estudo se justifica na medida em que um cuidado de
enfermagem, qual seja, a oferta de alimento ao recém-nascido pela
enfermeira através da técnica do copinho, e a respectiva interação
estabelecida durante este ato, é tratado à luz da cientificidade.
Desta forma, ao abordarmos o citado procedimento de
enfermagem para com a clientela em questão, observamos
que os comportamentos aparentemente afetivos da enfermeira
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 80 - 5.
81
estão respaldados por aspectos éticos, técnicos e científicos,
demonstrando que a enfermagem é subsidiada pela ciência, até mesmo
quando se reveste de características aparentemente não profissionais.
REFERENCIAL TEÓRICO
Diversas são as ciências que estão inseridas nas disciplinas
que compõem o currículo da formação profissional do
enfermeiro e têm por finalidade subsidiar e fundamentar
cientificamente o cuidado de enfermagem, dando-lhe o respaldo
imprescindível para sua prática profissional.
Entre as ciências supra-referenciadas, podemos citar a
anatomia, a fisiologia, a farmacologia, a microbiologia, entre
outras. No entanto, ressalta-se que outras ciências que não estão
inseridas na área da saúde, e que são tão imprescindíveis para a
prática profissional do enfermeiro quanto àquelas que a compõem,
também fazem parte do acervo de conhecimento do enfermeiro,
mesmo antes de ele ingressar na universidade, pois são requisitos
para o exame de vestibular, tais como a física e a matemática.
Este pensamento é corroborado por um estudo 3, ao citar
que na prática profissional da Enfermagem podemos observar
o quantitativo de aspectos interdisciplinares que a compõe,
complementando, ainda, ao dizer que as relações entre as
várias disciplinas que atuam diretamente no cuidado de
enfermagem direto prestado ao cliente demonstram que o
cuidado é complexo, transcendendo ao limite de uma só ciência.
Portanto, ao estudarmos o cuidado de enfermagem,
devemos buscar nas ciências que incidem sobre ele o devido
respaldo científico para subsidiá-lo.
Deste modo, ao considerar a complexidade do ato de cuidar de
um recém-nascido, devida às especificidades desta clientela,
levando-se em consideração a gama de saberes que incidem sobre
esta interação, iremos nos apropriar da multireferencialidade para
respaldar as questões deste estudo que se ancoram na fisiologia,
comunicação e psicologia, entre outras ciências..
É importante observar que a interação comportamental
ocorre à medida que vários aspectos da ação humana se
entrelaçam, o que reforça a necessidade de se abordar, ainda
que sucintamente, alguns deles.
O diálogo comportamental, especificamente aquele que
ocorre entre o adulto e o bebê em estágio inicial da vida, traz
os seguintes componentes: (1) as modificações nas atividades
dos parceiros (vocalização, fala, sorriso), (2) os tipos de
estimulação por parte das mães (estimulação voltada para a
mãe, estimulação voltada para os objetos do ambiente) – (3)
os tons de conversação utilizados pelas mães (tom infantil,
tom adulto) e (4) os diferentes contextos de interação 2.
Ao apresentarmos os itens que compõem o roteiro de
observação que serviu de base para o presente estudo, observamos
que ele contempla aspectos relacionados à estimulação tátil, à
estimulação sonora e à comunicação não-verbal. Deste modo, os
referenciais que serviram de base para a sua construção estão
relacionados a estes aspectos, os quais compõem a interação.
Considerando que o comportamento aparentemente
instintivo da enfermeira no momento da oferta de alimento ao
RN se configura como uma forma de comunicação não verbal,
82
Enfermagem ou Maternagem : Interação Enfermeira - Recém Nascido
Falcão Júnior JSP et al
trazemos sua definição - “comunicação não-verbal refere-se à
comunicação feita por meios diferentes das palavras” 4.
O recém-nascido, por sua vez, devido às peculiaridades de
sua idade, também encontra na linguagem não verbal e na
estimulação tátil uma forma de perceber-se vivo 5.
Neste mesmo sentido, autores comentam que após o
nascimento, o corpo do bebê entra em relação com outro corpo,
procurando a fusão e a unidade que ele acaba de perder 6.
Sendo assim, de acordo com esta citação, o RN hospitalizado
em unidade de cuidados intensivos vai buscar essa unidade
com os profissionais que dele cuidam, especialmente o
profissional da enfermagem, por ser ele quem mais o manipula.
O estímulo tátil é tão importante para o RN que o toque
suave, percebido como carícia, tem sua decodificação realizada
em uma parte específica do cérebro, diferenciando-o dos demais
tipos de toque. Esta área é denominada ínsula, uma região
mais interna do córtex. O estímulo tátil suave é conduzido à
ínsula por fibras também diferentes daquelas que conduzem
os demais estímulos táteis, que não são carícias, ao córtex
somestésico 7.
A insula, região ainda pouco explorada pela neurociência,
parece cuidar da representação do estado fisiológico do corpo,
inclusive das mudanças associadas às emoções 7.
Considerando a questão do toque suave, do afeto, existe um
componente muito mais fundamental por trás deles,, que estaria
relacionado à capacidade da estimulação tátil de reduzir ou inibir
descargas simpáticas maciças, ou seja, o afeto seria o responsável,
através da estimulação tátil, pela prevenção de danos causados
tanto pela condição de hospitalização do RN quanto pela própria
condição que o levou a esta hospitalização 8.
Note-se neste ponto que, ao tomar ciência das inúmeras
possibilidades de poder agredir o RN, a equipe de enfermagem
deve apropriar-se de todas as possibilidades de resguardá-lo.
A partir desta perspectiva, considera-se que o comportamento
aparentemente instintivo da enfermeira, revestido de
componentes afetuosos, não deve ser creditado à maternagem,
entendida como “tratamento maternal” 9. Entendemos, sim,
que a enfermeira pode agir de forma similar à da mãe sob o
ponto de vista da interação que estabelece com o RN, por
entender que esta interação provoca estímulos no RN que são
imprescindíveis para a implementação de uma conduta
terapêutica, ou seja, a conduta da enfermeira não deve ser
creditada apenas ao acaso ou ao instinto.
Desse modo, ao considerarmos a possibilidade da prestação
de um cuidado responsável, e por si só complexo por envolver
diversos saberes, podemos perceber que a interação que deve ser
estabelecida entre a enfermeira e o RN, além de ser um dos seus
componentes,, reveste-se de extrema relevância, por tratar-se de
um fator responsável pelo seu desenvolvimento saudável 2.
METODOLOGIA
Estudo descritivo exploratório, realizado a partir da
observação, por duas pesquisadoras, das imagens da populaçãoalvo, composta de vinte enfermeiras, enquanto realizavam a
técnica de oferecer a alimentação ao RN pela técnica do copinho.
A coleta de dados ocorreu entre os dias 2 e 8 de agosto de
2005 em um hospital-maternidade municipal da rede SUS na
cidade do Rio de Janeiro, especificamente em uma unidade de
cuidados semi-intensivos para neonatos.
O trabalho obteve aprovação do comitê de ética em pesquisa
da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro em 14 de junho de 2005,
sob número de protocolo 43/05, além de ter obtido aprovação do
diretor do hospital bem como das chefias médica e de enfermagem.
Tanto as enfermeiras quanto os pais e/ou responsáveis
pelo RN foram esclarecidos sobre os objetivos da pesquisa e
puderam optar por participar do estudo. Aqueles que aceitaram
tiveram garantido o anonimato e assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, respeitando-se, então, a
resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
As imagens foram gravadas em uma filmadora JVC por um
período não maior do que 15 minutos. A amostra foi selecionada
por conveniência, ou seja, uma das pesquisadoras envolvidas
no estudo, chegava ao setor pela manhã e, após conversa com
o enfermeiro líder do plantão, aguardava o horário da
alimentação e a ocorrência do evento (alimentação de RN
pela técnica do copinho por enfermeiras).
Este tipo de amostra acarreta o uso das pessoas mais
convenientemente disponíveis como participantes do estudo.10
Os enfermeiros tinham, em média, seis anos e oito meses
de formados, sendo apenas um do sexo masculino.
A média de peso dos recém-nascidos foi de 2.057 gramas.
A avaliação das filmagens foi realizada seguindo-se o roteiro
abaixo descrito, e referia-se a presença ou não da ação/
comportamento descrito no item. O roteiro foi resultado de um
ajuste da versão brasileira da Escala de Brown e Cols.11, A
versão brasileira da escala de Brown e colaboradores foi
ajustada para a interação enfermeira e RN durante a oferta de
alimento pela técnica do copinho, passando pela validade de
face, realizada por três especialistas, uma enfermeira
especialista em neonatologia, uma enfermeira docente
especialista em neonatologia e uma docente especialista em
materno-infantil, além da concordância entre avaliadores12.
Itens de Observação da enfermeira:
1. Embala
2. Segura no colo
3. Apóia no ombro
4. Toca ou estimula a boca do bebê
5. Afaga
6. Toca
7. Acalenta ou balança
8. Enxuga o leite que escorre da boca
9. Limpa e arruma cobertas e/ou roupas
10. Mantém contato olho-a-olho com o RN
11. Emite sons não-verbais
12. Conversa
13. Canta
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 80 - 5.
83
Enfermagem ou Maternagem : Interação Enfermeira - Recém Nascido
Falcão Júnior JSP et al
Itens de observação do Recém-nascido:
1. Aceita a dieta
2. Participa
3. Aperta as mãos/movimenta as pernas
4. Permanece com olhos abertos
5. Geme
6. Chora
7. Espirra
8. Soluça
9. Emite outros sons
A análise das filmagens foi realizada à luz deste roteiro.
RESULTADOS
Observa-se que, de fato, é estabelecida uma interação
entre a enfermeira e o RN quando da oferta da alimentação
através da técnica do copinho na amostra selecionada, e que
esta interação pode ser descrita ao se observar o gestual dos
dois componentes do processo, enfermeira e RN.
Os comportamentos da enfermeira mais presentes nas
filmagens deste estudo foram:
Quadro I:
Freqüência percentual dos comportamentos das enfermeiras
Compor tamento da enf
er meir a
enfer
Freqüência
percentual
1. Embala
2. Segura no colo
3. Apóia no ombro
4. Toca ou estimula a boca do bebê
5. Afaga
6. Toca
7. Acalenta ou balança
8. Enxuga o leite que escorre da boca
9. Limpa e arruma cobertas e/ou roupas
10. Mantém contato olho/olho com o RN
11. Emite sons não-verbais
12. Conversa
13. Canta
20,00
90,00
50,00
70,00
50,00
90,00
20,00
100,00
80,00
100,00
0,00
60,00
0,00
Observa-se que as enfermeiras estabelecem a interação
com o RN através do contato, identificado nos seguintes itens
de observação: segura no colo, toca ou estimula a boca do
bebê, toca, enxuga o leite que escorre da boca.
Além desta variedade de estímulos táteis, a enfermeira
se preocupa em deixar o RN sempre bem coberto, ao arrumar
suas roupas e cober tas, o que indica um cuidado de
enfermagem de extrema importância para a preservação da
temperatura corporal do RN.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 80 - 5.
O fato de a enfermeira manter contato olho-a-olho com o
RN pode indicar que ela está atenta ao procedimento e às
respostas neurológicas do RN e estabelecendo,
concomitantemente, uma interação importante para ele,
conforme explicitado no referencial teórico.
Nota-se também que a conversa foi o estímulo sonoro mais
presente nesta amostra. Sabe-se que, apesar de o RN ser
incapaz de verbalizar, ele é sim capaz de se comunicar e de
responder a estímulos sonoros e que o estímulo-resposta faz
parte da relação atencional da enfermeira para com o RN e
interacional entre eles13.
Observa-se, a partir da freqüência da ocorrência dos
comportamentos da enfermeira acima elucidados, que eles
atendem aos requisitos citados em estudo anterior de Ribas e
Moura2, relativos à interação, e presentes no roteiro de
observação utilizado neste estudo, que são os comportamentos
relativos à interação, como, por exemplo, a conversa e o toque.
O recém-nascido, por sua vez, apresentou os seguintes
comportamentos:
Quadro II:
Freqüência percentual dos comportamentos do RN
Compor tamento do RN
Freqüência
percentual
1. Aceita a dieta
2. Participa
3. Aperta as mãos/movimenta as pernas
4. Permanece com olhos abertos
5. Geme
6. Chora
7. Espirra
8. Soluça
9. Emite outros sons
100,00
100,00
70,00
80,00
10,00
20,00
0,00
0,00
20,00
Nota-se que os RNs interagem com a enfermeira através
de compor tamentos relacionados com a situação de
alimentação através de movimentos corporais e aceitação da
dieta. Além disso, o fato de o RN manter os olhos abertos
indica que ele estava acordado e envolvido com a alimentação,
interagindo com a enfermeira.
Observa-se que os RNs não apresentaram comportamentos
relativos ao som e fala. Credita-se esta ausência de
comportamentos às características da clientela, quais sejam,
a prematuridade ou o baixo peso ao nascer.
Ao correlacionarmos os comportamentos do par enfermeira/
RN com os componentes da interação mencionados
anteriormente 2 (as modificações nas atividades dos parceiros,
os tipos de estimulação, os tons de conversação os diferentes
contextos de interação), percebemos que se estabelece uma
interação entre o par, tendo em vista que há modificações nas
atividades dos parceiros, estímulo tátil e sonoro no contexto
da alimentação pela técnica do copinho.
84
Enfermagem ou Maternagem : Interação Enfermeira - Recém Nascido
Falcão Júnior JSP et al
CONCLUSÕES
Conclui-se que o cuidado de enfermagem dispensado ao
recém-nascido, além de cientificamente complexo, requer,
de quem o pratica, atenção, ternura e sensibilidade,
elementos subjetivos implícitos no cuidado de enfermagem,
que não devem ser confundidos com a maternagem,
procedimento exclusivo das mães, cujos filhos encontram-se
sob os cuidados das enfermeiras.
Com relação ao exposto em parágrafo acima, convém
mencionar citação de estudo de Santos, que pontifica que “o
exercício da maternagem tem componentes biológicos
comprovados cientificamente (bases neuroendócrinas)” 14,o que
nos induz a pensar que a mãe se comporta de forma instintiva,
e que a enfermeira, em contrapartida, também ciente de que
para a criança “o relevante é a qualidade do cuidado, e não de
quem o dá” 14, potencializa os seus cuidados de forma a abranger
aqueles outros dos quais o RN hospitalizado está parcialmente
ou totalmente privado, o que, para o olhar destituído de reflexão
crítica, pode parecer um comportamento maternal ou instintivo,
desvinculado de saber profissional e sem intenção terapêutica.
Quando pensamos no RN hospitalizado e fazemos referência
à alimentação,, entendemos que, com ou sem o
acompanhamento da mãe, este momento é especialmente
propício para que a enfermeira possa cuidar do RN de forma
individualizada e peculiar.
Além do alimento por si só ser de extrema importância
para que o RN se recupere, cresça e se desenvolva, o momento
da sua oferta é quando a enfermeira pode oferecer o cuidado
consciente das necessidades daquele ser. Necessidades estas
já citadas anteriormente, relativas ao estímulo tátil, sonoro,
ao cuidado afetivo e ao cuidado terapêutico.
Foi possível observar, durante o desenvolvimento deste
estudo, que todos os profissionais interagiam bem,, à medida
que tinham a atenção voltada para o RN e para o referido
procedimento, o que reforça que é preciso agir de forma
profissional, abrangendo os aspectos interacionais mencionados
neste estudo, de forma a oferecer o cuidado que é
imprescindível para o RN.
Ao avaliarmos a interação que a enfermeira estabelece
com o RN no momento da oferta de alimento pela técnica do
Referências
1. Biesbroeck FCC, Novaes MC, Nascimento MAL. A resposta fisiológica do
recém nato à percepção sonora: quando cantar é uma forma de cuidar em
enfermagem na UTI neonatal. Anais do 13º Seminário Nacional de Pesquisa
em Enfermagem 2005 jun; São Luis (MA), Brasil. São Luis (MA): ABEn; 2005.
2. Ribas AFP, Moura MLS. Manifestações iniciais de trocas interativas mãebebê e suas transformações. Estud Psicol 1999 jul/dez; 4 (2): 273-88.
3. Nascimento MAL. O cuidado de enfermagem e a ciências que nele
incidem. Rev Enferm Brasil 2004:165-69.
4. Knapp ML, Hall JA. Comunicação não-verbal na interação humana.
São Paulo(SP): JSN; 1999.
copinho, foi possível refletir sobre a maternagem, entendida
como tratamento maternal 9 , que tem sido objeto de alguns
estudos, como os de Santos14.
Na maternagem, a tônica é referente à importância de se
estimular o mais precocemente possível o apego mãe/filho,,
enquanto que na enfermagem, as ações são dimensionadas de
forma a assegurar, no caso de RNs hospitalizados, além de
uma perfeita recuperação, a garantia de um crescimento e
desenvolvimento livres de seqüelas, tanto físicas quanto
emocionais, e a formação de apego.
Pensamos que, apesar de a enfermeira agir de forma
aparentemente maternal, ela, por saber das necessidades físicas e
emocionais de um RN, deve proceder de forma a tentar supri-las.
Sendo assim, este estudo demonstrou que o cuidado de
enfermagem essencial ao RN não se trata de reproduzir o
comportamento afetivo materno, mas de um entendimento
que perpassa pelo conhecimento da neurofisiologia e da
psicologia infantis, além da ética profissional.
Conclui-se que o cuidado de enfermagem em apreço, e que
está voltado para o RN hospitalizado, não deve se restringir
aos aspectos relativos ao seu corpo físico, e que todos os
aspectos inerentes a ele devem ser observados durante a sua
realização, sob pena de, ao não ser atendido em sua totalidade,
se configurar em uma negligência, aqui entendida como
“inobservância e descuido na execução do ato”9, considerando
que o código de ética dos profissionais de enfermagem, em
seus princípios fundamentais, prevê no artigo quinto o cuidado
à saúde do ser humano como um todo15.
Por oportuno, vale ressaltar que em estudo voltado para a
conduta ética do profissional de enfermagem, ficou evidenciado
que eles têm uma idéia ampliada a respeito do tema, não
restringindo-o apenas ao aspecto moral ou normativo da profissão,
mas extrapolando-o a todas as instâncias da relação humana16.
Sendo assim, a alimentação do RN, realizada pela
enfermeira, através da técnica do copinho, configura-se em
um cuidado essencial e imprescindível, considerando a
vulnerabilidade desta clientela, e que, até pode ser
confundido com a maternagem, mas, em sua essência, é
revestido de profissionalismo, responsabilidade,
cientificidade e ética ao se compreender que não é apenas
o alimento que está sendo oferecido.
5. Shiniaishiky R. A carícia essencial: uma psicologia do afeto. São
Paulo(SP): Gente; 1985.
6. Leloup J. O corpo e seus símbolos: uma antropologia essencial.
Petrópolis(RJ): Vozes; 1998.
7. Houzel SH. Sexo, drogas, rock’n roll... e chocolate. O cérebro e os
prazeres da vida cotidiana. Rio de Janeiro(RJ): Vieira & Lent; 2003.
8. Montagu A. Tocar: o significado humano da pele. São Paulo (SP):
Summus; 1988.
9. Houaisss A. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.
[CDROM]. Rio de Janeiro(RJ): Objetiva; 2002.
10. Polit DF, Beck CT, Hungler B. Fundamentos da pesquisa em enfermagem:
métodos: avaliação e utilização. Porto Alegre(RS): Artmed; 2004.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 80 - 5.
85
Enfermagem ou Maternagem : Interação Enfermeira - Recém Nascido
Falcão Júnior JSP et al
11. Scappaticci ALSS, Iacoponi E, Blay SL. Estudo de fidedignidade
interavaliadores de uma escala para avaliação da interação mãe-bebê.
Rev Psiquiatr 2004 jan./abr; 26(1): 39-46.
12. Biesbroeck FCC. Interação entre enfermeira e recém-nato durante
a ofer ta de alimentação pela técnica do copinho. Ajuste e
concordância entre avaliadores de uma escala de interação.
[disser tação de mestrado]. Rio de Janeiro(RJ): Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto/UNIRIO; 2006.
13. Moura MLS, Ribas AFP, Seabra KC, Pessôa LF, Ribas Junior RC.
Nogueira SE. Interações iniciais mãe-bebê. Psicol reflex crit 2004,
17(3):295-302.
14. Santos IMM. Maternagem e o atendimento à criança e á sua mãe.
Enferm Atual jan/fev 2004:27-30.
15. Resolução COFEN nº 240 de 30 de agosto de 2000.{on-line]. Aprova
o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem e dá outras
providências. Disponível em: http://www.portalcofen.com.br/2007
16. Zborowski IP, Melo MRAC. A comissão de ética de enfermagem na visão
do enfermeiro. Esc Anna Nery Rev Enferm 2004 ago; 8 (2): 224-34.
Sobre as Autoras
Flávia Cristina Cordeiro Biesbroeck
Mestre em Enfermagem. Agência Nacional de Saúde Suplementar/RJ.
e-mail: flavianurse@terra.com.br.
Mariana Gomes Cardim
Mestre em Enfermagem. Instituto Fernandes Figueiras/RJ.
Maria Aparecida de Luca Nascimento
Doutora em Enfermagem, Orientadora acadêmica do Mestrado em
Enfermagem da UNIRIO-Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro.
Recebido em 17/08/2006
Reapresentado em 27/02/2007
Aprovado em 10/03/2007
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 80 - 5.
86
Percepções Maternas: O Neonato em Uso de Fototerapia
Rodrigues FLS et al
PERCEPÇÕES MATERNAS SOBRE O NEONATO
EM USO DE FOTOTERAPIA
Maternal Perceptions About the
Newborn in Use of Phototherapy
Percepciones Maternales Sobre el
Recién Nacido en Uso de Fototerapia
Francisca Leonilda Sampaio Rodrigues
Isolda Pereira da Silveira
Antonia do Carmo Soares Campos
Resumo
A fototerapia é o tratamento inicial da icterícia neonatal. Objetivamos conhecer a percepção da mãe acerca da
fototerapia e identificar as suas dificuldades, relacionadas ao tratamento fototerápico. Estudo descritivo com abordagem
qualitativa, realizado no Alojamento Conjunto (AC) de um hospital público em For taleza-CE, com 8 puérperas na faixa
etária entre 13 e 25 anos. Os dados foram coletados em maio e junho/2006, mediante entrevista com duas questões
de pesquisa: O que representa para a senhora ver o seu filho sob fototerapia; quais são as dificuldades enfrentadas
em relação aos cuidados com o seu bebê na fototerapia? Na análise das falas, identificamos as categorias: percepção
da mãe com relação ao cuidado com o bebê sob a fototerapia, dificuldades enfrentadas pela mãe com seu filho em
fototerapia, e a mãe após as orientações recebidas. Concluímos que existe a necessidade de repensar as orientações
e assumir autenticamente os cuidados de enfermagem ao binômio mãe-filho.
Pala
vr
as-c
ha
alavr
vras-c
as-cha
havv e: Fototerapia. Mães. Recém-Nascido. Enfermagem.
Abstract
Resumen
Phototherapy is the initial treatment for neonatal ictericia. We
aimed to know mother’s perception about this treatment and
to identify theirs difficulties related to the phototherapy
treatment. It is a descriptive study with qualitative approach.
It was conducted in the shared accommodation (SA) of a
public hospital in Fortaleza-CE, with 08 puerperal women in
the age group from 13 to 25 years old. The data were
collected in May and June/2006, before interview with two
orienteering questions’s research: What does it mean for you
to see your child under phototherapy; What are the difficulties
faced in relation to the care with your baby under
phototherapy? In the analysis of the speeches we identified
the categories such as: perception of the mother about the
care with her baby under phototherapy, difficulties faced by
the mother with her child under phototherapy and the mother
after receiving the orientations. We concluded that it is
necessary to rethink the orientations and assume authentically
the Nursing care to the binomial mother-son.
La fototerapia es un tratamiento inicial de la ictericia neonatal.
El Objetivo fue conocer la percepción de la madre sobre la
fototerapia e identificar las dificultades de la madre con
relación a este tratamiento. Estudio descriptivo con abordaje
cualitativa. Realizado en el Alojamiento Conjunto (AC) de un
hospital público en Fortaleza-CE, con 08 parturientas con
edad entre 13 a 25 años. Los datos fueron colectados en
mayo y junio/2006, a través de entrevista con dos cuestiones
de investigacíon: ¿Qué representa para la señora observar
su niño en fototerapia?¿Cualés las dificultades enfrentadas
con relación a la atención con su niño en la fototerapia? En la
análisis de las hablas, observamos las categorias: percepción
de la madre con relación a la atención con el niño en fototerapia,
dificultades sufridas por la madre, con su hijo en fototerapia,
y la madre después de las orientaciones recebidas. Concluimos
que hay la necesidad de pensar una vez más las orientaciones
y asumir autenticamente las atenciones de Enfermería al
binomio madre-hijo.
Keywords:
Phototherapy. Mothers. Newborn. Nursing.
Palabras clave:
Fototerapia. Madres. Recién Nacido. Enfermería.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 86 - 91.
87
Percepções Maternas: O Neonato em Uso de Fototerapia
Rodrigues FLS et al
INTRODUÇÃO
As doenças que acometem os neonatos têm sido tema de
inúmeras pesquisas de Enfermagem. Dentre elas, a
hiperbilirrubinemia, observada em unidades neonatais de alto
e médio risco e em Alojamento Conjunto (AC), é tratada pela
fototerapia, tratamento por meio da luz. O desenvolvimento
da icterícia pode ser percebido pela cor amarelada da pele,
considerado a evidência clínica mais visível.
No Brasil nascem cerca de 200 mil crianças com índices
elevados de bilirrubina no sangue, o que equivale em média a
5% dos nascimentos 1.
A primeira referência escrita sobre a icterícia não patológica
data de 1973 e se deve a Bartolomeu Metlinger, e sobre o
tratamento da icterícia, a referência é devida a Michel Ettmüller,
em 1708, que, em seu livro “De infantum morbis”, recomenda
oferecer leite humano desde o primeiro dia de vida 2.
A idéia da utilização do aparelho de fototerapia surgiu na
década de 1950 pela observação de uma enfermeira, J. Ward,
chefe da Unidade de prematuros de um hospital na Inglaterra 3:12.
Foi em 1956 que a enfermeira inglesa J. Ward percebeu
que as crianças diminuíam o tom amarelado da pele quando
expostas à luz solar, quando dormiam próximas da janela ou
tomavam banho de sol no jardim do Rockford General Hospital,
na cidade de Essex .1..
Os primeiros estudos sobre os efeitos da luz no metabolismo
da bilirrubina foram realizados pelo doutor R.J. Cremer,
considerado o pai da fototerapia. No Brasil, a fototerapia teve seu
início de uso em 1960, e na cidade de São Paulo havia um modelo
inglês trazido por um médico hematologista, doutor Humberto
Costa Ferreira, da Faculdade de Medicina de São Paulo 3.
A icterícia aparece no período neonatal, sendo considerada
benigna na maioria das vezes, cedendo nos primeiros dias após
o nascimento, embora em algumas situações possa apresentarse patológica e neste caso necessitar de tratamento médico e
terapêutica precoce, sendo uma alteração creditada ao
metabolismo do neonato4 .
A bilirrubina é um produto final do catabolismo dos
aminoácidos e hemoproteínas, sendo formada, principalmente,
pelo catabolismo da hemoglobina no baço e no fígado.
A hiperbilirrubinemia tem como causa etiológica doenças
hemolíticas tais como incompatibilidade sangüínea maternofetal (Rh-ABO), cefalematomas e policitemias.
A icterícia neonatal é classificada em fisiológica e patológica,
sendo considerada fisiológica quando o aumento da bilirrubina
atinge 7mg/dl durante a primeira semana de vida, e patológica
quando visível nas primeiras 36 horas, e com um aumento
total maior que 5mg/dl 5.
Para que a avaliação da icterícia em recém-nascidos seja
possível sem a necessidade de coleta de sangue, utiliza-se
uma nova tecnologia não invasiva denominada BiliCheckTM.
Esse procedimento é indicado para avaliação da icterícia em
bebês de até 20 dias de idade. O seu resultado é imediato e
permite que a quantificação da bilirrubina forneça informações
necessárias para que as condutas apropriadas sejam tomadas.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 86 - 91.
A fototerapia é o tratamento inicial da hiperbilirrubinemia
não conjugada em neonatos. É considerado um método não
invasivo e de alto impacto na diminuição dos níveis de bilirrubinas
plasmáticas, independente da maturidade do recém-nascido 6.
Contudo, para que o tratamento seja efetivo, alguns cuidados
são necessários, tais como despir o neonato para que a incidência
dos raios luminosos incidam sobre a maior extensão possível da
superfície corporal, e proteger adequadamente os globos oculares
com máscara opaca para evitar agravos à retina 7.
Embora estes procedimentos sejam comuns aos
profissionais de saúde, deve-se considerar que:
Para a mãe que vivencia pela primeira vez um filho sob
fototerapia, esta visão pode parecer assustadora ou,
no mínimo, estranha, de acordo com sua percepção em
relação ao tratamento, seus riscos e benefícios8:20.
Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivos:
- Conhecer a percepção da mãe acerca da fototerapia e;
- Identificar as dificuldades da mãe relacionadas ao
tratamento fototerápico.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo com abordagem de
natureza qualitativa, que responde a indagações de cunho
particular, visto que corresponde a um espaço profundo das
relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis 9.
Teve como cenário o Alojamento Conjunto (AC) de um
hospital público de médio porte, conveniado ao Sistema Único
de Saúde (SUS), em Fortaleza, Ceará.
Os sujeitos foram 8 puérperas com faixa etária entre 13 e
25 anos, sendo 3 primíparas, 3 secundíparas e 2 multíparas,
independente do tipo de parto e da idade gestacional. Todas
as participantes estavam acompanhando seus filhos submetidos
à fototerapia. O critério de inclusão no estudo foi ser mãe de
um neonato em tratamento fototerápico no AC.
Os dados foram coletados no período de maio e junho de
2006, por meio de entrevista com duas questões de pesquisa:
O que representa para a senhora (nome da puérpera) ver o
seu filho sob fototerapia; quais são as dificuldades enfrentadas
em relação aos cuidados com o seu bebê na fototerapia? Com
o consentimento prévio das participantes, utilizamos como
recurso adicional um gravador para registrar os discursos. O
tempo médio de duração de cada entrevista foi de 30 minutos,
durante o expediente de trabalho de uma das pesquisadoras.
As falas das par ticipantes foram organizadas em
categorias e submetidas à análise de conteúdo10, que permite
enfocar seus principais aspectos em suas três etapas: préanálise (que corresponde à exploração do material),
tratamento dos dados obtidos e interpretação.
A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisas, dentro dos princípios basilares da Resolução 196
de 10/10/199611. Todas as participantes assinaram um termo
de consentimento livre e esclarecido e foram informadas do
objetivo do estudo, sendo-lhes assegurados o direito à
88
privacidade, sigilo, acesso aos dados, bem como a liberdade
de se retirarem do estudo se assim o desejassem sem que
este fato representasse qualquer tipo de prejuízo para si ou
para o neonato. Como forma de anonimato, atribuímos nomes
fictícios às participantes.
ANÁLISE E APRESENTAÇÃO
DOS RESULTADOS
As puérperas entrevistadas receberam nomes de pedras
preciosas: Topázio, Turmalina, Ametista, Esmeralda, Brilhante,
Ônix, Rubi e Ágata, pelo fato de representarem preciosidades
comparadas às preciosidades existentes no ser mãe.
Com as entrevistas já realizadas e analisadas,
identificamos as seguintes categorias: percepção da mãe
quanto ao cuidado com o bebê sob a fototerapia; dificuldades
enfrentadas pela mãe com seu filho em fototerapia; e a mãe
após as orientações recebidas.
Categoria 1: Percepção da mãe quanto
ao cuidado com o bebê sob fototerapia
Os sentimentos são caracterizados por estados de
afetividade diante os fenômenos da vida de cada ser humano.
De acordo com o autor 12:118 “a linguagem dos sentimentos
pode ser positiva e negativa, proveniente das percepções ou
sensações que experimentamos em nosso cotidiano”. Portanto,
os sentimentos podem afetar a vida cotidiana do ser humano,
principalmente quando surgem situações delicadas que
envolvam a família e particularmente os filhos.
Diante das falas, entendemos que, na percepção das
puérperas, o temor de colocar o bebê sob a luz é um dos
pontos cruciais por abalar muito todo o seu ser.
Subcategoria: Temor da luz
Cientificamente, a luz faz parte de um comprimento de
onda sensível ao olho humano, de uma radiação
eletromagnética pulsante ou, em um sentido mais geral,
qualquer radiação eletromagnética que se situe entre as gamas
infravermelha e ultravioleta 13.
A fototerapia é um aparelho que utiliza luz para fins
terapêuticos, especialmente em bebês que necessitem permanecer
expostos a essa luz. Entretanto, para as mães, a luz é temida e
apavorante, como constatamos nas falas que seguem.
[...] o calor da luz, os olhos cobertos devem doer muito,
é ruim, pois tudo é escuro (Brilhante).
[...] Tenho medo de ele não poder mais enxergar, penso
que a luz está entrando nos seus olhos (Topázio).
[...] Pra mim sinto que esta luz dá muito calor ao meu
filho, e fico angustiada. Passo o tempo inteiro olhando
se a proteção esta bem aderida, direitinha. E nem
durmo bem de tanta preocupação (Turmalina).
[...] Tive muito medo da luz. Mas depois vi que essa
luz é uma cura. Ele está sofrendo, mas é o melhor,
então fico conformada (Esmeralda).
[...] Sinto pena por ele ficar com o corpo quente, como
se a luz fosse queimar o seu corpo, e a proteção dos
Percepções Maternas: O Neonato em Uso de Fototerapia
Rodrigues FLS et al
olhos deve maltratar meu filho... quando vão trocar ele
chora, acho que dói (Rubi).
[...] Se eu pudesse, ficaria no lugar dele, cuido o tempo
todo dele. Não gosto de ver o meu filho com aquela
coisa nos olhos, sinto que maltrata. Ele fica na escuridão
e eu no claro (Ágata).
Nos depoimentos de Ágata, Rubi e Brilhante, a venda nos
olhos do bebê maltrata. Além do mais, acreditamos no impacto
enfrentado pela mãe no primeiro momento, ao ver o bebê com
a venda escura nos olhos. Para elas é apavorante. No entanto,
elas se conformam, por cofiarem no referido tratamento.
Topázio comenta sobre a preocupação com a luz, por temer
que o seu filho não enxergue após o tratamento. Entendemos a
sua preocupação e sabemos que o instinto materno é aguçado
pelo fato de proteger sua cria.
Torna-se necessário fazer a proteção dos olhos com venda
escura afim de não lesar a retina. Por ocasião das mamadas, podese retirar a venda para que a mãe se sinta menos temerosa 6.
A fototerapia não é isenta de risco, portanto, segundo a
concepção de uma estudiosa no assunto:
É de responsabilidade da enfermeira o cuidado com o
perfeito ajuste desta máscara, o suficiente para evitar
a penetração dos raios luminosos sem causar
desconforto ao RN ou pressionar os globos oculares
ou impedir a circulação 8:43.
A equipe de enfermagem atenta, preparada e competente
está sempre pronta para atender a mãe e o neonato. Assim,
concordamos com a seguinte afirmação7:110: “é fundamental
que a equipe de enfermagem esteja sensibilizada para remover
a proteção ocular com cuidado especial”.
No relato de Rubi, há a preocupação com o calor do corpo
do bebê e com o manuseio de troca da venda dos olhos que,
segundo refere, deve doer.
A termorregulação é um dos importantes cuidados de
enfermagem e, como tal, deve ser controlado, evitando maiores
transtornos para o bebê.
Pesquisadores 4 relatam que, dentre os efeitos colaterais, a
luz pode provocar eritema e a síndrome do bebê bronze, além
de causar queimaduras, que geralmente são mais graves em
RN prematuros, alteração do equilíbrio hídrico, choque,
hipertermia, diarréias e possível lesão da retina.
Nos demais depoimentos, percebemos sentimentos de
preocupação, de insegurança emocional e de temor, aliados ao
sentimento maternal de amor pelo filho e até de tristeza, por
todos os momentos que estão passando junto a eles.
A proteção ocular com venda estéril, apropriada, de
tamanho adequado e bem ajustada, evita lesões nos
fotorreceptores da retina. A fixação da proteção ocular é de
extrema impor tância. A inadequada fixação pode trazer
grande risco ao recém-nascido, isto é, lesionar a retina 7.
É interessante ressaltar que a troca da proteção ocular
diária, e por ocasião das mamadas, favorece a interação
do binômio mãe e filho, promove a comunicação não verbal
e condição de aconchego, quando os olhos da mãe e do
bebê se encontram 14.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 86 - 91.
Percepções Maternas: O Neonato em Uso de Fototerapia
Rodrigues FLS et al
Faz parte do cuidado de enfermagem fechar os olhos do
neonato antes de colocar a venda e realizar a inspeção ocular
para identificar drenagem de secreção ou abrasão.
Subcategoria: Aceitação do tratamento
Analisando essas falas, percebe-se o quanto é importante a
conscientização da mãe com relação ao tratamento a que o seu
filho está se submetendo. Entendemos todo o seu sofrimento,
principalmente ao ver o quadro apresentado, isto é, o aparelho
de fototerapia, o bebê com a venda escura nos olhos, a luz e,
principalmente, a distância do aconchego dos braços da mãe.
[...] Sei que ele tem que ficar per to da luz. Vejo
as enfermeiras passando e olhando se estão
per to da luz (Ágata).
[...] Hoje faz três dias do tratamento. No primeiro dia
chorei muito. Mas hoje sei que é para o bem dele. Sei
que esta luz cura (Ônix).
[...] A luz, mesmo tendo preocupação, sei que vai curar
o meu filho, porque vai sair a amarelidão e ele vai ficar
bom (Turmalina).
[...] Estou consciente do tratamento, tem que ser
assim. Então aceito. Queria estar com ele junto de
mim (Esmeralda).
[...] É uma barreira entre nós dois, mas tenho que
suportar... essa luz é para o bem dele (Ametista).
[...] Me assusta, me inquieta... sei que quanto mais
tempo ficar na luz mais rápida é a cura e ele vem logo
pra junto de mim (Topázio).
Diante das falas, entendemos que as mães estão
conscientes sobre o tratamento em fototerapia. Percebemos
o quando é difícil enfrentar a situação apresentada. Mesmo
manifestando sentimentos de inquietação e de tristeza, todas
foram unânimes em aceitar e saber que o tratamento é
importante e necessário para a cura.
Como seres humanos, as mães experimentam sentimentos,
especialmente o de amor, presente em todas as falas. O
sentimento do amor é sabiamente descrito pela autora 15:95
desta maneira: “o amor implica a capacidade de estabelecer
limites entre si e o outro, um contato de boa qualidade, com
espontaneidade e aceitação”.
Percebemos também que as mães ficam emocionadas diante
das situações apresentadas de angústia e de aflição vividas
com o bebê em uso da fototerapia. Nesse sentido, evidenciamos
as palavras de outras autoras16quando enfatizam que as mães
têm necessidade de segurança, de conversa, de orientação, de
receber conforto, atenção e informação.
Não obstante, na maioria dos neonatos, a icterícia seja
classificada como fisiológica benigna e autolimitada,
segundo a pesquisadora 8:33:
Outros a apresentam como um sintoma de doença a
ser investigada com a devida urgência, em razão da
toxicidade da bilirrubina que, não estando ligada à
albumina, pode facilmente atravessar a barreira
hematoencefálica, atingir as células cerebrais e causar
a cor amarelada do tecido cerebral, ou Kernicterus,
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 86 - 91.
89
cujos sobreviventes podem manifestar os mais variados
graus de seqüelas neurológicas.
O Kernicterus, provém da deposição de bilirrubina no tecido
cerebral causando lesões celulares, podendo acarretar paralisia
cerebral e outras complicações 19
Vale ressaltar que a patologia citada evolui em três fases
clínicas, e a fase mais crítica leva a seqüelas neurológicas
residuais, que evoluem para o retardo mental, surdez
neurossensorial, paralisia do olhar superior, disfunções motoras
e displasia do esmalte dentário 20 .
Por tanto, quanto mais precocemente a icterícia for
identificada e forem instituídas as medidas terapêuticas
adequadas, melhor será o prognóstico. Autores5 versam sobre
a progressão da icterícia, que pode ser lenta ou rápida. Quando
a icterícia é fisiológica, não existe o comprometimento do estado
geral do neonato; no caso da icterícia patológica, sinais como
sucção débil, hipoatividade, hepatoesplenomegalia, anemia e
anasarca podem se fazer presentes 8.
Categoria 2: Dificuldades enfrentadas pela
mãe com seu filho sob fototerapia
No que tange às dificuldades enfrentadas, constatamos
várias nesta categoria. Estas dificuldades foram oriundas de
insegurança e desconhecimento antes de receberem as
informações sobre o tratamento.
[...] Tive dificuldades em dar de mamar porque não
podia tirar ele da luz por muito tempo para dar uma
volta com ele (Topázio).
[...] É difícil manter o bebê no berço, ele chora bastante,
deve ser incômodo para ele (Esmeralda).
[...] Acho difícil trocar as fraldas dele debaixo da
luz (Rubi).
[...] Tive dificuldades para aceitar aquela coisa tapando
os olhos do meu filho. Penso que maltrata. Sinto vontade
de descobrir os seus olhos para olhar dentro dos olhinhos
dele e ele olhar para mim (Turmalina).
[...] Primeiro foi a de aceitar meu filho debaixo da luz e
com aquela coisa nos olhos, mas fiquei conformada,
pois sei que é para a cura dele (Ônix).
[...] Dificuldade para amamentar e também com a venda
é muito ruim... não podia ver os olhinhos dele. Quando
tira a venda, dói e ele chora (Agata).
[...] A minha dificuldade é se estou dando de mamar
em quantidade certa para encher a barriga dele, pois
sei que quando ele faz xixi ou cocô é porque ele está
mamando bem e soltando esta substância que faz a
pele dele ficar amarela (Ametista).
Nas falas de Topázio, Ágata e Ametista, estão presentes
as dificuldades quanto ao aleitamento materno. Ametista se
preocupa com a quantidade do leite ingerido pelo bebê. Já
Topázio demonstra dificuldades relacionadas ao bebê por não
poder permanecer muito tempo fora da fototerapia, e Ágata,
em amamentar com a venda nos olhos do filho. No entanto,
para Rubi, a dificuldade é a troca de fraldas debaixo da luz.
90
Ficou evidente que estas dificuldades estão relacionadas
ao próprio estado emocional no qual se encontram e ao
desconhecimento de cuidar de seu filho sob fototerapia, o que
as fazem temer por praticarem algo errado com o seu bebê.
Dessa forma, evidencia-se a necessidade de maiores
esclarecimentos e informações sobre o referido tratamento.
Categoria 3:
A mãe após as orientações recebidas
A fototerapia, além de interromper o relacionamento
amoroso mãe-bebê, é um tratamento que necessita de cuidados
especiais e orientações específicas para quem cuida e
principalmente às mães que ocupam lugar importante de ajuda
no cuidado para com o seu filho.
Entendemos que apesar da situação vivenciada, as mães,
quando são orientadas acerca da patologia e do tratamento,
aceitam e até colaboram com o cuidado de enfermagem ao
neonato sob fototerapia.
Nesse contexto, corroboramos as pesquisadoras17 quando
enfatizam a extrema importância da orientação sobre todos
os procedimentos realizados com o pequeno paciente, bem
como sobre o aparato tecnológico ao redor dele. Para isso
busca-se estar com a mãe e o RN.
[...] Sei que quanto mais eu amamentar, mais esta
substância que causa amarelidão na pele sai na urina
e fezes como foi dito pela enfermeira do plantão ontem
à noite (Brilhante).
[...] A enfermeira falou ontem que tem que mudar o
bebê de posição de vez em quando (Citrino).
[...] Recebi informações sobre a doença, isto me
tranqüiliza (Ágata).
[...] Todos os dias as enfermeiras passam e me
explicam como cuidar do meu filho (Topázio).
[...] A enfermeira me orientou como posicionar o bebê
para que a luz penetre melhor em todo o corpo do meu
filho (Ametista).
[...] A enfermeira me falou que a venda nos olhos é
para proteger o meu filho da luz, e ter cuidado para
não deixar a venda sair do lugar (Ônix).
[...] Recebi orientação para não me preocupar com a
luz, porque ela trata da amarelidão da pele e a
substância que faz mal sai pelo xixi e cocô (Esmeralda).
[...] Aprendi que o corpinho do bebê deve ficar
descoberto. Agora aceito porque sei que faz bem
(Turmalina).
Percebemos as dificuldades enfrentadas pelas mães
durante todo o período de internação do filho, as preocupações
advindas, o sofrimento diante do quadro clínico e o
Percepções Maternas: O Neonato em Uso de Fototerapia
Rodrigues FLS et al
desconhecimento sobre o tratamento. No entanto, entendem e
mostram-se confiantes ao receberem as orientações.
Nesse sentido, concordamos plenamente com o seguinte
pensamento: a disponibilidade da enfermeira é essencial, para
ouvir, dialogar, apoiar e transmitir confiança 18.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo buscou-se conhecer e analisar a percepção
da mãe ao ver o seu filho sob fototerapia. Foi importante e
gratificante no sentido de entender a relevância desta
experiência para as mães mediante seus depoimentos.
As experiências verbalizadas pelas puérperas quanto as
suas percepções sobre o tratamento fototerápico
representaram paras elas situações de inquietação, de temor
pela luz e de tristeza. Tais sentimentos merecem por parte
dos profissionais de enfer magem atenção especial,
principalmente sobre a orientação as estas mães.
Nos relatos, um dos pontos que mais causou impressão
negativa do tratamento sob fototerapia está relacionado ao
uso da venda ocular, que foi referida pelas mães como incômoda
e que maltrata os olhos do bebê, além de privá-las da sensação
conseguida através da interação “olho no olho”.
Consideramos outro fato importante, atribuído pelas mães
ao calor da fototerapia, o temor de queimar a pele do seu filho.
Os relatos destas mães representam as novas
experiências vivenciadas com o neonato no ambiente
hospitalar, onde percebemos o cuidado amoroso da mãe
para com seu filho e, ao mesmo tempo, a sensação de medo
para enfrentar o tratamento fototerápico, embora tenham
sido orientadas pela equipe de enfermagem.
O presente estudo expõe situações problema geradas
nas falas das mães; por tanto, acreditamos que estas
situações possam despertar para uma reflexão sobre a
temática em pauta, assim como fazer repensar o nosso
cotidiano com competência e humanismo.
Compete a nós profissionais de enfermagem vislumbrar
uma nova caminhada, lembrando da impor tância das
orientações durante o pré-natal sobre o tema em foco.
Percebemos que o desconhecimento sobre o tratamento é
unânime. É necessário valorizar a comunicação efetiva da
equipe de saúde com a mãe do neonato sob fototerapia para
que esta, sendo conhecedora do tratamento e de seus riscos
e benefícios, possa estar-bem e estar-melhor enquanto
vivencia a experiência de presenciar seu filho sob fototerapia.
Portanto, surge a necessidade de desenvolver novas
formas de assistência, buscando a compreensão de cada mãe,
além de repensar os ensinamentos e orientações para que
possamos, finalmente, assumir autenticamente os cuidados
de enfermagem ao binômio mãe-filho no sentido de
proporcionar melhor qualidade da assistência.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 86 - 91.
91
Percepções Maternas: O Neonato em Uso de Fototerapia
Rodrigues FLS et al
Referências
1. Cobertor de luz do recém-nascido.[on-line] 2005[citado 05 nov
2005].Disponível em: <http/www.fpesp.br/cap
2. Pediatria Evangélico.[on-line] 2005 [citado 03 nov 2005].
Disponível em: www.pediatriaevangelico.com.br/cient/liv/icter.htm
3. Arone ME. Fototerapia: o uso da luz (foto) para o tratamento em
recém-nascidos. Nursing 2003 jan;.56(6) .
4. Cunha GW,Vilarin JN, Braga TDA. Neonatologia – Instituto
Materno Infantil de Pernambuco-IMIPI. Rio de Janeiro (RJ):
Koogan; 2004. p.1555.
5. Tamez RN, Silva MJPS. Enfermagem na UTI neonatal:
assistência ao recém nascido de alto risco.Rio de Janeiro (RJ):
Guanabara Koogan; 2006.
6. Bueno M, Sacai S,Toma E. Hiperbilinerrubinemia neonatal: propostas
de intervenções de Enfermagem. Acta Paul Enferm 2003 abr/jun;
16( 2): 75-83.
7. Campos ACS.O significado de ser mãe de um recém-nascido sob
fototerapia: uma abordagem humanística.[disser tação de
mestrado].Fortaleza (CE): Universidade Federal do Ceará; 2003.
8. ______.Comunicação com mães de neonatos sob fototerapia:
pressupostos
humanísticos.[tese
de
doutorado].Fortaleza(CE):Universidade Federal do Ceará 2005.
9. Minayo MCS. Pesquisa social: teoria método e criatividade.
Petrópolis (RJ): Vozes; 2002.
10. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa (PO): Ed. 70; 2004.
11. Ministério da Saúde (BR).Conselho Nacional de Saúde. Resolução
nº 196 de 1º de outubro 1996. Diretrizes e normas regulamentadoras
envolvendo seres humanos.
12. Freitas KSS. O vôo da arte e da educação no cuidado do ser.
Erechim (RS): Edirapes; 2001. 206p.
13. Wikipédia: a enciclopédia livre. [on-line] Luz. 2006 [citado 05 jun
2006] Disponível em: http://pt.wikipedia.org/
14. Oliveira ME. Assistência de enfermagem ao recém-nascido com
icterícia fisiológica. In: Oliveira ME, Monticelli M, Brüggemann OM.
Enfermagem obstétrica e neonatológica: textos fundamentais.
Florianópolis (SC): Cidade Futura; 2002. 314p
15. Oliveira ME. Cuidando-aprendendo enfermagem com amor: uma
experiência dialógica com mães/recém-nascidos pré-termo. In: Oliveira
ME, Brüggemann OM. Cuidado humanizado: possibilidades e desafios
para a prática da enfermagem. Florianópolis (SC): Cidade Futura; 2004.
16. Rocha RG et al. Imaginário das mães de filhos internados em utineonatal no pós-parto: contribuições para a enfermagem. Esc Anna
Nery Rev Enfermagem 2004 ago; 8(2): 211-16.
17. Campos ACS, Cardoso MVLL. O recém-nascido sob fototerapia: a
percepção da mãe. Revista Latino-am Enfermagem. 2004 jul/ ago; 12
(4): 606-13.
18. Silveira IP. Partejar: a enfermeira e a humanização do cuidado de
enfermagem. [dissertação de mestrado] Fortaleza (CE): Universidade
Federal do Ceará; 2003.
19. Hammond BB. Cuidado imediato do recém-nascido. In: Lowdermilk
DL, Perry SE, Bobak IM. O cuidado em enfermagem materna. São
Paulo (SP): Artmed; 2002.
20. Gomela TL. Neonatologia: manejo básico, procedimentos, plantão,
doenças e drogas. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; 2006.
Sobre as Autoras
Francisca Leonilda Sampaio Rodrigues
Enfermeira do Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana.
Especialista em Enfer magem neonatológica. E-mail:
isa.silveira@terra.com.br
Isolda Pereira da Silveira
Enfermeira obstetra da Maternidade. Escola Assis Chateaubriand
(MEAC) – Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestre em Enfermagem
Clínico Cirúrgica. Docente do Curso de Enfermagem da Faculdade
Integrada da Grande Fortaleza. E-mail: isolda_silveira@yahoo.com.br
Antonia do Car mo Soar
es Campos
Soares
Enfermeira da UTI – Neonatal da MEAC/UFC. Doutora em Enfermagem.
Docente do Curso de Enfermagem da Universidade de Fortaleza –
UNIFOR. E-mail: ankardagostinho@terra.com.br.
Recebido em 03/10/2006
Reapresentado em 18/03/2007
Aprovado em 21/03/2007
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 86 - 91.
92
A família da criança dependente de tecnologia
Leite NSL et al
A FAMÍLIA DA CRIANÇA DEPENDENTE DE TECNOLOGIA:
ASPECTOS FUNDAMENTAIS PARA A PRÁTICA
DE ENFERMAGEM NO AMBIENTE HOSPITALARa
The Family of the Technology-Dependent Child:
Fundamental aspects for hospital nursing practices
La familia del Niño Dependiente de Tecnología:
Aspectos fundamentales para la práctica de enfermería en el ambiente hospitalario
Noélia Silva Ladislau Leite
Sueli Rezende Cunha
Resumo
O objetivo deste artigo é discutir as mudanças significativas que ocorrem no interior da organização das famílias em função
do cuidado da criança dependente de tecnologia (CDT). Realizamos um estudo com abordagem qualitativa, utilizando, como
instrumento para coleta de dados, a entrevista semi-estruturada. Os sujeitos da pesquisa foram quatro famílias de CDTs.
Delineamos quatro dimensões da mudança familiar: emocional, social, financeira e impacto nas atividades rotineiras. Verificamos
que acontecem mudanças no interior das famílias que cuidam de uma CDT. Estas mudanças se apresentam de forma
multidimensional. A complexidade do estado de saúde-doença associado à dependência tecnológica é um desafio para as
organizações dos serviços e para a abordagem dos profissionais da área hospitalar. Torna-se necessário repensar o modo
de atender centrado na doença e incluir a família no processo terapêutico. O estudo aponta a relevância de desenvolvermos
modelos de cuidado centrado nas famílias aplicáveis ao cotidiano hospitalar.
Pala
vr
as-c
ha
alavr
vras-c
as-cha
havve: Crianças Portadoras de deficiências. Enfermagem. Família.
Abstract
Resumen
The objective of this article is to discuss the significant
changes that occurring inside of the organization of the
families related to the care of a technology-dependent child
(TDC). We carried out a qualitative study, using half-structured
interviews for data collection. Research subjects were four
TDC’s families. Four dimensions for family changes were
outlined: emotional, social, financial and impact on daily
activities. We observed that changes really occur within TDC’s
families. And these changes are multidimensional. The
complexification of the health-illness state and technology
dependence remains a challenge for service organization
and for approaching hospital staff, thus it becomes necessary
to rethink disease-centered care and include the family in the
therapeutical process. In this sense, this study points to the
relevance of developing family-centered care model suitable
for the hospital’s quotidian.
El objetivo de este artículo es discutir los cambios significativos
que ocurren en el interior de la organización de las familias en
función del cuidado del niño dependiente de tecnología (CDT).
Realizamos un estudio con abordaje cualitativo, utilizando como
instrumento para recolección de datos la entrevista
semiestructurada. Los individuos de la investigación fueron 04
familias de CDT. Delineamos cuatro dimensiones del cambio
familiar: emocional, social, financiero e impacto en las
actividades rutinarias. Verificamos que ocurrieron cambios en
el interior de las familias que cuidan de un CDT. Estos cambios
se presentan de forma multidimensional. La complejidad del
estado de salud-enfermedad, asociada a la dependencia
tecnológica, resulta un desafío para las organizaciones de los
servicios y para el abordaje de los profesionales del área
hospitalaria, volviéndose necesario repensar el modo de atender
centrado en la patología/enfermedad e incluir a la familia en el
proceso terapéutico. El estudio apunta hacia la relevancia de
desarrollar modelos de cuidado centrado en las familias
aplicables al cotidiano hospitalario.
Keywords:
Disabled Children. Nursing. Family.
Palabras clave:
Niños con Discapacidad. Enfermería. Familia.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 92 - 7.
93
A família da criança dependente de tecnologia
Leite NSL et al
INTRODUÇÃO
A sobrevivência de um elevado número de crianças foi
possibilitada pelos avanços na tecnologia aplicada à saúde
humana. Uma conseqüência destes avanços é a existência de
um grupo de crianças com necessidades médicas e de
enfermagem contínuas, as Crianças Dependentes de
Tecnologia (CDTs)1 . As causas da dependência tecnológica
variam. Podem resultar de malformação congênita, doença
crônica ou genética ou podem estar associadas a
prematuridade, acidente, infecção ou doença.
Destacamos alguns tipos de dependência tecnológica:
traqueostomia, gastrostomia, urostomia, colostomia e
ileostomia. A palavra ostomia é um designativo genérico
de uma condição orgânica resultante de inter venção
cirúrgica com o objetivo de restabelecer a comunicação entre
uma víscera/órgão e o meio externo, compensando seu
funcionamento afetado por alguma doença. Esta designação
é especificada com um prefixo da topografia
cor r espondente, por exemplo: tr aque
aqueostomia,
gastr
gastrostomia, ileo
ileostomia, colo
colostomia, nefro
nefrostomia,
ureter
ureterostomia, vesic
vesicostomia e cist
cistostomia 2.
O cuidado à criança dependente de tecnologia exige da
família a adoção de inúmeras medidas de readaptação às
atividades do dia-a-dia. É possível citar como exemplo, o
aprendizado das ações de cuidado do estoma e da pele
periestomal, manuseio de sondas e equipamentos médicos
como aspiradores, nebulizadores etc. Percebe-se o quanto fica
difícil para estas famílias a alta hospitalar e a volta ao lar e ao
convívio social, associadas às complicações com o estoma que
resultam em novas internações ou retornos freqüentes ao
serviço em busca de solução.
A Enfermagem tem o compromisso de incluir as famílias
nos cuidados de saúde, considerando “a evidência teórica,
prática e investigacional do significado que a família dá para o
bem-estar e a saúde de seus membros, bem como a influência
sobre a doença” 3. Neste sentido, entendemos que a
Enfermagem desempenha um importante papel no cuidado
das CDTs e de suas famílias, tornando-se então necessário
compreender a família como sujeito principal da nossa ação de
cuidar, em especial, da saúde da criança.
O cuidado às CDTs deve envolver uma abordagem que
reconheça a família em uma relação de parceria com os
profissionais4. Na atualidade, notamos esforços de manter o
enfoque familiar na assistência de enfermagem em razão da
importância da família para a sobrevivência e, principalmente,
para o cuidado de pacientes crônicos 5,6. Mediante isto, buscamos
discutir quais as mudanças significativas que ocorrem no interior
da organização das famílias em função do cuidado às crianças
dependentes de tecnologia.
METODOLOGIA
Local do estudo:
Departamento de Cirurgia Pediátrica do Instituto Fernandes
Figueira, pertencente à Fundação Oswaldo Cruz, instituição
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 92 - 7.
materno-infantil que ocupa importante papel no cenário das
instituições públicas do Rio de Janeiro.
Sujeitos:
Os sujeitos deste estudo foram quatro famílias de CDTs que
estavam ou estiveram em acompanhamento no Programa de
Assistência Integral à Criança Ostomizada, ou que tinham sido
submetidas à cirurgia na instituição antes da organização do programa.
Coleta de dados:
Utilizamos, como instrumento para coleta de dados, as
entrevistas semi-estruturadas7. O roteiro da entrevista foi
orientado pela questão norteadora que dá sustentação ao
objetivo do estudo: que mudanças aconteceram no interior
da família para cuidar da criança dependente de tecnologia?
As entrevistas foram agendadas com as famílias e gravadas
em meio magnético.
Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética da
instituição. Após a sua aprovação, iniciamos a coleta de dados.
Organização dos dados para análise:
A classificação dos dados foi realizada a partir do conceito
de multidimensionalidade fornecido pelo referencial teórico
do pensamento complexo.
A compreensão de
multidimensionalidade está pautada no entendimento de que
os seres humanos são unidades complexas, comportando, ao
mesmo tempo, o aspecto biológico, psíquico, social, afetivo e
racional8. O caráter multidimensional do conhecimento deve
ser reconhecido juntamente com a compreensão de que não se
pode isolar uma parte do todo, já que as dimensões estão em
constante interação com todas as outras dimensões. Como
exemplo, a dimensão econômica está em permanente interação
com todas as outras dimensões humanas. Isto porque a
economia carrega em si, de forma holográfica, as necessidades,
desejos e paixões humanas que estão além dos simples
interesses econômicos8. O pensamento complexo aspira ao
conhecimento multidimensional9.
Durante e após a transcrição, foi possível a construção de
quatro categorias: dimensão emocional, dimensão social,
dimensão financeira e impacto nas atividades
r otineir
as
otineiras
as.. A partir destas categorias foram realizadas as
primeiras classificações dos dados. Definimos trabalhar com estas
quatro categorias resultantes das mudanças observadas pelas
famílias para cuidar da CDT com o objetivo de dar visibilidade a
estas dimensões, apontando caminhos para a compreensão das
necessidades de intervenção junto às famílias.
Verificamos, efetivamente, que acontecem mudanças no
interior das famílias que cuidam de uma CDT e que estas
mudanças se apresentam de forma multidimensional.
A teoria dos sistemas tem sido utilizada para ajudar na
compreensão das famílias pelos profissionais de saúde. Um
conceito que consideramos fundamental para esta compreensão
reconhece que a mudança em um membro afeta toda a família3.
Este conceito nos ajuda a compreender as dimensões do impacto
da doença na família, suas alterações na organização e
funcionamento familiar.
94
A família da criança dependente de tecnologia
Leite NSL et al
Neste sentido, o artigo se aproxima do universo complexo
da família que, a princípio, era imperceptível para o profissional
de saúde. Torna-se possível, através do diálogo e das
interações, identificar o que acontece no interior das famílias
e como as mudanças afetam seu funcionamento.
todo o sistema. O desequilíbrio contínuo causado pelo estresse
prolongado e inquebrantável pode gerar sintomas físicos e
psicológicos, como tensão muscular, indigestão, ansiedade e
insônia, que poderão resultar em doença12. Isto foi revelado
através dos seguintes depoimentos:
RESULTADOS
Eu estava estressada, estressada, sabe?Não estava
agüentando mais nada...
O primeiro contato das famílias com a situação
de dependência tecnológica
Mas ele (o pai) não aceita a doença dela. Família C.
A primeira grande mudança é caracterizada pelo caos que
se instala na família no momento em que se depara com a
situação do seu filho quando este passa a depender de tecnologia.
Este momento pode ser comparado à desordem que acontece
numa suposta ordem estabelecida. Isto pode ser evidenciado no
depoimento da família sobre o sentimento ao ter o primeiro
contato com o problema de sua criança, relatado a seguir:
Até mesmo, não sei se você se lembra, no período que
ele estava aqui internado como que eu me deparei
com a situação do B.E. Eu já sabia que não era uma
coisa fácil de tratar, mas quando eu cheguei e vi o B.E.
daquele jeito, você não sabe o que é. O meu chão
abriu! Eu queria me enterrar ali dentro e não sair
nunca mais, só quando ele tivesse sem aqueles
aparelhos todos. Família B.E.
As famílias entrevistadas demonstraram, através dos seus
depoimentos, a importância do primeiro contato que tiveram
com a situação das suas crianças, evidenciando ser aquele um
momento de grande impacto, devendo, portanto, ser tratado
por nós da equipe de saúde com igual importância e respeito.
Esta é, então, uma questão que merece reflexão acerca da
nossa prática profissional, que, ao privilegiar o cuidado em
sua perspectiva biológica (patologia e doença), unidireciona
nosso olhar, secundarizando o cuidado humano, que se reveste
de amor, compaixão e solidariedade.
Torna-se necessário repensar o modelo de assistência
hospitalar vigente, que orienta as práticas profissionais,
estruturado em torno de uma lógica cuja ênfase está na
utilização crescente do aparato tecnológico e na sustentação
de uma visão predominantemente biologicista e mecanicista
dos responsáveis pela atenção à saúde 10.
A dimensão emocional da mudança:
O aspecto emocional da mudança nas famílias tem sido
documentado em alguns estudos. Relata-se uma grande
variedade de emoções experimentadas por estas famílias como:
ansiedade, irritação, culpa e frustração1. Destacamos que as
responsabilidades e desafios para cuidar da CDT acarretam
sobrecarga física e emocional para a mãe 11. Em nosso estudo,
as famílias referiram experimentar uma série de alterações
emocionais, dentre as quais destacamos: estresse, medo,
culpa, problemas conjugais e não-aceitação. Olhando pela
perspectiva sistêmica, o fenômeno do estresse ocorre quando
uma ou diversas variáveis de um organismo são forçadas até
seu limite extremo, induzindo a um aumento da rigidez em
Então eu fico muito, muito assim, o meu nervosismo, eu
era uma pessoa calma, mudou porque eu estou muito
nervosa, estressada, e é isso [...] Então mudou isso, o
nervosismo, eu não estou me controlando, de jeito
nenhum eu estou me controlando.
... Além de ver esse problema da B.J. eu fico me
perguntando por que ela nasceu assim e não tem uma
explicação. Os médicos dizem que não tem explicação.
Mudou muito na relação com o meu marido. Eu brigo
muito com ele, eu me estresso porque eu não tenho
paciência [...] então aí a gente se estressa muito, a
gente fala coisas que não devia falar um pro outro,
entende? Já me separei dele uma vez... Família B.J.
... Tinha medo de cuidar, a princípio tinha medo de cuidar,
medo de colocar a mão... Família D.
Um estudo de revisão da literatura sobre a experiência das
famílias no cuidado domiciliar das CDTs1 refere a presença de
sintomas de doenças na família. Pudemos confirmar esta
experiência no depoimento da família C, abaixo relatada, sobre
o alcoolismo paterno que se inicia após a situação de doença
da criança. Este estudo refere também a ocorrência de mudanças
comportamentais dos irmãos das CDTs, que foi percebida pela
família B.E. e destacada em seu depoimento.
Porque ele passou a beber de domingo a domingo, sem
parar. Família C.
Eu acho que foi até aí que o L (irmão da CDT), de 5
anos, ficou assim muito à vontade, sabe, [...] sem limite
[...] Aí aconteceu isso também, de eu achar o L, entre
aspas, muito sem limites, né? [...] foi outro tipo de
problema que vivenciamos também. Essa coisa, essa
agitação do L. Família B.E.
A dimensão social da mudança:
A dimensão social é outro aspecto da mudança familiar que
se apresenta de forma muito impactante. Verificamos a ocorrência
deste aspecto em um estudo1 no qual considera-se que cuidar de
uma CDT pode causar isolamento social para a família. As
atividades sociais costumam ser drasticamente reduzidas em
virtude das impossibilidades impostas pelo cuidado, levando a
família a uma espécie de confinamento domiciliar. Este isolamento
social ocorre devido à natureza do equipamento que a criança
necessita, que pode ser pesado ou de difícil manejo, tornando um
simples passeio uma expedição maior, ou devido ao sentimento
de absoluta exaustão dos familiares1.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 92 - 7.
A família da criança dependente de tecnologia
Leite NSL et al
Devemos considerar, entretanto, que as famílias estudadas
também se submetiam a este confinamento apesar de não
haver entre suas crianças necessidade ou dependência de
equipamentos pesados ou de difícil manejo.
Sem poder, né, ter nossa vida, os nossos hábitos que nós
tínhamos de ir à igreja, de ir à casa de um amigo, de ir a
um aniversário, nós não podíamos ir... Família D.
Você tem de abrir mão da tua vida, do teu trabalho,
das pessoas com que você convive, das tuas saídas,
da tua diversão[...]Então, houve uma época que X
(pediatra que atendia a criança) falou assim: - Você
evita, [...] sair ao máximo onde tem muita
aglomeração. Aí eu arregalei um olho deste tamanho
e fiquei com um medo danado, né? Você sabe que até
hoje eu não saio para ir a parque, eu tenho medo, ela
foi ao parque uma vez... Família C.
Observamos, no depoimento da família D., que eles
consideravam o trabalho para sair de casa tão desgastante
que optaram pelo isolamento.Torna-se necessário esclarecer
que, neste momento relatado pela família D., a criança ainda
não estava utilizando o dispositivo coletor bolsa de colostomia
e, conseqüentemente, a família se sentia insegura para sair de
casa. Isto reforça claramente a importância do dispositivo
adequado e acessível às CDTs, assim como das informações
sobre o uso adequado, suas possibilidades e limitações. Assim,
quando assistidas corretamente, a criança colostomizada/
ileostomizada e sua família não precisam estar limitadas ao
confinamento domiciliar. Mais uma vez, revela-se o aspecto da
inseparabilidade das dimensões afetadas pela doença na
família. Pensando de forma sistêmica, é possível notar a
alteração que a ausência do dispositivo, bem como da
abordagem educacional adequada pode causar na família,
gerando, como mostramos, um confinamento desnecessário,
que também poderia ser correlacionado a alterações de ordem
emocional dos membros da família.
A dimensão financeira da mudança:
O mais poderoso preditor de estresse para as famílias de
CDTs são os problemas financeiros1. A ocorrência de estresse
familiar relacionado ao cuidado da CDT no domicílio tem sido
observada. Este estresse também é motivado pela sobrecarga
financeira imposta à família, em que se nota um aumento de
sintomas depressivos nas famílias com baixo nível
socioeconômico que cuidam de CDTs13. Outro aspecto relevante
foi a re-hospitalização da criança ou a descontinuação do
tratamento em razão dos problemas financeiros14. Em nosso
estudo, dois depoimentos refletiram este tipo de problema:
... A gente tem que abrir mão de tudo, do trabalho [...]
pra poder cuidar da criança. Isso tudo, teu nível vai
abaixando, (ri) até o ponto de você ficar totalmente
dependente de todo mundo, entendeu? Família C.
Eu tive que buscar recursos em outra cidade, eu tive
que buscar recursos pela internet, sabe? Através de
telefone, procurar o local onde esse material era mais
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 92 - 7.
95
barato, até mesmo porque a Secretaria de Saúde, ela
me fornecia esse material, mas em quantidade
mínima. Porque era um material importado, caro, de
alto custo [...] Todas as pomadas que você imaginar
eu tenho dentro desta caixa. Então, ali foi um gasto
enorme... Família D.
Constatamos ainda, a par tir dos depoimentos, uma
mudança expressiva na vida profissional das mães. Estas
referem que deixaram de trabalhar ou reduziram sua carga
horária para cuidar da CDT. Este é um aspecto que
pretendemos discutir pela necessidade sentida pelas famílias
de estarem disponíveis para este cuidado. Observa-se que,
no momento em que a família aumenta sua despesa com
gastos extras, é exatamente o momento em que a receita
familiar diminui com a saída da mãe do trabalho.
Apesar de existirem subsídios para as famílias de doentes
crônicos, tais como passe livre municipal e benefício de
prestação continuada (um salário mínimo mensal pago às
pessoas portadoras de deficiência), estes não parecem ser
suficientes, ou as famílias não preenchem os critérios exigidos.
Enfatizamos que uma possibilidade para atenuar esta
situação, identificada mediante o diálogo com as mesmas, seria
a mãe da CDT poder fazer jus a benefício previdenciário ou
assistencial enquanto a situação de dependência tecnológica
persiste, considerando que as ostomias em crianças são, em
sua maioria, temporárias. A saída da mãe do trabalho torna-se
um problema financeiro para as famílias, mas representa
também um forte impacto emocional, pois diz respeito à
necessidade que tem de estar produzindo, como reflexo de sua
identidade na sociedade.
A princípio você tem que parar de trabalhar para cuidar
da criança, principalmente de uma criança com este
tipo de problema que é ileostomia. Família C.
... Eu tive que sair do trabalho, né? Eu trabalhava,
então eu tive que sair do trabalho porque não é todo
mundo que toma conta de uma criança assim e sabe
cuidar direitinho. Família B.J.
Esta é uma questão na qual precisamos nos deter,
considerando que a despesa extraordinária para cuidar da CDT
deve ser discutida no âmbito dos programas de assistência
primária à criança. Trata-se de uma agenda urgente visto que
o cuidado destas crianças no domicílio diminui os gastos com
despesas hospitalares para os cofres públicos, mas onera ou
torna radicalmente insustentável o cuidado domiciliar com
recursos exclusivos das famílias.
Dimensão do impacto nas atividades rotineiras
Nesta categoria, procuramos compreender o impacto que
o cuidado domiciliar à CDT pode trazer nas atividades rotineiras
familiares. Como atividades rotineiras, incluímos tarefas como
limpar a casa, cuidar dos outros filhos, preparar alimentos,
entre outras. As atividades rotineiras estão referidas como um
aspecto instrumental do funcionamento da família, entendendo
esta área como particularmente importante em famílias com
96
A família da criança dependente de tecnologia
Leite NSL et al
problemas de saúde. Isto ocorre porque as atividades da vida
diária são, em geral, mais numerosas e freqüentes, assumindo
maior significado devido à presença da doença em um membro
da família3. As famílias referem ter identificado estratégias
para contornar a situação de cuidados especiais à criança e ao
mesmo tempo manter um ambiente limpo, adequado para a
permanência da criança.
Então, foi um cuidado a mais com a casa, que eu não
tinha aquele tempo, de dar ao mesmo tempo carinho
pra ele, olhar ele, e cuidar daquilo tudo. Então, quer
dizer, foi muito difícil. Foi muito difícil conciliar as
duas coisas, sabe? Então o que nós fizemos? Eu
fiquei a parte da manhã, fazia esta parte, a higiene da
casa, principalmente onde ele estava. Minha mãe ficava
um pouco com ele, levava ele um pouco pra casa dela,
eu organizava tudo lá em casa, fazia tudo assim
correndo, a jato, pra poder pegar ele e levar ele pra
casa. Aí organizamos dessa forma. Família B.E.
A princípio você tem que ter muito cuidado com o material
que ele utiliza, seja mamadeiras, seja pratos, copos que
ele utiliza, sempre muito bem lavados, né? [...] Sempre
desinfetados. [...] Nunca dar comida a ele da rua.
Sempre coisas feitas em casa, sabe? Sempre alimentos
assim, frescos. Nunca dou uma coisa assim de um dia
para o outro pra ele, sabe? Sempre com essa
preocupação de uma infecção intestinal. Família D.
Outro aspecto destacado pela família D. foi quanto à
alteração que ocorreu nas atividades de sono/repouso da
família. Esta situação foi colocada como um fator de estresse
familiar causado, obviamente, pela exaustão do cuidado sem
pausas. Mais uma vez destaco a importância do uso do
dispositivo adequado, neste caso, bolsa coletora para a
ileostomia. O cuidado sem pausas referido pela família estava
relacionado às lesões periostomais causadas pela nãoutilização do dispositivo que garantiria a integridade da pele
e um sono tranqüilo e reparador para a criança e sua família.
É preciso esclarecer que a família D., em alguns casos, nomeia
o estoma da criança de colostomia e, em outros, de ileostomia.
Na realidade, D. tinha uma ileostomia:
Nós não tínhamos nem como dormir, porque o início
da colostomia, o retorno dele pra casa, o que é que
aconteceu?O ácido que saía dali era muito forte, o
líquido que saía entre as fezes era muito forte.
[...] Ficou em carne viva, aquela vermelhidão toda
[...] Porque toda hora que o D. soltasse o líquido,
que o líquido vazasse pela colostomia, tinha que
ser trocado. Família D.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através deste trabalho, foi possível uma análise profunda
e multidimensional das famílias de crianças dependentes de
tecnologia. Nessa análise, pudemos perceber que as mudanças
na vida das famílias que cuidam de CDTs se apresentam em
múltiplas dimensões. O primeiro impacto configura-se a partir
do contato inicial com a situação de dependência tecnológica
de seus filhos e se caracteriza como um importante momento
nas suas vidas. Esta descoberta nos faz refletir sobre nosso
papel de intervenção junto a estas famílias no início do processo.
Ou seja, o nosso comprometimento profissional com as famílias
deve se dar desde o momento em que estas têm este primeiro
contato, e não no fim do processo, quando propomos a alta
hospitalar. Precisamos estar atentos para este momento,
oferecendo a esta família o suporte necessário para enfrentar a
nova situação, vislumbrando a possibilidade de desordem que
se apresenta por esta condição.
Ressaltamos aqui também a nossa preocupação com a
responsabilidade que é colocada nas famílias para o cuidado
domiciliar da CDT. É necessário que as instituições de saúde
assumam seus papéis no acompanhamento e suporte a estas
crianças e suas famílias.
Verificamos efetivamente que, na prática, ocorre uma
desorganização da família em várias dimensões do seu viver
para dar conta de cuidar da CDT. Nesta pesquisa foi possível
destacar algumas destas dimensões: a emocional, a social, a
financeira e o impacto nas atividades rotineiras.
O aspecto emocional da mudança foi revelado como um
importante fator de desorganização familiar que evidencia
uma demanda por suporte emocional. É necessário que este
seja um aspecto relevante na atenção a estas famílias, porque
a falta deste supor te poderá comprometer o cuidado
dispensado por elas à CDT.
Outro aspecto que se apresentou de forma impactante foi o
social. A situação de dependência tecnológica não precisa e
nem deve ser acrescida deste confinamento domiciliar, como
vimos nos depoimentos. Precisamos estar atentos para as
causas deste confinamento como, por exemplo, a falta do
dispositivo adequado.
Constatamos uma mudança expressiva na vida profissional
das mães, as cuidadoras das CDTs. Em geral, estas têm que sair
do trabalho ou reduzir sua carga horária para cuidar da criança.
Destacamos este aspecto porque, além do problema financeiro
para as famílias, a saída do mercado de trabalho causa forte
impacto emocional para as mães.
Considerando que a situação de ostomização em pediatria tem
a peculiaridade de ser temporária, consideramos recomendável
propor alteração na legislação para que a mãe da CDT possa fazer
jus a benefício previdenciário ou assistencial enquanto a situação
de dependência tecnológica persistir. Esta medida certamente
atenuaria uma situação de grande estresse familiar.
Achamos importante demonstrar o impacto nas atividades
rotineiras, já que estão relacionadas ao funcionamento da família
e constituem um aspecto de singular importância quando
tratamos de famílias com problemas de saúde. Estas atividades
assumem uma dimensão maior se considerarmos os cuidados
especiais que precisam ser dispensados às CDTs.
A compreensão das mudanças que ocorrem no interior das
famílias em função do cuidado às crianças dependentes de
tecnologia nos permite identificar as múltiplas dimensões da
vida familiar que são afetadas e perceber as ligações entre
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 92 - 7.
97
A família da criança dependente de tecnologia
Leite NSL et al
estas dimensões. A dimensão emocional, em alguns casos, está
relacionada à dimensão financeira, que também produz uma
situação de confinamento desta família (dimensão social). Desta
forma, vemos a rede de implicações que se forma no cotidiano
de cuidados às CDTs. Este entendimento possibilita pensar o
caráter multidimensional do cuidado à CDT. Percebemos a
inseparabilidade destas dimensões, as implicações das partes
(dimensões) com o todo (o cuidar, o viver a situação de
dependência tecnológica), do todo com as partes e das partes
entre si. Disto resulta que a complexidade é a união entre a
unidade e a multiplicidade8.
A partir da complexidade e da visão multidimensional do
problema estudado, é possível evidenciar a impossibilidade de
tratar a doença sem compreender a família. Consideramos que
a filosofia do cuidado centrado na família é um marco
fundamental para os modelos de alta complexidade.
Para atender às reais necessidades das famílias, torna-se
fundamental a reorientação do modelo assistencial vigente em
nossas instituições hoje baseado no modelo biomédico,
essencialmente biologicista e tecnicista, que não contempla
as múltiplas dimensões da saúde. Assim, tor na-se
imprescindível que os profissionais do cuidado, em especial as
enfermeiras, desenvolvam e apliquem modelos assistenciais
que contemplem uma visão sistêmica e multidimensional do
cuidar e, desta forma, possam atender as demandas urgentes
e inadiáveis das famílias.
Este momento de busca da realidade nos leva ao
pensamento de Edgar Morin: O conhecimento é uma aventura
em espiral que tem um ponto de partida histórico, mas não
tem um fim, que deve, sem cessar, fazer círculos concêntricos,
ou melhor dizendo, a descoberta de um princípio simples não
tem fim; ela reconduz ao mesmo princípio simples que ela
esclareceu em parte15.
Referências
10. Silveira PAF. O acolher Chapecó. In: Franco BT, Peres MAA, Foschiera
MMP, Panizzi M, organizadores. Acolher Chapecó: uma experiência de
mudança do modelo assistencial, com base no processo de trabalho.
São Paulo (SP): Hucitec; 2004.
11. Cunha SR. A enfermeira e a família dependente de tecnologia: a
intermediação dos saberes. 1997.[dissertação de mestrado]. Rio
de Janeiro (RJ): Escola de Enfermagem Anna Nery/ UFRJ; 1997.
12. Capra F. O ponto de mutação. 28a ed. São Paulo (SP): Cultrix; 2002.
13. Haffner JC, Schurman SJ. The technology-dependent child. Pediatr
Clin North Am 2001 June; 48(3): 751-64.
14. Andrews MM, Nielson DW. Techology dependent children in the
home. Pediatr Nurs 1988 Mar/Apr; 14(2): 111-51.
15. Morin E, Le Moigne JL. A inteligência da complexidade. Tradução
Nurimar Maria Falci. 2a ed. São Paulo (SP): Peirópolis; 2000.
1. Kirk S. Families’experiences of caring at home for a technologydependent child: a review of the literature. Child: Care, Health and
Development 1998; 24(2): 101-14.
2. Luz MHBA. A dimensão cotidiana da pessoa ostomizada: um estudo de
Enfermagem no referencial teórico de Martin Heidegger. [tese de doutorado].
Rio de Janeiro (RJ): Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ; 2001.
3. Wright LM, Leahey M. Enfermeiras e famílias: um guia para avaliação
e intervenção na família. 3a ed. São Paulo (SP): Roca; 2002.
4. Bond N, Phillips P, Rollins AJ. Family-centered care at home for
families with children who are technology dependent. Pediatr Nurs
1994 C; 20 (2): 123-30
5. Silveira EAA, Carvalho AMP. Familiares de clientes acometidos pelo
HIV/AIDS e o atendimento prestado em uma unidade ambulatorial. Rev
Latino-am Enfermagem 2002 nov/dez; 10(6) 813-8.
6. Almeida MI, Molina RCM, Vieira TMM, Higarashi IH, Marion SS. O ser
mãe de criança com doença crônica: realizando cuidados complexos.
Esc Anna Nery Rev Enferm 2006 abril; 10(1): 36-46.
7. Ludke M, André M. Pesquisa em educação: Abordagens qualitativas.
São Paulo(SP): EPU; 1986.
8. Morin E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 4ªed.
São Paulo (SP): Cortez. Brasília, DF: UNESCO; 2001.
9. Morin E. Introdução ao pensamento complexo. Tradução de Dulce
Matos. 3a ed. Lisboa (PT): Instituto Piaget; 2001.
Sobre as Autoras
Noélia Silva Ladislau Leite
Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz- Rio de Janeiro
e-mail: noelialeite@fiocruz.br
Sueli Rezende Cunha
Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz- Rio de Janeiro
e-mail: suelirez@iff.fiocruz.br
Recebido em 06/06/2006
Reapresentado em 08/11/2006
Aprovado em 15/12/2006
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 92 - 7.
98
Vivência de Mulheres no Parto
Crizóstomo CD et al
A VIVÊNCIA DE MULHERES NO PARTO
DOMICILIAR E HOSPITALAR
Women Experience with
Home and Hospital Childbirth
La Vivencia de Mujeres en el
Parto Domiciliar y Hospitalario
Cilene Delgado Crizóstomo
Inez Sampaio Nery
Maria Helena Barros Luz
Resumo
Estudo com abordagem qualitativa, objetivando compreender na vivência das mulheres a experiência do par to
normal domiciliar e hospitalar bem como discutir a vivência das mulheres nos dois tipos de partos. Os sujeitos do
estudo foram sete mulheres multíparas residentes em Batalha –PI, e o instrumento utilizado foi um roteiro semiestruturado com a técnica da entrevista. Os resultados revelaram que os partos domiciliares vivenciados pelas
mulheres aconteceram mais rápido, de forma natural, sem intervenções e assistidos por parteiras ou por suas mães.
As posições de preferência durante o parto domiciliar foram na rede e no assento, e os par tos hospitalares foram
laboriosos, complicados e com intervenções traumáticas. A melhor posição e o melhor local do par to escolhidos
pelas entrevistadas foram na rede e o domicílio, respectivamente. Conclui-se que o par to domiciliar foi natural e
humanizado, já o par to normal hospitalar foi conduzido pelos profissionais com intervenções sem a par ticipação
ativa das parturientes, tornando-o traumático, desumano e de risco.
Pala
vr
as-c
ha
alavr
vras-c
as-cha
havve: Mulheres. Parto Domiciliar. Parto Humanizado.
Abstract
Resumen
Qualitative study that aimed to understand the experience
of women in natural childbirth at home and at the hospital,
as to argue the experience of the women in the both types
of birth. The subjects of the study was seven multiparous
women that lives in Batalha – Piauí – Brazil, and the used
instruments were a half structurized script in a interview.
The results revealed that the births at home experienced by
women happened faster, in a natural way, without intervention
and assisted by midwives or the mother of these women.
The positions preferred during the birth at home was in a
net and in a seat, and the births at the hospital was difficult,
complicated and with traumatic interventions. The best
position and the best location of birth, choused by the
interviewed women, were the net and the birth at home,
respectively. It was concluded that the birth at home was
natural and humanized, but the birth at the hospital was
conducted by professionals with interventions without the
active participation of the pregnant woman, making it
traumatic, inhuman and with risk.
Estudio con abordaje cualitativo, objetivando entender la
experiencia de mujeres en parto natural en el domicilio y en
el hospital, en cuanto se discute la experiencia de las mujeres
en ambos tipos de parto. Los sujetos del estudio fueron
siete mujeres multiparas que viven en Batalha - Piauí - Brasil,
y los instrumentos usados fueran un guión semi-estructurado
con la técnica de la entrevista. Los resultados revelaron que
los partos en el domicilio experimentados por las mujeres
sucedieron más rápidamente, de una manera natural, sin
intervenciones y asistido por parteras o por sus madres.
Las posiciones preferidas durante el parto en el domicilio
fueron en la red y en el asiento, y los partos en el hospital
fueran laboriosos, complicados y con intervenciones
traumáticas. La mejor posición y la mejor localización del
parto, escogidos por las entrevistadas, fueron la red y el
domicilio, respectivamente. Se ha concluido que el parto en
el domicilio es natural y humanizado, pero el parto en el
hospital fue conducido por los profesionales con
intervenciones sin la par ticipación activa de la mujer
embarazada, tornándolo traumático, deshumano y de riesgo.
Keywords:
Palabras clave:
Mujeres. Parto Domiciliario. Parto Humanizado.
Women. Home Childbirth. Humanizing Delivery.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 98 - 104.
Vivência de Mulheres no Parto
Crizóstomo CD et al
INTRODUÇÃO
O parto domiciliar não-intervencionista por longo tempo
foi prática comum, considerada normal na sociedade. E só a
partir do século XX, a medicina transformou o parto, que é um
evento fisiológico, em um evento patológico, que necessita, na
maioria das vezes, de tratamento medicamentoso e cirúrgico,
predominando a assistência hospitalar ao parto, tornando-o, a
partir daí, institucionalizado.
O ambiente onde é realizado o parto é importante, pois
este pode ajudar ou atrapalhar a evolução do trabalho de parto.
Aqui no Brasil, além do hospital, existem outros locais pouco
difundidos, onde o parto é tratado como um processo fisiológico,
sobretudo os que ocorrem nas casas de parto e em domicílio1.
Segundo o Ministério da Saúde, embora tenha havido uma
queda na Razão da Mortalidade Materna (RMM) a partir da década
de 1980 no Brasil, essa RMM permanece elevada. No ano de
2001, a RMM corrigida foi de 74,5 óbitos maternos por 100.000
nascidos vivos, apesar da subinformação e do sub-registro2.
Até o início do século passado, as parteiras, aparadeiras
ou comadres eram mulheres de confiança da gestante e/ou
reconhecidas pela comunidade por sua experiência na
realização do parto e no acompanhamento durante o trabalho
de parto e pós-parto, que ocorriam no domicílio, chamado de
“cuidar do resguardo ”. Essas mulheres eram pobres e
geralmente pouco ou nada recebiam por seu trabalho; no
entanto, faziam disso um sacerdócio. Por ser uma atividade
desvalorizada, o parto era deixado aos cuidados femininos,
pois além de serem raros os médicos que existiam, estes eram
pouco familiarizados com o atendimento ao nascimento3.
No Brasil Colônia, as mulheres eram preparadas para parir
na posição agachada ou sentada e contavam com o trabalho
das parteiras. Os médicos se mostravam insensíveis à dor das
parturientes. Por isso, as mulheres preferiam as parteiras por
razões psicológicas, humanitárias e devido ao tabu de mostrar
a genitália. Estas conheciam a gravidez, o puerpério e manobras
que facilitavam o parto por experiência própria, portanto
gozavam de enorme prestígio na sociedade3.
No final do século XVI, o cirurgião inglês Peter Chamberlain
passou a utilizar o fórceps obstétrico com freqüência, fazendo
com que o trabalho da parteira, reconhecido pela sociedade,
começasse a sofrer declínio. A intervenção masculina passou a
substituir o paradigma não-intervencionista das parteiras, e
estas passaram a ser rejeitadas3.
No início do século XX, os médicos formados nas faculdades
brasileiras não possuíam conhecimentos práticos, apenas
teóricos, pois nos hospitais não havia gestantes internadas
para parir. Após a Segunda Guerra Mundial, o parto no Brasil
foi progressivamente institucionalizado, com o crescimento do
número de partos hospitalares. Os médicos diminuíram de
forma significativa os riscos hospitalares ao incorporarem novos
conhecimentos e habilidades nas áreas relativas à cirurgia,
assepsia, anestesia, hemo e antibioticoterapia3.
As modificações da posição vertical para a deitada,
litotômica, semi-sentada, foram sugeridas em Londres e Paris,
tendo como causa a comodidade do médico ou do pessoal
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 98 - 104.
99
responsável pelo atendimento ao parto. Ressaltam-se, nesta
mudança, o desrespeito aos mecanismos fisiológicos do parto e o
prejuízo na qualidade do atendimento ao parto normal de baixo risco.
Essa alteração passa a ser adotada pela maioria das escolas médicas4.
Vale ressaltar que a Organização Mundial de Saúde propõe
mudanças no modelo de atendimento ao parto hospitalar/
medicalizado no Brasil, recomenda a modificação de rotinas
hospitalares consideradas desnecessárias, geradoras de risco
e excessivamente intervencionistas no que tange ao parto,
como episiotomia, amniotomia, enema e tricotomia e,
particularmente, parto cesariano. A proposta da OMS não é
eliminar tais intervenções, mas reduzi-las apenas às situações
de necessidade comprovada, uma vez que se entende que o
modelo de atenção ao parto e ao nascimento hospitalar estaria
abusando de práticas prejudiciais à saúde da mulher e do bebê5.
No Brasil, o Ministério da Saúde, visando à humanização
da assistência ao parto normal e à redução do índice de
morbimortalidade materna e perinatal, em 1998, por meio
das por tarias Ministeriais nº 2815/98 e nº 2816/98
respectivamente, estabeleceu o pagamento pelo procedimento
do parto normal sem distocia à enfermeira obstetra e
estabeleceu o pagamento do percentual máximo de cesarianas,
e, através da Portaria 163/98, estabeleceu a emissão de laudo
de (AIH) de parto normal realizado pela enfermeira6.
Ainda em 1999, o Ministério da Saúde publicou outra Portaria
de n° 985/99, criando o centro de parto normal (CPN), no âmbito
do SUS, com equipe mínima constituída por uma enfermeira
obstetra, uma auxiliar de enfermagem, um auxiliar de serviços
gerais e um motorista para o atendimento humanizado e de
qualidade, exclusivamente ao parto normal sem distocia realizado
por enfermeiro obstetra. Essas instituições possuem um ambiente
e uma estrutura física semelhante ao domicílio6.
Os centros de parto normal e/ou as casas de parto são
espaços que estão surgindo e que o(a) enfermeiro(a) obstetra
deve ocupar, uma vez que este foi reconhecido pela OMS como
o profissional mais adequado e com melhor custo – efetividade
de prestador de cuidados de saúde para ser responsável pela
assistência à gestação e ao parto normal, incluindo a avaliação
de riscos e o reconhecimento de complicações.
Tendo em vista que a enfermagem vem se preocupando e se
empenhando cada vez mais na melhoria da assistência, e em especial
com a humanização da assistência ao parto normal, pretende-se
com este estudo ampliar os conhecimentos sobre a assistência ao
parto normal, para contribuir com sua melhoria e humanização.
Para isso, faz-se necessário repensar, refletir e reavaliar
qual o melhor local e em que condições as parturientes poderão
ter seus filhos, respeitando os seus direitos, levando em
consideração os benefícios para os protagonistas de todo o
processo do nascimento – mãe e filho.
Diante da problemática apresentada, tem-se por objeto de
estudo as experiências das mulheres que vivenciaram o parto
normal domiciliar e hospitalar. E dentre as questões
norteadoras destacaram-se: como foram as experiências das
mulheres, com relação aos partos normais que ocorreram no
domicílio e no hospital? Qual a melhor experiência, parir no
domicílio ou no hospital? Por quê?
100
A partir desses questionamentos elaboraram-se os seguintes
objetivos: compreender na vivência das mulheres a experiência
do parto normal domiciliar e hospitalar e discutir a vivência das
mulheres no parto normal no domicílio e no hospital.
METODOLOGIA
Este estudo é de natureza qualitativa, cujo instrumento
utilizado para produção de dados foi um roteiro semiestruturado com dados de identificação e questões abertas. A
técnica empregada foi a entrevista previamente agendada nas
visitas domiciliares por uma das autoras. As entrevistas foram
realizadas no período de março e abril de 2004 no respectivo
domicílio de cada participante da pesquisa.
As sete mulheres que aceitaram participar do estudo
assinaram um termo de consentimento esclarecido que lhes
garantia o sigilo e o anonimato exigido pela resolução nº 196/
96 do Conselho Nacional de Saúde. Procederam-se então as
entrevistas nas quais os depoimentos foram gravados em fitas
magnéticas e transcritos posteriormente.
Ressalta-se que, na enfermagem, a pesquisa qualitativa
tem contribuído para a compreensão holística do homem, além
de permitir explorar melhor cada situação da assistência. A
adoção de modelos para cuidar, embasados nas crenças, nos
valores e nas experiências vividas pelo indivíduo, sugere uma
fundamentação humanizada do processo saúde-doença, para
qual a abordagem compreensiva demonstra ser promissora,
pois estuda a vivência, o significado e as experiências vividas
sob a perspectiva da clientela assistida7.
A pesquisa foi realizada com as mulheres que utilizavam os
serviços de planejamento familiar e de controle do câncer de colo
de útero do Posto de Saúde na vila Kolping, localizado na periferia
da zona urbana do município de Batalha-PI, onde está implantado
o Programa de Saúde da Família (PSF). A seleção foi feita com a
colaboração dos Agentes Comunitários de Saúde, que fizeram o
levantamento, na sua microárea, das mulheres multíparas que já
passaram pela experiência do parto normal domiciliar e hospitalar,
independente de se encontrar no período gravídico-puerperal,
residentes naquela área coberta pela equipe do PSF.
Os dados foram obtidos após sua categorização, através da
transcrição das falas gravadas, da leitura e releitura do material,
organização e classificação dos relatos com base na fundamentação
teórica, respondendo às questões norteadoras e aos objetivos do
estudo. As falas dos sujeitos foram analisadas tomando por base
conceitos de Bardin (1977), através da análise de conteúdos e
com base na literatura da temática em estudo. Para Bardin (1977),
a análise de conteúdo se aplica a um conjunto de técnicas de
análise de comunicação que contém informações sobre o
comportamento humano apresentado em forma documental8.
RESULTADOS
Os resultados compreenderam a análise dos relatos das
depoentes, com base no referencial teórico que estão
distribuídos em quatro categorias.
Vivência de Mulheres no Parto
Crizóstomo CD et al
A Vivência do Parto Domiciliar
Nesta categoria as sete mulheres relataram como foram suas
experiências de vivenciar o parto em casa. Eis alguns depoimentos:
Eu senti as dores e esperava o menino nascer, cortava o
umbigo e esperava o resto nascer. No último [referindose ao parto] não tinha ninguém, eu mesma que fiz tudo;
depois que nasceu, não demorou 10 minutos e o resto
saiu [referindo-se à placenta], aí foram chamar a
parteira, e eu não tive nada, e nem a criança. O outro
[referindo-se ao parto] que eu tive foi ligeiro, aí depois
a minha mãe cortou o umbigo. O último [referindo-se
ao parto] não tinha ninguém, eu mesma que fiz tudo. O
outro, a minha mãe cortou o cordão (E1)
Tive ajuda só da minha mãe, que pegou [referindo-se
ao RN] e cortou o cordão (E2)
A parteira pegou três [referindo-se RN], os outros
[referindo-se aos filhos] não deu nem tempo, aí a minha
mãe cortava o cordão (E4)
Teve uma que eu tive sozinha, que deu muito trabalho
para nascer, aí fiquei esperando a parteira chegar.
Quando ela chegou, ela cortou o cordão, ficou esperando
a placenta descer, aí passou a noite fazendo remédio –
azeite de mamona morno e passava no pé da barriga,
aí puxou e saiu. Nos outros, quando começava a sentir,
aí a parteira ficava na minha casa e dormia. Ela não
fazia nada, só o que ela fazia era passar a mão na
barriga e nas cadeiras. Graças a Deus eu nunca tive
complicação. Quando o RN dá trabalho pra nascer, que
bota só a cabeça e o pescoço fora, às vezes ela segura
e puxa um pouco, mas é com um jeito, porque tem o
jeito de puxar, quando a dor vem de novo, enquanto não
tem dor não puxa, com a força da dor ela puxa (E5)
Parteira, ela tinha o curso de parteira. Às vezes, quando ela
chegava eu já tinha tido, ela só fazia cortar o cordão (E6)
Foi normal, eu sentia dor nas cadeiras, eu sabia que
estava com dor de parir quando eu vi o sinal de parir
[perdendo líquido], aí ficava andando, caminhando,
trabalhando, aí eu mandava chamar a parteira. Ela
cuidava de mim, me dava chá de cebola branca, esperava
até chegar a hora, ela pegava o menino, às vezes ela
fazia toque, ela trazia o material dela todo. Teve um
[parto] que eu tive sozinha. Foi rápido, veio com tudo
[referindo-se à dequitação], aí chamaram a vizinha e
ela cortou o cordão. Eu só ia pra rede ou assento quando
não agüentava mais, mas o resto do tempo era
caminhando direto até não agüentar mais. Aí o menino
nascia, ela cortava o umbigo. Aí banhava, mas agora
não banha mais; elas só limpavam ele. Aí ela cuidava de
mim, aí quando dava 8 dias, elas iam perguntar como é
que eu estava (E7).
Pode-se perceber pelas falas das entrevistadas 1, 5, 7 que
os partos ocorridos em casa foram rápidos, de evolução
fisiológica, portanto de baixo risco, sem intervenções, onde as
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 98 - 104.
101
Vivência de Mulheres no Parto
Crizóstomo CD et al
mesmas tinham toda a liberdade de ficar caminhando e bebendo
líquidos, o que tornou a mulher o sujeito ativo do processo parturitivo.
Essas mulheres que pariram no domicílio foram assistidas,
na maioria das vezes e predominantemente, por parteiras,
embora as entrevistadas 1 e 6 tenham parido sozinhas ou sido
assistidas por suas mães, e as entrevistadas 2, 4 e 7 tiveram
partos em que receberam assistência somente de suas mães.
Mesmo sem todo o suporte de profissionais qualificados e
recursos tecnológicos presentes em uma instituição hospitalar
que atende à mulher nesse período, esses depoimentos
mostraram partos e pós-partos ausentes de complicações para
a mãe e o recém-nascido.
O parto não é uma doença, é um fenômeno fisiológico, salvo
em gestações de risco. Portanto, a grávida não é paciente, pois não
está doente, apenas vai parir um bebê, ela é uma parturiente.
Acredita-se que cerca de 40% dos partos possam ocorrer fora dos
hospitais, sejam em casas de parto ou nos domicílios, conquanto
que atinjam determinadas condições de seguridade. O risco existe
tanto no domicílio como no hospital. Ainda não se sabe qual dos
dois é o de maior risco, se o hospital ou o domicílio, para casos
específicos. Acredita-se que ambos tenham suas indicações9.
O parto em casa atende, de maneira particular, às necessidades
psicológicas e sociais e também permite a participação e a presença
ativa do pai ou companheiro. Possui muitas vantagens, tais como a
liberdade de movimentos, segurança, privacidade, condições
excepcionais de acolhimento do bebê, necessidades afetivas
atendidas e autonomia durante o processo10.
O tipo de formação profissional - de parteira/obstetriz ou
de enfermeira obstétrica - tem sido apontado como um fator
que influi diretamente na forma de assistência ao parto, sendo
considerado menos medicalizado o parto realizado por parteira.
Visando a um melhor atendimento às parturientes com a
redução do número de inter venções cirúrgicas e
medicamentosas desnecessárias, profissionais de diferentes
áreas têm defendido a criação de cursos de obstetrícia com
exame de seleção e currículo próprios, para formação de
parteira/obstetriz (técnico e universitário) 11.
Apesar da institucionalização do parto, atualmente as
parteiras tradicionais continuam prestando assistência à
mulher no parto domiciliar no interior do Piauí. Elas possuem
uma grande sabedoria e humanidade, o que tem contribuído
bastante para essa assistência.
As parteiras em geral passam vários dias na casa da
parturiente à espera da hora do parto. Elas rezam, cantam,
provêem a casa de tudo que é necessário, auxiliam nos trabalhos
domésticos da cozinha, nos cuidados com as crianças, assistem
à puérpera, observando sintomas e dando orientações. Vale
destacar que “ainda exercem outras funções além da assistência
no parto. Seu tempo é livre dedicado ao parto. Possuem uma
sabedoria inata, não têm pressa, pois sabem que é prudente
observar a natureza e deixá-la agir”10
Em alguns países desenvolvidos, criaram-se centros de
parto em hospitais ou fora deles, onde mulheres de baixo risco
podem dar à luz numa atmosfera semelhante à domiciliar, com
assistência obstétrica primária, em geral aos cuidados de
enfermeiras – parteiras. Geralmente esses centros realizam
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 98 - 104.
pouca ou menos intervenções, como o monitoramento fetal
eletrônico e a correção da dinâmica/aceleração do trabalho de
parto, e o uso de analgésicos é mínimo13
A Vivência do Parto Hospitalar
Nesta categoria, as mulheres relataram como foi vivenciado
o parto no hospital, conforme os seguintes depoimentos:
No hospital, passei 5 dias tendo as dores, a criança foi
empurrada [refere-se à manobra de Kristeler]. Foi mais
demorado. E a outra foi puxada também (E2)
O primeiro foi no hospital, eu tive as dores, aí me
levaram para o hospital, eu entrei quinta e fui ter sábado.
Foi um parto complicado (E4)
Foi porque eu comecei a perder muito líquido, mas não
sentia dor de ter [parir]. No outro dia, eu fui para o
hospital, aí demorou bastante [ par to ], aí elas
chamaram o doutor e me espremeram [referindo-se a
manobra de Kristeler]. Foi o mais demorado de todos
[referindo-se aos partos] (E5)
De acordo com os relatos, os partos que aconteceram no
hospital foram laboriosos e mais demorados do que o parto em
casa. Também foram complicados e com muitas intervenções
traumáticas e desnecessárias, como as manobras de Kristeler,
ao relatarem que a criança foi “empurrada e puxada”.
O Brasil adotou o modelo americano de assistência ao parto,
caracterizado pela medicalização e pelo processo
intervencionista, buscando sua institucionalização, adaptandose cada vez mais às novas tecnologias, incorporando-as ao
grande número de intervenções e apoiando-se no enfoque de
risco. É necessário, portanto, a retomada da prática do parto
normal humanizado, com a redescoberta do paradigma da
integridade, vendo a mulher de uma maneira holística e o parto
como um evento fisiológico13.
Os efeitos perversos da tecnologia são numerosos - uma
intervenção não justificada geralmente desencadeia muitas
outras, cada uma com seus efeitos negativos e posteriormente
perigosos à saúde da mãe e do seu filho10.
A par turiente deve ser acompanhada por pessoal
devidamente capacitado, para que as intervenções ocorram
quando necessárias, e não como rotinas, privilegiando o bemestar da parturiente e do concepto, tentando não utilizar
métodos invasivos. Esse modelo de assistência é mais
característico da assistência pelas enfermeiras, que atuam
dentro de uma visão mais humana e holística13.
O parto convencional, em sua maioria, ocorre de uma forma
agressiva, em que há muita intervenção externa da equipe que o
acompanha. Muitas vezes, a mulher passa por uma série de rotinas
que nem sempre é necessária para a aceleração do trabalho de
parto, como medicamento, amniotomia, o bebê é afastado da mãe
nos primeiros minutos, dentre outros procedimentos 14.
Atualmente, na rede hospitalar, verifica-se que o
atendimento à gestante é bastante sofisticado, especialmente
nos grandes centros. Esses progressos são importantes, mas a
obstetrícia não tem dado ênfase aos aspectos psicológicos e
sociais da gravidez e do parto, dando a idéia de estar mais
102
Vivência de Mulheres no Parto
Crizóstomo CD et al
preocupada com os aspectos tecnológicos do que com os
cuidados às mulheres que vão parir15.
Por mais tecnologia que seja usada, nunca será capaz de
oferecer uma situação completamente segura para a mãe,
feto e recém-nascido. A segurança necessita de estudos mais
cuidadosos, não só em relação ao local onde ocorre o parto,
mas principalmente no que diz respeito ao tipo de formação
das pessoas que o assistem15.
Posição do Parto Domiciliar e a Preferência
das Mulheres
Nesta categoria, as mulheres relataram as posições de
parir no domicílio, que foram no assento e na rede, sendo a
primeira a posição mais citada, conforme os depoimentos:
Na rede, deitada, esperando ela nascer, porque não
tinha quem me ajudasse (E1)
Foram na rede os dois (E2)
Fico em pé. Fico em pé todo tempo, na hora que eu
sinto que vai nascer aí eu entro pra dentro, aí meu
marido me segura e a parteira segura o RN (E4)
Era no assento e ficava alguém me segurando (E3, E6)
Na rede e no assento, mas era mais na rede (E7).
A posição de parir no domicílio adotada pelas entrevistadas
1 e 2 foi deitada na rede, por estarem sozinhas. As
entrevistadas 3 e 6 pariram no assento; já a entrevistada 4
pariu em pé, com seu marido a segurando, e a E7 pariu tanto
na rede como no assento. Observa-se que as mulheres pariram
na rede quando não possuíam assistência, e que a posição
mais freqüente foi o assento.
Estudos realizados no período expulsivo do parto indicam
que uma posição verticalizada ou uma inclinação lateral
apresentam maiores vantagens do que uma posição dorsal, como:
menor desconforto e dificuldades de puxos; menor dor
durante o trabalho de parto; menor traumatismo vaginal
ou perineal; menor duração do período expulsivo;
melhores resultados neonatais com índices de Apgar <
7. Além disso, a posição ver tical (parada ou
deambulando), ou em decúbito lateral, está associada a
uma maior eficiência e intensidade das contrações16.
A posição vertical durante o trabalho de parto está associada
ao encurtamento do primeiro período clínico do parto e pode ser
indicada como alternativa ao uso da ocitocina para intensificar as
contrações uterinas, pois a deambulação é tão efetiva quanto o
uso de ocitocina, e a participação ativa da mulher no trabalho de
parto também contribuem para redução das taxas de cesarianas17.
Quando se indagou às mulheres que tiveram a experiência
do parto normal no domicílio e no hospital quais foram o melhor
local e a melhor posição de parir, todas elas referiram o
domicílio como o melhor local, e a posição de parir foi na rede
e no assento, e a rede foi a posição preferida, conforme os
depoimentos a seguir:
É melhor na rede (E1 e E2 ); No assento (E3);
A posição do hospital é muito mais ruim (E5);
É melhor a posição de casa, no assento (E4 e E6)
Segundo as mulheres, as posições do parto no domicílio,
tanto vertical no assento como horizontal na rede, são melhores
que a posição litotômica ou ginecológica adotada no hospital.
Cada mulher encontra a sua melhor posição de parir. As
posições de cócoras, em pé, sentada, apoiada em alguém de
sua confiança ou na rede de dormir, que é um excelente apoio,
são as posições que facilitam o parto, além de serem mais
cômodas. No primeiro estágio do trabalho de parto, a mulher
não deve ser obrigada a permanecer no leito. Deve-se incentivar
a mulher a caminhar, a ficar de cócoras e depois em pé, enfim,
a se movimentar bastante ou ficar na posição em que ela se
sentir melhor. São condições que a gestante pode adotar no
trabalho de parto e, em geral, de forma espontânea, existindo
uma tendência à alternância de posições16.
As entrevistadas 5 e 7 reclamavam da posição litotômica:
A posição do hospital é muito mais ruim (E5);
O pior é ficar “impindurada”, porque é quase
“impindurada”, a posição da gente fica toda esquisita,
isso aqui [referindo-se à região perineal e vagina] da
gente fica todo dolorido, as cadeiras da gente ficam muito
abertas. Em casa você pode pegar no punho da rede e
puxar pra baixo. No hospital não tem onde segurar (E7).
A posição horizontal no parto é usada para tornar fácil ao
médico fazer seu trabalho. Quando a posição deitada ou
reclinada foi proposta, no século XVII, era apenas para o
momento do parto, nos séculos subseqüentes, seu uso foi
estendido para o trabalho de parto também, principalmente
quando a assistência à parturiente passou a ser hospital 17.
A mesma autora afirma também que a prevalência de
episiotomia foi maior em hospitais que adotavam a posição
litotômica e menor nos que admitiam as posições alternativas;
portanto, existe uma associação significante entre o uso de outras
posições que não a litotômica e menores taxas de episiotomia.
Realizando a episiotomia na maioria das pacientes, reforça-se
nos médicos a noção de que o parto é um procedimento cirúrgico17.
A Melhor Experiência Vivenciada
Ao indagar às mulheres acerca de qual a melhor experiência
no parto e quais as razões, com relação ao local de parir, seis
delas referiram ser o parto domiciliar o melhor, por diversos
motivos. As mulheres assim se expressaram:
Foi tudo a mesma coisa. Tudo que a parteira fez o doutor
fez também. Eu acho que em casa eu me senti melhor
assim, porque quando eu cheguei do hospital, eu estava
toda machucada, dolorida, eu dei até febre. Já em casa os
dois que eu tive, eu não tive nada disso, eu me senti
melhor. Lá faz muito toque machuca muito, eu fiquei toda
dolorida, demorou [referindo-se ao parto]. Em casa ela
só faz um toque quando está perto, foi mais rápido (E3)
Eu acho melhor em casa, porque o primeiro eu sofri
muito, aí eu fiquei com medo, eu fui judiada no hospital
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 98 - 104.
103
Vivência de Mulheres no Parto
Crizóstomo CD et al
(..) elas só faziam aqueles toques, aquelas coisas e eu
já estava toda inchada. Eu não gosto de hospital, sinto
mais segura em casa (E4);
Eu achei melhor em casa, porque no hospital é ruim da
gente andar. E na casa da gente vai por todo lugar,
fazia as coisas, varria, pegava água (E5)
Eu achava melhor o parto em casa, porque a gente já
ficava logo na casa da gente. Só que no hospital, quando
às vezes a gente fica sentindo uma dor, a gente toma
injeção, toma um soro. Quando a gente pare sozinha
não tem remédio. No hospital se correr um risco, o
médico salva a gente, e, em casa, não (E6)
Conforme os depoimentos, seis mulheres optaram pelo
parto domiciliar por diversas razões, dentre elas: maior rapidez,
menos intervenções, como a não-realização do toque vaginal,
ter a presença de familiares, ter mais liberdade para
movimentar-se e emitir sons durante as dores das contrações
uterinas. Enquanto no hospital, elas referiram que o parto era
mais demorado, realizavam muitos toques que as deixavam
machucadas, não poderiam se movimentar e eram
transportadas várias vezes de um local para outro.
Existem outras razões, em ordem de importância, que fazem
as mulheres optarem pelo parto no lar, como o controle de sua
própria experiência de parir; experiência obtida pela própria
família; a não-interferência nos processos naturais do parto;
cuidados personalizados à parturiente e o baixo custo do parto6.
Estudos realizados em uma casa de parto no Rio de Janeiro
evidenciou o grau de satisfação das mulheres com seu
atendimento, relatando como fatores: um ambiente acolhedor,
a presença contínua de um acompanhante durante o trabalho
de parto, o estímulo à liberdade e poucas intervenções18.
No caso das entrevistadas 2 e 7, houve dúvida e
ambigüidade nos depoimentos:
Eu não sei nem dizer. A dor é uma só. Em casa a gente
tem medo de morrer. No hospital qualquer problema
eles podem socorrer (E2)
Eu acho que tudo é uma coisa só, porque se você está
em casa você sofre, e se está no hospital sofre também.
Eu não sei nem dizer. Em casa eu acho melhor, porque
a gente termina de ganhar o seu bebê, já fica ali
quietinha naquela posição na rede ou na cama, ninguém
fica preocupando, terminava [o parto] eu ficava
tranqüila numa boa. No hospital me tiram do lugar, me
carregam de lugar pro outro, é muito ruim, porque a
mulher não fica normal, ela fica toda doída, é melhor
ficar quietinha, tranqüila (E7)
A partir destes depoimentos, pode-se comprovar a
importância das recomendações para a humanização do parto e
nascimento, e entre elas está a unificação da sala de pré-parto,
parto e puerpério (sala PPP), pois transferir uma parturiente da
sala de pré-parto para a sala de parto é muito penoso, além de
ser uma conduta que cria tensão entre os profissionais14.
O parto humanizado resgata a naturalidade desse momento
para a mulher, para sua família e para a equipe de profissionais
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 98 - 104.
envolvida. A idéia do parto humanizado é fazer com que o
parto, geralmente objeto de medos e tensões, siga a ordem
natural das coisas, obedecendo ao ritmo e às necessidades
específicas do corpo de cada mulher, com profissionais
interferindo o mínimo possível durante o processo parturitivo
no momento de a mãe trazer uma criança ao mundo5.
Nas instituições hospitalares onde o médico é responsável
pelo parto, a enfermeira desenvolve um modelo de assistência
em função do trabalho do médico, e não do trabalho de parto. O
seu trabalho está condicionado ao modo de atuação do médico
de plantão. Portanto, como os centros de nascimentos e casas de
parto utilizam tecnologia apropriada, e é onde o parto normal
fica a cargo de enfermeiras obstétricas, a assistência é menos
intervencionista e o parto é mais humanizado 6.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa observou-se que os partos que ocorriam
no domicílio foram rápidos, de forma natural, ou seja, de
evolução fisiológica, sem intervenções e principalmente sem
complicações para a mãe e o recém-nascido. Já os partos que
aconteceram no hospital, foram laboriosos e mais demorados,
com muitas intervenções traumáticas e desnecessárias, motivos
pelos quais as mulheres optaram pelo parto normal domiciliar
como a melhor experiência vivenciada.
Com base neste estudo, pode-se afirmar que o parto
domiciliar ocorre de forma natural, humanizada e que as
parteiras tradicionais têm muita experiência, contribuindo na
assistência ao parto. Os fatores que favoreceram a ocorrência
de um parto normal de evolução fisiológica no ambiente
domiciliar foram: a posição do parto, que geralmente é
verticalizada, a liberdade de movimento, pouca ou nenhuma
intervenção, a presença de familiares que fazem diminuir a
tensão e ansiedade, dando apoio psicológico.
O progresso tecnológico e científico da obstetrícia e a
institucionalização do parto foram importantes e de grande
valia para a assistência à gestante e ao parto de alto risco,
embora a mortalidade materna e perinatal permaneça alta, e
o parto de evolução fisiológica tornou-se de risco, devido ao
excesso de intervenções desnecessárias e de assistência
desumanizada.
Portanto, há uma necessidade, por parte da clientela, da
implantação de um maior número de casas de partos, que se
assemelhem ao domicílio, tendo em vista ser inviável o retorno
ao parto domiciliar na sociedade moderna e nas grandes
cidades, onde não existem mais parteiras tradicionais13.
Assim sendo é imprescindível que os profissionais de
enfermagem reflitam sobre as vantagens e desvantagens de
cada tipo de parto, sobre as condições mais humanas e seguras
para o nascimento de uma criança, analisando a forma de
atendimento que é oferecida à mulher nos serviços de saúde.
Conclui-se que o Ministério da Saúde deve envidar mais
esforços no sentido de melhorar cada vez mais a assistência à
mulher no processo par turitivo com assistência mais
humanizada e menos intervencionista.
104
Referências
1. Prado AA. Resgatando o parto. [online] [citado 29 dez 2002].
Disponível em: www.amigasdoparto.com.br/
2. Ministério da Saúde(BR). Política Nacional de Atenção à Saúde da
Mulher: princípios e diretrizes. Brasília; 2004
3. Brüggemann OM. Resgatando a história obstétrica para vislumbrar
a melodia da humanização. In: Oliveira ME, Zampieri MFM,
Brüggemann OM, organizadores. A melodia da humanização: reflexões
sobre o cuidado no processo do nascimento. Florianópolis(SC): Cidade
Futura; 2001. p. 23-30
4. Collaço VS. Parto vertical: vivência do casal na dimensão cultural no
processo de parir. Florianópolis (SC): Cidade Futura; 2002. p. 25-28
5. Tornquist CS. Armadilhas da nova era: natureza e maternidade no
ideário da humanização do parto. Rev Estud Fem 2002 jul/dez; 10 (2).
6. Caparroz SC. O resgate do parto normal: contribuições de uma
tecnologia apropriada. Joinville (SC): Univille; 2003.p. 10-50
7. Merighi MAB, Praça NS. Abordagens teóricos-metodológicas
qualitativas: a vivência da mulher no período reprodutivo. São Paulo
(SP): Guanabara Koogan; 2003. p.1
8. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa(PO): Ed 70; 1977.
9. Meira AS. Parto domiciliar / clínica / casa de parto: meios
alternativos para um parto humanizado.[on-line]. [citado 01 fev 2003].
Disponível em: www.planetanatural.com.br
10. Largura M. A assistência ao parto no Brasil: uma análise crítica.
São Paulo (SP); 1998, p. 1-84
11. Mott ML. Parto. Rev Estud Fem 2002 jul/dez; 10 (2).
12. Organização Mundial de Saúde (OMS). Maternidade segura: assistência
ao parto normal – um guia prático. Genebra(SW);1996. p. 6
13. Davim RMB, Menezes RMP. Assistência ao parto normal no
domicílio. Rev Latino-Am Enfermagem 2001 nov; 9 (6 ) .
Vivência de Mulheres no Parto
Crizóstomo CD et al
14. Amigas do Parto. Recomendações para humanização do parto e
nascimento. In: Manual do Parto Humanizado. Projeto Luz da Jica.
[on-line]
[citado 29 dez 2002] Disponível em:
www.amigasdoparto.com.br
15. Rocha MIM. Opinião de primigesta e de mães presentes em
serviços de higiene, pré-natal e serviços de higiene infantil de TeresinaPI. [dissertação de mestrado] São Paulo (SP): Escola Paulista de
Medicina; 1982. p. 1-18
16. Ministério da Saúde (BR) Curumim G (ONG). Trabalhando com
parteiras tradicionais. Brasília (DF): MS/ Grupo Curumim; 2000.
17. Osava RH. Assistência ao parto no Brasil: a participação dos não
médicos.[tese de doutorado]. São Paulo(SP: Faculdade de Saúde
Publica /USP; 1997. p. 120-30
18. Progianti JM, Vargens OMC, Porfírio AB, Lorenzoni DP. A preservação
perineal como prática de enfermeiras obstétricas. Esc Anna Nery Rev
Enferm 2006 ago;10(2): 266-71
Sobre as Autoras
Cilene Delgado Crizóstomo
Especialista em Enfermagem Obstétrica da UFPI; Profª da Faculdade
NOVAFAPI, FACID, em Teresina-PI. E-mail: cilenecrizostomo@bol.com.br
Ine
Inezz Sampaio Ner y
Doutora em Enfermagem Pela EEAN/UFRJ; Profª Adjunto IV da
Universidade Federal Piauí. E-mail: nery@webone.br
Maria Helena Bar r os Luz
Doutora em enfermagem pela EEAN-UFRJ; Profª Adjunto IV da
Universidade Federal Piauí.
Recebido em 05/06/2006
Reapresentado em 16/03/2007
Aprovado em 19/03/2007
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 98 - 104.
105
Percepção de Mulheres Sobre Atenção Pré-Natal
Landerdahl MC et al
A PERCEPÇÃO DE MULHERES SOBRE ATENÇÃO PRÉ-NATAL
EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE
Women’s Perception About Pre-Conception Attention
in a Basic Health Unit
La Percepción de Mujeres Sobre Atención Pre-Natal
en una Unidad Básica de Salud
Maria Celeste Landerdahl
Fernanda Bheregaray Cabral
Lúcia Beatriz Ressel
Mariam de Oliveira Gonçalves
Fernanda Badineli Martins
Resumo
Pesquisa com objetivo de conhecer a percepção de gestantes a respeito da consulta de pré-natal realizada por docentes
e acadêmicos do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria em uma Unidade Básica de Saúde (UBS)
do município. Foram sujeitos da pesquisa dez puérperas que realizaram consultas de enfermagem na UBS, no período de
julho de 2003 e agosto de 2004. A obtenção das informações foi realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas.
As respostas acusam, dentre outros dados, a consulta de enfermagem à gestante como espaço educativo do qual fazem
parte também seus familiares, bem como o vínculo estabelecido entre profissional e gestante/família. Por outro lado,
apontam para a necessidade de maior privacidade para o atendimento e criticam a troca eventual de profissionais/
docentes nas consultas. Nesse sentido, o estudo tem auxiliado no redirecionamento da atenção à gestante, de forma que
venha ao encontro de suas necessidades e expectativas.
Pala
vr
as-c
ha
alavr
vras-c
as-cha
havv e: Pré-natal. Gestante. Cuidado. Enfermagem.
Abstract
Resumen
This research aims to know the perception of pregnant women
concerning to the prenatal appointment carried out by
professors and pupils of the Nursing Course of the Federal
University of Santa Maria in a city Basic Health Unit. Ten
pregnant women who had nursing appointments in a Basic
Health Unit from July 2003 until August 2004 were subjects
of the research. Semi-structured interviews have been
carried out in order to obtain the answers. The answers
state, among other data, the nursing appointment as an
educative space where all her family members also
participate as well as a connection between the professional
and the woman/family. On the other hand, the answers also
show the need of a bigger privacy during the appointment
and criticize possible changes of professionals or professors
in these appointments. Thus, this study has helped in
changing the atention provided to the pregnant women so
that it reaches their necessities and expectations.
Esta investigación tubo como objetivo conocer la percepción de
gestantes respecto a la consulta de prenatal realizada por
docentes y académicos del Curso de Enfermeros de la Universidad
Federal de Santa María en una Unidad Básica de Salud del
municipio. Fueron sujetos de la investigación diez puérperas que
realizaron consultas con los enfermeros en la UBS, en el período
de julio de 2003 y agosto de 2004. La obtención de las
informaciones fue realizada por medio de entrevistas semiestructuradas. Las respuestas acusan, entre otros datos la
consulta con enfermeros, a la gestante como espacio educativo
del cual hacen parte también sus familiares; bien como el vínculo
establecido entre profesional y gestante/familia. Por otro lado,
apuntan para la necesidad de mayor privacidad para el
atendimiento y critican el cambio eventual de profesionales/
docentes en las consultas. En ese sentido, el estudio ha auxiliado
en el redireccionamiento de la atención a la gestante, de manera
que venga al encuentro de sus necesidades y expectativas.
Keywords:
Prenatal. Pregnant Woman. Care. Nursing.
Palabras clave:
Prenatal. Gestante. Cuidado. Enfermería.
Esc Anna
Enferm
2007
mar; 11 (1): 105 - 11.
Esc Anna Nery R Enferm
2007 Nery
mar; R11
(1): 105
- 11.
106
INTRODUÇÃO
A gestação, embora constituindo um fenômeno fisiológico
que na maior par te dos casos tem sua evolução sem
intercorrências, requer cuidados especiais mediante
assistência pré-natal. Essa, por sua vez, tem como objetivo
principal acolher e acompanhar a mulher durante sua gestação,
período caracterizado por mudanças físicas e emocionais
vivenciado de forma distinta pelas gestantes. No entanto, as
consultas médicas de pré-natal no serviço público são muito
rápidas, fazendo com que possíveis anormalidades não sejam
percebidas e impedindo que as mulheres não manifestem suas
queixas, dúvidas e medos intrínsecos à gravidez 1. Esse fato
tem motivado a preocupação de gestores de saúde, tendo em
vista que se relaciona aos altos índices de mortalidade materna
no Brasil, o qual, em 2001, foi de 74.5 óbitos por 100.000
nascidos vivos2. Em comparação com países desenvolvidos,
cuja taxa é de 9 óbitos por 100.000 nascidos vivos, percebese que essa cifra é muito alta 3.
Ante tais dados, cabe aos profissionais de saúde uma
reflexão acerca da assistência prestada às gestantes, bem
como buscar subsídios para o planejamento,
implementação e avaliação da assistência pré-natal que
alcancem melhores níveis de qualidade. Em consonância
ao exposto, a atenção ao pré-natal, par to e puerpério
está muito interligada, e a impossibilidade de acesso às
informações, em qualquer desses períodos, fragiliza a
assistência, expondo a mulher a risco de vida 4.
A atenção pré-natal objetiva acolher a mulher desde
o início da gravidez, buscando assegurar, ao seu término,
o nascimento de uma criança saudável e a garantia do
bem-estar materno e neonatal 5.
É importante enfatizar que a atenção pré-natal, por não
envolver procedimentos complexos, favorece a interação entre
o profissional e a gestante e sua família. Essa interação
contribui para que a gestante mantenha vínculo com o serviço
de saúde durante todo o período gestacional, reduzindo
consideravelmente os riscos de intercorrências obstétricas.
Além disso, a assistência gestacional, quando mediada por
diálogo e respeito entre profissionais de saúde e gestantes,
representa o primeiro passo para o parto humanizado.
Na tentativa de contribuir com a qualidade da assistência
a essa clientela, o Curso de Enfermagem da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM) vem, desde 1993,
implementando Consultas de Enfermagem às gestantes na
Unidade Sanitária Kennedy, Santa Maria (RS), mediante um
projeto de ensino, pesquisa e extensão em parceria com a
Secretaria de Município da Saúde. Esse projeto tem como
objetivo contribuir na efetivação do Sistema Único de Saúde,
bem como na reorientação do caráter de formação dos
acadêmicos de Enfermagem, de modo que venha a ser
condizente com as diretrizes apontadas pelo modelo de
saúde em construção no país.
As consultas de enfermagem no pré-natal realizadas na
referida unidade são intercaladas com consultas médicas e se
restringem às gestantes sem risco obstétrico. Têm seu foco
Percepção de Mulheres Sobre Atenção Pré-Natal
Landerdahl MC et al
centrado nos aspectos educativos, os quais possibilitam às
gestantes espaços para expressarem seus medos, angústias,
fantasias e dúvidas sobre as modificações que estão
acontecendo com o próprio corpo, permitindo esclarecimentos
mediante orientações pertinentes ao ciclo gravídico-puerperal.
Sob esse viés, a dimensão educativa objetiva contribuir com o
acréscimo de informações que as mulheres possuem sobre seu
corpo, valorizando sua experiência de vida e contribuindo de
forma relevante para a busca de sua autonomia. Para isso, as
ações educativas devem superar o modelo biomédico de modo
que valorizem as reais necessidades da gestante, considerando
sempre seu contexto de vida/saúde.
Com vistas à redução da morbimortalidade materna e fetal,
durante as consultas de enfermagem - além da escuta e do
diálogo estabelecido com a gestante - são realizados
procedimentos técnicos de rotina, tais como medida da pressão
arterial, peso, cálculo da idade gestacional, ausculta de
batimentos cardíacos fetais e medida da altura uterina, que
são registrados no histórico de enfermagem e na carteira da
gestante. Fica evidente, assim, que a assistência pré-natal
almejada com essa atividade na unidade básica referida,
evidencia nossa preocupação com o bem-estar físico e mental
do binômio mãe e filho.
No entanto, com o desenvolvimento do trabalho, passamos a
perceber a necessidade de saber se essa atividade estava em
consonância com as expectativas e necessidades das gestantes
assistidas, constituindo, desta forma, um primeiro passo no
processo de avaliação das consultas de enfermagem na unidade.
Para tanto, com o envolvimento de acadêmicas do Curso de
Graduação em Enfermagem/UFSM, realizamos a pesquisa, objeto
do presente relato, a qual teve como objetivo conhecer a
percepção das gestantes a respeito da consulta de pré-natal
realizada por docentes e acadêmicos do Curso de Enfermagem
na Unidade Sanitária Kennedy, em Santa Maria (RS).
METODOLOGIA
A presente investigação delineou-se como uma pesquisa
descritiva do tipo exploratória, com abordagem qualitativa. Foi
desenvolvida em uma Unidade Básica de Saúde, local de aulas
práticas e estágio supervisionado do Curso de Enfermagem da
UFSM, onde são realizadas ações de atenção à saúde em sintonia
com os preceitos do novo modelo assistencial legalmente
assegurado na Constituição Federal de 1988.
Como sujeitos desta pesquisa, elegeram-se dez
mulheres em período de puerpério, que realizaram sua
assistência pré-natal mediante consultas de enfermagem
na UBS, no período de julho de 2003 e agosto de 2004, e
que aceitaram participar do estudo.
Para a obtenção de dados foi utilizada a entrevista semiestruturada, individual, com roteiro específico, a qual foi
realizada e gravada durante visita domiciliar à puérpera, com
duração média de 45 minutos mediante agendamento prévio.
As informações gravadas foram transcritas na íntegra para,
após, serem categorizadas e analisadas. Nenhuma informante
demonstrou objeção ao uso do gravador. Foram utilizados,
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 105 - 11.
107
Percepção de Mulheres Sobre Atenção Pré-Natal
Landerdahl MC et al
nesta etapa, o formulário de registro das consultas de
enfermagem no pré-natal, a fim de acessar os dados de
identificação e de acompanhamento do pré-natal.
Buscando uma condução ética para este estudo,
embasamos nossa atuação na Resolução nº 196/96, publicada
no Diário Oficial da União em 10/10/96, que institui as Normas
de Pesquisa em Saúde com seres humanos. Assim, antes de
iniciar a coleta de dados, cada participante autorizou, por
meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, seu
envolvimento no presente estudo, sendo assegurada a
validação de seu depoimento ao final de cada entrevista, a
partir da escuta da fita cassete; o direito de participar ou
retirar-se da pesquisa; de informação quanto ao objetivo da
pesquisa, proteção e guarda do material gravado, bem como
uso deste material pelas pesquisadoras; e de resguardo da
sua identificação. Em respeito a esse princípio, as mulheres
foram identificadas com a letra “M” e numeradas de 1 a 10.
Após a coleta, os dados foram analisados em consonância
às orientações de estudo6 sobre pesquisa com abordagem
qualitativa. Neste sentido, foram realizadas leituras sucessivas
dos depoimentos, buscando uma impregnação das informações
aí contidas; estas foram agrupadas e categorizadas de acordo
com as afinidades temáticas; e, após a classificação e agregação
dos dados, foi realizada a interpretação dos mesmos e a
comparação com a literatura específica, bem como foram feitas
inferências que esclareceram os achados da pesquisa.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
O perfil das informantes
Todas as mulheres eram casadas ou viviam com
companheiros em união estável e residiam na área de
abrangência da UBS. A idade das informantes variou entre 16
e 34 anos. Com relação ao grau de escolaridade, sete tinham
o ensino fundamental incompleto; uma, o ensino fundamental
completo; e duas, o ensino médio incompleto. A ocupação das
entrevistadas foi assim referida: cinco eram “do lar”, uma era
balconista e quatro realizavam trabalho como domésticas em
casas de família, sendo que uma dessas estava desempregada
no momento da obtenção de dados. A renda familiar variou de 2
a 4 salários mínimos. Uma mulher referiu não ter renda familiar no
momento em razão de estar desempregada, assim como seu marido.
A fala das informantes
Em relação à primeira categoria, compreensão acerca da
assistência pré-natal, todas as respondentes entendem que
constitui um momento de aprendizado, o qual torna oportuno o
maior conhecimento a respeito do processo gravídico-puerperal,
além de possibilitar a prevenção de problemas tanto para mãe
quanto para o concepto, conforme aparece nos relatos.
Tenho um monte de filhos, tenho experiência, mas sempre
tenho dúvidas e alguma coisa para aprender. É porque
acho que cada gravidez é diferente da outra. M5
Embora admitindo vivências anteriores, que trouxeram
experiência, a informante entende que cada gravidez é singular,
necessitando, portanto, de aprendizado e cuidado específico.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 105 - 11.
Ser ve para a gente cuidar da saúde da gente,
evitar problemas. M6
Aqui a informante expressa que a atenção no pré-natal
também pode representar momento de aprendizado para sua
saúde como um todo, inclusive fora do ciclo gravídico-puerperal.
Nesse sentido, a assistência pré-natal se reveste de uma
importância maior ainda, uma vez que para muitas mulheres
esse é um dos poucos momentos de sua vida em que mantém
contato com os serviços de saúde.
Pensa-se, neste sentido, que compreender a importância
do pré-natal para essas mulheres permite entender o significado
deste cuidado para elas, auxiliando no direcionamento de nossa
assistência. Como refere estudo da área da Antropologia7, as
pessoas são extremamente variáveis e sujeitas a inúmeras
influências. Expressam-se mediante símbolos e se organizam
a partir de concepções na busca de significados. Como todos os
acontecimentos têm significados específicos, ou seja, eles
simplesmente não só acontecem, mas significam algo às pessoas
envolvidas, é fundamental buscar a interpretação cultural deles
para desenvolver um cuidado mais efetivo. E é por meio da
compreensão da visão de mundo do “outro” que tornamos
oportuno expressar diferenças e singularidades que precisam
ser abarcadas em nosso cuidado.
Quando questionadas sobre o que pensam os familiares
sobre a assistência pré-natal, nove mulheres responderam que
a família considera importante esse espaço de atenção à saúde.
O pessoal aqui em casa gostava que eu ia, eles acham
importante o pré-natal. M1
Meus familiares acham bem importante. M6
De acordo com pesquisa realizada na área da
Enfermagem8:165 “há intrincada relação entre as crenças, valores
e costumes que são desenvolvidos no cotidiano pelas pessoas e
a forma como elas se expressam nas situações de saúde ou
doença”. Com isso, é possível inferir que a importância dada
pela família à realização do pré-natal direciona o caminho, as
decisões e ações a serem seguidos pela gestante, uma vez que
suas concepções e entendimentos dos eventos de saúde e doença
são balizados pelas crenças e valores socializados na família.
Neste sentido, um estudo referente ao cuidado cultural à
mulher grávida9 salienta que a gestação é uma experiência
familiar; logo, o cuidado prestado deve envolver toda família e
buscar o sentido cultural dela para tal vivência. Isso ficou
evidente quando as gestantes referiram que o conhecimento
adquirido nas consultas de enfermagem era socializado na
família. Percebe-se que, além de fortalecer a importância da
realização do pré-natal às gestantes, os familiares participavam
direta e indiretamente do evento.
...o meu marido ficava sempre perguntando, queria saber
se eu tinha falado sobre o que acontecia comigo. M10
Em algumas ocasiões, acompanhavam as gestantes nas
consultas, em outras, socializavam as informações adquiridas
nestes momentos e buscavam saber como estava a saúde da
gestante, bem como o desenvolvimento do feto. Dentre os
108
Percepção de Mulheres Sobre Atenção Pré-Natal
Landerdahl MC et al
familiares, foi citada a participação do marido, dos filhos, da
mãe e irmãos da gestante.
Ah... eu sempre ia com a mãe, com minha irmã ou com
meu marido, quando ele podia né. M1
Algumas vezes trouxe os meus dois filhos mais velhos,
o meu marido não podia ir, mas se interessava pelo que
acontecia lá. M6
Os maridos participavam mais indiretamente, não podendo
acompanhar muitas consultas devido ao horário de trabalho.
No entanto, conforme a fala anterior, as informantes
destacavam seu interesse sobre o que estava acontecendo.
Isso é congruente com estudo antropológico 10, que afirma o
envolvimento físico e emocional masculino nos eventos da
gravidez e do parto de seus filhos; porém, a intensidade e a
manifestação ocorrem de acordo com a cultura local. Nesta
linha, percebemos a importância do entendimento de que a
gestação, além de ser um processo biológico, é também um
processo social e cultural. Cada mulher e sua família irá vivenciar
esta experiência de forma singular dentro de sua unidade
coletiva. Esta compreensão redireciona a assistência no prénatal e as práticas de saúde, exigindo a atenção não só ao
binômio materno-fetal, constr uído em paradigmas
biologicistas, mas ao núcleo familiar e social a que pertence
esta gestante. Isto vem ao encontro das diretrizes preconizadas
pelo Ministério da Saúde atualmente, nas políticas da atenção
à saúde da mulher e de humanização ao pré-natal e ao parto,
que trazem em seu bojo o enfoque cultural ao atendimento às
pessoas, que deverá ser incorporado aos processos de
sensibilização e capacitação para humanização das práticas de
saúde. Uma depoente, no entanto, mencionou que os familiares
não consideram relevante a atenção à mulher no pré-natal.
A família acha que é bobagem, uma perda de tempo,
mas eu fiz dos outros e gostei. M5
Nota-se nesta fala que, embora sua família não considere
necessário e importante a assistência pré-natal, a própria
gestante tem desenvolvido novos valores culturais em relação
à gestação, opondo-se a antigos conceitos de familiares. É possível
perceber que a cultura é dinâmica e mesmo dentro do grupo
social as mudanças ocorrem, revelando espaços para as diferenças
coexistirem, às vezes com conflitos, mas aceitando o pluralismo
cultural e se opondo à rigidez e ao reducionismo cultural 11, 12.
Ao serem questionadas a respeito do tempo de duração
das consultas, nove mulheres referiram ser suficiente o tempo
médio de 50 minutos para a primeira consulta e 30 para os
retornos, conforme os depoimentos comprovam.
...eu acho que era bom, a gente conversava bastante, depois
fazia o exame, via a pressão, escutava o coração do bebê...
eu gostava muito de ir conversar com vocês. M5
...acho ótimo... não fazem nada correndo para irem
embora, ficam conversando, são atenciosas, é dez. ...era
ótimo, esclarecia o que não conseguia com o médico;
vocês fazem a gente entender. M7
Nota-se nas falas, que a avaliação positiva do tempo
reservado às consultas está em íntima consonância com a
satisfação das mulheres em relação à qualidade da consulta.
Ao referirem-se às consultas como uma “conversa”, fica
evidente, também, a relação horizontal que se busca no
momento da consulta de enfermagem no pré-natal na unidade
sanitária. A esse respeito, o Ministério da Saúde enfatiza em suas
recomendações1:10 que a humanização da assistência à gestante
requer relações menos desiguais e menos autoritárias, na medida
em que o profissional, em vez de assumir o comando da situação,
passa a adotar condutas que busquem o bem estar da gestante.
Uma respondente identificada como M2 acusou que o
tempo da consulta era insuficiente. No entanto, sua queixa
não tinha relação com suas consultas, mas ao fato de que
precisava esperar para ser atendida.
De fato, não é incomum ocorrer atraso em virtude de
situações não previstas. Uma delas ocorre quando a gestante
procura o serviço, sem agendamento, em razão de alguma
dúvida, ansiedade ou queixa importante; essas situações exigem
nossa atenção no sentido de acolher a gestante, sendo
necessário, muitas vezes, realizar um exame físico com vistas
a tranqüilizá-la ou como subsídio para proceder algum
encaminhamento importante. Outras motivações que justificam
o atraso no atendimento cotidiano dessa atividade dizem
respeito a fatores específicos às gestantes, como faixa etária
em que elas se encontram, experiências anteriores, número de
filhos, problemas familiares, dentre outros.
Todas essas situações possibilitam, pela relação de
interação que se estabelece na consulta, que a gestante se
sinta à vontade para abordar temas que venham ao encontro
de suas necessidades. É importante lembrar, ainda, que é
inerente a todo o campo de aula prática acadêmica a utilização
de um tempo maior no atendimento, tendo em vista o processo
educativo que aí se efetiva. Algumas mulheres conseguem
compreender essa realidade. É o que fica evidente na fala de
M8 que, juntamente com outra respondente, apontou atraso
ao ser questionada sobre o tempo de espera para o atendimento.
...sempre fui atendida no horário marcado, só quando
tinha alguma gestante que passava mal, aí atrasava
um pouco; mas a gente entende né. Depois vocês
explicavam direitinho o porquê do atraso. Isso é legal,
dá pra perceber o interesse e o comprometimento de
vocês com as gestantes. M8
Além de compreender a razão do atraso, M8 percebe o
respeito e compromisso que os envolvidos com a atividade
reservam às gestantes, princípios fundamentais que devem
pautar a atenção à saúde da população em geral e, em especial
à gestante. As demais respondentes referiram que eram
atendidas no horário agendado.
Quando questionadas em relação ao acesso ao
agendamento para as consultas, todas responderam que não
havia problemas, pois para a primeira consulta o agendamento
era realizado na própria sala de atendimentos pela secretária,
enfermeira ou acadêmicos de enfermagem, enquanto que os
retornos eram agendados no final de cada consulta.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 105 - 11.
Percepção de Mulheres Sobre Atenção Pré-Natal
Landerdahl MC et al
Quanto à categoria linguagem utilizada nas consultas,
todas acusaram compreender o que era compartilhado nas
consultas de enfermagem. Referiram também que, quando
era necessário, solicitavam maiores explicações, o que
evidencia que a gestante é co-partícipe na condução do
processo que vive 13.
Acho bem bom o jeito que vocês falam e explicam as
coisas para a gente, porque às vezes os médicos
falavam umas coisas que, nossa, eu nunca vi, e como
não tinha tempo de perguntar eu até anotava algumas
coisas e falava com vocês. M6
Entendia tudo que as gurias falavam, o que não
entendia eu perguntava. M10
Os depoimentos, ao mesmo tempo em que expressam a
importância da aproximação às falas das classes populares,
revelam, novamente, mesmo que de forma subjacente, a
interação que se estabelece entre os envolvidos, no qual a
liberdade e o vínculo de confiança é evidente. Mostra também
a consulta de enfermagem como importante instrumento de
educação em saúde, no qual o profissional deve abandonar a
postura de onipotência, mediando o saber científico com o
popular. Reforçando tal compreensão, estudo de referência
na Pedagogia14:29 assegura que:
...não podemos nos colocar na posição de ser
superior que ensina um grupo de ignorantes, mas sim
na posição humilde daquele que comunica um saber
relativo a outros que possuem outro saber relativo.
Com relação ao número de acadêmicos presentes na sala
no momento da consulta, nove respondentes manifestaram
que, embora em alguns momentos o número de acadêmicos
fosse grande, esse fato não interferia na qualidade da consulta.
Ao mesmo tempo, demonstraram, em sua maioria, a
compreensão de que o espaço é oferecido como campo prático
do Curso de Enfermagem da UFSM, sendo, desta forma,
momento de aprendizado para os acadêmicos de enfermagem.
Eu me sentia tão à vontade que não via problema
nenhum, as pessoas que ficavam ali me deixavam bem
à vontade. M5
Foi bom, as gurias aprendem e eu também, é muito bom. M4
É importante ressaltar que desde a primeira consulta
procuramos estabelecer um vínculo com a gestante/familiares.
Ao nos apresentarmos e explicarmos a dinâmica das consultas,
bem como o motivo da participação dos alunos, criamos um
clima de receptividade, liberdade e respeito que balizam
nossos encontros. Acreditamos que essa postura tem sido
facilitadora para o entendimento e boa aceitação dos
acadêmicos nas consultas; ao mesmo tempo vem ao encontro de
pressupostos de humanização recomendados em diretrizes de
políticas públicas de atenção à saúde da mulher1 quando defende
o acolhimento e o respeito à gestante no serviço de saúde.
Dentre essas mulheres, no entanto, duas manifestaram
que o movimento de entrada e saída da sala era muito grande
e que isso interferia muitas vezes na conversa estabelecida
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 105 - 11.
109
com a enfermeira e seus alunos. Isso acontece porque a sala
onde é realizada a consulta é a mesma onde são desenvolvidas
atividades relacionadas ao planejamento familiar, porém em
horário diverso das consultas. Assim, muitas mulheres
que recorrem a tais atividades sem agendamento recebem,
igualmente, a atenção da secretária, mesmo que somente para
esclarecimentos e/ou encaminhamentos para o cadastro em
outro horário. Essa situação parece constranger as mulheres.
O número de alunos não incomoda, não gostava do entrae-sai da sala que alguns dias tinha. A gente tava à
vontade falando ali certas coisas, então chegava alguém
estranho, a gente já se retrancava. M1
No depoimento de M1 fica evidente que o movimento de
pessoas entrando na sala, embora seja mantido um biombo
separando os dois ambientes, tira a privacidade e naturalidade
do momento, podendo comprometer a interação afetiva e o
vínculo de confiança estabelecido entre os envolvidos durante o
processo do cuidado à gestante, fatores fundamentais para a
qualidade da atenção pré-natal.
Informações com esse teor têm sido balizadoras das nossas
ações com as mulheres, reforçando a importância da participação
da comunidade nos rumos da saúde pública. Desta forma, alguns
cuidados vêm sendo tomados pela equipe no sentido de oferecer
um ambiente mais adequado ao atendimento da gestante.
A troca de profissionais nas consultas foi apontada por sete
respondentes, mesmo que em alguns momentos de forma sutil,
como um fator que pode interferir na qualidade da atenção no prénatal. Alegam que, quando não são assistidas pela mesma profissional
em todas as consultas, são repetidas muitas informações.
Eu acredito que isso não interfere, só acontece que, às
vezes tem que repetir as coisas... M6
Seria bom que começassem e fossem até o final. Quando
troca, tu tem que falar algumas coisas de novo... mas
não interferiu no pré-natal. M5
É importante esclarecer que a troca de enfermeiras/
docentes nas consultas de enfermagem na unidade básica em
questão ocorre no período de férias letivas, quando acontecem
substituições temporárias, a fim de manter a continuidade do
atendimento. Como esse serviço tem sido realizado,
exclusivamente, por docentes da universidade, sem a parceria
efetiva das enfermeiras da unidade básica até o presente
momento, essa lacuna se revela.
Essa situação tem sido motivo de preocupação e exige
mudanças que dependem de fatores diversos, dentre eles a
compreensão urgente por parte de gestores municipais e
profissionais da área da saúde que atuam neste serviço a respeito
da importância da integração ensino/serviço como uma das
molas propulsoras para a efetiva qualidade da assistência em
qualquer nível de atenção à saúde.
Tais depoimentos, todavia, não parecem afetar significativamente
a interação e o vínculo entre profissional, acadêmicos e usuários do
serviço. Isso ficou muito claro quando os sujeitos da pesquisa
responderam a respeito de como se sentiam nas consultas de prénatal de enfermagem e sua relação com a enfermeira e acadêmicos.
110
Percepção de Mulheres Sobre Atenção Pré-Natal
Landerdahl MC et al
Ali eu encontrava atenção. Digamos assim, uma
experiência de mãe e de irmã que elas tinham pra
me passar. Cada consulta que chegava eu ficava
muito contente, muito faceira.. me sentia em casa,
ali eu tinha carinho. M1
O depoimento reforça a impor tância da interação
gestante-profissionais de saúde. Estes, por sua vez devem
ter ciência de seu papel como coadjuvantes dessa experiência,
colocando sua sensibilidade e conhecimento a serviço do
bem-estar da gestante/familiares.
Quando questionadas de que forma as orientações
recebidas no pré-natal de enfermagem influenciaram no
momento do parto, todas as mulheres foram enfáticas em
afirmar positivamente.
Vocês me passavam muita segurança... o momento do
parto foi maravilhoso, fiquei calma... estava bem
orientada sobre como cuidar de mim e do bebê. M7
... até as enfermeiras e o médico me disseram que eu
estava bem calma, e eu falava que eu sabia que eles
estavam ali para me ajudar... eu acho que o pré-natal
também serve pra isso né, pra ensinar a gente e deixar
a gente mais calma na hora do parto. M8
Sim, fiquei calma, pensava no jeito de respirar, que eu
tinha que ajudar fazendo força pro meu nenê sair mais
fácil, foi um ótimo parto. M6
As falas denotam a participação ativa e consciente das
gestantes no processo de parir, evidenciando a ênfase dada,
durante a atenção pré-natal, ao seu importante papel de sujeito
no parto e nascimento. Acreditamos que tal postura somente
é possível no momento em que a gestante tem conhecimento
de seu corpo e de suas transformações durante o processo
gravídico-puerperal. A compreensão sobre o contexto históricoestrutural onde se insere a mulher/gestante também se faz
importante e pode contribuir na conscientização da gestante,
dentre outras coisas, em relação a sua autonomia no parto.
Ao serem argüidas sobre sugestões para melhorar a
qualidade da atenção, sete respondentes referiram que nada
precisava ser mudado. Uma mulher referiu que seria importante
respeitar a pontualidade nas consultas, e duas pensam que,
diminuindo o movimento de pessoas entrando na sala, elas se
sentirão mais à vontade, conforme já foi referido anteriormente.
Tais fatores podem ser considerados, evidentemente, como
sugestões para o alcance da qualidade do serviço.
Referências
1. Ministério da Saúde (BR). Parto, aborto e puerpério: assistência
humanizada à mulher. Brasília (DF); 2001.
2. Ministério da Saúde (BR). Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde da Mulher: princípios e diretrizes. Brasília (DF); 2004.
3. Ministério da Saúde (BR). Urgências e emergências maternas.
Brasília (DF): Febrasgo; 2000.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final desta pesquisa vale destacar os pontos fortes e
fracos revelados nas falas das informantes. Elas associam a
atenção pré-natal a um momento educativo; sentem-se
satisfeitas em relação à qualidade da consulta, no sentido de
acolhimento, respeito e compromisso que os envolvidos com a
atividade reservam a elas; compreendem as orientações
compartilhadas nas consultas de enfermagem e sentem-se à vontade
para solicitar maiores explicações, o que evidencia a interação e
confiança estabelecidas, e consideram-se apoiadas na relação com a
enfermeira e com os acadêmicos. Por outro lado, apontaram a
necessidade de maior privacidade nas consultas e solicitam que o
pré-natal seja acompanhado pelo mesmo profissional.
O estudo reforçou a necessidade de a atenção pré-natal
envolver a família da gestante e seu grupo social, uma vez que
a gestação é entendida como um evento biológico e social,
uma experiência familiar, portanto. Depreende-se disso, que
todos são atores sociais neste acontecimento, e que sua
bagagem cultural implica nos encaminhamentos a serem
determinados em cada situação específica. Isso possibilita a
enfermeira redirecionar seu cuidado, singularizando-o.
Salientou também a necessidade urgente de compreensão
por parte de gestores e profissionais da área da saúde que
atuam neste serviço a respeito da importância da integração
ensino/serviço como forma de qualificar a assistência em
qualquer nível de atenção à saúde.
Ao mesmo tempo, possibilitou iniciarmos um processo de
avaliação do serviço, apontando para os aspectos que
necessitam de reorientação, bem como reforçando aqueles que
estão em sintonia com as expectativas das usuárias. Desta
forma, o estudo não se encerra com esta análise, sendo para
nós motivador de reconstruções permanentes na busca pela
humanização da atenção à saúde da mulher em todo o seu
ciclo vital. Em relação ao processo de gestar e parir, revela-se
um desafio, uma vez que representa o resgate da autonomia
feminina. Confirma-se, também, que todas essas demandas
exigem dos profissionais envolvidos com a saúde da mulher a
busca por referenciais éticos e humanísticos que estejam em
consonância com suas expectativas e necessidades.
Nessa perspectiva, é relevante darmos seguimento à
investigação iniciada, objetivando conhecer a percepção que
familiares e profissionais do serviço têm a respeito da consulta de
pré-natal realizada por enfermeiros na referida unidade básica.
Sem dúvida novos elementos serão pontuados, possibilitando
melhor adequação às necessidades da gestante, ao mesmo tempo
em que proporcionarão visibilidade ao trabalho do enfermeiro no
cenário da saúde pública, no nível da atenção básica.
4. Tanaka ACA. Maternidade: dilema entre nascimento e morte. São
Paulo(SP): Hucitec; 1995.
5. Cabral FB, Ressel LB, Landerdahl MC. Consulta de enfermagem:
estratégia de abordagem à gestante na perspectiva de gênero. Rev
Esc Enferm Anna Nery 2005 dez; 9 (3): 459 – 65.
6. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em
saúde. 8ª ed. Paulo(SP): Hucitec; 2004.
7. Geertz C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro(RJ): LTC;1989.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 105 - 11.
111
Percepção de Mulheres Sobre Atenção Pré-Natal
Landerdahl MC et al
8. Denardin ML. Cuidando e sendo cuidado – um modelo cultural de
saúde em comunidade rural. In: Gonzales RMB, Beck CLC, Denardin
ML. Cenários de cuidado: aplicação de teorias de enfermagem. Santa
Maria (RS): Pallotti; 1999.
9. Baruffi LM. O cuidado cultural à mulher na gestação. Passo Fundo
(RS): UPF; 2004.
10. Helman CG. Cultura, saúde e doença . 4ª ed. Por to Alegre
(RS): Ar tmed; 2003.
11. Featherstone MO. O desmanche da cultura: globalização, pósmodernismo e identidade. São Paulo(SP): Studio Nobel; 1997.
12. Robertson R. Globalização: teoria social e cultura global.
Petrópolis(RJ): Vozes; 2000.
13. Ministério da Saúde (BR). Pré-natal e puerpério: atenção qualificada
e humanizada. Manual técnico. Brasília (DF); 2005.
14. Freire P. Pedagogia do oprimido . Rio de Janeiro(RJ): Paz e
Terra; 1987.
Sobre as Autoras
Maria Celeste Landerdahl
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria/RS
Lúcia Beatriz Ressel
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria/RS
Fer nanda Badineli Mar tins
Secretaria de Município de Rosário do Sul/RS
Fer nanda Bher
br
al
Bheree g ar
araa y Ca
Cabr
bral
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões,
Santiago/RS
Mariam de Oliveira Gonçalves
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria/RS.
Recebido em 29/05/2006
Reapresentado em 08/09/2006
Aprovado em 25/11/2006
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 105 - 11.
112
Práticas de Cura Utilizadas por Rezadores do Piauí
Medeiros LCM et al
AS PRÁTICAS POPULARES DE CURA UTILIZADAS POR REZADORES
NO POVOADO BREJINHO, MUNICÍPIO DE LUIZ CORREIA - PIa
The Popular Healing Practical Used by Prayers in the Brejinho Village,
in Luiz Correia City - Piauí - Brazil
Las Prácticas Populares de Cura Usadas por los Rezadores
en el Pueblo Brejinho, Ciudad de Luiz Correia - Piauí - Brasil
Lis Cardoso Marinho Medeiros
Fábio Mota Machado
Gláucia Antonia Viana de Azevedo
Simone Ramos de Sousa
Resumo
O estudo analisou as práticas populares de cura utilizadas por rezadores. Objetivou-se, com o trabalho, analisar as práticas
populares por rezadores procurando a associação da prática com a assistência à saúde da população. Foi uma pesquisa
qualitativa do tipo descritiva. Os dados foram obtidos utilizando entrevista gravada. Foram realizadas oito entrevistas.
Identificaram-se as categorias: herança cultural, clientela e forma de pagamento. Conclui-se que as comunidades buscam
seu próprio meio de resolver questões sobre saúde-doença, e que a parceria dos rezadores e profissionais de saúde
poderia melhorar a qualidade de vida da população intermediando saberes.
Palavras-chave: Saúde. Cura pela Fé. Educação em Saúde.
Abstract
Resumen
The study analyzed the popular practices of cure used by
prayers. It aimed to analyze the popular practice of
prayers looking for the association of the practice with
the assistance of health of the population. It was a qualitative
research of the descriptive type. The data was collected
by recorded interview. Eight interviews were made. The
identified categories were: cultural inheritance, clientele and
payment form. It was conclude that the communities seek
its proper way to decide questions about health, illness
and the par tnership among the prayers and the
professionals of health could improve the quality of life of
the population intermediating the knowledge.
El estudio analizó las prácticas populares de cura usadas
por rezadores. El trabajo tubo el objetivo de analizar las
prácticas populares de los rezadores buscando la
asociación de la práctica con la ayuda a la salud de la
población. Fue una investigación cualitativa del tipo
descriptiva. Los datos fueron recogidos usando entrevista
grabada. Fueron realizados ocho entrevistas. Las categorías
fueron identificadas como: herencia cultural, clientela y
forma de pago. Concluyese que las comunidades buscan
su propio medio de resolver cuestiones sobre salud,
enfermedad, y que la aparcería de los rezadores y los
profesionales de salud podría mejorar la calidad de vida
de la población intermediando el saber.
Keywords:
Health. Faith Healing. Education in Health.
Palabras clave:
Salud. Curación por la Fé. Educación en Salud.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 112 - 7.
113
Práticas de Cura Utilizadas por Rezadores do Piauí
Medeiros LCM et al
INTRODUÇÃO
A participação do Ser humano como sujeito na sociedade,
na cultura, na história, faz-se na medida em que é capaz de
transmitir situação-limite para verificar o que existe além delas,
procurando responder os desafios que a vida lhe apresenta,
muito embora as explicações que são dadas sobre alguns
fenômenos sejam explicações mágicas, fabulosas, exigindo uma
análise epistemológica mais detalhada.
As transformações no processo histórico, social, econômico
e cultural mudaram significativamente nos últimos séculos e foram
acompanhadas de mudanças no paradigma norteador da área
da saúde uma vez que o modelo biomédico se mostrou insuficiente
para responder a todas as questões do cuidado à saúde 1
No Brasil, a mistura de invocação religiosa e cura é um fato
presente em nossa sociedade, principalmente nas regiões
nordeste e norte. Isto é resultante da influência cultural
proveniente da colonização diversificada e plural.
Pode-se, então, observar na práxis do povo nordestino o
trabalho de rezadeiras, parteiras, raizeiros, curandeiros, todos
convergindo para a cura das doenças.
O aspecto cultural apresenta-se também com o emprego
de plantas medicinais no cuidar da saúde, recomendado pela
ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para
programas de atenção primária à saúde, podendo ser uma
alternativa terapêutica atrelada ao baixo custo, fácil aquisição
e que se compatibiliza com aspecto cultural dos povos.
As pessoas simples retratam uma visão ingênua, e ao mesmo
tempo divina, acerca da doença e da cura. A consciência
intransitiva e transitiva ingênua é caracterizada pela
centralização dos interesses dos homens pelas explicações
mágicas e fabulosas que se dão sobre os fenômenos e pela
fragilidade da argumentação. A formação do profissional de saúde
nas academias em geral não retratam essa realidade do saber.
Assim, os profissionais de saúde, na maioria das vezes, ao
chegar em uma localidade, recheados de conteúdos teóricopráticos adquiridos na academia e pouco ou nenhum preparo
prático comunitário, esquecem ou mesmo não valorizam a
cultura local, o saber comum das pessoas. O seu saber é imposto
e não negociado. O saber técnico, ao se confrontar com o saber
popular, não pode dominá-lo, impor-se a ele, a relação entre
estes dois saberes não poderá ser a transmissão
unidirecional,vertical, autoritária, mas deverá ser uma relação
de diálogo, relação horizontal, bidirecional, democrática 2.
Os rezadores possuem um saber místico que envolve
energias muitas vezes inexplicáveis pela ciência tradicional.
Segundo Barros, de 982 crianças com diarréia no nordeste do
Brasil, 28% buscam o trabalho de rezadeiras para solucionar
seu problema de saúde. Isso mostra o quanto estas práticas de
saúde são valorizadas pela comunidade 3.
Existe nos dias atuais um maior acesso da população aos meios
e serviços de saúde e farmácias. Com toda essa disponibilidade,
este percentual apresentado representa o relevante papel dos
rezadores para a população. Este tratar, cuidar, é permeado de
uma magia pela simplicidade com que são selecionados os
remédios, disponibilizados em torno de seu próprio mundo.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 112 - 7.
É preciso delimitar com clareza, a partir de quando as
mulheres passam a assumir este papel de cuidadora. Na era do
pensamento místico, a mulher não era cuidadora. Relata-se
que quando as mulheres passaram a assumir este papel, elas
foram consideradas bruxas e feiticeiras pela Igreja Católica e
aconteceu a Santa Inquisição, em que milhares de mulheres
foram queimadas vivas na fogueira 4.
Diante de tal realidade pode-se inferir a importância dos
rezadores como elo de ligação significativo entre a população e
o sistema formal de saúde, demonstrando que a existência destas
práticas não é exclusiva de localidades distantes, isoladas e de
falta de atendimento formal de saúde, mas um fenômeno cultural
que sempre existiu e que dificilmente desaparecerá, pois fazer
desaparecer essas práticas é excluir a cultura de um povo.
Assim, investigou-se a realidade existente entre os
rezadores e a assistência formal no povoado Brejinho,
município de Luíz Correia. A este fato atrelaram-se as seguintes
questões nor teador as
as: Como acontecem as práticas
populares de cura que são utilizadas por rezadores do povoado
Brejinho, município de Luiz Correia? De onde provém esse
saber que tem tanta credibilidade nos meios populares?
Para responder essas questões elaborou-se o seguinte
objetivo
objetivo: Analisar as práticas populares de cura utilizadas por
rezadores no povoado Brejinho, município de Luiz Correia – Piauí.
CAMINHOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS
A pesquisa foi do tipo descritiva de natureza qualitativa.
Optou-se pela pesquisa qualitativa por se adequar melhor à
produção e análise dos dados5. O trabalho foi realizado no
povoado Brejinho, município de Luiz Correia - PI. A produção
dos dados da pesquisa aconteceu no período de dezembro de
2001 a junho de 2002.
O município de Luiz Correia possui uma área urbana
localizada na maioria das praias do município e cerca de apenas
30% da sua população de aproximadamente 23.000 (vinte e
três mil) habitantes. A zona rural concentra cerca de 70% da
população e fica distante do centro urbano. Todo o município
hoje possui cobertura do PSF (Programa de Saúde da Família),
e já existem quatro equipes de PSF. Há um grande esforço por
parte das três equipes do PSF da zona rural existentes para
manter uma boa cobertura de atendimento a zona rural.
Os problemas de saúde mais encontrados pela equipe são
as parasitoses intestinais e as infecções respiratórias e de
pele. Além disso, há relativa escassez de água. Relativa, pois
embora parte do problema da falta de água tenha sido resolvido
com a construção de chafarizes, há várias localidades onde o
teor de salinidade da água é muito elevado, levando à
necessidade de dessalinizador nos chafarizes,
conseqüentemente dificultando a construção e principalmente
a manutenção dos mesmos.
A presença do rezador nas microlocalidades da área de
abrangência do estudo é grande. Percebeu-se isso pelos relatos
da própria comunidade durante o atendimento médico e de
enfermagem que muitas vezes referia ter procurado o rezador
antes da consulta, ou fazia uso de “remédios” indicados pelo
114
mesmo.O local de coleta dos dados desse estudo foi o posto de
atendimento do PSF dessa localidade e, por vezes, a própria
casa do rezador, quando necessário.
Os sujeitos da pesquisa foram oito rezadores que residem
nas microlocalidades da região do Brejinho, onde se
estabeleceu como critérios para escolha desses sujeitos: o
tempo da sua prática (pelo menos três anos); ser residente na
região do PSF já citado; e concordar em participar do estudo.
Anteriormente às entrevistas, foi realizada uma dinâmica de
grupo com os sujeitos da pesquisa de forma sensibilizadora,
tornando acolhedor o momento da entrevista.
Como pesquisa qualitativa utilizou-se, como instrumento
de produção de dados, um roteiro de entrevista em associação à
observação do participante, onde o entrevistador tem a
possibilidade de discorrer sobre o tema proposto sem respostas
ou condições pré-fixadas pelo pesquisador. A técnica de entrevista
gravada em fita-cassete, ocorrida durante a visita domiciliar
previamente agendada, respeitou a individualidade do sujeito
participante, mantendo-se o sigilo dos dados fornecidos.
A análise dos dados baseou-se nos objetivos previamente
determinados. Estabeleceu-se o corpus de comunicação
estruturado a partir dos aspectos percebidos nos discursos
analisados, por similaridade.
Constituíram-se então eixos geradores de discussão que
correspondem aos objetivos que se buscaram atingir. Tais
eixos, ao serem percebidos e captados nos discursos, deram
origem a categorias. As categorias foram filtradas e sofreram
nova análise para que se permitissem agrupar aquelas que
fossem relevantes a todos os discursos, tornando a descrição
dos temas geradores o mais abrangente possível. A síntese a
seguir esquematiza a análise baseada nos eixos e categorias.
A pesquisa encontra-se cadastrada no site de pesquisa com
seres humanos e seguiu todas as normas previstas.
ANÁLISE DOS DADOS
As transcrições das entrevistas revelaram três categorias:
her
ança cultur
al
herança
cultural
al, c lientela e f or
orma
paggamento
amento. A
ma de pa
primeira categoria foi identificada nos discursos dos Quadros 1
e 4; as demais, nos Quadros 2 e 3, respectivamente, em anexo.
Percebeu-se uma forte influência cultural herdada dos seus
antepassados. Alguns se apropriaram do saber como que de
uma herança de um ente querido, outros receberam como missão
essa arte de curar, passada por um familiar ou pessoa próxima.
As práticas populares de cura seguem se desenvolvendo a
ança Cultur
al
par tir desta Her
Herança
Cultural
al, desta transmissão de
saberes, crenças, valores e atitudes, tendo sua continuidade
garantida, principalmente, pela comunidade, que as valoriza.
A escolha do material a ser utilizado durante o ritual fica a
critério de cada rezador, dependendo do tipo de cliente, do
problema apresentado pelo doente e do costume de cada
rezador. Além da reza como instrumento de trabalho, os
rezadores utilizam também ramos de planta, e o rosário, uma
espécie de terço, semelhante ao terço católico. Dentre os ramos
mais utilizados foram citados a vassourinha e o pião roxo.
Práticas de Cura Utilizadas por Rezadores do Piauí
Medeiros LCM et al
A importância da antropologia para a compreensão do
fenômeno saúde-doença é incontestável. Junto com os
dados quantitativos e com o conhecimento técnicocientífico das doenças, qualquer ação de prevenção,
tratamento ou planejamento de saúde necessita levar
em conta valores, atitudes e crenças de uma população6
Na análise dos discursos, a categoria Clientela revelou
que o rezador é mais procurado para tratar de crianças. Tal fato
também foi constatado porque cita o uso do benzimento como
prática comumente utilizada na cura das doenças infantis,
principalmente entre crianças de 0 a 2 anos. Todos referem ter
freqüência esporádica da clientela, que busca o atendimento
para o tratamento do quebrante. Tal doença se caracteriza por
mal-estar, fraqueza e sonolência, por vezes acompanhados de
febre, náusea e vômitos.
O Quadro 3 apresenta o pensamento dos rezadores ante a
ma de pa
terceira categoria – For
orma
pagg amento
amento.
Como se percebe no quadro que mostra a categoria forma
de pagamento, nenhum dos rezadores cobra pelo serviço
realizado e todos realizam-no espontaneamente. Observouse, ainda, muita boa vontade quando da realização do trabalho
e grande preocupação com a melhora ou não do cliente,
formando-se até uma pequena rede de referência – contrareferência informal, onde vários deles relataram a preocupação
de saber do quadro daquele cliente mesmo quando encaminhado
a outro rezador, ou até mesmo ao sistema de saúde formal. Isso
é claro quando o cliente já não sai daquele atendimento
praticamente curado, pois todos referem grande eficácia do
tratamento praticado por eles.
Os rituais costumam ser simples, sem grande preparo, onde
o ramo e o rosário são utilizados para passar na pessoa em
movimentos ritmados quase sempre em forma de cruz. Alguns
utilizam um rosário de grande dimensão para passar a criança
através dele. A reza se dá quase sempre em voz baixa, algo
sussurrado, resmungado, sem uma definição precisa. Algumas
são variações de orações católicas, onde estão contidas
invocações a santos diversos, sendo sempre um santo de
devoção do rezador.
Os ramos utilizados normalmente murcham após a reza.
Indagados sobre o fato de o ramo murchar naturalmente depois
de retirado da planta, eles respondem que o ramo murcha mais
rápido após o ritual da reza, e que o ramo só murcha mais
rápido se o problema da pessoa for realmente o quebrante.
Poucas foram as rezas descritas, alguns se recusaram a dizer
suas rezas, alegando que poderia ser feito mau uso delas ou
com o simples argumento de não poderem revelar, sem dar
maiores explicações. Outros dizem que, se a oração for ensinada,
ela não serve mais para aquele rezador utilizar.
CONCLUSÃO
Por meio desta pesquisa concluiu-se que, na realidade de
trabalho, mesmo com o amplo acesso ao sistema de saúde
formal, as comunidades continuam buscando seu próprio meio
de resolver suas questões sobre o processo de saúde-doença.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 112 - 7.
115
Práticas de Cura Utilizadas por Rezadores do Piauí
Medeiros LCM et al
As práticas populares têm-se mantido nas diversas culturas e
sempre foram utilizadas, essencialmente no seio familiar, como
primeiro recurso para minimizar ou prevenir os males. Nesta
perspectiva, compreende-se prática popular como todos os
recursos utilizados pelas famílias, pessoas leigas e por
terapeutas populares, onde a apreensão do saber se constrói
no cotidiano e se transmite de geração a geração e cujo fazer
não está ligado a serviços formais de saúde.
Estes terapeutas, os rezadores, possuem grande
credibilidade da comunidade, sendo, por vezes, os primeiros a
terem contato com as pessoas doentes de uma determinada
localidade. Tal proximidade da comunidade, o fácil acesso a
eles, bem como o fato de não cobrarem pelo tratamento e
também por estímulos culturais amplamente presentes faz com
que a prática de cura dos rezadores permaneça presente em
nossa realidade e se perpetue.
Referências
Sobre as Autoras
1. Schaurich D, Padoin SMM, Paula CC, Motta MGC. Utilização da
teoria humanística de Paterson e Zderad como possibilidade de
prática em enfermagem pediátrica. Esc Anna Nery Rev Enferm
2005 9(2): 265-70
2. Freire P. Concientización. Buenos Aires (AR): Busqueda; 1974
3. Barros FC, Victora CG. Avaliação do manejo da diarréia em
menores de cinco anos no nordeste do Brasil. J Pediatr 1989 nov/
dez; 65(11/12): 420-64
4. Medeiros LCM, Cabral IE. As plantas medicinais e a enfermagem.
A ar te de assistir, de curar e de transformar os saberes [tese de
doutorado]. Rio de Janeiro (RJ): Escola de Enfermagem Anna
Nery/UFRJ; 2001.
5. Minayo MCS, Alves PC. Saúde e doença: um olhar antropológico.
Rio de janeiro(RJ): FIOCRUZ; 1994.
6. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em
saúde.7ª ed. São Paulo (SP): Hucitec; 2000.
Lis Cardoso Marinho Medeiros
Enfermeira, Cirurgiã-dentista, Professora Associada I lotada no Deptº
de Biofísica e Fisiologia da Universidade Federal do Piauí, Membro do
Núcleo de Estudos em Saúde Pública .
Gláucia Antonia Viana de Azevedo
Enfermeira, Profª Adjunta IV do Deptº de Enfermagem, Coordenadora
da Especialização em Saúde Pública e Membro do Núcleo de Estudos
em Saúde Pública
Fábio Mota Machado
Enfermeiro do Programa Saúde da Família do Município de Luís Correia/PI
Simone Ramos de Sousa
Enfermeira do Programa Saúde da Família do Município de Luís Correia/PI
Notas
a Texto derivado de tese de doutorado defendida em 2001
(ver referência 4).
Recebido em 31/10/2006
Reapresentado em 24/02/2007
Aprovado em 04/03/2007
ANEXOS
QUADRO 1
1:
A origem do saber do rezador da localidade Brejinho, Luiz Correia –PI. 2002.
Eixo gerador
ORIGEM
Categoria
HERANÇA
CULTURAL
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 112 - 7.
Depoentes
Discur so
Entrevistado 1
R– Com meu pai. Porque meu pai fazia. Um belo dia ele disse:
— Você sabe que eu não vou rezar mais não. Isso não vale nada.
— Pois me ensine
— Não meu filho, não vale nada não. São só três palavras.
— Mas eu quero essas três palavras.
Ele me ensinou e eu fiquei rezando nos culumizim.
Entrevistado 2
R– Com meus avós, que já até morreram. Morreram de velhice.
Entrevistado 3
R– Com a minha mãe. Que era Católica Apostólica Romana.
Entrevistado 4
R– Com uma tia minha que já morreu.
Entrevistado 6
R– Com minha mãe.
Entrevistado 8
R – Com a minha avó.
116
Práticas de Cura Utilizadas por Rezadores do Piauí
Medeiros LCM et al
QUADRO 2
2:
Caracterização das práticas populares de cura do rezador da localidade Brejinho, Luiz Correia – PI. 2002.
Eixo gerador
A PRÁTICA
Categoria
CLIENTELA
Discur so
Depoentes
Entrevistado 1
R– Criança.
Entrevistado 2
R– É mais menino. A mãe traz pra rezar e eu rezo. É dor de dente,
dor de cabeça e essas coisas assim.
Entrevistado 3
R– Eu gosto mais de criança.
Entrevistado 4
R– Criança.
Entrevistado 5
R– É mais criança. Mas agora mesmo eu rezei em adulto.
Entrevistado 6
R– Criança.
Entrevistado 7
R – É mais criança. E gente adulto, mas não é direto não. É mais
criança mesmo, que os pais trazem pra mim rezar.
Entrevistado 8
R – Criança e adultos.
QUADRO 3
3:
Caracterização das práticas populares de cura do rezador da localidade Brejinho, Luiz Correia – PI. 2002.
Eixo gerador
Discur so
Categoria
R– Não. É um favor que eu estou fazendo.
R– Não Senhor. Quem quiser dar alguma coisa... É um favor né... É um favor que a gente está
fazendo... Né... Eu só faço favor. Às vezes me dão alguma coisa, mas eu não peço não.
R– Eu atendo as pessoas que tem dinheiro... Se me dão alguma coisa é porque querem. Mas
a criança carente eu rezo por nadinha. Não quero coisa nenhuma.
A PRÁTICA
FORMA DE
PAGAMENTO
R– Nunca cobrei. Sempre as pessoas me perguntam quanto é, e eu digo que não é nada. As
pessoas que tem consciência me dão uma toalha de banho, me dão um jarrozinho, me dão
um terço, me dão qualquer coisa. Mas cobrar mesmo eu nunca cobrei não.
R– Não cobro não. Eu tive de cobrar duma pessoa. Ele perguntou quanto era aí eu fui e falei
pra ele. Você me dá aí um agrado pra eu comprar um quilo de carne. Aí ele deu.
R– Não cobro nada não. A pessoa dá o que quiser. Eu não cobro não.
R- Não costumo cobrar
R- Faço por paixão, não cobro
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 112 - 7.
117
Práticas de Cura Utilizadas por Rezadores do Piauí
Medeiros LCM et al
QUADRO 4
4:
Procedimento do ritual de cura utilizado pelo rezador e a cura das doenças. Brejinho, Luiz Correia – PI. 2002.
Eixo gerador
Categoria
RITUAL
E CURA
MATERIAL
Depoentes
Entrevistado 1
R– Eu tenho minha devoção mesmo só e pronto. Só rezo.
R– Tanto faz como tanto fez. Pode ser com ramo ou não...
Entrevistado 2
R– Eu uso só reza.
R– Peão roxo, mandiroba, vassourinha.
Entrevistado 3
R– Eu utilizo a medalha, um símbolo católico que é a bíblia católica,
com o cinco Salomão de oito pernas ... A estrela de David com as três
pessoas da Santíssima Trindade da Igreja Católica.
R – É o credo em cruz.
Entrevistado 4
R – A folha do peão roxo.
Entrevistado 5
R – A vassourinha.
Entrevistado 6
R – Uns ramos... Vassourinha.
Entrevistado 7
R – Em crianças, é o rosário, em gente adulto é a folha de peão roxo.
Entrevistado 8
R – Em criança a gente sempre reza com a vassourinha e folha de
peão, ou de carambola, em gente adulto, com o rosário.
Entrevistado 7
Entrevistado 8
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 112 - 7.
Discur so
R – Não, é o que eu digo para pessoa quando vem. Minha filha, se
você tiver fé, é a sua fé que vai lhe curar, que Deus quer que a pessoa
tenha fé, não é? Que quando Ele andava no mundo, aquelas pessoas
que tinham fé, então a pessoa era curada, bastava ver Ele. E do
mesmo jeito eu digo para os meus irmãos aqui. É a sua fé que vai lhe
curar. Aí a pessoa: Ave Maria Dona fulana, eu tenho muita fé, aí manda
eu rezar, aí no outro dia ela já vem bem melhor, nem parece aquela
que veio do jeito que veio. Já vem boazinha. Diz assim, olhe dona
fulana, você não viu como eu saí daqui, que eu não podia nem me
sentar, cheguei lá em casa me sentei, comi, dormi, e não senti mais
nada. Já estou aqui de volta, morta de contente.
R – Eu me sinto muito feliz, me sinto alegre e ainda peço que Deus
cuide daquela criança. Oh Jesus, ele veio do jeito que veio. Só você
pode curar meu Pai. Cuide dessa criança. Ah, eu fico tão preocupada
quando eu vejo o estado da criança, e quando é no outro dia a mãe
vem morta de alegre, e o pai, dona fulana, dormiu a noite todinha,
não vomitou mais e nem chorou mais e está aqui ele.
R – Se eles virem que não dão jeito, aí eles encaminham...Procure
outro...Outra religião... Outro meio de se curar...Que a pessoa pode
muito bem entender que já não é ali, tem que procurar outro...
(alguém cita um psiquiatra local)
Pelo menos o doutor fulano nas consultas dele, quando ele vê que
não dá certo ele diz logo o que é e o que não é, e manda a pessoa
procurar um rezador, outra pessoa que faça ele ficar bom. E aí a
pessoa se manifesta para outro lado.Porque se ele conseguisse ficar
bom a troco de remédios, só os remédios que ele tomasse já ficaria
bom. Agora não é problema de remédio, tem que ser por oração,
tem que ser por outros meios de reza para que aquela pessoa se
restabeleça e tenha saúde.
118
Enfermagem no CNPq: história segundo representantes da área
Erdmann AL et al
A ENFERMAGEM COMO ÁREA DE CONHECIMENTO NO CNPq:
RESGATE HISTÓRICO DA REPRESENTAÇÃO DE ÁREA
Nursing as an Area of Knowledge in the CNPq:
Historical Rescue of the Representation of the Area
Enfermería como Área de Conocimiento en el CNPq:
Rescate Histórico de la Representación del Área
Alacoque Lorenzini Erdmann
Isabel Amélia Costa Mendes
Joséte Luzia Leite
Resumo
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) foi criado em 1951. Neste organismo nacional de
apoio à pesquisa, a Enfermagem insere-se como área de conhecimento a partir da década de 70 e passa a ter representante
de área desde a década de 80. O presente artigo tem como objeto o resgate histórico da Enfermagem como área de
conhecimento no CNPq. Objetiva destacar a inserção da Enfermagem neste órgão e contribuição para o conhecimento da
História da Enfermagem Brasileira. Trata-se de um estudo documental apoiado por depoimentos das enfermeiras representantes
da área de Enfermagem no transcurso da presença da Enfermagem como área no CNPq. As informações descritas mostram
a importância e a evolução da Enfermagem como ciência e tecnologia neste órgão, a importância do fomento para
viabilização das pesquisas, o estímulo ao incremento da pesquisa, os avanços na produção de conhecimentos, os desafios
enfrentados e as perspectivas como possibilidades para o fortalecimento e consolidação da Enfermagem. O CNPq é um
importante órgão de fomento às políticas para o avanço da Enfermagem.
Pala
vr
as-c
ha
alavr
vras-c
as-cha
havve: Enfermagem. Ciência. Pesquisa em Enfermagem. História da Enfermagem.
Abstract
Resumen
The National Council of Scientific and Technological
Development (CNPq) was created in 1951. In this national
organ of research support, the Nursing is inserted as a
knowledge area from 1970’s and passed on to an area
representative since 1980’s. This present article has as object
the historical rescue of the Nursing as knowledge area at the
CNPq. It aims to detach the Nursing insertion at this organ
and its contribution for the knowledge of the Brazilian Nursing
History. It is a question about a documentary study supported
by depoiments of the representative nurses of the nursing
area in the course of the existence of the Nursing as an area
at the CNPq. The information described showed the
importance and the evolution of the Nursing as science and
technology in this organ, the importance of the promotion
for making the research viable, the stimulation to the increment
of the research, the advances in producing knowledge, the
challenges faced and perspectives as possibilities for the
strengthening and consolidation of the Nursing. The CNPq
is an impor tant agency of promoting politics for the
advance of the Nursing.
El Consejo Nacional de Desarrollo Científico y Tecnológico
(CNPq) fue creado en 1951. En este organismo nacional de
apoyo a la investigación, la Enfermería se inserta como área
de conocimiento partiendo de los años 70 y pasa a tener
representante de área desde la década de los 80. El presente
artículo tiene como objeto el rescate histórico de la Enfermería
como área de conocimiento en el CNPq. Se objetiva destacar
la inserción de la Enfermería en este órgano y su contribución
para el conocimiento de la Historia de la Enfermería Brasileña.
Tratase de un estudio documental apoyado por depoimentos
de las enfermeras representantes del área de la Enfermería
en el curso de la existencia de la Enfermería como área en el
CNPq. Las informaciones descritas muestran importancia y
la evolución de la Enfermería como ciencia y tecnología en
este órgano, la importancia del fomento para la promoción
de las investigaciones, el estímulo al incremento de la
investigación, los avances en la producción de conocimientos,
los desafíos enfrentados y las perspectivas como
posibilidades para el fortalecimiento y consolidación de la
Enfermería. El CNPq es un importante órgano de fomento a
las políticas para el avance de la enfermería.
Keyw
or
ds: Nursing. Science. Nursing Research.
ywor
ords:
History of Nursing.
P ala
br
as ccla
la
alabr
bras
lavv e: Enfermería. Ciencia. Investigación en
Enfermería. História de la Enfermería.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 118 - 26.
119
Enfermagem no CNPq: história segundo representantes da área
Erdmann AL et al
INTRODUÇÃO:
ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE O CNPq
O CNPq é uma das maiores e mais sólidas estruturas públicas
de apoio à Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) dos países em
desenvolvimento. A idéia de criar uma entidade governamental
específica para fomentar o desenvolvimento cientifico remonta
ao ano de 1920, quando os integrantes da Academia Brasileira
de Ciências (ABC) comentavam o assunto como conseqüência da
Primeira Guerra Mundial. Em 1931, a ABC dá a sugestão formal
ao governo, e este não se pronuncia a respeito. Em maio de
1936, o presidente Getúlio Vargas enviou uma mensagem
específica ao Congresso sobre essa idéia, mas ainda não teve a
acolhida desejada por parte dos parlamentares.
A partir da Segunda Guerra Mundial, graças ao avanço das
tecnologias bélica, aérea e farmacêutica, houve um despertar
não só no Brasil, mas em todos os países, para a importância
da investigação científica principalmente em energia nuclear.
A bomba atômica era a prova real e assustadora do poder que
a ciência poderia atribuir ao homem, ficando claro como a
pesquisa deveria passar a ser vista pelos governos. Seria uma
área a ser alvo de investimento, principalmente se fosse
acompanhada de uma agenda de prioridades enfocando
problemas de difícil resolução, ou ainda, se significasse
desenvolvimento científico e tecnológico.
Depois desses esforços, em maio de 1946, o Almirante
Alberto da Motta e Silva, representante brasileiro na Comissão
de Energia Atômica do Conselho de Segurança da recém-criada
Organização das Nações Unidas (ONU), propôs ao governo,
por intermédio da ABC, a criação do CNPq, denominado na
época Conselho Nacional de Pesquisa. Dois anos mais tarde,
em 1948, o projeto sobre a criação do CNPq era apresentado
à câmara dos Deputados. Porém, somente em 1949, o
presidente Eurico Gaspar Dutra indicou uma Comissão para
apresentar um anteprojeto de lei sobre a sua criação. Depois
de discutido em diversas comissões, em 15 de janeiro de 1951,
foi criado o CNPq, pela Lei nº1310/51, chamada pelo Almirante
Álvaro Alberto de Lei Áurea da Pesquisa do Brasil1.
O Conselho Nacional de Pesquisas, fundado em 1951, pelo
cientista pesquisador de energia atômica Álvaro Alberto, como
órgão diretamente subordinado à Presidência da República,
decorreu da necessidade de evitar a desapropriação das nossas
reservas de material radioativo. Em 1964, o Conselho teve
ampliada sua área de competência, incluindo a formulação e
coordenação da política científica e tecnológica do país,
deixando de ser sua competência as pesquisas no campo da
energia atômica. A partir de 1972 surgem os Planos Básicos
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PBDCTs)
integrados aos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs).
Em 1974, O Conselho torna-se fundação de direito privado,
com a denominação de Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico, vinculado a Secretaria de Planejamento
da Presidência da República (SEPLAN) e, posteriormente, à
Secretaria de Ciência e Tecnologia ligada diretamente à
Presidência da República com o objetivo de modernização
científica e tecnológica do país1.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 118 - 26.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico, que conserva a mesma sigla, vem assumindo
maiores proporções. É uma Fundação, vinculada ao Ministério
da Ciência e Tecnologia (MCT), cuja missão é apoiar a pesquisa
brasileira. Contribuindo diretamente para a formação de
pesquisadores (mestres, doutores, pós-doutores e especialistas
em várias áreas de conhecimento), o CNPq é, desde sua criação
até hoje, uma das maiores e mais sólidas estruturas públicas
de apoio à Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI) dos países em
desenvolvimento cujos investimentos são direcionados para a
formação e absorção de recursos humanos e financiamento de
projetos de pesquisa que contribuem para o aumento da
produção de conhecimento e geração de novas oportunidades
de crescimento para o país1.
Estes investimentos resultam na identificação de novos
talentos pelas atividades de iniciação científica com bolsas
(IC); no apoio ao trabalho do pesquisador com bolsa de
produtividade em pesquisa (PQ) e na manutenção do sistema
Lattes de registro do curriculum vitae; no apoio aos Grupos de
Pesquisa - Cadastrados no Diretório de Grupos de Pesquisa, no
fortalecimento das Linhas de Pesquisa, na viabilização de
Políticas e Prioridades em Pesquisa, dentre outros2.
Este estudo tem como objeto o resgate da Enfermagem como
área de conhecimento no CNPq. E como objetivos: (a) destacar a
origem da inserção da Enfermagem como área de conhecimento
no CNPq e sua contribuição para a profissão; e (b) contribuir para
o conhecimento da História da Enfermagem Brasileira.
A ENFERMAGEM COMO ÁREA
DE CONHECIMENTO
Somente a partir de 1970 é que se efetivaram as primeiras
medidas de apoio em relação à Enfermagem. A evolução
histórica dessas medidas transcorreu da seguinte maneira:
a) Realização do primeiro evento “Avaliação e
Perspectiva - Subárea de Enfermagem” em 1976;
b) Em 1980 foi criado o código da Subárea de
Enfermagem com suas subespecialidades, no sistema
de classificação das áreas de conhecimento no CNPq;
c) Em 1981/1982 foi realizada a segunda versão do evento
“Avaliação e Perspectiva - subárea de Enfermagem”;
d) Em 1984 foi iniciada a formação do quadro de
Consultores “Ad hoc ” para apreciar os projetos,
como subsídio ao cor po técnico e ao Comitê
Assessor de Clínica (CA-CL) do CNPq, local onde
esta subárea estava localizada.
Realizou-se, assim, a concretização de duas
recomendações contidas no documento da segunda “Avaliação
e Perspectiva”, ou seja, a de existir um representante da subárea
de Enfermagem como membro efetivo no Comitê Assessor de
Clínica do CNPq e de um assessor técnico de desenvolvimento
científico atuando na instituição, situações estas regularizadas
a partir de 19863. Depois deste, foi constituído o Comitê
Assessor de “Saúde Complementar” composto pelas áreas de
120
Enfermagem no CNPq: história segundo representantes da área
Erdmann AL et al
Odontologia, Enfermagem e Educação Física, que foi
desmembrado do CA de Medicina II4.
Portanto, vimos que, muito embora o CNPq tenha sido
criado em 1951, a Enfermagem somente foi incluída como
área de conhecimento em 1986, em razão dos esforços de
uma professora da Universidade de Brasília, que compunha o
quadro de técnicos da estrutura da agência4.
Esta inserção da Enfermagem como área de conhecimento
em 1986 coincide com os frutos do primeiro doutoramento
em Enfermagem do Brasil - o Curso de Doutorado
Interunidades em Enfermagem de responsabilidade das duas
Escolas de Enfermagem da USP - Universidade de São Paulo:
uma localizada no Campus da Capital (EEUSP); e outra
localizada no Campus de Ribeirão Preto (EERP-USP)5.
Em sua evolução, por três vezes o CNPq reformulou
sua organização estrutural, e a Enfermagem consolidouse como área de produção de conhecimento fazendo jus ao
direito de se inserir em um Comitê Assessor: o CA de
Medicina II. No ano de 1991 foi criado o Comitê de Saúde
Complementar para o qual a Enfermagem foi transferida.
Este Comitê recebeu nova denominação em 1995: Comitê
Multidisciplinar de Saúde (CA-MS) constituído pelas
Subáreas da Educação Física, Enfermagem, Fisioterapia,
Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia e Odontologia.
Em julho de 2005, a Odontologia é desmembrada
constituindo sozinha um novo Comitê6. E, em outubro de 2006,
ocorreu o marco histórico do Comitê: a implantação do Comitê
de Enfermagem (CA-EF), aprovado pelo Conselho Deliberativo
do CNPq, em junho de 2006. A indicação de seus membros
(três membros titulares e um suplente) foi aprovada na mesma
instância em 20 de setembro de 2006, tendo sua implantação
ocorrido no dia primeiro do mês de outubro. Esta foi uma
grande conquista da profissão e fruto do esforço coletivo. O
CA-EF reuniu-se pela primeira vez em Brasília no período de
20 a 24 de novembro de 2006, com a presença das
representantes titulares. Neste período os trabalhos do Comitê
foram coordenados pela representante com maior tempo de
exercício de representação6.
Os Comitês Assessores têm por objetivo prestar assessoria
ao CNPq na avaliação de projetos e programas, na formulação
de políticas em assuntos de sua área de competência e na
apreciação das solicitações de apoio à pesquisa e à formação
de recursos humanos. Analisam, ainda, as solicitações de bolsas
e auxílios pronunciando-se mediante pareceres fundamentados
e conclusivos sobre o mérito dos mesmos. Para tal, contam
com auxílio de consultores ad hoc7.
Desde a instituição da Representação da Área da
Enfermagem no CNPq, seis professoras doutoras foram
responsáveis pela mesma e serviram como assessoras,
ocupando a função de Representante e contribuindo
significativamente para o processo de incremento à
pesquisa em Enfermagem, incentivando a produção de
projetos com condições de concorrer a financiamentos,
ao tempo em que, internamente tornam a Enfermagem
mais conhecida pelo órgão 7.
A BUSCA DE INFORMAÇÕES SOBRE A
ÁREA DE ENFERMAGEM NO CNPq
Para o alcance dos objetivos estabelecidos no presente
estudo, selecionou-se um estudo documental de caráter
qualitativo, apoiado por depoimentos orais obtidos no período
de março a junho de 2005 e consentidos pelas enfermeiras
representantes da área de Enfermagem. Esses depoimentos
exploraram o transcurso das suas presenças na área, no CNPq.
Os principais aspectos abordados nos depoimentos centraram-se
em dados como: formação (níveis, títulos, anos, escolas); período
de atuação como Representante da Enfermagem no CNPq,
composição do CA segundo áreas, identificação do processo de
indicação; principais atividades realizadas e avanços obtidos para
a área; parecer sobre a própria experiência de ser representante
da área da Enfermagem no CNPq; indicação dos aspectos mais
marcantes da experiência vivenciada; o significado do CNPq para
a Enfermagem Brasileira; e a Enfermagem como profissão e como
ciência e suas principais conquistas, dentre outros aspectos.
A coleta e análise das informações e de dados constaram
da busca de documentos disponíveis no site do CNPq, relatórios
e artigos publicados, bem como dos depoimentos, observadas
as seguintes etapas: (a) consulta às ex-representantes sobre a
possibilidade de informarem sobre sua participação nesta
representação, o que foi aceito por todas; e (b) a compilação de
documentos com conteúdos sobre o tema explorado. Participaram
deste estudo todas as cinco ex-representantes e a representante
atual, mediante consentimento verbal das mesmas para
utilização de seus depoimentos neste artigo.
SÍNTESE DOS PRINCIPAIS RESULTADOS:
As informações obtidas permitiram descrever sobre: os períodos
de atuação das representantes, principais atividades realizadas, os
avanços da área e, em especial, como foi a experiência de ser
Representante da Área da Enfermagem no CNPq.
A) O PERÍODO DE ATUAÇÃO DAS REPRESENTANTES é
analisado como se segue:
A representação da área inicialmente foi de dois anos, e de
1990 em diante passou para três anos, e é indicada pelo CNPq
a par tir de consulta aos pesquisadores com bolsa de
produtividade em pesquisa, sugeridos entre os mais qualificados.
O início desta representação foi marcado por buscas não só de
espaços, mas também de conquista de igualdades.
À minha época, o comitê denominava-se “Medicina II”,
e, por não concordar com a maneira como apreciados os
pleitos no Comitê, fui substituída, portanto o meu
mandato foi de 1988 a 1989 (Depoente 1).
Neste depoimento percebe-se ainda a vulnerabilidade da
Enfermagem na Agência, apesar dos esforços para colocá-la na mesma
condição das outras áreas. Também, as conquistas por espaços e
maior visibilidade e exclusividade são marcadas quando foi conseguido
o desmembramento da Medicina II, área tradicional e consolidada.
Eleita pela comunidade científica, atuei no Comitê
Assessor de Saúde Complementar, no período 1990 Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 118 - 26.
Enfermagem no CNPq: história segundo representantes da área
Erdmann AL et al
1992. No meu mandato foi desmembrado o CA de Medicina
II e criado o de Saúde Complementar (Depoente 2).
A escolha da representante é prerrogativa da Presidência,
que consulta a comunidade científica, analisa o currículo dos
recomendados e então procede a indicação.
E stive na agência no período de 1993-1995. A
indicação foi pelo Conselho Diretor, após consulta à
comunidade científica e análise dos currículos em
apreço. Na ocasião era uma das três (3) pesquisadoras
da área de nível 1 A. ... Quando encerrou o mandato
recebi ligações de todas as regiões brasileiras pedindo
para empenhar esforços para continuar. O estatuto do
CNPq não permitia a recondução (Depoente 3).
Neste depoimento vê-se a prerrogativa do Conselho
Deliberativo em decidir a escolha. A quarta depoente também
eleita pela comunidade científica, por duas vezes, foi indicada
pela Presidência em dois períodos:
Exerci a função de representante da Área de
Enfermagem no CNPq de 07/1995 a 07/1998. Como
no período de atuação havia exercido o papel de
Coordenadora do Comitê, no julgamento seguinte (11/
1998) fui também convocada para transmitir à equipe
seguinte a memória do Comitê (CA-MS) integrado pelas
áreas Odontologia, Enfermagem, Educação Física,
Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional.
“Após um interstício de três anos, fui novamente
indicada exercendo a representação no período de 07/
2001 a 06/2004, também concluindo o mandato como
coordenadora do Comitê (Depoente 4).
Vimos que o período de vigência mudou de dois para 3
(três) anos e foi marcado pela constituição e denominação
dos comitês, trazendo uma terminologia que dava maior
identidade às diferentes áreas do conhecimento que faziam
parte do Comitê. A quinta depoente esteve no CNPq de
julho de 1998 até julho de 2001:
Tive o prazer de atuar no Comitê Assessor
Multidisciplinar de Saúde que era constituído pelas
áreas de Odontologia, Fisioterapia, Educação Física e
Fonoaudiologia (Depoente 5).
B) AS PRINCIPAIS ATIVIDADES COMO REPRESENTANTE
são destacadas nos depoimentos a seguir.
Ao assumir a representação em 1995, levei comigo a
experiência de 13 anos como usuária do sistema, pois havia
percorrido toda a carreira de pesquisador iniciada no ano de
1982 como mestre e aluna de doutorado. Portanto, em minha
bagagem levei toda a vivência, dúvidas, inquietudes e a certeza
de que a comunidade de Enfermagem carecia de estímulo e
orientações precisas sobre as possibilidades de apoio aos seus
projetos. Deste modo, considero que a principal atividade que
exerci foi política, pois tinha convicção de que era preciso dar
visibilidade do real desenvolvimento da Enfermagem como área
de conhecimento aos responsáveis e integrantes da estrutura
do órgão. A primeira ação, portanto, foi relatar ao Presidente o
estado da arte da Enfermagem brasileira, oferecendo dados
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 118 - 26.
121
com a proposta de instrumentalizar o Conselho Deliberativo
sobre o crescimento da área e da relação demanda versus
reduzida oferta de recursos destinados à área em todas as
modalidades de fomento. Do ponto de vista técnico, a principal
atividade foi a emissão de pareceres que incentivassem os
colegas a aprimorarem seus projetos e continuarem pleiteando.
Ao lado disto, passamos a interagir com pesquisadores com o
propósito de estimular o aumento da demanda para que se
conseguisse ampliar a fatia de recursos para a Enfermagem no
contexto do total que era destinado ao Comitê. No período de
2001 a 2004 conseguimos imprimir maior aproximação com
os pares, praticando o exercício da conscientização da
necessidade de união de esforços da maioria por mais espaço
e recursos. Conseguiu-se assim, através de preleções em
Escolas de Enfermagem que nos convidavam, assim como nos
eventos promovidos pela classe, produzir significativo
crescimento da demanda. Tais indicadores reforçaram os pleitos
levados à presidência e à coordenadoria da saúde, justificando
a ampliação de recursos, quotas de bolsas, de modo que a
Enfermagem passou a receber expressivo aumento no
investimento de projetos pelo CNPq (Depoente 4).
Neste depoimento relativo aos dois mandatos exercidos, observase o aumento da complexidade das atividades desenvolvidas e as
conquistas da representação para a área de Enfermagem:
Ao assumir as atividades de representante da área
da Enfermagem busquei conhecer mais de perto o
órgão CNPq, sua estrutura, dinâmica de
funcionamento, políticas e, em especial, as pessoas,
a equipe de técnicos, os diretores, os pares
representantes e demais pessoas que circulam
naquele órgão. Em especial, destaco o contato com a
representante anterior, o qual foi muito importante
para o reconhecimento das atividades inerentes a
essa representação. Também, a recepção do
Presidente e o acolhimento da equipe técnica foram
marcantes. Ainda, se somou a vivência da evolução
da pesquisa na área pela trajetória pessoal de quase
três décadas em atividades na PG, publicação e
orientação regular, atuação na Capes, enfim...
Familiaridade com o julgamento de processos de
produção de conhecimentos e formação de
pesquisadores da área (Depoente 6).
A estrutura do CNPq consolida experiência de
funcionamento desde o ano de 1951. A presença das
representantes de área é sentida como de suma importância,
de reconhecimento e valorização do seu domínio e, ainda,
competência na área que representa8. As atividades que
realizam são descritas nos depoimentos a seguir:
Análise dos processos nas reuniões semestrais de
julgamento; análise de processos emergenciais de
grandes eventos da área. À época havia uma reunião
durante a semana de julgamento com todos os
coordenadores dos Comitês Assessores, ou seja, dos
representantes de cada comitê, com o coordenador geral
deste grande grupo e o presidente do CNPq; e
122
Enfermagem no CNPq: história segundo representantes da área
Erdmann AL et al
elaboração dos relatórios das reuniões junto com os
colegas de comitê, tentando inserir uma política mais
agressiva nas nossas reivindicações (Depoente 5).
Estas atividades são mantidas nos dias atuais, como segue.
A representação inclui atividades diretamente no CNPq,
tais como análise e julgamento dos processos relativos
às diferentes modalidades de fomento que o órgão
oferece mediante editais regulares e especiais, os quais
são apreciados em reuniões periódicas dos membros
dos CAS; análise de mérito de processos de fluxo
contínuo; atividades externas junto à Comunidade
Científica em eventos, visitas aos centros de pesquisa,
e outros de caráter representativo no domínio da
ciência, tecnologia e inovação da área da Enfermagem
no país (Depoente 6).
Nos dois depoimentos citados, as atividades destacadas
mostram a relevância do trabalho realizado, o que envolveu
domínio de conhecimento sobre as bases teórico-filosóficas e
epistemológicas que sustentam a área da Enfermagem como
ciência, tecnologia, inovação; e competência política para
conquista de espaço e reconhecimento da profissão no cenário
nacional e internacional.
Incluem, também, a interface com as demais ciências,
especialmente as da saúde, sociais e humanas, nas suas
universalidade e especificidades, nos âmbitos regionais e
internacionais. As discussões com os pares das demais áreas
não se limitam à mera distribuição de recursos ou apoios para
o desenvolvimento de atividades mais relevantes de cada área.
Mas, na sustentação de políticas de desenvolvimento científico
e tecnológico do país e sua projeção internacional, que
possibilitem ganhos ou retornos significativos para as
necessidades sociais ou impactos internos, regionais ou
nacionais. A visão mais abrangente e profunda da realidade
de sua área, bem como das demais áreas, possibilita a
integração e o diálogo mais enriquecedores entre os pares,
em prol de decisões mais pertinentes e mais seguras.
havia um considerável desnível favorável à Enfermagem,
em relação às demais áreas do Comitê. Isto graças à
ação política de seus representantes e à correspondente
resposta da comunidade apresentando demandas. No
dizer de integrantes do Comitê, representando outras
áreas, a Enfermagem tinha “um PIBIC inteiro”. E em
termos de bolsas de Apoio Técnico havia para a
Enfermagem, no mínimo, dez vezes mais quotas do que
para as demais áreas somadas. Isto se deveu ao trabalho
dos representantes que demonstraram à presidência
do CNPq a especificidade da área (Depoente 4).
Outra depoente considerou os avanços assim:
As principais atividades que realizava e avanços para a
área: Reuniões para julgamento, todas aprazadas,
terminavam sempre com uma reunião do presidente
com os coordenadores. Independente dessas reuniões,
por duas vezes reuni-me com o presidente para solicitar
aumento de bolsas tanto PQ quanto IC e AT, visando um
maior crescimento da Enfermagem na produção do
conhecimento. Nesta reunião estavam presentes a
representante do período anterior, a atual (1998 a
2001) e a presidente do CEPEn/ABEn - Nacional
(Depoente 5).
Referindo-se à integração com os membros do Comitê, uma
das representantes destaca:
Quanto à integração com os demais membros do Comitê
só tive problemas com um; ele queria tudo para a sua
área. Até nas pontuações para alguma decisão sobre
percentual de aprovação, por exemplo, nos casos de
Editais, se alguém da Enfermagem apresentasse maior
pontuação, ele criava estratégias para tentar levar
vantagens. Sempre o enfrentei, e a Enfermagem sempre
conseguiu ganhar dentro da distribuição eqüitativa com
as demais. As outras profissões para ele eram inferiores.
Embora o CNPq não adotasse que a representante
comparecesse aos eventos da categoria (se convidado
o CNPq, iria um técnico), apresentava-me em todos e
em três participei de mesas redonda falando das
atividades na área e apelando para enviarem seus
projetos mais de uma, duas vezes até conseguirem,
afim de aumentar a demanda. (Depoente 5)
Não consideramos esta citação como expressão de conflito,
mas como defesa e luta pela categoria afim de que a mesma
angariasse o merecido:
O exercício da coordenação do Comitê por dois períodos
foi muito salutar no sentido da integração, do
reconhecimento e respeito à força da área Enfermagem
por parte dos integrantes do CA-MS que nos elegeram
por aclamação, o que permitiu imprimir maior
visibilidade da área, de um lado aos integrantes da
estrutura do CNPq e, de outro, aos integrantes dos
demais comitês. Ressalta-se que, para algumas
modalidades de investimento, só participavam os
coordenadores; portanto, representar a Enfermagem e
as outras áreas do CA-MS, além de ter sido um avanço,
C) OS AVANÇOS OBTIDOS PARA A ÁREA
são descritos a seguir:
Uma das depoentes considerou que os avanços obtidos
passaram pela visibilidade da Enfermagem:
O principal avanço foi mudar o nome do Comitê
Complementar para Comitê Multidisciplinar de Saúde.
Ressalto que tive uma grande preocupação em julgar as
solicitações de bolsas com imensa responsabilidade,
tentando identificar e ajudar os expoentes de cada região
brasileira, sem corporativismo ou preconceitos. Por
exemplo, tentávamos levar em consideração que um
pesquisador do Acre não dispunha das mesmas facilidades
para começar sua carreira como dispunham os de São
Paulo, naquela época pré-internet (Depoente 3).
O avanço mais significativo, no meu entender, foi a
credibilidade da área refletida no aumento expressivo
de recursos para as três modalidades [de bolsa]: PQ
[produtividade], IC [iniciação científica], AT [apoio
técnico]. Em relação a estas duas últimas modalidades,
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 118 - 26.
Enfermagem no CNPq: história segundo representantes da área
Erdmann AL et al
permitiu aumentar a visibilidade da Enfermagem. Ao
lado desta conquista, contamos com a confiança dos
representantes das outras áreas do Comitê, em relação
ao nosso trabalho, refletindo-se em credibilidade para
a Enfermagem (Depoente 4).
Com o passar do tempo, verifica-se cada vez mais o respeito e a
confiança na Enfermagem como área, na figura de suas representantes,
de modo que elas passaram a ser acionadas e destacadas para outros
tipos de julgamento fora do CA-MS, representando a Enfermagem,
mesmo após o término de seus mandatos.
Nesse sentido, percebe-se o reconhecimento da
competência e credibilidade da área e do profissional, o que é
uma oportunidade para ampliar a visibilidade da área quando
inserida em outros Comitês. É o que se depreende do
depoimento a seguir:
A Enfermagem tem tido oportunidade de demonstrar
sua competência também em outros Comitês. Nos anos
recentes participei do julgamento do Edital para
Doenças Crônico-degenerativas representando a
Enfermagem, Odontologia e Educação Física. Eu era a
única não-médica neste Comitê Específico. Nesta
oportunidade fui convidada para coordenar um
julgamento no Comitê de Bioética. A justificativa da
convocação era a de que minha experiência em
coordenação de Comitê precisava ser transferida para
aquele [Comitê] recém-criado (Depoente 4).
Em retrospectiva, analisando-se a representação da
Enfermagem no momento de sua inserção e sua evolução, evidenciase a atual marca conquistada em diferentes períodos, ou seja, a
posição do CNPq em reconhecer que as representantes da
Enfermagem poderiam e deveriam replicar suas experiências em
outros Comitês. Um espaço de interações e associações entre pares,
representantes de diferentes saberes, mas integrantes de uma
grande área de conhecimento, é permeado por relações de força e
de potencial crítico, reflexivo e argumentativo, num jogo do
diferenciar e igualar ao mesmo tempo.
Na medida em que avançam as práticas interdisciplinares na
saúde, reconhecendo o potencial de força, interdependências e
domínios específicos das diferentes disciplinas ou profissões da
saúde, essa religação de saberes não admite mais a soberania ou
a arrogância de uns sobre outros, e sim atitudes político-sociais na
soma de esforços para conquistas maiores, co-responsabilidade
pelos avanços e necessidades da sociedade demandadas pelo
trabalho do coletivo de pesquisadores da área da saúde2,8.
Além dos avanços em relação às experiências de representação
e coordenação das representantes da Enfermagem, destaca-se,
também, o aumento significativo do número de pesquisadores com
bolsa de produtividade. Em 1991 contávamos com 49 doutores
pesquisadores no sistema do CNPq4. Este número foi aumentando
à medida que as representantes da área insistiam, negociavam e
solicitavam aumento das cotas. Assim é que, em 1998, já
contávamos com 80 cotas (depoente 4). Em 2001, a Enfermagem
estava com 90 cotas (depoente 5). E hoje são 111 doutores
pesquisadores no CA-EF (depoente 6).
Assim como o número de pesquisadores cresceu, maior
ainda foi o crescimento qualitativo, tomando-se em conta que
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 118 - 26.
123
em 1991 era um (1) pesquisador IA; em 1993 eram três (3)
pesquisadores IA. E hoje são nove (9) pesquisadores neste
nível e categoria. A proporção entre pesquisadores que
atingiram o nível mais alto (IA) e o número de pesquisadores
cadastrados (111) ainda não é a ideal, pois aponta para uma
concentração de pesquisadores de categoria/nível 2.
Possivelmente, isto resulta da produtividade dos
pesquisadores, os quais não estão conseguindo manter a
regularidade da publicação de qualidade e, também, não estão
suficientemente envolvidos com a formação de recursos
humanos de pós-graduação (mestrado e doutorado) e de
iniciação científica, para assim atender às exigências do órgão,
para fins de progressão9. Por outro lado, os mecanismos
internos da agência também poderiam estar contribuindo
tanto para um crescimento maior do número de bolsas de
produtividade concedidas como para progressão dos próprios
pesquisadores nos níveis/categorias do órgão.
Registramos ainda como avanço a mobilização feita junto
ao CA-MS, no sentido de conquistar a criação de mais dois
novos Comitês, um para a Enfermagem e outro para a
Odontologia, o que aconteceu em 2005. Assim:
Ao perceber a já expressiva demanda de projetos e as
dificuldades na partilha das quotas entre as subáreas
no CA-MS, sondou-se junto à equipe técnica a
viabilidade de infra-estrutura interna para a criação de
novos comitês. Assim, partiu-se para a mobilização
desta idéia mediante a elaboração de uma carta junto
com a Coordenadora do CA-MS, representante da
Odontologia, no último dia da reunião de trabalho, ou
seja, em 11 de março de 2005. Esta carta foi assinada
por nós duas e enviada ao Presidente. Também nesta
ocasião, fizemos uma reunião com diretores expondo
... nossas necessidades, sendo amplamente apoiadas.
A expectativa era pela criação de mais dois Comitês.
Em maio, por ocasião da análise dos processos para
reclassificação dos PQ [bolsas de produtividade],
apresentamos critérios de análise já específicos para
cada área: Odontologia, Enfermagem, e demais áreas.
Embora o número de bolsistas de Produtividade da
Odontologia e Enfermagem sejam bastante próximos,
de 136 e 111 [respectivamente], há significativa
diferença na média da pontuação dos currículos, o que
é resultado de publicações em periódicos mais
qualificados, que possibilitou à Odontologia criar
critérios levando em conta o índice de impacto dos
periódicos. A área da Enfermagem ainda não possui
este perfil de publicações internacionais e consolidação
como ciência e tecnologia. Assim, em julho de 2005 é
criado um novo comitê CA-Odontologia, o que liberou
espaço no CA-MS na competitividade das quotas e, do
mesmo modo, propiciou um destaque para a
Enfermagem no comitê em que permanece abrindo
caminho para novas tentativas de emancipação na luta
por um CA [da] Enfermagem (Depoente 6).
A pesquisa tem sido uma área de contínuo crescimento e
investimento por parte da Enfermagem Brasileira. O caminho
124
percorrido até o patamar atual foi longo e muito difícil. O
Primeiro Congresso Brasileiro de Enfermagem (I CBEn),
realizado em 1947, recomendou que as Enfermeiras se
iniciassem na pesquisa. Em 1964, o tema central do XIV CBEn
foi “Enfermagem e Pesquisa”, por sugestão da coordenadora
da Comissão de Temas, Profa. Dra. Maria Ivete Ribeiro de Oliveira,
da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia,
de saudosa memória8.
A partir do ingresso da Enfermagem no Sistema Nacional
de Pós-graduação, a pesquisa tomou vulto com o início do seu
primeiro curso de mestrado em 1972, na Escola de
Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Paralelo a isto, outras Instituições criaram os seus
cursos de pós-graduação stricto sensu. Hoje, A Enfermagem
conta com 29 Programas de Pós-Graduação em Enfermagem
no país, dos quais doze possuem o nível de doutorado10.
Os avanços são percebidos nos Programas de PósGraduação, considerados os maiores centros de produção de
conhecimento científico, cuja prática de pesquisa em
Enfermagem tem crescido qualitativa e quantitativamente. O
aumento do número de Programas, bem como do volume e
qualidade das publicações leva a um maior interesse pela
pesquisa e busca de fomento. A demanda cada vez maior de
solicitações de apoio do CNPq é resposta à necessidade de
intensificar a produção de conhecimento nos Programas de
Pós-Graduação, bem como de obter bolsas de formação
(Mestrado, Doutorado, Pós-doutorado, Doutorado
Sanduíche) e bolsas de iniciação científica e apoio técnico
para os projetos de pesquisa dos doutores pesquisadores.
D) A EXPERIÊNCIA DE SER REPRESENTANTE é
mostrada nos depoimentos a seguir:
A experiência de ser representante teve aspectos bons
e outros limitantes. Os positivos são relacionados à
oportunidade de conhecer líderes e a produção de
conhecimentos da área de Enfermagem no território
brasileiro (Depoente 3).
A prática de análise de projetos ou de solicitações
demandadas ao órgão propicia uma visão geral dos
pesquisadores da área, do perfil de produtividade dos mesmos,
das tendências de temáticas e métodos investigados, dos
produtos obtidos e de sua distribuição nas diferentes regiões
do país, bem como dos vazios e impropriedades encontradas11.
Outro aspecto foi a oportunidade e prazer em pensar
as questões acadêmicas com maior responsabilidade,
o que foi enriquecido pela troca de experiência com
colegas consultores Ad Hoc (Depoente 3).
O aprendizado na leitura dos pareceres dos consultores
ad hoc e seu confronto com as propostas analisadas é impar,
motivante e desafiante, abrindo para a busca de inovações e
diversidades de olhares na construção de conhecimentos da
área:
Outro fato foi vivenciar um momento de crescimento
dos pesquisadores e da área, incentivando o aumento
da demanda, numa época em que tínhamos mais
Enfermagem no CNPq: história segundo representantes da área
Erdmann AL et al
liberdade pessoal para julgar segundo critérios
qualitativos, e não apenas quantitativos (Depoente 3).
O domínio dos critérios de análise, no sentido de julgar o
mais corretamente possível os pedidos de fomento, passa
pela estrutura definida de caráter quantitativo, somando-se
aos aspectos qualitativos. Todavia, os aspectos quantitativos
determinam os pontos de corte. Assim, quer qualitativo,
quer quantitativo, após atender os critérios legais técnicos, o
mérito referente ao conteúdo, pertinência, coerência e
sustentabilidade da proposta e a capacidade produtiva do
proponente, busca-se cercar a viabilidade da proposta com
condições que assegurem a possibilidade de retorno
significativo para a sociedade. Trata-se, portanto, de um
exercício atentivo de análise de solicitações dentro da área
com um olhar para as demais áreas que compartilham o
Comitê. Esta é uma liderança de autonomia relativa e
compartilhada. Assim:
Os pontos limitantes foram mais relacionados ao
pequeno número de bolsas em relação à oferta,
resultando em situação dramática para a inserção dos
novos doutores. Esses, muitas vezes com grande
potencial para a pesquisa, tinham que ser preteridos
em função de seus próprios orientadores, muitas vezes
pessoas brilhantes, continuamente convidadas para
falar em eventos (Depoente 3).
Não há dúvida que o potencial para a pesquisa cresce numa
proporção muito maior do que a oferta de cotas para atender a
demanda. A qualidade das propostas analisadas e a produção
mais qualificada dos pesquisadores da área são uma realidade:
A experiência como pessoa e como profissional
considero excelente, apesar das reclamações dos pares
que solicitavam bolsas e não conseguiam. É um
aprendizado ímpar. Na verdade, a demanda sempre foi
maior que as cotas destinadas para a área. Sempre
entendi a representação como uma maneira de mostrar
que a Enfermagem existe como profissão caminhando
para a Ciência. Das conquistas, consegui, embora um
pequeno número, aumento das cotas. E acredito que a
demanda aumentou também. Além da divulgação da
área que sempre procurei fazer e auxiliar ao máximo a
quem gostaria de pedir PQ. Durante o mandato, três
presidentes passaram pelo CNPq; o primeiro, o Prof.
Tundizi (da UFSC/São Carlos), aumentou nossas cotas
e nos entendeu, ou melhor, compreendeu o que é a
Enfermagem e parecia gostar de conversar conosco
sobre a nossa profissão (Depoente 5).
A necessidade de conviver com as insatisfações de quem
não teve suas solicitações contempladas leva a um sentimento
de serenidade pela consciência dos limites existentes, e, ao
mesmo tempo, vislumbram-se outras possibilidades de
demanda em órgãos de fomento ou fontes de recursos que
pouco tem sido explorados.
Existe o reconhecimento de que a produção de
conhecimentos necessariamente requer recursos financeiros,
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 118 - 26.
125
Enfermagem no CNPq: história segundo representantes da área
Erdmann AL et al
humanos, físicos, materiais, logísticos, políticos e outros. A
competitividade leva à busca de múltiplas tentativas. E este é
um fenômeno que se dá em todas as áreas de conhecimento que,
desde logo, marcaram presença em outras agências com a mesma
força que se mostrou no CNPq. Parece que a Enfermagem
Brasileira carece agora desta compreensão e de mais
assertividade na busca de outras alternativas a serem exploradas
simultaneamente com as propostas submetidas ao CNPq.
A experiência vivenciada, ao atuar no órgão exercendo
o papel de representante, avaliando os processos e os
pareceres ad hoc e, ao mesmo tempo, interagindo com
os pares que submetiam projetos, nos permitiu uma
visão mais abrangente da situação da Enfermagem, de
sua evolução, de suas perspectivas e limitações. Se os
representantes muito bem convenceram a comunidade
sobre a importância de ter sempre uma demanda
elevada, precisam agora atuar no sentido de busca de
espaços tanto para representação da Enfermagem em
outros órgãos (Fundações de Apoio à Pesquisa em cada
Estado, por exemplo), como de direcionamento de
projetos demandando recursos em outras fontes. A
capacidade de crescimento do CNPq é limitada para
todas as áreas. Devemos manter nossa presença, buscar
sempre a melhoria do perfil científico dos pesquisadores
e da qualidade dos projetos, mas urge que outros
espaços sejam também conquistados, para garantia de
recursos à pesquisa e à transferência dos resultados
aos serviços (Depoente 4).
A análise da Enfermagem pelas agências, como profissão
e ciência, revela algumas conquistas, aumento da
demanda de doutores. Porém, é preciso avaliar o real
significado que tem para agências, aquilo que
consideramos “conquistas”. E é preciso avaliar o real
significado para a sociedade. Que conhecimentos foram
caracterizados, aprofundados, resultando em melhores
condições para os sujeitos de nossas ações? Acredito
que temos grande potencial para direcionarmos melhor
nosso trabalho para adquirir conhecimentos que
beneficiem mais objetivamente a sociedade e identificar
focos de interesse. Por exemplo, tenho certeza que, se
um grande contingente da Enfermagem estivesse voltado
para buscar conhecimentos que melhorassem a qualidade
de vida e atenção dos portadores de problemas
oncológicos, certamente seríamos muito respeitadas.
Referências
1. Méis L. O perfil da ciência brasileira. Rio de Janeiro (RJ):
UFRJ; 1996.
2. Leite JL, Mendes IAC. Pesquisa em enfermagem e seu espaço no
CNPq. Esc Anna Nery Rev Enferm 2000 dez; 4(3): 389-94.
3. Wright MGM. A imagem do enfermeiro e da profissão de enfermagem
veiculada ao público. Anais do 1º Simpósio Brasileiro de Comunicação
em Enfermagem-SIBRACEn 1988 maio 2-4; Ribeirão Preto(SP). Brasil.
Ribeirão Preto (SP); 1988. p. 525-601.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 118 - 26.
Muitas de nossas pesquisas não vêm sendo bem
compreendidas, e, se quisermos defendê-las, precisamos
dar respostas bem fundamentadas, seja qual for o
referencial teórico-metodológico, etc, etc (Depoente 3).
Assim como as enfermeiras cresceram em qualidade e
quantidade na prática investigativa, por outro lado, vazios de
conhecimentos são perceptíveis, e as cobranças também são
freqüentes. O impacto do que produzimos requer uma constatação
mais precisa, como também a necessidade de dar conta das
prioridades da saúde, de produtos tecnológicos que propiciem
uma resposta mais incisiva na melhoria da qualidade de vida, e
mesmo de inovação que dê retorno econômico mais expressivo.
O benefício econômico e social dos conhecimentos produzidos e
aplicados na prática da Enfermagem é ainda um desafio para os
gerentes das práticas investigativas na área da Enfermagem.
Estes depoimentos mostram alguns aspectos relativos às
vivências e experiências das representantes na sua representação,
bem como as perspectivas de mudança que nos apontam.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As informações descritas possibilitaram, de certo modo,
mostrar a importância e a evolução da Enfermagem como
ciência e tecnologia e, ainda, a importância do fomento para
viabilização das pesquisas, o estímulo ao incremento da
pesquisa, os avanços na produção de conhecimentos, os
desafios enfrentados e as perspectivas como possibilidades
para o fortalecimento e consolidação da Enfermagem11. O
desenvolvimento da pesquisa é uma importante estratégia para
o fortalecimento da Enfermagem como ciência e profissão. E o
CNPq é um importante órgão de fomento às políticas para o
avanço da Enfermagem.
Neste estudo, vimos que as profissões de saúde possuem
algum tipo de identidade coletiva, e existem peculiaridades
que pertencem a uma distinta categoria profissional. Os
comportamentos, os conhecimentos e as práticas próprias de
cada categoria revelam uma cultura profissional específica.
Neste sentido, percebe-se que as relações não estão expressas
objetivamente. Elas são intersubjetivas, perpassando nas
entrelinhas das relações por meio de expressões que não são
mensuráveis, nem essencialmente abstratas12.
Desta forma, este estudo traz dados sobre a presença da
representação da Enfermagem no CNPq, que vem fazendo parte
da História da Enfermagem Brasileira.
4. Barreira IA. A pesquisa em enfermagem no Brasil e sua posição
em Agência Federal de Fomento. Rev Latino- Am Enfermagem
1993 jan; 1(1):51-7
5. Leite JL, Mendes IAC, Felli VE, Trezza MCF, Santos RM. Os projetos
de pesquisa de enfermagem no CNPq: seu percurso, suas
temáticas e suas aderências 1988-2000. Rev Bras Enferm 2001
jan/mar; 54(1): 81- 97.
6. Ministério da Ciência e Tecnologia (BR). Informativo Eletrônico
do Comitê Assessor de Enfermagem-CNPq/CA-Enf.[on-line] 2006
dez; 5(2).[citado jun 2005]. Disponível em: http://www.cnpq.br.
126
7. Ministerio de Ciência e Tecnologia (BR). Conselho Nacional de
Pesquisa.[on-line] [citado jun 2005]. Disponível em: http://
www.cnpq.br
8. Mendes IAC, Leite JL, Trevizan MA, Santos RM. Classificação dos
pesquisadores/consultores da área de enfermagem no CNPq:
contribuição para um banco de dados. Rev Bras Enferm 2003 set/
out; 56(5): 488-93
9. Gutierrez MGR, Leite JL, Erdmann AL, Pagliuca LMF. Os múltiplos
problemas pesquisados e a pesquisar na enfermagem. Rev Bras
Enferm 2002; 55(5): 535-41
10. Erdmann AL, Rodrigues RP, Silva IA, Fernandes JD, Santos RS,
Araújo TL. A formação de doutores em enfermagem no Brasil.
Texto&Contexto Enferm 2002;11(2): 66-76
11. Mendes IAC. Pesquisa em enfermagem: impacto na prática. São
Paulo(SP): EDUSP; 1991.
12. Prochnow AG, Leite JL, Erdmann AL. Teoria interpretativa de Geertz
e a gerência do cuidado: visualizando a prática social do enfermeiro.
Rev Latino-Am Enfermagem 2005 jul/ago;13(4): 583-90.
Enfermagem no CNPq: história segundo representantes da área
Erdmann AL et al
Sobre as Autoras
Alacoque Lorenzini Erdmann
Enfermeira. Professora Titular e Coordenadora do GEPADES / UFSC.
Representante da área de Enfermagem no CNPq Gestão 2004-2007.
Coordenadora do Comitê Multidisciplinar de Saúde 2005 a 2006 e do
Comitê Assessor de Enfermagem 2006 a 2007. Pesquisadora 1A /
CNPq. E-mail alacoque@newsite.com.br.
Isabel Amélia Costa Mendes
Enfermeira Professora Titular da Escola de Enfermagem de Ribeirão
Preto / USP - Centro Colaborador da Organização Mundial de Saúde
para a Pesquisa em Enfermagem. Representante da área de Enfermagem
no CNPq e Coordenadora do Comitê Assessor Multidisciplinar de Saúde
gestão 1995 a 1998; e 2001 a 2004. Pesquisadora 1A / CNPq.
Joséte Luzia Leite
Enfermeira aposentada. Professora Titular e Professora Emérita / UNIRIO.
Membro da Diretoria do Núcleo de Pesquisa, Gerência, Exercício
Profissional da Enfermagem (GESTÃO da EEAN).Ex-representante da
área de Enfermagem no CNPq Gestão 1998 a 2001. Diretora do CEPEn
/ ABEn Nacional. Pesquisadora 1A / CNPq. E-mail joluzia@gmail.com.br.
Recebido em 25/05/2006
Reapresentado em 05/02/2007
Aprovado em 02/03/2007
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 118 - 26.
127
Á PProcura
rocura do Sujeito e as Sujeições do TTrabalhador
rabalhador
Vargas MA et al
ENSAIO
ESSAY - ENSAYO
À PROCURA DO SUJEITO NO/DO TRABALHO DE ENFERMAGEM: O
ACONTECIMENTO “FOUCAULTIANO” E AS
SUJEIÇÕES DO TRABALHADOR
The subject search at and of the nursing work:
The Foucaul’s event and the worker’s subjections
La procura del sujeto en/del trabajo de enfermería:
El acontecimiento “Foucaultiano” y las sujeciones del trabajador
Mara Ambrosina Vargas
Joel Rolim Mancia
Flávia Regina Souza Ramos
Denise Pires
Resumo
O ensaio reflexivo aborda o sujeito no/do trabalho em Enfermagem, tendo como suporte teórico o conceito de acontecimento
em Foucault. Descreve e analisa quatro acontecimentos que podem sintetizar algumas das problemáticas da Enfermagem
contemporânea, a saber: diferenças de realidade, hibridismo humano-máquina, rede de relações e processo de construção do
conhecimento científico. Constata que as atuais sujeições do trabalhador mostram-se muito mais complexas, o que inviabiliza
entender a questão da subjetividade do trabalhador em Enfermagem somente a partir da noção de sujeições econômicas.
Porém, sinaliza que, mesmo não escapando de determinados modos de sujeição do presente, há espaços produtivos de
desafios, lutas, portanto de liberdade para repensar o trabalho na Enfermagem.
Pala
vr
as-c
ha
alavr
vras-c
as-cha
havve: Trabalho.
Enfermagem. Trabalhadores.
Abstract
The reflexive essay approaches the subject at/of nursing
work, grounded by the Foucault´s theoretical concept of
event. It describes and analyzes four events that can
synthesize some of the contemporary nursing problems,
that is: different realities, man-machine hybridism, net of
relations, and the process of construction of the scientific
knowledge. It finds out that the current subjections of the
nursing worker are much more complex, what makes
impracticable to understand the subjectivity of the nurse
considering only the notion of economic subjections.
However, it indicates that, even not escaping from certain
ways of subjection existing nowadays, there are some
productive spaces proper for challenges, fights, and that
offer the freedom required to rethink the nursing work.
K eyw
or
ds: Work. Nursing. Workers.
ywor
ords:
Esc Anna
Enferm
2007
mar; 11 (1): 127 - 32.
Esc Anna Nery R Enferm
2007 Nery
mar; R11
(1): 127
- 32.
Resumen
El ensayo reflexivo aborda al sujeto en el/del trabajo en
enfermería, tiene como soporte teórico el concepto de suceso
en Foucault. Describe y analiza cuatro sucesos que pueden
sintetizar algunas de las problemáticas de la enfermería
contemporánea, como por ejemplo: diferencias de realidad,
hibridismo humano máquina, red de relaciones y proceso de
construcción del conocimiento científico. Constata que las
actuales sujeciones del trabajador se muestran mucho más
complejas, lo que hace inviable entender la cuestión de la
subjetividad del trabajador en enfermería solamente a partir
de la noción de sujeciones económicas. Sin embargo, señala
que, aunque no escape de determinados modos de sujeción
del presente, hay espacios productivos de desafíos, luchas
Pala
br
as ccla
la
alabr
bras
lavve: Trabajo. Enfermería. Trabajadores.
128
Á PProcura
rocura do Sujeito e as Sujeições do TTrabalhador
rabalhador
Vargas MA et al
Quando Alice está na casa do rei, ele pergunta para ela:
- Será que você pode dar uma olhada na janela e ver se
meu mensageiro está chegando?
Alice olha pela janela e diz: - Ninguém vem lá.
- Meu Deus! Que menina! Que olhos! Puxa vida, os
meus olhos, no máximo conseguem ver alguém. Você
consegue ver ninguém! Gente, que coisa maravilhosa!
- Em que sentido o senhor está falando?
Então o mensageiro chega e o Rei pergunta para ele:Você chegou primeiro que ninguém?
- Claro! Eu sou mais rápido que ninguém.
- Não! Ninguém é mais rápido que você, porque ele veio
na sua frente.
- Mas ninguém veio na minha frente!
- Mas como ninguém veio na sua frente se você é mais
rápido do que ninguém? Ninguém deveria ter chegado
antes!
- Sim! Ninguém chegou antes, porque eu sou mais rápido
do que ninguém.
- Não, você não me entendeu. Ninguém é que deveria
ter chegado antes...
- Não é possível...(1: 62)
QUEM VEM LÁ?
Independente de ser ninguém ou alguém, pode-se dizer
que tanto Alice como o Mensageiro “entendem” o mundo de
modo diferente do Rei. Para Alice e o Mensageiro ninguém é
ninguém; para o Rei, ninguém é alguém. Alice e o Mensageiro
olham o que é possível olhar em determinada época e lugar; o
Rei mesmo olhando o mundo através dos olhos de Alice e do
Mensageiro, concebe ver ninguém. O Rei não vê ninguém, mas
se regozija com a possibilidade de ninguém vir lá; Alice e o
Mensageiro olham ninguém, mas não o percebem. Por analogia,
na medida em que, atualmente, percebemos que o sujeito do/
no trabalho em Enfermagem se insurge como um acontecimento
mergulhado em processos complexos que o constitui, acabamos
por perguntar repetidas vezes, quem vem lá? Do que fala o Rei
quando o mesmo indaga quem vem lá e, ao mesmo tempo,
entende que é possível ninguém chegar na frente de alguém?
Muito simples, o Rei não fala somente de alguém – um
deter minado modo de trabalho –, fala de ninguém
concomitante a alguém – em outros modos de trabalhar. Em
suma, fala de um acontecimento como uma força que perturba
os modos habituais de olhar o que somos e o mundo em que
vivemos. Mas lembrem-se...
Por mais que diga o que vê, o que se vê não se aloja
jamais no que se diz e por mais que se faça ver o que
se está dizendo por imagens, metáforas,
comparações, o lugar onde estas resplandecem não
é aquele que os olhos descortinam, mas aqueles
que as sucessões da sintaxe define.(2:25)
Logo, neste ensaio reflexivo, escreve-se uma das versões
possíveis de se dizer do trabalho e do sujeito do trabalho em
Enfermagem. Para tanto, em um primeiro momento descrevemse quatro acontecimentos que podem sintetizar algumas das
problemáticas da Enfermagem contemporânea. O
acontecimento é problemático. Um acontecimento é, sempre,
uma singular ruptura com as racionalidades vigentes e uma
problematização da atualidade. Ele - o acontecimento - opera
por multiplicidades entrelaçadas, mesmo que aparentemente
distinto, provocando o pensamento e questionando
evidências(3,4). Diante do acontecimento, não reagimos com
placidez, mas com perplexidade, tal como a do rei: Gente,
que coisa maravilhosa!
Concomitante a isto, busca-se vislumbrar algumas das
diferentes formas de sujeição do presente para além da sujeição
econômica, já tão bem explorada na vertente marxista. Mas
convém explicitar que não são consideradas, aqui, tais sujeições
do presente como algo negativo e alienante; pelo contrário, a
idéia é sinalizar, criticamente, o que cada uma tem de produtivo,
criativo, formativo e impactante sobre nós sujeitos
trabalhadores da Enfermagem.
UMA DESCRIÇÃO DOS ACONTECIMENTOS
Acontecimento número 1: buscando analisar aquilo que se
pode chamar de diferenças de realidade, este acontecimento
reporta a dois trabalhos que discutiram o entendimento das
Agentes Comunitárias de Saúde (ACS). O primeiro(5) – inserido
em um Projeto de Educação Continuada a partir de um convênio
da Faculdade de Educação/UFRGS com a Secretaria da Saúde
e Meio Ambiente de Porto Alegre, direcionado aos Postos de
Saúde do município e creches credenciadas – abordou as
concepções de saúde, família saudável e criança saudável, a
partir das próprias necessidades levantadas pelas agentes
comunitárias. Ou seja, na medida em que muitas vezes há
diferenças entre os conceitos veiculados pelo programa global
(Programa de Saúde da Família) e a realidade social em que
as agentes estavam inseridas, as ACS expressaram suas
limitações e dificuldades em abordarem questões relativas ao
tema nas suas visitas domiciliares. A partir daí, desenvolveuse uma atividade-oficina, fundamentada na visão que considera
o sujeito constituído por sua inserção em um grupo social onde
lida com diferentes tipos de conhecimentos, produzidos a partir
de idéias, valores e crenças, os quais estruturam as influências
sócio-culturais que acabam por definir sua vivência. Portanto,
para estas ACS, articular a questão da igualdade de direitos e,
ao mesmo tempo, contemplar as diferenças se constituía como
um dos grandes desafios. O segundo(6) – constituído como
parte de uma pesquisa financiada com recursos da Coordenação
Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e AIDS,
Ministério da Saúde e da UNESCO, no âmbito do Edital de
seleção de pesquisas científicas e tecnológicas em DST/HIV/
AIDS – 2001-2002 – dirigiu o seu foco para os anúncios
institucionais de saúde. Mais especificamente, foi apresentado
o entendimento de que as ACS do PSF de Porto Alegre/RS
fizeram relativamente a apresentação de cinco anúncios
televisivos de campanhas nacionais de prevenção ao HIV/AIDS
a elas apresentados. Deste modo, ao mostrarem como ‘as
realidades’ enunciadas pelas ACS foram-se construindo em
oposição a uma outra apresentada nas mídias, afirmaram que
as ACS produziram um certo repertório (convergente) de
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 127 - 32.
Á PProcura
rocura do Sujeito e as Sujeições do TTrabalhador
rabalhador
Vargas MA et al
interpretação dos anúncios, que construíram a partir de suas
vivências, dos discursos que as atravessam (senso-comum e
biomédico) e, particularmente, da experiência cotidiana de
serem telespectadores (discurso midiático, em especial o
televisivo). Essa convergência pode ser expressa em um
enunciado – os anúncios televisivos das campanhas oficiais
de prevenção ao HIV/AIDS deveriam mostrar uma realidade
mais próxima da nossa –, que, embora não seja a fala de
alguém em particular, procura mostrar um certo dito que
atravessou praticamente todas as manifestações das ACS.
Por tanto, foi considerado importantíssimo que as ACS
avaliassem, criticassem e dessem sugestões quanto ao modo
como esses anúncios deveriam ser, precisamente porque elas
vêm de um segmento profissional que, no organograma do
PSF, estabelece uma ‘ponte’ entre a comunidade e os saberes
médicos que precisam ser aprendidos e seguidos na direção
de se ter e manter a saúde. Assim, são profissionais
posicionados (e que se posicionam) como aqueles que são
capazes de fazer uma mediação entre comunidade e
saberes médicos, bem como fazer visitas freqüentes às
residências em sua região de atuação, exercendo, entre
outras, a função educativa.
Acontecimento número 2: para contemplar a problemática
das possíveis noções de corpo e de sujeito, foi selecionada
uma investigação (7) que – com base nos pressupostos teóricos
do pós-estruturalismo – discutiu um processo de ciborguização
da profissional enfermeira, isto é o hibridismo humanomáquina. Para tanto, utilizou como lócus de análise a unidade
de terapia intensiva, justamente por ser um espaço
amplamente mediado por máquinas produzidas pela indústria
da bioeletrônica, tecnobiomedicina e tecnologia da informação.
Entre as lições de terapia intensiva, discutidas neste estudo,
optou-se por descrever, aqui, duas lições. A primeira lição,
denominada “Uma UTI móvel em ação...”, compreendeu as
enfermeiras intensivistas como usuárias de um programa de
computador, estabelecendo contatos mediados e, porque
mediados pelas tecnologias da informação, imediatos. Deste
modo, para a enfermeira seguir passo a passo as orientações
dos algoritmos de uma parada cardiorrespiratória, ela
necessita estar em composição com a máquina. Foi
argumentado que é a intensificação das nossas interações
perceptivas e motoras com o meio, mediadas com tecnologias
comunicacionais e por sistemas de processamento de
informações, que nos possibilita agir imediatamente, nas
situações que se configuram como emergências nesse contexto.
A segunda lição, intitulada de “Imagens de corpos doentes”,
explorou algumas das imagens de corpo doente que povoam
e, por isso, constituem o ambiente de terapia intensiva. Essas
imagens foram tratadas como um texto que deve ser lido pela
enfermeira, e não como algo a ser contemplado. Logo, ao
assumir o pressuposto de que o que se vê é o que se aprende
a ver, procurou demonstrar que olhar essas imagens envolve
um duplo aprendizado: aprende-se a operar com e a partir das
imagens e aprende-se a olhar com elas; tomam-se decisões
apoiadas no conhecimento extraído dessas imagens. Por
conseguinte, enfermeiras intensivistas contam com aparelhos
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 127 - 32.
129
capazes de ler o corpo e de traduzir o seu interior em texto e
imagem que pedem interpretações especializadas. Ao funcionar
desse modo, esse acoplamento do humano com a máquina
produz realidades corporais. Assim, devemos nos tornar
responsáveis pelo que aprendemos a ver. Nesta direção, não se
deveria pensar de forma separada e estanque em equipamentos
disponibilizados pela indústria da tecnobiomedina, em
enfermeiras cuidando de seus/suas pacientes na UTI e na
informação gerada a partir desses equipamentos e suas
implicações no tratar/cuidar desses/as pacientes; é necessário
e pertinente visualizar e problematizar toda essa rede de
relações como instâncias de produção e disseminação de
sentidos sobre o corpo, o sujeito, a vida, o cuidado, etc... Em
suma, não é mais possível separar o sujeito enfermeira, que é
corpo, do sujeito enfermeira que pensa e age com a máquina.
É um/a profissional que aprende a estar com a máquina: um
profissional ciborgue. A sua conexão com a máquina é a ação
específica. Fora dessa relação, nada sobra ou sobra outra coisa.
No corpo-profissional ocorre, pois, uma transformação do
próprio corpo, possibilitando que tecnologia e corpo atuem de
forma concomitante. Essa concomitância não é a preservação
do eu ou do outro, mas outro corpo que opera, e somente se
manifesta, em conexão, combinação ou em composição, juntando
em um mesmo corpo máquina e profissional. Sendo assim,
procurou-se evidenciar que as lições de tecnologia no contexto
de saúde e a maneira como tem sido tratada pelas/o estudiosas/
os da área do intensivismo contrastam com o consumo e a
conversão dos/as profissionais em híbridos humanos-máquinas.
Acontecimento número 3: Em julho de 2005, ocorreu um
Seminário, promovido pela Associação Brasileira de
Enfermagem/RS e pelo Grupo de Enfermagem do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre, intitulado Acolhimento e cuidado nas
práticas educativo-assistenciais de saúde. Após a palestra houve
um debate com a platéia, no qual uma das participantes afirmou
a dificuldade ainda encontrada pela equipe de profissionais de
Enfermagem em otimizar a proposta de acolhimento, na medida
em que alguns ser viços não estavam adequadamente
conectados a este rede de relações, desencadeando em tais
profissionais, muitas vezes, sentimentos de insuficiência diante
da demanda apresentada. Diante deste fato, esta participante
reiterou que se faziam necessárias reuniões, e reuniões com
esta mesma equipe, sempre com a finalidade de promover
ajustes e aplacar anseios. Portanto, para deflagrar essa
discussão, tomar-se-á o artigo do palestrante8, no qual analisa
o discurso sobre a humanização e o acolhimento nas práticas
de saúde, mais especificadamente hospitalar, veiculado e
incentivado pelo Ministério da Saúde (MS) referentes ao
Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar
(PNHAH). Neste artigo, o autor refere-se às análises prévias
de Deslandes sobre os sentidos da humanização encontrados
nos documentos do MS. Ou seja, tais sentidos convergem para
uma mesma grande questão: relações entre profissionais,
relações entre usuários/profissionais (campo das interações
face-a-face) e relações entre hospital e comunidade (campo
das interações sociocomunitárias). Mesmo que para ele, e
para outros/as autores/as, advenha o sentimento de satisfação
130
– na medida em que seja este o discurso já encontradiço em
documentos oficiais, não se tratando, portanto, de levantar
nenhuma divergência de fundo com essa posição oficial –, há
uma compreensão da necessidade de nuançar diferenças por
vezes bastante sutis, mas capazes de conduzir a questões e
encaminhamentos diversos da mesma temática de preocupação.
Nessa direção, indaga: como ampliar a capacidade ou
simplesmente capacitar os profissionais de saúde para
compreender as demandas e expectativas do público, para
serem mais respeitosos e menos violentos na prestação de
cuidados? Posta a questão, considera duas ordens de
reducionismos: a idéia de “capacitar para” pode induzir a uma
busca de soluções para o problema exclusivamente centrado
na “formação” dos profissionais; a idéia do exclusivo
centramento da solução nos “profissionais”, ao se reconhecer
que gestores e formadores no campo da saúde só poderiam
mesmo interferir neste pólo da problemática relacional. Outro
aspecto referido pelo autor, diz respeito à proposição da
competência do “sábio”, levando-nos a meditar sobre o alcance
desse modo de pensar (e agir) nas práticas de saúde, quando
lembra, por exemplo, do lugar ocupado na atualidade pelos
“especialistas”. De outro modo, o autor propõe tratar as redes
de serviços de saúde como grandes redes de conversações, ao
mesmo tempo em que enfatiza a necessidade de uma dada
técnica de conversa, convencido de que se trata de uma resposta
adequada aos problemas, hoje intensamente discutidos, do
acolhimento e do vínculo nos serviços de saúde. Afastando-se
das soluções mais freqüentes que tendem a tratar o acolhimento
como uma atividade (de recepção nos serviços) desempenhada
por um profissional particular em um espaço específico, o
acolhimento é proposto como um acolhimento dialogado, isto
é, como uma técnica de conversa passível de ser operada por
qualquer profissional, em qualquer momento de atendimento,
isto é, em qualquer dos encontros, que são, enfim, os “nós”
dessa imensa rede de conversações que são os serviços. E o
que caracterizaria essa técnica de conversa? Em primeiro, o
acolhimento dialogado seria o modo como esta técnica de
conversa define a dimensão pragmática do encontro, os domínios
da ação e de significação (linguagem, conhecimento). Em
segundo, seria uma técnica de conversa de apoio ao processo de
conhecimento das necessidades: o reconhecimento do outro como
um legítimo outro; o reconhecimento de cada um como insuficiente;
o reconhecimento de que o sentido de uma situação é fabricado
pelo conjunto dos saberes presentes e, por fim, o reconhecimento
da assimetria constitutiva deste encontro, em que uma das partes
está em busca de uma satisfação de necessidades, enquanto a
outra é presumida a deter os meios de satisfazê-la.
Acontecimento número 4: para o último acontecimento
articularam-se dois textos – um artigo (9) e um editorial (10) –
buscando explorar o que eles têm em comum. Na verdade, o
artigo discorre acerca do processo de cientifização da profissão
e a necessária emergência de uma nova categoria de enfermeiro
pesquisador. Já, o editorial traz à tona o desafio atual da
Enfermagem brasileira de proliferar/impactar a sua produção
científica a nível mundial. Portanto, a discussão, aqui, atémse ao que se denominou de “processo de construção do
Á PProcura
rocura do Sujeito e as Sujeições do TTrabalhador
rabalhador
Vargas MA et al
conhecimento científico: espaço de lutas e visibilidades
possíveis”. No artigo (9:296), é referido que, no interior do campo
universitário, a capacidade de gerar conhecimentos é decisiva
na luta pelo poder de fazer ver e fazer crer, acirrando-se a
competição entre os grupos de interesse, com vistas ao controle
das atividades de pesquisa aí desenvolvidas e do julgamento
de seu mérito, tanto para fins de financiamento como para fins
de publicação. Assim, as posições ocupadas no interior de um
campo científico são o resultado de jogos aí disputados por
atores sociais detentores de projetos que lutam por uma
legitimação da sua visão de mundo, isto é, pela aceitação por
todos (ou por quase todos) da evidência de seus enunciados.
Ademais, o advento dos cursos de mestrado e de doutorado
trouxe à Enfermagem visibilidade nas agências federais de
fomento. Além disso, a preocupação com a dispersão temática
da produção científica da área, muitas vezes realizada por um
único pesquisador, cuja produção não apresentava
características de continuidade e consistência, através de
reuniões dos programas de pós-graduação em Enfermagem,
levou-nos, atualmente, ao entendimento do que pode ser uma
linha de pesquisa consolidada. Tal linha apresenta-se sob a
forma de uma sucessão de projetos, desenvolvidos por um grupo
de pessoas com vários níveis de qualificação e de experiência,
que se organiza em torno de certas questões de determinada
área do saber, e que se constitui para atender a uma
necessidade social, mediante um trabalho coletivo,
institucionalizado e apoiado por uma ou mais agências de
fomento. No editorial(10:285), é acirrada a discussão em torno
do pressuposto que, se o país consolida sua base científica,
forma/habilita pesquisadores capacitados para solucionar
problemas nacionais e regionais. E, com a estruturação de
linhas de pesquisa autóctones, tornam-se multiplicadores na
formação de novos pesquisadores e a produção originada deve
ser referendada por avaliadores externos do contexto nacional
e internacional. A nível mundial, pode-se dizer que, atualmente,
a forma mais importante de divulgação da produção do
conhecimento científico dá-se através dos artigos publicados
em revistas científicas indexadas no ISI (Institute for Scientific
Information). Ou seja, o prestígio da revista está relacionado
à qualidade de arbitragem; a qualidade dos artigos publicados
e a visibilidade da publicação (conseguida pelas indexações
nas bases de dados e pelo fator de impacto). Só as revistas
indexadas no ISI são consideradas para o cálculo do fator de
impacto. Portanto, o fator de impacto passou a ser utilizado
pela maioria dos pesquisadores, instituições de ensino e
pesquisa e agências financiadoras de pesquisa e pós-graduação,
particularmente pela Capes e pelo CNPq. O ISI indexa,
aproximadamente, 16 mil periódicos em mais de 160 áreas de
conhecimento. Dentre estes, estão 31 revistas de Enfermagem.
Deste modo, apenas 0,44% das revistas científicas indexadas
no ISI é da área da Enfermagem, sendo a maioria delas de
origem anglosaxônica e norte-americana, e nenhuma revista
de Enfermagem da América Latina conseguiu ainda ser
indexada na referida base de dados. Assim, constata-se
que a produção científica da Enfermagem tem pouca
visibilidade internacional.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 127 - 32.
131
Á PProcura
rocura do Sujeito e as Sujeições do TTrabalhador
rabalhador
Vargas MA et al
DA SUJEIÇÃO ECONÔMICA ÀS SUJEIÇÕES
DO PRESENTE: ALGUMAS POSSIBILIDADES
DE ANÁLISE...
Um Trabalho
Um Local
Um relevo
ACS em ação no desenvolvimento do PSF
exercendo, entre outras, a função educativa.
Que educação em saúde?
Comunidades e unidades básicas
Influências sócio-culturais que estruturam
vivências, repertórios de interpretação e sentidos,
enunciações possíveis – mais ou menos
convergentes, mais ou menos diversas – a nãohomogeneidade
Enfermeiras intensivistas cuidando de pacientes
e operando tecnologias de ponta. Que
implicações no tratar/cuidar?
UTIs
Interações (com o meio e com o outro)
intensificadas e mediadas por tecnologias
(novas formas de captar/ler/processar/ produzir
dados). Compatibilidade e conexão enfermeira
e máquina (orgânico e não-orgânico; sujeitocorpo e sujeito que pensa e age com a máquina
- ação em conexão com a máquina.), o novo
ser-profissional – híbrido humano-máquina;
Equipe: atender/acolher demandas situadas na
fronteira entre os “problemas da vida” e a
patologia (sem resposta no arsenal diagnósticoterapêutico da biomedicina). O que é um
acolhimento
dialogado?
Negociar
atendimentos?
Campo das interações face-a-face e
instituição-comunidade portas de entrada
dos serviços
Nova exigência – novas tecnologias –
Acolhimento/vínculo; Redes de serviços de saúde
como grandes redes de conversações
“Tecnologias de conversa”: identificação,
elaboração e negociação com os usuários. Da
assimetria para a zona de comunidade” - em
torno do reconhecimento recíproco: o que um
precisa e o que o outro tem a oferecer
Enfermeiras pesquisadoras como novo perfil Academia, centros e grupos de pesquisa,
diante do processo de cientifização da profissão agências de fomento, veículos de publicação
Ao selecionar estes acontecimentos, o pressuposto era
analisar as suas transversalidades. Nesta direção, o que se
busca aqui é mostrar que, mesmo não escapando de
determinados modos de sujeição do presente, o sujeito no/do
trabalho em Enfermagem é encontrado, sim, ocupando espaços
produtivos de desafios, de lutas, portanto de liberdade para
repensar o seu fazer-saber. E, este repensar envolve,
justamente, visibilizar e legitimar cada detalhe de uma miríade
de fazeres e de saberes. Ou seja, a própria Enfermagem
necessita legitimar e atualizar as múltiplas faces de um melhor
cuidar e assistir o sujeito doente e o saudável que dela
necessita para se restabelecer e para continuar saudável.
Portanto, precisamos procurar pelas possibilidades de
ruptura e de criação de novas relações e sentidos, rompendo
com padrões preestabelecidos, caracterizando os movimentos
atuais que buscam padrões heterogêneos, ressignificações do
singular em composição com arranjos coletivos; procuram,
assim, contemplar as diferentes realidades, o outro, os campos
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 127 - 32.
P rocesso de construção do conhecimento
científico: espaço de lutas e visibilidades
possíveis; gerar conhecimentos é decisivo na
luta pelo ‘poder de fazer ver e fazer crer”.
Posições ocupadas no interior de um campo
científico como resultado de jogos aí
disputados por atores com projetos/
linguagens/ em luta por legitimação – quem
pode enunciar o quê, com base em que
critérios e sob que condições. Quem define
enunciadores e enunciados legítimos?
de luta em que nos situamos também como trabalhadores.
Foucault11 sinaliza o termo singularidade - a singularidade dos
acontecimentos, as descontinuidades e a afirmação da diferença
atribuem a cada coisa sua medida e intensidade; por isto
incomparáveis e incomensuráveis. Nesta perspectiva, não há
totalidade, mas multiplicidades mutantes, marcadas por saltos,
proveniências e emergências.
Referem-se, aqui, a multiplicidade e a singularidade de
espaços do fazer profissional: na comunidade, em conexão com
a máquina, na porta de entrada nos serviços, nos terrenos
vigiados da ciência, da pesquisa, da formação de novos
pesquisadores, da busca legitimada por soluções nacionais e
regionais. Espaços políticos, de visibilidade. Interessa, cada
vez mais, o que se faz, como se faz e porque se faz. Não é mais
possível pensar em categorias explicativas exclusivas (como
trabalho alienado?) nestes espaços ocupados e em ocupação.
Para pensarmos em todas estas relações teremos que pensar a
tecnologia como hibridizada ao sujeito que pensa; construir
132
Á PProcura
rocura do Sujeito e as Sujeições do TTrabalhador
rabalhador
Vargas MA et al
conceitos que contemplem as vivências da comunidade, elaborar
técnicas de conversação, manipular com desenvoltura máquinas
e equipamentos e consolidar linhas de pesquisa objetivando a
cientifização da Enfermagem e sua visibilidade no Brasil e no
mundo. Todas são, nada mais e nada menos, que tecnologias;
sujeitos que operam saberes e saberes que operam sujeitos. A
tecnologia corporificada rompe a idéia de técnica como simples
meio e do humano como fim em si mesmo; estamos em
intercâmbios complexos e posições comunicantes. Para além
disso, ao problematizar essa enganosa dicotomia “tecnologia”
versus “fator humano”, poder-se-ia visibilizar o que a fórmula
obscurece tanto: o caráter inalienavelmente humano das
tecnologias e modo como os desafios da “humanização” passam
por soluções tecnológicas. Nesta perspectiva, tais tecnologias
se configurariam através de um constante processo, pois
estabilizariam sempre outros e novos padrões e,
simultaneamente, lidariam com a irrupção de contradições ao
invés das composições baseadas em oposições binárias e
hierárquicas. Assim, importa muito assumir que essas (e
outras) oposições são aparentes; os pólos não são
independentes e absolutamente distintos entre si e nem mesmo
essências a serem re/descobertas à medida que o conhecimento
técnico-médico-científico “avança”, mas conexões sempre
parciais, instáveis, que se apresentam de diferentes modos
com os outros e com todas as nossas partes.
Assim, ao transformar as quatro descrições, selecionadas
para análise, em acontecimento, a idéia era demonstrar o
que cada um tinha e tem de único e agudo, de transgressivo
em relação à ordem das coisas. Enfim, com baliza em
Foucault, procurou-se fazer um diagnóstico do presente do
processo de trabalho em saúde, especificadamente na
Enfermagem. Um diagnóstico que, ao mesmo tempo, leva
em consideração o desconhecido que bate à porta e que faz
prosseguir a análise para outros caminhos...
Referências
10. Marziale MHP. Produção científica da enfermagem brasileira: a
busca pelo impacto internacional [editorial]. Rev. Latino-Am
Enfermagem 2005 maio/jun; 13(3): 285-86.
11. Foucault M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro (RJ):
Graal; 1979.
1. Carroll L. Alice no país das maravilhas. São Paulo (SP):
Nacional; 2005.
2. Foucault M. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro (RJ): Forense
Universitária; 1995
3. Foucault M. Mesa redonda em 20 de maio de 1978. In: Motta
MB,organizador. Estratégia, poder-saber. Rio de Janeiro (RJ): Forense
Universitária; 2003. Coleção Ditos e Escritos, 4.
4. Weinmann AO. O conceito de acontecimento na pesquisa em história
da educação. Educação & Realidade 2003 jan/jun; 28(1): 49-63.
5. Vargas MAO, Heckler S. Saúde, família saudável e criança saudável:
concepções e relações das agentes comunitárias. Rev Gaúcha Enferm
1999 jul; 20(2): 37-49.
6. Oliveira DL, Meyer DEE, Santos LHS, Wilhems DM. A negociação do
sexo seguro na TV: discursos de gênero nas falas de agentes
comunitárias de sáude do Programa Saúde da Família de Porto Alegre.
Cad Saúde Pública 2004; 20 (5): 1309-18.
7. Vargas MAO. Corpus ex machina: a ciborguização da enfermeira no
contexto da terapia intensiva [dissertação de mestrado]. Porto Alegre
(RS): Programa de Pós-Graduação em Educação/UFRGS; 2002.
8. Teixeira RR. Humanização e atenção primária à saúde. Ciência &
Saúde Coletiva 2005; 10(3): 315-27.
9. Barreira IA; Baptista SS. Nexos entre a pesquisa em história da
enfermagem e o processo de cientifização da profissão. Anais do
51o Congresso de Enfermagem. 10º Congresso Panamericano de
Enfermería: 1999 out. 2-7, Florianópolis (SC), Brasil. Florianópolis
(SC): ABEn; 2000. p. 295-311.
Sobre as Autoras
Mar a Ambr
osina Var
Ambrosina
argg as
Enfermeira. Dda. em Filosofia da Enfermagem/UFSC. Professora Adjunta
UNISINOS e atua no CTI HCPA. Membro do Grupo de Pesquisa Práxissaúde, trabalho, cidadania e enfermagem/UFSC. Bolsista do CNPq.
Flávia Regina Souza Ramos
Enfermeira. Dra em Filosofia da Enfermagem. Professora Adjunta da
UFSC. Membro do Grupo de Pesquisa Práxis- saúde, trabalho,
cidadania e enfermagem/UFSC. Bolsista do CNPq.
Joel Rolim Mancia
Enfermeiro. Ddo. em Enfermagem/UFSC. Servidor da Prefeitura
Municipal de Porto Alegre. Membro do Grupo de Pesquisa GEHCEGrupo de Estudos de História do Conhecimento de Enfermagem/UFSC.
Denise Pires
Enfermeira. Pós-doutorado University of Amsterdam, Holanda. Dra Ciências
Sociais/UNICAMP. Professor a Adjunta da UFSC. Membro do Grupo de
Pesquisa Práxis-saúde, trabalho, cidadania e enfermagem/UFSC.
Recebido em 09/03/2006
Reapresentado em 08/11/2006
Aprovado em 10/01/2007
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 127 - 32.
Estudo Eletrofisiológico e Ablação por Cateter: O que a Enfermagem Precisa Saber
Vanheusden LMS et al
REVISÃO
133
REVISION - REVISIÓN
ESTUDO ELETROFISIOLÓGICO E ABLAÇÃO POR CATETER:
O QUE A ENFERMAGEM PRECISA SABER
Electrophysiologic study and catheter ablation:
What the nursing should know
Estudio electrofisiológico y ablación por catéter:
Qué la enfermería precisa saber
Lutgarde Magda Suzanne Vanheusden
Deyse Conceição Santoro
Resumo
A ablação por cateter é um procedimento invasivo eletrofisiológico que visa eliminar ou obstruir um circuito arritmogênico.
Atualmente o Brasil conta com mais de 30 centros eletrofisiológicos nas regiões diversas que desenvolvem rotineiramente a
técnica da ablação por radiofreqüência. Neste cenário específico, a presença da enfermeira vem se destacando desde a
preparação do paciente até sua orientação para a alta. O objetivo deste artigo é revisar as indicações do estudo eletrofisiológico
e da ablação por cateter para o diagnóstico e tratamento das arritmias cardíacas. O detalhamento técnico, as complicações
e os cuidados de enfermagem são apresentados.
Pala
vr
as-c
ha
alavr
vras-c
as-cha
havv e: Enfermagem. Arritmia. Ablação por Cateter.
Abstract
Resumen
The catheter ablation is an electro physiologic invasive
procedure that aims at to eliminate or to block an arritmogenic
circuit. Currently, Brazil has more than 30 electro physiologic
centers in diverse regions that routinely develop the ablation
technique by radiofrequency. In this specific scene, the
presence of the nurse has been detaching since the preparation
of the patient until the orientation for discharge. The objective
of this article is to review the indications of the electro
physiologic study and of the catheter ablation for the cardiac
arrhythmias’ diagnosis and treatment. The technician detailing,
the complications and the nursing cares are presented.
La ablación por catéter es un procedimiento invasivo
eletrofisiológico que tiene como objetivo eliminar o bloquear
un circuito arritmogénico. Actualmente el Brasil cuenta con
más de 30 centros eletrofisiológicos en las diversas
regiones que desarrollan rutinariamente la técnica de ablación
por radiofreqüência. En esta escena específica, la presencia
de la enfermera viene destacándose desde la preparación
del paciente hasta su orientación para el alta. El objetivo de
este ar tículo es revisar las indicaciones del estudio
eletrofisiológico y de la ablación por catéter para el
diagnóstico y tratamiento de las arritmias cardiacas. El
detallismo técnico, las complicaciones y los cuidados de de
enfermería son presentados.
Keywords:
Nursing. Arrhythmia. Catheter Ablation.
Palabras clave:
Enfermería. Arritmia. Ablación por Cateter.
Esc Anna
Nery
R Enferm
Esc Anna Nery R Enferm
2007
mar;
11 (1):2007
133 -mar;
7. 11 (1): 133 - 7.
134
Estudo Eletrofisiológico e Ablação por Cateter: O que a Enfermagem Precisa Saber
Vanheusden LMS et al
INTRODUÇÃO
No final dos anos de 1980, a técnica de ablação por
radiofreqüência ficou disponível como terapia curativa para
arritmias. No Brasil, os primeiros centros de eletrofisiologia a
fazer a técnica de ablação começaram a funcionar nos primeiros
anos da década de 1990. Os primeiros relatos foram realizados
pelos 5 centros cardiológicos existentes nas cidades do Rio de
Janeiro e São Paulo. Desde então, a especialidade de
eletrofisiologia tem sido aprimorada muito nos últimos anos.
Atualmente, o Brasil já conta com mais de 30 centros de
eletrofisiologia nas diversas regiões que realizam
rotineiramente a técnica de ablação por radiofreqüência. Neste
cenário específico, a presença da enfermeira vem se destacando
desde o preparo do paciente até sua orientação para alta1.
A função maior do estudo eletrofisiológico é estabelecer o
mecanismo da arritmia cardíaca do paciente e facilitar a escolha
terapêutica para essas arritmias. Com o desenvolvimento da
ablação estabeleceu-se uma terapia curativa definitiva para as
taquiarritmias2. Na ablação por cateter, o mesmo equipamento
básico do estudo eletrofisiológico é utilizado e inclui: um
aparelho de RX e um polígrafo para obtenção e gravação de
registros eletrocardiográficos. Esse polígrafo deve
disponibilizar as 12 derivações simultâneas do
eletrocardiograma e um mínimo de cinco canais intracavitários.
Também é necessário um estimulador cardíaco com capacidade
de programar estímulos básicos e no mínimo três extra-estímulos,
um gerador de radiofreqüência, cateteres diagnósticos e terapêuticos
e material de reanimação cardiopulmonar. Os cateteres são
multipolares, e os usados para a ablação tem um eletrodo distal de
4-5 mm de comprimento3.
Os profissionais necessários para fazer uma ablação por cateter
são os mesmos necessários para fazer um estudo eletrofisiológico:
um cardiologista com treinamento em eletrofisiologia cardíaca, um
anestesista, um a dois enfermeiros com experiência com o
equipamento do laboratório, com a administração de drogas
antiarrítmicas e manobras de ressuscitação2,4.
A ablação por cateter é um procedimento invasivo que visa
a eliminar ou bloquear um circuito arritmogênico através da
aplicação de energia de radiofreqüência no local-alvo do
coração. A energia de radiofreqüência é uma energia elétrica
de alta freqüência que, quando aplicada no tecido libera calor,
desidrata a célula e assim provoca necrose destruindo o sítio
responsável pela arritmia3.
ESTUDO ELETROFISIOLÓGICO
O estudo eletrofisiológico é um exame invasivo realizado através
de introdução de cateteres por vias venosa e arterial, que visa a
elucidar o mecanismo e identificar o local da arritmia cardíaca.
Durante o estudo eletrofisiológico, é possível reproduzir
taquiarritmias clínicas e aferir o nível de bloqueios no sistema de
condução propiciando a indicação de órteses como marca-passo e
desfibrilador. Para sua realização, é necessário um profissional
treinado e qualificado, e autorizado pelo departamento de arritmias
e eletrofisiologia clínica da Sociedade Brasileira de Cardiologia4.
O exame é realizado em uma sala de hemodinâmica ou no
centro cirúrgico sob a necessidade da utilização de um
equipamento de fluoroscopia com alta resolução capaz de
permitir a visualização da área cardíaca e campos
pleuropulmonares em diversos planos. Incidências radiológicas
ântero-posterior, oblíquas anterior esquerda e direita são
fundamentais para definir a anatomia e permitir a aferição da
localização de vias acessórias e de circuitos atriais e
ventriculares responsáveis por taquiarritmias supra e
ventriculares. Equipamentos específicos para o estudo
eletrofisiológico incluem um polígrafo de eletrofisiologia com
sistema de multicanais intracardíacos e das 12 derivações do
eletrocardiograma de superfície para a aquisição, gravação e
impressão de traçados eletrofisiológicos, estimulador
programável e cateteres-eletrodos.2,3
No sistema de aquisição de dados, um computador grava e
registra o eletrocardiograma de superfície e o eletrocardiograma
intracardíaco. Os sinais intracardíacos podem ser adquiridos
como unipolares ou bipolares. Esses sinais são mostrados em
tempo real e podem ser registrados em diferentes velocidades
(25, 50, 100, 300 mm/segundos) para permitir a análise
detalhada de arritmias no momento do exame ou em qualquer
momento posterior2.
ABORDAGEM DOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM
DURANTE O PREPARO DO PACIENTE PARA
A REALIZAÇÃO DA ABLAÇÃO
Antes da ablação, o paciente necessita ser preparado para
o procedimento. A preparação para procedimentos da
eletrofisiologia é similar àquela para o cateterismo cardíaco.
Os pacientes são sedados, geralmente durante o procedimento
eletrofisiológico. O grau de sedação depende das indicações
pelas quais a terapia está sendo executada e das preferências
do serviço que executa o procedimento. Uma linha intravenosa
periférica é requerida para a administração de medicação. A
anticoagulação sistêmica pode ser usada durante o
procedimento para diminuir a ocorrência das incidências de
complicações tromboembólicas. O equipamento apropriado da
emergência e de ressuscitação é requerido para todos os
procedimentos eletrofisiológicos5.
A ablação é realizada em jejum de 8 horas, com retirada
das drogas antiarrítmicas por no mínimo dois dias antes. O
tratamento da insuficiência cardíaca e isquemia deve ser
otimizados antes do procedimento, bem como o controle de
eletrólitos do paciente6,7.
Os profissionais de saúde devem se importar com nível de
conhecimento dos pacientes acerca do procedimento, pois sua
compreensão sobre todo o processo e as condições necessárias
para posterior acompanhamento aumentam as chances de
eficácia da terapêutica7.
Os cuidados educativos e de orientação antes da ablação
devem incluir discussões sobre a natureza do procedimento,
uma descrição do procedimento, sua duração, avaliação sobre
as possibilidades de sucesso e taxas de complicação. As
enfermeiras devem também incluir instruções para o pósEsc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 133 - 7.
Estudo Eletrofisiológico e Ablação por Cateter: O que a Enfermagem Precisa Saber
Vanheusden LMS et al
procedimento.6,7 Após o procedimento, o paciente deve manter
o membro utilizado para acesso venoso retificado por 3 a 4
horas, e o membro inferior, por 4 a 6 horas, se a artéria femoral
tiver sido puncionada. Estes cuidados evitam eventos de
sangramento pelos locais de punção.
No momento do procedimento, o paciente é levado para o
laboratório de eletrofisiologia, e os locais de punção são
preparados, fazendo-se a tricotomia, se necessário. A maioria
dos estudos eletrofisiológicos podem ser feitos utilizando-se
somente o sistema venoso, não necessitando o acesso
arterial.1,8 Em condições de assepsia e anti-sepsia e em estado
pós-absortivo, realiza-se anestesia local ou sedação. A
enfermeira deve manter-se próxima ao paciente explicando
todas as etapas do procedimento, diminuindo sua ansiedade e
transmitindo confiança.
Os resultados preliminares do procedimento devem ser
compartilhados imediatamente com o paciente e a família. As
explanações freqüentes podem ser requeridas no início se o
paciente estiver recuperado da sedação mais pesada. Após um
ablação bem-sucedida, os pacientes não têm nenhuma limitação.
A maioria dos cuidados durante o procedimento e pósprocedimento é centrada na monitorização do paciente para
as complicações potenciais relacionadas ao procedimento.
Na maioria dos casos, os pacientes apresentam-se ansiosos
antes e durante o procedimento eletrofisiológico. A sedação
adequada permite o confor to necessário ao paciente,
evitando-se a supersedação5.
As enfermeiras devem estar alertas para as complicações
principais relacionadas diretamente à colocação dos
cateteres dentro do coração, como o sangramento dos locais
de inserção do cateter, a oclusão do curativo sobre o local de
punção ar terial e os eventos de taquiarritmias e de
bradiarritmias que podem ocorrer durante e após o
procedimento de ablação. A enfermeira responsável pelo
cuidado ao paciente com arritmia deve estar preparada para
atender toda emergência que puder ocorrer. Outros
problemas potenciais que requerem monitoramento incluem
a tromboflebite, o tromboembolismo e a infecção.5
A INSERÇÃO E O POSICIONAMENTO
DOS CATETERES
A via de acesso é feita através das veias femorais. A
técnica de Seldinger modificada é usada para punção venosa,
permitindo, assim, a inserção de vários cateteres-eletrodos
posicionando-os no átrio direito, feixe de His e ventrículo direito.
A via de acesso através da veia jugular facilita o posicionamento
do cateter e sua entrada no seio coronário para mapear o átrio
esquerdo e a porção posterior basal do ventrículo esquerdo.
Quando existe necessidade de acesso ao ventrículo esquerdo, a
artéria femoral é normalmente usada. Com uso de fluoroscopia,
os cateteres são posicionados até o local-alvo do coração,
guiando-se também pelos eletrogramas intracardíacos2.
No átrio direito, o cateter geralmente é posicionado na
parede lateral alta, perto da desembocadura da veia cava
superior. Essa região é próxima de onde se localiza o nó
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 133 - 7.
135
sinusal e é a primeira que se despolariza durante ritmo sinusal.
A estimulação do átrio nessa região mostra uma onda P
semelhante à onda P do ritmo sinusal.8,9 O acompanhamento
através da monitorização cardíaca neste momento é importante,
pois arritmias podem ser desencadeadas.10
Os cateteres no ventrículo direito são geralmente
posicionados no ápice e no trato de saída para estimulação e
registro de potenciais. Normalmente não são posicionados
cateteres no ventrículo esquerdo. Entretanto, algumas
taquicardias ventriculares originam-se no ventrículo esquerdo
e sua indução depende da estimulação desta câmara9.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia 1, as
indicações para a realização da ablação incluem:
A. Indicações clínicas
1. Pacientes com palpitações não esclarecidas
2. Pacientes com síncope inexplicada
3. Estratificação de risco de morte súbita
4.Avaliação eletrofisiológica em pacientes
recuperados de parada cardíaca
B. Indicações por arritmias documentadas
1. Avaliação eletrofisiológica em pacientes com
bradiarritmias
2. Avaliação eletrofisiológica em pacientes com
taquicardia com QRS estreito
3. Avaliação eletrofisiológica em pacientes com
taquicardia com QRS largo
ABORDAGEM DO CUIDADO DE ENFERMAGEM
AO PACIENTE DURANTE A INSERÇÃO E
POSICIONAMENTO DOS CATETERES:
A preparação do paciente é similar a de um estudo
eletrofisiológico. Na chegada ao laboratório de eletrofisiologia,
o paciente é monitorizado (eletrocardiograma de superfície,
oxímetro de pulso e pressão arterial)10. Após os cateteres serem
posicionados, o protocolo do estudo eletrofisiológico é iniciado.
O estudo começa com a estimulação programada com um
ou mais extra-estímulos sendo liberados durante ritmo sinusal
ou com ciclos comandados de 600, 500, 430 ms (100, 120 e
140 bpm), no átrio e ventrículo direitos, respectivamente.4,9
Estes conhecimentos específicos auxiliam a enfermeira a
entender o que está acontecendo com o paciente durante o
procedimento, pois é neste momento que as ocorrências de
arritmias se iniciam10.
Quando o mecanismo da arritmia é diagnosticado, um cateter
de ablação é colocado no local-alvo. Quando é necessário o
acesso arterial, a artéria femoral direita pode ser abordada. A
punção transeptal é uma alternativa para a abordagem do átrio
esquerdo e é normalmente usada para a abordagem das veias
pulmonares durante a ablação da fibrilação atrial. O cateter de
ablação tem 125 cm de comprimento e 6 a 8 french de diâmetro.
O eletrodo distal tem que ter pelo menos 4 mm de tamanho e
serve como polo negativo (ativo) durante aplicação de energia.
Esses cateteres de ablação são dirigíveis e têm várias curvaturas,
e podem ser deflexíveis com ângulos de 0 a 180 graus.1,4
136
Estudo Eletrofisiológico e Ablação por Cateter: O que a Enfermagem Precisa Saber
Vanheusden LMS et al
A energia mais usada hoje para ablação com cateter é a
radiofreqüência. A energia de radiofreqüência é uma corrente
alternada de uma freqüência de 300-750 kHz fornecida entre
um ponto do cateter de ablação e uma placa posicionada na
pele do paciente. Durante a aplicação de radiofreqüência, a
energia elétrica é transformada em energia térmica.1,4. O calor
que é produzido é transferido para o tecido cardíaco,
primariamente pela condução e menos pela radiação.
Após a aplicação da energia e não-inducibilidade das
arritmias, os cateteres são retirados, e se finaliza o
procedimento. O paciente é removido para o quarto e recebe
alta no dia seguinte. As orientações sobre a necessidade de
seu acompanhamento clínico, possíveis manifestações clínicas,
retorno às atividades diárias fazem parte dos cuidados
dispensados pela enfermeira neste momento. A alimentação é
liberada em algumas horas. A pressão sangüínea, o pulso e o
local do curativo deverão ser examinados atentamente pela
enfermagem até o momento da alta10.
CONDUTA
DIANTE
DAS
PRINCIPAIS
COMPLICAÇÕES PÓS-PROCEDIMENTO10
- Hematoma: Pode aparecer no local onde foram feitas
as punções. Normalmente são facilmente resolvidos. Para
diminuir a chance de hematomas, o paciente deverá ficar em
repouso algumas horas após a ablação.
- Tr ombose: Na veia ou artéria onde foram feitas as
punções, diante de situações especiais, poderá ocorrer a
formação de coágulos no interior desses vasos. Rotineiramente,
durante e após os procedimentos, são tomadas medidas para
evitar este problema. O uso de anticoncepcionais hormonais,
o tabagismo, a idade avançada, o diabetes, entre outros, são
fatores predisponentes que necessitam de cuidados adicionais
para prevenção deste problema.
- Infecção: Pelo fato de ser procedimento realizado sem
a abertura do tórax, o risco de infecção é muito baixo. Além
disso, se a ablação é realizada em ambiente asséptico, o risco
é ainda muito menor. É muito raro ocorrer infecção no local
das punções. Não obstante, utiliza-se freqüentemente um
Referências
1. Diretrizes para avaliação e tratamento de pacientes com arritmias
cardíacas. Arq Bras Cardiol 2002; 79 (5): 1-50.
2. Cruz FESF, Fagundes MLA, Boghossian SH, Vanheusden L et al.
Terapia ablativa do flutter atrial tipo I com radiofrequência. Arq Bras
Cardiol 1995; 64(4): 323-30.
3. Sosa EA, Paola A, Gizzi J et al. Indicações para estudos
eletrofisiológicos e ablação por cateter de arritmias cardíacas:
recomendações do DAEC da SBC. Arq Bras Cardiol 1995; 64:149-51.
antibiótico profilático. Atenção normal com o curativo
complementa os cuidados necessários.
- Bloqueios: Em casos raros, a via anormal ou o foco
responsável pela arritmia pode estar muito próximo do sistema
normal de condução. A eliminação desta via anormal ou foco
poderá gerar certo risco de lesão do sistema normal, provocando
algum tipo de bloqueio transitório ou permanente. Dependendo
do bloqueio, poderá vir a ser necessário o implante de um
marca-passo. Nestes casos especiais, a enfermeira deve estar
preparada para as intervenções imediatas, provendo a equipe
médica de todo material necessário.
ORIENTAÇÕES PARA ALTA
O paciente deverá ser orientado pela enfermeira quanto
aos cuidados com o local da punção, não havendo necessidade
de refazer o curativo. A região deve ser lavada com água e
sabão, mantendo-a sempre seca e limpa. Em alguns casos,
serão receitados alguns medicamentos, inclusive
antiarrítmicos. O retorno ao trabalho geralmente pode ocorrer
dentro de três dias a uma semana. O paciente deverá receber
um relatório completo contendo as informações sobre tudo o
que foi realizado, inclusive com fotos dos locais do coração que
foram tratados5,10.
Dependendo do tipo de arritmia e do local tratado, em 2%
a 5% dos casos, a arritmia poderá voltar após a ablação. Nestes
casos, freqüentemente uma aplicação complementar de
radiofreqüência resolve definitivamente o problema.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As renovações tecnológicas das últimas décadas foram
rápidas e inovadoras e ofereceram novas oportunidades para
os profissionais de enfermagem para atuar na área de arritmias
cardíacas. É essencial o conhecimento das indicações,
resultados e limitações do estudo eletrofisiológcio e ablação
por cateter por parte do profissional de enfermagem, uma vez
que sua atuação efetiva se faz necessária em todo o processo
terapêutico dos pacientes com arritmias.
4. Fagundes ML, Cruz Filho FES. Estudo eletrofisiológico nas
taquiarritmias supraventriculares. In: Cruz Filho FES, Maia IG.
Eletrofisiologia clínica e intervencionista das arritmias cardíacas. Rio
de Janeiro (RJ): Revinter;1997. p.18; 253-75.
5. Tyndall A. A nur sing per spective of the inv asive
electrophysiologic: approach to treatment of ventricular
arrythmias. Heart Lung 1983;12: 620-29.
6. Santoro DC, Oliveira CM. Conduta da equipe de enfermagem diante
das alterações clínicas com síndrome coronariana. Esc Anna Nery
Rev Enferm 2004; 8(2): 267-74.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 133 - 7.
137
Estudo Eletrofisiológico e Ablação por Cateter: O que a Enfermagem Precisa Saber
Vanheusden LMS et al
7. Santoro DC. Situação do sistema de saúde no Brasil e os cuidados
desenvolvidos nas unidades de terapia intensiva. Esc Anna Nery Rev
Enferm 2001; 5(2): 259-61.
8. Cruz FESF, Fagundes M, Boghossian SH, Vanheusden L et al. O
impacto da ablação com radiofrequência como terapia das arritmias.
Rev Socerj 1994; 6 (4): 184-91.
9. Vanheusden LMS, Santoro DC. Assistência de enfermagem a paciente
com fibrilação atrial. Esc Anna Nery Rev Enferm 2006;10(1): 47-53.
10. Vanheusden LMS, Cruz FES, Fagundes M et al. Participação e
cuidados da enfermagem em procedimentos de ablação com
radiofrequência nas taquicardias supraventriculares. Arq Bras Cardiol
1994; 62(5): 361-67.
Sobre as Autoras
Lutg
ar
de Ma
gda Suzanne Vanheusden
Lutgar
arde
Magda
Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela EEAN/UFRJ.
Deyse Conceição Santoro
Enfermeira. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da
EEAN/UFRJ. Pós-doutora pela USP.
Recebido em 04/11/2005
Reapresentado em 16/08/2006
Aprovado em 20/09/2006
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 133 - 7.
138
REFLEXÃO
Setenta Anos de Vida Universitária da EEAN
Tyrrell MAR et al
REFLECTION - REFLEXIÓN
SETENTA ANOS DE VIDA UNIVERSITÁRIA DA ESCOLA
DE ENFERMAGEM ANNA NERY: UMA BREVE REFLEXÃO
Seventy Years of the Anna Nery School of Nursing’s
University Life: a Brief Reflection
Setenta Años de Vida Universitaria de la
Escuela de Enfermería Anna Nery: una Breve Reflexión
Maria Antonieta Rubio Tyrrel
Tânia Cristina Franco Santos
Resumo
O presente texto tem como objeto, o discurso de abertura das comemorações dos setenta anos de vida universitária
da Escola de Enfermagem Anna Nery, proferido por sua Diretora. Ele tem como propósito refletir sobre a trajetória
institucional da Escola de Enfermagem Anna Nery e sua importância para a proclamação de um modelo de enfermeiro
para a sociedade brasileira. As fontes consultadas e analisadas à luz do pensamento do sociólogo francês Pierre
Bourdieu evidenciaram que houve um grande investimento na formação do habitus profissional dos postulantes à
profissão, culminando em um modelo de enfermeiro para a sociedade brasileira. Concluiu-se, nesta reflexão que os
emblemas e rituais foram instrumentos simbólicos que legitimaram e consagraram esse modelo.
Pala
vr
as-c
ha
alavr
vras-c
as-cha
havve: História da Enfermagem. Emblemas e Insígnias. Memória.
Abstract
Resumen
The present text has as object, the opening speech of
the seventy years celebration of the Anna Nery School
of Nursing’s university life, said by its Head Master. It
has as purpose to reflect about the institutional
trajectory of the Anna Nery School of Nursing and its
importance to the proclamation of a nurse model to the
Brazilian society. The sources used and analyzed to the
light of the French sociologist Pierre Bourdieu toughs
showed that a large investment was made in the formation
of the professional habitus of the postulates to the
profession, culminating in a nurse model to the Brazilian
society. It was conclude that in this reflection the emblems
and rituals was symbolical tools that legitimate and
consecrated this model.
El presente texto tiene como objeto, la habla de abertura de
las conmemoraciones de los setenta años de vida universitaria
de la Escuela de Enfermería Anna Nery, proferido por su
Directora. Él tiene como propósito reflejar sobre la trayectoria
institucional de la Escuela de Enfermería Anna Nery su
importancia para la proclamación de un modelo de enfermero
para la sociedad brasileña. Las fuentes consultadas y
analizadas a la luz del pensamiento del sociólogo francés
Pierre Bourdieu evidenciaran que hubo una gran inversión en
la formación del habitus profesional de los postulantes a la
profesión, culminando en un modelo de enfermero para la
sociedad brasileña. Concluyese, en esta reflexión que los
emblemas y rituales fueran instrumentos simbólicos que
legitimaran y consagraran ese modelo.
Keywords:
History of Nursing. Emblems and Insignia. Memory.
Palabras clave:
Historia de la Enfermería. Emblemas e Insignias. Memoria.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 138 - 42.
Setenta Anos de Vida Universitária da EEAN
Tyrrell MAR et al
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Escola de Enfermagem Anna Nery comemora setenta anos
de inserção no sistema universitário, e, no bojo dessa
comemoração, torna-se pertinente retroceder no tempo, de modo
a trazer a lume uma breve reflexão acerca de sua trajetória
institucional gloriosa e profícua, vivida na luta permanente pelo
reconhecimento e prestígio da profissão de enfermeiro no Brasil.
Cumpre assinalar que a inserção do enfermeiro no espaço
da saúde e seu reconhecimento pela elite da sociedade
brasileira decorreram do empenho competente das pioneiras
da Escola de Enfermagem Anna Nery e de suas seguidoras,
que se dedicaram sem limites ao propósito de construir a
imagem de um profissional solidamente preparado, através do
rigoroso ensino, bem como da institucionalização de rituais,
de cujas muitas funções destacamos o seu efeito consagrador
de transmitir ao público uma imagem homogeneamente
respeitável do grupo de enfermeiros.
Inicialmente, sublinhamos que o ritual, enquanto um
conjunto de atos formalizados, expressivos e portadores de
uma dimensão simbólica, utiliza como recurso um sistema de
linguagens e comportamentos específicos, bem como objetos
emblemáticos cujo sentido representa um bem simbólico do
grupo. O ritual aqui concebido como ritual de consagração tem o
efeito de consignação estatutária, porque demarca não apenas a
passagem de um estado a outro, mas determina a incorporação
de atitudes profissionais consoantes com as expectativas sociais
ligadas à sua categoria. A eficácia simbólica dos rituais reside na
possibilidade de proclamar a identidade da profissão1.
Assim é que na abertura das Comemorações dos Setenta
Anos de Inserção da Escola de Enfermagem Anna Nery na
Universidade Federal do Rio de Janeiro, realizou-se o ritual
alho, o qual
de Inaugur ação da Sala V ilma de Car v alho
inclui a modernização e atualização do Laboratório de
Informática de Graduação (LIG - Graduação).
Desse modo, a importância de evocar a importante
personalidade da Enfermagem brasileira, na pessoa da
Enfermeira e Professora Emérita da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Doutora Vilma de Car valho, remete a
possibilidade de conclamar os nossos queridos alunos e
professores à incorporação de um habitus profissional
conquistado mediante a incorporação de atitudes profissionais
calcadas no conhecimento, na ética e no respeito profissional.
Vale ressaltar que, desde a implantação da Enfermagem
Moderna no Brasil, em 1922, mediante a criação da Escola de
Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública, a atual
Escola de Enfermagem Anna Nery, os emblemas e rituais passaram
a fazer parte do cotidiano das instituições de ensino de Enfermagem
no Brasil, criadas nos anos seguintes, com poucas modificações
durante cerca de cinqüenta anos. Esses rituais, de inspiração
religiosa e militar, inicialmente adaptados de escolas americanas,
eram usados como modo de incorporação e divulgação de um
modelo de enfermeira para a sociedade brasileira.
Os rituais institucionais têm também o poder de agir sobre
o real, agindo sobre a representação desse real, porque
sancionam a nova ordem social estabelecida, evidenciando o
poder das autoridades que os instauram. Assim, uma infinidade
de rituais e emblemas foi produzida pelas escolas de
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 138 - 42.
139
Enfermagem na produção de enfermeiras e enfermeiros, pois
aquele que é instituído, por exemplo, em seguida à colação de
grau, sente-se obrigado a estar de acordo com aquilo que dele
se espera, à altura de sua função: atuar como um profissional
com compromisso técnico e social.
A importância dos rituais para a Enfermagem brasileira,
ao longo de mais de oitenta anos, encontra-se na
possibilidade de consagrar um modelo de enfermeiro para a
sociedade brasileira, pois eles assumem a dupla função de
atribuir e distinguir qualidades novas, conferindo ao grupo
os meios para atuar sobre a realidade social. Nesse sentido,
a Escola de Enfermagem Anna Nery demarca a implantação
do Sistema Nightingale no Brasil e também é a primeira a ser
integrada a uma universidade em 1937, a atual Universidade
Federal do Rio de Janeiro, à época denominada Universidade
do Brasil, a mais antiga do país.
A conjunção de fatores e circunstâncias que caracterizou
o início do século XX ensejou a reforma sanitária de 1920,
condizente com os interesses de expansão do Estado. No
âmbito dessa reforma, ocorreram a criação do Departamento
Nacional de Saúde Pública (DNSP) e o convênio de
Cooperação Técnica para o Desenvolvimento da Enfermagem
no Brasil, que institucionalizou, no interior do aparelho de
Estado, a moderna Enfermagem profissional.
A implantação desse novo modelo de enfermagem ocorreu
sob a égide da saúde pública, no âmbito dessa reforma
sanitária liderada pelo insigne cientista e sanitarista Carlos
Chagas, então diretor do Departamento Nacional de Saúde
Pública. Ele ensejou a vinda de um grupo de enfermeiras
norte-americanas, patrocinadas pela Fundação Rockfeller,
integrantes de uma missão, à época denominada Missão de
Cooperação Técnica para o Desenvolvimento da Enfermagem
no Brasil, considerada necessária à efetivação da Reforma
Sanitária em desenvolvimento. Essa missão permaneceu no
Brasil durante uma década (1921-1931).
A primeira demonstração de poder dessa Missão de
enfermeiras foi a criação, em 1921, de um serviço de
enfermeiras, na mesma linha hierárquica das demais inspetorias
do Departamento Nacional de Saúde Pública. E a segunda foi
a implantação da Escola de Enfermeiras do DNSP de acordo
com os padrões de ensino norte-americanos, ainda que essa
necessidade não fosse compartilhada por todos os sanitaristas
no interior daquele Departamento que apenas desejavam
resolver os problemas mais prementes de sua prática cotidiana,
e nem pela sociedade em geral2.
A Superintendente do Ser viço de Enfermeiras do
Departamento Nacional de Saúde Pública, Ethel Parsons, tomou
providências no sentido de organizar o Hospital Geral da
Assistência, o atual Hospital Escola São Francisco de Assis, para
que o mesmo servisse como campo de estágio para a Escola de
Enfermeiras e para a Faculdade de Medicina, criando, assim,
nexos entre a Escola e a Universidade do Brasil. A Universidade
havia sido criada em 1920, composta pela Faculdade de Direito,
Faculdade de Medicina e a Escola Politécnica.
A concepção que se deriva desse paradigma resume-se na
definição de Enfermagem como a ciência, arte e ideal de cuidar
das pessoas que, segundo Florence Nightingale, marcava a
140
diferença entre a Medicina e a Enfermagem, denominando-a como
Arte de Enfermagem, com o significado da mais bela das artes.
Com esse modelo nascem duas idéias teóricas da profissão:
uma que fundamenta os estudos e estrutura as maneiras de
fortalecer nos indivíduos suas potencialidades, para que por sua
própria força natural se opere a cura. E a outra idéia que contribui
para o florescimento de um processo de emancipação da mulher
e da Enfermagem-profissão, denominado modelo científico e
moderno, que impõe o cumprimento de quatro princípios básicos
no processo de ensinar a Enfermagem: caráter público, ou seja,
de responsabilidade do Estado; respeito à especificidade, ou
seja, de responsabilidade da enfermeira; prática da integração
da escola aos serviços; e formação integral, exigindo a residência
nos serviços onde as estudantes aprendiam e atuavam.
Fazem parte do legado da Missão de Enfermeiras Norteamericanas os instrumentos legais que asseguraram a
institucionalização do ensino e da prática da Enfermagem, pois,
em 1931, ocorreu a regulamentação do exercício da
Enfermagem no país e foram fixadas as condições para a
equiparação das demais escolas de Enfermagem existentes, ou
a serem criadas, sendo a Escola de Enfermagem Anna Nery
considerada a escola oficial padrão, o que institucionalizou o
padrão ananeri (PAN) de formação, um alicerce para a
configuração da identidade da enfermeira brasileira.
Neste mesmo ano também fora decretado o Estatuto das
Universidades Brasileiras, segundo o qual o sistema universitário
era preferível ao das escolas superiores isoladas. Na ocasião,
foram incorporadas à Universidade do Rio de Janeiro as
Faculdades de Farmácia e de Odontologia e, apesar de se haver
cogitado a incorporação da Escola de Enfermeiras do DNSP,
uma vez que havia o reconhecimento, através do 4º Considerando
do Decreto 20.109, de que a mesma “atendia aos padrões
técnicos encontrados em universidades de outros países”, o fato
é que esta Escola permaneceu neste Departamento.
Somente com o advento do Estado Novo, quando a
Universidade foi reestruturada, passando a ser denominada
Universidade do Brasil (1937), a Escola de Enfermeiras Anna
Nery passou a integrar esta nova Universidade. Para tanto foi
decisivo o entrosamento entre a Associação Nacional de
Enfermeiras Diplomadas Brasileiras, presidida por Edith de
Magalhães Fraenkel, e a Federação Brasileira para o Progresso
Feminino, presidida por Bertha Lutz.
Cumpre ainda mencionar que a luta histórica das
enfermeiras brasileiras pela formação de uma comunidade
científica de enfermagem e estruturação do seu campo
científico correspondeu à luta simbólica de grupos de
enfermeiras dotadas de capital científico que envidou esforços
continuados desde a implantação da Enfermagem moderna
no Brasil, em 1922, com base no sistema Nightingale,
mediante a criação da Escola de Enfermeiras Anna Nery.
Para fundamentar essa afirmação, lembramos que a criação
desta Escola demarcou o advento do ensino e da prática da
Enfermagem calcado em bases científicas,, sob a égide da
saúde pública, no bojo da reforma sanitária liderada pelo
sanitarista Carlos Chagas. Também é relevante assinalar que a
configuração de um campo científico corresponde a uma realidade
em movimento, cujas determinações são sociais e históricas.
Setenta Anos de Vida Universitária da EEAN
Tyrrell MAR et al
O investimento das enfermeiras brasileiras no
aprimoramento profissional mediante cursos de pós-graduação
teve seu início já na década de 1920, quando cerca de dezessete
enfermeiras diplomadas pela Escola de Enfermeiras do DNSP
realizaram cursos de pós-graduação nos Estados Unidos, com
bolsa de estudos da Fundação Rockfeller. Também nos anos de
1940 e 1950, o espectro das brasileiras em cursos de pósgraduação no exterior foi amplo.
Uma manifestação emblemática da luta das enfermeiras pela
estruturação e reconhecimento de seu campo científico faz-se
representar pela criação, em 1932, da Revista Brasileira de
Enfermagem, à época intitulada Annaes de Enfermagem, a qual
representou o primeiro espaço no país, no qual as enfermeiras
tornaram visível a divulgação de seus enunciados. Os Congressos
Nacionais de Enfermagem (iniciados na década de 1940) foram os
primeiros ambientes intelectuais utilizados pelas enfermeiras.
Tanto a criação da Revista como os dois primeiros congressos
ocorreram nas dependências da Escola de Enfermagem Anna Nery.
Vale ressaltar que a criação da Revista Annaes de
Enfermagem significou um evento significativo para o progresso
da Enfermagem brasileira. Tal iniciativa constituiu indicador
concreto de que a Enfermagem já havia acumulado, à época,
um certo volume de experiências e reflexões sobre suas
vivências, enunciadas por suas porta-vozes autorizadas e
competentes para se manifestarem nos espaços públicos
reconhecidos pelos meios científicos3.
A Escola de Enfermagem Anna Nery por mais de 50 anos
perpetuou uma tradição da Enfermagem: a de ser uma profissão
eminentemente feminina. A sua primeira turma de enfermeiras
(1923-1925) formou 13 enfermeiras de 27 alunas, e, até
1937, ano em que passou a fazer parte do sistema universitário
de ensino, havia formado um total de 245 enfermeiras.
A entrada de alunos do sexo masculino deu-se, de fato e de
direito, no bojo da reforma universitária do final da década de
1960, tendo em 1974 dos 51 enfermeiras(os) formadas(os),
10 do sexo masculino. A Escola de Enfermagem Anna Nery, até
o primeiro semestre de 2006, formou um total de 4.461
enfermeiros, sendo destes 4.208 mulheres e 254 homens.
A Escola de Enfermagem Anna Nery promoveu, a partir de
1947, o primeiro curso denominado “post-graduado” para a
formação de professores, planejado pela professora Olga Salinas
Lacorte. A partir de 1948, o ensino de especialidades, como
Obstetrícia e Saúde Pública, passou a ser ministrado com o
nome de especialização. Outros cursos de pós-graduação foram
instalados solenemente em 1959, na Escola de Enfermagem
da Universidade de São Paulo.
A pós-graduação no Brasil, instituída pela Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional de 1961, aprovada pelo Conselho
Federal de Educação em 1965, surgiu no bojo de uma nova
concepção política de promoção do desenvolvimento econômico
do país, que trouxe a necessidade de uma política de formação
de recursos humanos qualificados.
Ao final da década de 1960, a universidade brasileira foi
submetida a uma reforma administrativa, num contexto de
repressão política: foi implantado um modelo inspirado no sistema
americano de institutos centralizados, de organização
departamental, bem como os cursos de pós-graduação stricto
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 138 - 42.
141
Setenta Anos de Vida Universitária da EEAN
Tyrrell MAR et al
sensu, estabelecendo os princípios de articulação obrigatória
entre ensino e pesquisa e entre ensino superior e pós-graduação.
Tais mudanças ensejaram a necessidade de implantar
cursos de pós-graduação em Enfermagem stricto sensu,
mediante a busca do equilíbrio entre a obtenção do capital
cultural institucionalizado, que oficializa a competência
técnico-científica, e o desenvolvimento da capacidade de
crítica social cuja manifestação emblemática está evidenciada
no XVI Congresso Brasileiro de Enfermagem realizado em
Salvador, Bahia, em 1964, onde se discutiu pela primeira
vez a temática “A pesquisa em Enfermagem”.
O desenvolvimento da pesquisa científica obteve maior
respaldo no Parecer nº 77/69, para o magistério superior, o qual
incentivou principalmente os docentes a defenderem suas teses
de Docência Livre e Doutorado, no final da década de 1960 e
início da década de 1970, a fim de se habilitarem à titulação de
doutores. Como exemplo de iniciativa primeira, temos a tese
intitulada “A observação sistematizada na identificação dos
problemas de enfermagem nos seus aspectos físicos”, defendida
por Wanda de Aguiar Horta, em 1968, na Escola de Enfermagem
Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
No que tange à Enfermagem, a pós-graduação stricto sensu
teve início em 1972, com a criação do curso de Mestrado da
Escola de Enfermagem Anna Nery. Nesta mesma década foram
implantados mais sete cursos de mestrado: quatro na região
sudeste, dois na região nordeste e um na região sul.
O advento dos cursos de pós-graduação contribuiu para a
constituição do habitus científico das enfermeiras, mediante a
concentração dos esforços individuais no sentido de realizar
uma atividade de pesquisa como requisito necessário à
obtenção da titulação requerida, caracterizando, assim, o
estreito vínculo entre a pós-graduação e o desenvolvimento da
pesquisa em Enfermagem no Brasil.
Na década de 1980, houve menor expansão dos cursos de
mestrado em Enfermagem, criando-se apenas mais três cursos,
todos na região sudeste. Em contrapartida, a Enfermagem
científica no Brasil teve como ponto alto a implantação dos
cursos de doutorado em Enfermagem a partir de 1981,
mediante a conjugação de esforços das duas escolas de
Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), a de São
Paulo e a de Ribeirão Preto. O Curso de Doutorado em
Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery, o terceiro
do país, foi criado em 1989. Cumpre assinalar que a criação
dos cursos de doutorado para a Enfermagem representou a
aquisição do capital cultural no estado legitimado necessário à
luta por um espaço no campo científico.
Ademais, na década de 1990, a Escola de Enfermagem
Anna Nery foi pioneira na criação do primeiro Pós-Doutorado
em História da Enfermagem no Brasil.
Além disso, a Escola de Enfermagem Anna Nery foi a
primeira escola de Enfermagem a ser inserida no sistema
universitário como unidade suplementar (Lei nº 452, de 05 de
julho de 1937), sendo transformada em unidade suplementar
de ensino superior da Universidade do Brasil, atual Universidade
Federal do Rio de Janeiro, em 1945 (Lei nº 8.393, de 17 de
dezembro de 1945). Ela é uma instituição de extraordinária
vitalidade que vem persistindo durante mais de oito décadas.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 138 - 42.
A Escola de Enfermagem Anna Nery, além de seu papel de
difusora de conhecimento, mediadora entre gerações antigas e
gerações novas e de crítica da sociedade, vem formando profissionais
capacitados e capazes de assumir posições na sociedade, com
reflexos positivos para o desenvolvimento da profissão.
Numa avaliação de desempenho acadêmico nos últimos
cinco anos, por meio de avaliação qualitativa, a Escola de
Enfermagem Anna Nery se apresenta no cenário nacional e
internacional como se segue: a) filiada à Asociación
Latinoamericana de Escuelas e Facultades de Enfermería
(ALADEFE /UDUAL), 1997; b) vinculada à ABEn Nacional
desde 2005; c) conceito 4 (MB) atribuído ao curso de
graduação pelo MEC/INEP; d) conceito 4 atribuído ao Programa
de Pós-graduação pela CAPES; e) Escola Anna Nery Revista
de Enfermagem (Qualis Internacional “C”); f) Jornada Científica
da UFRJ de 2005: dos 25 melhores trabalhos do CCS, 05 foram
da Escola de Enfermagem Anna Nery; g) o corpo docente da
pós-graduação conta com sete pesquisadores do CNPq, sendo
todos consultores Ad-hoc da CAPES, CNPq e outros órgãos de
fomento à pesquisa; g) a Escola de Enfermagem Anna Nery
conta com 72 docentes do quadro permanente com dedicação
exclusiva (apenas 02 docentes com carga horária semanal de
20 horas). Destes, 49 (68%) são doutores, 72 são mestres
(100%) e 72 (100%) são especialistas, alguns deles com até
cinco especializações. Atualmente, o corpo docente conta com
um professor visitante da Escola de Enfermagem de Montreal/
Canadá e com 22 professores substitutos; h) o corpo discente do
Curso de Graduação em Enfermagem e Obstetrícia está composto
por 622 alunos; o corpo discente de pós-graduação stricto sensu
totaliza 150 alunos; e o corpo discente de especialização conta
com 250 alunos. A vaga no Curso de Graduação é conquistada
através do exame Vestibular, sendo contempladas em Edital
Público 140 vagas anuais (70 por semestre) e, para o Curso de
Licenciatura, mais 40 vagas anuais (20 por semestre).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
À guisa das considerações finais é pertinente relembrar
que, na trajetória desta Escola, os rituais e emblemas instituídos
e perpetuados até nossos dias têm, acima de tudo, o sentido
de intercâmbio entre quem enuncia determinada mensagem e
os acadêmicos eruditos, com sensíveis reflexos para a categoria
em sua totalidade 4, pois os rituais, enquanto rituais de
institucionalização, legitimam e consagram as conquistas da
profissão, mediante a criação de representações mentais à
respeito dessas conquistas, favorecendo a construção de uma
imagem positiva da profissão. Para fundamentar essa assertiva,
lembramos que as instituições formadoras de enfermeiros, na
esteira da Escola de Enfermagem Anna Nery, também
utilizaram rituais e emblemas para a construção de um modelo
de enfermeiro para a sociedade.
É pertinente ainda ressaltar que os rituais vêm contribuindo
para a formação de uma identidade grupal, mediante a consagração
pública de porta-vozes autorizadas da Enfermagem brasileira, como
é o caso da Professora Doutora Vilma de Carvalho, homenageada
na abertura das comemorações dos setenta anos de vida
universitária da Escola de Enfermagem Anna Ney.
142
Setenta Anos de Vida Universitária da EEAN
Tyrrell MAR et al
Referências
Sobre as Autoras
1. Bourdieu P. A economia das trocas lingüísticas O que falar quer
dizer. 2ª ed. São Paulo (SP): Edusp; 1998.
2. Santos TCF, Barreira IE. O poder simbólico da enfermagem norteamericana no ensino da enfermagem na capital do Brasil (19281938). Rio de Janeiro (RJ): Ana Nery; 2002.
3. Oliveira ST. Santos TCF. Rachel Haddock Lobo: vida profissional
e sua contribuição para a REBEn. Rev. Bras. Enferm 2002 jan/
fev; 55 (3): 264-168.
4. Santos TCF. Significado dos Emblemas e Rituais na formação da
identidade da enfermeira brasileira: uma reflexão após oitenta anos.
Esc Anna Nery R Enferm 2004 abr; 8 (1): 81-86.
Maria Antonieta RRubio
ubio Tyr r ell
Diretora da Escola de Enfermagem Anna Nery / UFRJ.
Tânia Cristina Franco Santos
Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Fundamental e
Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em História da Enfermagem
Brasileira da Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ.
Recebido em 10/03/2007
Reapresentado em 25/03/2007
Aprovado em 27/03/2007
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 138 - 42.
143
P otencial TTerapêutico
erapêutico da FFenitoína
enitoína na Cicatrização de R
adiodermites
Radiodermites
Firmino F
RELATO DE EXPERIÊNCIA
EXPERIENCE REPORT - RELATO DE EXPERIENCIA
POTENCIAL TERAPÊUTICO DA FENITOÍNA NA
CICATRIZAÇÃO DE RADIODERMITES
Therapeutical potential of the phenytoin
in the cicatrisation of radiotherapy lesions
Potencial terapéutico de la fenitoína
en la cicatrización de radiodermitis
Flavia Firmino
Resumo
A fenitoína é um anticonvulsivante cujo potencial cicatrizante norteou investigações clínicas em relação à alta incidência de
hiperplasia gengival em pacientes epiléticos. O texto seguinte traz o relato de seu uso em lesão causada pela radioterapia
empregada em um paciente portador de câncer de laringe. Obteve-se epitelização após cerca de 14 dias de aplicação tópica
da solução endovenosa de fenitoína. Este resultado pode ser um dado relevante para o desenvolvimento de produtos e
formas de cuidado no tratamento das radiodermites.
Palavras-chave: Fenitoína. Difenilidantoína. Cicatrização de Feridas. Radioterapia.
Abstract
Resumen
The phenytoin is an anticonvulsant whose high incidence
of gingival hyperplasia in epileptic patient orientated
clinical investigations of the healing potential of this drug.
The following text brings the repor t of his use in lesion
caused by radiotherapy used in a patient carrier of larynx
cancer. Get epithelium was obtained after approximately
14 days of topical application of the phenytoin endovenous
solution. This result can be a relevant die for the
development of products and care forms in the treatment
of the lesions in radiotherapy.
La fenitoína es un anticonvulsivo cuya alta incidencia de
hiperplasia gingival en pacientes epilépticos orientó
investigaciones clínicas del potencial cicatrizante de esta
droga. El siguiente texto trae el relato de su uso en lesión
causada por radioterapia empleada en un paciente portador
de cáncer de laringe. Se obtuvo epitelización después de
aproximadamente 14 días de aplicación tópica de la solución
endovenosa de fenitoína. Este resultado puede ser un dato
relevante para el desarrollo de productos e formas de
cuidado en el tratamiento das radiodermitis.
Keyw
or
ds: Phenytoin. Diphenilidantoine. Wound Healing.
ywor
ords:
Radiotherapy.
Palabras clave: Fenitoína. Difenilhidantoina. Cicatrización
de Heridas. Radioterapia.
Esc Anna
Nery
R Enferm
Esc Anna Nery R Enferm
2007
mar;
11 (1): 2007
143 - mar;
9. 11 (1): 143 - 9.
144
P otencial TTerapêutico
erapêutico da FFenitoína
enitoína na Cicatrização de R
adiodermites
Radiodermites
Firmino F
INTRODUÇÃO
A fenitoína tópica é uma droga anticonvulsivante sintetizada
desde 1937 e amplamente utilizada em nosso meio para o
controle e/ou prevenção de crises convulsivas em adultos e
crianças. A partir de seu efeito colateral de hiperplasia gengival,
uma possível capacidade cicatrizante passou a ser considerada
por volta de 1945. Esta capacidade foi confirmada em 1958
através de pesquisas experimentais em seres humanos não
epiléticos portadores de lesões gengivais1.
Posteriormente suas propriedades cicatrizantes foram
exploradas em estudos in vitro e em estudos clínicos que
envolveram outros tipos de lesões em animais de laboratórios2.
O uso tópico nas lesões em seres humanos passou a ocorrer a
partir da década de 1990. Registra-se sua aplicação em feridas
decorrentes das úlceras venosas; abscessos secundários à
injeção intramuscular na região glútea; úlceras por pressão;
feridas por arma de fogo; lesões decorrentes da hanseníase;
úlceras do pé diabético; e queimaduras 2,3,4,5,6.
A possível efetividade da ação cicatrizante da fenitoína
surgiu como questionamento da práxis de assistir pacientes
oncológicos com doença avançada, fora de possibilidades
terapêuticas atuais (FPTA), em um ambulatório de curativos
de uma instituição pública, a partir da indagação do Serviço de
Farmácia daquela instituição. Neste cenário, a prática
profissional de enfermagem consistia na execução de curativos
em clientes portadores de feridas agudas traumáticas, cirúrgicas
e crônicas. O potencial cicatrizante da fenitoína despertou
especial interesse tendo em vista a ocorrência das feridas
traumáticas, e deu-se início a uma pesquisa bibliográfica que
fornecesse evidências desta atuação.
As evidências encontradas guiaram o uso desta droga em
uma lesão por radiodermite em um paciente portador de câncer
de laringe ressecado e que à época era recém-admitido na
instituição referida. Durante a consulta de enfermagem, ele
apontou como principal desconforto físico a demora no processo
de cicatrização de sua lesão localizada na região cervical à
direita, de espessura superficial, com cerca de 5 cm de
cumprimento e 3 cm de diâmetro em sua base mais alargada.
METODOLOGIA
A busca bibliográfica se deu empregando o termo “topical
phenytoin” nas bases Medline, LILACS e PubMed.
Na base Medline foram obtidas indicações de 56 artigos
correspondentes aos períodos de 1966 a 1995 e 1996 a 2004.
Após a leitura dos títulos e resumos disponíveis foram excluídos
25 artigos. Eles versavam sobre interação com fármacos e
fitoterápicos; ação da fenitoína no controle da dor neuropática
e outras síndromes dolorosas; controle e prevenção da epilepsia
nas cirurgias para hemostasia de aneurisma subaracnóideo e
estudos experimentais que exploravam a ação da fenitoína em
outros cenários que não na cicatrização da pele, como, por
exemplo, na espasticidade e injúria neuronal. Dentre os artigos
excluídos constou, ainda, um artigo que versava sobre outros
tratamentos tópicos para cicatrização de lesões de pele.
Na releitura do título e resumos disponíveis das 31
indicações restantes, compostas por experimentos clínicos
randomizados, estudos não randomizados, relato de
experiências, e estudos comparativos controlados, foi possível
traçar a seguinte categorização: A) artigos que abordaram a
aplicação da fenitoína tópica nos seguintes tipos de lesões:
úlceras por pressão: 4; úlceras venosas: 1; úlceras mistas (sem
especificação no texto): 1; hansênicas: 4; queimaduras: 1;
cavidades de abscesso: 1; úlceras do pé diabético: 2;
epidermólise bolhosa: 2; B) artigos que versavam sobre uso
tópico e sistêmico em afecções de pele: 1 (“lichen planus”); C)
artigos que compararam a eficácia da fenitoína tópica dentre
outros produtos cicatrizantes convencionais: 7, a saber: película
de poliuretano (op-site): 1; mel: 1; sulfadiazina + clorexedine
(produto americano denominado Silverex – indicado como
cicatrizante): 1; iodo (solução à base de iodo, produto
americano denominado EUSOL igualmente indicado como
cicatrizante): 1; extrato placentário: 1; hidrocolóide: 1 e solução
salina normal: 1. D) artigos que versaram sobre a absorção
sistêmica da fenitoína tópica quando utilizada como
cicatrizante em feridas: 1. E) ar tigos que apontavam
experimentos in vitro que investigaram o potencial cicatrizante
da fenitoína: 2. F) artigos que mencionaram a indicação da
fenitoína como cicatrizante tópico: 4.
A seguir as indicações foram separadas e computadas por
décadas considerando a data da publicação: década de 1980:
2 artigos; década de 1990: 19 artigos; e no período de 2000
a 2004: 10 artigos.
Na base PubMed foram indicadas 53 referências. Seguindo
o mesmo critério utilizado para a base Medline, foram
selecionadas 31 indicações. Na separação por década observouse que na década de 1990 foram publicados 14 artigos, e os
demais (17) foram publicados no período de 2000 a 2004.
Foi realizada comparação entre as indicações obtidas nas duas
bases mencionadas a fim de eliminar duplicidades. Detectaramse 18 duplicidades e 13 indicações inéditas compostas
predominantemente por estudos clínicos experimentais. Dessa
forma, foi realizada outra categorização: artigos que versavam
sobre os mecanismos indutores do crescimento do tecido
gengival induzido pela fenitoína: 6; artigos versavam sobre os
efeitos adversos da fenitoína para o tegumento e as doenças
de pele: 2; artigos que versavam diretamente sobre a atuação
da fenitoína na cicatrização de feridas utilizando ratos como
modelos experimentais: 4; artigos que versaram sobre os
benefícios do uso fenitoína por administração retal na
cicatrização de anastomose do intestino de ratos: 1.
Na base LILACS, constou somente indicação de um artigo,
o qual versa sobre o uso da fenitoína tópica em úlceras por
pressão; estudo comparativo, não randomizado, com grupocontrole, envolvendo 20 pacientes.
O levantamento bibliográfico evidencia a ausência de
artigos nacionais sobre a presente temática. Este fato foi um
dos fatores limitantes da pesquisa, pois a aquisição dos artigos
identificados dependia da importação do texto. Foram
importados artigos que descreveram as pesquisas iniciais do
potencial cicatrizante da fenitoína, bem como aqueles que
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 143 - 9.
145
P otencial TTerapêutico
erapêutico da FFenitoína
enitoína na Cicatrização de R
adiodermites
Radiodermites
Firmino F
poderiam fornecer as informações mais recentes sobre a razão
desta atuação. Dois artigos selecionados para captação estão
disponíveis somente no idioma chinês; desta forma, foram
considerados os seus respectivos resumos em inglês fornecidos
na base de dados.
FENITOÍNA
Também denominada difenilidantoína, ela pertence ao grupo
dos hidantoinatos e, em uma escala cronológica de descoberta
das drogas anticonvulsivantes, é a terceira droga, antecedendo
o sal de brometo, introduzido pelo pesquisador Locock em 1857,
e o fenobarbital, desenvolvido pela empresa farmacêutica alemã
Bayer em 1912. Foi descoberta em 1937 pelo farmacêutico
Putnam quando ele testava hidantoinatos procurando um modelo
que especificamente tivesse propriedades anticonvulsivantes
sem os efeitos sedativos do fenobarbital. Constitui a primeira
indicação no controle das crises convulsivas, assim como a
carbamazepina, descoberta na década de 19607.
Atua aumentando o tempo de inativação dos canais de
sódio dos neurônios com hiperpolarização. Desta forma, ela
se liga aos picos negativos dos canais de sódio. Seus efeitos
colaterais são: hiperplasia gengival, hisurtismo e toxicidade
relativa à dose; pequenos aumentos na dose geram grandes
aumentos na taxa plasmática da droga. Situações passíveis de
toxicidade incluem hipoalbuminemia, insuficiência renal crônica
e disfunção hepática, podendo ocorrer manifestações na pele
como rash cutâneo e desencadeamento da síndrome de StevensJohnson. Foram reportados efeitos teratogênicos após ingestão
diária de 100 a 800 mg no primeiro trimestre da gravidez.
Efeitos carcinogênicos são questionados, mas não foram
comprovados em seres humanos8.
É sintetizada pela via do citocromo P450 e eliminada na
urina. Daí decorre sua interação com diversos medicamentos.
Ainda pode desencadear a síndrome da hipersensibilidade (que
tem incidência de 1 em 1.000 a 1 em 10.000 exposições à
droga). Isto se dá pela produção do metabólito óxido de areno,
também presente no fenobarbital e na carbamazepina. Nesta
situação pode ocorrer rash cutâneo, síndrome de StevensJohnson e, inclusive, necrose epidérmica. A dose habitual
para o adulto é de 300 mg/dia e para a criança, 5 mg/kg/
dia. Tem sido indicada como droga antiar rítmica,
miorrelaxante esquelético e inibidora da secreção/síntese
de colagenase; para tratamento da enxaqueca; controle da
dor neuropática e outras síndromes dolorosas como a
neuralgia do trigêmio. A toxicidade passa a ser considerada
a partir da concentração de 20 mg/mL no plasma 9.
Dentro do quadro de toxicidade são apontadas as seguintes
manifestações clínicas: depressão da condução cardíaca,
fibrilação ventricular e parada cardíaca em pacientes tratados
com fenitoína intravenosa nas arritmias cardíacas; nistagmo,
ataxia, disartria, tremor em repouso; confusão e desorientação
na intoxicação grave; hepatite; hiper ou hipoglicemia; redução
da concentração da tiroxina; leucocitose com linfócitos
atípicos, leucopenia e agranulocitose, deficiência de folato
e anemia megaloblásticas7,8,9.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 143 - 9.
Radiodermites
Geralmente se define a radiodermite como uma lesão de
pele conseqüente ao emprego da radioterapia. A radiodermite
não é considerada uma lesão propriamente dita, mas uma reação
da pele à radioterapia semelhante a uma queimadura superficial,
onde podem estar presentes, ou não, áreas de ulceração10. Tratase de lesões potencialmente dolorosas que, na dependência da
área envolvida, pode limitar os movimentos do corpo.
A radioterapia é um método tradicional no tratamento
oncológico. Pode estar associada ao tratamento cirúrgico e/ou
quimioterápico. A radiação destrói células neoplásicas, mas,
infelizmente, afeta células sadias adjacentes, e as estruturas
intranucleares e os tecidos com maior capacidade de renovação
celular são os mais afetados. O material intranuclear é essencial
à reprodução e manutenção da estabilidade da célula. Desta
forma, a cada sessão de radioterapia, as células do campo a ser
irradiado sofrem uma nova agressão que provoca perda
cumulativa da capacidade de proliferação celular. Este
mecanismo de absorção e tolerância das células sadias pela
radiação acaba por limitar a dose radioativa do tratamento. Em
pacientes portadores de câncer da cabeça e do pescoço, as
doses de radiação empregadas podem chegar a 7.000
centiGrays (cCy). Nesta população outros efeitos secundários à
radioterapia podem ser: xerostomia, cáries, mucosite,
osteorradionecrose, disfagia, perda ou alteração do paladar11.
A partir de 1982 foi proposta uma classificação de
estadiamento das radiodermites, considerando as alterações
teciduais características10 conforme se descreve a seguir:
Estágio I: Inflamação – eritema da região; a pele pode
variar da tonalidade rosa a vermelho-brilhante. Pode
ocorrer um leve edema.
Estágio II: Descamação (com secura da pele) – eritema,
além de uma aparência seca devida às lesões nas
glândulas sebáceas no campo de tratamento. Pode haver
irritação da pele ou uma leve sensação de queimadura.
Estágio III: Descamação (com umidade da pele) –
eritema, edema e bolhas.
Estágio IV: Epilação, fibrose e atrofia – perda
permanente de peles no local e danos às glândulas
sebáceas e/ou sudoríparas. Isso pode provocar efeitos
colaterais posteriores, como dano à drenagem linfática
ou telangiectasia.
Para o tratamento destas lesões não existe consenso. As
intervenções estão baseadas na extensão do dano quanto ao
acometimento das estruturas da pele e assentamento de
protocolos institucionais, infelizmente nem sempre presentes
nas instituições que fornecem o tratamento radioterápico.
As lesões no estágio I geralmente são tratadas como
queimadura de sol, aplicando-se produtos emolientes simples
que não contenham metal, como, por exemplo, zinco; aquelas
de estágio II também podem se beneficiar dos produtos
emolientes e de soluções à base de hidrocortisona ou outros
produtos de capacidade antiinflamatória. Soluções à base de
146
P otencial TTerapêutico
erapêutico da FFenitoína
enitoína na Cicatrização de R
adiodermites
Radiodermites
Firmino F
calêndula também podem apresentar resultados benéficos.
No estágio III pode-se considerar uso de filmes poliuretanos
e/ou curativos hidrocolóides, seguindo o princípio de
tratamentos modernos de outras feridas. Nas lesões de
estágio IV aplica-se o mesmo critério10 .
Fundamentação científica
O processo de cicatrização da pele envolve uma série de
eventos biológicos, que se inicia com hemostasia e inflamação
onde ocorrem caracteristicamente: aumento da permeabilidade
vascular; quimiotaxia das células para dentro do meio ambiente
da ferida; liberação de citocinas, incluindo interleucina 1 e 2,
plaquetas, fatores de crescimento; e ativação de células
migrantes. Em uma segunda fase, ocorre, caracteristicamente,
a proliferação de fibroblastos, miofibroblastos e células
endoteliais. Estas últimas desencadeiam a formação de novos
capilares pelo processo de angiogenese. Na terceira e última
fase, ocorrem maturação e remodelagem do tecido formado. A
principal característica desta fase é a deposição do colágeno
na ferida onde a velocidade e a qualidade da deposição na
matriz celular vai determinar a resistência da cicatriz10,12.
Os fatores que afetam o processo de cicatrização são: a
idade, a imobilidade, o estado nutricional, as doenças
associadas e o uso de medicamentos contínuos,
principalmente as drogas imunossupressoras. No entanto,
há impor tantes fatores locais a serem considerados: a
localização anatômica da ferida, a presença de infecção,
tecido desvitalizado e/ou necrótico, entre outros10.
O câncer é um importante fator sistêmico que afeta o
processo de cicatrização, por tratar-se de uma doença
catabólica de conseqüente impacto desfavorável sobre o estado
nutricional do paciente oncológico. Os tratamentos clássicos
de quimioterapia e radioterapia constituem fator de
interferência negativa adicional, pois ambos interferem no
material nuclear da célula e, conseqüentemente, na síntese de
proteínas e de divisão celular. Isto afeta diretamente a síntese
de fibroblastos e produção de colágeno. Destaca-se que a
radiação pode afetar a cicatrização de uma ferida já existente
ou provocar mudanças na pele de forma que se torne lento
qualquer processo de cicatrização10,11.
Esta realidade justifica a demanda da atuação da enfermeira
no tratamento da radiodermite e cicatrização de outras lesões
de pele que o paciente sob tratamento radioterápico venha
apresentar, além dos cuidados de prevenção,
O mecanismo postulado para a ação cicatrizante da
fenitoína tópica é de que ela estimula os fibroblastos na síntese
de colágeno; facilita a deposição de colágeno; remodela a matriz
extracelular; inibe a ação da colagenase e exerce atividade
antibacteriana e, ainda, pode controlar o processo de morte
celular (apoptose). A capacidade de ativar mediadores do
processo de inflamação e a formação e reorganização da
neovascularização, importantes na fase inicial do processo de
cicatrização, também foram citadas nos estudos compulsados2,3,4,5.
No entanto não há um mecanismo estabelecido.
Exemplificando este fato, podemos citar estudos in vitro
com fibroblastos da derme humana envolvendo conceitos e
técnicas da engenharia genética, onde se concluiu que a
fenitoína tópica não leva à proliferação celular propriamente
dita, mas atua acelerando a atividade autócrina e parócrina
dos fatores de crescimento por movimentos de regulação
dos receptores envolvidos13.
O efeito da fenitoína sobre a ferida causada por irradiação
foi objeto dos estudos de médicos pesquisadores do Third
Military Medical University, do Depar tment of Radiation
Medicine. Foram verificados o efeito da irradiação nos
macrófagos e a ação da fenitoína em uma ferida causada por
irradiação em comparação com uma ferida normal. Foram
coletados macrófagos da ferida e implantados na incisão feita
no dorso de ratos que receberam irradiação. O número de
macrófagos, função fagocitária, a liberação do fator de necrose
tumoral, interleucina 1 liberada pelos macrófagos e a força
tênsil das feridas foram investigados. Os animais irradiados
receberam irradiação sistêmica (6 Gy) e local (20 Gy)14.
Os autores descrevem como resultados que a força tênsil
diminuiu após 6 Gy de irradiação sistêmica e 20 Cy de irradiação
local, e a fenitoína melhorou a força tênsil na ferida normal e
na ferida causada por irradiação. Após 6 Cy de irradiação
sistêmica a função fagocitária dos macrófagos da ferida, a
liberação de fator de necrose tumoral alfa e interleucina 1,
bem como o numero de macrófagos na ferida, foram
significativamente diminuídos nos dias 3, 5, e 8 após o
ferimento. Nos ratos que receberam 20 Cy de irradiação local,
a proporção de macrófagos na ferida foi significativamente
diminuída nos dias 3, 5, 8 e 13 após o ferimento, mas a função
dos macrófagos não foi significativamente diminuída. A
fenitoína aumentou significativamente o número de
macrófagos na ferida; melhorou a função fagocitária dos
macrófagos; aumentou a liberação de fator de necrose tumoral
alfa e de interleucina 1 da ferida, nos dias 3, 5, e 8 após o
ferimento a despeito dos ratos irradiados ou não.
Os autores concluíram que a diminuição do número e da
função dos macrófagos na ferida tem importante papel na
capacidade da irradiação tornar lento o processo de cicatrização
das feridas. A fenitoína acelerou a cicatrização da ferida
normal e da ferida prejudicada pela irradiação pelo aumento
do número de macrófagos e por melhorar a função dos
macrófagos já presentes na ferida. No entanto, o resumo não
expõe como a fenitoína foi utilizada neste estudo.
Em outro estudo, conduzido no Department of Clinical
Pharmacology, do General Hospital of Guangzhou Military Área,
os mesmos pesquisadores estudaram a influência da irradiação
e da fenitoína tópicaa sobre a proliferação dos fibroblastos e da
síntese do colágeno. Foram utilizados ratos de laboratórios
(Wistar), machos, divididos em dois grupos: irradiados e nãoradiados. Cada um deles foi subdividido em grupo tratado com
fenitoína e grupo-controle. Foi feita uma ferida incisional de 7
cm, longitudinal, no dorso de cada rato, onde uma esponja de
polivinil com álcool (PVAS) do tamanho de 1 cm x 4 cm foi
implantada dentro da ferida, e a ferida foi suturada. Antes da
implantação, a esponja foi imersa em uma solução de fenitoína
(10mg/mL) ou solução salina normal (grupo-controle). De cada
ferida, o substrato e células fibroblastos foram coletados e
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 143 - 9.
P otencial TTerapêutico
erapêutico da FFenitoína
enitoína na Cicatrização de R
adiodermites
Radiodermites
Firmino F
avaliados quanto à sua proliferação e síntese de colágeno
após irradiação de corpo total com 6 Cy15.
Os autores mencionaram como resultados que a
proliferação de fibroblastos e a síntese de colágeno foram
estimuladas do dia 5 ao dia 8 após o ferimento e que a
irradiação de 6 Cy de corpo total diminuiu este efeito. Notaram
que a fenitoína aumentou a atividade modulatória dos
fibroblastos, a despeito de serem animais irradiados ou não.
Concluíram que a irradiação do corpo total resultou em
mudanças das condições locais da ferida, trazendo malefícios
para o reparo tecidual. Porém, a fenitoína pode estimular a
proliferação dos fibroblastos e síntese do colágeno, o que pode
ser benéfico para a cicatrização da ferida.
A avaliação da cicatrização pela fenitoína tópica foi
investigada, também, através de um estudo clínico
experimental, controlado, utilizando grupo de 20 pacientes
portadores de cavidades por abscesso e tratados com
fenitoína tópica, em comparação com grupo-controle de
20 pacientes onde foi aplicado tratamento convencional à
base de solução salina. A taxa média de redução da área
da ferida foi de 2,02 cm 2/dia no grupo da fenitoína em
comparação com 1,58 cm2/dia do grupo-controle no dia
10; e 1,8 cm2/dia do grupo de fenitoína em comparação
com 1,19 cm2/dia do grupo-controle no dia 20. A média de
redução do volume de ambos no dia 10 e 20 foi de 0,48
cm3/dia para o grupo fenitoína versus 0,2 cm3/dia para o
grupo-controle. No dia 20, 17 dos pacientes tratados com
fenitoína foram considerados completamente
cicatrizados, comparados com somente um caso de
cicatrização do grupo-controle 4.
Outro estudo clínico experimental controlado, não
randomizado, verificou o potencial de cicatrização da
fenitoína tópica em 20 pacientes portadores de úlceras
venosas. Em um grupo de 10 pacientes, foi aplicada
fenitoína tópica (comprimidos macerados aplicados sobre
a lesão). O grupo-controle recebeu somente limpeza prévia
com água e sabão e oclusão do curativo. Os autores
relataram que, ao final do tratamento, 40% dos pacientes
do grupo tratado com fenitoína respondeu à aplicação desta
droga como agente indutor de cicatrização com
desenvolvimento do tecido de granulação e reconstituição
do epitélio, diminuindo a solução de continuidade da pele,
ao passo que nenhum paciente do gr upo-controle
manifestou algum grau de aumento no processo de
cicatrização. Concluíram que a aplicação da fenitoína tópica
é um recurso farmacológico para a cicatrização das úlceras
venosas, pois favorece a diminuição do tempo de
cicatrização e custos do tratamento3.
Autores que realizaram revisão dos principais estudos
que verificaram as propriedades cicatrizantes na fenitoína
nos diversos tipos de feridas citados anteriormente apontam
as seguintes formas de aplicação da fenitoína tópica: a)
comprimido macerado e salpicado diretamente sobre a lesão;
b) 100 mg de solução (2 mL) endovenosa diluída em 5 m de
soro fisiológico; creme na concentração de 2% ou 5%
(preparado por manipulação farmacológica com base
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 143 - 9.
147
hidrofílica) 5,6. No Brasil, pesquisas experimentais com o
objetivo de avaliar a eficácia do gel de fenitoína na
concentração de 0,1% em feridas no dorso de ratos
diabéticos desnutridos estão sendo conduzidas 16.
A TÉCNICA DE CURATIVO IMPLEMENTADA
E RESULTADOS OBTIDOS
A consulta de enfermagem no ambulatório de curativos
consistia em examinar o paciente com ferida e como os
cuidados adequados podem ser planejados e avaliados
dentro da complexidade que o cuidado holístico
direcionado ao binômio paciente-família contempla,
considerando a aptidão auto-cuidado.
À entrevista inicial, o paciente enfatizou sua preocupação e
desconforto físico ocasionado pela demora no processo de
cicatrização de uma lesão superficial situada na região cervical
à D. Tratava-se de uma radiodermite de estágio III, de pequena
extensão (cerca de 5 cm de cumprimento e 3 cm de diâmetro
em sua base mais alargada). No entanto, a mesma localizavase sobre área de dobra e tensão e interferia na mobilidade da
cabeça, limitando seus movimentos. Referia dor de pouca
intensidade. Estava apto ao autocuidado, mas era acompanhado
por um profissional técnico de enfermagem que pertencia ao
serviço da rede básica de saúde do município onde residia.
Realizava curativos duas vezes ao dia utilizando solução
salina para limpeza e ácidos graxos essenciais (AGE) como
produto cicatrizante, ocluindo, a seguir, com gaze e micropore.
Já havia concluído seu tratamento radioterápico. Encontravase com perda ponderal continua indicando déficit nutricional.
O AGE é um produto com ação cicatrizante amplamente
utilizado em feridas das mais diversas naturezas. Tem indicação
de uso em feridas que requeiram tecido de granulação. Na
radiodermite do paciente em questão, sua lesão já tinha tecido
de granulação constituído, havendo necessidade de ocorrer a
reepitelização para diminuição da lesão de continuidade da pele.
A partir das evidências descritas anteriormente, a fenitoína
tópica serviu de base para a proposta de uma nova intervenção
para indução da reepitelização da derme exposta. Foram
planejadas realização do curativo com gaze embebida em 1 mL
da solução endovenosa diluída em 5 mL de SF 0,9%. Nessa
proporção, a concentração da fenitoína foi de 10 mg/mL.
Manteve-se a periodicidade da troca 2x/dia no intervalo
determinado de 12/12 h.
Tínhamos a preocupação com riscos da manipulação da
droga e a segurança do profissional cuidador. No entanto,
nenhum artigo descreveu o uso de luvas ou máscara cirúrgica
para tal finalidade. Porém o cuidador foi orientado ao uso destes
equipamentos de proteção individual durante a manipulação
da droga, após consentir a realização da pesquisa.
Após 14 dias de uso desta intervenção, o paciente
compareceu para nova consulta com o leito da lesão
reepitelizado; ele havia deixado de realizar os curativos no dia
anterior à consulta. Decorreu-se, então, 13 dias para
consumação do processo de reepitelização. Este espaço de
tempo está de acordo com aquele preconizado na literatura6.
148
P otencial TTerapêutico
erapêutico da FFenitoína
enitoína na Cicatrização de R
adiodermites
Radiodermites
Firmino F
DISCUSSÃO
CONCLUSÃO
A dose da fenitoína escolhida para a inter venção
proposta está 50% inferior às doses de fenitoína
demonstradas na literatura em relação à aplicação em
feridas como as úlceras por pressão grau II6. Para o emprego
de tal dose considerou-se o volume pequeno da área
danificada pela irradiação e o cuidado em não causar danos
à pele ao redor da lesão.
Supõe-se que o pH da fenitoína tópica seja alto (cerca
de 12), o que pode causar danos na pele adjacente à ferida,
uma vez que o pH da pele normal é em torno de 4,5 ou 5.
Daí decorre a indicação do uso da fenitoína manipulada na
forma de creme por par te de alguns estudiosos 5,6. Na
intervenção descrita, não foram relatados, e nem detectados
à inspeção, danos na pele adjacente.
Destaca-se que um ponto de conflito do uso da fenitoína
tópica é a sua absorção sistêmica. Em pacientes portadores
de extensas úlceras venosas, nos quais comprimidos
de fenitoína foram macerados e aplicados durante o
tempo médio de três meses, o maior nível sérico
detectado foi de 4,3 mg/mL. Este resultado está abaixo
dos índices terapêuticos da droga no plasma de
pacientes que se utilizam cronicamente dela para
controle das crises convulsivas 5 .
Em relação ao uso da fenitoína tópica na cicatrização
de radiodermites, não constou registro na literatura
compulsada tal como constou para as úlceras venosas, por
pressão, pé diabético, dentre outras. No entanto, a
radiodermite grau III esboça ferimento similar à úlcera
por pressão grau II e queimaduras, e, nestas, a fenitoína
tópica foi utilizada com bons resultados 5,6,10 . Estas
infor mações constituíram critérios decisivos para a
transferência dos resultados das pesquisas para a
implementação da prática assistencial no paciente em
pauta, além do consentimento infor mado e outros
critérios trazidos pelas evidências aqui contempladas.
A revisão bibliográfica reforça a fenitoína como agente tópico
cicatrizante, com capacidade de ação descoberta a partir de
investigações sobre o seu principal efeito colateral, ou seja, a
hiperplasia gengival. Estudos in vitro e em animais de laboratórios
realizados nas duas últimas décadas sugerem que esta ação
parece estar atrelada à interação da fenitoína sobre os
fibroblastos, à síntese e remodelação do colágeno e à liberação
e maximização dos efeitos dos fatores de crescimento celular. No
entanto, um mecanismo definitivo não está estabelecido.
A partir da década de 1990 pesquisas foram conduzidas
explorando o potencial desta droga em lesões teciduais nos seres
humanos, incluindo aquelas por úlceras por pressão, úlceras
hansênicas, venosas, e as do pé diabético, em estudos controlados
e comparativos. A indicação da aplicação da fenitoína tópica na
concentração de creme de 2% a 4% nas lesões já consta como
indicação em periódico farmacológico de circulação expressiva.
Entretanto, esta pesquisa não identificou estudos clínicos onde a
aplicação deste creme fosse explanada.
A realização de pesquisas experimentais nesta temática está
crescendo no âmbito internacional. Os chineses têm desenvolvido
trabalhos promissores; no entanto, estão no idioma chinês com
poucas informações disponibilizadas nos resumos em inglês. Este
foi um fator limitante importante nesta pesquisa.
Ainda que a fenitoína apresente resultados relevantes nos
estudos compulsados, trata-se de uma droga de uso controlado,
e, à luz dos produtos modernos de cicatrização, tem-se uma
gama de variedades mais elegíveis para a prática assistencial.
Ocorre que este fato não inviabiliza a condução de pesquisas
com metodologias rigorosas que venham a explorar este
temática em nosso meio. Trata-se de mais um desafio para a
enfermeira quando se considera que a Enfermagem, como
ciência holística, gera interações com questões complexas e
relevantes, que requerem um pluralismo de paradigma e
métodos, com a finalidade maior de diminuir o efeito da doença
sobre a vida do indivíduo.
Referências
1. Shapiro MDDS. Acceleration of gingival wound healing in nonepileptic patients receiving diphenylhydantoin sodium. Exp. Med.
Surg 1958 Sep; 7 (3): 41-53.
2. Simpson GM, Kunz E, Slafta J. Use sodium diphenylhydantoin in treatment
of leg ulcers. New York State J Medicine 1965 Apr; 1 (1): 886-88.
3. Castaneda-Vazquez MA, Castaneda-Vasquez H, La Mora PG.
Cicatrización de úlceras venosas com difenilhidantoinato de sódio.
Rev Biomed 2001 dez; 12 (3): 248-56.
4. Lodha SC, Lohya ML, Vjas MCR, Bhandari S, Goyal RR, Harsh MK.
Role of phenytoin in healing of large abscess cavities. Br J Surg 1991
Jan; 78 (1): 105-08.
5. Thuy VO. Topical phenytoin for wound healing. Pharmacy Newsletter
2001 Sept/Oct: 1 (3): 04.
6. Allen Jr, LV. Secundum art. compounding for wound care. Current
& Practical Compounding Information for the Pharmacist 2002 Dec;
12 (1): 126-32.
7. Guerreiro, CAM. História do surgimento e desenvolvimento das
drogas antiepilepticas . J. Epilepsy Clin. Neurophysiol [periódico on
line]. 2006 jul; [citado 07 out 2006]; 12 (1) : 18-21 [aprox.4 telas].
Disponível em: http://www.epilepsia.org.br/epi2002/1Sup1-p1821.pdf#search=%22fenitoina%20Locock%20Bayer%22
8. Korolkovas. Dicionário Terapêutico Guanabara. 1997/1998. Rio de
Janeiro (RJ): Guanabara-Koogan; 1997. Fenitoína; p. 158.
9. Dicionário de Administração de Medicamentos na Enfermagem. Rio
de Janeiro (RJ): EPUB; 2003/2004.
10. Dealey C. Cuidando de feridas: um guia para as enfermeiras.
Tradução de Eliane Kanner. São Paulo (SP): Atheneu; 1996.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 143 - 9.
P otencial TTerapêutico
erapêutico da FFenitoína
enitoína na Cicatrização de R
adiodermites
Radiodermites
Firmino F
11. Grimaldi N, Sarmento V, Provedel L, Almeida D, Cunha SD. Conduta
do cirurgião-dentista na prevenção e tratamento da
osteorradionecrose: revisão de literatura. Rev Bras Cancerol 2005
out/nov/dez; 51(4): 320-23.
12. Oliveira BGRB, Rodrigues ALS. Cicatrização de feridas cirúrgicas e
crônicas. Esc Anna Nery Rev Enferm 2003 abr; 7 (1): 104-13.
13. Swamy SMK, Tan P, Zhu YZ, Lu J, Achuth HN, Moochhala S. Role of
phenytoin in wound healing: microarray analysis of erarly transcriptional
responses in human dermal fibroblasts. Biochem Biophys Res Commun
2004 Jul; 314 (3): 661-66.
14. Song S, Cheng T. The effect of systemic and local irradiation on
wound macrophages and the repair promoting action of phenytoin
sodium Zhonghua Yi Xue Za Zhi. [on line] 1997 Jan; [citado 04 ago
2004]; 77 (1) [aprox.01 tela]. Disponível em: http://www.pubmed.com.
149
Nota
a
Explicitado no título do artigo.
Sobre a Autora
F la
via Fir mino
lavia
Enfermeira. Mestre em Ciências da Enfermagem. Professora
Substituta da Escola de Enfer magem Anna Ner y/UFRJ.
Coordenadora da Educação Continuada do Serviço de Enfermagem
do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC) da Fundação
Oswaldo Cruz (FioCruz)/RJ.
Recebido em 21/01/2006
Reapresentado em 17/07/2006
Aprovado em 01/09/2006
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 143 - 9.
150
Programa Viva a Vida: Capacitação de Agentes Comunitários para a Saúde Mental
Loyola C et al
THE LIVING LIFE PROGRAM – STRATEGY FOR TRAINING
OF COMMUNITY HEALTH AGENTS AS SOCIAL EDUCATORS
TO GIVE COMMUNITY ATTENTION IN MENTAL HEALTH
O Programa Viva a Vida – estratégia de capacitação de agentes
comunitários de saúde como educadores sociais capazes de prestar
atenção comunitária em saúde mental
El Programa Viva la Vida – estrategia para entrenamiento de agentes
comunitarios de salud como educadores sociales capaces de prestar
atención comunitaria en salud mental
Cristina Loyola
Sebastião Rocha
Abstract
The Living Life Program which established in the state of Maranhão - Brazil 2001-2003, had three key areas: the excluded
as clients, the training of the professionals involved as action strategy, and ethics which was orientated on the premise that
every human being is born to be free, healthy, educated and happy as guidelines. Through the mental health training program,
it was intended that the community health agents should gain the required knowledge to do three tasks: to identify suffering
people mental problems, acknowledge this suffering in the patient’s home and thirdly, to send the patient for specialist care
in the region when necessary. This should be done to avoid non-therapeutic interventions, such as that often provided by the
police. The comprehension that Program studies pertinent questions relating to mental health, is necessary to consider what
human resources are required, so as to redirect the model for providing care, remembering that success can only be
achieved in psychiatric care if at every point of care there is acceptance, treatment and social inclusion.
Keyw
or
ds
ywor
ords
ds:: Public Health. Mental Health. Primary Attention to Health.
Resumo
Resumen
O Programa Viva a Vida, desenvolvido no estado do
Maranhão no período 2001-2003, trabalhou com três
interfaces: com os excluídos como clientela, com o
treinamento sofisticado dos profissionais envolvidos como
estratégia de ação e com uma ética orientada pela premissa
de que todo humano nasce para ser livre, saudável, educado
e feliz como guia. Após o treinamento de dez mil agentes
comunitários de saúde esperamos que eles sejam capazes
de identificar pessoas em sofrimento psíquico, fazer o
acolhimento deste indivíduo no próprio domicílio, em
primeira instância, e quando não for possível, encaminhá-lo
para atendimento especializado na região, evitando o
envolvimento de instâncias não terapêuticas como a polícia
. O entendimento que norteou o Programa foi o de que
para estudar as questões pertinentes à saúde mental temos
que definir que recursos humanos necessitamos para redirecionar o modelo assistencial. E reafirmar que para
garantir o cuidado em saúde mental temos que ter
acolhimento, tratamento e inclusão social.
El Programa Viva la Vida, desarrollado en el estado del
Maranhão en lo período 2001 hasta 2003, ha trabajado con
tres interfaces: con los excluidos como clientela, con el
entrenamiento sofisticado de los profesionales envueltos
como estrategia de acción y con una ética orientada por la
premisa de que todo ser humano nace para ser libre,
saludable, educado y feliz. Después del entrenamiento de
diez mil agentes comunitarios de salud esperamos que ellos
sean capaces de identificar personas en sufrimiento psíquico,
acoger a este individuo en su domicilio, en primera instancia,
y cuando no es posible, encaminarla a la atención
especializada en la región, evitando el envolvimiento de
instancias no-terapéuticas, como la policía. El entendimiento
que norteó el Programa fué de que para estudiar las
cuestiones pertinentes a la salud mental tenemos que
definir qué recursos humanos necesitamos para alterar
el modelo asistencial. Y recordar que para garantizar el
cuidado en salud mental tenemos que tener acogimiento,
tratamiento e inclusión social.
Palavras-chave
Palavras-chave::
Saúde Pública. Saúde Mental. Atenção Primária à Saúde.
Palabras clave:
Salud Publica. Salud Mental. Atención Primaria a la Salud.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 150 - 4.
Programa Viva a Vida: Capacitação de Agentes Comunitários para a Saúde Mental
Loyola C et al
INTRODUCTION
It is necessary to take acquaintance at certain key
milestones in Brazil’s Mental Health initiative: At the 1987
Mental Health Conference in Brazil, the approach was the
take care based in publics and privates psychiatric hospitals
described as expensive, incompetent, and violator of the
basic human rights1. In 1989, Representative Paulo Delgadoa
criticized the barriers that prevented changes in the
government regulation about the care, highlighting the
negative impact this was having on the actions of the more
proactive cities and states. In 1992, the model of hospital
care provision was changed so as to be founded upon citizen’s
rights. This was accompanied by reinforcement of the need
to structure care provision around municipalities. And above
all, local social control was seen as the strategic way forward.
As result it was created the Center for Psychosocial Assistance
(CAPS) and other points of clear treatment. Inspections,
audits, and licensing of hospitals were introduced from the
Center. However the core of the problem, which was the
redirection of the model for care provision and a change in
the lunatic asylum culture, which produced institutional rules,
not as an optional activity but as the fundamental focus of all
concerned. Thus, there were great challenges to be addressed:
How do not produce more mental illness? How to protect
individuals from institutionalized madness, the kind of
institutional disease that kills slowly the human being
undergoing rigid roles of health professionals and hard system
of health?
In front of professionals there is the daily reality of
psychiatric hospitals in Brazil, so different from that aimed
for. How to change long established practices in hospitals,
and exhausting institutional regulations? To attempt to
change psychiatric hospitals demands such a large investment
that it almost outweighs the benefits. There are emotional,
financial and human costs to transform poor personal
relationships into professional ones. Changes need
relationships that are based on the needs of the individual,
that are ethical and which focus on the patient’s well-being.
Is it possible to create professionals different to those currently
found in hospitals, professionals who actually care? In 1995
ten proposals2 were written for the new millennium. The
authors would highlight the first and last of these.
The first was to “Develop backwards”, that was to bring
ever larger masses of the under developed population to the
first stages of progress; and the last was to “reduce the
distance, which grows each day, between those who know a
lot and those who know a little”. There seems to be agreement
about what is essential, but maybe we disagree strongly on
the details, which is where issues really get resolved. In
order to debate mental health, culture and society have to be
examined, and people’s quality of life expectations are to be
faced. Aspirations of each and every one should be
understood. In addition, some knowledge of the past trends
and problems can help the management of the future.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 150 - 4.
151
THE LIVING LIFE PROGRAM AND
THE FAMILY HEALTH PROGRAM
Talking about Maranhão State implies thinking of rhythms,
sounds, colors, festivals, theater and dances that pulsates across
diverse regions within a State. The diverse traditions reflect the
ethnic mix of Maranhão – Native Brazilian, African, and Portuguese.
The program LIVING LIFE (Viva a Vida)3, which is now discussed, is
all about living together. Living together is the philosophy behind
the program LIVING LIFE (Viva a Vida), an interstate and interinstitutional agreement signed in April of 2001, between the State
Government of Maranhão and the Psychiatry Institute of Federal
University of Rio de Janeiro. The utopian objective for this century
is to give voice, power, dignity, and citizenship to these individuals.
The program’s target was population with mental ill, leprosy
sufferers, and those excluded from school - all diverse groups
considered of as having high social fragility.
It is an alliance of work, which requires a range of services
and resources. Moreover, the more diverse and undefined the
suffering is, the more diverse and undefined is the technology
to be used. The technology may be diverse, but the objective
must be clear; the principal humanistic idea of this project is
that a person has the right to receive interventions based on
his/her abilities and not on his/her difficulties. Another idea
behind the LIVING LIFE (Viva a Vida) project is to instruct as
much as possible those involved in health care. The Family
Health Program (PSF) is a critical factor in forming what will be
the Brazil’s Mental Health Care System in the near future. It is
considered by those that run the Unified Health System (SUS)
as the strategy for reorganizing primary care in the country,
and of the whole care model. The PSF should be seen in Brazil
as bringing the ideal of “health for all”4. The program aims to
gradually deliver technical competence, structure, and direction
to primary health care. Therefore a possible vision of health
care in Brazil must consider the diverse strands of strategy in
service organization centered on the family health. It is a health
care system that is trying to project a bridge between tradition
and progress3. It notes that the process of modernization must
accept the need for continuity between the wisdom of tradition
and the boldness of the new. This program works on the social
inclusion and citizen building of three important groups; those
suffering from leprosy, the mentally ill, and those excluded from
schools. The reason they can be seen as one group, is not their
pains, a micro bacteria, or unfair educational policies. They
are united by their daily experience of social exclusion, and by
the pain of living with prejudice. These groups represent one
side of the work, and demand a highly qualified professional
team. It is a reference to those professionals that make up the
teams of the Family Health Program, and with large numbers
of Community Health Agents. Community Health Agents today
count more than one hundred forty thousand (140.000)
participants, taking care of around 82 million people in four
thousand five hundred (4.500) municipalities. They represent
the main drive of health care in Brazil.
At this moment, it’s important to comment that throughout
the last 10 years, the program has operated in so distant
152
Programa Viva a Vida: Capacitação de Agentes Comunitários para a Saúde Mental
Loyola C et al
places that not everyone wants to visit, and few would want to
live. It overcame the initial criticism of “poor medicine for the
poor”. However the implementation of Community Health
Agents (ASC) was not to replace the health professionals with
a cheap and unqualified workforce. Their entry into local health
services, is due to the gaps left by the professionals who didn’t
value the presence of the community in their own locations and
as co-responsible of professionals and communities. This desire
to work with professionals with different background and
training, more human in their method of caring for people, has
caused difficulties at teaching institutions, both at higher level.
The reasons for this were the urgent need to overcome the way
in which professional training of health professionals in Brazil
was under taken. Problems emerged because of the
disassociation between the teaching of sciences (Anatomy,
Physiology, Histology, and other) in the first years and the
clinical disciplines taught later in the professional cycle. There
was too much focus on the individual, to the detriment of the
community, on cure rather than prevention, on working under
stable situations rather the more common disorder. The reality
facing health services is one where policies are not integrated,
leading to low success rates, with uncoordinated, centralized
and above all fragile and non-existent social control.
The learning process of the Community Health Agents (ASC)
shouldn’t just result in acquiring basic health care skills and
that is widely known. It must also involve the understanding of
man in his social context, as a means to tackling the health/
illness process and its determinants. In this way, the Community
Health Agent (ASC) is a promoter of health by excellence, a
permanent educator in defense of life. It is important not to
create false separations along the processes of birth, life and
death. Community’s participation in public policy as a strategy
to improve quality of life should be encouraged. As well as the
mission to improve the capacity of the community to look after
its health and strengthen the integration between the
community and the local health services, the biggest role of
the Community Health Agent (ASC) is to have the ability to
read, listen and translate population needs to public authorities.
This must be done for each person, family, and community.
When the Community Health Agent Program (PASC/1991) was
designed, it was agreed that a Community Health Agent (ASC)
should be someone who is totally identified with his/her own
community. They should have the same values, customs and
language. And their leadership abilities should reflect in
improving health conditions for the community, helped by
government action. The activities of the Community Health
Agent (ASC) need to have, as basic support, a process of selfeducation. This process needs to be practical and should unify
the community. It should lead to individuals and community groups
engaging in the identification of their problems and needs.
At the same time, the activities should direct make possible
resources to respond to the identified needs, understanding
their problems, valuing their potential. This is all done in the
hope that communities will develop themselves in an integrated
and sustainable manner. Teamwork and co-operation, form the
pathway to community education/action and one should not
forget that community education is a community task. On the
other hand, a community is not an abstract entity, but it exists
within a concrete reality, with its own knowledge, and can itself
recognize the potential of partnerships. This means getting to
know the families and communities, not as a place with people
to be supervised, but as an educational process – learning
through teaching. The idea is to secure the whole team’s
par ticipation in the collective work process; to value
professionals at all levels; to respect the characteristics and
limits of each person; to discuss and resolve problems in an
active and integrated manner; to demystify the absolute
power of those in charge. Above all, the program seeks to
recover the dignity of the local health services and to gain
the respect of the population. These were extremely
important premises for working out the methods of the local
health professionals in these towns.
The community education was done with the active
participation of the Community Health Agents (ASC) and the
nurses – the instructors and supervisors of PASC (Program of
Community Health Agents). The Program LIVING LIFE (Viva a
Vida) established in the state of Maranhão, Brazil since 2001,
worked in three areas: the excluded, the training of involved
professionals, and ethics. This was orientated on the premise
that every human being is born to be free, healthy, educated
and happy5. Many times using its own methods, the Program
have constructed and deconstructed views and truths about
mental health care. It was fundamental to establish a certain
difference in relation to other processes which also seek to
develop proposals, and the consequent definition of indicators
of quality, but which arise from different values and perspectives
and therefore come to conclusions very different to those taken
as guidelines for the Living Life Program.
Some values appeared, explicitly or implicitly, in the health
proposal in which we believed in, and we can group them
didactically into ethical values (happiness, health, hope, selfesteem, brotherhood, faithfulness, politeness, loyalty, tolerance,
and justice), political values (autonomy, persistence,
knowledge, and greed), and esthetic values (sensitivity,
creativity, beauty, harmony, and simplicity). They express a
social project that recognizes the centrality of the individual
whose needs and rights are the focus of this program. The
State of Maranhão has approximately ten thousand (10.000)
Community Health Agents (ASC) who under take a very
important public role. These agents, who strictly reside in the
community in which they work, identify and record the population
in their area, prioritizing needs and requirements, carrying out
activities for the promotion of health for the individual and the
community, encouraging society’s participation in public policies
aimed at improving people’s quality of life.
With a precious knowledge of local culture, the daily work
of the Community Health Agents (ASC) is structured around
regular home visits to monitor the health of families. It is from
the health-illness continuum of the subject, within his culture
and community, that the Community Health Agents can propose
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 150 - 4.
Programa Viva a Vida: Capacitação de Agentes Comunitários para a Saúde Mental
Loyola C et al
health actions for both emergency and chronic cases. This
work shows the difference, and the advantage, of out patient
consulting. During the 24 months of this work, we have been
able to count on the excellence of the Popular Center of Culture
and Development (CPCD), a non-governmental organization
and our partner in this project, in the stimulating and difficult
task of training people, a challenge even greater when one is
trying to instruct educators. We have trained more than eight
thousand (8000) members of the teams from the Family Health
Program as social educators, emphasizing the training of the
health educators as proactive creators of opportunities,
protagonists, and not as masters of knowledge. We are focusing
our efforts on the health/education interface, the best way to
impact primary health care.
Our Community Health Agents have to be, above all else,
educators. The general objective is that they create a position
as social educators of children, teenagers and adults, and act
as agents for the development of health in the community,
contributing to turn each municipality into a community of
permanent learning. This implies the breaking and changing
of old conceptions, beliefs, and a discussion of a new social role
from the perspective of integrated health for individuals and
the community. We must also reduce the loss of experts from
Family Health Program (PSF), improve work satisfaction, and
the diligence of the experts, and create meetings with proactive
suggestions. The proposal is to add to the dialogue a mediator
between the participants, to value and respect the individual
differences, knowledge and actions of each. There needs to be
a collective search for educational solutions for all the issues
being experienced by the participants. In this way it is possible
to secure the involvement, the participation and project
ownership by the target communities; the training and creation
of educators at the front line, committed to the construction of
new knowledge and new methods of collective health. In
summary, what one gains is community participation, not as
the objective, but as an educational health process, enabling
the program to take root and consolidate itself. Once created,
the ASC receive training in mental health in their own
municipalities, in tandem with the opening of Psychosocial Care
Centers (CAPS) in the regions. While training ten thousand
(10000) of Community Health Agents (ASC) as mental health
care givers, it became clear that these simple municipalities
can be considered rural environments.
For better or worse, the simple and generous ordinary
inhabitants are distant from what psychiatry has created and
produced in its model of hospital internship. A different
solution is needed in this situation. Not exactly new asylum,
but a further work on community support to deal with mental
disease outside the hospital. Community Health Agents had
to be trained to act as support for simple care issues. Home
visit is able to deal with 60% of mental health problems1.
The less complex social net organization is, such as a rural
environment, the more empowered community health agent
is. Moderate depression, some neurosis type, although allow
social functioning need health mental care.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 150 - 4.
153
CONCLUSION
So what is needed in Maranhão? Two kinds of problems
require two different strategies. The so-called “lunatics asylums”
are really terrible and exist, at least, three of them there. To
try and reorganize them demands a cost that almost overweighs
the benefits. Emotional costs, enormous financial and human
resources caused by poor relationships which do not deliver the
best for the patient. To avoid this, new psychiatric hospitals6
must learn with this program. They take too much of our time
and it’s no longer possible to wait another decade before change
something at their lives. About inpatients, doesn’t seem to
have any doubt to me. A census and analysis of the profile of
inpatients must be done. It is urgent to establish what is
necessary to help the patients face the challenge of life (for
example, what is citizenship without the knowledge of read and
write?). In relation to the primary health care, the staff of the
Family Health Program (PSF) should carry it out, about one
thousand (10.000) Community Health Agents (CHA), that are
in Maranhão, must be available now.
Through the mental health training, the expectation of the
Community Health Agents is to get knowledge to do three
things: Remember that they are dealing with primary care,
where the ASC look after about 100 families and visit the houses
of these families, attended to: firstly, identify people that suffers
of mental problems7, people who are at risk and in severe
emotional state, in crisis or close to it, in order to include them
in the care program; secondly, acknowledge this suffering in the
patient’s home, show that the ASC is there to help and care
about the person, to clarify issues about the illness to family
members, by visiting the house and avoiding non-therapeutic
interventions, such as done by the police; thirdly, know when to
send the patient for special care in the region, such as to a
Center for Psychosocial Care (CAPS), avoiding send patients to
the network of Asylums in the State Capital. Incorrect perceptions
of life crisis, and the presence of stressful factors without the
appropriate social support can lead to the poor functioning of
society, which may or may not lead to mental illness.
Many inappropriate solutions to the problem derive from a
lack of understanding, a poor perception of correct control
over one’s own life, or from strategies of conflict and of low selfesteem. Capabilities of individuals and groups must be raised,
which means improving problem resolutions skills,
interpersonal skills, stress tolerance, motivation, hope, selfesteem, and power8. Recently an experience in Laranjal do Jari,
in the heart of the Amazon forest, with 50 females who were
carers of the Forest, was carried out. It was a special day where
mental health should be discussed. Using a life time-line as
work methodology, a “woman’s head” had been created. First
individually, then collectively and finally politically. These 50
women had more than 360 children, and so were very fertile.
The largest risks to mental health were in the areas of child
labor, denial of access to school, loss of mother at childbirth,
separation from the family for the purposes of survival. Male
domination by the father, step father or brother-in-law, sexual
154
Programa Viva a Vida: Capacitação de Agentes Comunitários para a Saúde Mental
Loyola C et al
abuse and physical violence, the consumption of alcohol as a
clear cause of violence on the wife, premature birth, and the
lack of information about contraceptives. How propose a policy
to create social support for these risk situations were discussed9.
Proposals included: raising the number of places at schools
(Programs like “Sementinha” – Little Seed - and “Ser Criança”Been Child); scholarships for schools; the creation of a group
of mothers to support babies who lost their mothers; groups of
educators about contraceptive methods; a center to discuss
issues involving female reproduction; a supply of herbs and
teas (to facilitate the development of a culture of using
medicine); A.A. groups. A therapeutic program, in which nothing
from CID-10 or DSM IV had been used, was created10. For
better or worse, the country side in Brazil is not at the same
level as what Psychiatry has produced in hospitals in these last
years. There is other method taking place there and other
strategies against this crisis. We want every human being to be
healthy, educated, free and happy, and to have in themselves
readiness to care and to be cared for. Work with Community
Health Agents in Family Health Program is to agree that mental
health care is a task that has to begin, and end at the community.
It is over there that we will find in the daily life, challenge,
problem and solution. For us as example, the words of the
great Brazilian psychoanalyst Costa11:
It is up to us, to produce the necessary enjoyment for
revolutionary passion, capable of giving back to other
human being, his moral dignity.
References
1. Delgado PG. O SUS e a Lei 10216: reforma psiquiátrica e inclusão
social. In: Loyola C, Macedo PRA, organizadores. Saúde mental e
qualidade de vida. Rio de Janeiro (RJ): CUCA/IPUB; 2001.
2. Saramago J. Cadernos de Lanzarote. Rio de Janeiro (RJ): Companhia
das Letras;1995.
3. Loyola C. Viver a vida: identidade cultural, contexto social e qualidade
de vida no estado do Maranhão. In: Loyola C, Macedo PRA,
organizadores. Saúde mental e qualidade de vida. Rio de Janeiro (RJ):
CUCA/IPUB; 2002.
4. Souza MF. Agentes comunitários de saúde: choque de povo. São
Paulo (SP): Hucitec; 2001.
5. Rocha T. A rede em roda. In: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.
Associação Municipal de Educadores Populares. Projeto Tudo Haver.
Belo Horizonte (MG)); 2000.
6. Figueiredo AC, Cavalcanti MTM, organizadoras. A reforma psiquiátrica
e os desafios da desinstitucionalização. Rio de Janeiro (RJ): CUCA/
IPUB; 2001.
7. Silva MCF, Furegato ARF, Costa Junior ML. Depressão: pontos de
vista e conhecimento de enfermeiros da rede básica de saúde. Rev
Latino-Am Enfermagem 2003 jan/fev; 11(1): 7-13.
8. Friedrich DBC, Sena RR. Um novo olhar sobre o cuidado no trabalho
da enfermeira em unidades básicas de saúde em Juiz de Fora-MG. Rev
Latino-Am Enfermagem 2002 nov/dez; 10(6): 772-79.
9. Loyola C, Rocha T. Fazendo história. In: Loyola C, Rocha T,
organizadores. O caminho das pérolas: novas formas de cuidar em
saúde. São Luís (MA): UNIGRAF; 2002.
10. Loyola C, Oliveira RMP. Devagar que temos pressa: a enfermagem
e o campo da saúde mental. In: Venâncio AT, Cavalcanti MT,
organizadoras. Saúde mental: campo, saberes e discursos. Rio de
Janeiro (RJ): CUCA/IPUB; 2001.
11. Costa J. Sem fraude nem favor. Rio de Janeiro (RJ): Rocco; 1998.
About the authors
Cristina Loyola
Coordinator of the Living Life Program in the Maranhão State,
2001-2002. Head Professor of the Anna Nery School of Nursing/
UFRJ. CNPq researcher.
Sebastião Rocha
Partner in the Living Life Program in the Maranhão State, 20012002. Anthropologist and Popular Educator. President of the
Popular Culture and Development Center.
Recebido em 10/10/2006
Reapresentado em 21/12/2006
Aprovado em 15/01/2007
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 150 - 4.
155
P ráticas Educativas em Grupo com TTecnologia
ecnologia Sócio -Educativa
Teixeira E
PRÁTICAS EDUCATIVAS EM GRUPO COM
UMA TECNOLOGIA SÓCIO-EDUCATIVA:
VIVÊNCIAS NA ILHA DE CARATATEUA, BELÉM
Educational practices in group with a partner-educational technology:
Existences in the Caratateua Island, Belém - Brazil
Prácticas educativas en el grupo con una tecnología socio-educativa:
Viviencias en la Isla de Caratateua, Belém - Brasil
Elizabeth Teixeira
Resumo
O objetivo deste relato de experiência é socializar uma vivência em um projeto de extensão (Projeto Quartas Saudáveis),
apoiado pela Universidade do Estado do Pará, desenvolvido no espaço do Instituto Saber Ser Amazônia Ribeirinha, com
práticas educativas em grupo e com uma tecnologia sócio-educativa numa perspectiva freireana, com mulheres da ilha de
Caratateua, Belém, PA, e apontar a necessidade de os (as) enfermeiros (as) ousarem na prática educativa, descobrindo as
riquezas dos trabalhos com grupos em que se desenvolvem e/ou se aplicam tecnologias leves para produzir saúde.
Destacam-se alguns pressupostos que orientam o projeto, a vivência da equipe com a Dinâmica Entre Nós, uma tecnologia
sócio-educativa em construção, bem como reflexões sobre a vivência a partir de algumas falas das participantes.
Pala
vr
as-c
ha
alavr
vras-c
as-cha
havve: Enfermagem. Prática de Grupo. Educação em Saúde.
Abstract
Resumen
The objective of this experience report is to socialize an
existence in an extension project (Project Healthy
Wednesdays), supported by the University of the State of
Pará (Brazil), developed in the Amazonian Riverside Known
Being Institute, with educational practices in group and with
a social and educational technology in a Freire’s perspective
with the women of the Caratateua Island, Belém - Pará Brazil, and to show the necessities of the nurses to dare in
the educational practical, discovering the wealthy of the
group work where is developed and/or is applied light
technologies to produce health. Are stand out some
presupposed that guide the project, the existence of the
team with the Dynamics Among Us, a social-educational
technology in construction, as well as reflections about the
existence starting from some speeches of the participants.
El objetivo de este informe de experiencia es socializar una
vivencia en un proyecto de extensión (Proyecto Miércoles
Saludables), apoyándose en la Universidad del Estado de
Pará (Brasil), desarrollado en el espacio del Instituto Saber
Ser Amazónica Ribera, con prácticas educativas en grupo y
con una tecnología socio-educativa en una perspectiva de
Freire con mujeres de la Isla de Caratateua, Belém, Pará,
Brasil y apuntar la necesidad de los (as) enfermeros (as) en
la práctica educativa, descubriendo las riquezas de los
trabajos con grupos en que se desarrollan y/o se aplican
tecnologías leves para producir salud. Destacase algunos
presupuestos que guían el proyecto, la vivencia del equipo
con la Dinámica Entre Nosotros, una tecnología socioeducativa en construcción, así como las reflexiones sobre la
vivencia desde algunos discursos de las participantes.
Keywords:
Nursing. Group Practice. Health Education.
Palabras clave:
Enfermería. Práctica de Grupo. Educación en Salud.
Esc Anna
Nery
R Enferm
Esc Anna Nery R Enferm
2007
mar;
11 (1): 2007
155 - mar;
9. 11 (1): 155 - 9.
156
INTRODUÇÃO
Nos dias atuais, em que as certezas se esvaem, tudo se
move e se desloca, e em que nada é certo, procuramos por
grupos as quais pertencer, para nos apoiar. As “comunidadescabide” emergem, nesse contexto, pois com as vulnerabilidades
das identidades individuais, busca-se pendurar seus medos e
ansiedades individualmente experimentados e, depois disso,
realizar os ritos de exorcismo em companhia de outros indivíduos
também assustados e ansiosos1:21
Nenhum conjunto ou agregado de indivíduos será uma
comunidade se não for tecido de histórias de vida/biografias
compartilhadas; esse tecido é constituído de fios intersubjetivos
ou juízos subjetivos embora o fato de que eles sejam tecidos
juntos empreste a esses juízos um toque de objetividade1:62.
Dentre os modelos de comunidade, destaca-se a comunidade
estética e a ética. Na primeira, os laços são mais provisórios e
frouxos, descartáveis e pouco duradouros. Na segunda, assumese compromisso de longo prazo, apontando segurança, proteção
e certeza, um verdadeiro compartilhamento fraterno. Nesse
sentido, tem uma durabilidade prevista (e às vezes
institucionalmente garantida).
O tipo de entendimento em que a comunidade se pauta é o
ponto de partida de toda união, é um sentimento recíproco e
vinculante [...], é graças a esse entendimento que na
comunidade as pessoas permanecem essencialmente unidas a
despeito de todos os fatores que as separam 1:15-6. Tal
pertencimento, além de favorecer o viver no seu sentido mais
amplo, também é mediador de processos de aprendizagem.
Para aprender um saber, o indivíduo precisa fazer parte,
estar entre, com e em uma comunidade-aprendente: a unidade
da aprendizagem não é cada pessoa tomada individualmente.
Ela é cada equipe, cada grupo-dialogante no momento em que
algum conhecimento é vivido como uma experiência ativa de
ensino-aprendizagem2:100. O outro / outra influi, colabora e
participa do aprender, o verdadeiro “outro (a) coletivo”, interativo,
social e cultural. Todos, assim, vão aprendendo conhecimentos,
ampliando compreensões e alargando sentimentos.
Considerando o atual contexto que suscita o viver / conviver
em comunidade, práticas educativas em grupo, bem como
tecnologias sócio-educativas (aqui representando as
tecnologias leves), emergem como possibilidades para
intensificar tais processos e fornecer subsídios para educarcuidar para a autonomia e a emancipação.
Este relato tem como objetivos: socializar uma vivência
em um projeto de extensão, Projeto Quartas Saudáveis (PQS),
desenvolvido com práticas educativas em grupo e com uma
tecnologia sócio-educativa com mulheres da ilha de Caratateua,
Belém/PA, e apontar a necessidade de os (as) enfermeiros
(as) ousarem na prática educativa, descobrindo as riquezas
dos trabalhos com grupos em que se desenvolvem e/ou se
aplicam tecnologias leves para produzir saúde.
UM OLHAR ATENTO
PARA ALGUNS PRESSUPOSTOS
A literatura sobre os grupos aponta algumas questões
interessantes para introduzir o debate. Destaca-se a natureza
P ráticas Educativas em Grupo com TTecnologia
ecnologia Sócio -Educativa
Teixeira E
gregária do homem para iniciar qualquer discussão sobre a
relevância dos estudos e práticas em/um grupo; situa-se o
surgimento na Grécia antiga; ressalta-se o papel social que
desempenham; sinaliza-se uma polissemia conceitual, mas,
na prática, os grupos têm existido à revelia da carência de uma
maior precisão conceitual3.
Numa primeira fase, os grupos passaram a ser utilizados
com finalidades estritamente terapêuticas. Numa segunda, sob
influência dos trabalhos de Kurt Lewin, na década de 30 (século
XX), passaram a se voltar para o contexto educacional, o que
aqui nos interessa debater.
A diversidade de possibilidades é hoje notória e é nesse
sentido que as atividades grupais vêm sendo inseridas no
trabalho da área da saúde. Na nossa experiência, optamos por
desenvolver em/com um grupo de mulheres mudanças de
comportamentos cuidativos no que tange a saúde e o ambiente,
com ênfase na ressignificação das práticas vividas e saberes
produzidos num continuum movimento em tor no de
conhecimentos e relacionamentos. Apostamos na produção de
travessias de saberes e redes de afeto exatamente para operar
as mudanças de comportamentos cuidativos.
Para a mudança acontecer é preciso ocorrer aprendizagem
significativa, que possibilita a aquisição de conhecimentos e
informações. O aprender em/com um grupo é um movimento
permanente que depende da convivência e da aderência de
seus membros bem como da consistência e da fluência de seus
mediadores/coordenadores. A nosso ver, os grupos emergem
como verdadeiras estratégias para produzir o cuidar em saúde.
Destaca-se que a formação de grupos sociais em saúde é
uma forma de trabalho vivo em ato com dimensões tecnológicas
e, portanto, uma das estratégias para produzir saúde [...] os
pequenos grupos de convergência são como um método de
desenvolvimento de tecnologias na enfermagem4:26.
Constatamos, nesse sentido, que as práticas e atividades
em grupo são cada vez mais constantes no cotidiano da
enfermagem, mas muitas vezes as mesmas são desenvolvidas
de forma “automática”. Nesse sentido, é válido enfatizar que
existem condições e aspectos estruturais de funcionamento
que precisam ser “bem pensados” para que as atividades
desenvolvidas no grupo obtenham êxito.
É necessário, para esse bom andamento e progresso das
atividades grupais, conhecer e ouvir cada um que compõe o
grupo, pois a partir de suas necessidades poderemos avaliar
não só as dificuldades, mas achar sua verdadeira identidade e
potencialidade. Nesse âmbito, perceber o grupo em sua
totalidade ajuda a traçar seus verdadeiros objetivos.
Sobre a Enfermagem e os grupos, identificam-se algumas razões
que levam os profissionais de enfermagem ao trabalho grupal como
a procura de uma alternativa para atender pessoas, opondo-se
principalmente a um cuidado tradicional que privilegia o aspecto
curativo e o atendimento das necessidades e/ou circunstâncias de
alguns serviços, como ambulatórios e centros de saúde.
No grupo de convivência, compartilham-se saberes e afetos
bem como experiências e vivências que levam à profunda
reflexão . Esse tipo de grupo tem como objetivos formar uma
rede de suporte social; buscar autonomia de seus integrantes;
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 155 - 9.
157
P ráticas Educativas em Grupo com TTecnologia
ecnologia Sócio -Educativa
Teixeira E
ampliar a criatividade; tornar oportuna a livre expressão dos
participantes sobre suas emoções e seus conhecimentos5:106.
Podemos dizer que todos os grupos têm, ao mesmo tempo, um
jeito de ser próprio (uma singularidade) e um pertencimento
social pelo qual se fazem similares a outros grupos6:95. Há que
se considerar a dialética do grupo, pois nele convergem duas
dinâmicas, uma interna e outra externa, que ao mesmo tempo
os tornam singulares e plurais, e tais dinâmicas possuem um
caráter diversificado que precisa ser respeitado.
A modalidade sócio-educativa objetiva aumentar o nível
de reflexão e conscientização das participantes. Nesse tipo
de grupo, as novas informações, o questionamento de mitos e
preconceitos, a possibilidade de tirar dúvidas representam
elementos importantes na mudança das representações que
as pessoas fazem das problemáticas de saúde / doença6: 112.
Com base nesse primeiro pressuposto, acreditamos que
práticas educativas em grupo precisam ser estimuladas e/ou
fortalecidas para a manutenção e/ou promoção da saúde e da
qualidade de vida.
Em busca de outros pressupostos para subsidiar nosso
trabalho, passamos a refletir sobre a concepção de trabalho
em saúde e suas tecnologias. Considera-se o trabalho uma
atividade que tem como essência alterar o estado natural dos
materiais existentes no meio ambiente para serem melhor
utilizados. O homem, através do seu trabalho, relaciona-se
com outros homens e é transformado por essas relações sociais
e por outras determinações que ocorrem nesse processo7.
Afirma-se que, no trabalho em saúde, o produto final não
se restringe a uma mercadoria, mas ao atendimento às
necessidades do homem, as quais não são naturais, mas
histórica e socialmente determinadas. O trabalho em saúde,
nessa perspectiva, produz atos de saúde que têm a capacidade
de intervir em diversas problemáticas, modificando-as e
produzindo como resultado satisfação de uma necessidade/
direito do usuário. Nesse processo, ocorre efetivamente
produção de saúde. Esse trabalho é centrado no trabalho vivo
em ato e não pode ser capturado na lógica do trabalho morto,
expresso somente nos equipamentos/máquinas (tecnologia
dura) e nos saberes estruturados (tecnologia leve-dura), pois
no campo das intervenções assistenciais há abordagem
assistencial de um trabalhador de saúde junto a um usuário/
cidadão, em um processo de relações, que envolve tecnologia
de relações (tecnologia leve), de encontros de subjetividades,
de produção de vínculo, autonomização (aqui definida como a
capacidade do indivíduo de governar o modo de conduzir a
sua própria vida) e acolhimento7:40.
A terminologia “tecnologias leves” 8 refere-se a um tipo
de tecnologia que se torna relevante na medida em que se
discute a necessidade de construir um outro modelo de atenção
em saúde que explore positivamente a capacidade cuidadora
do conjunto de trabalhadores de saúde para a defesa da vida.
Nesse sentido, as tecnologias leves aproximam-se de atitudes
relacionais intersubjetivas de acolhimento, escuta,
estabelecimento e articulação de redes de conversas, vínculos,
saberes e afetos. Só um modelo assistencial que produza
modalidades tecnológicas de assistência, na base do sistema
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 155 - 9.
de saúde, comandadas pelo universo das tecnologias leves e
que tenham abrangência individual e coletiva, é que pode
responder a esta situação, e isto implica em uma decisão política
clara, pelos gestores do setor saúde, em investir na qualificação
clínica das redes básicas de serviços, ao mesmo tempo em que
se aposte na produção de intervenções sobre os fatores de
riscos coletivos de adoecer. Só assim é possível construir um
modelo assistencial com mais qualidade e mais barato, que
respeite os direitos dos cidadãos na saúde, e que tenha a
abrangência das ações individuais e coletivas8:13.
As tecnologias leves configuram-se como dispositivos para
educar-cuidar em saúde na medida em que são tecnologias
contra-hegemônicas, ou seja, em vez de ser centradas em
procedimentos, são centradas em relacionamentos. Ao não
priorizar as ferramentas-máquinas, permite potencializar as
abordagens-dinâmicas, em que os sujeitos se encontram, atuam
entre si e operam um jogo de expectativas e produções em
alguns momentos: momentos de falas, escutas e interpretações,
nos quais há a produção de uma acolhida das intenções que
estas pessoas colocam neste encontro; momentos de
cumplicidades, nos quais há a produção de uma
responsabilização em torno do problema que vai ser enfrentado;
momentos de confiabilidade e esperança, nos quais se produzem
relações de vínculo e aceitação.
Com base nesse segundo pressuposto, acreditamos que
programas educativos em grupo podem ser estimulados e/ou
fortalecidos por tecnologias leves para a manutenção e/ou
promoção da saúde e da qualidade de vida.
UMA VIVÊNCIA EM GRUPO COM UMA
TECNOLOGIA SÓCIO-EDUCATIVA
Desde 2003 a autora coordena e realiza, com uma equipe
multidisciplinar (acadêmicos e profissionais de enfermagem e
pedagogia), práticas educativas em saúde e ambiente com/
entre um grupo de mulheres (cerca de 50), participantes de
um Projeto de Extensão (PQS), da Universidade do Estado do
Pará (UEPA), desenvolvido no espaço de uma ONG localizada
na Ilha de Caratateua, em Belém, PA. Para for talecer a
caminhada, a equipe se aproximou e vem se apropriando dos
pressupostos destacados anteriormente para subsidiar o
processo de (re) pensar o cuidar-educar na perspectiva da
educação popular em saúde9, com vistas à produção da saúde.
Buscar a ressignificação de tais pressupostos para torná-los
visíveis foi o nosso primeiro objetivo.
Para dar conta dos temas geradores demandados pelo grupo
de mulheres e atender os pressupostos escolhidos pela equipe para
nortear o PQS, fomos desenvolvendo, no percurso (2003/2006),
uma tecnologia sócio-educativa que passamos a denominar
“Dinâmica Entre Nós”. Fomos tecendo, com os fios teóricos adotados,
uma tecnologia de cuidado educativo singular, organizada em quatro
momentos de ação, integrados e relacionados entre si, que foram
sendo aprimorados nos múltiplos encontros em grupo. O específico
da discussão de grupo são as opiniões e os valores expressos pelos
participantes que são de “inegável importância para se tratar das
questões da saúde sob o ângulo social” 10:129.
158
P ráticas Educativas em Grupo com TTecnologia
ecnologia Sócio -Educativa
Teixeira E
Não partimos de um modelo para a prática, mas exatamente
do contrário. Ao longo do processo, fomos criando um conjunto
de atividades que convergiam em uma mesma seqüência de
passos, para possibilitar a interação e o diálogo entre as mulheres
e nós; para viabilizar diferentes vivências educativas com os
temas geradores entre as mulheres e nós; para facilitar a expressão
das experiências cotidianas relacionadas com o cuidado e
autocuidado entre as mulheres e nós; enfim, para favorecer e
fortalecer os vínculos e afetos entre as mulheres e nós.
A Dinâmica Entre Nós, ainda em construção e validação
pela equipe do PQS, vem favorecendo o diálogo na perspectiva
freireana, pois se aproxima do sentido dos círculos de cultura 11
que promovem e possibilitam o que entendemos por travessias
de saberes com e entre afetos. A tecnologia está pautada em
quatro momentos: MOMENTO DE APREENSÃO (M1): Quando
EM GRUPO apresentam-se questões para discussão formuladas
pelo próprio grupo ou equipe. MOMENTO DE EXPRESSÃO (2):
Quando O GRUPO expõe o que apreendeu da discussão inicial
sobre o tema. MOMENTO DE APRECIAÇÃO (3): Quando NO
GRUPO emerge o debate mediado pelo facilitador. MOMENTO
DE RECONSTRUÇÃO (4): Quando ENTRE NÓS compõe-se uma
síntese, mesmo que provisória, sobre o tema em discussão.
A tecnologia vem sendo usada nos encontros em grupo, e
os temas tratados são relacionados tanto à saúde como ao
ambiente. A equipe construiu um instrumento, denominado
Ata do PQS, para registrar os momentos, dando ênfase às
unidades de fala das participantes.
transformam e recriam tudo o que envolve a realidade da vida
. Podemos afirmar que existimos em função das trocas que
produzimos em cada encontro educativo, em cada celebração,
em cada entre nós.
O ofício de educador (a) numa perspectiva freireana
viabiliza sentimentos mútuos, emoções e acolhimento. Amamos
e nos amamos reciprocamente em cada encontro, em cada
Quarta Saudável. Esse “amor coletivo” nos envolve com e entre
saberes, prazeres, dizeres, interações significativas que geram
confiança e produzem vínculos. [...] A confiança, nesse sentido,
é fundamental para um casulo protetor que monta guarda em
torno do eu em suas relações com a realidade cotidiana1:127.
Para Humberto Maturana a relação fundadora da experiência
interativa é o amor. É preciso sentir uma troca amorosa para,
efetivamente, suportar conviver. Viver à margem do amor não
é ruim, é insuportável 1:131.
Destaca-se o permanente inacabamento do ser, que se
descobre aprendente e fica feliz por isso. Nós, juntos, em grupo,
estamos intertrocando saberes e afetos, sensibilidades e
significados, sensações e sociabilidades. Mutuamente nos
ensinamos e aprendemos. Há sempre presente nas práticas
educativas do PQS, uma dimensão de ser ensinante que se
destaca como condição para uma outra de ser aprendente. E é
com diálogo que esse continuum se dá plenamente. Reforça-se
a idéia de “círculos de diálogos” a cada encontro, para pensar
o saber enquanto fluido e fluxo de um movimento circular e
dialógico; [...] estamos destinados a aprender a saber como
uma atividade perene ao longo da vida, dentro e fora das
estruturas e dos cenários da educação formal 1:45. Nesse sentido,
o saber não tem lugar fixo, ator principal e/ou língua oficial,
mas sim é um entre - lugar, entre e com todos, e que se traduz
entre e com múltiplos signos e símbolos.
Parte-se da compreensão de que os trabalhos em grupo
favorecem travessias de saberes com e entre afetos e as
tecnologias sócio-educativas numa perspectiva Freireana são
meios que possibilitam produzir saberes e saúde. Acredita-se
que as práticas educativas pautadas nos pressupostos aqui
destacados poderão propiciar ganhos cognitivos e vínculos
afetivos entre educadores de saúde e usuários.
REFLEXÕES SOBRE A VIVÊNCIA:
VOZES DOS SUJEITOS E NOSSO SENTIR
Em 2005 e 2006 passamos a analisar os registros e
declarações das participantes do PQS. Algumas dessas declarações
apontam que a experiência em grupo com a tecnologia sócioeducativa Dinâmica Entre Nós, contribui tanto para o processo de
aprender como o de conviver, tanto para dimensões cognitivas
como afetivas, como podemos constatar a seguir:
Ensinam bem explicado, é totalmente diferente. As
explicações, as dinâmicas, brincadeiras, porque elas
usam a linguagem de gente. O que facilita são as
perguntas, é legal essa troca de perguntas. Tem
apostilas, o conjunto faz a gente pensar mais rápido,
o pessoal explicando, a gente entende melhor,
trabalhar em grupo é muito bom, as figuras mostrando
a realidade, depoimentos, sempre há uma resposta
clara. Aquele calor humano, a acolhida que vocês têm
com a gente faz a gente se sentir bem, a gente
pergunta até entender, porque a gente não tem que
sair de lá com dúvida (M10).
No registro em destaque, manifesta-se o círculo de cultura
que permite o diálogo eu-tu, a existência no grupo e o aprender
com/entre nós. Com efeito, a existência se dá quando o que
existe está situado dentro , entre e em algum tipo de
relacionamento com.
A Teia da Existência se constitui nas, entre as e através
das relações de troca que a cada momento estabelecem,
2:21
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os grupos são dispositivos de mudança, ou seja,
instrumentos que possibilitam aos seus par ticipantes
mudanças de idéias e práticas. Não podemos deixar de crer
que tais mudanças trazem um impacto na cultura local e têm
um papel multiplicador/irradiador no contexto mais global. Essa
dialética entre a dinâmica interna e externa é que torna o
grupo uma estratégia para produzir saúde.
Assim, é preciso todos os tipos de tecnologias (duras, leveduras, leves), o que vai configurar toda a complexidade das
ações e produção de saúde. É preciso ampliar as dimensões do
fazer e, com isso, do saber ser dos profissionais de saúde.
Queremos destacar o reconhecimento social das mulheres
como sujeitos históricos que cuidam, e nesse sentido, nossa
experiência com um grupo de mulheres da ilha nos tem mostrado
que elas atendem ao “chamado” dos profissionais e se
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 155 - 9.
159
P ráticas Educativas em Grupo com TTecnologia
ecnologia Sócio -Educativa
Teixeira E
interessam em participar de programas educativos, voltados
para o cuidar cotidiano de saúde 12. O maior desafio, a nosso
ver, é promover nesses programas conhecimentos e
relacionamentos capazes de produzir saberes e afetos.
Cada vez mais necessitamos nos sentir dentro/entre, cada
vez mais precisamos pertencer a e viver em comunidade. O
processo de aprender (e ensinar) caminha nessa mesma
direção. Aprendemos mais dentro/entre comunidades
aprendentes. Faz-se, assim, essencial no trabalho em saúde
articular tais pressupostos.
Concluindo, vários desafios ainda precisam ser vencidos para
o fortalecimento do cuidar-educar para produzir saúde com
tecnologias leves entre os (as) enfermeiros (as). Nós,
profissionais de saúde, precisamos ampliar tanto as práticas
cuidativas como as educativas e, com isso, alargar nosso pensar/
fazer/conviver no sistema. A nosso ver o cuidado solitário precisa
ser substituído pelo solidário, em que nem eu, nem tu, mas NÓS
participamos, aprendemos, ensinamos entre NÓS; em que
produzimos saúde e realizamos travessias.
Referências
8. Merhy EE. A perda da dimensão cuidadora na produção da saúde: uma
discussão do modelo assistencial e da intervenção no seu modo de
trabalhar a assistência. Disponível em: www.hc.ufmg.br/gids/perda/doc.
9 . Vasconcelos EM. Educação popular e a atenção à saúde da família.
2ª ed. São Paulo(SP): Hucitec; 2001.
10. Minayo MCS. O desafio do conhecimento. Paulo(SP): Hucitec; 1992.
11. Freire P. Pedagogia da autonomia. Paulo(SP): Cortez; 1996.
12. Teixeira E. Travessias, redes e nós: complexidade do cuidar
cotidiano de saúde entre ribeirinhos. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2000
ago; 4(2): 269-78.
1. Bauman Z. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual.
Rio de Janeiro(RJ): Zahar; 2003.
2. Brandão CR. A canção das sete cores: educando para a paz. São
Paulo(SP): Contexto, 2005.
3 . Munari DB, Rodrigues ARF. Enfermagem e grupos. Goiânia(GO):
AB; 1997.
4. Schier J. Tecnologia de educação em saúde: o Grupo Aqui e Agora.
Porto Alegre(RS): Sulina; 2004.
5. Silva DGV et al. Grupos como possibilidade para desenvolver educação
em saúde. Texto Contexto Enferm 2003 jan/mar;12(1): 97-113.
6. Afonso L et al. Oficinas em dinâmica de grupo na área da saúde.
Belo Horizonte(MG): Campo Social; 2003.
7. Zerbetto SR, Pereira MAO. O trabalho do profissional de nível
médio de enfermagem nos novos dispositivos de atenção em saúde
mental. Rev Latino-Am Enfermagem 2005 jan. /fev; 13(1): 38-45.
Sobre a Autora
Eliza
beth Teix
eir
Elizabeth
eixeir
eiraa
Profª Drª do Curso de Graduação em Enfermagem e do Programa de
Mestrado em Educação da Universidade do Estado do Pará. Doutora
em Ciências Sócio-Ambientais (UFPA). Pós-Doutorado em Sociologia
(Universidade de Coimbra). Pesquisadora do Núcleo de Educação
Popular Paulo Freire. e-mail: etfelippe@terra.com.br
Recebido em 06/03/2006
Reapresentado em 25/09/2006
Aprovado em 15/01/2007
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 155 - 9.
Instruções para a publicação de manuscritos
160
ESCOLA ANNA NERY
REVISTA DE ENFERMAGEM
Instruções para a
publicação de manuscritos
A Revista aceitará para publicação, manuscritos nas línguas portuguesa, espanhola e inglesa.
Os manuscritos devem ser apresentados exclusivamente à Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, não sendo permitida sua apresentação simultânea a outro periódico. E conceitos, idéias e
opiniões emitidos nos manuscritos, bem como a
exatidão, adequação e procedência das citações
bibliográficas são de inteira responsabilidade do(s)
autor(es) dos mesmos, não refletindo necessariamente a posição do Conselho Editorial da Revista.
Para tanto, os autores deverão encaminhar em
anexo ao manuscrito, uma declaração de responsabilidade sobre o conteúdo do mesmo e a transferência de direitos autorais (modelo disponível em:
www.eean.ufrj.br/Revista de Enfermagem)
Portanto, os manuscritos publicados serão de
propriedade da Revista estando vedadas a reprodução ou tradução parcial ou total dos mesmos.
Para publicação total ou parcial (citações textuais
com mais de 500 palavras, figuras, gráficos, tabelas e outras ilustrações) de texto de manuscrito
publicado na Revista em outros periódicos (impressos e/ou eletrônicos), são necessárias autorizações por escrito de seus editores e do(s) autor(es)
do manuscrito envolvido. Da mesma forma, publicações de manuscritos publicados em outros periódicos nesta Revista, através de reprodução ou
tradução de texto total ou parcial (citações com
mais de 500 palavras, figuras, gráficos, tabelas e
outras ilustrações) torna necessárias autorizações
por escrito dos editores daquele periódico e do(s)
autor(es) do manuscrito originalmente publicado.
O Conselho Editorial da Revista tem plena autoridade de decisão sobre a seleção e publicação
de manuscritos, quando os mesmos apresentem
os requisitos adotados para a avaliação de seu
mérito científico, considerando-se sua originalida-
de, prioridade, oportunidade, clareza e conhecimento da
literatura relevante e adequada definição do assunto estudado. O Editor chefe, por delegação do Conselho
Deliberativo da Revista poderá introduzir eventuais alterações, para efeitos de padronização de acordo com os
parâmetros editoriais da Revista.
O processo de avaliação do mérito científico
gerenciado pelas editoras da Revista, considerará o atendimento destas instruções, o potencial do manuscrito para
publicação e possível interesse dos leitores. O manuscrito será encaminhado para análise e emissão de parecer
por três Consultores Ad Hoc, pesquisadores de competência estabelecida na área de conhecimento do manuscrito, processo em que se adotará de sigilo e anonimato
tanto para o(s) autor(es)como para o(s) consultores.
Depois, os manuscritos poderão ser classificados em
uma das seguintes condições: manuscrito aprovado sem
exigências; manuscrito aprovado com exigências devendo o(s) autor(es) recebê-las por escrito, para providenciar sua reapresentação à Revista; manuscrito recusado,
com justificativa por escrito. No caso de aprovado, o
manuscrito será publicado de acordo com o fluxo e o
cronograma editorial da Revista.
O manuscrito de estudo brasileiro que envolva pesquisa ou relato de experiência com seres humanos deverá apresentar em anexo uma cópia do documento de
aprovação por um comitê de ética de pesquisa (de acordo com a Resolução n.º 196 / 96, do Conselho Nacional
de Saúde) ou uma justificativa para ausência desse documento contendo a descrição dos cuidados éticos
adotados pelo(s) autor(es) para substituí-lo. O manuscrito de estudo estrangeiro deverá estar acompanhado
de cópia de documentação de aprovação de órgão similar em seu país de origem, que normaliza o desenvolvimento de investigação ou relato de experiência com seres humanos, ou uma justificativa para ausência desse
documento contendo a descrição dos cuidados éticos
adotados pelo(s) autor(es) para substituí-lo.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 160 - 8.
Instruções para a publicação de manuscritos
Categorias de manuscritos:
Editorial, Pesquisa,Reflexão, Ensaio, Relato de experiência,
Revisão crítica, Biografia, Fac-símile, Resenha, Resumo de
disser tação ou tese, Entrevista, Página do estudante,
Comunicações breves, Carta ao editor.
O detalhamento dos manuscritos está disponível em :
www.eean.ufrj.br/Revista de Enfermegem
Composição dos manuscritos
Os manuscritos deverão ser redigidos na ortografia oficial
e digitados em arquivo de processador de texto Word for
Windows, versão 98 ou anterior, com parágrafos de 1,5 cm,
impressos em papel A4 com margens de 3 cm, em espaço
duplo na fonte Times New Roman tamanho 12, com páginas
numeradas a partir da introdução até as referências.
Somente o título e os sub-títulos do manuscrito poderão ser destacados em negrito sendo vedada a adoção de
abreviaturas nos mesmos e no resumo. Deve-se adotar no
texto apenas as abreviações padronizadas. A primeira citação da abreviatura entre parêntesis deve ser precedida da
expressão correspondente por extenso, com exceção das
medidas padronizadas.
O recurso de itálico deverá ser adotado apenas para realmente destacar partes importantes do texto, como por exemplo citações ipsis literis de autores no texto do manuscrito,
partes de depoimentos/entrevistas transcritas e palavras
e expressões relevantes para o tema abordado.
Tabelas, gráficos e outras ilustrações (figuras, mapas,
gravuras, esquemas e fotos), em um número total de 6 (seis),
devem ser apresentados em folhas separadas do texto, numeradas consecutivamente com algarismos arábicos, na
mesma ordem em que forem citadas no texto. Para ilustrações extraídas de outros trabalhos previamente publicados,
o(s) autor(es) deverão encaminhar em anexo a permissão escrita dos responsáveis pela publicação original, para posterior
publicação nesta Revista. As fotos deverão evitar a identificação de pessoas ou apresentar permissão específica
e escrita para a publicação das mesmas.
Quando o manuscrito tiver mais de 06 autores, 06 deles
constarão na folha de rosto identificada e os demais constarão
em nota bibliográfica. É necessário ainda especificar, à parte
por escrito e encaminhar juntamente com o manuscrito, a contribuição de cada um dos autores para a elaboração do manuscrito (modelo disponível em: www.eean.ufrj.br/Revista de
Enfermagem).
Para o primeiro encaminhamento, o manuscrito deverá ser
apresentado em 03 cópias impressas, juntamente com 01 cópia
em disquete. A composição dos manuscrito deverá constar de:
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 160 - 8.
161
- Folha de rosto identificada: título pleno do trabalho com até
15 palavras, versão do título completo em espanhol e inglês,
título abreviado para cabeçalho com até 07 palavras, nome por
extenso de cada autor (até seis autores) seguido de instituição
de origem (apenas nome e cidade), e nome do autor e endereço
completo de correspondência para manutenção de contatos sobre a tramitação do manuscrito com o editor (incluindo cep,
telefone, fax e endereço eletrônico).
- Folha de rosto não identificada: título pleno do trabalho com até 15 palavras e versão do título completo em
espanhol e inglês.
- Folha de resumo e descritores: resumo com até 150
palavras para manuscritos de pesquisa, reflexão, ensaio,
relato de experiência, revisão crítica e biografia. Resumo de
até 70 palavras para manuscritos de entrevista e página
do estudante. Esses resumos deverão estar acompanhados das versões em espanhol (resumen) e inglês (abstract)
acompanhados dos respectivos descritores. Os resumos devem
ser informativos de acordo com a NBR 6028 da ABNT, de novembro de 2003, para manuscritos nacionais. Para manuscritos
internacionais, o resumo informativo deve apresentar todas as partes do texto de maneira sintética. Os manuscritos de resenha,
resumo de dissertação ou tese, comunicações breves e carta
ao editor deverão ser acompanhados pelas versões integrais
do texto em espanhol e inglês acompanhados dos respectivos
descritores. Os descritores são palavras fundamentais para
a classificação da temática abordada no manuscrito em
bancos de dados nacionais e internacionais. Serão aceitos
entre 03 e 05 descritores por manuscrito. Após a seleção
desses descritores, sua existência em português, espanhol e
inglês deve ser confirmada pelo(s) autor(es) do manuscrito
no endereço eletrônico http://decs.bvs.br (Descritores em Ciências da Saúde - Bireme). A terminologia para os descritores
deve ser denominada no manuscrito como se segue: palavraschave, palabras clave e keywords.
- Corpo de texto: apresentando uma seqüência lógica
(introdução, desenvolvimento e conclusão), organizada em
partes distintas, considerando-se a categoria de manuscrito envolvida. O corpo do texto deve ser iniciado pela introdução, sem o título completo do manuscrito e sem os autores. Deve também ser apresentado de maneira contínua, sem
novas páginas para cada subtítulo. As pesquisas devem
apresentar obrigatoriamente as partes - introdução incluindo objetivos, metodologia, análise e interpretação dos resultados, conclusões e referências (ver detalhamento das
categorias de manuscritos em: www.eean.ufrj.br/Revista de
Enfermagem). Os locais sugeridos para a inserção de tabelas, gráficos e ilustrações, segundo sua ordem a aparição,
162
deverão estar assinalados no texto. As citações de autores no
texto devem estar em conformidade com os exemplos sugeridos e elaborados segundo o estilo Vancouver e disponíveis
em: www.eean.ufrj.br/Revista de Enfermagem. A transcrição ipsis
literes de citações deve atender aos seguintes critérios:
(a) até três linhas de citação, usar aspas na seqüência do
texto normal; (b) mais de três linhas de citação, destacá-la
em nova linha, em bloco próprio distinto do texto normal,
sem aspas, com espaço simples e recuo de 3 espaços da
margem esquerda. Deve-se evitar assinalar muitos autores números, em uma mesma parte de texto. Não devem ser
introduzidas notas de rodapé. Elas podem estar contempladas nas notas bibliográficas, que deverão ser introduzidas
ao final do texto. Os dados empíricos recortados em pesquisas
qualitativas devem ser apresentados em nova linha, em bloco próprio distinto do texto normal, em itálico, sem aspas,
com espaço simples e recuo de 2cm da margem esquerda. Esses dados devem estar identificados por siglas (exemplo: E1, E2 ... para entrevistas) ou pseudônimos relativos
aos participantes das pesquisas.
- Notas bibliográficas: autores além dos seis existentes
na folha de rosto identificada; complementos e explicações necessárias à compreensão da temática abordada no manuscrito, que não cabem no texto; agradecimentos; apoios recebidos - financeiros e outros, e demais conteúdos considerados pertinentes. As notas bibliográficas devem ser apresentadas em
número reduzido após as referências, apenas nos casos imprescindíveis.
- Referências bibliográficas: número de referências segundo
a categoria de manuscrito apresentado à Revista; e apresentação das referências em espaço simples e fonte Times
New Roman tamanho 12, sem parágrafos, recuos ou deslocamentos de margens, com destaques em itálico (títulos de livros, periódicos em que foram publicados e outros detalhes) e numeradas de acordo com sua ordem de aparição no
texto. As demais características das referências deverão estar
em conformidade com os exemplos baseados no estilo Vancouver (disponíveis em: www.eean.ufrj.br/Revista de Enfermagem).
- Anexos: a apresentação de tabelas, gráficos e outras
ilustrações, por opção do(s) autor(es); apresentação de
instrumentos utilizados (resumidos, quando extensos) e outros tipos. Os anexos devem adotados apenas quando
significarem informação original ou destaque indispensável
à compreensão de alguma seção do manuscrito.
- Tabelas, gráficos e outras ilustrações: devem estar impressos em laudas distintas das laudas do texto do manuscrito e acompanhados de título e/ou legenda. Eles devem ser
encaminhados em arquivos separados. Para tabelas e gráficos, usar preferencialmente arquivos dos softwares Word ou
Excel. Para outras ilustrações (figuras, mapas, gravuras, esque-
Instruções para a publicação de manuscritos
mas e fotos somente em preto e branco), encaminhar obrigatoriamente arquivos de software Corel Draw ou arquivos com
extensão TIF ou JPG. Para “escanear” as figuras e/ou fotos,
selecionar 300 DPI de resolução, nos modos de desenho ou
gray scale. Figuras de desenhos não computadorizados deverão encaminhadas em qualidade de impressão de fotografia em preto e branco.
Para o segundo encaminhamento, depois de cumpridas
as exigências estabelecidas para sua publicação, o manuscrito revisado deverá ser reapresentado à Revista em 01 cópia impressa, juntamente com uma cópia em disquete. Os
manuscritos deverão ser encaminhados para:
Escola Anna Nery Revista de Enfermagem
Secretaria Administrativa
Escola de Enfermagem Anna Nery / UFRJ
Rua Afonso Cavalcanti, 275, Cidade Nova
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
CEP 20.211-110
Outras formas de contato:
Telefone: (21) 2293-0528 / ramal: 109
Fax: (21) 2293-8999
e-mail: revista@eean.ufrj.br
Maiores informações sobre:
Submissão de manuscritos à periódicos
Consultar:
- http://www.jped.com.br/port/normas/normas_07.asp /
- Requisitos uniformes para originais submetidos a revistas
biomédicas. Jornal de Pediatria, 73:213-22, 1997 (verão integral em português).
- Requisitos uniformes para originais submetidos a revistas
biomédicas – atualização de dezembro de 2003 (em português).
- Atualização de outubro de 2001 (em inglês).
Abreviaturas de títulos de periódicos
Consultar:
- http://www.ibict.br (em português).
- http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?deb=journals (em
inglês).
- International Nursing Index (em inglês).
- Index Medicus (em inglês).
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 160 - 8.
Instruções para a publicação de manuscritos
163
ANNA NERY SCHOOL
JOURNAL OF NURSING
Instructions for
manuscript publication
The Magazine will accept for publication manuscripts
written in Por tuguese, Spanish and English. The
manuscripts must be submitted exclusively to the Anna
Nery School of Nursing Magazine, not being allowed its
simultaneous submittal to another periodical. Concepts,
ideas, and opinions emitted in the manuscripts, as well
as the exactness, adequacy and origin of bibliographical
citations are of entire responsibility of the authors, not
reflecting necessarily the position of the Magazine’s
Publishing Commission. Thus, the authors will have to
send attached to the manuscript a responsibility
statement on the subject and the transfer of the
copyrights (disponible in: www.eean.ufrj.br/Revista de
Enfermagem).
Therefore, the manuscripts published are property
of the Magazine and the reproduction or partial or total
translation is not permitted. For partial or total
publication (texts citations with more than 500 words,
figures, graphics, tables and other illustrations) of
manuscript text published in the journal in another
periodical (printed and/or electronic), written
authorizations are needed from the editors and from
the authors of the manuscript involved. Similarly, the
publication in this magazine of manuscripts published
in other periodicals, through reproduction or translation
partial or total of text (texts citations with more than
500 words, figures, graphics, tables and other
illustrations), requires written authorizations from the editors
and from the authors of the manuscript originally published.
The Editorial Commission of the Magazine has full
authority to decide about the selection for the
publication of the manuscripts, when they present the
requirements for evaluation of the scientific merits.
Considering the manuscripts originality, priority,
opportunity, clarity and knowledge of relevant literature
and appropriate definition of the subject studied. The
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 160 - 8.
Chief Editor, by delegation of the Deliberative Committee
of the Journal may introduce occasional alterations for
standardization purposes, according to the journal’s editorial parameters.
The evaluation process of the scientific merits
managed by the editors of the Magazine, will be
considered the fulfillment of these instructions, ithe
potential of the manuscript for publication and possible
readers’ interest. The manuscript will be forwarded for
review and appraisal by three Ad Hoc consultants,
researchers that have a established competence in the
manuscript’s knowledge area, a process in which secrecy
and anonymity as for authors and as for consultants will
be adopted.
After, the manuscripts may be classified as one of
the following: manuscript approved without
requirements; manuscript approved with requirements
(the author(s) must receive them in writing, to carry
out its re-submittal to the Magazine); refused
manuscript, with justification in writing. If approved,
the manuscript will be published in accordance with the
flow and the publishing chronogram of the Magazine.
The manuscript of a Brazilian study that involves
research or case studies with human beings should
present attached a copy of the approval document by a
research ethics committee (according to Resolution
196/96, of the National Health Council) or a justification
for the absence of this document containing the
description of the ethical procedures adopted by the
author(s) to replace it. The manuscript of a foreign
study will have to be accompanied by a copy of the
approval documentation of a similar agency in its native
country, that normalizes the development of research
or case studies with human beings, or a justification for
the absence of this document containing the description
of the ethical care adopted by the authors to replace it.
164
Categories of manuscripts
Editorial, Research, Reflection, Assay, Case studies, Critical
review, Biography, Facsimile, Summary, Summary of dissertation
or thesis, Interview, Page of the student, Brief communication,
Letter to the editor. More details about the manuscripts will be
found at: www.eean.ufrj.br/Revista de Enfermagem
Composition of the Manuscripits
The manuscripts must be written in compliance with the official
orthography and word processor files must be MS Word for
Windows™, version 98 or earlier, with 1,5 paragraph indenting,
printed in A4 paper with margins of 3 cm, in double spacing,
using the font Times New Roman size 12, with pages numbered
from introduction to references.
Only heading and sub-headings of the manuscript can be
highlighted in boldface, being forbidden the adoption of
abbreviations for them and also for the summary. It must be
adopted in the text only the standardized abbreviations. The first
citation of the abbreviation in parenthesis must be preceded of
the corresponding expression literally, with exception of the
standardized measures.
Italics should only be adopted to only hihlight important parts
of the text, as for example ipsis litteris citations of authors in the text
of the manuscript, relevant parts of depositions/transcribed
interviews and words and expressions for the subject matter.
Tables, graphs, and other illustrations (figures, maps, pictures,
schematics, and photos) must be presented in sheets of paper
separated from the text, numbered consecutively with Arabic
numbers, in the order where they are cited in the text. For
illustrations extracted from other previously published works, the
author(s) will have to forward attached written permission from
those responsible for the original publication, for posterior
publication in this Magazine. The photos will have to prevent the
identification of people or to present specific permission in writing
for their publication to be allowed.
When the manuscript has more than 06 authors, 06 of
them will be shown in the identified face page and the others
will be shown in a bibliographical note. It is necessary yet to
specify, apart and in writing, and to forward along with the
manuscript, the contribution of each of the authors for the
elaboration of the manuscript (disponible at: www.eean.ufrj.br/
Revista de Enfermagem).
For the first submittal, the manuscript must have 03 printed
copies, together with 01 copy in floppy disk.
The composition of the manuscript must consist of:
- Identified face page: full title of the work with up to 15 words,
version of the complete title in Spanish and English, short title for
heading with up to 07 words, full name of each author (up to six
Instruções para a publicação de manuscritos
authors), followed by institution (only name and city), and name
of the author and complete address for making contact on the
status of the manuscript with the editor (including Zip code,
telephone, fax, and e-mail).
- face page unidentified: full title of the work with up to 15
words and version of the complete title in Spanish and English.
- Summary page and describers: summary with up to 150
words for manuscripts of research, reflection, essay, case studies,
critical review and biography. Summary of up to 70 words for
manuscripts of interview and page of the student. These
summaries will have to be accompanied by versions in Spanish
(resumen) and English (abstract), followed by the respective
describers. Summaries of Brazilian manuscripts must be
informative according to ABNT’s NBR 6028, from November 2003.
For international manuscripts, the informative summary must
present all the parts of the text in a synthetic way. The summary
manuscripts, brief summary of dissertation or theses,
communications and letter to the editor must be followed by the
integral versions of the text in Spanish and English, followed by
the respective describers. The describers are basic words for the
thematic classification of the manuscript in national and
international databases. It will be accepted between 03 and 05
describers. After the selection of these describers, its existence
in Portuguese, Spanish and English must be confirmed by the
author(s) of the manuscript in the electronic address http://
decs.bvs.br (Describers in Health Sciences - Bireme). The
terminology for the describers must be designated in the manuscript
as follows: palavras-chave, palabras clave, keywords.
- Body of text: presenting a logical sequence (introduction,
development, and conclusion), organized in distinct parts,
considering the category of manuscript involved. The body of the
text must start by the introduction, without the complete title of
the manuscript and without the authors. It must also be presented
in a continuous way, without new pages for each sub-heading.
The researches must present obligatorily the parts - introduction
including objective, methodology, analysis and interpretation of
the results, conclusions and references (disponible at:
www.eean.ufrj.br/Revista de Enfermagem). The places suggested
for the table insertion, graphs and illustrations, according to its
order the appearance, must be designated in the text. The
citations of authors in the text must be in compliance with
the examples suggested and elaborated according to the
Vancouver style (disponible at: www.eean.ufrj.br/Revista de Enfermagem). The transcription ipsis litteris of citations must
comply with to the following criteria: (a) up to three citation
lines: use quotations marks in the sequence of the normal
text; (b) more than three citation lines: highlight it in a new
line, distinct block from the normal text, without quotations
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 160 - 8.
Instruções para a publicação de manuscritos
marks, with single spacing and 3 spaces from the left margin.
The designation of many authors - numbers must be avoided,
in a same part of text. Footnotes must not be introduced.
They can be left for the bibliographical notes, that must be
introduced at the end of the text. The empirical data taken
from qualitative researches must be presented in a new line,
in a distinct block from the normal text, in italic, without
quotations marks, with single spacing and 2 cm from the left
margin. These data must be identified by acronyms (for
example: E1, E2... for interviews) or pseudonyms relatted to
the participants of the researchs.
- Bibliographical notes: authors beyond the six existing
ones in the identified face page; complements and necessary
explanations to the understanding of thematic of the
manuscript, that do not fit in the text; acknowledgments;
received supports - financial and others, and other content
considered pertinent. The bibliographical notes must be
presented in reduced number after the references, only in the
indispensable cases.
- Bibliographical references: number of references
according to the category of the manuscript presented to the
Journal (see categories of manuscripts); and presentation of
the references in single spacing and font Times New Roman
size 12, without paragraphs, indenting or displacement of
margins, with highlights in italics (book titles, periodicals where
they have been published and other details) and numbered in
accordance with its order of appearance in the text. The other
characteristics of the references must be in compliance with
the examples based on the “Vancouver” style (disponible at:
www.eean.ufrj.br/Revista de Enfermagem).
- Attachments: table presentation, graphs, and other
illustrations, by author(s)’s choice; presentation of used
instruments (summarized, when extensive), and other types.
The attachments must be adopted when only if they represent
original information or are indispensable to the understanding
of some section of the manuscript.
- Tables, graphs, and other illustrations: must be printed
in distinct pages from the text of the manuscript and
followed by title and/or header. They must be submitted in
separate files. For tables and graphs, use software files
MS Word™ or Excel™ preferentially. For other illustrations
(figures, maps, pictures, schematics and photos should
only be in black and white). It is obligatorily to submit
software files of Corel Draw™ or files with extension TIF
or JPG. To scan the figures and/or photos, select 300 DPI
resolution, in drawing or gray scale mode. Figures of
dr awings not computerized must be submitted in
photographic quality an in black and white.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 160 - 8.
165
For the second submittal, after fulfilling the requirements
established for its publication, the revised manuscript must
be sent in 01 printed copy, along with a copy in floppy disk.
The manuscripts must be addressed to:
Escola Anna Nery Revista de Enfermagem
Secretaria Administrativa
Escola de Enfermagem Anna Nery / UFRJ
Rua Afonso Cavalcanti, 275, Cidade Nova
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
CEP 20.211-110
Other forms of contact:
Telefone: (21) 2293-0528 / ramal: 109
Fax: (21) 2293-8999
e-mail: revista@eean.ufrj.br
FURTHER INFORMATION ON:
Submission of manuscripts to periodics:
To consult:
. htpp://www.jped.com.br/port/normas/normas_07.asp /:
- Uniform requirements for originals submitted to biomedical
magazines. Jornal de Pediatria, 73:213-22, 1997 (integral
version in Portuguese).
- Uniform requirements for originals submitted to biomedical
magazines – Updating of December of 2003 (in Portuguese).
. - Updating of October of 2001 (in English).
Ab
br
tions of periodics titles:
Abbr
breevia
viations
To consult:
htpp://www.ibict.br (in Portuguese).
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?deb=journals
(in English).
International Nursing Index (in English).
Index Medicus (in English).
Instruções para a publicação de manuscritos
166
ESCUELA ANNA NERY
REVISTA DE ENFERMERÍA
Instrucciones para la
publicación de manuscritos
La revista aceptará para publicación manuscritos
en portugués, español e inglés. Los manuscritos deben
ser presentados exclusivamente a la Escuela Anna
Nery Revista de Enfermería, no siendo permitida su
presentación simultanéa a otro periódico. Conceptos,
ideas y opiniones emitidas en los manuscritos, bien
como la exactitud, adecuación y procedencia de las
citaciones bibliográficas, son de total responsabilidad
de los autores de los mismos, no reflejando
necesariamente la posición del Consejo Editorialde
la Revista. Para eso, los autores deberán enviar, anexada al manuscrito, una declaración de
responsabilidad sobre el contenido del mismo y la
transferencia de derechos autorales (modelos
disponibles en: www.eean.ufrj.br/Revista de Enfermagem).
Por tanto, los manuscritos publicados serán propiedad
de la Revista, estando prohibidas la reproducción o
traducción, parcial o total, de los mismos. Para
publicación total o parcial (citaciones con más de 500
palabras, figuras, gráficos, tabelas y otras ilustraciones)
de texto de manuscrito publicado en la Revista en otros
periódicos (impresos y/o electrónicos), son necesarias
autorizaciones por escrito de sus editores y de los autores del respectivo manuscrito. De la misma forma,
publicaciones de manuscritos editados en otros periódicos en esta Revista, a través de la reproducción o
traducción de texto total o parcial (citaciones con más
de 500 palabras, figuras, gráficos, tabelas y otras
ilustraciones), exigen las necesarias autorizaciones por
escrito de los editores de aquel periódico y de los autores del manuscrito originalmente publicado.
El Consejo Editorial de la Revista tiene plena
autoridad de decisión sobre la selección de publicación
de manuscritos, cuando los mismos presentan los requisitos adoptados para la evaluación de su mérito científico. Va a ser considerado el manuscrito por su originalidad,
prioridad, oportunidad, claridad y conocimiento de la literatura relevante y adecuada definición del tema
estudiado. El editor jefe, por delegación del Consejo
Deliberativo, podrá introducir eventuales alteraciones para
efecto de uniformidad, de acuerdo con los parámetros
editoriales de la Revista.
El proceso de evaluación del mérito científico administrativo por las editoras de la Revista va a considerar
el atendimiento de estas instrucciones, el potencial
del manuscrito para publicación y posible interés de
los lectores. El manuscrito será enviado para análisis y
emisión de parecer por 03 Consultores “Ad hoc”, investigadores de reconocida competencia en el ámbito de
conocimiento del manuscrito, proceso en que se adoptará
sigilo y anominato para autores y consultores.
Los manuscritos podrán ser clasificados en una de
las condiciones siguientes: manuscritos aprobado sin
exigencias; manuscrito aprobado con exigencias,
debiendo los autores recibirlas por escrito para providenciar la segunda presentación a la Revista; manuscrito recusado, con justificativa por escrito. Cuando
aprobado, el manuscrito será editado conforme el flujo
y el cronograma editorial de la Revista.
El manuscrito de estudio brasileño, tratando de
investigación o relato de experiencia con seres humanos, deberá presentar anexada una cópia del documento de aprobación por un comité de ética de
investigación (de acuerdo con la Resolución 196/96,
del Consejo Nacional de Salud) o una justificativa para
ausencia de ese documento conteniendo la descripción
de los cuidados éticos adoptados por los autores para
substituirlo. El manuscrito de estudio extranjero deberá
estar acompañado de copia de la documentación de
aprobación emitida por órgano similar en su país de
origen, lo cual normaliza el desarrollo de investigación
o relato de experiencia con seres humanos, o una
justificativa para la ausencia de ese documento
conteniendo la descripción de los cuidados éticos
adoptados por los autores para substituirlo.
Categorías de Manuscritos
Editorial, Investigación, Reflexión, Ensayo, Relato
de experiencia, Revisón crítica, Biografía, Facsímile,
Reseña, Resumen de disertación o tesis, Entrevista,
Página del estudiante, Comunicaciones breves, Carta
para el editor.
Para más informaciones sobre los manuscritos buscar al sítio: www.eean.ufrj.br/Revista de Enfermagem.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 160 - 8.
Instruções para a publicação de manuscritos
Composición de los manuscritos
Los manuscritos deberán ser redactados en la ortografía
oficial y digitados en archivo de procesador de texto Word for
Windows, versión 98 o anterior, con párrafos de 1,5 cm,
impresos en papel A4, com márgenes de 03 cm, en espacio
duplo en la fuente Times New Roman” tamaño 12, con páginas numeradas a par tir de la Introducción hasta las
Referencias.
Solamente título y subtítulos del manuscrito podrán ser
destacados en negrito, siendo prohibida la adopción de abreviaturas en los mismos y en el Resumen. Se debe adoptar en el
texto las abreviaciones oficiales. La primera citación de la
abreviatura entre paréntesis debe ser precedida de la expresión
correspondiente por extenso, con excepción de las medidas
padrón.
El uso del itálico deberá ser adoptado solo para destacar
partes importates del texto, como, por ejemplo, citaciones
“ipsis literis”de autores en el texto del manuscrito, partes de
testimonios/entrevistas transcritas y palabras y expresiones
relevantes para el tema tratado.
Tabelas, gráficos y otras ilustraciones (figuras, mapas,
estampas, esquemas y fotos) deben ser presentados en hojas
separadas del texto, numeradas consecutivamente con algarismos arábicos, en la orden de citación en el texto. Para
ilustraciones tiradas de otros trabajos previamente publicados, los autores deberán encaminar anexada la permisión por
escrito de los responsables por la publicación original para
posterior publicación en esta Revista. Las fotos deberán evitar la identificación de personas o presentar permisión específica y escrita para publicación de las mismas.
Cuando el manuscrito tiene más de 06 autores, 06 de
ellos constarán en la portada identificada y los otros serán
colocados en nota bibliográfica. Es también necessario especificar en separado, por escrito, y encaminar, juntamente con el manuscrito, la contribuición de cada un de los
autores para la elaboración del manuscrito (ver el sítio:
www.eean.ufrj.br/Revista de Enfermagem).
Para el primero envío, el manuscrito deberá ser en 03
copias impresas, juntamente con una copia en disquete. La
composición de los manuscritos deberá constar de:
- Portada identificada: Título pleno del trabajo con un
máximo de 15 palabras, versión del título completo en español
y en inglés, título abreviado para el encabezamiento con hasta 07 palabras, nombre por extenso de cada autor (hasta 06
autores), seguido de institución de origen (solamente nombre
y ciudad), y la direcición completa para manutención de
contactos sobre la tramitación del manuscrito con el editor
(incluyendo el código postal (CEP), teléfono, fax y e-mail).
- Portada no identificada: Título pleno del trabajo, con un
máximo de 15 palabras, y versión del título completo en
español y en inglés.
Hoja de Resumen y Descriptores: Resumen con un máximo
de 150 palabras para manuscritos de investigación, reflexión,
ensayo, relato de experiencia, revisión crítica y biografía.
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 160 - 8.
167
Resumen con un máximo de 70 palabras para manuscritos y
página del estudiante. Esos resúmenes deberán estar
acompañados de las versiones en español y en inglés
(“abstract”) y de los respectivos descriptores. Los resúmenes
deben ser informativos de acuerdo con la Norma Brasileña
(NBR)6028, de la Asociación Brasileña de Normas Técnicas
(ABNT) para manuscritos nacionales. Para manuscritos
internacionales, el resumen informativo debe presentar todas las partes del texto de manera sintética. Los manuscritos
de reseña, resumen de disertación o tesis, comunicaciones
breves y carta para el editor deberán ser acompañadas de las
versiones integrales del texto en español y en inglés de los
respectivos descriptores con palabras fundamentales para la
clasificación de la temática tratada en el manuscrito en bancos de datos nacionales e internacionales. Serán aceptos entre 03 y 05 descriptores. Después de la selección de esos
descriptores, su existencia en português, español e inglés
debe ser confirmada por los autores del manuscrito en la
dirección electrónico http://decs.bvs.br (Descriptores en
Ciencias de la Salud –BIREME). La terminología para los
descriptores deben aparecer en el manuscrito de la manera
siguiente: “palavras - chave”(portugués), “palabras clave”
(español), “keywords”(inglés).
- Cuerpo del texto : Presentado una secuencia lógica
(introducción, desarrollo y conclusión) y organizado en partes distintas, considerandose la categoría del manuscrito. El
cuerpo del texto debe ser iniciado por la Introducción, sin el
título completo del manuscrito y sin nuevas páginas para cada
subtítulo. Las investigaciones deben tener obligatoriametne
las partes: introducción, incluyendo objetivos; metodología;
análisis o interpretación de los resultados; conclusiones; y
referencias (ver el sítio: www.eean.ufrj.br/Revista de Enfermagem). Los locales sugeridos para la inserción de tabelas,
gráficos e ilustraciones, según su orden de surgimento, deberán
estar señalados en el texto. Las citaciones de autores en el
texto deben estar de conformidad con los ejemplos sugeridos
y elaborados según el estilo “Vancouver”. La transcripción
“ipsis literis”de citaciones debe atender a los criterios
siguientes: (a) hasta 03 líneas de citación, usar comillas en la
secuencia del texto normal; (b) más de 03 líneas de citación,
destacarla en nueva línea, en bloco proprio distinto del texto
normal, sin aspas, con espacio simple y reculada de 03 espacios
de la margen izquierda. Se debe evitar señalar muchos autores/números en una misma parte de texto. No deben ser
introducidas notas de rodapié. Ellas pueden constar como
notas bibliográficas, que deberán ser colocadas al final del
texto. Los datos empíricos recortados de investigaciones
cualitativas deben ser presentados en nueva línea, en bloco
propio distinto del texto normal, en itálico, sin comillas, con
espacio simple y reculada de 02 cm de la margen ixquierda.
Esos datos deben estar identificados por siglas (ejemplo: El,
E1, e2 .... para entrevistas) o pseudónimos.
- Notas bibliográficas : Autores además de los 06 existents
em la hoja de rostro identificada; complementos y explicaciones
necessárias a la comprensión de la temática tratada en el
Instruções para a publicação de manuscritos
168
manuscrito que no caben en el texto; agradecimientos; apoyos
recebidos (financieros y otros); y otros contenidos considerados per tinentes. Las notas bibliográficas deben ser
presentadas en número reducido después de las referencias,
apenas en los casos indispensables.
- Referencias bibliográficas: Número de referencias segundo la categoría de manuscrito presentado en la Revista
(ver categorías de manuscritos; y presentación de las
referencias en espacio simple y fuente “Times New Roman”
tamaño 12, sin párrafos, reculadas o deslocamientos de
márgenes, con destaque en itálico (títulos de libros, periódicos que fueron publicados y otros detalles) y numeradas de
acuerdo con su orden de surgimiento en el texto. Las otras
características de las referencias deberán estar en conformidad
con los ejemplos basados en el estilo “Vancouver”. (ver el
sítio: www.eean.ufrj.br/ Revista de Enfermagem)
- Anexos: Presentación de tabelas, gráficos y otras
ilustraciones, por opción de los autores; presentación de instrumentos utilizados (resumidos, cuando extensos) y otros
tipos. Los anexos deben ser adoptados apenas cuando significan
información original o destaque indispensable a la comprensión
de alguna sección del manuscrito.
Tabelas, gráficos y otras ilustraciones: deben estar
impresos en páginas distintas de las páginas del texto del
manuscrito y acompañados de título y/o leyenda. Ellos deben
ser enviados en archivos separados. Para tabelas y gráficos,
usar de preferencia archivos de los software Word o Excel.
Para otras ilustraciones (figuras, mapas, grabados, esquemas
y fotos solamente en preto y blanco), enviar obligatoriamente
archivos de software Corel Draw o archivos con extensión TIF
o JPG. Para escanear las figuras y/o fotos, seleccionar 300 DPI
de resolución, en los modos de diseño o “gray scale”. Figuras
de diseños no computadorizados deberán ser encaminadas
en calidad de impresión de fotografáia en preto y blanco.
Para el segundo envío, después de cumplidas las
exigencias establecidas para su publicación, el manuscrito
revisado deberá ser enviado en 02 copias impresas, juntamente con una copia en disquete. Los manuscritos deberán
ser enviados para:
Más informaciones sobre:
Sumisión de manuscritos a los periódicos
Consultar:
- http://www.jped.com.br/port/normas/normas_07.asp /
- Requisitos uniformes para originales sometidos a las revistas biomédicas. Jornal de Pediatria, 73:213-22, 1997
(versión integral en portugués).
- Requisitos uniformes para originales sometidos a las revistas biomédicas – actualización de diciembre de 2003 (en
portugués).
– Actualización de octubre de 2001 (en inglés).
Abreviaciones de títulos de los periódicos
Consultar:
htpp://www.ibict.br (en portugués).
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?deb=journals
(en inglés).
International Nursing Index (en inglés).
Index Medicus (en inglés).
Escola Anna Nery Revista de Enfermagem
Secretaria Administrativa
Escola de Enfermagem Anna Nery / UFRJ
Rua Afonso Cavalcanti, 275, Cidade Nova
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
CEP 20.211-110
Otras formas de contacto:
Teléfono: (21) 2293-0528 / ramal: 109
Fax: (21) 2293-8999
E - mail: revista@eean.ufrj.br
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 160 - 8.
Instruções para a publicação de manuscritos
169
ESCOLA ANNA NERY
REVISTA DE ENFERMAGEM
Anna Nery School
Journal of Nursing
Escuela Anna Nery
Revista de Enfermería
www.eean.ufrj.br/revista - e-mail: revista@eean.ufrj.br / annaneryrevista@gmail.com
Assinatura Anual / 2007
Remeter Ficha de Assinatura, acompanhada do comprovante de depósito bancário original, para:
Escola de Enfermagem Anna Nery
Rua Afonso Cavalcanti, 275 - Cidade Nova - Rio de Janeiro - Brasil - Cep: 20.211-110
Telefone/Fax: 21 2293 8999 ramal 109
Banco: BANCO DO BRASIL - Agência: 0287- 9 / Botafogo - Conta: 7.333- 4
(no caixa com o código identificador: 8417- 4).
Favorecido: Fundação Universitária José Bonifácio
Periodicidade Trimestral
Alunos de graduação: R$ 70,00( )
Individual: R$ 120,00( )
Institucional: R$ 160,00( )
Annual subscription / 2007
Send your subscription to: Escola de Enfermagem Anna Nery
Rua Afonso Cavalcanti, 275
Cidade Nova - Rio de Janeiro - Brazil - Zip code: 20.211-110
Telefax: +55 21 2293 8999
BANCO DO BRASIL- Agência Botafogo - RJ
Branch Number: 0287- 9 - Bank Account: 13.101- 6
To: Fundação Universitária José Bonifácio
Money order Swift: BRASBRRJARJO - Identification code: 8417- 4
Every Quarter
Suscripción anual / 2007
Enviar la inscripción a: Escola de Enfermagem Anna Nery
Rua Afonso Cavalcanti, 275
Cidade Nova - Rio de Janeiro - Brasil - Código Postal: 20.211-110
Telefax: +55 21 2293 8999
BANCO DO BRASIL- Agência Botafogo - RJ
Sucursal Número: 0287-9 / Cuenta de Banco: 13.101-6
En nombre de: Fundação Universitária José Bonifácio
Orden de pago / Clave de Identificación: 8417-4
Periodicidad Trimestral
Undergraduate students/Alumnos de pregrado: US$ 35.00( )
Individual: US$ 80.00( )
Institutional/Institucional: US$ 100.00( )
EXEMPLAR AVULSO / SAMPLE PRICE / EJEMPLAR SUELTO
1997 a 2001: R$ 10,00 / US$ 10.00
2002 a 2005: R$ 25,00 / US$ 20.00
2006 e 2007: R$ 40,00 / US$ 30.00
Nome / Name / Nombre: .................................................................................................................................................................................................... ................................................
Endereço / Address / Dirección: ......................................................................................................................................................................................... .............................................
Cidade / City / Ciudad: .................................................................................................. País / Country / Pais : ..........................................................................................................
UF / State / Provincia : ................................................................................................ CEP / Zip Code / Código Postal: ........................................................................................
Tel. / Phone / Tel.: ..................................................................... fax: ................................................ celular / cell phone: ...............................................
e-mail: .................................................................................................................................................................................................................................
Empresa / Company / Empresa:............................................................................................................................................................................................
Categoria Profissional / Occupation / Profesión: ..................................................................................................................................................................
Data / Date / Fecha: ...........................................................................................................................................................................................................
Assinatura / Signature / Firma: ............................................................................................................................................................................................
Esc Anna Nery R Enferm 2007 mar; 11 (1): 160 - 8.
1937 - 2007
ANOS
70 Anos de Inserção na Universidade
84 Anos de História na Enfermagem Brasileira
PROGRAMAÇÃO
08 de março de 2007
ABERTURA:
Inauguração da Sala Vilma de Carvalho
Auditório Hélio Fraga
CCSS - Ilha do Fundão
09 de março de 2007
AULA INAUGURAL:
“Extensão Universitária: Desafios para a Enfermagem”
Auditório Rodolpho Paulo Rocco
CCSS - Ilha do Fundão
12 de abril de 2007
14:00
COMEMORAÇÃO DO DIA DA OBSTETRIZ:
Temas Emergentes da Prática Profissional
Pavilhão de Aulas
Escola de Enfermagem Anna Nery
07 a 09 de maio de 2007
8:00 às 17:00
COMEMORAÇÃO DO DIA DO TRABALHO:
“Álcool e Drogas - Trabalho e Saúde do Trabalhador”
Pavilhão de Aulas
Escola de Enfermagem Anna Nery
14 a 17 de maio de 2007
14:00 às 17:00
PESQUISANDO EM ENFERMAGEM
Pavilhão de Aulas
Escola de Enfermagem Anna Nery
08 de agosto de 2007
10:00
AULA INAUGURAL:
“Relações de Gênero no Ensino e na Prática Profissional”
Simpósio
Pavilhão de Aulas
Escola de Enfermagem Anna Nery
ENCONTRO DE NÚCLEOS DE PESQUISA DA EEAN
Pavilhão de Aulas
Escola de Enfermagem Anna Nery
outubro de 2007
ESCOLA ANNA NERY REVISTA DE ENFERMAGEM:
Comemoração de uma Década de Existência
Pavilhão de Aulas
Escola de Enfermagem Anna Nery
20 de dezembro de 2007
ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES
Pavilhão de Aulas
Escola de Enfermagem Anna Nery
14 de setembro de 2007