DETECÇÃO DE Chlamydia trachomatis EM ESTUDANTES
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DETECÇÃO DE Chlamydia trachomatis EM ESTUDANTES
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FACULDADE DE BIOMEDICINA MARIA RENATA MENDONÇA DOS SANTOS DETECÇÃO DE Chlamydia trachomatis EM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIAS ATENDIDAS NO LABOTATÓRIO DE CITOPATOGIA/ UFPA: ANÁLISE CITOLÓGICA E MOLECULAR. BELÉM- PARÁ 2012 MARIA RENATA MENDONÇA DOS SANTOS DETECÇÃO DE Chlamydia trachomatis EM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIAS ATENDIDAS NO LABOTATÓRIO DE CITOPATOGIA/ UFPA: ANÁLISE CITOLÓGICA E MOLECULAR. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina. Orientadora: Profª Drª Mihoko Yamamoto Tsutsumi Co- orientadora: Profª Drª Maisa Silva de Sousa BELÉM- PARÁ 2012 MARIA RENATA MENDONÇA DOS SANTOS DETECÇÃO DE Chlamydia trachomatis EM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIAS ATENDIDAS NO LABOTATÓRIO DE CITOPATOGIA/ UFPA: ANÁLISE CITOLÓGICA E MOLECULAR. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina, aprovado com o conceito ________________________. Belém (PA), 14 de Dezembro de 2012. Banca examinadora: ___________________________________ Profª Drª Mihoko Yamamoto Tsutsumi (ICB- UFPA/ Orientador) _________________________________ Profª Drª Maisa Silva de Sousa (NMT- UFPA/ Co- orientadora) _________________________________ Profª Drª Karla Tereza silva Ribeiro (UFPA- Membro) ___________________________________ Prof. Dr. Marcelo de Oliveira Bahia (UFPA- Membro ___________________________________ Prof. Dr. Moisés Batista da Silva (UFPA- Suplente) i Suba o primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas dê o primeiro passo. Martin Luther King ii DEDICATÓRIA À Deus, meu Criador e Salvador. Aos meus pais, por todo amor e que sempre estiveram ao meu lado em todas as etapas de minha vida. À minha irmã por toda confiança e apoio e que sempre me motivou. iii AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço à Deus, o qual é o segredo de todas vitórias e conquistas de minha vida. Agradeço a minha família que foram a base de sustentação em todos os tempos. Meu pai, Luiz Antônio; Minha mãe, Ruth; minha irmã Roberta, amo vocês. Às minhas orientadoras, Drª Mihoko Tsutsmi e Drª Maisa Sousa que contribuíram para a realização deste trabalho me ensinando e incentivando ao conhecimento. Ao meu querido Robson, mesmo estando longe sempre me fortaleceu. À Pra. Joana minha mãe- amiga, sempre direcionando bênçãos na minha vida. Às minhas amigas Ruth e Maiana, juntas nós vivemos momentos de alegrias e tristezas, mas no final sempre tudo dá certo. À minha maravilhosa turma de biomedicina, foram muito felizes e divertidos esses anos de convivência. Aos amigos do Núcleo de Medicina Tropical: Jackeline, Ildson, Henrique e Jeniffer, cada um fez parte dessa história. Às meninas de citopatologia: Tânia e Josi, desejo sucesso à vocês. Enfim, agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para minha formação. iv LISTA DE FIGURAS E TABELAS Figura 01 - Modelo da parede celular ou envelope da Chlamydia trachomatis................................................................................................................................4 Figura 02 - Representação do cromossomo circular da Chlamydia trachomatis D/UW3 genome annotation [GenBank: AE001273]................................................................................5 Figura 03 - Reconstrução filogenética dos sorotipos de Chlamydia trachomatis...................................................................................................................6 Figura 04 - Ciclo biológico da Chlamydia trachomatis.............................................................7 Figura 05. Distribuição de estudantes por faixa etária.............................................................20 Figura 06 - Vacúolo sem inclusão intracitoplasmática............................................................22 Figura 07. Resultados citológicos...........................................................................................23 Figura 08 - Frequência de Chlamydia sp e achados citológicos, de acordo com a idade............................................................................................................................24 Quadro 1. Sorotipos de Chlamydia trachomatis e principais doenças associadas....................3 Quadro 2. Métodos de diagnóstico..........................................................................................12 Tabela 01- Oligonucleotídeo utilizados na amplificação das sequências de CT no gene ompA.........................................................................................................................................18 Tabela 02 - Distribuição percentual das estudantes segundo perfil sexual..............................21 Tabela 03 - Perfil sóciodemográfico e fatores de risco das estudantes infectadas...................22 v LISTA DE ABREVEATURAS ASC-US: Atipia de Células Escamosa de Significado Indeterminado ASC-H: Atipia Escamosa, sem excluir HSIL CDC: Center of Disease Control CT: Chlamydia trachomatis DIP: Doença Inflamatória Pélvica EB: Corpúsculo elementar HSIL: Lesão Intraepitelial Escamosa de Alto Grau IST: Infecções Sexualmente Transmissíveis LSIL: Lesão Intraepitelial Escamosa de Baixo Grau LPS: Lipopolisacarídeo LVG: Linfogranuloma venério MOMP: Proteínas de Membrana Externa NMT: Núcleo de Medicina Tropical RB: Corpúsculo Reticular PCCU: Preventivo do Câncer do Colo Uterino PCR: Reação em Cadeia Polimerase vi SUMÁRIO RESUMO.........................................................................................................................VI 1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................01 2. Chlamydia trachomatis ........................................................................................... 03 2.1. Epidemiologia ............................................................................................... 03 2.2. Classificação taxonômica .............................................................................. 03 2.3. Características gerais ..................................................................................... 04 2.4. Aspecto genômico ......................................................................................... 05 2.5. Ciclo biológico .............................................................................................. 08 2.6. Patogênese .................................................................................................... 09 2.7. Infecção por Chlamydia trachomatis na mulher............................................. 10 2.8. Chlamydia trachomatis e câncer .................................................................... 11 2.9. Fatores de risco para a infecção ..................................................................... 12 2.10. Diagnóstico laboratorial .............................................................................. 13 2.11. Prevenção e tratamento ............................................................................... 14 3. OBJETIVOS ........................................................................................................... 16 3.1. Objetivo geral ................................................................................................... 16 3.2. Objetivos específicos ....................................................................................... 16 4. METODOLOGIA ................................................................................................... 17 4.1. Tipo de estudo e delineamento .......................................................................... 17 4.2. População alvo ................................................................................................. 17 4.3. Amostra ............................................................................................................ 17 4.4. Critério de inclusão e exclusão .......................................................................... 17 4.5. Aspectos éticos ................................................................................................. 18 4.6. Questionário ..................................................................................................... 18 4.7. Análises laboratoriais ........................................................................................ 18 4.7.1. Coleta......................................................................................................... 18 4.7. 2. Confecção, montagem e coloração da lâmina. ........................................... 18 4.7. 3. Avaliação Citológica ................................................................................. 18 vii 4.7. 4. Extração e purificação de DNA genômico ................................................. 18 4.7.5. Protocolos de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) ............................... 19 4.7.6. Eletroferese ................................................................................................ 21 4.8. Análise estatística ......................................................................................... 21 5. RESULTADOS ...................................................................................................... 22 6. DISCUSÃO ............................................................................................................ 27 7. CONCLUSÕES ...................................................................................................... 31 8. REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS ....................................................................... 32 9. ANEXOS ................................................................................................................ 40 viii RESUMO Introdução: No ano de 2009 foram registrados 1.244,180 casos da infecção sexualmente transmissível causada por Chlamydia trachomatis (Ct). Infecções repedidas por Ct podem aumentar o risco de Doença Inflamatória Pélvica, da mesma forma, infecções recorrentes também podem aumentar o risco de infertilidade e gravidez ectópica. Importantes taxas de positividade são reveladas, em mulheres sexualmente ativas, nas rotinas realizadas anualmente em países desenvolvidos. Objetivo: estimar a prevalência de infecção por Chlamydia trachomatis em estudantes universitárias que realizam o exame preventivo de câncer de colo do útero no laboratório de Citopatologia/ UFPA. Metodologia: No período de Agosto de 2011 a Setembro de 2012 foi realizada paralelamente ao exame preventivo de câncer colo uterino (PCCU) a pesquisa de Chlamydia trachomatis em estudantes universitárias atendidas no laboratório de Citopatologia/ UFPA. O estudo incluiu aplicação de questionários e exame laboratorial. O material biológico de secreção cérvico vaginal foi utilizado para amplificação da região OMP1 da Chlamydia trachomatis por reação em cadeia polimerase (PCR) e para análise citológica. Resultados: Do total de 95 amostras, três apresentaram positividade pelo método PCR, o que revelou uma prevalência de infecção entre as jovens universitárias de 3,16%. Observou-se a presença de vacúolos intracitoplasmáticos sem inclusões em células metaplásicas de uma amostra positiva para CT. As amostras positivas foram identificadas em estudantes solteiras, com idade média de início da vida sexual de 17 anos e com média de 4,33 parceiros sexuais. Nenhuma variável mostrou associação com a infecção (p>0,05). Os resultados da avaliação citológica com alteração (n=40) tiveram em maior porcentagem os quadros inflamatórios com 77,5% (n= 31). Entre os resultados alterados 87,5% (n= 35) relataram ter corrimento vaginal. Dos resultados positivos, as três apresentavam corrimento, mas a associação não foi estatisticamente significante (p= 0,120). Conclusão: A população de jovens universitárias possui um perfil de mulheres não fumantes, com vida sexual ativa, media de quatro parceiros sexuais ao longo da vida, inicio de vida sexual na fase de adolescência, utiliza métodos contraceptivos e realiza anualmente o exame preventivo. A prevalência de CT em estudantes universitárias atendidas no Laboratório de Citopatologia/UFPA foi considerada próxima ao encontrado na literatura com relação a trabalhos em estudantes universitárias. Palavras- chaves: Prevalência, Chlamydia trachomatis, Universitárias, UFPA. 1 1. INTRODUÇÃO As infecções sexualmente transmissíveis (IST) são consideradas um problema de saúde pública de ordem mundial está entre as causas mais comuns de doenças em vários países, possuem vastas consequências na esfera sanitária, econômica e social (OMS, 2005). Estão inclusas na lista nacional de doenças de notificação compulsória apenas casos relacionados a síndromes de imunodeficiência adquirida (AIDS), gestantes HIV positivas, crianças expostas ao HIV, gestantes com sífilis e crianças com sífilis congênita. A ausência de notificação do restante das IST dificulta a investigação dos impactos na sociedade e o desenvolvimento de políticas de intervenção e efetividade ao combate (BRASIL, 2008; BELDA JUNIOR et al., 2009). A infecção por Chlamydia trachomatis tem elevada incidência e prevalência em todo o mundo. Importantes taxas de positividade para Chlamydia trachomatis são reveladas, em mulheres sexualmente ativas, nas rotinas realizadas anualmente em países desenvolvidos (PASSOS et al., 2010). Estima-se a ocorrência 340 milhões de novos casos por ano de IST curáveis, causadas por Treponema pallidum (sífilis), Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis e Trichomonas vaginalis, ocorrentes em homens e mulheres com idade entre 15 e 49 anos, dentre as regiões com maior proporção está a América Latina (OMS, 2007). Foi demonstrado em um estudo nacional em 2004 que o uso de preservativo nas primeiras relações sexuais foi de 53,2%, sendo menor nas regiões Norte e Nordeste; o uso na última relação sexual foi de 57,3%. As estratégias de prevenção primária (uso de preservativo) e secundária (diagnóstico e tratamento) buscam o controle das IST e suas consequências, mas as diretrizes para diagnóstico e tratamento precoce ainda é pouco difundida no sistema de saúde (BRASIL, 2005). Mulheres jovens e adolescentes são consideradas mais vulneráveis a IST devido à exposição a fatores de risco comportamentais e biológicos. Nas IST do trato genital feminino, ocasionalmente a resposta imune pode não corresponder adequadamente e não promover resposta de memória suficiente, permitindo quadros de reinfecção em intervalos de tempo mínimo (LIMA & ALVES, 2008). 2 A alta transmissibilidade, bem como a ausência de sintomatologia e as particularidades da infecção por CT, contribuem para o crescimento exponencial da cadeia epidemiológica atingindo principalmente jovens independentemente do nível socioeconômico (GONÇALVES et al. 2009). Baseado na incidência anual, a probabilidade de infecção persistente, risco relativo de Doença Inflamatória Pélvica (DIP), custos relacionados aos testes e tratamento de complicações em longo prazo associadas a persistência ou reinfecção, as recomendações para o rastreio de Ct e testes relacionados levam em consideração a relação de custo eficássia significativa para a análise (DELPHINE, 2004). É frequente no quadro de infecção por Ct fatores de risco para IST como a ausência de parceiro sexual fixo, baixa idade e concomitância com outras IST (CARVALHO et al., 2010). As jovens universitárias fazem parte de uma demanda diferenciada da população por estarem em processo de aquisição de conhecimento e informação em diferentes aspectos. Porém, na prática, esta característica pode ou não contribuir para seu modo de vida, maneira de prevenção e cuidado à saúde. Nessa época da vida, a exposição a fatores de risco, e consequentemente, as chances de contrair IST são mais elevadas. De acordo com a Organização Mundial de Saúde 70-75% das mulheres infectados com Chlamydia trachomatis não apresentam sintomas. A associação da incidência maior com a idade jovem resalta o papel importante da triagem em mulheres sexualmente ativas, com atuação na prevenção da infertilidade. 3 2. Chlamydia trachomatis 2.1. EPIDEMIOLOGIA De acordo com Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC, 2010) no ano de 2009 foram registrados 1.244,180 casos da infecção sexualmente transmissível causada por Chlamydia trachomatis (Ct), isto representa o maior número de casos registrados até o momento. Existem variações entre os países em relação às atividades de controle de Ct, as quais são relatadas através de taxas de infecção e diagnósticos hospitalares de casos associados às doenças do trato reprodutivo (BENDER et al., 2011). Existe uma frequente coexistência de infecção entre Chlamydia sp e Neisseria sp, foram verificado nos Estados Unidos e na Europa que 35-50% das mulheres com gonorreia apresentam infecção simultânea por Ct. Foi verificada a taxa de prevalência de Ct em 20-40% das mulheres e jovens adolescentes sexualmente ativas que frequentavam clinicas de IST e em 25% de todas as mulheres atendidas em clínicas ginecológicas (LEVY, 2004). A situação epidemiológica de Ct no Brasil não é evidente devido à escassez de informações na literatura científica, que é baseada em estudos específicos e populações restritas (PASSOS et al., 2003). O Mistério da Saúde, através do Programa Nacional de DST e Aids ( PN DST/ Aids), estima a ocorrência de 1.967,200 casos novos por ano, verificandose uma incidência de Ct igual a 3,5% no sexo feminino e 2,3% no sexo masculino ( BRASIL, 2005). Em um estudo populacional da prevalência de anticorpos específicos para Ct realizado por Ishak et al. (1998) verificaram entre os três grupos investigados no Brasil: Serra do Norte, Belém e Indios Xincrins, as respectivas frequências 76,2%; 53,6% e 51,3%. 2.2. CLASSIFICAÇÃO TAXONÔMICA Na classificação taxonômica o gênero Chlamydia pertence à família Chlamydiaceae, compreendendo quatro espécies: C. trachomatis, C. pneumoniae, C. psittaci, C. pecorum, sendo esta última não relacionada a infecções humanas (TRABULSI & MENEZI, 2005). 4 Devido sua condição de parasita celular obrigatória e sua dimensão, essas bactérias foram classificadas como vírus, entretanto a complexidade estrutural acabou aproximando-as na classificação das bactérias (EJZENBERG, 1991). Na espécie C. trachomatis são reconhecidas 15 sorovariantes classificadas: as relacionadas ao tracoma endêmico são A, B, Ba e C; as relacionadas com doenças sexualmente transmitidas são D- K; e as causadoras de linfogranuloma venério são L1, L2 e L3 (JAWETZ et al., 2000). O quadro seguinte mostra os sorotipos de Ct as principais doenças associadas, de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 1997). Quadro 1. Sorotipos de Chlamydia trachomatis e principais doenças associadas. Sorotipos Principais doenças associadas A,B, Ba, C Tracoma L1, L2, L3 Linfogranuloma venério (LVG) D, E, F, G, H, I e K Uretrite não gonocócica (UNG), uretrite pós- gonocócica (UPG), cervicite, doença inflamatória pélvica (DIP), endometrite, paratracoma, conjutivite de inclusão, pneumonia do recém nascido. Fonte: BRAIL, 1997. 2.3. CARACTERÍSTICAS GERAIS A bactéria tem aproximadamente 0,2 a 0,8 µm de diâmetro, possui membrana celular externa e interna, é considerada uma bactéria Gram- negativa devido à ausência da camada de peptídioglicano. São bactérias intracelulares obrigatórias com incapacidade de produzir ATP, necessitando de uma célula hospedeira para seu crescimento e replicação (TRABULSI & MENEZI, 2005). A célula eucariótica principalmente células epiteliais cilíndricas são o alvo de infecção da Ct. Ela difere de outras bactérias intracelulares obrigatórias por não ser parasita primário de hospedeiros invertebrados e possuir ciclo de desenvolvimento de replicação bifásico único entre os procariontes (CEVENINI et al., 2002). A bactéria apresenta-se na forma de corpúsculo elementar (infeccioso) e corpúsculo reticular (metabolicamente inativo). O corpúsculo elementar possui maior quantidade de RNA 5 em relação ao DNA, enquanto que o corpúsculo reticular tem aproximadamente a mesma quantidade de ambos, o DNA é encontrado em maior concentração no nucleóide central e o RNA nos ribossomos (JAWETZ et al., 2000). A parede celular é trilaminar composta por 1/3 de proteína e 2/3 lípide, não contêm ácido urâmico, peptidoglicano e proteínas ligáveis a penicilina (EJZENBERG et al., 1991). As proteínas de membrana (MOMP) externa formam ligações cruzadas extensas através de ligações por pontes de sulfeto entre os resíduos de cisteina. O lipopolissacarídeo (LPS) constituído principalmente de ácido cetodeoxietanóico é específico do gênero. As MOMP altamente antigênica são espécie e subespécie-específicas (MURRUY et al., 2006; SEADI et al., 2002). A figura seguinte representa o modelo da parede celular da Ct, de acordo com ORTIZ et al., 2003. Figura 1. Modelo da parede celular ou envelope da Chlamydia trachomatis. FONTE: ORTIZ et al., 2003. 2.4. ASPECTO GENÔMICO A CT possui cromossomo circular de tamanho pequeno com aproximadamente 1,04 kb (DEMARS & WEINFURTER, 2008). No genoma cromossômico 58% dos pares de base são A-T, são codificadas aproximadamente 857 proteínas, das quais 70 são exclusivas da espécie CT (ORTIZ & SÁNCHES, 2003). Estudos relacionam o plasmídio na mediação da infecção devido à sua conservação em estipes humana, evidenciando a importância do plasmídeo na patogênese de infecção (CARLSON, 2008). O plasmídio críptico possui 7,493 pb, a região de conservação 6 intergênica entre ORF1 e ORF8 sugere sua importância no processo transcricional (ORTIZ & SÁNCHES, 2003). Nunes et al. (2008) caracterizou em seu estudo a representação cromossômica de 51,000 bp de 51 locus polimórficos dispersos no cromossomo. Foram classificadas as seguintes categorias: 16 regiões intergenicas (IGRs), 16 genes codificadores de proteínas do envelope celular (CEPs), 13 genes de limpeza (HKs) e 6 genes que codificam proteínas hipotéticas ou não classificadas (HPs). Figura 2. Representação do cromossomo circular da Chlamydia trachomatis D/UW3 genome annotation [GenBank: AE001273]. FONTE: Nunes et al., 2008. O conhecimento que se tem hoje sobre as variantes do genoma da Ct é baseado no antígeno de superfície primaria, a MOMP, e o gene que codifica a MOMP, ompA. As tipagens sorológicas tradicionais utilizam uma serie de anticorpos contra diferentes epitopos na MOMP. Novas abordagens em pesquisas recente tem utilizado genotipagem através da sequencia do gene ompA (HARRIS et al., 2012; BYRNE, 2010). Novas ideias sugerem o envolvimento da variabilidade da proteína MOMP na diferença de virulência entre as estirpes e a formação de mosaicos de MOMP relacionadas com o potencial patogênico entre as estirpes, sugerindo que a recombinação natural desempenha um papel na geração de variabilidade entre cepas do trato genital (BYRNE, 2010). 7 A base ompA nested-PCR não somente detecta a infecção, como também é utilizada para genotipar variantes de Ct por fragmento de restrição de longitude polimórfica (PCRRFLP) e sequenciamento do gene ompA amplificado (NAZER et al., 2008). As proteínas Pmp já foram detectadas na superfície do corpo elementar, o papel destas proteínas ainda não é totalmente conhecido, mas sabe-se que as Pmps B, D e H são imunogênicas e podem provocar resposta de citoquinas pró inflamatórias (BYRNE, 2010). Apesar de historicamente ser considerada incomum a transferência horizontal de gene devido às raras oportunidades para recombinação por ser um micro-organismo de vida intracelular obrigatória, recentemente as pesquisas mostraram que as Chlamydias sp. não somente possuem todo o aparato de recombinação necessário, como podem recombinar após uma infecção mista tanto no hospedeiro humano quanto no tecido de cultura (HARRIS et al., 2012). Joseph & Read (2012) mostra a filogenia dos biovares da C. trachomatis (LGV, ocular, e urogenital 1 e 2. A representação das principais vias de recombinação dentro e entre os biovares através de um estudo de identificação de 24 eventos de recombinação entre o biovar LGV e tracoma (1 ocular e urogenital e 2), 12 eventos de recombinação dentro da biovar LGV e 162 eventos de recombinação dentro dos biovares tracoma. Figura 3. Reconstrução filogenética dos sorotipos de Chlamydia trachomatis. FONTE: Adaptado de Joseph & Read, 2012. 8 A troca de material genético ainda não é totalmente definida, mas entende-se que para ocorrer recombinação deve haver frequentes infecções mistas com potencial de invasão para células individuais. As infecções de repetição ocorrem numa taxa de 56,9% e as infecções mistas ocorrem numa taxa de até 15% ou mais (JOSEPH & READ, 2012). 2.5. CICLO BIOLÓGICO O ciclo de desenvolvimento da Ct é bifásico, a forma infecciosa é o corpúsculo elementar (EB) que possui morfologia semelhante a um esporo, é extracelular e metabolicamente inativo, têm aproximadamente 0.3 µm de diâmetro e é caracterizado por um núcleo de nucleoproteína descondensada. Ao se desenvolver no interior da célula hospedeira se reorganiza em corpúsculo reticular (RB), forma não infecciosa de maior tamanho e atividade metabólica ativa, possuem aproximadamente 1.0 µm de diâmetro (LEVINSON & JAWETZ, 2005; FIELDS & HACKSTADT, 2002). A bactéria tem a característica de induzir atividade fagocitária da célula hospedeira e permanecer dentro da vesícula fagocítica, ao passo que inibe a fusão fago-lisossoma (EJZENBERG et al., 1991). O ciclo tem duração de 24- 48 horas, durante o processo de infecção, o corpúsculo elementar é fixado na célula hospedeira através do glicosamioglicano presente na superfície da Chlamydia sp (JAWETZ et al., 2000). Após a bactéria ser fagocitada pela célula, o endossoma contendo o EB se estabiliza em pH 6.6, com isso, a maturação do endossomo contendo o EB para lisossomo é inibida. As vesículas com os EB se fusionam uma com a outra e escapam da via endocítica para a exocítica, os endossomas são redistribuídos na região perinuclear transportado por auxílio dos microtubúlos, a organização do vacúolo contendo vários EB forma a chamada inclusão citoplasmática (WYRICK, 2000 ). No interior do vacúolo o EB se reorganizada para RB, ocorre aumento de tamanho, seguida de sucessivas divisões binárias para a geração de novos corpúsculos elementares que serão liberados da célula hospedeira para a infecção de novas células (JAWETZ et al., 2000). O esquema abaixo representa as etapas do ciclo de biológico da Ct. 9 Figura 4. Ciclo biológico da Chlamydia trachomatis. FONTE: SEADI et al., 2002. 2.6. PATOGÊNESE A resposta imune é do tipo celular e humoral, com produção de anticorpos de combate ao LPS e a proteína MOMP, também ocorre o envolvimento das células de defesa CD4 e CD8 (TRABULSI & MENEZI, 2005). A ativação de citosinas inflamatórias como Fator de Necrose Tumoral – alfa (TNF-alfa) e Interleucina- 1 (IL-1), além de células como linfócitos TH1 podem induzir danos teciduais irreversíveis através de intensas respostas inflamatórias e a formação de fibroses (WUNDER & CAJUEIRO, 2005). Formas persistentes de Ct podem ser desenvolvidas por indução durante a inibição do ciclo de desenvolvimento, por ação de agentes antimicrobianos e limitação de nutrientes, também através dos mediadores imunológicos como em situações de níveis baixos de interferon gama (STRATTON & MITCHELL, 1996). Comumente são evidenciadas resoluções espontâneas da infecção por Ct, os mecanismos utilizados pela resposta imune ou as características próprias da bactéria que contribuem para o combate a infecção ainda são alvo de estudo. Apesar de a resposta imune ter capacidade de eliminar espontaneamente a infecção, em certos casos não ocorre resposta suficiente para a eliminação do patógeno, resultando em infecção persistente (GEISLER et al., 2008). 10 Os antígenos reconhecidos da célula bacteriana do gênero Chlamydia são: a. Antígenos específicos de grupo: formado principalmente pelo complexo polissacarídeo termoestável que envolve o LPS e o glicolipideo (GLXA), todas as espécies de Chlamydia possuem este antígeno; b. Antígenos específicos da espécie: estes antígenos variam nas espécies e são determinados principalmente por proteínas de membrana externa, representado 60% das MOMP, demais proteínas de 60, 62 e 155 kDa e proteínas clamidiais de choque térmico (C-HSP) c. Antígenos tipo especifico: relacionados aos sorotipos da espécie são polipeptídeos de 30 kDa d. Antígenos específicos da subespécie, com base na presença de estruturas polipeptídicas, os sorotipos da Ct são classificados nas subespécies do grupo B ou C (WUNDER & CAJUEIRO, 2005). Estudos que utilizam modelos animais infectados por Ct foi a estratégia encontrada pelos pesquisadores para dar prosseguimento nas pesquisas analisando a natureza e o tempo de resposta inflamatória que ocorre no trato genital feminino após infecção in vivo. Sugestões revelam associação entre respostas especificas do sistema imunológico e susceptibilidade à infecção por Ct (DARVILLE & HILTKE, 2010). 2.7. INFECÇÃO POR Chlamydia trachomatis NA MULHER O micro-organismo tem a capacidade de invadir o epitélio colunar e manter-se em estado latente na região endocervical, caso não haja diagnóstico e tratamento pode permanecer meses neste estado e ascender ao trato genital feminino assintomaticamente (CARVALHO et al., 2004). Embora muitas mulheres não apresentem sintomas, algumas apresentam corrimento vaginal mucoide, inodoro e geralmente sem prurido externo. A infecção por Ct não pode ser distinguida de outras infecções urogenitais somente por sintomas (MILLER, 2006). De diferentes formas a Ct pode ascender para o trato genital feminino. In vitro, a bactéria tem demonstrado capacidade de incidir no espermatozoide, desta forma possibilita 11 rápida ascensão para o trato genital superior. A produção de muco cervical, característica que promove proteção conta microrganismos invasores, pode ser alterada devido flutuações hormonais durante o ciclo menstrual, o nível de hormônios durante a menarca induz um aumento de ectopia cervical em mulheres jovens, assim promove maior área susceptível a ação da bactéria. As contrações endoteliais, as quais são amplificadas durante o período de ovulação, também podem promover ascensão da Ct (TAYLOR & HAGGERTY, 2011). As complicações decorrentes da infecção por Ct são mais graves na mulher, além do risco de afetar o recém nascido. No trato genital superior a infecção pode causar esterilidade ou predispor à uma gravidez ectópica (LEVY, 2004). Nas manifestações clínicas as mulheres podem apresentar além dos quadros de ectopia, fragilidade com sangramento fácil da mucosa cervical, também é comum endocervicites com muco cervical semelhante ao ocorrido na uretrite masculina (PASSOS & GIRALDO, 2010). A infecção por Ct pode variar desde uma colonização assintomática até uma cervicite severa, que se não tratada pode levar uma infecção crônica causando processos com maior grau de gravidade como salpingite, podendo resultar em infertilidade ou gravidez ectópica (WUNDER & CAJUEIRO, 2005). O fator tubário é responsável por 15% a 35% dos casos de infertilidade, a infecção por Ct é a maior causa de Doença Inflamatória Pélvica (DIP) não associada à gestação ou procedimentos cirúrgicos. Mulheres com história de DIP têm de sete a dez vezes mais risco de gestação tubária (BONETTI & SILVA, 2008). Infecções repedidas por Ct podem aumentar o risco de DIP, da mesma forma, infecções recorrentes também podem aumentar o risco de infertilidade e gravidez ectópica (HAGGERTY et al., 2010). Outra complicação rara decorrente desta infecção não tratada é síndrome de Reiter: uma artrite severa que inclui uretrite (em mulheres ocasionalmente ocorre cervicite), conjuntivite e lesão mucocutânea indolor (MILLER, 2006). 2.8. Chlamydia trachomatis E CÂNCER DO COLO DO ÚTERO O câncer do colo do útero é o segundo tipo de câncer mais incidente na região Norte (24/100 mil), em países menos desenvolvidos a incidência é cerca de duas vezes maior se comparado com países mais desenvolvidos (INCA, 2011). 12 O principal agente relacionado ao câncer do colo do útero é o Papiloma Vírus Humano (HPV), mas a infecção nem sempre progride para um câncer, devem ser considerados os fatores risco que incluem: fumo, início de vida sexual precoce, uso de anticoncepcional oral, múltiplos parceiros sexuais e IST concomitantes (KHOSLA, 2012). A infecção por Ct é uma das principais IST, vários estudos tem determinado associação da infecção com o desenvolvimento de câncer cervical (KHOSLA, 2012). Os mecanismos biológicos da Ct ainda não são bem conhecidos, a bactéria facilita acesso do vírus às células epiteliais através de micro- abrasões (FERNANDES et al., 2009). O DNA celular é danificado através do estresse oxidativo causado pela infecção bacteriana, ocorre modificação da resposta inflamatória e imunológica ao vírus de um organismo já infectado intracelularmente, tanto na infecção aguda como na persistente (LINHARES et al., 2008). 2.9. FATORES DE RISCO PARA A INFECÇÃO A maior incidência de infecção é em mulheres adolescentes e adultas jovens, o CDC recomenda a triagem em mulheres jovens com vida sexual ativa com idade de 25 anos ou mais jovens, também em mulheres mais velhas que apresentam fatores de risco como parceiro novo ou múltiplos parceiros sexuais e mulheres grávidas. Dentre os principais fatores de risco no quadro de infecção pela Ct estão: inicio precoce da atividade sexual, ausência de parceiro fixo, multiplicidade de parceiros, baixa idade, concomitância com outra IST, não uso de preservativo, uso de contraceptivos hormonais orais em mulheres jovens e presença de ectopia cervical (WEIR, 2004; CARVALHO et al., 2010). Dentre características mais comuns em mulheres com cervicite por Ct estão: primeira relação sexual antes dos 17 anos, primeiro parceiro sexual mais velho, grande número de parceiros, relação sexual durante encontro casual e alta frequência de relações (CARVALHO et al., 2004). 13 2.10. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Devido a infecção por Ct não apresentar sintomas específicos este parâmetro não pode ser considerado na hipótese diagnóstica (MELLES et al., 2000). Na análise de um método diagnóstico são relevantes os parâmetros de especificidade e sensibilidade. A cultura é considerada o método padrão, possui 100% de especificidade e sensível até 80%. Entretanto a complexidade da técnica, demora em obtenção de resultado (tempo de inoculação), cuidados para o transporte, manter a viabilidade do micro-organismo e limitação na apropriação de amostras desfavorece o método. O meio de cultura McCoy é o mais utilizado rotineiramente (MICHELON et al., 2005; BE´BE´AR & BARBEYRAC 2009). Os métodos que apresentam maior sensibilidade e especificidade e menor risco são os de detecção de ácido nucleico, entre esses a Reação em Cadeia Polimerase (PCR) é o mais difundido (SEADI et al., 2002). A PCR de Chlamydia sp é um método de sensibilidade comparável com a cultura, apesar das chances de haver resultados falso-positivos (GEISLER, et al. 2008). Na PCR também pode ser empregada a genotipagem, que são reações de PCR mais específicas, apesar da perda de sensibilidade esta técnica é menos trabalhosa em comparação com a sorotipagem (SEADI & ROSSETTI, 1999). Testes de amplificação de ácido nucleico são recomendados para a detecção de infecções do trato reprodutivo feminino e masculino utilizando- se amostra de swab genital e urina, respectivamente, causadas por Ct e N. gonorrhoeae (CDC, 2009). A sorologia não é considerada o melhor método de diagnóstico na infecção por Ct, exceto nas infecções em neonatais, pacientes com infertilidade tubária e certos casos de infecções de LVG (CHERNESKY, 2005). No processo de infecção prévia os níveis séricos de anticorpos podem estar elevados e isto dificulta a distinção temporal do processo infeccioso; reações cruzadas com outras espécies de Chlamydia sp também podem alterar o resultado (MICHELON et al., 2005). As principais técnicas de pesquisa de antígenos são a imunofluorescência direta (DFA) e ensaio imunoenzimático (EIA). A imunofluorescência utiliza anticorpos monoclonais reagentes específicos para proteína MOMP da Ct, possui sensibilidade de 80 a 90% e especificidade 98 a 99% com relação à cultura. O imunoensaio detecta o LPS da Chlamydia 14 sp a partir de anticorpos monoclonais ou policlonais marcados com uma enzima (CARDER et al., 2006; BLACK, 1997). Os métodos de diagnóstico estão descritos na quadro 2 de acordo com Seadi et al. (2002). Quadro 2. Métodos de diagnóstico para Chlamydia sp. Cultura celular Pesquisa de antígenos Imunoflorescência direta (DFA) Ensaio imunoenzimático (EIA) Pesquisa de ácidos nucléicos Sonda de DNA Amplificação (PCR, LCR, TMA) Pesquisa de anticorpos Imunofluorescência indireta (IFI) Microimunofluorescência indireta (MIF) Ensaio imunoenzimático (EIA) 2.11. PREVENÇÃO E TRATAMENTO A natureza assintomática da Ct dificulta o diagnóstico, tratamento e prevenção de sequelas. No desenvolvimento de vacinas tem sido sugerido que um único antígeno não seria o ideal e que os antígenos de superfície são os principais candidatos para a vacina (TAYLOR & HAGGERTY, 2011). Os programas de rastreamento são mais efetivos se as estratégias forem voltadas para a redução da incidência de novos casos de infecção na população, mesmo assim o rastreamento de infecções assintomáticas tem contribuído no controle da infecção através da prevenção de sequelas e complicações em longo prazo (GOTTLIEB et al., 2010). O tratamento da infecção também envolve a prevenção de transmissão para o parceiro sexual, além disso, o CDC recomenda o uso antibiótico como Azitromicina (dose única) ou doxiciclina (duas vezes por dia durante uma semana). Os riscos de infecção podem ser diminuídos através do correto uso de preservativo, porém a melhor maneira para garantir a prevenção seria não manter relações sexuais ou manter relações com um parceiro fixo e não infectado. Lavar a genitália, urinar ou fazer 15 ducha interna após a relação sexual não previne IST. Três meses após o tratamento é necessário nova triagem para a confirmação de eliminação da infecção (CDC, 2012). 16 3. OBJETIVOS 3.1. OBJETIVO GERAL Estimar a prevalência de infecção por Chlamydia trachomatis em estudantes universitárias que realizam o exame preventivo de câncer de colo do útero no Laboratório de Citopatologia/ UFPA. 3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Identificar o perfil comportamental das estudantes quanto à prática sexual e suscetibilidade às IST. Verificar concordância entre os resultados da pesquisa de Chlamydia trachomatis entre os métodos molecular e citológico. 17 4. METODOLOGIA 4.1. TIPO DE ESTUDO E DELINEAMENTO A pesquisa caracteriza-se como tipo de estudo transversal. No período de agosto de 2011 a setembro de 2012 foi realizada paralelamente ao exame preventivo de câncer de colo uterino (PCCU) a pesquisa de Chlamydia trachomatis em estudantes universitárias atendidas no laboratório de Citopatologia/ UFPA. 4.2. POPULAÇÃO ALVO A população alvo do estudo foram estudantes universitárias da UFPA que realizam o exame preventivo no Laboratório de Citopatologia, o convite para as participantes foi mediante envio de e-mails para as turmas e divulgação de cartilhas contendo e-mail e telefone para contato. 4.3. AMOSTRA Foram analisadas amostras de material endocervical coletadas no Laboratório de Citopatologia/ ICB/UFPA, no mesmo foi realizada a análise citológica e preenchimento dos questionários. Para o processamento molecular, o material coletado foi transportado para o Laboratório de Biologia Celular e Molecular (LBCMOL) do Núcleo de Medicina Tropical (NMT) da Universidade Federal do Pará (UFPA). O número de amostras incluídas no estudo foi determinado por critérios de adequabilidade de amostra e eliminação de amostras repetidas da mesma paciente coletadas em períodos diferentes ao longo da pesquisa. 4.4. CRITÉRIO DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO Critérios de Inclusão: Foram incluídas no trabalho estudantes da UFPA regularmente matriculadas nos cursos de graduação, que concordaram participar voluntariamente da pesquisa. Critérios de Exclusão: foram excluídas do estudo voluntárias que não estavam regularmente matriculadas na UFPA, que não se sujeitaram a pesquisa, cujas amostras não estiveram viáveis para a avaliação laboratorial e aquelas que não apresentaram as informações necessárias para que fossem alcançados os objetivos propostos. 18 4.5. ASPECTOS ÉTICOS O presente foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do Núcleo de Medicina Tropical (CEP/NMT) da Universidade Federal do Pará (UFPA) parecer Nº 103.571, seguida da autorização prévia das participantes através do Termo do Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). 4.6. ANÁLISES LABORATORIAIS 4.6.1. Coleta A coleta consistiu na introdução do espéculo (sem lubrificante) no canal vaginal em mulheres nas seguintes condições: não menstruadas, três dias de abstinência sexual e sem utilizar duchas e cremes vaginais na véspera do exame. A escova citológica foi introduzida no canal endocervical e girada em 360 graus, evitando-se contato com a parede vaginal. 4.6. 2. Confecção, montagem e coloração da lâmina. O esfregaço foi confeccionado na lâmina e fixado em álcool 95%. A coloração seguiu de acordo com o modelo de Papanicolaou usando-se os corantes: Hematoxilina, EA e Orange G. Após este procedimento, as lâminas foram secadas na estufa por 10 min a 100°C e montadas com lamínulas utilizando-se Bálsamo do Canadá ou Entelan. 4.6. 3. Avaliação Citológica Os resultados citológicos foram identificados de acordo com a Nomenclatura Brasileira para laudos cervicais e condutas preconizadas que inclui: atipia de células escamosa de significado indeterminado (ASC-US); lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL); atipia escamosa, sem excluir HSIL (ASC-H); lesão intraepitelial escamosa de alto grau (HSIL), esfregaço dentro dos limites da normalidade (Normal) e alterações benignas (esfregaços inflamatórios). 4.6. 4. Extração e purificação de DNA genômico A amostra foi colocada em microtubo (1,5 mL) para exame molecular, armazenadas em conservante T.E 1X (Tris- HCL 10 mM, pH=8; EDTA 1 Mm). Do material processado, 19 foi retirada uma alíquota de 300 µl (microlitros) e transferido para outro microtubo estéril de 1,5 ml. O DNA genômico foi extraído das células contidas no material endocervical pelo método do fenol clorofórmio, utilizando a metodologia descrita por ISOLA et al (1994). Foi acrescentado 300 μl de tampão de lise de células (NaCl 1M; TRIS-HCL pH 8,0 1M; EDTA 0,5 M pH 8,0; SDS 10%) estéril e proteinase k na concentração final de 10 μg/mL. Os microtubos foram mantidos em banho maria por 45°C durante uma hora para ocorrer a completa dissolução do precipitado de células. Foi adicionado 300 μl de fenol tamponado (Tris- HCL 10 mM, pH=8; EDTA 1 Mm) e de clorofórmio- álcool Isoamílico (24:1) e homogeneizados por inversão durante 10 minutos e centrifugados por 5.000 rpm durante 10 minutos. Após isso foi retirado 600 μl do sobrenadante e transferido para novo tubo estéril de 1,5 ml. Foi adicionado 600 μl de clorofórmio- álcool isoamílico, posteriormente, homogeneizado por 10 minutos e centrifugado por 5.000 rpm durante 10 minutos. Foi retirada uma alíquota de 500 μl do sobrenadante e transferido para tubo estéril de 2,0 ml. Neste tubo, foram adicionados 1.000 μl de álcool absoluto e 50 μl de acetato de sódio e homogeneizado gentilmente por inversão. As amostras foram centrifugadas por 14.000 rpm durante 15 minutos e o sobrenadante foi descartado por inversão. Posteriormente foram adicionados 500 μl de Álcool a 75% gelado, seguido de agitação no vortex por 10 segundos e centrifugados por 15.000 rpm durante 5 minutos e descartados o sobrenadante por inversão. Esta etapa foi realizada três vezes, a fim de eliminar restos de impurezas e reagentes das etapas anteriores da extração de DNA. Após este etapa, estas fotam estocadas a 45 graus por 30 minutos na estufa e reidratadas com TRIS-EDTA (Tris- HCL 10 mM, pH=8; EDTA 1 mM). 4.6.5. Protocolos de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) A. Amplificação da região do gene da β-globina. Posterior a purificação do DNA genomico, foi realizada a amplificação do material extraído para um gene da β-globina humana com os oligonucleotídeos G73 (5’GAAGAGCCAAGGACAGGTAC-3’) e G74 (5’-CAACTTCATCCACGTTCACC-3’) (GREER et al., 1991), numa concentração de 5 pmol/μL (picomoles por microlitro). A amplificação foi realizada no termo-ciclador da Biocycler MJ96G. Para esta reação foi utilizado 3.5μL Go Taq® Green Master Mix, 2.0μL de água, 0.25μL dos primers G73/ 74 20 (cada) e 1μL do DNA molde, para um volume final de 7μL, onde foi multiplicado pelo número amostral, incluindo um controle positivo, afim de verificar a eficiência da reação, e um controle negativo contendo somente os reagentes de PCR, usado para monitorar a contaminação. O produto das reações serão submetidas em corrida horizontal (100V/ 1Hora) em gel de agarose a 2% submerso em TAE 1X(TRIS-HCL 10Mm, pH=8; EDTA 1mM; Acetato), com brometo de etídio (0,5mg/mL), visualizadas sob Luz ultravioleta (UV). B. Amplificação da região ompA da Chlamydia trachomatis A etapa seguinte consiste na amplificação do gene da região ompA da Ct (JALAL et al, 2007) e foi realizada apenas nas pacientes que apresentarem positividade para o gene da βglobina humana. Para a primeira reação foi utilizado 6.0μL Go Taq® Green Master Mix, 0,5μL dos oligoculeotideos Ct P1/ P2 (cada) e 2μL de DNA genômico, 3μL Água estéril, para um volume final de 12μL. Posteriormente, na segunda reação, foi utilizado 6.0 μL Go Taq® Green Master Mix, 4,5 μL de Água estéril, 0,5 μL dos oligonucleotídeos C.T P3/ P4 (cada) e 0,5 μL do produto da primeira reação.O produto da segunda reação foi visualizado em gel de agarose a 2%, sob luz UV. Os oligonucleotídeos, em uma concentração de 5 pmol/μL, apresentam as seguintes sequências: Tabela 01- Oligonucleotídeo utilizados na amplificação das sequências de Ct no gene ompA Oligonucleotídeo Sequência Ct 1/OMP 5'- GACTTTGTTTTCGACCGTGTT -3’ Ct 2/OMP 5’AGCRTATTGGAAAGAAGCBCCTAA- 3’ Localização OMP 199 OMP 657 Ct 3/OMP 5'-AAAC GATGTGAATAAAGARTT-3 OMP 224 Ct 4/OMP 5’ -TCCCASARAGCTGCDCGAGC-3, OMP 617 Fonte: adaptado de JALAL et al. 2007. Nas duas reações, se seguirá o seguinte protocolo: desnaturação a 94°C por 4 minutos; seguida de 35 ciclos (repetições), onde a temperatura de desnaturação será 94°C por 40 segundos, de anelamento à 54°C durante 30 segundos , temperatura de extensão à 72°C por 1 minuto, seguida de temperatura de extensão de 72°C por 10 minutos e por fim esfriamento a 10°C por 3 minutos. 21 4.6.6. Eletroferese O produto a amplificação Nested PCR foi visualizado por eletroforese horizontal em gel de agarose a 2% contendo brometo de etídio (0,5mg/mL) em TAE 1x (Trisbase 1,6 M, Acetato de Sódio 0,8 M, EDTA- Na2 40 mmM/ 1L de água deionizada) nas condições de 50 volts a 100 ampéres por aproximadamente 1 hora. Utilizou-se o peso molecular de 1 Kb (invitrogen) e amostras de controle positivo e negativo para cada corrida de eletroforese. As bandas foram visualizadas pelo sistema de fotodocumentação em géis, em câmara escura com transluminador (Vilber Loumat) duplo de 312 nm e luz ultra violeta. O tamanho da banda de DNA da Chlamydia trachomtis corresponde ao fragmento de 548 pb. 4.7. ANÁLISE ESTATÍSTICA Os dados foram armazenados na planilha do Excel 2007. O cálculo de prevalência foi aplicado, indicando o número de pessoas com a característica pesquisada, em um grupo populacional, em determinado ponto do tempo. O programa Bioestat 5.0 foi utilizado para a análise descritiva e aplicação do teste estatístico. Os valores de p menores ou iguais a 0,05 foram considerados estatisticamente significante, a análise univariada e multivariada com regressão logística foram realizadas para detecção dos fatores associados com infecção clamidial. 22 5. RESULTADOS Foram processadas 102 amostras de secreção para a extração de DNA, destas três amostras foram eliminadas da análise final devido à baixa qualidade do DNA extraído e quatro por repetição de coleta. Um total de 95 amostras, de estudantes que buscaram atendimento no Laboratório de Citopatologia/ UFPA, foi processado para a pesquisa molecular de Ct, e destas três apresentaram positividade pelo método PCR, o que revelou uma prevalência de infecção entre as jovens universitárias de 3,16%. Do total de estudantes analisadas, a faixa etária concentrou-se entre a idade de 20 a 25 anos (50, 5%), média de 24, 0 ± 5,4 anos, com valores extremos entre 17 e 42 anos. Entre os casos positivos a média de idade foi de 25,0 anos, não houve associação entre idade e infecção. Com relação ao estado civil, 87,4% (n= 83) das estudantes são solteiras. Quanto à maternidade, 27,7% (n= 18) possuem filhos. A idade média do primeiro parto foi de 19,5 anos, com idade mínima de 15 anos. O gráfico a seguir indica a distribuição das estudantes de acordo com a faixa etária. Figura 05. Distribuição de estudantes por faixa etária, UFPA, Belém-Pará. FONTE: Laboratório de Citopatologia/ UFPA. 23 O início da vida sexual das estudantes foi em média aos 18,1 ± 2, 60 anos, tiveram a primeira relação com idade entre 16 e 20 anos 71,6% (n=68). O número médio de parceiros sexuais foi de 4,08 ± 3, 6 variando de 1 a 20, enquanto que 75,8% (n= 72) relataram possuir parceiro fixo. Conforme a tabela 02, verificamos o perfil de comportamento sexual das estudantes. Tabela 02 - Distribuição percentual das estudantes segundo perfil sexual. Total de estudantes n % Sim 75 79,0 Não 20 21,0 Até 18 anos 59 62,1 Acima de 18 36 37,9 Sim 72 75,8 Não 23 24,2 1 parceiro 20 21, 3 De 2 a 3 parceiros 43 45.7 Vida sexual ativa Idade de início sexual Parceiro fixo Nº de parceiros sexuais na vida Acima de 3 31 FONTE: Laboratório de Citopatologia/UFPA. 32,6 Na descrição do perfil comportamental das estudantes observou-se, em relação ao uso de métodos contraceptivos, que 47,4% (n=45) utilizam somente preservativo, 17,9% (n= 17) utiliza somente anticoncepcional e 17,9% % (n= 17) utilizam ambos. Verificou-se que 96,9% (n= 92) não eram fumantes, 60% (n= 57) realizam o exame preventivo anualmente e 13,6 % (n= 13) fizeram exame pela primeira vez. As amostras positivas foram identificadas em estudantes solteiras, com idade média de início da vida sexual de 17 anos e com média de 4,33 parceiros sexuais. Quanto ao uso de 24 preservativo e parceiro fixo, uma relatou não utilizar preservativo e uma relatou não possuir parceiro fixo (tabela 03). Nenhuma variável mostrou associação com a infecção (p>0,05). Tabela 03 - Perfil sóciodemográfico e fatores de risco das estudantes infectadas. Paciente 1 Paciente 2 Paciente 3 Média/ Moda 23 25 28 25,0 Solteira Solteira Solteira Solteira Idade de início da vida sexual 16 21 14 17, 00 Nº de parceiros na vida 6 3 4 4,33 Preservativo Sim Sim Não Sim Parceiro fixo Não Sim Sim Sim Idade Estado civil FONTE: Laboratório de Citopatologia/ UFPA. Nos resultados citológicos, duas amostras positivas indicaram quadro inflamatório e a terceira apresentou resultado sugestivo de lesão intraepitelial escamosa de alto grau. Observou-se a presença de vacúolos intracitoplasmáticos sem inclusões em células metaplásicas de uma amostra positiva para Ct (figura 1). Uma amostra apresentou células metaplásicas com vacúolos intracitoplasmáticos com inclusões, mas o resultado foi negativo na PCR. Não houve associação estatisticamente significante (p= 0,287) entre a citologia inflamatória e infecção. Figura 06. Vacúolo sem inclusão intracitoplasmática. Fonte: Laboratório de Citopatologia/UFPA. 25 A figura abaixo mostra o resultado geral da citologia incluindo: normalidade, inflamatório, lesão e atipia. Normal- 57,9% Inflamatorio- 31,6% ASC- 5,3% SIL -5,3% Legenda: *ASC- Atipia de Célula Escamosa; *SIL- Lesão de Célula Escamosa. Figura 07. Resultados citológicos. Fonte: Laboratório de Citopatologia/ UFPA. Não foi encontrada associação estatística entre citologia de quadro inflamatório e infecção por Ct (p>0,05). Os resultados da avaliação citológica com alteração (n=40) tiveram em maior porcentagem os quadros inflamatórios com 77,5% (n= 31), seguido de atipias de células escamosas com 12,5% (n= 5) e lesões intraepiteliais escamosas com 10% (n= 4). Dentre os principais problemas ginecológicos, 67,4% (n= 64) possuíam corrimento e dentre essas, 61,0% (n= 58) possuem corrimento com odor, frequentemente de cor branca 68,8% (n= 44). Outros sintomas como, prurido e ardência ao urinar tiveram taxa de 29,5% (n= 28) e 12,6% (n= 12), respectivamente. Entre os resultados alterados 87,5% (n= 35) relataram ter corrimento vaginal. Dos resultados positivos, as três apresentavam corrimento, mas a associação não foi estatisticamente significante (p= 0,120). O prurido foi referido em um dos casos, sangramento durante o ato sexual em um e sangramento fora do período menstrual em um. 26 A figura seguinte em Box-Plot indica a distribuição de Chlamydia sp e achados citológicos, por faixa estaria. Figura 08. Frequência de Chlamydia sp e achados citológicos, de acordo com a idade. FONTE: Laboratório de Citopatologia/ UFPA. 27 6. DISCUSÃO Considerando a população em estudo, composta por estudantes universitárias predominantemente jovens, a idade média investigada (24 anos) é correspondente à faixa etária sugerida pelo CDC para triagem de Ct, que varia entre 25 anos ou menos. No Brasil, as mulheres jovens são um dos grupos de maior risco para a aquisição de IST, as altas taxas de gravidez, sintomas de IST e o baixo uso de preservativos, são indicativos da vulnerabilidade e baixa percepção dos riscos dessas infecções (Miranda et al. 2004). Programas que visam à triagem em mulheres na faixa etária que apresenta maior risco e principalmente mulheres que já possuem histórico de infecção são mais efetivos (Hu et al., 2004). No presente estudo, a taxa de prevalência em universitárias equivalente a 3,16% é próxima do que se encontra em outros estudos envolvendo universitárias. Na África Central, Ngandjio et al. realizou em 2003 uma pesquisa em universitários analisando a prevalência de Ct, utilizando amostra de urina e secreção endocervical em homens e mulheres, respectivamente, foi observada uma prevalência de 3,62% nos homens e de 3,96% e nas mulheres. Outro estudo em universitários da Bélgica com idade entre 18 e 39 anos, realizado por Colliers et al. em 2009, verificou uma prevalência de infecção entre homens e mulheres igual a 2,9%. Patten et. al. (1998) analisou 274 estudantes universitários australianos através de amostra de urina, do total de 178 mulheres a prevalência foi de 1,13%. Tábora et al., em Honduras, verificou a taxa de infecção de Chlamydia em universitárias e das 100 mulheres testadas 6% foram positivas para infecção por Ct, sendo que nenhuma dessas jovens possuía histórico de recidiva de infecção por Ct. De acordo com a população estudada e o método de diagnóstico utilizado, a prevalência de Ct é variada (BORGES, et al., 2011). Benzakenm et al. no ano de 2010 realizou um estudo na cidade de Manaus, onde foi observada uma taxa de prevalência considerada elevada, 13% das amostras de mulheres que espontaneamente se dirigiram a uma clinica especializada em DST tiveram resultado positivo para Ct. Ishak et al. em 2001 investigou a prevalência de anticorpos para as espécies C. trachomatis e C. pneumoniae em índios amazônicos brasileiros e identificou a prevalência de Ct em torno de 14,41%. Na Europa dependendo do contexto e país, a prevalência de Ct em mulheres assintomáticas varia de 1,7 a 17% (Wilson et al., 2002). 28 Ao relacionar os resultados entre as técnicas de biologia molecular e citologia, as amostras positivas na PCR não demonstraram na citologia nítidas inclusões intracitoplasmáticas característica de infecção por Ct. Em vários campos foram encontradas apenas células metaplásicas vacuolizadas sem inclusões. As vacuolizações são tipicamente encontradas em células metaplásicas, no processo de degeneração mucóide, as células proliferadas podem formar massas que enchem as glândulas, a contínua atividade secretora das células cilíndricas podem distender as células, formando vacúolos (SILVA FILHO & LONGATTO FILHO, 2000). O método citológico possui limitações e depende da percepção do especialista para a identificação de achados celulares característicos de infecção por Ct. Entretanto, a citologia não é inválida, esta ferramenta pode ser utilizada na triagem através da identificação de inflamações que possivelmente possam ser decorrentes de alguma IST, aliada a outras metodologias mais específicas. Considerando o fato de que o exame citológico é rotineiramente incluído nos serviços de assistências medica básica, sempre que é sugerida a infecção por Ct através do método de Papanicolaou, um exame complementar mais específico deve ser adicionamento na confirmação do diagnóstico (CORNETTA et al., 2006). A investigação rotineira para Ct em pessoas sexualmente ativas é recomendada, pela Associação Medica do Canadá, através de Reação em Cadeia Polimerase, por ser um método de melhor sensibilidade e especificidade (WEIR, 2004). Neste estudo, não foi encontrada associação estatística entre citologia de quadro inflamatório e infecção por Ct. Já o trabalho de Oliveira et al. (2008) identifica associação entre infecção por Ct e alterações citológicas na cérvice uterina, e como principal fator de associação, historias pregressa de IST tiveram maior relação com as infecções. Em contrapartida, encontramos outros estudos onde não se observa esta relação, como é o caso de Edelman et al. (2000) que não correlacionou a prevalência de Ct e a citologia oncótica anormal. Reesink-Peters et al.(2001) não encontrou associação de infecção por Ct com a gravidade da lesão neoplásica e progressão da neoplasia cervical. Apesar do corrimento vaginal ser um fator em comum entre os casos positivos, estatisticamente não houve significância. O fato de ser na maioria das vezes assintomática e a falta de conhecimentos sobre Ct são um dos fatores que contribuem para a transmissibilidade 29 desta infecção. Mesmo assim, sinais como corrimento com odor, ardência ao urinar ou sangramento fora do período menstrual podem ser indicativo de uma IST (CDC, 2012). Embora não tenha sido verificada associação estatisticamente significante entre o uso de preservativo e a infecção, mulheres que não utilizam preservativo possuem maiores chances de adquirir uma IST. O preservativo é considerado o melhor método preventivo de IST, o uso tem aumentado desde a epidemia da AIDS e intensificou a partir da década de 90 (Parker, 1994). Na população de universitárias em estudo, foi demonstrado que 65,3% (n= 62) utilizam preservativo nas relações sexuais, porém este número ainda não é considerado suficientemente satisfatório. Em nosso estudo, fatores como idade, início de vida sexual, número de parceiros e parceiro fixo, não tiveram associação com a infecção. Atualmente, o conceito de IST é discutido por não ser aplicado apenas a pessoas de vida promíscua, pessoas consideradas de vida cotidiana normal e sem necessariamente múltiplos parceiros sexuais são portadores de IST (GONÇALVES et al., 2009). Ao comparar os resultados do presente estudo com investigações de desenho similar encontramos diferentes resultados, no caso de Benzakenm et al. (2010) utilizando uma população de clínica de IST, com variáveis incluídas no modelo de regressão múltipla como, o número e tipo de parceiros e uso de preservativo, não foi encontrada associação à infecção cervical por clamídia de maneira consistente. Araújo (2002) aplicou a análise univariada e multivariada com regressão logística, em uma população de adolescentes e jovens, concluindo que a idade menor que 20 anos e o fato de ter mais que um parceiro sexual foram os fatores de risco relacionados com infecção. Skjeldestad et al. (2009) mostrou em seu estudo que a incidência de Ct em mulheres da Noruega está relacionada à idade e a troca de parceiro sexual. Portanto, entende-se que dependendo do tipo de população e as variáveis trabalhadas, os resultados podem variar entre os estudos. Identificamos um perfil de estudantes em sua maioria não fumante, com vida sexual ativa, com parceiro fixo, em média possui quatro parceiros sexuais ao longo da vida, utiliza método contraceptivo, realiza periodicamente o exame preventivo, uma porcentagem realizou o exame preventivo pela primeira vez. De acordo com o autor Flores et al. (2011), levando em consideração o comportamento sexual das populações nos últimos anos, o controle sob a expansão de IST é inviável, sem a interferência de programas educacionais, vacinação e rastreamentos adequados. Conforme observada a experiência em outros países, programas de 30 detecção em massa refletem na diminuição da incidência de DIP e suas complicações, isto favorece para a economia de recursos da saúde pública (MARQUES et al., 2005). Repetidas infecções por Chlamydia sp aumentam os riscos de DIP, assim como infertilidade e gravidez ectópica (HAGGERTY et al., 2010). O baixo numero encontrado de amostras positivas e a cobertura do exame em uma pequena população voluntária representativa da comunidade de estudantes universitárias foram limitações da pesquisa. É importante não apenas a identificação de positividade para a infecção, mas também notificação do individuo sobre a infecção para a busca de orientação médica e tratamento. No campo da prevenção e triagem, tais atividades buscam minimizar as consequências da infecção por Ct na população estudantil, seja através da notificação nos casos de positivos ou por meio de trabalhos de conscientização dos riscos das IST. 31 7. CONCLUSÃO Através deste estudo, concluímos que a prevalência de Ct em estudantes universitárias atendidas no Laboratório de Citopatologia/UFPA foi considerada próxima ao encontrado na literatura com relação a trabalhos em estudantes universitárias. A população de jovens universitárias do estudo possui um perfil de mulheres não fumantes, com vida sexual ativa, média de quatro parceiros sexuais ao longo da vida, início de vida sexual na fase de adolescência, utiliza métodos contraceptivos e realiza anualmente o exame preventivo. Os resultados positivos pelo método molecular não apresentaram achados citomorfológicos característicos de infecção por Ct, apesar de possuírem indícios de inflamação. 32 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, R. S. C. Estudo da Infecção Genital por Chlamydia trachomatis em Adolescentes e Jovens do Sexo Feminino no Distrito Sanitário Leste do Município de Goiânia: Prevalência e Fatores de Risco. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 24: 492. 2002. BE´BE´AR, C. & BARBEYRAC, B. Genital Chlamydia trachomatis infections. Clin Microbiol Infect.15: 4–10. 2009. BELDA JUNIOR, W.; SHIRATSU, R.; PINTO, V. Abordagem nas doenças sexualmente transmissíveis. Anais Brasileiros de Dermatologia. 84:151-59. 2009. 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Senhora________________________________________________________________ Solicitamos sua participação voluntariamente nesta pesquisa que tem como objetivo investigar Infecções sexualmente transmissíveis em estudantes universitárias. Caso você aceite participar, serão coletados dois espécimes cervicais, um para o exame de biologia molecular e outro para exame citológico. Serão tomados todos os cuidados necessários para que a coleta seja o menos incômoda possível, pois esta será realizada por profissional capacitado. Seus resultados serão tratados de forma anônima e confidencial, isto é, em nenhum momento serão divulgados seus dados em qualquer fase do estudo. Quando for necessário exemplificar determinada situação, sua privacidade será assegurada uma vez que seu nome será substituído de forma aleatória. Os dados coletados serão utilizados apenas nesta pesquisa e os resultados divulgados em eventos e/ou revistas científicas. Sua participação nesta pesquisa consistirá em responder as perguntas a serem realizadas sob a forma de questionário. E a doação de material biológico (secreção cérvico- vaginal). Não haverá nenhum custo ou quaisquer compensações financeiras, nem riscos de qualquer natureza relacionada a sua participação. O benefício direto relacionado à sua participação será a obtenção dos resultados dos exames, além do beneficiamento à comunidade científica através dos resultados da pesquisa. Fica claro que o sujeito da pesquisa, ou o seu representante legal, pode a qualquer momento retirar seu consentimento, não tendo nenhum tipo de ônus ou pagamento, e que sua desistência em nada compromete o seu atendimento junto aos serviços oferecidos pela equipe do projeto. ____________________________________________ Maísa Silva de Sousa (Pesquisador responsável) Consentimento: Declaro que li e compreendi as informações sobre a pesquisa, que me sinto perfeitamente esclarecido sobre o conteúdo da mesma, assim como os seus riscos e benefícios. Declaro ainda que, por minha livre vontade, aceito participar da pesquisa cooperando com a coleta de material para exame. Belém,_______/________/________. Assinatura do participante Ambulatório do Núcleo de Medicina Tropical - Av. Generalíssimo Deodoro, nº 92, Umarizal -fone: 3201-6812. 42 ANEXO C: QUESTIONÁRIO UNIVERSIDADE FEREDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS LABORATÓRIO DE CITOPATOLOGIA LABORATÓRIO DE BIOLOGIA MOLECULAR E CELULAR Registro:_______________ Coletora:______________ Data da coleta: __/__/__ Data de entrega: __/__/__ 1- Dados pessoais Nome: ______________________________________________________________ Idade: ________________________ Estado civil: ____________________________ Matrícula:____________________ Telefone:___________________________ 2- Dados da anamnese Fumante: ( ) Sim ( ) Não Início da vida sexual: _____ ano Idade da primeira menstruação: _____ Nº de parceiros desde o início da vida sexual: ____ Possui vida sexual atualmente: ____ Possui parceiro fixo: ( ) Sim ( ) Não Uso de preservativo: ( ) Sim ( ) Não Não Gestante: ( ) Sim ( )Não Possui filhos: ( ) Sim ( ) Quantos?____ N° de partos normais:_____ Idade do primeiro parto____ Aborto: ( ) Sim ( ) Não Uso de anticoncepcional: ( ) Sim ( ) Não Quantos?____ Período:_____ Já apresentou algum problema ginecológico? (Ex: corrimento, sangramento, dores ou outros) ( ) Sim ( ) Não Qual?______________________ Faz exame preventivo ginecológico anualmente? ( ) Sim ( ) Não Quando fez o último:___________ 3- Sintomatologia Apresenta corrimento: ( ) Sim ( ) Não Cor: ( )Amarelo ( ) Branco Odor: ( ) Sim ( ) Não ( )outros: verde, pardo, etc. Prurido/coceira: ( ) Sim ( ) Não Ardência ao urinar: ( ) Sim ( ) Não Dor durante o ato sexual: ( ) Sim ( ) Não Sangramento durante o ato sexual: ( ) Sim ( ) Não Sangramento fora do período menstrual: ( ) Sim ( ) Não 43 ANEXO D: FORMULÁRIO DE DADOS UNIVERSIDADE FEREDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE MEDICINA TROPICAL LABOTATÓRIO DE BIOLOGIA MOLECULAR E CELULAR Formulário de dados de biologia molecular 1Responsável:______________________Tipo de Gel________________ Perc.: _____%Tampão:______ Data da Eletroforese: ____.____._____ Data da PCR: ____._____._____ Condições: Volt:_____, Amperagem:_____, Duração____ Imagem(1ª foto):_____ Imagem (2ª foto)_____ Pasta/ Arq. no computador:_______________________ Gene alvo(Primer)________________________ Amostras 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Master mix DNA Vol. Total Master mix DNA Vol. Total Descrição da amostra Resultado 2Reagentes H2O M-Q Inj. Primer CT1. ___p mol Primer CT2 ___p mol 1 reação (vol = µL) Reagentes 2 reação (vol = µL) H2O M-Q Inj. Primer CT3 ___p mol Primer CT4. ___p mol 18 19 20