Medindo o grau de aversão à desigualdade da população
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Medindo o grau de aversão à desigualdade da população
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA - IE Relatório Técnico Final Projeto: Medindo o Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira Através dos Resultados do Bolsa-Família Convênio FINEP 01.06.1064.00 Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 2012 COORDENAÇÃO GERAL Lena Lavinas (IE-UFRJ) PESQUISADORES SENIORS Bárbara Cobo (IE-UFRJ) Alinne Veiga (UERJ) Fábio Waltenberg (UFF) ASSISTÊNCIA À GESTÃO Juliana Fajardo DOUTORANDA Yasmín Salazar (UFF) MESTRANDA Thais Babosa (IE-UFRJ) ESTAGIÁRIA Tatiana Ferro (IE-UFRJ) APOIO Max Hubert Merlone (IE-UFRJ) Carolina Guimarães (IE-UFRJ) Lista de Figuras Figura 1 – Cartão para Auxílio na Coleta dos Dados ................................................ 30 Figura 2 – Método utilizado para cálculo e alocação probabilística das unidades amostrais ................................................................................................................... 33 Figura 3 – Coleta de Dados....................................................................................... 37 Figura 4 – Síntese esquemática dos determinantes do apoio à redistribuição ......... 85 Lista de gráficos Gráfico 1 – Evolução dos Rendimentos do Trabalho 2001-2011 .............................. 15 Gráfico 2 – Taxa de desocupação de 10 anos ou mais idade por sexo .................... 17 Gráfico 3 – Distribuição das pessoas de 10 anos ou mais por categoria de emprego .................................................................................................................................. 17 Gráfico 4 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade por sexo (%) Brasil – 2012 ............................................................................................................. 42 Gráfico 5 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade por grupos de idade (%) – Brasil - 2012 .......................................................................................... 43 Gráfico 6 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade por cor ou raça (%) – Brasil - 2012..................................................................................................... 44 Gráfico 7 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade por religião declarada (%) – Brasil - 2012 .................................................................................... 45 Gráfico 8 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade que declarou ter alguma religião, segundo a prática da mesma (%) – Brasil – 2012........................... 45 Gráfico 9 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade por nível de ensino concluído (%) – Brasil - 2012 ......................................................................... 46 Gráfico 10 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade por exercício de trabalho remunerado (%) – Brasil – 2012 .................................................................. 47 Gráfico 11 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade por posição na ocupação do trabalho principal (%) – Brasil – 2012 .................................................. 48 Gráfico 12 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade, ocupada, por classes de rendimento mensal do trabalho principal (%)– Brasil – 2012 .................. 49 Gráfico 13 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade que não exerceram trabalho remunerado na semana de referência por principal atividade exercida (%) – Brasil – 2012 ..................................................................................... 49 Gráfico 14 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade por classes de rendimento mensal bruto familiar (%) – Brasil – 2012 .............................................. 51 Gráfico 15 – Proporção de pessoas de 16 anos ou mais de idade que contribuíam para a Previdência Social pública, que recebiam rendimentos de aposentadoria ou pensão ou eram beneficiárias de programas de transferência de renda (%) – Brasil – 2012 .......................................................................................................................... 51 Gráfico 16 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de satisfação com a vida, segundo o sexo (%) – Brasil – 2012 ........................ 52 Gráfico 17 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade pela maneira que percebiam a situação da sua família, segundo o sexo (%)– Brasil – 2012 .......................................................................................................................... 54 Gráfico 18 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordância com a afirmação "tem gente que permanece pobre principalmente porque não tem oportunidades na vida", segundo o sexo (%) – Brasil – 2012 ....................................................................................................................... 56 Gráfico 19 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordância com as afirmativas de apoio à políticas de caráter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuição (%) – Brasil – 2012 ............. 58 Gráfico 20 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordância com as afirmativas de apoio à políticas de caráter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuição com foco nos programas e políticas sociais em vigor (%) – Brasil – 2012 ........................................................... 64 Gráfico 21 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordância com as afirmativas de apoio à políticas de caráter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuição (outras opiniões) (%) – Brasil – 2012 ....................................................................................................................... 67 Gráfico 22 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordância com as afirmativas quanto à definição do salário (%) - Brasil – 2012 .......................................................................................................................... 70 Gráfico 23 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por avaliação de sua situação econômica atual – Brasil – 2012 ..................................... 72 Gráfico 24 – Efeito da Idade na mudança das probabilidades estimadas – V18 .... 106 Gráfico 24.1 – Efeito da Idade na mudança das probabilidades estimadas – V18.. 109 Gráfico 25 – Índice de Apoio a medidas de combate a pobreza e desigualdade de distribuição de renda realizadas pelo Estado: Histograma suavizado ..................... 111 Gráfico 26 – Efeito da variável Idade por Região Geográfica - Focalização ........... 116 Gráfico 27 – Efeito da variável Idade por Região Geográfica – Progressividade .... 116 Gráfico 28 – Índice de apoio a políticas universalistas: Histograma suavizado....... 117 Gráfico 29 – Efeito da variável V1 por Região Geográfica - O governo deve intervir para reduzir as desigualdades entre ricos e pobres. ............................................... 119 Gráfico 30 – Efeito da variável V21 por Região Geográfica - Se o governo quiser, tem meios de erradicar a miséria no Brasil ............................................................. 120 Gráfico 31 – Índice de apoio à redistribuição: histograma com suavização e curva normal sobreposta ................................................................................................... 125 Lista de Tabelas Tabela 1 – Evolução da proporção de pobres e indigentes no Brasil 2001-2011 (percentuais, segundo origem do rendimento – PNADs, renda domiciliar per capita) .................................................................................................................................. 18 Tabela 2 – Evolução da proporção de pobres e indigentes no Brasil 2001-2011 (números absolutos, segundo origem do rendimento – PNADs, renda domiciliar per capita) ....................................................................................................................... 19 Tabela 3 – Evolução da Parcela da Renda Nacional Apropriada por Cada Quintil da Distribuição................................................................................................................ 21 Tabela 4 – Alocação da Amostra .............................................................................. 35 Tabela 5 – Totais amostrais e populacionais, segundo sexo do respondente e estimativa do erro amostral ....................................................................................... 38 Tabela 6 – Totais amostrais e populacionais, segundo grandes regiões do respondente e estimativa do erro amostral .............................................................. 39 Tabela 7 – Totais amostrais e populacionais, segundo faixa etária do respondente e estimativa do erro amostral ....................................................................................... 39 Tabela 8 – Totais amostrais e populacionais, segundo classes de rendimento familiar do respondente e estimativa do erro amostral .......................................................... 39 Tabela 9 – Totais amostrais e populacionais, segundo a escolaridade do respondente, população estimada referente e estimativa do erro amostral .............. 40 Tabela 10 – Pesos de expansão (wh) populacional por sexo, faixa de idade e região geográfica.................................................................................................................. 41 Tabela 11 – Número de entrevistas realizadas nos estratos de determinação das cotas (Tamcota) ........................................................................................................ 41 Tabela 12 – População por sexo, faixa de idade e região geográfica (CENSO 2010) – Em milhões de habitantes (PopBr) ......................................................................... 41 Tabela 13 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de satisfação com a vida, segundo Grandes Regiões, classes de rendimento familiar e nível de escolaridade (%) – 2012 .............................................................. 53 Tabela 14 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade pela maneira que viam a situação da sua família, segundo Grandes Regiões, classes de rendimento familiar e nível de escolaridade (%) – 2012............................................ 55 Tabela 15 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordância com a afirmação "tem gente que permanece pobre principalmente porque não tem oportunidades na vida", segundo Grandes Regiões, classes de rendimento familiar e nível de escolaridade (%) – 2012 .......................... 57 Tabela 16 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por total concordância (escala 5) com as afirmativas de apoio à políticas de caráter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuição, segundo Grandes Regiões (%) – 2012 ................................................................................................................. 60 Tabela 17 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por total concordância (escala 5) com as afirmativas de apoio à políticas de caráter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuição, com foco nos programas e políticas sociais em vigor, segundo Grandes Regiões (%) – 2012............................ 66 Tabela 18 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por total concordância (escala 5) com as afirmativas de apoio à políticas de caráter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuição (outras opiniões), segundo Grandes Regiões (a) – 2012 ..................................................................................... 69 Tabela 19 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por total concordância (escala 5) com as afirmativas quanto à definição do salário, segundo Grandes Regiões – 2012 ............................................................................ 71 Tabela 20 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade de acordo com sua percepção sobre sua situação econômica atual, segundo Grandes Regiões – 2012 ......................................................................................................... 73 Tabela 21 – Variáveis escolhidas para compor a análise dos determinantes do apoio à intervenção do Estado no combate à pobreza e na defesa de direitos sem condicionalidades ...................................................................................................... 97 Tabela 22 – Modelagem Logit e Probit – V2 ......................................................... 101 Tabela 23 – Perfis com base nas probabilidades estimadas – V2 ........................ 103 Tabela 24 – Modelagem Logit e Probit – V18 ........................................................ 104 Tabela 25 – Perfis com base nas probabilidades estimadas – V18 ...................... 106 Tabela 26 – Perfis com base nas probabilidades estimadas – V18 ...................... 108 Tabela 27 – Dois Modelos para Índice de Apoio às Medidas do Estado: Focalização e Progressividade .................................................................................................... 113 Tabela 28 – Estatísticas descritivas básicas – variáveis do modelo ....................... 118 Tabela 29 – Variáveis escolhidas para compor o índice de apoio à redistribuição (ARi) ........................................................................................................................ 122 Tabela 30 – Correlação entre variáveis candidatas a compor índice de apoio à redistribuição. .......................................................................................................... 123 Tabela 31 – Índice de apoio à redistribuição: estatísticas descritivas básicas ....... 124 Tabela 32 – Variáveis explicativas binárias, discretas ou contínuas: estatísticas descritivas. .............................................................................................................. 127 Tabela 33 – Variáveis explicativas categóricas: estatísticas descritivas. .............. 128 Tabela 34 – Resultados das estimativas (Continua) ............................................. 132 Tabela 34.1 – Resultados das estimativas (Continua) .......................................... 133 Tabela 34.2 – Resultados das estimativas (Fim).................................................... 135 Tabela 4.1. Modelagem Logit e Probit – V2 ............................................................ 183 Tabela 4.2. Modelagem Logit e Probit – V18 .......................................................... 183 Tabela 4.3. Modelagem Probit Ordenado ............................................................... 184 SUMÁRIO SUMÁRIO-EXECUTIVO ........................................................................................... 13 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12 O desafio das desigualdades no topo das agendas .................................................. 12 1. Metodologia da pesquisa ............................................................................... 28 1.1. O questionário................................................................................................... 28 1.2. O plano amostral............................................................................................... 32 1.3. A coleta de dados ............................................................................................. 36 1.4. Detalhamento da amostra ................................................................................. 38 1.5. Ponderação da amostra e erros amostrais ....................................................... 40 2. Análise Descritiva dos Resultados do Survey ................................................. 42 2.1. Universo da pesquisa ....................................................................................... 42 2.2. Grau de Satisfação com a Vida Presente - Blocos S e X ................................. 52 2.3. Tendência a não apoiar ou apoiar redistribuição - Bloco V (V1 a V10)............. 57 2.4. Programas Sociais - Bloco V (V11 a V22) ........................................................ 61 2.5. Outras opiniões - Bloco V (V23 a V26) ............................................................. 66 2.6. Meritocracia, responsabilidades e necessidades - Bloco O (O1 a O5) ............. 69 2.7. Mobilidade social - Bloco M (M1 a M4) ............................................................. 71 3. Apoio à Redistribuição: resultados do Survey brasileiro................................ 75 3.1. Introdução ......................................................................................................... 75 3.3. Diretrizes para análise econométrica de apoio à redistribuição ........................ 87 3.4. Análise econométrica: metodologia geral ......................................................... 90 3.5. Apoio à redistribuição através da construção de perfis socioeconômicos via estimação por probit ordenado .................................................................................. 96 3.6. Modelagem por MQO: Índice composto para o apoio às ações do Estado e defesa de política universais ................................................................................... 109 3.7. Índice composto de apoio à redistribuição (AR) e estimação por MQO.......... 122 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 136 ANEXOS ................................................................................................................. 141 Anexo 1: Questionário ............................................................................................. 142 Anexo 2: Manual da Entrevista................................................................................ 148 Anexo 3: Relatórios da Overview Pesquisa ............................................................ 158 Anexo 3.1: Relatório de Avaliação do Preteste ...................................................... 159 Anexo 3.2: Plano Amostral ...................................................................................... 170 Anexo 3.3: Relatório de Campo .............................................................................. 179 Anexo 4: Tabelas do Capítulo 3 .............................................................................. 183 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 185 SUMÁRIO-EXECUTIVO 1. O survey “Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira”, de âmbito nacional, teve por objetivo apreender a percepção da população brasileira adulta, de 16 anos ou mais, sobre a recente redução da miséria, da pobreza e da desigualdade no país. À imagem de outras pesquisas internacionais similares, esta pesquisa tratou do tema a partir da concordância ou discordância com um conjunto de valores consagrados na literatura sobre bem-estar, política social e políticas públicas em geral, como favoráveis à redistribuição e à igualdade. Tais valores foram estruturados em 4 grandes temas: apoio a políticas universais; ao papel do governo no combate às desigualdades e na promoção do bem-estar; à progressividade do sistema tributário; ao reconhecimento do direito, em caso de necessidade, à proteção de forma incondicional. 2. O questionário contemplou um total de 54 perguntas fechadas, subdivididas em oito módulos que representam as dimensões tratadas pela pesquisa: i) Satisfação com a vida; ii) Tendência a apoiar ou não a redistribuição; iii) Programas sociais; iv) Outras opiniões; v) Pobreza e desigualdade; vi) Princípio da igualdade; vii) Mobilidade social; e viii) Demografia e variáveis de autointeresse. 3. Estudos e pesquisas internacionais na temática de aversão à desigualdade orientaram a construção do questionário, que adotou como forma de resposta às perguntas um gradiente variando de 1 a 5, que reflete o nível de concordância (à afirmação à direita do questionário) a princípios mais igualitários, redistributivos e universais. Sendo assim, o mínimo “1” corresponde ao total desacordo em relação ao apoio a valores de redistribuição, e o máximo “5” corresponde ao total acordo. Os três níveis intermediários traduzem graus diferenciados de adesão ou rejeição às ideias formuladas, ou de indiferença. 4. Foram realizadas cerca de 2.200 entrevistas, sendo garantida representatividade nacional. De acordo com o plano amostral, o processo de seleção foi realizado em 3 estágios, envolvendo (i) seleção de 12 Unidades de Federação (UPA); (ii) seleção de 36 municípios (USA) oriundos das UPAs selecionadas, incluindo 12 capitais; e (iii) indivíduos selecionados de forma sistemática, seguindo uma abordagem intencional, para adequação e cobertura de uma tabela de cotas proporcionais de sexo e quatro faixas de idade. 5. A análise descritiva delineou o perfil do universo da pesquisa realizada e indicou os primeiros resultados sobre as questões propostas. A população adulta em idade ativa era maioria (63,7% de pessoas entre 25 e 59 anos); quase 60% eram pretas ou pardas; 44% tinham o ensino médio completo; e 73,2% estavam ocupadas no mercado de trabalho (42% empregados com carteira e 29,3% autônomos). No trabalho principal, 44% percebiam rendimentos de até R$1.000 (71,1% até R$2.000) e a renda familiar bruta da maioria também girava em torno desses valores (51,2% até R$2.000). O grau de inserção no sistema de proteção social era relativamente elevado, uma vez que 49,7% contribuíam para Previdência Social oficial; 20,6% tinham rendimentos de aposentadoria ou pensão e 10,9% eram beneficiários de algum programa de transferência de renda. 6. A análise descritiva mostrou que as regiões mais pobres do Norte e Nordeste, com renda domiciliar per capita inferior à média nacional, tendem a apoiar mais medidas de caráter redistributivo do que as demais, que têm renda mais alta. O brasileiro médio julga relevante o papel do governo na redução das desigualdades entre ricos e pobres e na garantia do bem-estar das pessoas, e reconhece que a distribuição de renda, a despeito dos progressos observados, segue preocupante no país. Por fim, mais da metade estava absolutamente satisfeita com a vida (13,5% muito satisfeitos); 2/3 se viam como pertencentes à “classe média” e afirmaram que sua situação econômica não só melhorou nos anos recentes, como mostraram-se otimistas, com expectativas muito favoráveis de que ela melhorará ainda mais nos próximos cinco anos. Os brasileiros do Norte e Nordeste são os mais otimistas. A insatisfação aumenta à medida que cai a renda e a escolaridade. 7. As razões da pobreza dividem a população brasileira: 23% concordaram totalmente que as pessoas permanecem na pobreza principalmente por falta de oportunidades, 24,4% mostraram-se neutras (escala “3”) e 27,2% estavam em total desacordo (logo, viam a permanência da pobreza mais por uma perspectiva de falta de interesse ou esforço individual de cada um em “correr atrás de trabalho”). Os homens são mais numerosos em identificar a pobreza como falta de esforço individual do que as mulheres. Mas predomina a visão de que pobreza é falta de esforço individual, visão que responsabiliza em primeiro lugar os próprios pobres por sua condição social. 8. Da mesma maneira, a população está francamente dividida no que tange o apoio a um aumento do valor do benefício do Bolsa Família, embora a maioria julgue que ele é baixo e por isso pouco contribui para retirar gente da pobreza (só 16% acreditam que o Bolsa Família é eficaz e elimina a pobreza): 42% aprovam um aumento e outros 42%, desaprovam. Porém, 73,2% dos brasileiros adultos defendem a manutenção do BF. 9. Posições contraditórias expressam-se: cerca de 63% dos brasileiros julgam que educação e saúde devem ser bens públicos e universais, porém percentual semelhante desaprova a ideia de pagar mais impostos para ter mais saúde e mais educação gratuitas e de qualidade. Em paralelo, 1/3 da população adulta brasileira acredita que o serviço público deve destinar-se aos menos favorecidos na sociedade, o que pressupõe a provisão de serviços em escopo e qualidade limitados. Portanto, quem pode paga e quem não pode ganha um serviço público ruim, de segunda linha. 10. De fato, o brasileiro médio não se mostra propenso a apoiar políticas universais. Ao contrário, é generalizada a aprovação da focalização nas políticas de transferência de renda no combate à pobreza. Ademais, esse mesmo cidadão tende a apoiar majoritariamente as condicionalidades impostas aos beneficiários de programas como o Bolsa Família, o que significa não compartilhar da ideia de que pobres e indigentes devem ser auxiliados de forma incondicional e permanente, na base em um direito assegurado constitucionalmente. Mostra-se cético e “desconfiado” com relação aos beneficiários dos programas de renda pois, apesar da queda constante da fecundidade em todas as classes de renda, inclusive entre os grupos mais desfavorecidos, crê que as mulheres pobres hão de querer ter mais filhos para aumentar o valor dos benefícios recebidos por criança. 11. Posicionamentos contraditórios emanam mais uma vez das opiniões coletadas: 61,9% aprovam a manutenção do piso das aposentadorias do INSS no valor de um salário mínimo, o que indica que a maioria da população brasileira defende uma política redistributiva que apoia o bem-estar na velhice. Ou seja, a redistribuição ao longo do ciclo de vida para os que contribuíram é massivamente aprovada. 12. Valores meritocráticos são francamente compartilhados pela população: 81,9% tendem a concordar que o salário seja função da qualidade do resultado do trabalho, e 80,9%, que seja decorrente do grau de responsabilidade na execução do mesmo. Nesse item, a população brasileira não expressa clivagens. 13. As análises econométricas validaram muitos desses resultados, com a vantagem de controlá-los por uma série de variáveis e confrontá-los com as hipóteses iniciais da pesquisa de defesa das políticas universais, reconhecimento do papel relevante e insubstituível do Estado, reconhecimento do direito de obter renda compensatória por todos que sofrem privações e de adesão ao princípio da progressividade. Foram testados vários modelos a partir de metodologias distintas. A significância de relações multivariadas foi examinada buscando identificar perfis de grupos de pessoas com maior ou menor tendência a apoiar medidas redistributivas. 14. No que tange o reconhecimento do papel do Estado na provisão de bem-estar, notam-se efeitos significativos da renda familiar e das regiões geográficas nos resultados: indivíduos com faixas de renda familiar mais baixas (inferior a R$ 3.000 mensais) são mais propensos a ver no Estado um agente de promoção de mais igualdade, tal como ocorre com os indivíduos no Sudeste, Nordeste e Norte. Atente-se que os maiores coeficientes de apoio à intervenção do Estado foram registrados para os grupos de menor renda e regiões menos desenvolvidas. Ou seja, quanto maior a renda, menor o apoio à intervenção do Estado em prol da redistribuição. Temos, portanto, uma visão de classe claramente manifesta. 15. Por outro lado, aqueles que acreditam que a pobreza é causada por falta de esforço tendem a ser menos favoráveis à intervenção do Estado para dirimir desigualdades e atenuar a miséria. 16. Os que mais apoiam a assertiva “É desnecessário obrigar as crianças pobres a frequentar escola e postos de saúde para receber o Bolsa Família”, portanto, os mais contrários à aplicação de condicionalidades são: homem, preto ou pardo, morador das regiões Sul e Sudeste. Já o contrário, os que mais apoiam as condicionalidades são: mulher; branca; vivendo no Norte-Nordeste. De qualquer forma é importante realçar que a tendência que predomina (para ambos os grupos) é de apoio à exigência das contrapartidas e condicionalidades para pagamento dos benefícios do Bolsa Família. Os indivíduos de negros ou pardos são o único grupo da categoria cor/raça que se mostra contrário a adoção de condicionalidades. 17. O brasileiro não apoiaria substituir a transferência de renda condicionada por uma renda de igual valor, a ser paga uniforme e igualmente a todos os cidadãos, embora o Brasil seja único país do mundo a ter uma lei em vigor para garantia de uma renda de cidadania. 18. A modelagem para construção do índice de apoio às ações do Estado na provisão de bem-estar evidenciou que a visão predominante percebe o públicoalvo do Bolsa Família como “oportunista” na sua relação com o Estado - o que inviabiliza o apoio a políticas de caráter universal, em favor da manutenção de intervenções focalizadas, seletivas e residuais, sujeitas a controles e ao bom comportamento dos pobres. Observa-se que o apoio a políticas públicas de combate à pobreza é condicionado ao exercício compulsório de determinadas práticas por parte dos beneficiários, em lugar de ser entendido como um direito de cidadania. 19. Os resultados econométricos indicam também que o brasileiro médio aprova o princípio da progressividade: quanto maior sua propensão a pagar impostos para usufruir de mais saúde e educação públicas, maior o reconhecimento que expressa no papel relevante do Estado na condição de promotor do bem-estar social coletivo. 20. Quanto mais velhos os brasileiros, menos parecem aprovar medidas universais e mais tendem a apoiar condicionalidades e controles. 21. Brasileiros com nível de escolaridade superior são mais propensos a apoiar políticas universais e redistributivas. 22. O brasileiro médio mostra-se a favor do financiamento do bem comum e da promoção da coesão social (no sentido de que apoiam o princípio da progressividade), porém, tal esforço coletivo, em conformidade com a capacidade financeira de cada um, não deve pavimentar a via da universalidade e da redistribuição ampla e incondicional no acesso a direitos, senão assegurar uma intervenção residual e focalizada por parte do Estado. 23. Ao final, um modelo mais abrangente e geral de apoio à redistribuição foi construído de forma a avaliar seus determinantes. O exercício de agregar continuamente variáveis e testar seus resultados foi importante para concluir que, utilizando o conjunto de variáveis mais comumente encontrado na literatura, mostram-se relevantes os coeficientes associados a mulher, negro, Nordeste, Norte e Sudeste; os parâmetros referentes a religião espírita/umbanda/outras religiões; as variáveis clássicas de pobreza associada à falta de oportunidades e de conhecimento de beneficiário de transferência de renda; e a variável indicativa de meritocracia na remuneração. Mais uma vez, os resultados mostraram que a população brasileira mostra-se contrária a um desenho de política que garanta uma renda universal e incondicional de igual valor a todos os brasileiros. 24. Resumidamente, o cidadão brasileiro médio mostra-se favorável à intervenção do Estado na promoção do bem-estar, reconhece nele papel de destaque na superação da pobreza e da desigualdade, mas não se mostra comprometido com uma provisão pública universal. Reconhece que o valor da linha de indigência adotada no Bolsa Família é baixa, tal como é pequeno o valor do benefício médio assegurado às famílias beneficiárias, julga que o Estado poderia acabar com a miséria se assim o desejasse, porém não aprova que os mais pobres e menos favorecidos sejam tratados de forma igual, com base em direitos. Logo, a cooperação e o apoio na necessidade não constituem, aos olhos da maioria dos brasileiros, direito inalienável a ser assegurado, dissociado de qualquer outro critério. Isso denota uma sociedade, onde as preferências sociais existentes indicam baixo nível de coesão social e solidariedade. 25. Embora não tenha sido possível construir e estimar um índice único do grau de aversão à desigualdade, tarefa que pretendemos desenvolver nos artigos futuros que serão subproduto desta pesquisa, podemos desde já indicar que: a preferência por políticas universais é baixa entre nós; mostram-se mais favoráveis à intervenção do Estados para fins de redistribuição os grupos de menor renda, vivendo nas regiões mais pobres, mas são também eles os mais propensos a apoiar condicionalidades e controles ou políticas seletivas que dividem a população entre os necessitados e os demais. Somente os negros e pardos são contrários à adoção de condicionalidades. O apoio à progressividade não implica automaticamente a defesa de políticas públicas e universais; apoiar o Estado e reconhecer seu papel relevante na luta contra a pobreza, a desigualdade e a miséria tampouco implica na prevalência de preferências sociais universalistas e onde valores de justiça social e igualdade são dominantes. 26. O apoio à redistribuição mostra-se, portanto, não apenas condicionado, mas restrito. 12 INTRODUÇÃO O desafio das desigualdades no topo das agendas1 A segunda década do século XXI reformatou os termos do debate social em escala global, trazendo à tona o espectro bem conhecido do maior de nossos males, seja na América Latina, seja no Brasil: a desigualdade, cujo recrudescimento avança em marcha acelerada. A recessão que se seguiu, em muitos países, à crise de 2008, revelou a magnitude daquilo que muitos já apontavam como uma das consequências mais nefastas de décadas de desregulamentação financeira, globalização sem controles, flexibilização do emprego e dos salários, supressão do piso mínimo de remuneração, redução do tamanho e das funções do Estado, corte do gasto público e mudança na estrutura do gasto, juntamente com reformas estruturais e privatizantes dos sistemas de proteção social e uma política fiscal que promove a competitividade com corte de impostos, desoneração dos custos do trabalho e mais regressividade. Todos esses fatores conjugados num novo modelo de acumulação aprofundaram o fosso social, reduziram oportunidades, enfraqueceram valores universais e passaram a premiar o individualismo desenfreado. A sociedade que emerge desse processo parece enxergar o mérito por 1 Este capítulo contou com a preciosa colaboração da assistente de pesquisa, Tatiana Matos, estudante na graduação do IE-UFRJ, responsável pela elaboração de gráficos e tabelas, a quem agradecemos. E também com a igualmente valiosa colaboração da economista Thais Barbosa, mestranda do PPED-IE/UFRJ, na construção dos dados oriundos da PNAD. 13 lentes que distorcem quase tudo, exceto cifras e sinais de grande riqueza, que se tornam, assim, e dramaticamente, a expressão do valor intrínseco de cada um. Esse processo de reprodução de um novo padrão de desigualdade, cuja inércia mostra-se alheia a valores coletivos de solidariedade, domina hoje o debate internacional tanto na seara política quanto acadêmica. A desigualdade ocupa as manchetes da grande imprensa, perpassa todos os noticiários e é o tema recorrente de grande número de livros recém-publicados, todos voltados para demonstrar por que uma sociedade dividida compromete o futuro (Stiglitz, 2012) e destrói a coesão social, fator indispensável ao bom funcionamento do capitalismo e à sua expansão. Foi justamente a própria dinâmica instável e destrutiva do capitalismo que levou ao surgimento e enraizamento do Estado do Bem-estar, que se tornou no século XX uma de suas mais estáveis e efetivas instituições. A severidade do processo de polarização social ora em curso nos Estados Unidos e em grande parte das democracias ocidentais parece indicar que o capitalismo do bem-estar (welfare capitalism) agoniza lá onde se consolidou, algumas poucas exceções à parte2. Essa disfunção ao invés de ser corrigida pelas políticas públicas, como ocorria na fase do pós Segunda Grande Guerra, passou a ser retroalimentada pela apropriação da política e dos governos pelas novas elites financeiras e pelas corporações (Hacker & Pierson, 2010), cuja organização de interesses se profissionaliza e passa a comandar o processo de tomada de decisão na esfera pública. Como definem Hacker & Pierson, à medida que se edifica a sociedade dos vencedores que levam tudo (a winner-take-all-society, expressão cunhada por Frank & Cook, 1996) faz-se indispensável formatar também o processo político que propicia aos vencedores e poderosos ficarem efetivamente com tudo (winner-take-all politics). É ali que se estabelecem as regras de como o mercado vai funcionar para reproduzir vantagens e privilégios, concentrar renda, riqueza e poder. Ou como enfatiza Krugman (2009, op. cit Wilkinson and Pickett, 2010), não foram apenas as forças de mercado que aprofundaram as desigualdades, mas “mudanças nas instituições, nas normas e no poder político” (p. 243). 2 Modelo da flexsecurity dinamarquês, e demais sistemas de proteção social dos países escandinavos. 14 Frente a esse quadro de evidente e profunda deterioração socioeconômica e cívica, expressa não apenas na elevação brutal das taxas de desemprego, da pobreza e do número de sem teto, na redução da renda média, no aumento da desproteção, na progressão dos índices de Gini e na parcela crescente da renda nacional apropriada pelos que se encontram no topo mais alto da distribuição 3, o Brasil destaca-se pela sua excepcionalidade. E com ele, a América Latina como um todo4, une fois n´est pas coutûme! O século XXI parece abrir-se com a redenção daquilo que sempre nos diferenciou e marcou nossa identidade como nação. Assim, o país de proporções continentais mais desigual do planeta, na região que permanece a mais desigual (Bastagli F. et alii, 2012) frente às demais, vai na contramão da conjuntura internacional danosa e devastadora, e parece, enfim, predisposto a uma trajetória de crescimento com redução das desigualdades e mais inclusão social. É o que mostram os dados das pesquisas domiciliares, como a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), e também o último Censo Demográfico. Segundo o IBGE (2012), o índice de Gini medido pelos rendimentos do trabalho caiu de forma significativa e sustentada notadamente a partir de 2006 (Figura 1), passando de 0,566 em 2001 a 0,501 em 2011. Tal queda da desigualdade salarial deu-se em meio à elevação dos rendimentos médios do trabalho, que registram aumento em termos reais da ordem de 14,5% no período, como indica o mesmo gráfico. 3 Atkinson, Piketty & Saez (2011) demonstram que, nos Estados Unidos, os 10% mais ricos da população passaram a controlar praticamente 50% da renda nacional em 2007, magnitude essa jamais observada em qualquer ano anterior da série que tem início em 1917. Do imediato pós Segunda Guerra até o início dos anos 80, logo, por mais de 30 anos, essa proporção sempre se manteve abaixo de 35%. Eles revelam ainda que tal distorção se explica pela altíssima concentração que passa a ter lugar no topo da distribuição: enquanto o 1% mais rico, que detinha 8,9% da renda em 1976, passa a apropriar-se de 23,5% em 2007, o 0,1% dos extremamente ricos multiplicam por 4 sua participação na renda nacional no mesmo período, abocanhando 12,3% dela em 2007, contra 2,6% em 1976. 4 Ver a este repeito CEPAL 2011, Panorama Social da América Latina 2011, Santiago do Chile. 15 Gráfico 1 – Evolução dos Rendimentos do Trabalho 2001-2011 Os Gráficos 2 e 3 confirmam ter havido igualmente uma diminuição importante das taxas de desemprego e de informalidade desde meados da década passada, o que significa que, de fato, o mercado de trabalho atuou favoravelmente na redução das desigualdades. Deu-se o contrário, por exemplo, nos Estados Unidos e no Reino Unido, onde a desigualdade se reflete primeiramente na polarização dos salários, não corrigida, nem compensada a posteriori por transferências fiscais ou pela tributação (Wilkinson & Pickett, 2010; Hacker & Pierson, 2010; Stiglitz, 2012). Assim, no Brasil, a taxa de desocupação retorna, em 2011, a níveis semelhantes aos de 1993 (Gráfico 2), embora as mulheres não tenham sido tão contempladas nessa dinâmica como os homens (a taxa de desocupação feminina segue mais elevada em 2011 do que em 1993, enquanto a masculina é a menor da série). Da mesma maneira, observa-se uma reversão de tendência no que tange a informalização do mercado de trabalho, com o emprego formal5 tornando-se majoritário entre os ocupados a partir de 2006 (Gráfico 3). Segundo dados do 5 O IBGE considera como formais os ocupados assalariados com carteira de trabalho, os servidores e militares. 16 CAGED6, o saldo de criação de empregos formais entre 2003 e 2011 supera 12 milhões de postos de trabalho, um recorde (Lavinas, 2012). Chama atenção no Gráfico 3, a progressão acentuada do emprego formal desde 2007: representa 52,2% da ocupação em 2011 contra 40% nos anos 90. Igualmente relevante é constatar a forte retração do trabalho nãoremunerado na fase recente. Ele se manteve, ao longo da década de 90, em patamares invariavelmente superiores a 13%. Contudo, com a retomada do crescimento e o surgimento de novas oportunidades de emprego remunerado nos anos 2000, recua para ficar abaixo de 7% em 2011. Um dos fatores que muito contribuiu para esse declínio foi provavelmente a perda de importância do trabalho infantil, já que costuma ser expressivo o peso das crianças e adolescentes em atividades não-remuneradas. Dados do IBGE indicam que a taxa de atividade dos menores na faixa 10-15 anos cai pela metade entre 2001 e 2011, passando de 16% para 8,9%7. Em termos absolutos, deixaram o mercado de trabalho nesse período 1,4 milhão de crianças e jovens. A recuperação econômica com aumento da oferta de empregos de qualidade (protegidos pelo seguro social) refletiu-se igualmente na variação negativa do número absoluto e da proporção de pobres e indigentes na sociedade brasileira, reduzindo sua participação a níveis antes desconhecidos. A Tabela 1 mostra a magnitude da retração da pobreza e da miséria no Brasil, considerando-se como linhas de pobreza e indigência, respectivamente, aquelas adotadas pelo Programa Bolsa Família. Embora o país ainda careça de uma linha oficial, essas têm sido utilizadas para informar as políticas públicas do governo no enfrentamento da destituição aguda e são, por isso mesmo, o parâmetro empregado nesta estimativa 8. 6 Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho. 7 Estimativas próprias, rodadas a partir das bases PNAD. Em 2001 havia 3,2 milhões de menores declarados como ativos, número que recua para 1,8 milhão em 2011. 8 Para 2011, a linha de indigência utilizada foi R$ 70,00 para a renda familiar per capita. No caso da pobreza, o valor foi o intervalo entre R$ 70,01 e R$ 140,00. Para os anos anteriores usaram-se os valores correntes então vigentes. 17 Gráfico 2 – Taxa de desocupação de 10 anos ou mais idade por sexo Gráfico 3 – Distribuição das pessoas de 10 anos ou mais por categoria de emprego A partir da construção da renda domiciliar per capita, a PNAD autoriza uma decomposição da mesma, segundo as três fontes de rendimentos que a compõem, a saber i) rendimentos do trabalho remunerado, ii) rendimentos oriundos do 18 recebimento de aposentadorias e pensões e iii) rendimentos provenientes de outras fontes9 que, no caso das pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, indicam muito provavelmente que se trata dos benefícios assistenciais recebidos no âmbito dos programas condicionados de transferência de renda. Trata-se, portanto, de verificar, considerando-se apenas os rendimentos do trabalho, - antes das transferências fiscais -, como evolui o percentual de pobres na população brasileira nessa década de retomada do crescimento. Em seguida, é feito o mesmo exercício, somando-se os rendimentos oriundos de transferências fiscais, sejam elas contributivas ou compensatórias. Isso permite estimar qual a contribuição real de cada tipo de renda à redução do número de pobres. Tabela 1 – Evolução da proporção de pobres e indigentes no Brasil 20012011 (percentuais, segundo origem do rendimento – PNADs, renda domiciliar per capita) BRASIL 2001 2003 2005 2007 2009 2011 35.75% 37.01% 47.90% 27.68% 29.28% 41.69% 20.32% 23.37% 35.16% 17.69% 20.51% 32.47% 15.49% 18.82% 30.64% 10.98% 14.80% 26.34% 15.83% 17.28% 28.28% 10.79% 12.84% 24.11% 6.69% 9.67% 19.73% 6.20% 8.92% 18.96% 5.36% 8.28% 18.32% 4.37% 6.90% 16.99% Pobres Todos os Rendimentos (inclui outras fontes) Rendimentos do Trabalho + Aposent e Pensões Apenas Rendimento do Trabalho Indigentes Todos os Rendimentos (inclui outras fontes) Rendimentos do Trabalho + Aposent e Pensões Apenas Rendimento do Trabalho Fonte: PNAD-IBGE, pa ra os a nos enunci a dos , us a ndo a l i nha de pobreza e i ndi gênci a do BF A categoria “outras fontes” agrega rendas que não provêm de rendimentos obtidos no mercado de trabalho ou na realização de alguma atividade econômica, nem de aposentadorias e pensões. Tratase de rendas oriundas de aluguéis, dividendos, bem como de transferências compensatórias, de caráter não-contributivo. 9 19 Tabela 2 – Evolução da proporção de pobres e indigentes no Brasil 20012011 (números absolutos, segundo origem do rendimento – PNADs, renda domiciliar per capita) BRASIL 2001 2003 2005 2007 2009 2011 POBRES Todos os Rendimentos (inclui outras fontes) 59,526,291 Rendimentos do Trabalho + Aposent e Pensoes 61,598,304 47,408,501 50,139,747 36,580,530 42,085,504 32,270,862 37,414,489 28,672,014 34,828,055 20,212,411 27,250,786 Apenas Rendimento do Trabalho 79,646,007 71,391,102 63,316,316 59,238,488 56,716,531 48,501,002 Todos os Rendimentos (inclui outras fontes) 26,481,009 18,486,432 12,051,795 11,303,082 9,915,183 8,043,978 Rendimentos do Trabalho + Aposent e Pensoes 28,810,218 21,980,776 17,409,897 16,276,404 15,320,303 12,701,661 Apenas Rendimento do Trabalho 47,024,294 41,284,142 35,532,253 34,588,116 33,919,999 31,287,361 INDIGENTES Fonte: PNAD-IBGE para os anos enunciados, usando a linha de pobreza e indigência do BF Conforme a Tabela 1, entre 2001 e 2011 o percentual de pobres (renda domiciliar per capita entre as linhas de indigência e pobreza ou no intervalo de rendimentos superiores a R$ 70 até R$140 mensais em 2011) cai 40 por cento (de 47,9% para 26,3%). Em termos absolutos, significa dizer que os rendimentos do trabalho por si só não são suficientes para evitar que escapem da pobreza, em 2011, 48,5 milhões de pessoas, segundo números absolutos dispostos na Tabela 2. Esse cenário era, é fato, bem mais dramático há 10 anos, quando tal montante alcançava 79,6 milhões de brasileiros. Portanto - e apesar de ter aumentado a população ativa10 - 31 milhões de pessoas saem da pobreza em uma década, graças ao impacto do crescimento no desempenho do mercado de trabalho, associado à recuperação do valor do salário mínimo11, que registrou aumento real na última década de 93% (para o período janeiro de 2001 e maio de 2012). Ora se, adicionarmos aos rendimentos do trabalho as transferências fiscais ditas previdenciárias (na sua grande maioria, contributivas), vemos que, em 2011, elas conseguem reduzir a pobreza em mais 12 pontos percentuais: a participação dos pobres cuja renda soma trabalho e benefícios previdenciários cai para 14,8%, contra 37,1% em 2001. Mostram-se, portanto, mais eficazes, que em 2001, quando 10 Segundo a PNAD, a PIA na faixa etária 16 a 64 anos contabilizava 107,8 milhões de pessoas em 2001 e passa a ter 130,1 milhões em 2011. Em termos percentuais, a variação no período foi de 63,1% para 66,6% da população. 11 Acerca da centralidade do salário mínimo, ler Cardoso Jr. J.C. (2012). 20 contribuíram para um declínio da pobreza em 10,8 pontos percentuais. Novamente, em termos absolutos, temos que, em 2011, as transferências previdenciárias são responsáveis por sacar da pobreza 21,2 milhões de pessoas, total esse que era de 18,1 milhões em 2001 (Tabela 2). Logo, há um ganho efetivo de mais de 3 milhões de pessoas levadas para cima da linha de pobreza em 2011 vis a vis 2001, considerando-se apenas o efeito aposentadorias e pensões sobre os rendimentos do trabalho. Tal efeito ampliado reflete os ganhos derivados da vinculação do piso previdenciário ao salário mínimo e demonstra de forma cabal que, apesar de o seguro social ser contributivo, o desenho do sistema de proteção social, ao estender benefícios a grupos com baixa capacidade contributiva (no caso os rurais), ganha em progressividade e promove redistribuição. No outro extremo, constatamos que houve também uma ampliação do efeito das transferências compensatórias, uma vez que em 2011 elas somam positivamente, contribuindo para reduzir a pobreza em mais 4 pontos percentuais, contra 1,2 ponto percentual em 2001. Cerca de 7 milhões de pessoas deixam a pobreza, em 2011, por força da criação e expansão da cobertura do Programa Bolsa Família e de seu escopo, pois passa a incluir categorias beneficiárias, inicialmente não elegíveis. Em 2001, a eficácia das transferências compensatórias, ainda de alcance bem mais modesto, era bem menor (retirou da pobreza 2 milhões de pessoas), como mostra a Tabela 2. A evolução da indigência (renda domiciliar per capita ≤ R$ 70,00 mensais em 2011, ou abaixo a cada ano da LI) acompanha a curva de diminuição da pobreza, porém registrando maior eficácia por parte das transferências focalizadas (rendimentos de outras fontes): somadas às duas outras fontes de rendimentos (mercado de trabalho e rendas previdenciárias) estas reduzem o número final de indigentes em pouco mais de 1/3 em 2011. No caso da pobreza, tal relação é de 1/4. O balanço, por conseguinte, é surpreendente e impactante na década. Esta tem início com um total de aproximadamente 85,7 milhões de pessoas vivendo na pobreza ou na indigência, e isto representa 50% da população brasileira em 2001. 21 Em 10 anos tal proporção cai para 15%, o equivalente a cerca de 28,2 milhões de pessoas12. Pelo lado da desigualdade medida pela renda domiciliar per capita, o quintil mais rico da distribuição ainda detém, em 2011, mais de 50% da renda nacional 13 (Tabela 3). Essa proporção diminui significativamente entre 2001 e 2011, porém sua magnitude tão elevada ainda surpreende e incomoda. Já a parcela da renda apropriada pelos 20% mais pobres aumenta de 2,39%, em 2001, para 3,25%, em 201114 (Tabela 3). Tabela 3 – Evolução da Parcela da Renda Nacional Apropriada por Cada Quintil da Distribuição. BRASIL Apropriações incluindo a separatriz na classe inferior Apropriação da renda pelo 1º quintil Apropriação da renda pelo 2º quintil Apropriação da renda pelo 3º quintil Apropriação da renda pelo 4º quintil Apropriação da renda pelo 5º quintil 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2,39 5,89 10,23 18,38 63,10 2,83 5,89 10,76 18,39 62,13 2,93 6,45 11,89 18,11 60,62 2,93 6,85 12,20 18,48 59,54 3,14 7,68 11,89 18,95 58,33 3,25 7,57 12,41 19,41 57,36 Fonte: PNAD-IBGE, para os anos enunciados. Trata-se de crescimento a uma taxa expressiva, mas ainda assim em um contexto estruturalmente indiferenciado do anterior, pois permanece marcado por agudas e constrangedoras assimetrias no controle da renda nacional. No caso, dos 50% mais pobres, tal variação é de 12,78% para 16,34% respectivamente. 12 Registre-se aqui o que já é conhecido – a estimativa de pobres e indigentes derivada da PNAD é subestimada em relação à produzida pelo Censo, uma vez que a amostra da PNAD não é feita para estudos de pobreza e sim de mercado de trabalho. Logo, embora em queda a participação de pobres e indigentes na nossa sociedade deve ser mais elevada. 13 Vale lembrar que tais medidas de desigualdade consideram apenas a renda declarada, com predominância das rendas do trabalho e não a riqueza. Se ambas fossem computadas conjuntamente o grau de desigualdade seria bem mais elevado. 14 Renda domiciliar per capita, que soma todos os rendimentos, a saber do trabalho, de aposentadorias e pensões e de outras fontes, logo compreende transferências de renda nãocontributivas no caso de quem está na cauda da distribuição, e outros tipos de renda originárias de aluguéis, ganhos financeiros, etc, à medida que se sobe na distribuição. É o que podemos chamar de renda pre-tax-and-post monetary transfers (logo, não é renda disponível, uma vez que não se deduzem os impostos diretos e indiretos e taxas que incidem sobre essa renda – o correto seria estimar a renda disponível (post-tax-and-post-monetary-tranfers), mas essa estimativa é de difícil elaboração e o IBGE não a calcula por ora. 22 Entretanto, ao cotejarmos o percentual da renda apropriada pelos 50% mais pobres da população em 2011 com aquele que cabe ao 1% mais rico – já que estamos em tempos de expressão dos 99% -, constata-se que este grupo ultra-seleto segue abocanhando em 2011 ainda 11,75% da renda nacional, contra 13,99% em 2001. Pode-se afirmar, portanto, que, apesar de uma inflexão de tendência, as grandezas não variaram significativamente dado nosso cenário de alta desigualdade. O índice de Gini calculado com base na renda domiciliar per capita segue rota de queda, a exemplo do observado no que tange os rendimentos do trabalho, e passa de 0,594, em 2001, para 0,529, em 2011. Mas a direção da trajetória não deve ocultar a grandeza do desafio à frente, de proporções hercúleas. Estamos ainda distantes de um Gini inferior a 0,40015. O Gini calculado para os países da OCDE16, tomando a renda disponível (pós-transferências fiscais e incidência da tributação) é, ao final da década de 2000, de 0,378, contra 0,316 nos anos 70. Porém, se considerarmos a renda bruta (antes das transferências fiscais e da incidência da tributação), o quadro é menos alvissareiro: o Gini de fins da década de 2000 para os países da OCDE é de 0,486, já tendo sido de 0,406 em 1970. Ou seja, mesmo nos anos pós-crise, de recessão aguda e deterioração da grande maioria dos indicadores sociais e econômicos, com cortes de gastos e agudização da desigualdade, a política social em todas as suas dimensões consegue reduzir o Gini em um ponto, proeza que não logramos ainda alcançar entre nós. A polarização social mantém-se como a marca do nosso subdesenvolvimento, embora os números permitam uma leitura de que estamos convergindo para o padrão OCDE, chegando quase no grupo dos desenvolvidos. A pergunta que se impõe, nesse contexto, é, portanto, de saber qual a percepção que a população brasileira tem de evolução recente tão favorável em termos de redução da miséria e da pobreza e de declínio da desigualdade, dado, em particular, o contexto internacional. Essa trajetória genuína e paradoxal nos faz crer que a desigualdade tornouse problema menor entre nós? Como os brasileiros se situam frente às perspectivas 15 Vale a pena informar que, segundo dados da CEPAL em 2012, somente a Venezuela registra, em 2011, um coeficiente de Gini inferior a 0,400 em todo o continente latino-americano. 16 Fonte OCDE: http://stats.oecd.org/Index.aspx?QueryId=26068. 23 futuras de mobilidade social? Julgam-nas asseguradas? E como se posicionam quando comparam sua trajetória presente com a passada, de seus pais? Qual sua avaliação acerca do Programa Bolsa Família como mecanismo de redução da pobreza? Aprovam seu desenho, suas condicionalidades? Como percebem o comportamento e o grau de responsabilidade daqueles que não conseguem usufruir da conjuntura de crescimento para alavancar-se e deixar para trás uma situação de altíssima vulnerabilidade? Consideram que se dá muito ou pouco aos pobres brasileiros? Concordam com o valor do benefício médio do Bolsa Família? Sonham com uma sociedade mais igualitária? O que estariam dispostos a fazer para alcançar um grau de bem-estar mais elevado que possa ser compartilhado por todos? Qual o grau de aversão à desigualdade que nos caracteriza? Somos muito tolerantes ou pouco tolerantes com a desigualdade? Compartilhamos valores universais ou apostamos no sucesso e na retribuição individual? Para responder a tantas indagações, conduzimos nos meses de setembro e outubro de 2012 um survey nacional cujo questionário foi formulado levando em consideração os resultados de um outro survey, realizado no âmbito desta mesma pesquisa, mas em 2008 e limitado à cidade do Recife, tendo como público-alvo a população beneficiária do Bolsa Família. À época, foi implementado um survey probabilístico junto a uma amostra representativa de 121 mil famílias, cadastradas no CadÚnico do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome 17 como habilitadas a receber o benefício do Bolsa-Família. Destas, 80% eram, de fato, beneficiárias do Programa (grupo sob intervenção), e 20% (grupo controle) constituíam-se de famílias que foram habilitadas a receber o benefício, mas que ou jamais o receberam ou deixaram de o receber. Isso representava aproximadamente 500 mil pessoas ou 1/3 dos moradores do Recife naquele ano. Esse primeiro survey foi aplicado através de um questionário impresso, de 44 páginas, 10 módulos e aproximadamente 230 questões. As questões contemplaram por vezes todos os membros das famílias e por vezes apenas o/a responsável ou cônjuge. Naquela etapa da pesquisa, a finalidade era apreender o que pensavam e como se comportavam os mais pobres frente à nova institucionalidade da política Relatório Técnico Parcial IV - FINEP “Medindo o Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira Através dos Resultados do Programa Bolsa-Família” 17 24 social que passava a reconhecê-los como detentores de direitos. Era importante conhecer sua avaliação do Programa Bolsa Família, identificar se o benefício poderia funcionar como um desincentivo ao trabalho dos adultos vivendo na pobreza e se haveria riscos de elevação da taxa de fecundidade no âmbito de uma estratégia de aumento da renda familiar em função da presença de mais crianças, que se tornariam automaticamente elegíveis a mais um benefício monetário. Ademais, tratava-se ainda de medir a efetiva contribuição do benefício do Bolsa Família à mitigação da pobreza e da indigência, bem como estimar a ampliação no grau de acessibilidade dessa população carente às políticas ditas universais, como serviços de saúde, creche e educação, e infraestrutura urbana e de comunicação. A segunda etapa da pesquisa, ora em vias de conclusão, tem por objetivo captar não mais o que pensam os pobres e como vivem, como se processa sua participação crescente na sociedade, como reagem a estímulos e como manejam uma nova identidade social dada pelo reconhecimento da sua condição de pobreza (Simmel, 1998), senão sistematizar a visão que tem a sociedade brasileira no seu conjunto dos progressos alcançados e das lacunas persistentes na trajetória traçada para enfrentar a pobreza e a desigualdade entre nós. Vale assinalar que pesquisas empíricas que buscam apreender qual a percepção da população sobre as políticas implementadas em seus países para promover a igualdade, reduzir a pobreza e combater a desigualdade têm-se multiplicado e formam hoje um acervo relevante e referencial no campo da Economia do Bem-estar. Neher18 (2012), por exemplo, recém-publicou os resultados de uma pesquisa de cunho internacional, onde compara os determinantes a favor da preferência pela redistribuição entre países da OECD e países nãoOECD. Tal como outros autores repertoriados na introdução da seção 3 deste Relatório, Neher identifica fatores como renda, educação, classe social e crença como altamente significantes na determinação de um posicionamento mais ou menos favorável à redistribuição. Apoiando-se em Corneo (2002) notadamente, 18 Em um estudo arrojado Neher reuniu mais de 350 mil observações para 100 países, procedendo a uma análise cross-country por um largo intervalo de tempo, de modo a interpretar quais os determinantes a favor de políticas redistributivas nesses dois conjuntos de países. Seus resultados são interessantíssimos, por revelarem padrões diferenciados. A referência do estudo de Neher completa encontra-se na bibliografia. 25 Neher identifica três grupos de determinantes na explicação das preferências por mais ou menos redistribuição: “o primeiro grupo reúne aspectos relacionados às características individuais e socioeconômicas que configuram o auto-interesse material. O segundo grupo diz respeito a preferências interdependentes, que resultam em externalidades redistributivas. Um terceiro e último grupo busca captar as crenças (NT: valores) sobre o que seria um mundo justo e o que é responsabilidade individual” (p.4). Seu ponto de partida ou hipótese básica, frequente e dominante nesse tipo de pesquisa, é que todo indivíduo votará a favor de mais redistribuição, sempre que sua renda disponível19 aumentar com a distribuição. Ou seja, baseia-se no autointeresse, fator crucial na construção dos modelos e estudos sobre o tema. Outros modelos voltados para a identificação dos determinantes no apoio à redistribuição serão tratados neste documento. Cabe, entretanto, destacar uma pesquisa de escopo internacional, na sua sexta onda, que nos serviu de fonte de inspiração no desenho deste survey e em particular na formulação do questionário (blocos e perguntas). Trata-se do World Values Survey, de iniciativa de uma rede internacional de pesquisadores, já aplicado em mais de 95 países. O foco da pesquisa são as mudanças culturais em curso em nível nacional, investigadas através de um questionário padrão, em torno a temas tais como religiosidade, papeis de gênero, motivação para o trabalho, tolerância, proteção social, meio ambiente e demais percepções subjetivas que revelam valores e princípios dominantes em cada sociedade. Para levar a cabo iniciativa semelhante ainda que infinitamente mais modesta para o caso brasileiro exclusivamente, iniciativa essa ainda assim inédita, foi desenhada uma pesquisa amostral, desta vez nacional, tomando como públicoalvo a população com 16 anos ou mais. Essa pesquisa serve-se de um questionário que, à imagem de outras iniciativas internacionais20, considera os grupos de questões referidos por Neher na elaboração das perguntas, e adota um gradiente numa escala de 1 a 5 no posicionamento individual frente a esse grupo de questões. 19 Renda disponível é a renda domiciliar, familiar ou individual pós-pagamento de taxas e impostos e pós-recebimento de transferências fiscais, contributivas ou não. 20 Ver seção 3 deste Relatório. 26 Nessa escala, 1 significa total desacordo em relação a uma afirmação relacionada com o desenho e metas das políticas sociais, por exemplo, ou ainda na defesa de paradigmas universalizantes ou de promoção da redistribuição. Já 5 exprime total acordo. Há três níveis intermediários, que traduzem graus diferenciados de adesão ou rejeição ao enunciado formulado. Em paralelo, variáveis explicativas como idade, sexo, faixa de renda familiar, nível de escolaridade, religião, tipo de inserção ocupacional, região de residência, permitirão analisar com mais profundidade os resultados, de modo a inferir se há percepções distintas e quiçá opostas, e como se forjam grupos cuja visão e valores tendem a ser convergentes ou radicalmente contrários. O capítulo 1 detalha a metodologia e o plano amostral, além de apresentar o questionário aplicado, onde figuram questões que retomam os conjuntos identificados por Neher e outros autores internacionais. O capítulo 2 apresenta uma análise descritiva dos resultados para situar o contexto mais geral de apoio ou aversão à redistribuição que emana do survey. Dois cortes prevalecem, o regional e o de sexo. O capítulo 3 retoma o debate internacional sobre preferências em favor da redistribuição, e sistematiza algumas conclusões já confirmadas, a saber i) as pessoas têm preferências sociais e se preocupam pelas outras: ii) os indivíduos expressam percepções não apenas em função do auto-interesse, mas também formatadas por normas sociais e princípios de justiça redistributiva vigentes; iii) tais percepções são endógenas; iv) a cooperação e o apoio à redistribuição tendem a ser condicionais e v) a proximidade tende a interferir na decisão ou não de apoiar a redistribuição, entre outras. Em seguida, a seção apresenta, a partir de modelos e hipóteses apoiados na experiência internacional - mas também nos propósitos da pesquisa, onde boa parte das perguntas vem do desenho das políticas e programas sociais brasileiros vigentes e do recuo da pobreza e da desigualdade derivados do crescimento recente do país – os resultados, obtidos a partir de análises econométricas, acerca dos determinantes da redistribuição por parte da população brasileira adulta. Um sumário-executivo apresenta, de início, as principais conclusões desta pesquisa e sua metodologia. 27 Neste documento, e na pesquisa em geral, o maior ou menor grau de aversão à desigualdade e à pobreza será estimado a partir da concordância ou discordância com um conjunto de valores, crenças, que foram consagrados, na literatura sobre bem-estar, política social e políticas públicas em geral, como favoráveis à redistribuição e à igualdade. Tais valores são convergentes nos princípios éticos que os estruturam, princípios esses de justiça social, responsabilidade e liberdade: Defesa das políticas universais que asseguram um padrão de bem-estar comum a ser compartilhado por todos, independentemente do valor de trabalho de cada um ou da posse de propriedades e ativos. Reconhecimento do papel relevante e insubstituível do Estado em assegurar tal padrão de bem-estar, garantindo ainda que todos os cidadãos, sem distinção de classe ou status, tenham acesso ao melhor padrão possível de um conjunto de serviços considerados indispensáveis (Briggs, 1961). Tais serviços devem ser providos pelo Estado e financiados com recursos fiscais. Reconhecimento da necessidade de que todos aqueles que sofrem de déficit de renda, independente da causa, sejam apoiados e tornem-se, portanto, beneficiários de transferências de renda como um direito de cidadania, sem exigência de contrapartidas ou outros mecanismos compulsórios. Adesão ao princípio da progressividade no financiamento do bem comum e da promoção da coesão social. Universalismo, provisão pública, justiça tributária e a superação da pobreza e da miséria são as quatro dimensões que vão definir, no âmbito desta pesquisa, os perfis sociais mais ou menos favoráveis à redistribuição. E, portanto, quanto mais favorável à redistribuição, maior o grau de aversão à desigualdade. 28 1. Metodologia da pesquisa Esta seção detalha o conjunto de procedimentos que foram tomados para aplicação do survey através de um questionário desenhado especificamente a este fim. O plano amostral, outro importante aspecto estratégico da metodologia da pesquisa, é também aqui apresentado e detalha a seleção das amostras de indivíduos, através de múltiplos estágios de seleção, que serviu para compor o universo da população adulta brasileira com mais de 16 anos. 1.1. O questionário O questionário do survey – que encontra-se em sua íntegra no Anexo 1 – conduzido para fins da pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira – é de caráter estruturado, incluindo um total de 54 perguntas21 fechadas que estão subdivididas em oito módulos que representam as dimensões da pesquisa assim como ilustrado na introdução, e estes são: Satisfação com a vida; Tendência a apoiar ou não a redistribuição; Programas sociais; Outras opiniões; Pobreza e desigualdade; Princípio da igualdade; Mobilidade social; e Demografia e variáveis de autointeresse. Por se tratar de uma pesquisa que tem como objetivo mensurar o grau de percepção e aversão à desigualdade e à pobreza, as perguntas deste questionário 21 O banco de dados gerado pelo survey tem um total de 66 variáveis: uma variável para cada pergunta da pesquisa; algumas variáveis identificadoras (localização, gênero do entrevistado e nome do entrevistador) e fatores de ponderação da amostra. 29 foram formuladas seguindo a abordagem de Escalas de Likert22 onde as respostas representam um gradiente, aqui variando de 1 a 5, e que refletem o nível de concordância à afirmação à direita do questionário, de princípios mais igualitários, redistributivos e universais, de propósito aí colocada para dar coerência à leitura dos resultados. Sendo assim, o mínimo “1” corresponde ao total desacordo em relação a essa afirmação, e o máximo “5” corresponde ao total acordo. Os três níveis intermediários traduzem graus diferenciados de adesão ou rejeição às ideias formuladas. Para os módulos “Tendência a apoiar ou não a redistribuição”, “Programas sociais” e “Outras opiniões”, os entrevistados ainda foram confrontados com duas afirmações, como nos exemplos abaixo: E a eles era pedido que: “... Gostaria que o sr(a) me indicasse seu grau de concordância com uma ou outra. Caso concorde somente com a primeira frase diga o número 1; caso concorde em parte com a primeira frase diga o número 2, caso seja indiferente às 22 Likert, Rensis (1932). "A Technique for the Measurement of Attitudes". Archives of Psychology 140: 1–55. 30 duas respostas, ou concorde com as duas, diga o número 3; caso concorde em parte com a segunda, número 4; e caso concorde somente com a segunda, número 5”. E para facilitar sua compreensão acerca do gradiente das respostas, os entrevistados ainda contaram com o auxílio de um cartão resposta conforme exposto na Figura 1, de tal forma que "1" correspondia ao total acordo à contrafirmativa e, logo, total desacordo com a afirmativa à direita. Figura 1 – Cartão para Auxílio na Coleta dos Dados Os módulos “Satisfação com a vida”; “Pobreza e desigualdade”; “Princípio da igualdade”; e “Mobilidade social” também incluíram respostas em um gradiente de 1 a 5, porém, sem que tal escala significasse percepções e posicionamentos frontalmente opostos. Cabia aos respondentes expressar um ponto de vista dentro de uma escala de satisfação e concordância, como informam os exemplos a seguir: 31 Além destes módulos voltados para o objeto da pesquisa propriamente dito, o questionário contemplou, em um módulo à parte, variáveis demográficas, ou de autointeresse, tais como idade, sexo, faixa de renda familiar, nível de escolaridade, religião, tipo de inserção ocupacional e região de residência. Essas variáveis serão tratadas como variáveis independentes na seção de modelagem econométrica permitindo inferir e designar grupos que tendem a um maior ou menor grau de aversão à desigualdade. De uma forma geral, e exemplificando, Reif e Merlich (1993), o questionário incorporou itens referentes à: a) importância de se lutar contra o desemprego; b) necessidade de atenuar a intensidade da pobreza; c) relevância em diminuir as disparidades regionais ajudando as regiões menos desenvolvidas; d) compromisso efetivo das autoridades públicas em erradicar a pobreza. Através das respostas dos indivíduos, espera-se medir o grau de adesão ou aversão à erradicação da pobreza e à atenuação das desigualdades por parte da população brasileira, identificando, ao longo da escala, grupos que se posicionam ao longo desse gradiente, a partir de seu perfil demográfico, também investigado no 32 survey por meio de questões sobre sexo, idade, renda e condição de ocupação, entre outras variáveis. 1.2. O plano amostral Esta seção descreve o planejamento da amostragem adotado pela empresa23 contratada para a coleta e produção dos dados, seguindo as seguintes orientações da coordenação da pesquisa: a execução de uma pesquisa amostral (survey) de abrangência nacional, considerando como população alvo brasileiros com 16 anos ou mais de idade. Este survey deveria ser conduzido durante os meses de setembro e outubro de 2012 sendo as unidades pesquisadas, os indivíduos. O plano de amostragem empregado para seleção das amostras de indivíduos contou com múltiplos estágios de seleção, incluindo amostragem por conglomerados24 e estratificação25. A população brasileira foi estratificada utilizando a definição das cinco regiões geográficas, considerando as áreas urbanas e rurais. Já os conglomerados, definidos pelas unidades de federação (unidades primárias de amostragem – 1º estágio) e pelos municípios (unidades secundárias de amostragem – 2º estágio), foram selecionados em estágios subseqüentes. O último estágio (3º) se deu pela seleção dos indivíduos, a unidade pesquisada, de forma sistemática condicional à passagem pelo ponto de fluxo estabelecido pela empresa coletora dos dados. A Figura 2 apresenta a definição oferecida para a seleção das unidades de cada um dos três estágios de seleção. Esta estratégia assegura a cobertura na amostra em âmbito nacional gerando, então, uma amostra representativa da população de16 anos ou mais anos de idade no Brasil. 23 Overview Serviços & Informação LTDA (Overview Pesquisa), que venceu a licitação para implementação do survey, na modalidade carta-convite. 24 Amostragem por conglomerados subdivide a população pesquisada grupos – os conglomerados – e a partir daí, se extrai uma amostra de conglomerados e os indivíduos dentro de cada conglomerado são então selecionados para compor a amostra. Neste método de amostragem, nem todos os grupos estão representados na amostra. 25 Amostragem estratificada, diferente da por conglomerados, subdivide a população pesquisada em grupos – os estratos – formados conforme as variáveis de interesse (aqui sendo: Grande Regiões). Em seguida, e dentro de cada estrato extrai-se então uma amostra de unidades primárias de amostragem – que foram as UFs. Neste método de amostragem todos os grupos são representados na amostra. 33 Devido a restrições de custo, o tamanho da amostra fora previamente fixado para um total de cerca de 2.200 entrevistas. Todavia foi garantida representatividade nacional para o grupo de 16 anos de idade e mais. Note-se que de acordo com o plano amostral, o primeiro estágio envolveu a seleção de 12 unidades primárias de amostragem (UPAs) - Unidades de Federação - enquanto o segundo estágio envolveu a seleção de 36 unidades secundárias de amostragem (USAs) – municípios oriundos das UPAs selecionadas, incluindo 12 capitais. O procedimento para o sorteio das UPAs e USAs, como explicitado na Figura 2, se deu através do método PPT (Probabilidade Proporcional ao Tamanho) que utiliza o tamanho da população residente, tendo o Censo 2010 como medida auxiliadora. No terceiro e último estágio26, os indivíduos participantes da pesquisa foram selecionados de forma sistemática seguindo uma “abordagem intencional, para adequação e cobertura de uma tabela de cotas proporcionais de gênero e quatro faixas de idade (16 a 24 anos, 25 a 39 anos, 40 a 59 anos e 60 anos ou mais)” em cada um dos 48 pontos de fluxo. Segundo tal metodologia, as entrevistas pessoais são realizadas depois de o entrevistador abordar o transeunte morador do município que esteja dentro das cotas estipuladas. Figura 2 – Método utilizado para cálculo e alocação probabilística das unidades amostrais Fonte: Overview Pesquisas. 26 Ver a este respeito, Relatório Plano Amostral - UFRJ Fluxo Brasil 2012, com 09 páginas, fornecido pela Overview Pesquisa; exposto no Anexo 3.2. 34 A Tabela 4 apresenta a alocação da amostra final, segundo municípios, unidades de federação e grandes regiões contidos na amostra. Com o plano amostral empregado, a amostra final é representativa das grandes regiões, com erro amostral máximo estimado por 5,27%. Para o total da população brasileira a estimativa de margem de erro máxima é de 2,06%. 35 Tabela 4 – Alocação da Amostra Região Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Unidade da Federação Rondônia Rondônia Rondônia Pará Pará Pará Total na Região Ceará Ceará Ceará Paraíba Paraíba Paraíba Pernambuco Pernambuco Pernambuco Bahia Bahia Bahia Total na Região Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro São Paulo São Paulo São Paulo Total na Região Paraná Paraná Paraná Rio Grande do Sul Rio Grande do Sul Rio Grande do Sul Total na Região Mato Grosso Mato Grosso Mato Grosso Distrito Federal e satélites Distrito Federal e satélites Distrito Federal e satélites Total na Região Total Brasil Fonte: Overview Pesquisas. Município Porto Velho Vilhena Ji-Paraná Belém Pacajá Redenção Acopiara Fortaleza Jijoca de Jericoacoara Campina Grande João Pessoa Patos Recife Jaboatão dos Guararapes Timbaúba Juazeiro Poções Salvador Duque de Caxias Rio Bonito Rio de Janeiro Marília Moji das Cruzes São Paulo Curitiba Ponta Grossa Porecatu Porto Alegre Progresso Vera Cruz Cuiabá Jaciara Porto Esperidião Taguatinga Ceilândia Brasília Entrevistas 100 40 40 100 40 40 360 30 80 30 80 30 30 70 30 30 30 30 80 550 40 40 120 40 40 250 530 120 40 40 120 40 40 400 120 35 35 35 35 100 360 2.200 36 1.3. A coleta de dados Previamente à realização do survey propriamente dito, foi aplicado um preteste, cujos principais objetivos consistiram em: i) medir o tempo médio de aplicação do questionário, simulando as condições reais do trabalho de campo; ii) medir a consistência das perguntas, acessando o nível e dificuldades de entendimento pelo público-alvo da pesquisa. Tal preteste teve lugar nos dias 16 e 17 de agosto de 2012, em dois pontos da cidade do Rio de Janeiro, concluindo um total de 50 entrevistas pessoais, utilizando duas versões diferentes do questionário, a fim de testar a fluidez e a aceitação do melhor formato (sequência das questões). Foram entrevistados, nessa ocasião, 26 mulheres e 24 homens com idades variando entre 18 a 68 anos. Vale ressaltar que a amostra utilizada no preteste não demandou grau de representatividade, não se podendo, portanto, realizar qualquer tipo de inferências no que tange seus resultados. Embora não tenha havido diferença significativa no tempo de aplicação das entrevistas a cada respondente - em média de 17 minutos -, o preteste permitiu concluir que a versão do questionário que partia de questões mais gerais para as mais específicas, fluía melhor, tendo sido esta, portanto, a adotada em definitivo (ver Anexo 1). Não obstante tal eleição, fez-se necessária a reformulação de algumas questões, a partir da sistematização dos problemas encontrados no preteste27. Após os ajustes feitos ao questionário pré-testado, a pesquisa de campo teve início no dia 11 de Setembro de 2012, sendo finalizada em 2 de Outubro do mesmo ano. A Figura 3 descreve o transcorrer da pesquisa de campo, que contou com uma equipe formada por 30 entrevistadores, devidamente treinados 28, inclusive por membros da equipe de pesquisa, e identificados (uniformizados, munidos do questionário, do manual da entrevista, que está apresentado no Anexo 2, e de cartões de resposta). 27 Ver a este respeito, Relatório de Avaliação do Preteste fornecido pela Overview Pesquisa no Anexo 3.1. 28 O treinamento para o preteste foi fornecido por dois dos membros da equipe desta pesquisa e o treinamento para a coleta final foi feita pela empresa contratada de forma presencial no Rio de Janeiro e São Paulo e via videoconferência nas demais localidades. Detalhes sobre o treinamento estão contidos no relatório de campo, no Anexo 3.3. 37 Ao final, o survey totalizou 2.226 entrevistas, realizadas em 36 municípios de 12 estados brasileiros, conforme o plano amostral previamente determinado. As entrevistas foram de caráter pessoal e presencial utilizando questionário em papel, por não haver tempo hábil para gerar uma versão informatizada. Figura 3 – Coleta de Dados Data Diagnóstico da Pesquisa de Campo 11 de Setembro de 2012 Iniciada 17 de Setembro de 2012 Concluída nas localidades: Bahia, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Ceará. Ainda em andamento nas localidades: Paraíba, Paraná, Rondônia, Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal e Mato Grosso. Concluída: Paraíba, Paraná, Rondônia, Rio de Janeiro e São Paulo. 24 de Setembro de 2012 Ainda em andamento: Distrito Federal e Mato Grosso (com relatos de dificuldades para a conclusão da pesquisa por parte dos entrevistadores). 30 de Setembro de 2012 Concluída: Distrito Federal e Mato Grosso. 2 de Outubro de 2012 Coleta de dados finalizada após a verificação do material de campo, que seguiu para digitação. Fonte: Survey Percepção da Desigualdade / Setembro de 2012. Foi relatado29 que, em alguns estados, os entrevistadores tiveram um grande número de recusas. Esse problema ocorreu principalmente nas capitais: os indivíduos ao serem abordados alegavam falta de tempo ou falta de interesse em responder a pesquisas em geral. Outra razão frequente para a recusa foi o fato de o campo ter sido realizado em período pré-eleitoral, concomitante a outras pesquisas (no caso, políticas) em curso. Por último, fatores ambientais, como chuvas, dificultaram a coleta em algumas localidades, acarretando extensão do campo. Estas dificuldades, no entanto, não impediram que os entrevistadores completassem as quantidades predefinidas de entrevistas em conformidade com os 29 Ver a esse respeito, no Relatório de Campo (com 4 páginas), contido no Anexo 3.3, também produzido pela empresa Overview Pesquisa. 38 locais selecionados. Ademais, todas as recusas foram devidamente repostas e compensadas. A pesquisa de campo foi então concluída com sucesso, tendo o material de campo sido verificado e aprovado, seguindo, então, para digitação e composição do banco de dados. 1.4. Detalhamento da amostra As tabelas 2 a 6 apresentam os totais amostrais e populacionais, juntamente com as respectivas estimativas de erro, utilizados no desenho amostral. Pode-se verificar que a amostra final está composta de um total de 2.226 indivíduos com 16 anos de idade ou mais; sendo 1.146 homens e 1.080 mulheres, distribuídas nas grandes regiões de acordo com a Tabela 3. Para algumas classes de renda e faixas de escolaridade, a estimativa do erro amostral supera a taxa de 10% (amostra por demais reduzida) indicando serem necessários precaução e rigor nas análises envolvendo tais variáveis, ou ainda sugerindo uma eventual agregação de algumas classes para que se possam tirar conclusões mais robustas. O capítulo 2 apresenta a análise descritiva dos resultados do survey, bem como sistematiza as decisões tomadas para enfrentar tal problema. Tabela 5 – Totais amostrais e populacionais, segundo sexo do respondente e estimativa do erro amostral Amostra População Erro Amostral Observada Estimada Estimado Masculino 1.146 68.238.274 2,89% Feminino 1.080 73.010.302 2,98% 2.226 141.248.576 2,08% Sexo Total 39 Tabela 6 – Totais amostrais e populacionais, segundo grandes regiões do respondente e estimativa do erro amostral Grandes Regiões Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Total Amostra Observada 365 551 360 534 416 2.226 População Estimada 10.563.944 37.880.127 10.353.107 61.540.827 20.910.571 141.248.576 Erro Amostral Estimado 5,13% 4,17% 5,16% 4,24% 4,80% 2,08% Tabela 7 – Totais amostrais e populacionais, segundo faixa etária do respondente e estimativa do erro amostral Faixa de idade De 16 à 24 anos De 25 à 39 anos De 40 à 59 anos 60 anos ou mais Total Amostra Observada 365 551 360 534 1.810 População Estimada 30.661.135 46.737.505 43.259.339 20.590.597 141.248.576 Erro Amostral Estimado 5,13% 4,17% 5,17% 4,24% 2,30% Tabela 8 – Totais amostrais e populacionais, segundo classes de rendimento familiar do respondente e estimativa do erro amostral Classe de Renda Familiar (Variável Q11) Menos do que R$ 1.000,00 De R$ 1.001,00 a R$ 2.000,00 De R$ 2.001,00 a R$ 3.000,00 De R$ 3.001,00 a R$ 4.000,00 De R$ 4.001,00 a R$ 5.000,00 De R$ 5.001,00 a R$ 8.000,00 De R$ 8.001,00 a R$ 15.000,00 De R$ 15.001,00 a R$ 20.000,00 Mais do que R$ 20.000,00 Não sabe Não responde Total Amostra Observada 484 617 334 212 115 122 62 13 9 143 115 2.226 População Estimada 31.558.443 40.765.713 19.767.993 12.236.071 7.021.943 8.096.282 3.516.318 979.864 768.922 9.473.838 7.063.188 141.248.576 Erro Amostral Estimado 4,45% 3,95% 5,36% 6,73% 9,14% 8,87% 12,45% 27,18% 32,67% 8,20% 9,14% 2,08% 40 Tabela 9 – Totais amostrais e populacionais, segundo a escolaridade do respondente, população estimada referente e estimativa do erro amostral Escolaridade (Variável Q6) Ensino Fundamental / 1° grau – até 4ª SÉRIE / Primário / Até 5° ano (atual) Ensino Fundamental / 1° grau - de 5ª a 8ª SÉRIE / Ginásio / Até 9° Ano (atual) Ensino médio ou 2° Grau / Médio (científico, clássico) Superior Especialização, mestrado ou doutorado Alfabetização de adulto Nenhum NS/NR Total Amostra Observada População Estimada Erro Amostral Estimado 309 21.484.409 5,57% 553 36.857.177 4,17% 996 262 68 5 31 2 2.226 62.189.196 14.946.461 3.770.357 247.555 1.666.441 86.977 141.248.576 3,11% 6,05% 11,88% 43,83% 17,60% 69,30% 2,08% 1.5. Ponderação da amostra e erros amostrais A ponderação da amostra deve ser feita através da utilização de um fator de expansão (wh) – exposto na Tabela 10 –, cujo procedimento de cálculo parte das frações de amostragem de cada estágio do plano amostral, segundo: . Ou seja, o fator de expansão30 wh é a razão entre o tamanho da amostra observada nos estratos de determinação das cotas – Tamcota , conforme a Tabela 11 – e a população brasileira dentro desses estratos – PopBr, conforme a Tabela 12. 30 Esta explicação está contida no relatório do Plano Amostral, fornecido pela Overview Pesquisa, no Anexo 3.2. 41 Tabela 10 – Pesos de expansão (wh) populacional por sexo, faixa de idade e região geográfica Região Masculino Feminino Q2. Quantos anos completos tem? Q2. Quantos anos completos tem? De 16 à De 25 à De 40 à 60 anos De 16 à De 25 à De 40 à 24 anos 39 anos 59 anos ou mais 24 anos 39 anos 59 anos Norte 36.710 28.812 26.603 28.248 39.370 29.714 23.079 60 anos ou mais 20.176 Nordeste 82.311 64.282 65.486 67.808 77.335 63.898 62.955 81.489 Centro-Oeste 30.521 30.718 28.323 24.723 28.680 27.892 30.140 25.791 Sudeste 116.100 102.215 122.376 128.917 104.612 105.085 Sul 52.875 42.919 51.464 46.210 43.174 131.189 128.619 67.698 56.879 58.384 Fonte: Overview Pesquisas. Tabela 11 – Número de entrevistas realizadas nos estratos de determinação das cotas (Tamcota) Região Masculino Feminino Q2. Quantos anos completos tem? Q2. Quantos anos completos tem? De 16 à De 25 à De 40 à 60 anos De 16 à De 25 à De 40 à 60 anos 24 anos 39 anos 59 anos ou mais 24 anos 39 anos 59 anos ou mais Norte 39 67 53 19 36 65 59 27 Nordeste 55 96 77 36 59 102 89 37 Centro-Oeste 38 59 54 24 40 67 53 25 Sudeste 53 96 77 32 58 97 79 42 Sul 40 75 65 25 45 76 63 27 Fonte: Overview Pesquisas. Tabela 12 – População por sexo, faixa de idade e região geográfica (CENSO 2010) – Em milhões de habitantes (PopBr) Região Masculino Feminino Q2. Quantos anos completos tem? Q2. Quantos anos completos tem? De 16 à De 25 à De 40 à 60 anos De 16 à 24 De 25 à De 40 à 60 anos 24 anos 39 anos 59 anos ou mais 39 anos 59 anos ou mais anos Norte 1,432 1,930 1,410 537 1,417 1,931 1,362 0,545 Nordeste 4,527 6,171 5,042 2,441 4,563 6,518 5,603 3,015 Centro-Oeste 1,160 1,812 1,529 0,593 1,147 1,869 1,597 0,645 Sudeste 6,153 9,813 9,423 4,125 6,067 10,193 10,364 5,402 Sul 2,115 3,219 3,345 1,460 2,079 3,281 3,583 1,828 Fonte: Overview Pesquisas. 42 2. Análise Descritiva dos Resultados do Survey 2.1. Universo da pesquisa A população estimada para a pesquisa é aquela equivalente à apurada para o Censo Demográfico 2010 para pessoas de 16 anos ou mais de idade: 141.248.576 pessoas, sendo 51,7% mulheres e 48,3% homens (Gráfico 4). A distribuição por idade da população da pesquisa também corresponde àquela encontrada no Censo Demográfico 2010: 21,7% para os jovens (16 a 24 anos), 33,1% para pessoas entre 25 e 39 anos; 30,6% para pessoas entre 40 e 59 anos; e 14,6% para aquelas com 60 anos ou mais de idade (Gráfico 5). Esta correspondência com as distribuições populacionais observadas no Censo é inerente à metodologia aplicada à pesquisa, que foi realizada nas ruas (pontos de fluxo), onde o entrevistador aborda e aplica o questionário em transeuntes moradores do município, que sejam maiores de 16 anos (inclusive) e que cumpram a cota de idade e sexo pré-estabelecida, neste caso com base no Censo 2010. Gráfico 4 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade por sexo (%) - Brasil – 2012 Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira,financiamento FINEP, 2012. 43 Gráfico 5 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade por grupos de idade (%) – Brasil - 2012 60,0 50,0 40,0 33,1 30,6 30,0 21,7 20,0 14,6 10,0 0,0 De 16 à 24 anos De 25 à 39 anos De 40 à 59 anos 60 anos ou mais Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012 Outra distribuição sociodemográfica importante é a da variável cor ou raça. Embora não tenha sido utilizado como balizador para as cotas, esta também seguiu o padrão encontrado no último Censo, com poucas diferenciações: 41,7% se declararam de cor branca, 40,3% de cor parda, 14,6% de cor preta e 3,4% de cor amarela ou indígena31 (Gráfico 6). 31 No Censo Demográfico 2010, a distribuição por cor ou raça para a população de 16 anos ou mais de idade foi de 39,2% para brancos; 48,9% para pardos; 10,4% para pretos e 1,5% para amarelos e indígenas (IBGE, Censo Demográfico 2010, Resultados do Universo. Microdados). 44 Gráfico 6 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade por cor ou raça (%) – Brasil - 2012 60,0 40,0 % 48,9 50,0 39,2 30,0 20,0 10,4 10,0 3,4 0,0 Branca Parda Preta Amarela ou Indígena Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012 No que se refere à religião, perguntou-se não só diretamente qual era a religião do entrevistado, como também se ele se considerava praticante da mesma ou se simplesmente não frequentava qualquer culto da religião declarada. Pouco mais da metade se declarou “católico”, cerca de ¼ se declarou “evangélico ou protestante” e 6%, espíritas. Dentre aqueles que declararam alguma religião (excluindo-se, portanto, os quase 10% que declararam não ter religião, mas acreditar em Deus; os ateus ou agnósticos e aqueles que não souberam ou não quiseram responder à pergunta), 12,3% afirmaram não frequentar cultos e 37,2% disseram ser pouco praticantes. Apenas 13,1% afirmaram ser muito praticantes (Gráficos 7 e 8). 45 Gráfico 7 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade por religião declarada (%) – Brasil - 2012 60,0 53,9 % 50,0 40,0 30,0 24,9 20,0 9,7 10,0 6,0 2,4 2,0 1,0 0,0 Católica Evangélica / Protestante Espírita, Umbanda ou Candomblé Outras religiões Sem religião, mas acredita em Deus Ateu ou agnóstico Não sabe/Não respondeu Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012 Gráfico 8 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade que declarou ter alguma religião, segundo a prática da mesma (%) – Brasil – 2012 60,0 % 50,0 40,0 37,2 36,6 30,0 20,0 13,1 12,3 10,0 0,7 0,0 Pouco Praticante Praticante Muito praticante Não frequenta Não sabe/Não responde Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012 A escolaridade foi medida pelo nível de ensino mais elevado concluído. A maior parte (44,1%) tinha ensino médio concluído e 26,1%, o fundamental completo. Apenas 13,3% declararam possuir ensino superior (inclusive especialização, 46 mestrado ou doutorado), proporção inferior à população com fundamental incompleto (15,2%) (Gráfico 9). Ou seja, pouco mais da metade da população da pesquisa tinha pelo menos o ensino médio concluído, configurando-se, portanto, uma população um pouco mais escolarizada que aquela observada historicamente pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, na qual a população de 16 anos ou mais de idade com 11 anos ou mais de estudo (equivalente ao ensino médio concluído) representava 40% do total32. Gráfico 9 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade por nível de ensino concluído (%) – Brasil - 2012 0,0 Nenhum Ensino Fundamental incompleto 10,0 20,0 30,0 40,0 60,0 70,0 80,0 1,4 15,2 Ensino Fundamental completo 26,1 Ensino Médio completo Superior 50,0 44,1 13,3 Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012 A inserção no mercado de trabalho pôde ser investigada pelas variáveis clássicas de ocupação (taxa e posição). A taxa de ocupação para este grupo ficou em torno de 73% (conjunto daqueles que declararam ter exercido trabalho remunerado na semana de referência e aqueles que tinham trabalho, mas não o exerceram por estarem temporariamente afastados por motivo de férias, licenças, greves, etc)33 (Gráfico 10). Na PNAD 2011, a taxa de ocupação para este grupo foi 32 33 IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2011. Microdados. Na PNAD 2011, menos de 3% informaram ter algum trabalho remunerado do qual estava temporariamente afastados por motivo de férias, licença, falta voluntária, greve, suspensão temporária de contrato de trabalho, doença, más condições de tempo ou por outra razão. Outros 7% eram trabalhadores para próprio uso/consumo ou não remunerados. 47 bem superior (93,4%). Contribui para isso a diferença na forma de captação da variável ocupação (na PNAD não se pergunta especificamente sobre trabalho remunerado, apenas se a pessoa trabalhou na semana de 18 a 24 de setembro de 2011). Outro fator é a própria metodologia de pesquisa de entrevistar as pessoas em ponto de fluxo. De fato, ainda em comparação com a PNAD, a pesquisa captou relativamente mais pessoas em ocupações com maior flexibilidade de horário e local de trabalho (autônomos, empregadores). Ainda assim, a distribuição por posição na ocupação observada para a pesquisa foi bastante similar à encontrada na PNAD. Do total de ocupados, 42,1% eram empregados com carteira assinada no trabalho principal; 29,3% conta-própria; 11,6% empregados sem carteira e 10,3% funcionários públicos ou militares (Gráfico 11). Gráfico 10 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade por exercício de trabalho remunerado (%) – Brasil – 2012 Não respondeu 0,7% Não 26,2% Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. Sim 73,2% 48 Gráfico 11 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade por posição na ocupação do trabalho principal (%) – Brasil – 2012 0,0 10,0 20,0 30,0 Empregado com carteira de trabalho assinada 60,0 29,3 Empregado sem carteira de trabalho assinada 11,6 Funcionário público ou Militar 10,3 Empregado doméstico sem carteira de trabalho assinada 2,7 Empregador 1,7 Não responde 1,5 Não sabe 50,0 42,1 Autônomo/conta-própria Empregado doméstico com carteira de trabalho assinada 40,0 0,7 0,1 Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. Em termos de rendimentos auferidos neste trabalho principal, 44% dos ocupados declararam rendimento de até R$ 1.000 e 31,1%, entre R$ 1.000 e R$ 2.000, numa distribuição bem assimétrica pelas classes de rendimento analisadas, com forte concentração de pessoas nas duas primeiras faixas. Menos de 10% dos entrevistados auferiam rendimentos entre R$ 3.000 e R$ 5.000 e mais de R$ 5.000 (Gráfico 12). 49 Gráfico 12 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade, ocupada, por classes de rendimento mensal do trabalho principal (%)– Brasil – 2012 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 Menos do que R$ 1.000,00 50,0 60,0 44,0 % De R$ 1.001,00 a R$ 2.000,00 31,1 De R$ 2.001,00 a R$ 3.000,00 7,2 De R$ 3.001,00 a R$ 5.000,00 7,0 Mais de R$ 5.000,00 3,8 Não sabe/Não responde 6,9 Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. Para aqueles que responderam não ter exercido trabalho remunerado, foi perguntado qual tinha sido, então, sua principal atividade. Cerca de 1/3 era aposentado e os 2/3 restantes se dividiram quase que igualmente entre estudantes, “do lar” e desempregados à procura de emprego (Gráfico 13). Gráfico 13 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade que não exerceram trabalho remunerado na semana de referência por principal atividade exercida (%) – Brasil – 2012 0,0 10,0 20,0 30,0 É aposentado 40,0 50,0 60,0 34,1 % Está desempregado e procura emprego Estuda É do Lar Não sabe/Não responde 21,2 20,3 17,5 22,6 Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. 50 Para o total da população pesquisada, ocupados e não ocupados, perguntou-se qual foi a renda bruta da família no mês anterior. As opções de resposta foram as mesmas classes de rendimento investigadas para o rendimento do trabalho principal. Assim, 22,3% estavam na primeira faixa de rendimento; 28,9%, na segunda faixa e 14% viviam em famílias com rendimento mensal total de R$ 2.000 a R$ 3.000 (Gráfico 14). Por fim, para delinear o perfil do universo da pesquisa, investigaram-se algumas formas de inserção dos entrevistados e suas famílias no sistema de proteção social brasileiro. O acesso a diversos direitos sociais básicos é condicionado à contribuição à Previdência Social pública (INSS). Aqueles que contribuem ou já recebem benefícios de aposentadoria ou pensão estão cobertos contra uma série de riscos afetos a mudanças adversas de padrão de vida (desemprego, doença, incapacidade ao trabalho), assim como aqueles na ativa encontram ainda garantias de férias remuneradas, licença-maternidade, seguro desemprego, entre outros direitos trabalhistas. Por outro lado, desde os anos 2000, o Brasil expandiu seus programas de transferência de renda na área de Assistência Social, cujo principal objetivo é combater a fome e a miséria. Nesse contexto, na população pesquisada (16 anos ou mais de idade), quase metade contribuía para a Previdência Social; 20,6% tinham rendimento de aposentadoria ou pensão e 10,9% eram beneficiários de algum programa de transferência de renda (Gráfico 15). 51 Gráfico 14 – Distribuição da população de 16 anos ou mais de idade por classes de rendimento mensal bruto familiar (%) – Brasil – 2012 0,0 10,0 20,0 Menos do que R$ 1.000,00 30,0 50,0 22,3 De R$ 1.001,00 a R$ 2.000,00 60,0 % 28,9 De R$ 2.001,00 a R$ 3.000,00 14,0 De R$ 3.001,00 a R$ 5.000,00 13,6 Mais de R$ 5.000,00 40,0 9,5 Não sabe/Não responde 11,7 Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. Gráfico 15 – Proporção de pessoas de 16 anos ou mais de idade que contribuíam para a Previdência Social pública, que recebiam rendimentos de aposentadoria ou pensão ou eram beneficiárias de programas de transferência de renda (%) – Brasil – 2012 60,0 50,0 % 49,7 40,0 30,0 20,6 20,0 10,9 10,0 0,0 Contribui para a Previdência Social Tinha rendimento de aposentadoria Era beneficiario de algum programa de ou pensão transferencia de renda Fo n te: IE/UFRJ, Pesq uisa Grau d e Aversão à Desigualdade d a Po pulação Brasileira, financiamento FINEP, 2012. 52 Trata-se agora de analisar o posicionamento da população adulta entrevistada no que tange seu maior ou menos grau de apoio a medidas redistributivas. 2.2. Grau de Satisfação com a Vida Presente - Blocos S e X O questionário aplicado perguntava, primeiramente, sobre o grau de satisfação do entrevistado com sua vida, considerando todos os aspectos. Foram estipulados cinco graus de satisfação, variando de “nada satisfeito” a “muitíssimo satisfeito”. Metade das pessoas se considerou satisfeita e pouco mais de 10% nada ou pouco satisfeitos (Gráfico 16). Na desagregação por sexo, os homens pareceram estar um pouco mais satisfeitos do que as mulheres (70% deles estavam satisfeitos ou muitíssimo satisfeitos, contra 61% delas), mas as distribuições foram relativamente similares. Gráfico 16 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de satisfação com a vida, segundo o sexo (%) – Brasil – 2012 80,0 70,0 60,0 51,7 54,4 49,3 50,0 40,0 27,4 30,0 23,9 20,2 20,0 13,5 7,3 10,0 3,5 3,3 3,7 6,6 15,6 11,6 7,9 0,0 Nada Satisf eito Pouco Satisf eito Mais ou Menos Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. Satisf eito Muitíssimo Satisf eito Total Homem Mulher O cruzamento com informações de renda familiar e escolaridade, além da região de domicílio, traz outros insumos para a análise da satisfação com a vida. Enquanto no Centro-Oeste as pessoas pareceram estar mais satisfeitas (75% estão satisfeitos ou muito satisfeitos), no Sul e Norte essa proporção é de 62% em média. 53 A insatisfação é notadamente maior entre os mais pobres e com menor escolaridade, cujas condições de vida tendem a ser mais difíceis. 7% daqueles que recebem até R$ 1.000 e 7,9% das pessoas sem nenhuma escolaridade se declararam nada satisfeitos com a vida que levavam (Tabela 13). Outra pergunta de autopercepção foi aplicada para saber como o entrevistado via a situação de sua família, numa escala que ia de “extremamente pobre” a “rica”. Cerca de 2/3 se declararam como sendo de “classe média” e quase 30% como “pobres ou extremamente pobres”. As mulheres percebiam suas famílias “mais pobres” que os homens (Gráfico 17). Consideram-se pertencendo a famílias de classe média alta ou rica cerca de 4% dos entrevistados. Observe-se que o conceito de classe média é bastante vago, pois nela caberia mais de 60% da população brasileira, o que parece ser uma resultante de um grande debate em curso na sociedade brasileira sobre os limites de pertencimento a uma classe média, enquanto classe de renda apenas e não categoria sociológica. Tabela 13 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de satisfação com a vida, segundo Grandes Regiões, classes de rendimento familiar e nível de escolaridade (%) – 2012 G raudesatisfaçãocomavida, segundoG randesR egiões, classederendim entoenível deescolaridade-2012 N ada Pouco Satisfeito Satisfeito M aisou M enos Satisfeito M uitíssim o Satisfeito Total G randesR egiões N orte N ordeste Sudeste Sul C entro-O este 1,6 4,6 3,3 4,1 1,7 9,7 8,3 6,4 7,9 5,6 26,9 22,0 24,9 25,8 18,2 53,9 50,0 52,6 48,2 58,0 7,9 15,1 12,8 14,1 16,5 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 7,0 3,4 2,2 1,0 2,6 2,7 10,7 8,6 5,8 2,6 6,6 5,3 31,8 25,3 24,5 13,9 16,0 22,5 39,8 51,6 51,5 65,1 55,4 56,9 10,7 11,1 15,9 17,4 19,5 12,7 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 5,2 4,6 2,6 2,1 7,9 9,1 7,5 7,6 3,9 6,1 26,4 28,3 22,5 17,4 21,0 44,2 47,1 54,8 59,0 52,6 15,0 12,5 12,5 17,6 12,5 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 C lassesderendim entofam iliar M enosdoqueR $1.000,00 D eR $1.001,00aR $2.000,00 D eR $2.001,00aR $3.000,00 D eR $3.001,00aR $5.000,00 M aisdeR $5.000,00 N ãosabe/N ãoresponde N ível deescolaridade EnsinoFundam entaincom pleto EnsinoFundam ental com pleto Ensinom édiocom pleto Ensinosuperior(inclui pós-graduação) N enhum Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. 54 Gráfico 17 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade pela maneira que percebiam a situação da sua família, segundo o sexo (%)– Brasil – 2012 80,0 % 70,8 66,5 70,0 62,5 60,0 50,0 40,0 33,9 29,7 30,0 25,2 20,0 10,0 3,8 4,0 3,7 0,0 Extremamente pobre ou Pobre Classe Média Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. Classe Média Alta ou Rica Total Homem Mulher Interessante notar que não necessariamente o nível da renda familiar declarado coincide na percepção da situação de sua família. Apenas metade daqueles que tinham rendimento familiar inferior a R$ 1.000 se considerava pobre, a outra metade via sua família como de classe média. Embora 16,2% daqueles que recebiam mais de R$ 5.000 apontassem a situação de suas famílias como de classe média alta ou rica, cerca de 5% declararam a situação como pobre ou extremamente pobre34. Mas, de uma forma geral, o comportamento das respostas é coerente, diminuindo a percepção de pobreza da família à medida que aumenta a renda familiar. O mesmo se pode dizer para o nível de escolaridade que apresenta uma relação negativa com essa percepção de pobreza da família: quanto menor a escolaridade, maior a percepção de que a família é pobre ou extremamente pobre. Em termos de região de domicílio, essa percepção era mais forte no Sudeste, Nordeste e Sul (em torno de 30% das respostas) (Tabela 14). 34 Desconhecemos o que pode ter levado à coleta de um dado tão contraditório, mas pode ter havido algum erro de marcação ou contraditório do próprio entrevistado. 55 Tabela 14 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade pela maneira que viam a situação da sua família, segundo Grandes Regiões, classes de rendimento familiar e nível de escolaridade (%) – 2012 M an eirap elaq u al v êsu afam ília, seg u n d oG ran d esR eg iõ es, classed eren d im en toen ív el d eesco larid ad e-2012 P o b reo u E xtrem am en tep o b re C lasseM éd ia C lassem éd iaaltao u rico T o tal G ran d esR eg iõ es N orte N ordeste S udeste S ul C entro-O este 20,4 29,9 32,5 28,5 24,1 77,5 67,5 63,1 67,1 70,6 2,1 2,6 4,4 4,5 5,3 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 49,6 37,1 23,0 8,7 5,5 25,0 48,4 60,1 75,7 88,7 78,4 70,6 1,9 2,8 1,3 2,6 16,2 4,4 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 46,1 32,6 26,9 12,4 45,9 51,2 64,6 69,4 79,7 52,7 2,7 2,7 3,7 7,9 1,3 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 C lassesd eren d im en tofam iliar M enosdoqueR $1.000,00 D eR $1.001,00aR $2.000,00 D eR $2.001,00aR $3.000,00 D eR $3.001,00aR $5.000,00 M aisdeR $5.000,00 N ãosabe/N ãoresponde N ív el d eesco larid ad e E nsinoF undam entaincom pleto E nsinoF undam entalcom pleto E nsinom édiocom pleto E nsinosuperior(incluipós-graduação) N enhum Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. Ainda nesse tópico de “pobreza e desigualdade”, indagou-se ao entrevistado seu grau de concordância em relação a duas afirmações contrapostas, sendo uma mais favorável a valores que permeiam políticas universais e redistributivas (“tem gente que permanece pobre principalmente porque não tem oportunidades na vida”) e outra mais calcada em valores individualistas e de mercado (“tem gente que permanece pobre porque não corre atrás de trabalho”). Conforme mencionado na Introdução desse Relatório, tais respostas deveriam ser dadas com base em uma escala de 1 a 5, onde “1” significa total desacordo à afirmação relacionada com o desenho e metas das políticas sociais, defesa de paradigmas universalizantes ou ainda de promoção da redistribuição. A escala “5”, por sua vez, exprime total acordo. Os resultados mostram que as pessoas se mostraram divididas nessa questão: 23% concordavam totalmente que as pessoas permanecem na pobreza principalmente por falta de oportunidades, 24,4% permaneceram neutras (escala “3”) e 27,2% estavam em total desacordo (logo, viam a permanência da pobreza mais por uma perspectiva de falta de interesse ou esforço individual de cada um em “correr atrás de trabalho”). Observa-se que os homens são mais numerosos em 56 identificar a pobreza como falta de esforço individual do que as mulheres (30,4% e 24,3% respectivamente) (Gráfico 18). Significa dizer que somente um terço dos brasileiros com 16 anos ou mais julga que a pobreza reflete falta de oportunidades, o que levaria a uma percepção derivada da crença de que os pobres não são diretamente responsáveis por sua condição de vida. Para a maioria, os pobres são, de alguma maneira, responsáveis por sua sorte ou falta de sorte. Observe-se que à medida que sobe a faixa de renda cai o percentual de brasileiros que concorda integralmente com a assertiva (5) de que os pobres são pobres por falta de oportunidades. Gráfico 18 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordância com a afirmação "tem gente que permanece pobre principalmente porque não tem oportunidades na vida", segundo o sexo (%) – Brasil – 2012 60,0 1 2 3 4 5 50,0 40,0 30,4 30,0 27,2 24,4 24,4 23,1 26,4 24,5 24,3 19,5 20,0 14,0 14,0 11,6 11,2 14,0 10,9 10,0 0,0 Total Homem Mulher Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012 . O grau de concordância a essa questão é maior nas regiões Norte, Nordeste e Sul (26% em média), entre aqueles com menor renda familiar (29,9%) e nenhuma escolaridade (36,1%), ou seja, entre aqueles cuja falta de oportunidades é justamente mais presente. Chama atenção que as pessoas com renda familiar entre R$ 1.001 a R$ 5.000 discordam em maior grau do que aquelas mais ricas e estas últimas tendem a ser mais neutras nesse ponto. A região Sudeste se polariza menos 57 nos extremos (escalas 1 e 5), apresentando respostas mais distribuídas ao longo da escala (Tabela 15). Tabela 15 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordância com a afirmação "tem gente que permanece pobre principalmente porque não tem oportunidades na vida", segundo Grandes Regiões, classes de rendimento familiar e nível de escolaridade (%) – 2012 G raudeconcordânciacomaafirm ação"temgentequeperm anecepobreprincipalm enteporquenãotem oportunidadesnavida", segundoG randesR egiões, classederendim entoenível deescolaridade- 2012 1 2 3 4 5 Total G randesR egiões N orte N ordeste S udeste S ul C entro-O este 37,3 25,9 23,3 37,7 23,9 3,8 10,9 15,3 7,2 4,4 27,1 27,7 22,7 19,4 29,8 5,8 9,0 18,9 9,2 21,8 26,1 26,4 19,8 26,5 20,2 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 26,3 27,8 26,5 30,8 21,7 28,8 9,8 12,6 9,5 10,5 11,0 14,0 23,4 21,0 26,2 29,7 30,9 21,3 10,6 15,5 17,3 13,9 17,2 10,3 29,9 23,1 20,4 15,1 19,2 25,5 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 27,3 28,3 26,4 27,3 32,5 15,2 10,7 11,4 7,6 5,1 18,9 22,1 25,7 33,0 8,3 14,2 13,4 13,7 15,5 18,0 24,4 25,5 22,8 16,6 36,1 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 C lassesderendim entofam iliar M enosdoqueR $1.000,00 D eR $1.001,00aR $2.000,00 D eR $2.001,00aR $3.000,00 D eR $3.001,00aR $5.000,00 M aisdeR $5.000,00 N ãosabe/N ãoresponde N ível deescolaridade E nsinoFundam entaincom pleto E nsinoFundam ental com pleto E nsinom édiocom pleto E nsinosuperior(inclui pós-graduação) N enhum Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. 2.3. Tendência a não apoiar ou apoiar redistribuição - Bloco V (V1 a V10) Neste bloco de perguntas, buscou-se investigar se os entrevistados concordavam com diversas afirmativas que traziam questões de apoio a políticas de caráter redistributivo, reconhecendo-se não só a proeminência da questão distributiva no país como o papel do Estado na implementação de tais políticas e na garantia do bem-estar da população, a exemplo da provisão de uma renda mínima e taxação progressiva. Seguindo a metodologia da pesquisa, foi aplicada uma escala de 1 a 5, sendo “5” total acordo com essas afirmativas e “1” total desacordo. Próximo 58 a escala 1, foram contrapostas afirmativas de caráter mais liberal, de minimização do papel do Estado para dirimir eventuais desigualdades entre ricos e pobres, focalização de políticas sociais e responsabilização individual sobre seu próprio bem-estar. O Gráfico 19 traz a distribuição das respostas a cada afirmativa ao longo da escala proposta. Gráfico 19 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordância com as afirmativas de apoio à políticas de caráter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuição (%) – Brasil – 2012 0% O governo deve intervir para reduzir as desigualdades entre ricos e pobres. 20% 40% 60% 80% 9,9 5,0 6,0 17,5 61,6 A distribuição de renda e riqueza no país ainda é muito preocupante. 5,5 8,8 6,8 18,4 60,4 No Brasil existem algumas pessoas muito ricas e outras muito pobres e isto é um problema a ser combatido. As pessoas mais ricas devem pagar uma porção maior de sua renda em impostos do que as pessoas com rendas mais baixas. A idade mínima para aposentadoria deve variar segundo as condições de trabalho e saúde de cada trabalhador brasileiro. Pobres devem ser ajudados primeiramente pelo governo. 12,8 8,5 15,7 7,1 8,5 21,3 4,5 6,9 6,5 4,9 17,2 O governo é o principal responsável em assegurar o bem-estar dos mais pobres. 11,8 Prefiro pagar mais impostos e ter mais saúde e educação públicas. 10,5 6,9 O governo deveria assegurar uma renda mínima para todas as pessoas. As mulheres pobres que recebem o BF não vão querer ter mais filhos só para receber mais benefícios em dinheiro. 8,5 8,7 33,0 38,8 14,1 56,2 13,2 55,5 13,6 53,8 21,1 13,7 100% 50,3 20,2 23,5 45,6 17,3 17,1 41,8 16,0 10,0 23,9 22,9 12,8 15,7 9,8 1 2 3 4 5 Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. Embora o maior grau de concordância tenha ocorrido na afirmativa de que o governo deve intervir na economia para reduzir as desigualdades entre ricos e pobres (61,6% de pessoas em total acordo – escala 5 – e 17,5% em acordo – escala 4), pouco menos da metade das pessoas (45,6%) concorda totalmente que o governo é o principal responsável em assegurar o bem-estar das pessoas, porém somente 23,9% concordaram totalmente que o governo deveria assegurar uma renda mínima para todas as pessoas. Considerando a contraproposta desta última (“o governo deveria dar uma renda mínima somente aos pobres”), escolhida por 1/3 59 das pessoas, e que metade das pessoas indicou total acordo com o fato de os pobres serem primeiramente ajudados pelo governo (e não por entidades privadas não governamentais, tais como igrejas, famílias, ONGs, empresas, etc.), observamos aqui um certo viés para a focalização de políticas sociais na população pobre. Para 50,1% da população uma renda mínima assegurada pelo governo só se justificaria em caso de déficit agudo de renda e necessidade. Portanto, metade da população brasileira é avessa à ideia de uma renda básica de cidadania, o que é a proposta implícita na pergunta, tal como formulada. No geral, as pessoas concordaram que a distribuição de renda e riqueza no país é muito preocupante (60,4% na escala 5 e 18,4% na escala 4) e que é um problema a ser combatido (56,2% e 14,1% nas escalas 5 e 4, respectivamente). Se por um lado, 55,5% concordam totalmente que as pessoas ricas devem pagar uma porção maior de sua renda em impostos do que as pessoas com rendas mais baixas, uma proporção menor (41,8%) preferiria pagar mais impostos e ter saúde e educação públicas. Em outras palavras, cerca de 10% das pessoas estavam em total desacordo com isso, preferindo pagar menos imposto e, portanto, ter menos saúde e educação públicas. Entretanto, uma maioria de brasileiros – 59,1% - tem consciência de que a provisão pública de educação e saúde é indispensável ao bem-estar e aceitaria pagar mais impostos se estes viessem a ser de fato aplicados a este fim. Ou seja, são majoritários os brasileiros que julgam que educação e saúde devem ser bens públicos e universais. Por outro lado, o menor grau de concordância total se deu na afirmativa “as mulheres pobres que recebem o Bolsa Família não vão querer ter mais filhos só para receber mais benefícios em dinheiro” (22,9% na escala 5 e 9,8% ma escala 4). Ou seja, a maioria dos pesquisados julga que as mulheres pobres vão se empenhar em ter mais filhos para receber mais dinheiro do governo, muito embora a taxa de fecundidade no Brasil esteja em queda nos últimos anos, e também entre as mulheres mais pobres35. Essa interpretação é totalmente contrária à realidade, tal 35Segundo informações divulgadas no último Censo Demográfico, a taxa de fecundidade total cai de 6,16 filhos por mulher em 1940 para 1,90 em 2010, abaixo da taxa de reposição. Nas regiões Norte e Nordeste, as mesmas taxas caem de 7,17 e 7,15 para 2,47 e 2,06, respectivamente. Para as 60 como evidenciam os dados regularmente divulgados pelo IBGE sobre o declínio da fecundidade no Brasil em todas as classes de renda. Ela traduz um viés discriminatório contra os pobres, pois indica que a pobreza ainda é vista como consequência de um número elevado e até passível de crescer de filhos de famílias pobres, o que é uma percepção absolutamente infundada e sem respaldo nos fatos e indicadores sociais. A Tabela 16 traz os percentuais referentes ao total acordo com as afirmativas propostas de apoio à políticas de caráter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuição pelas regiões brasileiras. Norte e Nordeste, assim como Centro-Oeste e Sul (na tabela Centro-Sul), foram agregadas para essa análise. Interessante notar que a afirmativa de que o governo deve intervir para reduzir as desigualdades se configurou como aquela com maior percentual de total acordo para Brasil em função principalmente do peso das respostas do Norte e Nordeste (72,1%, em comparação com 54,8% no Centro-Sul e 56,8% no Sudeste). Tabela 16 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por total concordância (escala 5) com as afirmativas de apoio à políticas de caráter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuição, segundo Grandes Regiões (%) – 2012 A firm a tiv a s N o rteeN o rd e s te O g o v e rn od e v ein te rv irp a rare d u z ira sd e s ig u a ld a d e se n treric o s 7 2 ,1 O g o v e rn oéop rin c ip a lre s p o n s á v e le m a s s e g u ra rob e m -e s ta r 5 4 ,7 d o sm a isp o b re s . P o b re sd e v e m s e ra ju d a d o sp rim e ira m e n tep e log o v e rn o . 6 1 ,9 A d is trib u iç ã od ere n d aeriq u e z an op a ísa in d aém u ito 7 0 ,7 p re o c u p a n te . N oB ra s ile x is te m a lg u m a sp e s s o a sm u itoric a seo u tra sm u ito 6 4 ,1 p o b re seis toéu m p ro b le m aas e rc o m b a tid o . P re firop a g a rm a isim p o s to sete rm a iss a ú d eee d u c a ç ã o 4 3 ,7 p ú b lic a s . O g o v e rn od e v e riaa s s e g u ra ru m are n d am ín im ap a rato d a sa s 2 0 ,4 p e s s o a s . A sm u lh e re sp o b re sq u ere c e b e m oB Fn ã ov ã oq u e re rte rm a is 1 7 ,8 filh o ss óp a rare c e b e rm a isb e n e fíc io se m d in h e iro . C e n tro -S u l 5 4 ,8 S u d e s te 5 6 ,8 3 6 ,0 4 3 ,3 4 1 ,5 4 5 ,6 6 2 ,8 5 1 ,2 5 8 ,2 4 8 ,9 3 7 ,0 4 2 ,8 3 1 ,1 2 2 ,9 2 3 ,3 2 6 ,7 A sp e s s o a sm a isric a sd e v e m p a g a ru m ap o rç ã om a io rd es u a re n d ae m im p o s to sd oq u ea sp e s s o a sc o m re n d a sm a isb a ix a s . 6 0 ,7 5 0 ,7 5 3 ,8 A id a d em ín im ap a raa p o s e n ta d o riad e v ev a ria rs e g u n d oa s c o n d iç õ e sd etra b a lh oes a ú d ed ec a d atra b a lh a d o rb ra s ile iro . 5 5 ,3 4 9 ,7 5 4 ,6 Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. mulheres de 15 anos ou mais de idade, a taxa de fecundidade total em 2010 foi de 3,9 filhos para aquelas com rendimento domiciliar per capita de até ¼ de salário mínimo e 2,67 para aquelas com renda domiciliar per capita entre ¼ e ½ salário mínimo (IBGE, Censo Demográfico 2010 – nupcialidade, fecundidade e migração – Resultados da amostra). 61 À exceção das afirmativas sobre o governo dar renda mínima para todos e as mulheres não quererem ter mais filhos só para receber mais benefícios monetários do Bolsa-Família, a região Norte-Nordeste tendeu a concordar com mais intensidade com as afirmativas redistributivas que as demais regiões, talvez por ser justamente a região que mais se ressente dos efeitos oriundos da pobreza, desigualdade e exclusão. Ainda assim, também nas regiões menos privilegiadas como Norte e Nordeste, onde a renda média per capita é inferior à nacional, perdura a ideia que o governo deve assegurar uma renda mínima somente aos pobres e não à totalidade da população, de forma incondicional e universal. A percepção que se tem dos resultados do survey é que enquanto as afirmativas estão no âmbito da generalidade – desigualdade como problema preocupante e a ser combatido, ricos pagar mais impostos, etc. – o grau de concordância é maior. À medida em que a afirmativa se torna mais pessoal, referindo-se a possibilidades de ação direta da pessoa sobre o problema, o grau de concordância com políticas redistributivas se reduz, o que ficou claro com a preferência por pagar menos impostos e pagar por serviços de educação e saúde. A materialização de valores na forma de políticas, programas ou intervenções muda a escala em favor da redistribuição. 2.4. Programas Sociais - Bloco V (V11 a V22) Historicamente, no Brasil, não obstante as questões relacionadas à pobreza e à desigualdade sejam de há muito conhecidas e reconhecidas, apenas em meados década de 1990 as camadas excluídas (dos ganhos do crescimento, do sistema de proteção social, do padrão de vida prevalecente no país, da efetivação de uma série de direitos sociais conquistados e garantidos constitucionalmente em 1988) passaram a se configurar como público-alvo de políticas sociais específicas. Isso ocorre na esteira da profusão de políticas focalizadas de transferência de renda aos mais pobres como estratégia de combate à pobreza aliada à prerrogativa neoliberal de minimização do gasto social36. E a adoção de políticas dessa natureza 36 Atente-se para o fato de que a grande maioria dos países latino-americanos adota programas de transferência de renda condicionada, cujo custo é invariavelmente menor que 0,6% como proporção do PIB nacional (LAVINAS, 2012, COBO, 2012). 62 deu-se justamente em países com sistemas de proteção social não consolidados ou incompletos. A discussão passa, então, a girar em torno de questões e conceitos como armadilhas da pobreza e desemprego, condicionalidades, portas de saída dos programas, efetividade e eficácia dos mecanismos de focalização. Nesse contexto, foram investigados alguns aspectos sobre os programas e políticas sociais em vigor no país, como o Bolsa Família, Brasil sem Miséria, expansão de creches e previdência social pública. O Gráfico 20 resume esses resultados. De uma forma geral, as pessoas apoiam os argumentos que fundamentam as políticas focalizadas de transferência de renda condicionada: devem existir contrapartidas em educação e saúde por parte das crianças das famílias beneficiárias, deve-se obrigar os adultos a trabalhar para a família receber o benefício e o valor do benefício repassado às famílias deve ser baixo, indicando que o contrário significaria um “desincentivo” ao trabalho. Do total das pessoas de 16 anos ou mais de idade, 68% estavam em total desacordo com a afirmação de que “é desnecessário obrigar as crianças pobres a frequentar escola e postos de saúde para receber o Bolsa Família” e 55,9% em total desacordo que “não se deve obrigar os adultos a trabalhar para receber o benefício”. Portanto, embora pesquisas (LAVINAS, COBO e VEIGA, 2012) tenham revelado que, no caso do BF, não se verifica correlação entre benefício e frequência à escola, senão no caso dos postos de saúde, a condicionalidade imposta importa menos pela sua eficácia e mais pelo seu papel moralizador dos bons costumes e práticas por parte dos pobres, a quem se exige prestar contas do que recebe. Embora quase a metade das pessoas estivesse totalmente de acordo que o benefício médio do Bolsa Família é baixo, à afirmativa de que “o governo deve aumentar o valor do benefício do Bolsa Família para que as famílias saiam da pobreza” as respostas foram bem distribuídas: 27,3% em total acordo, 14,6% na escala 4, 15,5% neutras, 14,3% na escala 2 e 28,2% em total desacordo. A contraafirmativa foi “o governo deve manter o valor do benefício do Bolsa Família baixo para que as famílias não se tornem dependentes”. Temos, assim, uma população igualmente dividida sobre o valor justo do benefício do Bolsa Família para ser eficaz em fazer de fator recuar a miséria e a pobreza: 42% aprovam um aumento e outros 42%, desaprovam. 63 Por outro lado, a percepção das pessoas é que o Bolsa Família é um programa necessário, que não deve acabar “porque sempre haverá pobres” (52,4% em total acordo com isso, 20,8% de acordo na escala 4), mas que ele não atinge o objetivo a que se propõe, já que só 16,3% concordaram totalmente que ele tira muita gente da pobreza. Em outras palavras, 73,2% dos brasileiros adultos defendem a manutenção do BF. Há aqui uma clara contradição: para a maioria dos brasileiros, o programa é necessário e incontornável, as condicionalidades devem existir, o valor do benefício pago é baixo, o que o torna pouco eficaz em retirar gente da pobreza, mas metade dos entrevistados julga que o governo, entretanto, não deve aumentar o atual valor do benefício. Ao mesmo tempo, mais da metade concordou totalmente que “se o governo quiser, tem meios de erradicar a miséria no Brasil”, enquanto 63% estimam que o valor de R$70 que define os miseráveis no país (linha institucionalizada pelo governo federal como base para o recebimento do benefício básico do Bolsa Família), é baixo (escalas 5 + 4 somadas). 64 Gráfico 20 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordância com as afirmativas de apoio à políticas de caráter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuição com foco nos programas e políticas sociais em vigor (%) – Brasil – 2012 0% O governo deve se responsabilizar pela oferta de creches O piso das aposentadorias do INSS deve ser igual a um salário mínimo É errado o Brasil Sem Miséria garantir remédios de graça só para crianças de famílias miseráveis 20% 4,43,2 7,7 3,83,4 15,4 14,3 7,3 7,2 10,1 Se o governo quiser, tem meios de erradicar a miséria no Brasil 11,0 8,1 O benefício médio do BF de R$ 130 mensais é um valor baixo. O governo deve aumentar o valor do benefício do BF para que as famílias saiam da pobreza. O BF tira muita gente da pobreza. O governo deve substituir o BF para os pobres e desconto no IR para gastos com saúde e educação dos ricos por um benefício único de R$ 50 para todos os brasileiros Não se deve obrigar os adultos a trabalhar para receber o benefício É desnecessário obrigar as crianças pobres a frequentar escola e postos de saúde para receber o BF 100% 61,9 11,3 9,5 59,9 13,7 7,9 55,7 17,6 6,7 10,6 8,3 5,7 80% 67,8 15,6 11,0 9,5 60% 17,0 São miseráveis as pessoas que vivem com renda igual ou inferior a R$ 70,00 por mês: é um valor muito baixo Sempre haverá pobres. Logo, programas como o BF não devem acabar 40% 55,5 20,8 23,0 52,4 13,9 28,2 14,3 49,1 15,5 43,1 14,6 15,8 39,5 27,3 7,8 19,2 17,1 21,5 55,9 15,5 7,5 11,7 68,0 14,8 1 2 3 16,3 12,3 6,5 10,3 7,3 4,7 5,1 4 5 Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. Nota: BF = Bolsa Família e IR = imposto de renda No que concerne as demais políticas e programas abordados, quase 70% estavam de total acordo de que a responsabilidade pela oferta de creches é atribuição do governo (85% se juntarmos as escalas 4 e 5) e 61,9%, de que o piso das aposentadorias do INSS deve ser mantido igual a um salário mínimo. Interessante notar que ao mesmo tempo em que as respostas refletem um viés pró-focalização, na questão da distribuição de remédios gratuitos para crianças cadastradas no Brasil sem Miséria, 59,9% concordaram ser errado esse direito ser assegurado exclusivamente por ora às crianças pobres e defenderam que todas as crianças deveriam recebê-lo, independentemente da condição socioeconômica da família. O direito deve ser assegurado pela contingência, tal como estipula o desenho do SUS, a todos. 65 Mais uma vez, a implementação de uma renda básica de cidadania não obteve respaldo na população pesquisada, uma vez que 39,5% estavam em total desacordo com a substituição do Bolsa Família e do desconto de imposto de renda por dependente por um benefício igual para todos. Apenas 12,3% estavam em total acordo com a afirmativa. O maior grau de concordância com essa política ocorreu na região Centro-Sul (16,2%), contra 11,7% e 10,7% nas regiões Norte-Nordeste e Sudeste, respectivamente. Surpreendentemente, são as regiões menos desenvolvidas, e com níveis de renda e escolaridade mais baixos, as mais radicalmente contrárias à ideia de um benefício básico para todos como direito compartilhado e universal. Tais resultados nos levam a supor ser bastante plausível que parte considerável da população brasileira desconheça por completo ser o Brasil o único país do planeta a ter aprovado em lei, desde 2004, uma renda básica de cidadania de igual valor para todos, sem distinção de classe, idade, cor, sexo ou credo, lei que se mantém, todavia, letra morta. Universalizar o direito a uma renda monetária de igual valor a toda a população não procede como uma percepção de justiça social para os entrevistados nesta pesquisa. À exceção da afirmativa sobre a adoção de uma política de renda básica, a análise regional mostra que, mais uma vez, o peso do Norte-Nordeste nas afirmativas mais universalizantes se fez sentir na média geral. As diferenças aparecem, em geral, mais discrepantes em relação ao Sudeste. Por exemplo, na afirmativa “sempre haverá pobres. Logo, programas como o Bolsa-Família não devem acabar”, enquanto 66% de pessoas estavam em total acordo no NorteNordeste, esse percentual cai 20 pontos percentuais no Sudeste. Queda semelhante ocorre na afirmativa de que o piso das aposentadorias deve ser igual ao salário mínimo é ainda mais intensa (mais de 24 pontos percentuais) em relação a achar baixa a linha de R$70 para identificar os miseráveis do país. O fato de a região ser aquela com maior número de beneficiários tanto do Bolsa Família como das aposentadorias com valor de um salário mínimo contribui muito provavelmente para a defesa dessas afirmativas de forma mais contundente. Da mesma maneira, confirma-se, pela análise descritiva, que níveis mais elevados de renda pessoal são tendencialmente menos favoráveis a políticas de cunho redistributivo. 66 Tabela 17 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por total concordância (escala 5) com as afirmativas de apoio à políticas de caráter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuição, com foco nos programas e políticas sociais em vigor, segundo Grandes Regiões (%) – 2012 A firm ativas N orteeN ordeste Ogovernodeveseresponsabilizar pelaofertadecreches. 74,2 Obenefíciom édiodoBolsaFam íliadeR $130m ensaiséum 52,1 valor baixo N oBrasil sãoconsideradasm iseráveisaspessoasquevivem comrendaigual ouinferior aR $70,00por m ês: éumvalor m uito 68,1 baixo Sem prehaverápobres. Logo, program ascom ooBolsaFam ília 66,0 nãodevemacabar OBolsaFam íliatiram uitagentedapobreza 23,1 Ogovernodeveaum entar ovalor dobenefíciodoBolsaFam ília 32,6 paraqueasfam íliassaiamdapobreza. OpisodasaposentadoriasdoIN SSéigual aumsaláriom ínim o 73,1 eassimdeveser Édesnecessárioobrigar ascriançaspobresafrequentar escola 3,7 epostosdesaúdeparareceber oBolsaFam ília N ãosedeveobrigar osadultosatrabalhar parareceber o 9,8 benefício. C entro-Sul 63,2 Sudeste 65,0 47,4 47,6 60,2 43,6 43,7 46,1 13,9 12,1 23,8 25,0 64,9 51,5 8,7 4,5 11,7 10,0 OProgram aBrasil SemM isériagaranterem édiosdegraçasó paracriançasdefam íliasm iseráveiseistoéerrado; todasas criançasqueprecisamdeveriamreceber rem édiosdegraça. 67,3 58,8 54,5 Ogovernodevesubstituir oBolsaFam íliaparaospobrese descontonoim postoderendaparagastoscomsaúdee educaçãodosricospor umbenefícioúnicodeR $50paratodos osbrasileiros 11,7 16,2 10,7 Seogovernoquiser, temm eiosdeerradicar am isérianoBrasil. 62,2 54,7 50,6 Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. 2.5. Outras opiniões - Bloco V (V23 a V26) Além das questões relativas especificamente a alguns aspectos dos programas Bolsa Família e Brasil sem Miséria, previdência social e pública e creches, investigou-se a opinião das pessoas quanto à universalidade da oferta dos serviços de educação e saúde, benefícios monetários e persistência da desigualdade entre homens e mulheres. 67 Gráfico 21 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordância com as afirmativas de apoio à políticas de caráter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuição (outras opiniões) (%) – Brasil – 2012 0% 20% Educação e saúde devem ser oferecidos de graça para toda a população 15,4 Apesar de as mulheres trabalharem, as desigualdades entre os sexos permanecem. 14,1 Os benefícios monetários do governo devem destinar-se a toda a população Toda a população deveria receber um benefício monetário do governo. 40% 15,1 5,2 10,0 35,3 6,4 60% 80% 12,1 100% 51,0 20,2 50,5 18,6 10,5 49,2 12,0 21,0 1 2 23,6 10,3 3 5,6 4 13,8 5 Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. Cerca de 63,2% das pessoas entrevistadas concordam que educação e saúde devem ser oferecidos gratuitamente para toda população e pouco mais de 1/3 (escalas 1 e 2) discorda dessa afirmativa (Gráfico 21). A contra-afirmativa era “o governo só deve oferecer educação e saúde de graça para os mais pobres e vulneráveis”. Isso revela que 1/3 da população adulta brasileira acredita que o serviço público deve destinar-se aos menos favorecidos na sociedade, o que pressupõe a provisão de serviços em escopo e qualidade limitados. Logo, um terço é contrário à ideia de uma política de educação e saúde universal para todos, em igual padrão. Também 50% estão totalmente de acordo que as desigualdades entre os sexos permanecem, “apesar de as mulheres trabalharem”. Somando às pessoas que concordam em menor grau (escala 4), são 70,7% das pessoas de 16 anos ou 68 mais de idade (Gráfico 21) que entendem que as assimetrias de gênero permanecem apesar da crescente atividade feminina no mercado laboral. Ratificando resultados anteriores, a universalidade no que tange o direito estabelecido em lei a uma renda monetária de cidadania parece não reunir, de fato, o apoio da população. Esta foi contrastada com duas afirmativas distintas: “os benefícios do Bolsa Família devem destinar-se às famílias pobres ou miseráveis versus “toda a população deveria receber um benefício monetário do governo” e “os benefícios monetários do governo devem destinar-se somente aos mais pobres e vulneráveis” versus “estes benefícios devem destinar-se a toda a população”. No contraste com a afirmação do Bolsa Família, 49,2% estavam em total desacordo com a concessão de um benefício monetário a toda população (70% se somarmos as escalas 1 e 2). Na segunda proposta, 53,9% estavam desacordo que os benefícios deveriam destinar-se à toda população e 23,6%, em total desacordo. Regionalmente (Tabela18), não houve grande diferenciação entre NorteNordeste e Centro-Sul no que tange a universalidade dos benefícios monetários contrastada com sua provisão somente aos reconhecidamente pobres e miseráveis (27,7% e 26,4% em total acordo, respectivamente). No Sudeste , esse percentual foi ainda menor (18,8%). O apoio integral a políticas universais de educação e saúde chega a 62,3% das pessoas no Norte-Nordeste, tendo sido registrados 20 pontos percentuais a menos no Sudeste (41,5%). Por sua vez, no Norte-Nordeste, a persistência da desigualdade entre homens e mulheres é mais ressentida que nas demais regiões, o que é corroborado pelos dados de mercado de trabalho sobre assimetrias de gênero. 69 Tabela 18 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por total concordância (escala 5) com as afirmativas de apoio à políticas de caráter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuição (outras opiniões), segundo Grandes Regiões (a) – 2012 Afirmativas Norte e Nordeste Os benefícios monetários do governo devem destinar-se a toda a 27,7 população Educação e saúdes devem ser oferecidos de graça para toda a 62,3 população Toda a população deveria receber um benefício monetário do 12,3 governo. Apesar de as mulheres trabalharem, as desigualdades entre os 58,3 sexos permanecem. Centro-Sul Sudeste 26,4 18,8 52,3 41,5 19,9 11,9 51,0 44,2 Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. 2.6. Meritocracia, responsabilidades e necessidades - Bloco O (O1 a O5) Um bloco de cinco afirmativas sobre questões relativas ao que deve influenciar ou não no salário de uma pessoa foi submetida à avaliação dos entrevistados de modo a que eles exprimissem seu grau de concordância numa escala com as seguintes variações: 1 (discordo totalmente), 2 (discordo), 3 (neutro), 4 (concordo) e 5 (concordo totalmente). À diferença das questões anteriores, não foram apresentadas contraafirmativas. Dentre os aspectos levantados para definir ou não o salário de uma pessoa figuravam o grau de responsabilidade no trabalho, a qualificação, a qualidade do resultado do trabalho, o grau de dificuldade envolvido na execução do trabalho e de quanto a pessoa precisa para sustentar sua família. Os resultados encontram-se sumarizados no Gráfico 22. Neste bloco, as pessoas tenderam a concordar com todas as assertivas colocadas, mas não a concordar integralmente. A grande maioria optou pela escala 4. Observa-se, assim, que, as afirmativas com maior grau de concordância (somando escalas 4 e 5) foram que o salário de uma pessoa deve depender da qualidade do resultado do trabalho (81,9%) e do grau de responsabilidade na execução do mesmo (80,9%). Uma percepção forte de merecimento e 70 reconhecimento via remuneração do trabalho realizado, portanto. Cerca de 68% concordaram que o salário deve depender da qualificação do trabalhador e 65% julgam que este deve depender do grau de dificuldade envolvido. Temos, assim, mais de 2/3 da população claramente favoráveis a diversos princípios meritocráticos na determinação de critérios de remuneração do trabalho. O menor grau de concordância ficou para a afirmação de a remuneração variar em função das necessidades da família (52,5%), o que pode ser percebido como um mecanismo de redistribuição através de distintas modalidades de política social. Nesse caso, quase metade dos entrevistados parece considerar que isso é um problema que diz respeito a cada família e não à sociedade. Gráfico 22 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordância com as afirmativas quanto à definição do salário (%) - Brasil – 2012 0% 20% 40% O salário de uma pessoa deve depender da qualidade do resultado 0,8 6,3 11,0 do trabalho. O salário de uma pessoa deve depender do grau de dificuldade 3,7 envolvido no trabalho. O salário de uma pessoa deve depender do quanto é necessário para sustentar sua família. 10,6 80% 51,5 O salário de uma pessoa deve depender do grau de 1,9 8,6 8,5 responsabilidade do trabalho. O salário de uma pessoa deve depender do número de anos que 4,2 passou estudando ou em um treinamento. 60% 30,4 54,8 16,3 11,6 20,1 Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. 26,1 47,5 15,8 15,5 20,4 45,8 16,8 100% 19,3 38,1 1 14,4 2 3 4 5 Como indica a Tabela 19, foi a região Sudeste que tendeu a mais concordar totalmente com as afirmativas propostas bem como o Centro-Sul, este em menor medida. A remuneração depender da qualidade do resultado do trabalho, por exemplo, recebeu total concordância de 40,3% das pessoas no Sudeste; 25,1% no Norte-Nordeste e 19,2% no Centro-Sul. Em relação ao grau de responsabilidade no trabalho, a discrepância foi de cerca de 15 pontos percentuais para Norte-Nordeste 71 e quase 24 pontos percentuais para o Centro-Sul, em relação à média no Sudeste de 36,4% em total acordo com isso. Tabela 19 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por total concordância (escala 5) com as afirmativas quanto à definição do salário, segundo Grandes Regiões – 2012 Afirmativas Norte e Nordeste O salário de uma pessoa deve depender do grau de 21,7 responsabilidade do trabalho O salário de uma pessoa deve depender do número de anos que 17,7 passou estudando ou em um treinamento O salário de uma pessoa deve depender da qualidade do 25,1 resultado do trabalho O salário de uma pessoa deve depender do grau de dificuldade 19,1 envolvido no trabalho O salário de uma pessoa deve depender do quanto é necessário 11,2 para sustentar sua família Centro-Sul Sudeste 12,7 36,4 13,6 26,1 19,2 40,3 12,4 22,9 7,8 20,3 Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. 2.7. Mobilidade social - Bloco M (M1 a M4) O último bloco do questionário trata de questões relativas à mobilidade social. Ao pedir que o entrevistado compare a sua atual situação econômica com o passado (5 anos atrás e em relação à situação de seus pais quando tinham sua idade) e com projeções futuras (daqui a 5 anos e a situação dos filhos quando estiverem com sua idade), busca-se apreender não só a mobilidade social vista pela ótica da evolução da situação econômica pessoal e familiar, como as expectativas de ascensão (ou não) de sua própria situação no médio e longo prazos. A escala das respostas variou de 1 (muito pior) a 5 (muito melhor), passando por 2 (pior), 3 (igual) e 4 (melhor). 72 Gráfico 23 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por avaliação de sua situação econômica atual – Brasil – 2012 0% 20% Situação econômica dos seus filhos quando, um dia, estiverem com sua idade 3,4 1,8 em relação à sua situação atual 9,0 Situação econômica dentro de 5 anos em 0,6 5,6 relação à situação atual Situação econômica atual em relação à situação dos seus pais quando tinham sua 2,5 idade Situação econômica atual em relação à sua 1,5 situação econômica de 5 anos atrás 40% 10,3 80% 47,1 13,7 13,4 60% 38,8 53,0 13,0 19,5 Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. 100% 27,1 47,6 23,5 55,9 12,8 1 2 3 4 5 Segundo o Gráfico 23, apenas 12,8% dos entrevistados consideraram sua situação muito melhor do que há 5 anos atrás e 55,9% consideraram-na melhor. De toda maneira, é ampla a maioria que se percebe vivendo melhor hoje em relação à 2007. Ora, foi justamente nesse período que se observou franca melhoria de um conjunto diverso de indicadores econômicos e sociais no país, por força da retomada do crescimento econômico, com mais redistribuição, acesso a consumo, etc. Tão-somente 1,5% da população estima que sua vida piorou absolutamente. Para cerca de 20%, porém, a situação é a mesma, nada mudou, nem para melhor, nem para pior. A expectativa quanto ao futuro é bastante otimista: 27,1% consideraram que sua situação econômica em 5 anos será muito melhor que a atual e 53% acharam que estará melhor. Cerca de 6% apenas consideraram que o futuro será francamente pior que o presente nesse aspecto. Na análise intergeracional, 23,5% achavam que sua situação atual está muito melhor que a dos pais quando tinham sua idade e 47,6% consideraram-na melhor. A projeção para os filhos é ainda mais promissora, uma vez que quase 40% acharam que a situação destes, quando tiverem sua idade, será muito melhor que a 73 sua situação atual e 47,1%, melhor. Ou seja, o melhor está mesmo por vir para 87,1% dos brasileiros! No Norte-Nordeste (Tabela 20), a perspectiva futura para os filhos é ainda mais positiva, já que 90,4% acham que a situação dos filhos será melhor ou muito melhor que a atual do entrevistado (no Sudeste e Centro Sul, essa proporção foi de 84% e 83,2% respectivamente). Ressalta-se que para quase 75% da população no Norte-Nordeste a situação era melhor que há 5 anos , proporção um pouco acima das verificadas nas demais regiões. E para 85,1%, a situação dentro de 5 anos será melhor que a atual, também no Norte-Nordeste. Os brasileiros da região Norte-Nordeste que muito se beneficiaram pelos efeitos de redução da pobreza e da desigualdade (houve redução das desigualdades regionais de renda no país) mostram-se os mais otimistas com relação às chances de uma melhora contínua de suas vidas e das de seus familiares no futuro. Tabela 20 – Distribuição percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade de acordo com sua percepção sobre sua situação econômica atual, segundo Grandes Regiões – 2012 Afirmativa Situação econômica atual é melhor ou muito melhor que há 5 anos atrás Situação econômica dentro de 5 anos será melhor ou muito melhor que a situação atual Situação econômica atual é melhor ou muito melhor que a situação dos seus pais quando tinham sua idade Situação econômica dos seus filhos quando, um dia, estiverem com sua idade é melhor ou muito melhor que sua situação atual Norte e Nordeste Centro-Sul Sudeste 74,3 63,5 66,9 85,1 72,9 79,8 79,6 65,0 67,5 90,4 84,0 83,2 Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. Em resumo, a análise descritiva proposta delineou o perfil do universo da pesquisa realizada e indicou os primeiros resultados sobre as questões propostas. Investigou-se, portanto, a população de 16 anos ou mais de idade, na qual a população adulta em idade ativa era maioria (63,7% de pessoas entre 25 e 59 anos); quase 60% eram pretas ou pardas; 44% tinham o ensino médio completo; e 73,2% estavam ocupadas no mercado de trabalho (42% empregados com carteira e 29,3% autônomos). No trabalho principal, 44% percebiam rendimentos de até R$1.000 74 (71,1% até R$2.000) e a renda familiar bruta da maioria também girava em torno desses valores (51,2% até R$2.000). O grau de inserção no sistema de proteção social era relativamente elevado, uma vez que 49,7% contribuíam para Previdência Social oficial; 20,6% tinham rendimentos de aposentadoria ou pensão e 10,9% eram beneficiários de algum programa de transferência de renda. Os resultados descritivos acerca do apoio a medidas redistributivas mostrou que, de uma forma geral, Norte e Nordeste tendem a apoiar mais medidas dessa natureza. No entanto, o apoio à focalização de transferências nos mais pobres é generalizada. Além disso, as pessoas, em sua maioria, apoiam as condicionalidades e ainda julgam que as mulheres pobres beneficiárias do Bolsa Família vão querer ter mais filhos para aumentar o valor dos benefícios recebidos por criança. O papel do governo foi considerado importante na redução das desigualdades entre ricos e pobres e na garantia do bem-estar das pessoas. A má distribuição de renda foi apontada como preocupante. No âmbito pessoal, porém, a maioria mostrou preferir pagar menos impostos e pagar por educação ou saúde. Por fim, mais da metade estava absolutamente satisfeita com a vida (13,5% muito satisfeitos); 2/3 se viam como “classe média” e a situação econômica não só melhorou como crêem que melhorará ainda mais nos próximos anos. 75 3. Apoio à Redistribuição: resultados do Survey brasileiro 3.1. Introdução No capítulo anterior foi desenvolvida uma análise descritiva dos dados do survey, partindo de uma leitura univariada e bivariadas (com cruzamento de duas variáveis) dos resultados, com o objetivo de contextualizar o universo da pesquisa e fornecer um entendimento inicial das tendências redistributivas da população brasileira. Resultados interessantes foram, assim, sistematizados. Vimos que existe uma maior tendência a apoiar medidas redistributivas por parte dos indivíduos da região Norte-Nordeste, que são aquelas de menor nível de desenvolvimento econômico e social. Outro ponto relevante que emerge da análise descritiva indica haver uma tendência à defesa das medidas redistributivas em função do grau de materialização de valores e crenças consubstanciados em políticas,programas ou intervenções. No entanto, ao mesmo tempo em que a população se mostra favorável à adoção de políticas universais, que são por princípios incondicionais, contrapartidas em educação e saúde por parte das crianças das famílias beneficiárias do Bolsa Família e trabalho compulsório para os adultos desocupados são igualmente aprovados como mecanismos adequados no âmbito das políticas de combate à pobreza, colocando em xeque direitos e fazendo valer a seletividade condicionada. O intuito deste capítulo é então, com base nas hipóteses iniciais (de defesa das políticas universais, reconhecimento do papel relevante e insubstituível do Estado, reconhecimento do direito de obter renda compensatória por todos que sofrem privações e de adesão ao princípio da progressividade), testar a significância de relações multivariadas buscando identificar perfis de grupos de pessoas com maior ou menor tendência a apoiar medidas redistributivas. Para isso, adotamos diferentes enfoques econométricos (seções 3.2 - 3.6). Antes disso, porém (Seção 3.1.), apresentamos uma breve resenha da literatura internacional sobre apoio à 76 redistribuição a fim de contextualizar os resultados encontrados nesta pesquisa. A seção 3.7 é reservada às conclusões do capítulo. 3.2. Breve histórico e raison d’être dos estudos sobre os determinantes da redistribuição A literatura que procura explicar os fatores determinantes do grau de apoio de indivíduos a políticas redistributivas surge como desembocadura de desenvolvimentos simultâneos observados em duas disciplinas diferentes: economia normativa e filosofia política. Até as décadas de 1970/1980, a teoria microeconômica convencional (e a economia do bem-estar em particular) trabalha com um modelo bastante simplificado de comportamento humano, baseado na premissa de que os indivíduos tomam todas as suas decisões – atemporais ou intertemporais; livres de risco ou sujeitas a ele – com base em um comportamento maximizador, apoiado em preferências autointeressadas, racionais, exógenas e estáveis no tempo, com pouca consideração para imperfeições informacionais, e refreado apenas por restrições orçamentárias (mas não morais, por exemplo). Isto valeria tanto para as escolhas prosaicas descritas nos manuais de microeconomia („quanto devo comprar do bem 1 e do bem 2?‟), como para escolhas mais sofisticadas, tais como aquelas envolvendo questões de interesse coletivo – „devo defender maior ou menor nível de tributação?‟, „sou favorável a gastos públicos mais altos ou mais modestos?‟, „em que medida me preocupo com pobreza ou desigualdade?‟.37 O modelo-padrão no que se refere a questões desse último tipo era o de Meltzer e Richard (1981), que se inspirara em Romer (1975). Trata-se de um modelo estático em que os indivíduos comportam-se como o homo economicus dos manuais. Não é de espantar que, com base em tal modelo, o nível de tributação ótimo, por exemplo, fosse função decrescente da renda individual: ricos gostariam 37 Havia espaço para diferentes valores normativos embutidos num parâmetro de aversão à desigualdade – por exemplo, na literatura sobre tributação ótima ou na economia do bem-estar de modo geral – mas tal parâmetro era tomado como exógeno e não havia maior preocupação em compreender o que explicaria o fato de que, enquanto uma pessoa revelava ter aversão mínima à desigualdade („utilitarista‟), outra apresentava aversão máxima („rawlsiana‟). 77 de minimizar o nível de redistribuição, porque antecipam que seriam prejudicados por ela; para os pobres, valeria o contrário. O nível de redistribuição escolhido pela população dependeria da forma da distribuição de renda e, em particular, da posição do eleitor com renda mediana: numa sociedade com muitos pobres e poucos ricos, a renda mediana seria menor que a renda média, e a tendência seria de equilíbrios eleitorais favoráveis a uma redistribuição mais alta do que aquela vista como ideal pelos ricos (minoritários). Como era de se esperar, tal modelo não foi referendado por estudos empíricos: como explicar que em país tão desigual como são os EUA, o nível de redistribuição fosse tão baixo? Claramente, o modelo estava incompleto (Alesina e Giuliano, 2010). Paralelamente, nas mesmas décadas de 1970 e 1980, a filosofia política assistia a um acalorado debate acerca de teorias de justiça distributiva, com defensores de ao menos quatro correntes ou “pontos cardiais” (cf. Arnsperger e Van Parijs, 2004): i) o utilitarismo, que reinara na economia e em ciências afins até ser desafiado pela obra de John Rawls em 1971; ii) a própria teoria rawlsiana; iii) o libertarismo38 que, por sua vez, desafiava esta última; iv) e o marxismo, crítico de todas as anteriores e em polo oposto no espectro político ao libertarismo. Nesse debate realizado em nível de princípios (como igualdade, liberdade, eficiência, solidariedade, etc), apoiado em exemplos e contra-exemplos abstratos, em argumentações construídas a partir de situações hipotéticas e ideais, e até mesmo em modelos matemáticos sofisticados (feitos por teóricos da escolha social 39), pouco espaço havia para que os pesquisadores – quase todos ocidentais, com posições de destaque em universidades de ponta de países desenvolvidos – se preocupassem com a forma como o cidadão comum (de diferentes países e culturas) tomava suas decisões de caráter normativo. Como decidir em contextos concretos de partilha de 38 O libertarismo tem como princípio mais caro a liberdade (formal) diferenciando-se, portanto, do utilitarismo, cujo princípio norteador é a eficiência. Embora ambos os grupos posicionem-se à direita no espectro político e embora algumas políticas defendidas por um e por outro possam ser semelhantes, não necessariamente serão coincidentes – os libertários são ainda mais refratários à ação do Estado do que os utilitaristas. Por exemplo, utilitaristas poderiam aceitar programas (limitados) de combate à pobreza; libertários, dificilmente o fariam. O neologismo „“libertarismo”, de origem anglo-saxã, tem sido usado no Brasil nessa forma ou mesmo na ainda menos aportuguesada, “libertarianismo”. 39 A teoria da escolha social (em inglês, social choice theory), baseada em resultados obtidos por meio da combinação de axiomas de conteúdo normativo e positivo, representava uma vertente econômica dos debates normativos. 78 recursos escassos (um órgão doado e dois pacientes que dele necessitam; uma vaga numa escola e dois alunos solicitando matrícula etc.)? A que tipo de desigualdade, de fato, reagir e quais seriam toleráveis ou até mesmo desejáveis? Ao escolher seus representantes políticos, é-se libertário ou marxista, utilitarista ou rawlsiano? De modo simplificado, enquanto economistas consideravam que (simplórias) preferências autointeressadas bastariam para explicar escolhas normativas, com resultados empíricos pífios, filósofos políticos ocupavam seu tempo defendendo sua teoria de justiça distributiva predileta, sem se preocupar com o que por vezes se denominam “concepções intuitivas de justiça” (Schokkaert, 1999a, 1999b). Já na década de 1980 (por exemplo, Yaari & Bar-Hillel, 1984), mas sobretudo na década de 1990, em ambas as disciplinas manifesta-se uma preocupação crítica com tais concepções intuitivas de justiça, por imperativos intelectuais e práticos. Torna-se tão necessário aperfeiçoar o modelo econômicopadrão quanto aproximar o mundo metafísico das teorias de justiça dos critérios de justiça de fato mobilizados no mundo real, a fim de que ambas as disciplinas possam registrar novos avanços em suas respectivas esferas de conhecimento, e para que sejam úteis para explicar e prever fenômenos reais. Nessa linha, surgem artigos como o do filósofo David Miller, publicado em 1992 na revista Ethics, intitulado “Distributive justice: what the people think”, ou o do economista Erik Schokkaert, publicado em 1999 na Revue Economique, intitulado: “Monsieur Tout-le-monde est „post-welfariste‟: opinions sur la justice redistributive”, que constituem excelentes resenhas da literatura sobre concepções intuitivas de justiça disponível até então (e cujas conclusões continuam válidas hoje). Além disso, compreender melhor as preferências normativas das pessoas mostra-se útil para objetivos mais específicos. Os economistas Samuel Bowles e Herbert Gintis, por exemplo, organizam um livro em 199840 em que submetem a um conjunto de pensadores progressistas algumas propostas para reformar ou refundar valores igualitaristas de forma a que se mantenham fortes e atuais diante da grande ofensiva do pensamento neoliberal que ocorria naquele momento. Uma das teses 40 Bowles e Gintis (1998a). 79 dos autores é a de que é preciso compreender bem os valores e as crenças mais arraigados (inclusive por razões evolutivas) nos seres humanos, a fim de desenhar políticas progressistas que efetivamente tenham alguma chance de receber apoio de grande parte dos cidadãos. Duas citações inter-relacionadas merecem ser aqui reproduzidas: “Mr. Fairmind [um cidadão qualquer] has strong feelings about the relationship between inequality and efficiency or about the remuneration of effort. It is possible that he is wrong from an ethical perspective. But in that case, economists have to convince him if they want to implement their “correct” conception of justice. (Schokkaert, 1999b: 22)” “The human mind is not a blank slate that is equally disposed to accept whatever moral rules are presented to it as valid, right and just. Rather human beings are predisposed to accept some moral rules, others can be imposed upon them with some difficulty, and still others cannot be imposed in any stable manner at all. (Bowles & Gintis, 1998b: 391)” Por mais seguros que nós, cientistas sociais, estejamos da superioridade desta ou daquela concepção normativa, ou mesmo de uma política específica – por exemplo, de uma renda básica de cidadania41 sobre políticas concorrentes – é bem possível que o cidadão típico não o esteja. Compreender tal hiato entre concepções teóricas de justiça (e das políticas públicas que dela decorrem) e concepções intuitivas seria importante, portanto, não apenas como forma de um “diagnóstico de preferências”, mas também possivelmente como precondição para qualquer estratégia de reforma progressista (ou de outra natureza)42. A partir da década de 1990, uma série de publicações vem enriquecer os estudos sobre concepções intuitivas de justiça, pouco a pouco dando forma à atual literatura que trata dos determinantes do apoio à redistribuição, isto é, de fatores que intensificam o apoio à redistribuição ou o restringem. As contribuições são de diversas naturezas, mas podem ser classificadas em três grandes grupos: 41 Uma renda básica de cidadania consiste na atribuição de uma renda monetária, em igual valor, a todos os membros de uma comunidade política, independentemente do seu status social, classe, cor, sexo, idade, credo ou qualquer outro traço distintivo pessoal, tomando como princípio o fato de que todos devem compartilhar igualmente parte do patrimônio de que dispõe tal comunidade. 42 A esse título, vale ressaltar que no questionário aplicado introduzimos não apenas perguntas relacionadas a valores e crenças em princípios de justiça distributiva, mas igualmente procedemos a uma consulta sobre desenhos de determinadas políticas ou programas, que refletiriam essa percepção mais intuitiva, que pode ao fim determinar maior ou menor apoio à redistribuição. 80 modelos econômicos que procuram superar as limitações do modelo-padrão baseado no eleitor mediano, já descrito acima, estudos de economia comportamental que criam situações de partilha de bens coletivos em experimentos econômicos controlados, com remuneração monetária real, os quais produzem como resultado uma série de fortes desafios aos fundamentos comportamentais da microeconomia convencional, estudos econométricos apoiados em bases de dados primárias ou secundárias, compostas a partir de surveys que procuram revelar as opiniões dos cidadãos sobre princípios de justiça distributiva ou sobre políticas específicas, e que também coletam uma série de informações socioeconômicas dos indivíduos. Justamente a pesquisa aqui desenvolvida soma-se a este conjunto de análises de cunho empírico, que se multiplicaram nos últimos anos, dando lugar inclusive a pesquisas crosscountry longitudinais (Neher, 2012)43. A seguir, sintetizam-se as principais “lições” extraídas dos estudos dos tipos (ii) e (iii), cada uma delas acompanhada de um exemplo ou implicação para políticas redistributivas:44 As pessoas têm preferências sociais, isto é, preocupam-se com as demais sempre haverá algum espaço para solidariedade e fraternidade, que pode tomar a forma de redistribuição organizada pelo Estado ou outras formas (caridade privada ou religiosa); 43 Inicialmente, pensávamos proceder a uma análise longitudinal sobre a evolução das condições de vida das populações beneficiárias dos programas de transferência de renda. Naquele momento, nossas referências de pesquisa empíricas de interesse eram pesquisas de painel sobre condições de vida como a Living in Germany, Living in Britain/Scotland/Walescabe, The Panel Study of Income Dynamics nos EUA e, em particular, o Luxembourg Income Study (LIS). Tendo sido abandonada a perspectiva de proceder a várias ondas da pesquisa com a mesma população (painel), para monitorar a evolução das suas condições de vida e mobilidade, deslocamo-nos para um desenho que permitisse apreender como a população brasileira acompanhava a nova institucionalidade das políticas sociais e se posicionava frente a tais mudanças na provisão de bem-estar pelo Estado. Nesse momento, as referências voltaram-se para estudos tais como o World Values Survey, citado na introdução deste relatório e mais à frente. 44 Discussões mais detalhadas de metodologias e resultados acima se encontram em Waltenberg (2011, 2013) onde também se encontra um amplo conjunto de referências. 81 As ações dos indivíduos são influenciadas por normas sociais e princípios de justiça distributiva mesmo alguém muito rico pode revelar alto apoio à redistribuição em função de preferências ideológicas fortemente arraigadas; A cooperação raramente é incondicional as pessoas tendem a ser favoráveis a controles e “contrapartidas”; As pessoas dão valor não apenas a resultados, mas também a processos não lhes interessa conhecer somente quanta pobreza ou desigualdade há, mas sim as razões pelas quais alguém tornou-se bem ou mal-sucedido em termos econômicos (por sorte/azar? por esforço/falta dele?); Proximidade social percebida é chave para determinar intensidade de preocupação com outrem terei mais propensão a redistribuir a quem eu perceba como igual a mim (linguística, religiosa, etnicamente etc.) do que a alguém que eu veja como diferente de mim; Atitudes com relação à redistribuição dependem do contexto e do “enquadramento” da situação se o nome de uma política (ex. “Bolsa Família”) transmitir a ideia de “esmola”, o apoio que receberá tenderá a ser menor do que se transmitir a ideia de “proteção social básica”; Preferências sociais são baseadas em crenças e percepções (sujeitas, portanto, a erros) serei mais favorável à redistribuição se acreditar que há muita pobreza e desigualdade injusta (pode ser que haja, mas eu creia que não as há) e também se eu acreditar que o sistema de tributação-e-gasto será eficaz (pode ser que seja, mas eu creia que não o é); Preferências sociais são endógenas cerca de quinze anos atrás, devia ser baixo o apoio médio dos brasileiros a uma política nos moldes do Bolsa Família; estando hoje os brasileiros “acostumados” com ela, o apoio é alto (Castro et al. 2009) – as preferências adaptaram-se. Quanto aos trabalhos do tipo (i) acima, isto é, os modelos econômicos, estes têm evoluído paralelamente e em estreita colaboração com os trabalhos dos demais tipos e há muito abandonaram as premissas comportamentais mais simplificadas. 82 Kuhn (2009: 2), por exemplo, afirma o seguinte: “recent theoretical work has pushed forward the idea that the amount of redistribution is essentially linked to individuals‟ beliefs about distributive justice as well as their perceptions of the determinants of inequality.” Para citar alguns exemplos dessa evolução, nos referiremos a dois modelos. O primeiro desenvolvido por Bénabou e Ok (2001) conhecido na literatura como “POUM” (Prospect of Upward Mobility) 45 baseia-se na ideia de que uma alta expectativa de mobilidade futura poderia traduzir-se em baixos níveis de apoio à redistribuição, assim as pessoas mais pobres nem sempre apoiariam políticas redistributivas porque esperam “ascender economicamente” por seus próprios meios ou por meio de sua descendência. Para os autores, essa posição é compatível com as expectativas racionais e está relacionada com uma característica do processo de mobilidade, a concavidade. Esclarecendo melhor essa última parte, existe um grupo de indivíduos com renda inferior à média que será resistente a políticas redistributivas se suas expectativas de renda esperada futura forem uma função crescente e côncava da renda atual. O segundo modelo que trazemos ao leitor foi elaborado por Alesina e Giuliano (2009) que apresentam três modelagens da função de utilidade individual: 1. Considera-se nessa função não somente a renda/consumo própria, mas também medidas de desigualdade que afetariam de forma indireta a utilidade individual, daí seu nome “desigualdade indireta”. Resumindo o modelo, os agentes não se preocupam com a desigualdade como um problema geral e porque afeta os outros, e sim porque eles mesmos poderiam ser prejudicados – por exemplo, com crimes, externalidades positivas da educação subaproveitadas. 2. Na segunda modelagem, incorporam-se diferentes visões de justiça social. Dependendo da identificação – consciente ou não – com determinada teoria, uma pessoa determinará um “nível tolerável” de desigualdade, colocando-se nos extremos e opondo os libertários e os comunistas. 45 Perspectiva de mobilidade ascendente. 83 3. Finalmente apresentam uma função de utilidade incorporando os critérios do justo e injusto –relacionando-os com a redistribuição. Aqui entram em jogo os termos amplamente usados na literatura relacionada com preferências por redistribuição: sorte/azar versus esforço. Partindo do pressuposto de que o sucesso econômico depende dos dois fatores, em nível agregado a desigualdade dependerá das diferenças entre esses elementos também. E a tolerância frente a sucessos e insucessos econômicos dependerá do quanto se acredita que se devam a sorte/azar e quanto a esforço/falta dele. Em suma, no estágio atual, a literatura econômica preocupa-se com um rol de fatores determinantes do apoio à redistribuição muito mais amplo do que 40 ou 50 anos atrás, não se restringindo à posição social de cada indivíduo, que, porém, continua a ser considerada variável relevante. Fatores que determinam o apoio à redistribuição: síntese da literatura Questões relacionadas ao conhecimento dos fatores determinantes que influenciam na postura das pessoas frente a políticas de redistribuição levaram alguns pesquisadores a realizar diversos estudos principalmente nas economias avançadas.46 Já há algum acúmulo sobre o rol de fatores que determinam tal apoio ou não, porém os motivos que levam os cidadãos nos países estudados a apoiar ou não a redistribuição é um tema que ainda não foi plenamente explicitado (FONG, 2001). Ohtake e Tomioka (2004) concordam que, apesar das interessantes implicações políticas que traz, a compreensão das preferências por redistribuição é um tema ainda pouco explorado. Boadway e Keen (1999) inserem-se no debate listando três fatores que motivam a redistribuição: 1) a busca de justiça social, 46 Entre estes trabalhos, podem ser mencionados: Alesina e Guliano (2008), Alesina e FuchsSchündeln (2006), Alesina e La Ferrara (2005), Ohtake e Tomioka (2004), Kuhn (2009), Bénabou e Tirole (2002), Bénabou e Ok (2001), Corneo e Grüner (2002), Fong (2001), Ravallion e Lokshin (2000), Piketty (1996), Meltzer e Richard (1981), Romer (1975). 84 2) a possibilidade de gerar um processo que se preocupe com a eficiência sem deixar de lado a distribuição justa dos recursos obtidos, e, 3) o autointeresse47 que pode motivar o exercício da redistribuição com o fim de obter benefícios próprios. Um quarto fator, o altruísmo, também aparece como determinante no apoio à redistribuição (Fong, 2001). Para Ohtake e Tomioka (2004) entretanto, o termo não é apropriado considerando que as pessoas ricas poderiam apoiar a redistribuição visando seu próprio interesse (logo, é a dimensão de autointeresse que prima associada ao entendimento de que as relações sociais são interdependentes). Para Bowles e Gintis (2001), além de valores altruístas, existem duas outras razões pelas quais as pessoas poderiam apoiar políticas igualitárias. A primeira é porque estas políticas constituem uma espécie de sistema de “seguridade social”. Trata-se, portanto, de uma estratégia individual de prevenção ao risco e incertezas. A motivação para contar com um seguro é consistente com as noções convencionais sobre autointeresse. A outra razão se refere à reciprocidade forte, 48 que se define “como a propensão a cooperar e compartilhar com aquelas pessoas que têm uma disposição similar, e uma vontade de punir aquelas pessoas que violentam a cooperação e outras normas sociais, mesmo quando o fato de dividir ou punir implique um custo pessoal” (Bowles e Gintis, 2001, p. 4) Esses autores oferecem um referencial teórico sobre os motivos que levariam os indivíduos a apoiar a redistribuição. Já nos trabalhos relacionados diretamente com o estudo das preferências individuais por redistribuição, à imagem de Neher (2012), observam-se evidências de outros fatores tais como valores; características pessoais socioeconômicas; normas sociais; religião; crenças sobre justiça social; assim como pelas percepções sobre os determinantes da pobreza e desigualdade; percepções de mobilidade 47 Como já salientado por várias vezes, literatura. 48 o autointeresse é um dos fatores mais estudados na Os autores denominam as pessoas que agem sob o principio da reciprocidade forte como homo reciprocans. São descritas como pessoas preocupadas pelo bem-estar dos outros, desde que os outros façam o mesmo por elas, diferenciando-se do homo economicus, por definição preocupado somente por si próprio. 85 passada e futura; aspectos culturais; contexto institucional; e, regimes de welfare state. Correndo o risco de simplificar em excesso uma ampla e rica literatura, poderíamos ainda assim sintetizar e estilizar os fatores que já foram identificados como determinantes de uma determinada postura frente a políticas redistributivas na Figura 4: Figura 4 – Síntese esquemática dos determinantes do apoio à redistribuição Fonte: Salazar (2012) Apesar de estilizada, a Figura 4 destaca a complexidade do estudo das preferências redistributivas, pois interagem diversos fatores nesse processo, configurando diferentes posturas individuais frente a políticas redistributivas. Com base no trabalho de Salazar (2012), sistematizam-se resultados de alguns estudos selecionados, de destaque na literatura. O modelo econômico considerado o mais básico de todos (cf. Alesina e Giuliano, 2009:3) que estudam as preferências por redistribuição tem a renda como fator fundamental. Para Meltzer e Richard (1981)49 isso indica que as atitudes redistributivas estão orientadas a maximizar o bem-estar individual; assim, segundo 49 Em 3.1.1 expuseram-se alguns problemas do modelo. 86 esses autores, as pessoas de menor renda apoiariam impostos mais altos e níveis maiores de redistribuição, em contraposição às pessoas de alta renda que estariam a favor de menos impostos e, portanto níveis de redistribuição inferiores. Fong (2001), como assinalado acima, chama atenção para o fato de que o autointeresse por si só não explica as preferências redistributivas. Prova disso, existem programas sociais com altos níveis de apoio, mesmo por parte das pessoas mais ricas. Logo, tal apoio se manifesta para além dos potenciais beneficiários, o que exige que se considerem outras variáveis, especialmente as socioeconômicas, essenciais para comparações entre países (Linos e West, 2003). Constatações de cunho mais geral se consolidaram, muitas delas se reforçando mutuamente, nos estudos analisados, tais como: As pessoas mais jovens, as mulheres, os solteiros e os desempregados mostram-se mais favoráveis à redistribuição (Alesina e Giuliano, 2009). Nessa mesma direção e reforçando tais observações, Gaviria (2007) 50 encontrou na América Latina evidências de que homens e pessoas casadas dão menos apoio à redistribuição, porém observou o contrário nas pessoas com um emprego. No que se refere à cor ou raça, estudos realizados nos Estados (Alesina e Giuliano, 2010) mostram haver mais resistência à redistribuição por parte das pessoas brancas. Os afroamericanos particularmente aparecem mais dispostos a redistribuir. Segundo Gaviria (2007), ao analisar 17 países da América Latina, pessoas com visão pessimista da mobilidade futura apoiariam mais a redistribuição, resultado corroborado por Londoño (2011) que analisou a situação da Colômbia. Logo, a percepção de mobilidade social, ou seja, a avaliação da situação econômica pessoal atual comparada com a situação no passado e como se projeta no futuro, parece influenciar o nível de apoio a políticas redistributivas. Na mesma linha, Alesina e La Ferrara (2005) estudaram a Estudo que pode ser considerado “pioneiro” na análise direta de preferências redistributivas na América Latina 50 87 influência das perspectivas de renda futura, da base socioeconômica e das percepções subjetivas de mobilidade e obtiveram como resultado que expectativas favoráveis de mobilidade ascendente têm efeito negativo no apoio às políticas redistributivas. A religião parece atuar sobre as preferências por redistribuição, como aparece nos estudos economistas, psicólogos e sociólogos. Stegmueller et al. (2011), Scheve e Stavasage (2006) e Bénabou e Tirole (2006) associam altos níveis de religiosidade a baixos níveis de apoio a políticas redistributivas. Para Scheve e Stasavage (2006), a religiosidade afeta as preferências por seguridade social, pois estaria relacionada a uma redução dos “custos psicológicos” manifestos por ocasião de choques econômicos (a religião agiria como um substituto de “seguridade social”). Ainda nesse tópico, Stegmueller et al. (2011: 11) obtiveram evidências empíricas de que católicos e protestantes são radicalmente contrários a políticas redistributivas por parte do Estado. A ideologia política afeta as preferências por redistribuição, como reconhecem Kaltenthaler et al. (2008). A disposição ideológica de uma pessoa (esquerda/direita) é importante para predizer o apoio a políticas redistributivas. O regime de welfare state, para Meier-Jaeger (2009), poderia influenciar a determinação de atitudes mais ou menos redistributivas. 3.3. Diretrizes para análise econométrica de apoio à redistribuição Há uma literatura ainda relativamente modesta porque recente, mas em rápida expansão, que utiliza dados (em geral secundários) para construir indicadores de “apoio à redistribuição” – também denominados indicadores de “apoio a políticas redistributivas” ou de “demanda por redistribuição”, entre outros. Por meio de tais indicadores, é possível comparar a disposição a redistribuir de cidadãos de 88 diferentes países. Com dados do World Values Survey51, por exemplo, Waltenberg (2013) verifica que, num ranking de 45 países para os quais havia dados disponíveis, em média, os residentes de países do Norte da Europa apresentam propensão bem maior a redistribuir do que os que vivem nos EUA (último colocado), confirmando, portanto, o que o senso comum nos sugere. Construídos os indicadores, a etapa seguinte costuma ser estimar os fatores determinantes de um maior ou menor apoio à redistribuição. Com os dados primários coletados pela pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, aqui em análise, é possível construir diversos indicadores e também rodar regressões que apontem quais características pessoais estão mais fortemente correlacionadas a declarar maior apoio às políticas de natureza redistributiva. A partir da Figura 4 (da seção 3.1,) que apresenta um panorama da literatura sobre o tema, é possível conceber a forma geral do modelo a ser estimado: ARi = f(X1i, X2i, X3i, X4i, X5i ,..., PSEi) (Equação 1) onde: ARi é uma variável (ou vetor de variáveis) representando o apoio à redistribuição declarado pelo indivíduo i Xki são potenciais variáveis explicativas de ARi PSEi é um vetor de variáveis caracterizadoras do perfil socioeconômico do indivíduo Em geral, a variável dependente é composta a partir das respostas dadas pelos indivíduos a diferentes questões, que costumam ser constituídas em escalas que vão de um extremo (1, associado a uma rejeição à redistribuição) ao extremo oposto (5, forte apoio à redistribuição), com opções de apoio moderado a um ou 51 A associação World Values Survey é uma rede mundial de cientistas sociais interessados no estudo de valores e seus impactos na vida política e social. A associação realiza surveys representativos em dezenas de países, utilizando metodologia e questionários comparáveis internacionalmente. Até o momento, foram realizadas cinco ondas, a primeira das quais nos anos iniciais da década de 1980; atualmente, a sexta onda (2011-2012) está sendo realizada em mais de 50 países. Para maiores informações e para acesso aos dados, veja-se: <http://www.worldvaluessurvey.org>. 89 outro ponto (2 ou 4) e um “ponto neutro” (3) que possa refletir a opinião de indivíduos com posições intermediárias ou indiferentes. As variáveis do survey conduzido no âmbito desta pesquisa sobre aversão à desigualdade foram justamente coletadas em conformidade com essa escala. A variável de apoio à redistribuição para cada indivíduo pode então ser composta, por exemplo, a partir do somatório das respostas às questões relevantes: ARi = ∑Vki (Equação 2) onde: Vki são variáveis contendo respostas às questões relevantes. Também é possível: Transformar a variável ARi para facilitar a interpretação de resultados ou para adaptá-la à forma funcional exigida por um modelo (ex. restringi-la ao intervalo [0,1]). Usar subconjuntos de variáveis para testes de robustez dos resultados encontrados. Dada a riqueza da base obtida por este survey, é possível criar uma série de subconjuntos, e também avaliar cada variável separadamente. Criar variáveis indicadoras de questionamentos específicos, como o grau de apoio a políticas universais versus focalizadas, ou o grau de apoio às contrapartidas e condicionalidades das políticas focalizadas etc.. As variáveis independentes foram criadas a partir de respostas a questões que revelem: interpretação das causas presumidas da pobreza e da desigualdade; identificação maior ou menor com critérios de distribuição baseados no mérito ou segundo necessidades; percepção de mobilidade passada e futura etc.; nos moldes do que se apresenta na Figura 4 (seção 3.1). Além dessas variáveis, é comum incluir um vetor de variáveis que representarão o autointeresse do indivíduo em questão (ex. se é rico, se tem nível alto de instrução, se está satisfeito com a vida, se é ou não beneficiário de algum programa de natureza claramente redistributiva, como o Bolsa Família, etc.) ou variáveis de controle nas estimações estatísticas (ex. sexo, cor, renda, localização geográfica etc.). Em nossa base, dispomos de uma série de variáveis deste tipo. 90 Também é desejável em alguns casos trabalhar com variáveis relativas a políticas específicas, uma vez que o apoio à redistribuição expresso em termos abstratos pode não se confirmar quando se tratar de algo concreto (ou, ao contrário, revelar-se maior no caso concreto que no caso abstrato). Exemplos: grau de apoio ao programa Bolsa Família (APBF); grau de apoio à Renda Básica de Cidadania (ARBC); grau de apoio ao Benefício de Prestação Continuada (ABPC). Variáveis desse tipo podem ser utilizadas de diferentes maneiras: Podem substituir ARi em nosso modelo. Pode-se descrever o grau de correlação entre AR, APBF, ARBC, ABPC e afins. Por fim, também se pode estimar modelo que relacione apoio abstrato à redistribuição, expresso por AR, e o apoio concreto a um programa real, APBF, tal como segue: APBF i = f(Xki, PSE i, ARi) (Equação 3) 3.4. Análise econométrica: metodologia geral Nas análises de modelos econométricos na área de aversão de desigualdade costuma-se utilizar o método de estimação por mínimos quadrados ordinários para variáveis resposta contínuas, e quando a variável resposta é binária, utilizam-se métodos como logit ou probit. No que se refere ao tratamento dos dados, a maior preocupação diz respeito à tentativa de se construírem bons indicadores de apoio à redistribuição que não desperdicem observações em demasia. Ademais, é comum que se apresentem resultados de diferentes especificações – logo utilizando diferentes metodologias - e com correções para heterocedasticidade, no caso de modelos para variáveis contínuas. Nos modelos apresentados na seção 3.5, privilegiamos o tratamento predominante na literatura especializada, utilizando mínimos quadrados ordinários com correção de White para heterocedasticidade. Além disso as variáveis resposta construídas para estes modelos tratam de um índice construído pelo somatório de 91 variáveis relevantes logo depois sendo padronizada – ver maiores detalhes nestas seções. Os dados, entretanto, permitem também recorrer ao menos a uma técnica um pouco mais sofisticada, que é o probit ordenado – como na seção 3.4. Esta metodologia está descrita em detalhes na próxima seção. 3.4.1. Logit e Probit: Caso Binomial52 Nesta abordagem, a variável resposta Y é uma variável binária que pode ser expressa pelos valores “0” ou “1”: “1” indica sucesso na ocorrência de um determinado evento e “0” indica insucesso/falha. Portanto, Y tem distribuição binomial. Os modelos mais comuns aplicados quando se tem uma variável resposta binomial são os de regressão logística ou o modelo probit. Essas duas modelagens são equivalentes e diferem pelo tipo de função de ligação utilizada, que é a função que lineariza a relação entre Y e as variáveis independentes. O Modelo Logit: Considere que Y é uma variável categórica binária com valores 0 ou 1, como descrito acima. Seja X uma variável independente quantitativa, então π(x) representa a probabilidade de sucesso quando X tem um valor qualquer x, logo π(x) = Pr(Y = 1 | X = x). No modelo de regressão logística, a relação entre a Y e X, é ditada pela função de ligação logit: ln(P / (1- P)). Portanto o modelo logístico (ou logit) é dado pela forma: E(Y | X) = Pr(Y = 1 | X) = logit [ π(x) ] = ln 52 = (α + βX) , Referências para esse capítulo: Agresti (2002), Greene (2003) e Baum, C. F.( 2006). 92 ou, de maneira mais geral, considerando que x representa a matriz composta por todas as variáveis independentes, e β é vetor de coeficientes associados aos preditores x, o modelo de regressão logística para o i-ésimo indivíduo é: ln . O Modelo Probit: O uso do modelo probit é aconselhável quando se supõe que os dados estejam normalmente distribuídos – ou seja, o modelo probit assume que os erros seguem uma distribuição normal padrão enquanto o logit assume que os erros seguem uma distribuição logística padrão. Dessa forma, a função de ligação adotada é a inversa da função de distribuição cumulativa (f.d.c.) de uma Normal Padronizada – N( 0, 1) – e com isso, o modelo probit é escrito da forma: E(Y | X) = Pr(Y = 1 | X) = probit [ π(x) ] = Φ (α + βX) . onde Φ é a f.d.c. da distribuição normal padrão. Ou, de maneira mais geral, o modelo de regressão probit para o i-ésimo indivíduo é: . Quando a função probit é utilizada, π(x) é transformada para o escore de uma normal padronizada de forma que as probabilidades ajustadas pelo modelo irão representar a probabilidade na calda esquerda da distribuição normal. O uso de modelos para variáveis binárias utilizando a função de ligação probit produz resultados equivalentes ao mesmo modelo utilizando o logit – os parâmetros estimados serão diferentes, mas seus efeitos sobre Y são equivalentes. O uso mais frequente do logit se dá por suas propriedades e sua fácil interpretação. Um modelo de regressão logística equivale a um modelo linear para o logaritmo das chances – log-odds – de ocorrência do evento em estudo, que por sua vez se define como o logaritmo do número esperado de sucesso para cada falha: 93 =exp( α + β x). Odds = chances = Dessa forma, um aumento unitário em x, causa um aumento multiplicativo nas chances de ocorrência de exp(β). Pela expressão do logaritmo das chances, log(odds) = log(chances) = ln , pode-se calcular as probabilidades estimadas pelo modelo, da forma: . A interpretação dos coeficientes estimados pelo modelo probit é mais complexa e em geral é feita através do cálculo dos efeitos marginais de cada variável explicativa, para valores fixados das demais variáveis, da forma: . O efeito marginal representa o quanto muda na probabilidade de ocorrência do evento para um aumento percentual em x – como semi-elasticidades. 3.4.2. Caso Multinomial Considere agora que a variável resposta Y é uma variável categórica medida na escala ordinal, tal que Y = 1, 2, … J, portanto, a ordenação natural das suas categorias (j, sendo J o número total de categorias) é relevante. Suponha que o objetivo é modelar a relação entre Y e um conjunto de variáveis explicativas x. Para tal, emprega-se uma generalização da modelagem do caso binomial utilizando a abordagem de modelos logit ou probit ordenados, que incorporam a ordenação da variável resposta através do uso dos logits das probabilidades acumuladas. Essas probabilidades refletem a probabilidade de se estar numa dada categoria ou abaixo dela, e são definidas como: 94 Pr ( Y ≤ j | x ) = , j = 1 … J. E os logits acumulados, como: Logit [ Pr ( Y ≤ j | x ) ] = = . A ideia é modelar de forma simultânea todos os logits acumulados de forma que Logit [ Pr ( Y ≤ j | x ) ] = . Logo, cada logit – referente a cada categoria j – terá seu próprio intercepto αj que são crescentes em j. Já os efeitos das variáveis independentes, β são comuns a todas as categorias. Essa abordagem é chamada de Modelo de Chances Proporcionais (proportional odss model). Esse tipo de modelo é estimado via máxima verossimilhança, estimando assim os determinantes da probabilidade de um indivíduo ser, contextualizando, mais ou menos a favor de políticas redistributivas, identificando então quais as variáveis que elevam ou reduzem o grau de aversão à desigualdade. A abordagem de variáveis latentes também pode ser adotada para modelagem como esta que estamos interessados em realizar. Considere então o modelo: onde Y* é a variável latente, não observada, que em nosso estudo poderia reflete o verdadeiro grau de aversão à desigualdade ou o verdadeiro apoio à medidas redistributivas de cada indivíduo; x e β são como definidos acima e ε é o vetor dos resíduos. Para o caso multinomial, Y* está subdividida por múltiplos pontos de corte αj, tal que: Se Se Se 95 … Se A variável Y agora é, então, definida como o escore observado, representando assim o grau relativo de aversão à desigualdade e os αj são (J – 1) parâmetros que deverão ser estimados pelo modelo, junto à estimação dos parâmetros β . Retomando a questão em estudo, e considerando que Y reflete o grau de concordância a uma das afirmações feitas no questionário segundo uma escala Likert de 1 a 5, podemos então estimar as probabilidades de um indivíduo atingir cada grau da escala de maneira que: tal que α1 < α2 < α3 < α4 < α5 Se (Equação 4). for a função de ligação logit, então temos o modelo de chances proporcionais , e se for Φ, é a f.d.c. da distribuição normal padrão, então teremos o modelo probit ordenado. 96 . Este será adequado para quando Y* puder ser considerada como seguindo a distribuição normal e sua interpretação permite interpretações diretas dos efeitos de x em E(Y*). Note-se, no entanto, o sinal negativo antes do preditor linear nos modelos de variável latente acima. Isso significa que, quando β > 0, conforme x aumenta, cada logit acumulado decresce e com isso Y tenderá a ser maior para maiores valores de x. Outra maneira de se interpretarem os efeitos marginais do modelo é que um aumento em x, aumenta a propensão de que o indivíduo passará de uma categoria para a próxima, adjacente – o modelo permite também o cálculo dos efeitos marginais médios. 3.5. Apoio à redistribuição através da construção de perfis socioeconômicos via estimação por probit ordenado Nessa seção, busca-se estabelecer um perfil (ou perfis) sociodemográfico daqueles que tendem a apoiar a redistribuição. Para isso, procedeu-se à seleção de algumas variáveis dependentes que se pretende estudar via modelos logit e probit conforme descrito acima. a. Variáveis Dependentes: Com o objetivo de determinar um perfil social em função do grau de apoio a medidas redistributivas e à igualdade, das 26 variáveis que compõem o bloco das questões “V”, e que estão listadas na Tabela 21, foram escolhidas como dependentes em potencial as seguintes variáveis : 97 Tabela 21 – Variáveis escolhidas para compor a análise dos determinantes do apoio à intervenção do Estado no combate à pobreza e na defesa de direitos sem condicionalidades Variável V1 V2 V3 V8 V18 V19 V20 Maior apoio: O governo deve intervir para reduzir as desigualdades entre ricos e pobres. O governo é o principal responsável em assegurar o bem-estar dos mais pobres. Pobres devem ser ajudados primeiramente pelo governo. As mulheres pobres que recebem o Bolsa Família: Não vão querer ter mais filhos só para poder receber mais benefícios em dinheiro. É desnecessário obrigar as crianças pobres a frequentar escola e postos de saúde para receber o Bolsa Família. Não se deve obrigar os adultos a trabalhar para receber o benefício. O Programa Brasil Sem Miséria garante remédios de graça só para crianças de famílias miseráveis: Isto é errado. Todas as crianças que precisam deveriam receber remédios de graça. Fonte: Questionário do survey da pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira Na Tabela 21 estão listadas frases que indicam: a) aprovação da intervenção do Estado no combate à pobreza; b) requerimentos e condicionalidades impostos aos pobres beneficiários dos programas públicos focalizados de combate à miséria. Essas variáveis foram consideradas em três formatos possíveis: i. Como uma variável dummy, indicando resposta igual a “5”; ii. Como uma variável dummy, indicando respostas iguais a “4” ou “5” (unidas); iii. Como uma variável ordenada com valores de “1” a “5”. b. Variáveis Independentes: Como variáveis independentes, foram considerados dois blocos principais, levando em consideração os resultados já confirmados também em estudos similares em âmbito internacional: 98 I. Bloco 1 - Variáveis demográficas e sociais (ou de auto-interesse): i. Sexo do respondente – com variável indicadora para mulher; ii. Idade – variável contínua; iii. Situação conjugal – com variável indicadora para casados; iv. Cor – variável categórica para cor ou raça, com três categorias: branco, pretos ou pardos, e outros (categoria de referência); v. Escolaridade concluída – variável categórica para os níveis de educação considerando quatro níveis: até a primeira fase do fundamental ou fundamental incompleto (categoria de referência), fundamental completo, ensino médio completo, nível superior e pós-graduação completos; vi. Religião – variável categórica refletindo as categorias: católico, protestante, sem religião, ateu e outras religiões como categoria de referência; viii. Ocupação – variável categórica para os níveis: empregado formal, empregado informal, autônomo, empregador, de um lado; e para os grupos fora do mercado de trabalho, a saber do lar, estudantes, desempregados e aposentados, estas duas últimas como categoria de referência. ix. Renda familiar - variável categórica refletindo os níveis como na análise descritiva, logo agrupando aqueles com renda acima de R$ 5.000, sendo esta a categoria de referência. xi. Região geográfica – variável categórica para as macrorregiões, considerando como categoria de referência a Região Sul. II. Bloco 2: i. Variável Esforço: variável indicando grau de concordância com a hipótese de que a pobreza é causada mais por falta esforço do que de oportunidade; ii. Variável de Mobilidade Passada: variável indicando o escore de se observou mobilidade para si no passado (Mob_passada – com base na pergunta M1 do questionário); 99 iii. Variável de Mobilidade Futura: variável indicando o escore de se antever para si mobilidade no futuro (Mob_futura – com base na pergunta M2). Quanto maior o escore, mais otimista; iv. Variável Satisfação: variável construída com base na questão S1 do questionário que reflete o quão satisfeito o respondente está com a vida. v. Variável de Apoio a Medidas Redistributivas: variável construída somando os escores das variáveis V23 e V24 de forma a refletir um maior ou menor grau de apoio a medidas redistributivas. III. Bloco 3: Apenas para os modelos V8, V18 e V19. i. BF: variável indicadora para beneficiário do Bolsa Família (ou programas de transferência de renda) ii. Conhece Beneficiário: variável indicadora no caso de o indivíduo conhecer algum beneficiário do Bolsa Família. c. Estratégia de Modelagem: Nessa etapa da modelagem, serão utilizadas as metodologias de estimação via modelos logit/probit simples e logit/probit ordenados da seguinte forma: Para cada uma das variáveis dependentes (separadamente) e considerando todas as variáveis independentes do Bloco 1, um modelo completo via estimação logit para a probabilidade de respostas “4” ou “5”, foi considerado, logo: Pr(Y =(4 ou 5) | X) = logit [ π(x) ] = ln = , Este modelo então permitiu a seleção das variáveis independentes significativas (consideramos aqui o nível de 10%). Um segundo modelo reduzido, contendo apenas variáveis significativas, foi então avaliado via estimação logit (gerando as chances) e probit (gerando os efeitos marginais). 100 Após ter chegado a um modelo final para as variáveis do Bloco 1, as variáveis do Bloco 2 foram então inseridas no modelo e tiveram seu grau de significância acessado. Foi então considerado um modelo final via estimação de logit e probit ordenados, conforme a Equação 4, portanto utilizando a variável dependente com escores de “1” a “5”, para cada uma das variáveis dependentes. Essa última etapa permite a descrição de perfis específicos de maior ou menor probabilidade de apoiar a redistribuição. 3.5.1. Resultados Econométricos A. Teste para o Reconhecimento do Papel Central do Estado na Provisão de Bem-estar A seguir, são comentados os resultados para os testes de estimação do reconhecimento do papel, relevante e insubstituível do Estado no combate à pobreza e na promoção do bem-estar coletivo. Inicialmente foram consideradas três possíveis variáveis dependentes que indagam sobre o papel do Estado na redistribuição de renda e bem-estar e na provisão de serviços públicos: V1, V2 e V3. No entanto, optamos por demonstrar apenas os resultados do modelo estimado para V2 por ter sido esse o resultado mais robusto e mais significativo. Os resultados de cada passo da seleção do modelo final estão apresentados na Tabela 4.1 do Anexo 4. A Tabela 22, abaixo, apresenta os principais efeitos significativos deste modelo. 101 Tabela 22 – Modelagem Logit e Probit – V2 "O governo é o principal responsável em assegurar o bem-estar dos mais pobres." Mobilidade Social, Satisfação com a Vida , Apoio à medidas Universais, Sorte Vs Esforço Logit V2_45 Probit Completo Reduzido (Odds_Ratio) 0.5134** 0.6251*** 1.8684*** 0.1332*** De R$ 1.001,00 a R$ 2.000,00 0.2879 0.3575** 1.4298** 0.0797** De R$ 2.001,00 a R$ 3.000,00 0.4587** 0.4920** 1.6355** 0.1069*** De R$ 3.001,00 a R$ 4.000,00 0.0229 0.0438 1.0448 0.0114 De R$ 4.001,00 a R$ 5.000,00 0.2187 0.2378 1.2685 0.0543 Centro-Oeste 0.2743 0.2542 1.2894 0.0561 Nordeste 0.8803*** 0.8555*** 2.3526*** 0.1772*** Norte 0.6362*** 0.6067*** 1.8343*** 0.1269*** Sudeste 0.6342*** 0.6217*** 1.8621*** 0.1308*** Menos do que R$ 1.000,00 Satisfação com a Vida (Efeitos Marginais) 0.0226 Falta de Esforço -0.6336*** -0.6369*** 0.5289*** -0.1357*** Apoio ao universalismo -0.0548*** -0.0551*** 0.9464*** -0.0122*** Mobilidade Passada -0.1087 Mobilidade Futura 0.2325*** 0.1886*** 1.2076*** 0.0416*** 1866 1866 1866 1866 N * p<0.10, ** p<0.05, *** p<0.01 Notam-se efeitos significativos da renda familiar e das regiões geográficas nos resultados: indivíduos com faixas de renda familiar mais baixas (inferior a R$ 3.000 mensais) são, aqui, mais propensos a ver no Estado um agente de promoção de mais igualdade, tal como ocorre com os indivíduos no Sudeste, Nordeste e Norte. Observe-se que há uma forte correlação da renda nos resultados plotados, pois os maiores coeficientes de apoio à intervenção do Estado foram registrados para os grupos de menor renda. Assim, a Tabela 22 indica que, no caso da faixa de renda familiar, o coeficiente mais alto é justamente referido a pessoas vivendo em famílias com renda familiar na faixa inferior, de no máximo R$ 1.000 mensais (efeito marginal 0,1332), o mesmo ocorrendo no caso da região Nordeste (efeito marginal de 0,1772), cuja renda domiciliar per capita média, segundo a PNAD 2011, segue sendo a mais baixa do país (R$ 338,00 mensais, contra uma média brasileira de R$ 576,00). 102 Quanto às variáveis independentes do bloco 2,verifica-se aqui o efeito significativo, porém, negativo para as variáveis falta de esforço (e.m.53 = -0,1357) e apoio a políticas universais (e.m. = -0,0122) – que é a soma das variáveis V23 e V24. Dito de outra maneira, aqueles que acreditam que a pobreza é causada por falta de esforço são menos favoráveis à intervenção do Estado para dirimir desigualdades e atenuar a miséria. Predomina aqui a lógica da responsabilização individual pela condição social. Já os mais francamente defensores de políticas de cunho universalista apóiam a intervenção do Estado no combate à pobreza. Os otimistas quanto à sua mobilidade social futura mostram-se mais propensos (e.m. = 0,0416) a concordar que o governo é o principal responsável em assegurar o bemestar dos mais pobres. Podemos supor que isso traduziria uma percepção fundada numa avaliação favorável da conjuntura atual que vive o país, de crescimento econômico com sobra fiscal, o que permitiria ao Estado dispor de recursos fiscais para financiar o combate à pobreza. Ou apenas, tal resultado indica que ao estar melhor, um cidadão médio, dadas suas preferências sociais de solidariedade e fraternidade, aceite que os mais destituídos também sejam alcançados por políticas públicas. A próxima Tabela 23, apresenta perfis diferenciados, com menores e maiores probabilidades estimadas, para uma dada resposta, construídos com base na modelagem de probits ordenados. Os escores de "1" a "5" são as respostas para cada questão. Para cada perfil, a primeira linha de dados contém a probabilidade predita pelo modelo, e a segunda linha contém a "Estatística t" que indica o grau de significância dessas probabilidades. Os dois primeiros perfis foram construídos com base nos resultados de cada modelo e os dois últimos são comuns a todos os modelos, apenas comparando as probabilidades entre regiões geográficas. O primeiro perfil é aquele menos favorável à redistribuição, ou seja, com menores probabilidades preditas para a respostas 5, do que os no segundo perfil. O perfil mais favorável é: 53 A partir deste ponto, e.m. se refere à efeito marginal para a variável relatada. 103 Apóiam “O governo é o principal responsável em assegurar o bem-estar dos mais pobres”: Renda familiar menor que R$3.000; nas regiões Norte-Nordeste e Sudeste. Nota-se também que, em média, os indivíduos no Norte-Nordeste tendem a ter maiores probabilidades estimadas para a categoria 5. Portanto, julgam que o governo tem papel predominante no combate à pobreza. Tais resultados corroboram aqueles já estimados anteriormente e apresentados na Tabela 22. Tabela 23 – Perfis com base nas probabilidades estimadas – V2 Os pobres são os principais responsáveis pelo seu próprio bemestar. 1 Renda familiar maior que R$3.000,00 e Regiões Centro-Sul 2 O governo é o principal responsável em assegurar o bem-estar dos mais pobres. 3 4 5 0.244 (4.75) 0.0944 (10.81) 0.182 (17.43) 0.198 (23.37) 0.282 (5.13) 0.00151 (0.74) 0.00208 (8.09) 0.00958 (10.82) 0.0319 (13.41) 0.955 (24.18) no Norte e 0.0326 (2.69) 0.0259 (9.30) 0.0772 (13.54) 0.148 (17.39) 0.717 (12.93) Indivíduo médio no Sul e Sudeste 0.19 (10.93) 0.0838 (10.55) 0.173 (16.72) 0.206 (22.25) 0.347 (15.24) Renda familiar menor que R$3.000,00 e Regiões NorteNordeste e Sudeste 54 Indivíduo médio Nordeste B. Teste para a Necessidade de Direitos sem Exigências de Contrapartidas ou Compulsoriedade Um dos valores de justiça social a serem testados neste exercício, é a aceitação por parte do indivíduo médio do reconhecimento de que direitos devem ser assegurados aos mais pobres sem contrapartidas compulsórias de qualquer espécie. Como na análise anterior, havia três variáveis potenciais a serem testadas: 54 Definição para indivíduo médio: É o perfil que considera os valores médios de todas as variáveis independentes do modelo apenas diferenciando estar nas regiões mais favorecidas do Sul ou nas menos afluentes do Norte. 104 V8, V18 e V19. A V18 foi a variável cujos resultados mostram-se mais interessantes e significantes. A Tabela 24 resume os principais efeitos encontrados (ver Tabela 3.2 em anexo para maiores detalhes de como este modelo foi selecionado). Tabela 24 – Modelagem Logit e Probit – V18 "É desnecessário obrigar as crianças pobres a frequentar escola e postos de saúde para receber o Bolsa Família." Mobilidade Social, Satisfação com a Vida , Apoio a Medidas Universais, Sorte Vs Esforço Mulher Idade Brancos Pretos ou Pardos Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Satisfação com a Vida Falta de Esforço Apoio ao universalismo Mobilidade Passada Mobilidade Futura N * p<0.10, ** p<0.05, *** p<0.01 V18_45 Completo Reduzido -0.3203** -0.3112* -0.0145*** -0.0135** 1.6161 1.6271 1.8536* 1.8674* -0.7998*** -0.7773*** -1.1039*** -1.1122*** -1.5201*** -1.5432*** -0.6166*** -0.6122*** 0.1831* 0.1691* -0.0654 -0.0292 -0.1949* -0.2416*** -0.1568 1860 1860 Logit (Odds_Ratio) 0.7325* 0.9866** 5.0888 6.4717* 0.4597*** 0.3288*** 0.2137*** 0.5421*** 1.1842* Probit (Efeitos Marginais) -0.0252* -0.0010** 0.1343 0.1287** -0.0525*** -0.0728*** -0.0856*** -0.0439*** 0.0124* 0.7854*** -0.0189** 1860 1860 Indagando agora sobre as condicionalidades do programa, ou melhor, se “é desnecessário obrigar as crianças pobres a frequentar escola e postos de saúde para receber o Bolsa Família”, nota-se que mulheres são menos propensas (e.m. = -0,0252) a contestar as condicionalidades do programa, ponto de vista também compartilhado pelas pessoas mais idosas (e.m. = -0,0010). Os indivíduos de raça preta ou parda são o único grupo da categoria cor/raça que se mostra contrário a adoção de condicionalidades. (e.m. = 0,1287). Quando comparados aos indivíduos da região Sul, os moradores de todas as demais regiões são mais propensos a apoiar as condicionalidades. Duas das variáveis independentes do bloco 2 foram significativas aqui: os indivíduos que se julgam muitíssimo satisfeitos com suas vidas são mais propensos (e.m. = 0,0124) a se posicionar contra as condicionalidades do Bolsa Família, talvez por estarem nessa conjuntura exercendo seus valores fraternos com mais facilidade. 105 No entanto aqueles que julgam suas vidas melhores hoje do que há cinco anos, são mais favoráveis a implementação de medidas de controle (e.m. = -0,0189). Com base nessa modelagem e como exposto na Tabela 25, construíram-se alguns perfis. Nota-se que para os perfis apresentados, a variável idade foi mantida no valor médio. O gráfico 24 apresenta, de forma comparativa, o efeito da idade nas probabilidades estimadas dos dois primeiros perfis desta tabela. Podemos concluir que: Os que apoiam mais a assertiva “É desnecessário obrigar as crianças pobres a frequentar escola e postos de saúde para receber o Bolsa Família.”, portanto, os mais contrários à aplicação de condicionalidades são: homem, preto ou pardo, morador das regiões Sul e Sudeste. Já o contrário, os que mais apóiam as condicionalidades são: mulher; branca; vivendo no NorteNordeste. De qualquer forma é importante realçar que a tendência maior (para ambos os grupos) é de apoio à manutenção das contrapartidas para pagamento dos benefícios do Bolsa Família. No gráfico 25 revela que, ao contrário do que se poderia esperar, não há um perfil claro de cidadão radicalmente oposto à imposição de condicionalidades e controles sobre os beneficiários do Bolsa Família. De uma maneira geral, o gráfico confirma que os indivíduos tendem a concordar com as condicionalidades do Bolsa Família. O gráfico 25 também revela que o apoio às condicionalidades aumenta de forma linear com a idade. Quanto mais velhos, mais favoráveis a controles mostram-se os indivíduos. 106 Tabela 25 – Perfis com base nas probabilidades estimadas – V18 V18 Mulher, branca, Norte-Nordeste Deve ser obrigatório aos beneficiários do Bolsa Família freqüentar escola e postos de saúde para receber os benefícios. 1 2 0.85 0.0767 (26.15) (20.92) É desnecessário obrigar as crianças pobres a freqüentar escola e postos de saúde para receber o Bolsa Família. 3 0.0362 (15.68) 4 0.0203 (13.77) 5 0.0166 (2.73) Homem, preto ou pardo no Sul e Sudeste 0.455 (8.69) 0.164 (16.30) 0.119 (12.79) 0.098 (11.14) 0.163 (4.87) Indivíduo médio no Norte-Nordeste 0.834 (26.27) 0.0832 (20.60) 0.0403 (15.48) 0.0231 (13.59) 0.0197 (3.06) Indivíduo médio no Sul e Sudeste 0.483 (10.06) 0.162 (16.53) 0.115 (12.94) 0.0925 (11.28) 0.147 (5.11) 1 .8 .6 .4 .2 0 0 .2 .4 .6 .8 1 Gráfico 24 – Efeito da Idade na mudança das probabilidades estimadas – V18 20 40 60 80 20 40 Perfil 1 60 80 Perfil 2 pr(1) pr(3) pr(5) pr(2) pr(4) Para as análises acima não consideramos o fato de o indivíduo ser ou não beneficiário do Bolsa Família, distinção essa contemplada no questionário da nossa pesquisa. Vamos então, aqui, fazer uma breve análise se há diferenças significativas 107 entre beneficiários e não beneficiários no que diz respeito ao apoio às condicionalidades do programa. À imagem do modelo da V18, não verificamos efeito da dummy ser ou não beneficiário do BF. Ao contrário, consideramos o teste de outra variável que indica se o indivíduo conhece algum beneficiário do programa ou não. O resultado mostra um coeficiente negativo (-0,2258). Portanto, conhecer um beneficiário do programa Bolsa Família não contribui para modificar o entendimento de que controles e condicionalidades seriam desnecessários. Assim, ao invés dos resultados observados em pesquisas internacionais, relações de proximidade não permitem reconhecer os mais pobres como detentores de direitos, a menos que cumpram com obrigações que lhes são impostas. Para uma melhor visualização deste efeito foram construídos novos perfis com probabilidades estimadas na tabela 26, considerando o indivíduo médio, apenas diferindo pelo fato de conhecer ou não um beneficiário do BF. Observamos que as probabilidades são em geral maiores para as respostas "1" do que para as "5" e que variam com o fato de se conhecer ou não um beneficiário. Note ainda que a intensidade dessas probabilidades varia com a região geográfica. Por exemplo, quem conhece um beneficiário e morador da região Norte-Nordeste tem uma probabilidade maior (83%) de apoiar a manutenção das condicionalidades e controles do que quem vive na região Sul-Sudeste (52%). Ou seja, quanto mais pobre a região, maior o apoio às condicionalidades sobre os pobres, o que não deixa de ser surpreendente! 108 Tabela 26 – Perfis com base nas probabilidades estimadas – V18 V18 Conhece Beneficiários do BF Deve ser obrigatório aos beneficiários do Bolsa Família frequentar escola e postos de saúde para receber os benefícios. 1 2 0.754 0.111 (60.06) (19.30) É desnecessário obrigar as crianças pobres a frequentar escola e postos de saúde para receber o Bolsa Família. 3 0.0602 (14.78) 4 0.0376 (12.99) 5 0.0365 (8.09) Não Conhece Beneficiários do BF 0.678 (36.07) 0.133 (18.37) 0.078 (14.19) 0.0527 (12.45) 0.0585 (7.67) Conhece Beneficiários do BF , Norte e Nordeste 0.835 (26.25) 0.083 (20.58) 0.0402 (15.58) 0.0228 (13.72) 0.0188 (3.01) Não Conhece Beneficiários do BF, Norte e Nordeste 0.773 (17.42) 0.105 (19.57) 0.0556 (14.95) 0.0341 (13.14) 0.0319 (2.89) Conhece Beneficiários do BF, Sul e Sudeste 0.524 (10.63) 0.16 (16.84) 0.109 (13.21) 0.0848 (11.55) 0.122 (4.69) Não Conhece Beneficiários do BF, Sul e Sudeste 0.434 (8.63) 0.165 (16.05) 0.123 (12.70) 0.103 (11.09) 0.174 (5.12) A variável idade tem efeito negativo sobre a curva para as probabilidades de resposta "5", indicando que indivíduos mais jovens têm probabilidade, em média, mais alta do que indivíduos de maior idade em não apoiar as condicionalidades (ver gráfico 24.1). 109 1 .8 .6 .4 .2 0 0 .2 .4 .6 .8 1 Gráfico 24.1 – Efeito da Idade na mudança das probabilidades estimadas – V18 20 40 60 Não conhece beneficiário 80 pr(1) 20 40 60 Conhece beneficiário 80 pr(5) 3.6. Modelagem por MQO: Índice composto para o apoio às ações do Estado e defesa de política universais Nesta subseção temos como objetivo investigar, através de novos exercícios de modelagem, os efeitos conjuntos de algumas variáveis consideradas na seção 3.4 focando na correlação entre pares das quatro dimensões estudadas: defesa das políticas universais, reconhecimento do papel central do Estado na provisão de bemestar, reconhecimento do direito incondicional de obter renda compensatória por todos que sofrem privações e de adesão ao princípio da progressividade no financiamento da provisão de bem-estar. Para isto, procedemos com testes distintos dos desenvolvidos nos itens anteriores. Trata-se de eleger uma variável dependente contínua, como será descrito abaixo. 110 A. Índice composto para apoio às ações do Estado na provisão de bemestar e combate à pobreza e à desigualdade Para compor o índice de apoio às ações do Estado (AE), considerou-se a soma das respostas para as variáveis abaixo: V1: O governo deve intervir para reduzir as desigualdades entre ricos e pobres. V2: O governo é o principal responsável em assegurar o bem-estar dos mais pobres. V3 Pobres devem ser ajudados primeiramente pelo governo. V11: O governo deve se responsabilizar pela oferta de creches. V21: Se o governo quiser, tem meios de erradicar a miséria no Brasil. Sendo assim o índice AE individual, é como segue: AEi = V1i + V2 i + V3i + V11i + V21i. Este índice foi padronizado – ou seja, transformado para ter média zero e variância 1 por questão de simplicidade. Inspecionamos o histograma suavizado por curva de densidade para deste índice e este apresentou comportamento próximo ao de uma curva normal (Gráfico 25), e com truncamento do lado direito em função da grande quantidade de indivíduos que deram apoio máximo às ações do Estado (valor 5) em todas as questões. 111 0 .2 Density .4 .6 Gráfico 25 – Índice de Apoio a medidas de combate a pobreza e desigualdade de distribuição de renda realizadas pelo Estado: Histograma suavizado -4 -2 0 Standardized values of (Y) 2 Para esta etapa da modelagem consideramos o seguinte rol de variáveis independentes: V6: O indivíduo prefere pagar mais imposto e ter mais saúde e educação públicas. V8: As mulheres pobres que recebem o Bolsa Família vão querer ter mais filhos só para poder receber mais benefícios em dinheiro (utilizou-se nesse sentido, para melhor interpretação). V9: As pessoas mais ricas devem pagar uma porção maior de sua renda em impostos do que as pessoas com rendas mais baixas. V10: Idade mínima para aposentadoria deve variar segundo condições de trabalho e saúde. 112 V18: É necessário obrigar as crianças pobres a frequentar escola e postos de saúde para receber o Bolsa Família dinheiro (utilizou-se nesse sentido, para melhor interpretação). V19: Deve-se obrigar os adultos a trabalhar para receber o benefício do Bolsa Família Q14: Variável indicadora para beneficiário de programas de transferência de renda. V22: Substituição do Bolsa Família por um benefício único de R$ 50 para todos os brasileiros. Essas variáveis serão testadas em dois diferentes blocos, logo, definindo dois modelos diferentes: Modelo para a relação entre apoio à focalização versus à universalidade das políticas públicas e apoio às ações do Estado: Variável dependente é o índice de apoio às ações do governo e as variáveis independentes são V8, V18, V19 e Q14; Modelo para a relação entre apoio ao princípio da progressividade e apoio às ações do Estado: Variável dependente é o índice de apoio às ações do governo e as variáveis independentes são V6, V9, V10 e V22. Os resultados para os dois modelos estão expostos na Tabela 28. Para se chegar aos resultados expostos, adotou-se a seguinte estratégia de seleção do modelo: num primeiro passo, as variáveis independentes foram incluídas, separadamente, uma a uma para se testar o efeito individual. Verificou-se que a variável indicadora para beneficiário e a variável para renda cidadã não mostraram coeficientes significativos em seus respectivos modelos. O próximo passo foi o de considerar as variáveis independentes de forma conjunta e por fim incluindo: Idade, Educação, Faixa de Renda Familiar, Cor e Região. As variáveis com efeitos significativos, nos dois modelos, estão na Tabela 27. 113 Tabela 27 – Dois Modelos para Índice de Apoio às Medidas do Estado: Focalização e Progressividade Y = Intervenção do Governo na Promoção do Bem-estar ( V1 + V2 + V3 + V11 + V21) Modelo Modelo Focalização Progressividade "As mulheres pobres que recebem o Bolsa Família: Vão querer ter -0.0529*** mais filhos só para receber mais dinheiro do governo" "Só deve receber o Bolsa Família: O adulto que estiver trabalhando 0.0428** ou procurando emprego." "Pagar mais imposto e ter mais saúde e educação públicas" 0.0456** “As pessoas mais ricas devem pagar uma porção maior de sua renda 0.0952*** em impostos do que as pessoas com rendas mais baixas.” "Idade mínima para aposentadoria deve variar segundo condições 0.0312** de trabalho e saúde" Idade -0.0035** -0.0050*** Escolaridade: Superior ou Pós-graduação -0.1182* -0.1394** Nordeste 0.6507*** 0.5500*** Norte 0.6543*** 0.5936*** Sudeste 0.3881*** 0.3393*** Sul 0.1628* 0.1295 _cons -0.5458*** -0.7680*** N 1851 1849 2 R 6% 8% * p<0.10, ** p<0.05, *** p<0.01 Pelos resultados expostos, na Tabela 28, pode-se concluir o seguinte: Modelo Focalização: Quanto maior a crença de que mulheres beneficiárias do Bolsa Família decidirão ter mais filhos com o intuito exclusivo de poder aumentar o valor do benefício compensatório que recebem, menor o escore de apoio a que o Estado intervenha através de políticas públicas para combater a pobreza e elevar o bemestar (coeficiente estimado de -0.0529). Logo, observa-se que a visão predominante percebe o público-alvo do Bolsa Família como “oportunista” na sua relação com o Estado, o que inviabiliza o apoio a políticas de caráter universal, em favor de intervenções focalizadas, seletivas e residuais, sujeitas a controles e ao bom comportamento dos pobres. Da mesma maneira, prevalece o entendimento de que é válido o apoio do Estado a um adulto beneficiário do Bolsa Família mediante transferência de renda à condição que este aceite trabalhar ou procurar emprego (coeficiente estimado de 0,0428). Novamente, observa-se que o apoio a políticas públicas de combate à pobreza é condicionado ao exercício compulsório de determinadas práticas por parte 114 dos beneficiários, em lugar de ser entendido como um direito de cidadania, a ser assegurado de forma incondicional. Em outras palavras, a população brasileira parece aprovar a intervenção do Estado no combate à pobreza apenas residualmente, não sendo francamente favorável a políticas de cunho universal e incondicional. Testamos também o efeito de variáveis indicadoras para condição de ocupação, mas esta não se mostrou significativa. Modelo Progressividade: Os resultados do modelo indicam que o brasileiro médio aprova o princípio da progressividade: quanto maior sua propensão a pagar impostos para usufruir de mais saúde e educação públicas, maior o reconhecimento que expressa no papel relevante do Estado na condição de promotor do bem-estar social coletivo (coeficiente estimado de 0,0456). Registre-se que a variável que reflete o apoio ao princípio da progressividade dos impostos mostrou-se bastante significativa e com efeito positivo - coeficiente estimado de 0,0952. Ou seja, há uma clara correlação entre progressividade tributária e apoio a políticas públicas voltadas para a eliminação da pobreza e redução da desigualdade social. Há que destacar o padrão que parece delinear-se a partir dos resultados explicitados pelo modelo: o brasileiro médio é a favor do financiamento do bem comum e da promoção da coesão social (no sentido de que apóiam o princípio da progressividade), porém, tal esforço coletivo, em conformidade com a capacidade financeira de cada um, não deve pavimentar a via da universalidade e da redistribuição ampla e incondicional no acesso a direitos, senão assegurar uma intervenção residual e focalizada por parte do Estado. Um resultado interessante aparece com o sinal positivo e significativo para os que são mais favoráveis a que a idade mínima de aposentadoria seja variável em função das condições de trabalho ao longo da vida útil - coeficiente estimado de 0,0312. Assim, há um princípio de justiça social que se expressa na forte correlação entre apoio à intervenção do Estado e direitos que levam em conta a condição social de cada um, em lugar de um critério único e regra geral. Quanto mais acredita ser 115 necessário flexibilizar a idade mínima de aposentadoria, maior a crença na atuação do Estado para promover o bem-estar. Nos dois modelos apresentados acima, observa-se o efeito significativo e negativo para a variável que indica escolaridade superior ou pós-graduação – ver Tabela 27. Isso quer dizer que, comparados aos indivíduos com menor grau de escolaridade, os indivíduos com diploma universitário ou pós-graduação revelam-se menos propensos a apoiar a intervenção do Estado na promoção do bem-estar. Para avaliarmos os efeitos conjuntos de Idade e Região geográfica, criamos os Gráficos 26 e 28 Estes gráficos apresentam a previsão de Y condicionado aos valores médios de cada variável no modelo, considerando cada uma das regiões e o efeito da idade - que é negativo: novamente, constata-se que quanto mais velho o indivíduo, menor o apoio às ações do Estado. Foi elaborado um gráfico para cada um dos modelos. No Gráfico 26 verificamos que as regiões Norte-Nordeste se sobrepõem demonstrando que, juntas, ambas registram em média índices significativamente maiores do que as Centro-Sul. A região Sudeste é uma região intermediária. Esse comportamento se repete para o modelo de progressividade. Tal como o fator idade, repete-se aqui o que já foi destacado nos modelos anteriores: as regiões menos desenvolvidas são mais favoráveis a uma ação do setor público no combate às desigualdades que as regiões mais ricas. Cabe-se ressaltar, entretanto, que os dois modelos têm poder explicativo um tanto baixo – com coeficiente de determinação (R2) igual à 6% para o primeiro modelo e 8% para o segundo modelo, o que indica que as variáveis consideradas na análise não são suficientes para explicar a variabilidade no índice AE. Esse resultado ainda que insatisfatório, foi mantido, uma vez termos constatado ser frequente nos estudos econométricos percorridos e referenciados nas subseções anteriores, um coeficiente de determinação igualmente fraco, logo, com pouco poder explicativo. 116 -.6 -.2 .2 .6 1 1.4 1.8 Gráfico 26 – Efeito da variável Idade por Região Geográfica - Focalização 16 24 32 40 48 56 Idade Região Centro Oeste Região Norte Região Sul Efeito da variável 72 80 88 Região Nordeste Região Sudeste Idade por Região Geográfica – -.6 -.2 .2 .6 1 1.4 1.8 Gráfico 27 – Progressividade 64 16 24 32 40 48 56 Idade Região Centro Oeste Região Norte Região Sul 64 72 80 88 Região Nordeste Região Sudeste B. Relação entre o índice composto para apoio a políticas universais e grau de apoio às medidas do Estado 117 O intuito agora é testar a interrelação entre grau de apoio às medidas do Estado com o grau de defesa das políticas universais. Para o índice de apoio às políticas universais, seguimos a mesma metodologia anterior. Consideramos então a soma das seguintes variáveis: V7: O governo deveria assegurar uma renda mínima para todas as pessoas. V22: O governo deve substituir esses benefícios (Bolsa Família) por um benefício único de R$ 50 para todos os brasileiros. V23: Estes benefícios (monetários do governo) devem destinar-se a toda a população. V24: Estes serviços (educação e saúde) devem ser oferecidos de graça para toda a população. V25: Toda a população deveria receber um benefício monetário do governo. Este índice, também padronizado e seu histograma suavizado por curva de densidade, demonstrou ser mais normalmente distribuído – o que indica que não há uma predominância da escolha “5” em todas as variáveis utilizadas (Gráfico 28). .3 .2 .1 0 Density .4 .5 Gráfico 28 – Índice de apoio a políticas universalistas: Histograma suavizado -2 -1 0 1 Standardized values of (Y) 2 3 118 A ideia, então, foi dispor de um índice de apoio às medidas do Estado como variável independente, para além daquelas variáveis ditas de autointeresse: Idade, Educação, Faixa de Renda Familiar, Cor e Região. No entanto, o índice, tal como construído, não se demostrou significativo (não identificamos uma relação direta entre os dois índices), como mostra o “Passo 1” na Tabela 29. Ainda interessados por uma investigação dessas relações, optou-se por utilizar as variáveis que compõem o índice de apoio às medidas do Estado de forma independente. Verificamos, nesse segundo exercício, efeito significativo para a variável V1 (O governo deve intervir para reduzir as desigualdades entre ricos e pobres) e V21 (Se o governo quiser, tem meios de erradicar a miséria no Brasil), além das variáveis para cor, escolaridade e região. (Ver Tabela 28.) Tabela 28 – Estatísticas descritivas básicas – variáveis do modelo Estabilidade (V1 + V2+ V3 + V11 + V21) O governo deve intervir para reduzir as desigualdades entre ricos e pobres. O governo é o principal responsável em assegurar o bem-estar dos mais pobres. Pobres devem ser ajudados primeiramente pelo governo. O governo deve se responsabilizar pela oferta de creches. Se o governo quiser, tem meios de erradicar a miséria no Brasil Brancos Negros e Pardos Escolaridade: Superior e Pós Escolaridade: Ensino Médio Escolaridade: Fundamental Regiao2 Regiao3 Regiao4 Regiao5 _cons N * p<0.10, ** p<0.05, *** p<0.01 2 R do modelo final foi de 8% Universalismo ( V7 + V22 + V23 + V24 + V25 ) Passo 1 Passo2 Passo 3 Modelo Final -0.0126 -0.0068 -0.0936*** -0.0929*** -0.0053 -0.0019 0.0296 0.2723* 1850 0.4357*** 0.4662*** 0.2291** 0.1855** 0.0643 0.2034*** 0.1237 0.3437*** 0.8185*** -0.7469*** 1850 0.0509*** 0.4402*** 0.4692*** 0.2602*** 0.1846** 0.0496 0.1655** 0.1025 0.3014*** 0.7459*** -0.7606*** 1850 0.0536*** 0.4325*** 0.4619*** 0.2584*** 0.1858** 0.0546 0.1674** 0.1101 0.3008*** 0.7469*** -0.6669*** 1850 119 Pode-se concluir que quanto mais se concorda com o fato de que o governo deve intervir para reduzir as desigualdades entre ricos e pobres, menor o grau de defesa das políticas universais - coeficiente estimado de -0,0929. No entanto, temos um efeito positivo para a V21: quanto mais se concorda com a assertiva “se o governo quiser, tem meios de erradicar a miséria no Brasil” maior o índice de apoio ao universalismo - coeficiente estimado de 0,0536. Controlando tais resultados pelo nível de educação, temos que quanto maior o grau de escolaridade, maior o índice de apoio às políticas universais – ver Tabela 28. Aqui já não se verifica o efeito da variável idade, mas registra-se que negros ou pardos apresentam índice de apoio a políticas universais maior do que brancos. Para detectarmos os efeitos por região geográfica, plotamos então as curvas das previsões do índice de defesa das políticas universais considerando, então, as respostas às variáveis V21 e V1. Verifica-se que a região que apresenta índice significativamente maior é a região Sul – moradores da região que reúne os menores níveis de desigualdade do país tendem a apoiar mais as políticas universais. -.6 -.2 .2 .6 1 1.4 1.8 Gráfico 29 – Efeito da variável V1 por Região Geográfica - O governo deve intervir para reduzir as desigualdades entre ricos e pobres. 1 2 3 V1 Região Centro Oeste Região Norte Região Sul 4 Região Nordeste Região Sudeste 5 120 -.6 -.2 .2 .6 1 1.4 1.8 Gráfico 30 – Efeito da variável V21 por Região Geográfica - Se o governo quiser, tem meios de erradicar a miséria no Brasil 1 2 3 V21 Região Centro Oeste Região Norte Região Sul 4 5 Região Nordeste Região Sudeste A exemplo do ocorrido com os modelos anteriores, também neste caso encontramos resultados fracos no que diz respeito ao poder explicativo das variáveis consideradas. Temos um R2 de 8% de explicação – o que é baixo. A próxima seção considera um modelo mais completo e mais robusto. A título de síntese, julgamos oportuno sistematizar aqui os resultados mais expressivos obtidos pelos modelos apresentados nas subseções 3.4 e 3.5. De maneira geral, constata-se que tendem a reconhecer no Estado ator essencial no combate à desigualdade e à pobreza aqueles vivendo nas regiões Norte-Nordeste e com renda familiar mais baixa (menor que R$ 3.000). As condicionalidades vigentes sobre os beneficiários do Bolsa Família são fortemente aprovadas pela maioria da população, apoio inclusive que aumenta nas regiões mais pobres e onde se concentra o maior número de beneficiários do grande programa federal de transferência de renda. 121 Resultado surpreendente foi observar que brasileiros que declararam conhecer algum beneficiário do Bolsa Família registram probabilidade ainda maior de defender a manutenção das condicionalidades e controles. Isso nos remete às principais “lições” extraídas dos estudos internacionais que examinaram os determinantes do apoio a políticas redistributivas, explicitadas na subseção 3.1.1 deste relatório. Embora o cidadão brasileiro médio aprove mecanismos de redistribuição por parte do Estado, reconhecendo sua centralidade nesse processo, tal redistribuição não deve ser incondicional, porém sujeita a controles e contrapartidas no caso de os beneficiários serem os grupos menos favorecidos socialmente. Quanto à hipótese de apoio a medidas de caráter mais progressivo, observou-se que são mais favoráveis à intervenção do Estados aqueles que julgam que o financiamento das políticas públicas deve se dar demandando um esforço maior de contribuição à medida que aumentam a renda individual e a riqueza. Também de maneira geral, observou-se que o apoio à redistribuição via políticas públicas cai com a idade, o que não deixa de ser um resultado a demandar mais análises, pois, no Brasil, embora o percentual de idosos sem cobertura previdenciária ou uma renda de substituição seja muito pequeno (cerca de 10% para os que têm 65 anos ou mais), a idade e a velhice tendem a ampliar os níveis de insegurança socioeconômica. Poder-se-ia imaginar que isso ampliasse a adesão à intervenção do Estado. Tal não ocorre: à medida que aumenta a idade, cai o apoio à intervenção pública e o apoio a políticas universais. Por outro lado, é bem verdade que o percentual de pessoas com idade acima dos 65 anos vivendo abaixo da linha da pobreza e da indigência55 no Brasil é insignificante: os idosos representam, em 2011, tão-somente 1,12% dos pobres e 1,49% dos que vivem na pobreza extrema. Supõe-se que tal realidade possa alterar a percepção do papel que cabe ao Estado na provisão de bem-estar aos mais destituídos. Outro resultado a ser registrado: brasileiros com escolaridade superior tendem a ser mais favoráveis a políticas universais, bem como pessoas de cor preta e parda. 55 Cortes adotados no Bolsa Família. 122 3.7. Índice composto de apoio à redistribuição (AR) e estimação por MQO Os modelos construídos nas seções anteriores buscaram testar as quatro hipóteses centrais que nortearam a elaboração da pesquisa (defesa das políticas universais, reconhecimento do papel relevante e insubstituível do Estado, reconhecimento do direito de obter renda compensatória por todos que sofrem privações e de adesão ao princípio da progressividade). Como os modelos apresentaram um baixo poder explicativo, R2 em torno de 6% e 10%, e embora pareça ser comum aos estudos dessa natureza esse nível de R2, decidiu-se construir um modelo mais abrangente e geral de apoio à redistribuição e avaliar seus determinantes. Assim, numa primeira etapa, trabalhamos com um índice composto de apoio à redistribuição, que pode ser comparado entre grupos (por sexo, por região, etc) – embora não seja este o foco neste relatório – e também pode ser utilizado como variável dependente em regressões. Entre as 26 variáveis que compõem o bloco de questões candidatas a compor um índice geral de apoio à redistribuição, escolhemos as variáveis V1, V2, V4, V5, V6, V9 e V14, cuja redação no questionário é reproduzida na Tabela 29 a seguir: Tabela 29 – Variáveis escolhidas para compor o índice de apoio à redistribuição (ARi) 1 Concordo somente com a primeira frase V1 V2 V4 2 Concordo em parte com a primeira frase Existem desigualdades entre ricos e pobres. O governo não deve intervir para reduzi-las, é natural que elas existam. Os pobres são os principais responsáveis pelo seu próprio bem-estar. A distribuição de renda e riqueza no país: melhorou e não é mais preocupante. 3 Sou indiferente às duas ou concordo com ambas 4 Concordo em parte com a segunda frase 5 Concordo somente com a segunda frase O governo deve intervir para reduzir as desigualdades entre ricos e pobres. O governo é o principal responsável em assegurar o bem-estar dos mais pobres. Ainda é muito preocupante. 123 No Brasil existem algumas pessoas muito ricas e outras muito pobres. Isto não é um problema; é normal que isto ocorra. Você prefere: pagar menos imposto e ter menos saúde e educação públicas e pagar por elas Os impostos devem ser pagos igualmente por toda a população. V5 V6 V9 V14 Isto é um problema a ser combatido. Pagar mais imposto e ter mais saúde e educação públicas. As pessoas mais ricas devem pagar uma porção maior de sua renda em impostos do que as pessoas com rendas mais baixas. Sempre haverá pobres. Logo, programas como o Bolsa Família não devem acabar. Se todos cuidarem de si, não haverá mais pobres. Logo, não haverá programas como o Bolsa Família. Fonte: IE/UFRJ, Pesquisa Grau de Aversão à Desigualdade da População Brasileira, financiamento FINEP, 2012. Nota-se que, em todos os casos, uma resposta de valor mais baixo (mais próximo de 1) indica pouca propensão a apoiar redistribuição, enquanto uma resposta de valor mais alto (mais próximo de 5) indica maior disposição a redistribuir. São observadas correlações positiva entre todas elas (com a exceção de V9 e V14), o que era esperado, porém a correlação nunca ultrapassa 0,27, indicação básica de que não são redundantes (Tabela 30). Tabela 30 – Correlação entre variáveis candidatas a compor índice de apoio à redistribuição. V1 V2 V4 V5 V6 V9 V14 V1 1,0000 0,2721 0,1464 0,2460 0,0403 0,1189 0,0913 V2 V4 V5 V6 V9 V14 1,0000 0,0951 0,1776 0,0681 0,1313 0,1117 1,0000 0,2918 0,0663 0,1295 0,1571 1,0000 0,0292 0,1584 0,1220 1,0000 -0,0017 0,0715 1,0000 0,1007 1,0000 Feita esta análise de correlações e tendo verificado também que não há informações faltantes em demasia para tais variáveis (38 em um total de 2226), criamos nosso índice de apoio à redistribuição individual (para todo indivíduo i na amostra), como segue: 124 ARi = V1i + V2 i + V4i + V5i + V6i + V9i + V14i (Equação 5) Os valores mínimo e máximo são 5 e 35, respectivamente. Para fins de simplificação, a variável foi transformada de forma a ter média 0 e desvio-padrão 1. Algumas estatísticas descritivas básicas sobre cada uma das variáveis e sobre o índice composto a partir delas, tanto na versão pré-transformação como na versão pós-transformação, encontram-se expostas na Tabela 31. Tabela 31 – básicas Variável Índice de apoio à redistribuição: estatísticas descritivas Nº de Média Observações Desviopadrão Mínimo Máximo V1 4,19 1,32 1 5 V2 3,76 1,43 1 5 V4 4,21 1,24 1 5 3,92 1,49 1 5 V6 3,69 1,33 1 5 V9 3,84 1,54 1 5 V14 4,01 1,32 1 5 AR original 27,62 4,85 7 35 AR transformado 0,00 1,00 -4,2515 1,5220 V5 2188 Nota-se que o histograma suavizado por curva de densidade apresenta comportamento próximo ao de uma curva normal (Gráfico 31), com truncamento do lado direito em função da grande quantidade de indivíduos que deram apoio máximo à redistribuição (valor 5) em todas as questões selecionadas acima. 125 0 .2 Density .4 .6 Gráfico 31 – Índice de apoio à redistribuição: histograma com suavização e curva normal sobreposta -4 -2 0 Standardized values of (AR) 2 Do lado esquerdo da equação, diferentes variáveis foram incluídas em cinco modelos diferentes, a saber: a) "Modelo econômico básico", contendo somente variáveis de auto-interesse: variáveis binárias para os diferentes níveis de educação, variáveis binárias para faixas de renda familiar, variáveis binárias para a situação no mercado de trabalho (formal, informal, autônomo, empregador, estudante, aposentado, “do lar”, desempregado), o quão satisfeito está com a vida, se é beneficiário de programa de transferência de renda. b) “Modelo econômico expandido", contendo todas as variáveis de auto-interesse do modelo anterior e mais variáveis de características individuais, a saber: idade, idade ao quadrado, se mulher, se casado, variáveis binárias para as macrorregiões e cor da pele. c) “Modelo não-econômico básico", contendo somente variáveis normativas e afins: variáveis binárias para as diferentes religiões, variável indicando grau de concordância com a hipótese de que pobreza é causada mais por falta de oportunidade que de 126 esforço, quanta mobilidade observou para si no passado, quanta mobilidade antevê para si no futuro, se conhece algum beneficiário de programa de transferência de renda, se preza valores meritocráticos na definição dos salários, se preza valores de necessidades na definição de salários. d) “Modelo completo”, contendo todas as variáveis dos modelos anteriores. e) “Modelo completo expandido”, contendo todas as variáveis do modelo completo e mais todas as variáveis do bloco V que não foram utilizadas na composição do índice de apoio à redistribuição (a saber, V3, V7, V8, V10, V11, V12, V13, V15, V16, V18, V19, V20, V21, V22, V23, V24, V25 e V26). Trata-se de estimar, adotando-se forma funcional aditiva, o coeficiente de uma constante (α) e vetores de coeficientes (β, γ, δ, θ) para cada vetor de variáveis – de autointeresse (AI), caracterizadoras do perfil socioeconômico (PSE), normativas (N) e as provenientes do bloco V, que denominaremos “complementares” (C) – conforme como indicado na Equação 6 abaixo: ARi = α + βAIi + γPSEi + δNi + θCi + εi (Equação 6) As Tabelas 32 e 33 a seguir contêm estatísticas descritivas de todas as variáveis usadas no modelo completo. O número de observações válidas é de 1813. 127 Tabela 32 – Variáveis explicativas binárias, discretas ou contínuas: estatísticas descritivas. Média Desvio-padrão Mínimo Máximo Variável Variáveis de auto-interesse Formal Informal Autônomo Empregador Estudante Aposentado “Do lar” Desempregado Grau de satisfação Beneficiário de transferências de renda Variáveis caracterizadoras de 0,40 0,49 0 1 0,11 0,32 0 1 0,22 0,41 0 1 0,01 0,12 0 1 0,05 0,21 0 1 0,10 0,30 0 1 0,04 0,20 0 1 0,06 0,23 0 1 3,63 0,93 1 5 0,11 0,31 0 1 39,28 16,10 16 90 0,52 0,50 0 1 0,46 0,50 0 1 2,95 1,50 1 5 3,71 0,88 1 5 4,01 0,83 1 5 0,67 ,47 0 1 15,28 2,60 4 20 3,25 1,23 1 5 perfil socioeconômico Idade Mulher Casado Variáveis normativas (percepção, crenças, valores) Pobreza causada mais por falta de oportunidades que de esforço Mobilidade passada Mobilidade futura Conhece beneficiário de transferência de renda Preza meritocracia Preza necessidades 128 Tabela 33 – Variáveis explicativas categóricas: estatísticas descritivas. Variável Categoria Frequência (%) Até 5º ano 15,69 Fundamental 26,60 Médio 44,47 Superior 10,40 Pós-graduação 2,83 RFM < R$1mil 25,25 R$1mil ≤ RFM ≤ R$2mil 32,38 R$2mil < RFM ≤ R$3mil 16,19 R$3mil < RFM ≤ R$4mil 10,01 R$4mil < RFM ≤ R$5mil 5,36 R$5mil < RFM ≤ R$8mil 6,72 RFM > R$8mil 4,09 Variáveis de auto-interesse Diploma mais elevado Renda familiar mensal (RFM) Variáveis caracterizadoras de perfil socioeconômico Região Cor da pele Centro-Oeste 7,16 Nordeste 27,81 Norte 7,83 Sudeste 42,40 Sul 15,00 Branca 40,60 Parda 40,58 Preta 15,54 Amarela 1,55 Variáveis normativas (percepção, crenças, valores) Religião Católicos 54,94 Protestantes/Evangélicos 25,74 Espírita/Umbanda/Outras 7,92 Sem religião, mas crente 9,34 Ateu/agnóstico 2,06 Nessa primeira etapa, a metodologia de estimação consiste simplesmente no método de mínimos quadrados ordinários. São considerados pesos amostrais e corrige-se para heterocedasticidade por meio do método de correção de White. 129 Os quatro primeiros modelos (a, b, c, d) apresentaram coeficientes pouco significativos e, por conseguinte, pouco poder explicativo. O modelo “a” (econômico básico somente com variáveis de autointeresse) não teve nem 2% de sua variância explicada e não passou no teste (F) de relevância conjunta das variáveis, o que denota, justamente, a necessidade de incorporação de novas variáveis. O modelo b (econômico expandido), incorporou variáveis de características individuais ao modelo “a” e, desta forma, eleva o R2 do modelo a 7%. O modelo “c”, que traz apenas variáveis normativas em consonância com os estudos internacionais citados na seção 3.1 deste capítulo, atestou a importância de levar em, conta essas variáveis, porém com R2 ainda baixo (6%) e resultados que precisam de mais elementos para serem explicados de forma consistente. O modelo “d” (completo) agrupou todas as variáveis dos três modelos anteriores e apresentou um R2 de quase 11%. Interessante notar que ao incluirmos simultaneamente variáveis caracterizadoras do perfil socioeconômico e de natureza normativa, o apoio à redistribuição deixa de ser associado ao autointeresse. O exercício de agregar continuamente variáveis e testar seus resultados foi importante para concluir que, utilizando o conjunto de variáveis mais comumente encontrado na literatura, mostram-se relevantes aquelas significativas nos modelos anteriores, a saber: mantêm-se positivos e significativos os coeficientes associados a mulher, negro, Nordeste, Norte e Sudeste; continuam positivos e significativos os parâmetros referentes a religião espírita/umbanda/outras religiões, as variáveis clássicas de pobreza associada à falta de oportunidades e de conhecimento de beneficiário de transferência de renda e a variável indicativa de meritocracia na remuneração. O modelo “e” (completo expandido), que contém todas as variáveis do modelo completo e mais todas as variáveis do bloco V não utilizadas na composição do índice AR, alcançou um poder de explicação de cerca de 25%, mostrando que o uso agregado de muitas variáveis conferiu robustez ao modelo. Por esse motivo esse é nosso modelo final da análise AR e será tratado de forma mais detida na subseção a seguir. 130 3.7.1. O modelo completo expandido – modelo final de análise AR A base de dados de que dispomos tem uma vantagem com relação àquelas geralmente empregadas na literatura internacional, uma vez que é composta de uma série de variáveis que revelam mais detalhes acerca das preferências ideológicas abstratas e concretas dos indivíduos, contidas no bloco V do questionário. Assim sendo, podemos incluir na regressão todas as variáveis que não foram usadas na construção do próprio índice AR e observar até que ponto estão correlacionadas com o apoio à redistribuição. Por exemplo: um indivíduo mais favorável a políticas universais será também mais ou menos favorável à redistribuição de modo geral? Um indivíduo que defende contrapartidas e condicionalidades para políticas de transferência de renda terá posição mais ou menos favorável à redistribuição de modo geral? As variáveis revelam-se conjuntamente significativas. Uma substancial proporção da variância da variável dependente é agora explicada pelas variáveis independentes – aproximadamente 25% – valor bastante elevado para estudos em corte transversal de modo geral e muito superior ao que se encontra na literatura. Com relação às variáveis presentes nos modelos anteriormente discutidos, destacamos o seguinte: No bloco de variáveis de autointeresse, um coeficiente volta a se mostrar significativo, a saber: aquele associado à quinta faixa de renda domiciliar (entre R$ 4.000 e R$ 5.000). No bloco de variáveis caracterizadoras do perfil socioeconômico, quatro coeficientes ainda mantêm sua significância e o sinal positivo: mulher, Nordeste, Sudeste e cor preta. Um coeficiente mostra-se significativo pela primeira vez, com sinal negativo: indígena. No bloco das variáveis normativas, a religião espírita/umbanda/outras deixa de ter coeficiente significativo em prol da categoria que se declara como ateu/agnóstico, significativamente favorável à redistribuição. No mesmo bloco “não-econômico”, mantêm os sinais e a significância as variáveis de pobreza causada por falta de oportunidades e a que preza 131 meritocracia na remuneração. O conhecimento de um beneficiário de transferências de renda perde a significância, certamente diluída nas respostas às perguntas do bloco V. Com relação às variáveis do bloco V, nada menos que oito variáveis apresentam coeficientes com sinais positivos e estatisticamente significativos, V3, V10, V11, V12, V13, V15, V20 e V26. Os brasileiros são tanto mais favoráveis à redistribuição: (V3) quanto favoráveis são à ação do Estado (em contraposição a ONGs, igrejas, famílias, empresas etc.) para assistir os pobres, (V10) quanto mais consideram que a idade mínima para aposentadoria deve variar segundo condições de trabalho e saúde (em contraposição a uma idade única), (V11) quanto mais creem que ofertar creches é responsabilidade do governo (em contraposição a custeio privado) (V12) quanto mais consideram baixo o valor do benefício do Bolsa Família, (V13) quanto mais consideram baixa a linha de miséria de R$70,00, (V15) quanto mais acreditam que o Bolsa Família tira muita gente da pobreza (V20) quanto mais consideram que todas as crianças deveriam receber remédios de graça (em contraposição a apenas aquelas que vivem em famílias miseráveis) (V26) quanto mais creem que as desigualdades entre os sexos permanecem. Apenas uma variável do bloco V apresenta significância e sinal negativo, a questão V23, revelando que uma maior propensão a apoiar a redistribuição está associada no Brasil a uma menor concordância com a ideia de que benefícios monetários do governo devem destinar-se a toda a população (e maior concordância com a ideia de destiná-las somente aos mais pobres e vulneráveis). Por conseguinte, não é surpresa que não haja de fato um apoio à renda básica de cidadania, já lei, porém letra morta. A população brasileira mostra-se contrária a um desenho de política que garanta uma renda universal e incondicional de igual valor a todos os brasileiros. 132 Tabela 34 – Resultados das estimativas (Continua) 1 2 3 Variável dependente: Índice de apoio à redistribuição 4 Fundamental Médio Superior Pós-graduação Renda2 Renda3 Renda4 Renda5 Renda6 Renda7 Formal Informal Autônomo Empregador Estudante Aposentado "Do lar" Desempregado Satisfação com a vida Beneficiário de transferência de renda Idade Idade² Mulher Casado -0.0718 (0.0895) 0.0047 (0.0851) 0.0236 (0.1131) 0.2895* (0.1478) -0.0484 (0.0687) -0.1144 (0.0905) -0.2678*** (0.1035) -0.3371*** (0.1160) -0.2680** (0.1300) -0.3353** (0.1703) 0.0308 (0.2670) 0.0200 (0.2718) 0.0084 (0.2683) -0.1237 (0.3526) 0.1891 (0.2848) 0.0401 (0.2772) -0.0865 (0.2970) -0.0829 (0.2819) 0.0026 (0.0320) 0.1249 -0.0785 (0.0908) -0.0385 (0.0879) -0.0419 (0.1108) 0.1079 (0.1499) -0.0228 (0.0685) -0.0390 (0.0903) -0.1663 (0.1025) -0.2261* (0.1157) -0.1428 (0.1328) -0.1538 (0.1707) -0.0277 (0.2445) -0.0823 (0.2496) -0.0926 (0.2447) -0.1278 (0.3371) 0.1183 (0.2709) -0.0687 (0.2572) -0.2623 (0.2783) -0.2002 (0.2621) 0.0077 (0.0317) 0.0916 -0.0565 (0.0909) -0.0319 (0.0895) -0.0369 (0.1103) 0.0307 (0.1496) -0.0179 (0.0678) -0.0348 (0.0942) -0.1560 (0.1015) -0.1983 (0.1210) -0.1834 (0.1254) -0.1608 (0.1677) -0.0811 (0.2325) -0.1471 (0.2382) -0.1619 (0.2334) -0.1524 (0.3359) 0.0363 (0.2599) -0.0976 (0.2473) -0.3238 (0.2698) -0.2693 (0.2517) 0.0235 (0.0312) 0.0471 5 (modelo preferido) -0.0889 (0.0848) -0.0322 (0.0852) 0.0185 (0.1030) 0.1549 (0.1486) -0.0220 (0.0639) -0.0630 (0.0904) -0.1451 (0.0959) -0.2045* (0.1163) -0.1415 (0.1147) -0.1950 (0.1648) -0.0423 (0.2445) -0.0758 (0.2510) -0.1361 (0.2447) -0.0211 (0.3388) 0.0690 (0.2743) -0.0626 (0.2576) -0.3354 (0.2763) -0.1863 (0.2629) 0.0359 (0.0287) -0.0419 (0.0804) (0.0808) 0.0089 (0.0095) -0.0001 (0.0001) 0.1533*** (0.0540) 0.0339 (0.0838) 0.0075 (0.0092) -0.0001 (0.0001) 0.1249** (0.0536) 0.0323 (0.0786) 0.0037 (0.0090) -0.0000 (0.0001) 0.1156** (0.0501) 0.0357 133 Nordeste Norte Sudeste Sul (0.0552) 0.6513*** (0.0751) 0.4368*** (0.0869) 0.2968*** (0.0816) 0.1423 (0.0886) (0.0551) 0.5829*** (0.0777) 0.4282*** (0.0872) 0.2665*** (0.0805) 0.1219 (0.0867) (0.0527) 0.3006*** (0.0776) 0.1018 (0.0844) 0.1563** (0.0767) 0.0336 (0.0873) Tabela 34.1 – Resultados das estimativas (Continua) 1 2 3 Variável dependente: Índice de apoio à redistribuição 4 Pardo -0.0126 (0.0608) 0.1512** -0.0044 (0.0586) 0.1289* -0.0264 (0.0757) 0.0063 (0.1539) -0.2685 (0.1855) -0.0269 (0.0715) -0.0223 (0.1404) -0.2807* (0.1644) -0.0472 (0.0614) 0.1530* (0.0616) 0.1754* (0.0600) 0.1371 (0.0907) -0.1173 (0.0958) -0.0734 (0.0912) -0.0626 (0.0985) 0.1476 (0.1883) 0.1057*** (0.1012) 0.2862 (0.1998) 0.1018** * (0.0172) -0.0444 (0.0357) 0.0362 (0.0332) 0.1473** (0.0896) 0.3398* (0.1964) 0.0729*** (0.0616) 0.0298** * (0.0585) 0.0235** Preto Amarelo Indígena Protestantes/Evangéli cos Espírita/Umbanca/Out ras Sem religião, mas crente Ateu/agnóstico Pobre falta de oport. Mobilidade passada Mobilidade futura Conhece beneficiário de transferência de renda Preza meritocracia -0.0139 (0.0618) 0.1648* * (0.0747) -0.0646 (0.1466) -0.2808 (0.1875) (0.0174) -0.0427 (0.0338) 0.0336 (0.0321) 0.2961*** (0.0564) 0.0325*** 5 (modelo preferido) (0.0167) -0.0560* (0.0335) 0.0145 (0.0319) 0.0596 134 Preza necessidades V3 V7 V8 V10 V11 V12 V13 V15 V16 V17 V18 V19 V20 V21 V22 (0.0101) 0.0211 (0.0215) (0.0101) 0.0140 (0.0228) (0.0097) 0.0017 (0.0215) 0.1393*** (0.0225) 0.0236 (0.0163) 0.0135 (0.0155) 0.0425*** (0.0159) 0.1205*** (0.0254) 0.0567*** (0.0208) 0.0502*** (0.0182) 0.0589*** (0.0162) 0.0065 (0.0178) 0.0395 (0.0246) -0.0438* (0.0235) 0.0100 (0.0178) 0.0454*** (0.0169) 0.0207 (0.0184) -0.0105 (0.0187) 135 Tabela 34.2 – Resultados das estimativas (Fim) 1 2 3 Variável dependente: Índice de apoio à redistribuição V23 V24 V25 V26 _cons 0.1190 (0.2963) N 1813 R² 0,0179 * p<0.10, **p<0.05, *** p<0.01 parentheses. -0.4944 (0.3503) 1813 0,0716 4 5 (modelo preferido) -0.0312* (0.0164) -0.0085 (0.0168) -0.0326* (0.0194) 0.1084*** (0.0190) -1.0047*** -1.3066*** -3.2678*** (0.2221) (0.4002) (0.4499) 1813 1813 1754 0,0566 0,1091 0,2507 Robust standard errors in 136 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise descritiva mostrou que as regiões mais pobres do Norte e Nordeste, com renda domiciliar per capita inferior à média nacional, tendem a apoiar mais medidas de caráter redistributivo do que as demais, que têm renda mais alta. O brasileiro médio julga relevante o papel do governo na redução das desigualdades entre ricos e pobres e na garantia do bem-estar das pessoas, e reconhece que a distribuição de renda, a despeito dos progressos observados, segue preocupante no país. Por fim, mais da metade estava absolutamente satisfeita com a vida (13,5% muito satisfeitos); 2/3 se viam como pertencentes à “classe média” e afirmaram que sua situação econômica não só melhorou nos anos recentes, como mostraram-se otimistas, com expectativas muito favoráveis de que ela melhorará ainda mais nos próximos cinco anos. Os brasileiros do Norte e Nordeste são os mais otimistas. A insatisfação aumenta à medida que cai a renda e a escolaridade. As razões da pobreza dividem a população brasileira: 23% concordaram totalmente que as pessoas permanecem na pobreza principalmente por falta de oportunidades, 24,4% mostraram-se neutras (escala “3”) e 27,2% estavam em total desacordo (logo, viam a permanência da pobreza mais por uma perspectiva de falta de interesse ou esforço individual de cada um em “correr atrás de trabalho”). Os homens são mais numerosos em identificar a pobreza como falta de esforço individual do que as mulheres. Mas predomina a visão de que pobreza é falta de esforço individual, visão que responsabiliza em primeiro lugar os próprios pobres por sua condição social. Da mesma maneira, a população está francamente dividida no que tange o apoio a um aumento do valor do benefício do Bolsa Família, embora a maioria julgue que ele é baixo e por isso pouco contribui para retirar gente da pobreza (só 16% acreditam que o Bolsa Família é eficaz e elimina a pobreza): 42% aprovam um aumento e outros 42%, desaprovam. Porém, 73,2% dos brasileiros adultos defendem a manutenção do BF. Posições contraditórias expressam-se: cerca de 63% dos brasileiros julgam que educação e saúde devem ser bens públicos e universais, porém percentual 137 semelhante desaprova a ideia de pagar mais impostos para ter mais saúde e mais educação gratuitas e de qualidade. Em paralelo, 1/3 da população adulta brasileira acredita que o serviço público deve destinar-se aos menos favorecidos na sociedade, o que pressupõe a provisão de serviços em escopo e qualidade limitados. Portanto, quem pode paga e quem não pode ganha um serviço público ruim, de segunda linha. De fato, o brasileiro médio não se mostra propenso a apoiar políticas universais. Ao contrário, é generalizada a aprovação da focalização nas políticas de transferência de renda no combate à pobreza. Ademais, esse mesmo cidadão tende a apoiar majoritariamente as condicionalidades impostas aos beneficiários de programas como o Bolsa Família, o que significa não compartilhar da ideia de que pobres e indigentes devem ser auxiliados de forma incondicional e permanente, na base em um direito assegurado constitucionalmente. Mostra-se cético e “desconfiado” com relação aos beneficiários dos programas de renda pois, apesar da queda constante da fecundidade em todas as classes de renda, inclusive entre os grupos mais desfavorecidos, crê que as mulheres pobres hão de querer ter mais filhos para aumentar o valor dos benefícios recebidos por criança. Posicionamentos contraditórios emanam mais uma vez das opiniões coletadas: 61,9% aprovam a manutenção do piso das aposentadorias do INSS no valor de um salário mínimo, o que indica que a maioria da população brasileira defende uma política redistributiva que apoia o bem-estar na velhice. Ou seja, a redistribuição ao longo do ciclo de vida para os que contribuíram é massivamente aprovada. Valores meritocráticos são francamente compartilhados pela população: 81,9% tendem a concordar que o salário seja função da qualidade do resultado do trabalho, e 80,9%, que seja decorrente do grau de responsabilidade na execução do mesmo. Nesse item, a população brasileira não expressa clivagens. As análises econométricas validaram muitos desses resultados, com a vantagem de controlá-los por uma série de variáveis e confrontá-los com as hipóteses iniciais da pesquisa de defesa das políticas universais, reconhecimento do papel relevante e insubstituível do Estado, reconhecimento do direito de obter renda compensatória por todos que sofrem privações e de adesão ao princípio da 138 progressividade. Foram testados vários modelos a partir de metodologias distintas. A significância de relações multivariadas foi examinada buscando identificar perfis de grupos de pessoas com maior ou menor tendência a apoiar medidas redistributivas. No que tange o reconhecimento do papel do Estado na provisão de bemestar, notam-se efeitos significativos da renda familiar e das regiões geográficas nos resultados: indivíduos com faixas de renda familiar mais baixas (inferior a R$ 3.000 mensais) são mais propensos a ver no Estado um agente de promoção de mais igualdade, tal como ocorre com os indivíduos no Sudeste, Nordeste e Norte. Atentese que os maiores coeficientes de apoio à intervenção do Estado foram registrados para os grupos de menor renda e regiões menos desenvolvidas. Ou seja, quanto maior a renda, menor o apoio à intervenção do Estado em prol da redistribuição. Temos, portanto, uma visão de classe claramente manifesta. Por outro lado, aqueles que acreditam que a pobreza é causada por falta de esforço tendem a ser menos favoráveis à intervenção do Estado para dirimir desigualdades e atenuar a miséria. Os que mais apoiam a assertiva “É desnecessário obrigar as crianças pobres a frequentar escola e postos de saúde para receber o Bolsa Família”, portanto, os mais contrários à aplicação de condicionalidades são: homem, preto ou pardo, morador das regiões Sul e Sudeste. Já o contrário, os que mais apoiam as condicionalidades são: mulher; branca; vivendo no Norte-Nordeste. De qualquer forma é importante realçar que a tendência que predomina (para ambos os grupos) é de apoio à exigência das contrapartidas e condicionalidades para pagamento dos benefícios do Bolsa Família. Os indivíduos da raça preta ou parda são o único grupo da categoria cor/raça que se mostra contrário a adoção de condicionalidades. O brasileiro não apoiaria substituir a transferência de renda condicionada por uma renda de igual valor, a ser paga uniforme e igualmente a todos os cidadãos, embora o Brasil seja único país do mundo a ter uma lei em vigor para garantia de uma renda de cidadania. A modelagem para construção do índice de apoio às ações do Estado na provisão de bem-estar evidenciou que a visão predominante percebe o público-alvo 139 do Bolsa Família como “oportunista” na sua relação com o Estado - o que inviabiliza o apoio a políticas de caráter universal, em favor da manutenção de intervenções focalizadas, seletivas e residuais, sujeitas a controles e ao bom comportamento dos pobres. Observa-se que o apoio a políticas públicas de combate à pobreza é condicionado ao exercício compulsório de determinadas práticas por parte dos beneficiários, em lugar de ser entendido como um direito de cidadania. Os resultados do modelo indicam também que o brasileiro médio aprova o princípio da progressividade: quanto maior sua propensão a pagar impostos para usufruir de mais saúde e educação públicas, maior o reconhecimento que expressa no papel relevante do Estado na condição de promotor do bem-estar social coletivo. Quanto mais velhos os brasileiros, menos parecem aprovar medidas universais e mais tendem a apoiar condicionalidades e controles. Brasileiros com nível de escolaridade superior, são mais propensos a apoiar políticas universais e redistributivas. O brasileiro médio mostra-se a favor do financiamento do bem comum e da promoção da coesão social (no sentido de que apoiam o princípio da progressividade), porém, tal esforço coletivo, em conformidade com a capacidade financeira de cada um, não deve pavimentar a via da universalidade e da redistribuição ampla e incondicional no acesso a direitos, senão assegurar uma intervenção residual e focalizada por parte do Estado. Ao final, um modelo mais abrangente e geral de apoio à redistribuição foi construído de forma a avaliar seus determinantes. O exercício de agregar continuamente variáveis e testar seus resultados foi importante para concluir que, utilizando o conjunto de variáveis mais comumente encontrado na literatura, mostram-se relevantes os coeficientes associados a mulher, negro, Nordeste, Norte e Sudeste; os parâmetros referentes a religião espírita/umbanda/outras religiões; as variáveis clássicas de pobreza associada à falta de oportunidades e de conhecimento de beneficiário de transferência de renda; e a variável indicativa de meritocracia na remuneração. Mais uma vez, os resultados mostraram que a população brasileira mostra-se contrária a um desenho de política que garanta uma renda universal e incondicional de igual valor a todos os brasileiros. 140 Resumidamente, o cidadão brasileiro médio mostra-se favorável à intervenção do Estado na promoção do bem-estar, reconhece nele papel de destaque na superação da pobreza e da desigualdade, mas não se mostra comprometido com uma provisão pública universal. Reconhece que o valor da linha de indigência adotada no Bolsa Família é baixa, tal como é pequeno o valor do benefício médio assegurado às famílias beneficiárias, julga que o Estado poderia acabar com a miséria se assim o desejasse, porém não aprova que os mais pobres e menos favorecidos sejam tratados de forma igual, com base em direitos. Logo, a cooperação e o apoio na necessidade não constituem, aos olhos da maioria dos brasileiros, direito inalienável a ser assegurado, dissociado de qualquer outro critério. Isso denota uma sociedade, onde as preferências sociais existentes indicam baixo nível de coesão social e solidariedade. Embora não tenha sido possível construir e estimar um índice único do grau de aversão à desigualdade, tarefa que pretendemos desenvolver nos artigos futuros que serão subproduto desta pesquisa, podemos desde já indicar que: a preferência por políticas universais é baixa entre nós; mostram-se mais favoráveis à intervenção do Estados para fins de redistribuição os grupos de menor renda, vivendo nas regiões mais pobres, mas são também eles os mais propensos a apoiar condicionalidades e controles ou políticas seletivas que dividem a população entre os necessitados e os demais. Somente os negros e pardos são contrários à adoção de condicionalidades. O apoio à progressividade não implica automaticamente a defesa de políticas públicas e universais; apoiar o Estado e reconhecer seu papel relevante na luta contra a pobreza, a desigualdade e a miséria tampouco implica na prevalência de preferências sociais universalistas e onde valores de justiça social e igualdade são dominantes. O apoio à redistribuição mostra-se, portanto, não apenas condicionado, mas restrito. 141 ANEXOS 142 Anexo 1: Questionário 143 143 144 144 145 145 146 146 147 147 148 Anexo 2: Manual da Entrevista 148 149 149 150 150 151 151 152 152 153 153 154 154 155 155 156 156 157 157 158 Anexo 3 Relatórios da Overview Pesquisa 158 159 Anexo 3.1: Relatório de Avaliação do Preteste (Incluir documento: Relatório de análise eteste Pesquisa Percepcao Desigualdade.doc 159 160 160 161 161 162 162 163 163 164 164 165 165 166 166 167 167 168 168 169 169 170 Anexo 3.2: Plano Amostral (Incluir o documento no arquivo: Plano amostral UFRJ Fluxo anexos). Brasil 2012 v04.doc (Com data de 8/11 no diretório 170 171 171 172 172 173 173 174 174 175 175 176 176 177 177 178 178 179 Anexo 3.3: Relatório de Campo 179 180 180 181 181 182 182 183 Anexo 4: Tabelas do Capítulo 3 Tabela 4.1. Modelagem Logit e Probit – V2 V2_45: Respostas 4 ou 5 - "O governo é o principal responsável em assegurar o bemestar dos mais pobres." V2_45 Logit Probit (Efeitos Completo Reduzido (Odds_Ratio) Marginais) Mulher -0.0693 Idade -0.0019 Casado -0.012 Brancos 0.1666 Negros ou Pardos 0.1327 Escolaridade: Superior e Pós -0.3988* Escolaridade:Ensino Médio -0.2799 Escolaridade: Fundamental -0.213 Católica 0.068 Protestante 0.0562 Sem Religião 0.0387 Ateu 0.3812 Empregador -0.3097 Autônomo -0.232 Formal 0.0492 Informal 0.106 Menos do que R$ 1.000,00 0.4953** 0.6282*** 1.8742*** 0.1347*** De R$ 1.001,00 a R$ 2.000,00 0.2647 0.3799** 1.4621** 0.0843** De R$ 2.001,00 a R$ 3.000,00 0.4702** 0.5694*** 1.7672*** 0.1213*** De R$ 3.001,00 a R$ 4.000,00 0.0318 0.1157 1.1227 0.0258 De R$ 4.001,00 a R$ 5.000,00 0.1554 0.2167 1.242 0.0485 Centro-Oeste 0.3417** 0.3246** 1.3834** 0.0715** Nordeste 0.9092*** 0.8607*** 2.3647*** 0.1805*** Norte 0.6760*** 0.6211*** 1.8610*** 0.1317*** Sudeste 0.6639*** 0.6533*** 1.9218*** 0.1397*** N 1892 1892 1892 1892 * p<0.10, ** p<0.05, *** p<0.01 Tabela 4.2. Modelagem Logit e Probit – V18 V18_45: Respostas 4 e 5 - "É desnecessário obrigar as crianças pobres a frequentar escola e postos de saúde para receber o Bolsa Família." V18_45 Logit Probit (Efeitos Completo Reduzido (Odds_Ratio) Marginais) Mulher -0.3766** -0.2960* 0.7438* -0.0245* Idade -0.0148** -0.0121** 0.9879** -0.0010** Casado -0.0862 183 184 Brancos Negros ou Pardos Escolaridade: Superior e Pós Escolaridade:Ensino Médio Escolaridade: Fundamental Católica Protestante Sem Religião Ateu Empregador Autônomo Formal Informal Menos do que R$ 1.000,00 De R$ 1.001,00 a R$ 2.000,00 De R$ 2.001,00 a R$ 3.000,00 De R$ 3.001,00 a R$ 4.000,00 De R$ 4.001,00 a R$ 5.000,00 Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste N 1.7536* 1.9431* 0.166 -0.0915 -0.1737 -0.081 -0.1539 0.0399 -0.9163 0.8275 0.0763 -0.1607 0.2003 0.3901 0.2382 -0.4333 0.2775 -0.5282 -0.6995*** -1.1640*** -1.6108*** -0.6153*** 1.7014* 1.9077* 5.4817* 6.7379* -0.7854*** -1.1240*** -1.6473*** -0.6721*** 0.4560*** 0.3250*** 0.1926*** 0.5106*** 1884 1884 1884 0.1448* 0.1350** -0.0544*** -0.0762*** -0.0917*** -0.0496*** 188 4 * p<0.10, ** p<0.05, *** p<0.01 Tabela 4.3. Modelagem Probit Ordenado Mulher Idade Brancos Negros ou Pardos Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Satisfação com a Vida Mobilidade Passada Conhece Beneficiário do Bolsa Família α_1 α_2 α_3 α_4 N * p<0.10, ** p<0.05, *** p<0.01 V18 -0.0525 -0.0062*** 0.1728 0.2635 0.3861*** -0.1993* -0.1182 0.3216*** 0.018 -0.1093*** 0.295 0.7106*** 1.0492*** 1.3969*** 1843 -0.0354 -0.0068*** 0.1663 0.2668 0.3990*** -0.105 -0.0657 0.3451*** 0.0182 -0.1122*** -0.2258*** 0.1623 0.5803** 0.9196*** 1.2669*** 1843 184 185 BIBLIOGRAFIA Agresti A. (2002). Categorical Data Analysis. New Jersey: John Wiley & Sons, Jul 22, 2002 734 p. Alesina, A.; Fuchs-Schündeln, N. (2006), Good-Bye Lenin (or Not?): The Effect of Communism on People's Preferences, American Economic Review, vol. 97(4): 1507 - 1528. Alesina, A.; Giuliano, P. (2009), Preferences for Redistribution, NBER Working Paper No. 14825. Alesina, A.; La Ferrara, E. 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