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Saneas SUMÁRIO Saneas é uma publicação técnica quadrimestral da Associação dos Engenheiros da Sabesp AESABESP DIRETORIA EXECUTIVA João Baptista Comparini / Presidente Eliana K. I. Kitahara / Vice-Presidente Nizar Qbar / 1º. Secretário Magali Scarpelini M. Pereira / 2ª. Secretária Ivan Norberto Borghi / 1º. Tesoureiro Walter Antonio Orsati / 2º. Tesoureiro DIRETORIA ADJUNTA Cecília Takahashi Votta / Diretor Social Luiz Yukishigue Narimatsu / Diretor Técnico Cultural Gilberto Alves Martins / Diretor de Esportes Reynaldo Eduardo Young Ribeiro / Diretor de Pólos Paulo Eugênio de C.Corrêa / Diretor de Marketing CONSELHO DELIBERATIVO Alipio Teixeira dos Santos Neto, Almiro Cassiano Filho, Choji Ohara, Geraldo Gonçalves, Hélio Nazareno Padula Filho, Ivo Nicolielo Antunes Junior, José Victorio Francisco de Assis Bedusch, Nelson Luiz Stábile, Paulo Roberto Borges, Pedro Luiz Todesco Ferraz, Pérsio Faulim de Menezes, Sérgio Eduardo Nadur. CONSELHO FISCAL Antonio Soares Pereto, Marcos Clébio de Paula e Yazid Naked CONSELHO EDITORIAL Viviana Marli N. Aquino Borges (Coordenadora) FUNDO EDITORIAL EQUIPE RESPONSÁVEL PELA SANEAS Wanderley da Silva Paganini (Coordenador) Andréa Ferreira Guzzon, Fernando Gomes da Silva, Gislene Flávio Lopes, Miriam Moreira Bocchiglieri, Renato Benito Felippe Júnior e Rodolfo Baroncelli Jr. ARTE E PRODUÇÃO GRÁFICA Formato Artes Gráficas (formato@uol.com.br) JORNALISTA RESPONSÁVEL Ana Holanda Mtb 26.775; TIRAGEM: 3.500 exemplares AESABESP Associação dos Engenheiros da Sabesp Rua 13 de maio, 1.642 – casa 1 01327-002 - São Paulo, SP Fone (11) 3284 6420 – 3263 0484 Fax (11) 3141 9041 www.aesabesp.com.br saneas@aesabesp.com.br EDITORIAL 3 Universidade e o saneamento 4 AGENDA 4 CARTAS OPINIÃO 5 O papel das fundações de apoio na inovação tecnológica P&D 7 Incorporação de lodos de estações de tratamento de água em blocos cerâmicos MATÉRIA DE CAPA 13 Inovação tecnológica no saneamento ARTIGOS TÉCNICOS 19 Tecnologia UV e suas opções orientando as decisões do usuário 22 Nova tecnologia de bombeamento simplifica instalações e operações e preserva o meio ambiente 26 Tecnologia de túneis por tubos cravados de concreto: maior precisão, qualidade e economia 31 Integrated Technology Systems para tratamento de águas e efluentes MEIO AMBIENTE 34 Autodepuração em cursos d’água: modelo simplificado de estudo A SABESP INOVA 37 Definição de limites operacionais de segurança dos reservatórios do sistema adutor de São Paulo ENTREVISTA 41 José Fernando Perez – O papel dos Institutos de Pesquisa e a geração de tecnologia EMPREENDIMENTOS E GESTÃO 43 A Sabesp e a tecnologia do saneamento HISTÓRIA DO SANEAMENTO 45 Abastecimento de água: 56 anos atrás 48 NOVIDADES - FIQUE POR DENTRO 49 ATENÇÃO E RECONHECIMENTO 50 CAFEZINHO 51 AGRADECIMENTOS Empresas patrocinadoras deste número de Saneas Foto da capa Odair Marcos Faria Memphis Empreendimentos Ltda.; Tel (11) 3872 1811; e.mail memphislink@uol.com.br Higra Industrial Ltda; tel (51) 572 2929; Tanque de aeração de Estação de Tratamento de Esgoto e.mail higra@higra.com.br ECL Engenharia e Construções Ltda. Tel (11) 3031 4616; e.mail sabino@eclengenharia.com.br Dinamyk Indústria, Comércio e Serviços Ltda. Tel (11) 5549 6944; e.mail dinamyk@dinamyk.com.br EDITORIAL A universidade e o saneamento: um projeto para a nação Eng. João B. Comparini Presidente da Associação dos Engenheiros da Sabesp (AESABESP) “F ormar profissionais suficientemente preparados para o exercício profissional nas diversas modalidades, além de pesquisadores movidos pelo desafio da descoberta científica e pelo desenvolvimento de tecnologias que objetivem melhorar a qualidade de vida dos povos, em cada momento da história, promovendo o necessário suporte ao projeto de uma Nação.” Esta frase talvez resuma algumas respostas a respeito da missão da Universidade. Na generalidade de cada uma de suas partes, imensos desafios. Destaque-se, de pronto, a referência efetuada quanto a promover o suporte ao projeto da Nação, elemento de base que, adequadamente explicitado e compreendido, dá a direção maior e o corrimão para o desenvolvimento das ações conseqüentes. A visão clara do que se quer para o país em cada setor, de onde se almeja chegar, com políticas e diretrizes estratégicas definidas e priorizadas no horizonte de planejamento, é essencial, proporcionando o alinhamento necessário para que se vençam os demais desafios embutidos na missão da Universidade. Sem ela, corremos o risco de formar profissionais A visão clara do que que não se sintam qualificados e em número inadequado às demandas do mercado, professores que pouco podem dedicar- se quer para o país em se à tarefa de ensinar e pesquisadores que não conseguem ver a cada setor, de onde se transformação de sua produção científica em tecnologias para o benefício da coletividade. almeja chegar, com O setor de saneamento no Brasil, com a fundamental parceria da Universidade, precisa, rapidamente, definir qual é o projeto políticas e diretrizes para a Nação. E para esta definição é preciso não esquecer que estratégicas definidas temos, sim, uma base de profissionais preparados, corpo acadêmico, tecnologia, estruturas para consultoria e construção, além e priorizadas de indústrias de base do setor. O projeto deve considerar que podemos, portanto, exportar esses serviços, e não importá-los, no horizonte de transferindo recursos de nossas periferias para outras praças. Deve contemplar a necessária prioridade do saneamento, des- planejamento, é tacando, antes de tudo, o que significam para o país 1.192 Dis- essencial tritos (12%) que não contam com rede geral de abastecimento de água e 5.751 Distritos que não contam com rede coletora de esgoto, além da reduzida cobertura de seu tratamento. Esta edição da revista Saneas é uma homenagem à Universidade, aos seus administradores, docentes, pesquisadores e funcionários que têm, ao longo de suas vidas, possibilitado melhores condições de vida a toda a sociedade. De abrangentes a específicos, esperamos que os aspectos abordados nesta edição contribuam para o esclarecimento de questões e para a disseminação do conhecimento, auxiliando o leitor na compreensão dos problemas atuais e a serem doravante enfrentados. Saneas / outubro 2002 – 3 Cartas Cartas Venho à presença de V. Sa. acusar e agradecer a doação da Revista Saneas - 2002, 1(13) ao Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá - FEG / UNESP. Solicito, se possível, a gentileza de continuar enviando os novos fascículos para que os leitores possam desfrutar sempre da coleção completa. Aproveito a oportunidade para externar os protestos da mais alta consideração. Nilza Maria Rabello Marino Diretor Técnico de Serviço Biblioteca Agenda Agenda Trabalho na Biblioteca da FUMEP, onde temos o Curso de Engenharia Ambiental, e gostaria de continuar recebendo esse periódico. Rosana A Universidade de São Paulo, por meio da Faculdade de Saúde Pública, em conjunto com a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Faculdade de Direito, por intermédio do Núcleo de Informações em Saúde Ambiental da USP, estará oferecendo, em 2003, os cursos de Especialização na área ambiental, a saber: Gestão Ambiental, Educação Ambiental, Direito Ambiental e Engenharia de Saneamento Básico. Inscrições abertas na período de 21/10/02 a 14/11/02. Maiores informações através da site www.fsp.usp/cursos/CUREXT.html ou no Serviço de Alunos – tel: 3066 7787, av. Dr. Arnaldo, 715, térreo. International Environmental Technology Corporation, Ambitec Bavária 2002 Local: Baviera, Alemanha Período: 01/11/2002 a 13/11/2002 Organização: Câmara do Comércio e Indústria Brasil- Alemanha E.mail : bayern@ahkbrasil.com Assunto: Cooperação entre profissionais e Empresas privadas e Públicas Brasileiras e Alemãs, através da Divulgação de Tecnologia Ambientais Bávaras de Ponta 4 – Saneas / outubro 2002 É com muita satisfação que comunico Vv. Ss. que a Revista Saneas, da Associação dos Engenheiros da Sabesp, é material didático que utilizo em minhas aulas na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. A atualidade de seus artigos, aliada a competência de seus colaboradores, faz desse veículo de comunicação técnica uma importante ponte entre a Sabesp, a comunidade técnica e a acadêmica. Sabedor das dificuldades que a publicação de cada número representa, parabenizo os colegas pelo esforço e trabalho que vêm desenvolvendo, colocando-me à disposição para colaborar com aquilo que se fizer necessário. Atenciosamente, Prof. Dr. Pedro Mancuso Saneas é uma publicação da Associação dos Engenheiros da Sabesp existente há 13 anos. Os primeiros 11 exemplares foram dedicados à divulgação de artigos técnicos dos Encontros Técnicos da Associação dos Engenheiros da Sabesp. Desde agosto de 2001, com a revista volume 1, nº 12, Saneas passou a ser uma publicação quadrimestral com conteúdo editorial do Saneamento Básico, nos seus aspectos técnicos, políticos e institucionais. Envie seus comentários, críticas ou sugestões para o Conselho Editorial da Revista Saneas – saneas@aesabesp.com.br AESABESP Seminário: “Utilização de Resinas na Fabricação de Tubos para Aplicação em Redes de Águas e Esgoto” Data: 12/11/2002; 8:00 às 18:00 horas Local: A ser confirmado Objetivo: Promoção, troca de conhecimento, e integração de profissionais de saneamento básico. Oportunidade de conhecimento do estágio atual das atividades ligadas ao setor da indústria plástica. Destinado às indústrias de saneamento básico, indústrias de gestão de resíduos sólidos e outros ramos industriais Simpósio: “Conservação e Economia de Energia Elétrica” Data: 03/12/2002 Local: São Paulo, SP Organizador: Superintendência de Manutenção Guarapiranga - AG Contato: Sup. de Manutenção Guarapiranga - AG, a/c Inês Telefone: (11) 5683 3127 Observação: Instrutor do Simpósio, Engº Antonio S. Pereto / AGPC, E.mail: iribeiro@sabesp.com.br Assunto(s): Manutenção, Eletricidade, Conservação Manhã de Tecnologia: “Instrumentação e Equipamentos para Controle de Processos” Data: 25/11/2002; 9h00 às 12h00 Local: Audit. Engº Tauzer G. Quinderé, R. Costa Carvalho, 300; São Paulo, SP Palestra que apresenta equipamentos a serem utilizados nos Controles de Processos de Tratamento para Ensaios e Avaliação Técnica em Unidade da Sabesp Patrocínio: Digitrol Indústria e Comércio Ltda Participante: Engº Michel Debrit Manobras e Proteções em Sistemas Elétricos de Médias Tensões Data: 12/11/2002 Local: São Paulo, SP Organizador: Superintendência de Manutenção Guarapiranga - AG Contato: Sup. de Manutenção Guarapiranga - AG, a/c Inês Telefone: (11) 5683 3127 Observação: Instrutor responsável pelo Simpósio, Engº Antonio Soares Pereto / AGPC, E.mail: iribeiro@sabesp.com.br Assunto(s): Manutenção, Eletricidade OPINIÃO O papel das fundações de apoio na inovação tecnológica Guilherme Ary Plonski A multiplicação e a permanência de fundações de apoio a instituições científicotecnológicas de primeira linha no Brasil sugere tratar-se de um mecanismo bem sucedido, capaz de ajudar as apoiadas a realizar a sua missão. De que fundações estamos falando “As fundações têm suas raízes no desejo de solidariedade, atributo próprio do ser humano (...)”, conforme nos esclarece ALVES 1 (p. 48). Dentre as várias modalidades previstas na atual Constituição Federal, importa para o tema deste artigo a das fundações de apoio. São elas pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, instituídas nos moldes do Código Civil, com o objetivo de dar apoio a determinadas instituições (op. cit., p. 65). O escopo e condições do relacionamento entre fundação de apoio e instituição científico-tecnológica apoiada é estabelecido em termo de acordo ou convênio. A multiplicação e a permanência de fundações de apoio a instituições científico-tecnológicas de primeira linha no Brasil sugere tratar-se de um mecanismo bem sucedido, capaz de ajudar as apoiadas a realizar a sua missão. O desafio da inovação tecnológica Cresce na sociedade brasileira a percepção de que os avanços expressivos, realizados pelo País no campo da pesquisa em ciência e tecnologia, geraram condições para intensificar a componente do conhecimento no esforço para aceleração do desenvolvimento econômico e social. Essa percepção se expressa em políticas públicas, polarizadas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, conforme indicado no projeto da Lei de Inovação e no Livro Branco da Ciência, Tecnologia e Inovação. A experiência mundial indica que o processo de inovação tecnológica frutifica melhor num ambiente em que os diversos agentes – empresas, associações empresariais, instituições científico-tecnológicas, governos federal, estadual e municipal, poder legislativo, entidades paragovernamentais (tais como o Sebrae e as agências de desenvolvimento regional), investidores privados em suas várias modalidades, organismos da sociedade civil, imprensa, agentes de cooperação internacional – coordenam suas ações, constituindo sistemas nacional, regional ou local de inovação. Que papel desempenham? Entre os diversos benefícios gerados pelas fundações de apoio no adensamento dos sistemas de inovação merecem destaque os seguintes: a) Aumento da capacidade de gestão administrativa e econômico-financeira dos 1 - Alves, F.A. - Fundações, organizações sociais, agências executivas. São Paulo, LTr, 2000. Guilherme Ary Plonski, Professor associado da Poli-USP e da FEA-USP. Presidente do Conselho Curador da Fundação Vanzolini. Diretor Superintendente do IPT. Saneas / outubro 2002 – 5 Opinião A experiência mundial indica que o processo de inovação tecnológica frutifica melhor num ambiente em que os diversos agentes coordenam suas ações, constituindo sistemas nacional, regional ou local de inovação. d) Criação de novos e desobstrução de existentes canais de comunicação entre agentes dos sistemas de inovação tecnológica, contribuindo para o uso eficiente dos recursos escassos de uma sociedade emergente – notadamente talentos e dinheiro. malversação, raros, mas, infelizmente, encontráveis. Como, aliás, em qualquer instituição humana. A segunda categoria está associada ao insuficiente conhecimento sobre a operação das fundações. Este autor já se surpreendeu mais de uma vez com a ignorância de colegas acadêmicos respeitados sobre regras básicas, tais como a inexistência de proventos aos corpos dirigentes – conselho curador e diretoria, que dedicam sua energia fundamentados no instituto da solidariedade, como mencionado no início desta matéria. Finalmente, existem críticas associadas a posições conceituais diversas. Algumas, respeitáveis, questionam, por exemplo, a natureza paliativa das fundações, preferindo se dedicar a proposições voltadas à reforma geral do Estado (por exemplo, no que se refere às restrições da legislação sobre licitações). Outras, claramente ideológicas, alegam que as fundações de apoio são causa do esvaziamento de greves por aumento de salário nas instituições científicotecnológicas, por permitirem (ainda que ao amparo da legislação universitária) que docentes e pesquisadore(a)s empreendedore(a)s obtenham ganhos pecuniários associados a projetos e serviços prestados sob sua gestão econômico-financeira. Reconhecimento dos resultados gerados Como em outras dimensões da existência humana, inexiste unanimidade sobre as fundações de apoio. Em que pese a expressão dos benefícios ensejados às instituições científico-tecnológicas apoiadas e à sociedade em geral, encontraremos críticas de três tipos principais. O primeiro tipo se vale de exemplos de Em conclusão Fundações de apoio bem gerenciadas têm, há mais de três décadas, contribuído significativamente para a inovação tecnológica em nosso País, adensando os sistemas nacional, regional e local. Os exemplos abundam, basta querer examinar com isenção o desempenho das instituições centífico-tecnológicas apoiadas. ■ projetos de inovação, permitindo que seu cronograma e orçamento sejam compatíveis com os requisitos do ambiente competitivo. Cabe sublinhar que a gestão técnica competente dos projetos permanece com as instituições apoiadas. b) Preservação da imagem das instituições apoiadas, evitando exposição indesejada em face de eventuais litígios usuais no mundo das relações comerciais – por exemplo, na prestação de serviços tecnológicos ou na realização de pesquisa contratada. Isso elimina preocupações da comunidade acadêmica e facilita sua decisão de participar em atividades que contribuem para processos de inovação tecnológica. c) Criação de ambiente favorável ao envolvimento de docentes, pesquisadore(a)s e estudantes em atividades de inovação, estimulando o empreendedorismo tecnológico. 6 – Saneas / outubro 2002 P&D Incorporação de lodos de estações de tratamento de água em blocos cerâmicos Dione Mari Morita Américo de Oliveira Sampaio Marcelo Kenji Miki Airton Checoni David Pesquisa & Desenvolvimento Resumo O presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a possibilidade de incorporar o lodo da Estação de Tratamento de Água de Cubatão (SP), ETA Cubatão, em blocos cerâmicos produzidos em uma indústria localizada no município de Tatuí (SP), utilizando para a resolução do problema a metodologia de negociação de conflitos com a participação dos setores envolvidos. Foram incorporados 25, 20 , 12,5, e 10% (v/v) de lodo nos blocos cerâmicos. Testes de caracterização do lodo e ensaios de resistência à compressão, absorção à água e características dimensionais nos blocos produzidos com o lodo foram realizados. Os resultados obtidos demonstraram a possibilidade de incorporação de 12,5% de lodo, sem comprometimento das características do produto final (segundo especificação da NBR 7171/92) e sem interferências significativas no processo produtivo. 1. Introdução A maioria das Estações de Tratamento de Águas (ETAs) do Estado de São Paulo lança os lodos gerados nos decantadores e nos filtros nos corpos d’água mais próximos, causando problemas ambientais, tais como aumento na quantidade de sólidos em suspensão, assoreamentos indesejáveis, mudanças de cor, aumento das concentrações de alumínio e, ainda que incipiente, uma Demanda Química de Oxigênio. Nos últimos 5 anos, o órgão ambiental paulista, CETESB, tem intensificado a fiscalização sobre o lançamento de lodos gerados em ETAs em corpos d’água, o que tem exigido das concessionárias de saneamento a busca de alternativas para a solução desse problema. Lodos de ETAs têm sido dispostos em aterros sanitários ou exclusivos e em áreas de reflorestamento e agrícolas, bem como utilizados para o controle de sulfetos em sistemas de coleta, trans- porte e tratamento de esgotos, em indústrias ou na construção civil (AWWA, 1990). Levando em conta estes tipos de disposição final/usos benéficos dos lodos de ETAs, verifica-se que no Estado de São Paulo: • Há escassez de áreas para construção de aterros, especialmente nas zonas mais adensadas, onde são gerados os maiores volumes de lodo; • O gerenciamento de um aterro exige um know-how muitas vezes não disponível numa concessionária de serviços de saneamento, cuja missão é planejar, executar e operar sistemas de água potável e de esgotos, garantindo a qualidade de vida da população; • No último inventário de resíduos sólidos domiciliares, realizado pela CETESB, em 2000, dos 645 municípios do Estado, apenas 197 dispunham seus resíduos de forma adequada (CETESB, 2001); e • O custo de disposição de resíduos em aterros sanitários é alto, variando de US$17 a US$ 32 por tonelada. Engenheira civil pela Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie, doutora em engenharia hidráulica e sanitária pela Universidade de São Paulo, docente da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, assessora da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Engenheiro civil e sanitarista. Mestre em hidráulica e saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos – USP. Superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da SABESP. Engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP. Mestre em engenharia pela Escola Politécnica da USP. Gerente da Divisão de Projetos de Pesquisa e Engenharia Básica da Superintendência de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico. Engenheiro mecânico pela Escola Politécnica da USP. Especialização em engenharia em saúde pública e ambiental pela FSP-USP. Mestre em engenharia pela Escola Politécnica da USP. Engenheiro da Superintendência de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico. Saneas / outubro 2002 – 7 Pesquisa & Desenvolvimento Blocos de cerâmicas produzidos com incorporação de lodo de ETA. Segundo a Associação Nacional de Cerâmica, no Brasil, existem 11.000 indústrias de cerâmica vermelha, assim distribuídas: 62% fabricam blocos e tijolos; 37%, telhas; e 0,2%, tubos. O faturamento anual destas empresas é de US$ 2,8 bilhões. Mensalmente, são consumidas 10.500.000 t de argila para a fabricação de blocos e tijolos e 4.500.000 t para telhas. O setor cerâmico gera 650.000 empregos diretos e 2 milhões de empregos indiretos (ANICER, 2002). Na Região Sudeste, onde se localiza o Estado de São Paulo, estão instaladas cerca de 1.600 cerâmicas e 2.000 olarias (Figura 1). As cerâmicas produzem, em média, 500.000 peças por mês e as unidades oleiras, 75.000 peças/mês. Os grandes pólos cerâmicos paulistas estão situados em Itu-Campinas, Santa Gertrudes–Cordeirópolis, Tatuí-Sorocaba, Tambaú–Vargem Grande do Sul, Mogi-Guaçu–Itapira, Pano- Figura 1 Principais pólos cerâmicos das regiões sul e sudeste do Brasil. MC MG Belo Horizonte 7 6 SP 4 2 8 9 1 3 PR 4 1 1 3 São Paulo 2 Curitiba 3 2 RJ 5 2 SC Florianópolis 1 RS Porto Alegre 8 – Saneas / outubro 2002 Rio de Janeiro Rio de Janeiro 1. Itaboraí 2. Campos São Paulo 1. Itu–Campinas 2. Santa Gertrudes–Cordeirópolis 3. Tatuí–Sorocaba 4. Tambaú–Vargem Grande do Sul 5. Mogi-Guaçu–Itapira 6. Panorama–Paulicéia 7. José Bonifácio–Avanhandava 8. Barra Bonita–Bariri 9. Ourinhos–Palmital Paraná 1. Rio Ivaí 2. Eixo Imbituva–Prudentópolis (Ponta Grossa) 3. Região Norte 4. Região Oeste Santa Catarina 1. Região Sul–Criciúma 2. Região Centro-norte (Blumenau) 3. Região Oeste Minas Gerais MC. Monte Carmelo rama–Paulicéia, José Bonifácio–Avanhandava, Barra Bonita–Bariri e Ourinhos–Palmital. A extração de argila, embora não seja considerada uma atividade poluidora, degrada o meio ambiente, pois devasta as matas e causa assoreamento nos rios. A indústria cerâmica, por sua vez, tem como um dos principais problemas ambientais, a emissão de fluoretos para a atmosfera nos fornos de queima. Segundo ALMEIDA et al. (2001), uma das alternativas para redução desta emissão é a substituição da argila por material isento de fluoretos. A utilização de lodos de ETAs na indústria cerâmica no Estado de São Paulo traz benefícios: • aos ceramistas, uma vez que possibilita o aumento da vida útil da jazida e a redução dos custos de recomposição de áreas com vegetação nativa; • à concessionária de serviços de saneamento, por esta ser uma solução definitiva; • ao meio ambiente, pela redução da supressão da vegetação devido a atividade extrativa, pela minimização da emissão de fluoretos e pela redução da poluição aquática causada pelo lançamento de lodos de ETAs nos corpos d’água. A experiência paulista tem mostrado que muitas iniciativas na área ambiental não chegam à resolução dos problemas pela falta de articulação entre os setores envolvidos. Por esta razão, o presente projeto está sendo desenvolvido empregando as técnicas de negociação de conflitos com a participação de multistakeholders. Envolve o setor produtivo da indústria cerâmica, usuária dos lodos das ETAs; os órgãos ambientais (Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e CETESB), responsáveis pelo licenciamento e fiscalização das atividades minerárias, industriais e de ETAs; o meio acadêmico, através do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e a SABESP, concessionária dos serviços de Saneamento do Estado de São Paulo. 2. OBJETIVO • Aplicar a metodologia de negociação de conflitos com a participação dos setores envolvidos para resolver o problema de disposição do lodo da Estação de Tratamento de Água de Cubatão, incorporando-o na fabricação de blocos cerâmicos de uma indústria localizada no pólo de Tatuí. Pesquisa & Desenvolvimento Incorporação do lodo de ETA na argila • Viabilizar alternativa ambientalmente sustentável para o destino final de lodos de ETAs. • Redução dos custos operacionais e de investimentos do processo de tratamento de água. 4. Materiais e métodos As seguintes premissas foram consideradas no desenvolvimento do projeto: • A Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo seria a articuladora entre os ceramistas, a concessionária de serviços de saneamento, a universidade e o órgão de controle da poluição ambiental; • A ETA deveria já estar produzindo lodo desidratado; • A indústria cerâmica, futura usuária do lodo desidratado, deveria estar ambientalmente adequada; • O projeto deveria ser desenvolvido em escala real; • A indústria deveria ter jazida própria para que o lodo desidratado da ETA pudesse secar ao ar livre para reduzir seu teor de umidade, uma vez que este influencia significativamente na qualidade do bloco cerâmico; e • A incorporação do lodo no processo industrial não deveria acarretar mudanças operacionais significativas, como, por exemplo, modificação de moldes para extrusão, mudança na composição dos diferentes tipos de argila e no procedimento de queima etc. 4.1. Caracterização do lodo da ETA Cubatão A cada lote de amostras de lodo da ETA Cubatão enviada à indústria cerâmica, foram coletadas amostras para a determinação dos seguintes parâmetros: teor de sólidos totais e voláteis; teor de carbono orgânico; composição mineralógica; e tamanho e distribuição de partículas. O teor de sólidos totais e voláteis foi determinado segundo APHA; AWWA; WEF (2000). A determinação do teor de carbono orgânico foi realizada com o analisador elementar da Perkin Elmer. As amostras foram previamente tratadas para remoção de carbono inorgânico segundo metodologia desenvolvida por Bevilacqua (1996). A determinação da estrutura cristalina da amostra foi efetuada através do método do pó, mediante o emprego do difratômetro de raios-X, marca Philips, modelo MPD 1880. A identificação das fases cristalinas foi obtida por comparação do difratograma das amostras com as contidas no banco de dados do ICDD – International Centre for Diffraction Data. A determinação de tamanho e distribuição de partículas foi realizada por meio de um analisador de partículas, modelo Mastersizer Microplus, da Malvern Instruments Ltd. Além destas determinações, foram obtidos os dados operacionais da ETA e de qualidade da água bruta durante o período de produção do lote de lodo encaminhado aos ceramistas. 4.2. Fabricação dos blocos cerâmicos com lodo de ETA Cada lote de argila encaminhado à cerâmica permaneceu ao ar livre por um período de 7 dias. Em seguida, foram incorporados à massa de argila lodo nas seguintes proporções: 25%, 20%, 12,5% e 10% (v/v). 4.3. Propriedades dos blocos cerâmicos produzidos com o lodo da ETA A cada lote de blocos cerâmicos produzidos, foram coletadas amostras para a realização dos seguintes ensaios: − Determinação das dimensões em blocos cerâmicos estrutural e vedação; − Determinação do desvio em relação ao esquadro e planeza das faces; − Determinação da absorção de água; − Determinação da resistência à compressão. Estes ensaios foram realizados segundo as normas NBR 8042, NBR 8947 e NBR 6461 da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT (BRASIL, 1992a, 1985, 1983). 5. Apresentação e análise dos resultados A identificação das fases cristalinas mostrou que o lodo da ETA Cubatão é composto, basicamente, de mica, goethita, quartzo, calcita e caolinita. Quanto à composição granulométrica, o Saneas / outubro 2002 – 9 Pesquisa & Desenvolvimento Tabela 1 – Área superficial e distribuição de partículas de amostras do lodo da ETA Cubatão Amostra de lodo nº Área superficial específica (m²/g) Distribuição de partículas (%) φ ≤ 2µm 2 < φ < 20 µm φ ≥ 20 µm 1 0,3160 4,9 68,5 26,6 2 0,2711 4,0 59,1 36,9 3 0,3298 5,8 65,9 28,4 4 0,3061 4,5 68,3 27,2 5 0,2488 2,9 60,9 36,1 lodo da ETA Cubatão é constituído de partículas com área superficial específica variando de 0,25 a 0,33 m²/g e diâmetro médio de partículas de 38 a 51 µm, apresentando as características superficiais de um silte, cuja área superficial específica está compreendida entre 0,01 e 10 m²/g e diâmetro médio de partículas de 4 a 64 µm (UNESCO, WHO, UNEP, 1992). TABELA 2 – Resultados dos ensaios realizados com blocos cerâmicos, nos quais foi incorporado 10% de lodo (molde com paredes curvas) Ensaio Ensaio de Compressão (MPa) Especificação Bloco Bloco NBR 7171/92 com lodo sem lodo 1,0 (mínimo) 0,4 0,8 8 a 25 20,9 18,4 Comprimento (mm) 240 ±3 242,1 242,0 Largura (mm) 115 ±3 114,7 116,0 Altura (mm) 140 ±3 138,8 139,0 E1 (superior) 7 (mínimo) 5,0 5,5 E2 (lateral) 7 (mínimo) 5,8 6,4 E3 (interna) 5,2 5,2 E4 (interna) 5,2 5,4 Absorção de água (%) Verificação dimensional Espessura das paredes (mm) E5 (lateral) 7 (mínimo) 5,7 5,7 E6 (inferior) 7 (mínimo) 6,2 6,8 3 0 1 Face A (mm) 3 0 0 Face B (mm) 3 0 0 Desvio de esquadro – média (mm) Planeza das faces – média: 10 – Saneas / outubro 2002 A Tabela 1 apresenta as áreas superficiais das partículas encontradas em diferentes amostras do lodo da ETA Cubatão, bem como a distribuição das mesmas nas seguintes faixas de diâmetro: < 2 µm, entre 2 e 20 µm e > 20 µm. A qualidade dos blocos cerâmicos depende muito das características das matérias-primas usadas, principalmente de sua composição granulométrica. A mistura de argilas com materiais não plásticos (desplastificantes), tais como areias, micas e óxidos de ferro, torna-se necessária, pois as primeiras, quando compactadas, dificultam a eliminação de água durante a secagem, o que provoca fortes retrações diferenciais e deformações, aumentando as perdas no processo de fabricação. Segundo Pracidelli; Melchiades (1997), para a confecção de tijolos furados, a massa deve conter de 20 a 30% de partículas com diâmetros inferiores a 2 µm, de 20 a 55 % de partículas com diâmetros variando de 2 a 20 µm e de 20 a 50% de partículas com diâmetros superiores a 20 µm. O lodo da ETA Cubatão possui de 3 a 6% de partículas com diâmetros inferiores a 2 µm, 60 a 70% com diâmetros entre 2 e 20 µm e de 30 a 40% com diâmetros superiores a 20 µm. Portanto, sozinho, não pode ser utilizado para produzir blocos cerâmicos. No entanto, há a possibilidade de incorporá-lo à argila plástica, devido à sua composição mineralógica e granulométrica. Com relação à matéria orgânica, os resultados mostraram que a argila utilizada na indústria cerâmica possui de 0,15 a 0,18% de carbono orgânico, enquanto o lodo da ETA Cubatão, de 5,5 a 8,1%. Devido ao baixo teor de carbono na matéria-prima da indústria cerâmica, é necessária a adição de 2,4% de coque como fonte de matéria orgânica, para melhorar a plasticidade da massa e a resistência mecânica dos blocos cerâmicos, facilitar a queima nos fornos e reduzir o consumo de Pesquisa & Desenvolvimento combustível. O lodo da ETA Cubatão poderia substituir total ou parcialmente o coque. O teor de sólidos secos da argila e do lodo foram de 76% e 18 a 20%, respectivamente. Em relação aos voláteis, estes estiveram na faixa de 3 a 5% para as amostras de lodo, e em torno de 3% para as de argila. Embora esta determinação seja utilizada para quantificar a matéria orgânica do lodo (AWWA, 1990), os resultados obtidos no presente trabalho mostraram que este parâmetro diferiu muito do teor de carbono orgânico nas amostras analisadas. A incorporação de 20 e 25% de lodo de ETA à massa de argila provocou o aparecimento de trincas e rachaduras em alguns blocos após a secagem na estufa. Estes foram descartados e o lote restante, encaminhado ao forno. Após a passagem pelo mesmo, apareceram novamente blocos com trincas e rachaduras. Os que não apresentaram estas deformações, sofreram visível retração, optando-se por não realizar o ensaio de resistência à compressão. Provavelmente, esta retração está relacionada ao gradiente de umidade no interior do bloco, provocado pela incorporação do lodo à massa cerâmica. Estudos realizados em San Jose, Califórnia, mostraram que era possível misturar 90% de lodo gerado numa ETA que utilizava sulfato de alumínio como coagulante com 10% de argila para produzir um tijolo, desde que o lodo estivesse totalmente seco. Se o teor de umidade fosse de 40%, 45% de lodo poderia ser incorporado ao tijolo e se fosse 75%, somente 10% da massa poderia ser constituída de lodo de ETA. Estes estudos revelaram, também, que a secagem ao ar livre era uma forma adequada para reduzir a umidade do lodo. Conseguia-se num período de poucos dias, um teor de sólidos de 60 a 80% num lodo que inicialmente apresentava um teor de 25%, deixando-o ao ar livre, em pilhas de 2,5 a 7,5 cm de altura no máximo, sendo este revolvido freqüentemente (AWWA, 1990). Espera-se que o lodo da ETA Cubatão, que deve permanecer na jazida de argila por um período de 2 a 3 meses, não apresente problemas de umidade como os observados com as amostras estudadas no presente trabalho. Os blocos nos quais foram incorporados 10% de lodo foram produzidos com moldes de paredes curvas, que são os tradicionalmente empregados na confecção de blocos cerâmicos. Os resultados deste ensaio são apresentados na Tabela 2. Os blocos não apresentaram retração significativa, no entanto, a resistência à compressão e as espessuras das paredes não atenderam às estipuladas pela norma NBR 7171/92 (BRASIL, 1992b), mesmo para o bloco sem adição de lodo. Decidiu-se, então, moldar os blocos com as paredes laterais retas e incorporar 12,5% de lodo à massa cerâmica. Os resultados relativos aos ensaios de resistência à compressão, absorção à água e verificação dimensional são apresentados na Tabela 3. Os blocos apresentaram pouca retração e a resistência à compressão estava dentro dos limites estipulados pela norma NBR 7171/92 (BRASIL, 1992b). Neste momento, está sendo viabilizado um contrato de curto prazo entre a concessionária de serviços de saneamento e a indústria cerâmica para que possam ser realizados testes que representem melhor as condições reais de recepção do lodo na indústria. Neste contrato, o TABELA 3 – Resultados dos ensaios realizados com blocos cerâmicos, nos quais foi incorporado 12,5% de lodo Ensaio Ensaio de Compressão (MPa) Especificação Bloco Bloco NBR 7171/92 com lodo sem lodo 1,0 (mínimo) 2,3 2,3 8 a 25 19,1 19,1 Comprimento (mm) 240 ±3 239,3 239,2 Largura (mm) 115 ±3 112,1 110,7 Altura (mm) 140 ±3 137,7 135,4 E1 (superior) 7 (mínimo) 5,1 5,4 E2 (lateral) 7 (mínimo) 5,7 5,8 E3 (interna) 4,9 4,9 E4 (interna) 5,0 4,9 Absorção de água (%) Verificação dimensional Espessura das paredes (mm): E5 (lateral) 7 (mínimo) 5,5 5,6 E6 (inferior) 7 (mínimo) 5,8 6,5 3 1 1 Face A (mm) 3 0 1 Face B (mm) 3 0 1 Desvio de esquadro - média (mm) Planeza das faces – média: Saneas / outubro 2002 – 11 Pesquisa & Desenvolvimento custo de transporte e destino final é de R$ 35/t, representando uma redução superior a 50%, quando comparado ao da disposição em aterros sanitários. Como dito anteriormente, o lodo contendo um teor de sólidos em torno de 20% permanecerá na jazida por 2 a 3 meses e, após este período, será incorporado à massa cerâmica. Será realizado um monitoramento freqüente dos blocos produzidos por pelo menos 1 ano. 6. Conclusões Dos resultados obtidos, conclui-se: – a metodologia de negociação de conflitos com a participação dos setores envolvidos mostrou-se eficaz no caso do lodo da ETA Cubatão: a indústria interessou-se em receber o lodo; o órgão ambiental atuou como mediador e não apenas como fiscalizador, ajudando a buscar alternativas para a solução do problema; a concessionária de serviços de saneamento está podendo, pela primeira vez no Estado de São Paulo, resolver definitivamente o problema de disposição de um lodo de ETA e a Universidade cumpre seu papel, pois as pesquisas que estão sendo realizadas têm um resultado prático; – as características materiais do lodo da ETA Cubatão e da indústria cerâmica permitiram verificar uma compatibilidade entre os dois materiais, não ocorrendo interferências significativas no processo produtivo e nem nas características finais dos blocos cerâmicos processados; – os estudos de incorporação de lodo de ETA na indústria de bloco cerâmico deve ser feita caso a caso de modo a verificar a compatibilidade entre os materiais e os processos de fabricação envolvidos; – além das características físico-químicas das matérias-primas, verificou-se que a adoção do molde de paredes retas da extrusora permite uma resistência à compressão dos blocos superior ao do molde de paredes curvas; – que os blocos cerâmicos nos quais foi incorporado 12,5% de lodo de ETA e confeccionados com molde de paredes retas atenderam as especificações das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas. 6. Referências Bibliográficas ALMEIDA, M.; FRADE, P.; CAMPANTE, H.; MARQUES, J. C.; CORREIA, A.M.S. Redução do teor de 12 – Saneas / outubro 2002 flúor nos efluentes gasosos da indústria cerâmica. Cerâmica Industrial, v. 6, n. 3, p. 7-13, Maio/Junho, 2001 AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION (APHA), WATER WORKS ASSOCIATION (AWWA), WATER ENVIRONMENTAL FEDERATION (WEF). Standard methods for the examination of water and wastewater. Washington. APHA-WEF, 2000. AMERICAN WATER WORKS ASSOCIATION (AWWA). Slib, schlamm, sludge. Denver, Co., Cornwell, D. A. and Koppers, H. M. M. Ed. American Water Works Association Research Foundation, Keuringsinstituut Voor Waterleidingartikelen (KIWA), 1990. ANICER – Associação Nacional da Indústria Cerâmica. Dados do Setor (on line). Disponível na Internet via www, URL: http://www.anicer.com.br/ dados.htm. 2001 BEVILACQUA, J. E. Estudos sobre a caracterização e a estabilidade de amostras de sedimentos do rio Tietê. Tese doutorado, Instituto de Química da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1996. 171 p. BRASIL. NBR 6461 – Bloco cerâmico para alvenaria: verificação da resistência à compressão. São Paulo. Associação Brasileira de Normas Técnicas, 1983. BRASIL. NBR 8947 – Telha cerâmica: determinação da massa e de absorção de água. São Paulo. Associação Brasileira de Normas Técnicas, 1985. BRASIL. NBR 8042 – Bloco cerâmico para alvenaria: forma e dimensões. São Paulo. Associação Brasileira de Normas Técnicas, 1992a. BRASIL. NBR 7171 – Bloco cerâmico para alvenaria. São Paulo. Associação Brasileira de Normas Técnicas. 1992b. COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL (CETESB). Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares 2000. Relatório Síntese. São Paulo. CETESB. 2001. COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL (CETESB). Relatório de qualidade das águas interiores do Estado de São Paulo 2001. São Paulo. CETESB. 2002. MOTTA, J. F. M.; ZANARDO, A; CABRAL JUNIOR, M. As matérias-primas cerâmicas. Parte I: o perfil das principais indústrias cerâmicas e seus produtos. Cerâmica Industrial, v. 6, n. 2, p. 28-39, Março/Abril, 2001. PRACIDELLI, S.; MELCHIADES, F. G. Importância da composição granulométrica de massas para a cerâmica vermelha. Cerâmica Industrial, v. 2, n. 1 e 2, p. 31-5, janeiro/abril. 1997 SEADE – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados. PMU Pesquisa Municipal Unificada 1999. CD-rom. São Paulo. SEADE, Secretaria de Economia e Planejamento, Secretaria de Estado do Meio Ambiente, 2000. UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION (UNESCO); WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO); UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME (UNEP). Water quality assessments. A guide to the use of biota, sediments and water in environmental monitoring. London Chapman, D. Ed. Chapman & Hall, 1992. ■ CAPA Inovação tecnológica no saneamento: o papel de cada um Sinônimo de competitividade, investir em tecnologia e P&D de novos processos é uma tendência e uma necessidade para o crescimento das empresas de saneamento Matéria de Capa Tecnologia: no Brasil, apenas 15% do conhecimento se reverte em produção tecnológica S e fosse preciso responder rápido a seguinte pergunta: “o Brasil investe em pesquisa?”. Provavelmente, a resposta mais comum seria: não, este não é um país com tradição na área de pesquisa. Este conceito está tão difundido que fica difícil acreditar no dado, divulgado recentemente pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), afirmando que o Brasil produz 1% do conhecimento científico mundial. Só para se ter uma base comparativa, o valor é similar ao produzido pela Coréia, país conhecido pela pesquisa e tecnologia avançada. Então não estamos tão mal assim? Em termos. Indo além, de acordo com o mesmo estudo, quando se reverte volume de pesquisa em tecnologia, verificou-se que apenas 15% do que se investe no conhecimento vai para produção tecnológica. Neste quesito, a Coréia apresenta desempenho trinta vezes superiores aos dados brasileiros. Daria para especular sobre o que falta por aqui, como incentivo para pesquisa, interesse das empresas ou vontade de investir e desenvolver tecnologia ao invés de comprála fora. Nas últimas décadas, as empresas se preocuparam mais com o crescimento industrial e o gerenciamento do que com pesquisa e desenvolvimento (P&D). É certo que inovação tecnológica e competitividade andam juntas. E não dá para ficar para trás. Nos últimos anos, lançou-se uma série de incentivos para a prática de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia. Criaram-se os fundos setoriais e, mais recentemente, o MCT apresentou a “Lei da Inovação”, que tem como meta incentivar a P&D e, para 2003, o Ministério da Ciência e Tecnologia prevê dispor, em seu orçamento, cerca de R$ 2,8 bilhões. O governo federal vislumbra que os investimentos nessa área no país alcancem, em dez anos, um volume equivalente a 2% do Produto Interno Bruto – o nível atual é de 1,3% do PIB–, incluindo, aí, pesquisas feitas dentro das universidades, nas esferas estaduais, municipais e iniciativa privada. Esse é um dos Saneas / outubro 2002 – 13 Matéria de Capa A parceria com o Instituto de Pesquisa Tecnológica As áreas de demanda de pesquisas no saneamento e que fazem parte do contrato da Sabesp com o IPT são: • Controle e perdas de água • Automação • Resíduos de ETAs e ETEs • Reúso de água • Análises e testes para complementação de pesquisas internas • Estudos de custos por processos e sistemas • Assessoria à área ambiental e em informática • Atendimento a emergências operacionais • Desenvolvimento de novos materiais e equipamentos • Análise de segurança de barragens • Pesquisas geológico-geotécnicas • Pesquisas metalográficas e químicas • Pesquisas metrológicas na área de controle de vazão A redução de perdas é uma área de demanda de pesquisa nas empresas de saneamento objetivos mais concretos do “Livro Branco da Ciência” que reúne um conjunto de diretrizes estratégicas criando mecanismos para transformar a pesquisa e a inovação em desenvolvimento econômico e social. Além dos incentivos, é preciso que se crie uma cultura de geração de inovação tecnológica. É urgente uma mudança de mentali- dade, tanto dos pesquisadores, que devem se voltar, sem abandonar a essencial pesquisa básica, para as necessidades do setor produtivo, quanto das empresas, que precisam criar e/ou desenvolver a gestão de planejamento e desenvolvimento estratégico de tecnologia, focados em suas metas internas. Por parte das universidades, fundações e institutos de pesquisas, é necessário que estabeleçam parcerias com as empresas para disseminar o conhecimento. Uma pesquisa feita na década de 60, nos Estados Unidos, resume muito bem este pensamento de interação entre empresas e os meios acadêmicos. O estudo mostrou que as empresas que possuíam departamento de pesquisa e desenvolvimento eram também as que adquiriam tecnologia de universidades e instituições de pesquisa. Ou seja, para incorporar uma inovação é importante ter capacitação tecnológica. Nas empresas de saneamento o terreno é fértil para a inovação tecnológica em várias áreas, como recursos hídricos; tecnologias de sistemas de tratamento de água e esgoto; gerenciamento operacional de sistemas de distribuição de água e controle de perdas; consumo; águas de reúso; lodos; materiais e métodos; custos; e automação de operações de saneamento; entre outros. O papel das universidades, fundações e institutos de pesquisa Existem diferentes maneiras de gerar tecnologia, seja investindo em pesquisas internas ou buscando parceiros em universidades e institutos de pesquisa. Sobre esse assunto, Francisco Romeu Landi, diretor presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), dá sua opinião: “a parceria é uma forma de gerenciar projetos que o pesquisador solitário ou encastelado na universidade nem sempre consegue. No caso da parceria entre empresas e pesquisadores, a necessidade de produtos de melhor qualidade e preço falam mais alto e fez com que os estudos acadêmicos ganhassem as ruas. Um exemplo disso, é a criação de laboratórios próprios nas empresas e a designação de pessoas capazes de interfacear as relações com universidades e centros de pesquisas”. Na opinião de Guilherme Ary Plonski, diretor superintendente do Instituto de Pesquisa Tecnológicas do Estado de São 14 – Saneas / outubro 2002 Matéria de Capa Paulo (IPT), a aproximação com as universidades, via Fundações ou institutos de pesquisas, é uma realidade e uma busca legítima de tecnologia. As Fundações são entidades de apoio, privadas, que podem alocar os recursos financeiros. É função das Fundações gerenciar estes fundos para o pesquisador (Lei 8666/93, que determina as normas para licitações e contratos no setor público), como os fundos setoriais (ver box). As Fundações funcionam como um elo entre a universidade e as empresas, fazendo com que a primeira responda na velocidade que a segunda requer. Dependendo da necessidade da empresa, ela não pode esperar anos para conseguir o resultado de uma pesquisa universitária. A resposta tem que ser ágil. E Redução de impactos ambientais: terreno fértil para P&D nas próximas décadas A nova lei de inovação e os fundos setoriais • Lei da Inovação: diretrizes para Ciência e Tecnologia – O que diz a lei: O projeto de Lei da Inovação, elaborado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, está tramitando no Congresso Nacional e tem como principal objetivo flexibilizar as relações entre pesquisadores, institutos de pesquisa e empresas privadas no desenvolvimento de novas tecnologias, produtos, processos e serviços. O projeto de lei prevê medidas de incentivo à pesquisa; mudanças na gestão das instituições científicas e ações de estímulo à criação das Empresas de Base Tecnológicas (EBTs). O texto completo está na site do MCT (http:// www.mct.gov.br/temas/desenv/leideinovacao). – Quais são as principais propostas: Instituições de pesquisa: os produtos e processos inovadores a serem obtidos por instituições de pesquisa vão poder ser adotados por empresas privadas interessadas na produção de bens e serviços. As instituições, no entanto, ficam protegidas por mecanismos eficazes de transferência científica. Empresas: poderão compartilhar laboratórios e equipamentos com as instituições públicas de pesquisa, mediante remuneração e, também, formar alianças estratégicas – seja com outras empresas, como instituições de C&T ou com a União. Neste último caso, a União só poderá participar deste empreendimento se for para a criação de centros considerados de relevante interesse nacional. Pesquisadores: poderão receber autorização para afastamento dos cargos, caso queiram colaborar com pesquisas em outras instituições ou empresas. Também poderão tirar licença não remunerada se tiverem interesse em constituir, eles próprios, EBT. Investidores independentes: suas criações poderão ser adotadas por instituições de pesquisa, visando a elaboração de projetos que tenham possibilidade de industrialização ou utilização por parte do setor produtivo. • Fundos Setoriais Os Fundos Setoriais são um conjunto de medidas que têm como finalidade a captação de recursos para o financiamento de projetos e programas de desenvolvimento científico e tecnológico de diversos setores econômicos. Um bom exemplo disso é o CT-Hidro, o Fundo Setorial de Recursos Hídricos, destinado a financiar estudos e projetos na área de recursos hídricos e tendo como principal fonte de financiamento as empresas geradoras de energia elétrica –4% da compensação financeira atualmente recolhida por essas empresas. Saneas / outubro 2002 – 15 Matéria de Capa O Programa de Uso Racional da Água – PURA – foi desenvolvido em parceria com Universidades, Institutos de Pesquisa, ONGs, órgãos governamentais e iniciativa privada. a Fundação dialoga tanto com as empresas quanto com os meios acadêmicos. Sobre o papel da universidade, o diretor do IPT afirma: “A universidade não concorre com o setor de pesquisa da iniciativa privada. A idéia é que as instituições universitárias e também institutos de pesquisas realizem três tipos de atividades: ensino, pesquisa e extensão. Tendo como fim, pesquisas e serviços prestados a comunidade”. E vai além: “a inovação tecnológica como um processo linear é uma visão obsoleta. A pesquisa de bancada, nas universidades ou em institutos de pesquisas, utilizada numa empresa para gerar mais e melhores bens e serviços é um processo que nem sempre acontece linearmente. A inovação tecnológica é multifacetada. Ela acontece na empresa, no instituto de pesquisa ou por meio das demandas do consumidor, que vivencia um determinado problema no final desta cadeia produtiva. Os diferentes agentes– de universidades a sociedades profissionais– precisam trabalhar em rede. Isso porque, freqüentemente, as inovações surgem neste contexto de redes. Sendo então necessário estabelecer os vínculos entre esses nós e fazer com que operem em sintonia, minimizando as dificuldades e maximizando os benefícios. A inovação será tão ou mais capaz de acelerar o desenvolvimento econômico social, quanto mais essas redes de inovações estiverem bem tecidas”. No caso das empresas de saneamento, parcerias com os meios universitários ou institutos de pesquisas dão suporte para trabalhos práticos. A relação entre meio acadêmico e empresas não deve ser o de prestadora de serviço. Esta não é, e nunca será, sua função, que é a de extensão e geração de conhecimento. A Sabesp, por exemplo, tem no IPT um parceiro antigo. Mas é preciso abrir as portas também para inovações de processos vindos de parti- O Encontro Técnico da AESABESP S eminários, encontros técnicos, participações em congressos são ferramentas na cadeia da geração e disseminação do conhecimento e desenvolvimento de novas tecnologias. Entre os dias 27 e 29 de agosto, aconteceu no Pavilhão da Fundação Bienal de São Paulo, na capital paulista, o “XIII Encontro Técnico da Associação de Engenheiros da Sabesp e a XIII Feira Nacional de Materiais, Tecnologia e Equipamentos para Saneamento”. O encontro, considerado o maior da América Latina com foco em saneamento ambiental, teve vi- Incentivo à pesquisa: quase oito mil pessoas participaram do sitação média de 2.500 pessoas por dia, con- XIII Encontro Técnico da AESABESP tou com 125 estandes, numa área de oito mil metros quadrados. Foram apresentados 160 trabalhos técnicos. A abertura contou com a palestra do jornalista Joelmir Betting. Durante o encontro aconteceram cinco painéis de debates que abordaram: Gestão Ambiental; Desenvolvimento Operacional; Novo Sistema de Manutenção nas Áreas do Saneamento Ambiental, Reúso da Água e Subprodutos dos Processos de Tratamento; e A Engenharia Nacional no Ambiente Globalizado. 16 – Saneas / outubro 2002 Matéria de Capa Empresas de água: quais são as prioridades • Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação tecnológica 1. Redução de perdas de água 2. Melhoria do índice de regularidade de abastecimento 3. Redução de impactos ambientais 4. Redução de custos operacionais 5. Aumento de oferta de água tratada 6. Melhoria e/ou manutenção da qualidade de água fornecida • Ações a serem incentivadas 1. Desenvolvimento e capacitação técnica dos profissionais e parceiros externos 2. Tecnologia da informação, informatização do controle e automação 3. Análise da causa ou origem das falhas em todos os processos e procedimentos 4. Gerenciamento da tecnologia: identificação de demandas, acompanhamento da execução, avaliação e adoção de resultados 5. Desenvolvimento de procedimentos operacionais, equipamentos, ferramentas e protótipos 6. Estudos de viabilidade técnica, prospecção, monitoramento, avaliação e auditoria técnológica 7. Redução de consumo e racionalização de uso da água 7. Projetos de pesquisa aplicada de materiais, produtos e processos 8. Redução dos custos de investimento 8. Normalização e normatização técnica 9. Aumento de receitas Fonte: Estudo Prospectivo da Tecnologia de Saneamento da Sabesp, 1997 9. Pesquisas básicas em novos paradigmas científicos. Por exemplo, ciências ambientais e capacitação avançada de pesquisadores 10. Aperfeiçoamento de ensaios, testes e análises técnicas laboratoriais culares, concessionárias, do consumidor e do próprio corpo de funcionários e colocá-las em prática– caso façam parte do planejamento estratégico da empresa– e checar os resultados. A troca de experiências e a divulgação de pesquisas, bem sucedidas ou não, evita riscos e perdas futuras. Este é mais um dos motivos que demonstram a importância de se ter um setor dentro das empresas que centralize, cadastre, e saia em busca de novas tecnologias e pesquisas. Portas de entrada As redes e parcerias não se mantêm ou não se justificam se não houver uma área, dentro da empresa, responsável pelo planejamento e desenvolvimento de novos processos e inovações. É responsabilidade desta área, por exemplo, acompanhar as ações; desenvolver, coordenar e administrar acordos e convênios de cooperação técnica nacionais e internacionais; manter um sistema de divulgação e disponibilização do acervo técnico; e coordenar a avaliação dos resultados da implantação de tecnologias e promover sua disseminação dentro e fora da empresa. Dentro das empresas de água, o desenvolvimento das pesquisas deve ter, entre as metas, a melhoria do índice de regularidade do abastecimento Saneas / outubro 2002 – 17 Matéria de Capa A área de P&D Tecnológico da Sabesp existe há mais de 20 anos, com momentos de maior ou menor impulso. Quando parte integrante da Diretoria Técnica e de Meio Ambiente, em 1997, coordenou o “Estudo Prospectivo de Tecnologia de Saneamento” e apresentou a “Política de Desenvolvimento Tecnológico”. A área foi também responsável pelo cadastro de pesquisas no setor do saneamento e a elaboração de um guia para aqueles que estivessem dispostos a dedicar seu tempo a pesquisa. Apenas com metas e prioridades claras é possível planejar e direcionar os investimentos no setor de pesquisa e desenvolvimento. A Sabesp assinou contrato ¨guarda-chuva¨ com o IPT no valor de cerca de R$ 10 milhões para 60 meses. O contrato prevê o desenvolvimento e a elaboração de projetos, estudos, pesquisas, análises e ensaios nas áreas de atuação da empresa. Há também projetos de Cooperação Técnica com o Japão e o Canadá, no qual profissionais conhecem novas tecnologias. Investir em aprimoramento técnico, convênios e na formação acadêmica dos funcionários, também é uma forma de gerar conhecimento, desenvolver e aplicar novas tecnologias e processos. De acordo com o engenheiro Américo de Oliveira Sampaio, superintendente de pesquisa e desenvolvimento tecnológico da Sabesp, para dar vazão às necessidades é preciso investir em estrutura e trabalhar com as diferentes mentalidades dentro das empresas de saneamento. Há cinco anos, quando foi elaborado o “Estudo Prospectivo de Tecnologia de Saneamento”, diagnosticou-se que havia um aumento de interesse e de investimento das empresas concessionárias em saneamento na P&D tecnológico. A semente foi lançada: investir em pesquisa e inovação é um instrumento essencial da competitividade. ■ Modelo de Gestão da Tecnologia Adoção da inovação tecnológica AMBIENTES GERADORES DE DEMANDAS Alta Administração / Unidades Operacionais/ Marketing / Redesenho / Áreas técnicas e Tecnológicas Demandas e Oportunidades Tecnológicas • Universidades • Institutos de Pesquisa • Parcerias 18 – Saneas / outubro 2002 Avaliação baseada em Indicadores de Custo e / ou Desempenho Definição da solução tecnológica da demanda Priorização Indicadores de Custo e / ou Desempenho Resultados tecnológicos Novos Conhecimentos Projetos de P&D Conhecimentos disponíveis Transferência de Tecnologia • Acordos de cooperação • Universidades • Unidades da Sabesp • Parcerias Sucesso Insucesso Registro e disseminação da tecnologia Divulgação e reavaliação da demanda Normalização ARTIGOS TÉCNICOS Tecnologia UV e suas opções orientando as decisões do usuário Bill Cairns Paulo Cesar Modesto Rubens Francisco Jr. O s dias de uma única tecnologia UltraVioleta (UV) aplicável a todos os fins já se passaram. No presente artigo serão apresentados os argumentos para uma abordagem baseada no conhecimento e apoiada pela experiência, das configurações de tecnologia múltipla, a fim de ajudar os usuários a escolherem a tecnologia correta para suas devidas aplicações. Artigos Técnicos Decisão 1 – Quando utilizar a tecnologia UV? As tecnologias UV têm sido, de modo crescente, a escolha não apenas para a desinfecção da água e efluentes, mas também como solução para vários contaminantes químicos usando fotólise UV, ou UV mais oxidantes em aplicações de oxidações avançadas. Como parte de um processo de tratamento, as tecnologias UV contribuem significativamente nas estratégias de barreiras múltiplas para a proteção da saúde pública, e podem ainda trazer vantagens de performance e custos quando comparadas às outras alternativas de tratamento. Por exemplo, considerando uma estratégia múltipla de desinfecção, o UV tem o papel de desativar os microorganismos patogênicos que são quase totalmente resistentes ou extremamente resistentes aos desinfetantes químicos (isto é, totalmente resistente: Criptosporidium, e muito resistente: Giardia e Legionella, quando se trata de desinfecção com cloro). A tecnologia UV, portanto, permite a redução da alta dosagem dos produtos químicos desinfetantes, que seriam, de outra forma, necessários para o controle dos elementos patogênicos extremamente resistentes a esses produtos. A dosagem mais alta do desinfetante químico segue também as baixas temperaturas da água e pode ser influenciada pelo pH da água. O uso de UV para evitar doses altas de produto químico desinfetante exigido pela microbiologia ou pela qualidade da água, resulta numa quantidade menor de subprodutos para desinfecção química, e conseqüentemente numa melhoria da qualidade da água produzida, quer seja de forma biológica ou química, usando uma estratégia de desinfecção múltipla. Nas comunidades onde o residual de desinfecção química não é utilizado devido à alta qualidade da fonte da água e/ou a um processo extensivo de tratamento, e/ou um sistema de distribuição bem mantido, uma dose relativamente baixa de UV (equivalente a 40 mJ/cm², que corresponde à dose de tratamento comumente utilizada com sucesso na Europa e América do Norte) é utilizada para suprir uma ampla proteção patogênica, inclusive os parasitas protozoários sensíveis ao UV e outras bactérias similarmente sensíveis, as bactérias e vírus intermediários, no que diz respeito à sensibilidade ao UV e os mais resistentes vírus de significância epidemiológica, como o rotavírus. A qualidade da água, discutida mais adiante, também influencia a conveniência do uso da UV, da mesma forma que influencia também o uso de outros desinfetantes. Em resumo, os critérios chaves a serem usados quando da seleção das tecnologias UV em relação às tecnologias alternativas são: – Eficácia do desempenho (amplitude e extensão da redução do alvo contaminado); – Variação do pH e temperatura da água que poderiam acrescentar complicações à solução do tratamento químico alternativo, porém com menos efeito na solução por UV; – Parâmetros de qualidade da água como componentes de absorção UV dentro da água e/ou a presença de sólidos em suspensão, que podem influenciar as tecnologias UV ou outras, de formas similares, ou divergentes; Bill Cairns é o Cientista Chefe da Trojan Technologies Inc., sediada em London, Ontário, Canadá. Paulo Cesar Modesto Pereira é Diretor da Memphis Empreendimentos Ltda, sediada em São Paulo-SP. Rubens Francisco Jr. é Diretor da Memphis Empreendimentos Ltda., sediada em São Paulo-SP. Saneas / outubro 2002 – 19 Artigos Técnicos Sistema UV 4000TM em operação, tratando 19 mgd – Redução do potencial de formação dos subprodutos (pelas ondas UV, somente, ou pelo processo inteiro no qual a tecnologia UV está integrada); – Benefício de barreiras múltiplas para a proteção da saúde pública, reduzindo a quantidade de barreiras, através de sua justaposição; – Custo relativo das opções não possuidoras de tecnologia UV. Decisão n° 2 – Qual das tecnologias UV deverá ser usada? Sistema Trojan UV 4000 As tecnologias UV estão agora disponíveis em configurações variadas: escoamento em canal aberto e alimentação por gravidade, alimentação fechada sob pressão, lâmpada de radiação monocromática, lâmpada de radiação policromática, lâmpada orientada pela corrente laminar, lâmpada orientada pela cor- 20 – Saneas / outubro 2002 rente transversal, com mecanismos de limpeza, sem mecanismos de limpeza, com controle on line para regular a quantidade de fornecimento (vazão) a fim de satisfazer a demanda, sem regularização da quantidade de fornecimento etc. A variedade de opções no mercado tem criado, às vezes, confusão para os usuários e mesmo para as agências reguladoras, e o excesso de reclamações pelos fabricantes, sustentando suas próprias tecnologias, têm, às vezes, dificultado o usuário na escolha de uma tecnologia UV mais adequada para a área considerada. Um fabricante da linha completa de configurações de tecnologia é capaz de avaliar a perspectiva de forma holística e menos preconceituosa, quando confrontado com as necessidades do local específico de cada usuário. Quando os fabricantes são capazes de se valer de ambos, de suas largas experiências no campo, bem como do seu extenso conhecimento, resultantes de pesquisas e desenvolvimento intensos, as seguintes perspectivas inevitavelmente surgirão e ajudarão beneficamente o usuário: – Quando UV é uma solução adequada para uma específica aplicação, por exemplo, na desinfecção ou na contaminação destrutiva de um produto químico específico, não haverá necessariamente apenas uma só tecnologia UV adequada para todas as áreas envolvidas na mesma aplicação; – Diferentes tecnologias UV têm seus pontos fortes e fracos e a solução otimizada deve ser encontrada para cada cliente, de acordo com a variação de sua aplicação específica, a qualidade da água, fatores do meio ambiente e outros; – Uma solução UV para um local e condições específicas é uma função do pacote integrado (lâmpada, reator, mecanismos de limpeza, tecnologia com monitor, controle tecnológico etc.) e não está apenas relacionado à escolha da lâmpada a ser utilizada na tecnologia; – Trabalhar junto ao cliente para descobrir a melhor tecnologia para satisfazer suas necessidades é mais adequado do que tentar convencer o cliente que uma certa tecnologia irá satisfazer as suas necessidades; e – O usuário que participa do processo seletivo e/ou ciente das razões que levaram à escolha e recomendação de uma opção específica é mais compreensivo ao saber que outro usuário recebeu uma tecnologia diferente para a mesma Artigos Técnicos aplicação e que ambos os usuários estão recebendo as melhores opções para otimizar suas necessidades. A seleção de uma tecnologia UV otimizada para o local específico de uma dada aplicação (por exemplo: desinfecção, contaminação destrutiva de produtos químicos), normalmente, consideraria as seguintes variáveis, e suas implicações, para a seleção de uma tecnologia UV correta para este local específico: – Espaço disponível para o tratamento tecnológico comparado com o layout exigido pelas várias opções tecnológicas UV, com relação à vazão de pico do projeto; – Custos de terreno, edifícios e instalações de equipamentos, bem como custo do capital, associado às várias opções de tecnologia UV; – Parâmetros da qualidade de água, como absorção real do comprimento de ondas UV, por exemplo, germicida, fotólise, e o impacto no uso eficaz de emissão da lâmpada sobre a extensão do comprimento de onda e, portanto, na quantidade de lâmpadas necessárias; – Custos de reposição das lâmpadas e no valor líquido presente (VLP) sobre a vida útil do equipamento; – Custo da eletricidade e impacto sobre os custos operacionais e valor líquido presente; – Composição da matriz da água em termos de substâncias químicas orgânicas e inorgânicas e o potencial para exceder um limite controlável na produção de subproduto, por exemplo, nitrito e nitrato, quando a combinação do subproduto precursor de concentração, a emissão de comprimentos de ondas e a dose de UV são concomitantemente consideradas; – Parâmetros da qualidade da água, influenciando a contaminação da transmissão ótica de UV e implicações para necessidades de tecnologia de limpeza e custos associados; e – Disponibilidade de bioensaios ou dados práticos de outras instalações são a base de comparação e de projeto dos equipamentos, além das características da água, sua qualidade, vazão e a potência consumida. A discussão acima ressalta vários fatores que os usuários, ou potenciais usuários da tecnologia UV devem reconhecer: – Quanto à escolha do uso das tecnologias UV, em vez de outras alternativas, e qual das tecnologias UV aplicar; – A escolha adequada de uma tecnologia UV não depende apenas da natureza da lâmpada UV, mas sim do conjunto da tecnologia UV (lâmpada, reator, mecanismo de limpeza, monitores, controles etc) e como esta tecnologia total interage com as variáveis da aplicação (limites dos contaminantes, qualidade da água etc), com as pressões econômicas (custo da eletricidade, orçamento disponível etc) e limitações do local ou terreno (por exemplo, limitações de layout); – Fabricantes com longa tradição de oferecer uma extensa gama de configurações tecnológicas UV sentiram a necessidade de avaliar as variáveis e desenvolver ferramentas a fim de fornecerem aos seus clientes as melhores soluções entre as suas numerosas ofertas. Tais fabricantes são parceiros estratégicos dos clientes que procuram a qualidade de serviço que nasce a partir de um programa de desenvolvimento e pesquisas intensas e de uma abordagem baseada no conhecimento do desenvolvimento de uma tecnologia UV, da sua fabricação e serviço ao cliente. ■ Sistema Trojan UV 4000 Plus Um dos maiores sistemas de reúso por UV do mundo está localizado em Santa Rosa, Califórnia (EUA). Saneas / outubro 2002 – 21 P&D ARTIGOS TÉCNICOS Nova tecnologia de bombeamento simplifica instalações e operações e preserva o meio ambiente Mauro Leichtweis Petry Alexsandro Geremia RESUMO As novas exigências mundiais de preservação do meio ambiente estão fazendo com que os fabricantes de equipamentos direcionem suas pesquisas e desenvolvimentos de novos produtos para a busca de inovações, que atendam a essa necessidade. Neste artigo será enfocada a área de bombeamento, particularmente uma inovação* já presente no mercado, com tecnologia nacional, voltada à preservação ambiental e simplificação das instalações e operações. Artigos Técnicos A presentada muitas vezes como vilã quando o assunto em pauta são as reservas reduzidas de águas e mananciais comprometidos, a captação de água para utilização na irrigação, na indústria ou no saneamento vem, ininterruptamente, assumindo um papel cada vez mais importante nos mais variados cultivos agrícolas, processos industriais e tratamento de águas. Além da utilização de grandes volumes de água, as estações de bombeamento também são alvo de críticas por necessitarem instalações próximas às margens de rios, arroios, barragens ou represas, requerendo aterros, desmatamento, construção de canais e, em alguns casos, até mesmo o desvio do curso de rios e arroios para atender às necessidades de sucção das bombas. Neste contexto de necessidade de inovações tecnológicas dos produtos destinados ao bombeio de água, têm surgido no mercado algumas soluções que contribuem com a diminuição das agressões ambientais. Paradoxalmente aos avanços tecnológicos incorporados ao produto desejados, o mercado busca, constantemente, soluções que propiciem menores custos de instalação e operação, além de permitir flexibilidade para adaptar a estação de bombeamento à situação do manancial. Assim, desde 2001, o conceito de bomba monobloco, anfíbia e modular tem sido apresentado aos consumidores, sendo que a gama de vazões e pressões atendidas vem crescendo continuamente. O conceito Utilizando o princípio de bombeamento centrífugo com rotores fechados de fluxo misto ou radial, simples ou multiestágio, a bomba anfíbia foi concebida para ter a capacidade de operar tanto dentro quanto fora da água. Já o termo monobloco se refere ao conjunto único de motor, bombeador, carcaças externas e flanges de conexão. Modular diz respeito à possibilidade de utilização destas bombas em montagens em série e/ou paralelo para multiplicar as vazões e pressões, podendo conectar uma bomba diretamente à outra por meio de flanges. O anfibismo destas bombas é conseqüência do design adotado, onde o fluxo da água é admitido pela sucção axial flangeada, passa por um rotor centrífugo convencional, onde é transmitida a energia ao fluido, por um difusor aletado e então é descarregado no espaço anular formado externamente pela carcaça da bomba e internamente pelo motor (Figura 1). * Patente Requerida sob nº PI-0103598-3. Coordenador de Projetos da HIGRA Industrial Ltda. Engenheiro Mecânico formado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos do Rio Grande do Sul. e-mail: engenharia@higra.com.br Diretor Administrativo Financeiro da HIGRA Industrial Ltda. Administrador de Empresas formado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos do Rio Grande do Sul. E.mail: mkt@higra.com.br 22 – Saneas / outubro 2002 Artigos Técnicos Figura 1: Bomba em corte A passagem de todo o volume de fluido bombeado ao longo do motor garante uma troca térmica excelente e em níveis muito mais altos que a refrigeração por ventilação forçada, usualmente utilizada nos motores elétricos convencionais, resultando em uma temperatura de trabalho bastante baixa. Por esta razão, é possível explorar com segurança maiores potências em motores de menor tamanho. A refrigeração interna do motor é, da mesma maneira, feita com água. Para tanto, o bobinado deste é feito com espiras de fio encapado, que garante a isolação e permite rebobinagem. Um sistema de equalização das pressões interna (do motor) e externa (do fluido bombeado), elimina a possibilidade de problemas de vazamento ou infiltração e, sendo o diferencial de pressão igual a zero, as paredes do motor não estão submetidas a esforços resultantes da pressão hidráulica. Os mancais axiais e radiais de deslizamento asseguram a centralização e absorção das vibrações e esforços resultantes do movimento rotatório, empuxo e pressão hidráulicos atuantes no rotor centrífugo. Também conferem maior robustez e durabilidade ao conjunto por serem menos suscetíveis à diferentes condições de lubrificação que não a ideal, como mancais de rolamentos, por exemplo. A pressurização interna do motor contribui, significativamente, para o aumento da vida útil dos mancais da bomba, pois, sob pressão, forma-se um filme lubrificante entre o eixo e as buchas dos mancais. Versatilidade Aliando as características de anfibismo, modulabilidade, o fato de ser monobloco e de contar com mancais radiais e axiais, o resultado é uma linha de bombas que propiciam uma vasta diversidade de opções de instalação e utilização. Podem ser instaladas: – na horizontal, vertical ou inclinadas; – apoiadas, suspensas, tanto pelos pés quanto pelos flanges, e até mesmo enterradas; – sozinhas na tubulação, afogadas ou succionando; – com uma bomba afogada captando o fluido e outra(s) na linha pressurizando o sistema; – como booster para incrementar a pressão de uma tubulação; – uma bomba de grande vazão na captação, alimentando um reservatório, de onde outras bombas direcionarão o fluido para os destinos desejados. A Figura 2 ilustra algumas das situações descritas. Vantagens A possibilidade de trabalhar dentro e fora d’água traz uma vantagem significativa na questão do NPSH (Net Pressure Suction Head) e da conseqüência da não-observância dos limites deste, que é a cavitação. Os prejuízos de uma instalação operando sob condições que gerem cavitação são muitos e incluem aumento no consumo de energia elétrica e danos permanentes ao rotor, difusor e mancais das bombas. Saneas / outubro 2002 – 23 Artigos Técnicos Figura 2 Formas de Instalação Bomba artesiana retirando água de poço e alimentando diretamente bomba monobloco, que trabalha como booster. Vista superior de uma instalação industrial, com uma bomba na linha, como booster, para incremento da pressão. A bomba tanto pode trabalhar submersa, quanto succionando, com válvula de pé. Sistema de bombeio modulado com uma das bombas abaixo do nível do solo, com tampa de inspeção. Sistema com uma bomba na captação e duas na linha, como booster. 24 – Saneas / outubro 2002 Desta maneira, evitando-se a cavitação, reduz-se, significativamente, os gastos com operação e manutenção do sistema. A bomba anfíbia pode ser instalada submersa, numa condição de nível normal do manancial, já prevendo uma redução deste nível durante a seca, situação em que a bomba trabalharia fora da água, succionando, considerando os limites de NPSH requerido para cada rotor. Nesta mesma situação, uma bomba convencional não submersa deveria ser instalada sobre uma base flutuante (balsa), que acompanhasse a variação do nível da água. Os custos envolvidos na construção de casas de bombas podem ser elevados, principalmente se as instalações forem próximas a regiões alagadas ou margens de rios, onde o terreno não é firme e estaqueamento, aterro e desmatamento são necessários. O custo médio de construção civil de uma casa de bomba nas proximidades do manancial superficial, incluindo o canal negativo e a fundação, é da ordem de R$ 350,00/m² e o tamanho médio da casa de bomba para uma única bomba é de 16 m², resultando no custo total de R$ 5.600,00. Para as bombas anfíbias, as casas de bombas são totalmente dispensáveis. Pequenos apoios de madeira, trilhos ou até mesmo a própria tubulação, são suficientes para suportar a bomba. Elimina-se o custo da bomba artesiana retirando água de poço e alimentando diretamente a bomba monobloco, que trabalha como booster da construção e a destruição da mata ciliar. A obra como um todo torna-se mais rápida, demandando menor tempo até a partida do sistema. Por ser monobloco, a bomba facilita ainda mais as operações e instalações, pois não são necessárias duas bases, uma para a bomba e outra para o motor, exigindo um alinhamento perfeito. Além disto, não existe nivelamento entre eixos de motor e bomba a ser feito, pois, sendo monobloco, o eixo é o mesmo. Acoplamentos de eixos não são utilizados e tampouco proteções para estes acoplamentos. Considerando ainda que não existem peças móveis expostas, é inexistente qualquer tipo de risco de acidente mecânico nas proximidades das bombas. A modulabilidade do sistema pode ser utilizada como facilitador das manobras de instalação e/ou retirada da bomba do ponto de trabalho. Seleciona-se a menor, e mais leve, das bombas que compõem o conjunto modular para ser instalada na extremidade de captação. As demais bombas utilizadas para incrementar a pressão poderão ser instaladas em superfície firme, plana, longe da margem do manancial. Através da mata ciliar passará apenas a tubulação. O único pré-requisito para que um conjunto de bombas seja modulado é que suas vazões devem ser compatíveis. O equilíbrio do sistema será encontrado automaticamente pelas bombas, nivelando os pontos de trabalho individuais pela vazão. Cada bomba fornecerá a pressão que for característica de seu rotor para aquela determinada vazão de equilíbrio. Assim chega-se à pressão e vazão totais requeridos pelo sistema. Para exemplificar, pode ser tomada como base uma condição de trabalho de 400 m³/h de vazão e 80 mca de altura manométrica. Nesta situação, pode-se utilizar uma bomba com rotor radial e potência instalada de 40 CV na captação, produzindo os Artigos Técnicos Foto 1: Bombas modulares, instaladas em caixa abaixo do nível do solo, para aumentar NPSHdisp em captação de água. 400 m³/h e contribuindo com 20 mca. A segunda bomba seria dotada também de um rotor radial, potência instalada de 125 CV, equilibrada com a vazão de 400 m³/h e adicionando os 60 mca restantes à pressão para atingir o ponto de descarga desejado. Se ocorrer uma redução da altura manométrica total, as bombas se reequilibrarão em um patamar mais alto de vazão. Caso a pressão aumente, a vazão diminuirá até encontrar o novo ponto de equilíbrio. A mesma situação pode ser transportada para um bombeamento a partir de um poço artesiano urbano, onde uma bomba específica para poços transporta a água até a superfície e, então, trabalhando como booster, uma bomba monobloco agrega a energia hidráulica necessária para que a água seja distribuída em toda a rede. Foto 2: Bomba modular captando efluente de tanque em usina de suco de laranja. Benefícios Ambientais As facilidades e simplicidade de instalação e manuseio apresentadas pelas bombas anfíbias permitem que se reduza ao mínimo a intervenção nas Áreas de Preservação Permanente (APPs), reduzindo significativamente o impacto ambiental. A camada de água formada entre o motor da bomba e a carcaça externa durante a operação de bombeio funciona como um isolamento acústico, reduzindo drasticamente a transmissão de som da parte interna da bomba para o meio ambiente. O nível de ruído que se propaga nas proximidades da área onde a bomba está instalada é mínimo se comparado ao apresentado por bombas centrífugas convencionais, permitindo, inclusive, a operação em centros urbanos sem a necessidade de construção de isolamentos acústicos externos. Se a opção for por uma instalação submersa ou em caixa abaixo do nível do solo, o único ruído perceptível na superfície será aquele inerente ao escoamento do fluido na tubulação. Conclusão As características das bombas podem ser bem exploradas através de um planejamento preciso e de um dimensionamento correto do sistema de bombeio, culminando nas orientações dos órgãos ambientais, que prevêem a redução de ruídos e de riscos de acidentes, evitando desmatamentos, aterros e obras civis nas margens dos mananciais. Outra característica importante desta nova Foto 3: Bombas modulares instaladas em série e em paralelo, para duplicação da vazão e da pressão. Duas bombas submersas e duas na linha. tecnologia é a grande facilidade com as manobras de instalação e na operação, o que leva a uma redução significativa de custos em relação às instalações convencionais. Portanto, esse novo sistema modular de bombeio vem ao encontro das novas responsabilidades das empresas e órgãos públicos, que devem preservar o meio ambiente, reduzir o consumo de energia e procurar uma melhor relação custo/ benefício, para repassar um menor valor para os clientes e para a população. ■ Saneas / outubro 2002 – 25 ARTIGOS TÉCNICOS Tecnologia de túneis por tubos cravados de concreto - Pipe Jacking tipo slurry machine: maior precisão, qualidade e economia Sabino Freitas Corrêa Marianne Freitas Corrêa Artigos Técnicos Introdução A maior competitividade imposta a todo o setor de saneamento básico ao longo da última década teve como uma de suas conseqüências o surgimento de novas tecnologias no mercado brasileiro. O ambiente competitivo trouxe a demanda por tecnologias capazes de assegurar ganhos de produtividade e economia, sob padrões de qualidade e segurança elevados. Para os executantes de obras, tais parâmetros passaram a ser imperativos sob a nova ótica dos concessionários e investidores. Neste contexto, fatores como durabilidade, custo operacional, impacto ambiental e social passaram a ser observados com extrema relevância. Uma grande evolução pode ser observada no segmento de obras lineares, um dos principais dentro do setor de saneamento. Esta demanda é potencializada pela existência de projetos de grande porte dentro de áreas urbanas. Nestes projetos são usualmente necessárias tecnologias que possibilitem implantação de tubulações em zonas já densamente ocupadas, com segurança e precisão. Isto pode ser obser- vado nos maiores programas de despoluição ambiental em desenvolvimento no país, como o Projeto Tietê, Programa de Despoluição da Baía da Guanabara, Bahia Azul, entre outros. Nestes projetos, a adoção de método não destrutivo vem sendo adotada maciçamente e alinhamento, qualidade e durabilidade dos túneis são fatores determinantes. Para este tipo de obras, a tecnologia de tubos cravados de concreto, ou pipe jacking, é o método mais avançado disponível atualmente no mercado mundial. Esta tecnologia teve o seu desenvolvimento quase simultâneo no Japão e Alemanha, ao longo da década de 1970. A tecnologia sofreu intensa evolução ao longo dos anos 80 e 90, com a incorporação de sistemas de informática, automação e direcionamento a laser. A tecnologia de pipe jacking, nos dias de hoje, é muito ampla, havendo diversas técnicas e equipamentos no mercado. As opções vão desde os antigos shields adaptados para cravação, até os modernos equipamentos tipo slurry, passando por variantes como EPB, auger machine, mix shield ou TBM. EPB, sigla de Earth Pressure Balanced ou pressão de solo balanceada. A rigor, a denominação EPB pode ser aplicada a todos os equipamentos com balanceamento da pressão na frente de escavação. Entretanto, é convencional atribuir esta nomenclatura a equipamentos de médio e grande diâmetros, nos quais solo é transportado diretamente do cone de escavação, através de sistema de rosca sem fim instalado no shield para carrinhos, vagonetas ou bombas de recalque de lama (muck pump). Auger machines são equipamentos com transporte do solo, através de um conjunto contínuo de rosca sem fim, desde a cabeça de corte até o poço de serviços. Mix shield é a denominação dada a equipamentos, onde são combinadas mais de uma técnologia, como, por exemplo, a combinação de TBM e slurry; TBM sigla de Tunnel Boring Machine, são equipamentos de perfuração de túneis em rocha, além de contar com ferramentas próprias para rocha, o equipamento utiliza dispositivos adicionais de empuxo no shield, para garantia da aplicação da pressão necessária para esmagamento da rocha no disco de corte. A grande variedade de tecnologias se deve a imensa diversidade de possíveis características geológicas, devendo ser estudado, caso a caso, o melhor sistema a ser empregado em função das características do projeto. O fato de um equipamento incorporar mais avanços tecnológicos, não significa, necessariamente, que a sua utilização trará melhores resultados. Sabino Freitas Corrêa, Coordenador de Obras da ECL Engenharia e Construções Ltda., Formando de Engenharia Civil pela Universidade Paulista. Marianne Freitas Corrêa, Gerente de Contratos da ECL Engenharia e Construções Ltda., Engenheira Civil pela Universidade de Brasília. 26 – Saneas / outubro 2002 Artigos Técnicos Dentre os diversos métodos de cravação de tubos de concreto desenvolvidos desde então, a tecnologia de cravação slurry machines é objeto deste artigo por ser a que incorpora o maior avanço tecnológico, por sua versatilidade e por ser a mais difundida em nosso país. Funcionamento Básico O funcionamento básico do equipamento consiste no corte do terreno pela cabeça de corte da máquina (shield ou bohrkopf), e cravação simultânea de tubos, em sincronia com o avanço da escavação (ver figura 1). A principal diferença desta tecnologia em relação às demais é que todo o túnel se movimenta com o avanço dos trabalhos. O movimento é realizado a partir do empuxo, aplicado por potentes pistões hidráulicos (macacos), instalados no poço de serviços. Os macacos empurram todo o conjunto, cravando os tubos de concreto no solo, no volume exato retirado pela escavação, através da cabeça de corte. O solo é escavado através de escarificação, por ferramentas instaladas em um disco de corte rotativo. A geologia do local determina a escolha do tipo de ferramenta utilizada no disco de corte, podendo-se optar por ferramentas especiais para cada situação, desde bits tipo faca para solos argilosos até discos capazes de enfrentar alguns tipos de rocha. O material escavado é diretamente transportado até a câmara de mistura, onde o material é dissolvido em água e bombeado para superfície. Este composto água-solo, ou simplesmente lama, é bombeado para tanques de decantação. Esta característica é responsável pelo nome da tecnologia: slurry machines ou máquinas de lama, em uma tradução livre do inglês. Ao atingir o tanque de decantação, a velocidade do fluido cai abruptamente, provocando sua decantação. Os tanques de decantação são projetados especialmente para esta finalidade. Normalmente, são adaptados em containeres navais tipo STD de 20 pés, dotados de tubulação de entrada com placa dissipadora de energia, tubulação de saída e descarga de fundo. O tanque é dividido em dois compartimentos, separados por um vertedouro. A decantação ocorre no primeiro compartimento e a água, com menor teor de sólidos em suspensão, verte para o segundo, de onde é reintroduzida no sistema. O material decantado é retirado através de escavadeiras tipo Clam Shell e encaminhado para descarte. Na cabeça de corte, estão instalados o alvo do laser e câmeras de vídeo, através dos quais o alinhamento é monitorado. Além destes dispositivos, há também os sensores eletrônicos do sistema (inclinação, rolagem, posicionamento, pressão etc) e o sistema de esterçamento através de pistões hidráulicos que permitem a manobra do equipamento para a correção imediata de eventuais desvios. Dispositivos acessórios Bentonita: O terreno é cortado com um pequeno sobrecorte preenchido por bentonita. Este material trabalha como lubrificante, minimizando o atrito entre os tubos e o terreno. O material é bombeado imediatamente após o corte do terreno, evitando recalques. Em casos especiais são utilizados polímeros adicionados à bentonita, como aditivos de performance. A escolha destes aditivos é determinada pelas características geológicas e do tipo de bentonita utilizado. Bomba de alta pressão: Em situações onde o solo apresenta rigidez e coesão elevadas, pode-se utilizar uma bomba de água de alta pressão para otimização do processo. O equipamento trabalha com pressões entre 350 e 450 Bar e alta velocidade na saída dos bicos. A função deste equipamento é auxiliar a escavação, desmontando a estrutura do solo e lavando as ferramentas de corte. Sem este acessório, nestas situações, a produtividade sofre brusca queda, uma vez que o solo obstrui as ferramentas de corte, impedindo sua ação. Este tipo de ocorrência é muito comum em solos terciários silto arenosos e/ou silto argilosos. Em São Paulo, este tipo de ocorrência é bastante comum e este tipo de solo é conhecido na região como Taguá. Foto 1: Coletor Tronco Cemitério, DN 600mm, em Santo André (SP), Projeto Tietê, Primeira Fase: equipamento, em operação, foi instalado no canteiro central de uma grande avenida, sem haver interferência no transito local. Saneas / outubro 2002 – 27 Artigos Técnicos Beneficios A tecnologia de obras por método não destrutivo por pipe jacking tipo slurry traz diversas vantagens. Alguns benefícios, como a redução do impacto sobre o trânsito e toda a sociedade e economia decorrentes de interdições de vias públicas, são dificilmente mensuráveis, tornando este tipo de avaliação extremamente subjetiva. Também é difícil quantificar o risco de recalques ou danos a edificações circunvizinhas. Em alguns países, existem critérios para a estimativa destes custos, e com base nestes parâmetros é feita, então, a opção pelo método executivo a ser adotado. Para maior clareza, os principais benefícios foram agrupados em cinco grupos: Qualidade e durabilidade O conceito da técnica, onde todo o túnel se movimenta, sendo submetido aos elevados esforços de cravação, faz com que seja obrigatória a utilização de tubos especiais, de maior resistência e precisão. Estes tubos, desenvolvidos Principais sistemas de Pipe Jacking • • • • Slurry Machine EPB TBM Mix Shield Cabeça de corte ou Shield: responsável pela escavação e direcionamento do túnel. 28 – Saneas / outubro 2002 • Pipe Jacking com remoção manual • Escavação mecânica Road Headers Poço de serviços e macacos: local onde é aplicada a carga para avanço do túnel. Laser: emissor de raio no alinhamento do túnel garante precisão direcional. Painel de controle: comandos informatizados para operação do sistema. Artigos Técnicos especialmente para esta finalidade, tem como nomenclatura comercial a denominação tipo JP (do inglês: Jacking Pipe). Estes tubos para cravação são fabricados com resistências a compressão elevadas, entre 50 e 60 MPa e tolerâncias dimensionais muito mais rígidas em relação aos tubos aplicados em obras convencionais. Todas estas características proporcionam um melhor acabamento final, onde permanece instalado um conduto de melhor qualidade. A maior resistência do concreto é sempre conseqüência de uma baixa relação água/cimento, moldagem e cura mais avançadas. Este ganho qualitativo reflete na maior longevidade da tubulação. A precisão dimensional e perpendicularidade necessária para que os esforços de cravação sejam bem distribuídos, evitando excesso de tensão por carga pontual, proporcionam juntas mais precisas, melhor vedação e estanqueidade. O sistema de juntas utilizado é do tipo ponta e bolsa, junta elástica, proporcionando excelente vedação e possibilidade de controle prévio. Os tubos são conectados em local limpo e seco (shaft), possibilitando a verificação da integridade do anel de borracha e seu bom acoplamento, antes de sua cravação. Além destas características, se diferem dos tubos ponta e bolsa convencionais por utilizarem bolsa metálica em aço carbono (ver figura 2), revestido com epóxi ou galvanizado e, em casos especiais, em aço inoxidável. Redução de prazos e custos Nos métodos convencionais de Escavação de Túneis e Travessias (Linner Plates, Mini Shield, NATM etc), a execução pode se complicar onde se tem a interferência do lençol freático e/ou condições geológicas desfavoráveis (solos moles, não coesivos etc). Em muitos casos se tornam necessários tratamentos especiais, gerando custos elevados, sem que se assegure plenamente um bom desempenho. Os equipamentos de pipe jacking tipo slurry permitem que os trabalhos sejam efetuados abaixo do nível d’água ou em terrenos colapsíveis, sem transtornos, custos adicionais e inconvenientes, como trincas em edificações circunvizinhas, transtornos ao trânsito e à população, ou recalques. A maior qualidade dos tubos, já abordada, se traduz em um custo de operação menor, minimizando os investimentos em manutenção e recuperação dos condutos a longo prazo. Além da segurança de performance, a tecnologia também traz ganhos através da redução de prazo. A produtividade chega a Concreto de Alta Resistência Bolsa Metálica Bolsa Ponta Anel de Borracha Apoio de Madeira para distribuição da carga Ilustração do acoplamento dos tubos ser cinco vezes maior do que as técnicas baseadas em escavação manual. Deve-se observar, também, que o túnel é entregue acabado, sem necessidade de aplicação de revestimento ou do assentamento interno de tubos conduto. Minimização de recalques A escavação feita pelo shield já é feita no diâmetro exato da tubulação, acrescido de apenas um pequeno sobrecorte (normalmente entre 1% e 2% do diâmetro externo do equipamento). O sobrecorte é preenchido continuamente por lama bentonítica, preservando um espaço anelar capaz de permitir a manobra do equipamento, e a lubrificação para redução do atrito. Com isso, os trabalhos se desenvolvem em um maciço com características praticamente inalteradas, em seu estado original de compacidade, também sem a implantação indesejável de gradiente hidráulico, reduzindo plenamente recalques diferenciais. A constante lubrificação com bentonita evita a acomodação Figura 2: detalhe do sistema de acoplamento e junta elástica dos tubos de cravação. Foto 2 Shaft em estaca prancha metálica para cravação DN 1000 mm, com 8 m de profundidade, em Santo Amaro (SP), para o Programa de Despoluição da Bacia do Guarapiranga Saneas / outubro 2002 – 29 Artigos Técnicos Foto 3 Cabeça de corte DN 1500mm tipo slurry . Equipamento importado para execução das obras de despoluição da Baía da Guanabara– coletores Tronco Alegria. de todo o túnel. Este registro permite a identificação precisa de eventuais falhas. do terreno, muito comum nas obras de túneis através de métodos como Linner Plates, ou mini shield, durante o intervalo compreendido entre a escavação e posterior preenchimento, através de aplicação de injeções. Segurança A mecanização do processo de escavação elimina a necessidade de trabalho no interior do túnel. Desta forma, os operários não são submetidos a riscos inerentes ao trabalho em ambiente confinado, como eventual rompimento da frente de escavação e falta de ventilação, permanecendo sempre em área protegida (shaft) em ambiente ventilado ao ar livre. Controle e precisão A precisão direcional do sistema é assegurada pelo controle a laser, onde a posição da cabeça de corte é monitorada constantemente. Todo o avanço do túnel segue o alinhamento de projeto, através da instalação de um emissor de raio laser, calibrado no eixo do conduto, demarcado a partir de um ponto fixo, situado no poço de serviço. O feixe de laser é projetado em um alvo na cabeça de corte ou shield, a imagem do alvo é transmitida para o painel de controle, onde mínimos desvios podem ser detectados e reparados imediatamente, evitando a propagação de erros. Além do controle direcional, todo o processo é gerenciado por um sistema de automação (PLC), acoplado a um computador. Através da automação, todo o conjunto é monitorado, evitando e minimizando o risco de eventual falha mecânica ou de operação. Durante o decorrer do processo, os dados são armazenados no computador, que gerencia o sistema operacional. Este, gera relatórios, que fornecem todos os dados de cravação, tais como vazão de entrada e saída, direcionamento, pressão, torque, etc, para registro e controle do desempenho de cravação, ao longo 30 – Saneas / outubro 2002 Produtividade Desde aspectos ainda bastante subjetivos e dificilmente mensuráveis em nosso país, como o impacto social e suas conseqüências econômicas ocasionados por uma obra sobre o trânsito e toda a parcela da sociedade afetada por ela, até aspectos já citados anteriormente, a técnica assegura benefícios, como a produtividade. Para a faixa de diâmetros nominais entre 600 e 1200mm, observam-se, normalmente, produtividades médias entre 100 e 180 m, por mês, em projetos executados por pipe jacking ante uma media entre 30 e 50 m, por mês, em obras executadas com escavação manual. Aplicabilidade A tecnologia de túneis em pipe jacking tem uma extensa gama de aplicações. Podendo ser aplicada praticamente em todas as situações onde é necessária a execução das obras por método não destrutivo. O sistema tem maior vantagem competitiva nas situações apresentadas abaixo: Quando considerar o uso de pipe jacking: • Restrição ou inconveniência à abertura de valas no local; • Necessidade de precisão no túnel ao longo de todo o traçado; • Necessidade de durabilidade, resistência e estanqueidade do conduto; • Profundidades acima de 4,0 metros; • Proximidade de edificações e/ou sob outras instalações; • Travessias sob vias ou rodovias; • Trabalho em solo colapsível; e • Trabalho abaixo do nível do lençol freático. Principais aplicações: • Redes coletoras e coletores tronco de esgotos; • Drenagem pluvial; • Adutoras; • Dutos para passagem de cabos elétricos, telefônicos e fibra ótica; • Tubulações de gás; • Passagem subterrânea para pedestres; • Tubulações de uso múltiplo; • Transporte subterrâneo em plantas industriais; e • Obras de recuperação ambiental. ■ ARTIGOS TÉCNICOS Integrated Technology Systems para tratamento de águas e efluentes Dr. Dash Sayala Ph.D. Henry Digges Artigos Técnicos A maioria das águas públicas fornecidas às cidades e comunidades têm sido extensivamente tratada pelos métodos de tratamento convencionais, especificamente projetados para atender aos padrões de qualidade de saúde e meio-ambiente de municípios, estados e União. Paralelamente, métodos convencionais, também projetados especificamente para atender aos padrões de legislação, são utilizados para tratamento de efluentes industriais, onde o tipo de sistema a ser implantado depende da natureza e características do efluente e da indústria geradora do mesmo. Em geral os componentes do método de tratamento convencional incluem unidades de operações físicas, químicas e biológicas. No tratamento físico, as indústrias utilizam lagoas de decantação e diferentes tipos de filtros, como filtros de areia, filtros de carvão ativado e filtros com elementos filtrantes mistos. No tratamento químico, os processos utilizados pelas indústrias incluem adição de cal, polímeros, neutralização e ajustes de pH, cloro e cloreto férrico. No caso do tratamento biológico, as indústrias utilizam tipicamente digestão anaeróbica ou aeróbica, nitrificação e denitrificação biológica. As tecnologias de tratamento convencionais, normalmente utilizadas, em geral não são totalmente eficientes para o tratamento de efluentes industriais tão complexos como os gerados pelas indústrias de hoje, no intuito de atender aos padrões de legislação. Em algumas situações, estes tratamentos são inadequados e caros e ainda podem introduzir químicos tóxicos e componentes biológicos patogênicos no meio ambiente. Como resultado do consumo de águas e descarte de efluentes indevidamente tratados, a qualidade do meio ambiente e a saúde pública fica comprometida. Por exemplo, no tratamento de efluentes de uma indústria de embutidos, cloreto férrico e sulfato de alumínio foram usados para flocular e remover material particulado, porém estes particulados removidos contêm concentrações de ferro e alumínio danosas à saúde humana. Em outros casos, polímeros são normalmente utilizados para melhorar a floculação do material particulado, porém, outra vez, deve ser lembrado que polímeros são carcinogênicos conhecidos e a adição deste produto pode inviabilizar o reúso do lodo como aditivo ou para uso agrícola porque será danoso para a saúde humana e o meio ambiente. Estas deficiências e os problemas causados à saúde e ao meio ambiente se tornaram uma crescente preocupação para os órgãos oficiais de controle, as indústrias e o público em geral. Além do que, a operação da maioria destes sistemas convencionais de tratamento não tem uma relação custo-benefício positiva no aspecto técnico, comercial e ambiental. Conseqüentemente, existe uma crescente preocupação com a necessidade de novas tecnologias que sejam eficientes, com boa relação de custo-benefício, que sejam benéficas ao meio ambiente e capazes de tratarem toda a complexidade dos efluentes de hoje, incluindo o esgoto doméstico e a água potável. Integrated Technology Systems Cada indústria tem um conjunto único de desafios no tratamento para a remoção de numerosos componentes contaminantes de águas e efluentes, que são encontrados como sólidos, coloidais e em formas dissolvidas e dentro dos padrões de controle ambiental. Estes componentes incluem materiais orgânicos, inorgânicos, químicos, elementos radioativos e componentes biológicos patogênicos, que causam impactos deletérios à saúde pública e ao meio ambiente. Não existe uma solução única ou tecnologia que irá efetivamente resolver os Sócios Diretores da Applied Integrated Technologies Corporation; 2649 NW 49th. St.; Boca Raton, Florida - 33434, EUA. Tradução: Paulo Santos – Diretor Técnico da DINAMYK Ind. Com. e Serviços Ltda. (representante autorizada da Applied Integrated Technologies Corporation) Engenheiro Civil, com especialização na área de tratamento de efluentes domésticos e industriais. E.mail dinamyk@dinamyk.com.br Saneas / outubro 2002 – 31 Artigos Técnicos início de sua operação e continuando, assim, posteriormente, sem necessidades de paradas técnicas para limpeza ou retrolavagem do elemento filtrante. Atualmente, o sistema de micro-filtração projetado tem uma capacidade máxima de superfície filtrante de 4,66 m², que é 100 % disponível para filtração, podendo acomodar e tratar efluente com uma grande diversidade de características, como sólidos totais dissolvidos, sólidos suspensos totais, vazões e pressões, temperaturas, pH e condições químicas as mais diversas. O filtro é totalmente automático com controles para monitorar diferenças de pressão, vazões e a operação como um todo. Figura 1 Dynamic Filter em fase de teste na Estação Elevatória de Esgotos da Sabesp Pinheiros, em São Paulo. problemas complexos das indústrias de hoje facilitando o cumprimento de todas as exigências legais dos órgãos de controle ambiental. Para atender estes crescentes desafios e as necessidades vigentes por uma tecnologia de tratamento que sejam seguras ao meio ambiente e com excelente relação de custo-benefício, a “Applied Integrated Technologies Corporation – A.I.T.” desenvolveu o “Integrated Technology Systems” (I.T.S.), que engenhosamente combina diferentes tecnologias de ponta em um mesmo sistema operacional e que está sendo patenteado nos Estados Unidos de acordo com o Tratado Internacional Cooperativo de Patentes. O I.T.S. utiliza o também patenteado Dynamic Filter, juntamente com o processo hidroquímico e bioquímico, para tratar efluentes industriais complexos e água potável. Este sistema foi desenvolvido especificamente para remover eficientemente todas as formas de materiais e componentes contaminantes e produzir água tratada com alto nível de qualidade, dentro dos padrões de saúde e proteção ambiental. Dependendo do problema específico de uma indústria – eficiência, custo-benefício, cloreto férrico em água potável, remoção de contaminantes dissolvidos, químicos coloidais, componentes radioativos, biológicos patogênicos e problemas com legislação – tem-se como projetar um sistema de tecnologia integrada específico para atender plenamente suas necessidades. Isto porque este sistema pode ser facilmente adaptado e implementado em sistemas convencionais existentes para promover um tratamento com melhor custo-benefício, mais eficiência e mais seguro ao meio ambiente. O Dynamic Filter (fig. 1 e 2) é composto por um sistema de micro-filtração com retrolavagem contínua e automática, atingindo assim filtração absoluta instantaneamente após o 32 – Saneas / outubro 2002 Aplicações do “Integrated Technology Systems” Este sistema tecnológico pode ser projetado e facilmente adaptado a sistemas de tratamento grandes e pequenos, com aplicações típicas em: • Água potável, esgoto doméstico, efluentes industriais em geral e de indústrias químicas com sólidos suspensos, orgânicos coloidais e dissolvidos, inorgânicos, químicos radioativos e componentes biológicos patogênicos; • Efluentes com óleos de corte, lubrificantes e óleos hidráulicos; • Efluentes de criação de suínos; • Efluentes de frigoríficos, abatedouros e indústria de embutidos; • Efluentes de laticínios; • Efluentes de indústria de papel e celulose; • Efluentes de reciclagem de óleo lubrificante; • Efluentes de indústrias alimentícias; e • Águas de processo industrial e de refrigeração. O sistema tem sido demonstrado com sucesso no tratamento de água potável e de efluentes industriais e alguns dos exemplos de sua eficiência estão brevemente descritos a seguir: Caso 1: Estação de Tratamento de Efluentes Sanitários, cidade de Winder, no estado da Georgia, EUA. A água bruta de captação tem altas concentrações de TSS, TSD (amônia e fósforo), turbidez e patogênicos microbiológicos. Este efluente foi eficientemente tratado com a aplicação desta tecnologia, envolvendo o sistema de micro-filtração, juntamente com o sistema de células hidroquímicas e bioquímicas. Uma vez implantado, se reduziu em 99,9 % a conta- Artigos Técnicos gem de patogênicos aeróbicos, coliformes e EColi; níveis de DQO de 48 para 16 ppm e níveis de TSS de 52 para < 1 ppm. Paralelamente, o nível de turbidez caiu para 95 e os níveis de amônia e fósforo foram reduzidos para 2,99 e 0,4 ppm, respectivamente, atendendo à legislação vigente. Caso 2: Estação de Tratamento de Água da comunidade de Erin Brook, no estado da Virginia, EUA. Neste caso, a origem da água bruta é de captação de poços profundos e os níveis de radium 226, radium 228, sólidos dissolvidos e suspensos estavam acima do permitido pela legislação ambiental e de saúde pública. Aqui, um sistema totalmente automatizado foi implantado, juntamente com o sistema de micro-filtração e a célula hidroquímica para atingir uma redução média de mais de 50 % em todos os parâmetros excedentes, tornando, assim, este sistema de tratamento altamente eficiente e de excelente relação de custo-benefício. Caso 3: Estação de tratamento de efluentes de fazenda de criação de suínos Smith Farm, no estado da Virginia, uma das maiores dos Estados Unidos. O sistema preexistente de lagoas não estava atendendo adequadamente a eficiência necessária e vários parâmetros estavam acima das condições ambientais permitidas. Apesar da ineficiência operacional, o sistema era excessivamente caro de operar. Aqui foi também implantado um sistema automatizado, juntamente com um sistema de dois estágios do Dynamic Filter, um sistema de célula bioquímica e um tratamento de biossólidos. O sistema de dois estágios de microfiltração remove eficientemente particulados maiores de 0,4 microns, que incluem alguns patogênicos como bactérias e E-Coli. O sistema de célula bioquímica melhorou significativamente na redução dos níveis de amônia, fosfatos, nitratos e outros patogênicos existentes, reduzindo assim os odores. Como resultado deste tratamento implantado, o efluente final foi certificado pela legislação reguladora federal, U.S./E.P.A., atendendo todos os padrões de qualidade exigidos, incluindo até alguns padrões de água potável. O efluente tratado e clarificado é reciclado de volta à fazenda para seu reúso como água de beber para os animais, água para os humidificadores e água de lavagem em geral. O sistema de bios- Afluente Rejeito Duto do Rejeito Câmara Rotativa de Retrolavagem Placa Perfurada Elemento Filtrante Câmara de Retencão Efluente Clarificado sólidos é utilizado para tratar os nutrientes dos resíduos sólidos por meio de compostagem por bioreatores compactos e pasteurização do lodo. O biossólido resultante deste processo é um fertilizante de alto valor para a agricultura. FIGURA 2: Corte interno do filtro Vantagens do Integrated Technology Systems • Oferece eficiência e excelente relação de custobenefício não disponível nos sistemas convencionais de tratamento de águas e efluentes; • Os custos operacionais são menores que os dos sistemas convencionais; • São sistemas flexíveis e adaptáveis aos sistemas existentes e a novos projetos; • Elimina a necessidade de construção e operação de lagoas de tratamento, assim como a necessidade para a disposição dos resíduos sólidos, reduzindo, assim, custos logísticos e físicos com a disposição final do lodo e seu respectivo controle ambiental; • Contribue largamente na proteção ambiental e da saúde pública; • Elimina custos com multas e penalidades ambientais e legais; • O sistema de micro-filtração não requer reposição de elementos filtrantes devido ao seu sistema de auto-limpeza automática e contínua; e • O filtro, desde agosto de 2002, está sendo fabricado no Brasil. ■ Saneas / outubro 2002 – 33 MEIO AMBIENTE Autodepuração em cursos d’água: modelo simplificado de estudo Antonio Osmar Fontana José Manuel da Nave Mendes Meio Ambiente 1. Introdução A conscientização da necessidade de preservar os recursos hídricos, associada às exigências das leis e regulamentos existentes, têm incentivado o desenvolvimento sistemático de ferramentas de planejamento que possam simular e projetar situações futuras de sua adequada utilização e proteção. Foram desenvolvidos diversos modelos matemáticos para o estudo do comportamento de corpos d’água, que permitem a simulação e previsão dos fenômenos, que ocorrem quando submetidos a lançamentos de cargas poluidoras. Quando cargas poluidoras de origem orgânica são lançadas num corpo d’água, ocorre a degradação natural, denominado autodepuração. Este processo se dá através de fenômenos físicos, físicoquímicos e hidrobiológicos, que se constituem nas variáveis do fenômeno da autodepuração de corpos d’água, nos modelos matemáticos, quando processados de maneira calibrada e validada. O modelo matemático de Streeter-Phelps é o mais utilizado nos meios técnicos e científicos. Baseados em Streeter-Phelps, os autores apresentam um modelo simplificado para cálculo de autodepuração em cursos d’água com velocidade acima de 0,20m/s, através do software MS Excel. 2. Autodepuração Os despejos orgânicos, tanto de origem sanitária quanto industrial, possuem cadeias complexas, que são metabolizadas por bactérias no seu processo de nutrição. Na fase inicial, quando ainda existe oxigênio dissolvido no meio líquido, o processo de decomposição da matéria orgânica se dá através de bactérias aeróbias, que produzem gás carbônico, água e energia, seguido pela decomposição anaeróbia, produzindo metano, ácidos voláteis e outros compostos. Ainda no processo aeróbio, ocorre também a nitrificação, decorrente da oxidação de compostos nitrogenados por bactérias nitrificantes, que transformam a amônia em nitritos e estes em nitratos, utilizando parte do oxigênio dissolvido. A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) é produzida à medida que se dá a oxidação da matéria carbonácea e da nitrificação, proporcionando déficit de oxigênio dissolvido no meio líquido. A reaeração superficial é devida à troca gasosa na interface ar-líquido e a reoxigenação ocorre através da produção fotossintética das algas clorofiladas, que recuperam o oxigênio retirado nas condições iniciais aumentando-o gradativamente, ocasionando o processo natural de recuperação dos corpos d’água. Os efeitos combinados desses processos responsáveis pela estabilização das cargas orgânicas de lançamentos em cursos d’água constituem-se na autodepuração. Os fatores que intervêm no processo de autodepuração de um corpo d’água estão diretamente relacionados às suas características físicas, físico-químicas e hidrobiológicas. Quanto às características físicas, é importante avaliar o volume, a turbulência e a temperatura as quais propiciam maior ou menor diluição, homogeneização e sedimentação dos despejos. Dentre as funções físico-químicas constam a cor e turbidez das águas, que influenciam na penetração da luz, concentração de nutrientes e sais, oxigênio dissolvido, Gerente de Setor da Unidade de Negócio do Baixo Tietê e Grande – ITDF.4 – Nova Granada; enge- nheiro civil pela Faculdade de Engenharia São Paulo, especialização em engenharia de segurança pela Fundacentro; mestrando em engenharia urbana pela UFSCar – Universidade Federal de São Carlos. E-mail: ofontana@zaz.com.br e sabespng@granadanet.com.br Coordenador Regional da Defesa Civil - Região Administrativa São José do Rio Preto – Engenheiro da Divisão de Obras da Unidade de Negócio do Baixo Tietê e Grande – ITPO; engenheiro civil pela Fundação Armando Álvares Penteado – São Paulo, especialização em engenharia sanitária e ambiental pela Faculdade de Saúde Pública da USP – São Paulo, mestrando em engenharia urbana pela UFSCar – Universidade Federal de São Carlos. E-mail: jmnave@sabesp.com.br 34 – Saneas / outubro 2002 Meio Ambiente substâncias redutoras, entre outras. Nas hidrobiológicas, destacam-se a fauna, com microorganismos que contribuem no processo de degradação, e a flora através das algas que produzem oxigênio. O balanço de oxigênio é obtido no confronto das fontes de consumo e as de produção; quando o consumo for maior que a produção, a concentração do oxigênio na massa líquida tende a decrescer, podendo atingir limites em desacordo com as orientações da legislação de proteção do meio ambiente. O cálculo desse balanço é realizado a partir dos coeficientes de desoxigenação (K1), reaeração (K2), de sedimentação (K3), da DBO nitrogenada (Kn), de produção 1- DADOS DO CORPO RECEPTOR - TRAMO INICIAL veloc alt lâmina temp água 0,2 m/s 0,6 m 25 ºC Q esg Q7,10 Extensão Corpo 25,28 L/s 37,0 L/s 8,4 km altitude 630 m fotossintética (F) e (P). K1 expressa a quantidade de oxigênio consumido pelas bactérias para decompor a matéria orgânica e a velocidade da reação da DBO. K2 pode ser estimado através de cálculos de variáveis hidráulicas, que caracterizam o corpo receptor estudado, quanto ao oxigênio atmosférico absorvido através da OD sat 8 mg/L OD efluente 0 mg/L DBOr DBOe 2 mgL 35,03 mgL Incremento OD 5 mg/L 2- VARIÁVEIS DE DESOXIGENAÇÃO E REAERAÇÃO 0,7 (dia-1 ; 20 oC) Coeficiente de Desoxigenação - K1 (dia-1 ; 20 oC) 0,15 (d-1 ; 20 oC) Coeficiente de Reaeração 0,7 (d-1 ; 20 oC) Dado conservador (para quando não se tem “v” e “h”): base (e) Adoção do K1 e cálculo do K2 - K2 (dia-1 ; 20 oC) Correção do K1 e K2 função da temperatura K1,T = K1,20ºC . 1,047 T-20 0,2 1,024 T-20 0,8 K2,T = K2,20ºC . 3- DEFICIT DE OXIGÊNIO DISSOLVIDO NO PONTO DE LANÇAMENTO DBO5,20 no lançamento (La) 15,41 DBO última (Lo) kt = ( 1,60 ) mg/L 24,59 mg/L Oxigênio dissolvido no lançamento 6,78 mg/L Déficit de OD (Da) no lançamento 1,22 mg/L 4- TEMPO CRÍTICO E DEFICIT DE OXIGÊNIO CRÍTICO – 1º TRAMO Tempo Crítico 2,07 dia Déficit crítico de OD 4,09 mg/L OD mínimo encontrado 3,91 mg/L NÃO ATENDE Obs.: Quando ocorrer Ln de número negativo, Tc e Dc acontecem no ponto de mistura. 5- VERIFICAÇÃO DO TEMPO CRÍTICO E DEFICIT DE OXIGÊNIO CRÍTICO - 2º TRAMO Tempo Crítico 2,10 dia Déficit crítico de OD 2,51 mg/L OD mínimo encontrado 5,49 mg/L ATENDE Obs.: Quando ocorrer Ln de número negativo, Tc e Dc acontecem no início do 2º tramo Oxig. dissolv. (mg/L) Figura 1. Exemplo de cálculo com a planilha AUTODEPURAÇÃO 1.02 CURVA DE DEPRESSÃO DE OXIGÊNIO 8,00 2º Tramo 6,00 4,00 1º Tramo 2,00 0,00 Dias (intervalos 0,2) Saneas / outubro 2002 – 35 Meio Ambiente superfície líquida por reaeração natural. Segundo Azevedo Neto (1966), em condições de corpos receptores caudalosos com velocidade normal, pode ser adotado K2 = 0,24 (logbase 10). Por serem os modelos atuais calculados na base neperiana (e), há necessidade de transformá-lo para esta base onde: K2 = 0,65239 (base e), sendo adotado como dado conservador K2 = 0,7 d-1 para T = 20ºC. K3 representa a DBO carbonácea da matéria orgânica que se sedimenta ao longo dos cursos d’água, formando o lodo de fundo ou depósitos bentônicos. Depende da velocidade e turbulência do curso d’água, podendo ser desprezado para valores mais elevados, geralmente acima de 0,20 m/s, quando a matéria orgânica tende a permanecer em suspensão SALVADOR, (1990). Kn representa a DBO nitrogenada total removida, devido à nitrificação. Depende dos mesmos fatores de K3, especificamente da presença de bactérias nitrificantes e do teor de nitrogênio orgânico ou amoniacal presente no meio SALVADOR, (1990). F representa o ganho ou produção líquida de oxigênio por algas, depende do teor de nutrientes no meio, da temperatura e transparência da água e das condições de insolação. Em rios com cor e turbidez elevadas e v = 0,20m/s o coeficiente de produção fotossintética pode ser desprezado SALVADOR, (1990). P pressupõe a sedimentação da matéria orgânica e expressa o valor da DBO de subprodutos solúveis da decomposição anaeróbia dos sedimentos do fundo ou lodo bentônico. Estes subprodutos ao se dissolverem no meio líquido são decompostos aerobiamente, gerando uma demanda de oxigênio SALVADOR, (1990). Ele depende dos mesmos fatores que K1 e K3, podendo ser também desprezado para v = 0,20 m/s SALVADOR (1990). 36 – Saneas / outubro 2002 2.1 Modelo de Autodepuração Foi utilizado o modelo de Streeter-Phelps, cujas equações matemáticas permitem avaliar a variação do oxigênio dissolvido e a capacidade de autodepuração de cursos d’água receptores de águas residuárias. Das equações apresentadas, a principal originou-se da integração da taxa de variação do déficit de oxigênio dissolvido. Ainda, existem outras bastante úteis ao desenvolvimento dos estudos, assim como os balanços de massa, eficiência de ETE, vazões mínimas de rios e coeficientes de desoxigenação e reaeração, bem como equações para correções de parâmetros em função da temperatura. Obtidos os dados de entrada, alimenta-se as células da planilha eletrônica MS Excel - item 1. Automática e concomitantemente, a planilha processa toda a seqüência de cálculo para o tramo inicial em estudo apresentando a Curva de Depressão de Oxigênio. Caso o resultado de OD mínimo para a Classe do corpo receptor não seja atendido, procede-se o estudo para o tramo subseqüente. Verifica-se em que “T” (dias) ocorre a transição para o OD mínimo exigido para o corpo receptor informando ao sistema. O sistema recalculará linearmente a nova contribuição no ponto de início do Segundo Tramo considerando como condições de montante do mesmo, os valores obtidos anteriormente ao final ou jusante do Tramo Inicial. Recomenda-se que para a verificação do segundo tramo se faça a consistência dos dados de entrada. Se possível, novo estudo do Q7,10 no ponto, bem como, analisar possíveis contribuições de novos efluentes poluidores quantificando-os e realimentando o sistema. Após a análise e consistência dos dados, de forma automática se têm os dados finais com a segunda Curva de Depressão de Oxigênio a partir do ponto de estudo. 3. Conclusão A utilização de aplicativos para sistematizar modelos matemáticos relacionados à qualidade das águas, como o apresentado neste trabalho, constitui-se em poderosa ferramenta para o desenvolvimento e análise de alternativas de aproveitamento e proteção dos recursos hídricos. A utilização de modelos de autodepuração deve ser cuidadosa, de forma não discriminada, havendo a necessidade de sua adequada calibração e validação, e critérios rigorosos em suas aplicações. Os dados de entrada têm que ser confiáveis e consistentes. A interação do usuário com o modelo sistematizado é necessária para que a interpretação dos resultados expresse a realidade. Os resultados obtidos na aplicação de modelos devem ser vistos como tendências em função dos inúmeros fatores que os influenciam. Entretanto, os modelos são a única forma de se prever ou projetar situações futuras, sendo, por isso, praticamente indispensáveis na maioria dos casos. Referência Bibliográfica AZEVEDO NETO, J.M., (1966), Autodepuração de cursos d’água – curva de depressão de oxigênio, São Paulo, Revista DAE, 26 (62), 51 - 62. GUAZZELLI, M.R., (1997) Qualidade das águas: monitoramento e autodepuração. In III Curso Internacional sobre Controle da Poluição das Águas. São Paulo, CETESB, p. 1-47. SALVADOR, N.N.B. et all, (1989), Modelo computacional de autodepuração em rios. In 15º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. ABES, Belém. SALVADOR, N.N.B. (1990), Avaliação de impactos sobre a qualidade dos recursos hídricos. São Carlos, 370p. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo. SILVA, P.W. (1997), Modelo de simulação para estudo de autodepuração de cursos d’água. Curso. AESABESP, São ■ Paulo. A SABESP INOVA Metodologia e aplicativo computacional para definição de limites operacionais de segurança dos reservatórios do sistema adutor metropolitano de São Paulo Choji Ohara , Fabiana Rorato de Lacerda , Guilherme da Costa Silva , Kamel Zahed Filho , Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges , Waldir Geraldo da Silva Objetivos Foram desenvolvidos uma metodologia e um aplicativo (SAFE – Sistema de Análise de Folgas de Extravasão) para definir os Limites Operacionais Máximos de Segurança dos Reservatórios do Sistema Adutor Metropolitano de São Paulo (SAM), procurando aumentar a capacidade de armazenamento nos reservatórios e garantindo os aspectos de segurança operacional. A Sabesp Inova Introdução O SAM conta com cerca de 150 centros de reservação, cujos volumes dos reservatórios são da ordem de 10.000 m³, com variação entre 5.000 m³ e 72.000 m³. A operação dos reservatórios é feita com informações obtidas por telemetria e comandos à distância, através do Sistema de Controle Operacional da Adução (SCOA). A correta operação do conjunto de reservatórios procura otimizar o atendimento da demanda, considerando sempre a segurança do SAM. Os limites operacionais máximos são essenciais à segurança do sistema adutor, pois seus objetivos são evitar extravasamentos. As primeiras alterações e definições destes limites eram baseadas em experiências dos controladores do Centro de Controle da Operação (CCO). Em 1987, definiram-se critérios estatísticos para sua definição. Embora tenha sido um passo importante para melhorar a segurança do sistema, as atualizações destes limites não foram feitas de forma sistemática. Recentemente, foi feito um estudo para apresentar propostas de melhoria da utilização da reservação do SAM, em que são discutidos os ganhos de volumes úteis, com a alteração dos limites operacionais. Isto poderia reduzir a necessidade de construções de novas instalações, com as dificuldades de escolha de locais estratégicos na cidade e custos de desapropriação. Este trabalho relata a criação de uma metodologia capaz de atualizar os Limites Altos de forma automática, a partir de uma conexão direta com Engenheiro Civil pela Escola Politécnica da USP. Membro da Divisão de Desenvolvimento Operacional, da UN de Água, da Vice – Presidência Metropolitana de Produção da SABESP. Formada em Engenharia pela Escola de Engenharia de São Carlos - USP 1995.Cursando pós - graduação no Depto. de Eng. Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da USP. Engenheira da CPMA - Divisão de Planejamento Técnico dos Sistemas de Abastecimento de Água da RMSP. Engenheiro Civil pela Escola Politécnica da USP e doutorando em Engenharia Hidráulica na Escola Politécnica da USP. Membro da VMN Ltda. E-mail: gcsilva@matrix.com.br Engenheiro Civil e Doutor em Engenharia Hidráulica pela Escola Politécnica da USP. Membro da Divisão de Desenvolvimento Operacional da UN de Água, da Vice-Presidência Metropolitana de Produção da SABESP. Engenheira Civil pela Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie e mestranda em Engenharia Hidráulica na Escola Politécnica da USP. Engenheira da Divisão de Desenvolvimento Operacional da UN de Água, da Vice –Presidência Metropolitana de Produção da SABESP. Tecnólogo pela Faculdade de Tecnologia de são Paulo. Encarregado da Divisão de Controle da Adução, da Vice – Presidência Metropolitana de Produção da SABESP Saneas / outubro 2002 – 37 A Sabesp Inova Folga Volume Útil Volume Nominal Figura 1 - Níveis operacionais dos reservatórios setoriais. o sistema SCOA, para otimizar o volume útil dos reservatórios e, ao mesmo tempo, garantir a segurança operacional do sistema adutor. Considerações gerais A operação de reservatórios se resume na abertura ou fechamento de válvulas de controle e partidas ou desligamentos de bombas, variando as vazões aduzidas, para manter o abastecimento normal. As decisões operacionais do CCO são feitas com base nas medidas de estado do sistema (nível, pressão junto às válvulas etc) em tempo real. Quando o nível d’água ultrapassa um limite de segurança, é acionado um alarme de Limite Alto nos terminais de controle. O controlador age no sentido de reduzir o nível d’água. Se por algum motivo o nível continuar a subir, a bóia de segurança atua, fechando a válvula ou desligando a elevatória que aduz ao reservatório, para evitar o extravasamento. V SUB = (NA 2 - NA 1 ) ∆t NA 2 NA 1 Figura 2 – Cálculo da velocidade de subida do nível d’água. 38 – Saneas / outubro 2002 Os níveis operacionais de interesse para operação podem ser observados na Figura 1. Os níveis d´água são medidos a partir de medidores ultra-sônicos instalados nas lajes de cobertura dos reservatórios e referenciados ao fundo do reservatório. Os limites de segurança de extravasamento são: • Limite de Extravasamento (L.E.): Lâmina d’água, a partir da qual começa a haver perda d’água pelo sistema de extravasamento. • Limite da Bóia (L.Bóia): Nível d’água a partir do qual é acionado o mecanismo de uma bóia que atua localmente no fechamento da válvula de controle do reservatório, independente da atuação do controlador do CCO. A bóia é considerada um recurso de segurança extrema. • Limite Alto (L.A.): Nível d´água, onde é emitido um alarme visual nos monitores dos controladores, para que eles possam atuar no fechamento da válvula de controle ou desligamento de bomba em tempo hábil para que não haja extravasamento ou atuação da bóia de segurança. • Folga (∆h): Altura correspondente à diferença entre o Limite da Bóia e o Limite Alto. Corresponde ao acréscimo de volume entre a emissão do alarme de Limite Alto e o total fechamento da válvula de controle. Critérios para definição dos limites operacionais A definição dos limites operacionais de segurança baseou-se em determinar a folga de segurança. A folga é calculada como sendo o produto do tempo que o controlador leva para reconhecer o alarme e atuar na válvula, somado ao tempo de fechamento da válvula de controle pela velocidade de subida da lâmina d’água. ∆h = Vel * Ttotal onde Ttotal = Trec + Tfech * P (%) ∆t ∆h : Folga de segurança. Vel : Velocidade de subida da lâmina d’água. Ttotal : Tempo de reconhecimento do alarme (Trec) somado ao tempo de fechamento da válvula de controle (proporcional à sua abertura). Tfech : Tempo total de fechamento da válvula de controle. P(%) : Posição da válvula de controle. A Sabesp Inova Com base nos registros históricos do SCOA, foi adotado o intervalo de tempo para percepção do alarme de Limite Alto e início de atuação da válvula como 5 minutos. As velocidades de subida do nível d’água foram obtidas dos registros da operação. São calculadas em função da variação do nível d’água e o intervalo de tempo em que se deu esta variação (Figura 2). A cada velocidade calculada foi atribuída uma freqüência amostral. Desta forma, é possível adotar uma velocidade em função de um risco que se pretende assumir na definição da folga. É possível observar dois comportamentos de operação do reservatório. Quando o nível d’água está baixo, a tendência é manter a válvula de controle totalmente aberta (a velocidade de subida da lâmina d´água é elevada), já que a intenção é encher o reservatório o mais rápido possível (operação de enchimento). Atingida uma determinada lâmina, as válvulas são gradativamente fechadas, iniciando uma operação de segurança. Neste caso, a intenção dos operadores é manter o nível do reservatório o mais elevado possível, porém, sem que haja extravasamento. Foram analisadas as velocidades referentes aos níveis d´água na faixa de operação de segurança. O limite inferior desta faixa foi definido como sendo 70% do volume do reservatório, avaliando-se o comportamento das velocidades em várias faixas de operação. Dois critérios foram pesquisados para determinar a folga. O primeiro critério, “da velocidade”, utiliza os gráficos de freqüências das velocidades e das posições das válvulas de controle. A figura 3 mostra a determinação da velocidade de subida da lâmina d’água e a posição da válvula de controle em função do risco que se deseja assumir. Admite-se que as ocorrências críticas de velocidades e aberturas sejam coincidentes. Entretanto, a ocorrência simultânea dos dois fatores pode não ocorrer, o que poderá levar a resultados muito conservadores. No segundo critério, denominado “da altura”, para cada velocidade observada, foi anotada a correspondente abertura da válvula de controle e calculada a folga necessária. Constrói-se, neste caso, diretamente, uma curva de freqüências de folgas históricas, permitindo também associar um risco ao valor do limite operacional adotado (Figura 4). O critério da velocidade conduz a folgas superiores àquelas do critério da altura. A 1. Critério da velocidade Folga (∆h) = { Trec + [ Tfech x P(%)]} x Vsub Risco Assumido Risco Assumido Posição da válvula de controle Velocidade P(%) Vel 1 Risco assumido Risco assumido Frequência Figura 3 – Cálculo da folga de extravasão pelo critério da velocidade escolha depende da propensão maior ou menor inerente aos riscos do processo. Considerações sobre os dados utilizados Os dados operacionais foram obtidos do SCOA referentes ao período de dezembro de 2000 a novembro de 2001. Foram determinadas as curvas de freqüência das velocidades, aberturas de válvulas e folgas, para cada mês e para o período total, para a verificação de possíveis sazonalidades nas regras operacionais. Resultados obtidos A tabela 1 apresenta um resumo das variações dos volumes úteis, em função das folgas mínimas necessárias calculadas para os reservatórios analisados. 2. Critério da altura Critério da altura (segundo critério) Folgas calculadas (históricas) hh Hora 00:00 00:01 00:02 00:03 00:04 00:05 00:06 00:07 00:08 00:09 00:10 00:11 Nível 2.51 2.54 2.54 2.54 2.56 2.56 2.56 2.58 2.58 2.58 2.58 2.58 Válvula (%) 59 59 59 59 60 60 60 59 59 59 59 59 Risco assumido Assumido Freqüência (%) Velocidade Folga : h Velocidade’ Folga’: h´ Figura 4 – Cálculo da folga de extravasão pelo critério da altura Saneas / outubro 2002 – 39 A Sabesp Inova Tabela 1 Reservatórios Analisados Variação do Volume Útil (m³) 32 -10.910 55 + 22.680 33 Sem variação Total : 120 Total : Ganho de 11.770 O volume total ganho apenas com estas alterações seria equivalente à construção de dois novos reservatórios. O Aplicativo SAFE Para a automatização das análises, foi desenvolvido um aplicativo em linguagem VB, denominado SAFE (Sistema de Análise de Folgas de Extravasão) que permite a obtenção dos dados e a exportação dos resultados no ambiente SCOA. O aplicativo estará disponível pela Intranet da SABESP, para adaptações nas áreas interessadas. A figura 5 ilustra a tela de abertura e telas de operação do aplicativo. Conclusões Figura 5 Telas do aplicativo SAFE Para a grande maioria dos reservatórios, obtiveram-se folgas menores que as atuais, 40 – Saneas / outubro 2002 ou seja, a posição do limite operacional atual pode ser elevada, de forma a se obter ganhos de reservação. Em alguns casos, a folga calculada foi muito maior do que as atuais, em função de uma velocidade máxima observada extrema (alguma operação anômala), o que leva à adoção de folgas muito conservadoras. Nesses casos, pode-se adotar freqüências de excedência maiores, o que implica em assumir risco de extravasamentos maior. Para se evitar esses eventos extremos, sugere-se a introdução de regras de operação de segurança nas Estações Remotas de Telemetria Inteligentes (URIT), que limitariam as velocidades de subida do nível d´água. A adoção de riscos maiores, procurando reduzir as folgas que poderiam garantir um ganho de reservação útil, requer a garantia na transmissão de mensagens do Centro de Controle à estação remota e o bom funcionamento das válvulas e dos vertedores. Referências bibliográficas e dados utilizados • Relatório DOC.242/87 – “Definição de Limites Operacionais Máximos de Reservatórios ” • Cadastro de Dados Operacionais – Versão 1.0 / 1987 – APDA, Sabesp • Tabela com tempos de fechamento das válvulas, fornecidas pela AG, Sabesp • Banco de Dados do SCOA ■ ENTREVISTA O papel dos Institutos de Pesquisa e a geração de tecnologia Há quase dez anos como diretor científico da FAPESP, José Fernando Perez acredita que não é função da Universidade ou dos Institutos de Pesquisa gerar tecnologia, mas, sim, das empresas. E mais: para acabar com a defasagem, que existe hoje no Brasil, entre pesquisa e geração de tecnologia, é preciso que as empresas invistam em parcerias e incentivem a formação de seus funcionários. Sobre a pesquisa na área de saneamento, José Fernando Perez afirma: “falta demanda”. Entrevista F ormando em engenharia elétrica, da turma de 1967, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, José Fernando Perez se dedicou às atividades científicas e à pesquisa acadêmica. No mesmo ano, ele finalizou o curso de Física, também pela Universidade de São Paulo, recebendo o título de mestre, em 1969 e, quatro anos depois, o de doutor em ciências naturais, pela Escola Politécnica de Zurique, na Suíça. Nos últimos 30 anos, este engenheiro, ávido por conhecimento, escreveu 65 artigos científicos, publicados em revistas internacionais arbitradas nas áreas de física estatística, física matemática, teoria quântica de campos e matemática aplicada. José Fernando Perez ocupa o cargo de diretor científico da Fapesp desde 1993. Desde então, participa ativamente de programas que incentivam parcerias entre empresas, universidades e institutos de pesquisa. Para ele, o Projeto Genoma, que consumiu quase 19 milhões de reais, em 2001, é um exemplo de como o sistema de pesquisa acadêmica pode gerar conhecimento e tecnologia por meio da formação de recursos humanos. Quanto a Fapesp destinou de recursos no último ano para pesquisa e desenvolvimento tecnológico? E especificamente para a área de saneamento? A Fapesp começou a existir formalmente em 1962. É uma fundação pública, autônoma. A verba vem da receita tributária do estado e de um patrimônio rentável. De toda forma de impostos, 1% é da Fapesp e destinado a pesquisa. Em 2002, recebemos cerca de 280 milhões de reais do estado e cerca de 100 milhões de rendimento de patrimônio. O que dá 380 milhões de reais. Isso comparado com outras instituições de pesquisa é uma quantidade muito grande. E, atualmente, investimos quase toda nossa receita. Na área de saneamento, financiamos 104 projetos, nos últimos dez anos. Existe, inclusive, um grande projeto temático, de 1999, da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, na área de tratamento de água e abastecimento. A área de saneamento básico tem muita competência dentro do ambiente acadêmico. A maior parte das pesquisas vem das universidades, onde também está a maior demanda. Mas acho que é uma área que tem um potencial interessante. É uma área de interface, onde há uma transferência de conhecimento imediata. A Fapesp financia atividades de pesquisa e desenvolvimento para pesquisadores que não estejam vinculados à universidade ou institutos de pesquisa? Exigimos que o pesquisador, que se propõe a realizar um projeto, documente-o. Ele precisa demonstrar uma competência documentada para realizar uma atividade de pesquisa, ou experiência compatível com esse tipo de qualificação. A análise e a aprovação de um financiamento de pesquisa é a soma de três variáveis: o mérito intrínseco do projeto – se representa avanço do conhecimento, da metodologia que vai ser utilizada –, o custo, e a competência da equipe. Não adianta ter um bom projeto, se não tiver uma boa equipe e o custo for muito caro. Saneas / outubro 2002 – 41 Entrevista Outra forma de conseguir financiamento para pesquisas é por meio de parcerias. Temos alguns programas que permitem financiamentos por parte maior de empresas públicas ou privatizadas. Se as empresas não têm seu grupo de pesquisa, por exemplo, podem trabalhar em parceria com a universidade. Temos um programa que é o PITE, Parceria para Inovação Tecnológica, um cofinanciamento com uma empresa parceira, que desenvolve um projeto de pesquisa, conjuntamente com pesquisadores da universidade. São projetos de inovação tecnológica em que a empresa parceira vai ter um benefício. Para nós, a medida do interesse é a vontade da empresa de investir, de compartilhar os riscos e os custos. Esse é um projeto que foi criado para estimular parcerias reais. Temos dois projetos do PITE na área de saneamento, entre pouco mais de 60. O que não é pouco. E temos um outro programa, que acho um pouco mais ousado, que é o PIPE, Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas. A idéia é criar um ambiente de pesquisa fora da universidade, dentro da pequena empresa, sem contrapartida. A empresa tem que ter um projeto de pesquisa, que resulte numa inovação tecnológica, com valor comercial, e uma equipe com competência para tocar. Financiamos 250 empresas, depois de analisarmos mais de 750 projetos. Como a Fapesp prioriza as áreas a serem financiadas? Nossos investimentos refletem a demanda qualificada. Não há nenhuma decisão interna de quantias destinadas a esta ou aquela área. Mas, nos últimos anos, nunca tivemos um projeto que tenha sido recusado por falta de recurso. Se não temos mais projetos na área de saneamento, por exemplo, é porque não houve demanda. O processo de avaliação para financiamento de pesquisa é muito rigoroso. A diretoria científica conta, para cada área do conhecimento, com uma equipe 42 – Saneas / outubro 2002 de especialistas, que vêem à Fapesp, semanalmente. Eles não são funcionários. São lideranças científicas nas suas áreas, que coordenam o processo de avaliação. O papel deles é, por exemplo, caso chegue um projeto na área de saneamento básico, olhar o seu resumo e identificar quem é o melhor especialista para dar um parecer. Esse coordenador nunca dá parecer. O especialista dá, então, um parecer, analisando todos os aspectos relevantes: metodologia, relevância científico-tecnológica, social e econômica, relação custo-benefício e competência da equipe. É importante que a pesquisa tenha qualidade e geração de conhecimento. Todas essas variáveis são analisadas pelos especialistas designados pela Fapesp. Eles dão um parecer sobre o projeto, que se transforma numa recomendação para a decisão da diretoria científica. E a decisão pode ser: financiar, recusar ou pedir para o pesquisador detalhar alguns pontos do projeto. Mesmo quando a resposta é negativa, há uma abertura para um pedido de reconsideração. O coordenador de área tem um papel de interface muito forte entre a diretoria científica e a comunidade. Até hoje, um dos grandes projetos da Fapesp foi o Genoma? Existem projetos que são, espontaneamente, apresentados pela comunidade científica. Mas outros têm uma magnitude, uma complexidade maior, que ninguém pode em sã consciência apresentá-lo. No Genoma aconteceu exatamente isso. Houve uma idéia, uma pergunta feita pela diretoria científica para a assessoria na área de ciências biológicas, sobre o que podia ser feito para podermos dar um salto de competência em biotecnologia molecular. A resposta veio em forma desse projeto brilhante, que tem um objetivo científico de grande relevância, formando muitos pesquisadores e alavancando o interesse da iniciativa privada com a criação de empresas de biotecnologia. E a biotecnologia tem uma aplicação prática muito grande, com muitos nichos. Estamos assistindo, agora, ao começo da formação de uma indústria de biotecnologia no país. É a iniciativa privada acreditando nessa oportunidade. O Genoma ilustra bem qual o papel que o sistema de pesquisa acadêmico tem, não só de gerador de conhecimento, mas de competências no processo de inovação tecnológica. E, assim, tentar atacar nosso problema de déficit tecnológico. O investimento da Fapesp, em 2001, no Programa Genoma foi de quase 19 milhões de reais. Isso representou 3,2% do investimento realizado no fomento a pesquisa no estado de São Paulo nesse período. Qual o mecanismo de acompanhamento e controle que a Fapesp aplica para garantir a praticidade na utilização dos resultados? Não é função da universidade ou dos Institutos de Pesquisa gerar tecnologia, e, sim, das empresas. A melhor forma de transferência de conhecimento da universidade para o setor empresarial é pela formação de recursos humanos altamente qualificados, treinados na fronteira do conhecimento e familiarizados com os métodos de pesquisa. No Brasil, não se apostou num modelo de inovação fora das universidades e não se estimulou isso. A inovação surge na iniciativa privada por necessidade, competitividade. Programas como o PITE e o PIPE exemplificam bem a forma de atuar da Fapesp. No PIPE, as empresas podem receber, inicialmente, até 75 mil reais para os primeiros seis meses. Recurso suficiente para a empresa fazer um estudo de viabilidade, avançar o projeto e trazer, depois de seis meses, a demonstração cabal de que aquele conceito é viável. Se for bem sucedido, financiamos, com mais 300 mil reais, a fase dois, que tem duração de dois anos. A empresa tem que apresentar um relatório anual e a Fapesp tem um sistema muito rigoroso de análise de contas. ■ EMPREENDIMENTO & GESTÃO OPINIÃO A Sabesp e a Tecnologia do Saneamento Sérgio Pinto Parreira Para a absorção de tecnologias modernas há necessidade de haver um corpo técnico preparado através de treinamentos específicos Empreendimento & Gestão H á algum tempo, numa entrevista para o jornal da Associação dos Engenheiros da SABESP, me perguntaram: qual a motivação para os engenheiros continuarem trabalhando na SABESP? Na época respondi que a visão da Companhia em ser a melhor Empresa de Saneamento até 2005 passava necessariamente pela questão tecnológica. A SABESP teria que estar buscando implementar a melhor tecnologia disponível no mercado e isto iria beneficiar diretamente aqueles que trabalhassem nesses projetos, mantendo-se atualizados tecnologicamente. Poucas organizações oferecem essa oportunidade. Recentemente houve alteração na estrutura organizacional da SABESP, cabendo à Diretoria de Gestão de Assuntos Corporativos recepcionar com muito orgulho a Superintendência de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico. Esta é uma unidade estratégica da Alta Administração com autoridade funcional em toda a organização para as questões relacionadas com a área da tecnologia do saneamento. Nesta unidade foram estabelecidas prioridades aos seguintes projetos de estudos e pesquisas: • • • • Controle de Perdas .................. 17 projetos Subprodutos de Tratamento ..... 11 projetos Otimização Operacional ............. 6 projetos Automação ................................... 6 projetos É importante salientar que o desenvolvimento tecnológico tem como diretriz fundamental a redução de custos e o aumento da eficiência, de modo a contribuir para que a Empresa se torne mais competitiva. Os projetos de estudos na área de subprodutos de tratamento visam principalmente buscar formas de disposição adequada dos lodos das Estações Tratamento de Água e das Estações de Tratamento de Esgotos. A solução mais promissora no momento para o lodo de ETA é entrar na composição das cerâmicas vermelhas e a do lodo de ETE é usar na produção agrícola. Estas pesquisas estão sendo desenvolvidas em convênio com instituições da Universidade de São PauloUSP: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queirós, Escola de Saúde Pública e Escola de Engenharia de São Carlos; também com a Universidade Estadual de São Paulo- UNESP, através da Escola de Agronomia de Jaboticabal; EMBRAPA, IAC, instituições de excelência da agroindústria do Estado de São Paulo. Todos esses projetos coordenados pela Superintendência de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico estão tendo ampla participação de engenheiros das diversas Unidades de Negócio, desde o início quando da concepção do projeto até sua implementação, de forma a garantir que todas as áreas cheguem juntas na solução tecnológica adequada, promovendo assim treinamento técnico on the job. Diretor de Gestão de Assuntos Corporativos da Sabesp. Saneas / outubro 2002 – 43 Empreendimento & Gestão Aproveitamento do lodo de ETE para adubação em plantação de bananeiras– UNESP xando a iniciativa para cada empregado. Para tanto a Universidade Empresarial adota diversas formas de promover seus cursos, presencial ou virtual. A Educação à Distância, que já existia através da TV, rádio e mídia impressa, ganhou maior relevância e força com a informática. A Universidade Empresarial SABESP hoje não é uma simples intenção, mas uma realidade; vejamos estes números: O envolvimento da universidade na inovação tecnológica é muito importante, podendo verificar na prática a efetiva aplicação das idéias desenvolvidas em suas pesquisas à realidade dos nossos sistemas de água e esgotos. O novo Modelo de Gestão de Recursos Humanos por Competência privilegia o conhecimento, identificando carências internas quando da avaliação de competência/ desempenho, incentivando os empregados a se atualizar nos cursos oferecidos através da Universidade Empresarial SABESP. Para a absorção de tecnologias modernas há necessidade de haver um corpo técnico preparado através de treinamentos específicos. As Empresas, para não sucumbirem devido à perda da capacidade de competir, necessitam ter em suas estratégias um sistema de atualização do conhecimento de seus colaboradores. A SABESP aposta que a melhor metodologia de treinamento é o auto-desenvolvimento, deiA implantação GIS (Sistema Geoprocessado Integrado) irá promover um salto tecnológico nas áreas de atendimento de clientes, controle operacional das redes de água e esgotos, informações para planejamento, entre outras 44 – Saneas / outubro 2002 • 70.000 acessos ao portal (2002) • 500 cursos de pós-graduação (2001-2002) • 2.700 participações em congressos e eventos (2002) • 1.700 treinamentos em competências especificas (2002) • 250 cursos de tecnologia da informação (2002) A informática tem tido muito destaque nas ações estratégicas da Empresa com vistas à absorção de novas tecnologias. Como exemplo, está sendo implementada na Região Metropolitana de São Paulo, para posterior implantação em toda a SABESP, o sistema de informações geo-referenciadas-GIS. Este sistema, em fase de licitação, irá promover um salto tecnológico nas áreas de atendimento de clientes, controle operacional das redes de água e esgotos, informações para planejamento, entre outras. Outro exemplo é a nossa rede de comunicação, via intranet, com mais de 6.000 pontos, e os nossos sistemas de gerenciamento das licitações, hoje são uma referência para o mercado. Esta evolução tecnológica foi possível apesar de ainda não podermos implementar o Plano Diretor Estratégico de Informática-PDEI, devido aos questionamentos e recursos havidos no processo licitatório. Todos esses obstáculos já foram eliminados, possibilitando a assinatura do contrato e a implementação do sistema integrado de informações. Este é um breve resumo das iniciativas da SABESP, Empresa líder na prestação de serviços de saneamento no Brasil, que desempenha papel fundamental no desenvolvimento da Tecnologia do Saneamento em nosso País. ■ HISTÓRIA DO SANEAMENTO Abastecimento de água: 56 anos atrás Matéria de responsabilidade do Fundo Editorial, assunto suscitado pelo Eng. Armando Fonzari Pera M História do Saneamento atéria muito comentada, debatida, preconceituada, o abastecimento de água em São Paulo é um óbice que, ao longo dos anos, se modifica, se traveste e toma a forma mais adequada das necessidades e pressões sociais. Disseminador de um produto cada vez mais escasso e, portanto, caro, promove a todos os envolvidos com tal matéria desafios inimagináveis no tocante a busca de seu principal agente, a água, bem como os cuidados para torná-la um dos principais produtos de saúde das populações. Estes cuidados e preocupações têm se manifestado ao longo de toda a história da humanidade e, para ilustrarmos melhor um momento da história do Abastecimento de Água na cidade de São Paulo, reproduzimos fragmentos de uma matéria com mais de cem páginas, escrita pelo Engº Plínio Penteado Whitaker, Diretor da Repartição de Águas e Esgotos de São Paulo, na revista RAE, ano 8, nº 17, de novembro de 1946, no qual aborda o tema sob o seguinte ponto de vista: NOTA Por uma questão de respeito ao artigo original, reproduzido abaixo, foi mantida a ortografia da época. Abastecimento de água da cidade de São Paulo – sua solução N o Presente trabalho tratamos de um dos problemas mais discutidos nesta Capital. Assunto de magma relevância, pois, dentre os serviços de utilidade pública, é o abastecimento de água o que mais de perto está ligado às condições de vida da população, que dêle não pode prescindir, para as suas primordiais necessidades de existência, atendemos, com esta publicação, a um convite da direção da “Engenharia”, no sentido de focalizá-lo, no momento em que a Repartição de Águas e Esgôtos de São Paulo executa um vultoso plano de obras, para lhe dar solução adequada. Um serviço de abastecimento de água canalizada, para ser eficiente, deve obedecer, maximé numa cidade com a rapidez do crescimento de São Paulo, às seguintes condições básicas: – Dispôr de instalações com capacidade suficiente para atender ao aumento da população durante um número razoável de anos, fornecendo-lhe, em qualquer época em que o consumo o exigir, água abundante, de acôrdo com a demanda horária. – Ter essas instalações ampliadas com a indispensável antecedência, em função da curva de crescimento da cidade e de sua população. Assim sendo, dividimos êste trabalho em três partes. Na primeira fazemos um histórico desde 1893, época em que o Govêrno do Estado chamou a si os serviços, até esta data, mostrando o estado atual das instalações com respeito ao crescimento da cidade. Na segunda parte abordamos o Plano Geral de Abastecimento, que estudámos prevendo o crescimento da cidade até a saturação e na terceira parte tratamos do Plano de Obras ora em execução. Saneas / outubro 2002 – 45 História do Saneamento HISTÓRICO Sistema de abastecimento da cidade de São Paulo A Cidade de São Paulo, desde o início do seu vertiginoso desenvolvimento, que data de 1890, passou por crises periódicas provocadas por deficiência no seu serviço de abastecimento de água, que não acompanhou, passo a passo, o crescimento da cidade e o aumento de sua população. Desde os primeiros dias da República se manifestarem essas crises. Os serviços, então explorados pela Companhia Cantareira, mediante contrato com os poderes públicos, estavam absolutamente deficientes em 1892, provocando o clamor público contra as faltas de água. À vista disso, resolveu o Govêrno do Estado chamar a si o encargo, o que levou a efeito pela lei nº 62 de 17 de agosto dêsse ano, de que resultou o decreto nº 1524 de 31 de janeiro de 1893, creando a Repartição de Águas e Esgôtos da Capital, em sucessão à Companhia Cantareira cujos serviços foram então encampados. Por essa época o abastecimento de água contava apenas com duas adutoras – Ipiranga e Cantareira (tanques de acumulação). A primeira fornecia 3.000.000 litros/dia de uma pequena reprêsa na Água Funda e abastecia as zonas baixas, além do Tamanduateí, isto é, Braz, Moóca e Ipiranga. A da Cantareira, provinda da serra, fornecia também 3.000.000 litros/dia ao antigo reservatório da Consolação, construído em 1883, e abastecia o centro da cidade. Na cidade eram servidos 8.642 prédios, tendo a rêde total 73.368 metros. A população, na época, orçava em 120.000 habitantes: assim, para que fosse tôda abastecida, caberia apenas uma quota de 50 litros por habitante/dia. A cidade crescia vertiginosamente e não era possível protelar-se a solução do problema de seu abastecimento. Depois de encampados os serviços, em 1893 foi levado a efeito um plano de obras novas, sendo captados e aduzidos outros recursos da Serra da Cantareira. Construiuse a adutora do Guaraú (extensão de 13.397,72 metros de tubos de 0,60 m. de diâmetro até o reservatório da Consolação), com capacidade para 17.000.000 litros/dia e fez-se na Serra, a captação dos córregos Bispo, Itaguassú e Menino. Uma, entretanto, queremos mencionar: o seu rápido crescimento nos últimos 60 anos. A pequena cidade de 1880 cresceu em área, à semelhança de algumas cidades norte-americanas, mas sem um Plano de conjunto, que seria indispensável num centro urbano como o nosso, que se expandia e se expande aceleradamente, através de um terreno de topografia ultra acidentada e irregular. Em consequência, crescendo sem êsse Plano regulador e por ação exclusiva da iniciativa particular, foi a cidade de São Paulo espraiando-se através de arrabaldes que se formaram nos terrenos de melhor topografia, mas sem um estudo criterioso do traçado e orientação das ruas (*) e de interligação entre êsses núcleos de habitações, quasi sempre separados por vales profundos,a cuja urbanização não chegou a iniciativa particular, à procura, como é curial dos terrenos secos e altos, que menor despesa apresentam para o seu loteamento. Assim se formaram Perdizes, Vila Pompéia e outros arrabaldes como Bexiga, Bela Vista, parte alta do Cambucí, Ipiranga, Vila América, Pinheiros, Vila Mariana e tantos outros. 46 – Saneas / outubro 2002 História do Saneamento Assim se formaram também arrabaldes, cujas ruas, caprichosamente, foram abertas normalmente às curvas de nível do terreno, contra todos os princípios do bom senso e do urbanismo. Vila América, Perdizes, Vila Pompéia, Bela Vista, Paraizo, Cerqueira Cesar, Pinheiros e Santana apresentam, neste particular, exemplos típicos. Êsse espraiamento da cidade em grande área, num terreno de forte irregularidade topográfica, com desníveis de mais de cem metros; a existência de grandes extensões de ruas particulares sem perfil regularizado e as áreas baldías deixadas entre os arrabaldes, constituiram, sem dúvida, grandes entraves para que a cidade pudesse ser dotada, passo a passo com seu crescimento, dos indispensáveis serviços públicos, principalmente os de saneamento, como águas, esgôtos, galerias de águas pluviais e os de transporte coletivo. A cidade de São Paulo, de acôrdo com a limitação de seu perímetro suburbano, estipulado pelo Ato Municipal nº 1057 de 16 de abril de 1936, baixado posteriormente à anexação do município de Santo Amaro, ocupa uma área de 22.800 hectares. Com a delimitação dêsse perímetro, a cidade propriamente dita ficou aumentada de 47,1% de sua área anterior, que era de 15.500 hectares. Atualmente, de norte a sul, mede 21 quilômetros (entre o Tucuruvi e Santo Amaro) e de leste a oeste mede 22 quilômetros (entre Penha e Vila Leopoldina). A exposição dêste assunto, de tamanho alcance na vida da população desta Capital e tão intimamente ligado às necessidades de seu progresso, não pode ser completa sem que faça referência ao que fez até hoje o Govêrno do Estado, com respeito ao abastecimento de água da cidade, ao Plano de desenvolvimento futuro dos serviços e às obras ora em execução. Para refôrço da adutora do Ipiranga, foram captados os córregos Simão e Borba. Em 1894 foram captados sucessivamente, na Serra da Cantareira, os mananciais de sua ala esquerda: Cassununga, Campo Redondo e Engordador, cujos contingentes foram reunidos numa caixa de junção, a que se denominou do Guapira, sendo essas águas aduzidas para um novo reservatório que então se construiu no antigo largo 13 de Maio (hoje Praça Amadeu Amaral), destinado a servir à zona da cidade que se desenvolvia na encosta a montante do reservatório da Consolação. Êsse reservatório, com capacidade de 6.500.000 litros, até hoje é o único que abastece êsse setor.” Evolução das zonas de abastecimento de água da cidade de São Paulo Diagrama de crescimento da população da cidade de São Paulo (*) Há exceções: o Jardim América, Pacaembu, Alto da Lapa, Alto de Pinheiros, Butantan, Jardim Europa, Jardim Paulista, que foram previamente urbanizados. Destes fragmentos impressiona que há muito são enfocadas opiniões controversas sobre mananciais para abastecimento da Capital. Ainda hoje, discutem-se as ameaças e oportunidades relativas à utilização das diversas alternativas. ■ Saneas / outubro 2002 – 47 Novidades Novidades Imagens de satélites para saneamento: uma visão de futuro A SABESP vem procurando adquirir novas tecnologias para a utilização de imagens de satélites. Estas imagens permitem obter mais informações do que uma simples visão aérea das áreas urbanas ou dos mananciais, pois alcançam além da capacidade visual humana. Associadas às tecnologias de sistemas de informação geográfica, estas imagens permitem o controle do patrimônio da SABESP (faixas de adutoras e coletores, margens das represas), acessar informações cadastrais, localizar endereços ou locais, monitorar a frota de veículos, fornecer informações para planejamento ou operação e muitas outras aplicações que a experiência e a criatividade de cada um poderão desenvolver. As novas imagens podem identificar objetos como veículos em uma rua ou a localização de reservatórios ou, até mesmo, de poços de visita, pois conseguem distinguir objetos com dimensão de um metro. Atualmente, já existem softwares que permitem seu uso amigável por qualquer pessoa. A Unidade de Negócio de Produção de Água (AA) está elaborando projetos pilotos nas áreas de fiscalização de mananciais, Imagem de satélite do Aeroporto de cadastro de adutoras e Cumbica, Guarulhos -SP painel de visualização do sistema de adutoras no Centro de comum que atenda a todas as Controle Operacional (CCO). A necessidades da SABESP e de procura de parceiros internos e outros órgãos do Estado de São externos visa obter um sistema Paulo. ■ Meio Ambiente em pauta Reúso: uma solução para a escassez de água O livro “Meio Ambiente, Direito e Cidadania” traz não só a discussão dos principais temas abordados na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, mas também análises e reflexões sobre medidas adotadas e seus desdobramentos em termos nacionais e internacionais até esta data. Com esta publicação pretende-se contribuir para um melhor entendimento da necessária interação destas questões sob a ótica do meio ambiente, do direito e da cidadania. ■ A Faculdade de Saúde Pública da USP, por intermédio do Núcleo de Informações em Saúde Ambiental e em parceria com a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária Ambiental, vem atuando na formação e capacitação de recursos humanos na área ambiental, na qual a reutilização da água desponta como tecnologia compulsória para diminuir a escassez, cada vez mais evidente em diversos países do globo. Grupos de pesquisadores das áreas pública e privada em todo o mundo encontram-se, hoje, voltados para o que parece ser uma solução para o problema, pois a oferta de água já é insuficiente para atender o crescente número de consumidores. Consciente deste momento, um grupo de renomados profissionais, consultores e professores produziram a obra “Reúso de Água”: Adelaide Cássia Nardocci, Arlindo Philippi Júnior, Daniel Roberto Fink, Darcy Brega Filho, Doron Grull, Geraldo Julião dos Santos, Hélio Padula Filho, Ivanildo Hespanhol, José Roberto Coppini Blum, Sérgio Eiger, Wanderley da Silva Paganini, sob a coordenação de Pedro Caetano Sanches Mancuso e Hilton Felício dos Santos. A obra expande e atualiza conceitos que vêm ao encontro de uma importante demanda que, dependendo da água, luta pela melhoria da qualidade de vída no planeta. ■ 48 – Saneas / outubro 2002 Reconhecimento C riador da logomarca da Sabesp, nasceu em Santa Adélia (SP), se formou em Economia e depois fez curso de Comunicação Visual na primeira turma da FAAP, Fundação Armando Álvares Penteado. na mão, ele associou as iniciais do tema “saneamento básico” na formação da logomarca com a finalidade de, plasticamente, conseguir a configuração destas iniciais somadas ao simbolismo (ânfora e gota). E o resultado está aí! Existem pessoas que passam sem deixar marcas, o Nabih passou pela Sabesp e deixou marcas importantes, inclusive a sua logomarca! ■ A/6 A/12 A/6 A/2 C2 2% A O2 O1 C1 A/6 logomarca da Sabesp é conhecida por dez entre dez paulistanos. Tamanho sucesso deve ser creditado a seu criador, Nabih Mitaini, que, num momento de inspiração, desenhou, à mão, a marca –naquela época não se contava com a ajuda da tecnologia. O desenho irá completar 30 anos em 2003, com muita saúde. Nabih Mitaini criou a logomarca seguindo as tendências da época: a década de 70. Suas principais fontes inspiradoras foram a ânfora; o vaso antigo egípcio, que servia para decantar água; a letra “S” de Sabesp; a gota de água, que hoje vem revestida da idéia geral de saneamento; e o formato de uma garrafa ou bule, que, de acordo com Nabih, segue a filosofia do servir. Com todos esses elementos A/12 A A/2 Reconhecimento Nabih Mitaini A/3 A/6 A/6 A/3 A Saneas / outubro 2002 – 49 Cafezinho Cafezinho Qual é sua profissão? Um pastor tomava conta das suas ovelhas tranqüilamente no campo, quando, de repente, na estrada próxima, aparece uma pick-up toda incrementada e para ao lado do pastor. Desce dela um homem bem vestido, de finos tratos e pergunta ao pastor: – Se eu lhe disser exatamente quantas ovelhas o senhor tem, em que área estão distribuídas, como estão distribuídas, o senhor me daria uma delas? O pastor, pego de surpresa, concorda. O tal homem entra no seu carro, aperta alguns botões que fazem aparecer no teto da cabina uma antena parabólica, a qual ele conecta a um sistema de computadores embutidos no 1 4 5 2 6 8 Q 3 N 7 9 10 N 11 12 O V 14 13 15 T 16 17 18 R 19 20 21 22 23 E 24 Solução do número anterior 1. assoreamento; 2. voçoroca; 3. biogás; 4. compostagem; 5. erosão; 6. RIMA; 7. ONG; 8. flora; 9. Biota; 10. ecossistema; 11. EIA; 12. Manancial; 13. chorume; 14. abiótico; 15. fauna; 16. ecologia; 17. biomassa; 18. aterro; 19. humus; 20. biocenese; 21. extrativismo Solução do número atual 1. biodiversidade; 2. fenólico; 3. ISO; 4. jazida; 5. agrotóxico; 6. aquífero; 7. macronutriente; 8. jusante; 9. aeração; 10. cólera; 11. represa; 12. ABNT; 13. ETE; 14. nutriente; 15. emissão; 16. DBO; 17. predador; 18. detrito; 19. CETESB; 20. sonda; 21. vetor; 22. efeitoestufa; 23. EIA; 24. dioxina. 50 – Saneas / outubro 2002 carro. Abre seu lap-top, conectase, então, no sistema e faz um rastreamento por satélite. Os dados são recebidos pela antena do carro e acumulados no seu computador de última geração, transfere os dados para um aplicativo específico e, enfim, obtém um resultado. Enquanto isto, o pastor só observa toda a tecnologia e o trabalho do sujeito. O homem então sai do carro e apresenta seus resultados: – O senhor tem 134 ovelhas num perímetro de 1,12 km, com uma distribuição uniforme e circular em torno do senhor. – É. O senhor tem razão. Pode escolher a ovelha. O homem da pick-up contente, escolhe um dos animais e o leva para dentro do carro. Quando ele já ia saindo, o pastor lhe faz uma pergunta: – Se eu adivinhar a sua profissão, o senhor me devolve meu bichinho? – Tudo bem – responde o homem da pick-up, todo cheio de si. – O senhor é consultor, não é mesmo?– diz o pastor. - Nossa! Como o senhor adivinhou? Eu deixei cair algum cartão meu ou coisa assim? – Não - responde o pastor – É uma questão de dedução lógica: primeiro o senhor me oferece um serviço que eu não pedi, depois o senhor me fala o que eu já sei, e, por último, o animal que o senhor pegou não é uma ovelha, é o meu cachorro!! VERTICAIS 1. Variedade de organismos em todos os níveis taxonômicos 3. International Organization for Standardization 5. Substância utilizada na agricultura para combater os diferentes tipos de pragas que atacam as lavouras 6. Água subterrânea, confinada ou não 7. Nutriente essencial ao desenvolvimento das plantas, usualmente encontrado em quantidades significativas 8. Qualificativo de uma área que fica abaixo de outra à qual se refere 10. Doença infecto-contagiosa aguda, disseminada principalmente pela água 12. Associação Brasileira de Normas Técnicas 16. Demanda Bioquímica de Oxigênio 17. Animal, raramente uma planta, que se alimenta de outros animais 19. Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental 20. Dispositivo usado para monitorar um meio qualquer 21. Serve de condução de um agente, danoso ou não, de um sistema para outro 23. Estudo de Impacto Ambiental HORIZONTAIS 2. Qualidade do que pertence à família dos compostos baseados no fenol 4. Ocorrência de minerais num depósito natural concentrado 9. Processo de introdução de ar num sistema, normalmente com o objetivo de oxidação 11. Construção natural ou artificial que retém parte de um corpo d´água, impedindo seu escoamento 13. Estação de Tratamento de Esgotos 14. Qualquer uma das substâncias do ambiente utilizada pelos seres vivos para seu sustento 15. Quantidade de poluente emitida a partir de uma fonte, expressa usualmente em unidades de massa por tempo 18. No solo, matéria orgânica recentemente morta ou parcialmente decomposta 22. Aumento da temperatura da atmosfera terrestre em conseqüência da absorção de energia reemitida pela superfície terrestre 24. Denominada usualmente de “ultraveneno”, é um químico de alta toxicidade XIII Encontro Técnico da AESabesp Feira Nacional de Materiais e Equipamentos para Saneamento FENASAN 27 a 29 de agosto de 2002 Bienal do Ibirapuera São Paulo, SP 2.500 pessoas por dia 125 stands, em 8 mil m² 160 trabalhos apresentados 5 painéis de debate Agradecimentos Biblioteca Técnica da Sabesp Carla Tereza de Chiara Fernando Cunha Isabel Cristina Nascimento João Garcia Luiz Yukishigue Narimatsu Moacir Francisco de Brito Marcos Gorelik Ajzenberg Odair Marcos Faria Silvana C.C.F. Franco
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