UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
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I UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva PREVALÊNCIA DA CEFALÉIA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS NA QUALIDADE DE VIDA DE MOTORISTAS DE UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO Liriana Magalhães Carneiro Rio de Janeiro 2005 II LIRIANA MAGALHÃES CARNEIRO PREVALÊNCIA DA CEFALÉIA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS NA QUALIDADE DE VIDA DE MOTORISTAS DE UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva Orientadora: Professora Dra. Anamaria Testa Tambellini Rio de Janeiro 2005 III LIRIANA MAGALHÃES CARNEIRO PREVALÊNCIA DA CEFALÉIA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS NA QUALIDADE DE VIDA DE MOTORISTAS DE UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva BANCA EXAMINADORA: ........................................................................................ Jano Alves de Souza Universidade Federal Fluminense Sociedade Brasileira de Cefaléia ......................................................................................... Heloisa Pacheco Universidade Federal do Rio de Janeiro ........................................................................................ Anamaria Testa Tambellini Universidade Federal do Rio de Janeiro Rio de Janeiro 2005 IV Aos meus grandes amores Alaor, Glorinha e Fernanda, por serem a maior inspiração da minha vida. Aos meus novos amores Ali e Lucas, por trazerem um novo sentido a minha vida. V À minha avó Lira, em memória, pela fé e sabedoria de viver. VI AGRADECIMENTOS À minha orientadora Professora ANAMARIA TAMBELLINI, pelo grande senso ético e pela profissional competente, cujos estímulos e ajuda, tornaram possível a realização deste trabalho. Aos Professores JANO DE SOUZA e HELOÍSA PACHECO, pela honra de participarem da Banca Examinadora e pela amizade. Ao mestre ABOUCH V. KRYCHANTOWISKI, pela admiração e aprendizado em cefaléias. Aos professores MEDRONHO, MARISA PALÁCIOS, VALNEY CÂMERA, ANDRÉ MARTINS, MACU e ISABEL responsáveis pela minha formação em Saúde Coletiva. Ao VAL e PASCHOAL, por todas as mais belas alegrias. Ao amigo Dr. HELION PÓVOA, pela sabedoria e bondade. Ao amigo LUCAS FORTES MAIA, pela amizade e credibilidade em meu trabalho. Ao amigo ARMANDO STROZENBERG, pelo grande estímulo, sempre pronto a ajudar. À amiga LEONOR PAPOUCHADO, pela confiança e cuidado. Ao amigo e grande exemplo de chefe CLEMENTE RANGEL, por ter me estimulado a ir ao encontro de meus sonhos. Ao professor PALMIRO TORRIERI, pela minha formação em fisioterapia e por ter me mostrado o caminho que me trouxe até aqui. Ao professor MARCO AURELIO BRUNO, pela sabedoria e pelo caminho que temos trilhado juntos. Ao professor FRANCISCO PEREIRA JUNIOR, por ter me inspirado na formação acadêmica. À grande mulher e profissional NILMA PIMENTEL, pelo que temos compartilhado juntas. Ao professor MARCUS VINICIUS DE MELLO PINTO, pela amizade e apoio. Ao professor HERMINIO DA SILVEIRA, por manter viva a qualidade no ensino da fisioterapia. Aos colegas da ESCOLA NACIONAL DE CIRCO, pelo apoio e compreensão durante todo este percurso. Ao amigo e grande chefe CARLOS CAVALCANTI, por saber entender a importância deste trabalho em minha vida. VII Aos meus grandes companheiros de estudo PROFESSOR SALLES CUNHA, SUELI DE CARVALHO, KIKO, CRIS, SIMONE, CARMINHA e PAULO AFONSO, por não desistirem nunca. Aos amigos CAROL, RAQUEL, DAYSE E VALDECI, por terem me dado as mãos e me encaminhado ao mestrado; sem eles o caminho não teria sido trilhado de uma forma tão mágica. Aos amigos REJANE, IARA, NÁDIA, ANDREA, RENATA, REGINA MIRANDA, GI, CONCEIÇÃO, SHIRLEY e LEO, pelo estímulo e amizade neste momento e sempre. Às amigas AIDA, SIMONE(S), GISELA HAIKAL, PATRICIA, LU e ROSANI STODUTO, pela amizade, nosso maior tesouro. À minha nova família no Rio D. LUIZA, FLAVIA, TED, GUIL, VITOR, RAFAEL, TIA LUCIA, EDUARDO e MONICA, pelo acolhimento e carinho constantes. Aos meus tios e primos MARRAZZO, DELIZETE, EVERTON, WELLINGTON e WALLACE, pelo sentido de família. Às amigas BURAQUEIRAS, por representarem o maior sentido de cuidado, amizade e companheirismo. À auxiliar ROSA, pelo cuidado e atenção neste momento. Às amigas do mestrado CLAUDINHA, MARIA, DOLLY, LILIAN E SIGRID, pelo vínculo que construímos nestes dois anos. À equipe do NESC, DELVACI, DONA CLEA, IVETE, GERALDO OLIVEIRA, JOÃO e IVISSON, pelo apoio e ajuda durante toda a realização deste trabalho. Aos colaboradores LÉA CARDOSO ALVES, JOÃO LUIZ RIBEIRO, MAURÍCIO, RICARDO e ANA BADARÓ pela ajuda na reta final. Aos meus PACIENTES pela troca que firmamos nestes últimos 10 anos, estimulando-me a trabalhar, estudar e produzir cada vez mais. Aos colaboradores da empresa pesquisada, em especial a ELLEN DOUTEL, por terem me acolhido com o maior carinho, respeito e disponibilidade. Aos motoristas; sem eles este trabalho não teria sentido. A DEUS, fonte de toda inspiração e proteção. Obrigada. VIII RESUMO A cefaléia é um sintoma comum. Cerca de 90% da população experimentou ou vai experimentar algum dos tipos desse mal no decorrer da vida. A migrânea e a cefaléia do tipo tensional (CTT) são as formas mais comuns de cefaléia, com pico de prevalência coincidindo com a idade produtiva da força de trabalho. Isso acarreta importante impacto na qualidade de vida condicionada à saúde (QVCS) de seus portadores. O objetivo deste estudo é avaliar a prevalência das cefaléias entre os motoristas de ônibus de uma empresa de transporte coletivo urbano e o conseqüente comprometimento na qualidade de vida e no desempenho profissional desta população, bem como analisar a dinâmica do processo de trabalho e sua organização O estudo foi conduzido em duas fases. Primeiramente realizando o levantamento das condições de organização do trabalho e a observação direta do processo das atividades laborais do grupo em foco. Em segundo lugar, levantamento da prevalência da cefaléia por meio de um questionário subdividido em três partes: dados gerais dos motoristas, descrição do quadro geral da cefaléia e QVCS, medida pelo Medical Outcomes Short Forme 36-Item Health Survey (SF-36). Foram estudados 55 motoristas do sexo masculino. Deste total, 31 (56,4%) relataram apresentar cefaléia no último ano, com maior incidência na faixa etária de 31 a 40 anos. As características clínicas mais observadas no grupo com cefaléia foram: dor na fronte (41,9%); dor de intensidade leve (45,2%); caráter pulsátil (51,6%); freqüência menor do que uma vez por semana (41,9%); duração das crises de até 2 horas (67,7%). O consumo excessivo de medicações sintomáticas foi observado em 71,0% dos entrevistados que apresentam quadro de cefaléia. Um motorista relatou mudança no padrão da crise após acidente. Não foi encontrada associação significativa da ocorrência freqüente da cefaléia com o nível educacional dos pesquisados. O grupo de motoristas com relato de cefaléia apresentou uma redução da QVCS em relação ao grupo sem cefaléia, registrando-se diferença estatisticamente significante em todos os componentes pelo teste t de Student. A totalidade dos motoristas (100%) respondeu não perder dia de trabalho devido à cefaléia, desempenhando sua atividade mesmo com dor. Concluímos que a empresa investe em Qualidade Total, melhorando as condições de trabalho e diminuindo os fatores de riscos a que estão submetidos os motoristas; a cefaléia é freqüente entre a população pesquisada e sua presença produz redução da QVCS. Palavras-chave: Cefaléia; qualidade de vida condicionada à saúde (QVCS); motorista de ônibus; saúde do trabalhador. IX ABSTRACT Headache is a common symptom. About 90% of the population has had or will have one of its varieties during their lifetimes. The most common varieties of chronic headaches are migraine and those caused by stress. Their peak of prevalence coincides with the most productive age of the work force, entailing a major impact on the health-related quality of life (HRQoL) of its sufferers. The aim of this study was to assess the prevalence of chronic headaches among bus drivers working on city routes and to avail the extent to which this condition undermines their quality of life and professional performance, as well as to analyze the dynamics of the work process and its organization. This study was conducted in two phases. First, the conditions of the work organization were investigated and a direct observation of the work process was conducted. In the second phase, the prevalence of chronic headaches was surveyed with the use of a questionnaire divided in three sections: 1) general data about the the drivers; 2) a general picture of chronic headaches and; 3) HRQoL, as measured by the Medical Outcomes Short-Form 36-Item Health Survey (SF-36). Fifty-five male drivers were surveyed, of which 31 (56.4%) reported to have had headache in the last 12 months, with more prevalence in the age groups of 31 to 40 years old. Clinical characteristics more frequently observed in the group with headache were: forehead ache (41.9%); mild intensity of pain (45.2%); throbbing headache (51.6%); frequency of less than once a week (41.9%); continuing occurrences of up to 2 hours (67.7%). Excessive consumption of symptomatic medication was observed in 71% of the cases. One driver reported a change in the pattern of occurrences after being involved in an accident. There were no signs of significant association between the prevalence of chronic headaches and educational level. The group of drivers with chronic headache presented a decrease of HRQoL as compared to the group of drivers thad did not report headaches. A statistically significant difference was present in all the of the participants, according to Student’s test t. All drivers (100%) reported not having ever missed a workday because of headache, working even in pain. We concluded that the company invests in Total Quality, improving work conditions and diminishing the risk factors which affect the drivers; headache is a frequent condition among the researched population and its presence leads to the reduction of HRQoL. Keywords: Headache; health-related quality of life (HRQoL); bus driver; worker’s health. X LISTA DE ABREVIATURAS AC............................ Antes de Cristo AINE........................ Antiinflamatório Não-esteróide ANTP....................... Associação Nacional de Transporte Público AP ............................ Área de Planejamento AT............................ Acidente de Trânsito BVQI ....................... Bureau Veritas Quality Internacional CCD ......................... Cefaléia Crônica Diária CEP.......................... Comitê de Ética em Pesquisa CET-Rio ................. Companhia de Engenharia de Tráfego do Município do Rio de Janeiro CID .......................... Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde CLT.......................... Consolidação das Leis do Trabalho CNT ......................... Confederação Nacional do Transporte COMPET ................. Programa Nacional da Racionalização do Uso dos Derivados de Petróleo e do Gás Natural CPDI ........................ Cefaléia Persistente e Diária Desde o Início CPT ......................... Cefaléia Pós-traumática CS ............................ Cefaléia em Salvas CTB ......................... Código de Trânsito Brasileiro CTT.......................... Cefaléia do Tipo Tensional CTTC ....................... Cefaléia do Tipo Tensional Crônica CTTE ....................... Cefaléia do Tipo Tensional Episódica DC............................ Depois de Cristo DEPT ....................... Desordem do Estresse Pós-traumático DETRAN ................. Departamento de Trânsito DNER ...................... Departamento Nacional de Estradas e Rodagem FEEMA.................... Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente FETRANSPOR........ Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro GEM ........................ Genetic Epidemiology of Migraine XI IDAQ ....................... Instituto de Desenvolvimento, Assistência Técnica e Qualidade em Transporte INMETRO ............... Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial INSS ........................ Instituto Nacional do Seguro Social ISO........................... International Standard Organization LII ............................ Límpido e Isento de Impurezas NESC ....................... Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ OIT .......................... Organização Internacional do Trabalho OMS ........................ Organização Mundial de Saúde QVCS ...................... Qualidade de Vida Condicionada à Saúde RH............................ Recursos Humanos RIOÔNIBUS ........... Sindicato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro SAC ......................... Serviço de Atendimento ao Cliente SBCe........................ Sociedade Brasileira de Cefaléia SCCSIC ................... Subcomitê de Classificação das Cefaléias da Sociedade Internacional de Cefaléia SF36......................... The MOS 36-item Short-Form Health Survey SIC ........................... Sociedade Internacional de Cefaléia SIPAT ...................... Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho SMTU ...................... Superintendência Municipal de Transportes Urbanos SPT .......................... Síndrome Pós-Traumática SUNCT .................... Short-lasting Unilateral Neuralgiform Headache with Conjunctival Injection and Tearing (Cefaléia de Curta Duração, Unilateral, Neuralgiforme com Hiperemia Conjuntival e Lacrimejamento) TCE.......................... Traumatismo Crânio-encefálico TCQ ......................... Transportando com Cidadania e Qualidade UAL ......................... Utilização, Arrumação e Limpeza UKAS ...................... United Kingdom Accreditation Service UNICAMP............... Universidade Estadual de Campinas XII LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Empresas de Transporte de Passageiros da Região Metropolitana do Rio de Janeiro 2005..................................................................................................... 57 Tabela 2 – Linhas de Coletivos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro 2005 .............................. 57 Tabela 3 – Número de Veículos envolvidos em Acidentes, por Classe de Veículo - 1996-2000......... 63 Tabela 4 – Número de Pessoas Envolvidas em Acidentes, Segundo a Gravidade - 1996-2000 ........ 63 Tabela 5 – Número de Acidentes, Segundo a Gravidade - 1996-2000 ................................................ 64 Tabela 6 – Atendimentos Ocupacionais de acordo com a Razão das Consultas 2004/2005.............. 75 Tabela 7 – Distribuição (%) dos Motoristas segundo Faixa Etária ....................................................... 84 Tabela 8 – Distribuição (%) dos Motoristas segundo as Variáveis Selecionadas: ............................... 86 Tabela 9 – Distribuição (%) dos Motoristas segundo Fator de Desgaste............................................ 87 Tabela 10 – Freqüência de Localização de Dores Relatada pelos Motoristas..................................... 88 Tabela 11 – Distribuição da Presença de Cefaléia por Faixa Etária dos Motoristas............................ 89 Tabela 12 – Distribuição (%) dos Motoristas com Cefaléia segundo as Variáveis Selecionadas........ 91 Tabela 13 – Tempo de Cefaléia de acordo com o Tempo de Início da Atividade de Motorista ........... 93 Tabela 14 – Cefaléia Auto-Referida segundo a Escolaridade .............................................................. 93 Tabela 15 – Média dos Resultados da Avaliação da Qualidade de Vida dos Motoristas (Cálculo do Raw Scale) de acordo com a presença de Cefaléia ..................................... 95 Tabela 16 – Comparação das Médias dos Componentes do SF-36, segundo a Presença ou Não de Cefaléia ......................................................................... 96 Tabela 17 – Classificação da Saúde em Geral comparada há 1 Ano .................................................. 96 Tabela 18 – Comparação das Médias dos Componentes do SF-36, segundo a Presença ou Não de Cefaléia Combinada com Outras Dores ....................... 96 XIII LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Linhas Operadas ................................................................................................................ 69 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Prevalência Ajustada da Migrânea por Área Demográfica e Gênero ................................ 36 Gráfico 2 – Média dos Resultados da Avaliação da Qualidade de Vida dos Motoristas (Cálculo do Raw Scale) de acordo com a presença de Cefaléia ..................................... 95 LISTA DE FOTOS Foto 1 – Setor de Manutenção na Garagem da Empresa .................................................................... 68 Foto 2 – Prédio do Setor Administrativo na Garagem da Empresa...................................................... 69 Foto 3 – Filtro de Óleo Diesel................................................................................................................ 76 Foto 4 e 5 – Vista Interna e Externa da Cabine de Pintura ................................................................. 77 Foto 6 – Motorista Parado no Semáforo ............................................................................................... 82 Foto 7 – Posição Sentada com Anteriorização da Cabeça .................................................................. 82 Foto 8 – Inclinação do Tronco para Alcançar o Freio de Mão .............................................................. 82 Foto 9 – Movimento Repetitivo de Cabeça com Extensão Permanente de Cotovelo .......................... 82 Foto 10 – Instalação no Ponto Final ..................................................................................................... 83 Foto 11 – Limpeza da Instalação .......................................................................................................... 83 Foto 12 – Personalização do Ônibus .................................................................................................... 83 XIV SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO......................................................................................................16 2 OBJETIVOS ..........................................................................................................19 2.1 GERAL........................................................................................................................... 19 2.2 ESPECÍFICOS ............................................................................................................... 19 3 MÉTODO ..............................................................................................................20 3.1 ESTUDO DA PREVALÊNCIA DA CEFALÉIA..........................................................20 3.2 ESTUDO DO PROCESSO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .............................23 3.3 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................... 24 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................25 4.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA CEFALÉIA ................................................................ 25 4.2 CLASSIFICAÇÃO DAS CEFALÉIAS ......................................................................... 31 4.3 EPIDEMIOLOGIA DAS CEFALÉIAS ......................................................................... 34 4.3.1 Prevalência por Idade e Gênero ............................................................................ 35 4.3.2 Prevalência por Distribuição Geográfica .............................................................. 36 4.3.3 Prevalência por Situação Socioeconômica............................................................37 4.3.4 Cefaléia após Trauma de Cabeça .......................................................................... 37 4.4 CUSTO SOCIOECONÔMICO DAS CEFALÉIAS E QUALIDADE DE VIDA......... 38 4.5 QUADRO CLÍNICO DAS CEFALÉIAS ......................................................................42 4.5.1 Migrânea ............................................................................................................... 43 4.5.2 Cefaléia do Tipo Tensional ................................................................................... 45 4.5.3 Cefaléias em Salvas............................................................................................... 47 4.5.4 Cefaléia Crônica Diária......................................................................................... 50 4.5.5 Cefaléia Pós-Traumática ....................................................................................... 52 5 RESULTADOS ......................................................................................................56 XV 5.1 DO ESTUDO DO PROCESSO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ..................... 56 5.1.1 Transporte Coletivo Urbano: Organização e Normas, Responsabilidade Jurídica e Acidentes de Trânsito............................................... 56 5.1.2 Do Processo e Organização do Trabalho na Empresa........................................... 65 5.2 DAS CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO ESTUDADA .................................... 84 5.3 DAS CARACTERÍSTICAS DA CEFALÉIA ............................................................... 88 5.4 DA QUALIDADE DE VIDA ........................................................................................94 6 DISCUSSÃO ..........................................................................................................97 6.1 OBSERVAÇÃO DO ESTUDO .....................................................................................97 6.2 DO PROCESSO DE TRABALHO E SUA ORGANIZAÇÃO ..................................... 97 6.3 DO ESTUDO DA CEFALÉIA .................................................................................... 102 6.4 DA QUALIDADE DE VIDA ......................................................................................106 6.5 DA CEFALÉIA E DO DESEMPENHO PROFISSIONAL.........................................108 6.6 LIMITAÇÃO DO ESTUDO ........................................................................................ 110 7 CONCLUSÃO......................................................................................................112 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................114 ANEXOS ...............................................................................................................125 ANEXO A – CARTA DE SOLICITAÇÃO À EMPRESA ................................................ 126 ANEXO B – TERMO DE CONSENTIMENTO ................................................................128 ANEXO C – ESTUDO DA CEFALÉIA ............................................................................130 PARTE 1 – DADOS GERAIS DOS MOTORISTAS ..................................................131 PARTE 2 –QUADRO GERAL DA DOR DE CABEÇA ............................................. 135 PARTE 3 – SF-36 .........................................................................................................139 ANEXO D – PONTUAÇÃO DO QUESTIONÁRIO SF-36 .............................................. 145 ANEXO E – PROCESSO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .................................... 148 ANEXO F – CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALÉIAS ....................... 150 16 1 INTRODUÇÃO A ocorrência de dor tem crescido, principalmente a dor crônica. Isso se dá em decorrência dos novos hábitos da vida, da maior longevidade do indivíduo, do prolongamento de sobrevida dos doentes, das modificações dos ambientes e, provavelmente, do conhecimento de novas condições álgicas e da aplicação de novos conceitos que traduzem seu significado (TEIXEIRA et al., 2003). A dor é uma qualidade sensorial complexa que nem sempre está relacionada ao grau de lesão tecidual e aos seus elementos anatômicos e fisiológicos. A interpretação da sensação dolorosa varia de um indivíduo para o outro, se manifesta de acordo com os componentes sócio-culturais; particularidades do ambiente, chegando até ao momento histórico em que esta se encontra, influenciando a sua percepção. (TEIXEIRA & OKADA, 2003). Segundo estudo da Organização Mundial da Saúde – OMS em atendimento primário, a dor é uma das razões mais comuns e um determinante pessoal para o indivíduo procurar um médico. Neste mesmo estudo, a cefaléia aparece como a segunda queixa mais comum, só perdendo para a lombalgia (GUREJE et al., 1999). SILBERSTEIN et al. (1998) citam que a cefaléia é um sintoma comum na população e que pode ter várias causas. O sintoma cefaléia pode ocorrer isoladamente, como manifestação de um complexo sintomático agudo (por exemplo, a migrânea) ou como parte de uma doença em desenvolvimento (por exemplo, um tumor cerebral). Além das alterações relacionadas ao sofrimento que são geradas pela dor, a cefaléia também causa uma perda no desempenho profissional, promovendo incapacidade para a execução de tarefas. Em muitos estudos, a dor é uma das principais causas de afastamento do trabalho, gerando um enorme ônus para a empresa, governo e sociedade. Por essas razões, a cefaléia deve ser considerada um sério problema de saúde coletiva. 17 Análises relatam a gravidade das perdas financeiras e de qualidade de vida causada pelas cefaléias, como mostra o estudo de STEWART et al. (1998). Nos Estados Unidos, 50% das mulheres migranosas perdem três dias ou mais por ano e 31% perdem seis dias ou mais em função da cefaléia. Entre os homens, 30% dos migranosos perdem três dias ou mais e 17% perdem seis dias ou mais. Muitos migranosos vão trabalhar mesmo estando em crise de cefaléia e, nesse caso, apresentam queda de produtividade (FERNANDES et al., 2002). Além das perdas econômicas, a cefaléia produz conseqüências negativas consideráveis sobre a qualidade de vida. Um dos maiores avanços no cuidado da saúde, na última década, tem sido o crescimento do consenso sobre a extensão do impacto da doença no bem-estar do indivíduo (BIGAL et al., 2001). As mudanças ocorridas no mundo do trabalho têm proporcionado uma transformação da classe trabalhadora: a redução da classe operária industrial, em paralelo à expansão do trabalho no setor de serviços (LANCMAN, 2004). Observamos uma substituição de valores, criando uma nova relação entre a produção e o meio. Estas mudanças vão desde a organização do trabalho, passando pelo avanço tecnológico, até as novas formas de acumulação. Diante desta reestruturação produtiva, os trabalhadores se encontram recuados, não podendo fazer suas escolhas e, como resultado, aumentam e agravam o afastamento por doenças e acidentes. Neste perfil, incluímos os motoristas de transporte coletivo do Rio de Janeiro que diariamente enfrentam fatores de risco como trânsito pesado; instalações inadequadas; excesso de ruídos; temperatura elevada; longa jornada de trabalho; e violência; a níveis que ultrapassam sua capacidade e tolerância física e psíquica. Segundo dados da OIT (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2002), todos os anos 270 milhões de trabalhadores são vítimas de acidentes de trabalho, dos quais 2 milhões resultam em acidentes fatais. A OIT calcula que 4% do PIB mundial é gasto com doenças profissionais, absenteísmo, adoecimentos, tratamentos, incapacidades e pensões. 18 Nos países mais industrializados onde se observou uma mudança no trabalho industrial, ocorreu uma diminuição significativa do número de lesões graves. Em contrapartida, cresceram novas formas de adoecer como: lesões musculoesqueléticas, estresse, alterações psíquicas, e reações asmáticas e alérgicas (LANCMAN, 2004). 19 2 OBJETIVOS 2.1 GERAL Estudar a prevalência das cefaléias de acordo com a classificação da Sociedade Internacional de Cefaléias e avaliar o comprometimento na qualidade de vida e no desempenho profissional da população de motoristas de uma empresa de transporte coletivo da cidade do Rio de Janeiro. 2.2 ESPECÍFICOS Descrever e analisar a freqüência das cefaléias auto-referidas em motoristas selecionados e suas características do ponto de vista sintomatológico e dos elementos das condições do trabalho; Mensurar e analisar a qualidade de vida condicionada à saúde dos motoristas que referiram a presença de cefaléia; Verificar o consumo de medicação sintomática no grupo de motoristas com cefaléia; Descrever e analisar a dinâmica do processo de trabalho e sua organização, caracterizando os agentes de trabalho da empresa, segundo suas características individuais, seus instrumentos e o ambiente em que se dá, de maneira a estabelecer possíveis articulações entre este processo e a presença das cefaléias em termos gerais. 20 3 MÉTODO O estudo foi realizado em uma empresa de transporte coletivo da cidade do Rio de Janeiro. A população estudada e a observação direta da dinâmica do processo de trabalho foram realizadas em uma determinada linha de ônibus, no decorrer dos turnos existentes, levando em conta os critérios de acessibilidade e segurança do pesquisador. À empresa escolhida foi enviada uma carta de apresentação dos pesquisadores e de solicitação para realização da pesquisa e acesso à empresa e aos motoristas (ANEXO A). Foi informada a intenção da não divulgação do nome da companhia e de seus colaboradores, mantendo-os em sigilo. Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa – CEP, do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva, de forma a resguardar a integridade e os direitos dos participantes. Os trabalhadores da empresa envolvidos na pesquisa precisaram estar de acordo com os termos desta e para isso, assinaram um Termo de Consentimento Livre e Informado explicando toda a sua intenção (ANEXO B). A pesquisa foi completada em duas fases, constando dos seguintes estudos: • Estudo da prevalência de cefaléia e suas conseqüências na qualidade de vida dos motoristas; • Estudo do processo e organização do trabalho. 3.1 ESTUDO DA PREVALÊNCIA DA CEFALÉIA O estudo da prevalência foi realizado em motoristas selecionados de uma determinada linha na qual foi feita a observação direta do processo de trabalho. Aceitamos a indicação da empresa que se norteou pela acessibilidade e espaço seguro para a realização das entrevistas. 21 As entrevistas foram realizadas durante o horário de trabalho, em momentos anteriores ao início e posteriores ao fim da jornada de trabalho, e nos intervalos entre as viagens, sempre no mesmo local. A pesquisadora se mantinha no ponto “final” da linha, e os motoristas se apresentavam voluntariamente para a atividade. O estudo da cefaléia foi realizado por meio de questionário (ANEXO C), subdividido em 3 partes, após explanação esclarecedora da pesquisa e da assinatura do Termo de Livre Consentimento. Parte 1– Constituído por quatro grupos de variáveis que se referem às características do trabalhador (idade, escolaridade, estado civil); aos indicadores de percepção das condições de trabalho e satisfação com o próprio trabalho; aos episódios prévios de trauma durante a execução da tarefa (violência e acidentes); e à presença de dor em geral. Os motoristas que relataram cefaléia quando perguntados sobre a presença de dor, responderam à segunda e à terceira partes do questionário. Já os motoristas sem cefaléia não responderam à segunda parte, passando da primeira à terceira parte do questionário. Parte 2 – Visa caracterizar a cefaléia auto-referida. Suas variáveis se referem ao tempo da dor; à freqüência, à intensidade, à localização, à duração, ao caráter, aos sintomas associados, ao comportamento de evolução da dor, ao uso de medicamentos, sua relação com os traumas sofridos, hereditariedade e absenteísmo. Parte 3 – Objetiva mensurar a qualidade de vida condicionada à saúde dos motoristas. Qualidade de vida condicionada à saúde (QVCS) é a expressão de uma percepção da posição na vida que é afetada pela saúde física, pelo estado psicológico e relações sociais. Isto inclui percepção subjetiva de uma situação de vida no contexto cultural e do sistema de valores no qual estão inseridos, e em relação às suas metas, expectativas e princípios (VAN SUIJLEKOM et al., 2003). 22 Utilizamos para esta análise o The MOS 36-item Short-Form Health Survey (SF-36), questionário elaborado a partir do The Medical Outcomes Study – usado para avaliação genérica de saúde, formado por 149 itens. No Brasil, o Short-Form-36 foi traduzido e validado por CICONELLI et al. (1999) em pacientes com artrite reumatóide. O SF-36 é um questionário genérico multidimensional, formado por 36 itens, englobados em oito componentes, visando avaliar a qualidade de vida: (1) capacidade funcional, (2) aspectos físicos, (3) dor, (4) estado geral de saúde, (5) vitalidade, (6) aspectos sociais, (7) aspectos emocionais e (8) saúde mental. Engloba também mais uma questão de avaliação comparativa entre as condições de saúde atual e as de um ano atrás (SAKUMA, 2002). Os componentes do SF-36 medem o impacto da saúde sobre a qualidade de vida e podem ser resumidos como: 1 – Capacidade funcional: mede tanto a presença como a extensão das limitações referentes à capacidade física, através de itens relacionados ao grau de dificuldade em realizar atividades como correr, subir escada, levantar objetos pesados e cuidados pessoais, como se vestir; 2 – Aspecto físico: avalia o quanto as limitações físicas dificultam a realização do trabalho e de atividades da vida diária; 3 – Dor: avalia a sua intensidade e extensão no passar dos meses e sua interferência no trabalho e atividades rotineiras; 4 – Estado geral de saúde: sumariza o status atual de saúde de forma global; 5 – Vitalidade: considera tanto o nível de energia quanto o de fadiga; 6 – Aspectos sociais: analisa a integração do indivíduo em atividades sociais; 7 – Aspectos emocionais: avalia se o fato de se sentir deprimido ou ansioso pode dificultar as atividades do dia-a dia; 23 8 – Saúde mental: avalia a freqüência de nervosismo, depressão, felicidade e tranqüilidade. Esse questionário foi criado para estabelecer um método mais efetivo de mensurar funções e conceitos subjetivos do estado de saúde do paciente, possibilitando comparar o resultado de diferentes métodos de cuidados. As pontuações de cada componente do SF-36 são calculadas pelo somatório dos itens de cada questão e transformadas em uma escala de 0 a 100 pelo cálculo de Raw Scale (SAKUMA, 2002). 3.2 ESTUDO DO PROCESSO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO Este estudo constou de 2 etapas, antecipadas pelo levantamento das condições de organização do transporte urbano na área metropolitana do município do Rio de Janeiro e suas normas, como também, do acidente de trânsito como indicador das condições de trabalho. . Etapa 1 – Iniciamos esta fase da pesquisa pelo estudo das características da dinâmica e da organização do processo de trabalho dos motoristas. Os dados foram levantados, através de entrevistas feitas com a gerência da empresa de transporte, com os motoristas, os profissionais de saúde. Os dados dos documentos de gestão organizacional também foram levados em conta. Utilizamos o instrumento “Investigando a Relação entre Saúde e Trabalho” (BUSCHINELLI, 1993), modificado por FERNANDES (2002) e pela autora. Abordamos as seguintes questões: Identificação e estrutura da empresa; Estrutura do processo: agente (sexo, idade, estado civil, escolaridade, data de admissão), instrumentos, meios e condições de trabalho; 24 Dinâmica e organização do processo de trabalho: turnos, horários de trabalho, habilidades necessárias, hierarquia de trabalho, relação com o instrumento, fiscalização, legislação e normas; Condições ambientais de trabalho. Etapa 2 –Uma observação direta do processo de trabalho durante uma viagem do ônibus foi realizada, buscando avaliar as condições de trabalho que o motorista possui para executar sua tarefa. Utilizamos o questionário elaborado a partir da adaptação do Manual de Análise Ergonômica do Posto de Trabalho do Finnish Institute of Occupacional Health (1989), modificado por FERNANDES (2002), NEVES (2004) e pela autora. (ANEXO E), que aborda as seguintes variáveis: tempo de viagem, postura, conservação do veículo, segurança, conversas, descanso entre as viagens, queixas. Esta observação foi realizada no intuito de nos familiarizarmos com as formas que o trabalho normatizado pela empresa se concretiza, ou seja, se refere ao “trabalho real”, possibilitando identificar atividades laboriais que possam dar origem ou influenciar condições potencialmente morbígenas. 3.3 ANÁLISE DOS DADOS As informações foram geradas em meio eletrônico, utilizando o programa EPI INFO (6). Os dados levantados foram analisados do ponto de vista quantitativo e qualitativo dependendo do tipo da informação obtida. Foi realizada a análise quantitativa dos dados referentes aos aspectos relacionados à cefaléia. O processo de trabalho foi submetido a uma análise qualitativa. Foram construídos indicadores variados para melhor entendimento dos dados quantitativos. Para avaliação das relações entre as variáveis, utilizamos testes estatísticos (média, medida de tendência central, desvio padrão, p valor e teste t de Student). 25 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA CEFALÉIA A cefaléia é uma preocupação do ser humano desde os primórdios da civilização. Dela encontramos referências médicas desde a época pré-hipocrática (BIGAL et al., 2000). Os aspectos históricos da cefaléia por nós levantados, se encontram principalmente na obra de SIBERSTEIN et al. (1998) e no site da HEADACHE AUSTRALIA (2005). A evidência histórica mostra sinais de neurocirurgia em 7000 AC. Crânios neolíticos evidenciam que a trepanação foi muito executada e que pode ter sido usada para liberar demônios e maus espíritos da cabeça. O homem antigo acreditava que estes espíritos eram os causadores das cefaléias e de desordens como a loucura e a epilepsia. No século 17, a trepanação foi usada para o tratamento da migrânea e em 1660, William Harvey recomendou o procedimento para um paciente com migrânea intratável. O Papiros de Ebers, datado aproximadamente de 1200 AC, menciona a migrânea, a neuralgia e as dores lancinantes da cabeça. No documento encontra-se o primeiro relato de cefaléia unilateral, acompanhada de vômitos, denominada “doença da metade da cabeça”, além da indicação de uma pomada para calvície. De acordo com o papiro, os egípcios acreditavam que os deuses podiam curar suas doenças. Um crocodilo de argila prendendo um grão pela boca era colocado sobre a cabeça do paciente, seguro por uma tira de linho cujos furos tinham os nomes dos deuses. Este processo pode ter produzido o alívio da cefaléia pela compressão do couro cabeludo. Em 400 AC, Hipócrates separou a medicina da filosofia, alertando que a doença não era uma punição divina e foi o primeiro a descrever os sintomas visuais da migrânea, a aura visual. Ele discorreu sobre um brilho de luz, normalmente no olho direito, seguido de dor forte começando nas têmporas e eventualmente atingindo a cabeça como um todo e a área do 26 pescoço. Tornando-se generalizada era aliviada pelo vômito. Hipócrates também notou a associação entre a cefaléia e várias atividades como o exercício físico e as relações sexuais. Por muito tempo, as cefaléias foram atribuídas aos distúrbios digestivos e ao fluxo da bile. A palavra migrânea é derivada do vocábulo grego hemicrania e foi introduzida aproximadamente há 200 DC por Galeno, um médico romano que comentou: “Como constantemente nós vemos o ataque da cabeça com dor quando a bile amarela está contida no estômago, a dor também cessa imediatamente quando a bile é vomitada.” Galeno criou e difundiu a “teoria humoral”, na qual existiriam quatro humores – sangue, fleugma, bile amarela e bile preta. Ele acreditava que o ataque era causado pelos vapores prejudiciais ascendentes que atingiam o cérebro, oriundos de outras partes do organismo e que os vômitos ocorriam em virtude do acúmulo de bile amarela. Suas idéias permaneceram como leis por quase 15 séculos. Hipócrates já havia atribuído a migrânea aos vapores que se levantam do estômago à cabeça e que através do vômito se poderia parcialmente aliviar a dor de cabeça. No século 12 DC, Abbess Hildegarde of Bingen descreveu a atribuição que foi dada à aura migranosa, tanto mística quanto apocalíptica. Na Europa do século seguinte, o ópio e o vinagre foram largamente usados no tratamento das cefaléias como remédios na forma de cataplasmas, embebidos e aplicados à cabeça. O vinagre, provavelmente, foi usado para abrir os poros do couro cabeludo e permitir que o ópio fosse absorvido mais rapidamente através da pele. Três séculos mais tarde, em 1672, Thomas Willis introduziu o termo “neurologia” e fez observações exatas dos ataques de migrânea e de suas causas, incluindo a hereditariedade, mudanças de estações, estados atmosféricos e dieta. Ele introduziu também a teoria vascular das cefaléias, atribuindo como a causa do estado migranoso a vasodilatação, além de relacionar os sintomas da cefaléia aos espasmos ascendentes que começam nas extremidades periféricas dos nervos (SILBERSTEIN et al., 1998; HEADACHE AUSTRALIA, 2005). 27 Já em 1700, Bernardino Ramazzini publicou o primeiro tratado de medicina ocupacional. Dentre as 69 ocupações listadas, havia 12 que provocavam cefaléia como distúrbio diretamente relacionado às condições do trabalho. Como profilaxia, desaconselhava aos indivíduos queixosos de cefaléia assumirem profissões que envolvessem a utilização de instrumentos musicais de sopro e canto livre. A cefaléia dos confeiteiros se dava em função da permanência por horas próximos ao carvão quente; das estenógrafas, em virtude de horas de intensa tensão; dos lacaios e mensageiros, ao esforço; e dos caçadores e marinheiros em decorrência das modificações de temperatura e exposição ao sol (MARANHÃO FILHO, 2002). Em 1783, Tisso distinguiu migrânea da cefaléia comum, atribuindo-a à neuralgia supraorbital. Durante o século seguinte, DuBois Reymond, Mollendorf e mais tarde Eulenburg propuseram diferentes teorias vasculares para a migrânea. No final de 1700, Erasmus Darwin (avô de Charles Darwin) acreditava que as cefaléias eram causadas pela vasodilatação, propondo o tratamento pela centrifugação. Sugeriu girar o paciente numa centrífuga para forçar o desvio do sangue da cabeça para os pés, aliviando-os assim do padecimento. Fothergill, em 1778, introduziu o termo “fortificação espectro” para descrever a aura visual típica da migrânea. Ele usou o termo fortificação, porque os distúrbios visuais assemelham-se às cidades fortificadas rodeadas de baluartes. Em 1814, James Ware descreveu ataques de aura visual desacompanhado de cefaléia. A primeira monografia sobre migrânea intitulada “On Megrim, Sick-headache, and Some Allied Disorders: A Contribution to the Pathology of Nerve-storms”, foi escrita por Edward Liveing, em 1873. Foi ele o criador da teoria neuronal da migrânea que se diferenciava grandemente da teoria vascular. Considerou serem as auras o resultado de uma “tempestade neural”, originadas no tálamo e também acreditava na relação da migrânea e da epilepsia, sendo ambas causadas pela descarga do sistema nervoso central. Liveing ressaltou a influência do sexo, a transmissão 28 hereditária e, como Tisso, enfatizou o caráter paroxístico dos sintomas da migrânea. Descreveu os aspectos emocionais, visuais, táteis, afásicos e intelectuais do processo. Conhecido como o fundador da neurologia moderna, William Gowers contribuiu para a teoria neurogênica da cefaléia proposta por Liveing. Em 1888, publicou o manual de neurologia “Um Manual de Doenças do Sistema Nervoso” no qual enfatizava a importância do estilo de vida saudável e defendia o uso de uma solução de nitroglicerina a 1% em álcool combinado com outros agentes para o tratamento das cefaléias. Mais tarde, esse medicamento ficou conhecido como a “Mistura de Gowers”. Ele também fez uso da marijuana para alívio do ataque agudo de cefaléia e foi um dos primeiros a dividir o tratamento em profilático e episódico. Gowers defendeu o tratamento contínuo com drogas para diminuir a freqüência dos ataques e para tratamento dos próprios ataques. Considerava improvável que os fenômenos relativos à aura migranosa fossem ocasionados simplesmente por alterações da vascularização cerebral (SILBERSTEIN et al., 1998; HEADACHE AUSTRALIA, 2005). Em 1900, Deyl sugeriu que a migrânea, incluindo a migrânea menstrual, resultava do edema intermitente da hipófise com compressão do nervo trigeminal. Um ano depois, Spitzer, levantou a possibilidade da cefaléia ser produzida pela freqüente obstrução do forame interventricular, causando uma dilatação ventricular lateral. Na década de 30, Harold Wolff, juntamente com John Graham, estudou o assunto em laboratório, realizando muitas experiências que sustentavam a teoria vascular da cefaléia e publicou os resultados de suas experiências, nas quais utilizava métodos criativos de aferir a dinâmica da circulação extra e intracranial, assim como os efeitos da ergotamina injetada. Concluíram que os escotomas ocorriam em virtude da constrição das artérias cerebrais e que a dor advinha da combinação de efeitos de dilatação das grossas artérias encefálicas, aliadas à ação de substâncias que, acumuladas na parede dos vasos e tecidos perivasculares, diminuíam os limiares da dor (SILBERSTEIN et al., 1998; MARANHÃO FILHO, 2002). 29 Considerado pioneiro no tratamento das cefaléias, Grahan introduziu o corticóide para o tratamento da cefaléia em salvas e descreveu as fáceis características do paciente com essa doença. Bayard Taylor Horton (1895-1980) será sempre lembrado pela descrição da artrite temporal (doença ou síndrome de Horton) e cefaléia histamínica (cefaléia de Horton ou síndrome da cefaléia em salvas). Em 1941, Karl Lashley publicou o mapeamento com a cronometragem de suas próprias auras visuais. Considerou que o padrão do escotoma seria consistente com sua teoria de integração cortical, baseada na interferência de ondas alastrantes de excitação cortical. Três anos mais tarde, sem conhecer a publicação de Lashley, Aristides A Pacheco Leão, ao estudar a propagação de descargas epilépticas no córtex cerebral de coelhos, surpreendeu-se quando observou que em determinadas condições, em lugar do aparecimento de atividade de alta voltagem, característica das crises epilépticas, havia diminuição da amplitude do eletrocorticograma normal. Além disso, demonstrou que essa depressão alastrante da atividade elétrica espontânea alastrava-se para regiões vizinhas do córtex exposto a uma velocidade de 3mm/minuto. Ele relacionou a depressão alastrante com a migrânea. Em 1957, Picarelli e Gaddum foram os primeiros a comprovar a existência de tipos diferentes de receptores da serotonina (5-HT). A importância prática dessas descobertas pode ser avaliada pelos novos e mais específicos medicamentos antimigranosos que foram surgindo como opção terapêutica. Nos últimos 30 anos, o norueguês Ottar Sjaastad forneceu várias contribuições no campo das cefaléias: seu livro sobre cefaléia em salvas; em 1976, a descrição da hemicrania paroxística crônica; em 1978, denominou SUNCT (Short-lasting Unilateral Neuralgiform Headache with Conjunctival Injection and Tearing – Cefaléia de Curta Duração, Unilateral, 30 Neuralgiforme com Hiperemia Conjuntival e Lacrimejamento), uma forma rara de cefaléia associada com fenômenos autonômicos; em 1982, a cefaléia cervicogênica; e, no ano seguinte, a hemicrania contínua. Em 1984, Moskowitz propõe um mecanismo engenhoso para explicar o processo fisiopatológico da migrânea, denominado “teoria trigêmino-vascular”. Esta teoria associa um fenômeno neuronal (depressão alastrante) antecedendo e promovendo uma alteração vascular (liberação de neuropeptídeos e vasodilatação) e tem sido mais considerada e pesquisada nas últimas duas décadas. No Brasil o Dr. Edgard Raffaelli Jr., considerado pai da cefaléia no país, por não conseguir obter solução médica adequada para suas crises de cefaléia, resolveu estudar o problema em 1956. Em 1973, começou a freqüentar os congressos internacionais e, em 1978, devido ao seu idealismo e firmeza, nascia a Sociedade Brasileira de Cefaléia (SBCe). Foi ele o autor das primeiras monografias sobre cefaléia (1979) e enxaqueca (1980) e das expressões “cefaléia em salvas” para o cluster headache, além das denominações migrânea, cefaliatria e cefaliatra (MARANHÃO FILHO, 2002). Em 1979, foi realizado o primeiro congresso da nova entidade, a época, denominada Sociedade Brasileira de Cefaléia e Enxaqueca, com a participação de 172 médicos. Com o transcorrer dos anos, a sociedade mudou de nome, perdendo o apêndice “Enxaqueca”. Atualmente, os congressos se realizam uma vez ao ano, reunindo mais de 400 médicos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALÉIA – SBCe, 2005). No Rio de Janeiro, em 1986, Dr. Abouch V. Krymchantowski fundou a primeira clínica específica, em atividade até os dias de hoje, para avaliar e tratar pacientes com cefaléia. Relatos de sinais e sintomas após traumatismos cranianos, existem desde 1705, quando um homem cometeu suicídio arremessando a própria cabeça contra uma parede. A 31 autopsia não revelou lesão do cérebro. Desde 1800, há registros de sintomas persistentes após lesão da cabeça sem sinais residuais e, no final deste século, o termo síndrome pós-concusão foi introduzido para a tríade de cefaléia, tonteira e intolerância alcoólica. Com o advento do automóvel, acidentes por veículo automotores cresceram, tornandose a causa mais comum de lesão de cabeça e pescoço. O termo lesão por chicotada foi usado pela primeira vez num encontro de ortopedistas em 1928, em que descreveram o efeito da flexe-extensão nos acidentes de veículo automotor. O primeiro artigo foi publicado em 1945 e, a partir daí, tem crescido o interesse pelo assunto. Observa-se o aumento do número de pessoas envolvidas na lesão de chicotada. Apenas na década passada, os fatores sociais e culturais têm sido acrescentados a esta condição (SOLOMON, 2005). 4.2 CLASSIFICAÇÃO DAS CEFALÉIAS Embora a cefaléia seja uma das queixas mais antigas do ser humano, – encontramos descrições de 5.000 anos atrás –, apenas no início da década de 1930 começou o seu estudo sistemático embora de evolução lenta. GÖBEL (2001) assinala que até 1960 não existia uma base internacional para classificação das cefaléias que fosse aceita e usada consistentemente de forma universal. Em 1962, o Ad-Hoc Committee of the National Institute of Health publicou uma classificação das síndromes de cefaléia, sendo o primeiro passo em direção a um consenso terminológico na classificação e no diagnóstico das cefaléias. Porém, o glossário de definições requeria interpretações subjetivas e, como resultado, a classificação gerou muitas controvérsias. Desta forma, até o final da década de 1980 a nomenclatura e a classificação das cefaléias não eram muito uniformes. Isto resultava em dificuldades para denominar, classificar e tratar os pacientes. Em 1982, foi fundada a SIC e em 1985, um comitê foi organizado para redigir uma classificação internacional capaz de obter consenso. 32 Ainda segundo GÖBEL (2001), após três anos de trabalho foi publicada em 1988 a 1a edição da classificação da SIC sobre bases de critérios claros de operacionalização. O manual original tinha 96 páginas e descrevia um total de 165 diagnósticos diferentes. A classificação foi traduzida para as mais importantes línguas e adotada por todas as sociedades nacionais de cefaléia representadas na SIC, na OMS (Organização Mundial da Saúde) e na Federação Mundial de Neurologia. KRYMCHANTOWSKI (2000) observa que a classificação representou um marco na cefaliatria, em função do estabelecimento da uniformização de critérios sistemáticos e bem definidos para um grupo amplo de cefaléias. Após 15 anos, em janeiro de 2004, foi apresentada a segunda edição da classificação (SUBCOMITÊ DE CLASSIFICAÇÃO DAS CEFALÉIAS DA SOCIEDADE INTERNACIONAL DE CEFALÉIA, 2004). Os critérios listados ainda estão longe de uma perfeição, mas permitem o diagnóstico da maior parte das cefaléias existentes (KRYMCHANTOWSKI, 2002), de forma mais consistente e sem discrepância. Esta classificação divide as cefaléias em 14 principais grupos e uma distinção é feita entre 2 subgrupos: primárias e secundárias. Cefaléias Primárias – abrange as que não mostram nenhum achado patológico quando são usados os métodos de investigação clínica e técnica. São doenças independentes e não um sintoma secundário, sendo elas próprias a doença e o sintoma. Correspondem a 90% das dores de cabeça existentes. Na classificação da SIC, ocupam os grupos 1-4. 1 – Migrânea; 2 - Cefaléia do tipo tensional; 3 - Cefaléia em salvas e outras cefaléias trigêmio-autonônicas; 4 - Outras cefaléias primárias. Cefaléias Secundárias – decorrentes ou causadas por outras doenças, inclusive sistêmicas, englobam vários tipos diferentes de cefaléias ou podem estar atribuídas a simples 33 infecções virais de vias aéreas superiores, graves neoplasias intracranianas ou como seqüela do TCE (Traumatismo Crânio-encefálico). É possível detectar um achado patológico que pode estar associado com as síndromes de cefaléia através dos métodos de investigação clínica. Correspondem a 10% das cefaléias. Na classificação da SIC, ocupam os grupos 5-14. 5 – Cefaléia atribuída a trauma cefálico e/ou cervical; 6 – Cefaléia atribuída à doença vascular craniana ou cervical; 7 – Cefaléia atribuída a transtorno intracraniano não-vascular; 8 – Cefaléia atribuída a uma substância ou a sua supressão; 9 – Cefaléia atribuída à infecção; 10 – Cefaléia atribuída a transtorno da homeostase; 11 – Cefaléia ou dor orofacial atribuída a transtorno do crânio, pescoço, olhos, ouvidos, nariz, seios da face, dentes, boca ou outras estruturas faciais ou cranianas; 12 – Cefaléia atribuída a transtorno psiquiátrico; 13 – Neuralgias cranianas e causas centrais de dor facial; 14 – Outra cefaléia, neuralgia craniana e dor facial central ou primária. A classificação das cefaléias da SIC 2004 tem caráter hierárquico; esse sistema adotado na primeira edição permanece o mesmo na segunda edição. Todos os tipos de cefaléia estão classificados em grandes grupos e cada um desses grupos é subdividido uma, duas ou três vezes em tipo, subtipo e subforma de cefaléia (SPECIALI, 2005). Os códigos da SIC permitem uma especificação diferenciada para uma profundidade de 4 dígitos, possibilitanado o uso sem dificuldades e com suficiente exatidão no trabalho de rotina clínica, pesquisa clínica e experimental, assumindo uma alta subdivisão diferenciada. A SIC (2004) orienta que o detalhamento desejado depende do propósito. Na prática clínica geral, apenas o primeiro e o segundo dígitos são empregados, enquanto para os cefaliatras e nos centros terciários é apropriado que se use até o terceiro ou quarto dígitos. 34 As doenças têm sido codificadas e classificadas usando a classificação internacional de doenças CID-10 da OMS, porque esses são os códigos utilizados na prática clínica, em atestados e para os pedidos de exames encaminhados aos convênios médicos. A OMS tem adotado a classificação de cefaléia da SIC e usado a CID-10 para as cefaléias e dor facial (GÖBEL, 2001). As cefaléias estão incluídas nos códigos G43 e G44, podendo ser encontradas no código R51, referente a 2 tipos do subgrupo secundária: cefaléia atribuída a transtorno psiquiátrico (12) e outra cefaléia, neuralgia craniana e dor facial central e primária (14), e no G91, referente a cefaléia atribuída a hipertensão intracraniana secundária à hidrocefalia (7.13) (ANEXO F). 4.3 EPIDEMIOLOGIA DAS CEFALÉIAS A cefaléia é um sintoma bastante presente na população em geral e na prática clínica (BEKKELUND & SALVESE, 2003; BIGAL et al., 2001), com uma prevalência anual estimada de 90% nos homens e 95% nas mulheres (BIGAL et al., 2001). SILBERSTEIN et al. (1998) descreveram que a cefaléia é um sintoma comum que pode ter várias causas, podendo ocorrer isoladamente, como na crise de enxaqueca, ou como parte de uma doença em desenvolvimento, como na neoplasia cerebral. Das desordens de cefaléia primária, a cefaléia tipo-tensional (CTT) é a mais comum na população estudada. Mas a migrânea é a mais freqüente entre os pacientes que procuram cuidado médico para cefaléia. As formas mais prevalentes de migrânea são com e sem aura (LIPTON & BIGAL, 2005). RASMUSSEN (2001) cita em seu estudo sobre a epidemiologia da cefaléia que a prevalência da migrânea varia de 3% a 35%, esta variação se dá devido à larga diferença entre as definições e metodologias dos estudos. A prevalência da migrânea em adultos foi de 10 a 12%, sendo 6% entre os homens e 15 a 18% entre as mulheres. Na população geral, 20% dos 35 migranosos têm crises freqüentes (mais do que uma vez ao mês). A prevalência de migrânea sem aura é de 6% e de migrânea com aura é de 4%. Em relação à cefaléia tipo tensional (CTT), a variação é grande em freqüência, duração e severidade das crises. Em seu outro estudo (RASMUSSEN et al., 1991), foi constatado que 59% das pessoas com CTT tinham um dia ou menos de dor ao mês, 37% várias vezes ao mês, e 3% tinham CTT crônica (maior igual a 180 dias ao ano). 4.3.1 Prevalência por Idade e Gênero A migrânea constitui a segunda cefaléia primária mais prevalente, sendo mais comum antes da puberdade em meninos do que em meninas. Com a aproximação da adolescência a migrânea aumenta mais rapidamente nas meninas do que nos meninos. Nas mulheres, a prevalência aumenta durante a infância e a vida adulta até aproximadamente os 40 anos; a partir daí declina. A prevalência é alta entre os 25 e 55 anos para ambos os sexos, coincidindo com o período de maior produtividade (LIPTON & BIGAL, 2005). A epidemiologia da cefaléia entre os adultos jovens é de interesse particular, pois a idade mais comum do início da migrânea é entre os 10 e 19 anos (STEWART et al., 1994). As cefaléias incapacitantes podem interferir significativamente no desenvolvimento (profissional, social e de saúde) desses adultos jovens. A cefaléia tipo-tensional também é mais prevalente nas mulheres do que nos homens e, em ambos os sexos, seu pico ocorre entre os 30 e 39 anos, declinando com o avançar da idade (RASMUSSEN, 2001). Uma meta-análise de 24 estudos (STEWART et al., 1995) explanou aproximadamente 70% de variação na prevalência da migrânea entre os estudos (LIPTON & BIGAL, 2005). SOLOMON et al. (1993) citam em seu estudo sobre a qualidade de vida e o bem-estar dos pacientes com cefaléia que o National Health Interview Survey (1991) apresentou a 36 prevalência de migrânea crônica nos Estados Unidos: 41 pessoas para cada grupo de 1.000. Esse quadro representa um aumento de 60% na prevalência nos últimos 10 anos. Estudos epidemiológicos mostram que a migrânea afeta 28 milhões de americanos, aproximadamente 18% de mulheres e 6% de homens (LIPTON et al., 2001), com uma alta prevalência entre brancos (SCHER et al., 1999). 4.3.2 Prevalência por Distribuição Geográfica Uma meta-análise de estudos de prevalência usando os critérios da SIC realizada por SCHER et al. (1999) encontrou a prevalência da migrânea alta na América do Norte e do Sul, intermediária na Europa, baixa na África e sempre mais baixa na Ásia (GRÁFICO 1). KRYNCHANTOWSKI et al. (2004) citam que nos EUA a prevalência da migrânea é menor em asiáticos-americanos (9,2% em mulheres e 4,8% em homens), intermediária em afro-americanos (12,6% e 7,2%) e maior em caucasianos (20,4% e 8,6%). Gráfico 1 – Prevalência Ajustada da Migrânea por Área Demográfica e Gênero Fonte: Scher et al. (1999). 37 4.3.3 Prevalência por Situação Socioeconômica A relação entre prevalência da migrânea e situação socioeconômica é incerta. A migrânea parece estar associada à inteligência e classe social elevadas. BILLE (1962 e 1989), porém, não encontrou associação entre prevalência da migrânea e inteligência em seus estudos com crianças. A prevalência da migrânea foi inversamente relacionada com o rendimento familiar nos American Migraine Study I e II, nos quais se observou uma diminuição da prevalência à medida que o rendimento familiar aumentava (LIPTON et al., 1998 e 2001). Esta relação inversa entre migrânea e situação socioeconômica foi confirmada em outros dois estudos de STANG et al. (1993 e 1996). Na Europa, o estudo da GEM – Genetic Epidemiology of Migraine (LAUNER et al., 1999), não demonstrou relação entre migrânea e classe social, apesar de um estudo inglês recente realizado por STEINER et al. (2003), tê-lo feito. Na maioria dos estudos, nos Estados Unidos, a migrânea parece estar inversamente relacionada com a situação socioeconômica; já na Europa, o mesmo não ocorre (LIPTON & BIGAL, 2005). A alta prevalência nos grupos socioeconômicos baixos pode ser uma conseqüência de circunstâncias associadas tanto com o baixo rendimento e migrânea, como com uma dieta e cuidados médicos pobres e estresse. Pessoas com migrânea podem ter baixos rendimentos porque a migrânea interfere na função educacional e ocupacional, causando uma perda de rendimentos e/ou incapacidade para o progresso de um grupo socioeconômico baixo (LIPTON & BIGAL, 2005). 4.3.4 Cefaléia após Trauma de Cabeça Sabe-se que nas lesões da cabeça, a cefaléia é um dos sintomas esperados e relatados pelos pacientes. No entanto, na maioria das ocasiões, ela é de curta duração e são poucos os 38 que desenvolvem a chamada cefaléia pós-traumática (CPT) que pode durar semanas, meses ou até anos (KRYMCHANTOWSKI et al., 2004) ou a Síndrome Pós-Traumática (SPT) com sintomas somáticos, cognitivos, emocionais e comportamentais, dentre os quais a cefaléia (DE SOUZA et al., 1999). A cefaléia é o sintoma mais comum após lesão da cabeça, podendo persistir durante anos (MARGULIES, 2000). EDNA & CAPPELEN (1987) relataram 23% de incidência de cefaléia 3-5 anos após lesão moderada de cabeça. DENKER & PERRY (1954) também relataram que após 3 anos, apenas 15-20% de seus pacientes tinham cefaléia pós-traumática (CPT). Entre a maioria dos pacientes, a CPT se resolve de 6 a 12 meses após a lesão, persistindo por mais de 1 ano em 33% e por mais de 3 anos em 15% a 20% dos pacientes (PACKARD, 1992). CARTLIDGE & SHAW (1981) encontram 52,4% pacientes sintomáticos durante a hospitalização, 36% na alta, 27% em 6 meses, 18% em 1 ano e 24% em 2 anos após o trauma. Estudos mais recentes têm mostrado que 44% apresentam cefaléia após 1-3 meses e que 20% se queixa de cefaléia 3 anos após o trauma da cabeça (KEIDEL & RAMADAN, 2000; JACOBSON, 1995). 4.4 CUSTO SOCIOECONÔMICO DAS CEFALÉIAS E QUALIDADE DE VIDA A cefaléia constitui um grande problema de saúde pública, devido à sua freqüência e morbidade associada, resultando em perda da produtividade, limitação da atividade e deterioração da qualidade de vida (DELEU et al., 2002), além do significante custo do serviço médico (BIGAL et al., 2000). A migrânea e a cefaléia tipo-tensional estão associadas a um prejuízo significativo tanto nas atividades relativas ao trabalho quanto nas sociais (WALDIE & POULTON, 2002). A migrânea é o grupo das cefaléias mais pesquisado, sendo uma causa importante da falta ao 39 trabalho ou à escola e da diminuição da produtividade, tornando-se uma possível causa da redução educacional e realização profissional (SANTANELLO et al., 2002). A medida do impacto da migrânea na sociedade é avaliada tanto pelos custos diretos com o atendimento médico e o uso de medicamentos quanto pelos custos indiretos representados pela queda da produtividade devido ao absenteísmo e à redução do desempenho no trabalho (LIPTON & BIGAL, 2005). Vários estudos têm demonstrado que os custos indiretos das doenças excedem em muito os custos diretos (LIPTON et al., 1997). O estudo de OSTERHAUS et al. (1992) mostra que o custo anual nos EUA determinado pela falta ao trabalho ou diminuição da produtividade dos migranosos é de 5 a 17 milhões de dólares por ano. STEWART et al. (2003) estimaram, estudando a força-tarefa americana, que a perda do tempo de produtividade devido à cefaléia, de todos os tipos, não apenas a migrânea, é de US$ 19,6 bilhões por ano, correspondendo a 31,9% num total de US$ 61,3 bilhões, incluindo as dores referentes a cefaléia, artrite, coluna e outras dores musculoesqueléticas não específicas. O estudo de HU et al. (1999) estimou que a perda de dias de trabalho e a diminuição da produtividade devido à migrânea custam ao empregador americano U$ 13 bilhões por ano. Uma investigação recente determinou que a dor de cabeça onera à Comunidade Européia em 20 bilhões de euros por ano (GÖBEL et al., 2000). No Brasil, BIGAL et al. (2000) avaliaram os custos hospitalares para atendimento, investigação e tratamento clínico de pacientes com cefaléias agudas numa Unidade de Emergência pública, estimando em 76 mil dólares os valores despendidos durante o ano (BAREA & FORCELINI, 2002). A gravidade das perdas financeiras e da qualidade de vida causadas pela cefaléia nos trabalhadores é mostrada no estudo de STEWART et al. (1998) nos Estados Unidos. Cinqüenta por cento das mulheres migranosas perdem três dias ou mais por ano e 31% perdem seis dias ou mais. Enquanto 30% dos homens migranosos perdem três dias ou mais e 40 17% perdem seis dias ou mais. Muitos migranosos vão trabalhar mesmo estando em crise de cefaléia e, neste caso, apresentam queda da produtividade (FERNANDES et al., 2002). O American Migraine Study II (LIPTON et al., 2001) constatou que 92% das mulheres e 89% dos homens com migrânea grave tinham várias deficiências relacionadas à cefaléia, e que cerca da metade era severamente incapaz ou buscava repouso. Em relação à incapacidade causada pelo ataque, muitos pacientes com migrânea vivem com medo, sabendo que a qualquer momento um ataque poderá ameaçar a sua capacidade no trabalho, os cuidados consigo próprio ou com seus familiares ou encontros sociais. A grande evidência indica que a migrânea reduz a qualidade de vida relacionada à saúde. Os episódios de migrânea não apenas prejudicam a capacidade individual funcional durante um episódio, como também podem reduzir a qualidade de vida entre os episódios. A qualidade de vida reflete uma avaliação individual do bem-estar geral e posição na vida dentro do contexto de cultura, sistema de valores, crença e negócios. A OMS define conseqüências funcionais de uma doença em termos do prejuízo, limitações das atividades funcionais e impedimento. Impedimento refere-se ao efeito primário da doença e inclui dor e manifestações físicas ou mentais diversas. Limitações das atividades funcionais são definidas como os efeitos da doença em outras áreas incluindo tarefas domésticas e recreativas, social, familiar e outras atividades (LIPTON & BIGAL, 2005). KRYMCHANTOWSKI et al. (2004) citam um resumo relativa à migrânea, qualidade de vida e interferência sobre as atividades cotidianas: • Migranosos têm qualidade de vida pior do que os não migranosos; • A qualidade de vida dos migranosos é afetada não apenas durante os ataques, mas também entre os ataques; 41 • A maior parte dos migranosos teve seu rendimento afetado ou perdeu dia(s) de trabalho, estudo ou lazer nos últimos meses; • O impedimento (disabilidade) da migrânea é severo. Cerca de 50% dos portadores são quantificados como tendo impedimento moderado ou intenso pela maioria dos estudos; • O impacto da migrânea é cumulativo ao longo da vida, aumentando com o passar dos anos; • Migrânea está na lista das 20 doenças mais disabilitantes, de acordo com pesquisa sobre o impacto global das doenças, conduzida pela OMS (1997); • O tratamento correto melhora muito a qualidade de vida e diminui substancialmente a disabilidade. Assim, são claras as conseqüências negativas ocasionadas pela migrânea, que pode ocasionar severas implicações sobre a qualidade de vida e a disabilidade, impondo um considerável fardo ao paciente e à sociedade. Muitos estudos examinando o efeito da cefaléia sobre a produtividade no trabalho têm registrado perda de dias de trabalho, mas não a redução como resultado da freqüência ao trabalho apesar da cefaléia. Poucos estudos têm focado sobre os indivíduos que continuam trabalhando mesmo com dor (RAAK & RAAK, 2003). Existem migranosos que, mesmo na ausência de dor intensa, experimentam alto nível de capacidade reduzida. Outros mantêm todas as suas capacidades mesmo na presença de dor intensa. É certo que a deficiência relativa à cefaléia varia consideravelmente entre as pessoas; muitas apresentam cefaléias de baixo impacto com pouca deficiência, enquanto outras são acometidas de graves ataques incapacitantes. Um número substancial de pessoas que não 42 recebe tratamento para migrânea, experimenta um alto nível de dor e deficiência (STEWART et al., 1996). Um estudo canadense demonstrou que 77% dos migranosos têm limitações da atividade, 50% interrompem suas atividades e 30% precisam descansar durante a crise. RASMUSSEN et al. (1992) estimaram que o total de dias de trabalho perdidos por ano devido à migrânea foi de 270 dias por grupo de 1.000 pessoas, enquanto em função da cefaléia tipotensional esse total foi de 820 dias por grupo de 1.000 pessoas. Em relação à CTT, estudo citado por KRYMCHANTOWSKI et al. (2004) demonstrou que a CTTE respondeu por 19% do absenteísmo e 22% da redução na eficácia da atividade. BIGAL et al. (2001) mostraram que os estudantes universitários tiveram 24% de queda em sua performance quando em crise de CTTE. MARCUS (2003) demonstrou que a cefaléia crônica resultante de lesão de cabeça é mais freqüente do que a cefaléia não-traumática, com uma freqüência (mais de 4 dias por semana) descrita por 84% comparados com 60%, respectivamente, estando a cefaléia traumática muito mais associada com uma maior disabilidade e redução do funcionamento físico. 4.5 QUADRO CLÍNICO DAS CEFALÉIAS Cefaléia é toda dor que acomete a região da cabeça, que vai desde os olhos até o final da implantação do cabelo, na região da nuca. Cerca de 90% da população teve ou vai ter algum tipo de cefaléia no decorrer de sua vida e cerca de 40% têm cefaléia com certa regularidade. Cefaléias primárias são doenças nas quais a dor de cabeça é o sintoma que mais chama a atenção e são diagnosticadas apenas pelas suas características clínicas (SPECIALI, 2003). 43 Vamos mencionar neste capítulo a apresentação clínica das cefaléias primárias mais freqüentes como: Migrânea; Cefaléia do Tipo Tensional; Cefaléia em Salvas; Cefaléia Crônica Diária; e, da cefaléia secundária, Cefaléia Pós-traumática que apresenta uma estreita relação temporal com um trauma conhecido, podendo ser a queixa de muitos motoristas, alvo da nossa pesquisa. A migrânea e a cefaléia do tipo tensional são as mais comuns, e também as mais estudadas e citadas na literatura. 4.5.1 Migrânea A migrânea é uma cefaléia primária comum e incapacitante. Pode ser definida como uma reação neurovascular anormal que ocorre num organismo geneticamente vulnerável e que se exterioriza, clinicamente, por episódios recorrentes de cefaléia e manifestações associadas que geralmente dependem de fatores desencadeantes (SANVITO, 2002). A migrânea é decorrência de uma disfunção bioquímica cerebral herdada. Em 75% dos migranosos, pode-se detectar um consangüíneo bem próximo que possui também a migrânea (RAFFAELLI JUNIOR & MARTINS, 1999). O histórico familiar, muitas vezes, constitui um pré-requisito para o diagnóstico. A freqüência do quadro em algumas famílias sugere uma transmissão do tipo dominante, tendo uma maior freqüência em gêmeos idênticos do que em gêmeos fraternos. Costuma ter início na infância, adolescência ou nos primórdios da fase adulta. Como já vimos, o pico de prevalência se dá entre os 30 e 45 anos, com ligeira predominância nos meninos durante o período pré-pubertário, entretanto, após este período há uma nítida predominância no sexo feminino. A migrânea é altamente prevalente e estima-se que atinja 12% da população, sendo mais freqüente na mulher numa razão de 3:1 (SANVITO, 2002). Segundo a classificação da SIC (2004), a migrânea pode ser dividida em 2 subtipos principais: a Migrânea sem Aura que é uma síndrome clínica caracterizada por cefaléia com 44 características específicas e sintomas associados; a Migrânea com Aura que é primariamente caracterizada pelos sintomas neurológicos focais que normalmente precedem ou, às vezes, acompanham a cefaléia. Alguns pacientes também experimentam uma fase premonitória, antecedendo em horas ou dias o aparecimento da cefaléia, e uma fase de resolução da cefaléia. Os sintomas premonitórios e de resolução incluem hiperatividade, hipoatividade, depressão, apetite específico para determinados alimentos, bocejos repetidos e outros sintomas inespecíficos relatados por alguns pacientes (SCCSIC, 2004). As crises típicas de migrânea manifestam-se clinicamente por dor de cabeça moderada ou intensa (incapacitando às atividades habituais), de localização frontotemporal unilateral ou bilateral (podendo ser hemicrania), em caráter pulsátil e/ou pressão, geralmente associada à náusea (podendo estar associada a vômitos), e fobias ou intolerância a luzes fortes e/ou a ruídos intensos e/ou a odores mais marcantes. A dor pode durar de 4 a 72 horas quando não tratada ou tratada de forma ineficaz (KRYNCHANTOWSKI et al., 2004). Podemos, então, dividir a crise da migrânea em 3 ou 5 fases: 1ª – Pródomo – Precede ao aparecimento da dor em algumas horas ou até em um dia. Nessa fase, o paciente fica mais irritado, com raciocínio e memorização mais lentos, tem fome de doces e o sono é agitado e com pesadelos. 2ª – Aura – Sintomas visuais que ocorrem em cerca de 15% das crises. São transtornos recorrentes que se manifestam em forma de crises de sintomas neurológicos focais reversíveis que geralmente se desenvolvem gradualmente de cinco a 20 minutos e que duram menos de 60 minutos. Acontece imediatamente antes ou no início da cefaléia da migrânea. A aura visual é a mais comum, podendo se apresentar como flashes de luz, como falhas no campo visual ou imagens brilhantes em ziguezague (SBCe, 2005). 45 3ª – Dor – Cefaléia intensa, latejante/pulsátil, piorando com as atividades do dia-a-dia, sensibilidade à luz e aos sons, durando de 4 a 72 horas. 4ª – Náusea – E/ou vômitos aparecem no final da fase de dor. Muitos pacientes referem que, vomitando, a dor passa. Isto ocorre porque os vômitos indicam o final da fase de dor. 5ª – Exaustão – Última fase. Os pacientes ficam horas ou até dias com uma sensação de cansaço, fraqueza, necessitando de um período de repouso para seu completo restabelecimento (SPECIALI, 2003). Vários fatores são responsabilizados pelo início da crise de migrânea, sendo deflagradores do processo cerebral. Os desencadeantes mais comuns são: • Alimentos: queijos amarelos, chocolate, banana d’água, frutas cítricas, frituras, carne suína; • Bebidas: principalmente fermentadas (vinho tinto, cerveja, chope); • Exposição ao sol; • Luzes, ruídos e odores intensos; • Mudança nos hábitos de sono; • Perda ou atraso de uma refeição; • Período menstrual; • Grande estresse ou aborrecimento; • Estresse físico (doença, cirurgia, infecção) (KRYMCHANTOWSKI, 2001). 4.5.2 Cefaléia do Tipo Tensional A cefaléia do tipo tensional (CTT) é, em sua forma episódica, a modalidade mais freqüente de cefaléia primária, com uma prevalência anual estimada entre 30% e 80%. Estudos dinamarqueses mostram prevalência anual de 63% em homens e 86% em mulheres. O início habitual situa-se entre os 20-40 anos e a história familiar de cefaléia foi referida por 46 apenas 29% entre os examinados (migrânea 69%). A forma episódica é bem mais freqüente do que a crônica, o que deve explicar por que apenas 16% dos pacientes de cefaléia tipo tensional procurem o médico. Já foi conhecida como cefaléia tensional e já havia sido cognominada pelo comitê de Bethesda, em 1962, como cefaléia de contração muscular, apresentando: dores ou sensação de aperto, pressão ou constrição e amplamente variáveis na freqüência, intensidade e duração, comumente suboccipitais (RAFFAELLI JUNIOR & DA SILVA, 2002). A classificação da SIC (2004) divide as cefaléias do tipo tensional em três tipos de acordo com a freqüência dos ataques: episódica infreqüente (menos que um ataque por mês ou 12 por ano); episódica freqüente (de um a 14 ataques por mês); e crônica (15 ou mais ataques por mês). As características clínicas dos três grupos de CTT são exatamente as mesmas e são exemplificadas pela forma episódica (KRYMCHANTOWSKI et al., 2004). A cefaléia do tipo tensional episódica (CTTE) apresenta como critérios diagnósticos pelo menos dez crises ocorrendo em menos de um dia por mês em média (< 12 dias por ano), com duração de 30 minutos a 7 dias e com pelo menos duas das seguintes características: localização bilateral; caráter em pressão ou aperto; intensidade de leve a moderada; não agravada por atividade física rotineira como caminhar ou subir escadas; ausência de náuseas ou vômitos. A fotofobia ou fonofobia podem não estar presentes ou haver manifestação de apenas uma delas (SIC, 2004). Menos de 10% dos pacientes podem apresentar dor pulsátil e até 2% podem referir dor unilateral, mas sempre com intensidade leve e não agravada por esforços físicos rotineiros (IVERSEN et al., 1990). A cefaléia do tipo tensional crônica (CTTC) difere da episódica apenas pela freqüência de dor, que deve ser igual ou superior a 15 dias por mês, em média, por mais de três meses (maior ou igual a 180 dias por ano), podendo durar horas ou ser contínua. 47 As cefaléias do tipo tensional episódica e crônica ainda podem ser subdivididas, de acordo com a classificação atual de cefaléias, nos subgrupos de cefaléia associada ou não a distúrbio dos músculos pericranianos. Essa divisão é baseada na presença do aumento da sensibilidade dolorosa desses músculos demonstrada pela palpação manual ou pelo uso do algômetro de pressão, ou ainda na presença do aumento dos limites eletromiográficos em repouso ou durante testes fisiológicos (KRYMCHANTOWSKI et al., 2004). O dolorimento pericraniano aumenta com a intensidade e a freqüência da cefaléia e acentua-se ainda mais durante a crise. Os pacientes apresentam freqüentemente associações com depressão e ansiedade. Essas podem ser conseqüência ou participarem como desencadeantes, principalmente nos casos em que há um aumento da intensidade das crises de cefaléia (ZUKERMAN, 2002). 4.5.3 Cefaléias em Salvas Das cefaléias primárias, a modalidade conhecida como cefaléia em salvas (CS) é a que acarreta maior sofrimento para os pacientes, evoluindo com características bem peculiares: dor excruciante e de curta duração; presença de distúrbios autonômicos; ritmicidade circadiana das crises e sazonalidade das salvas. Tulpe, em 1641, relatou o caso de um homem que na mesma hora do dia e na mesma época do ano tinha episódios de cefaléia de grande intensidade e duração menor que duas horas, porém faltavam alguns elementos na sua descrição. Em 1745, Van Swieten’s fazia relato de um quadro clínico de um paciente masculino com dor periorbitária unilateral e sempre à esquerda, de grande intensidade, evoluindo por crise de poucas horas de duração e que ocorriam na mesma hora do dia, tendo como sintomas paralelos hiperemia conjuntival e lacrimejamento (DA SILVA, 2002). 48 A cefaléia em salvas varia principalmente de acordo com a latitude onde o estudo foi realizado. A prevalência da CS é tanto maior quanto mais distante do Equador (climas temperados ou subpolares). Sendo assim, a prevalência pode variar de baixas, 0,04% a altas, 4%. O predomínio da CS ocorre em homens, variando de 3,5:1 até 5:1. A idade média de aparecimento ocorre dos 27 aos 31 anos, embora casos na infância possam ocorrer. Diversos estudos documentam maior prevalência em afro-americanos (KRYMCHANTOWSKI et al., 2004). A denominação de cefaléia em salvas foi dada pelo Dr. Edgard Raffaelli Junior, conforme citado no capítulo sobre a História das Cefaléias (DA SILVA, 2002). A cefaléia em salvas caracteriza-se, segundo a classificação da SIC (2004), por crises de dor forte, estritamente unilateral, na região orbital, supra-orbital, temporal ou em qualquer combinação dessas áreas. Sua duração é de 15 a 180 minutos, ocorrendo desde uma vez a cada dois dias até oito vezes por dia. As crises associam-se a um ou mais dos seguintes sinais e sintomas locais de disfunção autonômica: hiperemia conjuntival e/ou lacrimejamento; congestão nasal e/ou rinorréia; edema palpebral, sudorese frontal e facial; miose e/ou ptose, todos ipsilaterais à dor. Os sinais e sintomas tendem a ocorrer regularmente, dia após dia, com uma periodicidade aparentemente relacionada ao ciclo de sono-vigília. Os ataques de dor ocorrem em surtos, chamados de períodos ativos (na CS episódica) que duram de uma semana a alguns meses. Os períodos ativos são separados por remissões clínicas de no mínimo duas semanas e a causa da ritmicidade circadiana e circanual não é reconhecida. Aproximadamente de 10% a 15% dos pacientes sofrem cronicamente sem períodos de remissão (CS crônica) (KRYMCHANTOWSKI et al., 2004). Embora pouco freqüente, a dor da cefaléia em salvas 49 causa tanto desespero aos seus sofredores que são encontradas atitudes suicidas e de projeção da cabeça contra a parede durante as crises de dor (KRYMCHANTOWSKI, 2001). Em crianças, as crises têm duração bem menor, de 3-4 dias a 3-4 semanas, porém o aparecimento nessa faixa etária merece investigação. Segundo alguns autores, a cefaléia em salvas é uma doença de transmissão autossômica dominante em algumas famílias. As crises de dor podem começar com um simples desconforto na região do olho, fronte ou têmpora. Em poucos minutos, esses sintomas tornam-se intensos e assumem um caráter de dor propriamente dita. Em menos de 20 minutos, a dor se torna tão intensa que chega a ser intolerável. O caráter é geralmente de pressão, queimação ou de um objeto fino e pontiagudo que penetra o olho. A dor é estritamente unilateral e pode se irradiar, a partir da região periocular, para fronte, têmpora e região parietal (síndrome superior) ou para região infra-orbitária acometendo malar, mandíbula e até pescoço e nuca ipsilaterais (síndrome inferior). A freqüência das crises é bastante variável. Em um mesmo período ativo o paciente pode ter crises que se apresentam de formas diferentes quanto à intensidade, à duração e à freqüência. A maioria dos pacientes refere crises leves e/ou infreqüentes na fase inicial do período ativo. A partir de alguns dias a dor se torna mais intensa, freqüente e evolui até o fim da crise. Durante as crises, muitos pacientes deflagram crises de cefaléia quando da ingestão de álcool, do contato com cheiros ativos de solventes químicos e quando dormem à tarde. Fora dos períodos ativos, estes (KRYMCHANTOWSKI et al., 2004). fatores não precipitam os episódios de dor 50 4.5.4 Cefaléia Crônica Diária O termo cefaléia crônica diária (CCD) ainda não foi aceito pela Sociedade Internacional de Cefaléia, porém engloba pacientes que apresentam cefaléias bastante freqüentes (RABELLO, 2002). Tipos diferentes de cefaléia são definidos sob a denominação de cefaléia crônica diária, constituindo o grupo das primárias de acordo com SILBERSTEIN & LIPTON (1997): migrânea crônica; cefaléia do tipo tensional crônica; cefaléia persistente diária de início súbito e hemicrania contínua. SPIERINGS et al., (1998a) definiram a CCD como uma cefaléia ou cefaléias ocorrendo pelo menos cinco dias por semana por pelo menos um ano. MATHEW et al. (1987) criaram o termo migrânea transformada e chamaram a atenção para aqueles pacientes que desenvolvem cefaléia diária ou quase diária a partir de uma migrânea episódica. As cefaléias crônicas diárias e a migrânea crônica, não eram classificadas e definidas de forma prática e adequada na classificação das cefaléias de 1988 (1a edição). A classificação da SIC, lançada em 2004, engloba os quatro tipos de CCD. A migrânea crônica está classificada como uma complicação da migrânea episódica; a cefaléia tipo tensional crônica permanece no grupo das cefaléias do tipo tensional; a cefaléia nova diária de início súbito e a hemicrania contínua passam a ser incluídas no grupo 4 da classificação. Os pacientes com CCD comumente utilizam analgésicos em excesso, na maioria das vezes, os derivados da ergotamina, antiinflamatórios não-esteroidais (AINES) e triptanos. O consumo excessivo de medicações por pacientes com migrânea freqüentemente leva ao fenômeno de rebote, perpetuando a cefaléia de apresentação diária ou quase diária e levando também, ao desenvolvimento de dependência de medicações sintomáticas (KRYMCHANTOWSKI et al., 2004). A cefaléia por uso excessivo de medicação é uma interação entre um agente terapêutico usado de maneira excessiva e um paciente suscetível. A cefaléia tipo tensional 51 crônica está menos associada ao uso excessivo de medicação. Os pacientes com uma cefaléia primária pré-existente que desenvolvem um novo tipo de cefaléia ou cuja migrânea ou cefaléia do tipo tensional piora notavelmente durante o uso excessivo de medicamento devem receber concomitantemente o diagnóstico da cefaléia primária pré-existente e o de cefaléia por uso excessivo de medicação. Segundo os critérios diagnósticos da classificação, a cefaléia desaparece ou reassume o seu padrão prévio dentro de dois meses após interrupção da medicação (SCCSIC, 2004). A migrânea crônica está incluída no item da classificação “complicações da migrânea” e é descrita, na maioria dos casos, por iniciar-se como migrânea sem aura, sendo a cronicidade uma complicação da migrânea episódica. À medida que a cronicidade se desenvolve, a cefaléia tende a perder sua apresentação episódica. Os critérios diagnósticos da migrânea crônica atribuem uma duração de 15 dias ou mais por mês durante mais de três meses, na ausência de uso excessivo de medicação. A cefaléia do tipo tensional crônica é um transtorno que evolui da cefaléia do tipo tensional episódica, com crises diárias ou muito freqüentes de cefaléia que duram de minutos a dias. A dor é tipicamente de localização bilateral, com caráter em pressão ou aperto, apresentando intensidade de fraca a moderada, e não piora com atividade física rotineira; pode apresentar sintomas como náusea leve, fotofobia ou fonofobia. Devemos lembrar que os pacientes com cefaléia do tipo tensional crônica podem desenvolver características semelhantes às da migrânea, quando apresentam dor intensa. A hemicrania contínua, outro tipo de CCD, ocorre por mais de 3 meses de forma persistente sem intervalos livres de dor, estritamente unilateral (sem mudança de lado), de intensidade moderada, porém com exacerbações para dor intensa. Durante as exacerbações, há pelo menos uma das características autonômicas que ocorrem ipsilaterais à dor: hiperemia 52 conjuntival e/ou lacrimejamento; congestão nasal e/ou rinorréia; ptose e/ou miose. Uma característica importante da hemicrania contínua é a de ser responsiva à indometacina. A cefaléia crônica de início súbito ou cefaléia persistente e diária desde o início (CPDI) é diária e sem remissão desde o início ou desde no máximo três dias após o início. A dor é tipicamente bilateral, de caráter em pressão ou aperto, de intensidade fraca a moderada, não se agravando com atividades físicas rotineiras. Pode acompanhar de fotofobia, fonofobia ou náusea leve e apresenta características em comum com a cefaléia do tipo tensional. Porém a CPDI é única pelo fato de ser diária e sem remissão desde o momento do surgimento, ou quase desde esse momento, tipicamente em pessoas sem uma história prévia de cefaléia. A lembrança do início da dor (dia, mês e ano) é necessária para o diagnóstico. Estudos populacionais mostram que as CCDs são relativamente freqüentes na população em geral com prevalência de 4%. Os mesmos estudos mostram que 0,5% a 1% da população tem cefaléia virtualmente diária e severa, tendo a cefaléia do tipo tensional crônica como a CCD mais freqüente. A migrânea crônica é a CCD que mais interfere na qualidade de vida e no rendimento no trabalho (KRYMCHANTOWSKI et al., 2004). 4.5.5 Cefaléia Pós-Traumática A Classificação Internacional das Cefaléias de 2004 (2a edição), como também a de 1988, reservou o capítulo 5 para a cefaléia atribuída a trauma cefálico e/ou cervical. Diferente da 1a edição, que classificava de forma genérica a cefaléia pós-traumática, englobando quadros com patogenia e manifestações clínicas diferentes (DE SOUZA et al., 1999), a 2a edição conseguiu com suas novas subdivisões, caracterizar melhor toda cefaléia que apresenta uma estreita relação entre o trauma na cabeça, pescoço ou cérebro e o surgimento da dor. Pertencem a este grupo as cefaléias pós-traumáticas (CPT). Considera-se CPT, cefaléia secundária, no caso, ao trauma, aquela que se inicia dentro de 7 dias após o trauma 53 cefálico ou após a recuperação da consciência que segue ao trauma cefálico. As CPT podem ser divididas em agudas e crônicas, ambas podem estar atribuídas à lesão cefálica moderada ou grave e à lesão cefálica leve. Consideram-se agudas aquelas que desaparecem dentro de três meses após o trauma cefálico ou as que persistem, embora não se tenha passado os três meses do trauma cefálico. Encontramos, ainda, neste grupo, as cefaléias atribuídas à lesão em chicotada; as atribuídas a outro trauma cefálico e/ou cervical; e as pós-craniotomia (estas seguem o mesmo padrão para a subdivisão em agudas e crônicas); e as cefaléias atribuídas a hematoma intracraniano traumático. Essas se subdividem em atribuídas a hematoma epidural, com início em minutos ou até 24 horas após o desenvolvimento do hematoma, e a atribuída a hematoma subdural, com início da cefaléia de 24 a 72 horas após o desenvolvimento do hematoma. A CPT tem causado controvérsia há muitos anos. Entretanto, as opiniões diferem quando as considerações são a patogênese, o curso natural e o papel dos litígios (BAADRUP & JENSEN, 2004). A cefaléia pode ocorrer em pacientes, mesmo após lesão moderada do cérebro. Contudo, não existe, aparentemente, uma relação entre a severidade do trauma e a cefaléia (BEKKELUND & SALVESEN, 2003). CARTLIDGE & SHAW (1981), assim como BRENNER et al. (1944) observaram pacientes que apresentam lesão grave da cabeça e tendem a ter uma menor incidência de CPT, quando comparados com pacientes com menor lesão da cabeça. Outros estudos não têm encontrado a cefaléia como o sintoma mais comum na lesão leve da cabeça, quando comparados com lesão grave da cabeça (COUCH & BEARSS, 2001). A apresentação clínica da CPT é variada, indo desde as apresentações típicas das cefaléias primárias como a migrânea, à cefaléia tipo tensional e à cefaléia em salvas (KRYMCHANTOWSKI et al., 2004) até manifestar-se como parte da síndrome póstraumática (SPT), um conjunto de sintomas somáticos, cognitivos, emocionais e 54 comportamentais (DE SOUZA et al., 1999). O déficit da função cognitiva envolve, principalmente, o processo de aprendizagem rápido e a memória de curto prazo. Os pacientes que apresentam SPT não mostram sinais objetivos ou evidências funcional ou morfológica, envolvendo a trajetória neural e estruturas do sistema nervoso central, pela tomografia computadorizada do crânio e ressonância magnética (ALBERTI et al., 2001). Relatos a respeito da SPT somente se tornaram freqüentes a partir do século XIX, graças à Revolução Industrial e ao desenvolvimento de meios de transporte mais velozes, ocasionando maior número de acidentes ocupacionais e de trânsito (DE SOUZA, 1995). A SPT tem início imediatamente após ou passadas algumas semanas do TCE (Trauma Crânio-encefálico), que pode ser dos mais variados níveis de gravidade. Não é necessário haver perda de consciência para seu desenvolvimento (FLEMING & DE SOUZA, 2002). TATROW et al. (2003) divide os sintomas da SPT em três áreas: somática, psicológica e cognitiva. Os sintomas somáticos incluem tonteira, fadiga, náusea, fraqueza, insônia e distúrbios visuais. Náusea, vômitos e tonteira são os sintomas mais comuns na fase inicial. Dificuldades psicológicas podem se desenvolver após lesão da cabeça, especialmente nos casos em que a cefaléia é um sintoma associado. O estudo inclui a personalidade, embora esta não esteja envolvida com a etiologia da CPT, afetando a adaptação à lesão e ao resultado do tratamento. Inclui, também, a desordem do estresse pós-traumático (DEPT) e o afeto negativo. Um considerável número de sintomas da DEPT coincide com os encontrados na SPT como irritabilidade, insônia, ansiedade e dificuldades de memória. Um estudo de HICKLING et al. (1992) mostra uma diminuição da cefaléia na população quando os sintomas da DEPT são avaliados e tratados. Ansiedade, depressão e irritação são também comuns na CPT e quando comparados com outras dores da população, ou grupos de controle, 55 os portadores de CPT apresentam um nível significativamente alto destes transtornos psicológicos. Embora difícil de ser detectado, o distúrbio cognitivo é relatado em pacientes que apresentam experiência de trauma da cabeça. Em geral, encontramos déficits incluindo redução da capacidade de processamento da informação, prejuízo da habilidade de solucionar problemas, cansaço mental e distúrbio de longo prazo e memória verbal. No estudo de PACKARD et al. (1996), 65 dos 100 pacientes apresentavam dificuldades cognitivas, sendo as mais comuns os problemas ou déficits de memória e concentração. Muitos achados acerca dos estudos que examinam a função cognitiva são inconsistentes e podem estar relacionados com as diferenças de medida. BRANCA et al. (1996) encontraram várias diferenças nos itens da medida cognitiva subjetiva quando comparada com a objetiva. A presença da ansiedade ou depressão também pode promover uma complicação nos achados desta disfunção. 56 5 RESULTADOS 5.1 DO ESTUDO DO PROCESSO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO 5.1.1 Transporte Coletivo Urbano: Organização e Normas, Responsabilidade Jurídica e Acidentes de Trânsito A Superintendência Municipal de Transportes Urbanos – SMTU (2005) tem como missão gerir, planejar, controlar e fiscalizar os modos de transporte do município do Rio de Janeiro – individuais (táxis) ou coletivos (ônibus), escolar, a frete (vans legalizadas) e complementar (kombis). Vinculada à Secretaria Municipal de Transportes, cumpre o papel de garantir o deslocamento dos usuários na cidade. Uma das tarefas mais importantes da SMTU é resguardar, técnica e operacionalmente, o direito sagrado de ir e vir dos três milhões e meio de passageiros que se deslocam de um ponto a outro do município, por meio de um sistema composto por 49 empresas, 418 linhas e uma frota de 7.306 ônibus. Essa frota percorre uma média de 3,4 milhões de quilômetros diários pelo território municipal. No Rio de Janeiro, a modalidade ônibus é a mais utilizada, sendo uma das principais propulsoras para o funcionamento da cidade. Além da sede, a estrutura organizacional da SMTU é distribuída em nove Áreas de Planejamento – AP’s – situadas estrategicamente no município. Cada área possui uma Coordenadoria Regional de Transportes, que atua como uma micro-SMTU, de forma a permitir uma atuação eficaz sobre os problemas e demandas das comunidades de cada região, como pedidos para o aumento da oferta de ônibus em determinadas áreas, ampliação de itinerários, implantação de novos pontos de ônibus, exigência de conforto, segurança e pontualidade das linhas das empresas operadoras. 57 A AP de cada região deve funcionar como um centro receptor pró-ativo, fornecendo respostas, dentro de sua competência, às questões geradas pelas comunidades. Para promover essa interação com a população usuária de cada bairro e garantir um atendimento mais eficaz, as AP’s têm de aplicar com rigor o Código Disciplinar de Transporte de Passageiros do Município, que prevê sanções tanto para as empresas como para os motoristas e cobradores que transgridem as normas pertinentes ao bom desempenho do serviço. Segundo a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro – FETRANSPOR (2005), que hoje congrega 10 sindicatos, o número de empresas na região metropolitana do Rio de Janeiro é de 138, sendo 105 municipais e 65 intermunicipais, com uma frota de 10.133 ônibus do tipo municipal, 4.936 do tipo intermunicipal e 1.332 microônibus. A quantidade de linhas na região metropolitana é de 1.298, sendo 724 de categoria municipal, estando 441 situadas na capital (TABELAS 1e 2). Tabela 1 – Empresas de Transporte de Passageiros da Região Metropolitana do Rio de Janeiro 2005 Transporte Regular de Passageiros Total Municipal Intermunicipal Dentro da região metropolitana do RJ 138 105 65 Fora da região metropolitana do RJ 94 62 55 232 167 120 Total de Empresas de Transporte Regular Total de Empresas de Fretamento 56 Fonte: FETRANSPOR, 2005 Tabela 2 – Linhas de Coletivos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro 2005 QUANTIDADE DE LINHAS TOTAL MUNICIPAL INTERMUNICIPAL DENTRO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO 1.298 724 565 FORA DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO 1.047 523 524 TOTAL 2.336 1.247 1.089 441 441 CAPITAL Fonte: FETRANSPOR, 2005 58 O sistema gera 380.000 empregos, sendo 95.000 diretos. Considerando o índice de 2,5 familiares por empregado, estima-se que um milhão de pessoas dependam economicamente, direta ou indiretamente, do trabalho proporcionado pelo segmento do transporte coletivo urbano. Em 2000, o número de passageiros transportados pelo sistema de ônibus dentro da região metropolitana do Rio de Janeiro foi de 6,2 milhões por dia. Esse número tem diminuído, passando para 4,5 milhões em 2005, o que representa uma perda de 27,4%. O mesmo se observa fora da região metropolitana, que experimentou redução de 771 mil passageiros em 2000 para 562 mil em 2005. De acordo com a Lei Estadual no 3339/99, os beneficiários das gratuidades no Rio de Janeiro são os estudantes, os idosos e os deficientes, totalizando 3,8 milhões de habitantes. Em 2001, a lei foi estendida para os diabéticos e hipertensos, somando 2,3 milhões de beneficiários. O total da população beneficiada é de cerca de 6,1milhões, correspondendo a 41,2% da população total do Estado. O Estatuto do Idoso – Lei 10741/03 – veio reforçar os direitos da terceira idade com o intuito de proteção. O estatuto define que aos maiores de 65 anos fica assegurada a gratuidade nos transportes coletivos públicos, exceto nos serviços especiais e seletivos (por exemplo, micro rodoviários e fretamento). Segundo dados do Disque Denúncia/RJ, das 1.216 reclamações feitas pelos idosos de janeiro a junho deste ano, 230 (18,91%) referem-se ao transporte público (RJTV, 2005). 5.1.1.1 Responsabilidade Jurídica A responsabilidade da empresa, e conseqüentemente do motorista, incide na esfera cível e criminal, respondendo civilmente pelo Código Civil e de Proteção ao Consumidor e criminalmente pelo Código Penal. 59 A responsabilidade Civil é a obrigação da Empresa de indenizar os danos causados aos passageiros ou terceiros, ocorridos em virtude do serviço prestado, independente da culpa do motorista. Esta responsabilidade inicia-se a partir de algum prejuízo causado ao passageiro ou a terceiro, ocasionado entre outros por um acidente de trânsito; uma queda do usuário no interior do veículo; quebra do veículo; informação errada; e até mesmo tratamento ruim ao cliente por parte do motorista. De acordo com o Código de Defesa do Consumidor – Lei 8078/90 –, consumidor é toda pessoa física e jurídica que adquire ou utiliza produto e serviço. São direitos básicos do consumidor: proteção à saúde, à vida e à segurança. No transporte coletivo urbano há uma relação de consumo: o produto é a viagem; o serviço é o transporte de pessoas; e o cliente, o passageiro. Nesta relação de consumo, ao subir o primeiro degrau do ônibus, o passageiro está assinando um contrato de transporte e qualquer lesão que aconteça a partir desse momento, será de responsabilidade da empresa que poderá responder por perdas e danos. Uma das claúsulas deste contrato é a incolumidade; o passageiro tem de chegar incólume ao seu destino. Atualmente, em função da Lei específica 9.503 – Código de Trânsito Brasileiro – CTB, todo acidente de trânsito com vítima é considerado Crime de Lesão Corporal Culposa – e o motorista é penalizado no artigo 303 por lesão corporal culposa (por Crime de Menor Potencial Ofensivo) e 302 por homicídio culposo, no caso de morte da vítima. A mesma regra se aplica as ocorrências de injúria, calúnia, difamação, crimes contra a honra. Portanto, todo motorista envolvido nesse tipo de acidente responde criminalmente pela lesão causada ao passageiro ou a terceiro, enquanto a empresa responde civilmente pelos danos havidos. 60 No caso de o motorista deixar de socorrer a vítima, fica caracterizada a omissão de socorro, o que é um agravante do Crime de Lesão Corporal Culposa, classificado como Homicídio Culposo, podendo o agente (o motorista) ser preso em flagrante delito. O motorista é o real infrator no caso de acidente por estar conduzindo o veículo, posto que esse profissional possui uma responsabilidade maior, o que passa a ser um agravante da pena. Como toda empresa de transporte coletivo urbano é uma concessionária do Estado, sua responsabilidade é denominada objetiva ou “responsabilidade sem culpa”, prevista no Parágrafo Único do art. 927 do Código Civil. Isto significa que independente do fator culpa (negligência, imprudência ou imperícia) o agente causador, no caso a empresa, está obrigado a indenizar os danos causados por seus prepostos (empregados). Apenas três possibilidades podem ser consideradas excludentes de culpa: 1 – Culpa exclusiva da vítima; 2 – Fato de terceiro; 3 – Caso fortuito ou de força maior. Devido às novas alterações ocorridas no processo de trabalho do motorista de ônibus urbano, como a implantação do RioCard (vale-transporte eletrônico) e a entrada em vigor em 2004 do Estatuto do Idoso, cabem algumas considerações judiciais. O RioCard veio substituir o vale-transporte de papel, sendo um documento oficial que tem transação de moeda, e qualquer crime neste sentido é caracterizado como crime federal. Em relação ao Estatuto do Idoso, aos desacordos ocorridos não cabe transação penal, caracterizando crime. O indivíduo (motorista) pode ser preso. Nos demais casos também há possibilidade de prisão, cabendo, inclusive, a prisão em flagrante nos casos de acidentes com vítimas em que o motorista deixe de prestar imediato e integral socorro. 61 5.1.1.2 Acidente de Trânsito Para os motoristas profissionais, os acidentes se constituem acidente de trabalho e sua freqüência e gravidade refletem condições em que este trabalho é realizado. Neste sentido, os dados registrados sobre os acidentes de trânsito demonstram sua importância na sociedade contemporânea e seu impacto sobre a saúde em termos da organização e gastos próprios dos serviços de saúde, bem como as conseqüências coletivas e individuais incidentes sobre as pessoas afetadas (mortes e lesões). TAMBELLINI & OSANAI (2001) citaram que o Comitê de Pesquisa do Trauma dos EUA adotou uma definição das lesões traumáticas, explicitando que as mesmas são devidas à exposição aguda à energia como o calor, eletricidade ou energia cinética liberada em um choque, queda ou bala. As lesões podem também ser causadas por ausência súbita de elementos essenciais como o calor, ou o oxigênio, como no caso de afogamento. Uma das conseqüências negativas mais importantes do sistema de transporte é a sua capacidade de produzir traumas, materializados ou não sob a forma de lesões, seja nos usuários (motoristas, cobradores, passageiros), seja nos pedestres, população que usa as vias para seu transporte sem utilização de veículo auto-motor. Os acidentes de trânsito podem refletir perigo à saúde dos motoristas e transeuntes, podendo levar a traumas e seqüelas. Entre as seqüelas após TCE leves, queremos destacar a SPT, um conjunto de sintomas somáticos, cognitivos, emocionais e comportamentais, dentre os quais a cefaléia é o mais proeminente (DE SOUZA, 1995). Na maioria das ocasiões, a cefaléia é de curta duração e são poucos os pacientes que desenvolvem a chamada CPT, que pode durar semanas, meses ou até anos, sendo divididas em agudas ou crônicas (KRYMCHANTOWSKI et al., 2004). Os acidentes de trânsito são considerados um dos problemas mais graves e importantes da sociedade contemporânea (WEBER & MONTOVANI, 2002), constituindo um sério 62 problema de saúde pública na atualidade. A incidência dos traumas tem aumentado e os acidentes de trânsito respondem por cerca de 50% destes. O primeiro acidente rodoviário aconteceu em 1889 em Nova Iorque. Até hoje, mais de 32 milhões de pessoas morreram em acidentes. No Brasil, Olavo Bilac iniciou a série de acidentes automobilísticos em 1897, quando dirigia no Rio de Janeiro (RODRIGUES & MILLER, 2001). Após a Segunda Guerra Mundial, o automóvel particular converteu-se em fenômeno de massa, tornando-se um artigo de consumo. Uma frota de veículos cada vez crescente, circulava no mundo inteiro. Com a incorporação do automóvel no cotidiano das comunidades, surge o acidente de trânsito (AT), juntamente com o aumento da poluição do ar, do índice de ruídos e da transformação degradante da paisagem urbana (MARÍN & QUEIROZ, 2000). Segundo a OMS (2002), as lesões por acidentes de trânsito são as principais causas de morte por traumatismo, a décima causa de todas as mortes e a nona das principais causas de morbidade em todo o mundo. O crescimento urbano acelerado somado à mecanização dos países em desenvolvimento e à falta de programas de prevenção no setor de Saúde Pública, constituem os fatores que acarretam o aumento das taxas de morbidade. Nos países desenvolvidos, os acidentes aumentaram 13% no período de 1983 a 1992. Neste período, em 12 países da então Comunidade Econômica Européia, o número de mortes foi cerca de 55 mil e um milhão e 600 mil de feridos, sendo que 150 mil pessoas ficaram com alguma incapacidade. Nos EUA, 50 mil pessoas morrem a cada ano e os acidentes são a causa principal de mortes na faixa etária de um a 37 anos. Quase a metade das mortes aos 17 anos é devida a estes acidentes. No Canadá, os acidentes rodoviários são a principal causa de morte nos grupos de um a 44 anos e 63% das mortes ocorrem entre os 15 e 20 anos (RODRIGUES & MILLER, 2001). 63 Os acidentes de trânsito têm sido foco de preocupação social. No Brasil, os estudos são escassos e as ações de prevenção e controle estão apenas se iniciando. Pouco se conhece a respeito do comportamento do motorista e do pedestre, das condições de segurança das vias e veículos, da engenharia de tráfego, dos custos humano e ambiental, do uso de veículos motorizados e das conseqüências traumáticas resultantes dos acidentes (MARÍN & QUEIROZ, 2000). Os acidentes de tráfego rodoviário são mais freqüentes nos veículos de passeio, seguidos dos de cargas e coletivos. No período de 1996 a 2000, observou-se uma diminuição no número de veículos envolvidos em acidentes, passando o total de 186.039 em 1996 para 174.316 em 2000, representando um decréscimo de 6,3%. A média da representação dos coletivos no total de veículos envolvidos em acidentes de tráfego rodoviário é de 4,4%. Tabela 3 – Número de Veículos envolvidos em Acidentes, por Classe de Veículo - 1996-2000 CLASSE DE VEÍCULO 1996 1997 1998 1999 2000 Passeio 113.590 125.286 122.471 117.268 108.011 Coletivo 8.586 8.425 8.050 7.788 8.506 Carga 57.246 60.795 56.139 51.560 50.342 Outras 6.617 7.842 7.562 8.465 7.457 186.039 202.348 194.222 185.081 174.316 TOTAL Tabela 4 – Número de Pessoas Envolvidas em Acidentes, Segundo a Gravidade - 1996-2000 GRAVIDADE Mortos 1996 1997 1998 1999 2000 7.847 7.530 6.711 6.435 6.543 Lesões graves 20.797 21.866 20.390 20.844 20.620 Lesões leves 42.456 43.812 40.496 40.865 39.916 543.353 560.944 522.374 487.727 460.501 614.453 634.152 589.971 555.871 527.580 Ilesos TOTAL 64 Tabela 5 – Número de Acidentes, Segundo a Gravidade - 1996-2000 GRAVIDADE 1996 1997 1998 1999 2000 Acidentes com mortos 6.013 5.873 5.305 5.140 6.543 Acidentes com feridos 31.087 32.941 31.492 32.294 30.640 Acidentes sem vítima 79.295 85.558 83.645 77.995 73.204 116.395 124.372 120.442 115.429 110.387 TOTAL FONTE: DNER NOTA: Os dados referem-se apenas aos acidentes ocorridos nas rodovias federais policiadas. Em 1999, os tipos de acidente de tráfego rodoviário mais freqüentes foram por colisão traseira (25,8%) e saída da pista (19,1%), seguidos de abalroamento no mesmo sentido (10,8%) e choque contra objeto fixo (8,1%). Em 1998, ocorreram 30.994 óbitos por acidentes de trânsito, o que representa um coeficiente de 19,2 por 100 mil habitantes. Esses números expressam a relevância do tema que tem demandado uma ação pactuada entre as duas áreas mais diretamente envolvidas com o problema: a saúde e o trânsito. Vários projetos são implementados buscando a redução destes acidentes e conseqüentemente de vítimas fatais. O Código de Trânsito Brasileiro, vigente desde 21 de janeiro de 1998 – Lei Federal no 9.503 –, explicita as atribuições também para o Ministério da Saúde em relação aos acidentes de trânsito (BRASIL, 2002). No Rio de Janeiro, conforme estatística da Coordenadoria de Vias Especiais da SECRETARIA MUNICIPAL DE TRANSPORTE (2005), do total de atendimentos de 33.739 no período de janeiro a outubro de 2004, 7.997 (23,7%) correspondem a veículos acidentados, sendo a Avenida Brasil o local de maior incidência (3.610 – 45,1%). Deste total de atendimentos apenas 6,2% correspondem à categoria ônibus. Observa-se que com a entrada em vigor do Código de Trânsito Brasileiro em janeiro de 1998 – Lei Federal no 9.503 –, houve uma diminuição no total de atendimentos, como também de veículos acidentados, principalmente no ano seguinte. O total de atendimentos passou em 1998 de 28.859 para 23.878 em 1999, e destes, 5.267 em 1998 e 4.590 em 1999 correspondem a veículos 65 acidentados. A diminuição observada foi de 17,3 e 12,9 no total de atendimentos e de veículos acidentados, respectivamente. No período de janeiro a outubro de 2004, das 641 vítimas, 601 (93,8%) foram socorridas e 40 (6,2%) fatais. O mesmo se observa em relação aos anos de 1998 e 1999, com uma queda de 43,1% do total de vítimas, sendo 42,6% a queda em relação às vítimas socorridas e 50,0% em relação às vítimas fatais. Segundo a Gerência de Informações da CET-Rio (2005), as áreas de maior incidência de acidentes por Coordenadoria Regional de Tráfego no ano de 2003 de acordo com o Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro, foram a Barra da Tijuca (18,2%), Madureira (15,4%), seguidos pela Ilha do Governador (12,8%) e Méier (10,6%). Neste mesmo período, a maior incidência de acidentes por dia da semana é sábado (19,7%), domingo (16,7%), sextafeira (14,9%) e quarta-feira (12,8%). Quanto à faixa etária, tanto no sexo feminino quanto no masculino, as faixas de maior índice de acidentes são de 30 a 59 anos e de 18 a 29 anos, correspondendo no sexo feminino a 38,2% (30 a 59) e 33,8% (18 a 29) e no sexo masculino a 42,4% (30 a 59) e 41,1% (18 a 29). Em relação aos meses do ano, a incidência de acidentes é maior no segundo semestre (53,2%) com maior pico nos meses de outubro, novembro e dezembro. 5.1.2 Do Processo e Organização do Trabalho na Empresa 5.1.2.1 Dos Dados Obtidos na Empresa A empresa estudada foi fundada em 1996, é uma prestadora de serviços nas áreas de transporte coletivo urbano de passageiros no município do Rio de Janeiro e de transporte coletivo em regime de fretamento e turismo, com um efetivo de 580 trabalhadores, sendo 247 motoristas. A empresa possui uma frota de ônibus urbanos e de turismo movimentando suas linhas nos horários das 4h20 às 24h. 66 Mediante seu planejamento estratégico, a empresa adotou no final de 1999 na Gestão pela Qualidade Total, traçando metas e objetivos alinhados à preocupação de priorizar a satisfação de seus clientes e a credibilidade dos serviços; acreditando na educação e treinamento contínuos de seus funcionários e na padronização e organização de suas atividades. Depois da certificação ISO 9001:2000 no ano de 2001, a organização vem sistematicamente avaliando seu desempenho e estabelecendo novos critérios de avaliação a fim de melhorar seus resultados. Neste sentido, decidiu participar do Prêmio Nacional de Conservação e Uso Racional de Combustível em 2002. Na área social, assumiu os dez compromissos do Programa Empresa Amiga da Criança, recebendo o Selo da Fundação Abrinq em 2002, comprometendo-se com a causa da criança e do adolescente. Solicitou ao IDAQ – Instituto de Desenvolvimento Assistência Técnica e Qualidade em Transporte uma auditoria a fim de validar as práticas de gestão e, como resultado, conquistou o Selo de Qualidade IDAQ em 2002, concedido pela primeira vez a uma empresa de Transporte Urbano Fretamento e Turismo no Rio de Janeiro. Em 2003, a companhia ficou em 3º lugar no Prêmio ANTP de Qualidade da Associação Nacional de Transporte Público e no ano seguinte, recebeu o Diploma Prata do Prêmio Qualidade Rio, conferido pelo Estado do Rio de Janeiro, baseado nos critérios de excelência do Prêmio Nacional de Qualidade. Em março deste ano na reunião de Monitoramento das Estratégias, a empresa definiu sua nova política de gestão e princípios pela análise das 12 estratégias da organização. O resultado foi um percentual de 40% de Efetividade Estratégica, ou seja, de realização das estratégias. As principais estratégias são: 67 • Respeitar o Meio Ambiente (ISO 14001) e Sociedade (Responsabilidade Social SA8000); • Proporcionar Qualidade de Vida para os funcionários (OHAS 18000); • Estimular o conhecimento e a aplicação da legislação às atividades da empresa; • Oferecer diferencial competitivo (atendimento ao cliente); • Promover a otimização dos processos (melhorar a eficiência dos processos). A implementação da bilhetagem eletrônica e a integração das linhas com o Metrô e Trem foram estratégias traçadas pela empresa em 2003 e realizadas em 2004–2005, com resultados bastante produtivos. INSTALAÇÕES A sede administrativa e a garagem estão situadas no bairro do Andaraí, com instalações modernas que ocupam espaço de 13.200 m2. Para a manutenção de suas instalações foi lançado e realizado em 2000 o Programa UAL (Utilização, Arrumação e Limpeza), adaptado do Programa de Qualidade 5S, surgido no Japão na segunda metade do século XX: SEIRI – Utilização; SEITON – Ordenação; SEISO – Limpeza; SEIKETSU – Saúde/Bem Estar; SHITSUKE – Autodisciplina. O conceito do UAL se baseia em atividades realizadas com a participação de todos no local de trabalho, que resultem em segurança e em um ambiente de conforto e prazer. Para sua realização é necessário: 68 • Planejar – Programar as ações que não puderem ser realizadas imediatamente, mas que deverão ser feitas através de planejamento. • Fazer – Executar as ações conforme planejamento. • Checar – Verificar tudo aquilo que deve ser feito. • Agir – Fazer tudo aquilo que for possível imediatamente. O objetivo principal da UTILIZAÇÃO é não deixar materiais desnecessários em seu local de trabalho. Da ARRUMAÇÃO é definir o local onde será colocado o material, de tal forma que todos possam usá-lo imediatamente. Em relação à LIMPEZA, é manter limpo tanto o local de trabalho como os equipamentos. O programa conta com auditorias programadas semestralmente, avaliando periodicamente a arrumação, a limpeza e a organização, com uma pontuação para cada setor. Cartazes são encontrados em várias áreas da empresa, lembrando ao funcionário o seu compromisso com o UAL. Foto 1 – Setor de Manutenção na Garagem da Empresa 69 Foto 2 – Prédio do Setor Administrativo na Garagem da Empresa FROTA A empresa possui uma frota de 149 veículos, composta por veículos urbanos que operam em 3 linhas municipais (110) e 2 de integração com o Metrô (9) (QUADRO 2), veículos rodoviários que operam em regime de fretamento e turismo (17), e microônibus com ar-condicionado (13), que circulam em linhas especiais urbanas e completam as atividades de fretamento e turismo. A idade média dos veículos é de 2 anos. Quadro 1 – Linhas Operadas LINHA DIREÇÃO TEMPO DE VIAGEM (min) A ANDARAÍ X CARIOCA 80 B CENTRAL X GAL. OSÓRIO 90 C SAENS PENA X HORTO 90 GRAJAÚ X SAENS PENA ANDARAÍ X SAENS PENA 50 50 METRÔ 70 SAC A empresa dispõe de um Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) informatizado no qual são registrados todos os atendimentos e respostas aos clientes. As principais reclamações recebidas são: não parar para o embarque de passageiros; comportamento indevido do motorista; relacionadas à área de turismo; e manutenção insatisfatória. De acordo com as reclamações registradas pelo SAC, o motorista envolvido é encaminhado pelo Setor Operacional ao departamento de Recursos Humanos (RH). Quando as reclamações envolvem Direção Perigosa, o RH direciona os motoristas para o instrutor que dará ao profissional um treinamento específico para cada irregularidade apontada. Nos casos comportamentais, o RH os encaminha à psicóloga – Orientação SAC. Estes processos são os instrumentos usados para ajudar o motorista a se conscientizar do papel que ele representa diante dos que procuram o seu serviço mas, principalmente, para tentar auxiliá-lo e acompanhá-lo de acordo com o motivo da reclamação. É a oportunidade que o motorista tem de se justificar e não ser advertido. Em alguns casos específicos, como não parar para embarque, o motorista será advertido. Há uma hierarquia de penalidades. Quando há acidente com culpa o motorista receberá uma advertência. A partir da terceira advertência sofrerá uma suspensão e caso seja reincidente terá suspensão de 3 dias. Se ainda houver reincidência, serão 5 os dias de suspensão, podendo o funcionário ser demitido por justa causa. Nos casos de conduta grave, em que se coloca em risco a vida de várias pessoas, a CLT protege o empregador para a rescisão do contrato por justa causa. No entanto, a empresa não tem por praxe tomar tal medida. 71 SALÁRIO A empresa não possui uma política de cargos e salários, inexistindo, no caso dos motoristas, variação em função do tempo de serviço, ou do itinerário do ônibus. O salário do motorista é de R$ 1.027,29 mensais. Um projeto de política de incentivo, que visa gratificar o motorista com maior tempo de serviço, encontra-se em fase de elaboração,. TREINAMENTOS A corporação adota uma política de gestão que busca desenvolver o potencial humano mediante implantação de criteriosa estrutura de educação, treinamento, habilidades e experiências para todos os seus profissionais. Como a empresa é recertificada mediante auditorias semestrais realizadas pela BVQI (Bureau Veritas Quality Internacional), sendo validada pela UKAS Quality Management e pelo INMETRO, é necessário manter alguns padrões de qualidade. Os treinamentos, reciclagens, limites nos números de processos e acidentes são alguns desses padrões a seguir o que exige que os funcionários se adaptem às normas implantadas. Cada novo funcionário, após recrutamento de seleção, passa pelo Treinamento de Integração – o primeiro contato com a empresa. Nesse treinamento ele conhecerá a função dos setores (Departamento Pessoal, Recursos Humanos, Segurança do Trabalho, Manutenção, Operação, Jurídico e Qualidade); como a empresa funciona e seu organograma, podendo, assim, entender qual a sua função e responsabilidade dentro do processo. O Treinamento Integração tem 4 horas de duração e a empresa busca a flexibilidade para evitar a impactação. É explicado ao funcionário que a empresa possui um Planejamento Estratégico disseminado, com procedimentos delegados pelo ISO. Cada área tem seu quadro de gestão à vista, com os procedimentos, seu próprio macro-processo, fluxo e suas metas específicas. 72 Outro treinamento disponibilizado pela empresa é o TCQ – Transportando com Cidadania e Qualidade. As metas a serem atingidas são comportamento; liderança; trabalho em equipe; e relacionamento interpessoal. De início, atingiam 3% dos motoristas e hoje, o objetivo é chegar a 100% deles. O TCQ consiste em uma reciclagem com os motoristas mais antigos, buscando prepará-los para trabalhar com o público, com as determinações legais, relembrar o aprendizado anterior, renovar material, inserir as mudanças de conceito, otimizar a relação dos líderes com os motoristas e melhorar a abordagem. Os 4 principais tópicos do TCQ são: 1 – Qualidade; 2 – Relações Humanas; 3 – Direção Defensiva (simulações de acidentes); 4 – Jurídico. O objetivo da empresa é a empresa-escola, com formação interna, em que são usadas as ferramentas que a empresa possui, sem precisar buscá-las fora. Dentro deste contexto, há o projeto Job Rotation, que significa “rotação de trabalho”, ou seja, multifuncionalidade. No departamento de manutenção são rastreadas todas as capacidades e competências dos mecânicos, borracheiros e lanterneiros. A partir daí, é montado um treinamento no qual todos são capacitados a fazer tudo e, no final do processo, são formados técnicos em várias áreas. Um mecânico, por exemplo, é treinado para borracheiro e lanterneiro e, assim por diante. Outro treinamento se dá através do Telecurso de 1o e 2o Grau, que busca melhorar o nível de escolaridade dos funcionários e é extensivo também à sua família. As aulas são em módulos com duração de 2 horas, conduzidas por uma orientadora própria da empresa. O custo para o funcionário é o preço da apostila, é de R$ 2,00. 73 O número de procura para este treinamento ainda é pequeno, em torno de 5 alunos por semestre, não atingindo a expectativa. A empresa possui 4 funcionários que se formaram pelo Telecurso na faculdade, sendo 3 motoristas, e está tentando parcerias com cursos de inglês, informática, faculdades, buscando redução de preços e novas oportunidades aos funcionários. PRÊMIOS Idéia Premiada – campanha interna que premia a idéia que possa melhorar o serviço da empresa, de forma a desenvolver a capacidade inventiva e criativa dos funcionários. As idéias são colocadas na caixa de sugestão e analisadas por um comitê interno criado com essa finalidade. As premiações acontecem duas vezes por ano numa cerimônia em que os vencedores recebem, além dos prêmios, um Certificado de Reconhecimento. No ano passado, foram premiados 8 funcionários e suas idéias foram implementadas. Prêmio Alberto Moreira – concedido pela FETRANSPOR aos trabalhadores em transporte coletivo do Estado do Rio de Janeiro que mais se destacaram durante o ano. Rodoviários do Ano – prêmio interno em implementação na empresa. Até o final do mês de julho o pré-projeto deverá ser encaminhado à gerência, para implantação ainda em 2005. O objetivo é premiar os melhores do ano nas categorias motorista, e cobrador e, ainda não definido, os funcionários da manutenção, segundo quesitos pré-estabelecidos. MULTAS E INDENIZAÇÕES O número mensal de multas referentes a infrações ao CTB e outras é grande. Foi estabelecida como meta para 2005 a média de, no máximo, 115 multas por mês. A empresa observa que nem sempre esta meta é cumprida. Em janeiro foram 167 multas, 91 em fevereiro e 184 em março. 74 A responsabilidade das multas referentes a infrações ao Código de Trânsito Brasileiro é do motorista. As demais multas referentes ao veículo, à documentação e às aplicadas pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente são de responsabilidade da empresa. Em caso de acidentes com vítimas, se o crime for caracterizado de menor potencial ofensivo, inicialmente, a empresa tenta uma composição com a vítima na esfera civil, mediante indenização. Se o motorista for considerado culpado, cabe a ele o pagamento de um valor estipulado previamente de R$ 300,00. SAÚDE A assistência médica e odontológica da empresa é feita por uma médica do trabalho e uma dentista que atendem três e duas vezes por semana, respectivamente. Para classificação das doenças é usado o CID-10 – Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde da Organização Mundial de Saúde. O atendimento médico não está totalmente informatizado. Há um controle por consultas não ocupacionais e ocupacionais, além do controle de dias concedidos, encaminhamento ao INSS, afastamento da função por aposentadoria, dias concedidos para odontologia e dias negados. As consultas ocupacionais são divididas em admissionais, demissionais, retorno ao trabalho, periódicas e mudança de função. As consultas periódicas são realizadas uma vez ao ano com todos os funcionários. No último ano (julho/2004 a junho de 2005), foram realizadas 1.624 consultas, sendo 749 ocupacionais e 875 não ocupacionais, representando 46,12% e 53,88%, respectivamente. Foram concedidos 28 encaminhamentos ao INSS, com um total de 420 dias concedidos. Os meses com maior número de atendimentos não ocupacionais foram agosto/2004 e 75 janeiro/junho/2005. As consultas ocupacionais admissionais e periódicas são as mais freqüentes seguidas pelas demissionais. Em julho/2004 ocorreu o maior número de consultas admissionais (51,46%) e periódicas (39,77%). No mês de setembro ou outubro é realizada a Semana Interna de Prevenção de Acidentes – SIPAT, na qual são abordados assuntos de saúde e segurança do trabalho, assim como, higiene, ergonomia, fumo, estresse e álcool. Tabela 6 – Atendimentos Ocupacionais de acordo com a Razão das Consultas 2004/2005 2004/2005 Admissionais Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Mai Junho Total Demissionais Retorno ao Trabalho Periódicas Mudança Função Total 88 12 13 22 31 13 12 16 50 39 30 6 5 9 5 5 10 9 13 7 11 9 2 2 4 1 5 4 2 2 3 3 1 68 36 4 4 5 22 17 9 20 6 13 7 2 0 2 2 0 8 2 19 1 0 171 57 30 34 48 49 48 42 99 60 53 326 89 29 204 43 691 Fonte: Serviço Médico da Empresa Estudada, 2005 MEIO AMBIENTE Através de sistemas adequados de tratamento de óleo usado, estoques de combustíveis, coleta seletiva de resíduos, juntamente com a programação das manutenções preventivas e da verificação do nível de opacidade, a empresa busca atender à legislação e requisitos da norma ISO 14001 para certificação. O veículo automotor emite gases e partículas pelo tubo de escapamento de vapores, através do sistema de alimentação de combustível, pelo respiro do carter e pelo desgaste de pneus e freios. No caso do ônibus – veículo a diesel –, em que ocorre a formação de fuligem, 76 quanto mais negra for a tonalidade da fumaça emitida, maior será a emissão de poluentes (FEEMA, 2005). A cada 1.000 litros de óleo diesel economizados, correspondem 2,743 toneladas de CO2 e 60 kg de fumaça negra não emitidos para a atmosfera (FETRANSPOR, 2005). Foto 3 – Filtro de Óleo Diesel A empresa possui um programa interno de avaliação da qualidade do óleo diesel. O diesel precisa estar LII (Límpido e Isento de Impurezas), mesmo após armazenado na empresa. Para seu consumo, é preciso que antes o combustível seja filtrado e drenado, a fim de retirar as impurezas e diminuir os gases poluentes. Já se encontra em fase de implantação o projeto de mini-laboratório para análise do diesel, com o objetivo de se obter uma análise quantitativa. Outro projeto da empresa é o Teste de Fumaça do Diesel, através de um equipamento próprio – opacímetro – que realiza a medição da fumaça negra em veículo a diesel. Este projeto é uma extensão do Projeto Economizar. 77 PROJETO ECONOMIZAR – lançado em 1996 em âmbito nacional, resulta da parceria entre Petrobrás/COMPET e CNT/IDAQ, na busca de um instrumento de racionalização do uso de combustível – óleo diesel – e melhoria da qualidade de vida. Oferece apoio técnico ao setor de transporte rodoviário de cargas e passageiros e tem como objetivos: • Otimizar o consumo de óleo diesel; • Reduzir as emissões de fumaça negra; • Promover os cuidados necessários com o recebimento e o armazenamento do óleo diesel; • Reduzir os custos com combustível e manutenção dos veículos; • Conscientizar e motivar à racionalização do uso do diesel (RIOÔNIBUS, 2005; FETRANSPOR, 2005). Além desses projetos, a empresa possui uma cabine de pintura, conforme exigência da FEEMA, com exaustor e filtros, objetivando a filtragem de resíduos durante a pintura do ônibus, impedindo a emissão de poluentes para a atmosfera. Um dos filtros da cabine encontra-se em mal estado, porém o responsável pelo setor relatou que a empresa está realizando a substituição. Foto 4 e 5 – Vista Interna e Externa da Cabine de Pintura 78 5.1.2.2 Dos Dados da Observação Direta do Processo de Trabalho A nossa observação direta do processo de trabalho permitiu verificar algumas questões individuais do motorista ao realizar sua atividade, assim como, sua relação com passageiros, colegas e superiores, como também, o próprio ato de conduzir. Os motoristas da linha observada têm uma jornada de trabalho de 7 horas/dia, sendo que 42 (75%) fazem hora extra, a maioria de até 1 hora extra/dia. • Tempo de Viagem: A previsão de viagem foi de 40 minutos no total. O motorista acompanhado pertencia ao primeiro turno e a observação foi realizada durante a sua 8a viagem do dia, com um total de 8 a 9 viagens cumpridas diariamente. A viagem teve início às 12h55 e a chegada às 13h35 com duração de 40 minutos, conforme previsto. • Tipo e Condições do Veículo: O ônibus era novo, em bom estado de conservação, equipado com ar condicionado e possuía a roleta à frente. • Concorrência: O ônibus adota uma tarifa diferenciada para quem vai utilizar ônibus/metrô, no valor de R$ 2,25, sendo esta uma das características de concorrência no trajeto de ida até o metrô. O motorista relatou que a escassez de passageiros na volta se dava devido ao concorrente à frente, passar primeiro no ponto. A volta não possui a vantagem da ida, pois o preço não é diferenciado. Na ida, o motorista relatou que ganha da concorrência, principalmente pela manhã, horário de maior número de passageiros. • Características da Viagem: O trajeto observado teve como destino o metrô. O motorista não fez uso do cinto de segurança, relatando se sentir preso para observar o trânsito e olhar os espelhos retrovisores. Durante todo a viagem, houve apenas uma freada brusca quando uma senhora atravessou a rua à frente do ônibus em movimento. A viagem aconteceu de forma tranqüila. O motorista não relatou nenhuma mudança no trânsito devido às férias escolares de julho, mas apenas que naquele dia, em particular, 79 havia mais carros na rua. Na parada no último ponto do trajeto de ida, na Praça Saens Peña, foi a única vez que o motorista se levantou, trocou o itinerário, desceu do ônibus, falou com o despachante que anotou o controle do horário de chegada e saída. A parada neste ponto e a parada no ponto final duraram em torno de 3 minutos cada, confirmando os dados levantados pela pesquisa que indicam que 94,3% dos motoristas desta linha fazem intervalos de até 5 minutos. As paradas no ponto para pegar passageiros totalizaram 9 na ida e 8 na volta, sendo que nesta todos os usuários subiram no ponto do metrô (ponto de retorno). O restante que embarcou foram colegas da empresa. Ocorreram 7 paradas no sinal vermelho na ida para 11 no retorno; o motorista usou freio de mão duas vezes na ida e duas na volta durante estas paradas. • Relação com os Passageiros: O motorista apresentou uma boa relação com o passageiro no ponto, mantendo-se próximo à calçada, aguardando um bom tempo para dar partida com o veículo. Sua improcedência foi apenas tentar pegar uma passageira fora do ponto na ida, e permitir a descida de um passageiro no sinal fechado na volta, além de falar com o motorista do outro ônibus com a porta aberta. Apenas 2 passageiros, num total de 28, cumprimentaram o motorista com retribuição por parte deste. • Conversas: As conversas com o cobrador foram, na maioria das vezes, a respeito da minha presença dentro do ônibus, realizando a observação. O motorista conversou com todos os colegas que entraram no ônibus, mostrando ter um bom relacionamento interpessoal. Apenas uma vez falou sozinho. • Posto de Serviço: A instalação do ponto final possui bebedouro com água gelada, sala de espera com sofás e banco, 2 banheiros (masculino e feminino) que, apesar da limpeza realizada sistematicamente, freqüentemente exalavam mau cheiro. É nesse 80 local que os motoristas realizam as refeições, descansam e aguardam para iniciar suas atividades. • Comportamento de Frente às Características Ergonômicas da Atividade: O motorista, durante todo o trajeto, manteve uma postura sentada com anteriorização da cabeça e perda da lordose lombar, por não se apoiar sobre os ísquios. A atividade foi realizada com uma postura flexionada da coluna, com o ápice da curva se dando em região torácica baixa, favorecendo a cifose, a cabeça anteriorizada e a retificação da coluna lombar e cervical baixa. Foram observados vários movimentos repetitivos de cabeça, necessários para olhar os espelhos retrovisores, para saída do ponto de parada dos ônibus, para falar com o cobrador, e para observar a descida do passageiro pela porta traseira. Em relação aos membros superiores, o motorista manteve por quase todo o tempo a mão direita sobre a marcha, permanecendo com uma extensão, no final do arco de movimento, da articulação do cotovelo direito. Esta postura manteve o ombro direito na posição elevada por um período longo. Em relação aos membros inferiores, o assento permitia um fácil acesso dos pés do motorista a toda engrenagem inferior do ônibus, tanto para o membro inferior esquerdo responsável pela embreagem, quanto para o direito responsável pelo freio e acelerador, que foram acionados por todo o tempo. Nas paradas, nos pontos e nos sinais fechados o motorista apoiava os braços no volante para descansar, conforme comentário feito por ele próprio. Durante o uso do freio de mão, em algumas paradas no sinal vermelho, houve uma inclinação muito grande do tronco para alcançá-lo, devido à sua localização muito distante. O motorista afirmou estar cansado em função de estar próximo ao término da jornada de trabalho. Não relatou nenhuma fadiga física ou mental e, na verdade, demonstrou gostar muito do que faz. 81 • Personalização: Alguns motoristas preparavam o ônibus de forma personalizada a cada dia de trabalho. Usavam enfeites, bandeiras de times de futebol, fotos, toalhas coloridas, etc. 82 Foto 6 – Motorista Parado no Semáforo Foto 7 – Posição Sentada com Anteriorização da Cabeça Foto 8 – Inclinação do Tronco para Alcançar o Freio de Mão Foto 9 – Movimento Repetitivo de Cabeça com Extensão Permanente de Cotovelo 83 Foto 10 – Instalação no Ponto Final Foto 11 – Limpeza da Instalação Foto 12 – Personalização do Ônibus 84 5.2 DAS CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO ESTUDADA O número total de motoristas da empresa é de 247. Foram selecionados todos os motoristas de uma determinada linha, num total de 59 (23,9%), conforme já descrito. Destes, 56 motoristas (94,9%) participaram da pesquisa, sendo 55 do sexo masculino e 01 do sexo feminino. Dos três motoristas que não participaram, somente um se negou a responder ao questionário, outro estava de férias e outro de licença médica. Optamos por analisar quantitativamente o grupo de 55 motoristas do sexo masculino, excluindo a única motorista entrevistada. A idade dos motoristas variou de 24,3 a 64 anos, com média de 38,3 anos, mediana de 37,2 e desvio padrão de 8,8. A maior concentração por faixa etária foi de 31 a 40 anos com 41,8% dos motoristas (Tabela 7). Chama atenção o fato de que 90,9% desta população é constituída por indivíduos com 50 anos ou menos. Tabela 7 – Distribuição (%) dos Motoristas segundo Faixa Etária IDADE Número % De 21 a 30 12 21,8 De 31 a 40 23 41,8 De 41 a 50 15 27,3 De 51 a 60 4 7,3 Mais de 61 1 1,8 55 100,0 Total A Tabela 8 mostra os resultados das variáveis abaixo selecionadas: 1. Os motoristas estudaram em média 7,7 anos. O nível de escolaridade com o maior número de indivíduos foi o ginásio incompleto com 17 motoristas (30,9%). Dois motoristas possuem o primário incompleto e outros dois estão cursando o terceiro 85 grau. Trinta motoristas (54,5%) têm nível de escolaridade igual ou superior ao ginásio completo. 2. Dos 56 motoristas entrevistados, 41 (74,5%) relataram estar casados ou morando com uma companheira. 3. Trinta e um motoristas (56,4%) afirmaram ser o principal ou único sustento da casa e 24 (43,6%) contribuem com mais alguém para a renda familiar. 4. Vinte e cinco motoristas (45,5%) dos entrevistados informaram que trabalham há mais de 10 anos nesta função; 11 (20,0%) entre 1 e 3 anos; 9 (16,4%) de 7 a 10 anos; 8 (14,5%) de 4 a 6, e com menos de 1 ano, 2 motoristas (3,6%). São iniciantes, com 3 anos ou menos, 23,6% dos motoristas. 5. O meio de transporte mais utilizado pelos motoristas para chegar ao trabalho foi o ônibus (n=46; 83,6%). Cinco motoristas (9,1%) afirmaram caminhar até ao trabalho por morarem perto da garagem da empresa e os 4 (7,2%) restantes informaram utilizar um dos tipos a seguir: bicicleta, carro, ônibus /trem ou van. Quatro motoristas responderam que em alguns dias fazem uso de mais de um meio de transporte: 3 usam também o carro e um, dos que caminham até ao trabalho, ônibus. 6. O tempo gasto de casa ao trabalho foi respondido conforme a seguir: entre 1 e 2 horas por 37 motoristas (67,3%), menos de 1 hora por 14 (25,5%); de 2 a 3 horas por 3 (5,5%) e mais de 3 horas por 1 (1,8%). 7. Dos cinqüenta e cinco motoristas entrevistados, 41 (74,5%) relataram fazer hora extra. 8. O principal grau de satisfação ao trabalho foi bom (n=27; 49,1%), seguido do grau excelente (n=17; 30,9%) e muito bom (n= 11; 20,0%). Deve-se notar que não houve nenhum motorista entrevistado que referiu não estar satisfeito com o trabalho. A totalidade dos motoristas revelou achar o trabalho bom, muito bom ou excelente. Notou-se que em relação a esta pergunta, os motoristas tiveram uma preocupação de agradar a diretoria da empresa, respondendo com positividade excessiva sobre o grau de satisfação. 86 Tabela 8 – Distribuição (%) dos Motoristas segundo as Variáveis Selecionadas: Variável Motoristas n=55 Freqüência Nível de Escolaridade Primário Incompleto Primário Completo Ginásio Incompleto Ginásio Completo 2º Grau Incompleto 2º Grau Completo Superior Incompleto Total Estado Civil Casado Divorciado Separado Solteiro Viúvo Total Renda Familiar Contribui no sustento Principal ou único responsável Total Tempo como Motorista Menos de 1 ano Entre 1 e 3 anos De 4 a 6 anos De 7 a 10 anos Mais de 10 anos Total Meio de Transporte Bicicleta A pé, por morar próximo Carro Ônibus Ônibus e Trem Van Total Tempo para chegar ao Trabalho Menos de 1 hora Entre 1 e 2 horas De 2h01 a 3 horas Mais de 3 horas Total Hora Extra Não Sim Total Satisfação com o Trabalho Bom Muito Bom Excelente Total % 2 6 17 7 9 12 2 55 3,6 10,9 30,9 12,7 16,4 21,8 3,6 100.0 41 1 3 9 1 55 74,5 1,8 5,5 16,4 1,8 100.0 24 31 55 43.6 56.4 100.0 2 11 8 9 25 55 3,6 20,0 14,5 16,4 45,5 100.0 1 5 1 46 1 1 55 1.8 9,1 1.8 83.6 1.8 1.8 100.0 14 37 3 1 55 25,5 67,3 5,5 1,8 100,0 14 41 55 25.5 74,5 100.0 27 11 17 55 49,1 20 30,9 100,0 87 Dos 55 motoristas entrevistados, 21 (38,2%) afirmaram ter tido algum tipo de acidente com o ônibus e 34 (61,8%) não relataram acidentes. Apenas um motorista relatou a morte da vítima, deixando-o traumatizado, outro afirmou ter ficado triste, por ainda se encontrar no período de experiência profissional, outro disse ter aprendido e outro sentiu-se emocionalmente abalado após o acidente. Em relação aos assaltos, 32,7% (n=18) já foram assaltados durante o trabalho e 67,3% (n=37) afirmaram não ter passado por essa experiência. Dos motoristas assaltados, 7 (38,9%) sofreram agressão durante o assalto, que variaram desde agressão verbal até ameaças sob a mira de uma arma. Cinqüenta e um (92,7%) dos motoristas se queixaram de um ou mais fatores desgastantes na profissão. Entre os fatores de desgaste, o trânsito (n=32; 39,5%) foi o mais citado, seguido da cadeira e/ou instalações (n=9; 11,1%), passageiros (n=8; 9,9%) e temperatura (n=7; 8,6%). Cada motorista (n=51) se queixou em média de 1,6 fatores (Tabela 9). Tabela 9 – Distribuição (%) dos Motoristas segundo Fator de Desgaste Fator de Desgaste Trânsito Frequência % 32 39,5 Cadeira e/ou Instalações 9 11,1 Passageiros 8 9,9 Temperatura Elevada 7 8,6 Dor 6 7,4 Excesso de Ruído 6 7,4 Poluição 4 4,9 Violência 4 4,9 Responsabilidade 2 2,5 Tempo entre as Refeições 1 1,2 Tempo de Chegada ao Trabalho 1 1,2 Falta de Plano de Saúde 1 1,2 81 100,0 Total 88 5.3 DAS CARACTERÍSTICAS DA CEFALÉIA Dos motoristas que responderam ao questionário padrão, 36 (65,4%) apresentaram algum tipo de dor. Trinta e um (56,4%) do total de dos motoristas relataram ter cefaléia no último ano e destes, 22 (71,0%) referiram ter outro tipo de dor além da cefaléia. Ao contrário do que se encontra na literatura onde a dor lombar é a queixa de dor mais freqüente, no nosso estudo ela apareceu em segundo lugar (n=8; 11,6%), seguida da dor na cervical (n=4; 5,8%) e dor em toda coluna (n=4; 5,8%). Cada trabalhador com algum tipo de dor teve em média 1,9 locais de dor referida (Tabela 10). Tabela 10 – Freqüência de Localização de Dores Relatada pelos Motoristas Localização da Dor Cefaléia Lombar Cervical Toda a Coluna Pé Perna Virilha Ombro Joelho Ouvido Torácica Punho Calcanhar Peito Estômago Garganta Total Freqüência Absoluta 31 8 4 4 3 3 3 3 2 2 1 1 1 1 1 1 69 Freqüência Relativa (%) 44,9 11,6 5,8 5,8 4,3 4,3 4,3 4,3 2,9 2,9 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 1,4 100,0 A faixa etária com o maior número de motoristas com cefaléia foi a de 31 a 40 anos (n=16; 51,6%), seguidos pela de 41 a 50 aos (n=9; 29,0) e pela de 21 a 30 (n=4; 12,9%) (Tabela 11). 89 Tabela 11 – Distribuição da Presença de Cefaléia por Faixa Etária dos Motoristas Faixa Etária Com Cefaléia % Sem Cefaléia % Total % De 21 a 30 4 12,9 8 33,3 12 21,8 De 31 a 40 16 51,6 7 29,2 23 41,8 De 41 a 50 9 29,0 6 25,0 15 27,3 De 51 a 60 2 6,5 2 8,3 4 7,3 Acima de 61 0 0,0 1 4,2 1 1,8 31 100,0 24 100,0 55 100,0 Total A tabela 12 mostra os seguintes resultados: 1. A cefaléia iniciou-se há mais de 10 anos em 9 motoristas (29,0%); entre 4 e 10 anos em 9 motoristas (29,0%); entre 1 e 3 anos em 7 (22,6%); entre 6 meses e 1 ano em 4 (12,9%); e em menos de 6 meses em 2 motoristas (6,5%). Dos motoristas que referiram dor por mais de 10 anos, em 2 a dor teve início na infância. Anote-se que 58,0% dos indivíduos apresentam cefaléia por período superior ou igual a 4 anos. 2. De acordo com a localização da cefaléia, foi encontrada a seguinte distribuição: na fronte (n=13; 41,9%), no topo da cabeça (n=6; 19,4%); na fronte e região lateral da cabeça (n= 4; 12,9%); sempre de um lado (n=4; 12,9%); na região lateral da cabeça (podendo mudar de lado) (n= 2; 6,5%); difusa em toda cabeça (n=1; 3,2%); e na região dos olhos (n= 1; 3,2%). A associação de mais de uma localização foi observada em 2 motoristas que relataram dor na região de trás da cabeça, e 7 referiram a dor ocorrendo bilateralmente. 3. O caráter da dor foi do tipo pulsátil em 16 motoristas (51,6%); em peso ou pressão em 12 (38,7%) e do tipo queimação em 1 motorista (3,2%). Dois motoristas (6,5%) não conseguiram especificar o tipo de dor. 90 4. Quanto à freqüência da dor, 13 motoristas (41,9%) apresentaram dor menos de 1 vez por semana, 7 (22,6%) entre 1 e 2 vezes por semana; 7 (22,6%) entre 3 e 6 vezes por semana; e 4 (12,9%) apresentam dor diariamente. 5. A intensidade da dor foi classificada como leve por 14 motoristas (45,2%), como moderada por 9 (29,0%) e como intensa por 8 (25,8%). 6. Em relação à duração das crises, verificou-se que para 21 motoristas (67,7%) a dor dura até 2 horas mesmo com medicação. Para 5 motoristas (16,1%) a dor dura de 2 a 4 horas e para 3 (9,7%) dura de 5 a 6 horas. Um motorista (3,2%) relatou dor de 7 a 10 horas de duração e outro (3,2%) dor que durava mais de 24 horas mesmo com medicação. 7. Em quinze motoristas (48,4%) a dor não variou de intensidade, mantendo o mesmo padrão durante as crises. Treze motoristas (41,9%) responderam que a dor começa leve e aumenta de intensidade e em três (9,7%) a dor começa forte e diminui. 8. Durante as crises de dor, foram encontrados 23 motoristas (74,2%) que preferem ficar recolhidos em um local escuro e tranqüilo. Seis motoristas (19,4%) são indiferentes à atividade ou repouso durante as crises e dois (6,5%) preferem caminhar ou se exercitar. Do total de motoristas com cefaléia, 9 (29,0%) não relatam sintomas associados e 22 (71,0%) afirmaram ter um ou mais destes sintomas, com média de 1,32 sintomas por motorista. Os sintomas referidos foram: fonofobia (n=15; 51,7%); fotofobia (n=9; 31,0%); vômito (n=2; 6,9%); náusea (n=1; 3,5%); osmofobia (n=1; 3,5%); e estocomas citinlantes (n=1; 3,5%). Um paciente observou que a cefaléia ficou mais freqüente por um período de 20 a 30 dias após o acidente onde ocorreu a morte da vítima. 91 Tabela 12 – Distribuição (%) dos Motoristas com Cefaléia segundo as Variáveis Selecionadas Variável Início da Cefaléia Menos de 6 meses Entre 6 meses e 1 ano Entre 1 e 3 anos De 4 a 10 anos Mais de 10 anos Total Localização Difusa em toda cabeça Na fronte Na fronte e na lateral da cabeça Na região dos olhos Na região lateral da cabeça No topo da cabeça Sempre de um lado Total Tipo de Dor Peso-Pressão Pulsa-Lateja Queima-Arde Não conseguiu especificar Total Freqüência da Dor Menos de 1 vez por semana Entre 1 e 2 vezes por semana Entre 3 e 6 vezes por semana Diariamente Total Intensidade Leve Moderada Intensidade Total Duração das Crises Até 2 horas De 2 a 4 horas De 5 a 6 horas De 7 a 10 horas Mais de 24 horas Total Comportamento da Dor Começa e fica igual Começa leve e aumenta Começa forte e diminui Total Durante as Crises É indiferente a isto Fica recolhido num local escuro Prefere caminhar ou se exercitar Total Motoristas Freqüência n=31 % 2 4 7 9 9 31 6,5 12,9 22,6 29,0 29,0 100,0 1 13 4 1 2 6 4 31 3,2 41,9 12,9 3,2 6,5 19,4 12,9 100,0 12 16 1 2 31 38,7 51,6 3,2 6,5 100,0 13 7 7 4 31 41,9 22,6 22,6 12,9 100,0 14 9 8 31 45,2 29,0 25,8 100,0 21 5 3 1 1 31 67,7 16,1 9,7 3,2 3,2 100,0 15 13 3 31 48,4 41,9 9,7 100,0 6 23 2 31 19,4 74,2 6,5 100,0 92 A totalidade dos motoristas (100%) respondeu não perder dia de trabalho devido à cefaléia. Quinze motoristas (48,4%) relataram caso de cefaléia em familiares de 1o grau; 7 (22,6%) não souberam responder. Verificou-se freqüência de uso de medicação sintomática em 22 motoristas (71,0%). A distribuição, na ordem da freqüência de uso foi: menos de uma vez a cada dez dias em 12 motoristas (38,7%); uma vez por semana em 5 (16,1%); diariamente em 3 (9,7%); duas vezes por semana em 1 (3,2%); e três vezes por semana, também, em 1 (3,2%). A medicação sintomática mais usada foi a Novalgina (n=8; 25,0%), seguida pela Neosaldina (n=4; 12,5%). Doze motoristas (38,7%) observaram algum tipo de alteração quanto à apresentação das crises. Notou-se que em 6 motoristas (50,0%) houve uma piora tanto da freqüência quanto da intensidade da dor nos últimos 2 anos, em 2 (16,7%) a piora ocorreu há 3 anos, em 1 (8,3%) há 1 ano e em outro (8,3%) há 6 meses. Para 1 motorista (8,3%) a dor ficou mais fraca, com melhora do quadro de dor. Em 1 motorista (8,3%) foi encontrada uma piora acontecendo somente no verão. Destes 12 (38,7%) motoristas que relataram mudança na apresentação das crises, em 7 (58,3%) motoristas a cefaléia iniciou-se há 4 ou mais anos e no restante (n=5; 41,7%), iniciou-se há 3 ou menos anos. Do total de motoristas que apresentaram cefaléia (n=31), 15 (48,4%) motoristas possuem mais de 10 anos de atividades. Destes, 8 (53,3%) apresentaram a cefaléia há 3 anos ou menos e 7 (46,7%) há 4 ou mais anos. Dos 5 (16,1%) motoristas que possuem 7 a 10 anos de início de atividade, 1 (20,0%) iniciou a cefaléia no período de 1 a 3 anos e o restante (80,0%) de 4 ou mais anos. Dos 3 (9,7%) motoristas que possuem de 4 a 6 anos de atividades, o total (n=3; 100,0%) desenvolveu a cefaléia há 4 ou mais anos; e dos que iniciaram a 93 atividade de motoristas até 3 anos passados (n=8; 25,8%), 4 (50,0%) têm cefaléia há 3 ou menos anos e 4 (50,0%) têm cefaléia há 4 ou mais anos (Tabela 13). Apesar de não ser estatisticamente significante (p=0,10), parece que parte dos motoristas desenvolveu cefaléia poucos anos após começarem a atividade de motorista (4/8 = 50%). Observou-se que os motoristas que possuem o ginásio incompleto, com menos de 8 anos de estudos, são os que mais apresentam quadro de cefaléia. (n=9; 29,0%), embora a distribuição por escolaridade entre os grupos com e sem cefaléia seja muito semelhante, não havendo uma diferença estatística significante (Tabela 14). Tabela 13 – Tempo de Cefaléia de acordo com o Tempo de Início da Atividade de Motorista Início da Atividade de Motorista Início da Cefaléia Total % < de 1 ano 1 1a3 anos - 4 a 10 anos 1 > de 10 anos - 2 6,5 1 a 3 anos 1 2 1 2 6 19,4 4 a 6 anos - - 2 1 3 9,7 7 a 10 anos - 1 2 2 5 16,1 Total 6 7 9 10 31 100 < 1 ano Tabela 14 – Cefaléia Auto-Referida segundo a Escolaridade % Total % 3,2 Sem Cefaléia 1 4,2 2 3,6 5 16,1 1 4,2 6 10,9 Ginásio Incompleto 9 29,0 8 33,3 17 30,9 Ginásio Completo 5 16,1 2 8,3 7 12,7 2o Grau Incompleto 4 12,9 5 20,8 9 16,4 2o Grau Completo 7 22,6 5 20,8 12 21,8 Superior Incompleto Total 0 31 0,0 100,0 2 24 8,3 100,0 2 55 3,6 100,0 Com Cefaléia 1 Primário Completo Escolaridade Primário Incompleto % 94 5.4 DA QUALIDADE DE VIDA Foi examinada a Qualidade de Vida relacionada à saúde dos motoristas através do questionário SF-36 em cada componente: capacidade funcional; aspectos físicos; dor; estado geral de saúde; vitalidade; aspectos sociais; aspectos emocionais; e saúde mental. A maior diferença entre os resultados foi encontrada na medida da vitalidade (59,8 para os com cefaléia versus 66,7 para os sem cefaléia), seguida pela medida da dor (61,0 versus 87,4), do estado geral de saúde (69,5 versus 89,7), da saúde mental (76,1 versus 93,5), dos aspectos físicos (78,2 versus 92,7), da capacidade funcional (83,5 versus 94,0), dos aspectos emocionais (83,9 versus 90,3) e, por último, dos aspectos sociais (85,1 versus 95,3) (Tabela 15 e Gráfico 2). O grupo de motoristas com cefaléia apresentou uma redução da qualidade de vida relacionada à saúde em relação ao grupo de motoristas sem cefaléia, indicada pelo menor escore encontrado nos oito itens. Foram comparadas as médias de todos os componentes do questionário SF-36, segundo a presença ou não de cefaléia, através do teste t de Student. Houve diferença estatisticamente significante em todos os componentes (Tabela 16). A questão de número dois do questionário SF-36 não foi incluída no cálculo de nenhum dos componentes e deve ser analisada em separado. Este item avalia a evolução da saúde, comparando a saúde atual com a de um ano atrás. Dos 55 motoristas entrevistados, 35 (63,6%) responderam que se sentem quase com a mesma saúde de um ano atrás; 8 (14,5%) sentem-se um pouco pior agora; 5 (9,1%) sentem-se muito melhor agora; 4 (7,3%) sentem-se um pouco melhor agora; e 3 (5,5%) sentem-se muito pior agora (Tabela 17). Comparando os 31 motoristas com cefaléia com os 24 sem cefaléia, a maior freqüência foi encontrada nos que sentem quase a mesma saúde comparada há um ano [15 motoristas com cefaléia (48,4%) versus 20 motoristas sem cefaléia (83,3%)]; seguida dos que sentem a saúde um pouco pior agora [6 (19,4%) versus 2 (8,3%)]; dos que sentem muito melhor agora [4 (12,9%) versus 1 (4,2%)]; dos que sentem um pouco melhor agora [3 (9,7%) 95 versus 1 (4,2%)]. Para os motoristas que sentem a saúde muito pior agora do que há um ano, verificou-se freqüência apenas no grupo de motoristas com cefaléia [3 (9,7%) versus 0]. A análise estatística mostrou que os pacientes com cefaléia tenderam a classificar sua saúde como pior agora do que há 1 ano (p=0,05). Ao compararmos os motoristas com e sem cefaléia e com outras dores, observamos que os grupos “com cefaléia” e “com cefaléia e com outras dores” apresentaram uma maior redução da QVCS do que os “sem cefaléia” e “sem cefaléia e com outras dores” (Tabela 18). Tabela 15 – Média dos Resultados da Avaliação da Qualidade de Vida dos Motoristas (Cálculo do Raw Scale) de acordo com a presença de Cefaléia Componentes Capacidade Funcional Aspectos Físicos Dor Estado Geral de Saúde Vitalidade Aspectos Sociais Aspectos Emocionais Saúde Mental Geral 88,1 84,5 72,5 78,3 62,8 89,5 86,7 83,7 Com Cefaléia 83,5 78,2 61,0 69,5 59,8 85,1 83,9 76,1 Sem Cefaléia 94,0 92,7 87,4 89,7 66,7 95,3 90,3 93,5 Gráfico 2 – Média dos Resultados da Avaliação da Qualidade de Vida dos Motoristas (Cálculo do Raw Scale) de acordo com a presença de Cefaléia 100,0 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 Capacidade Funcional Aspectos Físicos Dor Estado Geral de Saúde COM CEFALÉIA Vitalidade Aspectos Sociais SEM CEFALÉIA Aspectos Emocionais Saúde Mental 96 Tabela 16 – Comparação das Médias dos Componentes do SF-36, segundo a Presença ou Não de Cefaléia Componentes Cefaléia N Média D.P. Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não 31 24 31 24 31 24 31 24 31 24 31 24 31 24 31 24 83,5 94,0 78,2 92,7 61,0 87,4 69,5 89,7 59,8 66,7 85,1 95,3 83,9 90,3 76,1 93,5 17,5 6,6 32,8 16,8 28,2 23,5 23,2 8,9 13,4 9,5 21,8 14,2 30,9 25,0 20,2 0,8 Capacidade Funcional Aspectos Físicos Dor Estado Geral de Saúde Vitalidade Aspectos Sociais Aspectos Emocionais Saúde Mental t p-valor -2,77 0,008 -1,93 0,06 -3,72 0,0001 -4,02 0,0001 -2,117 0,04 -1,997 0,05 -0,827 0,41 -3,992 0,0001 Tabela 17 – Classificação da Saúde em Geral comparada há 1 Ano Todos os Motoristas Quase a mesma Um pouco pior agora Muito melhor agora Um pouco melhor agora Muito pior agora Total Freqüência 35 8 5 4 3 55 % 63,6 14,5 9,1 7,3 5,5 100,0 Com Cefaléia Freqüência 15 6 4 3 3 31 % 48,4 19,4 12,9 9,7 9,7 100,0 Sem Cefaléia Freqüência 20 2 1 1 0 24 % 83,3 8,3 4,2 4,2 0,0 100,0 Tabela 18 – Comparação das Médias dos Componentes do SF-36, segundo a Presença ou Não de Cefaléia Combinada com Outras Dores N= Componentes Capacidade Funcional Aspectos Físicos Dor Estado Geral de Saúde Vitalidade Aspectos Sociais Aspectos Emocionais Saúde Mental 31 21 24 5 Com Cefaléia Com Cefaléia e Outra Dor Sem Cefaléia Sem Cefaléia e com Outra Dor 83,5 78,2 61,0 69,5 59,8 85,1 83,9 76,1 78,1 70,2 50,0 61,0 56,0 82,1 77,8 68,6 94,0 92,7 87,4 89,7 66,7 95,3 90,3 93,5 93,0 75,0 49,2 80,0 60,0 80,0 86,7 90,4 97 6 DISCUSSÃO 6.1 OBSERVAÇÃO DO ESTUDO Os primeiros motoristas que participaram da entrevista realizada por meio de questionários relataram durante a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que “dor de cabeça não é dor, pois todo mundo tem”. A partir de então, tivemos de reforçar a pergunta de número 19 do Estudo da Cefaléia (ANEXO C – Parte 1), buscando evidenciar a possível existência da cefaléia na história de dor de cada motorista entrevistado. 6.2 DO PROCESSO DE TRABALHO E SUA ORGANIZAÇÃO O motorista de ônibus possui uma responsabilidade de controlar e guiar um veículo com alto nível de ruído, de grande extensão, transportando passageiros, num trânsito urbano movimentado e perigoso, em vias com pouca manutenção, estando ainda sujeito a assaltos e violência verbal e física. A esta carga se junta uma condição de trabalho que inclui longa jornada, controles rígidos de itinerários e procedimentos, responsabilidades jurídica civil e penal, além de punições no âmbito administrativo da empresa. Um grande número de estudos nos países industrializados tem revelado que os motoristas de ônibus urbano evidenciam morbidade e mortalidade aumentadas para um número de doenças, quando comparados com grupos de ocupação similar (RYDSTEDT et al., 1998). No estudo de LEIGTH & FRIES (1992), que investigou as profissões de altos e baixos níveis de inabilidade funcional, a ocupação de motorista de ônibus do sexo masculino ficou em quinto lugar entre as profissões com altos níveis de incapacidade funcional. 98 RYDSTEDT et al. (1998) citou que o comprometimento com a saúde, dos motoristas de ônibus, passa por elevados níveis de: pressão arterial; hormônios neuroendócrinos; absenteísmo. O excesso de morbidade nas doenças cardiovascular, gastrointestinal e musculoesquelética, tão bem como o excesso de mortalidade nas doenças cardiovasculares, têm sido encontrados na maioria dos motoristas de ônibus nos vários estudos epidemiológicos. Somado a estas condições de saúde, podemos incluir o estresse ocupacional que representa um estado emocional que resulta da discrepância entre o nível de demanda e a habilidade da pessoa em lidar com uma questão (KROEMER & GRANDJEAN, 2005). Quando as condições de trabalho associam-se às reações de estresse, a baixo apoio social diante dos colegas e supervisores, horas irregulares de trabalho ou mudanças de turnos de trabalho, demandas ambígüas, sobrecarga, condições físicas não saudáveis de trabalho, proporcionam um aumento das reações, criando um ciclo de doenças e dores. Estes elementos de estresse e das condições de trabalho podem determinar alterações no quadro mórbido e da dor, criando respostas orgânicas em forma de doença reconhecida ou de sintomas. Embora o estudo não tenha uma metodologia que avalie estas condições, incluindo as características do trabalho, é lícito afirmar, pelos dados do processo de trabalho, que há uma carga de trabalho psíquica e física na profissão de motorista de ônibus que pode caracterizar em prejuízos à saúde do trabalhador e à performance de condução. A organização da empresa estudada diferencia dos estudos de NEVES (2004) e FERNANDES (2002) por apresentar, através de um planejamento estratégico, uma gestão pela Qualidade Total. Esse planejamento beneficia não apenas a empresa mas o cliente e seus funcionários. É notória a preocupação organizacional com melhores condições de trabalho e com a diminuição dos fatores de riscos. 99 Para o exercício da profissão de motorista, conduzindo passageiros, é exigida uma qualificação permanente com cursos anuais de direção defensiva e mais exigências em relação à renovação da carteira de habilitação. Na empresa pesquisada, os motoristas contam com o Treinamento de Integração e o TCQ tanto para o treinamento inicial quanto para melhorar conduta profissional e desenvolver direção defensiva. Os estudo de FERNANDES (2002) e NEVES (2004), citaram treinamentos que ocorrem em seguida da admissão com duração de 40 e 60 dias, respectivamente. Um dos fatores mais estressantes para o motorista de ônibus é o acidente de trabalho, no nosso caso, acidente de trânsito. O estudo de QUEIROZ & OLIVEIRA (2003) realizado no Hospital das Clínicas da UNICAMP, revelou uma incidência significativa do não uso do cinto de segurança, apesar do CTB tornar obrigatório o uso deste dispositivo. Nos 10 acidentes que envolveram automóveis (5 passageiros e 5 motoristas), os entrevistados mencionaram não estarem usando o cinto de segurança para passageiro traseiro. Apesar da diferença da população e do local do cinto de segurança citado, podemos constatar que o não uso do cinto de segurança é uma prática comum entre alguns motoristas, principalmente na população de motoristas de ônibus. A maioria dos motoristas observada não faz o uso do cinto de segurança; eles o colocam sobre os ombros para mascarar e não atrair a atenção do policial de trânsito. O mesmo foi encontrado nos estudos de NEVES (2004) e FERNANDES (2002), nenhum dos motoristas fizeram uso do cinto de segurança durante a observação direta do trabalho. Neste mesmo estudo (QUEIROZ & OLIVEIRA, 2003), a gravidade do acidente foi uma constante em todas as 20 vítimas pesquisadas, motivo pelo qual os pacientes estavam hospitalizados. Diferentemente, em nosso estudo, encontramos 38,2% dos motoristas que afirmaram ter tido algum tipo de acidente com o ônibus, apenas um relatou a morte da vítima e nenhum mencionou ter tido algum tipo de lesão física em decorrência dos acidentes. 100 Nos ambientes de trabalho onde o contato com o público é grande e é feito por meio da prestação de serviço, há uma exigência de maior esforço psíquico dos trabalhadores para a realização das atividades técnicas repetitivas e para atender as demandas variadas dos clientes (PAES-MACHADO & LEVENSTEIN, 2002). No seu estudo etnográfico sobre operadores do transporte coletivo da cidade americana de São Francisco, BELKIC & SCHALL (1998) apontaram a violência como o principal estressor dos rodoviários. No nosso estudo, em relação aos fatores desgastantes, o resultado foi diferente, aparecendo em primeiro lugar o trânsito (39,5%) e a violência em sexto (4,9%). Em relação aos assaltos, FRANÇA et al. (1998) mostrou que quase todos os 144 cobradores estudados de uma empresa de transporte coletivo de Salvador, já haviam sido assaltados, encontrando uma alta prevalência de estresse ocupacional. Tendo em vista o grande número de casos registrados na cidade do Rio de Janeiro e o estudo de FRANÇA et al. (1998) o percentual do nosso estudo é pequeno, 32,7% afirmaram terem sido assaltados durante o trabalho. Segundo RJTV (2005), houve um aumento de 89,8% nos assaltos a ônibus, comparado ao mesmo período em 2004. Acredita-se que este aumento tem como motivação a compra de drogas. O motorista de ônibus pode estar exposto a uma variedade de riscos do trabalho, à vibração, ao estresse postural, a partir de uma posição sedentária durante o ato de dirigir. ISSEVER et al. (2002) citaram em seu artigo que as pesquisas têm indicado que a postura imprópria pode contribuir para muitas doenças comuns, incluindo as que afetam o sistema circulatório (hipertensão arterial) e sistema locomotor (dor na coluna), possuindo, também, um papel importante na etiologia das doenças psicológicas. O desconforto ergonômico e os fatores físicos nos locais de trabalho, onde incluímos a qualidade das vias, somam-se aos riscos de trabalho que podem produzir doenças físicas e psíquicas aos empregados. 101 O motorista observado, 31 anos, relatou queixa de cefaléia com padrão pulsátil, de leve intensidade, presente desde criança. Ele manteve uma postura sentada imprópria, principalmente, com anteriorização da cabeça, flexão da coluna favorecendo a perda da lordose lombar e de cervical baixa. Estes dados estão em conformidade com vários estudos que ao avaliarem a dor em lombar e cervical, colocam a postura e os fatores ergonômicos do local de trabalho, como elementos essenciais para o diagnóstico das causas das dores (KRAUSE, et al. 1997; MAGNUSSON et al., 1996; LEVI et al., 2000; HANNERZ & TÜCHSEN, 2001). O motorista observado no estudo de NEVES (2004) manteve uma postura favorável no percurso de ida, porém, durante o retorno, era presente a fadiga física e o motorista modificou a postura, adotando uma postura mais imprópria. No estudo de FERNANDES (2002), o motorista manteve uma postura imprópria durante toda a viagem. KRAUSE et al. (1997) concluem que, devido à alta associação dos riscos com os fatores ergonômicos no estudo realizado por eles, redesenhar o local de trabalho do motorista pode ser uma área promissora na prevenção das dores em região lombar e cervical. Dos 61% dos pesquisados com queixa de dor lombar mostrado no estudo de ISSEVER et al. (2002), 88% pensaram que suas desordens foram causadas pelas condições de trabalho, associadas ao ato de dirigir. Os trabalhos com condições não ergonômicas, carga de trabalho pesada, insatisfação, estresse e movimentos repetitivos contínuos, contribuíram para efeitos negativos sobre o trabalhador, levando-os a prejuízos psicológicos. As pessoas insatisfeitas com o trabalho possuem alta somatização, depressão, ansiedade, irritabilidade e idéias paranóicas. O aumento do estresse psicosocial no local de trabalho pode contribuir para o aumento dos acidentes e doenças ocupacionais (ISSEVER et al., 2002). 102 Em nossa pesquisa, encontramos o trânsito (39,5%) como o maior fator de desgaste, seguido pela cadeira e/ou instalações (11,1%), diferenciando do estudo de NEVES (2004) que apontou a temperatura e os ruídos (somando 79,0%). Nos dois estudos, a relação com os passageiros aparece como terceiro fator mais desgastante no trabalho. 6.3 DO ESTUDO DA CEFALÉIA A cefaléia é um sintoma freqüentemente encontrado na prática clínica, tendo a migrânea na 19a posição mundial entre todas as doenças causadoras de incapacidade segundo a OMS (SCCSIC, 2004). A prevalência da cefaléia ao longo da vida, conforme estudo de RASMUSSEN (1994), foi entre 93 e 96%. Em outros estudos, a prevalência da cefaléia tem sido estimada pela razão de 35% a 84% em homens e de 46 a 95% em mulheres, dependendo da população estudada e do método usado (STEWART et al., 1994). A prevalência estimada tende a variar de acordo com a população alvo, índice epidemiológico (ponto, tempo de prevalência e tempo de vida) e os tipos de entrevista (RASMUSSEN et al., 1991). Em nosso estudo, a prevalência de cefaléia nos motoristas estudados foi de 56,4% e encontra-se em conformidade com a prevalência para os homens estimada por STEWART et al. (1994) e foi maior do que a encontrada no estudo de BEGHI et al. (2003) que estudou dois grupos na Itália, apresentando uma pequena diferença na prevalência das duas áreas pesquisadas, onde obteve um resultado de 28% entre os homens com queixa de cefaléia. Acreditamos ocorrer a alta prevalência da cefaléia em nosso estudo em função do baixo poder aquisitivo dos motoristas, que inviabiliza a ida ao médico especializado (cefaliatra) e um tratamento adequado, como também, das condições de trabalho e dos fatores de riscos inerentes à função de motorista. Estes podem, de alguma forma, ocasionar doenças físicas e psíquicas, de forma a aumentar o estresse físico e emocional destes trabalhadores e, assim, repercutir no aumento da freqüência das crises de cefaléia. BIGAL et al. (2000), ao estudarem os funcionários do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, chegaram a esta mesma 103 conclusão para justificar a alta prevalência encontrada neste estudo. STEWART et al. (1992) constataram que a migrânea foi muito mais prevalente no grupo de menor renda salarial e, os motoristas estudados neste trabalho se incluem neste perfil. Considerando que o pico de prevalência da migrânea se dá entre 30 a 45 anos e da CTT entre os 20 a 40 anos, e que a migrânea e a CTT são os tipos mais comuns de cefaléia, nosso estudo revelou uma maior predominância entre 20 a 40 anos. O mesmo foi observado por DELEU et al. (2002) que encontrou uma prevalência alta de migrânea na segunda e terceira décadas, com decréscimo da prevalência ocorrendo com o aumento da idade, e uma prevalência alta de CTT durante a segunda e a terceira décadas. Igual registro se acha no estudo de BIGAL et al (2000) que encontrou 51,9% dos pacientes com cefaléia entre 20 a 40 anos. Em relação à freqüência das crises, a metodologia utilizada em nossa pesquisa aborda a freqüência ocorrendo durante uma semana, variando de menos de 1 vez por semana até diariamente. Desta forma, fica difícil comparar nossos dados com outros estudos que utilizam metodologia de freqüência mensal. HENRY et al.(1992) e BIGAL et al.(2000) em estudo na França e no Brasil, respectivamente, encontraram uma distribuição semelhante entre seus estudos. O estudo na França, encontrou a seguinte distribuição de freqüência das crises: menos de 1 por mês, 17%; 1/mês, 32%; 2 a 4 por mês, 40%; e mais de 1 por semana, 10%. A pesquisa de ZIVADINOV et al. (2001), na Croácia, apresentou 49,2% menos de 1 por semana; 37,6% menos de 1 por mês; e 13,2% menos de 1 por ano. Quanto à intensidade da dor, a nossa amostra apontou que a dor leve foi a mais referida (45,2%), diferenciando do estudo ZIVADINOV et al. (2001) que encontrou a maior freqüência na dor moderada (45,7%). Em nosso estudo, 25,8% dos motoristas apresentaram dor intensa, diferenciando do estudo de HENRY et al. (1992) que avaliou os ataques de dor como sendo intenso pela grande maioria do entrevistados. Neste estudo, a severidade da dor 104 foi expressada mais por mulheres do que homens, e este aspecto pode explicar a diferença entre esta amostra e a nossa que pesquisou apenas motoristas do sexo masculino. BIGAL et al.(2001) que utilizou a escala de Von Korff com apenas uma modificação, encontrou dor muito intensa em 59,4% dos estudantes com migrânea, comparada com 8,9 % dos com CTT. Em nosso grupo de motoristas com cefaléia, a duração das crises mais freqüentemente observada foi de até duas horas (67,7%), o que difere dos achados de HENRY et al. (1992), na França que observaram predominância de 2 a 4 horas (29,0%) nos pacientes masculinos com migrânea e de BEGHI et al. (2003) na Itália, que observaram de 4 a 24 horas (36,0%) em seus entrevistados. A localização da dor mais relatada foi na fronte (41,9%), o que diferencia da observação de DELEU et al. (2002) que foi de cefaléia unilateral, mas não classificada por migrânea. Quanto ao tipo ou qualidade da dor, observamos que a maioria dos motoristas com cefaléia relataram dor que pulsa ou lateja (51,6%) como o tipo mais freqüente. DELEU et al. (2002) observaram ser mais predominante a dor em peso ou pressão em 36,3%. Em relação aos sintomas associados, este estudo mostrou que as maiores freqüências foram a fonofobia (51,7%) e a fotofobia (31,0%), o que se assemelha ao encontrado por BEGHI et al. (2003), que observaram, nas duas amostras pesquisadas, o maior total na fonofobia em 57,0%, seguido pela fotofobia em 14,0%. Independente do tipo de cefaléia, muitos queixosos possuem uma história familiar de cefaléia. Embora a genética da cefaléia primária permaneça incerta, é provável que o fator hereditário possa representar um papel importante neste contexto. Em nossa pesquisa, encontramos uma incidência de história de cefaléia em familiares de primeiro grau de 48,4%, que se diferencia da apresentada no estudo de DELEU et al. (2002) numa população rural que encontrou uma história positiva de cefaléia em 63,5% dos queixosos com cefaléia freqüente. 105 O nosso estudo mostrou-se consistente com o estudo de STEINER et al. (2003) que não encontrou uma associação estatisticamente significante da prevalência da cefaléia (migrânea) com o nível educacional. Não existiu uma tendência em direção à baixa prevalência de cefaléia com o aumento da escolaridade como foi observado pelos estudos de STEWART et al. (1992 e 1996). KRYMCHANTOWSKI et al. (2004), apontaram que o consumo médio por paciente que usa excessivamente as medicações sintomáticas e o tipo de substância utilizada varia largamente. Eles citam o estudo de GUTZWILLER & ZEMP (1986) que utilizou uma amostra representativa da população suíça em que 4,4% dos homens e 6,8% das mulheres tomavam analgésicos pelo menos uma vez por semana, sendo que 2,3% deles os tomavam diariamente. A incidência desse estudo está bem abaixo da encontrada na população de motoristas estudada, com uma freqüência de 71,0% dos motoristas fazendo uso de medicação sintomática, sendo 16,1% uma vez semana e 9,7% utilizando-a diariamente. A pesquisa de KRYMCHANTOWSKI (2000) mostrou-se semelhante à nossa amostra com 68,0% dos homens com migrânea transformada consumindo mais de um tipo de medicação sintomática. No estudo de BEGHI et al. (2003) 27,0% se automedicam. Quanto à cefaléia após o trauma, o nosso estudo mostrou que um motorista que apresentou mudança da cefaléia após o trauma por um período de 20 a 30 dias, encontra-se em conformidade com a classificação (SCCSIC, 2004), onde a CPT aguda atribuída à lesão cefálica tanto leve quanto moderada ou grave, desaparece dentro de 3 meses após o trauma cefálico ou persiste, mas ainda não se passaram 3 meses após o trauma. O estudo de DE SOUZA (1995) constatou que o tempo de permanência com CPT recorrente variou de dois meses a 16 anos. A OMS considerou a lombalgia como primeira queixa de dor, seguida pela cefaléia (GUREJE, 1999). Em nossa amostra, houve uma inversão a respeito da localização das dores 106 relatadas pelos motoristas. Encontramos a cefaléia como primeira queixa (44,9%), seguida da lombalgia (11,6%). O estudo de NEVES (2004) encontrou, nos motoristas entrevistados, a dor na coluna (28,8%) como queixa principal seguida da cefaléia (17,8%). O trabalho de FERNANDES (2002) mostrou que 39,2% do total de motoristas estudado apresentaram episódios de faltas ao trabalho por motivos relacionados à saúde num período de 1 ano, sendo 13,2% por distúrbios musculoesqueléticos. Segundo a autora, as principais regiões afetadas, conforme a distribuição dos episódios de distúrbios musculoesqueléticos por localização anatômica, foram: região lombar (45,9%), membros inferiores (24,3%) e região cervical (13,5%). 6.4 DA QUALIDADE DE VIDA A percepção do estado de saúde e da qualidade de vida, bem como o impacto da doença e do tratamento, estão sendo, cada vez mais, incluídos nos estudos epidemiológicos, assumindo uma importante abordagem complementar. O nosso estudo mostrou que a população de motoristas com cefaléia apresentou uma redução em todos os itens de qualidade de vida condicionada à saúde (QVCS), medidos pelo Short Form 36 quando comparados com a mesma população, porém sem cefaléia. Este resultado confirma a perda da QVCS nos portadores de cefaléia e não a participação da atividade de motorista de ônibus nesse processo. Entretanto, os achados são similares aos de LIPTON et al. (2003) que encontraram na população de migranosos uma redução estatisticamente significativa na maioria dos componentes medidos pelo SF-36 da QVCS quando comparados com um grupo controle da mesma população. Vários estudos têm demonstrado as conseqüências negativas e as limitações da cefaléia crônica na QVCS assim como no bem-estar do indivíduo quando comparados com 107 outros pacientes com condições não crônicas. SOLOMOM et al. (1993, 1994) observaram que a cefaléia crônica tem um nível funcional e QVCS piores do que pacientes com outras condições crônicas como artrite, diabetes, depressão e problemas de coluna, e também, pode se perceber uma melhora dos escores da QVCS com o tratamento. No estudo de LIPTON et al. (2000), conduzido numa população similar dos EUA e do Reino Unido, foi observado que nos dois países os migranosos tinham baixo escores de QVCS comparados com os não migranosos equivalentes. Neste mesmo estudo, a depressão foi considerada mais comum entre os migranosos do que no grupo controle sem migrânea. A QVCS foi significativamente reduzida nos migranosos com depressão em comparação aos sem depressão. BRESLAU & DAVIS (1993) compararam o bem-estar dos migranosos com um grupo controle, igualados por idade e sexo. Encontraram que entre as crises, os migranosos relatavam mais sintomas e maior aflição emocional, assim como distúrbios de satisfação, vitalidade e sono em relação à população controle. Em nosso estudo, não foram avaliadas as comorbidades, impedindo análises neste sentido. TERWINDT et al. (2000) administrou o SF-36 e encontrou uma redução na QVCS quando comparou migranosos com controle sem cefaléia. Não houve nenhuma diferença entre migranosos e sofredores de outros tipos de cefaléia. Neste mesmo trabalho, para todos os 8 componentes, a QVCS diminuiu significativamente com o aumento da freqüência dos ataques de migrânea e, não se modificou pela idade, gênero ou classe socioeconômica. LIPTON et al. (2003) observaram que a maior diferença entre os escores ocorreu no aspecto físico seguido pela dor, aspecto social e aspecto emocional. A mesma diferença foi observada no estudo de VAN SUIJLEKOM et al. (2003) ao avaliarem a QVCS em paciente com cefaléia cervicogênica. No nosso estudo, encontramos a maior diferença entre os escores do grupo com cefaléia e do grupo sem cefaléia no componente dor (61,0 com cefaléia versus 87,4 sem cefaléia) seguidos pelos componentes estado geral da saúde (69,5 com cefaléia 108 versus 89,7 sem cefaléia), saúde mental (76,1 com cefaléia versus 93,5 sem cefaléia), aspecto físico (78,2 com cefaléia versus 92,7 sem cefaléia). Quando analisamos o escore dos 8 componentes dos motoristas com e sem cefaléia e outras dores, observamos uma redução do escore nos que relatam outras dores, com maior incidência nos que apresentam cefaléia e outras dores, principalmente nos componentes dor e vitalidade. Pacientes com migrânea e dor musculoesquelética crônica apresentaram escores significativamente menores nos 8 componentes do que o grupo controle, grupo com apenas migrânea e grupo que relatou apenas dor musculoesquelética crônica. Para este estudo, o impacto da migrânea foi maior sobre os componentes aspecto social e saúde mental, enquanto a asma e a dor musculoesquelética crônica tiveram um maior impacto sobre o aspecto físico (TERWINDT et al., 2000). 6.5 DA CEFALÉIA E DO DESEMPENHO PROFISSIONAL Muitos estudos sobre o impacto da dor em relação ao trabalho têm focado sobre a perda do tempo devido ao ausentismo, mas poucos têm estimado o impacto da redução da performance do trabalho por causa da dor. A evidência tem mostrado que a redução da performance do trabalho devido à dor, e não o ausentismo, é a causa principal de perda da produtividade. Esta perda do tempo de trabalho vai intervir sobre o aumento dos custos indiretos, que segundo muitos estudos têm mostrado que excedem os custos diretos. O estudo de MICHEL et al. (1997), realizado com os trabalhadores da companhia nacional de eletricidade e gás da França, mostrou estatisticamente maior ausentísmo nas mulheres do que nos homens; nos migranosos do que nos sem cefaléia. VON KORFF et al. (1998) encontraram um total de 8,1 dias de trabalho com cefaléia em 3 meses e, neste período, os participantes apresentaram 1,1 perda de dias de trabalho 109 devido à cefaléia, com redução na produtividade. STEWART et al. (1996) relataram que 38% dos homens e 51% das mulheres perdem o equivalente a 6 dias ou mais de trabalho por ano. No grupo de trabalhadores da Força Tarefa Americana, 44% foram do sexo masculino e do total dos participantes do estudo, 51% ganhavam menos que US$ 40.000 por ano e 83% trabalhavam mais do que 30 horas por semana. Nesta pesquisa, a cefaléia e a dor da coluna foram causas dominantes de perda de dias de trabalho devido à dor. Em relação à redução da performance no trabalho devido à dor, observou-se que ela foi maior em todos os tipos de dores quando comparadas com o ausentismo (STEWART et al., 2003). Diferentemente, o estudo realizado por nós, mesmo sendo feito num grupo do sexo masculino, não se constatou nenhuma falta ao trabalho atribuída à cefaléia. O nosso grupo de motoristas trabalha 42 horas por semana ou mais e sua renda por ano é em torno de US$ 5.380. Em relação à redução da performance no trabalho, devido a falta de uma metodologia específica, podemos avaliá-la pelos componentes aspecto físico e dor do SF36, que medem as limitações físicas e a intensidade de dor e sua extensão no passar dos meses, dificultando a realização do trabalho e de atividade da vida diária. Neste caso, observamos uma redução dos aspectos físicos e da dor dos motoristas com cefaléia (78,2 e 61,0, respectivamente) em relação aos sem cefaléia (92,7 e 87,4, respectivamente). Analisando esta totalidade de motoristas (100%) que respondeu não perder dia de trabalho devido à cefaléia, é necessário acrescentar que durante a entrevista muitos dos que responderam ter cefaléia, atribuíram uma causa para tal dor. Alguns disseram ter cefaléia por causa do fígado, outros devido à visão ou por algo que comeram ou beberam. Será que alguma das faltas ao trabalho que tiveram no decorrer da atividade de motorista foi devido à causa (atribuída por eles) à dor e não pela incapacidade causada pela cefaléia, e desta forma não ficou evidenciado o verdadeiro motivo da falta ao trabalho? Além disso, o serviço médico da empresa estudada não possui um controle sobre os tipos de falta justificada por atestado 110 médico. Sendo assim, tornou-se impossível realizar o estudo do absenteísmo e seus tipos por categoria do tipo da doença. No nosso estudo utilizamos o ausentismo referido. Somado a isto, é preciso avaliar o efeito da cefaléia tanto crônica quanto aguda na vida das pessoas. Muitos estudos têm mostrado que a dor dos migranosos é severa, gerando sofrimento, e isto pode influenciar a capacidade da população sofredora. RASMUSSEN et al (1991 e 1992) encontraram que 84,8% dos migranosos têm dor intensa, em nosso estudo o percentual foi de 25,8%. O American Migraine Study (STEWART et al., 1992), observou que um terço dos pacientes relataram ser severamente incapacitantes e que eles necessitavam de repouso quando com cefaléia. No nosso grupo pesquisado, 74,2% dos motoristas disseram preferir ficar recolhido num local escuro e, mesmo assim, todos eles relataram trabalhar diante da crise de cefaléia. É necessária uma nova metodologia para avaliar se este percentual elevado do comportamento diante da dor, possa influenciar a capacidade funcional dos motoristas e se poderá estar afetando na perda da produtividade e/ou dos dias de trabalho (não encontrada no nosso estudo). É importante acrescentar que o impacto da cefaléia sobre a saúde pública pode ser menor do que sobre a própria pessoa. Muitos migranosos podem sofrer “silenciosamente” e trabalhar durante as crises. Este sofrimento silencioso somado ao sofrimento que para DEJOURS (1992, 1994) é inevitável, surgindo quando a relação homem e organização do trabalho impede ou limita os desejos dos sujeitos, criando estratégias de defesa que o ajudarão a negar ou proteger o próprio sofrimento e com isto, ocorrer uma queda da produtividade e perda de dias de trabalho. 6.6 LIMITAÇÃO DO ESTUDO Nesta pesquisa não foi possível abranger a totalidade de motoristas da empresa (247), sendo assim, a amostra estudada (n=55) foi selecionada entre os 59 motoristas de uma 111 determinada linha, e correspondeu a 22,3% dos motoristas da empresa. Contando que na cidade do Rio de Janeiro, o total estimado de motoristas equivale a 14.000, o percentual estudado passou para 0,4%; Não foi possível classificar as cefaléias relatadas de acordo com a classificação da SIC pelo modelo do questionário sobre cefaléia aplicado; Não foi possível realizar uma análise por sexo, pois somente um motorista é do sexo feminino. Ela foi excluída da análise estatística, mesmo apresentando características semelhantes ao restante da amostra. 112 7 CONCLUSÃO 1. O levantamento das características do processo e da organização do trabalho da população de motoristas de ônibus permite afirmar que a gestão da empresa estudada investe em Qualidade Total, melhorando as condições de trabalho e diminuindo os fatores de riscos a que estão submetidos estes trabalhadores, diferenciando das características encontradas na literatura. 2. A análise da apresentação dos tipos de dores revela que a presença de dor é alta neste grupo de trabalhadores (65,4%), sendo a cefaléia (44,9%) a dor mais freqüente. Este achado aponta evidências contrárias à colocação da lombalgia como queixa principal, reforçando a necessidade de mais pesquisas epidemiológicas abrangendo cefaléia. 3. A prevalência da cefaléia, independente da classificação, é alta entre os motoristas (56,4%), principalmente na faixa etária de 31 a 40 anos, sendo semelhante ao que ocorre na população geral. 4. O uso excessivo de medicações sintomáticas foi freqüente no grupo de motoristas com cefaléia, apresentando diferença significativa em relação aos achados na literatura. Esta característica indica a falta de assistência médica especializada capaz de gerar um tratamento adequado para cefaléia na população de baixo padrão socioeconômico. 5. O único caso (n=1) com alteração da freqüência da cefaléia após acidente com o ônibus, mostra evidências de que os acidentes de trânsito sofridos pela população estudada não sugerem traumatismo de cabeça. 113 6. A verificação dos dados colhidos pelo SF36 permite afirmar que a cefaléia é causa de redução da QVCS. O grupo de motoristas com cefaléia apresentou uma redução em todos os componentes deste questionário quando comparado com o grupo sem cefaléia. A mesma redução foi observada nos motoristas com cefaléia e outras dores. 7. A análise do absenteísmo auto-referido devido à cefaléia (0%) nos revela que a perda de trabalho relatada não apresenta uma relação de causa e efeito, sendo necessários mais estudos para evidenciar uma possível queda da produtividade gerada pela cefaléia, tendo em vista que estes motoristas trabalham mesmo com dor. 114 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERTI A, SARCHIELLI P, MAZZOTTA G, GALLAI V. Event-Relates Potentials in Posttraumatic Headache. Headache 2001;41:579-585. BAANDRUP L, JENSEN R. Chronic Post-traumatic Headache – A Clinical Analysis in Relation to the International Headache Classification 2nd Edition. Cephalalgia 2004;25:132138. BAREA LLM, FORCELINI CM. A Epidemiologia das Cefaléias Primárias. In: SPECIALI JG, DA SILVA WF. Cefaléias. São Paulo: Lemos Editorial, 2002. BEGHI E, MONTICELLI ML, AMORUSO L, ZARRELLI NM & THE ITALIAN GENERAL PRACTITIONER STUDY GROUP. 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São Paulo: Lemos Editorial, 2002. 125 ANEXOS 126 ANEXO A CARTA DE SOLICITAÇÃO À EMPRESA 127 Rio de Janeiro,--- de março de 2004 Ao Diretor da Empresa de Transporte Coletivo Urbano da Cidade do Rio de Janeiro Venho apresentar o aluno do mestrado, Liriana Magalhães Carneiro, sob minha orientação junto ao Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A tese em elaboração, com o título: “Prevalência e Impacto da Cefaléia na População de Motoristas de uma Empresa de Transporte Coletivo Urbano”, é parte de um programa de investigação que tem como objetivo avaliar e caracterizar a dinâmica do trabalho e sua organização diante do quadro de cefaléia, assim como, o impacto na produtividade. Solicito a sua permissão para que o aluno possa proceder a coleta de dados prevista pela metodologia da investigação junto aos motoristas desta empresa, que acredito apresentar as condições e características do trabalho necessárias aos objetivos propostos no estudo. A relevância deste estudo será contribuir em benefícios para a saúde do trabalhador – motorista. Todas as questões éticas em pesquisas que envolvem seres humanos serão resguardadas conforme a Resolução 196/96. No estudo será preservada a integridade do trabalhador e da empresa. Atenciosamente ANAMARIA TESTA TEMBELLINI Professora Adjunta/NESC/UFRJ Chefe do Departamento de Medicina Preventiva/ Faculdade de Medicina/ UFRJ 128 ANEXO B TERMO DE CONSENTIMENTO 129 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO O Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, através do Curso de Mestrado em Saúde Coletiva, convida você trabalhador da empresa____________ (nome da empresa) a participar do estudo desenvolvido pela pesquisadora Liriana Magalhães Carneiro, sob orientação da professora Anamaria Testa Tambellini, cujo título é: “Prevalência e Impacto da Cefaléia na População de Motoristas de uma Empresa de Transporte Coletivo do Municípo do Rio de Janeiro”. O objetivo deste estudo é estudar a prevalência da cefaléia e determinar seu impacto na qualidade de vida e no desempenho profissional da população de motoristas da empresa de transporte coletivo municipal e conhecer de que forma as atividades de trabalho levam aos problemas de saúde, no nosso caso, de como o processo de trabalho pode contribuir para a cronificação da dor. Nesta pesquisa teremos a necessidade de observar o processo de trabalho e de realizar entrevistas. A participação nesta pesquisa é voluntária e sua recusa não implicará em qualquer perda. Os dados colhidos serão inteiramente sigilosos, avaliados apenas pelo pesquisador e sua orientadora. A identidade dos participantes será preservada. Os resultados, em sua totalidade, serão publicados em literatura científica especializada. Será marcada uma data para divulgação dos resultados e, caso seja detectada alguma anormalidade, os participantes da pesquisa serão encaminhados para avaliação clínica. Pesquisadora: Liriana Magalhães Carneiro Orientadora: Anamaria Testa Tambellini Declaro estar de acordo em participar da pesquisa Rio de Janeiro, __________________________________2005 Nome:____________________________________________________________ Assinatura:________________________________________________________ Identidade:_________________________________ 130 ANEXO C ESTUDO DA CEFALÉIA 131 ANEXO C – PARTE 1 DADOS GERAIS DOS MOTORISTAS Idade_________________ P.1 – Nível de Escolaridade 1) Alfabeto 2) Primário Incompleto 3) Primário Completo 4) Ginásio incompleto 5) Ginásio Completo 6) 2º Grau Incompleto 7) 2º Grau Completo 8) Superior Incompleto 9) Superior Completo P.2 – Estado Civil 1) Solteiro 2) Casado 3) Separado 4) Divorciado 5) Viúvo P.3 – Participação na renda da casa 1) Principal ou único responsável pelo sustento da casa 2) Contribui no sustento da casa, dividindo as despesas P.4 – Renda 1) Menos de 500 reais 2) De 500 a 1.000 reais 3) Mais de 1.000 reais 132 P.5 – Tempo de Trabalho como Motorista 1. Menos de 1 ano 2. Entre 1 e 3 anos 3. De 4 a 6 anos 4. De 7 a 10 anos 5. Mais de 10 anos Quantos anos?_______________ P.6 – Turno de Trabalho 1. Diurno 2. Noturno P. 7 – Faz horas extras? 1. Não 2. Sim Quantas?_____________ P.8 – Horas de Trabalho em Média por Dia 1. Até 8 horas 2. De 8 a 12 horas 3. Mais de 12 horas P.9 – Qual o número de viagens num dia de trabalho? ______________________________________ P.10 – Você faz intervalos entre cada viagem? 1. Sim 2. Não (ir para a pergunta 12) P.11 – Qual o tempo de intervalo entre cada viagem? 1. Até 5 minutos 2. De 5 a 10 minutos 3. De 10 a 15 minutos 4. Mais de 15 minutos 133 P.12 – Qual o tempo gasto para chegar ao local do trabalho 1. Menos de 1 hora 2. De 1 a 2 horas 3. De 2 a 3 horas 4. Mais de 3 horas P.13 – Qual o meio que você utiliza para chegar ao trabalho 1. Caminho, por morar próximo ao trabalho 2. Ônibus 3. Trem 4. Ônibus e trem 5. Outros Especificar______________________________ P.14 – Você já foi assaltado durante o trabalho? 1. Sim 2. Não (ir para a pergunta 18) P. 15 – Houve algum tipo de agressão? 1. Não 2. Sim Qual foi o tipo____________________________________________ P.16 – Você foi ferido, teve que ir ao médico ou hospital? 1. Não 2. Sim O que aconteceu? P.17 – Você já teve Acidente com o Ônibus? 1. Não (ir para a P.20) 2. Sim P.18 – Quais as conseqüências deste acidente, foi prejudicial à saúde, chegou a ir para o hospital? ________________________________________________________________ 134 P.19 – Nos últimos meses, apresentou algum tipo de dor dentro ou fora do trabalho? 1. Não 2. Sim Aonde é ou são a(s) dor(es)?_________________________________ P.20 – Fator Desgastante no Trabalho 1. Temperatura elevada 2. Excesso de ruídos 3. Trânsito 4. Violência 5. Poluição 6. Passageiros 7. Cadeira e/ou outras instalações 8. Dor 9. Outros ____________________________________ P.21 – Satisfação com o Trabalho 1. Excelente 2. Muito bom 3. Bom 4. Ruim 5. Péssimo 135 ANEXO C – PARTE 2 QUADRO GERAL DA DOR DE CABEÇA P.22 – Você tem tido dor de cabeça? 1. Sim 2. Não P.23 – Há quanto tempo tem tido Dor de Cabeça 1. Menos de 6 meses 2. Entre 6 meses e 1 ano 3. Entre 1 e 3 anos 4. De 4 a 10 anos 5. Mais de 10 anos – Com qual idade começou a ter dor de cabeça?____________ P.24 - Sua dor de cabeça ficou mais freqüente (tem vindo mais vezes) ou é mais forte de algum tempo para cá? 1) Não 2) Sim Há quanto tempo?_______________________ P.25 – Lembra se após o acidente com o ônibus surgiu uma dor de cabeça? (apenas para quem respondeu sim na P.17) 1) Não 2) Sim Quantos dias após o acidente surgiu esta dor de cabeça? __________ P.26 – Se SIM na P.25, houve alguma mudança na intensidade, no local ou na freqüência da sua dor de cabeça antiga após o acidente? 1) Não 2) Sim Qual foi a mudança observada?_________________________ P.27 – A dor de cabeça que começou após o acidente ainda existe? 1. Sim 2. Não Quanto tempo ela durou?______________________________ 136 P.28 – Quantas vezes a sua dor de cabeça acontece? 1) Menos de 1 vez por semana 2) Entre 1 e 2 vezes por semana 3) Entre 3 e 6 vezes por semana 4) Diariamente P.29 – Sua dor de cabeça atual, geralmente 1) Pulsa/lateja 2) Peso/pressão 3) Queima/arde 4) Outro tipo. Qual?________________________________ P.30 – Como você classifica a intensidade da sua dor de cabeça atual 1) Leve 2) Moderada, média 3) Intensa, forte P.31 – Localização da sua dor de cabeça atual. 1) Na fronte 2) Na região lateral da cabeça 3) Na fronte e na lateral da cabeça 4) Só de um lado, sempre do mesmo lado? Qual? ______________ 5) Só de um lado sendo cada vez de um lado? 6) No topo da cabeça 7) Na parte de trás da cabeça 8) Difusa em toda cabeça P.32 – Sua dor de cabeça atual, geralmente 1) Começa leve e aumenta 2) Começa forte e diminui 3) Começa e fica igual em intensidade 137 P.33 – Sua dor de cabeça atual, geralmente 1) É acompanhada de enjôo 2) É acompanhada de vômitos 3) A claridade incomoda mais do que quando está sem dor nenhuma 4) Os barulhos incomodam mais do que quando está sem dor nenhuma 5) Os cheiros incomodam mais do que quando está sem dor nenhuma P.34 – Durante a sua dor atual, você geralmente 1) Prefere caminhar ou se exercitar 2) Prefere ficar quieto e recolhido a um canto escuro e tranqüilo 3) É indiferente a isto P.35 – Duração da dor de cabeça atual, geralmente 1) Dura até 2 horas (mesmo com remédio) 2) De 2 a 4 horas (mesmo com remédio) 3) De 5 a 6 horas (mesmo com remédio) 4) De 7 a 10 horas (mesmo com remédio) 5) Dura + de 12 horas (mesmo com remédio) 6) Dura + de 24 horas (mesmo com remédio) P.36 – Você geralmente toma remédios para a sua dor de cabeça? 1) Não 2) Sim Qual? _______________________________________________ P.37 – Quantas vezes por semana você geralmente toma remédios para a dor de cabeça? 1) Menos de 1 vez a cada 10 dias 2) 1 dia por semana 3) 2 dias por semana 4) 3 dias por semana 5) 4 dias por semana 6) 5 dias por semana 7) 6 dias por semana 8) 7 dias por semana 138 P.38 – Alguém tem dor de cabeça na sua família? 1) Não 2) Sim Quem? _______________________________________________ P.39 – Você já faltou ao trabalho por causa da dor de cabeça? 1) Não 2) Sim Quantos dias nos últimos três meses? _______________________________________________ 139 ANEXO C – PARTE 3 – SF-36 Instruções: Esta pesquisa questiona você sobre sua saúde. Os dados a serem fornecidos nos manterão informados sobre como você se sente e sobre quão bem você é capaz de fazer suas atividades de vida diária. Responda a cada questão marcando a resposta conforme indicado. Caso você esteja inseguro em como responder, por favor tente responder o melhor que puder. 1. Em geral, você diria que sua saúde é: (circule uma) Excelente .................................................................................................................................... 1 Muito boa .................................................................................................................................... 2 Boa ............................................................................................................................................. 3 Ruim ........................................................................................................................................... 4 Muito ruim ................................................................................................................................... 5 2. Se comparada há um ano, como você classificaria sua saúde em geral, agora? (circule uma) Muito melhor agora do que há um ano .......................................................................................1 Um pouco melhor agora do que há um ano ............................................................................... 2 Quase a mesma de um ano atrás .............................................................................................. 3 Um pouco pior agora do que há um ano .................................................................................... 4 Muito pior agora do que há um ano ........................................................................................... 5 140 3. Os itens abaixo são sobre atividades que você poderia fazer atualmente durante um dia comum. Devido à sua saúde, você tem dificuldade para fazer essas atividades? Neste caso, quanto? (circule um número em cada linha) SIM Dificulta muito SIM Dificulta um pouco NÃO Não dificulta de modo algum a) Atividades vigorosas, que exigem muito esforço, tais como correr, levantar objetos pesados, participar em esportes árduos 1 2 3 b) Atividades moderadas, tais como mover uma mesa, passar aspirador de pó, jogar bola, varrer a casa 1 2 3 1 2 3 c) Levantar ou carregar mantimentos 1 2 3 d) Subir vários lances de escada 1 2 3 e) Subir um lance de escada 1 2 3 f) Curvar-se, ajoelhar-se ou dobrar-se 1 2 3 g) Andar mais de 1 quilômetro 1 2 3 h) Andar vários quarteirões 1 2 3 i) Andar um quarteirão 1 2 3 j) Tomar banho ou vestir-se 1 2 3 Atividades 141 4. Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos problemas abaixo com o seu trabalho ou com alguma atividade diária regular, como conseqüência de sua saúde física? (circule um número para cada linha) SIM NÃO a) Você diminuiu a quantidade de tempo que se dedicava ao seu trabalho ou a outras atividades? 1 2 b) Realizou menos tarefas do que você gostaria? 1 2 c) Esteve limitado no seu tipo de trabalho ou em outras atividades? 1 2 d) Teve dificuldade de fazer seu trabalho ou outras atividades (p.ex.: necessitou de um esforço extra) ? 1 2 5. Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas com o seu trabalho ou outra atividade regular diária, como conseqüência de algum problema emocional (como se sentir deprimido ou ansioso)? (circule uma em cada linha) SIM NÃO a) Você diminuiu a quantidade de tempo que se dedicava ao seu trabalho ou a outras atividades? 1 2 b) Realizou menos tarefas do que você gostaria? 1 2 c) Não trabalhou ou não fez qualquer das atividades com tanto cuidado como geralmente faz? 1 2 142 6. Durante as últimas 4 semanas, de que maneira sua saúde física ou seus problemas emocionais interferiram nas suas atividades sociais normais, em relação à família, aos vizinhos, aos amigos ou em grupo? (circule uma) De forma nenhuma.......................................................................................................................... 1 Ligeiramente ................................................................................................................................... 2 Moderadamente ............................................................................................................................. 3 Bastante ......................................................................................................................................... 4 Extremamente ................................................................................................................................ 5 7. Quanta dor no corpo você teve durante as últimas 4 semanas? (circule uma) Nenhuma ........................................................................................................................................ 1 Muito leve ....................................................................................................................................... 2 Leve ................................................................................................................................................ 3 Moderada ....................................................................................................................................... 4 Grave .............................................................................................................................................. 5 Muito grave ..................................................................................................................................... 6 8. Durante as últimas 4 semanas, quanto a dor interferiu no seu trabalho normal (incluindo tanto o trabalho fora de casa como o de dentro de casa)? (circule uma) De maneira alguma ........................................................................................................................ 1 Um pouco ....................................................................................................................................... 2 Moderadamente ............................................................................................................................. 3 Bastante ......................................................................................................................................... 4 Extremamente ................................................................................................................................ 5 143 9. Estas questões são sobre como você se sente e como tudo tem acontecido com você durante as últimas 4 semanas. Para cada questão, por favor dê uma resposta que mais se aproxime da maneira como você se sente, em relação às últimas 4 semanas. (circule um número para cada linha) Uma pequena Nunca parte do tempo Todo o tempo A maior parte do tempo Uma boa parte do tempo Alguma parte do tempo a) Quanto tempo você tem se sentido cheio de vigor, cheio de vontade, cheio de força? 1 2 3 4 5 6 b) Quanto tempo você tem se sentido uma pessoa muito nervosa? 1 2 3 4 5 6 c) Quanto tempo você tem se sentido tão deprimido que nada pode animá-lo? 1 2 3 4 5 6 d) Quanto tempo você tem se sentido calmo ou tranqüilo? 1 2 3 4 5 6 e) Quanto tempo você tem se sentido com muita energia? 1 2 3 4 5 6 f) Quanto tempo você tem se sentido desanimado e abatido? 1 2 3 4 5 6 g) Quanto tempo você tem se sentido esgotado? 1 2 3 4 5 6 h) Quanto tempo você tem se sentido uma pessoa feliz? 1 2 3 4 5 6 i) Quanto tempo você tem se sentido cansado? 1 2 3 4 5 6 144 10. Durante as últimas 4 semanas, quanto do seu tempo, sua saúde física ou problemas emocionais interferiram nas suas atividades sociais (como visitar amigos, parentes, etc.)? (circule uma) Todo o tempo ................................................................................................................................. 1 A maior parte do tempo .................................................................................................................. 2 Alguma parte do tempo .................................................................................................................. 3 Uma pequena parte do tempo ....................................................................................................... 4 Nenhuma parte do tempo ............................................................................................................... 5 11. O quanto verdadeiro ou falso é cada uma das afirmações para você? (circule um número em cada linha) Definitivamente verdadeiro A maioria das vezes verdadeiro Não sei A maioria das vezes falsa Definitivamente falsa a) Eu costumo adoecer um pouco mais facilmente que as outras pessoas. 1 2 3 4 5 b) Eu sou tão saudável quanto qualquer pessoa que eu conheço. 1 2 3 4 5 c) Eu acho que a minha saúde vai piorar. 1 2 3 4 5 d) Minha saúde é excelente. 1 2 3 4 5 145 ANEXO D PONTUAÇÃO DO QUESTIONÁRIO SF-36 146 Pontuação do questionário SF-36 Questão Pontuação 01 1= > 5,0 2= > 4,4 3= > 3,4 4= > 2,0 5= > 1,0 02 Soma Normal 03 Soma Normal 04 Soma Normal 05 Soma Normal 06 1= > 5 07 1= > 6,0 2= > 4 3= > 3 2= > 5,4 4= > 2 3= > 4,2 5= > 1 4= > 3,1 5= > 2,2 6= > 1,0 Se 8 = > 1 e 7 = > 1 = = = = = = >>>>>> 6 Se 8 = > 1 e 7 = > 2 a 6 = = = = = >>>>>> 5 Se 8 = > 2 e 7 = > 2 a 6 = = = = = >>>>>> 4 Se 8 = > 3 e 7 = > 2 a 6 = = = = = >>>>>> 3 Se 8 = > 4 e 7 = > 2 a 6 = = = = = >>>>>> 2 Se 8 = > 5 e 7 = > 2 a 6 = = = = = >>>>>> 1 08 Se a questão 7 não for respondida, o escore da questão 8 passa a ser o seguinte: 1= > 6.0 2= > 4,75 3= > 3,5 4= > 2,25 5= > 1,0 a,d,e,h = valores contrários (1=6, 2=5, 3=3, 4=3, 5=2, 6=1) 09 Vitalidade= a+e+g+i 10 Saúde mental= b+c+d+f+h Soma Normal a, c = valores normais 11 b, d = valores contrários (1=5, 2=4, 3=3, 4=2, 5=1) 147 Cálculo do Raw Scale (0 a 100) Questão Limites Score Range 3 (a+b+c+d+e+f+g+ h+i+j) 10 , 30 20 4 (a+b+c+d) 4,8 4 Dor 7+8 2 , 12 10 Estado geral de saúde 1 + 11 5 , 25 20 9 (a+e+g+i) 4 , 24 20 6 + 10 2 , 10 8 5 (a+b+c) 3,6 3 9 (b+c+d+f+h) 5 , 30 25 Capacidade funcional Aspectos físicos Vitalidade Aspectos sociais Aspecto emocional Saúde mental Raw Scale Ex.: Item = [Valor obtido – Valor mais baixo] x 100 Variação Ex.: Capacidade funcional = 21 Valor mais baixo = 10 Ex.: 21 – 10 x 100 = 55 20 Variação = 20 Obs.:: A questão nº 2 não entra no cálculo dos domínios. Dados perdidos Se responder mais de 50% = substituir o valor pela média. 148 ANEXO E PROCESSO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO 149 OBSERVAÇÃO DIRETA DO PROCESSO DE TRABALHO Data: ______________________ 1. Linha Observada 2. Previsão do Tempo de Viagem (ida e volta) 3. Horário: Início _______________ Término: ___________________ 4. Linha Observada 5. Turno de Trabalho 6. Quantas viagens o motorista realiza todos os dias? 7. Quanto tempo o motorista permanece sentado durante a sua jornada de trabalho? 8. Quantas vezes o motorista levanta durante o período de um trajeto? 9. Descrição da postura do indivíduo na realização da atividade de dirigir 10. Número de paradas nos pontos e sinais fechados durante o trajeto de ida e volta 11. Intervalo entre as viagens 12. Conversa entre os motoristas, passageiros e cobradores 13. Motorista utiliza cinto de segurança? 14. Há queixas de fadiga física ou mental? 15. Condições da cadeira do motorista 16. Os objetos e mecanismos estão situados de forma que o motorista possa realizar os movimentos necessários e manter uma boa postura? 17. Condições de conservação geral do ônibus 18. Há ar condicionado no ônibus? 19. A roleta de cobrança é na frente ou atrás? 150 ANEXO F CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALÉIAS 151 Classificação Internacional das Cefaléias Código SIC Código OMS Diagnóstico CID-Cf-II CID-10NA [e código CID-10 etiológico para cefaléias secundárias] 1 G43 Migrânea 1.1 G43.0 Migrânea sem aura 1.2 G43.1 Migrânea com aura 1.2.1 G43.10 Aura típica com cefaléia migranosa 1.2.2 G43.10 Aura típica com cefaléia não-migranosa 1.2.3 G43.104 Aura típica sem cefaléia 1.2.4 G43.105 Migrânea hemiplégica familiar (MHF) 1.2.5 G43.105 Migrânea hemiplégica esporádica 1.2.6 G43.103 Migrânea do tipo basilar 1.3 G43.82 1.3.1 G43.82 Vômitos cíclicos 1.3.2 G43.820 Migrânea abdominal 1.3.3 G43.821 Vertigem paroxística benigna da infância 1.4 G43.81 Migrânea retiniana 1.5 G43.3 Complicações da migrânea 1.5.1 G43.3 Migrânea crônica 1.5.2 G43.2 Estado migranoso 1.5.3 G43.3 Aura persistente sem infarto 1.5.4 G43.3 Infarto migranoso 1.5.5 G43.3 + G40.X OU G41.X Crise epiléptica desencadeada por migrânea 1.6 G43.83 1.6.1 G43.83 Provável migrânea sem aura 1.6.2 G43.83 Provável migrânea com aura 1.6.5 G43.83 Provável migrânea crônica 2 G44.2 Cefaléia do tipo tensional (CTT) 2.1 G44.2 Cefaléia do tipo tensional episódica infreqüente 2.1.1 G44.20 Cefaléia do tipo tensional episódica infreqüente associada a dolorimento pericraniano 2.1.2 G44.21 Cefaléia do tipo tensional episódica infreqüente não-associada a dolorimento pericraniano 2.2 G44.2 2.2.1 G44.20 Síndromes periódicas da infância comumente precursoras de migrânea Provável migrânea Cefaléia do tipo tensional episódica freqüente Cefaléia do tipo tensional episódica freqüente associada a dolorimento pericraniano 152 2.2.2 G44.21 Cefaléia do tipo tensional episódica freqüente não associada a dolorimento pericraniano 2.3 G44.2 2.3.1 G44.22 Cefaléia do tipo tensional crônica associada a dolorimento pericraniano 2.3.2 G44.23 Cefaléia do tipo tensional crônica não-associada a dolorimento pericraniano 2.4 G44.28 2.4.1 G44.28 Provável cefaléia do tipo tensional episódica infreqüente 2.4.2 G44.28 Provável cefaléia do tipo tensional episódica freqüente 2.4.3 G44.28 Provável cefaléia do tipo tensional crônica 3 G44.0 Cefaléia em salvas e outras cefaléias trigêmino-autonônicas 3.1 G44.0 Cefaléia em salvas 3.1.1 G44.01 Cefaléia em salvas episódica 3.1.2 G44.02 Cefaléia em salvas crônica 3.2 G44.03 3.2.1 G44.03 Hemicrania proxística episódica 3.2.2 G44.03 Hemicrania paroxística crônica (HPC) 3.3 G44.08 Cefaléia de curta duração, unilateral, neuralgiforme com hiperemia conjuntival e lacrimejamento (SUNCT) 3.4 G44.08 Provável cefaléia trigêmino-autonômica 3.4.1 G44.08 Provável cefaléia em salvas 3.4.2 G44.08 Provável hemicrania paroxística 3.4.3 G44.08 Provável SUNCT 4 G44.80 Outras cefaléias primárias 4.1 G44.800 Cefaléia primária em facada 4.2 G44.803 Cefaléia primária da tosse 4.3 G44.804 Cefaléia primária do esforço físico 4.4 G44.805 Cefaléia primária associada à atividade sexual 4.4.1 G44.805 Cefaléia pré-orgástica 4.4.2 G44.805 Cefaléia orgástica 4.5 G44.80 Cefaléia hípnica 4.6 G44.80 Cefaléia trovoada primária 4.7 G44.80 Hemicrania contínua 4.8 G44.2 Cefaléia persistente e diária desde o início (CPDI) 5 G44.88 Cefaléia atribuída a trauma cefálico e/ou cervical 5.1 G44.880 Cefaléia pós-traumática aguda Cefaléia do tipo tensional crônica Provável cefaléia do tipo tensional Hemicrania paroxística 153 5.1.1 G44.880 Cefaléia pós-traumática aguda atribuída a lesão cefálica moderada ou grave (S06) 5.1.2 G44.880 Cefaléia pós-traumática aguda atribuída a lesão cefálica leve (S09.9) 5.2 G44.3 5.2.1 G44.30 Cefaléia pós-traumática crônica atribuída a lesão cefálica moderada ou grave (S06) 5.2.2 G44.31 Cefaléia pós-traumática crônica atribuída a lesão cefálica leve (S09.9) 5.3 G44.841 Cefaléia aguda atribuída a lesão chicotada (S13.4) 5.4 G44.841 Cefaléia crônica atribuída a lesão em chicotada (S13.4) 5.5 G44.88 Cefaléia atribuída a hematoma intracraniano traumático 5.5.1 G44.88 Cefaléia atribuída a hematoma epidural (S06.4) 5.5.2 G44.88 Cefaléia atribuída a hematoma subdural (S06.5) 5.6 G44.88 5.6.1 G44.88 Cefaléia aguda atribuída a outro trauma cefálico e/ou cervical (S06) 5.6.2 G44.88 Cefaléia crônica atribuída a outro trauma cefálico e/ou cervical (S06) 5.7 G44.88 5.7.1 G44.880 Cefaléia aguda pós-craniotomia 5.7.2 G44.30 Cefaléia crônica pós-craniotomia 6 G44.81 Cefaléia atribuída a doença vascular craniana ou cervical 6.1 G44.810 Cefaléia atribuída a acidente vascular encefálico isquêmico ou ataque isquêmico transitório 6.1.1 G44.810 Cefaléia atribuída a acidente vascular encefálico isquêmico (infarto cerebral) (I63) 6.1.2 G44.810 Cefaléia atribuída a ataque isquêmico transitório (AIT) (G45) 6.2 G44.810 Cefaléia atribuída a hemorragia intracraniana não-traumática (I62) 6.2.1 G44.810 Cefaléia atribuída a hemorragia intracerebral (I61) 6.2.2 G44.810 Cefaléia atribuída a hemorragia subaracnóidea (HSA) (I60) 6.3 G44.811 6.3.1 G44.811 Cefaléia atribuída a aneurisma sacular (Q28.3) 6.3.2 G44.811 Cefaléia atribuída a malformação arteriovenosa (MAV) (Q28.2) 6.3.3 G44.811 Cefaléia atribuída a fístula arteriovenosa dural (I67.1) 6.3.4 G44.811 Cefaléia atribuída a angioma cavernoso (D18.0) 6.3.5 G44.811 Cefaléia atribuída a angiomatose encéfalo-trigeminal ou leptomeníngea (síndrome de Sturge-Weber) (Q85.8) 6.4 G44.812 6.4.1 G44.812 Cefaléia atribuída a arterite de células gigantes (ACG) (M31.6) 6.4.2 G44.812 Cefaléia atribuída a angiite primária do sistema nervoso central Cefaléia pós-traumática crônica Cefaléia atribuída a outro trauma cefálico e/ou cervical (S06) Cefaléia pós-craniotomia Cefaléia atribuída a malformação vascular não-rota (Q28) Cefaléia atribuída a arterite (M31) 154 (SNC) (I67.7) 6.4.3 G44.812 Cefaléia atribuída a angiite secundária do sistema nervoso central (SNC) (I68.2) 6.5 G44.810 Dor da artéria carótida ou vertebral (I63.0, I63.2, I65.0 ou I67.0) 6.5.1 G44.810 Cefaléia ou dor cervical ou facial atribuída a dissecção arterial (I67.0) 6.5.2 G44.814 Cefaléia pós-endarterectomia (I97.8) 6.5.3 G44.810 Cefaléia da angioplastia carotídea 6.5.4 G44.810 Cefaléia atribuída a procedimentos endovasculares intracranianos 6.5.5 G44.810 Cefaléia da angiografia 6.6 G44.810 Cefaléia atribuída a trombose venosa cerebral ( TVC) (I63.6) 6.7 G44.81 Cefaléia atribuída a outra doença vascular intracraniana 6.7.1 G44.81 Arteriopatia cerebral autossômica dominante com infartos subcorticais e leucoencefalopatia (CADASIL) (I67.8) 6.7.2 G44.81 Encefalopatia mitocondrial, acidose lática e episódios semelhantes a acidente vascular encefálico (MELAS) (G31.81) 6.7.3 G44.81 Cefaléia atribuída a angiopatia benigna do sistema nervoso central (I99) 6.7.4 G44.81 Cefaléia atribuída a apoplexia pituitária (E23.6) 7 G44.82 Cefaléia atribuída a transtorno intracraniano não-vascular 7.1 G44.820 Cefaléia atribuída a hipertensão liquórica 7.1.1 G44.820 Cefaléia atribuída a hipertensão intracraniana idiopática (HII) 7.1.2 G44.820 Cefaléia atribuída a hipertensão intracraniana secundária a causas metabólica, tóxica ou hormonal 7.1.3 G44.820 G91.8 Cefaléia atribuída a hipertensão intracraniana secundária a hidrocefalia 7.2 G44.820 Cefaléia atribuída à hipotensão liguórica 7.2.1 G44.820 Cefaléia pós-punção dural (G97.0) 7.2.2 G44.820 Cefaléia por fístula liquórica (G96.0) 7.2.3 G44.820 Cefaléia atribuída a hipotensão liquórica espontânea (ou idiopática) 7.3 G44.82 7.3.1 G44.823 Cefaléia atribuída neurossarcoidose (D86.8) 7.3.2 G44.823 Cefaléia atribuída a meningite asséptica (não-infecciosa) [codificar para especificar a etiologia] 7.3.3 G44.823 Cefaléia atribuída a outra doença inflamatória não-infecciosa [codificar para especificar a etiologia] 7.3.4 G44.82 Cefaléia atribuída a hipofisite linfocítica (E23.6) 7.4 G44.822 Cefaléia atribuída a neoplasia intracraniana 7.4.1 G44.822 Cefaléia atribuída a hipertensão intracraniana ou hidrocefalia causada por neoplasia [codificar para especificar a neoplasia] 7.4.2 G44.822 Cefaléia atribuída diretamente a neoplasia [codificar para Cefaléia atribuída a doença inflamatória não-infecciosa 155 especificar a neoplasia] 7.4.3 G44.822 Cefaléia atribuída a meningite carcinomatosa [C79.3] 7.4.4 G44.822 7.5 G44.824 Cefaléia atribuída a injeção intratecal [G97.8] 7.6 G44.82 Cefaléia atribuída a crise epiléptica [G40.x ou G41.x para especificar o tipo de crise] 7.6.1 G44.82 Hemicrania epiléptica [G40.x ou G41.x para especificar o tipo de crise] 7.6.2 G44.82 Cefaléia pós-crise epiléptica [G40.x ou G41.x para especificar o tipo de crise] 7.7 G44.82 Cefaléia atribuída a malformação de Chiari tipo I (MC1) [Q07.0] 7.8 G44.82 Síndrome de cefaléia e déficits neurológicos transitórios com linfocitose liquórica (CDNL) 7.9 G44.82 Cefaléia atribuída a outro transtorno não-vascular intracraniano 8 G44.4 OU G44.83 Cefaléia atribuída a uma substância ou a sua supressão 8.1 G44.40 Cefaléia induzida pelo uso ou exposição aguda a substância 8.1.1 G44.400 8.1.1.1 G44.400 Cefaléia imediata induzida por doador de NO 8.1.1.2 G44.400 Cefaléia tardia induzida por doador de NO 8.1.2 G44.40 Cefaléia induzida por inibidor da fosfodiesterase (FDE) [X44] 8.1.3 G44.402 Cefaléia induzida por monóxido de carbono [X47] 8.1.4 G44.83 Cefaléia induzida por álcool [F10] 8.1.4.1 G44.83 Cefaléia imediata induzida por álcool [F10] 8.1.4.2 G44.83 Cefaléia tardia induzida por álcool [F10] 8.1.5 G44.4 8.1.5.1 G44.401 8.1.6 G44.83 Cefaléia induzida por cocaína [F14] 8.1.7 G44.83 Cefaléia induzida por maconha [F12] 8.1.8 G44.83 Cefaléia induzida por histamina [X44] 8.1.8.1 G44.40 Cefaléia imediata induzida por histamina [X44] 8.1.8.2 G44.40 Cefaléia tardia induzida por histamina [X44] 8.1.9 G44.40 Cefaléia induzida por peptídeo relacionado com o gene da calcitonina (CGRP) [X44] 8.1.9.1 G44.40 Cefaléia imediata induzida por CGRP [X44] 8.1.9.2 G44.40 Cefaléia tardia induzida por CGRP [X44] 8.1.10 G44.41 Cefaléia como efeito adverso agudo atribuído a medicação usada para outras indicações [codificar para especificar a substância] 8.1.11 G44.4 OU G44.83 Cefaléia induzida pelo uso ou exposição aguda a outra substância [codificar para especificar a substância] Cefaléia atribuída a hiper ou hipossecreção hipotalâmica ou hipofisária [E23.0] Cefaléia induzida por doador de óxido nítrico (NO) [X44] Cefaléia induzida por componentes alimentares e aditivos Cefaléia induzida por glutamato monossódico [X47] 156 8.2 G44.41 OU G44.83 8.2.1 G44.411 Cefaléia por uso excessivo de ergotamina [Y52.5] 8.2.2 G44.41 Cefaléia por uso excessivo de triptanos 8.2.3 G44.410 Cefaléia por uso excessivo de analgésicos [F55.2] 8.2.4 G44.83 Cefaléia por uso excessivo de opióides [F11.2] 8.2.5 G44.410 Cefaléia por uso excessivo de combinação de medicamentos [F55.2] 8.2.6 G44.410 Cefaléia atribuída ao uso excessivo de outra medicação [codificar para especificar a substânica] 8.2.7 G44.41 OU G44.83 Provável cefaléia por uso excessivo de medicação [codificar para especificar a substância] 8.3 G44.4 8.3.1 G44.418 8.4 G44.83 8.4.1 G44.83 Cefaléia da supressão de cafeína [F15.3] 8.4.2 G44.83 Cefaléia da supressão de opióides [F11.3] 8.4.3 G44.83 Cefaléia da supressão de estrógenos [Y42.4] 8.4.4 G44.83 Cefaléia atribuída a supressão de outras substâncias de uso crônico [ codificar para especificar a substância] 9 Cefaléia por uso excessivo de medicação (CEM) Cefaléia como efeito adverso atribuído ao uso crônico de medicação [ codificar para especificar a substância] Cefaléia induzida por hormônio exógeno [Y42.4] Cefaléia atribuída a supressão de substância Cefaléia atribuída a infecção 9.1 G44.821 Cefaléia atribuída a infecção intracraniana [G00-G09] 9.1.1 G44.821 Cefaléia atribuída a meningite bacteriana[G00.9] 9.1.2 G44.821 Cefaléia atribuída a meningite linfocitária [G03.9] 9.1.3 G44.821 Cefaléia atribuída a encefalite [G04.9] 9.1.4 G44.821 Cefaléia atribuída a abscesso cerebral [G06.0] 9.1.5 G44.821 Cefaléia atribuída a empiema subdural [G06.2] 9.2 G44.881 9.2.1 G44.881 Cefaléia atribuída a infecção sistêmica bacteriana [codificar para especificar a etiologia] 9.2.2 G44.881 Cefaléia atribuída a infecção sistêmica viral [codificar para especificar a etiologia] 9.2.3 G44.881 Cefaléia atribuída a outra infecção sistêmica [codificar para especificar a etiologia] 9.3 G44.821 Cefaléia atribuída ao HIV/AIDS [B22] 9.4 G44.821 OU G44.881 Cefaléia crônica pós-infecção [codificar para especificar a etiologia] 9.4.1 G44.821 Cefaléia atribuída a infecção sistêmica [A00-897] Cefaléia crônica pós-meningite bacteriana [G00.9] 157 10 G44.882 Cefaléia atribuída a transtorno da homeostase 10.1 G44.882 Cefaléia atribuída a hipóxia e/ou hipercapnia 10.1.1 G44.882 Cefaléia das grandes altitudes [W94] 10.1.2 G44.882 Cefaléia do mergulho 10.1.3 G44.882 Cefaléia da apnéia do sono [G47.3] 10.2 G44.882 Cefaléia da diálise [Y84.1] 10.3 G44.813 Cefaléia atribuída a hipertensão arterial [I10] 10.3.1 G44.813 Cefaléia atribuída a feocromocitoma [D35.0 (benigno) ou C74.1 (maligno)] 10.3.2 G44.813 Cefaléia atribuída a crise hipertensiva sem encefalopatia hipertensiva [I10] 10.3.3 G44.813 Cefaléia atribuída a encefalopatia hipertensiva [I67.4] 10.3.4 G44.813 Cefaléia atribuída a pré-eclâmpsia [O13-O14] 10.3.5 G44.813 Cefaléia atribuída a eclâmpsia [O15] 10.3.6 G44.813 Cefaléia atribuída a resposta pressórica aguda a um agente exógeno [codificar para especificar a etiologia] 10.4 G44.882 Cefaléia atribuída ao hipotireoidismo [E03.9] 10.5 G44.882 Cefaléia atribuída ao jejum [T73.0] 10.6 G44.882 Cefaléia cardíaca [codificar para especificar a etiologia] 10.7 G44.882 Cefaléia atribuída a outro transtorno da homeostase [codificar para especificar a etiologia] 11 G44.84 Cefaléia ou dor facial atribuída a transtorno do crânio, pescoço, olhos, ouvidos, nariz, seios da face, dentes, boca ou outras estruturas faciais ou cranianas 11.1 G44.840 Cefaléia atribuída a transtorno de osso craniano [M80-M89.8] 11.2 G44.841 Cefaléia atribuída a transtorno do pescoço [M99] 11.2.1 G44.841 Cefaléia cervicogênica [M99] 11.2.2 G44.842 Cefaléia atribuída a tendinite retrofaríngea [M79.8] 11.2.3 G44.841 Cefaléia atribuída a distonia craniocervical [G24] 11.3 G44.843 11.3.1 G44.843 Cefaléia atribuída a glaucoma agudo [H40] 11.3.2 G44.843 Cefaléia atribuída a erros de refração [H52] 11.3.3 G44.843 Cefaléia atribuída a heteroforia ou heterotropia (estrabismo latente ou manifesto) [H50.5] 11.3.4 G44.843 Cefaléia atribuída a inflamação ocular [codificar para especificar a etiologia] 11.4 G44.844 Cefaléia atribuída a transtorno dos ouvidos [ H60-H95] 11.5 G44.845 Cefaléia atribuída a rinossinusite [J01] 11.6 G44.846 Cefaléia atribuída a transtorno dos dentes, mandíbula ou estruturas relacionadas [K00-K14] 11.7 G44.846 Cefaléia ou dor facial atribuída a transtorno da articulação Cefaléia atribuída a transtorno dos olhos 158 temporomandibular (ATM) [K07.8] 11.8 G44.84 Cefaléia atribuída a outro transtorno do crânio, pescoço, olhos, ouvidos, nariz, seios da face, dentes, boca ou outras estruturas faciais ou cervicais [codificar para especificar etiologia] 12 R51 Cefaléia atribuída a transtorno psiquiátrico 12.1 R51 Cefaléia atribuída a transtorno de somatização 12.2 R51 Cefaléia atribuída a transtorno psicótico [codificar para especificar a etiologia] 13 G44.847,G44. 848 OU G44.85 Neuralgias cranianas e causas centrais de dor facial 13.1 G44.847 Neuralgia do trigêmeo 13.1.1 G44.847 Neuralgia clássica do trigêmeo [G50.00] 13.1.2 G44.847 Neuralgia sintomática do trigêmeo [G53.00] + [codificar para especificar a etiologia] 13.2 G44.847 13.2.1 G44.847 Neuralgia clássica do glossofaríngeo [G52.10] 13.2.2 G44.847 Neuralgia sintomática do glossofaríngeo [G53.830]+[codificar para especificar a etiologia] 13.3 G44.847 Neuralgia do intermédio [G51.80] 13.4 G44.847 Neuralgia do laríngeo superior [G52.20] 13.5 G44.847 Neuralgia do nasociliar [G52.80] 13.6 G44.847 Neuralgia do supra-orbitário [G52.80] 13.7 G44.847 Outras neuralgias de ramos terminais [G52.80] 13.8 G44.847 Neuralgia do occipital [G52.80] 13.9 G44.851 Síndrome pescoço-língua 13.10 G44.801 Cefaléia por compressão externa 13.11 G44.802 Cefaléia por estímulo frio 13.11.1 G44.8020 13.12 G44.848 Dor constante causada por compressão, irritação ou distenção de nervos cranianos ou raízes cervicais superiores por lesão estrutural [ G53.8]+[codificar para especificar a etiologia] 13.13 G44.848 Neurite óptica [H46] 13.14 G44.848 Neuropatia ocular diabética [E10-E14] 13.15 G44.881 OU G44.847 Dor facial ou cefálica atribuída ao herpes-zóster 13.15.1 G44.881 Dor facial ou cefálica atribuída ao herpes-zóster agudo [B02.2] 13.15.2 G44.847 Neuralgia pós-herpética [B02.2] 13.16 G44.850 Síndrome de Tolosa-Hunt 13.17 G43.80 ´´Migrânea`` oftalmoplégica Neuralgia do glossofaríngeo Cefaléia atribuída a aplicação externa de estímulo frio 159 13.18 G44.810 OU G44.847 Causas centrais de dor facial 13.18.1 G44.847 Anestesia dolorosa [G52.800]+[codificar para especificar a etiologia] 13.18.2 G44.810 Dor central pós-acidente vascular encefálico [G46.21] 13.18.3 G44.847 Dor facial atribuída a esclerose múltipla [G35] 13.18.4 G44.847 Dor facial idiopática persistente [G50.1] 13.18.5 G44.847 Síndrome da ardência bucal [codificar para especificar a etiologia] 13.19 G44.847 Outra neuralgia craniana ou outra dor facial centralmente mediada [codificar para especificar etiologia] 14 R51 Outra cefaléia, neuralgia craniana e dor facial central ou primária 14.1 R51 Cefaléia não classificada em outro local 14.2 R51 Cefaléia não especificada