capítulo 2 – mortes no trânsito na cidade do rio de Janeiro
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capítulo 2 – mortes no trânsito na cidade do rio de Janeiro
PCRJ©2013 Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro Eduardo Paes Secretário Municipal de Saúde Hans Fernando Rocha Dohmann Subsecretário de Atenção Primária, Vigilância e Promoção da Saúde Daniel Ricardo Soranz Pinto Superintendente de Promoção da Saúde Márcia Regina Cardoso Torres Coordenadora de Políticas e Ações Intersetoriais Viviane Manso Castello Branco PROJETO MOBILIDADE, SEGURANÇA E CIDADANIA Coordenadoras Viviane Manso Castello Branco (SMS-RJ) Maria Teresa de Castro Lima Pereira (SMS-RJ) SUB-PROJETO “Pesquisa Segurança e Civilidade no Trânsito Urbano do Rio de Janeiro” Coordenadoras Barbara Musumeci Mourão (Cesec/Ucam) Silvia Ramos (Cesec/Ucam) Pesquisadores Alberto Alvadia Filho Eduardo Mattos Daniel de Pádua Ribeirinha Estatístico Leonardo Leão de Paris Estagiária Andréia Cidade Marinho Colaboradora Ilmar Gazé Holguin Consultores Gláucio Ary Dillon Soares, Viviane Manso Castello Branco e Maria Teresa de Castro Lima Pereira Normatização e Revisão Documental Ercilia Mendonça / Núcleo de Publicações e Memória – SMS-RJ Capa Carlos Eduardo Ribeiro (arte) / Mariana Massarani (ilustrações) Projeto Gráfico Carlos Eduardo Ribeiro Diagramação Fagner Santos Sandra Araujo (Assessoria de Comunicação Social da SMS-Rio) Revisão e Copydesk Isabel Levy Luiza Silva Ricardo Villa Verde Rafael Cavadas Rio de Janeiro. Secretaria Municipal de Saúde. Subsecretaria de Atenção Primária, Vigilância e Promoção da Saúde. Superintendência de Promoção da Saúde. Segurança e Civilidade no Trânsito Urbano do Rio de Janeiro. Superintendência de Promoção da Saúde. – Rio de Janeiro: SMS, 2014 (Série D. Programas, Projetos e Relatórios) 80p. ISBN 978-85-86074-36-3 1.Trânsito urbano – Rio de Janeiro. 2. Trânsito – transporte – segurança. 3. Trânsito virtual. 4. Trânsito – Distrito federal. I. Título. II. Série. CDU 614.8+351.81 Catalogação na fonte – Núcleo de Publicações e Memória – SMS/SUBPAV Agradecemos a interlocução com as seguintes instituições e pessoas: SMS – Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro Marina Carvalho Silvana Costa Caetano Márcia Regina Torres Marcio Garcia CET Rio – Companhia de Engenharia de Tráfego da Cidade do Rio de Janeiro Mauro Cezar de Freitas Ferreira Sheila Castro Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância Luciana Phebo e Equipe SMTR – Secretaria Municipal de Transportes e Coppe/UFRJ – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro Eloir de Oliveira Faria ONG Transporte Ativo José Lobo Coppe/UFRJ – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro Romulo Orrico Sindicato dos Rodoviários do Rio de Janeiro Leila Maria Araújo de Souza Samuel Freire Jornal o Globo Jorge Antônio Barros Rede Globo de Televisão Marcelo Moreira Sindmotos – Sindicato dos Empregados Motociclistas do Rio de Janeiro Carlos Augusto Fetranspor – Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro e Rio Ônibus – Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro Lélis Marcos Teixeira ITDP – Institute for Transportation and Development Policy Helena Orenstein Roberto Adler Detran-RJ – Departamento de Trânsito do Rio de Janeiro Janete Blois Abraspe – Associação Brasileira de Pedestres Vilmar Miranda Cetran-RJ – Conselho Estadual de Trânsito Antônio Sérgio de Azevedo Damasceno Ipea – Fundação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada Ernesto Pereira Galindo Iuperj – Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro e IBPS – Instituto Brasileiro de Pesquisa Social Geraldo Tadeu Datafolha Instituto de Pesquisas Luiz Barata Rio Como Vamos Thereza Lobo Técnicos do Centro de Operações Rio editorial Trânsito seguro para uma cidade mais saudável Promover uma mudança coletiva de consciência, capaz de transformar uma realidade complexa como a dos acidentes e violências associados ao trânsito, não é tarefa fácil. E esse é o desafio a que a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-RJ) se propõe, ao assumir como prioridade o cumprimento das determinações da Política Nacional de Prevenção de Acidentes e Violência e da Política Nacional de Promoção da Saúde – dentre elas, promover a adoção de comportamentos e de ambientes seguros e saudáveis. A iniciativa carioca está alinhada à Década de Ações para a Segurança no Trânsito, mobilização promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que envolve centenas de países – dentre eles o Brasil –, com o objetivo de preservar cinco milhões de vidas nos próximos dez anos, por meio da prevenção de acidentes de trânsito. Em âmbito nacional, as ações incluem o lançamento, pelos ministérios da Saúde e das Cidades, do Pacto Nacional pela Redução dos Acidentes de Trânsito – Pacto pela Vida, que tem como meta estabilizar e reduzir o número de mortes e lesões em acidentes de transporte terrestre nesse mesmo prazo. Integrando esses esforços, nossa cidade vem investindo em ações em prol da mobilidade urbana e do trânsito seguro, no contexto da promoção da saúde. Na SMS-RJ, o trabalho é pautado pelo projeto Mobilidade, Segurança e Cidadania e Vida no Trânsito, desenvolvido com o apoio do Ministério da Saúde. As iniciativas combinam pesquisa, campanha educativa e ações intersetoriais. Esta publicação apresenta os primeiros resultados do projeto Mobilidade, Segurança e Cidadania, com a intenção de inspirar e mobilizar profissionais de saúde, educação, comunicação e demais parceiros intersetoriais a desenvolver ações integradas para o enfrentamento do problema. A proposta é fornecer subsídios para mobilizar diferentes setores da sociedade para o trabalho conjunto – estratégia em que a Coordenação de Políticas e Ações Intersetoriais da Superintendência de Promoção da Saúde da SMS-RJ, responsável pelo projeto, tem papel central. A todos, uma ótima leitura! Daniel Ricardo Soranz Pinto Subsecretário de Atenção Primária, Vigilância e Promoção da Saúde prefácio Mobilidade urbana saudável: um compromisso intersetorial “Todo mundo tem direito à vida, todo mundo tem direito igual; sem ter medo de andar na rua, porque a rua é o seu quintal; boa noite, tudo bem, bom dia, gentileza é fundamental.” Os versos da música Rua da Passagem, de Lenine e Arnaldo Antunes, traduzem o conceito de mobilidade urbana. Este transcende a noção de transporte urbano ao considerar, além do deslocamento de pessoas, a interação desta dinâmica com a cidade. A ideia central é que a mobilidade é um importante determinante social da saúde e da qualidade de vida, sobretudo nas grandes cidades. Mais que isso: a mobilidade urbana segura é um direito, e sua garantia envolve questões relativas à equidade e à acessibilidade dos equipamentos públicos. Em uma cidade com mais de seis milhões de habitantes, como o Rio de Janeiro, que assiste ao aumento da frota de veículos em progressão geométrica, a mobilidade urbana é uma questão prioritária, com impactos diretos sobre a saúde da população. Longos congestionamentos, poluição do ar e sonora e o crescente número de acidentes de trânsito resultam em mortes, incapacidades físicas, doenças respiratórias, obesidade e estresse. A situação é tão grave que a Organização Mundial da Saúde (OMS) já considera a ocorrência de óbitos e lesões envolvendo transportes uma epidemia global. Estima-se que mate um milhão de pessoas e fira ou incapacite de 20 a 50 milhões de indivíduos em todo o planeta. No Brasil, os acidentes de trânsito representam a segunda maior causa de internação hospitalar, dentre as ocorrências externas e as mortes violentas. Diante deste cenário, a atuação intersetorial e colaborativa de toda a sociedade é decisiva para gerar melhor qualidade de vida e mais equidade em saúde para os cariocas. Comprometida com este desafio, a Coordenação de Políticas e Ações Intersetoriais, vinculada à Superintendência de Promoção da Saúde da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (CPAI/SPS/SMS-RJ), vem trabalhando para integrar esforços de gestores públicos, técnicos, acadêmicos, educadores, profissionais de comunicação, empresários, sindicatos e associações de usuários de diferentes meios de transporte. Um resultado concreto desta iniciativa é a realização da pesquisa Segurança e Civilidade no Trânsito Urbano do Rio de Janeiro, encomendada a pesquisadores do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (CESeC/Ucam), cujo relatório apresentamos nesta publicação. A investigação integra o projeto Mobilidade, Segurança e Cidadania, da CPAI/SPS/SMS-RJ que, entre outras ações, vem promovendo parcerias com escolas municipais, discussões técnicas em grupos de trabalho intersetoriais, capacitações, produção de materiais educativos e de um plano de comunicação. O estudo analisa os dados epidemiológicos sobre acidentes de trânsito na cidade do Rio de Janeiro, entre 2000 e 2010. Chama atenção o aumento do número de mortes por acidentes com motocicletas e a reprodução do mesmo cenário de óbitos por homicídios: as principais vítimas são jovens negros, de baixa escolaridade e renda reduzida, o que reforça iniquidades em saúde. A pesquisa também revela as percepções e sentimentos dos cidadãos cariocas a respeito de suas experiências cotidianas ligadas à mobilidade urbana, levando em consideração não apenas seus anseios, temores e a sensação de risco, mas também os prazeres, facilidades e sugestões para melhorar o fluxo e as condições de trânsito na cidade. A proposta é gerar subsídios para construir políticas públicas que contribuam para uma cultura de paz no trânsito, baseada no respeito mútuo entre pedestres, usuários de transporte coletivo, motoristas, motociclistas e ciclistas. Os desafios são muitos, mas não faltam boas ideias. Experiências internacionais demonstram que transformar essa realidade e promover a civilidade e a segurança no trânsito é mais que uma possibilidade: é uma conquista da cidadania. Bogotá, na Colômbia, é um exemplo de sucesso. Lá, os investimentos para promoção da mobilidade urbana segura ultrapassam as obras tradicionais de concreto e asfalto contemplando o fortalecimento de uma cultura cidadã, baseada no sentimento de pertencimento à cidade, no respeito ao patrimônio público e no reconhecimento de direitos e deveres. O resultado é uma mudança coletiva de mentalidade, essencial para uma relação mais sustentável entre os cidadãos e a cidade. Convidamos todos para enfrentarmos, juntos, esse desafio. Viviane Manso Castello Branco e Maria Teresa de Castro Lima Pereira Coordenação de Políticas e Ações Intersetoriais Sumário Lista de Gráficos.........................................................................................................10 Lista de Tabelas..........................................................................................................11 Apresentação.............................................................................................................12 Parte 1: A PESQUISA “SEGURANÇA E CIVILIDADE NO TRÂNSITO URBANO DO RIO DE JANEIRO” Capítulo 1. Transporte, mobilidade e segurança no trânsito: uma agenda para o Rio...................................................................................................................16 A transformação de um paradigma................................................................................................16 Mudanças na sociedade e na mídia................................................................................................19 Dificuldades, silêncios e descoordenação.................................................................................... 20 Capítulo 2. Mortes no trânsito na cidade do Rio de Janeiro entre os anos 2000 e 2010................................................................................................................24 Os dados, suas características, seus problemas...........................................................................25 Patamares das taxas cariocas e as tendências em curso: o que está mudando..............26 A distribuição desigual das mortes por sexo, idade e raça.....................................................29 Capítulo 3. Percepções sobre o trânsito...................................................................32 A cidade do Rio de Janeiro e seus arredores.................................................................................32 O questionário e o perfil dos respondentes..................................................................................32 Meio de transporte utilizado...............................................................................................................33 Local de moradia.....................................................................................................................................34 Idade e gênero.........................................................................................................................................35 Experiências negativas vividas pelos entrevistados....................................................................35 Experiências positivas no trânsito.....................................................................................................37 O que provoca medo no trânsito......................................................................................................39 Capítulo 4. Considerações finais...............................................................................43 O trânsito “como ele é”: observações finais...................................................................................43 Sugestões para melhorar o trânsito na cidade.............................................................................44 Capítulo 5. Trânsito virtual........................................................................................48 A Esfera Pública........................................................................................................................................49 Associações, ONGs e Empresas..........................................................................................................51 Twitter e Facebook.................................................................................................................................52 Parte 2: LEITURA COMPLEMENTAR Capítulo 6. A morte sob rodas...................................................................................62 A extensão da tragédia.........................................................................................................................62 Como são os atropelamentos?...........................................................................................................62 Como estão o Brasil e o Estado do Rio de Janeiro?.....................................................................62 A influência da legislação e das políticas públicas......................................................................64 Os efeitos das culturas cívica, política e automobilística...........................................................65 Variações nas culturas cívicas, política e automobilística........................................................65 Tem jeito!...................................................................................................................................................66 Capítulo 7. Projeto Paz no Trânsito no Distrito Federal: um modelo possível......68 Introdução.................................................................................................................................................68 As tentativas iniciais de apoio do setor público...........................................................................69 Surgem as primeiras bolsas.................................................................................................................69 Algumas medidas...................................................................................................................................70 Funções das pesquisas..........................................................................................................................72 Cultura automobilística, cultura cívica............................................................................................74 Algumas lições.........................................................................................................................................75 Reportagens consultadas.....................................................................................................................75 Referências Bibliográficas 10 Lista de Gráficos Lista de Gráficos Gráfico 1 Gráfico 2 Gráfico 3 Gráfico 4 Gráfico 5 Gráfico 6 Gráfico 7 Gráfico 8 Gráfico 9 Comparação entre mortos e feridos em acidentes de trânsito na cidade do Rio de Janeiro de 2005 a 2010 Taxas de óbitos por 100 mil habitantes no Brasil e no estado, na Região Metropolitana e na cidade do Rio de Janeiro – 2000 a 2010 Evolução das taxas de mortes por tipos de acidentes no Brasil e no estado, na RMRJ e na cidade do Rio de Janeiro – 2000 a 2010 Evolução das causas de mortes por acidentes no Rio de Janeiro – 2000 a 2010 Crescimento da frota de automóveis, motos e veículos pesados na cidade do Rio de Janeiro – 2001 a 2010 Distribuição da proporção média de mortalidade no trânsito, por tipo de locomoção e sexo na Capital do Rio de Janeiro – 2000 a 2010 Distribuição percentual das vítimas fatais segundo faixa etária e tipo de acidente de trânsito na Capital do Rio de Janeiro – 2000 a 2010 Taxas de mortalidade por 100 mil habitantes por cor e idade na cidade do Rio de Janeiro – 2000 a 2010 Meio de transporte utilizado em 2011 pelos habitantes da RMRJ entrevistados (%) 27 29 31 32 33 34 35 36 40 Gráfico 10 Local de moradia em 2011 dos habitantes da RMRJ entrevistados 41 Gráfico 11 Idade em 2011 dos habitantes da RMRJ entrevistados 42 Gráfico 12 Frequência em 2011 dos problemas mencionados pelos habitantes da RMRJ entrevistados Frequência em 2011 da variável “motoristas”, segundo a idade e o local de moradia dos Gráfico 13 habitantes da RMRJ entrevistados Frequência em 2011 das experiências positivas mencionadas pelos habitantes da RMRJ Gráfico 14 entrevistados Frequência em 2011 da variável “Nada é positivo”, segundo a idade e o local de moradia Gráfico 15 dos entrevistados Gráfico 16 Elementos que geram percepção de risco para os habitantes da RMRJ entrevistados em 2011 Identificação da violência criminal como fator de risco no trânsito em 2011, segundo a Gráfico 17 região de moradia dos entrevistados Gráfico 18 Avaliação do trânsito em 2011 pelos habitantes da RMRJ entrevistados 44 Gráfico 19 Sugestões para melhorar o trânsito dadas pelos habitantes da RMRJ entrevistados em 2011 73 Gráfico 20 Entrevistados em 2011 que sugeriram a variável “Campanhas/educação”, segundo o sexo 74 Gráfico 21 Sugestões dos entrevistados em 2011, segundo o local de moradia 74 Gráfico 22 Mortes por atropelamento, Brasil e Rio de Janeiro, em duas escalas, 1995 a 2010 81 Gráfico 23 Brasil, taxa de acidentes por 10 mil veículos em 2008, por região Porcentagem dos óbitos por acidentes no trânsito nos quais as vítimas são pedestres – Gráfico 24 Brasil, 1996 a 2008 Gráfico 25 Número de mortos no trânsito no Distrito Federal até o governo de Cristovam Buarque Número de mortos no trânsito no Distrito Federal durante a administração Cristovam Gráfico 26 Buarque Percentual de concordância com a afirmação “o GDF está resolvendo os problemas do Gráfico 27 trânsito” Gráfico 28 Risco de morte do pedestre por velocidade do veículo 84 45 46 47 48 50 70 85 87 88 91 94 Lista de Tabelas Tabela 1 Tabela 2 Panorama das mortes no trânsito: taxas médias por 100 mil habitantes no Brasil e no estado, na cidade e na RMRJ – 2000 a 2010 Comparativo da distribuição de usuários dos diferentes meios de transporte, por instituto de pesquisa 30 40 Tabela 3 Distribuição das páginas pesquisadas 55 Tabela 4 Distribuição de sites e blogs por localização geográfica 56 Tabela 5 Endereços não-governamentais segundo sua natureza jurídica 56 Tabela 6 Sites e blogs, de acordo com sua abrangência 57 Tabela 7 Distribuição de sites e blogs de acordo com os meios de transporte 57 Tabela 8 Distribuição de sites e blogs de acordo com o ano de criação 58 Tabela 9 Distribuição de perfis de Twitter por estado 59 Tabela 10 Distribuição de perfis de Facebook por estado 59 Tabela 11 Relação entre a velocidade do veículo e o risco de morte do pedestre 93 Lista de Tabelas 11 12 Apresentação Apresentação No início do ano de 2009, construiu-se o diálogo que resultou na elaboração do projeto Segurança e Civilidade no Trânsito Urbano do Rio de Janeiro, desenvolvido pela equipe de pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania – CESeC, da Universidade Candido Mendes, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. O projeto foi concebido conjuntamente, em múltiplos encontros das equipes da SMS e do CESeC, nos quais foram delineados seus objetivos centrais: não apenas mapear a morbimortalidade associada ao trânsito, ou seja, os riscos reais de acidentes e violências, mas produzir também um levantamento de impressões, objetivas e subjetivas, a respeito de um aspecto crucial da vida urbana, que são os deslocamentos cotidianos através de diferentes meios de locomoção. Buscou-se captar, para além das avaliações sobre a qualidade das vias públicas, dos transportes coletivos ou das políticas de trânsito, os fatores que geram temor, desconforto, mal-estar e indignação, assim como os que produzem prazer e satisfação. Visava-se, portanto, compreender os sentimentos e os significados associados à mobilidade urbana. Para isso, além da análise dos microdados do sistema de saúde, do Datasus, foram previstas análises quantitativa e qualitativa, baseadas em entrevistas com especialistas em trânsito, pesquisa em pontos de fluxo e entrevistas em profundidade, com usuários e profissionais dos diferentes meios de transporte. Por uma série de problemas de ordem administrativa, o projeto teve que ser redesenhado. Com isso, os dois principais recursos metodológicos previstos, como a pesquisa em pontos de fluxo e as entrevistas qualitativas, tiveram que ser substituídos por abordagens alternativas. É inegável que as restrições a que o projeto precisou se adaptar interferiram em seus resultados. A despeito disso, porém, foram produzidos dados inéditos sobre mortes por acidentes de trânsito na cidade e no estado, a partir da base de dados do Ministério da Saúde, de forma até então inexplorada no plano municipal. Além disso, com base em entrevistas com especialistas, realizou-se um mapeamento do campo de debates e políticas relativas ao trânsito, um levantamento de percepções sobre o trânsito baseado em questionário autopreenchido, aplicado a uma amostra não-aleatória de usuários dos diversos meios de locomoção, um levantamento sobre o mundo do trânsito na Internet (sites, blog e perfis no Twitter) e um relato sobre a construção do projeto Paz no trânsito, de Brasília. Os capítulos que compõem este relatório correspondem, respectivamente, a cada uma das abordagens adotadas. O primeiro deles, transporte, mobilidade e segurança no trânsito, traz uma reflexão sobre o próprio campo do trânsito, entendido aqui em sentido próximo ao definido por Bourdieu como um espaço no qual se constituem e se legitimam certos temas, questões, nomenclaturas, modos de fazer e atores específicos. Mesmo que os atores sociais que compõem esse campo não reconheçam a sua existência, ou que suas agendas sejam tão díspares que não se possa sequer identificar um denominador comum, o fato é que há um determinado conjunto de personagens atuando, simultânea ou sucessivamente, em torno da mesma arena: gestores públicos, técnicos, acadêmicos, empresários, sindicatos e associações de usuários de diferentes meios de transporte – os quais, necessariamente, produzem intervenções e reflexões com base em suas experiências e interesses. Tomando o relato desses diferentes profissionais, o capítulo analisa o estado da arte dos debates, propostas, impasses e perspectivas atinentes ao campo do trânsito – ou, como indicam as tendências mais recentes, ao campo da mobilidade urbana. Com isso, traz à tona uma discussão sobre os próprios termos em que se constitui essa área, tanto no espaço acadêmico, quanto no mundo das políticas públicas. O segundo capítulo, Mortes no trânsito, contém uma análise dos dados sobre mortalidade no trânsito do Rio de Janeiro. A partir dos microdados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, traçou-se um perfil dos acidentes com mortes ocorridos no município, de 2000 a 2008, contra o pano de fundo das mortes por acidente no estado e no país. A partir da análise, foram identificadas características das vítimas e dos meios, assim como as mudanças nos padrões dos acidentes fatais. Em seguida, no terceiro capítulo, Percepções Sobre o Trânsito, são examinadas as respostas, formuladas espontaneamente, a um questionário aberto aplicado a 568 pessoas que circulam diariamente pela cidade do Rio de Janeiro. Através desse levantamento, de natureza qualitativa, procurou-se conhecer as experiências positivas e negativas de motoristas e passageiros, bem como suas avaliações, tanto objetivas quanto subjetivas, a respeito das condições de locomoção na cidade. O quarto capítulo, Trânsito Virtual, agrega uma reflexão sobre o campo do trânsito na esfera virtual, a partir de um levantamento de blogs e sites que tratam do tema. Um quinto capítulo é dedicado às Considerações Finais. Temos na Parte 2 – Leitura Complementar, em A morte sob rodas, a caracterização das mortes por acidente, no Brasil e no Estado do Rio de Janeiro, apontando caminhos que podem levar à redução do número assombroso de mortes, com base na demonstração dos dados resultantes do projeto Paz no Trânsito, implementado no Distrito Federal, em 1995. A propósito, em O projeto Paz no Trânsito no Distrito Federal: um modelo possível, que fecha este trabalho, é descrita em detalhes a experiência de implantação dessa iniciativa. O propósito deste trabalho, que reúne observações provenientes de fontes distintas, é justamente compor um mosaico de informações, capaz de subsidiar eventuais campanhas sobre comportamento no trânsito. Para isso, buscou-se, de um lado, caracterizar os acidentes viários e suas principais vítimas na cidade do Rio de Janeiro, de forma a que as mensagens de prevenção pudessem focar diretamente as situações de maior risco. De outro lado, procurou-se captar os elementos que compõem o imaginário dos habitantes da cidade, pressupondo que a comunicação com o público ganhará eficiência na medida em que incorporar o repertório de ideias e expressões por meio das quais o trânsito é percebido. Silvia Ramos Barbara Musumeci Mourão Apresentação 13 PARTE 1 A Pesquisa “Segurança e Civilidade no Trânsito Urbano do Rio de Janeiro” 16 Capítulo 1 – Transporte, mobilidade e segurança no trânsito: uma agenda para o Rio Capítulo 1 – Transporte, mobilidade e segurança no trânsito: uma agenda para o Rio Silvia Ramos1 Barbara Musumeci Mourão2 No Rio, a era do fluxo está sendo substituída pela era da mobilidade, porque o que acontece em todas as Prefeituras e Secretarias de Transporte do mundo inteiro é que o técnico que está lá teve uma formação rodoviarista [...]. É isso que está mudando, não são os carros que têm que passar, são as pessoas que têm que se locomover. – representante de ONG. A transformação de um paradigma Nosso objetivo primeiro, na pesquisa Segurança e Civilidade no Trânsito Urbano do Rio de Janeiro, foi compreender como as políticas públicas neste campo se constituíram nos últimos anos e que mudanças estavam ocorrendo no momento. Na fase inicial da pesquisa e, posteriormente, ao longo do processo de análise de dados e elaboração e aplicação da pesquisa de percepção3, durante o ano de 2011, entrevistamos interlocutores de diferentes áreas relacionadas ao transporte, ao trânsito e à segurança – que passaremos a denominar contexto do trânsito. Conversamos com representantes dos órgãos públicos de transporte e trânsito (Companhia de Engenharia de Tráfego da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria de Transportes), com representantes de ciclistas, pedestres, motociclistas, motoristas rodoviários e empresários de transporte coletivo, com responsáveis pela produção e armazenamento de dados (Instituto de Segurança Pública e Superintendência de Vigilância em Saúde da SMSDC-RJ), com pessoas envolvidas com educação, segurança e prevenção da violência no trânsito (Detran, SMSDC-RJ, Unicef ), além de especialistas de diferentes áreas e jornalistas. A primeira e surpreendente constatação é que interlocutores de diferentes setores afirmavam que o contexto do trânsito, no Rio, passava por mudanças grandes e decisivas, principalmente desde o início da presente gestão municipal. As principais mudanças, indicavam eles, se explicavam por uma alteração conceitual sobre as prioridades para a cidade. Algo que foi definido diversas vezes como uma “mudança de paradigma”: uma transição do paradigma da rapidez e do fluxo (prioridade para os carros, construção de viadutos, abertura de vias etc.) para o paradigma da mobilidade (prioridade para o transporte público, articulação entre os meios de transporte, foco na pessoa e não no carro). Há depoimentos muito expressivos sobre a percepção de que o contexto do trânsito mudou na cidade. É muito difícil, na área de transporte, mudar essa boca torta do cachimbo da locomoção do carro de passeio. [...] Em relação aos transportes, essa administração da prefeitura estabeleceu um novo marco regulatório, ao acabar com as concessões de empresas de ônibus. A implantação do BRS e outras mudanças que virão definiram prioridades que o secretário e o prefeito bancaram. [...] Esse é um conceito que precisa ficar muito claro: não adianta mais criar espaço viário, não existe tecnologia de infraestrutura que dê conta dessa quantidade de automóveis. Entramos agora em um paradigma de mobilidade em que o carro não é a prioridade – especialista da Secretaria Municipal de Transportes do Rio de Janeiro. Os Jogos Olímpicos contribuíram para as mudanças que estão em curso, sem dúvida, mas também houve mudanças políticas nesses tempos. A Prefeitura mudou muito o foco, com a vontade política de fazer alguma coisa e entendendo que outros assuntos são prioridade. No Rio de Janeiro, os investimentos no Metrô, ainda que este só circule na cidade, e no trem, a SuperVia, são administrados pelo governo do Estado; da mesma forma, as Barcas. O Município não investia em infraestrutura de transportes havia mais de vinte anos. Somaram-se duas questões muito fortes: os Jogos Olímpicos e a mudança política, pois o prefeito entendeu que este aspecto deveria ser uma prioridade. – representante dos empresários de ônibus. Contudo, houve entrevistados que indicaram que as mudanças ocorridas no Rio nos últimos anos eram importantes, porém tardias, e que outras cidades brasileiras já haviam feito a transição do paradigma da prioridade do fluxo para a prioridade da mobilidade. Cidades como São Paulo, Curitiba e diversas outras no país, a despeito de seus problemas, desenvolvem experiências e iniciativas de priorização do transporte público sobre o automóvel particular, como bilhetes únicos, rodízio, regulamentação das empresas, corredores preferenciais, ampliação das linhas de metrô e outros exemplos. O primeiro desafio do transporte público é entrar na agenda política principal, pois só entra quando está causando problema de trânsito para os automóveis, ou quando é um bom momento para cortar fita e inaugurar alguma coisa. Mas entrar mesmo, seriamente, na agenda, com impacto na economia e na vida das pessoas... Eu diria que agora no Rio esse tema deu um passo para entrar, mas ainda não entrou totalmente – Especialista Entre os exemplos que ilustrariam a recente inversão de prioridades no Rio de Janeiro, foram citados4: 1. Bus Rapid System (BRS)5. Sistema que cria a circulação de ônibus em corredores expressos, exclusivos para ônibus e táxis embarcados, implantado inicialmente em Copacabana em fevereiro de 2011. Já há corredores expressos para ônibus em Ipanema, Leblon, Copacabana e Centro e pretende-se estendê-los a ruas da Zona Norte em 2012. O sistema prevê a redução do número de ônibus e do número de paradas, resultando na redução do tempo de realização do percurso na via expressa. 2. Bus Rapid Transit (BRT)6. O projeto consiste em vias segregadas para ônibus, que param somente em estações fixas. Estas são elevadas para ficarem no nível do piso do coletivo. O pagamento da passagem é feito na estação, permitindo embarques e desembarques mais ágeis. Uma via exclusiva e pontos de parada fixos permitem um sistema sincronizado em que os ônibus saem e chegam às estações no tempo planejado, sem enfrentar congestionamentos. As duas primeiras vias neste modelo são a Transoeste7 e a Transcarioca8. 3.O novo marco regulatório das empresas de ônibus. Assinado em agosto de 2010, implicou o fim das antigas concessões e a criação de quatro consórcios, que passaram a responder ao poder público com novas regras e compromissos, e a redução do número de linhas. 4. Bilhetes únicos. Criaram-se tarifas únicas para integração municipal, o Bilhete Único Carioca – no valor de R$2,50 para ônibus-ônibus e de R$3,70 para ônibus-trem, por até duas horas – e, para integração intermunicipal, o Bilhete Único RJ, no valor de R$4,40 por até duas horas e trinta minutos. 5. A Linha 4 do Metrô. Em junho de 2010, o governo do Estado deu início à construção da Linha 4, que consiste na extensão de rede de metrô até a Barra da Tijuca. A nova linha de seis estações terá conexão com a Linha 1, na Praça General Osório, em Ipanema. É um projeto com vistas aos Jogos Olímpicos de 2016, cujas competições esportivas serão sediadas, em sua maioria, na Barra. O trecho terá seis estações (Nossa Senhora da Paz, Jardim de Alah, Antero de Quental, Gávea, Capítulo 1 – Transporte, mobilidade e segurança no trânsito: uma agenda para o Rio 17 18 Capítulo 1 – Transporte, mobilidade e segurança no trânsito: uma agenda para o Rio São Conrado, Jardim Oceânico), ligando a Praça General Osório, em Ipanema, à Barra da Tijuca. Orçada em R$5 bilhões, a linha deve transportar 300 mil passageiros por dia. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, dois mil veículos devem deixar de circular nas avenidas Vieira Souto, Delfim Moreira e Niemeyer. O governo sustenta que também está investindo nos trens urbanos e que os 270 quilômetros de vias férreas urbanas passarão por melhorias. Para a Copa de 2014, planeja-se que a rede ferroviária da cidade passe a operar com uma frota superior a 190 trens, todos com ar condicionado. Segundo o governo do Estado, os investimentos até 2016 para o setor de transportes dos governos federal, estadual, municipal e iniciativa privada, somados, chegam a R$11 bilhões. 6. A restauração das linhas férreas de Santa Teresa. Outros meios de transporte têm sofrido mudanças. Após anos de sucateamento, e depois de um grande acidente em que houve mortos e feridos, em agosto de 2011, o governo do Estado decidiu investir R$40 milhões até 2013 na recuperação e modernização dos bondes de Santa Teresa – o mais antigo sistema de transporte da cidade, inaugurado em 1896. 7. Atenção aos meios de locomoção nas favelas. Também no nível estadual, obras do PAC das Favelas (Programa de Aceleração do Crescimento) têm se preocupado com a mobilidade no interior das comunidades, procurando construir e integrar meios de transporte locais (teleféricos, planos inclinados e elevadores) aos sistemas de transporte da cidade, como as estações de trem, metrô e sistemas de ônibus. Em julho de 2011 foi inaugurado o teleférico do Complexo do Alemão. A viagem pelas seis paradas leva cerca de 15 minutos, até a integração com a estação de trens urbanos Bonsucesso. O in- vestimento foi de R$210 milhões, e a tarifa é de R$1,00. 8. As bicicletas. Bicicletas passaram a ser pensadas não apenas como lazer, mas como meio de transporte. Foram criadas estratégias de integração com outros meios, ampliando-se uma malha que inclui ciclovias, ciclofaixas e faixas compartilhadas. Além disso, foram criados bicicletários – estacionamentos para bicicletas – nas estações de metrô e adotado um sistema de locação de bicicletas em vários pontos da cidade. Na verdade, o governo municipal passou a incorporar a perspectiva dos ativistas da bike, que há muito defendem que a bicicleta é veículo e, como tal, não deve ser segregada em cima das calçadas, mas integrada aos outros meios. Até julho de 2011, foram implantados na cidade cerca de 250 quilômetros de ciclovias e a meta declarada da Prefeitura é chegar a 300 quilômetros ao fim de 2012. 9. A implantação das “Zonas 30”. No projeto Zona 30, a Secretaria Municipal de Transportes regulamentou o limite de velocidade máxima em 30km/h em ruas de bairros da Zona Sul. A implantação das Zonas 30 tem como objetivo também permitir a circulação de veículos motorizados e bicicletas, seja por faixas compartilhadas, seja por ciclofaixas. 10GEO-GIT. A Secretaria de Transportes do Município e a CET Rio definiram, entre suas metas, a redução de acidentes com vítimas na cidade e criaram um sistema georreferenciado de monitoramento de acidentes, baseado nos dados gerados pelas ligações da população ao sistema 190 da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ). Esse sistema, denominado GEO-GIT, tem capacidade de identificar não apenas quantidade, horários e tipos de acidentes, mas também os hot spots, locais com forte intensidade de acidentes. Potencialmente, o sistema permite uma intervenção rápida em caso de crescimento de eventos em determinadas áreas. Também foi inaugurado, em 2010, o Centro de Operações do Rio (COR), que consiste numa sala de controle com um telão de 80 metros quadrados (além de 300 monitores espalhados em 100 salas), onde 70 operadores trabalham com acesso a imagens da cidade, captadas através de câmeras da CET Rio e outras, instaladas em ônibus. 11.Lei Seca. Diversos entrevistados mencionaram a importância das blitz da Lei Seca, no cenário de intervenções públicas positivas no trânsito. No Rio de Janeiro, em especial, as operações assumiram uma configuração consistente e até agora sustentável, sendo que a reputação de seriedade na fiscalização teria contribuído para a redução da violência letal no trânsito carioca. Mudanças na sociedade e na mídia Mudanças estão ocorrendo não apenas no âmbito das políticas governamentais, mas também na esfera da sociedade civil e da mídia. Entre as organizações não-governamentais, já havia níveis de mobilização com o surgimento de grupos de familiares de vítimas de acidentes na década passada. No momento atual, o ativismo em favor das bicicletas chamou nossa atenção por suas ações serem mais técnicas, visíveis e articuladas – mais até que as de passageiros, pedestres ou mesmo que as de motociclistas e motoristas rodoviários. Essas duas últimas categorias, a despeito de sua importância no contexto do trânsito, estranhamente – e contrariando a tendência que se verifica na área – mantêm modelos sindicais tradicionais de organização, com baixa relação com o conjunto dos membros e com reduzida articulação com os demais representantes sociais e go- vernamentais, seja em fóruns de trânsito, seja na mídia ou na sociedade. Por outro lado, constatamos o surgimento de organizações civis com um perfil técnico e profissional que têm a perspectiva de trabalhar em parceria com governos, como o Institute for Transportation and Development Policy (Instituto de Política de Transporte e Desenvolvimento, ITDP), criado no Brasil em 2002, tendo estabelecido um escritório no Rio de Janeiro em 2009. Além disso, foram muitos os seminários, debates e conferências sobre o trânsito durante 2011, promovidas por organizações como o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), a Associação Nacional de Transporte Público (ANTP), ONGs e também por universidades e órgãos públicos – como o seminário Caminhos da Educação e Segurança no Trânsito, realização da SMSDC-RJ. A multiplicação de iniciativas em torno de temáticas associadas ao trânsito – voltadas para redução de acidentes e punição de agressores, ampliação de direitos de usuários e profissionais de diferentes veículos e para o debate em torno de diversos temas, como a Lei Seca e as grandes obras de mobilidade associadas à Copa e Jogos Olímpicos – correspondeu ao crescimento visível de blogs, sites e discussões na Internet, um fenômeno que mereceu todo um capítulo neste livro. Os blogs, como se verá, contemplam desde espaços para reclamações de passageiros de ônibus até debates sobre a Transolímpica9 ou as linhas do Metrô. Observamos, igualmente, que a cobertura dos grandes meios de comunicação dedicada ao assunto se intensificou nos últimos anos e, mais visivelmente, ao longo do ano. Além da divulgação sistemática de estatísticas de mortes nas estradas depois dos feriados, adotada por grandes grupos como Globo, Folha, Estado, Band e demais, a visibilidade de questões sobre violência e segurança viária ganhou espaço nos grandes veículos. Capítulo 1 – Transporte, mobilidade e segurança no trânsito: uma agenda para o Rio 19 20 Capítulo 1 – Transporte, mobilidade e segurança no trânsito: uma agenda para o Rio Entre diversos outros – como a discussão sobre o crescimento de frota de motocicletas e automóveis –, temos o caso da ampla receptividade à divulgação de que o Brasil ultrapassara a barreira dos 40 mil óbitos em 2010, segundo dados do Caderno Complementar Mapa da Violência 2011: Acidentes do Trânsito, publicação organizada pelo Instituto Sangari para o Ministério da Justiça, com base nas Declarações de Óbito compiladas no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Em resumo, a grande mídia não está mais apenas reagindo à notícia factual do dia anterior, cobrindo pontualmente um acidente envolvendo muitas vítimas, ou a morte de uma pessoa de classe média numa via em área abastada da cidade. Está produzindo matérias de fundo que envolvem os temas do trânsito, da mobilidade ou da segurança. Um exemplo dessa mudança de perspectiva é a série de reportagens “Conviva”, no jornal O Globo, apoiada pelo Banco Bradesco. Para ilustrar, vale mencionar que a campanha se concentra em ideias como: “pensar antes de buzinar”, “respeito à faixa de pedestre”, “bike”, “pilotagem segura”, “pistas compartilhadas” etc. Também chama a atenção que outro banco tenha ingressado na área de apoio a iniciativas de mobilidade: o Banco Itaú financia o sistema de aluguel de bicicletas na cidade do Rio de Janeiro e em outras. Há um contraste com um silêncio relativo ao assunto trânsito que predominou no passado: provavelmente, jornais, rádios e TVs do Rio enfocaram prioritariamente o tema da violência criminal nos últimos vinte anos. A importância crescente para os diversos aspectos associados ao trânsito nos grandes meios de comunicação se reflete também no investimento da cobertura do trânsito por helicópteros, uso de imagens de câmeras da CET-Rio e a divulgação de informações pelo Centro de Controle da Prefeitura. Colaboram também para a circulação permanente de informação as fontes que comentam sobre a Campanha da Lei Seca e, ainda, em outro nível, os resultados de sistemas e estudos desenvolvidos por entidades como Ipea – como a Pesquisa sobre Mobilidade Urbana, no âmbito do Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips/Ipea) –, Rio como Vamos e CESeC, entre outros. Existem ainda as pesquisas por iniciativa dos próprios veículos de comunicação, como os dados do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), divulgados pelo jornal O Globo (2011). O Globo também tem dado espaço destacado para matérias sobre ONGs de parentes de vítimas de mortos no trânsito, como o perfil do criador da ONG Trânsito Amigo, e para ONGs ligadas ao movimento das bikes. Faz coberturas sistemáticas de assuntos como BRS, BRT e a construção das “Trans”. Após o conjunto de entrevistas e observações, nossa hipótese é de que, assim como o tema da violência urbana tornou-se assunto permanente de governos, sociedade e mídia, há uma tendência de que os temas da mobilidade, segurança e trânsito se tornem mais e mais centrais no dia-a-dia do Rio de Janeiro. Dificuldades, silêncios e descoordenação A despeito dos avanços e mudanças visíveis no setor, encontramos, entre entrevistas e conversas com os interlocutores da área e observações de campo, alguns temas, pontos cegos, ausências e atrasos que chegam a surpreender em meio ao cenário positivo de avanços. São aspectos de naturezas diferentes, que listamos abaixo, sem pretensão de hierarquização ou identificação de prioridades. A indicação desses pontos é dotada de caráter de análise e desejo de traçar, em grandes linhas, um panorama capaz de identificar as principais características e dificuldades do cenário do trânsito no momento atual no Rio de Janeiro. Nossa posição de quem analisa “de fora” do campo do trânsito pode favorecer possíveis vieses, mas também permite percepções que algumas vezes não são facilmente identificadas pelos “nativos”10. 1.Um ponto problemático é a baixa articulação entre os produtores de dados primários sobre o trânsito, os acidentes e o controle do tráfego. A elaboração do fluxograma relativo aos procedimentos de notificação, pelo Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ)11, envolvendo desde o evento do acidente até a produção dos registros sobre mortos e vítimas não-fatais no trânsito, revelou a alta complexidade da transmissão de dados entre órgãos oficiais e a ausência surpreendente e preocupante de relações permanentes entre os seguintes sistemas, todos envolvidos na produção dos dados: Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro (SMSDC-RJ), Instituto Médico Legal (IML), 190, Polícia Civil, ISP, Corpo de Bombeiros, Guarda Municipal, Detran, Secretaria Estadual de Saúde, Ministério da Saúde e CET-Rio. Alguns elementos dessa rede, como o Corpo de Bombeiros, mantêm sistemas segregados de informação, sem pontos de contato com outros órgãos do mesmo sistema. Vale mencionar, além do papel pioneiro do ISP, a estratégia de transparência da CET-Rio, que tenciona dar amplo acesso aos seus diversos sistemas de monitoramento. A despeito desses exemplos, uma das conclusões do presente trabalho diz respeito à necessidade imperiosa de promover o estabelecimento de vínculos permanentes entre esses órgãos, com vistas à produção, análise e troca de informações de dados primários sobre o trânsito e os acidentes. 2. Percebemos a existência de um debate hesitante sobre os meios de transporte alternativos. Não apenas o caso das vans, que vem sendo enfrentado pelo poder municipal, mas também o caso dos mototáxis e cabritinhos – carros improvisados que fazem o transporte da entrada das favelas até o ponto mais alto. Esses sistemas permanecem sem regulamentação, embora sejam utilizados por parte expressiva dos moradores das favelas, que representam aproximadamente 20% da população carioca. Motos e carros são usados como transporte alternativo em bairros pobres do Rio e da Região Metropolitana. Os sistemas alternativos de transporte têm estado à margem das dinâmicas de regulamentação e de melhoria de qualidade. Não surpreende, portanto, que, em várias áreas, sejam controlados por grupos criminosos ilegais, como as milícias e o narcotráfico. 3. Há uma enorme insatisfação cotidiana de usuários em relação aos transportes coletivos, aos motoristas e ao comportamento no trânsito desses profissionais, contra uma capacidade relativamente baixa dos órgãos públicos para promover mudanças significativas no setor. Este aspecto, que nos parece pouco discutido no âmbito dos debates atuais, contrasta com a percepção da população, revelada em reiteradas pesquisas – entre elas a pesquisa desenvolvida pelo CESeC, cujos resultados se encontram descritos neste livro. É verdade que a Rio Ônibus e a Fetranspor, que representam os empresários do setor, vêm investindo esforços no treinamento de profissionais. Segundo essa Federação, no estado do Rio de Janeiro há 21 mil ônibus circulando, sendo 14 mil na Região Metropolitana. Capítulo 1 – Transporte, mobilidade e segurança no trânsito: uma agenda para o Rio Os profissionais se revezam em turnos, tornando necessários três ou quatro funcioná21 22 Capítulo 1 – Transporte, mobilidade e segurança no trânsito: uma agenda para o Rio rios para a operação diária de cada ônibus. Portanto, hoje existem 102 mil profissionais trabalhando em empregos diretos no setor, mas a insatisfação dos usuários com ônibus que não param nos pontos, excedem em velocidade, viajam superlotados na hora do rush e desaparecem nos horários de pouco movimento não tem encontrado correspondência com ações públicas. Também encontramos entre os motoristas e cobradores ampla e profunda insatisfação com os salários, os tiros (jornadas dobradas), o sistema de controle de horários e os veículos sem ar condicionado e mal conservados – uma realidade que ainda predomina, sobretudo nas Zonas Oeste e Norte. zação com que, via de regra, tratamos os acidentes e mortes com motocicletas. Um dado adicional, que pode expressar parte da percepção sobre os condutores de motos, é o uso generalizado da expressão motoqueiros, que é atribuída aos representantes dos motociclistas para se referir especificamente a condutores de motos que não têm carteira, que dirigem ilegalmente motos roubadas ou sem documentação etc. Como mostramos no presente relatório, tudo indica que tem havido algum grau de queda no número geral de mortes no trânsito na cidade. Mas, na medida em que caem os acidentes com automóveis, aumentam, proporcionalmente, os acidentes com motos. 4.O Rio de Janeiro mantém, ao longo de toda a década, taxas de atropelamento bastante superiores às médias nacionais. Há muita inovação e mobilização em algumas áreas, mas há silêncios incompreensíveis em outras. Os atropelamentos são a principal característica carioca de insegurança no trânsito e, possivelmente, efeito do célebre estilo carioca de desrespeito às leis – “cariocas não gostam de sinais fechados”12 – e das incivilidades típicas locais, como estacionar sobre as calçadas. Não temos nos mobilizado suficientemente, tanto os poderes públicos como a sociedade, para responder à crescente onda de acidentes com motos. 6.Uma palavra sobre os engarrafamentos. Na pesquisa de percepção que apresentamos neste trabalho, os engarrafamentos são a principal experiência negativa dos moradores do Rio. E sua presença é ainda maior entre moradores das Zonas Oeste e Norte. Embora quem mais reclame seja o usuário de automóvel, que perde em tempo e em combustível, quando há engarrafamentos quem mais sofre é o usuário de transportes públicos, que gasta mais em tempo e, mais tarde, sofrerá com um aumento de tarifa. Como nos disse um especialista: 5. Não encontramos, nos interlocutores das diferentes áreas, percepção sobre a gravidade do problema das motos como um elemento estabelecido na agenda do trânsito na cidade. Os representantes dos motociclistas mantêm-se e têm sido mantidos à margem dos conselhos, fóruns e espaços de decisão. Também é preciso chamar a atenção para a naturali- “O usuário de transporte público não precisa estar em um engarrafamento específico para perder, ele perde com toda a situação, sofre e paga por ela”. 7. Por último, uma reflexão sobre a ausência de espaços e fóruns capazes de reunir as diferentes frentes envolvidas na temática do transporte, da mobilidade e da segurança no trânsito. É surpreendente que, a despeito dos fortes avanços e da alteração de prioridades pelos quais o Rio vem passando nos últimos anos, não existam espaços permanentes de interlocução entre órgãos públicos, sociedade civil, pesquisadores e meios de comunicação. Verificamos, ao longo do mergulho nesse campo durante 2011, que as ações são muitas vezes intensas e bem-sucedidas mas, em geral, isoladas e não coordenadas em relação a esforços complementares ou mesmo similares. O setor que compreende as esferas trânsito, transporte e segurança é complexo e multidisciplinar. Demanda uma integração de esforços que, muitas vezes, verificamos não existir. Uma recomendação do presente trabalho é a criação de espaços de diálogo e o esforço para o estabelecimento de uma cultura de interlocução. Talvez a criação de fóruns permanentes de produtores de dados e fóruns de atuação pela segurança no trânsito seja uma boa oportunidade para avançar nessa direção. Notas Pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes e uma das coordenadoras da pesquisa. 1-2 3 Ver capítulos 2 e 3. É importante notar que, no momento em que foi redigido o texto, algumas soluções de mobilidade, como o BRT e o BRS ainda estavam em testes ou não haviam sido implantados. Valores citados referem-se à data da pesquisa, não da publicação. 4 Sistema de faixas seletivas, implantado inicialmente em Copacabana, em 2001, e expandido, posteriormente, para outras áreas. 5 BRT Transcarioca: corredor expresso de ônibus articulado, com 39km. Ligação da Barra da Tijuca ao aeroporto internacional do Galeão, passando por Jacarepaguá (Curicica, Taquara, Tanque, Praça Seca), Campinho, Madureira, Vaz Lobo, Vicente de Carvalho, Vila da Penha e Penha. Obra iniciada em março de 2011. 8 Mais um corredor nos moldes BRT, ligando o Recreio dos Bandeirantes a Deodoro, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, com 23 quilômetros de extensão. As obras foram iniciadas em julho de 2012. 9 A antropologia é rica em reflexões sobre as possibilidades do trabalho do etnógrafo, que se dirige a uma cultura que não lhe é familiar para conhecê-la, descrevê-la e analisá-la. Um trabalho interessante a ser consultado é “De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana”, de José Guilherme Cantor Magnani, cuja referência pode ser encontrada ao fim deste livro. 10 Importante mencionar que o ISP publicou um estudo denominado Dossiê Trânsito 2011. O estudo traz uma análise dos dados de 2010 sobre mortes e lesões no trânsito, ocorridas no estado, usando como fonte a base de dados de registros de ocorrência da Polícia Civil. O objetivo do dossiê foi apresentar a situação do ano de 2010, em relação ao número de vítimas no trânsito, e a sua evolução frente aos anos anteriores. Os dados foram organizados por tipos de acidente, por consequências, distribuição geográfica (por municípios e por Áreas Integradas de Segurança – AISP); foram calculadas taxas por população residente e por frota de veículos automotores, além da indicação do perfil das vítimas. Foi elaborado também um fluxo dos acidentes de trânsito e a participação das diversas instituições envolvidas no atendimento desses eventos, como polícia civil e polícia militar, guardas municipais, corpo de bombeiros e serviços de saúde, dentre outros. Com esse estudo, o ISP mantém sua tradição de divulgar e analisar dados gerados no âmbito da segurança pública. 11 Trecho de “Cariocas”, composta e gravada pela cantora Adriana Calcanhoto em 1993 para o disco A Fábrica do Poema, de 1993. 12 Sistema de trânsito rápido, com veículos articulados, que trafegam em corredores exclusivos e com modelo de pré-pagamento de tarifas (em construção, no período em que essa pesquisa foi realizada). 6 BRT Transoeste: corredor expresso de ônibus articulado, com 56km de extensão e 64 estações. Linha que liga a Barra da Tijuca a Santa Cruz e Campo Grande, passando pelos bairros do Recreio, Guaratiba, Barra de Guaratiba e Sepetiba. Primeiro trecho inaugurado em junho de 2012. 7 Capítulo 1 – Transporte, mobilidade e segurança no trânsito: uma agenda para o Rio 23 24 Capítulo 2 – Mortes no trânsito na cidade do Rio de Janeiro entre os anos 2000 e 2010 Capítulo 2 – Mortes no trânsito na cidade do Rio de Janeiro entre os anos 2000 e 2010 Silvia Ramos1 Leonardo Leão de Paris2 As mortes no trânsito representam uma proporção muito importante das mortes por causas externas3 no Brasil. Seus patamares e seu crescimento refletem em grande medida a pouca atenção e a baixa eficácia com que governos e sociedade têm tratado o assunto nas últimas décadas. O rompimento da barreira simbólica dos 40 mil óbitos por ano é um sinal de alerta que não deveria ser desprezado e reforça a importância de olharmos para as informações que o país produz. É isto que faremos a seguir. Em outubro de 2011, o Ministério da Saúde divulgou dados nacionais sobre mortes provocadas por acidentes de trânsito e revelou que o Brasil bateu o recorde de ocorrências letais por meio de acidentes terrestres ao ultrapassar, em 2010, 40 mil óbitos. Considerado o país com o maior número absoluto de homicídios e situado entre os dez países com a maior taxa de mortes intencionais do mundo, o Brasil está também entre os países com a maior taxa de acidentes de trânsito. Gráfico 1 – Comparação entre mortos e feridos em acidentes de trânsito na cidade do Rio de Janeiro de 2005 a 2010 20000 17.263 15.300 15000 19.782 18.724 18.420 Feridos Mortos 14.924 10000 5000 885 0 2005 800 2006 972 874 2007 2008 676 2009 679 2010 Fonte: Instituto de Segurança Pública – ISP As mortes são uma fração dos acidentes com vítimas não fatais que, por sua vez, representam uma fração dos acidentes sem vítimas. O Gráfico 1, que focaliza o caso do Rio de Janeiro e é baseado nos registros da Polícia Civil, mostra que os óbitos por acidentes de trânsito constituem uma proporção entre 20 e 30 vezes menor do que o número de feridos por acidentes de trânsito. Os acidentes sem vítimas ocorrem em escala ainda maior. Dados da Companhia de Engenharia de Tráfego contabilizam entre 60 e 70 mil acidentes por ano na cidade. Mais precisamente, a base da CET-Rio registrou 68.587 acidentes em 2008, 68.296 acidentes em 2009, e 75.970 em 20104. Portanto, olhando a cidade e pensando no curso de um ano, temos a seguinte ordem de grandeza: 70 mil acidentes, 20 mil feridos e mil mortos no trânsito. É preciso manter em mente, ao analisar os dados a seguir, que os óbitos são a parte mais visível e mais extrema de dinâmicas muito frequentes e cotidianas de desrespeito às leis que, muitas vezes, levam a desfechos letais. As mortes são a ponta visível de um iceberg. Em outras palavras, são a parte final do funil que se inicia por eventos que se repetem, apenas na cidade do Rio de Janeiro, na proporção de 200 por dia. O presente capítulo analisa os microdados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) – do Datasus, o sistema de dados do Ministério da Saúde – detalhados para o Rio de Janeiro. Vamos indicar não apenas a magnitude das mortes no trânsito na cidade, mas as principais mudanças ocorridas ao longo da década passada e suas principais características sociodemográficas, isto é: as grandes tendências de distribuição das mortes por gênero, idade e raça/cor, além da distribuição por tipos de acidente. Este olhar meticuloso sobre a violência letal no trânsito no Rio de Janeiro tem por objetivo produzir indicações que contribuam para a elaboração de políticas públicas focalizadas nas dinâmicas de vitimização presentes na cidade. Os dados, suas características, seus problemas As análises realizadas a seguir baseiam-se nos microdados disponíveis na base de dados do SIM para os anos de 2000 a 2010. O sistema guarda informações sobre todos os tipos de óbitos no país, desde a década de 19705. Para as mortes ocorridas em acidentes de trânsito, o Sistema Internacional de Classificação de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID10) trata dos acidentes de transporte no intervalo de categorias que vão de V01 a V99. Dividido em acidentes terrestres e não-terrestres, tem categorias ordenadas de forma que seja possível identificar, de imediato, se a vítima foi pedestre (V01-V09) ou se usava algum tipo de veículo: bicicleta (V10-V19), motocicleta (V20-V29), triciclo (V30-V39), automóvel (V40-V49), caminhonete (V50-V59), veículo pesado (V60-V69) ou ônibus (V70-V79). O penúltimo intervalo de categorias (V80-V89) é destinado a meios de transporte menos utilizados ou com menor número de ocorrências (trem, bonde, trator etc.) ou que não puderam ter o tipo de veículo especificado. As últimas categorias correspondem aos acidentes não terrestres (V90-V99) e não serão usadas no presente trabalho. Para cada um dos meios de transporte é possível, também, identificar como se deu o evento que gerou a morte: sem colisão, colisão com objeto fixo ou colisão com algum dos meios de transporte mencionados anteriormente. No presente trabalho, utilizamos apenas as categorias que englobam a totalidade dos acidentes terrestres. Adicionalmente, em análises específicas, é necessário agregar algumas categorias para reduzir as distorções na apresentação dos resultados, devido à pouca participação de um meio de transporte no total de ocorrências e/ ou à semelhança entre tipos de acidentes. Dessa forma, algumas agregações melhoram o entendimento das mortes no trânsito. Assim, usamos as seguintes agregações: Automóvel (automóvel + caminhonete), Moto (motocicleta + triciclo) e Pesado (veículo pesado + ônibus), além das categorias Pedestre e Bicicleta. Outro problema da base de dados são as mortes sem causas esclarecidas. Como se observa no Gráfico 2, uma barra preta mostra que crescem ao longo da década as mortes por causas externas sem intencionalidade especificada, ou seja, mortes violentas cuja intenção – se homicídio, suicídio, acidente de trânsito ou outros acidentes – não foi esclarecida. Entre 2000 e 2006, esse resíduo ficou na faixa de 10 a 20 casos por 100 mil habitantes na cidade do Rio de Janeiro. Mas, a partir de 2007, a proporção de mortes cuja intencionalidade permanecia não esclarecida no Rio subiu dramaticamente para 31,4 por 100 mil habitantes, passando a 23,8 e a 21,4 em 2008 e em 2009, respectivamente. Dados mais recentes não haviam sido divulgados até novembro de 2010. Naqueles anos, essa taxa tornava-se maior do que a própria taxa de acidentes no Brasil, no estado, na Região Metropolitana e na cidade, lu- Capítulo 2 – Mortes no trânsito na cidade do Rio de Janeiro entre os anos 2000 e 2010 25 26 Capítulo 2 – Mortes no trânsito na cidade do Rio de Janeiro entre os anos 2000 e 2010 gar onde se mantém bastante baixa. É difícil precisar quanto da queda da taxa de mortes por acidentes de trânsito no Rio a partir de 2007 se deve à efetiva redução das mortes e quanto se deve ao aumento dos registros de mortes por causas não esclarecidas. As razões para o aumento destas não foram elucidadas durante a presente investigação, mas técnicos da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro informaram que uma parte significativa dessas mortes deverá vir a ser, no futuro próximo, adicionada às mortes por acidentes de trânsito. Por essa razão, sempre que possível, procuramos não trabalhar com os anos de 2007, 2008, 2009 e 2010 separadamente, mas tomamos os dados para os 11 anos (2000 a 2010), de modo a reduzir possíveis vieses provocados pelos dados faltantes. Gráfico 2 – Taxas de óbitos por 100 mil habitantes no Brasil e no estado, na Região Metropolitana e na cidade do Rio de Janeiro – 2000 a 2010 35 BR 31,4 30 19,6 14,6 10,4 12,6 14,4 10,5 12,0 16,3 12,2 13,1 21,4 23,8 20,2 11,5 2006 19,8 17,1 15,8 19,5 19,8 18,2 16,3 14,5 2005 10,4 19,5 18,9 17,0 15,3 20,1 19,6 19,1 15,5 16,2 18,7 18,9 15,4 15,5 15,4 10,2 9,8 18,8 19,0 14,5 17,2 16,3 17,7 18,5 13,4 10 10,5 15 17,1 17,8 14,1 15,5 20 21,3 RJ 25 2007 2008 2009 2010 Reg. Met. Capital (RJ) N. esp. 5 0 2000 2001 2002 2003 2004 Fonte: SIM/Datasus Como dissemos, os dados sobre as mortes no trânsito representam o extremo de dinâmicas que ocorrem em grande escala diariamente, envolvendo pedestres, condutores de veículos automotores, passageiros, ciclistas e usuários de outros meios de transportes, cujos disfuncionamentos resultam em acidentes sem vítimas, com vítimas e com vítimas letais. Os dados sobre as mortes, portanto, interessam neste estudo menos como a expressão matemática precisa dos óbitos ocorridos na cidade no período e mais como a aproximação possível para compreendemos melhor a natureza, as características e as tendências das dinâmicas em curso. Os dados sobre as mortes são importantes, pois nenhuma outra base se aproxima do SIM em termos de cobertura nacional, homogeneidade das informações e precisão, a despeito dos seus problemas. Os dados sobre morbidade do próprio Datasus (informações produzidas a partir das internações hospitalares) são imprecisos e dificilmente expressam o conjunto dos acidentes não-fatais. Já a base que reúne informações sobre acidentes sem vítimas (desenvolvida pela CET-Rio) permite o georreferenciamento de milhares de ocorrências, mas não possibilita visualizar informações sobre os envolvidos nos acidentes (se homens ou mulheres, sua faixa etária etc.) e não oferece cobertura total da cidade6. Patamares das taxas cariocas e as tendências em curso: o que está mudando Como se verifica na Tabela 1, a taxa média das mortes por acidentes no Brasil, entre 2000 e 2010, é de 19,3 por 100 mil habitantes7. A taxa média para o Estado do Rio de Janeiro é 17,7. Para os municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ)8, a taxa é 14,3 fora a capital9; para a cidade é 14,7, abaixo da média nacional. Quando olhamos a distribuição média pelos principais tipos de acidente, chama a atenção o fato de que a taxa de mortes por atropelamentos no Rio (7,6 por 100 mil habitantes) seja maior do que a taxa do país (5,3): quando tomamos as mortes por tipo de acidente e usamos como contraste o panorama do país na década passada, configura-se um cenário em que os pedestres podem ser vistos como o principal problema da cidade. tabela 1 – panorama das mortes no trânsito: taxas médias por 100 mil habitantes no Brasil e no estado, na cidade e na rmrJ – 2000 a 2010 Brasil Estado RM (sem capital) Capital Acidentes 19,3 17,7 14,3 14,7 Pedestres 5,3 7,9 7,8 7,6 Bicicleta 0,8 0,7 0,3 0,3 Moto 3,4 2,5 1,3 1,8 Automóvel 4,0 3,0 1,5 2,3 Pesado 0,5 0,4 0,2 0,2 outros 5,3 3,2 3,1 2,4 Fonte: SIM/Datasus Ao analisarmos essa evolução usando o Gráfico 3, surge um aspecto muito importante de mudanças no perfil dos acidentes entre 2000 e 2010: as mortes por acidentes de motos (a linha em vermelho), que estavam em terceiro lugar tanto no país como no estado, na RMRJ e na cidade, em todos os casos mudaram de posição e ga- nharam relevância, indo para o primeiro lugar no caso do Brasil e para o segundo lugar no ranking das mortes no RJ, na RMRJ e na cidade. É importante observar que, na cidade e nos demais municípios da RMRJ, as mortes por acidentes com motos crescem, mas os atropelamentos ocorrem em proporção maior. Gráfico 3 – evolução das taxas de mortes por tipos de acidentes no Brasil e no estado, na rmrJ e na cidade do rio de Janeiro – 2000 a 2010 Fonte: SIM/Datasus Outra evidência da mudança de padrão dos acidentes que mais provocam mortes pode ser confirmada no Gráfico 4. quando tomamos todas as mortes por acidentes e pensamos na proporção de cada modalidade em comparação com as demais, verificamos que as mortes provocadas Capítulo 2 – Mortes no trânsito na cidade do Rio de Janeiro entre os anos 2000 e 2010 27 28 Capítulo 2 – Mortes no trânsito na cidade do Rio de Janeiro entre os anos 2000 e 2010 por acidentes com moto (em vermelho), que representavam 1,5% do total de mortes, passaram a corresponder a 21,4% – o que representa um crescimento de 14,2 vezes em 11 anos. Gráfico 4 – Evolução das causas de mortes por acidentes no Rio de Janeiro – 2000 a 2010 1,5 2000 56,2 Outros 6,0 Bicicleta 35,6 Pesado Moto 1,2 Automóvel 2010 52,6 0 10 20 13,5 30 40 50 21,4 60 70 80 3,7 90 7,5 Pedestres 100 Fonte: SIM/Datasus De fato, a grande mudança da década foi o crescimento não só das mortes por acidentes com motos, mas de todos os indicadores associados a este modal. Se a frota de motocicletas (no Brasil) cresceu 369% nessa década (2000), as mortes de motociclistas cresceram 506%. Em outras palavras: 369% do incremento da mortalidade devem-se a esse aumento drástico da frota de motocicletas. Mas 137% (a diferença entre ambas as percentagens) só podem ser interpretados como um aumento do risco-motocicleta no trânsito. [...] Já com o automóvel ocorreu processo inverso: a frota aumentou 88% e as vítimas de acidentes com automóvel 57%. Assim, por motivos diversos, o risco-automóvel caiu 31 pontos percentuais no período. [...] Já no início do período, em 1998, o risco-motocicleta era 75% maior que o risco-automóvel. Para o fim do período, no ano de 2008, esse risco ampliou-se ainda mais: 170% maior que nos automóveis. (Waiselfisz, 2011, p. 16). O autor acrescenta um dado nacional muito importante: em 1970, as 62 mil motocicletas registradas no país representavam só 2,4% do total de veículos motorizados. Para 2010 já podiam ser contadas 16,5 milhões de unidades, representando 25,5% dos veículos motorizados. Na cidade do Rio de Janeiro, segundo dados do Detran, havia 89.406 motos em 2001, e 193.135 em 2010, mostrando um crescimento de 159%. A frota de automóveis aumentou 22,5% e a de veículos pesados 33,2% (Gráfico 5). A frota carioca de motos aumentou 159% e as mortes por acidentes de motos cresceram 365% no mesmo período, passando de 38 em 2001 para 177 em 2010. Gráfico 5 – Crescimento da frota de automóveis, motos e veículos pesados na cidade do Rio de Janeiro – 2001 a 2010 200 BR 159,0 150 100 50 0 22,5 Pesado 33,2 Automóveis Fonte: Detran Motocicletas A distribuição desigual das mortes por sexo, idade e raça todos os acidentes, olhando-se para o Rio de Janeiro, a distribuição entre masculino e feminino guarda a proporção em que aproximadamente 80% das vítimas são homens, contra 20% de vítimas mulheres. Nos acidentes envolvendo pedestres, a proporção se aproxima de um terço de mulheres para dois terços de homens. No caso de automóveis e veículos pesados, a proporção é ligeiramente mais acentuada. Quando as vítimas se acidentaram em motos ou bicicletas, o perfil de gênero se radicaliza. No caso das motos, 89,8% das vítimas fatais são do sexo masculino e, no caso das bicicletas, essa proporção é de 89,3% (Gráfico 6). O desequilíbrio de gênero entre as vítimas de acidentes de trânsito lembra características similares entre as vítimas de violência intencional. Em homicídios, os homens são 92% das vítimas, e em suicídios, 79,1%. Essas indicações nos mostram que a mortalidade violenta é essencialmente masculina e os acidentes de trânsito confirmam a regra. Quando analisamos as mortes no trânsito desagregadas por variáveis demográficas, isto é, por sexo, idade e raça, verificamos que a distribuição dos óbitos não é homogênea na população. As mortes são concentradas em segmentos da população com características específicas. E quando complexificamos essas variações por tipos de acidentes, obtemos indicações capazes de orientar políticas públicas de prevenção, sejam campanhas educativas, sejam estratégias de legislação e fiscalização. Acresce-se a isto o fato de que as variáveis de cor/raça podem ser tomadas como uma aproximação a indicadores socioeconômicos de renda e escolaridade. Em primeiro lugar, as mortes por acidentes de trânsito, tais como as mortes por agressões intencionais e os suicídios, são extremamente concentradas entre os homens. Na média de Gráfico 6 – Distribuição da proporção média de mortalidade no trânsito, por tipo de locomoção e sexo na Capital do Rio de Janeiro – 2000 a 2010 100 93,1 Mulheres 89,9 73,4 75 73,4 76,6 73,0 Homens 50 26,6 25 6,9 0 Bicicleta 26,6 27,0 23,4 10,1 Moto Pesado Pedestre Automóvel Trânsito Fonte: SIM/Datasus As faixas de idade são importantes para compreendermos as dinâmicas dos acidentes e produzirmos estratégias de prevenção destinadas a públicos-alvo definidos. No Gráfico 7, é possível visualizar, dentro das diferentes faixas de idade, a distribuição dos acidentes por tipos. Nitidamente, verificamos que entre as faixas mais baixas (0 a 14), predominam os atropelamentos (marcados em cinza no gráfico), que voltam a crescer nas faixas mais velhas (acima de 50), até chegar a 86% das mortes quando as vítimas têm 80 anos e mais. As mortes por acidentes de automóveis crescem dos 15 anos em diante e começam a cair quando as vítimas têm acima de 50 anos. As mortes por acidentes de motos (em amarelo) dão um salto assustador na faixa dos 15 aos 19, e se mantêm muito numerosas até a faixa dos 25 a 29, sendo evidente a concentração desse tipo de ocorrência entre os jovens. Capítulo 2 – Mortes no trânsito na cidade do Rio de Janeiro entre os anos 2000 e 2010 29 30 Capítulo 2 – Mortes no trânsito na cidade do Rio de Janeiro entre os anos 2000 e 2010 Gráfico 7 – distribuição percentual das vítimas fatais segundo faixa etária e tipo de acidente de trânsito na capital do rio de Janeiro – 2000 a 2010 100% 80% 14,4 20,6 12,7 15,3 12,0 6,2 10,1 5,7 9,0 73,3 79,9 82,4 86,0 10-14 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74 75-79 80+ 10,7 6,7 9,9 27,5 60% 40% 61,9 21,5 71,3 20% 67,1 16,7 32,5 22,4 30,0 20,1 25,8 19,7 22,4 26,5 17,4 19,0 31,0 18,8 16,5 17,4 11,1 10,3 6,1 15,6 15,5 16,3 56,1 59,0 18,7 17,6 10,7 11,9 14,5 12,8 66,4 67,6 8,8 20,1 37,7 46,5 53,2 0% 0-4 5-9 pedestre automóvel motocicleta outros Fonte: SIM/Datasus O conjunto de dados organizados no Gráfico 8 mostra a distribuição das mortes no trânsito, na cidade do Rio de Janeiro, de 2000 a 2010, por idade e raça/cor. Nesses gráficos, verificamos que a vitimização fatal por acidentes de trânsito é significativamente modulada por idade e também por cor. A indicação por raça/cor10 traz uma nova perspectiva ao debate, com a aproximação de variáveis socioeconômicas, sugerindo que as vítimas classificadas como “não-brancas” tendem a ter menor renda e escolaridade que as vítimas classificadas como “brancas”. Nesse caso, chama a atenção o fato de que – mesmo quando tomadas no conjunto dos acidentes de trânsito – negros (soma de “pretos” e “pardos”) predominam ligeiramente entre as vítimas. Também predominam quando nos debruçamos sobre os atropelamentos e, principalmente, quando olhamos para as mortes por acidentes com motos e, especialmente, na faixa mais jovem. O único tipo de acidente em que brancos são maioria, comparativamente às vítimas não-brancas, é o que envolve automóveis. Gráfico 8 – taxas de mortalidade por 100 mil habitantes por cor e idade na cidade do rio de Janeiro – 2000 a 2010 Fonte: SIM/Datasus Vale recordar que o Brasil tem feito progressos importantes na redução de violência letal por acidentes de trânsito, não apenas a partir de iniciativas como a reforma do Código de Trânsito (1998) ou a adoção de legislação mais rigorosa em relação ao uso do álcool (Lei Seca), mas também em relação à obrigatoriedade dos dispositivos de segurança em automóveis, destinados à redução da letalidade em caso de acidentes: por exemplo, cinto de segurança, freio ABS, airbags e outros recursos. No caso dos acidentes de motos, em que as vítimas são predominantemente jovens, do sexo masculino e negros – portanto, jovens pobres e muitas vezes moradores de bairros de periferia, muitos dos quais usam as motocicletas como meio de subsistência – tudo indica que os governos, os legisladores, a mídia e a sociedade não têm dedicado importância equivalente à dos acidentes com automóveis. É preciso acrescentar que as vítimas de acidentes de motos, ao lado de menor renda e menor escolaridade, também têm menor capital social, por causa da faixa etária mais jovem, por causa da classe social, dos locais de moradia, do menor acesso à mídia e da menor tradição de ação coletiva. Observando os dados do Rio de Janeiro, devemos concluir que os atropelamentos são o problema permanente da cidade, persistindo ao longo da década passada em patamares bastante acima da média nacional. Por outro lado, as motos são a grande novidade no cenário de preocupações – e não só pelo crescimento da frota, pelo novo uso que se faz do veículo (meio de subsistência para alguns jovens), ou o desrespeito frequente às sinalizações e à legislação sobressai a tendência à naturalização sobre a sorte de suas vítimas e à banalização dos acidentes que envolvem motos, sejam eles fatais ou não. Tudo isso deveria constituir um foco de atenção nos próximos anos. Notas Pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes e uma das coordenadoras da pesquisa. 1 Estatístico do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes. 2 Segundo a Classificação Estatística e Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, mortes por causas externas são mortes não naturais que sobrevêm da decorrência de acidentes, homicídios, suicídios ou qualquer outro tipo de violência. 3 Trata-se da base GEO-GIT desenvolvida pela CET-Rio a partir das ligações ao sistema 190 da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. 4 Para uma descrição detalhada do SIM, veja Daniel Cerqueira. Mortes Violentas Não Esclarecidas e Impunidade no Rio de Janeiro, outubro de 2011. Disponível em: www. forumseguranca.org.br 5 Por uma série de razões, a base não registra acidentes em algumas das principais artérias da cidade, como Avenida Brasil, Linha Vermelha, Linha Amarela e outras. 6 A taxa se calcula pela divisão do número de acidentes em determinado ano pelo número de habitantes, ponderado por 100 mil. No caso da taxa média de vários anos, procede-se à soma dos acidentes por todos os anos, dividido pelo número de anos. 7 A RMRJ compreende os seguintes 19 municípios: Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Itaguaí, Japeri, Magé, Mangaratiba, Maricá, Mesquita, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, Rio de Janeiro, São Gonçalo, São João de Meriti, Seropédica. 8 Para permitir a comparação com as taxas da capital, sempre que aparecer RMRJ neste trabalho, a cidade do Rio do Janeiro foi excluída da categoria. 9 A categoria “não-brancos” reúne as vítimas identificadas no Datasus como “pretos” e “pardos” segundo a classificação adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A base populacional para esses cálculos foi retirada do site do Instituto Pereira Passos (IPP), para o ano de 2000 e baseia-se nos dados do IBGE. 10 Capítulo 2 – Mortes no trânsito na cidade do Rio de Janeiro entre os anos 2000 e 2010 31 32 Capítulo 3 – Percepções sobre o trânsito Capítulo 3 – Percepções sobre o trânsito Barbara Musumeci Mourão1 A cidade do Rio de Janeiro e seus arredores Neste capítulo, serão apresentados os resultados de um levantamento de natureza qualitativa, realizado com uma amostra não aleatória de 568 jovens e adultos que fazem uso dos mais diversos meios de locomoção. A enquete buscou apreender os sentimentos de motoristas, passageiros de transportes coletivos e pedestres a respeito de suas experiências cotidianas ligadas à mobilidade urbana. Avaliaram-se não apenas seus anseios, temores e a sensação de risco, mas também os prazeres, as facilidades e as propostas para melhorar o fluxo e as condições de trânsito na cidade. Para isso, os entrevistados foram solicitados a responder, de forma espontânea, a perguntas abertas sobre suas experiências, positivas e negativas, no dia-a-dia; sobre o que os levava a sentir-se em risco no trânsito; sobre o que fariam para melhorá-lo e de que maneira definiriam o trânsito no Rio de Janeiro. Salvo nas situações que exigiram a intervenção direta do pesquisador, nas ruas, os questionários foram respondidos de próprio punho pelos entrevistados, por e-mail, em escolas ou em locais de trabalho. O que se pretendeu, com este trabalho, foi trazer à luz o repertório de ideias e expressões associadas a experiências de locomoção na cidade do Rio de Janeiro e em suas vias de acesso. Os resultados que aqui se encontram quantificados, assim como os cruzamentos de variáveis, têm um caráter apenas aproximativo e indicativo, não podendo, portanto, ser generalizados para a população do município, tampouco de sua Região Metropolitana. Diante da quantidade e da multiplicidade de respostas, foi necessário agregar e consolidar as informações contidas nos questionários para que finalmente elas se tornassem inteligíveis. Ainda assim, a leitura dos dados privilegiou o aspecto qualitativo, focalizando a singularidade e a recorrência das variáveis, fundidas ou destacadas, como se verá, em função de seus significados subjacentes. Evidentemente, como o objetivo era produzir um inventário de questões, ideias, vocabulários e imagens apresentados de maneira inteiramente espontânea pelos respondentes, os percentuais expostos não se referem ao número total de entrevistados, mas sim aos múltiplos conteúdos expressos em suas respostas. O questionário e o perfil dos respondentes Embora não se trate de uma amostra estatisticamente representativa da população do município, nem de uma amostra estratificada por usuários dos distintos meios, buscaram-se formas de diversificar o conjunto de entrevistas: os questionários foram aplicados nas diferentes regiões da cidade a uma população diferenciada tanto do ponto de vista de idade e de gênero, quanto da condição de motorista profissional ou particular. O que diferencia este levantamento de outros realizados anteriormente é que a maior parte das pesquisas efetuadas até então buscava mensurar as formas de uso dos transportes e as avaliações de seus usuários. Aqui, trata-se também de capturar, sem qualquer tipo de indução, as percepções subjetivas, expressas nos sentimentos revelados e nas atribuições de sentido associadas às observações individuais. Surpreende, como se verá adiante, a convergência da uso de um só meio de transporte e que, mesmo privilegiando um ou dois deles, não tenham também experiências nos demais. Para qualquer pessoa que se locomove pela cidade, portanto, é difícil restringir suas observações a uma perspectiva única. Isso explica, provavelmente, as enormes discrepâncias entre as pesquisas sobre usos e avaliações dos meios de transporte. Em parte porque, além de circunscreverem áreas geográficas e períodos distintos2, cada base de dados, dependendo dos objetivos da instituição que a produz, considera conjuntos diferentes de meios de transporte, definindo inclusões, exclusões e agregações segundo uma lógica própria. Além disso, alguns levam em conta apenas o transporte principal ou os que foram utilizados na véspera da entrevista, enquanto outros englobam todos os meios usados pelos entrevistados. As pesquisas adotam ainda abordagens metodológicas diversas (como aplicação de questionários em domicílio e entrevistas telefônicas) e seus totais também são distintos, expressando ora 100% da amostra, ora a soma de todos os meios apontados pelos entrevistados. Na Tabela 2, foram reunidos os resultados de diferentes levantamentos, de forma a permitir a visualização de seus pontos convergentes e contrastantes: gramática através da qual o trânsito da cidade é concebido e adjetivado, a despeito das variações etárias e regionais, que serão, por sua vez, igualmente exploradas no curso do capítulo. Os entrevistados responderam às seguintes perguntas: 1. Que experiências ruins o(a) senhor(a) tem tido no seu dia-a-dia no trânsito? 2. Que experiências boas o(a) senhor(a) tem tido no seu dia-a-dia no trânsito? 3. Tem alguma coisa que faz o(a) senhor(a) se sentir em risco no trânsito? 4. O que o(a) deixa estressado(a) no trânsito? 5. O que o(a) senhor(a) acha que deveria ser feito para melhorar o trânsito? 6. Se o(a) senhor(a) tivesse que escolher uma palavra para definir como é o trânsito na cidade do Rio de Janeiro, qual escolheria? Meio de transporte utilizado Por razões óbvias, dividir os habitantes da cidade em motoristas, pedestres, ciclistas, passageiros de transportes coletivos e usuários de outros modais não é uma tarefa fácil. Além de praticamente toda a população ser, em algum momento, pedestre, poucos são os que fazem COMPARATIVO DA DISTRIBUIÇÃO DE USUÁRIOS DOS DIFERENTES MEIOS DE Tabela 2 – Comparativo da distribuição de usuários dos diferentes meios de transporte, por instituto de pesquisa3 TRANSPORTE, POR INSTITUTO DE PESQUISA FETRANSPOR 4 IPEA5 RMRJ - 2009 STRJ6 RIO COMO VAMOS7 IBPS / O GLOBO8 BRASIL SUDESTE RMPRJ - Município do Rio Município do Rio - 2011 – 2011 2002/2003 de Janeiro - 2011 de Janeiro - 2011* Ônibus 91% 33,08% 45% Van / kombi/ besta 39% 8,19% 5% 4% Trem 15% 1,52% 1% 3,2% Metrô 14% 1,78% 3% 6,3% Carro 12% 23,8% 25,6% 10,58% - 12,6% 11,6% 0,51% - 0,70% - - 12,3% 8,3% 33,85% 19% 4,7% 7% 3,8% 3,24% - - 6,32% - 28,9% Moto 44,3% 3% Taxi A pé Bicicleta Outros 9 - 50,7% 37,9% 11,3% “veículo próprio” 10% 2% 1,7% *Deslocamentos para o trabalho Fonte: CESeC/SMS-Rio Capítulo 3 – Percepções sobre o trânsito 33 34 Capítulo 3 – Percepções sobre o trânsito utilizados no dia-a-dia, sem especificar o motivo das viagens – se a trabalho ou a passeio. Como se verá no Gráfico 9, onde estão registrados os primeiros meios de locomoção mencionados por entrevistado, os ônibus predominaram de maneira absoluta. Ao contrário de alguns dos levantamentos relacionados acima, cujos questionários continham respostas de múltipla escolha, nesta enquete pediu-se aos entrevistados para indicar, de forma totalmente espontânea, o(s) meio(s) de transporte Gráfico 9 – Meio de transporte utilizado em 2011 pelos habitantes da RMRJ entrevistados (%) 90 Pedestre 79,0 60 30 8,1 0 ônibus Carro 4,6 2,6 1,9 1,9 0,7 0,9 0,2 Metrô Táxi Bicicleta Moto Trem Van Barca Fonte: CESeC/SMS-Rio Por diversos motivos, o trajeto feito a pé não foi mencionado, provavelmente pelo fato de os respondentes não estarem sugestionados por opções de respostas previamente definidas e porque a expressão “meios de transporte”, contida na formulação da pergunta, está fortemente associada, no imaginário, a algum veículo, motorizado ou não. Por outro lado, tanto as entrevistas por e-mail quanto as realizadas em escolas e, sobretudo, aquelas aplicadas em locais de trabalho tendem a cobrir os segmentos que se deslocam com maior regularidade usando veículos automotores. Seria necessária, portanto, uma pesquisa domiciliar para que fosse possível captar a camada da população que se desloca somente a pé, já que, como revela a Pesquisa de Origem-Destino, realizada pela Secretaria Estadual de Transportes e pela Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística, com dados de 2002 e 2003, a imobilidade e a mobilidade não-motorizada se relacionam ao nível de renda e de escolaridade da população. Local de moradia Os gráficos que se seguem expressam uma sobrerrepresentação, no conjunto dos entrevistados, dos moradores das Zonas Norte e Oeste. Esse viés foi deliberadamente mantido no cômputo das respostas, já que se procurou captar particularmente os problemas vividos pela população mais pobre da cidade, sujeita às maiores dificuldades nos seus deslocamentos diários. Para a melhor visualização das questões específicas de cada área, agregaram-se as diferentes regiões da cidade e arredores segundo sua distância física e social do Centro (dados seus impactos diretos sobre a mobilidade) e como indicador aproximativo de renda. Assim, foram consideradas: 1. Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ), excluindo a cidade do Rio de Janeiro e abrangendo Baixada Fluminense, São Gonçalo e Itaboraí. 2. Zona Sul e Barra da Tijuca, em função da proximidade de renda e de acesso comum a bens materiais e simbólicos de seus moradores. 3. Tijuca e Vila Isabel, pelos mesmos motivos que levaram a agregar Zona Sul e Barra. 4. Zona Norte, excluídos Tijuca e Vila Isabel. 5. Zona Oeste. Gráfico 10 – Local de moradia em 2011 dos habitantes da RMRJ entrevistados (%) 50 Pedestre 43,4 40 30 20 17,0 13,8 10 0 13,7 10,8 1,2 RMRJ Zona Sul/ Barra Tijuca/ Vila Isabel/ Maracanã Zona Norte Zona Oeste Outros Fonte: CESeC/SMS-Rio Idade e gênero A distribuição por faixa etária e a proporção de homens e mulheres no conjunto dos respondentes aproximou-se consideravelmente dos percentuais relativos à população do Rio de Ja- neiro. Como mostra o gráfico seguinte, 48% dos respondentes eram do sexo masculino – a população de homens, no município é de 46,8% – e metade dos entrevistados tinha entre 19 e 39 anos – 47% dos moradores do município têm entre 15 e 39 anos. Gráfico 11 – Idade em 2011 dos habitantes da RMRJ entrevistados (%) 30 25 20 Pedestre 26,3 23,3 19,8 17,5 15 9,3 10 3,9 5 0 Até 18 19-29 30-39 40-49 50-59 60+ Fonte: CESeC/SMS-Rio Experiências negativas vividas pelos entrevistados O relato mais frequente, quando se trata de lembrar dos sofrimentos e desconfortos vividos no trânsito é o dos “congestionamentos”: engarrafamentos, lentidão, tempo gasto entre a casa e o trabalho etc. Em seguida, destacam-se as “condições” gerais do trânsito, tais como longas esperas nos pontos de ônibus; paradas mal posicionadas; falta de informação nas ruas; o mau estado dos Capítulo 3 – Percepções sobre o trânsito veículos que fazem o transporte público; o mau estado das vias públicas, constantemente esburacadas; problemas de sinalização; mau atendimento e, em quantidade muito significativa, a superlotação, seja de trens, metrôs ou ônibus. O terceiro tipo de relato mais comum refere-se à forma como os motoristas conduzem, sejam eles profissionais ou particulares11. Excesso de velocidade – sobretudo dos motoristas de ônibus –, direção agressiva dos condutores em geral e desrespeito às regras de trânsito, aos ci35 36 Capítulo 3 – Percepções sobre o trânsito clistas e motociclistas, conformam um conjunto de experiências aqui referidos como problemas ligados aos próprios “motoristas”. te porque na Avenida Niemeyer os motoristas correm muito e dão a impressão de que vamos cair no mar. É uma loucura. A forma como eles dirigem é horrível. Parece que eles não dirigem, eles voam. – moradora de Jacarepaguá, 35 anos. A cidade hoje parece parada. Os congestionamentos são diários. Além disso, o transporte público, sobretudo o metrô e os trens, demonstram que a oferta de serviços não corresponde à demanda. Muitos veículos estão em péssimo estado de conservação e a administração dos mesmos ainda pouco fez para satisfazer minimamente as necessidades do cidadão. – morador de Jacarepaguá, 38 anos. Cenas de violência, acidentes e comportamentos negativos de passageiros de coletivos – tais como fumar, não ceder o lugar ou falar alto – também compõem, ainda que em menor escala, o leque de experiências negativas dos entrevistados (Gráfico 12): É muito ruim ser obrigada a compartilhar a ciclovia com os entregadores de água que usam os triciclos e teimam em fazer uso dela, os cadeirantes, as pessoas que insistem em fazer caminhadas ou corridas por ali e os caras das carrocinhas de sorvete. [...] Outra coisa que é muito ruim para nós, ciclistas que usamos a bicicleta constantemente, [...] são os motoristas de carro que não respeitam a gente, os ônibus que vêm em cima da gente. Qualquer motorista de veículo automotor não respeita o ciclista. E depois querem fazer do Rio a cidade das bicicletas. – moradora de Copacabana, 56 anos. Nos trens e nos ônibus, a lotação é constante em horas de grande fluxo. Nos ônibus, há a falta de educação dos motoristas, com ênfase no desrespeito para com os idosos. Há também a falta de educação dos usuários uns com os outros, na forma de empurrões e aparelhos de som com volume alto. [...] Nos trens, há muito desrespeito aos vagões exclusivos para mulheres e também desordem no fluxo de entrada e saída dos vagões, ocasionando empurra-empurra e discussões constantes. [...] Recentemente, tive que interceder quando dois homens iam bater em um idoso bêbado que estava gritando dentro de um ônibus. Além disso, o que posso dizer é que já fui assaltado quatro vezes em ônibus e em todas elas ele estava vazio – morador do Encantado, 30 anos. Os ônibus são muito cheios. [...] Sofro muito com os ônibus lotados. Sinto muita falta de segurança dentro do ônibus: tenho medo de ser assaltada e tenho medo de sofrer algum aciden- Gráfico 12 – Frequência em 2011 dos problemas mencionados pelos habitantes da RMRJ entrevistados (%) Experiências Ruins Congestionamento Espera, falta de informação, veículos e vias em mau estado, superlotação, sinalização. Condições Direção agressiva, desrespeito às regras e aos outros veículos, alta velocidade. Motoristas 33,1 28,7 20,4 Outros 8,7 Violência 4,2 Acidente Fumam, não cedem o lugar, falam alto, dão calote. 3,4 Passageiros 1,6 0 5 Fonte: CESeC/SMS-Rio 10 15 20 25 30 35 Entretanto, as avaliações não são as mesmas para todo o conjunto da amostra. Quanto maior a idade do entrevistado, por exemplo, mais frequente é a menção a experiências negativas associadas à forma de os motoristas dirigirem. Somadas aos dados que indicam um padrão predominantemente juvenil de mortalidade por acidentes – ver capítulo 2 deste relatório –, essas variações etárias reforçam a associação entre juventude e direção temerária, explicando, de certa forma, a maior tolerância dos mais jovens com os maus motoristas. Relatos negativos ligados ao modo de con- duzir os veículos são mais comuns entre moradores das duas regiões mais ricas da cidade – Zona Sul/Barra e Tijuca/Maracanã –, compostas por população provavelmente mais exigente e crítica, já que usufrui dos melhores serviços disponíveis, tal como mostram o depoimento e os gráficos seguintes. Os ônibus desrespeitam as regras do trânsito, às vezes na frente da guarda municipal e da polícia. Já caí no ônibus, já fui deixado no ponto diversas vezes e já vi mãe cair com filho no colo e ser hostilizada pelo motorista. Já reclamei inúmeras vezes – morador da Barra da Tijuca, 30 anos. Gráfico 13 – Frequência em 2011 da variável “motoristas”, segundo a idade e o local de moradia dos habitantes da RMRJ entrevistados (%) 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 40 41,4 Pedestre 25,6 15,0 Até 18 21,2 21,7 30-39 40-49 17,8 19-29 50-59 60+ Pedestre 35,5 30 25,9 18,3 20 16,0 12,6 10 0 Zona Sul/ Barra Tijuca/Vila Isabel/ Maracanã Zona Norte Região Metropolitana Zona Oeste Fonte: CESeC/SMS-Rio Experiências positivas no trânsito Quando chamados a descrever bons momentos ligados à mobilidade urbana, quase metade dos entrevistados afirmam que não tiveram, ou não têm, cotidianamente, nenhuma boa vivência para relatar. Neste caso, excepcionalmente, a resposta se torna única e excludente, ou seja, o perCapítulo 3 – Percepções sobre o trânsito centual das afirmações “nenhuma experiência positiva” coincide exatamente com a proporção dos entrevistados da amostra que forneceram essa resposta, já que ela não comporta nenhum acréscimo ou complemento. É notável, portanto, que mais de 40% dos respondentes, como indicado no Gráfico 14, tenham tido dificuldade em identificar qualquer experiência positiva nesse campo. 37 38 Capítulo 3 – Percepções sobre o trânsito Gráfico 14 – Frequência em 2011 das experiências positivas mencionadas pelos habitantes da RMRJ entrevistados (%) Nenhuma 42,4 Fluxo Abundância de modais e vagas, integração, ar condicionado, 'quando funciona'. 14,3 Facilidades/Conforto 11,7 Políticas Públicas Tudo. Custo das passagens. Cortesias, conversas, novas amizades. Mais respeito, bom atendimento. Paisagem, ouvir música, leitura, não ter que dirigir. 8,0 Outros 7,1 Sociabilidade 6,2 Bons comportamentos 5,3 Prazeres particulares 5,1 0 10 20 30 40 50 Fonte: CESeC/SMS-Rio Já entre os que admitem a existência de aspectos positivos, os itens mencionados com maior frequência foram categorizados como Fluxo – rapidez de tráfego para determinados transportes coletivos e carros particulares – e certas Facilidades e confortos – como a abundância de modais e de vagas em algumas áreas, ônibus que fazem a integração com o metrô, ônibus que possuem ar-condicionado etc. Em menor proporção, foram citadas algumas iniciativas, classificadas abaixo como Políticas Públicas, tais como o BRS, o BRT, a Lei Seca e a construção de ciclovias, além de melhorias na sinalização e nas vias. A Sociabilidade também aparece como um elemento valorizado, englobando gentilezas, conversas nos coletivos, estabelecimento de novas amizades e motoristas cordiais. Os Bons comportamentos e os Prazeres particulares, aludidos com menor frequência, resumem experiências como bons atendimentos e condução respeitosa, de um lado, e, de outro, a possibilidade de ouvir música, admirar a paisagem, ler, passar por lugares aprazíveis e não ter que dirigir. Quando consigo pegar um ônibus com ar-condicionado, mesmo que a viagem demore por conta do engarrafamento, a experiência é bem interessante, pois, no tempo de viagem, é possí- vel ir planejando o dia e refletindo sobre a vida. Muitas vezes, quando termina a viagem, tenho alguma solução para problemas do cotidiano. – moradora de Alcântara, 47 anos. Ouvir as conversas nos ônibus entre o motorista e o trocador, ou entre um deles e algum passageiro é sempre interessante; no Rio, o ônibus é um espaço de sociabilidade também. – moradora de Copacabana, 64 anos. Considero o metrô o mais seguro dos transportes na nossa cidade e todos os funcionários são muito bem treinados para atender ao bem-estar dos passageiros. – morador de Copacabana, 51 anos. O tempo de deslocamento é muito bom de moto. O Rio é lindo, [tem] uma vista incrível a cada passagem pelo Aterro do Flamengo, orla, Perimetral, Linha Vermelha, Linha Amarela – morador de Botafogo, 29 anos. A idade e o local de moradia estão associados à percepção de que nada no trânsito é positivo. Como mostra o Gráfico 15, são os mais jovens que, com maior frequência, fazem esse tipo de afirmação, ou seja, expressam uma visão um tanto niilista, quando se trata de descrever suas experiências do dia-a-dia no trânsito. Não surpreende que a mesma inclinação à negatividade absoluta se verifique também em maior proporção entre os moradores das zonas Oeste, Norte e Região Metropolitana e, em menor escala, entre os moradores da Barra e Zona Sul ou mesmo da área da Tijuca/Maracanã. São, assim, os entrevistados das regiões mais desfavorecidas os que encontram maior dificuldade em identificar qualquer elemento positivo nos seus deslocamentos diários. Gráfico 15 – Frequência em 2011 da variável “Nada é positivo”, segundo a idade e o local de moradia dos entrevistados (%) 70 60 Pedestre 57,8 46,6 50 40,0 40 39,3 33,3 30 20 11,1 10 0 60 Até 18 19-29 30-39 40-49 50-59 60+ Pedestre 52,7 47,9 44,3 45 35,1 30 21,1 15 0 Zona Oeste Zona Norte Região Metropolitana Tijuca/Vila Isabel/ Maracanã Zona Sul/ Barra Fonte: CESeC/SMS-Rio Quando viajo de qualquer meio de transporte, não tenho experiência boa nenhuma vez. – morador de Senador Camará, 23 anos. Que eu me lembre, nenhuma [experiência positiva]. Trânsito é trânsito e é sempre ruim. – moradora de Bangu, 18 anos. Nenhuma [experiência positiva], pois venho apertadíssima, com pessoas mal-humoradas e exaustas. – moradora de Tomás Coelho, 19 anos. Finalmente, vale ressaltar que houve muito poucas menções ao custo do transporte, seja relacionando-o à implantação do bilhete único como elemento positivo de facilitação da mobilidade – apenas quatro referências –, seja ao valor excessivo das passagens dos coletivos, quando se trata de experiências negativas – apenas oito Capítulo 3 – Percepções sobre o trânsito menções. O relativo silêncio sobre o preço das passagens se torna surpreendente, na medida em que 74% dos entrevistados residem nas áreas mais pobres da RMRJ e, como mostram os dados do IPEA, mais de 28% da população brasileira (assim como da Região Sudeste) teriam desistido de ir a algum lugar ou recorrido a outro meio de transporte por falta de condições financeiras, no período da pesquisa (IPEA, 2011). O que provoca medo no trânsito Os entrevistados que, espontaneamente, afirmam não se sentir em risco jamais, respondendo “Nada” à pergunta sobre o que provoca medo – resposta, nesse caso, também única e 39 40 Capítulo 3 – Percepções sobre o trânsito excludente –, não passam de 3,4% do total, tal como expresso no Gráfico 16. Ainda que se possa supor uma tendência, sobretudo entre os homens jovens, a sonegar informações sobre seus próprios medos, o número seria pequeno. O que chama a atenção, ao contrário, é a abundância dos elementos ansiogênicos identificados, sem nenhuma forma de indução, pelos respondentes da enquete. Chama a atenção também o fato de que o segundo fator mais citado, “Risco de vio- lência”, não se refere ao trânsito propriamente dito, mas a um tipo de violência de natureza criminal: assaltos, brigas e presença de ‘cracudos’ no interior dos transportes coletivos ou nos sinais e nas áreas congestionadas. Por sua vez, o que se chamou de Condições (13,8% das respostas) expressa um conjunto de situações propiciadoras de acidentes, como vias em mau estado, sinalização deficiente, tachões no asfalto (para os motociclistas) etc. Gráfico 16 – Elementos que geram percepção de risco para os habitantes da RMRJ entrevistados em 2011 (%) Direção perigosa, desrespeito, alta velocidade, embriaguez. Risco de assalto, brigas, 'cracudos', bala perdida. Vias em más condições, má sinalização, tachões. Travessia, tudo. Motoristas 40,3 Risco de violência 25,2 Condições 13,8 Outros 11,1 Risco de acidente 4,6 Nada 3,4 Congestionamento 1,6 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Fonte: CESeC/SMS-Rio Tenho medo de assaltos, medo de batidas de carro, medo de cair quando estou em pé e mal posso me segurar, medo do mau humor de todo mundo e do meu e medo de o motorista, que agora virou cobrador, se distrair ao volante porque tem que contar moeda para dar troco o tempo todo. – moradora de Niterói, 55 anos. Quando a polícia para a moto, eles sempre querem um “cascalho”. Mesmo estando certinho e o dono da farmácia dando todo mês um “cascalho” para eles. – morador da Usina, 26 anos. O problema aludido pelos entrevistados com maior frequência (40% das respostas) diz respeito à responsabilidade de quem conduz os veículos. Essa variável, indicada no gráfico abaixo pela categoria Motoristas, agrega elementos como direção perigosa e agressiva, desrespeito às regras e aos demais condutores, excesso de velocidade e uso de álcool ao volante. A impru- dência – sempre vista como uma atitude dos outros indivíduos, sejam eles motoristas de ônibus, motociclistas ou motoristas de carros particulares – é, portanto, o principal fator responsável pelo sentimento de que se está em risco. [O que me faz sentir em risco é] esse comportamento desses motoristas que eu estou falando, que pode causar um acidente, além dos assaltos, que estão rolando direto, a gente sabe, principalmente nos sinais. Estar na rua é correr risco. – moradora da Ilha do Governador, 36 anos. Me sinto constantemente em risco no trânsito. Risco de ser “massacrada” pelos outros motoristas, risco de ser assaltada etc. – moradora do Recreio dos Bandeirantes, 26 anos. A falta de educação, a arrogância, a agressividade e a atitude dos motoristas de [...] ônibus e carros privados, demonstrando ostensivamente que os veículos valem mais do que as pessoas. E também falta de respeito dos motoristas pelos pedestres que tentam atravessar nas faixas de pedestres. – moradora da Gávea, 60 anos. Somando-se a isso o que foi identificado abstratamente como Risco de acidente (4,6% das respostas), verifica-se que, no conjunto, as duas principais preocupações referem-se a colisões, quedas ou atropelamentos provocados por maus motoristas ou por condições externas, segundo uma perspectiva; segundo outra, à violência de natureza criminal a que se sentem expostos os motoristas e passageiros dos diferentes meios de transporte. Gráfico 17 – Identificação da violência criminal como fator de risco no trânsito em 2011, segundo a região de moradia dos entrevistados (%) Região Metropolitana Pe 29,4 27,0 Zona Oeste 25,9 Zona Norte Tijuca/Vila Isabel/Maracanã 19,4 Zona Sul/Barra 18,9 0 5 10 15 20 25 30 35 Fonte: CESeC/SMS-Rio Se a percepção de estar exposto aos riscos de acidente é comum aos entrevistados de todas as idades e proveniências, a exposição à violência criminal é percebida desigualmente por moradores das diferentes áreas da cidade. Os que habitam as regiões mais pobres – seguramente, as que concentram as maiores taxas de criminalidade e os menores efetivos policiais – previsivelmente expressaram com maior frequência essa preocupação. Indicador contundente de que há problemas graves no universo da mobilidade – isto é, de que deslocar-se pela cidade implica experimentar um deficit de cidadania – é esse sentimento de insegurança vivido por quem transita a pé, de bicicleta ou em algum veículo motorizado. Seja porque os veículos e as vias não oferecem condições mínimas ou os motoristas não se portam como deveriam, seja porque é insatisfatória a qualidade das políticas públicas e da segurança pública. denadoras da pesquisa. 2 Note-se, por exemplo, que a frota de motocicletas cresceu 116 %, entre 2001 e 2008, como indicado no relatório. A diferença na proporção de motociclistas, entre as pesquisas realizadas no início da década passada e o começo desta, expressa também, além das diferenças metodológicas, esse crescimento real do número de veículos. Em sua pesquisa de percepção de 2008 e 2009, o Rio Como Vamos havia encontrado os seguintes resultados, relativos à cidade do Rio de Janeiro, para os dois anos, respectivamente: ônibus comum (44% e 47%); a pé (18% e 19%); veículo particular (12%); van/Kombi/ônibus pirata (6% e 10%); metrô (3%); ônibus executivo (2% e 3%); bicicleta (2%); moto (2% e 1%); taxi (1%); trem (2% e 1%). Ver referência ao final da publicação. http://www. riocomovamos.org.br/arq/pesquisa_percepcao_2009.pdf 3 Para os deslocamentos a passeio a distribuição se dá da seguinte forma: ônibus (35,8%), carro (40,4%), van (65), bicicleta (4,5%) e outros (13,3%), segundo pesquisa do IBPS para o jornal O Globo. Ver referência ao final da publicação. Notas FETRANSPOR – IMAGEM DOS MEIOS DE TRANSPORTE COLETIVOS: Etapa quantitativa. Região Metropolitana do Rio de Janeiro, 2009 (http://pt.slideshare.net/Fetranspor/ imagem-dos-meios-de-transportes-rj-pesquisafetranspor-de-opiniao-publica-fev09: última consulta em novembro de 2011). Pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes e uma das coor- IPEA – SISTEMA DE INDICADORES DE PERCEPÇÃO SOCIAL – MOBILIDADE URBANA,2011(http:// 1 Capítulo 3 – Percepções sobre o trânsito 4 5 41 42 Capítulo 3 – Percepções sobre o trânsito www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_ content&view=article&id=12932: última consulta em novembro de 2011). SECRETARIA DE ESTADO DE TRANSPORTES (RJ) – PESQUISA DE ORIGEM-DESTINO, 2002/2003. http://www. setreri.com.br/dados/pdtu2010.pdf 6 7 RIO COMO VAMOS. Como vamos em transporte. Base de dados. Disponível em: http://www.riocomovamos.org.br/ rcv/conteudo.php?cod=107. Acesso em novembro de 2011. IBPS / O GLOBO – O RIO QUE DÁ PEDAL, 2011 Para os deslocamentos a passeio a distribuição se dá da seguinte forma: ônibus (35,8%), carro (40,4%), van (65), bicicleta (4,5%) e outros (13,3%) (http://www.ibpsnet.com.br/index.php/pesquisa/2011/117-jornal-o-globo-rj-o-rio-que-da-pedal última consulta em novembro de 2011). 8 Passageiro de auto, transporte escolar, transporte fretado, caminhão, bonde e barcas/aerobarco/catamarã. 9 A pesquisa de percepção Rio Como Vamos/Ibope, feita por amostragem domiciliar, encontrou um percentual de 19% de respondentes que dizem se deslocar a pé, quando solicitados a responder, também espontaneamente, sobre o seu principal meio de locomoção. 10 Embora muitos ciclistas e motociclistas (entregadores, vigilantes etc.) utilizem também seus veículos como instrumento de trabalho, estamos considerando como “motoristas profissionais” os condutores de ônibus, trens e metrô. 11 Capítulo 4 – Considerações Finais O trânsito 'como ele é' efeitos negativos sobre os indivíduos, como aborrecedor, tedioso, chato, irritante, sufocador. Quando se pediu aos 568 entrevistados que definissem o trânsito carioca em uma palavra, foram elencados 121 diferentes vocábulos. Do conjunto dos adjetivos e substantivos que compuseram esse extenso repertório, menos de 10% carregavam algum significado positivo, ou mesmo neutro. Todos os demais eram claramente críticos e negativos. A palavra “caos”, por exemplo, surgiu espontaneamente 174 vezes. As palavras “péssimo” e “estressante” foram utilizadas 56 e 30 vezes, respectivamente. Para que esse oceano de ideias e imagens escolhidas pelos entrevistados gerasse alguma taxonomia, foram definidas oito diferentes classes de palavras (expressas no Gráfico 18), capazes de demarcar as principais noções subjacentes. Chegou-se, assim, às seguintes categorias: 4) Positivo/neutro, para simples valorações como ótimo, normal, satisfatório, razoável, bom. 5) Problemático, para avaliações do trânsito em sua complexidade, como insustentável, saturado, demorado, imprevisível. 6)Incompetente, para palavras que exprimem a falha de responsabilidade de alguém, como desrespeitoso, imprudente, vergonha, injusto, covarde. 7)Ameaçador, em referência aos riscos que o trânsito comporta, como hostil, violento, mortal, agressivo, perigoso. 8)Outros, para todas aquelas expressões que, embora sempre negativas, não correspondem a nenhuma das categorias precedentes. 1)Caótico, reunindo termos como confusão, tumulto, selvageria, descontrole Como se poderá observar no Gráfico 18, os dois conjuntos de palavras mais frequentes referem-se à noção de caos (39,8% das definições) e à percepção de algo meramente negativo (26,3%). 2)Ruim/péssimo, para simples adjetivações negativas, como horrível, lixo, ridículo, ruim. 3) Estressante, abrangendo as remissões aos Gráfico 18 – Avaliação do trânsito em 2011 pelos habitantes da RMRJ entrevistados (%) Caótico 39,8 Ruim/péssimo Tedioso, irritante, perturbador, sufocador, chato etc. Bom, normal, tolerável, solucionável, intenso etc. Complicado, engarrafado, dramático, crítico, imprevissível, difícil etc. Abandono, 'caça-níquel', inconsequência, desrespeito, covarde, vergonha etc. Agrassivo, hostil, violento, mortal etc. 26,3 Estressante 8,0 Positivo-neutro 7,8 Problemático 5,3 Outros 4,3 Incompetente 4,3 Ameaçador 4,3 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Fonte: CESeC/SMS-Rio Capítulo 4 – Considerações Finais 43 44 Capítulo 4 – Considerações Finais Ainda que essas expressões não correspondam plenamente a todas as experiências e avaliações dos entrevistados ao longo de suas vidas, importa registrar que é nesse repertório que a maioria deles encontra os elementos para expressar suas visões. Isso significa que não se pode desconsiderar, seja em campanhas educativas, seja em processos pedagógicos de maior envergadura, os vocabulários a que o imaginário recorre para compreender o universo do trânsito. Se os ignoramos, as mensagens podem não encontrar eco naqueles para os quais elas se destinam, e a comunicação corre o risco de se transformar em um monólogo incapaz de atingir as subjetividades, único caminho produtor de mudanças de comportamento. Em suma, o que este levantamento de percepções nos traz de surpreendente, em particular quando os entrevistados definem o trânsito, quase unanimemente, de forma tão negativa, é, por contraste, a naturalização, no dia-a-dia, desse problema grave, crônico e generalizado. Parte significativa das nossas vidas é consumida em deslocamentos cotidianos, em condições tidas como desagradáveis por praticamente todos os que manifestaram suas opiniões neste levantamento. Esse desconforto, transparente nos números exorbitantes de acidentes apontados pela pesquisa, parece ter sido assimilado como parte natural da vida. Engarrafamentos, transportes superlotados, condução agressiva, exposição à violência e os demais fatores inventariados pelos que responderam à pesquisa parecem ter sido incorporados à própria noção do que seja o trânsito ou a mobilidade. Acabamos, assim, por interpretar os sentimentos de medo, desconforto, ansiedade e irritação como meras idiossincrasias, mesmo que esses sentimentos sejam compartilhados por grande parte da população. Da mesma forma, subdimensionamos os aspectos culturais e sociais dos comportamentos ao volante, individualizando a responsabilidade pelas condutas censuráveis2. [O que estressa é] ver a imensa ignorância que ainda faz parte da nossa cultura: pessoas que se atiram na frente do carro sem olhar direito a sinalização, motociclistas apressados saindo pelos corredores que o trânsito forma, atrevidas bicicletas disputando com motos e ônibus. E o mais incrível é ver um ônibus imenso, comandado por um louco motorista que dispara quando vê uma rua mais aberta, sem trânsito. E eles voam no Aterro. Então é bem comum ver acidentes bem estúpidos. Isso dá arrepios, dá medo. – moradora de Botafogo, 47 anos. Então, [o que estressa é] o conjunto da obra. Muitos carros, engarrafamentos, sinais mal sincronizados e falta de educação geral, de todo o mundo com todo mundo; e eu me incluo nisso. – morador de Bonsucesso, 49 anos. Quase tudo [estressa]: o fato de o taxista parar repentinamente, o ônibus que para no meio da rua para deixar descer ou subir um passageiro, as motos que costuram o trânsito. Enfim, o trânsito como ele é. – morador de Laranjeiras, 50 anos. Vê-se que, diferentemente das respostas sociais aos altos índices de mortalidade ligada à violência criminal, os acidentes não mobilizam reações coletivas e acabam sendo vivenciados como eventos únicos, singulares, inscritos na ordem do acaso ou do destino. No entanto, a quantidade de vidas humanas perdidas, nos dois casos, é muito semelhante. No trânsito, tudo se passa como se as mortes, os ferimentos e os padecimentos fossem um mal necessário, o preço a pagar pela vida na metrópole. A experiência cotidiana transformou o que deveria ser excepcional e inaceitável em uma espécie de segunda natureza da vida urbana. Com isso, a perspectiva de que vias públicas, meios de transporte e relações entre indivíduos em deslocamento possam representar momentos de prazer, segurança, fruição, conforto ou bem-estar tornou-se uma ideia estranha e praticamente desapareceu do horizonte da imaginação coletiva. Sugestões para melhorar o trânsito na cidade Instados a fazer propostas concretas sobre como resolver os problemas que eles mesmos identificaram, os entrevistados forneceram respostas que remetem a concepções e campos de intervenção distintos. As mais frequentes referem-se a uma lógica de organização do tráfego: sincronização de sinais, controle de pistas, melhoria da iluminação, alteração de linhas de ônibus e mudanças de itinerário. Essas sugestões foram agregadas aqui sob o título Engenharia – 26% das respostas –, para marcar claramente sua premissa de racionalização do fluxo de veículos. A segunda proposta mais frequente – Melhorar o transporte público, com 19% – já sugere preocupações de outra ordem, indicando um redirecionamento de prioridades e a aposta no sistema de transporte coletivo. Uma terceira categoria de recomendações, com 15% das respostas e definida como Campanhas/educação, deriva da percepção de que o problema está no comportamento imprudente, agressivo ou desrespeitos de motoristas e de pedestres e de que as soluções passam por orientações para a mudança do comportamento individual. Os motoristas de ônibus precisavam de um treinamento diferente, de conscientização de que estão prestando um serviço importante pela cidade, que estão transportando vidas. Morro de pena de gente mais idosa que circula de ônibus, porque o degrau é muito alto e é complicado se segurar nas curvas em alta velocidade. O tempo e a sincronia de alguns sinais precisam de ajustes. – moradora de Botafogo, 32 anos. Diminuir o número de carros na rua, oferecendo transporte público de qualidade para todos os cidadãos, em todos os horários. Eu, por exemplo, que tenho uma certa “claustrofobia”, evito andar em ônibus e metrô lotado. Isso me faz quase não utilizar esses tipos de transporte porque, nos horários em que eu os utilizaria, eles estão muito cheios. – moradora de Copacabana, 49 anos. A recomendação de que se tenha Menos carros nas ruas, com 13,1% das respostas, poderia perfeitamente ser agregada à segunda proCapítulo 4 – Considerações Finais posta, mas foi deliberadamente mantida como uma postulação em separado por associar-se à perspectiva, que vem ganhando cada vez mais força, de valorização dos indivíduos e do meio ambiente em detrimento dos automóveis e da velocidade. Essa orientação indica, portanto, que uma parte da população está sensibilizada para os debates e, consequentemente, para as mudanças que estão acontecendo em diversas cidades do mundo – algumas na própria cidade do Rio de Janeiro, como o BRS e o BRT, entre outros. Diminuir as passagens dos transportes públicos. Colocar mais ônibus na rua e utilizar menos os carros. Usar mais bicicleta. – moradora de Tomás Coelho, 16 anos. O quinto tipo de sugestão aparece tanto em contraposição quanto de forma complementar à realização de campanhas e processos educativos. Trata-se de mecanismos de Fiscalização/ punição – 11,2% das respostas –, que compreendem aplicação de multas, ampliação do número de guardas municipais, aumento da quantidade de fiscais, prisão para infratores, diminuição da impunidade dos que provocam acidentes e até mudanças na legislação. Levar a legislação a sério. Ela já é boa. Só falta ser exercida. Tem que multar, rebocar, tirar ponto da carteira. Tem que acabar a mentalidade de “mas... pobrezinho! Se eu tirar a carteira, ele vai trabalhar como?” – morador de Niterói, 39 anos. Multar tanto os motoristas e as companhias como os pedestres. Tem coisa pior do que ver alguém atravessar impunemente o Aterro a dois metros da passarela? Os alemães não cumprem as regras por serem melhores do que ninguém: apenas, quando erram, pesa bastante no bolso... – moradora do Leme, 58 anos. Finalmente, em menor escala – 6,9% das respostas – foram compiladas sugestões de ampliação das vias de rodagem, como duplicação de pistas e construção de viadutos. Essa variável também poderia se agregar facilmente ao tópico Engenharia, mas foi mantida como um item à 45 46 Capítulo 4 – Considerações Finais parte exatamente por sua afinidade com a perspectiva tradicional de privilegiar o espaço dos veículos automotores e seu fluxo acelerado. Começar a obra na Avenida Brasil depois de 1h, pois o trânsito está mais tranquilo. Porque começar a obra às 22h atrapalha o trabalhador a chegar em casa – morador de Jardim Sumaré, 31 anos. Gráfico 19 – Sugestões para melhorar o trânsito dadas pelos habitantes da RMRJ entrevistados em 2011 (%) O QUE DEVE SER FEITO PARA MELHORAR O TRÂNSITO Sincronização de sinais, controle de pistas, iluminação, linhas de ônibus, itinerários. Engenharia 26,0 Melhorar transporte público Mudança de mentalidade dos usuários, motoristas e pedestres, campanhas, educação. 19,1 Campanha/educação 15,0 Menos carros Multas, guardas municipais, fiscais, cadeia, menos impunidade, mudanças legais. 13,1 Fiscalização/punição 11,2 Viadutos 6,9 Não sabe 5,7 0 5 10 15 20 25 30 Fonte: CESeC/SMS-Rio Gráfico 20 – Entrevistados em 2011 que sugeriram a variável “Campanhas/educação”, segundo o sexo (%) Masculino 33,3% Feminino 66,7% Fonte: CESeC/SMS-Rio Gráfico 21 – Sugestões dos entrevistados em 2011 segundo o local de moradia (%) CAMPANHAS / EDUCAÇÃO Tijuca/Vila Isabel/Maracanã Pe 23,9 Zona Sul/Barra 23,7 13,8 Zona Norte Zona Oeste 11,8 9,6 Região Metropolitana 0 10 20 30 ENGENHARIA Pede 33,3 Zona Oeste 30,3 Região Metropolitana Zona Norte 26,2 Zona Sul/Barra 20,6 Tijuca/Vila Isabel/Maracanã 20,5 0 10 20 30 40 Fonte: CESeC/SMS-Rio Algumas sugestões estão claramente associadas a certas características do perfil dos entrevistados. Como indica o Gráfico 20, a maior parte das pessoas que propuseram medidas informativo-educativas era do sexo feminino. Isso não significa que elas não tenham feito outras propostas simultaneamente, já que, como se disse, as respostas eram espontâneas e, portanto, continham múltiplos conteúdos. Mas não se pode deixar de notar a predominância das mulheres entre os que recorrem ao caminho pedagógico. Da mesma forma, a abordagem educativa se faz mais presente entre os moradores das zonas de maior poder aquisitivo, como Tijuca/Vila Isabel/Maracanã e Zona Sul/Barra. No sentido inverso, as propostas de mudança ligadas ao campo da Engenharia de Trânsito se concentraram nas respostas dos moradores das regiões mais pobres. Capítulo 4 – Considerações Finais Notas Pesquisador que colaborou no desenvolvimento da pesquisa. 1 Sobre os aspectos culturais no trânsito, ver o importante trabalho de Roberto DaMatta, Fé em Deus e Pé na Tábua. Nessa obra, o autor descreve o trânsito como um espaço em que convivem, de forma sempre conflitiva, tal como nas demais esferas em que se organiza a sociedade brasileira, o individualismo, dos sistemas políticos modernos, e as relações hierárquicas, herdeiras do período colonial. O comportamento dos motoristas brasileiros (particularmente os habitantes da cidade de Vitória, onde o autor desenvolveu sua pesquisa) expressaria a tensão entre uma lógica de reconhecimento e sujeição a regras universais, portanto igualitárias, e de afirmação de direitos e privilégios, em um mundo naturalmente desigual. 2 47 48 Capítulo 5 – Trânsito virtual Capítulo 5 – Trânsito virtual Alberto Alvadia Filho1 Desde a explosão da Internet, no fim dos anos 1990, experimentamos uma verdadeira revolução na forma de nos comunicarmos e nos relacionarmos com as pessoas e com o mundo. A Internet tem sido um espaço de participação e intervenção em constante transformação, onde os indivíduos podem tratar, de forma praticamente ilimitada, dos mais variados assuntos. Por meio dela, pode-se ir virtualmente, por exemplo, ao mercado ou ao banco e ter acesso rápido à cultura, a espaços para manifestação de opiniões e de prestação de serviços. O fato é que, com a rede mundial de computadores, como a Internet também é conhecida, passamos a conhecer e a acessar, mais direta e rapidamente, uma outra realidade, que nos permitiu explorar novos parâmetros de sociabilidade e de exercício de interesses. Em linhas gerais, estamos tratando aqui daquilo que autores contemporâneos como Pierre Levy e Manuel Castells designam, em suas respectivas obras, como “cibercultura” e “sociedade da era da informação”. Essa nova maneira de produzir e intercambiar informações “especifica um conjunto de técnicas materiais e intelectuais, de práticas, atitudes, modos de pensamento e valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço” (LEVY, 1999, p. 17). Como um movimento que parece penetrar em todos os campos de nossas vidas, a Internet abriga também o tema da mobilidade. Como expressão de um tempo em que predomina a cultura do automóvel, a Internet não ficou imune a um assunto cada vez mais central na vida da sociedade de fins do século XX e início do século XXI, sobretudo quando pensamos em grandes contingentes populacionais, meio ambiente e planejamento urbano. São do conhecimento de todos, e discutidos com frequência na mídia, os desafios que a questão do trânsito representa hoje em termos de políticas públicas. Nesse sentido, podemos encontrar no mundo virtual uma gama de endereços dedicados ao tema do trânsito e da mobilidade, com as mais diversas abordagens, perspectivas e finalidades. Alguns contêm propostas educativas e operam na lógica da prevenção; outros prestam assistência, serviços e informações, ou recebem reclamações e denúncias. Há os que utilizam a Internet para anunciar produtos, mobilizar ideias e interesses. É possível encontrar endereços virtuais de seguradoras, montadoras, grupos de aficionados, colecionadores e praticantes de esportes. O objetivo deste capítulo é realizar o mapeamento desses endereços, localizados em espaços virtuais conhecidos, na linguagem própria ao mundo virtual, como páginas, canais, grupos ou perfis. Importante ressaltar aqui que esse tipo de inventário requer atualização permanente, uma vez que o dinamismo da rede faz com que, potencialmente, a cada momento surjam novos dados e endereços e extinguam-se outros. Como metodologia para a busca e a identificação de endereços a serem visitados e catalogados, recorreu-se a um site de buscas, para que, a partir de determinadas palavras-chave, fosse possível localizar sugestões de endereços associados ao tema em questão. Essa procura excluiu os endereços dedicados a transportes aéreos e aquáticos. Desse modo, as palavras-chave empregadas na busca foram: trânsito, mobilidade, transporte, carro, automóvel, motocicleta, rodoviário, ônibus, pedestres, passageiro e bicicleta, utilizadas tanto individualmente como associadas umas às outras. Para contemplar o universo da pesquisa, além dos endereços ligados a instâncias governamentais, foram selecionados aqueles que discutem o trânsito associado à mobilidade, privilegiando-se as páginas mais tradicionais e mais visitadas. Além dos sites, foram incluídos blogs e páginas de redes sociais, como o Facebook e o Twitter. O levantamento revelou a existência de 189 endereços: 85 sites, 21 blogs, 24 grupos no Facebook e 59 contas Twitter dedicados aos temas do trânsito. Portais são páginas de maior porte, que contam com recursos gráficos geralmente avançados e têm grande capacidade de receber informação. São denominados assim porque por intermédio deles se pode chegar a outras páginas, sites ou blogs. Blogs são páginas de caráter mais simplificado, que permitem grande interação entre quem posta uma mensagem e quem a lê: há sempre caixas de comentários, espaços onde se pode escrever e enviar mensagens para que todos compartilhem a leitura. As chamadas redes sociais são novas formas de comunicação e interação, nas quais o cidadão pode criar perfis, encontrar e reencontrar amigos, divulgar eventos, notícias etc. Elas se tornaram instrumentos de comunicação virtual amplamente utilizados, como um espaço imaterial de sociabilidade, manifestações de protestos, difusão de informação, definição de agendas etc. O Facebook é a principal rede social da atualidade, em termos de popularidade e adesão. Seu principal mérito consiste na integração de diversas propriedades amplamente utilizadas antes de seu advento, tais como blog, fotolog, vlog, dentre outros recursos, para uma única conta de usuário. Pode ser utilizado nos computadores pessoais, mas também através dos chamados meios dispositivos móveis, tais como celulares e smartphones. Tal propriedade possibilita o envio e troca de mensagens e informações instantâneas entre o usuário e outros que estejam conectados ao Facebook. Nesse ambiente, desde que possua um perfil de usuário, qualquer pessoa Capítulo 5 – Trânsito virtual pode criar um grupo temático, em torno do qual é possível debater um assunto, inclusive empregando fotos e vídeos. O Twitter é outra rede social, a princípio baseada somente em texto, mas que, atualmente, se estende para outros formatos (fotos e vídeos). Bastante popular, tem como principal característica a limitação de 140 caracteres no texto da postagem, ou tweet. Tal como no Facebook, o sistema permite compartilhamento instantâneo de mensagens, ou retweet, para que seus usuários troquem informações e notícias, de uma maneira dinâmica, e a criação de grupos com interesses e objetivos comuns. Com o avanço da tecnologia, essas ferramentas são frequentemente acrescidas de novos recursos e, usualmente, cada uma oferece opção de acesso às demais – ou na linguagem da rede, a interface entre os diversos meios: blogs trazem um ícone que leva a um vídeo do Youtube; sites e blogs oferecem links para perfis do Facebook e do Twitter. Assim, indefinidamente, expandem-se as possibilidades de interação. Se um site de um produto dá informações completas sobre ele, no seu respectivo blog é possível opinar sobre ele e, ao mesmo tempo, aderir ao respectivo grupo no Facebook, além de disseminar informação para todo um conjunto de seguidores via Twitter. Tudo instantaneamente. A esfera pública Entre as entidades governamentais, foram encontrados 27 sites Detran estaduais e 20 sites DER estaduais, além das páginas oficiais do Ministério dos Transportes, do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), do seguro por Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT) e da Frente Parlamentar em Defesa do Trânsito Seguro, da Câmara dos Deputados. 49 50 Capítulo 5 – Trânsito virtual Nesse campo, a grande referência em nível nacional é o site do Denatran – na verdade, um portal que funciona como um canal de conteúdo informativo e de oferta de serviços. Oferece acesso a informações sobre campanhas, cursos, eventos, concursos, convênios, orçamentos e dados estatísticos sobre a frota de veículos no país. Na página principal, encontra-se um ícone que opera como uma espécie de index de sites de outras entidades governamentais e associações, tais como os Detran e DER; Contran; DNIT e ANTT. No site do Ministério dos Transportes, que abriga os do DNIT e da ANTT, há anuários estatísticos e informações sobre rodovias e suas condições, sobre as linhas de ônibus que operam no país, sobre cursos e eventos em todo o território nacional e mapas. Um ícone leva ao Banco de Mapas e Informações de Transporte, que oferece ao usuário, mediante um cadastro simples, acesso a um banco de dados georreferenciados e vídeos do setor de transportes e, ainda, a possibilidade de receber um DVD com informações do site do Ministério. Além desses, há outros endereços ligados a campanhas de conscientização e serviços. Dois são de São Paulo: o Blog do Ônibus e o Ciclofaixa. O primeiro destina-se à fiscalização e a reclamações relativas ao serviço de transporte coletivo na cidade de São Paulo; o segundo divulga informações do Projeto Ciclofaixa, da prefeitura de São Paulo, que consiste na criação e manutenção de uma área de lazer de 45 quilômetros para o trânsito de bicicletas e o lazer nos fins de semana e feriados. No âmbito federal, o Parada pela Vida – Pacto Nacional para a Prevenção de Acidentes, é promovido pelo governo federal com apoio do Denatran e tem por objetivo “conscientizar a população da necessidade de respeitar as boas regras de trânsito, independente de fiscalização”. No Rio de Janeiro, por meio do blog da CET-Rio, o usuário pode ter informações sobre campanhas e projetos para o trânsito na cidade; pelo site da prefeitura da cidade, no canal destinado ao trânsito, pode-se visualizar em tempo real o fluxo de ruas e avenidas de toda a cidade através de câmeras instaladas em pontos estratégicos. Embora tenham sido catalogados quase duas vezes mais sites governamentais do que não-governamentais, entre as ferramentas que oferecem maior dinamismo na comunicação e na interatividade, como os blogs, o Facebook e o Twitter, predominam os endereços não-governamentais, como indica a tabela a seguir: Tabela 3 – Distribuição das páginas pesquisadas Páginas Páginas Não Governamentais Governamentais Total Sites 56 29 85 Blogs 3 18 21 Facebook 4 20 24 Twitter 4 55 59 Total 67 122 189 Na esfera governamental, o caráter é predominantemente de prestação de serviços e informação geral, como o agendamento de serviços e a disponibilização de estatísticas, campanhas institucionais e conteúdo normativo, como leis e portarias, além do agendamento de exame para a primeira habilitação ou para sua renovação. Na esfera não-governamental, encontram-se espaços em que o associativismo e as iniciativas pessoais e locais são valorizados, dando margem, por exemplo, a que organismos de comunicação locais possam debater a questão do trânsito em suas respectivas regiões. Observa-se que 85% dos endereços governamentais são sites, enquanto apenas 25% dos endereços não-governamentais o são. O fato de que quase a metade dos endereços fora da esfera do governo são perfis de Twitter diz respeito à grande quantidade de usuários que se dedicam a trocar informações sobre condições de trânsito em âmbito local. Um caso exemplar é o Twitter da Lei Seca, no Rio de Janeiro. Associações, ONGs e empresas Assim como na esfera institucional do Estado, a Internet representou uma nova e importante ferramenta para o cidadão, as entidades de classe e as empresas de mídia, constituindo-se como um poderoso veículo de comunicação e de acesso a serviços. No campo do trânsito e da mobilidade, como já foi dito, as páginas não-governamentais oferecem um leque variado: algumas têm caráter meramente informativo; outras propõem campanhas, abrem espaço para reclamações e denúncias, sustentam bandeiras empresariais ou procuram se associar a determinados conceitos. Elas diferem também quanto ao propósito de estabelecer maior ou menor interação com o usuário e com o potencial de uso de tecnologias disponíveis e hospedagem de informação – dado que, por sua vez, remete à capacidade financeira do owner para investir na confecção da página. Entre os 4.778 endereços não-governamentais encontrados, apenas 15 dedicam espaço à divulgação de pesquisas, o que reafirma o caráter informativo de grande parte desse universo, pouco tendente ao rigor científico e que privilegia o dinamismo e a interatividade com o usuário. Vale destacar que alguns sites, como o Trânsito Amigo e Chega de Acidentes, possuem um contador de vítimas, com registro desde 18 de setembro de 2009 e atualizado a todo instante. Este último endereço apresenta, inclusive, a forma como é feito o cálculo da estimativa. Quanto ao local-sede, dos 47 espaços levantados, 15 estão em São Paulo e dez no Rio de Janeiro. Percebe-se uma concentração de endereços nos dois estados mais populosos do país, com capitais que contam com as maiores frotas de veículos. No rastro dos problemas urbanos, como a poluição e os desafios para a mobilidade, predominam endereços ligados ao exercício da cidadania – associado, por sua vez, ao acesso Capítulo 5 – Trânsito virtual à tecnologia. É nas grandes capitais que estão os grandes jornais, as sedes das grandes empresas e organizações, bem como as maiores tensões da vida cotidiana, que levam as pessoas e se associarem em prol de causas comuns. Tabela 4 – Distribuição de sites e blogs por localização geográfica UF Site Blog DF 2 0 ES 1 0 MG 2 1 MT 1 0 PA 1 0 PB 1 1 PE 1 1 PR 2 3 RJ 6 4 RS 0 3 SP 11 4 Total 28 17 Com relação à natureza jurídica de sites e blogs, percebe-se que 49%, ou seja, quase a metade são de organizações ou associações sem fins lucrativos. Tabela 5 – Endereços não-governamentais segundo sua natureza jurídica Natureza No ONG/OSCIP/associação da Sociedade Civil 20 Empresa 5 Jornal 11 Particular/Pessoal 6 Total 42 A abrangência geográfica de certos endereços denota uma concepção de trânsito ampla e muitas vezes não restrita localmente. Isso ratifica a idéia de que, embora o trânsito seja um problema percebido localmente, no dia-a-dia de cada cidadão, tem também uma dimensão universal: um problema que afeta determinada área tanto pode repercutir quanto inspirar soluções em outras, mesmo distantes. 51 52 Capítulo 5 – Trânsito virtual Tabela 6 – Sites e blogs, de acordo com sua abrangência Abrangência Municipal Estadual Nacional Mundial Total No 4 13 24 1 42 Entre os endereços analisados, 75% não se destinam a um meio de transporte em particular. Dois endereços tratam exclusivamente da questão do pedestre, sendo que um é brasileiro e de âmbito nacional; o outro é de âmbito mundial e sediado na Suíça. Um deles, que traz o sugestivo título Transporte Ativo, dedica-se a todos os meios de transporte movidos à propulsão humana, como bicicleta, skate e patins. Tabela 7 – Distribuição de sites e blogs de acordo com os meios de transporte Tipo de transporte Bicicleta Meios de transporte com propulsão humana Caminhão e Ônibus Carros Ônibus Pedestre Todos (genérico) Total No 4 1 1 1 2 2 31 42 De 42 endereços encontrados, entre sites e blogs, 25 foram registrados nos últimos cinco anos. Não obstante o crescimento progressivo da Internet desde o início da última década, houve um aumento ainda maior do número de usuários, sobretudo com a chegada no mercado de dispositivos eletrônicos como telefones e tablets, que permitem acesso à rede a qualquer tempo e em qualquer lugar. Tabela 8 – Distribuição de sites e blogs de acordo com o ano de criação Ano de criação do endereço 2007 2008 2009 2010 2011 Total 5 2 6 4 8 25 Twitter e Facebook Nos perfis do Twitter e nos do Facebook, ao contrário do que acontece com sites e blogs, o trânsito local tem mais destaque. No universo que compõe o resultado da pesquisa, 18 entre os 59 perfis Twitter e 14 dos de Facebook têm conexão com um site ou blog, operando como uma espécie de expressão destes em uma outra dimensão. Entre aqueles exclusivamente do universo do Twitter, a maioria parece dedicar-se a informar onde estão acontecendo bloqueios policiais – blitz – para que os interessados evitem o risco de passar pelo teste do bafômetro. Em sua maioria, não possuem descrição, com exceção do Blitz em Salvador, que orienta 5.406 seguidores a não passar por certos locais, caso dirijam alcoolizados, e se descreve como um “twitter para indicar onde tem blitz de alcoolemia em Salvador”. No Rio de Janeiro e em São Paulo encontramos perfis Twitter com mais seguidores e, entre os localizados, tem destaque Trânsito mais Gentil, patrocinado pela Companhia Seguradora Porto Seguros, com 270.043 seguidores. Nesse endereço há propagandas de eventos da campanha homônima, ou outros ligados ao trânsito em geral. É dessas cidades o maior número de perfis twitter criados para informar onde esteja acontecendo uma blitz – e como burlá-la. O Twitter da Lei Seca, no Rio de Janeiro, é o segundo em número de seguidores – tem 256.238. Além de avisar onde esteja acontecendo uma blitz, abriga algumas postagens referentes a engarrafamentos e acidentes nas vias. Vale destacar, ainda, o Trânsito de São Paulo, com 147.000 seguidores. Os números chamam a atenção quando comparados, por exemplo, aos maiores representantes da capital mineira, como o Blitz Belo Horizonte, com 40.800 seguidores, e o Radar Blitz, com apenas 12.788. Alguns governos estaduais têm considerado a possibilidade de utilizar bafômetros digitais nas abordagens, uma vez que não requerem a permissão do motorista para serem utilizados. Nesse caso, o nível de álcool no sangue do condutor pode ser aferido simplesmente através do hálito exalado ao falar. As operações para controle de alcoolemia geraram, por sua vez, um mercado de equipamentos para os motoristas medirem seu nível de ingestão de álcool antes de dirigir. A partir de R$50,00 qualquer indivíduo pode comprar um dos curiosos aparelhos portáteis à venda – em formatos diversos, como chaveiro e caneta e, algumas vezes, com funções agregadas, como mp3 e GPS. A Tabela 9 revela o número de perfis twitter encontrados em 15 estados da federação. Assim como na relação de sites e blogs, nota-se aqui uma predominância dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Há três endereços de abrangência nacional, todos dedicados à conscientização: dois na esfera pública e um na esfera privada – Trânsito Amigo, Chega de Acidentes e o site da Agência Nacional de Transportes Públicos, respectivamente. Em relação aos perfis do Facebook, percebe-se uma concentração ainda maior de grupos em São Paulo (40% dos casos). Tabela 9 – Distribuição de perfis de Twitter por estado UF BR Amazonas Bahia Ceará Distrito Federal Espírito Santo Goiás Minas Gerais Pará Paraná Pernambuco Rio de Janeiro Rio Grande do Norte Rio Grande do Sul Santa Catarina São Paulo Total Twitter 3 1 2 2 4 2 2 5 2 3 7 11 1 2 2 10 59 Tabela 10 – Distribuição de perfis de Facebook por estado UF BR35 AM BA PA PE PR RJ SP Total Facebook 1 2 1 2 2 2 3 8 21 Nos perfis do Twitter há grande representatividade daqueles dedicados à questão do trânsito local, com foco na fluidez das vias, blitz, acidentes e obras. Em comparação ao Facebook, tem mais perfis em mais estados do país e permite maior praticidade no manuseio e, com isso mais rapidez na postagem. Seguem as páginas pesquisadas: Endereços Governamentais Departamento Nacional de Trânsito http://www.denatran.gov.br http://www.paradapelavida.com.br/ https://www.facebook.com/pages/Parada-umpacto-pela-vida/131289717036742 https://twitter.com/#!/ParadaPelaVida Ministério dos Transportes http://www.transportes.gov.br/ Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes http://www.dnit.gov.br/ Agência Nacional de Transportes Terrestres http://www.antt.gov.br/ Frente Parlamentar em Defesa do Trânsito Seguro http://www.frentetransitoseguro.com.br/ Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre http://www.dpvatseguro.com.br/ Acre http://www.detran.ac.gov.br/ http://www.ac.gov.br Capítulo 5 – Trânsito virtual 53 54 Capítulo 5 – Trânsito virtual Alagoas http://www.detran.al.gov.br/ http://www.der.al.gov.br/ http://www.detran.pr.gov.br/ http://www.der.pr.gov.br/ Amapá http://www.detran.ap.gov.br/ Pernambuco http://www.detran.pe.gov.br/ http://www.der.pe.gov.br/ Amazonas http://www.detran.am.gov.br/ Piauí http://www.detran.pi.gov.br/ Bahia http://www.detran.ba.gov.br/ http://www.derba.ba.gov.br/ Rio de Janeiro http://www.detran.rj.gov.br/ http://www.der.rj.gov.br/ http://cce-cetrio.blogspot.com/ https://www.facebook.com/cce.cetrio http://twitter.com/CCE_CETRIO http://www.centrodeoperacoes.rio.gov.br/ Ceará http://portal.detran.ce.gov.br/ http://portal.der.ce.gov.br/ Distrito Federal http://www.detran.df.gov.br/ http://www.der.df.gov.br/ Espírito Santo http://www.detran.es.gov.br/ http://www.der.es.gov.br/ Goiás http://www.detran.goias.gov.br/ http://www.agetop.go.gov.br/ Maranhão http://www.detran.ma.gov.br/ Mato Grosso http://www.detran.mt.gov.br/ Mato Grosso do Sul http://www.detran.ms.gov.br/ Minas Gerais https://www.detran.mg.gov.br/ http://www.der.mg.gov.br/ Pará http://www.detran.pa.gov.br/ http://www.setran.pa.gov.br/ Paraíba http://www.detran.pb.gov.br/ http://www.der.pb.gov.br/ Paraná Rio Grande do Norte http://www.detran.rn.gov.br/ http://www.der.rn.gov.br/ http://www.setransrn.com.br/index.php Rio Grande do Sul http://www.detran.rs.gov.br/ http://www.daer.rs.gov.br Rondônia http://www.detran.ro.gov.br/ http://www.rondonia.ro.gov.br/der/ Roraima http://www.detran.rr.gov.br/ Santa Catarina http://www.detran.sc.gov.br/ http://www.deinfra.sc.gov.br/ São Paulo http://www.detran.sp.gov.br/ http://www.der.sp.gov.br/ http://blogpontodeonibus.wordpress.com/ https://twitter.com/#!/blogdoonibus http://www.ciclofaixa.com.br/blog/ http://www.ciclofaixa.com.br/ http://www.facebook.com/ciclofaixa https://twitter.com/#!/ciclofaixasp Sergipe http://www.detran.se.gov.br/ http://www.der.se.gov.br/ Tocantins http://www.detran.to.gov.br/ http://dertins.to.gov.br/ Endereços Não-Governamentais Abetran – Associação Brasileira de Educação no Trânsito Tem como missão principal a “Educação no Trânsito”. Persegue este objetivo com a realização de palestras, cursos e projetos educativos, tendo como público alvo o cidadão. O fundamento é a mudança de comportamento e um melhor conhecimento de direitos e deveres. Possui um link para o usuário se cadastrar e tornar-se membro de um grupo de discussão na Internet. • http://www.abetran.org.br/ Abramet – Associação Brasileira de Medicina de Tráfego Elabora e publica trabalhos científicos, buscando “colaborar com o poder público na concepção, elaboração e aplicação de uma legislação adequada e eficiente, relativa à medicina e à segurança de tráfego”. • http://www.abramet.org.br/ • http://www.facebook.com/abramet Abraspe – Associação Brasileira de Pedestres Agrupa indivíduos e entidades em prol da luta pelos direitos dos pedestres, investindo no fortalecimento das instituições e na participação da sociedade civil. • http://www.pedestre.org.br/ Abutran – Associação Brasileira de Vítimas do Trânsito Colabora com as autoridades legais para a redução do número de vítimas de acidentes nas rodovias brasileiras. Ao longo do tempo, vem implementando alguns projetos com essa finalidade e promovendo campanhas informativas e de estímulo ao cumprimento das leis de trânsito. • http://www.abutran.org.br/ Capítulo 5 – Trânsito virtual ANTP – Associação Nacional de Transportes Públicos Conta com uma boa estrutura organizacional e com um site para promover eventos ou apoiados pela associação, além de dados sobre tarifas de transporte e um relatório intitulado Sistema de Informações da Mobilidade Urbana. • http://www.antp.org.br/website/ • http://www.facebook.com/antpbrasil/ Apocalipse Motorizado Investiga iniciativas e reflexões sobre possibilidades alternativas do uso da tecnologia, nos dias de hoje, para a garantia da qualidade de vida das pessoas. Sem restringir seu escopo, o blog dá destaque ao uso da bicicleta em substituição ao automóvel. • http://www.apocalipsemotorizado.net/ Associação Brasileira de Prevenção aos Acidentes de Trânsito – Por Vias Seguras Atua na conscientização das pessoas pela adoção de um comportamento responsável no trânsito. • http://www.vias-seguras.com/ Bicicleta Motorizada O blog se apresenta como um local de encontro e intercâmbio entre os proprietários de bicicletas com motor e interessados em geral no assunto. Conforme disposto na página, o fórum oferece ainda “as últimas novidades, guias e dicas sobre os motores para as bicicletas motorizadas”. • http://bicicletamotorizada.org/ • http://www.facebook.com/www.bicimoto.com.br • https://twitter.com/#!/bicimotobr Blog do Caminhoneiro Blog criado por um autodenominado apaixonado por caminhões desde pequeno, com atualizações diárias sobre o que diz respeito a este universo. • http://blogdocaminhoneiro.com/ • https://www.facebook.com/ BlogdoCaminhoneiro 55 56 Capítulo 5 – Trânsito virtual Blog do Edson Lima / O Diario.com Mantém uma seção de posts dedicados ao tema trânsito em Maringá, apresentando desde notícias pontuais, como acidentes, até debates sobre temas atuais, como instalação de radares e proibição da garupa em motos. • http://maringa.odiario.com/blogs/edsonlima/ category/transito/ Cesvi – Centro de Experimentação e Segurança Viária Oferece soluções para a qualificação do setor automotivo, apresentando pesquisas, treinamentos e publicações, com vistas à redução dos acidentes e à melhoria da segurança viária. • http://www.cesvibrasil.com.br/ Chega de Acidentes Mobiliza os diversos setores da sociedade, pessoas físicas e jurídicas, “para pressionar e pleitear a elaboração de um Plano Nacional de Segurança Viária”. • http://cesvibrasil.com.br/chegadeacidentes/ • https://www.facebook.com/pages/Chega-deAcidentes/191158200910769 • https://twitter.com/#!/ChegadeAcidente Debike Permite a troca de informações, experiências e ideias entre usuários e interessados em bicicleta. • http://oglobo.globo.com/blogs/debike/ Dirigindo Seguro Espaço de discussões sobre possibilidades de melhorar a segurança no trânsito, com informações sobre formas de dirigir, manutenção de automóveis e ações preventivas em geral. • http://www.dirigindoseguro.com.br/ • https://www.facebook.com/dirigindo.seguro Etev – Educar para o Trânsito Contribui para a construção de um trânsito seguro, por meio do investimento em educação e pelo respeito a valores como ética, cidadania e valorização da vida. Para isso, promove cursos e campanhas de conscientização. • http://ongeducarparaotransito.blogspot.com/ Instituto Rodrigo Marcheschi Contribui para a redução do número de acidentes com vítimas fatais de trânsito, por meio da reeducação da sociedade pela informação, tendo como base o foco em alunos do ensino fundamental, médio e universitários. • http://www.marcheschi.org.br/ Instituto Rua Viva Restauração da função social e incentivo ao uso de modos de transporte coletivo, a pé e bicicleta. Tem como proposta principal o tema da Mobilidade Sustentável em sentido amplo, com iniciativas sempre associadas à integração com o meio ambiente e à preservação do patrimônio histórico, cultural e artístico. • http://www.ruaviva.org.br/ IFP – International Federation of Pedestrians Promover e defender o direito dos pedestres de acesso e mobilidade. • http://pedestrians-int.org/ Mobilidade Urbana Trata da questão da mobilidade em sentido amplo. Traz discussões sobre legislação, acidentes, condições de conservação das vias e alternativas de transporte como o BRT e o VLT. • http://blogs.diariodepernambuco.com.br/ mobilidadeurbana/ • https://www.facebook.com/pages/ Mobilidade-Urbana/118249588379794 • https://twitter.com/#!/taniapassos_dp Mobilize – Mobilidade Urbana Sustentável Pretende ser um facilitador para o encontro de cidadãos, ONGs, empresas e governos, para que possam apresentar e trocar ideias acerca do tema da mobilidade urbana. • http://www.mobilize.org.br/ • https://www.facebook.com/portalmobilize • https://twitter.com/#!/portalmobilize MNDT – Movimento Nacional pela Democratização no Trânsito Autodenominado intersetorial, interinstitucional e interdisciplinar, congrega 27 instituições e atua com a perspectiva de construir políticas públicas voltadas para o trânsito, a partir de uma discussão crítica, democrática e transparente. • http://www.mndt.org.br/ Notícias R7 Trânsito Oferece informações sobre estradas de todos os estados da Região Sudeste, além de Santa Catarina, Bahia e Pernambuco. O usuário pode ficar sabendo, em tempo real, a situação no trânsito nas principais avenidas das cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. • http://noticias.r7.com/transito/ ro, como o número de vítimas fatais e não-fatais desde 2007, e a frota de veículos desde 2006. • http://www.riocomovamos.org.br Rodas da Paz Sua meta é colaborar para reduzir o crescente número de acidentes e mortes no trânsito do DF, em especial entre os usuários de bicicleta. Suas ações são palestras educativas, protestos e passeios ciclísticos, com o intuito tanto de conscientizar as pessoas quanto de pressionar o Estado para ações que garantam a todos o trânsito seguro pela cidade. • http://www.rodasdapaz.org.br/ Sustentável Transporte Discute a mobilidade sustentável, constituindo um ambiente para críticas, sugestões e ações em favor da melhoria das condições de trânsito. • http://2020sustentaveltransporte.blogspot.com/ Ponto de Ônibus Espaço dedicado exclusivamente ao ônibus enquanto meio de transporte. Há posts sobre greves de profissionais de transportes coletivos, sobre o serviço prestado por algumas linhas, sobre vias com engarrafamentos constantes e o estado de conservação de ruas e avenidas. • http://blogpontodeonibus.wordpress.com/ Trânsito – Folha de São Paulo Divulga informações sobre o trânsito em São Paulo e em todo o país. Oferece um serviço que permite saber a situação do trânsito nas principais capitais do país e em algumas cidades da região metropolitana de São Paulo. • http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/ transito/ Portal do Trânsito Pretende operar como um integrador de informações, atividades, produtos e serviços na área de trânsito. Para isso, desenvolve atividades como divulgar a legislação sobre o tema, oferecer e facilitar acesso à obtenção de produtos e serviços com vistas a conquistar a adesão da sociedade na promoção da educação para as gerações vindouras. • http://www.portaldotransito.com.br/ • http://www.blogdotransito.com.br/ Trânsito – Jornal do Brasil Veicula notícias diversas sobre o trânsito na cidade do Rio de Janeiro, no Estado e no país. Coluna do site do Jornal do Brasil. • http://www.jb.com.br/transito/ Rio como Vamos A ONG apresenta uma série de indicadores relativos ao trânsito no município do Rio de JaneiCapítulo 5 – Trânsito virtual Trânsito – O Globo Oferece informações última hora sobre a situação do trânsito nas principais vias do Estado do Rio de Janeiro. • http://oglobo.globo.com/rio/transito/ Trânsito Amigo – Associação de parentes, amigos e vítimas do trânsito Presta apoio emocional, jurídico e social às víti57 58 Capítulo 5 – Trânsito virtual mas e aos familiares de vítimas da violência no trânsito. Fundado por um pai de vítima de acidente de trânsito em 2003, dedica-se a iniciativas que contribuam para a redução da violência no trânsito no Brasil. • http://www.transitoamigo.com.br/ • http://transitoamigo.blog.terra.com.br/ • http://www.facebook.com/transitoamigo/ • https://twitter.com/TRANSITOAMIGO Trânsito Brasil Tem como missão “promover a ética, a cidadania e a segurança para o trânsito com a finalidade de contribuir na construção de um trânsito seguro”. • http://www.transitobrasil.net/site/home • https://twitter.com/#!/transitobrasil Trânsito Dez Oferece informações sobre solicitação da primeira habilitação e renovação, além de simulados e testes. • http://www.transitodez.com.br Trânsito e Vida Prestar atendimento social e jurídico a pessoas que são vítimas de acidente de trânsito e seus beneficiários. • http://transitoevida.com.br/ Trânsito em Foco Hospedado na página de notícias PortalAZ, apresenta-se como um espaço onde são tratados “assuntos sobre trânsito e tudo que está relacionado”. • http://transitoemfococte.blogspot.com.br/ Trânsito em SP Presta informações sobre o tráfego nas ruas e avenidas da cidade e nas principais rodovias do Estado. • http://blogs.estadao.com.br/transito/ • http://www.facebook.com/estadao Trânsito Mais Gentil Promove iniciativas que motivem motoristas e pedestres a adotarem comportamentos mais gentis no trânsito, contando, para isso, inclusive com o apoio de artistas. • http://www.transitomaisgentil.com.br/ • http://www.transitomaisgentil.com.br/blog/ • http://www.facebook.com/transitomaisgentil • https://twitter.com/#!/transitogentil Transporte Ativo Busca conscientizar as pessoas a respeito do uso de meios de transporte baseados na propulsão humana para um trânsito com menos poluição e maior inclusão social. • http://www.ta.org.br/ • http://blog.ta.org.br/ • http://www.facebook.com/transporteativo • https://twitter.com/#!/TransporteAtivo Facebook Brasil • Parada pela Vida https://www.facebook.com/pages/Parada-umpacto-pela-vida/131289717036742 Amazonas • Manaus Trânsito http://www.facebook.com/manaustrans • Trânsito Manaus http://www.facebook.com/TransitoManaus Bahia • Trânsito Salvador http://www.facebook.com/TransitoSalvador Pará • Trânsito Belém http://www.facebook.com/TransitoBelem • Belém Trânsito http://www.facebook.com/belemtransito Paraná • Blog do Caminhoneiro https://www.facebook.com/blogdoCaminhoneiro Rio de Janeiro • Transporte Ativo http://www.facebook.com/transporteativo • Bicicleta Motorizada http://www.facebook.com/www.bicimoto.com.br • Trânsito Amigo http://www.facebook.com/transitoamigo • CET Rio https://www.facebook.com/cce.cetrio São Paulo • Dirigindo Seguro https://www.facebook.com/dirigindo.seguro • Chega de Acidentes https://www.facebook.com/pages/Chega-deAcidentes/191158200910769 • ANTP http://www.facebook.com/antpbrasil • Abramet http://www.facebook.com/abramet • Mobilize https://www.facebook.com/portalmobilize • Trânsito Mais gentil http://www.facebook.com/transitomaisgentil • Trânsito em SP http://www.facebook.com/estadao • Ciclo Faixa http://www.facebook.com/ciclofaixa Twitter Brasil • Legal no Trânsito – Brasil https://twitter.com/#!/legalnotransito • Tráfego_Brasil https://twitter.com/#!/trafego_br • Parada pela Vida https://twitter.com/#!/ParadaPelaVida Amazonas • Trânsito Manaus https://twitter.com/#!/TransitoManaus Bahia • Blitz em Salvador https://twitter.com/#!/BlitzEmSSA Ceará • Lei Seca Fortaleza https://twitter.com/#!/LeiSecaFortal • Trânsito Ceará https://twitter.com/#!/transitoce Distrito Federal • Lei Seca DF https://twitter.com/#!/LeiSecaDF Capítulo 5 – Trânsito virtual • Blitz em Brasília https://twitter.com/#!/BlitzDF • Fuja do Trânsito no DF https://twitter.com/#!/fujadotransito • Trânsito Brasília https://twitter.com/#!/transitoBSB Espírito Santo • Ligado no Trânsito – ES https://twitter.com/#!/ligadotransito Goiás • Radar Blitz GO https://twitter.com/#!/RadarBlitzGO • Trânsito em Goiânia https://twitter.com/#!/transitogo Minas Gerais • Blitz Belo Horizonte https://twitter.com/#!/BlitzBH • Trânsito de BH https://twitter.com/#!/TransitoBH • Trânsito BH https://twitter.com/#!/transito_bh • Blitz e Trânsito em BH https://twitter.com/#!/blitz_BH Pará • Trânsito Belém https://twitter.com/#!/TransitoBelem • Belém Trânsito https://twitter.com/#!/belemtransito Paraná • Sinal Vermelho Curitiba https://twitter.com/#!/VermelhoCWB Pernambuco • Trânsito Recife https://twitter.com/#!/transitorec_ • CTTU – Recife https://twitter.com/#!/CTTU_RECIFE • Lei Seca Recife https://twitter.com/#!/LeiSecaRec • Trânsito Livre PE https://twitter.com/#!/transitolivrePE DetranPe • https://twitter.com/#!/DetranPE Trânsito Brasil https://twitter.com/#!/transitobrasil 59 60 Capítulo 5 – Trânsito virtual • Mobilidade Urbana https://twitter.com/#!/taniapassos_dp Rio de Janeiro • Lei Seca RJ https://twitter.com/#!/LeiSecaRJ • JC Trânsito RJ https://twitter.com/#!/jctransito • Trânsito RJO https://twitter.com/#!/transitoRJO • Trânsito RJ https://twitter.com/#!/transitorj • Trânsito Rio https://twitter.com/#!/transito_rio • Trânsito na Ponte https://twitter.com/#!/TransitoNaPonte • Lei Seca Niterói https://twitter.com/#!/leisecaniteroi • Trânsito Amigo https://twitter.com/TRANSITOAMIGO • Transporte Ativo https://twitter.com/#!/TransporteAtivo • Bicicleta Motorizada https://twitter.com/#!/bicimotobr • CET Rio http://twitter.com/CCE_CETRIO Rio Grande do Norte • Trânsito em Natal https://twitter.com/#!/transitonatal Rio Grande do Sul • Radar Blitz RS https://twitter.com/#!/RadarBlitzRS • Radar Blitz Porto Alegre https://twitter.com/#!/RadarBlitzPOA Santa Catarina • Seterb – Blumenau https://twitter.com/seterb • Trânsito DC – Florianopolis https://twitter.com/transitodc São Paulo • Lei Seca SP https://twitter.com/#!/LeiSecaSP • Band Trânsito São Paulo https://twitter.com/#!/bandtransitosp • Radar Blitz SP https://twitter.com/#!/RadarBlitzSP • Trânsito SP 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As cifras superam o número de mortes causadas pela bomba atômica jogada em Nagasaki, estimado entre 60 mil e 80 mil. No Brasil os números são aterrorizantes: 931.785, no mesmo período. Quase um milhão de vidas! Incluindo 2011, teríamos aproximadamente a soma da população de alguns municípios importantes do Estado do Rio de Janeiro: Macaé, Cabo Frio, Teresópolis e Niterói. Zerando a população desses municípios, teríamos o equivalente ao total dos mortos no Brasil desde 1980. E somente no trânsito. Somos um país violento. Entre os vários tipos de mortes no trânsito, os atropelamentos são uma categoria especialmente triste e socialmente injusta. Quem dirige veículo, particularmente quem possui um veículo, está acima da moda estatística da população, mas os números dos atropelamentos se aproximam dos da população como um todo. Como são os atropelamentos? O título desse artigo é atraente, mas incorreto. A maioria das mortes por atropelamento não é sob as rodas dos veículos: deriva de uma colisão entre um carro andando para a frente e uma pessoa. O pedestre é projetado com a mesma velocidade do carro e se choca duas vezes. É lesão ou morte em dois tempos. O carro usualmente freia e para, mas o pedestre continua, por ter sido projetado. Mudanças no desenho dos veículos reduziram a severidade das colisões com pedestres em várias marcas de carros. Há, por exemplo, um novo sistema de proteção, chamado Frontal Protection System, que, colocado na parte dianteira dos carros, reduz substancialmente as mortes e os casos de invalidez. E já houve experimentos com air bags que, colocados do lado de fora do carro, reduzem os danos ao pedestre, conforme indicam estudos de Crandall, Bhalla e Madeley (2002). Não obstante esses avanços, há muita evidência demonstrando que o impacto do carro provoca mais mortes e piores ferimentos do que o impacto secundário contra a rua, calçada ou outro objeto. Primeiro, o para-choque atinge as pernas e, microinstantes depois, o capô atinge a área da bacia; finalmente, o tórax e a cabeça são atingidos pela área de cima do capô ou pelos vidros frontais. A causa individual mais frequente das mortes é o traumatismo craniano, ao passo que os ferimentos nas pernas e nos quadris são a maior causa de invalidez. Como estão o Brasil e o Estado do Rio de Janeiro? As mortes por atropelamento estão aumentando ou diminuindo? Os dados mostram que os atropelamentos estão mudando e, no Brasil, particularmente no Rio de Janeiro, ajustam-se muito bem a um polinômio. De um lado, a mortandade crescente; de outro, a legislação introduzida na segunda metade da década de 1990, inclusive com um novo Código do Trânsito, provocou uma queda substancial na carnificina. No Brasil, o pico foi em 1996, com 12.952 mortes, seguido por uma baixa acelerada: 12.580 em 1997, salvando 372 pedestres, e 11.227 em 1998, salvando mais 1.725. de 2001, no Brasil, a tendência à baixa terminou, iniciando novo período sem melhorias no total de mortes6. Tanto no Brasil quanto no estado, a tendência dominante foi de pequenas variações ao redor do mesmo patamar, durante cinco anos, para o Brasil – até 2005, segundo algumas fontes, e 2007, segundo outras – e sete anos, para o Rio de Janeiro – até 2006. Os efeitos das políticas que salvaram tantas vidas acabaram? Talvez não. Possivelmente, novas administrações, mais responsáveis, voltaram a aplicar a lei de forma mais rigorosa e/ou desenvolveram novas legislações e regulamentos que foram colocados em prática. Os polinômios mostram que o período de estagnação foi substituído por um período de nova queda no número de atropelamentos. No Rio de Janeiro, esse período corresponde ao de uma administração que parece conceder uma prioridade mais alta à segurança pública, durante a qual houve uma queda substancial dos homicídios. Portanto, é possível salvar mais vidas com uma melhor aplicação das mesmas leis. Em 1999 houve uma baixa espetacular: 9.886 mortos, salvando mais de 3.000 pedestres somente naquele ano e, finalmente, 8.696 mortos em 2000, quando as vidas de mais de 4.200 pedestres foram salvas. Durante esses quatro anos de queda na mortalidade, 9.419 pedestres deixaram de morrer no Brasil. No Rio de Janeiro, o processo inicialmente foi semelhante, ainda que, como esperado, com números menores: o estado tem 8% da população do país. Em 1997, salvaram-se 139 pedestres; em 1998, mais 490 e, em 1999, mais 864, perfazendo um total de quase 1.500 vidas poupadas em apenas três anos5. Entretanto, às vezes os efeitos benéficos de políticas públicas duram pouco. Em alguns casos, o tema não é relevante para o novo mandatário; em outros, por ideologia e ignorância, as leis são abolidas ou sua implementação é afrouxada. A cultura cívica, a cultura política e a cultura automobilística não são processos lineares. Há retrocessos que podem se refletir no número de mortes, seja através de novo aumento, seja através de estagnação relativa, o que é mais comum: com efeito, a partir de 2000, no Rio de Janeiro, e Gráfico 22 – Mortes por atropelamento, Brasil e Rio de Janeiro, em duas escalas, 1995 a 2010 14500 2500 13500 12500 2000 11500 10500 1500 9500 8500 1000 7500 Brasil Rio de Janeiro Polinômio (Brasil) Polinômio (Rio de Janeiro) 6500 5500 500 4500 Capítulo 6 – A morte sob rodas1 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 0 63 64 Capítulo 6 – A morte sob rodas1 Claramente, as políticas públicas contam e bons governos salvam vidas. Em 1995, os Estados Unidos aboliram os limites de velocidade nas rodovias interestaduais, no que foram seguidos por 32 estados que aumentaram suas velocidades máximas. As mortes nessas rodovias aumentaram em 15%, o que significou 450 a 500 mortes a cada ano. Em 2003, a maioria dos estados já tinha aumentado o limite de velocidade nas estradas rurais, o que provocou um aumento anual de 38% nas mortes. Simulações, usando outros países como padrão, são úteis: se os americanos adotassem os padrões britânicos, perto de 10 mil americanos não teriam morrido – mais de três vezes os que morreram nos ataques às Torres Gêmeas. Houve progressos nas taxas, no Brasil e no Rio de Janeiro, cuja demonstração é prejudicada por deficiências dos dados e pela falta de formação metodológica de muitos autores. A tradição nos países subdesenvolvidos, reforçada pela Organização Pan-americana de Saúde, é computar taxas pela população (por 100 mil pessoas), mas o tamanho da frota altera dramaticamente o risco de atropelamento. A frota de veículos registrados no Estado do Rio de Janeiro aumentou de dois milhões, em 1998, para quase quatro milhões e meio, em 2010. A frota de 2010 equivale a 231% da de 1998. A taxa inicial, de 8,2 por 10 mil veículos, foi reduzida gradativamente até 2,2, em 2010. Esses dados se referem a mortes por atropelamentos e não a mortes no trânsito, cujo número pode ser consideravelmente maior. A influência da legislação e das políticas públicas Os acidentes de trânsito, muitas vezes, estão relacionados com excesso de velocidade e problemas decorrentes do consumo de álcool. Maria Thereza Bonilha Dubugras, Jair de Jesus Mari e José Francisco Fernandes Quirino dos Santos são alguns dos pesquisadores brasileiros que en- fatizaram o impacto do excesso de velocidade e do consumo de álcool. Pesquisadores e ativistas foram além da constatação de que o alcoolismo aumenta o risco, analisando a influência da propaganda sobre o consumo. Reclamam da ausência ou debilidade de controles públicos sobre a propaganda no Brasil. É uma discussão sobre a influência dos meios de comunicação e sobre os limites da autorregulamentação. No que concerne ao alcoolismo, pelo menos dois tipos de políticas produzem o resultado desejado de reduzir a mortalidade e a morbidade no trânsito. A primeira, muito eficiente se implementada com seriedade, reside na proibição de dirigir após a ingestão de álcool, demonstrada pelos vários testes de alcoolemia. A outra, indireta, se dá por meio de impostos que aumentam o preço das bebidas. Em seus estudos, autores como Chaloupka, Grossman e Saffer (2002) argumentam que a teoria econômica mais básica já permite compreender que o aumento dos preços provoca uma redução no consumo. Defendem o aumento de impostos sobre as bebidas alcoólicas, com o objetivo de reduzir o consumo e suas consequências negativas. Citam muitos estudos que demonstram que bebidas alcoólicas mais caras reduzem as taxas de motoristas bêbados, em todas as idades. Como o consumo em geral é diminuído e não apenas controlado, acidentes e violências de todos os tipos diminuem de número. As políticas públicas e as leis, se efetivamente implementadas, podem salvar vidas, ou podem ficar no papel e deixar que os que seriam salvos morram. No Brasil, a inflexão da legislação veio em etapas, primeiro em fins de 19977, contra dirigir alcoolizado8. Em junho de 2008, acentuaram-se as modificações favoráveis ao controle do consumo de álcool9. Promulgação e implementação efetiva são coisas diferentes e, ainda assim, essas leis inverteram uma tendência ao crescimento das mortes no trânsito, em geral, e dos atropelamentos, em particular. Os mortos no trânsito decresceram acentuadamente entre 1996 e 2000: 12.952, 12.500, 11.227, 9.886 e 8.696 pessoas, com o passar dos anos. O número de atropelados mortos também desceu. Se fosse mantido o nível de 1996, teríamos 9.499 mortos a mais, dos quais 2.327 atropelados. Essas não são variações explicáveis pelo acaso. É a coincidência temporal entre a promulgação das leis e o início da redução nas mortes que sugere a existência de uma relação causal10. Os efeitos das culturas cívica, política e automobilística A combinação entre uma cultura automobilística recente, baixa cultura cívica e um aumento explosivo na frota provoca, usualmente, um crescimento acelerado de mortos e feridos, como no caso da China – em duas décadas, o número de mortes dobrou. Não foi um fenômeno metropolitano nem urbano, como é frequente. Marcou todo o país: em verdade, as taxas mais altas por 100 mil veículos aconteceram nas regiões menos populosas. O resultado se transformou num problema de saúde coletiva: as mortes no trânsito já lideram as causas de morte na população até 45 anos. No entanto, é difícil trabalhar com os dados chineses porque, infelizmente, continuam medindo os acidentes usando somente a taxa pela população – como o fazem muitas instituições brasileiras –, registrando um aumento de 3,9 por 100 mil para 7,6 entre 1985 e 2005. Por que teriam os acidentes crescido tanto num país com controle populacional rígido? Porque o número de carros aumentou 900% e o de outros veículos, sobretudo motocicletas, 5.400%11. Daí a necessidade de também medir as mortes por quilômetro rodado ou, pelo menos, por 10 mil veículos. Um aumento gigantesco da carnificina, mas sabemos que vai ficar pior: entre 2000 e 2020 espera-se um aumento de 92% nas mortes, pois há um descompasso entre o nível Capítulo 6 – A morte sob rodas1 da produção industrial automobilística chinesa e o nível da cultura cívica e, particularmente do seu conteúdo automobilístico: o baixo nível da cultura cívica se percebe no fato de que metade dos motoristas não usa cinto. Variações nas culturas cívica, política e automobilística O espaço e suas subdivisões administrativas (países, regiões, estados etc.) são substitutos – proxies – de um conjunto amplo de fatores, entre os quais se encontram a cultura cívica e uma componente sua, a cultura automobilística. Dados americanos de boa qualidade, da National Highway Traffic Safety Administration – NHTSA (2002), mostram que 69% dos pedestres mortos são homens. O motivo, em nossa opinião, é a maior exposição dos homens: em qualquer momento, particularmente nas horas e dias mais perigosos, há mais homens atravessando as ruas do que mulheres. A taxa dos feridos também é maior entre os homens. Há dias e horas “da morte”. Dados americanos de 2005 informam que 49% ocorrem no final da semana – sexta a domingo – e 51% dividem-se nos demais quatro dias. O risco representando pelo “espírito” de muitas pessoas no fim de semana mostra que 45% das mortes de pedestres ocorreram entre as seis da tarde e a meia noite e 55% dividem-se nas demais 18 horas do dia. Nós, brasileiros, temos pouca resistência à afirmação de que a cultura automobilística, e a própria cultura cívica, esteja mais avançada em vários países do que no Brasil. Porém, resistimos à ideia de que as mesmas diferenças caracterizem nossos estados e regiões, uma postura reativa à existência de padrões internos de segregação. A segregação existe, mas essas diferenças regionais também. Ano após ano, as taxas de morte por 10 mil veículos são mais altas no Norte e no Nordeste do que nas demais regiões: um gráfico mostra a extensão das diferenças em 2008. 65 66 Capítulo 6 – A morte sob rodas1 Gráfico 23 – Brasil, taxa de acidentes por 10 mil veículos em 2008, por Região 15 Pedestre 10 5 0 Região Norte Região Nordeste Região Centro-Oeste Tem Jeito! Há solução para os problemas do trânsito. Muitas medidas já se encontram nas ruas e estradas de todo o mundo. Na Suécia, os limites de velocidade reduziram as mortes em 21%. Já na Dinamarca, 24%; na província de Victoria, na Austrália, a redução foi de 40%. Os nossos conhecidos pardais também têm efeitos benéficos: em Queensland, na Austrália, 2.500 deles reduziram as mortes em 31% em 15 anos; na Grã-Bretanha, pardais, glorietas, limites de velocidade e outras medidas reduziram as mortes em 34%. Há, literalmente, centenas de constatações sistemáticas dos efeitos da redução da velocidade média sobre a mortalidade. No Brasil, porém, o lobby da velocidade conseguiu que fossem colocados avisos da proximidade dos pardais. Esses avisos não só impediram que a cultura automobilística apresentasse um padrão mais baixo de velocidade média e constante, como permitiram que se instalasse outro padrão, nada desejável: o Região Sul Região Sudeste de alta velocidade média, interrompida por desacelerações súbitas e breves diante da presença dos aparelhos. A avaliação de uma cultura cívica e automobilística não se faz apenas a partir das taxas de mortalidade, mas também a partir da participação dos atropelamentos no total de mortes: quanto maior a percentagem de atropelamentos, pior. Uma alta participação indica uma cultura automobilística menos avançada e experiente. Uma alta participação sugere que, até nas mortes no trânsito, a desigualdade social persiste: enquanto uns morrem nos carros, outros morrem a pé. Os dois segmentos não são amostras aleatórias de um total maior. Não são farinha do mesmo saco. E a evolução do Brasil nesse quesito é incontestável: a participação dos pedestres no total de mortos no trânsito, como mostra o Gráfico 24, entre 1996 e 2008 teve redução de aproximadamente 1% ao ano, saindo de mais de 36% e terminando em pouco menos de 24%. Gráfico 24 – Porcentagem dos óbitos por acidentes no trânsito nos quais as vítimas são pedestres – Brasil, 1996 a 2008 38 36 34 32 30 28 26 24 22 20 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 As mortes no trânsito, inclusive os atropelamentos, incluem muitos dados de origens diferentes. Com frequência, a frota de veículos de todo tipo cresceu aceleradamente, transferindo parte significativa dos trajetos antes percorridos a pé para o interior de veículos. O aumento das colisões e das mortes era uma consequência esperada devido ao crescimento das frotas. Esses fenômenos se deram num vazio de conhecimento e de decisões políticas inteligentes. As pesquisas, porém, aumentaram o conhecimento e as mortes aumentaram a pressão popular, midiática e política sobre os governos, embora em todos os casos tenha havido um hiato entre a criação dos problemas e a entrada em vigor de políticas públicas inteligentes. Contudo, esse hiato variou muito entre os países e entre regiões do mesmo país: nos países de maior renda per capita, o crescimento ocorreu antes; nos de menor desenvolvimento, depois. Entre os países menos desenvolvidos há muita variação na cultura política, que se reflete no tempo para reduzir o hiato até níveis aceitáveis. Governos melhor informados reduzem esse hiato antes, usando uma combinação entre o conhecimento que provém dos países mais experientes e das pesquisas feitas localmente. Os governos mais tradicionais, caracterizados pela desatualização técnica e por uma cultura política reacionária, levam mais tempo. Essa diferença não significa apenas tempo, mas vidas humanas salvas ou perdidas. A morte – e, portanto, a vida –, depende dos governos e das políticas públicas. A cultura automobilística progride lentamente, mas as políticas públicas de segurança nas ruas e estradas produzem efeitos quase imediatos, tanto no sentido de reduzir as mortes, quanto no de deixar morrer. Não sabemos exatamente como se dá a vinculação entre um papel assinado pelo governador e o fato de que milhares e milhares de motoristas respondem, e seus pés não apertam Capítulo 6 – A morte sob rodas1 tanto o acelerador. Há muitas mediações, mas a relação funciona como se houvesse fios invisíveis ligando a lei, o papel assinado e o cérebro de centenas de milhares de motoristas que modificam seu comportamento. Fios invisíveis que salvam vidas. Bons governos usam esses fios e salvam vidas. Notas Texto publicado na revista Inteligência, Outubro/Novembro/Dezembro de 2011. 1 2 Consultor que colaborou no desenvolvimento da pesquisa. 3 Estagiária que colaborou no desenvolvimento da pesquisa. 4 Estagiária que colaborou no desenvolvimento da pesquisa. É necessário repetir que essas baixas se deram após a entrada em vigor do Novo Código do Trânsito e de leis suplementares que o aperfeiçoaram. 5 Como a frota continuava crescendo, houve melhora nas taxas. Como a população brasileira aumentou em todos os períodos analisados e a frota aumentou muito, os números absolutos podem ocultar mudanças positivas havidas no trânsito. 6 Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997, que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro. 7 8 Lei no 9.294, de 15 de julho de 1996. Lei no 11.705, de 19 de junho de 2008, parcialmente vetada no que concerne à prisão e ao flagrante. 9 Essa associação, que lemos na direção de que as leis favorecem o decréscimo das mortes, não exclui outra, anterior, que ensina que o crescimento das mortes pressiona o poder público para que adote políticas públicas eficientes que previnam as mortes no trânsito. 10 Segundo a NHTSA (2002), nos acidentes com pedestres, 40% dos ferimentos resultam do contato direto com o veículo, 32% com o chão ou pavimento, e 26% com objetos não identificados. 11 Nota: As informações contidas neste capítulo são de inteira responsabilidade dos autores. 67 68 Capítulo 7 – Projeto Paz no Trânsito no Distrito Federal: um modelo possível Capítulo 7 – Projeto Paz no Trânsito no Distrito Federal: um modelo possível Gláucio Ary Dillon Soares1 Introdução Os efeitos das políticas públicas podem ser melhor observados quando correspondem a mudanças de governos e de programas de governo, particularmente se decompusermos o tempo em antes e depois do governo analisado. Usamos essa estratégia para ver as diferenças entre os governos anteriores ao de Cristovam Buarque e os anos em que ele e seu governo participaram do programa Paz no Trânsito. Entre 1980 e 1994, o número de mortos no trânsito do Distrito Federal aumentou gradativamente, cada ano com mais 33 mortos do que o anterior. A linearidade temporal desse processo pode ser aquilatada pelo coeficiente de determinação do número de mortos pelo ano das ocorrências (R² = 0.84). Não houve “explosões” de mortes, mas, com o passar do tempo, aumentava gradativamente o número de mortos. Brasília, nos anos de 1996 e 1997, era uma das cidades mais violentas no trânsito pelo grande números de acidentes, com pedestres atropelados e vítimas fatais. O número de atropelamento nesses anos representava respectivamente 49,8% e 47,3% do número total de acidentes, com morte, no Distrito Federal (LÉ SÉNÉCHAL-MACHADO, 2007). Gráfico 25 – Número de mortos no trânsito no Distrito Federal até o governo de Cristovam Buarque 800 700 600 500 400 300 200 100 0 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 Gráfico 26 – Número de mortos no trânsito no Distrito Federal durante a administração Cristovam Buarque 750 700 650 600 550 500 450 400 1995 1996 1997 1998 As tentativas iniciais de apoio do setor público As tentativas de obter um pequeno financiamento para uma pesquisa piloto sobre trânsito naufragaram. Para a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), os projetos tinham que ser aplicáveis e, como a aplicação dependeria de governos, o objetivo era demonstrar que as medidas salvavam vidas. Não houve como. Um tecnocrata bem vestido não entendia o papel da prevenção. Com um ar desinteressado, aconselhou-me a escrever outro projeto. E isto, em bom burocratês, quer dizer “desista dessa”. Também encontrei resistências dentro da universidade, sobretudo por parte do Departamento. O cacoete teórico que domina as ciências políticas e sociais no Brasil fez mais uma vítima. É irônico: um projeto que alavancaria um programa de governo que, na prática, acabou salvando cerca de 900 vidas era rejeitado porque não tinha “profundidade teórica”. Pior: os teóricos fugiam da pesquisa empírica, particularmente da quantitativa, como o diabo da cruz. Já ocorrera antes, quando co-orientei a monografia de uma aluna da graduação da Uerj. As pessoas não se interessavam por uma pesquisa simples para a monografia, mas que poderia salvar muitas vidas – afinal, o que interessava era ter “profundidade teórica”. Mal sabia eu que David Duarte, que seria meu colega de jornada, encontrava problemas semelhantes na Escola de Medicina, onde encontrava grande oposição. A epidemiologia de mortes violentas por causas externas não era aceitável pelos senhores e senhoras vestidos de branco. Sabíamos que países com mais experiência automobilística implementaram programas para reduzir a mortalidade e a morbidade no trânsito e queríamos usar essas experiências para salvar vidas no Distrito Federal. Como as tentativas institucionais falhavam desde o início, sobrou o caminho da mobilização Capítulo 7 – Projeto Paz no Trânsito no Distrito Federal: um modelo possível cidadã – uma importante lição que haveria de marcar-me. Ficáramos conscientes de que, para obter bons resultados rapidamente, era necessário não depender do setor público, lento demais para nosso sentido de urgência. Unimos nossos esforços e ampliamos nossas ações para fora da universidade: formamos um grupo que incluía alunos, policiais, membros do staff do Detran – entre os que há que sublinhar o diretor, Luis Miúra, e os que mantinham boas estatísticas – e outros voluntários. Até os trabalhadores do Detran juntaram-se a nós como cidadãos e não como funcionários, embora o seu diretor, que participava também como cidadão, nos desse pleno apoio. Criava-se um movimento que uniu forças com o Correio Braziliense. Formamos um grupo de estudantes voluntários. Eu não tinha recursos e simplesmente pagava as passagens deles. Andaram para cima e para baixo em todas as linhas de ônibus, conversando com motoristas, trocadores e passageiros. Uma inspeção mais detalhada e competente da mortalidade e da morbidade nos coletivos revelou uma realidade chocante. Com os dados do SUS, suplementados pelos do Hospital Sarah Kubitschek – felizmente, organizado, competente e informatizado já naquela época – consegui ser recebido por Nazareno Affonso, então Secretário dos Transportes do DF. Surgem as primeiras bolsas Esses bons resultados permitiram obter para alguns participantes bolsas de graduação pelos programas de Iniciação Científica (Pibic) e de Educação Tutorial (PET). Porém, apareceram obstáculos de outra ordem que, devido à minha ingenuidade, me pegaram de surpresa. Os que trabalharam como voluntários não eram amostra aleatória do total dos participantes. Entre os que vieram depois, atrás das bolsas, a rotatividade foi alta – as faltas, o acúmulo ilegal de funções remuneradas e minha incompetência como supervisor fizeram com 69 70 Capítulo 7 – Projeto Paz no Trânsito no Distrito Federal: um modelo possível que fosse assim. Esperara encontrar, entre os jovens do Distrito Federal, a capital do privilégio, uma ética de trabalho e profissional que eu observara e incorporara nos Estados Unidos. O resultado foi uma redução na produtividade. Os participantes que pertenciam às classes média e alta, acostumados a considerar privilégios como normalidade, não se sentiam na obrigação moral de repor, em trabalho, o que recebiam. Os mais pobres acumulavam, ilegal e irresponsavelmente, bolsas e bicos de todos os tipos. Tive que aprender, com a professora Maria das Graças Rua, que administrava com rigor o programa de bolsas da Ciência Política na Universidade de Brasília, a tratar os estudantes com um certo distanciamento pessoal, dispensando bolsistas na segunda infração. Algumas medidas Uma das medidas, inicialmente fonte de controvérsia, se referia às faixas de pedestres. Acrescentou a punição, com multas e advertências, aos motoristas que desrespeitassem a lei. O coronel Reinaldo Azevedo fez um período de estudos na Europa e argumentou a favor da plausibilidade de que, eventualmente, os motoristas respeitassem a faixa. Uma estória, verídica, de cunho anedótico, mostra como era a cultura automobilística da época no Distrito Federal. Pediu à própria filha que testasse as respostas às novas diretrizes e a filha se negou, dizendo que era morte certa... As faixas de pedestres tiveram início em abril de 1997. Houve resistência da parte dos motoristas, como fica claro na entrevista do próprio Coronel a Vívica Lé Senéchal-Machado (2007). Poucos meses depois, em 23/12/1997, foi promulgado o Novo Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/97) que instituiu a faixa para pedestres e a obrigatoriedade de parar na faixa. A importância do Novo Código de Trânsito Brasileiro tornou-se clara: agora havia respaldo em legislação federal para multar quem não obedecesse à faixa, o que permitiu muitas vitórias no fronte legal. Gradualmente, cresceu o respeito aos pedestres nas faixas. Não usamos palhaços como em Bogotá, mas crianças uniformizadas ocasionalmente participaram dos sabões passados aos infratores. Nas relações com o público, a grande dificuldade era a ausência de compreensão de noções elementares de estatística e probabilidade – e não apenas no público com baixa escolaridade. As entrevistas e artigos tinham que incluir noções básicas para que a mensagem pudesse ser transmitida. O auge da mobilização popular e da campanha ocorreu em agosto de 1996, quando, com o apoio do Fórum Permanente pela Paz no Trânsito e de várias instituições e da mídia, sobretudo do Correio Braziliense, foi organizada uma marcha pela paz no Eixão. Os participantes, vestidos de branco, fizeram apenas uma marcha silenciosa, em homenagem aos que foram silenciados para sempre pela violência no trânsito. Estimar o número de participantes de eventos abertos pode ser feito, particularmente do ar, usando amostras espaciais. Embora isso não tenha sido feito, houve várias estimativas e a oficial ficou em 25 mil pessoas. Não foi uma megademonstração, como as que vivemos na campanha pelas Diretas Já, nem tampouco uma pequena demonstração de algumas centenas de pessoas. Para quem participava, foi emocionante. Para quem sonhava com a demonstração de apoio popular, foi marcante. Porém, era impossível estimar, sem pesquisa, o apoio ao movimento: para cada um que se dispôs a se vestir, buscar transporte e investir algumas horas em uma demonstração durante o fim de semana, quantos mais apoiavam o movimento? Tentando responder à pergunta, havia diferentes especulações. Nós nos perguntávamos, e os políticos também: como muitos participantes e muitos apoiadores votavam? A alta participação conferiu ao Paz no Trânsito um caráter político, com todos os inconvenientes que acompanham essa transformação. A impossibilidade da oposição ao governador de incorpo- rar o movimento levou alguns de seus membros a agir contra ele, capitaneados por Luis Estevão2. A preocupação com o apoio da população, indispensável para a continuidade do movimento, gerou muitas outras formas de informação: artigos em jornais, participação em programas de rádio e de televisão, palestras, conferências, grupos de estudo e outras. O resultado foi um crescimento rápido do apoio à iniciativa, ainda que vista como um programa de governo. A administração do Distrito Federal, que apoiara a causa desde o início, incorporou os objetivos do movimento que continuou a existir. Em frente ao edifício da administração do Governo do Distrito Federal (GDF) foi instalado um placar, com atualização contínua, com referências aos três últimos anos. Paralelamente, calculávamos o número projetado de mortos, o número de mortos e o número de vidas salvas. Em resposta à afirmação “o GDF está resolvendo os problemas do trânsito”, os entrevistados poderiam concordar ou discordar. A percentagem concordando – e, portanto, denotando aprovação – começou em um patamar baixíssimo: 16%, em 30 de agosto de 1996. Menos de dois meses depois, em 19 de outubro, já alcançava 40%; dez dias depois, galgaria mais quatro pontos. Em 19 de novembro, última data de aferição, a concordância estava em 59%. Essas iniciativas não se limitaram ao trânsito. Depois de conhecidos, fomos procurados pelos bombeiros, que queriam saber por que tantas pessoas se afogavam no DF – como não se tem mar, essas mortes causaram estupefação, chegando a ser matéria do Fantástico. Nasceu um miniprojeto com análise das estatísticas, com base em uma forma elementar de análise espacial e na determinação dos hot spots. Um local de lazer de classes menos favorecidas, na barragem do Descoberto, respondia por boa parte das mortes. A inspeção dos laudos das necropsias revelou que muitos tiveram traumatismo craniano seguido de afogamento. Medidas preventivas foram tomadas, como impedir que pulassem em áreas com vazão insuficiente – no fundo, havia ora pedras, ora troncos submersos – e, nas áreas de correnteza, foram chumbados postes conectados com correntes. A presença, permanente, de um grupo de bombeiros nas áreas de alto risco transformou muitas mortes em afogamentos incompletos. O resultado: de aproximadamente 100 mortes anuais, passamos a 40. A junção informal, mas sólida, entre a pesquisa – com os métodos mais rigorosos aplicáveis à situação – e os segmentos do governo – que implementaram políticas públicas informadas e inteligentes – salvou vidas. Gráfico 27 – Percentual de concordância com a afirmação “o GDF está resolvendo os problemas do trânsito” 80 Pedestre 59 60 40 40 20 0 44 16 30/08/96 19/10/96 O Paz no Trânsito não foi uma política pública instalada de uma só vez: veio por etapas. Por se Capítulo 7 – Projeto Paz no Trânsito no Distrito Federal: um modelo possível 29/10/96 19/11/96 tratar de um movimento social primeiro e de uma política do GDF como consequência, respondia às 71 72 Capítulo 7 – Projeto Paz no Trânsito no Distrito Federal: um modelo possível inúmeras contribuições feitas no Fórum e às contribuições de um pequeno grupo de pesquisadores que varriam as experiências de outros países, em busca de medidas promissoras tais como os pardais. Porém, concluindo-se, por exemplo, que pardais salvariam vidas, surgiam questões práticas para implementação de inovações, relativas a financiamento e localização, entre outras. Quase não havia dinheiro público, o que ensejou uma negociação com os fabricantes que instalariam os pardais, pagos com uma percentagem das multas. A parceria pelo programa foi benéfica: vidas foram salvas e aumentaram-se os recursos, com gastos públicos mínimos. Em novembro de 1996, três meses depois das marchas, os pardais foram instalados. Houve resistência, recursos judiciais e interrupções. Outros recursos foram usados pelo movimento: como em Bogotá, houve Anjos do Asfalto. A mobilização também envolveu as mães. A participação foi ampliada e a cidadania começou a educar a população. A participação cidadã também tomou a forma de protestos: em Planaltina, uma cidade satélite, as crianças saíram às ruas contra a violência no trânsito. Os resultados da campanha e sua divulgação contínua ajudaram, e muito. Em janeiro de 1998, último ano da administração Buarque, as mortes mensais baixaram a 20. O papel dos meios de comunicação foi analisado por vários autores. Um dos trabalhos mais interessantes foi uma “simples” monografia de graduação, Placar da vida: bastidores da prática de jornalismo público que mudou o trânsito do Distrito Federal, de Josivânia Ferreira dos Santos. No fronte da mídia houve progressos. Discutiu-se, no Correio Braziliense, se uma campanha desse tipo cabia a um jornal. A disputa interna continuava quando o programa começou a produzir resultados e alguns jornalistas ganharam reconhecimento. Ana Júlia Pinheiro, repórter do Correio Braziliense, foi a autora da série de reportagens sobre a campanha Paz no Trânsito, no período de 1996 até 1997, no Caderno Cidades. Essas reportagens e a campanha deram certo, e era evidente que seu prestígio crescia: o Correio Braziliense realizou uma pesquisa de opinião diária, com 100 assinantes do jornal, que revelou o entusiasmo dos leitores. Cerca de 70% estavam interessados na matéria, sendo que o máximo atingido anteriormente por outro tema estivera perto dos 40%. O apoio incondicional de um jornalista de renome da Rede Globo, Alexandre Garcia, colaborou de forma fundamental para decidir que a campanha convinha ao jornal. Garcia comentava inteligentemente as tragédias no trânsito do Distrito Federal. Outro fator de interesse tem a ver com a consciência cívica de um jornal. A consciência cívica é uma das diretrizes que influenciam as ações de um jornal, de uma revista, de um canal de televisão. O Jornal de Brasília, que tentava competir com o Correio, protagonizou um exemplo primoroso de como a ética da competitividade se sobrepôs à consciência cívica: Durante a campanha Paz no Trânsito, em 1996, o Jornal de Brasília fez agendamento por omissão da campanha. A cobertura foi omissa. Em nenhum momento o Jornal de Brasília citou o nome da campanha Paz no Trânsito. As coberturas eram simplesmente sobre os acidentes e não que a população estava mobilizada pela Paz no Trânsito. Os interesses do jornal, em não apoiar o concorrente, ficaram acima do propósito da campanha, que era a redução da velocidade e dos acidentes de trânsitos no Distrito Federal. A campanha não tinha dono. Esperava-se o apoio, se não a prática de um jornalismo cidadão, de todas as mídias por uma causa urgente, que beneficiava toda a sociedade (SANTOS, 2008, p. 35). Funções das pesquisas Pesquisas relativamente simples e baratas podem ajudar muito, de diversas formas. Uma das principais é desmistificar crenças erradas, e há muitas delas nas explicações para as mortes violentas. Muitos mitos. Pesquisas podem otimizar o destino dos recursos. Os comportamentos, inclusive os errados, dos motoristas variam no tempo e no espaço; necessitamos de medidas corretas para prevenir os comportamentos errados nos lugares onde existem. Tomemos um exemplo: uma das maneiras de averiguar se há uma relação íntima entre o consumo nacional de álcool e as taxas de morte em vários tipos de acidentes foi usada por Skog (2001). O autor demonstra, após analisar dados de 14 países europeus, que há dois padrões diferentes: a íntima associação com os acidentes de trânsito na Europa Central e no Sul da Europa e a íntima associação com os demais tipos de acidentes na Europa do Norte. A pesquisa secundária é, portanto, muito importante: propõe, para testar, medidas que deram certo em outros lugares. Adendo importante: aprendemos, também, com experiências negativas, programas e medidas que não deram certo. E é muito mais barato aprender com os erros alheios. Finalmente, as pesquisas podem formar a opinião pública. Considero uma tarefa prioritária divulgar, e não apenas entre acadêmicos, os resultados das pesquisas. Um dos resultados mais desejados do Paz no Trânsito foi a redução da velocidade média. Brasília fechou o ano de 1998 com 5,6 mortos por 10 mil veículos. Em janeiro de 1995, esse mesmo índice era de 11,6 mortos por 10 mil veículos. Quatro anos de Paz no Trânsito reduziram a mortalidade em 48,3%. A velocidade média da cidade, em 36 meses, baixou de 100 90km/h para 55km/h (AFFONSO, 2000). A preocupação com a velocidade urbana não é gratuita. A velocidade do veículo é a grande determinante do risco de morte, particularmente de pedestres. Tabela 11 – Relação entre a velocidade do veículo e o risco de morte do pedestre Velocidade (em milhas) 20 30 40 Risco de morte do pedestre Reino Unido50 Austrália51 5% 45% 85% 5% 37% 83% A preocupação com a velocidade urbana não é gratuita. O risco cresce como uma função exponencial da velocidade. A razão é simples: a Lei de Newton ensina que dobrar a velocidade significa quadruplicar a distância até parar e também quadruplicar a energia cinética que será absorvida em uma colisão, seja por um pedestre, seja por outro veículo. O risco cresce como uma função exponencial da velocidade do veículo, tornando-a a grande determinante do risco de morte, particularmente de pedestres. Dados australianos e britânicos o confirmam. Os resultados relativos ao Reino Unido – apresentados em forma de gráfico de barras – talvez sejam ainda mais impactantes. Na Austrália, país com boa legislação e bons estudos, uma pesquisa sobre 176 mortes de pedestres em Adelaide entre 1983 e 1991 revelou que uma redução de 5km/h na velocidade provocava uma redução de 30% nas mortes de pedestres. Ainda nessa simulação estatística, a mesma redução evitaria 10% dos atropelamentos. Gráfico 28 – Risco de morte do pedestre por velocidade do veículo (%) 85 Pedestre 75 45 50 25 5 0 32km/h Capítulo 7 – Projeto Paz no Trânsito no Distrito Federal: um modelo possível 48km/h 64km/h 73 74 Capítulo 7 – Projeto Paz no Trânsito no Distrito Federal: um modelo possível Há centenas de exemplos da influência da legislação e das políticas públicas sobre as taxas de mortalidade e de morbidade. Outra pesquisa, na área metropolitana de Zurique, mostrou que a redução da velocidade máxima de 60 para 50km/h provocou uma redução de 16% nos acidentes com pedestres e de 25% na mortalidade. Não deixa de ser interessante que, também nesse país, houve resistências de todos os tipos, inclusive dos que não “acreditam” que a velocidade tenha alguma relação com o impacto e, através dele, com a mortalidade e a morbidade. Ironicamente, o autor da pesquisa comenta que “é preciso demonstrar em todos os países que as leis de Isaac Newton são válidas” (MCLEAN et alli., 1994, p. 41). Os dados posteriores ao período de, aproximadamente, quatro anos, em que o Paz no Trânsito esteve em vigência sugerem algumas linhas de pensamento: A generalização. A expressão Paz no Trânsito passou a integrar o vocabulário das políticas públicas relacionadas ao trânsito. O Ministério das Cidades o incorporou no Comitê Nacional de Mobilização pela Saúde, Segurança e Paz no Trânsito, que é constituído por representantes de nada menos do que 20 instituições e técnicos de outras 32. O leitor me perdoe por compartir minha incredulidade a respeito da eficiência de comitês compostos de representantes de vários órgãos públicos. Dificilmente se sai do papel ou chega à aplicação de medidas inteligentes. Seja como for, seus objetivos são modestos: • Expandir a fiscalização eletrônica de velocidade e avanço de sinal vermelho; • Expandir a fiscalização de: alcoolemia, faixa de pedestre, motocicleta, uso do capacete, cinto de segurança, celular, transporte de crianças e ultrapassagem proibida; • Padronizar e divulgar as boas práticas através dos órgãos de comunicação social. • Metas físicas: redução de 50% do índice de fatalidade dos acidentes de trânsito na década. No DF, a redução na taxa por 10 mil veículos à metade foi alcançada em quatro anos. O apoio governamental. O êxito e a popularidade de um programa de redução da violência no trânsito dependem, parcialmente, do apoio governamental. No primeiro ano da administração Roriz, a taxa de mortalidade por 10 mil veículos não só parou de cair como experimentou leve subida. O antagonismo daquela administração se revelou na falta de apoio ao Fórum Permanente pela Paz no Trânsito, que acabou cerrando as portas. Sua importância fora bem entendida pelo governo de Cristovam Buarque. Cultura automobilística, cultura cívica As nossas primeiras pesquisas empíricas com dados agregados3 mostravam a situação sui generis do DF: as unidades da federação com renda per capita mais alta tinham taxas mais baixas de mortalidade e de morbidade por dez mil veículos; os municípios das capitais e das grandes cidades tinham taxas mais baixas do que as cidades menores e os municípios rurais; finalmente, as 12 taxas mais altas eram de estados do nordeste e do norte. O Distrito Federal, com a renda per capita mais alta do país, deveria ter a taxa mais baixa, mas estava pela média das unidades federadas. Considerando a renda, era um outlier. Eram necessárias políticas públicas específicas para o DF, com pesquisas originais para informá-las. A pesquisa sobre as mortes nos ônibus, simples e baseada em voluntários, deu resultados: a maioria dos casos de morte e de morbidade de nível hospital acontecia na subida ou na saída do veículo. Os motoristas e trocadores concordaram que não havia sistema de comunicação para avisar que as portas poderiam ser fechadas. Uns trocadores batiam com moedas na parte metálica, outros com a mão etc. E motoristas e trocadores não eram equipes permanentes. Vários motoristas sugeriram a colocação de um gato, um espelho grande externo. Apenas um tomou a iniciativa de propor um sistema, simples, através do qual a marcha não engatava se as portas estivessem abertas. O sistema foi imediatamente adotado pelos ônibus do GDF. Não obstante, a despeito do baixo custo (trezentos reais), nenhum ônibus de empresa privada o instalou. Dois anos após, o secretário de Transportes me chamou para mostrar um gráfico das mortes nos ônibus do GDF: tinham sido zeradas. Nenhuma morte. Infelizmente, a mortalidade e a morbidade continuaram nas famigeradas empresas do setor privado daquele setor. A mídia deu boa cobertura à campanha da segurança nos ônibus. Brasília fechou o ano de 1998 com 5,6 mortos por dez mil veículos. Em janeiro de 1995, esse mesmo índice era de 11,6 mortos por dez mil veículos. Quatro anos de Paz no Trânsito reduziram a mortalidade em 48,3%. A velocidade média da cidade, em 36 meses, baixou de 90km/h para 55km/h (AFFONSO, 2000). Algumas lições Governos contam, políticas públicas contam. Bons governos salvam vidas. O conhecimento, derivado do estudo das experiências em outros lugares e tempos, assim como das pesquisas feitas com o objetivo de informar políticas públicas inteligentes, é a contribuição que pesquisadores podem fazer para salvar a vida de muitos compatriotas. A cidadania brasileira foi, e continua sendo, tutelada pelo Estado. Não é participante, ativa, muito menos proativa. Milhões morrem inermes, sem ação, sem se organizarem, esperando que um governo solucione os problemas. Contraditoriamente, os brasileiros não acreditam que os políticos levam os interesses da gente comum em consideração: somente 5% estão “muito de Capítulo 7 – Projeto Paz no Trânsito no Distrito Federal: um modelo possível acordo” com esta afirmação. Raramente tomam a iniciativa. Talvez não tomem iniciativas políticas porque se sentem inadequados. Em um país com grande deficit educacional e deficit analítico ainda maior, poucos se sentem competentes para entender os meandros das decisões políticas, que afetam a vida de todos. Está acima deles. A mesma pesquisa revela que somente 5% têm certeza de que entendem bem os assuntos políticos. E, se o governo não for competente ou for corrupto, muitos morrerão sem esboçar uma ação. Não obstante, problemas como os da violência no trânsito não podem esperar que um governo honesto e competente seja eleito, e que o Estado supere tanto as sabotagens entre suas subdivisões quanto a sua própria inércia. A cidadania precisa se informar, se mobilizar e agir. No Distrito Federal, a grande vitória foi da cidadania, que criou um movimento e uma parceria com um governo do bem, aberto à inovação. E muitas, muitas, vidas humanas foram salvas. Reportagens consultadas “Anjos no asfalto: atores com auréola e vestidos de branco surpreendem motoristas de Brasília ao sair às ruas para pedir paz no trânsito” Em Correio Braziliense, Caderno Cidades, de 22/10/1996. “Mães se tornam anjos do trânsito: Marilza e Rita resolvem exercer o papel de guardas de trânsito e ajudar a travessia dos estudantes em frente ao colégio dos filhos, na 908 Sul”. Idem, 01/11/1996. No mesmo número, foi notificada a maior participação da cidadania, cuja eficiência pode ser demonstrada estatisticamente: “utilização de voluntários dirigindo carros disfarçados com agentes do Detran a bordo aumenta a média de multas diárias em 3%”. “Anjos e crianças educam motoristas: eles estão soltos e pedem aos alunos das escolas públicas e particulares que vigiem e controlem os pais no trânsito” Publicada no dia 6/11/1996. Crianças de Planaltina saem às ruas: eles percorrem as avenidas da cidade para protestar contra os abusos dos motoristas. Correio Braziliense, em 28/09/1996. 75 76 Capítulo 7 – Projeto Paz no Trânsito no Distrito Federal: um modelo possível Notas 1 Consultor que colaborou no desenvolvimento da pesquisa. Parlamentar que, posteriormente, tornar-se-ia o primeiro senador cassado da Nova República. 2 Para uma análise adequada, precisávamos dos microdados que se encontravam, no DF, em órgão equivalente ao Instituto Médico Legal. Evidentemente, como manda a ética científica, a base de dados seria organizada de maneira a impedir a identificação de qualquer indivíduo. Porém, a médica que dirigia essa seção apropriou-se dos dados e só os cedia (ou não) conforme a sua vontade. Além disso, usou os mesmos dados que me negava em apresentações em convenções médicas na área de Epidemiologia. A cessão arbitrária pela privatização dos dados sobre mortes violentas no DF causou um atraso considerável nas nossas pesquisas. 3 Nota: As informações contidas neste capítulo são de inteira responsabilidade dos autores. Referências Bibliográficas AFFONSO, N. S. Paz no Trânsito em Brasília: uma revolução de atitudes. Monografia. Instituto da Mobilidade Sustentável. 2000. ANSWERS.COM. Pedestrians safety through vehicle design. Disponível em http://www.answers.com/ topic/pedestrian-safety-through-vehicle-design#ixzz1ahsNHO ds. Acesso em: 12/04/2011. BRASIL. Lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996. 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