Visão Geral - World Bank
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Visão Geral - World Bank
Public Disclosure Authorized Os últimos 25 anos testemunharam mudanças inéditas em todo o mundo, sendo muitas delas para melhor. Em todos os continentes, muitos países enveredaram por um caminho de integração internacional, reforma econômica, modernização tecnológica e participação democrática. Como resultado, economias que ficaram estagnadas durante décadas estão crescendo, pessoas cujas famílias sofreram privações por várias gerações estão saindo da pobreza e centenas de milhões de pessoas estão aproveitando os benefícios de melhores padrões de vida e do intercâmbio cultural e científico entre os países. A Publicação Principal do Grupo Banco Mundial Visão Geral 2014 Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de Public Disclosure Authorized À medida que o mundo muda, surgem várias oportunidades. Com elas, porém, aparecem riscos antigos e novos, desde a possibilidade de perda de emprego e doença até potenciais de distúrbios sociais e danos ambientais. Se ignorados, esses riscos podem transformar-se em crises que anulam os ganhos duramente obtidos e colocam em perigo as reformas econômicas e sociais que geraram esses ganhos. 81785 Apesar de os esforços próprios, a iniciativa e a responsabilidade dos indivíduos serem fundamentais para a gestão de riscos, o seu sucesso ficará limitado sem um ambiente social de apoio – principalmente quando os riscos são grandes ou sistêmicos por natureza. O WDR 2014 afirma que as pessoas podem enfrentar com êxito os riscos que estão além de seus meios, compartilhando sua gestão de riscos com outras pessoas. Isso pode ser feito naturalmente com a ocorrência de sistemas sociais e econômicos que permitem superar os obstáculos que os indivíduos e grupos enfrentam, incluindo a falta de recursos e informações, problemas cognitivos e comportamentais, ausência de mercados e bens públicos, externalidades sociais e exclusão. Esses sistemas - desde a família e a comunidade até o Estado e a comunidade internacional - têm o potencial de apoiar a gestão de riscos das pessoas em modos diferentes, embora complementares. Public Disclosure Authorized O Relatório enfoca alguns dos problemas mais urgentes que os formuladores de políticas estão questionando. Que papel o Estado deve assumir para ajudar as pessoas a administrarem riscos? Quando esse papel deve consistir em intervenções diretas e quando deve consistir em proporcionar um ambiente propício? Como os governos podem melhorar sua própria gestão de riscos e o que acontece quando falham ou carecem de capacidade, como ocorre em muitos países frágeis e afetados por conflitos? Por meio de quais mecanismos a gestão de risco pode ser integrada à agenda do desenvolvimento? E como podem ser abordadas as falhas da ação coletiva na gestão dos riscos sistêmicos, principalmente quando houver consequências irreversíveis? O WDR 2014 fornece considerações e recomendações para os formuladores de políticas abordarem essas questões difíceis. Ele deve servir para orientar o diálogo, as operações e as contribuições dos principais atores do desenvolvimento - desde a sociedade civil e os governos nacionais até a comunidade de doadores e as organizações de desenvolvimento internacional. Public Disclosure Authorized O Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2014 (WDR 2014), Risco e Oportunidade: Gestão de Risco para o Desenvolvimento afirma que a solução não é rejeitar as mudanças para evitar os riscos, mas preparar-se para as oportunidades e os riscos que essas mudanças acarretam. A gestão responsável e eficaz dos riscos tem o potencial de gerar segurança e um instrumento de progresso para as pessoas dos países em desenvolvimento, entre outros. Risco e Oportunidade: sku 32794 Gestão do Risco para o Desenvolvimento A Publicação Principal do Grupo Banco Mundial 2014 Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de Visão Geral Risco e Oportunidade: Gestão do Risco para o Desenvolvimento © 2013 Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento/Banco Mundial 1818 H Street NW, Washington D.C. 20433 Telefone: +1 202-473-1000; Internet: www.worldbank.org Alguns direitos reservados 1 2 3 4 16 15 14 13 Este trabalho foi produzido por funcionários do Banco Mundial com contribuições externas. Cumpre observar que o Banco Mundial não é necessariamente proprietário de todos os componentes do trabalho. Portanto, o Banco Mundial não garante que o uso do conteúdo do trabalho não viole direitos de terceiros. O risco de reivindicações resultantes de tal violação recai inteiramente sobre o usuário. 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De acordo com a licença da Creative Commons Attribution, é possível copiar, distribuir, transmitir e adaptar este trabalho, inclusive para fins comerciais, sob as seguintes condições: Atribuição — Favor citar o trabalho do seguinte modo: Banco Mundial. 2013. Visão Geral do Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2014: Risco e Oportunidade — Gestão do Risco para o Desenvolvimento. Washington, D.C.: Banco Mundial. Licença: Creative Commons Attribution CC BY 3.0 Traduções — Se for feita uma tradução deste trabalho, devem ser incluídos os seguintes termos de isenção de responsabilidade, juntamente com a atribuição: Esta tradução não foi criada pelo Banco Mundial e não deve ser considerada uma tradução oficial do Banco Mundial. O Banco Mundial não será responsável por nenhum conteúdo ou erro da tradução. 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Desenho e ilustração da capa: Heads of State Desenho na parte interna: Debra Naylor Sumário Prefácio v Agradecimentos vii Visão geral Risco e oportunidade: A gestão de riscos pode ser um instrumento poderoso para o desenvolvimento 3 O risco é um ônus, mas também uma oportunidade 4 A gestão de riscos pode ser um instrumento poderoso para o desenvolvimento 5 O que implica a gestão eficaz de riscos? 10 Além do ideal: Os obstáculos à gestão de riscos 15 O caminho à frente: Uma abordagem holística para gestão de riscos 18 A família 21 A comunidade 23 O setor empresarial 25 O sistema financeiro 27 A macroeconomia 31 A comunidade internacional 33 Uma reforma institucional para integrar a gestão de riscos 36 Para concluir: Cinco princípios da ação pública para a melhor gestão do risco 40 Algumas considerações finais 42 Notas 43 Referências 45 iii Prefácio Nos últimos anos, o mundo passou por um grande número de crises. Distúrbios econômicos e financeiros arrasaram a economia mundial por meio da perda de renda, empregos e estabilidade social. Desastres naturais intensos devastaram comunidades inteiras do Haiti ao Japão, deixando para trás um rastro de mortes e perdas econômicas. As preocupações sobre o aquecimento global cresceram, assim como os temores sobre a propagação de doenças contagiosas mortais. Quando viajo pelo mundo, ouço a mesma preocupação: como podemos nos tornar mais resilientes a esses riscos? O Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2014 (WDR 2014), Risco e Oportunidade: Gestão do Risco para o Desenvolvimento, ajuda a fornecer respostas a essa pergunta premente. Outra preocupação são as oportunidades de desenvolvimento perdidas que surgem quando os riscos não são assumidos. A busca de oportunidades exige assumir riscos, mas muitas pessoas, principalmente as de baixa renda, muitas vezes relutam em fazer isso por temerem possíveis consequências negativas. A falta de ação pode aprisionar as pessoas na pobreza, deixando-as vulneráveis a choques negativos e ainda menos capazes de buscar oportunidades que poderiam melhorar seu bem-estar. A incapacidade de gerir riscos de forma adequada leva a crises e à perda de oportunidades. Isso representa um obstáculo para alcançar os dois objetivos principais do Grupo Banco Mundial: erradicar a extrema pobreza até o ano de 2030 e promover a prosperidade compartilhada pelos 40% mais pobres da população nos países em desenvolvimento. A gestão eficaz dos riscos, portanto, é totalmente fundamental para a missão do Banco Mundial. O WDR 2014 demonstra que a gestão eficaz dos riscos pode ser um instrumento poderoso para o desenvolvimento – pode salvar vidas, evitar choques econômicos e ajudar as pessoas a construir futuros melhores e mais seguros. Este relatório propõe que os indivíduos e as instituições deixem de ser “combatentes de crises” para se tornarem “gestores proativos e sistemáticos de riscos”. Existem evidências comprovadas de que reconhecer e se preparar para o risco pode gerar retornos enormes. Por exemplo, muitos países em desenvolvimento mostraram resiliência perante a última crise financeira global porque já tinham reformado suas políticas macroeconômicas, financeiras e sociais. A proteção, por meio da resiliência, dos ganhos de desenvolvimento duramente conquistados é essencial para alcançar a prosperidade. Isso é verdade quer as pessoas estejam enfrentando desastres naturais, pandemias, crises financeiras, uma onda de crimes no nível da comunidade ou uma doença grave do principal provedor de uma família. O risco nunca pode ser totalmente eliminado. Mas as pessoas e as instituições podem criar resiliência ao risco aplicando uma abordagem equilibrada que inclui medidas de políticas estruturais, prevenção no nível da comunidade, seguro, educação e treinamento e regulamentações eficazes. Os países aprenderam a gerir o risco em ambientes diversos, mas, até agora, as pesquisas relativas à gestão de riscos no mundo em desenvolvimento não foram sintetizadas em uma fonte única, que seja facilmente acessível e bem documentada. WDR de 2014 pretende preencher essa lacuna. Ele serve como um guia valioso para integrar a gestão de riscos à agenda de desenvolvimento, e ajudar os países e as comunidades a fortalecerem seus próprios sistemas de gestão de riscos. O Relatório também oferece considerações importantes para mudar a abordagem do risco nas próprias operações do Banco Mundial. O Grupo Banco Mundial atualmente está passando por uma transformação, que exige uma mudança da cultura institucional relativa ao risco, passando de um enfoque de extrema aversão ao risco para uma posição de tomada de riscos informada. O WDR deste ano adverte que talvez o maior risco seja o de não assumir nenhum risco. Concordo totalmente com isso. v vi P refá cio Minha esperança é que o WDR 2014 conduza a políticas de gestão de riscos que nos permitam minimizar o perigo de futuras crises e aproveitar todas as oportunidades de desenvolvimento. O sucesso nessa frente nos ajudará a construir o mundo que todos desejamos: um mundo sem pobreza e com prosperidade compartilhada por todos. Jim Yong Kim Presidente Grupo Banco Mundial Agradecimentos . Este relatório foi preparado por uma equipe liderada por Norman Loayza, em colaboração com Inci Ötker-Robe. Os outros membros da equipe principal eram César Calderón, Stéphane Hallegatte, Rasmus Heltberg, Xubei Luo, Martin Melecky, Ana Maria Oviedo e Kyla Wethli. Completaram a equipe os analistas de pesquisa: Sebastien Boreux, Kanako Goulding-Hotta, Rui Han, Harry Edmund Moroz, Anca Maria Podpiera, Jun Rentschler, Faiyaz Talukdar e Tomoko Wada. Gilles Cols, Olga Jonas, Federica Ranghieri e Anna Reva forneceram inestimável colaboração. O Relatório foi patrocinado pela Vice-Presidência de Economia do Desenvolvimento. A orientação geral para a preparação do Relatório ficou a cargo de Kaushik Basu, Vice-Presidente Sênior e Economista Chefe, e Asli Demirgüç-Kunt, Diretora de Pesquisa de Economia do Desenvolvimento. A equipe contou também com a participação contínua de Martin Čihák, Quy-Toan Do, Mary Hallward-Driemeier, Aart Kraay e Sergio Schmukler. Um painel consultivo composto por Laura Alfaro, Robert Barro, Thorsten Beck, Stefan Dercon, Ibrahim Elbadawi, Rohini Pande, Klaus Schmidt-Hebbel, Hyun Song Shin e Jan Švejnar forneceu magnífico feedback e assessoramento. A equipe também se beneficiou da consultoria dos Economistas Chefes do Banco Mundial Augusto de la Torre, Shantayanan Devarajan, Marianne Fay, Ariel Fiszbein, Caroline Freund, Indermit Gill, Bert Hofman, Jeffrey Lewis e Martín Rama. A equipe estende seus agradecimentos ao generoso apoio à preparação do Relatório prestado pela Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional, pelo Programa Conhecimento para a Mudança, pelo Fundo para o Desenvolvimento de Políticas e Recursos Humanos do Japão e pelo Orçamento de Apoio à Pesquisa do Banco Mundial. A equipe agradece também ao Ministério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha e ao Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit, que co-organizaram e sediaram o Workshop Internacional de Políticas do WDR em Berlim, em novembro de 2012. Foram feitas consultas interagências com a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, várias organizações das Nações Unidas, o Fórum Econômico Mundial e órgãos de cooperação para o desenvolvimento na Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Japão, Reino Unido, Suécia e Suíça. Recebemos contribuições valiosíssimas do Instituto Banco Mundial e de todas as redes regionais que atuam como âncoras, bem como de outras partes do Grupo Banco Mundial, inclusive a Cooperação Financeira Internacional e a Agência Multilateral de Garantia de Investimentos. Foram realizadas consultas aos seguintes países: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Cingapura, Chile, Dinamarca, Estados Unidos, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Indonésia, Japão, México, Noruega, Peru, Reino Unido, Ruanda, Suécia e Suíça. O grupo de pessoas consultadas era formado por acadêmicos, membros da sociedade civil, entidades públicas e governos. As consultas a pesquisadores e acadêmicos foram auxiliadas por conferências ad hoc organizadas pelo Centro para o Estudo da Economia Africana da Oxford University e pelo Centro sobre Governança Global da Faculdade de Assuntos Internacionais e Públicos da Columbia University. A equipe também recebeu valioso feedback na Conferência Econômica Africana de 2012, no Fórum de Desenvolvimento da Ásia de 2013 e na Conferência da Associação Econômica da América Latina e Caribe de 2012. O Relatório foi habilmente editado por Nancy Morrison e Martha Gottron. Bruce Ross-Larson e Gerry Quinn forneceram consultoria editorial adicional. A Divisão de Publicações e Conhecimento do Banco Mundial coordenou o projeto, a composição gráfica, a impressão e a disseminação do Relatório. Nossos agradecimentos especiais vão para Mary Fisk, Stephen McGroarty, Stephen Pazdan, Denise Bergeron, Andres Meneses, Shana Wagger e Paschal Ssemaganda, bem como para Bouchra Belfqih, Cecile Jannotin e Michael Lamm da Unidade de Tradução e Interpretação. O Grupo de Dados sobre o Desenvolvimento, coordenado por Timothy Herzog, contribuiu para a preparação do anexo estatístico do Relatório. A equipe agradece ainda a Merrell Tuck-Primdahl, Vamsee Krishna Kanchi e Swati P. Mishra por sua orientação em estratégia das comunicações e a Vivian Hon por sua coordenação. Barbara Cunha, Birgit Hansl e Manal Quota revisaram algumas das traduções da Visão Geral para idiomas estrangeiros. vii viii A gradecimentos A produção e a logística do Relatório ficaram sob a responsabilidade de Brónagh Murphy, Mihaela Stangu e Jason Victor, com contribuições de Laverne Cook, Gracia Sorensen e Tourya Tourougui. Ivar Cederholm, Elena Chi-Lin Lee e Jimmy Olazo coordenaram a mobilização de recursos. Irina Sergeeva e Sonia Joseph foram responsáveis pela gestão dos recursos. Gytis Kanchas, Nacer Mohamed Megherbi e Jean-Pierre S. Djomalieu forneceram suporte em tecnologia da informação. Os documentos de referência foram fornecidos por Joshua Aizenman, Phillip R. D. Anderson, Maximillian Ashwill, Emmanuelle Auriol, Ghassan Baliki, Thorsten Beck, Najy Benhassine, Nicholas Bloom, Julia K. Brown, Martin Brown, Daniel Buncic, Julio Cáceres-Delpiano, Sara Guerschanik Calvo, Olivier De Jonghe, Alejandro de la Fuente, Philippe de Vreyer, Mark A. Dutz, Maya Eden, Penelope D. Fidas, Roberto Foa, Rodrigo Fuentes, Garance Genicot, Gary Gereffi, Ejaz Ghani, Sudarshan Gooptu, Mikael Grinbaum, Federico H. Gutierrez, Ronald Inglehart, Susan T. Jackson, Olga B. Jonas, Jan Kellett, Ilan Kelman, Tariq Khokhar, Auguste T. Kouame, Aart Kraay, Sadaf Lakhani, Sylvie Lambert, Esperanza Lasagabaster, Ethan Ligon, Samuel Maimbo, William F. Maloney, Tom Mitchell, Ahmed Mushfiq Mobarak, Hernan J. Moscoso Boedo, Andrew Norton, Eduardo Ortiz-Juárez, Patti Petesch, Florence Pichon, Patrick Premand, Carlos Rodriguez Castelan, Natalia Salazar, Luis Servén, Francis J. Teal, Maarten van Aalst, Guillermo Vuletin, Koko Warner, Tetyana V. Zelenska e Nong Zhu. Os detalhes das suas contribuições encontram-se no final do Relatório. Pelas valiosas contribuições e recomendações, a equipe agradece a Pablo Ariel Acosta, Tony Addison, Montek Ahluwalia, Ahmad Ahsan, David Aikman, Harold Alderman, Franklin Allen, Aquiles Almansi, Philippe Ambrosi, Goli Ameri, Walter J. Ammann, Dan Andrews, Paolo Avner, Edmar Bacha, Javier Baez, Hemant Baijal, Christopher Barrett, Scott Barrett, Kathleen Beegle, Tim Besley, Gordon Betcherman, Deepak Bhattasali, Indu Bhushan, Jörn Birkmann, Christiane Bögemann-Hagedorn, Uta Böllhoff, Patrick Bolton, Laura Elizabeth Boudreau, François Bourguignon, Carter Brandon, Juan José Bravo, Tilman Brück, Robin Burgess, Guillermo Calvo, Jack Campbell, Jason Cardosi, Michael R. Carter, Miguel Castilla, Michael Chaitkin, Marcos Chamon, Guang Zhe Chen, Maria Teresa Chimienti, Fredrick Christopher, Craig Churchill, Luis Abdón Cifuentes, Massimo Cirasino, Stijn Claessens, Daniel Clarke, Tito Cordella, Sarah E. Cornell, Gerardo Corrochano, Robert Cull, Julie Dana, Anis Dani, Jishnu Das, Joachim De Weerdt, Ximena Del Carpio, Jean-Jacques Dethier, Jacqueline Devine, Pierre Dubois, Patrice Dumas, Peter Ellehoj, Brooks Evans, Jessica Evans, Marcel Fafchamps, Paolo Falco, Shahrokh Fardoust, Thomas Feidieker, Wolfgang Fengler, James Fenske, Ana Margarida Fernandes, Adrián Fernández, Francisco Ferreira, Deon Filmer, Greg Fischer, James Foster, Marcel Fratzscher, Linda Freiner, Roberta Gatti, Francis Ghesquiere, Swati Ghosh, Antonino Giuffrida, David Gleicher, Markus Goldstein, George Graham, Margaret Grosh, Patricia Grossi, Mario Guadamillas, Conor Healy, Frank Heemskerk, Joachim Heidebrecht, Jesko Hentschel, Rafael Hernández, Matt Hobson, John Hoddinott, Niels Holm-Nielsen, Naomi Hossain, Andrew Hughes Hallett, Oh-Seok Hyun, Elena Ianchovichina, Ridzuan Ismail, Takatoshi Ito, Abhas K. Jha, Emmanuel Jimenez, Steen Jørgensen, Nidhi Kalra, Sujit Kapadia, Masayuki Karasawa, Corneille Karekezi, Supreet Kaur, Lauren Kelly, Igor Kheyfets, Beth King, Naohiro Kitano, Leora Klapper, Alzbeta Klein, Kalpana Kochhar, Kiyoshi Kodera, Friederike Koehler-Geib, Diane Koester, Robert Kopech, Anirudh Krishna, Jolanta Kryspin-Watson, Howard Kunreuther, Kiyoshi Kurokawa, Christoph Kurowski, Miguel Laric, Alexia Latortue, Sara Lazzaroni, Nick Lea, Daniel Lederman, Margaret Leighton, Robert Lempert, Sebastian Levine, Yue Li, Irina Likhacheva Sokolowski, Justin Yifu Lin, Kathy Lindert, Gladys Lopez, Augusto López Claros, Leonardo Lucchetti, Maria Ana Lugo, Olivier Mahul, Thomas Markussen, Will Martin, María Soledad Martínez Pería, Eric Maskin, Laura Mazal, J. Allister McGregor, Claire McGuire, Robin Mearns, Carlo Menon, Rekha Menon, Erwann Michel-Kerjan, Tim Midgley, Gary Milante, Suguru Miyazaki, Nuno Mota Pinto, Marialisa Motta, Joy Muller, Akira Murata, Lydia Ndirangu, Ha Nguyen, Giuseppe Nicoletti, Yosuke Nishii, Michel Noel, Alistair Nolan, Sharyn O’Halloran, Philip O’Keefe, Ory Okolloh, Michelle Ooi, Miguel Angel Ostos, Marcus C. Oxley, Robert Palacios, Pepi Patrón, Douglas Pearce, Brian Pinto, Russell Pittman, Jean-Philippe Platteau, Sandra Poncet, David Popp, Antonin Pottier, Prashant, John Primrose, Hnin Hnin Pyne, Ricardo Raineri, Anthony Randle, Martin Ravallion, Robert Reid, Ricardo Reis, Ortwin Renn, Changyong Rhee, Helena Ribe, Michelle Riboud, Jamele Rigolini, Dena Ringold, David Robalino, Jorge Luis Rodriguez Meza, Rafael Rofman, Jonathan Rothschild, Davinder Sandhu, Apurva Sanghi, Hans-Otto Sano, Yasuyuki Sawada, Stefano Scarpetta, Anita Schwarz, Paul Seabright, Junko Sekine, Amartya Sen, Rodrigo Serrano-Berthet, Shigeo Shimizu, Paul B. Siegel, Joana Silva, Emmanuel Skoufias, Marc Smitz, Irina Solyanik, Joseph Stiglitz, Adrian Stone, Stéphane Straub, Henriette Strothmann, Pablo Suarez, Kalanidhi Subbarao, Mark Sundberg, Olumide Taiwo, Tamanna Talukder, Kazushige Taniguchi, Finn Tarp, Gaiv Tata, Maria Hermínia Tavares de Almeida, Stoyan Tenev, Mehrnaz Teymourian, Erik Thorbecke, Klaus Tilmes, Carlos Tortola, Izabela Toth, Carolina Trivelli Ávila, Yvonne Tsikata, María Cristina Uehara, Tunc Tahsin Uyanik, Renos Vakis, Dominique Van De Walle, Ashutosh Varshney, Adrien Vogt-Schilb, Eiji Wakamatsu, Sophie Walker, Simon Walley, Christine Wallich, David Waskow, Masato Watanabe, Asbjorn H. Wee, Jonathan B. Wiener, Alys Willman, Lixin Colin Xu, Mohamed Mahdi Youssouf e Asta Zviniene. A equipe também gostaria de agradecer às muitas outras pessoas de dentro e de fora do Banco Mundial que colaboraram com comentários. VISÃO GERAL Risco e oportunidade A gestão de riscos pode ser um instrumento poderoso para o desenvolvimento 2 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 Gestão de riscos para uma vida repleta de oportunidades: mãe protege o filho contra malária com um mosquiteiro em Gana. FPO © Arne Hoel/Banco Mundial Visão geral Risco e oportunidade A gestão de riscos pode ser um instrumento poderoso para o desenvolvimento Os últimos 25 anos testemunharam mudanças inéditas em todo o mundo, sendo muitas delas para melhor. Em todos os continentes, muitos países enveredaram por um caminho de integração internacional, reforma econômica, modernização tecnológica e participação democrática. Embora ainda existam desafios e desigualdades, as economias que ficaram estagnadas durante décadas estão crescendo, pessoas cujas famílias sofreram privações por várias gerações estão saindo da pobreza e centenas de milhões de pessoas estão aproveitando os benefícios de melhores padrões de vida e do intercâmbio cultural e científico entre os países. Conforme o mundo muda, surgem várias oportunidades. Com elas, porém, aparecem riscos antigos e novos, desde a possibilidade de perda de emprego e doença até potenciais distúrbios sociais e danos ambientais. Se forem ignorados, esses riscos podem transformar-se em crises que anulam os ganhos duramente obtidos e colocam em perigo as reformas econômicas e sociais que geraram tais ganhos. A solução não é rejeitar as mudanças para evitar os riscos, mas preparar-se para as oportunidades e os riscos que essas mudanças acarretam. A gestão responsável e eficaz dos riscos tem o potencial de gerar segurança e um instrumento de progresso para as pessoas dos países em desenvolvimento e além. O Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial (WDR) de 2014 enfoca o processo de gestão de riscos, abordando as seguintes questões: por que a gestão de riscos é importante para o desenvolvimento, como deve ser conduzida, que obstáculos impedem que as pessoas e as sociedades a conduzam de modo eficaz e como esses obstáculos podem ser superados? O valor agregado do WDR 2014 está na ênfase na gestão de riscos de forma proativa, sistemática e integrada. Essas características destacam a importância da preparação e do planejamento prospectivo em um contexto de incertezas. Também ressaltam a necessidade de abordar todos os riscos relevantes em conjunto, usando todas as ferramentas e instituições disponíveis. Na perspectiva dos formuladores de políticas, uma abordagem proativa, sistemática e integrada da gestão de riscos envolve a obtenção do equilíbrio adequado entre a contribuição do Estado e a contribuição dos indivíduos, da sociedade civil e do setor privado, com o objetivo de garantir que essas contribuições sejam coordenadas e complementares. O WDR 2014 argumenta que a gestão de riscos pode ser um instrumento poderoso para o desenvolvimento, não somente por fortalecer a resiliência das pessoas, reduzindo assim os efeitos de eventos adversos, mas também por permitir que elas aproveitem as oportunidades de melhoria. O WDR 2014 não se propõe a fazer uma análise detalhada de riscos específicos. No entanto, sua estrutura pode ser implementada para abordar conjuntos de riscos específicos e relevantes em determinados países e regiões. O enfoque no processo de gestão de riscos permite que o WDR 2014 considere as sinergias, compensações e prioridades envolvidas no tratamento de diferentes riscos em diferentes contextos com a única motivação de impulsionar o desenvolvimento (Box 1). 3 4 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 B ox 1 Cinco consideracões importantes sobre o processo de gestão de riscos do Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2014 1. É necessário assumir riscos para buscar oportunidades de desenvolvimento. O risco da inação pode ser a pior opção de todas. 2. Para enfrentar os riscos com sucesso, é essencial abandonar as respostas não planejadas e ad hoc quando ocorrem crises e adotar uma gestão de riscos proativa, sistemática e integrada. 3. Não é suficiente identificar os riscos: as compensações e os obstáculos à gestão de riscos também precisam ser identificados, priorizados e abordados por meio de ações públicas e privadas. 4. Para os riscos que as pessoas não podem tratar sozinhas, a gestão de riscos exige ação e responsabilidade conjuntas em diferentes níveis da sociedade, desde os domicílios até a comunidade internacional. 5. Os governos têm um papel fundamental na gestão de riscos sistêmicos, fornecendo um ambiente propício para a ação e responsabilidade compartilhadas e canalizando o apoio direto para as pessoas vulneráveis. Fonte: Equipe do WDR 2014. O risco é um ônus, mas também uma oportunidade Por que se preocupar com o risco? Nos últimos anos, um grande número de crises arrasou a economia mundial e teve muitas consequências negativas para o desenvolvimento. Devido à crise financeira global de 2008–09, a maior parte das economias do mundo passou por uma redução das taxas de crescimento, com a resultante perda de renda e emprego, bem como retrocessos nos esforços para reduzir a pobreza. Quando os preços dos alimentos atingiram o pico em 2008, houve tumultos em mais de dez países da África e da Ásia, refletindo o descontentamento e a insegurança das pessoas e causando uma inquietação política generalizada. O tsunami de 2004 na Ásia, o terremoto de 2010 no Haiti e o terremoto e tsunami de 2011 no nordeste do Japão, para citar apenas alguns, deixaram um rastro de mortes e perdas econômicas que exemplificam a maior frequência e intensidade dos desastres naturais. As preocupações sobre o impacto da mudança climática em todo o mundo estão crescendo, assim como os temores quanto à propagação de doenças contagiosas mortais através de fronteiras. Na verdade, as maiores crises econômicas e desastres que ocorreram nos últimos anos e que ainda podem ocorrer no futuro ressaltam o quanto as pessoas, as comunidades e os países estão vulneráveis a riscos sistêmicos, principalmente nos países em desenvolvimento. Os riscos idiossincráticos, que são específicos de indivíduos ou famílias, não são menos importantes para o bem-estar das pessoas. Perder o emprego ou ter dificuldade para empregar-se por falta de qualificação adequada, ser vítima de doença ou crime, ou passar por uma dissolução familiar devido a problemas financeiros ou migração forçada pode ser uma experiência avassaladora, principalmente para famílias e indivíduos vulneráveis. Os domicílios da Etiópia cujos membros passaram por do- enças graves, por exemplo, foram forçados a cortar seu consumo em quase 10% e continuaram a sofrer impactos negativos por três a cinco anos.1 Os custos da saúde devidos a altos níveis de crime e violência chegam a 0,3–5,0% do produto interno bruto (PIB) por ano para os países da América Latina, sem considerar o impacto do crime sobre a perda da produção, resultante da diminuição dos investimentos e da participação da mão de obra.2 A perda de emprego em países tão diferentes como Argentina, Bulgária e Guiana não somente diminuiu a renda e o consumo, mas também reduziu a capacidade das pessoas de encontrar um novo trabalho, piorou a coesão social e, em alguns casos, aumentou a violência doméstica.3 Quer as consequências adversas resultem de riscos sistêmicos ou idiossincráticos, elas podem destruir vidas, bens, a confiança e a estabilidade social. E geralmente os pobres são os mais duramente atingidos. Apesar do progresso impressionante na redução da pobreza nas últimas três décadas, uma grande proporção de pessoas nos países em desenvolvimento ainda continua pobre e está vulnerável a cair em uma situação de profunda pobreza ao ser atingida por choques negativos (Figura 1). A taxa de mortalidade de adultos com menos de 60 anos por doença e lesões é duas vezes e meia maior para os homens e quatro vezes maior para mulheres em países de baixa renda do que em países de renda alta, enquanto a taxa para crianças com menos de cinco anos é quase vinte vezes mais alta.4 Um número cada vez maior de evidências mostra que os choques adversos, sobretudo choques à saúde e climáticos, além de crises econômicas, desempenham um papel importante em empurrar os domicílios para abaixo da linha de pobreza e mantê-los lá.5 Além disso, ao perceber que um choque negativo pode levá-las à miséria, falência ou crise, as pessoas pobres podem prender-se a tecnologias e meios de sustento que parecem relativamente seguros, mas que também levam à estagnação. Risco e oportunidade 5 F i g u r a 1 Muitas pessoas em todo o mundo são pobres ou vivem no limiar da pobreza; elas podem empobrecer ainda mais quando são atingidas por choques negativos Mais de 20% da população dos países em desenvolvimento vive com menos de US$ 1,25 por dia, mais de 50% com menos de US$ 2,50 e quase 75% com menos de US$ 4,00. a. Todos os países em desenvolvimento, 2010 US$ 1,25 ao dia US$ 2,50 ao dia 400 300 200 100 0 0 2 4 US$ 1,25 ao dia 16 % da população em cada região 500 População total, milhões b. Países em desenvolvimento por região, 2010 6 8 Dólares EUA 10 12 14 14 US$ 2,50 ao dia 12 10 8 6 4 2 0 0 2 4 África Subsaariana Sul da Ásia Leste da Ásia e Pacífico 6 8 10 Dólares EUA 12 14 Oriente Médio e Norte da África América Latina e o Caribe Europa e Ásia Central Fonte: Equipe do WDR 2014 com base nos dados do PovcalNet (banco de dados) do Banco Mundial. Nota: US$ 1,25 por dia é uma medida de extrema pobreza amplamente usada. Entretanto, o valor de US$ 2,50 por dia é considerado uma medida de extrema pobreza mais relevante para algumas regiões, como a América Latina e o Caribe. Ver Ferreira e outros (2013). Sim, enfrentar o risco, assim como a possibilidade de perda, é um ônus, mas também é necessário para a busca de oportunidades. O risco e a oportunidade andam de mãos dadas na maioria das decisões e ações realizadas pelos países, pelas empresas e pelas famílias na busca por melhorar seu destino. Na verdade, o risco é intrínseco ao processo de desenvolvimento. Veja alguns exemplos. Desde a década de 1990, a maioria dos países em desenvolvimento abriu suas fronteiras em busca de integração internacional e maior crescimento econômico, mas nesse processo eles também aumentaram sua exposição aos choques internacionais. As empresas de todo o mundo fizeram investimentos para melhorar suas tecnologias e aumentar a rentabilidade, mas a dívida necessária para isso tornou-as mais vulneráveis a mudanças na demanda e nas condições de crédito. Do Brasil até a África do Sul, milhões de famílias migraram para as cidades em busca de melhores oportunidades de emprego e de serviços de saúde e educação, mas também ficaram mais expostas a níveis mais altos de crime e se beneficiaram menos do apoio comunitário. A motivação por trás dessas ações é a busca por melhores condições, mas o risco surge porque raramente há garantia de resultados favoráveis. A gestão de riscos pode ser um instrumento poderoso para o desenvolvimento Quer os riscos sejam sistêmicos ou idiossincráticos, impostos ou assumidos voluntariamente, o desenvolvimento só pode ocorrer por meio do sucesso no enfrentamento dos riscos e na busca de oportunidades. Muitas crises e perdas de desenvolvimento são o resultado de riscos mal geridos. E não menos importante, muitas oportunidades são perdidas porque a preparação para o risco é insuficiente e os riscos necessários não são assumidos — o “risco da inação”. Portanto, quando as crises ocorrem, é essencial passar de respostas ad hoc e não planejadas para uma gestão proativa, sistemática e integrada dos riscos. Assim, a gestão de riscos pode desenvolver a capacidade de reduzir as perdas e aumentar os benefícios que as pessoas experimentam ao conduzir suas vidas e buscar oportunidades de desenvolvimento (Desenho 1 e Perfil 1). A gestão de riscos pode salvar vidas. Veja o caso de Bangladesh, onde uma melhor preparação para os desastres naturais reduziu drasticamente a perda de vidas devido a ciclones. Nas últimas quatro décadas, três grandes ciclones de magnitude similar atingiram Bangladesh. O ciclone de 1970 provocou a morte de 300 mil pessoas, mas o de 1991 provocou perto de 140 mil mortes e o de 6 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 D e s e n h o 1 Gestão de riscos para todos: uma representação visual dos principais conceitos Para buscar uma oportunidade, as pessoas precisam enfrentar o risco ...não um só risco, mas muitos… Perda do emprego Risco Doença Oportunidade Desastres naturais Crime Crises financeiras ...e muitas vezes cheios de obstáculos para gerenciar Perda do emprego ...e muitas vezes cheios depessoas Compartilhar o risco com outras obstáculos para esses gerenciar pode ajudar a superar obstáculos Doença Perda do emprego Família Desastres naturais Crime Doença Comunidade Desastres naturais Crime Crises financeiras Bancos Empresas Crises financeiras Governo ...por meio de ação coletiva e instituições Comunid. internacional A gestão de riscos pode ser uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento Conhecimento Proteção Seguro Enfrentamento Re sili Desenho de Jason Victor para o WDR 2014. ênc ia Risco e oportunidade P e r f i l 1 A família Gomez: uma história moderna de risco e resiliência A família Gomez vive em uma favela na periferia de Lima. Há apenas alguns anos, a família morava em uma aldeia rural nos Andes peruanos, onde tinham uma pequena propriedade agrícola. A região era propensa a secas e eles nunca conseguiam uma renda suficiente para sair da pobreza. Muitos dos seus vizinhos migraram para a cidade na década de 1980, impelidos pelos conflitos civis no campo. A família Gomez se recusou a sair por medo de perder sua terra e não encontrar nada melhor na cidade. O risco era muito grande. O Peru era um lugar diferente nessa época: a inflação e o desemprego estavam desenfreados e a ameaça de distúrbios sociais estava sempre presente. Na década de 1990, a macroeconomia foi estabilizada e a guerra civil terminou. Novas oportunidades começaram a surgir nas áreas rurais e urbanas. De início, essas oportunidades iludiram a família Gomez. Havia sido construída uma represa perto da aldeia, mas para usar a água era necessário recuperar os canais na sua propriedade. Eles pediram um empréstimo em um banco comercial, mas este foi negado, o que não os surpreendeu já que era sua primeira solicitação. O Sr. e a Sra. Gomez acabaram acreditando que seus filhos não teriam futuro na aldeia e decidiram migrar para a cidade. Desta vez, eles não precisavam se preocupar com a perda da propriedade. Tinham recebido um registro de propriedade e puderam vender a propriedade para um vizinho, que tinha o capital necessário para reformar os canais. O dinheiro da propriedade proporcionaria aos Gomez uma proteção quando eles assumissem o importante desafio da migração. Lima, com quase 10 milhões de habitantes, parecia um lugar imenso e inóspito. Foi por isso que eles decidiram se mudar para a favela para onde tinham ido vários membros da sua aldeia. Lá eles encontraram companhia, identidade cultural (todos os festivais da antiga aldeia eram celebrados do mesmo modo) e, naturalmente, ajuda para encontrar um emprego. O Sr. Gomez encontrou trabalho em uma construção, mas era irregular, com demissões frequentes. A Sra. Gomez tinha que colaborar e teve a sorte de encontrar trabalho como costureira em uma empresa têxtil. A avó ajudava também, tomando conta das crian- ças quando elas voltavam da escola. Ter duas fontes de renda (e uma avó disposta a ajudar) tornou a família Gomez mais resiliente ao que pudesse acontecer. E as coisas aconteceram mesmo. Mario, o filho mais velho, foi ferido em um acidente de trânsito. O carro não tinha seguro e a família tinha que arcar com os custos do tratamento médico de Mario. Eles não podiam fazer isso sozinhos, e nem precisaram. Contaram com um hospital público, administrado e financiado pelo Estado. O tratamento médico era de qualidade irregular, mas fornecia os serviços básicos. A família precisou gastar uma parte das suas economias limitadas para complementar os serviços hospitalares e comprar medicamentos, mas valeu a pena porque Mario se recuperou. Os Gomez tiveram que recorrer aos seus bens novamente, mas dessa vez por um motivo bem diferente. Elena — a segunda filha que todos consideravam como o cérebro da família — chegou um dia em casa perguntando aos pais se podia estudar inglês à noite. Era uma boa ideia. O Peru havia assinado recentemente vários acordos de livre comércio (um deles com os Estados Unidos) e as empresas de exportação começaram a crescer, oferecendo emprego a pessoas jovens e qualificadas. O inglês seria uma grande vantagem. Alguns meses antes, contudo, seus pais haveriam recusado a sua iniciativa porque não era seguro sair à noite. A proteção policial era insuficiente na periferia da cidade e os criminosos se aproveitavam dessa situação. Quando uma onda de crimes finalmente atingiu a favela dos Gomez, a comunidade organizou patrulhas nas vizinhanças (eficazes, embora às vezes excessivamente duras). Quando Elena pediu para ter aulas de inglês, o risco de segurança já era menor e ela pôde sair para estudar à noite. Com o passar do tempo, ela e sua família estariam bem preparados para aproveitar o período de estabilidade e crescimento sustentável que o Peru estava atravessando. O enfrentamento dos riscos e o aproveitamento das oportunidades podem ter tirado a família Gomez da pobreza, possivelmente para sempre. Foi o trabalho, a iniciativa e a responsabilidade deles que possibilitaram isso, mas eles não poderiam ter feito tudo sozinhos. Fonte: Equipe do WDR 2014. Nota: Um vídeo dessa história fictícia está disponível em nove idiomas no site do Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2014, http://www.worldbank.org/wdr2014 7 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 Figura 2 As vantagens da gestão de riscos geralmente ultrapassam os custos 12 10 Relação custo-benefício 8 8 6 4 2 Ponto de nivelamento 0 Vacinas Melhoria em água e saneamento Sistemas de alerta antecipado Intervenções nutricionais Medidas para reduzir os danos de: Terremotos Inundações Tempestades tropicais Fonte: Wethli 2013 para o WDR 2014. Nota: A figura mostra os coeficientes médios de custo-benefício em um conjunto de estudos em cada categoria (com um mínimo de quatro estimativas em cada uma). Acima da linha pontilhada, os benefícios previstos ultrapassam os custos previstos. A variação das estimativas em cada categoria pode ser grande, refletindo uma diversidade de tipos de intervenções e locais, bem como a sensibilidade das estimativas a variações nas premissas subjacentes. Em quase todos os casos, contudo, mesmo o 25º percentil das estimativas está acima do ponto de equilíbrio. 2007 cerca de 4.000. As baixas foram bastante reduzidas por meio de um programa em âmbito nacional para a construção de abrigos (de apenas 12 abrigos em 1970 para mais de 2.500 em 2007) juntamente com uma melhor capacidade de previsão e um sistema relativamente simples mas eficaz de alerta à população.6 A gestão de riscos pode prevenir danos e evitar obstáculos ao desenvolvimento. Países tão diferentes como a República Tcheca, o Quênia e o Peru oferecem bons exemplos recentes em que a preparação macroeconômica protegeu a economia dos efeitos negativos de uma crise financeira global. Ao conseguir déficits fiscais mais baixos, uma política monetária disciplinada e déficits de conta corrente mais baixos, esses países conseguiram um declínio menor das taxas de crescimento após a crise internacional de 2008 do que após a crise do Leste Asiático de 1997. Os mesmos efeitos benéficos da preparação macroeconômica parecem ter ocorrido em muitos outros países de renda média e baixa.7 A gestão de riscos pode desencadear oportunidades. As ferramentas de gestão de riscos, como melhoria das informações, seguro de colheitas e diversificação do emprego, podem ajudar as pessoas a atenuar os riscos. A capacidade de atenuar os riscos, por sua vez, permite que as pessoas, principalmente os pobres, superem a aversão ao risco e tenham mais disposição para realizar novos empreendimentos promissores. Alguns agricultores da Etiópia, por exemplo, optaram por não usar fertilizantes porque temiam a seca e outros choques potenciais e, assim, preferiam guardar as economias como uma forma de proteção em vez de investir em produtos intermediários.8 Por outro lado, os agricultores de Gana e da Índia tiveram mais disposição para assumir riscos na busca por rendimentos mais altos, aumentando os investimentos em fertilizantes, sementes, pesticidas e outros insumos, porque tinham seguro contra riscos pluviométricos.9 Quando agregados, esses ganhos podem ter efeitos muito mais amplos, contribuindo para aumentar a produtividade e o crescimento do país como um todo. As crises e perdas resultantes de riscos mal administrados são dispendiosas, assim como as medidas necessárias para se preparar melhor para os riscos. Sendo assim, a preparação compensa? Análises de custo-benefício feitas em algumas áreas sugerem que a preparação para o risco em geral é benéfica na prevenção de custos, às vezes até de forma significativa (Figura 2). Parece haver muita verdade no velho ditado que diz “é melhor prevenir do que remediar”. Por exemplo, um tratamento de suplementos minerais destinado a reduzir a subnutrição e os riscos à saúde correspondentes pode gerar benefícios pelo menos 15 vezes maiores do que o custo do programa.10 Do mesmo modo, o aprimoramento dos sistemas de previsão do tempo e de comunicação pública para fornecer alertas antecipados de desastres naturais nos países em desenvolvimento podem gerar benefícios estimados 4 a 36 vezes maiores que o custo.11 Comparar a relação custo-benefício de se preparar para o risco com a de enfrentar as consequências é uma Risco e oportunidade B ox 2 Um mundo arriscado: tendências do risco entre as regiões damente, a incidência de desastres naturais aumentou em todas as regiões do mundo. Por outro lado, a América Latina, o Oriente Médio e o Norte da África, e a África Subsaariana sofreram todos um número bem menor de anos de recessão do que os países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) em cada década a partir de 1980. a. Mortalidade materna b. Homicídios Taxa por 100.000 pessoas, média anual Taxa por 100.000 nascidos vivos Os riscos que as pessoas enfrentam mudaram consideravelmente com o tempo, embora essa evolução às vezes tenha variado de região para região. Os riscos foram atenuados em algumas áreas, como a de saúde materna, onde a taxa de mortalidade diminuiu em todas as regiões. Por outro lado, a incidência de crimes aumentou substancialmente na América Latina e na África Subsaariana. Inusita- 800 700 600 500 400 300 200 100 0 1990 2000 2010 OCDE EAP ECA LAC MENA SAR SSA 25 1981–1990 1991–2000 2001–2010 20 15 10 5 0 OCDE EAP EAP ECA LAC proporção da década em recessões Média anual 0,4 1981–1990 1991–2000 2001–2010 OCDE MENA SAR ECA LAC MENA SAR SSA d. Grandes recessõesb c. Incidência de desastres naturaisa 4,5 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0 9 SSA 1981–1990 1991–2000 2001–2010 0,3 0,2 0,1 0 OCDE EAP ECA LAC MENA SAR SSA Fonte: Equipe do WDR 2014 com base nos dados dos Indicadores do Desenvolvimento Mundial (banco de dados) do Banco Mundial; do Banco de Dados Internacional de Desastres do EM-DAT OFDA/CRED; das Estatísticas de Homicídios (banco de dados) do Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime. Nota: Os números mostram a média simples dos países de cada região. Os países da OCDE representados na figura são países de alta renda que foram membros da OCDE por pelo menos 40 anos. Todos os outros países estão agrupados em regiões geográficas. EAP = Leste Asiático e Pacífico; ECA = Europa e Ásia Central; LAC = América Latina e Caribe; MENA = Oriente Médio e Norte da África; SAR = Sul da Ásia; SSA = África Subsaariana. a.Os desastres naturais incluem secas, terremotos, enchentes e tempestades tropicais. b.As grandes recessões são identificadas de acordo com Barro e Ursúa 2012 e usando como limiar uma redução de 5% no crescimento do PIB per capita do valor máximo até o mínimo. Não houve grandes recessões no Sul da Ásia entre 1991 e 2010. das compensações importantes que devem ser avaliadas. A escolha entre essas ações depende em parte de como os custos (certos) da preparação para o risco se comparam com os respectivos benefícios (geralmente incertos).12 Além disso, a gestão de riscos exige a consideração de diferentes riscos e da necessidade relativa de se preparar para cada um deles (Box 2). Tendo em vista os recursos limitados, é necessário e inevitável estabelecer prioridades e fazer escolhas. Por exemplo, uma família que mora em uma comunidade com alto nível de violência enfrenta ris- cos de segurança, saúde e propriedade e precisa escolher como alocar seu orçamento limitado para se proteger e se garantir contra cada um desses riscos. Do mesmo modo, um pequeno país sujeito a chuvas torrenciais e também exposto a choques financeiros internacionais precisa decidir quanto gastar em infraestrutura de prevenção de enchentes e quanto economizar para neutralizar os efeitos da volatilidade financeira. Quando os riscos são assumidos voluntariamente na busca de oportunidades, surge outra compensação: os re- 10 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 tornos previstos devem ser analisados em relação às perdas potenciais de um curso de ação. Essa compensação é intensificada quando um retorno mais alto só é possível se forem aceitos mais riscos. Geralmente é o caso dos investimentos financeiros, nos quais o rendimento mais baixo é característico de uma posição mais segura, e os rendimentos mais altos de posições de maior risco.13 Uma compensação de risco-retorno também pode ser percebida para certas ações de desenvolvimento: por exemplo, a opinião pública e alguns especialistas podem vincular a busca por maior crescimento econômico a uma menor proteção ambiental ou a uma maior desigualdade.14 Embora esta e outras compensações de risco-retorno possam não existir, a gestão de riscos exige que elas sejam abordadas como uma possibilidade legítima. A gestão de riscos engloba não apenas a consideração das compensações, mas também das sinergias. Essas sinergias podem tornar tanto a preparação como as consequências do risco menos dispendiosas. Elas também podem diminuir os riscos e aumentar os benefícios esperados. Essas situações de benefício mútuo são comuns e devem ser enfatizadas – o que não é o mesmo que dizer que elas não têm custos ou que são sempre fáceis de implementar. Os investimentos em nutrição e em saúde preventiva, por exemplo, tornam as pessoas mais produtivas e reduzem sua vulnerabilidade a doenças.15 Do mesmo modo, melhorias no ambiente de negócios, como otimizar as regulamentações e aumentar o acesso ao crédito, podem fazer com que o setor empresarial se torne mais dinâmico e cresça mais rapidamente, tornando-o, ao mesmo tempo, mais resiliente a choques negativos.16 No nível macroeconômico, políticas monetárias e fiscais disciplinadas — refletidas em uma inflação moderada e em déficits públicos sustentáveis — aceleram o crescimento econômico e reduzem a alta volatilidade face a choques internos e externos.17 O que implica a gestão eficaz de riscos? Como escreveu o antigo filósofo grego Heráclito, a única constante é a mudança. E com a mudança, vem a incerteza. Perante as escolhas para melhorar suas vidas, as pessoas tomam virtualmente todas as decisões em um contexto de incerteza. Os jovens decidem o que vão estudar ou aprender sem saber exatamente quais serão os empregos e os salários disponíveis quando entrarem no mercado de trabalho. Os adultos decidem quanto e como economizarão para a aposentadoria frente à incerteza da renda e do retorno do investimento futuros, das condições de saúde e do tempo de vida. Os agricultores decidem o que vão cultivar e quais produtos serão usados sem saber com certeza se haverá chuva suficiente para os cultivos e quais serão a demanda e os preços dos produtos no mercado. E os governos decidem o nível de taxas de juros e déficits fiscais frente a incertezas quanto às condições externas, ao crescimento da produtividade interna e a mudanças nos mercados financeiros. A análise da escolha sob incerteza na economia e na política pública Portanto, é natural que a análise da escolha sob incertezas e recursos escassos tenha estado no âmago da economia e da política pública durante séculos. A abordagem básica para a decisão sob incerteza — apresentada por Daniel Bernoulli nos anos 1700 e modelada formalmente por John von Neumann e Oskar Morgenstern em 1944 — baseia-se na noção de que as pessoas otimizam a “utilidade” esperada (ou a percepção subjetiva de bem-estar) dos resultados possíveis.18 Essa abordagem de utilidade esperada exige que as pessoas façam escolhas racionais, com base em suas preferências por riscos, e no conhecimento dos resultados possíveis e das respectivas probabilidades. Não obstante as percepções valiosas, esta abordagem enfrentou desafios em dois aspectos importantes. O primeiro é que os indivíduos não agem de maneira totalmente racional, talvez porque a incerteza torna o processo de decisão tão complicado que as pessoas preferem regras comportamentais simples que evoluem com o tempo mas que nem sempre são ideais. O trabalho de Maurice Allais na década de 1950 e de Daniel Kahneman e Amos Tversky na década de 1970 focaram a atenção nas limitações e nas tendências naturais do comportamento humano ao enfrentar decisões sob incerteza.19 O segundo desafio da abordagem básica de utilidade esperada é que os indivíduos não tomam decisões isoladamente, mas em grupos, principalmente porque os resultados potenciais podem ser bastante afetados pelo modo como as pessoas agem em coordenação com outras. Os trabalhos de Duncan Black na década de 1940 e de James Buchanan e Mancur Olson na década de 1960 enfatizaram os pontos fracos e os obstáculos à ação coletiva.20 Embora originalmente preocupada com o fornecimento de bens públicos pelo Estado, a abordagem de escolha pública abrange as ações tomadas por qualquer grupo, desde famílias até comunidades de qualquer tamanho. A mensagem básica é sobre o quanto a coordenação de uma ação coletiva pode ser valiosa e ao mesmo tempo ilusória, principalmente diante da incerteza. Outra vertente da literatura econômica também se preocupa com os problemas da ação coletiva e oferece princípios fundamentais para superá-los. Em seu trabalho pioneiro nas décadas de 1960 e 1970, Leonid Hurwicz, Roger Myerson e Eric Maskin estudaram o problema da arquitetura de mecanismos para alcançar eficiência nos mercados, nas organizações e nas instituições. A percepção crítica aqui é a de que as restrições de incentivos devem ser consideradas tão importantes quanto as restrições de recursos para a compreensão da tomada de decisões em um contexto de incertezas.21 Essa percepção é vital para a formulação das melhores formas de coordenar a ação coletiva de qualquer grupo, principalmente com informações assimétricas, interesses divergentes e conhecimento limitado. Ela obriga os analistas e formuladores de políticas a verem além dos recursos agregados, e a questionarem o que informa e motiva as ações das pessoas e organizações, inclusive as ações relativas à gestão de riscos. Uma estrutura analítica para a gestão de riscos Os princípios decorrentes da economia de decisão sob incertezas fornecem uma estrutura analítica para a gestão de riscos. O Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2014 propõe que essa estrutura consista de várias etapas interrelacionadas: • Avaliação das metas fundamentais e das motivações da gestão de riscos, ou seja, resiliência frente a eventos adversos e prosperidade por meio da busca de oportunidades (analisadas nas duas primeiras seções acima). • Compreensão do ambiente onde ocorrem os riscos e as oportunidades (referido a seguir como a cadeia de riscos). • Análise das implicações da gestão de riscos, ou seja, preparação e enfrentamento dos efeitos negativos e positivos (apresentados a seguir em “Os componentes da gestão de riscos”). • Avaliação dos principais obstáculos que os indivíduos e as sociedades enfrentam na gestão de riscos, incluindo restrições de recursos, informações e incentivos (discutidos a seguir na seção intitulada “Além do ideal”). • Apresentação do papel potencial dos grupos e da ação coletiva em diferentes níveis da sociedade para superar os obstáculos que as pessoas encontram na gestão dos riscos (mostrados na seção “O caminho a seguir”). Compreensão do ambiente onde ocorrem os riscos e as oportunidades: a cadeia de riscos O mundo está sempre mudando e gerando choques que afetam os indivíduos e as sociedades. Os choques podem ser positivos (como uma chuva abundante ou lucros comerciais inesperados) ou negativos (doença ou guerra). Eles podem afetar grupos pequenos (como uma família ou uma comunidade rural) ou grandes (uma região ou um país). E podem ocorrer repentinamente (como os desastres naturais ou choques financeiros) ou gradualmente (como as transições demográficas, tendências tecnológicas ou mudanças ambientais). Os resultados desses choques podem ser positivos ou negativos, grandes ou pequenos, individualizados ou generalizados dependendo da interação entre os choques e as condições internas e externas que caracterizam um sistema econômico e so- Risco e oportunidade cial (como uma família, uma comunidade ou um país). O importante é que o efeito dos choques nos resultados das pessoas também é mediado por suas ações para se preparar e enfrentar o risco. Essa interação pode ser representada por uma cadeia de riscos (Diagrama 1), que pode ser aplicada a diferentes tipos de riscos e contextos.22 Por exemplo, a possibilidade de uma pessoa ficar doente durante uma pandemia depende do grau de contágio do vírus (o choque inicial); da densidade da população e das condições de vida em determinadas áreas (o ambiente externo ou a exposição); da suscetibilidade individual das pessoas (condições internas, como idade ou capacidade do sistema imunológico); e das medidas que ela toma para evitar ficar doente ou contaminar os outros, como lavar as mãos frequentemente ou usar uma máscara (gestão de riscos). Do mesmo modo, uma empresa só poderá aproveitar as vantagens de novas tecnologias e inovações dependendo das características da tecnologia (o choque inicial); da infraestrutura do país, que pode afetar o acesso da empresa à tecnologia (o ambiente externo); do nível de inovação da empresa (condições internas); do volume de capital que a empresa acumulou e do grau de informação que ela tem sobre as vantagens e possíveis desvantagens da nova tecnologia (gestão de riscos). Neste contexto, risco é definido como a possibilidade de perda. O risco não é de todo ruim, contudo, porque é necessário assumir riscos para buscar oportunidades. Oportunidade é definida como a possibilidade de ganho, representando assim o contrário do risco. A exposição ao risco é determinada pelo ambiente externo. Por exemplo, a exposição de uma casa ao risco de inundações costeiras depende da sua localização. A vulnerabilidade ocorre quando as pessoas são especialmente suscetíveis a perdas decorrentes de choques negativos devido a uma combinação de grande exposição, condições internas impróprias e gestão de riscos deficiente. Por outro lado, uma instituição financeira com alta alavancagem que assumiu posições muito arriscadas sem contrabalançar compensações fica vulnerável a um choque econômico ou financeiro. Do mesmo modo, uma família pobre com poucos bens e renda volátil pode ser especialmente vulnerável a aumentos nos preços dos alimentos. Gestão de riscos é o processo de preparar-se para os riscos, enfrentá-los e lidar com seus efeitos. A resiliência se caracteriza pela capacidade das pessoas, das sociedades e dos países de se recuperarem de choques negativos e, ao mesmo tempo, manterem ou melhorarem sua capacidade de desempenhar suas funções. Grande parte da literatura recente sobre o risco em um contexto de desenvolvimento enfatiza o papel importante que a gestão de riscos pode desempenhar no aumento da resiliência a choques negativos. Contudo, para aumentar a prosperidade e o bem-estar, a gestão de riscos também tem um papel essencial em ajudar as pessoas e os países a administrarem com sucesso os choques positivos. Na 11 8 12 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 WO R L D D E V E LO P M E N T R E P O RT 2 0 1 4 A cadeia de riscos: a natureza e a extensão dos resultados dependem dos choques, da exposição, das condições internas e da gestão de riscos D i ag r a m a 1 Ambiente externo Choques Internal Condições conditions internas Gestão de riscos Resultados Fonte: Equipe do WDR 2014. Nota: As setas de feedback do diagrama da cadeia de riscos representam o potencial de que os resultados dos choques anteriores afetem a exposição e a propensão a choques futuros. Do mesmo modo, a eficácia da gestão de riscos das pessoas pode afetar significativamente a propensão a choques futuros. verdade, a gestão bem-sucedida dos choques positivos é fundamental para aumentar a resiliência das pessoas aos choques negativos ao longo do tempo. Por exemplo, a capacidade de um agricultor de suportar uma seca pode ser muito influenciada pelo modo como os rendimentos dos anos de chuvas suficientes foram administrados. Sendo assim, a meta da gestão de riscos é tanto diminuir as perdas como aumentar os benefícios que as pessoas obtêm quando enfrentam ou assumem riscos. Os componentes da gestão de riscos: preparação e enfrentamento Para atingir essa meta, a gestão de riscos precisa combinar a capacidade de se preparar para o risco com a habilidade de enfrentá-lo posteriormente, levando em conta a comparação entre os custos antecipados da preparação e os benefícios prováveis. Com base na contribuição fundamental de Isaac Ehrlich e Gary Becker, a preparação deve incluir uma combinação de três ações que podem ser adotadas com antecedência: obter conhecimento, conseguir proteção e adquirir seguro.23 Uma vez que o risco (ou a oportunidade) tenha se materializado, as pessoas tomam medidas para lidar com o ocorrido por meio do enfrentamento (Diagrama 2). Uma boa estratégia de gestão de riscos deve incluir todos estes quatro componentes: conhecimento, proteção, seguro e enfrentamento. Eles interagem entre si, aumentando potencialmente a qualidade uns dos outros. Por exemplo, um melhor conhecimento pode levar a decisões eficientes em relação à alocação dos recursos entre seguro e proteção. Do mesmo modo, ter melhor seguro e proteção pode tornar o enfrentamento menos difícil e oneroso. No entanto, diversos obstáculos muitas vezes tornam a estratégia de gestão de riscos difícil de alcançar na prática, como está descrito em mais detalhes a seguir. Conhecimento A obtenção de conhecimento, reduzindo assim as incertezas que as pessoas enfrentam quando confrontam riscos e buscam oportunidades, é o primeiro componente da gestão de riscos. O conhecimento implica mais do que apenas o acúmulo de informações: embora seja necessário obter informações sobre possíveis eventos e suas probabilidades, o conhecimento também envolve o uso dessas informações para avaliar a exposição a esses eventos e os possíveis resultados para depois decidir como agir. O conhecimento, portanto, contém elementos de avalia- Risco e oportunidade D i ag r a m a 2 Os componentes interligados da gestão de riscos Seguro Transferir recursos entre as pessoas e ao longo do tempo, de estados de natureza bons para maus Conhecimento Enfrentamento Conhecer os choques, as condições internas e externas e os resultados potenciais, reduzindo assim o nível de incerteza Recuperar-se das perdas e aproveitar ao máximo os benefícios Proteção Reduzir a probabilidade e a extensão das perdas e aumentar os benefícios Preparação Enfrentamento Fonte: Equipe do WDR 2014. ção e julgamento. Além disso, o conhecimento das pessoas sobre o risco depende não somente das informações que podem ser acessadas, mas também da qualidade das informações fornecidas por outros sistemas econômicos e sociais. Na verdade, a política pública tem um papel importante na melhoria da disponibilidade, transparência e confiabilidade das informações que podem ser importantes para a preparação para o risco, incluindo contas nacionais e estatísticas sobre mão de obra, vários sinais do mercado e previsões do tempo, entre outras coisas. Além disso, o Estado pode contribuir para reduzir a incerteza que pode ser criada por políticas erráticas, implementação demorada das reformas e mudanças normativas frequentes. Embora muitas vezes falte o conhecimento sobre riscos nos países em desenvolvimento, ele está aumentando em várias áreas-chave como tratamento de doenças, ciclos econômicos e desastres naturais. As novas tecnologias estão ajudando muito a melhorar o conhecimento de choques potenciais e fornecer respostas para eles. Os agricultores de Gana e de 15 outros países africanos, por exemplo, recebem informações específicas do mercado pelo telefone celular, o que os ajuda a melhorar sua resposta às mudanças nos preços e nas demandas agrícolas.24 A globalização e os avanços científicos melhoraram o entendimento de muitos patógenos, inclusive de como eles podem ser detectados e diagnosticados rapidamente para permitir o controle de doenças. O aprimoramento das tecnologias também ocasionou uma maior colabora- ção entre os cientistas e formuladores de políticas, além de permitir que a mídia pudesse informar as pessoas mesmo nas partes mais remotas do mundo. Proteção A proteção engloba todas as ações que diminuem a probabilidade e a dimensão dos resultados negativos ou que aumentam a probabilidade e a dimensão dos resultados positivos. Os países em desenvolvimento fizeram grandes aprimoramentos em alguns aspectos da proteção contra os riscos nas últimas décadas. O percentual de pessoas nos países de renda baixa e média que tem acesso a melhor saneamento, por exemplo, aumentou de 36% em 1990 para 56% em 2010; enquanto isso, a taxa de imunização contra sarampo dobrou de 41% para 83% entre 1985 e 2010.25 A melhoria do saneamento e o aumento das vacinações, juntamente com outras medidas de saúde preventiva, ajudaram a reduzir as taxas de mortalidade materno-infantil. Do mesmo modo, após repetidos ciclos de alta inflação durante as décadas de 1970 e 1980, muitos países em desenvolvimento estabeleceram estruturas sólidas de políticas fiscais e monetárias, que ajudaram a reduzir a intensidade e a incidência de grandes recessões (ver Box 2). O aumento do uso de sistemas de alarmes antecipados ajudou a proteger as populações expostas a desastres naturais, reduzindo as mortes na ocorrência de grandes eventos. 13 14 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 Seguro Na medida em que a proteção não pode eliminar completamente a possibilidade de resultados negativos, o seguro pode ajudar a amortecer o golpe de choques adversos. Seguro inclui quaisquer instrumentos para transferência de recursos entre as pessoas ou ao longo do tempo, de estados de natureza bons para maus. Em alguns casos, o seguro contra determinados riscos é fornecido por mercados especializados no sistema financeiro. Contudo, uma vez que os mercados formais de seguro não estão amplamente disponíveis nos países em desenvolvimento, uma grande parte dos recursos é direcionada para o autosseguro, geralmente procurado mediante o uso de meios relativamente dispendiosos e ineficientes, tais como a detenção de bens duráveis (como joias) que podem ser vendidos no caso de um choque. Um grande número de famílias também participa de um compartilhamento informal de riscos nas comunidades, sendo que os programas de microfinanciamento e microsseguro, cada vez mais, fornecem novos instrumentos que ajudam as pessoas na gestão dos riscos. Do mesmo modo, juntamente com as redes de segurança tradicionais, as transferências monetárias condicionadas e outros programas de seguro social são um meio para o Estado transferir recursos para ajudar as pessoas mais vulneráveis a lidar com circunstâncias adversas.26 Pode haver sinergias ou compensações entre seguro e proteção como estratégias para gerir riscos. Na medida em que o fato de ter um seguro reduz os incentivos das pessoas de evitar a ocorrência de situações de risco, o seguro e a proteção atuam como substitutos entre si. Contudo, quando as medidas que as pessoas adotam para obter proteção facilitam ou tornam mais barato um seguro contra resultados adversos, a proteção e o seguro podem ser complementares entre si.27 O fato de ser não fumante, por exemplo, pode tornar mais fácil e menos dispendiosa a obtenção de um seguro de saúde. A proteção deve ser geralmente visível para que o seguro e a proteção sejam complementares. Apesar da visibilidade já ser altamente relevante para um compartilhamento informal de riscos nas comunidades, a tecnologia pode também torná-la cada vez mais relevante em termos de seguro formal. Por exemplo: novos dispositivos para carros podem permitir que as seguradoras variem os prêmios que cobram, com base na qualidade da direção das pessoas.28 Juntos, conhecimento, seguro e proteção constituem preparação. Os bens das famílias, comunidades e governos, bem como os serviços prestados pelos mercados e setor público, influenciam de forma geral a preparação para riscos, o que por sua vez afeta os resultados. No geral, o nível de preparação das pessoas para riscos tende a estar correlacionado à renda nacional dos países. Contudo, variações interessantes dentro das regiões destacam o importante papel da política na determinação da preparação para riscos, para além do acesso a recursos (box 3). Enfrentamento O componente final da gestão de riscos é o enfrentamento, que abrange todas as medidas tomadas com a materialização de um risco (ou, opcionalmente, uma oportunidade). O enfrentamento, portanto, consiste na utilização dos recursos de conhecimento, proteção e seguro que foram obtidos durante a fase de preparação. A relação entre enfrentamento e preparação torna-se bastante fluida no confronto com um risco em evolução. Isso inclui a atualização de um conhecimento relevante por meio do monitoramento e da avaliação dos riscos emergentes e da adaptação e implementação de quaisquer respostas necessárias e disponíveis. A escolha do grau de preparação para risco tem implicações para o tipo de enfrentamento necessário, o que, por sua vez, pode contribuir para círculos viciosos ou virtuosos na gestão de riscos. Quando uma preparação eficaz limita os danos de choques adversos, o enfrentamento pode ser mínimo - disponibilizando mais recursos para mais investimentos na gestão de riscos, reduzindo a vulnerabilidade a choques futuros, e assim por diante. Em termos de família, por exemplo, o fato de uma pessoa ter seguro de saúde pode facilitar o tratamento médico e a recuperação resultante, ao mesmo tempo em que reduz as despesas pagas com o próprio dinheiro, quando o membro de uma família fica doente ou sofre um acidente. No nível macroeconômico, as evidências sugerem que, ao reduzir as perdas decorrentes de desastres naturais, por exemplo, a preparação para riscos pode garantir e até acelerar o crescimento econômico.29 Por outro lado, quando a preparação é limitada ou um choque é inesperadamente grande, o enfrentamento pode ser desodernado e exigir medidas dispendiosas deixando poucos recursos disponíveis para uma gestão de riscos futuros, agravando a vulnerabilidade a choques e enfraquecendo a capacidade das famílias de aproveitarem novas oportunidades. Por exemplo, a perda de bens decorrente de desastres naturais em países tão diferentes quanto a Etiópia e Honduras - causada pelos prejuízos diretos de um furacão ou seca, combinados à falta de seguro e venda de bens a qualquer preço - tem efeitos de curto prazo e de longo prazo: famílias pobres podem efetivamente ficar aprisionadas na pobreza, tornando-as mais vulneráveis a futuros choques negativos e menos capazes de realizar novos empreendimentos para fins de melhoria.30 Do mesmo modo, apesar de as respostas de enfrentamento por parte dos governos em todo o mundo na metade da crise de 2008-2009 — incluindo operações de resgate de grandes empresas financeiras, estímulo fiscal e grandes períodos de flexibilização monetária — terem ajudado a acalmar a crise financeira no curto prazo, essas respostas podem ter efeitos negativos de longo prazo, incluindo o aumento substancial da dívida pública e os incentivos perversos para o risco assumido das instituições financeiras. Risco e oportunidade B ox 3 Como a preparação para riscos varia entre os países? Índice da preparação para riscos entre os países Quintil menos preparado Quintil mais preparado A preparação das pessoas para riscos ao nível do país inclui ações por parte de todos os grupos e instituições sociais e econômicas, além de suas contribuições, incluindo o Estado. Um índice de preparação para riscos é representado sob a forma de gráfico no mapa acima. O índice, desenvolvido para o Relatório de Desenvolvimento Mundial de 2014, abrange medidas de bens e serviços em quatro categorias importantes - capital humano, bens físicos e financeiros, apoio social, e apoio do Estado - que influenciam a preparação para riscos. Os indicadores dos componentes para o índice incluem: média de anos do total da escolaridade para a população com idade igual ou superior a 15 anos, e a taxa de imunização contra o sarampo (capital humano); a proporção das famílias com menos de US$ 1.000 em bens líquidos, e um índice de acesso a financiamento (bens físicos e financeiros); o percentual da força de trabalho que contribui para um esquema de pensões, e a proporção de entrevistados que afirmam que “em geral, as pessoas merecem confiança” (apoio social); e o percentual da população com acesso a melhores instalações de saneamento, e um indicador Dados ausentes de espaço fiscal com base na dívida pública bruta como uma percentagem de receitas (apoio do Estado).a Esse índice mostra que o nível de preparação das pessoas para riscos tende a estar correlacionado com a renda nacional dos países, mas somente até certo ponto. As pessoas tendem a ser mais preparadas nos países de alta renda (principalmente na América do Norte e Europa Ocidental) e menos preparadas nos países de baixa renda (principalmente na África), em média. Contudo, existe uma variação considerável dentro das regiões. Por exemplo, o Chile está razoavelmente bem preparado para riscos, enquanto seu vizinho ao leste, a Argentina, tem apenas preparação média em termos de riscos, apesar de ter nível semelhante de renda per capita. Do mesmo modo, a Etiópia tem melhor preparação para riscos do que outros países na região, com renda per capita semelhante ou relativamente mais alta. Isso ressalta a importância das políticas, para além do nível de renda e do acesso aos recursos, na determinação da preparação para riscos. Fonte: Foa, 2013 para o WDR 2014. Número do mapa: BIRD, 40097 a.Cada indicador é ajustado para uma faixa entre zero (0) e um (1). O índice, que é a média dos oito indicadores, mantém, portanto, as propriedades fundamentais dos indicadores, em vez de ser simplesmente uma média das classificações entre os componentes. Essa abordagem segue em parte a metodologia usada na construção dos Indicadores Mundiais de Governabilidade (WGI) (ver Kaufmann, Kraay e Mastruzzi 2010). Se necessário, cada indicador é transformado, de modo que um aumento na sua medida represente uma melhoria. Além do ideal: Os obstáculos à gestão de riscos Se a gestão de riscos pode salvar vidas, evitar prejuízos econômicos e expandir oportunidades - e, além disso, se a gestão de riscos tem boa relação de custo-benefício e seus fundamentos são bem compreendidos - então, por que as pessoas e as sociedades não apresentam um melhor desempenho na gestão de riscos? Apesar de a resposta específica variar de caso a caso, está sempre relacionada às restrições e aos obstáculos enfrentados pelos indivíduos e sociedades, incluindo a falta de recursos e informações, problemas cognitivos e comportamentais, ausência de mercados e bens públicos, e externalidades sociais e 15 16 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 econômicas. Essa constatação resulta em uma mensagem importante. A identificação dos riscos não é suficiente: os obstáculos em termos de gestão de riscos devem ser também identificados, priorizados e abordados por meio de medidas privadas e públicas (box 4). Considere o caso de Mumbai. Seu sistema de drenagem tem mais de 100 anos e mal consegue lidar com as chuvas anuais das monções. Relatórios e propostas têm repetidamente explicado em detalhes como investimentos, tais como a instalação de estações de bombeamento e a limpeza dos detritos acumulados, são necessários para fins de expansão da capacidade do sistema de drenagem de águas pluviais. Mesmo assim, com poucas exceções, as propostas não foram colocadas em prática. Uma monção excepcionalmente grande atingiu a cidade em 2005, causando mais de 400 mortes, grandes danos em edifícios e infraestrutura, e a interrupção da atividade econômica e financeira. Em seguida, um comitê de averiguação fez recomendações para reformulação do sistema de drenagem que eram desoladoramente semelhantes às recomendações feitas na década de 1990. A partir de 2013, porém, a implementação está novamente atrasada. Como resultado, a capital financeira da Índia permanece altamente vulnerável às chuvas das monções. Por que as pessoas não apresentam um melhor desempenho na gestão do seu próprio risco? mentos para prepará-los para o risco. Em muitos casos, os tomadores de decisão e formuladores de políticas parecem ter uma memória curta referente às origens das crises de vários tipos. As crises financeiras sistêmicas, por exemplo, são quase sempre precedidas pela concentração e pelo crescimento excepcionalmente alto de crédito, e esse processo parece ser bem entendido.32 Ainda assim, os formuladores de políticas geralmente fazem pouco para controlar a expansão do crédito. Um falso senso de segurança pode estar subjacente à incapacidade das pessoas na gestão da preparação para riscos em tempos normais (seja guardando para um dia de chuva ou concluindo os planos de preparação para desastres, por exemplo). E um “paradoxo de proteção” pode surgir: a proteção contra o risco que suprime perdas por um longo período cria um falso sentido de segurança, levando a uma vigilância e uma conscientização do risco reduzidas e possivelmente resultando em maiores perdas futuras.33 Em muitos casos, o que pode ser considerado comportamento irracional pode ser na verdade o resultado de incentivos distorcidos, conhecimento incorreto ou insuficiente, ou determinadas normas sociais e crenças culturais. Obstáculos além do controle de indivíduos impedem sua gestão de riscos Falta de informação e problemas cognitivos. Informações relevantes podem não existir ou estar disponíveis para tomadores de decisão, ou estes podem carecer da capacidade de entender essas informações. As deficiências cognitivas são relevantes e representam obstáculos difundidos em termos de gestão de riscos em muitas circunstâncias, mesmo nos países avançados. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma pesquisa mostrou que apenas 31% dos proprietários das casas nas áreas propensas a inundações estavam cientes do risco.31 As repercussões dos casos extremos de falta de informação e conhecimento - denominados “profunda” incerteza - são exploradas abaixo. Ausência de mercados e bens públicos. Os mercados em áreas críticas para uma gestão eficaz dos riscos - crédito, seguro, empregos - são deficientes ou até mesmo ausentes em muitos países em desenvolvimento. Do mesmo modo, são deficientes ou até mesmo ausentes os bens públicos e serviços essenciais para gestão de riscos - estabilidade política e econômica, ordem pública e infraestrutura básica. Na verdade, os mercados bem-desenvolvidos podem estar ausentes porque os bens públicos de apoio são deficientes. Se, por exemplo, o sistema de justiça não fizer cumprir os contratos, não fará muito sentido contratar seguro de saúde, seguro de veículos ou seguro de residência, e nem haverá tal mercado.34 Existem muitos motivos pelos quais os bens públicos estão ausentes, mas esta discussão considera apenas os motivos mais pertinentes para gestão de riscos. O primeiro motivo, já abordado, é a falta de recursos: as proteções dispendiosas contra enchentes construídas na Holanda, por exemplo, são simplesmente inviáveis para muitos países em desenvolvimento ameaçados de modo semelhante, como Bangladesh ou Vietnã. O segundo motivo está associado à economia política de gestão de riscos. Os governos podem ficar relutantes em gastar em preparação para riscos, já que seus custos são imediatos e visíveis, ao mesmo tempo em que seus benefícios, mesmo quando substanciais, são de mais longo prazo e menos visíveis. Problemas comportamentais. Mesmo que haja informações, os tomadores de decisão podem não conseguir transformar o conhecimento em medidas e comporta- Falhas de governo. A gestão de riscos pode ser também prejudicada pelas falhas de governo provenientes da captação de políticas por parte dos grupos de interesse, Falta de recursos. Mesmo quando uma estratégia de gestão de riscos tem boa relação de custo-benefício, os indivíduos e grupos podem considerá-la de difícil execução, devido à grande quantidade de custos antecipados e ao acesso limitado ao crédito. A escassez de bens e recursos financeiros, que é principalmente aguda nos países pobres e em desenvolvimento, pode tornar as compensações inerentes a gestão de riscos mais difíceis de administrar. Os governos podem decidir que, dado seu orçamento limitado, as despesas atuais de consumo são mais urgentes do que os investimentos para redução dos riscos de desastres. Risco e oportunidade B ox 4 Integração dos fundamentos e obstáculos para a gestão de riscos na definição de políticas A definição de políticas públicas eficazes deve ser mais do que simplesmente identificar possíveis riscos, e conter também uma análise dos obstáculos à gestão de riscos. O diagrama abaixo apre- senta um conjunto de aspectos para auxiliar na tomada de decisões, ajudando a identificar as lacunas críticas e mostrando as intervenções eficazes e de baixo custo. a. Um conjunto de telas para ajudar na gestão de riscos Avaliação de riscos Qual o tamanho do risco que estamos enfrentando? Avaliação de incentivos Maus incentivos estão levando a assumir riscos de mais ou de menos? Devido a falhas de mercado? Devido a falhas de governo? Avaliação de informações Os tomadores de decisão estão mal informados? Essa abordagem prática fornece duas mensagens importantes para o desenho das políticas de gestão de riscos: Seja realista. Os instrumentos de uma gestão de riscos simples devem ser preferidos quando a capacidade for baixa. Os formuladores de políticas devem se concentrar em soluções acessíveis e benéficas. Medidas suaves que alteram os incentivos (como a melhoria das regulamentações de zoneamento para áreas costeiras) são preferíveis como um ponto de partida a medidas de engenharia (como diques para evitar inundações). Além disso, é particularmente custo-eficiente fortalecer as capacidades úteis na gestão de riscos de diferentes naturezas, tais como a capacidade de realizar evacuações em larga escala (o que pode ser útil no caso de um furacão ou acidente nuclear, por exemplo). As opções políticas realistas devem garantir que a gestão de riscos evite as consequências indesejadas da política negativa, forneça os incentivos certos para aproveitar as melhores capacidades de todas as pessoas e proteja os mais vulneráveis, que são geralmente menos capazes de implementar soluções ideais, mas dispendiosas. Crie uma base forte para uma melhor gestão de riscos ao longo do tempo. Geralmente faz sentido criar dispositivos institucionais quando a necessidade deles é óbvia, tal como depois de um evento de desastre, e que não possam ser revertidos facilmente, uma vez desaparecida a memória do evento. Essa irreversibilidade institucional deve ser combinada com uma implementação flexível e uma aprendizagem contínua. Os formuladores de políticas devem visar Avaliação de recursos Avaliação de comportamento Os vieses cognitivos e comportamentais estão impedindo a gestão de riscos? Os recursos e o acesso aos recursos são limitados demais? Definição de políticas Que políticas devem ser implementadas? políticas robustas que podem não ser ótimas no futuro mais provável, mas que levam a resultados aceitáveis em uma grande variedade de cenários e que são fáceis de revisar quando novas informações se tornam disponíveis. Começar com uma base sólida para gestão de riscos requer uma perspectiva de longo prazo; cria os incentivos adequados; e minimiza o risco de efeitos negativos indesejados. Também ajuda a garantir que as políticas sejam suficientemente flexíveis para serem ajustadas quando novas informações forem disponibilizadas (para mais detalhes sobre essas duas percepções, veja a discussão denominada “Cinco princípios de ação pública para uma melhor gestão de riscos” no final desta visão geral). Os componentes fundamentais e os obstáculos à gestão de riscos, com essas lições em mente, podem ajudar a identificar quais políticas específicas são mais relevantes em diferentes contextos. Por exemplo, os países com recursos limitados ou capacidade institucional deficiente devem focar as políticas fundamentais, ao mesmo tempo em que os países que já possuem bases sólidas para gestão de riscos implementadas podem visar políticas mais avançadas (diagrama b). Essa estrutura é usada em todo o Relatório de Desenvolvimento Mundial de 2014 para organizar e priorizar as políticas de gestão de riscos entre os quatro principais componentes de gestão de riscos (conhecimento, proteção, seguro e enfrentamento) para diferentes sistemas sociais e econômicos, desde a família até a comunidade internacional (e que são resumidos nas tabelas correspondentes para cada um desses sistemas). b. Uma estrutura para prioridades da política pública Conhecimento Proteção Seguro Enfrentamento Fonte: Equipe do WDR 2014. Políticas para apoiar gestão de riscos Fundamentais Avançadas 17 18 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 corrupção das autoridades governamentais e políticas geradoras de distorções. Na captação de políticas, as empresas e as pessoas negativamente afetadas por determinadas medidas de gestão de riscos tendem naturalmente a se opor a tais medidas e a alertar sobre tal possibilidade, ao mesmo tempo em que as pessoas protegidas por essas medidas geralmente não estão cientes disso (e, por isso, não as apoiam) ou carecem da influência comensurável dos lobbies ativos. Os poderosos lobbies de tabaco e amianto, por exemplo, podem bloquear as regulamentações benéficas de saúde, mesmo na presença de evidências científicas bem definidas. Nas políticas geradoras de distorções, às vezes até as medidas bem intencionadas podem afetar a gestão de riscos ao distorcer os incentivos das pessoas para gerir seus próprios riscos. Um exemplo é o apoio pós-desastre mal elaborado que cria um risco moral e desestimula a gestão de riscos por parte de indivíduos e empresas. Do mesmo modo, redes de segurança ou operações de resgate do setor financeiro extremamente generosas podem prejudicar os incentivos à preparação para riscos. Externalidades sociais e econômicas. As medidas de gestão de riscos tomadas por algumas pessoas ou países podem impor perdas a outras pessoas ou outros países Por exemplo, o uso exagerado de antibióticos está criando bactérias cada vez mais resistentes a medicamentos. Do mesmo modo, a exploração exagerada de recursos naturais comuns, tais como oceanos, florestas e a atmosfera — um fenômeno conhecido na literatura como “a tragédia dos comuns” — está levando à degradação ambiental, mudança climática e futura queda no crescimento econômico.35 Em uma esfera diferente, uma expansão na oferta de dinheiro para estimular a economia nacional nas grandes economias avançadas está criando influxos desestabilizadores de capital para os países em desenvolvimento e também corroendo a riqueza dos poupadores e contribuintes nacionais. Do mesmo modo, a instituição de barreiras comerciais para proteger os produtores nacionais durante as desacelerações econômicas impõe um aumento do custo para os parceiros comerciais e pode levar a uma retaliação comercial, possivelmente transformando uma desaceleração em uma recessão mundial prolongada.36 Outras medidas de gestão de riscos podem gerar benefícios para pessoas que não sejam as que arcam com seu custo, criando portanto incentivos para as primeiras “se aproveitarem da situação”. Esse é o caso, por exemplo, dos países que adotam medidas dispendiosas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, que podem beneficiar o restante do mundo. Tanto as externalidades negativas quanto as positivas podem complicar o processo de gestão de riscos, tornando-o menos previsível e distorcendo seus incentivos. A solução é uma coordenação e uma ação coletiva, que podem ser de difícil obtenção quando existem grandes diferenças em termos de preferências, valores e exposições. Por exemplo, as exter- nalidades e as falhas em termos de ações coletivas podem ser os motivos pelos quais a obtenção de um acordo internacional de caráter vinculativo sobre emissões de gases do efeito estufa se tem revelado tão evasiva. Incerteza profunda e soluções robustas A “incerteza profunda” é um obstáculo à gestão de riscos que merece atenção especial. Também conhecida como incerteza knightiana nos círculos econômicos,37 a incerteza profunda refere-se a uma situação na qual até os especialistas não conseguem concordar com os modelos apropriados para seu entendimento, os possíveis resultados e probabilidades de sua ocorrência, e o nível de importância a ser atribuído a ela. Em uma ampla perspectiva, a diferença entre incerteza profunda e incerteza comum é uma questão de grau, de fluidez e de evolução. A obtenção do conhecimento ajuda a reduzir o grau de incerteza. A história da ciência é repleta de casos onde a incerteza profunda tornou-se gradualmente uma incerteza comum, passível de gestão e controle. Mas enquanto isso ocorre, o que deve ser feito na presença do “desconhecimento sobre o que não conhecemos”? Sob condições de incerteza profunda, é preferível implementar políticas e ações adaptadas e robustas que levem a resultados aceitáveis em uma grande variedade de cenários e que podem ser revisadas com a disponibilidade de novas informações e com a mudança do contexto.38 Para a política monetária e financeira, uma prática promissora é o uso do teste de estresse dos bancos e de outras instituições financeiras que usam uma grande variedade de situações, incluindo cenários prospectivos de crise.39 Acima de tudo, os planos criados para os resultados mais prováveis, mas que aumentam a vulnerabilidade para eventos menos prováveis, devem ser evitados. Por exemplo, os sistemas de diques construídos apenas para tempestades e marés regulares podem na verdade aumentar a vulnerabilidade, mediante a criação de um falso senso de segurança e um drástico aumento dos danos no caso de uma inundação. O caminho à frente: Uma abordagem holística para gestão de riscos Os indivíduos podem por si só superar os obstáculos à gestão de riscos que enfrentam? Apesar de os esforços próprios, iniciativa e responsabilidade dos indivíduos serem fundamentais para a gestão de riscos, o seu sucesso ficará limitado sem um ambiente externo de apoio. Apesar de os indivíduos por si só terem a capacidade de lidar com muitos riscos, eles estão inerentemente mal preparados para enfrentar grandes choques (como o chefe de uma família que adoece), choques sistêmicos (como um desastre natural ou uma crise financeira internacional) ou múltiplos choques que ocorrem de forma simultânea ou sequencial (por exemplo, uma seca seguida de um choque dos preços dos alimentos e insegurança alimentar). As pessoas podem enfrentar com êxito os riscos além de seus meios compartilhando sua gestão de riscos com outras pessoas. Elas podem combinar os riscos coletivamente por meio de vários agrupamentos sociais e econômicos (sistemas). Na verdade, a necessidade de gerir riscos e buscar oportunidades de forma coletiva pode ser geralmente um motivo importante pelo qual esses grupos ou sistemas são inicialmente formados.40 Esses sistemas variam em tamanho e complexidade - desde a família até a comunidade internacional. Eles têm o potencial para apoiar a gestão de riscos das pessoas em modos diferentes, mas complementares (diagrama 3). Seus diferentes âmbitos podem permitir que administrem os choques e as exposições compatíveis com a sua escala (box 5). • A família é o principal exemplo de apoio, combinando recursos, protegendo seus membros - principalmente as pessoas vulneráveis - e permitindo o investimento deles no futuro. • As comunidades fornecem redes informais de seguro e proteção, ajudando as pessoas a lidar com riscos idiossincráticos e combinando recursos para enfrentar os riscos comuns. • As empresas podem ajudar a absorver choques e explorar o lado da oportunidade do risco, contribuindo para um emprego mais estável, aumento de renda, além de maior inovação e produtividade. • O sistema financeiro pode facilitar ferramentas de gestão de riscos úteis, tais como poupança, seguro e crédito, ao mesmo tempo em que gere seus próprios riscos com responsabilidade. • O Estado tem a escala e as ferramentas para gerir riscos sistêmicos nos níveis nacional e regional, fornecer um ambiente propício para o funcionamento de outros sistemas, além de fornecer apoio direto às pessoas vulneráveis. Essas funções podem ser realizadas por meio do fornecimento de proteção social (seguro e assistência social), bens públicos (defesa nacional, infraestrutura, ordem pública) e política pública (sólida regulamentação, gestão econômica). • A comunidade internacional pode oferecer competência, facilitar a coordenação da política internacional, além de reunir recursos quando os riscos excederem a capacidade nacional ou cruzarem as fronteiras nacionais e geracionais. Esses sistemas têm interações mútuas, geralmente complementando e às vezes substituindo as funções de gestão de riscos uns dos outros. Por exemplo, vários mecanismos de proteção e seguro fornecidos pelas comunidades, empresas, sistema financeiro e Estado podem complementar e melhorar a autoproteção e o autosse- Risco e oportunidade D i ag r a m a 3 Importantes sistemas sociais e econômicos podem contribuir com a gestão de riscos de formas complementares Gestão de riscos das pessoas O Estado Proteção social • Seguro de saúde, de velhice e desemprego • Assistência e auxílio Bens públicos • Infraestrutura • Ordem pública • Defesa nacional Sociedade civil e o setor privado Família • Vínculos familiares Comunidades • Ação coletiva Política pública • Gestão macroeconômica • Estrutura normativa Setor empresarial • Empregos e renda Sistema financeiro • Seguro e crédito Comunidade internacional • Recursos, competência, regras globais e coordenação Fonte: Equipe do WDR 2014. guro das famílias. As empresas dependem da estabilidade macroeconômica, dos serviços públicos e dos produtos financeiros para permanecerem dinâmicas e continuarem a fornecer renda e emprego para as pessoas. O sistema financeiro pode fornecer ferramentas de seguro, poupança e crédito somente se um número suficiente de famílias e empresas conseguir participar do sistema, e se a economia apresentar um determinado nível de estabilidade e previsibilidade. Os mercados, em geral, podem fornecer ferramentas e recursos para a gestão de riscos em uma escala crescente, se os serviços públicos necessários, tais como o Estado de direito e uma sólida estrutura normativa, estiverem implementados e em vigor. A comunidade internacional conta em parte com os governos responsáveis que desejam cooperar para enfrentar os riscos globais; por sua vez, a comunidade internacional pode ajudar os governos e os países com carência de recursos e capacidade para a gestão de riscos. A importância relativa desses sistemas varia de acordo com o nível de desenvolvimento. Nos países menos avançados e, principalmente, nos países frágeis e afetados por conflitos, os mecanismos informais tendem a ser mais prevalecentes e os papéis relativos da família e da comunidade são maiores. Para esses países, a comu- 19 20 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 B ox 5 Que sistemas para quais riscos? Os indivíduos enfrentam um grande número de riscos, sendo que vários sistemas sociais e econômicos podem ajudá-los a gerir os riscos que estão além de seus meios. Mas que sistemas seriam os mais apropriados para quais riscos? Dois importantes princípios fornecem um modo de priorizar a gestão de riscos por meio de sistemas: 1.O princípio da subsidiariedade sugere que os riscos devam ser tratados no nível mais baixo da sociedade que seja capaz de tratá-los, para tirar proveito da proximidade de agentes e do maior conhecimento dos agentes mais diretamente afetados pelo risco, bem como da capacidade de monitorar esses agentes e os riscos por eles enfrentados. 2.O princípio da vantagem comparativa sugere que os riscos devem ser geridos por um sistema com capacidade para tratá-los com mais eficácia. Os indivíduos e as famílias têm boas condições para lidar com riscos idiossincráticos (tais como danos menores ou insuficiência de renda), desde que as possíveis perdas continuem relativamente pequenas. Eles têm uma vantagem na gestão desses tipos de risco devido à sua proximidade com o nível em que o principal impacto ocorre e devido à sua capacidade de monitorar as condições e os esforços dentro da família. Com o aumento do tamanho das possíveis perdas, as ferramentas que os indivíduos têm à sua disposição podem ser rapidamente esgotadas. A empresa e os sistemas financeiros podem portanto fornecer ferramentas e mecanismos eficazes (abordados em mais detalhes nas seções abaixo) aos indivíduos para gerir possíveis perdas decorrentes de grandes choques idiossincráticos (tais como, a perda do emprego pelo chefe de família ou uma casa incendiada). O Estado deve às vezes providenciar substitutos para essas funções, quando os mercados estiverem ausentes ou não disponíveis para algumas delas. Uma vez que os riscos sistêmicos afetam grandes grupos de pessoas, eles dificilmente podem ser geridos por indivíduos apenas. As comunidades têm uma vantagem na gestão de pequenos riscos sistêmicos (tais como violência local ou inundação), devido à sua proximidade com os grupos de pessoas afetadas e sua possível vantagem no monitoramento e na resolução de tensões locais. O Estado também tem uma vantagem na gestão de pequenos riscos sistêmicos (tais como, flutuações moderadas em preços agregados ou escassez de alimentos em nível regional), devido à sua capacidade de controlar a macroeconomia nacional e transferir recursos entre diferentes partes de um país. Pelo fato de muitos agentes dentro de um país serem bastante afetados pela ocorrência de grandes choques sistêmicos, tais como crises bancárias econômicas de modo geral ou desastres naturais, o apoio cruzado que podem oferecer entre si é limitado. Em outras palavras, é difícil para o setor privado sozinho estabelecer uma associação e proteger via seguro contra um risco sistêmico. Assim, o Estado tem um papel singular na gestão de grandes riscos sistêmicos, uma vez que tem a escala e as ferramentas de preparação aos níveis nacional e regional. O apoio e a coordenação por parte da comunidade internacional são necessários, quando grandes riscos sistêmicos cruzam as fronteiras nacionais ou subjugam os recursos nacionais. Os destaques no WDR 2014 apresentam os estudos de caso de gestão de riscos por diferentes sistemas de apoio. Tipos de risco que podem ser administrados por diferentes sistemas e exemplos mostrados nos destaques do WDR 2014 Pequeno risco idiossincrático Sistema em melhor Indivíduos posição para gerir risco e famílias Exemplos de destaques Grande risco idiossincrático O setor empresarial e o sistema financeiro Pequeno risco sistêmico Grande risco sistêmico A comunidade e o Estado O Estado e a comunidade internacional Riscos de saúde (Turquia e República do Quirguistão) Violência urbana (Brasil e África do Sul) Desastres naturais (Filipinas e Colômbia) Perda de emprego e renda (Índia) Escassez de alimentos (Etiópia e El Salvador) Crises financeiras (República Tcheca, Peru e Quênia) Pandemias (global) Fonte: Equipe do WDR 2014. nidade internacional também pode desempenhar um papel maior por meio de assistência financeira e capacitação. À medida que os países se desenvolvem, sendo que os mecanismos informais abrem caminho para os mecanismos formais, a importância relativa das contribuições do setor empresarial e do sistema financeiro aumenta. O papel potencial do Estado é maior nos países menos desenvolvidos, mas, nesses casos, o Estado tende a sofrer restrições mais severa de capacidade e de recursos. Essas limitações preconizam uma relação simbiótica mútua entre o Estado, a sociedade civil, o setor privado e a comunidade internacional, à medida que os países se desenvolvem (ver abaixo). O Estado, a sociedade civil e o setor privado: Ajuda mútua para gerir riscos Nenhum dos sistemas sociais e econômicos acima apresentados funciona perfeitamente. Na verdade, em certos casos, eles dificultam, mais do que ajudam, a gestão de ris- cos das pessoas. Esses sistemas têm o potencial, contudo, para se tornarem sistemas de apoio eficazes, quando seus pontos fracos forem resolvidos. O Estado, portanto, tem um importante papel potencial a desempenhar na complementação e no suporte às funções a que as famílias, comunidades, empresas e o setor financeiro podem exercer. Desse ponto de vista, o papel do Estado ultrapassa a limitada finalidade de correção das falhas de mercado e estende-se até o enfrentamento dos riscos sistêmicos, a criação de instituições que aumentam cada componente da gestão de riscos, além do fornecimento de apoio direto às populações vulneráveis. Seria ingenuidade, porém, ignorar o fato de que o Estado geralmente não consegue cumprir plenamente sua função potencial. Historicamente e em todo o mundo, exemplos de falhas de governo são infelizmente abundantes.41 Isto se aplica de modo especial aos países frágeis e afetados por conflitos. O que fazer então? A sociedade civil, o setor privado e a comunidade internacional podem fornecer os bens e serviços públicos tão necessários - ainda que de forma imperfeita. Sobretudo, mas não só, nas sociedades democráticas, esses atores podem também ajudar a melhorar a governança e a prestação de serviços públicos gerando mecanismos para tornar o Estado atento às necessidades da população e responsável por suas ações.42 A discussão a seguir avalia a possível contribuição de cada um dos grandes sistemas e sugere maneiras de melhorar seu desempenho, de modo individual ou combinado com outros sistemas. A possível contribuição do Estado é apresentada em conexão com cada sistema, refletindo seu papel de caráter abrangente e permitindo a elaboração de recomendações específicas para a política pública, bem como uma discussão sobre seu fundamento lógico e compensações. A família Como a família pode incentivar a resiliência e a prosperidade? Para a maioria das pessoas, a família - definida como o grupo de indivíduos aparentados entre si por vínculos familiares - constitui a principal fonte de apoio material e emocional para confrontar riscos e buscar oportunidades. Com a ampliação do campo da metáfora de Gary Becker em A Treatise on the Family (Tratado Sobre a Família), as famílias são “pequenas fábricas”, onde bens e serviços de conhecimento, proteção e seguro são produzidos, usando tanto “insumos intermediários” obtidos do restante da sociedade quanto a combinação de esforços e aptidões fornecida pelos membros da família.43 De que forma a família pode contribuir? Proteção e combinação de riscos para seus membros. Proteção e seguro em nível de família são particularmente Risco e oportunidade importantes para riscos idiossincráticos e, ainda mais relevantes, quando existe falta de seguro social ou de mercado. A proteção contra choques adversos é bastante importante para as pessoas vulneráveis dentro da família: os jovens, os idosos e os doentes. Para isso, as famílias podem tirar proveito dos recursos disponíveis na sociedade — ainda mais, se esses recursos estiverem aumentando e melhorando. Desse modo, por exemplo, rendas mais altas e um melhor acesso aos serviços de saúde aumentaram as taxas de imunização contra o sarampo para mais de 70% em todas as regiões do mundo, apesar de a África Subsaariana ainda ter bastante espaço para melhorias (Figura 3a). Além disso, o compartilhamento de momentos ruins (e momentos bons) ocorre naturalmente na família. Na verdade, a combinação de riscos dentro e entre as gerações da família tem sido uma forma de seguro desde tempos imemoriais. A família expandida desempenha um papel ativo, principalmente nos países em desenvolvimento. Por exemplo, as evidências provenientes de Bangladesh, Etiópia, Índia, Mali e México mostram que os membros das famílias expandidas intervêm para ajudar de forma substancial quando seus parentes adoecem.44 Do mesmo modo, as evidências provenientes de vários países em todo o mundo indicam que os membros da família que migram ajudam suas famílias com remessas de dinheiro quando choques negativos ocorrem no local de origem.45 Permissão para que seus membros, principalmente os jovens, realizem investimentos para o futuro. O papel das famílias estende-se muito além do seguro e da proteção de seus membros contra eventos negativos. As famílias investem no capital humano e nas aptidões sociais de seus membros, principalmente os jovens, preparando as futuras gerações para gerir os riscos e as oportunidades que terão pela frente. A educação escolar é um importante exemplo onde progresso tem ocorrido nas últimas décadas. O número médio de anos completos de educação aumentou desde 1960 em todas as regiões, mais substancialmente nas regiões que inicialmente apresentaram o nível mais baixo de desempenho educacional (Figura 3b). Contudo, a qualidade da educação, conforme medida pelos exames internacionais em termos de ciência, matemática e aptidões de leitura, ainda está ficando para trás em muitos países de baixa renda e de renda média, sem sinais de convergência.46 Que características melhoram a contribuição da família em termos de gestão de riscos? As famílias são unidades pequenas, mas complexas. As motivações de seus membros podem variar desde altruísmo até interesses individuais, as relações intrafamiliares podem ter por base os objetivos comuns ou o poder relativo de negociação, e as conexões da família com a sociedade podem ser fluidas ou remotas. Essas características 21 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 Os resultados de educação e saúde nos países em desenvolvimento estão melhorando, mas de modo desigual Figura 3 a. Taxa de imunização contra o sarampo b. Desempenho educacional entre 15 e 24 anos de idade 100 10 9 90 Anos de educação % de crianças de 12 a 23 meses de idade 22 80 70 60 8 7 6 5 4 3 50 1990 OCDE 1995 2000 2005 2010 Leste da Ásia e Pacífico 2 1960 1970 Europa e Ásia Central Oriente Médio e Norte da África Sul da Ásia 1980 1990 2000 2010 América Latina e o Caribe África Subsaariana Fonte: Equipe do WDR 2014, com base nos Indicadores do Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial (banco de dados) (painel a); e Barro e Lee, 2010 (painel b). Nota: Os países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) na figura são países de alta renda e membros da OCDE há pelo menos 40 anos. Todos os demais países são agrupados em regiões geográficas. podem ter uma grande influência sobre o modo pelo qual a família funciona como uma primeira linha de apoio para enfrentar riscos e oportunidades. Acesso e participação. As comunidades, a mão de obra e os mercados financeiros, além das instituições públicas, fornecem os “insumos intermediários” que as famílias utilizam para gerir seus riscos. O acesso contínuo a esses mercados e instituições e sua respectiva participação são fundamentais para as famílias serem gestoras de riscos bem-sucedidas (tanto que em vista do Relatório de Desenvolvimento Mundial de 2014, as quatro seções a seguir são voltadas para a avaliação do possível modo de contribuição). Como exemplo: as evidências de 59 países sugerem que o acesso a programas que limitam despesas com saúde pagas com o dinheiro próprio, tais como seguro social e seguro de saúde privada, reduz consideravelmente a incidência de despesas médicas decorrentes de desastres naturais, principalmente para famílias de baixa renda.47 Dada a fundamental importância da saúde em relação a tudo o que as pessoas fazem, existe na verdade uma grande necessidade de seguro de saúde e bastante espaço para melhorias: apenas 17% dos adultos nos países em desenvolvimento relatam ter contribuído para o seguro de saúde, sendo que essa parcela representa 2% em alguns países de baixa renda.48 Equidade dentro da família. Todas as pessoas gostariam de pensar nas famílias como unidades coesas, prote- toras. Muitas vezes, porém, o abuso e a discriminação ocorrem dentro da família, tornando-a uma fonte de risco e não uma solução para o risco. Provas convincentes mostram que o aumento do poder econômico e social das mulheres pode influenciar bastante o fato de que a alocação de recursos dentro da família beneficia as crianças, além de promover a igualdade de gênero.49 Uma avaliação de um programa de transferência monetária na África do Sul, por exemplo, descobriu que as pensões recebidas pelas mulheres melhoraram a saúde e o estado nutricional das meninas, mas que as transferências recebidas pelos homens não apresentaram nenhum efeito nos meninos ou nas meninas.50 Um ponto importante para o aumento do poder econômico das mulheres é o acesso ao mercado de trabalho, o que em diversos contextos é limitado pela infraestrutura inadequada de assistência infantil e por normas sociais restritivas. Alguns países e regiões têm bastante espaço para melhorias: as taxas de participação de mão de obra feminina são de apenas 20-30% no Oriente Médio, Norte da África e Sul da Ásia. Já na maior parte do restante do mundo, as taxas estão bem acima de 50%.51 Como o governo pode contribuir? O Estado tem um papel importante a desempenhar na prestação de serviços sociais e no combate às normas sociais prejudiciais. As políticas que dão poder ás famílias como uma unidade e as políticas que dão poder aos indivíduos dentro das famílias são necessárias. Fornecimento de serviços sociais essenciais. O acesso a serviços de boa qualidade, mesmo quando básicos, educacionais e médicos pode preparar as pessoas para enfrentar os principais riscos de saúde, lidar com as transições do ciclo de vida e tirar proveito das oportunidades de trabalho. Nesse sentido, o apelo para “igualdade de oportunidades” pode também gerar resiliência para as famílias e os indivíduos.52 Os esforços da Tailândia e Turquia para oferecer acesso universal a um seguro de saúde de qualidade merecem uma menção especial. O acesso universal ao sistema de saúde provavelmente exigirá uma parceria entre os setores público e privado para garantir tanto a sustentabilidade fiscal quanto recursos humanos suficientes.53 Para os mais vulneráveis, as redes de segurança direcionadas a eles podem ter um drástico impacto em previnir respostas para enfrentamento de riscos que incorrem em custos de longo prazo, tais como a redução do consumo básico, a retirada das crianças da escola, a venda de bens produtivos a qualquer preço ou o apelo ao crime. O Programa de Redes de Segurança Produtivas da Etiópia é um exemplo bem-sucedido de proteção das pessoas mais vulneráveis contra a insegurança alimentar, ao mesmo tempo em que cria bens comunitários para melhor gerir os riscos climáticos e aumentar a produtividade.54 Aumentar o poder da mulher na família. Isso pode ser feito primeiro pelo aumento do poder econômico; encorajando a participação da mulher na força de trabalho e, em famílias pobres, aumentando diretamente seu poder de compra. Um exemplo do último caso são os programas de transferência monetária condicionada que fazem pagamentos diretamente a mulheres; avaliações de impacto mostraram que esses programas melhoram a família e, em especial, o desenvolvimento das crianças, incluindo saúde e desenvolvimento cognitivo.55 Uma segunda via é por meio do empoderamento social e jurídico: reforçando medidas legais contra o abuso e a violência doméstica, eliminando regulamentos que discriminam as mulheres quanto à propriedade de bens ou à atividade econômica e realizando campanhas educacionais para combater normas sociais que toleram violência ou discriminação contra mulheres e crianças. As campanhas devem ser direcionadas tanto a homens como a mulheres: mais de 20% das mulheres em todas as regiões, exceto na América Latina e Caribe, acreditam que o marido tem direito de bater na esposa por motivos como sair sem avisá-lo e discutir com ele.56 Risco e oportunidade A comunidade Como a comunidade pode promover resiliência e prosperidade? Comunidades são grupos de pessoas que interagem frequentemente e compartilham um local ou identidade. Grupos de vizinhos, grupos religiosos e grupos de parentesco são alguns exemplos. Eles trabalham por meio de redes informais com base na confiança, reciprocidade e normas sociais — o que James Coleman e Robert Putnam chamam de “capital social.”57 Desse modo, as comunidades podem ajudar seus membros compartilhando riscos idiossincráticos e confrontando riscos e oportunidades comuns. Compartilhar riscos idiossincráticos. O seguro informal é especialmente importante para famílias de baixa renda e, às vezes, é sua única rede de segurança real. Por exemplo, na aldeia de Nyakatoke na Tanzânia, com uma população de apenas 120 famílias, há cerca de 40 diferentes esquemas de seguro (sociedades funerárias, associações de poupança rotativa e combinações para compartilhar mão de obra e pecuária).58 Essas práticas também são relevantes no âmbito nacional. As famílias da Indonésia, por exemplo, têm seguro informal contra 38% dos custos econômicos de graves choques de saúde e 71% dos custos de doenças secundárias.59 Na Nigéria, o crédito e a assistência informais correspondem a 32% de todas as respostas de enfrentamento identificadas pelas famílias (figura 4). Confronto de riscos e oportunidades comuns. Quando as comunidades canalizam seu capital social para a ação coletiva, podem fornecer alguns serviços públicos (transporte básico ou infraestrutura para irrigação) para proteção contra eventos adversos comuns (como epidemias, catástrofes naturais, crime e violência) e para aproveitar oportunidades comuns (como novos mercados e tecnologias).60 Essa ação coletiva pode ser especialmente importante quando a capacidade do governo é baixa. O assentamento informal de Orangi no Karachi, Paquistão, por exemplo, financiou e organizou seu próprio saneamento, vacinação, microfinanciamento, planejamento familiar e prevenção contra violência, ajudado por uma organização não governamental local. Que características melhoram a contribuição da comunidade para a gestão de riscos? Coesão. Comunidades com fortes laços entre seus membros — ou seja, comunidades dotadas de alto capital social de “vínculos” — são mais capazes de organizar ação coletiva em nome do grupo.61 Na verdade, para problemas locais cuja solução ilude mercados e governos, uma comunidade coesa pode ser a peça que falta no quebra-cabeças. Contudo, não é fácil obter coesão 23 24 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 As pessoas respondem aos choques por conta própria e combinando riscos com outros F i g u r a 4 Malawi Uganda Tadjiquistão Uzbequistão Afeganistão Iraque Maldivas Sudão Nigéria 0 20 40 60 80 100 % de todas as respostas de enfrentamento quando confrontados com um choque Assistência e crédito informais Poupanças e venda de ativos Assistência e crédito formais Emprego ou migração Redução do consumo Fonte: Equipe do WDR 2014 com base em dados de levantamentos de domicílios, vários anos 2004–11. quando os membros da comunidade têm valores e identidades culturais diferentes, como ocorre cada vez mais em comunidades urbanas. Além disso, a coesão da comunidade é seriamente comprometida quando as pessoas são excluídas ou discriminadas. Conectividade. As comunidades também precisam comunicar-se com outras comunidades e com mercados; sem essas conexões elas permanecem pequenas e isoladas, sem influência política e incapazes de realizar qualquer coisa em escala. As comunidades que mantêm fortes laços umas com as outras, ou seja, comunidades com alto capital social de “ligação” são mais propensas a colaborar entre si em projetos de gestão de riscos mutuamente benéficos e coexistir pacificamente. Geralmente as cidades com alto índice de violência devido a motivos étnicos e religiosos não têm interação cotidiana entre membros de grupos diferentes e são caracterizadas por mídia, quadrilhas criminosas e líderes locais desagregadores. Como o governo pode contribuir? A confiança nas interações entre pessoas e os meios informais de cumprimento da lei é a base da força das comunidades, mas é também a fonte de sua vulnerabilidade. As comunidades lutam com o risco sistêmico e fracassam quando a gestão de risco requer preparação complexa e de longo prazo. Os governos podem ajudar prestando bons serviços públicos essenciais e promovendo inclusão e respeito pela diversidade. Prestando serviços públicos essenciais, como infraestrutura e regime de direito. Mecanismos autônomos de enfrentamento e seguro não constituem uma gestão de risco adequada; eles precisam de governos nacionais e locais para complementar seus esforços. Por exemplo, comunidades vizinhas são potencialmente capazes de manter seus próprios sistemas de drenagem, mas a prevenção de enchentes urbanas requer drenagem por toda a cidade e o planejamento do uso da terra, que somente governos municipais podem fornecer. Do mesmo modo, comunidades vizinhas podem patrulhar criminosos comuns, mas são impotentes diante do crime organizado. Promovendo inclusão e respeito pela diversidade. As comunidades não são necessariamente justas ou confiáveis e podem ser marcadas por fortes desigualdades em matéria de poder e riqueza.62 Elas podem excluir pessoas vulneráveis (doentes crônicos, viúvos), novos moradores (migrantes, refugiados) ou aqueles que são diferentes (minorias étnicas). O governo pode ajudar introduzindo leis antidiscriminatórias, realizando campanhas educacionais e incentivando interações que promovam coesão frente à diversidade. Não apenas os governos podem apoiar as comunidades, mas a participação da comunidade pode aumentar a qualidade do processo de governança e melhorar o de- sempenho dos programas do governo. Talvez as pessoas não prestem atenção ao chamado de evacuar quando o governo aciona o alarme de desastre, mas elas correrão quando alertadas por um membro confiável da comunidade. Mobilizar a voz, energia e ação coletiva das comunidades pode ajudar a superar alguns dos obstáculos à melhoria da gestão de riscos nos países e regiões com pouca capacidade governamental. Por exemplo, o objetivo do Programa de Solidariedade Nacional do Afeganistão é construir uma infraestrutura rural com a participação da comunidade e também estabelecer alicerces para uma melhor governança local. Na Índia e em Uganda, a divulgação de informações sobre direitos à saúde e educação e seus resultados por meio de reuniões públicas promovidas pela comunidade melhoraram os serviços públicos e a participação da comunidade, gerando mais vacinas, mas suplementos pré-natais e menos mensalidades escolares com preços elevados.63 O setor empresarial Como o setor empresarial pode promover resiliência e prosperidade? O setor empresarial compreende os empregados e empregadores; os acordos que organizam suas relações; e as tecnologias que transformam fatores de produção em bens e serviços. Empresa é a unidade que define o setor empresarial. Vai de informal a formal; do trabalho autônomo às parcerias e às corporações multinacionais gigantescas; e da agricultura à fabricação e serviços. Enquanto o proprietário de uma única empresa busca maximizar seus lucros, o setor empresarial como um todo engloba os interesses de trabalhadores, proprietários e consumidores. Apesar das possíveis compensações importantes entre esses interesses, o setor empresarial pode ajudar as pessoas a gerenciarem riscos por meio de vários canais, conforme descrito abaixo. Para empregados e empregadores, ser parte de uma empresa de várias pessoas — ou seja, uma firma — oferece a possibilidade de compartilhar os benefícios e perdas da especialização, colaboração e inovação. De fato, este é um dos principais motivos por trás da formação de firmas. Como Frank Knight e Ronald Coase argumentaram em seus primeiros estudos, as firmas têm uma vantagem institucional ao fornecer meios econômicos de lidar com a incerteza e superar os custos das transações.64 Enquanto a maior parte das pessoas individualmente é naturalmente avessa ao risco e, portanto, relutante em assumir novos empreendimentos, em grupos essas pessoas tornam-se mais dispostas a buscar projetos que envolvam mais risco, mas que também prometam retornos mais elevados. Portanto, as firmas podem funcionar como veículos naturais para explorar a vantagem do risco, com consequências benéficas para a resiliência e prosperidade dos indivíduos.65 Risco e oportunidade Compartilhamento de riscos. As empresas possibilitam o compartilhamento de riscos entre os empregados por meio de colaboração; entre os empregadores de firmas por meio da diversificação de investimentos; e entre empregados e empregadores por meio de acordos contratuais (formais ou informais). Para compartilhar riscos em determinada empresa, é vantajoso alcançar um certo tamanho. Os setores empresariais de muitos países em desenvolvimento, contudo, são dominados pelo trabalho autônomo (figura 5). As taxas de trabalho autônomo ficam em torno de 70% no Sul da Ásia e ultrapassam os 80% na África Subsaariana e também são elevadas nos países em desenvolvimento em outras regiões. Essas taxas elevadas de trabalho autônomo sugerem que as rendas de um grande número de empregados nos países em desenvolvimento são vulneráveis a diversos choques — uma criança doente, um equipamento quebrado ou uma mudança no clima podem significar a perda de uma renda diária ou mais. Elas também sugerem que o setor empresarial não está se beneficiando da especialização e do aumento de produtividade que empresas de várias pessoas obtêm. Inovação e realocação de recursos. Quando impulsionado pela competição, o setor empresarial pode promover inovação adotando novas tecnologias e realocando recursos. Em algumas instâncias, isso pode exigir a saída e a entrada de empresas na economia. Este processo de “destruição criativa,” como foi denominado pela primeira vez por Joseph Schumpeter,66 pode gerar custos de ajuste substanciais, mas pode ser a única forma de uma economia permanecer resiliente e próspera frente às condições de constante mudança. Melhorar o processo dinâmico pode ter efeitos significativos, tanto na redução do risco de recessões prolongadas como no aumento da produtividade agregada. Por exemplo: uma estimativa conclui que fazer alocação de recursos de modo tão eficiente na China e na Índia quanto nos Estados Unidos aumentaria a produtividade total dos fatores em mais de 50% na China e 60% na Índia.67 Contudo, esses aumentos significativos também necessitariam do desenvolvimento de instituições e de um ambiente de negócios que pudessem suportar um alto grau de dinamismo no setor empresarial — uma tarefa difícil. Empregado, consumidor e proteção ambiental. Motivado pelas considerações à reputação e devidamente regulado pelo governo, o setor empresarial pode contribuir para a gestão de risco de pessoas fornecendo segurança no local de trabalho, proteção para o consumidor e salvaguardas ambientais. Porém, essas proteções não são garantidas; e, em alguns casos, as empresas prejudicam e geram perdas à sociedade. Essas práticas prejudiciais podem ser corrigidas pela a gestão do governo, das comunidades e das empresas. Com os incentivos adequados, as firmas que fazem dessas proteções sociais uma prioridade podem obter be- 25 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 O trabalho autônomo é mais predominante nos países em desenvolvimento, especialmente na África Subsaariana e no Sul da Ásia F i g u r a 5 Trabalho autônomo, como percentual do total de empregos, média 2004–06 100 Máximo 75° percentil Mediana 90 80 70 Percentual 26 25° percentil 60 50 40 30 20 Mínimo 10 0 OCDE Leste da Ásia Europa e e Pacífico Ásia Central América Oriente Médio Latina e e Norte da o Caribe África Sul da Ásia África Subsaariana Fonte: Cálculos do WDR 2014 fundamentados no banco de dados dos Indicadores de Desenvolvimento Mundial. Nota: Os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) na figura são os países de renda alta que são membros da OCDE há pelo menos 40 anos. Todos os outros países são agrupados em regiões geográficas. nefícios substanciais. Uma meta-análise recente concluiu que os programas de bem-estar no ambiente de trabalho reduzem os custos médicos e os custos gerados pelo absenteísmo — ganhos que beneficiam tanto os empregados como as firmas.68 Que características melhoram a contribuição do setor empresarial para a gestão de riscos? Duas características aumentam a capacidade do setor empresarial de contribuir para a resiliência e prosperidade das pessoas flexibilidade e, com o tempo, formalidade. Flexibilidade. Flexibilidade é a capacidade de todo o setor empresarial (empregadores, empregados, tecnologias) de adaptar-se a condições em evolução. Não deve ser confundida com a facilidade de demitir empregados. Um setor empresarial flexível é mais apto a responder a choques alocando recursos para as empresas e entre elas, promovendo o compartilhamento de riscos e inovando em um mundo em constante transformação. Na recente crise financeira global, por exemplo, a Dinamarca e a Espanha foram duramente atingidas, mesmo assim os resultados do mercado de trabalho foram significativamente diferentes. Na Dinamarca, a perda de empregos foi alta, mas os períodos de desemprego foram curtos. Em contrapartida, na Espanha, a taxa de desemprego, que ficou em 25% no início de 2013, mostrou poucos sinais de redução desde o início da crise. A diferença é justificadamente explicada pela rigidez do setor empresarial na Espanha, em contraste com o ambiente de negócios propício da Dinamarca. Esta situação iniciou um sério debate e propostas de reforma recentes na Espanha para remediar a situação. De modo geral, as evidências indicam que os países com menos flexibilidade em seus setores empresariais sofrem recessões mais profundas e prolongadas quando ocorrem choques negativos.69 Formalidade. Para empresas, a formalidade é definida como o cumprimento de leis e regulamentos. Se a formalidade é benéfica (para as empresas e para a economia) ou não, depende da qualidade das normas ditadas pelo Estado e da qualidade dos serviços públicos que ele oferece. Quando essas normas e serviços são sólidos, o setor empresarial é caracterizado por menos trabalho autônomo e firmas maiores, mais estáveis e mais formais. Essas características estão todas relacionadas. Os mecanismos informais podem ser eficazes para pequenas firmas e transações simples, mas são insuficientes para firmas maiores e relações complexas com empregados e mercados. Com regulamentos e serviços públicos adequados, as firmas formais podem beneficiar-se de melhor proteção jurídica (como cumprimento de contratos) e melhor uso de infraestrutura pública (como portos para o comércio interna- cional). Isso, por sua vez, pode promover o compartilhamento de riscos e a inovação entre as empresas. Ademais, tem mais facilidade para tornar as empresas responsáveis por seu impacto sobre a segurança do empregado e sobre o bem-estar ambiental e do consumidor.70 Há sinergias e compensações entre flexibilidade e formalidade. Em países com instituições governamentais efetivas, a formalidade aumenta a flexibilidade. No entanto, em países com instituições governamentais frágeis e regimes regulatórios onerosos, o custo da formalidade também pode ser muito grande para a maioria das empresas e trabalhadores. Nesse caso, a informalidade é um meio pelo qual a economia obtem certo grau de flexibilidade e para os trabalhadores terem acesso a uma rede de segurança prática.71 A Figura 6 mostra uma tipologia de países baseados na flexibilidade e formalidade de seus mercados de trabalho e de produtos. Como o governo pode contribuir? A política pública para setor empresarial requer reformas que equilibrem a necessidade de flexibilidade da economia com a necessidade de proteções jurídicas e regulatórias da sociedade. Um ambiente de negócios melhor. Várias das formas pelas quais o governo pode contribuir para a produtividade e inovação também podem aumentar a resiliência derivada do setor empresarial. Um clima melhor de investimentos pode melhorar a gestão de riscos no setor empresarial encorajando a adesão a regras e regulamentos sensatos e aumentando a capacidade do setor de ajustar-se a novas condições. De forma mais básica, direitos de propriedade seguros e certeza regulatória, juntamente com custos baixos para a entrada e saída de firmas, são essenciais. Além disso, apesar de as reformas no mercado de trabalho isoladamente não terem chances de serem bem-sucedidas, a redução da carga de impostos trabalhistas e a agilização de regulamentos são componentes críticos de um conjunto abrangente de reformas — no qual o efeito global é maior do que a soma de suas partes.72 Juntamente com essas reformas complementares, uma evidência recente da comparação entre os países concluiu que mudar um país do quintil com a maior rigidez trabalhista para um com a menor rigidez aumenta a velocidade do ajuste a choques e eleva o crescimento da produtividade em até 1,7 pontos perecentuais.73 Além disso, é necessário um seguro social sólido e inclusivo, de modo a que a flexibilidade no setor empresarial não seja conquistada à custa do bem-estar dos trabalhadores, suas famílias ou suas comunidades (box 6). Regulamentos mais sólidos e executáveis para o trabalhador, o consumidor e a segurança ambiental. Embora em muitas áreas os regulamentos possam ser excessivos e nocivos para as forças de mercado, regulamentos mais Risco e oportunidade sólidos e executáveis são necessários para garantir a segurança do local de trabalho, proteção ao consumidor e preservação ambiental. Os fracassos do mercado derivados de externalidades e informações assimétricas são elevados nessas áreas, exigindo intervenção direta do governo. O desabamento fatal de uma fábrica de roupas em Bangladesh em 2013 — que custou a vida de mais de 1.100 trabalhadores — é uma triste lembrança da importância do monitoramento e execução dos regulamentos pelo governo que não podem ser supervisionados apenas pela população. Esses regulamentos são importantes, especialmente em Estados cuja capacidade institucional requer que eles priorizem suas intervenções cuidadosamente. O sistema financeiro Como o sistema financeiro pode promover resiliência e prosperidade? Com o fornecimento de ferramentas financeiras úteis e uma gestão responsável de seus próprios riscos, o sistema financeiro pode proteger as pessoas do impacto de choques negativos e posicioná-las melhor para buscar oportunidades. Instrumentos de poupança (como depósitos bancários e títulos líquidos) permitem que as pessoas acumulem reservas para os dias de dificuldade. Instrumentos de crédito (como empréstimos educativos e hipotecários) aliviam as restrições de financiamento, ajudando as pessoas a suavizar variações de consumo após choques negativos, mas também a explorar oportunidades com maior flexibilidade. Finalmente, o mercado de seguros (como o seguro saúde e o residencial) fornece um meio para cobrir os custos de eventos adversos danosos. Que características melhoram a contribuição do sistema financeiro para a gestão de riscos? Inclusão e profundidade. Como Merton Miller e vários seguidores argumentaram de forma convincente, quando os mercados financeiros são competitivos e funcionam sem distorções, podem fornecer com eficiência mais e melhores ferramentas e serviços para mais pessoas.74 De fato, os mercados financeiros podem fornecer instrumentos e serviços que ajudam as pessoas a enfrentarem riscos de frequência, intensidade e natureza variados, sejam idiossincráticos ou sistêmicos. Contudo, cerca de 70% da população dos países de baixa e média renda não usam nenhum tipo de ferramenta financeira essencial, em comparação com 40% nos países de renda alta. Os dados nos portfólios financeiros dos indivíduos mostram que economias financeiras e seguro financeiro são usados apenas por cerca de 17% da população dos países de renda baixa e média (em comparação com os 45% das pessoas em países de renda alta), e o crédito é usado por cerca de 8% (em comparação com 14% nos 27 28 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 F i g u r a 6 Os países variam amplamente em termos da flexibilidade e formalidade de seus mercados de trabalho e de produtos Flexibilidade do mercado de trabalho e produto Mais flexível Armênia Azerbaijão Camboja Peru Alemanha Austrália Áustria Bélgica Canadá Chile Cingapura Costa Rica Dinamarca Estados Unidos Estônia Albânia Cazaquistão China Benin Botsuana Burkina Faso Camarões Costa do Marfim El Salvador Gâmbia Geórgia Guatemala Guiné Líbano Madagascar Marrocos Sri Lanka Tailândia Tanzânia Uganda Zâmbia África do Sul Brasil Bulgária Indonésia Mongólia Namíbia Quênia República da Macedônia Bangladesh Bolívia Bósnia e Herzegovina Burundi Chade Colômbia Filipinas Gana Haiti Honduras Jamaica Mali Nepal Nicarágua Paquistão República da Venezuela Senegal Sierra Leoa Zimbábue Algéria Equador Federação Russa Índia Lesoto República Dominicana Líbia Rep. do Iêmen México República Árabe Trinidad e Tobago do Egito Menos flexível República do Quisguistão Ucrânia Uruguai Vietnã Menos formal Eslovênia Espanha Hungria Finlândia França Holanda Hong Kong, China Irlanda Israel Japão Letônia Lituânia Malásia Maurício Noruega Polônia Reino Unido Rep. da Coréia República Tcheca Suécia Suíça Itália Jordânia Portugal República da Eslováquia Turquia Argentina Croácia Grécia Rep. Islâmica do Irã Romênia Mais formal Formalidade da mão de obra e produção Fonte: Cálculos do WDR 2014 fundamentados no banco de dados de Aposentadorias e Pensões do Banco Mundial e nos Indicadores de Desenvolvimento Mundial; Fórum Econômico Mundial 2012; Schneider, Buehn e Montenegro 2010. Nota: As economias na linha superior são altas (acima do valor médio), tanto em flexibilidade de mercado de produtos como mercado de trabalho; as da linha do meio são altas em um dos dois mercados; e as da linha inferior são baixas (abaixo do valor médio) em ambos os indicadores de flexibilidade. Do mesmo modo, as economias da primeira coluna à esquerda são baixas em produção formal e mão-de-obra formal; na coluna do meio são altas em um dos dois indicadores de formalidade; e as da última coluna são altas em ambos os indicadores de formalidade. Somente economias com dados de todos os quatro indicadores são consideradas e os valores médios são calculados dentro desta amostra. países de renda alta) — embora exista ampla heterogeneidade entre os países. Estabilidade. O calcanhar de Aquiles do sistema financeiro é sua tendência à crise. Como observado no trabalho original de Douglas Diamond e Phillip Dybvig, a incompatibilidade entre a duração dos ativos dos bancos (longo prazo) e os passivos (curto prazo) torna o sistema financeiro inerentemente instável.75 Se o sistema financeiro deixar de gerir o risco que retém, ele pode prejudicar as pessoas — diretamente ao impedir seu acesso a financiamento ou indiretamente ao obstruir o crédito disponível para empresas e pressionar as finanças públicas, contribuindo desse modo para a perda de empregos, renda e riqueza. A experiência de 147 crises bancárias que atingiu 116 países de 1970 a 2011 (mapa 1) expressa o seguinte: a perda cumulativa média de produção nos primeiros três anos de crises foi de 33% do PIB nas economias avançadas e 26% nos mercados emergentes.76 Ambas as sinergias e as compensações podem existir entre inclusão, profundidade e estabilidade financeira. Ao disponibilizar para os bancos poupanças internas maiores e mais diversificadas (reduzindo assim a confiança no capital estrangeiro reversível), uma maior inclusão e profundidade financeira seria capaz de aumentar a estabilidade do sistema financeiro.77 Mas uma inclusão financeira excessiva e um rápido aprofundamento podem colocar a estabilidade em risco. Isso se aplica especialmente aos mercados de crédito. Por exemplo, as crises bancárias na Tailândia (1997), Colômbia (1982) e Ucrânia (2008) foram precedidas por um crescimento excessivo do crédito anual de 25%, 40% e 70%, respectivamente. Fornecer Risco e oportunidade B ox 6 O acesso ao seguro social deve estar vinculado à situação do trabalho? A prestação de um seguro básico contra os riscos associados à doença e à idade avançada — especialmente para os vulneráveis — é justificadamente uma meta fundamental da política pública. Mas como o seguro social é financiado e quem se beneficia? Tradicionalmente, ele tem sido financiado por meio de encargos obrigatórios na folha de pagamento, cobrados de empregados e empregadores, e tem beneficiado os trabalhadores contribuintes. O problema com esta abordagem é sua cobertura limitada: na maioria dos países em desenvolvimento, os trabalhadores formais (que contribuem e beneficiam-se do seguro social) compõem menos da metade da força de trabalho (e bem menos na África Subsaariana e Sul da Ásia). A abordagem tradicional termina excluindo muitos trabalhadores — principalmente os de baixa renda, desempregados ou que trabalham na agricultura.a Para reduzir o hiato da cobertura, vários países implementaram sistemas sem contribuição para seguro de pensão por idade. É uma boa ideia combinar sistemas sem contribuição e sistemas com contribuição obrigatória? Se os benefícios da contribuição para o seguro social forem incertos e o cumprimento dos pagamentos obrigatórios for ineficiente, ter esses sistemas paralelos pode prejudicar os incentivos dos empregadores de contratarem formalmente e dos empregados de buscarem emprego formal. Poderia iniciar-se um círculo vicioso: a informalidade gera baixa cobertura, e a resposta à baixa cobertura gera mais informalidade.b Uma possibilidade que merece discussão é a desvinculação do seguro social da situação do trabalho. Essa desvinculação envolveria a seguinte ação pública: • P ermitir que as pessoas participem do seguro saúde e da aposentadoria por idade independentemente da situação do trabalho (empregado ou desempregado, e formal ou informal), requerendo curtos períodos de investimento e benefícios portáteis. • Fazer contribuições adicionais para esquemas de saúde e pensão voluntários e claramente vinculados a benefícios previsíveis que estão além das provisões básicas concedidas pelo governo. Envolver o setor privado na gestão e provisão da parcela voluntária das contribuições e benefícios do seguro social. • Fornecer cuidados de saúde básicos e aposentadorias por idade financiados pelo governo e direcionados a populações vulneráveis, mas potencialmente abertos a qualquer um (pelo menos para os cuidados de saúde).c • Financiar esta provisão básica por meio de receitas gerais do governo e pagamentos de usuários (para cuidados de saúde) em um nível consistente com a sustentabilidade fiscal. • Informar claramente à população as características e limitações das provisões básicas, os custos adicionais e os benefícios das contribuições voluntárias. • Promover instrução financeira e confiança no sistema financeiro com relação a sua função de seguro com ações macroprudenciais e certeza política. Muito ambicioso ou de longo alcance? Talvez — mas vale o debate. Fonte: Equipe do WDR 2014. a.Ribe, Robalino e Walker 2012. b.Evidências do Chile, Colômbia e México mostram que a interação de sistemas com contribuição e sistemas sem contribuição levaram a declínios no emprego formal, e há uma evidência disseminada de que firmas informais menores tendem a ser menos produtivas e a pagar salários mais baixos. Ver Levy e Schady 2013; Pagés-Serra 2010; ILO 2009; La Porta e Shleifer 2008. c. Países em desenvolvimento, como Ilhas Maurício e África do Sul, já baseiam-se principalmente em sistemas sem contribuição para aposentadorias e pensões, enquanto vários outros países — incluindo China, Índia, Tailândia, Turquia e Vietnã — também começaram a oferecer acesso universal a seguro saúde. Ver Holzmann, Robalino e Takayama 2009. a quantia certa de crédito — nem mais nem menos — é uma grande preocupação para todos os países. Como o governo pode contribuir? Fornecer uma infraestrutura financeira sólida. Uma infraestrutura financeira consiste em instituições que facilitem a intermediação financeira, incluindo sistemas de pagamentos, cadastros de informações de crédito e registros de colaterais. A infraestrutura financeira também inclui uma estrutura regulatória que estimule tanto a proteção ao consumidor como a competição entre as instituições financeiras. México e África do Sul, por exemplo, aprovaram estruturas de proteção ao consumidor eficientes, que incluem ouvidorias para resolver disputas em financiamento ao consumidor.78 A competição pode levar à inovação na inclusão financeira, como nas Filipinas, que autorizaram as operadoras de rede móvel a assumir muitas operações bancárias.79 Além disso, para promover inclusão financeira, o governo deve servir de exemplo ao usar práticas inovadoras. Um caso interessante é o da Lei Nacional da Garantia de Emprego Rural da Índia, que ampliou o alcance de serviços aos pobres que vivem nas áreas rurais por meio da introdução de transferências de governo a pessoas utilizando uma conta bancária.80 Instituindo regulamentação macroprudencial para riscos sistêmicos. Para lidar melhor com o potencial de crises financeiras, os países devem estabelecer sólidas estruturas regulatórias macroprudenciais — estruturas que consideram a interconexão entre instituições financeiras e mercados e que tratam o sistema financeiro como um todo.81 Tornar reguladores macroprudenciais independentes, possivelmente colocando-os sob o controle do 29 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 Inclusão financeira em economias, crédito e seguro nos países em desenvolvimento com diferentes níveis de renda F i g u r a 7 0,7 THA Índice de inclusão financeira em 2011, entre 0 e 1 30 0,6 MNG 0,5 CHN LKA 0,4 BGD LAO ALB MYS MUS ZAF LTU BOL SWZ KEN DOM MNE LBN VNM URY HTI PRY CRI RWA ECU AZE KHM MKD BLR BWA PHL GTM UGA ZWE LBR GHA VEN ARM PER MOZ PAN IDN IND SLE NGA NPL COM BIH COL KAZ BRA LVA KSV ZMB RUS MAR TZA CHL ROM SRB MWI IRQ SLV MEX GIN TCD MRT CMR NIC HND BGR KGZ ARG GEO AFG UKR SDN MDA LSO GAB TUR BFA MLI BEN TUN COG TJK SEN BDI TGO DZA EGY PAK UZB ZAR NER MDG TKM YEM CAF 0,3 0,2 0,1 0 5 6 7 8 9 10 PIB per capita em 2011, em logarítmo natural África Subsaariana Sul da Ásia Leste da Ásia e Pacífico Oriente Médio e Norte da África América Latina e o Caribe Europa e Ásia Central Fonte: Cálculos do WDR 2014 fundamentados no banco de dados Findex do Banco Mundial e dos Indicadores de Desenvolvimento Mundial. Nota: O índice de inclusão financeira é calculado com base nos dados da Global Findex sobre o uso de poupanças (porcentagem de adultos que pouparam dinheiro em uma instituição financeira no ano passado); crédito (porcentagem de adultos que pediu empréstimo de uma instituição financeira no ano passado); e seguro (porcentagem de adultos que pagaram pessoalmente pelo seguro saúde e a porcentagem de adultos que trabalharam na agricultura e que adquiriram um seguro agrícola). RNB = Rendimento Nacional Bruto. banco central, é a primeira etapa nesta direção — como na República Tcheca, que em 2006 deu ao banco central a responsabilidade explícita de promover a estabilidade financeira. Desse modo, os governos podem buscar supervisão macroprudencial proativa e intervir com ferramentas políticas oportunas e robustas, como a República da Coreia fez em 2011 após a crise financeira internacional ao impor um imposto sobre passivos financeiros não essenciais para gerenciar fluxos de capital especulativos. Idealmente, a regulamentação macroprudencial evitaria crises financeiras. Contudo, algumas crises são inevitáveis, então, é necessário que exista um sistema de resolução de crises. Como lidar com as perdas? Ao resolver crises, os países devem buscar transferir as perdas do banco para acionistas e gerentes e, em alguns casos, credores não segurados — minimizando os custos para os contribuintes, ameaças à estabilidade fiscal e risco moral futuro. Para facilitar a recuperação de crises, os governos e a comunidade internacional podem contribuir reduzindo a incerteza regulatória por meio de decisões oportunas e coordenação global efetiva. Levando em conta de modo explícito as compensações e sinergias entre inclusão, profundidade e estabilidade. As evidências sugerem que em 90% dos casos, as estratégias do setor financeiro nacional não abordam compensações específicas entre metas de desenvolvimento financeiro e a gestão do risco sistêmico, embora mais de dois terços dos países comprometam-se a alcançar ambas as metas dentro de suas estratégias.82 Um comitê de política financeira pode fornecer um meio para que o país leve em conta compensações e sinergias no setor financeiro e melhore a coordenação política. Um exemplo interessante a ser analisado é o da Malásia, onde o banco central assume a liderança em promover a participação dos principais partes interessadas na política do setor financeiro, incluindo o ministro de finanças e peritos do setor privado. O objetivo desta participação é preparar uma estratégia do setor financeiro nacional na qual a Malásia considere as compensações entre promover o desenvolvimento e inclusão financeira e gerenciar o risco sistêmico no setor financeiro. Risco e oportunidade Mapa 1 Crises bancárias no mundo inteiro, 1970–2011 Nenhuma crise bancária Uma crise Duas crises Três ou quatro crises Nenhum dado Fonte: Cálculos do WDR 2014 com base no banco de dados dos Laeven e Valencia 2012. Número do mapa: BIRD 40098. A macroeconomia Como a macroeconomia pode promover resiliência e prosperidade? A macroeconomia é a plataforma onde toda a atividade econômica acontece: desde o consumo às poupanças das famílias, desde o investimento até a produção das empresas e desde tomar empréstimos até conceder empréstimos nos mercados financeiros. A gestão macroeconômica sólida pode fornecer um ambiente onde famílias, comunidades e empresas são capazes de planejar para o longo prazo e realizar sua própria gestão de riscos. Além disso, a política macroeconômica pode lidar com os grandes riscos sistêmicos, com os quais os domicílios e outros sistemas socioeconômicos não estão equipados para lidar. Como Robert Barro, entre outros, observou, as crises macroeconômicas, com grandes custos para o bem-estar, marcaram a economia mundial durante décadas — visivelmente desde 2007.83 Os formuladores de políticas têm um papel essencial a desempenhar na prevenção dessas crises ou pelo menos na redução de seus efeitos. Estabilidade macroeconômica. Os ciclos de negócios são intrínsecos às economias modernas, e algum grau de volatilidade nos preços agregados, produção e emprego é normal. As evidências indicam que os efeitos prejudiciais da volatilidade não têm origem nas flutuações moderadas, mas na inflação elevada e nas mudanças abruptas que ocorrem na atividade econômica. Esses efeitos permeiam toda a economia — reduzindo a oferta de empregos, interrompendo o crédito e adiando investimentos — e geram perdas que levam a um declínio no crescimento econômico de longo prazo. De fato, uma análise em vários países desenvolvidos e em desenvolvimento nas últimas quatro décadas sugere que um aumento na volatilidade do PIB de níveis normais a relacionados a crises pode reduzir o crescimento do PIB per capita no longo prazo em cerca de 2 pontos percentuais por ano.84 Fornecimento contínuo de bens e serviços públicos. Parte da razão pela qual as crises têm um impacto no crescimento de longo prazo é que elas podem resultar em uma interrupção ou deterioração no fornecimento de bens e serviços públicos essenciais. Essas interrupções ocorrem especialmente quando os governos são forçados a realizar cortes drásticos nas despesas durante períodos de desacelerações. Foi o que aconteceu em vários países da América Latina durante as décadas de 1980 e 1990, com mais da metade do ajuste fiscal consistindo em cortes nas despesas com investimento em infraestrutura.85 Do mesmo modo, a despesa com seguro social caiu quase pela metade nos países do Oriente Médio e Norte da África após as crises na região.86 Durante a última crise financeira global, os 31 32 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 orçamentos destinados à educação caíram drasticamente na maioria dos países da Europa Oriental: por exemplo, até 25% na Sérvia e 10% na Hungria.87 Que políticas contribuem mais para a gestão de riscos? Os peritos argumentaram que as políticas macroeconômicas devem ser confiáveis, previsíveis, transparentes e sustentáveis. Esta é uma recomendação sensata. Também podem ser apresentadas de forma mais concreta em termos de gestão de riscos: os formuladores de políticas devem comportar-se de modo prudente durante o período de recuperação para evitar enfrentamentos onerosos durante as desacelerações. Política monetária transparente e confiável. Dotadas de independência e busca pela transparência e credibilidade, as autoridades de política monetária têm reduzido a inflação com sucesso no mundo inteiro nos últimos 25 anos: embora 34 países tenham tido uma inflação anual superior a 50% de 1990 a 1994, somente um país, o Zimbábue, registrou essa taxa no final da década de 2000. Adotar uma estrutura de política monetária que crie incentivos à estabilidade de preços de longo prazo, levando em conta o ciclo de negócios, tem sido crucial para combater a inflação. A crise financeira internacional de 2008 e a recessão resultante nos países desenvolvidos testaram as melhorias feitas na política monetária nos países em desenvolvimento. No final das contas, a política monetária demonstrou ser resiliente. Uma questão importante a ser considerada após a crise é se a estabilidade financeira deve ser incluída como um objetivo direto da política monetária. A questão ainda está em aberto, mas é possível argumentar que a estabilidade financeira seja mais facilmente alcançada por meio de instrumentos macroprudenciais — direcionados a desequilíbrios financeiros e fluxos de capital voláteis — do que por meio de política monetária.88 Regimes de taxas de câmbio flexíveis. Embora em debate há muito tempo, as taxas de câmbio flexíveis provaram ser absorvedores eficazes de choques. Isso é verdade, tenha o choque origem dentro ou fora da economia nacional. Os países com taxas de câmbio flexíveis tendem a ajustar-se melhor — recuperando-se de forma mais rápida e sólida — à deterioração em suas relações comerciais,89 riscos naturais como terremotos e temporais,90 e outros choques que podem gerar desequilíbrios internos ou externos.91 Política fiscal contracíclica e sustentável. No mundo inteiro, a política fiscal não progrediu tanto quanto a política monetária em termos de processo eficaz e resultados positivos. Isso não é surpresa: a política fiscal é inerentemente mais complexa, tem vários objetivos e instrumentos e está imersa no processo político. Com respeito à gestão de riscos, a política fiscal nos países em desenvolvimento tem demonstrado uma tendência procíclica que amplia a recuperação econômica e piora as recessões.92 Nas duas últimas décadas, contudo, vários países em desenvolvimento no mundo inteiro priorizaram a transparência e a disciplina fiscal, desenvolvendo amortecedores durante o período positivo com um olho em futuras desacelerações. Essas melhorias institucionais explicam a recente habilidade de uma grande fração de países em desenvolvimento de conduzir uma política fiscal contracíclica, principalmente direcionando as despesas com investimentos e consumo na direção oposta à do ciclo da atividade econômica geral (o mapa 2 dá enfoque às despesas de consumo contracíclico). Os conselhos fiscais independentes podem fornecer um meio importante para institucionalizar essa disciplina (box 7). Por que a política fiscal contracíclica é útil? Primeiro, ela permite que os governos continuem a fornecer produtos e serviços e a manter seus programas de investimentos públicos de modo estável, mesmo que as receitas públicas caiam (como é normal no período negativo do ciclo de negócios). Em segundo lugar, ela fornece recursos para aumentar a assistência social e o seguro social para mais pessoas carentes que sofrem com as condições macroeconômicas cíclicas adversas. Esses dois mecanismos fazem uma contribuição significativa, não somente durante a parte de recessão do ciclo, mas também para o bem-estar de longo prazo da população e da economia.93 Uma terceira possível razão é a de estimular a economia. Há poucas evidências, contudo, de que o estímulo fiscal cíclico baseado no estímulo ao consumo funcione. Ao contrário, estimativas do multiplicador fiscal keynesiano — o aumento do PIB para cada dólar da despesa adicional do governo — variam somente entre 0,4 e 0,6 para a maior parte dos países em desenvolvimento e entre 0,6 e 1,2 para a maior parte dos países desenvolvidos.94 Quando o custo do aumento da receita adicional necessária para financiar essa despesa (em termos de impostos, dívida e burocracia) é calculado, o multiplicador líquido tende a ser quase zero ou negativo. Finalmente, a partir de uma perspectiva de gestão de risco, a sustentabilidade fiscal requer estar ciente das responsabilidades contingentes. Algumas delas são legítimas, como a reconstrução e a assistência após um desastre natural e os gastos elevados necessários para cobrir seguridade social e tratamento médico para uma população em processo de envelhecimento. Outras responsabilidades contingentes são mais controversas; operações de resgate financeiro, por exemplo, podem representar um grande ônus para o Estado: cerca de 50% do PIB da Indonésia e Tailândia após a crise de 1997 no Leste Asiático e mais de 40% do PIB da Islândia e Irlanda durante a crise de 2008-2009.95 A abordagem de responsabilidades contingentes requer uma combinação de medidas: primeiro, Risco e oportunidade 33 O consumo do governo tornou-se contracíclico em mais de um terço dos países em desenvolvimento na última década Mapa 2 Sempre contracíclico Tornando-se contracíclico Sempre procíclico Tornando-se procíclico Nenhum dado Fonte: Equipe do WDR 2014 baseada em Frankel, Végh, e metodologia Vuletin 2013. Número do mapa: BIRD 40099. Observação: O mapa mostra a evolução da posição cíclica da política fiscal de 1960 a 1999 e de 2000 a 2012. A posição cíclica é medida em uma regressão do componente cíclico (Hodrick-Prescott) das despesas de consumo geral do governo sobre seu próprio valor defasado e o componente cíclico do PIB real. O sinal do coeficiente sobre o componente cíclico do PIB real indica se as despesas de consumo do governo são procíclicas (sinal positivo) ou contracíclicas (sinal negativo). O coeficiente sobre o componente cíclico do PIB real foi estimado separadamente para os períodos 1960 a 1999 e 2000 a 2012. Depois, os países são classificados como “sempre contracíclicos” (em ambos os períodos); “tornando-se contracíclicos” em 2000 a 2012); “tornando-se procíclicos” (“somente procíclicos” em 2000 a 2012); e “sempre procíclicos” (em ambos os períodos). A provável endogeneidade do componente cíclico do PIB real foi controlada usando como instrumentos o componente cíclico (valor atual e defasado) do PIB real dos principais parceiros comerciais do país e os preços internacionais do petróleo, assim como o valor defasado do componente cíclico do PIB real do próprio país. os governos devem fornecer os incentivos adequados à autoconfiança – por exemplo, substituindo os sistemas de desconto em folha por sistemas de aposentadoria por idade totalmente capitalizados e deixando que aqueles que assumem riscos nos mercados financeiros arquem com todo o prejuízo de empreendimentos mal-sucedidos. Segundo, as soluções de mercado devem ser estimuladas, por exemplo, permitindo-se a emissão de títulos catástrofe nos mercados internacionais para oferecer seguro contra os riscos de desastres naturais. Em terceiro lugar, deveria haver provisões de recursos para passivos residuais com os quais o governo possa ter que arcar. A comunidade internacional Quando a comunidade internacional pode promover a resiliência e a prosperidade? Os riscos não gerenciados não respeitam fronteiras e nenhum país ou agente que atue de forma independente pode efetivamente lidar com um risco que atravessa uma fronteira nacional. Depois de desencadeadas, as pandemias e as crises financeiras ou econômicas podem circular rapidamente em um mundo cada vez mais interligado. Conflitos armados podem destruir pessoas e propagar-se para países vizinhos. Desastres naturais podem arruinar um país ou uma região inteira. A mudança climática provavelmente intensificará todos esses riscos. Obviamente, os riscos que se disseminam e afetam muitos países ou gerações exigem atenção internacional. A comunidade internacional é uma fusão de agentes bastante diferentes, tais como governos soberanos, organizações internacionais, a comunidade científica global e a mídia, além da sociedade civil. Ela pode oferecer competência e conhecimento; proporcionar proteção por meio de regras e normas globais, formulação de capacidade e coordenação internacional; e unir recursos nacionais para preparar países melhor para o risco e aliviar as situações de crise. Riscos que ultrapassam a capacidade nacional. A participação da comunidade internacional pode ser necessária 34 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 B ox 7 Um conselho fiscal independente pode ajudar a superar o viés procíclico fiscal Qual é o problema? As autoridades fiscais de todo o mundo repetidamente se afastam de planos sustentáveis e sofrem de um viés” procíclico”: tendem a executar déficits orçamentários e a acumular dívidas em tempos favoráveis e depois carecem da flexibilidade e dos recursos adequados (“espaço para políticas”) para estabilizar o produto em épocas desfavoráveis. Uma proposta de solução. A criação de um conselho fiscal independente pode oferecer os incentivos adequados para o governo acumular recursos para enfrentar as desacelerações cíclicas e as contingências de longo prazo. O conselho fiscal administraria um conjunto de regras fiscais flexíveis exigidas por lei: decidir a alocação de déficits ao longo do tempo, sinalizar quando a ação contracíclica se justifica e monitorar a sustentabilidade da dívida pública. A plena delegação de formulação de políticas para um conselho fiscal independente é irreal em virtude da natureza política e redistributiva da política fiscal. O governo, em cumprimento de seu mandato político, manteria o controle sobre a distribuição das despesas e a estrutura da tributação. Contudo, isolar do processo político alguns aspectos da implementação da política fiscal e delegá-los a um conselho independente pode aumentar a credibilidade fiscal e a responsabilização.a Como essa solução pode ser implementada? Os conselhos fiscais devem ser estruturados de maneira a evitar a apropriação política, o aumento dos incentivos do governo para ignorar a recomendação do conselho ou a possibilidade de ser desmontado quando houver conflitos dentro do governo. Um conselho fiscal eficaz requer inde- pendência do processo político – inclusive designação competitiva e longa permanência no cargo dos membros da diretoria do conselho, independência orçamentária e sólidos mecanismos de responsabilização (tais como ser avaliado por conselhos de pares ou organizações internacionais).b Essa solução já foi implementada em algum lugar? Até 2012, 22 governos nacionais (até agora) haviam criado conselhos fiscais, com diferentes características e graus de relevância.c O Centraal Planbureau da Holanda e o Conselho de Políticas Fiscais da Suécia são os mais próximos de conselhos fiscais amadurecidos. No Chile, dois órgãos consultivos independentes fornecem informações-chave para a projeção da receita “estrutural”, a qual, por sua vez, determina a despesa pública por meio de uma regra fiscal. Atuando como órgãos consultivos, os conselhos fiscais do Marrocos, Quênia e Uganda fornecem ao Parlamento avaliação ex-ante e ex-post das políticas fiscais. Se a criação de um conselho não for viável, existe alguma alternativa? A criação de um conselho fiscal independente requer o apetite político para instituições autônomas e sólidas bases de governança e, portanto, talvez não seja viável em todos os países. Quando não for possível criar um conselho independente, um bom fundamento para a sustentabilidade fiscal seria a adoção de estruturas fiscais transparentes e abrangentes, inclusive abordagens de cima para baixo na elaboração do orçamento. Desde a década de 2000, a Armênia, por exemplo, formulou uma estrutura orçamentária contínua com tetos de gastos e a integrou à lei orçamentária.d Fonte: Equipe do WDR 2014. a.Debrun, Hauner e Kumar 2009. b.Calmfors e Wren-Lewis 2011. c. FMI 2013. d.Banco Mundial 2013. quando os países enfrentam graves restrições de capacidade e têm governos frágeis ou disfuncionais.96 É o que ocorre especialmente nos países frágeis e afetados por conflitos, onde as pessoas enfrentam os mais elevados riscos e obstáculos à gestão de riscos, com acesso limitado a mercados, comunidades e instituições públicas que funcionem. Em 2010, as pessoas que viviam em países frágeis e afetados por conflitos representavam 15% da população mundial, todavia, respondiam por cerca de um terço das pessoas que viviam em pobreza extrema.97 Os conflitos podem transcender as fronteiras nacionais, resultando no aumento das populações refugiadas, disseminação de doenças transmissíveis e crescente pressão sobre os bens públicos dos países vizinhos que absorvem as populações afetadas. O compartilhamento de uma fronteira com um país frágil pode reduzir o crescimento econômico de um país em 0,4% ao ano.98 Ao melhorar as perspectivas econômicas e o ambiente para a saúde, segurança e educação, a participação da comunidade internacional pode reduzir as tensões sociais e econômicas que despertam e propagam o conflito e, ao mesmo tempo, promovem oportunidades. O apoio internacional também é necessário quando choques muito grandes, tais como desastres naturais e crises financeiras, resultam em prejuízos que impedem o crescimento econômico de um país. Isso pode ocorrer até mesmo em países grandes e mais desenvolvidos, como demonstra claramente a crise da Zona do Euro, embora os países de baixa renda sejam desproporcionalmente afetados por riscos e desastres econômicos. Por exemplo: a província de Aceh, na Indonésia, enfrentou o impacto de um violento terremoto e tsunami em 2004, que deixou mais de 500 mil pessoas desabrigadas e um prejuízo econômico estimado em 97% do PIB de Aceh. A comunidade internacional criou um fundo especial de vários doadores para apoiar a reconstrução e estabelecer sistemas de alerta antecipado, iniciativas que, quase 10 anos após a tragédia demonstraram ser um sucesso.99 Entretanto, o sucesso Risco e oportunidade Quais características melhoram a capacidade da comunidade internacional de gerir riscos? nem sempre se repete, como demonstraram os desalentadores resultados da intervenção da comunidade internacional no Haiti após um violento terremoto em 2010.100 A eficácia da comunidade internacional depende de quão bem ela consegue preencher as lacunas de conhecimento e competência, estabelecer regras e padrões que orientem as nações na gestão de seus riscos, e facilitem e coordenem a ação coletiva para gerir riscos que transcendam as fronteiras nacionais. Por sua vez, a ação coletiva é facilitada quando os agentes da comunidade internacional estão unidos por preferências e objetivos compartilhados, ou quando determinados atores têm a capacidade de mobilizar recursos e fazer cumprir acordos — mesmo quando não há coesão ou unidade entre as nações. Riscos que transpõem as fronteiras nacionais. A abertura e a modernização tornaram os sistemas econômicos, sociais e ecológicos cada vez mais interligados (Figura 8). Junto com as oportunidades de crescimento e alívio da pobreza, essa interligação criou também um conjunto de riscos que atravessam fronteiras nacionais e exigem a gestão de riscos críticos por parte da comunidade internacional, inclusive organizações regionais.101 O maior número de viagens aéreas e o comércio de bens e serviços, por exemplo, podem oferecer caminho livre para patógenos que causam doenças infecciosas. Alguns desses agentes patogênicos podem dar a volta ao mundo em menos de 36 horas.102 Da mesma forma, as crises financeiras podem espalhar-se por uma rede cada vez mais complexa de ligações entre sistemas financeiros de todo o mundo. O rápido crescimento econômico que se alicerçou intensamente na energia baseada no carbono também está relacionado com riscos que evoluem lentamente, tais como mudança climática e degradação ambiental, com consequências potencialmente irreversíveis para as gerações futuras. 11 10 20 09 20 08 20 07 20 20 20 20 20 20 20 20 20 19 19 19 19 19 19 19 19 19 19 06 0 05 50 0 04 100 20 03 40 02 150 01 60 00 200 99 250 80 98 300 100 97 120 96 350 95 140 94 400 93 160 92 450 91 500 180 Índice As interligações econômicas, financeiras e sociais estão aumentando 200 90 Índice Figura 8 Coesão por intermédio de preferências e objetivos compartilhados. O reconhecimento mútuo da necessidade de enfrentar riscos habilita a comunidade internacional a preparar-se melhor para os riscos que ultrapassem a capacidade nacional — tais como os acordos de fornecimento de empréstimos de emergência a países que enfrentem graves deficiências de financiamento e apoio a fundos de seguros regionais, como o Mecanismo de Seguro contra Riscos de Catástrofes no Caribe.103 Da mesma forma, a cooperação multilateral para lidar com riscos que trans- Razão dos pedidos de indenização do exterior dos bancos internacionais em todos os países no PIB Chegada de turistas per capita Razão do comércio total no PIB Usuários da Internet per capita (eixo direito) Fonte: Equipe do WDR 2014 baseada em dados dos Indicadores de Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial (banco de dados), Dados Estatísticos Bancários Consolidados do Banco de Compensações Internacionais (banco de dados) e Anuário Estatístico de Turismo da Organização Mundial de Turismo (banco de dados). Nota: Todas as séries são indexadas para 100, tendo 2000 como ano base. 35 36 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 ponham fronteiras funciona melhor quando os interesses de várias nações estão bem alinhados e não são anulados por prioridades de políticas internas conflitantes. Ao ajudar a alinhar interesses nacionais, o acordo quase universal para eliminar a varíola facilitou sua erradicação. Em contrapartida, nos casos em que há divergência entre os interesses nacionais, como a resolução dos riscos da mudança climática e o alívio das condições das pessoas que vivem em países frágeis e afetados pelo conflito, o progresso pode ser lento. de cada país para monitorar e conter os riscos em seus próprios territórios. Por exemplo: enquanto 36 doadores forneceram apoio para que mais de 100 países em desenvolvimento se preparassem para uma possível pandemia de gripe aviária (H5N1) entre 2005 e 2010, o monitoramento local foi essencial para conter o vírus. É preciso dedicar mais recursos ao apoio à capacitação de sistemas de alerta antecipado, monitoramento e comunicação, bem como para planejar soluções de associação de riscos que contemplem a preparação. Capacidade para mobilizar recursos e fazer cumprir acordos. A comunidade internacional pode ter um impacto substancial sobre a gestão de riscos quando há um objetivo claro em torno do qual mobilizar recursos. Por exemplo: com o apoio da comunidade internacional, os sistemas de alerta antecipado têm ajudado a reduzir mortes decorrentes de muitos tipos de desastres.104 De forma semelhante, mesmo que não haja consenso internacional, a comunidade internacional pode fazer progresso acerca de riscos que cruzem fronteiras caso possa criar mecanismos para fazer cumprir acordos. Essa capacidade depende em muito da competência da comunidade internacional para realinhar incentivos em torno de objetivos compartilhados e de atrair a participação de importantes atores. Um elemento-chave para o sucesso do Tratado de Não Proliferação Nuclear e do Protocolo de Montreal acerca da proteção da camada de ozônio, por exemplo, foi a ameaça de sanções à segurança e ao comércio, respectivamente, o que ajudou a realinhar os interesses nacionais e a facilitar a participação e a ação. Se os incentivos não estiverem alinhados: Usar abordagens graduais para soluções globais. Quando os incentivos não estão alinhados, os principais países soberanos não estão totalmente envolvidos e as consequências da inércia podem ser catastróficas – como no caso da mudança climática e outros riscos ambientais, como a perda da biodiversidade – a comunidade internacional deve adotar abordagens graduais, capazes de acelerar o progresso em direção a soluções globais (box 8). Contudo, para preservar a participação total como objetivo primordial, é preciso dedicar atenção especial a medidas que sejam capazes de alinhar os incentivos na direção de um objetivo comum, mesmo que o alinhamento pareça muito difícil de alcançar. Para riscos ambientais, esse esforço pode consistir na disseminação do conhecimento e promoção de ideias que podem aproximar opiniões divergentes, transferências financeiras e de tecnologia para os países em desenvolvimento para medidas como prevenção do desmatamento, incentivo ao uso de tecnologias mais limpas e investimentos em pesquisa e desenvolvimento, por exemplo, para criar métodos de combate à concentração de gases do efeito estufa na atmosfera.105 Dentro do mesmo pensamento, o Novo Plano de Participação em Estados Frágeis (Parceria Busan) reconhece que o risco da não participação pode superar a maioria dos riscos da participação em países frágeis; ele descreve uma estrutura na qual a comunidade internacional pode trabalhar para ajudar esses países a fortalecerem instituições cruciais e políticas que reduzam o risco de retornar à situação de conflito.106 Como a comunidade internacional pode aumentar sua contribuição? As percepções extraídas do trabalho de Leonid Hurwicz, Roger Myerson e Eric Maskin sobre o arquitetura de mecanismo para as instituições são extremamente importantes para uma coletividade tão fluida, diversificada e complexa quanto a comunidade internacional. Levando em conta as restrições de incentivo (e não apenas as restrições orçamentárias e de informações), é fundamental elaborar mecanismos eficazes para que a comunidade internacional contribua para a gestão do risco apesar dos seus múltiplos atores, estruturas de poder complicadas e objetivos divergentes. Se os incentivos estiverem alinhados: Buscar intervenções proativas e bem alinhadas. Quando os incentivos estão alinhados e o curso da ação é claro, a intensificação da gestão do risco exige intervenções proativas e bem coordenadas por parte da comunidade internacional. Quando se lida com riscos como pandemias ou crises financeiras em um mundo interligado, a eficácia dessas ações depende substancialmente do apoio à capacidade Uma reforma institucional para integrar a gestão de riscos O Relatório do Desenvolvimento Mundial de 2014 oferece dezenas de recomendações específicas de políticas destinadas a aprimorar a gestão do risco em níveis diferentes e complementares da sociedade (o Box 9 apresenta um resumo dessas políticas). Seu conselho geral, entretanto, é que as recomendações sejam implementadas de maneira proativa, sistemática e integrada para otimizar sua eficácia. Para isso, o Relatório do Desenvolvimento Mundial de 2014 defende a criação de uma junta nacional de riscos, capaz de contribuir para integrar a gestão do risco à agenda de desenvolvimento. Pode ser um órgão novo ou resultar da reforma de órgãos existentes: o mais im- Risco e oportunidade B ox 8 Para determinados riscos globais, tais como a mudança climática, a comunidade internacional deve adotar abordagens graduais capazes de produzir soluções globais Qual é o problema? A gestão dos riscos globais exige ação proativa coordenada por parte das nações soberanas. Mas o progresso limitado em algumas áreas lançou dúvida acerca da possibilidade de promover a ação coletiva entre países com interesses divergentes, limitações de capacidade e incentivos para tirar proveito da situação. As negociações globais para garantir acordos com participação total estão paralisadas – de maneira mais evidente para a mudança climática, onde a persistência da inércia pode ter consequências catastróficas e irreversíveis. Algumas ações internacionais potencialmente úteis – inclusive a cooperação para o desenvolvimento e compartilhamento de tecnologias e dos instrumentos financeiros existentes – foram adiadas na expectativa de que venham a fazer parte de um acordo global “a ser assinado em breve”. A solução proposta. Para determinados riscos globais, como a mudança climática, a comunidade internacional deve adotar abordagens graduais capazes de aumentar o avanço no sentido de soluções globais. Quando os incentivos estão desalinhados, os principais países soberanos não estão totalmente comprometidos e as consequências da inércia são desastrosas, ainda assim é possível fazer progresso fora de um tratado multilateral. Negociações e ações graduais por parte de um grupo inicialmente pequeno de participantes podem servir de elementos de base para acordos globais. Com a demonstração dos benefícios da ação, a expectativa é que o grupo inclua gradualmente mais países participantes ao longo do tempo. Existem exemplos de sucesso? Há alguns exemplos notáveis. O Protocolo de Montreal de proteção à camada de ozônio foi assinado originalmente por 24 países, mas obteve ratificação universal durante a década de 1990 com os esforços combinados de governos, organizações internacionais, organizações não governamentais e cientistas.a Da mesma forma o Tratado de Proibição Limitada de Testes Nucleares, cujos signatários passaram de 3 para 119 entre 1963 e 1992, abriu caminho para o amplo Tratado de Não Proliferação Nuclear. Como isso pode ser implementado? Governos nacionais, organizações internacionais e entidades especializadas podem formar uma “coalizão de interessados” para coordenar, defender e adotar medidas relacionadas à mudança climática.b A coalizão pode criar incentivos para que outros adiram a ela ao longo do tempo mediante a promoção da mudança tecnológica e do financiamento, que reduz os custos de participação (maneiras mais econômicas de reduzir as emissões, os subsídios ou transferências de tecnologia). Pode também associar-se a cientistas, à sociedade civil e à mídia, para induzir os participantes a cumprir e os não participantes a juntarem-se a ele. Instituições internacionais, inclusive uma junta internacional de riscos, podem fornecer plataformas para o debate sobre políticas e monitorar, relatar e reunir ações para garantir que os esforços graduais estejam no caminho certo. Estrategicamente, a coalizão poderia alicerçar suas ações nas estruturas globais existentes para demonstrar que negociações graduais e globais podem estar interligadas. Fonte: Equipe do WDR 2014. a.UNEP 2007. b.Falkner, Stephan e Vogler 2010; Goldin 2013; Hale 2011. portante é uma mudança de abordagem — que caminhe para uma avaliação de riscos coordenada e sistemática em nível agregado. A implementação dessa recomendação pode exigir uma mudança substancial na maneira como os governos desenvolvem e implementam seus planos gerais, passando do planejamento em condições de certeza para a consideração da mudança e da incerteza como características fundamentais das economias modernas. Uma junta nacional de riscos pode ajudar os governos a superarem os obstáculos da economia política que enfrentam quando administram riscos no âmbito nacional ou internacional. Criar uma junta nacional de riscos para administrar os riscos de maneira proativa, sistemática e integrada Qual é o problema? Com demasiada frequência, as estratégias de gerenciamento de riscos e suas implementações demonstram ser ineficazes (ou introduzem ou- tros riscos) porque não são coordenadas entre todas as partes interessadas importantes para a política. A gestão do risco de maneira proativa e integrada tem vantagens nítidas: pode ajudar a definir prioridades, assegurar que todas as contingências sejam levadas em conta e evitar o excesso de gastos para gerir um risco isoladamente em detrimento de outros. Alguns países realizam avaliações de riscos nacionais que envolvem equipes compostas por várias partes interessadas de diversos ministérios e frequentemente incluem o setor privado e a sociedade civil. A Holanda, o Reino Unido e os Estados Unidos realizaram esse exercício e outros países, como o Marrocos, iniciaram um processo para fazer o mesmo. Entretanto, esse exercício é geralmente executado por um grupo temporário, específico para esse fim, que existe apenas enquanto a avaliação é realizada. Outros países criaram órgãos formados por vários ministérios e responsáveis pela troca de informações e coordenação da gestão de riscos, mas esses órgãos geralmente lidam com um único risco — na maioria das vezes desastres naturais, como no 37 38 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 B ox 9 Algumas recomendações sobre políticas do WDR 2014 O Estado tem uma função importante no apoio às contribuições de todos os sistemas econômicos e sociais para a gestão de risco das pessoas. As observações a seguir resumem algumas recomendações sobre políticas do WDR 2014 organizadas por sistema, conforme são discutidas no Relatório: Para as famílias: • Regulamentações aplicáveis que promovam a proteção do consumidor e a competição entre instituições financeiras • Regulamentação macroprudencial para o sistema financeiro como um todo, a fim de reduzir as crises financeiras e evitar operações de resgate • Uma estratégia financeira nacional que trate das compensações entre inclusão financeira, aprofundamento e estabilidade • Seguro de saúde pública, administrado em parceria com o setor privado, com ênfase nos cuidados preventivos e tratamento de doenças contagiosas e acidentes • Educação pública, administrada em parceria com o setor privado, com foco em habilidades flexíveis, adaptáveis à mudança dos mercados de trabalho • Redes de segurança voltadas para os pobres como, por exemplo, transferências monetárias condicionadas com pagamentos diretamente às mulheres • Leis aplicáveis contra a violência doméstica e discriminação de gênero, acompanhadas de campanhas educacionais • Política monetária transparente e confiável, voltada para a estabilidade de preços e executada por um banco central autônomo. • Para a maioria dos países, um regime de taxa de câmbio flexível, em um contexto de política monetária transparente e confiável. • Política fiscal contracíclica e sustentável, auxiliada por um conselho fiscal independente • Provisão para responsabilidades contingentes, tais como desastres naturais, crises financeiras e aposentadorias para uma população em processo de envelhecimento Para a comunidade: Para a comunidade internacional: • Infraestrutura pública para a mitigação de riscos de desastres, criada em colaboração com as comunidades vizinhas • Infraestrutura de transportes e comunicações, principalmente para integrar e consolidar comunidades isoladas • Proteção policial contra o crime comum e organizado, especialmente voltada para as comunidades ameaçadas • Leis aplicáveis contra a discriminação racial ou étnica, acompanhadas de campanhas educacionais • Participação em acordos bilaterais, regionais e globais para compartilhar os riscos com os países, aumentar a capacidade nacional de confrontar riscos comuns, favorecendo intervenções proativas e bem coordenadas • Para os riscos globais indefinidos, como a mudança climática, a formação de uma “coalizão de interessados” com governos de países com ideias afins, criando incentivos para outros países participarem Para o setor empresarial: O WDR 2014 defende que essas recomendações sejam implementadas de maneira proativa, sistemática e integrada. Para tanto, propõe a criação de uma junta nacional de riscos para ajudar a integrar a gestão de riscos aos programas de desenvolvimento do país e sugere a possibilidade de uma junta internacional de riscos para apoiar a “coalizão de interessados.” • Direitos de propriedade privada assegurados e respeitados • Regulamentações ágeis e previsíveis para tributação, mercado de trabalho e ingresso e desligamento de empresas • Regulamentações aplicáveis para a segurança do ambiente de trabalho, proteção ao consumidor e preservação ambiental • Considerar a possibilidade de dissociar o seguro social (ou seja, saúde e aposentadoria por idade) da situação de trabalho Para a macroeconomia: Para o sistema financeiro: • Sólida infraestrutura financeira (sistemas de pagamento, informações de crédito) para facilitar a inclusão financeira e aprofundamento Fonte: Equipe do WDR 2014. Peru, ou a segurança nacional, como em Israel. Poucos países realmente têm um órgão de gestão de riscos integrado e permanente que lide com vários riscos. Qual é a solução? Para facilitar a gestão proativa e integrada de riscos no nível de país, uma junta nacional de riscos pode ser criada como uma comissão permanente. Ela pode analisar riscos, inclusive as compensações entre os riscos e entre as políticas de gestão de riscos; analisar e publicar avaliações das práticas de gestão de riscos no país; definir prioridades na gestão de riscos e fazer recomendações sobre as políticas apropriadas para serem implementadas. A institucionalização da junta nacional de riscos deve agregar valor possibilitando que a gestão de riscos seja integrada a todos os setores; desafiando a inércia resultante de interesses políticos e introduzindo mecanismos claros de responsabilização para implementar as medidas acordadas de gestão de riscos.107 Como ela pode ser implementada? A junta nacional de riscos deve reunir uma ampla gama de partes interessadas. Ela pode fazer parte do governo ou ser um órgão autônomo. A composição da junta deve incluir formuladores de políticas (para refletir as prioridades políticas) e peritos independentes (para incorporar conhecimento técnico e perspectivas do setor privado). Ter poder para emitir recomendações de “atuar ou justificar-se” às autoridades relevantes responsáveis pela implementação da política — ou seja, as autoridades relevantes teriam que agir com base em recomendações ou justificar por que decidiram descartá-las. Embora o projeto institucional apropriado dependa do contexto político e institucional do país, a composição e os poderes da junta devem tentar alcançar o equilíbrio adequado entre competência, credibilidade, relevância e legitimidade — isto é, ficar na região “equilibrado” do diagrama 4. Os formuladores de políticas da junta poderiam ser indicados pelo poder executivo do governo, e os peritos independentes poderiam ser acadêmicos, membros da comunidade empresarial e de organizações da sociedade civil. A competência da junta abrangeria as áreas de riscos militares, de segurança e terrorismo; risco econômico; risco ambiental, à saúde e tecnológico, além de risco social. Para evitar tornar-se um organismo sem poder, a junta deveria ter importância suficiente aos olhos da opinião pública. E deveria ter a responsabilidade de publicar regularmente suas recomendações, acompanhadas de análise e declarações de prioridades políticas e deveria estar sujeita a audiências anuais perante uma comissão legislativa. Embora a junta de risco nacional autônoma possa ter certas vantagens, ela também pode funcionar como parte do governo. Na realidade, países tão diferentes como Jamaica, Mali, México, Marrocos e Ruanda estão considerando a possibilidade de criar uma função de gestão integrada de riscos na estrutura do governo — seguindo, em parte, uma proposta feita pelo Fórum Econômico Mundial — e definir um administrador de riscos do país, semelhante ao cargo de administrador-chefe de riscos que foi criado por muitas empresas multinacionais.108 Esse modelo institucional pode ser prático em países com uma estrutura forte para um serviço público eficaz e independente, em que os membros da junta nacional de riscos sejam nomeados como tecnocratas especialistas com cargos garantidos por períodos superiores ao ciclo político. A estrutura da Gestão de Risco Integrada para todo o Governo de Cingapura é um exemplo de abordagem que superou os “silos” dentro do governo.109 A base da estrutura é a Comissão de Estratégia, composta de secretarias permanentes de vários ministérios públicos e presidida pelo Chefe do Serviço Público. Além disso, o Risco e oportunidade 39 Equilíbrio das compensações do projeto institucional de uma junta nacional de riscos D i ag r a m a 4 Peritos independentes Menor legitimidade Menor relevância Região equilibrada Função consultiva Menor credibilidade Função de implementação Menor competência Formuladores de políticas Fonte: Equipe do WDR 2014. sistema de Gestão de Crises Internas inclui uma comissão ministerial presidida pelo Ministro de Assuntos Internos e apoiada pelo Grupo Executivo da Crises Internas, formado por autoridades dos ministérios e órgãos governamentais. A estrutura multi-risco é complementada por órgãos focados em riscos específicos, tais como a Secretaria de Coordenação da Segurança Nacional. A estrutura institucional de Cingapura para a gestão de risco integrada envolve muita especialização e um processo de coordenação complexo que vem evoluindo ao longo do tempo. Para os países em desenvolvimento, uma estrutura mais simples, cujo projeto institucional envolva menos especificidade e especialização (e que requeira mecanismos de coordenação menos exigentes) pode ser um bom ponto inicial. Finalmente, é preciso abordar duas questões importantes: primeiro, o que pode motivar um governo a instituir uma junta de risco nacional? É necessário um impulso inicial para os líderes superarem incentivos contrários e estabelecerem uma instituição de longo prazo. Esse impulso pode vir de dentro do país, por intermédio de líderes políticos e tecnocratas reformistas ou do exterior, mediante o incentivo e apoio da comunidade internacional. Depois de criada, a junta nacional de riscos pode desafiar a inércia ou práticas precárias introduzindo mecanismos de responsabilização claros para a gestão do risco. Um governo reformista interessado na continuação do seu legado benéfico pode querer que os futuros governos sejam responsáveis por suas ações ou por sua falta de ação. 40 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 A segunda questão é se é possível criar um órgão semelhante no âmbito global — uma junta internacional de riscos — para ajudar a abordar os riscos que cruzam as fronteiras nacionais. Uma junta internacional de riscos pode envolver a comunidade científica e de especialistas de todo o mundo para reunir todo o conhecimento disponível para identificar, avaliar e gerir importantes riscos globais. Sua principal desvantagem seria que, na ausência de um órgão deliberativo no nível internacional, ela poderia carecer de relevância para a implementação. Isso poderia ser corrigido, contudo, se a junta internacional de riscos trabalhasse em colaboração com a “coalizão de interessados” (ver box 8), definindo prioridades para as questões a serem abordadas com urgência e oferecendo credibilidade e legitimidade a seus esforços. Para concluir: Cinco princípios da ação pública para a melhor gestão do risco A análise feita em todo o Relatório do Desenvolvimento Mundial de 2014 sugere que, para melhorar a qualidade e o acesso à proteção social, bens públicos e política pública que são essenciais para apoiar a gestão de riscos das pessoas, a ação pública pode ser orientada de maneira útil por alguns princípios-chave. Os cinco princípios a seguir refletem as lições obtidas com melhores práticas em todo o mundo e que são relevantes para diferentes tipos de riscos e países. Sua aplicação, no entanto, deve ser ajustada a contextos específicos. Embora à primeira vista esses princípios possam parecer pouco controversos, na prática eles envolvem tensões e compensações que tornam sua implementação um desafio. 1. Não gerar incerteza ou riscos desnecessários As políticas e ações do Estado devem esforçar-se para reduzir riscos e diminuir a incerteza. No mínimo, o Estado não deve torná-los piores. Como ou por que um governo faria isso? Em primeiro lugar, por meio de suas políticas, pode perpetuar normas sociais que discriminem certos grupos e os tornem mais vulneráveis. Por exemplo: políticas de Estado que promovam desigualdade de gênero ou preferência étnica prejudicam, em vez de ajudar, a resiliência das famílias e das comunidades. Segundo, o governo pode favorecer o grupo que o apoie politicamente, seja ele uma pequena elite ou um grande círculo de eleitores, contra os interesses legítimos de outros. Por exemplo: os Estados que desapropriam ativos financeiros (como poupança e fundos de pensão) ou infraestrutura privada (como prédios residenciais ou fábricas) de algumas famílias podem obter ganhos de curto prazo, mas acabam por impedir a capacidade do setor financeiro e do setor empresarial de crescerem, desenvolverem-se e fornecerem os recursos para gestão de riscos de toda a população. Terceiro, um governo fragmentado internamente que não disponha de organização e coordenação pode acabar com políticas ambivalentes ou implementação ineficaz. Isso pode ocorrer, por exemplo, em consequência de um processo de descentralização imperfeito, no qual os governos locais e regionais não disponham dos recursos e capacidades necessários para desempenhar suas responsabilidades, não compartilhem das prioridades e preferências do governo nacional, ou tentem se aproveitar de outros governos locais e regionais. Finalmente, ao enfrentar problemas difíceis e verdadeiros, o governo pode ser orientado pela ideologia, pensamento ilusório ou simples desespero em vez de confiar em medidas baseadas em evidências e análises. Um exemplo comum são as regulamentações do mercado de trabalho que se consideram capazes de defender os interesses dos trabalhadores, mas acabam protegendo apenas alguns e contribuindo para a criação de um grande setor informal. O financiamento inflacionário de déficits orçamentários ou políticas macroeconômicas variáveis e contraditórias diante da crise são outros exemplos: em pouco tempo, ambos os caminhos levam ao aumento da incerteza, instabilidade macroeconômica e possivelmente até recessões prolongadas. 2. Fornecer os incentivos corretos para que pessoas e instituições façam seu próprio planejamento e preparação e, ao mesmo tempo, ter cuidado para não impor riscos ou prejuízos a outras pessoas O desafio para a política pública é criar incentivos para as pessoas fazerem seu próprio planejamento e preparação contra o risco, evitando circunstâncias nas quais os benefícios sejam de propriedade privada, mas os prejuízos sejam impostos a outras pessoas. Considere as operações de resgate financeiro. Elas são prejudiciais não apenas porque podem produzir um grande ônus fiscal, mas também porque geram incentivos para a tomada de riscos excessivos. Todavia, algumas vezes, as operações de resgate são necessárias para evitar um colapso sistêmico da intermediação financeira. As operações de resgate devem ser evitadas — principalmente com o emprego de políticas macroprudenciais bem definidas, claras e transparentes — mas se essas operações ocorrerem, elas devem ser projetadas para evitar a criação de incentivos distorcivos para o futuro. É difícil encontrar bons exemplos de operações de resgate financeiro ordenadas, mas a experiência turca após a crise do setor bancário de 2000-01 (e especialmente a posição inabalável dos órgãos reguladores e de resoluções bancárias do país) representa um caso a ser analisado e seguido.110 Em um ambiente muito diferente, a proteção social pode ser criticada por não estimular a autoconfiança das pessoas e por ser um ônus insustentável para o país. As evidências, entretanto, demonstram que esses problemas podem ser evitados por meio de um projeto que leve diretamente em conta os incentivos às pessoas. As redes de segurança bem planejadas — tais como transferências monetárias condicionadas ou programas de incentivo ao trabalho, implementadas em Bangladesh, Brasil, Índia e México, para citar apenas algumas — estão promovendo melhores práticas familiares nas áreas de educação, saúde e até empreendedorismo, enquanto permanecem sustentáveis do ponto de vista fiscal.111 Em todos os casos, para gerir riscos com eficácia, duas mudanças na mentalidade das pessoas com relação à responsabilidade individual e social são fundamentais: passar da dependência para a autoconfiança e do isolamento para a cooperação. O fornecimento dos incentivos adequados pode contribuir em ambos os aspectos. 3. Manter uma perspectiva de longo prazo para a gestão de riscos mediante a criação de mecanismos que transcendam os ciclos políticos Um importante desafio para a ação pública é a criação de mecanismos institucionais que induzam o Estado a manter uma perspectiva de longo prazo que sobreviva às mudanças voláteis da opinião pública ou alianças políticas. Por exemplo, o fornecimento de serviços de educação e saúde do Estado é um grande investimento na preparação das famílias e comunidades para o enfrentamento dos riscos que devem ser financiados de forma contínua e sustentável para serem bem-sucedidos: isso implica planejamento de longo prazo. No caso dos serviços de saúde, a Tailândia e a Turquia oferecem exemplos de sucesso com sua recente mudança para programas de seguro de saúde universal. Vale considerar também os dois exemplos a seguir em termos de política financeira e macroeconômica. Para que o sistema financeiro apoie a gestão de riscos, é essencial encontrar o equilíbrio entre a inclusão e a estabilidade. Esse equilíbrio só pode ser avaliado mediante planejamento abrangente e de longo prazo, como o que está sendo realizado na Malásia, onde a estratégia para o setor financeiro é preparada pelo banco central em colaboração com o Ministério das Finanças e o setor privado. As políticas monetárias e fiscais contracíclicas também requerem uma perspectiva de longo prazo, que lhes permita gerenciar o ciclo de negócios usando recursos acumulados durante um longo período de tempo e em cenários diferentes. As melhores práticas sugerem projetar um equilíbrio orçamentário de longo prazo, como o Chile, a Colômbia e a Noruega, entre outros, estão fazendo. Os mecanismos institucionais que transcendem o ciclo político — como uma junta nacional de riscos e um conselho fiscal independente — podem ajudar a manter um foco de longo prazo na gestão do risco. Risco e oportunidade 4. Promover a flexibilidade dentro de uma estrutura institucional clara e previsível A flexibilidade e o ajuste às novas circunstâncias são essenciais para promover a resiliência e aproveitar ao máximo as oportunidades. Os exemplos mais importantes incluem a migração de famílias em resposta à mudança de tendências econômicas, adaptação das comunidades rurais à mudança climática, e renovação das empresas diante dos choques tecnológicos e de demanda. A flexibilidade, porém, não deve significar critério arbitrário ou respostas casuais. A promoção da flexibilidade preservando, ao mesmo tempo, uma estrutura sensível, transparente e previsível são desafios para o Estado. Para as empresas, o modelo dinamarquês de “flexi-segurança” oferece esse equilíbrio, associando a facilidade de contratar e demitir funcionários com uma forte rede de segurança social e políticas de reemprego. O resultado é uma economia dinâmica com alta rotação de empregados, mas poucos períodos de desemprego. Para a macroeconomia, os regimes de metas de inflação com taxas de câmbio flutuantes oferecem um bom modelo de política monetária flexível embora sólida do ponto de vista institucional. Em 2012, 27 países já haviam adotado um regime de metas de inflação. Com o início da União Monetária Europeia em 1999, muitos países que haviam praticado metas de inflação na década de 1990, abandonaram o regime. Diante da recessão prolongada e da incerteza na Zona do Euro, a flexibilidade monetária poderia ter sido uma ferramenta útil que esses países não possuem mais. 5. Proteger os vulneráveis e, ao mesmo tempo, incentivar a autoconfiança e preservar a sustentabilidade fiscal A dura realidade é que muitas pessoas em todo o mundo não têm os recursos materiais e as informações necessárias para combater os riscos com que se deparam. A luta diária para ganhar a vida pode tornar o planejamento do futuro difícil para as pessoas de baixa renda. O desafio para o Estado é proteger as pessoas vulneráveis e, ao mesmo tempo, preservar a sustentabilidade fiscal — além de incentivar a autoconfiança. Para as famílias que continuam altamente vulneráveis aos choques, o Estado pode fornecer redes de segurança para substituir os dispendiosos mecanismos de enfrentamento que solapam o consumo, o capital humano e os ativos produtivos. As redes de segurança são viáveis mesmo em países de baixa renda, desde que o apoio seja direcionado para as populações vulneráveis e seja projetado para incentivar o trabalho. O Sistema de Redes de Segurança Produtivas da Etiópia, por exemplo, demonstra de que maneira uma rede de segurança bem projetada pode proteger milhões de famílias contra a insegurança alimentar enquanto investe em bens comunitários. 41 42 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 A comunidade internacional também pode dar apoio às populações vulneráveis com recursos e capacidade técnica. Embora muito criticada, a ajuda externa tem sido bem-sucedida quando é fornecida em coordenação com instituições locais responsáveis. Foi o que aconteceu quando a ajuda externa auxiliou a reconstrução da infraestrutura e o estabelecimento de sistemas de alerta antecipado na Indonésia após o tsunami de 2004. No final das contas, a proteção das pessoas vulneráveis implica a adoção das medidas necessárias ao desenvolvimento sustentável — desenvolvimento que elimina a pobreza extrema e permite que as pessoas saiam da condição de vulnerabilidade por intermédio do crescimento sustentado que a gestão do risco pode oferecer. Algumas considerações finais O destino das pessoas e das famílias pode mudar para melhor se elas planejarem e se prepararem para enfrentar os riscos e oportunidades que estão no âmago da vida moderna. Da mesma forma, o destino das comunidades e dos países pode melhorar se eles compartilharem a responsabilidade contínua necessária para gerir o risco com êxito. “Eu cresci em um ambiente de guerra. E aprendi que é possível planejar nosso destino, pelo menos até certo ponto, se avaliarmos os riscos e fizermos alguma coisa a respeito.” —Klaus Jacob, perito em gestão de riscos de desastres naturais da Columbia University e sobrevivente da Segunda Guerra Mundial112 “Houve uma época em que eu ia a pé para o trabalho todos os dias. O caminho que eu tinha que fazer era perigoso e muitas pessoas eram vítimas de roubo e abusos físicos. Portanto, sim, eu superei o risco em busca da oportunidade.” —Kariuki Kevin Maina, estudante, Quênia Contribuição para o site do WDR 2014 Notas 1. Dercon, Hoddinott e Woldehanna 2005. 2. Buvinić e Morrison 2000. 3. Banco Mundial 2012d. 4. OMS 2013. 5. Baulch 2011 oferece uma boa revisão da literatura. 6. Paul 2009. 7. Didier, Hevia e Schmukler 2012. 8. Dercon e Christiaensen 2011. 9. Ver Karlan e outros 2012 para Gana; e Cole, Giné e Vickery 2013 para a Índia. 10. Hoddinott, Rosegrant e Torero 2012. 11. Hallegatte 2012a. 12. Enquanto os custos da preparação para o risco devem ser incorridos predominantemente de forma antecipada, os benefícios tendem a se acumular com o tempo e, portanto, são mais incertos. Assim, a probabilidade de um risco se materializar é essencial para qualquer avaliação de uma possível intervenção. Nas análises formais de custo-benefício, essa probabilidade geralmente é considerada de modo implícito (ao basear os cálculos dos custos evitados em dados históricos médios) ou explícito (ao considerar os benefícios potenciais de uma intervenção de gestão de riscos no caso de um choque pela probabilidade de esse choque ocorrer). Ver Wethli 2013 para o WDR 2014. 13. Ver, por exemplo, Bodie, Kane e Marcus 2011. 14. Ver Kuznets 1955 e Dasgupta e outros 2002. As compensações mencionadas no texto são percebidas como existentes por alguns especialistas e uma grande parte do público, conforme refletido em pesquisas de opinião, mas podem não existir na realidade. Análises recentes constatam, por exemplo, que o crescimento econômico e a proteção ambiental, bem como a inclusão social, geralmente são complementares. Ver Banco Mundial 2012b. 15. Hoddinott, Rosegrant e Torero 2012. 16. Dethier, Hirn e Straub 2011; Kehoe e Prescott 2007. 17. Bruno e Easterly 1998. 18. Bernoulli 1738; von Neumann e Morgenstern 1944. 19. Allais 1953; Kahneman e Tversky 1979. 20. Black 1948; Buchanan e Tullock 1962; Olson 1965. 21. Hurwicz 1960; Myerson 1979; Maskin 1999. 22. O conceito de cadeia de riscos é analisado e ilustrado em Alwang, Siegel e Jørgensen 2001. Ver também Barrett 2002; Heltberg, Siegel e Jørgensen 2009. 23. Ehrlich and Becker (1972). Ver também a extensão em Muermann e Kunreuther (2008) e as aplicações em Gill e Ilahi 2000; Holzmann e Jørgensen 2001; e Packard 2002. 24. Khokhar 2013 para o WDR 2014. 25. Indicadores do Desenvolvimento Mundial (banco de dados). 26. Banco Mundial 2012c. 27. Para uma discussão detalhada da possível complementaridade entre seguro e proteção, consulte Erlich e Becker 1972. 28. Economist 2013. 29. Hallegatte 2012b. 30. Carter e outros 2007. 31. FEMA 2010. 32. Gourinchas e Obstfeld 2012; Schularick e Taylor 2012. 33. Hallegatte 2012b. 34. La Porta e outros 1998. 35. Veja, por exemplo, Tornell e Velasco 1992. 36. Esse tipo de retaliação comercial foi evitada durante a crise financeira global de 2008-2009, em parte por causa Risco e oportunidade da coordenação bem-sucedida feita pela comunidade internacional — em contraste com as políticas comerciais “beggar-thy-neighbor”, já conhecidas, que exacerbaram a Grande Depressão (Eichengreen e Irwin 2010). Contudo, a comunidade internacional foi menos bem-sucedida em evitar as restrições de exportação durante as crises dos preços dos alimentos nos últimos anos (Martin e Anderson 2012). 37. Knight, 1921. 38. Hallegatte e outros 2012. 39. Čihák e outros 2012. 40. Para obter uma análise da literatura sobre compartilhamento de riscos e formação de família e rede, consulte Fafchamps 2011. 41. Acemoglu e Robinson (2012) compilam muitos exemplos de tais falhas. 42. Reinikka e Svensson 2005; Speer 2012; Devarajan, Khemani e Walton 2011. 43. Becker 1993. 44. Oviedo e Moroz 2013 para o WDR 2014. 45. De Weerdt e Hirvonen 2013 para Tanzânia; Yang e Choi 2007 para Filipinas; Paulson 2000 para Tailândia. 46. Equipe do WDR 2014, com base no Programa da OCDE para Avaliação de Estudantes Internacionais (PISA). 47. Xu e outros 2003. 48. Demirgüç-Kunt e Klapper, 2012. 49. Duflo 2003; Thomas 1990. 50. Duflo 2003; ver também Thomas 1990, e Lundberg, Pollak; e Wales 1997. 51. Equipe do WDR 2014, com base nos Indicadores do Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial (banco de dados). 52. Banco Mundial 2005. 53. Thoresen e Fielding (2011) mostram como a expansão da cobertura do sistema de saúde pode exercer uma pressão considerável na sustentabilidade, não somente de recursos fiscais, mas também de recursos humanos. 54. Premand 2013 para o WDR 2014. 55. Paxson e Schady 2007 e referências do documento; Macours, Schady e Vakis 2008; ver também referências em Fiszbein e Schady 2009. 56. Equipe do WDR 2014 com base em Pesquisas Demográficas e sobre Saúde. 57. Coleman 1988; Putnam 1993. 58. De Weerdt 2001. 59. Gertler e Gruber 2002. 60. Por exemplo, Aldrich 2011 mostra que o capital social desempenha um papel importante na capacidade das comunidades de se recuperarem de desastres naturais. 61. Alesina, Baqir e Easterly 1999. 62. Narayan, Pritchett e Kapoor 2009; Bowles e Gintis 2002. 63. Bjorkman e Svensson 2009; Pandey e outros 2007. 64. Knight 1921; Coase 1937. 65. Para consultar documentos originais sobre o tema, ver Baily 1974 e Azariadis 1975. 66. Schumpeter 1942. 67. Hsieh e Klenow 2009. 68. Baicker, Cutler, and Song 2010. 69. Bergoeing, Loayza e Repetto 2004. 70. Um exemplo interessante de formalização que gera uma maior proteção ambiental e rendas mais altas ocorreu recentemente no Peru. Nos últimos anos, surgiram minas informais no Peru em resposta à alta dos preços do ouro. Ao ignorar os regulamentos existentes, essas minas informais causaram um significativo desmatamento. O mercúrio 43 44 R elat ó rio sobre o D esenvolvimento M undial de 2 0 1 4 usado no processo de extração contaminou rios e a atmosfera e ameaçou a saúde humana. Na região La Libertad, a Companhia de Mineração Poderosa adotou uma abordagem inovadora para o problema depois que mineiros informais invadiram uma de suas concessões de mineração. A companhia começou a formalizar os mineiros invasores, assinando acordos que permitiam que continuassem com mineração sob sua gerência. Os acordos, que atenderam as normas de qualidade internacional para gestão ambiental, aumentaram a renda dos pequenos mineiros e diminuíram o risco de desmatamento e contaminação por mercúrio. UNEP 2012. 71. Banco Mundial 2012d; Loayza e Rigolini 2011. 72. Calderón e Fuentes 2012. 73. Caballero e outros 2013. 74. Miller 1986. 75. Diamond e Dybvig 1983. 76. Laeven e Valencia 2012. 77. Han e Melecky 2013 do WDR 2014; Cull, Demirgüç-Kunt, e Lyman 2012. 78. Brix e McKee 2010. 79. Gupta 2013. 80. Banco Mundial 2012a. 81. Borio 2003 apresenta uma discussão sobre as diferenças entre uma estrutura regulatória tradicional e microprudencial e uma abordagem regulatória macroprudencial. 82. Maimbo e Melecky 2013 para o WDR 2014. 83. Barro 2009. 84. Hnatkovska e Loayza 2005. 85. Easterly e Servén 2003. 86. Prasad e Gerecke 2010. 87. 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Esses riscos podem ser geridos de maneira mais apropriada ou eficaz por instituições regionais. 102. Jonas 2013 para o WDR 2014. 103. Mahul e Cummins 2009. 104. Banco Mundial e Nações Unidas 2010. 105. Royal Society 2009. 106. OCDE 2011b. 107. Graham e Wiener 1995; Fórum Econômico Mundial 2007. 108. Fórum Econômico Mundial 2007. 109. OCDE 2009. 110. Damar 2007; Ersel e Ozatay 2008. 111. Fiszbein e Schady 2009; Alderman e Yemtsov 2012. 112. Citado em Eric Klinenberg, “Adaptation: How Can Cities be ‘Climate-proofed’?” (Adaptação: como as cidades podem ser à prova do clima?) The New Yorker, 7 de janeiro de 2013, 33. Referências Acemoglu, Daron, and James A. Robinson. 2012. Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty. New York: Random House. Alderman, Harold, and Ruslan Yemtsov. 2012. “Productive Role of Safety Nets.” Social Protection and Labor Discussion Paper 1203, World Bank, Washington, DC. 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Evidence from Rainfall Shocks in the Philippines.” World Bank Economic Review 21 (2): 219–48. 49 Sumário do Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2014 Prefácio Agradecimentos Visão geral Risco e oportunidade: A gestão de riscos pode ser um instrumento poderoso para o desenvolvimento Parte 1 Fundamentos da gestão de riscos Capítulo 1 A gestão de riscos pode ser um instrumento poderoso para o desenvolvimento Destaque 1 Preparação para o inesperado: Uma abordagem integrada da gestão de riscos de desastres nas Filipinas e na Colômbia Capítulo 2 Além do ideal: Obstáculos à gestão de riscos e formas de superá-los Destaque 2 Proteção do consumo de alimentos das populações de baixa renda: O papel das redes de segurança na Etiópia e em El Salvador Parte 2 O papel dos principais sistemas sociais Capítulo 3 Os domicílios são a primeira linha de apoio para enfrentar riscos e buscar oportunidades Destaque 3 Migração para cobertura universal de saúde na Turquia e na República do Quirguistão Capítulo 4 Comunidades coesas e conectadas criam resiliência Destaque 4 Quando a justiça penal não é suficiente: prevenção integrada contra a violência e a criminalidade urbana no Brasil e na África do Sul Capítulo 5Promoção da resiliência e prosperidade por meio de um setor empresarial dinâmico Destaque 5 Migração para uma maior flexibilidade do mercado de trabalho: o caminho irregular da Índia Capítulo 6O papel do sistema financeiro na gestão de riscos: Mais ferramentas financeiras, menos crises financeiras Destaque 6 Geração de resiliência a choques econômicos globais na República Tcheca, no Peru e no Quênia Capítulo 7 Gestão do risco macroeconômico: Criação de instituições mais sólidas para melhores resultados de políticas Destaque 7 Doenças sem fronteiras: Gestão do risco de pandemias Capítulo 8 O papel da comunidade internacional: Quando os riscos excedem a capacidade nacional Foco na reforma das políticas Integração da gestão de riscos na agenda de desenvolvimento: Reformas institucionais selecionadas Anexos Abreviações e notas sobre dados Documentos sobre antecedentes Indicadores selecionados Índice Ecoauditoria Declaração de Benefícios Ambientais O Banco Mundial está comprometido com a preservação das florestas em perigo de extinção e dos recursos naturais. A Divisão de Publicações e Conhecimento decidiu imprimir a Visão Geral do Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2014: Risco e Oportunidade — Gestão do Risco para o Desenvolvimento em papel reciclado com 50% de fibra pós-consumo, de acordo com os padrões recomendados para o uso de papel, estabelecidos pela Iniciativa Verde para Impressão, um programa sem fins lucrativos que apoia editores no uso de fibra não proveniente de florestas em perigo de extinção. Para obter informações mais detalhadas, visite o site www.greenpressinitiative.org. Foram salvos: • 37 árvores • 17 milhões de BTUs de energia total • 1.422 quilogramas líquidos de gases causadores do efeito estufa • 64.337 litros de águas residuais • 516 quilogramas de resíduos sólidos A Publicação Principal do Grupo Banco Mundial Visão Geral 2014 Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de Os últimos 25 anos testemunharam mudanças inéditas em todo o mundo, sendo muitas delas para melhor. Em todos os continentes, muitos países enveredaram por um caminho de integração internacional, reforma econômica, modernização tecnológica e participação democrática. Como resultado, economias que ficaram estagnadas durante décadas estão crescendo, pessoas cujas famílias sofreram privações por várias gerações estão saindo da pobreza e centenas de milhões de pessoas estão aproveitando os benefícios de melhores padrões de vida e do intercâmbio cultural e científico entre os países. À medida que o mundo muda, surgem várias oportunidades. Com elas, porém, aparecem riscos antigos e novos, desde a possibilidade de perda de emprego e doença até potenciais de distúrbios sociais e danos ambientais. Se ignorados, esses riscos podem transformar-se em crises que anulam os ganhos duramente obtidos e colocam em perigo as reformas econômicas e sociais que geraram esses ganhos. O Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 2014 (WDR 2014), Risco e Oportunidade: Gestão de Risco para o Desenvolvimento afirma que a solução não é rejeitar as mudanças para evitar os riscos, mas preparar-se para as oportunidades e os riscos que essas mudanças acarretam. A gestão responsável e eficaz dos riscos tem o potencial de gerar segurança e um instrumento de progresso para as pessoas dos países em desenvolvimento, entre outros. Apesar de os esforços próprios, a iniciativa e a responsabilidade dos indivíduos serem fundamentais para a gestão de riscos, o seu sucesso ficará limitado sem um ambiente social de apoio – principalmente quando os riscos são grandes ou sistêmicos por natureza. O WDR 2014 afirma que as pessoas podem enfrentar com êxito os riscos que estão além de seus meios, compartilhando sua gestão de riscos com outras pessoas. Isso pode ser feito naturalmente com a ocorrência de sistemas sociais e econômicos que permitem superar os obstáculos que os indivíduos e grupos enfrentam, incluindo a falta de recursos e informações, problemas cognitivos e comportamentais, ausência de mercados e bens públicos, externalidades sociais e exclusão. Esses sistemas - desde a família e a comunidade até o Estado e a comunidade internacional - têm o potencial de apoiar a gestão de riscos das pessoas em modos diferentes, embora complementares. O Relatório enfoca alguns dos problemas mais urgentes que os formuladores de políticas estão questionando. Que papel o Estado deve assumir para ajudar as pessoas a administrarem riscos? Quando esse papel deve consistir em intervenções diretas e quando deve consistir em proporcionar um ambiente propício? Como os governos podem melhorar sua própria gestão de riscos e o que acontece quando falham ou carecem de capacidade, como ocorre em muitos países frágeis e afetados por conflitos? Por meio de quais mecanismos a gestão de risco pode ser integrada à agenda do desenvolvimento? E como podem ser abordadas as falhas da ação coletiva na gestão dos riscos sistêmicos, principalmente quando houver consequências irreversíveis? O WDR 2014 fornece considerações e recomendações para os formuladores de políticas abordarem essas questões difíceis. Ele deve servir para orientar o diálogo, as operações e as contribuições dos principais atores do desenvolvimento - desde a sociedade civil e os governos nacionais até a comunidade de doadores e as organizações de desenvolvimento internacional. Risco e Oportunidade: sku 32794 Gestão do Risco para o Desenvolvimento