Profissionais de Saúde
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Publicação destinada aos Profissionais de Saúde • ano 5 • nº 15 • dezembro 2011 • São Paulo • ISSN 2176-8463 A Nestlé e os Profissionais de Saúde no Brasil 15 Brazilian Osteoporosis Study suas principais contribuições “Meu Prato” um novo ícone para orientação alimentar Uma biografia do sorvete dos mitos à era industrial editorial Uma história de valor Como se verá nesta edição, o relacionamento ético e produtivo entre profissionais da área de saúde e a Nestlé resulta de inúmeras iniciativas que amadureceram ao longo de mais de seis décadas e que geraram valor compartilhado para a sociedade brasileira como um todo. Reflexo de seu tempo, do conhecimento e da tecnologia disponível em cada época, tais ações materializam o ideário no qual a indústria, a universidade e as associações que congregam nutricionistas e diferentes especialidades médicas podem catalisar uma agenda comum em favor de uma melhor formação profissional, da promoção da nutrição, da saúde e do bem-estar no país. Ivan F. Zurita Foi esta a premissa que embasou os pioneiros Anais Nestlé para a classe médica brasileira, em plena Segunda Presidente da Nestlé Brasil Guerra Mundial, e tantas outras publicações nas décadas vindouras — como a Nestlé.Bio, que o leitor tem nas mãos, e o Portal Nestlé Nutri Saúde na Internet. É este mesmo princípio, ainda, que baliza o Prêmio Henri Nestlé, de fomento à pesquisa, o Curso Nestlé de Atualização em Pediatria, que comemora sua 68a edição, e o apoio sistemático a Encontros e Congressos nas áreas de saúde e nutrição. Não menos importante, a dinâmica cooperação entre a comunidade científica e a Nestlé tem sido fundamental para que a Companhia continue desenvolvendo produtos de qualidade que atendam os brasileiros em suas mais diferentes fases da vida. Isoladamente, asa, motor, hélice e fuselagem estão fadados a permanecer no solo. Por conta disso, a figura do avião se presta tão bem quando se pretende falar de fenômenos em que o resultado final revela-se maior do que a soma de suas partes. Que as inúmeras ações que forjam o histórico relacionamento entre a Nestlé e os profissionais de saúde sigam proporcionando cada vez mais altos e melhores voos no céu do Brasil. Direção Editorial: Ivan F. Zurita, Izael Sinem Jr. e Célia Suzuki Consultor Editorial: Claudio Galperin Colaboradores: Juliana Lofrese, Helvio Kanamaru, Ailton Storolli, Eduardo Yugue, Francisco Campiche, Ana Fischer, Maria José Barros Editor: Claudio Galperin Jornalista-responsável: MTb 12.834 Assistente Editorial: Maria Fernanda Elias Llanos Assistente de Redação: Betina Galperin Edição de Arte, Produção Gráfica e Pré-Media: D’Lippi Design+Print — (11) 3031.2900 — www.dlippi.com.br Edição de Arte: Rosalina Sasaki Arte-final: Ricardo Lugo Fotografia: Fernanda Preto e Shutterstock Ilustração: Felix Reinners Capa: Shutterstock Revisão: Eliete Soares Impressão: Nova Página Gráfica e Editora Tiragem: 40.000 exemplares A revista Nestlé.Bio é um produto informativo da Nestlé Brasil destinado a promover pesquisas e práticas no campo da ciência da nutrição realizadas no país e no exterior, sob os cuidados de um criterioso processo editorial. Alinhada ao histórico papel da Nestlé no apoio à difusão da informação científica, a revista abre espaço para a diversidade de opiniões, que consideramos ser essencial para o intercâmbio de ideias e conceitos inovadores. As declarações expressas na revista não refletem necessariamente o posicionamento institucional da companhia com relação aos temas tratados. Parabéns a todos pela Nestlé.Bio. Em particular a mais recente edição, na qual fomos agraciados com um delicioso presente degustado por mim e toda a minha família. O artigo sobre Cora Coralina e Adélia Prado nos traz a vivência poética das cozinhas do passado, com seus enormes fogões e com tachos fumegantes, aquecidos dia e noite pela prosa gostosa de gente que tempera os pratos e a vida com pitadas de gentileza, afeto e beleza, fazendo tudo valer a pena. Eliana Alves Oliveira de Almenida, nutricionista, São José dos Campos (SP) Sou aluno de doutorado da Unifesp — laboratório de genética e metabolismo do exercício físico. Trabalho com epigenética e exercício físico e gostei muito da matéria de Nestlé.Bio sobre epigenética e nutrição. Gostaria de começar a receber a publicação. Frederick Wasinski São Paulo (SP) Quero parabenizá-los pela qualidade da revista, tanto no cuidado na elaboração dos artigos e na diversidade de enfoques e assuntos abordados quanto na linguagem e na produção gráfica. Sou professora da Universidade Federal de Santa Catarina e gostaria de receber a revista para uso em sala de aula com alunos dos cursos de Medicina, Odontologia, Enfermagem, Nutrição e Ciência e Tecnologia de Alimentos. Contribuirá muito para nossas discussões. Sylvia Regina Pedrosa Maestrelli, Florianópolis (SC) Aguardamos seus comentários e sugestões no e-mail nestlebio@nestle. com.br com seu nome completo, registro profissional, local de trabalho e cidade de origem. Trechos das mensagens poderão ser eventualmente publicados. nestlé intercâmbio Índice 04 palavra Dr. Marcelo de Medeiros Pinheiro, chefe do Ambulatório de Osteoporose e Densitometria Óssea da Universidade Federal de São Paulo fala sobre o estudo BRAZOS e fragilidade óssea. 16 capa A significativa parceria entre a Nestlé e os profissionais de saúde no Brasil completa mais de 60 anos e se traduz em iniciativas que apoiam e promovem a geração de conhecimento nas áreas de nutrição e saúde. 09 calendário Confira os próximos encontros, congressos e simpósios voltados para temas ligados à nutrição. 10 foco As muitas histórias que embalam a evolução do sorvete, sobremesa gelada que desafiou os cientistas italianos. 30 22 qualidade NINHO® Baixa Lactose, desenvolvido em conjunto com o Centro de Pesquisa Nestlé-Suíça, contribui para o consumo das recomendações diárias de produtos lácteos, principalmente entre as crianças. nutrição e cultura A origem e as características da primeira refeição do dia nos quatro cantos do mundo. 36 resultado As ações que permitem à Nestlé produzir cada vez mais, com a mesma qualidade, gerando cada vez menos impacto ambiental. 41 sabor e saúde 25 dossiê bio 15 ponto de vista A Profa. Dra. Rita de Cássia de Aquino discute o novo ícone: MyPlate As nutricionistas Adriana Trejger Kachani e Marcela Salim Kotait, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, publicam a segunda parte do artigo Nutrição em Psiquiatria. As escolas investem em educação nutricional para a aquisição de melhores hábitos alimentares. 46 leitura crítica Dieta, estilo de vida e ganho de peso no longo prazo em homens e mulheres. Confira o tema na leitura crítica desta edição. palavra entrevista_Maria Elias Llanos Por_Maria FernandaFernanda Elias Llanos Brazilian Osteoporosis Study (BRAZOS) A palavra do Dr. Marcelo de Medeiros Pinheiro palavra A osteoporose é uma disfunção multifatorial dependente de fatores genéticos e ambientais. No mundo todo, a prevalência de fraturas decorrentes da patologia é um problema significativo de saúde pública, estando diretamente associada a perdas significativas na qualidade de vida e alto risco de mortalidade. Em países desenvolvidos, nos primeiros 12 meses subsequentes ao evento, a taxa de mortalidade é de cerca de 25%. Na população brasileira, os índices reportados são ainda maiores, oscilando entre 21% e 30% [1]. A literatura também descreve a osteoporose como uma disfunção multifatorial, da qual aproximadamente 70% dependem de fatores genéticos e 30% de fatores ambientais. Nesse sentido, diferenças genéticas, raciais e antropométricas, bem como da composição corporal, densidade óssea, dieta, atividade física e outros hábitos de vida, contribuem para explicar as divergências na incidência e prevalência de baixa densidade óssea e fratura em diversos países do mundo. [1,2]. Embora o Brasil seja o líder político e econômico da América Latina, até 2010 não existia nenhuma ferramenta validada, em amostragem consistente, para identificar indivíduos com maior risco para osteoporose e fraturas por fragilidade, visando à prevenção. Recentemente, três grandes estudos epidemiológicos brasileiros, dentre eles o Brazilian Osteoporosis Study (BRAZOS), descreveram os principais fatores de risco associados com a fratura por baixo impacto e com a baixa densidade óssea em amostra populacional representativa. Reconhecido pela grande contribuição na área da saúde, o BRAZOS recebeu prêmios de várias sociedades médicas, como a Sociedade Brasileira de Reumatologia, Sociedade Brasileira de Nutrição, Sociedade Brasileira de Osteoporose, Sociedade Brasileira de Metabolismo Ósseo e Mineral, entre outras. A convite da Nestlé.Bio, o Dr. Marcelo de Medeiros Pinheiro, chefe do Ambulatório de Osteoporose e Densitometria Óssea da Disciplina de Reumatologia da Universidade Federal de São Paulo — Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM) e coordenador-geral do BRAZOS, compartilha seu conhecimento conosco. Em linhas gerais, qual foi a metodologia aplicada ao estudo BRAZOS? De março a abril de 2006, foram avaliados 2.420 indivíduos (725 homens e 1.695 mulheres), acima de 40 anos de idade, representativos de todas as classes socioeconômicas, por meio de pesquisa transversal e quantitativa para caracterização dos fatores clínicos de risco (FCR) para fratura por baixo impacto ou fragilidade óssea. As entrevistas foram pessoais e domiciliares, com seleção aleatória, aplicadas a 150 municípios, em todo o território nacional. Algumas distorções como gênero e idade foram realizadas de forma proposital, a fim de incluir predominantemente o sexo feminino e indivíduos acima de 65 anos, principais populações acometidas pela osteoporose, assim como obter mais informações com menor erro amostral. 5 6 palavra E quais foram os principais aspectos avaliados? Um questionário estruturado, desenvolvido especialmente para esse estudo e baseado na revisão da literatura nacional e estrangeira, avaliou aspectos como dados antropométricos e demográficos, incluindo idade, sexo, cor da pele, classe social, escolaridade, bem como condições profissionais, conhecimento geral sobre osteoporose, história de quedas e circunstâncias das mesmas no último ano. Foram avaliados também os antecedentes pessoais e patológicos: história prévia de fratura (tipo de trauma, local, número e idade na época do evento), antecedentes ginecológicos e reprodutivos, antecedente familiar de história de fratura de fêmur após os 50 anos de idade em parentes de primeiro grau, qualidade de vida (SF-8) e presença de comorbidades e medicações concomitantes relacionadas ou não ao metabolismo ósseo. O histórico dietético foi baseado no recordatório alimentar das últimas 24 horas que antecederam a entrevista. Hábitos de vida atuais e pregressos como tabagismo, ingestão de álcool, exposição solar e atividade física também foram avaliados em todos os indivíduos. O BRAZOS teve êxito em identificar os FCR? Sim. Nossos resultados demonstram que o sedentarismo, tabagismo atual, pior qualidade de vida e diabetes mellitus são os FCR mais relevantes para fratura por baixo impacto em homens brasileiros, acima de 40 anos de idade. Nas mulheres, a idade avançada, menopausa precoce, sedentarismo, pior qualidade de vida, maior consumo de fósforo, diabetes mellitus, quedas, uso crônico de benzodiazepínicos e história familiar de fratura de fêmur após os 50 anos de idade em parentes de primeiro grau são os principais FCR associados com fratura por fragilidade óssea. Esses FCR refletem o envolvimento de diversos aspectos na determinação do maior risco de fratura como hereditariedade (história familiar de fratura), hábitos de vida (atividade física, tabagismo e ingestão dietética), qualidade de vida, quedas e o envelhecimento propriamente dito com deterioração da qualidade óssea. Qual foi a prevalência de osteoporose referida pelo grupo? A osteoporose foi referida por 6,0% da população brasileira e a fratura por baixo impacto por 15,1% das mulheres e 12,8% dos homens. Não houve diferença estatisticamente significativa da prevalência de fratura nas cinco regiões do Brasil, de acordo com o sexo ou classe social. No entanto, nas mulheres, houve maior ocorrência de fraturas na região metropolitana do que nos municípios do interior dos estados e tendência a maior frequência de fraturas em homens da Região Nordeste. Não foi verificada diferença estatisticamente significativa de fraturas se os homens eram provenientes das capitais ou do interior dos estados. Estudos internacionais apresentam resultados semelhantes? Embora os fatores de risco sejam semelhantes entre as mais diversas populações, o impacto de cada um em cada cenário é diferente, ressaltando, assim, as peculiaridades genéticas e ambientais de cada povo. O BRAZOS mostrou que indivíduos com antecedente de fratura por baixo impacto não receberam qualquer informação sobre a doença que ocasionou a queda. Por quê? O desconhecimento sobre a osteoporose não é exclusividade do Brasil. Em países desenvolvidos, esse mesmo achado é observado, ou seja, um paciente de 60 anos tem uma fratura de colo de fêmur, após um simples escorregão no banheiro, por exemplo, é levado ao hospital, faz a cirurgia com a colocação de prótese, palavra mas recebe alta sem a devida explicação do motivo que ocasionou a fratura, a osteoporose. Quando questionado, ele enumera a queda como a causa imediata da fratura. Isso ocorre pelo desconhecimento dos médicos e da população, que não fazem a associação entre a fratura por baixo impacto, sobretudo de quadril, coluna e antebraço, com a osteoporose. Os FCR podem ser utilizados de forma isolada na identificação do risco para osteoporose? De modo geral, esses instrumentos têm dois propósitos fundamentais: melhor seleção de pacientes para realizar a densitometria óssea (diagnóstico precoce) e identificar aqueles de maior risco para fratura e, assim, melhor otimizar o início e a adesão ao tratamento (janela de oportunidade e eficácia terapêutica). Nossos resultados demonstraram que o SAPORI, desenvolvido na disciplina de Reumatologia da UNIFESP, é um instrumento simples, barato, útil e válido, em nosso meio, para identificação de mulheres, na pré, peri e pós-menopausa, com maior risco de osteoporose e fratura por baixo impacto. Pode ser utilizado como importante estratégia de saúde pública em nosso país, possibilitando que medidas preventivas e terapêuticas possam ser instituídas precocemente, diminuindo o impacto socioeconômico da osteoporose e das fraturas por fragilidade óssea. De acordo com o SAPORI, o número de exames realizados em mulheres de baixo risco seria minimizado em 50%. A ferramenta está disponível gratuitamente na homepage da UNIFESP [3,4]. Qual é o grau de importância entre os FCR? De acordo com as nossas pesquisas, os três mais importantes são idade, fratura prévia e a história familiar de fratura, entre os fatores não modificáveis. Já os fatores modificáveis após a intervenção médica são: tabagismo, sedentarismo e maior risco de quedas. A ingestão de nutrientes foi incluída entre os FCR. O senhor poderia comentar? Muita atenção tem sido dada à importância de alimentação adequada para a prevenção e o tratamento da osteoporose. Atualmente, sabe-se que não apenas o cálcio, mas outros nutrientes também estão relacionados com a saúde óssea, em especial proteínas, fósforo, magnésio e vitaminas D, K e A. A ingestão inadequada de cálcio e vitamina D pode comprometer a massa óssea, principalmente na fase de crescimento (infância e adolescência), mas também em indivíduos adultos. Nessa fase, a baixa ingestão desses nutrientes pode ocasionar elevação do paratôrmonio (PTH) e maior mobilização do cálcio do esqueleto para a corrente sanguínea, a fim de manter as outras funções biológicas desse mineral sobre a homeostase do indivíduo. Além disso, diversos ensaios clínicos têm mostrado que a suplementação do cálcio pode reduzir o grau de hiperparatireoidismo secundário, perda óssea e, também, o risco de fraturas por osteoporose. Quando há deficiência de vitamina D ou alteração no metabolismo desta, ocorre menor absorção de cálcio, elevação da produção do hormônio da paratireoide (PTH) e aumento na reabsorção óssea. E com relação aos demais nutrientes? A deficiência de magnésio pode afetar a atividade dos osteoblastos e osteoclastos interferindo na remodelação óssea. Além disso, estudos recentes têm demonstrado que pacientes com osteoporose apresentam elevados níveis de marcadores bioquímicos de deficiência de vitamina K, e estes associam-se ao maior risco para fraturas. Parece haver resposta positiva a doses moderadas de suplementação de vitamina K. 7 8 palavra A população está ingerindo teores recomendados desses nutrientes? O BRAZOS identificou importantes inadequações no consumo de nutrientes relacionados à saúde óssea, especialmente cálcio e vitamina D, em mulheres e homens brasileiros, com mais de 40 anos de idade, provenientes de todas as regiões e de diversas classes socioeconômicas. A ingestão diária de cálcio foi, em média, 1/3 daquela recomendada para o gênero e faixa etária. E, mais alarmante, 99% dos indivíduos tinham ingestão diária abaixo da recomendada (1.200 mg). A ingestão média de vitamina D foi equivalente a 1/4 da recomendação para o gênero e a faixa etária. Assim como o cálcio, a maior parte da população (99,3%) encontrava-se abaixo dos valores recomendados. Dessa forma, ao considerarmos a importância desses dois nutrientes para a saúde óssea e a relevante inadequação da dieta observada neste estudo, é primordial que mudanças simples e de baixo custo, como incremento da ingestão de alimentos ricos nesses nutrientes, bem como o uso de alimentos fortificados e de suplementos, em casos específicos, associados à otimização da exposição solar, em períodos de menor risco para a pele, podem ocasionar melhor adequação nutricional e maiores benefícios para a homeostase mineral e óssea. Quando o assunto é prevenção de osteoporose, quais alimentos não podem ficar fora do cardápio? Sem dúvida, os alimentos lácteos, que são as principais fontes biodisponíveis de cálcio. No entanto, de referências acordo com os dados do BRAZOS, esses foram os alimentos que mais faltaram no cardápio nacional. O tradicional “pingado de café com leite” de manhã, muitas vezes, foi a única refeição láctea relatada pela maioria dos brasileiros, especialmente os das classes C, D e E. Os vegetais verdes também são fonte de cálcio, entretanto eles não são tão biodisponíveis quanto os alimentos lácteos, devido à presença de fitatos e oxalatos, que reduzem a absorção ou o aproveitamento do cálcio desses alimentos. Peixes também são importantes fontes de cálcio. De que maneiras os profissionais de saúde podem colaborar com a prevenção? É prudente que profissionais de saúde, principalmente médicos, nutricionistas, educadores físicos e fisioterapeutas, estejam atentos às questões relacionadas com o metabolismo mineral e ósseo, especialmente no que diz respeito aos itens dietéticos e aos efeitos deletérios de suas inadequações, bem como àqueles relacionados com as atividades físicas. Recomenda-se, ainda, o incentivo para a ingestão de alimentos fontes de nutrientes relacionados com a saúde óssea, especialmente cálcio e vitamina D, independentemente da faixa etária, região do país e classe socioeconômica. Além disso, educar para a otimização da exposição solar, em períodos de menor risco para a pele, o que pode ocasionar melhor adequação da vitamina D, assim como combater o sedentarismo, tabagismo e alcoolismo. Acesse a entrevista na íntegra e os trabalhos publicados pelo Brazilian Osteoporosis Study. www.nestle.com.br/nestlenutrisaude/NestleBio.aspx [1] Pinheiro MM, Ciconelli RM, Martini LA, Ferraz MB. Clinical risk factors for osteoporotic fractures in Brazilian women and men: Brasilian Osteoporosis Study (BRAZOS). Osteoporos Int, 20:399-408, 2009. [2] Pinheiro MM. Como diagnosticar e tratar a osteoporose. Revista Brasileira de Medicina. 2008. Disponível online: http://www.moreirajr.com.br/revistas. asp?fase=r003&id_materia=3954 [3] Pinheiro MM, Reis Neto ET, Machado FS, Omura F, Szejnfeld J, Szejnfeld VL. Development and validation of a tool for identifying women with low bone mineral density and low-impact fractures: the São Paulo Osteoporosis Risk Index (SAPORI). Osteoporos Int. 2011 Jul 19. [Epub ahead of print]. [4] SAPORI. São Paulo Osteoporosis Risk Index. Disponível online: http://www.unifesp.br/dmed/reumato/sapori [5] Pinheiro MM et al. O impacto da osteoporose no Brasil: dados regionais das fraturas em homens e mulheres adultos - The Brazilian Osteoporosis Study (BRAZOS). Rev. Bras. Reumatol. 50(2): 113-120, 2010. [6] Pinheiro MM et al . Risk factors for recurrent falls among Brazilian women and men: the Brazilian Osteoporosis Study (BRAZOS). Cad. Saúde Pública. v. 26, n. 1, 2010. [7] Pinheiro MM et al. Antioxidant intake among Brazilian adults — The Brazilian Osteoporosis Study (BRAZOS): a cross-sectional study. Nutrition Journal. 10:39, 2011. [8] Pinheiro MM. Risk factors for osteoporotic fractures and low bone density in pre and postmenopausal women. Rev. Saúde Pública. Jun; 44(3):479-85, 2010. [9] Campolina AG et al. Quality of life among the Brazilian adult population using the generic SF-8 questionnaire. Cad. Saúde Pública. v. 27, n. 6, 2011. jan. calendário Clinical Nutrition Week 2012 >> 21 a 24 A cidade de Orlando, na Flórida (EUA), sedia este evento promovido pela American Society for Parental and Enteral Nutrition (A.S.P.E.N.) e dedicado à nutrição clínica e metabolismo. A agenda inclui quatro cursos pré-congresso e o workshop intitulado Using Nutrigenomics and Metabolomics in Clinical Nutrition Research. A programação completa e os detalhes para inscrição podem ser obtidos no endereço http://www. nutritioncare.org/ClinicalNutritionWeek/ >> Ao patrocinar e divulgar encontros científicos na área de Nutrição, a Nestlé espera contribuir para que os profissionais de saúde possam debater e compartilhar suas experiências a partir da produção acadêmica mais recente. Confira alguns dos principais eventos que vão ocorrer no primeiro semestre de 2012. mar. abril International Conference 9º Congresso Brasileiro Pediátrico on Nutrition & Growth de Endocrinologia e Metabologia >> 1 a 3 >> 17 a 20 O objetivo do encontro é discutir temas associados à gastroenterologia e à endocrinologia e a inter-relação entre nutrição e desenvolvimento na infância. A conferência será sediada em Paris (França) e as informações sobre inscrição e programação estão disponíveis no endereço http://www2.kenes. com/nutrition-growth/Pages/Home.aspx Organizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e pela Sociedade Mineira de Pediatria (SMP), o 9º Cobrapem será realizado em Ouro Preto, Minas Gerais. A prevenção estará no centro dos debates, cujos temas terão o objetivo de aprofundar o conhecimento nas áreas relacionadas ao crescimento, puberdade, genitália ambígua e desenvolvimento infantil. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 2256-6856 ou pelo e-mail imprensa@sbp.com.br 2º Congresso Latino-Americano sobre Controvérsias e Consensos em Diabetes, Obesidade e Hipertensão (CODHy) 12º Congresso Brasileiro de Alergia e Imunologia Pediátrica >> 22 a 25 O evento que acontece na cidade do Rio de Janeiro irá abordar aspectos epidemiológicos, diagnósticos e terapêuticos sobre as patologias em questão. O programa preliminar do Congresso e informações para inscrição estão disponíveis no site http://www.codhy.com/LA/2012/ >> 28 abr a 01 mai O encontro, realizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e pela Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), apresenta como temas centrais: alergia alimentar, alergia respiratória no lactente e diagnóstico precoce das imunodeficiências primárias. O congresso acontece na cidade de São Paulo e a data limite para envio de trabalhos é 31 de janeiro de 2012. Para informações sobre a programação preliminar e inscrições, acesse: http://www.alergoped2012.com.br/ foco por_ Luiza de Andrade fotos_Latinstock e Shutterstock “Amar é querer tanto, tanto uma pessoa, que parece sorvete”, diziam os registros do médico, escritor, teatrólogo (e outras coisas mais) Pedro Bloch (1914-2004), em seu caderno de notas. Era ali que anotava, obstinadamente, dizeres das crianças que atendia em seu consultório. Mais tarde, reunidos, deram forma a livros como o Dicionário de Humor Infantil. Foi nesse “dicionário” que ficaram cravadas as definições de palavras e palavras pela ótica de crianças de três a nove anos — com o que elas bem quisessem tirar de suas cabeças. E então surgiram comentários sobre o jardim zoológico: “O bicho que eu mais gostei, no jardim zoológico, foi o vendedor de sorvete”. Sobre o que é fácil e o que é difícil: “Fácil é comer sorvete; difícil é comer espinafre”. Ou então simples confissões: “Meu único defeito é gostar mais do meu avô do que de sorvete”. E montes de referências ao sorvete, vindas das mais aleatórias origens. Uma dizia, olha só, que a anestesia, “um remédio que não deixa a dor doer”, era a “maior invenção do homem, depois do sorvete”. Depois do sorvete! São histórias assim que embalam essa sobremesa gelada. Histórias que ficam presas ao imaginário, num canto feliz das memórias. Geralmente num canto feliz. Até Chet Baker (1929-1988), um dos mais celebrados trompetistas do cool jazz, chegou a deixar traçada, em seu diário, uma vaga ideia do que era a alegria de esperar, dia após dia, a chegada de sua mãe em casa, pela noite. Pois, depois da Depressão americana, sua família teve de se mudar para Oklahoma, e foi ali que sua mãe, enfim, conseguiu um emprego. Um emprego numa fábrica de sorvete. E era de lá que ela trazia, todas as noites, os mais “inimagináveis sabores”. Um trompetista mais de antigamente ainda — e mais carismático (!) —, Louis Armstrong (1901-1971), também deixou registrado um tanto da sua amigável relação com as crianças, que faziam filas e filas para lhe pedir autógrafos num restaurante chinês onde gostava de comer. Ele conta que tinha costume de brincar com os filhos dos vizinhos na varanda de casa e lhes agradar com picolés sempre que fizessem a lição de casa. foco O autor de Of Sugar and Snow — A History of Ice Cream Making (De Açúcar e Neve — uma história sobre como fazer sorvete), Jeri Quinzio, relata o frisson que causava toda santa vez ao contar sobre seu projeto, um livro sobre... sorvete. Arrancava sorrisos e histórias dos ouvintes. Alguns descreviam, ele conta, o esforço para virar a manivela de uma antiga máquina de fazer sorvete numa tarde de verão porque então poderiam lamber a batedeira quando o sorvete estivesse pronto. Outros relembravam a espera pelo familiar jingle do caminhão de sorvete quando eram pequenos e a dificuldade de escolher entre um sabor e outro. Relatos felizes, na maioria. Com exceção das bolas de sorvete que caíam do cone, na rua, diz. Os mais belos mitos É romântica a imagem de que os colonizadores da Sicília — gregos, romanos, sarracenos e espanhóis — escalavam o Etna, o maior vulcão da Europa, e dali colhiam neve, no mais rigoroso inverno, armazenavam-na em cavernas e, no verão, a recuperavam para refrescar vinho e essências adocicadas de frutas. E que daí tenha surgido o sorvete. Ou, antes disso, o conquistador macedônico Alexandre, o Grande (356-323 a.C.), tenha parado na antiga Petra (hoje cidade da Jordânia) e de lá ordenado que seus soldados enchessem de neve escavações feitas no solo para que ele pudesse gelar seus sucos de fruta. E que daí tenha surgido o sorvete. Ou então a história — que resiste aos anos — de que o imperador Nero (37-68 d.C.) tenha enviado seus homens para os Montes Apeninos, ao leste de Roma, para que de lá eles trouxessem neve que fosse capaz de gelar suas bebidas à base de vinho e frutas. E que daí tenha surgido o sorvete. Mais: o aventureiro Marco Polo também está metido nessas lendas da criação do sorvete. Dizem muitos escritos que é atribuí da a ele a ousadia de ter levado da China para a Itália a receita do sorvete, no século 13. 11 Há ainda a encantada história de Catarina de Médici (15191589), repetida à exaustão, com a mesma beleza de outrora. Os relatos contam que, quando a jovem Catarina mudou-se de Florença para Paris, ao casar-se com o duque de Orléans — que viria a ser o futuro rei da França —, trouxe consigo as receitas italianas de sorvete. Não só: trouxe seu cozinheiro florentino que, a cada banquete oferecido à nobreza, servia um sorvete diferente. Mas não passam de fábulas. O desmitificar Então o imperador Nero, como mostram os registros, inventou o sorvete porque gostava de comer neve com mel. Mas, veja, neve não é sorvete. Já Marco Polo deve mesmo ter experimentado algo que se chamou de sorvete na China do século 13. Mas ele não trouxe nenhuma receita ou informação sobre técnicas de congelamento de lá para a Itália. Se o tivesse feito, é certo que haveria referências em livros, em cartas, em diários da época. Não só. Se tivesse ensinado como diabos era possível congelar isso ou aquilo, não seria necessário que cientistas italianos, três séculos mais tarde (!), testassem técnicas de congelamento. A romântica história de Catarina de Médici — aquela citada acima, que conta que ela teria introduzido o sorvete na França quando se casou com o futuro rei Henrique — tampouco se sustenta. Se de fato seu cozinheiro tivesse levado às cozinhas da corte francesa a fórmula do sorvete, em 1533, quando chegaram a Paris, não haveria maneiras de explicar por que o famoso confeiteiro francês, Nicolas Audiger, teve de se deslocar até a Itália, um século depois da morte de Catarina, para aprender a fazer gelo. 12 foco Muito antes de o homem fazer sorvete, a neve e o gelo eram artigos de luxo. Itens bem cotados, difíceis de conseguir e de armazenar. Pode-se supor, por exemplo, que os italianos já soubessem, sim, fazer gelo. Ainda assim, naquela época, Catarina dificilmente ocuparia uma posição capaz de influenciar os hábitos alimentares franceses. Não só por ela — e seu marido — terem apenas 14 anos. Mas porque nem ao menos era esperado que Henrique fosse rei — ele era o filho mais novo do então imperador. Nas pesquisas do livro De Açúcar e Neve, Jeri Quinzio vai mais longe. “Catarina era considerada estrangeira e não tinha uma beleza muito encantadora.” Como poderia influenciar a sociedade daquela época até que a fizesse assimilar o costume de comer — e fazer — sorvete? Durante o reinado de seu filho, Henrique III, de 1560 a 1574, os franceses e os italianos eram encantados com o gelo e com a neve, é certo. Mas, até lá, não havia nenhuma, nenhuma evidência de que comiam sorvete naquela época. A neve, o gelo, os armazéns Foram nos jantares reais do século 17, na italiana Nápoles, que surgiram as mesas espetacularmente decoradas com pequenas fontes, pernis esculpidos em gelo dispostos em cestos de pasta de açúcar, pirâmides recheadas de frutas e flores, alcachofras decoradas com neve e com flores. De nada transparecia, naqueles suntuosos banquetes, a crise que começara a abater Nápoles, que ainda fazia parte do impé- rio espanhol àquela época. E então o trabalho com a neve e com o gelo acha espaço para se mostrar — um trabalho que depois evoluiria para o nascimento do sorvete. Eram naqueles jantares que estava reunida a vanguarda das novidades de todo o continente. E, diga-se, todas as grandes mudanças apontadas nas mesas reais contribuíram para a descoberta do sorvete. E foi nesse contexto próspero que o sorbetti virou coqueluche — a sobremesa da moda. Antes disso, porém, foi preciso dominar a técnica de congelamento. Aí, diz-se, é que está a verdadeira origem do sorvete: no momento em que o homem domina as técnicas de congelamento. Muito antes de o homem fazer sorvete, aliás, a neve e o gelo eram artigos de luxo. Itens bem cotados, difíceis de conseguir e de armazenar. Representavam status e eram, naturalmente, reservados a famílias abastadas. No século 15, por exemplo, as elites espanholas e italianas enviavam seus servos para as redondezas das montanhas para que colhessem neve. Em seguida, a empacotavam, a enrolavam em palha e a levavam nas costas das mulas para casa. Eram armazenadas, a princípio, em buracos escavados no chão, preenchidos com camadas alternadas de neve e palha e cobertos por pranchas de madeira. Mais tarde, os europeus construíram covas maiores e mais elaboradas, revestidas com tijolos ou madeira, dispostas em locais secos e frios — e geralmente íngremes, para que pudessem secar mais rapidamente. Não é muito difícil criar salas com bom isolamento térmico, na verdade. A terra é um bom isolante térmico, e poços ou porões permitem aproveitar isso bem. O mais comum era fazer um revestimento de pedra, para contenção (e que também é um material com má condução de calor), e encher o ambiente com a maior quantidade de gelo possível. foco Para ajudar ainda mais no isolamento térmico, usava-se palha ou outro material semelhante. Esses reservatórios eram capazes de manter o gelo por todo o verão, até que fosse colhida a neve do ano seguinte. Foram usados até o século 20 e, de fato, entregas de gelo em casa (e até mesmo importação de gelo em navios) foram comuns até os anos 1960, mesmo na Europa. Algumas das “casas de gelo” eram tão bem construídas que a água podia congelar, cremes podiam ser gelados e a água que derretia era reaproveitada para gelar o vinho que tivessem armazenado em “adegas” próximas. Foi no meio do século 16 que, depois de (bem) estabelecidos os meios para estocar neve, descobriu-se como o gelo e a neve eram capazes de congelar outras substâncias. Cientistas italianos aprenderam que submergir um contêiner de água num reservatório com neve que tivesse misturado nitrato de potássio ou salitre poderia congelar a água — com o tempo, cientistas e cozinheiros aprenderam que o sal comum poderia funcionar tão bem quanto o salitre. Por séculos a combinação de gelo e sal foi usada para congelamento — ainda hoje, alguns cozinheiros usam esse método artesanal quando querem fazer sorvete em casa. Usado para congelar vinho, no começo, foi esse simples princípio que tornou possível a cozinheiros e confeiteiros iniciarem seus experimentos com gelo. Foi a chave para que se encontrasse o rumo para sobremesas geladas —os iced cream — parentes bem mais próximos do sorvete que temos hoje do que a neve misturada aos aromatizantes, às frutas e ao mel. Cantinhos públicos Demorou, naturalmente, para que o sorvete se tornasse popular. E, por um longo período, foi artigo reservado à elite. Mesmo cozinheiros influentes tinham dificuldade de realizar seu preparo. Obter e armazenar gelo ainda era caro. Sal era caro — tinha uma das taxas mais altas da França e, quando utilizado, devia ser reaproveitado por muitas vezes. O açúcar tinha de ser purificado antes de ser usado. E, numa época sem refrigeração, leite, creme e ovos com frequência não eram frescos e podiam estragar. Até a água era um problema: precisava vir de um rio ou de uma fonte muito limpa. Graças ao Le Procope, considerado o primeiro café parisiense, os franceses tiverem acesso a 13 Cientistas italianos aprenderam que submergir um contêiner de água num reservatório com neve que tivesse misturado nitrato de potássio ou salitre poderia congelar a água. um local para consumir os gelados. Aberto em 1686 por Francesco Procópio dei Coltelli, um jovem siciliano outrora empregado de um armênio que vendia café numa tenda popular na principal feira de Paris, em Saint-Germain, o Procope rapidamente se transformou num ponto de encontro dos mais importantes literatos, políticos e artistas. Era ali que se reuniam Napoleão, Voltaire, Victor Hugo, Balzac e companhia para tomar café, chocolate quente, bebidas geladas e sorvete. No Brasil, bem mais tarde, a história que se conta é que, na primeira metade do século 19, aportou no Rio de Janeiro um navio americano com toneladas de gelo em blocos. Foram dois comerciantes que estocaram o produto e passaram a vendê-lo misturado a sucos de frutas. Em território nacional, os “causos” também estão associados à elite, como nas primeiras referências surgidas sobre os doces gelados na Europa. Diz-se que a mistura era motivo de filas na porta da confeitaria da Rua do Ouvidor, no centro do Rio. Mais tarde, tornou-se costume moças pomposas circularem pela antiga capital em direção à Capela Imperial uma vez por semana. Todas as sextas-feiras, dirigiam-se à igreja para ouvir música religiosa, “tomar sorvete e conversar com os rapazes”, relata o sociólogo Gilberto Freyre em “Açúcar”. Igrejas católicas tornaram-se, assim, espaços de socialização “e até de namoro, em torno do sorvete ou do creme gelado”. Em uma era industrial Confeitarias estavam surgindo nos Estados Unidos, de Boston à Filadélfia — mas, naquele século 19, os europeus ainda tinham de encorajar seus colonos a consumir sorvete. Na Filadélfia, polo da produção pela facilidade de fornecimento de ingredientes vindos de fazendas vizinhas, a receita consistia em creme, açúcar e uma variedade de sabores — mas não ovos. 14 foco O sorvete era ainda algo incomum. Mas, na virada do século 20, se tornou um elemento presente em cafés, tavernas e salões. Estes seduziam seus clientes com a promessa de sorvete, aliás. Relatos o descreviam como de “alta qualidade, por um preço que se podia pagar”. Não demorou muito até que viajasse para o interior e chegasse a áreas afastadas. A era do sorvete em grande escala estava próxima — em breve, ele deleitaria tanto ricos como aqueles que, antes, não podiam pagar por seu preço. A uma americana chamada Nancy Johnson foi creditada a invenção de uma máquina que reduzia em muito o tempo do preparo de sorvete, em meados do século 19. Era o marco da manufatura. Uma década mais tarde, surgiam fábricas dedicadas exclusivamente ao sorvete. No Novo Mundo, ao contrário da França e da Itália, pátrias dessa sobremesa, o sorvete encontrou o espírito empreendedor e tornou-se uma oportunidade de negócio. Se na Europa era preparado artesanalmente, em pequena escala, com receitas transmitidas entre gerações, nos EUA ele abraçou a tecnologia moderna. Ainda que sem a sofisticação gastronômica de antes, sem a riqueza da textura do gelato italiano, os americanos proveram o sorvete para as multidões — e a grande massa de clientes mostrava-se cada vez mais insaciável. E foram justamente mudanças que tiveram o antigo continente como cenário que contribuíram com essa “revolução gelada”. Na Itália, por conta da agitação política e da fome, muitos deixaram seu país. Em busca de melhores condições em terras distantes, os bibliografia imigrantes começaram a fazer o que sabiam de melhor — sorvete. Conhecidos como hokey pokey no último quarto do século 19, esses vendedores itinerantes tinham invadido as ruas de cidades como Nova York — ali havia 4.000 desses profissionais em 1828, segundo registros. Sem dúvida, nesse momento era mais fácil fazer e vender sorvete, mas ainda era necessário coletar gelo de regiões distantes e armazená-lo. Em 1886, mais de 25 milhões de toneladas de gelo foram colhidas nos Estados Unidos. Na metade do século 19, europeus já admitiam que os EUA eram a “terra do sorvete”. Era chegado o tempo do sorvete em cone, do sundae, da soda-creme e do picolé. Uma das grandes instituições a contribuir com essa fama foi a das soda fontains ou as lojas em que eram vendidas água com bolhinhas, que se tornaram populares tanto na Europa quanto na América. Em 1900, eram as farmácias que vendiam o produto. Mas, ao descobrirem que a combinação de soda com sorvete fazia sucesso, logo mudaram sua vocação. Poucos anos depois, durante a “Proibição” (período nos EUA em que a venda e a produção de álcool foi banida), esses estabelecimentos ganharam impulso. Salões retiraram itens alcoólicos do cardápio e incluíram as sodas — e, claro, os sorvetes. Do mesmo modo, fabricantes de cerveja se converteram em produtores de gelados. Quando a “Proibição” chegou ao fim, em 1933, esses estabelecimentos já haviam se espalhado por praticamente todas as cidades norte-americanas. A fama das receitas reproduzidas nas soda fountains não se restringia apenas aos pobres mortais. Também chegara aos estúdios de Hollywood, apontavam cronistas sobre os ídolos da época. E, a despeito de diretores vociferando sobre o aumento do manequim de atrizes, o sorvete despertava paixões. Foi o caso da estrela sueca Ingrid Bergman, que, segundo registrou o “Washington Post”, era “viciada” em sundae com uma bela cereja. Não, não era à toa. Sorvete cativava arrebatados fãs. Mas poderia ser listado entre as (boas) contravenções também. É como disse o escritor norte-americano Bill Bryson: “Eu sempre pensei que, quando crescesse, você poderia fazer tudo o que quisesse — ficar acordado a noite inteira e comer sorvete direto da embalagem”. Açúcar: uma Sociologia do Doce com Receitas de Bolos e Doces do Nordeste do País, de Gilberto Freyre; Dicionário de Humor Infantil, de Pedro Bloch; Ice Cream: a Global History, de Laura B. Weiss; Larousse Gastronomique: the Encyclopedia of Food, Wine & Cookery, organização Jöel Robuchon; Memórias Perdidas, de Chet Baker; Mil-Folhas — História Ilustrada do Doce, de Lucrecia Zappi; Pops — A Vida de Louis Armstrong, de Terry Teachout; O Homem que Comeu de Tudo, de Jeffrey Steingarten; Of Sugar and Snow: A History of Ice Cream Making, de Jeri Quinzio; The Oxford Companion to Food, de Alan Davidson. qualidade MyPlate: novo ícone para seleção de alimentos Recentemente o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) disponibilizou uma nova imagem para representar os princípios das escolhas alimentares saudáveis: MyPlate. Desde 1940, os EUA selecionam ícones que representam, de modo prático, seus guias alimentares, denominados DGA (Dietary Guidelines for Americans). Nos últimos vinte anos, o USDA utilizou-se do desenho da Pirâmide dos Alimentos e, em 2005, em uma revisão do ícone, “verticalizou” os grupos alimentares, o que não foi bem avaliado pela comunidade científica, pois o objetivo educacional do desenho foi prejudicado. No entanto, nessa revisão, a publicação passou a disponibilizar em um site (my pyramid.com) planos alimentares que podiam ser individualizados segundo sexo, idade e nível de atividade física, em quantidades de energia e exemplos de cardápios. Mas o que mudou com a substituição da pirâmide por “um prato”? Praticamente apenas o desenho, pois foram mantidas as porções dos cinco grupos de alimentos (grãos, vegetais, frutas, lácteos e proteínas) e os exemplos de planos alimentares individualizados. A principal mudança não está relacionada ao ícone, mas às mensagens que se encontram junto ao prato, que estão voltadas para os principais problemas de Saúde Pública relacionados com escolhas alimentares (obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares). As três mensagens são: 1) Procure o equilíbrio de calorias: aproveite suas refeições, coma menos e evite porções grandes; 2) Alimentos para consumir mais: monte seu prato com metade de vegetais e frutas; metade dos grãos que consumir, escolha integrais; mude o leite e seus derivados para aqueles sem gordura ou com 1% de gordura. 3) Alimentos para consumir menos: compare sódio de alimentos industrializados e pães e escolha aqueles com menores teores; beba água em vez de bebidas adoçadas. Sem dúvida que o prato é muito prático para a composição de refeições como almoço e jantar, e os cinco grupos que o compõem representam bem as opções alimentares da população americana. Mas, como usar em nosso meio? Na prática, precisamos de adaptações, pois não apenas o “nosso prato” é diferente, mas as porções e as medidas usuais que utilizamos. Composto por arroz e feijão, carnes, legumes e verduras, não utilizamos o termo “grãos” para pães, arroz e massas. O feijão é vegetal, mas em nosso prato, combinado com o arroz, tem o papel também de melhorar a qualidade da proteína, além de ser fonte de fibras, vitaminas e minerais. E a proteína? O termo confunde o uso dos princípios dos grupos, pois proteína é nutriente, não grupo de alimento. O leite continua um alimento presente na quantidade mínima de três porções, destacando a importância da escolha de produtos com menores teores de gordura. Mas, junto com o prato (o que é comum na refeição americana), vem à tona uma antiga discussão da biodisponibilidade de ferro na presença de alimentos fonte de cálcio na mesma refeição. No dia a dia o que deve prevalecer é o uso da distribuição dos grupos alimentares adaptados à população brasileira (arroz e pães, legumes e verduras, frutas, feijões, carnes, leite e derivados, gorduras e açúcares). Os grupos que nos acostumamos a usar devem ser distribuídos de forma inteligente entre as refeições diárias (nem sempre realizadas em “um prato”). O prato, que já usamos para orientar a composição do almoço e jantar (arroz, feijão, carne magra e hortaliças) é mais uma ferramenta a ser adaptada e utilizada para a promoção da saúde de nossa população. 15 ponto de vista Profa. Dra. Rita de Cássia de Aquino Docente da Universidade São Judas Tadeu no Mestrado de Ciências do Envelhecimento Docente do Curso de Graduação em Nutrição na disciplina de Dietoterapia das Universidades São Judas Tadeu, Cruzeiro do Sul e Municipal de São Caetano (USCS). “Meu Prato”: Conheça em detalhes o novo ícone que substituiu a “Pirâmide” no Guia Alimentar do United States Department for Agriculture (USDA). www.nestle.com.br/nestlenutrisaude/NestleBio.aspx conhecer por_ Alfaro Dantas Momentos de uma história de valor A Nestlé e os Profissionais de Saúde no Brasil Desde a criação e o desenvolvimento de seu primeiro produto, a Nestlé manteve um intenso e produtivo relacionamento com médicos e outros profissionais da área de saúde. Ainda no século 19, foram eles que testaram e aprovaram as amostras de Farinha Láctea enviadas por Henri Nestlé, antes que ela Diário de 1930 oferecido fosse lançada. aos médicos, com imagens de Henri Nestlé, do primeiro Na trajetória da Nestlé no laboratório em Vevey e da casa dos diretores na Brasil, uma ativa e contínua assoFábrica Nestlé de Araras ciação entre a indústria e a ciência, entre os colaboradores da Nestlé e médicos, nutricionistas e outros especialistas dos mais diversos Estados, universidades e órgãos públicos, propiciou a criação de um ambiente de estreita e produtiva cooperação. Um efetivo compartilhamento de valores, informações e conhecimentos científicos que contribuiu para o desenvolvimento da Pediatria, da Nutrição e da Saúde no país. conhecer 67 anos atrás Foi em plena Segunda Guerra Mundial, no ano de 1944, que a Nestlé lançou no Brasil os Anais Nestlé, revista especializada, dirigida aos médicos do país. Na ocasião, a Companhia já contava com publicações semelhantes em vários países em que atuava. Na França, havia os Annales Nestlé e, na Argentina, os Anales Nestlé, distribuídos na América Latina. A publicação divulgava artigos de médicos brasileiros e do exterior sobre temas de pediatria e de puericultura e, especialmente, assuntos relacionados à nutrição e à alimentação infantil — em uma época na qual o país começava a consolidar os primeiros estudos e a esboçar as primeiras políticas públicas neste campo. Além desta iniciativa, no entanto, a Nestlé almejava contribuir diretamente para o avanço da saúde da população, apoiando e incentivando pesquisas e a própria formação na área. Foi assim que, em 1951, a empresa propôs à Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) a criação de um prêmio para apoiar e estimular o estudo de questões relacionadas à infância. A solenidade de entrega da primeira edição do Prêmio Nestlé de Pediatria e Puericultura, em 1952, coincidiu com a posse da nova diretoria da SBP e o início de sua atividade como entidade efetivamente nacional, reunindo pediatras de todo o Brasil. A Sociedade — associação científica dedicada ao estudo dos problemas e das patologias infantis — fora fundada em 27 de julho de 1910, mas até os anos 1950 era eminentemente local, uma vez que seus associados residiam no Distrito Federal (na época a cidade do Rio de Janeiro) e municípios próximos. Se naquele ano os dois trabalhos premiados tinham como tema “Da influência dos Leites Ácidos sobre a Flora Intestinal do Lactente” e “O problema da Hemofilia em Pediatria”, em 1954 a láurea foi dividida entre o vencedor do tema oficial, “As anemias alimentares da criança e possíveis recursos dietéticos brasileiros na sua prevenção”, e do tema livre, “Estudo sobre a 17 proteção do recém-nascido contra o tétano umbilical pela imunização ativa da gestante com anatoxina tetânica” — sugerido pela Organização Mundial da Saúde. Os artigos propostos e premiados tratavam, portanto, de aspectos de grande relevância para a saúde e a nutrição infantil. E, como se ressaltou à época, refletiam “(...) uma colaboração preciosa à custa da qual se faz o progresso visível da civilização: a colaboração entre a ciência e a indústria, estimulando a investigação nos mais variados campos científicos para o enriquecimento da cultura e melhoria do nível de vida da humanidade”. Nos anos 1950, ainda, o desenvolvimento de uma parceria sistemática entre a Companhia e a Sociedade Brasileira de Pediatria levaria à criação dos Cursos Nestlé de Atualização em Pediatria e dos Cursos Nestlé de Pediatria Social — referências de ensino e atualização na área que contribuíram para a formação de gerações de profissionais no país. Curso Nestlé de Atualização em Pediatria Em 1956, o arrojado Plano de Metas apresentado por Juscelino Kubitschek gerava grande expectativa por dias melhores. A promessa de um desenvolvimento de cinquenta anos em apenas cinco de governo tinha, afinal, como pano de fundo, uma precária realidade: a maior parte da população brasileira vivia no campo, sem assistência médico-hospitalar e as taxas de mortalidade infantil e desnutrição eram enormes. Ao mesmo tempo, metade dos municípios brasileiros não tinha médicos e os poucos serviços públicos em condições de prestar atendimento com qualidade concentravam-se no Rio de Janeiro, capital do país, e em São Paulo. Foi neste contexto que se deu o encontro de Oswaldo Ballarin — Presidente da Nestlé à época — com um grupo de médicos brasileiros que participavam de um congresso de pediatria na Europa. Bioquímico de formação, Ballarin manifestou sua preocupação com a debilidade do atendimento de saúde no interior do país e com o isolamento dos poucos centros de ensino de pediatria. Oswaldo Ballarin, diretorpresidente da Nestlé (foto abaixo), discursa na abertura do primeiro Curso Nestlé de Atualização em Pediatria, 1956 (foto acima). 18 conhecer Dois dos médicos presentes, ambos professores de pediatria no Rio de Janeiro, ficaram particularmente sensibilizados: Dr. Walter Telles, que clinicara pelo interior de Minas Gerais, propôs o apoio da Nestlé na realização de cursos de pediatria por todo o país, e Dr. Álvaro Aguiar, Presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, endossou imediatamente a proposta. Com a concordância de Ballarin, nascia ali o Curso Nestlé de Atualização em Pediatria. Em sua primeira edição, o curso realizado no Rio de Janeiro teve a participação de 27 professores de pediatria de todo o país. A programação englobava 50 aulas ministradas no Instituto de Puericultura da Universidade do Brasil, no Departamento Nacional da Criança, na Faculdade de Medicina e Cirurgia e na Policlínica Geral do Rio de Janeiro. No ano seguinte foram oferecidos cursos em São Paulo e Recife e, em 1958, em Salvador e Belém. Em 1959, foi a vez de Porto Alegre e de Belo Horizonte. Estes cursos tiveram a duração de um mês e se destinavam principalmente aos médicos da região sede do encontro. Depois de promovido em grandes cidades, o curso passou a ser oferecido em localidades do interior. Reunião Brasileira de Estudos do Recém-Nascido, realizada em 1968, na cidade de São Paulo. Oswaldo Ballarin cumprimenta Walter Telles, pediatra responsável, em nome da Nestlé, pela coordenação dos cursos Como se veria em toda a sua existência, os cursos abordavam as questões de saúde mais relevantes, incorporando os conhecimentos de ponta que a medicina oferecia à época. Deste modo, nos primeiros cursos foram tratados temas gerais de puericultura e de nutrição, além de assuntos específicos e de especial atenção naquele momento. Destacaram-se, por exemplo, o incremento da poliomielite e o surgimento, nos anos 1940 e 1950, dos primeiros antibióticos produzidos industrialmente: inicialmente a penicilina e, em seguida, a estreptomicina, eficaz no tratamento da tuberculose, doença até então sem tratamento efetivo. Contando com participação de cerca de 4.000 pediatras e fiel aos princípios que balizam mais de meio século de sua existência, o Curso Nestlé de Atualização em Pediatria celebrou, em 2011, sua 68a edição. A Nestlé leva atualização em pediatria para todo o país; como à cidade de Belém, em 1969, e à cidade de Curitiba, em 2011. Nestlé e a Pediatria Social O apoio e o interesse das secretarias estaduais de Saúde exerceram influência no próprio programa do Curso Nestlé de Atualização em Pediatria, que passou a incluir temas de saúde pública, de medicina preventiva e de organização sanitária. Como extensão disso, em abril de 1967 foi promovido na sede da Nestlé, em São Paulo, o pioneiro Curso Nestlé de Pediatria Social — primeiro do gênero realizado no Brasil sob o patrocínio de uma empresa e dirigido a 44 médicos catedráticos ou assistentes de cátedra das faculdades de medicina de todo o país. O curso teve o apoio das faculdades de medicina de São Paulo e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior — Capes. O programa era embasado na Declaração dos Direitos das Crianças, aprovada pela Assembleia-Geral das Nações Unidas em Programa do Curso de Pediatria Social promovido pela Nestlé em 1967 conhecer Publicações da Nestlé levam o conhecimento de puericultura e de medicina também a outros profissionais, como as professoras, 1966 novembro de 1959, tratando de desafios da infância no país e no mundo. Nos anos 1960, a Nestlé ofereceu ainda bolsas de estudo para médicos residentes em serviços de pediatria de Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, a Companhia também proporcionava cursos, palestras e publicações para outros profissionais ligados à nutrição e ao cuidado com a criança, como enfermeiros e educadores. Nesta linha, pode-se citar Professora ajuda o pediatra, de 1966, escrito pelo Dr. Walter Telles, com informações e orientações de medicina, psicologia e puericultura. E Dados de interesse Pediátrico e vademecum Nestlé, que difundia conhecimentos de especialistas sobre maturação neurológica do lactente e tabelas de referência para valores sanguíneos entre outras informações. Além de aspectos técnico-científicos da linha nutrição infantil da Nestlé. Sólidos vínculos, novas parcerias Na década de 1970 teve início a publicação de Temas em Pediatria, focada em desafios do dia a dia do pediatra, e de O pediatra e sua clínica particular — uma coletânea de artigos redigidos por professores do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e do Instituto da Criança, destinada a residentes e estagiários de pediatria. Mais do que iniciativas isoladas, tais publicações ecoavam um relatório de 1971 no qual a Nestlé sistematizou os conceitos que lastreavam o apoio e as parcerias com os pediatras e outros profissionais e áreas da saúde. A Companhia tinha plena consciência de sua responsabilidade em relação à saúde pública no Brasil, por isso vale a pena conhecer um trecho do mesmo: “Evidencia-se em escala mundial a convergência das atenções, nas esferas oficiais e privadas, para assuntos de alimentação humanos. Operar na indústria alimentar requer uma consciência adequada ao papel que essa indústria desempenha a bem do interesse geral. A nossa empresa tem procurado fazê-lo na continuidade de sua existência (...). Assim, por exemplo, cumpre relembrar que a nossa indústria valoriza e revaloriza o produto agropecuário, tirando-o do seu estágio primário, estandartizando-o, enriquecendo-o, qualificando-o, enobrecen- 19 do-o, elevando-o, enfim, a uma condição mais avançada de valor nutritivo, preparação para consumo e de conservação. Para que isso possa ser feito de modo convenientemente seguro e adequado, a indústria deve estar apta, de um lado, às determinações de caráter científico, que se legitimam pelas suas origens expurgadas de dúvidas e contestações. E, de outro, mediante a adoção dos requisitos técnicos adequados sem cujo atendimento corre, a iniciativa industrial, o risco de se ver superada por técnicas mais aperfeiçoadas e modernizadas. (...) Em se tratando, então, de produtos para uso na nutrição infantil e na de regimes alimentares, como os que constituem um dos mais importantes setores da atividade industrial de nossa empresa, os pediatras e nutrólogos ocupam, no conjunto deste processo de intercâmbio, posição de realce e respeitabilidade. Nesse plano de preocupações, a empresa sente-se feliz em continuar a tradição já de vários anos de prestar seu concurso em atividades conducentes ao aperfeiçoamento cultural e profissional na Pediatria e cátedras a ela conexas”. A Jornada Brasileira de Puericultura e Pediatria chega à sua 13a edição, Porto Alegre, 1964 De acordo com esta diretriz, a Nestlé não apenas embasou iniciativas ampliadas nos anos e décadas seguintes, como também consolidou o vínculo e compromisso da Companhia com a formação de pediatras e o desenvolvimento da infância no país, com médicos das mais diferentes especialidades, profissionais da saúde, entidades acadêmicas e associações de classe. 20 conhecer revista Nestlé.Bio. Com uma tiragem de 40.000 exemplares, distribuídos para profissionais de saúde e instituições de ensino de todo o país, a Nestlé.Bio chega à sua 15a edição honrada de poder contar com a colaboração de acadêmicos, escritores, jornalistas e ilustradores tão admirados em suas respectivas áreas de atuação. É impossível destacar um artigo ou um colaborador, mas não há como deixar de lembrar a contribuição de duas pessoas extraordinárias que, pesarosamente, não estão mais entre nós: a médica fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa, Dra. Zilda Arns, e o médico sanitarista e escritor, membro da Academia Brasileira de Letras, Dr. Moacyr Scliar. Presença da Nestlé em Congresso Brasileiro de Nutrologia promovido pela Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) em São Paulo, 2011 Entre elas, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), a Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN), a Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE), a Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos (SBCTA), Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN) e a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e o Conselho Regional de Nutricionistas (CRN-3a Região). Todos os profissionais de saúde pertencentes a estas entidades científicas são visitados regularmente por equipes de Representantes Nestlé, altamente capacitadas, levando informações sobre nutrição às diferentes especialidades (acima citadas). Prêmio Henri Nestlé Na biografia de Henri Nestlé (18141890) destaca-se o fato de que, atento aos altos índices de mortalidade infantil, iniciou seus estudos de química e farmacologia com o intuito de mitigar este gravíssimo problema. Seu empenho seria recompensado pelo desenvolvimento da Farinha Láctea e de outros produtos que se tornaram referência mundial em nutrição. Fazia todo sentido, portanto, que a criação de um prêmio para coroar o vínculo histórico da Companhia com a comunidade científica brasileira prestasse um tributo a ele também. Instituído em 2007, o Prêmio Henri Nestlé — com o objetivo de fomentar e divulgar a produção científica brasileira na área de Alimentos, Nutrição, Saúde e Bem-Estar — recebe trabalhos inscritos nas categorias temáticas Nutrição em Saúde Pública, Ciência e Tecnologia de Alimentos e Nutrição Clínica. O acolhimento do prêmio, cuja comissão julgadora reúne alguns dos mais prestigiosos acadêmicos do país, se fez notar logo em sua segunda edição, quando o número de trabalhos inscritos apresentou um incremento de 43%. Em seu conjunto é possível observar temas e abordagens os mais diversos, o que revela a pluralidade do prêmio e do olhar que orienta a pesquisa brasileira na área de Nutrição e Saúde. Já foram contemplados, por exemplo, Revista Nestlé.Bio crianças em idade pré-escolar Zinco na População em idade escolar Gastronomia molecular a química e a física no universo das panelas Cacau treze anos de pesquisas clínicas e experimentais Análise sensorial uma viagem da língua ao sistema nervoso 14 global do paciente abordagem psiquiatria uma Nutrição em e Adélia Prado a de Cora Coralina 40 anos A cozinha poétic ão dos últimos bertas As maiores desco em nutriç nais de Saúde • ano 5 • nº 13 • janeiro Fome oculta do Brasil e no Mun O impacto no central Epigenética e Escolhas que influenciam nossos genes destinada aos Profissio ano 5 • nº 14 de Saúde • Profissionais destinada aos Publicação Iodo em crianças nutrição e os genes de nossos Publicação • maio 2011 Deficiência de Deficiência de A beleza imaterial dos movimen tos e os desafios concretos da nutrição 2176-8463 Vitamina A em idade pré-escolar Paulo • ISSN crianças em • São Paulo de ferro) em 2011 • São Deficiência de Anemia (deficiência Publicação destinada aos Profissionais • ISSN 2176-846 3 de Saúde • ano 3 • nº 9 • agosto 2009• São Paulo No início de 2006 deu-se início à gestação do projeto editorial que buscava estabelecer um espaço reservado para a troca de informações e experiências em nutrição e saúde. Como já vimos, iniciativas como esta constituem uma tradição para a Nestlé Brasil desde os anos 1940. Restava, contudo, o desafio de fazê-lo de modo contemporâneo, sintonizado à visão holística que predomina na promoção da saúde, intermediada pela nutrição. Em setembro daquele ano, na abertura do Pas de deux X Congresso Brasileiro de 9 Nutrologia, nascia, então, a 13 Nutrição e disfagia em idosos hospi Flores come talizados primeir stíveis beleza, o consenso brasilei simbol Veg ismo ro filhos tamb ém conhecer desde o estudo sobre o estado nutricional e a frequência de alergias no primeiro ano de vida — chamando a atenção para a importância de políticas de incentivo e concientização do aleitamento materno e da introdução adequada de alimentação complementa — até a pesquisa que utilizou animais obesos e diabéticos, induzidos por uma dieta rica em gordura, para mostrar a contribuição dos ácidos ômega-3 e ômega-6 na reversão do processo por meio da modulação hipotalâmica associada à fome e à termogênese. Realizado a cada dois anos, o Prêmio Henri Nestlé encontra-se com as inscrições abertas e terá sua cerimônia de premiação em 2012. Portal Nestlé para Profissionais de Saúde Fruto da experiência acumulada em mais de seis décadas com profissionais da área da saúde, a Nestlé disponibiliza, também através de meios digitais, informações diferenciadas aos profissionais de saúde, como por exemplo, o website de Nutrição Infantil dedicado exclusivamente aos pediatras e nutricionistas. E, em 2010, constituiu uma plataforma eletrônica voltada àqueles que lidam, no seu dia a dia, com questões ligadas à nutrição, saúde e bem-estar. Na raiz do projeto está a ambição de ver reunido, em um só endereço, um conjunto de informações e ferramentas, encontrados apenas de maneira dispersa pela Internet. Constantemente atualizado, o Portal Nestlé Nutri Saúde inclui artigos e análise crítica sobre os mais recentes e importantes trabalhos publicados na área. As contribuições científicas de pesquisadores do Nestlé Research Center também podem ser objeto de consulta, assim como o conteúdo de inúmeros Simpósios e Encontros promovidos pela Nestlé. No espaço dedicado à Educação Alimentar encontram-se diferentes guias e iconografias, utilizados no Brasil e no mundo. Na seção Tabelas e Diretrizes, o usuário tem acesso às principais tabelas de composição química dos alimentos e recomendações de nutrientes disponíveis para consulta on-line — assim como a documentos de associações de saúde que têm por objetivo orientar condutas diagnósticas, preventivas e terapêuticas. Além da Nestlé.Bio on-line, o Portal oferece, ainda, ferramentas que se destinam à avaliação e ao diagnóstico nutricional — pontos de partida para a prescrição dietética que levam em conta dados fisiológicos e patológicos do paciente. Como, por exemplo, modelos de anamnese nutricional e de inquéritos dietéticos consagrados na literatura científica. 21 Vencedores, Comitê Científico e o anfitrião do evento, o Presidente da Nestlé Brasil, Ivan F. Zurita, celebram a entrega do Prêmio Henri Nestlé — 2ª edição A história que permeia o vínculo ético entre a Nestlé e os profissionais de saúde renova-se a cada dia e não pode ser narrada no limitado espaço deste artigo. É preciso destacar, contudo, que é este relacionamento que permite à Companhia seguir, a passos firmes, com aquela que é sua vocação primordial: promover nutrição, saúde e bem-estar para os brasileiros de todo o Brasil. Conheça um pouco mais desse capítulo fundamental na história da Nestlé, por meio de vídeos e documentos. www.nestle.com.br/nestlenutrisaude/NestleBio.aspx qualidade Por_Maria Fernanda Elias Llanos Hipolactasia e intolerância à lactose A ação de hidrólise promovida pela enzima lactase-florizina hidrolase é fundamental para que a lactose, um dissacarídeo presente exclusivamente no leite dos mamíferos, seja absorvida e utilizada de maneira eficaz pelo organismo, na forma dos monossacarídeos glicose e galactose [1]. A diminuição da atividade dessa enzima no intestino é denominada hipolactasia. Estima-se que sua prevalência na população mundial seja de aproximadamente 70%, sendo frequente a ausência do diagnóstico. A hipolactasia pode resultar em um quadro de intolerância à lactose [2,3]. Concentrada na superfície apical dos enterócitos, na borda em escova do intestino delgado, a lactase tem sua maior expressão no ponto médio do jejuno. Na oitava semana de gestação, já é possível detectar a atividade da enzima no intestino, sendo que ela aumenta gradativamente, atingindo o pico de expressão próximo ao nascimento [4]. Foram identificadas três etiologias para a hipolactasia, ou deficiência de lactase: congênita, primária e secundária. Extremamente rara, a disfunção congênita é autossômica recessiva e está associada com uma atividade enzimática mínima, cuja terapia é totalmente dietética, considerando a exclusão da lactose desde o nascimento [5]. A deficiência primária é aquela que prevalece na maioria da população e se dá quando, após o desmame, ocorre uma redução geneticamente programada e irreversível da atividade da lactase (lactase não persistente) [3,6]. A hipolactasia secundária, ou adquirida, refere-se à perda da atividade da enzima decorrente de patologias que causam danos à borda em escova ou que aumentam significativamente o tempo de trânsito intestinal — como, por exemplo, doença celíaca, giardíase, doença diverticular do cólon, enterites infecciosas e doença inflamatória intestinal. Ao contrário da hipolactasia primária, a deficiência secundária é transitória e reversível [7]. Fisiopatologia Hipócrates foi o primeiro a descrever a intolerância à lactose, ao redor de 400 a.C. [8]. A condição é caracterizada por um desconforto gastrintestinal que ocorre após a ingestão de uma quantidade de lactose maior do que a capacidade do corpo em digeri-la e absorvê-la [9,10]. No passado, seu diagnóstico envolvia a dosagem de glicose sérica após a ingestão de solução de lactose. Atualmente, o teste do hidrogênio no ar expirado é considerado o padrão ouro por sua confiabilidade, custo e por não ser invasivo. O exame se baseia na produção de hidrogênio pela fermentação da lactose não absorvida: o hidrogênio entra na corrente sanguínea e é expirado pelo pulmão. Deve haver um preparo prévio do paciente que consiste no consumo de dieta não fermentativa (com restrição total de lactose); não utilização de antibióticos (por um mês) e cigarros; ausência da prática de exercícios físicos; jejum de 10 a 12 horas, podendo tomar água [11]. qualidade Para realização do teste, o paciente ingere uma quantidade de lactose via oral e ocorre a tomada de medida do hidrogênio expelido pelo pulmão no período basal e nos 60, 90, 120, 150 e 180 minutos subsequentes. A intolerância é diagnosticada quando ocorre o aumento de hidrogênio expirado em 20 partes por milhão (p.p.m.) em relação ao valor basal [11]. Os sintomas típicos observados em indivíduos com intolerância à lactose são decorrentes da passagem rápida do dissacarídeo para o cólon. No cólon, a lactose é convertida em ácidos graxos de cadeia curta, gás carbônico e gás hidrogênio pela microbiota. Essa fermentação da lactose leva ao aumento da pressão intracolônica, podendo ocasionar dor e distensão abdominal. A acidificação do conteúdo colônico e a elevação da carga osmótica, resultantes da lactose não absorvida, levam ao aumento do trânsito intestinal e podem resultar em diarreia. A intensidade dos sintomas, que também incluem flatulência e borborigmos, varia dependendo da quantidade de lactose ingerida. Em alguns casos, pode ocorrer a redução da mobilidade intestinal e a constipação, como consequência da produção de metano [12,13,14,15]. Epidemiologia e as etnias A intolerância à lactose está diretamente relacionada à etnia. Estudos arqueológicos propõem a hipótese histórico-cultural, em que a alta prevalência de indivíduos que produzem lactase na vida adulta (lactase-persistente) é resultado de um processo de seleção natural mais recente. Este seria responsável por possibilitar que determinadas populações, que nos seus primórdios dependiam da pecuária muito mais do que da agricultura, contassem com o leite como importante componente da dieta, principalmente em épocas de escassez de colheita [16]. Entre os adultos, as menores taxas de intolerância à lactose estão entre os norte-americanos, australianos e populações do Norte Europeu, variando entre 5% e 17%. Na América do Sul, África e Ásia, mais de 50% da população se caracteriza na condição de lactase não persistente. Em determinados países asiáticos, esse índice atinge quase 100%. Os pesquisadores chamam a 23 atenção para o fato de que a mistura étnica favorece a baixa prevalência de lactase não persistente, enquanto em grupos nativos ocorre o inverso [14]. No Brasil, 43% da população branca e mulata possui alelo de persistência da atividade da lactase, sendo a hipolactasia mais frequente entre negros e japoneses [11]. Estudos realizados com crianças entre 7 e 14 anos estimam uma prevalência média de 11% [17,18]. A razão de perda da atividade de lactase também varia de acordo com os grupos étnicos, mas o processo fisiológico envolvido nessas diferenças ainda não foi sugerido. Os chineses e os japoneses perdem de 80% a 90% de atividade enzimática entre os 3 e 4 anos subsequentes ao desmame. Entre os povos brancos norte-europeus, o mesmo processo pode levar de 18 a 20 anos [4]. Considerações nutricionais O Guia Alimentar para a População Brasileira e o Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam o consumo de três porções diárias de leite e derivados [19,20]. A exclusão dos produtos lácteos da alimentação em razão da hipolactasia pode levar à deficiência de nutrientes, uma vez que o leite e seus derivados são importantes fontes de proteínas, vitaminas, cálcio biodisponível e outros minerais [21,22]. Em muitos casos, indivíduos com lactase não persistente podem tolerar bem o consumo de produtos à base de lactose em quantidades modestas e, de preferência, combinados a outros alimentos, como café e cereais matinais [23]. A presença de cereais e outros sólidos na refeição, assim como a temperatura dos alimentos e os conteúdos energético e nutricional, podem alterar o esvaziamento gástrico e elevar o tempo de trânsito intestinal por várias horas. O maior tempo de exposição da lactose no intestino delgado pode levar ao aumento da atividade de hidrólise, em alguns indivíduos [14]. 24 qualidade O bom entendimento da complexidade e das diferentes características da intolerância à lactose, hipolactasia e seus sintomas é fundamental para que o clínico possa fazer as prescrições dietéticas necessárias, de maneira que garantam as demandas nutricionais. A Tabela 1 apresenta alguns mitos comuns sobre o tema. Para contribuir com o consumo das recomendações diárias de produtos lácteos, principalmente entre as crianças, a Nestlé lançou NINHO® Baixa Lactose. Desenvolvido em conjunto com o Centro de Pesquisa Nestlé-Suíça, o novo NINHO® contém 90% menos lactose e é fortificado com vitaminas C, A e D e ferro — 2 copos (400 ml) fornecem 60% das necessidades diárias de ferro*. *Valores diários de referência com base em uma dieta de 2.000 kcal. INFORMAÇÃO NUTRICIONAL — Porção de 200 ml (1 copo) Quantidade por porção Valor energético 120 kcal = 504 kj Carboidratos 9,3 g dos quais: açúcares*** 9,3g lactose*** 0,9g glicose*** 4,2g Proteínas*** 6,4g Gorduras totais 6,4g Gorduras saturadas 3,6g Gorduras trans não contém Fibra alimentar 0g Sódio 118mg Cálcio 237mg Ferro 4,2mg Vitamina A 187 μg RE Vitamina C 14mg Vitamina D 2,0 μg % VD (*) 6% 3% ** ** ** 9% 12% 16% ** 0% 5% 24% 30% 31% 31% 40% * % Valores Diários de referência com base em uma dieta de 2.000 kcal ou 8.400 kj. Seus valores diários podem ser maiores ou menores dependendo de suas necessidades energéticas. ** VD não estabelecido *** Açúcares naturalmente presentes nas matérias-primas. referências Tabela 1: Mitos comuns sobre intolerância à lactose e hipolactasia. Indivíduos com lactase não persistente devem excluir completamente os produtos lácteos da dieta. As pessoas com lactase não persistente nem sempre são intolerantes à lactose. Eles podem tolerar até 12 g de lactose, quando ingerida ao longo do dia e combinada com outros alimentos (p. ex., café, chá, cereais matinais). Lactase não persistente é uma condição rara. Até pouco tempo, acreditava-se nessa afirmação. Entretanto, atualmente, sabe-se que cerca de 70% da população mundial é lactase não persistente. O resultado negativo no teste de hidrogênio no ar expirado significa que o indivíduo pode tolerar qualquer alimento lácteo. O teste de hidrogênio no ar expirado nem sempre é capaz de confirmar a intolerância à lactose. A não excreção do hidrogênio ocorre em cerca de até 20% dos pacientes. Adaptado de Lomer MCE, Parkes GC, Sanderson JD. Review article: lactose intolerance in clinical practice — myths and realities. Alimentary Pharmacology & Therapeutics, 27: 93—103, 2008 Conheça contribuições recentes da Disciplina de Gastroenterologia do HC-FMUSP para a compreensão dos mecanismos etiológicos e fisiopatológicos na intolerância à lactose. www.nestle.com.br/nestlenutrisaude/NestleBio.aspx [1] Solomons NW. Fermentation, fermented foods and lactose intolerance. Eur J Clin Nutr 2002; 56 (Suppl. 4): S50–5. [2] Sahi T. Hypolactasia and lactase persistence. Historical review and the terminology. Scand J Gastroenterol. 1994;29 (Suppl) 202:1-6. [3] Enattah NS, Trudeau A, Pimenoff V, Maiuri L, Auricchio S, Greco L, et al. Evidence of still-ongoing convergence evolution of the lactase persistence T-13910 alleles in humans. Am J Hum Genet. 2007;81:615-25. [4] Matthews SB, Waud JP, Roberts AG, Campbell AK. 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Nutrição em psiquiatria Marcela Salim Kotait Nutricionista do Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (AMBULIM - IPq - HC FMUSP) Aprimoramento em Transtornos Alimentares do AMBULIM Nota do editor Toda intervenção nutricional tem como objetivo principal a proteção e a promoção de uma vida mais saudável, conduzindo ao bem-estar geral do indivíduo. O trabalho relacionado a pacientes psiquiátricos tem como base aquele desenvolvido no tratamento de transtornos alimentares e pode ser definido como um processo que envolve o monitoramento do estado nutricional do paciente e o tratamento no qual o nutricionista e a equipe multidisciplinar trabalham juntos para modificar comportamentos ligados à alimentação e ao peso do paciente [1,2]. O ganho de peso de pacientes psiquiátricos é um tema que exige conhecimento das causas relacionadas e uma intervenção apropriada para garantir o sucesso do trabalho [3]. Por meio da educação alimentar, procura-se ensinar a eles uma nova forma de encarar as escolhas alimentares, as quais devem associar à importância dos nutrientes e sua relação com a promoção da saúde [4,5]. Mas o foco principal é o comportamento alimentar. Para tanto, o tratamento segue a linha da terapia cognitivo-comportamental, uma vez que esclarece e ajuda na compreensão dos fatores emocionais/sociais relacionados à alimentação. Sabe-se que a mudança de padrão e comportamento alimentar nesses pacientes costuma estar alterada, e o nutricionista deve ajudar o paciente a entender suas necessidades nutricionais e a iniciar uma escolha alimentar apropriada, aumentando a variedade na dieta e restabelecendo comportamentos alimentares adequados. Dessa forma, trabalha-se a solução de problemas com o emprego de técnicas de modificação comportamental, apresentando situações inadequadas e incentivando propostas de soluções para elas [6]. A primeira parte deste artigo — Nutrição em Psiquiatria — foi publicada na edição de número 14 da Nestlé.Bio. 26 dossiê bio A cada consulta, as medidas antropométricas dos pacientes devem ser aferidas, juntamente com a avaliação do diário alimentar. Essa avaliação deve ser realizada em conjunto com o paciente, com subsequentes orientações de como organizar refeições e controlar possíveis compulsões alimentares, a fim de que se estabeleça um padrão alimentar apropriado. As orientações são gradativas, para que possam ser absorvidas, e a cada novo encontro são cobradas dos pacientes [1,7]. É importante que o paciente aceite a nutrição como ciência e entenda as orientações como forma de cuidado e não de controle [8]. A elaboração do diário alimentar é obrigatória, e seu uso tem sido adotado por nutricionistas em diferentes abordagens clínicas, uma vez que é um instrumento comportamental de automonitoração que permite ao paciente perceber e melhorar sua relação com o alimento, além de controlar sua ingestão diária. Segundo alguns autores, em pacientes com transtornos alimentares, esta ferramenta é estratégia muito importante no tratamento nutricional, pois se torna um documento pessoal, simbolizando a relação entre o terapeuta nutricional e o paciente, além de prover controle, disciplina e avaliação constante [9]. Desse modo, acredita-se que o mesmo valha para pacientes com outros transtornos pisquiátricos, e, já que não existe um modelo validado para seu tratamento, na prática clínica tem-se usado um diário alimentar baseado no Manual de Prevenção da Recaída [10], e no diário alimentar empregado para pacientes com transtornos alimentares [2] (Figura 1). Assim, o diário alimentar usado atualmente em psiquiatria permite ao paciente observar o caos alimentar no qual está situado: a falta de horários para refeições, o baixo valor nutricional e o alto valor energético das refeições, grandes quantidades de alimentação com baixa pontuação de fome, ambientes propícios para compulsões, relações de culpa por estar comendo, entre outros fatores. Uma vez que a medicação é parte integrante do tratamento desses pacientes, o provável ganho de peso deve ser considerado, e, assim, uma redução de danos relativos ao consumo alimentar, com o intuito de normalizar o valor energético total ingerido diariamente pelos pacientes, é indispensável [3]. As deficiências nutricionais devem ser observadas e em situações agudas a suplementação alimentar deve ser realizada. No restante dos casos, a meta é a de que o paciente possa progressivamente responsabilizar-se por sua alimentação e por seu estado nutricional. Alguns transtornos psiquiátricos possuem particularidades no tratamento nutricional, que são descritas a seguir: Transtornos alimentares (TA) Os TA são caracterizados por um padrão de comportamento alimentar gravemente perturbado, distúrbios da percepção do formato corporal e consequente controle patológico do peso. Essa ideia persistente Figura 1 — Modelo de diário alimentar Hora O quê? Quanto? Adaptado de : Knapp & Bertolotti, 1994; Alvarenga et al., 2004. Fome (0-10) Local Uso de drogas? Compensação? Pensamento/Sentimento dossiê bio 27 cador isolado de recuperação. É necessário que cessem também os episódios de compulsão alimentar e de purgações, quando presentes. Melhora da estrutura, padrão e atitude alimentar, normalização da percepção de fome e saciedade estão entre outros resultados. [16]. leva os pacientes a se engajarem em dietas restritivas e a utilizarem métodos inapropriados para alcançarem um corpo idealizado. Consequentemente, os pacientes têm um controle considerado patológico do peso corporal associado a distúrbios da percepção do formato de seus corpos, o que resulta em um comportamento alimentar gravemente inadequado. Costumam julgar a si mesmos e aos outros baseando-se quase que exclusivamente em sua aparência física, com a qual se mostram sempre insatisfeitos [11,12]. Costumam separar os alimentos em “bons” e “ruins” e apresentar vários conceitos alimentares inadequados. O tratamento nutricional deve ser dividido em duas fases, educacional e experimental. Na fase educacional, o objetivo é o de fazer uma anamnese detalhada, estabelecer o vínculo terapeuta-paciente, discutir alimentação, nutrição e regulação do peso, informar as consequências da restrição e dos comportamentos compensatórios inadequados e envolver a família no tratamento. Já a fase experimental deve ser tratada por nutricionista com formação específica em TA, uma vez que o foco é trabalhar a relação do paciente com os alimentos e seu corpo, mudar e adequar os comportamentos alimentares de forma gradual e adequar o peso de forma gradativa e ajudar o paciente a mantê-lo [13, 14, 15]. Durante as sessões, os pensamentos disfuncionais devem ser combatidos por meio de conhecimentos científicos [6]. O diário alimentar desses pacientes é um pouco mais detalhado do que em outros transtornos psiquiátricos. Mesmo nos pacientes com sobrepeso e obesidade (no caso da bulimia nervosa e transtorno de compulsão alimentar periódica) não é indicada a prescrição de dietas, uma vez que estas estão entre os principais fatores etiológicos precipitantes dos TA [16]. É importante lembrar que somente a adequação do peso não deve ser indi- Transtornos do humor e transtornos ansiosos Os Transtornos do humor estão associados a um alto custo pessoal, social e físico. Em relação ao prejuízo físico, podemos encontrar alterações no apetite, que em casos típicos se manifestam com a redução alimentar e em casos atípicos com a diminuição ou aumento do consumo alimentar, que muitas vezes é associado a compulsões por doces e chocolates [17]. A questão da alteração do peso nesses pacientes é tão significativa que chega a ser critério diagnóstico para a síndrome [15]. Nos transtornos do humor, o ganho de peso é multifatorial, e o nutricionista deve estar particularmente atento à medicação utilizada e aumento de sedentarismo — além, é claro, da alteração do apetite anteriormente referido. Esses pacientes normalmente têm uma labilidade emocional intrínseca à patologia que pode repercutir na má adesão ao tratamento. Entretanto, o nutricionista deve apontar todas as repercussões metabólicas causadas pela medicação, a fim de que entenda a importância do acompanhamento nutricional que é, inclusive, respaldado [18]. Uma vez que os transtornos ansiosos comprometem muito o sistema imune, o nutricionista deve estar atento ao equilíbrio nutricional, incentivando o consumo de alimentos saudáveis, que assegurem as necessidades energéticas, proteicas, vitamínicas e minerais do paciente. 28 dossiê bio Em ambos os transtornos, é importante também que o profissional estimule o paciente a perceber a diferença de “estar com fome” e “querer comer por outra motivação”, por exemplo, se sentir “vazio”, angustiado, ansioso, entre outros, e ajudá-lo a encontrar outras maneiras de resolver esses problemas que não seja por meio de compulsões alimentares. Além da dieta, o nutricionista deve reforçar a importância da atividade física, que pode auxiliar tanto no controle do peso como no resultado do tratamento psiquiátrico [19]. Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) A preocupação de que todos os alimentos consumidos estejam limpos e livres de possíveis contami- Dependência química nações costuma trazer muita angústia e ansiedade aos O consumo de álcool e drogas está entre os impulsos de incorporação — os apetites e desejos —, que envolvem estruturas do sistema de gratificação cerebral implicadas na avidez e fissura. Uma vez que beber, usar drogas e comer podem ser formas de expressão do descontrole de impulsividade, conclui-se que um pode se desenvolver em resposta ao outro, em uma tentativa de conter o primeiro problema — ou seja, comer para evitar o álcool e droga e vice-versa [20]. Por outro lado, sabe-se que dependência química e transtornos alimentares são altamente comórbidos, especialmente em mulheres. Estas questões devem ser observadas e manejadas durante o tratamento nutricional, seguindo o tratamento para transtornos alimentares [21]. Paralelamente, a dependência de álcool e drogas induz a uma desnutrição importante do paciente, visto que o álcool possui “calorias vazias” que substituem o consumo alimentar adequado [7,21]. Os pacientes dependentes de outras drogas também costumam estar em risco nutricional, uma vez que muitas delas são orexígenas [22]. As deficiências nutricionais e outros problemas (p.ex.: dislipidemias, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial etc.) decorrentes do uso de álcool e outras drogas são diferentes em cada caso. Dessa forma, o nutricionista deve estar atento na avaliação nutricional, a fim de solicitar exames adequados para que se possa ter a melhor conduta [7, 22]. pacientes com TOC, chegando inclusive a diminuir a sua interação com a sociedade por temerem eventos que incluam refeições e/ou situações nas quais entrem em contato com alimentos preparados fora de casa, por pessoas desconhecidas. A fim de diminuir o problema, o tratamento de exposição, no qual o paciente é confrontado repetidamente com circunstâncias que provoquem ansiedade e gerem impulsos ou rituais, tem sido muito utilizado para tratar TOC [23]. Expô-lo faz com que ele pense sobre o que aconteceu e, assim, entre em contato com os estímulos que normalmente provocam inquietude e o impulso dos rituais. É uma boa oportunidade para o nutricionista trabalhar as causas da ansiedade, esclarecer crenças, desmitificar tabus e dar soluções que melhorem o grau de adaptação social do paciente [24]. Considerando que pacientes com TOC têm como constructo central da doença as ansiedades e obsessões, o diário alimentar, ferramenta fundamental no trabalho do nutricionista, muitas vezes pode ter efeitos negativos, estimulando sentimentos angustiantes. Sabe-se que existem várias outras formas de avaliar o consumo alimentar, e o profissional deverá ser criativo neste momento, buscando o inquérito mais adequado para seu paciente. Por outro lado, o portador de TOC gosta de uma vida organizada de forma rotineira, o que já é de grande ajuda para o nutricionista [24]. dossiê bio 29 Considerações finais Ao longo dos anos, a participação do nutricionista ultrapassou, em muito, a presença inicial desse profissional em equipes de tratamento para transtornos alimentares. Hoje, nos transtornos do humor, transtornos ansiosos, nos quadros psicóticos, em casos de uso e abuso de álcool e outras drogas, entre outras situações psiquiátricas, a participação do nutricionista é fundamental para a avaliação global do paciente e para seu cuidado ao longo do tratamento, garantindo espaço nas equipes multidisciplinares de saúde mental. A equipe multidisciplinar, e mais do que isso a equipe interdisciplinar, é fundamental no bom prognóstico do paciente, que poderá ter várias intervenções para sua problemática integradas em uma abordagem comum, potencializando os diferentes instrumentos. Ela é útil também ao nutricionista, que poderá não somente ampliar o conhecimento sobre aquele indivíduo tratado, como também obter suporte de seus colegas. No entanto, apesar do exposto neste trabalho, ainda notamos uma grande carência de publicações na interface entre psiquiatria e nutrição. Se os estudos a respeito dos efeitos adversos do tratamento psiquiátrico sobre apetite, alimentação e peso já estão bem-estabelecidos na literatura, faltam trabalhos que elucidem se fatores nutricionais poderiam estar relacionados à fisiopatologia dos transtornos psiquiátricos e quais intervenções nutricionais poderiam ter efeitos preventivos e/ou terapêuticos. Referências Bibliográficas [1] Martins C. Aconselhamento nutricional. In: Cuppari L. 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Muito antes, também, que o café, o chá e o chocolate se tornassem bebidas comuns no desjejum dos ocidentais. Desde o Antigo Egito existem registros — da distribuição de refeições ao longo do dia. A riqueza de cereais, cultivados há pelo menos 10 mil anos no fértil vale do Nilo, permitiu aos egípcios consumir, pelo menos, três refeições diárias. Atribui-se a eles, também, o conhecimento de se levedar o pão. Assados sobre pedras quentes, esses pães feitos de milheto — um grão de bom desempenho Desde o Antigo Egito existem registros da distribuição de refeições ao longo do dia. Assados sobre pedras quentes, os pães feitos de milheto compunham a refeição matinal, acompanhados de cebola e água. em regiões inóspitas, como o Norte da África — ou de trigo (este, destinado aos ricos) compunham a refeição matinal do povo, acompanhados de cebola e água. Já o poeta grego Philemon de Siracusa registraria que seu povo comia quatro refeições por dia. A primeira delas, akratisma, era o equivalente à “quebra de jejum”. Desta palavra derivaria o termo akratos, que significa “pão embebido em vinho”. As pessoas do povo e a elite grega consumiam os mesmos alimentos matinais: o pão, feito de cevada ou trigo e embebido em vinho puro (não diluído), às vezes tinha como companhia azeitonas e figos. Jentaculum era o termo utilizado entre os romanos para se referirem a uma refeição matinal aparentemente mais substanciosa do que a grega. O café da manhã romano consistia de bolos chatos de trigo, azeitonas e pães frequentemente aromatizados — com queijo, frutas secas, mel e sal — feitos em fornos de tijolos domésticos. nutrição e cultura Os pães em Roma ganharam em qualidade após a conquista da Gália, região inovadora no trabalho com o trigo. Essa fartura, entretanto, era para poucos. Se o pão é, por excelência, o alimento de todas as refeições nas diversas civilizações rurais em todas as épocas, o trigo não era um produto tão acessível. Só os romanos ricos consumiam o pão feito deste cereal, que crescia somente em terras mais férteis. Aos pobres restavam a aveia e a cevada, cultivadas em solos mais pobres e climas mais frios e úmidos. Os pães em Roma ganharam em qualidade após a conquista da Gália, região inovadora no trabalho com o trigo. Conforme o processamento do trigo nos moinhos evoluía, os gauleses foram obtendo matéria-prima cada vez mais fina, até chegar à farinha de trigo alva e fina (farina), usada nas oferendas religiosas. Cara e geralmente adulterada, a farina era considerada, nos tratados médicos gregos antigos, a mais nutritiva e o pão feito dela (artos), reservado às classes privilegiadas. Era, entretanto, insuficiente do ponto de vista nutritivo para alimentar os trabalhadores braçais, diziam os médicos. De certa maneira, essa norma dietética justificava o consumo — pelos lavradores e por aqueles que desempenhavam tarefas físicas exaustivas —, do pão de cevada (maza) ou de pães feitos a partir de uma mistura de grãos. Durante a Idade Média europeia, quando os cereais estavam baratos, os ricos que forneciam seu trigo aos padeiros pediam-lhes que fizessem para o ano inteiro bolos de massa leve, sem fermento — assados entre duas chapas de ferro em brasa —, para serem comidos, entre outras ocasiões, com vinho nas refeições matinais leves. Esses bolos também podiam levar leite, ovos e aromatizantes. Entre os camponeses, a sopa era o alimento que, pela manhã e à noite, ajudava a engolir o pão grande e duro — diverso daquele consumido pelos senhores, pães pequenos e assados no mesmo dia. O caldo da sopa era geralmente cozido com raízes, ervas e alguma gordura. Pois a verdade é que, entre os camponeses, que perfaziam mais de 80% da população europeia durante a Idade Média, o que se comia ao raiar do dia geralmente não era uma questão de escolha — salvo, talvez, entre os camponeses mais ricos, cujas sopas podiam ser enriquecidas com carne de porco salgada, couves e ervilhas, e as refeições podiam incluir queijo, manteiga e ovos. Mesmo em épocas normais de abastecimento de grãos, milhares de camponeses morriam de fome e grandes eram as carências em sua alimentação cotidiana, muito mais do que em outras classes sociais. Só os romanos ricos consumiam o pão feito de trigo, que crescia somente em terras mais férteis. Aos pobres restavam a aveia e a cevada. Muitos agricultores do Norte e Leste da Europa, por exemplo, tomavam aguardente pela manhã, antes de sair para o campo. Os médicos medievais atribuíam à aguardente — como a vodca, feita de aveia pelos russos — o poder de proteger das doenças, do frio e da fadiga dos trabalhos pesados. Era a bebida para se começar bem o dia. Da cevada se produzia, desde a Antiguidade, a cerveja, a primeira escolha para a refeição matinal de alguns segmentos sociais, notadamente nas regiões onde não se produzia vinho ou naquelas onde era uma alternativa mais nutritiva e barata do que o fermentado feito de uvas. A água era vista como uma bebida perigosa pois, geralmente poluída, tornava-se foco de doenças. 31 32 nutrição e cultura Uma porção de papa completava a primeira refeição do dia da quase totalidade dos europeus. Assim como o pão, as papas, feitas de grãos inteiros, cozidos em água ou leite, foram durante séculos o alimento emblemático desses povos. Do outro lado do mundo Do outro lado do mundo, é o arroz, e não o trigo, que ganha destaque como alimento fundamental. Nas províncias do Sul da China, o arroz, cozido num rico caldo de galinha e acompanhado de chá verde, foi durante séculos a primeira refeição do dia dos chineses. No Sudeste da Índia, o arroz era cozido com gengibre fresco, pimenta e especiarias, e servido com ovos cozidos em ghee — a manteiga clarificada indiana, feita com leite de búfala. No Japão, as refeições diárias baseadas no arroz, tanto nas cidades quanto no campo, sempre foram muito simples. Com poucas variações regionais, um desjejum típico japonês compunha-se de arroz com picles de legumes e sopa de missô. Às vezes, um pedaço de peixe enriquecia a mesa matinal. Esse padrão de refeição centrado no arroz foi-se tornando, entretanto, menos saudável conforme as tecnologias de beneficiamento do produto se aprimoraram e a preferência pelo arroz branco, altamente polido, instalou-se no país. Quando Japão e Inglaterra se encontram, a aura de Nas províncias do Sul da China, o arroz, cozido num rico caldo de galinha e acompanhado de chá verde, foi durante séculos a primeira refeição do dia dos chineses. Assim como o pão, as papas, feitas de grãos inteiros, cozidos em água ou leite, foram durante séculos o alimento emblemático dos povos na antiguidade. prestígio que envolvia as coisas relativas ao mundo ocidental exerceu uma influência direta na dieta do país. A adoção de pratos anglo-saxônicos, que refletiam a supremacia britânica, alteraria brutalmente a composição do cardápio matinal nos hotéis e restaurantes japoneses, frequentados principalmente pela comunidade estrangeira. Um café da manhã típico num hotel japonês em 1890, por exemplo, incluía ao lado de peixe frito itens como mingau, omeletes, ovos com bacon, rosbife e carne de vaca na salmoura. Entre os soldados e marinheiros, a ração diária de arroz altamente polido resultou, com o passar do tempo, em diversos casos de beribéri, doença ligada à falta de vitamina B1, abundante na casca do grão. Assim, o governo determinou que a porção de arroz branco da manhã — servida com peixe seco, legume cozido no missô e picles — deveria ser acrescida de uma mistura composta de cevada e trigo. O café da manhã moderno A transformação das refeições evolui com um desenrolar diferente do dia, resultado dos desdobramentos da Revolução Industrial. No interior e na cidade, relógios distintos ditam o ritmo cotidiano. No primeiro, ainda se janta ao meio-dia e se faz a ceia ao entardecer, acompanhando as atividades do campo. No segundo, o tempo segue o movimento da urbanização. O tempo dos homens é o da vida pública, e o ritmo dela é ditado pelos negócios. Nas cidades francesas do século 19, torna-se moda almoçar mais tarde. O jantar, por sua vez, vai-se aproximando do horário atual e a ceia torna-se mais leve. O verdadeiro almoço, chamado “almoço de garfo”, passa a ser servido entre dez e meio-dia em Paris. Para aguardá-lo, burgueses e aristocratas da Cidade Luz regalam-se com uma xícara de chocolate quente ou de café, costume anglo-saxão que estabeleceria o café da manhã ocidental tal qual o conhecemos hoje. De fato, é no século 19 que o petit déjeuner (café da manhã) se populariza. O novo termo origina-se da palavra déjeuner (do latim disjunare), que significa o “rompi- A adoção de fartos pratos anglo-saxônicos alteraria brutalmente a composição do cardápio matinal nos hotéis e restaurantes japoneses. nutrição e cultura mento do jejum”. A palavra parece ter origem nos monastérios, no século 12, e marcava a primeira refeição do dia dos religiosos depois das longas horas de vigília. Ao sair do espaço dedicado às orações, o termo iria substituir, no Medievo, a palavra diner, utilizada então para designar a primeira refeição do dia. Com o retardamento das refeições nas cidades a partir dos Oitocentos, o petit déjeuner (ou breakfast, como ficou conhecido nos países anglo-saxões) passaria a referenciar a refeição leve, o “pequeno almoço”, da nova burguesia reinante. Café e chocolate, as novas bebidas que chegam à Europa a partir do século 16, terão suas histórias entrelaçadas no café da manhã do continente séculos depois. Antes da entrada do café na Europa, a primeira bebida do dia em diversos países era a sopa, hábito que continuaria a vigorar até o século 19. Diz-se que a vichyssoise foi criada nos Estados Unidos quando o cozinheiro Louis Diat quis recordar-se da sopa de alho-poró das manhãs de sua infância na França. A zurraputuna, tradicional sopa basca de bacalhau, e a gramatka, sopa adocicada feita com cerveja e típica da Polônia, seguem a mesma lógica. Mas é na Inglaterra que o desjejum ganhará sua forma próxima à atual. O breakfast é um verdadeiro ícone inglês. Em 1936, a condessa Morphy (provavelmente o pseudônimo da norte-americana Marcelle Azra Hincks) registraria: “O café da manhã é a refeição inglesa por excelência, uma das grandes instituições nacionais da Inglaterra”. O escritor inglês Somerset Maugham concordava com a condessa, ao dizer que “para comer bem na Inglaterra, deve-se tomar café da manhã três vezes ao dia”. Um café da manhã completo à moda inglesa atual compõe-se, geralmente, de bacon, ovos fritos ou mexidos, feijões, salsichas, tomates grelhados, cogumelos frescos, além de embutidos de carne com sangue, conhecidos como black pudding. A refeição matinal ainda é enriquecida com torradas, manteiga, geleia de laranja, chá ou suco de laranja. A variação irlandesa inclui o farl, um pão achatado de formato triangular. Mais raramente, 33 o breakfast inglês inclui kipper, um arenque defumado, que será, então, frito ou grelhado. O prato remete ao início do século 20, quando trabalhadores urbanos consumiam-no durante o jantar, particularmente nas highlands escocesas. Essa abundância, porém, tem pouco mais de cem anos, registram os historiadores. Até o final do século 18, o café da manhã britânico resumia-se a pão, queijo e cerveja, entre a população comum, ou a uma xícara de chá, café ou chocolate entre os mais abastados, bebidas estas acompanhadas de um pedaço de biscoito. Até o final do século 18, o café da manhã britânico resumia-se a pão, queijo e cerveja, entre a população comum A origem do famoso breakfast inglês, para os estudiosos, ainda é obscura. Na opinião da historiadora britânica Rachel Laudan, o que se entende por english breakfast é a refeição matinal das ricas casas de campo inglesas, que se tornaria frequente a partir de meados do século 19 até a Segunda Guerra Mundial. Os primeiros registros no país desses longos cafés da manhã irão aparecer apenas no século 19. Diversas obras vão se dedicar exclusivamente à exuberante refeição da manhã, uma construção tipicamente vitoriana. Um café da manhã completo à moda inglesa atual compõe-se, geralmente, de bacon, ovos fritos ou mexidos, feijões, salsichas, tomates grelhados, cogumelos frescos, além de black pudding. 34 nutrição e cultura Mas por que os ricos ingleses se refestelariam com tamanha refeição logo pela manhã? A resposta da historiadora Kaori O’Connor é simples: era a celebração da identidade inglesa, mais precisamente, em oposição à identidade francesa. Era, ainda, um modo de exclusão do “outro” — neste caso, os escoceses. Isso significava comida sem os caudalosos molhos franceses (tão em voga à época) e produzida no próprio território (num momento em que a França reafirmava sua superioridade culinária a partir, também, de seu terroir). Tinha a intenção, também, de promover o culto aos ricos senhores do campo. Junte-se a isso um pequeno retrocesso no horário do almoço e a fórmula estava completa — uma impressionante refeição em estilo de bufê, em que se podia provar carne de caça (quando na temporada), peixe, pães frescos, pratos diversos, café e chá. Poucos tinham acesso a esse banquete, e versões mais simplificadas atraíram as outras camadas sociais. Entre os pratos deste café da manhã inglês figuravam tortas de peixe, língua de vaca, rosbife e cremes frios feitos à base de purês de frutas (como morangos e maçãs), além de fatias de pão fritas em bacon e diversos pratos e pães ao estilo indiano, como lagostas ao curry, pilau (um picante arroz escurecido em manteiga ou óleo com cebola, acrescido de legumes e carnes) e kedgeree (mistura de arroz, peixe defumado e ovos cozidos, às vezes enriquecida com denso molho de curry). O suntuoso breakfast permitia ainda que os homens, bem alimentados, pudessem dedicar o resto do dia a caçadas, pescarias e práticas de tiro, encerrando as atividades, depois, com um alegre piquenique. Ou, de acordo com Laudan, terminando o dia com um jantar... curiosamente em restaurantes de alta cozinha francesa de Londres. Era, gastronomicamente falando, o melhor dos dois mundos. Para compreender as modificações alimentares por que passa um país, ondas migratórias, descobertas científicas e políticas públicas constituem um bom ponto de partida. Despertando a América Para compreender as modificações alimentares por que passa um país, elementos que ajudam a forjar sua história, como ondas migratórias, descobertas científicas e políticas públicas, constituem um bom ponto de partida. No caso dos Estados Unidos, essas questões ganham novos contornos quando combinadas à condição de colônia — um novo mundo para os habitantes do velho mundo — e, posteriormente, à propensão norte-americana ao marketing. Com poucos recursos, os primeiros ingleses que habitaram a América do Norte tiveram de abrir mão do trigo para o pão e para as papas — pois o cereal era um alimento difícil de cultivar — bem como do chá e do café, bebidas ainda caras e exóticas (a primeira, originária da China e a segunda, da Etiópia). Tinham, portanto, de contentar-se com o que encontravam naquelas terras: o milho em abundância. Os nativos ensinaram os americanos não só a plantar o milho como também a processá-lo. O ingrediente tornou-se a matéria-prima das papas (porridge, em inglês), chamadas localmente de mush. A farinha de milho, misturada com água e um pouco de sal e cozida em forma de bolos ou mush se tornaria o desjejum típico dos primeiros colonos. Para acompanhar, bebidas como cidra e cerveja. Além de substituir a água, essas bebidas alcoólicas cumpriam uma função bastante importante no passado: sorvidas com moderação, eram fonte rica de nutrientes. Além do mais, eram fáceis de produzir com os ingredientes disponíveis. No processo de constituição da nação americana, os imigrantes passaram a enriquecer a mesa do café da manhã do novo país. Os buns, bolinhos de canela trazidos por suecos e alemães que habitavam a Pensilvânia, figurariam como alimentos emblemáticos pela manhã. Com a chegada no século 18 de misturas que, sob condições de calor e umidade, liberavam gases (geralmente combinações de álcalis e ácidos) e, portanto, promoviam o crescimento da massa, biscoitos, panquecas, waffles e bolos se tornaram populares. Novas influências alcançaram o café da manhã americano com a compra, pelos Estados Unidos, do Estado da Louisiana em 1803, região ao Sul marcada pelas colonizações francesa e espa- nutrição e cultura 35 Os cafés da manhã, então substanciosos, eram também um retrato da prosperidade das fazendas americanas e da riqueza da terra nhola, além da forte presença de escravos africanos. São desta época os doughnuts franceses ou beignets, as calas (bolinhos de arroz fritos, cobertos de açúcar) e o pain perdu ou french toast, todos servidos ao estilo louisiano, ou seja, com café e leite enriquecido com chicória. A riqueza culinária do novo Estado incluía também embutidos de porco e ovos no desjejum. Austríacos, bávaros, alemães e, posteriormente, escandinavos povoaram o Oeste americano, e trouxeram com eles uma longa tradição na confecção de pães. Logo apareceriam iguarias como as tortas de maçã austríacas, os kolashes recheados de maçã, queijo ou ameixas da Boêmia (atualmente parte da República Tcheca), bolos de creme azedo alsacianos, panquecas alemãs e bismarcks (donuts recheados com geleia e polvilhados com açúcar de confeiteiro). Embora a carne de porco fosse a preferida, o peixe também era consumido durante o café da manhã no Oeste americano: trutas frescas envoltas em farinha de milho e fritas em bacon tornaram-se lugar-comum. Nas regiões do Texas e de Oklahoma, o prato fundamental da manhã era o resultado da criatividade dos cozinheiros em resposta à carne dura que recebiam: os chicken fried steaks, servidos com café, molho branco e batatas, são finos filés de carne empanados com farinha e fritos (numa referência ao tradicional preparo do frango americano), tradicionais na região até hoje. Os cafés da manhã, então substanciosos, eram também um retrato da prosperidade das fazendas americanas e da riqueza da terra: milho crescendo ao lado do O aparecimento do cereal no início do século XX mudaria para sempre a composição do café da manhã nos Estados Unidos e no mundo. trigo em campos imensos, gado abundante, fornecendo carne, leite e manteiga, um suprimento igualmente grande de ovos, e açúcar cada vez mais barato, ao lado do regional xarope de maple, uma árvore nativa da Ásia mas abundante na América, para adoçar a variedade de frutas e compotas, bem como de pães (como os aclamados muffins) e cookies que saíam em profusão das cozinhas americanas. Enquanto a maior parte da população do país vivia no campo e trabalhava duro, o café da manhã reforçado fez sentido. Mas, quando passou a viver nas cidades e a levar uma vida mais sedentária, os problemas começaram. Uma das reclamações mais comuns no século 19 era a dispepsia, e os médicos americanos trataram de encontrar uma resposta a esse desconforto estomacal. Em seu Treatise on Bread and Bread-Making, de 1837, o reverendo Sylvester Graham preconizava o pão feito de farinha de trigo integral, mais saudável, em lugar dos pães redondos e alvos, de casca fina e crocante, por acreditar que ela traria benefícios gástricos. Além do mais, condenava o uso de álcool, carne e condimentos, e preconizava, entre outros alimentos, o consumo de frutas frescas. O reverendo foi um dos muitos propagadores de uma reforma dietética no país, e despertou a ira dos padeiros comerciantes. Outras propostas se seguiram, como a elaboração de um produto substituto do café (feito de trigo e melaço), cujo uso era também condenado, e a criação de uma mistura pronta para panquecas. Entre elas, o aparecimento do cereal no início do século XX, que mudaria para sempre a composição do café da manhã nos Estados Unidos e no mundo. Como se verá na próxima edição da Nestlé.Bio, os cereais matinais, sobretudo quando produzidos com grãos integrais, possuem benefícios que vão além das fibras: constituem importante fonte de micronutrientes como tiamina, niacina, vitamina B6, vitamina B12, vitamina E, folato, magnésio, ferro, zinco, além de antioxidantes e fitoquímicos — e estudos longitudinais associam sua ingestão a inúmeros resultados positivos na saúde. resultado por_ Alfaro Dantas Colaborador es _Mateus Mendonça e Diana Clara Condá NESTLÉ Excelência em gestão ambiental Cerca de 2,3 bilhões de litros de leite, 328 mil toneladas de açúcar, 75 mil toneladas de café, 205 mil toneladas de grãos e cereais e 65 mil toneladas de cacau ao ano. Estes são alguns números que fazem da Nestlé a maior compradora de matérias-primas agrícolas no país. E que ajudam a compreender a importância que a companhia dá à natureza no dia a dia de suas operações e da sociedade brasileira. Com o mesmo empenho que dedica ao aperfeiçoamento de seus produtos e à melhor performance dos produtores rurais integrados à sua cadeia produtiva, a companhia investe também no desenvolvimento de processos e tecnologias que reduzem o impacto de suas operações no meio ambiente. São muitas as ações pioneiras da Nestlé nesta área. Uma das mais exemplares remonta ao ano de 1963, em sua fábrica de Araçatuba, no interior de São Paulo. Foi lá que a companhia instalou a primeira estação de tratamento de efluentes no Brasil — 13 anos antes de entrar em vigor a primeira legislação ambiental que tratava deste tema no país. Desde então, a Nestlé segue consolidando seu pioneirismo por meio de um compromisso com a sustentabilidade de forma universal. Para isso, promove ações de controle e gestão de múltiplos alcances: em suas unidades industriais, no desenvolvimento de produtos, nos processos de distribuição, envolvendo logística de transporte, e por meio de suas cadeias de fornecedores em ações dirigidas ao consumidor. Componente-chave da estratégia global da Nestlé, a gestão ambiental é tão importante quanto a qualidade, a produtividade, a segurança e a saúde ocupacional. Sistema Nestlé de Gestão Ambiental - NEMS Os compromissos e resultados de uma empresa que busca no meio rural suas principais matérias-primas Em 1997, o NEMS (do inglês, Nestlé Environmental Management System), adotado pela companhia em nível mundial, foi adaptado à realidade brasileira e passou a ser incorporado pela Nestlé no país. “O NEMS tem uma espiral de melhoria contínua, cujo foco principal está em controlar e diminuir ao máximo o desperdício de recursos naturais e energia e, com isso, reduzir a quantidade de resíduos gerados nas atividades”, relatava, à época, Ailton Storolli, coordenador ambiental da Nestlé. Hoje, incrementado por avanços tecnológicos, mas fiel à sua vocação inicial de reduzir impactos cotidianamente, o sistema encontra-se em franca atividade em todas as unidades fabris da Nestlé no país. resultado 37 Marie Hippenmeyer/Nestlé Métrica de resultados Fábrica da Nestlé em Três Rios (RJ) Cada uma delas conta com uma estrutura de monitoramento ambiental preventivo que oferece treinamento, ferramentas e conhecimentos para os gestores locais. Mensalmente, cada fábrica abastece com dados a ferramenta mundial NEST (Nestlé Environmental and Safety Tool) sobre seu desempenho ambiental, medido por 24 indicadores. Há um histórico desses indicadores e uma meta anual para melhorá-los. Na Nestlé, a relevância do quesito ambiental pode ser aferida pelo fato de que tais indicadores são componentes do sistema de avaliação de desempenho de seus gerentes e gestores. Sistema de Gestão Integrado — SGI Em 2007, a empresa criou o SGI, que envolve as áreas de Meio Ambiente, Qualidade, Segurança dos Alimentos, Saúde e Segurança no Trabalho, e monitora a adequação de práticas da companhia às normas internacionais ISO 9001 (qualidade), ISO 14001 (meio ambiente), ISO 22000 (segurança alimentar) e OHSAS 18001 (saúde e segurança no trabalho). Digna de nota, a experiência da Nestlé Brasil com o SGI, assim como os processos de implantação de ferramentas como o Total Performance Management (TPM), centrado na gestão operacional das fábricas, e do Lean Thinking (Lean Manufacturing), que envolve a gestão de oportunidades de melhoria e de perda zero em toda a cadeia produtiva, tem servido de piloto para o sistema mundial de gestão da companhia. Para a Nestlé, esse sistema está relacionado com a Criação de Valor Compartilhado porque busca produzir nutrição com qualidade, com menor custo, menor utilização de recursos naturais e menor impacto ambiental. Desde que implantou o NEMS, em 1998, até 2010, a Nestlé Brasil reduziu o consumo de água em 80,4%; a emissão de gases poluentes em 76,9%; o descarte de efluentes líquidos em 86,3%; e a geração de resíduos sólidos por tonelada de alimento produzido em 53%. Algo notável, sobretudo quando levado em conta o fato de que, no mesmo período, a companhia aumentou sua produção em cerca de 70%. Hoje, as fábricas da Nestlé reaproveitam cerca de 90% dos resíduos gerados. A análise de sua matriz energética revela, por exemplo, uma redução Gestão Ambiental de 1998-2010 importante da emissão de gás carbôni Área co (CO2) e gases equivalentes (CO2e), Consumo de energia responsáveis pelo efeito estufa. Consumo de água Em janeiro de 2010, a Nestlé Emissão de CO2 (efeito estufa) Brasil criou um departamento especíEmissão de SOx (queima de combustível) fico para o gerenciamento de energia, Gases refrigerantes (CFC) com foco na redução do consumo de Água descartada energéticos não renováveis. Para a Resíduos descartados geração de vapor em suas caldeiras, a empresa utiliza biomassa, como cavaco de madeira, pellet de cacau, borra de café e outros subprodutos de seus processos produtivos. E passou a comprar energia elétrica no mercado livre, de fonte incentivada. Com isso, 70% da energia elétrica utilizada em seus processos produtivos vem de pequenas centrais hidráulicas. Matriz Energética em 2010 (%) borra de café 7,01 eletricidade 24,07 1,16 casca de cacao 0,11 diesel 19,64 óleo 2,16 GLP madeira 23,01 22,84 gás natural Redução 1998 a 2010 -32,3% -80,4% -64,5% -76,9% -78,8% -86,3% -53,0% 38 resultado Vencendo desafios ambientais Política de Águas Criatividade, tecnologia de ponta e respeito ao meio ambiente são alguns dos principais ingredientes que a Nestlé lança mão para crescer gerando valor compartilhado para todos os seus stakeholders. Pouco mais de quatro décadas após instalar a primeira estação de tratamento de efluentes no Brasil, em sua unidade de Araçatuba (SP), a área de Meio Ambiente da companhia se viu diante de um grande desafio, desta vez no interior da Bahia. Em 2006, durante uma inspeção no município de Feira de Santana, onde a Nestlé projetava a instalação de uma fábrica, os técnicos e a gerência ambiental da empresa depararam-se com um cenário desanimador. Com mais de 500 mil habitantes, a cidade tinha baixo índice de tratamento de efluentes. Seus recursos hídricos eram escassos e o pouco que havia estava contaminado. O maior rio disponível no município não tinha capacidade para biodegradar uma nova carga de efluentes industriais líquidos. O quesito ambiental estava tirando a nova fábrica de Feira de Santana. A nova unidade só seria construída ali se atendesse aos requisitos de sustentabilidade estabelecidos pela política ambiental da Nestlé. Era um desafio para a área de Meio Ambiente da empresa. A solução da Nestlé foi um projeto de fábrica com lançamento zero de efluentes líquidos. Foi a primeira instalação no Brasil de um sistema de tratamento de efluentes por ultrafiltração, com tecnologia importada do Japão. Hoje, a única água que sai da fábrica para o rio é a pluvial. A água industrial usada e a sanitária são tratadas, depois separadas por ultrafiltração, ficando adequadas para o lançamento nos leitos de infiltração. O projeto exigiu investimento duas vezes maior do que seria necessário se fosse utilizada tecnologia convencional, caso a empresa resolvesse construir a fábrica em outro lugar. Mas o valor criado e compartilhado entre todos talvez seja incalculável — que o digam os produtores rurais do Recôncavo Baiano, que fornecem leite para a Unidade. E também a Nestlé que, desde 2007, triplicou sua produção na fábrica que está prestes a passar por uma segunda ampliação. Ao mesmo tempo, a Unidade de Feira de Santana já criou 742 empregos diretos e 2.500 empregos indiretos e é responsável por 12% do total de impostos arrecadados no município. A Nestlé considera a água um bem universal a ser preservado. Por meio da Política Nestlé de Águas, parte integrante de sua Política Ambiental, a empresa desenvolve ações para garantir um suprimento de água de alta qualidade, duradouro e universal. A companhia defende a gestão sustentável dos recursos hídricos, controla rigorosamente a sua utilização em todas as suas atividades e empenha-se para obter melhorias contínuas que resultem em redução e otimização de seu consumo. Pela sua abrangência e inovação, o Projeto End-to-End merece destaque nesta área. Em 2010, a rede de varejo Walmart convidou seus fornecedores a apresentarem um produto sustentável de ponta a ponta. A Nestlé escolheu a área de águas minerais para participar da iniciativa — inicialmente com Pureza Vital. Durante um ano, duas equipes multidisciplinares da Nestlé Waters, uma no Brasil e outra na França, mapearam toda a cadeia envolvida na produção da Pureza Vital no Brasil para descobrirem pontos passíveis de melhoria ambiental. As ações foram direcionadas para as áreas de resíduos e reciclagem, energia, água, pessoas e comunidades. As equipes da Nestlé conseguiram desenvolver uma embalagem para o produto utilizando 25% menos matérias-primas (PET), sem perda de resistência das garrafas, resultado de um design diferenciado que reduziu o peso das embalagens. Essa mudança permitiu transportar mais embalagens por caminhão, gerando economia de combustível, pneus e demais insumos. Por não utilizar pigmentos, o valor comercial da embalagem para reciclagem aumentou em até 30%. A nova tecnologia de embalagem passou a ser aplicada nas marcas São Lourenço e Petrópolis e será estendida a toda a linha da Nestlé Waters. O projeto de produção da Pureza Vital também conseguiu uma economia real de 33% em energia elétrica e redução de 14% no consumo de água nas fábricas. O processo de inovação da Nestlé Waters foi alinhado, também, ao objetivo de contribuir para a formação de cidadãos ambientalmente conscientes. A Nestlé ofereceu cursos de educação ambiental em escolas da rede municipal de ensino de São Lourenço (MG), onde está instalada a unidade fabril, capacitando 70 educadores, diretores de escolas e equipes das Secretarias da Educação e do Meio Ambiente, por meio do Programa Nestlé Cuidar. Foram realizadas ações de conservação da reserva natural que abrigam as fontes de água mineral, assim como apoio às cooperativas de catadores de resíduos sólidos, estimulando a reciclagem e promovendo a inclusão social dos catadores. “Sentimos orgulho e satisfação de participar de um projeto como esse, que trouxe benefício real ao meio ambiente, à sociedade e a todos que de alguma forma se relacionam com a Nestlé ou com seus produtos”, afirma Edson Ebizawa, diretor-geral da Nestlé Waters Brasil. resultado 39 Programa Nestlé Cuidar - acumulado até dezembro de 2010 Crianças atendidas 423.746 Educadores capacitados 3.066 Escolas/ONGs atendidas 1.238 Voluntários655 Alcance geográfico 7 Estados brasileiros SP, RJ, BA, GO, MG, ES, RS e 24 cidades brasileiras Programa Nestlé Cuidar O Programa Nestlé Cuidar visa difundir os aspectos socioambientais da estratégia de sustentabilidade da Nestlé, disseminando conceitos relacionados à conservação do meio ambiente e sensibilizando a comunidade para a preservação dos recursos hídricos, o consumo consciente e a reciclagem. Desenvolvido pela Fundação Nestlé Brasil desde 2008, promove ações de educação ambiental em escolas públicas e estimula a organização de cooperativas de catadores de materiais recicláveis, atuando em parceria com outras empresas, ONGs e órgãos públicos. O Programa Nestlé Cuidar capacita educadores e diretores de escolas públicas para o desenvolvimento de um trabalho de conscientização de crianças e adolescentes sobre a importância da preservação da água para a conservação do meio ambiente. Nas escolas públicas do Recife e de Salvador, por exemplo, educadores foram capacitados em grandes temáticas ambientais para desenvolver com seus alunos conhecimentos e práticas de conservação e sustentabilidade. Sensibilizar os colaboradores internos para o consumo consciente, o uso racional da água e a sustentabilidade também são diretrizes das ações do Programa Nestlé Cuidar. Um exemplo disso é o e-learning com esses temas, desenvolvido em parceria com o Instituto Akatu, que oferece aos colaboradores elementos para uma reflexão sobre a sustentabilidade e informações sobre práticas sustentáveis para o dia a dia. Compromisso Empresarial para Reciclagem Nos últimos anos, diversas alternativas para o correto descarte e reutilização do material descartado vêm surgindo. No entanto, o cenário de avanço tecnológico ainda convive com problemas historicamente acumulados: esgotamento da capacidade dos aterros sanitários, falta de usinas de triagem de resíduos, para citar alguns. Para que haja melhor aproveitamento do material que hoje polui o meio ambiente, é necessário pensar na questão dos resíduos sólidos como um processo cíclico do qual todos participam: empresas planejando produtos e embalagens mais sustentáveis, prefeituras engajando cooperativas de catadores nos processos de coleta e consumidores mais conscientes. A corresponsabilidade abre inúmeras oportunidades de novas parcerias e negócios. Entre os programas e parcerias da Nestlé que promovem a coleta e a reciclagem de resíduos no Brasil, destaca-se o Compromisso Empresarial para Reciclagem — Cempre —, que apoia cooperativas de catadores de materiais recicláveis atuantes no Brasil, promovendo sua formação e capacitação. Dentre os resultados obtidos, destacam-se a profissionalização dos catadores, com a melhoria progressiva de sua remuneração, o desenvolvimento de redes de sustentação para a coleta seletiva de materiais recicláveis e o apoio a políticas públicas de inclusão social. Atualmente, a parceria da Nestlé com o Cempre permite o apoio a 20 cooperativas em 7 estados e, entre janeiro e setembro deste ano, contabilizou 6.477 toneladas de material coletado. Desde o início da parceria, em 2006, este total alcança a cifra de 18.265 toneladas. No que diz respeito à promoção da reciclagem pós-consumo, a Nestlé tem investido, ainda, em outros projetos. Como o Ecolaboration e o TerraCycle. 40 resultado Ecolaboration De abrangência mundial, o programa que examina todos os aspectos do fornecimento de café da marca Nespresso, desde a produção, uso e descarte das cápsulas até o ciclo de vida das máquinas, começa a ser estabelecido no Brasil. Em sua gestão, a Nestlé se reúne constantemente com Organizações Não Governamentais para garantir a sustentabilidade em todas as suas operações. O Ecolaboration também fornece uma estrutura de parceria e inovação para motivar o desenvolvimento contínuo e sustentável. O programa se compromete a cumprir as seguintes metas: • obter 80% do café a partir do exclusivo AAA Sustainable Quality Coffee Program, incluindo a certificação da Rainforest Alliance; • implantar sistemas para triplicar sua capacidade de reciclar as cápsulas usadas, atingindo os 75%; • reduzir em 20% a pegada geral de carbono necessária para produzir cada xícara de café Nespresso. TerraCycle Em 2001, um estudante da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, sonhava em construir um novo modelo de negócio que fosse, ao mesmo tempo, bom para as pessoas e bom para o planeta. Com 19 anos, então, Tom Szaky fundaria a empresa de fertilizantes orgânicos TerraCycle. O início do que, pouco tempo depois, se desdobraria para uma categoria multiproduto, de alcance mundial. A Nestlé realiza parceria com a TerraCycle para um programa de coleta que permite a transformação de embalagens flexíveis. A ação incentiva a coleta pós consumo de embalagens de chocolates, biscoitos e cafés com o objetivo de dar um destino a esses materiais, evitando que cheguem aos aterros sanitários e lixões. Com a parceria da TerraCycle, as embalagens são transformadas em produtos de maior valor agregado, como vestidos, bolsas, sacolas, mochilas e estojos, entre outros. Esses produtos são comercializados pela TerraCycle no site da empresa e também em lojas da rede Walmart. As embalagens recolhidas pela TerraCycle também geram receita para instituições sociais. Para participar do programa, os interessados devem se cadastrar no site da TerraCycle (www.terracycle.com.br), preencher os dados da entidade que receberá a doação ou escolher entre as que são indicadas na página e, em seguida, enviar, gratuitamente, as embalagens recolhidas. Política nacional de resíduos sólidos Hoje, iniciativas como as da Nestlé ocorrem em um contexto especial para o Brasil, uma vez que se completa um ano da promulgação da Política Nacional de Resíduos Sólidos — PNRS — e acaba de ser publicado o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, com sua versão preliminar já disponível para consulta pública no site do Ministério do Meio Ambiente. Tida como uma das legislações mais avançadas do mundo, a PNRS cria um novo cenário para o gerenciamento da produção e destinação pós-consumo dos resíduos sólidos gerados pela atividade comercial. Traz conceitos de vanguarda como a responsabilidade compartilhada, acordos setoriais e a logística reversa para a gestão dos resíduos. Cria, ainda, um modelo hierárquico no qual o principal objetivo é a não geração de resíduos, a redução da massa das embalagens, a promoção da reutilização e da reciclagem, minimizando as necessidades de tratamento e disposição final. Em consonância com práticas já instituídas pela Nestlé, o advento da nova lei move as empresas no sentido de expandir sua visão quanto ao processo de design. Ao fazerem isso é preciso que comprem matéria-prima e produzam embalagens de modo a contemplar as etapas de descarte pós-consumo; e estarem atentas às estruturas disponíveis para estabelecerem a logística reversa de seus produtos, com o objetivo de promoverem altos índices de reutilização e reciclagem. Neste sentido, Paul Bulcke, CEO da Nestlé, chama atenção para o fato de que a companhia implementa uma abordagem de análise do ciclo de vida do produto que envolve desde o agricultor até o consumidor, a fim de minimizar o impacto ambiental dos produtos e atividades. O objetivo, em todas as fases do ciclo, é a utilização eficiente dos recursos naturais, favorecendo a utilização sustentável de recursos renováveis para atingir a meta de zero resíduos. “Desta forma”, sublinha ele, “pretendemos que as nossas marcas permaneçam ambientalmente sustentáveis.” Assista aos vídeos que mostram como a Nestlé produz cada vez mais, com a mesma qualidade, gerando cada vez menos impacto ambiental. www.nestle.com.br/nestlenutrisaude/NestleBio.aspx sabor e saúde Comer também se aprende na escola f otos_ Shutterstock Escolas investe m em cozinhas experimentais para promover audável s o ã ç a t n e m li a uma Em fila, crianças entre quatro e cinco anos de idade se esforçam para seguir as instruções. Entre inseguras, desajeitadas e curiosas, prendem os cabelos e ajustam uma touca branca na cabeça. Amarram um pequeno avental na cintura. Abrem a torneira, ensaboam as mãos, esfregam uma na outra, lavam em água corrente e secam com papel toalha. Estão prontas para explorar o fundo do mar. Cada uma deverá montar seu próprio cenário marinho — semelhante ao que viram nos livros, ouviram da professora e desenharam nos cadernos. Em minutos, folhas de alface tornam-se volumosas algas, cenouras raladas transformam-se em escamas para peixinhos moldados em fatias de pão integral, pedaços de atum formam uma grande estrela-domar e o patê de espinafre vira uma tartaruga. Com jeito de brincadeira, a salada de repente parece mais apetitosa — e, sem cara feia, todos experimentam suas criações. As crianças, alunas do colégio Mackenzie (região central de São Paulo), completaram mais uma aula do projeto Mini Chef, uma iniciativa de educação nutricional por meio de aulas de culinária para alunos do Jardim ao primeiro ano do Ensino Fundamental. O projeto foi criado há dois anos e meio dentro do Departamento de Nutrição da Universidade Mackenzie, mantida pela mesma fundação do colégio, e aposta no desenvolvimento de oficinas culinárias como recurso para incentivar crianças e adolescentes a adotarem uma alimentação mais saudável e equilibrada. O objetivo é o de aproximar o aluno das frutas frescas, dos legumes, das raízes, das folhas de vários tipos, das sementes e dos cereais integrais, aumentando o conhecimento sobre eles e criando uma nova sensação de familiaridade. 42 sabor e saúde A estratégia usada nas aulas é a mesma que a de outros projetos que se multiplicam pelas escolas do país: ao manusear os alimentos e envolver-se na preparação das receitas, em um ambiente descontraído, com espaço para esclarecimento de dúvidas, crianças aguçam a curiosidade, diminuem a resistência e, como consequência, passam a se alimentar melhor. Uma união de teoria e prática acompanhada de um ritual de degustação no final. “A educação alimentar é um processo contínuo. A criança tende a não comer o que desconhece. A oportunidade de manusear o alimento e prepará-lo favorece uma aproximação que, com apoio da família e reforço em outras atividades da escola, certamente ajudará na aquisição de hábitos saudáveis”, afirma Mônica Glória Newmann Spinelli, professora do curso de Nutrição do Mackenzie e uma das idealizadoras do Projeto Mini Chef. Mônica explica que as oficinas culinárias ministradas nas escolas atualmente incluem noções de higiene (como lavar corretamente as mãos, os alimentos e os acessórios utilizados), conhecimentos sobre os grupos de alimentos, alertas sobre excesso A educação alimentar é um processo contínuo. A oportunidade de manusear o alimento e prepará-lo favorece uma aproximação que certamente ajudará na aquisição de hábitos saudáveis. de açúcar e sódio (acompanhados da apresentação da pirâmide alimentar) e até mesmo as várias formas possíveis de medidas (o que é uma xícara, uma colher) e preparação (assar, cozinhar, refogar). Num primeiro momento, são apresentadas as hortaliças e as frutas, depois entram os cereais, as leguminosas, os derivados lácteos e as carnes. Por fim, no segundo semestre, são abordadas as regiões do Brasil, com suas respectivas culinárias. O preparo dos pratos não inclui frituras, e os alunos levam as receitas para casa — que vão desde a montagem de um sanduíche com a carinha de cada um (usando beterraba ralada como cabelo, por exemplo) até pratos mais elaborados como arroz com pequi e risoto de abóbora, feito na panela de pressão. Em cada aula, são preparados um suco, um prato salgado e um doce. “Nenhum aluno é obrigado a comer, mas todos são incentivados a experimentar. Aos poucos, a resistência vai diminuindo, e um vai estimulando o outro. Teve aluno que chegou dizendo que só come macarrão instantâneo e no fim do semestre, quando preparamos uma costela de tambaqui, provou e gostou”, conta Mônica. Na primeira avaliação dos resultados, realizada com os pais, as respostas foram estimulantes: 99% dos que participaram da pesquisa relataram que os filhos comentaram positivamente as atividades do projeto. O mesmo questionário mostrou que 63% das crianças sabor e saúde apresentaram mudança no hábito de consumo ao longo do ano, e 42,9% delas aumentaram a variedade dos alimentos ingeridos. Para implementar um projeto como este, existe a necessidade de uma infraestrutura mínima, com espaço para acomodar grupos de alunos e fogões, bancadas e acessórios culinários. Em escolas que dispõem de menos recursos, é possível simplificar as atividades, usando apenas alimentos crus, por exemplo. Outro expediente importante, que antecede as oficinas culinárias, é a manutenção, sempre que possível, de uma horta dentro do espaço da escola. No início do ano letivo, crianças acompanhadas de professores plantam os alimentos e, em horários programados ao longo do semestre, acompanham o crescimento das mudas. Depois fazem a colheita e usam os vegetais na oficina de culinária. “É uma maneira de a escola dar mais visibilidade aos alimentos saudáveis. O aluno acompanha todo o caminho do alimento, da semente até o prato”, explica a nutricionista do colégio Magister, Viviane Harumi Nagano, responsável pelas atividades da cozinha experimental construída na escola. No primeiro semestre deste ano, sob supervisão de Viviane, os alunos da escola paulistana plantaram sementes de cenoura e alface na horta. Regaram diariamente, em horários previamente combinados e, quando chegou a hora, fizeram a colheita. Viram pela primeira vez o ciclo da natureza em ação, ao mesmo tempo em que aprenderam sobre o papel do solo e seus nutrientes, da água e do sol numa plantação. A atividade terminou com a preparação de um bolo de alface — e com crianças encantadas com a possibilidade de fazer uma sobremesa a partir de folhas colhidas. Esse encantamento, na avaliação da educadora Rosana Padial, especialista em educação alimentar de crianças e adolescentes, faz parte de um sentimento que a sociedade moderna perdeu ao distanciar demais as pessoas dos alimentos in natura. Segundo ela, tal aproximação é essencial, não apenas para uma boa nutrição, mas também para resgatar a simbologia envolvida no ato de se reunir para cozinhar e comer. “A escola tem todos os elementos para promover esse resgate. História, ciência, geografia, filosofia, antropologia são áreas do conhecimento ensinadas em separado, mas podem ser consolidadas na mesa, por meio da comida”, explica. Rosana é uma das fundadoras do Programa Nutrir, da Nestlé, que aposta na capacitação de educadores e merendeiras de escolas públicas, ensinando-os a utilizar melhor os alimentos, evitar o desperdício e preparar novas receitas, e humanizando a maneira pela qual a escola lida com a alimentação. Rosana recorda que, ao visitar uma escola na zona rural de Minas Gerais, ouviu de uma professora que os alunos se surpreenderam ao saber que a mandioca era uma raiz. E que um dos momentos mais emocionantes da aula de educação alimentar ocorreu quando os alunos, juntos, tiraram algumas raízes da terra. 43 44 sabor e saúde De conteúdos transversais à maioridade No Brasil, a educação nutricional no ambiente escolar e, consequentemente, aulas e oficinas de culinária como eixo central desse tipo de ensino são relativamente recentes. Elas começaram a aparecer, de maneira discreta, como conteúdos transversais nas diretrizes curriculares a partir da metade dos anos 1990. Mas foi em 2006, com a publicação de uma portaria interministerial, que o governo passou a ter um conjunto de orientações para promover alimentação saudável nas escolas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, nas redes pública e privada. O primeiro eixo dessa portaria prevê que esse ensino deve considerar hábitos alimentares como expressão de manifestações culturais regionais, levando em conta o contexto socioeconômico do estudante. O segundo inclui estímulo à produção de hortas para realização de atividades dentro da escola, como as oficinas de culinária e as cozinhas experimentais. O terceiro item prevê a proibição do comércio de alimentos com excesso de gordura, sal e açúcar dentro das escolas — norma em vigor nas escolas públicas do Estado de São Paulo desde 2009. A aproximação dos alimentos in natura é essencial, não apenas para uma boa nutrição, mas também para resgatar a simbologia envolvida no ato de se reunir para cozinhar e comer. Além disso, a atual Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), elaborada pelo Ministério da Saúde a partir de encontros e debates com diversas entidades da sociedade civil, considera a educação nutricional como essencial para a promoção de uma alimentação saudável entre a população, apesar de não detalhar como ela deveria se dar. A partir das diretrizes gerais, educadores e nutricionistas dedicaram-se nos últimos anos a pesquisar formas efetivas de implementar uma educação nutricional dentro das escolas, trabalhando com merendeiras (ensinando como fazer preparações mais saudáveis e que evitem o desperdício ao usar talos, folhas e cascas), elaborando materiais para servir de referência (como guias de alimentação saudável que são distribuídos aos alunos) e realizando encontros com as famílias (para orientação de como montar a lancheira e de quais são os melhores alimentos para oferecer às crianças). Uma vez implementados, com pequenas variações, esses programas têm-se mostrado eficazes. E é nesse contexto que pesquisadores da área de nutrição passaram a priorizar o resgate da culinária como uma prática educativa eficaz, capaz de envolver toda a comunidade escolar e promover uma mudança de hábitos alimentares. Enquanto na rede privada as oficinas ganham cada vez mais espaço nas cozinhas experimentais, na rede pública o desafio é maior e mais complexo — principalmente pela precariedade de infraestrutura. Mesmo assim, iniciativas bastante diversificadas já despontam nesse cenário. sabor e saúde Hambúrguer de aveia, beijinho de soja e a bactéria Azulina O projeto Cozinha Brasil Infantil, por exemplo, elaborado pelo Serviço Social da Indústria-Sesi, desenvolveu no ano passado um conjunto de ações para o ensino nutricional em duas escolas públicas localizadas na zona oeste do Rio de Janeiro. Seu objetivo era o de estimular o consumo de alimentos que geralmente sofrem rejeição por parte das crianças e acrescentar conhecimentos nutricionais básicos aos alunos do 2º e do 4º ano do Ensino Fundamental, desenhando uma metodologia que pudesse ser replicada em outras escolas com o mesmo perfil. Além de uma horta, de uma cozinha e de aulas práticas de culinária, os organizadores do projeto criaram uma gincana formada por várias tarefas que, quando realizadas de maneira bem-sucedida, somavam pontos para cada escola. Foi uma das maneiras encontradas para garantir um maior envolvimento dos alunos. Outra técnica desenvolvida pelo grupo foi batizada de dinâmica da purpurina: uma nutricionista colocava o pó brilhante nas mãos e cumprimentava cada aluno. Ao fim do ritual, as crianças se davam conta de que suas mãos estavam brilhando. Era a deixa para apresentar a bactéria “Azulina” e falar da importância de lavar as mãos e os alimentos de forma correta. “É na infância que se solidifica a base do comportamento alimentar de crianças e adolescentes, influenciado pelo ambiente escolar, pelos hábitos alimentares dos colegas e dos pais e pela mídia. Por isso, utilizamos estratégias que buscam modificar a forma de aceitação do alimento, oferecendo um novo modo de apresentação”, conta a nutricionista Aline Fátima de Oliveira Macedo, uma das integrantes do projeto. Em vez de refrigerantes, as crianças prepararam sucos com couve, maracujá e limão que colheram da horta. Experimentaram hambúrguer feito com aveia, acompanhado de macarronada com molho de tomates frescos e, como sobremesa, beijinho à base de soja. Para estimular os mais resistentes, foi proposto um reforço: uma das tarefas da gincana era a de provar as refeições preparadas. “Esta foi bastante polêmica para todos, principalmente no primeiro dia. No entanto, nos demais dias, a resistência foi diminuindo e os próprios colegas de turma incentivavam quem tinha receio de provar as receitas”, diz a nutricionista. A expectativa de Aline é a de que, ao fim do processo, cada um dos alunos tenha criado uma nova relação com os alimentos que consumiu — uma relação mais consciente e também mais curiosa, que ainda deverá se desenvolver ao longo dos anos e refletir nas escolhas alimentares que eles farão na vida adulta. Em adição a isso, e para além da função nutricional básica dos alimentos, Rosana Padial reflete que: “Existem duas comidas à mesa: a ‘comida gasolina’, que você come correndo apenas porque precisa do combustível, e aquela que remete a uma boa lembrança, ao afeto, ao cuidado. É essa que procuramos resgatar”. 45 É na infância que se solidifica a base do comportamento alimentar de crianças e adolescentes. Conheça em detalhes o Programa Nutrir da Nestlé, as diretrizes do governo para a promoção da alimentação saudável nas escolas e a segunda edição da Política Nacional de Alimentação e Nutrição publicada pelo Ministério da Saúde. www.nestle.com.br/nestlenutrisaude/NestleBio.aspx leitura crítica Dieta, estilo de vida e ganho de peso no longo prazo em homens e mulheres Para a maioria das pessoas, perder peso e manter-se na faixa de normalidade do Índice de Massa Corporal é um desafio. Diversos estudos mostraram redução expressiva do peso de indivíduos com sobrepeso ou obesidade que são submetidos a programas de intervenção quando comparados com grupos-controles. Mas o que nos falta atualmente é a comprovação de quanto tempo a manutenção de peso saudável perdurará nesses indivíduos ao longo dos anos e como os fatores comportamentais relacionados ao estilo de vida concomitantemente poderão contribuir para as mudanças de peso. Como se sabe, a obesidade é uma doença de etiologia complexa, associada a determinantes genéticos, psicológicos, socioeconômicos e ambientais. Sendo estes últimos considerados fatores modificáveis (dieta inadequada e sedentarismo), as recomendações atuais para a prevenção da obesidade visam à alimentação equilibrada e ao estímulo à atividade física; porém, não se deve deixar de considerar os demais comportamentos das pessoas relacionados com o estilo de vida que agem em conjunto na promoção do ganho de peso. Sob essa ótica, um estudo longitudinal recente, conduzido por um grupo de pesquisadores de Harvard, buscou en- tender como as mudanças no estilo de vida ao longo de vinte anos influenciaram o ganho de peso em mulheres e homens. Para atingir esse objetivo, os autores reuniram dados de três importantes estudos americanos de coorte: Estudo sobre a Saúde das Enfermeiras (Nurse’s Health Study), que teve início em 1976; o Estudo sobre a Saúde das Enfermeiras II (Nurse’s Health Study II), que teve início em 1989, e o Estudo sobre a Saúde dos Profissionais (Health Professionals Follow-up Study), que teve início em 1986. A amostra final contou com a participação de 120.877 homens e mulheres de até 65 anos de idade. Todos os indivíduos eram eutróficos no início do estudo e livres de qualquer doença crônica que pudesse comprometer os resultados. Durante um período de 20 anos observado (de 1986 a 2006), o peso corporal dos indivíduos e o estilo de vida foram avaliados a cada intervalo de 4 anos. As variáveis do estilo de vida definidas pelos autores eram a prática de atividade física, o tempo gasto diante da televisão, o consumo de álcool, as horas de sono, a dieta e o hábito de fumar. Especificamente com relação à dieta, considera-se o consumo de frutas e vegetais, grãos integrais, grãos refinados, batata em diferentes tipos de preparação leitura crítica (cozida, frita, tipo chips, purê ou assada), derivados do leite integral e desnatado, bebidas açucaradas, doces e sobremesas, carnes processadas e não processadas, alimentos fritos consumidos em casa ou fora de casa e ingestão de gorduras trans. Os autores observaram que o ganho de peso médio das três coortes juntas foi de 1,5 kg, entre os intervalos de 4 anos de avaliação, correspondendo a um ganho de 7,56 kg em 20 anos. Com relação à dieta, foi interessante notar que alimentos específicos contribuíram positivamente ou negativamente para o ganho de peso. Por exemplo, a maioria dos componentes da dieta avaliados foi associada ao aumento de peso, mas os que mais chamaram a atenção foram aqueles cujo consumo foi além das porções diárias recomendadas, como: batatas fritas (1,5 kg), batatas tipo chips (0,76 kg), bebidas açucaradas (0,14 kg), doces e sobremesas (0,18 kg), carnes processadas (0,42 kg), carnes não processadas (0,43 kg) e gorduras trans (0,30 kg). Por outro lado, associações inversas com o ganho de peso, ou seja, o consumo desses alimentos associado à perda de peso foi: frutas (-0,22 kg), vegetais (-0,10 kg), castanhas (-0,25 kg), iogurte (-0,37 kg) e grãos integrais (-0,17 kg). Todos os resultados levaram em consideração as variáveis que pudessem interferir na associação entre o consumo dos alimentos e as mudanças no peso, como a idade, o sexo, o hábito de fumar e beber, período de sono, horas diante da televisão e todos os fatores dietéticos simultaneamente. Quanto à prática de atividade física, observou-se que os indivíduos ativos ganharam em média 0,80 kg menos peso num intervalo de 4 anos de avaliação. Ingestão de álcool acima do recomendado esteve associada ao aumento de peso de 0,18 kg. Dormir menos do que 6 horas por dia ou mais do que 8 horas por dia assim como também o aumento das horas diante da televisão estiveram associados com o ganho de peso. E, finalmente, comparando-se os indivíduos que nunca fumaram com os ex-fumantes, houve incremento de peso de 2,32 kg. Segundo os autores, embora as associações fossem pequenas, no geral as mudanças na dieta e atividade física representaram grandes diferenças no ganho de peso ao longo dos anos. Associações fortes e positivas com a mudança de peso foram observadas para alimentos ricos em amidos, grãos refinados e alimentos processados. Tais alimentos, por causarem pouca saciedade, aumentam a ingestão calórica total em comparação com o número de calorias equivalentes obtidas de alimentos menos processados e ricos em fibras que contêm gorduras saudáveis, proteínas, vitaminas e minerais. O consumo de vegetais, castanhas, frutas e grãos integrais, por sua vez, foi inversamente associado ao ganho de peso, sugerindo que a presença deles na dieta consequentemente reduziria a ingestão de outros alimentos considerados calóricos, diminuindo, dessa forma, a quantidade total de energia consumida. De um modo geral, essas análises mostraram relações divergentes entre alimentos específicos ou 47 bebidas e ganho de peso no longo prazo, mostrando que a qualidade da dieta (tipo de alimentos consumidos) influencia a sua quantidade calórica. Ainda na opinião dos autores, dar ênfase somente ao total de calorias ingeridas pode não ser um caminho para consumir menos calorias do que se gasta, mas focar a qualidade total da dieta foi mais importante de acordo com os resultados. Entre as limitações do estudo, os autores citaram a não mensuração do tamanho das porções entre os participantes, as variações intraindividuais da ingestão alimentar e que os indivíduos das coortes estudadas eram compostos em grande parte de adultos brancos e com nível superior, dos Estados Unidos, o que poderia limitar a generalização dos resultados. O estudo foi muito bem conduzido metodologicamente, partindo de um grupo de homens e mulheres eutróficos, que foram acompanhados ao longo de 20 anos. Outros trabalhos, no entanto, que são realizados por um curto período de tempo, em geral avaliam a perda de peso de indivíduos que já apresentavam sobrepeso ou obesidade, considerando ou não a interferência do estilo de vida. Outro aspecto que foi mostrado é o fato de diferentes alimentos terem contribuído positivamente ou negativamente para as mudanças de peso. Isso reforça a importância de estimularmos a população a fazer escolhas alimentares saudáveis e, ao mesmo tempo, conscientizá-la sobre mudar seu estilo de vida: parar de beber ou fumar, ter uma boa noite de sono e se exercitar, a fim de prevenir a obesidade e suas consequências para a saúde. [1] Mozaffarian D, Hao T, Rimm EB, Willett WC, Hu FB. Changes in diet and lifestyle and long-term weight gain in women and men. N Engl J Med. 2011;364(25):2392-404. Fernanda Cobayashi é Nutricionista, pós-doutoranda do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. NOTA IMPORTANTE: AS GESTANTES E NUTRIZES PRECISAM SER INFORMADAS QUE O LEITE MATERNO É O IDEAL PARA O LACTENTE, CONSTITUINDO-SE A MELHOR NUTRIÇÃO E PROTEÇÃO PARA ESTAS CRIANÇAS. A MÃE DEVE SER ORIENTADA QUANTO À IMPORTÂNCIA DE UMA DIETA EQUILIBRADA NESTE PERÍODO E QUANTO À MANEIRA DE SE PREPARAR PARA O ALEITAMENTO AO SEIO ATÉ OS DOIS ANOS DE IDADE DA CRIANÇA OU MAIS. O USO DE MAMADEIRAS, BICOS E CHUPETAS DEVE SER DESENCORAJADO, POIS PODE TRAZER EFEITOS NEGATIVOS SOBRE O ALEITAMENTO NATURAL. A MÃE DEVE SER PREVENIDA QUANTO À DIFICULDADE DE VOLTAR A AMAMENTAR SEU FILHO UMA VEZ ABANDONADO O ALEITAMENTO AO SEIO. ANTES DE SER RECOMENDADO O USO DE UM SUBSTITUTO DO LEITE MATERNO, DEVEM SER CONSIDERADAS AS CIRCUNSTÂNCIAS FAMILIARES E O CUSTO ENVOLVIDO. A MÃE DEVE ESTAR CIENTE DAS IMPLICAÇÕES ECONÔMICAS E SOCIAIS DO NÃO ALEITAMENTO AO SEIO – PARA UM RECÉM-NASCIDO ALIMENTADO EXCLUSIVAMENTE COM MAMADEIRA SERÁ NECESSÁRIA MAIS DE UMA LATA POR SEMANA. DEVE-SE LEMBRAR À MÃE QUE O LEITE MATERNO NÃO É SOMENTE O MELHOR, MAS TAMBÉM O MAIS ECONÔMICO ALIMENTO PARA O LACTENTE. CASO VENHA A SER TOMADA A DECISÃO DE INTRODUZIR A ALIMENTAÇÃO POR MAMADEIRA É IMPORTANTE QUE SEJAM FORNECIDAS INSTRUÇÕES SOBRE OS MÉTODOS CORRETOS DE PREPARO COM HIGIENE RESSALTANDO-SE QUE O USO DE MAMADEIRA E ÁGUA NÃO FERVIDAS E DILUIÇÃO INCORRETA PODEM CAUSAR DOENÇAS. OMS – CÓDIGO INTERNACIONAL DE COMERCIALIZAÇÃO DE SUBSTITUTOS DO LEITE MATERNO. WHA 34:22, MAIO DE 1981. PORTARIA Nº 2.051 – MS DE 08 DE NOVEMBRO DE 2001, RESOLUÇÃO Nº 222 – ANVISA – MS DE 05 DE AGOSTO DE 2002 E LEI 11.265/06 DE 04.01.2006 – PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA – REGULAMENTAM A COMERCIALIZAÇÃO DE ALIMENTOS PARA LACTENTES E CRIANÇAS DE PRIMEIRA INFÂNCIA E TAMBÉM A DE PRODUTOS DE PUERICULTURA CORRELATOS.