AZ 192DEC
Transcription
AZ 192DEC
AZIMUTE z Revista MILITAR DA INFANTARIA EPI 6 N.º 192 – Dezembro 2011 Tomada de posse do novo Comandante da EPI Diretor: Comandante da EPI COR INF João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro Coordenação e Redação: COR INF REF Nelson de Sousa Figueiredo TCOR INF Rui Dias TCOR INF Mário Alvares CAP INF Bruno Mendes Relações Públicas: CAP INF Bruno Mendes Capa: TCOR INF Mário Alvares Fotografia: Centro de Audio Visuais do Exército Composição/Paginação: SOLD RC Lino Rocha Impressão: Rolo & Filhos II, S.A. (Mafra) Tel. 261 816 500 A renovação da eficiência na Escola Regimental 29 Propriedade: EPI - Alameda da Escola Prática de Infantaria 2640 - 777 MAFRA Tel. Civil - 261 81 21 05 Fax Civil - 261 81 16 01 Tel. Mil. (Central) - 420 400 Fax Mil. - 420 505 Tel. Relações Públicas - 420 456 Fax Relações Públicas - 420 455 www.exercito.pt epi.mafra@mail.telepac.pt epi.azimute@mail.telepac.pt epi@mail.exercito.pt Tiragem: 800 Exemplares Depósito Legal n.º 4510/84 62 As provas de decisão militar Nº 192 DEC11 1 AZIMUTE z Indíce 3Editorial 4 Mensagem de Natal do Director-Honorário da Arma de Infantaria 5 Novo Comandante da EPI 6Tomada de posse do novo Comandante da EPI Ronda pelas Unidades 9 Regimento de Infantaria N.º 10 Temas Gerais 15 14 de Agosto, Dia da Infantaria 22Exposição do 14 de Agosto Tema - O desafio da qualidade e a reforma dos processos de trabalho 25 29 33 37 Um Sistema de Gestão da Qualidade Integrado A renovação da eficiência na Escola Regimental - Novos processos, novas dinâmicas A Escola e a importância dos processos na gestão dos recursos. Saber Fazer, Saber Mais e Fazer Mais e Melhor - A Eficiência Processual das Organizações - Tecnicamente Falando 40 Centro de Excelência de Combate em Áreas Edificadas 43 Sistema de Análise Vídeo – Novas Dinâmicas Formativas para o Combate em Áreas Edificadas 45Instrução de Tiro e Infraestruturas de Tiro. Qual o caminho a seguir? 49 Nato Urban Operations.Nato Training Group Task Group - Reunião Grécia – 2ºsemestre 52 Operações de Cerco e Busca 59A Psicologia Organizacional e a Instituição Militar 62As Provas de Decisão Militar 65 Materiais fibrosos na proteção militar 70 Fibras na proteção pessoal 77A primeira Oficial de infantaria do sexo feminino - A vitória sobre um dogma 79Testagem de vidros com protecção balistica com a empresa VICER Actividades 82 87 89 91 Cooperação Técnico-Militar com Timor-Leste - Projecto Nº4 MCCC – Maneuver Captains Career Course Clube Militar de Oficiais de Mafra Cursos, Visitas e Notícias Cultural 99 Microtreinos ou Microssessões 103 O Natal visto por poetas portugueses ao longo de 500 anos 104In memoriam Os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores, e não vinculam as opiniões do Corpo Editorial. 2 Nº 192 DEC11 Editorial Pensar, comunicar e agir com positividade Nesta primeira oportunidade de escrever este editorial, quero iniciar esta mensagem saudando todos os Infantes e também todos os leitores desta publicação que tanto tem contribuído para transmitir os ideais de tradição e de inovação que sempre caraterizaram a Arma de Infantaria e a sua Casa Mãe. AZIMUTE z Uma segunda palavra é inteiramente devida aos militares e civis da Escola Prática de Infantaria, os que nela atualmente servem e os que nos deixaram este nobre legado que, diariamente, procuramos honrar com devoção e espírito de missão. É com particular orgulho e enorme satisfação que constato e manifesto a elevada qualidade e proficiência com que a Escola vem cumprindo com as suas atividades e tarefas. O seu volume, abrangência e complexidade continua a encontrar o justo rival na iniciativa, no espírito e na combatividade dos Infantes da Escola. No atual momento de incerteza e de imprevisibilidade, a Escola procura responder com atitudes positivas, novas aberturas e uma postura de esperança, não apenas porque a incerteza sempre foi, e sempre será, uma das características próprias do ambiente operacional no qual os militares se movem, mas pelas suas particulares responsabilidades na transmissão e no reforço às novas gerações de Oficiais, Sargentos e Praças que aqui iniciam ou concluem as suas ações de formação inicial, dos mais puros valores militares, humanos e profissionais da Infantaria, instrumentos essenciais e particularmente adequados à ultrapassagem dos desafios e das perceções que em determinado momento nos possam parecer incontornáveis. É desta forma que a Casa Mãe vem procurando reinventar-se todos os dias, reforçando estas mensagens e procurando metodologias e instrumentos mais eficientes, reduzindo os encargos e cumprindo com eficácia as suas missões. Simultaneamente, a Escola mantém o seu esforço na sua missão fundamental, a formação, mas com um espírito crítico, procurando melhores conteúdos e formas de fazer chegar o conhecimento adequado aos seus formandos. Abrimos ainda novas portas a novos atores, através do estabelecimento de relações no mundo académico e empresarial, no âmbito da investigação e do desenvolvimento ou na cooperação com entidades diversificadas, de que procuramos dar boa conta nesta edição da Azimute. Esta é a resposta que a Escola de todos os Infantes procura materializar, incessantemente, pensando, comunicando e agindo com positividade e, na certeza da continuidade da moralidade das missões, afastando a negatividade com competência, determinação e criatividade. Privilegiando os princípios da Segurança e da Qualidade, a EPI iniciou mais um ano letivo, exercendo o seu esforço em três linhas de ação: a implementação de um Sistema de Gestão de Qualidade nos diferentes subsistemas funcionais da unidade, o desenvolvimento do Centro de Excelência de Combate em Áreas Edificadas, bem como projetando e preparando a provecta mas sempre jovem idade de quase 125 anos da nossa Escola. É assim, com natural orgulho no nosso longo passado e com justificada esperança no nosso futuro que pretendo hoje, em conjunto com todos os militares e civis da Escola, desejar a todos os nossos leitores, de forma muito sentida e sincera, um Santo Natal e um 2012 pleno de confiança e de realização. Nº 192 DEC11 3 AZIMUTE z Mensagem de Natal do Director-Honorário da Arma de Infantaria Caros (as) Infantes! Não constitui surpresa para ninguém que a situação do Portugal de hoje é grave. Todos os dias nos apercebemos nos mais diversos órgãos de comunicação social (OCS) que Portugal, a Europa e o Mundo Ocidental atravessam uma grave e muito preocupante crise financeira. Ouve-se falar de bancarrota, de colapso da economia e de desemprego. Nós militares, nós Infantes, não estamos imunes a tais situações e, por isso, sofremos, como os demais portugueses, os sacrifícios que o actual quadro do País nos obriga. No entanto, e sem pretender levantar qualquer polémica, até porque vos escrevo em pleno período e espírito natalício, estranho, interrogo-me, tento descortinar a razão ou os motivos para ninguém falar em crise de valores. Sim, porque, salvo melhor opinião, a situação em que vivemos só foi possível porque às palavras não corresponderam os respectivos actos. Mas para nós Infantes as palavras e os actos têm de andar sempre de mãos dadas, pois não é possível estar permanentemente disponível para defender os mais elevados interesses de Portugal se esses não forem valores e desígnios verdadeiramente Nacionais e não contribuírem para o engrandecimento da Pátria. É em tempo de crise que nós Infantes mais facilmente compreendemos o que nos foi ensinado e que procuramos praticar no dia-a-dia. É em tempos difíceis que o valor da iniciativa assume papel primordial. A rotina fácil e servil perverte vontades e promove em cada um de nós a execução automática das prescrições superiores. O hábito, qual lei da natureza, potencia defeitos e vícios dificilmente extinguíveis. Os tempos que estamos a viver carecem do contributo de todos, de modo que, esboçada a ideia geral, a ideia directriz, a ideia motora, ou seja, o conceito de operação, que para merecer tal designação tem de ser exequível, cada comandante ou chefe, ao seu nível, tem a obrigação e o dever de a completar consoante as circunstâncias particulares do seu caso. Deste modo, ninguém poderá ousar afirmar que não fez o que devia por não ter recebido a ordem. Por outro lado, a verdadeira iniciativa, não deve, não pode, contrariar o pensamento e a intenção do “General em Chefe”. Porém, o princípio da iniciativa não é cada um fazer desordenadamente o que quiser. É, pelo contrário, a divisão organizada do trabalho, a sinergia de esforços inteligentes, é o complemento da arte criadora do comando. A iniciativa nasce do estudo, da competência, do critério, da razão e até da alma do subordinado. A iniciativa deve ser cuidadosamente cultivada na paz, para não emergir como uma surpresa na guerra. Neste período de Natal, aproveitemos para meditar no valor da iniciativa, para que sejamos capazes de encontrar as melhores formas de contribuir, sem aumento de recursos, para a saída da crise que se abateu sobre Portugal. Um Santo Natal para todos (as) aqueles (as) que servem Portugal na Infantaria e, em especial, para aqueles (as) que nesta quadra festiva, por razões de serviço, se encontram longe do Território Nacional. O Director-Honorário da Arma de Infantaria João Nuno Jorge Vaz Antunes Tenente-General 4 Nº 192 DEC11 O Coronel João Pedro Ribeiro, nasceu na Covilhã, a 29 de Dezembro de 1964. Frequentou os estudos básicos e secundários na mesma cidade, tendo concluído o 12º ano de escolaridade em Coimbra. Ingressou na Academia Militar em Setembro de 1982, concluindo a Licenciatura em Ciências Militares – ramo Infantaria, no ano de 1987. Frequentou posteriormente alguns cursos de especialização, nas áreas da Defesa Nuclear, Biológica e Química e Operações de Apoio à Paz, para além dos cursos curriculares normais, como o Curso de Promoção a Capitão de Infantaria em 1991 e o Curso de Promoção a Oficial Superior em 1995. Frequentou ainda o Curso de Estado-Maior do Exército, no Instituto de Altos Estudos Militares, entre 1997 e 1999. Ao longo da sua vida militar, desempenhou serviço na Academia Militar, Regimento de Infantaria do Funchal, Escola Prática de Infantaria, Comando da Instrução, Brigada Mecanizada Independente, Instituto de Altos Estudos Militares, Presidência da República e Comando das Forças Terrestres. Entre 1989 e 1996, desempenhou diversas funções no âmbito do Comando, Direcção e Chefia, das quais se destacam os três anos de comando de subunidades de escalão companhia e a Direcção do Tirocínio para Promoção a Oficial de Infantaria. Ao longo do mesmo período assumiu diversas responsabilidades no âmbito do ensino e da instrução, particularmente no que concerne à instrução do Corpo de Alunos da Academia Militar e ao ensino de vários Cursos de Promoção a Capitão de Infantaria. De destacar igualmente as funções exercidas enquanto Chefe da Secção de Estudos Técnicos da Escola Prática de Infantaria, realizando diversos estudos e testes relativos a técnicas, tácticas e equipamentos específicos da sua Arma. Após a frequência do Curso de Estado-Maior que concluiu com a classificação de distinto, foi colocado no Comando da Instrução, na directa dependência do Tenente General Comandante da Instrução do Exército, onde desenvolveu estudos nas áreas do Ensino à Distância, do Sistema de Instrução para o Exército de Voluntários e no novo Regulamento de Instrução do Exército. No âmbito operacional, exerceu as funções de Oficial de Operações do Agrupamento DELTA da Brigada Mecanizada Independente, força nacional destacada para o teatro de operações do Kosovo, durante o período 2000-2001. Foi posteriormente colocado no Instituto de Altos Estudos Militares, como Professor, leccionando diversas matérias na área da Táctica, com destaque para as Operações Conjuntas e Combinadas. Entre Setembro de 2003 e Março de 2006, desempenhou as funções de Staff Training Development Officer e Policy and Programming Officer, na Divisão de Treino do Joint Force Command Headquarters Naples, em Itália, no âmbito do desenvolvimento de conceitos de treino, programação e execução de exercícios NATO. De Março de 2006 a Julho de 2008 desempenhou as funções de Assessor Militar para o Exército de Sua Excelência o Presidente da República. Posteriormente foi nomeado 2º Comandante da Escola Prática de Infantaria, funções que exerceu entre Agosto de 2008 e Dezembro de 2009. Em Janeiro de 2010 iniciou o desempenho de funções no gabinete do Tenente General Comandante das Forças Terrestres, assumindo em particular o cargo de Chairman do EUROFOR SUBWORKING GROUP, no âmbito do projecto do levantamento do primeiro Battle Group disponibilizado por esta entidade à União Europeia e as funções de coordenador nacional, no âmbito do CFT, do projecto de levantamento e aprontamento das capacidades nacionais oferecidas para aquela capacidae de reacção rápida. Foi ainda delegado do Exército Português em diversos grupos de trabalho NATO, tendo sido promovido ao actual posto em 30 de Junho de 2009. Por despacho de Sua Excelência o General Chefe de Estado Maior do Exército, foi nomeado por escolha para as funções de Comandante da Escola Prática de Infantaria, funções que assumiu desde 05 de Setembro de 2011. Da sua folha de serviços constam diversos louvores e condecorações, das quais se destaca o agraciamento com o grau de Comendador da Ordem Militar de Avis, três Medalhas de Prata de Serviços Distintos, uma das quais com palma, a Medalha de Mérito Militar de 3ª classe, a Medalha da Defesa Nacional de 2ª classe, as Medalhas de 2ª e 3ª classes de D. Afonso Henriques, a Medalha de Prata de Comportamento Exemplar e duas Medalhas NATO da Campanha do Kosovo. O Coronel Ribeiro é casado e tem uma filha e dois filhos. AZIMUTE z Novo Comandante da EPI João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro Coronel de Infantaria Azimute Nº 192 DEC11 5 AZIMUTE z Tomada de posse do novo Comandante da EPI 6 O Coronel de Infantaria João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro assumiu, em 05 de Setembro de 2011, o comando da Escola Prática de Infantaria. Por despacho de 11 de Agosto de 2011 de SExa o GEN CEME, foi nomeado, “por escolha” para as funções de Comandante da EPI, o Cor Inf João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro, tendo ocorrido em 05SET11 a cerimónia de tomada de posse do coman- a formatura geral o aguardava. Depois das honras militares o Exmo comandante passou revista às tropas e proferiu o discurso de tomada de posse que seguidamente se transcreve: do da EPI na Parada Coronel Magalhães Osório. Pelas 10h30 desse dia o Exmo Comandante dirigiu-se para o gabinete do comandante onde, tradicionalmente, lhe foi colocado o crachá da Unidade, tendo-se dirigido de seguida para a parada onde mando da Escola Prática de Infantaria. Assumo o comando de uma Escola diferente. Porque a Escola é sempre diferente. Porque as pessoas que nela servem são diferentes ou porque exercem funções diferentes, porque utilizam novos instrumentos Nº 192 DEC11 “ Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários Civis da Escola Prática de Infantaria: 25 anos após aqui me ter apresentado como Aspirante Tirocinante, assumo hoje o co- ou processos ou porque estão inseridas numa lógica estrutural modificada ou até, porque existem novas missões e tarefas. É esta permanente diferença que confere a esta Escola a sua adaptatividade e a perspectiva inovadora que sempre lhe garantiu e continua a garantir, uma posição cimeira e um reconhecimento inequívoco do desenvolvimento doutrinário, organizacional ou ao nível dos equipamentos e armamentos da Arma de Infantaria e tantas vezes, também do Exército. É esta diferença, sempre amplamente procurada, que garante a esta Escola a dinâmica para a constante investigação e descoberta de novos e melhores métodos, processos e doutrinas, hoje cada vez mais necessários para a adaptação militar às exigências do ambiente operacional interno e externo. É esta permanente diferença que tem permitido a coerência adequada às exigências de cada tempo e de cada solicitação. Será esta diferença que garantirá, uma vez mais, a capacidade de adaptação e de inovação que manterá a Escola na liderança dos processos de modernização e de formação da Infantaria e no apoio ao levantamento das novas capacidades do Exército. AZIMUTE z Cerca de 2 anos após ter desempenhado as últimas funções que nesta Casa exerci, assumo hoje o comando da Escola. Da mesma Escola de sempre. Porque a Escola é sempre igual. Porque os valores, o espírito de serviço, de sacrifício e de missão das pessoas que nela servem, são imutáveis e perenes. Porque a vontade da perfeição e da excelência e a procura da sua transmissão aos que de nós dependem, associada ao são orgulho de servir na Casa-Mãe da Infantaria, continua a constituir a motivação essencial dos seus elementos. Porque o sentimento de protecção que nos liga a este espaço secular e a cumplicidade vivida com as entidades com quem o partilhamos e com a comunidade onde nos inserimos se mantém inalterada. É esta tradição transmitida e praticada de geração em geração, que vem conferindo à Escola a sua longevidade e será esta capacidade que lhe continuará a garantir a vontade férrea de se manter única e sempre pronta a aceitar e vencer os obstáculos que se lhe colocarem. Sempre diferente e sempre igual, a Escola vem percorrendo o seu caminho de desenvolvimento sustentado em direcção à excelência. Mas este percurso, longe de poder ser considerado automático, implica uma assunção individual e colectiva deste objectivo permanente e um empenhamento diário e total na sua consecução. Para continuarmos esse caminho, é imperioso mantermos a aplicação constante de princípios basilares: a segurança e a qualidade. será sempre uma prioridade desta Escola, que se deve traduzir nas atitudes individuais e colectivas, nos procedimentos e na sua constante verificação. Concorre directamente para este desiderato a disciplina, não apenas nos seus aspectos externamente mais visíveis, mas sobretudo a A actividade militar é por inerência uma actividade de risco. Aceitá-lo significa reconhecê-lo, identificá-lo e promover todas as acções necessárias para o eliminar ou diminuir à sua mínima expressão. Tanto nas nossas posições individuais, como nas nossas actividades ou na guarda e utilização das instalações e equipamentos que nos são confiados. A segurança é um alicerce essencial da profissão militar e auto-disciplina, praticada na sua verdadeira essência, em todos os actos e a todo o tempo. De igual importância, a qualidade é um factor determinante para o êxito da missão da Escola. Este princípio manifesta-se através de uma cultura organizacional de profissionalismo e rigor, sustentada em posturas e atitudes individuais de pormenor, materializando-se em processos verificáveis, incluindo a necessária Nº 192 DEC11 7 AZIMUTE z definição de objectivos e metas, uma programação criteriosa, um planeamento exaustivo, uma execução detalhada e uma avaliação contínua, permanentemente sob a supervisão e acompanhamento das lideranças de cada nível. Esta qualidade tem que ser verificada não apenas nas actividades e tarefas que nos vierem a ser solicitadas, mas também na preservação e aperfeiçoamento das condições de vida e de trabalho dos seus executantes. Assumindo sempre a formação como a sua primeira prioridade, a Escola manterá o seu esforço no desenvolvimento dos projectos que vem assumindo e nas reformas que tem vindo a encetar nos últimos anos, quer no âmbito da investigação e dos processos formativos, no sentido da manutenção do seu reconhecido estatuto de qualidade, como nos processos de âmbito regimental, procurando todos os dias, alcançar melhorias e ganhos que lhe garantam a melhoria das condições internas da unidade e a adequada afectação de recursos para as áreas essenciais da sua missão. A aplicação destes princípios – segurança e qualidade – constituirá a linha de acção essencial do Comando, na certeza de que a sua prática permanente 8 Nº 192 DEC11 contribuirá directamente para a condição fundamental do sucesso da Escola – manter os seus Soldados, no fundo os seus militares e civis, altamente motivados e conscientes da valia da sua acção, devolvendo à Infantaria, ao Exército e à Nação, quadros e tropas com uma cultura de modernidade, iniciativa e profissionalismo e dotados de profundos conhecimentos militares e vincados valores de cidadania. Militares e Funcionários Civis da Escola Prática de Infantaria Encontro-me, hoje, inundado por um sentimento de realização pessoal e profissional ímpar, ladeando com a consciência da enorme responsabilidade que estas funções encerram, emoções que encontram conforto e segurança nas vossas capacidades profissionais, extraordinário sentido de lealdade e espírito de missão que conheço e reconheço e com os quais conto de forma incondicional. Quero manifestar de forma inequívoca a sentida homenagem a todos quantos se nos antecederam e que elevaram esta Escola ao merecido patamar onde se encontra, como uma casa de formação de referência e de saber militar. A melhor justiça que podemos fazer-lhes é envidar todos os esforços para dar a devida continuidade a esta condição. A incerteza das condicionantes dos tempos futuros e das suas influências na vida da nossa Escola, constituem desafios que sendo seguramente diferentes e que nos impelem a fazer melhor com menos, não serão certamente maiores do que a nossa vontade, como em tantas outras situações com que os nossos antecessores foram confrontados. Tal como então, estou seguro, a nossa resposta residirá na nossa ambição de cumprir, na qualidade da nossa preparação e organização, na dinâmica da nossa inovação e criatividade construtiva, na eficácia das nossas acções e na evidência das mais insignes características dos Infantes: o brio, a disciplina e a humildade. As missões cumprem-se com as pessoas e hoje dirijo-me a todos os Infantes da Escola. A todos os que diariamente aqui servem com devoção e aos que longe do País levantam bem alto o prestígio desta Casa. Ciente da coesão e do espírito de união que a todos nos liga, manifesto a minha sólida confiança em todos vós, a minha esperança no nosso futuro e a minha firme vontade, determinação, empenho e dedicação à causa e à missão da Escola. “AD UNUM” Azimute Anfiteatro natural de terra mar e ar, várias foram as estruturas militares que estiveram aquarteladas no extremo Sul da península de S Jacinto. O Regimento de Infantaria Nº 10 tem identidade própria, na sua génese convergem a linha do local que ocupa e que lhe advém da ligação à origem e desenvolvimento da aeronáutica militar portuguesa e das tropas pára-quedistas. Um outro ramo resulta da herança muito digna e honrosa conferida pela designação que actualmente ostenta, um extenso legado de presença e excelso desempenho atribuídos a uma Unidade militar criada em Lisboa e que esteve durante cerca de dois séculos e de forma descontinuada, sediada no Porto, na Figueira da Foz, em Bragança e na cidade de Aveiro. A Unidade Militar de S. Jacinto Base Aeronaval Francesa A presença militar na península de S. Jacinto iniciou-se durante a Primeira Grande Guerra Mundial, quando o Governo Francês solicitou a Portugal a instalação de uma esquadrilha da sua Aviação Naval na região de Aveiro, para poder combater a acção dos submarinos das potências do Eixo, que cruzavam a costa Atlântica do Território Europeu. Esta instalação concretizou-se no dia 1 de Abril de 19181, com a chegada a S. Jacinto de oito hidroaviões franceses, com os respectivos pilotos e pessoal de apoio. 1 Actualmente celebrado como Dia da Unidade. Os oito hidroaviões desembarcaram em Leixões e chegaram a S. Jacinto por terra, puxados por juntas de bois através dos areais do litoral da península. Esta primeira infra-estrutura, bastante precária, era constituída por hangares e casas de madeira e lona. Com o final da Primeira Grande Guerra Mundial, em Dezembro de 1918, o Posto Aeronaval Francês foi entregue ao Serviço de Aviação da Armada Portuguesa, com todos os seus hidroaviões, meios e precárias infra-estruturas. Aviação Naval Portuguesa Logo após o final da Grande Guerra, em 1919, os hidroaviões levantam voo de S. Jacinto, para AZIMUTE Regimento de Infantaria N.º 10 no Porto participarem na contenção da revolta conhecida por “Monarquia do Norte”2. É a esta acção militar que se deve a implantação definitiva do Centro de Aviação Naval na península de S. Jacinto. Terminada a instabilidade político-militar, o Centro de Aviação Naval de S. Jacinto inicia um período de franca expansão em termos de material e infra-estruturas, sobressaindo a construção de um “hangar” que era o maior da Península Ibérica. Desde 1934 passa a funcionar no Centro de Aviação Naval de S. Jacinto a 2 Revolta que ocorreu na cidade do Porto em 1919 e que pretendia a restauração da monarquia em Portugal, conhecida como Revolta da Traulitânia. Chegada dos primeiros hidroaviões à Península de S. Jacinto, 1918. Nº 192 DEC11 9 AZIMUTE Escola de Aviação Naval Almirante Gago Coutinho legalmente criada (no Bom Sucesso, junto à Torre de Belém) em 1925 passando a dispor de algumas instalações adicionais junto ao Forte da Barra, assim como um “hangar” na Torreira, construído pelos estaleiros navais de S. Jacinto, que permitia aos hidroaviões amararem em situações de instrução. É a partir deste ano que se inicia, até 1952, uma fase de franco progresso da Aviação Naval Portuguesa, sendo de salientar que a pista entretanto construída, na extremidade da península de S jacinto, foi a primeira em Portugal a dispor de iluminação eléctrica, mesmo antes do Aeroporto da Portela de Sacavém em Lisboa. Durante esses anos, numa lógica relação de causa e efeito, a Aviação Naval percorreu o perío- do da sua “maturação” e a Escola de Aviação Naval Almirante Gago Coutinho tornou-se sala de visitas da Marinha, visitada e apreciada por muitas entidades militares e civis, nacionais e estrangeiras. A última Unidade Operacional da Aviação Naval em S. Jacinto, foi formada em princípios dos anos 50 do Sec.XX, com os aviões Helldivers SB2C-53. Estes aparelhos, acabaram por ser os últimos aviões da estrutura da Aviação Naval. Em 1952, com a criação da Força Aérea Portuguesa 3 Avião de fabrico americano que permitia bombardeamento picado e uma eficiente luta anti-submarina 10 Nº 192 DEC11 Centro de Aviação Naval de S. Jacinto (FAP), através da fusão das aviações do Exército e da Marinha, a Escola de Aviação Naval Almirante Gago Coutinho, com todas as suas infra-estruturas e material aeronáutico, passa para o controlo deste novo ramo das Forças Armadas pela Base Aérea nº 7, mantendo-se esta Unidade sempre vocacionada para as missões de instrução de pilotagem, a par da formação de técnicos e especialistas de manutenção e abastecimento. Em 1975, após o regresso das Portuguesas e adopta a designação de Base Aérea Nº 5. Forças Armadas das Províncias Ultramarinas Africanas, considerada que foi a necessidade de efectuar o reajustamento e reorganização das Tropas Pára-quedistas, foi criado, na dependência directa do Chefe do Estado-Maior da Força Aérea4, o Corpo de Tropas Páraquedistas (CTP), herdeiro das tradições e do património histórico-militar dos extintos Regimento de Caçadores Pára-quedistas e dos Batalhões de Caçadores Páraquedistas nº 12 (Bissau), nº 21 (Luanda), nº 31 (Beira) e nº 32 (Nacala). Força Aérea Portuguesa A Base Aérea n.º 5 era uma unidade especialmente vocacionada para a instrução de pilotagem, sendo extinta em 1956 para dar lugar ao Aeródromo – Base nº 2 (AB2), Unidade com a mesma missão da sua antecessora. Em 1957, por razões relacionadas com o crescimento da Força Aérea, assim como por razões de carácter político, baseadas na antevisão do envolvimento militar das Forças Armadas Portuguesas nas Províncias Ultramarinas, o AB2 é substituído 4 Vide Decreto-Lei nº 350/75 de 5 de Julho. Com a criação oficial da BOTP26, em paridade com o termo da operação da Esquadra de Aviões T-6, o Despacho nº 18/78 do Chefe do Estado-Maior da Força Aérea desactiva a BA7, instaura o Aeródromo de Manobra nº2 (AM2) e estabelece o Estatuto de Funcionamento conjunto do AM2/ BOTP2, o qual, além de definir as responsabilidades das duas Unidades em matéria de apoio mútuo, estabelece e delimita as áreas de ambas as Unidades em função das suas características e missões. O AM2 mantém uma esquadra operacional (operando aeronaves FTB-337), assim como as instalações aeroportuárias de S. 5 Nos que antecederam a promulgação do Dec.-Lei nº 350/75 de 5 de Julho, foram efectuadas diversas diligências no sentido de apurar a melhor localização para as unidades pára-quedistas, tendo ficado definido que uma seria no Norte do país. 6 Vide Portaria nº 552-A/77 de 3 de Setembro. Jacinto. Imediatamente após a instalação da BOTP2 em S. Jacinto, o Comando do CTP inicia um programa de recuperação e de adaptação do aquartelamento às missões das Subunidades nele instaladas, estabelecendo um plano de construção de novas infra-estruturas e de recuperação das já existentes, por forma a garantir o treino operacional um Batalhão de Pára-quedistas (BP 21) e da Companhia de Morteiros Pesados, aptos a serem integrados num conjunto de Forças que haveriam de constituir a Brigada Pára- quedista Ligeira (BRIPARAS). Durante o ano de 1990, no âmbito de uma reestruturação do dispositivo do CTP, o Batalhão de Pára-quedistas Nº11 (BP 11), então aquartelado na BOTP1 – Monsanto, é transferido para S. Jacinto. Posteriormente, com a extinção da BOTP1 em 1991, são igualmente transferidas para S. Jacinto a Companhia AntiCarro (CACar) e a Companhia de Comunicações (CCom), passando a estar aquarteladas em S. Jacinto a maioria das Subunidades da BRIPARAS, designadamente o Batalhão de Pára-quedistas AZIMUTE Durante o ano de 1977, fruto da reestruturação Força Aérea, a Base Aérea nº 7, que com o termo da Guerra do Ultramar viu a sua importância reduzida e a sua missão reformulada, cede grande parte das suas instalações para o levantamento da Base Operacional de Tropas Pára-quedistas nº 2 (BOTP2)5, tendo, numa primeira fase, sido instalados em S. Jacinto o Comando da Base Operacional e uma Companhia de Pára-quedistas (Companhia de Pára-quedistas 211). Torre de Controlo atribuída ao Arquitecto Keil do Amaral Nº11 (BP11), o Batalhão de Pára-quedistas Nº21 (BP21), o Grupo Operacional de Apoio de Serviços (GOAS), a Companhia de Morteiros Pesados (CMP), a Companhia de Comunicações (CCom) e a Companhia Anti-Carro (CACar). Com a redução de UnidadesBase consumada no início dos anos 90, em 1992 a FAP desactiva totalmente o Aeródromo de Manobra n.º 2, passando todas as instalações militares de S. Jacinto, para o controlo do Corpo de Tropas Pára-quedistas. A BOTP2 passa a administrar a totalidade da área da Base em S.Jacinto, incluindo o complexo aeronáutico e pistas, o Nº 192 DEC11 11 AZIMUTE Sessão de lançamento na área de instrução de Muranzel Destacamento do Forte da Barra, que durante a decada de 80 devido às obras do Porto de Aveiro mudou para as actuais instalações, assim como o Campo Militar do Muranzel - uma extensa faixa de terreno a Sul da povoação da Torreira. Exército Português Em 1 de Janeiro de 1994, no âmbito do processo de modernização e reorganização das Forças Armadas Portuguesas, dá-se a extinção do CTP na Força Aérea e a criação do Comando de Tropas Aerotransportadas (CTAT) no Exército Português. Com esta alteração é extinta a BOTP2 e criada, a 1 de Janeiro de 1994, na dependência do CTAT, a Área Militar de S. Jacinto (AMSJ). Esta Unidade Territorial, recebe todas as infra-estruturas e pessoal da extinta BOTP2 e passa a apoiar administrativa e logisticamente as Subunidades operacionais da Brigada Aerotransportada Independente (BAI) aquarteladas na Área Militar, designadamente o 2ºBatalhão de Infantaria Aerotransportado, o Batalhão de Apoio de Serviços, a Companhia de Transmissões, a Companhia de Morteiros Pesados e a Companhia Anti-Carro. Ainda em 1994, o Batalhão de Apoio de Serviços da BAI, activado em S. Jacinto com base nos efectivos e meios do extinto GOAS, 12 Nº 192 DEC11 é transferido para Tancos. Em 1996, segue-o a Companhia de Transmissões, igualmente activada em S. Jacinto com os meios e efectivos da extinta Companhia de Comunicações. A Companhia de Morteiros Pesados permanece activada até 1997, servindo simultaneamente como unidade de apoio de fogos da BAI e embrião para a formação da 1ª Bataria de Bocas de Fogo (BBF) desta Brigada. Em 1997, é extinta a CMP e a 1ª BBF é transferida de S. Jacinto para Missão “O Regimento de Infantaria 10 garante a prontidão do 2BIPara de acordo com os padrões superiormente definidos; Assegura os serviços gerais da Unidade, a conservação das instalações e manutenção do material e equipamento; À ordem colabora em acções no âmbito das OMIP; Prepara-se para garantir o aprontamento de outras Forças para missões específicas e superiormente determinadas.” Leiria. Em 2006, a actual Lei Orgânica do Exército7 extingue os Comandos Territoriais e de natureza territorial, incluindo o Comando de 7 Decreto-Lei nº61/2006, de 21 Março. Tropas Aerotransportadas, do qual a AMSJ dependia. Igualmente, em virtude desta reestruturação, é extinta a BAI, sendo em sua substituição criada a Brigada de Reacção Rápida, com o Comando em Tancos e da qual a Unidade sedeada em S. Jacinto passa a depender hierarquicamente. A nova Lei Orgânica do Exército altera também as designações de algumas Unidades, pelo que, desde 01 de Julho de 2006, a AMSJ passou a designarse Regimento de Infantaria Nº 10 (RI10), sendo uma das Unidades Regimentais da Brigada de Reacção Rápida. O 2º Batalhão de Infantaria Pára-quedista (2BIPara) Aquartelado no RI10 o 2BIPara é uma força de infantaria ligeira, vocacionada para as operações convencionais, com capacidade de projecção imediata e elevado estado de prontidão, caracterizando-se pela concentração de potencial de combate, rapidez na acção e flexibilidade, dotadas de capacidade de inserção no Teatro de Operações através de salto em pára-quedas. Está equipado com armamento ligeiro moderno e específico das Tropas Pára-quedistas, de onde se destacam os Morteiros 60 e 81 milímetros de longo alcance, o sistema anti-carro MILAN, o canhão sem recuo CARL GUSTAF e AZIMUTE Vista aérea da unidade e áreas de instrução e treino operacional Quase um século de história, a ostentação de ser a única Unidade das Forças Armadas Portuguesas que pertenceu aos seus três Ramos, assim como o singelo garbo, da condição única de presença em todos os Teatros de Operações em que estas estiveram envolvidas. Nº 192 DEC11 13 AZIMUTE Desfile do 2BIPara armado e equipado no Parque das Nações nas comemorações do dia do Exército em 1999 a espingarda automática GALLIL treino operacional, apanágio das combinados e cooperações bilat- de calibre 5,56 milímetros (calibre tropas pára-quedistas, tem par- erais, nomeadamente com forças NATO). ticipado em inúmeros exercícios pára-quedistas de Espanha, de nacionais e internacionais, no âm- Itália e da Bélgica. Missão “O 2º Batalhão de Infantaria Pára-quedista executa operações de assalto aéreo através de salto táctico em pára-quedas ou desembarque de assalto para conduzir operações de combate convencionais em áreas sensíveis ou negadas. Quando reforçado com meios de apoio adicionais, executa todo o espectro de missões de um Batalhão de Infantaria.” Força de elevado grau de prontidão operacional, o 2BIPara, dando continuidade à exigência do bito da OTAN e EUROFOR, assim O 2BIPara enriqueceu o histori- como em cooperações bilaterais al do Exército nos caminhos da paz com países amigos. Neste con- efectuando por 7 (sete) vezes o ci- texto, além dos exercícios sectoriais do Batalhão, Exercício ARES, tem participado anualmente no exercício sectorial da Brigada de Reacção Rápida, APOLO8, no exercício da série ORION do Exército Português, no exercício conjunto da Força Aérea portuguesa, REAL THAW, assim como em exercícios 8 O exercício APOLO sucedeu ao exercício anual da série JUPÍTER que tinha por finalidade exercitar e testar a força operacional do CTP, a BRIPARAS, culminando o ciclo anual de instrução de quadros e praças. clo de Força Nacional Destacada, envolvendo mais de 2400 dos seus efectivos. É de realçar que a 16 de Janeiro de 1996, pela primeira vez desde o final da Grande Guerra, em 1918, uma unidade de combate de escalão Batalhão das Forças Armadas Portuguesas, o então 2ºBIAT, voltava a actuar no continente Europeu, nos Balcãs na Bósnia-Herzegovina, assumindo de pleno direito as suas responsabilidades com a Aliança Atlântica. Salto de abertura automática do C-212 para zona de lançamento de S. Jacinto 14 Nº 192 DEC11 Azimute AZIMUTE 14 de Agosto, Dia da Infantaria Comemorou-se uma vez mais a 14 de Agosto de 2011 de Infantaria. o dia da Arma de Infantaria e da sua Escola Prática, O programa das comemorações contou com as numa evocação e homenagem ao seu patrono, D. seguintes actividades centrais Nuno Alvares Pereira (São Nuno de Santa Maria) e • Missa de Acção de Graças a todos os valorosos Soldados que desde Aljubarrota • Guarda de Honra à chegada de Sua Excelência o têm afirmado Portugal como uma Nação livre e Ministro da Defesa Nacional à Escola Prática de independente. Infantaria A cerimónia foi presidida por Sua Ex.ª o Ministro da Defesa Nacional, Dr José Pedro Aguiar Branco • Parada Militar no Terreiro D. João V presidida por Sua Excelência o Ministro da Defesa Nacional e contou com a presença de Sua Ex.ª o Chefe do • Ponto de Imprensa Estado Maior do Exército, General José Luís Pinto • Inauguração da Exposição subordinada ao tema – Ramalho e do Presidente da Câmara Municipal de “EPI – Escola no caminho da modernização ao ní- Mafra. Estiveram ainda presentes altas entidades da vel das Pessoas, dos Processos, da Tecnologia e da Estrutura Superior do Exército, das Forças Armadas, Formação”. Forças de Segurança e representações das Unidades • Almoço Convívio no Refeitório dos Frades Nº 192 DEC11 15 AZIMUTE Intervenção de Sua Ex.a Ministro da Defesa Nacional Senhor Chefe de Estado-maior do Exército, Distintas e distintos convidados, Senhoras e senhores, Comemora-se hoje o Dia da Infantaria portuguesa. Mas comemora-se, também, o aniversário da Batalha de Aljubarrota. Há 626 anos, não muito longe daqui, um punhado de voluntários, homens livres, enfrentou a melhor cavalaria de então naquilo que todos consideravam ser uma batalha perdida. Diziam os sábios da época que nunca uma força de infantaria seria capaz de resistir a um ataque frontal da cavalaria pesada. Naquele final de tarde provou-se que os sábios estavam errados. Uma vez mais errados. Contra todas as probabilidades o quadrado resistiu. O dia não foi dos condestáveis, da alta nobreza nos seus cavalos ou dos sábios cheios de certezas. O dia foi dos peões. Dos infantes. E foram esses homens, os vossos homens, que ensinaram uma lição a este país. Uma lição que não podemos esquecer. Ensinaram-nos que o engenho é mais do que os meios, que a determinação é mais do que a sorte, que o querer é mais do que o fausto de um estandarte. Ensinaram-nos que com pouco se faz muito. O dia, repito, foi dos peões. Dos infantes. Dos vossos infantes. Da gente boa que ali estava. Não pelas honrarias mas somente pela honra de ali estar. Senhor Chefe de Estado-maior do Exército, Distintas e distintos convidados, Senhoras e senhores, Infantes, Esta semana tomámos uma série de medidas difíceis. O congelamento da progressão das carreiras, os cortes na despesa, a suspensão da abertura do primeiro ciclo 16 Nº 192 DEC11 do ensino básico no Colégio Militar. Podia não estar presente nesta cerimónia. Seria, porventura, mais cómodo. Evitaria o risco de ouvir algumas críticas. Umas compreensíveis e justas outras nem tanto. Mas o comodismo não pode tomar o lugar da lealdade e da frontalidade. Porque são estes os valores que orientam as Forças Armadas e inspiram a confiança. A confiança no camarada que, lado a lado, nas horas difíceis nos estimula a vencer. Por causa disso fiz questão de aqui estar hoje. Quando me convidaram para Ministro da Defesa Nacional conhecia as dificuldades da missão que me entregavam. Sabia o que era preciso fazer e o que estava em causa. E aceitei ser vosso ministro. Com a mesma vontade que me motivou a estar aqui hoje. Digo-vos que esta semana tomámos medidas difíceis. Digo-vos também que só estamos no princípio. Perguntam-me muitas vezes se podemos vir a cometer alguma injustiça neste caminho. Não vos posso garantir que isso não aconteça. O que vos posso garantir é que aqui estarei para as corrigir se for caso disso. O que vos passo e quero, sobretudo, garantir é que não iremos adiar problemas. Fingir que não existem. Esperar que se resolvam sozinhos. Não vou fazer isso. Não sei fazer isso. E por isso vos digo, também, que o anterior governo deve um pedido de desculpas às Forças Armadas. Senhor Chefe de Estado-maior do Exército Distintas e distintos convidados, Senhoras e senhores, Infantes, © M.Coutinho Hoje, em Portugal, já não estamos a discutir política, doutrina ou ideologia. Já não estamos a discutir nada disso. Estamos a discutir algo que é muito mais básico na sua essência. Todos sabemos que o país precisa destas medidas, de mais este esforço adicional. As dificuldades que nos esperam, o objectivo que temos, é uma missão que é de todos. Civis ou militares. E vamos cumpri-la. Não será o ministério da defesa nacional, não será o Ministro da Defesa Nacional, não serão as forças armadas que vão falhar ao país. A mim, civil, vosso ministro, disseram-me na primeira vez que fiz o caminho para o Restelo: “Só se é verdadeiramente militar quando se é soldado. Só se é soldado quando sem olhar a medos se responde presente”. Na altura não imaginava quao exigente é dar na prática sentido a esta máxima. Hoje, apenas dois meses depois, julgo já estar a beber do seu significado. Do seu verdadeiro significado. Tenho a certeza que as forças armadas, e o exército em particular, serão capazes de cumprir as missões que lhe estão confiadas. Independentemente das adversidades, independentemente das dificuldades. Independentemente dos meios que tenha à sua disposição. Nesta hora crítica para a nossa Pátria, tenho a certeza que, tal como há 626 anos, todos seremos infantes dignos da nossa história. Todos saberemos, sem olhar a medos, responder presente ao serviço de Portugal Disse. se esperou a serenidade na desordem, a fé inabalável no seio da descrença, a esperança ilimitada no meio do desespero. As suas singulares qualidades morais sempre foram um factor diferenciador e potenciador da sua acção. A sua resistência ao sofrimento, a sua habilidade no combate, a sua tenacidade e vontade de vencer, ditaram em todos os casos a sorte das batalhas, que é afinal a sorte da própria guerra. Mas, se como disse Roberto Durão, em Aljubarrota todos foram infantes, no mundo actual tal já não se nos afigura como possível. Naquele tempo, a escolha judiciosa do terreno, a capacidade de aguentar “(…) Só quem soube sofrer, pode sonhar. o poder de choque do Só quem soube lutar, sabe vencer. Só quem soube amar, sabe morrer e renascer adversário, a coesão e, entretanto, rir e confraternizar… e precisão do fogo “Mas, afinal, quem soeis? do defensor, aliados A que raça de heróis ou loucos pertenceis?” a uma vontade férrea Vós me respondereis: de querer continuar a “Nós somos os infantes, os verdadeiros conquistadores. Criámos e desbravámos esta Pátria; ser Português, foram Estivemos em Ourique, em Aljubarrota, factores suficienteem Alcácer – Quibir, mente catalisadores na vitória e na derrota, da diferença operasem nunca desistir … É isto que nos faz cional que levaria ao fortes e humildes sucesso. serenos e confiantes Hoje, o infante, seja na guerra ou na paz. para além dos seus É esta teimosia em nunca desistir, atributos de sempre em querer sempre ter esperança, em saber chorar e rir a que já anteriorpois nenhum fracasso nos causa.. mente aludimos, tem e a vida por nós passa de ser detentor de transfigurando em glória a própria desgraça. uma grande mobiliPerdoem-nos este “desplante”; Cristo, se fosse militar, dade, versatilidade, seria infante! (…)” agilidade e potência Estrato do poema “Homenagem à Infantaria” de fogo, disponíveis Senhor Ministro da Defesa Nacional Senhor General Chefe do Estado Maior do Exército Senhor Presidente da Câmara Municipal de Mafra Ilustres convidados Infantes O estrato do poema que acabo de ler, intitulado “Homenagem à Infantaria”, é da autoria de um distinto oficial de cavalaria, de seu nome Roberto Durão, que o escreveu para homenagear a Infantaria, a Rainha das Armas, que hoje comemora o seu Dia evocando o feito de Aljubarrota, onde todos os combatentes actuaram como Infantes. Este poema traduz, de forma sublime, o Espírito, o sentimento, a inabalável força interior, e a conduta firme e determinada dos Soldados anónimos que pertencem à Infantaria. Efectivamente, do soldado de infantaria sempre © M.Coutinho AZIMUTE Intervenção do Ex.mo Diretor Honorário da Arma de Infantaria designadamente através dos novos armamentos, viaturas blindadas e helicópteros, permitindo-lhe conduzir, com êxito, as operações em que se insere. A Infantaria não pode, porém, lutar só, de forma isolada. Ela precisa de sentir à sua volta o calor amigo e o apoio forte dos militares da Força Aérea, dos marinheiros, dos artilheiros, dos cavaleiros blindados e dos diversos serviços de apoio, sem os quais ela não pode mover-se, disparar, viver e comunicar. O Infante, mais do que nenhum outro soldado, necessita de todo o apoio que lhe possa ser fornecido, tornando menos árduas as suas difíceis e complexas tarefas e maior a probabilidade de poder sobreviver no campo de batalha. Mas, não será demais recordar que, se o marinheiro depende do seu navio, o aviador do seu avião, o artilheiro do seu obús e o cavaleiro do seu carro de combate, o Infante depende, apenas, no último e verdadeiro momento em que vê o inimigo cara a cara, do automatismo dos seus reflexos duramente treinados, da firmeza do seu espírito e da força da sua coragem. É nisto que se funda, afinal, a verdadeira grandeza da Infantaria. É esta grandeza que temos Nº 192 DEC11 17 AZIMUTE testemunhado nos diversos teatros de operações em que a Infantaria tem vindo continuadamente a reforçar a credibilidade e o prestígio do Exército e de Portugal, nos Balcãs, no Médio Oriente e em África, fazendo uso das suas mais profundas forças morais, pautando a sua actuação por elevados padrões de desempenho, ao nível dos seus congéneres aliados, dando um visível e notório contributo para a segurança alargada da Nação no seio da Aliança Atlântica e para a defesa dos superiores interesses nacionais, aquém e além-fronteiras, numa demonstração inequívoca de competência e de saber fazer. A todos os infantes o sincero e reconhecido agradecimento do Director-Honorário da Arma, que incontornavelmente estendo a todos os vossos familiares – pelas angústias e ansiedades acrescidas, pelo primado do serviço em detrimento da família, pelo indispensável apoio de retaguarda, enfim, pelas exigências inerentes à condição militar. Nos tempos que se seguem não esperamos menos dos Infantes. Pelo contrário, a actual conjuntura continuará a exigir de todos nós sacrifícios acrescidos e uma entrega ainda maior, que façamos mais e melhor com menos recursos, que mantenhamos a excelência como padrão de actuação, para que possamos dar continuidade e elevar bem alto as tradições e os pergaminhos da Arma de Infantaria. Por tudo isto somos obrigados a reconhecer e a afirmar publicamente, para terminar, BEM HAJAS INFANTE! VIVA A INFANTARIA! Intervenção do Comandante da Escola Prática de Infantaria Discurso do Coronel de Infantaria Jorge Manuel Barreiro Saramago nas comemorações do 14 de Agosto, Dia da Infantaria e da Escola Prática de Infantaria “Excelentíssimo Senhor Ministro da Defesa Nacional, Excelência, A presença do Ministro da Defesa nesta cerimónia constitui para nós um inequívoco sinal do interesse pelo acompanhamento das actividades desenvolvidas pelo Exército e em particular pelas suas realizações nas áreas da Formação, Treino, Emprego Operacional, Cooperação TécnicoMilitar e apoio à Investigação e Desenvolvimento, que se constituem como algumas áreas de actividade em que a Escola Prática de Infantaria colabora ao serviço do Exército e de Portugal. Excelentíssimo Senhor General Chefe do Estado-Maior do Exército, Excelência, Os militares e civis que devotada e afeiçoadamente servem nesta Escola Prática sentem-se, uma vez mais, altamente distinguidos com a presença de V. Exa. que interpretam como um sinal de confiança e camaradagem, que marcadamente 18 Nº 192 DEC11 nos sensibiliza e reconhecidamente agradecemos, mas também como um sinal do acompanhamento próximo, e permanente cuidado de V. Exa., com a adequação e aperfeiçoamento técnico e tecnológico dos recursos disponíveis para a Formação, constituindo-se para nós num incentivo para continuar a bem servir o Exército no cumprimento das missões que nos são superiormente atribuídas. Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Mafra, A presença de V. Exa. neste dia é por nós muito apreciada e reconhecida como uma manifestação da fácil e frutuosa ligação entre a instituição militar e a sociedade que nos envolve no concelho de Mafra. A Escola Prática de Infantaria realça com sentida gratidão e, grande apreço a elevada disponibilidade de V. Exa. para a © M.Coutinho cooperação que se desenvolveu e da qual, em conjunto muito temos beneficiado ao longo dos últimos anos. Através de V. Exa. saudamos todas as entidades do concelho e da autarquia que superiormente dirige. Bem hajam por se juntarem a nós neste dia de especial significado para a nossa Escola Prática. Excelentíssimo Senhor Tenente-General Director Honorário da Arma de Infantaria, Meu General, Sentimos com elevada honra e pundonor a presença do meu General, em quem todos os Infantes actualmente se revêem, cumprindo as missões que lhes foram atribuídas em Território Nacional ou a milhares de quilómetros de distância que nos são fixadas pelo Exército. Pode o meu General continuar a contar com a total disponibilidade e empenhamento de todos quantos devotadamente servem nesta Escola. Exmos. Senhores Oficiais antigos Comandantes da Escola Prática de Infantaria A vossa presença é o testemunho do apego que é sentido por quem serve nesta grande Casa, em todas as suas dimensões. Hoje, posso afirmar que sei o que é esse sentir, bem como o que significa o peso e o valor destas paredes de história e de tradição que foram também abrigo de todos quantos nos antecederam e onde se escreveram páginas que marcaram de forma indelével a nossa história. Esperamos ter feito jus ao privilégio que nos foi concedido para aqui servir e ao legado que nos foi deixado por V. Exas. Concluindo nos próximos dias o exercício das minhas funções, passo o testemunho com os mais sinceros e profundos votos de sucesso ao nosso novo Comandante, Cor Boga Ribeiro. Exmos. Senhores Oficiais Generais Autoridades Civis, Militares e Religiosas, Ilustres Convidados Infantes, Em finais de Julho de 1385, Portugal vivia um dos momentos mais difíceis da sua história. O Exército Português estava reunido em Abrantes, e ali discutia-se a táctica da guerra, havendo divergências quanto às modalidades de acção a seguir, mas Nuno Álvares Pereira, jovem capitão, cansado da retórica toma a iniciativa, decide fazer acontecer e avança contra o inimigo tornando-se o principal responsável pela continuidade e definitiva afirmação de Portugal como Nação e independente. Assim podíamos começar a contar a página de glória, talvez uma das mais heróicas da nossa história que hoje celebramos – a Batalha de Aljubarrota. A diferença esteve na capacidade de liderança do seu Comandante e no crer de um punhado de soldados na defesa de um pedaço de terra por que se é capaz de morrer a Pátria, no génio de Miguel Torga, preservando a independência de Portugal com a dádiva de sangue e de sacrifício dos seus Soldados. São estes valores de devoção à Pátria, de humildade, de espírito de sacrifício e abnegação que caracterizam o Soldado de Portugal, que continuam a ser o culto dos Infantes de hoje e com os quais através de uma liderança forte, do fazer acontecer, que trazemos para o presente na formação dos jovens líderes da Infantaria. Fundados na solidez dos valores que a tradição histórica nos transmite e nas paredes deste convento, onde com orgulho e coesão servimos a Infantaria e o Exército, evocamos também hoje a carta de lei de 22 de Agosto de 1887, determinando a criação da Escola Prática de Infantaria e Cavalaria em Mafra, dando início a uma presença contínua e organizada dos militares nesta vila, em perfeita harmonia com as suas gentes, que neste mesmo dia 14 de Agosto, mas de 1887, levou uma representação de Mafrenses a agradecer a el-Rei D. Luís I, o benefício que a terra acabara de receber. Militares e Civis da Escola Prática de Infantaria, Na passagem de mais um ano de actividade orientado para a excelência, justifica-se apresentar um balanço das actividades desenvolvidas, nos últimos 12 meses, numa retrospectiva que se pretende não exaustiva, mas que releve suficientemente a dimensão do nosso trabalho, em prol do cumprimento da missão da Infantaria e do Exército. Continuamos a orientar as nossas prioridades para a primeira das tarefas explícitas da nossa Missão Nº 192 DEC11 AZIMUTE ao serviço da Pátria. Na pessoa do meu General saudamos todos os antigos Directores da nossa Arma, Comandantes das Unidades de Infantaria e todos os Infantes que neste dia evocam os valores e as tradições que nos caracterizam. Excelentíssimo Senhor Tenente-General Comandante da Instrução e Doutrina do Exército, Meu General, Neste dia festivo, apraz-nos salientar que apesar do curto período de tempo decorrido desde que o meu General assumiu as actuais funções, sentimos a presença activa e orientadora de V. Exa., incutindo-nos confiança e esperança no futuro para nos assegurar os recursos adequados ao cumprimento das missões, para nos definir critérios de rigor e de exigência e para nos manifestar o reconhecimento pelas realizações de sucesso. Através de V. Exa. saúdo todos os Senhores Oficiais Generais Comandantes dos Órgãos Centrais de Administração e Direcção e da Academia Militar, registando com apreço a distinção com que nos quiseram honrar ao associarem-se a esta cerimónia que interpretamos não só pela importância e transversalidade da formação mas também pelo espírito aglutinador do Exército. Excelentíssimo Senhor Major-General Director da Formação, Meu Comandante, O acompanhamento próximo e constante que o meu General nos tem dedicado, de dia e de noite, nos momentos de comemoração e nos momentos de intensa actividade prática, fazem-nos sentir, por um lado, a importância que o Exército, atribui à formação dos seus Quadros e Tropa, como elemento central da qualidade das nossas Unidades Operacionais e da excelência do Soldado de Portugal e por outro, maior confiança e segurança na justeza do nosso contributo para as metas 19 AZIMUTE 20 – ministrar formação – dando cumprimento às directivas e orientações superiormente recebidas. A Escola Prática de Infantaria é uma entidade de Formação de Qualidade, Certificada pela Direcção de Serviços de Qualidade e Acreditação, que tendo visto, no corrente ano mais uma vez homologado e reconhecido, o seu Curso de Formação Pedagógica Inicial de Formadores, iniciou o desenvolvimento de uma profunda actividade de reforma dos processos de funcionamento agora ao nível das actividades de apoio à Formação, conscientes que estamos de que o sucesso é determinado pela aptidão de satisfazer as necessidades e expectativas, da Infantaria e do Exército, no domínio da Formação de forma sustentada e equilibrada. Deste modo, tendo como horizonte a sua Certificação já no próximo ano lectivo, como organização de Gestão Global pela Qualidade e Excelência, reformularam-se os processos de trabalho necessários à conformidade com as normas ISO 9001 e 9004, aproveitando-se as sinergias resultantes das múltiplas vertentes tecnológicas que possuímos em plena produção, mas também as resultantes da plataforma de e-learning do Exército, que nos vieram permitir uma ligação mais eficiente aos alunos dos diversos cursos de que somos responsáveis e, dessa forma, nos possibilitaram que organizássemos o trabalho e concentrássemos o nosso esforço nessas reformas indispensáveis. Queremos manifestar o nosso reconhecimento pelo precioso apoio que permanentemente nos foi prestado pelo Comando da Logística, especialmente através da sua Direcção de Material e Transportes e Direcção de Infraestruturas, que nos permitiu modernizar diversas áreas funcionais, mas também ao Comando do Pessoal através da sua Direcção de Administração de Recursos Nº 192 DEC11 Humanos que nos assegurou os efectivos necessários para concretizar os objectivos que fixámos para o ano de actividade que hoje encerramos. Com essas condições, orientamos o nosso esforço para a obtenção de maior eficiência ao longo de quatro eixos: - Pelas pessoas: melhorando as condições de trabalho e de vida interna, e criando novas oportunidades de formação e de experiência profissional, mas também através de uma cultura de exigência e de responsabilidade colectiva e individual bem patente nos resultados e objectivos alcançados; - Pelos processos: modernizando e implementando novas formas de planeamento, gestão e controlo, confrontando sempre a nossa actividade com os resultados obtidos, através de avaliações globais periódicas; - Pelos recursos materiais e financeiros: efectuando a adequada manutenção ou a oportuna substituição do material desnecessário ou obsoleto e obtendo mais-valias de poupanças que nos permitiram fazer muito mais com menos. - Pelas Infra-estruturas: modernizando e requalificando instalações, sempre no respeito pelas características patrimoniais do convento, criando as condições necessárias para melhorar a produtividade pela introdução de novos processos que incrementem a eficiência do trabalho; Relativamente às tarefas que compõem a nossa Missão, no estrito âmbito do programar, planear, conduzir, executar e avaliar a formação, realizámos todas as acções inicialmente previstas, no âmbito da formação dos Oficiais e Sargentos do Quadro Permanente e do Regime de voluntariado e contrato e também das Praças; Qualificamos Oficiais e Sargentos do Exército, nas áreas do tiro, do combate em áreas edificadas, das operações de apoio à paz, da formação de formadores e do diagnóstico, planeamento e avaliação da formação, domínios em que somos Entidade Técnica Responsável. Adicionalmente, colaboramos na formação de quadros e praças para as Forças Nacionais Destacadas e para as NATO Response Forces e Battle Group, e também na formação dos Cadetes da Academia Militar e dos jovens Sargentos da Escola de Sargentos do Exército e ainda no apoio ao Treino Operacional dos contingentes multinacionais do Allied Joint Force Command Lisbon, para resumir apenas algumas das mais significativas. No âmbito da Cooperação Técnico-Militar apoiamos e ministramos acções de formação na República de Angola e na República Democrática de TimorLeste; no âmbito das Forças Nacionais Destacadas conduzimos no Uganda uma missão a favor da formação do Exército da Somália e estivemos presentes no Afeganistão na missão International Security Assistance Force, onde com novos processos e tecnologias educativas ao serviço da formação, maximizamos externamente e internamente a nossa actuação, com base em abordagens realistas e sustentadas em dinâmicas impulsionadoras de uma transformação autêntica para melhor servir o Exército e Portugal fazendo mais e melhor. No âmbito das actividades de Formação, executámos a revisão da totalidade dos referenciais dos cursos à nossa responsabilidade, actividade que se concluiu no passado mês de Julho com o envio ao Comando da Instrução e Doutrina do 25º referencial. De entre estes, destacamos o relativo ao Curso de Apoio de Combate destinado aos jovens Alferes de Infantaria, que só foi possível com a incorporação das lições aprendidas que a realização do primeiro curso permitiu, e por isso queremos reconhecer o De entre as centenas de actividades relevo as acções de formação para os quadros superiores do BPI e da Volkswagen Autoeuropa, mas também o apoio a actividades culturais em parceria com a Câmara Municipal e com o Palácio Nacional de Mafra e ainda inúmeras actividades de apoio a Escolas Secundárias, Universidades, associações culturais e desportivas e Grupos de escuteiros e de jovens, para além das acções de solidariedade social que nos orgulhamos de poder continuar a conduzir. Destacamos por fim nossa participação no esforço do Exército no domínio da Investigação e Desenvolvimento, através do contributo em projectos desenvolvidos por empresas e universidades, relevando os relativos a vidros balísticos, às novas fibras têxteis, à micro-geração energética portátil e ainda à robótica. Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários Civis da Escola Prática de Infantaria Este foi um ano lectivo vivido intensamente por cada um de nós, num ambiente de forte coesão, camaradagem e identidade colectiva no seio da Família da Infantaria, onde nos revemos no seu passado e nos valores e princípios que o seu Patrono São Nuno de Santa Maria continua a inspirar. Permitam-me que publicamente testemunhe que têm fundadas, justificadas e visíveis razões para afirmar que cumpriram a missão. Em vós está patente a prova de que o capital humano não pode ser contabilizados de forma puramente matemática, mas sim de forma bem mais complexa, onde a motivação, o sentido do dever, a coesão, a vossa disponibilidade, empenhamento e competência técnico-profissional, e atrevo-me a dizer o vosso apaixonado e abnegado apego pela nossa Escola, são factores multiplicadores para as realizações de sucesso e do fazer acontecer. Não tenho dúvidas que cada um de nós se pretende continuar a rever numa Escola Prática prestigiada e indiscutivelmente reconhecida pela qualidade da sua acção, através de um trabalho sério e rigoroso, com empenhamento sem reservas e com lealdade sem restrições ao serviço do Exército e de Portugal. Ser comandante de tal gente, que tudo dá, foi um privilégio e uma subida honra. Excelentíssimo Senhor Ministro da Defesa Nacional, Excelentíssimo Senhor General Chefe do Estado-Maior do Exército, Excelências, Podem continuar a contar com o dever, o saber e o querer fazer, da Casa-Mãe da Infantaria, com dedicação, lealdade, disciplina e rigor para bem servir o Exército e Portugal. AD UNUM” AZIMUTE apoio imediato do Comando das Forças Terrestres através da sua Brigada Mecanizada, pois sem ele não nos teria sido possível concretizá-lo. No domínio da Doutrina da Arma e Estudos Técnicos, foram elaborados 16 novos manuais técnicos e tácticos que serão disponibilizados através da rede de dados do Exército, incluindo já as respectivas versões em formato e-book, dos quais destacamos o Manual PANDUR Pelotão e Secção de Atiradores por ter sido o único realizado em colaboração com o Regimento de Infantaria 13, Regimento de Infantaria 14 e Regimento de Cavalaria 6. Relevamos ainda a realização das Jornadas de Infantaria, este ano dedicadas ao Combate e as Operações Futuras nos baixos escalões tácticos de Infantaria, e que se constituem como elemento incontornável da reflexão da nossa Arma e garante da sua modernidade operacional, que nos permitirá no próximo ano lectivo prosseguir a actualização técnica e táctica do emprego dos diversos escalões das nossas Unidades. Conduzimos ainda ao longo deste ano uma grande diversidade de realizações e apoios a entidades externas que mereceram o reconhecimento dos intervenientes e das gentes da região, portugueses que nos envolvem, respeitam e acarinham. Azimute Nº 192 DEC11 21 AZIMUTE Exposição do 14 de Agosto Processos, Formação e Inovação Tecnológica TCor Inf Mário Álvares A exposição alusiva às cerimónias de 14 de Agosto de 2011, repartida por seis expositores, procurou apresentar a missão da Escola e as principais tarefas, processos e ferramentas de controlo para apoio à gestão dos seus recursos humanos, financeiros e materiais; processos tecnológicos de apoio aos processos formativos pelos quais a Escola é responsável; e projetos de investigação e desenvolvimento que vem conduzindo com empresas e estabelecimentos de ensino superior contribuindo assim, ainda que indirectamente, para o desenvolvimento da tecnologia e economia nacional. No primeiro expositor foram apresentados o GANTT PROJECT e o FACTUPLUS. O GANTT PROJECT é uma ferramenta eletrónica que a Escola utiliza para garantir uma GESTÃO GLOBAL PELA QUALIDADE E EXCELÊNCIA, sendo a única forma para alocar pessoas e recursos e estabelecer dependencias entre tarefas que sejam concorrentes para projetos/objetivos comuns. Com a ferramenta de gestão FACTUPLUS gerem-se recursos materiais para que com previsão e por antecipação haja assertividade na resposta às diferentes subunidades da Escola, sendo 22 Nº 192 DEC11 possível ter uma clara visão, em tempo real, das existências em depósito. Entretanto, a partir de requisições processadas electrónicamente, a resposta em tempo é assegurada, enquanto o controlo que é exercido por artigo permite estabelecer estimativas de consumo por subunidades. No expositor seguinte demonstrou-se o PORTAL COLABORATIVO, o MOODLE e a plataforma AGA. O PORTAL COLABORATIVO é uma ferramenta privilegiada para promoção do trabalho em equipa da Escola e veículo essencial para a difusão de informação de interesse comum entre as diferentes subunidades da Escola. Por exemplo, em termos de grupos de trabalho internos e externos, os militares participantes podem utilizar esta ferramenta para que à distância possam partilhar documentação de interesse comum e, em certa medida, organizar trabalho e sistematizar informação. Já com a plataforma MOODLE, ferramenta de trabalho essencial para que o aluno trabalhe ao seu rítmo, os conteúdos, presenciais e não presenciais destinados à formação, estão acessíveis ao aluno a partir de casa na INTERNET. Por fim, com a plataforma AGA – Aplicação por Gestão de Actividades, o Gabinete de Programação da Escola optimiza recursos para apoio à formação, nomeadamente em termos de Entidades responsáveis, infra-estruturas e áreas de formação e materiais críticos, como viaturas ou armamento (no futuro pretende-se que possa gerir uma bolsa de formadores da Escola). Terminada a visão sobre alguns processos essenciais à formação e optimização de ferramentas de apoio à gestão e ação de direção e controlo foram apresentados alguns projetos de investigação e desenvolvimento que a escola vem desenvolvendo com empresas e outros estabelecimentos de ensino. Num primeiro expositor foram apresentadas as potencialidades de um mini unmanned aerial vehicle, também designado por UAV, sistema concebido pela empresa TEKEVER e que a Escola vem auxiliando a desenvolver e otimizar. Num outro expositor foi apresentado um sistema de apoio à formação em áreas edificadas que foi implementado pela empresa SEGURTEC que, para além de outras potencialidades como a segurança da área, permite a gravação de tácticas técnicas e procedimentos nos baixos escalões tácticos para posterior AZIMUTE análise e correcção. Ainda no âmbito da investigação e desenvolvimento tecnológico foram ainda apresentadas mais três parcerias: empresa VICER, Projeto MEP e Universidade do Minho. Com a VICER, empresa vocacionada para a indústria vidreira, a Escola vem apoiando a testagem de vidros balísticos de acordo com padrões e requisitos de certificação da União Europeia. Com o projecto MEP, que envolve a TEKEVER, Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial e a ALMADESIGN, a Escola vem apoiando o desenvolvimento de tecnologia de micro-geração de energia. Embora o projeto com a Universidade do Minho na área da proteção e sobrevivência ainda esteja a dar os primeiros passos, essa universidade esteve presente e apresentou novas fibras para a concepção de texteis inteligentes e interactivos, nano fibras, entre outros materiais. No penúltimo expositor foi efetuado um ponto de situação sobre a missão European Training Mission Somalia (também designada pela EUTM Somalia) e, recorrendo a uma maqueta, foram apresentadas as potencialidades e desenvolvimento da infra-estrutura de Combate em Áreas Edificadas e sua afirmação como Centro de Excelência em Combate em Áreas Edificadas. A Escola Prática de Infantaria, entre Julho de 2010 e, mais recentemente, Julho de 2011, participou na missão EUTM Somalia com uma equipa de formação na área do Combate em Áreas Edificadas com 13 militares. A missão, onde para além de Portugal participaram mais 13 Estados Membros da União Europeia e as Forças Armadas Ugandesas, é uma missão de treino de militares somalis e foi conduzida, por razões de segurança, no Uganda. Para além do módulo formativo que foi responsabilidade da Escola, a formação ministrada, orientada para futuros soldados, sargentos e oficiais somalis, centrou-se nas operações de combate de infantaria até ao nível Pelotão, da responsabilidade da Espanha em termos de sargentos e da França em termos de oficiais, e contou ainda com os módulos de especialidade de comunicações (responsabilidade alemã), suporte básico de vida (responsabilidade italiana) e minas e armadilhas (responsabilidade italiana). Na rentabilização da área de formação de combate em áreas edificadas, em todo o processo de aprontamento, a Escola, com o apoio do Exército Português, adquiriu e utilizou ao longo da formação no Uganda novas dinâmicas de formação das quais se destaca a simulação com armamento de AIRSOFT, sistema que pelas suas especificidades introduz um grande realismo na vertente formativa. O Centro de Excelência em Combate em Áreas Edificadas, com base num plano de investimento faseado, procurará crescer numa óptica de optimização de valências infra-estruturais que concorram para a certificação da área como Centro de Excelência para essa área do conhecimento. Sendo já uma área essencial para a formação ministrada pela Escola mas, também, área de treino privilegiada da Nº 192 DEC11 23 AZIMUTE componente operacional e algumas forças de segurança, comporta já uma torre multiuso, um laboratório, habitações multifuncionais com escadas, compartimentos e coberturas, e sistema de redes de saneamento simulados para a prática de progressão nesses ambientes. Por fim, um último expositor, espelharam-se as principais atividades formativas realizadas pela Escola Prática de Infantaria 24 Nº 192 DEC11 que entre formação e apoios externos: • envolveu mais de 270 formadores e mais de 1.000 formandos • consumiu mais de 8.000 horas em formação • Ministrou mais de 40 acções de formação entre cursos de formação inicial, progressão na carreira e formação contínua, tendo • nas suas quatro carreiras de tiro mais de 9.000 utilizadores repartidos por mais de 1.500 horas de utilização • e o seu Complexo de Combate em Áreas Edificadas, entre apoios da própria Escola, de outras unidades do Exército Português, Forças Armadas e Forças de Segurança, registou a utilização de mais de 11.000 utilizadores repartidos por mais de 2.000 horas de utilização. Azimute TCor Inf Rui Dias procurar evidenciar a sua marca/idenA busca da qualidade e da excelêntidade e projetar a nossa Escola para cia na atuação da Escola tem vindo a um Sistema de Gestão da Qualidade ser racionalizada ao nível dos seus (SGQ) integrado. meios e na reinvenção dos seus processos, tendo sido identificada a necessidade de um investimenGestão sustentada to fundamental na otimização de Com os pressupostos elentempos e de procedimentos. Para cados para a implementação de um garantir que esta aspiração seja alSGQ integrado, pretendemos garancançada, tem vindo a ser controlados tir que são assegurados: periodicamente os desvios verificados - O uso eficiente de recursos; e adequação das abordagens aos re- Figura 1 – Áreas de responsabilidade - A tomada das decisões baseada técnica para a formação da EPI cursos existentes, através da uma em factos; ajustada monitorização, coordenação e avaliação dos - As necessidades e expectativas de todos quanobjetivos e projetos, assentes numa ação partilhada tos interagem no sistema; de comando/direção, ativa e responsável. - Uma perspetiva de planeamento de médio/longo As pessoas, militares e civis, continuarão a ser prazo; o impulsionador central do desenvolvimento, onde o - A monitorização e a análise constante e regular reforço da liderança efetiva através do envolvimento do ambiente interno e externo; pessoal aos vários níveis e nas várias categorias, se- As relações mutuamente benéficas com os parrão um denominador comum em todas as atividades ceiros locais e nacionais; regimentais ou formativas. É neste pressuposto que - A identificação dos riscos associados e a implea EPI se pretende continuar a projetar no futuro, comentação de medidas de mitigação; locando-se numa posição de vanguarda e referência, - A previsão das necessidades de recursos de pesdentro do Exército nas diversas áreas pelas quais é soal, incluindo as competências requeridas; tecnicamente responsável, sobretudo naquelas que - O estabelecimento de processos apropriados compõem a atividade central da Escola ou seja: a para atingir os nossos objetivos, capazes de responformação. der rapidamente a alterações de condições; A estrutura regimental está a ser dotada com pro- A avaliação regular e consequente execução de cessos que irão conduzir de modo integrado à exceações corretivas e preventivas apropriadas; lência organizacional como um todo, concorrendo para - A criação de oportunidades de aprendizagem a a sustentação de políticas de controlo de custos. A definição e implementação de uma política de qualidade, visa integrar, otimizar e conferir qualidade aos processos internos na EPI, vistos como subsistemas de uma organização, que ao serviço do Exército, contribui para a excelência dos processos na Escola. Tendo sempre presente suas tradições e raízes, mas voltada para o futuro, a EPI quer assentar a sua prática em processos dinâmicos, versáteis, estratificados, dirigidos e controlados de forma sistemática e transparente, que levem à economia de recursos e à otimização das suas capacidades através da melhoria contínua, pois só assim poderá, num contexto de extrema racionalização dos recursos disponíveis, Figura 2 – Planeamento, controlo e avaliação dos objectivos (GanttProject) Nº 192 DEC11 AZIMUTE Um Sistema de Gestão da Qualidade Integrado 25 AZIMUTE Figura 3 – Bolsa de formadores por competências todos quantos servem connosco/ às pessoas, como fonte de manutenção do dinamismo interno; - O estabelecimento e manutenção de processos para a inovação e a melhoria contínua. Planeamento estruturado Os processos e as práticas associadas ao nosso SGQ permitirão: - A tradução das diretivas internas e externas em objetivos mensuráveis para todos os níveis do sistema; - O estabelecimento de cronogramas para cada objetivo e a atribuição de responsabilidade e a autoridade para o atingir; - A avaliação dos riscos e a definição das contramedidas adequadas; - A atribuição dos recursos requeridos para o desdobramento das atividades necessárias; - A realização das atividades necessárias para atingir estes objetivos. A comunicação de sustentação é desenvolvida de modo contínuo e oportuno, funcionando tanto vertical, como horizontalmente e adaptada às diferentes necessidades dos seus destinatários. Gestão de recursos Para assegurar uma utilização dos recursos (pessoas, conhecimentos, equipamentos, instalações/ infra-estruturas, materiais, energia e financeiros) consistentes com os objetivos a atingir, estão em otimização, maturação e elaboração um conjunto de processos que nos permitem fornecer, monitorizar, otimizar, manter e preservar esses recursos. As pessoas (os militares e os civis) constituem o nosso recurso mais valioso e mais crítico, e o seu total envolvimento permite-nos desenvolver a sua aptidão para criar valor entre todos quanto interagem no sistema, a Escola. O desenvolvimento pessoal alicerçado na aprendizagem, na transferência de conhecimento e no trabalho em equipa, assegura a compreensão da importância do seu contributo e dos papéis que desempenham. Sendo a gestão das pessoas desenvolvida através de uma abordagem planeada, transparente, ética e socialmente responsável, os processos visam habilitá-las, para: - A tradução dos objetivos da EPI em objetivos individuais e em consequentes planos para a sua 26 Nº 192 DEC11 realização; - A identificação de constrangimentos ao seu desempenho; - O assumir a posse e a responsabilidade da resolução dos problemas; - A avaliação do seu desempenho pessoal, em função dos objetivos individuais; - A procura ativa de oportunidades de melhoria das suas competências e das experiências; - A promoção do trabalho em equipa e o incentivo Figura 4 – Gestão e controlo de custos das atividades (FactuPlus) das sinergias entre pessoas; - A partilha de informação, do conhecimento e da experiência dentro Escola. Para assegurarmos as competências necessárias é estabelecido o plano de formação e desenvolvimento das pessoas com processos associados. O reforço da participação e a motivação das pessoas, assenta na compreensão do significado e na importância das suas responsabilidades e atividades, projectando a criação e provisão de valor interna e externamente. No plano das infra-estruturas, é feita uma adequação para ir ao encontro dos objectivos definidos, tendo presente a sua dependabilidade, o que inclui ter em consideração a disponibilidade, a fiabilidade e a manutenibilidade, identificando e avaliando os riscos associados. A base de conhecimento para a sustentação das atividades e objetivos é permanentemente identificada e obtida a partir de fontes internas e externas, tendo em consideração: AZIMUTE Figura 5 – Medição, análise e revisão de objetivos através do registo em Painel de Indicadores - A aprendizagem com as falhas e com os sucessos, - A retenção do conhecimento e experiência das pessoas; - A recolha do conhecimento vindo dos nossos parceiros locais e nacionais; - A retenção do conhecimento existente mas não documentado; - A comunicação eficaz de conteúdos informativos relativos ao desempenho, às melhorias dos processos e aos progressos sustentados; - As opções de carácter tecnológico para a melhoria do desempenho global; - A gestão dos dados e registos consolidada. No que respeita aos recursos financeiros, estão já estabelecidos e em desenvolvimento processos de monitorização, controlo e relato da afetação tendo em vista a sua eficiente utilização. Gestão de processos As atividades dentro de cada processo são determinadas, adaptadas à dimensão e às características distintivas de cada subsistema (subunidades e secções de Estado-Maior). A gestão dos processos assenta na proatividade, nas interdependências, nos constrangimentos e nos recursos partilhados, sujeitos a revisões regulares tendo em vista as ações de melhoria. O seu funcionamento é em rede definido por fluxogramas chave e os seus interfaces. No planeamento e controlo dos processos, tem-se em consideração: - Os objetivos a serem alcançados; - As exigências regulamentares e estatutárias (do sistema e/ou subsistema); - Os riscos de caráter financeiro; - As entradas e saídas dos processos; - As interações com outros processos; - Os recursos e a informação; - As atividades e as metodologias; - A medição, a supervisão e a análise; - As ações corretivas e preventivas; - As atividades de melhoria e/ou inovação. Para cada processo, é nomeado um gestor com Figura 6 – Ferramentas tecnológicas inovadoras de suporte à conceção, planeamento, execução, controlo e avaliação de atividades (Portal Colaborativo, Aplicação para Gestão de Atividades – AGA, Plataforma de e-learning do Exército – Moodle, Plataforma de videoconferência com apresentação de conteúdos – AdobeConnectNow) Nº 192 DEC11 27 AZIMUTE responsabilidades e autoridades definidas para estabelecer, manter, controlar e melhorar o processo e as suas interações com outros processos. As pessoas associadas aos processos individuais têm as competências necessárias para as tarefas e atividades envolvidas. análise do desempenho com base em dados/factos e na incorporação de lições aprendidas, constitui-se na atitude fundamental para a melhoria das nossas capacidades e atividades, face aos objetivos a alcançar e treinando a flexibilidade de reação face às oportunidades. As oportunidades de inovação são em permanência identificadas, estabelecendo e mantendo procesMonitorização, medição, análise e revisão sos eficazes e eficientes, com os recursos adequados A monitorização/supervisão, medição, análise e e ajustados. É aplicada através de alterações ao nível revisão do desempenho acontece através de procesda tecnologia, da organização e dos processos tendo sos destinados a compilar e controlar a informação, por finalidade a utilização de novas oportunidades inestabelecendo: ternas e externas. - A identificação e compreensão das necessidades A promoção da melhoria e da inovação de forma e das expectativas de todos quantos interagem no sustentada é adotada através da aprendizagem sistema; que integra as capacidades individuais de - A avaliação dos pontos fortes, pontos fratodos quantos aqui servem (militares e cicos e das oportunidades; vis) com as da nossa Escola, tendo em - A avaliação das tecnologias de consideração: suporte; - Os valores baseados na nos- A previsão de alterações ao nível das sa missão, visão e exigências regulamenestratégia; tares e estatutárias; - O apoio a - A determinainiciativas de ção das necessiaprendizagem dades de recursos e a demonstra(a médio/longo ção determinada prazo); das lideranças em - A avaliação das todos os níveis de atuais capacidades e atuação; dos seus processos. - O estimulo ao trabaO processo de medição lhos em rede, à interativiassenta em indicadoresdade e à partilha do co-chave de desempenho, nhecimento dentro e fora quantificáveis que servem d e do sistema (EPI); base à tomada de decisão. - O reconheUtilizamos também a metodologia de cimento, apoio e procurar as melho- Figura 7 – Gestão pela qualidade e excelência na execução da missão da EPI recompensa das res práticas dencompetências tro e fora da nossa pessoais; Escola, com o objectivo de melhorar o nosso desem- A valorização da diversidade e criatividade das penho (benchmarking). pessoas com unidade de ação. As auditorias internas constituem uma ferramenTendo sempre presente suas tradições e raízes, ta eficaz de análise e melhoria contínua do nosso mas voltada para o futuro, a EPI quer assentar a sua desempenho. prática em processos dinâmicos, versáteis, estratifiA autoavaliação dos subsistemas e do sistema cados, dirigidos e controlados de forma sistemática global, é usada para a determinação do nosso dee transparente, que levem à economia de recursos e sempenho e identificação das boas práticas. Constitui à otimização das suas capacidades através da meuma metodologia que nos ajuda a atribuir prioridades, lhoria contínua, pois só assim poderá, num contexto planear e implementar melhorias e/ou inovações onde de extrema racionalização dos recursos disponíveis, necessário. procurar evidenciar a sua marca/identidade e projetar a nossa Escola para um Sistema de Gestão da Melhoria, inovação e aprendizagem Qualidade integrado. A nossa aptidão e habilitação de efetuarmos a Azimute 28 Nº 192 DEC11 Cap Inf Parcelas Sistema de Gestão de Qualidade A Expressão “ISO 9001:2000 – Sistemas de Gestão de Qualidade (SGQ) – Requisitos”, designa um grupo de normas técnicas que estabelecem um modelo de gestão de qualidade para as organizações em geral, qualquer que seja o seu tipo e dimensão, sendo sua função promover a normalização de produtos e serviços, para que a qualidade dos mesmos seja permanentemente melhorada. Assim sendo, a Qualidade deve ser encarada como um processo contínuo de mudança que não se coaduna com uma visão estática, mas que deve aproximar-se da Qualidade Total. Estas normas estabelecem requisitos que têm como finalidade: auxiliar a melhoria dos processos internos; rentabilizar dos recursos humanos; monitorizar o ambiente de trabalho, satisfação dos clientes e colaboradores num processo contínuo de melhoria do SGQ, podendo estas ser aplicadas nos mais diversos domínios, tais como materiais, produtos, processos e serviços. O modo como estes processos devem ser geridos e melhorados envolve uma abordagem PDCA (Plan-Do-Check-Act), resumida na Figura 1. Novos processos AZIMUTE A renovação da eficiência na Escola Regimental Novos processos, novas dinâmicas No caso da Escola Prática de Infantaria, e especificamente na dita “Escola Regimental”, a necessidade de estabelecer processos integrados num sistema que simplifiquem a complexa combinação de recursos (capital humano, capital intelectual, instalações, equipamentos, sistemas informáticos, etc.) é indispensável, pois só assim se consegue atender à satisfação das necessidades das partes interessadas, assegurando o melhor desempenho do sistema a partir da mínima utilização de recursos e do máximo índice de acerto. Contudo, antes do processo ser implementado, este tem de Figura 1 – Sistema de Qualidade Fonte: API – ASSOCIATES IN PROCESS IMPROVEMENT/USA Nº 192 DEC11 29 AZIMUTE Figura 2 – Sequência de acções da abordagem PDCA a um problema numa organização. ser desenhado, devendo responder às seguintes questões: 1.Qual a missão do processo? Propósito, função e/ou incumbência do processo. 2.Onde o processo começa? Qual é o limitador do processo, limites da sua abrangência. 3.O que ele contém? Quais as actividades principais desenvolvidas pelo processo. 4.Onde termina o seu processo? O que determina o final do seu processo, limites da sua abrangência. 5.O que ele não contém? Actividades fora dos seus limites de abrangência, mesmo sendo relacionadas e/ou compatíveis com o processo. 6.Quais os objectivos do processo? Alvo ou fim que se quer atingir com a missão do processo (níveis de qualidade, índices de satisfação, competitividade e custos) 7.Quais os factores críticos de sucesso? Áreas onde o processo não pode falhar. 8.Pontos chaves do processo? Pontos do processo que asseguram o sucesso de todos. 9.Quais são os suportes críticos ao processo? Todas as actividades de suporte ao processo (inspecção, informática, limpeza, outros processos, etc.) Outros processos ainda que existentes, poderão necessitar de ser redesenhados – Figura 3. Uma vez desenhado ou redesenhado, é efetuado o mapeamento do processo e identificado o responsável pelo funcionamento do mesmo, podendo-se recorrer para tal a diversas ferramentas, tais como: diagrama de blocos, fluxogramas1 funcionais, 1 Define-se um fluxograma como um método para descrever graficamente um processo existente, ou um novo Figura 3 – Reengenharia de processos Fonte: REENGENHARIA DE PROCESSOS – THOMAS H. DAVENPORT 30 Nº 192 DEC11 processo proposto, usando símbolos simples, linhas e palavras, de forma a apresentar graficamente as actividades e a sequência no processo. A elaboração de fluxogramas, também chamada de diagramação lógica ou fluxo, é uma ferramenta inestimável para se entender o funcionamento interno e as relações entre processos. ao ciclo das ocorrências que vai desde o seu registo, análise, acompanhamento, avaliação da eficácia, até ao seu encerramento, e que deve envolver talidade do contexto das não conformidades, assim como não permite uma supervisão e comunicação em tempo útil e a todos os interessados dessas mesmas não conformidades. Não existindo uma visão global e centralização da informação, o responsável pelo(s) processo(s) não consegue agir de forma sistematizada, cooperativa e rápida. Consequentemente, é afectada a capacidade Figura 4 – Tablet PC de agir segundo políticas os váde melhoria contínua, uma vez rios níveis da que os seus procedimentos exiorganização. gem uma análise de dados completa e contextualizada. Assim, Novas dinâmicas de forma a diminuir o tempo de Um sistema tradicional de resposta, bem como permitir 2 a comunicação em tempo útil, comunicação não permite capmantendo uma contínua superturar de forma simples a tovisão e acompanhamento dos 2 Sistema de Comunicação é a rede por processos, a organização deve meio da qual fluem as informações, que implementar formas de comunipermitem o funcionamento da estrutura de forma integrada e eficaz (Vasconcellos cação eficazes, o que implica a 1972:10). A capacidade para exercer criação de sinergias entre o SGQ influência numa empresa depende, em e o Sistema de Comunicação em parte, da eficácia dos seus processos de comunicação. Por isso não é surpresa de todas as fases do processo, tais que a influência tem uma relação com como: o desempenho, comparável com a da • Criação de áreas na Intranet comunicação (Likert, 1971:71). AZIMUTE fluxogramas geográficos, matrizes de responsabilidades, etc. Este mapeamento do processo, permite fornecer uma estrutura para que processos complexos possam ser avaliados de forma simples; permita a vizualização de todo o processo; possibilita a visualização de alterações que provoquem impactos; identifica facilmente áreas e etapas que não agregam valor; e estima tempos de duração de cada ciclo para estabelecer os pontos de início e fim do processo. Em súmula, devemos ter a capacidade de desenvolver processos capazes de gerir com eficácia a informação relativa às necessidades, no que respeita Figura 5 – Modelo da organização baseado na abordagem por processos. Nº 192 DEC11 31 AZIMUTE Figura 6 – Esquema genérico para implementação de um SGQ através da associação com o Sistema de Comunicação da organização como veículo de comunicação de informação relativa a políticas de qualidade, definição de políticas de qualidade, definição de procedimentos, e atribuição de responsabilidades. • Formulários electrónicos na Intranet (dados internos à organização) e Internet (dados externos, incluindo questionários de satisfação, reclamações, informação sobre produtos, alterações, etc. • Definição da metodologia de suporte da análise de desempenho, adequação, eficácia e melhoria do SGQ, através da criação, edição, armazenamento, controlo de versões, consulta e distribuição electrónica de documentos. • Trabalho em grupo directamente nesse formato, definição de listas de distribuição via e-mail e definição de diferentes níveis de acesso na Intranet. • Recolha de dados através do Sistema de Comunicação, permitindo a medição do desempenho, eficácia da formação e avaliações externas e internas. • Criação de datawarehouses3 e 3 Datawarehouses, é um sistema de 32 Nº 192 DEC11 aplicação de técnicas de data 4 mining . • Recolha e armazenamento de evidências em formato digital, como forma de comprovar a realização e controlo de processos associados ao cumprimento dos requisitos da norma. • Implementação de novas plataformas de comunicação, permitindo a recolha, análise e armazenamento de dados em tempo real. (exemplo: utilização de Tablet PC, sensores, etc.) Observando a abordagem por processos defendida pela norma, podemos visualizar a organização como um processo de grande dimensão, ou macro-processo, em que a sua atividade, com a utilização de um conjunto de recursos geridos eficazmente, computação utilizado para armazenar informações relativas às atividades de uma organização em bancos de dados, de forma consolidada. O desenho da base de dados favorece os relatórios, a análise de grandes volumes de dados e a obtenção de informações estratégicas que podem facilitar a tomada de decisão. 4 Data mining, é o processo de analisar grandes quantidades de dados à procura de padrões consistentes, como regras de associação ou sequências temporais, para detectar relacionamentos sistemáticos entre variáveis, detectando assim novos subconjuntos de dados. possibilita a transformação de entradas em saídas – Figura 5. Por outro lado, o Sistema de Comunicação é simultaneamente uma infra-estrutura da organização e faz parte do sistema de gestão da qualidade, constituindo-se como um “fio condutor” para a aplicação dos procedimentos da organização, podendo a implementação entre estes dois sistemas ser efectuado de acordo com o esquema da Figura 6. A estrutura das normas ISO, embora defendendo a abordagem da gestão como um sistema, foi criada para encorajar as organizações a analisarem as suas atividades como um processo e alcançarem, para além do objectivo da certificação, a implementação de um sistema de gestão da qualidade que beneficie o desempenho operacional de toda a organização. Com a aplicação das normas ISO podemos melhorar a estrutura do trabalho nas tarefas diárias, diminuindo o tempo perdido e as disfunções, o que possibilita às pessoas dedicarem mais tempo e energia a outras atividades. Azimute Cap Inf César Garcia AZIMUTE A Escola e a importância dos processos na gestão dos recursos. Uma abordagem para a eficiência e eficácia organizacional “Se queres colher em três anos, planta trigo; Se queres colher em dez anos, planta uma árvore; Se queres colher para sempre, desenvolve o homem.” Provérbio Chinês O objetivo da elaboração deste artigo é, de uma forma clara, procurar demonstrar como pode a EPI beneficiar da aplicação duma metodologia organizacional e funcional baseada em processos, integrada no Sistema de Gestão da Qualidade e com vista à racionalização dos seus recursos humanos, materiais e financeiros. Não se pretendendo maçar o leitor com um vasto conjunto de definições e conceitos teóricos sobre a implementação e importância dos processos nas organizações, importa referir aqui aqueles que são consideramos basilares para a perceção da metodologia. Por forma a não nos dispersarmos, foi tida como principal referência para a elaboração deste artigo a série de normas ISO 90001, no âmbito de uma política de qualidade que se procura implementar na EPI. De acordo com a norma NP 1 A denominação ISO está associada à “International Organization for Standardization”, ou seja, Organização Internacional de Normalização. Baseada em Genebra, foi estabelecida em 1947 e é uma federação, sem fins lucrativos, de organismos de normalização nacionais. Está atualmente representada em 162 países e tem como função promover a normatização de produtos e serviços, para que a qualidade dos mesmos seja permanentemente melhorada. Em Portugal faz parte da ISO o Instituto Português da Qualidade (IPQ). Ao contrário do que é frequentemente assumido, “ISO” não pretende ser uma abreviatura de “International Organization for Standardization”, mas sim uma expressão com origem na palavra grega “ISOS”, que significa algo que é uniforme ou homogéneo, como em “isobar”, “isotérmica” ou, para os entusiastas da geometria, “triângulo isósceles”. EN ISO 9001:20082, um processo é uma atividade ou conjunto de atividades, utilizando recursos, gerida de forma a permitir a transformação de entradas em saídas (Figura 1). A norma NP EN ISO 9004:20113 refere que, “para 2 A norma ISO 9001 especifica requisitos para um sistema de gestão da qualidade que pode ser utilizado para aplicação interna pelas organizações, ou para certificação, ou para fins contratuais. Está focada na eficácia do sistema de gestão da qualidade para ir ao encontro dos requisitos do cliente. 3 A norma ISO 9004 proporciona linhas de orientação à gestão para atingir o sucesso sustentado para qualquer organização num ambiente complexo, exigente e sempre em mudança. A ISO 9004 proporciona uma focalização mais abrangente na gestão da qualidade do que a ISO 9001, aborda as necessidades e expectativas de todas as partes interessadas e a sua satisfação através da melhoria sistemática e contínua do Figura 1 - Definição de Processo Nº 192 DEC11 33 AZIMUTE assegurar que os recursos (tais como equipamentos, instalações, materiais, energia, conhecimentos, financeiros e pessoas) são utilizados eficaz e eficientemente, é necessário estabelecer processos que permitam fornecer, afetar, monitorizar, avaliar, otimizar, manter e preservar esses recursos”. Refere ainda que os processos são específicos de uma organização e variam em função do tipo, do tamanho e do nível de maturidade da organização. O anexo B às normas atrás referidas descreve os oito princípios de gestão da qualidade, entre os quais se encontra a abordagem por processos, referindo que, um resultado desejado é atingido de forma mais eficiente, quando as atividades e os recursos associados são geridos como um processo. Os principais benefícios da adoção desta abordagem são: • Redução de custos e de tempos de ciclo, através do uso eficaz dos recursos; • Resultados melhorados, consistentes e previsíveis; desempenho da organização. • Oportunidades de melhoria focalizadas e com prioridades atribuídas. Uma organização orientada por processos pressupõe que as pessoas trabalhem de forma diferente. Em vez do trabalho individual e orientado por tarefas, a organização por processos valoriza o trabalho em equipa, a cooperação, a responsabilidade individual e a vontade de fazer um trabalho melhor, permitindo, desta forma, uma maior e melhor visibilidade sobre o contributo de cada um para o cumprimento da missão da organização. A mesma norma ISO refere que, para cada processo, a organização deverá nomear um gestor do processo, com responsabilidades e autoridades definidas para estabelecer, manter, controlar e melhorar o processo e as suas interações com outros processos. O dono do processo pode ser uma pessoa ou uma equipa, dependendo da natureza do processo e da cultura da organização. Os processos da organização são traduzidos em fluxogramas, que não são mais do que a representação gráfica das várias etapas, atividades e tarefas que esse processo compreende, assentes num raciocínio lógico de execução. Estes podem assumir várias formas e aspetos gráficos, existindo inclusivamente um vasto leque de aplicações informáticas destinadas a esse efeito. De seguida vamos ver de que forma podemos implementar esta metodologia na Escola, não esquecendo que, seja em que organização for, são as pessoas o recurso mais valioso e mais critico. Importa salientar que aqui é apresentada apenas uma metodologia, entre várias possíveis, tendo em consideração a especificidade da EPI e a sua missão. Ao nível da Escola podemos considerar os processos globais (de suporte) e os processos sectoriais (de execução). Os processos globais (de suporte) são aqueles que envolvem a Escola como um todo, como sejam, por exemplo, os seguintes: • Segurança; • Logística; Figura 2 - Processo de reabastecimento de bens na EPI 34 Nº 192 DEC11 4 Software de gestão comercial que se encontra disponível no mercado e está direcionado para a gestão de depósitos e faturação ao nível de pequenas e médias empresas. planeamento de necessidades eficaz; seja para a Secção de Logística e para Companhia de Comando e Serviços (entidades executantes), pois estas têm que conseguir manter um controlo rigoroso do processo e dos stocks, e ser capazes de dar resposta às solicitações que surgem diariamente. A par deste processo logístico da Escola, outros estão em fase de normalização e implementação, como seja, por exemplo, os procedimentos a ter com atividades de que resultem receitas para a Escola. Para a concretização da normalização de todos os processos logísticos da Escola, foram definidas as seguintes fases: • Listagem dos processos logísticos da Escola; • Confrontação da listagem dos processos com as NEP existentes; • Revisão e redação das NEP da área logísticas (construção dos fluxos); • Apresentação do conjunto de NEP da área logística, devidamente consolidadas e ajustadas à realidade da EPI. Relativamente aos processos sectoriais (de execução), estes não são mais do que os processos (fluxos) de trabalho, processos estes que todos nós já praticamos diariamente, ainda que na maioria das vezes de uma forma inconsciente. Tomemos como exemplo a metodologia que está a ser utilizada na Secção de Logística para o cumprimento de um dos seus objetivos específicos, a definição e organização dos seus processos de trabalho. Para o efeito foram definidas as seguintes fases: • Listagem dos processos de trabalho na área dos recursos materiais e infraestruturas e na área dos recursos financeiros; • Realizar reuniões de trabalho colaborativo, em cada uma das áreas, para construção dos fluxogramas de trabalho; • Consolidação dos fluxogramas de trabalho; • Apresentação dos fluxogramas de trabalho. O Quadro 1 procura mostrar alguns dos processos sectoriais levantados para a SecLog . Cada processo terá um “gestor” atribuído e será composto por um fluxograma (Figura 3) com: • Entrada (início do processo); • Sequência de tarefas/ atividades e responsáveis pelas mesmas; • Saída (final do processo). Os fluxogramas de trabalho AZIMUTE • Comunicação; • Recursos humanos; • Manutenção. A título de exemplo, no âmbito da logística, podemos considerar o processo de reabastecimento de bens, cuja nova metodologia foi implementada em Julho deste ano, com a introdução do sistema de requisição eletrónica através da aplicação Factuplus4. Esta ferramenta, facilitadora do processo, é apenas um acessório de todo um fluxo que se inicia com a entidade requisitante a solicitar um determinado artigo através do Factuplus, e termina com a entrega desse artigo pela SecDep/CCS à entidade requisitante. O processo envolve várias entidades da Escola ao longo do seu percurso, está interligado com outros processos e é do conhecimento de todos através de NEP própria (Figura 2). A implementação deste processo, apesar de não ser novo, constituiu-se num desafio para todos nós; seja para as diversas Secções de Estado-Maior e Subunidades (entidades requisitantes), pois só funciona havendo por parte destas um Quadro 1 - Exemplos de processos de trabalho da SecLog Nº 192 DEC11 35 AZIMUTE Figura 3 - Fluxograma do processo de realização de despesa (SSRF) (workflow) não são mais do que uma ferramenta que permite sistematizar de forma consistente os processos de uma determinada organização, de forma a torna-los simples e transparentes aos vários intervenientes no processo, o que, no nosso caso concreto, também facilita o seu processo de avaliação e 36 Nº 192 DEC11 reconhecimento. À semelhança dos exemplos aqui apresentados no âmbito da logística também as restantes Secções de Estado-Maior e Subunidades da Escola estão a proceder à normalização dos seus processos de trabalho, sejam eles globais ou sectoriais. Este esforço, parte integrante do processo de implementação de uma política de qualidade na Escola, vai contribuir para a eficiência e eficácia dos processos organizacionais e permite uma melhor visibilidade do trabalho que cada um dos militares e funcionários civis da EPI produz diariamente. Azimute - A Eficiência Processual das Organizações - Grupo TEKEVER De há uns anos a esta parte, o Grupo TEKEVER (www.tekever.com) e a Escola Prática de Infantaria (EPI) têm vindo a colaborar no sentido de dotar a Arma de Infantaria, e o Exército Português, com as mais inovadoras tecnologias em sistemas de comunicações e plataformas autónomas. Com o estreitar da nossa relação de parceria, gradualmente apercebemo-nos que a EPI constitui uma complexa realidade organizacional, com centenas de Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários Civis a colaborarem no desempenho exímio da nobre missão de formar, para mais bem servir a Infantaria, o Exército e Portugal. É também a missão do Grupo TEKEVER contribuir para a melhoria contínua do desempenho das Organizações. As nossas competências especializadas e ampla experiência em estruturação e desenvolvimento de processos organizacionais permitem-nos obter um conhecimento profundo da personalidade processual, humana e tecnológica que enforma cada identidade organizacional e transformar esse conhecimento numa plataforma de trabalho com o propósito de identificar e alcançar o estado óptimo da Organização, em termos de eficiência, qualidade e eficácia. Este nosso saber está ao serviço da Escola Prática de Infantaria, numa missão a realizar colaborativamente. O Modelo TEKEVER de Eficiência Processual Mais do que inteligência artificial, computação distribuída e sistemas de informação, o Grupo TEKEVER propõe a modelação dos processos de trabalho e o suporte aos fluxos de informação entre as pessoas que cooperam nesses processos, alinhando-as em objectivos comuns e garantindo que a EPI controla e conhece o estado de cada processo. canais de interface com o utilizador, tendo em conta as características específicas dos ambientes operacionais existentes. Quando o modelo está completo, incluindo a abordagem multi-canal de interface com o utilizador, e a implementação em todos os ambientes de operação está finalizada, o sistema pode entrar em funcionamento. O primeiro passo é pois a modelação, sendo embebidas A entrada em funcionamento do sistema não prescinde contudo do AZIMUTE Saber Fazer, Saber Mais e Fazer Mais e Melhor Figura 1 – O Ambiente TEKEVER de Modelação de Processos as características principais da Organização, incluindo processos, objectivos, artefactos e funções. Depois, estabelece-se o modelo a implementar, o qual reduz eventuais ambiguidades, cria os componentes específicos que irão interagir com a infraestrutura e aplicações existentes e identifica claramente os serviços a serem disponibilizados por outros sistemas. Nesta fase, uma das tarefas mais importantes é a definição clara dos envolvimento ativo dos utilizadores, quer no processo de tomada de decisão, quer na introdução no sistema dos dados relevantes para cada processo, uma interação apoiada por um portal, um dispositivo móvel ou outro interface intuitivo. De resto, a flexibilidade do componente de interface é fundamental para o sistema, permitindo à organização trabalhar com múltiplos canais, equipamentos e redes. Neste ambiente, a monitorização Nº 192 DEC11 37 AZIMUTE e de material de estudo e um orçamento, bem como um espaço físico (interno ou externo às instalações da Escola) e uma calendarização. É ainda possível enquadrar nesta atividade um processo de avaliação, quer dos formandos, quer dos próprios formadores, quer ainda da estrutura do curso de formação, dados Figura 2 – Exemplo de um processo, no qual as várias atividades são suportadas em diferentes tipos estes que podem ser de interfaces gráficas pela plataforma Multi-canal da TEKEVER compilados na qualidade de instrumentos dos processos é possível em todas de adaptação ágil, controlo rigoas atividades, independentemen- roso e monitorização contínua de de incentivo ao mérito dos formante de onde, quando e como são desempenho. Mais importante, a dos e formadores ou como lições executadas, ou seja, independen- metodologia TEKEVER devolve à aprendidas para futuras atividades temente do ambiente operacional Organização a liberdade para oti- de formação. em que são realizadas, uma vez que todo o sistema está baseado no mesmo modelo. mizar os seus processo de trabalho e para tornar esses processos mais próximos às pessoas. O resultado final é o de um processo perfeitamente orquestrado, em que os utilizadores interagem em função de objectivos organizacionais comuns. Dados e informação fluem entre os vários sistemas e todos os eventos podem A Aplicação do Modelo de Eficiência Processual TEKEVER à EPI Sem um esforço substancial, o modelo de eficiência processual TEKEVER permite tornar intuitiva, simples, rápida, eficiente e eficaz Figura 3 – Marcação de Serviço “Formação” ser registados e visualizados com o apoio de ferramentas gráficas, as quais beneficiam a análise de métricas de desempenho e o levantamento de oportunidades de optimização para efeitos de melhoria contínua da Organização. A aplicação do mesmo modelo tecnológico na abordagem dos processos de uma Organização e das diferentes tecnologias de interface com o utilizador permite suportar as necessidades reais de organizações complexas, que não abdicam da sua capacidade 38 Nº 192 DEC11 a atuação diária da EPI, estabelecendo fluxos de operação modulares que gerem de forma automática os diferentes processos, atividades e serviços, atribuindo recursos humanos, materiais e financeiros num contexto espácio-temporal específico. Utilizando como exemplo o caso prático de uma formação ministrada pela EPI, teremos pois o curso de formação como uma atividade ou serviço, ao qual está associado um ou mais formadores e formandos, um conjunto de equipamentos Este caso prático, bem do conhecimento da EPI, corresponde a um tipo básico de processos já implementados pelo Grupo TEKEVER, junto dos seus clientes. O foco inicial é a criação de uma formação no sistema por um utilizador responsável pela marcação e atribuição de formações, e com atribuição dos vários elementos ou recursos envolventes, incluindo o formador e os formandos. À nova formação é atribuída uma data e hora, ficando-lhe automaticamente associado um evento de calendário, disponível a todos os que tiverem permissão de acesso. Temos então uma marcação de um serviço, efectuado por um dos utilizadores do sistema. A Figura 3 ilustra este processo. Após este processo, focamo-nos na alocação do espaço associado à formação. Um módulo do sistema integra todos os espaços internos e externos às instalações da Escola, onde se podem realizar as aulas teóricas e práticas. Uma vez mais, com o auxílio do sistema, o responsável pela formação tem apresentado na Figura 4. Finalmente, temos o processo da avaliação, em que um sistema simples de checklist introduz grupos de perguntas. A cada formando é associado um registo de ava- Figura 4 – Gestão de Tarefas recorrendo a um simples interface gráfico, pode de forma rápida e intuitiva alocar um espaço livre para o(s) intervalo(s) em que decorrerá a formação. Tendo a formação marcada e o espaço definido, passamos à gestão de pessoal, tarefas e equipamentos, elementos que podem ser associados à formação. Cada formação deve ter um ou mais liação, preenchido posteriormente pelo formador. Esse registo fica associado ao processo do formado, permitindo que, em qualquer momento, seja possível aceder à informação do aluno através do sistema. Neste contexto, cada utilizador do sistema usa credenciais próprias, associadas a um grupo, que lhe permite ver única e exclusivamente os dados aos quais tem acesso. Figura 5 – Ferramenta de Modelação de Processos – Designer formadores e um ou mais formandos, e esta informação é sempre passível de ser modificada e atualizada. Cada formação pode também ter associado um conjunto de tarefas e equipamentos, para os casos em que faça sentido, como De resto, toda a informação gerida pelos sistemas de informação desenvolvidos e implementados pelo Grupo TEKEVER está sujeita a permissões por perfil, de forma a garantir o controlo dos acessos e, de alguma forma, a privacidade e confidencialidade dos dados sob registo. O caso prático acima descrito demonstra a facilidade com que um processo comum na EPI (a marcação de formações e associada logística) pode facilmente ser modulado e gerido, recorrendo a uma solução TEKEVER. No sector das tecnologias de informação, o Grupo TEKEVER detém já um conjunto amplo de produtos e soluções destinados à optimização do desempenho das organizações. Por exemplo, a linha de produtos OZONO destina-se a organizações que carecem de optimização de processos e apresentam uma grande dinâmica de atuação, e permite gerir equipas geo-referenciadas no terreno, destacá-las para serviços, atribuir-lhes tarefas e seguir o progresso da execução de cada serviço. A integração com sistemas terceiros é um factor determinante para que, nesta situação, seja possível a continuidade do fluxo de dados, desde o pedido de assistência até à faturação interna do serviço. Por seu lado, a plataforma MOBIZY oferece um conjunto de aplicações modulares de gestão, incluindo gestão de clientes, organização de serviços no terreno, despesas e checklists, entre muitas outras. Todas as soluções do Grupo TEKEVER assentam na plataforma MORE (Model Once, Run Everywhere), responsável pela fácil modelação de processos (Figura 5) e pela capacidade do Grupo de construir um fluxo de processamento adaptado às necessidades específicas de cada organização. AZIMUTE acesso a todos os espaços, disponíveis e indisponíveis, permitindo-lhe realizar de uma forma mais eficiente a gestão destes recursos. Então, o responsável pela formação procura um espaço disponível para a realização do evento e, Captar o modelo de negócio de cada Organização e transformá-lo num fluxo integrado de processos é, de facto, um desafio a que o Grupo TEKEVER tem correspondido superiormente. O nosso compromisso para com a EPI é pois o de disponibilizar todo o nosso saber credenciado no apoio ao esforço de melhoria e renovação dos processos da Instituição, contribuindo para a sua optimização e sustentabilidade, numa óptica de Qualidade e Excelência. Azimute Nº 192 DEC11 39 AZIMUTE Centro de Excelência de Combate em Áreas Edificadas “ (… ) a melhor politica para as operações militares é obter a vitória, atacando a estratégia do inimigo. A segunda melhor política é desintegrar as alianças do inimigo por meio da diplomacia; em seguida, atacar os seus soldados, lançando um ataque ao inimigo; mas, a pior política é atacar violentamente cidades fortificadas e subjugar territórios. ” Sun Tzu Cap Inf Jorge Louro A formação e treino das nossas forças para as especificidades do combate em ambiente urbano, tem vindo a ganhar cada vez mais relevância, sendo actualmente impensável projectar uma Força Nacional Destacada (FND) sem que esta siga um plano de treino operacional iminentemente vocacionado para as áreas edificadas. Tal facto permitiu identificar algumas necessidades ao nível da instrução e do treino do Combate em Áreas Edificadas (CAE). Com o objectivo de contribuir para um melhor nível de formação e treino operacional, a Escola Prática de Infantaria possui actualmente um Centro de Formação e Treino de Combate em Áreas Edificadas (CFTCAE), designada peremptoriamente por “Aldeia de Camões” onde se ministram cursos no âmbito do CAE e possibilita o treino de várias Figura 1 - Laboratório operacional nesta vertente específica, tais como uma infra-estrutura de treino que permita o desenvolvimento de Técnicas e Tácticas e Procedimentos (TTP) e treino de unidades escalão companhia (UEC) ou mesmo batalhão (UEB) e a necessidade de acompanhar os países amigos e de referência no que respeita à produção de doutrina e actualização de TTP no âmbito 40 Nº 192 DEC11 forças do Exército, Forças Armadas, Forças de Segurança, NRF, BG/EU e elementos e forças dos países da CPLP. Prosseguindo com uma ideia iniciada a alguns anos, em 2011, através do despacho de 12 Agosto de 2011 de SExa. o General CEME, foi aprovado um projecto com a intenção de expandir as competências e possibilidades deste centro, criando-se assim um Centro de Excelência do Combate em Áreas Edificadas (CdECAE). Esta intenção não se restringe apenas a alargar uma infra-estrutura actualmente existente, mas sim a desenvolver uma estrutura integrada de conhecimento, competências e infra-estruturas que permitam acompanhar os avanços ao nível da doutrina e TTP, assim como possibilitar o treino de combate em áreas edificadas até escalão batalhão, que permita uma preparação realista e mais completa das nossas forças e que contribua para um exército melhor preparado e mais eficiente. De uma maneira sucinta os objectivos a atingir são: Desenvolver, de forma coerente e continuada, doutrina de emprego de forças em Áreas Edificadas; Desenvolver, experimentar e validar TTP para forças de infantaria e de armas combinadas em Áreas Edificadas; Desenvolver uma capacidade de sistemas de equipamentos de tiro de armas ligeiras em que possibilite aumentar os níveis de eficiência dos militares na utilização do armamento individual e colectivo ligeiro neste tipo de ambiente, aumentando o realismo e reduzindo custos inerentes à execução do tiro em Infraestruturas de tiro; Desenvolver, experimentar e validar todo o treino individual de combate com vista à formação de todo que permitam a sustentabilidade das actividades do projecto. Relativamente ao material, para cumprir o objectivo de desenvolver e experimentar novas técnicas, tácticas e procedimentos o CdECAE terá obrigatoriamente de ter disponível, materiais e equipamentos individuais de combate, bem como os colectivos para unidades de escalão Esq/Sec/Pel das mais diversas áreas, como por exemplo Transmissões, Sapadores, Armamento, etc. De igual forma, para desenvolver a capacidade de sistemas de equipamentos de tiro de armas ligeiras em ambiente de CAE, será necessário equipar o Centro com um estrutura de treino e formação na área do tiro que permita apoiar a formação ministrada e o treino operacional das forças que recorram ao Centro no âmbito dos seus planos de treino operacional. Portugal actualmente participa de forma modesta. O Centro terá a responsabilidade de ministrar os cursos actualmente previstos no Plano de Formação Anual no âmbito do CAE e propor superiormente outras acções de formação que decorram dos seus trabalhos de investigação. A formação técnica, nomeadamente no emprego de armamento individual e colectivo ligeiro e do emprego táctico, poderá ser parcialmente realizada através do desenvolvimento dos sistemas de equipamentos do CdECAE. Como referido, actualmente a “Aldeia Camões” permite o treino de todas as tarefas individuais e colectivas, até ao escalão companhia, com excepção de “Progredir tacticamente (escalão Companhia)” e “Assalto a um edifício (escalão Companhia)”, sendo esta última passível de treinar desde que seja O Centro pretende contribuir activamente para o desenvolvimento, testagem e peritagem de novas soluções que possam vir a equipar as forças do Exército no contexto do combate urbano. No sentido de manter os quadros técnicos do CdECAE actualizados, será fundamental a frequência de cursos e de acompanhar os recentes desenvolvimentos noutras estruturas de formação similares dos países aliados e amigos, assim como a participação a tempo inteiro em grupos de trabalho internacionais, de onde se destaca o NATO Urban Operations Working Group, onde utilizada a área adjacente para a colocação dos elemento de apoio da companhia. Em termos de estrutura implantada a “Aldeia Camões” apresenta duas limitações distintas que importa melhorar: • O facto de possibilitar uma experiência de treino para unidades escalão companhia limitada, e não possibilitar o treino de unidades escalão batalhão; • A falta de variedade de estruturas de treino, individual e colectivo, que permita uma experiência diversificada e rica aos utentes. O alargamento do ponto de vista quantitativo e qualitativo, com a Nº 192 DEC11 AZIMUTE o combatente em Áreas Edificadas; Manter um processo de Lições Aprendidas, em coordenação com as unidades da Estrutura da Componente Operacional do Sistema de Forças (ECOSF), que permita a implementação célere e prática de TTP nessas mesmas unidades; Possibilitar o treino de unidades operacionais até ao escalão batalhão; Apoiar o planeamento e a execução de exercícios em ambiente de CAE das unidades da ECOSF; Apoiar projectos de cooperação técnica e de assistência militar no âmbito do CAE. No entanto, tendo em consideração o conceito e a missão, os pré-requisitos identificados são fundamentais para a sua implementação e sustentabilidade, dos quais se destacam os seguintes: • Uma equipa técnica especializada, dedicada à missão do Centro, com os quadros orgânicos preenchidos na sua totalidade; • Uma unidade de escalão pelotão dedicada ao Centro para apoio à formação, experimentação e validação de técnicas, tácticas e procedimentos; • Uma infra-estrutura de treino moderna, que preencha os requisitos técnicos previstos para a formação, treino e investigação; • Materiais e Equipamentos especializados para apoio à formação, treino e investigação; • Um sistema de informação moderno que permita o acesso permanente a informação relevante, o registo dos produtos e actividades desenvolvidos pelo Centro e a partilha dos recursos com o público-alvo; • Acesso privilegiado a informação pertinente, através do estabelecimento de relações de âmbito técnico com as unidades operacionais do Exército, de outros ramos das Forças Armadas e das Forças de Segurança; • Recursos financeiros dedicados 41 novas anos (ano 7 ao ano 12). tecnologias que com- Neste momento encon- plemente contri- tra-se proposta e orça- bua para uma melhor mentada a construção AZIMUTE introdução de e formação da “Aldeia da área de aperfeiçoa- Camões”, é factor de sucesso essencial incontornável para mento individual (Nº1), e e o restabelecimento o da instalação eléctrica CdECAE, pois repre- na “Aldeia de Camões” senta uma mais-valia . De salientar o desen- do Centro e aproxima- volvimento de um siste- -nos do que melhor se ma de comunicações/ faz nestas áreas con- vigilância corrente a outros paí- Centro ses. O projecto inicial de alargamento da Aldeia montagem será efecti- Camões prevê, generi- vada até ao final do ano camente, a construção (ver artigo seguinte). das seguintes áreas e Como melhoramentos: • Área de aperfeiçoamento individual (Nº1); • Área de aperfeiçoamento de equi- Figura 1 - Desenvolvimento da área Os custos previstos serão investidos num período de doze anos e tendo em conta a implementação pa (Nº 7, Nº8 a/b); • Área de contentores (Nº2 a); das capacidades de infra-estruturas • Área de construção densa aleató- e dos sistemas de equipamentos assim como os custos administra- ria (Nº2 b); • Zona habitacional Médio Oriente tivos, estimando-se o valor total na ordem dos 1.051.619 €. (Nº3); A efectivação do projecto de • Zona industrial (Nº4); conclusão, verifica-se que os investimentos necessi- tam de ser rentabilizados a longo prazo e que a existência sustentada de um centro de treino com as dimensões e características desejadas para a Aldeia Camões/ CdECAE, apenas é possível com uma estrutura de apoio que assegure a sua manutenção e operacio- • Área de sapadores (Nº5); implementação desta capacidade nalidade. Tal actividade necessita • Área de apoio (Nº6); compreende três fases: Fase I de 3 de competências técnicas e experi- anos (ano 1 ao ano 3), Fase II de 3 ência adequadas, que se adquirem anos (ano 4 ao ano 6) e Fase III de 6 com a prática continuada do apoio. • Instalação urbano. de equipamento Figura 3 - Fases de Implementação 42 no pela SEGURTEC, cuja Nº 192 DEC11 Azimute Cap Inf Rafael Lopes They are… the post-modern equivalent of jungles and mountains—citadels of the dispossessed and irreconcilable. A military unprepared for urban operations across a broad spectrum is unprepared for tomorrow.” AZIMUTE Sistema de Análise Vídeo – Novas Dinâmicas Formativas para o Combate em Áreas Edificadas Lieut\enant Colonel Ralph Peters, U.S. Army (Retired) 1. Introdução Nos conflitos marcadamente assimétricos, como os mais recentemente vividos no Afeganistão ou Iraque, que encontram nos centros urbanos os pólos privilegiados para a minimização das capacidades dissimétricas, é muito importante marcar novos padrões de liderança, formação e treino que advoguem o espírito de decisão, tenacidade na ação, firmeza de vontade e assertividade, mas também é imprescindível desenvolver novos processos formativos como a automatização de procedimentos e atitudes. Numa nova vertente de fazer a guerra onde a ação de comando tem que ter espaço para “errar”, importa também que desde já se introduzam novas vertentes formativas que promovam a adaptabilidade e criatividade, pois aos novos líderes será sempre exigido energia realizadora. No que respeita às operações de guerra em cidades há, claramente, um assumir da importância no desenvolvimento de plataformas de formação e treino para essa realidade. Essa valência é fundamental para a modernização do sistema de forças de qualquer Infantaria. Sem essa capacidade, apesar do esforço de modernização em termos de equipamento e armamento, a transformação ficará limitada em termos de práticas de técnicas e procedimentos para os quais os desenvolvimentos tecnológicos dificilmente encontrarão resposta. 2. O sistema de análise Vídeo Actualmente a Escola Prática de Infantaria encontra-se no bom caminho, encontrando-se equipada por um complexo que permite desenvolver a formação e o treino neste tipo de terreno, valência esta que se encontra designada como Centro de Excelência de Combate em Áreas Edificadas1. Nesse centro, entre outras capacidades, encontra-se imple- força (para o caso do treino operacional), inviabilizando a recolha documental (vídeo) dos procedimentos/manobra para posterior análise, interpretação, correcção e validação. Ao contrário dos processos de modernização dos Exércitos holandês e de outros Exércitos europeus, como o alemão, finlandês, belga, dinamarquês ou polaco, a ausência desta valência inviabiliza a maximização e optimização da infraestrutura (laboratório) bem como a possibilidade ser parte de um processo de geração de conhecimento e doutrina. Figura N.º1. Exemplo de Control Station. Fonte: SGURTEC mentado um edifício “laboratório” que permite desenvolver e monitorizar as TTP desde o nível individual ao pelotão de atiradores. Contudo, esta resume-se à observação direta e correctiva do formador ou comandante da 1 Despacho de 12 de Agosto de 2011 de Sua Exª o General Chefe do EstadoMaior do Exército, que aprova o Plano de Implementação do Centro de Excelência de Combate em Áreas Edificadas. Nesse sentido, é fulcral constituir uma plataforma de apoio de captação de imagem que sustente essa valência, plataforma esta que possua na sua constituição equipamentos como: • câmaras tipo dome FD8361 para captação no interior do edifício, de dia e de noite; • câmara exterior tipo bulet IP7361 capazes de captar as aproximações e as técnicas Nº 192 DEC11 43 AZIMUTE de abordagem de dia e de noite; • câmara Móvel de longo alcance SD 7323 ou SD 7151 passíveis de acoplar aos sistemas de armas dos formandos ou militares em treino; • bastidor (plataforma receptora do sinal de todas as câmaras de vídeo e som) completo com switching POE e UPS para colocar no CFTCAE; • Control Station constituída por: três (3) monito- Figura N.º2. Exemplo de software de gravação e visualização com análise de vídeo inteligente recetora do sinal de todas as câmaras de vídeo e som) completo com res 20’’, um (1) network e bastidor (plataforma switching POE e UPS para colocar no CFTCAE. Fonte: SEGURTEC vídeo server capaz de a todos os sistemas como sejam: a disponibilização de um sistema operar e gerir até dezasseis (16) câmaras, um (1) capacidade de recolha de da- de vídeo que permita conduzir working station com teclado e dos do exercício, disponibilizar revisões após ação e evidenciar rato, um (1) joystik e uma (1) a informação recolhida em ma- os principais erros cometidos na UPS; pas 2D ou 3D, gerar relatórios execução de uma determinada • equipamento de rede; sobre a informação recolhida e ação contribuirá certamente para • Software de gravação e visu- marcação de pontos importan- melhorar a proficiência técnica e alização com análise de vídeo tes para a consecução do exer- tática dos nossos formandos. Por inteligente. cício. Todavia, e enquanto estas outro lado, não poderemos esferramentas disponibilizam infor- quecer os efeitos que a utilização 3. Análise mação objetiva da execução do desta tipologia de sistemas proUm feedback preciso e em exercício, a análise e a avaliação vocará no aumento motivacional tempo é um fator essencial para continua a ser executada pelos de formandos e formadores na a condução de uma ação de for- formadores e ou observadores. condução do processo de treino. mação/treino. O Exército e a EPI Nessa óptica, o treino individuA principal lacuna destes sisna condução das suas ativida- temas reside no planeamento e al e colectivo, ainda que perspecdes formativas (práticas) utiliza a preparação da missão, o rela- tivando o emprego da força em Revisão Após Ação2 (RAA) como cionamento entre causa e efei- TO de baixa intensidade, deve o principal método para comuni- tos e a conexão entre diversos ser transversal a toda a tipologia car o resultado da formação/treieventos, trabalho este que hoje, de desafios e missões, e deverá no aos formandos. O sistema de apenas pode ser executado pelo procurar materializar o realismo vídeo é objetivamente uma ferraavaliador/formador que poderá da acção através da introdução menta para apoio à execução da ainda incorporar as experiências de simuladores e novas plataforRAA. e lições aprendidas resultantes mas de tiro que possam sustenApesar do desenvolvimentar o tiro e a manobra colectiva do seu estudo e preparação. to de ferramentas informáticas de unidades de baixos escalões, para a condução de RAA, exismas também promover e dotar 4. Conclusões tem características transversais A formação e treino terá sem- os centros de formação e treino 2 Como descrito no manual “A Leader’s pre na avaliação/validação um com a capacidade de captação Guide to After Action Reviews” o último patamar para o aperfei- e interpretação das Tácticas, objetivo da RAA é dar um feedback da performance durante o treino e guiar os çoamento e a busca da exce- Técnicas e Procedimentos exeformandos na descoberta própria das lência do produto operacional do cutados ao longo dos processos suas capacidades e fraquezas. Exército – O SOLDADO, pelo que formativos/treino. Azimute 44 Nº 192 DEC11 Ten Inf David Marcos “Train as you will fight” (US Army, 2008) 1. Introdução Neste artigo pretende-se fazer uma pequena reflexão sobre a instrução e infraestruturas de tiro, apresentando alguns exemplos de países estrangeiros como a França e os Estados Unidos da América e analisando a nossa própria realidade. Em seguida serão apresentadas algumas sugestões de como podemos atualizar os nossos métodos de instrução, tornando-os mais próximos da realidade encontrada hoje no campo de batalha. Um combate assimétrico incentiva a fação mais fraca a empreender meios e métodos de combate que algumas vezes são contrárias às Leis Internacionais (Gei, 2006). O combate urbano deixou de ser algo a evitar e passou a ser imprescindível para o cumprimento da missão. A política de “ganhar os corações e mentes da população” e conceitos como three block war2 são a prova disso. Deste modo, a instrução e infraestruturas devem acompanhar a evolução dos conflitos, trazendo para a instrução um reflexo do que é a realidade atual. Um exemplo desta realidade pode ser encontrado na instrução nos EUA, que em 2003 1 Um dos princípios da Instrução do Exército dos Estados Unidos da América 2 Conceito descrito pelo General Charles Krulak nos finais da década de 90 onde os soldados no campo de batalha podem realizar operações militares de alta intensidade, operações de manutenção de paz e ajuda humanitária. simulava o combate das suas forças em desertos nos centros de treino, como Fort Irwin e Calif, mas actualmente estes e outros centros foram remodelados e oferecem vilas, cavernas e armadilhas, “povoadas” por pessoas reais que assumem o papel de insurgentes e população local, baseados numa variedade de cenários reais encontrados no Iraque e Afeganistão (Komarow, 2005). 2. Instrução de tiro e Infraestruturas no estrangeiro. Atualmente existem já alguns países como a França e os EUA, que decidiram aproximar o treino dos seus militares o mais possível da realidade vivida num conflito contemporâneo. Para tal investiram em infraestruturas que representam pequenas vilas onde colocam indivíduos a representar o inimigo e sistemas de simulação de tiro que permitem uma instrução muito mais real. França possui um complexo de treino único na Europa, o CENZUB (Centre d’Entraînement aux actions en Zone Urbaine), composto por 4 partes principais. O distrito de Orleans onde as forças são instaladas e permanecem durante o planeamento do exercício, a vila de Beauséjour onde são conduzidos treinos antes de iniciarem o exercício, a cidade de Jeoffrécourt onde decorre o exercício e por último um conjunto de 8 infraestruturas de tiro em ambiente urbano (Ministère de AZIMUTE Instrução de Tiro e Infraestruturas de Tiro. Qual o caminho a seguir? la Défense, 2008). Nestas infraestruturas são conduzidas simulações de emboscada, assaltos a/e defesa de pontos sensíveis, reação a fogos de curtas distâncias, pistas de tiro de combate individual, de parelha e de secção, tiro a partir de posições preparadas e uma adaptação às ondas de choque e ruídos do campo de batalha. Todas estas simulações são aplicadas de forma modular, podendo ser adaptado a vários exercícios (Tranchant, 2009). No caso dos EUA, existem 4 Centros de Treino de Combate que proporcionam um treino altamente realista, o BCTP (Battle Command Training Program) sediado em Fort Leavenworth, Kansas, onde o treino é vocacionado para os comandantes de Grandes Unidades e o seu Estado Maior. O CMTC (Combat Maneuver Training Center), o JRTC (Joint Readiness Training Center) em Fort Polk, Louisiana e o NTC (National Training Center) em Fort Irwin, California. Estes centros são designados como MCTCs (Maneuver Combat Training Centers) por ser onde se realizam os exercícios de manobra, desde o nível do soldado individual até à Brigada, tanto no contexto de operações conjuntas como combinadas, em todo o espectro das operações, das operações de combate em alta intensidade ou missões de apoio à paz (US Army, 2003). Estes 4 Centros de Treino são considerados centros de excelência e baseiam-se em 5 Nº 192 DEC11 45 AZIMUTE princípios para conseguir cumprir a sua missão. O primeiro defende que a unidade a treinar deve estar organizada exatamente como estará quando for destacada para o Teatro de Operações. O segundo determina que exista uma entidade responsável por cada um dos MCTCs, garantindo todo o apoio logístico ao campo, assim como instrutores e pessoal especializado para auxiliarem na instrução e avaliação da unidade. O terceiro princípio estipula que a força opositora seja realista, podendo simular uma força de guerrilha, exército convencional de forças mecanizadas, tropas aerotransportadas ou forças de operações especiais, através forças treinadas e equipamento igual ou semelhante ao que poderá ser encontrado na zona de conflito. O quarto princípio impõe que seja possível simular o combate, devendo para o efeito ter espaço aéreo reservado, uma larga área de treino e sistemas de simulação como o MILES3, permitindo uma aproximação o mais possível do real. O quinto e último princípio obriga a que existam infraestruturas capazes de alojar as unidades que estão a treinar, assim como uma pista que permita a aterragem de aviões de grande porte (Reeson, 2006). Nesta lógica de melhoria da preparação do militar para a realidade, através da evolução das infraestruturas e instrução de tiro, importa também analisar a evolução dos simuladores de tiro. Estes simuladores não substituem o tiro real mas optimizam as instruções com fogo real (Muriente, 2009). A sua utilização é tida como um dos fatores pelo qual o treino nos MCTCs americanos é tão 3 Multiple Integrated Laser Engagement System – Sistema de Simulação de Tiro semelhante ao SITPUL mas mais evoluído eficiente (Reeson, 2006). Estes sistemas de simulação podem ser de 2 tipos. Os que funcionam como se de um jogo de computador se tratasse, em que é projetada uma imagem num ecrã, parede ou mesmo em 3 paredes em simultâneo permitindo ao atirador ou atiradores, dependendo do programa que está a correr, disparar num ângulo de praticamente 180º (Laser Shot, 2011). O outro tipo de simulador é aquele em que cada militar ou veículo transporta uma série de foto-sensores e um emissor laser na respetiva arma. Cada vez que o foto-sensor de um militar ou veículo for atingido pelo laser de outro, a sua arma deixa de disparar passando a ser considerado uma baixa, no entanto se a arma não tiver efeito no alvo, o laser é ignorado, por exemplo evitando que uma espingarda automática destrua um carro de combate. Este tipo de simulador tem ainda Figura 1- Esquema de CENZUB Fonte: Adaptação da revista Fantassins 46 Nº 192 DEC11 3. Instrução de tiro e Infraestruturas em Portugal. Atualmente a instrução de tiro em Portugal é baseada no Plano de Instrução de Tiro de Armas Portáteis (PITAP), o Plano Básico de Tiro (PBT), publica- o executante está em movimento. No que diz respeito ao tiro de combate, a referência é o manual de Tiro de Combate da EPI, onde encontramos fichas de instrução sobre pistas de tiro de combate individual, parelha e secção, nas os alvos estão em frente aos atiradores e estes têm de se deslocar de máscara em máscara e efectuar 2 disparos para cada alvo. No entanto, ambos os manuais são apenas referências e como já foi supramencionado, a imaginação do responsável da sessão permite criar mais situações como obrigar o instruendo Figura 2- Simulador Laser Shot Fonte: Laser Shot ções e NEPs feitas pelas diversas unidades baseadas nestes dois manuais e por último a imaginação do instrutor. Podemos então verificar que a instrução no nosso Exército baseia-se essencialmente em três tipos de tiro: tiro de precisão, tiro instintivo e tiro de combate, mas no combate em ambiente urbanizado por ser caracterizado como instintivo e brutal, utilizamos maioritariamente os dois últimos. O tiro instintivo ministrado actualmente na EPI tem como base de referência o manual de tiro instintivo desta Escola elaborado em 2007, e após uma leitura do mesmo é fácil constatar que em todas as sessões, os alvos são fixos e apenas na última sessão a disparar para os alvos segundo uma ordem pré estipulada ou para o alvo que estiver iluminado, se for uma instrução noturna, de acordo com as limitações da infraestrutura de tiro. As nossas infraestruturas de tiro são construídas respeitando o MT 38-24 e o RAD 38-15 e embora esteja prevista a utilização de alvos móveis, tanto tombantes como de movimentos transversais, em ambos os casos estes são colocados sempre à frente do executante e no sentido do seu deslocamento, apesar deste tipo de alvos é praticamente inexistente no nosso Exército6. Assim, estes modelos de sessões de tiro, aliadas às condições das nossas carreiras de tiro não reflectem a realidade que os nossos militares poderão encontrar numa zona de conflito da atualidade, isto porque o inimigo não está sempre à nossa frente, à espera que seja dado um sinal como um apito para que possamos disparar, pelo contrário o inimigo hoje esconde-se em casas, usa escudos humanos, dispara de janelas que estão acima de nós e ao nosso lado, aciona IEDs7 para imobilizar uma coluna de viaturas e depois ataca. No que diz respeito à simulação, o nosso Exército possui nesta Escola um simulador de tiro Laser Shot que nos permite apenas fazer tiro com a pistola do sistema, fazendo com que a falta de mais equipamento não torne este sistema tão rentável quanto o deveria ou com um nível de eficiência semelhante ao dos Exércitos estrangeiros. Ainda na área dos simuladores dispomos do sistema SITPUL (Simulação de Instrução de Tiro e de Táctica de PUs Utilizando Laser) que foi inicialmente utilizado no final da década de 80 mas que com o tempo acabou por deixar de ser usado. Existem ainda na EPI 10 armas de airsoft, no entanto e à semelhança do Laser Shot, esta quantidade não é a suficiente para revelar todo o potencial que este tipo de treino pode proporcionar. AZIMUTE a vantagem de os controladores puderem seguir em direto o desenrolar do combate e obrigar os comandantes, aos diversos escalões, a tomar decisões no que diz respeito às evacuações ou alterações das modalidades de ação perante o cenário de terem baixas nas suas forças. 4. O caminho a seguir… O modelo ideal seria o caso francês em que, aliado a um sistema de simulação de tiro compatível com todas as armas utilizadas no seu Exército, existe um 4 MT 38-2 Caracterização e Técnica das Infra-Estruturas de Tiro, 1989 6 O CTOE é uma das poucas Unidades que possui este tipo de alvo em perfeitas condições de utilização 5 RAD 38-1 Infra-Estruturas de Tiro, 1988 7 Improvised Explosive Device – Engenho Explosivo Improvisado Nº 192 DEC11 47 AZIMUTE 48 centro de treino extremamente especializado, realista e funcional, onde os recursos estão centralizados e a utilização dos mesmos é feita por todo o Exército, com base num sistema de rotatividade de forças. Apesar da conjuntura atual não nos permitir enveredar por projetos megalómanos, existem pequenas mudanças que merecem uma tentativa de implementação. Importa desde já refletir sobre o modo a proporcionar às várias carreiras de tiro existentes e ativas, a prática de tiro instintivo onde os executantes tivessem de disparar sobre alvos que não estariam apenas à sua frente mas também em pisos superiores e na sua lateral, alvos estes que deveriam ser móveis, com movimentos transversais ou tombantes sendo que alguns devem representar população civil. Este tipo de alvo não é obrigatório ser uma máquina extremamente complexa que registe os impactos, existem alternativas no mercado que permitem apenas o movimento do alvo e que este seja trocado com facilidade. No que diz respeito a simuladores de tiro, pode ser considerado como opção a aquisição de sistemas simuladores de tiro que permitam um maior número de participantes em simultâneo, com cenários semelhantes à realidade, em que é possível simular o recuo da arma a cada tiro assim como a necessidade de troca de carregador. Deverá ser equacionada a hipótese de realizar um upgrade ao sistema SITPUL, através de protocolos com universidades nacionais, evitando a fuga de capital para o estrangeiro e dinamizando o nosso sector tecnológico. De salientar que uma das vantagens do SITPUL era a poupança de verbas no que dizia respeito ao consumo de munições em treino (Exército, 1987). Podemos ainda Nº 192 DEC11 Fig. 3- Simulador MILES Fonte: Adaptação da revista Fantassins ponderar a aquisição de mais armas de airsoft, de modo a equipar pelo menos uma companhia em cada Unidade Operacional, sendo a sua responsabilidade da respetiva unidade, permitindo que as armas fossem utilizadas sempre que a Unidade treinasse, independentemente do local. Os campos de tiro atuais deviam ser adaptados de modo a que pudesse ser realizado o treino de reação a emboscada a uma coluna de viaturas, onde houvesse simulação de rebentamentos de IEDs seguido de ataque por parte do inimigo8. 5. Conclusões. Verificamos que a evolução do treino das forças deve acompanhar a evolução dos conflitos, adaptando a instrução de tiro e as suas infraestruturas de uma forma constante e contínua ao longo do tempo. Devemos seguir o exemplo de forças que têm mais experiência em conflitos atuais e esforçarmo-nos para adaptar o conhecimento, adquirido através das lições aprendidas, à nossa realidade. Constata-se com alguma frustação que em 1987, quando a tecnologia laser em sistemas de simulação estava a dar os primeiros passos e Portugal já se 8 O Campo Militar de Santa Margarida tem potencial para este tipo de treino utilizando máquinas de alvos portáteis. encontrava na vanguarda desse processo, o sistema então criado não viu crescer os upgrades necessários para manter essa tecnologia sempre actual. Conclui-se que devemos revisitar e atualizar os livros que regem a instrução de tiro e suas infraestruturas adaptando-as à realidade atual e voltar a utilizar simuladores de tiro e novos alvos para melhorar a forma como preparamos os nossos militares para intervir num cenário de conflito atual. Azimute Bibliografia Exército, D. d. (Realizador). (1987). SITPUL [Filme]. Gei, R. (2006). Asymmetric conflict structures. International Review of the Red Cross. Komarow, S. (2005). Unexpected insurgency changed way of war. USA TODAY . Laser Shot. (18 de Abril de 2011). Firearms Training Solution - Lasr Shot. Obtido em 20 de Outubro de 2011, de http://www.lasershot.com/ Ministère de la Défense. (2008). Présentation OTAN 10.2008. França. Muriente, L. (Fevereiro de 2009). La Simulation et le Tir. Fantassins , pp. 22-23. Reeson, G. (29 de Junho de 2006). Train as You Fight: The Development of the U.S. Army’s Combat Training Centers. Obtido em 20 de 10 de 2011, de http://www.associatedcontent.com/article/40866/ train_as_you_fight_the_development. html?cat=37 Tranchant, B. (Fevereiro de 2009). CENZUB Le tir en Zone Urbaine. Fantassins , pp. 20-21. USA Army. (2003). Combat Training Center Program. Washington D.C.: USA Army. USA Army. (2008). FM 7-0 Training for Full Spectrum Operations. Washimgton D.C.: USA Army. Reunião Grécia – 2ºsemestre Cap Inf Rafael Lopes 1. Introdução A preocupação dos Exércitos no âmbito da capacidade de combater em ambiente urbano, não é nova e reflete o modus operandi da emergente tipologia da ameaça – Ameaças Híbridas. Esta ameaça caraterizada pela modulariedade, flexibilidade e imprevisibilidade tem nas áreas edificadas o palco ideal para a degradação das capacidades dos Exércitos mais desenvolvidos tecnologicamente. Todavia, o alvo desta nova ameaça não é muitas vezes os Exércitos internacionais, mas centra-se na conquista da população – Hearts and minds – e no vencer da “guerra da informação”. Face a esta tipologia da ameaça, e após um investimento inicial dos Exércitos no desenvolvimento de áreas de treino no início dos anos 90, muito foi aprendido, muito foi desenvolvido, e hoje a ameaça enfrenta Exércitos mais capazes, modulares e flexíveis. Todavia e fruto da tipologia de intervenções que têm vindo a ser executadas – Iraque, Afeganistão – observa-se que ainda existirá um esforço grande a executar no domínio da estandardização e da interoperabilidade. Nesse desiderato, a NATO apresenta-se como a estrutura ideal para a sedimentação destes dois conceitos – estandardização e interoperabilidade, no benefício claro da Aliança e dos países que a compõem. 2. Reunião Grécia A reunião do Grupo de Trabalho (GT) decorreu no Estado-Maior General do Exército Grego, em Salónica entre os dias 19 e 23 de Setembro de 2011, tendo participado 31 delegados em representação de 20 países1. Aquele que era à partida para esta reunião o tema principal a ser abordado – O emprego de armamento em Áreas Edificadas e seus efeitos, foi excluído em virtude das recentes orientações recebidas pelo Chairman do grupo, por parte do seu escalão superior NATO – o Executive Working Group (EWG). Essas orientações vertidas num novo mandato determinam a elaboração do NATO Urban Operations Training Handbook e uma proposta de Standard Agreement (STANAG) para o treino em 1 Países NATO, Partnership for Peace (PfP) e Diálogo do Mediterrâneo. Áreas Edificadas até 31 de Julho de 2012. Estes objetivos não sendo novos no seio do grupo, estabelecem uma reorientação decorrente fundamentalmente do prazo estabelecido pelo EWG, e que naturalmente assimilaram os 5 dias de reunião e os 31 delegados na produção destes dois documentos que serão submetidos à consideração superior (EWG) no final da próxima reunião ordinária do grupo que decorrerá na Suécia entre os dias 16 e 20 de Abril de 20122. O NATO URBAN OPERATIONS NATO TRAINING GROUP TASK GROUP (NUONTGTG), constituindo-se como um proscénio privilegiado para abordar temas com interesse no âmbito do Combate em Áreas Edificadas (CAE), os delegados tiveram ainda oportunidade para assistirem a diversas apresentações de especialistas e a uma demonstração AZIMUTE Nato Urban Operations.Nato Training Group Task Group 2 Foi decidido durante a reunião na Grécia, o planeamento de uma reunião intercalar para terminar os trabalhos determinados pelo mandato que decorrerá na Alemanha entre os dias 06 e 10 de Fevereiro de 2012. Esta reunião permitirá terminar os trabalhos que serão apresentados a todo o grupo na reunião na Suécia. Figura 1. Subsistemas da ameaça Nº 192 DEC11 49 AZIMUTE Figura 2. CCS e DVTE dinâmica sobre o emprego de um Subagrupamento na execução de um ataque a uma área Edificada. Sobre as apresentações salienta-se as efectuadas pelos 2 representantes do United States Marine Corps Warfighting Laboratory, que se centraram nas capacidades no âmbito dos sistemas de simulação terrestre, nomeadamente o Deployable Virtual Training Environment (DVTE)3, o Combat Convoy Simulator (CCS)4 e o Combat Hunter5, entre outros. A demonstração executada no Centro de Treino de Combate em Áreas Edificadas – ARGIROUPOLIS, expôs as dificuldades sentidas pelos 3 O DVTE é uma coleção de aplicações especificamente designadas para providenciar às forças a projetar capacidade de treino para unidades com missões específicas. 4 CCS é um sistema de treino imersivo providenciado em ambiente 3D (terreno realístico) para condutores e passageiros, nomeadamente em: comando e controlo, MEDEVAC, emprego de armas ligeiras, pedidos de tiro e TTP de C-IED. 5 O Combat Hunter é a criação de uma mentalidade através da integração de observação avançada, perfis de combate e rastreamento para produzir um soldado etnicamente mais preparado, taticamente astuto e letal, estando assim melhor preparado para ter sucesso em todo o espetro de operações militares. 50 Nº 192 DEC11 comandantes das pequenas unidades na condução de operações em ambientes urbanos integrando diversas plataformas das quais se destacam: Helicópteros de ataque (BlackHawk) e de apoio, Artilharia de Campanha, Carros de Combate com e sem sistemas de abertura de brecha e viaturas M113. Após a demonstração, foi possível verificar todas as ações executadas num sistema de controlo do exercício com base num sistema de vídeo que permitiu ao avaliador/validador do exercício conduzir uma Revisão Após a Ação. 3. O Futuro A continuidade dos trabalhos do grupo, ainda que hoje condicionados pelo mandato para a elaboração de dois documentos estruturantes para o planeamento e condução do treino em Áreas Edificadas limitado no tempo – 31 de Julho de 2012, pode e deve orientar-se para os objetivos que estão na génese do grupo, ou seja, a partilha de informação e de lições aprendidas/identificadas pelos delegados tendente à atualização e harmonização do treino no seio dos países da Aliança e à discussão de temas com impacto no ajustamento de Técnicas, Táticas e Procedimentos face ao novo ambiente operacional. Todavia, a determinação superior para a apresentação de produtos mensuráveis e objetivos leva a que o foco das reuniões se centre na produção de documentos ao invés da apresentação de experiências, lições aprendidas/identificadas e acima de tudo formas de conduzir treino e métodos de aperfeiçoamento individual e coletivo. No curto prazo, o desenvolvimento de um Centro de Excelência de Combate em Áreas Edificadas NATO em MUSCATATUCK, Indiana Estados Unidos da América representa um caminho decisivo para o desenvolvimento doutrinário, tático e técnico das estruturas NATO com responsabilidade nesta matéria com claros benefícios para a preparação/ aprontamento de forças, não só porque disponibilizará uma área única para o treino em Áreas Edificadas em todo o espetro de operações, mas também criará um fórum NATO de especialistas residentes para o estudo, tratamento e desenvolvimento de doutrina bem como para apoio ao desenvolvimento de projetos de investigação e desenvolvimento. 4. Conclusões A pertinência e atualidade AZIMUTE Figura 3.Plataformas utilizadas na demonstração Fonte: Fotos do autor dos temas abordados no seio deste grupo convive diretamente com o esforço diário que os diversos Exércitos NATO efectuam para prepararem as suas forças para este novo ambiente operacional, onde as Áreas Edificadas figuram como terreno importante e fator decisivo para o sucesso de uma campanha militar. Esta conspeção sustentada nos diversos projetos de investigação, nos projetos de desenvolvimento de centros de treino (MUSCATATUCK e CENZUB) e naturalmente nas lições aprendidas/identificadas de outras campanhas e operações militares, orientam o nosso pensamento e direção de esforço para o estudo, análise e desenvolvimento de tudo o que tenha a ver com o emprego de forças militares em terreno caraterizado pela presença de infraestruturas, população civil e acima de tudo da ameaça híbrida. Consubstanciando o atrás referido, tudo aquilo que possa ser feito ou desenvolvido no seio da NATO e internamente dos países que compõem esta aliança, tendente à melhor preparação dos Exércitos para fazer face a este complexo e volátil ambiente operacional, representa um passo importante para a repressão da ameaça e das suas intenções e concorrentemente para a segurança e bem-estar das populações. Este grupo e acima de tudo o trabalho que por ele é desenvolvido em espírito de aliança contribui para o aperfeiçoamento do estudo, treino e formação no âmbito do CAE. Compete à Escola e ao Exército a sabedoria para melhor empregar esses conhecimentos em benefício do produto operacional nacional. Azimute Figura 4. Central Elétrica de MUSCATATUCK Fonte: Fotos do autor Nº 192 DEC11 51 AZIMUTE Operações de Cerco e Busca Cap Inf Alexandre Capote (colaborador desta revista colocado no CMD PESS) 1. Introdução O emprego da força militar não é exclusivo das situações de guerra, podendo ser aplicado como resposta a crises emergentes ou em desenvolvimento e ainda no cumprimento de missões de interesse público1. As operações de resposta a crises estão integradas num ambiente operacional complexo e bastante exigente, em que os militares de uma Companhia são confrontados com elementos com um telemóvel numa mão, um RPG-7 na outra e um ódio extremo no interior do seu coração2. Os militares têm de ser capazes de dominar um conjunto de tarefas que vão desde o efectuar uma negociação ao estabelecer postos de controlo, postos de observação, passando pela execução de escoltas a colunas de viaturas3 e operações de Cerco e Busca. Uma operação de Cerco e Busca baseia-se em informações e pretende ser uma acção não violenta em que se isola (cerco) uma área e que pode ser orientada para pessoas, material, edifícios ou terreno4 com a finalidade de deter um determinado indivíduo ou apreender materiais chave, que podem incluir: armamento, munições, explosivos, contrabando, provas ou informação5. Pode ainda ter a finalidade de ser uma demonstração de força para a população. De facto, tornou-se numa das operações mais comuns em Teatros de Operações (TO), como o Iraque e Afeganistão, visto ser um método eficaz de privar a ameaça de materiais chave ou deter elementos6. Representa ainda uma forma de controlar a população e os seus recursos. Uma Companhia de Atiradores, durante o período da NRF7 12, treinou por diversas vezes esta tarefa táctica, desenvolvendo e aplicando várias tácticas, técnicas e procedimentos, fruto da experiência dos seus militares e dos ensinamentos recolhidos durante os treinos. O presente artigo apresenta alguns dos ensinamentos retirados desses treinos. O artigo está dividido em duas partes. Numa primeira, abordam-se alguns aspectos do planeamento e da organização de uma UEC para uma operação de Cerco e Busca. Na segunda parte, são apresentadas as tarefas dos vários elementos que intervêm na operação e considerações relativas ao treino desta tarefa táctica. 2. Planeamento e Organização Existem dois métodos de abordagem a uma operação de Cerco e Busca: pode ser realizada com consentimento8, em que o risco é reduzido e a probabilidade de fuga ou resistência à detenção é baixa ou nula, ou sem consentimento9, em que o risco é elevado e a probabilidade de fuga ou resistência à detenção é alta. O primeiro método é utilizado quando se pretende 1 RC Operações, 2005. 2 Tradução livre, Holden, LCol Christopher M.: CALL Newsletter 04-16 (2004) Cordon and Search. 6 Baillergeon, Rick and Sutherland, John: Cordon and Search Operations. 3 Tradução livre: FM 3-21.11 The SBCT Infantry Rifle Company. 7 NRF: Nato Response Force. 4 Tradução livre: FM 3-06.11Combined Arms Operations in Urban Terrain. 8 Tradução livre do inglês “Cordon and Knock”, FM 3-24.02 Tactics in Counterinsurgency. 5 Baillergeon, Rick and Sutherland, John: Cordon and Search Operations. 9 Tradução livre do inglês “Cordon and Enter”, FM 3-24.02 Tactics in Counterinsurgency. Figura 1 – Comparação dos métodos de Cerco e Busca 52 Nº 192 DEC11 AZIMUTE Figura 2 – Delimitação da área de busca uma abordagem que permite estabelecer uma relação / reacção não agressiva. Neste caso a velocidade e a necessidade de obter surpresa são secundários em detrimento da legitimidade. O segundo método é utilizado quando é necessário velocidade para obter surpresa de forma a conseguir dominar a situação. O cerco é rapidamente montado e o elemento de busca entra no(s) edifício(s) a inicia a busca de pessoas e material designados, mantendo a iniciativa sobre forças desconhecidas na área de busca. É necessário ter em consideração que possíveis ganhos em segurança, utilizando este método, podem significar a perda em relação a outros aspectos, tais como: risco para não combatentes presentes na área, danos colaterais nas infra-estruturas, opinião e entendimento por parte da população, risco para as tropas, efeitos em futuras buscas deliberadas10, etc (Figura 1). 2.1 Princípios A execução de uma operação de cerco e busca deve obedecer a alguns princípios, tais como: » Surpresa, de forma a evitar que um possível alvo fuja, que determinados materiais sejam escondidos ou que se prepare uma reacção eficaz contra a força que executa a operação, protegendo-a. » Velocidade, é um princípio relativo, pois é necessária para evitar uma reacção por parte de uma possível ameaça, no entanto as tarefas de busca requerem algum tempo, de modo a serem realizadas de uma forma sequencial e metódica. 10 Tradução livre: FM 3-24.02 Tactics in Counterinsurgency. 2.2 Aspectos a ter em consideração durante o planeamento Existem diversos aspectos a ter em consideração durante a fase de planeamento: » Determinar e delimitar correctamente a área de busca, de acordo com a área, determinar o efectivo a utilizar. Dependendo do método de abordagem, da situação da ameaça, das dimensões do objectivo e do risco a assumir, o efectivo é variável, podendo ir de uma Secção à utilização de toda a Companhia. Em situações particulares, a Companhia pode ser apenas um dos elementos dentro de uma operação de uma UEB. Mas no mínimo o efectivo não deve ser inferior a uma Secção (Figura 2). Determinar o tipo de equipamento a utilizar em função do grau de perigosidade da busca. » Procurar obter o maior número possível de informações sobre o local: plantas do edifício, fotografias, fotografias aéreas11, quantitativo de pessoas que se espera no(s) edifício(s), presença de população e possíveis reacções por parte dos ocupantes dentro do edifício e possível população envolvente. » Levantar as limitações e obrigações legais, tais como ROE12, necessidade de mandato de busca e / 11 As fotografias aéreas são uma ferramenta importante para o planeamento de operações, permitindo ter uma ideia pormenorizada da área envolvente. Permite também esclarecer e actualizar as cartas topográficas. É necessário ter atenção à escala das fotografias, pois pode induzir em erro. 12 ROE: Do inglês Rules of Engagement, regras de Nº 192 DEC11 53 AZIMUTE ou detenção, autorização para detenção de pessoas, autorização para confiscação de materiais e se estes podem ser confiscados pela força, entre outros. » Determinar a necessidade e confirmar a disponibilidade de meios e valências adicionais, que proporcionem um aumento das capacidades da força que executa a busca, por exemplo: equipas de evacuação, equipas de transporte13, equipas de intérpretes14, equipas de assuntos civis, equipas EOD15, equipas de polícia local e criminal16, equipas cinotécnicas17, equipas de operações psicológicas / negociação18 e equipas de vigilância / atiradores especiais19. É necessário o comandante ou líder da subunidade que vai realizar a operação, compreender as relações de comando, as capacidades e limitações de cada uma das equipas, assim como o seu modo de emprego20. » Determinar o período do dia em que é mais vantajoso executar a busca, de forma a obter-se o efeito surpresa, facilitar os movimentos e causar menores restrições na população. Montar um anel de segurança durante um período de visibilidade reduzida, aumenta a probabilidade de se obter surpresa, mas é mais difícil o comando e controlo, sendo sempre necessário ter em conta as restrições que vão ser colocadas à população, de forma a que esta não constitua uma ameaça. empenhamento. 13 Utilizadas pela Companhia para transporte de elementos a deter, materiais apreendidos. 14 Úteis numa situação de busca com consentimento de forma a facilitar a comunicação. É importante ter atenção à etnia ou raça da população e do intérprete de forma a não se tornar um problema em vez de uma solução. 15 EOD – Do inglês Explosive Ordnance Disposal, inactivação de engenhos explosivos. 16 Em determinados teatros, como o do Kosovo, as forças da NATO não podem deter indivíduos por mais do que um determinado número de horas, após o qual têm de os entregar às autoridades locais, de igual forma a recolha de provas para uso em tribunal terá de ser feita por equipas especializadas. 17 São uma valência bastante útil, no entanto é necessário ter atenção ao tipo de cão, podendo estes serem para busca de estupefacientes, armas e explosivos, pessoas ou serem cães patrulha. É também necessário compreender as limitações do animal, por norma devem ser empregues por curtos períodos de tempo, entre 20 a 30 minutos, após o que necessitam de descansar, assim surge a necessidade definir uma prioridade de busca. 18 Normalmente empregues em buscas com consentimento de forma a permitir a execução da busca de forma pacífica. Têm necessidade de segurança. 19 Na Companhia, sempre que possível e que a situação o justificasse, eram organizadas equipas de vigilância que também possuíam a capacidade de efectuar fogos de precisão até uma distância de 300 / 400m. 20 Este ponto é especialmente importante quando se está a operar num ambiente multinacional em que os procedimentos das equipas podem diferenciar dos procedimentos das equipas nacionais. 54 Nº 192 DEC11 2.3 Organização Para uma operação de Cerco e Busca, muito embora pudesse haver algumas variações, a Companhia de Atiradores tinha uma organização tipo, que incluía: o comando, que para além dos elementos orgânicos integrava os meios adicionais e algumas equipas que eram organizadas a partir dos elementos de um dos Pelotões, por exemplo equipas de vigilância e atiradores especiais, sendo responsável pelo comando e controlo da operação, um elemento de segurança que tinha tarefas associadas ao isolamento da área do objectivo, um elemento de busca responsável pelas tarefas associadas a encontrar uma determinada pessoa ou material, um elemento de detenção responsável pelas tarefas de processamento de pessoal e material e uma reserva de forma a poder reagir a situações inesperadas. 3. Tarefas 3.1 Comando Numa operação de Cerco e Busca, um comando e controlo efectivo de todas as acções é essencial e é necessário ter atenção à sua dimensão e constituição, de forma a conseguir a coordenação e sincronização das tarefas de segurança, busca e detenção. A localização do elemento de comando é um aspecto importante a detalhar. Tendo em conta que o esforço é realizado pelo elemento de busca, é junto deste que se deve posicionar o elemento de comando. Na Companhia de Atiradores, o Cmdt de Companhia e um operador de rádio, apeavam e estavam junto ao elemento de busca, ficando o Oficial Adjunto na sua viatura, garantindo as comunicações e relato das acções para o escalão superior e o controlo dos trens da Companhia, assim como do seu emprego. 3.2 Elemento de segurança O elemento de segurança monta um anel de segurança exterior, que tem por finalidade: bloquear, controlar, alertar a entrada de viaturas e / ou pessoal na área do objectivo e evitar possíveis ameaças para o elemento de busca. As tarefas tácticas associadas são: montagem de postos de controlo, posições de bloqueio, postos de bservação e patrulhas de segurança nos principais itinerários de acesso ao objectivo e / ou nas áreas entre eles, sendo necessário dar detalhes, como: que viaturas / pessoas devem ser revistadas e com que detalhe, em que circunstâncias as viaturas / pessoas são revistadas e apreendidas / detidas, se estas instruções se aplicam a tráfego que circula de fora para dentro e de dentro para fora e que tráfego é autorizado a circular e em que circunstâncias. As posições podem ser ocupadas antes do movimento do elemento de busca, se a situação o permitir e deve-se equacionar a necessidade de deixar Figura 3 – Anéis de segurança viaturas afastadas de forma a assegurar a surpresa, ou em simultâneo com este21. Deve-se ter atenção à identificação de viaturas e elementos que podem ou não entrar e / ou sair da área do objectivo e a hora / acontecimento a partir da qual o cerco tem de ser efectivo, como por exemplo: montado a partir de determinado GDH, activo após início da busca e a possibilidade de postos de controlo passarem a posições de bloqueio. Um dos erros que é comum cometer-se é posicionar o anel de segurança externo muito próximo do edifício alvo, de forma a não ser capaz de alertar a aproximação de uma ameaça em tempo e proteger o elemento de busca. É também necessário prever a utilização de meios 21 Normalmente, se o objectivo se encontra dentro de uma área edificada com vários edifícios e população em volta, a opção será ocupar as posições em simultâneo com o movimento do elemento de busca, visto que de outra forma a surpresa é quebrada. Figura 4 – Anel de segurança interior AZIMUTE de controlo de tumultos para este elemento, de forma a fazer face a possíveis manifestantes provenientes da população envolvente. Um aspecto importante a ter em conta diz respeito aos materiais disponíveis, o elemento de segurança deve ter disponível materiais que permitam bloquear itinerários, por exemplo concertinas se arame farpado e “ouriços”(Figura 3). 3.3 Elemento de busca O elemento de busca, monta um anel e segurança interior, que tem por finalidade evitar a fuga de viaturas ou pessoas da área do objectivo, proporcionar segurança aos elementos que executam as buscas na área do objectivo. As tarefas associadas são: montagem de posições de combate, postos de controlo e postos de observação e a execução de buscas. Um dos factores fundamentais a ter em consideração numa busca, é o factor segurança, isto porque os militares envolvidos na busca estão num meio que lhes é desfavorável, ao passo que os residentes no local onde é efectuada a busca, conhecem em pormenor o local, pelo que poderão utilizar o meio contra os militares. Assim é de equacionar, em algumas situações em que o risco associado á busca é elevado, por exemplo, quando a busca é sem consentimento, o anel de segurança interior poder ser substituído por posições de sobreapoio / apoio pelo fogo de forma a dar liberdade de acção ao elemento de busca. Nesta situação, algumas tarefas do anel interior poderão passar para o anel exterior de segurança (Figura 4 e 5) Na Companhia de Atiradores, o elemento de busca da Companhia22, de uma forma geral, dividia-se em: busca, segurança, detenção e reserva. A tarefa de busca podia ser atribuída a uma ou mais 22 Normalmente a tarefa era atribuída a um Pelotão, que para algumas missões podia receber uma Secção adicional. Figura 5 – Posições de apoio pelo fogo / sobreapoio Nº 192 DEC11 55 AZIMUTE Secções23 e tinha como princípios de actuação: evitar, sempre que possível, danos na propriedade alheia, evitar danificar possíveis provas criminais, procurar primariamente aquilo que é o objecto da busca, deixando no local o que não o era. Um dos aspectos a ter atenção é o método de entrada a utilizar24: “hardy entry”, executado de forma rápida e violenta, de forma a não comprometer a busca e a não causar baixas desnecessárias, utilizando métodos mecânicos, explosivos ou balísticos. É utilizado quando o risco é elevado e a probabilidade de fuga ou resistência à detenção é alta - busca sem consentimento, “Soft Entry”, utilizado quando o risco é reduzido e a probabilidade de fuga ou resistência à detenção é baixa ou nula - busca com consentimento, permite dar ao suspeito a oportunidade de colaborar, é a que é preferível se houver um baixo risco e evita uma escalada de violência. As buscas não se restringiam apenas ao interior dos edifícios, mas também ao exterior dos mesmos, fazendo-se uso de meios que a auxiliassem, por exemplo, detectores de metais. Se possível, as buscas devem ser realizadas com consentimento, tendo papel importante neste aspecto, a capacidade do comandante da força em negociar com o líder da povoação ou dono da casa, a entrada e execução da busca. Neste caso, a capacidade de estabelecer uma relação de cooperação, tornando a busca legítima e aceite pela população, é mais importante do que a velocidade e surpresa.25 Um dos aspectos a ter em atenção é o que fazer com os não combatentes, podendo ser empregues os seguintes métodos: reunir num local central fora das casas, restringir os habitantes às suas casas ou controlar a “cabeça” de cada casa. Em determinadas situações, eram conduzidas buscas deliberadas26, sendo esta realizada, após o local de busca estar seguro. A tarefa era, normalmente, atribuída a uma Secção27 que se organizava em co- mando e equipas de busca, construída cada uma por uma parelha. O número de equipas variava de acordo com o efectivo disponível e as dimensões da área do objectivo, no mínimo havia duas equipas, uma para o interior e outra para o exterior do(s) edifício(s), a equipa do exterior era também responsável pela área envolvente, o que incluía possíveis viaturas. Durante a busca, era efectuado um esboço detalhado da área da busca, o qual constituía um anexo do relatório efectuado. Durante a realização da busca, cada compartimento era fotografado antes de começar a busca, fazia-se um estudo do compartimento e procurava-se artigos óbvios com interesse. A busca era efectuada de uma forma sistemática, começava no centro do compartimento, de forma a libertar o espaço para artigos sem interesse e depois, a partir do ponto de entrada, de baixo para cima, deslocando-se em sentidos opostos, sendo os materiais em excesso, sem interesse, colocados no centro. Eram tiradas fotografias aos artigos com interesse, antes de lhes mexer. Sendo que estes eram fotografados no local, manuseados com luvas látex, colocados em sacos transparentes / Ziplock, etiquetados, registados no inventário de artigos capturados e transportados para o local de reunião no compartimento e depois entregue ao elemento de detenção. As pessoas eram revistadas e fotografadas com uma placa de informação detalhada. No exterior dos edifícios, era efectuada uma busca no perímetro dos edifícios, tendo em atenção os artigos enterrados ou escondidos em objectos. Às viaturas, era efectuada uma busca inicial procurando possíveis armadilhas, eram tiradas fotografias e documentada a informação retirada . Para executar este tipo de busca, foi criado um Kit, que era transportado em mochiletes de mochila. Mochilete 01 – Cmdt de Secção 23 Dependia das dimensões da área a efectuar a busca, se incluía busca no interior e exterior dos edifícios e se incluía a realização de uma busca deliberada. 24 Independentemente do tipo de busca e do método de entrada utilizado os elementos que vão efectuar a busca devem estar prontos a reagir a uma ameaça com armas de fogo, passando a utilizar técnicas de precisão de limpeza de compartimentos. 25 Baillergeon, Rick and Sutherland, John: Cordon and Search Operations. 26 Tradução livre do inglês “Tactical Exploitation”, FM 3-24.02 Tactics in Counterinsurgency. Pretende ser a acção sistemática, executada com os meus adequados, de forma a assegurar que pessoal, documentos, informação electrónica e outro material encontrado é identificado, recolhido e protegido de forma a permitir obter informações e apoiar acções futuras. 27 Se a área fosse de grandes dimensões ou a quantidade de material e pessoal a processar fosse elevada podia ser atribuída a duas Secções. 56 Nº 192 DEC11 Mochilete Nº1 * * * * * * 01 Mochilete 01 Bloco apontamentos + caneta 01 Lanterna Maglight 02 Sacos Ziplock 02 Pares luvas latex Fita balizadora Mochilete 02 – Adjunto Mochilete Nº2 * * * * * 01 Mochilete 02 Pares luvas latex 01 Bloco apontamentos A4 quadriculado + caneta Fita balizadora 01 Lanterna Mochilete 03 – Equipas de busca Mochilete Nº3 * 01 Mochilete * Fita balizadora * * * * * * * * * * * * * 10 Braçadeiras plásticas 06 Algemas de fio WD-1/TT 01 Lanterna Maglight 02 Conjuntos de 3m fio 01 Maquina fotográfica 10 Sacos plásticos transparentes (vários tamanhos) Etiquetas material capturado 06 Sacos Ziplock 01 Rolo fita cola 03 Pares luvas latex 01 Conjunto paus giz 01 Marcador tinta permanente 01 Detector de metais (se necessário) Figura 9 – Esboço resultante de uma busca deliberada A segurança, dependendo do tipo de busca e das características da área de busca, ocupava posições de apoio pelo fogo / sobreapoio, ou montava um anel de segurança interior, tendo como finalidade proteger o elemento de busca ou elementos que efectuavam uma possível negociação e evitar a fuga da área do bjectivo28. 28 Em situações específicas em que são ocupadas posições 3.4 Elemento de detenção De forma a libertar o elemento de busca das tarefas de processamento de pessoal e material29, estas eram atribuídas a um elemento em separado, que se organizava em: comando30, equipa de ligação, equipa de segurança e equipas de detenção. A equipa de ligação era responsável pela ligação ao elemento de busca, recebendo deste as pessoas e materiais, possuindo uma equipa de evacuação que transportava eventuais feridos. A equipa de segurança garantia a segurança próxima às equipas de detenção e ligação. As equipas de detenção organizam espaços para colocar: elementos procurados, não combatentes, feridos, mortos e material. Integrando as equipas de detenção, estava um a dois socorristas que prestavam os primeiros socorros iniciais e executavam uma primeira triagem. Os locais podiam ser organizados junto à área do objectivo, protegido das vistas e numa fase subsequente, ser transferido para o interior de um edifício (Figura 11). AZIMUTE Figura 8 - Manuseamento de material durante uma busca deliberada 3.5 Reserva Este elemento proporciona ao Comandante, flexibilidade e capacidade de fazer face a uma situação inesperada. Deve estar preparada para reforçar os elementos de cerco, busca ou detenção, podendo receber tarefas como: controlar distúrbios civis, reforçar o anel exterior, controlar detidos, entre outras. de sobreapoio / apoio pelo fogo e que o terreno seja restritivo, a força pode não ter capacidade de evitar a fuga de elementos da área do objectivo, passando esta tarefa para o anel de segurança exterior. 29 O material incluía apenas aquele que poderia causar uma ameaça imediata, por exemplo: armas, munições e explosivos, caso contrário era deixado onde fora encontrado. 30 Na 2CAt esta tarefa era normalmente atribuída a um Pelotão. Figuras 10 - Manuseamento de material durante uma busca deliberada Nº 192 DEC11 57 AZIMUTE 3.6 Uso de Equipas de vigilância / atiradores especiais A Companhia de Atiradores, de uma forma regular, organizou e empregou equipas de vigilância / atiradores especiais. Não possuíam uma organização fixa, mas de uma forma geral eram constituídas por duas equipas de dois elementos cada, liderada por um quinto elemento, um Sargento. Cada equipa possuía um militar com uma Espingarda Automática G-3 com Alça Trilux ou a Luneta AN/PVS-4 e um segundo militar com equipamento de vigilância diurna e nocturna, para além dos meios de comunicação. Normalmente, se a situação o permitisse31, eram colocados na área do objectivo com algumas horas de antecedência, colocavam olhos no objectivo e actualizavam a situação. Durante a aproximação do elemento de busca, actualizavam a situação e guiavam a força para o objectivo. Durante a acção no objectivo, permaneciam nas posições, alertando para eventuais movimentos na área do objectivo e nas imediações, além de proporcionarem a capacidade de efectuar fogos de precisão até uma distância de 300 / 400m. Quando eram empregues duas equipas, uma ficava responsável pelo 31 Quando o objectivo se encontrava no meio de uma área arborizada ou aberta e não houvesse uma ameaça era possível colocar olhos no objectivo algumas horas antes, se o objectivo se encontrava dentro de uma área edificada e houvesse uma ameaça, ocupavam as posições em simultâneo com a aproximação do elemento de busca. objectivo propriamente dito e a segunda pela área envolvente. As comunicações eram efectuadas na rede de comando e operações da Companhia, e durante a fase de planeamento eram definidas medidas de controlo de fogos e medidas de coordenação. 4. Conclusões A tarefa de Cerco e Busca é uma das tarefas mais comuns em operações de resposta a crises. No entanto, não se apresenta como sendo uma tarefa fácil de treinar e executar, visto ser uma tarefa que possui um enquadramento específico, sobretudo legal, e apresenta um sem número de tarefas associadas, algumas delas bastante técnicas e de uma forma geral as unidades não estão rotinadas a executá-las, e naturalmente os resultados apresentam-se pouco satisfatórios, pois frequentemente ignoram cartas com transparentes, fotografias, esquemas, frequências de rádios, telemóveis, etc. Todo o treino deve estar enquadrado, em particular pelas considerações legais implicadas e ser progressivo. Deve-se treinar as tarefas associadas em separado e depois integrar as tarefas em diversos pequenos exercícios tipo STX. De uma forma natural, esta tarefa táctica realiza-se em ambiente urbano, estando assim o seu treino associado ao treino de tarefas de combate em áreas edificadas. Figura 11 – Esquema de colocação do elemento de detenção 58 Nº 192 DEC11 Azimute Referências bibliográficas Documentos oficiais: - FM 3-21.11 (2003) The SBCT Infantry Rifle Company. - FM 3-90.05 (2005) The HBCT Combined Arms Battalion. - FM 3-24.02 (2009) Tactics in Counterinsurgency. - FM 3-06.11 (2002) Combined Arms Operations in Urban Terrain. - CALL Newsletter 04-16 (2004) Cordon and Search. - GTA 90-01-2008 Tactical Site Exploitation. RC Operações. (2005) – Regulamento de Campanha - Operações. Lisboa: EME. - Manual de Operações Apoio à Paz – Tácticas, Técnicas e Procedimentos, EPI, 2008. - Directiva Nº 01-08 / AgrMec / NRF 12. Apresentações: - 3rd BCT / 3rd Infantry Division, Cordon and Search. - 3-502nd / 82nd Airborne Division, Cordon & Search Vignette. - B Coy / SWECOY, Concept of Search Operations. Artigos: - Baillergeon, Rick and Sutherland, John: Cordon and Search Operations. - HUGHES, Major Christopher and ZIEK, Major Thomas G., Cordon and Search Operations. - STANTON, Major Martin N., Cordon and Search Operations – Lessons Learned in Somalia. 1Sar Inf Sérgio Santos (encontra-se a frequentar o curso de psicologia social e das organizações do ISCTE-IUL) “Dado particularmente relevante para a transformação do Exército, e que assumimos em toda a sua amplitude, é a mudança no modelo de obtenção de recursos humanos. …. Considerar que os recursos humanos nos devem ser proporcionados por alguém, apenas nos competindo a sua formação e enquadramento, seria o espelho da inércia e da passividade. Temos que ir ao encontro dos jovens. De forma séria, contínua e empenhada.” AZIMUTE A Psicologia Organizacional e a Instituição Militar Discurso de SExa GEN CEME na Academia Militar na abertura Solene do Ano Lectivo 2003/04 Atualmente, as organizações, perante novos desafios de natureza tecnológica, infraestrutural e socioeconómica, vivem profundas transformações que exigem novas abordagens para análise e soluções dos mesmos problemas, agora com uma postura proactiva e dinâmica. No passado, o Homem era colocado nas organizações como complemento ao trabalho mecânico. O tratamento era impessoal e os processos de produção eram essencialmente mecanicistas. Nessa altura, os gestores não se preocupavam com os seus recursos humanos, que ao longo do tempo, de forma directa e indirecta, iam adquirindo conhecimentos que colocavam em prática no seu quotidiano, com todas as consequências positivas e negativas para a organização. Todavia, com a importância crescente dos colaboradores e a rentabilização das suas competências para os sucessos organizacionais, há claramente uma nova forma de pensar o todo organizacional. Na verdade, a evolução das ciências sociais fez com que estas instituições passassem a adoptar uma postura mais atenta sobre o seu papel no contexto social, levando à reorientação de estratégias e processos, focalizando a sua atenção no capital humano. Hoje, os funcionários de uma organização não podem ser encarados apenas como meros autómatos que executam uma determinada tarefa, onde não é tido em conta os seus sentimentos, as suas emoções as suas motivações ou mesmo as suas frustrações. Atualmente, esses funcionários são vistos como preciosos colaboradores que se envolvem no processo criativo e produtivo dentro da organização. A literatura relacionada com a gestão de recursos humanos revela que há uma grande evolução do papel dos indivíduos dentro das organizações. Estas estruturas são portanto constituídas por indivíduos que possuem diferentes atitudes, valores, pensamentos, comportamentos, expectativas, motivações e frustrações, que levam à edificação de um determinado clima organizacional. O clima organizacional, pode então ser definido como o indicador do grau de satisfação dos membros de uma organização, em relação a diferentes aspectos da cultura ou realidade aparente, tais como: política de recursos humanos; modelo de gestão; missão da organização; processos de comunicação; valorização profissional; e identificação com a organização. É neste clima organizacional que os colaboradores estão envolvidos e labutam no seu dia-a-dia. A organização que procure sobreviver neste contexto de “crise” deve procurar conciliar o interesse próprio, (eficiência, produtividade e qualidade) com os interesses individuais dos seus colaboradores, nomeadamente, realização pessoal, possibilidade de adquirir novas competências e bem-estar social. Ou seja, para que um colaborador possa prestar um bom trabalho é necessário que saiba fazer, que possa fazer e que queira fazer. O saber fazer é uma questão de conhecimento, habilidades ou atitudes; o poder fazer é uma questão de dispor e poder usar os recursos necessários; e o querer fazer já é uma questão voluntária, que depende da satisfação das pessoas quando realizam o seu trabalho, logo está associado ao clima organizacional. Indubitavelmente as organizações terão que alterar o seu paradigma e promover uma profunda mudança organizacional. Essa mudança ocorre quando se altera consideravelmente a maneira de pensar e de agir das pessoas. A única maneira de mudar/inovar, consiste em inculcar novos valores, ou alterar significativamente os vigentes, de modo a instituir um novo sistema de crenças. A literatura salienta que essa mudança é extremamente difícil, pois obriga a alterar um determinado conjunto de atitudes e comportamentos que foram assimilados ao longo do tempo como verdades indubitáveis. Nesse sentido, concorre a prática nas organizações para a aplicação da psicologia na administração dos recursos humanos, primordial forma para o diagnóstico de possíveis problemas, obtendo assim dados para a implementação de estratégias e procedimentos de Nº 192 DEC11 59 AZIMUTE mudança no seio organizacional. Um exemplo recorrente e cada vez mais comum é o relativo à carga psíquica em ambiente de trabalho. A experiencia diz-nos que indivíduos com excessiva carga de responsabilidade dentro seleção. No recrutamento aplicam-se um conjunto de técnicas e procedimentos que visam seleccionar candidatos potencialmente qualificados e capazes de ocupar cargos dentro da organização. E s t a fun- de u m a ç ã o orgaé semnização, pre reae na grande lizada de acordo com maioria, sem Clima Organizacional as necessio devido apoio dades presentes e futuras de de auxiliares e líderes, tendem recursos humanos na organia desenvolver problemas do foro zação, existindo dois tipos de psicológico. Muitas vezes, o pró- recrutamento: o recrutamento prio indivíduo consegue controlá- interno, que está fundamentado -los, recorrendo se necessário na movimentação de quadros de a apoio especializado. Mas há pessoal dentro da própria organicasos extremos em que poderá zação, e o recrutamento externo, recorrer a medidas ou acções que ocorre quando não é possídrásticas como homicídios ou vel obter candidatos para suprimesmo ao suicídio - temos camir as vagas existentes. Após o sos recentes em Portugal e relaprocesso de recrutamento, emtivos, na sua maioria, a forças de pregando-se testes, entrevistas segurança. A solução passa pelo acom- e dinâmicas de grupo, inicia-se o panhamento psicológico, com o processo de selecção, que deve objetivo de neutralizar e corrigir ser adequado aos objectivos da desvios comportamentais, com organização. Mas o que é afinal o comporo objectivo de recuperar o capitamento organizacional? Como tal humano e incrementar o nível explica-lo? de produtividade individual mas, Uma das propostas para a extambém, colectivo. plicação, é o modelo “Atracção – Numa primeira análise o psiSelecção – Atrito” (ASA), definicólogo organizacional surge como o profissional que tem a do por Schneider (1987) e revisto função de “ajudar a organização por Schneider, Goldstein & Smith a pensar” e com isso capacitar o (1995), como um modelo cíclico indivíduo - no seio organizacional segundo o qual as pessoas cujas características pessoais se as- a lidar com os problemas. Mas a prática do psicólo- semelhem às características de go organizacional deve estar a uma determinada organização, montante do problema. Ou seja, são para ela atraídas, por ela seao nível do recrutamento e da leccionadas e nela permanecem. 60 Nº 192 DEC11 Por sua vez, as estruturas, os processos e a cultura organizacional são o reflexo das características da personalidade do(s) fundador(es) da organização e dos seus principais líderes. As organizações, na perspectiva do modelo ASA, tendem ao longo do tempo para uma maior homogeneidade em relação ao tipo de pessoas que as constituem. Na fase inicial da implementação da empresa no mercado de trabalho, a homogeneidade é benéfica na medida em que facilita a coordenação e a comunicação, melhorando a socialização e a interacção. Mas a homogeneidade poderá ter a longo prazo consequências negativas no futuro das empresas. Tal como advoga Schneider (1995), o psicólogo organizacional deverá na fase inicial seleccionar os pretendentes que melhor se encaixem na organização para prevenir o atrito e assim criar um espírito mais homogéneo. Contudo, com o avançar do tempo, deverá promover a heterogeneidade tendo em vista o desenvolvimento da inovação e do espírito crítico, onde os colaboradores poderão explanar as suas ideias, mesmo que divergentes, no sentido construtivo de novas dinâmicas. Outra actividade muito solicitada ao psicólogo organizacional é o treino de desenvolvimento pessoal. Esta é uma actividade necessária tanto para novos funcionários como para os mais experientes. Avaliar o desempenho dos colaboradores é também muito importante. Os dados sobre o desempenho no trabalho têm múltiplas aplicações nas organizações e levará certamente a um incremento da produtividade. Mas essa avaliação terá que ser isenta e rigorosa, pois se assim não for, poder-se-á tornar num instrumento perverso. É importante que ao colaborador seja reconhecido o seu papel activo na execução das suas tarefas, e que possua liberdade para expor as suas adensam sobre toda a função pública e por inerência sobre os militares, tornar-se-á complexo gerir os recursos humanos? Julgo que não. Olhando para a Instituição Militar e fazendo uma analogia com as demais organizações, verifica-se que esta possui características que são transversais a outros modelos de gestão, contudo, possui algumas especificidades que a tornam ímpar. Neste âmbito importa reflectir sobre cinco pecados capitais do mundo organizacional que não deixam de ser os nossos. O primeiro, prende-se com a estrutura de comunicação. Muitos dos nossos problemas estão relacionados com a gestão dos fluxos de informação. Se promovêssemos uma maior descentralização da informação, certamente em muitos casos teríamos um papel pró-activo e não reactivo como por vezes sucede. O segundo é a rotatividade (Turnover). Este, é a meu ver, o maior entrave ao desenvolvimento sustentado de qualquer organização, porque provoca uma perda substancial de processos e dinâmicas já adquiridas, que terão que ser novamente reinventadas. A instituição Militar deve procurar promover uma maior permanência no posto de trabalho. O terceiro pecado está relacionado com a falta de ética. O clima organizacional é seriamente afectado, quando os colaboradores, ignoram os princípios éticos para unicamente alcançar resultados a qualquer custo. Esta situação leva à desmotivação, factor preponderante na produtividade. A gestão de competências é o quarto pecado capital. Nas organizações os colaboradores são seleccionados para a função, tendo em conta as suas competências técnicas e sociais. O quinto pecado, está relacionado com a gestão do conhecimento, condição determinante na evolução das organizações. Deve ser encorajada a melhoria e a procura incessante do conhecimento científico, com o intuito de fomentar a qualidade da formação. Dito isto, talvez seja importante reflectir sobre: O desenho de objectivos futuros, sustentados numa vontade cooperativa, que podem e devem ser periodicamente revistos, ajustando-os às expectativas de cada colaborador. Novos agentes motivacionais, e,g., (gestão do tempo e gestão do conhecimento), pois o indivíduo que se encontrar motivado melhorará seguramente o seu desempenho e consequentemente a dinâmica da organização. Resta-me concluir reforçando que acredito piamente que conseguiremos dar uma resposta cabal aos novos desafios com os quais a Instituição Militar se depara, e nunca nos esqueçamos que os tempos de dificuldades são também tempos de oportunidades, saibamos nós aproveitá-las. AZIMUTE ideias, não se sentindo oprimido e desta forma, desenvolva as suas capacidades e alargue o leque das suas competências. Em 1964, Vroom defendia que o esforço do(s) indivíduo(s), ao ser o reflexo das motivações que cada um suporta, será tanto maior quanto a expectativa sobre o seu desempenho, ainda que o(s) resultado(s) possa(m) ou não ser o(s) pretendido(s) e valorizado(s) por si. Assim, qualquer que seja esse resultado, cabe ao psicólogo organizacional intervir junto do colaborador, arranjando estratégias motivacionais adequadas, i.e., incentivando-o a manter ou melhorar a sua prestação com o objectivo de conseguir, manter ou recuperar (consoante o caso) o equilíbrio entre o esforço do seu trabalho e a posterior recompensa comparativamente com outros. Deste modo o colaborador, ao sentir-se motivado e satisfeito, permanece na organização. As Forças Armadas e o Exército em particular, no contexto de transformação atual, são actualmente encarados pela sociedade como uma organização em que, erradamente, há a perceção de uma menor utilidade, associada a um consumo excessivo de recursos materais. Para confirmar o que escrevo basta estar atento aos Órgãos de Comunicação Social (OCS) e aos comentários proferidos a este respeito. É nesta difícil conjuntura que nos vemos obrigados a afirmar a nossa importância, exigindo-se, neste momento socioeconómico repleto de grande incerteza, uma criteriosa aplicação e orientação dos recursos humanos, única forma para o desenvolvimento sustentado da Instituição Militar. Mas, na conjuntura actual, em que os cortes salariais se Azimute Referências bibliográficas Schneider, B. (1987). The people make the place. Personnel psychology, 40, 437-454 Schneider, B., Goldstein, H. W., & Smith, D., B. (1995). The ASA framework: an update. Personnel psychology, 48, 747-773 Neves, J. (2011). Aptidões individuais e teorias motivacionais. Psicossociologia das organizações, 9, 255-289 Bibliografia Chatman J. (1989). Improving interactional organizational research: A model of person organization fit. Academy of Management Review, 14, 333-349. Chatman J. (1991). Matching people and organizations: Selection and socialization in public accounting firms. Administrative Science Quarterly, 36, 459-484. Nº 192 DEC11 61 AZIMUTE As Provas de Decisão Militar Salto para o tanque dos frades Maj Inf Garcia Lopes (colaborador desta revista colocado no CPAE) Introdução Uma das características fundamentais dos militares, sobretudo nos que desempenham funções de liderança, é a capacidade de decisão. É ela que garante que, após serem ponderados os custos e benefícios (por vezes em fracções de segundos), o líder consiga passar à acção e com isso orientar e motivar os subordinados no cumprimento de tarefas e missões. Assim, durante o percurso de selecção e de formação dos futuros líderes militares, tem sido dada particular atenção às provas que exigem capacidade de decisão. Como exemplos dessas provas, e entre muitas outras, temos o salto do muro e da vala e o salto para o galho incluídas em provas de obstáculos ou as feitas isoladamente e características dos cursos de Infantaria, como o salto para o tanque dos frades, o salto para o desconhecido e o slide e o rappel. Uma questão colocada recorrentemente é se as provas de Salto do muro da pista molhada 62 Nº 192 DEC11 decisão militar, para quem não as supere, devam ter um carácter eliminatório ou somente penalizador. Para uma melhor compreensão do que está envolvido na realização das tarefas de decisão, passaremos a analisar os seguintes factores nelas envolvidos: Decisão, Percepção de risco e Decisão face à percepção de risco. Decisão Relativamente à decisão Daniel Ellsberg (1960, cit. por Baron, 1994) refere que existe uma ambiguidade na decisão perante situações desconhecidas, dado que as pessoas podem violar o axioma da utilidade esperada, com o objectivo de evitar situações de risco quando a probabilidade deste ocorrer é incerta. Ritov & Baron (1990, cit. por Baron, 1994) encontraram ainda evidências de que quando existe falta de informação as pessoas tornam-se relutantes em escolher uma opção onde não há certeza das suas consequências. De uma outra forma, Rasmussen (1987) descreve que na decisão está envolvida a identificação das discrepâncias entre o estado actual e o estado após a acção. Percepção de risco Singleton e Hovden (1987) concluem, na sua obra sobre “Risco e Decisões”, que o que caracteriza o risco é: ser uma exposição a um eventual perigo; envolver incerteza relativamente ao que pode ocorrer; e estar presente em situações onde não existe informação completa sobre as consequências. Ainda segundo os mesmos autores, o movimento para um território desconhecido envolve sempre riscos, mas este movimento é feito porque há também potenciais benefícios associados. No entanto, o risco é evitado se existe a percepção de que há possibilidades do resultado não trazer benefícios ou, trazendo, se estes no julgamento (crença) e por isso entendem que essa avaliação é subjectiva. Para tentar cruzar as duas visões (do expert e do novato) o autor propõe que mais indicado será comparar o risco intuído pelo novato com o risco estimado pelas várias variáveis reais em jogo entendidas pelo expert. Ainda sobre o risco, Brehmer defende que o que se percepciona não é o risco mas sim as possíveis consequências da decisão. Decisão face à percepção de risco Salto para o desconhecido é feita através do treino táctico e operacional. Berndt Brehmer (1987) na sua teoria sobre “a psicologia do risco” refere que a percepção de risco face a provas de decisão é sempre diferente para experts (instrutores) e para novatos (instruendos). Para os experts, os novatos têm um entendimento errado e falta de informação sobre o risco, o que os leva a considerarem que existe perigo onde ele não existe. Assim, para os experts a percepção dos novatos sobre o risco é “irracional”. Pelo contrário, os novatos discordam da avaliação do risco feita pelos experts, pois consideram que estes a fazem somente baseada Para Brehmer (1987) a decisão sobre um risco é uma decisão intuitiva que expressa uma avaliação difusa e negativa da decisão sobre uma alternativa, acompanhada de um sentimento geral de que “é algo que não se quer fazer”. De acordo com Edwin Herr (1970) o processo de decisão é um fenómeno da experiência humana que para ser compreendido tem que considerar a existência de vários factores inter-relacionados que a influenciam, tais como a inteligência, a aptidão, os valores, os estereótipos, os interesses, as necessidades e o auto-conceito. Conclusões: Da breve investigação realizada podemos concluir que: 1. No ser humano existe uma relutância em optar por uma situação desconhecida, ou onde exista falta de alguma informação, quando esta envolve a ocorrência de riscos; 2. Existe um claro e natural desacordo entre instruendos e instrutores sobre a percepção de risco relativa às provas de decisão, fruto da diferença de experiências e de informação conhecida; 3. O risco é inerente à condição militar e é através do treino que é feita a redução da percepção do impacto do mesmo; 4. Na decisão estão inter-relacionados factores como a inteligência, a aptidão, os valores e a intuição. AZIMUTE não compensarem os prejuízos. Relativamente ao risco na vertente militar, Michael Page (1987) defende que este é uma parte central da vida dos militares, já que o risco está no coração das suas acções. Refere ainda que a redução do seu impacto Proposta: Relativamente à questão base que serviu de motivação à realização deste artigo: se as provas de decisão militar, quando Salto para o galho não superadas, devam ter um carácter eliminatório dos cursos ou somente penalizador, a seguinte proposta não pretende ser a resposta única e cabal ao tema mas Nº 192 DEC11 63 AZIMUTE Execução do slide sim apenas mais um contributo para se encontrar uma solução adequada. Se por um lado a importância da característica da decisão nos líderes militares deveria excluir os que não a possuem, por outro lado parece redutor que essa exclusão seja feita somente com base numa prova específica que, apesar de avaliar a capacidade de decisão tem associadas outras vertentes (incapacidades particulares, receios específicos, situações de indisponibilidade pontual, eventual falta de treino adequado, entre outras). Assim, uma possível solução que evita as limitações atrás abordadas será considerar as provas de decisão militar como 64 Nº 192 DEC11 penalizadoras, no caso de não serem superadas umas mas serem ultrapassadas outras, e serem consideradas eliminatórias, no caso de, no seu conjunto, uma parte significativa delas não ser superada. Por outras palavras, as provas de decisão militar devem ter duas avaliações: uma individual, em que cada uma conta somente na prova em que está inserida, devendo o instruendo ser penalizado caso não a consiga superar; e outra conjunta, onde todas as provas de decisão do curso são agrupadas e ao ser verificado que o mesmo instruendo não supera 2/3 dessas provas deverá então implicar a sua exclusão. Azimute Bibliografia Baron J. (1994). Thinking and Deciding. Cambridge: Cambridge University Press. Brehmer B. (1987). The Psychology of Risk. In W. T. Singleton & J. Hovden (Eds). Risk and Decisions (pp. 25-40). Chichester: John Wiley & Sons, Ltd. Herr E. L. (1970). Decision making and Vocational development. Boston: Houghton Mifflin Company. Page M. (1987). Risk in Defense. In W. T. Singleton & J. Hovden (Eds). Risk and Decisions (pp. 191-206). Chichester: John Wiley & Sons, Ltd. Rasmussen J. (1987). Risk and Information Processing. In W. T. Singleton & J. Hovden (Eds). Risk and Decisions (pp. 109-122). Chichester: John Wiley & Sons, Ltd. Singleton W. T. e Hovden J. (1987). Final discussion. In W. T. Singleton & J. Hovden (Eds). Risk and Decisions (pp. 209-224). Chichester: John Wiley & Sons, Ltd. Universidade do Minho Catarina Guise, Katherine Mérida, Rita Nogueira e Raul Fangueiro 1. Enquadramento Os materiais à base de fibras têm sido utilizados pelo Homem, desde há largos milhares de anos, na produção de vestuário e artigos decorativos, devido às suas propriedades únicas de conforto, flexibilidade e cair. Estas aplicações representaram, durante muitos anos, o principal mercado dos materiais fibrosos. No entanto, as evoluções ocorridas do século passado, despoletaram o desenvolvimento de novas fibras com desempenhos mecânico, térmico e químico extremamente interessantes, que conduziram ao aparecimento de uma vasta gama de aplicações técnicas dos materiais fibrosos. Para além disso, a possibilidade de tornar estes materiais inteligentes, ou seja, com capacidade de responderem por si só a um determinado estímulo externo, tem também contribuído para desenvolvimentos extremamente interessantes neste domínio. Dentro das características que podem ser incorporadas por estes materiais destacam-se: • A mudança de cor por acção da temperatura, electricidade ou luz; • A criação e transferência de calor através da electricidade ou de mudança de fase; • A actuação como sensores, reagindo à variação de temperatura do corpo humano ou do ambiente; • A memorização da forma, com capacidade de voltar à forma inicial, normalmente, por acção do calor. A incorporação da microelectrónica, como os sensores, em materiais à base de fibras, tem proporcionado, igualmente, produtos de elevado interesse. Destaca-se a utilização de sensores em vestuário de protecção com o objectivo de localizar o utilizador num dado território, por exemplo. Com o intuito de dar a conhecer este “mundo das fibras” surgiu o projecto FIBRENAMICS – O Novo Mundo dos Materiais à base de Fibras, que visa desenvolver conteúdos para divulgação nos média, acerca dos últimos progressos destes materiais, com especial enfoque nas suas aplicações avançadas nas áreas da medicina, construção civil, arquitectura, protecção pessoal, transportes e desporto. Trata-se de um projecto liderado pelo Fibrous Materials Research Group, da Escola de Engenharia da Universidade do Minho. 2. Introdução às fibras As fibras têxteis são elementos filiformes que apresentam um elevado comprimento em relação à dimensão transversal máxima, sendo caracterizadas pelas suas flexibilidade e finura. São constituídas por macromoléculas, os polímeros, que por sua vez, são compostos por uma sequência de monómeros (1). O comprimento do polímero é um factor bastante importante, uma vez que todas as fibras possuem uma cadeia polimérica bastante longa, sendo que o arranjo molecular pode ser mais ou menos orientado com influência direta nas propriedades das fibras. Assim, uma elevada orientação dos polímeros confere elevada resistência à tracção, baixo alongamento, resistência ao calor e resistência aos químicos. Pelo contrário, uma baixa orientação dos polímeros proporciona características de flexibilidade, suavidade e conforto às fibras (1). A classificação das fibras pode ser realizada de acordo com diversos aspectos. Em relação ao comprimento, podem ser classificadas como: descontínuas, quando apresentam um comprimento limitado, ou contínuas, quando apresentam um comprimento bastante elevado, sendo este apenas limitado por razões técnicas. Em relação à sua origem, as fibras podem ser classificadas em naturais ou não naturais (Figura 1). Dentro das fibras naturais, estas podem, ainda, ser de origem animal (ex.: lã, seda, alpaca), vegetal (ex.: algodão, linho, juta, sisal, cânhamo) ou mineral (ex.: amianto). Por outro lado, as fibras não naturais podem, igualmente, ser divididas em fibras artificiais (ex.: viscose, acetato, cupro), sintéticas (ex.: aramida, poliamida, poliéster) e inorgânicas (ex.: vidro, carbono, boro). As fibras artificiais e as sintéticas são produzidas pelo Homem. Contudo, as fibras artificiais utilizam como matéria-prima componentes existentes na natureza, como é o caso da celulose, enquanto as fibras sintéticas utilizam como matéria-prima produtos químicos (2). No geral, as fibras apresentam inúmeras aplicações em diversas áreas, como, por exemplo, vestuário, desporto, medicina, construção civil, indústria automóvel, arquitectura, protecção, entre outras. Nº 192 DEC11 AZIMUTE Materiais fibrosos na proteção militar 65 AZIMUTE 3. Tipos de protecção na área militar Na área militar, vestuário de combate, coletes balísticos, capacetes, mísseis, carros de combate, armamento e vestuário de protecção térmica são exemplos de produtos que utilizam fibras e estruturas fibrosas. Assim, verifica-se que neste campo existe uma integração completa de todas as áreas de protecção pessoal: mecânica (ex.: coletes à prova de bala), térmica (ex.: vestuário de proteção contra temperaturas extremas), biológica (ex.: respiradouros protetores de partículas que possa ser nocivas ao utilizador) e química (ex.: vestuário de proteção contra líquidos, gases, poeiras nocivas). Realça-se, ainda, a importância da camuflagem como proteção visual. Os requisitos do material que promovem proteção no campo militar em cada área enumerada anteriormente incluem (3): • Na área da proteção mecânica: -- Resistência ao impacto; -- Elevada resistência à tração; -- Resistência à abrasão; -- Resistência ao rasgo. • Na área da proteção química e biológica: -- Resistência ao rasgo para evitar a possibilidade de infeção; -- Resistência e repelência a vírus, bactérias, produtos químicos; -- Elevada impermeabilidade e respirabilidade para proporcionar maior conforto térmico; -- Resistência térmica; -- Durabilidade; -- Resistência à abrasão; -- Facilidade de limpeza. Figura 1: Classificação das fibras. • Na área da proteção térmica: -- Elevado isolamento térmico; -- Resistência a condições ambientais extremas como calor, chama, vento, frio e neve; -- Elevada repelência a líquidos. coletes à prova de bala são artefactos militares que protegem os utilizadores contra projécteis ou destroços. A Tabela 1 mostra a percentagem de acidentes causados em campo de batalha, onde a proteção mecânica assume importância. • Na área da proteção visual (camuflagem): -- Resistência às condições ambientais extremas (calor, chama, vento, frio, neve); -- Fácil adaptação ao meio ambiente que facilita uma rápida camuflagem; -- Resistência aos raios UV; -- Flexibilidade; -- Leveza. As fibras de aramida, que se apresentam no mercado sob diversas marcas comerciais, incluindo o Kevlar®, são o material base dos coletes à prova de bala. São materiais fibrosos extremamente resistentes ao calor e sete vezes mais resistentes que o aço por unidade de peso. O colete à prova de bala é, normalmente, formado por várias camadas fibrosas sobrepostas com uma certa folga, oferecendo, progressivamente, resistência ao avanço do projéctil (Figura 2) (4,5). 4. Uso das fibras na área militar Na proteção militar do tipo mecânica, os avanços tecnológicos permitiram uma evolução significativa, passando-se das pesadas armaduras em ferro para coletes e fatos leves e confortáveis. Os De igual forma, a fibra de polietileno de alta densidade é largamente utilizada nesta área de proteção. Um exemplo é a fibra comercial Dyneema® utilizada Tabela 1: Causa dos acidentes balísticos em geral em teatro de guerra (adaptado de (3)). 66 Nº 192 DEC11 AZIMUTE Um exemplo de esna proteção balística. Apresenta extrutura fibrosa comertrema resistência cial utilizada nesta aos raios UV e a área é o Tyvek®, deprodutos químivido às suas elevacos e elevadas das propriedades de resistências à resistência ao rasgo, tração e abrasão. durabilidade e resDetém, igualmenpirabilidade. É uma te, a capacidade de estrutura 100% poflutuar na água e não lietileno, onde os esabsorver humidade. paços vazios entre as Existem muitos oufibras permitem a cirtros equipamentos miculação de vapor de litares que envolvem Figura 2: Estrutura de um colete à prova de bala água e ar, limitando, no a utilização de fibras (Imagem retirada de http://gcmcarlinhossilva.blogspot.com/2011/04/ entanto, a circulação das especial-armas-de-fogo-o-colete.html) com o objectivo de partículas, proporcionando emocionais e letalmente terríproteção, como são o protecção e conforto. caso dos capacetes e de muitos veis. Os efeitos químicos promodos veículos blindados utilizados. vem queimaduras, doenças a níQuanto à proteção térmica, Nestes casos, as fibras de vel respiratório e a nível da pele, dependendo do clima, o soldaaramida ou de polietileno de alta podendo, em muitos casos, levar do deve estar em condições térdensidade são, normalmente, uti- à morte. Os dispositivos essenmicas estáveis. A transpiração lizadas em combinação com ma- ciais de protecção para os militapode causar desconforto, podentrizes poliméricas como forma de res são os respiradouros nasais do levar à hipotermia em climas ou totais que filtram e desactise obterem materiais compósitos frios. A humidade da transpiravam as espécies tóxicas. Quanto extremamente leves e com proção ou da chuva, pode reduzir, priedades mecânicas, principal- à protecção oferecida pelo vestuseveramente, o isolamento formente de resistência ao impacto, ário, este tem que ser impermenecido pelo material utilizado no ável, mas respirável (Figura 3), extremamente interessantes. vestuário. A guerra química e biológica tal como no caso da protecção No geral, a protecção, tancontinua a ser das maiores ame- térmica, mas permitindo a saída to contra o frio como contra o do calor e aprisionando a entraaças silenciosas para o mundo, calor, é conseguida através da já que os produtos tóxicos são da de vírus e bactérias entre as fáceis de produzir e têm efeitos fibras (3). utilização de estruturas fibrosas Figura 3: - Proteção em guerra biológica. (Imagem retirada de http://lista.mercadolivre.com.br/mascara-militar-americana-contra-gases) Nº 192 DEC11 67 AZIMUTE Figura 4: Membrana Gore-Tex ® (imagens adaptadas de http://www.goliath.co.uk/index.php?p=247 e de http:// randonneur-rs.blogspot.com/2010_01_01_archive.html). multicamada, em que cada uma destas desempenha um papel específico no desempenho global do conjunto (5). Fibras mais finas tendem a aprisionar maior quantidade de ar do que fibras com maior secção, para o mesmo volume. Um isolamento suficiente será formado por 10-20% de fibras adequadamente dispersas e 80-90% de ar. Um exemplo de material comercial que é utilizado a nível militar na protecção contra o frio é a membrana Gore-Tex®. Trata-se de uma membrana microporosa formada por politetrafluoretileno (PTFE), contendo mais de 9 bi- liões de poros microscópicos por polegada quadrada, sendo que estes poros são 20.000 vezes menores que uma gota de água, mas 700 vezes maiores que uma molécula de vapor de água (Figura 4). Assim, o tecido, através da membrana, permite que a transpiração escape, mantendo-se impermeável à água (3,5). A inclusão de microcápsulas em fibras surgiu com o elevado interesse na utilização de materiais de mudança de fase (PCM’s), para controlo Dinâmico e inteligente da temperatura corporal. Estes materiais inteligentes activos sentem e reagem de acordo com estímulos ou condições externas, largamente Tabela 2: Fibras retardantes de chama no uso militar (Adaptado de (3)). 68 Nº 192 DEC11 aplicados em vestuário de proteção térmica (6). A Outlast® é uma tecnologia que incorpora nas fibras, milhões de microcápsulas que podem absorver, armazenar e libertar calor, quando o material de mudança de fase transita de líquido para sólido e de sólido para líquido, tal como se observa na Figura 11, proporcionando bem-estar (7). A Tabela 2 mostra materiais retardantes da chama utilizados em vestuário de combate ao fogo e em vestuário anti-explosões. Quanto à proteção visual, o objetivo foi alterado com o avanço da tecnologia. Antigamente, o objectivo era “enganar” o olho humano, sendo que atualmente passou a ser “enganar” as câmaras e todo o tipo de radiação. Assim, a camuflagem deve funcionar em diferentes comprimentos de onda: luz visível, ultravioleta, próximo e longe do infravermelho e, comprimentos de onda de radar (Figura 5) (4). Fibras como o poliéster e a poliamida são utilizadas nesta área mas, dependendo da radiação e das condições ambientais, outro tipo de fibras, ou mesmo pigmentação, são utilizadas no vestuário e equipamento militar. Materiais fibrosos com capacidade de mudança de cor são, também, utilizados na proteção visual. Os materiais que alteram a sua cor apor acção da temperatura, de forma a se adaptarem a qualquer tipo de clima, são conhecidos como materiais termocromáticos (Figura 6). Podem ser aplicados em vestuário com o intuito de proteger o utilizador de diferenças climatéricas e na sua camuflagem, proporcionando um maior conforto. Os materiais fibrosos da última geração, podem ser utilizados com enorme vantagem na área militar, contribuindo para a melhoria do nível de proteção do militar em cenário de guerra. Estes materiais apresentam diversas aplicações, que vão desde o fardamento até aos veículos militares. Assim, neste domínio, áreas onde o Fibrous Materials Research Group da Universidade do Minho está a realizar trabalhos de investigação, incluem: - sensores à base de fibras formados por fibras piezoeléctricas que podem ser inseridas, por exemplo, em veículos militares para monitorização; - materiais fibrosos auxéticos, que apresentam um coeficiente de Poisson inverso, ou seja, alargam transversalmente quando são alongados longitudinalmente, podendo ser aplicados em capacetes, coletes à prova de bala, etc; - fibras com memória de forma que têm a capacidade de recuperar a sua forma inicial mesmo depois de severamente deformadas, podendo ser aplicadas em estruturas com capacidade de self-repairing em vários equipamentos; - materiais com elevada resistência ao impacto por incorporação de nanofibras; - materiais compósitos reforçados por nanotubos de carbono que podem ser aplicados no reforço de tanques militares para uma melhor protecção em campo de batalha permitindo obter materiais extremamente resistentes e muito leves; - fibras condutoras, isto é fibras com a capacidade de conduzir electricidade, para aquecimento, comunicação e monitorização (3,4,5). 6. Conclusões Neste artigo pretendeu-se mostrar a envolvência da área militar com os materiais fibrosos. As principais áreas militares onde os materiais fibrosos desempenham um papel crucial são: protecção térmica, protecção mecânica, protecção química e biológica e, protecção visual. Cada área de aplicação necessita de materiais fibrosos específicos, com características e propriedades bem definidas, sendo que a “chave” para garantir elevados níveis de protecção, em todos os domínios, está em combinar materiais cujas propriedades contribuem em parte para garantir o desempenho do conjunto. As fibras oferecem uma variedade bastante Figura 5: Camuflagem de militares (Imagem retirada dehttp://www.forte.jor.br/2011/02/24/bopepmerj-ira-adotar-camuflagem-semelhante-ao-usmc/) alargada de soluções que podem ser escolhidas em função das necessidades específicas. O avanço tecnológico na área dos materiais e estruturas fibrosas tenderá a consolidar estes materiais como materiais de excelência na garantia da protecção de militares. Azimute AZIMUTE 5. Tendências na utilização de fibras na área militar Bibliografia: Guillén, J. G. (1991). Fibras Textiles: Propriedades y Descripción. Universitat Politècnica De Catalunya. In K.K.Chawla (1998). Fibrous Materials. Cambridge University Press. Horrocks, A.R.; Anand, S.C (2000). Handbook of Technical Textiles. pp. 425-460, Woodhead Publishing, CRC Press. E. Wilusz (2008). Military Textiles. Woodhead Publishing, CRC Press. England. R A Scott (2005). Textiles for protection. Woodhead Publishing, CRC Press. UK. Elena Onofrei, A. M. (2010). Textiles Integrating PCM’s – A REVIEW. Bul. Inst. Polit. Iasi, t. LVI (LX), f. 2 , 99-110. Bansal, D. (28 de Março de 2011). Outlast – New Developments To Improve Comfort In FR Workwear. Obtido em 17 de Outubro de 2011, de Text on Textiles: http://textontextiles. com/?p=1612. Autoria: Catarina Guise, Katherine Mérida, Rita Nogueira e Raul Fangueiro Universidade do Minho Escola de Engenharia Fibrous Materials Research Group Campus de Azurém 4800-058 Guimarães Figura 6: Material termocromático que altera de cor com a temperatura (Imagem retirada de http://www.inteligentes.org/blog/?p=512) Nº 192 DEC11 69 AZIMUTE 70 Fibras na proteção pessoal O espetro das operações militares. A aplicação de fibras em novas dinâmicas de proteção e sobrevivência Intervenção do Ten Cor Inf Mário Álvares na Universidade do Minho As primeiras palavras deste trabalho são dirigidas à Reitoria da Universidade do Minho para publicamente expressar, em nome do Exército e do Comando da Escola Prática de Infantaria, os profundos e sinceros agradecimentos pelo convite que nos foi endereçado e, aproveitando esta oportunidade, reiterar o apoio da Escola Prática de Infantaria à Universidade do Minho em projetos de investigação, inovação e desenvolvimento tecnológico a desenvolver no futuro contribuindo assim, ainda que indiretamente, para o conhecimento científico e para a excelência e qualidade da oferta formativa dessa universidade. Quando a Escola Prática de Infantaria foi convidada a participar no workshop da Universidade do Minho para apresentar e fundamentar a importância do desenvolvimento dos tecidos naquilo que são hoje as exigências das operações militares, quer em termos das suas tipologias, quer em termos daquilo que é exigido a um soldado de infantaria, aceitei o desafio sabendo que tinha pela frente uma temática que nem sempre solicita a devida atenção revertendo esta mais facilmente para assuntos como as dinâmicas de transformação na industria do armamento, analisar as táticas, pensar em cenários de reequipamento de sistemas, e olhar para o fardamento como a ínfima parte de um todo que, se desenvolvido e pensado, poderá fazer a diferença. Assim, procurando sempre Nº 192 DEC11 enquadrar o leitor naquilo que são hoje os cenários plausíveis de emprego do aparelho militar, e em termos daquilo que é hoje um soldado de infantaria e as suas capacidades, este ensaio procurará traduzir essa reflexão e deixar algumas orientações para que, noutros fóruns, se promova a investigação e o desenvolvimento tecnológico de um vetor de modernidade importantíssimo para uma afirmação plena das capacidades militares. tecnológica associada à estrutura globalizante da economia mundial e maior abertura de fronteiras, incrementam o tráfico de droga, pessoas e armas de destruição massiva; ou a fragmentação política de muitos Estados, muitos deles alicerçados às heranças da guerra-fria, com os decorrentes extremismos étnicos, religiosos e culturais, são alguns exemplos de uma conflitualidade diferente, que oferece um novo espectro de operações militares 1. As operações militares no século XXI. Novos desafios operacionais. com novas dinâmicas e vetores de emprego militar. Neste novo contexto de ação as operações de guerra ofensivas e defensivas não podem nem devem ser eliminadas do léxico militar obrigando a que a preparação e processos de reequipamento e reorganização sejam para elas orientadas. Porém, decorrente da realidade política, Muitos são os fatores que vêm fundamentando uma nova tipologia de conflitos armados. A nova dimensão do terrorismo transnacional; a emergência de atores transnacionais como o crime organizado, que tirando partido da disseminação e evacuação sanitária obrigando à implementação de novas capacidades em termos de proteção e sobrevivência, são alguns exemplos de um leque alargado de novos desafios táticos, técnicos e tecnológicos (Vink, 2008). Contudo, esta caracterização situacional ficaria incompleta se não fossem perspetivados dois aspetos de natureza logística. O primeiro respeita à possibilidade de emprego das forças em limites territoriais que nem sempre são os nacionais, muitas vezes em regiões do globo com debilidades infraestruturais essenciais à criação de áreas de sustentação para uma resposta logística oportuna, alargando em tempo e em espaço a cadeia de abastecimentos. No segundo terá que ser tida em consideração a possibilidade de emprego de forças numa ótica de multifuncionalidade de atores e de apoios, obrigando ao estabelecimento de parcerias e rearranjos tecnológicos onde a modularidade e interoperabilidade dos sistemas será essencial (Pagonis, 1992). Em suma, um novo ambiente operacional que se traduz, necessariamente, no mesmo homem, sempre guiado pelo instinto e pela razão do momento, mas com novas capacidades materializadas por um conjunto de sistemas que terão que dinamizar a sua capacidade psicofísica e cognitiva. 2. O soldado de Infantaria. Novas capacidades e possibilidades de emprego. O principal papel do soldado de infantaria será, como à 800 anos atrás, o combate próximo em terreno aberto e em cidades, num espectro alargado de operações que podem englobar operações de resposta a crises, como Imposição de Paz, Manutenção de Paz, Apoio a Autoridades Civis, Ações Humanitárias e a Guerra Declarada. Nesse contexto de emprego será obrigado a atuar em diferentes cenários, terrenos, climas e condições de visibilidade. E quando hipoteticamente numa operação de guerra abandona a plataforma que lhe garante mobilidade tática terrestre, marítima ou aérea, utilizará sempre o fogo e o movimento para alcançar uma posição mais vantajosa relativamente a um ou mais adversários, sempre num contexto de grande intensidade e desgaste psicofísico. Mas esta visão redutora do soldado de infantaria tem que ser vista noutra perspetiva. Na verdade, o soldado de infantaria é, cada vez mais, um sistema de armas. O soldado de infantaria é um sistema materializado em tudo que utiliza, carrega e consome numa operação, sendo parte de uma subunidade que comporta outros soldados (quatro a nove homens constituindo uma Esquadra ou Secção, respetivamente) e onde, num contexto coletivo, terá que operar para atingir com eficiência os objetivos do escalão superior em que se integra a sua unidade (normalmente designada por Pelotão). Os sistemas que transporta e que dele fazem esse sistema de armas respeitam sempre os seguintes requisitos (CEDS, 2011): • modularidade, onde os interfaces que transporta permitam e aceitem a integração de outros módulos como são caso de power sources e sighting devices; • adaptabilidade, para de acordo com a sua missão, independentemente da duração da operação, tipologia da ameaça e ambiente físico, os sistemas que transporta tenham a capacidade para adicionar módulos, afetando ao mínimo as configurações de base e ergonomia do todo, disponibilizando assim novas capacidades para outra Nº 192 DEC11 AZIMUTE estratégia e social deste novo século, agravada pelo aumento exponencial das cidades e pela tendência dominante da nova conflitualidade se desenvolver no seu interior, a dimensão e adequação do aparelho militar não pode ignorar essa realidade e terá que equacionar novos requisitos tecnológicos e doutrinários, distintos de uma realidades de emprego do aparelho militar que é mais confortável. Umas das características essenciais desse ambiente operacional é a influência dos civis num contexto de ação que terá que evitar, a todo custo, os danos colaterais e a sua mediatização. O erro decorrente de uma baixa não desejada é um fator preponderante para o sucesso da operação ou até mesmo da campanha militar. E se por um lado essa caraterística condiciona o modo como as forças em presença farão uso da força tendo em atenção as baixas entre não combatentes, por outro lado exige uma grande capacidade de comando e controlo num contexto de ação com uma grande descentralização. Mas há outros parâmetros de caracterização. A elevada intensidade de combate ao nível do subsolo, solo, acima do solo e no interior ou cobertura de edifícios obrigando ao desenvolvimento de novas capacidades em termos de letalidade e sistemas de reconhecimento e aquisição de alvos; a aplicação de estratégias de grande violência (ações que procuram maximizar a dissimetria negativa entre atores) por parte de adversários sem rosto ou uniforme procurando a vitória no mediatismo dos media impondo novas dinâmicas de proteção individual; e a condução de combates com campos de tiro exíguos pautados pelo consumo acentuado de abastecimentos e necessidades de apoio 71 AZIMUTE tipologia de tarefas e missões; • incrementabilidade, para que a adição de novos sistemas decorrente dos desenvolvimentos tecnológicos se traduza na substituição de módulos e não exija a permuta do todo por incapacidade de adaptação; • incorruptibilidade, para que a falência tecnológica de um módulo primário de um sistema não afete o funcionamento de outros módulos acoplados; • interoperabilidade, para que os sistemas e seus módulos sejam compatíveis no seio de uma força combinada (mais que um país) e/ou conjunta (mais que uma componente (marinha, exército e força aérea); • e simplicidade, para que o sistema seja user-friendly e as handling operations sejam reduzidas ao mínimo. Mas que é hoje exigido em termos de capacidades ao soldado de infantaria enquanto sistema de armas? Segundo as orientações da Agência de Defesa Europeia 72 Nº 192 DEC11 para o Combat Equipment For Dismounted Soldiers as capacidades encontram-se repartidas pelas seguintes áreas (CEDS, 2011): • C4I (Comando, Controlo, Computadores, Comunicações e Informações); • Effective Engagement (aquisição efetiva); • Deployment and Mobility (projeção e mobilidade); • Protection and Survivability (proteção e sobrevivência); • Sustainability and Logistics (sustentabilidade e apoio logístico). Vejamos cada uma dessas capacidades: • C4I – Permite exercer uma ação de comando efetiva para planear, gerir, coordenar e controlar pessoal, armas, equipamentos e o universo de comunicações necessários à operação. O soldado de infantaria, dotado com essa capacidade, é um nó de uma rede sendo, em simultâneo, um sensor de informação e elemento de aquisição de alvos. Claro que os requisitos para potenciar esta capacidade comportam sistemas com capacidade de partilha de informação na rede da força. Entretanto, a informação partilhada aos mais baixos escalões, nos quais o soldado de infantaria se integra, deverá ter a dimensão adequada à capacidade cognitiva do utilizador, quer em termos de tratamento, quer em termos de tempo de resposta decorrente da tipologia e saturação de dados; • Effective Engagement – Permite ao soldado de infantaria derrotar o potencial de combate do seu adversário (físico, moral e tecnológico) e limitar a sua liberdade de ação. Os sistemas que maximizam esta capacidade deverão permitir a observação, deteção, reconhecimento (identificação de alvos) e aquisição de precisão evitando ou limitando danos colaterais e permitindo o emprego da arma indicada tendo em atenção os danos e objetivos a logístico, seja em termos de reabastecimento, seja em termos de manutenção. O apoio de base tem que ter resposta em termos de reposição de víveres respeitando requisitos como volumetria, rentabilização energética e validade. Um ou mais sistemas terão que permitir a monitorização sanitária. E os principais sistemas (nomeadamente em termos de armamento e assessórios), em termos de conceção, terão que respeitar requisitos como a reciclagem, otimização energética em termos de fontes de energia e consumíveis (no caso das munições), e otimização do peso, volumetria e modularidade (diminuindo o fluxo de sobressalentes e trabalhos de manutenção). A questão que agora se coloca é saber qual a aplicação das fibras têxteis (e do vestuário) nesta dinâmica de capacidades e o impacto desse desenvolvimento tecnológico na operacionalização de outros sistemas e na atividade técnica e psicofísica do utilizador, o soldado de infantaria. 3. A importância dos tecidos na concretização das capacidades. 3.a. Capacidade C4I Para além do que já foi referido, os sistemas C4I têm que estar adaptados às funções específicas de cada soldado de infantaria no seio da sua unidade (esquadra, secção ou pelotão), terão que permitir o scanning do utilizador em termos de posicionamento e situação de sistemas, terão que possibilitar o rastreio e indicação de forças amigas no setor de tiro impedindo o fogo fratricida, terão que garantir o posicionamento cartográfico correto do utilizador e alvos, e terão que permitir o envio e receção de mensagens de texto, imagem e voz. Não há assim, numa primeira análise, uma aplicação direta dos tecidos na dinamização ou maximização dos sistemas que essa competência comporta. Contudo, a sua aplicação, nomeadamente a rentabilização do uniforme para a geração de energia com têxteis interativos (têxtil que responde de forma inteligente a um estímulo e que a partir do sentir ou do reagir (mudança de cor, oscilação, etc) executam operações ou sejam produtores de energia), será relevante quando temos que equacionar todo o conjunto de sistemas que necessitam de fontes de energia para serem operáveis. Este aspeto é ainda mais importante se pensarmos que a redução de baterias (recarregáveis ou não) Materializa-se numa redução de peso, numa redução do esforço logístico para reposição de abastecimentos consumidos, e numa redução do desgaste psicofísico do utilizador, nomeadamente em termos do peso total a transportar e ergonomia dos invólucros e bolsas de transporte dessas bases de energia. Importa contudo refletir sobre o peso da assinatura eletromagnética desse sistema em termos da identificação por sistemas de aquisição de objetivos adversários, ou o seu impacto em termos da porosidade das fibras e sua importância para a manutenção de efeitos térmicos decorrentes do clima e tipologia de esforço. Deverá merecer também alguma preocupação o comportamento da estrutura geradora de energia e incorporada no uniforme a agentes naturais como a água e a humidade, ou a reação a fragmentos de um engenho explosivo improvisado ou projéteis de energia cinética lançados por armas de projeção de fogo automáticas ou ordinárias (sem mecanismo automático para recuo da culatra). Nº 192 DEC11 AZIMUTE atingir; • Deployment and Mobility – Faculta ao soldado de infantaria a orientação e capacidade de movimento transportando armas (pistola automática, espingarda automática, sabre-baioneta, granadas de mão ofensivas, defensivas, de fumos e iluminantes e munições), equipamento e material (capacete, óculos balísticos, colete balístico, colete tático, suspensórios e cinturão para transporte de outro equipamento e sistemas (rádio, cantil, porta-carregadores, lanterna tática, etc), mochila tática com material de sobrevivência para 24 a 72 horas, sistemas de aquisição e telemetria, sistemas de visão noturna, etc) em todo o tipo de terreno, todo o tipo de condições meteorológicas e ambiente afetado por agentes Nucleares, Biológicos, Químicos e Radiológicos (NBQR). Nesta capacidade tem particular importância o peso, volumetria e ergonomia das armas, equipamento e materiais, não podendo nem devendo ser descorado o fardamento. • Protection and Survivability – Garante ao soldado de infantaria a proteção contra ameaças naturais e aquelas que são provocadas por ação do homem. Sistemas detetores de agentes NBQR, proteção balística, acústica e térmica, proteção contra armas não letais, camuflagem e minimização da emissão térmica, e proteção contra fogo fratricida através da introdução de dispositivos de identificação e proteção contra Remote Controlled Improvised Explosive Devices (RCIED), são alguns exemplos dessa capacidade. • Sustainability and Logistics – Possibilita manter um período alargado de ação sem necessidade de intervenção do canal 73 AZIMUTE 3.b. Effective Engagement O Effective Engagement exige a utilização de sistemas que garantam uma capacidade de observação e aquisição sobre quaisquer condições climatéricas e agentes NBQR. Mas também deve permitir a leitura dos resultados obtidos após a aquisição do alvo e a execução do fogo, e deve garantir a possibilidade de designação de alvos para outras armas de projeção de fogo, individuais ou coletivas, sejam elas terrestres, aéreas ou navais. Também aqui, como verificado para a capacidade C4I, a rentabilização do uniforme para a geração de energia com têxteis interativos será importante para sistemas que necessitam de fontes de energia para serem operáveis. Entretanto, as limitações já identificadas na capacidade C4I devem ser equacionadas para esta capacidade. 3.c. Deployment and Mobility Esta capacidade diz respeito a requisitos de mobilidade tática e projeção interteatro (no interior do Teatro de Operações) e intrateatro (entre teatros de Operações e a Zona do Interior e/ou Zona de Comunicações1), razão pela qual esta capacidade não deverá merecer uma análise em pormenor para afetação do recurso tecnológico em análise. Contudo, embora este assunto 1 A Zona do Interior, na maior parte dos casos, coincide com território nacional e é nela que tem lugar a logística de alto de nível e de produção. A Zona de Comunicações é a área do Teatro de Operações destinada a efetuar a transição entre a Zona do interior e a Zona de Operações. A Zona do Interior é caracterizada pela existência de estruturas portuárias (aeroportos e portos de mar (e rio)) e é nessa área que se articulam as bases logísticas, hospitais de campanha e unidades de manutenção, entre outras estruturas e comandos de direção e execução logística. 74 Nº 192 DEC11 seja abordado na capacidade seguinte, importa realçar a importância que os tecidos detém na mobilidade que está associada aos movimentos e deslocamentos táticos realizados como parte de uma operação ou ação militar. Aspetos ligados à conceção e design do fardamento e do equipamento devem ser equacionados para que haja sintonia e interoperabilidade funcional, única abordagem para que no cumprimento de tarefas militares (que vão desde a simples distribuição de alimentos ao combate), em ambiente urbano ou rural, as capacidades de locomoção individual terrestre não sejam afetadas. De salientar ainda o papel relevante que os tecidos podem assumir quando as plataformas de projeção e missões/tarefas solicitam mais que uma valência em termos de resposta. Ou seja, por exemplo, importa equacionar o fardamento e as suas valências perante a projeção subaquática (com mergulho de combate) para a condução de uma operação terrestre. 3.d. Protection and Survivability Esta capacidade, que comporta dois vetores (Protection and Survivability) concorrentes (a sobrevivência depende significativamente da proteção) está em parte orientada para a importância da proteção ao nível de partes vitais do corpo humano (como o cérebro, visão (olhos), aparelho auditivo, pescoço, peito, região abdominal e pélvis) contra armas de energia cinética e fragmentos de explosivos improvisados, minas e granadas. Por isso, parte significativa do esforço de desenvolvimento tecnológico, é relativa à proteção balística rígida e flexível, está última colocada em outros equipamentos e peças de vestuário do utilizador. Mas será que não há campo para a aplicação de têxteis com novos requisitos? Analisemos em primeiro lugar a capacidade Protection. Se a proteção balística, fruto da capacidade derrubante e penetrante de projéteis ou fragmentos resultantes de engenhos explosivos vem exigindo, até à data2, sistemas complexos e com capacidades de resistência unicamente atingíveis pela introdução de ligas metálicas e cerâmicas com alguma complexidade, a proteção contra agentes incendiários como granadas incendiárias ou cocktails molotov3, sempre vista com uma grande complexidade, pode e deve ser desenvolvida em termos do aumento da capacidade de resistência do vestuário (com base em fibras de altas prestações ou com funções especiais4) tendo sempre presente a capacidade de sobrevivência, seja em termos de mobilidade, seja em termos de afetação da resposta psicofísica face a restrições daí decorrentes, como o incremento da sudação decorrente da composição e estrutura dos 2 Decorrem estudos para a aplicação de fibras de carbono neste tipo de proteção. As fibras carbónicas ou fibras de carbono são matérias-primas que provêm da pirólise de materiais carbonáceos que produzem filamentos de alta resistência mecânica e que são utilizados para os mais diversos fins (inclui motores e naves espaciais). 3 O cocktail molotov é uma arma incendiária geralmente utilizada na guerrilha urbana por adversários sem capacidades tecnológicas. A sua composição mais frequente inclui um líquido inflamável, geralmente petróleo ou gasolina, e eventualmente um agente que melhora a aderência do combustível ao alvo. É iniciado manualmente pelo fogo através de uma mecha na boca do invólucro (gargalo da garrafa)) e, sendo uma arma de mão, tem no arremesso o seu agente de projeção. 4 As fibras de altas prestações são aquelas que possuem propriedades físicas ou químicas muito superiores às das fibras convencionais. As propriedades físicas referem-se normalmente às mecânicas (exemplo: resistência à tração) e à termoresistência. externo que não obvia a sudação e humedecimento do vestuário (peças de roupa interiores e exteriores) em operações de exigência física extrema. O mesmo racional poderá ser observado no espectro de aplicação antagónica, como são o caso das recentes operações em climas áridos (vide Afeganistão ou Iraque), onde os têxteis deverão limitar o “stress térmico do utilizador”. Por fim e não menos importante, o têxtil do vestuário interior deverá ter a vertente de diagnóstico para permitir a monitorização de variáveis vitais do utilizador. Com esta valência, aspetos como indicadores do ritmo cardíaco, de temperatura e de saturação de oxigénio no sangue, são analisados no local ou em escalões superiores com capacidade de controlo e influência médico-sanitária. Todavia, a rentabilização dos tecidos não pode nem deve centrar-se em respostas tecnológicas pois o seu design, em termos de corte e funcionalidades, contribuí para o bem-estar e desempenho técnico-tático do utilizador. Por exemplo, importa refletir sobre a colocação de bolsos nas calças e no dólmen do uniforme, ajustando-os e dimensionando-os à eventualidade de colocação/ transporte de outra tipologia de equipamentos, armamento e sistemas. Como também tem que ser pensado o reforço de áreas do uniforme sujeitas a atrição de tudo que é transportado durante deslocamentos e movimentos táticos. 3.e. Sustainability Logistics and Esta capacidade centra-se, em parte, em muitos dos pressupostos já elencados para outros requisitos pois, direta ou indiretamente, ela é base do sucesso. Por outras palavras, sem sustentação logística será impossível suportar uma operação militar. A Guerra do Iraque de 2002 e outros conflitos que recentemente afetam essa região (Afeganistão) potenciam, de forma clara e inequívoca, um novo espectro e tipologia de operações militares e uma nova filosofia de apoio, fortemente vocacionada para a implementação da velocidade e eficiência dos fluxos logísticos (informacionais e físicos) através de uma criteriosa gestão da cadeia de abastecimentos, aproximando cada vez mais a logística militar daquilo que hoje denominamos por logística empresarial. Mas, em que medida o desenvolvimento e aplicação de fibras têxteis (e do vestuário) concorre para essa aspiração? Interessa, como já salientado, que esse desenvolvimento e aplicabilidade concorram para duas funções logísticas: reabastecimento e apoio sanitário. Em termos de reabastecimento a aplicação de têxteis inteligentes sobressai, por exemplo, na redução dos fluxos de abastecimentos de sistemas de alimentação como as baterias, mas também se poderá traduzir num contributo para a modularidade dos sistemas e contentorização logística. Já em termos sanitários, a indicação e controlo centralizado de sinais vitais será importantíssimo para a previsão de necessidades em material sanitário, necessidades de evacuação sanitária, e controlo de todo um processo que pode implicar, em termos globais, alterações em áreas como os processos formativos, adaptando-os às exigências psicofísicas resultantes dessa monitorização, ou em reajustamentos nos testes de diagnóstico para a seleção militar, minimizando-se assim as discrepâncias identificadas entre a função e o nível de exigência Nº 192 DEC11 AZIMUTE têxteis empregues, ou o desconforto originado pela rigidez que o vestuário (fardamento) possa comportar para garantir essa valência. Uma outra aplicabilidade é a resposta que o vestuário (fardamento) poderá dar contra agentes NBQR. Contudo, neste caso, a garantia hermeticidade do vestuário (fardamento) não é fácil pois tem que ser pensada e sustentada a proteção integral de toda a superfície corpórea incorporando a proteção da cabeça, mãos, e pés (sobrebotas). Mas é em termos de Survivability que poderemos encontrar o espaço para rentabilizar esse recurso tecnológica que são os têxteis inteligentes e, em certa medida, maximizar valências como a mudança de temperatura, mudança de cor, condutividade elétrica, permeabilidade controlada e incorporação de hardware. A primeira grande aplicabilidade centra-se na capacidade de resposta aos requisitos de uma camuflagem multiespectral adaptável à tipologia de teatro, principalmente o urbano. A segunda vertente estará sempre associada ao fator mobilidade (capacidade já apresentada e documentada neste ensaio). Ou seja, no processo de interação da pele com o vestuário interior e o vestuário exterior (fardamento) e no decorrer de uma operação, fruto de agentes externos como o clima e agravados pela tipologia de equipamento, armamento e sistemas a transportar individualmente, desenvolvem-se humidades, secreções e micoses (muito frequente após esforços prolongados) que podem ser obviadas ou reduzidas, total ou parcialmente, pela utilização de têxteis adequados a essa finalidade. Esta situação é ainda mais gravosa quando as operações se desenvolvem com baixas temperaturas, fator 75 e têxteis em equipamentos AZIMUTE para politraumatizados (com um espectro de aplicação alargado), ou na resposta térmica para um saco de dormir, umas luvas para combate em áreas edificadas para o inverno e/ou para verão, ou umas botas de combate para operações na selva, são outras vertentes de desenvolvimento tecnológico que devem merecer atenção e que podem ser aprofundadas. Para finalizar importa ter presente que apesar da sustentação de muitas das ideias fisiológica em contexto de ação (trabalho) que resultem da monitorização médico-sanitária proporcionada por essa capacidade de controlo centralizado. 4. Conclusões. Como diria David Lynch na sua obra “Em busca do grande peixe”, a descoberta é uma história contínua e as ideias são como os peixes. Se quisermos capturar peixes pequenos, podemos ficar pelas águas pouco profundas. Mas se quisermos capturar os peixes grandes temos de ir bem mais fundo. Julgo que neste ensaio, ainda que à tona da água de um conhecimento limitado e pouco profundo, ficaram ideias e oportunidades. Com racionalidade, e olhando para as cinco capacidades apresentadas, é na vertente C4I e Protection and Survivability que a rentabilização de têxteis inteligentes poderá ter uma grande aplicabilidade. Fontes de energia para equipamentos e sistemas de armas, proteção contra agentes incendiários como granadas 76 Nº 192 DEC11 incendiárias, capacidade de resposta aos requisitos de uma camuflagem multiespectral adaptável à tipologia de teatro, diminuição de humidades, secreções e micoses, e a vertente de diagnóstico para permitir a monitorização de indicadores vitais do utilizador, representam algumas áreas de utilização, tendo presente que as variáveis do conhecimento e do desenvolvimento tecnológico nesta área poderão alargar esse espectro. Mas o desenvolvimento das fibras e dos têxteis em termos do emprego militar não se limitam unicamente aquilo que foi abordado neste trabalho. Novos Equipamentos individuais e coletivos para apoio à sustentabilidade e proteção como mochilas, tendas e redes de camuflagem, devem ser pensados e, se necessário, redesenhados, para que em termos de produto final se traduzam em redução de peso, volumetria (quando não empregues), redução de assinatura eletromagnética, e resistência mecânica. Por outro lado, a aplicação de fibras e sugestões vinculadas não deixarem de transparecer alguma intangibilidade em termos de razoabilidade, pois serão sempre vistas com desconfiança ao não serem comuns, este ensaio não é uma folha em branco. Este ensaio é uma perspetiva para o conhecimento pois sustenta ideias com causas, causas que são vividas e sentidas. Azimute Bibliografia: CEDS Programme [Relatório] / autor CEDS. - Brussels : CEDS, 2011. ME 3100 - LOGISTICA DAS PEQUENAS UNIDADES [Livro] / autor EME IAEM. - Lisboa : EME, IAEM, 1977. MOVING MOUNTAINS. LESSONS IN LEADERSHIP AND LOGISTICS FROM THE GULF WAR [Livro] / autor Pagonis Lt General William. - USA : Harvard Business School Press, 1992. - ISBN: 0-87584-508-8. NON-ARTICLE 5 CRISIS RESPONSE OPERATIONS [Livro] / autor AJP-3.4. - Bld Léopold III, 1110 BRUSSELS : NATO/NSA, 2005. THE MILITARY BALANCE 2010. The annual assessment of global military capabilities and defence economics [Livro] / autor Studies The International Institute for Strategic. [s.l.] : IISS, 2010. TNO report An Introduction to Urban Operations [Livro] / autor Vink Nathalie. - The Hauge, Netherlands : TNO Knowledge for business, 2008. Vol. I. - ISBN 978-90-5986-291-3. DICIOPÉDIA 2004. PORTO EDITORA. (2004) ISBN 972-0-65255-1. Alf Inf Andreia Freitas Dedico este artigo aos camaradas do meu curso que sempre acreditaram em mim e à minha parelha. Não é pretendido com este artigo elogiar ou até mesmo, pelo contrário, criticar alguém. O que se pretende é fazer passar o conhecimento do que é o TPOI para uma mulher e, com isto, explicar o porquê de uma mulher ser diferente. Contudo, não quer dizer que tenha de ser tratada de forma diferente. Esta é, sem dúvida, a parte mais difícil de explicar, dado que as mulheres querem ser tratadas com igualdade. É esperado alterar opiniões, quem sabe! A mulher no desempenho de missões no seio da infantaria Este tema, como qualquer outro que fala de uma mulher no seio da Infantaria, é um assunto controverso e, de certa forma, também sensível. Não vale a pena fazer deste assunto uma preocupação, dado que a mulher não quer ocupar o lugar de ninguém, mas sim o seu. Quando se menciona o curso de Infantaria pensa-se logo em algo difícil, exigente e até mesmo, que não é para mulheres. Desta ideia obsoleta advém a questão: Terá a mulher capacidade de responder a esta exigência? Talvez seja importante definir o grau de dificuldade e exigência em causa, para posteriormente verificar se a mulher é ou não capaz de cumprir. A verdade é que, contrariamente a uma perceção inicial e parcial de grande dificuldade ou mesmo de impossibilidade, com o passar dos anos a mulher tem vindo a adquirir mais competências para cumprir missões no seio da Infantaria, bem como noutras áreas julgadas exclusivas do sexo masculino. Podemos na realidade ter dificuldades, mas os homens também as têm e, no entanto, isso não é colocado em causa. A mulher pode ter, por norma, menor força física que o homem mas, na verdade, compensa essa pretensa vulnerabilidade com uma forte determinação e vontade. O melhor é não insistir neste assunto, que se baseia num conjunto de mentalidades algo retrógradas, e deixar de colocar em causa as capacidades da mulher. Como em todas as organizações, existem bons e menos bons profissionais, independentemente de estes serem homens ou mulheres. Frequência do curso de infantaria na academia militar A 1 de Outubro de 2006 iniciou-se um percurso de 4 anos na Academia Militar, efectivando-se a entrada no curso Exército Armas. Após a conclusão do 1ºano e já a ingressar no 2ºano da Academia Militar, realizou-se a escolha da Arma. Quando esse dia chegou, só a Arma de Infantaria permanecia com vagas por preencher. Logo desde início, o ingresso na Arma de Infantaria foi uma preocupação devido à exigente componente física e psicológica que tão bem a caracteriza. Um primeiro obstáculo prendia-se com uma certa tradicional desconfiança relativamente à existência de elementos do sexo feminino no curso de Infantaria. Ao longo do 2º ano foram frequentes as alusões, de vários setores sobre as dificuldades na prossecução deste caminho. Mesmo assim e apesar da pressão, esse ano foi ultrapassado. O mesmo sucedeu no 3ºano, contudo equilibrado pela boa relação de camaradagem entre todos os elementos do curso. O 4ºano foi, sem dúvida, o mais difícil de ultrapassar, talvez pela aproximação de provas mais difíceis e pela eventual pressão que se ia desenvolvendo no seio do curso. Como acontecera tantas outras vezes, a opção de desistir foi considerada, no entanto, tal não aconteceu graças ao apoio das minhas camaradas de quarto e, fundamentalmente, por outros camaradas do meu curso que não desistiam de acreditar que seria a primeira mulher a terminar o curso de Infantaria. A noção de que, mais ninguém senão eu própria e os que em mim acreditavam, constituía o apoio essencial à minha capacidade de decisão, levou-me a reforçar a minha determinação. E assim conclui o 4ºano da Academia Militar. AZIMUTE A primeira Oficial de infantaria do sexo feminino. A vitória sobre um dogma A visão do tirocínio segundo a primeira mulher oficial de infantaria, obstáculos e sugestões. A 1 de Outubro de 2010 iniciou-se uma longa caminhada que, no ano de 2006, já havia sido alvo de grande atenção quando o ingressou no TPOI a primeira mulher oficial oriunda da Academia Militar. A chegada da segunda mulher ao TPOI era novamente seguida com bastante atenção por diversas pessoas e surgia a dúvida, “será que esta consegue?”. Chegados à EPI, os recentes aspirantes foram bem Nº 192 DEC11 77 AZIMUTE 78 recebidos e, como é característico da Infantaria, foram cumpridas as tradições da tão desejada “ESPERA”, designação dada ao 1ºdia. Durante os seguintes dias e semanas, foram transmitidas as instruções que constituem a parte técnica e táctica da Arma de Infantaria. Ao longo do TPOI foram executadas provas de forma a averiguar a capacidade física e psicológica de cada um, e foram estas provas que mais marcaram o curso devido à sua dificuldade acrescida. A primeira prova, a “MARCHA DA VÍRGULA”. Como qualquer outra prova é difícil definir se é mais difícil ou não que todas as outras, mas residia a certeza que tinha que ser ultrapassada, e esse sempre foi o meu objectivo. Ao longo do TPOI, cada dia era uma prova e, como é normal, passaram-se momentos bons e outros menos bons. Mais uma prova se avizinhava, a “MARCOR SR. DO Ó” com cerca de 18km, até então a prova mais difícil. Com o passar dos dias comecei a constatar que qualquer prova era difícil, cada uma diferente da outra. Em Novembro iniciou-se a execução de tiro de combate. Esta prova não pareceu ter o mesmo grau de dificuldade de qualquer outra executada até então, exceptuando o facto de estarmos “devidamente equipados”. Chegou o final da semana, sexta-feira, e dei por mim a tentar levantar-me da cama, quando constato que tenho as pernas de tal forma inchadas que mesmo parada sentia dores. Nesse dia o treino físico constava numa corrida contínua à qual não conseguia corresponder, e tive de faltar ao treino. Para agravar a situação, fiquei dispensada devido a feridas nos pés. Estes foram obstáculos a nível físico com que me deparei, mas é uma situação à qual ninguém consegue fugir. No entanto, com o passar dos dias o corpo começou a recuperar. Apesar destes contratempos, o objectivo era sempre fazer tudo e conseguir chegar ao fim desta caminhada. Seguia-se mais uma prova, a “MARCHA DE TORRES”, com cerca de 34 km. Esta não era menos difícil que qualquer outra, mas com uma diferença, era uma prova individual. Tendo a consciência das minhas dificuldades, era mais fácil para mim encarar este desafio, uma vez que o faria apenas comigo e não com a necessidade de acompanhar o grupo. Não sei se por esta razão, mas a verdade é que consegui o alento para terminar, e terminar bem, mesmo com um resultado mais positivo do que em relação a outros elementos do curso. Não pela capacidade de os ultrapassar, mas sobretudo pela consciencialização da capacidade de acompanhar o esforço dos restantes, iniciou-se aqui uma nova alma para enfrentar as restantes provas. Ainda no mês de Novembro iniciaram-se os Nº 192 DEC11 exercícios. Numa semana praticava-se e na outra executava-se, e no final de cada exercício, cada um avaliava o desempenho dos outros elementos do curso. Num destes exercícios, a minha parelha atribuiu-me a avaliação mais alta, não sem gerar alguma controvérsia. Como é possível constatar através da minha história, um grande obstáculo era tentar alterar mentalidades, o que nem sempre foi conseguido. Sem dúvida que este foi o meu maior obstáculo mas, apesar de tudo, a concentração que mantive em tudo o que fazia foi mais forte, o que me auxiliou para concluir o TPOI. Aproximava-se o momento crucial do curso, o “EXERCÍCIO DE LIDERANÇA”. A ansiedade inicial do que sobre este exercício se conhece, faz-nos questionar a nossa capacidade para o levar a bom termo. Contudo constatei que é possível cumpri-lo. O ser humano tem capacidades inimagináveis e só nos momentos difíceis se apercebe do que é realmente capaz. Foram diversas as provas executadas e os obstáculos confrontados e ultrapassados, e por inúmeras vezes senti o corpo todo a inchar devido ao frio e cansaço. Chegou o dia da cerimónia solene do final do exercício, em que se recebeu o tão desejado crachá da EPI que no seu verso tem gravado o nome do respectivo tirocinante. Dito deste modo simples, faz crer que tudo o que foi conquistado até então não passa de algo banal mas, na realidade, não havia nada mais importante, nada que sub tituísse aquele momento tão marcante para os tirocinantes. Estava na altura de entrar na Sala de Honra da Infantaria para sermos apresentados como os novos Infantes que ali prometiam honrar os seus deveres. Apesar de alguns momentos não serem tão nítidos na minha memória, aquele é, sem dúvida, pelo significado que tem, o que guardo com grande presença e também saudade. Embora se tenha finalizado um exercício tão importante, o TPOI não terminava ali, ainda faltava cerca de um mês para o derradeiro final. Durante o último mês, o orgulho dominava, o facto de ter conseguido chegar até esta etapa, sentindo que a caminhada estava quase concluída. No mês de Janeiro continuaram as instruções e, de seguida, as avaliações. No fundo, a continuação do que se havia feito até então. Ao longo do TPOI, a grande dificuldade esteve em quebrar a forma de pensar relativamente à presença feminina no seio da Infantaria. Para ser mulher na Arma de Infantaria, tem de se provar mais do que qualquer homem. Apesar de tudo, provei que o TPOI é possível ser concluído por uma mulher. Deixo a sugestão para a próxima mulher: humildade acima de tudo e fazer sempre por ser e não por parecer. Azimute Ten Inf Hugo Costa A Escola Prática de Infantaria encontra-se a apoiar um projeto de realização de testagem de vidros com proteção balística, em conjunto com a “VICER - Vidraria Central de Ermesinde, Lda”. Este projeto é ímpar no nosso Exército e constitui um dos projetos de investigação mais “enigmáticos” para a Escola. A VICER é uma empresa ex- Figura 1- Cabine de madeira portadora prestigiada com cinco décadas de existência, que no passado mês de Setembro participou na exposição internacional denominada “GlassBuild America 2011”, nos Estados Unidos da América. A sua unidade fabril “… está inserida numa área com 15000m², equipada por um parque de máquinas altamente tecnológico, direcionada para a sua atividade e em constante atualização. A empresa está especialmente dotada para trabalhar vidros seletivos de alta performance, com características de excelência no controlo solar, térmico, acústico e de segurança…” 1, apresentando projetos de futuro bastante ambiciosos e inovadores no contexto global e procurando inovadoramente soluções mais eficientes para a proteção balística dos vidros. de modo a competir com empresas internacionais que se encontram na vanguarda da produção desta tipologia de vidros. O Exército, através da Escola Prática de Infantaria, disponibiliza as suas infraestruturas de tiro, os meios técnicos humanos e materiais, fundamentais para a concretização das respetivas testagens, apoiando a empresa AZIMUTE Testagem de vidros com protecção balistica com a Empresa VICER Figura 2 e 3 - Suporte para o vidro com proteção balística Um desses projetos é o desenvolvimento de novos padrões de vidros com proteção balística para futura aplicação na indústria da construção civil. Assim, a empresa VICER encontra-se a desenvolver vidros com proteção balística, diminuindo a sua espessura e cumprindo a “Norma EN 1063 European Standard – Testing and Classification of resistance against bullet attack”, 1 In www.vicer.pt VICER através da transferência de conhecimentos técnicos ao nível da balística, funcionamento do armamento e explosivos e também através das experiências vividas nos diversos Teatros de Operações para onde as Forças Nacionais Destacadas Portuguesas têm sido projetadas e onde a proteção balística é uma preocupação constante. Para a concretização deste projeto verificou-se a Nº 192 DEC11 79 AZIMUTE necessidade de reunir as adequadas condições de segurança para o atirador. Estas condições assentam nas curtas distâncias entre o vidro e o atirador, e visam reduzir o ricochete do projétil e dos estilhaços dos vidros após o impacto. Assim, considerou-se pertinente que o atirador se equipasse com capacete, óculos com proteção balística, colete balístico e executasse fogo a partir de uma cabine móvel em madeira, criada e idealizada para o efeito. Deparou-se, ainda, com a neces- se encontra em uso no nosso Exército, e tendo como principal objetivo a validação das testagens foi escolhido o seguinte: numa primeira fase a Pistola Walther P38 de calibre 9mm, a Espingarda Automática G3 de calibre 7,62mm. Numa segunda fase utilizar-se-á a Espingarda de Tiro Automático modelo SG 543 de calibre 5,56mm, a Espingarda Sniper ACCURACY AW de calibre 7,62mm, a Espingarda FRANCHI modelo SPAS 15 de calibre 12x70mm e a Espingarda permite validar as mesmas. Nas testagens foi utilizado um reparo genérico para suporte do armamento existente no Exército, tendo-se revelado pouco eficiente dada a especificidade das testagens, pois apenas permite a utilização da Espingarda Automática G3, e requer que seja o atirador a estabelecer a triangulação pedida na “Norma EN 1063”. O ideal neste tipo de testes será reduzir ao mínimo a intervenção do atirador, e que a distância entre impactos na trian- Figura 4, 5 e 6 - Reparo para suporte do armamento em fase de desenvolvimento na empresa VICER sidade de encontrar uma solução para suportar e apresentar os vidros sujeitos a testagens. Esse suporte teria de ser perfeitamente adaptado às infraestruturas existentes na zona de alvos da carreira de tiro, imóvel aos impactos, apresentar o vidro a uma altura aproximada de 1,50m e que a sua substituição fosse rápida e fácil. Tendo em conta estas indicações dadas pela Escola Prática de Infantaria a empresa desenvolveu o referido suporte e aperfeiçoou a tecnologia utilizada nas testagens em vidros balísticos. A supracitada Norma EN 1063 é muito clara quanto às características do armamento a utilizar e às munições para que as testagens sejam consideradas válidas internacionalmente. Deste modo, de todo o armamento que 80 Nº 192 DEC11 Sniper BARRET M/95 de calibre 12,7mm. E para uma fase mais adiantada das testagens prevê-se a utilização de explosivos (petardos de TNT de 100g e de 200g), de Granadas de Mão Ofensivas de Guerra M/962, de Granadas de Mão Defensivas de Guerra M/963 e ainda da Metralhadora Pesada Browning de calibre 12,7mm. Nesta primeira fase das testagens, o armamento usado foi a Pistola Walther P38 de calibre 9mm e a Espingarda Automática G3 de calibre 7,62mm com munições normais. No decorrer destas testagens com as diversas tipologias de vidros e de acordo com as respostas dos vidros e projéteis, a cabine de madeira foi sendo aproximada dos vidros a testar, de modo a cumprir a Norma EN 1063 que define a distância entre o alvo e o atirador e gulação seja a mais aproximada possível à exigida na Norma EN 1063. Verificados estes aspetos, a Escola Prática de Infantaria sugeriu à VICER que desenvolvesse um reparo para suporte de armamento com um mecanismo de elevação e de direção graduados e com sistema de fixação aperfeiçoado onde a Espingarda Automática G3, a Pistola Walther P38 ou outro tipo de armamento ligeiro sejam facilmente ajustados e adaptados, permitindo uma maior eficiência nos testes a desenvolver com outra tipologia de armas. Relativamente às testagens, salienta-se que dos oito vidros com proteção balística testados, independentemente da distância do atirador ao vidro, do armamento e calibre utilizado, apenas o último não apresentou a formação de estilhaços após os AZIMUTE Figura 7 e 8 – Vidro com boa visibilidade e sem a formação de estilhaços três impactos – Pistola Walther P38 de calibre 9mm a uma distância de 10m. A não formação de estilhaços é relevante, pois estes podem causar ferimentos e assim sendo protegem balisticamente mas não garantem a total segurança de pessoas e bens. Constatou-se, ainda, que nos vidros que apresentaram formação de estilhaços, a visibilidade para o outro lado encontrava-se comprometida, e com visibilidade reduzida será difícil identificar a ameaça, tentar evitá-la ou até mesmo anulá-la. Foi ainda observado em dois testes em que o espaçamento da triangulação foi bastante mais curto, ao terceiro disparo o projétil atravessou o vidro com proteção balística, e um deles inclusive a porta traseira existente no suporte para os vidros. Como na atualidade o tipo de armas mais usadas em ações de criminalidade são as armas semiautomáticas, cuja principal característica é a capacidade de executar rajadas curtas de três a cinco disparos, cuja distância entre os impactos é bastante mais curta do que a apresentada na triangulação exigida na Norma EN 1063, é pertinente a elaboração de um estudo no qual se poderá observar qual a resistência máxima, em número de impactos, que o vidro conseguirá aguentar sem deixar atravessar um projétil. A empresa VICER encontra-se a estudar os vidros testados de modo a colmatar estas imperfeições e prevê-se a realização de uma nova fase de testes com estas valências. Na segunda fase de testes, um dos pontos de estudo previsto será a resposta do vidro perante munições cujas características são diferentes das munições Normais de 7,62mm. Esses tipos de munições serão as munições tracejantes e as munições perfurantes utilizadas na Espingarda Automática G3. Numa fase mais avançada das testagens será introduzida a utilização de petardos de TNT e de Granadas de Mão de Guerra. Este capítulo apresentará um grau de interesse elevado visto que estes vidros com proteção balística serão para futura aplicação na indústria da construção civil, e de alguns anos a esta parte temos assistido a atentados em grandes centros urbanos utilizando explosivos. O faseamento das testagens, a introdução do armamento e das diversas munições e explosivos são de acordo com os objetivos traçados pela empresa VICER, indo ao encontro das suas intenções de estudo. Durante as cerimónias militares do 14 de Agosto na Escola Prática de Infantaria, foram expostas e apresentadas pela administração da empresa VICER e seus colaboradores as filmagens das testagens, o suporte para a colocação dos vidros e um vidro testado, tendo sido possível avaliar os ótimos resultados alcançados e a perspetiva em que estamos na vanguarda da tecnologia antibalística com vidros. As filmagens podem ser consultadas no site da empresa VICER em www. vicer.pt. Azimute Nº 192 DEC11 81 AZIMUTE Cooperação Técnico-Militar com Timor-Leste Projecto Nº4 Maj Inf Luís Barreira Cap Art Álvaro Santos “Depois da libertação, Xanana Gusmão e Taur Matan Ruak dirigem a transformação das Falintil numa força de defesa moderna. O general Taur é um dos raros líderes guerrilheiros no mundo que preside à transformação de uma força de guerrilha num exército regular, profissional, moderno.” “O apoio desinteressado de Portugal foi fundamental para a constituição da componente naval, desde o seu início, e o seu apoio às operações de recrutamento e à formação do corpo de oficiais das F-FDTL contribui positivamente para desenvolver e modernizar as nossas forças.” Excerto do discurso de Sua Excelência O Presidente da República Democrática de Timor-Leste, Dr. José Ramos Horta no 35º Aniversário das FALINTIL, Dili, 20 de Agosto de 2010. Fig. 1 - FALINTIL 1. Introdução A República Democrática de Timor-Leste é um dos mais jovens países do mundo. Com uma década de existência como país livre e independente, após uma longa e intensa luta contra a ocupação Indonésia, TimorLeste é hoje um país em desenvolvimento com o objectivo de se afirmar no seio da comunidade internacional. Como todos nós sabemos, as Forças Armadas de um país são o garante da defesa militar da República contra qualquer ameaça externa, pelo que em TimorLeste esta missão está confiada às FALINTIL – Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL). As F-FDTL são herdeiras dos valores, tradições e costumes das Forças Armadas de Libertação e Independência de Timor-Leste (FALINTIL). Com a independência declarada a 20 de Maio de 2002, após conclusão de um longo período que se iniciou com uma negociação entre os governos de Portugal e da Indonésia 82 Nº 192 DEC11 para a realização de um referendo sobre a independência do território, sob a supervisão da Organização das Nações Unidas (ONU), as FALINTIL foram integradas nas Forças de Defesa de Timor-Leste. Ora, sendo as FALINTIL uma força de guerrilha, com carácter permanente e de clandestinidade, urgiu a árdua tarefa de transformar uma força de guerrilha numa força convencional, profissional e moderna com capacidade de efectuar a defesa militar do território. Para tal, Timor-Leste tem contado ao longo destes anos com o apoio de países amigos com os quais firmou acordos de cooperação técnico-militar, em que Portugal se constitui na vanguarda como um destes parceiros em várias áreas, com especial incidência no recrutamento e formação de quadros, no apoio à estrutura de comando das F-FDTL e no apoio ao desenvolvimento da componente naval e da componente terrestre. 2. Cooperação TécnicoMilitar com Timor–Leste A cooperação técnico-militar entre Portugal e Timor–Leste conta com uma década de existência. Surge da vontade de estreitar os laços de amizade e de fraternidade existentes entre os dois países e os dois povos que outrora tiveram um passado comum. Daqui os dois países firmaram um acordo bilateral de cooperação técnico-militar: “numa base de plena independência, respeito pela soberania, não ingerência nos assuntos internos e reciprocidade de interesses” – in Resolução da Assembleia da República nº 39/2003, Acordo de Cooperação Técnico-Militar entre a República Portuguesa e a República Democrática de Timor-Leste, assinado em Díli em 20 de Maio de 2002. Neste âmbito a cooperação técnico-militar compreenderá acções de formação de pessoal e de assessoria técnica. Assim sendo, as acções de cooperação previstas no acordo acima mencionado Fig. 2 - Timor-Leste integram-se em programas quadro de cooperação bilateral, onde estão explicitados os objectivos orientadores das respectivas acções de cooperação. Actualmente, Timor-Leste conta com a ajuda de Portugal no âmbito da cooperação técnico-militar em 7 projectos distintos: Projecto Nº1 – Apoio à Estrutura Superior da Defesa das F-FDTL; Projecto Nº2 – Apoio à Casa Militar do Presidente da República; Projecto Nº3 – Apoio à Componente Naval; Projecto Nº4 – Apoio ao Centro de Instrução Militar Comandante Nicolau Lobato (Metinaro); Projecto Nº5 – Apoio à Componente Terrestre das F-FDTL; Projecto Nº6 – Apoio ao desenvolvimento da engenharia militar de construção; Projecto Nº7 – Formação em Portugal. de servir a “mui nobre e augusta” Arma de Infantaria e o Exército Português além fronteiras, numa dimensão de apoio à política externa do Estado, decorrente dos compromissos internacionais assumidos por Portugal. Os objectivos específicos inscritos no programa-quadro 2011-2013 para a Cooperação Técnico-Militar Luso-Timorense são: • Apoio técnico ao levantamento do modelo, organização e funcionamento do Centro de Instrução Militar; • Apoio técnico à organização e funcionamento da Direcção de Instrução e à elaboração dos curriculum dos cursos a ministrar; • Apoio técnico e pedagógico às acções de formação de formadores dos cursos a ministrar no Centro de Instrução; • Apoio técnico à formação de quadros da F-FDTL, incluindo na área das Operações de Apoio à Paz; • Apoio técnico à formação de especialidades das F-FDTL; • Apoio técnico à formação do contingente geral das F-FDTL; • Apoio técnico na produção de material de instrução para os diversos cursos ministrados no Centro de Instrução Militar; • Apoio na formação em língua portuguesa dos militares das F-FDTL; Para atingir com sucesso os AZIMUTE um projecto que foi iniciado com a vinda da primeira equipa de Assessoria Técnica, em 2001, e actualmente está presente a décima quarta equipa cujo Director Técnico é o Major de Infantaria João Luís Barreira. A equipa de assessores conta com dois militares em permanência (um Major e um SargentoAjudante), quatro militares que cumprem uma missão temporária de seis meses (um Capitão, um Tenente e dois Primeiro-Sargento) e três militares que cumpriram uma missão temporária de quatro meses (um Tenente, um Alferes e um Primeiro-Sargento). Este é o quantitativo de militares que no último semestre do ano colaboraram activamente num esforço colectivo para formar um total de 92 Oficiais, 209 Sargentos, 351 Praças para os quadros das F-FDTL. Antes de falar e dar a conhecer aquelas que foram as actividades do Projecto Nº4 no corrente ano é importante ter presente quais são os objectivos do projecto. Objectivos que se constituem como farol orientador de acção dos militares que, têm o privilégio 3. Projecto de Cooperação Nº 4 – Apoio ao Centro De Instrução Comandante Nicolau Lobato (Metinaro) Este projecto, como não poderia deixar de o ser, é um projecto ambicioso, de capital importância do domínio da formação de quadros das F-FDTL, cuja condução técnica está cometida à Escola Prática de Infantaria. É Fig. 3 – Porta de Armas do Centro de Instrução Comandante Nicolau Lobato Nº 192 DEC11 83 AZIMUTE Fig. 4 - 14ª Equipa de assessoria técnica objectivos acima mencionados tem sido desenvolvido um trabalho de equipa. Um trabalho que nem sempre tem sido fácil de concretizar, pois não nos podemos esquecer que as F-FDTL são umas Forças Armadas jovens, com uma década de existência. No primeiro semestre do ano desencadearam-se esforços para a concretização dos dois primeiros e último objectivo. Actualmente o Centro de Instrução está a funcionar com o seu Comando e Estado-Maior e um Batalhão de um objectivo que ainda não foi possível alcançar, por falta de recursos humanos das F-FDTL. As F-FDTL enviam com grande regularidade os seus recursos humanos, em especial os oficiais e sargentos, para frequentar cursos de promoção e qualificação nos países amigos, pelo que a orientação dos restantes está feita para a ocupação de funções de comando o que dá origem a que outras funções não sejam ocupadas. No primeiro semestre, foi ainda ministrada formação Fig. 5 – Instrução de Técnica Individual de Combate Instrução a quatro Companhias face ao efectivo em formação acima mencionado. Quanto à Direcção de Instrução, este foi 84 Nº 192 DEC11 a doze militares (um Oficial, um Sargento e dez Praças) para integrarem a Unidade de Engenharia Nº11 portuguesa a fim de serem projectados para o teatro de operações do Líbano/UNIFIL. No segundo semestre do ano, o esforço principal está a ser direccionado para a formação.Estão a ser ministrados um Curso de Formação de Oficiais (CFO), um Curso de Formação de Sargentos (CFS) com início em 30 de Maio e um Curso de Formação de Praças (CFP) com início em 30 de Agosto. Os cursos têm o seu términus a 16 de Dezembro. O Batalhão de Formação está constituído a quatro Companhias, uma Companhia a três pelotões que corresponde ao Curso de Formação de Oficiais, uma Companhia a cinco pelotões que corresponde ao Curso de Formação de Sargentos e duas Companhias a cinco pelotões cada, que corresponde ao Curso de Formação de Praças. Para a condução dos cursos, de modo a conseguir-se concretizar os objectivos do projecto, foram criados uma direcção de curso e dois gabinetes. A direcção de curso, com responsabilidades ao nível da assessoria técnica aos comandantes de Batalhão e Companhias de Formação; planeamento, condução, avaliação e supervisão da formação; coordenação das actividades das restantes assessorias presentes, no caso assessoria australiana (nas áreas de formação referentes a Comunicações e Saúde, Higiene e Primeiros Socorros) e assessoria neozelandesa (na área de formação de Armamento e Tiro). Os dois gabinetes, um para a área da Técnica e Táctica de Infantaria e outro para a área da Educação Física Militar, foram constituídos com assessores portugueses e com instrutores timorenses. Os cursos foram ministrados na sua maioria por instrutores timorenses com excepção das matérias de Administração de Subunidades. Fig. 6 – Prova Topográfica Os assessores portugueses ficaram com a incumbência de preparar previamente as instruções para transmitir os conceitos aos instrutores timorenses em acções de formação com carácter diário. Assistir e supervisionar todas as actividades de instrução diária, revisão e actualização das fichas de instrução existentes e elaboração de novas fichas, bem como a elaboração de manuais, como é o caso do Manual de Técnica Individual de Combate, Manual de Tarefas Críticas de Pelotão e Secção, Manual de Topografia, Manual de Provas Topográficas, Manual de Provas Avaliativas e o Regulamento de Educação Física Militar. Quanto ao CFO e CFS, estes cursos estão a ser ministrados em duas fases distintas. Numa primeira fase, com duração de 4 meses, onde foi ministrada toda a formação técnica e táctica necessária ao desempenho de funções de um oficial e sargento de infantaria. Formação essa, ministrada na sua essência por instrutores timorenses sob a orientação, acompanhamento e supervisão diária dos assessores portugueses. Após a conclusão de cada módulo, os alunos foram sujeitos a testes escritos e provas práticas a fim de testar os seus conhecimentos e que serviu também de confirmação da prestação das equipas de instrução. Os resultados obtidos foram bastante satisfatórios. No que respeita à Educação Física Militar, podemos dizer que este foi um grande desafio e teste quer à capacidade de destreza física e liderança dos instrutores timorenses, quer à capacidade de trabalho dos AZIMUTE má. Este foi sem sombra de dúvida, um desafio superado, pois os resultados finais nas provas físicas (Controlo 1, 2 e 3) foram substancialmente positivos e melhoraram ao longo do tempo. Esta primeira fase culminou com um exercício final de patrulhas, iniciado com uma marcha forçada nocturna de 12 horas. Neste exercício testaram-se ainda os conhecimentos técnicos e tácticos adquiridos pelos alunos, a par das capacidades de liderança dos mesmos. Este exercício decorreu nas regiões de Manatuto, Metinaro e Hera. Uma das principais dificuldades encontradas durante o exercício prendeu-se com o facto da não existência de meios rádio portáteis para utilização em operações tácticas. O planeamento e execução das acções das patrulhas foram acompanhados em permanência pelos assessores portugueses. Numa segunda fase, com duração de dois meses, está a ser ministrada uma formação complementar de forma a ampliar os conhecimentos dos alunos nas áreas de métodos de instrução, combate em áreas edificadas, operações de apoio à paz, técnicas de trans- Fig. 6 – Execução da Pista de 200 metros assessores portugueses do gabinete de educação física. Pois os alunos, que ingressaram nas fileiras não foram sujeitos a testes físicos e a sua condição física inicial era efectivamente muito posição de obstáculos, construção de vários cenários (trincheira, abrigos, área edificada, área para instrução de sobrevivência, check-point fixo) e ensino de português. Esta formação está Nº 192 DEC11 85 AZIMUTE Fig. 8 - Ordem de Operações do Comandante de Patrulha a ser ministrada pelos assessores portugueses, com excepção do combate em áreas edificadas (ministrado por um militar timorense que frequentou o curso em Portugal) e do ensino de português. Neste último a cooperação técnico-militar conta com o apoio do Programa de Consolidação da Língua Portuguesa (PCLP) com a cedência temporária de professores de língua portuguesa. Esta parceria entre o Projecto Nº4 e o PCLP, foi conseguida no terreno, num esforço comum em prol da consolidação do ensino da língua portuguesa em Timor-Leste. No que diz respeito ao português, foi ainda iniciado um Curso de Formação de Formadores da Língua Portuguesa com os alunos que melhor dominam a língua portuguesa, no sentido de desenvolver as suas capacidades para que, no futuro, se constituam como formadores de português das F-FDTL. Quanto ao CFP, é um curso que está a decorrer conforme o programa de curso aprovado para as F-FDTL. Está a ser ministrado por equipas de instrução timorenses, supervisionadas pela assessoria portuguesa e pelos gabinetes de técnica e táctica de infantaria e educação física militar. 86 Nº 192 DEC11 4. Tendências de Futuro e Conclusões No futuro, perspectiva-se que as F-FDTL consigam atingir a sua autonomia na condução dos CFO, CFS e CFP com o acompanhamento de uma equipa reduzida da assessoria portuguesa. Relativamente aos cursos de promoção, apesar de conduzidos pela assessoria portuguesa numa fase inicial e com a participação de militares timorenses formados em Portugal, pretende-se que mais tarde sejam inteiramente ministrados por timorenses com a supervisão e orientação da assessoria portuguesa. É desejável que exista uma Direcção de Formação com capacidade e autonomia para efectuar o planeamento, condução, avaliação e supervisão de todos os cursos ministrados no Centro de Instrução. Seria ainda desejável, que as F-FDTL atingissem, a breve trecho, a sua autonomia na preparação e execução, com os seus formadores, de cursos técnicos como são exemplo: Curso de Tiro, Curso de Educação Física Militar, Curso de Operações de Apoio à Paz, Curso de Combate em Áreas Edificadas, etc. Nos últimos tempos, estão a ser construídas infra-estruturas de apoio à instrução, como são o caso de cobertos de instrução, pistas de 200 metros, treinos em circuito, pórtico, etc. que indiciam que as F-FDTL são uma preocupação de investimento do Estado timorense na construção de umas Forças Armadas sólidas, profissionais, modernas e com capacidade de resposta contra qualquer ameaça externa. Quanto ao Projecto Nº4, pode-se afirmar com toda a certeza que tem sido um projecto que muito tem contribuído para a formação dos quadros das F-FDTL com resultados positivos e reconhecimento dos órgãos da Estrutura Superior de Defesa das F-FDTL. As restantes assessorias presentes no Centro de Instrução (australiana e neozelandesa) desenvolvem actividades de formação sob a coordenação da assessoria portuguesa num ambiente de boas e francas relações de trabalho que se têm procurado manter em prol de um bem comum que é a formação dos quadros das F-FDTL. Azimute Bibliografia Resolução da Assembleia da República nº 39/2003, Acordo de Cooperação Técnico-Militar entre a República Portuguesa e a República Democrática de Timor-Leste, assinado em Díli em 20 de Maio de 2002; Sites consultados: http://www.mdn.gov.pt/mdn/pt/ mdn/Servi%C3%A7os+Centrais+de+ Suporte/dgpdn/; http://www.mdn.gov.pt/mdn/pt/ Defesa/politica/bilaterais/ctm/; h t t p : / / w w w. e m g f a . p t / p t / operacoes/estrangeiro/om; http://www.campanhadarvida.com/parceiros-da-cooperacao-portuguesa/ timor-leste/ http://www.portugal.gov.pt/pt/ GC18/Governo/Ministerios/MDN/ Intervencoes/Pages/20100129_ MDN_Int_Cadetes_Lusofonia.aspx http://timor-leste.gov.tl/?p=5754 h t t p : / / w w w. i p a d . m n e . g o v. p t / Coopera%C3%A7%C3%A3o%20 Bilateral/TimorLeste/Paginas/default. aspx http://pt.wikipedia.org/wiki/ Timor-Leste http://pt.wikipedia.org/wiki/ FALINTIL http://pt.wikipedia.org/wiki/ For%C3%A7as_de_Defesa_de_ Timor-Leste http://umalulik.blogspot. com/2010/08/dia-das-gloriosas-falintil.html Cap Inf Jorge Magalhães A 18 de Abril do corrente ano teve início em Fort Benning, GA – USA o MCCC. Este curso destinou-se a Oficiais Subalternos e/ou Capitães Americanos e Internacionais. O Maneuver Captain Career Course (MCCC) 04-11, teve a duração de 28 semanas e contou com a presença de 192 alunos (Oficiais) dos quais 20, eram alunos internacionais provenientes de 17 Países. Este curso, para os alunos internacionais, foi dividido em duas partes. Uma primeira parte com duração de 4 semanas, cujo objectivo foi dar a conhcer a orgânica das diferentes Brigadas que compõem o Exército dos Estados Unidos bem como as técnicas e tácticas utilizadas pelas Unidades nos diferentes Teatros de Operações. Terminada esta primeira parte, os alunos internacionais juntaram-se aos alunos Americanos para iniciar, o referido, Maneuver Captains Career Course. Esta segunda parte do curso teve início em 16 de Maio e terminou a 25 de Outubro. Nesta parte do curso, os alunos foram divididos em 12 seminários. Cada seminário era composto por 16 alunos sendo que, no mínimo, dois desses alunos eram alunos internacionais. O Maneuver Captain Career Course (MCCC) esta dividido em 2 fases – Fase de Companhia e Fase de Batalhão. A Fase de Companhia, foi a primeira a ser ministrada, e constou de 5 Ordens de Operações (4 Ordens de Operações sobre Operações Ofensivas e 1 Ordem de Operações sobre Operações Defensivas). Esta fase de Companhia culminou com a denominada Company Battle Forge – Ordem de Operações final em que os alunos tiveram 6 horas para analisar a Ordem de Operações do escalão superior e preparar a sua Ordem de AZIMUTE MCCC – Maneuver Captains Career Course Operações de Companhia. No final destas 6 horas, os alunos entregaram todo o material produzido e prepararam-se para, no local e hora indicada à posteriori, apresentar a sua Ordem de Operações e todos os seus produtos, a um avaliador que, não pertencia ao grupo de instrutores/formadores do Curso. Durante esta fase, foram realizados oito testes rápidos (QUIZ) e dois exames finais (CALD EXAM e COMPANY C O M P R E H E N SIVE EXAM). Esta fase de Companhia teve um total de 480 pontos. A Fase de Batalhão constou de 4 Ordens de Operações (Defesa, Ataque, Reconhecimento e Targeting) e de um Training Management Practical Exercise (construção de um horário para preparação, treino e realização de um exercício de fogo real – LFX, até ao nível de Secção). Estas 4 Ordens de Operações permitiram colocar os alunos a trabalharem em equipa (Battalion Staff), dando-lhes a oportunidade de ocuparem as diferentes posições, dentro de um Estado-Maior de um Batalhão. Nesta Fase de Batalhão, foram realizados 5 testes rápidos (QUIZ) e dois exames finais (CALD EXAM e COURSE Nº 192 DEC11 87 AZIMUTE 88 sucesso em cada um dos testes, exames ou apresentações das suas Ordens de Operações necessitam de obter, no mínimo, uma nota igual ou superior a 75%. A frequência deste curso foi, sem dúvida, uma mais-valia não só em termos pessoais como profissionais pois, permitiu uma Cerimónia de imposição da “Order of Saint Maurice” grande troca de COMPREHENSIVE FINAL experiências com EXAM). Esta Fase teve um total os Oficiais alunos Americanos de 505 pontos. mas também com os Oficiais De ressalvar o facto de que, os alunos Internacionais. A frequênalunos para terem nota positiva/ cia deste curso complementa as Nº 192 DEC11 competências já adquiridas inicialmente no Curso de Promoção a Capitão, em Portugal, revelando-se como uma importante base para quem, num futuro próximo, possa vir a desempenhar a função, não só de formador do Curso de Promoção a Capitão mas também, como Comandante de uma Companhia de Infantaria ou Cavalaria (Manobra). No final de curso os melhores alunossão distinguidos com o grau de Distinguished Honor Graduate caso em que se atribui a medalha “Order of Saint Maurice”. Como balanço final considero que os objectivos propostos inicialmente foram completamente atingidos, sendo importante manter a continuidade da frequência deste curso por Capitães de Infantaria. “AD UNUM” Azimute MajGen(ref) José Inácio Sousa Notícias Seis anos após a sua criação, o Clube Militar de Oficiais de Mafra mantém os propósitos da sua constituição como associação sem fins lucrativos e promove um programa anual de actividades que na prática concretizam os objectivos para que foi criado. Ao longo do ano de 2011 o CMOM organizou convívios, tertúlias, visitas, actividades de solidariedade e valorizou a sede da associação. Foi um ano de intenso empenhamento, com participação alargada de muitos associados, que com o seu contributo pessoal, deram vida ao clube. Os convívios estão a tornar-se uma tradição à qual adere grande número de associados. A passagem de ano, o carnaval, o dia do clube em 9 de Março, a festa da Família em Maio, os santos populares em Junho, a festa da solidariedade em Julho (este ano dedicada à Casa Mãe do Gradil), o convívio de Setembro, o S. Martinho em Novembro e o almoço de Natal em Dezembro, constituem referências já consolidadas que reúnem elevado número de associados e seus familiares. Para além deste programa há iniciativas particulares, que promovem com regularidade, outros convívios valorizando a vida associativa. Foram organizadas e realizadas visitas culturais à região de Tancos e Tomar que incluíram os museus da Engenharia e dos Pára-quedistas em Tancos e o Convento de Cristo em Tomar. Naturalmente o Castelo de Almourol também mereceu uma visita, generosamente apoiada pela Escola Prática de Engenharia. Coruche, com as suas elegantes pontes sobre o rio Sorraia, mereceu a visita de um grupo significativo de associados. O Museu da Cortiça e o Museu Municipal proporcionaram a visão da história e cultura locais e evidenciaram a actividade económica da cortiça, que nesta AZIMUTE Clube Militar de Oficiais de Mafra vila tem grande expressão. A região Oeste também mereceu a atenção do clube com visita ao Buda Parque no Ramalhal e ao Museu Municipal da Lourinha com o seu histórico( e pré-histórico) património. Ainda no âmbito cultural têm vindo a ser promovidas desde Maio, tertúlias mensais na sede do Clube, que designámos como “Serões - Casa Dona Maria”, com boa adesão e com inquestionável interesse e curiosidade. Conferencistas convidados têm dinamizado as noites da última sexta-feira de cada mês abordando temas de interesse regional. O edifício Dona Maria, sede do CMOM, foi valorizado, por iniciativa do clube, com obras de recuperação e de conservação melhorando novos espaços que muito facilitam a sua utilização pelos associados em encontros de natureza familiar e associativa. A Marinha cedeu a valiosa mobília de caça “D. Carlos” que Nº 192 DEC11 89 AZIMUTE 90 tornou muito digna uma das salas do rés-do-chão esquerdo. Esta sala foi inaugurada em 23 de Setembro com a honrosa presença do Chefe de EstadoMaior da Armada, Almirante José Saldanha Lopes, circunstância que evidencia a consideração que o nosso clube merece à Marinha Portuguesa. O Almirante CEMA, participou na tertúlia alusiva ao Círio da Prata Grande e assinou o livro de Honra do CMOM. O General Chefe de EstadoMaior do Exército, General José Luís Pinto Ramalho, também honrou o Clube com uma visita, no dia 14 de Agosto, dia da Infantaria. Na circunstância foi feita uma curta apresentação seguida de visita às instalações, assinatura do livro de honra, concluindo-se a vista com um Porto de Honra no aprazível jardim da casa Dona Maria. Este momento foi de especial relevância para os associados pelo valioso e incondicional apoio, que desde a criação do Clube, o General CEME sempre nos proporcionou. O CMOM ter participado nos Nº 192 DEC11 encontros anuais com o Clube Militar Naval, Clube Militar de Oficiais de Coimbra (CMOC) e Clube Militar de Oficiais de Setúbal (CMOS) reflectindo sobre a identidade dos clubes e aprofundando o tema da solidariedade. O III Encontro ocorreu em 27 de Setembro em Setúbal na sede do CMOS. Em Março 2012, vai decorrer em Mafra, na sede do CMOM, um encontro entre delegações dos clubes para aprofundamento do tema “ Solidariedade”. O clube tem cumprido os preceitos estatutários. Anualmente a direcção apresenta, em Assembleia Geral o Relatório e Contas e o Conselho Fiscal emite o seu parecer sobre o mesmo. Ainda este ano realizam-se eleições para o triénio 2012/2015. Os novos membros dos corpos sociais tomam posse em Fevereiro de 2012. A direcção e órgãos sociais vão empenhar-se na manutenção da dinâmica de consolidação, reafirmando a utilidade do clube, num momento em que a comunidade militar vive situação de grande complexidade e incerteza e em que a solidariedade entre gerações é decisiva. Não dispondo de pessoal de apoio para abertura com maior regularidade, a sede está porém à disposição de todos os sócios para a sua utilização. Os associados que o desejem, podem reservar as instalações, bastando para tal que o façam através dos telefones do clube (961088410 - 261853863) ou do endereço clueboficiaismaelectrónico fra@gmail.com. Podem também acompanhar as actividades do clube acedendo ao site do CMOM – http://cmom.nocturno. org. O Clube pertence a todos os Oficiais que se revejam nos fins para que foi criado. È uma associação aberta, plural, com interesse cultural, solidária e acima de tudo, local de convívio, de aprofundamento e valorização, dos princípios e fundamentos que caracterizam a Instituição Militar. O clube está aberto a todos. Mafra, 3 de Novembro de 2011 Azimute Cursos, Visitas e Notícias AZIMUTE Cursos Apresentação do 39º Curso de Formação de Sargentos de Infantaria Realizou-se no dia 05 e 06 de Setembro de 2011 a chegada e receção do 39.º CFSI “General Francisco Xavier da Silva Pereira – Conde das Antas”. É de salientar no dia 06 de Outubro a Cerimónia de Homenagem aos Mortos pela Pátria, a apresentação do 39º CFSI ao Exmo. Comandante da EPI no Salão Nuno Álvares com fotografia de curso e almoço volante com o Comando da EPI. Presidiu à Cerimónia de Apresentação o Exmo. Comandante da Escola Prática de Infantaria, Coronel João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro. Apresentação do Tirocínio Para Oficial de Infantaria 2011/2012 Realizou-se no dia 03 e 04 de Outubro a chegada e receção dos Aspirantes Alunos do TPOI 2011/2012 “Marechal de Campo António Teixeira Rebelo”. No dia 04 de Outubro salienta-se a Cerimónia de Homenagem aos Mortos, a apresentação do TPOI 2011/2012 ao Exmo. Comandante da EPI, a fotografia de curso e almoço volante com o comando da Escola. Presidiu à Cerimónia de Apresentação o Exmo. Comandante da Escola Prática de Infantaria, Coronel João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro. Curso de Apoio de Combate para Oficiais de Infantaria 2011 De acordo com o Despacho de 17 de Setembro do GEN CEME, decorreu na Escola Prática de Infantaria, de 10 de Outubro a 11 de Novembro, o Curso de Apoio de Combate para Oficiais de Infantaria 2011. Foram ministrados os 5 módulos de formação com maior relevo para os módulos de reconhecimento, anticarro e morteiros pesados. O curso culminou com o Exercício SEMPER PRONTUS no Campo Militar de Santa Margarida de 07 a 10 de Novembro, no qual foi executado tiro de morteiro 10,7mm e 120 mm. Todos os formandos concluíram o curso com sucesso tendo sido o melhor classificado o Alf Inf Ramalho Neto. Nº 192 DEC11 91 AZIMUTE 12º Curso de Ligação e Observação Militar De acordo com o Plano de Formação Anual de 2011, decorreu na Escola Prática de Infantaria, de 17de Outubro a 08 de Novembro de 2011, o 12º Curso de Ligação e Observação Militar. O curso contou com a presença de 08 Oficiais, com a finalidade de adquirirem competências para o desempenho do cargo de observador militar e elemento das Liaison and Observer Teams (LOT). Em virtude da abrangência das matérias inscritas no referencial de curso o mesmo contou com a presença de formadores das várias Unidades, estabelecimentos e Orgãos do Exército e de entidades civis, que contribuíram com o seu saber e experiência para o acréscimo de valor e conhecimento dos formandos. 2º Curso de Tiro 2011 De acordo com o Plano de Formação Anual 2011 decorreu na Escola Prática de Infantaria, de 07de Novembro de 2011 a 18 de Novembro de 2011, o 2º Curso de Tiro 2011, tendo sido frequentado por 20 elementos das várias Unidades do Exército. O curso foi constituído por um total de 72 tempos de formação diurnos e 6 tempos de formação noturnos. Do programa de formação destacam-se os seguintes temas: 1.Executar técnica de tiro com a Espingarda Automática G3 7,62 mm e com Pistola Walther 9 mm; 2.Caracterizar a Metodologia de Instrução de Tiro; 3.Caracterizar a Segurança na Instrução de tiro; 4.Caracterizar a Metodologia de Instrução de Tiro; 5.Enunciar as responsabilidades do Oficial e Sargento de tiro; 6.Caracterizar o reabastecimento de munições; 7.Tirar o máximo rendimento da Espingarda Automática G3 7,62 mm em instrução de tiro; 8.Caracterizar a condução de uma sessão de tiro de Companhia. Visitas Visita do Director de Formação MGen João Manuel Santos de Carvalho Realizou-se no dia 12 de Setembro de 2011, na Escola Prática de Infantaria (EPI), a visita do Exmo. DF/CID MGen Santos Carvalho. Do programa da visita salienta-se a reunião do Exmo. MGen Santos Carvalho com os Formadores e Formandos do 6ºCFGCPE/11 no auditório do BFMG e a visita ao CFTCAE onde o Exmo. MGen Santos Carvalho teve o 1º contacto com os elementos do 39º CFSI. 92 Nº 192 DEC11 Decorreu no dia 20 de Outubro de 2011, na Escola Prática de Infantaria (EPI), a visita de Veteranos de Guerra que cumpriram o serviço militar obrigatório na época das Guerras Coloniais. Pretenderam com esta visita, reviver tempos e aventuras passadas que jamais esquecerão. AZIMUTE Visita dos Veteranos da Guerra colonial Visita e Almoço Convívio do Curso de Oficiais Milicianos de 1966 No dia 24 de Setembro de 2011 realizou-se uma Visita e um almoço convívio na Escola Prática de Infantaria. No programa do 45º Aniversário do Curso de Oficiais Milicianos constou: cerimónia de Homenagem aos Mortos, descerramento da placa comemorativa, Visita à Capela e ao Museu da EPI e almoço convívio no refeitório das Bicas. Visita de Oficiais Generais do JCF LISBON e do JALLC Realizou-se no dia 15 de Outubro de 2011, na Escola Prática de Infantaria (EPI), a visita de Oficiais Generais do JCFF Lisbon do Joint Analysis and Lessons Learned Centre. Da visita salienta-se a passagem pela Sala Elíptica, Sala das Colunas e Refeitório dos Frades. Nº 192 DEC11 93 AZIMUTE Visita à EPI do Rotary Clube do Barreiro Realizou-se em 23 de Outubro de 2011 uma Visita de um grupo de 50 elementos do Rotary Clube do Barreiro. Este grupo visitou o Palácio Nacional de Mafra e a nossa Escola, na qual realçamos o Refeitório dos Frades e o Museu da Infantaria. Visita pastoral à EPI do Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança, Sua Excelência Reverendíssima Dom Januário Torgal Mendes Ferreira Decorreu em 15 de Novembro de 2011 na Escola Prática de Infantaria, a visita pastoral do Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança, Sua Excelência Reverendíssima Dom Januário Torgal Mendes Ferreira. Da visita, que muito honrou todos aqueles que servem na EPI, salienta-se a conferência proferida no seu auditório, subordinada ao tema “São Nuno de Santa Maria, o Homem, o Militar e o Santo. Após a qual foi celebrada uma Eucaristia na Capela da EPI na qual 5 Sargentos Alunos do 39º Curso de Formação de Sargentos de Infantaria receberam a confirmação do batismo, o crisma. A visita de Sua Excelência Reverendíssima Dom Januário Torgal Mendes Ferreira terminou com a dedicação de uma mensagem a “ quem persiste na vocação que escolheu” no livro de Honra da Escola Prática de Infantaria. Visita da delegação do “International Special Training Center” (ISTC) à EPI Pela visita da delegação do “International Special Training Center” (ISTC), organização orientada para o treino da OTAN, que visa aumentar a integração e interação conjunta das Forças de Operações Especiais da OTAN a Portugal, o Adido de Defesa dos EUA manifestou interesse que a delegação visitasse o Centro de Formação e Treino em Combate em Áreas Edificadas (CFTCAE) da EPI. A EPI recebeu a delegação do ISTC em 17 de Novembro de 2011 e preparou o programa da visita onde de onde se destaca o briefing e a visita ao CFTCAE. Do briefing realça-se a parte inicial sobre a missão e organização da EPI e o futuro do CFTCAE que terá as suas capacidades ampliadas e integrar o Centro de Excelência de Combate em Áreas Edificadas (CEdCAE). No CFTCAE a delegação assistiu a várias demonstrações sobre as suas capacidades e a utilização dos meios e materiais dos programas de investigação e desenvolvimento a decorrer na EPI. 94 Nº 192 DEC11 Reunião do “NATO URBAN OPERATIONS NATO TRAINING GROUP TASK GROUP” Realizou-se entre os dias 19 e 23 de Setembro de 2011 a reunião do “NATO URBAN OPERATIONS NATO TRAINING GROUP TASK GROUP”, em Salónica na Grécia. A EPI como Entidade Tecnicamente Responsável pelo Combate em Áreas Edificadas tem nos seus quadros um oficial como Delegado Nacional no Grupo. A reunião teve como objetivo principal a finalização de dois documentos importantes para a disponibilização de “guidelines” para a formação e treino do Combate em Áreas Edificadas no seio dos países da Aliança, contribuindo assim para a prossecução dos objetivos comuns de interoperabilidade e estandardização. AZIMUTE Notícias Encerramento do TPOI 10/11 e 38º CFSI Realizou-se no passado dia 30 de Setembro de 2011 o Tirocínio Para Oficial de Infantaria 2010/2011, Curso “Capitão André Furtado de Mendonça”. O evento foi assinalado pela tradicional Cerimónia Solene de Encerramento, presidida por Sua Ex.ª o Director Honorário da Arma de Infantaria, Tenente General João Nuno Jorge Vaz Antunes, à qual se associaram oficiais, sargentos, praças e civis da Escola Prática de Infantaria, bem como familiares e amigos dos alunos. As actividades de encerramento compreenderam seis momentos principais: cerimónia de homenagem aos mortos, descerramento da placa de curso, cerimónia solene de encerramento com entrega de prémios e diplomas, visita guiada à Biblioteca Nacional, almoço convívio e, em conclusão, oferta do quadro de curso para posterior exposição na sala de oficiais. Formalmente, executado o programa de formação planeado, o dia festivo reflecte o encerramento do tirocínio no ano lectivo 2010/2011, com o consequente regresso dos Aspirantes Alunos à Academia Militar, para o respectivo ingresso no Quadro Permanente, do Exército. Nº 192 DEC11 95 AZIMUTE Receção do 2º Módulo de Formação em Combate em Áreas Edificadas (2º MFCAE) da EUTM - Somália Realizou-se no dia 10 de Outubro de 2011, na Escola Prática de Infantaria (EPI), a Cerimónia de Receção do 2º Módulo de Formação em Combate em Áreas Edificadas (2º MFCAE) da EUTM - Somália. Esta cerimónia foi presidida pela Sua Excelência o Adjunto do Comandante das Forças Terrestres, MGen Luís Manuel Martins Ribeiro. Da cerimónia salienta-se a entrega da imagem do D. Nun’Álvares Pereira, que acompanhou o nódulo de formação durante a sua missão no Uganda, ao Exmo. Comandante da Escola da Escola Prática de Infantaria, Coronel de Infantaria, João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro e a leitura da referência elogiosa ao 2º MFCAE do Comandante da EUTM – Somália, Coronel Michael Beary. Participação da EPI no conselho local de Ação Social (CLAS) Realizou-se no dia 18 de Outubro de 2011 pelas 14h30, na Casa da Cultura D. Pedro V a reunião plenária do Conselho Local de Ação Social. A Escola Prática de Infantaria, como parceiro da rede social de Mafra, esteve presente e passou a integrar o grupo de trabalho sobre a temática “A segurança no concelho de Mafra” juntamente com a representante da Câmara Municipal de Mafra, Dra. Paula Ribeiro, Polícia Municipal, representante da Junta de Freguesia de Mafra, GNR de Mafra e um delegado dos Bombeiros Voluntários da Ericeira, Mafra e Malveira. A primeira reunião está agendada para o dia 26 de Outubro às 14h30, na sala de reuniões do edifício da Proteção Civil. Reunião do Land Capability Group 1 – On Dismounted Soldier, do NATO Army Armaments Group (NAAG) Decorreu de 25 a 28 OUT11 na Holanda, a reunião do Land Capability Group 1 – On Dismounted Soldier, do NATO Army Armaments Group (NAAG), onde participou como Delegado Nacional o TCor Infª Rui Manuel Mendes Dias da EPI. Este grupo de trabalho tem por objetivo a proposta de implementação de procedimentos ao nível da interoperabilidade (armamento/equipamento/comunicações) para o Soldado nas operações da NATO. CREVAL ao 3º Modulo de Formação de Combate em Áreas Edificadas da Missão EUTM - Somália Realizou-se na Escola Prática de Infantaria (EPI) entre os dias 02 e 04 de Novembro de 2011 o Exercício final de Aprontamento do Módulo de Formação de Combate em Áreas Edificadas 3º Intake (MFCAE3) EUTM - Somália. No Dia 02 Novembro 2011 decorreu a CREVAL ao MFCAE3, uma equipa da Inspecção Geral do Exército, deslocou-se à EPI com a finalidade de verificar a prontidão operacional da força. A equipa da IGE assistiu a um briefing sobre o estado do aprontamento por parte do comandante do Módulo de Formação CAE, Cap Inf Araújo e Silva. 96 Nº 192 DEC11 Realizou-se no dia 02 de Novembro de 2011, na Escola Prática de Infantaria (EPI), assinatura do protocolo de colaboração entre o Exército Português, a Tekever e a Universidade de Aveiro. Este protocolo tem como objetivo os termos da colaboração das entidades no âmbito do projeto de teste, validação, e certificação operacional de sistemas robóticos com duplo uso, militar e não essencialmente militar. O Exército Português foi representado pelo Exmo. Comandante, Coronel de Infantaria, João Pedro Rato Boga de Oliveira Ribeiro, a empresa TEKEVER pelo Exmo. Engenheiro Ricardo Mendes e a Universidade de Aveiro pelo Professor Doutor Joaquim da Costa Leite. AZIMUTE Assinatura do protocolo de colaboração entre o Exército português, a Tekever e a Universidade de Aveiro A EPI no Workshop da Universidade do Minho O evento, que contou na cerimónia de abertura com a presença com a presença do Presidente da Escola de Engenharia da Universidade do Minho, realizou-se no auditório da universidade no dia 03NOV11 entre as 14H00 e as 19H00. A EPI, através do TCOR INF MÁRIO ÁLVARES, apresentou uma intervenção subordinada ao tema: O espectro das operações militares. A aplicação de fibras em novas dinâmicas de proteção e sobrevivência militar. As restantes intervenções foram subordinadas aos seguintes temas: Fibras na Medicina (Dr. Rui Dias do Hospital da Universidade de Coimbra), Fibras na Construção Civil (Engª. Maria barbosa da empresa FiberSensig (spin-off da UM), Fibras nos Transportes (Engº Eduardo Diniz da empresa ITA/Continental), Fibras no Desporto (Dr. Rui Silva da empresa SAFINA) e Fibras na Arquitetura (Arq. Paulo Mendonça). 30º Aniversário do Tirocínio Para Oficial “General Vieira da Rocha” 81/82 Realizou-se em 04 de Novembro de 2011 na Escola Prática de Infantaria, o 30º Aniversário do Tirocínio Para Oficial 81/82 onde estiveram presentes 13 dos 21 elementos do Curso “General Vieira da Rocha”. É de realçar a Cerimónia de Homenagem aos Mortos, o descerramento da placa comemorativa. Após a Fotografia de Curso, decorreu uma visita à EPI seguida de um almoço na Sala das Bicas. Nº 192 DEC11 97 AZIMUTE Distiguished Visitors Day do 3º INTAKE da EUTM - Somália Decorreu no dia 09 de Novembro de 2011, na Escola Prática de Infantaria (EPI), o Distiguished Visitors Day do 3º INTAKE da EUTM - Somália. O Distiguished Visitors Day do 3º INTAKE da EUTM - Somália. Contou com a presença de Sua Excelência TGen Amaral Vieira, Comandante das Forças Terrestre, e do seu Adjunto, o Exmo. MGen Martins Ribeiro. Do programa do Distiguished Visitors Day salienta-se o briefing sobre o 3º INTAKE pelo Comandante da Força, Cap Infª Araújo e Silva, e a visita ao Centro de Formação e Treino de Combate em Áreas Edificadas, onde foi possivel assitir a uma atividade de formação similar às que o 3º INTAKE da EUTM – Somália vai desenvolver no TO do Uganda no âmbito do Combate em Áreas Edificadas ministrada a Soldados, Sargentos e Oficiais Somalis. 2011 Concept Development & Experimentation Conference De 14 a 17 de Novembro de 2011 realizou-se, no Hotel Marriott de Lisboa, a 2011 Concept Development & Experimentation (CD&E) Conference. Esta é uma conferência anual organizada e promovida conjuntamente pelo Head Quarters Allied Command Transformation (HQ ACT), Capabilty Engeneering da North Atlantic Treaty Organization (NATO) e pelo United States Joint Chiefs of Staff, Directorate for Force Development dos Estados Unidos da América e tem como objetivo promover a interação, partilha de informação e o desenvolvimento de oportunidades de trabalho em rede entre as nações no que concerne ao CD&E. Esta conferência contou com a participação de mais de 200 participantes de diversos países membros e não membros da NATO e de organizações da NATO e EUA, entre eles um oficial da Escola, Major de Infantaria Vítor Manuel Lourenço Borges, Sub DF e Chefe SPAET da EPI. 98 Nº 192 DEC11 Cap Inf João Polho O último trimestre é sempre um período complicado de gerir. Ao longo período de descanso das férias, junta-se o ritmo do trabalho intenso, as obrigações familiares e os dias com tendência a serem mais curtos. Isso tudo impossibilita por vezes fazermos toda a atividade desportiva pretendida. Tendo em conta que existem vários artigos relacionados com a prática do atletismo em geral, e que a utilização da bicicleta está cada vez mais na «moda», porque, quer por diversão, descon- tracção ou competição, pedalar faz bem à saúde física e psicológica e ajuda a combater os quilos a mais e ter uma aparência mais elegante, contribuindo para o desenvolvimento da auto-estima e o bem-estar. Segue então um artigo que poderá interessar todos os cicloturístas em geral, sobre tudo aqueles que pretendem alcançar uma maior preparação em vista á próxima época desportiva. A tendência «MICRO», estende-se actualmente um pouco por todo o lado: microinformática, microdosagens farmacêuticas, micronutrição, micromecânica, ou seja todo um conjunto de microtecnologias. O conceito consiste precisamente em reduzir os tamanhos ou quantidades, mantendo ou melhorando os objetivos pretendidos. Durante muitos anos prevaleceu no ciclismo, os treinos de quantidade (os usuais quilómetros acumulados em cima da bicicleta), o que tem vindo a ser contrariado por muitos treinadores actuais que defendem os treinos de qualidade, prevalecendo pequenas saídas mas com objectivos de intensidade bem definidos. Com isso tenta-se alcançar duas metas, em primeiro lugar, optimizar legitimamente uma prática antiquada onde só se contabilizava as horas passadas em cima do selim; em segundo lugar tentar satisfazer o grande número de ciclistas que não tem tempo para estarem horas a fio em cima da bicicleta e que no entanto desejam uma boa e rápida progressão no treino. Os treinos passam assim a ser baseados em dados fisiológicos fiáveis, utilizando ciclocomputadores (com velocidades e cadências de pedalada), cardiofrequencímetros e para os mais dedicados medidores de potência. Os últimos estudos realizados sobre este tipo de treino revelam, que um ciclista que não tenha qualquer tipo de limitação física e que tenha uma condição de vida minimamente regrada a nível alimentar e de descanso, não só conseguirá manter o seu patamar atlético como poderá aumentar o seu nível se as curtas sessões de treino forem perfeitamente organizadas ao longo da semana. O microtreino em geral é praticado na rua, mas pode ser organizado e praticado em casa com um home-trainer, vulgarmente conhecido por “rolo”, que pode em certos casos ser uma ferramenta muito adaptada a esta prática de treinos, sobretudo por aqueles que não tem mesmo tempo para treinar. Esta metodologia de treino pode ser aplicada de manha, antes do trabalho, no deslocamento para o mesmo e/ ou a noite. Quando praticado AZIMUTE Microtreinos ou Microssessões duas vezes ao dia, falaremos de treinos bidiários. Os puristas da modalidade não tem que ter medo, porque quem realmente quiser progredir para patamares de maior competitividade para além dos curtos treinos de intensidade, terá de haver habituação aos esforços de longa duração com todos os benefícios que trazem, muitas horas de rodagem e muitos quilómetros de estrada. Nº 192 DEC11 99 AZIMUTE Para facilitar a perceção dos treinos por parte dos cicloturístas menos familiarizados com estes métodos de treino, vamos dividir o treino em seis microssessões, onde será explicado o objetivo de cada uma, em que dia se adapta mais a prática da mesma, qual a duração e intensidade a aplicar e casos práticos das formas e locais onde realizar. Antes há que explicar alguns conceitos importantíssimos como frequência cardíaca máxima (FCM) e cadência de pedalada (RPM). A FCM corresponde ao número máximo de batimentos cardíacas atingido durante um esforço físico máximo. Existem várias fórmulas usadas para calcular a FCM, uma das quais consiste em subtrair a idade ao valor de 220, por exemplo: um atleta de 33 anos terá uma estimativa de FCM na ordem das 187 pulsações por minuto. Obviamente que este número é uma estimativa pelo que é pouco exato, porque a FCM irá divergir consoante o nível aeróbio do atleta, os hábitos quotidianos e outros factores externos influenciadores. Para quem procura valores com maior exactidão deverá submeter-se á um teste de esforço completo. Em relação aos RPM, existem muitas técnicas de medição do RPM, mas a mais simples e fiável é a sua avaliação através de um ciclocomputador preparado para tal. Sendo assim, a cadência da 100 Nº 192 DEC11 pedalada não é mais do que o número de voltas completas que a pedaleira dá no espaço de um minuto. Lembro que este artigo está mais vocacionado para o treino em bicicleta pelas razões anteriormente explicadas, mas poderá sem problemas ser adaptado a outras atividades desportivas como a corrida, muito em prática na nossa instituição. Microrrecuperação: A microrrecuperação exige uma ativação prévia do organismo, em progressão por patamares de esforço até atingir uma intensidade média , cerca de 70 % da capacidade física, neste caso 70% da FCM. Este patamar de esforço é facilmente identificado através de um cardiofreqencímetro ou pela experiência, quando já se está familiarizado com os nossos limites físicos. Sendo assim a microrrecuperação consiste em activar o organismo de uma forma muito progressiva e linear, sem haver «choques», com vista à eliminação de alguns resíduos musculares e articulares. Tem como objetivos principais o desencadear a sensação de frescura e de nos sentirmos “soltos” depois da sessão. O dia mais propício para realizar este tipo de treino será no dia seguinte a uma prova ou de uma sessão de esforço mais intenso com amigos . O método a utilizar será começar devagar , com intensidade a rondar os 20% FCM, aumentando gradualmente de 2 em 2 minutos até começar a suar e depois deve-se manter a intensidade alcançada. Por fim subir de intensidade até aos 70% FCM e manter durante o período de 5 a 10 minutos, dependendo da carga exercida na véspera. Se treinar na rua, deverá escolher um itinerário com pouco desnível que lhe permitirá não oscilar na sua intensidade de trabalho, durante um tempo aproximado de 35 a 55 minutos, dependendo muito da sua capacidade de recuperação e mais uma vez da intensidade do evento do dia anterior. Caso não tenha disponibilidade de praticar na rua, poderá utilizar o rolo, executando os mesmos procedimentos, num período de 25 a 30 minutos. Micropatamar: Este é talvez dos treinos mais importantes para a evolução como ciclista. Consiste em aumentar o limite de trabalho aeróbio, ou seja a sua capacidade de suportar uma carga física mais elevada ao longo de um maior período de tempo. Na prática é começarmos a andar á uma velocidade constante de 33 km/h num terreno plano, em vez de 30km/h, durante o mesmo período de tempo. Ao aumentarmos o limite de trabalho aeróbio, aumentamos também a capacidade de tirarmos mais rendimento nos dias a seguir às provas ou eventos mais competitivos. Se treinar na rua deverá inicialmente fazer algum tempo de aquecimento na ordem dos 20 a 30 minutos, depois subir o patamar de esforço de 3 em 3 minutos e finalizar com uma série de 15 minutos, dentro do intervalo de 80 a 90% FCM. Não existem restrições em relação ao terreno a utilizar, tanto pode ser feito em plano, em colinas ou em rampas mais acentuadas, contudo deve garantir um aquecimento adequado, que não deverá ultrapassar os 60 a 70% FCM. Em casa, no rolo, poderá começar com 15 a 20 minutos de aquecimento, acabando com 3 series de 5 minutos cada entre os 80 a 90% FCM, completando assim um tempo total de exercício entre os 35 a 40 minutos. Microvelocidade: O consumo de energia de um atleta está directamente relacionado com a potência exercida pelo mesmo durante o exercício. A potência corresponde à relação entre a força exercida no pedal e a cadência da pedalada. Estudos realizados confirmam que uma pedalada em cadência (a partir dos 80 ou 90 RPM) permite um menor desgaste muscular e articular. A pedalada rápida não sendo de todo um movimento natural, pode-se tornar algo fastidioso inicialmente. A razão para isso acontecer deriva de muitos factores, um deles é não termos os músculos e as articulações com a flexibilidade suficiente para executar esse tipo de movimento, outro é a quantidade e qualidade diminuta de fibras musculares de contração rápida que existe inicialmente nos grupos musculares chamados a realizar o movimento. Há que treinar o movimento para evoluir em qualidade no gesto da pedalada e na potência exercida. Os dias adequados serão por exemplo a terça-feira ou a sexta-feira no caso de haver prova no domingo. Se tiver tempo para sair à rua, depois do período de aquecimento de 15 a 20 minutos deverá fazer 3 series de 5 minutos nas 110 RPM, utilizando a relação de transmissão que mais se adapta o tipo de terreno envolvente. No rolo, 15 minutos de aquecimento seguido de 10 minutos nas 110 rpm e 5 minutos de retorno a calma será mais do que suficiente para esta metodologia de treino. Chama-se a atenção que independentemente das 110 RPM deverá manter a preocupação de não ultrapassar os 80% FCM. Para tal há que jogar com a relação de transmissão utilizada. Microforça: À força usualmente associa-se à prática de musculação em ginásio. Porém, o ginásio é bom mas não chega. O treino de força em cima da bicicleta é por vezes mais rentável, visto que se desenvolve apenas os grupos musculares solicitados no esforço da pedalada, para além de se criar uma rotina de movimento. Treinar força é bastante fácil, basta criarmos pequenas séries onde a pedalada é feita, na relação de transmissão, o mais pesada possível (segundo o tipo de terreno), sem nos preocuparmos da frequência cardíaca no momento nem com a cadência lenta. Um bom princípio a seguir é quando menor for o tempo de esforço maior deve ser a intensidade empregue. Dependendo do tipo de inclinação da estrada poderá utilizar múltiplas séries de 1 minuto em terreno plano, 2 a 3 séries de 5 minutos em terreno montanhoso. Importante, para além de um bom aquecimento tal com já foi explicado, é o retorno à calma ou microdescontração (ex- AZIMUTE outros treinos, quer sejam eles de potência ou de força. Para o treino de patamar aeróbio e conveniente possuir um cardiofrequencímetro e realizar séries de 5 a 15 minutos, num patamar entre 80 a 90% (dependendo do seu nível) da sua capacidade máxima. Este treino poderá ser realizado as vezes que entender, sem ser nas vésperas ou nos plicação mais á frente), com bons alongamentos a fim de estender corretamente as fibras musculares e tendões, o que vai favorecer um bom crescimento muscular e prevenir as pequenas patologias. Sendo este treino um esforço lácteo, o melhor dia para o treino de força é ao meio da semana, para Nº 192 DEC11 101 AZIMUTE que se possa dar tempo de recuperação até ao fim-de-semana. Se o fizer na rua, uma hora chega para treinar a força, sendo a primeira meia hora de aquecimento, depois consoante a inclinação do piso poderá fazer 15 series de 1 minuto, 5 series de 3 minutos ou 3 series de 5 minutos, concluindo com 5 a 10 minutos de retorno a calma. Em casa, no ambiente artificial criado pelo rolo, 30 a 45 minutos de exercício seguindo a metodologia anterior chega para o efeito. Em ambas as condições a intensidade durante o esforço poderá ir até aos 100% da sua capacidade física. Micropotência: A potência é a combinação da força com a velocidade. Por norma mesmo sem sendo em sessões de microtreino, o treino da potência muscular e cardiovascular é sempre feito com séries curtas, devido à intensidade extrema do exercício. Independentemente dos exemplos que serão citados, deverá existir a preocupação de que o tempo de recuperação entre repetições tem de ser o mais curto possível, de preferência igual ou inferior ao tempo do exercício (dependendo do seu nível). 102 Nº 192 DEC11 Poderá a primeira sensação ser a de um esforço muito violento , mas irá trazer bons resultados a curto prazo, tanto no treino em rua como em rolo. O momento indicado para exercitar será sempre 2 a 3 dias antes do fim-de-semana e de preferência nas semanas que antecedem um grande evento. Na rua, após 25 minutos de aquecimento, poderá seguir uma das duas metodologias seguintes: duas séries de 5x (15 sec sprint / 15 sec recuperação), com descanso ativo de 10 minutos entre series, ou 3 séries de 40 a 50 sec sprint com 5 minutos de repouso ativo entre elas. No rolo poderá seguir a mesma metodologia, passando a fase de aquecimento de 25 para 15 minutos, completando assim um tempo total de exercício na rua de 55 minutos e 35 a 40 minutos em casa. É importante procurar na fase do esforço a maior intensidade e velocidade possível (dependendo do nível e das condições envolventes). Microdescontração: Quando falamos nesta metodologia da descontração de curta duração significa reduzir bastante o esforço físico e continuar com o movimento ou «gesto» desportivo, como por exemplo o continuar a pedalar com pouca intensidade. Tem de permite um ajustado alongamento dos músculos e tendões, para que os sinta leves fisicamente e se sinta melhor psicologicamente. Há que ter como principio, o baixo consumo de energia, ou seja pedalar sem ter a noção de carregar com demasiada força em cima dos pedais. Qualquer pretexto é bem-vindo para por em prática a micro-descontração, a ida ao pão, uma volta de BTT em família, uma volta ao bairro ou ainda para os felizardos, o simples facto de se deslocarem diariamente para o trabalho. Pode ser praticado todos dias, até na manha mesmo de um evento. Na rua ou em casa, a duração do treino irá depender do seu tempo disponível, tendo em atenção a não ultrapassar os 50% FCM, para não cair no erro de deixar de ser “descontraído”. Este conjunto de microtreinos não são mais do que uma orientação para manter a forma ou mesmo progredir. Poderá não ser eficaz para todos, mas garantidamente irá enriquecer-vos os conhecimentos técnicos, abrindo novos caminhos na vossa prática desportiva. Obviamente que existem muito mais métodos de treino, mas sendo mais complexos e morosos, deixámo-los aos competidores, que possuem tempo e orientações para os pôr em prática. Se por ventura acharem que este artigo não se vos adequa, não se preocupem, o que conta é pedalar, conviver com a natureza envolvente, criar amizades e combater o sedentarismo demasiado presente na sociedade atual. Azimute AZIMUTE O Natal visto por poetas portugueses ao longo de 500 anos Pobreza Presépio Dos Céus à Terra desce a mor beleza, Une-se à nossa carne e fá-la nobre; E sendo a humanidade antes pobre, Hoje subida fica à mor alteza. Busca o Senhor mais rico a mor pobreza; Que ao mundo o seu amor descobre, De palhas vis o corpo tenro cobre E por elas o mesmo céu despreza. Como? Deus em pobreza à terra desce? O que é mais pobre tanto lhe contenta, Que este somente rico lhe parece. Pobreza este Presépio representa; Mas tanto por ser pobre merece, Que mais o é, mais lhe contenta. Luís Vaz de Camões À Noite de Natal Era noite de Inverno longa, e fria, Cobria-se de neve o verde prado; O rio se detinha congelado, Mudava a folha a cor, que ter soía, Quando nas palhas de uma estrebaria, Entre dous animaes brutos lançado Sem ter outro lugar no povoado O Menino JESUS pobre jazia. - Meu filho, meu Amor, porque quereis (Dizia sua Mãi) esta aspereza Acrescentar-me as dores, Que passais? Aqui nestes meus braços estareis; Que se vos força amor sofre crueza, O meu não pode agora sofrer mais. Natal Nasceu um Deus. Outros morrem. A verdade Nem veio nem se foi: o Erro mudou. Temos agora uma outra Eternidade, E era sempre melhor o que passou. Frei Agostinho da Cruz Cega, a Ciência a inútil gleba lavra. Louca, a Fé vive o sonho do seu culto. Um novo Deus é só uma palavra. Não procures nem creias: tudo é oculto. Fernando Pessoa Que o Menino Deus encontra lugar no nosso coração para nascer! Santo e Feliz Natal para toda a família militar. O Capelão Nº 192 DEC11 103 AZIMUTE In memoriam Major-General Rui Alexandre Cardoso Teixeira 1946-2011 No dia 28 de Setembro, o Major-General Rui Cardoso Teixeira deixou-nos. Lutou com muita coragem suportando e enfrentando com serenidade mas sempre com esperança, todas as provações. Nunca conheceu o desânimo e cada novo desafio constituía para si a renovação da vontade de viver. O Major-General Rui Teixeira nasceu em 11 de Dezembro de 1946 em Cabeceiras de Basto terra que muito amava e evocava com carinho. Ingressou na Academia Militar em Outubro de 1967. Na Escola Prática de Infantaria concluiu o tirocínio em Julho de 1971 iniciando uma carreira brilhante, de entrega, de grande profissionalismo e de elevado sentido do dever. Em Dezembro de 1971 parte para Moçambique onde cumpre uma comissão que lhe permite conhecer e viver a dura realidade da guerra que tanto envolveu e inquietou a sua geração. Em 1972 regressa a Mafra, à Escola, à Casa-Mãe da Infantaria. Aqui aprofunda a sua formação, desempenha as exigentes funções de instrutor em sucessivos e desgastantes cursos de oficiais milicianos, exerce funções de comandante de companhia, é director do tirocínio e Instrutor de táctica entre outros desempenhos. Em 1981 é colocado na 1ª Brigada Mista Independente como Comandante de Companhia de Atiradores do Batalhão de Infantaria Mecanizado. No exercício do comando manifesta o espírito de entrega sem limites que sempre caracterizaram a sua conduta. Valoriza-se numa unidade de vanguarda do Exército consolidando uma carreira sempre pautada pela determinação e frontalidade nos momentos decisivos. De 1993 a 1996 cumpre uma missão no SHAPE em Mons. A sua preparação e capacidade proporcionam-lhe um exercício de funções com grande dignidade prestigiando o Exército e Portugal. Frequentou no Instituto de Altos Estudos Militares o Curso Geral de Comando e Estado-Maior e o Curso de Estado-Maior. Colocado no Estado-Maior do Exército, na Divisão de Operações, desempenha as novas e exigentes funções com a confirmada dedicação, rigor e competência. Em 1998 é nomeado Comandante da Escola de Sargentos do Exército. Exerce o Comando com elevadíssimo sentido do dever procurando e conseguindo valorizar a sua Escola, tão importante na formação de todos os sargentos do Exército. Evocava esta passagem pela ESE com muito orgulho, carinho e saudade. Após a frequência do Curso Superior de Comando e Direcção (2001/2002) é colocado no IAEM como professor, Chefe da Secção de Ensino da Táctica. Foi um novo desafio, que mais uma vez enfrenta, com a determinação e capacidade, que o caracterizavam. Foi curta esta passagem pelo IAEM mas suficiente para demonstrar que era a escolha justa e certa para o exigente e prestigioso cargo. Após promoção a Major-General é colocado na Guarda Nacional Republicana exercendo o cargo de Chefe de Estado-Maior. Foram anos de trabalho intenso, mas que adorava, sem horas, sem tréguas e mais uma vez com dedicação e entrega totais. Nada o fazia esmorecer por mais complexo ou urgente que o assunto fosse. Foram-lhe atribuídas as mais honrosas condecorações. Não seriam demais para o reconhecimento do seu contributo ao Exército e a Portugal. Em 2005 o seu estado de saúde obriga-o a cessar funções iniciando então a longa luta pela vida. Apesar das suas condições de saúde empenhou-se desde então, até Agosto de 2011, no levantamento do Clube Militar de Oficiais de Mafra. Acreditava que era possível organizar nesta vila, cheia de pergaminhos militares, um espaço onde fosse possível o convívio, a cultura e a defesa dos valores patrióticos que orientaram as nossas vidas. Acreditava que o clube poderia ser o local onde as gerações deveriam passar o testemunho. Estava certo. Continuará para sempre nos nossos corações e o seu espírito recordado. A família foi desde sempre o farol da sua vida. À sua esposa Cármen, e aos seus filhos Gisela e Rafael aos seus netos e a toda a sua família manifestamos o mais sentido pesar pela irreparável perda. José Inácio Sousa 104 Nº 192 DEC11