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SAVll Bl: ITINERARIO
DE UftlA CONTRA.REVOLUCÃO
Aquino de Brogqnço
um homem
"Savimbi é um enigma,
em quem se podem colar muitos
rótulos, bri,hante, 62y156{tico, aÍâ.
vel, inflexível, generoso, contempo
riza ar, nraquiavé.ico, oporlunista,
Íalsamente nacionalista,marxista, p:ó.ocidental e sooialista".
oSem ele, é duvidoso que ela
A. B. )
Ía guerrilha da UNITA
tivesss prosseguido>.
.,Nas sociedades africanas é o
cheÍe que tJirige o povo, disse o
capitão Jaka Jamba ", Savimbi é o
chefe. Se ele Íosse morto não sei
o que aconteceria à UNITA'r.
(Do livro de Leon Dosh, Sovimli 1977 compaign ogoinst the Cubons ond MPLA, Mungois Africon Librory Notes, ColiÍornio Instilut of Technclcgy, 1977).
O itineráriode Jonas MalheiroSavimbi.com as suasva'riantes
específicas,
históricas
é o de um homemem quemo imperiafismoconseguetazercoincidircompletamente
o agente
e o aliadopolítico.No entanto,o interesse
de umaleiturada prá
personagem,
tica passadae presentedestecontroverso
não reside apenasnaquelaconstatação
teórica.De facto,hoje,e segundotodasas indicações,
tantoa UNITAcomoo seu lídermeramenteemprestamo nomea uma das frentesde intervenção
político-militar
da ÁÍricado Sul nos Estadosindependentes
da
África Austral.
Assim,o processoSavimbiconstituina realidadeponto
para a análiseda actualestrategia
de reÍerênciafundamental
de guerracontra-revolucionária
"total" concebidapor P;etória
;.t Porto-voz do UNIïA'em
Luondo opós o 25 de,Abril de Ì974. A:udonte do
compo do Presidente do UNITA. Segundo o Expresso, troto-se de um ontigo furriel que
desertou do exército português em 16 de Junho de 1960, chomodo Evoristo Ecolelo. Foi
tombém o elemento de ligoçõo dq UNITA com o director do PIDE/DGS no Luso, António
Rolim.
Est. lúoç. (2) l98l:
87-ì04.
88 ESTUOOSMOçAMBTCANOS
linhasde Íorçatan'
Estacompreenderia
Farao subcontinente.
como, uma vez mais, o de'
to quantopossívelinterligadas,
monstramos elementosconcrelosvindos a lume no <ccâso>
Savimbi:recobri'ros processosinternosde lutasde classedos
paísesvizinhoscom conflitoscriadosartiÍicialrnente,
por Íorma
a criar maior campo de manobraàs íorçasantigovernamentais - a chamada"reactivação
elevaltal fase da luia
étr.ica,,;
de classes,assim distorcida,ao estágiode (gue"racivii con
- intervençãode unidadestreinauase
tra-revolucionária,'
recrutadassob um ponto 6s vista étnico actuandoem nome
de uma organizaçãoinstrumentalirada
de fachada<nacronalista" já existentee propícia,ou, se necessário,
a criar.
À medidaque a questãoda independência
da Namíbia
entrana sua faseÍinal,Pretóriatem vindoa acelerara integ:a
Tais unida
ção da UNITAem unidadesmilitaressul-africanas.
des destinar-se-ão
a prosseguira tentativade desestabilização
de Angolae, simultaneamente,
a policiaruma Íutura Namíbia
independente.
Torna-seportantoevidenteque a estratégiada
para Angolaé decididaactualmente
contra-revolução
em Pretória e não mais no interiordaqueleterritório.
Sendoo maís notório,o caso de Angola,repetimos,não
é o único.Duranteo ano passadodiversasforamas intervenembora- que a RSA
ções - menosgravese prolongadas
eÍectuouna Zãmbia,em apoio a Íorças anti-Kaundae antr-UNIP.
Em Janeiro, aquando do seu regresso de Salisbúria
após a assinaturade um acordo de coope:açãono domínro
da Segurança,
o titularmoçambicano
destapasta,Majcr-General Jacinto Veloso,não deixou dúvidasquantoà localização
geográficada central cont-a-revolucionária
do subcontinente.
que mantiveracum as
Velosoafirmouque nas conversações
ambas âs partes haviam consta
auto'.idadeszimbabweanas,
tado ,.que a maior Íonte de planeamento,promoção e apoio
das ameaças,ataquese subversãocontra a RepúblicaPopular
de Moçambiquee contra a Repúblicado Zimbabwe,é o regime racista e de 'apartheid'da ÁÍrica do Sub'.
Com efeito,e à data em que escrevemos
estaslinhas,cinnegrosestãoa ser políticae tecnico mil soldadosrodesianos
na
camentetreinadospela RSA em camposespecializadcs
situados no Transval.Destina-seesta
"contra-insurreição"
operaçãoa uma eventualacçãoem auxíliode fo'ças anti-ZANU.
Os soldados- pertencentes
anteriormente
às forçasmilitares
SAVIMBI 89
do bispo Muzorewa- são quase todos de etnia Ndebele,e
Íorneceriaim
corpo a distúrbiose levantamentos
aparsntsnrer,te "é'nicos,,no interiordo Zimbabwe.
por out-o lado, e atravésda piisão de
Em Moçambique,
membrospertencentes
à auto-entitulada
Moçambi"Resistência
câoâ,>,soube-seque antigos colaboradores
do colonialrsnro
português,taís como "Flechas',e GE's,bem como reaogioná.
rios nacionaisestãoa ser enquadrados
para apoiartrelnomi
litar em basesque se situamtambémno Transval.
T:'ata-se,effi todos estescasos,de exércitosde soldedcls
neg,ros,di-igidose instruídospor altos-comandos
de oÍiciais
sul-africanos
brancos,peritosem "contra-insurreição".
A Africa
do Sul faz pois todosos possíveisparaque a sua intervenção
directa a nível militar nos Estadosindependentes
da Álrica
Australseja convenientemente
camuÍlada.lsto para evitara
repetiçãodos catastróiicos
políticose militaresque
resultados
lhe trouxea invasãode Angola.
No seio desta estratégia,Savimbié Íinalmenteum prototipo de pião mais conseguido,
dado o seu carismarnc,i;vidual
que pelo rnenosoutro"aa UN|TA
e uma relativaimplantaç'ão
possuiuno Sul angolano.Ao analisarmos
em relrospectiva
e
ao actualízarmos
o ..processo,'do presidenteda UNIfA
numa altu,raem que a organizaçãopareceter reencontrado
certo apoio junto da nova Administ-ação
norte-ameri:arra
poderemos
situare antevera movimentação
cieagentese orgaque o .apar
nizaç:6ss
similaresnos focos de contra-revolução
theid" pretendeconsolidare ver vi:oriososnumaÁfricaAustral
submetida
à sua egidee domínio.
A FASEPÓS.25DE ABRIL:
À PROCURADA CREDIBILIDADE
PERDIDA
O golpe de Estadodo 25 de Abril de 1974 derrubao
regimede Caetanoe os novosdetentoresdo pode:'anunciam
a decisãode iniciar o processods descolonizaçâo
dos seus
territóriosdo uliramar
A Juntade generaisque dirige o Paíspublica,a 29 de
Abril, os seus primeircsdecretos.No mesmodia, o general
Antóniode Spínola,que presideà "Juntade SalvaçãoNacional',, recebeos dirigentesdos partidospolíticcs,em particular os representantes
do MovimentoDemocráticoPortuguês (M.D.P.)que agrupasimpatizan'es
comunistase cató.
licos progressistas.
O encontro,que dura quaseduas horas,
90 ESTUDOSMOÇAMBICANOS
é classificadode <cordlab,('). Há acordo (quase total" no
que respeitaa (questões internas>.Spínolaempenha'seem
do aparelho Íascista> (') do
acelerar o adesmantelamento
Estadoportuguês.
Em troca, surge um desacordosob'e a questãocolonial.
dos partidospolíticos- no'
Enquantoos representantes
- são favoráveisr<âo
meadamenteos católicosprogressistas
cessar{ogo imediato e ao início de conversaçõescom os
movlmentosde libertaçãonaclonal" ('), Spínolaaceitao prin'
é preciso
cípio da autodeterminação,
mas é do parecer rrQUê
não conÍundir autodetermlnaçãocom independênclau(') .
Assim, sugerea necessidadede apÍâZospaÍa preparaÍessa
autodelerminação>.
Sem tal preparação,insiste,a autodete\rminaçãopretendida<não terá qualquersigniÍicado>(').
Nestesentidoafirmaaindao chefe da Junta que os po.
vos da ÁÍrica portuguesaterão duas alternativas:
1 - Manter ligaçõescom Portugal,talvez do tipo fede'
ração.Este resultadosignifica'ia,
segundoSpínola,que a sua
políticatinha sido iusta e bem sucedida.
2 - Escolhera independência
total. Esta opção signiÍicaria,pelo contrá-io,o malogroda políticaÇus pensaseguir,
e, portanto,o seu eventualabandonodo cargo.
Spínolapropõeque <a partir do presentêuo sêu projec'
por um compromelimento
solenêrda junta
to fique r<garantido
militare das Íormaçõespolíticaschamadas
a governaro país.
Enquantoo generalSpínolaprocuraconquistarcom as
suas teses Íederalistasos dirigen:,es
"antifascistas"na metrópole,o númerodois da Junta,o generalCostsGomes,Íará
em princípiosde Maio uma dig-essãoaÍricanapara apalpar
terreno e tazer aplicar projectosfederalístasque constituem
(a soluçãoque melhorsatisÍazian,
seguÍìdoaÍirmâ,(os sonhos
da minha fuventude(u).
De regressoa Lisboa, no entanto,nâo esconde o seu
e de
cepticismosobre o futuro (português"da Guiné-Bissau
M'oçambiqueaonde a situação se deterlorou politicamente,
(l)
Le Monde, 2 de Moio de 1974.
(21 ibid.
(3) Comunícodo do Portido Sociolisto Português publicodo o 29 de Abril de 1974.
(4) Entrevisto concedido oo outor do presente ortigo pelo Prof. Pereiro de Mouro,
dirigente do MDP/CDE Pereiro de Mouro, cotólico progressisto, indigitodo pelo MFA
porá cheÍior o I Governo Provisório português, virio no entonto q ser reieitodo por Spínolo.
(5) ibid.
(6) Costo Gomes, Sobre Portugol, Diólogos com Alexondre Monuel, Ed. Regro do
1979), pos. 38.
Jogo (Lisboo-
sAvlMBr91
economicamente
e militarmehter(?). Por outro lado está seguro de gue <Angolapernnanecerá
portuguesa...e multirra.
cial (').
Para concretizaros seus (projectos luso-africanos'),
a
para Angola.
Junta escolheuum novo Comandante.em-Chefe
Trata-sedo general Franco Pinheiro,que possui bastante
conhecimento
do terreno e passapor ser um dos melhores
peritos da (contra-subversão"
('). Ele recebedirectivasprecisas de costa Gomes:(prosseguiro combatecontta as guerrilhas que não aceitemo cessar-Íogoe não se apresentem
como partidospolíticosdentroda legalidader('o)portuguesa
condiçãopréviapara que se inicie o processodo reÍerendo.
Aliás, o CheÍedo Estado-Maior
Generaldo Exércitoportuguês tem boas razõespara se mostraroptimists- a ope'
ração "pacificaÇão"começoubem.
A 28 de Abril - apenastrês dias depoisdo derrubede
Caetano
o Dr. Jonas MalheiroSavimbi,presidenteda
União Nacional para a IndependênciaTotal de Angola
(UNITA),encontrou-se,
alguresno Moxico,com um enviado
da Políciade Informação
padre
Militar (PlM) - o Reverendo
Antoniode AraújoOliveira(") - a quemfaz saber que está
pronto a renovaros seus laços com Lisboa,medianteo Íeconhecimentopúblico do seu movimenlo.
O generalFrancoPinheiromands grâvâpem Íita magné.
tica e difundirpela RádioNacional(Luanda)as declarações
do dirigentenacionalist6que prega então (uma descolonização progressiva,porque o Povo angolanonão está preparado para a independêncla>...
Savimbidâ a entenderque poderáapoiaros projectos
"federalistas"de Spínola.
O presidenteda UNITA,que se reivindicavaoutro:'ade
um (maÍxismo anti.revisionista>
(12)puro e duro, abandonou
publicamenteas velhasvestimentasde Mao e os projectos
de uma "RepúblicaNegra e Socialista"para Angola.Ele es_(7) Henri Komn, corrêspondente em Nompulo do New York Tlmes, ò doto de 13
de Moio de 1974.
(8) Entrevisto oo ïo the Point, semonório sul-ofricono, em 24 de Moio de 1975.
(9) Joõo Fronco Pinheiro, Noturezo e fundomentos do guerro subyerslvo, Estudos
de Ciêncios PoÍíticos e Sociois, Lisboo, 1963.
(ìO)
Conferêncio de lmprenso concedido por Costo Gomes em Luondo, Diório de
Notícfos, 5 de Mqio de 1974.
(ll)
Diórlo de Luondo, 29 de Abril de ì974.
(12) Corto oo Monde Diplomotlque (nõo publicodo). Anos mois torde: A luto em
o ÁÍrlco Angolo é entre dois lodos: o ldeologio do morxisms 6flsnho
ç 3 in{3.
pendêncio nocionol de Houphouet Boigny, Senghor, Koundo e todo o sobedorls dor cheÍcr
do Áírico do Sul,
tribcls. (Sovimbi : entrevisto conduzido por Dominique de Roux, Cltlrn
16/tt /76.t.
92 ESTUDOSMOÇAMBICANOS
força.se âg0Í6 por surgir como um homem de Estado de cre'
dibilidade,dado euê "moderado))e capaz de governar o país.
A sábia operação montada pelos serviços especiais do
e x é r c i t o ( D G S / P l M ) s u r p r e e n d e ua g r a d a v e l m e n t eo g r o s s o
d a c o m u n i d a d e d e < p e q u e n o sb r a n c o s " ( m a i s d e 5 0 0 0 0 0 ) ,
traumatizado pela queda inesperadado Governo da metropole e fe:ozmente oposta acs projectos "ÍÌÌâÍXistas"do MPLA.
Eis um ((negro>sábio, pensam eles, em quem se pode
c o n f i a r .S a v i m b i ,c u j o n o m e s ó e r a c o n h e c i d o p o r a l g u n s i n i ciados, torna-se,num abrir e fechar de olhos, uma lenda, "o
arauto da paz", capaz de lhes dar um novo destino.
Spínola e os seus generais ganharamo primeiro assalto.
Eles desejavam antes cie mais <parar a avafancha de retornacios"
seus "irmãos,' de Moçambique, regressar a Portugal, abandonando armas e bagagens.
A Junta pensa ter encontrado em Savimbi o homem da
situação, aberto ao diâlogo com essa quarta etnaa(que man.
tém com a metrópole laços de aÍectlvidade s identidade que
todo o Governo português responsável deve ter em conta e
rêspeitar> (").
Es:e, aliás, o único ponto sobre o qual estão de acordo a
esquerda militar do MFA, os velhos generais "fascistas" e os
m i n i s t r o s" c i v i s " d o n o v o r e g i m e .
Alguns dias mais tarde - a 14 de Junho de 1974- as
Forças Armadas Portuguesasassinarãono Moxico um cessar-fogo
general Franco Pi"oÍicial". O Comandante'em-CheÍe,
nheiro, deslocou-sena véspera a Lisboa. onde recebeu pessoalmer,tede Spínola a "luz-verde" para a operação.Tratava-se, na boa logica das coisas, de dar a Jonas Malheiro Savimbi uma "credibilidade" que lhe faltava no plano nacional... e internacional.
O general Silvino Silvério Marques, nomeads Governador-Geral de Angola para esse período de transição,afastará
toda a hipótese de <dlálogo com aqueles que recusam o diá.
logo e condenam o reÍerendo>. Para este velho seguidor do
lmpário que governouAngola a Íerro e Íogo sob o consulado
de Salazar, no início dos anos 60, .,a evolução não comunis'
ta (leia-se sem o MPLA) do antigo ultramar é possível e até
natural'r ("). Ê para a UNITA gue se irão muito naturalmente
(13)
Almeido Sontos, cntrevisto concedido oo semonório Expresso, princípios de
Outubro de 1974.
( 1 4 ) S i l v i n o S i l v é r i o M o r q u e i , P o r t u g o l : c ogoro?, Edições do Templo, Lisboo
1978, pós.179.
SAVIMBI 93
Savimbié chamadoa participar(") no
virar as esperanças...
governoque SilvérioMarquesnão te"á tempo de Íormar,iâ
que entretantoo MFA em Angolaexigee obtéma sua partida da colónia.
RETROSPECTIVA
SOBREUM PASSADO
NÃO MUITOLONGINQUO
A Frentede Leste,abertapelo MPLAem Março de 1966,
na Provínciade Moxico,Íronteiriçada Repúblicada Zâmbia,
para o intealastra.se,no Íinal dos anos 1960,rapidameni,e
rior do país.O MPLAprepara-sêpar6 atravessaro granderio
Kwanza.A sua meta é o rico planaltocentraldo Bié, região
densamentepovoadaque constituiuo celeirode Angola.Nos
círcutos niilitaresde Lisboa,inquietos,(prevê-separa breve
a chegadado MPLA para o rrêÍll ('u) (Atlântico).
Em 1970 os guerrilheirosultrapassam
em 60 por cento
as acções combativasdo ano precedente,do que resultou
num acréscimode 25 por cento de baixas no Exércitopor'
t u g u ê s( " ) .
Esta progressãorápidada guerrilhaconstituiuma séria
ameaçapara a dominaçãocolonial;tanto mais que a esmagado a maioriado exércitoportuguêsnão se sente "motivarrâ
da,, para combatero inimigo,pois não se ident"'câ GorTt
transcendenteimportânciadesta cruzada nacional,',como se
afirma num relatorioenviadoa Lisboapelo generalJoão de
AlmeidaViana,Comandante-em-Chefe
das forçasde ocupação.
Como evitar a derrocada?Marcelo CaetanoÍará apelo
a FranciscoCostaGomes,generalpoucoortodoxo,que jâ participou,em princípios
de 1961,num golpede Estadopalaciano
para derrubar Salazare gue já expressou,por diversasocasiões,o seu desacordosobre a forma como estãoa ser conduzidasas guer:asafricanasde Portugal.O novo Comandante-em-Cheíedas forças armadasem Angola,é partidáriode
longa data de uma (guefra total)rcont's os insurrectos,devendo as operaçõesmilitaresser apenas(um dos múltiptos
Íactores para combatero inimigo, ("). O gene:al é um homem culto. A guerrado Vietnamee a Argélia não lhe são
estranhas.
Assim,ele vâi utilizar,na boa tradiçãoda contraguerrilha,meios extramilitares:os desÍolhantes(") que vão
destruirparte significativadas culturasalimentares- sobre.
( l5)
(16)
( l7)
ibid. póq. 139.
Costo G;mes, op. cit., p6g. 32.
Gerold Bender, Journcl or Comporotive Polilics, lV, n.o 3, 1912.
1t8) Entrevisto ò revisto ongclono Prismo, Abril de ì97 1.
(19)
Inquérito reolizodo pelc respcnsóvel dos SAM do MPLA, dr. Eduordo <los
Sontos, em 197 l. ConÍirmodo pelc Consulodo norle-omericono em Luqndo ò doto.
94 ESTUDOSMOÇAMBTCANOS
tudo a mandioca - alimento-basedos angolanosque vivem
n a s z o n a s s e m i l i b e r t a d a se, q u e o s o b r i g s a p r o c u r a r r e Í ú gio na Zãmbia.
Estas medidas serão acompanlradase reforçadas pela
reactivação da contra-subversão,
coo:denadaaté a altura pel o s s e : v i ç o s d a D G S d i r i g i d o sp e l o s i n i s t r o D r . S ã o J o s é L o .
pes, seu
"amigo" Ín.imode longa data. Este vai pôr a disposição de Costa Gomes um precioso "dossier" de cartas,
c l a s s i Í i c a d a ss o b a r u b r i c a ( m u i t o s e c r e t o " e d e n o m i n a d a s
<Operação Madeira> (<cAssunto:UNITA - possivel recupeÍação dos seus êlementosu).
Com efeito, a DGS mantém, desde 1968/69, relações
" m u i t o e s p e c i a i s " c o m u m o u t r o a g r u p a m e n t od e g u e " r i l h a
q u e a c t u a e m A n g o l a d e s d e 1 9 6 5 :a U N I T A d o D r . J o n a s M a l h e i r o S a v i m b i . E s t e ú l t i m o a b a n d o n o ue m J u l h o d e 1 9 6 4 ,
j u n t a m e n t ec o m o s s ê u s
"amigos",a FNLA de HoldenRoberto, acusando-o publicamentede ser um "tribalista" Bakongo
" i n e Í i c a z >a o s e r v i ç o d o i m p e r i a l i s m oa m e r i c a n o ,i n c a p a zp o r
isso de desenvolver um comba.e autêntico para libertar o
país. Ele aproxima-sedepois do MPLA com o proposite de
i n t e g r a r o s e u g r u p o d e d i s s i d e n t e sÍ ì a o r g a n i z a ç ã od i r i g i d a
pelo Dr. Agostinho Neto. As negociações,no entanto,falham,
j â q u e S a v i m b i e x i g e u m a c o m p a r t i c i p a ç ã on a d i r e c ç ã o d o
movimento, pretendendo-serepresentantedas populações do
Centro-Suldo territorio- nomeadamenteos Ovimbundu,que
c o n s t i t u e ma m a i o r e t n i 6 a n g o l a n a ,c o m m a i s d e d o i s m i l h õ e s
condição que o MPLA recusa categoricamenteacei.ar.
Savimbi vai então criar, com o apoio dos refugiados angolanos na Zàmbia, a sus própria o-ganização- a UNITA e ultrapassaro MPLA, abrindo uma Írente no Leste angolano.
Bastante mal equipado em armamento,não disÉondode uma
base de apoio de retaguarda- o PresidenteKaunda recusa
apoiá-lo
o combate da UNITA contra o ooupante, nessa
vasta região semidesértica,vai estagnar, após algumas acções espectacula:es.Entretanto o MPLA, que preparou pacientemente o seu projecto, taz rápidos progressos.As duas
organizaçõesnão se entendem uma com a outra e vão afrontar-se, de armas ns ffião, num combate desigual que marginalizarâ os homens da UNITA. Estes últimos sobreviverão
graças ao apoio discreto que lhes concede a DGS, que se
deu pe:'Íeitamenteconta de que <a UNITA tem mals ódio ao
MPLA do que aos portuguesêsu (*) e poderia portanto ser
(20ì Silvo Cunho, O Ultromor,
Coimbro, 1977.
o noçõo e o r25
de Abrib,
Atlôntido
Editoro,
SAVIMBI 95
um (aliado objec'-lvol contra o inimigo comum, o movimento
l i d e r a d o p e l o D r . A g o s t i n h oN e t o .
São José Lopes, entretanto,transmite regularmente as
suas informaçõesaos seus superioreshierárquicosem Lisboa.
O a s s u n t o é s e g u i d o c o m m u i t o i n t e r e s s ep e l o p r ó p r i o
C a e t a n o .( " ) S a v i m b if e z s a b e r n u m a d a s S U â sú l t i m a sc o m u '
nicacões que está de acordo com os projectos "reÍormistas"
do Primeiro-Ministroe que prevêem uma autonomia progres.
siva para os territÓriosuliramarinos,dentro do respeito pela
soberania portuguesa.O dirigente da UNITA recusa no en'
tanto a classificaÇãode um "vulgar colaborador". Deseja
para si um (estatuto especial", <logo gue o MPLA seja ellmlnado> da cena política angolana.
Para Costa Gomes, portanto, esta questão surge como
prioritária.Ele vai encarregaro seu adjunte e excelente "operaoional", o general de brigada Bettencourt Rodrigues, de
<reinlciar os contactos com a UNITAn e coordenar com esta
última a luta contra o inimigs coÍïÌuÍÌìie MPLA.
Um acordo "secreto,,será assinadoem meados de 1971,
após troca de correspondênciae contactos com Savimbi e
seus emissários, e que aconsêguirá a suspensão de operaÇões militares> (") tendo em vista (encontrar uma sol,ução
definitlva dentro do espírlto das propostas Íeltas por
Gaetano> (").
As duas partes - a UNITA e as Forças Armadas portuguesas - puderam constatarque (o MPLA era o principal
obstáculo à paz, não só no Leste, mas em todo o territórlo de
Angola> (*). Em consequência, afirmava o dirigente da
uNlrA. o (enÍraquecimento até à liquldação das Íorças do
MPLA no lnterlor de Angola> era uma tarefa prioritária que
deveria rsêÍ levada a cabo pelos esÍorços conjugados das
Força5 Armadas portuguesas e da UNITA>.
Assim,
1 -As
a)
Forças Armadas portuguesas:
autorizavama UNITAa mantersob seu contrôle a região do Alto Lungué-Bungo,
situadanos
arredoresde Luso:
(21)
Morcelo Coetono. O 25 de Abril e o Ultromor, três entrevlstos
documentos, Verbo, Lisboo, 1976.
122) Costo Gomes, op. cit, póS. :2.
(23) frpresso de 17/ll/79,
24/ll/79,
30/ll/79.
Corto de Sovimbi oo generol Luz Cunho, de 26 de Setembro
l24l
pelo
Publicodo
revisto AÍrique-Asie de 3-21 de Julho de 1974.
s olgonr
de
1972.
s6 ESTUDOSMOÇAMBTCANOS
b)
c o m p r o m e t i a m - s ee m p r o t e g e r e s t a " b o l s a " d a
UNITA e de < a manter aÍastada da guerra)', Íaum esÍo:ço para promozendo simultaneamente
v e r o b e m - e s t a r d a s s u a s p o p u l a ç Õ e sn a t i v a s
( ajuda alimentar, medicamentos,material escolar. etc.).
2 - A UNITA comprometia-sea;
a)
fornecer âs forças armadasde ocupação (guias>'
para acções coniuntas num sector previamente
d e fi n i d o :
b)
"activar,, as suas células no exterior para press i o n a r o s G o v e r n o sa f r i c a n o s- n o m e a d a m e n t e
a Zàmbia - a modificar â suâ política no que
respeita a Portugal.
A ( r e c u p e r a ç ã o "d e J o n a s S a v i m b i e o " i n v e s t i m e n t o "
da UNITA no combate contra o MPLA constituíramfeito b:'ilhante dos estrategasportuguesesda contraguerrilha.A "neut r a l i z a ç ã o " d o s s a n t u á r i o sd o s g u e r r i l h e i r o sn o s p a í s e s v i z i n h o s e r a p a r a e l e s c o n d i ç ã o n e c e s s á r i ap a r a v e n c e r o
Movimento de Libertação. Nesta ordem de ideias, âs presem 1973,as suas
sões da UNITA levariama Zàmbia a <<rever)),
p o s i ç õ e s d e a p o i o l o g í s t i c oa o M P L A .
T u d o p a r e c i a p o r t a n t oi r " d e v e n t o e m p o p a > e m A n g o l a
q u a n d o o g o l p e d e E s t a d od o 2 5 d e A b r i l d e r r u b o u o r e g i m e
do Dr. Marcelo Caetano"
REGRESSANDOÀ I.JNITA
única organização reconhecida pelas autoridades colon i a i s a p ó s a q u e d a d e C a e t a n o ,a U N I T A t i n h a e n c o n t r a d o
rapidamente uÍÌÌa abertura na comunidade dos brancos que
p u s e r a m à s u a d i s p o s i ç ã o s u b s i a n c i a i sm e i o s f i n a n c e i r o s .
O o b j e c t i v o i m e d i a t o d e J o n a s S a v i m b i e r a , n o e n t a n t o ,c o n seguir implantaçãojunto dos negros ao Sul do rio Kwanza,
n a z o n a é t n i c a O v i m b u n d u ,j a m a i s t o c a d a p e l a g u e r r i l h a .
Em fins de Julho,os jovenscapitãesdo MFA tinham já
retomado a iniciativa em Lisboa e forçado Spínola a aceitar
o p r i n c í p i od e n e g o c i a ç õ e sd i r e c t a s c o m a q u e l e s q u e t i n h a m
combatido o ocupantede armas na mão - a FNLA de Holden
Roberto e o MPLA do Dr. Agostinho Neto.
SAVIMBI97
O vice-almiranteRosa Coutinho, uffi dos membros da
Junta, foi chamado a controlar 4 situação em Angola, que se
degradava.perigosâÍïÌêoteapós a aparição de organizações
clandestinase a:madas dos colonos brancos.
Com efeito, graves afrontamentos tinham oposto, em
L u a n d a ,e s t e s " u l t r a s " , p a r t i d á r i o sd e u m a i n d e p e r , d ê n c i ad e
tipo rodesiano, à população negra dos musseques.
Apoiado pelos jovens do MFA e com o reiorço de unidades militares metropolitanasde toda a conÍiança, Rosa
C o u t i n h oi r i a n e u t r a l i z a rr a p i d a m e n t eo s ( n o v o s s u b v e ' s i V o s > ' ,
vibrando o golpe final Íìos seus projectos de institucionalizar
um "poder branco" em Angola.
Para o Alto Comissárioportuguês,o perigo que ameaçava a partir de então o Drocessode uma "descolonizaçãopacífica" centrava-seem torno das ambiguidadese ambições
expansionistasdo Zaire de Mobutu - de que a FNLA era,
pura e simplesmente,o braço armado.
Era necessário portanto (recuperâÍ e angolanizãÍt>(") a
FNLA, levando-aa constituir uma frente comum com os outros dois movimentos,para discutir com Portugal,sem qualquer parte inte:posta, as modalidades de transferência
do poder.
Rosa Coutinho iria então (encoraiar,ro carismático Jon a s S a v i m b ia s e r v i r d e l i g a ç ã o e n t r e i r m ã o s i n i m i g o s .S a v i m bi estava perfeitamenteciente de Que uma confrontaçãomilitar com os seus rivais - MPLA e FNLA - melhor armados
que a UNITA, não o poderia ajudar a consolidar as suas
posições.
O presidenteda UNITA deslocou-sea Kinshasapara convencer o Chefe de Estado zairor,ada sua "boa fé", e assinou
com o <protegido" daquele, Holden Roberto, um acordo
i
de paz.
Rosa Coutinho encarregou-sea si próprio de (<empu'rar,,
o M P L A - q u e m u i t o " â j u d o u , ,a s a i r d o i s o l a m e n t o- p a r a
se (entender" com a UNITA. Para o Alto Comissárioo acordo
com esta organizaçãoera o <mínimo>necessário para tazer
(arrancar o processo de descolonização em AngolaD,
Apoiado neste seu sucesso, Savimbi vai então apelar
(reconpara os bons ofícios do
"sábio" Kenyatta,para lazer
ciliar" Holden Roberto com o Dr. Agostinho Neto.
Um acordo firmado em Mombaça reconheceriaos três
movimentos nacionalistascomo "únicos e legítimos repre(251 Decloroções prestodos por Roeo Coutinho,
out'or do presente ortigo.
nos vésperos do suo nomeoçõo, oo
98 ESTUDOSMOÇAMBICANOS
em
sentantesdo Povo angolano". Uma semana depois
Janeiro de 1975 - iniciam-seem Alvor as negociações com
Portugal.
constituído
Um governo de t:ansição quadripartido
pela UNITA. a FNLA e o MPLA com representantesmetropolitanos - deveria organizar- no espaço de um ano - elei'
ções para escolha de uma AssembleiaConstituinte.
J o n a s M a l h e i r o S a v i m b it i n h a g a n h o u m s e g u n d o" r o u n d "
e esperava consolidâ:'âs suas posiçÕes, tanto mais que o
grosso da população branca se tinha juntado, imediatamente
a seguir a Alvor, à UNITA. Por outro lado, sondagens eíectuadas por diversos observadoresdavam a es.a formação a
maioria dos votos, (40 a 45 por cento), ÍìuÍns eventualeleição. Tal resultado era no entanto inaceitávelpara o MPLA,
(35 a 40 por cento dos votos), que desde a sua fundação
tinha definido a sua linha política em termos <anti-sistémicosn
(anti-imperialistae antitribal). O projecto "federalista" da
U N I T A i r i a c o n s o l i d À ra h e g e m o n i ad o s O v i m b u n d ue a m e a çava a unidade do país.
Para a FNLA, (menos de 20 por cento dos votos), formação tribalistapor excelência, (possuia o apoio da minoria
"Bakongo"), dispondode um exé-cito muito melhor equipado que os guerrilheirosdo MPLA e da UNITA.estava Íora de
questão aceitar as regras do jogo eleitoral.
Como sair do impasse?
Agostinho Neto propunha renunciar "provisoriamente"ao
,
iogo eleitoral que opunha as partes rivais.A UNITA, o MPLA
e a FNLA deveriam apresentar-secom (um programa comum
mínimo>, tendo em vista a consolidação da independênciae
da unidade do país. Holden Roberto,que queria goverÍìârsêÍn
partifha,tinha já ocupado
apoiado pelo exército do Zaire
e com a complacênciade oficiais "ultras" do exército portu'
guês - o norte de Angola.
Ele iria desencadear- enquanto a sus câÍÌìpanhaeleitoral ia iâ no seu auge - uma operação armada para expulsar o seu velho rival - o MPLA - da capital.
A UNITA que se mantinha"neutra" em Luanda, prepara'
va-se abertamente para passar à acção directa contra o
M P L A - n o C e n t r o - S u ld o t e r r i t ó r i o- q u e t i n h a c o n s e g u i d o
minar a sua solidariedadeétnica, tendo constituído células
de militantes activos nos cêÍìlÍos urbanos "Ovimbundu,,.
A s s i m n ã o h a v i a j á q u a l q u e rp o s s i b i l i d a d eC e s e c h e g a r
a um acordo pacífico. A partir de então, o recurso às armas
e as novas alianças extra-africanasÍicaram na ordem do dia.
SAVIMBI 99
que o Governode Lisboa,enfra'
Savimbicompreendeu
quecidopor lutasantestinas
e debilitadopelo esÍorçode gueros
ra, jâ,não estavaem condiçoesde e ajudara materializar
seus projectos.
tinha feito há muito a
A administração
norte-americana
sua escolhasob:e a pessoa de HoldenRoberto.Auxiliaro
presidente
da FNLA,segundotinhaíeito valera ClA,permitiria instalarem Angola <,omais estável e mais seguÍo dos
govêÍÍloSn('o).
A China Popular tentou lazer chegar à UNITA um contingente substancial de armas, Ínâs este acabaria por Íicar blo'
queado em Dar-es-Salaam.
Mas Savimbi pensa já ter encontrado a solução. Muito
antes de Alvor, tinha efectuadoaberturasdiscrelas a Preto.ia.
R e c e b e n d o o c o - r e s p o n d e n t ee m L u a n d a d o q u o t i d i a n o
sul-africano ..Star,,, ele saudou calorosamenteVorstep <homem responsável,,,e tomou posição (contra a luta armada
para libertar a RocÍésiae a Namibia,r,pâÍâ concluir que (será
realista para Angola cooperar com a ÁÍrica do Sul, mesmo
se nós nos opomos ao iniquo apartheidn (").
A tomada de posição do líder da UNITA - sobretudono
q u e r e s p e i t aà N a m í b i a- c o n s t i t u i uu m a c o n c e s s â ed e v u l t o
p o r p a r t e d e u m d i r i g e n t ed e u m a Í o r m a ç ã o ( U N I ï A ) q u e e r a ,
até à véspera do 25 de Abril, um aliado "historico" da
swAPo(").
Apos o golpe de Estado em Portugal,a África do Sul re'
cebeu dos governantesde Lisboâ çâ garantiada sua boa vontadeD (z'). Por seu turno, Pretoris comprom€te-seem não interÍerir atìos assuntos internos de Angolar, (*) mas, em Se'
tembro de 1975, o exército sul-africanopeneira uma dezena
de quilometros adentro daquele territorio, para (proteger)),
s e g u n d o a f i r m a , a b a r r a g e md e C a l u e q u é ( n o r i o C u n e n e )
que alimenta em água, há cerca de seis meses, a Namíbia.
Contudo, o Governo sul-africanoainda não se decidiu a intervir ( massivamente)gara impor um (Estado-tampão"
não
hostil aos seus projectos namíbios - que deseja ver instalado em Luanda.
(26) Roger Dovis, The proxy wor in Angolo:
blic, (EUA), Joneiro de ì97 ì.
Stor Weekly, 3 de Moio de 1975.
l21l
(28) Os Ovombo do NomÍbio o grupo
loços étnicos muito Íortes
opoio o SWAPO-montém
(29]' Costo Gomes, entrevisto do semonório
(30) Jornol Novo, 19 de Abril de 1975.
Pothology of o Blunder, New Repu-
étnico mois importonte em que se
com os Cuongonos do Sul de Angolo.
To the Point,24 de Moio de 1975.
100 ESTUDOSMOçAMBICANOS
PORQUÊ A TNTERVENçÃO
DA ÁFRICA DO SUL EM ANGOLA?
Desta vez, o regime da RSA vai justificara sua intervenção
como sendo um "gesto,' destinado a salvaguardaros trabalhadores "Ovambo" da barragem, que estariam <ameaçados"
pela guerrilha da SWAPO.Entretanto,reafirmaoÍicialmenteaos
novos governantes de Lisboa que não se intrometerá nos
assuntos internos de Angola.
Com efei.o, Pretoria ainda não decidiu se vai ou não
i n t e r v i r m i l i t a r m e n t en a q u e s t ã o a n g o l a n a . . .
Uma querela surda opõe, no seio do Gove-no do "apartheid", os partidáriosde uma intervençãodirecta aos que não
receiam ver instaladoem Luanda - à imagem do Moçambium governo com parQUe "marxista,' de samora Machel ticipação do MPLA.
Enquanto o Ministro da Defesa,P. K. Botha e o Comandante-em-Chefedas ForÇasArmadas, o general Magnus Malan, não escondem a sua vontaclede neutralizaras "bolsaso
(bases) da SWAPOem Angola ("), o general Hendrik Van
der Bergh - o poderoso "pairão" dos serviços de segurança
(BOSS) e "ârguitecto" da política de <détente e diálogon
advogadapelo Primeiro-Ministro
John Vorster- opõe-se àquela política. Para isso, apoia-seno facto dos "Ovambo" angolanos terem feito saber,desde Maio de 1975,que não se submeteriam às novas autoridadesde Luanda. Assim, uma política
hábil de Pretória poderia no enlender ds Van der Bergh
levar à fo"mação de uma espécie de Bantuslão
o
- que englobaria os
"Grooter Ovambo" (Grande Ovambo)
Ovambo angolanos e namíbios e que serviria para travar as
ambições da SWAPO.
Esta era a posição que parecia "razoável" ao Primel'o-Ministro, calorcso partidário da política
de abertura e dialogo com os Estados africanos "moderados". No entanto,
os acontecimentosvão-se precipitar... e levar Vorster a mudar de opinião.
Depois da derrota no Vietname,o Secretário de Estado
Henry Kissinger não esconde que os Estados Unidos estão
dispostosa demonstrara sua resoluçãoe vontade de resistir
à "expansão soviética>'em todo o mundo. Por out"o lado
está seguro - segundo se depreende das aÍirmações dos
seus colaboradores e conÍidentes do Departamentode Estado
J. H. P. SerÍontein, no seu importonte livro, Nomíbio?, Fokus Suid Publishers,
3l)
1976. Nesto obro o outor revelo pelo primeira vez os ontecedentes e os bostidores do
conÍlito gue opôs Botho o Vqn der Bergh,
SAVIMBI 1O'
- de que (Breinev não sacriÍicará10 anos de 'détente' por
um Estado-clienle
êrl ÁÍrica> (").
Kissinger queria af astar - se necessáriopela Íorça da5 armas- o MPLA "pró'soviético" d.cs caminhos clo poder. No entanto, a maioria
dos seus colaboradoresdo Departamentode Estadoe dos
Senadores partidáriosde uma solução diplomática
opõe-seà aventura.
Que tazer?Kissinge:encontroua resposta:a República
sul-aÍricanaé um país "amigo" cujos interesses
estratégicos
nessa zona de tempestadeque é a África Australnão são
muito diÍerentesdos dos EstadosUnidos.Uma intervenção
sul-africana"discreta", apoiada pela CIA e (caucionada"
pelos "moderados"aÍricanosda OUA, seria suÍicientepara
leia-seo MPLA
em
"eliminar"o abcessocomunista
Angola.
A operaçãonão é simples.Kissingerestá bem inÍormado
sob:'ea África do Sul. Ele não ignorade forma algumaas
posiçõesdo general Van der Bergh (as relaçõesCIA/BOSS
são excelentes,
a crer no que aÍirmaa bem informada"Newsweek" de 17 de Maio de 1976).Assim,Kissingervai encar"egar o general Brent Scowcroft,seu sucessorno Conselho
Nacionalde Segurança(da Casa Branca),dê tomar conta
desta questãodelicada.
Os Serviços Secretosisraelitas(M,ossaad),bem colocâdos no interiorda pát'ia do "âpâÍtheid",serão chamados
a substituir-se
à ClA, demasiadocomprometida
com a BOSS,
para e'ectuaremos necessários"contactos".Vorstermostra-se
"sensível"aog argumentosde KíssingeÍÍÌÌâ5aínda não
está decididoa pôr termo ao debateque opõe o seu Ministro da DefesaBothaao velho gene'alVan der Bergh.
Ê, nestaalturaque surge em ceÍìâo Presidente
Mobutu
que mantém,há longa data, relaçõesdiscretase frutuosas
com Pretória.
Jonas Savimbiencontrou-se,
pouco antes,com o Chefe
de Estado zairotapara pedir um auxílio consequentepara
combatero MPLA, que recobrou forças. Mobutu,decidido
já a intervirno norteangolanocom o seu exércitoem apoio
da FNLA, recomenda-o
aos seus (amigos" sul-africanos.
O presiden'eda UNITA,que já se encontrouem Parls
(Março de 1975) com emissáriosdo general sul-aÍricano
Magnus Malan, deslocar-se-á(em princípiosde Setembro
de 1975) a Ruptu,cidade"fronteiriça
da Namíbia.
(32) Revisto norte-omericonoTime de 22 de Joneiro de 1976.
102 ESTUDOSMOçAMBICANOS
Nas suas conversaçõescom os colaboradorespróximos
do Primeiro-Ministrosul-africano,Jonas Savimbi vai assegurá-los de que uma eventual intervençãosul-africanaem Ango.
la ao lado da FNLA e da UNITA, será apoiada pelos Estados
(mode-ados" da OUA, nomeadamer.ie o Zaire, a Zàmbia e
a Costa do Marfim. (''')
Seguro do apoio Que conta receber da AÍrica (modera'
dâ,,, encorajado pelo (poderoso', Secretário de Estado americano, Vorsler dá luz-verdeao seu Ministro da Defesâ,PâÍâ
este passar à acção directa em Angola.
A intervenção do Presidente Mcbutu junto do Governo
sul-aÍricanopara levar este último a apoiar a FNLA e a UNITA
tinha sido <decisiva>.(")
A 23 de Outubro de 1975, uma coluna motorizada de
ce"ca de 1 000 a 1 500 homens vai penetrar no Sul angolano.
U m a s e g u n d a c o l u n a e n t r a e m a c ç ã o a 1 5 d e N o v e m b r o c, o m
o apoio aéreo de helicopteros"Alouette lll" e aviÕes,,Puma".
Uma terceira coluna intervém em Dezembro.
As tropas sul-aíricanasavanÇam ate 700 quilómetros no
interior de Angola e "libertam') vastas zonas para aí instala.
r e m o s s e u s " p r o t e g i d o s "d a U N I T A e d a F N L A .
No Norte, "libertado" pelo exército zairola, a FNLA,
apoiada por um grupo de mercenários portuguesesavança
sobre a capital,Luanda.
A 11 de Novembro - data prevista pelos Acordos de
A l v o r - o M P L A p r o c l a m a s i n d e p e n d ê n c i ad o p a í s e a p e l a
a Cuba socialistâ,gue semp"e apoiou este movimento.Fidel
irâ em seguida organizar uma verdadeira ponte aérea para
t r a n s p o r t a ru m c o r p o e x p e d i c i o n á r i od e m i l h a r e sd e h o m e n s .
Eles irão refo-çar as FAPLA, gue conseguiram (pâÍâÍ,2 os
invasores às portas da capital. Os sul-africanossão pos:os
em debandada pelo pctencial de fogo dos carros T 54 e mísseis SAM-7 utilizadospelos seus adversários.
Severamentg condenado pela opinião pública africana,
- que no entantose tinha com.
"esquecido" por Kissinger
prometido em associar-sea esta aventu-a - Vorster decide,
em princípios de Março de 1976, retirar âs suas tropas de
Angola. Er:tretantocriticara vigorosamen:eos (seus" aliados
americanos pela sua passividade e <cderrotisÍno));
complexo
herdado da de:-rota no Vietname (") . Simultaneamente,a
(33)
Reveloções feitos oo lornol rofrikonerr pró-governomentol Ropport, o l5
de Fevereiro de 1976.
(34)
Fronz Wilhelm Heimer, Decolonizotion et légitimité politique en Angolo,
Revue Fronçoise d'Études Politiques, n.'" ì26, Junho de 1976, pó9.65.
(35) Jornql sul-ofriçono Stor, de 6 de Joneiro de 1973.
SAVIMBI IO3
UNITA e a FNLA sofrem uma derrocada completa e praticamente desaparecem - Savimbi e seu estado-maiorrefugiam.
- s e n a N a m í b i a- d a c ê Í ì s p o l í t i c aa n g o l a n a .
Em I de Fevereiro de 1980, declararia Jonas Savimbi
numa entrevista ao semanário português "O País":,.Uma
guerrilha não pode existir em Angola, não pode sobreviver
apenas com os apoios exiernos. É precisg que tenha algo
de especíÍico, de próprio, de genuíno>.
Os sul-africanos,entretanto, têm o dirigentg da UNITA
em grande estima e não irão abandoná-lo.
Jonas Savimbi dispõe ainda de alguns recursos: íncapazes de deter a ofensivadas FAPLA,os dirigentesda UNITA,
que se tinham conseguídoímplantarnos altos planaltoo,€XoL
tam as p,opulaçõesda zona a abandonar os seus lugares.
A s s i m , m i l h a r e sd e c a m p o n e s e se n g a j a m - s en a g u e r r i l h an a s
florestas pouco acessíveis,aguardandoum eventual regresso
d o s s e u s l í d e r e s .S a v i m b i d i s p Õ e n o l o c a l d e u m c a m p o d e
manobra não negligenciável,tanto mais que fez passar pelas
armas os "assimilados,, ovibundu, suspeitos de simpa.ias
com o MPLA.
Será ele capaz de enquad"ar os camponeses,concedendo-lhes um novo sopro político? Poderá ele desestabilizar o regime "marxista" angolano? Serviráele, finalmente,
de instrumento para a criaÇão de um Estado-tampãono Sul
para travar a SWAPO? Eis as perguntasque se fazem e que
co"respondema outros tantcs projectos dos senhores do
"apartheid'.
Pretoria já instalou no sul da Namíbia campos de treino
( Ondangwa, Changwera, Kandu) pa-a os Ovambo anti-SWAPO.Estes campos vão acolher os rcruoradosangolanos.
Treinados po' oíiciais sul-africanos,peritos em contra-guerrilha, serão seguidamente helitransportadospara as antigas
zonas de influência da UNITA e para o território que corre
a o l o n g o d o c a m i n h o d e Í e r r o d e B e n q u e l a .M u i t o r a p i d a mente, estes novos "combatentes" da UNITA Írão passar à
acção directa conlra alvos ditos "estratógicos":ataques bombistas assolam o CFB, destroem os circu',.r comerciais e
as culturas alimentares, nomeadamentenas províncias de
H u a m b oe B i é .
Paralelamente, estes (novos terroristas> vão servir de
"guias" às Íorças sul-africanasque exercem o "direíto de
perseguiÇão"hâs ZoÍìâs fronteiriças em busca das bases da
SWAPO.
$avimbi poderá então reivindicar "brilhantes" vitórias:
o CFB deixou praticamente de funcionar, tendo perdido 20
t04 ESTUDOSMOÇAMBTCANOS
d a s s u a s 2 5 l o c o m o t i v a s " u l t r a - m o d e r n a s "( D i e s e l ) . A p r o dução alimentar, paralisada no que fora out:ora um celeiro
d o p a í s , d e i x o u d e f o r n e c e Ío s c e n t r o su r b a n o s . . .
Esta actividade de "terrcrismo selectivo', surpreende
desagradavelmenteo MPLA, que leva tempo a adaptar.se à
nova situação. É certo que as FAPLA, melhor equipadas,vão
responder,taco a taco, às incursões da contra-guerrilha,
mas
é uma "paciente,' ofensiva política - uma política de promoção e diálogo aberto com as populaçÕes,uma política que
e x c l u i t o d a e q u a l q u e rr e p r e s á l i aé t n i c a - q u e v a i a s s e g u r a r
ao MPLA nova vitoria scbre a UNITA.
Em fins de 1979, os camponeses,refugiadosnas Íronteiras,
vão regressarmassivamenteaos seus lares. Eles deixaramde
acreditarna UNITA.
E m p r i n c í p i o sd e 1 9 8 0 , o C F B r e í n i c i a l e n t a m e n t ea s u a
actividade, transportando os preciosos manganês zairota e
cob.e zambiano para o porte atlân.ico do Lobito. As previsões desta linha térrea para o ano de 1981 são excelentes
70 000 toneladas por mês. Em 1982, deverá alcançar
96 000 toneladas por mês
quer dizer, praticamente as
1 0 0 0 0 0t m d o s a n o s 1 9 7 3 1 7 4 .
Savimbi pa-ece ter perdido o apoio do
"seu,, poVo. Mas
d i s p õ e a i n d a d o a p o i o " r e s i d u a l " d a s p o p u l a ç õ e sd o s u l q u e
fhe permite fazer a partir de "bases,' situadas na Namíbia ocupada - incursÕese ataques isolados contra pequenas cidades inde'esas
uma €spécie de "terrorismo urbano)) contra os mesmos ovibundu e ovambo que pretendia
defender.
E n t r e í i n s d e J u l h o e m e a d o sd e O u t u b r o d e 1 9 8 0 ,a R S A
fançou 22 ataques contra o sur de Angola. os prejuízos causados por estes raides cif:'am-seem mais de 40 milhões de
libras esterlinas.
Que querem os sul-africanos?
Instalar a UNITA no interior do paÍs, antes que se
in iciem as conversaçõescom a swApo sobre o futuro da
Namíbia- confiou-nosLúcio Lara. secretário-Geraldo MpLA.
Quanto tempo irão poder manter aquela situação?
Com a Independênciada Namíbia,
. que devs estar 'para
b r e v e , a r e s p o s t an ã o p a r e c e d i f í c i l .
_- <Se ele (Savimbi) quer salvar a pele, aconsetho-oa ês.
colher a liberdade junto dos seus (patrões)), guer dizer, tora
da Namíbia". Talvez na África do sul porque- é <diÍícíl>
s e g u n d o n o s c o n f i d e n c i o uo P r e s i d e n t eS a m N u j o m a- d i s linguir os <bandidos da uNlrA das forças de ócupação do
nosso país>.