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SAVll Bl: ITINERARIO DE UftlA CONTRA.REVOLUCÃO Aquino de Brogqnço um homem "Savimbi é um enigma, em quem se podem colar muitos rótulos, bri,hante, 62y156{tico, aÍâ. vel, inflexível, generoso, contempo riza ar, nraquiavé.ico, oporlunista, Íalsamente nacionalista,marxista, p:ó.ocidental e sooialista". oSem ele, é duvidoso que ela A. B. ) Ía guerrilha da UNITA tivesss prosseguido>. .,Nas sociedades africanas é o cheÍe que tJirige o povo, disse o capitão Jaka Jamba ", Savimbi é o chefe. Se ele Íosse morto não sei o que aconteceria à UNITA'r. (Do livro de Leon Dosh, Sovimli 1977 compaign ogoinst the Cubons ond MPLA, Mungois Africon Librory Notes, ColiÍornio Instilut of Technclcgy, 1977). O itineráriode Jonas MalheiroSavimbi.com as suasva'riantes específicas, históricas é o de um homemem quemo imperiafismoconseguetazercoincidircompletamente o agente e o aliadopolítico.No entanto,o interesse de umaleiturada prá personagem, tica passadae presentedestecontroverso não reside apenasnaquelaconstatação teórica.De facto,hoje,e segundotodasas indicações, tantoa UNITAcomoo seu lídermeramenteemprestamo nomea uma das frentesde intervenção político-militar da ÁÍricado Sul nos Estadosindependentes da África Austral. Assim,o processoSavimbiconstituina realidadeponto para a análiseda actualestrategia de reÍerênciafundamental de guerracontra-revolucionária "total" concebidapor P;etória ;.t Porto-voz do UNIïA'em Luondo opós o 25 de,Abril de Ì974. A:udonte do compo do Presidente do UNITA. Segundo o Expresso, troto-se de um ontigo furriel que desertou do exército português em 16 de Junho de 1960, chomodo Evoristo Ecolelo. Foi tombém o elemento de ligoçõo dq UNITA com o director do PIDE/DGS no Luso, António Rolim. Est. lúoç. (2) l98l: 87-ì04. 88 ESTUOOSMOçAMBTCANOS linhasde Íorçatan' Estacompreenderia Farao subcontinente. como, uma vez mais, o de' to quantopossívelinterligadas, monstramos elementosconcrelosvindos a lume no <ccâso> Savimbi:recobri'ros processosinternosde lutasde classedos paísesvizinhoscom conflitoscriadosartiÍicialrnente, por Íorma a criar maior campo de manobraàs íorçasantigovernamentais - a chamada"reactivação elevaltal fase da luia étr.ica,,; de classes,assim distorcida,ao estágiode (gue"racivii con - intervençãode unidadestreinauase tra-revolucionária,' recrutadassob um ponto 6s vista étnico actuandoem nome de uma organizaçãoinstrumentalirada de fachada<nacronalista" já existentee propícia,ou, se necessário, a criar. À medidaque a questãoda independência da Namíbia entrana sua faseÍinal,Pretóriatem vindoa acelerara integ:a Tais unida ção da UNITAem unidadesmilitaressul-africanas. des destinar-se-ão a prosseguira tentativade desestabilização de Angolae, simultaneamente, a policiaruma Íutura Namíbia independente. Torna-seportantoevidenteque a estratégiada para Angolaé decididaactualmente contra-revolução em Pretória e não mais no interiordaqueleterritório. Sendoo maís notório,o caso de Angola,repetimos,não é o único.Duranteo ano passadodiversasforamas intervenembora- que a RSA ções - menosgravese prolongadas eÍectuouna Zãmbia,em apoio a Íorças anti-Kaundae antr-UNIP. Em Janeiro, aquando do seu regresso de Salisbúria após a assinaturade um acordo de coope:açãono domínro da Segurança, o titularmoçambicano destapasta,Majcr-General Jacinto Veloso,não deixou dúvidasquantoà localização geográficada central cont-a-revolucionária do subcontinente. que mantiveracum as Velosoafirmouque nas conversações ambas âs partes haviam consta auto'.idadeszimbabweanas, tado ,.que a maior Íonte de planeamento,promoção e apoio das ameaças,ataquese subversãocontra a RepúblicaPopular de Moçambiquee contra a Repúblicado Zimbabwe,é o regime racista e de 'apartheid'da ÁÍrica do Sub'. Com efeito,e à data em que escrevemos estaslinhas,cinnegrosestãoa ser políticae tecnico mil soldadosrodesianos na camentetreinadospela RSA em camposespecializadcs situados no Transval.Destina-seesta "contra-insurreição" operaçãoa uma eventualacçãoem auxíliode fo'ças anti-ZANU. Os soldados- pertencentes anteriormente às forçasmilitares SAVIMBI 89 do bispo Muzorewa- são quase todos de etnia Ndebele,e Íorneceriaim corpo a distúrbiose levantamentos aparsntsnrer,te "é'nicos,,no interiordo Zimbabwe. por out-o lado, e atravésda piisão de Em Moçambique, membrospertencentes à auto-entitulada Moçambi"Resistência câoâ,>,soube-seque antigos colaboradores do colonialrsnro português,taís como "Flechas',e GE's,bem como reaogioná. rios nacionaisestãoa ser enquadrados para apoiartrelnomi litar em basesque se situamtambémno Transval. T:'ata-se,effi todos estescasos,de exércitosde soldedcls neg,ros,di-igidose instruídospor altos-comandos de oÍiciais sul-africanos brancos,peritosem "contra-insurreição". A Africa do Sul faz pois todosos possíveisparaque a sua intervenção directa a nível militar nos Estadosindependentes da Álrica Australseja convenientemente camuÍlada.lsto para evitara repetiçãodos catastróiicos políticose militaresque resultados lhe trouxea invasãode Angola. No seio desta estratégia,Savimbié Íinalmenteum prototipo de pião mais conseguido, dado o seu carismarnc,i;vidual que pelo rnenosoutro"aa UN|TA e uma relativaimplantaç'ão possuiuno Sul angolano.Ao analisarmos em relrospectiva e ao actualízarmos o ..processo,'do presidenteda UNIfA numa altu,raem que a organizaçãopareceter reencontrado certo apoio junto da nova Administ-ação norte-ameri:arra poderemos situare antevera movimentação cieagentese orgaque o .apar nizaç:6ss similaresnos focos de contra-revolução theid" pretendeconsolidare ver vi:oriososnumaÁfricaAustral submetida à sua egidee domínio. A FASEPÓS.25DE ABRIL: À PROCURADA CREDIBILIDADE PERDIDA O golpe de Estadodo 25 de Abril de 1974 derrubao regimede Caetanoe os novosdetentoresdo pode:'anunciam a decisãode iniciar o processods descolonizaçâo dos seus territóriosdo uliramar A Juntade generaisque dirige o Paíspublica,a 29 de Abril, os seus primeircsdecretos.No mesmodia, o general Antóniode Spínola,que presideà "Juntade SalvaçãoNacional',, recebeos dirigentesdos partidospolíticcs,em particular os representantes do MovimentoDemocráticoPortuguês (M.D.P.)que agrupasimpatizan'es comunistase cató. licos progressistas. O encontro,que dura quaseduas horas, 90 ESTUDOSMOÇAMBICANOS é classificadode <cordlab,('). Há acordo (quase total" no que respeitaa (questões internas>.Spínolaempenha'seem do aparelho Íascista> (') do acelerar o adesmantelamento Estadoportuguês. Em troca, surge um desacordosob'e a questãocolonial. dos partidospolíticos- no' Enquantoos representantes - são favoráveisr<âo meadamenteos católicosprogressistas cessar{ogo imediato e ao início de conversaçõescom os movlmentosde libertaçãonaclonal" ('), Spínolaaceitao prin' é preciso cípio da autodeterminação, mas é do parecer rrQUê não conÍundir autodetermlnaçãocom independênclau(') . Assim, sugerea necessidadede apÍâZospaÍa preparaÍessa autodelerminação>. Sem tal preparação,insiste,a autodete\rminaçãopretendida<não terá qualquersigniÍicado>('). Nestesentidoafirmaaindao chefe da Junta que os po. vos da ÁÍrica portuguesaterão duas alternativas: 1 - Manter ligaçõescom Portugal,talvez do tipo fede' ração.Este resultadosignifica'ia, segundoSpínola,que a sua políticatinha sido iusta e bem sucedida. 2 - Escolhera independência total. Esta opção signiÍicaria,pelo contrá-io,o malogroda políticaÇus pensaseguir, e, portanto,o seu eventualabandonodo cargo. Spínolapropõeque <a partir do presentêuo sêu projec' por um compromelimento solenêrda junta to fique r<garantido militare das Íormaçõespolíticaschamadas a governaro país. Enquantoo generalSpínolaprocuraconquistarcom as suas teses Íederalistasos dirigen:,es "antifascistas"na metrópole,o númerodois da Junta,o generalCostsGomes,Íará em princípiosde Maio uma dig-essãoaÍricanapara apalpar terreno e tazer aplicar projectosfederalístasque constituem (a soluçãoque melhorsatisÍazian, seguÍìdoaÍirmâ,(os sonhos da minha fuventude(u). De regressoa Lisboa, no entanto,nâo esconde o seu e de cepticismosobre o futuro (português"da Guiné-Bissau M'oçambiqueaonde a situação se deterlorou politicamente, (l) Le Monde, 2 de Moio de 1974. (21 ibid. (3) Comunícodo do Portido Sociolisto Português publicodo o 29 de Abril de 1974. (4) Entrevisto concedido oo outor do presente ortigo pelo Prof. Pereiro de Mouro, dirigente do MDP/CDE Pereiro de Mouro, cotólico progressisto, indigitodo pelo MFA porá cheÍior o I Governo Provisório português, virio no entonto q ser reieitodo por Spínolo. (5) ibid. (6) Costo Gomes, Sobre Portugol, Diólogos com Alexondre Monuel, Ed. Regro do 1979), pos. 38. Jogo (Lisboo- sAvlMBr91 economicamente e militarmehter(?). Por outro lado está seguro de gue <Angolapernnanecerá portuguesa...e multirra. cial ('). Para concretizaros seus (projectos luso-africanos'), a para Angola. Junta escolheuum novo Comandante.em-Chefe Trata-sedo general Franco Pinheiro,que possui bastante conhecimento do terreno e passapor ser um dos melhores peritos da (contra-subversão" ('). Ele recebedirectivasprecisas de costa Gomes:(prosseguiro combatecontta as guerrilhas que não aceitemo cessar-Íogoe não se apresentem como partidospolíticosdentroda legalidader('o)portuguesa condiçãopréviapara que se inicie o processodo reÍerendo. Aliás, o CheÍedo Estado-Maior Generaldo Exércitoportuguês tem boas razõespara se mostraroptimists- a ope' ração "pacificaÇão"começoubem. A 28 de Abril - apenastrês dias depoisdo derrubede Caetano o Dr. Jonas MalheiroSavimbi,presidenteda União Nacional para a IndependênciaTotal de Angola (UNITA),encontrou-se, alguresno Moxico,com um enviado da Políciade Informação padre Militar (PlM) - o Reverendo Antoniode AraújoOliveira(") - a quemfaz saber que está pronto a renovaros seus laços com Lisboa,medianteo Íeconhecimentopúblico do seu movimenlo. O generalFrancoPinheiromands grâvâpem Íita magné. tica e difundirpela RádioNacional(Luanda)as declarações do dirigentenacionalist6que prega então (uma descolonização progressiva,porque o Povo angolanonão está preparado para a independêncla>... Savimbidâ a entenderque poderáapoiaros projectos "federalistas"de Spínola. O presidenteda UNITA,que se reivindicavaoutro:'ade um (maÍxismo anti.revisionista> (12)puro e duro, abandonou publicamenteas velhasvestimentasde Mao e os projectos de uma "RepúblicaNegra e Socialista"para Angola.Ele es_(7) Henri Komn, corrêspondente em Nompulo do New York Tlmes, ò doto de 13 de Moio de 1974. (8) Entrevisto oo ïo the Point, semonório sul-ofricono, em 24 de Moio de 1975. (9) Joõo Fronco Pinheiro, Noturezo e fundomentos do guerro subyerslvo, Estudos de Ciêncios PoÍíticos e Sociois, Lisboo, 1963. (ìO) Conferêncio de lmprenso concedido por Costo Gomes em Luondo, Diório de Notícfos, 5 de Mqio de 1974. (ll) Diórlo de Luondo, 29 de Abril de ì974. (12) Corto oo Monde Diplomotlque (nõo publicodo). Anos mois torde: A luto em o ÁÍrlco Angolo é entre dois lodos: o ldeologio do morxisms 6flsnho ç 3 in{3. pendêncio nocionol de Houphouet Boigny, Senghor, Koundo e todo o sobedorls dor cheÍcr do Áírico do Sul, tribcls. (Sovimbi : entrevisto conduzido por Dominique de Roux, Cltlrn 16/tt /76.t. 92 ESTUDOSMOÇAMBICANOS força.se âg0Í6 por surgir como um homem de Estado de cre' dibilidade,dado euê "moderado))e capaz de governar o país. A sábia operação montada pelos serviços especiais do e x é r c i t o ( D G S / P l M ) s u r p r e e n d e ua g r a d a v e l m e n t eo g r o s s o d a c o m u n i d a d e d e < p e q u e n o sb r a n c o s " ( m a i s d e 5 0 0 0 0 0 ) , traumatizado pela queda inesperadado Governo da metropole e fe:ozmente oposta acs projectos "ÍÌÌâÍXistas"do MPLA. Eis um ((negro>sábio, pensam eles, em quem se pode c o n f i a r .S a v i m b i ,c u j o n o m e s ó e r a c o n h e c i d o p o r a l g u n s i n i ciados, torna-se,num abrir e fechar de olhos, uma lenda, "o arauto da paz", capaz de lhes dar um novo destino. Spínola e os seus generais ganharamo primeiro assalto. Eles desejavam antes cie mais <parar a avafancha de retornacios" seus "irmãos,' de Moçambique, regressar a Portugal, abandonando armas e bagagens. A Junta pensa ter encontrado em Savimbi o homem da situação, aberto ao diâlogo com essa quarta etnaa(que man. tém com a metrópole laços de aÍectlvidade s identidade que todo o Governo português responsável deve ter em conta e rêspeitar> ("). Es:e, aliás, o único ponto sobre o qual estão de acordo a esquerda militar do MFA, os velhos generais "fascistas" e os m i n i s t r o s" c i v i s " d o n o v o r e g i m e . Alguns dias mais tarde - a 14 de Junho de 1974- as Forças Armadas Portuguesasassinarãono Moxico um cessar-fogo general Franco Pi"oÍicial". O Comandante'em-CheÍe, nheiro, deslocou-sena véspera a Lisboa. onde recebeu pessoalmer,tede Spínola a "luz-verde" para a operação.Tratava-se, na boa logica das coisas, de dar a Jonas Malheiro Savimbi uma "credibilidade" que lhe faltava no plano nacional... e internacional. O general Silvino Silvério Marques, nomeads Governador-Geral de Angola para esse período de transição,afastará toda a hipótese de <dlálogo com aqueles que recusam o diá. logo e condenam o reÍerendo>. Para este velho seguidor do lmpário que governouAngola a Íerro e Íogo sob o consulado de Salazar, no início dos anos 60, .,a evolução não comunis' ta (leia-se sem o MPLA) do antigo ultramar é possível e até natural'r ("). Ê para a UNITA gue se irão muito naturalmente (13) Almeido Sontos, cntrevisto concedido oo semonório Expresso, princípios de Outubro de 1974. ( 1 4 ) S i l v i n o S i l v é r i o M o r q u e i , P o r t u g o l : c ogoro?, Edições do Templo, Lisboo 1978, pós.179. SAVIMBI 93 Savimbié chamadoa participar(") no virar as esperanças... governoque SilvérioMarquesnão te"á tempo de Íormar,iâ que entretantoo MFA em Angolaexigee obtéma sua partida da colónia. RETROSPECTIVA SOBREUM PASSADO NÃO MUITOLONGINQUO A Frentede Leste,abertapelo MPLAem Março de 1966, na Provínciade Moxico,Íronteiriçada Repúblicada Zâmbia, para o intealastra.se,no Íinal dos anos 1960,rapidameni,e rior do país.O MPLAprepara-sêpar6 atravessaro granderio Kwanza.A sua meta é o rico planaltocentraldo Bié, região densamentepovoadaque constituiuo celeirode Angola.Nos círcutos niilitaresde Lisboa,inquietos,(prevê-separa breve a chegadado MPLA para o rrêÍll ('u) (Atlântico). Em 1970 os guerrilheirosultrapassam em 60 por cento as acções combativasdo ano precedente,do que resultou num acréscimode 25 por cento de baixas no Exércitopor' t u g u ê s( " ) . Esta progressãorápidada guerrilhaconstituiuma séria ameaçapara a dominaçãocolonial;tanto mais que a esmagado a maioriado exércitoportuguêsnão se sente "motivarrâ da,, para combatero inimigo,pois não se ident"'câ GorTt transcendenteimportânciadesta cruzada nacional,',como se afirma num relatorioenviadoa Lisboapelo generalJoão de AlmeidaViana,Comandante-em-Chefe das forçasde ocupação. Como evitar a derrocada?Marcelo CaetanoÍará apelo a FranciscoCostaGomes,generalpoucoortodoxo,que jâ participou,em princípios de 1961,num golpede Estadopalaciano para derrubar Salazare gue já expressou,por diversasocasiões,o seu desacordosobre a forma como estãoa ser conduzidasas guer:asafricanasde Portugal.O novo Comandante-em-Cheíedas forças armadasem Angola,é partidáriode longa data de uma (guefra total)rcont's os insurrectos,devendo as operaçõesmilitaresser apenas(um dos múltiptos Íactores para combatero inimigo, ("). O gene:al é um homem culto. A guerrado Vietnamee a Argélia não lhe são estranhas. Assim,ele vâi utilizar,na boa tradiçãoda contraguerrilha,meios extramilitares:os desÍolhantes(") que vão destruirparte significativadas culturasalimentares- sobre. ( l5) (16) ( l7) ibid. póq. 139. Costo G;mes, op. cit., p6g. 32. Gerold Bender, Journcl or Comporotive Polilics, lV, n.o 3, 1912. 1t8) Entrevisto ò revisto ongclono Prismo, Abril de ì97 1. (19) Inquérito reolizodo pelc respcnsóvel dos SAM do MPLA, dr. Eduordo <los Sontos, em 197 l. ConÍirmodo pelc Consulodo norle-omericono em Luqndo ò doto. 94 ESTUDOSMOÇAMBTCANOS tudo a mandioca - alimento-basedos angolanosque vivem n a s z o n a s s e m i l i b e r t a d a se, q u e o s o b r i g s a p r o c u r a r r e Í ú gio na Zãmbia. Estas medidas serão acompanlradase reforçadas pela reactivação da contra-subversão, coo:denadaaté a altura pel o s s e : v i ç o s d a D G S d i r i g i d o sp e l o s i n i s t r o D r . S ã o J o s é L o . pes, seu "amigo" Ín.imode longa data. Este vai pôr a disposição de Costa Gomes um precioso "dossier" de cartas, c l a s s i Í i c a d a ss o b a r u b r i c a ( m u i t o s e c r e t o " e d e n o m i n a d a s <Operação Madeira> (<cAssunto:UNITA - possivel recupeÍação dos seus êlementosu). Com efeito, a DGS mantém, desde 1968/69, relações " m u i t o e s p e c i a i s " c o m u m o u t r o a g r u p a m e n t od e g u e " r i l h a q u e a c t u a e m A n g o l a d e s d e 1 9 6 5 :a U N I T A d o D r . J o n a s M a l h e i r o S a v i m b i . E s t e ú l t i m o a b a n d o n o ue m J u l h o d e 1 9 6 4 , j u n t a m e n t ec o m o s s ê u s "amigos",a FNLA de HoldenRoberto, acusando-o publicamentede ser um "tribalista" Bakongo " i n e Í i c a z >a o s e r v i ç o d o i m p e r i a l i s m oa m e r i c a n o ,i n c a p a zp o r isso de desenvolver um comba.e autêntico para libertar o país. Ele aproxima-sedepois do MPLA com o proposite de i n t e g r a r o s e u g r u p o d e d i s s i d e n t e sÍ ì a o r g a n i z a ç ã od i r i g i d a pelo Dr. Agostinho Neto. As negociações,no entanto,falham, j â q u e S a v i m b i e x i g e u m a c o m p a r t i c i p a ç ã on a d i r e c ç ã o d o movimento, pretendendo-serepresentantedas populações do Centro-Suldo territorio- nomeadamenteos Ovimbundu,que c o n s t i t u e ma m a i o r e t n i 6 a n g o l a n a ,c o m m a i s d e d o i s m i l h õ e s condição que o MPLA recusa categoricamenteacei.ar. Savimbi vai então criar, com o apoio dos refugiados angolanos na Zàmbia, a sus própria o-ganização- a UNITA e ultrapassaro MPLA, abrindo uma Írente no Leste angolano. Bastante mal equipado em armamento,não disÉondode uma base de apoio de retaguarda- o PresidenteKaunda recusa apoiá-lo o combate da UNITA contra o ooupante, nessa vasta região semidesértica,vai estagnar, após algumas acções espectacula:es.Entretanto o MPLA, que preparou pacientemente o seu projecto, taz rápidos progressos.As duas organizaçõesnão se entendem uma com a outra e vão afrontar-se, de armas ns ffião, num combate desigual que marginalizarâ os homens da UNITA. Estes últimos sobreviverão graças ao apoio discreto que lhes concede a DGS, que se deu pe:'Íeitamenteconta de que <a UNITA tem mals ódio ao MPLA do que aos portuguesêsu (*) e poderia portanto ser (20ì Silvo Cunho, O Ultromor, Coimbro, 1977. o noçõo e o r25 de Abrib, Atlôntido Editoro, SAVIMBI 95 um (aliado objec'-lvol contra o inimigo comum, o movimento l i d e r a d o p e l o D r . A g o s t i n h oN e t o . São José Lopes, entretanto,transmite regularmente as suas informaçõesaos seus superioreshierárquicosem Lisboa. O a s s u n t o é s e g u i d o c o m m u i t o i n t e r e s s ep e l o p r ó p r i o C a e t a n o .( " ) S a v i m b if e z s a b e r n u m a d a s S U â sú l t i m a sc o m u ' nicacões que está de acordo com os projectos "reÍormistas" do Primeiro-Ministroe que prevêem uma autonomia progres. siva para os territÓriosuliramarinos,dentro do respeito pela soberania portuguesa.O dirigente da UNITA recusa no en' tanto a classificaÇãode um "vulgar colaborador". Deseja para si um (estatuto especial", <logo gue o MPLA seja ellmlnado> da cena política angolana. Para Costa Gomes, portanto, esta questão surge como prioritária.Ele vai encarregaro seu adjunte e excelente "operaoional", o general de brigada Bettencourt Rodrigues, de <reinlciar os contactos com a UNITAn e coordenar com esta última a luta contra o inimigs coÍïÌuÍÌìie MPLA. Um acordo "secreto,,será assinadoem meados de 1971, após troca de correspondênciae contactos com Savimbi e seus emissários, e que aconsêguirá a suspensão de operaÇões militares> (") tendo em vista (encontrar uma sol,ução definitlva dentro do espírlto das propostas Íeltas por Gaetano> ("). As duas partes - a UNITA e as Forças Armadas portuguesas - puderam constatarque (o MPLA era o principal obstáculo à paz, não só no Leste, mas em todo o territórlo de Angola> (*). Em consequência, afirmava o dirigente da uNlrA. o (enÍraquecimento até à liquldação das Íorças do MPLA no lnterlor de Angola> era uma tarefa prioritária que deveria rsêÍ levada a cabo pelos esÍorços conjugados das Força5 Armadas portuguesas e da UNITA>. Assim, 1 -As a) Forças Armadas portuguesas: autorizavama UNITAa mantersob seu contrôle a região do Alto Lungué-Bungo, situadanos arredoresde Luso: (21) Morcelo Coetono. O 25 de Abril e o Ultromor, três entrevlstos documentos, Verbo, Lisboo, 1976. 122) Costo Gomes, op. cit, póS. :2. (23) frpresso de 17/ll/79, 24/ll/79, 30/ll/79. Corto de Sovimbi oo generol Luz Cunho, de 26 de Setembro l24l pelo Publicodo revisto AÍrique-Asie de 3-21 de Julho de 1974. s olgonr de 1972. s6 ESTUDOSMOÇAMBTCANOS b) c o m p r o m e t i a m - s ee m p r o t e g e r e s t a " b o l s a " d a UNITA e de < a manter aÍastada da guerra)', Íaum esÍo:ço para promozendo simultaneamente v e r o b e m - e s t a r d a s s u a s p o p u l a ç Õ e sn a t i v a s ( ajuda alimentar, medicamentos,material escolar. etc.). 2 - A UNITA comprometia-sea; a) fornecer âs forças armadasde ocupação (guias>' para acções coniuntas num sector previamente d e fi n i d o : b) "activar,, as suas células no exterior para press i o n a r o s G o v e r n o sa f r i c a n o s- n o m e a d a m e n t e a Zàmbia - a modificar â suâ política no que respeita a Portugal. A ( r e c u p e r a ç ã o "d e J o n a s S a v i m b i e o " i n v e s t i m e n t o " da UNITA no combate contra o MPLA constituíramfeito b:'ilhante dos estrategasportuguesesda contraguerrilha.A "neut r a l i z a ç ã o " d o s s a n t u á r i o sd o s g u e r r i l h e i r o sn o s p a í s e s v i z i n h o s e r a p a r a e l e s c o n d i ç ã o n e c e s s á r i ap a r a v e n c e r o Movimento de Libertação. Nesta ordem de ideias, âs presem 1973,as suas sões da UNITA levariama Zàmbia a <<rever)), p o s i ç õ e s d e a p o i o l o g í s t i c oa o M P L A . T u d o p a r e c i a p o r t a n t oi r " d e v e n t o e m p o p a > e m A n g o l a q u a n d o o g o l p e d e E s t a d od o 2 5 d e A b r i l d e r r u b o u o r e g i m e do Dr. Marcelo Caetano" REGRESSANDOÀ I.JNITA única organização reconhecida pelas autoridades colon i a i s a p ó s a q u e d a d e C a e t a n o ,a U N I T A t i n h a e n c o n t r a d o rapidamente uÍÌÌa abertura na comunidade dos brancos que p u s e r a m à s u a d i s p o s i ç ã o s u b s i a n c i a i sm e i o s f i n a n c e i r o s . O o b j e c t i v o i m e d i a t o d e J o n a s S a v i m b i e r a , n o e n t a n t o ,c o n seguir implantaçãojunto dos negros ao Sul do rio Kwanza, n a z o n a é t n i c a O v i m b u n d u ,j a m a i s t o c a d a p e l a g u e r r i l h a . Em fins de Julho,os jovenscapitãesdo MFA tinham já retomado a iniciativa em Lisboa e forçado Spínola a aceitar o p r i n c í p i od e n e g o c i a ç õ e sd i r e c t a s c o m a q u e l e s q u e t i n h a m combatido o ocupantede armas na mão - a FNLA de Holden Roberto e o MPLA do Dr. Agostinho Neto. SAVIMBI97 O vice-almiranteRosa Coutinho, uffi dos membros da Junta, foi chamado a controlar 4 situação em Angola, que se degradava.perigosâÍïÌêoteapós a aparição de organizações clandestinase a:madas dos colonos brancos. Com efeito, graves afrontamentos tinham oposto, em L u a n d a ,e s t e s " u l t r a s " , p a r t i d á r i o sd e u m a i n d e p e r , d ê n c i ad e tipo rodesiano, à população negra dos musseques. Apoiado pelos jovens do MFA e com o reiorço de unidades militares metropolitanasde toda a conÍiança, Rosa C o u t i n h oi r i a n e u t r a l i z a rr a p i d a m e n t eo s ( n o v o s s u b v e ' s i V o s > ' , vibrando o golpe final Íìos seus projectos de institucionalizar um "poder branco" em Angola. Para o Alto Comissárioportuguês,o perigo que ameaçava a partir de então o Drocessode uma "descolonizaçãopacífica" centrava-seem torno das ambiguidadese ambições expansionistasdo Zaire de Mobutu - de que a FNLA era, pura e simplesmente,o braço armado. Era necessário portanto (recuperâÍ e angolanizãÍt>(") a FNLA, levando-aa constituir uma frente comum com os outros dois movimentos,para discutir com Portugal,sem qualquer parte inte:posta, as modalidades de transferência do poder. Rosa Coutinho iria então (encoraiar,ro carismático Jon a s S a v i m b ia s e r v i r d e l i g a ç ã o e n t r e i r m ã o s i n i m i g o s .S a v i m bi estava perfeitamenteciente de Que uma confrontaçãomilitar com os seus rivais - MPLA e FNLA - melhor armados que a UNITA, não o poderia ajudar a consolidar as suas posições. O presidenteda UNITA deslocou-sea Kinshasapara convencer o Chefe de Estado zairor,ada sua "boa fé", e assinou com o <protegido" daquele, Holden Roberto, um acordo i de paz. Rosa Coutinho encarregou-sea si próprio de (<empu'rar,, o M P L A - q u e m u i t o " â j u d o u , ,a s a i r d o i s o l a m e n t o- p a r a se (entender" com a UNITA. Para o Alto Comissárioo acordo com esta organizaçãoera o <mínimo>necessário para tazer (arrancar o processo de descolonização em AngolaD, Apoiado neste seu sucesso, Savimbi vai então apelar (reconpara os bons ofícios do "sábio" Kenyatta,para lazer ciliar" Holden Roberto com o Dr. Agostinho Neto. Um acordo firmado em Mombaça reconheceriaos três movimentos nacionalistascomo "únicos e legítimos repre(251 Decloroções prestodos por Roeo Coutinho, out'or do presente ortigo. nos vésperos do suo nomeoçõo, oo 98 ESTUDOSMOÇAMBICANOS em sentantesdo Povo angolano". Uma semana depois Janeiro de 1975 - iniciam-seem Alvor as negociações com Portugal. constituído Um governo de t:ansição quadripartido pela UNITA. a FNLA e o MPLA com representantesmetropolitanos - deveria organizar- no espaço de um ano - elei' ções para escolha de uma AssembleiaConstituinte. J o n a s M a l h e i r o S a v i m b it i n h a g a n h o u m s e g u n d o" r o u n d " e esperava consolidâ:'âs suas posiçÕes, tanto mais que o grosso da população branca se tinha juntado, imediatamente a seguir a Alvor, à UNITA. Por outro lado, sondagens eíectuadas por diversos observadoresdavam a es.a formação a maioria dos votos, (40 a 45 por cento), ÍìuÍns eventualeleição. Tal resultado era no entanto inaceitávelpara o MPLA, (35 a 40 por cento dos votos), que desde a sua fundação tinha definido a sua linha política em termos <anti-sistémicosn (anti-imperialistae antitribal). O projecto "federalista" da U N I T A i r i a c o n s o l i d À ra h e g e m o n i ad o s O v i m b u n d ue a m e a çava a unidade do país. Para a FNLA, (menos de 20 por cento dos votos), formação tribalistapor excelência, (possuia o apoio da minoria "Bakongo"), dispondode um exé-cito muito melhor equipado que os guerrilheirosdo MPLA e da UNITA.estava Íora de questão aceitar as regras do jogo eleitoral. Como sair do impasse? Agostinho Neto propunha renunciar "provisoriamente"ao , iogo eleitoral que opunha as partes rivais.A UNITA, o MPLA e a FNLA deveriam apresentar-secom (um programa comum mínimo>, tendo em vista a consolidação da independênciae da unidade do país. Holden Roberto,que queria goverÍìârsêÍn partifha,tinha já ocupado apoiado pelo exército do Zaire e com a complacênciade oficiais "ultras" do exército portu' guês - o norte de Angola. Ele iria desencadear- enquanto a sus câÍÌìpanhaeleitoral ia iâ no seu auge - uma operação armada para expulsar o seu velho rival - o MPLA - da capital. A UNITA que se mantinha"neutra" em Luanda, prepara' va-se abertamente para passar à acção directa contra o M P L A - n o C e n t r o - S u ld o t e r r i t ó r i o- q u e t i n h a c o n s e g u i d o minar a sua solidariedadeétnica, tendo constituído células de militantes activos nos cêÍìlÍos urbanos "Ovimbundu,,. A s s i m n ã o h a v i a j á q u a l q u e rp o s s i b i l i d a d eC e s e c h e g a r a um acordo pacífico. A partir de então, o recurso às armas e as novas alianças extra-africanasÍicaram na ordem do dia. SAVIMBI 99 que o Governode Lisboa,enfra' Savimbicompreendeu quecidopor lutasantestinas e debilitadopelo esÍorçode gueros ra, jâ,não estavaem condiçoesde e ajudara materializar seus projectos. tinha feito há muito a A administração norte-americana sua escolhasob:e a pessoa de HoldenRoberto.Auxiliaro presidente da FNLA,segundotinhaíeito valera ClA,permitiria instalarem Angola <,omais estável e mais seguÍo dos govêÍÍloSn('o). A China Popular tentou lazer chegar à UNITA um contingente substancial de armas, Ínâs este acabaria por Íicar blo' queado em Dar-es-Salaam. Mas Savimbi pensa já ter encontrado a solução. Muito antes de Alvor, tinha efectuadoaberturasdiscrelas a Preto.ia. R e c e b e n d o o c o - r e s p o n d e n t ee m L u a n d a d o q u o t i d i a n o sul-africano ..Star,,, ele saudou calorosamenteVorstep <homem responsável,,,e tomou posição (contra a luta armada para libertar a RocÍésiae a Namibia,r,pâÍâ concluir que (será realista para Angola cooperar com a ÁÍrica do Sul, mesmo se nós nos opomos ao iniquo apartheidn ("). A tomada de posição do líder da UNITA - sobretudono q u e r e s p e i t aà N a m í b i a- c o n s t i t u i uu m a c o n c e s s â ed e v u l t o p o r p a r t e d e u m d i r i g e n t ed e u m a Í o r m a ç ã o ( U N I ï A ) q u e e r a , até à véspera do 25 de Abril, um aliado "historico" da swAPo("). Apos o golpe de Estado em Portugal,a África do Sul re' cebeu dos governantesde Lisboâ çâ garantiada sua boa vontadeD (z'). Por seu turno, Pretoris comprom€te-seem não interÍerir atìos assuntos internos de Angolar, (*) mas, em Se' tembro de 1975, o exército sul-africanopeneira uma dezena de quilometros adentro daquele territorio, para (proteger)), s e g u n d o a f i r m a , a b a r r a g e md e C a l u e q u é ( n o r i o C u n e n e ) que alimenta em água, há cerca de seis meses, a Namíbia. Contudo, o Governo sul-africanoainda não se decidiu a intervir ( massivamente)gara impor um (Estado-tampão" não hostil aos seus projectos namíbios - que deseja ver instalado em Luanda. (26) Roger Dovis, The proxy wor in Angolo: blic, (EUA), Joneiro de ì97 ì. Stor Weekly, 3 de Moio de 1975. l21l (28) Os Ovombo do NomÍbio o grupo loços étnicos muito Íortes opoio o SWAPO-montém (29]' Costo Gomes, entrevisto do semonório (30) Jornol Novo, 19 de Abril de 1975. Pothology of o Blunder, New Repu- étnico mois importonte em que se com os Cuongonos do Sul de Angolo. To the Point,24 de Moio de 1975. 100 ESTUDOSMOçAMBICANOS PORQUÊ A TNTERVENçÃO DA ÁFRICA DO SUL EM ANGOLA? Desta vez, o regime da RSA vai justificara sua intervenção como sendo um "gesto,' destinado a salvaguardaros trabalhadores "Ovambo" da barragem, que estariam <ameaçados" pela guerrilha da SWAPO.Entretanto,reafirmaoÍicialmenteaos novos governantes de Lisboa que não se intrometerá nos assuntos internos de Angola. Com efei.o, Pretoria ainda não decidiu se vai ou não i n t e r v i r m i l i t a r m e n t en a q u e s t ã o a n g o l a n a . . . Uma querela surda opõe, no seio do Gove-no do "apartheid", os partidáriosde uma intervençãodirecta aos que não receiam ver instaladoem Luanda - à imagem do Moçambium governo com parQUe "marxista,' de samora Machel ticipação do MPLA. Enquanto o Ministro da Defesa,P. K. Botha e o Comandante-em-Chefedas ForÇasArmadas, o general Magnus Malan, não escondem a sua vontaclede neutralizaras "bolsaso (bases) da SWAPOem Angola ("), o general Hendrik Van der Bergh - o poderoso "pairão" dos serviços de segurança (BOSS) e "ârguitecto" da política de <détente e diálogon advogadapelo Primeiro-Ministro John Vorster- opõe-se àquela política. Para isso, apoia-seno facto dos "Ovambo" angolanos terem feito saber,desde Maio de 1975,que não se submeteriam às novas autoridadesde Luanda. Assim, uma política hábil de Pretória poderia no enlender ds Van der Bergh levar à fo"mação de uma espécie de Bantuslão o - que englobaria os "Grooter Ovambo" (Grande Ovambo) Ovambo angolanos e namíbios e que serviria para travar as ambições da SWAPO. Esta era a posição que parecia "razoável" ao Primel'o-Ministro, calorcso partidário da política de abertura e dialogo com os Estados africanos "moderados". No entanto, os acontecimentosvão-se precipitar... e levar Vorster a mudar de opinião. Depois da derrota no Vietname,o Secretário de Estado Henry Kissinger não esconde que os Estados Unidos estão dispostosa demonstrara sua resoluçãoe vontade de resistir à "expansão soviética>'em todo o mundo. Por out"o lado está seguro - segundo se depreende das aÍirmações dos seus colaboradores e conÍidentes do Departamentode Estado J. H. P. SerÍontein, no seu importonte livro, Nomíbio?, Fokus Suid Publishers, 3l) 1976. Nesto obro o outor revelo pelo primeira vez os ontecedentes e os bostidores do conÍlito gue opôs Botho o Vqn der Bergh, SAVIMBI 1O' - de que (Breinev não sacriÍicará10 anos de 'détente' por um Estado-clienle êrl ÁÍrica> ("). Kissinger queria af astar - se necessáriopela Íorça da5 armas- o MPLA "pró'soviético" d.cs caminhos clo poder. No entanto, a maioria dos seus colaboradoresdo Departamentode Estadoe dos Senadores partidáriosde uma solução diplomática opõe-seà aventura. Que tazer?Kissinge:encontroua resposta:a República sul-aÍricanaé um país "amigo" cujos interesses estratégicos nessa zona de tempestadeque é a África Australnão são muito diÍerentesdos dos EstadosUnidos.Uma intervenção sul-africana"discreta", apoiada pela CIA e (caucionada" pelos "moderados"aÍricanosda OUA, seria suÍicientepara leia-seo MPLA em "eliminar"o abcessocomunista Angola. A operaçãonão é simples.Kissingerestá bem inÍormado sob:'ea África do Sul. Ele não ignorade forma algumaas posiçõesdo general Van der Bergh (as relaçõesCIA/BOSS são excelentes, a crer no que aÍirmaa bem informada"Newsweek" de 17 de Maio de 1976).Assim,Kissingervai encar"egar o general Brent Scowcroft,seu sucessorno Conselho Nacionalde Segurança(da Casa Branca),dê tomar conta desta questãodelicada. Os Serviços Secretosisraelitas(M,ossaad),bem colocâdos no interiorda pát'ia do "âpâÍtheid",serão chamados a substituir-se à ClA, demasiadocomprometida com a BOSS, para e'ectuaremos necessários"contactos".Vorstermostra-se "sensível"aog argumentosde KíssingeÍÍÌÌâ5aínda não está decididoa pôr termo ao debateque opõe o seu Ministro da DefesaBothaao velho gene'alVan der Bergh. Ê, nestaalturaque surge em ceÍìâo Presidente Mobutu que mantém,há longa data, relaçõesdiscretase frutuosas com Pretória. Jonas Savimbiencontrou-se, pouco antes,com o Chefe de Estado zairotapara pedir um auxílio consequentepara combatero MPLA, que recobrou forças. Mobutu,decidido já a intervirno norteangolanocom o seu exércitoem apoio da FNLA, recomenda-o aos seus (amigos" sul-africanos. O presiden'eda UNITA,que já se encontrouem Parls (Março de 1975) com emissáriosdo general sul-aÍricano Magnus Malan, deslocar-se-á(em princípiosde Setembro de 1975) a Ruptu,cidade"fronteiriça da Namíbia. (32) Revisto norte-omericonoTime de 22 de Joneiro de 1976. 102 ESTUDOSMOçAMBICANOS Nas suas conversaçõescom os colaboradorespróximos do Primeiro-Ministrosul-africano,Jonas Savimbi vai assegurá-los de que uma eventual intervençãosul-africanaem Ango. la ao lado da FNLA e da UNITA, será apoiada pelos Estados (mode-ados" da OUA, nomeadamer.ie o Zaire, a Zàmbia e a Costa do Marfim. (''') Seguro do apoio Que conta receber da AÍrica (modera' dâ,,, encorajado pelo (poderoso', Secretário de Estado americano, Vorsler dá luz-verdeao seu Ministro da Defesâ,PâÍâ este passar à acção directa em Angola. A intervenção do Presidente Mcbutu junto do Governo sul-aÍricanopara levar este último a apoiar a FNLA e a UNITA tinha sido <decisiva>.(") A 23 de Outubro de 1975, uma coluna motorizada de ce"ca de 1 000 a 1 500 homens vai penetrar no Sul angolano. U m a s e g u n d a c o l u n a e n t r a e m a c ç ã o a 1 5 d e N o v e m b r o c, o m o apoio aéreo de helicopteros"Alouette lll" e aviÕes,,Puma". Uma terceira coluna intervém em Dezembro. As tropas sul-aíricanasavanÇam ate 700 quilómetros no interior de Angola e "libertam') vastas zonas para aí instala. r e m o s s e u s " p r o t e g i d o s "d a U N I T A e d a F N L A . No Norte, "libertado" pelo exército zairola, a FNLA, apoiada por um grupo de mercenários portuguesesavança sobre a capital,Luanda. A 11 de Novembro - data prevista pelos Acordos de A l v o r - o M P L A p r o c l a m a s i n d e p e n d ê n c i ad o p a í s e a p e l a a Cuba socialistâ,gue semp"e apoiou este movimento.Fidel irâ em seguida organizar uma verdadeira ponte aérea para t r a n s p o r t a ru m c o r p o e x p e d i c i o n á r i od e m i l h a r e sd e h o m e n s . Eles irão refo-çar as FAPLA, gue conseguiram (pâÍâÍ,2 os invasores às portas da capital. Os sul-africanossão pos:os em debandada pelo pctencial de fogo dos carros T 54 e mísseis SAM-7 utilizadospelos seus adversários. Severamentg condenado pela opinião pública africana, - que no entantose tinha com. "esquecido" por Kissinger prometido em associar-sea esta aventu-a - Vorster decide, em princípios de Março de 1976, retirar âs suas tropas de Angola. Er:tretantocriticara vigorosamen:eos (seus" aliados americanos pela sua passividade e <cderrotisÍno)); complexo herdado da de:-rota no Vietname (") . Simultaneamente,a (33) Reveloções feitos oo lornol rofrikonerr pró-governomentol Ropport, o l5 de Fevereiro de 1976. (34) Fronz Wilhelm Heimer, Decolonizotion et légitimité politique en Angolo, Revue Fronçoise d'Études Politiques, n.'" ì26, Junho de 1976, pó9.65. (35) Jornql sul-ofriçono Stor, de 6 de Joneiro de 1973. SAVIMBI IO3 UNITA e a FNLA sofrem uma derrocada completa e praticamente desaparecem - Savimbi e seu estado-maiorrefugiam. - s e n a N a m í b i a- d a c ê Í ì s p o l í t i c aa n g o l a n a . Em I de Fevereiro de 1980, declararia Jonas Savimbi numa entrevista ao semanário português "O País":,.Uma guerrilha não pode existir em Angola, não pode sobreviver apenas com os apoios exiernos. É precisg que tenha algo de especíÍico, de próprio, de genuíno>. Os sul-africanos,entretanto, têm o dirigentg da UNITA em grande estima e não irão abandoná-lo. Jonas Savimbi dispõe ainda de alguns recursos: íncapazes de deter a ofensivadas FAPLA,os dirigentesda UNITA, que se tinham conseguídoímplantarnos altos planaltoo,€XoL tam as p,opulaçõesda zona a abandonar os seus lugares. A s s i m , m i l h a r e sd e c a m p o n e s e se n g a j a m - s en a g u e r r i l h an a s florestas pouco acessíveis,aguardandoum eventual regresso d o s s e u s l í d e r e s .S a v i m b i d i s p Õ e n o l o c a l d e u m c a m p o d e manobra não negligenciável,tanto mais que fez passar pelas armas os "assimilados,, ovibundu, suspeitos de simpa.ias com o MPLA. Será ele capaz de enquad"ar os camponeses,concedendo-lhes um novo sopro político? Poderá ele desestabilizar o regime "marxista" angolano? Serviráele, finalmente, de instrumento para a criaÇão de um Estado-tampãono Sul para travar a SWAPO? Eis as perguntasque se fazem e que co"respondema outros tantcs projectos dos senhores do "apartheid'. Pretoria já instalou no sul da Namíbia campos de treino ( Ondangwa, Changwera, Kandu) pa-a os Ovambo anti-SWAPO.Estes campos vão acolher os rcruoradosangolanos. Treinados po' oíiciais sul-africanos,peritos em contra-guerrilha, serão seguidamente helitransportadospara as antigas zonas de influência da UNITA e para o território que corre a o l o n g o d o c a m i n h o d e Í e r r o d e B e n q u e l a .M u i t o r a p i d a mente, estes novos "combatentes" da UNITA Írão passar à acção directa conlra alvos ditos "estratógicos":ataques bombistas assolam o CFB, destroem os circu',.r comerciais e as culturas alimentares, nomeadamentenas províncias de H u a m b oe B i é . Paralelamente, estes (novos terroristas> vão servir de "guias" às Íorças sul-africanasque exercem o "direíto de perseguiÇão"hâs ZoÍìâs fronteiriças em busca das bases da SWAPO. $avimbi poderá então reivindicar "brilhantes" vitórias: o CFB deixou praticamente de funcionar, tendo perdido 20 t04 ESTUDOSMOÇAMBTCANOS d a s s u a s 2 5 l o c o m o t i v a s " u l t r a - m o d e r n a s "( D i e s e l ) . A p r o dução alimentar, paralisada no que fora out:ora um celeiro d o p a í s , d e i x o u d e f o r n e c e Ío s c e n t r o su r b a n o s . . . Esta actividade de "terrcrismo selectivo', surpreende desagradavelmenteo MPLA, que leva tempo a adaptar.se à nova situação. É certo que as FAPLA, melhor equipadas,vão responder,taco a taco, às incursões da contra-guerrilha, mas é uma "paciente,' ofensiva política - uma política de promoção e diálogo aberto com as populaçÕes,uma política que e x c l u i t o d a e q u a l q u e rr e p r e s á l i aé t n i c a - q u e v a i a s s e g u r a r ao MPLA nova vitoria scbre a UNITA. Em fins de 1979, os camponeses,refugiadosnas Íronteiras, vão regressarmassivamenteaos seus lares. Eles deixaramde acreditarna UNITA. E m p r i n c í p i o sd e 1 9 8 0 , o C F B r e í n i c i a l e n t a m e n t ea s u a actividade, transportando os preciosos manganês zairota e cob.e zambiano para o porte atlân.ico do Lobito. As previsões desta linha térrea para o ano de 1981 são excelentes 70 000 toneladas por mês. Em 1982, deverá alcançar 96 000 toneladas por mês quer dizer, praticamente as 1 0 0 0 0 0t m d o s a n o s 1 9 7 3 1 7 4 . Savimbi pa-ece ter perdido o apoio do "seu,, poVo. Mas d i s p õ e a i n d a d o a p o i o " r e s i d u a l " d a s p o p u l a ç õ e sd o s u l q u e fhe permite fazer a partir de "bases,' situadas na Namíbia ocupada - incursÕese ataques isolados contra pequenas cidades inde'esas uma €spécie de "terrorismo urbano)) contra os mesmos ovibundu e ovambo que pretendia defender. E n t r e í i n s d e J u l h o e m e a d o sd e O u t u b r o d e 1 9 8 0 ,a R S A fançou 22 ataques contra o sur de Angola. os prejuízos causados por estes raides cif:'am-seem mais de 40 milhões de libras esterlinas. Que querem os sul-africanos? Instalar a UNITA no interior do paÍs, antes que se in iciem as conversaçõescom a swApo sobre o futuro da Namíbia- confiou-nosLúcio Lara. secretário-Geraldo MpLA. Quanto tempo irão poder manter aquela situação? Com a Independênciada Namíbia, . que devs estar 'para b r e v e , a r e s p o s t an ã o p a r e c e d i f í c i l . _- <Se ele (Savimbi) quer salvar a pele, aconsetho-oa ês. colher a liberdade junto dos seus (patrões)), guer dizer, tora da Namíbia". Talvez na África do sul porque- é <diÍícíl> s e g u n d o n o s c o n f i d e n c i o uo P r e s i d e n t eS a m N u j o m a- d i s linguir os <bandidos da uNlrA das forças de ócupação do nosso país>.