Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade -ICMM
Transcription
Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade -ICMM
Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Índice 1 Índice 1 Agradecimentos 4 Prefácio 5 SEÇÃO A: ANTECEDENTES E VISÃO GERAL 1. Introdução 1.1 Antecedentes 1.2 Biodiversidade e o seu valor 1.2.1 O que é biodiversidade? 1.2.2 Por que a biodiversidade é preciosa? 1.2.3 Importância para as operações de mineração 1.3 Por que as mineradoras precisam levar em conta a biodiversidade 1.4 A importância do engajamento dos interresados diretos 1.5 Escopo e estrutura das Diretrizes de Boas Práticas 1.5.1 Escopo 1.5.2 Estrutura 8 9 10 10 10 13 14 16 17 17 17 SEÇÃO B: GESTÃO DA BIODIVERSIDADE EM DIFERENTES ESTÁGIOS OPERACIONAIS 2. Integração da Biodiversidade ao Desenvolvimento do Projeto 2.1 Introdução 2.2 Exploração 2.2.1 Estágios primários de exploração 2.2.2 Perfuração de exploração 2.3 Estudos de pré-viabilidade e viabilidade 2.3.1 Estágio de pré-viabilidade 2.3.2 Estágio de viabilidade 2.4 Construção 2.4.1 Acesso para construção e infra-estrutura auxiliar 2.4.2 Limpeza de terreno e realocação 2.4.3 Infra-estrutura relacionada à construção 22 23 24 25 27 29 32 32 33 34 34 35 3. 3.1 3.2 3.3 36 37 38 39 39 41 42 Integração da Biodiversidade às Operações Introdução Infra-estrutura auxiliar: considerações operacionais Operações: mineração e processamento de minério e descarte de resíduos 3.3.1 Mineração e processamento de minério 3.3.2 Gestão de rejeitos 3.4 Oportunidades para proteção e incremento da biodiversidade Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Índice 2 Integração da Biodiversidade ao Planejamento de Implementação e Fechamento de Minas 4.1 Introdução 4.2 Planejamento do fechamento: Estabelecimento de objetivos e metas 4.3 Implementação do fechamento: Reabilitação e prevenção da poluição 4. SEÇÃO C: 44 45 46 49 SISTEMAS, FERRAMENTAS E PROCESSOS DE GESTÃO, AVALIAÇÃO, MITIGAÇÂO E REABILITAÇÃO 5. Sistemas de Gestão e Ferramentas de Avaliação 5.1 Introdução 5.2 Avaliações de Impacto Sócio-Ambiental 5.2.1 Introdução à estrutura da AISA 5.2.2 Triagem e escopo das questões de biodiversidade 5.2.3 Estudos de referência basal: quando, como e considerações práticas 5.2.4 Avaliação da importância da biodiversidade 5.2.5 Identificação e avaliação dos impactos 5.2.6 Monitoramento e interpretação das alterações na biodiversidade 5.3 Sistemas de Gestão Ambiental 5.3.1 Garantia de compromisso corporativo 5.3.2 Determinação de aspectos significativos da biodiversidade 5.3.3 Estabelecimento de metas e objetivos 5.3.4 Planos de Ação para a biodiversidade 5.3.5 Consideracoes sobre a implementação 5.3.6 Ação de Verificação e Correção 5.3.7 Monitoramento e relatórios 5.3.8 Revisão de gerenciamento melhoria contínua 5.4 Ampliando o alcance das análises convencionais 5.4.1 Fatores que afetam a maturidade do contexto de conservação 5.4.2 Avaliação de riscos à biodiversidade não relacionados à mineração 56 57 57 57 58 60 63 64 67 68 68 69 72 72 74 75 75 77 78 79 81 6. 6.1 6.2 6.3 86 87 87 90 90 93 Ferramentas e Processos para a Participação dos Interessados Diretos Introdução Identificação e análise dos interessados diretos na biodiversidade Participação dos interessados diretos nas questões relativas à biodiversidade 6.3.1 Oportunidades e alcance da participação dos interessados diretos 6.3.2 Participação direta dos parceiros potenciais Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Índice 3 Ferramentas de Mitigação, Recuperação e Melhoria Ambiental Introdução Seleção das medidas de mitigação Implantação e planejamento da reabilitação 7.3.1 Preparação do local 7.3.2 Implementação e manutenção da reabilitação 7.3.3 Monitoramento e pesquisas em andamento 7.4 Medidas compensatórias para a biodiversidade 7.5 Melhoria da biodiversidade em vários níveis 7.6 Definição de limites de responsabilidade para mitigação, recuperação ou melhoria 111 SEÇÃO D: MATERIAIS DE APOIO Acrônimos usados Fontes de Informação por Capítulo e Referências Gerais sobre Biodiversidade Listas de Verificação 118 119 120 126 7. 7.1 7.2 7.3 96 97 97 99 100 103 104 107 108 Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Agradecimentos 4 Este relatório foi elaborado por Sally Johnson, uma consultora independente. O International Council on Mining and Metals (Conselho Internacional de Mineração e Metais – ICMM) agradece pelo excelente trabalho. A primeira fase de trabalho foi realizada pela Environmental Resources Management (ERM) da Austrália juntamente com o Australian Centre for Mining Environmental Research (Centro Australiano de Pesquisa Ambiental Mineralógica ACMER). Este projeto foi concebido como parte do Diálogo Sobre Mineração e Biodiversidade (IUCN-ICMM). Um Grupo Consultor ICMM-IUCN auxiliou o ICMM no desenvolvimento das Diretrizes de Boas Práticas. O grupo foi formado por: Andrea Athanas (da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais - IUCN), Assheton Carter (Conservation International), Richard Cellarius (co-presidente, Sierra Club), Peter Coombes (desde janeiro/2005, Anglo American), John Gardner (co-presidente, Alcoa), Kristal Maze (Instituto Nacional Sul-Africano de Biodiversidade), Andrew Parsons (ICMM), Robert Prairie (Falconbridge), Michael Rae (então na WWF Austrália e atualmente no Conselho para Práticas Joalheiras Responsáveis), Dave Richards (Rio Tinto) e Phil Tanner (até dezembro/2004, Anglo American). O ICMM agradece a ajuda e apoio de todos eles e as numerosas horas dedicadas à revisão de rascunhos. Embora a IUCN e alguns de seus membros tenham auxiliado no seu preparo, estas Diretrizes de Boas Práticas são essencialmente obra do ICMM, e o órgão assume total responsabilidade pelo seu conteúdo. Estas diretrizes foram projetadas para auxiliar os membros do ICMM a abordar a conservação da biodiversidade em suas políticas e operações. Outros setores de negócios também podem utilizar as diretrizes, conforme as considerem relevantes e úteis para seu trabalho. É importante que as diretrizes de gestão se baseiem em experiências reais. O ICMM agradece aos numerosos revisores e colaboradores que forneceram informações e fatos para serem incorporados a este documento. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Prefácio 5 O desempenho da conservação da biodiversidade na indústria de mineração e metais está sob o crescente escrutínio de ONGs, jornalistas e analistas financeiros. Isso se deve, em parte, a uma maior conscientização quanto à importância da conservação da biodiversidade, mas também porque a indústria opera com freqüência em áreas remotas e ambientalmente sensíveis do mundo. A demonstração do compromisso com a conservação da biodiversidade é agora um elemento essencial do desenvolvimento sustentável para a indústria de mineração e metais. Os membros do ICMM têm o compromisso de melhorar seu desempenho nesta área e também de assumir uma função na instrução dos governos e do público quanto aos benefícios que a indústria de mineração e metais pode trazer para a conservação da biodiversidade. O Princípio 7 da Estrutura de Desenvolvimento Sustentável do ICMM dispõe nosso compromisso para “contribuir para a conservação da biodiversidade e abordagens integradas para o planejamento do uso da terra”. Este documento orienta os membros associados ao ICMM (e demais interessados) a obedecerem a esse compromisso, fornecendo orientação relevante a todos os gestores de escritórios corporativos ou de campo. A criação dessa publicação do ICMM surgiu como parte do Diálogo IUCN-ICMM. Um workshop conjunto realizado na Sede da IUCN em Gland, em julho de 2003, chegou a um consenso quanto à necessidade de criar o documento e também a sua estrutura. Ainda que ele tenha sido desenvolvido pelo ICMM e seus membros, somos gratos à IUCN por se engajar e ajudar em seu desenvolvimento. Também somos muito gratos às numerosas pessoas, entre elas especialmente o Grupo Consultor ICMM-IUCN e o Grupo de Trabalho de Biodiversidade do ICMM, pelas longas horas dedicadas à revisão de vários rascunhos. Uma consulta pública de dois meses, ao longo de 2005, também forneceu informações muito valiosas para o processo. Junto com esta publicação, divulgamos dois artigos sobre medidas compensatórias para Biodiversidade escritos em 2005 como resultado do Diálogo e como uma contribuição aos esforços para melhorar a conservação da biodiversidade. Um conjunto de estudos de caso de boas práticas foi publicado pela IUCN em 2004, demonstrando o que pode ser alcançado, e eu recomendo a leitura desses documentos a todos como um complemento deste texto. Acreditamos que este documento vá encorajar e orientar os membros do ICMM a investirem no desafio de se tornarem colaboradores efetivos na conservação da biodiversidade. O retorno deste investimento representará um acesso responsável e sustentável aos recursos minerais e desempenhará um papel em seu desenvolvimento. Paul Mitchell Secretário-Geral Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 6 Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 7 SEÇÃO A: Antecedentes e Visão Geral Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Capítulo 1. Introdução 8 1.1 Antecedentes Discute o que levou o ICMM a desenvolver as diretrizes de boas práticas e como isso está relacionado ao Diálogo IUCN/ICMM sobre mineração e biodiversidade. 9 1.2 Biodiversidade e seu valor Define a biodiversidade e discute o seu valor – em termos dos serviços ambientais que proporciona e dos quais as pessoas dependem, além de seu valor intrínseco. 10 1.3 Por que as mineradoras precisam levar em conta a biodiversidade Destaca os motivos comerciais legítimos pelos quais muitas empresas de mineração estão adotando uma abordagem cada vez mais sofisticada na gestão da biodiversidade. 14 1.4 A importância do engajamento dos interessados diretos Identifica os interessados diretos em biodiversidade e destaca a importância do engajamento das empresas de mineração com os interessados diretos quanto a um entendimento sobre a gestão da biodiversidade. 16 1.5 Escopo e estrutura das Diretrizes de Boas Práticas Expõe um roteiro do conteúdo das DBP e ilustra a abordagem conceitual adotada para as DBP. 17 Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 9 1.1 Antecedentes Em maio de 2003, o Conselho do ICMM aprovou um conjunto de princípios de desenvolvimento sustentável e determinou que seus associados corporativos a medissem seu próprio desempenho em relação a esse conjunto. Um dos princípios tratava explicitamente da conservação da biodiversidade: Princípio 7: Contribuir para a conservação da biodiversidade e abordagens integradas ao planejamento do uso da terra. Paralelamente à evolução dos princípios de desenvolvimento sustentável, o ICMM esteve engajado no diálogo com um grupo de interessados diretos, especialmente com a IUCN, para entender mais claramente as interfaces entre as operações de mineração e a biodiversidade. Na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável de agosto de 2002, a IUCN e o ICMM lançaram um diálogo conjunto sobre mineração e biodiversidade. O objetivo era proporcionar uma plataforma para que comunidades, corporações, organizações não-governamentais (ONGs) e governos se engajassem em um diálogo a respeito do equilíbrio entre a proteção ao ecossistema e a importância sócio-econômica da mineração. Os termos formais de referência para o diálogo IUCN/ICMM foram acordados em março de 2003 e revistos em junho de 2004 e o diálogo continua. Em parte como resultado desse compromisso e da troca de idéias, a elaboração do Princípio 7 do desenvolvimento sustentável compromete os membros do ICMM a: • respeitarem áreas protegidas legalmente demarcadas; • disseminarem dados científicos sobre o assunto e promoverem práticas e experiências de avaliação e gestão da biodiversidade e • apoiarem o desenvolvimento e a implementação de procedimentos cientificamente seguros, inclusivos e transparentes, para abordagens integradas quanto ao planejamento de uso e ocupação do solo, à biodiversidade, à conservação e à mineração. Em um seminário conjunto dos órgãos IUCN/ICMM realizado em Gland, o ICMM também se comprometeu a desenvolver e promover uma bibliografia de diretrizes de boas práticas e estudos de caso para dar suporte às empresas-membros na implantação e medição de desempenho tendo os princípios por parâmetro. Essas Diretrizes de Boas Práticas (DBP) foram elaboradas em resposta a tal compromisso. Elas têm o objetivo de fornecer à indústria de mineração os passos exigidos para melhorar a gestão da biodiversidade através do ciclo de mineração. Com a execução dessas diretrizes, as empresas de mineração deverão estar mais bem habilitadas para: • identificar e avaliar a biodiversidade; • entender as interfaces entre suas atividades e a biodiversidade; • avaliar a possibilidade de suas atividades terem impactos negativos sobre a biodiversidade; • desenvolver medidas para a atenuação dos impactos potenciais sobre a biodiversidade e estratégias de reabilitação das áreas afetadas e • explorar o potencial para contribuir ao aprimoramento ou à conservação da biodiversidade. As DBP são complementadas por um volume anexo, elaborado pela IUCN em conjunto com o ICMM em 2004: “Integrando a Mineração e a Conservação da Biodiversidade: Estudos de Casos em Todo o Mundo”. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 10 As DBP são direcionadas aos profissionais de mineração com experiência direta ou responsabilidade sobre aspectos ambientais e a outros especialistas em mineração, como os envolvidos em estudos de exploração ou viabilidade. As DBP pretendem ajudar a desenvolver o conhecimento e a capacidade, além de assinalar onde é que o apoio de especialistas em Biodiversidade poderia ser desejável ou essencial. Além disso, as DBP devem auxiliar em relações ou parcerias mais construtivas entre os profissionais de mineração e de biodiversidade por meio da promoção de um entendimento mútuo. A esse respeito, as DBP não se destinam apenas a aumentar o entendimento da biodiversidade pelos profissionais da mineração, mas também a aprimorar o entendimento da mineração por parte dos especialistas em biodiversidade. 1.2 Biodiversidade e seu valor 1.2.1 O que é biodiversidade? Na ECO-92, como ficou conhecida a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, a Convenção da Organização das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB) foi assinada por 157 governos e, desde então, ela foi ratificada por 188 países. A CDB define biodiversidade como: A variabilidade entre organismos vivos provenientes de todas as fontes, incluindo, entre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros de natureza aquática e os complexos ecológicos dos quais esses ecossistemas fazem parte; isso inclui a diversidade das espécies entre si, entre espécies diferentes e de ecossistemas. Dessa forma, a biodiversidade compreende a variedade e a variabilidade da vida na Terra. Ela se refere às diferenças existentes entre todos os organismos vivos em seus diferentes níveis de organização biológica – genes, indivíduos, espécies e ecossistemas. A biodiversidade compreende todos os organismos vivos e sua diversidade genética, uma relação vasta e complexa de ecossistemas e habitats, assim como os processos que justificam e resultam dessa diversidade, tais como a fotossíntese, o ciclo de nutrientes ou a polinização. Diferentes espécies – plantas, animais, fungos e micróbios – interagem entre si em uma variedade de processos ecológicos para formar ecossistemas. Esses processos, por sua vez, são o resultado de interações entre as espécies e seus ambientes físicos e químicos. 1.2.2 Por que a biodiversidade é preciosa? A combinação de toda uma diversidade de formas de vida, somada a suas interações umas com as outras e com o restante do meio ambiente, fez da Terra um espaço singular e habitável para os seres humanos. A biodiversidade sustenta os meios de vida humanos e a vida em si. A interdependência entre as pessoas e a biodiversidade é mais aparente para os povos nativos, que podem levar um estilo de vida de subsistência e ser totalmente dependentes da biodiversidade, ou cuja cultura e história estão intimamente associadas ao ambiente e aos sistemas naturais. Em muitas culturas ocidentais, embora tenha se tornado menos tangível e aparente, a nossa dependência da biodiversidade continua sendo muito importante. Em um nível mais amplo, o equilíbrio dos gases atmosféricos através da fotossíntese e do seqüestro de carbono depende da biodiversidade, enquanto que estimados 40% da economia mundial se baseiam nos produtos e processos 1 Organização das Nações Unidas (ONU). Disponível em ww.johannesburgsummit.org/html/documents/summit_docs/wehab_papers/wehab_biodiversity.pdf. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 11 biológicos. Por meio de uma interação próxima e da manipulação da biodiversidade, os seres humanos criaram milhares de novas variedades agrícolas e animais de criação, com distintos benefícios para seu desenvolvimento. Isso possibilitou grandes aumentos na produção de comida e outros materiais naturais, que têm alimentado o crescimento e o desenvolvimento das sociedades humanas. A biodiversidade é também a base de vários serviços ambientais que mantêm vivos os seres humanos e o ambiente natural – desde a provisão de serviços de água limpa e bacias hidrográficas até a reciclagem de nutrientes e a polinização. Esses serviços, denominados serviços ecossistêmicos, incluem: • formação de solo e manutenção de sua fertilidade (por meio do ciclo de nutrientes); • produção primária por fotossíntese, como base de suporte para todas as formas de vida; • fornecimento de alimentos, combustíveis e fibras; • fornecimento de abrigo e materiais de construção; • regulação de fluxos de água e manutenção da qualidade da água; • regulação e purificação de gases atmosféricos; • moderação do clima e tempo; • desintoxicação e decomposição de resíduos; • polinização de plantas, incluindo muitas safras; • controle de pragas e doenças; e • manutenção de recursos genéticos (chave para safras e animais de criação, remédios e assim por diante). Figura 1.1 Serviços de ecossistema Categorias dos serviços de ecossistema Suporte Ciclo de nutrientes • Formação do solo • Produção primária Fornecimento •Alimentos •Água potável •Madeira e fibras •Combustíveis Regulagem Cultural •Regulação do clima •Regulação de enchentes •Regulação de doenças •Purificação da água e do ar •Estética •Espiritual •Educacional •Recreativo Vida na Terra – Biodiversidade Fonte: Avaliação do Ecossistema do Milênio Além desses serviços ecossistêmicos essenciais (classificados como suporte, fornecimento e regulação pela Avaliação do Ecossistema do Milênio), a biodiversidade é também, por razões estéticas, espirituais, culturais, recreativas e científicas, preciosa (ver Figura 1.1). O valor intrínseco da biodiversidade se origina Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 12 de uma filosofia não-utilitária que a vê como válida intrinsecamente em seu próprio direito, não importando a sua contribuição ao bem-estar humano. De modo mais tangível, em algumas partes do mundo (especialmente aquelas com baixa produção agrícola), a sobrevivência de muitas pessoas depende da biodiversidade. Embora o nosso entendimento sobre o valor da biodiversidade tenha aumentado nos últimos anos, também aumentou a nossa avaliação sobre os riscos mais significativos para essa mesma biodiversidade. As pressões atuais sobre a biodiversidade e as perdas relacionadas ameaçam enfraquecer os serviços do ecossistema dos quais todos nós dependemos. Durante os últimos 50 anos, muitos ecossistemas se degradaram mais rápida e extensivamente do que em qualquer momento da história do planeta. À medida que as populações aumentaram, também aumentou a demanda por alimentos, madeira de construção, combustíveis e outros materiais naturais. Embora muita gente em todo o mundo tenha obtido ganhos econômicos e sociais nesse período – durante o qual a crescente demanda por minerais desempenhou um papel importante – as conseqüências das mudanças e perdas da biodiversidade afetaram profundamente algumas das comunidades mais pobres. A Avaliação do Ecossistema do Milênio concluiu o seguinte: • Aproximadamente 60% dos serviços de ecossistema estão sendo degradados ou usados de maneira não-sustentável. • Existem evidências estabelecidas -- mas incompletas -- de que as mudanças do ecossistema estão cada vez mais se tornando não-lineares (acelerando abruptamente, ou de forma potencialmente irreversível, alcançando “pontos culminantes” ou passando dos limites), com conseqüências adversas potenciais para a humanidade. • Os efeitos nocivos da degradação dos serviços ecossistêmicos são sofridos desproporcionalmente pelos mais pobres. Em resumo, os riscos à biodiversidade são convincentes. A menos que sejam tratados de maneira holística, o que leva em conta considerações sócio-econômicas e científicas, os benefícios dos serviços de ecossistema acabarão sendo substancialmente reduzidos para as futuras gerações. Além disso, os próximos 50 anos podem testemunhar uma aceleração adicional na degradação dos serviços ecossistêmicos, a não ser que sejam adotadas medidas para reverter as tendências atuais. Isso é incompatível com o conceito de desenvolvimento sustentável, que tem o objetivo de atender às necessidades do presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades. Os objetivos da Convenção da Diversidade Biológica são encorajar e habilitar todos os países a: • conservar a biodiversidade; • utilizar todos os componentes da biodiversidade de maneira sustentável e • partilhar os benefícios gerados pelos usos comerciais ou por outros usos da biodiversidade de maneira justa e igualitária. Em 2002, no décimo aniversário da Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento do Rio de Janeiro, as partes signatárias da CDB se comprometeram com uma execução mais eficaz e coerente dos três objetivos da CDB. O objetivo era alcançar uma redução significativa do índice atual de perda da biodiversidade nos níveis global, regional e nacional até 2010, como uma contribuição para o alívio da pobreza e em benefício de toda a vida na Terra. A Avaliação do Ecossistema do Milênio ilustra a enormidade desse desafio. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 13 Existe um reconhecimento crescente do papel potencial que os negócios devem desempenhar em conjunto com os governos e a sociedade civil na obtenção de uma resposta holística. Em 2005, encontros em Londres e São Paulo, organizados pelo Secretariado da CDB, exploraram as oportunidades de se engajar as empresas nas questões relativas à biodiversidade, como uma forma de levar adiante a meta de 2010. Esse provavelmente se tornará o foco do engajamento das empresas nas questões de biodiversidade nos próximos cinco anos. 1.2.3 Importância para as operações de mineração A mineração tem o potencial de afetar a biodiversidade através do ciclo de vida de um projeto, direta e indiretamente. Os impactos diretos ou primários da mineração podem resultar de qualquer atividade que envolva supressão ou limpeza de áreas (como p. ex. a construção de estradas, a perfuração para exploração, o material estéril resultante da extração a céu aberto, a construção de taludes de rejeito) ou descargas diretas em cursos de água (eliminação fluvial de resíduos, por exemplo, rompimento de barragens de rejeito) ou no ar (tais como emissões de poeira e partículas de siderurgia). Os impactos diretos são, em geral, prontamente identificáveis. Os impactos indiretos ou secundários podem resultar de mudanças sociais ou ambientais induzidas por operações de mineração e são mais difíceis de serem identificados imediatamente. Os impactos cumulativos ocorrem onde os projetos de mineração são desenvolvidos em ambientes influenciados por outros projetos, tanto de mineração como de não-mineração. O potencial para impactos significativos é maior quando a mineração ocorre em áreas remotas, ambientalmente ou socialmente sensíveis. Devido à contínua demanda por minerais, à diminuição dos recursos em áreas mais acessíveis e às mudanças tecnológicas e econômicas no setor de mineração, a mineração está sendo proposta de modo crescente em ecossistemas remotos e ricos em biodiversidade, não-explorados e não-desenvolvidos previamente para minerais. Isso também se tornou possível pela execução de reformas no setor fiscal e regulador para encorajar o investimento direto estrangeiro em muitos países em desenvolvimento. Esta tendência de abertura de novas áreas prospectivas para o desenvolvimento da extração mineral proporciona à indústria de mineração a oportunidade de demonstrar que as práticas melhoraram, e inclusive de tomar decisões binárias do tipo “seguir - não seguir”. Entretanto, isso pode também representar uma ameaça e o fraco desempenho pode limitar o acesso a algumas áreas altamente prospectivas. Apesar do significativo potencial de impactos negativos sobre a biodiversidade por parte das operações de mineração, há muita coisa que as empresas podem fazer para minimizar ou prevenir tais impactos nas áreas identificadas como apropriadas para mineração. Existem muitas oportunidades para que as empresas intensifiquem a conservação da biodiversidade dentro de suas áreas de operações. É importante ser pró-ativo na avaliação e gestão da biodiversidade, não só para novas operações, mas também para aquelas que estejam operando por muitos anos, geralmente sob exigências reguladoras que estavam menos focadas na proteção e no aprimoramento da biodiversidade. Também é importante reconhecer que nem toda mineração é realizada em áreas remotas ou altamente sensíveis. Alguns projetos de implantação ou de expansão serão desenvolvidos em áreas com um número relativamente alto de habitantes, configurações industriais ou regiões que tenham sido intensivamente cultivadas por 2 Ver www.equator-principles.com. 3 Em abril de 2006, a IFC adotou o Padrão de Desempenho 6: Gestão da Conservação da Biodiversidade e dos Recursos Naturais Sustentáveis, que substituiu a Política Operacional da IFC 4.04: Habitats Naturais de 1998. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 14 muitas décadas, onde a biodiversidade tem valor limitado. Isso se tornará aparente após um modesto investimento de esforços no sentido de estabelecer a biodiversidade de um projeto proposto em seu devido contexto. (ver seção 5.2.2 sobre triagem e escopo das questões de biodiversidade). Em tais situações, o foco deve estar no suficiente entendimento da biodiversidade local e na exploração de oportunidades para a melhoria das condições da biodiversidade ou conservação criativa com os parceiros apropriados. 1.3 Por que as mineradoras precisam levar em conta a biodiversidade Deixando de lado quaisquer considerações éticas ou morais, que são cada vez mais o tema de políticas corporativas, é importante que as empresas abordem a biodiversidade por vários e razoáveis motivos comerciais. Muitas empresas de mineração adotaram uma abordagem cada vez mais sofisticada para gerir a biodiversidade como parte de seu compromisso de estabelecer e manter uma “licença para operar” social ou funcional (ver Box 1.1 sobre a Rio Tinto). Por exemplo, adotar práticas responsáveis na gestão da biodiversidade é cada vez mais importante para: • o acesso à terra, tanto nos estágios iniciais de desenvolvimento do projeto quanto para a exploração contínua, destinada a prorrogar a vida útil de projetos existentes; • a reputação, que conecta à “licença para operar” um benefício intangível, porém significativo aos negócios e que pode influenciar profundamente as percepções das comunidades, ONGs e outros interessados diretos nas operações de mineração existentes ou propostas e • o acesso ao capital, especialmente onde o financiamento do projeto esteja para ser obtido de algum dos bancos de investimento que são signatários dos Princípios do Equador, os quais aplicam o Padrão de Desempenho de Biodiversidade da International Finance Corporation (IFC) a todos e quaisquer investimentos que excedam US$ 10 milhões (admitindo-se que os compromissos fortalecidos com a avaliação e a gestão da biodiversidade tenham chance de ser adotados). Além disso, a boa gestão de biodiversidade pode trazer benefícios às empresas de mineração, incluindo: • aumento da confiança e lealdade do investidor; • ciclos de permissão mais curtos e menos contenciosos, como resultado de melhores relacionamentos com as agências reguladoras; • melhoria da relação com a comunidade; • parcerias de apoio mais fortes com ONGs; • melhoria da motivação do funcionário e • redução dos riscos e responsabilidades. Estas Diretrizes de Boas Práticas fornecem à indústria de mineração um esboço dos passos exigidos para melhorar a gestão da biodiversidade através do ciclo de vida de uma mina ou atividade de mineração. No final das contas, por meio da implementação dessas DBP, as empresas de mineração poderão minimizar a possibilidade de impactos negativos sobre a biodiversidade, além de atrasos de projeto e danos às suas reputações. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 15 Box 1.1. Uma resposta estratégica à conservação da biodiversidade – Rio Tinto A Rio Tinto desenvolveu uma resposta estratégica à conservação e gestão da biodiversidade. Essa resposta foi projetada para habilitar a empresa a atender a grande faixa de expectativa de diversos clientes com interesses na empresa e em suas atividades. Como um primeiro passo no desenvolvimento de uma estratégia de biodiversidade, parcerias foram formadas com organizações líderes em conservação, como a Earthwatch Institute, a BirdLife International, a Fauna & Flora International e o Jardim Botânico Real (Kew Gardens, na Inglaterra). Esses relacionamentos proporcionaram uma perspectiva de conservação sobre as oportunidades e desafios gerados pelo processo de mineração e foram parte essencial na elaboração de como proceder. Um levantamento detalhado do nível de conhecimento e gestão da biodiversidade em todas as áreas operacionais foi realizado. Um artigo apresentando um grande estudo de caso comercial para o desenvolvimento de uma estratégia de biodiversidade foi entregue aos gestores de nível sênior. O desenvolvimento da estratégia foi gerido por um grupo diretor da Rio Tinto formado em 2002 e apoiado por um grupo consultor externo. O grupo diretor interno incluiu representantes seniores das operações de Rio Tinto, assim como dos departamentos de Exploração, SMS corporativo e Relações Públicas. O grupo consultor externo consistiu de seis especialistas internacionais convidados de organizações de conservação e desenvolvimento social, incluindo alguns parceiros de biodiversidade da Rio Tinto. Os elementos da estratégia de biodiversidade da Rio Tinto foram desenvolvidos para ajudar a equipe corporativa e operacional a melhorar o desempenho de biodiversidade por meio: • da identificação dos riscos e oportunidades de biodiversidade; • do desenvolvimento e implementação de programas de biodiversidade; • do reconhecimento de sinergias e desafios com programas para comunidades sustentáveis; • da identificação e desenvolvimento de parcerias estratégicas e operacionais e • de uma garantia corporativa eficaz A estratégia fornece uma estrutura para reunir os interesses e preocupações de vários grupos, incluindo proprietários de terra nativos, comunidades afetadas, investidores, empregados, ONGs, reguladores e comunidades científicas e financeiras. Os resultados da estratégia incluem uma Declaração de Posicionamento da Empresa, além de princípios direcionadores, um documentoguia detalhado e estudos de caso. A Estratégia foi lançada no Fórum de Conservação Mundial em Bangcoc em novembro de 2004. Ela está sendo implementada através do Grupo Rio Tinto, com ênfase especial em novos projetos. Em conformidade com o desenvolvimento da estratégia, as organizações parceiras de biodiversidade da empresa estão ativamente envolvidas na execução. Elas estão apoiando os negócios do grupo em projetos e desenvolvimento de programas de biodiversidade apropriados aos riscos e oportunidades de biodiversidade locais. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 16 Os grupos de trabalho foram formados para continuar a orientação adicional sobre os indicadores, métricas e metas de biodiversidade e sobre as questões relativas ao uso de compensações para a biodiversidade. Os membros de ambos os grupos são oriundos de organizações de conservação e desenvolvimento bem como da equipe corporativa e operacional da Rio Tinto. 1.4 A importância do engajamento dos interessados diretos Os interessados diretos são grupos ou indivíduos que afetam ou são afetados pelas atividades das companhias de mineração. Dependendo da escala e da importância de um projeto de mineração, os interessados diretos que têm interesse na biodiversidade podem incluir: • comunidades locais; • instituições governamentais ou multilaterais com interesses ou responsabilidade pela gestão ou proteção dos recursos naturais; • investidores ou companhias de seguro, que podem impor exigências ou padrões ambientais; • interesses de conservação, incluindo ONGs internacionais, nacionais ou locais, bem como instituições acadêmicas ou de pesquisa; e • funcionários. O engajamento de comunidades potencialmente afetadas e de outros interessados diretos na conservação da biodiversidade é fundamental para o sucesso das iniciativas de conservação. O engajamento da comunidade e de outros interessados diretos com o objetivo de desenvolver confiança, respeito e parceria, procurando manter a comunidade informada sobre as operações de uma empresa de mineração, é essencial para o sucesso de um projeto sustentável. Deve-se reconhecer que os interessados diretos podem ter interesses, perspectivas e prioridades diferentes e possivelmente conflitantes em relação à biodiversidade e sua gestão. A conciliação dessas diferenças de modo justo e equilibrado é fundamental para os objetivos das DBP. O engajamento dos interessados diretos tem um papel importante no desenvolvimento de um entendimento das interfaces entre mineração e biodiversidade e na avaliação de impactos negativos em potencial. Ao serem desenvolvidas medidas de mitigação ou iniciativas de conservação da biodiversidade, deve-se respeitar a cultura, além dos costumes e valores, a fim de identificar e engajar as comunidades locais e os interessados diretos, de participar no desenvolvimento social, econômico e institucional das comunidades e de reduzir os impactos negativos. A importância do engajamento dos interessados é um tema recorrente através das DBP. O Capítulo 6, em especial, apresenta uma discussão sobre as ferramentas e processos de engajamento dos interessados diretos. Na realidade, as DBP têm sua origem no Diálogo IUCN-ICMM dos interessados diretos – um workshop que, em julho de 2003, reafirmou o compromisso de se elaborarem diretrizes de boas práticas após o Congresso Mundial de Parques realizado em Durban em setembro de 2003. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 17 1.5 Escopo e estrutura das Diretrizes de Boas Práticas 1.5.1 Escopo Essas DBP compreendem os passos exigidos para aprimorar a gestão da biodiversidade ao longo do ciclo da mineração. Elas presumem a existência de um compromisso corporativo com os princípios e suplementos de desenvolvimento sustentável, que podem ser refletidos pelos padrões, estratégias e políticas de biodiversidade dos membros individuais. Elas não tratam, detalhadamente, do desenvolvimento de políticas a respeito da biodiversidade senão no contexto dos Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) abordados no Capítulo 5 (ver seção 5.3.1 sobre garantia de compromisso corporativo). Ao contrário, elas oferecem uma série de módulos práticos que devem permitir às empresas: • Entender as interfaces entre suas atividades e a biodiversidade: auxilia as empresas a identificarem as interfaces entre suas várias atividades operacionais e a biodiversidade e a se envolverem efetivamente com os interessados diretos. • Avaliar a possibilidade de suas atividades terem impactos negativos sobre a biodiversidade: tomando medidas práticas para avaliar o potencial das atividades operacionais afetarem negativamente a biodiversidade e os interessados diretos relacionados. • Reduzir os impactos potenciais sobre a biodiversidade: identificando e implementando uma hierarquia de medidas para proteger a biodiversidade e os interessados diretos afetados. • Explorar o potencial para contribuir para a conservação da biodiversidade: além da redução dos impactos, deve-se explorar o potencial de contribuição para a conservação e a proteção da biodiversidade. As DBP foram desenvolvidas para serem aplicáveis a múltiplos contextos operacionais, compreendendo uma gama de tipos de ecossistema (de desertos a ambientes tropicais de baixadas, por exemplo) e sua riqueza (tais como onde a biodiversidade pode ter importância internacional ou importância muito limitada). Em conseqüência, a aplicação e interpretação dessas diretrizes dependerão algumas vezes do conhecimento especializado do local ou da experiência em biodiversidade – isso vem sinalizado em vários pontos das DBP. 1.5.2 Estrutura As DBP são divididas em três partes. A Seção A delineia o cenário para o desenvolvimento das DBP pelo ICMM para mineração e biodiversidade, destaca a importância da biodiversidade e a relevância para o setor de mineração e enfatiza a necessidade do engajamento dos interessados diretos na identificação, avaliação, mitigação e gestão da biodiversidade. A Seção B fornece orientação na gestão de biodiversidade em vários estágios operacionais. Ela inclui três capítulos, correspondentes às três fases amplas de projetos de mineração: • desenvolvimento de projeto, incluindo exploração, estudos de pré-viabilidade, viabilidade e construção (Capítulo 2); • operações, incluindo instalações e atividades essenciais para a mineração e infra-estrutura auxiliar (Capítulo 3); • planejamento e implementação do fechamento (Capítulo 4). Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 18 Esta seção enfoca a identificação da interseção entre atividades de mineração e biodiversidade e o destaque dos sistemas, ferramentas e processos que podem ser aplicados para ajudar as empresas a gerir os impactos em potencial sobre a biodiversidade e intensificar a proteção e a conservação da biodiversidade. Figura 1.2: Integração da biodiversidade ao ciclo do projeto de mineração Pré-viabilidad e Imp lant ação Fechamento açã o/P Operaçõ roc es essa mento ilita ção a Ferr me ab ntas de Correção e Re Aval tal iação S ócio-Ambien estrutura Auxiliar Infra- Sistemas, ferramentas e processos podem ser aplicados em qualquer estágio de estilo do projeto iretos os D sad Com p ão ruç ão raç o l mento de Novo Pr Const i v Exp l o v o sen mas de Gestão Ambien jeto e D Siste tal o d t o n s Inte etime res rom er Min ento Planejam A Seção C descreve os sistemas, ferramentas e processos em mais detalhes e fornece orientação para sua aplicação prática no contexto das operações de mineração. Ela possui três divisões: • sistema de gestão e ferramentas de avaliação, incluindo Sistemas de Gestão Ambiental e Avaliação de Impacto Sócio-Ambiental (AISA) (Capítulo 5); • ferramentas e processos de engajamento dos interessados diretos (Capítulo 6) e • ferramentas de mitigação, reabilitação e aprimoramento (Capítulo 7). Esta estrutura foi projetada para reconhecer explicitamente que operações diferentes estarão em diferentes estágios de desenvolvimento e que muitos sistemas, ferramentas e processos para a gestão da biodiversidade podem ser aplicáveis a todas as três fases operacionais dispostas na seção B, embora em graus variados de detalhamento. As seções B e C foram elaboradas para ajudar os usuários das DBP a determinar o nível de detalhamento (por exemplo, de avaliação) Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 19 que é apropriado, dependendo do contexto operacional. A abordagem conceitual adotada para as DBP está ilustrada na Figura 1.2. A Seção D fornece materiais de apoio para o restante do documento: há uma lista dos acrônimos usados, uma lista de referências-chave e um conjunto de listas de verificação. Essa cadeia de listas é fornecida como forma de garantir a adoção e implementação das DBP, agindo como uma memória de ajuda e como modo de determinar se as exigências principais de determinado capítulo foram abordadas. Entretanto, o leitor deve estar ciente de que um só parâmetro não serve a todos os projetos e, portanto, deve-se pensar cuidadosamente sobre a seleção de elementos apropriados que se apliquem a um projeto específico. Os documentos principais devem servir de referência como fontes primárias de idéias e exemplos. Por todo o documento, as diretrizes incluem estudos de casos ilustrativos que demonstram esforços práticos das companhias de mineração em lidar com os desafios da biodiversidade. Além disso, os estudos de caso fornecem exemplos de benefícios mútuos que podem ser gerados para as empresas de mineração e os interessados diretos por meio do engajamento construtivo. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 20 Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 21 SEÇÃO B: Gestão da Biodiversidade em Diferentes Estágios Operacionais Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Capítulo 2. Integração da Biodiversidade ao Desenvolvimento do Projeto 22 2.1 Introdução Delineia o desenvolvimento do novo projeto e os passos nele incluídos e fornece uma visão geral do conteúdo do capítulo. 23 2.2 Exploração Descreve as técnicas e estágios de exploração, busca o nível antecipado de esforço para tratar da biodiversidade em cada estágio e esboça as práticas para limitar os impactos sobre a biodiversidade. Ver lista de verificação 2.1 na página 126 24 2.3 Estudos de pré-viabilidade e viabilidade Esboça a importância de desenvolver um entendimento progressivamente mais detalhado da biodiversidade com a aproximação de uma proposta de projeto de mineração para apoiar a tomada de decisão. Ver lista de verificação 2.2 na página 127 e 2.3 na página 128 29 2.4 Construção Fornece uma visão geral de como a construção de projetos de mineração pode ter impactos adversos sobre a biodiversidade e destaca algumas áreas-chave para consideração. Ver lista de verificação 2.4 na página 130 33 Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 23 2.1 Introdução Para os propósitos dessas DBP, o desenvolvimento do projeto engloba todos os estágios da exploração inicial até o acabamento da construção. As empresas de mineração identificam esses estágios com alguma diferença entre si, porém apenas três estágios amplos estão incluídos no corpo do texto: exploração, estudos de préviabilidade e viabilidade e construção do projeto. Sob uma perspectiva técnica, é exigido incremento nos níveis de investimento de tempo e recursos, além de uma maior confiança no potencial do projeto para a recuperação de minerais economicamente viáveis, que permita o progresso dos estudos de um estágio a outro. Figura 2.1: Integração da biodiversidade ao desenvolvimento do projeto Exp Pré-viabilidad e ção ol ra me ab ntas de Correção e Re Aval tal iação S ócio-Ambien Imp lant ação Fechamento açã o/P Operaçõ roc es essa mento a Ferr ilita ção Sistemas, ferramentas e processos podem ser aplicados em qualquer estágio de estilo do projeto estrutura Auxiliar Infra- nto dos Inte etime res m ro iretos os D sad Com p ão ruç vimento de Novo Pro Const l o v sen mas de Gestão Ambien jeto e D Siste tal er Min ento Planejam De modo similar, níveis maiores de esforço são exigidos para tratar de aspectos sócio-ambientais em geral e da biodiversidade em particular. Este capítulo revê os três estágios de desenvolvimento do projeto de mineração e discute a interseção entre as atividades realizadas pelas companhias de mineração e a biodiversidade. Ele ainda se refere aos tipos de sistemas, ferramentas ou processos que podem ser aplicados para o melhor entendimento das interseções entre mineração e biodiversidade, assim como a melhor maneira de geri-las. (ver Figura 2.1.) Um exemplo ilustrativo das relações entre as atividades de mineração e os impactos em potencial sobre a biodiversidade é dado na Figura 2.2. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 24 Figura 2.2: Exemplos da interseção entre o desenvolvimento do projeto e a biodiversidade ATI VID Pri ADES me DE M Per iros e stá INERA fur g a ÇÃO i ç os ão Con stru para da ex plo ex çã Lim pez o de v ploraç ração i a ão ad Obt d enç e terr e ace Infr ão de eno (p sso a-e ar m Con strutu ateria a cons i s tru ra str d Infr ução relaci e cons ção e tc.) ona de a-e tru Dut strutu infra- da à c ção e os on ra st Lin para s para e rutura struçã has o usp stra a das uxilia Fon de en ensõ r , e ferr tes erg ia/ s ou c ov de Tra nsp água eletric oncen ias e e , xpo orte id tr trat rtaç am ade e ados de e ão ma t teri nto de ransm ais i per águas ssão igo sos residu ais 2.2 Exploração A meta da exploração é descobrir depósitos minerais economicamente viáveis. A busca por depósitos minerais é realizada primariamente por empresas de mineração de menor porte, às vezes com apoio financeiro de uma empresa de mineração maior, mas freqüentemente de forma especulativa. A exploração é uma atividade de alto risco com alta recompensa, na qual a probabilidade de sucesso é geralmente baixa, mas as recompensas em potencial quando se localiza um depósito economicamente viável são consideráveis. A predominância de empresas de mineração de menor porte na exploração é relevante, pois, em geral, elas têm menos probabilidade de deter capacidade interna relacionada a questões ambientais ou sociais ou, em particular, a questões de biodiversidade, e estas DBP reconhecem explicitamente que a falta de uma capacidade interna relativa às questões de biodiversidade podem representar uma restrição. O Programa E3 da Associação de Prospectores e Desenvolvedores do Canadá (PDAC) é uma ferramenta excelente projetada para dar suporte às empresas de mineração de menor porte no tratamento de questões ambientais da exploração, incluindo a biodiversidade. IMPACTOS POTENCIAIS Impactos sobre a biodiversidade terrestre Perda de ecossistemas e habitats Perda de espécies raras e em extinção Efeitos em espécies sensíveis ou migratórias Efeitos do desenvolvimento induzido sobre a biodiversidade Biodiversidade aquática e impactos de descartes Regimes hidrológicos alterados Regimes hidrogeológicos alterados Aumento de metais pesados, acidez ou poluição Aumento de turbidez (sólidos suspensos) Risco de contaminação do lençol freático Impactos na biodiversidade relacionados à qualidade do ar Aumento no total de partículas ambientes suspensas (TSP) Aumento do dióxido de enxofre (SO2) ambiente Aumento do óxido de nitrogênio (NOx) ambiente Aumento de metais ambientes pesados Interfaces sociais com a biodiversidade Perda de acesso aos recursos pesqueiros Perda de acesso a árvores frutíferas e plantas medicinais Perda de acesso a safras alimentícias ou pastos Acesso restrito aos recursos de biodiversidade Aumento da pressão de caça Impactos induzidos do desenvolvimento sobre a biodiversidade ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade ● ● ● ● ● 25 Nos primeiros estágios de exploração, os impactos sobre a biodiversidade são limitados, embora eles possam se tornar mais significativos conforme o progresso da exploração. Em um nível mais amplo, entretanto, considerando-se que os esforços de exploração identificam depósitos minerais viáveis, a escolha inicial da área de exploração pode ter uma profunda influência de longo prazo sobre os impactos na biodiversidade. Portanto, mesmo nesse estágio inicial, é muito importante haver alguma avaliação das possíveis interfaces de longo prazo com a biodiversidade. Nesse estágio, as empresas devem começar a avaliar a importância geral da biodiversidade na área dentro da qual a exploração está sendo realizada, mediante a revisão das disposições legais relacionadas à biodiversidade, além de mapear a ocorrência de áreas protegidas. Os membros associados ao ICMM se comprometeram a não explorar nem escavar nos Locais de Patrimônio Mundial4, os quais são considerados de extraordinário valor global. Esta categoria especial de área protegida está, portanto, efetivamente fora dos limites de exploração pelos membros do ICMM. Por um lado, a exploração pode ser realizada dentro de uma área protegida. Por outro, a exploração pode ser realizada em um ambiente altamente regulado, onde o planejamento sofisticado do uso da terra tenha identificado áreas adequadas para a exploração ou utilização com base em uma variedade de restrições, incluindo a biodiversidade e onde as áreas de exploração já possam estar significativamente degradadas. A maioria das áreas de exploração cairá em algum ponto entre esses dois extremos. As ferramentas de avaliação (ver especialmente Seção 5.2.2, sobre triagem e escopo) ajudarão a estabelecer o contexto de biodiversidade das áreas de exploração – e poderão ajudar também a desviar os esforços para longe das áreas de maior importância para a biodiversidade. É importante, portanto, realizar um maior esforço de triagem inicial (para determinar restrições regulamentares, tais como áreas protegidas, por exemplo, ou exigências normativas em termos de obtenção de permissão). A ênfase na triagem inicial deriva da probabilidade de sucesso da exploração – por meio da qual talvez somente uma em cada 100 metas regionais de exploração possa evoluir para o estágio de pré-viabilidade. Conseqüentemente, é melhor sinalizar riscos significativos de biodiversidade (e outros sociais e ambientais) em um estágio inicial que possa ter influência sobre se um projeto poderia ser realmente desenvolvido. A avaliação da biodiversidade e de outros riscos deve ser revista à medida que projetos em potencial prosseguem através dos vários estágios de desenvolvimento do novo projeto. 2.2.1 Estágios primários de exploração A exploração envolve uma variedade de estágios e técnicas que exigem graus maiores de esforço e interferência física na terra. Os estágios iniciais de exploração estão descritos abaixo. Levantamentos de campos geológicos: Coleta de dados básicos e mapeamento de tipos de rochas, minerais e estruturas. Os dados de superfície são usados para interpretar a geologia subterrânea. A precisão e o detalhamento do mapeamento preliminar pode ser intensificado pelo uso de fotografia aérea, por exemplo, para ajudar a localizar jazidas aparentes e para controlar as cotas topográficas. Os levantamentos de campo geralmente têm impactos limitados sobre a biodiversidade, 4 Os Locais de Patrimônio Mundial são estabelecidos pela Convenção de Patrimônio Mundial de 1972 e administrados pela UNESCO. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 26 a menos que uma amostragem de subsolo seja feita (ver abaixo), já que elas envolvem a interferência na terra e já que o acesso é obtido geralmente utilizando as estradas e trilhas existentes ou pelo ar. Técnicas geoquímicas: A amostragem de materiais geológicos e testes para valores anormalmente altos ou baixos de elementos para traçar um caminho para uma fonte de significância econômica. As técnicas geoquímicas envolvem coleta e análise de vários tipos de materiais geológicos (tais como solos, sedimentos fluviais e rochas) ou determinados materiais biológicos (tais como plantas). Como a mineralização pode ser extremamente difícil de reconhecer apenas por meio de pesquisas de campo, técnicas geoquímicas auxiliam na descoberta de depósitos de minério. Assim como os levantamentos de campo, estas técnicas normalmente têm impactos mínimos sobre a biodiversidade. Técnicas de levantamento geofísico: Medir as propriedades físicas de minerais e rochas – em especial, o magnetismo, a condutividade elétrica e a densidade – a fim de indicar a presença ou ausência de mineralização econômica. Por exemplo, as propriedades magnéticas de minerais e rochas podem ser utilizadas para identificação, e as discrepâncias no campo magnético da Terra podem indicar uma concentração de minerais valiosos. Devido ao fato de as propriedades de alguns minerais, rochas e estruturas rochosas se sobreporem, os resultados dos levantamentos geofísicos (anomalias identificadas) são, em geral, somente indicativos de zonas favoráveis ou metas para posterior investigação física. As técnicas geofísicas são freqüentemente empregadas por aeronaves (ou podem ser feitas com equipamentos montados em veículos). Com o levantamento aéreo, os impactos sobre a biodiversidade são muito limitados (pois as técnicas são nãodestrutivas), com a possível exceção de uma perturbação temporária de animais terrestres migratórios ou de uma fauna sensível. O levantamento em solo que não envolve nenhuma construção de estradas ou é realizado por trilhas em áreas pouco vegetadas (tais como pastos) também têm impactos limitados. As linhas sísmicas abertas pelo levantamento geofônico podem criar canais sem vegetação que podem fornecer acesso a predadores, invasão de ervas daninhas potenciais e isolamento de vegetação previamente intacta. Com métodos modernos de posicionamento e levantamento, pode ser possível evitar que se façam as trilhas “a olho” e sem planejamento, na grande maioria dos casos. Os métodos de baixo impacto devem ser escolhidos em todos os outros casos de abertura de trilhas. As técnicas de mitigação disponíveis incluem veículos terrestres de baixa pressão no solo, escavadeiras com pneus de borracha e acesso por helicóptero em vez da abertura de picadas. Amostragem de subsolo: Técnicas como a abertura de trincheiras, sulcos e valas podem ser executadas para explorar anormalidades posteriormente identificadas, através de levantamentos geofísicos ou podem ser algumas vezes usadas durante o levantamento geológico. A superfície de mineralização é, por vezes, obscurecida por material de superfície ou é desgastada pela ação do tempo e lixiviada a alguma profundidade. Se a superfície da rocha estiver muito gasta ou oxidada para permitir a amostragem precisa, sondas podem ser usadas para perfurar um padrão de furos rasos para detonação -- escavação manual também pode ser realizada, assim como uso de trator ou escavadeira. A rocha quebrada é removida das novas paredes que se formaram e que estão recém-fraturadas ou do fundo da trincheira podendo, então, compor as amostras. A abertura de trincheiras, sulcos e valas envolve algum nível de limpeza de terreno, podendo afetar a biodiversidade em uma extensão maior do que as técnicas de exploração acima descritas (especialmente onde se Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 27 exija a construção de novas estradas de acesso). A abertura de valas pode criar grandes sulcos lineares, capazes de criar “armadilhas” para a fauna, considerando também que a remoção da vegetação pode ser extensa. A eficácia na abertura dessas cavidades deve ser avaliada com a devida consideração em relação ao impacto potencial sobre a biodiversidade e o esforço exigido de reabilitação. Onde trincheiras são usadas, medidas específicas de segurança devem ser tomadas para prover barreiras ao acesso (tais como cercas ou outros recursos para desviar os animais), saídas fáceis para os animais que caírem e, o mais importante, repreenchimento (com o mesmo material retirado) e reabilitação o mais rápido possível. 2.2.2 Perfuração de exploração A perfuração de exploração exige o uso de plataformas de perfuração para penetrar camadas rochosas subterrâneas e obter materiais representativos das camadas da rocha matriz analisada. A perfuração é o ápice do processo de exploração e representa o último estágio do planejamento de desenvolvimento. Os dados da perfuração são utilizados para criar um modelo de geometria subterrânea de mineralização. As técnicas disponíveis incluem percussão, vácuo, circulação reversa e perfuração diamantada. A perfuração é invasiva e geralmente exige o uso de equipamentos pesados. Os impactos diretos sobre a biodiversidade são mais extensos do que em outras técnicas de exploração, já que os locais de perfuração devem ser limpos e, geralmente, novas estradas de acesso são necessárias para os equipamentos. Os locais de perfuração precisam, por vezes, ser estabelecidos dentro de ecossistemas relativamente estáveis, exigindo cuidados intensivos para limitar os distúrbios associados à presença humana e à reabilitação de tal distúrbio. Medidas simples de gestão podem incluir: minimizar o número de estradas de acesso, manter as trilhas no menor tamanho possível e reabilitar as trilhas assim que possível. Além disso, a biodiversidade pode ser afetada pelo bombeamento de água para servir de fluido de perfuração ou pelo derramamento ou vazamento de combustíveis, óleos e fluidos de perfuração durante a perfuração. Onde campos de exploração são estabelecidos, a poluição da água (como recurso) pode ocorrer por descarga de águas residuais, eliminação de esgotos ou despejo de resíduos rochosos em pequena escala (incluindo os metais pesados e o escoamento de sedimentos relacionados). Esses resíduos são capazes de afetar a biodiversidade aquática local ou contaminar as fontes de água potável para a vida selvagem. Os últimos estágios de exploração podem ter impactos significativos sobre a biodiversidade, especialmente caso a exploração em áreas remotas facilite o acesso a outras formas de extração de recursos naturais (remoção de madeira combustível ou de construção, caça e assim por diante). Em algumas jurisdições, o processo de permissão pode exigir que um nível mínimo de análise ambiental seja realizado nesse estágio (ver seção 5.2.2 sobre triagem e escopo das questões de biodiversidade). Mesmo se não for necessário, pode ser prudente investir antes em uma triagem mais rigorosa, para um melhor entendimento dos contextos de biodiversidade. Isso pode incluir a obtenção de dados secundários sobre a biodiversidade dentro da área de exploração, revendo as 5 Conforme reconhecidas em um número de áreas dentro das DBP, as distinções entre os estágios de desenvolvimento de novo projeto são geralmente fluidas, portanto, pode ser exigido um esforço maior, dependendo do projeto ou do contexto empresarial. Independentemente das disposições das DBP, as exigências regulamentares referentes à biodiversidade devem sempre ser obedecidas. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 28 disposições legais relacionadas à biodiversidade e à realização de levantamentos básicos de biodiversidade. Isso normalmente exige a contribuição de um técnico treinado. Além disso, nesse estágio os interessados diretos na biodiversidade devem ser identificados, havendo, já nessa fase, algum engajamento inicial por parte da empresa (ver seções 6.2 sobre identificação e 6.3 sobre engajamento). Seria prudente ainda ter pessoal especializado em meio ambiente no local durante os últimos estágios da exploração, a fim de garantir que estudos de campo (inclusive de biodiversidade, conforme apropriado) sejam iniciados para respaldar a AISA. Algumas das práticas recomendadas para limitar os impactos sobre a biodiversidade durante a exploração incluem: • limitar a supressão vegetal através do uso de tecnologias e práticas de mineração que minimizem a perturbação ao habitat; • evitar a construção de estradas, sempre que possível, através do uso de helicópteros e das estradas já existentes – quando estradas precisem ser construídas, utilizar os corredores existentes e construí-las longe de encostas íngremes ou cursos de água; • utilizar equipamentos mais leves e mais eficientes para reduzir os impactos sobre a biodiversidade; • posicionar furos de sondagem e trincheiras longe de áreas sensíveis; • cobrir ou tampar furos de perfuração para prevenir que pequenos mamíferos fiquem presos; • remover e restaurar estradas e trilhas quando não forem mais necessárias e • usar vegetação nativa para restabelecer a vegetação da área explorada. Algumas dessas práticas foram incorporadas no Plano de Gestão Ambiental (PGA) de exploração, desenvolvido em conjunto com os interessados diretos na Mina de Zinco Skorpion, na Namíbia, (ver Box 2.1) e para exploração dentro da zona-tampão da Biosfera do Rio Fitzgerald, na Austrália Ocidental (ver Box 2.2). Uma abordagem inovadora ao monitoramento da eficiência de tais medidas para controlar os impactos da exploração foi desenvolvida pela Placer Exploration Limited (ver Box 2.3). Box 2.1. Plano de Gestão Ambiental para minimizar os impactos de exploração e orientar a reabilitação – Mina de Zinco Skorpion, Namíbia Em 2000, a empresa Anglo American iniciou a construção da mina de zinco e refinaria Skorpion, perto de Rosh Pinah, no sul da Namíbia, e a produção começou em abril de 2003. A atual exploração de zinco é realizada na área que circunda a região, principalmente por meio da perfuração em uma ampla quadrícula (cartográfica) e por meio da amostragem de lascas e núcleos de rochas. O sul da Namíbia é classificado pela Conservation International como um dos 25 ”hotspots” do mundo no que diz respeito à biodiversidade. Cerca de 10% das espécies de plantas dessa região são encontradas apenas lá, apesar de seu ambiente árido. As principais preocupações do Ministério do Meio Ambiente e Turismo da Namíbia eram as seguintes: o habitat extremamente sensível de Sperrgebiet poderia não se recuperar após a perturbação e a exploração poderia causar danos irreparáveis à região. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 29 Um PGA, incluindo um PGA de Exploração específico, foi desenvolvido pelo pessoal da empresa em conjunto com os representantes dos interessados diretos. Além disso, em conjunto com outros interessados diretos, um Fórum Ambiental denominado Rosh Pinah foi formado no final de 2000 para desenvolver planos locais específicos para áreas de exploração. O envolvimento dos interessados diretos levou a um acordo -- entre outras ações -- que previa a restrição do acesso ao local de perfuração por meio apenas de trilhas de uma mão dentro dos limites das quadrículas, o uso de pneus largos, de baixa pressão e plataformas de perfuração leves, a proibição dos acampamentos dentro do Sperrgebiet, a reabilitação em todos os locais de perfuração e trilhas de acesso e o monitoramento diário da conduta ambiental dos perfuradores.Como parte do acompanhamento, visitas ao local foram realizadas por todos os interessados diretos, fotografias “antes e depois” foram tiradas e auditorias semestrais foram realizadas e um relatório completo foi produzido. Como conseqüência da gestão ambiental implementada, grandes extensões de terra retornaram ao seu estado original a um custo mínimo após as atividades de exploração. O nível de consciência ambiental e preocupação com a importância da biodiversidade por toda a equipe de exploração aumentou consideravelmente e um relacionamento excelente de confiança se desenvolveu entre o pessoal da Anglo American e do Ministério do Meio Ambiente e Turismo da Namíbia. 2.3 Estudos de pré-viabilidade e viabilidade Diferentes empresas têm diferentes terminologias para os vários estágios do desenvolvimento de um projeto. Mas esses estágios geralmente se seguem a resultados iniciais promissores gerados pelas equipes da exploração. A préviabilidade, por vezes, se sobrepõe aos últimos estágios do trabalho de exploração e os limites entre o trabalho de pré-viabilidade e viabilidade podem não ser muito claros. Independentemente de onde o limite seja traçado, os resultados da exploração terão justificado os gastos adicionais para determinar se um depósito mineral é economicamente viável e se o potencial de um projeto de mineração a ser desenvolvido é maior. Uma distinção que às vezes é feita entre os estudos de pré-viabilidade e os de viabilidade, é que a primeira determina se uma provável reserva mineral é economicamente viável (e busca um número de opções), enquanto a última determina se a reserva mineral comprovada pode ser mesmo economicamente escavada (e busca detalhes sobre a opção preferida). Nesse estágio, as “pegadas” que as atividades de mineração deixam geralmente se tornam mais estabelecidas em termos do campo de exploração e da infra-estrutura relacionada, à medida que a perfuração adicional e outros trabalhos de investigação vão sendo realizados para estabelecer a extensão e a qualidade dos depósitos de minérios. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 30 Box 2.2. Práticas especializadas de exploração de baixo impacto – Projeto Ravensthorpe Nickel O Projeto Ravensthorpe Nickel na Austrália Ocidental está dentro de uma região agrícola com uma rede bem estabelecida de cidades pequenas que vivem dessas atividades rurais. Ele está localizado dentro do Corredor Bandalup, uma faixa de vegetação remanescente adjacente ao Parque Nacional do Rio Fitzgerald e que está localizada na zona-tampão da Biosfera do Rio Fitzgerald, uma área com biodiversidade reconhecida mundialmente. O Departamento de Conservação e Gestão Territorial da Austrália Ocidental gerencia tanto o parque nacional quanto a área da biosfera. Uma das atividades permitidas dentro da zona-tampão de uma biosfera é a mineração, sujeita à gestão ambiental responsável. Os depósitos de minério do projeto estão localizados em áreas cobertas pela vegetação remanescente. A supressão dessa vegetação associada ao desenvolvimento do projeto tem dois impactos principais sobre a biodiversidade: a perda de habitat para a fauna e, em menor extensão, o impacto direto na fauna causado pelo tráfego rodoviário. A perda do habitat da fauna foi compensada através da compra de um “bloco de vegetação” de 650 hectares como medida de compensação e conservação, em conjunto com a restauração da vegetação de aproximadamente 600 hectares de terras cultivadas e previamente desmatadas, permitindo a sua reincorporação ao Corredor Bandalup. Após a conclusão dessas atividades de reflorestamento e a subseqüente reabilitação de minas, a amplitude do Corredor Bandalup será, na verdade, aumentada. Durante o estudo de viabilidade, um trabalho detalhado de levantamento ecológico identificou mais de 700 espécies individuais da flora dentro da demarcação do projeto, alguns dos quais são endêmicos e, em alguns casos, foram identificados pela primeira vez. A equipe do projeto focou na redução da supressão da vegetação restante. O máximo de infra-estrutura necessária para o projeto foi implantada nas áreas que historicamente já estavam desmatadas. Onde a supressão não pode ser evitada, uma reabilitação progressiva, que inclui o repreenchimento de áreas escavadas, foi inserida na programação de desenvolvimento da mina. Além disso, quatro zonas de exclusão de mineração foram estabelecidas para preservar espécies restritas. Os resultados dos testes de reabilitação em larga escala, dos testes de deslocamento para espécies prioritárias, dos estudos genéticos e dos estudos de propagação de sementes levaram ao desenvolvimento de planos de reabilitação e de gestão das espécies prioritárias. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 31 Box 2.3. Desenvolvimento de um Protocolo Ambiental em apoio às práticas de exploração responsável – Placer Exploration Limited Em junho de 1994, a Placer Exploration Limited implementou um Protocolo Ambiental para certificar-se de que as suas equipes de campo seguiriam seus PGA e Lista de Verificação Ambiental. O Protocolo é uma ferramenta de avaliação que inclui material educacional, delegações de responsabilidades sugeridas e dois indicadores de desempenho ambiental (IDAs). O protocolo dá a responsabilidade e a propriedade das realizações ambientais a cada membro da equipe de campo. Ele foi introduzido em um seminário para equipes de campo, realizado em janeiro de 1995, para enfatizar a responsabilidade pela minimização de impactos ambientais e reabilitar áreas perturbadas. Para certificar-se de que as equipes de campo atingirão suas metas, as áreas afetadas pela sua exploração são fiscalizadas pelo Técnico em Meio Ambiente (TMA), que relata à equipe o seu desempenho ambiental. Para um desempenho ambiental bem-sucedido, todas as fases de operação devem ser devidamente geridas. Para exploração, isso envolve: • prevenção e planejamento antes da atividade de exploração, • minimização de impactos durante a exploração, • limpeza ambiental após a exploração programada e • reabilitação da exploração programada dentro de seis meses. Para auxiliar as equipes de campo, o TMA desenvolveu a lista de Pontos Ambientais. Ela é um resumo em tópicos impresso em uma folha grossa, laminada, tamanho A5, que cabe no porta-luvas do veículo. Dois indicadores de desempenho ambiental foram desenvolvidos dando um valor numérico a cada projeto, permitindo assim, a comparação entre os projetos. Os dados coletados de cada projeto são relatados em uma tabela, mostrando cada variável na fórmula e os IDAs calculados. As Fórmulas dos Indicadores de Desempenho Ambiental seguem abaixo: • Para o programa de Perfuração que passou por uma limpeza ambiental imediatamente após o término da perfuração: IDA = nº. de furos abertos + nº. de áreas com trilhas em excesso + nº. de derramamentos de hidrocarbonetos + nº. de áreas com resíduos consideráveis / Total de furos perfurados • Para o programa de perfuração que passou por reabilitação em menos de seis meses após o término da perfuração: IDA = nº. de fossas perfuradas deixadas abertas + nº. de furos de perfuração não-cobertos + nº. de áreas que não foram deixadas afofadas ou separadas + nº. de bolsas de amostras deixadas / Total de furos perfurados Os resultados das avaliações circulam entre as áreas para que todos na empresa saibam quais as equipes de projeto têm o melhor desempenho. Isso levou a uma competição saudável entre as equipes de campo. A avaliação dispõe claramente as áreas que necessitam de melhorias. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 32 Os indicadores de desempenho também permitem a comparação das equipes de campo e indicam o desempenho da companhia ao longo do tempo. Embora seja, de certa forma, subjetiva, a avaliação visual é minimizada pelo uso de variáveis de amostragem no IDA e através do uso de um inspetor para avaliar os projetos. Como acontece com a maioria das ferramentas de gestão, esta abordagem está sendo modificada e melhorada com o tempo, para possibilitar uma resposta melhor e para aumentar o comprometimento com o bom desempenho ambiental. 2.3.1 Estágio de pré-viabilidade De uma perspectiva de biodiversidade, em um estágio de pré-viabilidade, é importante desenvolver um entendimento mais completo do contexto da biodiversidade da área protegida (ver seção 5.3 sobre SGA). Inicialmente, isso pode não exigir auxilio de um especialista, desde que haja capacidade interna suficiente para aplicar os sistemas, ferramentas e processos descritos na Seção C das DBP. Entretanto, onde os estudos iniciais indicam que a biodiversidade é importante dentro da área do projeto e que mais esforços serão exigidos, caso um projeto proceda ao estágio de viabilidade, é recomendável a contratação de um especialista em biodiversidade para começar a estabelecer a referência basal da biodiversidade, caso isso ainda não tenha sido feito (ver seção 5.2.3 sobre estudos de referência basal). O exercício pode ser independente ou fazer parte de uma Avaliação de Impacto Social e Ambiental inicial (ver seção 5.2 sobre AISA). Nesse estágio, será importante realizar o seguinte: • identificação de áreas importantes para a biodiversidade, estejam estas protegidas ou não, e a situação das áreas e espécies protegidas; • uma revisão inicial das opções possíveis de mineração (subterrânea ou a céu aberto, por exemplo), opções de processamento e prováveis produtos residuais, demandas de água, opções de armazenamento para resíduos ou rejeitos rochosos e assim por diante, além de considerações sobre os méritos de cada uma delas sob uma perspectiva técnica, econômica, ambiental (incluindo a biodiversidade) e social; • uma avaliação preliminar dos impactos em potencias, levando em consideração os possíveis prazos para desenvolvimento. É importantíssimo que a análise inicial das opções alternativas de mineração envolva dados substanciais sócio-ambientais, reportados e documentados (com atenção especifica dispensada à biodiversidade em ambientes sensíveis), à medida que as opções se tornem mais concretas com a transição ao estágio de viabilidade. Dependendo da fonte de financiamento ou das exigências dos órgãos reguladores, se o projeto prosseguir até o estágio de viabilidade, poderá ser obrigatória a demonstração de uma análise crível das alternativas sob uma perspectiva ecológica e social. É importante que isso se baseie em uma análise inicial confiável, e não na tentativa a posteriori de justificar a opção escolhida. 2.3.2 Estágio de viabilidade Durante o estágio de viabilidade, o nível de confiança nas informações para proceder com a mineração é ampliado ainda mais. Nesse estágio, as informações detalhadas serão coletadas em reservas comprovadas e prováveis, sendo o desenvolvimento da mina e as opções de projeto especificados em detalhe. Os planos detalhados de produção serão desenvolvidos, destacando a quantidade de minério a ser Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 33 processado e de resíduos rochosos a serem descartados. Os planos de layout mostrando as opções de preferência para infra-estrutura, locais de tratamento e eliminação de resíduos e instalações auxiliares serão desenvolvidos. Ao final dos estudos de viabilidade, os planos de fechamento também terão sido estabelecidos e integrados à elaboração do projeto (ver Capítulo 4). Nesse estágio, os parâmetros de elaboração começam a ser fechados e mudanças subseqüentes se tornam mais difíceis. Os passos descritos para o estágio de pré-viabilidade devem ser revistos e atualizados à luz de informações de projeto mais detalhadas e de uma avaliação mais profunda da biodiversidade e de outras questões ambientais e sociais abordadas. Esse é o estágio no qual um investimento significativo é feito no desenvolvimento de um total entendimento das interfaces entre o projeto proposto e a biodiversidade. As possíveis opções para evitar impactos adversos e intensificar a proteção e a conservação da biodiversidade são também consideradas. Ao final do estágio de viabilidade, o trabalho de AISA deve estar em um estágio avançado. Isso deve incluir os seguintes aspectos em relação à biodiversidade (elaborados nos Capítulos 5, 6 e 7): • confirmação das implicações das disposições legais, áreas e espécies protegidas e quaisquer interfaces com o projeto de mineração; • resultados dos estudos de referência basal (ver também a seção 5.2.3 sobre estudos de referência basal), uma avaliação da importância da biodiversidade (a partir de uma perspectiva técnica e baseada em consultas detalhadas com uma gama de interessados diretos) e uma discussão sobre os riscos atuais à biodiversidade; • uma avaliação dos impactos (diretos, indiretos e induzidos) sobre a biodiversidade e sobre os usuários da biodiversidade nos projetos de mineração propostos; • uma discussão das medidas de redução (da construção ao fechamento), os prospectos para uma execução bem-sucedida e os impactos residuais sobre a biodiversidade e os interessados diretos relacionados e • uma discussão das opções para conservação e aprimoramento da biodiversidade. As medidas de mitigação para tratar dos impactos potenciais sobre a biodiversidade seriam tipicamente incluídas em um PGA. Elas devem especificar os procedimentos a serem adotados durante a construção, em detalhamento considerável, com aumento da especificidade para os estágios de planejamento operacional e de fechamento. Entretanto, embora um PGA possa ser especificado como uma exigência reguladora, é essencial que ele esteja integrado aos SGA gerais da empresa de mineração e esteja sujeito a revisão e atualização regular (ver seção 5.3 sobre SGA). O procedimento é particularmente importante porque a AISA é preenchido paralelamente aos estudos de viabilidade, ao passo que, no projeto detalhado, mudanças no layout da planta (tanto um aumento na área como mudanças na locação dos equipamentos) podem afetar a biodiversidade através do aumento da perturbação ou da transgressão em áreas sensíveis 2.4 Construção A construção representa, por vezes, o período de maior impacto social e ambiental durante o ciclo do projeto de mineração. Áreas substanciais de terra podem ser suprimidas de vegetação para acomodar as instalações do projeto e a infraestrutura relacionada. Em outras situações, pode ocorrer a supressão indireta, particularmente em partes do mundo onde a imigração é comum e fiscalizada. Enquanto o planejamento da construção ocorre durante o estágio de viabilidade e os Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 34 impactos relacionados são previstos e tratados durante o processo de AISA, muitos interessados diretos estão, por vezes, despreparados para as realidades da construção. Esta seção inclui uma breve discussão da interseção entre um número de elementos de construção e biodiversidade. Esses aspectos precisam ser tratados como parte do processo AISA (ver seção 5.2 sobre AISA). 2.4.1 Acesso para construção e infra-estrutura auxiliar A construção de estradas de acesso e outras estruturas lineares de projeto (como ferrovias, tubulações para transporte de fluidos ou concentrados e linhas de transmissão de energia dedicadas) pode ter um impacto significativo sobre a biodiversidade. Essa construção pode resultar no isolamento ou na fragmentação de habitats, os quais podem ter um impacto significativo sobre a biodiversidade. A interrupção das conexões naturais entre as populações de plantas e animais pode criar mudanças significativas, às vezes irreversíveis. Essa interrupção também resulta numa maior fragmentação do habitat, por meio da qual as áreas menores e separadas se tornam menos resistentes a mudanças. As bordas criadas por essas interrupções proporcionam um potencial maior de contaminação por ervas daninhas e animais invasores e, freqüentemente, áreas isoladas de terra se tornam degradadas (ver seção 5.2.5 sobre identificação e avaliação dos impactos). A infra-estrutura linear pode desfazer regimes hídricos e afetar significativamente os sistemas pantanosos e de lençóis freáticos. As mudanças no curso e fluxo dos rios podem afetar os habitats adjacentes ou a ecologia ribeirinha, incluindo a pesca, da qual as comunidades que vivem ao longo de cursos de água podem ser dependentes. Em situações mais remotas, onde a biodiversidade quase não é perturbada devido ao acesso limitado, a construção de estradas de acesso poderia induzir mudanças adversas e significativas por meio da introdução de espécies externas ou invasoras e a abertura de acesso a grileiros ou outros “usuários” da biodiversidade (tais como madeireiros ou caçadores). 2.4.2 Limpeza de terreno e realocação A supressão de vegetação tem um impacto óbvio e direto por meio da destruição do habitat. A realização da supressão, entretanto, pode influenciar a sobrevivência de plantas e espécies de animais mais raras. Por exemplo, onde espécies de plantas raras tiverem sido identificadas durante os levantamentos de referência basal ou acompanhamento (ver seção 5.2.3), elas podem, às vezes, ser transplantadas com sucesso antes da remoção da vegetação. Da mesma maneira, medidas podem ser tomadas para melhorar as perspectivas de sobrevivência da fauna (tais como pela garantia de que a estação de reprodução será evitada para espécies importantes de pássaros) (ver capítulo 7). A supressão vegetal pode também afetar significativamente os usuários da biodiversidade, mais notadamente através da diminuição da base de recursos de comunidades dependentes. Onde as comunidades podem ainda estar sujeitas a reassentamento como resultado de limpeza da área, seu deslocamento para locações alternativas pode resultar em pressões adicionais sobre a biodiversidade na vizinhança do local de realocação. As fontes de materiais de construção também podem ter um impacto significativo sobre a biodiversidade e impactos potenciais. Medidas de mitigação devem ser consideradas como parte da AISA e do projeto detalhado. Em especial, a abertura de áreas de empréstimo ou dragagem de areia e cascalho pode ter impacto sobre a biodiversidade terrestre ou aquática. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 35 2.4.3 Infra-estrutura relacionada à construção O grande número de trabalhadores associados com a construção de projetos de mineração (às vezes milhares de trabalhadores temporários e pessoal das empresas contratadas), em conjunto com a infra-estrutura correlata, pode ter impactos significativos sobre a biodiversidade. A possibilidade de imigração mais permanente após o período de construção é uma preocupação particular em áreas ecologicamente sensíveis. Isso pode resultar no aumento significativo de pressões sobre a base dos recursos naturais em geral e sobre a biodiversidade em particular. Uma solução é acomodar os trabalhadores temporários em campos de trabalho, mas isso representa seus próprios problemas para a biodiversidade (junto com uma gama de impactos sociais associados). Por exemplo, os trabalhadores podem começar a caçar ou fazer outras demandas sobre os recursos naturais (por jardins temporários, por exemplo, ou madeira combustível). As demandas por água dos trabalhadores da construção e as exigências sanitárias relacionadas também podem representar uma ameaça à biodiversidade aquática. Para controlar os impactos sobre a biodiversidade durante a construção, algumas empresas adotaram políticas de proibição de armas de fogo, caça e pesca. Durante o período mais intenso de construção, muitas contratadas e subcontratadas podem estar no local em um dado momento e apresentarem intensas pressões contratuais para entregar a obra. Nessas situações, as responsabilidades pelas medidas de mitigação comprometidas em um PGA podem se tornar difusas ou esquecidas. Nas áreas de alta importância para a biodiversidade, é essencial que essas realidades práticas sejam subdivididas no corpo do projeto de medidas de mitigação, alocando responsabilidades para quem deve implementar essas medidas e também como será realizada a atividade de supervisão da construção. Esses cuidados asseguram que seja dada proteção adequada à biodiversidade e aos interessados diretos. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Capítulo 3. Integração da Biodiversidade às Operações 36 3.1 Introdução 37 3.2 Infra-estrutura auxiliar: considerações operacionais Destaca alguns dos impactos potenciais da infra-estrutura auxiliar sobre a biodiversidade, que costumam ser negligenciados na avaliação ambiental ou na gestão de minas. 38 Descreve as atividades compreendidas pelas operações de mineração, esboça sua relevância para a biodiversidade e fornece uma visão geral do conteúdo de todo o capítulo. 3.3 Operações: mineração e processamento de minério e descarte de resíduos 39 Discute as interfaces potenciais entre as operações de mineração e a biodiversidade e como elas podem afetar direta ou indiretamente a biodiversidade. 3.4 Oportunidades para proteção e incremento da biodiversidade Introduz o potencial para as empresas de mineração desempenharem um papel positivo na proteção ou na melhoria da biodiversidade nos arredores de suas operações. Ver lista de verificação 3.1 na página 131 42 Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 37 3.1 Introdução Para os fins dessas DBP, as operações compreendem todas as atividades relacionadas à extração e ao processamento de minério, à eliminação de material residual e ao transporte de produtos (onde ele for realizado pela companhia de mineração) (ver Figura 3.1). Esse é o negócio principal das empresas de mineração e o ponto no qual a produção começa a compensar os custos da construção e as despesas relacionadas. Isso também inclui as questões operacionais relacionadas ao uso de infra-estrutura auxiliar, em contraposição aos aspectos de construção (tratados no Capítulo 2). Figura 3.1: Integração da biodiversidade às operações Exp Pré-viabilidad e ção ol ra me ab ntas de Correção e Re Aval tal iação S ócio-Ambien Imp lant ação Fechamento açã o/P Operaçõ roc es essa mento a Ferr ilita ção Sistemas, ferramentas e processos podem ser aplicados em qualquer estágio de estilo do projeto estrutura Auxiliar Infra- nto dos Inte etime res m ro iretos os D sad Com p ão ruç vimento de Novo Pro Const l o v sen mas de Gestão Ambien jeto e D Siste tal er Min ento Planejam Enquanto a construção leva, geralmente, de um a três anos, as operações podem ocorrer durante várias décadas. Embora o foco dos esforços durante o desenvolvimento de um novo projeto esteja, quase que exclusivamente, sobre a previsão e a redução de impactos, a fase operacional geralmente proporciona oportunidades para a proteção e o incremento da biodiversidade. Para projetos de mineração mais novos, os impactos operacionais teriam sido avaliados e considerados em detalhes durante o processo de AISA. Para as operações de mineração existentes, cuja produção pode ter transcorrido por algum tempo e nas quais a biodiversidade possa ter recebido consideração limitada antes do início da produção, a seção 5.2.2 fornece orientação sobre como identificar as Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 38 interfaces entre operações de mineração e a biodiversidade e determinar se os impactos sobre a biodiversidade representam “aspectos ambientais significativos” (em linguagem SGA). Um assunto-chave desse capítulo trata dos impactos potenciais sobre a biodiversidade (ver Figura 3.2 para exemplos ilustrativos) das atividades operacionais e destaca ainda o potencial para incremento da biodiversidade. É importante reconhecer que muitas operações de mineração têm programas de exploração ativa destinados a estender reservas prováveis e comprovadas. Onde a exploração pode resultar em uma expansão significativa além do projetado, como parte do processo de permissão original, as disposições do Capítulo 2 também serão aplicáveis. 3.2 Infra-estrutura auxiliar: considerações operacionais Os principais e potenciais impactos de infra-estrutura ocorrem durante as etapas de elaboração e construção, embora algumas considerações operacionais também sejam relevantes à biodiversidade. Os impactos potenciais associados à infraestrutura de água e saneamento também estão presentes durante as operações e são tratados previamente. Embora os maiores impactos de infra-estrutura linear ocorram durante a construção, a presença contínua de barreiras físicas pode apresentar uma ameaça às espécies de animais migratórios. O principal risco à biodiversidade representado pela infra-estrutura auxiliar que não tenha sido discutido anteriormente está relacionado ao transporte de produtos químicos perigosos, de materiais residuais perigosos (tais como ácido sulfúrico produzido a partir da dessulfurização dos gases de combustão da fundição) ou de metais perigosos (tais como o mercúrio), que podem aparecer em associação com outros metais. Em vista de alguns derramamentos de materiais perigosos de grande porte nos últimos anos (incluindo o mercúrio derramado nas ruas de Choropampa, no Peru, e o cianeto de sódio no Rio Barskaun, Quirguistão), as empresas de mineração estão cada vez mais realizando avaliações sobre o perigo e o risco envolvidos explicitamente nas questões de transporte. Entretanto, elas geralmente têm como maior preocupação as populações humanas enquanto receptoras, e elas precisam estar adaptadas para tratar dos riscos à biodiversidade. As ferramentas esboçadas no Capítulo 5 podem ser prontamente adaptadas para esse fim (ver seção 5.3.2 sobre a determinação de aspectos significativos da biodiversidade). A biodiversidade também pode ser afetada pelas atividades de manutenção da infraestrutura linear, particularmente no controle de ervas daninhas e pragas. Isso pode ser minimizado através da implementação de uma gestão integrada de pragas ou da abordagem de gestão integrada de vetor para todas as atividades de gestão de pragas. Isso requer o uso de abordagens alternativas para controles de produtos químicos, em primeira instância. Onde o uso de pesticidas for essencial, devem ser selecionados aqueles de mais baixa toxidade para os seres humanos, que apresentem eficácia contra as espécies-alvo e que produzam efeitos mínimos sobre as outras espécies e o meio ambiente. Orientação adicional está disponível no Padrão de Desempenho da IFC 3: Prevenção e Redução da Poluição e Notas de Orientação correlatas. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 39 3.3 Operações: mineração e processamento de minério e descarte de resíduos 3.3.1 Mineração e processamento de minério A retirada do material de superfície e o desenvolvimento da cava são geralmente os impactos visuais mais dramáticos da mineração, mas mesmo em grandes minas a extensão da área da cava pode ser limitada. Os impactos primários sobre a biodiversidade resultam da remoção do solo para formação da cava, de rotas de acesso e da expansão progressiva para novas áreas. Geralmente, as grandes minas que funcionam durante vários anos sofrem várias expansões em área e capacidade, gerando uma seqüência de eventos que podem ser equivalentes a novas minas. Dessa forma, também pode haver a exigência para a realização de uma nova Avaliação de Impacto Sócio-Ambiental ou para a atualização da AISA inicial. A supressão da vegetação de forma mais gradual e progressiva para abrir caminho às instalações das minas e estradas de acesso ilustra como um grande número de impactos menores podem deixar, no futuro, áreas de habitat natural isoladas e com dimensões menores do que as necessárias. A introdução de ervas daninhas externas ou invasoras e de uma fauna selvagem pode ter impactos secundários que se estendem bem além da área da mina -- e esses impactos devem ser explicitamente considerados dentro dos SGA ou de planos de ação relacionados (ver seção 5.3 sobre SGA). A retirada do material de superfície ou a remoção e o descarte das rochas que constituem rejeito (isto é, rochas que não contêm minério nem tipos de minério nãoeconômico) podem também ocupar áreas amplas de terra e criar impactos potenciais sobre a biodiversidade por meio da drenagem de resíduos líquidos contaminados. Essas substâncias podem ser geradas pela erosão e pelo escorrimento de particulados, especialmente em áreas com altos índices pluviométricos, ou pela drenagem ácida, na qual pilhas de rejeito contendo sulfeto são lavadas pela chuva gerando a liberação ácida e a lixiviação dos metais associados. As medidas de mitigação padrão podem ser aplicadas para a redução de tais impactos (ver seção 7.3.2 sobre implementação e manutenção da reabilitação). Diferentes métodos de mineração apresentam diferentes riscos e oportunidades para a biodiversidade. As minas subterrâneas geralmente têm um pequeno impacto associado à retirada de minério e a seu processamento. As minas com cavas abertas se aprofundam e aumentam progressivamente, ampliando as áreas perturbadas a cada ano e oferecendo poucas oportunidades para a reabilitação precoce. Minas a céu aberto geralmente oferecem oportunidades para a reabilitação progressiva, uma vez que as áreas já mineradas podem ser realinhadas por trás das áreas ainda ativas da mina. A mineração ”convencional” do minério envolve dinamitação, escavação e transporte do minério para as instalações de processamento. Outras formas de mineração, entretanto, podem ter impactos graves sobre a biodiversidade durante o estágio de extração do minério. A extração de depósitos rasos e extensos de carvão resulta na limpeza de áreas maiores. A lavagem de minérios de depósitos aluviais (de ouro ou titânio, por exemplo) geralmente envolve depósitos rasos ainda mais extensos, que são freqüentemente localizados nos lençóis freáticos ou em pântanos. A presença ou proximidade da água cria desafios adicionais para a gestão dos impactos da mineração, embora a natureza altamente desgastada e concentrada dos depósitos signifique que os rejeitos estão geralmente inertes (ver seção 3.3.2 sobre a gestão de rejeitos). Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 40 Além dos efeitos sobre a biodiversidade associados à supressão ou à perturbação do solo, as operações de mineração têm ainda um significativo potencial para afetar a biodiversidade aquática, ribeirinha ou pantaneira – por exemplo, através da alternação entre os regimes hidrológicos e hidrogeológicos pela secagem ou o desvio de córregos superficiais. Do mesmo modo, a biodiversidade pantaneira, ribeirinha ou aquática pode ser afetada por atividades como descargas de efluentes em córregos que sustentam a biodiversidade ou ficam próximos de pântanos ou de mata ciliar de alto valor ecológico, pela migração de lençóis freáticos com baixos níveis de acidez ou altos níveis de metais contaminantes que passavam sob áreas de depósitos de rejeito e minério e pela subtração de córregos ou lençóis freáticos para o processamento de minerais e uso potável. ATI VID Pro ADES ce DE M Pla ssam ent INERA nta Ext do lo o de m ÇÃO cal raç in , Imp ão e d manu ério e e sei los pl pó Dre ão de sito d o de m anta do e re nag roc a t Lav em d has e síduo eriais age am e s r ina emoç rocho tc. Est m de ão sos oqu min d em Pro e de m ério e iné ces rio m i n ine é s r a raç io Pro me ão p nto ces or d Uso same pirom rag nto e de eta a Ret pósito hidro lúrgic me enç de p o ta ão/ r elim odutos lúrgic q o ina ção uímico s pr de oc reje itos essado s Figura 3.2: Exemplos da interseção de operações e biodiversidade IMPACTOS POTENCIAIS Impactos sobre a biodiversidade terrestre Perda de ecossistemas e habitats Perda de espécies raras e em extinção Efeitos em espécies sensíveis ou migratórias Efeitos do desenvolvimento induzido sobre a biodiversidade Biodiversidade aquática e impactos de descartes Regimes hidrológicos alterados Regimes hidrogeológicos alterados Aumento de metais pesados, acidez ou poluição Aumento de turvação (sólidos suspensos) Risco de contaminação do lençol freático Impactos sobre a biodiversidade relacionados à qualidade do ar Aumento de partículas ambientes (TSP) Aumento de dióxido de enxofre (SO2) ambiente Aumento de óxidos de nitrogênio (NOx) ambiente Aumento de metais pesados ambiente Interfaces sociais com a biodiversidade Perda de acesso a habitats pesqueiros Perda de acesso a árvores frutíferas, plantas medicinais Perda de acesso a safras alimentícias ou pasto Acesso restrito aos recursos da biodiversidade Aumento das pressões de caça Impactos de desenvolvimento induzido sobre a biodiversidade ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● ● Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade ● ● ● ● 41 As áreas das instalações de processamento e de armazenamento, os estoques de minério e os escritórios são razoavelmente limitados no tamanho, ainda que representem ocupações adicionais de terra e de perda da biodiversidade. O armazenamento local e o transporte de materiais perigosos são também um fator, conforme discutido no capítulo anterior. Os principais impactos potenciais sobre a biodiversidade estão relacionados a: • lançamentos acidentais de produtos químicos processados e eliminação de resíduos de processamento hidrometalúrgico – isto é, processamento de minerais com base no uso de soluções ou solventes, especialmente água combinada com outros produtos químicos processados (ver seção 3.3.2 sobre gestão de rejeitos); • emissões aéreas provenientes de processos pirometalúrgicos tais como torrefação e fundição, os quais incluem o dióxido de enxofre, substâncias particuladas e metais pesados, que podem ser tóxicos à flora ou à fauna; • descarte de resíduos de processos pirometalúrgicos que contêm metais tóxicos e • vazamento de drenagens de estoques de minério em córregos e lençóis freáticos. A modelagem do impacto da dispersão de fumaça de emissões pirometalúrgicas pode, por vezes, considerar os impactos sobre receptores humanos, mas precisa ser aperfeiçoada para tratar dos impactos sobre a biodiversidade. 3.3.2 Gestão de rejeitos Rejeitos se originam quando minérios extraídos são promovidos a concentrados ou a produtos finais por processos físicos como peneiramento, britagem, crivagem, lavagem e trituração ou por métodos químicos tais como lixiviação. Os impactos do armazenamento de resíduos sobre a biodiversidade ocorrem principalmente de três maneiras diferentes. Primeiro, a criação da pegada inicial tem impactos inevitáveis e, portanto, a seleção do local é o fator de projeto com influência mais profunda sobre os impactos operacionais, os custos de reabilitação e a responsabilidade pósfechamento. A escolha do local pode alterar significativamente os impactos sobre a biodiversidade e seus usuários. Em segundo lugar, os rejeitos podem conter chorume residual e contaminantes metálicos móveis que podem se infiltrar em lençóis freáticos ou ainda emergir em córregos gerando impactos ecológicos. Em terceiro lugar, acidentes, que acontecem raramente, podem ter impactos catastróficos e serem amplamente propagados. Um bom projeto e uma boa construção, juntamente com sistemas de gestão e monitoramento (ver capítulo 5), minimizarão a possibilidade da ocorrência de acidentes e de publicidade ou campanhas adversas por parte de comunidades locais e ONGs nacionais ou internacionais. O material de refugo ou rejeitos podem ser eliminados de várias maneiras, com diferentes implicações para a biodiversidade. O armazenamento terrestre é o método mais comum utilizado. Ele geralmente envolve a construção de uma barragem em um vale e a formação de uma represa de rejeitos, exceto em áreas planas, onde a barragem teria que circundar toda a área da represa. Em algumas circunstâncias, pode ser possível a devolução de rejeitos a uma mina vazia. Em países onde a precipitação supera a evaporação, tais como Canadá e Noruega, barragens de retenção de água e estruturas de desvio podem ser criadas ao redor de corpos de água existentes a fim de permitir que os rejeitos sejam depositados abaixo da superfície da água. Esse método tem a vantagem de prevenir a oxidação dos rejeitos de enxofre e o escoamento do ácido relacionado. Os impactos potenciais dessas estruturas sobre a biodiversidade são geralmente localizados, mas se houver violação, os impactos posteriores poderão ser significativos e extensos. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 42 A eliminação oceânica de rejeitos (EOR) é usada em alguns casos. Os modernos sistemas de EOR envolvem, geralmente, o tratamento de rejeitos para a remoção das substâncias mais danosas, retirando o oxigênio delas e diluindo-as com água do mar (a fim de reduzir a sua capacidade de flutuar) e finalmente bombeando os rejeitos com uma bomba submersa até descarregá-los em profundidades que vão de 80 a 100 metros. O objetivo é liberar os rejeitos abaixo das camadas superficiais de termoclina e da zona eufótica para que os rejeitos formem uma “corrente de densidade” que descende imediatamente às profundidades do oceano. Embora seus proponentes argumentem que os impactos de certa forma indeterminados sobre os organismos que habitam o fundo do oceano (bênticos) são preferíveis aos impactos sobre a biodiversidade terrestre, a eficácia da EOR é refutada em âmbito ecológico. Seus críticos apontam os riscos de quebra de tubulação, padrões não-antecipados de dispersão de rejeitos e impactos sobre organismos bênticos e eles refutam a aceitabilidade de descartar contaminantes no mar. O método final de eliminação de rejeitos é o descarte ribeirinho, no qual as águas superficiais podem ser usadas para diluir e dispersar os rejeitos ou, em outros casos, como um meio de transporte dos rejeitos a uma área administrada de depósito onde eles poderão ser estabilizados e reabilitados. A prática incomum é utilizada em situações nas quais a alta precipitação, o terreno montanhoso ou as atividades sísmicas descartam outras opções. Independentemente de qual método seja utilizado, as implicações para a biodiversidade devem ser consideradas explicitamente. A determinação do grau de adequação de quaisquer rejeitos em particular deve ser feita caso a caso. Os procedimentos de avaliação de risco podem ser usados para identificar impactos potenciais e prováveis e, dessa forma, os diferentes cenários de gestão de rejeitos. A avaliação de risco, utilizando linhas múltiplas de indícios, pode ser usada também para fazer determinações e previsões de riscos futuros. O método de gestão de rejeitos apropriado deve atender às exigências dispostas pelos resultados da avaliação de risco em conjunto com os dos órgãos reguladores e outros interessados diretos. As ferramentas e processos de engajamento dos interessados diretos estão descritos no Capítulo 6. 3.4 Oportunidades para proteção e incremento da biodiversidade O foco principal das DBP até o momento recaiu sobre os impactos potenciais ou ameaças à biodiversidade gerados pela mineração. Esses impactos ocorrem em um contexto mais amplo de ameaças à biodiversidade que precisam ser considerados caso os esforços de redução ou proteção/incremento devam ser bem-sucedidos. A identificação das ameaças externas é discutida posteriormente no Capítulo 5 (ver seção 5.4.1 sobre maturidade do contexto de conservação). Entretanto, essas ameaças também representam oportunidades de ir além da mitigação dos impactos adversos sobre a biodiversidade e de explorar as oportunidades para intensificar a conservação da biodiversidade. Esse aspecto é discutido em mais detalhes na seção 7.5. A avaliação das ameaças à biodiversidade e o desenvolvimento das propostas de conservação ou incremento não podem acontecer isoladamente, mas sim em conjunto com o engajamento dos interessados diretos-chave. Por exemplo, os interessados diretos têm uma função importante a desempenhar na identificação e no estabelecimento de prioridades relacionados a áreas de importância para a biodiversidade, bem como no desenvolvimento e na execução de propostas para o Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 43 aprimoramento da conservação. Esses aspectos são explorados posteriormente no Capítulo 6 (ver seção 6.2 sobre identificação e análise dos interessados diretos). Além disso, a seção 5.4 propõe uma extensão das abordagens para a AISA com a intenção de incluir uma avaliação dos fatores que poderiam influenciar o possível sucesso das medidas de mitigação ou incremento. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Capítulo 4. Integração da Biodiversidade ao Planejamento e à Implementação do Fechamento de Minas 44 4.1 Introdução Descreve o planejamento de implementação e fechamento e fornece uma visão geral do conteúdo do capítulo. 45 4.2 Planejamento de fechamento: estabelecimento de objetivos e metas Esboça os fatores a serem considerados na configuração dos objetivos e metas da biodiversidade para o fechamento da mina que são, em seguida, integrados aos planos de fechamento da mina. 46 4.3 Implementação do fechamento: Reabilitação e prevenção da poluição Enfatiza a natureza transiente da mineração e a importância crítica dos usos da terra após o fechamento com apoio das medidas de reabilitação e de prevenção da poluição. Ver a lista de verificação 4.1 na página 132 49 Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 45 4.1 Introdução Para os fins dessas DBP, o planejamento de fechamento se refere a processos para a garantia de que as operações de mineração serão concluídas de maneira ambiental e socialmente responsável, geralmente com o objetivo abrangente de garantir os usos da terra pós-mineração. O processo de planejamento para o fechamento deve engajar os interessados diretos extensivamente nos seus objetivos e aspirações após o fechamento e deve tentar reconciliar quaisquer perspectivas concorrentes (como os usos econômicos da terra após o fechamento em oposição aos usos da terra para conservação da biodiversidade). Isso deve levar em conta a perspectiva de vida útil de toda a mina e tratar de todos os aspectos de fechamento, não apenas os relacionados à conservação e reabilitação da biodiversidade. A implementação do fechamento envolve medidas de reabilitação e de prevenção da poluição para assegurar que os objetivos de fechamento sejam alcançados, assim como medidas complementares para tratar os aspectos sociais e econômicos (ver Figura 4.1). Figura 4.1: Integração da biodiversidade ao planejamento de fechamento Imp lant ação Fechamento açã o/P Operaçõ roc es essa mento ilita ção a Ferr me ab ntas de Correção e Re Aval tal iação S ócio-Ambien estrutura Auxiliar Infra- Sistemas, ferramentas e processos podem ser aplicados em qualquer estágio de estilo do projeto iretos os D sad Com p ão ruç Pré-viabilidad e o çã a r lo mento de Novo Pr Const i v Exp l o ojet nv e s t ã e o G s A e o m d bien De Sistemas tal nto dos Inte etime res or m er Min ento Planejam Enquanto os Capítulos 2 e 3 focaram principalmente na identificação do impacto e, até certo ponto, em sua redução, o planejamento de fechamento diz respeito principalmente à identificação e à execução de oportunidades para o aprimoramento da reabilitação e conservação. O planejamento de fechamento deve começar durante Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 46 a fase de desenvolvimento do projeto e ser revisto periodicamente durante a fase operacional. Quanto mais perto uma mina estiver do seu fechamento, mais detalhes os planos deverão conter. O planejamento do fechamento apresenta uma oportunidade para a restauração da biodiversidade afetada durante as fases de exploração e operação, ao menos até certo ponto. Ele deve considerar as descobertas de linha base e os levantamentos e monitoramento da biodiversidade em andamento. Um foco importante do planejamento do fechamento devem ser as medidas de longo prazo de sustentabilidade da conservação, mitigação e reabilitação, além de quaisquer exigências de monitoramento relacionadas. 4.2 Planejamento do fechamento: Estabelecimento de objetivos e metas Os objetivos e metas alcançáveis para o restabelecimento da biodiversidade são essenciais para dar à empresa uma estrutura sobre a qual basear seu programa de reabilitação e para prover padrões mensuráveis em relação aos quais os órgãos reguladores e interessados diretos possam determinar se a empresa atendeu a todas as exigências necessárias antes do fechamento da mina e da rescisão da concessão. Estas metas e objetivos para a biodiversidade devem estar integradas aos SGA gerais para uma operação (ver seção 5.3 sobre SGA). O estabelecimento de metas e objetivos de fechamento não é um exercício teórico isolado; ele deve ser desenvolvido através de um processo dinâmico e interativo envolvendo os interessados diretos da mineração. Ao serem configurados os objetivos e metas de biodiversidade, os seguintes aspectos devem ser sempre levados em consideração: Exigências reguladoras e outras diretrizes relevantes: estas geralmente irão incluir as exigências especificadas no PGA para a AISA elaboradas antes da aprovação e construção do projeto, assim como outras leis, regulamentos, políticas e diretrizes aplicáveis (como as relativas à proteção da biodiversidade e à conservação de espécies raras). O registro de exigências legais, desenvolvido para as operações dos SGA, deve ser discutido com as autoridades governamentais relevantes. Além disso, quaisquer iniciativas e planos de ação, nacionais ou regionais, para a implantação da Convenção da Diversidade Biológica devem ser revistos no contexto do estabelecimento de metas de fechamento. Consulta efetiva aos interessados diretos: as consultas aos interessados diretos sobre assuntos relativos ao fechamento devem se iniciar previamente e ter como foco inicial as questões mais amplas quanto ao uso da terra após o fechamento. Entretanto, à medida que informações adicionais sobre a biodiversidade forem disponibilizadas através de monitoramentos e levantamentos contínuos, poderão ser desenvolvidos os cenários da reabilitação, sempre que possível com o envolvimento dos interessados diretos (ver seção 6 sobre ferramentas e processos de engajamento). Esta foi a abordagem adotada nas minas da ilha de Misima, na Papua-Nova Guiné (ver Box 4.1). Interesses concorrentes precisam ser entendidos e reconciliados: em conexão com o ponto de consulta anterior, podem haver pressões e perspectivas concorrentes em relação aos usos desejáveis da terra após o fechamento. Por exemplo, os fazendeiros em geral preferem ver a terra convertida para a agricultura produtiva ou usos florestais; os planejadores preferem enxergar o seu potencial para satisfazer a crescente demanda do setor de habitação; enquanto que os militantes ecológicos Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 47 podem vislumbram usos da terra -- pós-fechamento da mina -- capazes de promover o incremento da biodiversidade. O entendimento e a reconciliação desses interesses conflitantes é um componente essencial do processo de planejamento do fechamento (ver seção 6 sobre ferramentas e processos para a participação dos interessados diretos). Todas as informações disponíveis sobre a biodiversidade: com base nos valores de biodiversidade pré-mineração, o planejamento do fechamento precisa considerar se eles poderão ser substituídos de forma real, utilizando os métodos de reabilitação reconhecidos pelas boas práticas com gestão adaptativa. As informações precisam ser vistas sob a perspectiva de um ecossistema e levar em conta aspectos como comunidades da flora e da fauna, habitats, espécies dos indicadores principais, aspirações dos interessados diretos e espécies raras, ameaçadas ou incomuns. Limitações técnicas: a mineração pode resultar em alterações significativas nas características do solo, micro-clima, topografia e hidrologia. Os métodos de propagação para algumas espécies de planta originalmente presentes podem ser desconhecidos. Além disso, as características inatas do local – em termos de situação de nutrientes, declives, disponibilidade da água e assim por diante – podem também influenciar os tipos de comunidades de plantas e animais que podem ser apoiados em última análise. Essas e outras limitações técnicas precisam ser consideradas para que o conjunto de objetivos da biodiversidade seja alcançável. Usos da terra pré-mineração e a extensão da degradação da biodiversidade: os usos preexistentes da terra e a extensão da degradação da biodiversidade influenciam a possibilidade de os ecossistemas nativos serem estabelecidos após a mineração. As expectativas dos interessados diretos serão claramente maiores nos casos em que a mineração tiver acontecido em um ecossistema relativamente não perturbado, em vez de em uma área que tenha sido fortemente degradada por outros usos da terra. Caso se pretenda mitigar ou intensificar: onde a biodiversidade possa ter sido degradada antes da mineração, os princípios de mitigação exigem que as companhias de mineração restaurem a biodiversidade em nível comparável. Porém, as empresas comprometidas com a excelência terão como objetivo, por vezes, a busca pela melhoria da biodiversidade. Por exemplo, quem minera em regiões desmatadas e muito desgastadas devido à intensa pecuária extensiva pode optar por restabelecer uma comunidade de vegetação com valores de conservação significativamente mais altos do que aqueles que existiam antes da mineração. Box 4.1. Usos sustentáveis da terra após o fechamento – Misima Mines Limited, Papua-Nova Guiné A mina de Misima da Placer Dome, localizada na região da Ásia-Pacífico, fica na ilha de Misima, a aproximadamente 600 quilômetros a leste da capital da Papua-Nova Guiné, Port Moresby. Seu clima é tropical, com altas temperaturas e média de chuvas de 3.000 mm por ano. A vegetação original era predominantemente de floresta tropical úmida. Atualmente, no entanto, existem áreas substanciais de floresta em estágio de crescimento secundário, que consistem de novas florestas (após o desmatamento para a produção de madeira usada nas atividades iniciais de mineração), além de velhos plantios (áreas limpas de terra que os Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 48 locais usavam para plantios de subsistência). A floresta e a vegetação secundária são utilizadas pelos moradores das vilas locais como fonte de madeira de construção, madeira para entalhes, alimento (frutas e nozes comestíveis, caça e colheita de ovos), flores para decoração e frutas e folhas medicinais e cerimoniais. Apesar de a mineração artesanal ter começado na década de 1880, as Minas de Misima desenvolveram uma moderna operação a céu aberto na década de 1980. A mina está agora nos estágios finais de fechamento e serve como um bom exemplo de como as considerações da biodiversidade podem estar integradas ao planejamento de fechamento para atender às necessidades culturais e sócio-econômicas da população local. A empresa reconheceu que a restauração completa do ecossistema pré-impacto não era um objetivo realista. Através de uma consulta extensiva com o Governo da Papua-Nova Guiné e com a comunidade, a empresa desenvolveu uma estratégia de reabilitação projetada para atender às exigências da população local em termos de áreas agrícolas e produtos florestais, além de metas ambientais como a estabilidade no longo prazo, a biodiversidade e a resiliência do ecossistema. O objetivo do programa de reflorestamento é “formar um ecossistema estável, biologicamente diversificado e resiliente que seja produtivo para as futuras gerações, como floresta ou terra de agricultura de subsistência”. O reflorestamento dos rejeitos de mineração é realizado em três estágios, utilizando empregados locais da comunidade para a qual a terra será devolvida. A estabilização envolve o rápido estabelecimento de grama e de áreas para o cultivo de leguminosas cobrindo o solo para protegê-lo da erosão. Essas espécies também produzem matéria orgânica e aumentam o nitrogênio do solo. A plantação da fase 1 consiste no estabelecimento de 12 espécies de árvores pioneiras de crescimento rápido que possam tolerar condições de relativa exposição ao sol. Finalmente, após três ou quatro anos, as árvores formam uma densa cobertura que reduz a densidade das plantas que cobrem o solo e permite que a plantação da fase 2 de espécies “clímax” de árvores de floresta aconteça. Através do reconhecimento da importância da diversidade botânica, a empresa está plantando por volta de 70 espécies de árvores diferentes, produzidas no viveiro local. A reabilitação progressiva evidenciou que quando as operações de mineração cessaram, em maio de 2004, 80% das áreas perturbadas já tinham sido reabilitadas. Com o tempo, a colonização das áreas que não passaram pelo processo de mineração aumentará o número de espécies presentes, resultando no atendimento dos objetivos da biodiversidade e no desenvolvimento de uma floresta sustentável capaz de atender às necessidades da comunidade. Entretanto, reconhece-se que os locais afetados não poderão ser usados pela comunidade em um futuro próximo, pois os nutrientes do solo devem se restabelecer a níveis adequados para que possam apoiar as atividades de subsistência. Um programa de monitoramento foi implementado para avaliar o progresso dos objetivos de reabilitação de longo prazo. Programas de treinamento e pesquisa foram estabelecidos para fornecer à comunidade os conhecimentos e habilidades necessários para gerir sustentavelmente a floresta em conjunto com outras safras comerciais, tais como coco, baunilha e banana. Nota: a Barrick Gold Inc. assumiu o controle da Placer Dome no início de 2006 e agora aquele local está sob a supervisão de seu setor de fechamentos. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 49 Ocupação e uso das terras posterior às atividades de mineração: a ocupação da terra pós-mineração irá influenciar que objetivos de conservação são possíveis. Devido a pressões da população, algumas áreas podem não estar disponíveis para os fins de conservação. Nestas situações, os objetivos e metas para a conservação da biodiversidade em áreas mineradas e outras arrendadas necessitarão levar em conta outros usos da terra e se concentrar em saídas que proporcionem os melhores resultados gerais, ambientais, econômicos e sociais. Integração da gestão da biodiversidade em todas as áreas da concessão: para a conservação e o restabelecimento da biodiversidade, é muito importante minimizar os impactos sobre as comunidades de flora e fauna das áreas vizinhas sobre as quais a empresa de mineração detenha o controle. Iniciativas como a redução de pastos, o controle de predadores e herbívoros introduzidos, o controle de incêndios, a erradicação de plantas invasoras e a criação de caixas de ninho podem ser utilizadas para ampliar os valores de conservação nas áreas da concessão onde não houver mineração, podendo suprir as fontes de recrutamento no longo prazo. Grupos locais de conservação são uma boa fonte de informações sobre quais iniciativas poderiam fornecer o melhor custo-benefício. Minimização de impactos secundários: alguns objetivos de reabilitação devem focar na minimização dos efeitos secundários da operação de mineração – por exemplo, por meio do controle da erosão, que poderia aumentar a carga de sedimento secundária, afetando a biodiversidade aquática. Outras oportunidades para a melhoria da biodiversidade: as discussões com os interessados diretos realizadas antes da definição dos objetivos de reabilitação podem revelar outras oportunidades para a melhoria da biodiversidade que a comunidade pode não ter recursos técnicos ou financeiros para implementar. Por exemplo, a empresa poderia considerar a doação de plantas ou sementes a escolas e grupos comunitários para projetos de reflorestamento local, fornecendo programas de treinamento sobre reabilitação e valores de gestão de conservação, comunicando (por meio de informativos) e patrocinando planos de recuperação. No estabelecimento de metas e objetivos para o fechamento da mina relacionados à biodiversidade, estimativas e provisões devem ser feitas para os custos de conclusão. O ICMM publicou recentemente um estudo relevante sobre a certificação financeira para o fechamento e a recuperação da mina Após as metas e objetivos do fechamento terem sido estabelecidos, uma estratégia e um plano de gestão detalhados terão que ser desenvolvidos, dispondo as responsabilidades, métodos, prazos e custos de implementação dos objetivos acordados (o que incluirá a biodiversidade e uma variedade de outros objetivos após o fechamento). Esses aspectos são o assunto de um projeto atual do ICMM. 4.3 Implementação do fechamento: Reabilitação e prevenção da poluição A mineração representa um uso transiente da terra e a aspiração deve ser sempre a de restaurar a terra usada na mineração a algum uso “produtivo”. Em termos mais amplos, a reabilitação se refere às medidas tomadas para retornar a terra na qual a mineração aconteceu aos usos acordados para o pós-fechamento. Implicitamente, isso requer que as medidas de reabilitação de longo prazo não sejam impossibilitadas pela poluição residual (como a presença de toxinas nos solos utilizados para reflorestamento ou de drenagem ácida de rochas). Em algumas jurisdições, a exigência legal é a restauração do uso da terra à condição de pré- Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 50 mineração, enquanto que em outras, os usos finais são abertos a um processo de negociação com as autoridades reguladoras ou com um conjunto mais amplo de interessados diretos. A restauração pode impor custos significativos – por exemplo, os custos para a restauração das terras de pasto de Queensland foram, segundo consta, mais de cem vezes superiores ao valor das terras de pasto adjacentes. Em comparação, opções alternativas de reabilitação podem ser encontradas a custo menor e com benefícios potencialmente maiores para a biodiversidade. Um objetivo de reabilitação que responda à biodiversidade pode ser descrito como a seguir: “Estabelecer um ecossistema nativo sustentável que seja similar ao ecossistema pré-existente conforme possa ser alcançado dentro dos limites das técnicas de boas práticas reconhecidas e o ambiente de pós-mineração”. Isso compromete a empresa a implementar a reabilitação de boas práticas voltada para o restabelecimento dos valores de conservação pré-existentes, porém reconhece que alguns aspectos que possam ser inevitáveis (como a alteração das características topográficas, hidrológicas e do solo) podem limitar até onde isso pode ser feito. O progresso para alcançar esse objetivo pode ser medido pela comparação dos parâmetros de biodiversidade na área reabilitada com aqueles de locais de referência selecionados e não-minerados. Outros objetivos podem tratar de aspectos mais objetivos, como o fornecimento de habitat para espécies raras ou incomuns. Box 4.2. Envolvendo comunidades no planejamento da vida útil da mina – Mina de Carvão Gregory Crinum, Queensland, Austrália A Gregory Crinum consiste de duas minas de carvão operadas pela BHP Billiton Mitsubishi Alliance (BMA). Essas operações a céu aberto e subterrâneas fornecem carvão para uma única planta de lavagem e transporte por estrada de ferro. As minas estão localizadas em uma área que foi extensivamente desmatada para a pecuária e a agricultura, mas que também contém áreas de vegetação rasteira, algumas das quais têm valor de conservação devido a sua escassez. Os métodos de consulta à comunidade usados pela BMA para desenvolver o Plano de Vida da Mina são um exemplo de como as empresas de mineração podem envolver os interessados diretos para que eles auxiliem na tomada de decisões fundamentais para as questões de uso de terra no longo prazo. O processo se iniciou com uma reunião pública em setembro de 2002. Um Grupo de Trabalho Comunitário foi formado pelos interessados diretos locais. Ele incluía representantes de grupos de proteção à terra e ao meio ambiente, de planejamento regional e agricultura, assim como o governo local, o Órgão de Proteção Ambiental de Queensland e o pessoal de gestão, meio ambiente e de relações públicas das minas Gregory Crinum. Um mediador independente foi contratado para ajudar na condução segura do processo. Os dados do grupo foram utilizados para ajudar a traçar as melhores opções de uso futuro para diversas unidades de terra (ou domínios) em toda a concessão de mineração para que a mina pudesse fazer a terraplanagem necessária, estabelecer a vegetação certa (árvores, arbustos e gramados) e qualquer outra coisa exigida para fazer o plano virar realidade. O grupo também ajudou a desenvolver os critérios para medir se os esforços de reabilitação das minas estavam progredindo Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 51 com sucesso em relação aos usos de terra acordados. Um processo de revisão foi desenvolvido com o passar do tempo para refletir a mudança dos valores da comunidade e os avanços no conhecimento científico. O Grupo de Trabalho Comunitário reuniu-se 16 vezes ao longo de oito meses. Seus membros logo chegaram à conclusão de que eram possíveis vários usos da terra nos vários domínios. Esse consenso abrangeu: a conservação da vegetação nativa, a pecuária, a agricultura, a recreação e as áreas industriais. Foram desenvolvidas medidas específicas para os usos da terra pós-mineração. Os critérios recaíram em várias categorias, entre elas o estabelecimento das características da vegetação (densidade, composição, riqueza de espécies e sustentabilidade), o controle de particulados, incêndios, ervas daninhas e animais selvagens, o estabelecimento da função do ecossistema, a conectividade (conexão entre áreas de significado ecológico), a gestão da terra após a mineração e a sustentabilidade dos usos propostos para a terra após a mineração. A proteção ao que restou da Acacia fiarpopfiylla (e de outras espécies de acácias) foi reconhecida como importante para a conservação continuada dos ecossistemas em risco, que são parte do habitat do raríssimo canguru pequeno australiano (Onychogalea fraenata). O contínuo processo de revisão requererá que a empresa mineradora divulgue informações relevantes sobre a mina e quaisquer acontecimentos passíveis de afetar o plano da mina. Os membros do Grupo de Trabalho Comunitário e os membros e grupos comunitários convidados se reúnem anualmente para rever o Plano de Vida Útil da Mina, medir o progresso atual da reabilitação em comparação às medidas de sucesso e, se necessário, fazer alterações no Plano. A BMA está usando agora uma abordagem similar para desenvolver as estratégias de reabilitação e de fechamento da mina nas outras jazidas de carvão da empresa. É importante não criar falsas expectativas entre os interessados diretos. As companhias devem verificar os que as outras minas que operam na região alcançaram e o que as recentes pesquisas mostram ser possível realizar. Os projetos de reflorestamento local realizados pelos grupos voluntários também podem fornecer informações úteis sobre o restabelecimento da vegetação nativa. A experiência da mina de carvão Gregory Crinum ilustra os benefícios de se engajar as comunidades na reabilitação e no fechamento das minas (ver Box 4.2). Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 52 Box 4.3. Restauração da riqueza botânica após a mineração de bauxita – a Floresta Jarrah, no Sudoeste da Austrália A Alcoa World Alumina Australia opera duas minas de bauxita em Willowdale e Huntly, em Darling Range, no sudoeste da Austrália. A mina de Huntly é a maior produtora mundial de bauxita. O tamanho das cavas da mina variam de um hectare até dezenas de hectares. O objetivo da Alcoa, após a mineração da bauxita, é restabelecer todos os usos de solo pré-existentes na floresta. O restabelecimento da floresta jarrah sobre as áreas mineradas da forma mais parecida possível com a floresta original foi determinado como sendo a melhor maneira de alcançar esta meta. A floresta jarrah é um recurso de alto valor para as pessoas do sudoeste da Austrália. Ela é reconhecida pela sua flora diversificada, sendo uma das florestas mais ricas em espécies de plantas do mundo fora as florestas tropicais úmidas. A restauração da riqueza botânica é, portanto, vista como um objetivo importante para restabelecer a floresta jarrah. O programa se iniciou com metas qüinqüenais de melhorias. A primeira meta era alcançar 80% da riqueza em espécies da floresta. Quando isso foi alcançado, uma nova meta foi estabelecida para 2000 – que, em média, 100% das espécies de plantas regionais encontradas em locais representativos da floresta jarrah deveriam ser também encontradas em uma área de reabilitação de 15 meses, com pelo menos 20% das espécies encontradas sendo de uma lista de espécies resistentes prioritárias. A Alcoa alcançou sua meta. Em 2000, a empresa conseguiu uma média de 100% de restauração em Huntly e Willowdale – em outras palavras, todas as áreas reabilitadas tinham, em média, o mesmo número de espécies de plantas regionais encontradas em florestas jarrah próximas. A meta agora é manter esse recorde e, dessa forma, a riqueza botânica da área após a mineração. Isso está dentro do contexto do procedimento de boas práticas de reabilitação desenvolvido pela Alcoa, tendo bases científicas para sua execução. (Ver também Box 7.2) Apesar de muitas empresas de mineração terem alcançado resultados notáveis no restabelecimento de ecossistemas nativos (ver Box 4.3), em zonas onde o custo ou outros fatores limitantes do local fazem com que isso seja impraticável, outros objetivos que ainda geram valor à biodiversidade devem ser considerados. Os exemplos incluem: • o reflorestamento utilizando importantes espécies funcionais (para controle da erosão, por exemplo, ou a fixação do nitrogênio), além de espécies com valor estético e quaisquer espécies locais importantes para a conservação da biodiversidade que sejam de prático estabelecimento, enquanto protegem contra a invasão de espécies exóticas/não-nativas que possam proliferar sem controles adequados; • situações onde outros usos da terra, tais como a produção de alimentos, medicamentos ou valores culturais são prioridade – nessas situações, o restabelecimento dos valores da biodiversidade pode ser um objetivo secundário, porém compatível; Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 53 • o restabelecimento de espécies fundamentais, tais como espécies de plantas raras ou ameaçadas, ou o desenvolvimento do habitat adequado para a recolonização de espécies raras ou ameaçadas da fauna e • a reabilitação estável, sustentável e que inclua o uso de espécies nativas onde for possível. Exemplos do último item podem incluir a superfície de uma barragem de rejeito, onde a estrutura e a composição química do solo são muito diferentes das áreas vizinhas não-mineradas. No entanto, todos os esforços devem ser feitos para construir um perfil de solo adequado ao crescimento de plantas e ao estabelecimento de espécies de plantas nativas locais que irão substituir alguma biodiversidade e, ao mesmo tempo, realizarão funções críticas, como a proteção contra a erosão e absorção de água. Freqüentemente, nenhum limite específico de tempo é dado para que os objetivos sejam alcançados. Isso é assunto para ser discutido entre a empresa, as autoridades reguladoras e demais interessados diretos. Entre as causas válidas de incerteza estão imprevisibilidades climáticas e a experiência limitada referente aos processos de sucessão no ambiente pós-mineração específico do local. A abordagem recomendada consiste em estabelecer programas de monitoramento e pesquisa (ver seção 7.3.3 sobre monitoramento e pesquisas em andamento), traçar critérios de conclusão e agendar uma série de revisões da situação em períodos determinados. Ao fixar objetivos para reabilitação da biodiversidade, as empresas de mineração devem sempre levar em consideração as exigências de gestão que serão necessárias para sustentar os valores de conservação no longo prazo, as responsabilidades sobre a implementação e o financiamento dos custos de gestão. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 54 Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 55 SEÇÃO C: Sistemas, Ferramentas e Processos de Gestão, Avaliação, Mitigação e Reabilitação Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Capítulo 5. Sistemas de Gestão e Ferramentas de Avaliação 56 5.1 Introdução Introduz sistemas e ferramentas para a avaliação e gestão da biodiversidade e suas conexões aos estágios operacionais descritos na Seção B. 57 5.2 Avaliações do Impacto Sócio-Ambiental Descreve os estágios-chave no processo de AISA e sua aplicabilidade em todo o ciclo de mineração, fornecendo orientação prática sobre a integração da biodiversidade às AISA. Ver lista de verificação 5.1 na página 134 57 5.3 Sistemas de Gestão Ambiental Descreve os estágios-chave na implementação de SGA e como a biodiversidade pode ser gerida efetivamente em cada estágio dos SGA. Ver lista de verificação 5.2 na página 138 68 5.4 Ampliando o alcance das análises convencionais Descreve algumas limitações das AISA convencionais e sugere como elas podem ser superadas para fornecer uma base mais forte para a mitigação, a proteção e o aprimoramento da biodiversidade. Ver lista de verificação 5.3 na página 143 78 Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 57 5.1 Introdução Este capítulo descreve alguns dos sistemas e ferramentas principais usados para a avaliação da gestão das questões de biodiversidade. As principais ferramentas discutidas são a Avaliação de Impacto Sócio-Ambiental e os Sistemas de Gestão Ambiental. A AISA está geralmente associada aos estágios de exploração e viabilidade do ciclo do projeto de mineração, enquanto os SGA estão mais associados às operações e fechamentos de minas. Conforme indicado no capítulo 1, entretanto, os sistemas, ferramentas e processos discutidos nos capítulos subseqüentes são aplicáveis em qualquer dos três estágios operacionais discutidos nos capítulos 2, 3 ou 4. Por exemplo, a implementação dos SGA durante a exploração fornece estrutura para identificar e gerir impactos nesse estágio inicial. Da mesma maneira, a determinação dos aspectos significativos de biodiversidade para SGA pode exigir a aplicação dos estágios de avaliação e estimativa da AISA. Cada vez mais, a AISA é vista como um processo de gestão dos impactos ambientais e sociais, em vez de apenas um exercício conectado às exigências de permissão. Embora os usuários dessas DBP já conheçam até certo ponto tanto os SGA quanto a AISA, a relevância específica à avaliação e gestão da biodiversidade é descrita abaixo. Além disso, algumas abordagens para a ampliação do alcance de análises convencionais são esboçadas. 5.2 Avaliações do Impacto Sócio-Ambiental 5.2.1 Introdução à estrutura da AISA A Avaliação de Impacto Sócio-Ambiental é uma ferramenta importante para garantir que a biodiversidade está integrada ao planejamento e à tomada de decisão do projeto e que interfaces ambientais e sociais relevantes serão consideradas. O processo da AISA fornece uma abordagem estruturada para considerar as conseqüências ambientais, econômicas e sociais das opções e alternativas ao desenvolver um projeto de mineração. Embora as exigências e práticas legislativas variem ao redor do mundo, os componentes fundamentais de uma AISA de relevância para a biodiversidade incluem os itens abaixo: • triagem ou determinação para identificar os aspectos ambientais e sociais a serem avaliados e para determinar o nível de avaliação exigido para um projeto; • estudos básicos sobre aspectos ambientais e sociais para determinar sua situação pré-mineração e auxiliar na previsão do impacto e no monitoramento de alterações reais; • previsão do impacto e avaliação do nível dos impactos que podem resultar devido ao projeto, incluindo uma análise das alternativas; • medidas de mitigação e aprimoramento e a incorporação de medidas protetoras na elaboração do projeto e dos PGA; • monitoramento para garantir que as previsões são precisas e que quaisquer impactos imprevistos que possam ocorrer, ou quaisquer falhas nas medidas de mitigação, sejam identificados e retificados; • auditorias de acompanhamento para garantir que os PGA sejam implementados; • exigências mínimas de consulta aos interessados diretos ou formas mais substanciais de engajamento dos interessados diretos durante todo o processo. Para considerar os vários aspectos da biodiversidade, a AISA deve: • avaliar os níveis relevantes da biodiversidade, isto é, o ecossistema, as espécies, e. se apropriado, a biodiversidade genética; Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 58 • avaliar as interconexões entre os níveis de biodiversidade considerando as relações estruturais e funcionais e como elas podem ser afetadas pelo projeto proposto; • coletar dados detalhados de indicadores-chave da biodiversidade; • avaliar o alcance total dos impactos, inclusive os primários, secundários, cumulativos e induzidos; • avaliar a importância dos conhecimentos da comunidade e dos povos nativos sobre a biodiversidade local e a participação dos interessados diretos; • esclarecer os critérios utilizados para avaliar os impactos e • considerar os impactos e as medidas de mitigação para biodiversidade. A aplicabilidade da AISA aos estágios de ciclo do projeto de mineração está ilustrada na Figura 5.1. É importante reconhecer que a aplicação da AISA se beneficia muito ao ser realizada dentro de uma estrutura de planejamento estratégico abrangente, na qual o desenvolvimento e a conservação potencial da terra foram considerados de maneira integrada em nível regional. Essa aplicação pode tomar a forma de exercícios de planejamento estratégico regional patrocinado pelo governo, de AISA estratégicas realizadas nos níveis setoriais ou regionais, do planejamento de gestão de bacias hidrográficas ou iniciativas tais como a Iniciativa de Planejamento da Paisagem da UNESCO/IUCN6 – da qual o ICMM participa. Idealmente, esses exercícios de planejamento estratégico devem ser realizados com dados de múltiplos interessados diretos. Apesar de ser lugar comum em muitos países industriais do Ocidente, nos países em desenvolvimento o contexto de planejamento estratégico é ausente na maioria das vezes e os documentos AISA têm maior possibilidade de estarem sujeitos a opiniões contrárias relacionadas aos impactos e aceitabilidade do projeto. Essa situação é revista na seção 5.4. 5.2.2 Triagem e escopo das questões de biodiversidade O objetivo da triagem e do escopo das questões de biodiversidade é identificar os aspectos ambientais e sociais a serem avaliados e determinar o nível de avaliação exigido para um projeto. Isso envolve uma apreciação inicial do contexto de biodiversidade de um local de exploração ou um projeto de expansão. Os passos teóricos primários a seguir podem ajudar a estabelecer inicialmente o contexto da biodiversidade: • obter informações prontamente disponíveis sobre a biodiversidade através da revisão de mapas e publicações disponíveis online; • identificar se o local ou a área adjacente são áreas protegidas – isto é, se compõem uma área designada para proteção da biodiversidade em nível local, nacional, regional ou internacional (ver Seção D para fontes-chave de informações sobre esse e os próximos dois tópicos); • identificar se o local ou a área adjacente não estão protegidos atualmente, mas se já foram identificados por governos ou outros interessados diretos como tendo uma alta prioridade de conservação da biodiversidade; • identificar se o local ou a área adjacente possuem espécies especiais, que possam estar sob ameaça (embora a área possa não estar atualmente protegida oficialmente); • rever as provisões legais relacionadas à biodiversidade e • evocar as visões dos interessados diretos sobre se o local ou a área adjacente têm importante valor cultural ou tradicional. 6 Em março de 2004, a UNESCO convocou uma reunião de várias organizações interessadas, incluindo a IUCN e o ICMM, para discutir uma iniciativa de Planejamento da Paisagem. O resultado desse encontro foi o apoio à iniciativa por parte de vários de setores, entre os quais organizações de conservação e grupos industriais. Dessa forma, a UNESCO dará andamento à iniciativa com a assistência do Centro para a Política de Conservação de Cambridge. A IUCN e o ICMM participarão da iniciativa. 59 Onde quer que esse estágio de triagem inicial identifique áreas de alta importância para a biodiversidade, deverão ser considerados, em mais detalhes, os possíveis impactos, tanto diretos quanto indiretos sobre tais áreas, entre os quais os impactos relativos à infra-estrutura auxiliar. Subseqüentemente ou em paralelo, um levantamento básico das áreas “naturais” deve ser realizado, utilizando mapas e documentos de planejamento, levantamentos aéreos ou uma caminhada pelo local. Isso é fundamental devido ao fato de a importância da biodiversidade estar diretamente correlacionada a uma vegetação não-perturbada. O engajamento precoce com os interessados diretos também pode ajudar a identificar os usos que as pessoas fazem da biodiversidade em quaisquer áreas de importância particular. Fases da Mineração l l l l l l l l l CONSTRUÇÃO l l OPERAÇÃO l l FECHAMENTO l l Auditoria pós-projeto Mitigação/incremento l Monitoramento Avaliação do Impacto l Revisão e decisão Estudos de Linha Base l Relatório ESIA VIABILIDADE Determinação da ESIA EXPLORAÇÃO Avaliação Preliminar Fases do Processo da AISA Triagem Figura 5.1: Aplicabilidade da AISA aos estágios do ciclo de mineração l Durante o estágio de triagem e determinação, é importante também começar a mapear a interseção entre as atividades de mineração propostas e os impactos potenciais tendo em mente o seguinte: • Jogue a rede longe: olhe além das interfaces óbvias entre a biodiversidade e a mineração, como a supressão de florestas. Por exemplo, se houver a possibilidade de descargas em cursos de água, considere os impactos sobre os peixes migratórios e os pântanos rio abaixo. • Inclua rotas de transporte e infra-estrutura associada: considere os impactos que o vazamento de produtos químicos processados ou resíduos perigosos -- que viajam para e a partir da operação de mineração -- poderia ter sobre a biodiversidade. Além disso, garanta que a infra-estrutura auxiliar, como o fornecimento de energia elétrica dedicado ou a infra-estrutura de exportação dos produtos, seja levada em consideração. • Considere as interfaces da sociedade com a biodiversidade: a biodiversidade pode ter uma variedade de usos ou valores importantes para as comunidades locais, indo desde a forma estética até uma forte dependência para a subsistência ou para os meios de vida. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 60 5.2.3 Estudos de referência basal: quando, como e considerações práticas Os estudos de referência basal estabelecem uma base para a previsão de impactos, o monitoramento dos impactos previstos e a estimativa do sucesso das medidas de mitigação. Para novos projetos, a coleta de dados detalhados de referência basal pode ser importante onde: • os esforços iniciais no mapeamento do contexto de biodiversidade identificarem áreas de potencial, porém com importância incerta para a biodiversidade, o que poderia ser beneficiado por estudos adicionais para estabelecer uma referência basal; • a terra adjacente ou afetada pela operação tiver valor claro para a biodiversidade, mas estiver sujeita a uma gama de ameaças existentes (as quais podem ou não incluir mineração). Um trabalho adicional de campo poderia ser utilizado para caracterizar a natureza e importância relativa das ameaças; • as áreas de importância para a biodiversidade formem divisas com a operação de mineração e os padrões de uso sejam complexos, não estando claramente entendidos e as comunidades locais tiverem uma alta dependência da biodiversidade. Nesses casos, pesquisas adicionais de campo poderiam ajudar no estabelecimento de padrões de uso e, talvez, nos valores relacionados que as pessoas estabelecem em relação ao acesso à biodiversidade. Box 5.1. Parceria para um melhor entendimento da biodiversidade – Floresta de Pic de Fon, Guiné O ecossistema da floresta da Alta Guiné, que inclui porções da Guiné, país da África Ocidental, chegou a cobrir 420.000 km2. Séculos de atividade humana resultaram na perda de aproximadamente 70% da cobertura original da floresta. A floresta remanescente está restrita a um número de trilhas isoladas que são refúgios para as espécies singulares da região, entre elas o chimpanzé e o hipopótamo-anão. Uma dessas trilhas isoladas é a reserva florestal de Pic de Fon, na Guiné. A Rio Tinto Iron Ore Atlantic (RTIO), divisão da Rio Tinto, está atualmente empenhada na prospecção de minério de ferro na reserva de Pic de Fon. Dado o potencial de alta biodiversidade no interior da Pic de Fon, a Rio Tinto celebrou um contrato com a Conservation International (CI) para avaliar a biodiversidade da região, assim como as ameaças sócioeconômicas potenciais e as oportunidades de conservação na Pic de Fon. Essa parceria foi formada no sentido de fomentar ganhos significativos para a conservação da biodiversidade em benefício das comunidades que dependem dos recursos naturais da região e também para o governo da Guiné. Um levantamento biológico terrestre, conduzido em parceria com o Programa de Avaliação Rápida (RAP, na sigla em inglês) da CI e com o programa da África Ocidental, foi concluído em novembro e dezembro de 2002 para examinar locais dentro da concessão da Rio Tinto na reserva de Pic de Fon. Durante o RAP, aproximadamente 800 espécies foram registradas, inclusive algumas espécies novas para a ciência e 11 espécies ameaçadas, tais como o chimpanzé da África Ocidental e a Prinia leontica de Serra Leoa. Essas descobertas servirão de base para os estudos da Rio Tinto com vistas a sua Avaliação de Impacto Sócio-Ambiental. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 61 Ainda em dezembro de 2002, a CI realizou uma avaliação de riscos e oportunidades sócio-econômicas na região. Alguns riscos foram identificados, incluindo a caça à raposa e práticas de agricultura nãosustentáveis. A partir das descobertas dessas avaliações, um plano inicial de ação para a biodiversidade foi desenvolvido. A partir daí, a CI e a RTIO conduziram um segundo RAP nas áreas adjacentes da reserva florestal, visando desenvolver um banco de dados de biodiversidade para o sudeste da Guiné. A RTIO está trabalhando também com o Real Jardim Botânico (Kew Gardens), a Birdlife International, a FFI e seus respectivos parceiros na Guiné para a execução de um processo de planejamento integrado de uso regional da terra na Guiné florestal. Isso inclui a reserva Pic de Fon e as áreas ao seu redor, beneficiando a conservação da biodiversidade, a indústria, as comunidades que dependem dos recursos da região e o governo da Guiné. Para os projetos existentes, trabalhos de campo adicionais podem ser realizados onde: • uma operação existente tenha estado ativa durante vários anos e as exigências de permissão originais contenham – caso existam -- algumas disposições relacionadas à biodiversidade e haja pouca ou nenhuma outra informação disponível imediatamente; • os usos preferenciais da terra após o fechamento da mina incluírem a conservação ou o incremento da biodiversidade, mas existam informações limitadas sobre a situação atual da biodiversidade; • uma operação tenha tido conseqüências adversas não-planejadas e nãoprevistas sobre a biodiversidade. Poucas operações terão a capacidade interna exigida para realizar levantamentos de biodiversidade (ou outros tipos de trabalho de campo que se refiram ao disposto acima). As principais opções para a realização de trabalho de campo incluem: • Contratação de consultores: vários consultores fornecem esses serviços relacionados a ecossistemas inteiros, habitats ou espécies de interesse; muitos deles operam independentemente e têm um nicho particular ou área de atuação. Quando possível, as referências pessoais são a melhor maneira de identificar consultores. • Engajamento de uma organização de conservação: alguns grupos de conservação também oferecem serviços como levantamentos de biodiversidade e têm o benefício do conhecimento do local. Eles também podem ser futuros parceiros potenciais nas iniciativas de conservação. Esta foi a experiência da Rio Tinto Mining and Exploration Limited na Guiné (ver Box 5.1), onde uma contribuição em um estudo de referência basal inicial tornou-se uma parceria mais substancial. • Envolvimento de uma instituição de pesquisa ou uma universidade: estas podem ser fontes valiosas de experiência e conhecimento, desde que os objetivos da pesquisa (e os prazos) da empresa de mineração e da instituição de pesquisa sejam compatíveis. Quem quer que realize o trabalho de campo deve reconhecer os benefícios a serem obtidos pelo envolvimento dos interessados diretos na biodiversidade. Eles devem entender também que o objetivo não é só criar um inventário das espécies de plantas e animais presentes, mas estimar a importância geral da biodiversidade. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 62 Geralmente, os desafios mais significativos das avaliações de referência basal são incorporar variações espaciais e sazonais, já que pode não haver tempo suficiente para desenvolver uma avaliação precisa. Isso destaca a importância de iniciar avaliações precoces durante o ciclo de vida da mina para estabelecer as tendências do pré-projeto, a partir das quais as mudanças podem ser mensuradas. Os resultados da avaliação de referência basal podem ser compartilhados com os interessados diretos através do processo de engajamento. Isso garantirá que a configuração do projeto esteja alinhada às expectativas dos interessados diretos no meio ambiente. Adicionalmente, isso demonstra transparência e encoraja relacionamentos corporativos entre os interessados diretos. A coleta de dados de referência basal pode também revelar valores adicionais da biodiversidade do local da mina que não foram reconhecidos previamente. Portanto, após a avaliação de um conjunto de dados de referência basal, os objetivos para o estudo da biodiversidade e a seleção subseqüente dos indicadores de biodiversidade precisam ser reavaliados em consulta aos interessados diretos. Áreas de referência precisam ser estabelecidas como um referencial em relação ao qual as mudanças na biodiversidade possam ser cotejadas ao longo do tempo (por exemplo, através do uso da abordagem do tipo BACI7). A ecologia de cada projeto é única e nenhum local será igual ao outro. Preferencialmente, locais de referência devem ser selecionados antes do início do projeto e possuir uma ecologia, um grau de perturbação e um formato de terra similares aos do local do projeto. A proximidade física direta do local de referência ao local do projeto também é desejável. Em alguns países em desenvolvimento, a base de conhecimento sobre a biodiversidade é fraca e informações de referência basal complementares serão necessárias para tratar dessa falha. Uma solução é selecionar cuidadosamente áreas de referência adicionais em suporte ao conjunto de dados de “referência basal” suplementar. Onde as operações já tiverem começado e as informações de referência basal não estejam disponíveis sobre as condições de pré-mineração, uma análise retrospectiva das condições de pré-mineração precisará ser feita para selecionar locais de referência comparativos. Isso deve ser realizado através da revisão das informações históricas sobre a natureza da paisagem, perturbações, o uso da terra e condições de biodiversidade anteriores à existência das operações. As ferramentas para a realização de tal revisão incluem: • fotografia aérea histórica do local; • comparação de tipos de solo encontrados no local com aqueles encontrados em locais de referência em potencial não minerados; • consulta às comunidades e autoridades governamentais locais; • informações do banco de dados sobre a flora e a fauna registrados no local e em seus arredores antes da mineração e • mapeamento topográfico e geológico da área. 7 O projeto BACI (antes - depois/controle - impacto) é um método para avaliar os impactos sobre a biodiversidade. Amostras (por exemplo, de espécies de pássaros de ninhada) são levadas antes e depois de uma perturbação em todas as áreas perturbadas (afetadas) e unidades não-perturbadas (de controle). Caso uma perturbação afetasse uma população, isso apareceria como uma interação estatística entre a diferença na abundância média das populações amostradas no estudo de controle e as áreas afetadas antes e depois da perturbação (ver também Seção D). Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 63 5.2.4 Avaliação da importância da biodiversidade A avaliação da importância da biodiversidade é essencial para o entendimento do significado dos impactos ambientais potenciais e, portanto, para as prioridades de mitigação (ver Guia Prático da Rio Tinto 2004). Para as áreas e espécies protegidas existentes, a importância é pelo menos parcialmente identificada. Por exemplo, os Locais de Patrimônio Mundial ou Locais Ramsar são de importância internacional, enquanto os locais IUCN Classe II são de importância nacional. Do mesmo modo, muitos países terão diferenciado a importância da biodiversidade de suas áreas protegidas (nacionais ou locais) como parte de sua designação. Fora das áreas protegidas, mas dentro de áreas de nítido valor para a biodiversidade, a avaliação da importância é mais complexa. A ausência de condições de proteção não deve ser interpretada como baixa riqueza de biodiversidade – muitas áreas de importância internacional para a biodiversidade ficam fora de áreas protegidas. O desafio para as empresas de mineração é estimar qualitativamente a importância da falta de designações protetoras claras. Isso envolve a procura por uma faixa de critérios para determinar se o local é de importância local, regional, nacional ou internacional. Ao longo das últimas décadas, houve muitas publicações mostrando estimativas de conservação da natureza, as quais são fontes de orientação. Embora não exista nenhum padrão universal, alguns dos critérios comuns incluem: • Riqueza de espécies/habitat: em geral, quanto maior a diversidade de habitats ou espécies em uma área, mais valiosa é essa área. A diversidade de habitat dentro de um ecossistema também pode variar muito. Os mosaicos de habitats são extremamente valiosos, já que algumas espécies que dependem de diferentes tipos de habitat podem viver na zona de transição entre os habitats. • Endemismo de espécies: espécies endêmicas ocorrem geralmente em áreas onde as populações de determinadas espécies foram isoladas por um período suficientemente longo para desenvolver características muito específicas, as quais impedem a exogamia com populações de outras espécies. • Espécies-chave: uma espécie-chave é aquela que exerce grande influência sobre um ecossistema relativamente a sua abundância ou biomassa total. Por exemplo, um predador-chave pode impedir sua presa de invadir um ecossistema. Outras espécies-chave agem como “engenheiros do ecossistema” e transferem nutrientes entre os ecossistemas (nos Estados Unidos, por exemplo, os ursos capturam o salmão e dispersam fezes ricas em nutrientes e carcaças parcialmente comidas sobre a terra). • Raridade: o conceito de raridade pode se aplicar aos ecossistemas e habitats assim como às espécies. A raridade é tratada como uma medida de suscetibilidade à extinção e o conceito é expresso por meio de uma variedade de termos, como vulnerável, raro, ameaçado ou em perigo. • Tamanho do habitat: o tamanho de uma área natural é geralmente considerado como importante. Ela deve ser grande o suficiente para ser viável, o que está relacionado à resistência de ecossistemas e habitats às atividades em suas margens, perdas de espécies e colonização de espécies indesejadas. A conectividade do habitat também é importante e se refere à extensão das conexões entre as áreas de habitat natural – altos níveis de conectividade entre habitats ou de áreas diferentes do mesmo habitat são desejáveis. • Tamanho da população: na área de conservação internacional de pássaros, tornou-se uma prática estabelecida considerar 1% da população total de espécies como significativo em termos de exigências de proteção. Para alguns predadores grandes é importante saber se uma área é grande o bastante para Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 64 abarcar a área habitada por vários indivíduos e para permitir que eles procriem e sejam sustentados. • Fragilidade: se refere à sensibilidade de um ecossistema ou habitat particular a mudanças induzidas pelo homem ou ambientais naturais e a sua resiliência a tais mudanças. • Valor de serviços de ecossistema: a importância crucial dos serviços do ecossistema (conforme destacados no Capítulo 1) é agora amplamente apreciada. Embora técnicas de avaliação ainda estejam sendo desenvolvidas, um esforço determinado deve ser feito para tratar desse aspecto. A aplicação desses critérios é uma questão de julgamento profissional e exige que um ecologista treinado esteja envolvido. A estimativa pode ser muito complexa em alguns países em desenvolvimento onde ainda exista muito pouca informação para estimar a biodiversidade comparativamente. Em tais circunstâncias, pode ser necessário realizar um extenso trabalho de campo deve ser feito para se entender melhor os valores relativos dos locais operacionais. 5.2.5 Identificação e avaliação dos impactos A identificação e avaliação dos impactos envolvem o reconhecimento dos efeitos sobre a biodiversidade e sobre os sistemas de apoio à vida (ou serviços de ecossistema). Os serviços de ecossistema podem incluir a manutenção dos sistemas hidrológicos, a proteção do solo, a decomposição de poluentes, a reciclagem de resíduos e a regulação do clima. A prestação continuada desses serviços depende da conservação da biodiversidade e pode ser de grande importância para as comunidades mais pobres. A avaliação dos impactos deve incluir: • uma avaliação sobre o nível de impacto – isto é, sobre os ecossistemas (e serviços relacionados), espécies ou recursos genéticos (ver Box 5.2); • uma avaliação da natureza do impacto (primário ou secundário, de longo ou curto prazo) – os impactos primários ocorrem onde uma atividade proposta é diretamente responsável por tal impacto, enquanto os impactos secundários são uma conseqüência indireta do projeto; • uma avaliação sobre o impacto, seja ele, positivo, negativo ou neutro e • uma avaliação da magnitude do impacto em relação à riqueza de espécies ou habitats, tamanhos de população, tamanhos dos habitats, sensibilidade do ecossistema, perturbações naturais recorrentes e assim por diante. Ao se avaliar os impactos à biodiversidade, deve-se admitir que sua intensidade varia durante a vida de um projeto, sendo geralmente baixa no início e aumentando marcadamente durante as fases de construção e operação, e diminuindo à medida que o fechamento é concluído. O significado dos impactos previstos sobre a biodiversidade depende da magnitude (ou intensidade) do impacto e da sensibilidade do ecossistema ou das espécies afetados. O sistema baseado em riscos descrito na Tabela 5.1 (ver seção 5.3.2) pode ser adaptado para a determinação da importância do impacto. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 65 Box 5.2. Níveis e tipos de impactos sobre a biodiversidade Impactos sobre a biodiversidade podem ocorrer em qualquer dos seguintes níveis: • Ecossistema: um ecossistema ou habitat pode ser afetado se um projeto ou atividades potenciais mudarem o tamanho, a diversidade ou a variação espacial do ecossistema. Além disso, o impacto sobre um ecossistema pode ocorrer caso sua habilidade de fornecer funções ou serviços no longo prazo seja modificada. • Nível de espécies: na previsão dos impactos à biodiversidade, também é importante avaliar os impactos em nível específico. Impactos potenciais às espécies podem ser avaliados de acordo com o número de habitantes e a importância interna, nacional ou local que uma espécie pode ter para os interessados diretos. • Nível genético: a diversidade dentro de um ecossistema também é associada à diversidade genética das populações. A diversidade genética é extremamente difícil de medir. Por esta razão, a avaliação da biodiversidade é geralmente realizada por ecossistema ou por espécies. Adicionalmente, durante a avaliação dos impactos da biodiversidade, uma distinção clara deve ser feita entre os impactos que podem ser avaliados quantitativamente e aqueles para os quais somente uma avaliação qualitativa pode ser feita. Sempre que conclusões e recomendações tenham sido feitas principalmente levando-se em conta avaliações qualitativas, a base desses julgamentos deve ser bem definida. Uma abordagem cautelosa deve ser adotada nesses casos onde exista conhecimento científico limitado. Várias outras categorias ou tipos de impacto são discutidos da maneira resumida abaixo. Impactos cumulativos: em situações nas quais projetos múltiplos de mineração (ou outros projetos, tais como industriais ou de infra-estrutura) estiverem sendo implementados em uma área geográfica ampla (como bacias hidrográficas, vales ou bacias atmosférica), é importante considerar os impactos cumulativos sobre a biodiversidade (isto é, os efeitos aditivos de outros projetos, como minas múltiplas de carvão em uma bacia de carvão, junto com qualquer infra-estrutura associada). Ao considerar os impactos cumulativos, atenção deve ser dada para: • quaisquer atividades existentes ou propostas na área e o possível efeito sobre a biodiversidade dessas propostas em conjunto com as atividades propostas de mineração; • quaisquer efeitos sinérgicos dos impactos de projetos individuais quando combinados e • quaisquer ameaças conhecidas à biodiversidade na área e a possível contribuição da atividade de mineração proposta para o aumento ou a redução dessas pressões. Perda de ecossistema: a mineração pode resultar na remoção de ecossistemas ou habitats. Isso pode ter um impacto permanente ou temporário sobre a biodiversidade. A perda permanente de habitat pode ocorrer devido à extensa supressão para a locação da mina, enquanto a perda temporária do habitat pode ocorrer devido à supressão limitada para o acesso à exploração. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 66 Impactos da fragmentação do habitat: o isolamento ou fragmentação dos habitats ecológicos pode ter um impacto significativo sobre a biodiversidade. A interrupção das conexões naturais entre as populações de plantas e animais pode criar mudanças significativas, às vezes irreversíveis, na dinâmica e na integridade genética dessas populações. A fragmentação também aumenta os “efeitos de borda” dos habitats. As áreas separadas menores são menos resilientes à mudança. Longos limites convolutos fornecem um potencial maior para que pragas e animais ocupem o local. Os trechos isolados podem não prover qualidade ou quantidade de habitat adequada para algumas espécies. A fragmentação pode interromper processos ecológicos críticos para a manutenção da biodiversidade. O tempo também é um fator: quanto mais tempo um isolamento ou fragmentação existe, maior serão os impactos. Isso tem implicações importantes para a reabilitação e é uma das motivações para as áreas em reabilitação tão logo seja possível a conclusão desse processo e para manter corredores ecológicos onde quer que seja viável. Alteração de processos ecológicos: a alteração dos processos ecológicos pode afetar a sustentabilidade da biodiversidade de um local. Por exemplo: • A interrupção de regimes hidrológicos pode ter impactos significativos nos sistemas pantanosos e de lençóis freáticos. As mudanças nos fluxos de córregos e rios podem afetar a biodiversidade dependente de tal ecossistema, inclusive comunidades humanas localizadas rio abaixo. • A remoção ou interrupção de uma camada ou zona estrutural diminuirá a diversidade estrutural do local, causando uma diminuição da diversidade estrutural da área e possivelmente gerando a interrupção das relações predador-presa. • A interrupção da estrutura do solo pode causar a compactação da superfície e problemas de erosão. • Queimadas freqüentes (às vezes utilizadas para o controle de ervas daninhas) podem interromper os processos de recuperação natural do ecossistema. Impactos da poluição: a poluição pode afetar o ar, a água e o solo do local da mina ou de seu entorno: • Poluentes carregados pelo ar, como poeira e dióxido de enxofre, podem afetar diretamente a biodiversidade por meio de asfixia ou abafamento ou por impactos secundários tais como a poluição do solo e da água. • A poluição da água devido a vazamentos pode ser tóxica. • Sedimentos móveis resultantes da erosão do solo podem alterar em grande medida o habitat aquático – por meio do preenchimento dos leitos de riachos adjacentes, por exemplo. O material coloidal suspenso criará alta turbidez, podendo afetar adversamente a vegetação aquática. Em sistemas aquáticos, os sedimentos móveis, a matéria orgânica e a lixiviação de nutrientes podem causar a proliferação localizada e descontrolada de algas e também áreas de desoxigenação. Impactos da perturbação: a perturbação do solo geralmente fornece uma vantagem competitiva às espécies de plantas e animais adaptados à ocupação de vários tipos de habitat. Algumas plantas e animais invasores prosperam em ambientes perturbados na mina. O barulho, a iluminação artificial e a vibração também podem gerar distúrbios para a vida selvagem, criando alterações na dinâmica populacional. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 67 5.2.6 Monitoramento e interpretação das alterações na biodiversidade Monitoramento é o processo de coleta de informações para determinar o progresso em comparação com os objetivos relativos à biodiversidade. Os indicadores são os fatores medidos durante o monitoramento – por exemplo, para avaliar a extensão do impacto sobre a biodiversidade, o sucesso das medidas de mitigação ou os resultados das medidas de incremento da conservação da biodiversidade. Não existe nenhuma medida simples para a biodiversidade devido à sua natureza complexa e dinâmica, que apresenta desafios na escolha de indicadores eficazes. Como a biodiversidade de um local particular tem vários componentes -- cada um interagindo com os outros em períodos de tempo, estações do ano e espaços variáveis --, a estrutura selecionada precisará ser prontamente adaptável às mudanças observadas. Em alguns locais, grupos ou associações de espécies de plantas e animais podem refletir a mudança melhor do que a avaliação intensiva de espécies individuais o faria. Por exemplo, uma espécie que ocupe um estágio particular de desenvolvimento em um ecossistema pode ser monitorada para fornecer uma indicação de mudança positiva ou negativa. Considerando que os estágios de desenvolvimento são dinâmicos, o desafio é determinar quais são as mudanças positivas e negativas. Geralmente são utilizados invertebrados para esse fim. Às vezes é difícil medir os impactos sobre uma única espécie, especialmente se esta espécie já estiver ameaçada, vulnerável ou seja de difícil monitoramento. Cada operação de mineração deve, em conjunto com as autoridades reguladoras do governo e os interessados diretos, determinar qual conjunto de indicadores serão necessários para medir e gerir os impactos sobre a biodiversidade. Os indicadores locais devem ser determinados com base no contexto e nos valores de biodiversidade já identificados. As características desejáveis do conjunto de indicadores são as que: • reflitam as pressões (ameaças) à biodiversidade, a condição da biodiversidade e as respostas da gestão aos impactos sobre a biodiversidade; • incluam indicadores de biodiversidade baseados na espécie, na estrutura de ecossistema e na função do ecossistema e • preencham as exigências legislativas e das políticas. Os indicadores estão divididos em: • indicadores de condição, como a riqueza ou composição das espécies; • indicadores de pressão, como a extensão da supressão da vegetação nativa e • indicadores de resposta, como a área de controle de ervas daninhas ou área revegetada. A assistência de um especialista pode ser necessária na seleção e revisão dos indicadores mais apropriados de biodiversidade a serem medidos, principalmente com relação à mensurabilidade dos indicadores. Além disso, o conjunto inicial de indicadores de biodiversidade selecionados para o local específico da mina provavelmente irá se alterar durante o ciclo de vida do projeto. Antes da seleção final dos indicadores mensuráveis, deve-se realizar uma consulta aos interessados diretos para garantir que o conjunto de indicadores selecionados é socialmente aceitável. Durante a identificação e mensuração das alterações, será necessário considerar: • a capacidade de recuperação de um ecossistema, habitat ou espécie; • o valor local e o papel da biodiversidade; Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 68 • as interações com processos naturais e • a importância global, nacional ou local da biodiversidade. Além disso, as avaliações da biodiversidade se beneficiam com a obtenção de conhecimento dos povos nativos e dos habitantes locais sobre a biodiversidade, o uso da terra e as plantas e animais locais e seus usos, incluindo as técnicas de colheita, reprodução e cultivo. 5.3 Sistemas de Gestão Ambiental Sistemas de Gestão Ambiental formais têm sido adotados em grande parte do setor de mineração, predominantemente a série ISO14001. Muitas empresas exigem que seus operadores sejam certificados na ISO14001 ou mantenham sistemas que estejam de acordo com a ISO14001. Os SGA fornecem a estrutura abrangente para a gestão da biodiversidade durante as operações e o planejamento do fechamento das minas. Estas DBP descrevem os passos e as ações que podem ser empregadas para integrar a biodiversidade aos SGA. A estrutura dos SGA permite às empresas de mineração tratar da biodiversidade através: • da integração da biodiversidade à política ambiental; • da documentação e avaliação da biodiversidade local em consulta com os interessados diretos apropriados; • da realização de identificação e avaliação dos aspectos/riscos da biodiversidade; • da manutenção de um registro de exigências legais e outras, incluindo as áreas protegidas legalmente designadas; • do planejamento e desenvolvimento de medidas preventivas e redutivas para os aspectos de biodiversidade significativos; • da implementação de respostas preventivas e redutivas para os aspectos de biodiversidade identificados; • do monitoramento, medição e relato do desempenho relativo à gestão da biodiversidade; • da revisão de processos e resultados e • da adoção de uma abordagem de melhoria contínua. As exigências para tratar da biodiversidade em cada um desses estágios são descritas nesta seção. 5.3.1 Garantia de compromisso corporativo Um forte componente da abordagem ISO para a gestão do ambiente, da qualidade ou de outros campos é que deve haver um forte apoio dos gestores de nível sênior e que isso deve começar com uma declaração de política corporativa. Também deve ser feita referência à estratégia de biodiversidade da empresa, caso uma estratégia já tenha sido desenvolvida. A importância da gestão de biodiversidade para o setor significa agora que um foco maior deve ser dado a esse tópico, assim como um compromisso explícito, como não ocorria no passado. Entretanto, deve-se tomar cuidado para garantir que a política geral seja clara e concisa e não focada de maneira exagerada em detalhes pertinentes à estratégia de biodiversidade. Um levantamento feito em 2004 entre as 20 maiores empresas do setor de mineração realizado pela Gestão de Bens da ISIS identificou que somente 7 delas publicaram políticas ou declarações de posicionamento sobre a biodiversidade, apesar de todas terem políticas ambientais. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 69 No nível corporativo, as declarações de políticas de biodiversidade podem desempenhar uma função-chave na estratégia geral da responsabilidade social corporativa. No entanto, considerando que a diversidade biológica está vinculada a lugares específicos, uma declaração de política de biodiversidade pode ainda ser desenvolvida para projetos individuais. Essa política seria específica para as questões daquele local. As declarações podem incluir a discussão em torno da gestão de todos os impactos, a gestão de espécies ou comunidades ecológicas locais e específicas ameaçadas e a observância aos objetivos esboçados na AISA do projeto. As declarações da política de biodiversidade podem incluir compromissos com: • a manutenção de ecossistemas naturais e a gestão de áreas protegidas; • o respeito aos direitos e valores dos povos nativos com relação aos recursos naturais e ao envolvimento deles no desenvolvimento e na decisão sobre as soluções apropriadas de gestão dos impactos potenciais; • a limitação do descarte de resíduos nos ecossistemas abaixo do nível crítico; • o aumento da conscientização dos empregados sobre como contribuir positivamente para o meio ambiente; • a conservação da biodiversidade através da não-destruição do habitat ou, onde a perda for inevitável, da exploração de opções de mitigação, incluindo o uso de compensações; • a observância à legislação e aos regulamentos aplicáveis; • a aplicação de princípios de precaução para identificar situações que exijam avaliação e gestão de riscos; • o aprimoramento dos corredores e habitats de vida selvagem; • a consulta às organizações de conservação relevantes; • a conduta da avaliação da biodiversidade nas avaliações ambientais; • o foco nos pontos principais reconhecidos internacionalmente; • o entendimento e a gestão dos impactos diretos ou indiretos sobre a biodiversidade; • a contribuição positiva para a pesquisa e o desenvolvimento da biodiversidade; • a restauração de áreas perturbadas quando a atividade estiver concluída e • a garantia de que não haja prejuízo geral da biodiversidade como resultado das atividades da empresa. 5.3.2 Determinação de aspectos significativos da biodiversidade Um passo inicial importante é identificar as atividades de mineração que têm o potencial de acarretar impactos significativos sobre a biodiversidade, o que levará à configuração de objetivos relevantes para o negócio ou operação específicos. Muitas dessas informações devem estar disponíveis através do processo de AISA (ver seção 5.2 sobre AISA). Para as operações existentes que não possuam nenhuma AISA recente, uma avaliação de risco deve ser realizada para identificar os aspectos e os impactos da biodiversidade que poderiam decorrer da atividade de mineração identificada. O resultado da avaliação de risco deve ser classificado por meio de uma abordagem de avaliação de risco como a adaptada no Padrão AS/NZ 4360: 1999 (ver Tabela 5.1). O resultado dessa tarefa ajudará a informar as prioridades e os objetivos principais para os SGA. Quando os riscos são identificados dentro da categoria alta ou extrema, e onde nenhuma AISA estiver disponível, uma avaliação adicional dos impactos potenciais sobre a biodiversidade também pode ser exigida, com atenção à diretriz da seção 5.2. Esta deve incluir a consulta aos interessados diretos para determinar seu conhecimento e as perspectivas sobre a biodiversidade, incluindo os usos atuais (ver também a seção 6.3 sobre engajamento dos interessados diretos). Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 70 Magnitude dos impactos à biodiversidade Possibilidade Insignificante Pequena Moderada Grande Catastrófica Quase certo H H E E E Possível M H H E E Moderado L M H E E Impossível L L M H E Raro L L M H H L=baixo M=médio H=alto E=extremo Reavaliações e revisões regulares dos aspectos e impactos potenciais da biodiversidade, incluindo impactos primários, secundários e cumulativos, devem ser realizadas através do ciclo de vida da mina para garantir a melhoria contínua. A Tabela 5.2 fornece exemplos de algumas atividades operacionais amplas de mineração e os aspectos associados, e os impactos à biodiversidade que precisam ser considerados (ver também a Figura 3.2). Tabela 5.2. Exemplos ilustrativos de atividades e aspectos da mineração e seus impactos sobre a biodiversidade Atividade Exemplos de Aspectos Exemplos de Impactos sobre a Biodiversidade Mineração Supressão vegetal Perda de habitat, introdução de pragas, assoreamento de cursos de água. Detonações Poeira, barulho, vibração Asfixia dos estômatos impedindo a planta de respirar, perturbação da fauna Escavação e Extração Poeira, barulho, vibração, poluição da água Perturbação de cursos de água, impactos sobre os ecossistemas aquáticos devido a mudanças na hidrologia e na qualidade da água Eliminação de Resíduos Supressão, poluição da água e do solo Perda de habitat, contaminação do solo e da água, sedimentação e drenagem ácida Processamento/ Uso de Produtos Químicos Toxicidade Perda de espécies (matança de peixes, por exemplo) ou impactos reprodutivos Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 71 Gestão de Rejeitos Supressão vegetal, poluição da água Perda de habitat, toxicidade, sedimentação, qualidade da água e fluxo de cursos de água Emissões aéreas Poluição do ar Perda do habitat ou de espécies Descargas nos afluentes Poluição da água Perda do habitat ou de espécies, qualidade da água reduzida Construção de oficinas e outras estruturas Supressão vegetal, poluição da água e do solo Perda de habitat, contaminação por combustíveis, eliminação de resíduos Eliminação de Resíduos Poluição da água e do petróleo Estímulo a pragas, transmissão de doenças, contaminação do lençol freático e do solo Construção de Redes Elétricas Supressão vegetal Perda ou fragmentação de habitat Provisão de acomodações Supressão vegetal, poluição do solo e da água, geração de dejetos Perda de habitat, descarte de esgoto e impactos gerados por doenças, animais de estimação, perturbação da vida selvagem Estradas e ferrovias Supressão vegetal Perda de habitat ou fragmentação, atividade madeireira ao longo das vias e drenagem rios abaixo Atividade Exemplos de aspectos Exemplos de impacto sobre a biodiversidade Crescimento da população Supressão vegetal e aumento da caça Fornecimento de água (potável ou industrial) Perda de habitats ou espécies, pressões sobre os recursos locais e regionais, introdução de pragas, perda de vegetação Bombeamento da água Perdas ou mudanças no habitat ou secagem da água ou na composição das espécies da cava As empresas devem elaborar um registro legal identificando as permissões, licenças e outros requerimentos legais relevantes (como os compromissos com a política). Deve-se observar que cada operação precisa manter, compreender e utilizar um registro específico de obrigações. Obrigações voluntárias devem também ser consideradas, especialmente dado que vários compromissos ambientais com relação à biodiversidade podem ser o resultado de políticas voluntárias corporativas e iniciativas industriais, em vez de exigências legais. O arcabouço para o desenvolvimento sustentável do ICMM é de comprometimento voluntário. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 72 5.3.3 Estabelecimento de metas e objetivos Metas claras para os resultados da gestão de biodiversidade necessitam ser comunicadas a todos os interessados diretos. Estas metas e objetivos devem ser definidos por meio de consulta com as várias partes que irão julgar o sucesso do trabalho. Grupos comunitários locais, autoridades reguladoras, acadêmicos e outros interessados diretos devem ser consultados, por exemplo. É provável que existam metas corporativas internas relacionadas à eficiência e eficácia, e essas metas precisam ser esclarecidas às partes externas e ser compatíveis com os objetivos definidos pelas partes. Os objetivos dependerão dos aspectos de biodiversidade identificados e das exigências e oportunidades para a redução dos impactos. Os objetivos podem ser específicos a uma questão local, como espécies de plantas ou animais, ou podem ser gerais no nível do ecossistema. Em cada caso, os objetivos devem ser definidos em conjunto com os valores da biodiversidade identificados pela empresa e pelos interessados diretos, que devem buscar oportunidades de redução dos impactos negativos e aumento dos impactos positivos para a biodiversidade. Entre os exemplos de metas e objetivos, pode-se incluir: • a reintrodução bem-sucedida nas áreas mineradas de espécies-chave de flora e fauna; • a não-interrupção dos padrões de migração; • a proteção (não-interferência) nos locais designados como de alto valor e • o controle de plantas invasoras e outras espécies de praga. As ações para alcançar os objetivos mencionados devem ser desenvolvidas e, em seguida, documentadas nos SGA. Cada operação deve estabelecer metas específicas para as suas operações e atividades que descrevam claramente o que deverá ser alcançado e em que momento, além da conexão com a reabilitação geral e a estratégia de fechamento de mina, descrita no Capítulo 4. As metas devem ser reais e levar em consideração a disponibilidade de recursos, as limitações técnicas, o engajamento com os donos da terra e a comunidade, o cumprimento das exigências de arrendamento, as exigências de gestão de longo prazo e assim por diante. Os objetivos, ações e metas devem ser consistentes com a política. 5.3.4 Planos de Ação para a Biodiversidade Um Plano de Ação para a Biodiversidade (PAB) é um mecanismo por meio do qual os objetivos e metas para a conservação da biodiversidade podem ser alcançados. Os PAB podem ser planos individuais ou vir incorporados aos SGA. Vários elementos específicos podem ser cobertos em um PAB. Controle de acesso às áreas de importância para a biodiversidade: O acesso deve ser controlado em áreas de importância para a biodiversidade que não precisem ser perturbadas durante as operações para prevenir a destruição de habitat ou a perturbação das espécies. Em especial, os corredores que permitem a movimentação segura da fauna devem ser protegidos e mantidos, principalmente quando animais maiores possam se deslocar através da área (como o caribu migratório no Ártico ou animais de grande porte na África). Em muitas áreas de mineração já ocorreu a extensiva supressão de vegetação para fins agrícolas, resultando na fragmentação e na degradação do habitat restante. Nesses casos, é importante que as empresas implantem controles de supressão de vegetação efetivos a fim de prevenir a fragmentação e o isolamento adicionais das populações da fauna e, onde for apropriado, que exista uma combinação disso com iniciativas como a construção de corredores para restabelecer as conexões entre as áreas remanescentes de habitat nativo. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 73 A clara demarcação de todas as áreas protegidas é exigida a fim de se evitar a destruição inadvertida provocada ignorância ou falta de cuidados: em algumas áreas, isso exigirá o uso de cercas. Em outros casos, como grandes áreas onde o uso de cercas seria impraticável, terão de ser implementadas medidas para evitar a destruição não-intencional da biodiversidade em conjunto com outros donos de terras. Controles sobre a maneira que a vegetação (e a fauna associada) são removidas precisam ser especificados: isso ajuda a maximizar o uso de sementes e de outras fontes de propágulos, de nutrientes e da biota do solo, de matéria orgânica em decomposição, toras e outros habitats de fauna em potencial, que podem ser de valor para a reabilitação. Isso ajudará a garantir que as operações de supressão de vegetação estão totalmente integradas às exigências das operações subseqüentes de reabilitação, conforme descrito no Capítulo 7. Gestão de plantas e animais que atuam como pragas: a introdução de espécies que atuam como pragas -- na forma de ervas daninhas e fauna selvagem -- geralmente acompanha a expansão da mineração em áreas verdes. Em alguns casos, essas pragas têm impactos significativos sobre as espécies locais para muito além da área de concessão da mina. Um bom exemplo é a introdução de gatos domésticos em áreas onde não há nenhum predador semelhante. Existem ainda numerosos exemplos nos quais a reabilitação introduziu espécies de ervas daninhas que se tornaram pragas devido ao seu êxito na colonização de áreas degradadas. Controles rígidos devem ser mantidos sobre os empregados para não manterem animais nativos como animais de estimação e sobre a lavagem/desinfecção de veículos para o controle de ervas daninhas e doenças de plantas. Esses são exemplos de controles que podem ser exigidos. Gestão dos usos da biodiversidade da comunidade e outros serviços de ecossistema: em áreas onde as comunidades são diretamente dependentes da biodiversidade para o “fornecimento de serviços”, atenção especial pode ser necessária para garantir a gestão e a manutenção dos aspectos da biodiversidade dos quais as comunidades dependem (pesca, madeira combustível, plantas medicinais e assim por diante). De maneira geral, outros serviços ecossistêmicos (como o papel dos pântanos das áreas circunvizinhas à mina na regulação da qualidade da água) devem ser explicitamente considerados dentro de um PAB. Programas de pesquisa e desenvolvimento: na fase AISA, as lacunas no conhecimento da biodiversidade do local e de áreas adjacentes podem ter sido identificadas e tratadas, na medida necessária, para que o projeto fosse aprovado. Na fase operacional, essa base de conhecimento pode ser mais desenvolvida por meio de pesquisas continuadas. Essas pesquisas geralmente têm o objetivo de obter conhecimento adicional que melhore o reflorestamento e a reabilitação (Capítulo 4). No entanto, podem existir outras oportunidades de pesquisa relacionadas à região mas ampla ao redor da mina. Estas podem incluir a compreensão dos impactos gerados pelas mudanças do uso do solo na área (que podem ter sido causadas pelos impactos secundários) e o comportamento de pragas invasoras até a integração de programas de recuperação de espécies e outros estudos detalhados de padrões de uso da biodiversidade pela comunidade local. Testes de reflorestamento: formam um subconjunto específico de programas de pesquisa com o objetivo de obter mais informações sobre as nuances das exigências e técnicas com vistas à reabilitação bem-sucedida. O Capítulo 7 descreve-os com mais detalhe. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 74 Pesquisa sobre os aspectos relevantes para o contexto mais amplo da mina: esse tipo de pesquisa também pode ser necessária ou valiosa para fornecer um melhor entendimento das interações regionais. Esse é geralmente o caso de minas estabelecidas em áreas remotas, que foram pouco estudadas, e onde uma AISA pode representar o único estudo intensivo. Ampliar a abrangência dessa base de conhecimento pode fornecer informações adicionais relevantes para o local e ajudar a estender a base geral de conhecimento. 5.3.5 Considerações sobre a implementação A responsabilidade pela gestão da biodiversidade dentro da organização deve ser alocada a uma função de gestão sênior, que tenha a capacidade de assegurar que a biodiversidade e as interfaces ambiental e social relacionadas sejam consideradas junto com as metas de produção. Para cada ação identificada na seção anterior, responsabilidades e orçamentos devem ser atribuídos e documentados para garantir que a equipe, suas habilidades e os recursos necessários estão disponíveis para a implementação das tarefas. No estágio operacional, todos os procedimentos de gestão documentados nos SGA e essenciais para a implementação posterior da reabilitação da mina devem ser realizados. Esses procedimentos geralmente incluem o tratamento seletivo do material de superfície, a gestão da camada superior do solo para conservar os nutrientes e os propágulos das plantas, a construção de barreiras que controlarão a erosão e prevenirão quaisquer impactos de longo prazo sobre os valores da biodiversidade que circundam os cursos de água e a reabilitação progressiva de áreas à medida que elas ficarem disponíveis. A integração bem-sucedida das operações de mineração e dos estágios de reabilitação, conforme descrito no Capítulo 7, não só resultará em melhores resultados para a biodiversidade, como, em muitos casos, reduzirá os custos através da garantia de que as empresas concluirão a reabilitação de maneira eficiente e “acertem de primeira”. O engajamento dos interessados diretos e os relatórios fornecidos ao público sobre as questões da biodiversidade são os passos fundamentais para se construir um PAB crível e operacional. A gestão sadia da biodiversidade geralmente se estende para além dos limites da operação, especialmente onde as oportunidades para melhoria da biodiversidade são buscadas, e essa gestão precisa de uma interação de mão dupla eficaz e apoio para ser bem-sucedida. As empresas devem envolver os proprietários tradicionais das terras, outros grupos de povos nativos, ONGs, associações comunitárias locais e instituições nos programas de gestão, monitoramento e conservação da biodiversidade. O fornecimento de suporte para programas educacionais comunitários sobre a gestão da biodiversidade permite às empresas compartilhar uma gestão sadia com responsabilidade social. As empresas devem evitar a superficialidade. Além disso, as empresas não devem ser relutantes para apontar problemas e descrever os desafios e dilemas operacionais que enfrentam. A eficácia de qualquer programa depende do entendimento justo entre todos os envolvidos sobre os objetivos e seu papel no programa. Os programas de introdução e treinamento são fundamentais a esse respeito. Todos os funcionários, fornecedores e visitantes precisam estar cientes e entender os objetivos e o plano de gestão de biodiversidade e seu papel no êxito desse plano. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 75 O Monitoramento regular (através de auditoria, observação e levantamentos) será exigido para avaliar a eficácia da conscientização e dos programas de treinamento. Em muitas minas, existe uma excelente oportunidade para envolver os funcionários com ecologistas externos na coleta de dados úteis, como relatos sobre espécies incomuns da fauna e flora, que não podem ser detectadas em levantamentos de curta duração. Para que essa ação tenha sucesso, entretanto, os funcionários devem ter o treinamento, o suporte e o estímulo necessários. 5.3.6 Ações de verificação e correção As alterações nos atributos da biodiversidade devem ser monitoradas para avaliar o sucesso dos planos de gerenciamento, os processos de recuperação ambiental, os projetos de pesquisa e, com igual importância, as mudanças ambientais gerais nas áreas em torno da mina e que podem ser influenciadas por fatores não relacionados à mineração. Como decisões de longo prazo são baseadas nessas informações, o programa precisa ser elaborado em estreita consonância com os princípios estatísticos aceitos e ser reconhecido por todos os interessados diretos. Além disso, seus procedimentos de coleta de dados devem estar prontamente disponíveis para verificação. Especialmente: • Programas detalhados de monitoramento são importantes para fornecer informações que serão a base para as decisões bem-sucedidas e também para a escolha de projetos, ou ainda para avaliar as mudanças na biodiversidade resultantes dos fatores internos e externos. • Deve-se levar em consideração que em alguns casos, os impactos podem ocorrer a uma certa distância da mina – por exemplo, as mudanças na qualidade da água ou na hidrologia. A possibilidade de ocorrência desses impactos deve ser levada em consideração na criação do programa de monitoramento. • O monitoramento deve ser realizado com a aplicação de procedimentos transparentes e cientificamente rigorosos.Costuma ser necessária a participação de especialistas externos. Esses programas devem combinar um bom custobenefício com a credibilidade dos órgãos reguladores, das comunidades locais e de outros interessados diretos. • A publicação em periódicos especializados da área é uma maneira de transferir conhecimento a um público mais amplo e de avaliar a validade do programa. Essa última etapa pode oferecer uma avaliação objetiva sobre a efetividade dos métodos de gerenciamento da biodiversidade no local de uma mina, e ela é coerente com o gerenciamento adaptativo (fazer - monitorar - avaliar - revisar). Para criar e manter a credibilidade necessária para esse componente, deve ser realizada uma análise por profissionais da área ou uma verificação similar externa ou por terceiros. Grupos de revisão da comunidade, painéis de assessoria externa e métodos semelhantes podem fornecer uma garantia maior de que as informações coletadas e as análises são consideradas confiáveis e justas pela maioria dos interessados diretos. 5.3.7 Monitoramento e relatórios O monitoramento propicia um método de medição do progresso de um objetivo. Várias técnicas podem ser usadas envolvendo a medição repetida e a amostragem de espécies indicadoras ao longo do tempo. O monitoramento ambiental pode ser realizado internamente ou em parceria com várias instituições como, por exemplo, universidades e outros centros de ensino. As técnicas de monitoramento da biodiversidade são descritas minuciosamente na literatura da área e, portanto, não serão repetidas aqui. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 76 Os relatórios geralmente abrangem tanto as exigências governamentais formais quanto as informações fornecidas ao público em geral e aos demais interessados diretos. Os relatórios governamentais são elaborados para ajudar a resguardar a responsabilidade das autoridades reguladoras. Os relatórios de biodiversidade apresentados ao público vão desde publicações de literatura científica a relatórios anuais de sustentabilidade. O foco de tais relatórios públicos reside, com freqüência, em estudos de casos, embora seja mais útil fornecer informações completas sobre a eficácia das ações tomadas para proteger ou melhorar a biodiversidade. A Iniciativa Global de Relatórios (GRI, sigla em inglês de Global Reporting Initiative) desenvolveu um conjunto de critérios relacionados à biodiversidade e as empresas são estimuladas a pautar seus relatórios por esses critérios. As diretrizes de 2002 da GRI contêm dois indicadores principais: • EN6. Localização e tamanho do terreno adquirido, arrendado ou administrado nos ambientes ricos em biodiversidade. • EN7. Descrição dos principais impactos ambientais adversos associados às atividades e/ou produtos e serviços em ambientes terrestres, de água doce ou marinhos. Sete outros indicadores estão relacionados à biodiversidade: • EN23. A quantidade total de terra adquirida, arrendada ou administrada por atividades de produção ou utilizada no extrativismo. • EN24. A extensão de superfície impermeável como percentual da terra comprada ou arrendada. • EN25: Os impactos das atividades e operações em áreas protegidas e sensíveis. • EN26: As mudanças nos ambientes naturais resultantes de atividades e operações e o percentual de habitat protegido ou recuperado. • EN27: Os objetivos, programas e metas para a proteção e recuperação de espécies e ecossistemas nativos em áreas degradadas. • EN28: O número de espécies constantes da Lista de Espécies Ameaçadas da IUCN com habitats em áreas afetadas pelas operações. • EN29: As unidades comerciais operando atualmente ou as operações em planejamento dentro ou em torno das áreas protegidas ou sensíveis. Em fevereiro de 2005, foi publicada uma versão piloto de um suplemento da GRI do setor de mineração e minerais. Nela estavam incluídas as seguintes provisões adicionais sobre a biodiversidade: • EN23. Para o setor de mineração: extensão total de terra adquirida, arrendada e administrada para as atividades de produção ou para uso no extrativismo. 1. Extensão total de terra degradada e ainda não recuperada (contabilidade inicial); 2. Extensão total de terra recentemente degradada dentro do período a que se referem os relatórios; 3. Extensão total de terra recentemente recuperada dentro do período abrangido pelos relatórios, com base no uso final acordado e 4. Extensão total de terra ainda não recuperada (contabilidade final). O conjunto de dados acima permite ao leitor avaliar tanto a quantidade de terra degradada e as mudanças anuais. Entre as perturbações possíveis podem estar danos físicos e químicos. • MM3. O número/percentual de locais que necessitam de planos de gestão ambiental e os locais com planos já em ação. Também inclui critérios de decisão quanto à necessidade da gestão ambiental e os componentes essenciais de um plano. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 77 A GRI divulgou uma versão de consulta para a terceira geração de suas Diretrizes GRI em janeiro de 2006, que propõe dois indicadores essenciais e cinco outros indicadores de relevância explícita para a biodiversidade (ver Box 5.3), além de vários outros indicadores de importância implícita. Uma limitação existente dos indicadores da GRI é que eles são criados como informação corporativa em nível geral ou global. Conseqüentemente, as informações produzidas não são específicas o suficiente para determinar os impactos locais, e alguns indicadores não fazem distinção qualitativa entre o valor da terra (em termos de biodiversidade) afetada pela mineração. Os indicadores propostos baseiam-se ainda em informações gerais, mas são mais detalhados quanto às distinções qualitativas. Como são as informações em nível local que vão formar a base dos relatórios adicionais, a tendência emergente de divulgação sobre a sustentabilidade do local deverá fornecer informações mais amplas sobre os impactos localizados, à medida que os relatórios forem sendo mais amplamente adotados pelos membros do ICMM e por outras empresas do setor de mineração. 5.3.8 Revisão de Gerenciamento e melhoria contínua A etapa de revisão do gerenciamento exige uma gestão sênior para executar a análise sobre a importância e o sucesso obtido pelos SGA (Sistemas de Gestão Ambiental). A partir da perspectiva da biodiversidade, esta etapa deverá incluir a busca de informações para todos os interessados diretos. As mudanças necessárias podem ser baseadas na experiência ganha e nos resultados traçados durante a etapa de monitoramento. Os fatores externos, como o crescente conhecimento sobre os ecossistemas em torno da mina, a mudança na localização oficial de uma espécie ou as outras ameaças externas a esses ecossistemas podem também justificar uma mudança nos objetivos. Se essas etapas forem seguidas, será possível demonstrar a melhoria contínua – ou seja, que uma operação está gerenciando seus possíveis impactos negativos, aprendendo com os resultados e melhorando seu desempenho, de forma que os riscos referentes à biodiversidade estejam controlados, garantindo assim a preservação ambiental. As melhorias podem advir dos resultados aperfeiçoados da biodiversidade ou por meio de uma execução mais efetiva dos planos e ações existentes, garantindo assim a redução dos impactos adversos sobre a biodiversidade e valores melhorados da biodiversidade após os processos de recuperação. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 78 Box 5.3. Minuta GRI sobre os Indicadores de Relatórios de Sustentabilidade de relevância para a biodiversidade Aspecto Ambiental: Água EN10 As fontes hídricas e habitats relacionados significativamente afetados pela retirada água (adicional) Aspecto Ambiental: Biodiversidade EN12 Localização e tamanho da terra possuída , arrendada ou administrada dentro de áreas protegidas ou adjacentes a elas (essencial) EN13 Descrição dos impactos significativos das atividades em áreas protegidas (essencial) EN14 Área de habitats protegidos ou restaurados (adicional) EN15 Programas para gerenciar os impactos sobre a biodiversidade (adicional) EN16 Número de espécies na Lista Vermelha da IUCN com habitats em áreas afetadas por operações, discriminadas por nível de risco de extinção (adicional) Aspectos Ambientais: Emissões de efluentes e de dejetos EN25 Fontes de água e habitats relacionados significativamente afetados pelas descargas de água e eliminação de dejetos (adicional) 5.4 Ampliando o alcance das análises convencionais As técnicas convencionais de Avaliação de Impacto Sócio-Ambiental Adverso (AISA) são projetadas para identificar e avaliar os impactos possíveis oriundos dos projetos de mineração. No entanto, elas não abordam alguns dos fatores principais que influenciam de forma profunda a análise e a interpretação dos dados de referência basal nem as perspectivas de longo prazo dos resultados bem-sucedidos para a biodiversidade a partir dos esforços de mitigação e preservação. Na realidade, a conservação e a proteção da biodiversidade não ocorrem no vácuo. Elas dependem de um número interligado de fatores que sustentam e contribuem para o êxito dos esforços de conservação e que influenciam de forma coletiva o contexto de conservação. A combinação desses fatores determina o que pode ser qualificado como a maturidade do contexto da conservação. Conseqüentemente, pode ser importante considerar a extensão do alcance das análises convencionais para a revisão do amadurecimento do contexto de preservação antes de se comprometer recursos nas iniciativas de mitigação de efeitos adversos ou melhoria da biodiversidade. Essa abordagem foi promovida8 apenas recentemente e ainda não ganhou uma aceitação abrangente. Entretanto, ela propicia uma abordagem estruturada para a consideração dos fatores que possuem relação com o provável sucesso das iniciativas potenciais relativas à biodiversidade. 8 Nas diretrizes internas da empresa Rio Tinto sobre mineração e biodiversidade (ver Seção D). Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 79 Tendo um entendimento fundamentado sobre o amadurecimento do contexto de preservação, as empresas podem “criar” planos de ação ambiental (ver seção 5.3.4) e iniciativas que apresentem uma chance melhor de serem bem-sucedidas. Por exemplo, em situações nas quais exista uma estrutura abrangente de planejamento estratégico (ver seção 5.2.1, Introdução à estrutura da AISA), o planejamento da proteção e preservação ambiental será provavelmente integrado às considerações gerais das alternativas de uso da terra e às oportunidades de desenvolvimento. Isso não apenas influenciará a possibilidade de a mineração realmente ocorrer, mas também fornecerá uma estrutura conveniente com a qual as empresas mineradoras poderão desenvolver suas iniciativas associadas à biodiversidade. Em muitos países em desenvolvimento, esse contexto de planejamento estratégico provavelmente estará ausente – e, como conseqüência, o desenvolvimento de iniciativas bemsucedidas de mitigação, proteção ou melhoria da biodiversidade dependerão de análises mais complexas e específicas para cada situação. 5.4.1 Fatores que afetam a maturidade do contexto de conservação O amadurecimento do contexto de preservação é dependente de (mas não limitado a) quatro fatores, que podem ser considerados em nível nacional, regional ou local: • A existência de conhecimento sobre os ecossistemas e as espécies: vários bancos de dados mantidos por grupos preservacionistas fornecem detalhes sobre todas as áreas protegidas de importância internacional ou nacional e sobre as espécies que estão ameaçadas ou em extinção. Dessa forma, as informações básicas sobre as áreas de biodiversidade mais importantes estão sempre disponíveis. Para além dessas áreas designadas, a existência de conhecimento de ecossistemas ou espécies varia enormemente de um país para outro e de região para região9. Em termos práticos, pode ser difícil interpretar os dados da referência basal e determinar o valor da biodiversidade de uma área. Em situações nas quais áreas potencialmente importantes para a biodiversidade serão afetadas, podem ser necessárias outras pesquisas científicas para reforçar a ausência de determinada informação na base de conhecimento existente. A existência desses conhecimentos também pode criar oportunidades para as empresas do setor de mineração contribuírem com a melhoria da base de conhecimento dos ecossistemas ou espécies, independentemente da abrangência de seus impactos. • A existência de programas de preservação, iniciativas e áreas protegidas: ao considerarmos esses aspectos, o objetivo é chegar a um entendimento quanto ao grau de amadurecimento ou de avanço dos esforços de preservação presentes em um país ou região (levando em consideração que algumas autoridades regionais podem se apresentar mais progressistas do que outras no fomento da preservação ambiental). Não existe atualmente uma única fonte segura para estas informações, mas com o tempo o banco de dados do portal Earthtrends10 do Instituto Mundial de Recursos (World Resources Institute) poderá fornecer informações em nível nacional. 9 A disponibilidade limitada de Informações provavelmente aumentará com o tempo por meio de iniciativas novas e emergentes, como a Disponibilidade Global de Informações sobre Biodiversidade (www.gbif.org). Esse banco de dados ainda está em seus primórdios, mas servirá, com o passar do tempo, como um repositório completo dos dados sobre a biodiversidade no mundo 10 Earthtrends é um portal de informações ambientais patrocinado por organizações como o Programa Ambiental da Organização das Nações Unidas (ONU), o Programa de Desenvolvimento da ONU, o Banco Mundial e a Agência de Desenvolvimento Internacional da Suécia. Atualmente ele contém informações úteis sobre o status de implementação da Convenção de Comércio Internacional de Espécies Ameaças da Fauna e Flora. Posteriormente, porém, ele disporá de informações sobre o status de implementação de outras convenções mundiais de biodiversidade, como o Programa Homem e Biosfera da UNESCO e as Convenções de Ramsar e do Patrimônio Mundial. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 80 Em termos práticos, uma avaliação da existência dos planos ou das iniciativas de preservação pode ajudar a identificar tanto as fontes de informação sobre biodiversidade ou os parceiros potenciais para apoiar as atividades de mitigação ou melhoria da biodiversidade. • A capacidade das organizações de preservação (governo e sociedade civil) e o sucesso das medidas de cumprimento: a capacidade dos parceiros que atuam na preservação ambiental e o sucesso dos esforços realizados estão intimamente ligados ao posicionamento do planejamento de preservação e vice-versa, mas eles são tratados separadamente por várias razões. Primeiro, as empresas mineradoras podem se comprometer com possíveis parceiros preservacionistas de órgãos governamentais ou da sociedade civil (incluindo ONGs ou comunidades) para que a expressão ‘parceiros ambientalistas’ tenha um significado mais inclusivo do que apenas as ‘autoridades de planejamento’. Segundo, o sucesso no cumprimento das metas freqüentemente não está relacionado à capacidade de planejamento. A Indonésia, por exemplo, desenvolveu uma rede extensa de áreas protegidas abrangendo mais de 10% de seu território, mas a falta de condições de fazer cumprir as leis reguladoras faz com que muitas dessas áreas estejam sendo severamente degradadas. Onde inexistem condições de cumprimento, as empresas do setor de mineração podem ter um importante papel ajudando a apoiar o desenvolvimento das condições propícias para a preservação nessas áreas de operação. • A intratabilidade das ameaças à biodiversidade: a impossibilidade de atuação sobre as ameaças à biodiversidade refere-se ao grau de dificuldade em lidar com as causas diretas e secundárias da degradação da biodiversidade. Entre os diversos fatores que influenciam no amadurecimento do contexto de preservação, a impossibilidade de atuação sobre as ameaças à biodiversidade seja talvez a mais difícil de medir, embora possivelmente seja a mais importante. Em alguns aspectos, ela está inversamente relacionada aos outros fatores mencionados acima. Dessa forma, onde a capacidade de planejamento, gerenciamento e proteção à biodiversidade é baixa, é razoável concluir que as ameaças a ela podem ser altas e de difícil combate. (Uma possível exceção se encontra nas regiões desérticas, onde a intervenção humana ou as pressões relacionadas são limitadas ou inexistentes, embora essas áreas sejam hoje em dia cada vez mais raras). A impossibilidade de atuação sobre as ameaças à biodiversidade pode ser deduzida à partir dos dados sobre a demografia, pobreza e desigualdade e do controle de recursos (ver seção 5.4.2 para outras orientações). Os três estágios amplos de ‘amadurecimento’ são os seguintes: • Embrionário: os fatores que influenciam o contexto de preservação estão ausentes nas etapas iniciais de desenvolvimento ou possuem visível fragilidade ou riscos inerentes. • Imaturo: os fatores que influenciam o contexto de preservação são em parte reduzidos ou apenas parcialmente estabelecidos e ainda apresentam riscos a uma preservação efetiva. • Maduro: os fatores que influenciam o contexto de preservação estão bem estabelecidos e propiciam uma base sólida para uma preservação efetiva. Um resumo em forma de tabela sobre a posição de cada um dos quatro fatores de cada uma das três etapas de amadurecimento é apresentado na Tabela 5.3. Uma ilustração prática de como esta abordagem pode ser aplicada está destacada no documento de diretrizes de biodiversidade da empresa Rio Tinto. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 81 Na prática, a posição dos quatro fatores vai provavelmente variar dentro de um determinado país e também de um país a outro. Assim, o amadurecimento do contexto conservacionista com referência aos diversos fatores abordados nesta seção provavelmente consistirá de um processo contínuo, e não de três etapas fixas. Ter um entendimento apropriado sobre a maturidade do contexto conservacionista permite que seus praticantes ‘criem’ projetos ou iniciativas de biodiversidade que possuam mais chance de sucesso. Por exemplo, se as ameaças à biodiversidade dentro de uma área específica forem intratáveis e de difícil superação, será melhor direcionar o apoio a outras iniciativas de conservação. De forma similar, onde a avaliação dos efeitos ambientais significativos, como parte de um Sistema de Gestão Ambiental, identificar uma operação com importante impacto ambiental adverso, o sucesso dos esforços de mitigação dependerá enormemente do amadurecimento do contexto de preservação. Não se pretende sugerir que as iniciativas de preservação devam somente ser consideradas em situações onde o contexto de preservação está maduro. Ironicamente, algumas das mais importantes áreas de biodiversidade que estão sob ameaça iminente e precisando com urgência de proteção aparecem em situações onde o contexto de preservação é embrionário ou imaturo. Mas o amadurecimento do contexto de conservação pode influenciar de forma significativa o custo das iniciativas de biodiversidade (como os custos associados à coleta de informações, a capacidade de desenvolvimento das organizações preservacionistas ou o reforço das medidas de cumprimento das normas) assim como seu potencial de sucesso. 5.4.2 Avaliação de riscos à biodiversidade não relacionadas à mineração As ameaças não associadas ao setor de mineração são talvez as mais difíceis de serem avaliadas. Mesmo assim, o entendimento e a resposta a esses riscos ou ameaças formam a base de ações de preservação eficientes. Ainda que não seja possível responder efetivamente a todas as ameaças, as iniciativas de conservação possuem as melhores chances de serem bem-sucedidas quando elas abordam as ameaças mais críticas. Uma abordagem baseada nas ameaças reconhece que esses riscos são, em grande medida, causados pela atividade humana, mas que eles são mais bem abordados e mitigados se todos os interessados diretos trabalharem juntos visando desenvolver alternativas mutuamente aceitáveis, viáveis e sustentáveis. Várias organizações de preservação ambiental têm desenvolvido metodologias de preservação baseadas em ameaças. Essas metodologias variam desde listas simples ou matrizes de ameaças até sofisticadas plataformas que visam planejar, implementar e monitorar os programas de preservação. Os quatro tipos de ameaças diretas à biodiversidade são: • conversão do habitat natural em terra cultivada, áreas urbanas ou outros ecossistemas dominados por seres humanos; • superexploração ou cultivo excessivo de espécies de grande valor comercial; • introdução de espécies invasoras, incluindo pragas e agentes patogênicos e • alteração climática, poluição e outras mudanças ambientais externas à área de interesse. As ameaças específicas a regiões de importância para a biodiversidade podem ser identificadas através das informações existentes sobre o local e também envolvendo os interessados diretos no processo de identificação e estabelecimento de prioridades com relação às ameaças. Essa abordagem participativa garante que as informações completas sobre as ameaças existentes sejam compartilhadas entre os interessados diretos, que ganham um entendimento comum das principais ameaças. A análise deverá identificar as ameaças em termos específicos, descrever Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 82 o impacto sobre a biodiversidade e identificar as causas subjacentes da ameaça. Esse nível de especificidade é importante para apoiar o planejamento das iniciativas efetivas. As prioridades na abordagem das ameaças podem ser fixadas de acordo com critérios como: • A extensão do risco (área total afetada): quanto menor a área afetada, menor a ameaça geral. Dessa forma, se a maior parte de uma região de floresta estiver sujeita a caça ilegal intensiva, a área afetada deverá ser classificada como de alto risco. • A magnitude dos impactos gerados pelos riscos: quanto maior o impacto, maior a pontuação do risco. Por exemplo, se uma área de terra bem pequena dentro da área protegida estiver sendo transformada para a agricultura e existir pouca pressão populacional, a magnitude do impacto ambiental será insignificante. • A urgência da mitigação do risco: quanto mais urgente for a ameaça, maior a pontuação do risco. Por exemplo, se uma região protegida estiver ameaçada de poluição por derramamento de produtos químicos, a pontuação do risco será muito alta. • As percepções sobre a importância da ameaça pelas comunidades: quanto maior o nível de percepção de ameaça, maior a pontuação do risco. Isso independe de quaisquer medições objetivas da ameaça e depende das opiniões subjetivas dos interessados diretos. Assim, os interessados diretos podem ver as emissões de chaminés -- que são claramente inofensivas (embora sejam bastante visíveis) -- como fatores que apresentam um alto grau de ameaça. • A viabilidade sócio-política da abordagem dos riscos: quanto menor a viabilidade sócio-política de lidar com os riscos, maior a pontuação do risco. Essa medida qualitativa exige que seja considerado um certo número de fatores e, por isso, não é tão fácil de aplicar como alguns outros critérios. Por exemplo, apesar de poder existir um forte apoio para a reforma da posse de terra de forma que seja realizada uma divisão mais igualitária dos benefícios da biodiversidade, talvez não existam políticas de apoio para a realização dessa reforma. Onde aqueles que são a favor da reforma possuem pouca ou nenhuma influência política, a pontuação deverá ser alta. Em outras situações, pode haver um alinhamento mais estreito entre as aspirações sociais e as intenções políticas. • A capacidade dos interessados diretos de lidar com as ameaças: quanto menor a capacidade de abordar as questões inerentes às ameaças à biodiversidade, maior a pontuação do risco. Por exemplo, se o nível de captação de água de um pântano ameaçar o equilíbrio da biodiversidade, as autoridades responsáveis podem não ter condições para administrar as demandas de todos os interessados na água. Além disso, os interessados diretos podem ficar tão preocupados ou, talvez, não estejam organizados o suficiente para se autoregularem e, dessa forma, a pontuação do risco seria alta. Esses critérios e as ameaças associadas à biodiversidade podem ser usados para ajudar a identificar e estabelecer prioridades no que se refere às ameaças ambientais para uma determinada operação. Uma abordagem possível para a identificação e a fixação de prioridades para as ameaças está descrita nas diretrizes de biodiversidade da empresa Rio Tinto. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 83 Tabela 5.3. Amadurecimento do contexto de preservação Estágio de Amadurecimento Fatores Determinantes Embrionário Imaturo Maduro Status do conhecimento dos ecossistemas e das espécies Pouca ou nenhuma Informação disponível sobre os ecossistemas ou as espécies e nenhuma base que suporte a avaliação do grau de importância da biodiversidade. Algumas informações disponíveis de áreas específicas, mas de valor limitado para apoiar a avaliação do grau de importância da biodiversidade. Informações detalhadas disponíveis sobre ecossistemas e espécies que prontamente apóiam a avaliação do grau de importância da biodiversidade. Situação de planos de preservação Pouco ou nenhum esforço para atender às obrigações especificadas na Convenção da Organização das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB) (como, por exemplo, o Programa Nacional de Ação e Estratégia sobre Biodiversidade) ou associado às áreas protegidas reconhecidas mundialmente com base na Convenção de Ramsar ou na Lista de Áreas Protegidas da ONU. Algum trabalho realizado no apoio às obrigações especificadas na CDB, mas principalmente em nível nacional e ainda de forma incompleta. Pouco ou nenhum programa de preservação implementado de forma ativa, tanto por autoridades governamentais como por ONGs, no âmbito de um programa de desenvolvimento mais abrangente. Esforços substanciais realizados para atender às obrigações especificadas na CDB em nível nacional e nas esferas de governo inferiores e para Esforços parciais cumprir totalmente sendo realizados os requisitos para atender às associados às áreas obrigações protegidas associadas às áreas reconhecidas protegidas internacionalmente. reconhecidas mundialmente, mas Programa de ainda de forma preservação deficiente. plenamente implementado por Alguns programas autoridades ativos de governamentais ou preservação ONGs e que é realizados, mas não reconhecido integrados em um formalmente, além programa de de estar integrado desenvolvimento aos esforços de mais abrangente. programas de desenvolvimento mais abrangentes. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 84 Tabela 5.3. Amadurecimento do contexto de preservação Estágio de Amadurecimento Fatores Determinantes Capacidade das organizações de preservação e o sucesso do cumprimento das normas Embrionário Imaturo Maduro As autoridades legais de preservação possuem pouca ou nenhuma capacidade para o planejamento ou gerenciamento das questões de preservação ambiental. As autoridades legais de preservação possuem alguma capacidade para o planejamento ou gerenciamento das questões de preservação ambiental, mas são necessários esforços adicionais. As autoridades legais de preservação possuem grande capacidade para o planejamento e o gerenciamento das questões de preservação ambiental. Diversas ONGs de preservação Há algumas ONGs representadas, de preservação algumas com representadas, mas grandes condições sua capacidade de de atuação na avaliação e avaliação e no gerenciamento da gerenciamento da biodiversidade são biodiversidade. As medidas de limitadas. cumprimento são, Medidas de em grande medida, As medidas de cumprimento das mal-sucedidas cumprimento das normas são bemdevido à falta de normas são sucedidas e capacidade ou de parcialmente bem- apoiadas por recursos sucedidas, mas há condições de financeiros ou por ainda espaço atuação adequadas, causa da ausência considerável para pela disponibilidade de leis reguladoras. melhorias de recursos suficientes e por uma estrutura legal de suporte. As ONGs internacionais e locais de conservação ou são inexistentes ou sua capacidade é muito limitada. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 85 Tabela 5.3. Amadurecimento do contexto de preservação Estágio de Amadurecimento Fatores Determinantes Embrionário Intratabilidade das As ameaças à biodiversidade são ameaças à fortes e estão biodiversidade associadas à disseminação generalizada da pobreza, às pressões populacionais e à insuficiente disponibilidade de terras e recursos naturais. Embora o valor social intrínseco atribuído à biodiversidade seja alto, as pressões são tantas que a perda da biodiversidade é praticamente inevitável. Imaturo Maduro As ameaças à biodiversidade são menos fortes (elas podem estar parcialmente associadas à pobreza ou às pressões oriundas do desenvolvimento econômico), mas o valor social sobre a biodiversidade é moderado. As ameaças à biodiversidade estão fundamentalmente relacionadas às pressões oriundas do desenvolvimento econômico, mas são aliviadas por um alto valor social da biodiversidade e baixas densidades demográficas. Embora as ameaças à biodiversidade não estejam fora de controle, existem obstáculos consideráveis que garantem que os esforços de preservação sejam bem-sucedidos. A combinação de alto valor social atribuída à biodiversidade e a disponibilidade de terras melhora as perspectivas de conservação da biodiversidade. Fonte: Desenvolvido por Sally Johnson para a Rio Tinto (2004) Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Capítulo 6. Ferramentas e Processos para a Participação dos Interessados Diretos 86 6.1 Introdução Descreve a importância crítica da participação dos interessados diretos na avaliação e na gestão da biodiversidade. 87 6.2 Identificação e análise dos interessados diretos na biodiversidade Define a participação e a análise dos interessados diretos e oferece orientação prática sobre a identificação e a condução de uma análise pelos interessados diretos na biodiversidade. Ver lista de verificação 6.1 na página 144 87 6.3 Participação dos interessados diretos nas questões relativas à biodiversidade Discute o timing e o alcance da participação dos interessados diretos para avaliar e gerenciar a biodiversidade e fornece orientação sobre parcerias com vistas a abordar as questões associadas à biodiversidade. Ver lista de verificação 6.2 na página 145 90 Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 87 6.1 Introdução Desde a introdução da Avaliação de Impacto Sócio-Ambiental Adverso (AISA), no início da década de 70, umas das alterações mais significativas foi a mudança da percepção segundo a qual as consultas públicas eram vistas como um obstáculo regulatório. A partir desse momento, houve o reconhecimento da importância fundamental da participação dos interessados diretos. A aceitação do valor existente na participação dos interessados diretos está agora firmemente estabelecida, mesmo que não se saiba bem como esta participação efetivamente pode ocorrer. Esta seção fixa algumas das abordagens mais comuns de participação dos interessados diretos no contexto da identificação, avaliação e da gestão da biodiversidade. O planejamento da participação dos interessados diretos também é muito importante. Nas primeiras etapas da exploração, quando grandes áreas de terra são atravessadas e a probabilidade de identificação de reservas comprovadas ou prováveis é pequena, a participação dos interessados diretos é menos importante. Na medida em que o foco de exploração se torna menor, a participação inicial dos interessados diretos pode ajudar a estabelecer o contexto de biodiversidade e determinar as exigências para outros trabalhos de campo que suportarão a avaliação ambiental e social. A partir dessa etapa, a participação dos interessados diretos é um componente crítico da AISA, identificando as opções de mitigação dos impactos adversos, o desenvolvimento de oportunidades para a melhoria da preservação, as parcerias associadas e o planejamento do fechamento. 6.2 Identificação e análise dos interessados diretos na biodiversidade A identificação dos interessados diretos é a primeira etapa na construção das relações estruturais necessárias para a identificação, avaliação, mitigação e melhoria da biodiversidade existente. Entre os interessados diretos estão incluídos quaisquer organização, comunidade ou pessoas que tenham interesse no uso ou na gestão da biodiversidade ou que afetem ou sejam afetados pelas atividades de conservação. Esse grupo inclui os usuários locais dos recursos de biodiversidade (para subsistência, como entretenimento, exploração comercial de pequeno ou larga escala e assim por diante), as agências governamentais encarregadas por administrar e preservar a terra e as ONGs. A identificação dos interessados diretos envolve a determinação de quem usa ou afeta a gestão ou a existência da biodiversidade. Diferentes interessados diretos terão interesses distintos na biodiversidade de uma determinada área e em sua preservação ou uso continuado. A força e legitimidade da reivindicação e o grau de interesse dos interessados diretos dependerão de fatores como sua proximidade aos recursos da biodiversidade, a dependência desses recursos, a relação histórica, os direitos legais e informais, o interesse econômico envolvido e a autoridade institucional, no caso de organizações governamentais, intergovernamentais ou não-governamentais. Os grupos ou indivíduos com reivindicações mais fortes e legítimas podem ser considerados como os principais interessados diretos. A identificação dos interessados diretos costuma ser simples. Bons pontos de partida são as agências governamentais, as organizações de preservação mais conhecidas e as lideranças comunitárias. Isso leva à identificação de outras partes relevantes. Em alguns países, existem vários consultores estatutários legalmente credenciados para lidar com questões de preservação, que podem ser incluídos em Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 88 novos projetos que necessitem de uma AISA. As comunidades podem também oferecer informações valiosas sobre biodiversidade, especialmente nos países em desenvolvimento, onde as informações podem ser limitadas, e mais especialmente onde tais comunidades dependam enormemente dos recursos da biodiversidade. Alguns dos seguintes interessados diretos (ou todos) podem provavelmente ser consultados: • órgãos governamentais municipais e nacionais que sejam responsáveis por gerenciar, preservar ou proteger a biodiversidade; • ONGs nacionais e municipais com participação na proteção da biodiversidade (por exemplo, fundos de conservação da vida selvagem, sociedades protetoras da flora e da fauna e grupos de observação ornitológica); • organizações governamentais nacionais ou internacionais (por exemplo, onde existam áreas protegidas internacionalmente que fiquem próximas de um local de exploração); • universidades e institutos de pesquisa; • proprietários de terra e outros usuários de recursos naturais nas proximidades de um projeto (principalmente pessoas que dependam de alguma forma do acesso aos recursos da biodiversidade); • povos nativos que tenham ligações especiais com a terra (que podem ser afetados em muitos países em desenvolvimento ou em países como Canadá, Estados Unidos ou Austrália); • organizações comunitárias que possam ter interesse nos recursos de biodiversidade (por exemplo, clubes de pesca,cooperativas de pescadores ou de fazendeiros); • outras empresas privadas com interesse comercial nos recursos de biodiversidade (como nas operações de reflorestamento). Na prática, é melhor ser mais abrangente nos primeiros estágios do que correr o risco de omitir algum interessado direto importante. Os interessados diretos menos relevantes ou envolvidos optarão mais provavelmente por processos consultivos ou outras formas de participação. O inverso também é verdadeiro, uma vez que os interessados diretos mais importantes provavelmente se manterão envolvidos. Uma vez identificados os interessados diretos, a avaliação deles poderá ajudar a estabelecer sua participação na biodiversidade ou até que ponto seus interesses são compatíveis ou conflitantes (por exemplo, exploração versus conversação) e o quanto eles estão dispostos a se envolver na proteção e melhoria da biodiversidade. A análise dos interessados diretos envolve: • definir as características essenciais dos interessados diretos; • identificar os interesses dos interessados diretos com relação à biodiversidade; • identificar os conflitos de interesse entre os interessados diretos de forma a ajudar a administrar as fontes potenciais de tensão durante o curso de desenvolvimento da mina; • identificar as relações entre os interessados diretos que podem facilitar as parcerias associadas à biodiversidade; • identificar as necessidades dos interessados diretos para superar as limitações a sua participação efetiva (como as dificuldades de comunicação ou mecanismos de consulta tradicionais); • avaliar a capacidade dos diferentes grupos de interessados diretos de participar nas atividades de desenvolvimento e • avaliar os níveis apropriados de envolvimento com os diferentes interessados diretos – por exemplo, informando, consultando ou fazendo parcerias – em diferentes estágios do ciclo de mineração. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 89 A análise dos interessados diretos pode ser iniciada durante o período de préviabilidade e continuar durante todo o ciclo de vida de um projeto. Ela pode ser aplicada mais discretamente no desenvolvimento de projetos de preservação ambiental ou no processo de planejamento do fechamento das minas. Pode-se usar uma matriz simples para ajudar com a análise dos interessados diretos. Na Tabela 6.1 encontra-se um exemplo de matriz de análise dos interessados diretos para as iniciativas de conservação da biodiversidade. Isso envolve levar em consideração as questões da coluna da esquerda para cada grupo de interessados diretos e designálas a uma das três categorias de interesse e impacto ambiental. O resultado serão três listas de interessados diretos, de acordo com a importância avaliada do projeto para eles e seus níveis prováveis de interesse. A participação abrange uma variedade de atividades, incluindo a disponibilização de informações, a realização de consultas, a tomada de decisão ou o planejamento participativo e parcerias. O nível identificado de interesse de cada interessado direto ajuda a empresa a se decidir quanto ao tempo necessário a ser dedicado ao envolvimento de cada interessado direto ou grupo. Os níveis de envolvimento revelados por esta análise podem se estender para além das consultas e inclui o planejamento participativo ou parcerias. Quanto mais as operações de mineração puderem compreender seus interessados diretos e vice-versa, mais bem-sucedidas provavelmente serão suas relações. Tabela 6.1. Matriz de análise dos interessados diretos para as iniciativas de preservação ambiental Perguntas para os interessados diretos Interessados diretos (impacto/interesse) Grande Médio Pequeno Quem será afetado negativamente por iniciativas ou projetos visando à proteção da biodiversidade? Quem se beneficiará com essas iniciativas ou projetos? Quem será responsável pela implementação de medidas para mitigar qualquer impacto ambiental negativo? Que tipo de cooperação, especialização ou influência será útil para o sucesso do projeto? Quem serão os mais vulneráveis, menos visíveis e menos ouvidos, para quem deverão ser feitos esforços especiais de consulta (como a dependência crucial do acesso aos recursos da biodiversidade)? Quem apóia ou se opõe às mudanças que as iniciativas ou os projetos trarão? Qual oposição poderia ser prejudicial ao sucesso das iniciativas/projetos associados à proteção da biodiversidade? Quem poderia ter recursos para contribuir? Quem são os principais tomadores de decisão? Fonte: Adaptado de ESMAP, Banco Mundial e ICMM (2005). Kit de Ferramentas de Desenvolvimento Comunitário Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 90 6.3 Participação dos interessados diretos nas questões relativas à biodiversidade 6.3.1 Oportunidades e alcance da participação dos interessados diretos O envolvimento precoce dos interessados diretos, em particular de grupos de povos nativos e comunidades locais, pode ser útil na elaboração de uma avaliação preliminar informada da viabilidade geral potencial da atividade de mineração pretendida. Esse envolvimento também pode ajudar a garantir que a AISA está focada nas questões mais preocupantes para os interessados diretos, o que valorizará o processo de tomada de decisões. O envolvimento desde o início e de forma efetiva dos interessados diretos permitirá às empresas do setor de mineração: • definir os objetivos de uma pretendida atividade de mineração no que se refere às necessidades da comunidade e as preocupações e compromissos da empresa na biodiversidade; • definir os objetivos de uma pretendida atividade de mineração com base nas diretrizes políticas governamentais, nos planos estratégicos e nas limitações estatutárias ou de planejamento e • identificar as alternativas viáveis e definir seus méritos no que se refere aos valores para a biodiversidade. Box 6.1. Algumas questões essenciais a serem consideradas para uma efetiva participação dos interessados diretos Devido ao envolvimento dos interessados diretos no setor de mineração que já vem ocorrendo há vários anos, esse envolvimento tem ocorrido de diversas formas ao longo do tempo. A seguinte abordagem estratégica é recomendada para uma participação efetiva dos interessados diretos: • Ir além do cumprimento das normas. A legislação ambiental geralmente contém exigências referentes à realização de consultas com os interessados diretos. Embora essas exigências precisem ser atendidas, é importante que as empresas mineradoras usem esta oportunidade para construir relações com os interessados diretos, em vez de realizar a atividade puramente para atender às exigências. • Construir relações de longo prazo, contínuas e sustentáveis. As relações com os interessados diretos devem ser consideradas como investimentos de longo prazo e, por isso, é importante haver tempo suficiente para que estas relações se desenvolvam. • Certificar-se de que as diferenças culturais sejam reconhecidas, particularmente com relação às comunidades de povos nativos. Os diálogos de envolvimento somente podem ocorrer se cada parte compreender a perspectiva da outra. Treinamento multicultural é importante para construir relações favoráveis de respeito. • Considerar o envolvimento de uma terceira parte neutra. Esse procedimento pode ajudar a superar as assimetrias reais ou possíveis (em termos de energia, recursos e assim por diante) e pode ser um instrumento útil para o desenvolvimento da confiança. • Desenvolver a confiança. Um envolvimento efetivo ocorre com a confiança, mas a confiança costuma estar ausente ou é limitada no início do processo de participação dos interessados diretos. Os pontos anteriores e seguintes são fatores potencialmente importantes para ajudar a desenvolver confiança. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 91 • Certificar-se de que os interessados diretos sejam ouvidos e as promessas sejam cumpridas. • Dar apoio ao treinamento do pessoal envolvido com as relações comunitárias. Garantir que a equipe de relacionamento com a comunidade receba o apoio e o status adequados. Fonte: Parceiros Comerciais para o Desenvolvimento (2000) Admite-se que, nesse estágio inicial, por razões comerciais, as empresas estejam relutantes em especificar em quais mercadorias ou áreas específicas estão mirando. Entretanto, é de igual importância que essa etapa seja usada para construir confiança e credibilidade. À medida que a exploração avançar e onde a biodiversidade for identificada como tendo um alto valor potencial, é importante garantir que agências ou pessoas de melhor reputação conduzam as avaliações sobre a biodiversidade e que elas elaborem os relatórios a serem revisados por colegas, sempre que possível. As consultas iniciais sobre a biodiversidade são um meio valioso de troca de informações, de indicação de intenções com relação à biodiversidade e de escolha de informações relevantes para ajudar a definir o entendimento do contexto da biodiversidade das operações. Elas podem também ajudar a identificar ameaças e oportunidades. Além disso, essas consultas podem ajudar a desenvolver um maior entendimento sobre as interseções entre as operações e o meio ambiente, revelando os impactos ambientais adversos reais e potenciais que não tenham sido considerados anteriormente. Não obstante, essas consultas também podem destacar as áreas de importância para a biodiversidade, nas quais os esforços de colaboração poderiam ajudar a garantir o sucesso dos esforços de preservação ou poderiam identificar os interesses complementares de um grande número de interessados diretos, possibilitando o aumento das perspectivas para a conservação ou a melhoria da biodiversidade. Uma área de particular importância para consulta é o ‘conhecimento tradicional’. O valor do conhecimento tradicional tem sido freqüentemente subestimado, já que ele não é apresentado de uma maneira ‘científica’ que se encaixe nos métodos formais de avaliação. Entretanto, experiências em muitos locais têm dado fortes indícios de que esses conhecimentos poderiam ser totalmente incorporados à avaliação da biodiversidade (e em outros) planos de avaliação e gestão. Isso ressalta a importância de se garantir que os direitos tradicionais e os usos da biodiversidade sejam reconhecidos na avaliação dos impactos, e os benefícios dessas alternativas comerciais da biodiversidade são compartilhados de forma justa. Outras orientações para a incorporação de conhecimentos tradicionais são fornecidas nas diretrizes voluntárias Akwe: Kon (ver Seção D). A eficácia da participação dos interessados diretos é um ponto muito importante. Se a participação dos interessados diretos for tratada com displicência ou como mais um ‘requisito semi-regulador’, ela poderá gerar desconfiança ou desavenças. Alguns dos princípios básicos para uma participação efetiva dos interessados diretos estão incluídos no Box 6.1. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 92 Depois que as informações preliminares forem coletadas, é importante consultar os interessados diretos para refinar o entendimento sobre o local, sua biodiversidade e os valores que esses interessados atribuem à biodiversidade. Por isso, sua participação nas questões que envolvem a biodiversidade é central para sua integração ao processo da AISA, devendo continuar ao longo de todo o processo, desde a implantação até a etapa de fechamento da mina. A abordagem para envolver as comunidades na AISA do projeto Gamsberg Zinc, na África do Sul, está descrita no Box 6.2. O planejamento participativo e as abordagens de tomada de decisão se tornam cada dia mais importantes na escolha das medidas de mitigação ou das iniciativas de melhoria na conservação do meio ambiente. Em especial, o planejamento participativo para o fechamento da mina -- a menos que o uso da terra após o fechamento seja claramente indicado nas exigências das autoridades reguladoras – geralmente é essencial para o sucesso e a sustentabilidade geral do fechamento no longo prazo e para as medidas destinadas a proteger ou melhorar a biodiversidade, em particular. É nesses estágios finais que as parcerias se tornam imensamente importantes. Box 6.2. Participação pública e relação comunitária durante o processo de AISA – Projeto Gamsberg Zinc, África do Sul Gamsberg é um grande depósito de zinco de baixa qualidade localizado na província de Northern Cape, na África do Sul. É uma mina cujo controle mudou de mãos várias vezes desde seu descobrimento, em 1971, e que, mais recentemente, passou a ser totalmente controlada pela Anglo American, em 1998. Um estudo detalhado de viabilidade demonstrou que uma operação viável poderia ser desenvolvida para produzir 300.000 toneladas de zinco por ano. A operação compreenderia uma mina a céu aberto, um concentrador e uma refinaria exclusiva para operações com zinco, tudo no mesmo local. Durante o estudo de viabilidade, foi conduzida uma detalhada Avaliação de Impacto Ambiental (AIA). Apesar de o projeto ter a possibilidade de criar oportunidades de trabalho e de contribuir à criação de riqueza, havia o potencial de geração de danos ao habitat de um grupo de espécies raras de plantas suculentas. Uma extensa consulta aos interessados diretos caracterizou o desenvolvimento do projeto. Foram realizadas reuniões com mais de 300 interessados diretos e partes afetadas e a equipe envolvida com o projeto planejou três dias abertos ao público, que incluíram visitas ao local da mina proposta com apresentações detalhadas do desenvolvimento proposto para a mina. Estabeleceram-se diálogos regulares com todos os principais grupos de interesse representantes do meio ambiente, de fazendas e de comunidades locais, de autoridades regionais e locais e do setor de turismo. Jornais se interessaram pelo tema mantendo as notícias em dia para informação das partes afetadas com o avanço do projeto e interessadas nas questões ambientais à medida que elas surgiam durante a AIA. Esse diálogo resultou em alterações no layout das instalações de superfície propostas, incluindo a barragem de rejeitos e os depósitos de Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 93 rejeitos de rochas, visando preservar as áreas que comportam a maior densidade e diversidade de espécies animais e vegetais. para informação das partes afetadas com o avanço do projeto e interessadas nas questões ambientais à medida que elas surgiam durante a AIA. Esse diálogo resultou em alterações no layout das instalações de superfície propostas, incluindo a barragem de rejeitos e os depósitos de rejeitos de rochas, visando preservar as áreas que comportam a maior densidade e diversidade de espécies animais e vegetais. 6.3.2 Participação direta de parceiros potenciais A participação mais direta desejada incluiria o envolvimento dos interessados diretos no desenvolvimento participativo do planejamento do fechamento da mina e as iniciativas para melhorar a proteção e a conservação do meio ambiente. À medida que as atividades avançavam em direção a iniciativas de desenvolvimento para conservação ou melhoria da biodiversidade, os interessados diretos com mais interesse nessa questão deveriam ser mais estimulados a participar ativamente, já que eles tinham mais a perder e seu apoio era fundamental para o sucesso de longo prazo. A identificação dos interessados diretos e de seus interesses não garante que eles poderão ou irão participar. É possível que alguns deles não sejam capazes ou não queiram se envolver no projeto. Por exemplo, eles talvez tenham níveis diferentes de capacidade de participação, seja no planejamento participativo ou nas relações de parceria. Quando a capacidade de atuação for limitada, as empresas mineradoras devem tomar medidas para melhorar a capacidade dos parceiros locais de forma que eles tenham uma participação mais efetiva. Entretanto, deve-se levar em consideração que algumas ONGs se opõem fortemente a se engajarem em questões comerciais. A sustentabilidade das iniciativas de preservação em geral, e especialmente aquelas que envolvem uma combinação de conservação e desenvolvimento (como os Programas de Conservação e Desenvolvimento Integrados), freqüentemente dependem de parcerias efetivas entre o governo, a empresa e a sociedade civil. Nenhum grupo de interessados diretos possui a gama completa de habilidades e recursos para promover e manter parcerias de preservação de forma isolada. O trabalho conjunto aumenta as perspectivas de resultados de preservação mais sustentáveis que durem além do fechamento do projeto de mineração. Parcerias bem-sucedidas são construídas a partir de um comprometimento compartilhado para abordar essas questões. Esse foi o impulso por trás da Iniciativa de Conservação Bushmanland na África do Sul (ver Box 6.3). Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 94 Box 6.3. Iniciativa de Conservação Bushmanland – Anglo American e Instituto Nacional da Biodiversidade, África do Sul Em 1999, A Anglo American propôs a abertura do Projeto Gamsberg Zinc em Bushmanland, uma grande mina a céu aberto localizada em um monte-ilha de quartzito no coração de uma importante área de biodiversidade imaculada. A mina proposta, no valor de 5,5 bilhões de rands, criaria uma cratera com aproximadamente dois a três quilômetros de largura e 600 metros de profundidade – 200 metros mais profunda do que a cratera de Kimberly. A mina criaria também aproximadamente 1.000 postos de trabalho em uma área de poucas oportunidades econômicas. Foram realizados levantamentos detalhados de biodiversidade, inclusive uma avaliação de 14 montes-ilhas de quartzito nos arredores, a fim de determinar em um contexto regional os impactos adversos da mina de Gamsberg proposta. Essa análise mostrou que Gamsberg era o local mais importante para a conservação da biodiversidade na região, pois abarcava 70% do habitat de quartzo fino puro, três novas espécies de plantas e as maiores populações de diversas espécies de plantas ameaças de extinção. Embora os estudos ambientais estivessem completos, os ambientalistas ficaram preocupados com o fato de que a importância da biodiversidade em nível global e nacional não tivesse sido reconhecida corretamente no contexto geral da AIA e que as medidas de mitigação propostas fossem inadequadas. Um órgão de preservação autorizou um plano de conservação minucioso para identificar as opções que permitiriam atingir as metas de conservação ambiental. Esperava-se que esse estudo servisse de base para as negociações em torno das medidas de mitigação, visando compensar os impactos adversos da abertura da mina, mas a falta de confiança entre as partes e a falta de precedente para esse tipo de iniciativa levou a um impasse entre a Anglo e muitas ONGs do setor de preservação envolvidas no processo. O que a Anglo estava oferecendo como compensação não tinha o apoio da maioria das ONGs e dos especialistas em biodiversidade da região. Pouco depois desse processo insatisfatório, o projeto foi temporariamente suspenso devido aos baixos preços do zinco no mercado. Suspender o projeto foi providencial, no retrospecto geral. A suspensão propiciou espaço para que as partes oponentes analisassem a questão, e dois importantes projetos de desenvolvimento facilitaram, nesse meio tempo, o envolvimento construtivo entre os setores de preservação e mineração na região. Durante o processo de implantação do Projeto Succulent Karoo Ecosystem, o diálogo entre os grupos envolvidos na preservação ambiental e a Anglo continuou e chegou-se a um acordo no sentido de se estabelecer uma parceria: a Iniciativa de Conservação Bushmanland (BCI). Essa parceria entre as ONGs, a empresa mineradora e as comunidades visava estabelecer uma área protegida de múltiplos proprietários através de uma variedade de intervenções inovadoras e mecanismos que atraíram os donos de terra locais. A região protegida atingirá as metas de preservação da biodiversidade nessa área prioritária através uma Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 95 abordagem multiuso. A BCI desenvolverá a capacidade de gestão ambiental local por meio do treinamento dos membros comunitários locais como conservadores dentro da equipe de gestão do projeto. O que começou como um confronto de interesses entre uma mineradora e preservacionistas se transformou gradualmente em uma forma de cooperação, que incluiu a implantação sistemática de questões relacionadas à preservação ambiental. Isso catalisou o envolvimento direto da Anglo Base Metals’ na execução de ações de preservação que pudessem atingir os objetivos traçados. Sem um planejamento sistemático de conservação, não teria sido possível determinar os impactos ambientais adversos da mina de Gamsberg, sugerir medidas significativas de mitigação, gerar credibilidade para as metas traçadas e fornecer uma maneira para que o setor de mineração contribua para unir esforços diretos, com o objetivo de atingir a meta de preservação da biodiversidade. As iniciativas do Grupo de Recursos Naturais dos Parceiros Comerciais para o Desenvolvimento (BPD, pelas iniciais em inglês) do Banco Mundial reuniram governo, indústria e sociedade civil para explorar oportunidades de parcerias em torno dos projetos de mineração e produzir orientações práticas sobre como tais parcerias poderiam gerar resultados sustentáveis. (Ver Seção D para obter material adicional gerado a partir das iniciativas dos BPD) Os Parceiros Comerciais para o Desenvolvimento ou BPD desenvolveram uma Estrutura de Análise de Parcerias que oferece um método estruturado para avaliar a capacidade de conservação da biodiversidade e os recursos disponíveis dentro de uma área de projeto de mineração, antecipando as necessidades de capacidade futuras e quaisquer lacunas cruciais. Essa estrutura pode ajudar a avaliar a necessidade ou o sucesso das iniciativas para a criação de capacidades que melhorem os resultados de conservação e pode identificar os parceiros que trabalharão na execução dessas metas. Ela é usada para avaliar: • as necessidades de capacidade de parcerias presentes ou futuras; • os benefícios antecipados das parcerias de biodiversidade para sua organização, seus programas e projetos e • a sustentabilidade das potenciais organizações parceiras. A aplicação da estrutura envolve as seguintes etapas: • baseado na análise dos interessados diretos, desenvolver uma lista de todos os possíveis parceiros na área de preservação ambiental. • identificar onde determinados parceiros podem atuar como liderança nas iniciativas de biodiversidade e onde as iniciativas de biodiversidade saem da autoridade, interesse ou esfera de influência de um determinado parceiro. • identificar onde determinados parceiros compartilham liderança, interesses e influência sobre possíveis iniciativas de biodiversidade. • listar os parceiros potenciais identificados como tendo interesses e habilidades comuns nas operações de mineração. • abordar os parceiros potenciais com a intenção de fechar um acordo destinado a buscar caminhos para lidar com as iniciativas prioritárias de preservação através de parcerias. Outras informações estão disponíveis na página da Internet dos BPD. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Capítulo 7. Ferramentas de Mitigação, Recuperação e Melhoria Ambiental 96 7.1 Introdução Define e distingue de forma clara os conceitos de mitigação, recuperação e melhoria da biodiversidade. 97 7.2 Seleção das medidas de mitigação Destaca a hierarquia das medidas de mitigação que podem ser aplicadas para salvaguardar a biodiversidade dos impactos ambientais potencialmente adversos gerados pela mineração. 97 7.3 Implantação e planejamento da reabilitação Discute as questões essenciais da implantação e execução da recuperação, como o que considerar na preparação das áreas de reflorestamento e a importância do monitoramento constante. 99 7.4 Medidas compensatórias para a biodiversidade Define as compensações para a biodiversidade, descreve a controvérsia em torno de seu uso e destaca os princípios básicos que guiam o desenvolvimento dos planos de compensação. 107 7.5 Melhoria da biodiversidade em vários níveis Descreve as esferas ou níveis de influência das atividades de mineração e destaca uma gama de possíveis abordagens para melhorar a biodiversidade dentro de quatro níveis identificados. 108 7.6 Definição de limites de responsabilidade para mitigação, recuperação ou melhoria Fornece algumas sugestões práticas sobre como as empresas do setor de mineração poderiam definir os limites de suas responsabilidades com relação à mitigação, recuperação e melhoria ambiental. Ver lista de verificação 7.1 na página 147 111 Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 97 7.1 Introdução A mitigação envolve a seleção e a execução de medidas que visem proteger a biodiversidade, os seus usuários e demais interessados diretos afetados pelos possíveis impactos adversos, resultantes das atividades de mineração. Esses impactos adversos podem ser identificados durante uma AISA, enquanto se determinam os aspectos ambientais relevantes para os SGA ou como parte das rotinas operacionais ou atividades de monitoramento das empresas mineradoras. O objetivo é prevenir que ocorram impactos adversos ou, onde não for possível, limitar seu grau a níveis aceitáveis. A recuperação consiste em medidas tomadas para devolver a terra explorada ao seu uso acordado após o fechamento da mina. Ela difere da mitigação na medida em que reconhece implicitamente que os impactos ambientais adversos ocorreram. No contexto dessas DBP, a ênfase está na identificação dos usos da terra após fechamento que aumentam os benefícios para a biodiversidade, com o apoio dos interessados diretos mais importantes. A melhoria da biodiversidade refere-se às medidas tomadas para aumentá-la ou melhorá-la, indo além da mitigação ou da recuperação e buscando oportunidades para aumentar a capacidade de preservação ambiental. Embora as medidas de mitigação e de recuperação sejam respostas aos impactos adversos ou ameaças ambientais oriundos das operações de mineração, as medidas de melhoria são realizadas em reação às ameaças externas à biodiversidade (como o uso exagerado da terra como pasto), a deficiências institucionais para a gestão ou proteção da biodiversidade (como a falta de imposição das leis) ou a falta de conhecimento científico relativo à biodiversidade. Essa é uma distinção fundamental entre a mitigação, a recuperação e a melhoria ambiental. Este capítulo trata dos fatores a serem considerados na seleção de medidas de mitigação, ressalta as questões gerais a serem consideradas no planejamento e na implementação da reabilitação, examina em detalhe os desafios e oportunidades específicos de compensação, aborda o aprimoramento da biodiversidade em vários níveis e considera os limites das responsabilidades das empresas de mineração nesse contexto. 7.2 Seleção das medidas de mitigação Entre as medidas de mitigação estão a identificação e a execução de medidas para salvaguardar qualquer um dos interessados diretos dos impactos ambientais potencialmente adversos advindos das atividades de mineração. Em termos ideais, o objetivo é prevenir a ocorrência dos impactos adversos ou, se não for possível, limitar sua relevância a níveis aceitáveis. Várias categorias de mitigação e uma hierarquia de suas prioridades estão ilustradas na Figura 7.1. Entre elas estão incluídas (em ordem decrescente de prioridade): • Evitar os impactos adversos ao modificar uma mina proposta ou operação existente para prevenir ou limitar um possível impacto. A mais alta prioridade deverá sempre ser atribuída às medidas de redução de impactos. A mudança do local ou do projeto de uma instalação de processamento é um simples exemplo. Um exemplo mais extremo para se evitar um impacto adverso é o de não dar andamento ao projeto. Por exemplo, se um depósito mineral economicamente atraente for oferecido a um membro do ICMM em um Local do Patrimônio Mundial, é política do ICMM nesses tipos de casos a recomendação de suspensão do projeto. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 98 • Minimizar os impactos adversos por meio da implementação de decisões ou atividades que sejam criadas para reduzir os impactos indesejáveis de uma atividade proposta sobre a biodiversidade. Por exemplo, instalando tratamento terciário para remover fosfatos dos efluentes, que poderiam levar à eutroficação (processo de envelhecimento dos lagos pelo excesso de nutrientes) das áreas inundadas e mudar a composição das espécies, com impactos significativos sobre a biodiversidade aquática. • Corrigir os impactos adversos através da reabilitação ou restauração do ambiente afetado. Isso incluiria tentativas de recriação do habitat para a restauração dos usos da terra e dos valores da biodiversidade que existiam antes das atividades de mineração. • Compensar os impactos adversos propiciando recursos ou ambientes substitutos. As medidas de compensação devem ser usadas como um último recurso e incluiriam as chamadas compensações, tais como a compra de uma área de habitat equivalente para proteção de longo prazo. A melhor opção relativa às medidas de mitigação deve ser criada especialmente para os impactos específicos, com referência à importância dos impactos potenciais (ver Seção 5.2.5 quanto à identificação e avaliação dos impactos). A aceitabilidade das alternativas de mitigação deve ser planejada com as autoridades relevantes. De preferência, as opções de mitigação deveriam ser trabalhadas, por meio de consultas, com os interessados diretos afetados e os especialistas ambientais, discutindo as alternativas de mitigação e definindo suas prioridades de forma a conciliar os interesses de vários interessados diretos. A melhor opção será sempre a de evitar os impactos ambientais adversos. As ações para minimizar os impactos vêm em segundo lugar e podem incluir mudanças nas rotas de estradas de acesso ou no local de retenção dos rejeitos. As medidas para retificar os impactos ambientais ou de compensação são menos desejáveis e devem ser consideradas com bastante cautela. Figura 7.1 Hierarquia das medidas de mitigação dos impactos ambientais adversos Mais desejável Evitar Locais alternativos ou tecnologias para evitar os impactos Minimizar Ações para minimizar os impactos durante a fase de projeto, construção etc. Rectificar Ações para recuperar ou restaurar o ambiente afetado Compensar Usado como última alternativa de compensação dos impactos Menos Fonte: Rio Tinto (2004) As ações para reabilitar ou recuperar o meio ambiente afetado, embora sejam atraentes na teoria, possuem um histórico parcial de sucesso. Por exemplo, a recriação do habitat natural para reduzir os impactos adversos possui resultados Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 99 desiguais de sucesso. O restabelecimento das comunidades nativas de plantas e animais normalmente é muito difícil de obter, especialmente se o local tiver sido severamente danificado. Embora existam alguns exemplos impressionantes de recuperação de habitat que tenham resultado no estabelecimento de comunidades ecologicamente importantes, há poucas evidências que indiquem que os ecossistemas complexos de vegetação nativa podem ser recriados de forma bemsucedida. Em geral, a restauração ou recriação de áreas de valor para a biodiversidade em terras já perturbadas leva bem mais tempo e esforços do que a proteção de uma vegetação nativa existente. 7.3 Implantação e planejamento da reabilitação Após os objetivos e metas do fechamento da mina terem sido estabelecidos (ver Seção 4.3 quanto à recuperação), deverá ser elaborado um plano de recuperação. Ele estará integrado ao Plano Geral de Mineração e deverá explicar claramente aos órgãos reguladores e interessados diretos como a empresa pretende realizar o programa de recuperação ambiental de forma a atingir os objetivos acordados. O plano deverá ser desenvolvido levando em consideração todas as informações relevantes sobre a fase pré-mineração e as prováveis estruturações pós-mineração da área explorada, além dos tipos de solo, as características do material residual, a hidrologia, as aplicações da terra e demais aspectos associados ao meio ambiente que sejam importantes para a recuperação, como também todas as limitações técnicas impostas por tais barreiras, pesquisas pré-mineração sobre a fauna e a flora locais e informações sobre os locais de monitoramento estabelecidos como referência. Esse plano de recuperação deve descrever o(s) uso(s) finais da terra e os objetivos e metas relacionados, oferecendo detalhes sobre: • manejo do solo e do material de superfície para garantir que os elementos favoráveis às plantas, assim como os possíveis problemas com a utilização de materiais (como materiais geradores de acidez, alto nível de metais, solos salinos ou material potencialmente dispersivo), sejam colocados na seqüência correta; • os procedimentos de manuseio da camada superior do solo, especialmente aqueles designados para conservar os propágulos vegetais, nutrientes e biota do solo ; • as técnicas de melhoramento de solo, de forma a criar condições favoráveis de crescimento, como a aplicação de cal ou sulfato de cálcio; • todas as técnicas para conservar e usar as plantas, incluindo palha, mantas contra erosão, introdução de sementes e abrigos artificiais para a fauna local; • os procedimentos de paisagismo de terrenos, incluindo a construção de estruturas para o controle de erosão e de estruturas de gerenciamento de água; • as técnicas de estabelecimento de vegetação; • as medidas para o controle de ervas daninhas antes e após a recuperação; • a aplicação de fertilizantes e • o acompanhamento dos programas de plantio e de manutenção. As provisões do plano deverão estar integradas ao período de duração e levar em consideração oportunidades para a recuperação progressiva e o fechamento da mina. Sob uma perspectiva de restabelecimento e conservação da biodiversidade, é de particular importância que a extensão da área degradada seja minimizada, não importando quanto tempo isso leve. Os planos de recuperação devem ser revisados periodicamente à medida que novas informações sobre as condições do local estejam disponíveis e sejam desenvolvidos novos procedimentos de recuperação. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 100 7.3.1 Preparação do Local Os programas de recuperação bem-sucedidos são sempre bem planejados e organizados e exigem um programa de reflorestamento detalhado como guia para a equipe responsável pelo plano de execução e recuperação. Esses programas precisam de cuidado na preparação do local antes da semeadura e do plantio para garantir que existam ótimas condições para o estabelecimento de uma vegetação diversificada e saudável. O programa de reflorestamento incluirá detalhes sobre as fontes de adubo orgânico, a profundidade das covas, o volume, os métodos de manuseio, a localização e a programação. As áreas onde seja necessário o melhoramento do solo serão mapeadas e devidamente descritas em detalhes quando for necessário. Esses programas de reabilitação descreverão quais espécies de plantas e de vegetação serão estabelecidas para que as espécies mais adequadas possam ser usadas em cada área, como por exemplo, em locais propensos a alagamentos, onde seja necessária a redução de rejeitos, que necessitem de cobertura de vegetação perene capaz de prevenir a erosão em áreas muito inclinadas e taludes de rejeitos e espécies tolerantes a baixo pH, alta salinidade etc. onde for necessário. O programa de reflorestamento precisará destacar os métodos de obtenção e introdução de propágulos de plantas. Caso seja necessário o plantio de mudas, recomenda-se a abertura de um viveiro de mudas (talvez de áreas adjacentes onde predomine uma grande biodiversidade) durante vários anos antes que elas sejam plantadas. Por exemplo, a colheita de sementes precisará começar pelo menos um ano antes de a semente ser efetivamente utilizada, de forma que os volumes necessários e as fontes de coleta possam ser identificados. Sempre que possível, devem ser usadas espécies locais, com coletas locais, porque normalmente são mais bem adaptadas às condições ambientais evitando a introdução de plantas de procedências genéticas diferentes. Box 7.1. Envolvendo proprietários tradicionais em programas de coleta e de recuperação de sementes – Mina de Manganês GEMCO, Território do Norte, Austrália A empresa de mineração Groote Eylandt (GEMCO), operada pela a BHP Billiton, extrai manganês em vários locais na planície costeira ocidental da Ilha de Groote Eylandt. A ilha possui uma área de 2.260 km2 e é de propriedade integral da população aborígine Anindilyakwa. A mina está localizada em uma parte da Austrália onde o conhecimento documentado sobre as espécies de plantas é limitado e uma recuperação bem-sucedida pode ser difícil. Por esse motivo, a empresa recorreu a proprietários tradicionais para ajudá-la a repor a terra tal como era antes. Em 1997, a GEMCO se engajou em um programa de trabalho e treinamento para os Anindilyakwan. A Estratégia de Criação de Empregos para os Aborígines cresceu e agora envolve 28 povos locais que realizam a maioria das tarefas de recuperação, incluindo a coleta de sementes, a semeadura e plantio de mudas, juntamente com todo o controle de plantas invasoras. Isso propiciou a eles a capacidade de seguir uma carreira tanto na GEMCO como em outras companhias de mineração. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 101 A reabilitação das minas a céu aberto começa com a reconfiguração do solo seguida pelo retorno da camada superior do solo e a escarificação a 1,6 m de profundidade para reduzir a compactação. O estabelecimento das plantas envolve o uso da semeadura e os procedimentos de plantio criados para devolver uma variedade de espécies de plantas e densidades que representam aquelas encontradas nas florestas nativas circunvizinhas. Por estar localizada em uma ilha, é recomendada que a coleta de sementes seja realizada no mesmo local para todos os trabalhos de reflorestamento, já que as plantas nascidas dessas sementes se adaptam melhor as condições. Cerca de 25 espécies de árvores e arbustos locais são colhidos das locações para semeadura direta ou para a produção de mudas destinadas ao plantio na época das chuvas. O número de sementes necessárias para cada estação é calculado a partir de estudos anteriores e locais disponíveis. A GEMCO confia no conhecimento local dos empregados para localizar as sementes e escolher a época mais propícia para a coleta em uma determinada área. As sementes são colhidas durante quase todo o ano. Pode-se realizar a colheita manual dos frutos caídos no chão ou por meio de técnicas e equipamentos para retirada dessas sementes dos galhos. Para arbustos mais altos, utilizam-se podões de hastes longas e para colher as sementes de árvores, são usadas plataformas elevadas. Todas as sementes são limpas para que sejam removidas palhas, sujeira, peles ou outros materiais indesejáveis que possam impedir a germinação. Após a limpeza e secagem das sementes, dados sobre o local, o peso e a data de coleta são registrados. A semente é então tratada com dióxido de carbono para reduzir o ataque de insetos e embalada a vácuo. A semente recémempacotada é então colocada em uma sala de armazenagem com ar condicionado para maximizar sua viabilidade no longo prazo. Um número significativo de treinamentos já foi ministrado para que estas atividades fossem realizadas de maneira eficiente e profissional. Após ser coletada, a semente precisa ser limpa e armazenada em condições que manterão sua máxima viabilidade durante o período de armazenagem e que minimizarão os danos gerados por pestes, fungos etc. O método adotado pela GEMCO na Austrália ilustra o valor do cuidado na coleta, limpeza e armazenagem de sementes (ver Seção 7.1). A preparação efetiva do local refere-se aos procedimentos que ocorrem antes da semeadura ou plantio, de forma a ajudar a garantir que as condições ótimas estejam presentes para o nascimento de uma vegetação saudável, variada e sustentável botanicamente. Esses procedimentos incluem a caracterização do solo e dos resíduos, o manuseio seletivo de materiais, a construção de relevos estáveis, manuseio da camada superior do solo, fertilização, correção e preparação do solo para o plantio das sementes (por exemplo, escarificação). Caracterização do solo e dos resíduos: as características dos solos e os materiais são um dos determinantes primários do sucesso de um programa de recuperação. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 102 Devem ser identificados quanto antes durante o ciclo de vida da mina os tipos de solo e horizontes que serão conservados para se estabelecer uma cobertura de vegetação pós-mineração auto-sustentável juntamente com a identificação de quaisquer tratamentos de correção necessários, como a colocação de cal para ajustar o pH. A qualidade do material de superfície também é importante, pois parte desse material sustentará a camada superior do solo e poderá afetar as raízes das plantas. Manuseio seletivo de materiais: o material de superfície que for inadequado para o crescimento de plantas, como aquele formado por materiais sulfídricos geradores de acidez, precisará ser enterrado a uma profundidade abaixo da zona de enraizamento. Os materiais mais favoráveis, com características físico-químicas adequadas para o crescimento das plantas, podem ser depositados na superfície antes da cobertura com a camada superior do solo (se disponível). A construção de terrenos estáveis: a estabilidade do terreno é essencial para a sustentabilidade da recuperação de longo prazo. As configurações pobremente projetadas podem resultar em erosão, afetando gravemente o reflorestamento e a cadeia de biodiversidade. Onde for possível, o formato geotécnico das áreas deve acompanhar os desníveis do terreno ou, no mínimo, ser projetado para limitar a erosão através do desenho cuidadoso das inclinações ou do uso das estruturas de controle de erosão. Manejo da camada superior do solo: a camada superior do solo pode servir para um número importante de funções, como fornecer sementes e outros propágulos, microorganismos benéficos e nutrientes, além de permitir o rápido desenvolvimento de cobertura vegetal. O plano de manejo da camada superior do solo precisará abordar as fontes, a profundidade de coleta, os volumes e equipamentos de manuseio necessários, a profundidade de redistribuição e qualquer tratamento de acompanhamento (por exemplo, a escarificação antes da semeadura). Onde seja necessário estocar a camada superior do solo, estruturas devem ser criadas para minimizar a deterioração das sementes, dos nutrientes e da biota do solo – por exemplo, ao não se retirar e coletar a camada superior do solo que esteja saturada após a queda de chuvas (que promove a compostagem), ao fazer pilhas de armazenagem com peso mais baixo (um ou dois metros de altura), ao semear os estoques com uma cobertura de vegetação nativa. A importância do cuidado no uso da camada superior do solo para assegurar um retorno eficiente no longo prazo da biodiversidade ficou demonstrada pela pesquisa conduzida pela Alcoa World Alumina na Austrália (ver Box 7.2). Escarificação, fertilização e correção de solo: a escarificação do solo ao longo do contorno normalmente será necessária para facilitar a penetração das raízes através do rejeito compactado e para dar proteção contra a erosão. A fertilização também será necessária na maioria dos casos para substituir os nutrientes perdidos durante as atividades de mineração. Os tipos e métodos de aplicação dos nutrientes devem ser baseados nos estudos de caracterização do solo. Para alguns solos, correções como de sulfato de cálcio ou cal também serão necessárias. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 103 Box 7.2. Manuseio de camada superior do solo para gerar biodiversidade botânica – Alcoa World Alumina Australia Quando a camada superficial do solo contiver uma fonte viável de sementes nativas, ela deve ser conservada para reutilização após a atividade de mineração. Isso não só fornece uma fonte barata de plantas, como ajuda a garantir que elas se estabeleçam com relativa abundância, de forma a refletir as densidades pré-mineração e promover o aparecimento das espécies cujas sementes podem ser de difícil obtenção ou germinação. O programa de recuperação da mina de bauxita realizado pela Alcoa World Alumina Austrália na floresta de jarrah, no sudoeste da Austrália (ver Box 4.3), é um excelente exemplo de como a preservação do banco de sementes de solo pode aumentar de forma significativa a flora local pósmineração. Após a retirada da cobertura vegetal, a parcela superior – de 150 milímetros -- do solo, que contém a maior parte do banco de sementes e dos nutrientes do solo, é escavada superficialmente antes do processo de mineração e, em seguida, depositada diretamente em uma cava que acabara de ser minerada e está prestes a ser recuperada. Pesquisas mostraram que a maioria das espécies de plantas nativas (72%) de áreas recuperadas vem de sementes armazenadas na camada superior do solo. A importância do retorno direto da camada superior do solo tem sido demonstrada por testes comparando esta técnica à de estoques de solo. Esses experimentos têm mostrado que a perturbação associada ao retorno direto da camada superficial do solo resulta na perda de menos de 50% das sementes contidas no banco de sementes da floresta da fase de pré-mineração. Em contrapartida, os estoques de solo resultam em uma perda de 80-90%. Outros aspectos, tais como a profundidade da camada superior do solo recolocado, a época do ano em que o solo é tratado e o tempo de semeadura também são importantes. As sementes não sobreviverão se forem plantadas muito profundamente e resistem melhor quando o solo é movido durante a estação da seca. Da mesma forma, a taxa de germinação das sementes aumenta quando elas são colocadas em áreas mais recentemente perturbadas. Com 15 meses de idade, as parcelas que fizeram o uso combinado de retorno da camada superior do solo fresco, da semeadura e do plantio de sementes ‘recalcitrantes’ (ou resistentes) têm resultado em uma variedade de espécies de plantas equivalente a aquelas registradas em áreas florestais de tamanho equivalente que não tenham sofrido processo de mineração. Para mais informações, consulte www.alcoa.com.au. 7.3.2 Implementação e manutenção da reabilitação As boas práticas das operações de recuperação devem incluir as seguintes considerações: • O processo de retirada da camada mais superficial do solo que possui o banco de sementes deve ser realizado de maneira que conserve a diversidade da flora no banco de sementes do solo e possibilite o estabelecimento de plantas após a sua recolocação. Por exemplo, a camada superficial do solo deve ser coletada na época do ano em que o banco de sementes costuma estar com o máximo de sementes. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 104 • Deve ser implementado um programa de controle de plantas invasoras sempre que as pesquisas pré-mineração identificarem ali a presença de problemas consistentes com os princípios integrados ao controle de pragas (ver também, na Seção 3.2, infra-estrutura auxiliar). Da mesma forma, será necessário um plano de controle da fauna se existir a probabilidade de predadores ou problemas com animais de criação pastando. • Para alcançar a diversidade botânica desejada, os aspectos sucessórios devem ser considerados durante o período de recuperação ambiental. As espécies pioneiras que colonizam prontamente as áreas degradadas devem ser incluídas no conjunto de sementes. As sementes de espécies que aparecem em estágios sucessórios mais tardios também devem ser plantadas, se possível. Altas taxas de semeadura de espécies pioneiras podem reduzir a diversidade geral do plantio, expulsando outras espécies devido à competição. As taxas adequadas de semeadura para cada espécie talvez possa ser determinada por tentativa e erro. • Uma boa prática de semeadura é fundamental para a recuperação bem-sucedida de muitas minas. Para se criar uma cobertura vegetal diversa, normalmente é preferível uma variedade de métodos de semeadura – por exemplo, o retorno direto da camada superior do solo, a hidro-semeadura, o plantio de mudas e a regeneração natural. • O acompanhamento da manutenção dos plantios pode ser necessário, e o monitoramento é essencial para medir o sucesso dos métodos empregados. Talvez sejam necessárias medidas corretivas se a sobrevivência do plantio for baixa, devido, por exemplo, à estiagem ou ao excesso de animais pastando. • O uso de técnicas de plantio para estabelecer uma maior diversidade botânica pode fornecer boas oportunidades para a participação de outros interessados diretos. • Deve-se estimular que a fauna seja reintroduzida nas áreas recuperadas por meio do fornecimento do habitat adequado. Outras fontes detalhadas de orientação estão incluídas no final desse capítulo. 7.3.3 Monitoramento e pesquisas em andamento O monitoramento e a pesquisa são essenciais, mas freqüentemente são componentes negligenciados nas boas práticas de recuperação voltadas para o incremento da biodiversidade. Os principais objetivos do monitoramento e da pesquisa são confirmar que as operações de recuperação ambiental estão sendo realizadas de acordo com os procedimentos planejados, de forma a fornecer dados para a melhoria contínua, para avaliar se os objetivos da biodiversidade estão sendo alcançados e analisar a sustentabilidade de longo prazo das áreas recuperadas. Os bons programas de monitoramento da recuperação ambiental possuem quatro componentes: • controle e monitoramento constante de áreas de referência que não sofreram operações de mineração -- estabelecidos durante o mapeamento e as pesquisas pré-mineração – e que precisam ser protegidas ou substituídas; • registros dos procedimentos de recuperação ambiental realizados – detalhes das fontes de solo e métodos de manejo, composição das variedades de sementes, taxas e métodos de aplicação, densidades de espécies plantadas etc. Todos esses dados são fundamentais para a interpretação das descobertas referentes aos resultados posteriores do monitoramento da recuperação ambiental; • monitoramento inicial da recuperação ambiental. Essa etapa serve como controle de qualidade: é realizada logo após a conclusão das operações iniciais das Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 105 atividades de recuperação, registrando se elas foram realizadas conforme planejadas, se o início da recuperação foi bem-sucedido e se foram seguidas as metas e os padrões de recuperação cujo não cumprimento exigirá ações corretivas específicas e • monitoramento de longo prazo, que começa normalmente dois ou três anos depois, dependendo do nível de sucessão do ecossistema da região. Esse acompanhamento busca avaliar o avanço da recuperação em direção ao cumprimento dos objetivos de longo prazo de uso da terra e fornece informações úteis para determinar se o ecossistema recuperado seria sustentável ao longo do tempo. Nesta etapa, devem-se buscar oportunidades para o envolvimento da comunidade local no monitoramento, especialmente quando essa comunidade tiver uma relação estreita e conhecimento da biodiversidade (como as culturas de povos nativos). Os benefícios dessa abordagem estão sendo demonstrados claramente através múltiplas iniciativas de gestão ambiental na Austrália e nos territórios do noroeste do Canadá. Em termos de pesquisa, o desenvolvimento de ecossistemas e os projetos de gestão sustentável realizados como parte de projetos universitários não somente propiciam à empresa informações úteis, como também dão aos estudantes formados uma experiência valiosa de pesquisa prática. Os benefícios de um monitoramento de longo prazo para uma recuperação ambiental bem-sucedida (e um fechamento sustentável da mina) são exemplificados pela abordagem da Richards Bay Minerals na África do Sul (ver Box 7.3). Box 7.3. Monitoramento de longo prazo do desenvolvimento de ecossistemas – Richards Bay Minerals, África do Sul A Richards Bay Minerals (RBM), empresa controlada pela Rio Tinto e pela BHP Billiton, começou suas atividades de mineração de minerais pesados nas dunas costeiras do nordeste de Richards Bay em 1977. A vegetação nativa consiste de mata de duna costeira subtropical. Antes das operações de mineração, essa área de concessão compreendia 60% de plantações, 20% de gramíneas e 20% de mata de duna costeira. Após discussões com os proprietários de terra locais e o Governo, tomou-se a decisão de se estabelecer plantações para desenvolvimento futuro de uma indústria carvoeira na parte costeira das dunas (em torno de 66%) e das matas costeiras nativas na parte em direção ao mar (33%). Esta divisão forneceria proteção contra a erosão e permitiria o recrutamento de plantas e animais de uma faixa costeira próxima deixada sem atividade de mineração para esse propósito. O objetivo do programa de recuperação da mata de duna da RBM é a restauração da biodiversidade natural e da função de uma mata local de duna costeira típica. O método usado nas atividades de mineração é o de drenagem que progressivamente se move ao longo das dunas com a reconstrução e o reflorestamento da duna após o caminho deixado pela atividade de mineração. A recuperação das dunas reconstruídas é realizada por uma contratada local que emprega mão-de-obra da região. Isso envolve o retorno da camada superior do solo, a aplicação de um mix de sementes Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 106 de gramíneas, ervas, arbustos e espécies de árvores locais, assim como de vegetação de cobertura, seguida pela construção de quebra-ventos para a proteção contra erosão. O monitoramento de avaliação é realizado durante os meses iniciais para confirmar se as operações de recuperação do meio ambiente foram realizadas conforme necessário e se as sementes estão germinando e as plantas estão se estabelecendo. Outras formas de monitoramento de plantas invasoras são realizadas, além de métodos de controle, se necessário. Os empregados das comunidades locais são contratados para monitorar e remover o gado das áreas recuperadas recentemente. Dependendo da época do ano, das chuvas e de outros aspectos, os quebra-ventos podem ser removidos após um período de três a nove meses. Após 12 meses, a vegetação de cobertura desaparece deixando densas extensões de grama nativa. Outras espécies nativas nascem a partir da camada de solo superficial. Gradualmente, arbustos de Acacia kosiensis e outras espécies se transformam em um bosque e as espécies de animais e plantas florestais e animais começam a ocupar o local. Em aproximadamente 12 a 18 anos, a Acacia kosiensis começa a envelhecer e as espécies típicas das áreas próximas que não passaram pelas operações de mineração começam a ocupar as lacunas da cobertura florestal. O primeiro processo de recuperação ambiental foi realizado em 1978. Existe, portanto, um longo histórico de recuperação a partir do qual a RBM pôde aprender uma grande lição com relação ao sucesso de seus métodos. Os programas de monitoramento e pesquisa têm sido conduzidos desde 1991. Grande parte desse trabalho foi realizada pela Unidade de Pesquisa sobre a Preservação Ecológica da Universidade de Pretória (CERU, pelas iniciais em inglês), cujos estudos focalizaram o desenvolvimento de comunidades de plantas e animais e as funções do ecossistema. Entre os grupos-chave da fauna que foram estudados estão os de milípedes, pássaros, roedores e outros. Como regra geral, as espécies pioneiras de cada um desses grupos colonizaram os locais de recuperação ambiental mais jovens, ao passo que as espécies comuns das comunidades de vegetação madura colonizaram esses locais posteriormente. A CERU concluiu que a recuperação ambiental pode ser bem-sucedida desde que as áreas-fonte permaneçam intactas. Isso ocorre porque nos mais de dez anos de dados de monitoramento foi mostrado que, em geral, as características de composição e estrutura de regeneração da fauna e da flora, juntamente com as características do solo, estão convergindo na direção das características dos tipos de matas tradicionais nãodegradadas da região. Mais tempo será necessário para que a diversidade de árvores e a composição das espécies, assim como das comunidades da fauna, possam se equiparar àquelas de uma mata nativa não exposta à mineração. Entretanto, espera-se que isso ocorra com o tempo. Os estudos continuam a oferecer um feedback valioso para o programa de recuperação ambiental da RBM e provarão ser de extremo valor na implementação da estratégia sustentável de fechamento de mina da empresa. Para mais informações, consulte www.richardsbayminerals.co.za. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 107 Para obter mais informações sobre as medidas de preservação da biodiversidade, veja a publicação recente da Rio Tinto e do Instituto Earthwatch sobre o assunto (ver Seção D). 7.4 Medidas compensatórias para a biodiversidade Onde for inevitável a degradação permanente de um ecossistema, devem ser consideradas outras opções compensatórias como último recurso. Esse procedimento é conhecido comumente como “compensação ambiental”. O conceito foi desenvolvido pela primeira vez nos Estados Unidos durante a década de 70, no contexto da mitigação da perda das áreas pantanosas. As compensações poderiam envolver a criação de uma área de preservação natural ou a compra de uma área equivalente de terra destinada à proteção. A compensação para a biodiversidade significava um ‘pagamento’ (e possivelmente outras formas de apoio) para proteger a biodiversidade dentro de uma determinada região. Embora as atividades compensatórias sejam simples em seu conceito, elas têm atraído controvérsias. A proposição do ICMM e as instruções sobre as compensações à biodiversidade (julho 2005) fornecem fundamentos detalhados que dão uma oportunidade para se integrar as medidas de mitigação às estratégias de implantação de um programa de preservação ambiental regional. Entre os proponentes da compensação estão as organizações de preservação ambiental, as empresas mineradoras, os interessados diretos e alguns órgãos governamentais, que vêem vantagens mútuas em seu desenvolvimento. Por exemplo, algumas organizações conservacionistas vêem a compensação ambiental como um meio legítimo de garantir que outras áreas de terra recebam proteção de longo prazo, em apoio a ganhos reais para a biodiversidade. As empresas vêem as compensações ambientais como um mecanismo efetivo para mitigar os impactos ambientais adversos, garantir suas licenças para operar e se envolverem de forma construtiva com as organizações de conservação. Os interessados diretos consideram as compensações ambientais como redutores de risco de importância potencial, enquanto que os órgãos governamentais avaliam as compensações ambientais como importantes para ajudar a reconciliar as demandas contrárias para o desenvolvimento e a proteção ao meio ambiente. Os positores, entretanto, duvidam da eficácia do objetivo de ‘ganhos reais’ geralmente expresso para a biodiversidade e dos fundamentos para essas comparações. Eles argumentam especialmente que os impactos secundários gerados pela mineração não são considerados ao se estabelecer as compensações ambientais, embora eles possam ser muito significativos em setores como o de mineração (e em graus variáveis, estarem além do controle das empresas). Os críticos vêem as compensações ambientais como uma ‘cortina de fumaça’ conveniente que permite às empresas se desenvolverem em áreas que de outra forma estariam fora dos seus limites, facilitando, dessa forma, os danos à biodiversidade que, caso contrário, seriam inaceitáveis para os tomadores de decisão. Essas DBP (Diretrizes de Boas Práticas) oferecem somente uma exploração superficial do debate em torno das compensações ambientais e outras fontes de informação são fornecidas na Seção D (incluindo as duas recentes contribuições do ICMM ao debate). No mínimo, as compensações ambientais devem ser tratadas com cautela e devem ser cuidadosamente planejadas, de forma a garantir que seu benefício potencial seja alcançado na prática. Abaixo estão alguns fatores básicos que poderiam ser considerados: Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 108 • As compensações ambientais nunca devem ser usadas para justificar ou compensar práticas ou desempenhos deficientes de gestão ambiental. • A área ou áreas de compensação ambiental protegidas deverão ser preferencialmente similares ecologicamente ao habitat natural original convertido ou degradado pelo projeto e estarem sujeitas a menos ameaças à biodiversidade -- quer existentes, quer pressupostas. • As áreas de compensação ambiental deverão ser equivalentes em valor e não menores do que o habitat original natural convertido ou degradado pelo projeto. Além disso, algumas provisões de contingência devem ser feitas, considerandose os impactos adversos secundários e as expansões futuras ainda não planejadas. • Quando possível, as compensações ambientais devem complementar outros programas de parceria com o governo e as organizações de preservação, e deverão ser sensíveis às prioridades de preservação em iniciativas nacionais ou regionais para implementar a Convenção da Diversidade Biológica. • As compensações ambientais deverão resultar em um ganho real para o meio ambiente ao longo do tempo, levando em consideração a estruturação temporal dos processos ecológicos, e isso deverá ser avaliado de forma verossímil por estudos científicos revisados por especialistas da área. • Ser permanentes – elas precisam compensar o impacto adverso do desenvolvimento não somente para o período durante o qual ocorre o impacto ambiental adverso, mas também para além dele. • As compensações ambientais devem ser quantificáveis – os impactos, as limitações e os benefícios devem ser estimados de forma confiável. • Devem ser bem direcionadas – as compensações devem compensar igualmente – ou mais -- os impactos. • As compensações ambientais devem ser localizadas de forma apropriada – de preferência, devem compensar os impactos adversos dentro da mesma área. • As compensações ambientais também devem ser complementares – devem se somar a outros compromissos existentes e não serem criadas num programa independente. • Devem ser cumpridas através do desenvolvimento de condições consensuais, de licenciamento e de pactos ou por meio de um contrato. • Em se optando pelas compensações ambientais, os critérios biológicos deverão sempre estar em primeiro plano, de preferência mesclando os critérios referentes a ameaças e a critérios biológicos. • A definição de compensações aceitáveis exige consulta com os interessados diretos. Essas compensações serão específicas para cada local e cada projeto. 7.5 Melhoria da biodiversidade em vários níveis Conforme observado na seção 7.1, as medidas referentes à melhoria do meio ambiente para aumentar ou aprimorar a biodiversidade e que respondem às ameaças não relacionadas a operações de mineração vão além da mitigação ou recuperação ambiental. As oportunidades para o melhoramento da biodiversidade se apresentam em diversos níveis, que foram caracterizadas como esferas de influência operacional no guia da Rio Tinto sobre a biodiversidade (ver Figura 7.2). Na linha de frente de uma operação, os habitats naturais de áreas virgens podem ser geridos para a melhoria de seu valor de biodiversidade, ou os habitats que estiveram sujeitos à degradação histórica (não associada à mineração) podem ser melhorados ou restaurados. Estas práticas de gerenciamento podem também se estender até a segunda esfera de influência, a área de concessão mais ampla, que pode fornecer uma oportunidade de integrar as iniciativas de preservação existentes ou anexar áreas protegidas. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 109 A terceira esfera de influência é a chamada área de interações, que se refere à área mais ampla de interações ambientais e sociais (por exemplo, os pantanais que podem estar ligados aos cursos de recebimento de água para efluentes, ou comunidades de onde os empregados possam ser selecionados). Nesse caso, as possibilidades de se beneficiar a causa ambiental são mais diversificadas e poderiam incluir o envolvimento das comunidades e de outros parceiros preservacionistas para abordar as ameaças específicas ao meio ambiente (ver Seção 5.4.2 sobre avaliação de ameaças não associadas às atividades de mineração). A quarta área de influência é potencialmente muito ampla e se refere ao papel de apoio e de defesa que as operações de mineração poderiam ter em um nível regional ou nacional no apoio à preservação da biodiversidade. Figura 7.2 Identificando as oportunidades para a preservação ou melhoria da biodiversidade 1. Dentro da linha de proteção. Gestão de 2. Concessão mais ampla. Gestão de habitats habitats naturais para incremento da biodiversidade naturais e suporte para iniciativas de conservação ou áreas protegidas existentes 1 4 4. Área de influência 2 Função de suporte, mas com responsabilidade primária de outras partes. 2 3 3. Área de interações 1 Responsabilidade parcial com envolvimento ativo das outras partes Nota 1: Refere-se à área mais ampla de interações ambientais e sociais. Por exemplo, o recebimento de águas por efluentes, comunidades locais que interagem com a mina etc. Nota 2: Refere-se ao papel de defesa que as operações da Rio Tinto pode representar nas iniciativas ambientais, dando suporte para a criação de capacidade para as organizações ambientalistas etc. Fontes: S. Johnson em nome da Rio Tinto Exceto pelo guia ambiental da Rio Tinto, existe pouca ou nenhuma orientação disponível sobre como as empresas mineradoras podem identificar sistematicamente as possíveis oportunidades para se beneficiar da preservação ambiental. Em termos gerais, no entanto, as oportunidades de melhoria poderiam ser agrupadas nas seguintes categorias: • gerenciamento dos ambientes naturais para aumentar seu valor; • aumento do conhecimento científico sobre os ecossistemas ou espécies por meio do estudo dos ecossistemas, dos habitats e das espécies; • integração das iniciativas de preservação existentes; • apoio da gestão ou da criação de áreas protegidas e sustentáveis tanto ambiental quanto socialmente (ver, por exemplo, Box 7.4); • apoio ao desenvolvimento da capacitação das organizações ambientais, agências ou comunidades; • abordagem de algumas ameaças ambientais intrínsecas – por exemplo, se engajando em iniciativas de criação de alternativas para algumas atividades econômicas inerentemente não-sustentáveis, como o excesso de exploração dos recursos ambientais e Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 110 • promoção e participação de atividades integradas de preservação e de desenvolvimento que busquem aliar as metas de conservação da biodiversidade ao desenvolvimento sócio-econômico. Box 7.4. Parceria para a recuperação de terras áridas degradadas – África do Sul A Arid Recovery é uma parceria atual de recuperação estabelecida em 1997 entre a Western Mining Corporation (posteriormente adquirida pela BHP Billiton), o Departamento de Proteção Ambiental e das Tradições do Sul da Austrália, a Universidade de Adelaide e o grupo comunitário Amigos da Arid Recovery. Desde o começo, os novos parceiros concordaram com os seguintes pontos: • facilitar a recuperação ecológica dos ecossistemas áridos; • fornecer conhecimento transferível, informações e tecnologia de gestão ambiental em larga escala para as terras desérticas da Austrália e • aplicar os princípios desenvolvidos para demonstrar como as organizações mineradoras, de pecuária, de turismo e de preservação ambiental podem trabalhar juntas de forma a atingirem os benefícios tangíveis dos resultados ecológicos sustentáveis. O projeto começou pequeno, com a construção de uma reserva de 14 km2 protegida por cercas para deixar de fora gatos selvagens, coelhos e raposas. Após quatro expansões, a área protegida cobre agora 86 km2 que estão protegidos por cercas para excluir os mamíferos de outras regiões. Após milhares de horas de trabalho da equipe, de estudantes e trabalhadores voluntários, todos os gatos selvagens, coelhos e raposas foram tirados da reserva. Isso criou uma área de completa proteção na qual foram reintroduzidas quatro espécies locais extintas (o Grande Stick Nest Rat, o Burrowing Bettong, o grande Bilby e o Western Barred Bandicoot). Cada um desses retornos foi bem-sucedido e todas as quatro espécies estão agora vivendo e procriando dentro da reserva. Ocorreu também uma tentativa de reintrodução de numbats (mamíferos marsupiais da espécie Myrmecobius fasciatus) e em breve serão introduzidas serpentes woma (da espécie Aspidites ramsayi) para ajudarem a Arid Recovery a recriar um ecossistema auto-sustentável e integrado dentro da reserva. O número de espécies nativas na área protegida pela cerca também aumentou, e atualmente há uma quantidade dez vezes maior de pequenos mamíferos dentro do que fora da reserva. Um programa abrangente de monitoramento da flora também demonstrou uma recuperação considerável da vegetação nativa da reserva. A Arid Recovery demonstra assim todo o potencial de ganhos ambientais existente para as parcerias entre vários interessados diretos. Vários exemplos ilustrativos de oportunidades para melhorar a preservação da biodiversidade aparecem na Tabela 7.1 sob cada uma das categorias acima e para cada uma das esferas de influência destacadas na Figura 7.2. Esses exemplos, originalmente produzidos pela Rio Tinto, não são exaustivos nem prescritivos, mas Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 111 deverão servir de ajuda na identificação das potenciais oportunidades para o melhoramento ecológico. Em quase todas as situações, eles exigem das empresas mineradoras que se envolvam com os órgãos governamentais, ONGs e comunidades de povos nativos locais ou com um amplo conjunto de interessados diretos. Isso é especialmente verdadeiro em situações onde os recursos ambientais são escassos e onde a extensão total de desenvolvimento da mineração é grande. No oeste da Austrália, por exemplo, o processo de aprovação para novos projetos de mineração exige que os financiadores do projeto contribuam para “os benefícios reais de preservação” – de forma que a expectativa de ganhos reais seja contemplada no processo de aprovação legal. Se esta abordagem se tornar mais prevalente, a pressão para garantir os ganhos ambientais reais oriundos da mineração (ou de outros grandes empreendimentos que geram desenvolvimento), ficará mais forte. Entretanto, é importante compreender que os ganhos ambientais podem representar um custo para alguns interessados diretos locais. 7.6 Definição de limites da responsabilidade para mitigação, recuperação ou melhoria Independentemente de quão comprometidos ou bem-sucedidos sejam os esforços de mitigação, recuperação ou melhoria ambiental dentro da zona de operação da companhia, as operações de mineração correm o risco de serem associadas à perda da biodiversidade além dos limites de sua zona de atuação, a menos que elas estejam engajadas em estratégias de preservação da biodiversidade mais amplas e mais inclusivas. Ao mesmo tempo, existem limites que estas empresas podem e devem assumir quanto à responsabilidade pela proteção e recuperação da biodiversidade. Estas DBP propõem que as operações considerem os seguintes pontos para ajudar a determinar os limites de suas responsabilidades: • A suposição deve sempre ser de que as empresas mineradoras assumam a responsabilidade por todos os aspectos relacionados à mitigação e recuperação ambiental. Embora as abordagens em parceria sejam desejáveis para ampliar os conhecimentos disponíveis e melhorar a probabilidade de resultados positivos, a responsabilidade primária (e o peso dos custos) permanece com a empresa mineradora, como foi o caso da mina Greg River em Alberta (ver Box 7.5). • Para as iniciativas de melhoria da biodiversidade na área de concessão, a extensão da influência direta da empresa mineradora sobre o uso da terra é uma importante consideração. Tratamento similar deve ser dado à participação de outras partes no uso/gestão/planejamento da terra dentro da área de concessão. Por exemplo, a área de concessão fornece uma variedade de usos (para a agricultura, valor cultural, preservação ou entretenimento) e que outras partes estão envolvidas na gestão da terra e seu uso? • Para a melhoria da biodiversidade, a extensão da influência ambiental e social do projeto deverá ser considerada. As áreas perturbadas pela mineração e pelas atividades secundárias, as águas receptoras de afluentes e a zona de deposição de emissões de chaminé de uma oficina de fundição ou os resíduos de reservatórios devem ser abordados por meio das medidas de mitigação e recuperação. Mas as áreas indiretamente afetadas, incluindo as comunidades locais, comunidades com ligações culturais à terra ou as comunidades que fornecem trabalhadores, também devem ser consideradas no desenvolvimento das iniciativas de melhoria. • A maturidade do contexto conservacionista e os fatores associados (ver Seção 5.4) são muito importantes. Isso tem uma relação com os fatores-chave, como a impossibilidade de atuação quanto às ameaças ambientais e à capacidade de parceiros potenciais. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Gerenciar pastos naturais para estimular a diversidade de crescimento de vegetação natural Apoiar o treinamento para as organizações ou agências de conservação em nível regional ou nacional Trabalhar com os órgãos e ONGs relevantes para apoiar o desenvolvimento de capacidades para a análise e gestão das ameaças Trabalhar com as agências e ONGs relevantes para apoiar o desenvolvimento de capacidades para a implementação das ICDP onde for apropriado Apoiar o treinamento para as organizações ou agências de conservação ambiental em nível local Avaliar as ameaças à biodiversidade (usando a abordagem descrita na seção 5.4.2) e envolver os interessados diretos na mitigação dos riscos Apoiar os esforços locais de ONGs e agências para conciliar o desenvolvimento e os objetivos de conservação Envolver ativamente as organizações ou agências no monitoramento da biodiversidade para ajudar a melhorar a capacidade local Avaliar as ameaças à biodiversidade (usando a abordagem descrita na seção 5.4.2) e envolver os interessados diretos na mitigação dos riscos Considerar o potencial para o acesso aos recursos naturais dentro da concessão que sejam coerentes com a conservação Ver mitigação em seção 7.2 Maximizar o potencial para a conservação paralelamente às operações Abordando as ameaças subjacentes à biodiversidade (ver seção 5.4) Promovendo iniciativas integradas de conservação e desenvolvimento ambiental (ICDP) Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Fonte: Desenvolvido por S. Johnson para a Rio Tinto (2004) Melhorando a capacidade das organizações ou agências de conservação ambiental Apoiar os órgãos governamentais ou ONGs na criação de áreas protegidas onde o valor da biodiversidade seja alto Apoiar os esforços locais para criar áreas protegidas junto com as organizações relevantes para as quais o valor da biodiversidade é alto Vincular os esforços de gestão para os habitats naturais dentro da concessão à gestão das áreas locais protegidas Considerar o potencial dos habitats naturais dentro da zona de proteção para que façam parte das áreas protegidas após o fechamento Envolver ativamente as organizações ou agências de conservação no trabalho de S&EIA para ajudar a melhorar a capacidade local Apoiando a gestão ou a criação de áreas protegidas Fornecer apoio técnico ou financeiro para as iniciativas de conservação regional Fornecer apoio técnico ou financeiro para as iniciativas de conservação local Considerar o potencial dos habitats naturais em áreas de concessão como sendo integrados aos esforços de conservação existentes Apoiar as pesquisas científicas sobre a biodiversidade de áreas de importância ambiental Apoiar os grupos de conservação ou instituições acadêmicas locais quanto a estudos sobre a biodiversidade Garantir que o monitoramento da biodiversidade envolve ONGs ou instituições acadêmicas locais Garantir que as espécies nativas de plantas estão sendo usadas em obras paisagísticas ou considerar as oportunidades de criação de habitat Colaborar com as autoridades regionais na gestão dos habitats naturais Colaborar com as comunidades na gestão dos habitats naturais Área de influência Gerenciar as áreas florestais e outros habitats naturais como áreas protegidas Área de interações Integrando as iniciativas de conservação existentes Aumentando o conhecimento Garantir que os dados da científico de ecossistemas ou AISA sobre biodiversidade sejam disponibilizados a de espécies instituições acadêmicas Gerenciando habitats naturais para aumentar seu valor Dentro da zona de proteção Área de concessão ampla Esferas de influência operacional Oportunidades para a melhoria da biodiversidade (exemplos ilustrativos) Possíveis intervenções à biodiversidade Tabela 7.1 112 113 • Devem ser consideradas a existência de possíveis articulações com as iniciativas de proteção do meio ambiente em nível regional ou nacional, onde as operações de mineração podem representar um papel de apoio. Dentro da zona do empreendimento, a responsabilidade geral recai sobre as operações das mineradoras, embora isso não impeça o envolvimento de outras partes. Dentro da área de concessão ampla, as operações detêm a maior parte da responsabilidade pela biodiversidade. A definição dos limites de responsabilidade dentro da área de interações ambientais e sociais é mais complexa – e provavelmente deverá ser compartilhada com os interessados diretos, que podem abranger governo, ONGs, comunidades e outros setores. É nesse instante que é fundamental a compreensão do amadurecimento do contexto de conservação e dos interessados diretos mais importantes, não somente no entendimento de como a responsabilidade poderia ser compartilhada, mas também na análise das perspectivas de sucesso das iniciativas de conservação ou de melhoramento da biodiversidade. Por último, além da área de interações ambientais e sociais, a responsabilidade primária pela proteção e melhoria da biodiversidade reside nas mãos de outras partes. Ainda que em algumas situações as ameaças ambientais venham a se estender para além das operações de uma empresa de mineração, existem limites práticos a quanto as empresas de mineração podem adotar uma participação ativa. As mineradoras devem limitar suas atividades a um papel apoiador, como por exemplo, na defesa da proteção ambiental ou na integração das iniciativas existentes ou propostas de proteção da biodiversidade, tanto no nível regional quanto nacional. Box 7.5. Criando habitat para a vida selvagem – Mina Gregg River, Alberta, Canadá A Mina Gregg River, da Luscar Limited, fica perto das Montanhas Rochosas, na sub-região de Upper Foothills, do oeste de Alberta. As operações de mineração de carvão começaram em 1981 e foram concluídas em 2000, com a recuperação tendo começado em 1982 e continuando até 2004. O processo de recuperação envolveu a reconfiguração de material de aterramento, cobrindo-o com 30–40 centímetros de regolito e adubo orgânico, seguido pelo reflorestamento. Os usos do solo após o fechamento foram identificados como proteção de vertentes, habitat para vida selvagem e floresta para exploração comercial. A criação de habitats para a vida selvagem tem sido um objetivo essencial da recuperação tanto da Mina Gregg River quanto da adjacente Mina Luscar, que era também parcialmente controlada pela Luscar Ltd até 2003. A chave para o sucesso tem sido a avaliação da biodiversidade da região, o desenvolvimento de um claro entendimento das necessidades ambientais de cada grupo representativo da fauna, a incorporação dessa compreensão ao programa de recuperação e o monitoramento do uso das espécies do habitat criado para que a gestão adaptativa possa ocorrer. Também é necessário ter cuidado para manter as relações com os habitats adjacentes, de forma a permitir que as espécies se readaptem Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 114 quando seu habitat alcançar o estágio que atenda suas necessidades. As variações sazonais também devem ser consideradas, pois as necessidades de muitas espécies variam significativamente entre o inverno e o verão. As diferenças nos habitats preferidos das espécies estão bem ilustradas pelos mamíferos ungulados (mamíferos com casco). A recuperação do habitat do carneiro bighorn (carneiro das montanhas rochosas - Ovis canadensis) foi especialmente bem-sucedida tanto na Mina Gregg River quanto na Mina Luscar, com a paisagem recuperada usada principalmente como área de pasto no inverno e como região de parição, cortejo nupcial e de descanso no verão. As pastagens e campinas subalpinas recém-estabelecidas fornecem área de pastagem, enquanto seções preservadas de bancadas altas fornecem proteção contra os predadores. A população no outono de 2002, em ambas as minas, era de 789 animais. um dos maiores rebanhos da América do Norte. Os alces povoaram a região da Mina Luscar e, em menor medida, da Mina Gregg River. Eles usam os pastos e as extremidades de florestas, e para eles a conveniência do habitat depende da qualidade dos alimentos, da cobertura e da distância da floresta.Os veados (Odocoileus hemionus) são comuns em ambas minas e utilizam o habitat de forragem/cobertura da mesma maneira que os alces. A presença de uma base diversa de presas, incluindo os ungulados citados e muitas outras espécies de pequenos mamíferos, ajuda a promover uma variedade de predadores. O lobo cinza, o coiote, o puma e o urso pardo são habitantes regulares de ambas as minas, enquanto que o carcaju, a raposa vermelha, o urso negro e o lince do Canadá são vistos ocasionalmente. Entre as técnicas usadas para criar habitats para outras espécies de animais estão a construção de abrigos de galhos e de pedras, a seleção de plantas por suas qualidades para servir como pasto e cobertura, o plantio de árvores e arbustos na parte de sotavento dos abrigos e a reconstrução de riachos e habitats pantanosos. As técnicas usadas variam da escala de micro-habitat até a escala de vastas paisagens. A recolonização bem-sucedida, por uma vida selvagem diversa, está sendo atingida gradualmente através da adoção de uma abordagem de ecossistemas para a recuperação que se concentre nas necessidades ambientais das espécies. Fonte: as informações apresentadas nesse estudo de caso foram fornecidas por Beth MacCallum (Bighorn Wildlife Technologies Ltd.). Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 115 Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 116 Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 117 SEÇÃO D: Materiais de Apoio Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Seção D. Materiais de Apoio 118 Acrônimos usados 119 Fontes de Informação, por capítulo, e referências gerais sobre a biodiversidade 120 Lista de Verificação No 2.1 Proteção da Biodiversidade durante a Fase de Exploração 126 Lista de Verificação No 2.2 Proteção Ambiental durante a fase de Estudos de Pré-Viabilidade e de Viabilidade 127 Lista de Verificação No 2.3 Mapeamento das Possíveis Interfaces entre a Mineração e a Biodiversidade em Vários Estágios Operacionais 128 Lista de verificação no 2.4 Proteção da Biodiversidade durante a Fase de Construção 130 Lista de verificação no 3.1 Proteção da Biodiversidade durante as Operações 131 Lista de verificação no 4.1 Garantindo que a Proteção e a Melhoria da Biodiversidade sejam Consideradas no Fechamento 132 Lista de Verificação No 5.1 Garantindo que a Biodiversidade seja Abordada de Forma Adequada nas Avaliações de Impacto Sócio-Ambiental Adverso (AISA) 134 Lista de Verificação No 5.2 Garantindo que a Biodiversidade seja Abordada de Forma Adequada nos Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) 138 Lista de Verificação No 5.3 Estendendo o Alcance das Análises Convencionais para um Melhor Entendimento do Contexto de Conservação 143 Lista de Verificação No 6.1 Matriz de Análise dos Interessados Diretos em Apoio à Melhoria e à Proteção da Biodiversidade 144 lista de verificação no 6.2 Ferramentas de Participação dos Interessados Diretos e Processos de Apoio à Proteção e Melhoria da Biodiversidade 145 Lista de Verificação No 7.1 Ferramentas de Mitigação, Recuperação e Melhoria da Biodiversidade 147 Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Acrônimos Usados 119 BACI PAB BPD CDB PGA(s) SGA AISA DBP GRI ICMM IFC ISO IUCN antes-depois/controle -impacto Plano de Ação para a Biodiversidade Parceiros Comerciais para o Desenvolvimento (Banco Mundial) Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica Plano(s) de Controle Ambiental Sistemas de Controle Ambiental Avaliação de Impacto Sócio-Ambiental Adverso Diretrizes de Boas Práticas “Global Reporting Initiative” - Iniciativa Global de Relatórios Conselho Internacional de Mineração e Metais International Finance Corporationl Organização Internacional para Padronização União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais ONG Organização Não-Governamental PNG Papua-Nova Guiné EOR Eliminação Oceânica de Rejeitos UNESCO Organização Educacional, Científica e Cultural da Organização das Nações Unidas Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Fontes de Informação por Capítulo e Bibliografia Geral sobre a Biodiversidade 120 Capítulo 1. Introdução Earthwatch, IUCN & WBCSD (2002). Business and Biodiversity: A Handbook for Corporate Action. European Comission/DfID/IUCN (2002). Biodiversity Brief 19: Biodiversity – what is it, and why is it being lost? Monografia sobre Biodiversidade em Desenvolvimento. IUCN-ICMM (2003). Mining and Biodiversity: Towards Best Practice. Resumo e discussão dos resultados do workshop IUCN-ICMM sobre Mineração, Áreas Protegidas e Conservação da Biodiversidade: Em Busca de Melhores Práticas e Relatórios para o Setor de Mineração. 7 – 9 Julho, 2003. IUCN-ICMM (2004). Integrating Mining and Biodiversity Conservation: Case Studies from Around the World Millennium Ecosystem Assessment (2005). Ecosystems and Human Well-Being: Opportunities and Challenges for Business and Industry. World Resources Institute. Millennium Ecosystem Assessment (2005). Ecosystems and Human Well-Being: Synthesis. Island Press. Rio Tinto (2004). Rio Tinto’s Biodiversity Strategy: Sustaining a Natural Balance. Capítulo 2. Integração da Biodiversidade ao Desenvolvimento do Projeto Energy and Biodiversity Initiative (2003). Framework for integrating biodiversity into the site selection process. Conservation International. Contains detailed information on site-selection for new projects in relation to protected areas. Energy and Biodiversity Initiative (2003). Fontes de informação online sobre Biodiversidade. Conservation International. Contém informações detalhadas sobre fontes online de informações sobre biodiversidade. Environmental Excellence in Exploration (E3) Program of the Prospectors and Development Association of Canada. At www.pdac.ca/pdac/programs/e3.html. Capítulo 3. Integração da Biodiversidade às Operações Davy, A. (1998). Environmental Assessment of Mining Projects: World Bank Environmental Assessment Sourcebook Update Number 25. Environment Department, World Bank. Marcus, J. (ed.) (1996). Mining Environmental Handbook. Effects of Mining on the Environment and American Environmental Controls on Mining. Imperial College Press, London. Ripley, E. et al. (1996). Environmental Effects of Mining. St. Lucie Press, Florida. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 121 Capítulo 4. Integração da Biodiversidade ao Planejamento e à Implementação do Fechamento de Minas ICMM (2005). Financial Assurance for Mine Closure and Reclamation. London. MMSD (2002). Mining for the Future. Appendix B: Mine Closure Working Paper. International Institute for Environment and Development and World Business Council for Sustainable Development. Rolfe, J. (2000). Mining and Biodiversity: Rehabilitating Coal mine Sites. Feature Article in Summer 2000–2001 Policy Journal of Australia, pp. 8–12. Capítulo 5. Sistemas de Gestão e Ferramentas de Avaliação Earthwatch (2002). Business and Biodiversity: Site Biodiversity Action Plans – A Guide to Managing Biodiversity on Your Site. Very useful summary of the stages involved in preparing a biodiversity action plan. Energy and Biodiversity Initiative (2003). Biodiversity Indicators for Monitoring Impacts and Conservation Actions. Conservation International. Energy and Biodiversity Initiative (2003). Integrating Biodiversity into Environmental Management Systems. Conservation International. Energy and Biodiversity Initiative (2003). Integrating Biodiversity into Social and Environmental Impact Assessment. Conservation International. Gardner, J., and Mitchell, P. (2004). Integrating Biodiversity into Environmental Management Systems and Community Development Programmes. Global Reporting Initiative (2002). Sustainability Reporting Guidelines. Amsterdam. Global Reporting Initiative (2004). Final Report from GRI Environment Subgroup 3: Land/Biodiversity Indicators. Amsterdam. International Finance Corporation (2006). Performance Standard 6: Conservation of Biodiversity and Sustainable Natural Resources Management. Disponível online em www.ifc.org. ISIS Asset Management (2004). Is Biodiversity a Material Risk for Companies: An Assessment of the Exposure of FTSE Sectors to Biodiversity Risk. ISIS Asset Management, London. Morrison, M.L., et al. (2001). Wildlife Study Design. Springer-Verlag, New York. Contains details on the practical application of BACI (antes-depois/controle de impacto). Rio Tinto (2004). Sustaining a Natural Balance: A Practical Guide to Integrating Biodiversity into Rio Tinto’s Operational Activities. United Nations Environmental Programme (1995). Global Biodiversity Assessment. Cambridge University Press. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 122 United States Agency for International Development (2002). Biodiversity Conservation Program Design and Management: A Guide for USAID Staff. World Wide Fund for Nature (2000). The Root Causes of Biodiversity Loss. Earthscan. Capítulo 6. Ferramentas e Processos para a Participação dos Interessados Diretos Business Partners for Development (2000). Working Paper No. 2: Tri-Sector Partnerships for Social Investment within the Oil, Gas and Mining Sectors: An Analytical Framework. BPD Natural Resources Cluster secretariat, London. CBD Secretariat (2004). Akwe: Kon Guidelines: Voluntary Guidelines for the Conduct of Cultural, Environmental and Social Impact Assessments regarding Developments Proposed to Take Place on, or Which are Likely to Impact on, Sacred Sites and on Lands and Waters Traditionally Occupied or Used by Indigenous and Local Communities. Convention on Biological Diversity Secretariat. Energy Sector Management Assistance Program, World Bank and ICMM (2005). Community Development Toolkit. Pioneering New Approaches in Support of Sustainable Development in the Extractive Sector. International Finance Corporation (1998). Doing Better Business through Effective Public Consultation and Disclosure: A Good Practice Manual. Natural Resources Cluster of the Business Partners for Development initiative, at www.bpd-naturalresources.org. World Wildlife Fund (2000). Stakeholder Collaboration: Building Bridges for Conservation. Washington DC. Capítulo 7. Ferramentas de Mitigação, Recuperação e Melhoria Ambiental Australian Centre for Mining Environmental Research (2002). Managing the Impacts of the Australian Minerals Industry on Biodiversity. Final report to the MMSD. Energy and Biodiversity Initiative (2003). Opportunities for Benefiting Biodiversity Conservation. Conservation International. Environment Australia (1995). Rehabilitation and revegetation. Module in series on Best Practice Environmental Management in Mining. ICMM (2005). Biodiversity Offsets – A Briefing Paper for the Mining Industry. ICMM (2005). Biodiversity Offsets: A Proposition Paper. Minerals Council of Australia (1998). Mine Rehabilitation Handbook. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 123 Nichols, O.G., and Foot, P. (2002). Designing a vegetation monitoring programme to achieve continual improvement and assess the long-term sustainability of mine rehabilitation. Proceedings of the Minerals Council of Australia Sustainable Development Conference and 27th Annual Environmental Workshop, November 2002, p. 79–88. Rio Tinto (2004). Sustaining a Natural Balance: A Practical Guide to Integrating Biodiversity into Rio Tinto’s Operational Activities. Rio Tinto and Earthwatch Institute (2006). A Review of Biodiversity Performance Measures. Ten Kate, K. et al. (2004). Biodiversity Offsets: Views, Experience and the Business Case. IUCN and Insight Investment. Referências Gerais Importantes para a Recuperação e o Fechamento da Mina Australian and New Zealand Minerals and Energy Council and the Minerals Council of Australia (2000). Strategic Framework for Mine Closure. Canberra, ACT, Australia. See: http://www.doir.wa.gov.au/documents/safetyhealthandenvironment/Shed_env_ guide_closure.pdf. Bell, L.C. (2001). Establishment of Native Ecosystems after Mining – Australian Experience across Diverse Biogeographic Zones. Ecological Engineering 17: 179186. Brearley, D.R., and Osborne, J.M. (2000). Developing Completion Criteria for Minesites in Arid and Semi-arid Western Australia. In Proceedings Workshop on Environmental Management in Arid and Semi-Arid Areas (Goldfields Land Rehabilitation Group: Boulder, WA). pp. 11–21. Burger, J., and Zipper, C.E. (2002). How to Restore Forests on Surface Mined Land. Powell River Project – Reclamation Guidelines for Surface-mined Land in Southwest Virginia. Virginia Cooperative Extension. Accessed at http://www.ext.vt.edu/pubs/ mines/460-123/460-123.html. Department of Mineral Resources (1999). Synoptic Plan Integrated Landscapes for Coal Mine Rehabilitation in the Hunter Valley of NSW. Sydney, New South Wales. Duggin, J.A., Grant, C.D., and Meek, I.K. (2003). Rehabilitation Success Criteria for Open-cut Mining. In EPA Workshop – Mining and Post Mining Landscapes. 23–24 June 2003. Rockhampton, Australia. Elliott, P., Gardner, J., Allen, D., and Butcher, G. (1996). Completion Criteria for Alcoa of Australia Limited’s Bauxite Mine Rehabilitation. 3rd International 21st Annual Minerals Council of Australia Environmental Workshop. Pp. 79–89. Best Practice Environmental Management in Mining Booklets, particularly: Rehabilitation and Revegetation, Landform Design for Rehabilitation, and Mine Decommissioning, at http://www.industry.gov.au/content/itrinternet/ cmscontent.cfm?objectID=BF645BCB-964A-B247-A9E94E25110BDA2E Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 124 Fox, H.R., Moore, H.M., and McIntosh, A.D. (eds.) (1998) Land Reclamation: Achieving Sustainable Benefits. Proceedings of the Fourth International Conference of the International Affiliation of Land Reclamationists, Nottingham, United Kingdom, 7–11 September 1998. A.A. Balkema, Rotterdam. Gardner, J. (2001). Rehabilitating Mines to Meet Land Use Objectives: Bauxite Mining in the Jarrah Forest of Western Australia. Unasylva 207 (52). Grant, C., Duggin, J., Meek, I., and Lord, M. (2001). End Point Criteria and Successional Pathways for Manganese Mining Rehabilitation on Groote Eylandt, Northern Territory. 26th Annual Minerals Council of Australia Environmental Workshop. pp. 129-152. Grigg, A.H., Murray, M-A., and Mulligan, D.R. (2000). Ecologically-based Criteria for Evaluating the Success of Rehabilitation Efforts: A Case Study from Weipa, Australia. In Proceedings of the 25th Annual Canadian Land Reclamation Association and the 4th Annual International Affiliation of Land Reclamation Meetings. September 17–20, 2000. Edmonton, Alberta. Hannan, J.C. (1984). Mine Rehabilitation – A Handbook for the Coal Mining Industry. New South Wales Coal Association, Sydney, NSW, Australia. Hannan, J.C., and Bell, L.C. (1993). Surface Rehabilitation. In Australasian Coal Mining Practice. A.J. Hargraves and C.H. Martin, eds., pp. 260-280. The Australasian Institute of Mining and Metallurgy: Melbourne. Holl, K.D. (2002). Long-term Vegetation Recovery on Reclaimed Coal Surface Mines in the Eastern USA. Journal of Applied Ecology 39:960-970. Holl, K.D., Zipper, C.E., and Burger, J.A. (2002). Recovery of Native Plant Communities after Mining. Virginia Cooperative Extension. Accessed at http://www.ext.vt.edu/pubs/mines/460-140/460-140.html. Lloyd, M.V., Barnett, G., Doherty, M.D., Jeffree, R.A., John, J., Majer, J.D., Osborne, J.M., and Nichols, O.G. (2001). Managing the Impacts of the Australian Minerals Industry on Biodiversity. Report prepared for AMEEF as part of the Mining, Minerals and Sustainable Development Project. Nichols, O.G. (1998). The Development of a Rehabilitation Programme Designed to Restore a Jarrah Forest Ecosystem Following Bauxite Mining in South-western Australia. In: Land Reclamation. Achieving Sustainable Benefits. H.R. Fox, H.M. Moore, and A.D. McIntosh, eds., Proceedings of the Fourth International Conference of the International Affiliation of Land Reclamationists, Nottingham, United Kingdom, 7–11 September 1998. A.A. Balkema, Rotterdam. pp 315–325. Nichols, O.G. (2003). Establishing Functional Native Ecosystems Following Mining – Minimising Risk by Doing the Job Right. In EPA Workshop – Mining and Post Mining Landscapes. 23–24 June 2003. Rockhampton, Australia. Nichols, O.G. (2004). Development of Rehabilitation Completion Criteria for Native Ecosystem Establishment on Coal Mines in the Bowen Basin. Project C12045. Australian Coal Association Research Programme, Brisbane, Australia. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 125 Nichols, O.G., and Nichols, F.M. (2003). Long-term Trends in Fauna Recolonisation Following Bauxite Mining in the Jarrah Forest of South-western Australia. Restoration Ecology 11(3): 1–12. Queensland Resource Council. Guidelines for Mine Closure Planning in Queensland Rosenfeld Sweeting, A. and Clarke, A. (2000). Lightening the Lode: A Guide to Responsible Large-Scale Mining. Conservation International. UK Office of the Deputy Prime Minister (Accessed 3 September 2004). Minerals Planning Guidance 7: Reclamation of Mineral Workings. See http://www.odpm.gov. uk/stellent/groups/odpm_planning/documents/page/odpm_plan_606885.hcsp. Note Annex B Reclamation for different after-uses. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Lista de Verificação No 2.1 Proteção da Biodiversidade durante a Fase de Exploração 126 Objetivo: conduzir um exercício de mapeamento inicial visando criar uma visão geral da importância da biodiversidade de uma região e garantir que os impactos sobre a biodiversidade sejam minimizados. Questões a considerar Ação Já foram identificadas as limitações à biodiversidade pelas autoridades reguladoras do país? SIM: Determinar se a exploração ou a mineração é compatível com as intenções de uso da terra designadas. Caso contrário, buscar metas de exploração alternativas (ver seção 2.2). NÃO: Revisar todas s provisões legais relativas à mineração (ou outros tipos de desenvolvimento) e a biodiversidade que poderia influenciar a exploração ou as operações de mineração (ver seção 2.2). As áreas protegidas dentro da área de exploração foram identificadas? SIM: Considerar as implicações para a exploração ou mineração, em Locais do Patrimônio Natural, estando fora dos limites para os membros do ICMM (ver seção 2.2). NÃO: Realizar exercício de mapeamento para identificar a ocorrência ou ausência de áreas protegidas e considerar as implicações existentes para as operações de mineração (ver seção 2.2). As etapas iniciais de exploração envolvem amostragem de subsolo? SIM: Garantir que as barreiras para o acesso (e meios de ingresso) sejam oferecidas para proteger a vida selvagem e pronta reposição de solo (ver seção 2.2.1). NÃO: Se forem usadas técnicas geofísicas, tente evitar levantamentos atmosféricos se os animais migratórios puderem ser perturbados, e evitar cortes de ”linha de visão” sempre que possível (ver seção 2.2.1). Serão necessárias novas estradas de acesso para a perfuração de exploração SIM: Garantir que as trajetórias sigam contornos naturais para evitar erosão, sejam as menores possíveis e sejam recuperadas o mais rápido possível (ver seção 2.2.2). NÃO: Nenhuma ação específica necessária. A exploração identificou prováveis reservas minerais que justifiquem a condução de estudos de pré-viabilidade? YES: Proceder com os estudos de pré-viabilidade e consultar a Lista de verificação 2.2. NÃO: Garantir que os impactos ambientais adversos da exploração sejam recuperados o mais rápido possível (ver a seção 2.2.2 e Box 2.3). Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Lista de Verificação No 2.2 Proteção da Biodiversidade durante os Estudos de Pré-Viabilidade e de Viabilidade Objetivo: desenvolver um amplo entendimento da importância da biodiversidade de uma área tanto para satisfazer os critérios regulamentares como para garantir que os impactos ambientais adversos sejam minimizados. Questões a considerar Ações O mapeamento inicial (ver lista de verificação 2.1) considerou a biodiversidade importante dentro da área protegida? SIM: Existem áreas importantes para a biodiversidade que podem ser afetadas pelas atividades de mineração, tanto áreas protegidas ou não? Poderiam as áreas ou espécies protegidas apresentar uma restrição a mineração? SIM: Há Informação suficiente disponível para conduzir uma avaliação preliminar dos possíveis impactos ambientais adversos (no que se refere às opções de mineração alternativas e à importância de biodiversidade da área)? SIM: O projeto procedeu até a etapa de estudos detalhados de viabilidade para verificar se a reserva mineral comprovada pode ser operada para extrair minérios? SIM: Contratar especialistas em meio ambiente para ajudar a começar a estabelecer uma referência basal de biodiversidade (ver lista de verificação 5.1). NÀO: Se pessoal interno puder aplicar as ferramentas indicadas na seção C das DBP, confiar nos recursos internos para iniciar a referência basal de biodiversidade (ver lista de verificação 5.1). Considerar profundamente as implicações possíveis para a mineração da presença de áreas ou espécies importantes (ver também lista de verificação 5.1). NÀO: Começar a identificar as possíveis interfaces entre as atividades de mineração e o meio ambiente para as áreas e espécies de menor importância (ver lista de verificação 2.3). Refinar o entendimento das possíveis interfaces entre as atividades de mineração e a biodiversidade (ver lista de verificação 2.3). NÀO: Obter outras informações sobre as opções alternativas de mineração ou sobre a importância ecológica da área1 e rever a avaliação preliminar (ver seção 2.3.1). Conduzir análises detalhadas da biodiversidade existente e outras questões sócio-ambientais, consistentes com os critérios dos órgãos reguladores ou empresas financeiras e começar a integrar a biodiversidade em um planejamento de fechamento (ver as listas de verificação 5.1 e 4.1). NÀO : Se não tiverem sido já discutidos, garantir que os impactos ambientais adversos da exploração sejam recuperados o mais rápido possível (ver seção 2.2.2 e Box 2.3). 1 Dependendo da fonte de financiamento ou dos critérios regulamentares, se o projeto avançar para além da fase de viabilidade, talvez seja necessário documentar de modo satisfatório uma análise das alternativas, a partir de uma perspectiva sócio-ambiental. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 127 128 Lista de Verificação No 2.3 Mapeamento das Possíveis Interfaces entre a Mineração e a Biodiversidade em Vários Estágios Operacionais Objetivo: fornecer uma ferramenta prática de suporte para o mapeamento inicial das interfaces entre a biodiversidade e as atividades de mineração em vários estágios operacionais. Durante a etapa de pré-viabilidade (ver seção 2.3.1), quando ocorre a etapa de triagem e escopo da Avaliação de Impactos Sócio-Ambientais (AISA) (ver a seção 5.2.2 e lista de verificação 5.1), é importante começar a mapear a interação entre as atividades de mineração propostas e os possíveis impactos ambientais adversos. A matriz abaixo fornece uma ferramenta prática para se começar a identificar as interfaces potenciais entre a atividade de mineração e a biodiversidade, em várias etapas operacionais. Ao mapear as possíveis interfaces, considere os seguintes itens: • Jogue a rede longe: olhe além das interfaces óbvias entre a biodiversidade e a mineração, como a supressão de florestas. Por exemplo, se houver a possibilidade de descargas em cursos de água, considere os impactos sobre os peixes migratórios e os pântanos rio abaixo. • Inclua rotas de transporte e infra-estrutura associada: considere os impactos que o vazamento de produtos químicos processados ou resíduos perigosos -- que viajam para e a partir da operação de mineração -- poderia ter sobre a biodiversidade. Além disso, garanta que a infra-estrutura auxiliar, como o fornecimento de energia elétrica dedicado ou a infra-estrutura de exportação dos produtos, seja levada em consideração. • Considere as interfaces da sociedade com a biodiversidade: a biodiversidade pode ter uma variedade de usos ou valores importantes para as comunidades locais, indo desde a forma estética até uma forte dependência para a subsistência ou para os meios de vida. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade pro c e ssa dos ATI VID Exp ADES lor DE a ç M Pri me ão e c INER i o AÇ r a n P s s e e r tap truçã ÃO fu r as o Con ação de de ex st Lim rução explo plora ção ra p d e ee str ção Ob za de ad te te n a r r Con ção d eno (p s de a em ce st a r r a ter a con sso Con ução iais stru de str i ç u ç Inf ão nfra- de con ão et r e c.) a d str st -e e Tub strut infra utura rução u u e r l s a a tru assoc de Lin ções iad t e u str ra ha p a a aux a s Fon de t ra flu das, ran fer iliar ido tes r s s m d o Tra e u c ovias nsp água issão onc ee , t Pro orte rat de en entra xporta d a c e do ção e m e r Loc ssam mate ento gia/co s ri en d m a e a l b t i d á s o u gu a s ív p d E t i e e n x a r t s m ig e s r t a a i n ç laç éri osos ervid is De ão e ão a oe to a e r n l m m o Dre ações azen anus cal d ei ag ei na e o n e Lav gem d remoç m de de m stala ção ag ate ão am re s r d i e n Arm em e a min íduos iais e dr a tc d é a z e r io roc . Pro enam ga de has c e m e n Pr ssam to de inério o e mi s c n e t Uso ssam o piro nério e m n e e t a Con rmaz o hidr talúr gi en o t e n ção agem metal co úrg /e d e l i m ina produ ico tos çã o q d u e reje ímico s itos IMPACTOS POTENCIAIS Impactos na biodiversidade terrestre Perda de ecossistemas e habitats Perda de espécies raras e em perigo de extinção Efeitos adversos nas espécies sensíveis ou migratórias Efeitos na biodiversidade pelo desenvolvimento induzido Biodiversidade aquática e impactos de descargas Regimes hidrológicos alterados Regimes hidrogeológicos alterados Aumento de metais pesados, acidez ou poluição Turbidez aumentada (sólidos suspensos) Risco de contaminação de lençol freático Impactos sobre a biodiversidade relacionados à qualidade do ar Aumento de partículas aéreas (TSP) Aumento de dióxido de enxofre no ar (SO2) Aumento de óxidos de nitrogênio no ar (NOx) Aumento de metais pesados no ar Interfaces sociais com a biodiversidade Perda de acesso aos habitats de pesca Perda de acesso a árvores frutíferas e plantas medicinais Perda de acesso à vegetação de forragem ou de pastagem Acesso restrito aos recursos da biodiversidade Aumento da pressão sobre a atividade de caça Impactos de desenvolvimento induzidos sobre a biodiversidade 129 Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Lista de Verificação Nº 2.4 Proteção Ambiental durante a Fase de Construção 130 Objetivo: garantir que sejam minimizados os impactos ambientais adversos durante a fase de construção. Questões a considerar Ação Serão necessárias novas estradas de acesso ou melhoria nas já existentes que permitam a construção, ou será construída infraestrutura secundária, por exemplo linhas de trem, tubulações e linhas de transmissão (ver seção 2.4.1)? SIM: As áreas de importância para a biodiversidade são dependentes de ‘acesso limitado’? A construção facilitará novamente o acesso e induzirá possíveis mudanças adversas por outros usuários? SIM: A limpeza do terreno pode em potencial atingir de forma negativa as espécies raras ou plantas, ou de outra forma, as plantas e as espécies animais importantes (ou seja, de importância para as comunidades dependentes dos recursos naturais)? SIM: O fornecimento de materiais para construção (como para drenagem de areia e cascalhos) denota possíveis impactos ambientais significativos? SIM: A mina proposta está em uma área que exigirá a imigração de grande número de trabalhadores temporários para a construção? Corre-se o risco de criar uma imigração de longo prazo de após a construção? Identificar e avaliar os possíveis impactos adversos (ver seção 5.2.5). Garantir que o alinhamento evite o isolamento ou a fragmentação de habitats e a interrupção de escoamentos e rios (ver hierarquia de procedimentos de mitigação na Figura 7.1). NÃO: Considerar os riscos para a biodiversidade próximos a estradas existentes de derramamentos acidentais, como óleo combustível ou outros metais perigosos oriundos da atividade de construção (ver seção 2.4.1). Considerar as opções de alternativas para construção de acesso (por exemplo, aéreo ou marítimo) e outros mecanismos de controle (ver seção 2.4). NÃO: Começar a identificar as possíveis interfaces entre as atividades de mineração e a biodiversidade, tanto direta como indiretamente (ver lista de verificação 2.3). Garantir que as espécies raras e as espécies de plantas e animais importantes sejam identificadas durante a condução dos levantamentos de referência basal ou de acompanhamento (ver lista de verificação 5.1) e que sejam adotadas as medidas de minimização de ameaças apropriadas (ver lista de verificação 7.1). NÃO: Garantir que as medidas básicas sejam tomadas para assegurar que os ambientes naturais sejam evitados de todas as formas possíveis no momento de projetos e localização das instalações de construção, áreas de armazenagem, etc. (ver lista de verificação 7.1). Garantir que esses aspectos sejam plenamente discutidos como parte da AISA (ver lista de verificação 5.1). NÃO: Onde for viável, garantir que os materiais para a construção sejam obtidos de fontes aprovadas (ver seção 2.4.2). SIM: Garantir que esses aspectos sejam plenamente discutidos na AISA (ver lista de verificação 5.1) e que estejam sendo implementados controles adequados (ver seção 2.4.3). NÃO: Garantir que outros impactos mais limitados da infraestrutura associada à construção (especialmente associados à água e saneamento) sejam efetivamente gerenciados (ver seção 2.4.3). Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Lista de Verificação No 3.1 Proteção Ambiental durante as Operações 131 Objetivo: garantir que os impactos ambientais associados à mineração e ao processamento de minério, à eliminação de materiais residuais e ao transporte de produtos sejam gerenciados durante todas as operações. Questões a considerar Ação O transporte de produtos químicos, produtos ou materiais residuais por estrada ou infraestrutura auxiliar (ou seja, trem ou tubulação) poderia causar liberação acidental na atmosfera? SIM: A limpeza de vegetação para as instalações da mina e as estradas de acesso poderia resultar na fragmentação do habitat e em impactos ambientais adversos correlatos (ver lista de verificação 5.1)? SIM: Garantir que as avaliações de riscos e perigo em potencial sejam estendidas de forma a incluir a biodiversidade como um receptor (ver lista de verificação 5.2), para incluir os possíveis impactos do controle de plantas invasoras ou de pragas. NÃO: Garantir que os impactos ambientais, por manter uma infra-estrutura linear, particularmente o controle de plantas invasoras e pragas, também sejam considerados (ver seção 3.2). Garantir que esses riscos sejam reconhecidos e gerenciados pelos SGA (ver lista de verificação 5.2). NÃO: Nenhuma ação específica. O método de mineração aplicado resulta em grandes quantidades de material de superfície e rejeito ocupando terras de importância para a biodiversidade? Causa impactos secundários, tais SIM: As operações de mineração possuem o potencial de impacto adverso ao meio ambiente aquático, ribeirinho ou em áreas pantanosas (por exemplo, através de alteração do ritmo hidrológico ou hidrogeológico)? SIM: Garantir que as medidas de mitigação sejam aplicadas para evitar ou de outra forma para gerenciar os impactos adversos potenciais (ver lista de verificação 7.1). NÃO: Nenhuma ação específica. Garantir que esses aspectos sejam monitorados cuidadosamente como parte dos SGA para a jazida ou PGA relacionado (ver lista de verificação 5.2). NÃO: Nenhuma ação específica. Os possíveis impactos (e riscos) ambientais da gestão de resíduos foram plenamente considerados? SIM: As oportunidades de conservação ou melhoramento ambiental foram exploradas com a participação dos interessados diretos e uma avaliação concreta das ameaças ambientais externas? SIM: Garantir que esses aspectos sejam cuidadosamente monitorados como parte dos SGA para minas ou PGA relacionado (ver lista de verificação 5.2). NÃO: Garantir que esses aspectos sejam cuidadosamente avaliados e integrados nos SGA para minas ou PGA relacionado (ver lista de verificação 5.2). Garantir que esses aspectos sejam monitorados cuidadosamente como parte do SGA para minas ou PGA relacionado (ver Lista de.Verificação 5.2). NÃO: Garantir que as oportunidades para proteção e melhora sejam exploradas através de uma avaliação das ameaças ambientais externas (ver listas de verificação 5.1, 6.2 e 7.1). Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 132 Lista de Verificação No 4.1 Garantindo que a Proteção e a Melhoria da Biodiversidade sejam Consideradas no Fechamento Objetivo: garantir que as oportunidades para que o restabelecimento ambiental ou a melhoria ambiental sejam concretizadas durante o planejamento e a implementação da etapa de fechamento da mina. Questões a considerar S/N Estabelecer os objetivos e metas de fechamento: que os seguintes pontos sejam considerados Have Foram considerados todos os critérios reguladores, incluindo medidas para implementar a Convenção da Diversidade Biológica (CBD1) (ver Seção D)? Foram realizadas consultas efetivas com os interessados diretos (ver Seção 6.2)? Os interesses conflitantes foram compreendidos e reconciliados por meio do processo de consulta e envolvimento constante (ver Seção 6.2)? As informações disponíveis sobre a biodiversidade foram consideradas a partir de uma perspectiva de ecossistema (ver Seção 5.2.5)? As limitações técnicas (como a de expandir as espécies de plantas originalmente presentes) foram consideradas na elaboração dos objetivos relacionados à biodiversidade (ver Seção 4.2)? Foram consideradas as alternativas de uso da terra na fase de prémineração (e seu valor ambiental) e o grau de degradação da biodiversidade existente (ver Seções 4.2 e 5.2.5)? Os objetivos e metas são bem definidos no que se refere à intenção de recuperação da biodiversidade aos parâmetros da fase de pré-mineração ou de melhoramento da biodiversidade? (ver Seção 5.3.3)? As limitações impostas pela posse de terra na fase de pré-mineração (e pós-mineração) foram consideradas (ver Seção 4.2)? Os impactos ambientais adversos secundários foram claramente considerados (ver Seção 5.2.5)? As oportunidades oferecidas para melhoramento ambiental foram identificadas, de forma que a empresa possa reforçar o comprometimento e os recursos de outros interessados diretos na proteção da biodiversidade para atingir um benefício ambiental mais abrangente (ver Seções 4.2 e 5.4.1)? Recuperação e prevenção de poluição durante a implementação da fase de fechamento Os benefícios potenciais para a biodiversidade das aplicações alternativas da terra após o fechamento foram claramente considerados (ver Seção 4.3)? As opções realistas de recuperação ambiental foram identificadas de forma a não criar expectativas falsas entre os interessados diretos (ver Seção 4.3)? 1 The CBD exige que os governos signatários desenvolvam estratégias nacionais e planos de ação em torno da biodiversidade e que os integrem em seus planos nacionais mais abrangentes de meio ambiente e desenvolvimento Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários 133 Questões a considerar S/N Onde for impraticável a recriação de ecossistemas nativos através da recuperação, as aplicações alternativas da terra após o fechamento foram claramente consideradas? (ver Seção 4.3) Esses pontos foram considerados de forma adequada? A saber, os requisitos de gestão necessários para sustentar os valores de conservação a longo prazo; responsabilidades pela implementação e capacidade de financiamento? (ver Seção 4.3) Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários 134 Lista de Verificação No 5.1 Garantindo que a Biodiversidade seja Abordada de Forma Adequada nas Avaliações de Impactos Sócio-Ambientais (AISA) Objetivo: garantir que a Avaliação dos Impactos Sócio-Ambientais (AISA) dos projetos abordem adequadamente as questões ambientais. Questões a considerar S/N Aspectos essenciais a serem abordados na AISA geral (ver Seção 5.2.1) Os níveis relevantes de biodiversidade – ou seja, o ecossistema, as espécies e, se apropriado, a biodiversidade genética – foram avaliados? As interconexões entre os níveis de biodiversidade foram avaliadas considerando as relações estruturais e funcionais e como elas serão afetadas pelo projeto proposto? Foram coletados dados suficientes dos indicadores ambientais mais importantes? Todos os tipos de impactos ambientais foram avaliados, inclusive os impactos primários, secundários, acumulativos e induzidos? A importância do conhecimento da comunidade e dos povos nativos em torno dos aspectos da biodiversidade foi avaliada e a participação das partes autorizadas foi adequada (por exemplo, durante os vários estágios do processo de AISA, desde o mapeamento inicial até os comentários da opinião pública sobre os relatórios preliminares)? Os critérios que foram usados para avaliar os impactos ambientais foram claramente explicados? A multiplicidade de impactos potenciais sobre a biodiversidade e as medidas de mitigação associadas foram consideradas de forma adequada? Mapeamento e elaboração de escopo das questões relacionadas à biodiversidade na AISA (ver Seção 5.2.2) Foram obtidas informações disponíveis prontamente sobre a biodiversidade através de uma revisão dos mapas e publicações disponíveis online? O local ou a área circundante está dentro de uma área protegida – ou seja, ela é uma área indicada de preservação ambiental em âmbito local, nacional ou internacional (ver Seção D para as fontes mais importantes de informação sobre esse e os próximos dois pontos)? Se o local ou área circundante não for atualmente protegido ela foi identificada por órgãos governamentais ou outros interessados diretos como tendo uma alta prioridade de preservação ambiental? O local ou área circundante possui determinadas espécies que podem estar ameaçadas (embora a área talvez não esteja atualmente sob proteção oficial)? As medidas legais relacionadas com a biodiversidade foram revisadas? Foram ouvidas opiniões dos interessados diretos sobre a importância dos valores tradicionais e culturais do local e das áreas circundantes? Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários 135 Questões a considerar S/N Onde a etapa de mapeamento inicial identificou as áreas de alta importância potencial para a biodiversidade, foi dada atenção especial aos possíveis impactos sobre estas áreas, tanto diretos como indiretamente(como p. ex. os impactos relacionados à estrutura auxiliar)? Foi realizado um levantamento básico das ‘áreas naturais’, usando mapas e documentos de implantação, levantamentos aéreos ou uma vistoria local? Houve um envolvimento inicial dos interessados diretos para ajudar a identificar as alternativas de uso que as pessoas fazem da biodiversidade e das áreas de especial importância? Determinar se os estudos de referência basal ou outros trabalhos de campo são necessários (ver Seção 5.2.3) For Para os novos projetos, foram coletados dados de referência basal detalhados onde: • os esforços iniciais de mapeamento da biodiversidade identificam as áreas de importância ambiental possível, mas incertos, quais se beneficiariam de um estudo tradicional para criar uma referência basal? • a área adjacente ou afetada pela empresa mineradora possui evidente valor para a biodiversidade, mais está sujeita a uma gama de ameaças presentes (que poderiam ou não incluir a mineração). Outros trabalhos de campo poderiam ser usados para caracterizar a natureza e a importância dessas ameaças? • Há áreas de importância para a biodiversidade perto de uma operação mineradora proposta, mas seus modelos de uso são complexos e não muito bem concluídos e as comunidades locais dependem fortemente dos recursos ambientais; de forma tal que os trabalhos de campo adicionais podem estabelecer padrões de uso e talvez, os valores correspondentes que as pessoas colocam no acesso a biodiversidade? Para os projetos existentes, foram realizados outros trabalhos de campo onde: • uma efetiva operação de mineração tem estado ativa por muitos anos e os critérios de autorização possuem poucas (ou nenhuma) medidas relacionadas à biodiversidade? E não houve pouca qualquer outra informação disponível? • as alternativas escolhidas do uso do solo após o fechamento incluíram a conservação e o melhoramento ambiental, mas houve poucas informações disponíveis sobre posição atual da biodiversidade? • uma operação trouxe conseqüências adversas não-intencionais e imprevistas para a biodiversidade? Avaliar a importância da biodiversidade (ver Seção 5.2.4) Para as áreas e espécies protegidas, sua importância para a biodiversidade esta bem definida como parte de sua designação como tal, ou é necessária informação adicional? Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários 136 Questões a considerar S/N Fora das áreas protegidas, mas dentro das áreas que estão claramente identificadas como de valor para a biodiversidade, houve alguma tentativa de avaliar qualitativamente a importância da biodiversidade na ausência de proteção clara? O processo de análise da importância da biodiversidade considerou os critérios básicos, incluindo: a riqueza e endemia das espécies; as espécies bandeira, as raras, a extensão do habitat; a densidade populacional, a fragilidade, ou o valor dos serviços prestados pelo ecossistema? A aplicação desses critérios envolveu um ambientalista treinado, particularmente em situações mais complexas – por exemplo, em alguns países em desenvolvimento onde existe pouca informação para se avaliar a biodiversidade de forma comparativa, o trabalho de campo extensivo pode ser necessário para melhor se entender o valor relativo dos locais de operação? Identificação e avaliação dos impactos (ver seção 5.2.5) A avaliação dos impactos inclui uma análise de seus níveis – ou seja, sobre os ecossistemas (e serviços relacionados), espécies ou recursos genéticos? A avaliação dos impactos inclui uma análise de sua natureza (primário ou secundário, de longo prazo ou de curto prazo) – os impactos primários ocorrem onde uma atividade proposta é diretamente responsável por ele, enquanto que os impactos secundários são em conseqüência indireta do projeto? A avaliação dos impactos inclui uma análise quanto aos seus efeitos positivos, negativos ou quanto à ausência de efeito? A avaliação dos impactos inclui uma análise de sua magnitude em relação às espécies e sua riqueza, a densidade populacional, as extensões do habitat, a sensibilidade do ecossistema, os transtornos naturais recorrentes, etc.? A avaliação dos impactos reconheceu explicitamente que a sua intensidade varia ao longo da vida de um projeto, sendo normalmente baixo no início, aumentando visivelmente ao longo das fases de construção e operacionais e diminuindo na medida em que o processo de fechamento é implementado? A importância dos impactos previstos sobre a biodiversidade determinada por meio da análise de sua extensão (ou intensidade) e o grau de sensibilidade do ecossistema ou das espécies afetadas (ver Seção 5.3.2)? Foram feitas claras distinções entre os impactos que poderiam ser avaliados de forma quantitativa e aqueles que somente poderiam ser avaliados de forma qualitativa? Os impactos acumulativos foram considerados em situações onde os projetos conjuntos de mineração (ou outros projetos) foram implementados dentro de uma ampla área geográfica (como em bacias hidrográficas ou atmosféricas), com referência: Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários 137 Questões a considerar S/N • às atividades existentes ou propostas na área e o efeito adverso possível sobre a biodiversidade daquelas propostas em conjunto com a atividade de mineração proposta? • aos efeitos sinérgicos dos impactos de projeto individual quando considerados em conjunto? • às ameaças ambientais conhecidas na área e a contribuição da atividade de mineração proposta para aumentar ou diminuir aquelas tensões? A avaliação dos impactos considera efeitos adversos, tais como: perda de ecossistemas e habitats; fragmentação e aumento de habitat no ‘efeito borda’; alteração de processos ecológicos, impactos adversos oriundos de poluição ou impactos decorrentes de transtornos ambientais? Monitoramento e interpretação das alterações na biodiversidade (ver Seção 5.2.6) Os indicadores foram monitorados para determinar o avanço dos objetivos planejados de conservação ambiental – por exemplo, avaliar a extensão de impactos adversos à biodiversidade, o sucesso das medidas de mitigação ou os resultados para melhorar a conservação ambiental? Um conjunto de indicadores foi combinado com os interessados diretos importantes para medir e controlar impactos na biodiversidade? Foi procurada assistência especializada para seleção e análise dos indicadores mais apropriados de biodiversidade a ser medida? Se for apropriado de ser questionado, o conhecimento sobre a biodiversidade e seus usos foi obtido de povos nativos ou de moradores locais? Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários 138 Lista de Verificação No 5.2 Garantindo que a Biodiversidade seja Abordada de Forma Adequada nos Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) Objetivo: garantir que os Sistemas de Gestão Ambiental abordem adequadamente a gestão ambiental. Questões a considerar S/N Aspectos principais a serem abordados nos SGA (ver Seção 5.3) Os aspectos ambientais foram integrados claramente na política de meio ambiente? A biodiversidade local foi documentada e avaliada juntamente com o envolvimento apropriado dos interessados diretos? Foi realizada uma identificação e avaliação dos aspectos ambientais/riscos? É mantido um registro das exigências legais e outras, incluindo das áreas legalmente designadas como protegidas? Foram desenvolvidas medidas preventivas e de mitigação para os aspectos ambientais significativos? Foram implementadas respostas preventivas e de mitigação para os aspectos ambientais? Os SGA incluem o monitoramento, a medição e a qualidade das informações sobre gestão ambiental? Os SGA propiciam uma revisão de procedimentos para gerenciar a biodiversidade e os resultados? Os SGA adotam uma abordagem de melhoria continua para gerenciar a biodiversidade? Assegurar um compromisso corporativo (ver Seção 5.3.1) A política de biodiversidade da empresa inclui compromissos com alguns ou todos os pontos a seguir: • em manter ecossistemas naturais e gerenciar áreas protegidas? • em respeitar os direitos de povos nativos e valores dos recursos naturais e envolvê-los no desenvolvimento e decisão das soluções gerenciais apropriadas para os possíveis impactos? • em limitar os lançamentos nos ecossistemas em níveis abaixo do crítico? • em aumentar a conscientização dos empregados com relação a uma contribuição positiva para o meio ambiente? • em conservar o meio ambiente mediante a não destruição de ambientes naturais ou, onde a perda for inevitável, buscar opções de minimização, incluindo o uso de recursos de compensação? • em cumprir com a legislação e regulamentações legais? • aplicar o princípio de prevenção para identificar onde é necessária avaliação e gestão de risco? • em melhorar os corredores e habitats de vida selvagem? • em consultar as organizações de conservação relevantes? • em conduzir análise da biodiversidade em avaliações ambientais? • em concentrar atenção nas ‘áreas de tensão' reconhecidas internacionalmente? Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários 139 Questões a considerar S/N • em compreender e gerenciar os impactos diretos e indiretos sobre a biodiversidade? • em prestar uma contribuição positive para a pesquisa e o desenvolvimento da biodiversidade? • em restaurar as áreas que sofreram interferências quando as atividades forem completadas? • em certificar-se de que não existam perdas reais gerais da biodiversidade como resultado das atividades da empresa? Determinação de aspectos significativos da biodiversidade (ver também seção 5.3.2) Para as novas operações, o potencial de gerar impactos ambientais significativos para as atividades de mineração foi avaliado (ver Seção 5.2.5)? Para as operações existentes sem qualquer AISA recente, foi realizada análise de risco para identificar os aspectos e os impactos ambientais que poderiam ocorrer das atividades de mineração? Os resultados do processo de avaliação de risco ambiental foram classificados para ajudar a informar as prioridades e para focar na definição dos objetivos dos SGA? Onde quer que tenham sido identificados riscos na categoria “altos” ou “extremos” e onde quer que não exista AISA recente disponível, foram realizadas outras avaliações dos possíveis impactos ambientais, de acordo com as Seções 5.2 e 6.3? Os SGA propiciam uma avaliação e revisão regular dos aspectos e impactos ambientais, incluindo impactos primário, secundários e cumulativos, durante todo ciclo de vida garantindo um processo de melhoria contínua? Foi preparado um registro legal identificando as permissões existentes, licenças e outras exigências ambientais legais (como as políticas de compromissos)? Os SGA também levam em consideração obrigações voluntárias, uma vez que uma série de compromissos firmados com a biodiversidade podem ter sido feitos em conseqüência de políticas voluntárias corporativas e de iniciativas das próprias indústrias, em contraposição às exigências legais? Estabelecimento de metas e objetivos (ver Seção 5.3.3) Foram fixados objetivos e metas de resultados para a gestão da biodiversidade com comunicação a todos os interessados diretos sendo consistentes com a política da companhia? Estas metas e objetivos foram fixados com a consulta prévia de várias partes que julgarão o sucesso do trabalho (por exemplo, os grupos de comunidades locais, órgãos reguladores)? Os objetivos firmados foram uma resposta as particularidades da biodiversidade até então identificada, assim como atendem os requisitos e oportunidades de mitigar impacto? Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários 140 Questões a considerar S/N Foram desenvolvidas ações específicas para se atingir os objetivos planejados e documentadas dentro dos SGA? As metas eram específicas para a operação e atividades? Elas eram claras quanto ao que deveria ser atingido e quando? Estavam integradas à estratégia geral de recuperação e fechamento de mina? As metas eram realistas e levou-se em conta a disponibilidade de recursos, as limitações técnicas, o envolvimento de fazendeiros e da comunidade, o cumprimento das exigências para locação, os critérios de longo prazo para administração de terra, etc.? Planos de Ação para a Biodiversidade (ver Seção 5.3.4) Foi preparado um plano de ação para biodiversidade (PAB) estabelecendo os objetivos e metas para que se atinja a conservação ambiental, seja um plano independente, seja um plano incorporado ao SGA? O PAB ofereceu controle de acesso a áreas de importância para a biodiversidade que não precisam sofrer interferência durante as operações, para prevenir a destruição ou interferência dos habitats ou das espécies? O PAB propiciou que as áreas protegidas fossem claramente demarcadas, de forma a evitar destruição indevida por ignorância ou falta de atenção? O PAB especificou controles de como a vegetação e a fauna correlata devam ser removidas, de forma a maximizar o uso de sementes e outros propágulos de planta? O PAB ofereceu opção de controle de plantas invasoras e pragas para controlar os impactos sobre as espécies locais dentro e fora da área de locação da mina? O PAB considerou o gerenciamento das alternativas de uso ambiental e outros serviços de ecossistema? O PAB especificou medidas de abordagem às lacunas de conhecimento sobre a biodiversidade, no sentido de obter outros conhecimentos para melhorar os resultados da recuperação, ou melhorar o entendimento do valor da biodiversidade em uma perspectiva mais abrangente? Considerações sobre a implementação (ver Seção 5.3.5) A responsabilidade pela gestão ambiental dentro da organização foi entregue a um gerente sênior, com a competência de assegurar que a biodiversidade e as interfaces sócio-ambientais sejam consideradas conjuntamente às metas de produção? Para cada uma das ações tratadas no PAB, as responsabilidades e orçamentos foram designados e documentados de maneira a garantir que os colaboradores necessários, as competências e recursos estivessem disponíveis na execução? Os procedimentos de gestão foram documentados nos SGA e o essencial para a execução posterior da recuperação bem-sucedida da mina foi realizado durante as operações (por exemplo, condução apropriada das pilhas de rejeito)? Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários 141 Questões a considerar S/N O envolvimento dos interessados diretos e os relatórios fornecidos ao público sobre questões envolvendo a biodiversidade ajudaram a formar um PAB confiável e funcional? Foram realizadas atividades complementares, tais como medidas de apoio a programas comunitários de educação em torno da gestão ambiental? Todas as partes envolvidas tiveram um entendimento harmonioso dos objetivos de conservação ambiental e o papel deles para atingir esses objetivos? Foi realizado Monitoramento para avaliar a eficácia do programa de conscientização e treinamento? Ações de verificação e correção (ver Seção 5.3.6) As mudanças nos atributos de biodiversidade foram monitoradas de forma a avaliar se houve sucesso nos planos de gestão, nos testes de recuperação, nos projetos de pesquisa e, de forma igualmente importante, se aconteceram mudanças gerais da biodiversidade na área em torno da mina que possa ter sido influenciada por fatores extra mineração? O programa foi projetado de forma consistente de acordo com os princípios estatísticos aceitos, é verossímil para as partes interessadas e os processos de coleta de dados são facilmente verificáveis? Em especial: • Programas de monitoramento forneceram informações com as quais possam ser tomadas decisões do sucesso em projetos e avaliar mudanças na biodiversidade? • O potencial de alguns impactos se estenderem por alguma distância da mina foi considerado no programa de monitoramento? O monitoramento foi realizado com a utilização de procedimentos transparentes e cientificamente rigorosos?Especialistas externos foram usados onde necessário? Foi implantada verificação por terceiros para ajudar a construir e manter a credibilidade necessária para este aspecto? Monitoramento e relatórios (ver Seção 5.3.7) Was Foi realizado monitoramento para medir o progresso em relação aos objetivos fixados? Houve adesão aos requisitos formais governamentais de relatórios? Estes últimos ajudaram a garantir uma correta prestação de contas junto às autoridades reguladoras? Houve algum relatório público sobre biodiversidade? Ele continha os dois indicadores principais especificados na Iniciativa Global de Relatórios (GRI), a saber, a localização e o tamanho da terra adquirida, arrendada ou administrada em ambientes ricos em biodiversidade (EN6)? Continha uma descrição dos principais impactos sobre a biodiversidade associados a atividades e/ou produtos e serviços em ambiente terrestre, de água potável ou marinho? Foram registrados todos os outros indicadores de GRI de relevância ambiental (ver Box 5.3)? Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários 142 Questões a considerar S/N Revisão de gerenciamento e melhoria contínua (ver Seção 5.3.8) Durante o estágio de revisão de gerenciamento, foram buscadas informações de todos os interessados diretos mais importantes? Foram implementadas todas as mudanças baseadas na experiência adquirida e nos resultados traçados no estágio de monitoramento? Foi possível demonstrar melhoria contínua –a operação estava gerenciando seus impactos ambientais potenciais, aprendia a partir dos resultados alcançados e melhorava seu desempenho -de forma que os riscos ambientais foram administrados para assegurar a conservação da biodiversidade? Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários Lista de Verificação No 5.3 Estendendo o Alcance das Análises Convencionais para um melhor Entendimento do Contexto de Conservação Objetivo: obter um melhor entendimento sobre os fatores que podem contribuir, apoiar ou prejudicar a conservação da biodiversidade ou as medidas de melhoria. Questões a considerar S/N Fatores que afetam o amadurecimento do contexto de conservação (ver Seção 5.4.1) Realizou-se uma avaliação do nível de conhecimento acerca dos ecossistemas e espécies, baseada em uma revisão das fontes de informação? Realizou-se a revisão quanto a existência e o estado dos planos de conservação, das iniciativas e áreas protegidas? Analisou-se a capacidade das organizações de conservação (governo e sociedade civil) e o sucesso de suas medidas de execução? Conduziu-se uma avaliação da impossibilidade de atuação sobre as ameaças ambientais, ou seja, o grau de dificuldade para atuar sobre as causas diretas e implícitas da perda da biodiversidade? Baseado no acima exposto, foi possível fazer uma apreciação geral do amadurecimento do contexto de conservação? Um entendimento do amadurecimento do contexto de conservação ajudou a melhor estimar o custo das possíveis iniciativas ambientais, assim como a avaliar seu potencial de sucesso? Avaliação das ameaças à biodiversidade não relacionadas à mineração (ver Seção 5.4.2) Realizou-se uma avaliação das ameaças ambientais não relacionadas ao setor de mineração de forma a fornecer uma base melhor para uma ação efetiva de conservação? A avaliação das ameaças considerou as quatro seguintes categorias de ameaças diretas à biodiversidade: • Conversão de habitat natural em terra cultivada, área urbana ou outro ecossistema de domínio humano? • Superexploração de espécies economicamente importantes? • Introdução de espécies invasoras, inclusive pragas e agentes patogênicos? • Mudança climática, poluição e outras mudanças ambientais externas para a área de interesse? Adotou-se uma abordagem participativa envolvendo os interessados diretos visando assegurar-lhes que informações completas sobre ameaças fossem compartilhadas entre os interessados diretos e assim se desenvolver uma compreensão comum das principais ameaças? A análise identificou ameaças em termos específicos? Descreva o impacto sobre a biodiversidade e identifique as causas implícitas da ameaça? AAs prioridades para lidar com as ameaças foram identificadas com base em critérios, tais como: a extensão do risco (área geral afetada); a magnitude dos impactos a partir dos riscos; as diferentes percepções da importância da ameaça para as comunidades; a viabilidade político-social de gerenciar os riscos; e a competência dos interessados diretos para lidar com a ameaça? Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários 143 144 Lista de Verificação No 6.1 Matriz de Análise dos Interessados Diretos em Apoio à Melhoria e à Proteção da Biodiversidade Objetivo: obter um melhor entendimento sobre como envolver os interessados diretos no contexto de identificação, avaliação e gestão ambiental. Matriz de Análise dos interessados diretos na biodiversidade (ver Tabela 6.1 Perguntas para os interessados diretos Interessados diretos (impacto/interesse) Alto Médio Baixo Quem será afetado negativamente por iniciativas ou projetos visando à proteção ambiental? Quem se beneficiará dessas iniciativas ou projetos? Quem será responsável pela execução de medidas para reduzir qualquer impacto ambiental? Qual empresa, especialista ou influência será útil para o sucesso do projeto? Quem serão os mais vulneráveis, menos visíveis e menos ouvidos, para os quais deverão ser feitos esforços de consultoria especiais (por exemplo, a dependência crítica de acesso presente aos recursos da biodiversidade)? Quem apóia ou se opõe às mudanças que as iniciativas ou projetos trarão? Qual oposição poderia ser prejudicial ao sucesso das iniciativas/projetos relacionados à proteção ambiental? Quem poderia ter recursos para contribuir? Quem são os principais tomadores de decisão? Fonte: Adaptado de ESMAP, Banco Mundial e ICMM (2005). Metodologia de Desenvolvimento Comunitário Nota: esta aplicação da matriz envolve considerar as questões na coluna do lado esquerdo para cada grupo dos interessados diretos e indicá-los a uma das três categorias de interesse ou de impacto. O resultado serão três listas de interessados diretos, de acordo com a importância avaliada do projeto para eles e seus níveis prováveis de interesse. A participação abrange uma gama de atividades, incluindo-se aí fornecimento de informações, consultas, planejamentos participativos ou tomadas de decisão e parcerias. O nível identificado de interesse de cada interessado direto ajuda a companhia a decidir quanto tempo deve dedicar à participação de cada um desses interessados ou grupos. Os níveis de envolvimento revelaram que por meio dessa análise pode-se estender além da etapa de consulta, as etapas de planejamento participativo ou convite para parcerias. Quanto mais as empresas mineradoras compreendem seus interessados diretos, mais bem-sucedidas suas relações poderão ser. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Lista de Verificação No 6.2 Ferramentas de Participação dos Interessados Diretos e Processos de Apoio à Proteção e Melhoria da Biodiversidade Objetivo: obter um melhor entendimento sobre como envolver os interessados diretos no contexto de identificação, avaliação e de gestão ambiental. Questões a considerar S/N Identificação e análise dos interessados diretos na biodiversidade (ver Seção 6.2) Foi feita tentativa sistemática para identificar as partes interessadas, ou seja, determinar quem faz uso ou afeta a gestão ou o bem estar ambiental? Alguns ou todos os interessados diretos a seguir foram considerados / consultados: • Órgãos governamentais nacionais ou locais responsáveis por administrar, conservar ou proteger a biodiversidade? • ONGs nacionais e locais engajadas na proteção ambiental (como p.ex. fundos de conservação da vida selvagem, sociedades protetoras da flora e da fauna e grupos de observação ornitológica)? • Organizações governamentais internacionais ou não-governamentais (por exemplo, onde áreas protegidas importantes internacionalmente estão próximas a uma operação)? • Universidades e institutos de pesquisa? • Fazendeiros locais e outros usuários de recursos naturais na proximidade de um projeto (particularmente pessoas que dependem de alguma forma de acesso aos recursos da biodiversidade)? • População de povos nativos com apego especial à terra que pode ser afetada em muitos países em desenvolvimento ou em países como Canadá, Estados Unidos ou Austrália? • Organizações comunitárias que podem ter interesse nos recursos da biodiversidade (como os clubes de pescaria ou cooperativas de pescadores ou de fazendeiros)? • Outras companhias privadas com interesse comercial nos recursos da biodiversidade (como as operações de reflorestamento)? Realizou-se uma análise dos interessados diretos para ajudar a definir seus interesses na biodiversidade, na medida em que esses interesses são compatíveis ou conflitantes e na medida em que eles gostariam de ser envolver na proteção ou melhorias ao meio ambiente? A análise dos interessados diretos incluiu (ver lista de verificação 6.2): • definir as características dos interessados diretos essenciais; • identificar os interesses dos interessados diretos com relação à biodiversidade; • identificar os conflitos de interesse entre os interessados diretos, de forma a ajudar a administrar as fontes potenciais de tensão durante o curso de desenvolvimento da mina; • identificar as relações entre os interessados diretos que podem facilitar as parcerias relacionadas à biodiversidade; • identificar as necessidades dos interessados diretos para superar as limitações de uma participação efetiva (como as dificuldades de comunicação ou mecanismos de consulta tradicionais); • avaliar a capacidade dos diferentes grupos de interessados diretos para participar das atividades de desenvolvimento e • avaliar os níveis apropriados de envolvimento entre os diferentes interessados diretos – por exemplo, em informação, consultoria ou parcerias – em diferentes estágios do ciclo de mineração. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários 145 146 Questões a considerar S/N Foi feito uma análise das partes interessadas que identificasse seus interesses na biodiversidade, qual a extensão destes interesses e se são compatíveis ou conflitantes entre si e com a companhia, e até que ponto eles estão realmente querendo se envolver na proteção da biodiversidade e seu incremento? Participação dos interessados diretos nas questões relativas à biodiversidade (ver Seção 6.3 O envolvimento dos interessados diretos na biodiversidade se iniciou cedo, especialmente com os grupos de povos nativos e as comunidades locais? O envolvimento efetivo dos interessados diretos, já nos primeiros estágios, ocorreu durante a exploração da mina e permitiu as companhias mineradoras: • esclarecer os objetivos da atividade mineradora proposta no que refere às necessidades e preocupação das comunidades e os compromissos da companhia com a biodiversidade? • esclarecer os objetivos das atividades de mineração propostas no que se refere às orientações da política governamental, os planos estratégicos e estatutários ou as limitações de implantação? • identificar as alternativas viáveis e esclarecer seus méritos no que se refere aos valores para a biodiversidade? O envolvimento dos interessados diretos no princípio ajudou a assegurar que a AISA focasse nas preocupações dos interessados diretos? A consulta dos interessados diretos no princípio ajudou a obter valiosas informações de apoio para desenvolver um entendimento do contexto de operação da biodiversidade, ou ajudou a identificar as ameaças e oportunidade ambientais? Uma vez que as informações preliminares foram coletadas, consultou-se os interessados diretos para ajudar a refinar o seu entendimento em torno da biodiversidade e como os interessados diretos as valoriza? Os interessados diretos foram envolvidos no planejamento participativo e abordagens de tomada de decisões para escolherem as medidas de mitigação ou as iniciativas de melhoramento ambiental? Os interessados diretos se envolveram de forma mais aprofundada no desenvolvimento participativo dos planos e iniciativas para o fechamento, de forma a melhorar a proteção ou a conservação ambiental? Na medida em que as atividades seguiam em direção às iniciativas de desenvolvimento para a conservação e melhoramento ambiental, as partes com interesse mais forte na biodiversidade foram estimuladas a participar ativamente? Onde a capacidade de participação seja no planejamento ou nas relações de parceria foi limitada, foram tomadas medidas para a capacitação de parceiros locais para um envolvimento consistente? Foi adotada uma abordagem estruturada para avaliar as competências conservação ambiental e os recursos disponíveis dentro de uma área de mineração protegida, antecipadas necessidade de capacitação e algumas lacunas críticas? (ver Seção 6.3.2)? Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários Lista de Verificação No 7.1 Ferramentas de Mitigação, Recuperação e Melhoria da Biodiversidade 147 Objetivo: para obter um melhor entendimento sobre as distinções e as ferramentas práticas que apóiam a mitigação, a recuperação e a melhoria da biodiversidade1. Questões a considerar S/N Seleção das medidas de mitigação (ver Seção 7.2) A mitigação foi identificada e implementada para salvaguardar a biodiversidade e os interessados diretos afetados dos impactos potencialmente adversos, de forma a prevenir que os impactos ocorressem ou se limitassem em importância a um nível aceitável? As medidas de mitigação seguiram a seguinte hierarquia (em ordem decrescente de prioridade)? • Evitar impactos modificando uma mina proposta ou operação existente no sentido de prevenir ou limitar um impacto possível? • Minimizar os impactos implementando decisões ou atividades que estão planejadas para reduzir os impactos ambientais indesejáveis de uma atividade proposta? • Retificar os impactos por meio da recuperação ou restauração do meio ambiente afetado? • Compensar o impacto substituindo ou oferecendo recursos ou ambientes substitutos (que deve ser usado como último recurso e poderia incluir as compensações)? As medidas de mitigação foram adotadas de forma responsável e de acordo com a importância dos impactos potenciais identificados por meio da avaliação e identificação de impacto (ver lista de verificação 5.2)? As opções de mitigação foram consideradas em consulta com os interessados diretos e os especialistas em biodiversidade e as medidas de minimização acordadas tentaram reconciliar os interesses de vários interessados diretos? A aceitação das alternativas de mitigação estava de acordo com as exigências das autoridades relevantes? Implantação e execução do plano de recuperação ambiental (ver Seção 7.3) Foi preparado um plano de recuperação sensível aos objetivos e metas de fechamento estabelecidos? (ver lista de verificação 4.1) Foi integrado ao Plano Geral de Mineração? O plano de recuperação explicou claramente aos órgãos reguladores e demais interessados diretos como é que a companhia pretendia realizar um programa de recuperação para cumprir os objetivos acordados? 1 A mitigação envolve medidas de seleção e implementação para proteger a biodiversidade, os usuários e outros interessados diretos afetados pelos impactos causados por operações de mineração. A recuperação refere-se a medidas tomadas para devolver à terra que sofreu processo de mineração as alternativas de uso acordadas para depois do fechamento. Ela difere da mitigação porque reconhece implicitamente que ocorreram impactos sobre a biodiversidade. A melhoria da biodiversidade refere-se a medidas que vão além da mitigação ou da recuperação e exploram oportunidades para melhorar a conservação ambiental. De forma que, enquanto as medidas de mitigação e recuperação são respostas a impactos ou ameaças ambientais advindas das operações de mineração, as medidas de melhoria são tomadas em resposta a ameaças ambientais externas, deficiências institucionais em administrar ou proteger a biodiversidade ou à falta de conhecimento científico sobre a biodiversidade. Essa é uma distinção crucial. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários 148 Questões a considerar S/N O plano de recuperação considerou todas as informações pertinentes acerca da pré-extração e provavelmente formas de terreno, solos, características de material residual, hidrologia, usos do terreno pósextração; quaisquer limitações técnicas apresentadas por estes fatores; e as pesquisas e dados de flora e fauna pré-extração de unidades de monitoramento de referência estabelecidas? O plano de recuperação descreve os usos finais para o terreno e os objetivos e metas relacionados, fornecendo detalhes de: • Manejo do solo e gerenciamento material de superfície para garantir que materiais favoráveis ao estabelecimento de plantas, bem como possíveis materiais problemáticos (como geradores de ácido, de alto nível metálico, solos salinos ou materiais potencialmente dispersivos) sejam colocados na seqüência correta? • Procedimentos de manejo da camada superior do solo, especialmente os planejados para conservar sementes, nutrientes e biota do solo? • Técnicas de melhoramento do solo, para criar condições favoráveis ao crescimento, como a aplicação de sulfato de cálcio ou cal? • Técnicas para conservação e reutilização da vegetação, incluindo adubo, tapetes de grama para proteção contra erosão, introdução de sementes e toras de madeira para habitat da fauna? • Procedimentos de paisagismo, incluindo a construção de estruturas de controle de erosão e gestão de água? • Técnicas de estabelecimento de vegetação? • Medidas de controle de plantas invasoras antes e depois da recuperação? • Aplicação de fertilizantes? • Programas de plantação e manutenção de acompanhamento? Os planos de recuperação foram limitadas por tempo e consideraram oportunidades para recuperação e fechamento ao longo do progresso da cava ? Os planos de recuperação foram analisados periodicamente a medida em novas informações eram disponibilizadas e novos procedimentos de recuperação desenvolvidos? Medidas compensatórias para a biodiversidade (ver Seção 7.4) Onde foi inevitável uma permanente destruição de um ecossistema valioso, as compensações foram consideradas somente como último recurso? Foram criadas áreas compensatórias protegidas e elas eram ecologicamente similares ao habitat natural convertido ou degradado pelo projeto e sujeitas a ameaças existentes menores (ou antecipadas)? Foram estabelecidas áreas compensatórias protegidas, e elas eram ecologicamente de valor equivalente e não menor que o do habitat natural original, convertidas ou degradadas pelo projeto e sujeitas a poucas ameaças existentes (ou antecipadas) a sua biodiversidade? Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários 149 Questões a considerar S/N As compensações complementaram outros programas de conservação em parceria com o governo? Foram elas sensíveis às prioridades de preservação descritas nas iniciativas nacionais ou regionais, para implementar a Convenção da Diversidade Biológica? As compensações resultaram em um ganho real para a biodiversidade ao longo do tempo, levando em consideração a programação natural dos processos ecológicos e isso foi avaliado de modo verossímil pelos estudos científicos revisados pelos colegas do meio? As compensações eram duradouras – compensaram o impacto do desenvolvimento não apenas para o período de ocorrência do impacto, mas além dele? As compensações eram quantificáveis – os impactos, limitações e benefícios foram avaliados de forma confiável? As compensações tinham metas estabelecidas – compensavam os impactos em sistema “igual por igual ou melhor”? As compensações foram posicionadas de forma apropriada – devem preferencialmente compensar impactos dentro da mesma área? As compensações eram complementares – em acréscimo a compromissos existentes e não já baseadas em um programa separado? As compensações poderiam ser impostas através de criação de condições de consentimento, condições de licenciamento, acordos ou contrato? Ao escolher as compensações, critérios biológicos foram a principal consideração na preferência para mistura de ameaça e critérios biológicos? As compensações foram determinadas em consulta com as partes interessadas? Melhoria da biodiversidade em vários níveis (ver Seção 7.5) Algumas medidas de melhoramento ambiental foram implementadas para aumentar ou melhorar a biodiversidade e responder a ameaças não relacionadas à mineração? Dentro da linha de fronteira de uma operação, os habitats naturais em áreas virgens foram conduzidos para aumentar seu valor ambiental, ou habitats que foram sujeitos a uma interferência histórica (não relacionada à mineração) melhorados ou restaurados? Dentro de área de ampla concessão, foram realizadas abordagens similares de gestão e elas foram integradas nas iniciativas de conservação existentes ou de inclusão de áreas protegidas? Dentro de área de interações sócio-ambientais (tais como áreas pantanosas que podem ser conectadas para receber cursos de água para efluentes, ou comunidades de onde saíram os empregados contratados), foi identificada a possibilidade de benefício da conservação da biodiversidade para abordar as ameaças ambientais externas à mineração? (ver Seção 5.4.2) Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários 150 Questões a considerar S/N Foram realizados esforços práticos ou de defesa, em nível regional ou nacional, de apoio à conservação da biodiversidade (por exemplo, aumentando o conhecimento científico dos ecossistemas ou espécies por meio de estudos do ecossistema, habitat ou níveis de espécie)? Onde as oportunidades para o melhoramento ambiental foram buscadas, os custos potenciais dos ganhos da biodiversidade foram considerados pelos interessados diretos? Definir limites de responsabilidade (ver Seção 7.6) Foi realizada alguma tentativa para definir os limites de responsabilidade pela mitigação, recuperação e incremento ambiental? A companhia assumiu responsabilidade por todos os aspectos de mitigação e recuperação dentro da linha de limite, embora isso não impeça o envolvimento de outras partes? Para iniciativas de aprimoramento de biodiversidade nas áreas de concessão, a responsabilidade da companhia foi proporcional com sua influência direta sobre a gestão da terra? Para medidas de aprimoramento de biodiversidade nas áreas de interações ambientais e sociais, a extensão da influência ambiental e social do projeto foi considerada (incluindo áreas não afetadas diretamente)? Relativamente ao ponto anterior, foi considerada a maturidade do contexto de conservação, fatores relacionados (ver seção 5.4) e sua influência em fatores chave tais como a dificuldade de trabalhar ameaças a biodiversidade e a capacidade de possíveis parceiros? Além das áreas de interações ambientais e sociais, a companhia garantiu que outras partes também tinham responsabilidade primária para proteção e aprimoramento da biodiversidade? Em um nível mais abrangente, as companhias mineradoras limitaram suas atividades a um papel de apoio, tal como a defesa de casos de proteção à biodiversidade, ou apoiando iniciativas de biodiversidade existentes ou propostas regional ou nacionalmente? Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Comentários 151 Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade 152 As denominações utilizadas e a apresentação do material nessa publicação não implicam a expressão de qualquer opinião, por parte do ICMM, relacionada ao posicionamento legal de cada país, território, cidade ou região, nem de suas respectivas autoridades, ou relativa à delimitação de suas fronteiras ou limites. Além disso, as opiniões expressas não representam necessariamente decisões tomadas ou políticas implantadas pelo ICMM nem a citação de marcas e processos comerciais constitui um endossamento destes. Publicado pelo Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM), Londres, Reino Unido © 2006 International Council on Mining and Metals ISBN: 978-0-9559983-0-0 editado por: traduzido por: verific por: desenhado por: impresso por: Linda Starke Vale, Brazil Claudia Goncalves Pinto magenta7 Pennington Fine Colour Disponibilizado pelo ICMM em www.icmm.com, info@icmm.com Esse livro foi impresso em Offset Challenger 120gsm e papel 250gsm. Uma grande parte da matériaprima usada é subproduto de outros processos, por exemplo, resíduos de serraria e rejeitos resultantes da redução de mata. A fábrica não apenas possui a certificação do ISO 2002, como também a ISO 14001 para os seus sistemas de gestão ambiental, que incluem uma política ativa de gerenciamento florestal sustentável. Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade Diretrizes de Boas Práticas para Mineração e Biodiversidade ICMM – Conselho Internacional de Mineração e Metais O Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM) é uma organização dirigida por um CEO que abarca muitas das empresas líderes mundiais em mineração e metais, além de associações regionais, nacionais e de commodities, todas comprometidas com a melhoria de seu desempenho de desenvolvimento sustentável e com a produção consciente de recursos minerais e metais de que a sociedade precisa. A visão do ICMM é a de uma indústria de extração, mineração e metalurgia amplamente reconhecida hoje como essencial para a vida moderna e que seja uma contribuinte fundamental para o desenvolvimento sustentável. Nossa biblioteca, no endereço www.goodpracticemining.com, exibe casos de estudo e outros exemplos de práticas de ponta. www.icmm.com ICMM 6th Floor North 35/38 Portman Square Londres W1H 6LR Reino Unido Telephone: +44 (0) 20 7467 5070 Fax: +44 (0) 20 7467 5071 Email: info@icmm.com