jornal de Março 2004
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jornal de Março 2004
COORDENADOR DA SECÇÃO PORTUGUESA/ COORDINADOR DE LA SECCIÓN ESPAÑOLA/ COORDINADORA DA SECCIÓN GALEGA JOSÉ CARLOS DIAS, GERARDO BELTRÁN, LUCÍA RODRÍGUEZ CAEIRO CRONISTAS/COLUMNISTAS PAWE³ KOLCZYÑSKI, MAGADALENA KOZ³OWSKA, JAKUB JANKOWSKI, OLGA BORKOWSKA JORNALISTAS/PERIODISTAS PERMANENTES AGNIESZKA STÊPNIOWSKA, ALEKSANDRA FUNDOWICZ,ALEKSANDRA KOPYTKO, ALEKSANDRA M¡CZEWSKA, ANNA CZYZEWSKA, ANNA GAJOCHA, ANNA SWIÊCKA, DOROTA KWINTA, DOROTA GRYKA, DOROTA TWARDO,EDYTA GRODECKA, EWA JANWORSKA JAKUB JANKOWSKI, KATARZYNA KOZ³OWSKA, KATARZYNA ORYSIAK, KATARZYNA PIWOWARCZYK, KRZYSZTOF PA³KOWSKI , LUKASZ, MAGADALENA KOZ³OWSKA,OLGA BORKOWSKA, NATALIA CZOPEK, PAWE³ KIERZKOWSKI, RENATA SZMIDT COLABORADORES PROFS. ANNA KALEWSKA, DANIELA CAPILLÉ, ANA CAROLINA BELTRÃO DESIGN GRÁFICO: JOSÉ CARLOS DIAS CAPA: KASIA STACHOWICZ FOTÓGRAFOS: ANA CAROLINA BELTRÃO E WEB BANDA SONORA ORIGINAL: JOSÉ CARLOS DIAS REVISÃO TIPOGRÁFICA: DANIELA CAPILLÉ CONTABILIDADE: O LAGARTO RESPONSÁVEL PELA CORRESPONDÊNCIA EXTERNA: ANNA KALEWSKA RESPONSÁVEL PELOS (SEMPRE DIFÍCEIS) CONTACTOS COM O SENHOR DA GRÁFICA: AGNIESZKA STÊPNIOWSKA NOVA MELHOR VENDEDORA DO MUNDO: TAMARA SOBOLSKA TAMBÉM BONS VENDEDORES: SENHORA ANA E SENHOR JAREK DA SECRETARIA PÁGINAS DE INTERNET: MAREK KRAJEWSKI E IBERYSTYKA TIRAGEM: 200 EXEMPLARES MAIOR NOVIDADE: 40 PÁGINAS!!!! EDITORA: INSTITUTO DE ESTUDOS IBÉRICOS E IBEROAMERICANOS DA UNIVERSIDADE DE VARSÓVIA COM O APOIO DE: Mayo 2004 LECTORADO DE GALEGO Maio 2004 crónica e editorial CORRESPONDENCIA DE MADRID - ¡Uy! ¡Qué suerte tienen algunos! No me lo puedo creer... - Pues sí, es verdad. Me voy a España, a Madrid. Pero te voy a escribir, por lo menos un e-mail a la semana. Más si me siento sola... Y cumplió su palabra. Un día después de su llegada a la ciudad del oso y del madroño recibí el primer mensaje. Era bastante corto pero cada palabra contenía miles de emociones que se desbordaban e inundaban el corazón del lector. Eran palabras de alguien que por primera vez en su vida estaba absolutamente solo y no tenía más remedio que arreglárselas como fuera. En apenas una semana, Magda consiguió encontrar un piso más o menos barato, matricularse en la universidad, hacer novillos, ir a una fiesta latina y empezar a pronunciar “coño” a la madrileña. Por aquel entonces, nadie esperaba que lo más difícil estaba todavía por llegar... Con la autorización de la autora, os presento un fragmento de una carta que me escribió unos días después del atentado del 11-M. Aunque hayan pasado casi dos meses, me parece que sus palabras no han perdido el efecto escalofriante y sus reflexiones siguen siendo vigentes. Madrid, 15.03.2004 (...) Estuve, queriéndolo o no, en el centro de un momento histórico. 11 de marzo. Otra vez el macabro día 11... 200 muertos y más de 1500 heridos. Estudiantes, inmigrantes, trabajadores. Gente común y corriente al trabajo, a la uni, al colegio. No llegaron. En Madrid, sangre, miedo y silencio. Caos. Bastaba con salir a la calle para sentir la tragedia. Escena dantesca. Madrid funesto, llorando y sin sueño. Mensajes, llamadas: “¿Estás bien?” Y al rato alivio o desesperación... 2 Mayo 2004 Texto de Pawe³ K olczynski Kolczynski ´ Magda K oz³owska Koz Primero el atentado, luego la manifestación de millones de personas. Fue increíble, no cupe en 5 trenes del metro. Intenté llegar al sitio por 3 líneas. Imposible. Al final desistí. Que mal me sentí al ir contra corriente. Pero lo vi por la tele: 11 millones de personas en toda España manifestándose en contra del terrorismo. Madrid totalmente paralizado. El sábado 13, la víspera de las elecciones, se agruparon cientos de personas frente a la sede del PP. Indignados porque el gobierno de Aznar ocultó la verdad sobre los culpables de los atentados. Sea verdad o no, fue increíble haber sido testigo de la fuerza de los españoles. Que tanta gente haya tenido la voluntad de demandar la verdad y de demostrar su indignación. En los balcones gente golpeando sus cacerolas con cucharas de palo. En el kilómetro cero, un montón de velas, cartas y mensajes. Opiniones de lo ocurrido: “Hitler, Bush, Aznar”, “11-M, Aznar culpable!”, “Vuestra guerra, nuestros muertos”, “Asesinos”. En Atocha, entre cientos, de mensajes una cartulina con un espejo pegado que dice “Mírate, pudiste haber sido tu”. crónica y editorial CRÓNICA NADA ERÓTICA O cotidiano surpreende de diferentes modos. Acontecem durante o dia-vida as coisas incríveis, aquelas coisas pequeninas nas quais não pensamos e elas acontecem. Simplesmente acontecem. Voluntariamente. Sem serem forçadas ou esperadas. Acontecem e ajudam. Assim mesmo. Escutem estas duas histórias. Voltei a procurar. Não encontrei. E vocês conhecem o patrão das coisas perdidas dos gaúchos brasileiros? Até hoje eles ascendem um toquinho de vela e pedem ao Negrinho do Pastoreio para encontrar coisas perdidas. Acendi. E o que acham, encontrei aquele olho brilhante? Estávamos sentados nessa manhã submersa do Sábado como normalmente estamos sentados no Domingo. Desta vez não com cansaço mas com tristeza ao lado. À beira da Tua cama. Calados. Era começo de Março ou fim de Fevereiro. Mais provável que fosse fim de Fevereiro. Recebi o Teu anel com aquele olho brilhante e disseste Tu: não o percas. Devolves quando eu voltar. É duro. Tenho um anel e tenho uma cicatriz viva. Sinto-me como Frodo. Mas obrigado, ajudou. Mesmo que pese muito. Outra história é de uma Boa Alma. É daquelas que têm tanto entusiasmo e força, que são optimistas, que nunca dizem não, não vale a pena antes de tentar. Que quando não podem vir ao jogo combinado, aparecem depois só para pedir desculpa. Que encorajam e animam para fazer algo, para não estar sentado com as mãos enlaçadas. Que sempre têm tempo para algo mais do que trabalho. Que mudam o cotidiano de pirilampos. Boas almas existem. Conheço uma delas. Boa alma que surgiu no cotidiano como...um raio do Sol? Ajudou também o meu irmão. Nesse dia queria que ele telefonasse para falar. Telefonou. Telefonou mesmo não sabendo que eu precisava dele. Queria que saísse o Sol. Saiu. Os pais perguntaram se queria algo doce. Disse que não. Depois pensei que as azeitonas podiam consolar-me. Os meus pais trouxeram azeitonas deliciosas e doces como nunca antes. Impacta. Um dia viajava de autocarro com o Teu anel com aquele olho brilhante fitado à corrente da carteira. Peguei no anel sem aquele olho brilhante. Merda. En el mundo siempre ha habido gente cruel, mala, asesina. Se supone que la historia ha de guiarnos para no repetir errores antes cometidos. Pero el siglo XXI nos ha demostrado que no se aprende y que todo es posible. La vida humana ha dejado de tener valor alguno. EROTISMO E PORNOGRAFIA Ahora continúa la incertidumbre. La incertidumbre y el miedo que tenemos dentro, y no me refiero sólo a los madrileños, porque hoy nadie está a salvo. Pero hay que seguir adelante. Ser fuertes. Ir a clase, al trabajo. Montarse en el metro, en el Cercanías y rezar por que no vuelva a pasar y que no nos toque a nosotros ni a nuestros seres queridos. ¿Cómo es que habiendo millones o incluso millares de personas que quieren paz los inhumanos nos van cogiendo la delantera? Un arma, una bomba bastan para desequilibrarnos la vida, ¡pero somos muchos más los que queremos la paz! ¿Acaso Dios no nos ve? ¿Qué está pasando? En fin, sobran preguntas y las respuestas siguen sin llegar. A la espera de un mundo mejor. (...) Texto de Jakub Jankowski Imaginem uma cena de sexo animado e voluptuoso (mas, por favor, não é preciso imaginarem todos os pormenores húmidos). A cena acaba, os dois acendem cigarros, a luz apagada, a câmara desligada. Vestem-se, pouco a pouco começam a conversar. Primeiro do tempo, sim, está bonito, palavras sem importância nenhuma. A mulher lembra-se que no dia anterior chumbou no exame de condução ou que o gato dela está doente, sei lá. Começa a chorar. O homem fica um pouco confuso, não sabe o que dizer, pois quase não se conhecem. Num gesto desajeitado acaricia o cabelo dela, não chores mais, diz, vamos tomar um café, à minha custa. Vão a um pequeno restaurante à beira do mar, porque não, e lá falam com menos vergonha. A mulher, já bem-disposta, conta algo entre as risadas, o homem encomenda um prato de camarão. Devagarinho algo de novo começa a nascer entre eles, cruzam-se as olhadas, encontram-se os dedos. A situação desenvolve-se sem pressa, mas onde acaba já não nos importa, pode ser que até na cama, tanto faz.Será que esta historinha meio-tonta expõe bem a diferença entre o erotismo e a pornografia? Pornografia – aquilo Aquele olho brilhante é pequeno como grão de areia. Como foi possível encontrá-lo numa cidade tão grande? E Boa Alma vem de longe, do cu da Europa. Não é alta, suponho que um metro setenta e cinco no máximo. Como foi possível encontrá-la? Não sei mas tenho um dito de Garfield para citar aqui: Alegra-te com as coisas pequenas, com as grandes vai estar bem também, de qualquer modo. E... boas férias! Que sejam cheias das coisas pequeninas. Texto de Olga B orkowska Borkowska de cariz sexual explícito, aquilo obsceno, vendido a preço baixo,uns órgãos sexuais durante uma relação sexual. E o erotismo – mais indefinido, indeterminado, etéreo, reticente e sensual. Relacionado com o amor sensual ou sexual, segundo o dicionário. Estas definições são demasiadamente evasivos para serem únicas e verdadeiras. Podemos criticar a indústria dos filmes e das publicações pornográficas e louvar o erotismo presente na arte e no pensamento humano desde séculos. Aqui a diferença é bem visível. Podemos falar sobre diferentes aspectos de erotismo, (dedicar a ele um número do nosso jornal), até que despreocupadamente transbordemos a fronteira invisível e passemos a tratar de pornografia, onde a pornografia é uma emanação daquilo que é humano, (animalesco), natural. Onde é que está a fronteira? A fronteira entre o erotismo e a pornografia nas relações, a fronteira entre o erotismo e a pornografia nas artes? Talvez seja a fronteira aquele indefinido momento quando começamos a pensar, se aquilo ainda é o erotismo ou já a pornografia… Maio 2004 3 Reportagem FÓRUM ECONÓMICO MUNDIAL El día 28 de abril, en protesta a la Cumbre Económica que tuvo lugar essos días, una manifestación antiglobalista atravesó las calles de Varsovia. Las acciones de seguridad preventivas fueron enormes: las autoridades de la capital aprestaron una gran cantidad de coches policiales; en las calles se veían tanques y tanquetas de agua y encima de los antiglobalistas volaban helicópteros. Además, para mayor sorpresa de los manifestantes, en los tejados de algunos edificios se encontraban francotiradores con sus armas apuntadas contra la gente. Supongo que servirían para defender a los ciudadanos de posibles ataques terroristas y no para amenazar a la gente indefensa en las calles. En total, según las estimaciones, en la manifestación participaron 3500 manifestantes, muy pocos si los comparamos con los 13 millones de policías. Ya a partir del lunes, los habitantes de Varsovia, infuenciados por las imágenes aterrorizantes de las manifestaciones en otros países difundidas por la televisión polaca, se empeñaban en cubrir todas las ventanas de los edificios situados en la trayectoria de la manifestación con tablas de metal, de madera o lo que sea. De este modo, el centro de la capital se convirtió en un aldeón cubierto por gruesas planchas de madera, y en este estado vergonzoso, el día 1 de mayo Varsovia entró en la Unión Europea. Todas esas medidas preventivas resultaron un gasto superfluo. La única acción de socorro en la que participó la policía fue el rescate de un pato en peligro de ahogarse, hecho del que se burlaron todos los medios de información. Los participantes de la manifestación formaban un grupo muy deversificado. Sin embargo, lo que tenían en común era una actitud de paz y de protesta contra la injusticia, contra la explotación de los pobres por los poderosos, contra el dominio del mundo por las empresas internacionales y contra la ocupación de Irak. Entre otros, en la muchedumbre se distinguían grupos como el Movimiento Anárquico, la Nueva Democracia, 4 Mayo 2004 Texto de Edyta Grodecka Fotos de Ana Carolina Beltrão Legendas das Fotos José Carlos Dias la Nueva Izquierda, el Grupo Revolucionario Combatiente, con la hoz y el martillo en su bandera, o la Alternativa Izquierdista. La gente llevaba muchas pancartas con lemas que decían: ¡ALTO A LA OCUPACIÓN DE IRAK!, ¡EL MUNDO PARA LA GENTE Y NO PARA EL BENEFICIO!, ¡FUERA LA CUMBRE ECONOMICA!, ¡FUERA BUSH!, ¡EXIGIMOS IMPUESTOS MAS ALTOS PARA LOS RICOS!, ¡SOMETED A IMPUESTO EL CAPITAL Y NO EL TRABAJO!, ¡ACABAD CON LA CUMBRE DEL DESEMPLEO, DE LA EXPLOTACION Y DE LA GUERRA!, ¡EL CAPITALISMO MATA, MATEMOS AL CAPITALISMO! En general, el ambiente durante toda la manifestación fue muy agradable e, incluso, festivo. La gente bailaba y cantaba canciones infantiles polacas, saludaba a los habitantes de Varsovia que observaban a los participantes desde las ventanas de sus casas o desde las puertas de las tiendas. No faltaron también los comentarios y las preguntas dirigidas a la policía y a los organizadores de la Cumbre: “¿Cuánto costó todo esto?, “Esto viene de nuestros bolsillos”, “¿Quién va a pagar por esto?” . Lo que me sorprendio a mí fue el gran número de gente mayor que participó en la manifestación, asi como de parejas jóvenes con niños pequeños. Yo misma en ningún momento sentí una amenaza por parte de los antiglobalistas, más bien tenía miedo al ver a los francotiradores y a la multitud de policías armados de pies a cabeza. Por lo que sé, nadie resultó herido ni hubo ningún acto de vandalismo. Por otra parte, nadie sabe con toda seguridad que habría podido ocurrir sin todas estas medidas prevetivas, y si, por ejemplo, las autoridades hubieran permitido entrar a los antiglobalistas radicales de Italia, Ucrania, Hungría, etc. Pero tampoco hay que dejarse influenciar por los estereótipos y la propaganda difundida por los medios de información y por algunos dirigentes. Maio 2004 5 PELA BARRICADA DAS BARRAS A “EU 6 Mayo 2004 SENHORA-ÁGUIA GRITAVA: ANTES ERA CATÓLICA! AGORA SOU ANTI-GLOBALISTA” Maio 2004 7 ESPERANDO 8 Mayo 2004 O REGRESSO DE ASTERIX E OBELIX... ... E AQUI ESTÃO ELES. Maio 2004 9 música cinema A RECONCILIAÇÃO EM CAMARATE O Festival dos Filmes da UE surpreendeu-nos excepcionalmente cedo neste ano. Tudo graças à nossa entrada na União Europeia, que foi aproveitada também por alguns novos membros para mostrar o que produziu a sua cinematografia durante os últimos anos. As obras portuguesas já foram exibidas mais que uma vez, mas na Polónia o público nunca teve o hábito de se apresentar nelas em multidões. Depois de filmes tão herméticos como o “Vai e Vem” do ano passado, é obvio que pudesse haver medo. Neste ano não foi diferente. A sala estava quase vazia. Eu própria tinha medo. No caso português, 2 horas e meia não davam muita esperança. Mas desta vez tenho que admitir, sem qualquer ironia, que valeu a pena e os ausentes perderam um exemplo de um bom drama político-policial. Texto de Muriel magistrada (Filipe Ferrer), antigo professor de Direito, oferece a sua ajuda e a sua documentação coleccionada durante 20 anos. Assistimos ao combate da juíza com verdadeiro interesse. Observamos como luta com a inacessível máquina política, onde cada uma das engrenagens tem algo para esconder. Luísa Ramos quanto mais se afunda no caso, mais falhas descobre na investigação: encontra relatórios desaparecidos, testemunhas-chave do processo nunca interrogadas, peritagens que ficaram por fazer, informações de provas materiais que deveriam estar a salvo, mas nunca mais foram vistas, etc. Através dos diálogos chegamos à conclusão de que realmente não houve investigação. No princípio é preciso sempre algum tema interessante. Luís Filipe Rocha aproveita a já misteriosa realidade para entrelaçar a sua história fictícia, mas baseada em actas judiciais existentes. Trata-se do famoso caso de Camarate, do ano de 1980. No dia 4 de Dezembro o avião com o primeiro ministro Sá Carneiro e o ministro da defesa Amaro da Costa a bordo caiu no bairro contíguo ao aeroporto lisboeta – o já mencionado Camarate. Um desastre tão brutal precisava duma explicação. A versão oficial atribuiu tudo a um acidente resultante do erro do piloto. Através dos diálogos? Pois sim. Para algumas pessoas o filme pode parecer sobretagarelado. “Camarate” não tem perseguições, rixas ou outras operações deste género às quais já estamos acostumados nos filmes policiais. São as conversas que constituem uma parte essencial do enredo e que, para não transformarem a obra num seco documentário judicial, foram condimentadas com um bom pedaço de problemas da vida real. A nossa magistrada é atingida por dilemas de natureza tanto profissional como também pessoal e tem que lidar com a inveja do namorado e uma gravidez indesejada. A acção do filme começa no ano 2000 quando, depois de várias reaberturas do caso pelo Parlamento, o Tribunal Supremo, respondendo à petição de famílias das vítimas, decide outorgar uma magistrada para estudá-lo pela última vez – e ou arquivar o processo por falta de provas dum atentado, ou proceder com a acusação. Luísa Ramos (Maria João Luís), contra a opinião dos seus amigos, decide recomeçar a investigação e tenta encontrar uma coisa muito escassa nos nossos tempos – a verdade. Responder à pergunta se o caso de Camarate foi acidente ou atentado não foi o objectivo de Filipe Rocha. A sua mistura de realidade e ficção é somente uma das possibilidades. O que conseguiu o realizador, baseando-se nesta catástrofe controversa e nunca finalmente resolvida, foi criar um inteligente e bem representado drama político sobre a relatividade da verdade, que não chateia e nos mantém em tensão durante 2 horas e meia. Afinal, ainda há esperança para o cinema português. De repente, em torno dela aparecem várias pessoas, tentando convencê-la de que há forças, remotas de casualidade, responsáveis pela catástrofe: como um misterioso especialista das conspirações portuguesas, o juíz Manuel Mesquita ou o ex-marido da Luísa, agora chefe da Comissão Parlamentar, que desde há tempos se ocupa do caso de Camarate. Mesmo o pai da CAMARATE Portugal, 2001 Realizador: Luís Filipe Rocha Argumento: Luís Filipe Rocha Fotografia: Edgar Moura Elenco: Maria João Luís, Virgílio Castelo, Filipe Ferrer, Cândido Ferreira, José Wallenstein, Ana Nave 10 Mayo 2004 CONHECEM UM COMPOSITOR PORTUGUÊS...? Sabemos que o canto nacional português é o fado, a música que expressa o sentimento do amor, da nostalgia, de saudade, cantado por famosas vozes, desde Severa, Amália Rodrigues, até a Mariza ou Mísia que visitou a Polónia há pouco. Mas se se tratar duma ópera, sinfonia ou sonata, parece que não há nomes para citar a esse respeito, e não é verdade. A história da música oferece--nos muitas personalidades destacadas. Basta mencionar Duarte Lobo, José António Carlos de Seixas ou João Domingos Bomtempo. O primeiro deles, pertencente à Escola de Évora, marca a idade de ouro da música portuguesa, os séculos XVI e XVII, quando reinou a polifonia vocal, quer dizer as grandes composições cantadas sem acompanhamento instrumental. Duarte Lobo é autor de peças de música religiosa como missas, responsórios ou magnificats que eram cantadas na catedral de Lisboa, onde viveu e onde ensinou, porque ele também teve os seus discípulos e continuadores, entre os quais se destaca João Lourenço Rebelo, o criador da escola de Vila Viçosa do séc. XVII. Segundo F. LopesGraça, vale a pena notar que se as classes altas, a aristocracia, e também a burguesia não sentiam uma paixão pela arte dos sons, nem por propósitos sumptuários, os reis apoiavam a cultura musical. Desde D.Dinis, ele mesmo um trovador, passando pelos monarcas da dinastia de Avis (o Infante Santo, D.Manuel, D.Afonso V, D.João III) é de mencionar ainda a filha de Gil Vicente, Paula, ao serviço de Dona Catarina, ou Garcia de Resende, que na sua “Miscelânea” elogia vários compositores e músicos, até aos Filipes espanhóis e os reis da casa de Bragança – D. João IV coligiu uma livraria musical que infelizmente foi destruída em 1755 pelo terramoto. O séc. XVI é também marcado pela expansão da arte do órgão. Grandes mestres são, além de Correa de Arauxo que viveu em Sevilha, António Carreira com as “Fantasias para órgão” apreciáveis pela intensidade de expressão e uma solidez técnica digna do inglês Th.Tallis ou Antonio de Cabezón do país vizinho, e o pe. Manuel Rodrigues Coelho, do qual possuímos “Flores de música para instrumento de tecla e harpa” de 1602, que é uma colectânea de tentos (uma espécie de ricercare italiano) que destaca pela “austeridade contemplativa da expressão e uma singular liberdade harmónica na linguagem” comodiz F.Lopes-Graça. Depois há um hiato até aos fins do séc. XVIII, até à figura enigmática do abade António de Costa, expatriado por razões obscuras, que contribuiu na escola musical da Viena do fim do séc. XVIII. Em Portugal, destaca-se José AntónioCarlos de Seixas. Talvez tivesse sido discípulo do próprio Domenico Scarlatti, segundo alguns pesquisadores, admirado pelo Texto de Lukasz mestre e duma qualidade comparável ao exímio italiano. É também naquele tempo que começa a ópera nacional portuguesa. Começa e, mal nascida, acaba. O criador da ópera cómica, António José da Silva, o Judeu, após escrever „Guerras de Alecrim e Mangerona” ou „Variedades de Proteu” ou ainda „A vida do grande Dom Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança”(sic!) foi levado à fogueira pela Inquisição. E é uma pena porque as peças, cantadas entre 1733 e 1738 no Teatro Popular do Bairro Alto (de Lisboa) pareciam interessantes ao unir o carácter de comédias musicais, a tradição vicentina aos vilancicos “dramatizados”. Quanto à ópera séria, cujas raízes nutrem-se nos autos religiosos, representações medievais e nos espectáculos dos colégios jesuíticos, esta cedeu à ópera italiana que foi introduzida pelo rei D. João V que, apesar do seu grande mérito, encaminhou o teatro musical dos 150 anos seguintes para um tendência italianizante e nem o Romantismo pôde privá-lo dessa influência que abarcou até a música religiosa. No entanto, temos nos princípios do séc. XIX um compositor renovador, reformador, introdutor de formas sinfónicas e concertantes, de sonatas, um pianista excelente, admirado em París e Londres, fundador da Sociedade Filarmónica e do Conservatório (em 1822 e 1833). Chamou-se João Domingos Bomtempo, viveu na primeira metade do séc. XIX e, além de virtuoso e compositor, foi também um pedagogo. Uma das suas obras intitula-se “Requiem a Camões” que nos diz algo sobre a corrente nacionalista tardia, com José Viana da Mota, pianista e Alfredo Keil, compositor dramático , inspirados pelo folklore pátrio, ainda ingénuo, mas os títulos da sinfonia “A Pátria” ou do quarteto de arcos “Cenas nas montanhas” são significativos. Os sécs. XVIII e XIX são também a época quando se conhecem os músicos portugueses no mundo: Domingos Bomtempo, admirado na Europa; Marcos Portugal, compositor de operas italianizantes, que viajou ao Brasil à corte de João VI; Luisa Todi, cantora do belocanto, aplaudida na Rússia de Catarina II; Francisco de Andrade, barítono; o violoncelista Guilhermina Suggia, artista invulgar que viveu na Inglaterra. Estes artistas portugueses ajudaram, sem dúvida, a divulgar a música deste país. No início do séc. XX, Luís de Freitas Branco, ou Fernando Lopes-Graça começaram a interessar-se pela história da música de Portugal e graças às suas investigações, a musicologia desenvolveu-se. Com os trabalhos de Manuel Joaquím, Sampayo Ribeiro, Santiago Kastner, Júlio Eduardo dos Santos e Filipe de Sousa sabemos já muito mais sobre a música portuguesa e sobre os compositores dignos de serem conhecidos não somente em Portugal. Maio 2004 11 erotismo erotismo À PROCURA DO EROTISMO PERDIDO A tarefa parecia ser fácil. Mesmo banal, porque o que pode ser difícil na crítica dum disco de música erótica? A gente pensa que bastam algumas canções-da-roupa-dacama e já está. Não, não, não! A minha alma policial forçou-me a começar uma investigação secreta e sistematizada a respeito da existência duma fonoteca erótica. Dificuldades encontrei-as logo no início, porque o que é realmente a música erótica? Aqui os dicionários calam-se pudicamente, então tive que aproveitar-me das minhas experiências e de alguns amigos. Infelizmente, as respostas variaram bastante.O Maior problema encontrava-se em definir a sua função: as canções eróticas acompanham ou não o próprio acto sexual? Ou talvez possam servir em seu lugar? Ou como uma interferência quando o irmão se ocupa da sua namorada no quarto ao lado? Devem estimular com o ritmo vívido ou relaxantemente flutuar ao fundo, quase não atingindo a consciência dos ouvintes? Perguntas, somente perguntas. Além dos sons, não podemos esquecer também das letras. Uma música erótica deve ter alguma? Ou talvez as palavras não sejam necessárias porque, primeiro: trata-se dum assunto inefável; segundo: quem vai escutar as letras tendo todos os sentidos concentrados na pessoa ao seu lado (ou em cima, ou em baixo)? E o que realmente dizer? Os poemas eróticos dos poetas parecem não encontrar consideração nos olhos dos músicos, que preferem descrever à sua própria maneira os valores físicos do sexo oposto. Mas quem pode objectivamente decidir se falar de “melões” e todos seus possíveis movimentos ou incentivar para “sacudir” isto ou aquilo é ainda erotismo ou já pornografia? Armada de incertezas e reticências parti à procura. Nos casos da música mundial de todos os géneros possíveis a loja Amazon (www.amazon.com) é uma ferramenta insubstituível. Os resultados foram chateadamente inoriginais: um grupo de discos consistia nas numerosas variações de “erotic moods” da Enya, música sem nenhuma expressividade, que tem mais capacidades para adormecer do que excitar, enquanto outro grupo, totalmente diferente, era composto pelos piores sons dum disco dos anos 80, de três acordes de sintetizador, 12 Mayo 2004 Texto de Muriel acompanhados por estridente voz feminina. Nesta segunda parte, destaca-se a banda E-rotic, com as suas letras de sarjeta, longe da qualquer originalidade. Aguentei duas canções e já comecei a duvidar da minha saúde mental. Por isso mesmo chocantes foram os achamentos seguintes. Pois bem, a Amazon tem uma opção que permite manifestar livremente sua opinião em relação ao disco que se comprou. E o que encontrei? Verificou-se que E-rotic permitiu a alguns desenvolver os seus êxitos sexuais e finalmente atreverem-se a fazer ménage a trois (e mais – provavelmente também...). Não imagino como qualquer pessoa poderia considerar essa música como erótica porque em mim ela matou toda a vontade de folganças na cama. Mesmo o jazz, proveniente das ardentes clandestinidades de Nova Orleãs, parece não servir. Basta ver o filme “Jerry Maguire” onde Tom Cruise, numa noite romântica com René Zellweger, desata a rir com “Que horror de música é esta?” na boca, ouvindo [......] de Miles Davis e John Coltrane. Talvez nos salve a nova onda deste género, o pop-jazz feminino, representado por divas de vozes veludosas, como Norah Jones ou Diana Krall. Ouvi dizer (dum homem, naturalmente) que essa última excita tanto quanto um filme erótico, com uma vantagem – a de que ninguém te condenará pelos teus gostos. Os críticos de música colocam na dianteira dos artistas que mais excitam o instrumentalista Kenny G, com os seus 13 álbuns best-seller. É esse tipo de canções que podemos ouvir ao fundo de qualquer cena erótica nos filmes de hoje: o sintetizador acompanhado pelo saxofone ou flauta, em uma mistura de pop, jazz e R&B. Eu própria fico chateada por esse tipo da música, mas 70 milhões de discos vendidos mundialmente falam por si mesmos. Resumindo: não é tão mal, como se poderia crer. Ainda não estamos condenados a um silêncio erótico e, na verdade, a nossa escolha pode ser ocasional (desde que não seja metal ou techno) - e provavelmente vai servir. Excluindo, a “Fuga d-moll” de Mozart, que, segundo já foi comprovado, tem excepcionais capacidades antieróticas. . Texto de Anna Czyzewska EROTISMO: LA PODEROSA ARMA DE LA MUJER-ARAÑA En la historia del mundo se han inscrito ciertas mujeres que con facilidad han utilizado trucos eróticos para conseguir el único verdadero afrodisiaco: el poder. Con donaire y sonrisa misteriosa han metido la historia en las sábanas. Algunas de estas mujeres alcanzaron el rango de símbolos míticos convirtiéndose en mujeresaraña: frías, interesadas y sin escrúpulos. Todo empezó ya en la mitología griega con una manzana de oro “para la más bella”, el objeto del deseo de todas las deidades. Tres diosas: Afrodita, Atenea y Hera, las más decididas a conseguir dicho título, se sometieron al juicio de pobre Paris, que hasta aquel momento eastaba de más tranquilo con sus ovejas. Para facilitarle un poco su tarea, cada una de las diosas lo tentó con un pequeño soborno. Atenea prometió a Paris el triunfo bélico, Hera, hacerlo rico, pero Afrodita fue al grano y le ofreció a la mujer más bella. Paris, varón débil, aceptó la oferta erótica de Afrodita. Así la diosa, metiendo a Helena en la cama de Paris, alcanzó su propósito e incoscientemente cambió el camino de la historia dirgiéndolo hacia una guerra feroz. Cleopatra, como cada mujer ambiciosa, aceptaba cada reto que la vida le interponía y pretendía mostrar la inferioridad de los hombres en el poder. Cleopatra sabía que Julio César y Marco Antonio eran los hombres más poderosos del mundo y por eso los convirtió en sus juguetes eróticos. Freud lo hubiera calificado como envidia del pene. Si hablamos de las partes del cuerpo humano, no podemos olvidar la nariz de Cleopatra, tan alabada por la historia. No obstante, sus retratos de entonces nos revelan que la beldad egipciaca era más bien nariguda y regordeta. De todos modos algo tenía, porque ningún hombre podía resistir el aura que desprendía. En este caso se confirmó la constatación de que el erotismo no solamente es una respuesta a estímulos reales sino también a la imaginación y a la fantasía. Cleopatra fascinaba tanto a los hombres que le construían villas y le erigían estatuas. Marco Antonio incluso perdió una guerra por andar en malandanzas con ella. Los tenía tan atropellados eróticamente que se olvidaban del mundo entero y le dejaban las riendas de su poder. Este rumbo ha sido transitado muchas veces. La gran zarina Catalina II, mujer de poderío, erudición y carisma, fue una eterna víctima de las flechas de Cupido, pero tambien un verdugo del amor. Llegó a ser zarina por su desventurado matrimonio con Pedro III. Dado que Pedrito era retardado, impotente y hasta estéril, la pobrecita tuvo que soportar más de ocho años de virginidad conyugal. No obstante, la dinastia exigía un heredero a toda costa, aunque el bebé no tuviera una sola gota de sangre Romanov. En cosecuencia, Catalina se buscó un amante, Sergio Saltykov, quien tras haber servido de real semental fue despachado. La fila a la cama de la zarina era larga. Entre las numerosas mascotas de Catalina encontramos al polaco Estanislao Poniatowki, que estaba tan infatuado con la zarina que hasta se arriesgó a pasar unas vacaciones con ella y su odioso marido. Catalina guardó fidelidad a su amante solo unos meses, ya que pronto conoció a Gregorio Grigorievich Orlov, un hombre con cara de ángel y cuerpo de Schwarzenegger, y se lo llevó a la cama. Poco después urdió un complot en compañia de su amante y de los tres hermanos de éste para deponer a Pedro. Cuando el zar murió asesinado, Catalina fue ungida emperatriz de Rusia. Si fue ella misma quien lo mandó matar, nadie puede decirlo a ciencia cierta, siendo éste uno de los enigmas de la historia. El caso de M ónica Lewinski ya sigue la monotonía de la seducción del hombre más poderoso de la Tierra. Así como la nariz de Cleopatra, los labios de Mónica abrieron el corazón de Clinton y le dieron paso al mundo de los privilegios. Como la mítica Helena, provocó un conflicto armado y expuso a los contribuyentes americanos a pérdidas. Cada vez que Clinton quería tapar un lío de faldas los misiles aire-tierra se dirigían hacia Golfo Pérsico. Ni Mónica ni Cleopatra ni Catalina tenían la belleza mítica de Helena. Ni siquera eran feas, que ya sería algo. Eran normales. Uno se pregunta qué tenían para causar tanto frenesí en hombres tan poderosos. La respuesta es simple. Poseían un arma muy peligrosa: el erotismo, que convierte a los señores del mundo en campesinos torpes, capaces de vender sus almas por un beso. Maio 2004 13 ensaio erótico ensayo erótico Texto de Anna K alewska Kalewska OS QUIASMOS ERÓTICOS E O EROTISMO VAMPÍRICO No seu conto A desforra de Baccarat1, falando de um caso amoroso em duplo (o conde e a condessa Beatrice em relação quiásmática2 com Fatime e Armando/narrador, i. e. o conde a atraiçoar a esposa com Fatime e Armando a decifrar as artimanhas do colarinho do decote da condessinha), descreve as duas heróinas deixando o leitor um tanto perplexo quando às razões de um curioso cruzamento corporal e afectivo: ...a Fatime do corpo de baile, uma loira picante, de carnes friamente impuras, cujo olhar, de um pardo inerte, possuía nos acessos de cólera fulgurações de adorável maldade, enquanto /a condessinha/ era uma criança anémica, fina beleza aristocrática, crescida como uma avenca australiana no mole ambiente, impregnado de essências, dos boudoirs, dos salões e das largas galerias claras, em que antepassados graves olham dos seus quadros poentos, ridículos ou funéreos nos seus vestuários de todas as idades, despertando, porém, um ténue desejo sexual, visível na concupiscência do olhar narrativo. Erótico pode ser outro membro do corpo (um seio arfante, de preferência, ou os olhos, os seus olhos fixos e húmidos de ânsia, grandes como dois mundos), objecto, um cheiro, um som, um livro, um filme, um retrato ... sendo no conto de Fialho este instigador da paixão sexual a efígie do conde Baccarat, ironicamente presente e sarcástico, vingativo e segurdo de si se se tratar da recuperação da sua mulher que se havia abandonado, por um instante, suspirando nos braços do jovem amante. O quiasmo amoroso (i.e. o conde a jantar com Fatime e Armando numa situação obviamewnte erótica de um serão passado tête-atête com a condessinha, sendo a ordem primária do discurso amoroso o conde apaixonado pela Beatrice dos seus alegados dezoito anos e ela a adorar o frequentador de casinos e lupanares) confere maior concentração aos sentimentos, assegurando também uma continuidade ao discurso amoroso, mal-grado a ruptubilidade e a inversão das funções do marido e do seu melhor amigo (no desfecho do conto Armando ia continuar a beijar o pescoço indo até ao colo da condessinha que, bebendo champanhe, lhe confessava o seu amor de uma escrava, enquanto o conde estava com Fatime, provavelmente, soltando uma risada...). E um toquezinho de perversão, de anotação psicológica da sórdida, suja, imunda, torpe, vil e repugnante vida de uma classe decadente de alta burguesia e de um seu “aspirante”, do contador duma história amor, de sedução e de fascínio, em primeiro lugar um autor abstracto, depois um narrador extradiegético observando o conde a deixar o seu palacete, logo depois num primeiro laivo de cumplicidade com o leitor quando o cupé do conde rodou «e ficámos sós» até ao protagonismo narrativo e focalização interna dos acontecimentos:A condessa fechou o livro e olhou para mim. 14 Mayo 2004 Quem é a Outra, Fatime, a dançarina judia de pele escura e cabelo louro? Pouco sabemos dessa mulher sedutora e fatal. Beatrice dáse conta de que o conde a ilude, engana, diz-lhe que está no Grémio, tratando da queda do ministério, e a verdade é que está a cear com Fatime. A condessinha comprou os criados para vir a saber da deslealdade do marido, sente-se humilhada, trocada por uma bailarina e vinga-se, sim, quer desforra, no marido encetanto uma relação com um fulano indigno de seus favores, ela, filha dos marqueses de Penha Longa, aos bejos com o narrador completamente desiludido quanto aos aspectos sórdidos da vida social e loucamente por ela apaixonado. Ela não sabe, porém, aquilo que Armando nos confessa com toda a naturalidade: o facto que a Fatime é um vampiro, um vampiro feminino, uma exploradora da paixão do conde Baccarat, uma mulher calculista. A situação não deixa dúvidas: Às onze horas /o conde/ ia ao Clube falar em política, altivo na sua opinião respeitada, entre conselheiros graves de calva e suiças claras. À meia-noite, Fatime, o vampiro, esperá-lo-ia num cupé, a S. Roque, para irem ao Restaurant Club cear, a fazer depois a digestão entre beijos e champanhe até madrugada, hora em que a bailarina costumava receber um trintanário loiro, trescalando a cavalariça. A literatura é uma fonte de transgressões e também um roteiro de perversão e patologia, se olhássemos bem de perto a cena no Cemitério dos Prazeres descrita por Gomes Leal no conto “A Ruiva”, protagonizada por Carolina, filha do coveiro do mesmo cemitério e um homem morto, louro, pálido e ainda não decomposto: Nas horas de calor, de Verão, quando sob os ciprestes, os empregados do cemitério dormiam, ia devagarinho, sem ser pressentida, à casa dos depósitos, escolhia os cadáveres dos moços, dos belos, se os havia, e como um pequeno vampiro sequioso entreabria as mortalhas, despregando com uma navalhinha as camisas; metia a mão devagarinho pelo peito, metia, escorregando-a ao longo das carnes, beliscando-as levemente, com prazer; o olhar dilatava-se-lhe, havia na sua face uma mancha de excitação, mordia os lábios, exaltada; e, palpitando, estudando, compreendendo e adivinhando, ficava absorta, um pouco curvada sobre os corpos, o hálito ardente, uma palpitação larga e cheia de ímpeto. Uma moça jovem que nem um pequeno vampiro sedento, ávido de sangue ... no cemitério ... uma companheira, mana e aluna espiritual, talvez, da Fatime do conto atrás analisado. Aliás, a chamada metafísica do mal, a contiguidade de um acto amoroso, necrófilo e assasino perseguia em visões nocturnas um representante do satanismo em Portugal, o poeta do nome de Gomes Leal3, que suspirava: Mulher, da luta ao cabo, Se perdeste o antigo Homem,/- tu matarás o Diabo. Georges Bataille descreveu as experiências transgressivas de um ser humano que abandona os seus limites, «abandona-se» muito diferentemente do que faziam as ingénuas heroínas de romances qualificados hoje como os de capa cor-de-rosa. Boris Vian (Vernon Sullivan4), por sua parte, levou o amor mortífero à outrance:J´ai eu du mal à dire tout ça. Les mots ne venaient pas tout seuls. Elle était là, les yeux fermés, allongée par terre avec sa jupe relevée jusqu´a ventre. J´ai senti encore la chosequi venait le long de mon dos e ma main s´est refermée sur sa gorge sans que je puisse m´en empêcher; c´est venu; c´était se fort que je l´ai lâchée et que je me suis presque mis debout. Elle avait déjà la figure bleue, mais elle ne bougeait pas devait respirer encore. J´ai pris le revolver de Lou dans ma polche et je lui ai tiré deux balles dans le cou, presque à bout portant; le sang s´est mis à gicler à gros bouillon, lentement, par saccades, avec un bruit humide. De ses yeux on voyait juste un ligne blanche à travers ses paupières; elle a eu une espèce de contraction et je crois que´ellle est morte à ce moment-là. Je l´ai rerournèe pour ne plus voir sa figure, et, pendant quélle étais encore chaude, je lui ai fait ce que je lui avais fait dèjà dans sa chambre. Je me suis probablement évanoui aussitôt après .......» Assasínio e amor necrófilo. Um cadáver e uma campa tumular como objectos eróticos. Tudo junto. O Amor e A Morte. A erotizaçao da Morte. A mortificação do Amor. Mais a convulsão final (?) das duas balas no corpo. Citámos este fragmento em francês, para não ofender o sentido do pudor e decoro de uma leitora mais sensível. O rigoroso sadismo narrativo mal nos deixou respirar.... A verdade é que não posso dizer mais sobre este violador das mortas, se não fosse um dever de informação enciclopédica. Em 1946 surgiu, envolto em polémica e escândalo, o primeiro romance de Boris Vian, intitulado Irei Cuspir-vos nos Túmulos (aceitando-se também a tradução mais livre do título como: Hei-de Cuspir-vos na Sepultura), publicado sob o pseudónimo de Vernon Sullivan. Vian morreu aos trinta e nove anos de idade, vítima de ataque cardíaco. Meditou sobre a condição humana, acreditou no amor, na imaginação, na literatura ... Até há alguns anos, o livro de que foi retirado o fragmento (Irei Cuspir-Vos nos Túmulos) foi o único editado em português; agora, podemos ler também a Morte aos Feios do mesmo autor, achado genial pelo jovem público. Os excertos de um diário (imaginado) de David Benson, publicados nos Écrits pornographiques (Christian Bourgois, Paris 1984) ou as mémorias eróticas de Boris Vian não nos deixam uma dúvida que um amor pode ser mais do que necrófilo e assasino: híbrido, andrógino, pegajoso, viscoso. Uma pessoa pode ter mais do que um sexo. Pode tornar-se o seu próprio vampiro. Pode fazer a «succção do sangue» às outras e a si própria ...O súcubo (transilvano, de preferência, dado que os genuínos vampiros vivessem na Transilvânia, i.e. na Roménia, misturando a língua eslava e romância...) que tem os órgaõs sexuais tanto femininos como masculinos ... é um demónio a quem se atribuíam os maus sonhos. Um desinquietador das almas. Um porco-sujo que deixa jactos de líquidos inefáveis e inusitados pela mais audaz das escolas naturalistas – a do erotismo surrealista....José Saramago não nos deixa uma centelha de esperança quanto à inviabilidade e inoperância dos sistemas democráticos regidos pelos homens vampiros e rambos (sendo a mulher do médico do romance alegórico anterior acusada injustamente do crime e assassinada na última cena de um Ensaio sobre a Lucidez). A verdade pode ser igualmente útlil como uma mentira. Um vampiro da rede pode substituir um amante verdadeiro leal e fiel. A história de um drácula de Boris Vian ou de José Saramago é uma narrativa sobre a força do mal, sedutora a atractiva que nem uma superfície escura, lisa de um lago muito profundo das paixões ocultas e reprimidas. O fascínio do vampírico também é erótico, só que o erotismo vampírico é um jogo mortífero. Os vampiros nunca dormem. São os heróis perseguidos! Inspiradores vampíricos:Fialho d’ Almeida, Georges Bataille, Roland Barthes, Gomes Leal, José Saramago, Carlos Reis (do Dicionário de Narratologia), Boris Vian (Vernon Sullivan), Cesário Verde (dos Cinismos), mais alguns nomes muito queridos 1 Na primeira edição dos de Contos de Fialho de Almeida (1857-1911), publicado efectivamente em 1881, ainda não foi incluído O Serão da Condessinha, correspondendo-lhe o título A Desforra de Baccarat; o conto do exímio representante do naturalismo e decadentismo impressionista na Literatura Portuguesa anunciava-se na Parte I da obra, intitulada Os Doentios. Fialho começou a despertar interesse de jovens tradutores polacos; cf. F. de Almeida: Rak, tlum. N. Czopek, em: Roman – pismo romanistów studentów UJ, no 1, Dezembro de 2002, pp. 21-23. É de acrescentar que todas as citações do contista (Fialho não deixou um romance) vão segundo: Fialho d´Almeida: Contos. Nova edição revista e prefaciada por Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Clássica Editora, Lisboa 1971 (999 port.). 2 Quiasmo – figura de estilo que consiste na inversão da ordem das palavras, em duas frases que se opõem; consiste na disposição de quatro elementos, agrupados dois a dois por paralelismo, segundo o esquema da letra X, isto é, a segunda parte da construção contém os mesmos elementos, ou elementos paralelos, da primeira, mas inverte-se a ordem da sucessão. Ex.: «Eu pararia o curso aos grandes rios/ E a terra sob os pés abalaria.» (Cesário Verde: Arrojos). 3 António Duarte Gomes Leal (1848-1921) – antecipando Fernando Pessoa, é já o poeta de uma consciência fragmentada, de múltiplas virtualidades estéticas, postos à vista nas Claridades do Sul (publ. 1875. Cf. Gomes Leal: Antologia Poética. Escolha e comentário de Fr. da Cunha Leão e A. O´Neill, Guimarães Editores, Lisboa 1970 (1222 port.). 4 Boris Vian (1920-1959; escitor francês e músico de jazz, envolvido com personalidades do existencialismo francês., um «cultivador do absurdo») usou o pseudónimo de Vernon Sullivan, assim como Fernando Pessoa o do Dr. Abílio Fernandes Quaresma, Tio Porco e Chefe Guedes; Adolfo Coelho o de J. Stew; Américo Faria escrevia como Adam Fulton e Ans. Shouldmarke; António Carlos Pereira da Silva como Simon Ganett ou Barbey Kilbane; Dinis Machado como Dennis Mc Shade; Reinaldo Ferreira como Repórter X e Repórter Kiá, Mascarenhas Barreto como Van Der Bart, Anna Kalewska como Ana Cales, etc. Via internet: http://livroscomletras.weblog.com.pt/arquivo/077082.html e http:// www.incicom.up.pt/blog/multiletra/arquivos/2003-11.htm/, ambos visitados a 24.04.2004. Maio 2004 15 erotismo erotismo O DESABAFO DE UMA BRASILEIRA Logo que cheguei à Polônia, lá por meados de um fevereiro, as pessoas tentavam puxar papo fazendo perguntas sobre o Rio de Janeiro, minha cidade, e o carnaval. Não lembro quantas vezes foram, pois foram muitas, e nem sempre tinha paciência para responder a tudo. Mas lembro-me muito bem de uma mulher que, um dia, tascou: ‘Você também vai com os peitos de fora para a rua?’ Texto de Ana Carolina Beltrão Devo admitir, no entanto, que existe um fundo de verdade nisso tudo: a indústria do entretenimento brasileira vem, há tempos, promovendo essa cultura da erotização sem limites. Começou, parece-me, com a lambada, também conhecida no Brasil como ‘a dança do bate-coxa’. Bate-coxa! Não precisa falar mais nada, não é? Minha reação partiu de uma gargalhada, pensando no ridículo daquela idéia, a um mero olhar de reprovação. Que mais podia fazer, quando se ouve por aí, no mundo inteiro, que as mulheres brasileiras são ‘famosas’ pelos atributos naturais e pela sensualidade? Diretamente de Copacabana, as meninas de biquíni fio-dental não só estampam cartões postais, mas também dão asas ao imaginário de que somos uma verdadeira explosão de desejo e libertinagem – algo assim como um animal exótico e eternamente no cio. Depois surgiram fenômenos midiáticos como os grupos de ‘Axé Music’ da Bahia, cujas músicas eram uma mistura de sons indecifráveis e alguns termos chulos casualmente c o m b i n a d o s : “ Ô - Ô A INDÚSTRIA DO Ô…ordinária!… No põe-põeENTRETENIMENTO põe...” Acompanhando os grupos, é claro, sempre havia as dançarinas BRASILEIRA VEM, HÁ devidamente despidas para rebolar TEMPOS, PROMOVENDO ESSA no palco. Um desses gr upos, CULTURA DA EROTIZAÇÃO inclusive, criou uma coreografia em SEM LIMITES.COMEÇOU, que as meninas quase copulavam com uma garrafa. PARECE-ME, COM A LAMBADA, TAMBÉM CONHECIDA NO COMO ‘A DANÇA DO BATECOXA’. Tudo é, naturalmente, alimentado pela mídia. As fotos e transmissões dos desfiles de carnaval, por exemplo, concentram-se nas modelos semi-nuas movidas a silicone, e não na cultura popular. Por outro lado, Hollywood contribui com filmes tipo Wild Orchid, recentemente exibido pela TV polonesa, que mostram um Brasil onde mulheres sensuais aparecem a cada esquina para ‘corromper’ os americanos através do sexo. Não dá para mudar. Não dá! Estaremos para sempre condenadas a este estigma de país das mulheres-objeto, onde a alta temperatura nos faz subir, também, a libido desenfreada. Tudo isso contra a dura realidade de milhões de brasileiras, cujas vidas são tomadas pelo cuidado da casa e pelo trabalho, faltando tempo para fazer ‘caras e bocas’. 16 Mayo 2004 BRASIL E o pior é que, como sempre exportamos esse tipo de coisa, vocês aqui na Polônia sabem muito bem do que estou falando. Lembrem-se da mulher que queria saber sobre mim e meus peitos... Isso me deixa triste. Por que não se fala das mulheres rendeiras do Ceará? Das doceiras de Minas? De grandes mulheres da política, como a Ministra do MeioAmbiente ou a Prefeita de São Paulo? Tudo bem que a Prefeita é sexóloga, mas… Não sei mais o que dizer. O fato é que não dá para lutar contra tudo isso e eu estou cansada. Fomos definitivamente penetradas por essa visão, eu diria, ‘genitaliocentrista’. Como recentemente disse nosso jornalista e cineasta Arnaldo Jabor, “(…) a brasileira tornou-se o melhor produto de propagação da cultura do país”. Texto de Natalia Czopek O ROMANTISMO ESCONDIDO NO “FIM DO MUNDO” Uma praia deserta onde acaba a terra e começa o desconhecido....Um par de olhos olhando o pôr do sol....As ruas estreitas cheias de cantinhos românticos.....O romantismo pode-se encontrar em qualquer lado mas existem lugares onde a história, o ambiente e as paisagens formam uma mistura devaneadora e inesquecível. Será que um país escondido algures onde começa o oceano pode oferecer-nos locais que emanem erotismo? Uma viagem até ao fim do nosso continente permite-nos descobrir todos os encantos de Portugal. Começamos a nossa viagem pelo Norte do país onde encontramos a inesperada magia da serra do Gerês. As cascatas que aparecem de vez em quando entre as colinas cobertas de flores silvestres, o cheiro dos pinheiros e os sopros do vento na folhagem das árvores criam um ambiente fabuloso. Observando a vida dos habitantes das aldeias serranas, esquecemo-nos da confusão do nosso dia-a-dia. Neste lugar, onde o tempo parece ter parado, pode-se desfrutar do melhor que a natureza portuguesa nos oferece. não pode ser esquecido. A nostalgia do fado persegue-nos até Lisboa. Mesmo sem querer, perdemo-nos na rede estreita das ruas do Bairro Alto, cheias de restaurantes e bares, que têm muito pulso durante a noite toda. A vista para o mar desde os inumeráveis miradouros, que já inspiraram vários escritores e poetas, traz à memória a imagem das mulheres vestidas de preto que, cantando músicas tristes, esperavam em vão o regresso dos seus homens perdidos no mar. A capital, que parece mergulhar nas flores de buganvília, fornece-nos momentos inesquecíveis cujo romantismo ficará gravado na nossa mente para sempre. Apesar de ser um lugar cosmopolita, Lisboa consegue manter o seu encanto nostálgico tão típico das cidades portuguesas. Seguindo rumo ao Sul, nas margens do Douro, escondem-se solares, adegas e quintas submersas no verde rico das vinhas. Naqueles locais bucólicos pode-se provar um dos tipos de vinho de Porto, o “néctar dos deuses” conhecido no mundo todo. O aroma e a cor intensa do vinho faz-nos lembrar os passeios nos antigos barcos rebelos comparados pelos habitantas da região às viagens pela Veneza romântica. As encostas cortadas pelas estradas que serpenteiam a serra surpreendem-nos com a variedade de paisagens e locais que ainda ficam por descobrir. A poucos quilómetros de Lisboa fica a serra de Sintra, a pérola do romantismo português. Essa zona durante séculos foi escolhida pelos reis e príncipes que ali edificaram palácios e quintas com impressionantes jardins, ideais para as conquistas amorosas. O Palácio da Pena, fruto dos sonhos dum rei artista, Dom Fernando, aparece de repente no labirinto da vegetação abundante submersa numa neblina húmida. Vale a pena passear pelas estradas da serra, entrar nas quintas e descobrir miradouros com paisagens de cortar a respiração. Não há melhor lugar para contemplar a paixão pela natureza, tão característica do estilo arquitectónico romântico. Nos recantos mais escondidos de Sintra trocam-se juras de amor e partilham-se os momentos ímpares com alguém especial. Não obstante, o ambiente sintrense não vai ser completo sem conhecermos o sabor da famosa queijada de Sintra. Contudo, não há melhor lugar para os primeiros namoros que a cidade de Coimbra, marcada pelo amor e pela tragédia de Inês de Castro e Dom Pedro. Quem podia resistir ao encanto das ruas estreitinhas onde os estudantes vestidos de capas pretas cantam músicas “à menina que está na janela”? É impossível ignorar o ambiente dos parques nas margens do Mondego, onde casais de jovens, de mãos dadas, confessam os seus sentimentos. Os corações dos habitantes de Coimbra batem ao ritmo do fado, das festas que acabam só quando o sol nasce e do amor juvenil que, mesmo depois de muitos anos, A nossa viagem acaba no Sul do país, nas arenosas praias do Algarve, onde a voz das gaivotas acompanha o murmulho do mar. Nesta área da costa do Atlântico as memórias são ainda quase mais mouras que lusas. As casinhas brancas parecem ser sacadas de um conto para crianças que têm sempre um bom final. O vaivém das marés traz o cheiro das terras desconhecidas e da aventura à qual nos convida o pôr do sol. É preciso sentar-se à beira-mar e deixar que o vento nos conte histórias dos navegadores que por ali passaram, as histórias de Portugal, um país romântico escondido no “fim do mundo”. Sem comentários. E o meu olhar de reprovação. Maio 2004 17 erotismo erotismo Texto de Edyta Grodecka EROTISMO EN EL CINE DE LOS AÑOS 40-50 piernas. Otro ejemplo famoso es Raquel Welch, símbolo del sexo de los años 60, escasamente vestida en „Un millón de años antes de nuestra era”, película de 1966 dirigida por Don Chaffey. No podemos olvidar también la personalidad excepcional de Marlene Dietrich y de Greta Garbo, su gran rival. A Marlene Dietrich la recordamos por su estilo de vida escandaloso y por sus relaciones sexuales con otras mujeres, pero, sobre todo, por sus actuaciones en las famosas películas del director Josef von Sternberg: “Maroco”, “El angel azul”, “La Venus rubia”, o por su papel en “La mujer vamp”. Su signo distintivo era su gusto por los trajes de hombre: sombrero de copa y frac. Hay que mencionar también a las famosas actrices del cine italiano, como Sophia Loren y Gina Lolobrigida, o de Estados Unidos, como Jane Mansfield o Liz Tylor en “Cleopatra”. Texto de Aleksandra Maczewska INVITACION AL TANGO La tarde llegaba a esse momento de silenciosa pereza cuando el sol ya es de color naranja y está a punto de tocar la línea del horizonte. Me senté en una de las terrazas cerca de la calle Caminito, la menos monumental y más alegre atracción turística de Buenos Aires. Al preguntar cómo ir al famoso barrio, el hombre del quiosco me miró atentamente y dijo:“¿Para qué querés ir a La Boca?, allí no hay nada además de mal olor”. No escuché al viejo porteño y una hora después estaba tomando granizado de limón en la legendaria cuna del tango. El silencio de la tarde no duró mucho, sobre el pequeño escenario, con los primeros compases de la música, apareció una pareja... Madrid En los años 40 la desnudez era un tema tabú y su presencia en las pantallas de cine no entraba en cuenta de ninguna manera. Sin embargo, en aquellos tiempos, los cineastas no razonaban en categorías como desnudez-erotismo. Ésta, la más simple combinación, es el signo de nuestros tiempos, resultado de los cambios que se han consolidado en la sociedad actual. Los cánones de erotismo corren ya por una vía diferente que hace medio siglo. El erotismo, a lo largo del siglo pasado, tomó formas muy distintas, se manifestó de diferentes maneras. El carácter del erotismo en el cine de los años 40-50 se relacionaba, sobre todo, con los cánones estéticos aceptados en aquellos tiempos. Asimismo, hay que tomar en cuenta el hecho de que la imagen de la mujer de entonces se alejaba mucho del modelo actual, lo que se justifica por un grado de aprobación social distinto. Las películas de los años 40-50 eran indudablemente más suaves al presentar la desnudez que las producciones contemporáneas. No obstante, hay que admitir que moviéndose dentro de un determinado canon de sex appeal eran capaces de expresar el erotismo de una manera de verdad extraordinaria. Basta mencionar el ejemplo de Rita Hayworth en “Gilda”, película de 1946 dirigida por Charles Vidor, en la que esta excelente actriz supo electrizar millones de espectadores de todo el mundo en una escena inolvidable en la que se quitaba sus largos guantes negros. Dicha escena, debido a su gran carga de erotismo, forma en sí un canon en la historia del cine. Lo mismo podemos decir sobre la escena con Marylin Monroe encima de una rejilla de ventilación, en la que el flujo del aire le levanta el vestido descubriendo sus esbeltas Aunque los tiempos han cambiado y el público exige imágenes cada vez más chocantes, el recuerdo de las grandes actrices de los años 40, 50 o 60 sigue siendo muy fuerte. 18 Mayo 2004 La historia del tango se nutre de mitos e hipótesis no comprobadas. Algunos opinan que el género combina la coreografía de la milonga (baile tradicional de la zona de Río de la Plata) con el ritmo del candombe africano y la línea melódica sentimental y la fuerza emotiva de la habanera. Se considera que el baile comenzó a difundirse alrededor de 1880 con la llegada de los inmigrantes al puerto de Buenos Aires. La mayoría de ellos eran jóvenes solteros que abandonaron sus tierras en busca de una vida mejor o, quizás, de una gran aventura. Eran marineros, cuarteadores, artesanos, peones; lejos de sus casas y sus familias, necesitaban consolar sus tristes corazones, así que en aquellos años el negocio de la prostitución tuvo su mejor momento, y fueron los prostíbulos porteños donde comenzó a tocarse y a bailarse el tango. Una cosa interesante es que al principio el tango era “cosa de hombres”: las parejas de varones lo bailaban entre sí. Constituía una peculiar demostración de habilidad y lucimiento; el “compadrito” significaba un hombre de mujeres y cuchillo, orgulloso y terco que presume de su coraje y a la vez es pudoroso de su intimidad, por eso el tango tuvo que conquistar a la mujer para la danza. 11 de Marzo 11 de Março El erotismo, como leitmotiv, surgió bastante temprano. Los cineastas se daban cuenta de la fuerza magnética de sex appeal y trataron de expresarlo en sus películas. También en la actualidad a los cineastas les gusta servirse del erotismo. Uno de los ejemplos claves es la película de Adrian Lyne “Nueve semanas y media”, con la excelente actuación de Kim Basinger. Surge también un nuevo género cinematográfico llamado thiller erótico. Algunas de las películas más destacadas de este tipo son: „Instinto desnudo” de Paul Varhoeven, con Sharon Stone y Michael Douglas (1992), „Orquídea salvaje” de Zalman King, con Mickey Rouke y Jacqueline Bisset (1990), o “Sliver” de Phillip Noyce, con Sharon Stone como Carly Norris y William Baldwin como Zeke Hawkins. ` ...El chico agarró a su compañera con un gesto que me pareció bastante violento. Creo que dejé de parpadear. El bailarín era bajo y gordito,al lado de la impecable silueta de la muchacha, mucho más alta que él; la pareja tenía un aspecto chistoso hasta que empezó a bailar. La coreografía era perfecta; las volteretas y las piruetas, impresionantes; ¿estaba mirando un tango cien por ciento “fantasioso”?, ¿mero espectáculo para turistas? Claro que sí, pero tenía tanto encanto que me olvidé de que el chico no se parecía en nada a los guapos bailarines de las postales. Sus pasos eran rápidos y complicadísimos, pero lo más hipnotizante era la tensión que se sentía en cada apretón que se daban y en esos suaves movimientos de la mano en la espalda de la muchacha que le senalaban la siguiente figura. Era increíble cómo sus piernas y sus torsos bailaban dos danzas distintas; una disociación que no rompía ni la unidad ni la armonía del conjunto. Me fijé en los ojos de los bailadores, estaban concentrados y serios, el chico apretaba los labios y me acordé de que el tango es un pensamiento triste que se baila. Sin la sonrisa, sin la alegre despreocupación de la salsa o de la samba bailaban una apasionada queja, como si hubiera un solo consuelo para los desamores, las añoranzas y las penas de esta vida: bailar tango. Cuando la famosa Isadora Duncan visitó Buenos Aires y dio sus primeros pasos tímidos de tango escribió: “Sentí que mis pulsaciones respondían al incitante ritmo lánguido de aquella danza voluptuosa, suave como una larga caricia, embriagadora como el amor bajo el sol del mediodía y peligrosa como la seducción de un bosque tropical”. El tango empezó a salir de los lupanares, se organizaron las primeras academias, la gente bailaba en las calles y en los cafés. A continuación se le añadió letra y empezaron a aparecer las canciones tangueras. Los 40 fueron definitivamente los mejores años del tango; después de su triunfo en los salones europeos su mala fama comenzó a disminuir, poco a poco dejó de ser un producto del lupanar y un baile de mala vida: quizás porque lo que se baila en Europa es un tango “domesticado” que no tiene mucho que ver con su antecedente argentino. Últimamente ha revivido en su forma tradicional y la nueva generación ha salido a bailar. ¿Que hay en esta danza que tanto atrae a la gente? Algunos dicen que el tango consiste en bailar la desesperación para que se vuelva bonita y nos traiga ese temblor caluroso que encarna todas las contrariedades de nuestra vida: el deseo y la imposibilidad de cumplirlo, la añoranza y la nada. Es como el vino: calma la sensación de continua insatisfacción y la finitud de toda existencia. Terminó la presentación, ya era de noche. Me puse a pasear recordando las letras de la última canción: Amor en remolino camino sin destino Nosotros: la ansiedad de dos en soledad. No quería regresar a casa; estaba en Buenos Aires y la noche todavía era joven. Sería un pecado regresar ahora y, además, el tango era una invitación, pensé. Maio 2004 19 poesía erótica Puta libidinosa que fa-lo morto eternamente; berro de sal que estoupa en pedra sacra mollada de luxuria. Aberta sobre o mar escúlpeste firme e rexa invadindo ondas acesas que ti prendes en noites de lúa chea, envexosa do teu seo, ela preña. Asasina dun sol que morre en ti por desexarte cada noite, puta vella, húmida coma ó principio; seducindo dende sempre en pedra e auga, anunciada brevemente en fina area, orgullosa do teu corpo, triste e salvaxe Fisterra. que fa-lo morto eternamente; berro de sal que estoupa en pedra sacra mollada de luxuria. Aberta sobre o mar escúlpeste firme e rexa invadindo ondas acesas que ti prendes en noites de lúa chea, envexosa do teu seo, ela preña. Asasina dun sol que morre en ti por desexarte cada noite, puta vella, húmida coma ó principio; seducindo dende sempre en pedra e auga, anunciada brevemente en fina area, orgullosa do teu corpo, triste e salvaxe Fisterra. Mónica Góñez Silva De Mar e Vento, 1997 20 Mayo 2004 poesia erótica NÃO PRESENTE CANTIGA DO LARANJAL Tu. Tu que me arranhas, que me sangras, que me negas a certeza do ser quem fui, de sentir o ser e o estar como outrora. És luz em mim, és saudade do não acontecido, és arrepio dos momentos que passei a pensar, que também tu naquele momento poderias estar a pensar em mim ou a ser comida por alguém. Tu. Dilaceração, experiência e inexperiência, incompreensão do que me deste ou do que julguei alguma vez me teres dado e julgando por ti e por mim, julguei que poderíamos ser felizes, demasiado, sempre demasiado. Espero-te e sei que acabou. Espero o teu olhar e o teu riso, a tua boca e o teu abraço e sei que não os vou ter, nunca mais os vou ter. Algo tão sincero, outra vez julgado por mim e por mim, que não mais partilharei, em que não mais atentarei e sorrir, sorrir na minha cumplicidade partilhada por mim e por mim, estiveste tu do meu lado, comigo, não presente. André Soares, 19-11-2003 Sube por min arrastrándote e rozando as miñas pernas, envolvendo, torpe e irto, as miñas coxas. Debuxa como sabes o meu corpo, construíndote en min como acostumas, inventándote quizais en nova pel. Crea a figura que coñeces e agarda a que te abotoe. ¿Qué fas ó sol tan teso e duro? Colgado polas pernas, dúas pinzas, movido polo vento e en silencio, penso en ti. Mónica Góñez Silva De Mar e Vento, 1997 CARURU Como o centro vermelho Do hibisco amarelo, o trovão da cor dos teus lábios na bátega do teu sangue aí, enquanto eu aqui te despindo toco o teu jardim. Tu curvada adubas com estrume fresco o quiabo que trouxeste desde Salvador Kerry Shawn Keys Blues in Green,1996 (tradução de José Carlos Dias) À sombra de um laranjal fomos procurar sustância - eu Dionísio, tu Vestal, à beira do fim da infância. No colo da laranjeira até o silêncio é perfume - do amor que a Vida inteira acendeu no nosso lume. No sumo de uma laranja encontrámos alimento - e aprendemos nova dança no secreto esvaimento. Chegaste ao pomar infanta e eu cervo entontecido - fundou raiz minha planta no teu laranjal refundido. Ao nascer da tarde quente tombou a laranja no sono - e o amor foi afluente do rio do abandono. E ao cair da noitinha a chuva nos veio regar - como se a ria mansinha nos quisesse abençoar. António Branco Fugidia Comunhão., 1996 DEMOCRACIA El encuentro de dos mundos en tu cuello. La conquista y conversión de tus hombros paganos. La revuelta de tus brazos, de tu espalda, tus caderas. El gobierno de tus piernas alternativamente cruzadas. La fundación de una república en tu ombligo, sobre las ruinas de los templos antiguos. La intercomunicabilidad de las regiones de tu cuerpo y sus espacios cívicos, patrióticos, heroicos. ¿Qué pueden saber de esto los científicos sociales? ¿Qué pueden decir los profesores? La verdadera democracia está en tus pechos simétricos y erectos, uno a la izquierda y otro a la derecha del triángulo ideológico y perfecto de tu sexo Nas voltas da cama ardemos de mais e quando caio cais no porto que por mim em ti espera. Uníssonos tocamos o sol temporão no poço que a minha espada venera. políticamente correcto. Gerardo Beltrán Con el imán de la memoria y otros poemas, 2004 António Branco Fugidia Comunhão, 1996 Maio 2004 21 Caminhos de palavras Texto de Katarzyna Piwowarczyk O AMOR PROIBIDO Eu sou bisexual. Protestando contra mim, protestando contra os outros, protestando, com todos que protestavam. Embora estivesse em Varsóvia e eles em Cracóvia, sentia-me manifestando com todos eles, como se estivesse lá. O que você disse? - Perguntei, pensando, que não a ouvira bem. Você ouviu, Kasia. Eu sou bissexual. Mas você não sabe como reaccionar. Hum, tem razão... Eram quatro e meia. Quatro e meia em Cracóvia, dia sete de Maio. Dia do manifesto do amor proibido. Amor proibido, erotismo proibido, erotismo gay. Passamos a noite conversando. O “nosso” ex-namorado entrava e saía, intimidado, da cozinha, onde ficamos no chão, com copos e uma garrafa de vinho. Ele nunca pensaria, que podíamos ficar amigas. Que surpresa! Ela falava da sua namorada, como se fosse (para mim) um namorado. Alguém importante. Eu vi a paixão nos olhos dela. E compreendi. Só desta vez compreendi. Eu nunca fora preconceituosa, mas sempre havia “algo”, algum medo inexplicado, alguma falta de respeito humano. Falando com ela, vi que não pode ser assim, que ninguém tem o direito de proibir o amor. Porque vi o amor verdadeiro. A história acabou depois de alguns meses, mas o nosso desgosto continuara até esquecer a causa. Aquela era uma noite muito fria. Tudo até congelava, mas nesta história ficaria bem uma imagem do verão. Especialmente um verão brasileiro, com palmeiras e erotismo no ar, que está por toda a parte e te faz respirar esse ambiente amoroso. Por algum tempo sentia-me perdida, por ter acabado uma relação complicadíssima. Recebi um SMS dizendo que havia uma festa. Huuum, que fazer com uma noite livre? Mas... a festa era na casa do meu ex-namorado. Era difícil ir tendo a certeza de não voltar (nem que por um segundo) ao mundo do passado. Até as lembranças da escola secundária podem fazer chorar quando estamos sozinhos, né? Mas a festa provocou pensamentos imprevistos. Lá estava Ela. Primeiro – medo. Como devia reagir? Tinham-se passado cinco anos desde esta maldita história, mas nunca se sabe quem esqueceu, quem não. Trocamos umas olhadinhas e já sabia que não havia nada para temer. Estava esquecido. Só faltava perguntar, “como vai a vida?”. Conversamos por algum tempo, e ela disse esta frase mágica, que nos faz esquecer a fala humana, que nos faz congelar. 22 Mayo 2004 Texto de Jakub Jankowski A SOL E O LUA Saí de casa, protestando. Conheci-a há algum tempo. Íamos todos os dias ao mesmo colégio, tínhamos os mesmos amigos, até uma vez trocamos de namorados e este ato perverso separou-nos por anos. Parecia engraçado, sumarento, perverso ao mesmo tempo. Eu odiava-a por tocar o meu exnamorado. Ela odiava-me por eu ser tocada pelo exnamorado dela. Que falta de intimidade, que falta de erotismo. Caminhos de palavras Ela é uma das representantes da Campanha Contra a Homofobia, uma das organizadoras do “Festival Cultura para a Tolerância”, que acabou hoje, dia nove de maio, em Cracóvia. Para concretizar – foi um festival de cultura gay. Organizado não para mostrar, que o amor gay é melhor que um outro. Organizado não para convencer as pessoas a serem perversas. Organizado para nenhuma outra coisa, além de dizer a verdade, mostar a verdade: que os gays existem, e são como os outros. E têm direito a tocar a mão do namorado/namorada na esplanada. Como todos. Saí de casa, protestando. Protestando contra mim, protestando contra os outros, protestando, com todos que protestavam. Embora estivesse em Varsóvia e eles em Cracóvia, sentia-me manifestando com todos eles, como se estivesse lá. Quando vieram os contra-protestantes, ninguém viu. Apareceram. Tinham pedras e jogavam-nas às pessoas. Gritavam: “Os viados fora desta cidade!”. E só as crianças, que sabem amar o mundo, perguntavam porquê. Porque as pessoas que andavam na manifestação pareciam iguais a todos nós. Era uma vez eu. Gostava de beber e cair das nuvens de manhã, sabendo o que se passou na noite anterior. E uma vez, na noite anterior passaste Tu. Pois, todos venceram na noite anterior, todos mataram o bicho. Bem como a memória. Só depois disseste que continuas virgem. Mas têm passado anos... toda de um leito penífero. Mas caí... Era uma vez , depois do corpo nu de afluência das nuvens e Ícaro. Eras Tu. Era eu. Era uma rosa entre as Tuas pernas que floresce só à noite. Uma rosa lúbrica de cheiro tentador à qual não se resiste. Qual não se rejeita. Eu era a presença lá. Altivez. Orgulho. De manhã era a rosa ainda mais fresca depois de tomar banho nas gotas de orvalho. As gotas de orvalho vitalizante e fecundo desciam sob a superfície de cálice ainda abertas. E eu era a consciência de que desta vez, caíra na tentação outra vez. A nossa história é como aquela da Lua e do Sol. Eles são amantes infinitos que vivem separados, longe de si, olhando-se olho no olho. A Sol cria o Lua. Eu sou o Lua e as Tuas colinas que eu gosto tanto de conquistar são tão ferventes como o corpo do Sol. Tens corpo de Sol. VIVEMOS OLHANDO-NOS À Perigoso e tentador como a risca DISTÂNCIA branca da Tua feminilidade durante a noite. Não vou respirar DEMASIADAMENTE DISTANTE. EU NÃO GOSTO DAS perigosamente. DISTÂNCIAS MAIORES QUE Vivemos olhando-nos à distância demasiadamente distante. Eu não gosto das distâncias maiores que aquelas de corpos enlaçados numa cama para só uma pessoa. Uma pessoa não vale nada. Vivemos à distância triste e só às vezes podemos: Tu, apagar-te na prata fria e eu, dissolver-me nas chamas duma cama celeste. AQUELAS DE CORPOS ENLAÇADOS NUMA CAMA PARA SÓ UMA PESSOA. UMA NADA. Onde estás agora? Quando sou o Lua crescente, ou minguante, ou gládio arábico? Ou não, não sou perigoso. Estou a abrir os meus braços para te captar e receber de braços abertos. Estou a abrir os meus braços e a minha estrelinha está a aproximar-se. Vejo. Sou o Lua crescente e não posso pregar o meu sonolento olho único VIVEMOS À DISTÂNCIA e de prata nem por um instante. TRISTE E SÓ ÀS VEZES Não posso perder de vista a minha PODEMOS esperança. Se calhar, tenho um parafuso a menos e falo pelos cotovelos lunáticos. Se calhar, Era uma vez, depois da Sol e do Lua. Era eu Mariposa ponho as mãos no fogo pela Tua volta triunfante. Se e Tu Luz. Luz é tão bonita. Tão viva. Tão Tua. E calhar, estou com um grão na asa e não sei o que estou chegava perto, sentia-me e morria. Mas doce era morrer a dizer. Se calhar, amo-te e espero a rosa florescer entre e acordar de manhã. as Tuas pernas à noite. Uma noite eu. E espero neste momento a minha presença. Era uma vez, depois de Mariposa e Tu Luz. Eras corpo nu de água transparente e Eu Afogado. Um louco que Se calhar, outra vez matei o bicho mas não a memória. fazia tudo porque gostava de nadar e afogar. Mas era Com certeza amo-te demais. Se calhar, por isso voltarás, doce de afogar. minha estrelinha. Vamos tornar-nos pirilampos e nunca voltaremos a morrer, porque emitiremos a luz e não a Era uma vez, depois do corpo nu de água transparente reflectiremos. Viveremos a nossa vida. E a rosa jamais e de Afogado. Eras corpo nu de afluência das nuvens e morrerá. E a presença. Com certeza amo-te. Ainda eu era Ícaro. Gostava de mergulhar, de sentir veludo podemos ser de tantas maneiras...e ser tantos diferentes entre meu corpo. Gostava de perder-me sob a guarnição entes. PESSOA NÃO VALE Maio 2004 23 Qué bonito... ...es el amor Texto de Gerardo Beltrán . CARTA A Z SOBRE LOS FUNDAMENTOS DEL EROTISMO ILUSTRADO AS HISTÓRIAS DA CAMA Triste é viver na solidão... Mi muy añorada ¯: Tom Jobim Ahora que hay entre nosotros más de un metro de distancia (un metro y un tranvía, para ser exactos) y que el tiempo transcurrido sin tocarte se traduce directa, proporcional y correspondientemente en un cada vez más insoportable síndrome de abstinencia que amenaza con derivar en locura, no me queda más remedio que recurrir a mi derrocado intelecto, siguiendo la premisa de que si el despotismo ilustrado clamaba “todo para el pueblo, pero sin el pueblo”, la divisa del erotismo ilustrado será “todo para el cuerpo, pero sin el cuerpo”. Es tarea del entendimiento entender las cosas, compararlas y formar juicios, por lo que el erotismo intelectual se encargará de entender, comparar y formar juicios sobre los datos presentados por los sentidos en su máximo grado de alerta. Aunque, en su variante más pura, se encargará más bien de producir esos datos. (en esta variante la sensualidad provendrá estrictamente del alma, en cuanto ésta discurre y raciocina, en cuanto este raciocinio produce placer –incluso físico- y en cuanto este placer conduce a la verdad y, finalmente, a la felicidad –también física-). Epicuro llamaba a los sentidos “mensajeros de la verdad” y “los argumentos que aducía en favor de su absoluta verosimilitud son los siguientes: 1) En primer lugar, la sensación es una afección, algo pasivo y, en cuanto tal, es provocada por algo de lo cual ella constituye un efecto correspondiente y adecuado. 2) En segundo lugar, la sensación es objetiva y verdadera porque ha sido garantizada por la estructura atómica de la realidad. De todas las cosas brotan conjuntos de átomos, que constituyen imágenes o simulacros, y la penetración en nosotros de tales simulacros es, precisamente, la que produce la sensación. Las sensaciones son registros objetivos de los simulacros en cuanto tales, incluso en aquellos casos en que se considera erróneamente que son ilusiones de los sentidos. Por ejemplo, cuando un objeto aparece bajo formas diferentes, en función del lugar o de la distancia a la que nos encontramos: el simulacro del objeto cercano es, en efecto, distinto del simulacro del objeto lejano. Por lo tanto, lo que para algunos constituye la prueba de que los sentidos engañan es en realidad una prueba de su objetividad. 3) Por último, la sensación es algo arracional y, por lo tanto, incapaz de quitar o de 24 Texto de D aniela Capillé Mayo 2004 añadir algo a sí misma: por consiguiente es objetiva”. 1 Así, podríamos establecer que la función del erotismo ilustrado es entender, comparar y formar juicios sobre los simulacros o imágenes de objetos lejanos (es decir, los que se encuentran a más de un metro de distancia y sin importar si esa distancia se recorre en tranvía o en bicicleta), ya que, aunque atómicamente estructurados de la misma manera que los simulacros de objetos cercanos –y que los objetos cercanos en sí- son, por así decirlo, menos corporales, quedando muchas veces su corporeidad reducida a una impresión en el alma, de donde tiene que volver en forma de discurso. Y de discurso escrito, pues la distancia impide la oralidad –a menos de que se trate de una oralidad móvil o telefónica, perversión que dejo para la siguiente carta pero que, como ya hemos comentado, resulta inudablemente más articuladamente comunicativa que la oralidad entre objetos demasiado cercanos-. Un último dato a estas especulaciones lo aporta el psicoanálisis, que muestra que la pulsión sexual se halla íntimamamente ligada a un juego de representaciones o fantasías que la especifican y sólo al final de una evolución compleja y aleatoria se organiza bajo la primacía de la genitalidad y encuentra entonces la fijeza y la finalidad aparentes del instinto.2 Si esto responde a un imperativo biológico o es parte del proyecto del Ser Supremo, como tú bien sabes, no tienen la menor importancia (aunque Epicuro diría que el hombre es perfectamente autárquico y no necesita de los dioses, ni siquiera de Cupido). Lo que si queda claro es que para encontrar la fijeza del instinto, la distancia no puede ser mayor de unos cuantos milímetros, y eso solamente en el caso extremo, pero frecuente, de pérdida de la respiración. Erótica, aunque, por el momento, sólo ilustradamente tuyo, Ela ia de cabeça baixa, tomando o cuidado de não encharcar o seu tênis all star com a água da chuva, que escorrera a cidade. Caminhava pensativa, tentando, entre uma poça e outra, encontrar o sentido da vida. A experiência já lhe ensinara que histórias incríveis e dignas de contos literários nunca resultam em qualquer coisa palpável. Ou sim, dependendo da sorte do protagonista em questão. De qualquer forma, o fato é que há histórias que terminam muito antes de um final feliz. Ou de um final qualquer. Mas de quê são feitas as grandes paixões, afinal? E ela, originária de um país quente, não sabia responder... domingo, tomar o café da manhã em trajes sumários e nem sequer se dar conta de que o dia seguinte era segunda – feira. Ou as noites de sexta, com as bocas cada vez mais roxas de vinho, como gostaria Ricardo Reis. As conversas ressaqueadas, o teto sempre presente, as duas sempre presentes. As costas da sua mão na curva das minhas costas, a outra, no vão das minhas pernas e por tantos outros lugares, inomináveis e obscuros, feitos de sombra e arrepio. E de coisas fenomenalmente pequenas. Os risos e as histórias, contadas de barriga para cima, no limiar das sensações, como todas as histórias entre melhores amigas de colégio. Ainda andava ela aos saltinhos, compenetrada e confusa, quando se deparou com uma outra questão, aparentemente mais importante que a anterior: para quê servem as grandes paixões? Quem consultar o dicionário vai ver que paixão provém do latim passio e significa... sofrimento. Então 99% da população mundial anda em busca de um pouquinho de angústia, umas pitadas de calafrio, mãos suadas e pensamentos estúpidos. Onde está o prazer disso tudo? Mas ela se perdeu em outros lençóis, de um jovem pseudointelectual com cara de poeta tuberculoso. Dura e fria depois de um longo inverno varsoviense, ela deitou-se na banheira de água quente com as pernas estrategicamente abertas e, fechando os seus olhinhos oblíquos, tentou buscar no outro lado do oceano, na sua cálida terra de paixões, uma resposta menos irônica que aquela que o seu ceticismo lhe permitia. Todas as coisas tendem a acontecer justamente quando estamos distantes o bastante para não vê-las. O que não significa que não as podemos senti-las. Num lugar que todos crêem exalar erotismo, muitos vão e não voltam e os que ficam escrevem e-mail intranqüilos e turvos, sobre as confusões cotidianas, que nem sempre são fáceis de entender. E, de repente, todos parecem envoltos numa atmosfera cor-de-rosa e ela, fracassada, em pleno nevoeiro. E Ela se perdeu em uma banheira de água quente, em outro continente. Depois foi o Mestre da Ironia quem se desviou do caminho dos fracassados. Ela o conhecera, antes de mais nada, ao ler a lista dos alunos aprovados, juntos com Ela, na Universidade. Riu-se com seu nome pop-épico, não podendo imaginar quem ele um dia viria a ser. Deitados na cama dele, digerindo o almoço e suando o calor do meio-dia. Rodeados por todos os segredos e impressões, alfinetados pelo ciúme mútuo e por ácidas piadas internas. Escrevendo juntos o seu best-seller imaginário, “Como Controlar Minhas Ironias e Piadinhas Sem Graça”, e controlando os seus passos por esse terreno neutro que separa a amizade profunda do erotismo. Mas ele também se deixou penetrar por essa onda sentimentalista que assolou os trópicos. E Ela bufou, insensível. Primeiro foi a Doce Menina Carolina quem se perdeu e A perdeu um pouco, por conseqüência. Onde está o prazer disso tudo? Ela se perguntava novamente, na sua retórica socrática. As histórias da cama sempre foram divertidas. E não podia mais pensar com clareza, mole e febril do banho quente. Desejou uma taça de vinho tinto, dois pedaços de chocolate, uma música ao fundo, e já não importava a resposta, visto que chegara a primavera. G. 1 Giovanni Reale y Dario Antiseri, Historia del pensamiento filosófico y científico, Herder, Barcelona, 1988, Tomo I, pag. 214. 2 Jean Laplanche y Jean-Bertrand Pontalis, Diccionario de Psicoanálisis, Labor, Barcelona, 1983, pág. 332. Acordar de manhã cedo com uma cosquinha na barriga e olhar o teto por instantes a fio, pensando só no dia de Maio 2004 25 dabliudabliudabliupontopêtê uvedobleuvedobleuvedoblepuntoeese por K@t@rzyn@ Piwow@rczyk ESPAÑA EN LA RED. OS SENTIMENTOS ¿Están hartos del frío y de la nieve? ¿Esperan con impaciencia la llegada de la primavera? Escuchen la música de las playas de Ibiza en www.cafedelmarmusic.com. O algo de flamenco en: http://www.flamenco-world.com/ indice.htm. Después pueden descargar salvapantallas o enviar postales para sus amigos desde la página www.kukuxumusu.com. Seguro que se sentirán mejor. Disseram-me, que tinha de escrever um www erótico. Digo abertamente – não me apetecia nada de nada. Porquê? Se quer saber a resposta, pergunte “erótico” ao senhor Google. Quem não gosta de fotos perversas, por favor não o faça! Mas a Rede é uma mulher perversa. Ahora que ya están de buen humor pueden hacer planes para las vacaciones. ¿Dónde? Por supuesto en España. Si van a Madrid o a Barcelona, necesitan un plano del metro: lo encontrarán en www.metromadrid.es y en http://www.barcelonagallery.com/cas/transporte1%BF1.htm. La página www.barcelona2004.org contiene informaciones sobre el foro cultural que tendrá lugar este verano en la capital catalana. En http:// www.xacobeo.es/ encontrarán la descripción de la ruta jacobea. Sin embargo, si no les gusta pasar las vacaciones caminando, pueden ver en la misma página las imagenes directas de Santiago de Compostella o del cabo de Finisterre sin moverse de casa... DA REDE. Mas. Sempre há algum “mas”, como dizem os poloneses. Então decidi tentar encontrar um “mas”. Como? Vou revelar este segredinho. Trocando a palavra, para uma que me pareça mais mágica e, é claro, muito mais inocente. Escrevemo-la juntos, eu e os meus amigos. A Rede e o Google. O AMOR Primeiro ela não sabia como reaccionar. Deixou-me por alguns segundos sem resposta. E depois cuspiu o resultado de 1.830.000 páginas em português. A Rede sabe muito sobre o amor, pensei. Volvamos a la realidad. Como estudiantes del Instituto de Estudios Ibéricos e Iberoamericanos tenemos que estar al día con la actualidad española. Nos ayudarán las páginas de la agencia EFE www.efe.es o los portales más populares: www.terra.es, www.yahoo.es. ¿La prensa? En http://www.prensaescrita.com hay de todo. Sin embargo, si no encontramos nada, podemos buscar en www.google.es. Algo debería aparecer. Cuando no entendemos el resultado de la búsqueda, podemos consultar el diccionario de la Real Academia Española en http://buscon.rae.es/diccionario/drae.htm. Decidi entrar na primeira página que apareceu na lista. “1001 Cartas de Amor”: 1001cartasdeamor.terra.com.br Nesta página pode-se encontrar uma inumerável quantidade dos ensaios amorosos na versão portuguesa de Portugal e do Brasil. Encontrei um leque de opções, até para diferentes meses . Como não encontro maio, escolho abril. Mas o computador diz-me que tenho de pagar. ¿Y algo sobre la cultura y el arte? ¡Aquí está! El portal www.unavuelta.com ofrece informaciones del mundo de la cultura. En http://www.cultura.mecd.es/museos/intro.htm encontrarán enlaces de los museos y galerías de arte españoles: Museo del Prado, Reina Sofía... Miren la página http://www.spanishprintmakers.com/, que presenta la obra gráfica contemporánea ‘made in Spain’. O vean la colección de carteles falleros: http:// webs.ono.com/usr000/teiditos/fallas1998/carteles_falleros.htm. A página www.historiadeamor.com.br tem tudo. Poesias, letras de música, e, claro, um sistema de encontros. Há cartões, horóscopo. A Rede tem uma paixão enorme por essas coisas. E nesse momento descobre-se um segredinho dela. Ela não tem namorado! Passa as noites sozinha, jogando com o “Ponto de Encontro”, ouvindo músicas... mas não parece nada triste. Sempre está a viver os amores dos outros. ¿Les gusta el cine? Aquí tengo algunas páginas interesantes: http://www.buscacine.com: todo lo que quieren saber del cine español, http://www.guiones.com/ie/intro2.asp: todo sobre guiones, http://www.cultura.mecd.es/cine/: página del Instituto de la Cinematografía y de las Artes Audiovisuales, http://www.sansebastianfestival.ya.com/: página oficial del festival de San Sebastián http://www.surdelsur.com/cine/cinein/index.html: sobre la historia del cine argentino. En la red hay de todo... ¿Necesitan libros? Pueden bajarlos gratuitamente por ejemplo en: http://www.librodot.com/, http://virtualibro.com/, https://librosalacarta.com/, http://www.elaleph.com/. Supongo que ya están cansados. Antes de desconectarse vale la pena echar un vistazo, por ejemplo, a www.karlosnet.com: las recetas de Karlos Arguiñano les ayudarán recuperar las fuerzas. 26 Mayo 2004 De amor pago, na minha vida, tento fugir. Então fico fiel ao meu decálogo e procuro outro site. As vezes está aborrecida. Nesta situação liga para o seu melhor amigo Google e procuram juntos histórias mágicas de amor. Por exemplo, como lhe diz a página www.solarviews.com/portug/juliet.htm, o satelíte Julieta recebeu o seu nome da heroína trágica da peça de Shakespeare Romeu e Julieta. É o sexto satélite conhecido de Urano e foi descoberto pela Voyager 2. Ou, por exemplo, o www.andrezinhu.fotologs.com.br mostra uma foto, dizendo “Eu, Romeu e Julieta!”. São o casal preferido nos weblogs. Muito surpreendente na pesquisa de imagens foi que o resultado para “amor” não foi muito perverso. Tinha medo de fazer um clique no botão “pesquisa”, mas sem razão. Apareceram corações, fotos de criançinhas. O amor tem muitos lados. O Google encontra uma página “de amor ao Rio de Janeiro”. Primeiro ri-se, mas depois fica-se de boca aberta vendo as fotos. (www.almacarioca.com.br/fotos.htm). Mas a Rede quer encontrar alguém conhecido. E acha-o! Aparece uma página de... Cesário Verde! Com um tema interessante: Humorismos de Amor. E que acham? A Rede tem de ler! (www.personal.u-net.com/~luso/cvhdamor.htm) Lendo, ficou calminha. O Google, aproveitando o tempo, encontrou algo para Ela. Mas... que quer dizer com isso? Que acham? (www.omni.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v229.txt) Maio 2004 27 sección galega sección galega Texto de Agnieszka K adziolka Kadziolka COMO CHEGAR XUSTO AO CORAZÓN DO LECTOR Rosalía do Castro) que anai lle adoitaba cantar e as que logo influirán no estilo da escritura rivaniana. Ademais, coma di o propio escritor, unha gran influencia no carácter da súa poesía, caracterizada pola espontaneidade, e sinceridade transmitiulla o seu avó. Nunha entrevista Rivas revelou que, de pequeno, ía moito a casa deste avó, „un lugar noutra dimensión”, onde se reunían pola noite, sempre ao lado do fogo, os familiares e os veciños e contábanse historias de amores, aventuras, lendas (con personaxes coma bruxas, fadas ou ananos nada de estrañar en Galicia☺). Talvez foi esta a experiencia que deu a base principal para a súa escritura. Gustaríame presentarlles hoxe o perfil dun famosísimo escritor e xornalista galego: Manuel Rivas. Para aqueles que aínda non o saiban, un personaxe clave non só na paisaxe da literatura contemporánea galega, senón tamén en toda a literatura castelá. A súa carreira está chea de premios literarios e xornalísticos. Xa fai tempo que a súa escritura se fixo famosa e o seu estilo recoñecibles nas diversas partes do globo (no ano 2002 saíu a primeira traducción polaca do seu libro “O lapis do carpinteiro” da profesora cracoviana, Maria Filipowicz). Rivas chegou a ser un personaxe público, un dos homes máis significativos na escena da Galicia contemporánea. Ademais disto, é socio fundador de Greenpeace e ten un posto dentro da xunta directiva da organización. O escritor interésase bastante pola política, toma parte activa nas accións sociais, coma por exemplo en Nunca Máis. Ben, agora convén dicirlles algo sobre a súa vida. Non quero, sen embargo, asfixiarlles coa abundancia de datos biográficos (ademais, resulta que en internet hai moitísimas informacións sobre el). Bastará con dicir que naceu na Coruña en 1957☺… Hm, tal vez acheguemos un par de palabras máis. Posto que o seu pai tivo que emigrar a Venezuela en busca de diñeiro (traballou coma man de obra nunha construcción), o pequeno Manuel foi criado en maior parte pola súa nai, e as cancións populares galegas (entre outras, as tamén recollidas por 28 Mayo 2004 As súas novelas, contos, poemas tamén falan dos emigrantes, dos fusilados, dos vellos viaxeiros... Reflicten a Galicia cotiá cos seus problemas e as súas alegrías; desprenden por todo o mundo a visión desta afastada rexión do mundo, tan esquecida e tan fermosa ao mesmo tempo. Manuel Rivas ten fama de ser o escritor galego máis universal de hoxe, un „auténtico clásico” da literatura recente! (de verdade, Rivas é obxecto de moitas louvanzas). Pero sempre cando falamos dos escritores famosos, populares nos varios países, temos que tratar con algo máxico que sudece a multitude de lectores, tan diversos entre si. Paréceme que estes autores teñen unha forza especial, un don de saber intuitivamente como chegar xusto ao corazón do lector. E este é o caso de Manuel Rivas. Ao final, cabe destacar algúns dos seus libros: Un millón de vacas (1990), Os comedores de patacas (1992), Toxos e flores ( 1992) En salvaxe compaña (1994), ¿Que me queres, amor? (1996), A Bala Perdida (1996), O pobo da noite (1997), O lapis do carpinteiro (1998), Ela, maldita alma (1999), A man dos paíños (2001), As chamadas perdidas (2003). Toda esta presentación fíxena coa intención de aproximarlles a figura do famoso coruñés e para animarlles, por suposto, a que tomen nas súas mans algún dos seus libros; “libros-ponte” que os guiarán na vosa viaxe por Galicia, a súa alma e as súas curiosidades. Texto de Julia K³oczkowska A LINGUA DAS BOLBORETAS A película “La lengua de las mariposas” (1999), realizada por José Luís Cuerda, un dos mellores directores de cinematografía española nos últimos anos, está baseada no libro do escritor galego Manuel Rivas, “¿Que me queres, amor?”(1996), nos relatos “A lingua das volvoretas”, “Carmiña” e “Un saxo na néboa”. Coa colaboración do guionista Rafael Azcona, Cuerda soubo construír esta fábula sutil pero contundente transcorrida nunha vila galega nun dos momentos de maior transcendencia na historia galega de século XX: a preguerra civil. A fábula componse de varias historias que están moi enlazadas, pero a base principal do argumento é a historia de Moncho (Manuel Lozano), un neno de oito anos, vulnerábel e curioso que comeza a súa ensinanza na escola da vila. Alí coñece e relaciónase moi estreitamente con Don Gregorio (Fernando Fernán Gómez), un entrañábel mestre librepensador e de ideas republicanas que educa aos seus alumnos no convencemento de que “a liberdade estimula o espírito dos homes fortes”. Moncho é un mozo moi tímido e nun principio non quere contacto con ninguén, pero gracias ao seu profesor consegue afacerse ao ritmo da súa clase e a relacionarse cos seus compañeiros. O eixo central da historia desta película é a relación entre Moncho e o mestre cuns lazos cada vez máis fortes. O ancián guía ao rapaz non só polo camiño do saber (aulas de letras, leccións de ciencia natural) senón tamén polo do ser. Hai cuestións máis profundas e existenciais que preocupan aos homes adultos. Aquí esas preocupacións son de distinta índole e van do filosófico ao político pasando polo amor, a morte e a intolerancia.“La lengua de las mariposas” sitúase na guerra civil española transcendendo a unha historia de contido universal: amizade e traizón, medo, amor, afán de vinganza, descubrimento da vida. A transformación histórica e política desta película está moi ben trazada porque forma contraste coa emotiva historia dun neno, os recordos e soños da infancia, luminoso e inocente, cos escuros nuboeiros que na situación política de España están formándose, e como isto, esta situación vai empeorando e corrompendo o ambiente case idílico e de soño que a película ten nun inicio, para acabar case nunha especie de catarse da tristeza, desolación e traizón. Desde un punto de vista xeral, “La lengua de las mariposas” é unha película abraiante, un retrato fiel á sociedade do momento, cunha grande dose de tenrura e á vez de crueldade.É unha gran obra da cinematografía española digna de ver. Maio 2004 29 sección galega Texto de Lucía Rodríguez Caeiro CASTELAO: SÍMBOLO DA GALEGUIDADE Unha das maiores personalidades galegas de tódolos tempos. Figura polifacética e humana sempre presente na memoria colectiva de Galiza. Desenvolveu o seu labor creativo nas artes plásticas, na literatura (contos, novela, teatro), na prensa e na política. Home comprometido coa causa nacional e social do seu país, á que serviu toda a súa vida. Foron a súa terra e a xente do traballo a súa fonte de inspiración artística e literaria, o seu ideal como activista político e a súa preocupación como ideólogo nacionalista. Na II República foi elixido deputado polo Partido Galeguista. Loitou polo Estatuto de Autonomía. Durante a Guerra civil e a posguerra defendeu a causa republicana e os dereitos nacionais de Galiza. Personificou a resistencia antifranquista. Forzado ao exilio percorrerá varios países ata establecerse en Buenos Aires onde publicará Sempre en Galiza, principal obra teórica do nacionalismo. Morre na cidade porteña en 1950, cuberto coa bandeira galega e terra do seu Rianxo ao que nunca puido voltar. Na súa creación artística opta por mostrar o vivir das clases populares ás que concede de forma prioritaria o protagonismo (máis do 70% da poboación no primeiro tercio do século XX). Promovendo a súa identidade coa terra e co pobo campesiño, mariñeiro, emigrante, descobre a esencia profunda das xentes e expresa coma ninguén os anceios da súa alma. COUSAS Íntimas paisaxes psicolóxicas da súa terra Editado en dous libros en 1926 e 1929, cunha edición definitiva en 1934. Pequenas pezas narrativas acompañadas todas elas dun debuxo que inmobiliza o sucedido nun momento de seu devir:nun xesto, un lóstrego de mesquindade ou de 30 Mayo 2004 NA NOITE DA DERRADEIRA NOVENA... Traducción de Joanna Stankiewicz, Universidade Jagiellonski, Cracovia O S T A T N I E J NOWENNY za zmar³ych ko¶ció³ pe³en by³ strachów.W ka¿dej ¶wiecy b³yszcza³a dusza, a dusze które nie mie¶ci³y siê w zapalonych ¶wiecach, kry³y siê w mrocznych zakamarkach i stamt±d spogl±da³y na c h ³ o p c ó w wykrzywiaj±c siê do ich. dignidade ferida, individual ou colectiva, un amor imposible ou unha pena, un trazo de xenerosidade ou unha cruel e inconsciente falta de caridade... detalles do comportamento cotián, fuxidíos e inadvertidos, que configuran, sen embargo, o tecido espiritual da persoa e da sociedade, á que, mediante o sorriso e a sutileza, lle mostra os seus defectos cun tratamento satírico, irónico, tenro ou mesmo grave. Nas palabras limiares el mesmo confesa que se decidiu a escribir porque era consciente da insuficiencia do ollo humano para representar, mediante o pincel, a realidade dos sentimentos e das penalidades que se agochan detrás das aparencias visuais neutras. NA NOITE DA DERRADEIRA novena de difuntos a Eirexa estaba inzada de medos.En cada vela escentilaba unha ánima e as ánimas que non cabían nas velas acesas acochábanse nos currunchos sombrizos e dende alí fitaban aos ra-paces e facíanlles carantoñas. O humor de Castelao aséntase nunha posición de empatía ou compaixón coa víctima situado entre a traxedia e a comicidade, un humor que se estiliza co lirismo cando se achega aos personaxes humildes e de nobres sentimentos, movéndoo á identificación cordial con eles, mentres que bota man do sarcasmo e a caricatura cando procura o distanciamento crítico respecto de determinadas conductas ou personaxes destacados do mundo urbano e a fidalguía, sen que falte, mesmo nestes casos, un transfondo de piedade. Cada luz que o sancristán mataba era unha áni-ma acesa que se desfacía en fíos de fume e todos sentíamos o bafo das ánimas en cada vela que morría. Dende entón o cheiro da cera traime a lembranza dos medos daquela noite. Ka¿de ¶wiate³ko, które zabija³ zakrystian, by³a to zapalona dusza, która rozp³ywa³a siê w smugach dymu i wszyscy czuli¶my woñ dusz w ka¿dej ¶wiecy, która umiera³a.Od tamtej pory zapach wosku przynosi mi wspomnienie strachów owej nocy. O abade cantaba o responso diante dunha caixa chea de ósos e no intre de finar o “paternóster” daba comenzo o pranto. Catro homes adiantábanse apartando mulleres enloquecidas de door e cunha man erguían o ataúde e coa outra empuñaban unha facha. Proboszcz odprawi³ modlitwê naprzeciw trumny z cia³em i gdy tylko skoñczy³ paternoster rozpocz±³ lament.Czterech mê¿czyzn wysz³o na przód odsuwaj±c oszala³e z bólu kobiety i jedn± rêk± unie¶li trumnê podczas gdy drug± przytrzymywali pochodniê. O seu peculiar lirismo acádao a través da vibración rítmica da súa prosa, ateigada de recorrencias no nivel fónico e morfosintáctico, encadeando os feitos ata estoupar nun clímax particularmente conmovedor. É unha prosa que en moitos casos posúe un ritmo que lembra a tarefa poética. De aí a redondez e perfecto acabamento que observamos, nada sobra e nada falta, nesta sinfonía humorística que o propio lector compón ao percorrer esta serie de cadros da vida contemporánea. A seguir mostramos a traducción dunha destas 44 pezas ao polaco. Bibliografía: Humor e lirismo. Tenrura e autenticidade. Sinxeleza e dramatismo. sección galega - Fernández del Riego, Francisco: Historia da literatura, Biblioteca da Cultura Galega, Editorial Galaxia, 1995. - Gutierrez Izquierdo, Ramón: Lectura de Nós. Introducción á Literatura Galega, Edicións Xerais de Galicia, 2000. - Méixome Quinteiro, Carlos: Unha historia do nacionalismo galego. Castelao, Edicións do Cumio, 2000. - Rodríguez Castelao, Alfonso Daniel: Cousas, Editorial Galaxia, 1993. - Tarrío Varela, Anxo: Literatura Galega. Aportacións a unha Historia crítica, Edicións Xerais de Galicia, 1994. A procesión tiña remate no osario do adro. Os catro homes levaban o ataúde pendurado arrentes do chan e a facha deitada pingando cera por riba dos ósos. Detrás seguía o enxamio de mulleres ceibando laídos abrouxadores, moito máis arrepiantes que os do pranto nun enterro de afogados. E se as mulleres carpían os homes esbagullaban calados. Naquela procesión todos tiñan por quén chorar e todos choraban. E aínda choraba Baltasara, unha rapaza criada pola caridá de todos que aparecera dentro dun queipo, a carón dun cruceiro, que non tiña pai nin nai, nin por quén chorar: mais ela foi collida polo andacio do pranto e tamén se desfacía carpindo con todos os folgos. Camiño das casas unha veciña inquiréu da rapaza: —¿Por quén chorabas, Baltasara? E ela dixo, saloucando: —¿O non ter por quén chorar parécelle pequeña desgracia, señora? Procesja koñczy³a siê w kostnicy na dziedziñcu. Czterech mê¿czyzn nios³o trumnê wlok±c j± po ziemi a pochylona pochodnia plami³a woskiem cia³o. Za nimi sz³a grupa kobiet wznosz±c ¿a³osne jêki o wiele bardziej przejmuj±ce ni¶li lament na pogrzebie topielców. I podczas gdy kobiety zawodzi³y, mê¿czy¶ni p³akali po cichu. Podczas owej procesji wszyscy mieli po kim p³akaæ i wszyscy p³akali. P³aka³a te¿ Baltazara, dziewczyna wychowana dziêki mi³osierdziu bli¶nich, któr± znaleziono w koszyku obok przydro¿nego krzy¿a, co nie mia³a ani ojca, ani matki, ani po kim p³akaæ; jednak i ona da³a siê ponie¶æ fali rozpaczy i tonê³a we ³zach. W drodze powrotnej jedna z s±siadek spyta³a dziewczynê: — A ty po kim p³aka³a¶, Baltazaro? A ona odrzek³a zawodz±c: — A czy nie mieæ po kim p³akaæ wydaje siê pani ma³ym nieszczê¶ciem? Maio 2004 31 sección galega sección galega Texto de Yolanda FFerro erro “GALITZIA EN GALICIA”: A “PEREGRINAXE ARTÍSTICA” COMO PRETEXTO máis ou menos estratéxicos de encontro-reencontro político-europeístico-relixioso, non se fixera un maior esforzo didáctico e comunicativo que permitise achegar ao público galego á Galitzia polaca dunha forma máis efectiva, a través de mecanismos que poderían ter sido tan sinxelos como a localización desa rexión histórica nun mapa, datando ademais a súa historia, ou explicando, por exemplo, a relación entre os topónimos das dúas Galicias tan afastadas entre si, o que sen dúbida resultaría curioso, ademais de necesario, tendo en conta o título da propia exposición. Amais diso, a imaxe que se lle dá ao público non renova nin actualiza nin contribúe a enriquecer a imaxe relixiosa e case mística que os galegos, e os españois en xeral, teñen dos polacos no seu conxunto, de forma que a Polonia actual queda un pouco fóra de xogo, fóra da historia (e tamén da época comunista, por certo...). Entrada da exposición, coa obra de J. Malczewski “A Victoria das Lexións” (1916), escollida como “imaxe” da exposición. A exposición “Galitzia en Galicia” está incluída dentro do macroprograma cultural “Xacobeo”, que se realiza en concordancia cos Anos Santos Composteláns (as anteriores edicións deste programa desenvolvéronse con motivo dos anos xubilares de 1993 e 1999, e o vindeiro será no 2010, que son anos nos que o día do Apóstolo Santiago, 25 de xullo, coincide en domingo). Explica o tríptico que se reparte aos asistentes de forma gratuíta na entrada, que na selección das obras “procurouse acentuar os temas que interesan aos polacos: o culto mariano, a adoración aos santos, o papel dos conventos, a devoción polos cadros e a iconografía da morte”. Esta mostra, que foi inaugurada o 16 de abril e permanecerá aberta ata o 16 de xuño, amósase no espazo expositivo do Colexio de Fonseca, un dos edificios máis emblemáticos, fermosos e concorridos da cinco veces centenaria Universidade compostelá. Entre as pezas máis rechamantes, destacan visualmente as catro que conforman o “Ciclo de cadros ‘O baile da morte’” (1767), de Antoni Gruszecki, escuras e fúnebres, que forman parte dos fondos do Convento dos Capuchinos cracoviano. O escudo ruteno de Józef Hakowski, coa escena da “Batalla en Kulikowe Pole no ano 1380” (1895) chama a atención ao público galego polo que poderíamos cualificar de “exotismo eslavo” e polo seu carácter épico. O “Cristo crucificado” de Maciej Polejowski (ca. 1771) en madeira policromada e dourada, é outra das pezas protagonistas desta exposición. Aínda que sen dúbida a máis sorprendente, polo seu carácter mórbido e naif a un tempo, é “A Victoria das Lexións” (1916) de Jacek Malczewski, obra que foi estratexicamente escollida para os carteis e publicidade desta mostra. “Galitzia en Galicia” pretende dar a coñecer a expresión artística de Galitzia, rexión homónima destoutra desde a que se escribe este artigo. Así, traza un percorrido que recolle unhas oitenta pezas, que van desde a arte medieval cristiá, incluída a ortodoxa, pasando polo Renacemento e o Barroco, e chegando ata a actualidade, a través de esculturas, pinturas e utensilios para o culto. Canto da época contemporánea, a exhibición recolle pezas de Stanislaw Ignacy Witkiewicz, Bruno Schulz e Tadeusz Kantor, tres dos máis grandes creadores polacos que os galegos poden coñecer nesta exhibición, destacando, pola súa rixidez e por ser a única instalación da mostra, “O pupitre da clase morta” (1980) de Tadeusz Kantor. Organizada polo goberno da Comunidade Autónoma galega, a Xunta de Galicia, o goberno de Polonia e a Embaixada polaca en España, coa colaboración da Universidade de Santiago de Compostela, compila pezas prestadas na súa maioría polo Museo Nacional de Cracovia, con outras doadas para a ocasión por dúas das principais institucións eclesiásticas cracovianas: o Convento dos Capuchinos e a Igrexa de Santa Bárbara. 32 Mayo 2004 Pero, como ben apunta o dito, “menos dá unha pedra”, e a exposición brinda, sen dúbida, unha oportunidade de achegamento a Galitzia e a Polonia, aínda que sexa dunha forma parcial e un tanto sesgada. Exterior do Colexio de Fonseca no que se atopa a exposición. Canto da musealización, construíronse unhas grandes caixas-habitáculos dentro das salas do Colexio de Fonseca que conforman unha especie de segunda pel interior, pintada de cor laranxa, que xunto coa pouca luminosidade obrigada polas necesidades de conservación dos fondos, contribúe a unha sensación á vez íntima e espesa, un tanto abafante pero interesante. Segundo as palabras de Manuel Fraga, presidente da Xunta de Galicia, a exposición pretende “reforzar os nosos respectivos sentimentos europeísticos”, quen ademais lembrou no discurso inaugural que a visita do Papa a Compostela no ano 1982, foi un dos momentos culminantes desta “amigable relación”. De feito, as palabras do Sumo Pontífice foron as escollidas para a grande cartela que presenta a exposición nada máis entrar. Mágoa que nesta exposición, a maiores dos obxectivos Maio 2004 33 sección galega . Texto de Paulina Ceremuzynska ´ sección galega O TEXTO E A MÚSICA NAS CANTIGAS DE MARTIN CODAX A cuestión das relacións entre a música e o texto na producción trobadoresca ata agora non foi resolvida finalmente. Os vínculos co canto gregoriano, a construcción de melodías a través do diccionario de fórmulas melódicas, o uso frecuente das contrafacturas, a situación normal de que unha melodía serve para varios textos de varias cobras dunha canción, a ausencia da “pintura sonora”, a dominación da concepción da “música absoluta” nas composicións polifónicas... todo isto levou a algúns autores a manter que na monodia medieval non existían vínculos estreitos entre a melodía e o texto.1 Outros, como o ilustre musicólogo Manuel Pedro Ferreira, postularon a existencia de relacións íntimas entre a acentuación musical e textual nas cantigas medievais, e observaron tamén na monodia cortesá o posible uso das figuras retóricas. Pero a cuestión esencial e clave para resolver este problema é a natureza dos vínculos músico-textuais na monodia trobadoresca. Intentaremos considerala tomando como exemplo as cantigas profanas galego-portuguesas conservadas coa música: as sete cantigas de amor de Don Denis e as sete cantigas de amigo de Martin Codax2. A relación entre a música e o texto móstrase de forma totalmente diferente nas cantigas de amigo codaxianas, que revelan un paralelismo estructural perfecto (leixaprén), e nas cantigas de amor dionisiacas, especialmente nestas de mestría. Esta diferencia depende das características do texto poético que domina ou está dominado pola música. Nas cantigas de amigo construídas sobre o leixaprén o texto é sinxelo e estático. O sentido destas cantigas concéntrase na demostración dos estados psicolóxicos da moza namorada coma a alegría, a tristeza, a esperanza. A música domina o texto, sendo o medio máis apropiado para a transmisión da “message”, baseada case unicamente nas emocións. O texto forma unha especie de esqueleto, arredor do que se desenvolven os sutís cambios dos sentimentos. Nas cantigas de Martin Codax observamos dous modos de dominación musical sobre o texto. As cantigas I, IV, e VII están dominadas polo elemento mélico (podemos nomealas “cantigas contemplativas”). As súas melodías non caen en calquera tipo de metrum 34 Mayo 2004 musical ou esquema modal. Este feito coincide co seu carácter melismático e coas características dos textos, que non contan con ningún tipo de acción e concéntranse na contemplación dun estado psicolóxico. Os interlocutores da moza (os elementos de natureza e Deus) existen “fóra do tempo”, teñen un carácter “eterno”. O elemento rítmico parece ter un rol secundario e depender máis dos acentos textuais que da cuantificación exacta das unidades rítmicas escritas no Pergamiño Vindel. As repeticións do texto danlle ó intérprete a posibilidade de demostrar na música cada vez un matiz significativo diferente das mesmas palabras. Nas cantigas I e VII en especial hai sitio para a improvisación: para repetir ou cortar as melismas de acordo co desenvolvemento da “narración emotiva”. Observamos aquí varias figuras retóricas3, entre outras a “exclamatio” na parte final do refrán da cantiga IV (na palabra “namorada”). As cantigas II, III e V forman contraste coas cantigas sobreditas. Aquí o elemento que domina o texto é a rítmica (estas cantigas podemos nomealas “motóricas”). As cantigas II e III foron escritas coa notación modal, II e V empezan cun ritmo moi decidido que impón sobre o texto os seus propios acentos, que non están de acordo cos acentos textuais (véxase, en especial, a cantiga II). A melódica das estrofas destas tres cantigas é basicamente silábica (unha nota por unha sílaba) ou neumática (dúas ou tres notas para unha sílaba). Os interlocutores da moza son persoas vivas e reais (madre, irmanas). Os textos contan dunha acción feita ou prevista, as palabras claves son os verbos “ir” e “traer”. Estas cantigas parecen ter un ritmo fixo, baseado non nos puros esquemas modais, senón noutros esquemas rítmico-métricos. A súa característica xeral é o movemento permanente e enérxico que coincide co sentido dos textos. Na maioría das cantigas de amor, sobre todo nas de mestría (as que non teñen refrán) o texto é o máis importante na composición e é tan complicado e refinado que domina sobre a melodía. As cobras de 6-7 versos de 10 sílabas son as máis frecuentes. A “message” aquí fórmana dous elementos de igual importancia: por unha banda está o contido do texto, que é moito máis complicado que nas cantigas de amigo; e por outra están as calidades poéticas do autor, transmitidas a través do virtuosismo do uso da lingua. Un bo exemplo son aquí as sete cantigas de amor de Don Denis, e entre elas esta: Quix bem, amigos, e quer’ e querrei ua molher que me quis e quer mal e querrá; mais nom vos direi eu qual est a molher; mais tanto vos direi: quix ben e quer’ e querrei tal molher que me quis mal sempr’ e querrá e quer. composición musical, senón que algunhas das técnicas poéticas sen música e sen intérprete non podían funcionar sen perder o seu sentido. 2. As técnicas poéticas máis características para as cantigas de amigo, o leixaprén e o paralelismo literario, teñen tendencia a estar dominadas pola música: polo seu elemento mélico ou rítmico. Este é o caso das cantigas de Martin Codax. Quix e querrei e quero mui gram bem a quem mi quis mal e quer e querrá, mais nunca omem per mi saberá quem é; pero direi-vos ua rem: quix ben e quer’ e querrei tal molher que me quis mal sempr’ e querrá e quer. 3. Respecto ao tipo de dominación musical nas cantigas de Martin Codax podemos dividilo claramente en dous: as cantigas contemplativas (I, IV e VII) e as cantigas “motóricas” (II, III e V, probablemente tamén VI). Quix e querrei e quero bem querer a quem me quis e quer, per boa fe, mal, e querrá; mais nom direi quem é; mais pero tanto vos quero dizer: quix ben e quer’ e querrei tal molher que me quis mal sempr’ e querrá e quer. 4. Os dous tipos relevan diferentes modos de sensación do tempo. Nas cantigas “motóricas” o tempo é real, medido e “direccional”. Nas cantigas contemplativas o tempo é estirado, é un tempo “interno” e “eterno”, un tempo de “suspensión” no que as pausas, coma os suspiros, non se miden, e no que hai espazo para a improvisación. A presenza das figuras retóricas é aquí natural, xa que elas son fenómenos basicamente melódicos. O paralelismo que hai aquí ten unha característica diferente ao paralelismo das cantigas da amigo. Toda a “mestría” destes versos xace nas repeticións da mesma mensaxe nunha forma cada vez un pouco diferente, aínda que o autor usa o mesmo léxico. Neste tipo de composicións a música non pode “molestar” a percepción do texto, e antes de todo ten que subliñar o sentido das palabras. Esta tendencia observámola tamén na lírica occitana, no caso das cansós (o exemplo máis extremo é a sextina de Arnaut Daniel “Lo ferm voler” na que as únicas melismas están situadas na fin das liñas, distinguindo as seis palabras claves e non molestando á percepción do resto da letra. A música das cantigas de Don Denis, aínda que se caracteriza pola existencia de moitas melismas, antes de todo subliña os acentos sintácticos do texto4. Notas de rodapé 1 As sete cantigas de amigo de Martin Codax do Pergamiño Vindel son: I - Ondas do mar de Vigo II - Mandad’ ey comigo III - Mia irmana fremosa, treydes comigo IV - Ay Deus, se sab’ ora meu amigo V - Quantas sabedes amar amigo VI - Eno sagrado, en Vigo VII - Ay ondas, que eu vin veer 2 véxase: John Stevens “Words and Music in the Middle Ages. Song, Narrative, Dance and Drama 1050-1350” Cambridge 1986 3 M. P. Ferreira: “O som de Martín Codax. Sobre a dimensão musical da lírica galego-portuguesa (séculos XII-XIV), Lisboa CONCLUSIÓNS 1986 pp. 136-167 1. Podemos entón afirmar que a relación entre a música e o texto nas cantigas medievais (non só galego-portuguesas) foi moito máis próxima do que se pensaba. Non só certas técnicas poéticas rexeron un determinado tipo de 4 M. P. Ferreira “A música das cantigas galego-portuguesas: balanço de duas décadas de investigação (1977-1997)”CESEM 1999, p.3 Maio 2004 35 36 Mayo 2004 Maio 2004 37 38 Mayo 2004 Maio 2004 39