jornal de Março 2004

Transcription

jornal de Março 2004
COORDENADOR DA SECÇÃO PORTUGUESA/ COORDINADOR DE LA SECCIÓN ESPAÑOLA/ COORDINADORA DA
SECCIÓN GALEGA
JOSÉ CARLOS DIAS, GERARDO BELTRÁN, LUCÍA RODRÍGUEZ CAEIRO
CRONISTAS/COLUMNISTAS
PAWE³ KOLCZYÑSKI, MAGADALENA KOZ³OWSKA, JAKUB JANKOWSKI, OLGA BORKOWSKA
JORNALISTAS/PERIODISTAS PERMANENTES
AGNIESZKA STÊPNIOWSKA, ALEKSANDRA FUNDOWICZ,ALEKSANDRA KOPYTKO, ALEKSANDRA M¡CZEWSKA, ANNA
CZYZEWSKA, ANNA GAJOCHA, ANNA SWIÊCKA, DOROTA KWINTA, DOROTA GRYKA, DOROTA TWARDO,EDYTA
GRODECKA, EWA JANWORSKA JAKUB JANKOWSKI, KATARZYNA KOZ³OWSKA, KATARZYNA ORYSIAK, KATARZYNA
PIWOWARCZYK, KRZYSZTOF PA³KOWSKI , LUKASZ, MAGADALENA KOZ³OWSKA,OLGA BORKOWSKA, NATALIA CZOPEK,
PAWE³ KIERZKOWSKI, RENATA SZMIDT
COLABORADORES
PROFS. ANNA KALEWSKA, DANIELA CAPILLÉ, ANA CAROLINA BELTRÃO
DESIGN GRÁFICO: JOSÉ CARLOS DIAS
CAPA: KASIA STACHOWICZ
FOTÓGRAFOS: ANA CAROLINA BELTRÃO E WEB
BANDA SONORA ORIGINAL: JOSÉ CARLOS DIAS
REVISÃO TIPOGRÁFICA: DANIELA CAPILLÉ
CONTABILIDADE: O LAGARTO
RESPONSÁVEL PELA CORRESPONDÊNCIA EXTERNA: ANNA KALEWSKA
RESPONSÁVEL PELOS (SEMPRE DIFÍCEIS) CONTACTOS COM O SENHOR DA GRÁFICA:
AGNIESZKA STÊPNIOWSKA
NOVA MELHOR VENDEDORA DO MUNDO: TAMARA SOBOLSKA
TAMBÉM BONS VENDEDORES: SENHORA ANA E SENHOR JAREK DA SECRETARIA
PÁGINAS DE INTERNET: MAREK KRAJEWSKI E IBERYSTYKA
TIRAGEM: 200 EXEMPLARES
MAIOR NOVIDADE: 40 PÁGINAS!!!!
EDITORA:
INSTITUTO DE ESTUDOS IBÉRICOS E IBEROAMERICANOS
DA UNIVERSIDADE DE VARSÓVIA
COM O APOIO DE:
Mayo 2004
LECTORADO
DE GALEGO
Maio 2004
crónica e editorial
CORRESPONDENCIA DE MADRID
- ¡Uy! ¡Qué suerte tienen algunos! No me lo puedo
creer...
- Pues sí, es verdad. Me voy a España, a Madrid.
Pero te voy a escribir, por lo menos un e-mail a la
semana. Más si me siento sola...
Y cumplió su palabra. Un día después de su llegada a la
ciudad del oso y del madroño recibí el primer mensaje.
Era bastante corto pero cada palabra contenía miles de
emociones que se desbordaban e inundaban el corazón
del lector. Eran palabras de alguien que por primera vez
en su vida estaba absolutamente solo y no tenía más
remedio que arreglárselas como fuera.
En apenas una semana, Magda consiguió encontrar un
piso más o menos barato, matricularse en la universidad,
hacer novillos, ir a una fiesta latina y empezar a pronunciar
“coño” a la madrileña. Por aquel entonces, nadie esperaba
que lo más difícil estaba todavía por llegar...
Con la autorización de la autora, os presento un fragmento
de una carta que me escribió unos días después del
atentado del 11-M. Aunque hayan pasado casi dos meses,
me parece que sus palabras no han perdido el efecto
escalofriante y sus reflexiones siguen siendo vigentes.
Madrid, 15.03.2004
(...)
Estuve, queriéndolo o no, en el centro de un momento histórico.
11 de marzo. Otra vez el macabro día 11...
200 muertos y más de 1500 heridos. Estudiantes, inmigrantes,
trabajadores. Gente común y corriente al trabajo, a la uni, al colegio.
No llegaron.
En Madrid, sangre, miedo y silencio. Caos. Bastaba con salir a la
calle para sentir la tragedia. Escena dantesca. Madrid funesto,
llorando y sin sueño.
Mensajes, llamadas: “¿Estás bien?” Y al rato alivio o
desesperación...
2
Mayo 2004
Texto de Pawe³ K
olczynski
Kolczynski
´
Magda K
oz³owska
Koz
Primero el atentado, luego la manifestación de millones de personas.
Fue increíble, no cupe en 5 trenes del metro. Intenté llegar al sitio
por 3 líneas. Imposible. Al final desistí. Que mal me sentí al ir
contra corriente.
Pero lo vi por la tele: 11 millones de personas en toda España
manifestándose en contra del terrorismo. Madrid totalmente
paralizado.
El sábado 13, la víspera de las elecciones, se agruparon cientos de
personas frente a la sede del PP. Indignados porque el gobierno de
Aznar ocultó la verdad sobre los culpables de los atentados. Sea
verdad o no, fue increíble haber sido testigo de la fuerza de los
españoles. Que tanta gente haya tenido la voluntad de demandar
la verdad y de demostrar su indignación. En los balcones gente
golpeando sus cacerolas con cucharas de palo.
En el kilómetro cero, un montón de velas, cartas y mensajes. Opiniones
de lo ocurrido: “Hitler, Bush, Aznar”, “11-M, Aznar culpable!”,
“Vuestra guerra, nuestros muertos”, “Asesinos”. En Atocha, entre
cientos, de mensajes una cartulina con un espejo pegado que dice
“Mírate, pudiste haber sido tu”.
crónica y editorial
CRÓNICA NADA ERÓTICA
O cotidiano surpreende de diferentes modos. Acontecem durante
o dia-vida as coisas incríveis, aquelas coisas pequeninas nas quais
não pensamos e elas acontecem. Simplesmente acontecem.
Voluntariamente. Sem serem forçadas ou esperadas. Acontecem e
ajudam. Assim mesmo. Escutem estas duas histórias.
Voltei a procurar. Não encontrei. E vocês conhecem o patrão das
coisas perdidas dos gaúchos brasileiros? Até hoje eles ascendem
um toquinho de vela e pedem ao Negrinho do Pastoreio para
encontrar coisas perdidas. Acendi. E o que acham, encontrei aquele
olho brilhante?
Estávamos sentados nessa manhã submersa do Sábado como
normalmente estamos sentados no Domingo. Desta vez não
com cansaço mas com tristeza ao lado. À beira da Tua cama.
Calados. Era começo de Março ou fim de Fevereiro. Mais provável
que fosse fim de Fevereiro. Recebi o Teu anel com aquele olho
brilhante e disseste Tu: não o percas. Devolves quando eu voltar.
É duro. Tenho um anel e tenho uma cicatriz viva. Sinto-me como
Frodo. Mas obrigado, ajudou. Mesmo que pese muito.
Outra história é de uma Boa Alma. É daquelas que têm tanto
entusiasmo e força, que são optimistas, que nunca dizem não,
não vale a pena antes de tentar. Que quando não podem vir ao
jogo combinado, aparecem depois só para pedir desculpa. Que
encorajam e animam para fazer algo, para não estar sentado com
as mãos enlaçadas. Que sempre têm tempo para algo mais do que
trabalho. Que mudam o cotidiano de pirilampos. Boas almas
existem. Conheço uma delas. Boa alma que surgiu no cotidiano
como...um raio do Sol?
Ajudou também o meu irmão. Nesse dia queria que ele telefonasse
para falar. Telefonou. Telefonou mesmo não sabendo que eu
precisava dele. Queria que saísse o Sol. Saiu. Os pais perguntaram
se queria algo doce. Disse que não. Depois pensei que as azeitonas
podiam consolar-me. Os meus pais trouxeram azeitonas deliciosas
e doces como nunca antes.
Impacta.
Um dia viajava de autocarro com o Teu anel com aquele olho
brilhante fitado à corrente da carteira. Peguei no anel sem aquele
olho brilhante. Merda.
En el mundo siempre ha habido gente cruel, mala, asesina. Se supone
que la historia ha de guiarnos para no repetir errores antes cometidos.
Pero el siglo XXI nos ha demostrado que no se aprende y que todo
es posible. La vida humana ha dejado de tener valor alguno.
EROTISMO E PORNOGRAFIA
Ahora continúa la incertidumbre. La incertidumbre y el miedo que
tenemos dentro, y no me refiero sólo a los madrileños, porque hoy
nadie está a salvo. Pero hay que seguir adelante. Ser fuertes. Ir a
clase, al trabajo. Montarse en el metro, en el Cercanías y rezar por
que no vuelva a pasar y que no nos toque a nosotros ni a nuestros
seres queridos.
¿Cómo es que habiendo millones o incluso millares de personas que
quieren paz los inhumanos nos van cogiendo la delantera? Un arma,
una bomba bastan para desequilibrarnos la vida, ¡pero somos muchos
más los que queremos la paz! ¿Acaso Dios no nos ve?
¿Qué está pasando?
En fin, sobran preguntas y las respuestas siguen sin llegar.
A la espera de un mundo mejor.
(...)
Texto de Jakub Jankowski
Imaginem uma cena de sexo animado e voluptuoso (mas, por
favor, não é preciso imaginarem todos os pormenores húmidos).
A cena acaba, os dois acendem cigarros, a luz apagada, a câmara
desligada. Vestem-se, pouco a pouco começam a conversar.
Primeiro do tempo, sim, está bonito, palavras sem importância
nenhuma. A mulher lembra-se que no dia anterior chumbou no
exame de condução ou que o gato dela está doente, sei lá. Começa
a chorar. O homem fica um pouco confuso, não sabe o que dizer,
pois quase não se conhecem. Num gesto desajeitado acaricia o
cabelo dela, não chores mais, diz, vamos tomar um café, à minha
custa. Vão a um pequeno restaurante à beira do mar, porque não,
e lá falam com menos vergonha. A mulher, já bem-disposta, conta
algo entre as risadas, o homem encomenda um prato de camarão.
Devagarinho algo de novo começa a nascer entre eles, cruzam-se
as olhadas, encontram-se os dedos. A situação desenvolve-se sem
pressa, mas onde acaba já não nos importa, pode ser que até na
cama, tanto faz.Será que esta historinha meio-tonta expõe bem a
diferença entre o erotismo e a pornografia? Pornografia – aquilo
Aquele olho brilhante é pequeno como grão de areia. Como foi
possível encontrá-lo numa cidade tão grande? E Boa Alma vem
de longe, do cu da Europa. Não é alta, suponho que um metro
setenta e cinco no máximo. Como foi possível encontrá-la?
Não sei mas tenho um dito de Garfield para citar aqui: Alegra-te
com as coisas pequenas, com as grandes vai estar bem também,
de qualquer modo. E... boas férias! Que sejam cheias das coisas
pequeninas.
Texto de Olga B
orkowska
Borkowska
de cariz sexual explícito, aquilo obsceno, vendido a preço baixo,uns
órgãos sexuais durante uma relação sexual. E o erotismo – mais
indefinido, indeterminado, etéreo, reticente e sensual. Relacionado
com o amor sensual ou sexual, segundo o dicionário. Estas
definições são demasiadamente evasivos para serem únicas e
verdadeiras. Podemos criticar a indústria dos filmes e das
publicações pornográficas e louvar o erotismo presente na arte e
no pensamento humano desde séculos. Aqui a diferença é bem
visível. Podemos falar sobre diferentes aspectos de erotismo,
(dedicar a ele um número do nosso jornal), até que
despreocupadamente transbordemos a fronteira invisível e
passemos a tratar de pornografia, onde a pornografia é uma
emanação daquilo que é humano, (animalesco), natural. Onde é
que está a fronteira? A fronteira entre o erotismo e a pornografia
nas relações, a fronteira entre o erotismo e a pornografia nas
artes? Talvez seja a fronteira aquele indefinido momento quando
começamos a pensar, se aquilo ainda é o erotismo ou já a
pornografia…
Maio 2004
3
Reportagem
FÓRUM ECONÓMICO MUNDIAL
El día 28 de abril, en protesta a la Cumbre Económica
que tuvo lugar essos días, una manifestación
antiglobalista atravesó las calles de Varsovia. Las
acciones de seguridad preventivas fueron enormes: las
autoridades de la capital aprestaron una gran cantidad
de coches policiales; en las calles se veían tanques y
tanquetas de agua y encima de los antiglobalistas
volaban helicópteros. Además, para mayor sorpresa de
los manifestantes, en los tejados de algunos edificios
se encontraban francotiradores con sus armas
apuntadas contra la gente. Supongo que servirían para
defender a los ciudadanos de posibles ataques
terroristas y no para amenazar a la gente indefensa en
las calles. En total, según las estimaciones, en la
manifestación participaron 3500 manifestantes, muy
pocos si los comparamos con los 13 millones de
policías.
Ya a partir del lunes, los habitantes de Varsovia,
infuenciados por las imágenes aterrorizantes de las
manifestaciones en otros países difundidas por la
televisión polaca, se empeñaban en cubrir todas las
ventanas de los edificios situados en la trayectoria de
la manifestación con tablas de metal, de madera o lo
que sea. De este modo, el centro de la capital se convirtió
en un aldeón cubierto por gruesas planchas de madera,
y en este estado vergonzoso, el día 1 de mayo Varsovia
entró en la Unión Europea.
Todas esas medidas preventivas resultaron un gasto
superfluo. La única acción de socorro en la que participó
la policía fue el rescate de un pato en peligro de
ahogarse, hecho del que se burlaron todos los medios
de información.
Los participantes de la manifestación formaban un
grupo muy deversificado. Sin embargo, lo que tenían
en común era una actitud de paz y de protesta contra
la injusticia, contra la explotación de los pobres por
los poderosos, contra el dominio del mundo por las
empresas internacionales y contra la ocupación de Irak.
Entre otros, en la muchedumbre se distinguían grupos
como el Movimiento Anárquico, la Nueva Democracia,
4
Mayo 2004
Texto de Edyta Grodecka
Fotos de Ana Carolina Beltrão
Legendas das Fotos José Carlos Dias
la Nueva Izquierda, el Grupo Revolucionario
Combatiente, con la hoz y el martillo en su bandera, o
la Alternativa Izquierdista. La gente llevaba muchas
pancartas con lemas que decían: ¡ALTO A LA
OCUPACIÓN DE IRAK!, ¡EL MUNDO PARA LA
GENTE Y NO PARA EL BENEFICIO!, ¡FUERA
LA CUMBRE ECONOMICA!, ¡FUERA BUSH!,
¡EXIGIMOS IMPUESTOS MAS ALTOS PARA LOS
RICOS!, ¡SOMETED A IMPUESTO EL CAPITAL
Y NO EL TRABAJO!, ¡ACABAD CON LA
CUMBRE DEL DESEMPLEO, DE LA
EXPLOTACION Y DE LA GUERRA!, ¡EL
CAPITALISMO MATA, MATEMOS AL
CAPITALISMO!
En general, el ambiente durante toda la manifestación
fue muy agradable e, incluso, festivo. La gente bailaba y
cantaba canciones infantiles polacas, saludaba a los
habitantes de Varsovia que observaban a los
participantes desde las ventanas de sus casas o desde
las puertas de las tiendas. No faltaron también los
comentarios y las preguntas dirigidas a la policía y a
los organizadores de la Cumbre: “¿Cuánto costó todo
esto?, “Esto viene de nuestros bolsillos”, “¿Quién va
a pagar por esto?” .
Lo que me sorprendio a mí fue el gran número de gente
mayor que participó en la manifestación, asi como de
parejas jóvenes con niños pequeños. Yo misma en
ningún momento sentí una amenaza por parte de los
antiglobalistas, más bien tenía miedo al ver a los
francotiradores y a la multitud de policías armados de
pies a cabeza. Por lo que sé, nadie resultó herido ni
hubo ningún acto de vandalismo.
Por otra parte, nadie sabe con toda seguridad que habría
podido ocurrir sin todas estas medidas prevetivas, y si,
por ejemplo, las autoridades hubieran permitido entrar
a los antiglobalistas radicales de Italia, Ucrania, Hungría,
etc. Pero tampoco hay que dejarse influenciar por los
estereótipos y la propaganda difundida por los medios
de información y por algunos dirigentes. Maio 2004
5
PELA BARRICADA
DAS
BARRAS
A
“EU
6
Mayo 2004
SENHORA-ÁGUIA GRITAVA:
ANTES ERA CATÓLICA!
AGORA
SOU
ANTI-GLOBALISTA”
Maio 2004
7
ESPERANDO
8
Mayo 2004
O REGRESSO DE
ASTERIX
E
OBELIX...
... E
AQUI ESTÃO ELES.
Maio 2004
9
música
cinema
A RECONCILIAÇÃO EM CAMARATE
O Festival dos Filmes da UE surpreendeu-nos
excepcionalmente cedo neste ano. Tudo graças à nossa
entrada na União Europeia, que foi aproveitada também
por alguns novos membros para mostrar o que produziu
a sua cinematografia durante os últimos anos.
As obras portuguesas já foram exibidas mais que uma
vez, mas na Polónia o público nunca teve o hábito de se
apresentar nelas em multidões. Depois de filmes tão
herméticos como o “Vai e Vem” do ano passado, é obvio
que pudesse haver medo. Neste ano não foi diferente. A
sala estava quase vazia. Eu própria tinha medo. No caso
português, 2 horas e meia não davam muita esperança.
Mas desta vez tenho que admitir, sem qualquer ironia,
que valeu a pena e os ausentes perderam um exemplo de
um bom drama político-policial.
Texto de Muriel
magistrada (Filipe Ferrer), antigo professor de Direito,
oferece a sua ajuda e a sua documentação coleccionada
durante 20 anos.
Assistimos ao combate da juíza com verdadeiro interesse.
Observamos como luta com a inacessível máquina
política, onde cada uma das engrenagens tem algo para
esconder. Luísa Ramos quanto mais se afunda no caso,
mais falhas descobre na investigação: encontra relatórios
desaparecidos, testemunhas-chave do processo nunca
interrogadas, peritagens que ficaram por fazer,
informações de provas materiais que deveriam estar a
salvo, mas nunca mais foram vistas, etc. Através dos
diálogos chegamos à conclusão de que realmente não
houve investigação.
No princípio é preciso sempre algum tema interessante.
Luís Filipe Rocha aproveita a já misteriosa realidade para
entrelaçar a sua história fictícia, mas baseada em actas
judiciais existentes. Trata-se do famoso caso de Camarate,
do ano de 1980. No dia 4 de Dezembro o avião com
o primeiro ministro Sá Carneiro e o ministro da defesa
Amaro da Costa a bordo caiu no bairro contíguo ao
aeroporto lisboeta – o já mencionado Camarate. Um
desastre tão brutal precisava duma explicação. A versão
oficial atribuiu tudo a um acidente resultante do erro do
piloto.
Através dos diálogos? Pois sim. Para algumas pessoas o
filme pode parecer sobretagarelado. “Camarate” não tem
perseguições, rixas ou outras operações deste género às
quais já estamos acostumados nos filmes policiais. São as
conversas que constituem uma parte essencial do enredo
e que, para não transformarem a obra num seco
documentário judicial, foram condimentadas com um
bom pedaço de problemas da vida real. A nossa
magistrada é atingida por dilemas de natureza tanto
profissional como também pessoal e tem que lidar com
a inveja do namorado e uma gravidez indesejada.
A acção do filme começa no ano 2000 quando, depois
de várias reaberturas do caso pelo Parlamento, o Tribunal
Supremo, respondendo à petição de famílias das vítimas,
decide outorgar uma magistrada para estudá-lo pela
última vez – e ou arquivar o processo por falta de provas
dum atentado, ou proceder com a acusação. Luísa Ramos
(Maria João Luís), contra a opinião dos seus amigos,
decide recomeçar a investigação e tenta encontrar uma
coisa muito escassa nos nossos tempos – a verdade.
Responder à pergunta se o caso de Camarate foi acidente
ou atentado não foi o objectivo de Filipe Rocha. A sua
mistura de realidade e ficção é somente uma das
possibilidades. O que conseguiu o realizador, baseando-se nesta catástrofe controversa e nunca finalmente
resolvida, foi criar um inteligente e bem representado
drama político sobre a relatividade da verdade, que não
chateia e nos mantém em tensão durante 2 horas e meia.
Afinal, ainda há esperança para o cinema português.
De repente, em torno dela aparecem várias pessoas,
tentando convencê-la de que há forças, remotas de
casualidade, responsáveis pela catástrofe: como um
misterioso especialista das conspirações portuguesas, o
juíz Manuel Mesquita ou o ex-marido da Luísa, agora
chefe da Comissão Parlamentar, que desde há tempos se
ocupa do caso de Camarate. Mesmo o pai da
CAMARATE
Portugal, 2001
Realizador: Luís Filipe Rocha
Argumento: Luís Filipe Rocha
Fotografia: Edgar Moura
Elenco: Maria João Luís, Virgílio Castelo, Filipe Ferrer,
Cândido Ferreira, José Wallenstein, Ana Nave
10
Mayo 2004
CONHECEM UM COMPOSITOR PORTUGUÊS...?
Sabemos que o canto nacional português é o fado, a música que
expressa o sentimento do amor, da nostalgia, de saudade, cantado
por famosas vozes, desde Severa, Amália Rodrigues, até a Mariza
ou Mísia que visitou a Polónia há pouco. Mas se se tratar duma
ópera, sinfonia ou sonata, parece que não há nomes para citar a
esse respeito, e não é verdade. A história da música oferece--nos
muitas personalidades destacadas. Basta mencionar Duarte Lobo,
José António Carlos de Seixas ou João Domingos Bomtempo.
O primeiro deles, pertencente à Escola de Évora, marca a idade de
ouro da música portuguesa, os séculos XVI e XVII, quando reinou
a polifonia vocal, quer dizer as grandes composições cantadas
sem acompanhamento instrumental. Duarte Lobo é autor de peças
de música religiosa como missas, responsórios ou magnificats
que eram cantadas na catedral de Lisboa, onde viveu e onde
ensinou, porque ele também teve os seus discípulos e
continuadores, entre os quais se destaca João Lourenço Rebelo, o
criador da escola de Vila Viçosa do séc. XVII. Segundo F. LopesGraça, vale a pena notar que se as classes altas, a aristocracia, e
também a burguesia não sentiam uma paixão pela arte dos sons,
nem por propósitos sumptuários, os reis apoiavam a cultura
musical. Desde D.Dinis, ele mesmo um trovador, passando pelos
monarcas da dinastia de Avis (o Infante Santo, D.Manuel,
D.Afonso V, D.João III) é de mencionar ainda a filha de Gil
Vicente, Paula, ao serviço de Dona Catarina, ou Garcia de Resende,
que na sua “Miscelânea” elogia vários compositores e músicos,
até aos Filipes espanhóis e os reis da casa de Bragança – D. João
IV coligiu uma livraria musical que infelizmente foi destruída em
1755 pelo terramoto.
O séc. XVI é também marcado pela expansão da arte do órgão.
Grandes mestres são, além de Correa de Arauxo que viveu em
Sevilha, António Carreira com as “Fantasias para órgão”
apreciáveis pela intensidade de expressão e uma solidez técnica
digna do inglês Th.Tallis ou Antonio de Cabezón do país vizinho,
e o pe. Manuel Rodrigues Coelho, do qual possuímos “Flores de
música para instrumento de tecla e harpa” de 1602, que é uma
colectânea de tentos (uma espécie de ricercare italiano) que destaca
pela “austeridade contemplativa da expressão e uma singular
liberdade harmónica na linguagem” comodiz F.Lopes-Graça.
Depois há um hiato até aos fins do séc. XVIII, até à figura
enigmática do abade António de Costa, expatriado por razões
obscuras, que contribuiu na escola musical da Viena do fim do
séc. XVIII. Em Portugal, destaca-se José AntónioCarlos de Seixas.
Talvez tivesse sido discípulo do próprio Domenico Scarlatti,
segundo alguns pesquisadores, admirado pelo
Texto de Lukasz
mestre e duma qualidade comparável ao exímio italiano.
É também naquele tempo que começa a ópera nacional portuguesa.
Começa e, mal nascida, acaba. O criador da ópera cómica, António
José da Silva, o Judeu, após escrever „Guerras de Alecrim e
Mangerona” ou „Variedades de Proteu” ou ainda „A vida do grande
Dom Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança”(sic!) foi
levado à fogueira pela Inquisição. E é uma pena porque as peças,
cantadas entre 1733 e 1738 no Teatro Popular do Bairro Alto (de
Lisboa) pareciam interessantes ao unir o carácter de comédias
musicais, a tradição vicentina aos vilancicos “dramatizados”.
Quanto à ópera séria, cujas raízes nutrem-se nos autos religiosos,
representações medievais e nos espectáculos dos colégios
jesuíticos, esta cedeu à ópera italiana que foi introduzida pelo rei
D. João V que, apesar do seu grande mérito, encaminhou o teatro
musical dos 150 anos seguintes para um tendência italianizante e
nem o Romantismo pôde privá-lo dessa influência que abarcou
até a música religiosa.
No entanto, temos nos princípios do séc. XIX um compositor
renovador, reformador, introdutor de formas sinfónicas e
concertantes, de sonatas, um pianista excelente, admirado em París
e Londres, fundador da Sociedade Filarmónica e do Conservatório
(em 1822 e 1833). Chamou-se João Domingos Bomtempo, viveu
na primeira metade do séc. XIX e, além de virtuoso e compositor,
foi também um pedagogo. Uma das suas obras intitula-se
“Requiem a Camões” que nos diz algo sobre a corrente nacionalista
tardia, com José Viana da Mota, pianista e Alfredo Keil,
compositor dramático , inspirados pelo folklore pátrio, ainda
ingénuo, mas os títulos da sinfonia “A Pátria” ou do quarteto de
arcos “Cenas nas montanhas” são significativos.
Os sécs. XVIII e XIX são também a época quando se conhecem
os músicos portugueses no mundo: Domingos Bomtempo,
admirado na Europa; Marcos Portugal, compositor de operas
italianizantes, que viajou ao Brasil à corte de João VI; Luisa Todi,
cantora do belocanto, aplaudida na Rússia de Catarina II; Francisco
de Andrade, barítono; o violoncelista Guilhermina Suggia, artista
invulgar que viveu na Inglaterra. Estes artistas portugueses
ajudaram, sem dúvida, a divulgar a música deste país. No início do
séc. XX, Luís de Freitas Branco, ou Fernando Lopes-Graça
começaram a interessar-se pela história da música de Portugal e
graças às suas investigações, a musicologia desenvolveu-se. Com
os trabalhos de Manuel Joaquím, Sampayo Ribeiro, Santiago
Kastner, Júlio Eduardo dos Santos e Filipe de Sousa sabemos já
muito mais sobre a música portuguesa e sobre os compositores
dignos de serem conhecidos não somente em Portugal.
Maio 2004
11
erotismo
erotismo
À PROCURA DO EROTISMO PERDIDO
A tarefa parecia ser fácil. Mesmo banal, porque o que
pode ser difícil na crítica dum disco de música erótica? A
gente pensa que bastam algumas canções-da-roupa-dacama e já está. Não, não, não! A minha alma policial
forçou-me a começar uma investigação secreta
e sistematizada a respeito da existência duma fonoteca
erótica.
Dificuldades encontrei-as logo no início, porque o que é
realmente a música erótica? Aqui os dicionários calam-se
pudicamente, então tive que aproveitar-me das minhas
experiências e de alguns amigos. Infelizmente, as respostas
variaram bastante.O Maior problema encontrava-se em
definir a sua função: as canções eróticas acompanham ou
não o próprio acto sexual? Ou talvez possam servir em
seu lugar? Ou como uma interferência quando o irmão
se ocupa da sua namorada no quarto ao lado? Devem
estimular com o ritmo vívido ou relaxantemente flutuar
ao fundo, quase não atingindo a consciência dos ouvintes?
Perguntas, somente perguntas.
Além dos sons, não podemos esquecer também das letras.
Uma música erótica deve ter alguma? Ou talvez as palavras
não sejam necessárias porque, primeiro: trata-se dum
assunto inefável; segundo: quem vai escutar as letras tendo
todos os sentidos concentrados na pessoa ao seu lado
(ou em cima, ou em baixo)? E o que realmente dizer? Os
poemas eróticos dos poetas parecem não encontrar
consideração nos olhos dos músicos, que preferem
descrever à sua própria maneira os valores físicos do sexo
oposto. Mas quem pode objectivamente decidir se falar
de “melões” e todos seus possíveis movimentos ou
incentivar para “sacudir” isto ou aquilo é ainda erotismo
ou já pornografia?
Armada de incertezas e reticências parti à procura. Nos
casos da música mundial de todos os géneros possíveis a
loja Amazon (www.amazon.com) é uma ferramenta
insubstituível. Os resultados foram chateadamente
inoriginais: um grupo de discos consistia nas numerosas
variações de “erotic moods” da Enya, música sem
nenhuma expressividade, que tem mais capacidades para
adormecer do que excitar, enquanto outro grupo,
totalmente diferente, era composto pelos piores sons dum
disco dos anos 80, de três acordes de sintetizador,
12
Mayo 2004
Texto de Muriel
acompanhados por estridente voz feminina.
Nesta segunda parte, destaca-se a banda E-rotic, com as
suas letras de sarjeta, longe da qualquer originalidade.
Aguentei duas canções e já comecei a duvidar da minha
saúde mental. Por isso mesmo chocantes foram os
achamentos seguintes. Pois bem, a Amazon tem uma opção
que permite manifestar livremente sua opinião em relação
ao disco que se comprou. E o que encontrei? Verificou-se que E-rotic permitiu a alguns desenvolver os seus êxitos
sexuais e finalmente atreverem-se a fazer ménage a trois (e
mais – provavelmente também...). Não imagino como
qualquer pessoa poderia considerar essa música como
erótica porque em mim ela matou toda a vontade de
folganças na cama.
Mesmo o jazz, proveniente das ardentes clandestinidades
de Nova Orleãs, parece não servir. Basta ver o filme
“Jerry Maguire” onde Tom Cruise, numa noite romântica
com René Zellweger, desata a rir com “Que horror de
música é esta?” na boca, ouvindo [......] de Miles Davis e
John Coltrane. Talvez nos salve a nova onda deste género,
o pop-jazz feminino, representado por divas de vozes
veludosas, como Norah Jones ou Diana Krall. Ouvi dizer
(dum homem, naturalmente) que essa última excita tanto
quanto um filme erótico, com uma vantagem – a de que
ninguém te condenará pelos teus gostos.
Os críticos de música colocam na dianteira dos artistas
que mais excitam o instrumentalista Kenny G, com os
seus 13 álbuns best-seller. É esse tipo de canções que
podemos ouvir ao fundo de qualquer cena erótica nos
filmes de hoje: o sintetizador acompanhado pelo
saxofone ou flauta, em uma mistura de pop, jazz e R&B.
Eu própria fico chateada por esse tipo da música, mas
70 milhões de discos vendidos mundialmente falam por
si mesmos.
Resumindo: não é tão mal, como se poderia crer. Ainda
não estamos condenados a um silêncio erótico e, na
verdade, a nossa escolha pode ser ocasional (desde que
não seja metal ou techno) - e provavelmente vai servir.
Excluindo, a “Fuga d-moll” de Mozart, que, segundo já
foi comprovado, tem excepcionais capacidades antieróticas. .
Texto de Anna Czyzewska
EROTISMO: LA PODEROSA ARMA DE LA MUJER-ARAÑA
En la historia del mundo se han inscrito ciertas mujeres
que con facilidad han utilizado trucos eróticos para
conseguir el único verdadero afrodisiaco: el poder. Con
donaire y sonrisa misteriosa han metido la historia en
las sábanas. Algunas de estas mujeres alcanzaron el
rango de símbolos míticos convirtiéndose en mujeresaraña: frías, interesadas y sin escrúpulos.
Todo empezó ya en la mitología griega con una
manzana de oro “para la más bella”, el objeto del deseo
de todas las deidades. Tres diosas: Afrodita, Atenea y
Hera, las más decididas a conseguir dicho título, se
sometieron al juicio de pobre Paris, que hasta aquel
momento eastaba de más tranquilo con sus ovejas. Para
facilitarle un poco su tarea, cada una de las diosas lo
tentó con un pequeño soborno. Atenea prometió a
Paris el triunfo bélico, Hera, hacerlo rico, pero Afrodita
fue al grano y le ofreció a la mujer más bella.
Paris, varón débil, aceptó la oferta erótica de Afrodita.
Así la diosa, metiendo a Helena en la cama de Paris,
alcanzó su propósito e incoscientemente cambió el
camino de la historia dirgiéndolo hacia una guerra feroz.
Cleopatra, como cada mujer ambiciosa, aceptaba cada
reto que la vida le interponía y pretendía mostrar la
inferioridad de los hombres en el poder. Cleopatra sabía
que Julio César y Marco Antonio eran los hombres
más poderosos del mundo y por eso los convirtió en
sus juguetes eróticos. Freud lo hubiera calificado como
envidia del pene.
Si hablamos de las partes del cuerpo humano, no
podemos olvidar la nariz de Cleopatra, tan alabada por
la historia. No obstante, sus retratos de entonces nos
revelan que la beldad egipciaca era más bien nariguda y
regordeta. De todos modos algo tenía, porque ningún
hombre podía resistir el aura que desprendía. En este
caso se confirmó la constatación de que el erotismo
no solamente es una respuesta a estímulos reales sino
también a la imaginación y a la fantasía. Cleopatra
fascinaba tanto a los hombres que le construían villas
y le erigían estatuas. Marco Antonio incluso perdió
una guerra por andar en malandanzas con ella. Los tenía
tan atropellados eróticamente que se olvidaban del
mundo entero y le dejaban las riendas de su poder. Este
rumbo ha sido transitado muchas veces. La gran zarina
Catalina II, mujer de poderío, erudición y carisma, fue
una eterna víctima de las flechas de Cupido, pero tambien
un verdugo del amor. Llegó a ser zarina por su
desventurado matrimonio con Pedro III. Dado que
Pedrito era retardado, impotente y hasta estéril, la
pobrecita tuvo que soportar más de ocho años de
virginidad conyugal. No obstante, la dinastia exigía un
heredero a toda costa, aunque el bebé no tuviera una sola
gota de sangre Romanov. En cosecuencia, Catalina se
buscó un amante, Sergio Saltykov, quien tras haber servido
de real semental fue despachado.
La fila a la cama de la zarina era larga. Entre las numerosas
mascotas de Catalina encontramos al polaco Estanislao
Poniatowki, que estaba tan infatuado con la zarina que
hasta se arriesgó a pasar unas vacaciones con ella y su
odioso marido. Catalina guardó fidelidad a su amante
solo unos meses, ya que pronto conoció a Gregorio
Grigorievich Orlov, un hombre con cara de ángel y cuerpo
de Schwarzenegger, y se lo llevó a la cama. Poco después
urdió un complot en compañia de su amante y de los tres
hermanos de éste para deponer a Pedro. Cuando el zar
murió asesinado, Catalina fue ungida emperatriz de Rusia.
Si fue ella misma quien lo mandó matar, nadie puede
decirlo a ciencia cierta, siendo éste uno de los enigmas de
la historia.
El caso de M ónica Lewinski ya sigue la monotonía de la
seducción del hombre más poderoso de la Tierra. Así
como la nariz de Cleopatra, los labios de Mónica abrieron
el corazón de Clinton y le dieron paso al mundo de los
privilegios. Como la mítica Helena, provocó un conflicto
armado y expuso a los contribuyentes americanos a
pérdidas. Cada vez que Clinton quería tapar un lío de
faldas los misiles aire-tierra se dirigían hacia Golfo Pérsico.
Ni Mónica ni Cleopatra ni Catalina tenían la belleza mítica
de Helena. Ni siquera eran feas, que ya sería algo. Eran
normales. Uno se pregunta qué tenían para causar tanto
frenesí en hombres tan poderosos. La respuesta es simple.
Poseían un arma muy peligrosa: el erotismo, que convierte
a los señores del mundo en campesinos torpes, capaces
de vender sus almas por un beso.
Maio 2004
13
ensaio erótico
ensayo erótico
Texto de Anna K
alewska
Kalewska
OS QUIASMOS ERÓTICOS E O EROTISMO VAMPÍRICO
No seu conto A desforra de Baccarat1, falando de um caso
amoroso em duplo (o conde e a condessa Beatrice em relação
quiásmática2 com Fatime e Armando/narrador, i. e. o conde a
atraiçoar a esposa com Fatime e Armando a decifrar as artimanhas
do colarinho do decote da condessinha), descreve as duas heróinas
deixando o leitor um tanto perplexo quando às razões de um
curioso cruzamento corporal e afectivo: ...a Fatime do corpo de baile,
uma loira picante, de carnes friamente impuras, cujo olhar, de um pardo inerte,
possuía nos acessos de cólera fulgurações de adorável maldade, enquanto /a
condessinha/ era uma criança anémica, fina beleza aristocrática, crescida como
uma avenca australiana no mole ambiente, impregnado de essências, dos boudoirs,
dos salões e das largas galerias claras, em que antepassados graves olham dos
seus quadros poentos, ridículos ou funéreos nos seus vestuários de todas as
idades, despertando, porém, um ténue desejo sexual, visível na
concupiscência do olhar narrativo.
Erótico pode ser outro membro do corpo (um seio arfante, de
preferência, ou os olhos, os seus olhos fixos e húmidos de ânsia, grandes
como dois mundos), objecto, um cheiro, um som, um livro, um filme,
um retrato ... sendo no conto de Fialho este instigador da paixão
sexual a efígie do conde Baccarat, ironicamente presente e
sarcástico, vingativo e segurdo de si se se tratar da recuperação da
sua mulher que se havia abandonado, por um instante, suspirando
nos braços do jovem amante.
O quiasmo amoroso (i.e. o conde a jantar com Fatime e Armando
numa situação obviamewnte erótica de um serão passado tête-atête com a condessinha, sendo a ordem primária do discurso
amoroso o conde apaixonado pela Beatrice dos seus alegados
dezoito anos e ela a adorar o frequentador de casinos e lupanares)
confere maior concentração aos sentimentos, assegurando
também uma continuidade ao discurso amoroso, mal-grado a
ruptubilidade e a inversão das funções do marido e do seu melhor
amigo (no desfecho do conto Armando ia continuar a beijar o
pescoço indo até ao colo da condessinha que, bebendo
champanhe, lhe confessava o seu amor de uma escrava, enquanto
o conde estava com Fatime, provavelmente, soltando uma risada...). E um
toquezinho de perversão, de anotação psicológica da sórdida, suja,
imunda, torpe, vil e repugnante vida de uma classe decadente de
alta burguesia e de um seu “aspirante”, do contador duma história
amor, de sedução e de fascínio, em primeiro lugar um autor
abstracto, depois um narrador extradiegético observando o conde
a deixar o seu palacete, logo depois num primeiro laivo de
cumplicidade com o leitor quando o cupé do conde rodou «e
ficámos sós» até ao protagonismo narrativo e focalização interna
dos acontecimentos:A condessa fechou o livro e olhou para mim.
14
Mayo 2004
Quem é a Outra, Fatime, a dançarina judia de pele escura e cabelo
louro? Pouco sabemos dessa mulher sedutora e fatal. Beatrice dáse conta de que o conde a ilude, engana, diz-lhe que está no Grémio,
tratando da queda do ministério, e a verdade é que está a cear com
Fatime. A condessinha comprou os criados para vir a saber da
deslealdade do marido, sente-se humilhada, trocada por uma
bailarina e vinga-se, sim, quer desforra, no marido encetanto uma
relação com um fulano indigno de seus favores, ela, filha dos
marqueses de Penha Longa, aos bejos com o narrador
completamente desiludido quanto aos aspectos sórdidos da vida
social e loucamente por ela apaixonado. Ela não sabe, porém,
aquilo que Armando nos confessa com toda a naturalidade: o
facto que a Fatime é um vampiro, um vampiro feminino, uma
exploradora da paixão do conde Baccarat, uma mulher calculista.
A situação não deixa dúvidas: Às onze horas /o conde/ ia ao Clube falar
em política, altivo na sua opinião respeitada, entre conselheiros graves de calva
e suiças claras. À meia-noite, Fatime, o vampiro, esperá-lo-ia num cupé, a S.
Roque, para irem ao Restaurant Club cear, a fazer depois a digestão entre
beijos e champanhe até madrugada, hora em que a bailarina costumava receber
um trintanário loiro, trescalando a cavalariça.
A literatura é uma fonte de transgressões e também um roteiro de
perversão e patologia, se olhássemos bem de perto a cena no
Cemitério dos Prazeres descrita por Gomes Leal no conto “A
Ruiva”, protagonizada por Carolina, filha do coveiro do mesmo
cemitério e um homem morto, louro, pálido e ainda não
decomposto:
Nas horas de calor, de Verão, quando sob os ciprestes, os empregados do
cemitério dormiam, ia devagarinho, sem ser pressentida, à casa dos depósitos,
escolhia os cadáveres dos moços, dos belos, se os havia, e como um pequeno
vampiro sequioso entreabria as mortalhas, despregando com uma navalhinha as
camisas; metia a mão devagarinho pelo peito, metia, escorregando-a ao longo das
carnes, beliscando-as levemente, com prazer; o olhar dilatava-se-lhe, havia na
sua face uma mancha de excitação, mordia os lábios, exaltada; e, palpitando,
estudando, compreendendo e adivinhando, ficava absorta, um pouco curvada
sobre os corpos, o hálito ardente, uma palpitação larga e cheia de ímpeto.
Uma moça jovem que nem um pequeno vampiro sedento, ávido
de sangue ... no cemitério ... uma companheira, mana e aluna
espiritual, talvez, da Fatime do conto atrás analisado. Aliás, a
chamada metafísica do mal, a contiguidade de um acto amoroso,
necrófilo e assasino perseguia em visões nocturnas um
representante do satanismo em Portugal, o poeta do nome de
Gomes Leal3, que suspirava:
Mulher, da luta ao cabo,
Se perdeste o antigo Homem,/- tu matarás o Diabo.
Georges Bataille descreveu as experiências transgressivas de um
ser humano que abandona os seus limites, «abandona-se» muito
diferentemente do que faziam as ingénuas heroínas de romances
qualificados hoje como os de capa cor-de-rosa.
Boris Vian (Vernon Sullivan4), por sua parte, levou o amor
mortífero à outrance:J´ai eu du mal à dire tout ça. Les mots ne venaient
pas tout seuls. Elle était là, les yeux fermés, allongée par terre avec sa jupe
relevée jusqu´a ventre. J´ai senti encore la chosequi venait le long de mon dos e
ma main s´est refermée sur sa gorge sans que je puisse m´en empêcher; c´est
venu; c´était se fort que je l´ai lâchée et que je me suis presque mis debout. Elle
avait déjà la figure bleue, mais elle ne bougeait pas devait respirer encore. J´ai
pris le revolver de Lou dans ma polche et je lui ai tiré deux balles dans le cou,
presque à bout portant; le sang s´est mis à gicler à gros bouillon, lentement,
par saccades, avec un bruit humide. De ses yeux on voyait juste un ligne
blanche à travers ses paupières; elle a eu une espèce de contraction et je crois
que´ellle est morte à ce moment-là. Je l´ai rerournèe pour ne plus voir sa figure,
et, pendant quélle étais encore chaude, je lui ai fait ce que je lui avais fait
dèjà dans sa chambre. Je me suis probablement évanoui aussitôt après .......»
Assasínio e amor necrófilo. Um cadáver e uma campa tumular
como objectos eróticos. Tudo junto. O Amor e A Morte. A
erotizaçao da Morte. A mortificação do Amor. Mais a convulsão
final (?) das duas balas no corpo. Citámos este fragmento em
francês, para não ofender o sentido do pudor e decoro de uma
leitora mais sensível. O rigoroso sadismo narrativo mal nos deixou
respirar.... A verdade é que não posso dizer mais sobre este violador
das mortas, se não fosse um dever de informação enciclopédica.
Em 1946 surgiu, envolto em polémica e escândalo, o primeiro
romance de Boris Vian, intitulado Irei Cuspir-vos nos Túmulos
(aceitando-se também a tradução mais livre do título como: Hei-de
Cuspir-vos na Sepultura), publicado sob o pseudónimo de Vernon
Sullivan. Vian morreu aos trinta e nove anos de idade, vítima de
ataque cardíaco. Meditou sobre a condição humana, acreditou no
amor, na imaginação, na literatura ... Até há alguns anos, o livro
de que foi retirado o fragmento (Irei Cuspir-Vos nos Túmulos) foi o
único editado em português; agora, podemos ler também a Morte
aos Feios do mesmo autor, achado genial pelo jovem público.
Os excertos de um diário (imaginado) de David Benson, publicados
nos Écrits pornographiques (Christian Bourgois, Paris 1984) ou
as mémorias eróticas de Boris Vian não nos deixam uma dúvida
que um amor pode ser mais do que necrófilo e assasino: híbrido,
andrógino, pegajoso, viscoso. Uma pessoa pode ter mais do que
um sexo. Pode tornar-se o seu próprio vampiro. Pode fazer a
«succção do sangue» às outras e a si própria ...O súcubo
(transilvano, de preferência, dado que os genuínos vampiros
vivessem na Transilvânia, i.e. na Roménia, misturando a língua
eslava e romância...) que tem os órgaõs sexuais tanto femininos
como masculinos ... é um demónio a quem se atribuíam os maus
sonhos. Um desinquietador das almas. Um porco-sujo que deixa
jactos de líquidos inefáveis e inusitados pela mais audaz das escolas
naturalistas – a do erotismo surrealista....José Saramago não nos
deixa uma centelha de esperança quanto à inviabilidade e
inoperância dos sistemas democráticos regidos pelos homens
vampiros e rambos (sendo a mulher do médico do romance
alegórico anterior acusada injustamente do crime e assassinada na
última cena de um Ensaio sobre a Lucidez). A verdade pode ser
igualmente útlil como uma mentira. Um vampiro da rede pode
substituir um amante verdadeiro leal e fiel. A história de um drácula
de Boris Vian ou de José Saramago é uma narrativa sobre a força
do mal, sedutora a atractiva que nem uma superfície escura, lisa de
um lago muito profundo das paixões ocultas e reprimidas. O
fascínio do vampírico também é erótico, só que o erotismo
vampírico é um jogo mortífero. Os vampiros nunca dormem. São
os heróis perseguidos!
Inspiradores vampíricos:Fialho d’ Almeida, Georges Bataille,
Roland Barthes, Gomes Leal, José Saramago, Carlos Reis (do
Dicionário de Narratologia), Boris Vian (Vernon Sullivan),
Cesário Verde (dos Cinismos), mais alguns nomes muito queridos
1
Na primeira edição dos de Contos de Fialho de Almeida (1857-1911), publicado
efectivamente em 1881, ainda não foi incluído O Serão da Condessinha,
correspondendo-lhe o título A Desforra de Baccarat; o conto do exímio
representante do naturalismo e decadentismo impressionista na Literatura
Portuguesa anunciava-se na Parte I da obra, intitulada Os Doentios. Fialho
começou a despertar interesse de jovens tradutores polacos; cf. F. de Almeida:
Rak, tlum. N. Czopek, em: Roman – pismo romanistów studentów UJ, no 1,
Dezembro de 2002, pp. 21-23. É de acrescentar que todas as citações do contista
(Fialho não deixou um romance) vão segundo: Fialho d´Almeida: Contos. Nova
edição revista e prefaciada por Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Clássica
Editora, Lisboa 1971 (999 port.).
2
Quiasmo – figura de estilo que consiste na inversão da ordem das palavras, em
duas frases que se opõem; consiste na disposição de quatro elementos, agrupados
dois a dois por paralelismo, segundo o esquema da letra X, isto é, a segunda parte
da construção contém os mesmos elementos, ou elementos paralelos, da primeira,
mas inverte-se a ordem da sucessão. Ex.: «Eu pararia o curso aos grandes rios/ E
a terra sob os pés abalaria.» (Cesário Verde: Arrojos).
3
António Duarte Gomes Leal (1848-1921) – antecipando Fernando Pessoa, é já o
poeta de uma consciência fragmentada, de múltiplas virtualidades estéticas, postos
à vista nas Claridades do Sul (publ. 1875. Cf. Gomes Leal:
Antologia Poética. Escolha e comentário de Fr. da Cunha Leão e A. O´Neill,
Guimarães Editores, Lisboa 1970 (1222 port.).
4
Boris Vian (1920-1959; escitor francês e músico de jazz, envolvido com
personalidades do existencialismo francês., um «cultivador do absurdo») usou o
pseudónimo de Vernon Sullivan, assim como Fernando Pessoa o do Dr. Abílio
Fernandes Quaresma, Tio Porco e Chefe Guedes; Adolfo Coelho o de J. Stew;
Américo Faria escrevia como Adam Fulton e Ans. Shouldmarke; António Carlos
Pereira da Silva como Simon Ganett ou Barbey Kilbane; Dinis Machado como
Dennis Mc Shade; Reinaldo Ferreira como Repórter X e Repórter Kiá, Mascarenhas
Barreto como Van Der Bart, Anna Kalewska como Ana Cales, etc. Via internet:
http://livroscomletras.weblog.com.pt/arquivo/077082.html e http://
www.incicom.up.pt/blog/multiletra/arquivos/2003-11.htm/, ambos visitados a
24.04.2004.
Maio 2004
15
erotismo
erotismo
O DESABAFO DE UMA BRASILEIRA
Logo que cheguei à Polônia, lá por meados de um
fevereiro, as pessoas tentavam puxar papo fazendo
perguntas sobre o Rio de Janeiro, minha cidade, e o
carnaval. Não lembro quantas vezes foram, pois foram
muitas, e nem sempre tinha paciência para responder a
tudo. Mas lembro-me muito bem de uma mulher que,
um dia, tascou: ‘Você também vai com os peitos de
fora para a rua?’
Texto de Ana Carolina Beltrão
Devo admitir, no entanto, que existe um fundo de
verdade nisso tudo: a indústria do entretenimento
brasileira vem, há tempos, promovendo essa cultura
da erotização sem limites. Começou, parece-me, com a
lambada, também conhecida no Brasil como ‘a dança
do bate-coxa’. Bate-coxa! Não precisa falar mais nada,
não é?
Minha reação partiu de uma gargalhada, pensando no
ridículo daquela idéia, a um mero olhar de reprovação.
Que mais podia fazer, quando se
ouve por aí, no mundo inteiro, que
as mulheres brasileiras são
‘famosas’ pelos atributos naturais
e pela sensualidade? Diretamente
de Copacabana, as meninas de
biquíni fio-dental não só estampam
cartões postais, mas também dão
asas ao imaginário de que
somos
uma
verdadeira
explosão
de
desejo
e
libertinagem – algo assim
como um animal exótico e
eternamente no cio.
Depois surgiram fenômenos midiáticos como os
grupos de ‘Axé Music’ da Bahia, cujas músicas eram
uma mistura de sons indecifráveis
e alguns termos chulos casualmente
c o m b i n a d o s : “ Ô - Ô A INDÚSTRIA DO
Ô…ordinária!… No põe-põeENTRETENIMENTO
põe...” Acompanhando os grupos,
é claro, sempre havia as dançarinas
BRASILEIRA VEM, HÁ
devidamente
despidas para rebolar
TEMPOS, PROMOVENDO ESSA
no palco. Um desses gr upos,
CULTURA DA EROTIZAÇÃO
inclusive, criou uma coreografia em
SEM LIMITES.COMEÇOU,
que as meninas quase copulavam
com uma garrafa.
PARECE-ME, COM A
LAMBADA, TAMBÉM
CONHECIDA NO
COMO ‘A DANÇA DO BATECOXA’.
Tudo é, naturalmente, alimentado
pela mídia. As fotos e transmissões
dos desfiles de carnaval, por
exemplo, concentram-se nas modelos semi-nuas
movidas a silicone, e não na cultura popular. Por outro
lado, Hollywood contribui com filmes tipo Wild
Orchid, recentemente exibido pela TV polonesa, que
mostram um Brasil onde mulheres sensuais
aparecem a cada esquina para ‘corromper’ os
americanos através do sexo.
Não dá para mudar. Não dá! Estaremos para sempre
condenadas a este estigma de país das mulheres-objeto,
onde a alta temperatura nos faz subir, também, a libido
desenfreada. Tudo isso contra a dura realidade de
milhões de brasileiras, cujas vidas são tomadas pelo
cuidado da casa e pelo trabalho, faltando tempo para
fazer ‘caras e bocas’.
16
Mayo 2004
BRASIL
E o pior é que, como sempre
exportamos esse tipo de coisa,
vocês aqui na Polônia sabem muito
bem do que estou falando.
Lembrem-se da mulher que queria
saber sobre mim e meus peitos...
Isso me deixa triste. Por que não se fala das mulheres
rendeiras do Ceará? Das doceiras de Minas? De grandes
mulheres da política, como a Ministra do MeioAmbiente ou a Prefeita de São Paulo? Tudo bem que a
Prefeita é sexóloga, mas…
Não sei mais o que dizer. O fato é que não dá para
lutar contra tudo isso e eu estou cansada. Fomos
definitivamente penetradas por essa visão, eu diria,
‘genitaliocentrista’. Como recentemente disse nosso
jornalista e cineasta Arnaldo Jabor, “(…) a brasileira
tornou-se o melhor produto de propagação da cultura
do país”.
Texto de Natalia Czopek
O ROMANTISMO ESCONDIDO NO “FIM DO MUNDO”
Uma praia deserta onde acaba a terra e começa o
desconhecido....Um par de olhos olhando o pôr do
sol....As ruas estreitas cheias de cantinhos românticos.....O
romantismo pode-se encontrar em qualquer lado mas
existem lugares onde a história, o ambiente e as paisagens
formam uma mistura devaneadora e inesquecível. Será
que um país escondido algures onde começa o oceano
pode oferecer-nos locais que emanem erotismo? Uma
viagem até ao fim do nosso continente permite-nos
descobrir todos os encantos de Portugal.
Começamos a nossa viagem pelo Norte do país onde
encontramos a inesperada magia da serra do Gerês. As
cascatas que aparecem de vez em quando entre as colinas
cobertas de flores silvestres, o cheiro dos pinheiros e os
sopros do vento na folhagem das árvores criam um
ambiente fabuloso. Observando a vida dos habitantes das
aldeias serranas, esquecemo-nos da confusão do nosso
dia-a-dia. Neste lugar, onde o tempo parece ter parado,
pode-se desfrutar do melhor que a natureza portuguesa
nos oferece.
não pode ser esquecido. A nostalgia do fado persegue-nos até Lisboa. Mesmo sem querer, perdemo-nos na
rede estreita das ruas do Bairro Alto, cheias de restaurantes
e bares, que têm muito pulso durante a noite toda. A
vista para o mar desde os inumeráveis miradouros, que
já inspiraram vários escritores e poetas, traz à memória a
imagem das mulheres vestidas de preto que, cantando
músicas tristes, esperavam em vão o regresso dos seus
homens perdidos no mar. A capital, que parece mergulhar
nas flores de buganvília, fornece-nos momentos
inesquecíveis cujo romantismo ficará gravado na nossa
mente para sempre. Apesar de ser um lugar cosmopolita,
Lisboa consegue manter o seu encanto nostálgico tão
típico das cidades portuguesas.
Seguindo rumo ao Sul, nas margens do Douro, escondem-se solares, adegas e quintas submersas no verde rico das
vinhas. Naqueles locais bucólicos pode-se provar um dos
tipos de vinho de Porto, o “néctar dos deuses” conhecido
no mundo todo. O aroma e a cor intensa do vinho faz-nos lembrar os passeios nos antigos barcos rebelos
comparados pelos habitantas da região às viagens pela
Veneza romântica. As encostas cortadas pelas estradas que
serpenteiam a serra surpreendem-nos com a variedade
de paisagens e locais que ainda ficam por descobrir.
A poucos quilómetros de Lisboa fica a serra de Sintra,
a pérola do romantismo português. Essa zona durante
séculos foi escolhida pelos reis e príncipes que ali
edificaram palácios e quintas com impressionantes jardins,
ideais para as conquistas amorosas. O Palácio da Pena,
fruto dos sonhos dum rei artista, Dom Fernando, aparece
de repente no labirinto da vegetação abundante submersa
numa neblina húmida. Vale a pena passear pelas estradas
da serra, entrar nas quintas e descobrir miradouros com
paisagens de cortar a respiração. Não há melhor lugar
para contemplar a paixão pela natureza, tão característica
do estilo arquitectónico romântico. Nos recantos mais
escondidos de Sintra trocam-se juras de amor e
partilham-se os momentos ímpares com alguém
especial. Não obstante, o ambiente sintrense não vai
ser completo sem conhecermos o sabor da famosa
queijada de Sintra.
Contudo, não há melhor lugar para os primeiros namoros
que a cidade de Coimbra, marcada pelo amor e pela
tragédia de Inês de Castro e Dom Pedro. Quem podia
resistir ao encanto das ruas estreitinhas onde os estudantes
vestidos de capas pretas cantam músicas “à menina que
está na janela”? É impossível ignorar o ambiente dos
parques nas margens do Mondego, onde casais de jovens,
de mãos dadas, confessam os seus sentimentos. Os
corações dos habitantes de Coimbra batem ao ritmo do
fado, das festas que acabam só quando o sol nasce e do
amor juvenil que, mesmo depois de muitos anos,
A nossa viagem acaba no Sul do país, nas arenosas praias
do Algarve, onde a voz das gaivotas acompanha o
murmulho do mar. Nesta área da costa do Atlântico as
memórias são ainda quase mais mouras que lusas. As
casinhas brancas parecem ser sacadas de um conto para
crianças que têm sempre um bom final. O vaivém das
marés traz o cheiro das terras desconhecidas e da aventura
à qual nos convida o pôr do sol. É preciso sentar-se à
beira-mar e deixar que o vento nos conte histórias dos
navegadores que por ali passaram, as histórias de Portugal,
um país romântico escondido no “fim do mundo”.
Sem comentários. E o meu olhar de reprovação.
Maio 2004
17
erotismo
erotismo
Texto de Edyta Grodecka
EROTISMO EN EL CINE DE LOS AÑOS 40-50
piernas. Otro ejemplo famoso es Raquel Welch, símbolo
del sexo de los años 60, escasamente vestida en „Un millón
de años antes de nuestra era”, película de 1966 dirigida por
Don Chaffey.
No podemos olvidar también la personalidad excepcional
de Marlene Dietrich y de Greta Garbo, su gran rival. A
Marlene Dietrich la recordamos por su estilo de vida
escandaloso y por sus relaciones sexuales con otras mujeres,
pero, sobre todo, por sus actuaciones en las famosas
películas del director Josef von Sternberg: “Maroco”, “El
angel azul”, “La Venus rubia”, o por su papel en “La mujer
vamp”. Su signo distintivo era su gusto por los trajes de
hombre: sombrero de copa y frac.
Hay que mencionar también a las famosas actrices del cine
italiano, como Sophia Loren y Gina Lolobrigida, o de
Estados Unidos, como Jane Mansfield o Liz Tylor en
“Cleopatra”.
Texto de Aleksandra Maczewska
INVITACION AL TANGO
La tarde llegaba a esse momento de silenciosa pereza cuando el sol
ya es de color naranja y está a punto de tocar la línea del horizonte.
Me senté en una de las terrazas cerca de la calle Caminito, la menos
monumental y más alegre atracción turística de Buenos Aires. Al
preguntar cómo ir al famoso barrio, el hombre del quiosco me miró
atentamente y dijo:“¿Para qué querés ir a La Boca?, allí no hay
nada además de mal olor”. No escuché al viejo porteño y una hora
después estaba tomando granizado de limón en la legendaria cuna
del tango. El silencio de la tarde no duró mucho, sobre el pequeño
escenario, con los primeros compases de la música, apareció una
pareja...
Madrid
En los años 40 la desnudez era un tema tabú y su presencia
en las pantallas de cine no entraba en cuenta de ninguna
manera. Sin embargo, en aquellos tiempos, los cineastas no
razonaban en categorías como desnudez-erotismo. Ésta, la
más simple combinación, es el signo de nuestros tiempos,
resultado de los cambios que se han consolidado en la
sociedad actual. Los cánones de erotismo corren ya por
una vía diferente que hace medio siglo.
El erotismo, a lo largo del siglo pasado, tomó formas muy
distintas, se manifestó de diferentes maneras. El carácter
del erotismo en el cine de los años 40-50 se relacionaba,
sobre todo, con los cánones estéticos aceptados en aquellos
tiempos. Asimismo, hay que tomar en cuenta el hecho de
que la imagen de la mujer de entonces se alejaba mucho del
modelo actual, lo que se justifica por un grado de aprobación
social distinto.
Las películas de los años 40-50 eran indudablemente más
suaves al presentar la desnudez que las producciones
contemporáneas. No obstante, hay que admitir que
moviéndose dentro de un determinado canon de sex appeal
eran capaces de expresar el erotismo de una manera de
verdad extraordinaria. Basta mencionar el ejemplo de Rita
Hayworth en “Gilda”, película de 1946 dirigida por Charles
Vidor, en la que esta excelente actriz supo electrizar millones
de espectadores de todo el mundo en una escena inolvidable
en la que se quitaba sus largos guantes negros. Dicha escena,
debido a su gran carga de erotismo, forma en sí un canon
en la historia del cine.
Lo mismo podemos decir sobre la escena con Marylin
Monroe encima de una rejilla de ventilación, en la que el
flujo del aire le levanta el vestido descubriendo sus esbeltas
Aunque los tiempos han cambiado y el público exige
imágenes cada vez más chocantes, el recuerdo de las grandes
actrices de los años 40, 50 o 60 sigue siendo muy fuerte.
18
Mayo 2004
La historia del tango se nutre de mitos e hipótesis no
comprobadas. Algunos opinan que el género combina la
coreografía de la milonga (baile tradicional de la zona de
Río de la Plata) con el ritmo del candombe africano y la
línea melódica sentimental y la fuerza emotiva de la
habanera. Se considera que el baile comenzó a difundirse
alrededor de 1880 con la llegada de los inmigrantes al
puerto de Buenos Aires. La mayoría de ellos eran jóvenes
solteros que abandonaron sus tierras en busca de una vida
mejor o, quizás, de una gran aventura. Eran marineros,
cuarteadores, artesanos, peones; lejos de sus casas y sus
familias, necesitaban consolar sus tristes corazones, así que
en aquellos años el negocio de la prostitución tuvo su
mejor momento, y fueron los prostíbulos porteños donde
comenzó a tocarse y a bailarse el tango. Una cosa
interesante es que al principio el tango era “cosa de
hombres”: las parejas de varones lo bailaban entre sí.
Constituía una peculiar demostración de habilidad y
lucimiento; el “compadrito” significaba un hombre de
mujeres y cuchillo, orgulloso y terco que presume de su
coraje y a la vez es pudoroso de su intimidad, por eso el
tango tuvo que conquistar a la mujer para la danza.
11 de Marzo
11 de Março
El erotismo, como leitmotiv, surgió bastante temprano. Los
cineastas se daban cuenta de la fuerza magnética de sex
appeal y trataron de expresarlo en sus películas. También
en la actualidad a los cineastas les gusta servirse del erotismo.
Uno de los ejemplos claves es la película de Adrian Lyne
“Nueve semanas y media”, con la excelente actuación de
Kim Basinger. Surge también un nuevo género
cinematográfico llamado thiller erótico. Algunas de las
películas más destacadas de este tipo son: „Instinto
desnudo” de Paul Varhoeven, con Sharon Stone y Michael
Douglas (1992), „Orquídea salvaje” de Zalman King, con
Mickey Rouke y Jacqueline Bisset (1990), o “Sliver” de
Phillip Noyce, con Sharon Stone como Carly Norris y
William Baldwin como Zeke Hawkins.
`
...El chico agarró a su compañera con un gesto que me pareció
bastante violento. Creo que dejé de parpadear. El bailarín era bajo
y gordito,al lado de la impecable silueta de la muchacha, mucho más
alta que él; la pareja tenía un aspecto chistoso hasta que empezó a
bailar. La coreografía era perfecta; las volteretas y las piruetas,
impresionantes; ¿estaba mirando un tango cien por ciento
“fantasioso”?, ¿mero espectáculo para turistas? Claro que sí, pero
tenía tanto encanto que me olvidé de que el chico no se parecía en
nada a los guapos bailarines de las postales. Sus pasos eran rápidos
y complicadísimos, pero lo más hipnotizante era la tensión que se
sentía en cada apretón que se daban y en esos suaves movimientos de
la mano en la espalda de la muchacha que le senalaban
la siguiente figura. Era increíble cómo sus piernas y sus torsos bailaban
dos danzas distintas; una disociación que no rompía ni la unidad ni
la armonía del conjunto. Me fijé en los ojos de los bailadores, estaban
concentrados y serios, el chico apretaba los labios y me acordé de que
el tango es un pensamiento triste que se baila. Sin la sonrisa, sin la
alegre despreocupación de la salsa o de la samba bailaban una
apasionada queja, como si hubiera un solo consuelo para los desamores,
las añoranzas y las penas de esta vida: bailar tango.
Cuando la famosa Isadora Duncan visitó Buenos Aires y
dio sus primeros pasos tímidos de tango escribió: “Sentí
que mis pulsaciones respondían al incitante ritmo lánguido
de aquella danza voluptuosa, suave como una larga caricia,
embriagadora como el amor bajo el sol del mediodía y
peligrosa como la seducción de un bosque tropical”. El
tango empezó a salir de los lupanares, se organizaron las
primeras academias, la gente bailaba en las calles y en los
cafés. A continuación se le añadió letra y empezaron a
aparecer las canciones tangueras. Los 40 fueron
definitivamente los mejores años del tango; después de
su triunfo en los salones europeos su mala fama comenzó
a disminuir, poco a poco dejó de ser un producto del
lupanar y un baile de mala vida: quizás porque lo que se
baila en Europa es un tango “domesticado” que no tiene
mucho que ver con su antecedente argentino. Últimamente
ha revivido en su forma tradicional y la nueva generación
ha salido a bailar.
¿Que hay en esta danza que tanto atrae a la gente? Algunos
dicen que el tango consiste en bailar la desesperación para
que se vuelva bonita y nos traiga ese temblor caluroso
que encarna todas las contrariedades de nuestra vida: el
deseo y la imposibilidad de cumplirlo, la añoranza y la
nada. Es como el vino: calma la sensación de continua
insatisfacción y la finitud de toda existencia.
Terminó la presentación, ya era de noche. Me puse a pasear recordando
las letras de la última canción:
Amor en remolino
camino sin destino
Nosotros: la ansiedad
de dos en soledad.
No quería regresar a casa; estaba en Buenos Aires y la noche
todavía era joven. Sería un pecado regresar ahora y, además, el
tango era una invitación, pensé.
Maio 2004
19
poesía erótica
Puta libidinosa
que fa-lo morto eternamente;
berro de sal
que estoupa en pedra sacra
mollada de luxuria.
Aberta sobre o mar
escúlpeste firme e rexa
invadindo ondas acesas
que ti prendes
en noites de lúa chea,
envexosa do teu seo,
ela preña.
Asasina dun sol
que morre en ti
por desexarte cada noite,
puta vella,
húmida coma ó principio;
seducindo dende sempre
en pedra e auga,
anunciada brevemente
en fina area,
orgullosa do teu corpo,
triste e salvaxe Fisterra.
que fa-lo morto eternamente;
berro de sal
que estoupa en pedra sacra
mollada de luxuria.
Aberta sobre o mar
escúlpeste firme e rexa
invadindo ondas acesas
que ti prendes
en noites de lúa chea,
envexosa do teu seo,
ela preña.
Asasina dun sol
que morre en ti
por desexarte cada noite,
puta vella,
húmida coma ó principio;
seducindo dende sempre
en pedra e auga,
anunciada brevemente
en fina area,
orgullosa do teu corpo,
triste e salvaxe Fisterra.
Mónica Góñez Silva
De Mar e Vento, 1997
20
Mayo 2004
poesia erótica
NÃO PRESENTE
CANTIGA DO LARANJAL
Tu. Tu que me arranhas, que me sangras,
que me negas a certeza do ser quem fui,
de sentir o ser e o estar como outrora.
És luz em mim, és saudade do não acontecido,
és arrepio dos momentos que passei a pensar, que também tu
naquele momento poderias estar a pensar em mim
ou a ser comida por alguém.
Tu. Dilaceração, experiência e inexperiência,
incompreensão do que me deste ou do que julguei
alguma vez me teres dado e julgando por ti e por mim,
julguei que poderíamos ser felizes, demasiado,
sempre demasiado.
Espero-te e sei que acabou. Espero o teu olhar
e o teu riso, a tua boca e o teu abraço e
sei que não os vou ter, nunca mais os vou ter.
Algo tão sincero, outra vez julgado por mim e
por mim, que não mais partilharei, em que não mais atentarei
e sorrir, sorrir na minha cumplicidade partilhada
por mim
e por mim, estiveste tu do
meu lado, comigo, não presente.
André Soares, 19-11-2003
Sube por min
arrastrándote e rozando as miñas pernas,
envolvendo, torpe e irto,
as miñas coxas.
Debuxa como sabes o meu corpo,
construíndote en min
como acostumas,
inventándote quizais en nova pel.
Crea a figura que coñeces
e agarda a que te abotoe.
¿Qué fas ó sol
tan teso e duro?
Colgado polas pernas,
dúas pinzas,
movido polo vento
e en silencio,
penso en ti.
Mónica Góñez Silva
De Mar e Vento, 1997
CARURU
Como o centro vermelho
Do hibisco amarelo,
o trovão da cor
dos teus lábios
na bátega
do teu sangue aí,
enquanto eu aqui
te despindo toco
o teu jardim.
Tu curvada
adubas
com estrume fresco
o quiabo que trouxeste
desde Salvador
Kerry Shawn Keys
Blues in Green,1996
(tradução de José Carlos Dias)
À sombra de um laranjal
fomos procurar sustância
- eu Dionísio, tu Vestal,
à beira do fim da infância.
No colo da laranjeira
até o silêncio é perfume
- do amor que a Vida inteira
acendeu no nosso lume.
No sumo de uma laranja
encontrámos alimento
- e aprendemos nova dança
no secreto esvaimento.
Chegaste ao pomar infanta
e eu cervo entontecido
- fundou raiz minha planta
no teu laranjal refundido.
Ao nascer da tarde quente
tombou a laranja no sono
- e o amor foi afluente
do rio do abandono.
E ao cair da noitinha
a chuva nos veio regar
- como se a ria mansinha
nos quisesse abençoar.
António Branco
Fugidia Comunhão., 1996
DEMOCRACIA
El encuentro de dos mundos
en tu cuello.
La conquista y conversión
de tus hombros paganos.
La revuelta de tus brazos,
de tu espalda,
tus caderas.
El gobierno de tus piernas
alternativamente
cruzadas.
La fundación de una república en tu ombligo,
sobre las ruinas de los templos antiguos.
La intercomunicabilidad de las regiones de tu cuerpo
y sus espacios cívicos,
patrióticos,
heroicos.
¿Qué pueden saber de esto los científicos sociales?
¿Qué pueden decir los profesores?
La verdadera democracia está en tus pechos
simétricos y erectos,
uno a la izquierda
y otro a la derecha
del triángulo ideológico
y perfecto
de tu sexo
Nas voltas da cama ardemos de mais
e quando caio cais
no porto que por mim em ti espera.
Uníssonos tocamos o sol temporão
no poço que a minha espada venera.
políticamente
correcto.
Gerardo Beltrán
Con el imán de la memoria y otros poemas, 2004
António Branco
Fugidia Comunhão, 1996
Maio 2004
21
Caminhos de palavras
Texto de Katarzyna Piwowarczyk
O AMOR PROIBIDO
Eu sou bisexual.
Protestando contra mim, protestando contra os outros,
protestando, com todos que protestavam. Embora
estivesse em Varsóvia e eles em Cracóvia, sentia-me
manifestando com todos eles, como se estivesse lá.
O que você disse? - Perguntei, pensando, que não a ouvira
bem. Você ouviu, Kasia. Eu sou bissexual. Mas você não
sabe como reaccionar.
Hum, tem razão...
Eram quatro e meia. Quatro e meia em Cracóvia, dia
sete de Maio. Dia do manifesto do amor proibido. Amor
proibido, erotismo proibido, erotismo gay.
Passamos a noite conversando. O “nosso” ex-namorado
entrava e saía, intimidado, da cozinha, onde ficamos no
chão, com copos e uma garrafa de vinho. Ele nunca
pensaria, que podíamos ficar amigas. Que surpresa! Ela
falava da sua namorada, como se fosse (para mim) um
namorado. Alguém importante. Eu vi a paixão nos olhos
dela. E compreendi. Só desta vez compreendi. Eu nunca
fora preconceituosa, mas sempre havia “algo”, algum
medo inexplicado, alguma falta de respeito humano.
Falando com ela, vi que não pode ser assim, que ninguém
tem o direito de proibir o amor. Porque vi o amor
verdadeiro.
A história acabou depois de alguns meses, mas o nosso
desgosto continuara até esquecer a causa.
Aquela era uma noite muito fria. Tudo até congelava, mas
nesta história ficaria bem uma imagem do verão.
Especialmente um verão brasileiro, com palmeiras e
erotismo no ar, que está por toda a parte e te faz respirar
esse ambiente amoroso. Por algum tempo sentia-me
perdida, por ter acabado uma relação complicadíssima.
Recebi um SMS dizendo que havia uma festa. Huuum,
que fazer com uma noite livre? Mas... a festa era na casa
do meu ex-namorado. Era difícil ir tendo a certeza de
não voltar (nem que por um segundo) ao mundo do
passado. Até as lembranças da escola secundária podem
fazer chorar quando estamos sozinhos, né?
Mas a festa provocou pensamentos imprevistos. Lá estava
Ela. Primeiro – medo. Como devia reagir? Tinham-se
passado cinco anos desde esta maldita história, mas nunca
se sabe quem esqueceu, quem não. Trocamos umas
olhadinhas e já sabia que não havia nada para temer. Estava
esquecido. Só faltava perguntar, “como vai a vida?”.
Conversamos por algum tempo, e ela disse esta frase
mágica, que nos faz esquecer a fala humana, que nos faz
congelar.
22
Mayo 2004
Texto de Jakub Jankowski
A SOL E O LUA
Saí de casa, protestando.
Conheci-a há algum tempo. Íamos todos os dias ao
mesmo colégio, tínhamos os mesmos amigos, até uma
vez trocamos de namorados e este ato perverso separou-nos por anos. Parecia engraçado, sumarento, perverso
ao mesmo tempo. Eu odiava-a por tocar o meu exnamorado. Ela odiava-me por eu ser tocada pelo exnamorado dela. Que falta de intimidade, que falta de
erotismo.
Caminhos de palavras
Ela é uma das representantes da Campanha Contra a
Homofobia, uma das organizadoras do “Festival Cultura
para a Tolerância”, que acabou hoje, dia nove de maio,
em Cracóvia. Para concretizar – foi um festival de cultura
gay.
Organizado não para mostrar, que o amor gay é melhor
que um outro. Organizado não para convencer as pessoas
a serem perversas. Organizado para nenhuma outra coisa,
além de dizer a verdade, mostar a verdade: que os gays
existem, e são como os outros. E têm direito a tocar a
mão do namorado/namorada na esplanada. Como todos.
Saí de casa, protestando. Protestando contra mim,
protestando contra os outros, protestando, com todos que
protestavam. Embora estivesse em Varsóvia e eles em
Cracóvia, sentia-me manifestando com todos eles, como
se estivesse lá.
Quando vieram os contra-protestantes, ninguém viu.
Apareceram. Tinham pedras e jogavam-nas às pessoas.
Gritavam: “Os viados fora desta cidade!”.
E só as crianças, que sabem amar o mundo, perguntavam
porquê. Porque as pessoas que andavam na manifestação
pareciam iguais a todos nós.
Era uma vez eu. Gostava de beber e cair das nuvens de
manhã, sabendo o que se passou na noite anterior. E
uma vez, na noite anterior passaste Tu. Pois, todos
venceram na noite anterior, todos mataram o bicho.
Bem como a memória. Só depois disseste que continuas
virgem. Mas têm passado anos...
toda de um leito penífero. Mas caí...
Era uma vez , depois do corpo nu de afluência das
nuvens e Ícaro. Eras Tu. Era eu. Era uma rosa entre as
Tuas pernas que floresce só à noite. Uma rosa lúbrica
de cheiro tentador à qual não se resiste. Qual não se
rejeita. Eu era a presença lá. Altivez. Orgulho. De manhã
era a rosa ainda mais fresca depois de tomar banho nas
gotas de orvalho. As gotas de orvalho vitalizante e
fecundo desciam sob a superfície de cálice ainda abertas.
E eu era a consciência de que desta vez, caíra na tentação
outra vez.
A nossa história é como aquela da Lua e do Sol. Eles
são amantes infinitos que vivem separados, longe de
si, olhando-se olho no olho. A Sol cria o Lua. Eu sou
o Lua e as Tuas colinas que eu gosto tanto de
conquistar são tão ferventes como
o corpo do Sol. Tens corpo de Sol.
VIVEMOS OLHANDO-NOS À
Perigoso e tentador como a risca
DISTÂNCIA
branca da Tua feminilidade durante
a noite. Não vou respirar DEMASIADAMENTE DISTANTE.
EU NÃO GOSTO DAS
perigosamente.
DISTÂNCIAS MAIORES QUE
Vivemos olhando-nos à distância
demasiadamente distante. Eu não
gosto das distâncias maiores que
aquelas de corpos enlaçados numa
cama para só uma pessoa. Uma
pessoa não vale nada. Vivemos à
distância triste e só às vezes
podemos: Tu, apagar-te na prata fria
e eu, dissolver-me nas chamas duma
cama celeste.
AQUELAS DE CORPOS
ENLAÇADOS NUMA CAMA
PARA SÓ UMA PESSOA.
UMA
NADA.
Onde estás agora? Quando sou o
Lua crescente, ou minguante, ou
gládio arábico? Ou não, não sou
perigoso. Estou a abrir os meus
braços para te captar e receber de
braços abertos. Estou a abrir os
meus braços e a minha estrelinha
está a aproximar-se. Vejo.
Sou o Lua crescente e não posso
pregar o meu sonolento olho único
VIVEMOS À DISTÂNCIA
e de prata nem por um instante.
TRISTE E SÓ ÀS VEZES
Não posso perder de vista a minha
PODEMOS
esperança. Se calhar, tenho um
parafuso a menos e falo pelos
cotovelos lunáticos. Se calhar,
Era uma vez, depois da Sol e do Lua. Era eu Mariposa ponho as mãos no fogo pela Tua volta triunfante. Se
e Tu Luz. Luz é tão bonita. Tão viva. Tão Tua. E calhar, estou com um grão na asa e não sei o que estou
chegava perto, sentia-me e morria. Mas doce era morrer a dizer. Se calhar, amo-te e espero a rosa florescer entre
e acordar de manhã.
as Tuas pernas à noite. Uma noite eu. E espero neste
momento a minha presença.
Era uma vez, depois de Mariposa e Tu Luz. Eras corpo
nu de água transparente e Eu Afogado. Um louco que Se calhar, outra vez matei o bicho mas não a memória.
fazia tudo porque gostava de nadar e afogar. Mas era Com certeza amo-te demais. Se calhar, por isso voltarás,
doce de afogar.
minha estrelinha. Vamos tornar-nos pirilampos e nunca
voltaremos a morrer, porque emitiremos a luz e não a
Era uma vez, depois do corpo nu de água transparente reflectiremos. Viveremos a nossa vida. E a rosa jamais
e de Afogado. Eras corpo nu de afluência das nuvens e morrerá. E a presença. Com certeza amo-te. Ainda
eu era Ícaro. Gostava de mergulhar, de sentir veludo podemos ser de tantas maneiras...e ser tantos diferentes
entre meu corpo. Gostava de perder-me sob a guarnição entes.
PESSOA NÃO VALE
Maio 2004
23
Qué bonito...
...es el amor
Texto de Gerardo Beltrán
.
CARTA A Z SOBRE LOS FUNDAMENTOS DEL EROTISMO ILUSTRADO
AS HISTÓRIAS DA CAMA
Triste é viver na solidão...
Mi muy añorada ¯:
Tom Jobim
Ahora que hay entre nosotros más de un metro de
distancia (un metro y un tranvía, para ser exactos) y que el
tiempo transcurrido sin tocarte se traduce directa,
proporcional y correspondientemente en un cada vez más
insoportable síndrome de abstinencia que amenaza con
derivar en locura, no me queda más remedio que recurrir
a mi derrocado intelecto, siguiendo la premisa de que si
el despotismo ilustrado clamaba “todo para el pueblo,
pero sin el pueblo”, la divisa del erotismo ilustrado será
“todo para el cuerpo, pero sin el cuerpo”.
Es tarea del entendimiento entender las cosas, compararlas
y formar juicios, por lo que el erotismo intelectual se
encargará de entender, comparar y formar juicios sobre
los datos presentados por los sentidos en su máximo
grado de alerta. Aunque, en su variante más pura, se
encargará más bien de producir esos datos. (en esta variante
la sensualidad provendrá estrictamente del alma, en cuanto
ésta discurre y raciocina, en cuanto este raciocinio produce
placer –incluso físico- y en cuanto este placer conduce a
la verdad y, finalmente, a la felicidad –también física-).
Epicuro llamaba a los sentidos “mensajeros de la verdad”
y “los argumentos que aducía en favor de su absoluta
verosimilitud son los siguientes: 1) En primer lugar, la
sensación es una afección, algo pasivo y, en cuanto tal, es
provocada por algo de lo cual ella constituye un efecto
correspondiente y adecuado. 2) En segundo lugar, la
sensación es objetiva y verdadera porque ha sido
garantizada por la estructura atómica de la realidad. De
todas las cosas brotan conjuntos de átomos, que
constituyen imágenes o simulacros, y la penetración en
nosotros de tales simulacros es, precisamente, la que
produce la sensación. Las sensaciones son registros
objetivos de los simulacros en cuanto tales, incluso en
aquellos casos en que se considera erróneamente que son
ilusiones de los sentidos. Por ejemplo, cuando un objeto
aparece bajo formas diferentes, en función del lugar o de
la distancia a la que nos encontramos: el simulacro del
objeto cercano es, en efecto, distinto del simulacro del
objeto lejano. Por lo tanto, lo que para algunos constituye
la prueba de que los sentidos engañan es en realidad una
prueba de su objetividad. 3) Por último, la sensación es
algo arracional y, por lo tanto, incapaz de quitar o de
24
Texto de D aniela Capillé
Mayo 2004
añadir algo a sí misma: por consiguiente es objetiva”.
1
Así, podríamos establecer que la función del erotismo
ilustrado es entender, comparar y formar juicios sobre
los simulacros o imágenes de objetos lejanos (es decir,
los que se encuentran a más de un metro de distancia y
sin importar si esa distancia se recorre en tranvía o en
bicicleta), ya que, aunque atómicamente estructurados de
la misma manera que los simulacros de objetos cercanos
–y que los objetos cercanos en sí- son, por así decirlo,
menos corporales, quedando muchas veces su
corporeidad reducida a una impresión en el alma, de
donde tiene que volver en forma de discurso. Y de
discurso escrito, pues la distancia impide la oralidad –a
menos de que se trate de una oralidad móvil o telefónica,
perversión que dejo para la siguiente carta pero que, como
ya hemos comentado, resulta inudablemente más
articuladamente comunicativa que la oralidad entre objetos
demasiado cercanos-.
Un último dato a estas especulaciones lo aporta el
psicoanálisis, que muestra que la pulsión sexual se halla
íntimamamente ligada a un juego de representaciones o
fantasías que la especifican y sólo al final de una evolución
compleja y aleatoria se organiza bajo la primacía de la
genitalidad y encuentra entonces la fijeza y la finalidad
aparentes del instinto.2 Si esto responde a un imperativo
biológico o es parte del proyecto del Ser Supremo, como
tú bien sabes, no tienen la menor importancia (aunque
Epicuro diría que el hombre es perfectamente autárquico
y no necesita de los dioses, ni siquiera de Cupido). Lo
que si queda claro es que para encontrar la fijeza del instinto,
la distancia no puede ser mayor de unos cuantos
milímetros, y eso solamente en el caso extremo, pero
frecuente, de pérdida de la respiración.
Erótica, aunque, por el momento, sólo ilustradamente
tuyo,
Ela ia de cabeça baixa, tomando o cuidado de não encharcar
o seu tênis all star com a água da chuva, que escorrera a
cidade. Caminhava pensativa, tentando, entre uma poça e
outra, encontrar o sentido da vida. A experiência já lhe
ensinara que histórias incríveis e dignas de contos literários
nunca resultam em qualquer coisa palpável. Ou sim,
dependendo da sorte do protagonista em questão. De
qualquer forma, o fato é que há histórias que terminam
muito antes de um final feliz. Ou de um final qualquer.
Mas de quê são feitas as grandes paixões, afinal? E ela,
originária de um país quente, não sabia responder...
domingo, tomar o café da manhã em trajes sumários e nem
sequer se dar conta de que o dia seguinte era segunda –
feira. Ou as noites de sexta, com as bocas cada vez mais
roxas de vinho, como gostaria Ricardo Reis. As conversas
ressaqueadas, o teto sempre presente, as duas sempre
presentes. As costas da sua mão na curva das minhas costas, a
outra, no vão das minhas pernas e por tantos outros lugares,
inomináveis e obscuros, feitos de sombra e arrepio. E de coisas
fenomenalmente pequenas. Os risos e as histórias, contadas
de barriga para cima, no limiar das sensações, como todas
as histórias entre melhores amigas de colégio.
Ainda andava ela aos saltinhos, compenetrada e confusa,
quando se deparou com uma outra questão, aparentemente
mais importante que a anterior: para quê servem as grandes
paixões? Quem consultar o dicionário vai ver que paixão
provém do latim passio e significa... sofrimento. Então 99%
da população mundial anda em busca de um pouquinho de
angústia, umas pitadas de calafrio, mãos suadas e
pensamentos estúpidos. Onde está o prazer disso tudo?
Mas ela se perdeu em outros lençóis, de um jovem pseudointelectual com cara de poeta tuberculoso.
Dura e fria depois de um longo inverno varsoviense, ela
deitou-se na banheira de água quente com as pernas
estrategicamente abertas e, fechando os seus olhinhos
oblíquos, tentou buscar no outro lado do oceano, na sua
cálida terra de paixões, uma resposta menos irônica que
aquela que o seu ceticismo lhe permitia.
Todas as coisas tendem a acontecer justamente quando
estamos distantes o bastante para não vê-las. O que não
significa que não as podemos senti-las. Num lugar que todos
crêem exalar erotismo, muitos vão e não voltam e os que
ficam escrevem e-mail intranqüilos e turvos, sobre as
confusões cotidianas, que nem sempre são fáceis de
entender. E, de repente, todos parecem envoltos numa
atmosfera cor-de-rosa e ela, fracassada, em pleno nevoeiro.
E Ela se perdeu em uma banheira de água quente, em
outro continente.
Depois foi o Mestre da Ironia quem se desviou do caminho
dos fracassados.
Ela o conhecera, antes de mais nada, ao ler a lista dos alunos
aprovados, juntos com Ela, na Universidade. Riu-se com
seu nome pop-épico, não podendo imaginar quem ele um
dia viria a ser.
Deitados na cama dele, digerindo o almoço e suando o
calor do meio-dia. Rodeados por todos os segredos e
impressões, alfinetados pelo ciúme mútuo e por ácidas piadas
internas. Escrevendo juntos o seu best-seller imaginário,
“Como Controlar Minhas Ironias e Piadinhas Sem Graça”,
e controlando os seus passos por esse terreno neutro que
separa a amizade profunda do erotismo.
Mas ele também se deixou penetrar por essa onda
sentimentalista que assolou os trópicos. E Ela bufou,
insensível.
Primeiro foi a Doce Menina Carolina quem se perdeu e A
perdeu um pouco, por conseqüência.
Onde está o prazer disso tudo? Ela se perguntava
novamente, na sua retórica socrática.
As histórias da cama sempre foram divertidas.
E não podia mais pensar com clareza, mole e febril do
banho quente. Desejou uma taça de vinho tinto, dois pedaços
de chocolate, uma música ao fundo, e já não importava a
resposta, visto que chegara a primavera.
G.
1
Giovanni Reale y Dario Antiseri, Historia del pensamiento filosófico y
científico, Herder, Barcelona, 1988, Tomo I, pag. 214.
2
Jean Laplanche y Jean-Bertrand Pontalis, Diccionario de Psicoanálisis,
Labor, Barcelona, 1983, pág. 332.
Acordar de manhã cedo com uma cosquinha na barriga e
olhar o teto por instantes a fio, pensando só no dia de
Maio 2004
25
dabliudabliudabliupontopêtê
uvedobleuvedobleuvedoblepuntoeese
por K@t@rzyn@ Piwow@rczyk
ESPAÑA EN LA RED.
OS SENTIMENTOS
¿Están hartos del frío y de la nieve? ¿Esperan con impaciencia la llegada de la primavera? Escuchen la música
de las playas de Ibiza en www.cafedelmarmusic.com. O algo de flamenco en: http://www.flamenco-world.com/
indice.htm. Después pueden descargar salvapantallas o enviar postales para sus amigos desde la página
www.kukuxumusu.com. Seguro que se sentirán mejor.
Disseram-me, que tinha de escrever um www erótico. Digo abertamente – não me apetecia nada de nada.
Porquê? Se quer saber a resposta, pergunte “erótico” ao senhor Google. Quem não gosta de fotos perversas, por
favor não o faça! Mas a Rede é uma mulher perversa.
Ahora que ya están de buen humor pueden hacer planes para las vacaciones. ¿Dónde? Por supuesto en España.
Si van a Madrid o a Barcelona, necesitan un plano del metro: lo encontrarán en www.metromadrid.es y en
http://www.barcelonagallery.com/cas/transporte1%BF1.htm. La página www.barcelona2004.org contiene
informaciones sobre el foro cultural que tendrá lugar este verano en la capital catalana. En http://
www.xacobeo.es/ encontrarán la descripción de la ruta jacobea. Sin embargo, si no les gusta pasar las vacaciones
caminando, pueden ver en la misma página las imagenes directas de Santiago de Compostella o del cabo de
Finisterre sin moverse de casa...
DA
REDE.
Mas. Sempre há algum “mas”, como dizem os poloneses. Então decidi tentar encontrar um “mas”. Como? Vou
revelar este segredinho. Trocando a palavra, para uma que me pareça mais mágica e, é claro, muito mais inocente.
Escrevemo-la juntos, eu e os meus amigos. A Rede e o Google.
O AMOR
Primeiro ela não sabia como reaccionar. Deixou-me por alguns segundos sem resposta. E depois cuspiu o
resultado de 1.830.000 páginas em português. A Rede sabe muito sobre o amor, pensei.
Volvamos a la realidad. Como estudiantes del Instituto de Estudios Ibéricos e Iberoamericanos tenemos que
estar al día con la actualidad española. Nos ayudarán las páginas de la agencia EFE www.efe.es o los portales
más populares: www.terra.es, www.yahoo.es. ¿La prensa? En http://www.prensaescrita.com hay de todo. Sin
embargo, si no encontramos nada, podemos buscar en www.google.es. Algo debería aparecer. Cuando no
entendemos el resultado de la búsqueda, podemos consultar el diccionario de la Real Academia Española en
http://buscon.rae.es/diccionario/drae.htm.
Decidi entrar na primeira página que apareceu na lista. “1001 Cartas de Amor”: 1001cartasdeamor.terra.com.br
Nesta página pode-se encontrar uma inumerável quantidade dos ensaios amorosos na versão portuguesa de
Portugal e do Brasil. Encontrei um leque de opções, até para diferentes meses . Como não encontro maio,
escolho abril. Mas o computador diz-me que tenho de pagar.
¿Y algo sobre la cultura y el arte? ¡Aquí está! El portal www.unavuelta.com ofrece informaciones del mundo de
la cultura. En http://www.cultura.mecd.es/museos/intro.htm encontrarán enlaces de los museos y galerías de
arte españoles: Museo del Prado, Reina Sofía... Miren la página http://www.spanishprintmakers.com/, que
presenta la obra gráfica contemporánea ‘made in Spain’. O vean la colección de carteles falleros: http://
webs.ono.com/usr000/teiditos/fallas1998/carteles_falleros.htm.
A página www.historiadeamor.com.br tem tudo. Poesias, letras de música, e, claro, um sistema de encontros. Há
cartões, horóscopo. A Rede tem uma paixão enorme por essas coisas. E nesse momento descobre-se um segredinho
dela. Ela não tem namorado! Passa as noites sozinha, jogando com o “Ponto de Encontro”, ouvindo músicas...
mas não parece nada triste. Sempre está a viver os amores dos outros.
¿Les gusta el cine? Aquí tengo algunas páginas interesantes:
http://www.buscacine.com: todo lo que quieren saber del cine español,
http://www.guiones.com/ie/intro2.asp: todo sobre guiones,
http://www.cultura.mecd.es/cine/: página del Instituto de la Cinematografía y de las Artes Audiovisuales,
http://www.sansebastianfestival.ya.com/: página oficial del festival de San Sebastián
http://www.surdelsur.com/cine/cinein/index.html: sobre la historia del cine argentino. En la red hay de todo...
¿Necesitan libros? Pueden bajarlos gratuitamente por ejemplo en:
http://www.librodot.com/,
http://virtualibro.com/,
https://librosalacarta.com/,
http://www.elaleph.com/.
Supongo que ya están cansados. Antes de desconectarse vale la pena echar un vistazo, por ejemplo, a
www.karlosnet.com: las recetas de Karlos Arguiñano les ayudarán recuperar las fuerzas.
26
Mayo 2004
De amor pago, na minha vida, tento fugir. Então fico fiel ao meu decálogo e procuro outro site.
As vezes está aborrecida. Nesta situação liga para o seu melhor amigo Google e procuram juntos histórias mágicas
de amor. Por exemplo, como lhe diz a página www.solarviews.com/portug/juliet.htm, o satelíte Julieta recebeu
o seu nome da heroína trágica da peça de Shakespeare Romeu e Julieta. É o sexto satélite conhecido de Urano e
foi descoberto pela Voyager 2. Ou, por exemplo, o www.andrezinhu.fotologs.com.br mostra uma foto, dizendo
“Eu, Romeu e Julieta!”. São o casal preferido nos weblogs.
Muito surpreendente na pesquisa de imagens foi que o resultado para “amor” não foi muito perverso. Tinha
medo de fazer um clique no botão “pesquisa”, mas sem razão. Apareceram corações, fotos de criançinhas.
O amor tem muitos lados. O Google encontra uma página “de amor ao Rio de Janeiro”. Primeiro ri-se, mas
depois fica-se de boca aberta vendo as fotos. (www.almacarioca.com.br/fotos.htm). Mas a Rede quer encontrar
alguém conhecido. E acha-o! Aparece uma página de... Cesário Verde! Com um tema interessante: Humorismos
de Amor. E que acham? A Rede tem de ler! (www.personal.u-net.com/~luso/cvhdamor.htm) Lendo, ficou
calminha.
O Google, aproveitando o tempo, encontrou algo para Ela. Mas... que quer dizer com isso? Que acham?
(www.omni.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/v229.txt)
Maio 2004
27
sección galega
sección galega
Texto de Agnieszka K
adziolka
Kadziolka
COMO CHEGAR XUSTO AO CORAZÓN DO LECTOR
Rosalía do Castro) que anai lle adoitaba cantar e as que
logo influirán no estilo da escritura rivaniana. Ademais,
coma di o propio escritor, unha gran influencia no
carácter da súa poesía, caracterizada pola espontaneidade,
e sinceridade transmitiulla o seu avó.
Nunha entrevista Rivas revelou que, de pequeno, ía moito
a casa deste avó, „un lugar noutra dimensión”, onde se
reunían pola noite, sempre ao lado do fogo, os familiares
e os veciños e contábanse historias de amores, aventuras,
lendas (con personaxes coma bruxas, fadas ou ananos nada de estrañar en Galicia☺). Talvez foi esta a experiencia
que deu a base principal para a súa escritura.
Gustaríame presentarlles hoxe o perfil dun famosísimo
escritor e xornalista galego: Manuel Rivas. Para aqueles
que aínda non o saiban, un personaxe clave non só na
paisaxe da literatura contemporánea galega, senón tamén
en toda a literatura castelá. A súa carreira está chea de
premios literarios e xornalísticos. Xa fai tempo que a súa
escritura se fixo famosa e o seu estilo recoñecibles nas
diversas partes do globo (no ano 2002 saíu a primeira
traducción polaca do seu libro “O lapis do carpinteiro”
da profesora cracoviana, Maria Filipowicz).
Rivas chegou a ser un personaxe público, un dos homes
máis significativos na escena da Galicia contemporánea.
Ademais disto, é socio fundador de Greenpeace e ten
un posto dentro da xunta directiva da organización. O
escritor interésase bastante pola política, toma parte activa
nas accións sociais, coma por exemplo en Nunca Máis.
Ben, agora convén dicirlles algo sobre a súa vida. Non
quero, sen embargo, asfixiarlles coa abundancia de datos
biográficos (ademais, resulta que en internet hai
moitísimas informacións sobre el). Bastará con dicir que
naceu na Coruña en 1957☺… Hm, tal vez acheguemos
un par de palabras máis. Posto que o seu pai tivo que
emigrar a Venezuela en busca de diñeiro (traballou coma
man de obra nunha construcción), o pequeno Manuel
foi criado en maior parte pola súa nai, e as cancións
populares galegas (entre outras, as tamén recollidas por
28
Mayo 2004
As súas novelas, contos, poemas tamén falan dos
emigrantes, dos fusilados, dos vellos viaxeiros... Reflicten
a Galicia cotiá cos seus problemas e as súas alegrías;
desprenden por todo o mundo a visión desta afastada
rexión do mundo, tan esquecida e tan fermosa ao mesmo
tempo.
Manuel Rivas ten fama de ser o escritor galego máis
universal de hoxe, un „auténtico clásico” da literatura
recente! (de verdade, Rivas é obxecto de moitas
louvanzas). Pero sempre cando falamos dos escritores
famosos, populares nos varios países, temos que tratar
con algo máxico que sudece a multitude de lectores, tan
diversos entre si. Paréceme que estes autores teñen unha
forza especial, un don de saber intuitivamente como
chegar xusto ao corazón do lector. E este é o caso de
Manuel Rivas.
Ao final, cabe destacar algúns dos seus libros: Un millón
de vacas (1990), Os comedores de patacas (1992), Toxos
e flores ( 1992) En salvaxe compaña (1994), ¿Que me
queres, amor? (1996), A Bala Perdida (1996), O pobo
da noite (1997), O lapis do carpinteiro (1998), Ela, maldita
alma (1999), A man dos paíños (2001), As chamadas
perdidas (2003).
Toda esta presentación fíxena coa intención de
aproximarlles a figura do famoso coruñés e para
animarlles, por suposto, a que tomen nas súas mans algún
dos seus libros; “libros-ponte” que os guiarán na vosa
viaxe por Galicia, a súa alma e as súas curiosidades.
Texto de Julia K³oczkowska
A LINGUA DAS BOLBORETAS
A película “La lengua de las
mariposas” (1999), realizada
por José Luís Cuerda, un
dos mellores directores de
cinematografía española nos
últimos anos, está baseada
no libro do escritor galego
Manuel Rivas, “¿Que me
queres, amor?”(1996), nos
relatos “A lingua das
volvoretas”, “Carmiña” e
“Un saxo na néboa”. Coa
colaboración do guionista
Rafael Azcona, Cuerda
soubo construír esta fábula
sutil pero contundente
transcorrida nunha vila
galega nun dos momentos
de maior transcendencia na
historia galega de século XX:
a preguerra civil.
A fábula componse de varias historias que están moi
enlazadas, pero a base principal do argumento é a
historia de Moncho (Manuel Lozano), un neno de oito
anos, vulnerábel e curioso que comeza a súa ensinanza
na escola da vila. Alí coñece e relaciónase moi
estreitamente con Don Gregorio (Fernando Fernán
Gómez), un entrañábel mestre librepensador e de ideas
republicanas que educa aos seus alumnos no
convencemento de que “a liberdade estimula o espírito
dos homes fortes”. Moncho é un mozo moi tímido e
nun principio non quere contacto con ninguén, pero
gracias ao seu profesor consegue afacerse ao ritmo da
súa clase e a relacionarse cos seus compañeiros.
O eixo central da historia desta película é a relación
entre Moncho e o mestre cuns lazos cada vez máis
fortes. O ancián guía ao rapaz non só polo camiño do
saber (aulas de letras, leccións de ciencia natural) senón
tamén polo do ser. Hai cuestións máis profundas e
existenciais que preocupan aos homes adultos. Aquí
esas preocupacións son de distinta índole e van do
filosófico ao político pasando polo amor, a morte e a
intolerancia.“La lengua de las mariposas” sitúase na
guerra civil española transcendendo a unha historia de
contido universal: amizade e traizón, medo, amor, afán
de vinganza, descubrimento da vida.
A transformación histórica e política desta película está
moi ben trazada porque forma contraste coa emotiva
historia dun neno, os recordos e soños da infancia,
luminoso e inocente, cos escuros nuboeiros que na
situación política de España están formándose, e como
isto, esta situación vai empeorando e corrompendo o
ambiente case idílico e de soño que a película ten nun
inicio, para acabar case nunha especie de catarse da
tristeza, desolación e traizón.
Desde un punto de vista xeral, “La lengua de las
mariposas” é unha película abraiante, un retrato fiel á
sociedade do momento, cunha grande dose de tenrura
e á vez de crueldade.É unha gran obra da cinematografía
española digna de ver.
Maio 2004
29
sección galega
Texto de Lucía Rodríguez Caeiro
CASTELAO: SÍMBOLO DA GALEGUIDADE
Unha das maiores personalidades galegas de tódolos
tempos. Figura polifacética e humana sempre presente na
memoria colectiva de Galiza. Desenvolveu o seu labor
creativo nas artes plásticas, na literatura (contos, novela,
teatro), na prensa e na política. Home comprometido
coa causa nacional e social do seu país, á que serviu toda
a súa vida. Foron a súa terra e a xente do traballo a súa
fonte de inspiración artística e literaria, o seu ideal como
activista político e a súa preocupación como ideólogo
nacionalista. Na II República foi elixido deputado polo
Partido Galeguista. Loitou polo Estatuto de Autonomía.
Durante a Guerra civil e a posguerra defendeu a causa
republicana e os dereitos nacionais de Galiza. Personificou
a resistencia antifranquista. Forzado ao exilio percorrerá
varios países ata establecerse en Buenos Aires onde
publicará Sempre en Galiza, principal obra teórica do
nacionalismo. Morre na cidade porteña en 1950, cuberto
coa bandeira galega e terra do seu Rianxo ao que nunca
puido voltar.
Na súa creación artística opta por mostrar o vivir das
clases populares ás que concede de forma prioritaria o
protagonismo (máis do 70% da poboación no primeiro
tercio do século XX). Promovendo a súa identidade coa
terra e co pobo campesiño, mariñeiro, emigrante,
descobre a esencia profunda das xentes e expresa coma
ninguén os anceios da súa alma.
COUSAS
Íntimas paisaxes psicolóxicas da súa terra
Editado en dous libros en 1926 e 1929, cunha edición
definitiva en 1934.
Pequenas pezas narrativas acompañadas todas elas dun
debuxo que inmobiliza o sucedido nun momento de seu
devir:nun xesto, un lóstrego de mesquindade ou de
30
Mayo 2004
NA NOITE DA DERRADEIRA NOVENA...
Traducción de Joanna Stankiewicz,
Universidade Jagiellonski, Cracovia
O S T A T N I E J
NOWENNY
za
zmar³ych ko¶ció³ pe³en
by³ strachów.W ka¿dej
¶wiecy
b³yszcza³a
dusza, a dusze które
nie mie¶ci³y siê w
zapalonych ¶wiecach,
kry³y siê w mrocznych
zakamarkach i stamt±d
spogl±da³y
na
c h ³ o p c ó w
wykrzywiaj±c siê do
ich.
dignidade ferida, individual ou colectiva, un amor
imposible ou unha pena, un trazo de xenerosidade ou
unha cruel e inconsciente falta de caridade... detalles do
comportamento cotián, fuxidíos e inadvertidos, que
configuran, sen embargo, o tecido espiritual da persoa e
da sociedade, á que, mediante o sorriso e a sutileza, lle
mostra os seus defectos cun tratamento satírico, irónico,
tenro ou mesmo grave. Nas palabras limiares el mesmo
confesa que se decidiu a escribir porque era consciente
da insuficiencia do ollo humano para representar,
mediante o pincel, a realidade dos sentimentos e das
penalidades que se agochan detrás das aparencias visuais
neutras.
NA NOITE DA
DERRADEIRA novena
de difuntos a Eirexa
estaba inzada de
medos.En cada vela
escentilaba unha ánima e
as ánimas que non cabían
nas velas acesas
acochábanse
nos
currunchos sombrizos e
dende alí fitaban aos
ra-paces e facíanlles
carantoñas.
O humor de Castelao aséntase nunha posición de empatía
ou compaixón coa víctima situado entre a traxedia e a
comicidade, un humor que se estiliza co lirismo cando se
achega aos personaxes humildes e de nobres sentimentos,
movéndoo á identificación cordial con eles, mentres que
bota man do sarcasmo e a caricatura cando procura o
distanciamento crítico respecto de determinadas
conductas ou personaxes destacados do mundo urbano
e a fidalguía, sen que falte, mesmo nestes casos, un
transfondo de piedade.
Cada luz que o sancristán
mataba era unha áni-ma
acesa que se desfacía en fíos de fume e todos sentíamos o bafo das
ánimas en cada vela que morría.
Dende entón o cheiro da cera traime a lembranza dos medos
daquela noite.
Ka¿de ¶wiate³ko, które
zabija³ zakrystian, by³a
to zapalona dusza, która rozp³ywa³a siê w smugach dymu i
wszyscy czuli¶my woñ dusz w ka¿dej ¶wiecy, która
umiera³a.Od tamtej pory zapach wosku przynosi mi
wspomnienie strachów owej nocy.
O abade cantaba o responso diante dunha caixa chea de ósos e no
intre de finar o “paternóster” daba comenzo o pranto.
Catro homes adiantábanse apartando mulleres enloquecidas de
door e cunha man erguían o ataúde e coa outra empuñaban unha
facha.
Proboszcz odprawi³ modlitwê naprzeciw trumny z cia³em i
gdy tylko skoñczy³ paternoster rozpocz±³ lament.Czterech
mê¿czyzn wysz³o na przód odsuwaj±c oszala³e z bólu kobiety
i jedn± rêk± unie¶li trumnê podczas gdy drug±
przytrzymywali pochodniê.
O seu peculiar lirismo acádao a través da vibración rítmica
da súa prosa, ateigada de recorrencias no nivel fónico e
morfosintáctico, encadeando os feitos ata estoupar nun
clímax particularmente conmovedor. É unha prosa que
en moitos casos posúe un ritmo que lembra a tarefa
poética. De aí a redondez e perfecto acabamento que
observamos, nada sobra e nada falta, nesta sinfonía
humorística que o propio lector compón ao percorrer
esta serie de cadros da vida contemporánea. A seguir
mostramos a traducción dunha destas 44 pezas ao polaco.
Bibliografía:
Humor e lirismo. Tenrura e autenticidade. Sinxeleza e
dramatismo.
sección galega
- Fernández del Riego, Francisco: Historia da literatura, Biblioteca da
Cultura Galega, Editorial Galaxia, 1995.
- Gutierrez Izquierdo, Ramón: Lectura de Nós. Introducción á
Literatura Galega, Edicións Xerais de Galicia, 2000.
- Méixome Quinteiro, Carlos: Unha historia do nacionalismo galego.
Castelao, Edicións do Cumio, 2000.
- Rodríguez Castelao, Alfonso Daniel: Cousas, Editorial Galaxia,
1993.
- Tarrío Varela, Anxo: Literatura Galega. Aportacións a unha Historia
crítica, Edicións Xerais de Galicia, 1994.
A procesión tiña remate no osario do adro. Os catro homes
levaban o ataúde pendurado arrentes do chan e a facha deitada
pingando cera por riba dos ósos. Detrás seguía o enxamio de
mulleres ceibando laídos abrouxadores, moito máis arrepiantes
que os do pranto nun enterro de afogados. E se as mulleres carpían
os homes esbagullaban calados.
Naquela procesión todos tiñan por quén chorar e todos choraban.
E aínda choraba Baltasara, unha rapaza criada pola caridá de todos
que aparecera dentro dun queipo, a carón dun cruceiro, que non
tiña pai nin nai, nin por quén chorar: mais ela foi collida polo
andacio do pranto e tamén se desfacía carpindo con todos os
folgos.
Camiño das casas unha veciña inquiréu da rapaza:
—¿Por quén chorabas, Baltasara?
E ela dixo, saloucando:
—¿O non ter por quén chorar parécelle pequeña desgracia, señora?
Procesja koñczy³a siê w kostnicy na dziedziñcu. Czterech
mê¿czyzn nios³o trumnê wlok±c j± po ziemi a pochylona
pochodnia plami³a woskiem cia³o. Za nimi sz³a grupa kobiet
wznosz±c ¿a³osne jêki o wiele bardziej przejmuj±ce ni¶li
lament na pogrzebie topielców. I podczas gdy kobiety
zawodzi³y, mê¿czy¶ni p³akali po cichu.
Podczas owej procesji wszyscy mieli po kim p³akaæ i
wszyscy p³akali.
P³aka³a te¿ Baltazara, dziewczyna wychowana dziêki
mi³osierdziu bli¶nich, któr± znaleziono w koszyku obok
przydro¿nego krzy¿a, co nie mia³a ani ojca, ani matki, ani
po kim p³akaæ; jednak i ona da³a siê ponie¶æ fali rozpaczy i
tonê³a we ³zach.
W drodze powrotnej jedna z s±siadek spyta³a dziewczynê:
— A ty po kim p³aka³a¶, Baltazaro?
A ona odrzek³a zawodz±c:
— A czy nie mieæ po kim p³akaæ wydaje siê pani
ma³ym nieszczê¶ciem?
Maio 2004
31
sección galega
sección galega
Texto de Yolanda FFerro
erro
“GALITZIA EN GALICIA”: A “PEREGRINAXE ARTÍSTICA” COMO PRETEXTO
máis ou menos estratéxicos de encontro-reencontro
político-europeístico-relixioso, non se fixera un maior
esforzo didáctico e comunicativo que permitise achegar
ao público galego á Galitzia polaca dunha forma máis
efectiva, a través de mecanismos que poderían ter sido
tan sinxelos como a localización desa rexión histórica nun
mapa, datando ademais a súa historia, ou explicando, por
exemplo, a relación entre os topónimos das dúas Galicias
tan afastadas entre si, o que sen dúbida resultaría curioso,
ademais de necesario, tendo en conta o título da propia
exposición.
Amais diso, a imaxe que se lle dá ao público non renova
nin actualiza nin contribúe a enriquecer a imaxe relixiosa
e case mística que os galegos, e os españois en xeral, teñen
dos polacos no seu conxunto, de forma que a Polonia
actual queda un pouco fóra de xogo, fóra da historia (e
tamén da época comunista, por certo...).
Entrada da exposición, coa obra de J. Malczewski
“A Victoria das Lexións” (1916), escollida como “imaxe” da exposición.
A exposición “Galitzia en Galicia” está incluída dentro
do macroprograma cultural “Xacobeo”, que se realiza
en concordancia cos Anos Santos Composteláns (as
anteriores edicións deste programa desenvolvéronse con
motivo dos anos xubilares de 1993 e 1999, e o vindeiro
será no 2010, que son anos nos que o día do Apóstolo
Santiago, 25 de xullo, coincide en domingo).
Explica o tríptico que se reparte aos asistentes de forma
gratuíta na entrada, que na selección das obras
“procurouse acentuar os temas que interesan aos polacos:
o culto mariano, a adoración aos santos, o papel dos
conventos, a devoción polos cadros e a iconografía da
morte”.
Esta mostra, que foi inaugurada o 16 de abril e
permanecerá aberta ata o 16 de xuño, amósase no espazo
expositivo do Colexio de Fonseca, un dos edificios máis
emblemáticos, fermosos e concorridos da cinco veces
centenaria Universidade compostelá.
Entre as pezas máis rechamantes, destacan visualmente as
catro que conforman o “Ciclo de cadros ‘O baile da
morte’” (1767), de Antoni Gruszecki, escuras e fúnebres,
que forman parte dos fondos do Convento dos
Capuchinos cracoviano. O escudo ruteno de Józef
Hakowski, coa escena da “Batalla en Kulikowe Pole no
ano 1380” (1895) chama a atención ao público galego
polo que poderíamos cualificar de “exotismo eslavo” e
polo seu carácter épico. O “Cristo crucificado” de Maciej
Polejowski (ca. 1771) en madeira policromada e dourada,
é outra das pezas protagonistas desta exposición. Aínda
que sen dúbida a máis sorprendente, polo seu carácter
mórbido e naif a un tempo, é “A Victoria das Lexións”
(1916) de Jacek Malczewski, obra que foi estratexicamente
escollida para os carteis e publicidade desta mostra.
“Galitzia en Galicia” pretende dar a coñecer a expresión
artística de Galitzia, rexión homónima destoutra desde a
que se escribe este artigo. Así, traza un percorrido que
recolle unhas oitenta pezas, que van desde a arte medieval
cristiá, incluída a ortodoxa, pasando polo Renacemento
e o Barroco, e chegando ata a actualidade, a través de
esculturas, pinturas e utensilios para o culto.
Canto da época contemporánea, a exhibición recolle
pezas de Stanislaw Ignacy Witkiewicz, Bruno Schulz e
Tadeusz Kantor, tres dos máis grandes creadores polacos
que os galegos poden coñecer nesta exhibición,
destacando, pola súa rixidez e por ser a única instalación
da mostra, “O pupitre da clase morta” (1980) de
Tadeusz Kantor.
Organizada polo goberno da Comunidade Autónoma
galega, a Xunta de Galicia, o goberno de Polonia e a
Embaixada polaca en España, coa colaboración da
Universidade de Santiago de Compostela, compila pezas
prestadas na súa maioría polo Museo Nacional de
Cracovia, con outras doadas para a ocasión por dúas das
principais institucións eclesiásticas cracovianas: o Convento
dos Capuchinos e a Igrexa de Santa Bárbara.
32
Mayo 2004
Pero, como ben apunta o dito, “menos dá unha pedra”,
e a exposición brinda, sen dúbida, unha oportunidade de
achegamento a Galitzia e a Polonia, aínda que sexa dunha
forma parcial e un tanto sesgada. Exterior do Colexio de Fonseca no que
se atopa a exposición.
Canto da musealización, construíronse unhas grandes
caixas-habitáculos dentro das salas do Colexio de Fonseca
que conforman unha especie de segunda pel interior,
pintada de cor laranxa, que xunto coa pouca luminosidade
obrigada polas necesidades de conservación dos fondos,
contribúe a unha sensación á vez íntima e espesa, un tanto
abafante pero interesante.
Segundo as palabras de Manuel Fraga, presidente da Xunta
de Galicia, a exposición pretende “reforzar os nosos
respectivos sentimentos europeísticos”, quen ademais
lembrou no discurso inaugural que a visita do Papa a
Compostela no ano 1982, foi un dos momentos
culminantes desta “amigable relación”. De feito, as
palabras do Sumo Pontífice foron as escollidas para a
grande cartela que presenta a exposición nada máis entrar.
Mágoa que nesta exposición, a maiores dos obxectivos
Maio 2004
33
sección galega
.
Texto de Paulina Ceremuzynska
´
sección galega
O TEXTO E A MÚSICA NAS CANTIGAS DE MARTIN CODAX
A cuestión das relacións entre a música e o texto na
producción trobadoresca ata agora non foi resolvida
finalmente. Os vínculos co canto gregoriano, a
construcción de melodías a través do diccionario de
fórmulas melódicas, o uso frecuente das contrafacturas,
a situación normal de que unha melodía serve para varios
textos de varias cobras dunha canción, a ausencia da
“pintura sonora”, a dominación da concepción da “música
absoluta” nas composicións polifónicas... todo isto levou
a algúns autores a manter que na monodia medieval non
existían vínculos estreitos entre a melodía e o texto.1
Outros, como o ilustre musicólogo Manuel Pedro
Ferreira, postularon a existencia de relacións íntimas entre
a acentuación musical e textual nas cantigas medievais, e
observaron tamén na monodia cortesá o posible uso das
figuras retóricas.
Pero a cuestión esencial e clave para resolver este
problema é a natureza dos vínculos músico-textuais na
monodia trobadoresca.
Intentaremos considerala tomando como exemplo as
cantigas profanas galego-portuguesas conservadas coa
música: as sete cantigas de amor de Don Denis e as sete
cantigas de amigo de Martin Codax2.
A relación entre a música e o texto móstrase de forma
totalmente diferente nas cantigas de amigo codaxianas,
que revelan un paralelismo estructural perfecto (leixaprén),
e nas cantigas de amor dionisiacas, especialmente nestas
de mestría. Esta diferencia depende das características do
texto poético que domina ou está dominado pola música.
Nas cantigas de amigo construídas sobre o leixaprén o
texto é sinxelo e estático. O sentido destas cantigas
concéntrase na demostración dos estados psicolóxicos
da moza namorada coma a alegría, a tristeza, a esperanza.
A música domina o texto, sendo o medio máis apropiado
para a transmisión da “message”, baseada case unicamente
nas emocións. O texto forma unha especie de esqueleto,
arredor do que se desenvolven os sutís cambios dos
sentimentos. Nas cantigas de Martin Codax observamos
dous modos de dominación musical sobre o texto.
As cantigas I, IV, e VII están dominadas polo elemento
mélico (podemos nomealas “cantigas contemplativas”).
As súas melodías non caen en calquera tipo de metrum
34
Mayo 2004
musical ou esquema modal. Este feito coincide co seu
carácter melismático e coas características dos textos, que
non contan con ningún tipo de acción e concéntranse na
contemplación dun estado psicolóxico. Os interlocutores
da moza (os elementos de natureza e Deus) existen “fóra
do tempo”, teñen un carácter “eterno”. O elemento
rítmico parece ter un rol secundario e depender máis dos
acentos textuais que da cuantificación exacta das unidades
rítmicas escritas no Pergamiño Vindel. As repeticións do
texto danlle ó intérprete a posibilidade de demostrar na
música cada vez un matiz significativo diferente das
mesmas palabras. Nas cantigas I e VII en especial hai sitio
para a improvisación: para repetir ou cortar as melismas
de acordo co desenvolvemento da “narración emotiva”.
Observamos aquí varias figuras retóricas3, entre outras a
“exclamatio” na parte final do refrán da cantiga IV (na
palabra “namorada”).
As cantigas II, III e V forman contraste coas cantigas
sobreditas. Aquí o elemento que domina o texto é a rítmica
(estas cantigas podemos nomealas “motóricas”). As
cantigas II e III foron escritas coa notación modal, II e V
empezan cun ritmo moi decidido que impón sobre o
texto os seus propios acentos, que non están de acordo
cos acentos textuais (véxase, en especial, a cantiga II). A
melódica das estrofas destas tres cantigas é basicamente
silábica (unha nota por unha sílaba) ou neumática (dúas
ou tres notas para unha sílaba). Os interlocutores da moza
son persoas vivas e reais (madre, irmanas). Os textos
contan dunha acción feita ou prevista, as palabras claves
son os verbos “ir” e “traer”. Estas cantigas parecen ter
un ritmo fixo, baseado non nos puros esquemas modais,
senón noutros esquemas rítmico-métricos. A súa
característica xeral é o movemento permanente e enérxico
que coincide co sentido dos textos.
Na maioría das cantigas de amor, sobre todo nas de
mestría (as que non teñen refrán) o texto é o máis
importante na composición e é tan complicado e refinado
que domina sobre a melodía. As cobras de 6-7 versos de
10 sílabas son as máis frecuentes. A “message” aquí
fórmana dous elementos de igual importancia: por unha
banda está o contido do texto, que é moito máis
complicado que nas cantigas de amigo; e por outra están
as calidades poéticas do autor, transmitidas a través do
virtuosismo do uso da lingua. Un bo exemplo son aquí
as sete cantigas de amor de Don Denis, e entre elas esta:
Quix bem, amigos, e quer’ e querrei
ua molher que me quis e quer mal
e querrá; mais nom vos direi eu qual
est a molher; mais tanto vos direi:
quix ben e quer’ e querrei tal molher
que me quis mal sempr’ e querrá e quer.
composición musical, senón que algunhas das técnicas
poéticas sen música e sen intérprete non podían funcionar
sen perder o seu sentido.
2. As técnicas poéticas máis características para as cantigas
de amigo, o leixaprén e o paralelismo literario, teñen
tendencia a estar dominadas pola música: polo seu
elemento mélico ou rítmico. Este é o caso das cantigas
de Martin Codax.
Quix e querrei e quero mui gram bem
a quem mi quis mal e quer e querrá,
mais nunca omem per mi saberá
quem é; pero direi-vos ua rem:
quix ben e quer’ e querrei tal molher
que me quis mal sempr’ e querrá e quer.
3. Respecto ao tipo de dominación musical nas cantigas
de Martin Codax podemos dividilo claramente en dous:
as cantigas contemplativas (I, IV e VII) e as cantigas
“motóricas” (II, III e V, probablemente tamén VI).
Quix e querrei e quero bem querer
a quem me quis e quer, per boa fe,
mal, e querrá; mais nom direi quem é;
mais pero tanto vos quero dizer:
quix ben e quer’ e querrei tal molher
que me quis mal sempr’ e querrá e quer.
4. Os dous tipos relevan diferentes modos de sensación
do tempo. Nas cantigas “motóricas” o tempo é real,
medido e “direccional”. Nas cantigas contemplativas o
tempo é estirado, é un tempo “interno” e “eterno”, un
tempo de “suspensión” no que as pausas, coma os
suspiros, non se miden, e no que hai espazo para a
improvisación. A presenza das figuras retóricas é aquí
natural, xa que elas son fenómenos basicamente melódicos.
O paralelismo que hai aquí ten unha característica diferente
ao paralelismo das cantigas da amigo. Toda a “mestría”
destes versos xace nas repeticións da mesma mensaxe
nunha forma cada vez un pouco diferente, aínda que o
autor usa o mesmo léxico. Neste tipo de composicións a
música non pode “molestar” a percepción do texto, e
antes de todo ten que subliñar o sentido das palabras.
Esta tendencia observámola tamén na lírica occitana, no
caso das cansós (o exemplo máis extremo é a sextina de
Arnaut Daniel “Lo ferm voler” na que as únicas melismas
están situadas na fin das liñas, distinguindo as seis palabras
claves e non molestando á percepción do resto da letra.
A música das cantigas de Don Denis, aínda que se
caracteriza pola existencia de moitas melismas, antes de
todo subliña os acentos sintácticos do texto4.
Notas de rodapé
1
As sete cantigas de amigo de Martin Codax do Pergamiño Vindel
son:
I - Ondas do mar de Vigo
II - Mandad’ ey comigo
III - Mia irmana fremosa, treydes comigo
IV - Ay Deus, se sab’ ora meu amigo
V - Quantas sabedes amar amigo
VI - Eno sagrado, en Vigo
VII - Ay ondas, que eu vin veer
2
véxase: John Stevens “Words and Music in the Middle Ages.
Song, Narrative, Dance and Drama 1050-1350” Cambridge
1986
3
M. P. Ferreira: “O som de Martín Codax. Sobre a dimensão
musical da lírica galego-portuguesa (séculos XII-XIV), Lisboa
CONCLUSIÓNS
1986 pp. 136-167
1. Podemos entón afirmar que a relación entre a música e
o texto nas cantigas medievais (non só galego-portuguesas)
foi moito máis próxima do que se pensaba. Non só certas
técnicas poéticas rexeron un determinado tipo de
4
M. P. Ferreira “A música das cantigas galego-portuguesas: balanço
de duas décadas de investigação (1977-1997)”CESEM 1999,
p.3
Maio 2004
35
36
Mayo 2004
Maio 2004
37
38
Mayo 2004
Maio 2004
39