Volume 21 - Números 1-2
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ISSN 0103-5355 Arquivos Brasileiros de NEUROCIRURGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEUROCIRURGIA Volume 21 • Números 1-2 • 2002 Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Bryan disc: nova opção para o tratamento da patologia cervical Doença de Forestier Metástase cerebral de tumor de Askin Ferida penetrante no crânio por auto-infligimento como tentativa de suicídio Aneurisma gigante da artéria comunicante anterior como causa de hipopituitarismo Arquivos Brasileiros de NEUROCIRURGIA Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (ISSN 0103-5355) Junta Editorial Editores Gilberto Machado de Almeida Milton K. Shibata Mário Gilberto Siqueira Editores Associados Atos Alves de Sousa Carlos Umberto Pereira Eduardo Vellutini Fernando Menezes Braga Francisco Carlos de Andrade Hélio Rubens Machado João Cândido Araújo Jorge Luiz Kraemer José Alberto Gonçalves José Carlos Lynch Araújo José Perez Rial Manoel Jacobsen Teixeira Marcos Masini Nelson Pires Ferreira Sérgio Cavalheiro Instruções para os autores Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia, órgão oficial da Sociedade Brarurgia sileira de Neurocirurgia Neurocirurgia, destina-se a publicar trabalhos científicos sobre neurocirurgia e ciências afins, inéditos e exclusivos. Em princípio, são publicados trabalhos redigidos em português, com resumos em inglês. Excepcionalmente, poderão ser redigidos em inglês, com resumos em português. Os artigos submetidos à publicação deverão ser classificados em uma das categorias abaixo: • Artigos originais: informações resultantes de pesquisa clínica, epidemiológica ou experimental. Resumos de teses e dissertações. Pretende-se que, pelo menos, a metade das páginas da revista seja destinada a essa categoria; • Artigos de revisão: sínteses sobre temas específicos, com análise crítica e conclusões. As bases de dados e o período de tempo abrangidos na revisão deverão ser especificados; • Artigos de atualização: artigos que se destinam a fornecer atualização dos assuntos relacionados à neurocirurgia, com aplicações clínicas úteis e imediatas, dirigidos principalmente aos residentes; • Relato de caso: apresentação, análise e discussão de casos que apresentam interesse relevante; • Notas técnicas: notas sobre técnica operatória e instrumental cirúrgico; • Artigos diversos: são incluídos, nesta categoria, assuntos relacionados à história da neurocirurgia, ao exercício profissional, à ética médica e a outros julgados como pertinentes aos objetivos da revista; • Cartas ao editor: críticas e comentários, apresentados de forma resumida, ética e educativa, sobre matérias publicadas nesta revista. O direito à réplica é assegurado aos autores da matéria em questão. As cartas, quando consideradas aceitáveis e pertinentes, serão publicadas com a réplica dos autores. Normas gerais para publicação • Os artigos para publicação deverão ser enviados ao Editor, no endereço apresentado ao final; • Todos os artigos serão submetidos à avaliação de, pelo menos, dois membros da Junta Editorial; • Serão aceitos apenas os artigos originais, cuja parte essencial não tenha sido publicada previamente. Os artigos, ou parte deles, submetidos à publicação em Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia Neurocirurgia, não deverão ser submetidos, concomitantemente, a outra publicação científica. Dessas restrições, estão excluídas as Sinopses e outras publicações de Congressos e Reuniões Científicas; • Não serão aceitos artigos que não corresponderem totalmente às normas aqui descritas; • O Editor reserva-se o direito de recusar artigos submetidos à publicação e de sugerir ou adotar modificações para melhorar a clareza e a estrutura do texto e manter a uniformidade no estilo da revista; • Os originais dos artigos recusados não serão devolvidos. Os autores serão comunicados por meio de carta; • A ordem preferencial de publicação será a cronológica, respeitando-se a proporcionalidade acima referida; • Os direitos autorais de artigos publicados, nesta revista, pertencerão excluleiros sivamente a Arquivos Brasi Brasileiros de Neurocirurgia Neurocirurgia. É interditada a reprodução de artigos ou ilustrações publicadas nesta revista, sem o consentimento prévio do Editor. Normas para submeter os artigos à publicação Os autores devem enviar, ao Editor, o seguinte material: • Um original e uma cópia do texto impresso e editado em espaço duplo, utilizando fonte 12, em face única de papel branco de tamanho “A4” ou “carta”, respeitando margem mínima de 3 cm ao redor do texto. • Disquete digitado e formatado de maneira idêntica ao original impresso, com identificação do artigo e do processador de texto utilizado. • Duas coleções completas das ilustrações. • Declaração, assinada pelo autor principal, de que o trabalho é inédito e submetido exclusivamente à publileiros cação em Arquivos Brasi Brasileiros de Neurocirurgia Neurocirurgia. Se for o caso, expressar o desejo de arcar com as despesas relativas à reprodução de ilustrações coloridas. Normas para a estrutura dos artigos Sempre que possível, os artigos devem ser estruturados, contendo todos os itens relacionados abaixo e paginados na seqüência apresentada: 1. Página-título • Título do artigo; nome completo de todos os autores; títulos universitários ou profissionais dos autores principais (máximo de dois títulos por autor); nomes das instituições onde o trabalho foi realizado; título abreviado do artigo, para ser utilizado no rodapé das páginas; nome, endereço completo, telefone, e-mail e fax do autor responsável pelas correspondências com o Editor. 2. Resumo • De forma estruturada, utilizando cerca de 250 palavras, descrevendo o objetivo, os métodos, o material ou a casuística, as principais contribuições e conclusões; indicar, em ordem alfabética, até seis palavras-chave (consultar Index Medicus). 3. Abstract • Título do trabalho em inglês; tradução correta do resumo para o inglês; indicar, em ordem alfabética, Keywords compatíveis com as palavras-chave. 4. Texto principal • Introdução; casuística ou material e métodos; resultados; discussão; conclusão; agradecimentos. 5. Referências • Relacionar, em ordem alfabética, pelo sobrenome do primeiro autor e, quando necessário, pelo sobrenome dos autores subseqüentes; se existir mais de um artigo do mesmo autor, ou do mesmo grupo de autores, utilizar ordem cronológica crescente; os nomes de todos os autores devem constar em cada referência; evitar a forma et al.; opcionalmente, em referências com mais de seis autores, utilize et al. após o nome do sexto autor; as referências relacionadas devem, obrigatoriamente, ter os respectivos números de chamada indicados de forma sobrescrita, em local apropriado do texto principal; dados não-publicados ou comunicações pessoais devem ser citados, como tal, entre parênteses, no texto, e não devem ser relacionados nas referências; utilizar abreviatura adotada pelo Index Medicus para os nomes das revistas; veja abaixo exemplos de formatação das referências (observar, em cada exemplo, a pontuação, a seqüência dos dados, o uso de maiúsculas e o espaçamento). Artigo de revista AGNER C, MISRA M, DUJOVNY M, KHERLI P, ALP MS, AUSMAN JI: Experiência clínica com oximetria cerebral transcraniana. Arq Bras Neurocir 16:77-85, 1997. Capítulo de livro PEERLESS SJ, HERNESNIEMI JA, DRAKE CG: Surgical management of terminal basilar and posterior cerebral artery aneurysms. In Schmideck HH, Sweet WH (ed): Operative neurosurgical techniques. Ed 3. Philadelphia, WB Saunders, 1995, vol 1, cap 84, pp 1071-86. Livro considerado como todo (quando não há colaboradores de capítulos) MELZACK R: The puzzle of pain. N York, Basic Books Inc Publishers, 1973, pp 50-1. Tese e Dissertação PIMENTA CAM: Aspectos culturais, afetivos e terapêuticos relacionados à dor no câncer. Tese (Doutorado). Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1995, pp 109-11. Anais e outras publicações de congressos OSTERTAG C: Advances on stereotactic irradiation of brain tumors. In Anais do 3 o Simpósio Internacional de Dor, 1997, São Paulo, pp 77 (abstr). Artigo disponível em formato eletrônico INTERNATIONAL COMMITTEE OF MEDIAL JOURNAL EDITORS: Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals. Ann Inter Med 126:36-47, 1997. Disponível em URL: http://www.acponline.org/ journals/annals/01jan97/unifreqr.htm. 6. Endereço para correspondência • Colocar, após a última referência, nome e endereço completos do autor que deverá receber as correspondências enviadas pelos leitores. 7. Tabelas e quadros • Devem estar numerados em algarismos arábicos na seqüência de aparecimento no texto; devem estar editados em espaço duplo, utilizando folhas separadas para cada tabela ou quadro; o título deve ser colocado centrado e acima; notas explicativas e legendas das abreviaturas utilizadas devem ser colocadas abaixo; apresente apenas tabelas e quadros essenciais; as tabelas e os quadros editados em programas de computador deverão ser incluídos no disquete, indicando o nome e a versão do programa utilizado; caso contrário, deverão ser apresentados impressos em papel branco, utilizando tinta preta e com qualidade gráfica adequada. 8. Figuras • Enviar duas coleções completas das figuras, soltas em dois envelopes separados; as fotografias devem ter boa qualidade, impressas em papel brilhante, 9 x 12, sem margens; letras e setas auto-adesivas podem ser aplicadas diretamente sobre as fotografias, quando necessário, e devem ter tamanho suficiente para que permaneçam legíveis após redução; utilizar, obrigatoriamente, filme “branco-e-preto” para reproduzir imagens de filmes radiográficos; o nome do autor, o número e a orientação vertical das figuras devem ser indicados no verso destas; os desenhos devem ser apresentados em papel branco, adequado e de boa qualidade, em dimensões compatíveis com as páginas da revista e elaborados profissionalmente; não serão aceitos fotografias e desenhos gerados em computador ou sob a forma de cópias xerox; gráficos elaborados em computador devem ser incluídos no disquete, com indicação do programa utilizado; os autores deverão arcar com os custos de ilustrações coloridas. 9. Legendas das figuras • Numerar as figuras, em algarismos arábicos, na seqüência de aparecimento no texto; editar as legendas, em espaço duplo, utilizando folha separada; identificar, na legenda, a figura e os eventuais símbolos (setas, letras etc.) assinalados nesta; legendas de fotomicrografias devem, obrigatoriamente, conter dados de magnificação e coloração; reprodução de ilustração já publicada deve ser acompanhada da autorização, por escrito, dos autores e dos editores da publicação original e esse fato deve ser assinalado na legenda. Outras informações • Provas da edição serão enviadas aos autores, em casos especiais ou quando solicitadas e, nessas circunstâncias, devem ser devolvidas, no máximo, em cinco dias; exceto para unidades de medida, abreviaturas devem ser evitadas; abreviatura utilizada pela primeira vez no texto principal, e nunca no resumo, deve ser expressa entre parênteses e precedida pela forma extensa que irá representar; evite utilizar nomes comerciais de medicamentos; os artigos não poderão apresentar dados ou ilustrações que possam identificar um doente; estudo realizado em seres humanos deve obedecer aos padrões éticos, ter o consentimento dos pacientes e a aprovação da Comissão de Ética da Instituição onde foi realizado; os autores serão os únicos responsáveis pelas opiniões e conceitos contidos nos artigos publicados; os autores serão os únicos responsáveis pela exatidão das referências bibliográficas apresentadas; quando apropriado, ao final do artigo publicado, serão acrescentados comentários a respeito dele. Esses comentários serão redigidos por alguém indicado pela Junta Editorial. Endereço do Editor: • Milton K. Shibata Rua Peixoto Gomide, 515, cj. 144 CEP 01409-001 – São Paulo, SP Telefax: (0xx11) 287-7241 E-mail: mshibata@uol.com.br neuroh9j@uol.com.br Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Diretoria (2002-2004) Presidente Primeiro Secretário Marcos Masini Luiz Alberto Pacheco Urbanetto Vice-presidente Secretário Auxiliar Antônio Geraldo Diniz Roquette Marcelo Luis Mudo Presidente do Congresso – 2004 Conselho Deliberativo Valter da Costa Márcio Vinhal de Carvalho Atos Alves de Sousa Carlos Batista Alves de Souza Carlos Roberto Telles Cid Célio Jayme Carvalhaes Djacir Figueiredo Evandro de Oliveira Hildo Rocha C. de Azevedo Filho Jorge Luiz Kraemer José Carlos Lynch de Araújo José Marcus Rotta – Secretário Secretário-geral Léo Fernando da Silva Ditzel Mário Gilberto Siqueira Presidente Eleito da SBN José Alberto Landeiro Presidente Eleito do Congresso – 2006 Luis Renato G. de Oliveira Mello Tesoureiro Arlindo Mattos de Oliveira Jr. Nelson Pires Ferreira Osvaldo Vilela Garcia Filho Presidente Anterior Paulo Andrade de Mello Ronald Moura Fiúza – Presidente Cid Célio Jayme Carvalhaes Secretaria Geral Secretaria Permanente SCN – Quadra 5 – Bloco A – Sala 913 Rua Abílio Soares, 233, cj. 143 – Paraíso Brasília Shopping Towers CEP 04005-001 – São Paulo, SP CEP 70710-500 – Brasília, DF Telefax: (11) 3051-6075/3051-7157/3887-8203 Tel.: (61) 327-9275 – Fax: (61) 328-5321 E-mail: secretariapermanente@sbn.com.br E-mail: sbnsecgeral@superig.com.br Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia Rua Abílio Soares, 233, cj. 143 – Cep 04005-001 – Telefones: (0xx11) 3051-6075/3051-7157/3887-6983 Fax: (0xx11) 3887-8203 – São Paulo, SP gia, sociedade sem fins lucrativos, fundada em 1982, Editado por Arquivos Brasileiros de Neurocirur Neurocirurgia, registrada no CGC sob no- 48.395.115/0001-59 e no 4o- Registro de Títulos. Este periódico está catalogado no ISDS sob o no- ISSN – 0103-5355 e indexado na Base de Dados LILACS. É publicado, trimestralmente, nos meses de março, junho, setembro e dezembro. São interditadas a republicação de trabalhos e a reprodução de ilustrações publicadas em Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia, gia, a não ser quando autorizadas pelo Editor, devendo, nesses casos, ser acompanhadas da Neurocirur indicação de origem. Presidente: Dr. Gilberto Machado de Almeida Presidente Vice-presidente ice-presidente: Dr. José Luzio Secretário-tesoureiro Secretário-tesoureiro: Dr. Milton Kazunori Shibata Pedidos de assinaturas ou de anúncios devem ser dirigidos à Secretaria Geral da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Assinatura para o Exterior – US$ 35,00. Produzida e impressa na Lemos Editorial & Gráficos Ltda. 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Produção editorial editorial: Sandra Regina Santana Diagramação Diagramação: Flávio Santana Revisão Revisão: Eduardo Passos e Ricardo Castro Índice Volume 21 – Números 1-2 – 2002 8 Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Cláudio Fernandes Corrêa 41 Bryan disc: nova opção para o tratamento da patologia cervical Jorge Roberto Pagura, Wanderley Cerqueira de Lima, Lindolfo Carlos Heringer 44 Doença de Forestier Fernando Luíz Rolemberg Dantas, Antônio Carlos Vieira Caires, Ana Lúcia Vaz de Melo, Jair Leopoldo Raso 49 Metástase cerebral de tumor de Askin Alexandre Maria Santos, Eberval Gadelha Figueiredo, Pedro Paulo Mariani, Orildo Ciquini Jr., Almir Ferreira de Andrade, Raul Marino Jr. 53 Ferida penetrante no crânio por auto-infligimento como tentativa de suicídio José Francisco dos Santos Vieira, Carlos Roberto Malaguti 56 Aneurisma gigante da artéria comunicante anterior como causa de hipopituitarismo José Augusto Burattini, Arthur Cukiert, Élcio Machado, Alcione Sousa, Joaquim Oliveira Vieira Jr., Bernardo Liberman NOTÍCIAS 60 Congressos e Reuniões Científicas Contents Volume 21 – Numbers 1-2 – 2002 8 Interstitial radiotherapy for treatment of brain tumors Cláudio Fernandes Corrêa 41 Bryan disc implantation following cervical discectomy discectomy.. Preliminary results Jorge Roberto Pagura, Wanderley Cerqueira de Lima, Lindolfo Carlos Heringer 44 Forestier’s disease. Case report Fernando Luíz Rolemberg Dantas, Antônio Carlos Vieira Caires, Ana Lúcia Vaz de Melo, Jair Leopoldo Raso 49 Brain metastasis from Askin’ Askin’ss tumor tumor.. Case report Alexandre Maria Santos, Eberval Gadelha Figueiredo, Pedro Paulo Mariani, Orildo Ciquini Jr., Almir Ferreira de Andrade, Raul Marino Jr. 53 Penetrating injury of the head by self-inflicted nailing in a attempt to suicide. Case report José Francisco dos Santos Vieira, Carlos Roberto Malaguti 56 Secondary hypopituitarism due to a giant aneurysm of the anterior communicating artery artery.. Case report José Augusto Burattini, Arthur Cukiert, Élcio Machado, Alcione Sousa, Joaquim Oliveira Vieira Jr., Bernardo Liberman 60 Announcements Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Cláudio Fernandes Corrêa Trabalho realizado no Hospital Nove de Julho, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Hospital Sírio Libanês, Hospital Samaritano, Hospital São Camilo, Hospital Beneficência Portuguesa de Santos, Casa de Saúde de Santos e Hospital Nossa Senhora de Lourdes. Baseado na tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina para obtenção do Título de Doutor em Medicina RESUMO É apresentado o resultado do tratamento com radioterapia intersticial de 138 doentes com lesões neoplásicas encefálicas. Foram avaliados 50 doentes com glioblastoma multiforme, 45 com gliomas de baixo grau, 19 com astrocitomas anaplásicos, 23 com metástases e 1 com meningioma. Os resultados foram avaliados em relação a sexo, idade, índice de Karnofsky à época da execução do procedimento, volume e localização das lesões e realização ou não de craniotomia, radioterapia e quimioterapia como complemento ao procedimento. Concluiu-se que a radioterapia intersticial é procedimento seguro, simples e eficaz para o tratamento de neoplasias sediadas no encéfalo. PALAVRAS-CHAVE Braquiterapia. Radioterapia. Tumores encefálicos. ABSTRACT Interstitial radiotherapy for treatment of brain tumors The purpose of this study was to evaluate the efficacy of brachytherapy in the treatment of lowgrade glioma, high-grade glioma, metastasis and meningioma. One hundred thirty eight patients were treated. Fifty patients presented glioblastoma multiform, 45 low grade gliomas, 19 anaplastic astrocytomas, 23 metastasis, and one patient had meningioma. The results were accessed in relation to gender, age and Karnofsky index of the patients, volume and topography of the lesion, and association with craniotomy, radiotherapy and or chemotherapy. It is concluded that the procedure is safe and efficient. KEYWORDS Brachytherapy. Radiotherapy. Brain tumors. Introdução As neoplasias do encéfalo estão entre a sexta e oitava causas mais freqüentes de lesões intracranianas dos adultos e a segunda causa mais comum de doença neurológica crônica em pediatria. Os tumores primários do encéfalo correspondem a 2% dos óbitos provocados pelo câncer. São responsáveis por 20% dos tumores malignos diagnosticados antes dos 15 anos de idade e por, aproximadamente, 30% das mortes na sociedade ocidental118. Graças à adoção de recursos tecnológicos mais apropriados, à execução de intervenções terapêuticas precoces e à adoção de tratamentos adjuvantes mais adequados, os resultados das terapias para as neoplasias encefálicas tornaram-se mais favoráveis. Entre esses recursos, destacam-se a delineação das lesões com novas técnicas de aquisição de imagem acopladas aos princípios de estereotaxia, a neuronavegação, a eletrofisiologia intra-operatória, a ressonância magnética realizada durante o ato operatório e as conquistas recentes nas áreas de quimioterapia, radioterapia, biologia molecular e genética dos tumores encefálicos. Entretanto, apesar do entusiasmo com a aplicação dos novos conhecimentos em neurooncologia – como a terapia gênica e a imunoterapia –, os procedimentos clássicos fundamentados em cirurgias radicais ou paliativas e em radioterapia e, eventualmente, em quimioterapia são ainda os melhores instrumentos para o tratamento da maioria das lesões neoplásicas primárias ou secundárias do encéfalo. Desses, os procedimentos de radioterapia são considerados um dos mais efetivos, isoladamente ou complementando tratamentos cirúrgicos ou quimioterápicos22. 8 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 A radioterapia intersticial, ou braquiterapia, ou radiocirurgia intersticial, é um procedimento que possibilita a aplicação de elevada dose de radiação limitada a volumes definidos de tumores, com pouco comprometimento dos tecidos adjacentes. Apesar de ser aplicado desde o início do século XX, somente nos últimos 25 anos – após o desenvolvimento de isótopos mais seguros, apresentados sob configuração mais apropriada, e de sistemas de planejamento mais precisos – esse procedimento tornou-se alternativa atraente e praticado em algumas unidades de radioterapia e de neurocirurgia. A radioterapia intersticial consiste na irradiação intralesional, com doses e taxas de doses variadas, durante segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses e, às vezes, permanentemente. A possibilidade de irradiação com baixa taxa de dose e elevada dose total são algumas vantagens da radioterapia intersticial sobre a telerradioterapia convencional. A dose e a taxa de dose são determinantes fundamentais do efeito biológico da radiação ionizante17,27,97,98,95,96,97,98,100,105,116,132,133,153,194,217,232,233. A redução da taxa de dose e o aumento do tempo de exposição amenizam os efeitos biológicos indesejáveis. Demonstrouse que, a partir de certa dose, a fração relativa de sobrevida celular decresce exponencialmente173. A resistência das células hipóxicas à radiação ionizante aguda é, aproximadamente, três vezes maior que a das células normóxicas (razão de intensificação do oxigênio – RIOx)41,99. Hall e cols.94 demonstraram que, frente à mesma dose de irradiação, a RIOx das células de mamíferos irradiadas continuamente com baixa taxa dose (32 cGy/h) é menor que a das células tratadas com alta taxa de dose. Essa é a razão pela qual morrem mais células tratadas com baixa taxa de dose continuamente que com alta taxa de dose, dentro de certos limites. A irradiação prolongada à baixa taxa de dose converte frações de células hipóxicas em frações normóxicas que, por sua vez, são mais sensíveis à irradiação. Van Putten e Kallman221 observaram que, após a irradiação fracionada, sarcomas de ratos com coeficiente hipóxico celular de 14% mantêm a fração hipóxica em 14%, indicando que com a morte das células normóxicas as células hipóxicas tornam-se normóxicas, sendo mantida a proporção dos dois componentes. Observaram, também, que o processo de reoxigenação completa-se em menos que 24 horas. A permanente reoxigenação das células tumorais e a dependência menor da oxigenação celular (RIOx mais baixo) são razões que tornam a radioterapia intersticial mais eficaz que a telerradioterapia para o tratamento das neoplasias. Durante tratamento a longo prazo, as células sobreviventes podem proliferar e anular o benefício proporcionado pela morte celular, o que dificulta a esterilização do tumor. Quando a dose é superior à crítica, a repopulação deixa de ser elemento importante, pois a repopulação dos tecidos sadios é mais rápida que a dos tecidos neoplásicos. Pode-se, portanto, concluir que a irradiação contínua com a baixa taxa de dose é superior à irradiação fracionada com alta taxa de dose porque maximiza a razão terapêutica sobre os tecidos neoplásicos e poupa os tecidos normais; ou seja, a razão terapêutica é melhorada. A radiação contínua com taxa de dose baixa poupa os tecidos normais dos efeitos lesivos porque aqueles repararam o dano subletal (DSL) com mais eficiência. A radioterapia intersticial requer fração de RIOx mais baixa que as altas taxas de dose em regimes fracionados para alcançar mesmo grau de morte celular, possibilita repopulação mais rápida no tecido normal que no neoplásico e proporciona sincronização das células tumorais nas fases G2 e M. O implante de uma fonte radioativa no interior de um tumor proporciona administração de dose máxima de irradiação no tumor e mínima agressão aos tecidos normais vizinhos; a dose absorvida é inversamente proporcional ao quadrado da distância entre a fonte e o tecido (Figura 1). O índice de Figura 1 – A: Representação gráfica da secção coronal do cérebro com um tumor irradiado com 10.000 cGy na periferia da lesão por implante intralesional temporário de 125I. A dose em vários pontos do tumor demonstra que os efeitos da irradiação seguem a lei do inverso do quadrado da distância e da atenuação por absorção no tecido. B: Dosimetria para o mesmo tumor tratado pela telerradioterapia fracionada. O encéfalo recebeu 4.500 cGy e o tumor tumor,, dose de reforço de 6.000 cGy cGy.. Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF 9 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 atenuação da radiação é determinado pela densidade do tecido e pela energia da fonte de radioatividade: quanto menos energia apresentar o isótopo, menos tecido será penetrado; quanto mais denso for o tecido, menor será a penetração da radiação. Muitos isótopos são, ou foram, empregados para a radioterapia intersticial. Os mais importantes são relacionados no quadro 1. O isótopo ideal deve apresentar meia-vida longa, emitir raios γ de energia baixa, ser de baixo custo e apresentar pequeno risco de contaminação do pessoal que o manipula e que cuida dos doentes. O mais utilizado atualmente para o tratamento de tumores do encéfalo, cabeça, pescoço, próstata, pulmão e útero é o 125I. O 125I emite radiação γ com energia de apenas 28 a 34 KeV (Kilo-elétron-volts), tem meio-valor no chumbo de 0,025 mm, meio-valor nos tecidos de apenas 2 centímetros e meia-vida de 60,2 dias120,128. O decréscimo rápido no tecido possibilita que os danos no tecido vizinho ao tumor sejam mínimos. É apresentado sob a forma de cápsulas radiopacas que absorvem a radiação α, a maior parte da radiação β e pouca radiação γ e em dimensões que possibilitam a sua introdução em dispositivos de pequenas dimensões no interior das lesões. Quadro 1 Radioisótopos mais empregados para radioterapia intersticial Isótopo Meia-vida Radiação α Radiação β Radiação γ Rádio-226 (226Ra) 1.064 anos + + 180 – 2.200 Radônio-222 ( 222Rn) 3,8 dias + + 220 – 2.200 Ouro-198 (198Au) 2,7 dias - + 410 Ítrio-90 (90Y) 2,7 dias - + Fósforo-32 ( P) 14,4 dias - + Césio-137 (137Cs) 30 anos - + Cobalto-60 ( 60Co) 5,3 anos - (KeV) 32 Irídio-192 (192Ir) 74,2 dias - Iodo-125 ( 125I) 60,2 dias - 660 1.170 – 1.330 + 300 – 610 28 – 35 A distribuição angular e as superfícies anisotrópicas das curvas de isodose foram determinadas para a maioria das fontes não-puntiformes por métodos empíricos e, mais recentemente, por computador5,109,138,176 (Figura 2). Conhecendo-se o fator de atenuação nos tecidos, pode-se calcular a dose exata administrada na periferia do tumor e o tempo de exposição necessário para atingir a dose planejada. Casuística e método Nossa experiência é baseada na observação de 138 doentes com tumores encefálicos tratados com Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF Figura 2 – Distribuição angular (isodose) de duas fontes de 125 I no interior de um tubo. radioterapia intersticial no Hospital Nove de Julho, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Hospital Sírio Libanês, Hospital Samaritano, Hospital São Camilo, Hospital Beneficência Portuguesa de Santos, Casa de Saúde de Santos e Hospital Nossa Senhora de Lourdes, entre agosto de 1991 e junho de 1998. Todos os doentes e seus cuidadores foram informados quanto às vantagens e os riscos dos procedimentos e concordaram com a sua realização. Receberam esse tratamento 45 doentes com astrocitomas de baixo grau, 19 com astrocitomas anaplásicos, 50 com glioblastoma multiforme, 23 com metástases e 1 com meningioma. Os locais de origem das metástases estão representados na tabela 1. Das 23 metástases, 30,4% eram de pulmão, 21,7% de órgãos não determinados e 17,4% de mama. Tabela 1 Distribuição das fontes das metástases encefálicas dos doentes tratados com radioterapia intersticial Origem da metástase N % Pulmão 7 30,4 Mama 4 17,4 Colo uterino 2 8,7 Rim 2 8,7 Reto 1 4,3 Esôfago 1 4,3 Tegumento 1 4,3 Indeterminada 5 21,7 Total 23 100,0 Todos os doentes foram internados e submetidos a exame clínico e neurológico e a determinação das incapacidades, inabilidades e déficits de acordo com o índice de Karnofsky (IK) inicial (IK1) e final (IK2) e ao exame de tomografia computadorizada (TC) e/ou ressonância magnética (RM) do encéfalo. As avaliações clínicas e os exames de imagem foram realizados imediatamente após o procedimento, no primeiro mês e, subseqüentemente, a cada 3 meses ou quando 10 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 necessário. Os resultados foram quantificados em termos de índice de Karnofsky e tempo de sobrevida e comparados com aqueles descritos na literatura. As complicações dos procedimentos foram também registradas. Estudos estatísticos foram realizados de acordo com os preceitos técnicos convencionais. Procedimentos operatórios Com o aparelho estereotáxico (ETMO3B Micromar®, Diadema, São Paulo, Brasil) fixado ao segmento cefálico dos doentes, após realização de estereotomografia (estéreo-TC) com contraste iodado ou de estereorressonância magnética (estéreo-RM) em T1 com gadolínio, T2 e FLAIR do encéfalo, foram identificadas as lesões, calculados seus volumes e determinadas suas localizações e características morfológicas. Em alguns casos, as imagens de RM foram fundidas com as da estéreo-TC para delinear melhor os contornos das lesões, mantendo a precisão espacial da TC. Em doentes sem condições de cooperar, os procedimentos foram conduzidos sob sedação com fentanila, droperidol e midazolam ou, sob anestesia geral, com os mesmos agentes e inalação de N2O. A aplicação do aparelho de estereotaxia ao crânio, as incisões e as trepanações foram realizadas nos demais doentes após a infiltração do tegumento com solução de lidocaína a 2%. A reconstrução tridimensional das imagens, os cálculos estereotáxicos e as curvas de isodose foram realizados com o programa de computação Micromar Stereotactic Planning System ® (MSPS) (Micromar, Diadema, São Paulo, Brasil). Os cálculos estereotomográficos foram empregados para determinar a localização das trepanações, os alvos das biópsias, a disposição espacial dos cateteres que sustentaram os isótopos e a situação desses no interior daqueles. O programa de computação também possibilitou calcular a duração da irradiação intersticial. Por meio de trepanações, biópsias seriadas das regiões representativas da lesão foram feitas nos doentes em que o diagnóstico não havia sido previamente estabelecido. O material de biópsia foi processado segundo técnica de congelação ou impressão, corado e examinado por neuropatologistas, no próprio centro cirúrgico. Amostras foram selecionadas, fixadas em solução de formol e, ulteriormente, processadas para realização de exames anatomopatológicos com corantes convencionais e, quando necessário, por colorações específicas ou imunoistoquímica. Os astrocitomas anaplásicos foram definidos como sendo os gliomas astrocitários que apresentam pleomorfismo celular e nuclear, mitoses abundantes e proliferação endotelial. Quando havia necrose, foram classificados como glioblastoma multiforme. Imediatamente a seguir, Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF cateteres de nylon com 1,6 mm de diâmetro, selados na extremidade distal, foram implantados em pontos previamente definidos nas lesões, de acordo com a disposição espacial determinada pelo programa de computação, e fixados com metacrilato na dura-máter e na superfície de corte dos orifícios de trepanação (Figura 3). Em casos de carregamento intra-operatório de 125I, as sementes foram fixadas na luz dos cateteres e dispostas, de acordo com os cálculos previamente realizados e as feridas cirúrgicas suturadas, por planos, com pontos separados de nylon monofilamentado 4-0. Após período de observação de 12 a 24 horas, os doentes receberam alta hospitalar. A periferia das lesões identificadas foi tratada, de acordo com os métodos de imagem empregados, com 6.000 cGy. Ao completar o período necessário para atingir a dose de irradiação preconizada, os doentes foram readmitidos e, em regime ambulatorial, sob anestesia local ou, raramente, sob sedação ou anestesia geral, tiveram os cateteres de nylon e os isótopos removidos. Os ferimentos resultantes foram suturados com pontos separados de nylon monofilamentado 4-0, que foram removidos após transcorrido um período de 2 semanas. Figura 3 – Radioterapia intersticial de tumor encefálico com técnica de carregamento intra-operatório com 125I. A técnica de carregamento ulterior obedeceu à mesma seqüência de atos do procedimento previamente descrito. Os cateteres foram deixados exteriorizados pela ferida operatória, coberta com pomada de neomicina e bacitracina e ocluída com gaze. Em ambiente provido de proteção contra a irradiação, os cateteres foram, ulteriormente, carregados com fios de 192Ir, e os doentes foram mantidos internados durante o período apropriado para que a dose da irradiação planejada fosse administrada. Após essa fase, obedecendo ao descrito nos casos de carregamento intra-operatório, 11 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 os cateteres foram removidos. Nos casos tratados com técnica hiperfracionada de carregamento ulterior de 192Ir com alta taxa da dose, o deslocamento das sementes dos isótopos no interior dos cateteres foi realizado com o equipamento Nucleotron®. de 5,44 a 45,2 mGy m2/h ou 4,32 mCi a 35,9 mCi. O 192Ir foi empregado como fios contendo núcleo de 192Ir no interior de uma cápsula cilíndrica de platina com o diâmetro de 0,1 mm. A atividade aparente inicial aproximada foi de 0,3 mCi/mm. Cálculo do volume dos tumores O volume dos tumores foi calculado por aproximação. Foram considerados como elipsóides de rotação com raios R1 e R2. Sendo o eixo de simetria de rotação do elipsóide paralelo ao raio R2, o volume foi calculado com o uso da fórmula: V = 4/3.π. R12.R2 Protocolo de quimioterapia Em alguns doentes com astrocitoma anaplásico ou glioblastoma multiforme foi realizada a quimioterapia. A administração de carmustina (BCNU, Becenum®) na dose de 220 mg/m2, por via intravenosa, no dia da execução da radioterapia intersticial foi seguida da administração intravenosa de CDDP (Cisplatina®), na dose de 20 mg/m2, uma vez por semana, durante o período de manutenção do implante de 125I, ou de 100 mg/m2, no dia do implante de 192Ir. A manutenção foi realizada com carmustina administrada por via intravenosa, na dose de 220 mg/m2, a cada 6 semanas, e procarbazina, por via oral, na dose de 100 mg/m2, a cada 3 semanas. A cada quatro ciclos os doentes foram reavaliados. Características dos isótopos utilizados O 125I foi utilizado com a forma Medi-Physics, Inc., IMC – 6702 (Figura 4), apresentado em sementes com 4,5 mm de comprimento e 0,8 mm de diâmetro externo, contendo iodo incorporado em pequenas esferas de resina de intercâmbio aniônico. O revestimento da cápsula foi de titânio. A taxa de variação do Kerma foi Análise estatística Para caracterizar a amostra, as informações foram resumidas em freqüências e porcentagens, em caso de variáveis qualitativas, e em forma de médias, medianas e desvios-padrões mínimos e máximos, em caso de variáveis quantitativas. Para estudar a evolução, foi realizada a análise da sobrevida total dos doentes desde o início da sintomatologia, considerando-se, como evento de interesse, o óbito. Esse tipo de análise considerou a evolução durante todo o período de observação, e não apenas os resultados finais. Inicialmente, foram calculadas as probabilidades de sobrevida desde o início da sintomatologia para o total de doentes utilizando o método de Kaplan-Meier. Este método possibilitou a construção de curvas com as estimativas das probabilidades de sobrevida em função do tempo de observação. Assim, foi possível estabelecer a possibilidade temporal de sobrevida de um doente. Para avaliar a influência de algumas variáveis na evolução, foram organizadas curvas de Kaplan-Meier para as categorias de cada variável. A conformação das curvas possibilitou comparar a evolução dos doentes segundo sexo, idade, diagnóstico, índice de Karnofsky inicial, localização da lesão, procedimento diagnóstico, tratamentos associados e volume do tumor. Para cada variável foi realizado teste de significância, que indicou se a variável em questão contribuiu ou não para a má evolução. O teste utilizado para comparar essas curvas foi o de log rank. Apesar de a análise das curvas ter sido elucidativa, avaliou apenas a influência isolada de cada variável e desconsiderou o efeito das demais. Para a análise global, foi realizada análise multivariada, ajustando os Cápsula de titânio com espessura de 0,05 mm Resina _ filtro 0,8 mm 4,5 mm Figura 4 – Representação gráfica do Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF I (IMC – 6702). 125 12 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 Modelos de Regressão de Cox, que possibilitou avaliar, ao mesmo tempo, a interferência das demais variáveis. Os modelos de Cox foram ajustados em três etapas: primeiro, considerou-se um modelo para cada variável (modelo univariado), a seguir, foi forçada a entrada de todas as variáveis (modelo completo) e, finalmente, foram selecionadas variáveis seguindo o método iterativo Stepwise Forward (modelo reduzido)59. Esse procedimento foi realizado para todos os doentes e, individualmente, para doentes com gliomas de alto grau. Não foi possível ajustar modelos para doentes com gliomas de baixo grau em virtude do número insuficiente de observações. Em razão da possibilidade de os procedimentos de radioterapia intersticial não modificarem a evolução natural dos doentes após a sua execução, foram organizadas curvas de Kaplan-Meier117 seguindo as variáveis sexo, idade, diagnóstico, IK1, localização da lesão, procedimento diagnóstico, procedimentos associados e volume do tumor e realizada análise multivariada para avaliar a interferência dessas variáveis na sobrevida dos doentes agrupados, ajustando os Modelos de Regressão de Cox, e, individualmente, dos doentes com gliomas de alto grau, após a realização dos procedimentos de radioterapia intersticial. O programa utilizado para a análise estatística foi o SPSS for Windows, versão 8.0 ( FPFF Advanced Statistics 6.1, 1994). Resultados Dos 138 pacientes avaliados, 66 eram homens (47,8%) e 72 eram mulheres (52,2%). A média das idades foi 43,8 anos, com desvio-padrão (DP) de 18,3 anos. Os diagnósticos mais freqüentes foram glioblastoma multiforme (36,2%), astrocitoma grau II (18,1%), metástase (16,7%), astrocitoma grau I (13,0%) e astrocitoma anaplásico (12,3%) (Tabela 2). A média do IK1 dos doentes foi 76,2 (DP = 11,0) e a média do IK2 foi 26,4 (DP = 36,8), considerando-se que os doentes que morreram apresentavam índice 0. O tempo médio estimado entre o início da manifestação clínica da doença e o momento da radioterapia intersticial foi de 25,8 meses (DP = 24,9 meses). O volume médio dos gliomas foi de 45,2 cm3 e o das metástases foi de 7,3 cm3 (Tabela 3). Tabela 2 Distribuição segundo o diagnóstico dos doentes tratados com radioterapia intersticial Diagnóstico N % Glioblastoma multiforme 50 36,2 Astrocitoma anaplásico 17 12,3 Astrocitoma grau I 18 13,0 Astrocitoma grau II 25 18,1 Metástase 23 16,7 Oligodendroglioma anaplásico 2 1,4 Oligoastrocitoma grau I 1 0,7 Oligodendroglioma 1 0,7 Meningioma 1 0,7 138 100,0 Total Tabela 3 Estatísticas descritivas das variáveis estudadas Variáveis Média Mediana Desvio-padrão Mínimo Máximo N Idade (anos) 43,82 45 18,26 1 75 138 Índice de Karnofsky inicial 76,23 70 10,95 40 100 138 Índice de Karnofsky final 26,43 0 36,78 0 100 115 Tempo de evolução após a 16,13 10 16,49 0 77 114 25,76 19 24,92 1 156 127 Volume-alvo dos gliomas (cm3) 45,21 29,70 50,63 1,10 267,00 94 Volume-alvo das metástases (cm3) 7,30 5,80 6,04 1,35 22,70 19 Volume-alvo de todas as lesões (cm 3) 38,83 15,60 48,34 1,10 267,00 113 radioterapia intersticial (meses) Tempo de evolução desde a instalação da sintomatologia (meses) Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF 13 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 As lesões localizaram-se mais freqüentemente no lobo parietal (24,6%), seguindo-se tronco encefálico (12,3%) e lobo frontal (10,1%) (Tabela 4). Tabela 4 Localização encefálica predominante das lesões nos doentes tratados com radioterapia intersticial Localização encefálica N % Parietal 34 24,6 Tronco encefálico, cerebelo 17 12,3 Frontal 14 10,1 Frontoparietal 12 8,7 Núcleos da base, tálamo, diencéfalo 11 8,0 Temporoparietal 9 6,5 caloso posterior 8 5,8 Temporal 7 5,1 Occipital 7 5,1 Frontotemporoparietal 7 5,1 Temporoparietoccipital, corpo Bifrontal, frontoparietal, corpo caloso anterior e/ou médio 7 5,1 Frontotemporal 6 4,3 Temporotalamomesencéfalo pontino 4 2,9 Temporoparietoccipitomesencefálico 2 1,4 Petroclival 1 0,7 Não especificado 2 1,4 Total de doentes 138 100,0 O procedimento mais utilizado para a radioterapia intersticial foi a técnica de carregamento intra-operatório com 125I (76,8%). Foi ou havia sido realizada biópsia estereotáxica em 54,3% dos casos, telerradioterapia em 45,7% e craniotomia em 39,1% (Tabela 5). Tabela 5 Distribuição dos doentes segundo os procedimentos diagnósticos e terapêuticos empregados Procedimentos diagnósticos e terapêuticos Radioterapia intersticial com 125 I N % 106 76,8 Radioterapia intersticial com baixa taxa de dose de 192Ir 23 16,7 Ressecção guiada por estereotaxia 18 13,0 Radioterapia intersticial com alta taxa de dose de 192Ir 15 10,9 Biópsia encefálica estereotáxica 75 54,3 Telerradioterapia 63 45,7 Craniotomia 54 39,1 Quimioterapia 35 25,4 Total de doentes 138 100,0 Foram registradas nove complicações imediatas decorrentes do tratamento: 4 casos de osteomielite, 3 casos de celulite do couro cabeludo e 2 de fístula liquórica. Procedimentos complementares foram realizados em 13 ocasiões para o tratamento das complicações ou das condições associadas aos tumores (Tabela 6). Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF Tabela 6 Distribuição dos procedimentos cirúrgicos complementares realizados Procedimentos complementares N Derivação ventrículo-peritoneal 8 Aspiração estereotáxica de cisto tumoral 3 Derivação cisto-peritoneal 1 Correção cirúrgica de fístula liquórica 1 Total de doentes 138 Com o objetivo de tornar a análise mais consistente, algumas variáveis foram recodificadas. Os diagnósticos foram reclassificados como glioma de baixo grau, glioma anaplásico, glioblastoma multiforme, metástase e meningioma (Tabela 7). A localização dos tumores foi reclassificada em quatro grupos: lobares e segmentares cerebrais, corpo caloso, núcleos da base e tronco encefálico (Tabela 8). Quanto ao método de diagnóstico, os doentes foram classificados como tendo o diagnóstico firmado por biópsia estereotáxica ou craniotomia (Tabela 9). Procedimentos terapêuticos foram reclassificados em quatro grupos: doentes tratados com radioterapia intersticial e craniotomia ou biópsia apenas; doentes tratados com radioterapia intersticial, craniotomia ou biópsia e telerradioterapia; doentes tratados com radioterapia intersticial, craniotomia ou biópsia e quimioterapia; e doentes tratados com radioterapia intersticial, craniotomia ou biópsia, telerradioterapia e quimioterapia (Tabela 10). As variáveis quantitativas idade, IK1 e volume das lesões foram categorizadas em faixas, de acordo com a distribuição de freqüências e segundo critérios que possibilitassem compará-las com as avaliações apresentadas em outros trabalhos publicados. Os doentes foram reclassificados, segundo as faixas etárias, em três grupos: (menos de 40 anos, de 40 a 60 anos e mais de 60 anos) (Tabela 11). Os doentes foram reclassificados como tendo IK1 de até 70 ou 70 ou mais (Tabela 12). Segundo os volumes, as lesões foram reclassificadas como tendo menos de 15 cm3, de 15 cm3 a 30 cm3, mais de 30 cm3 até 60 cm3 e mais de 60 cm3. Para os casos com mais de uma lesão, considerou-se o volume médio (Tabela 13). Tabela 7 Distribuição dos tipos de neoplasia nos doentes submetidos à radioterapia intersticial Diagnóstico N % Gliomas de baixo grau 45 32,6 Gliomas anaplásicos 19 13,8 Glioblastoma multiforme 50 36,2 Metástase 23 16,7 Meningioma 1 0,7 138 100,0 Total 14 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 Tabela 8 Distribuição das localizações do volume predominante das lesões neoplásicas Tabela 13 Distribuição dos doentes segundo o volume-alvo tumoral (em cm 3) Localização da lesão no encéfalo N % Volume-alvo (em cm3) N % Lobares e cerebrais segmentares 87 63,0 Menos de 15 cm3 54 47,8 Corpo caloso 15 10,9 De 15 a 30 cm3 12 10,6 Núcleos da base 15 10,9 Mais de 30 até 60 cm3 24 21,2 Tronco encefálico 19 13 ,8 Acima de 60 cm3 23 20,4 Não classificável 2 1,4 Total 113 100,0 138 100,0 Total Sobrevida dos doentes desde a instalação da sintomatologia Tabela 9 Distribuição dos procedimentos diagnósticos empregados Método diagnóstico N % Biópsia 69 51,9 Craniotomia 64 48,1 Total 133 100,0 Obs.: 5 doentes (4 metástases e 1 meningioma) não foram classificados Tabela 10 Distribuição dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos realizados Métodos diagnósticos e de tratamento N % Radioterapia intersticial + craniotomia 64 48,1 36 27,1 6 4,5 27 20,3 133 100,0 ou biópsia Radioterapia intersticial + craniotomia ou biópsia + RT Radioterapia intersticial + craniotomia ou biópsia + QT Radioterapia intersticial + craniotomia ou biópsia + RT + QT Total Obs.: 5 sem classificação (4 metástases e 1 meningioma) RT = radioterapia; QT = quimioterapia Tabela 111 1 Distribuição dos doentes segundo a faixa etária Faixa etária N % Menos de 40 anos 50 36,2 De 40 a 60 anos 59 42,8 Mais de 60 anos 29 21,0 Total 138 100,0 Tabela 12 Distribuição dos doentes segundo o índice de Karnofsky inicial Índice de Karnofsky inicial N % Até 70 71 51,4 70 ou mais 67 48,6 Total 138 100,0 Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF Observou-se que, 1 ano após o tratamento, mais de 70% dos doentes estavam vivos e que, aos 2 anos, aproximadamente 50% dos doentes haviam sobrevivido. Embora, aparentemente, as mulheres tenham evoluído melhor que os homens, essa diferença não foi estatisticamente significativa, ou seja, não houve influência do sexo na sobrevida dos doentes (p = 0,109). As faixas etárias dos doentes estiveram altamente correlacionadas com a evolução (p < 0,001). Doentes com menos de 40 anos de idade apresentaram sobrevida mais prolongada que os doentes com mais idade. A probabilidade de esses doentes sobreviverem 2 anos após o início da sintomatologia é aproximadamente o dobro da dos doentes em faixas etárias acima de 40 anos, acentuando-se à medida que se prolonga o acompanhamento. Houve relação entre o diagnóstico e a sobrevida dos doentes (p < 0,001). Doentes com gliomas de baixo grau ou gliomas anaplásicos apresentaram maior probabilidade de sobrevida que os doentes com glioblastoma multiforme ou metástase. Não ocorreu diferença na sobrevida de doentes com glioblastoma multiforme e metástase. Não foram detectadas diferenças estatisticamente significativas na relação entre a localização da lesão e a sobrevida dos doentes (p = 0,415). Observou-se que não houve diferença estatisticamente significativa quanto às curvas de Kaplan-Meier em relação à natureza da intervenção cirúrgica para coleta de material para exame anatomopatológico. Tanto doentes submetidos à biópsia estereotáxica como à craniotomia apresentaram sobrevidas semelhantes (p = 0,331). Observou-se diferença na evolução entre os doentes tratados apenas com radioterapia intersticial e aqueles tratados com radioterapia intersticial e telerradioterapia, ou com radioterapia intersticial, telerradioterapia e quimioterapia (p = 0,014). Os doentes tratados apenas com RI apresentaram probabilidade de sobrevida maior. Não foram observadas diferenças nas curvas de sobrevida em relação ao volume das lesões (p = 0,299). 15 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 Na tabela 14 são apresentados os resumos da análise de sobrevida dos doentes desde a instalação dos sintomas, em relação a sexo, faixas etárias, diagnósticos, IK1, localização da lesão, procedimento para coleta de material para exame anatomopatológico, procedimentos realizados e volume das lesões. Modelos de Regressão de Cox Na tabela 15 estão apresentados os resultados dos Modelos de Regressão de Cox em três fases. Para o total de doentes, os modelos univariados retrataram o que foi verificado na análise das curvas, ou seja, a influência significativa da idade, do diagnóstico, IK1 e dos procedimentos realizados. Analisando os resultados, verificou-se que ocorreu diferença na evolução entre doentes com diagnóstico de glioblastoma multiforme e metástases em relação aos doentes com gliomas de baixo grau no modelo univariado, modelo completo e modelo reduzido da Regressão de Cox. Comparando esses resultados com os do modelo completo, verificou-se que a idade deixa de ter importância estatisticamente significativa. No modelo univariado, observou-se que doentes tratados com radioterapia intersticial apenas, ou com radioterapia intersticial e quimioterapia, apresentaram diferença quanto à sobrevida em relação aos doentes tratados com telerradioterapia ou telerradioterapia e quimioterapia. Comparando esses resultados com o do modelo completo, verificou-se que os procedimentos terapêuticos adjuvantes perderam importância e deixaram de ser estatisticamente significativos. Em relação ao sexo, observou-se que não ocorreu diferença estatisticamente significativa no modelo univariado. Entretanto, essas diferenças tornaram-se significativas no modelo completo e no modelo reduzido. Tabela 14 Resumo da análise de sobrevida dos doentes tratados pela radioterapia intersticial desde o início da sintomatologia* Variáveis Número de casos Sobrevida média Intervalo de Teste avaliados (meses) confiança (95%) log rank 127 48 [ 35 ; 60 ] - Masculino 60 39 [ 23 ; 56 ] 0,1091 Feminino 67 51 [ 38 ; 64 ] Menos de 40 anos 48 62 [ 50 ; 75 ] 41 a 60 anos 53 34 [ 22 ; 46 ] Mais de 60 anos 26 16 [ 11 ; 21 ] Total Sexo Faixas etárias 0,0000 Diagnóstico Glioma de baixo grau 44 77 [ 54 ; 99 ] Glioma anaplásico 17 50 [ 30 ; 71 ] Glioblastoma multiforme 45 22 [ 17 ; 27 ] Metástase 21 13 [ 8 ; 17 ] Até 70 64 28 [ 21 ; 35 ] Mais de 70 63 63 [ 44 ; 83 ] 0,0000 Índice de Karnofsky inicial 0,0017 Localização da lesão no encéfalo Lobos e segmentos cerebrais 83 44 [ 32 ; 56 ] Corpo caloso 13 42 [ 17 ; 67 ] Núcleos da base 15 55 [ 34 ; 75 ] Tronco encefálico 15 26 [ 15 ; 36 ] Craniotomia 62 53 [ 34 ; 72 ] Biópsia estereotáxica 62 44 [ 31 ; 57 ] [ 52 ; 104 ] 0,4147 Procedimento para coleta de material anatomopatológico 0,3309 Procedimentos realizados Radioterapia intersticial + craniotomia ou biópsia 56 78 Radioterapia intersticial + craniotomia ou biópsia + RT 35 27 [ 20 ; 34 ] Radioterapia intersticial + craniotomia ou biópsia + RT + QT 27 35 [ 20 ; 51 ] 0,0135 Volume das lesões Menos de 15 cm3 49 31 [ 22 ; 40 ] De 15 cm 3 a 30 cm3 12 78 [ 32 ; 124 ] Mais de 30 cm 3 até 60 cm3 22 34 [ 22 ; 46 ] Mais de 60 cm3 23 44 [ 30 ; 58 ] 0,2986 RT = telerradioterapia; QT = quimioterapia; *excluídos doentes com dados incertos Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF 16 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 Tabela 15 Significância (valores de p) para as variáveis nos Modelos de Regressão de Cox dos doentes avaliados desde o início da sintomatologia Modelo univariado Modelo completo Modelo reduzido Sexo Variáveis 0,1149 0,0580 0,0191 Idade 0,0000 0,9255 - Diagnóstico Astrocitoma anaplásico / glioma de baixo grau 0,2419 0,2587 0,1898 Glioblastoma multiforme / glioma de baixo grau 0,0000 0,0094 0,0003 Metástase / glioma baixo de grau 0,0000 0,0000 0,0000 Índice de Karnofsky inicial 0,0023 0,0000 0,0000 Localização da lesão no encéfalo Corpo caloso / lobos ou segmentos cerebrais 0,8766 0,5227 - Núcleos da base / lobos ou segmentos cerebrais 0,1498 0,6178 - Tronco encefálico / lobos ou segmentos cerebrais 0,5484 0,1548 - 0,3369 0,0631 - Procedimento para coleta de material anatomopatológico Craniotomia / biópsia Procedimentos terapêuticos adjuvantes RT / sem RT e QT 0,0077 0,3056 - RT e QT / sem RT e QT 0,0282 0,2544 - Volume das lesões 0,3024 0,7352 - RT = telerradioterapia; QT = quimioterapia Sobrevida dos doentes após o tratamento com a radioterapia intersticial Curvas de Kaplan-Meier Observou-se que, 1 ano após o tratamento, a probabilidade de o doente sobreviver foi pouco superior a 50%, aos 2 anos foi de, aproximadamente, 35% e, após 2 anos, reduziu-se para menos de 30%. Embora, aparentemente, as mulheres tenham evoluído melhor que os homens, o teste estatístico não indicou influência do sexo no período de sobrevida (p = 0,128). As faixas etárias dos doentes estiveram altamente correlacionadas com a sobrevida (p < 0,001). Doentes com menos de 40 anos evoluíram melhor que os doentes mais idosos. A probabilidade de esses doentes sobreviverem 2 anos após o tratamento foi, aproximadamente, o dobro da dos doentes na faixa dos 40 aos 60 anos (60% versus 30%). A sobrevida após o tratamento foi influenciada pelo diagnóstico (p = 0,001). Doentes com gliomas de baixo grau ou anaplásicos apresentaram probabilidade maior de sobrevida, após o tratamento, que os doentes com glioblastoma multiforme ou metástases. A evolução, após o tratamento dos doentes com gliomas de baixo grau, diferiu da dos doentes com gliomas anaplásicos. O mesmo ocorreu entre doentes com glioblastoma multiforme e metástases. O IK1 também é essencial para prever a sobrevida (p < 0,001). Os doentes com IK1 de até 70 apresentaram menor sobrevida após os 5 meses de acompanhamento que os com IK1 superior. Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF Não foram detectadas diferenças significativas quanto à sobrevida em relação à localização da lesão neoplásica (p = 0,543). Os doentes que se submeteram à biópsia estereotáxica para coleta de material para exame anatomopatológico apresentaram sobrevida similar àqueles submetidos à craniotomia. Os doentes que não foram tratados com telerradioterapia e quimioterapia evoluíram melhor (p = 0,005). Não foi observada influência estatisticamente significativa do volume dos tumores (p = 0,591) na sobrevida dos doentes após o tratamento. Na tabela 16 são resumidos os resultados das análises da sobrevida em relação às variáveis: sexo, faixas etárias, diagnóstico, IK1, localização da lesão no encéfalo, procedimento para coleta de material para exame anatomopatológico, procedimentos realizados e volume das lesões. Modelos de Regressão de Cox A tabela 17 apresenta os resultados dos Modelos de Regressão de Cox em três fases. Para o total de doentes, os modelos univariados retrataram o que foi verificado na análise das curvas, ou seja, influência significativa da idade, diagnóstico, IK1 e procedimentos realizados. Analisando-se os valores, verificou-se que ocorreu diferença estatisticamente significativa na sobrevida dos doentes com diagnóstico de glioblastoma multiforme ou metástase e gliomas de baixo grau, mas não entre doentes com gliomas 17 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 Tabela 16 Resumo das análises de sobrevida após a radioterapia intersticial* Variáveis Número de casos Sobrevida média Intervalo de confiança Teste avaliados (meses) (95%) log rank 114 28 [ 22 ; 34 ] - Masculino 53 21 [ 14 ; 27 ] 0,1279 Feminino 61 31 [ 22 ; 40] Menos de 40 anos 42 49 [ 38 ; 60 ] 41 a 60 anos 48 16 [ 11 ; 20 ] Mais de 60 anos 24 10 [ 6 ; 14] Total Sexo Faixas etárias 0,0000 Diagnóstico Glioma de baixo grau 37 42 [ 30 ; 53 ] Glioma anaplásico 16 34 [ 19 ; 49 ] Glioblastoma multiforme 40 15 [ 9 ; 20 ] Metástase 21 10 [ 6 ; 14 ] Até 70 56 15 [ 10; 21 ] Mais de 70 58 38 [ 28 ; 47 ] [ 22 ; 38 ] 0,0005 Índice de Karnofsky inicial 0,0002 Localização da lesão no encéfalo Lobos e segmentos cerebrais 74 30 Corpo caloso 12 16 [ 7 ; 24 ] Núcleos da base 14 33 [ 18 ; 48 ] Tronco encefálico 14 18 [ 8 ; 28 ] Craniotomia 54 27 [ 20 ; 35 ] Biópsia 57 26 [ 18 ; 35 ] 0,5425 Procedimento para coleta de material anatomopatológico 0,3937 Procedimentos realizados Radioterapia intersticial + craniotomia ou biópsia 47 42 [ 32 ; 53 ] Radioterapia intersticial + craniotomia ou biópsia + RT 33 17 [ 10 ; 24 ] Radioterapia intersticial + craniotomia ou biópsia + RT + QT 25 16 [ 10 ; 22 ] Menos de 15 cm3 45 27 [ 17 ; 36 ] De 15 cm 3 a 30 cm3 11 23 [ 16 ; 29 ] Mais de 30 cm 3 até 60 cm3 17 23 [ 11 ; 35 ] Mais de 60 cm3 22 20 [ 13 ; 27 ] 0,0051 Volume das lesões 0,5907 RT = telerradioterapia; QT = quimioterapia; * excluídos doentes com dados incertos anaplásicos e gliomas de baixo grau. Comparando esses resultados com os do modelo completo, verificou-se que a idade e o diagnóstico perderam importância e não mais foram significativos estatisticamente. Do mesmo modo, a localização do tumor tornou-se elemento significativo no modelo completo quando foram comparados doentes com tumor do corpo caloso com doentes com tumor lobar e segmentar cerebral. O IK1 e os tratamentos associados, tanto no modelo univariado como multivariado, mantiveram-se significativos. No modelo reduzido, o IK1 e o diagnóstico foram significativos quando se compararam doentes com metástase e com gliomas de baixo grau. Em todas as situações, o IK1 foi, entre as variáveis investigadas, o fator que melhor previu a evolução dos doentes. Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF Gliomas de baixo grau Vinte e um doentes com astrocitoma de baixo grau eram do sexo feminino e 24, do masculino. As idades variaram entre 6 meses e 60 anos. A mediana das idades foi 31 anos e a média, 28 anos. Os valores do IK1 variaram de 50 a 100. O IK2 não foi determinado em 7 casos. Nos demais, variou de 30 a 100. Dezoito doentes haviam falecido ao final do acompanhamento. O volume das lesões variou de 2,5 cm3 a 183 cm3 (média = 47,5 cm3 e mediana = 15,1 cm3). A duração do acompanhamento nos 44 casos, em que o tempo de evolução desde o início da sintomatologia foi avaliado, variou de 3 a 156 meses. A média foi de 38 meses e a mediana, de 31 meses. O tempo de evolução após o tratamento variou de 1 a 78 meses. 18 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 Tabela 17 Significância (valores de p) para as variáveis nos Modelos de Regressão de Cox após o tratamento com radioterapia intersticial Modelo univariado Modelo completo Modelo reduzido Sexo Variáveis 0,1709 0,1404 - Idade 0,0003 0,7950 - Astrocitoma anaplásico / glioma de baixo grau 0,7851 0,9387 0,7696 Glioblastoma multiforme / glioma de baixo grau 0,0012 0,9420 0,1190 Metástase / glioma de baixo grau 0,0086 0,0946 0 < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001 Diagnóstico Índice de Karnofsky inicial Localização da lesão no encéfalo Corpo caloso / lobos ou segmentos cerebrais 0,3003 0,0390 - Núcleos da base / lobos ou segmentos cerebrais 0,4128 0,5733 - Tronco encefálico / lobos ou segmentos cerebrais 0,6475 0,2305 - 0,3943 0,0680 - RT / sem RT e QT 0,0017 0,0580 - RT e QT / sem RT e QT 0,0053 0,0528 - Volume das lesões 0,9124 0,8452 - Procedimento para coleta de material anatomopatológico Craniotomia / biópsia Procedimentos terapêuticos adjuvantes RT = telerradioterapia; QT = quimioterapia A média foi 21,2 meses e a mediana, 14 meses. Quarenta e três doentes haviam sido submetidos à biópsia estereotáxica, 22 à craniotomia, 5 à ressecção guiada por estereotaxia, 1 à craniectomia de fossa posterior, e 1 à biópsia a céu aberto. Radioterapia intersticial foi realizada 42 vezes com 125I em 39 doentes, 7 vezes com baixa taxa de dose de 192Ir e, 2 vezes, com alta taxa de dose de 192Ir. Em dez doentes, foi realizada telerradioterapia encefálica; em 5, quimioterapia; em 5, derivação ventrículo-peritoneal e, em 2, drenagem estereotáxica de cisto tumoral. Agravamento pós-operatório temporário dos déficits preexistentes, quando presentes, regrediu em até 36 horas. Um doente tratado com a técnica de 125I e outro com a técnica de carregamento ulterior com 192Ir apresentaram, respectivamente, osteomielite de crânio e celulite de couro cabeludo, tratados com antibióticos. Dos 18 doentes com astrocitomas grau I, 7 permanecem vivos, 9 faleceram e os dados de 2 doentes não são precisos. Entre os 25 doentes com astrocitoma grau II, 13 encontram-se vivos, 7 faleceram e os dados de acompanhamento de 5 são incompletos. O doente com oligoastrocitoma grau II faleceu e os dados de segmento do doente com oligodendroglioma são incertos. Astrocitomas anaplásicos Dezenove doentes apresentavam astrocitoma anaplásico; 10 eram do sexo feminino e 9, do masculino, e as idades variaram de 11 a 69 anos. A média das idades Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF foi 40 anos e a mediana, 39,4 anos. Nove doentes apresentavam idade inferior à mediana e dez, superior. Os valores do IK1 variaram de 50 a 90. O volume da lesão variou de 1,1 cm3 a 125,1 cm3. O volume médio foi de de 36,5 cm3 e a mediana dos volumes foi de 35, 8 cm3. O IK2 foi avaliado em 16 doentes. A craniotomia convencional foi realizada em 8 doentes, craniotomia guiada por estereotaxia em 2, biópsia estereotáxica em 9 e derivação cisto-peritoneal em 1. Foram tratados com 125I 14 doentes; 4 doentes com baixa taxa de dose de 192Ir e 1 doente com alta taxa de dose de 192Ir. A telerradioterapia do encéfalo foi realizada em 9 doentes e a quimioterapia foi realizada em 5. Agravamento temporário dos déficits preexistentes induzidos pelo procedimento, quando presentes, regrediu em todos os casos em até 36 horas. Um doente tratado com alta taxa de dose de 192Ir apresentou osteomielite, outro apresentou celulite no couro cabeludo e outro, fístula liquórica. Após tratamento com antibióticos os quadros infecciosos foram controlados. A sutura da ferida cirúrgica foi o procedimento empregado para o tratamento da fístula liquórica. Dos doentes com astrocitoma anaplásico, 7 estão vivos, 7 faleceram e os dados de acompanhamento de 3 são incertos. Um doente com o diagnóstico de oligoastrocitoma anaplásico faleceu e o outro permanece sob acompanhamento. Glioblastomas multiformes Trinta doentes com glioblastoma multiforme eram do sexo feminino e 20, do sexo masculino. As idades 19 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 variaram de 17 a 75 anos. A média das idades foi 49,7 anos e a mediana, 51 anos. Vinte e dois doentes tinham idade abaixo da mediana e 28, acima. O IK1 variou de 40 a 90. O IK2 de 16 casos não foi avaliado. Nos demais, a duração do tempo de acompanhamento da doença neurológica variou de 5 a 60 meses (média = 18,61 meses). A duração do acompanhamento após o tratamento variou de 1 a 60 meses (média = 12,38 meses). Craniotomia convencional foi realizada em 31 doentes, craniotomia guiada por estereotaxia em 5, biópsia estereotáxica em 23, biópsia encefálica guiada por ultra-som em 1, derivação cisto-peritoneal em um e aspiração estereotáxica de cisto tumoral noutro. Foram realizadas um total de 55 radioterapias intersticiais, sendo 31 com 125I, 12 com baixa taxa de dose de 192Ir e 12 com alta taxa de dose de 192Ir. A telerradioterapia do encéfalo foi realizada em 33 doentes e a quimioterapia em 19. Agravamento temporário dos déficits preexistentes em decorrência do procedimento, quando presentes, regrediu em até 36 horas. Neste grupo de 50 doentes, 9 permanecem sob controle ambulatorial, 31 faleceram e os dados de acompanhamento de 10 são incertos. Não foi verificada diferença quanto à evolução entre doentes com gliomas de alto grau tratados ou não com quimioterapia (Tabelas 18 e 19). Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas em relação às curvas de sobrevida após o tratamento com radioterapia intersticial dos doentes com glioblastomas multiformes tratados ou não com quimioterapia desde a instalação da sintomatologia (Tabela 18). A tabela 20 apresenta os resultados dos Modelos de Cox em três fases para a avaliação dos doentes com gliomas de alto grau desde o início da sintomatologia. Foi notada influência significativa da idade, da localização do tumor no corpo caloso em relação ao tumor localizado nos lobos ou segmentos cerebrais, da localização do tumor nos núcleos da base ou nos lobos dos segmentos cerebrais e do emprego de radioterapia em relação ao tratamento por radioterapia intersticial apenas no modelo univariado, mas não no modelo complexo. Quanto ao procedimento de coleta de material para exame anatomopatológico, foi observada uma diferença estatisticamente significativa entre doentes tratados com craniotomia em relação aos submetidos apenas à biópsia, quando o modelo completo foi considerado. O IK1, tanto no modelo univariado como no modelo completo reduzido, manteve-se significativo (Tabela 20). A tabela 21 apresenta os resultados dos Modelos de Regressão de Cox em três fases nos doentes com gliomas de alto grau após o tratamento com radioterapia intersticial. Metástases encefálicas Entre os 23 doentes com metástases, 10 eram do sexo feminino e 13, do masculino. As idades variaram de 25 a 75 anos (mediana = 54 anos e média = 56 anos). O IK2 não foi estimado em 2 casos. Nos demais, o tempo de evolução da sintomatologia variou de 1 mês a 28 meses (mediana = 8 meses e média = 11,57 meses). O tempo de evolução após a radioterapia intersticial variou entre 5 dias e 270 meses (média = 10 meses e mediana = 7,6 meses). Um paciente que apresentava IK1 de 90, durante sessão de quimioterapia, apresentou parada cardíaca; outro, que apresentava IK1 igual a 90, sofreu parada respiratória e cardíaca durante exame contrastado do esôfago no quinto dia após a realização do procedimento de radioterapia intersticial. Ressecção guiada por estereotaxia foi realizada em 8 doentes, biópsia estereotáxica em 14 e derivação ventrículoperitoneal em 1. Foram tratados com 125I os 23 doentes desse grupo, em que telerradioterapia do encéfalo foi realizada em 8 doentes e quimioterapia em 5. Das 23 metástases, 30,4% eram do pulmão, 21,7% eram de órgãos não determinados e 17,4%, da mama. Tabela 18 Distribuição da sobrevida média dos doentes com gliomas de alto grau tratados ou não com quimioterapia Variáveis Número de casos Sobrevida média Intervalo de Teste avaliados (em meses) confiança (95%) log rank 0,7518 Com quimioterapia 25 29 [ 17 ; 42 ] Sem quimioterapia 37 29 [ 21 ; 37 ] Tabela 19 Distribuição da sobrevida média (em meses) dos doentes com glioblastoma multiforme tratados ou não com quimioterapia após o procedimento de radioterapia intersticial Variáveis Número de casos Sobrevida média Intervalo de avaliados (em meses) confiança (95%) Teste log rank 0,7763 Com quimioterapia 20 22 [ 16 ; 28 ] Sem quimioterapia 25 22 [ 15 ; 29 ] Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF 20 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 Tabela 20 Significância (valores de p) para as variáveis nos Modelos de Regressão de Cox dos doentes com gliomas de alto grau avaliados desde o início da sintomatologia Modelo univariado Modelo completo Modelo reduzido Sexo Variáveis 0,0146 0,0467 0,0276 Idade 0,0009 0,0425 0,0141 Glioma anaplásico / glioma de baixo grau - - - Glioblastoma multiforme / glioma de baixo grau - - - Metástase / glioma baixo grau - - - Índice de Karnofsky inicial 0,0310 0,0012 0,0033 Diagnóstico Localização da lesão no encéfalo Corpo caloso / lobos e segmentos cerebrais 0,9438 0,3710 - Núcleos da base / lobos e segmentos cerebrais 0,5670 0,7953 - Tronco encefálico / lobos e segmentos cerebrais 0,6124 0,7881 - 0,0999 0,0101 - Método diagnóstico Craniotomia / biópsia Procedimentos terapêuticos adjuvantes RT / sem RT e QT 0,1108 0,1952 - RT e QT / sem RT e QT 0,2265 0,1805 - Volume das lesões 0,5611 0,6366 - Tabela 21 Significância (valores de p) para as variáveis nos Modelos de Regressão de Cox dos doentes com gliomas de alto grau após o tratamento com radioterapia intersticial Modelo univariado Modelo completo Sexo Variáveis 0,1125 0,0849 Modelo reduzido - Idade 0,0024 0,1144 0,0164 Glioma anaplásico / glioma de baixo grau - - - Glioblastoma multiforme / glioma de baixo grau - - - Metástase / glioma de baixo grau - - - 0,0001 0,0010 0,0081 Corpo caloso / lobos ou segmentos cerebrais 0,0005 0,1424 - Núcleos da base / lobos ou segmentos cerebrais 0,0162 0,7554 - Tronco encefálico / lobos ou segmentos cerebrais 0,7006 0,9899 - 0,4708 0,0501 - RT / sem RT e QT 0,0244 0,1138 - RT e QT / sem RT e QT 0,0702 0,1144 - Volume das lesões 0,5039 0,6506 - Diagnóstico Índice de Karnofsky inicial Localização da lesão no encéfalo Procedimento para coleta de material anatomopatológico Craniotomia / biópsia Procedimentos terapêuticos adjuvantes RT = telerradioterapia; QT = quimioterapia Quatro doentes permanecem vivos, 17 faleceram e os dados de acompanhamento de 2 são imprecisos. Discussão A radioterapia intersticial é um método que possibilita tratar lesões neoplásicas com irradiação sem Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF comprometer expressivamente o tecido localizado nas suas vizinhanças 139,229 . A exposição contínua à irradiação possibilita que a recuperação do dano subletal das células não-neoplásicas seja mais satisfatória, reduz a interferência da oxigenação tecidual na eficácia da radioterapia e sincroniza as células em proliferação nas fases M e G2, tornando-as mais sensíveis aos efeitos da radiação18,19. A execução da radioterapia intersticial deve ser fundamentada na delineação precisa do espaço 21 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 ocupado pelos tumores e na sua localização em ambiente estereotáxico para que a construção das curvas de isodose seja apropriada85. O uso de aparelho de estereotaxia é recomendado para a realização. Programas de computação foram desenvolvidos para reconstruir as imagens coplanares da TC, da RM e da angio-RM em condições estereotáxicas. Possibilitaram também a fusão dessas imagens com as curvas de isodose, tornando mais simples e precisos os procedimentos de radioterapia intersticial48. Em nosso meio, para a realização desta tese, foi desenvolvido um programa (MSPS) que possibilitou o uso de um computador pessoal para a reconstrução tridimensional e bidimensional das imagens nos planos axial, sagital, coronal, determinação dos volumes a serem tratados e o cálculo das isodoses para isótopos implantados no encéfalo, incluindo o 192Ir e o 125I em condições estereotáxicas1. A reconstrução tridimensional parece reduzir a ocorrência de complicações, pois a dosimetria baseada em estudos coplanares inclui mais tecido normal que o desejável no volume irradiado e não permite comparar detalhadamente o volume tratado com o volume do tumor216. Muitos admitem que a dose de 10 cGy/h na margem do volume-alvo, até atingir 60 Gy, é satisfatória para a radioterapia intersticial dos gliomas e metástases encefálicas, valor este geralmente alcançado após 20 a 30 dias de exposição. Para realizar este trabalho, a média da taxa da dose de radioterapia intersticial empregada foi 10 cGy/h na periferia da lesão, evidenciada pelo contraste durante o exame de TC, e a dose mínima aplicada na periferia do volume irradiado foi 60 Gy. Bernstein e cols.24 empregaram dose e taxa de dose similares em casos de astrocitomas anaplásicos como forma inicial de tratamento e, nos casos de astrocitomas malignos recidivados e tumores metastáticos, dose de 70 Gy. Recomenda-se que a radioterapia intersticial seja realizada após a segunda semana do término da telerradioterapia em casos de gliomas anaplásicos24. Os protocolos de radioterapia intersticial geralmente consideram a histologia, a definição do limite do volume-alvo (relação com o limite que capta contraste e o edema, biópsia seriada em vários trajetos), o volume das lesões, a localização dos alvos em relação aos núcleos da base, os tratos e os núcleos de nervos cranianos e outras estruturas funcionalmente fundamentais do encéfalo e a associação com cirurgias, telerradioterapia ou outros procedimentos adjuvantes127,149,159,174,237. Em virtude da conformação irregular das lesões, especialmente após as intervenções operatórias, o planejamento da radioterapia intersticial deve ser rigoroso e detalhado. Para a execução deste trabalho foi considerado como limite Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF do alvo da radioterapia intersticial a superfície que delineia os pontos situados dez milímetros externamente à superfície que capta contraste em casos de gliomas anaplásicos ou o limite evidenciado nas imagens da estéreo-TC ou da fusão destas com as da RM em casos de gliomas de baixo grau e metástases. Protocolo semelhante foi utilizado por Bernstein e cols.24 Mais de 40% dos doentes na presente casuística apresentavam idade variando de 40 a 60 anos. Isso foi devido provavelmente ao fato de haver grande número de doentes com gliomas de baixo grau e astrocitomas anaplásicos que se manifestam nessas faixas etárias com freqüência mais elevada que em doentes mais idosos. As condições físicas e funcionais dos doentes são parâmetros que se relacionam com o prognóstico dos doentes tratados de tumores encefálicos. Na presente casuística, o índice de Karnofsky quando da realização do procedimento foi superior a 50. A média dos valores foi 76,23 e a mediana, 70. Foi demonstrado que a evolução dos doentes com neoplasias do sistema nervoso central, especialmente dos gliomas anaplásicos, é mais insatisfatória em doentes com idades mais avançadas183. No presente trabalho a média de idade dos doentes foi 43,82 anos e a mediana, 45 anos. Na presente casuística, os volumes das lesões variaram de 1,1 cm3 a 267 cm3. Aproximadamente 50% dos doentes apresentavam lesões com mais de 15 cm3. A média dos volumes foi 38,3 cm3 e a mediana, 15,60 cm3. Esses valores são inferiores aos descritos por Bernstein e cols.24, que irradiaram volumes de 2,6 cm3 a 272,0 cm3 (mediana = 78 cm3). Esses autores concluíram que o procedimento não é recomendado quando as lesões apresentam mais que cinco centímetros de diâmetro à TC, especialmente quando localizados profundamente ou em regiões de grande importância funcional. Esses dados demonstram que a radioterapia intersticial pode ser empregada para a irradiação de lesões com volumes superiores àqueles credenciados para tratamento radiocirúrgico. A biópsia estereotáxica ou a céu aberto, guiada ou não por estereotaxia, é necessária para precisar diagnóstico das lesões expansivas intracranianas. Mesmo em doentes com forte suspeita de metástases encefálicas, o diagnóstico presuntivo, baseado apenas nos exames de imagem, pode induzir à adoção de procedimentos terapêuticos inadequados214. Foram realizadas craniotomias em 39,1% dos doentes e biópsia estereotáxica em 54,3% dos doentes da presente casuística para elucidar o diagnóstico no presente trabalho. As biópsias estereotáxicas são bastante seguras. A morbidade é inferior a 3% e a mortalidade, inferior a 1%, mesmo quando o maior contingente do tumor está localizado no tronco 22 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 encefálico, nos gânglios da base ou no tálamo158. Em menos de 3% dos casos ocorrem sintomas devidos a hemorragias8,158,184,188. Em mais de 90% dos casos, este procedimento proporciona o diagnóstico histopatológico preciso 9,214,215. Procedimentos cirúrgicos destinados ao tratamento de hidrocefalia, aspiração estereotáxica de cistos tumorais, derivação de cistos neoplásicos e correção cirúrgica de fístula liquórica foram indicados em menos de 10% dos doentes da presente casuística para melhorar suas condições neurológicas. A necessidade de procedimentos associados foi ressaltado por outros autores24. Existe muita controvérsia a respeito do momento da indicação de procedimentos adjuvantes para o tratamento de lesões expansivas encefálicas. Telerradioterapia foi utilizada como procedimento adjuvante em 45,7% dos casos dessa casuística. A quimioterapia exerce papel importante no tratamento das lesões encefálicas metastáticas, especialmente quando múltiplas e quando a lesão primária é quimiossensível. Há controvérsias sobre sua eficácia em casos de lesões neoplásicas gliais188. Admite-se que a quimioterapia sensibilize as lesões neoplásicas do sistema nervoso à ação da irradiação90. Esse fenômeno pode constituir fator de risco para a realização de telerradioterapia, uma vez que durante sua execução há, necessariamente, irradiação do tecido encefálico situado entre a lesão neoplásica e o ponto de penetração dos feixes de irradiação na superfície craniana. Essa possibilidade é minimizada durante a realização da radioterapia intersticial, uma vez que a fonte de radioterapia localiza-se no interior da lesão. De acordo com a curva de isodose estipulada e com a natureza do isótopo relacionado, é possível que mínimo ou nenhum acometimento do tecido encefálico seja induzido. Foram analisadas as curvas de Kaplan-Meier segundo os parâmetros sexo, faixas etárias, diagnósticos, índice de Karnofsky durante a realização da radioterapia intersticial, localização da lesão, execução ou não de craniotomia pré e pós-operatória, procedimentos adjuvantes e volume das lesões. Observou-se que, aparentemente, os indivíduos do sexo feminino evoluíram de modo mais satisfatório do que os do sexo masculino, mas essa diferença não foi estatisticamente significativa (p = 0,109). Observou-se também que, aos 18 meses de tratamento, para probabilidade de sobrevida dos doentes foi superior a 70% e, aos 2 anos de acompanhamento, reduziu-se a aproximadamente 50%. Foi observado também que doentes com menos de 40 anos de idade apresentavam sobrevida mais prolongada que os doentes com mais idade. A probabilidade de os doentes com idades inferiores a 40 anos sobreviverem 2 anos ou mais após a apresentação da sintomatologia foi aproximadamente o dobro da dos com idades superiores. Essa diferença Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF foi significativa (p < 0,001) e acentuou-se à medida que se prolongou o período de acompanhamento. Houve também forte correlação entre o índice de Karnofsky, durante a execução de radioterapia intersticial, e a evolução dos doentes. Quando IK1 foi igual ou inferior a 70, a probabilidade de sobrevida reduziu-se. Esses achados coincidem com o observado por outros autores avaliando doentes com gliomas encefálicos188. Observou-se também que doentes com gliomas de baixo grau e gliomas anaplásicos apresentaram maior probabilidade de sobrevida do que os doentes com glioblastoma multiforme ou metástase (p < 0,01). Esse citado reforça o conceito já firmado por outros autores sobre a agressividade do glioblastoma multiforme e a potencialidade de os doentes com metástase encefálica apresentarem redução da sobrevida por causa da progressão da doença sistêmica. Por distanciar-se dos objetivos do presente trabalho, a análise das razões da menor sobrevida nos doentes com metástase não foi realizada. Não foi notada diferença na curva de sobrevida entre doentes com lesões localizadas nos lobos ou nos segmentos cerebrais, no tronco encefálico ou nas regiões profundas do cérebro (p = 0,415). É possível que esse achado seja por causa de maior comprometimento funcional dos doentes com lesões localizadas no tronco encefálico e de maior dimensão das lesões nos doentes com tumor lobar ou segmentar encefálico. Não foram constatadas diferenças estatisticamente significativas entre a sobrevida dos doentes tratados previamente, ou não, com craniotomia. Esse achado, considerado isoladamente, contraria o observado por outros autores, que concluíram que craniotomia torna mais favorável a evolução dos doentes com lesões expansivas intracranianas 154,188. Admite-se que a cirurgia citorredutora proporciona sobrevida mais prolongada e satisfatória que a radioterapia ou outras medidas adjuvantes183. Esses dados sugerem que a radioterapia intersticial parece beneficiar os doentes independentemente da execução dos procedimentos com finalidade terapêutica. Não foi observada relação do volume das lesões encefálicas e a probabilidade de sobrevida. Seria esperado que doentes com tumores pouco volumosos apresentassem evolução mais favorável que aqueles com lesões volumosas. As medidas adjuvantes oncoterápicas influenciaram desfavoravelmente a curva de probabilidade de sobrevida. Não houve, entretanto, diferença estatisticamente significativa no resultado da análise da probabilidade de sobrevida de doentes submetidos ou não à telerradioterapia e/ou à quimioterapia no período pós-operatório. Esses dados também não coincidem com os relatados por outros autores, que observaram que a radioterapia adjuvante melhora a 23 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 evolução de doentes com metástases e gliomas anaplásicos10,148,171,191,204. Provavelmente, isso ocorreu em razão de ter havido, na presente casuística, número elevado de doentes com gliomas de baixo grau, condição em que, freqüentemente, medidas adjuvantes não são prescritas. Podem traduzir, também, tendência de se indicar telerradioterapia e quimioterapia em doentes com afecções neoplásicas malignas, condições que, por si, implicam pior prognóstico. Por causa da possibilidade de interação de vários fatores na sobrevida, foi avaliada a interferência dos parâmetros idade, sexo, natureza da afecção, volume da lesão, realização ou não de craniotomia, quimioterapia ou radioterapia nos doentes segundo os modelos de regressão de Cox. Confirmando os resultados da análise das curvas de Kaplan-Meier no modelo univariado da análise da regressão de Cox, doentes tratados com radioterapia intersticial e telerradioterapia e radioterapia intersticial, telerradioterapia e quimioterapia, em relação aos tratados com radioterapia intersticial apenas e doentes com idade mais avançada, apresentaram probabilidade de sobrevida menos favorável. No modelo completo, a natureza dos procedimentos perdeu importância. No modelo completo, mas não no modelo reduzido, indivíduos do sexo feminino apresentaram probabilidade de sobrevida mais prolongada. Segundo o modelo univariado, completo e reduzido de Cox, os doentes com astrocitomas anaplásicos e gliomas de baixo grau apresentaram probabilidade de sobrevida similar, e os doentes com glioblastoma multiforme e metástases apresentaram probabilidade de sobrevida menor que os doentes com gliomas de baixo grau. Foi também marcadamente significativa a relação entre valores baixos no índice de Karnofsky e a probabilidade de sobrevida menor. Não foi observada relação entre a evolução e a localização, o volume da lesão e a sobrevida dos doentes, quer no modelo univariado quer no modelo completo. Com a finalidade de avaliar eventuais interferências da radioterapia intersticial na evolução natural dos doentes desta casuística, foi analisada a probabilidade de sobrevida após o tratamento, de acordo com as curvas de Kaplan-Meier. Pode-se observar que, 1 ano após o tratamento, a probabilidade de o doente sobreviver foi pouco superior a 50%, aos 2 anos foi de aproximadamente 35% e aos 5 anos, discretamente superior a 20%. Confirmando as conclusões da análise das curvas de Kaplan-Meier relacionada à evolução total da sintomatologia, observou-se que, após o tratamento, não ocorreu também relação entre a probabilidade de sobrevida e sexo, realização de craniotomia, localização das lesões no encéfalo e volume do tumor. Doentes com idade inferior a 40 anos apresenRadioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF taram probabilidade de sobrevida mais prolongada que os com idade mais avançada. Doentes com índice de Karnofsky inferior ou igual a 70, apresentaram probabilidade de sobrevida menor que aqueles com Índice de Karnofsky superior a 70 e doentes tratados com telerradioterapia e/ou quimioterapia apresentaram menor sobrevida que doentes não tratados. A análise dos modelos de regressão de Cox, realizada para avaliar a sobrevida dos doentes após a realização da radioterapia intersticial, confirmou também muitos dos resultados do estudo em relação à evolução desde o início da sintomatologia. A interferência da idade e dos baixos valores do índice de Karnofsky na probabilidade de sobrevida foi significativa no modelo univariado, completo e reduzido. Houve diferença, no modelo univariado, na probabilidade de sobrevida dos doentes tratados apenas com radioterapia intersticial em relação aos tratados com quimioterapia e telerradioterapia ou apenas telerradioterapia. Não houve diferença na evolução entre doentes com astrocitomas anaplásicos e gliomas de baixo grau quanto à localização nos núcleos de base e tronco encefálico, à localização nos lobos e segmentos cerebrais, bem como quanto à realização ou não de craniotomia. Não houve inferência do volume da lesão na sobrevida. Diferindo da análise dos dados avaliados desde o início da sintomatologia, não foi observada relação entre a probabilidade de sobrevida e o sexo no modelo completo, diagnóstico de glioblastoma multiforme e gliomas de baixo grau no modelo univariado e diagnóstico de metástase e glioma de baixo grau no modelo completo. A localização no corpo caloso em relação à localização nos lobos ou segmentos cerebrais interferiu na probabilidade de sobrevida no modelo completo. Gliomas de baixo grau Os astrocitomas são os tumores encefálicos de origem glial mais freqüentes184. São responsáveis por aproximadamente 50% dos tumores do SNC. Os gliomas de baixo grau constituem cerca de 50% dos astrocitomas na infância e 20% a 40% dos astrocitomas nos adultos 31. Correspondem aos graus I e II da classificação de Kernohan ou aos astrocitomas benignos da classificação da Organização Mundial de Saúde44. Os oligodendrogliomas representam 4% a 7% de todos os gliomas intracranianos15 e situam-se em terceiro lugar em freqüência entre os gliomas58. Avaliados em conjunto, não há predominância sexual para sua ocorrência179. Os astrocitomas cerebelares representam 5% de todos os gliomas e 15% dos tumores cerebrais na infância. Nos hemisférios cerebrais, manifestam-se em doentes com média de idade de 31,5 anos 65 . Os astrocitomas não-pilocíticos 24 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 (astrocitomas de baixo grau propriamente ditos) compreendem a maioria dos tumores de baixo grau nos adultos e ocupam o segundo lugar em freqüência entre os tumores encefálicos primitivos. Na presente casuística, houve discreto predomínio dos indivíduos do sexo masculino (53,3%), com média de idade de 28 anos e mediana de 31 anos, o que está de acordo com os dados de outros autores, que observaram que esses tumores ocorrem com maior freqüência em doentes do sexo masculino e com idade variando de 30 a 50 anos144,183. Há outro pico de ocorrência na faixa etária de 6 a 12 anos58. A média de sobrevida dos doentes adultos com astrocitoma grau II é de 46 meses. Apenas 24% sobrevive mais que cinco anos 183 . Segundo Salcman 183, o astrocitoma gemistocítico constitui uma outra entidade diferente da do astrocitoma de baixo grau, uma vez que ocorre em doentes com idades mais avançadas e apresenta mais agressividade, pois a sobrevida dos que dela padecem é mais curta. Apresentam comportamento semelhante aos astrocitomas anaplásicos. Na presente casuística, outros gliomas, como os gangliogliomas e os tumores neuroepiteliais primitivos, não foram incluídos. Existem muitas controvérsias quanto às condutas e o momento das intervenções em doentes que apresentam gliomas de baixo grau. A sobrevida é prolongada mesmo sem terapia. Há demonstrações de que o tratamento do tumor deve ser implantado no momento da apresentação das primeiras manifestações clínicas, ou após a confirmação do diagnóstico histopatológico, ou no momento em que se constata aumento do volume ou modificação do aspecto da lesão. Muitos doentes mantêm o quadro estável durante muitos anos sem a adoção das medidas radicais154. A atitude conservadora, entretanto, parece não ser a melhor opção para muitos casos. A biologia e a história natural dos gliomas de baixo grau são variáveis importantes que devem ser consideradas quando da decisão sobre o momento da modalidade terapêutica. Admite-se que as intervenções devam ser realizadas quando houver sinais evidentes de que a afecção gera anormalidades neurológicas. Quando o comportamento do tumor é agressivo, o tratamento cirúrgico, radioterápico ou quimioterápico são recomendados para prolongar a vida e melhorar a qualidade de vida dos doentes. Quando a lesão não pode ser ressecada, a biópsia estereotáxica deve ser utilizada com finalidade diagnóstica. O período médio de sobrevida pós-operatório é de 11,9 anos para doentes com astrocitoma pilocítico, quando a ressecção é completa, 85% dos doentes sobrevivem mais de 5 anos e 79% mais de 10 anos183. Quando a ressecção parcial é complementada com telerradioterapia, a sobrevida em 10 anos é de 74% e, em 20 anos, de 41%. Em casos de astrocitomas não-pilocíticos, é possível que ocorra Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF melhora da qualidade de vida e prolongamento da sobrevida quando são realizadas ressecções antes mesmo da instalação dos sintomas20. O tratamento, portanto, deve ser agressivo durante a apresentação dos sintomas iniciais, uma vez que há tendência à malignização183. Salcman188 propõe ressecção macroscópica completa ou biópsia e ressecção parcial seguida de irradiação como primeiras intervenções e radioterapia intersticial ou quimioterapia quando houver recorrência. O objetivo da cirurgia é a redução do volume do tumor, sem comprometimento da função134. Quando as lesões são localizadas no hemisfério dominante, ao redor da fissura de Sylvius ou nas proximidades do córtex rolândico e das áreas da linguagem ou estruturas envolvidas no controle motor ou sensorial, ou quando há infiltração subcortical, o mapeamento funcional e o mapeamento anatômico intraoperatório com ultra-som, estereotaxia ou neuronavegação são necessários para a identificação e a preservação de estruturas funcionalmente importantes92,119. A ressecção radical não é recomendada em casos de lesão difusa ou que envolva estruturas da linha média, em doentes com baixo grau funcional no índice de Karnofsky ou quando afecções clínicas contra-indicam a realização de craniotomia. O prognóstico depende da idade, da localização das lesões, das condições gerais e das terapias anteriores a que foram submetidos os doentes84,183. Há evidências de que a sobrevida relaciona-se com a magnitude da operação. Na casuística de Laws e cols.134, 32% dos doentes submetidos à biópsia apenas, 44% dos doentes submetidos à ressecção parcial e 61% dos doentes que sofreram ressecção total, respectivamente, sobreviveram mais de 5 anos. Na casuística de Mahaley e cols.141, 52% dos doentes sobreviveram mais que 5 anos após ressecção completa. O mesmo ocorreu em 23% dos casos de doentes submetidos à biópsia e em 27% dos doentes submetidos à ressecção parcial183. Quando as lesões são detectadas incidentalmente ou são identificadas durante a investigação de causas de convulsões, a biópsia estereotáxica e o acompanhamento clínico e com exames de imagem são recomendados. Havendo evidências de progressão da lesão, ou agravamento do estado neurológico, a exérese da lesão deve ser realizada. Idade inferior a 40 anos associase a prognóstico favorável144. Há controvérsias sobre o emprego da telerradioterapia convencional nesses doentes. Apesar de a telerradioterapia melhorar a evolução de doentes com gliomas malignos223, o mesmo ainda não foi demonstrado em doentes com astrocitomas de baixo grau164,198. Parece lógica a indicação do tratamento radioterápico após ressecções parciais, quando há constatação de recidiva e quando há modificação do padrão celular. 25 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 Quando o comportamento é agressivo e os doentes têm menos de 40 anos, a radioterapia é benéfica. Segundo Salcman183, a sobrevida dos doentes após a ressecção parcial é da ordem de 13% a 34% e se eleva para 40% a 50% em 5 anos, quando é realizada radioterapia durante o período pós-operatório. A radioterapia é também indicada quando a lesão é inacessível. A precisa delineação das curvas de isodose, a alta dose e a baixa taxa de energia 156 tornam a radioterapia intersticial mais eficaz que a telerradioterapia fracionada, especialmente quando o glioma é circunscrito e localizado no hipotálamo, tálamo, núcleos da base, trato e quiasma óptico e no tronco encefálico68. A radioterapia intersticial deve ser realizada preferentemente com implantes temporários e com doses médias de 10 cGy/h na margem da lesão, tal como executado durante a realização do presente trabalho. Segundo Salcman 183, o desempenho funcional insatisfatório dos doentes de acordo com o índice de Karnofsky implica prognóstico desfavorável. A sobrevida em 5 anos de doentes com índice de Karnofsky inferior a 70 foi de 17,7% e elevou-se para 42,6% em doentes com índice de Karnofsky superior a 70 na casuística de McCormarck e cols.144. Segundo Ostertag e Kreth157, de 251 doentes tratados de astrocitoma grau II com diâmetro inferior a 4 cm e índice de Karnofsky superior a 70, a radioterapia intersticial resultou em sobrevida de 65% dos doentes em 5 anos. O índice de Karnofsky variou de 50 a 70 em 51,1% dos doentes da presente casuística. Apesar desse aspecto, a média de sobrevida dos doentes foi 38 meses e a mediana, 31 meses, a duração média do acompanhamento pós-operatório foi 21,2 meses e a mediana, 14 meses. Analisando a curva de KaplanMeier, pode-se afirmar que a probabilidade de sobrevida em 60 meses foi superior a 50%. Este achado foi semelhante ao das casuísticas combinando astrocitomas comuns e oligoastrocitomas, em que a sobrevida em 5 anos foi 51%198, e foi superior ao de outros autores, que observaram que apenas 24% a 45% dos doentes sobreviveram 5 anos, quando a cirurgia e a radioterapia foram aplicadas115,145, e sugere que a radioterapia intersticial proporciona prolongamento da sobrevida nos doentes com lesões residuais, lesões recidivadas ou quando a biópsia é a única intervenção possível. É provável que a idade seja a variável que isoladamente mais se relacione com o prognóstico desses doentes 115. A sobrevida dos doentes com menos de 40 anos foi de 56 meses, ao passo que a de doentes com mais de 40 anos foi de apenas 30,5 meses. Cumpre salientar que aproximadamente um quinto Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF dos doentes da presente casuística apresentava mais que 40 anos de idade. Obviamente, a idade não deve ser considerada como único fator envolvido no prognóstico desses doentes, uma vez que a localização parece também ter algum significado. Astrocitomas de tronco encefálico costumam apresentar prognóstico pior 183 . Influencia também a sobrevida dos doentes, a malignização das lesões144. Características radiológicas, histológicas e doses de radioterapia interferem na evolução, mas não foram avaliados durante a realização do presente estudo183. Alguns trabalhos demonstraram que a radioterapia intersticial em gliomas de baixo grau, incluindo o astrocitoma, o oligodendroglioma e o oligoastrocitoma não proporciona resultados diferentes dos da telerradioterapia ou de outras modalidades de tratamento 25,70,164,210. Quando há recidiva e progressão do tumor, o tratamento quimioterápico pode ser indicado. Se a quimioterapia é ineficaz, a radioterapia deve ser indicada em doentes com mais de 3 anos de idade108. O tratamento dos oligodendrogliomas é também matéria controversa. Alguns autores observaram bons resultados com o tratamento cirúrgico134,205, enquanto outros não183. A cirurgia é indicada quando os tumores estão localizados em regiões acessíveis, em doente não idoso e com índice de Karnofsky elevado193,203. É também controversa a aplicação de radioterapia198 ou de radiocirurgia183 nesses casos. Apenas um doente da presente casuística apresentava oligodendroglioma e outro, oligoastrocitoma. Gliomas anaplásicos Os astrocitomas anaplásicos e o glioblastoma multiforme são os tumores encefálicos primários mais freqüentes no adulto. Na população pediátrica, a ocorrência de astrocitomas anaplásicos é também elevada quando se consideram apenas as lesões hemisféricas158. Na Inglaterra, o glioblastoma multiforme é diagnosticado em 7,53/100.000 habitantes/ano. O pico de ocorrência ocorre entre 50 e 59 anos16. Na Suécia, no período entre 1958 e 1975, a maior prevalência foi de 4,2/100.000 habitantes/ano189. Nos Estados Unidos, 27,7% dos tumores do SNC são constituídos pelo glioblastoma multiforme e 26,6% são constituídos pelos astrocitomas141. O glioblastoma multiforme representa 20% dos tumores primários do SNC nos indivíduos com idade inferior a 14 anos. Embora os gliomas malignos encefálicos constituam aproximadamente apenas 2% de todas as neoplasias malignas, o interesse pelo seu estudo deve-se à intensa incapacidade e à elevada mortalidade decorrentes de sua ocorrência. 26 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 A incidência dos gliomas anaplásicos varia de acordo com a idade. São malignos 34% e 85% dos astrocitomas diagnosticados em doentes com 30 a 34 anos de idade e após os 60 anos de idade, respectivamente218. A prevalência do glioblastoma multiforme e dos astrocitomas cresce de 0,2 a 0,5/100.000 habitantes nos indivíduos com idade inferior a 14 anos, para 4,5 a 1,7/100.000 habitantes nos indivíduos com mais de 45 anos de idade83. Há evidências de que o glioblastoma multiforme e o astrocitoma anaplásico sejam mais freqüentes nos indivíduos do sexo masculino e de cor branca155,218. Na presente casuística, entretanto, o glioblastoma multiforme e os astrocitomas anaplásicos predominaram no sexo feminino. A mediana das idades dos doentes da presente casuística foi 53,24 anos, o que coincide com a maior prevalência desse tipo de lesão em indivíduos com idade superior a 40 anos188. Menos de 20% dos doentes com glioblastoma multiforme apresentam história com duração inferior a 1 mês. Somente 10% apresentam sintomas com duração superior a 1 ano178. Na presente casuística, a duração da sintomatologia variou de 5 a 60 meses. O tempo de existência dos sinais e dos sintomas é importante fator prognóstico. História de crise convulsiva superior a 18 meses ou ocorrência de outros sintomas com duração superior a 6 meses implicam prognóstico favorável178,225. Os gliomas de alto grau são tumores muito agressivos. A mortalidade é de, aproximadamente, 90% em 18 meses178. Não há consenso sobre as estratégias mais apropriadas para o tratamento dos gliomas anaplásicos. Cirurgia, radioterapia e quimioterapia continuam sendo os procedimentos mais indicados para tratá-los. Entretanto, apenas 5% dos doentes com astrocitomas anaplásicos sobrevivem 2 anos ou mais após a execução dos procedimentos convencionais161,220. Novas tecnologias possibilitaram a realização de procedimentos operatórios e terapias adjuvantes com mais segurança. Incluem-se entre elas a neuronavegação, a radioterapia mais bem programada e o uso de quimioterápicos mais efetivos. A cirurgia guiada por estereotaxia ou neuronavegação é mais apropriada que a guiada pelo ultra-som intra-operatório, especialmente quando o objetivo é a localização de pequenos tumores em regiões anatomicamente críticas215. O mapeamento eletrofisiológico intra-operatório é mais sensível e específico para definir áreas funcionalmente importantes que as imagens da RM e da TC 26. Reoperações devem ser consideradas quando houver evidências de que a remoção do tumor recidivado possa melhorar o desempenho funcional dos doentes 184. A localização da lesão é o principal determinante das dificuldades e das limitações para o Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF tratamento cirúrgico. Muitos estudos indicam que a simples ressecção do tumor não aumenta a sobrevida; outros sugerem que essa medida o faz118. Jelsma e Bucy114 observaram que a sobrevida dos doentes tratados com descompressão externa ou biópsia era inferior a dos tratados com ressecção radical do tumor. Esse achado foi confirmado por Chang e cols.47 ao avaliarem 554 doentes com gliomas anaplásicos. Foi constatada relação entre o montante da área que capta contraste durante o período pós-operatório e a duração da sobrevida7,235. Nelson e cols.150 analisaram os prontuários de 94 casos de astrocitomas anaplásicos e concluíram que os doentes submetidos à ressecção apresentaram sobrevida mediana mais prolongada que os submetidos apenas à biópsia, 1 e 3 anos após o tratamento. Na presente casuística apenas dez doentes haviam sido submetidos à ressecção cirúrgica. Admite-se que o controle local do crescimento das neoplasias malignas talvez não seja possível porque a doença encefálica é mais difusa do que a TC com contraste sugere. O tratamento radioterápico é considerado o método que isoladamente atua de modo mais eficaz no tratamento dos astrocitomas anaplásicos4,158,184,225. Em casos de tumores do tronco encefálico, núcleos de base e tálamo, a telerradioterapia proporciona resultados comparáveis aos das cirurgias radicais 55 . Admite-se que adultos com astrocitoma grau III ou IV devam ser tratados com telerradioterapia e, eventualmente, com telerradioterapia complementar de reforço ou radioterapia intersticial. Esses procedimentos prolongam a sobrevida de doentes com astrocitomas anaplásicos supratentoriais, segundo estudos retrospectivos 33,38,81,126,162,166,181,182,185,186,200,213,219,224,226,227,228 e prospectivos multicêntricos recentes 223,225. Nos doentes que se submetem à excisão radical dos astrocitomas malignos, a média de sobrevida é de 4 meses; o tempo de sobrevida aumenta para 9,25 meses naqueles tratados com telerradioterapia após a ressecção184. Quando o tumor aumenta de volume durante o processo de irradiação, o prognóstico é mau235. Nenhum estudo documentou inequivocamente a potencialidade do benefício proporcionado pela radioterapia intersticial como forma de tratamento inicial nesses casos 72,77. Cerca de 30% dos doentes com gliomas anaplásicos são candidatos à radioterapia intersticial como forma inicial de tratamento. Apenas 50% dos doentes candidatos à radioterapia intersticial como intervenção inicial mantêm-se candidatos a tal procedimento após a recidiva, pois, muitas vezes, com o passar do tempo, os tumores hemisféricos passam a acometer o hemisfério contralateral ou tornam-se 27 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 multicêntricos. A média de sobrevida dos doentes com astrocitomas anaplásicos tratados com radioterapia intersticial por Leibel e cols.136 foi de 81 semanas e a mediana de sobrevida, 44 semanas. Na presente casuística, a sobrevida dos doentes variou de 8 a 96 meses, sendo a mediana 31 meses e a média 20,5 meses; valores portanto superiores aos dos doentes tratados com cirurgia e telerradioterapia por outros autores184 e similares ou superiores aos de outros autores que empregaram a radioterapia intersticial como forma de tratamento24,136. A sobrevida mediana de 12 semanas em doentes que não tenham extensão da lesão além da linha média associa-se a resultados mais favoráveis. A radioterapia intersticial prolonga também a sobrevida de doentes tratados com telerradioterapia49,50,51. Cinco doentes da presente casuística submeteram-se a tratamento por quimioterapia sem que houvesse melhora da curva de sobrevida. Em 20% a 40% dos doentes tratados com radioterapia intersticial com 125I ocorre radionecrose que requer cirurgia para remoção do tecido desvitalizado para melhorar a qualidade de vida e a duração da sobrevida90. A indicação de reoperação em doentes tratados com radioterapia intersticial é muito controversa. A avaliação da atividade metabólica talvez possa prever o resultado de reintervenção220. Walker e cols.226 e Gutin e cols.88 indicam a segunda cirurgia quando há agravamento das condições clínicas. Nova craniotomia para citorredução foi necessária em 30,4% e terceira craniotomia em 12% dos doentes submetidos à radioterapia intersticial na casuística por Bernstein e cols. 24. Segundo esses autores, reoperação foi necessária em 20,4% dos doentes tratados com radioterapia intersticial como procedimento inicial e em 27,8% dos doentes tratados de doença recidivada. Células viáveis podem ser identificadas no tecido coletado da área irradiada durante a segunda operação. Na presente casuística, 6 (31,5%) dos 19 doentes com astrocitomas anaplásicos foram submetidos à craniotomia para remoção de lesão expansiva no transcorrer do período pós-operatório. Procedimentos adicionais podem também ser necessários. Entre eles, incluem-se a drenagem de cistos sintomáticos24,\ tal como ocorreu em 1 doente da presente casuística. Em razão da natureza infiltrativa desses tumores, a ressecção completa não é possível. A telerradioterapia é geralmente prescrita para tais casos. Alguns estudos demonstraram que a irradiação, analisada como variável independente, aumenta a sobrevida dos doentes com glioblastoma multiforme55,60,76,107,113,114,151,178,196. Roth e Elvidge178 não observaram diferença quanto à sobrevida entre os doentes irradiados e aqueles submetidos a ressecções parciais ou totais. A sobrevida média dos doentes com glioblastoma multiforme após cirurgias Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF convencionais e radioterapia foi de 37 semanas e significativamente menor nos casos em que a idade foi superior a 60 anos158,184,225. A recidiva ocorre em 58% dos doentes 6 meses após a ressecção isolada e em 28% dos doentes tratados com telerradioterapia pósoperatória 49. Newell e cols. 152 observaram que a ressecção subtotal do tumor, seguida de irradiação com 3.000 cGy de todo encéfalo, durante dez dias, resultou em sobrevida mediana de 44 semanas, enquanto a ressecção radical resultou em sobrevida de 15 semanas. Isso sugere que a telerradioterapia pós-operatória prolonga o período de sobrevida178. Utilizando análise de regressão, Weir 230 observou que a irradiação melhorou significativamente a sobrevida. Hitchcock e Sato 107 observaram que a sobrevida dos doentes submetidos à ressecção foi similar a dos doentes tratados apenas com descompressão externa e irradiação pós-operatória. Entretanto, Taveras e cols.213 observaram que, a longo prazo, a radioterapia pouco beneficiou doentes submetidos à biópsia ou à ressecção das lesões. Por outro lado, alguns trabalhos demonstraram que a cirurgia não modifica a evolução de doentes tratados com telerradioterapia. Scanlon e Taylor195 não notaram diferença quanto à sobrevida entre doentes submetidos à biópsia ou à ressecção das lesões e radioterapia. Coffey e cols.55 concluíram que a cirurgia citorredutora não prolongou a sobrevida de doentes tratados com telerradioterapia. Kinsella e cols.121 observaram que a cirurgia citorredutora não modificou os resultados finais; 94% dos seus doentes haviam completado o curso de radioterapia superfracionado. No presente trabalho, observou-se que a média de sobrevida foi de 22 meses e a mediana, 18,4 meses, valores semelhantes aos apresentados por outros autores. Alguns pesquisadores85,86,88,89,90,91 observaram que a administração de quimioterápicos com finalidade sensibilizadora durante a execução da radioterapia intersticial prolonga de modo estatisticamente significativo a sobrevida dos doentes. Entretanto, na presente casuística essa intervenção não modificou a sobrevida. É possível que critérios de seleção e técnicas diferentes de execução do procedimento de radioterapia intersticial justifiquem a discrepância em relação aos resultados dos autores norte-americanos. Trabalho realizado avaliando o resultado da biópsia estereotáxica, seguida de radioterapia intersticial e telerradioterapia, revelou que os resultados foram piores quando os tumores não foram ressecados e o volume foi superior a 20 cm3.58 As drogas sensibilizadoras parecem melhorar a eficácia do tratamento radioterápico31,90. O efeito da radioterapia intersticial é mais expressivo quando associado à hipertermia175,184,187 e à quimioterapia com nitrosuréia187. A radionecrose é rara em doentes com 28 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 glioblastoma multiforme após o tratamento com telerradioterapia na dose de até 60 Gy30. Os doentes tratados com telerradioterapia (50 Gy) apresentam alta freqüência de recidiva e os tratados com radioterapia intersticial, alta freqüência de radionecrose, menor celularidade, pleomorfismo celular, hiperplasia celular e índice mitótico mais baixos. Esses achados, possivelmente, são relacionados à maior mortalidade celular decorrente da dose elevada de irradiação. Outros estudos sobre os efeitos da radioterapia em animais substanciam as vantagens da radioterapia intersticial23. A administração da nitrosuréia melhora o resultado do tratamento dos gliomas malignos. Walker e cols.223 concluíram que a telerradioterapia, a quimioterapia com 1,3-bis (2-cloroetil)-1-nitrosuréia ou a combinação destes procedimentos foram mais eficazes que as cirurgias apenas. Houve correlação negativa entre biópsia e sobrevida e melhora da qualidade de vida. A cirurgia visando à ampla ressecção das lesões, associada a radioterapia convencional na dose de 60 cGy na lesão, quimioterapia e radioterapia intersticial, amplia de 24 para 36 meses a sobrevida dos doentes com glioblastoma multiforme. A média de sobrevida de doentes com glioblastoma multiforme após a excisão cirúrgica, irradiação e quimioterapia é 10 meses e reduz-se para 9,25 meses após cirurgia e radioterapia apenas184. Quando há recidiva 8 a 12 meses após o tratamento, a exérese cirúrgica da lesão recorrente pode ser aconselhada. Quimioterapia também deve ser considerada nesses casos. A radioterapia intersticial é a terapia isolada mais eficaz para o tratamento de doentes com lesões recorrentes184. A radioterapia intersticial prolonga a vida, mas não cura os doentes com gliomas malignos. Células tumorais podem manter-se vivas no tecido adjacente ao tumor identificável. Pode também ocorrer resistência aparente de algumas células tumorais à radiação, o que justifica os benefícios temporários da cirurgia citorredutiva ou da telerradioterapia nos tumores anaplásicos119. Além disso, a radioterapia intersticial não controla a disseminação do tumor no compartimento liquórico. O parâmetro isolado mais importante para o estabelecimento do prognóstico dos doentes com glioblastoma multiforme é a idade. Na maioria das casuísticas, 10% a 20% dos doentes sobrevivem durante 18 a 24 meses após o diagnóstico. Menos de 5% o faz durante 3 anos ou mais. Em crianças com gliomas de alto grau, a taxa de sobrevida de 5 anos é maior que 25%, podendo 10% sobreviver 10 anos ou mais184. Os idosos apresentam sistema imunológico menos operante, o que torna os tumores mais resistentes à quimioterapia e à radioterapia. A magnitude da necrose e da anaplasia tumoral é também relacionada ao mau prognóstico. Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF Metástases encefálicas As metástases encefálicas são uma das complicações neurológicas mais comuns dos tumores malignos extraneurais. Manifestaram-se em 131 mil doentes nos Estados Unidos em 1993. São resultado da disseminação hematogênica das células de tumores situados a distância e, menos freqüentemente, de locais adjacentes como o crânio ou os tecidos moles da cabeça e do pescoço14. Estudos realizados com material de autópsia fornecem informações aproximadas sobre a ocorrência e distribuição etária das metástases encefálicas. Cerca de 12% a 35%, ou seja, aproximadamente 25% dos doentes com câncer apresentam metástases intracranianas12,167. Há evidências de que a incidência das metástases intracranianas seja crescente46,79,168 devido à melhora do tratamento da condição original e, conseqüentemente, da sobrevida dos doentes com tumores, o que permite que as células metastáticas “protegidas” no SNC possam se desenvolver125. As metástases encefálicas podem manifestarse precocemente, enquanto o tumor primário ainda é oculto, sincronicamente, quando identificadas em simultaneamente ao tumor primário e, metacronicamente, quando identificadas em algum intervalo de tempo após o diagnóstico do tumor primário167. As metástases das lesões pulmonares tendem a manifestar-se precocemente, logo após o diagnóstico inicial, e as de mama, cólon e do melanoma geralmente o fazem após longos intervalos de tempo101. Cerca de 75% das metástases são metacrônicas10. Costumam ocorrer em adultos e, na presente casuística, a média das idades foi 56 anos. A ocorrência de metástases encefálicas varia consideravelmente de acordo com o tumor10. Embora, virtualmente, todas as neoplasias malignas possam gerar metástases encefálicas, o câncer de pulmão, mama, colo e reto e o melanoma o fazem mais freqüentemente35,36,102,211. Na presente casuística, cerca de um terço dos casos de metástases era oriundo dos pulmões e um quinto, da mama, o que está de acordo com o relatado acima. O carcinoma pulmonar é a fonte mais comum de metástases encefálicas; é responsável por aproximadamente 40% a 50% dos casos nos Estados Unidos10. O carcinoma de células escamosas causa menos metástases encefálicas que o adenocarcinoma ou o carcinoma indiferenciado43. Ocorrem metástases encefálicas em 20% a 40% dos doentes com câncer de células pequenas do pulmão. Aproximadamente 45% das metástases do câncer de pulmão são únicas e 15%, sincrônicas66,171. Os exames de imagem freqüentemente detectam metástases pequenas e assintomáticas em 4% a 11% dos doentes candidatos a cirurgias pulmonares111,124. Isso significa que a investigação por imagem do encéfalo deve ser rotineira na fase pré-operatória 29 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 de toracotomias para o tratamento de neoplasias pulmonares83. O carcinoma de mama é a causa mais comum de metástases encefálicas nas mulheres e a segunda causa de metástases encefálicas75,238. São as que mais amplamente se distribuem no encéfalo, podendo acometer o parênquima e a leptomeninge122. Quando acometem a dura-máter, simulam meningiomas34,212. As metástases de neoplasias do aparelho digestivo são responsáveis por 9% dos casos146. As metástases do cólon209 e do rim236 tendem a ser isoladas e parcialmente resistentes à irradiação142. Os melanomas são tumores que mais causam metástases encefálicas. Essas são mal demarcadas, infiltram o parênquima, freqüentemente sangram e, geralmente, são múltiplas. Em 6 dos 54 doentes da casuística de Patchell e cols.160, a biópsia ou a remoção cirúrgica das prováveis lesões metastáticas encefálicas demonstraram que estas não eram metástases. Lesões encefálicas múltiplas ou únicas, em doentes com câncer sistêmico conhecido, sugere o diagnóstico de metástases, mas o diagnóstico de certeza só é possível após o estudo histológico do material de biópsia. O tumor-fonte não é conhecido em aproximadamente 4% a 10% dos doentes que se submetem a tratamento cirúrgico de possíveis metástases encefálicas64,147. Os procedimentos específicos para o tratamento das metástases encefálicas incluem a cirurgia, a radioterapia, a radiocirurgia e a quimioterapia. A seleção do tratamento é baseada nas condições clínicas, na qualidade do desempenho funcional, na idade e no estado neurológico dos doentes, na magnitude da doença extracraniana e intracraniana, na localização e natureza das lesões e na possibilidade do tratamento do tumor primário80. Quando o déficit neurológico é intenso e a qualidade de vida muito comprometida, as medidas não-cirúrgicas são soberanas. Quando ocorre melhora da condição neurológica após o tratamento com corticosteróides, o tratamento cirúrgico ou radioterápico deve ser reconsiderado. As lesões únicas ou em pequeno número são potencialmente tratáveis com cirurgia, radioterapia intersticial ou radiocirurgia quando não há evidência de doença sistêmica remanescente ou quando a neoplasia sistêmica foi erradicada ou tem potencialidade de ser controlada durante meses ou anos 168. Quando as lesões são numerosas ou a afecção primária ou secundária é muito avançada e não controlada, a terapia focal com cirurgia ou radiocirurgia não é apropriada; a telerradioterapia e a quimioterapia paliativas devem ser indicadas nessas eventualidades. A cirurgia é o tratamento preferido, principalmente quando a metástase é única e o câncer não é muito agressivo, tal como ocorre em aproximadamente 20% a 25% dos casos de metástases202. Os candidatos ideais Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF para a cirurgia ocorrem em porcentagem menor45. Ocasionalmente, doentes com metástases encefálicas múltiplas podem ser beneficiados com a cirurgia, especialmente quando as lesões são radiorresistentes, cirurgicamente acessíveis e não há evidências de doença em outros locais28. Segundo Penar e Wilson163, o custo da terapia cirúrgica adicional é compensado pela paliação, porque a cirurgia melhora a função rapidamente, proporciona sobrevida prolongada e estabelece inequivocamente o diagnóstico, o que é particularmente evidente nos casos de metástases pouco vascularizadas, de pequenas dimensões e facilmente destacáveis do parênquima encefálico e a neoplasia é desconhecida. Alguns estudos prospectivos e retrospectivos demonstraram que a cirurgia melhora a sobrevida dos doentes, especialmente quando a TC pós-operatória revela que a ressecção foi radical3,7,52,106. A erradicação das metástases quando não se identificam as fontes ou quando as lesões intracranianas são isoladas prolonga a sobrevida ou resulta em cura. Quando há lesões sistêmicas disseminadas não tratáveis, a evolução é fatal em poucas semanas. Em casos em que a radioterapia é ineficaz, a cirurgia pode beneficiar doentes com metástases múltiplas desde que o estado físico seja bom e a doença sistêmica seja limitada e controlada. A cirurgia deve também ser indicada quando há ameaça à vida. Arbit e Wronski10 observaram que o tempo médio de sobrevida (9,2 meses), após a ressecção de metástases múltiplas em 49 doentes, foi similar ao de doentes com metástase única (9 meses). Esse achado foi confirmado por outros autores28,39. A telerradioterapia, desde há muitas décadas, é empregada para o tratamento das metástases encefálicas 57. É o método de escolha quando há lesões múltiplas ou metástase encefálica única inacessível em doentes com doença sistêmica disseminada, não controlada. A radioterapia proporciona sobrevida média de 4,5 meses, sobrevida de 1 ano em 10% a 15% dos doentes e ocasional sobrevida a longo prazo 37,131. Segundo o Radiation Therapy Oncology Group (RTOG), 32% dos doentes com comprometimento da motricidade e 62% dos doentes com convulsões apresentaram recuperação neurológica completa após a radioterapia e 49%, melhora da função neurológica. Ocorreu melhora neurológica em 62% dos doentes tratados com biópsia e radiação e em 55% dos casos submetidos à ressecção da metástase seguida de irradiação. Aproximadamente 40% a 45% dos doentes morrem em decorrência das metástases encefálicas após período médio de 10 a 15 semanas; menos de 50% morrem em decorrência da doença sistêmica57. Doses elevadas isoladas causaram maior freqüência de toxicidade aguda, sobrevida menor e recorrência mais 30 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 precoce82. A irradiação convencional padrão com 300 cGy de todo o encéfalo durante dez sessões associouse a elevada freqüência (> 10%) de encefalopatia actínica após o primeiro ano de acompanhamento61. A necrose e a lesão neuronal generalizada podem resultar em anormalidades neurológicas localizadas ou em demência40. Patchell e cols.160 observaram que muitos doentes tratados apenas com radioterapia sem cirurgia apresentaram recorrência e faleceram em decorrência da doença neurológica. Um dos fatores que predizem o resultado da radioterapia é a histologia do tumor primário. Doentes com carcinoma de mama apresentam sobrevida mais longa que doentes com carcinoma pulmonar67,231. Doentes cujos sintomas neurológicos são mais brandos no momento em que o tratamento é iniciado melhoram mais e doentes cujos sintomas são muito expressivos melhoram menos10. Há controvérsias quanto aos méritos da radioterapia pós-operatória10,147,148. A telerradioterapia melhora os resultados da remoção cirúrgica das metástases encefálicas únicas de carcinomas160. Arbit e Wronski10 observaram que doentes tratados com exérese cirúrgica de metástase cerebral única, seguida de irradiação de todo o encéfalo, sobreviveram mais tempo, apresentaram menos recorrências e experenciaram melhor qualidade de vida. Arbit e cols.10 analisaram, retrospectivamente, o resultado da ressecção de metástases encefálicas de 670 doentes com idades variando de 19 a 84 anos. Destes, 621 apresentavam lesão única e 49, lesões múltiplas. A sobrevida média, pelo método Klapan-Meier, foi de 9,2 meses após a cirurgia. A idade não foi relacionada com a sobrevida. As mulheres apresentaram sobrevida média (11 meses) mais longa que os homens (8,4 meses). Observaram que 256 doentes (37,2%) morreram até o sexto mês pósoperatório, sendo 5% antes do primeiro mês. A sobrevida no primeiro, segundo, terceiro e quinto ano foi 39,4%, 16,3%, 11,5% e 6%, respectivamente. Os que sobreviveram mais tempo apresentavam câncer pulmonar de células não-pequenas, câncer renal, testicular e mamário, melanoma e sarcoma. Para minimizar as complicações da telerradioterapia, a irradiação focalizada por radiocirurgia, radioterapia estereotáxica ou radioterapia intersticial foram desenvolvidas. Esses procedimentos possibilitam liberar radiação no tumor com menor agressão aos tecidos vizinhos. São particularmente apropriadas para lesões metastáticas porque estas, geralmente, são bem demarcadas e de pequenas dimensões. Em 15% dos casos, o parênquima encefálico é sede exclusiva das metástases e, em 10%, apenas a metástase encefálica é identificada, e não o tumor-fonte147,167,197. Na casuística de Delattre e cols.62, 49% de 288 doentes apresentavam apenas uma metástase encefálica à TC Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF de alta resolução, 21%, duas e, 13%, três. Isso significa que 70% dos doentes poderiam ser candidatos à radioterapia focalizada. A radiocirurgia e a radioterapia intersticial são alternativas para o tratamento de doentes com lesões irressecáveis ou recidivadas quando as condições clínicas ou teciduais não possibilitam a realização da cirurgia ou quando há recusa para a sua realização21,69. Esses últimos procedimentos proporcionam controle local da lesão em mais de 90% dos casos. A radiocirurgia estereotáxica é indicada para destruir as lesões intracranianas de pequenas dimensões, inacessíveis ou situadas em áreas de grande importância funcional 137,165. Como a dose no encéfalo aumenta com o aumento do volume-alvo, essas técnicas devem ser limitadas a lesões pequenas e circunscritas, geralmente com menos de 3 cm de diâmetro140. A radiocirurgia permite o controle local da maioria das lesões e reduz o edema peritumoral e a necessidade de corticosteróides74, mesmo de tumores radiorresistentes como o carcinoma do cólon e o melanoma74,206. Pode ser indicada para o tratamento de lesões profundas e múltiplas (até três) em uma única sessão quando a sobreposição de áreas irradiadas é mínima. Raramente há o desenvolvimento de necrose sintomática após a irradiação. Não há, entretanto, estudos controlados comparando o valor da radiocirurgia e da extirpação cirúrgica em casos de lesões encefálicas29. A radioterapia intersticial também proporciona melhora da sobrevida e das condições neurológicas de doentes com metástases encefálicas, a custa de pequena toxicidade aguda21,88,104,172, embora alguns efeitos adversos tardios possam manifestar-se191. O resultado da radioterapia intersticial depende do tamanho e da geometria do tumor, da visualização da interface tumor-encéfalo e da radiossensibilidade. É indicada como primeira intervenção127, quando há recidiva103 ou como reforço da telerradioterapia172. A média de sobrevida foi de dez meses na presente casuística. Bernstein e cols.24 observaram sobrevida superior a 39 semanas em 3 doentes com metástases encefálicas de tumores pulmonares. Há muitos relatos de doentes com doença recorrente e controlada durante até 4 anos após a radioterapia intersticial com 125I. A sobrevida média dos doentes tratados com a irradiação de todo o encéfalo e com radioterapia intersticial não é maior do que a dos tratados apenas com radioterapia intersticial ou tratados apenas com irradiação de todo o encéfalo 10. Há risco de radionecrose quando a radioterapia intersticial é associada à telerradioterapia. A elevada dose de irradiação pode resultar em radionecrose encefálica tardia em 40% a 50% dos doentes, geralmente durante os 6 primeiros meses que se seguem ao do tratamento191. Black29 tratou metástases encefálicas com 125I na dose de 60 a 100 Gy na 31 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 periferia das lesões visualizadas à TC com contraste. Observou-se que houve controle das lesões sem a ocorrência de expressiva radionecrose. Ainda não foi determinado se a radioterapia intersticial proporciona resultados melhores que a radiocirurgia ou a exérese cirúrgica em casos de lesões isoladas10. Com exceção do coriocarcinoma e dos tumores germinativos180, a quimioterapia exerce pouco efeito nas metástases encefálicas42. Há melhora em até 55% dos doentes com metástases de carcinoma de mama54,177. Os tumores quimiossensíveis podem ser resistentes à quimioterapia não apenas por causa da atuação da barreira hemato encefálica170, mas também pelo fato de muitas metástases serem mais resistentes que a lesão primária201. Não foi demonstrado se os sensibilizadores modificam os resultados funcionais e a sobrevida dos doentes. Meningiomas A remoção microcirúrgica é o procedimento ideal para o tratamento dos meningiomas intracranianos, pois proporciona descompressão imediata das estruturas neurais, remove o tecido-fonte do edema encefálico e resulta em cura definitiva quando a remoção é completa110. Entretanto, proporção considerável dos doentes com meningiomas é composta por idosos, condição que se associa a numerosas afecções clínicas que contra-indicam ou aumentam o risco das intervenções operatórias convencionais. Na casuística de Maurice-Williams e Kitchen143, 32% de 144 doentes com meningiomas apresentavam idade igual a 65 anos ou mais. A idade, isoladamente, não é contra-indicação para cirurgia a céu aberto; as condições clínicas e a localização das lesões constituem elementos freqüentemente mais significativos para a decisão da conduta12. As imagens da RM e da TC para a localização das estruturas adjacentes aos tumores, a embolização préoperatória para minimizar o sangramento, o conhecimento da anatomia microcirúrgica, o emprego de técnica operatória apropriada e a monitorização da atividade dos nervos cranianos possibilitaram redução da mortalidade operatória. Entretanto, déficits neurológicos transitórios ou permanentes após os procedimentos cirúrgicos ainda ocorrem freqüentemente. Para evitálos, é necessário, muitas vezes, deixar fragmentos tumorais aderidos às estruturas intracranianas. Meningiomas localizados na região parasselar ou clival, que envolvam nervos cranianos, artérias, seios venosos e haste hipofisária, raramente podem ser completamente ressecados2,63,192,207. A radioterapia estereotáxica é um recurso útil para casos em que a ressecção foi parcial. Possibilita interromper o crescimento ou reduzir o volume do tumor. A radiocirurgia está indicada quando os tumores Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF são pequenos93,123,140,208. A radioterapia conformacional é indicada para tratar meningiomas com grandes volumes78. A radioterapia intersticial parece ser mais eficiente que a radiocirurgia129,139. Kumar e cols.130 realizaram radioterapia intersticial com 125I em 15 doentes com meningioma. Todos estavam vivos ao final do seguimento, que variou entre 8 e 92 meses, e não apresentaram complicações. Em 11 casos, ocorreu regressão completa do tumor e, em 4, a regressão foi parcial. Vuorinen e cols.222 implantaram, permanentemente, sementes de 125I em 25 doentes com meningioma parasselar ou clival e os acompanharam durante 6 a 32 meses (mediana de 19 meses). Observaram poucas complicações. Ocorreu lenta redução volumétrica do tumor na maioria dos casos. Após 6 meses, em 13 doentes houve pequena redução do volume da lesão, em 4 ocorreu moderada redução volumétrica e, em cinco, os tumores mantiveram-se inalterados. Após 19 meses, ocorreu agravamento das alterações funcionais prévias dos nervos cranianos (diplopia, ptose, paresia facial) em 8 doentes e déficit de nervos cranianos em decorrência da irradiação em 9. O nervo trigêmeo pareceu ser particularmente sensível, uma vez que 8 doentes apresentaram parestesias faciais manifestandose entre 1 e 24 meses após o tratamento. A dose mediana no nervo óptico foi de 50 Gy (20 Gy a 100 Gy). Não foi observado comprometimento funcional desta estrutura. Na hipófise, a dose mediana foi de 70 Gy (variou de 30 Gy a 150 Gy). Um doente desenvolveu impotência sexual temporária. Na ponte, a dose mediana foi de 70 Gy (variou de 20 Gy a 400 Gy). Um doente, devido ao posicionamento incorreto do isótopo, foi tratado com 400 Gy e desenvolveu déficit de vários nervos cranianos e, tardiamente, hemiparesia222. A eficácia da radioterapia intersticial é modesta em tumores extraaxiais da base do crânio recidivados22,86,129. Na presente casuística, uma doente com meningioma do tubérculo selar, e com condições cardiocirculatórias insatisfatórias para ser submetida à craniotomia, foi submetida à radioterapia intersticial da lesão e apresentou melhora da função visual 6 meses após o procedimento. O tratamento de meningiomas com radioterapia intersticial com 125I é, portanto, indicado quando esses tumores não puderem ser ressecados ou quando houver lesão residual que necessite de tratamento adjuvante. Complicações As complicações relacionadas à radioterapia intersticial são representadas por déficits neurológicos, crises convulsivas, dor facial, tromboses arteriais, embolia pulmonar e infecções24. Ocorreram complicações em 14,6% de 41 doentes tratados de gliomas malignos na casuística de Gutin e cols.88. Em 1, houve 32 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 piora do déficit neurológico e agravamento da consciência. Na casuística de Willis e cols.234 ocorreram complicações em 23,5% de 17 doentes com gliomas anaplásicos; 1 doente apresentou acentuação da hemiparesia pré-operatória. Salcman e cols.189 observaram complicações em 18,8% de 16 doentes tratados com 192Ir; em 2 casos ocorreu acentuação temporária da sonolência e, em 1, acentuação de hemiparesia preexistente. Na casuística de Bernstein e cols.24, 21,7% dos doentes apresentaram complicações; em 2 ocorreram crises convulsivas, em 1, piora temporária de déficit neurológico preexistente e, em 4, acentuação do déficit neurológico e aumento da pressão intracraniana. Excluindo-se a instalação ou o agravamento das anormalidades neurológicas pós-operatórias temporárias, que cederam em até 36 horas, as complicações ocorreram com menor freqüência na presente casuística. Foram representadas por 2 casos de osteomielite, 3 de celulite de couro cabeludo e 2 de fístula liquórica. O número de complicações infecciosas foi maior que a dos autores citados, talvez porque grande número dos doentes foi tratado com técnica de carregamento ulterior, que expõe as estruturas subtegumentares ao meio ambiente durante período de tempo prolongado, facilitando a contaminação. Edema cerebral pode surgir nas primeiras semanas ou muitos meses após a radioterapia intersticial; costuma melhorar com o uso de corticosteróides26. Lesões localizadas em regiões de grande importância funcional, tais como córtex motor, núcleo do centro oval e cápsula interna, ou lesões volumosas concorrem para a ocorrência de complicações26. Conclusões 1. O programa MSPS para uso em computador pessoal é adequado para a realização da radioterapia intersticial em tumores do encéfalo. 2. Não foi observada relação entre localização da lesão, realização ou não da craniotomia e volumes das lesões encefálicas e a curva de probabilidade de sobrevida de doentes tratados com radioterapia intersticial. 3. As variáveis idade superior a 40 anos, índice de Karnofsky igual ou inferior a 70, diagnóstico de glioblastoma multiforme e metástase, realização de telerradioterapia e/ou quimioterapia avaliadas isoladamente correlacionaram-se desfavoravelmente com a probabilidade de sobrevida dos doentes tratados com radioterapia intersticial. Radioterapia intersticial para o tratamento dos tumores encefálicos Corrêa CF 4. A probabilidade de sobrevida de doentes com gliomas de baixo grau e gliomas anaplásicos foi similar. 5. O índice de Karnofsky foi a variável que melhor previu a evolução dos doentes. 6. A probabilidade de sobrevida em 5 anos de doentes com gliomas de baixo grau tratados com radioterapia intersticial foi superior a 50% e a média de sobrevida foi de 42 meses. 7. A probabilidade de sobrevida em 5 anos dos doentes com astrocitomas anaplásicos tratados com radioterapia intersticial foi superior a 30% e a média de sobrevida foi de 34 meses. 8. A probabilidade de sobrevida em 2 anos de doentes com glioblastoma multiforme foi superior a 40% e a média de sobrevida foi de 15 meses. 9. A probabilidade de sobrevida em 1 ano dos doentes com metástases encefálicas tratadas com radioterapia intersticial foi superior a 40% e a média de vida foi de dez meses. 10. A radioterapia intersticial é procedimento simples e seguro. Considerações finais É difícil avaliar o impacto da radioterapia intersticial na evolução dos doentes com gliomas, metástases e meningiomas sem o concurso de grupos-controle. É necessária, também, a análise de grande número de casos. Segundo Freedman77, para avaliar a sobrevida com nível de significância de 0,05 a 0,80, seriam necessários 1.611 doentes com gliomas anaplásicos distribuídos aleatoriamente. É possível haver diferença no comportamento biológico dos tumores, o que justifica a variabilidade de resultados terapêuticos. No momento, mais do que a natureza histológica dos tumores, a duração da radioterapia intersticial, o momento de executá-la, as conveniências da associação de outros procedimentos adjuvantes, a identificação precisa dos contornos das lesões, a determinação das doses totais e das taxas de doses ideais, da natureza do isótopo apropriado e do volume de lesão mais adequada são questões que necessitam ser esclarecidas. Referências 1. ALAMINOS AB, ORTEGA I, MOLINA H, VALLADARES P: A stereotactic surgical planning system for the IBM 386/486 PC family. Stereotact Funct Neurosurg 63:357, 1994. 33 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 8-40, 2002 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. AL-MEFTY O, FOX JL, SMITH RR: Petrosal approach for petroclival meningiomas. Neurosurgery 22:5107, 1988. AMMIRATI M, VICK N, LIAO Y: Effect of the extend of surgical resection on survival and quality of life in patients with supratentorial glioblastomas and anaplastic astrocytomas. 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Preliminary results The authors present the technical considerations and preliminary surgical results in five patients submitted to anterior discectomy and implant of Bryan disc. KEYWORDS Anterior cervical discectomy. Artificial disc. Bryan disc. Introdução A cirurgia do disco vertebral cervical por via anterior mereceu, no decorrer dos anos, vários estudos sobre diferentes técnicas, na tentativa de se preencher o espaço discal, utilizando-se enxertos autólogos, acrílico, cages e técnicas combinadas de fixação com a finalidade principal de se evitar a inversão da curvatura cervical1,2,4,6,7,8,9. O conceito de que ocorrem degeneração de discos e vértebras adjacentes ao nível da fusão, além da limitação dos movimentos da coluna cervical provocada pela artrodese, faz com que a técnica aqui descrita de preenchimento do espaço discal por um substituto discal de poliuretano revestido por titânio – Bryan disc – torne-se uma opção cirúrgica que, de forma imediata e confortável, devolve a dinâmica da coluna cervical1,3,5,10,11. Pacientes e métodos O substituto do disco intervertebral cervical (Bryan disc – Medtronic Sofamor Danek) foi implantado em 5 pacientes com cervicalgia e radiculopatia; 1 deles apresentava, também, sinais incipientes de mielopatia cervical. Em 1, a implantação foi realizada em dois níveis. Nenhum deles apresentava sinais de instabilidade da coluna cervical. A compressão radicular era provocada por complexo disco-osteofitário em todos os pacientes, com exceção de 1, em que a compressão era devida a osteófito. Três pacientes eram do sexo feminino e 2, do sexo masculino. Em 3 casos o nível comprometido foi C5-C6; em 1, C6-C7 e, em outro, os níveis C5-C6 e C6-C7. Procedimentos pré-operatórios Todos os pacientes foram orientados quanto ao procedimento cirúrgico. Utilizando-se a ressonância magnética e/ou a tomografia computadorizada da coluna cervical, são obtidas as medidas do disco intervertebral por meio de planilhas preestabelecidas. Com o paciente em decúbito dorsal e com o uso de fluoroscopia acoplada a um pêndulo de inclinação, é realizada a medida do ângulo em que o disco intervertebral deverá ser implantado. Essa angulação é medida com base na linha que une o bordo inferior cranial da vértebra superior e o bordo inferior caudal da vértebra inferior. 41 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 41-43, 2002 Procedimentos operatórios O primeiro passo consiste na colocação das extensões laterais, que servirão de suporte fixo para a colocação do instrumental especial a ser utilizado durante toda a cirurgia. Com o paciente em decúbito dorsal, é realizada uma incisão curvilínea ultrapassando a linha média. Os afastadores da musculatura são fixados no suporte previamente colocado. A discectomia é realizada com o uso de microscópio cirúrgico. A partir desse ponto, é medida a angulação em que o sistema-guia será fixado, devendo coincidir com a angulação predeterminada (Figura 1). O paciente é mantido sempre na mesma posição após a colocação de todo o instrumental para inserção do implante. Toda a preparação para a colocação do disco intervertebral é feita por dentro de um guia fixo. Após a preparação dos corpos vertebrais, cranial e caudamente, é feita uma superfície côncava em ambos os corpos vertebrais para a perfeita adaptação do Bryan disc, que é colocado após distração dos corpos vertebrais. A fluoroscopia é utilizada durante a implantação do disco intervertebral cervical com um arco em “C”, evitando-se qualquer desvio nas medidas obtidas para a implantação do disco. Medidas de distração e preparo do espaço intervertebral são constantemente reavaliadas, mesmo com a utilização do microscópio cirúrgico. Não é necessária nenhuma fixação cervical anterior. Figura 2 – Radiografia de controle pós-operatório de Bryan disc implantado em C5-C6. Figura 3 – Estudo radiológico dinâmico pós-operatório. Procedimentos pós-operatórios Estudos radiológicos estáticos e dinâmicos são realizados, no pós-operatório, para avaliar a mobilidade da coluna cervical e do nível operado (Figuras 2, 3 e 4). Figura 4 – Estudo radiológico dinâmico do caso com o implante em dois níveis. Figura 1 – Controle intra-operatório do planejamento cirúrgico. Bryan disc: relato preliminar Pagura JR e cols. E, para avaliar o posicionamento do disco intervertebral dentro do espaço operado, utiliza-se a tomografia computadorizada (Figura 5). 42 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 41-43, 2002 Constatamos que a implantação do Bryan disc alivia, de imediato, a dor e os outros sintomas e sinais neurológicos, preservando de forma significativa a movimentação da coluna. O paciente não necessita nem mesmo da colocação de um colar cervical. Não se constatou deslocamento do disco intervertebral implantado quando realizados controles radiográficos dinâmicos e tomografia computadorizada. Estudos de longo tempo serão necessários para determinar se alterações de mobilidade poderão ocorrer em níveis adjacentes ao operado, influenciando, portanto, a história natural da doença de forma significativa. Figura 5 – Tomografia computadorizada para avaliação do posicionamento do Bryan disc. Discussão O objetivo primário da implantação cirúrgica do disco intervertebral cervical artificial (Bryan disc) é alterar, a longo prazo, o curso da doença causada pelo complexo disco-osteofitário em seu processo degenerativo patológico, aliviando os sinais e os sintomas neurológicos encontrados nesses pacientes. Não constatamos, durante a cirurgia, qualquer incidente. Toda a seqüência para a implantação do disco intervertebral cervical artificial foi seguida e constantemente monitorada pela equipe neurocirúrgica. A implantação foi segura, documentada e sem qualquer efeito adverso para o paciente. Os resultados preliminares mostraram-se excelentes nos 5 pacientes operados, totalizando seis implantes. Todos apresentaram melhora neurológica dos sintomas pré-operatórios, incluindo a dor, e mantiveram as suas atividades ocupacionais sem qualquer restrição. Conclusão Este estudo preliminar demonstra que a colocação de um disco intervertebral artificial (Bryan disc) não compromete os níveis vertebrais adjacentes ao operado e pode manter a movimentação total da coluna cervical, o que não ocorre nos casos de fusão intervertebral. Bryan disc: relato preliminar Pagura JR e cols. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. BAO QB, MCCULLEN GM, HIGHAM PA: The artificial disc: theory, design and materials.Biomaterials 17:1157-67, 1996. CLOWARD RB: The anterior approach fpor removal of ruptured cervical disks. J Neurosurg 10:602-17, 1958. H I L I B R A N D A S , C A R L S O N G D , PA U M B O M : Radiculopathy and myelopathy at segments adjacent to the site of a previous anterior cervical arthrodesis. J Bone Joint Surg (Am) 81:519-28, 1999. HILIBRAND AS, YOO JU, CARLSON GD: The success of anterior cervical arthrodesis adjacent to a previous fusion. Spine 22:1574-79, 1997. 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Albert Einstein, 627 – Sala 1.107 CEP 05652-000 – São Paulo, SP 43 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 44-48, 2002 Doença de Forestier Relato de caso Fernando Luíz Rolemberg Dantas*, Antônio Carlos Vieira Caires*, Ana Lúcia Vaz de Melo**, Jair Leopoldo Raso* Serviços de Neurocirurgia e Reumatologia do Hospital BIOCOR. Belo Horizonte, MG RESUMO A doença de Forestier, ou hiperostose esquelética idiopática difusa (diffuse idiopatic skeletal hyperostosis) é uma doença sistêmica de etiologia desconhecida caracterizada pela presença de calcificação e ossificação da face ântero-lateral de no mínimo quatro corpos vertebrais adjacentes, relativa preservação da altura dos discos intervertebrais dos segmentos envolvidos e grandes osteófitos. Os autores apresentam um caso de um paciente do sexo masculino de 55 anos de idade com quadro de disfagia conseqüente a essa doença. Discutem no presente registro os aspectos clínicos da doença, o tratamento e o diagnóstico diferencial. PALAVRAS-CHAVE Hiperostose esquelética idiopática difusa. Doença de Forestier. ABSTRACT Forestier’s disease. Case report Forestier disease or diffuse idiopathic skeletal hyperostosis is a systemic abnormality of unknown etiology, that presents with calcification and ossification along anterolateral aspect of four contiguos vertebral bodies with relative preservation of intervertebral disc height in affected areas and associated with the development of important ostheophyts. The authors present a case of a 55 year-old man, complaining of dysphagia. The clinical presentation, the differential diagnosis and the treatment are discussed. KEYWORDS Diffuse idiopathic skeletal hyperostosis. Forestier’s disease. Introdução A doença de Forestier, ou hiperostose esquelética idiopática difusa, é uma afecção relativamente freqüente, atingindo cerca de 10% a 20% da população acima de 70 anos8,33, sendo encontrada em 6% a 12% em séries de autópsias, acometendo mais comumente pacientes do sexo masculino acima de 50 anos25,35. Geralmente é uma doença assintomática. Contudo, disfagia, dispnéia, estridor laríngeo, compressão medular, compressão radicular, compressão de nervos periféricos, pneumonia de aspiração têm sido relatados em associação com essa afecção1,5,6,9,10,17,19,21,22,24,27,28,30,32. Leroux e cols.15, estudando 100 pacientes com estenose adquirida do canal lombar, encontraram 46% dos pacientes com doença de Forestier15. Em razão de sua raridade no meio neurocirúrgico, relatamos um caso da doença salientando os achados clínicos e o diagnóstico diferencial. Relato do caso Paciente do sexo masculino, 55 anos de idade, relatava disfagia de cerca de 6 meses de duração, inicialmente aos alimentos sólidos, progredindo para a dificuldade de deglutição de líquidos. Ao exame, constatou-se apenas diminuição generalizada dos movimentos da coluna, sem rigidez. A radiografia simples da coluna cervical revelou a presença de osteófitos muito desenvolvidos envol- * Neurocirurgião. * * Reumatologista. 44 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 44-48, 2002 vendo os corpos vertebrais de C2 a C6,, principalmente em C4-C5 (Figura 1). O esofagograma demonstrou deslocamento para frente e para a direita do esôfago e traquéia, com compressão mais evidente ao nível C4C5 pelos osteófitos (Figura 2). A tomografia da coluna cervical revelou ossificação do ligamento longitudinal anterior na região cervical de C2-C6 (Figura 3). Radiografias da coluna torácica, lombar e sacral mostraram calcificação e ossificação do ligamento longitudinal anterior. Figura 3 – Tomografia. Ossificação do ligamento longitudinal anterior anterior.. Figura 1 – Rx da coluna cervical. Osteófitos envolvendo os corpos vvertebrais ertebrais de C2 a C6, principalmente em C4-C5. Figura 2 – Esofagograma. Deslocamento anterior do esôfago e da traquéia com compressão mais evidente ao nível C4-C5. Doença de Forestier Dantas FLR e cols. O paciente foi submetido, sob anestesia geral, a uma cervicotomia anterior, expondo-se desde C2 a C7, e os osteófitos de C2 a C6 foram removidos com goiva e drill. Não foi empregado enxerto. O esôfago estava mais aderido no nível C4-C5, onde existia o maior osteófito. O paciente evoluiu bem no pós-operatório, sem complicações, com melhora gradativa da disfagia já a partir do segundo dia, ficando praticamente assintomático em cerca de uma semana. A radiografia de controle feita no pós-operatório imediato demonstrou boa ressecção (Figura 4). O exame anatomopatológico dos fragmentos removidos demonstrou tecido osteocartilaginoso com área recoberta por pannus e fibrose no tecido ósseo subcondral. Figura 4 – Rx da coluna cervical. Pós-operatório imediato demonstrando que houve boa ressecção dos osteófitos. 45 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 44-48, 2002 Discussão A hiperostose esquelética idiopática difusa é uma doença degenerativa sistêmica que tem sido descrita com uma variedade de termos, incluindo doença de Forestier, espondilite ossificante ligamentosa, espondilite hiperostótica e hiperostose anquilosante da coluna3,4,7,8,16,35. Em 1950, Forestier e Rotes-Querol8 descreveram, primeiramente, essa doença, denominando-a de hiperostose anquilosante senil. Em 1970, Resnick25 propôs o termo hiperostose esquelética idiopática difusa para a doença de Forestier, chamando a atenção para a ossificação extra-espinhal e estabelecendo os critérios radiológicos. Esses critérios são os seguintes: 1 – Calcificação e ossificação da parede ânterolateral de quatro corpos vertebrais contíguos; 2 – Relativa preservação da altura discal dos espaços afetados; 3 – Ausência de anquilose na articulação sacroilíaca e apofisária. Na doença de Forestier, os pacientes são, na maioria das vezes, assintomáticos, mas a doença pode se manifestar por um quadro doloroso raquiano, certa limitação dos movimentos da coluna, sem rigidez, ou com quadro álgico extra-espinhal (ombro, joelho) e com tendência à calcificação nos ligamentos e nos tendões, associada com dor nas articulações em um terço dos casos26. A anormalidade radiológica característica da doença é a calcificação e a ossificação do ligamento longitudinal anterior da coluna. Esta é mais comumente visível na coluna torácica média, seguida da cervical e da lombar. A disfagia é um sintoma encontrado em cerca de 17% a 28% dos casos e requer tratamento cirúrgico em apenas 8% das vezes26. A patogênese da disfagia causada pelos osteófitos cervicais ainda não está bem definida. Alguns autores acreditam tratar-se de um fator provavelmente mecânico12, outros sugerem ser decorrente de uma reação do tipo inflamatória e edema pré-vertebral com esofagite e faringite, induzindo a uma fibrose e aderências2. Oga e cols.20 acompanharam um paciente durante o período de 1982 a 1991. Inicialmente, o paciente apresentava apenas cervicalgia e hiperostose de C3 a C6; houve progressão dos osteófitos e da ossificação do ligamento longitudinal posterior, e a disfagia apareceu como sintomatologia 4 anos após. Foi constatado, radiologicamente, um importante desenvolvimento dos osteófitos localizados em C4-C5. Foi, então, submetido à ressecção do osteófito localizado nesse nível. Os autores concluíram que, sendo o esôfago fixado à cartilagem cricóide e ao diafragma, uma ossificação da região cervical em C4-C5 – que corresponde ao segmento móvel neste nível –, associada à presença de osteófitos, provoca a compressão do esôfago, causando disfagia20. Doença de Forestier Dantas FLR e cols. O nível cervical mais acometido na doença de Forestier é o C5-C6 (40% dos casos), seguido de C4-C5 (23%), C2-C3 e C3-C4 (14% cada)18. A fisiopatologia da doença é desconhecida. Alterações da elasticidade e da osteogênese, associadas a fatores locais, têm sido propostas, assim como o trauma local e alterações endócrinas18, 34. O diagnóstico diferencial da doença de Forestier inclui, principalmente, a espondilite deformante, a espondilite anquilosante e a osteocondrose intervertebral5,8,25,34,35 (Tabela 1). O tratamento adequado para a disfagia na doença de Forestier ainda é tema de controvérsias. Modificações na dieta e antiinflamatórios têm sido propostos11,14,29. Radioterapia foi proposta, em 1951, por Piquet23, mas não foi adotada por outros autores. Contudo, o procedimento de escolha mais prudente no tratamento da disfagia provocada por essa afecção é a ressecção cirúrgica dos osteófitos. Alguns autores incluem a fusão, acreditando que, assim, a recorrência dos osteófitos seja menor13. Na literatura encontramos relatos de recorrência dos osteófitos 8 anos e 11 anos após a cirurgia13, 31. Acreditamos que não seja necessária a utilização de enxertos ósseos em virtude da faixa etária que é acometida por essa doença, com pequena possibilidade tardia de recorrência. Pouca melhora da disfagia é verificada após a cirurgia em casos de compressão crônica do esôfago, provavelmente em virtude de fibrose na parede esofágica. Daí a necessidade da intervenção mais precoce nos pacientes com sintomas leves ou médios, pois nesses casos os resultados são melhores. Em casos de doença de Forestier, se não houver disfagia, mesmo a presença de importante calcificação do ligamento longitudinal posterior, não está indicada a sua ressecção, em virtude da dificuldade técnica dessa exérese, que pode vir acompanhada de alta morbidade. Poderá ser aventada a possibilidade de uma abordagem posterior, como uma laminoplastia ou laminectomia, de menor morbidade, em casos de compressão medular. Conclusão A doença de Forestier, ou hiperostose esquelética idiopática difusa, é caracterizada por ossificação importante do ligamento longitudinal posterior, encontrada principalmente em homens após a quinta década de vida. A grande maioria dos pacientes é assintomática, mas pode ocorrer disfagia, que necessita de um tratamento cirúrgico. Este caso demonstra que o tratamento cirúrgico dos osteófitos por uma abordagem meticulosa anterior pode vir acompanhada de resultado gratificante. 46 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 44-48, 2002 Tabela 1 Diagnóstico diferencial Rx Disco intervertebral Corpo vertebral Forestier Normal Espondilite Espondilite Osteocondrose anquilosante deformante intervertebral Normal ou convexo Normal ou Diminuição da altura diminuída altura; fenômeno do vácuo Ossificação envolvendo Osteíte; Osteófitos Nódulos Schmoul; quatro corpos contíguos; Extensa anquilose anteriores largos Esclerose superior Normal Normal Normal Erosão; Esclerose; Normal Normal Normal Alterações secundárias osteófitos largos Esqueleto periférico Ossificação nas articulações dos tendões Junção sacroilíaca Osteófitos paraarticulares Junção apofisária Anquilose óssea Normal ou discreta Erosão; Esclerose; esclerose Anquilose óssea à osteoartrite Clínica Rigidez e dor na coluna Comum Severa Pouco Comum ou severa Etiologia Antígeno HLA B27 + Antígeno HLA B27 + - Perda progressiva em 34% em 88% a 95% Incidência 6% a 12% em 1% a 3% em autópsia; mais comum no homens jovens de sulfato condroitina 60% feminino 100% acima dos 90 anos sexo masculino; idade média 65 a 67 anos VHS Levemente elevada Elevada em 80% Normal Normal 22% dos casos Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 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Original recebido em maio de 2000 Aceito para publicação em agosto de 2001 Endereço para correspondência: Fernando Luíz Rolemberg Dantas Rua Muzambinho, 458 – ap. 1.201 CEP 30210-530 – Belo Horizonte, MG 48 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 49-52, 2002 Metástase cerebral de tumor de Askin Relato de caso Alexandre Maria Santos*, Eberval Gadelha Figueiredo**, Pedro Paulo Mariani*, Orildo Ciquini Jr.,***, Almir Ferreira de Andrade****, Raul Marino Jr.***** Pronto-Socorro da Divisão de Clínica Neurocirúrgica do Hospital das Clínicas da FMUSP RESUMO Tumores neuroectodérmicos primitivos (PNET) são tumores originados de células pluripotentes da crista neural e podem ocorrer tanto no sistema nervoso central (SNC) como fora dele. Na maioria das vezes têm comportamento biológico maligno. A variante toracopulmonar dessas lesões é denominada tumor de Askin. Metástases no SNC são pouco descritas na literatura, sendo difícil estimar sua incidência e aferir a importância terapêutica e prognóstica. Os autores relatam um caso de um paciente com metástase cerebral de um tumor de Askin, realçando aspectos de tratamento e prognóstico. Mais relatos são necessários para se verificar o impacto da metástase no SNC na sobrevida desses pacientes. PALAVRAS-CHAVE Metástase cerebral. Tumor neuroectodérmico primitivo. Tumor de Askin. ABSTRACT Brain metastasis from Askin’s tumor. Case report PNETs are tumors that arises from neural crest cells, occurring intra or extracranially. In most of the cases, PNETs are malignant tumors. A thoracopulmonary variant, termed Askin’s tumor, has been described and its metastases to CNS are uncommon. Their therapeutic and prognostic importance are unknown. The authors report a case of CNS metastasis from a Askin’s tumor and discuss the prognostic and therapeutic aspects. KEYWORDS Brain metastasis. Primitive neuroectodermal tumor. Askin’s tumor. Introdução O tumor neuroectodérmico primitivo (primitive neuroectodermal tumor – PNET) periférico é uma neoplasia de partes moles rara que se origina de células multipotentes da crista neural, fora do sistema nervoso central e do sistema nervoso simpático4. Acomete crianças e adultos jovens e possui um comportamento extremamente maligno. Corresponde a 4% dos tumores de partes moles em crianças2. Seu aspecto microscópico é o de uma massa monótona de células pequenas indiferenciadas, com núcleo redondo e citoplasma escasso, muito semelhante ao de tumores malignos como o sarcoma de Ewing, linfoma, rabdomiossarcoma e neuroblastoma16. O PNET do sistema nervoso central (SNC) é mais comum e aparece em idade mais precoce18. Incluem diversos tumores, pois geralmente apresentam algum grau de diferenciação nas linhagens glial e neuronal. A forma mais comum de PNET central é o meduloblastoma, um dos tumores de SNC mais comuns na criança. Sua evolução contrasta com a das formas supratentoriais de PNET, como o pinealoblastoma e o ependimoblastoma, mais próxima do comportamento maligno do PNET periférico. Este relato apresenta a evolução extremamente desfavorável de um PNET de parede torácica em um jovem de 17 anos que, apesar da resposta inicial à quimioterapia e ressecção cirúrgica, apresentou recidiva local e sistêmica. A disseminação da doença * Residente de Neurocirurgia HC-FMUSP. ** Médico Preceptor da Residência Médica da Divisão de Clínica Neurocirúrgica HC-FMUSP. *** Médico Supervisor do Pronto-Socorro da Divisão de Clínica Neurocirúrgica HC-FMUSP. **** Diretor da Divisão de Clínica Neurocirúrgica HC-FMUSP. ***** Professor Titular da Disciplina de Neurocirurgia HC-FMUSP. 49 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 49-52, 2002 para o SNC, ocorrida neste caso, é um fato incomum que deve ser ressaltado. Relato do caso MFC, de 17 anos de idade, procurou atendimento médico por nódulo de crescimento rápido na parede torácica direita percebido há 6 meses. Apresentava, em dezembro de 1998, massa indolor de aproximadamente 8 cm junto ao terceiro arco costal, na face ântero-lateral do hemitórax direito, de consistência fibroelástica. Nessa época foi submetido à biópsia da lesão, cujo resultado foi compatível com PNET. A cintilografia óssea mostrava área focal de hipocaptação no terceiro arco costal que rechaçava os arcos adjacentes com hipercaptação difusa. Foi submetido, em abril de 1999, a 18 sessões de quimioterapia (QT), utilizando carboplatina + VP-16, alternados com vimblastina + adriamicina + ciclofosfamida, com excelente resultado inicial. Retornou ao serviço em junho de 1999 para cirurgia. A tomografia computadorizada (TC) de tórax mostrou massa sólida com finas septações centrais no terceiro arco costal direito medindo 8,0 x 7,0 x 6,0 cm, com invasão da parede e extensão intratorácica, sem alteração do parênquima pulmonar. Foram ressecados o terceiro, quarto e quinto arcos costais com margem de 8 cm e colocada tela de Marlex®, não sendo verificado comprometimento pulmonar. O exame anatomopatológico revelou comprometimento de uma das margens. Não retornou para acompanhamento clínico. Procurou o Pronto-Socorro de Neurocirurgia em setembro de 1999, com história de convulsão tônicoclônica generalizada. Foi admitido inconsciente, com postura em extensão bilateral, sem abertura ocular ou resposta verbal, anisocórico, com midríase à esquerda. Apresentava grande lesão ovalada, regular, deformando o hemitórax direito, com pele íntegra. A TC de crânio revelou grande lesão expansiva no lobo temporal esquerdo, com captação irregular de contraste, necrose central extensa e edema periférico (Figura 1). A TC de tórax mostrou massa multilobulada com extensão para o espaço pleural e o mediastino, sem limites nítidos com o pulmão direito (Figura 2). Foi submetido à ressecção do tumor cerebral. Evoluiu com recuperação do nível de consciência, chegando a localizar estímulos dolorosos e a ter abertura ocular espontânea, permanecendo anisocórico e com hemiparesia direita. Apresentou, como complicação da cirurgia, abscesso cerebral, tratado com drenagem e antibióticos. Porém, evoluiu para o óbito, no 23o dia pós-operatório, por causa de insuficiência respiratória e complicações relacionadas ao tumor primário. Metástase cerebral de tumor de Askin Santos AM e cols. Figura 1 – Tomografia computadorizada de crânio mostrando lesão parietotemporal esquerda, ovalada, com realce heterogêneo pelo contraste e edema perilesional determinando desvio das estruturas da linha mediana. Figura 2 – Tomografia computadorizada de tórax revelando lesão toracopulmonar com destruição de costelas e invasão de tecidos moles superficiais e campos pulmonares. O exame necroscópico do tumor revelou grande massa esbranquiçada com centro necrótico invadindo o mediastino, o pulmão direito, a parede torácica e o tecido subcutâneo. 50 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 49-52, 2002 Discussão Embora o PNET periférico possa surgir em qualquer idade, a faixa etária mais comum é a da adolescência, com medianas que variam de 12 a 15,8 anos6,7,19. Em virtude do crescimento rápido do tumor, o tempo para o diagnóstico é curto, em média de 6 semanas6. A apresentação clínica é a de massa de crescimento rápido, com localização variável. Há controvérsia quanto à localização mais freqüente, mas certamente ela é mais comum no tronco (partes moles relacionadas ao esqueleto axial, principalmente parede torácica e região paravertebral), seguida por extremidades e, menos comumente, cabeça ou pescoço2,6,7. Este caso corresponde à forma clássica descrita por Askin5, em 1979, denominado PNET toracopulmonar. Origina-se de partes moles da parede torácica, mas pode ocasionalmente derivar de costelas ou da periferia pulmonar17. O tumor de Askin é mais comum em adultos jovens (média de 14 anos) do sexo feminino, ao contrário dos demais PNET, que predominam em crianças e no sexo masculino2. A TC e a ressonância magnética (RM) de tórax não permitem diferenciar esta de outras neoplasias ósseas ou de partes moles, mas são importantes para determinar o grau de invasão local, a ressecabilidade e a resposta ao tratamento7. O aspecto típico na TC e na RM é o de uma massa grande, sem calcificações, com aspecto heterogêneo pela presença de áreas de necrose, geralmente com hipersinal em T1 e T27,17. Envolvimento pleural e de costela é comum17. O estadiamento do PNET inclui radiografia de tórax, ultra-sonografia de abdômen, cintilografia óssea e TC ou RM para avaliação local7,17. O diagnóstico diferencial com as demais neoplasias malignas de pequenas células se faz por meio de pesquisa de marcadores de linhagem neuroectodérmica por imunoistoquímica. A diferenciação com o sarcoma de Ewing é mais difícil, pois ambos podem apresentar o antígeno MIC2 8 e a translocação cromossomal t(11;22)(q24;q12) ao estudo citogenético10. Ambos os tumores parecem compor um espectro de diferenciação neuroectodérmica, mas no sarcoma de Ewing é menos comum a presença de processos celulares, grânulos secretores e microtúbulos à microscopia eletrônica15. Schmidt e cols.12 reavaliaram uma série de 119 casos e propuseram, como critérios para o diagnóstico, a presença de rosetas de Homer-Wright à microscopia óptica e/ou pelo menos de dois marcadores neurais12. A disseminação do tumor ocorre geralmente para osso e pulmão, podendo acometer linfonodos, medula óssea e partes moles axiais a distância, como o mediastino8,11,17. A presença de metástase na ocasião do diagnóstico não é infreqüente, podendo chegar a Metástase cerebral de tumor de Askin Santos AM e cols. 35% 11,17. Metástases para o sistema nervoso são incomuns. Uma série mostrou três casos com metástase para cadeia simpática paravertebral, dentre 12 casos que evoluíram com metástase, num total de 17 PNET estudados17. Outra série apresentou três casos que evoluíram com metástase cerebral após ressecção cirúrgica total seguida de quimioterapia (QT)8. Há ainda o relato de um caso de PNET congênito na mão e que apresentou metástase para SNC após amputação e QT3. A maioria das séries não revela os locais de metástase, tornando os dados escassos e sem relevância estatística, não sendo possível aferir a incidência de metástases no SNC e o seu significado prognóstico. Esse tipo de disseminação pode ter relação com a origem neuroectodérmica do tumor, pois da mesma forma o PNET central pode disseminar para qualquer tecido. Esses mecanismos de metástase não foram estudados experimentalmente. Há relato de apenas um caso de metástase cerebral de tumor de Askin estudado citogeneticamente, sendo encontrada translocação (5,22), sem alterações no cromossomo 111. O melhor esquema de quimioterapia não foi estabelecido, e muitos ensaios clínicos têm utilizado os esquemas conhecidos para neoplasias similares, como o rabdomiossarcoma e o neuroblastoma. O tratamento mais comum é a ressecção cirúrgica seguida de QT, sendo a radioterapia (RT) empregada quando há resíduo (macro ou microscópico) ou recidiva inoperável8,9. Ressecção macroscópica total a menos de 3 meses do diagnóstico aumenta o tempo livre de doença9. A QT neoadjuvante, utilizada neste caso, possibilita uma ressecção menos agressiva e pode dificultar a disseminação no intra-operatório19. O protocolo da Sociedade Alemã de Oncologia Pediátrica preconiza a utilização de QT neoadjuvante sempre, seguida de ressecção cirúrgica, RT e mais dois ciclos de QT, com resultados pouco mais favoráveis19. Neste caso, a recidiva local foi muito precoce (3 meses) por causa da presença de tumor na margem de ressecção, e provavelmente o paciente se beneficiaria da RT e complementação com QT. O prognóstico do PNET é pior do que o de outros sarcomas, com menor intervalo livre de doença11 e sobrevida de 5 anos em 40% a 50% dos casos8,14,19. São fatores de mau prognóstico o local de origem do tumor (pior se for no abdômen e melhor se for na região paraespinal ou escapular) e principalmente a presença de metástase ao diagnóstico, situação associada a 100% de letalidade8,9,17. A ressecção cirúrgica completa diminui a chance de recidiva local8, principalmente se associada à RT pré-operatória13, mas não a de recidiva sistêmica. A abordagem da metástase cerebral neste paciente com PNET avançado resultou em recuperação neurológica parcial, porém este evoluiu para o óbito por causa da progressão da doença no sítio primário. Esta 51 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 49-52, 2002 evolução poderia ter sido evitada se o paciente não tivesse abandonado o tratamento. É importante que os próximos relatos mencionem de maneira sistemática a presença de metástase no SNC para que o impacto do tratamento cirúrgico possa ser determinado. 11. 12. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 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Manaus, AM RESUMO Os autores relatam um caso em que o paciente, na tentativa de suicídio por auto-infligimento, penetrou um prego de 2 e ½ polegadas de comprimento no vértex do crânio, usando um martelo. Trata-se de situação não registrada na literatura pesquisada. Apresenta-se a técnica cirúrgica empregada. PALAVRAS-CHAVE Traumatismo craniencefálico. Ferimento penetrante no crânio. Tentativa de suicídio. ABSTRACT Penetrating injury of the head by self-inflicted nailing in a attempt to suicide. Case report The authors report a case of suicide attempt by self-inflicted nailing into the skull. The patient introduced a 2 1/2 inches long nail into his skull, through the vertex, using a hammer. At admission the patient did no present any evident neurological deficit. The nail was removed in bloc with the bone flap of the craniectomy performed around the nail head. The laceration of the superior sagital sinus was sutured. The postoperative evolution was uneventful and the patient was discharged on the 10th postoperative day. KEYWORDS Craniocerebral trauma. Penetrating injury of skull. Suicide attempt. Introdução As feridas penetrantes de crânio por auto-infligimento como tentativa de suicídio, provocando lesão nas meninges e no tecido cerebral, não são comuns na prática neurocirúrgica. Não há dados estatísticos sobre tais ferimentos na literatura pesquisada. Por esse motivo, os autores decidiram relatar este caso no sentido de informar a comunidade neurocirúrgica sobre este particular aspecto da neurocirurgia. Relato do caso Paciente do sexo masculino, 32 anos de idade, natural de Iguatu – CE, migrou para Manaus há mais * Professor Adjunto IV de Neurocirurgia. ** Residente de Neurocirurgia. ou menos 7 anos, morando na periferia dessa cidade; pedreiro de profissão, deu entrada no pronto-socorro do Hospital Universitário Getúlio Vargas no dia 9 de fevereiro de 2001. Tratava-se de alcoólatra crônico que, há 4 dias sem uso de bebida alcoólica, apresentou quadro de delírio, no qual teve a sensação de ter sua residência cercada por populares que tinham o intuito de linchá-lo. Ao sentir-se “ameaçado”, tentou suicídio, introduzindo no vértex do crânio, a marteladas, um prego de 2 e ½ polegadas, segundo informou. Procurou, a seguir, seus vizinhos, que o conduziram para o hospital psiquiátrico, onde, durante o exame físico, foi descoberto que seu relato era verídico, em razão da presença de prego enfiado em seu crânio. Foi conduzido ao Pronto-Socorro Geral 28 de Agosto, de onde foi encaminhado ao prontosocorro do Hospital Universitário Getúlio Vargas (PSUHUGV), referência em neurocirurgia. Ao dar entrada no Arq Bras Neurocir 21(1-2): 53-55, 2002 PSU-HUGV encontrava-se lúcido, orientado, responsivo aos estímulos sensitivos verbais e motores e sem nenhum déficit sensitivo e/ou motor ao exame neurológico, recebendo pontuação de 15 na escala de coma de Glasgow. No exame físico do crânio, observou-se a cabeça do prego exatamente no vértex do crânio. No relato da história mórbida pregressa, referiu ter sofrido agressão com ferimento por arma branca em hemitórax esquerdo que necessitou drenagem torácica, em 1977; ferimento com fragmento de garrafa de vidro no abdômen, com penetração para a cavidade peritoneal, sendo submetido à laparotomia exploradora em 2000. Sua história social revelou que morava em casa de madeira de único cômodo, sozinho, sem água encanada e sem energia elétrica. A radiografia simples de crânio (Figura 1) demonstrou a presença de objeto metálico com a conformação de um prego penetrando no vértex, introduzido no crânio, exatamente na linha média, cujo comprimento estava de acordo com o relato do paciente – aproximadamente 8 cm. Foi levado à cirurgia e, por meio da seguinte técnica, retirou-se o prego: foi feita uma craniectomia em torno do objeto, preservando-se o prego fixo ao osso, de modo a removê-lo junto com o retalho ósseo. Como esperado, havia lesão do seio longitudinal superior, com grande fluxo de sangue através da laceração. O seio foi reparado usando-se sutura com fio prolene 5-0 e fragmento de músculo como reforço. O couro cabeludo foi fechado em plano único, deixando-se dreno subgaleal. Foi feita cobertura antibiótica no pósoperatório – cefalotina 2 g EV a cada 6 horas, durante 10 dias – e o paciente teve uma evolução satisfatória, sem complicações, recebendo alta hospitalar após 10 dias. Discussão Casos de feridas penetrantes de crânio com objetos os mais variados possíveis têm sido relatados na literatura3. Relato de auto-agressão por tentativa de suicídio com martelo para a introdução de prego através do crânio não foi localizado na literatura pesquisada. Casos em que deliberadamente o paciente, na tentativa de suicído, se auto-inflige com pregos, utilizando a chamada nail gun, são mais comuns1,2,4. Dos casos referenciados, dois foram letais. Um relacionado à meningite e o outro relacionado com as estruturas atingidas (hipotálamo e tronco cerebral). Em nosso paciente o risco de morbidade estava relacionado à lesão do seio longitudinal superior, cuja restauração tomou o tempo cirúrgico maior. Não existe uma técnica cirúrgica padronizada a ser empregada nessas situações. Em nosso caso, optamos em fazer uma craniectomia em torno da cabeça do prego, deixando este fixo até se completar a craniectomia, retirando-se o bloco ósseo juntamente com o prego, sabendo-se antecipadamente da lesão do seio pela posição da entrada do mesmo no vértex do crânio, na linha média. Com isso, conseguimos que o sangramento fosse debelado em tempo curto. Quanto à lesão dural, não tivemos problemas maiores para a resolução, utilizando-se sutura com prolene 5-0, colocando-se fragmento de músculo como reforço. Não houve complicação infecciosa com a cobertura antibiótica utilizada. O paciente recebeu alta sem queixas e com exame neurológico dentro dos limites normais e cicatriz cirúrgica sem maiores problemas. No último controle ambulatorial, em 8/5/2001, encontrava-se em condições neurológicas excelentes, sem queixas, e com a cicatriz cirúrgica sem complicações. Figura 1 – Radiografias simples do crânio mostrando o prego introduzido no interior do crânio através do vértex na linha média. Ferida penetrante por auto-infligimento Vieira JFS & Malaguti CR 54 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 53-55, 2002 Referências 1. 2. 3. CZASTKA H, KURZAJ E: Rare case of attempetd suicide by drilling a joiner’s drill in the head. Neurol Neurochir Pol 111:395-7, 1977. OHAEGBULAM SC, OJUKWU JO: Unusual craniocerebral injuries from nailing. Surg Neurol 14:393-5, 1980. Van DELLEN JR, PLOTKIN R: Unusual foreign bodies in the brain: A report of 2 cases. S Afr Med J 58:1746,1980. Ferida penetrante por auto-infligimento Vieira JFS & Malaguti CR 4. VISWANATHAN R, MACARTHUR DC, WHITTLE IR: Nail gun injury to the brain: an unusual case of suicide. Scott Med J 39:83, 1994. Original recebido em julho de 2001 Aceito para publicação em dezembro 2001 Endereço para correspondência: José Francisco dos Santos Vieira Rua Acre, 12 – Sala 417 CEP 69053-000 – Manaus, AM 55 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 56-59, 2002 Aneurisma gigante da artéria comunicante anterior como causa de hipopituitarismo Relato de caso e revisão da literatura José Augusto Burattini*, Arthur Cukiert*, Élcio Machado*, Alcione Sousa*, Joaquim Oliveira Vieira Jr.*, Bernardo Liberman** Serviço de Neurocirurgia e Endocrinologia do Hospital Brigadeiro. São Paulo, SP RESUMO A associação de hipopituitarismo e aneurisma de comunicante anterior é rara. Os mecanismos fisiopatológicos incluem a compressão da haste, da glândula hipofisária ou do hipotálamo ou a destruição da glândula, conseqüente ao efeito de massa dentro da sela turca. Relatamos um caso de hipopituitarismo secundário a aneurisma gigante selar e supra-selar, acometendo um paciente de 51 anos, sexo masculino, com cefaléia hemicraniana esquerda refratária, apatia e diminuição importante da acuidade visual, principalmente do olho esquerdo. Os exames mostraram hipopituitarismo e aneurisma gigante (5 cm) selar e supra-selar parcialmente trombosado da artéria comunicante anterior. Após a exérese cirúrgica houve melhora da acuidade visual e da síndrome frontal, porém não houve melhora da função endocrinológica. O hipopituitarismo secundário a aneurisma cerebral é raro. Esses aneurismas podem manifestar-se com déficit visual, hemorragia meníngea, síndrome frontal e alterações endocrinológicas. Os sintomas causados pelo efeito de massa do aneurisma poderão melhorar se houver descompressão da haste, da glândula ou do hipotálamo e estando a pituitária viável. A preservação intra-operatória da integridade das estruturas do eixo hipotálamo–hipofisário é fundamental nesses pacientes. PALAVRAS-CHAVE Hipopituitarismo. Aneurisma intracraniano gigante. ABSTRACT Secondary hypopituitarism due to a giant aneurysm of the anterior communicating artery. Case report The association of hypopituitarism and giant aneurysm is uncommom. Pathophysiologic mechanisms include compression of the hypothalamus or pituitary stalk, interfering with the delivery of releasing and inhibitory factors to the pituitary and destruction of the pituitary tissue itself by the expanding mass lesion. A 51-year-old man presented with chronic headache, visual disturbance and severe apathy. Magnetic resonance and angiography revealed a large sellar and suprasellar aneurysm measuring 5 cm in diameter. The aneurysm was dissected, clipped and resected through a right pterional approach. Pituitary function did not improve, but the frontal lobe syndrome and visual deficit recovered. In this patient, hypopituitarism may have been caused by the destruction of the pituitary by the giant aneurysm of the anterior communicating artery complex that projected into the sellar region or by the compression of the stalk or hypothalamus. The visual deficit and frontal lobe syndrome were caused by the mass effect of the lesion. Visual and cognitive improvement may be seen postoperatively in these patients but endocrinological recovery is rare. KEYWORDS Hypopituitarism. Giant cerebral aneurysm. Introdução A associação de hipopituitarismo e aneurisma cerebral gigante é rara. Os mecanismos fisiopatológicos incluem a compressão da haste hipofisária ou do hipotálamo, ou a destruição da glândula hipofisária conseqüente ao efeito de massa dentro da sela túrcica1. Os aneurismas gigantes originários do complexo comunicante anterior que se projetam na região selar e supra-selar podem ser erroneamente confundidos com neoplasias, com implicações importantes do ponto de vista terapêutico. A introdução da ressonância magné- * Neurocirurgiões. ** Endocrinologistas. 56 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 56-59, 2002 tica passou a permitir o diagnóstico presuntivo de aneurisma cerebral, pelos sinais de fluxo – void – ou lamela hemorrágica no interior da lesão. Relatamos o caso de um paciente com hipopituitarismo resultante de um aneurisma gigante da artéria comunicante anterior que se projetava para a região selar. Este paciente foi submetido à cirurgia na qual o complexo comunicante anterior foi reconstruído com auxílio de vários clipes cirúrgicos e o aneurisma foi ressecado. Relato do caso GMS, 51 anos de idade, sexo masculino. Apresentava, há 1 ano, cefaléia hemicraniana esquerda, pulsátil, diária, com piora progressiva e refratária ao tratamento medicamentoso. Há 6 meses, notou diminuição da acuidade visual bilateralmente, pior à esquerda, e neste lado enxergava apenas vultos. Avaliação oftalmológica mostrou acuidade do olho direito de 20/80 e, do esquerdo, 20/60. A campimetria evidenciou hemianopsia temporal do olho direito e quase amaurose do olho esquerdo. No exame do fundo de olho constatou-se escavação e atrofia acentuada da papila óptica esquerda. A avaliação neuropsicológica demonstrou déficit global de memória, apatia e incapacidade para higiene pessoal. A ressonância magnética mostrou lesão selar e supra-selar com sinal de fluxo central e lamelas de diferentes intensidades de sinal em seu interior. O maior diâmetro dessa lesão era de 5 cm (Figura 1). A angiografia cerebral mostrou aneurisma gigante parcialmente trombosado do complexo comunicante anterior que ocupava a região da sela túrcica e era nutrido pela artéria cerebral anterior direita. Havia hipoplasia da artéria cerebral anterior esquerda e agenesia da artéria carótida interna à esquerda (Figuras 2 e 3). Os níveis hormonais se mostraram baixos no setor gonadotrófico e da testosterona (Quadro 1). Figura 1 – Ressonância magnética em T1 mostrando aneurisma gigante parcialmente trombosado insinuando-se para o interior da sela túrcica. Figura 2 – Angiografia da artéria carótida interna direita mostrando a porção permeável do aneurisma gigante parcialmente trombosado. Aneurisma gigante da comunicante anterior e hipopituitarismo Burattini JA e cols. Figura 3 – Angiografia da artéria carótida comum esquerda mostrando agenesia ou trombose da artéria carótida interna esquerda. 57 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 56-59, 2002 Quadro 1 Resultados das dosagens hormonais Hormônios Valores obtidos Valores normais T4 livre 0,95 ng/dl 0,8 a 1,9 ng/dl TSH 2,1 µUI/ml 0,4 a 4 µUI/ml PRL 9,4 ng/ml 2,5 a 17 ng/ml GH < 0,05 ng/dl Até 8,6 ng/ml Cortisol 25 µg/dl 5 a 25 µg/dl ACTH 32,9 pg/ml Até 46 pg/ml FSH 5,8 mUI/ml Homen: 1,5 a 14 mUI/ml LH 1,4 mUI/ml Homen: 1,4 a 7,7 mUI/ml Testosterona 195 ng/dl 270 a 1.730 ng/dl O paciente foi submetido à craniotomia frontotemporal direita. Após a dissecção da artéria cerebral anterior direita, o aneurisma foi aberto e os trombos no seu interior foram retirados, diminuindo o efeito de massa local. Isso permitiu o aumento do espaço para a reconstrução do complexo comunicante anterior, que foi realizada com vários clipes cirúrgicos. Ambas as artérias cerebrais anteriores permaneceram patentes. O paciente evoluiu com melhora visual, mas sem melhora endocrinológica. A angiografia pós-operatória demonstrou exclusão total do aneurisma e artérias cerebrais anteriores patentes (Figura 4). Figura 4 – Angiografia pós-operatória mostrando exclusão do aneurisma e patência das artérias cerebrais anteriores. Discussão literatura e encontraram 1,5% dos aneurismas cerebrais projetando-se para a região da sela túrcica, causando sintomas consistentes de hipopituitarismo. A maioria dos relatos cirúrgicos não mostra melhora dos sintomas endocrinológicos após a cirurgia5,6,7,9. Por outro lado, existem relatos de melhora da função glandular com a obliteração e a ressecção do aneurisma, mostrando que, em alguns pacientes, ainda há tecido glandular e hipotalâmico viáveis. Dessa forma, é relevante preservar o máximo de tecido glandular e a haste hipofisária, ressecando-se apenas a porção expansiva. A presença de hiperprolactinemia e a elevação dos níveis hormonais séricos após a injeção de fatores liberadores hormonais podem sugerir que o eixo hipotálamo–hipofisário está viável11. Vários autores relataram melhora da função hipofisária após ressecção de tumores da adenohipófise5,9,13. Esses autores chamam a atenção para as melhorias das técnicas microcirúrgicas e para a utilização da via cirúrgica transesfenoidal, considerada menos agressiva ao parênquima glândular e hipotalâmico, permitindo maior preservação dos tecidos. Os sinais e sintomas de hipofunção glandular presentes nesses pacientes podem ser por causa da compressão da glândula hipofisária, da haste ou do hipotálamo, ou por causa da destruição dessas estruturas1. A melhora visual é freqüente, mesmo que os nervos e o quiasma ópticos estejam atrofiados. Melhora do quadro cognitivo pode ocorrer após a retirada da lesão na região supra-selar, como ocorreu nesse caso. No entanto, a melhora endócrina é rara e nosso paciente necessitou de reposição de testosterona. Os aneurismas gigantes localizados na região selar e supra-selar também podem apresentar-se com hemorragia meníngea2 ou com sinais compressivos, tais como hemianopsia bitemporal e síndrome frontal4, caracterizada por apatia, adinamia, apraxia motora e incontinência urinária. A exclusão cirúrgica desses aneurismas gigantes persiste um desafio técnico. Referências 1. 2. O hipopituitarismo causado por aneurisma cerebral é entidade rara, mesmo aqueles casos que se invaginam para a sela túrcica 7 . Essa situação foi descrita inicialmente por Bramwell1 em estudos de autópsias e, depois, por Cushing 3 , que sugeriu ser o efeito compressivo do aneurisma sobre a hipófise a causa da hipofunção glandular. White e Ballantine12 revisaram a Aneurisma gigante da comunicante anterior e hipopituitarismo Burattini JA e cols. 3. 4. BRAMWELL B: Two enormous intracranial aneurysms. Edinb Med J 32:911-22, 1887. CARTLIDGE EF, SHAW DA: Intrasellar aneurysm with subarachnoid hemorrhage and hypopituitarism. Neurosurgery 36:640-3, 1972. CUSHING H: Clinical States Produced by Disorders of the Hypophysis Cerebri. Philadelphia, JB Lippincott, 1912. G A L L A G H E R P G, D O R S E Y J F, S T E FA N I N I M , LOONEY JM: Large intracranial aneurysm producing panhypopituitarism and frontas lobe syndrome. 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Original recebido em janeiro de 2001 Aceito para publicação em junho de 2001 Endereço para correspondência: José Augusto Burattini Rua Dr. Alceu de Campos Rodrigues, 247 – conj. 121 CEP 04544-000 – São Paulo, SP 59 Arq Bras Neurocir 21(1-2): 60, 2002 Notícias V CONGRESSO BRASILEIRO DE NEUROCIRURGIA PEDIÁTRICA Mar Hotel – Recife, PE – 19 a 22 de março de 2003 Informações: CEJEM Promoções e Treinamento Rua Gal. Americano Freire, 394 – Sala 403 51021-120 – Recife, PE Tel: (0xx81) 3465-8594 E-mail: arturdacunha@hotmail.com cejem@elogica.com.br IV CURSO CONTINUADO DE VIDEOCIRURGIA DA F ACULDADE DE MEDICINA DE FACULDADE BOTUCA TU – UNESP BOTUCATU Botucatu, SP – junho de 2003 Informações: Essencial Eventos e Programações Rua Moraes de Barros, 450 18600-300 – Botucatu, SP Tel: (0xx14) 6821-4921 E-mail: essencial.eventos@laser.com.br 12th EUROPEAN CONGRESS OF NEUROSURGERY Lisboa, Portugal – 7 a 12 de setembro 2003 Informações: www.eans2003.com NEUROTRAUMA TOLOGY COMMITTEE OF THE WORLD FEDERA TION OF NEUROTRAUMAT FEDERATION NEUROSURGICAL SOCIETIES On behalf of the Neurotraumatology Committee of the World Federation of Neurosurgical Societies, we encourage you to read the most recent issues of Neurological Research (Volume 24, N o 1, January 2002 and No 2, March 2002). Also the abstracts of these articles can be found on www.forefront.com <http://www.forefront.com>. These are special issues featuring neurotraumatology. Neurotrauma is one of our greatest challenges and is the number one problem facing neurosurgeons around the world. In the past there have been other special neurotraumas issues and there are more such issues planned for the future. George Dohrmann, MD, PhD. (Past Chairman WFNS Neurotraumatology Committee) Glen Merry, MD (Chairman WFNS Neurotraumatology Committee) ARQUIVOS BRASILEIROS DE NEUROCIRURGIA Sede e Secretaria junto à nova Secretaria Permanente da SBN Rua Abílio Soares, 233/cj. 143 CEP 04005-001 – São Paulo, SP Telefax: (0xx11) 3051-6075/3051-7157 E-mail: arquivosbrasileiros@sbn.com.br 60