Contacto SVD - verbo divino

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Contacto SVD - verbo divino
Diretor António Leite
Publicação bimestral
Ano XXXVI | número 217
setembro - outubro 2016
preço 0,50€
foto: Grupo Jovens Nisa
p. 2
VENCIDOS
E os vencidos? Que é feito deles
e como os acolhemos e tratamos?
p. 3
TOCADO PELA SANTA
DE CALCUTÁ
Tocado pelas mãos de Madre Teresa de Calcutá! Uma experiência
vivida naquelas circunstâncias de
1987. Era a visita de Madre Teresa
e também aquela criança entrou
na fila. Hoje é padre e conta-nos
como foi.
p. 4
O SABOR DOS PRIMEIROS
FRUTOS
Depois das dificuldades, a alegria dos primeiros frutos de uma
comunidade cristã que se deixou
evangelizar por outras comunidades. Caminhos surpreendentes do Evangelho!
p. 6 e 7
DEIXAR O SOFÁ E CALÇAR OS SAPATOS
Jornada Mundial da Juventude
De Nisa a Cracóvia para um acontecimento marcante: participar na Jornada Mundial
da Juventude.
Com um guia especial, P. Jacek Baginski, os jovens de Nisa não perderam a
oportunidade. Deixaram outros caminhos e avançaram por aquele que os levava a
Cracóvia, Polónia. E nem as malas perdidas os fizeram desistir. Tudo aquilo que os
aguardava falava mais alto. Queriam estar lá… e quanto puderam tocar de perto!
PENSAMENTO
p. 5 MISSÃO AMAR(ES)
EM MOÇAMBIQUE
S. José Freinademetz
O requisito primordial
da missão consiste no
testemunho de vida dos
missionários. Podemos
e devemos insistir
neste ponto.
p. 8 BRAGA EM PERSPETIVA MISSIONÁRIA
p. 9 É CONTIGO
p. 10 OLHARES SOBRE O CUIDADO DOS IDOSOS
NO JAPÃO
p. 12
PELOS MONTES DE
ALMODÔVAR
O Grupo Diálogos decidiu avançar para uma nova missão. A
região de Almodôvar acolheu
aqueles que durante alguns dias
do mês de agosto deixaram outras possibilidades e procuraram
a proximidade dos que estão
mais sozinhos.
DIA MUNDIAL
DAS MISSÕES
23 OUTUBRO 2016
2
NÃO DIGAS...FAZ
ANTÓNIO AUGUSTO LEITE
Superior Provincial
Em inícios de ano pastoral, escolar,… não nos ficaria nada mal parar
um pouco frente à reação do Papa
Francisco. Que veem os outros nas
comunidades cristãs? Que veem
nas comunidades religiosas? Que
veem nas equipas de pastoral, nos
grupos paroquiais, nas equipas
sacerdotais…?
foto: Lusa
O mês de outubro procura, de maneira mais acentuada, despertar
nos cristãos o sentido da Missão.
Somos cristãos num contexto determinado em comunhão com toda
a Igreja, para que o Evangelho seja
uma Boa Notícia para todos.
A Igreja apresenta-nos, logo no
primeiro dia de outubro, a figura
de Santa Teresa do Menino Jesus
que manifestou o seu desejo de
ser missionária “não apenas durante alguns anos mas queria tê-lo
sido desde o princípio do mundo e
continuar até à consumação dos
séculos”. E, ao descobrir o grande
alicerce e o sentido do caminho a
percorrer pela Igreja, vai afirmar
que “a minha vocação é o amor”
porque sem ele nada de verdadeiramente importante acontece.
Alguns dias mais tarde é a figura de
São Francisco que se nos apresenta. E com ela não poderemos esquecer, no contexto destas linhas,
que o santo de Assis, ao enviar os
seus frades, lhes confia a missão
de evangelizar e, se for preciso,
que usem da palavra.
Caminhos de evangelização! Quanto se tem falado e escrito sobre
métodos, estratégias, meios,…e,
por que não deixar por momentos
essas preocupações e atender à
interpelação do Papa Francisco
àquele jovem?!
Que vamos nós também, missionários do Verbo Divino, leigos
missionários,… fazer, ser,… para
que outros se sintam interpelados
e nos possam perguntar? •
JOSÉ AMARO
joseamaro1954@gmail.com
meditação
foto: Internet
“A última coisa que deves fazer é
dizer algo. Começa a fazer e ele
verá o que fazes e perguntar-te-á;
e quando ele te perguntar, tu dizes”.
Assim recordava há pouco o Papa
Francisco aquilo que tinha dito a
um jovem na Polónia, quando este
lhe perguntara o que devia dizer a
um amigo ateu.
mãos
férteis
Vencidos
E os vencidos? Os da vida (pobres,
refugiados, migrantes, doentes, exilados, sem abrigo, analfabetos...), os
do desporto, os da religião (ateus,
pecadores). Que é feito deles e como
os acolhemos e tratamos?
Nas nossas sociedades, em que se
procura transformar tudo em vitórias
(às vezes até morais), é sempre
difícil lidar com a derrota seja ela
em que domínio for. É facto que a
vida não está para os vencidos e
derrotados, como se em cada vitória
não houvesse uma série de vencidos
(derrotados) que também trabalharam, também treinaram, também
se sacrificaram e... no fim, só lhes
restou a desilusão pela vitória não
alcançada e o desânimo, a tristeza e
a dor pelo tempo e esforço despendidos, que desaguou num vislumbre e
numa miragem que, às vezes, deu a
impressão, ainda que momentânea,
de que não ia acontecer. À medida
que se aproximava a meta, aquele
pontinho ínfimo que todos miram
com o sonho de lá chegar em primeiro acaba por se afastar sempre
e sempre mais à medida que os
perseguidores se aproximam.
Gosto dos vencidos e admiro alguns
vencedores pela nobreza com que
o sabem ser. Gosto de quem corre
até ao fim mesmo sabendo que vai
chegar em último. É a grandeza
dos humildes e simples a brilhar
em frente da meta que os espera,
mesmo que por vezes já só restem
os que limpam a pista que foi glória
para uns e é agora tristeza e solidão
para outros.
Emociono-me quando, por exemplo,
vejo um ciclista trepar a montanha
animado na sua força e alicerçado
no sacrifício. É uma luta titânica completamente desproporcional entre a
força da montanha e os músculos
doridos do atleta que vai tentando
não se deixar engolir pelo desânimo
e pela dor para depois abrir os braços de satisfação se, de repente, não
aparecer uma ave de rapina que lhe
rouba esforço e sonho. •
desafio que representava mas, infelizmente, não foi além de discursos,
mais ou menos piedosos os quais
resultaram em nada ou pouco mais
que nada. Portas Santas abriram-se
muitas, mais ou menos vistosas, em
catedrais, santuários, igrejas... mas
temo que o ano tenha ficado muito
por aí: pelas portas.
Penso que se esqueceu o perdão
como linha e trave mestra da misericórdia. É certo que se trata de um
verbo um pouco “antiquado”. Perdoar? Mas para quê e porquê?
Simples: para traduzir o amor ao
próximo como a si mesmo. Trata-se de algo que não é fácil nem cómodo, mas haverá forma mais bela
e sublime de amar e ser amado?
Para amar alguém não é necessário
que ele o mereça, é só necessário
que seja próximo por mais absurdo
que isso, por vezes, nos pareça. •
Misericórdia
O ano jubilar da misericórdia teve
início no dia 08 de dezembro de
2015 e vai terminar no dia 20 de novembro de 2016. Ao longo destes
meses a palavra misericórdia
andou nas bocas do mundo cristão e não só mas, objetivamente,
temos de convir que não foi muito
além disso à exceção de uma ou
outra atividade ou momento mais
significativos e emblemáticos. Era
um ano que prometia muito pelo
O OLHAR DO
ZÉ DA FONTE
setembro | outubro 2016
3
IGREJA E MISSÃO
“As mãos que ajudam são mais sagradas do que os lábios que rezam”
TOCADO PELAS MÃOS DE MADRE TERESA
DINIS BHALRAI
Teresa e para com as suas Irmãs,
fui celebrar a Missa em Aashadham,
naquela mesma instituição onde,
como criança, tinha sido abençoado
pelas mãos de Madre Teresa.
foto: Lusa
Muito se disse, e se dirá,
sobre Madre Teresa. No
contexto da sua canonização
realizada a 4 de setembro,
temos a possibilidade de ouvir alguém que, em criança,
foi tocado pelas mãos santas
de Teresa de Calcutá.
Olhando por mim lá do Céu
Hoje, toda a Índia, e o mundo em
geral, reconhece a sua simplicidade,
humildade e dedicação aos mais
pobres e marginalizados. Ela nunca
mais voltou ao seu país; deu toda a
sua vida à missão de Deus até ao
último suspiro em Calcutá, em 1997.
O dia da canonização de Madre
Teresa de Calcutá foi uma bênção
para mim e para toda a Igreja. No
ano da misericórdia, a Igreja canoniza aquela a quem chamam o
anjo da misericórdia!
Tocar as feridas
Depois de ter entrado na Congregação do Verbo Divino, cruzei-me de
novo com a obra de Madre Teresa.
Foi em Mysore, no estado de Karnatka, em 2001. Como seminaristas
devíamos fazer um estágio. Nessa
altura, trabalhei duas semanas com
os Missionários da Caridade, ramo
masculino fundado por Madre Teresa. A tarefa que me foi atribuída não
era nada fácil. Recordo que bem
cedo tinha de pedalar a bicicleta
para percorrer a distância entre o
seminário e o instituto. Depois, era
acordar os portadores de deficiência
e outros doentes e dar-lhes banho,
limpar as camas e vesti-los. Durante o dia devia cortar o cabelo, as
unhas, lavar a roupa, jogar e rezar
com eles. Ao regressar ao seminá-
rio, no fim do dia, o meu apetite para
comer tinha desaparecido devido ao
forte cheiro das feridas dos doentes
e às imagens que levava comigo
das dores daquela gente. Foi, sem
dúvida, uma experiência que me
tornou mais forte na minha vocação.
Agradecer
Entrevistada por um jornalista que
lhe perguntara onde é que ia buscar
todas aquelas forças e apoios para
trabalhar pelos pobres e doentes,
com toda a firmeza, Madre Teresa
respondeu: «Eu recebo toda a mifoto: Internet
Madre Teresa começou a obra
missionária e uma vida de autêntica santidade nas ruas de Calcutá,
Índia, entre os mais pobres dos
pobres, em 1929. Anos mais tarde,
em 1950, fundou as Missionárias
da Caridade, sendo que a sua
marca era a dedicação aos pobres,
marginalizados, leprosos, órfãos,
portadores de deficiência e todo o
tipo de pessoas discriminadas pela
sociedade. Inicialmente, Madre
Teresa não teve aceitação junto de
fundamentalistas das várias religiões, assim como de grupos radicais contra o cristianismo. Contudo,
ela nunca perdeu a fé e esperança
em Deus. São bem conhecidas as
suas palavras: “Deus não me chamou para ser uma pessoa de sucesso, mas para ser uma pessoa de fé.”
Quando reflito sobre a minha vida
missionária, vejo-me num grande e
maravilhoso plano de Deus através
das bênçãos de Madre Teresa. Sinto
como ela vai olhando por mim lá do
Céu. Não sei quantos doentes terão
sido curados na Índia ou noutras
partes do mundo através do toque
das mãos santas de Madre Teresa,
mas acredito que o seu toque trouxe, para a minha vida, bênçãos de
alegria e fé.
Em 2012 fui ordenado sacerdote.
Para surpresa minha, encontrei
muitas das Irmãs Missionárias de
Madre Teresa entusiasmadas com
o apoio espiritual na minha ordenação. Assim, depois de uma semana,
com toda a gratidão para com Madre
Tocado pelas mãos de Madre Teresa
Nunca poderia imaginar que aquela criança que
ela estava a abençoar poderia, agora, como sacerdote, testemunhar a sua bênção. Talvez nem tenha
beijado a mão desta santa mulher, pois a atenção
estava mais nos chocolates. Hoje, sinto com alegria
a grandeza e a santidade dela na minha vida. •
foto: Missionárias da Caridade
No decurso da visita que Madre
Teresa fez às Irmãs da sua Congregação, vivi uma situação bem
particular. Foi, para mim, uma
bênção de Deus, que a minha
cabeça tivesse sido tocada pelas
mãos de Madre Teresa. Decorria
o ano de1987 e ela foi à diocese
de Khandwa, Madhya Pradesh, para visitar a comunidade chamada Aashadham, centro de portadores
de deficiência, órfãos e também lar de idosos.
Todas as crianças que frequentavam a escola
católica perto daquela instituição foram levadas
para receber a bênção de Madre Teresa. Embora
eu nem soubesse bem, naquela altura, quem era
aquela mulher, também fui com as outras crianças
e fiquei na fila para receber a bênção, sendo que
estaríamos, certamente, mais atentos às prendas
e chocolates que as Irmãs costumavam oferecer.
nha força e o apoio do Santíssimo
Sacramento e do Senhor Eucarístico”. Dali partia Madre Teresa para
encontrar Cristo no rosto daqueles
que ninguém queria olhar. Entende-se, então, a profundidade da frase
de Madre Teresa usada logo no
ínicio desta página: “As mãos que
ajudam são mais sagradas do que
os lábios que rezam.” •
4
Jornadas Missionárias Nacionais 2016
MISSÃO COM HISTÓRIAS DE MISERICÓRDIA
Africana, partilhou a Missão de
uma Igreja perseguida até à morte
por grupos armados de fundamentalistas islâmicos e não islâmicos
que semeiam o pânico entre as
populações e querem erradicar o
cristianismo de África. Lembrou o
momento forte que foi a visita do
Papa Francisco a Bangui, onde
abriu a Porta da Misericórdia antes
ainda de o fazer em Roma. Como
bispo é um construtor de pontes.
Contra a violência, a Diocese opta
sempre por construir escolas e
projetos de desenvolvimento.
Tempos fortes destas jornadas foram os momentos de celebração,
quer no auditório dos encontros
quer nas celebrações oficiais do
santuário, sobretudo a Eucaristia
presidida por D. Manuel Linda, em
que foram enviados em Missão
seis Missionários.
Em contexto de Jubileu do Centenário das Aparições de Fátima, as
Jornadas Missionárias Nacionais
2017 serão realizadas a 16 e 17
de setembro. •
foto: João Cláudio
que caraterizam a vida de Jesus:
débil, companheiro e maternal. Na
Amazónia, o Luis Fernandez, leigo
da Consolata, partilhou a sua vida e
luta em defesa dos povos indígenas
da Amazónia. Partiu com a esposa
e lá nasceram três filhos. Viveram
as alegrias e angústias de um povo
espezinhado, ajudando a formar líderes e construir comunidade. Lembrou
que ‘o desafio maior da Missão é
ouvir o clamor da terra e dos pobres.
É defender a vida’.
A tarde de sábado foi preenchida por
cinco workshops que enriqueceram
os participantes com partilhas e reflexões sobre o desenvolvimento, o
voluntariado, a ecologia integral, a
inclusão e a reconciliação.
A Irmã Myri, natural de Mafra e Monja
na Síria, partilhou a experiência da
sua comunidade monacal em contexto de guerra civil. O Convento nasceu
por causa do empenho pela unidade
dos cristãos e do diálogo com todos
os crentes. Lembrou que, ‘cada um
de nós é uma história de misericórdia
onde somos convidados a olhar para
Cristo e ver no irmão a presença
d`Ele’. O trabalho dos missionários
na Síria é de alto risco porque sem
armas na mão, partilhando os sofrimentos de um povo pobre e mártir.
D. Juan José Aguirre, bispo de
Bangassou, na República Centro
As Jornadas Missionárias Nacionais 2016 decorreram a 17 e 18 de
setembro, no Centro Paulo VI, em
Fátima, com a participação de aproximadamente 250 pessoas, vindas
de todo o país.
O P. António Lopes, diretor nacional
das Obras Missionárias Pontifícias,
deu as boas-vindas. D. Manuel Linda, Presidente da Comissão Episcopal ‘Missão e Nova Evangelização’,
abriu as Jornadas com uma palavra
de incentivo missionário. No ‘ide por
todo o mundo’, não obstante a escassez de Missionários/as, vivemos
tempos de aumento de geminações
entre dioceses e paróquias de Portugal e dos quatro cantos do mundo. É
necessário avivar o ardor missionário
e o tema escolhido atrai e faz partir
ao encontro do outro como Missão
recebida de Jesus. É urgente aprofundar a comunhão e colaboração
com a Igreja local.
Os participantes puderam olhar três
rostos de misericórdia. No Sudão do
Sul, o P. José Vieira, comboniano,
viveu a Missão da misericórdia não
como um conceito abstrato mas um
encontro de corações no contexto de
uma guerra civil que continua a massacrar um povo pobre. No Japão,
o P. Adelino Ascenso, Missionário
da Boa Nova, viveu a sua Missão,
traduzida por três simples adjetivos
O SABOR DOS PRIMEIROS FRUTOS
ASHWIN VAS
convidaram-nos e, quando fomos,
encontrámos 11 pessoas que já
tinham preparado um espaço ao ar
livre onde se juntavam para rezar.
A região continua a ser difícil, princifoto: Ashwin Vas
Em 2013, quando cheguei a Cacolo, um grande desafio estava
à minha espera: iniciar as novas
comunidades na zona da Baixa do
Minungo. Não foi possível realizá-lo
no primeiro ano; primeiro tinha que
conhecer e atender as comunidades que já existiam.
Em 2014, no tempo do cacimbo,
fui à Baixa do Minungo com dois
catequistas. Foi um sofrimento. Não
tomamos banho durante dois dias,
comemos só uma vez, dormimos no
chão… para não falar dos caminhos.
Cheguei a um ponto que tive que
comprar um pacote de bolachas para
poder continuar a conduzir. Entretanto, houve sinais de esperança.
A 21 de agosto de 2016, na comunidade de Chingumo, que faz parte
da zona da Baixa do Minungo, celebrámos cinco batismos e um matrimónio. Não consigo explicar a minha
alegria, mas em tudo, humildemente,
vejo a graça de Deus a operar.
Além disso, num outro bairro chamado Samuquix, quando nós passámos em 2014, ninguém se mostrou
interessado no nosso trabalho, mas
ao ver o que tem sucedido ao longo
de dois anos noutras comunidades,
palmente pelo acesso. É uma zona
em que há escavação artesenal de
diamante em grande escala e com
forte influência do feitiço. Preocupa-me ver o Catequista Regional com
a idade que tem, a sofrer sem um
transporte digno, a empurrar a mota
cansada nas subidas. Com tudo isso,
o sabor dos primeiros frutos é ...•
setembro | outubro 2016
ECOS DO TEMPO
MISSÃO AMAR(ES): UM PROJETO, UMA PROPOSTA DE VIDA!
BERNARDINO SILVA
bernardino.silva@gmail.com
“Um sacrifício, para ser real, tem que custar, tem que doer, tem que nos esvaziar.”
As férias de verão são uma oportunidade para realizar tantas atividades
com tantas escolhas diversas e
ocupar o tempo de forma diferente
do habitual. Uma dessas escolhas é
o voluntariado internacional. A oportunidade de se ampliar um desafio
pessoal que ao longo do ano se vai
incrementando, e que nas férias o
podemos estender por um período
maior de tempo dedicando-o aos
outros, é a razão de tantos jovens e
adultos cumprirem esta escolha nas
suas férias de verão.
O voluntariado é, hoje, um movimento que mobiliza em todo o mundo um
grande número de jovens e adultos,
sendo um instrumento de participação da sociedade civil nos mais
diversos domínios de atividade. Esta
prática não se restringe ao campo
social, mas alarga-se à cultura, à
educação, à justiça, ao ambiente,
ao desporto e a outras dimensões
do nosso quotidiano e tem vindo a
responder às questões que continua-mente emergem do tecido social,
económico ou político.
Neste contexto, nasceu o projeto
Missão Amar(es) para os alunos do
Ensino Secundário da Escola Secundária de Amares, que através de
um conjunto de ações de interesse
social e comunitário, realizadas de
forma desinteressada pelos alunos,
no âmbito de projetos sociais vários,
procura, além de incentivar o voluntariado em contexto escolar, ao
mesmo tempo, promover o agir local
e o pensar global. A Educação para o
Voluntariado acaba por ocupar, deste
modo, um lugar ímpar na preparação
integral dos alunos e ajudá-los a
construir uma identidade pautada no
bem comum.
Acreditamos que, sempre que uma
Santa Teresa de Calcutá
instituição educativa promove atividades de voluntariado, mediadas
e animadas pela escola, oferece
aos seus alunos a oportunidade de
participar ativamente na construção
de uma sociedade mais coesa e
mais solidária.
Sempre que uma instituição
educativa promove atividades
de voluntariado, mediadas
e animadas pela escola,
oferece aos seus alunos a
oportunidade de participar
ativamente na construção de
uma sociedade mais coesa e
mais solidária.
Partindo das experiências realizadas
e da formação adquirida ao longo do
Ensino Secundário, desejamos incutir
nos alunos que participam no Clube
da Solidariedade e do Voluntariado
da Escola Secundária de Amares
um espírito de partilha e experiências globais, nomeadamente em
contextos de países em vias de desenvolvimento e, preferencialmente,
de língua portuguesa. Assim, quisemos que o projeto Missão Amar(es)
proporcionasse uma oportunidade
a três alunos (duas jovens e um jovem) de realizarem uma experiência
de voluntariado internacional. Neste
caminhar contínuo, conseguimos
realizar a nossa experiência no passado mês de agosto em Moçambique,
dividindo a missão entre Mavalane e
Hulene, na província de Maputo e em
Chibuto, província de Xai-Xai – Gaza.
Definitivamente, uma experiência
única de estar com os outros mais
desfavorecidos de contextos sociais
e culturais bem diferentes do nosso.
Construir pontes entre nós e estes
povos ajudam ao desenvolvimento
local, porque é na proximidade que
se consegue obter o sucesso de uma
relação que permita num curto período de tempo deixar a marca da nossa
missão, porque enquanto homens e
mulheres procuramos o equilíbrio e a
justiça social entre todos.
A Missão Amar(es) que tem como
lema um projeto, uma proposta
de vida, é justamente uma opção
distinta de viver o verão. Sabemos
que a humildade não nos torna melhores que ninguém, mas acredito
que nos torna diferentes de muitos.
Desejo que a Missão Amar(es)
como projeto e proposta de vida,
se perpetue com humildade. •
QUANDO O LIXO MATA A FOME
JOSÉ ANTUNES
Surabaya é uma das cidades da
Indonésia que mais cresce devido
sobretudo ao seu movimentado
porto e à presença de empresas e
indústrias. A cidade atrai muitas pessoas do interior da ilha de Java e de
outras ilhas da Indonésia em busca
de emprego e melhores condições
de vida. No entanto, muitas não
encontram um emprego adequado
nem a vida que sonharam e, para
sobreviverem, tornam-se catadores
de lixo ou condutores de ciclo-riquixá
(pedicab), um meio de transporte de
tração humana. A maioria destas famílias vive nas favelas em condições
de extrema pobreza.
Há alguns anos, o P. Pius Killa
conseguiu organizar os condutores
de pedicab numa associação para
poderem lutar mais facilmente pelos seus direitos. Mais tarde, o P.
Yosef Due, com a colaboração de
alguns leigos, retomou o trabalho do
P. Pius mas dando especial atenção
a duas atividades principais: criar
um sistema que facilitasse os catadores a vender o lixo que recolhiam
e organizar aulas de inglês para as
crianças de famílias pobres.
Uma tarde, o P. Yosef levou-nos
através das favelas de Benowo, em
Surabaya, para visitar um centro
onde os coletores de lixo classificam
e separam o lixo recolhido. O senhor
Kasmadi e a sua família recebeu-nos
com genuína hospitalidade muçulmana. Depois explicou-nos que
também ele já tinha sido um pequeno
catador de lixo, mas agora era um
intermediário. A sua tarefa consiste
em comprar o lixo aos pequenos catadores. O lixo, por exemplo, papel,
livros usados, revistas, eletrónica,
artigos de plástico, é depois separado e vendido à fábrica de reciclagem.
Não é fácil ser catador de lixo, pois
leva muito tempo para acumular a
quantidade de resíduos necessários
para serem vendidos. A fábrica só
aceita remessas de duas ou mais
toneladas. Além disso, há um grande
estigma social em relação a estas
pessoas, que estão nos últimos degraus da escala social da sociedade
javanesa. O dinheiro da venda é uma
grande ajuda para essas famílias
pobres. Parte do dinheiro também é
usado para pagar os professores das
aulas de inglês, frequentadas por 35
crianças, todas muçulmanas provenientes das famílias dos catadores
de lixo e dos motoristas de triciclo.
Este projeto é pequeno e envolve
poucas dezenas de pessoas. Todavia, dá um pouco de dignidade e de
pão aos habitantes mais pobres das
favelas de Surabaya. •
BÍBLIA
ANTÓNIO LOPES
ESPÍRITO QUE SURPREENDE
Estamos muito acostumados a
ver o Espírito Santo como doçura
e delicadeza. Mas Lucas nos Atos
dos Apóstolos apresenta-o como
um personagem que incomoda,
que age com força e, exercendo o
entusiasmo da misericórdia, convida os apóstolos a excederem-se
por caminhos que talvez nunca
tivessem imaginado.
Em At 2,1-13, o Espírito, ao
surgir de maneira ruidosa faz
com que os discípulos deixem o
calor da “sala de cima” e saiam
com paixão à praça pública onde
Pedro, sem medo nem entraves,
faz um discurso cheio de ardor
e emoção.
Em Atos 10, Pedro vai a casa
de Cornélio e apesar de muitas
reticências declara: “Reconheço,
na verdade, que Deus não faz
aceção de pessoas, mas acolhe,
em qualquer nação, aquele que
o teme e põe em prática obras
justas”(At 10,34-35). E enquanto
Pedro pronuncia o seu discurso, o
Espírito Santo decide interrompê-lo e “descer sobre todos os que
escutavam a Palavra” (10,44).
Batizar um pagão, toda a sua
família e todos os seus servos,
normalmente devia ser motivo
de alegria e ação de graças.
Mas não. A reação está longe de
ser positiva e Pedro tem de dar
grandes explicações. Fá-lo com
ardor e emoção e narra, por três
vezes (o número da perfeição) o
papel que teve o Espírito Santo
nos acontecimentos que levaram
à “conversão” de Pedro, de Cornélio e de todos quantos ouviam
a Palavra.
Um outro episódio que o Espírito Santo vai fazer ultrapassar
barreiras é quando Paulo e
Barnabé batizam os pagãos
sem lhes imporem nenhuma das
regras tradicionais do judaísmo.
A situação tornou-se bastante
conflituosa, sobretudo que os
cristãos da Judeia diziam aos
recém-batizados que “se não
aceitarem a circuncisão segundo
o costume de Moisés, não podem
ser salvos” (cf. At 15,1).
Este conflito levou à realização
da “Assembleia de Jerusalém”.
E no final houve uma decisão espetacular: de agora em diante, os
não-judeus podem tornar-se cristãos sem passarem pelo judaísmo
(At 15, 19-20). A Igreja tornou-se
verdadeiramente católica, quer
dizer universal.
É verdade que aqui o Espírito
Santo parece agir na sombra.
Contudo quando a Igreja de Jerusalém transmite as decisões
tomadas em assembleia, sublinha que “o Espírito Santo e nós
próprios decidimos não vos impor
outras obrigações…” (At 15,28).
O Espírito Santo, na sua misericórdia, age sempre de maneira
imprevisível. Ele sopra onde não
pensamos. E isso é um apelo
para que nós hoje tenhamos a
audácia de nos aventurarmos em
terrenos desconhecidos, nessas
“periferias” que nos chamam a
testemunhar o Evangelho de
maneira sempre renovada, com
paixão e misericórdia. •
5
6
DEIXAR O SOFÁ E CALÇAR
Jornada Mundial da Juventude
Alegria de ser cristão
foto: Grupo Jovens Nisa
foto: Grupo Jovens Nisa
Um grupo de jovens da comunidade
paroquial de Nisa, acompanhado
pelo P. Jacinto Baginski, peregrinou
até às terras dos apóstolos da misericórdia, São João Paulo II e Santa
Faustina Kowalska, para participar
na Jornada Mundial da Juventude
com o lema “Bem-aventurados os
misericordiosos porque alcançarão
misericórdia”.
Chegados dia 19 de julho a Szprotawa, acolhidos calorosamente
pela família Baginski, prontos para
participar na pré-jornada (dias da
diocese) de Zielona Gòra.
Fomos surpreendidos positivamente
por uma cultura diferente desde a
gastronomia, passando pela paisagem, até à própria vivência.
Nos primeiros cinco dias em que
participámos na pré-jornada deixámos a nossa marca lusitana, entre
outros, num muro grafitado pelos
vários participantes internacionais.
Foram dias intensos com diversos
encontros e atividades e que culminaram com um festival de música
e Eucaristia junto à maior estátua
do mundo do Cristo Rei, localizada
em Swiebodzin.
Antes de partirmos para Cracóvia,
tivemos a oportunidade de visitar
o campo de concentração de Auschwitz - Birkenau, onde pudemos
compreender melhor o horror e a
crueldade ali vivenciada.
Eis que chega o dia 25 de julho,
em que partimos para Cracóvia
ansiosos pelo encontro com o Papa
Francisco e por participar nos vários
momentos da Jornada.
Convocados para a Missa de abertura, presidida pelo cardeal de Cracóvia, lá fomos nós em direção
ao parque Blonia. Envolvidos na
imensidão de jovens de todo o mundo
e contagiados pela alegria que nos
unia, iniciámos a grande jornada.
Fomos recebidos na paróquia de
Rainha Santa Edwiges, juntamente
com vários outros grupos de língua
portuguesa, onde participámos nas
várias catequeses sobre Misericórdia proferidas por bispos do Brasil
e de Portugal e tivemos oportunidade de ouvir vários testemunhos
de jovens que se sentiram tocados
por Jesus.
No segundo dia, depois de termos
o privilégio de ver de perto o Papa
Francisco ao passar nas ruas da
cidade, dirigimo-nos novamente
ao parque Blonia para a cerimónia
de receção ao Pastor Universal. O
Papa convidou-nos a ser jovens
alegres e a testemunhar essa
alegria num mundo marcado pela
tristeza. “Não podemos reformar a
nossa juventude antes do tempo” e
“temos que ser jovens sonhadores,
capazes de transformar o mundo
com a Misericórdia de Deus” – foram
algumas das mensagens que o
Santo Padre nos deixou. Um dos
momentos mais marcantes foi a
Via-Sacra, na sexta-feira, onde, em
cada estação, meditámos nas obras
de misericórdia.
Durante os vários dias da Jornada
tivemos oportunidade de participar
em vários festivais que decorriam
foto: Grupo Jovens Nisa
Dias inesquecíveis! Palavras, gestos,
olhares que aqueceram os corações!
Nisa esteve na Jornada Mundial da
Juventude, na Polónia.
nas praças da cidade e também o
privilégio de ouvir o Papa Francisco,
da assim chamada “janela papal”
(da qual São João Paulo II costumava conversar com os jovens em
diversas ocasiões). Foi aí que fomos
relembrados das três palavras que
nos devem acompanhar ao longo
da nossa caminhada: “Por favor,
Obrigado e Desculpe”.
Aproximando-se a reta final da Jornada Mundial da Juventude, peregrinamos rumo ao Campo da Misericórdia, a 14 km do centro da cidade,
para participar na Vigília e na Missa
de envio. O “Campus Misericordie”,
iluminado pela luz de dois milhões
de jovens movidos pela mesma fé
em Jesus, e que passaram a noite
em Vigília de oração, constituiu uma
imagem inesquecível.
Aos primeiros raios de sol, os peregrinos começaram a preparar-se
para a Missa de envio. Ao olharmos
o campo, recordávamos a imagem
bíblica das ovelhas que pastam
nos prados verdejantes ao redor do
Bom Pastor. Escutando a Palavra
de Deus e a homilia do “Pedro dos
nossos tempos”, fomos convidados
a “descer depressa” como Zaqueu
e a sermos jovens ativos na sociedade. Com o que temos, marcados
pela nossa fragilidade humana, mas
fortes com Cristo Misericordioso,
conseguimos transformar o mundo.
Regressámos a Portugal cansados
mas com o coração cheio e com
muita vontade de transmitir aos
outros a alegria de ser Cristão.
Como o Papa Francisco nos disse:
queremos ser jovens “com sapatos”
de caminhada e “deixar o sofá” do
comodismo, para podermos levar
Cristo a toda a gente.
Grupo de Jovens de Nisa
setembro | outubro 2016
7
foto: Lusa
R OS SAPATOS
de ser, que nos traz uma lição. Na
vida temos de fazer sacrifícios, mas
existem sempre muitos benefícios,
tal como a sorte que tive neste
período que passei na Polónia. As
Jacek Baginski
Não estamos sozinhos
Regressei no dia 3 de agosto de
2016 de uma viagem de 16 dias
que me encheu o corpo e a alma.
Estive num país distante do meu,
não só em quilómetros como em
culturas. Não foi fácil, mas foi algo
a que me habituei, pelo que cheguei
a Portugal e respondia “Tak” (sim)
ou “Dziekuje” (obrigado).
Nestes dias, tive o privilégio de
participar na Jornada Mundial da
Juventude em Cracóvia, na Polónia.
Foi uma experiência que nunca irei
esquecer: tudo o que vi, senti, rezei,
conversei… está tudo marcado no
meu coração.
Decerto não estava à espera de
ver a imensidão de gente que me
rodeou durante duas longas semanas, desde as pessoas presentes
nos dias da pré-jornada em Zielona
Góra, até às pessoas na Jornada
em Cracóvia.
E foi essa multidão que me tocou…
saber que todos estes jovens correm pelo mesmo que eu, pela fé e
pelo amor em Cristo... “Não, não
estás sozinha”, este foi o meu pensamento. Quando havia missas,
orações, ver que todos passamos
a mesma mensagem, embora por
idiomas tão diferentes que eu não
entendo. Mas Ele entende.
Durante a Jornada aprendi a ver
Deus nas pequenas coisas, porque
até quando nos acontece algo
menos bom, tudo tem a sua razão
foto: Grupo Jovens Nisa
Este verão tive ocasião de visitar,
mais uma vez, a minha Polónia
pátria. O caso em si não teria nada
de extraordinário, não fossem os
contornos da viagem. O motivo que
me levou, a mim, e ao grupo de
jovens da paróquia de Nisa, neste
deslocarmo-nos para o centro geográfico da Europa foi a vontade de
participar na XXXI Jornada Mundial
da Juventude, organizadas na antiga capital da Polónia – Cracóvia. Assim, entre 19 de julho e 3 de agosto,
‘mergulhámos’ nas terras polacas
com o intuito de viver a grande aventura e de beber avidamente toda a
riqueza espiritual, cultural e humana
que brotava da dinâmica do evento.
Desde logo vimo-nos envoltos em
entusiasmo, alegria e sinais eloquentes da fé daquela multidão de
jovens provindos de todos os cantos
do globo que, como nós, procuram
viver com sentido a sua relação com
Jesus Cristo morto e ressuscitado.
Foram dias de autêntica fraternidade, convívio e oração nos quais a juventude demostrou, mais uma vez,
que se sente atraída pelo Senhor
Jesus – única fonte de felicidade
genuína e profunda, capaz de desinstalar do “sofá” do comodismo,
para calçar os “sapatos” de viajante,
seguindo o Cristo nos caminhos que
levam à plenitude da vida.
Tendo em conta toda a ‘bagagem’
com que regressámos, penso que
os objetivos desta nossa peregrinação – rasgar os nossos horizontes e
proporcionar-nos um incentivo e um
impulso forte para o futuro – foram
amplamente atingidos.
Agora, de regresso às terras lusitanas, o que se pretende é dar frutos
desta experiência única e irrepe-
tível, na vida pessoal e na Igreja,
baseados sempre numa relação
viva com o Senhor, traduzida em
oração e fundamentada na força
da Eucaristia.
foto: Grupo Jovens Nisa
Rasgar horizontes
pessoas que me acolheram foram
exemplo disso; eram muito generosas. Toda a experiência que tive foi
a melhor que podia ter.
Admirei todas as atividades colocadas no programa, mas as tardes
(e noite!) nos campos foram as
que mais gostei. A Via-Sacra foi
lindíssima. Cada estação teve
atuações muito bonitas que me
marcaram, a mim e ao meu grupo.
A Cerimónia de Abertura com o
Papa Francisco mostrou todas as
culturas presentes na Jornada que
o acolheram tão calorosamente.
Levo as palavras do Santo Padre
como o lema da minha vida “Trocar
o sofá por um par de sapatos” e
ponho mãos à obra para construir
todas as obras na minha vida daqui
em diante.
A Jornada Mundial da Juventude
enriqueceu-me e deu-me certezas
sobre as minhas crenças. Foram
dias tão bons na minha vida que
não estou triste porque acabaram,
mas contente porque aconteceram.
Sofia Heitor
8
MUNDO E MISSÃO
TESTEMUNHA DO EVANGELHO EM FRANÇA
foto: António Leite
OLIVIER MATONDO
Cheguei a Portugal em 2011. Tinha
sido enviado para fazer uma experiência missionária noutra cultura.
Depois da aprendizagem da língua,
em Lisboa, fui para Tortosendo.
Em 2013 regressei ao Congo. Fui
ordenado padre em 2014. Nesse
mesmo ano fui para as Paróquias
de Rosny-Sous-Bois, na diocese
de Saint Denis, França. Somos três
padres, todos missionários do Verbo
Divino.
As nossas paróquias têm fiéis muito
animados. Trabalhamos com eles.
Há uma equipa pastoral formada
por três leigos e três padres. Cada
um recebeu do bispo uma carta da
missão. A equipa pastoral procura
ajudar as diversas equipas de animação paroquial.
Além dessas equipas temos vários
grupos. Sou responsável pelos grupos da catequese. Temos bastantes
crianças a frequentar a catequese
em cada paróquia. Ao longo do ano,
juntamos três vezes todos os grupos
para celebrarmos a missa e também
para outras atividades.
À nossa volta temos cristãos protestantes, ortodoxos e outros. Com
eles procuramos fazer caminho em
diálogo ecuménico. Faço parte da
equipa neste campo, onde procuramos fortalecer laços de amizade
e de fraternidade. Encontramo-nos
para planearmos as atividades e,
sobretudo, para organizarmos os
dias de oração ecuménica.
Temos também as celebracões interculturais, isto é, a eucaristia celebrada e cantada nas várias línguas e no
fim, cada país apresenta algo da sua
cultura, sendo que a comida também
é partilhada. São momentos que nos
ajudam a tomarmos consciência de
que a nossa diferença é uma grande
riqueza e somos todos irmãos e
irmãs na humanidade e em Cristo.
Há bastantes portugueses em Rosny
e nas nossas paróquias. Celebramos
a festa de Nossa Senhora de Fátima.
A missa é celebrada em francês,
uma das leituras em português e os
cânticos em francês e português.
Há um ano começamos com um grupo de diálogo com os nossos amigos
e vizinhos muçulmanos. Foram já
concretizadas algumas atividades
em conjunto. Depois dos acontecimentos de julho deste ano (do
padre que foi assassinado durante a
missa), vimos muitos dos nossos vizinhos muçulmanos a participar para
rezar pela paz e denunciar o crime.
Gosto do meu trabalho pastoral aqui
na França. A experiência que tenho
feito com as pessoas ajuda-me a
viver a minha fé e a crescer no meu
ministério sacerdotal. As celebrações
dos sacramentos e as visitas aos
lares de pessoas idosas e doentes
são momentos muito marcantes no
meu ministério.
Acolher, escutar e acompanhar as
pessoas, sobretudo os jovens, faz
parte da minha pastoral. Afinal, estou
aqui para anunciar a Boa Nova como
Jesus nos mandou.
Gosto da vida missionária, mas às
vezes não é fácil viver longe da
minha terra. Agradeço aos meus
amigos de Portugal e a todos os
confrades pela amizade. Costumo
dizer «sou amigo dos portugueses e
gosto de Portugal». •
ANO MISSIONÁRIO EM BRAGA
foto: Internet
† JORGE ORTIGA, ARCEBISPO PRIMAZ
Publicação conjunta MissãoPress
No itinerário de um Plano Pastoral
delineado para cinco anos, e centrado no intuito de redescobrir a
identidade cristã, a Arquidiocese de
Braga dedicou o Ano Pastoral de
2015-2016 à dinâmica do anúncio da
fé. Foi para nós um Ano Missionário.
Partimos de Cristo e do anúncio do
Reino de Deus para que os cristãos
tomassem consciência que a fé deve
ser anunciada por todos e em todos
os ambientes. O objetivo pretendido
resume-se nesta frase: “A alegria de
ser discípulo missionário”. A graça
batismal não deveria ser dom enterrado mas oferta pelo testemunho e
pela palavra. “O batismo não é um
título que recebemos, mas um chamamento para o serviço ativo na vida
da Igreja, dentro e fora de portas”.
Esta responsabilidade foi incrementada pela adesão ao convite
do Papa Francisco – em ordem a
saborear a Misericórdia de Deus –
para se testemunhar a dinâmica da
misericórdia em todas as situações
e circunstâncias. Importava tocar os
males da sociedade e crescer na
alegria de prolongar o serviço de
Cristo. Era importante alargar horizontes e reconhecer a necessidade
de chegar a outras latitudes, onde as
necessidades materiais e espirituais
são mais tangíveis.
Assim, foi constituído o Centro
Missionário da Arquidiocese de
Braga (CMAB), que se assumiu
como dinamizador desta consciência missionária. Já não seria tarefa
para um ano ou alguns meses mas
uma tarefa ou estado de inquietação
permanente. Se muitas foram as
atividades realizadas, o caminho
continua aberto e vai-se aprendendo
para que o futuro missionário permaneça na alma das comunidades.
É fundamental uma dinamização
missionária! É imperioso aterrar na
realidade e chegar aos atos concretos. Foi por isso que a Arquidiocese
assinou um protocolo de cooperação
missionária com a Diocese de Pemba, em Moçambique. Várias hipóte-
ses de intercâmbio eclesial, através
de pessoas e meios, foram enumeradas, mas as exigências de uma
verdadeira geminação continuam
presentes e desafiarão o futuro.
Neste momento foi assumida uma
paróquia (Ocua) para onde já partiu
um sacerdote e dois voluntários: um
engenheiro e uma enfermeira. Para
além de todos os trabalhos de uma
missão, encontra-se em curso a reconstrução de uma escola e de um
espaço para a catequese. Também
a casa onde os missionários estão a
residir já se encontra em recuperação. Trata-se de um pequeno sinal
que poderá ser semente para muitas
outras iniciativas.
Resumindo, este Ano Missionário
serviu para recuperar a urgência
de uma vida em perspetiva missionária, nos cristãos e nas comunidades. O caminho é longo! Tudo
começa por pequenos passos. Os
resultados ninguém os pode enumerar. Pessoalmente acredito que a
proposta de viver durante este ano
“Assim como Eu fiz, fazei vós também” (Jo 13, 15) continuará a ser
assumida como critério identificativo do cristão que, sendo discípulo,
é necessariamente missionário. •
GUIÃO
MISSIONÁRIO
2016 / 2017
Na sua paróquia ou no Instituto missionário mais próximo poderá solicitar o Guião
Missionário 2016/2017 com
boas propostas para animar o mês de outubro e
muito mais.
setembro | outubro 2016
VOCAÇÃO E MISSÃO
O SONHO TORNOU-SE REALIDADE
RECOMENDA
MARIA MENDES
foto: Maria Mendes
No último ano letivo, estiveram em
Portugal 14 jovens estagiários no
2º Curso de Conservador e Notário.
Antes de regressarem para Timor,
organizámos uma peregrinação a
Fátima, no dia 30 de julho. Rozinda
Tilman, porta-voz do grupo, que, pela
primeira vez, foi àquele santuário,
deu o seguinte testemunho:
“A visita a Fátima foi uma vivência
muito profunda porque o povo de
Timor é profundamente mariano.
No caminho para Fátima tivemos
orações e reflexões dirigidas pelo
diácono Fidelis Fallo e pela Irmã
Maria Mendes, que nos fizeram
sentir como um dia de recolhimento
e de ação de graças. Sentimos como
estamos a levar o povo de Timor e
da Indonésia a Fátima. Rezámos por
todos, mas, de modo especial, pelo
povo destes dois países.
Fátima é um lugar muito especial.
Emocionei-me muito quando entrei
pela Porta Santa que a Ir. Mendes
nos indicou para entrar na Basílica
da Santíssima Trindade. Senti algo
profundamente muito diferente.
Parecia-me que estava a entrar no
céu. Depois da missa, fomos à Capelinha das Aparições. Não há
palavras para explicar o que brota
no coração. Creio que todos nós
sentimos o mesmo. Foi uma expe-
EMÍLIA MOURA
riência muito bela, num lugar de paz,
de alegria e de comunhão. Foi uma
experiência inesquecível.
Fomos visitar também a casa dos
três pastorinhos: um lugar tão simples e tão humilde, mas muito bem
conservado. Contemplámos a simplicidade e interiorizámos a nossa
fé. Na simplicidade brota a paz no
coração. Deus escolheu o lugar mais
simples para surpreender o mundo.
Desde pequeninos os nossos pais
sempre nos falavam sobre Fátima.
Eu tinha um sonho, mas, ao mesmo
tempo, nunca pensei que um dia
pudesse chegar a este lugar tão
desejado, tão santo. Graças a Deus,
posso dizer que o sonho se tornou
realidade. Graças a Deus e graças
à Mãe, Nossa Senhora de Fátima,
e graças aos missionários do Verbo
Divino e missionárias Servas do Espírito Santo, que nos acompanharam
até Fátima”.
Concluo com uma citação de
D. António Marto: “O nosso amor
a Maria é muito mais do que uma
mera devoção sentimental; é, antes, a contemplação da beleza do
amor misericordioso de Deus por
nós, pela humanidade dispersa
que Ele quer reunir; é a contemplação da beleza da Igreja como
Povo do Senhor, de que ela é membro eminente e mãe amorosa; e da
beleza da vida com Cristo, de quem
ela foi mãe e primeira e perfeita
discípula”. •
AGORA É CONTIGO
CONSTANTINO MALU
Caro jovem, há pouco relembrei-te da importância da
nossa caminhada ao longo dos últimos anos. Alguns
objetivos foram alcançados juntos como mencionámos no artigo precedente, e para a tua memória, eis
alguns lemas que nos ajudaram na concretização
deste projeto. Iniciado no âmbito da celebração do
centenário da morte dos santos Arnaldo Janssen e
José Freinademetz, o VerbumJovem acompanhou os
jovens do seguinte modo:
2008: Santa Catarina: Preciosa é a vida dada à missão.
2009: Lisboa/Prior Velho: Para mim, viver é Cristo.
2010: Tortosendo: Por que procuras?
2011: Lisboa/Prior Velho: Vai e faz o mesmo.
2012: Lisboa/Odivelas: Unidos para dar.
2013: Santa Catarina: Sei em quem acreditei.
2014: Guimarães/S. Torcato: Atende, é para ti.
2015: Nisa: Foi a mim que o fizeste.
2016: Minde: Misericordiosos como o Pai.
Caro amigo, neste percurso contigo, interessava-me
a tua amizade. Como S. Paulo na carta a Timóteo
(4,6-8), deixei a missão que me foi confiada para
que continuasses. Sabes que não me cansava de te
pedir que seguisses Cristo, estivesses com Ele, continuasses a missão. No meio de tudo isto, continua
a ajudar, a partilhar e a acariciar como Cristo que te
emprestou os seus pés para correres ao encontro de
tantos, as suas mãos para servires os que te esperam,
os seus lábios para beijar os que muitos excluíram,
a sua língua para dares uma palavra de esperança
aos pobres e oprimidos, anunciares e denunciares a
mentira e opressões, o seu rosto para sorrires a cada
pessoa levando a mensagem de alegria e otimismo,
o seu coração para continuares a fazer o bem e amar
a todos. Acompanhado pelos missionários e missionárias, adquiriste tudo isto para tornares visível a
presença de Cristo no mundo de hoje. Sê confiante
em Deus e em ti, coragem e audácia para arriscar
na vida. Felicidades e bem-hajas pela tua amizade. •
«Vivemos atualmente uma
grande revolução que, pela
primeira vez, nos transporta
para uma era da leveza. O
culto da magreza triunfa; a
prática de desportos em que
se desliza cresce cada vez
mais. O mundo virtual está
a mudar as nossas vidas. A
cultura dos meios de comunicação, a arte, o design e a
arquitetura também expressam o culto contemporâneo
da leveza, promovendo a ideia
da suspensão. A leveza invadiu os nossos hábitos mais
comuns remodelando-nos a
imaginação e tornando-se um
valor, um ideal, um grande
imperativo. Nunca tivemos
tantas oportunidades de viver
levemente, porém, o peso da
vida diária parece cada vez
mais difícil de suportar.»
Como o paradigma da leveza está a mudar as nossas
vidas…
A revolução da leveza continua a avançar…mas não nos
tornou mais felizes;
Deslizamos na flutuação social… mas continuamos a
tentar esmagar os outros;
Esvoaçamos de uma ideia
para outra… mas não queremos aprofundar nenhuma;
Apresentamos o “leve” como
um emblema… mas carregamos os outros de ideias
morais e políticas;
Preconizamos uma relação
agradável com o tempo…
mas andamos cada vez mais
impacientes;
Afirmamos o «culto do menos»… mas o desperdício
fala por si;
Um livro a não perder…
porque aligeirar sim… esvaziar não! •
9
10
QUE É
OPINIÃO
ONDE ESTÁ DEUS?
JORGE FERNANDES
jfernandes1875@gmail.com
A pergunta é tão velha como a humanidade. E as respostas vão do “não
está em parte nenhuma” até ao “está
em toda a parte” dos nossos Catecismos. É a grande interrogação que
acompanha a vida dos místicos na sua
“noite dos sentidos”, à qual o próprio
Jesus, na hora de trevas no alto do
Calvário, não escapou. O dominicano
Jacques Loew, que trabalhou como
padre-operário, acabou por ter que
confrontar-se também com este mistério. Numa sua publicação, destinada
ao mundo do trabalho, aparece a foto
de um menino cego e, por cima da
mesma, a palavra de Paulo: “Deus
quis que O procurássemos às apalpadelas”. As dificuldades vividas pelo
P. Loew foram enormes e eu creio que
só assim, com os pés descalços, nos
podemos avizinhar ao Mistério e tentar
gaguejar alguma palavra.
Nestes dias a questão da presença
ou da ausência de Deus voltou a colocar-se perante o drama que se está
a viver na região de Amatrice, depois
do terrível terramoto de 24 de agosto.
Não resisto a contar, brevemente, a
história de Gabriel, um menino de 8
anos. Com a família e uma irmã de 10
anos, deslocara-se à casa dos avós
em Amatrice para uns dias de férias.
Os pais e a irmã ficaram debaixo
dos escombros naquela madrugada
terrível de 24 de agosto. O avô foi
buscá-lo e trouxe Gabriel para Roma.
O pequeno ainda hoje não sabe
que a família desapareceu. Como
encontrar palavras para lhe relatar
o sucedido? Como pode um menino
de 8 anos entender a tragédia que se
abateu sobre ele? Onde está o Deus
Criador e Pai nesta hora de tanto
sofrimento para ele e para tantos
inocentes mortos no terramoto?
Nestes dias recordo uma oração da
tradição dos hasidim. Estes Judeus
piedosos (que têm uma milenar tradição e existem ainda hoje) são dos
Só com os pés descalços
nos podemos avizinhar
ao Mistério e tentar
gaguejar alguma palavra.
mais zelosos no seguimento da Lei
Mosaica e prometem segui-la mesmo quando isso exigir o sacrifício da
própria vida. É de um deles a oração
que transcrevo de seguida. Antes devo
dizer que a mesma terá sido composta
por um condenado aos fornos crematórios de Auschwitz. No meio daquele
horror, absolutamente inexplicável, ele
rezava assim: “Deus de Israel, fizeste
o possível para que eu não acreditasse
em Ti. É possível que tenhas pensado
que irias conseguir esse objectivo e
desviar-me do meu caminho. Mas eu
digo-te, meu Deus e Deus dos meus
antepassados, não vais consegui-lo.
Podes castigar-me, tirar-me tudo o
que de mais precioso tenho sobre a
Terra, podes atormentar-me perante a
perspetiva da morte, mas eu acreditarei sempre em Ti. Amar-Te-ei sempre.
Morro como sempre vivi, acreditando
firmemente em Ti”.
Creio sinceramente que uma tal oração não altera o drama vivido em Amatrice. Os sonhos ali enterrados não se
vão poder realizar. Agora trata-se de
reconstruir vidas e histórias profundamente feridas. E aquela gente quer um
futuro e tem direito a ver reconstruídas
as casas onde viveram, amaram e
sonharam. No entanto, parece-me
que uma tal oração é um raio de luz a
apontar caminhos. É o grito na noite de
quem sabe adorar e entregar-se, como
Jesus, nas mãos do Deus Vivo. Esta é
a nossa maior dificuldade: queremos
entender tudo, pretendemos um deus
à nossa medida, não deixamos Deus
ser Deus, não sabemos guardar um
respeitoso silêncio perante o Mistério
da Vida e da morte.
O conhecido realizador Ingmar Bergman costumava dizer que os padres
falam demais e que Deus se cala.
Talvez a verdade seja outra: Deus
fala, mas nós não O ouvimos. E
começamos a fabricar imagens do
Mistério à medida do nosso cérebro.
Se a coisa não funciona, cai-se numa
ilusão atrás da outra até que o desânimo nos bate à porta. A sabedoria
da Índia fala dos mergulhadores de
pérolas, que procuram essa riqueza
em águas profundas. Alguns deles
chegam a fazer 150 mergulhos sem
encontrarem nada. E se não encontram nenhuma pérola? O mais importante é não concluir apressadamente
que no mar não existem pérolas. •
TENSÕES E DESAFIOS NO CUIDADO DOS IDOSOS
DOMINGOS SOUSA
d.sousa1@hotmail.com
Não há outro Remédio senão Abandonar os Pais. Dispensa-se cuidados, funeral e herança.
Este é o título bombástico de um livro
recentemente publicado no Japão.
No livro o autor pergunta-se: “será
que os filhos devem dar prioridade
ao cuidado dos pais, sacrificando as
suas vidas e atividade profissional?”
Declara, ademais, que como cada
ser humano morre só, a morte solitária não é necessariamente má.
Mais recentemente, o desaforado
ministro das finanças, num discurso
dirigido a apoiantes partidários,
refere que ao ver uma pessoa de 90
anos na televisão mostrando-se preocupada pelo futuro, não pôde deixar
de perguntar-se: “quanto tempo
mais tencionas viver?”. Já anteriormente havia apelado às pessoas
idosas para se apressarem a morrer
a fim de aliviar o estado dos elevados
custos médicos. A linguagem desbragada destas afirmações revela
o mal-estar social perante a magnitude dos desafios, que o crescente
envelhecimento da população coloca
ao Japão.
O Japão está a envelhecer a um
ritmo sem precedentes. O número
de pessoas acima dos 65 anos
representa aproximadamente um
quarto da população. Acima dos 75
anos um sexto. A esperança média
de vida é de 84 anos. A mais elevada
do mundo. O número de pessoas
com 100 ou mais anos alcançou
o número recorde de 61.568. Mas
paralelamente à longevidade, de
A sabedoria do passado
parece revelar-se
insuficiente para
responder à magnitude
dos desafios do presente.
uma população de 127 milhões, 4.6
milhões padece de demência.
Os problemas associados ao cuidado de idosos ganham contornos
alarmantes. Em 2015 foram dadas
como desaparecidas mais de 12
mil pessoas com demência. Embora 98% dessas pessoas tenham
sido localizadas dentro de uma semana, algumas centenas acabaram
por perecer em consequência de
acidentes. Dezenas de pessoas
permanecem desaparecidas. Nas
últimas décadas ocorreram mais
de 600 casos de homicídios contra
idosos. Grande parte deles cometi-
dos pelos próprios familiares em estado de exaustão física e emocional,
causada pela exigência da prestação
de cuidados continuados.
No passado a família japonesa foi a
principal fonte de apoio às pessoas
idosas. Sob a influência da ética da
piedade filial confucionista, amparar
os pais na velhice era um dever
indiscutível. Ao filho mais velho incumbia a responsabilidade de cuidar
dos pais idosos em troca do direito
a receber a herança familiar. Recorrer a instituições para o cuidado dos
pais, significava negligência familiar
e menosprezo do dever da piedade
filial. Porém, a erosão dos valores
tradicionais da família trouxe consigo
um decréscimo drástico no número
de pessoas idosas a serem cuidadas
no seio da família. Enquanto em
1980 53% de pessoas com mais de
65 anos vivia junto com os filhos, em
2010 apenas 18% o faz.
Confúcio dizia: “Quando teus pais
estão vivos, serve-os de acordo
com o ritual. Quando eles morrem,
enterra-os de acordo com o ritual,
oferece-lhes sacrifícios de acordo
com o ritual”. Durante muito tempo
supôs-se que a ética da piedade
filial, arraigada na tradição familiar,
iria por si só resolver os problemas
do envelhecimento da população.
A sabedoria do passado, porém,
parece revelar-se insuficiente para
responder à magnitude dos desafios
do presente. •
FEITO DE TI
JAIME PAIVA DA ROSA
Entrei no seminário SVD
tendo feito
o 1º ano no
Tortosendo,
o 2º em Guimarães e, em
Fátima do 3º
ao 7º, inclusive. Fátima, onde
além do estudo havia o coro do
Padre Max, onde era solista, as
missas polifónicas, o futebol,
as flautas (Padre Kondor) e o
teatro, destacando o FAUSTO,
que o Padre Carlos Diederichs
encenou. Nesta peça fiz o papel do protagonista, e houve
várias representações dentro e
fora do seminário, sempre com
grande assistência.
Saí após completar o 7º ano. O
P. Carlos disse-me que podia sair
em paz, porque no dizer do bispo
de Leiria, D. João Venâncio, que
assistiu ao teatro FAUSTO (que
vendeu a alma ao diabo), com
a minha representação já tinha
convertido mais almas do que
muitos padres, situação verificada
nos confessionários da diocese.
Trabalhei nos Serviços Florestais
e Agrícolas. Em 1962 ingressei na
Repartição de Finanças da Covilhã. No mesmo ano fiz o Curso
de Oficiais Milicianos em Mafra.
Ingressei na Força Aérea desempenhando o cargo de tesoureiro
do Comando da 1ª Região Aérea.
Em 1964 tirei a especialidade de
Polícia Aérea. Com um pelotão de
polícia aérea assegurei a defesa
do Aeródromo Manobra 1 (Base
da Nato) entre Ovar e Espinho.
Um ano depois comandei a Polícia Aérea da Base Aérea 5 em
Monte Real. Em 1966 rumei a Bissau para comandar, como Tenente uma companhia de Polícia
Aérea na Base Aérea 12. Em 1968
voltei a Monte Real para comandar a Formação e Polícia Aérea.
Em janeiro de 1970 terminei o
serviço militar, e entrei na Direção-Geral das Alfândegas. Desempenhei serviços técnicos na
Alfândega de Lisboa, fronteiras,
e Aeroporto de Lisboa.
Reformei-me em 1994. Vou-me
entretendo com a jardinagem
e mini agricultura na casa que
construí e habito em Corroios,
com saídas à casa de Manteigas
ou apartamento em Quarteira.
Valeu a pena ter feito tantos
amigos verbitas e mantido a
vossa amizade.
Abraço para todos. •
António Pinto ( responsável por esta coluna)
setembro | outubro 2016
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ATUALIDADE
TORTOSENDO À ESPERA DOS ANTIGOS
ALUNOS SVD
ANTÓNIO PINTO
Semana missionária em Almodôvar
O Grupo Diálogos levou a cabo, de 20 a 28 de agosto, um projeto de
voluntariado bem diferente daqueles que habitualmente realiza no verão. Na mesma linha de orientação que o grupo tem seguido, isto é, ir
ao encontro daqueles que a sociedade coloca de lado ou esquece, a
região de Almodôvar acolheu um grupo de voluntários para uma semana
missionária. Neste sentido, visitaram e animaram lares de terceira idade e, acompanhados por elementos da Guarda Nacional Republicana,
visitaram as populações mais isoladas nos “montes”. Alguns jovens e
adultos de Almodôvar, assim como os párocos, participaram no projeto.
Retiro anual em Dueñas
O retiro anual das duas Províncias svd de Portugal e Espanha teve lugar em Dueñas, de 29 de agosto a 3 de setembro. Sob a orientação do
P. Renato Gnatta e da Ir. Lídia Kunze, da equipa do Centro de Espiritualidade Arnaldo Janssen, em Steyl, este exercício espiritual contou com
um número recorde de 75 participantes, entre eles duas irmãs SSpS.
Aproveitando a deslocação de muitos beirões à terra natal pelos Santos e
Finados, a Comissão Organizadora promove mais um evento para reunir os
antigos alunos no Seminário do Verbo Divino, de Tortosendo, a realizar no
último sábado de outubro, dia 29. Reserva a data na tua agenda!
Programa:
10h00 – Concentração no átrio de entrada
11h30 – Ensaio de cânticos litúrgicos
12h00 – Missa na Capela
12h50 – Foto de grupo
13h00 – Almoço
14h30 – Convívio musical com vários artistas da casa
17h00 – Magusto e lanche
19h00 – Despedida
Comissão Organizadora: Adriano Mendes, Daniel Filipe, Emílio Barroso,
Ismael Reis, Joaquim Brázia, José Alberto “Trigais” e José Henriques.
Inscrições para: Emílio Barroso 962 879 278 – milo.barroso@hotmail.com
INTENÇÕES MISSIONÁRIAS
Outubro
Para que a Jornada Missionária Mundial renove em todas as
comunidades cristãs a alegria e a responsabilidade de anunciar
o Evangelho.
Novembro
Para que, nas paróquias, os sacerdotes e os leigos colaborem
no serviço à comunidade sem ceder à tentação do desânimo.
EM AGENDA
7-9 outubro
Verbum Jovem, Minde
17-22 outubro
Assembleia de Provinciais SVD/Europa, Fátima
23 outubro
Dia Mundial das Missões
8-11 novembro
Assembleia dos Institutos Missionários Ad Gentes, Almada
14-15 novembro Assembleia dos Superiores dos Institutos Religiosos, Fátima
foto: Mission World
MANEIRA DE COLABORAR COM A MISSÃO
Também você poderá ajudar os
missionários, enviando pedidos
de intenções de missas e trintários
gregorianos. Desta maneira estará
a contribuir para a subsistência
dos missionários. Bem haja!
Secretariado Missionário do Verbo Divino
Ap. 2 - 2496-908 Fátima
Telefone: 249 534 116
Missão no Sudão do Sul
Desde o dia 3 de agosto que os nossos cinco missionários verbitas
a trabalharem na missão do Sudão do Sul se encontram no Quénia,
aguardando a definição do futuro da mesma. Estes missionários tiveram
que sair daquele território africano depois de passarem por momentos
dramáticos de uma guerra iminente naquela missão.
Visita especial a Toronto, Canadá
Pela primeira vez, na arquidiocese de Toronto, Canadá, vai acontecer
a visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, de 5 a 14
de outubro.
O P. André Grecki, missionário do Verbo Divino a trabalhar naquela arquidiocese, encontra-se verdadeiramente empenhado nesta visita especial.
Primeira missa do primeiro padre mongol
A Catedral dos Santos Pedro e Paulo, em Ulaanbaatar, Mongólia, foi
testemunha da primeira missa do primeiro sacerdote nativo da Mongólia. O P. Joseph Enkh foi ordenado sacerdote no dia 28 de agosto e
celebrou a sua “missa nova” no dia seguinte. Durante a homilia afirmou
que o “eis-me aqui” (Isaías 6) foi uma passagem decisiva na sua vida.
Uma agenda feita a
pensar em ti.
Uma companhia
alegre para todos os
dias do ano.
Agenda Jovem - 2€
Uma companhia
interessante... uma
janela aberta para a
Missão.
Calendário
Missionário - 0,70€
Missionários do Verbo Divino - Ap. 2 - 2496-908 FÁTIMA
Tel: 249 534 116 - Fax: 249 534 117
proc.missoes.fatima@verbodivino.pt - www.verbodivino.pt
NOVAS ASSINATURAS 2016
Porque queremos servir melhor a Missão...
Ajude-nos com o envio de novas assinaturas.
Nome: _______________________________________________
Morada: _____________________________________________
Código Postal: ______ - _____ _________________________
Data nascimento: _____ /_____ /______
________________
__________________________________ (Assinatura 3€)
Missionários do Verbo Divino * Apartado 2 * 2496-908 FÁTIMA
249 534 116 *
proc.missoes.fatima@verbodivino.pt
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Vidas que falam
PARADOS NÃO FAZEMOS MAL… MAS TAMBÉM NÃO FAZEMOS BEM
FOTOS DIÁLOGOS
Almodôvar e Viseu foram espaços onde mãos e
olhares se cruzaram, onde aconteceu voluntariado
organizado pelo Grupo Diálogos.
Francisco Batista
A frescura do olhar
De 8 a 20 de agosto decorreu um projeto de voluntariado em Almodôvar.
Criar proximidade com as pessoas
idosas que vivem sozinhas e isoladas
foi o principal desafio.
As atividades foram muito enriquecedoras. As pessoas que íamos visitar
contavam-nos histórias da sua vida
e gostavam de falar connosco. Foi
excelente para mim regressar a Almodôvar e reencontrar as pessoas, pois
atualmente vivo em Leiria, mas durante 13 anos vivi na vila de Almodôvar.
O grupo de voluntários, apesar de
pequeno, conseguiu criar profundos
laços de amizade. Ao longo do projeto, nas atividades desenvolvidas ao
longo do dia, sempre pudemos contar
com a participação de alguns jovens
da catequese.
frescura do olhar das pessoas com
quem tivemos o privilégio de estar.
Dar continuidade a este projeto, pelo
bem que me fez, é o grande desafio
que deixo ao Grupo Diálogos!
Eu sou uma missão
nesta terra
Penso que esta envolvência deixou
marcas que podem fazer a diferença
no dia-a-dia daquelas pessoas. É
tempo de dizermos não à indiferença
ou de pensarmos que tudo gira à nossa volta. Pelo contacto que tivemos
com os jovens que nos acompanharam sentimos que eles desconheciam
a realidade daqueles idosos! Fomos
abrir caminhos… agora é dar continuidade. Fazer a diferença, não para
ser notícia, mas porque nos sentimos
comprometidos com os outros.
«Parados não fazemos mal… mas
também não fazemos bem» (Papa
Francisco). Isto nos fez andar…
desbravar caminhos…parar para
escutar quem vive apenas com a sua
própria companhia! O calor intenso
daqueles dias… foi amenizado pela
A Missão leva-nos onde a Palavra
de Deus é necessária. Assim, um
grupo de voluntários, através do
Grupo Diálogos, rumou até Almodôvar para realizar a sua primeira
semana missionária.
O acolhimento foi fantástico, com
pessoas muito atenciosas, sempre
prontas a ajudar, comida sempre na
mesa e os melhores sorrisos que
qualquer missionário pode receber.
Cada um deu um pouco de si a esta
Missão e isso resultou numa semana
de alegria e aprendizagem.
Percorremos montes alentejanos,
perdidos na solidão dos campos,
onde apenas vivia um número reduzido de pessoas com os seus animais
de estimação e o som do vento como
companhia. Sempre acompanhados
por elementos da GNR, verdadeiros missionários, fomos visitar as
pessoas que vivem mais isoladas,
no meio dos montes! As pessoas
alegravam-se com a nossa chegada
e recebiam-nos em suas casas de um
modo muito familiar.
O Centro Social e Paroquial de Santa-Clara-A-Nova mostrou-nos uma realidade muito semelhante àquela que
encontramos nos montes: pessoas
idosas carentes de carinho, apoio e
companhia. Devemos enaltecer o trabalho das funcionárias deste Centro
que sempre nos acompanharam e por
quem os idosos sentem um enorme
respeito e amizade.
Os dias passaram rapidamente e
“terminou” a nossa Missão! Ficou o
desafio da GNR de que este trabalho
tenha continuidade, com residentes
em Almodôvar, principalmente pelos
jovens. A Missão nunca acaba pois
«Eu sou uma missão nesta terra, e
para isso estou neste mundo.»
Tiago Botelho
Não sou religioso… mas hoje vi Deus
“Cada ser é único e maior que o
mundo” e nos merece tudo!
O voluntariado no Centro de Multideficiência Santo Estevão, em
Viseu, de 5 a 14 de agosto, foi uma
experiência e uma vivência que
nunca esquecerei. Ficou gravada
no coração e na alma!
Entende-se as fragilidades físicas,
as debilidades cognitivas… mas
eu senti seres humanos íntegros,
sem disfarces, almas puras!
Publicação bimestral de formação e informação missionária
Os sorrisos que nos dirigiam, os
abraços partilhados, o repousar
as suas mãos nas nossas, estar
na sua presença… e com eles,
sente-se uma atmosfera de alegria
e conforto imensurável de identificação, compaixão, misericórdia!
Quanto amor ali se sente na interação, na partilha, na sinergia criada
entre seres humanos mais capazes que cuidam e seres humanos
mais frágeis que retribuem esses
cuidados com a alma!
São frutos divinos que alimentam
o nosso espírito.
É percetível a harmonia, como um
só corpo ou organismo que funciona
bem com tantas assimetrias e
fragilidades palpáveis! A simbiose
perfeita feita de amor e dedicação
aos mais debilitados!
O ser humano é grandioso quando
se dedica de coração a ser o outro,
a ver-se no outro. Sentir a unidade
que somos!
Cada missão é única e sempre
concluímos:
Nós levamos uma gota e recebemos um oceano de amor!
Levantar do chão, cuidar de
quem, sem o nosso apoio, não
sobreviveria… reconforta e enriquece porque chegamos à plenitude da espiritualidade!
Um companheiro italiano com
quem partilhei outra missão, no
mesmo contexto, no momento da
despedida disse-me: Não sou religioso…mas hoje vi Deus!
Propriedade: Seminário Missionário do Verbo Divino (www.verbodivino.pt)
Redação e Administração: Apartado 2 - 2496-908 FÁTIMA - Tel. 249532163 - Fax 249534117
Diretor: António Augusto Lopes Leite – E-mail: contacto.svd@verbodivino.pt
Redatores: José Amaro, Joaquim D. Luís, José Jerónimo e Feliciano Sila
Composição: Brigite Martins Impressão: Gráfica Almondina - Torres Novas
Depósito legal: nº 55413/92 - Registo ICS: nº 124514
Tiragem: 4.000 exemplares Assinatura anual: 3,00 € (IVA incluído) - IBAN: PT50 0010 0000 0251 9710 0017 8
Sérgio Bastos
Associação
de Imprensa
Missionária
Associação
de Imprensa de
Inspiração Cristã