Em busca da infância perdida em Manhattan

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Em busca da infância perdida em Manhattan
Sexta-feira
16 Julho 2010
EMMANUEL BASTIEN ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 7407 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE
www.ipsilon.pt
Joshua e Ben Safdie
Em busca da infância perdida em Manhattan
““Vão-me buscar alecrim”, filme de catarse e fantasia
Prince Pet Shop Boys Roman Polanski Daniel Blaufuks Andrés Neuman
Joshua e Ben Safdie
Em busca da sua infância
perdida
6
Roman Polanski
12
O realizador-fantasma e o seu
novo filme
Coimbra
14
Será esta uma cidade fora do
mapa cultural?
Daniel Blaufuks
18
“Terezín”, um livro sob
influência de W. G. Sebald
Jeremy Xido
26
Na performance dele, Angola
é um mundo novo
Prince
28
O mais esperado do Festival
Super Bock Super Rock
ck
Tigrala
36
A nova banda de Norberto
berto
Lobo é um trio de xamãs
mãs
Ficha Técnica
Directora Bárbara Reis
Editor Vasco Câmara, Inêss Nadais
(adjunta)
Conselho editorial Isabel
Coutinho, Óscar Faria, Cristina
stina
Fernandes, Vítor Belanciano
no
Design Mark Porter, Simon
n
Esterson, Kuchar Swara
Directora de arte Sónia
Matos
Designers Ana Carvalho,
Carla Noronha, Mariana
Soares
Editor de fotografia Miguel
el
Madeira
E-mail: ipsilon@publico.pt
A festa de B
Fachada chega em
“download” gratuito
O EP, numa edição em vinil, só
chega em Agosto, mas B Fachada
não quer perder tempo. Quer que a
palavra se espalhe, computador a
computador, ficheiro partilhado a
ficheiro partilhado. Saiba-se então
que o novo disco de B Fachada, “Há
Festa na Moradia”, está disponível
para “download” gratuito no “site”
da sua editora, www.mbarimusica.
com.
Assim, quando chegar a edição
física, já o povo e os “hipsters”, os
fãs e os curiosos conhecerão as sete
canções do disco que sucede ao
celebrado álbum homónimo que o
cantautor lançou em Dezembro do
ano passado. E se esse era álbum de
folhas caídas, de amores,
desamores e melancolias para fruir
no Inverno, “Há Festa na Moradia”
é necessariamente diferente – ou
não lhe chamasse o seu autor “disco
de Verão”, mantendo a alternância
de estações que vêm marcando a
sua actividade discográfica.
“Fim-de-Semana no Pónei
Dourado” foi o disco do Verão de
2009, “B Fachada (O Disco)” o do
Inverno do mesmo ano e “Há Festa
na Moradia” apanha-nos com 40
graus à sombra (ou perto disso).
Efusivo e saltitão, ou em descanso
dengoso à beira da piscina, cruza
animação Variações com vago
requebro africano, homenageia
Sérgio Godinho com versos bemhumorados e, numa canção cujo
título, “Memórias de Paco Forcado,
vol.1”, garante desde logo um par
de audições, apresenta-nos uma
personagem que se passeia pela
boémia lisboeta com um único
desejo em mente: “Eu vou ser o
puto Abrantes / Eu vou ser o Panda
Bear / Entrar onde eu quiser /
Entrar onde eu
quiser.” Não há
dúvida. B
Fachada está
de volta. A
marca não
engana.
DANIEL ROCHA
Flash
Sumário
“The unnamed word #4”, de 2008, é uma das duas obras
que Pedro Cabrita Reis leva à exposição inspirada em Al Berto
Em vinil, o novo disco de B
Fachada só chega em Agosto
Perto do
coração
das
imagens
A frase é dele e não deixa
muito espaço a mais nada:
“Sinto-me como se tivesse
cegado por excesso de olhar
o mundo.” Al Berto
manteve até ao fim – um fim
que chegou depressa (19481997) – uma relação
privilegiada com a imagem.
“Ele olhava com muita
atenção para tudo, olhava
bem”, diz João Pinharanda,
o crítico de arte e
comissário da exposição “A
Secreta Vida das Palavras”,
que hoje é inaugurada no
Centro Cultural Emmerico
Nunes e no Centro de Artes
de Sines.
Essa aproximação do poeta
português à representação
visual do mundo é o ponto
de referência desta
exposição que vai buscar o
título a um dos livros de Al
Berto, “A Secreta Vida das
Imagens” (1991). É neste
volume que o autor, que
começou por frequentar
cursos de artes plásticas em
Portugal e na Bélgica,
passeia pelo universo de
grandes nomes da história
da arte, de
desde Fra Angélico
a Joseph B
Beyus, passando
por Cézan
Cézanne, Van Gogh e
Chagall, m
mas também por
Cesariny, Rui Chafes, Pedro
Sarmento e
Capalez, Julião
Ju
Pedro Cab
Cabrita Reis.
São precis
precisamente alguns
destes artistas
p
portugueses que
JJoão Pinharanda
fez questão de
rreunir na
exp
exposição de Sines, a
primeira a juntar os
prim
centros culturais da
dois centr
cidade. Tu
Tudo começou
numa con
conversa com Cabrita
Pinharanda,
Reis, diz P
explicand
explicando como foram
surgindo o
os nomes dos
artistas
a integrar: “Os
consagrados estavam
escolhidos à partida por
serem citados no livro,
tirando o Cesariny e o
Dacosta, que não quis
incluir por já terem
morrido. Os mais novos
pareceram-nos
interessantes em diálogo
com os ‘clássicos’.”
Do grupo dos “mais novos”
fazem parte Edgar Massul,
Fernando Mesquita, João
Ferro Martins, Nuno Cera,
Pedro Diniz Reis e Sara
Santos, entre outros. O dos
“clássicos” conta ainda com
José Pedro Croft, Pedro
Casqueiro, António Correia,
Ilda David ou Rui Sanches.
Enquanto os jovens artistas
criaram a partir de duas
breves residências na cidade
e arredores, visitando os
lugares de Al Berto que nos
habituámos a reconhecer na
sua poesia, os consagrados
irão apresentar, na sua
maioria, obras que já foram
expostas. A única excepção
é José Pedro Croft, que
mostrará uma série de
gravuras inéditas. Chafes,
por exemplo, levará à
exposição um conjunto de
13 bancos de ferro que
imitam os das galerias dos
museus; Calapez participa
Al Berto
com uma
g
d pintura
i t
grande
fragmentada e Cabrita Reis
com duas obras: uma
grande cruz em ferro e uma
torre de três metros de
altura, em alumínio
brilhante.
Entre os mais novos a
diversidade de suportes é
mais vasta: João Ferro
Martins faz-se representar
através de uma
“performance” musical que
se transformará em
instalação; Nuno Cera e
Rodrigo Tavares Peixoto
mostram fotografia;
Rodrigo Oliveira expõe sete
painéis com materiais da
região e informação
recolhida no Arquivo
Distrital de Setúbal; Vasco
Costa opta pela instalação
(não há como enganar, é a
única com carvão); Sara
Santos passa um vídeo.
Jogando sempre na
ambiguidade entre a poesia
e a prosa, entre o real e o
imaginário, Al Berto foi
construindo um universo
paralelo que agora paira
sobre “A Secreta Vida das
Palavras”. João Pinharanda,
que conheceu Al Berto
quando tinha apenas 11 anos
e se tornou mais tarde seu
amigo, não tem dúvidas em
afirmar que não se trata de
uma exposição ilustrativa,
mas de uma evocação da
importância da imagem. “A
exposição tem este título,
porque funciona como um
espelho do livro, como se
procurasse uma solução
inversa à da poesia de Al
Berto.” “A Secreta Vida das
Palavras” termina a 25 de
Setembro. Lucinda Canelas
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 3
Flash
Música
Alex Turner, o líder da
banda Arctic Monkeys,
compôs várias canções
para o filme inglês “The
Submarine”, as quais
serão misturadas por
James Ford do grupo
Simian Mobile Disco.
O filme, dirigido pelo
actor Richard Ayoade,
vai estrear apenas no
4 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
A arte pop de
Murakami chega ao
Palácio de Versalhes
É um dos artistas contemporâneos
mais cotados no mundo,
comparado a Jeff Koons, pelo
“kitsch” e colorido ao estilo banda
desenhada das suas obras, mas
ainda pela legião de fãs (e também
de críticos) que ambos arrastam em
todo o mundo, e pela presença
assídua nos museus mais
importantes. Depois da
retrospectiva do ano passado no
Museu Guggenheim de Bilbau, e de
Paul Newman
fotografado por
Hopper em 1964
outras exposições no Metropolitan
Museum of Art de Tóquio ou no
Museum of Fine Arts de Boston, o
artista japonês Takashi Murakami
vai expor, a partir de 14 de
Setembro, nos salões nobres e nos
sumptuosos jardins do Palácio de
Versalhes, em França, que em 2008
programou uma exposição de Jeff
Koons.
“Jeff Koons é um génio, eu sou
simplesmente divertido”, disse
Murakami ao jornal espanhol
“ABC”, um pouco no mesmo tom
com que no ano passado dizia ao
“El País”: “Não sou um artista
global. Sou japonês.”
As suas esculturas minimalistas, os
quadros de cores garridas e traço
negro, os seus balões insufláveis
gigantes, os relógios, almofadas e
outros objectos em série, a sua arte
atenta e desafiadora – como resume
a pequena biografia do artista
apresentada no “site” do Palácio de
Versalhes – chega a todo o lado, mas
É uma espécie de testamento
a verdade é que, insiste, é a sua
artístico de Dennis Hopper –
condição de não-ocidental que lhe
mês e meio após a sua morte, o
molda o olhar sobre o mundo.
Museu de Arte Contemporânea
E isso estará reflectido na forma
de Los Angeles inaugurou no
como se deixou inspirar pela
passado dia 11 a exposição
residência real mandada construir
Dennis Hopper Double
por Luís XIV. “Para um japonês
Standard. Trata-se da primeira
como eu, o Palácio de Versalhes é
retrospectiva do trabalho do
um dos maiores símbolos da
realizador de “Easy
eve
Easy Rider”
história ocidental”, escreve
no campo das a
artes
ma de
Murakami. “É um emblema
plásticas realizada
por
ia, de
realiz
uma ambição de elegância,
um museu
m que a
sofisticação e de arte com
ode
americano,
maioria de nós apenas pode
salhes da
abarcando os seus
sonhar. (...) Talvez a Versalhes
60 anos de car
carreira
sponda a
minha imaginação corresponda
paralela ao
artística paral
uma visão exagerada e
“actividade
nha
sua “acti
transformada e que se tenha
oficial”
e
oficia de
tornado numa espécie de
actor
act e
mundo completamente à
e
realizador.
re
parte e irreal. Foi isso que
A
As obras
tentei retratar nesta
expostas
e
exposição. Sou como o
o
vão de
v
Gato Cheshire de ‘Alice no
um
m
u
País das Maravilhas’ com
quadro
o seu sorriso diabólico.
datado
(...) Com um largo
Dennis Hopper
de 1955
sorriso, convido-vos a
até
a
descobrirem o País das
peças
p
Maravilhas de
mais
m
Versalhes.” A exposição
recentes no
rece
pode ser vista até 12 de
Dezembro.
ETHAN MILLER/AFP
É assim desde há 64 anos, mais
anulação menos anulação (e foram
duas, em 1968 e 2003), e não há
razão para ser diferente. Teatro e
Verão conjugados significam,
sempre, Festival de Avignon. Às
vezes são opostos – o Sudeste
francês é abrasador, às vezes as
peças são tão polémicas que há
espectadores que fervem –, mas ano
após ano, durante um mês, afinamse as programações da temporada
seguinte, negoceiam-se temáticas e
estratégias, finge-se que o discurso
da arte pela arte pode existir sem
depender das condições em que é
produzido.
E, no entanto, ano após ano,
espectáculo após espectáculo, sala
cheia atrás de sala cheia, as filas de
espera fazem-se para os hotéis, as
lavandarias, os restaurantes, os
bilhetes, os debates e os mergulhos
na piscina, já que o rio sobre o qual
as meninas dançavam há muito que
está poluído (e a ponte nunca mais
foi reconstruída). E à noite (e por
vezes de tarde, e muitas vezes de
manhã) há teatro em cada esquina
– e não estamos a ser metafóricos.
Parece, e é, um festival de Verão,
ostensivo, polémico, polinsaturado,
criado por Jean Vilar com o
objectivo de rasgar a paisagem
cultural francesa e europeia, e hoje
dirigido por Hortense Archambault
e Vincent Baudriller. Este ano, até
27 de Julho, a poesia e a música
atravessam a programação, bem
como a vontade de “pensar o
colectivo” – afinal é nos anos de
maior crise que as liberalizações de
costumes se dão e, para mais, 2010
marca os 30 anos de uma política
estratégica para o sector cultural
em França. “As noções de público,
de serviço público e de bem público
estão na base desta programação”,
explicaram os seus directores em
conferência de imprensa em Maio.
E porque o teatro vive dessa
permanente insegurança de não
saber a quem se dirige, a
programação, definida em
colaboração com os artistas
associados – o encenador Christoph
Marthaler (de quem vimos “Winch
Only” na Gulbenkian, em 2007) e o
escritor Olivier Cadiot, inédito em
CORTESIA DE: THE ESTATE OF DENNIS HOPPER
Murakami vai invadir Versalhes
com a irreverência habitual
Portugal –,
“mergulha na
realidade” para
entender o presente. E fá-lo
misturando os ingredientes da
cultura popular perturbados pela
herança do passado, ocupando os
espaços nobres do festival, em
peças que são propostas de
intervenção sobre a própria
mecânica cénica, já que Marthaler e
Cadiot são defensores de um teatro
que só através da exposição do seu
artificialismo se pode sustentar – ou
seja, o real é algo inventado pelo
próprio real.
Quer isto dizer que nomes como
Faustin Lyniekula,
Massimo
Furlan, Angélica Liddell, Gisèle
Vienne, Pierre Rigal, Boris
Charmatz, Phillipe Quesne (que
vimos em Serralves, Maria Matos,
Citemor, Culturgest, Centro Cultural
de Belém) terão em Avignon o palco
aberto para uma exposição mais
precisa sobre o que ainda se pode
fazer a partir do interior da própria
máquina teatral. Tal como Alain
Platel, que apresentou “Gardenia”
no passado fim-de-semana, feito a
partir de depoimentos, e corpos, de
travestis, que na sua exposição
“trabalham na busca de um sentido
para o termo autêntico”
(“Gardenia” chega ao CCB em
Fevereiro).
A escolha de “artistas com
percursos e discursos difíceis de
descrever” responde a uma vontade
de pensar o próprio festival, esse
paquiderme da cena internacional,
tão difícil de ignorar como de viver
com ele. Tiago Bartolomeu Costa
é a primeira vez
qu estão juntos.
que
Ri
Richard
realizou
vi
videoclips para
ca
canções dos
M
Monkeys como
“F
“Fluorescent
ado
adolescent”,
“Crying
ligh
lightning” ou
“Cor
“Cornerstone”.
Uma retrospectiva
para Dennis Hopper
“Gardenia”, de Alain Platel, passa
por Lisboa a 18 e 19 de Fevereiro
O teatro e a
antropologia
o
próximo
ano. Foi
Ayoade
quem
ou
convidou
Turner
para
ar
trabalhar
da–
na banda–
sonora do
ão
filme. Não
campo da escultura e da
instalação multimédia, mas
praticamente sem material
anterior a 1961 (a maior parte
desaparecida num incêndio
desse ano que destruiu o seu
estúdio). Em vida, aliás,
Hopper fora um ávido
coleccionador de arte (foi o
actor Vincent Price quem lhe
passou o “bichinho”),
possuindo obras de artistas
como Andy Warhol, Roy
Lichtenstein ou Jean-Michel
Basquiat, para além de
publicar vários livros de
fotografias e realizar várias
exposições. Nunca, no entanto,
ao nível da abrangência da
exposição de Los Angeles,
comissariada por Julian
Schnabel e que estava já pronta
antes da morte de Hopper, a 29
de Maio, aos 74 anos. O título
da retrospectiva, patente até 26
de Setembro e reunindo mais
de 200 peças (muitas delas
cedidas pelo próprio Hopper),
vem de uma fotografia de 1961
onde se podem ver... dois
letreiros de uma estação de
serviço da Standard Oil. J.M.
APRESENTAÇÃO
AGENDA CULTURAL FNAC
entrada livre
entrada livre
LANÇAMENTO
PENSAR AMÁLIA/ AMÁLIA DOS POETAS
POPULARES AOS POETAS CULTIVADOS
Rui Vieira Nery & Vasco Graça Moura
Rui Vieira Nery e Vasco Graça Moura dão a conhecer os seus pensamentos e o olhar sobre os fados, a voz
e os poetas que Amália Rodrigues cantou.
20.07. 18H30 FNAC COLOMBO
23.07. 18H30 FNAC CHIADO
AO VIVO
JORGE FERRAZ TRIO
Humanos Abençoados e Outros Contos
Jorge Ferraz Trio apresenta ao vivo um espectáculo de música, poesia e imagem, em suma, a porta de
entrada para um mundo de GuitarTrónica e canções de adeus com ruídos, ritmos e imagens.
16.07. 18H30 FNAC CHIADO
17.07. 21H30 FNAC COLOMBO
AO VIVO
FILHO DA MÃE
Novos Talentos Fnac 2010
Numa mescla entre a guitarra portuguesa e a clássica, o novo trabalho deste artista de Lisboa já tem
um tema integrado na compilação Novos Talentos Fnac 2010.
18.07. 17H00 FNAC CASCAISHOPPING
23.07. 22H00 FNAC ALGARVESHOPPING
30.07. 22H00 FNAC LEIRIASHOPPING
AO VIVO
PINTO FERREIRA
Pinto Ferreira
Os Pinto Ferreira são responsáveis por canções que viajam por ambientes bipolares entre sentimentalismos
ingénuos, amores obsessivos e a estupidez humana.
23.07. 22H00 FNAC ALMADA
24.07. 17H00 FNAC COIMBRA
24.07. 22H00 FNAC LEIRIASHOPPING
EXPOSIÇÃO
A REVOLUÇÃO DE ABRIL NO OLHAR
DE CARLOS GIL
Fotografias de Carlos Gil
A Fnac, em parceria com a Fundação Mário Soares, expõe um conjunto de imagens que pretende recordar
um percurso deste país, desde o fim da ditadura até ao fim do sonho de uma revolução de esquerda.
21.07. - 21.09.2010 FNAC GAIASHOPPING
Consulte todos os eventos da Agenda Fnac,
assim como outros conteúdos culturais em http://cultura.fnac.pt
Apoio:
AO VIVO
LANÇAMENTO
EXPOSIÇÃO
Ponte
para a infância
de Josh e Ben Safdie
Capa
Dois irmãos, o caos na infância e a necessidade de catarse. Dois
cineastas, o filme do trauma e uma transbordante fantasia. Que
nos rapta. Uma das estreias do ano: “Vão-me buscar alecrim”/“Go
get some rosemary”. Em busca da infância perdida de Joshua e Ben
Safdie com a ponte Queensboro em fundo. Vasco Câmara (texto)
e Emmanuel Bastien (fotos) em Nova Iorque
Joshua e Ben Safdie fizeram a educação sexual na Queensboro Bridge com
o carro do pai imobilizado no trânsito e as bujardas de Howard Stern na
rádio. Os nova-iorquinos exasperavam com as filas no único acesso grátis a Manhattan e desenvolveram uma
relação de ódio com a ponte. Mas Paul
Simon, por exemplo, gostava e fez-lhe
uma serenata em andamento : é ouvir
“The 59th Street Bridge Song
(Feelin’Groovy)” do álbum “Parsley,
Sage, Rosemary and Thyme”, de Simon & Garfunkel, 1966. Joshua e Ben
passaram a infância ali. A entrarem e
saírem de Manhattan. Por baixo da
Queensboro, um Grand Canyon de
asfalto – a Primeira Avenida –, o East
River, Roosevelt Island e o subúrbio
onde eles viviam, Queens. Por cima,
um teleférico vermelho.
Joshua: “Todos aqueles cabos, e no
entanto um elemento de leveza. A
liberdade que aquelas pessoas que
vão no teleférico têm. Como uma espécie de fuga. Tudo parece pesado,
e no entanto quando o teleférico levanta...”.
Joshua e Ben perguntavam-se quando eram crianças: para onde iam
aquelas pessoas?
Passaram 15 anos, o teleférico já
não levanta – obras de remodelação
só voltam a pôr a funcionar o meio
de transporte para Roosevelt Island
em Setembro – mas os irmãos contemplam, numa manhã de Junho com
temperatura de Agosto, o cenário onde filmaram a sequência final da sua
longa-metragem “Vão-me buscar
alecrim”/“Go get some rosemary”.
6 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
Contemplam um pedaço da memória, e a verdade é que a sequência do
filme experimenta-se como uma epifania.
Quando embarcam no apelo “triunfante” daquela hipótese de fuga de
Manhattan, os Safdie estão a referir-se
a um momento no filme em que um
pai divorciado, Lenny, misto de mágico, aldrabão e disfuncional compulsivo (profissão: projeccionista), encontra finalmente um acordo no seu
tempo e no tempo dos seus dois filhos. Como se só a bordo do teleférico, no ar, afastado da terra, os conseguisse raptar ao caos que ele próprio
cria. É uma vitória mas também é
uma derrota.
Eles são Lenny (Ronald Bronstein)
e Sage e Frey (na vida real filhos de
Lee Ranaldo dos Sonic Youth) e estão,
obviamente, no lugar de Alberto, o
pai, e dos irmãos Joshua e Ben. Que
são também filhos de um casamento
que cedo acabou. O pai não era projeccionista mas filmou obsessivamente a infância dos filhos. Quando lhes
quis explicar o que tinha sido a vida
familiar, encurtou o discurso e deulhes como exemplo a batalha entre
Dustin Hoffman e Meryl Streep pela
posse do filho em “Kramer contra
Kramer”, o filme de Robert Benton.
E um dia depositou-lhes nas mãos as
centenas de horas de imagens deles.
Portanto, para Joshua e Ben, a vida
vive-se para ser documentada. Portanto o cinema tinha de ser o legado.
E tinha de ser biografia.
Sabem que são filhos do trauma. Há
anos que os amigos lhes dizem que a
sua infância dava um filme e que deviam fazê-lo. Esse pode ser um lugar-
comum, mas no caso deles ganha mesmo sinais de vida – cinematográfica.
Quando, em “Vão-me buscar alecrim”, filmam Lenny a pôr os filhos
“K.O.”, a dormir com comprimidos,
para os miúdos não se assustarem
com a sua ausência porque teve de
substituir um colega na cabine de projecção, Joshua e Ben até podiam esperar que os espectadores do filme
se dividissem. Mas não esperavam
reacções tão “politicamente correctas” de alguma imprensa americana
que os vê como vítimas de abuso.
Joshua: “Percebemos que aquela
cena podia ser um ponto de viragem,
mas estávamos sobretudo preocupados com o que aquilo significava para nós e não para a sociedade americana.”
Talvez pressentindo o pudor do
jornalista em explicitar a pergunta (“o
vosso pai drogava-vos com comprimidos?”), Joshua antecipa-se: “Aquela cena está no lugar de outros dramas
que nos aconteceram. Mas a verdade
dade
é que a relação das pessoas com a infância é culturalmente grosseira.. Pelo menos na sociedade americana.
a. As
excessivas precauções repugnam-me.
-me.
Interessa-me quando as crianças são
tratadas como outras pessoas.”
omo
Joshua e Ben não (se) olham como
vítimas. O que aprenderam com
m Alberto – e o que os filhos de Lenny provavelmente aprenderão com o pai
ai de
“Vão-me buscar alecrim”, embora
bora
nunca se vá saber como essa história
ória
vai acabar... – é que o caos e a disfunfunção podem ser uma explosão de fantasia. “Vão-me buscar alecrim”
m”
“Benny e eu
andávamos a precisar
disto, e a única forma
de fazermos a catarse
da nossa infância,
para sabermos
como foram os nossos
primeiros 11 anos
de vida, era ficcionála. Há uma razão
para os gregos terem
inventado o teatro”
Joshua Safdie
Josh e Ben Safdie na
Queensboro Bridge, uma ponte
para a memória da infância
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 7
8 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
Josh e Ben, crianças, com o pai
(à esquerda). Lenny, o pai de
“Vão-me buscar Alecrim”, e os
seus filhos
começa por parecer um estudo de
personagem e de cidade, tem momentos de “screwball comedy” crispada, mas é permeável pelo fantástico e pela ficção científica, como uma
energia intrusiva que corrói o edifício
por vários lados (há por lá um insecto gigante, como um urso polar se
cruzava no “road movie” de uma
cleptomaníaca em “The Pleasure of
Being Robbed”, obra a solo de Joshua,
de 2008).
É como um assalto. E quem é assaltado é o espectador, sem possibilidade de se acostumar a um registo, ficando ao sabor angustiante da desordem de Lenny. A necessitar de um
momento de descarga, a sequência
final no teleférico. O Ípsilon marcou
encontro com os Safdie no local do
crime, Rua 59, Manhattan. O momento em que uma ficção termina em
ascensão foi o início dos Safdie como
cineastas tal como os conhecemos
hoje, autores de longas, curtas e curtíssimas metragens.
Joshua: “Somos filhos desta personagem, que está dentro de nós. Este
filme foi a forma de entendermos
que há mais de uma década andamos a estudar o comportamento
dele. Mas também somos uma espécie de pai dele. O nosso pai tem hoje
50 anos mas não vamos ter com ele
para pedir conselhos. Ele é que vem
ter connosco para nos pedir conselhos. A minha mãe e o meu pai já
viram o filme. Ele umas oito vezes.
Ela, que não vive com ele já há uns
20 anos, não tem memória dele por
isso para todos os efeitos, o Lenny
do filme é a cara do meu pai. E claro,
acha que o filme é uma ‘carta de
ódio’ ao ex-marido. Ele, pelo contrário, acha que os seus defeitos são as
suas qualidades. O facto de cada um
ver o filme a partir da sua própria
realidade faz sentido para nós.”
O estudo da personagem continuará, porque a próxima longa que os
irmãos estão a escrever, “Uncut gems”, passa-se no mundo da indústria
da joalharia, “ali para a Rua 47”. A
escolha pode parecer uma guinada
depois de “Vão-me buscar alecrim”,
“Somos filhos desta
personagem, que
está dentro de nós.
Este filme foi a forma
de entendermos
que há mais de uma
década andamos
a estudar
o comportamento
dele”
Joshua Safdie
mas o cinema continua ancorado no
pai: os anos em que ele trabalhou no
mundo “obscuro” das jóias.
Joshua: “Benny e eu andávamos a
precisar disto, e a única forma de
fazermos a catarse da nossa infância, para sabermos como foram os
nossos primeiros 11 anos de vida, era
ficcioná-la. Há uma razão para os
gregos terem inventado o teatro. Recriar apenas a nossa infância não
tem interesse, é mais interessante
como a vivemos. Por isso, é como
quando contamos a alguém um sonho: temos que acrescentar sempre
um ponto para tornar a coisa mais
interessante.”
E os dois olham para os cartazes
que anunciam o novo teleférico remodelado que vai surgir em Setembro. Já não vai ser como antes.
Ben: “Este filme mostra pela última
vez o teleférico tal como era. Lá vão
outra vez dizer que ‘Vão-me buscar
alecrim’ é um filme de época.”
O teatro de uma cidade
Josh e Ben com os seus actores
(Ronald Bronstein e Sage e Frey
Ranaldo) na rodagem de uma
cena de “Vão-me buscar
alecrim”
É verdade que a pergunta surge insistente: em que época se passa “Vão-me
buscar alecrim”?. Há quem jure que
esta Nova Iorque suja só existiu assim
no cinema americano dos anos 70 e
que estas personagens, Lenny sobretudo, estão sob influência, como nos
filmes de John Cassavetes. Mencionase o nome e Joshua e Ben ameaçam
revirar os olhos. Dizem eles que antes
de se falar de Cassavetes tem que se
falar de “Ladrões de Bicicletas” de
Vittorio de Sica (1948) ou de “Bleak
Moments” de Mike Leigh (1971). Mas
se calhar nem se deve começar pelo
cinema.
Joshua: “Nunca a referência a filmes
foi um tema nas nossas conversas. E
na verdade não tínhamos visto nenhum filme de John Cassavetes antes
de fazermos este.”
Ben: “Não é verdade. Tínhamos visto ‘Uma Mulher sob Influência’. E
não te esqueças que tínhamos um
professor na universidade de Boston, Ray Carney, que escreveu um
livro sobre Cassavetes e sobre a natureza maníaca das personagens
dele. Essa natureza corresponde a
um certo modo de vida que tem a ver
com Lenny. Mas, se se reparar, Cassavetes estava demoradamente com
as suas personagens, até à exaustão,
e nós obrigamos o espectador a saltar de situação em situação, quase
que o frustrando.”
Joshua: “Sim, não é possível sintetizar as coisas no nome Cassavetes.
Se tem que se falar de filmes que estiveram antes deste, então temos de
falar de ‘Milestones’ de Robert Kramer [1975].”
O nome de Cassavetes pode parecer incontornável, mas novas visões
do filme mudam a forma de engavetar
“Vão-me buscar alecrim”. Isso e en-
trar em www.redbucketfilms.com, o
sítio em que os irmãos apresentam as
várias plataformas do trabalho da sua
produtora, Red Bucket Films, que
partilham com três amigos e colegas
da universidade de Boston. É uma
associação de gostos e impulsos individuais mas disponíveis para a solidariedade: quando um deles precisa,
os outros põem-se ao serviço do projecto alheio com a função que for necessária. E a experiência com a ficção
não se fica só pelos filmes, estende-se
aos livros, fanzines e ambiciona chegar ao museu, expondo os objectos
que vão coleccionando no seu périplo
pelas cidades – como Lisboa, por
exemplo, onde estiveram a apresentar o filme no IndieLisboa deste ano
e a receber o prémio principal do festival. O “twist” é que nesse mostruário de objectos, histórias e filmes, o
verdadeiro está misturado com o falso, o documental com o ficcional.
Mas entre-se em www.redbucketfilms.com, veja-se a série “Buttons”,
instantâneos, alguns só duram segundos, de Nova Iorque que Joshua e Ben
roubam à cidade com as suas câmaras
digitais. Ou então as curtas em que
Nova Iorque e arredores surgem
transfigurados, habitando um tempo
que não é imediatamente reconhecível, e entre o burlesco (a presença
“keatoniana” de Ben como actor) e o
onírico, levando o espectador a querer insistentemente datá-lo. Isto para
dizer que, afinal, é menos o cinema
e mais a relação com a cidade que
está na base daquilo que os Safdie fazem. Temos por isso que confessar
que esperávamos encontrar na Rua
59 dois rapazes a verem o mundo avidamente com as suas câmaras digitais, como se só elas provassem que
“aquilo” aconteceu, mas afinal quem
apareceu foram dois exemplares de
uma outra vertigem, proustiana, à
moda de Manhattan.
Joshua: “Se nos encontrasse há um
ano era assim que nos veria, mas
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 9
O cartaz que anuncia a paragem
e reactivação do acesso a
Roosevelt Island
depois começou a tornar-se um problema. Estávamos a viver experiências apenas para as registar, apenas
pelo dispositivo. Resolvemos suspender isso. Estamos agora a enveredar
por uma abordagem mais interior, de
recriação. Mas é verdade que há um
ano poucas pessoas andavam com as
suas câmaras digitais e hoje é o que
toda a gente faz. E, sim, são as coisas
que vemos nas ruas de Nova Iorque
que estão na origem de algumas das
cenas dos nossos filmes.” Josh resume:
“The theatrics of the city.”
Mas então “Vão-me buscar alecrim”
é passado ou é presente? Por que é
que anda por lá Abel Ferrara (um “cameo”) a falar em Bill Withers, singer
songwritter dos 70s? É tudo hoje,
“agora”, mas como Ben se encarrega
de explicar, isso também é tudo “passado”.
Ben: “Queremos sempre desesperadamente captar o agora, mas nunca
conseguimos porque a partir do momento em que o filmamos é sempre
passado, estamos sempre a olhar
para trás. Mas é um passado lembrado no presente, não é o passado pelo
passado. É a memória de coisas que
passaram. Pode datar-se a memória?
Eu diria que a nossa Nova Iorque é
intemporal.”
Era disso que falávamos, Proust em
Manhattan – Ben fala menos, embora
compense o maior voluntarismo dicursivo do irmão com uma disponibilidade no olhar que é transbordante e com uma capacidade de síntese
que ilumina o que Josh acabou de dizer; a sintonia, de resto, é de siameses, assim como a pulsão para a pantomima.
Sobre Ferrara e Bill Withers, Joshua
explica então que deram ao realiza10 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
dor, tornado aqui actor, uma série de
discos que ele era suposto andar a
vender na rua, numa sequência do
filme. E foi Ferrara que escolheu o
singer-songwriter negro dos anos 70
no meio dos discos “modernos” que
a produção pôs à sua disposição. Não
houve nenhum preciosismo ou calculismo de época.
Ferrara, para Joshua, é uma perso-
nagem perfeita para aquilo que ele
chama “the theatrics of the city”.
Conheceu-o, quando tinha 18 anos,
de uma forma que deverá ser muito
nova-iorquina: Ferrara era vizinho de
um amigo dos irmãos Safdie, e do
apartamento onde morava muito barulho antecipava invariavelmente
“uma porta que se abria e alguém que
era atirado pelas escadas abaixo”.
“Queremos sempre
desesperadamente
captar o agora, mas
nunca conseguimos
porque a partir
do momento em que
o filmamos é sempre
passado, estamos
sempre a olhar para
trás. Mas é um
passado lembrado
no presente,
não é o passado
pelo passado”
Ben Safdie
“Trabalhei depois numa loja de vídeo e ele era a única pessoa que estava autorizada a levar filmes grátis.
Quantas vezes vi depois o Abel na rua
à noite, e a chamar por mim [imita a
voz rachada de Ferrara]: ‘Josh, Josh,
dá-me dinheiro.’ Ele é o verdadeiro
poeta da rua de Nova Iorque. Fazia
sentido para nós que numa determinada cena do filme ele entrasse em
contacto com Lenny.”
Mais “teatro de uma cidade”: “Outro dia vi um rapaz na rua com o som
muito alto a sair de uma ‘boombox’ e
a dançar e alguém pediu para ele baixar o som e ele respondeu: ‘Fuck, I’m
taking my city with me’. Esta cidade
precisa da anarquia individual. A infelicidade adora companhia. Não quero que Nova Iorque seja um gigantesco Starbucks. Gosto de ter medo das
pessoas na rua, se calhar porque isso
me distrai dos meus problemas.”
E o perigo espreita em Nova Iorque.
Não um mosquito gigante não um urso
polar, mas o irascível Dirty Harry transportado de São Francisco para Manhattan e disfarçado de papagaio. “Give me
your finger and make my day!”, mesmo
numa esquina de acesso à Queensboro
Bridge, é um íman que atrai Joshua e
Ben Safdie. Dentro da loja de animais,
asas abertas e “hellos” e “goodbyes”
papagueados ao melhor estilo rachado
de Abel Ferrara.
Isto é “Vão-me buscar alecrim”.
Joshua e Ben
Ver crítica de filmes págs. 40 e segs.
GROOVE4TET
PQ.MARECHAL CARMONA CASCAIS
o são luiz
no festival
de almada
JARDIM CERCO MAFRA
NOITE DE JAZZ
EM PORTUGUÊS
DEOLINDA
20JUL
17JUL
HIPÓDROMO CASCAIS
PQ.MARECHAL CARMONA CASCAIS
MARIA BETHÂNIA
CELSO FONSECA
CORINNE
BAILEY RAE
24JUL
22JUL
CASCAIS HIPÓDROMO 25JUL DIANA KRALL
PQ.MARECHAL CARMONA 27JUL CLUB DES BELUGAS
Orchestra 28JUL ELVIS COSTELLO & THE SUGARCANES
29JUL SOLOMON BURKE Special Guest JOSS STONE
MAFRA JARDIM DO CERCO 23JUL ORQUESTRA
BUENA VISTA SOCIAL CLUB® Feat. OMARA PORTUONDO
9, 1O, 16 E 17 JUL
ALDINA
DUARTE
POR OLGA RORIZ
www.cooljazzfest.com
WWW.TEATROSAOLUIZ.PT
LAURENT FILIPE
ANTÓNIO PINHO VARGAS
© Isabel Pinto
SÃO
LUIZ
JUL ~ 1O
apresenta
SEXTA E SÁBADO ÀS 21H00
SALA PRINCIPAL M/3
Bilhetes à venda na Ticketline (www.ticketline.pt) e locais habituais
NAMING SPONSOR
PRESENTING SPONSOR
OFFICIAL SPONSOR
OFFICIAL CAR
INSTITUTIONAL SPONSOR
MEDIA PARTNERS
PARTNERS
SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL
RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38; 1200-027 LISBOA
GERAL@TEATROSAOLUIZ.PT / T: 213 257 640
Quinta das Lágrimas, Coimbra
16 de Julho a 1 de Agosto 2010
Concerto Köln
Francisco Manso
Bernardo Sassetti
Sónia Alcobaça
Viriato Soromenho
Marques
Orquestra
Gulbenkian
Francisco Nunes de
Carvalho
Coro dos Antigos
Orfeonistas da UC
António Ferreira
José Bento dos
Coro Sinfónico Lisboa
Cantat
Ana Quintans
Albano Lourenço
André Gago
João Pedro Rodrigues
Orquestra
Metropolitana
de Lisboa
Quarteto de Cordas
de Matosinhos
Beatriz Batarda
Santos
Cesário Costa
Camaleão
Santi Santamaria
Angles
TEUC
Etsuko Hirosè
Companhia de Dança
Paulo Ribeiro
Rui Ferreira dos
Santos
Joana Carneiro
António Barros
Pedro Burmester
João Miguel Lameiras
António Augusto
Aguiar
Carlos Barretto
BILHETEIRA DAS 13H ÀS 20H
T: 213 257 650; BILHETEIRA@TEATROSAOLUIZ.PT
BILHETES À VENDA NA TICKETLINE E NOS LOCAIS HABITUAIS
Orquestra Clássica
do Centro
Nelson Geada
Casa da Esquina
Jorge Calado
Miguel Henriques
Leonor Nazaré
Jacques Perrin
Cristina CastelBranco
Joachim Koerper
Abílio Hernandez
Ana Moura
Helena Freitas
Alexandre Ramires
João Tavares
Paulo Constantino
António Pinho Vargas
Orquestra Geração
Vítor Dias
Ver o programa completo em www.festivaldasartes.com
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Há tantos fantasmas à solta por “O
Escritor-Fantasma” que davam para
encher uma casa assombrada. Mesmo que o fantasma do título não tenha nada a ver com espectros ou assombrações, e tudo com uma expressão inglesa que, no mundo da edição
livreira, designa os verdadeiros autores das obras assinadas por figuras
públicas. Escritores que têm o grosso
do trabalho, mas nunca são creditados, como a personagem aqui interpretada por Ewan McGregor, que dá
por si embrulhado numa sinistra intriga política, quando aceita reescrever as memórias de um antigo primeiro-ministro inglês.
Mas esse “escritor-fantasma” do
título transmutou-se algures durante
os últimos meses no “realizador- fantasma” que o assina: Roman Polanski.
Confinado ao seu “chalet” de Gstaad
pelo complexo folhetim judicial que
o persegue desde que, em 1977, fugiu
à justiça americana para evitar ser
preso por abuso de uma menor na
sequência de um julgamento no mínimo controverso, Polanski terminara a rodagem de “O Escritor-Fantasma” e estava já a montar o filme quando foi preso na Suíça, em Setembro
de 2009. Supervisionou a finalização
da montagem à distância, mas por
razões evidentes não pode dar a cara
para o defender.
De certo modo, é apropriado: um
filme sobre um escritor-fantasma, assombrado pelos fantasmas da política
recente e do cinema clássico, só podia
ser assinado por um realizador-fantasma. Que sabe tudo – mas nada pode dizer.
O fantasma do realizador
No Festival de Berlim, onde “O Escritor-Fantasma” teve a sua estreia mundial a concurso em Fevereiro último,
o elenco e a equipa que se deslocaram
em peso foram sondados, radiografados, questionados como se fossem
“linhas directas” para o que Polanski
quis fazer. Não só a equipa deste filme
– os actores Ewan McGregor, Pierce
Brosnan e Olivia Williams, o compositor Alexandre Desplat, os produtores Robert Benmussa e Alain Sarde e
o co-argumentista Robert Harris, autor do romance que lhe está na origem – mas até, por exemplo, Ben Kingsley, em Berlim para promover
“Shutter Island”, de Martin Scorsese,
mas que trabalhou com Polanski em
“A Noite da Vingança” (1994).
É uma situação invulgar, como
Ewan McGregor reconheceu na conferência de imprensa sobrelotada que
deixou dezenas de jornalistas à porta
do salão nobre do hotel Hyatt, a acotovelarem-se frente aos televisores
que a transmitiam em directo. “É muito estranho ele não estar aqui, porque
é o filme dele e nós somos apenas peças na sua visão.”
Ewan McGregor é o “escritorfantasma” do título, contratado
para reescrever as memórias do
primeiro-ministro Pierce
Brosnan
Alguns dias depois, numa das mesas-redondas com a imprensa internacional no luxuoso hotel Adlon, onde o Ípsilon esteve presente, o actor
escocês insiste em desiludir a imprensa que espera do elenco que sejam
porta-vozes das emoções e ideias de
um Polanski “amordaçado” pelas circunstâncias. “O Roman não é alguém
que fale muito dos seus sentimentos.
Gosto muito dele, adorei trabalhar
com ele, mas não creio ser alguém a
quem ele abrisse o seu coração. Não
o conheço assim tão bem.”O que não
é dizer que a experiência não tenha
sido intensa para toda a equipa.
Voltamos à conferência de imprensa: Pierce Brosnan sentiu que tinha de
estar “em pico de forma para este
grande cineasta”; Robert Harris, ao
descrever o processo de adaptação do
seu romance, chama ao realizador “lá
bem no fundo um actor do Método”.
“Enquanto trabalhávamos, ele corria
pela sala a representar o argumento.”
Alexandre Desplat diz: “Estar com ele
na mesma sala mexe connosco, há
uma energia e um humor que se transmitem.” McGregor descreve-o como
exuberante e com grande sentido de
humor: “Ele já tinha interpretado todos os papéis na sua cabeça à medida
que escrevia. É totalmente responsável por tudo o que acontece no seu
‘plateau’. Sinto que ele é tão responsável pela minha interpretação como
eu próprio. Não só me dirigiu, como
dirigiu até a minha ‘performance’.”
Um realizador tão responsável pela
interpretação como o seu actor? Na
mesa-redonda do Adlon, McGregor,
que dissera ter terminado a rodagem
com a sensação de ter sido desafiado
enquanto actor pela exigência de Polanski (ele próprio actor), explica melhor o que quer dizer. “Quando criamos uma personagem, fazemo-lo a
partir de conversas, imaginação, coisas
que sabemos sobre ela. Depois, o realizador dirige essa interpretação através das cenas e o seu caminho através
do filme. Mas, com o Roman, senti que
ele também estava muito envolvido
com o modo como a representei. É como se ele também estivesse dentro da
personagem. É muito picuinhas, muito perfeccionista – passava cinco minutos a organizar as garrafas num armário
mesmo que nunca aparecessem focadas, arranjava tudo o que estava em
cima da mesa, enquadrava a câmara,
dizia o que achava da luz da parede...
Se as coisas não forem como ele imagina, ou pelo menos como as vê enquanto escreve, e se não estiverem a
correr do modo que ele quer, pára tudo. Nem sequer espera pelo fim do
‘take’; pára tudo e começa a refazer. E,
de certo modo, o modo como interpreto o escritor tem tudo a ver com isso.
Tive o luxo de estar com ele durante
toda a rodagem e aprendi muito rapidamente o que lhe agradava e o que
lhe desagradava, uma sensação do que
ele queria de mim.”
O fantasma da política
O “escritor-fantasma” de McGregor
(tanto mais fantasma quanto o seu
nome nunca é usado no filme...) é a
única personagem que atravessa o
filme de ponta a ponta – “Estive no
‘plateau’ o tempo todo, do princípio
ao fim, e os outros actores chegavam,
partiam, voltavam... Houve um bloco
de tempo em que era eu e o Pierce,
depois eu e a Olivia [Williams], depois
eu e a Kim [Cattrall], depois uma secção no meio em que estivemos todos
juntos durante uma ou duas semanas” – e essa presença tem sido recompensada com algumas das suas
melhores críticas em muitos anos.
No dossier de imprensa, Robert
Harris elogiava o actor por ter aceite
interpretar uma personagem tão indefinida, tão “em branco”, mas McGregor negá-lo-á mais tarde, explicando: “O guião era muito claro, não
senti que houvesse ‘buracos’ para
preencher. Penso que é porque o Robert e o Roman o escreveram muito
bem, senti que podia ‘ver’ a persona-
gem. Alguém nos trinta e muitos, que
se sente levemente aquém do que podia dar, mas bastante confortável com
a vida que leva.”
O romancista, na conferência de
imprensa, confessara adorar a ideia
de ser um escritor-fantasma, ao mesmo tempo que “não conseguia imaginar ninguém com uma profissão
pior”; mas McGregor desmenti-lo-á.
“O Robert fala disso como um pequeno defeito. Ser um escritor que aceita
que o seu nome nunca apareça em
nada implica um certo fracasso, e penso que há alguma verdade nisso. Mas
gosto da ideia de ele ser muito bom
naquilo que faz, como no primeiro
encontro com Adam Lang, em que ele
responde que faz as perguntas e depois torna as respostas em prosa.”
Interpretado por Pierce Brosnan,
Lang é o primeiro-ministro britânico
cujas memórias a personagem de McGregor é contratada para reescrever
após a morte suspeita do seu predecessor. Inevitavelmente, o nome de
Tony Blair vem à baila — é um dos
fantasmas políticos de um filme que
se estreou no exacto momento em
que se falava da possibilidade de Blair
ser levado a tribunal devido ao envolvimento inglês na guerra do Iraque,
destino reservado no filme à personagem de Brosnan.
Na conferência de imprensa, o actor irlandês diz sem pejo que o seu
Lang não é Blair. “A primeira coisa
que perguntei ao Roman foi: ‘Estou a
fazer de Tony Blair?’ E ele disse-me:
‘Não, esquece isso, limita-te a interpretá-lo.’ O que foi muito libertador.
Comecei a pensar em termos de uma
personagem shakespeareana, um rei
que se perdeu pelo caminho. Lang
começa como um actor e torna-se
num homem que está a representar
um primeiro-ministro...”
McGregor confirma: “Se o Pierce
estivesse a fazer de Blair não teria funcionado, desde logo porque não tínhamos pretensões de estar a contar
uma história verdadeira. É uma ficção. Claro que o Adam Lang foi muito
influenciado pelo Blair quando o Robert escreveu o romance.” O romancista anui: “O livro foi escrito em 2007
e desde então a realidade conspirou
para fazer do filme mais documentário do que ficção – a revelação dos
voos de rendição da CIA que aterraram no Reino Unido, o MI5 estar a
receber provas resultantes desses interrogatórios, foram coisas que o filme pareceu prefigurar... Todos os livros que escrevi são de algum modo
políticos, e um dos fantasmas do livro
é a ideia de a Grã-Bretanha já não ser
um poder independente – temos a
sensação de sermos apenas um 52º
estado americano.”
Mas McGregor, dias depois, no
Adlon, aconselha a que não se leia
demasiada intenção no que é essen-
O realizador-fantasma
Roman Polanski dirigiu um policial hitchcockiano sobre um autor que escreve em nome
de outros e é apanhado numa intriga que o transcende. Mas entre a rodagem e a estreia de
“O Escritor-Fantasma”, o realizador polaco deu por si apanhado no folhetim judicial que o
persegue há mais de 30 anos –e o filme sobre o “escritor-fantasma” tornou-se no filme de um
realizador-fantasma. Jorge Mourinha, em Berlim
12 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
O fantasma de Hitchcock
Essa ideia do inocente apanhado nas
malhas de uma intriga que o ultrapassa (para o actor, “alguém que está
longe de ser ingénuo, mas que não
tem unhas para a guitarra que quer
tocar, nem está num mundo que domine ou conheça”) remete para o outro fantasma cuja presença Harris
evoca na conferência de imprensa – os
“thrillers” de Alfred Hitchcock, cheios
de inocentes arrastados para situações de perigo.
Mas é o único fantasma abertamente assumido por todos – afinal, Polanski
nunca escondeu o seu gosto pelo cinema de género (alguns dos seus filmes
mais emblemáticos e de maior sucesso
foram entradas de género como “A Semente do Diabo”, 1968, ou “Chinatown”, 1974); Alexandre Desplat invoca
abertamente Bernard Herrmann, o
compositor cúmplice de Hitchcock, na
sua banda sonora; e Robert Harris
aponta que, para o cineasta, “chamar
a um filme ‘arte e ensaio’ é o maior
insulto que existe”.
A colaboração entre ambos não
devia ter começado por aqui, mas por
uma adaptação de um outro romance do escritor, “Pompeia”: quando o
autor falou ao cineasta do seu novo
livro, Polanski torceu o nariz, mas
depois de ler as provas mudou de
ideias. “Telefonou-me entusiasmado
a dizer que achava isto Raymond
Chandler puro! E disse-me que há
muito tempo que queria fazer outro
filme deste género” – a última vez que
o fizera foi “Frenético”, com Harrison
Ford, em 1988.
Inevitavelmente, há uma pergunta
a fazer: será que o caso Polanski afecta a resposta ao filme? A crítica internacional tem sido unânime no elogio
a “O Escritor-Fantasma”, que saiu de
Berlim com o Urso de Ouro para melhor realização, ao mesmo tempo que
procura nele pistas que possam espelhar a sua situação actual.
Mas o público conseguirá olhar para ele abstraindo-se da controvérsia
que rodeia o cineasta? É possível separar o artista da pessoa? Na mesaredonda, Ewan McGregor diz não
saber. “Não tenho a resposta para
essa pergunta. Não sei se as pessoas
que não o irão ver por ele estar nesta
situação o iriam ver noutra altura.”
Cada um que escolha se quer, ou
não, entrar nesta casa assombrada.
Ver crítica de filmes págs. 40 e segs.
Polanski
durante as
rodagens.
A Suíça
devolveu-lhe a
liberdade esta
semana
DR
Cinema
cialmente casualidade: “Claro que é
uma história sobre a política e os políticos, que comenta acontecimentos,
tópicos, o envolvimento do primeiroministro na guerra do Iraque, a intriga, o engano, as facadinhas nas costas
que acontecem na política... Mas acho
o elemento político mais interessante
desde que acabámos a rodagem. Na
altura, não passei muito tempo a pensar no assunto. Estava muito mais
interessado em ver tudo pelos olhos
do escritor, que não é uma pessoa
política. Diz, logo ao princípio, que é
por não perceber nada de política que
pode fazer as perguntas que chegam
ao âmago de quem é Adam Lang.”
“Polanski é muito
perfeccionista.
Se as coisas não
forem como imagina,
nem sequer espera
pelo fim do ‘take’.
Pára tudo e começa
a refazer.”
Ewan McGregor
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 13
“Coimbra não sab
– e por isso não va
Reportagem
Tem duas companhias de teatro profissionais, um realizador de cinema instalado num ovni, u
músicos que levaram longe o nome da cidade. E, no entanto, não está no mapa cultural do país. A
Sabemos o que Lisboa fez no Verão
passado e talvez o que o Porto fez há
duas semanas. Mas quando foi a última vez que tivemos notícias culturais de Coimbra? Vinte valores para
quem disse 2003: era ano de Capital
Nacional da Cultura (CNC), a primeira do país, e a cidade onde, dizem,
se fala o melhor português de Portugal, acontecia hora sim, hora sim.
Houve até quem se queixasse de tanta fartura. “Que era oferta cultural a
mais”, recorda Abílio Hernández,
que foi o comissário da CNC.
De então para cá, foi a travessia no
deserto – ok, este ano há U2, os bilhetes esgotaram-se enquanto o diabo
esfregou um olho, mas esgotar-se-iam
na mesma se o concerto fosse em Lisboa ou em Freixo de Espada à Cinta.
Isto somos nós que dizemos, que de
então para cá foi a travessia no deserto – porque a quem lá está apetece
dizer que quem está fora racha lenha.
Que é como quem diz que em Coimbra se passam coisas, muitas coisas
até, mas não passam na comunicação
social. E o que não está na comunicação social não existe para o país.
E Coimbra existe para o país?
Existe, e foi por isso que lá fomos,
saber o que se passa com a cultura
de uma cidade a que se associa de
imediato, para o bem e para o mal,
a sua universidade. E aqui estamos
nós, numa tarde sufocante de uma
quinta-feira, sentados numa esplanada, a ver Coimbra e a sua universidade passarem. Isto é a Praça da
República, as Escadas Monumentais
são ali ao virar da esquina e vamos
olhando estudantes trajados e deitando o ouvido às conversas de café.
Fala-se essencialmente da Queima
das Fitas, que acabou há uma semana (estivemos lá dois dias em Maio).
E isso explica muita coisa. Explica,
por exemplo, que a cidade esteja ainda a ressacar dos excessos – e que
por isso não haja grande coisa para
fazer nesta primeira noite. Abrimos
o “Diário de Coimbra”, um dos dois
jornais diários da cidade, e a oferta
cultural para hoje é praticamente
nula. Sim, há cinema (Lusomundo,
em dois centros comerciais), mas
nada que nos estimule. E depois há
o lançamento de um livro de Leonel
Cosme na Livraria Almedina; fado
no Centro Cultural D. Dinis; uma conferência de João César das Neves e
finalmente as Jornadas de Cultura
Popular do Grupo de Etnografia e
Folclore da Academia de Coimbra.
O vizinho Teatro Académico de Gil
Vicente (TAGV) está a zeros; a companhia de teatro Escola da Noite saiu
com um espectáculo para Braga; O
Teatrão ocupa-se por enquanto com
a Mostra de Teatro Escolar; no Círculo de Artes Plásticas (CAPC) ultima-se uma exposição que há-de
inaugurar-se no dia seguinte à visita
14 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
Teatro da Cerca de S. Bernardo, Escola da Noite A Escola da Noite tem 15 profissionais
em permanência, mas, na opinião de Pedro Rodrigues, precisaria de pelo menos mais dez. “Temos a mesma
estrutura de pessoal para a programação e para a criação artística, o que nos obriga a uma grande ginástica.”
Excluindo os seus próprios espectáculos, a companhia programa na área do teatro desde Janeiro de 2009
do Ípsilon; o mesmo dia em que haverá concerto no Salão Brazil.
Sentimo-nos tentados a encolher
os ombros e a dar por terminada a
nossa missão: Coimbra é invisível para o país, porque aqui não se passa
nada. Mas perceberemos que tivemos
apenas azar na noite.
Lisboa e a paisagem
Sorte tivemos com o sítio onde marcámos encontro com Abílio Hernández. O café do TAGV está quase deserto e o ar condicionado competentíssimo talvez ajude a uma conversa
mais fluida. O ex-comissário da CNC,
professor da Faculdade de Letras,
serve-se do passado para enquadrar
o presente da cidade. “Coimbra teve
durante séculos a única universidade
do país e manteve-se como a terceira
cidade de Portugal até aos anos de
1960. A partir de meados do século
passado, as outras cidades do país
mudaram muito: Leiria, Aveiro, Guarda. Cresceram e sentiram necessidade de crescer contra o modelo central
de cidade que era Coimbra. Não podemos esquecer-nos que foi daqui
que saiu Salazar e essa foi uma marca
que as outras cidades usaram em seu
benefício.”
Coimbra reagiu da pior maneira a esta concorrência: “ensimesmou-se”.
“Reagiu como o fidalgo que não vê a
decadência em que mergulhou. E viveu durante muito tempo à sombra
da universidade – e dando-se mal com
a universidade, o que é um mistério.”
Durante vários anos, a cidade “não
conseguiu olhar para cima, para a
universidade – nada se fazia em Coimbra sem pedir autorização à universidade”. “Nas últimas duas décadas tem
havido tentativas de reconciliação e
agora há uma boa relação institucional entre a cidade e a universidade”,
acrescenta Hernández, que foi próreitor da cultura entre 1994 e 1998.
Estes são problemas que “ainda
não estão totalmente resolvidos” e
que se reflectem na dinâmica cultural
da cidade. “Coimbra tem-na, e tem-na
através da acção dos produtores e dos
dinamizadores culturais, que existem
e têm uma acção de relevo: o CAPC,
que foi muito importante para o lançamento da arte conceptual em Portugal nos anos 1970, as companhias
A Escola da Noite e O Teatrão, a Bo-
abe para onde vai
ai a lado nenhum”
, um antigo salão de jogos que agora é restaurante-bar-sala-de-concertos-e-tudo-o-mais-que-vier,
. Afinal, o que é que Coimbra não tem? Sandra Silva Costa (texto) e Paulo Pimenta (fotos)
nifrates, que tem um percurso na área
do teatro amador muito consistente.
Mas os protagonistas não chegam.”
Voz aos protagonistas, então. A Isabel Craveiro, directora artística d’O
Teatrão, que nos abre a porta da Tabacaria, uma das salas de espectáculos
da Oficina Municipal do Teatro (OMT),
para onde a companhia se mudou no
final de 2008. “Coimbra ainda sofre
um bocado do mito de estar parada
no tempo, mas acho que é só conversa. Do meu ponto de vista, é possível
fazer cá coisas, e com resultados bem
conseguidos. O problema é que ainda
há uma espécie de folclore à volta da
cidade que a torna um bocado anacrónica. Isso condiciona a visão de
Coimbra, que parece uma cidade onde as coisas não acontecem, como se
a tradição a sufocasse.”
A verdade é que acontecem: veja-se
o caso d’O Teatrão. Com subsídios
anuais de 150 mil euros da DirecçãoGeral das Artes e 60 mil euros da Câmara Municipal de Coimbra – “muito
pouco, quando comparados com os
de outras companhias”, realça Isabel
Craveiro –, o ritmo de produção e programação da companhia é assinalável.
O relatório de actividades de 2009
(olhámos para este ano por incluir
uma compilação definitiva e fiável dos
dados) da companhia assinala a produção de quatro espectáculos: “Cenas
de Espera I e II”, na Tabacaria, com
91 espectadores em duas apresentações; “Refuga”, com os adolescentes
como público-alvo; “Fios e Labirintos”, um projecto pedagógico em colaboração com a Câmara Municipal e
a Escola Superior de Educação de
Coimbra; “Boa Alma de Setzuan”, um
regresso d’O Teatrão a Brecht que levou à OMT 562 espectadores; e “D.
Quixote (de Coimbra)”: 72 apresentações que entraram por Janeiro deste ano, com uma média de 94 espectadores por noite. E depois houve um
não mais acabar de acolhimento de
espectáculos – desde Ana Deus aos
Gaiteiros de Lisboa, passando pela
companhia de Paulo Ribeiro. Ao todo,
passaram em 2009 pela OMT 15. 452
espectadores – uma média de 71 por
espectáculo. “Nós não fazemos só espectáculos, fazemos espectáculos
para chegarem às pessoas, e percebemos que elas estão disponíveis para
ser trabalhadas enquanto público”,
observa Isabel Craveiro.
E o público também encara “com
muita simpatia” o trabalho que A Escola da Noite vem fazendo em Coimbra há 18 anos, informa, por sua vez,
António Augusto Barros, director artístico da companhia, que há menos
de dois anos é a residente do Teatro
da Cerca de S. Bernardo, uma bela
sala de espectáculos que ainda cheira
a novo. Regra geral, assistem aos espectáculos d’A Escola da Noite cerca
de 100 pessoas, quando a sala tem
capacidade para 180, adianta Pedro
Rodrigues, produtor da companhia.
“Coimbra é uma cidade boa para trabalhar, boa para experimentar, boa
para um projecto se desenvolver”,
considera António Augusto Barros,
mas esbarra num problema fundamental: o “feedback”.
Discurso directo: “Um dos grandes
problemas da área artística é a questão do ‘feedback’. Nós não somos muito bafejados pela sorte, não temos cá
comunicação social, temos muita dificuldade em meter notícias. Os jornais só falam de Lisboa, para eles o
resto é paisagem. Quem manda nos
jornais nunca tira o cu de Lisboa,
aconteça o que acontecer, mesmo o
Porto tem muita dificuldade em meter
notícias. A informação cultural é muito regionalista, muito colonizada em
termos de amiguismo e de clientela.
Costumo dizer: Jorge Silva Melo a sul
e Ricardo Pais a norte. E isto significa
uma perda para o país todo.”
Isabel Craveiro faz uma leitura simi-
lar. “Temos muita dificuldade em chamar a atenção das pessoas para o que
aqui vamos fazendo. Neste momento
não há um crítico de teatro que venha
assistir aos espectáculos.” E mais:
tratando-se de companhias subsidiadas, a directora d’O Teatrão entende
que a actividade deveria ser escrutinada. “Se os dinheiros são públicos,
então por favor fiscalizem-nos.”
Antes de cortarmos o microfone ao
teatro e o abrirmos ao cinema, mais
duas achas para a fogueira. António
Augusto Barros: “A Escola da Noite
faz muitas digressões pelo país, mas
não vai ao Porto e a Lisboa porque
não há salas disponíveis para acolher
os nossos espectáculos.” Isabel Craveiro: “Há uns tempos recebi um ‘email’ dando conta da presença de
Valentin Teplyakov [professor da Academia Russa de Artes de Moscovo]
‘pela primeira vez em Portugal’. Ele
já tinha estado duas vezes em Coimbra. Não veio a Lisboa? Então não
aconteceu.”
“Há uns tempos,
recebi um ‘mail’
dando conta da
presença de Valentin
Teplyakov ‘pela
primeira vez em
Portugal’. Ele já tinha
estado duas vezes
em Coimbra. Não veio
a Lisboa? Então não
aconteceu”, desabafa
Isabel Craveiro
Navegar à vista
E a nós o que nos aconteceu?
Andámos perdidos em Cernache,
a uns 15 quilómetros de Coimbra, debaixo de um calor ainda mais sufocante, à procura de um ovni. A custo,
chegamos à Rua Ribeira de Casconha,
mas nem sombras da Persona Non
Grata, a produtora de cinema que o
realizador António Ferreira instalou
num antigo lagar de azeite. Perdemonos, andamos às voltas, usamos o telemóvel. Lá está António, ao fundo
da rua, de calções e t-shirt, a acenarnos. Chegamos finalmente ao ovni.
Visto de fora, este é apenas um edifício agrícola recuperado e, não se
tivesse dado o caso de António Ferreira ter convidado a freguesia a visitar a produtora, ninguém diria que
daqui saem filmes para o mundo ou
“videoclips” para a Disney. A Persona
Non Grata está ligeiramente fora do
contexto: rodeada de campos de milho, implantada numa zona completamente rural, onde a vida acontece
devagar – nas ruas, na igreja e no café
ali do lado. É por isso que lhe chamamos “ovni”. Como também poderíamos chamar (mas não chamamos)
extraterrestre a António Ferreira – ele
que detém a única produtora de cinema fora de Lisboa e do Porto.
Circunstâncias da vida: “Estou aqui
porque sou de Coimbra, se não não
estaria, isso é óbvio. Mas de qualquer
forma estou aqui um pouco por teimosia. Chegámos a Cernache há quatro meses, antes estávamos em Coim-
Alexandre Lemos, director da RUC Licenciado em
Programação Cultural, Alexandre Lemos é o representante em Portugal
da editora Bubok. Para além disso, integra a companhia de teatro
Marionet, que tem residência no Centro de Neurociências e explora as
relações entre o teatro e a ciência
bra, no centro da cidade, mas já não
tínhamos condições para lá estar. Se
estivéssemos em Lisboa, não sei até
que ponto conseguiríamos produzir
ao custo a que conseguimos produzir
aqui. E no ano passado produzimos
três longas-metragens, três curtas, aí
uns dez ‘videoclips’.”
Tudo isto para dizer que sim, fazem-se coisas em Coimbra. “Há certos
agentes que, por sua conta, têm dado
alguma visibilidade à cultura na cidade. Não é, seguramente, à custa da
câmara”, diz António Ferreira – e agora está definitivamente posto o dedo
na ferida. “Temos tido apoio zero. No
ano passado filmámos uma longa toda em Coimbra e nem sequer nos livraram das taxas de ruído e de ocupação da via pública. Só temos queixas a fazer. Andamos há dez anos a
produzir em Coimbra e ainda nos perguntam se somos de Coimbra.”
Mais de Coimbra não há – este poderia muito bem ser o slogan da RUC,
a rádio que, em 107.9 FM e desde
1989, põe a cidade e os seus estudantes no mapa. Aqui estamos nós no
edifício da Associação Académica, a
ouvir pedaços de Origami, o programa que, às 17h30, se dedica à música
electrónica. Mas para Alexandre Lemos, o actual director da RUC, agora
a música é outra. “Em muitos aspectos, a cultura em Coimbra é basilar
para a cultura portuguesa, mas quando nos pomos a pensar quando foi a
última vez que tivemos notícias culturais de Coimbra, aí temos razões
para ficar preocupados”, diz.
Agora em velocidade de cruzeiro
comenta: “Passaram sete anos desde
a CNC e não aconteceu nada a seguir.
Aliás, perderam-se coisas: o TAGV, a
grande sala de espectáculos que temos, passou de uma sala com programação própria para uma sala que
acolhe espectáculos apenas – e às vezes de qualidade duvidosa.”
Abrimos um parêntesis para dar
voz a Isabel Vargues, directora do TAGV desde Setembro de 2008: “Quando entrei, estávamos num processo
de arrumar a casa. Agora somos uma
fundação, com tudo o que isso implica. Continuamos a colaborar muito
com a Associação Académica, correspondemos aos pedidos das escolas.
E duvido de qual seja o interesse de
termos peças de teatro com duas ou
três pessoas a assistir. Creio que aí
estamos a falar de grandes criações
narcísicas. Se o TAGV hoje já não ocupa o lugar que ocupava? Hoje há uma
oferta enorme: o Teatro da Cerca de
S. Bernardo, o Salão Brazil, o Café
Santa Cruz... Há uma febre de produção de acontecimentos culturais em
espaços que antes não se dedicavam
tanto a isso. São públicos diferentes,
e o TAGV não está preocupado com
protagonismo.”
Fechamos o parêntesis e voltaÍpsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 15
mos à RUC e a Alexandre Lemos,
que estudou programação cultural.
“Se Coimbra está como está é por
uma questão de opção. A câmara não
faz opções, a Fundação Bissaya Barreto não marca a agenda nacional, a
própria universidade também não
consegue fazer nada, sabemos como
estão as universidades.” Resultado:
se à equação tirarmos “todos os agentes naturais da cidade, o que vamos
encontrar é o vazio de investimento”.
“Não há ninguém que tenha capacidade e vontade para marcar severamente a agenda de Coimbra”, acusa
o director da RUC, para logo a seguir
avançar com uma sugestão. “O que
faz falta é uma superestrutura que
pegue nas várias coisas que acontecem em Coimbra e lhes dê um sentido comum. A cidade não sabe atrair.
Todos conhecemos cidades menos
interessantes de ‘per si’ do que Coimbra, com património edificado menos
atractivo, que sabem vender-se. Aqui
não é falta de ‘hardware’. É falta de
fôlego, de agressividade e de estratégia. A vereação da cultura, mesmo
sem um tostão para programar, tem
de ser capaz de gerir a agenda cultural da cidade.”
Neste ponto, toda a gente concorda. “Coimbra teria todas as condições
para se constituir como um ‘cluster’
cultural. É maneirinha, ‘cosy’. Mas
para isso era preciso que houvesse
quem se responsabilizasse por assegurar a dinâmica cultural que nasceu
“Já estamos noutra
era que não
a de Pedro e Inês
e Coimbra ainda não
percebeu isso”,
considera o
realizador António
Ferreira
16 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
Oficina Municipal do Teatro, O Teatrão Isabel Craveiro, directora artística d’O Teatrão,
reconhece que a itinerância dos projectos da companhia é ainda “um bocadinho residual”. “O nosso é um projecto
que ainda não é muito conhecido. Alguns programadores preferem ter nos seus espaços apenas um espectáculo
por mês, mas um espectáculo que marque, em lugar de se abrirem a outras abordagens teatrais.”
depois da CNC”, refere Abílio Hernández. E esse papel, na opinião de António Barros, deveria passar “pela
acção da autarquia”. “Há falta de ambição cultural na cidade”, sublinha.
A Câmara Municipal de Coimbra
tem outra visão. Por “e-mail”, Joana
Loureiro, a adjunta da vereadora
da Cultura, Maria José Azevedo Santos, explica ao Ípsilon que, apesar dos
constrangimentos financeiros que
afectam praticamente todas as autarquias do país, a câmara não deixa “de
ter planos concretos, e nalguns casos
ambiciosos”, para atingir o seu “grande objectivo”. Que não é um, são vários. A saber: “melhorar consideravelmente a difusão da leitura e do livro no concelho”; criar “um arquivo
municipal constituído por toda a memória escrita, que remonta à Idade
Média e vem até à actualidade – uma
das grandes estratégias [da autarquia]”; defender e preservar “o património municipal”; promover e dinamizar “uma acção cultural multímoda, de qualidade, atractiva, que, nas
suas várias expressões, desde o teatro
ao cinema, à música, à dança, ao folclores e às artes plásticas, passando
por ateliers e ‘workshops’ de poesia,
contos, gastronomia e artesanato,
cative vertical e transversalmente os
públicos (urbano e rural) e de todas
as faixas etárias”; e, finalmente, “fazer um esforço cada vez maior para
trabalhar em rede com todas as instituições e agentes culturais da cidade
e do país”.
Este argumentos não convencem
quem lá está. “No que toca à cultura,
a câmara não tem visão, navega à vista. Estamos na cidade dos doutores,
mas uma cidade que não percebe que
o mundo mudou, que já estamos noutra era que não a de Pedro e Inês. Lisboa e Porto são cidades criativas, viradas para a modernidade. Aqui não,
dá-se maioria a pessoas conservadoras, que apostam nas rotas gastronómicas e nas viagens medievais. O Mostra Língua – Festival Internacional de
Cinema em Língua Portuguesa vai
este ano para a sua quarta edição e
nunca teve um euro de apoio da câmara. É revelador”, comenta António
Ferreira. E Alexandre Lemos solta
aquela que será, provavelmente, a
tirada mais cáustica: “Coimbra é uma
cidade que não sabe para onde vai e
que consequentemente não vai a lado
nenhum.”
“Cidade do Conhecimento”
Nós sabemos muito bem onde vamos
– jantar ao Salão Brazil. Anda nas bocas do mundo em Coimbra, mas, confessamos, não percebemos logo porquê. Estamos no primeiro andar de
um edifício de 1896 no Largo do Poço
e o que temos à nossa frente é uma
banalíssima sala de restaurante. O pé
direito é assinalável, as janelas oferecem uma bela vista para o emaranhado de ruelas da Baixinha de Coimbra,
mas não simpatizamos muito com as
cadeiras de napa vermelhas, nem
com as toalhas de papel. O que é o
Salão Brazil?, apetece-nos perguntar.
Perguntamos mesmo e Telmo Costa responde: “Abriu há seis anos e
resultou da recuperação de um antigo salão de jogos muito popular. No
início era apenas um restaurante, agora é muita coisa. É um lugar onde se
almoça por cinco euros, onde à noite
se pode jantar por nove ou por 30 ou
40 e onde há uma programação musical de qualidade.”
Não é o caso esta noite, o que há
esta noite é um jantar de curso – e
também é por isso que o Salão Brazil,
“um espaço que conta quando se trata de fazer cultura em Coimbra”, é
um lugar estranho. Por aqui tanto
passam estudantes barulhentos, como músicos como António Zambujo,
que se incomodou “com o ruído dos
frigoríficos”. “Talvez tenha sido um
dos melhores concertos que já aqui
tive”, conta Telmo Costa, que já teve
no seu Salão Brazil nomes tão díspares como Ena Pá 2000 ou Henry Grimes, músico de jazz que regressou ao
mundo dos vivos em Maio de 2003,
depois de 35 anos afastado dos palcos
– o Salão Brazil é palco habitual do
Festival Jazz ao Centro.
Quem também já passou pelo Salão
foi JP Simões – ainda este ano, em Março, para apresentar o seu álbum “Boato”. Foi em Coimbra que nasceu, foi
em Coimbra que acordou para a música – e foi em Coimbra que “a fúria
boémia e alienista dos anos 80” o esclareceu sobre “a importância da arte
e da atitude como forma de resistência
ao morno caldo social que nos convida
a morrer em vida”, recorda, por “email”. Agora radicado em Lisboa, JP
Simões lembra que, vista da A1, “Coimbra começou por ter uma placa ilustrativa que a designava como ‘Cidade
Museu’”. Agora é a “Cidade do Conhecimento”. “Institucionalmente, isto
quer dizer que os pensadores da edilidade não apreciaram a morbidez da
primeira sugestão, ou seja, de Coimbra
ser uma cidade morta, museu de si
Teatro Académico Gil Vicente Já foi “a” sala de espectáculos de Coimbra, mas nos últimos anos
o TAGV foi perdendo o brilho. A directora, Isabel Vargues, diz que, com a passagem a fundação, há novos desafios
pela frente. “Não somos a Gulbenkian, nem Serralves, nem temos um mecenas por trás, temos antes a
universidade, mas vamos fazendo o nosso caminho.”
TER 27 JUL
22:00 PRAÇA | € 20
A electrónica toma conta da
Praça com o concerto de Tricky.
Músico de referência do trip–
–hop inglês, esteve ligado ao
período inicial da carreira dos
Massive Attack. A sua carreira
explodiu em 1995 com o premiado
Maxinquaye, primeiro álbum a
solo recentemente reeditado.
Salão Brazil “O que é que fazias, se isto fosse teu?”, perguntou
Telmo Costa aos amigos. Eles foram respondendo e o Salão Brazil agora
dá cartas em Coimbra. É uma sala de concertos por onde tanto podem
passar os Ena Pá 2000, como nomes importantes da cena jazz mundial
JANTAR+CONCERTO € 35
APOIO
própria, presa de uma mítica vitalidade intelectual muito associada ao facto
de ter uma das mais antigas universidades da Europa e reiterada pelas lutas
estudantis que exaltam a ligação da
academia ao fado dito ‘erudito’, à vida
boémia, poética e pró-revolucionária
da massa estudantil.”
Para JP Simões, isto quer dizer que
“há também uma enorme expectativa, mesmo do resto do país, sobre
aquilo que Coimbra poderá dar à cultura portuguesa”. O problema, acredita, é que isso “tem estagnado a criação artística e a produção cultural, na
medida em que fortalece a mera e
constante auto-homenagem que as
classes políticas tanto apreciam, em
detrimento da força crítica e do combate estético-ideológico que qualquer
comunidade precisa para intensificar
a sua forma de se compreender”.
A boa notícia é que a cidade “conta
com uma série de irredutíveis do teatro, da fotografia, da música e da poesia, que vão serenamente construindo o seu futuro e, possivelmente, o
futuro da criação artística da cidade”.
A má notícia: “O grosso da população
da cidade não se constitui num público suficientemente interessado para
garantir a exequibilidade e a continuidade de projectos culturais minimamente excitantes: trata-se de uma
cidade muito conservadora que precisa de renascer intelectualmente.”
Desgraça não, justiça
Hoje já é sexta-feira, continua o mesmo calor, e subimos a custo até ao
Pátio da Inquisição. Ainda não são
13h00, estamos filados em ir espreitar
o Centro de Artes Visuais de Coimbra,
herdeiro dos célebres Encontros de
Fotografia. Damos com o nariz na porta: na Internet tínhamos lido que abria
das 10h00 às 19h00, esta porta informa que abre das 14h00 às 19h00. Temos pena, mas não podemos esperar.
Como não podemos esperar pelo fim
da tarde, que marca a inauguração da
exposição “Um olhar sobre a colecção
do CAPC”. Foi dica de Abílio Hernández, mas não chegámos a fazer este
inquérito – e se calhar devíamos ter
feito. “Se for perguntar às pessoas na
rua, provavelmente 80 por cento delas não sabe que o CAPC existe e se
sabe não sabe onde ele está.” Para que
conste, está na Casa Municipal da Cultura, ao cimo do Jardim da Sereia, e
está a “entrar numa espécie de nova
euforia”, informa, por telefone, António Olaio, artista plástico emocionalmente ligado ao CAPC, mas que
não tem nele qualquer função directiva.
“Até agora, o CAPC fazia um trabalho muito mais interessante do que a
divulgação do trabalho que fazia.
Parece-me que pode haver um reforço na sua visibilidade, com a direcção
que tomou posse há pouco tempo”,
junta o também professor na Faculdade de Arquitectura, que gostaria
que a própria cidade “estivesse mais
familiar” com o Círculo de Artes Plásticas. “É importante aproximar a cidade do CAPC, o que não passa por
uma mudança de estratégia de programação, no sentido de imaginar
uma estratégia mais populista. O importante é que reforce a relação com
a universidade e através dela com os
estudantes e com a cidade.”
E como é que o ex-Repórter Estrábico vê a cultura em Coimbra? “Há
muitas cidades dentro da cidade. Eu
lido mais com a parte dela que é exigente em termos culturais e que está
naquele grupo que não está satisfeito,
mas já me cansei de fazer o discurso
da desgraça. Se há tanta gente a fazer
esse discurso, no mínimo essas pessoas já compõem uma cidade interessante”, considera. E diz mais: “Coimbra vive numa contradição: tem uma
produção cultural que nasceu muito
do meio estudantil e ao mesmo tempo uma imagem de alguma boçalidade ligada sobretudo às praxes. Viveu
muito tempo à sombra da excelência
da sua universidade e depois ridicularizou-se a própria pretensão da cidade. Acho que já é tempo de olharmos com mais justiça para ela.”
Apetecia-nos dizer assim seja, mas
dizemos antes ponto final.
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Camané tem feito um percurso
singular como intérprete de
eleição do fado contemporâneo.
Foram muitos os prémios que
recebeu e muitas as colaborações
com músicos das áreas mais
diversas. Com um novo álbum na
calha, esta voz fundamental da
música portuguesa apresenta
um concerto recheado de
êxitos de carreira.
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Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 17
FOTOGRAFIAS DE “TEREZÍN” DE DANIEL BLAUFUKS, PUBLICADO POR STEIDL/TINTA DA CHINA
Daniel
Blaufuks
O fotógrafo
que suspeita das
imagens
Daniel Blaufuks foi ao campo de concentração de
Terezín porque desconfiou de uma fotografia. “As
imagens mentem”, diz ele. É por isso que “Terezín”,
livro sob a influência de W. G. Sebald, é um aviso sobre
o presente. Kathleen Gomes
Terezín é o nome da localidade checa,
60 quilómetros a norte de Praga, onde os nazis estabeleceram um campo
de concentração em 1942, com algumas características excepcionais: para ali foi enviada a elite judaica — artistas, intelectuais, ricos —, gente cujo
desaparecimento poderia causar dissabores ao Terceiro Reich. Em 1944,
a Cruz Vermelha Internacional fez
uma visita de inspecção a Terezín, o
que motivara, meses antes, uma “acção de embelezamento da cidade”
decretada pelas SS: a densidade populacional foi aliviada, as fachadas
das casas foram pintadas, plantaramse flores, os cafés e lojas foram recuperados, criou-se um banco e um
centro comunitário com auditório,
biblioteca, sinagoga. Uma cidade inventada. O relatório da visita da Cruz
Vermelha foi tão positivo que a organização desistiu de inspeccionar ou-
tros campos. O que inspirou os nazis
a produzirem um filme de propaganda, rodado em Terezín, retratando
um quotidiano idílico, para sossegar
a comunidade internacional.
“Terezín” é o livro de um fotógrafo
que desconfia das imagens. A primeira vez que Daniel Blaufuks viu uma
fotografia de Terezín foi no livro do
escritor alemão W. G. Sebald, “Austerlitz”. Uma reprodução cinzenta e granulosa — como uma fotocópia de má
qualidade — de uma sala com ficheiros
dos prisioneiros do campo até ao tecto. Em “Terezín”, Blaufuks começa por
examinar obsessivamente esta imagem, ampliando algumas zonas, esventrando-a, como se fizesse uma autópsia. A sala, escreve, pareceu-lhe “o
cenário de uma peça de teatro inacabada”, “demasiado perfeita para ser
real”. Algum tempo depois, Blaufuks,
que “nunca quis fazer livros ou ima-
gens de campos de concentração”,
viajou para Terezín. E assim nasceu
“Terezín”, livro extraordinário, nos
passos de W. G. Sebald. Editado pela
reputadíssima Steidl, “Terezín” é o
primeiro livro de Blaufuks com distribuição internacional (em Portugal, é
co-editado pela Tinta da China). O livro
inclui um DVD com uma montagem
dos fragmentos que restam do filme
rodado em Terezín. (“Terezín” também é uma “ghost story”. Os rostos
que se vêem nele estão mortos.) Encontro com um escritor de imagens.
No lançamento de “Terezín”,
praticamente não se falou de
fotografia. Falou-se da história do
campo de Terezín, das motivações
que o conduziram a este projecto,
do que ele representa para si. Este
livro é a obra de um fotógrafo
e, no entanto, não é um livro de
fotografia?
Não, eu acho que é um livro de fotografia. Penso é que a fotografia pode
cobrir estes campos também. E, portanto, ao ser um livro de fotografia,
pode-nos levar para outros interesses
e para outros conhecimentos. Não é
o livro de um historiador, é um livro
subjectivo, apesar dos dados que lá
estão serem objectivos.
Esta pergunta tem a ver com
o facto de a maior parte das
imagens contidas no livro não
serem fotografias efectivas.
São digitalizações de outras
imagens, de objectos, o que, não
sendo novo no seu trabalho,
adquire aqui outra gravidade.
Nos trabalhos anteriores, essa
pulsão arquivista denunciava
um certo fetichismo.
Este trabalho tem muito a ver com o
“Sob Céus Estranhos”, onde a maior
parte das fotografias utilizadas não
eram, de facto, minhas. Eram fotografias de fotografias de família, também eram documentos. É o que hoje
em fotografia se chama “after image”,
isto é, trabalha-se a partir de imagens
já existentes, mas que criam um novo
“corpus”. As imagens criam novas
imagens, apesar de continuarem a ser
as mesmas imagens. Quando já existem imagens não vale a pena chover
sobre chão molhado, não vale a pena
fotografar aquilo que já está fotografado, será mais interessante utilizá-las
de outra forma ou com outra visão.
Nunca quis fazer livros sobre campos
de concentração, com imagens de
campos de concentração. Acho que
isso já foi feito, e muito bem, no seu
tempo — já não cabe à minha geração
fazê-lo. As poucas imagens que existem minhas dentro do livro apenas
lhes dão uma certa alma que não teriam de outra maneira.
As minhas fotografias, no fundo, são as ruínas do tempo, são o testemunho do
18 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
Livros
Essas imagens pré-existentes,
isoladas, têm tanto valor como
as fotografias feitas por si?
Nunca estive interessado na fotografia como obra única. Não me interessa uma fotografia; interessa-me uma
fotografia como parte integrante de
um projecto e de um contexto. Mesmo nos diários de polaróides, os
“London Diaries” (feito em 1993, publicado em 1994), há fotografias que
não me interessam nada como fotografias, são más fotografias, se quisermos, mas que se integram no meu
discurso. Um livro de um escritor não
é feito apenas de belas palavras ou de
frases bonitas, é preciso outras para
sustentar o “corpus” e a linearidade
do texto. Nesse sentido, todas as fotografias servem o mesmo fim. Haverá umas que se destacam mais do que
outras de uma forma estética mas
que, sozinhas, para mim, não teriam
muito interesse. As fotografias não
servem para decorar paredes.
E se não as isolarmos? Têm o
mesmo valor para si?
Claro que há um nível autoral diferente. Como peça de puzzle, como peça
de livro, têm exactamente o mesmo
valor. Aliás, as fotografias que eu poderia tirar daí são as minhas. A informação não se perderia. Ficaria um
livro mais pobre, porque há um olhar
meu nessas fotografias que lhes dá o
tempo presente — a ideia de que isto
é feito e visto de hoje. As minhas fotografias, no fundo, são as ruínas do
tempo, são o testemunho do tempo
que passou. Penso que o meu trabalho também é sobre encontrar ordem
num certo caos. Essas fotografias são
muito isso também: fecham o espaço,
para que tenhamos uma noção clara
do que é o espaço. Mas, no fim, o valor de todas elas será igual.
Foi uma imagem desta sala que Blaufuks viu no livro “Austerlitz”,
de Sebald., e que está na origem de “Terezín”. O espaço pareceu-lhe
encenado, “demasiado perfeito para ser real”. Quando foi a Terezín,
Blaufuks tirou esta fotografia, que está na capa do seu livro
Vamos à origem de “Terezín”.
Este projecto parte de uma
imagem que viu no livro de
Sebald, “Austerlitz”, de um
escritório estranhamente
burocrático e estranhamente
vazio. Esse espaço, como conta
no livro, pareceu-lhe encenado,
e “demasiado perfeito para ser
real”. Ou seja, o que o moveu foi
a desconfiança, a suspeita em
relação à imagem.
Sim. A imagem aparece no livro, ele
não diz onde é que é, fica subjacente
que pode ser em Terezín, mas, como
sempre, o Sebald não é explícito. Nada no Sebald é explícito, tudo no Se-
bald é coincidência sobre coincidência e quando achamos que é mentira
o que ele está a dizer, ele põe-nos
uma imagem que aparentemente prova que é verdade — como se uma imagem não pudesse ser também uma
mentira. Essa imagem é toda uma
espécie de encenação. Como eu escrevo no livro, há um relógio que está parado exactamente às seis da tarde, os ponteiros estão verticais, há
um lado vazio naquele espaço de escritório que, a mim, desde o início,
me lembrou uma peça de teatro. Foi
isso que me provocou mais estranheza dentro daquela sala. Foi uma curiosidade que fui tendo até que deci-
o tempo que passou. O que estou à procura talvez seja do que está debaixo de água
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 19
O crematório, em Terezín. Blaufuks fotografou a cores, mas o efeito
parece preto e branco porque o espaço era lúgubre
di pegar numas milhas da TAP e ir
até lá. Não fui com a ideia de fazer
um livro ou um projecto deste tamanho. Fui com a ideia de talvez tirar
uma fotografia que fosse igual à do
Sebald mas que fosse minha — apropriar-me daquela imagem. Depois, a
coisa saiu um pouco de controlo, foime escapando, isto é, foi sempre estando mais à frente do que eu e eu
fui sempre atrás, a perseguir. É como
entrar num túnel: achamos que é um
buraco pequeno e o túnel vai continuando, continuando, até conseguirmos sair outra vez.
Portanto, não foi programado.
Sim. Eu não queria fazer isto — fui
fazendo. Aliás, fez-me imensa confusão ir a um campo de concentração.
Nunca tinha ido, nunca tinha pensado ir. Deve ter sido o trabalho, não
digo menos pensado porque ele foi
muito pensado no decorrer do fazer,
mas menos pensado anteriormente.
Porque é que nunca quis ir a um
campo de concentração? Por
pudor?
Por um lado, por pudor. Por outro
lado, porque acho que um campo de
concentração é um sítio tão óbvio, tão
claro. E eu sei que as minhas imagens,
voluntária ou involuntariamente, têm
um pendor estético, têm um lado de
beleza. Explorar essa beleza ou esse
lado estético num campo de concentração é um pouco perverso e não é
propriamente aquilo que me move.
Mas criar imagens feias de um campo
de concentração também não me parece muito interessante. Pessoalmente, nunca pensei que visitar um campo de concentração me levasse a algum lado onde não tivesse já estado,
conhecendo eu a História e as histórias, conhecendo as memórias dos
campos de concentração, conhecendo as imagens e os filmes dos campos
de concentração. Nunca senti necessidade de estar num sítio destes. Para
além de todo o terror que isso envolve e de toda a possível amargura e
depressão que se sente quando se sai
de um sítio desses.
Nunca sentiu qualquer desejo de
experiência do lugar?
Não, pelo contrário. Depois de ter
feito isto não tenho qualquer vontade
de visitar Auschwitz ou Dachau. Não
quer dizer que, se por acaso estiver
perto, não vá lá. Provavelmente a minha curiosidade levar-me-à a um desses sítios se eu estiver perto. Agora,
fazer a viagem propositadamente...
Há tantos sítios bonitos no mundo
que eu quero visitar. Um campo de
concentração hoje serve principalmente como um local de memória,
mas também como um local de ensino. Mas, infelizmente, já nasci ensinado.
Enquanto judeu, há qualquer
coisa que o aproxima daquela
história e que é para si mais
pessoal. O facto de ser fotógrafo
coloca uma distância entre si e
aquele lugar?
A câmara fotográfica é uma desculpa
— para fazer certas coisas e estar nos
sítios. Por vezes penso que as pessoas
resolvem muitas das suas angústias
não sendo fotógrafas mas fotografan-
do. Hoje as pessoas chegam a um sítio
muito bonito e a primeira coisa que
fazem é pegar na máquina fotográfica, nem sequer têm a experiência da
beleza do lugar. Possivelmente já nem
sabem dialogar com essa beleza. Da
mesma maneira que, num sítio tão
horroroso como Auschwitz, imagino
que as pessoas chegam lá e a primeira coisa que fazem é tirar fotografias.
A câmara fotográfica acaba por ser
uma defesa. E isso funciona tanto para um fotógrafo como para um amador. Há muitas coisas que fiz na vida
em que a câmara foi uma desculpa.
Terezín não era um campo
de concentração como os
outros. Não era um campo de
extermínio, mas de transição.
Nesse sentido, era uma
experiência menos aterradora?
Sim, menos aterradora no sentido em
que não havia câmaras de morte. Mas
é muito difícil comparar o sofrimento.
Para as pessoas que estavam em Terezín aquilo era um ponto de chegada
da vida delas que até aí se tinha passado em liberdade, em cidades normais, na Alemanha e noutros países.
Portanto, para elas, o terror já era
aquilo: uma cidade inventada, em
que morriam pessoas de doença, em
que não havia condições de vida, porque estava mais que sobrelotada, com
50 mil pessoas, e em que as pessoas
não podiam imaginar que houvesse
pior do que aquilo. Só que o ser humano adapta-se. E ali estavam vivos.
Em Auschwitz não estavam vivos.
Ali [Terezín] não se sabia o que se
estava a passar com os judeus. Portanto, dentro do seu sofrimento, penso que as pessoas podiam ser felizes
em Terezín. E é isso que é estranho
no filme [feito em Terezín], é essa felicidade, verdadeira ou não, que se
vê na cara de algumas pessoas. A
maior parte das pessoas que aparecem no documentário falso não sobreviveu, portanto, para nós, visto de
hoje, é sempre uma felicidade irreal.
Mas até que ponto não era também
verdadeira? Porque as pessoas estavam vivas. Dentro de todo o horror
que se passava à volta, Terezín quase
era uma cidade feliz.
Frequentemente, existe no
livro uma descrição textual
minuciosa das imagens que
aparecem ao lado. De novo, isso
Um campo de concentração é um sítio tão óbvio, tão claro. E eu sei que as minhas
involuntariamente, têm um pendor estético. Explorar esse lado estético num campo
20 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
tem a ver com uma suspeita sua
em relação às imagens como
estratégia de realismo, como
prova irrefutável. Este livro
parece dirigir-se constantemente
aos leitores, dizendo:
desconfiem das imagens.
Absolutamente. Não podemos confiar
nas imagens. Como fotógrafo, sou o
primeiro a dizer isso. As minhas fotografias são completamente subjectivas. Não há objectividade na fotografia, não existe. A maior parte das fotografias de reportagem até há bem
pouco tempo eram a preto e branco.
A ideia de que uma fotografia a preto
e branco pode ser realista é uma mentira absoluta na qual todos nós acreditamos a certo ponto. Como é que
uma fotografia a preto e branco pode
ser realista e documentar a verdade
se nós vemos a cores? A partir daí,
tudo é uma sucessão de mentiras. As
imagens mentem, mentem, mentem.
Estão sempre a mentir.
Este livro podia existir sem o
texto?
Não, porque as pessoas não o saberiam ler. Eu próprio não o saberia ler.
Quando fui a Terezín não tinha infor-
mação suficiente. O que é bonito e
poético nas fotografias que se expõem
numa galeria de arte, em que cada um
pensa o que quiser e tira as conclusões
que quiser — vê um limão ou vê um
amor perdido dentro de um mesmo
enquadramento —, numa fotografia
de informação é perigosíssimo.
Sebald não é só o ponto de
partida, é a figura tutelar de
todo este projecto. O livro segue
uma estratégia sebaldiana: o
Sebald integra imagens nos
seus livros, a par do texto, e
elas adquirem uma função
paradoxal: por um lado,
parecem confirmar o que é
descrito no texto, mas por
outro instalam a incerteza no
leitor, questionando a faculdade
documental das imagens.
Exactamente. E aqui é ao contrário.
Onde o Sebald insere uma fotografia
para tentar comprovar o seu texto,
eu faço o contrário: eu insiro texto
para tentar comprovar ou não as minhas fotografias. No fundo, é uma
estratégia paralela ao Sebald, mas
contrária. Quando fiz “Sob Céus Estranhos”, não o livro, mas o filme,
pouco depois peguei no primeiro livro do Sebald, que não conhecia até
aí. E quase chorei por não ter conhecido o Sebald antes de fazer o filme,
porque estava ali aquilo que eu procurava: essa ideia da História como
uma coisa maleável, mas que se baseia em factos — os factos são inalteráveis, mas tudo o que está à volta
desses factos é moldável. O que é real neste livro são os factos, isto é, o
número de mortos, as pessoas que
estavam, etc. Fiz pesquisa para chegar a essas conclusões. O resto pode
ser ficção.
Isso é verdade em relação ao
diário de Ernst K. Estão lá as
fotografias do diário, mas não
temos a certeza que ele tenha
existido, ou que aquele objecto
seja mesmo de um senhor
chamado Ernst K. E depois, o
nome dele remete para uma
figura literária: Josef K, de “O
Processo”, do Kafka.
Não vou responder a isso [risos]. No
fundo, todo o livro podia ser uma ficção, se não soubéssemos que esta
cidade existiu. Tudo aquilo que não
é facto histórico neste livro pode ser
ficcionado.
Como foi o seu encontro com o
Sebald? Leu-o em alemão, antes
de sair a primeira tradução
portuguesa [2004]. Quando o
descobriu, foi a confirmação de
um caminho que estava a fazer
com o seu trabalho?
Foi, de facto, alguém que eu encontrei
como uma alma gémea. Alguém
s imagens, voluntária ou
o de concentração é perverso
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 21
Blaufuks submeteu as imagens do documentário rodado em
Terezín a um filtro vermelho: era a cor “J” com que os nazis
carimbavam os passaportes judaicos
que estava em busca daquilo que
eu também estava à procura, mas
muito mais à frente e muito mais talentoso. Um dia estava num “diner”
em Nova Iorque e virou-se um estranho para mim, mostra-me o jornal,
que tem a morte do Sebald, e ele diz:
“Do you know this writer?” Foi assim
que eu soube da morte dele, num acidente de automóvel [em 2001]. Não
se sabe se ele teve um acidente, se
teve um ataque de coração, foi uma
morte em “loop”, como os próprios
livros dele. Tenho pena de não ter
guardado o “New York Times” com a
notícia da morte dele na altura.
Esta maneira de contar a História
contando historiazinhas é o que me
interessa. “Sob Céus Estranhos” é feito antes de eu descobrir o Sebald, mas
a ideia era essa: ao contar a história
de duas pessoas [os avós maternos de
Blaufuks], conseguir contar a história
do mundo.
Sebald não era judeu, era
alemão, filho de católicos...
Ainda bem. Isto não é uma história
dos judeus, é uma história da Europa,
é indiferente quem foram as vítimas.
Podia ter sido qualquer minoria – naquela altura eram os judeus, os homossexuais, os ciganos, e os deficientes. O Sebald é apenas o cristalizar de
uma cultura alemã que, apesar dos 11
anos de nazismo, é uma cultura inacreditavelmente rica e admirável.
O que o levou a submeter as
imagens do documentário a um
filtro vermelho? Tem um óbvio
efeito dramático.
Quando vi o filme, a mentira é tão
forte que, mesmo a mim, que tinha
toda a informação, aquilo pareceu-me
um “kibbutz”. No YouTube existem
excertos do filme como propaganda,
a mostrar que os campos de concentração eram sítios óptimos. Portanto,
a força do filme mantém-se como
mentira, para quem quiser acreditar
nela. Eu não queria mostrar o filme
como ele é, no original, com o preto
e branco. Primeiro, decidi deixar
aquela frase “Staged Nazi Film”, que
acho fortíssima, e gostei imenso da
palavra “staged”, que remetia para a
fotografia inicial. E cheguei ao verme-
lho, menos por ser a cor do sangue,
mas mais porque os alemães carimbavam um “J” nos passaportes judaicos a vermelho. Isto, para os judeus
serem identificados, não dentro da
Alemanha, mas principalmente para
os outros países, nomeadamente Portugal e a Suíça, saberem quem haviam
de deixar entrar. Por isso decidi carimbar o filme todo com esta cor vermelha. No fundo, aquilo é um carimbo que remete para esse “J”, remete
para a estrela amarela que os judeus
eram obrigados a usar na Alemanha
e em Terezín, o que é irónico, porque
só havia judeus na cidade. A ideia era
uma cor que embebesse, e que as imagens que estão ao de cima passassem
para segundo plano — a cor é que passa a ser o primeiro plano.
Há uma frase que Eduardo
Prado Coelho escreveu em 2000
a propósito de uma exposição
sua, e que parece premonitória
em relação a “Terezín”: “O que
Daniel Blaufuks nos mostra está
quase sempre desabitado: foi
o humano que se retirou.” Faz
lembrar o que Walter Benjamin
escreveu sobre as fotografias de
Eugène Atget em Paris: que ele
fotografou a cidade sem figuras
humanas, como quem fotografa
o local de um crime.
E aqui aconteceu um crime, de facto.
O filme e os fotogramas do filme preenchem esse vazio. Ao fazer este trabalho senti uma coisa que eu já tinha
sentido no “Sob Céus Estranhos”,
com as fotografias que retirei dos arquivos do Ministério dos Negócios
Estrangeiros. Fui fotografar fotografias de pessoas que tinham pedido
vistos na altura e que não puderam
entrar em Portugal. É que elas não
me deram autorização para estar
aqui, não falei com nenhuma destas
pessoas, nem poderia, porque elas
morreram praticamente todas na altura. O facto de não lhes pedir autorização e agora estarem sem autorização neste livro e neste DVD ainda
me causa um pouco de pudor, de impressão, não há aqui um diálogo. Mas
eu precisava das pessoas para ocuparem este espaço. Só as pessoas que
habitaram esta cidade é que dão sentido ao projecto. Ainda pensei em
trabalhar sobre Terezín hoje, que é
uma cidade habitada por três mil checos, deverá ser interessante falar com
eles e fazer um documentário. Mas
não é disso que estou à procura. O
que estou à procura talvez seja do que
está debaixo de água. E as pessoas
que lá estão hoje estão por cima da
água. Há uma imagem que acho importantíssima e que vem no filme, de
uma mulher que se olha ao espelho.
A falta de privacidade num campo de
concentração é fortíssima. Portanto,
uma mulher olhar ao espelho... acho
que é mais uma das mentiras deste
filme. Não sei se as pessoas tinham
tempo para se olhar ao espelho, não
sei se tinham espelho, não sei se ainda tinham vaidade para se olharem
ao espelho. No fundo, este campo de
concentração põe em causa todos os
outros campos de concentração.
“Terezín” é o seu primeiro
livro com distribuição
verdadeiramente internacional.
O tema teve alguma influência
nisso?
O tema, neste momento, até pode
funcionar pelo contrário. Na Alemanha está-se um pouco cansado da
temática. O risco que estas temáticas
correm é de se esgotarem e de deixarem de chegar às pessoas porque elas
já estão cansadas. Quando fiz a escola na Alemanha, tudo o que aprendi
em História foi o nazismo. Era tal a
preocupação com o ensinamento do
nazismo que não aprendi mais nada
da História alemã. De cada vez que
vinha um professor novo ele sentia
necessidade de falar sobre isso. Isso
torna-se contraproducente.
O que eu acho que ajudou é o livro
ser o que é. E teve a sorte de chegar
à editora certa. Penso que é um livro
diferente da maior parte dos livros de
fotografia que se fazem hoje. Desde
o meu primeiro livro foi isso que me
interessou. A maior parte dos livros
de fotografia são “greatest hits”: os
fotógrafos juntam as melhores fotografias e põem-nas num livro. Para
mim, um livro não é isso. É como um
livro de escrita: tem de ter um tema,
tem de ter um princípio, um meio e
um fim. Algumas dessas fotografias
se calhar são boas fotografias, se calhar não são, mas há uma coisa fechada dentro desse livro que não é a obra
do fotógrafo. Não há tantos livros de
fotografia que sejam assim – pelo
mundo fora. Na maior parte dos livros
de fotografia tanto faz ver em livro
como ver numa exposição ou ver em
fotografias soltas, na Internet, etc.
Este é um trabalho que foi pensado
desde o início como livro.
O livro é mais importante do que
a exposição que fez no CCB em
2007, que lhe valeu o Prémio
BESPhoto?
Não penso que na exposição se possa
compreender o trabalho. Penso é que
se pode ganhar curiosidade pelo tema. As fotografias funcionam como
testemunho de um espaço, mas não
dão a dimensão e a profundidade e o
prazer que dá o livro. Por isso é que
apresentei a maqueta do livro na exposição do BES. Aliás, eu cheguei a
pensar para o BES só expor o livro.
Só que seria demasiado arrojado para
uma exposição de fotografia.
Se pegar nos meus livros — não são
catálogos, eu tenho muito poucos catálogos —, todos eles têm muito mais
trabalho do que é possível expor e
todos eles têm muito mais informação
do que é possível mostrar numa exposição.
Quando já estava a produzir
o livro, descobriu o autor da
fotografia do “Austerlitz”. Quer
contar?
Fui à Steidl preparar o livro, e é o senhor Steidl que trata de tudo. Quando
estava à espera dele, estavam lá os
livros todos que a Steidl já produziu
e entre eles encontrava-se um livro
de Dirk Reinartz, um fotógrafo que
eu não conhecia. Que tem este livro
sobre campos de concentração que
se chama “Deathly Still”, que foi impresso na Steidl. Descobri esta fotografia por um grande acaso. Antes do
meu livro ser entregue para impressão decidi acrescentar aquela frase
que aparece no final, que era a única
página possível, porque achei demasiada coincidência. Foi a última coisa.
Achei incrível: ao fim destes anos todos, depois de ter procurado a imagem na Internet, depois de imensas
“démarches”...
Há pouco falava do túnel: na saída
do túnel, de certa forma, está a solução do início do túnel. Se o Sebald
tivesse escrito de onde era a fotografia, de quem era a fotografia, provavelmente eu nunca teria feito este
projecto. Porque estava já tudo explicado. Ontem, um amigo meu perguntou-me se eu tinha lido o livro do George Steiner, “Os Livros Que Não Escrevi”. Que eu nunca li. Ele diz que
um judeu lê um livro com um lápis na
mão. Para quê? Para escrever outro
livro a partir desse livro. E aqui foi o
que aconteceu. Escrevi um livro a
partir de outro livro, do Sebald. É
uma ideia muito bonita: tudo é
transmissão. Tudo vai dar noutra
coisa e noutra coisa e noutra coisa. E isso, no fundo, é a história da humanidade. Todas
as histórias vão tendo
continuidade através
das gerações. É o que
faz nós sermos seres
humanos. Embora às
vezes nos esqueçamos.
O escritor
alemão W. G.
Sebald.
Blaufuks
refere-se a ele
como “uma
alma gémea”
A maior parte dos livros de fotografia são ‘greatest hits’: os fotógrafos juntam
as melhores fotografias. Para mim, um livro não é isso
22 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
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QUINTA 22
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SEXTA 23
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fado e da can‹o portuguesa. Conhea a obra de uma vida, com textos de Ana Sousa Dias,
numa colec‹o inŽdita de 10 Livros+CD com o Pœblico.
Os poetas
deram-lhe as
palavras.
Ele deu-lhes
a voz.
Livros
bert compôs a partir de poemas de
Wilhelm Müller. Estes 24 poemas formam um conto em que de repente um
homem diz: “Boa noite”, sai de casa e
atravessa a paisagem sem saber para
onde o levam os seus passos, até que
encontra um músico feliz com o seu
realejo. Chegámos a Wanderburgo.
Que é uma cidade imaginária,
mas onde o paralelismo com a
geografia da Alemanha é total.
Quis que ao detalhe se contrapusesse
a fantasia. Hans vive como num sonho, nesta errância algures entre Dessau, cidade onde morreu o poeta Müller, e Berlim, uma cidade política.
Quis manter uma atmosfera estranha
na relação entre o viajante e as pedras
e ruas desta Wanderburgo inventada.
Como se estas se montassem e desmontassem do dia para a noite. Uma
cidade conjectural como as que imaginou Italo Calvino, já no século XX
mas com a aparência exacta de uma
cidade típica do centro da Europa no
início do século XIX.
Mas “O Viajante do Século”
está longe de ser um romance
histórico...
Sim, porque desobedece às regras do
género. Há um salto ao século XX para contar esta história que decorre no
século XIX e esse salto do tempo nunca ocorre no tradicional romance histórico. “O Viajante do Século” está
cheio de recursos que pertencem à
vanguarda literária do século XX:
Franz Kafka, John Cheever. Há descrições quotidianas que lembram Raymond Carver, monólogos interiores
que recordam James Joyce, a construção da cidade aponta a Kafka, o espaço visual é cinematográfico, os diálogos são radiofónicos. Nos encontros
do salão literário, que são em si uma
ideia pesada, solene, os meus perso-
nagens por exemplo não falam um de
cada vez, interrompem-se em acções
e em pensamentos, distraem-se, voltam atrás, seguem em frente. O que
acontece se colocarmos um helicóptero dentro de uma carruagem – o
helicóptero fica parado ou a carruagem desata a voar? Quis perceber se
a partir de fragmentos breves e velozes, se podia manter uma atmosfera
lenta. Um híbrido do romance clássico com a narrativa dos nossos dias,
nos planos estilísticos, político e estrutural.
E assim amarra os séculos XIX
e XX. Mas também escreve que
“o passado serve de laboratório
para analisar o presente”. E o
nosso presente é o século XXI. Ao
qual pertencem os seis anos que
levou a escrever este romance.
A minha ideia nunca foi reconstituir o
passado, mas sim detectar conflitos
que, tendo-se iniciado na primeira metade do século XIX, se instalaram até
hoje na nossa sociedade. Quis deixar
bem à vista o que o passado pode ter
de revelador, os sinais que deixa ao
futuro que infelizmente se acabam por
“Estamos no universo
de Jane Austen.
E de repente, esses
dois seres românticos
tiram a roupa
e descobrem que
têm estrias, peitos
descaídos, sémen”
MIGUEL MADEIRA
Alemanha, início do século XIX: pela
cidade imaginada de Wanderburgo
passa um viajante sem rumo definido
que decide parar na cidade encantado com o som do tocador de realejo
na praça central.
Hans, deixa-se ficar. Frequenta o
principal salão literário da cidade onde se discute todas as sextas feiras
filosofia, política, literatura e um sonho europeu que sabemos hoje se
frustrou. No meio das acaloradas discussões conhece a filha do dono da
casa, Sophie. Apaixonados, propõemse traduzir juntos o melhor da poesia
de toda a Europa.
Andrés Neuman, (Buenos Aires,
1977) é autor de vários livros de contos, e de três romances, dois dos quais
finalistas do prestigiado Prémio Herralde. “O Viajante do Século” (ed.Alfaguara) é o seu livro mais ambicioso.
E foi com ele que passou de promessa a talento consagrado entre a nova
geração de escritores nascidos na
América Latina. Prémio Alfaguara em
2009, “O Viajante do Século” foi ainda eleito pela crítica como o melhor
livro publicado em Espanha no ano
passado. Conversar com Andrés Neuman é viajar a grande velocidade. Sem
travões. Pela história da civilização
europeia dos últimos 200 anos e pelos
caminhos do romantismo.
Porque se detém de repente
este Hans, o viajante, a meio
do caminho contrariando logo
nas primeiras páginas uma das
epígrafes do romance roubada
a Georges Steiner: “Os vegetais
têm raízes, as mulheres e os
homens têm pés”?
A culpa é de Franz Schubert: os meus
pais eram os dois músicos e eu cresci
a escutar “A Viagem de Inverno”, um
ciclo de canções românticas que Schu-
confirmar. A decepção com os projectos revolucionários começou com o
espanto dos intelectuais pela forma
como Napoleão exercia o poder. Daí
passámos às utopias do comunismo
impossíveis de concretizar e que arrastaram na sua queda desilusão e frustração em milhões de pessoas.
Em segundo lugar, há este paralelismo entre a revolução industrial e
revolução digital. A máquina a vapor
e o comboio mudam o conceito de
espaço e tempo. Muda o conceito de
lugar, o homem passa a deslocar-se
mais rapidamente do que a natureza.
E isso repete-se com a revolução digital que hoje vivemos. E tudo isto ocorre não porque a história se repita mas
antes porque o início do século XIX é
na minha opinião o início do presente.
Cai por terra, pelo menos para mim,
a ideia de que a história é veloz e anda
mais depressa do que o homem.
E temos Sophie, uma mulher
emancipada antes do tempo,
que rompe barreiras em nome
de um amor romântico. “O
Viajante do Século” é um elogio
ao romantismo no seu carácter
revolucionário?
A história romântica entre o viajante
Hans e a jovem Sophie tem duas metades bem diferentes: num primeiro
momento tudo é subterfúgios, olhares
que se cruzam e se desviam com pudor, movimentos quase imperceptíveis de tecidos esvoaçantes, toques
de pele subtis. Estamos no universo
de Jane Austen. E de repente, esses
dois seres românticos tiram a roupa
e descobrem que têm estrias, barriga,
peitos descaídos, sémen, sujidade.
Acaba o idealismo em torno dos
corpos e o romance torna-se contemporâneo na forma como é contado.
Fala-se de menstruação, algo muito
pouco romântico. Tentei mostrar o
que se poderia passar dentro da carruagem de Madame Bovary que percorre Paris com as cortinas corridas.
No romance de Flaubert sabemos que
a carruagem leva o amante lá dentro
mas nunca o vemos.
Mas mesmo que lá dentro se pratique coito anal, a ideia era manter o
nível poético. Tentei que na prosa não
se distinguisse entre uma discussão
filosófica sobre Kant, uma tradução
de Bocage e uma descrição de uma
qualquer axila.
E quando não estão a fazer amor,
Hans e Sophie traduzem poesia.
A tradução é também um dos temas
essenciais deste romance: a forma
como traduzimos o passado no tempo
presente. A história de amor entre
Hans e Sophie demonstra como o
amor se pratica traduzindo: gestos,
silêncios, as tuas palavras através das
minhas palavras. Toda a tradução é
um acto de amor.
Hans e Sophie têm o objectivo ambicioso de traduzir toda a poesia europeia de todas as línguas: esta ânsia
de tudo traduzir antecipa o diálogo
de culturas, a ideia de uma Europa de
civilizações e até de ferramentas como o Google.
Andrés
Neuman quis
desobedecer
às regas do
romance
histórico
Ver crítica de livros págs. 44 e segs.
Três séculos:
um só romance
“O Viajante do Século” tem a ambição de nos pôr a olhar para um espelho com o passado lá
dentro. Conversar com Andrés Neuman é viajar a grande velocidade. Rui Lagartinho
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 25
Jerem
os seus
Este é um filme sobre pessoas,
Angola Project” é uma “performan
ENRIC VIVES-RUBIO
Teatro
“The Angola Project” começou há alguns anos e, no momento em que chega a Lisboa
para um espectáculo, hoje, no
Teatro Maria Matos, o seu caminho ainda não se esgotou. É
uma “performance” com vídeo
do actor, bailarino e também
realizador norte-americano de
38 anos Jeremy Xido sobre a
vontade de fazer um “road movie” e contar a história de dois
irmãos que partem de Portugal
em busca da casa que a mãe angolana lhes deixou no interior
de Angola. O caminho dos dois
irmãos cruza-se com o de Simão
Branco de Sousa, ex-soldado angolano a quem a guerra civil tomou a adolescência, também ele
num regresso às origens, da costa
para o Planalto Central.
Na génese ou no meio deste projecto de “performance”, encomendada a Jeremy Xido pela Transforma
Associação Cultural (organização de
artes performativas com sede em Torres Vedras), estão outras histórias: de
uma diáspora angolana em Lisboa e
de uma comunidade asiática activa
na reconstrução de Angola. Ambas
reflectem um mundo em transformação, com novos protagonistas do século XXI, muito diferentes dos que
dominaram o século XX com lutas por
uma hegemonia mundial.
Nesse “road movie” ainda imaginário, cujas imagens são a matéria-prima
principal da “performance” de Jeremy
Xido, cruza-se ainda a história do próprio realizador, “único miúdo branco
num bairro de negros em Detroit”, e
de como, por falta de financiamento,
ainda não foi possível realizar este filme sobre Simão Branco de Sousa e os
dois irmãos, personagens inspiradas
das entrevistas que Xido fez a jovens
angolanos em Portugal. A “performance” foi pretexto para o actor e bailarino falar ao Ípsilon, já em Lisboa, das
ligações reais e imaginárias a África e
de um país, Angola, oito anos depois
do fim da guerra.
Xido: “Os dois irmãos são europeus
e têm uma relação com Angola completamente imaginária, como a relação com África que nós tínhamos
a partir de Detroit. Quando chegam
a Angola, encontram um mundo onde os chineses estão a reconstruir os
Caminhos-de-Ferro de Benguela, e
uma rapariga chinesa que é mais
angolana do que qualquer outra pessoa. As identidades e noções de raça
estão viradas do avesso. As pessoas
estão a lidar com o passado e à procura do significado das suas raízes.
Era esse o território de partida.”
Como diria Xido a potenciais financiadores do seu projecto: “Este é um
filme sobre pessoas, esperança, medo
e redenção.” Isso num primeiro pla-
26 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
no, o das pessoas, que se sobrepõe ao
de um mundo global em mutação. Se
o filme existisse mesmo, teríamos, de
um lado, Simão como testemunha da
História a passar por um território
(antes destruído) em mudança e, do
outro, os dois irmãos, filhos de uma
independência tardia das ex-colónias
de Portugal, heróis de um futuro em
que “todas as hierarquias e regras estão invertidas”, em que “há liberdade
de identidade”.
Fascínio e presença africana
No princípio de “The Angola Project”,
há uma descoberta que se torna força
motora do projecto.
Xido: “A primeira vez que vim a Lisboa [em 2006 ou 2007] fiquei fascinado com a presença africana. Em
parte por causa de onde eu venho.
Venho de Detroit, Michigan. África
era uma questão imensa na minha
infância. Todas as pessoas no meu
bairro estavam fascinadas com África mesmo sem saberem onde era.
Depois, apercebi-me aqui em Portugal de uma presença africana muito
antiga, totalmente diferente de tudo
aquilo que eu conhecia dos Estados
Unidos e outras metrópoles na Europa. Achei que era uma relação
muito mais antiga e directa com África, enquanto para nós era uma relação com um lugar imaginário sem
realidade física.”
Num segundo momento, mas quase em simultâneo com esse fascínio
fundador (que revela a Jeremy Xido
algo sobre ele próprio e o lugar de
onde vem) há a frase de uma estudante do Sul de Angola – “A Europa morreu, Angola é o futuro” – numa das
entrevistas com a comunidade angolana em Portugal.
Xido: “Ela era africana, e não estava
a falar no sentido de que ‘não há futuro para mim aqui’, era no sentido
de que não há futuro para ninguém
jovem, não há sentimento de excitação ou potencial ou entusiasmo, mesmo para os jovens portugueses. As
pessoas estão cansadas, não há uma
força mitológica que as mova. Para
ela, pelo contrário, havia um mito
muito poderoso que estava vivo.”
A essa força, juntou-se essa ideia
latente do declínio de antigos poderes
e do começo de novos.
Xido: “Entre o grupo de jovens entrevistados havia este sentimento de
futuro e de possibilidade em África
que não havia da Europa. Fiquei espantado com esta constatação de
que há enormes mudanças nos equilíbrios geopolíticos e de poder com
a Ásia e a África. A proeminência da
China como uma potência mundial,
a mudança no papel que a África
my Xido Angola com
s universos paralelos
esperança, medo e redenção. Ou virá a ser, quando tiver financiamento garantido. Para já, “The
ce”, com vídeo, texto e imagens de uma Angola que nos revela um mundo novo. Ana Dias Cordeiro
Branco, se com isso houver mais hipóteses de financiamento. Mas tudo
são ainda interrogações.
Xido: “O meu objectivo é talvez fazer
os dois [filme e documentário], ou um
filme na fronteira entre o documentário e a ficção, que é o que nós, Cabula6, como companhia de teatro,
fazemos, entre o que é real e o que é
fabricado, jogando com o poder da
realidade e o poder da ficção.”
A companhia Cabula6, de Jeremy
Xido e Claudia Heu, foi distinguida
como “Companhia do Ano de 2009”
pela revista “Ballettanz” e galardoada
com o “Outstanding Artist Award –
Intercultural dialogue 2010”, pelo
Ministério da Cultura austríaco. O seu
trabalho, posto em cena e mostrado
na Internet, é visto como criador de
uma arte de distância do teatro e de
aproximação à literatura.
Século de oportunidades
“[Em Angola]
encontrei um mundo
muito à frente
da Europa, como uma
fronteira onde
as identidades
e designações de
identidades são mais
fluidas e as pessoas
podem ser coisas
que não sabíamos
que podiam ser”
Jeremy Xido
que imaginou. E muito mais “freaky”
(bizarro e estranho), o que na cabeça
de Xido é positivo, no sentido de
“complexo e inesperado”, mesmo
que o que encontrou em Luanda não
lhe tenha inspirado um sorriso. Na
capital angolana, Xido viu “coisas
confusas”, como grandes edifícios de
escritórios com as luzes indicadoras
sempre ligadas à noite, ao lado de
bairros inteiros sem luz nas ruas e nas
casas onde vivem as pessoas. A vibração, sentiu-a no resto do país.
podem ser coisas que não sabíamos
que podiam ser. Havia gente de todo
o mundo, suecos e dinamarqueses,
alemães da Baviera, com bigodes gigantes e planos para construir fábricas de cerveja. E chinesas que acabaram de se licenciar e estão a dar a
volta ao mundo. Na China, a tradutora [a trabalhar no complexo de
construtores] teria que corresponder
a um certo papel enquanto mulher
na sociedade. Em Angola, era a pessoa mais importante do complexo.”
Xido: “Em Benguela conheci médicos
russos e cubanos, construtores das
Filipinas, soldados e prostitutas e
trabalhadores por conta própria vietnamitas, que me convidaram a entrar na sua vida nocturna homossexual de Benguela, que eu não fazia
ideia de que existia. Bizarro. Encontrei um mundo muito à frente da Europa, como uma fronteira onde as
identidades e designações de identidades são mais fluidas e as pessoas
Num bar de kuduro, na última paragem da linha dos Caminhos-de-Ferro
de Benguela, Xido encontrou “pessoas
a arrastar cabras, soldados bêbedos,
uma mulher com uma ferida de bala
na cabeça que batia no homem ao seu
lado, um travesti que falava sozinho”.
Encontrou “o que imaginava ser a realidade nos ‘westerns’ americanos,
como um bar de fronteira”. Sentiu que
estava num “saloon” futurista, do
século XXI. O século de Angola?
O filme (ou documentário) vai tomando forma na cabeça de Xido (e é isso
que ele mostra na sua “performance”). Passa pela história de Simão
Branco nesse regresso à províncias
do Huambo e do Bié, que também ele
ajudou a destruir, e na sua procura
de um emprego na empresa chinesa
que está a reconstruir a mítica linha
dos Caminhos-de-Ferro de Benguela.
Essa linha é quase inversamente paralela à rota dos escravos que saíam
do coração de África, levados para o
outro lado do Atlântico.
Xido não sabe ainda se o seu
filme será uma ficção, um
documentário ou algo entre os
dois
pode ter no século XXI e o declínio
da Europa e dos Estados Unidos como poderes hegemónicos no mundo.
Neste virar de mesa, nesta inversão
de papéis, encontro uma sensação
de liberdade que me fascina.”
Se há esperança num território destruído por uma guerra do século XX,
também haveria para o filme de Xido
que ninguém ainda quis financiar.
Como se Angola demonstrasse que
“há alternativas a tudo aquilo que havia no século XX”. Como se a História
não tivesse sempre que ser contada
pelos vencedores (ou pelos que têm
o dinheiro). Para isso, basta encontrar
alternativas. O filme-ficção sobre os
dois irmãos pode passar a ser um documentário, mais centrado em Simão
Xido: “Aqui estávamos nós na linha
transcontinental de Benguela, construída pelos britânicos, a pedido dos
portugueses, ao longo das antigas
rotas de caravanas de escravos por
onde passaram antepassados de pessoas como as que vivem no meu bairro. A mesma linha que no século XX
foi bombardeada e minada pelas potências envolvidas na Guerra Fria e
que agora está a ser reconstruída por
empresas da China, a nova potência
dominante emergente no mundo.”
Mais do que uma vez, na “performance”, Xido diz: “Estamos no século XXI.” Quase sempre em sinal de
esperança e a lembrar que o seu filme
ainda virtual olha para o futuro. Se,
no passado, não havia esperança de
conseguir apoios para um filme com
protagonistas negros, no século XXI
isso não só é possível como é comum
encontrarem-se e contarem “histórias
em que os brancos são totalmente
irrelevantes”. “É uma maneira importante e nova de contar o mundo”,
acrescenta.
Saloon futurista
Em Benguela, ou mais para dentro do
coração de Angola, Xido encontrou
um mundo muito mais vibrante do
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 27
festival
É um dia calmo lá em casa. A campainha toca. Espreita-se pelo óculo da porta para ver quem é. Vislumbra-se um homem baixo, cabelo com gel, roupas coloridas,
sapatos de salto alto e Bíblia na
mão. Pensamos ser um sósia de
Prince. Depois o homem fala, diz
que quer falar connosco sobre
Deus, fica-se curioso e abre-se a
porta. E às tantas percebe-se que
não é um sósia. É mesmo ele.
Em Portugal não se corre esse
risco. Mas em pequenas cidades
do interior dos Estados Unidos,
nos últimos dez anos, tem acontecido. A maior parte das vezes não
é reconhecido. Às vezes enverga
até uma roupa mais comedida e
faz questão de metamorfosear o
cabelo. Mas muitos já apanharam
o sobressalto da vida, abrindo a
porta a uma testemunha de Jeová
e acabando a falar com uma das
maiores estrelas pop das últimas
três décadas.
A história vem contada no jornal
inglês “Daily Mirror”, que distribuiu gratuitamente o seu último
álbum, “20Ten”, na edição de sábado passado, mas tem sido reafirmada ao longo dos últimos anos
em vários artigos de imprensa.
Prince é Testemunha de Jeová,
professando com convicção, inclusive no porta a porta.
Nada disso interessava, se ele
não estivesse de regresso. Há o ál-
bum novo, provavelmente o seu
melhor desde “Sign ‘O’ The Times”
(1987). Houve uma aparição recente, em Paris, ao lado de Stevie Wonder. Há essa relação de admiração
em relação à fadista Ana Moura,
que o levou a assistir a um espectáculo seu em Paris o ano passado.
Dessa relação resultará a interpretação, em estreia, e em dueto, no
Meco, de “Walk in sand”, uma canção do último álbum dele, composta a pensar em Portugal. E há uma
série de concertos recentes entusiasmantes, como há 15 dias no festival Roskilde, da Dinamarca, perante 70 mil pessoas, onde tocou
sucessos de sempre (“Kiss”, “Little
red corvette”, “1999”, “Let’s go
crazy”, “Purple rain”) e versões
surpreendentes como “Le freak”
dos Chic, “Shake your body” dos
Jackson 5 ou “Everyday people”
de Sly & The Family Stone.
E há, claro, esse concerto no Festival Super Bock Super Rock, no
Meco, no próximo domingo, pelas
23h45. Curiosamente é um evento
onde se poderão encontrar alguns
dos seus descendentes como Jamie
Lidell (hoje, 19h) ou Mayer Hawthorne (hoje, 20h10), para além
de muitos outros pontos de interesse provenientes da pop electrónica, como os Cut Copy (hoje,
21h20) e Hot Chip (sábado, 22h30),
do rock menos convencional, como os Grizzly Bear (hoje, 23h30),
Ele admira a fadista
Ana Moura. Os dois
vão cantar em dueto
“Walk in sand”,
a canção que ele
compôs a pensar
em Portugal
Julian Casablancas
abllancas (sábado, 21h),
Vampire Weekend
Wee
ekend (sábado, 23h50)
e National (do
(domingo,
omingo, 21h30) ou das
linguagens
ns dançantes,
d
como Richie Hawtin
tin (hoje,
(
01h).
m sabe
sa
abe o que irá aconteNinguém
cer exactamente
amente no Meco. A imprevisibilidade
lida
ade ainda faz parte
dele. Quem
m o viu em Portugal (em
1993 no Estádio
stád
dio de Alvalade e em
1998 no Pavilhão
avilh
hão Atlântico e, horas
mais tarde,
e, no
o Lux, num concertosurpresa onde
ond
de se fartou de improvisar) sabe-o.
e-o.. Mas é previsível que
se apresente
nte
e com um naipe alargado de músi
músicos
icos e bailarinos. Que
demonstre
e uma
u
excelente forma
física aos 52 anos.
a
E que apresente
êxitos – ficando
and
do de fora os que possuem carga
ga e
erótica
rótica mais explícita,
talvez – misturados
mistu
urados com canções
do novo registo.
egissto.
Apesar da sua devoção a Deus,
O nome dele é
não é costume evocá-lo
directamente em palco,
embora as canções do
novo disco tenham sido
influenciadas pela sua fé.
Isto ao nível das letras. Do
ponto de vista sónico é o seu
disco, desde há muito, que mais
investe na fisicalidade e no dinamismo rítmico. Há um balanço
sensual como em “Sign ‘O’ the Times”, economia minimalista como
no álbum “Parade” (1986), rasgos
de electro-funk como em “1999”
(1983) e os habituais solos de guitarra, pianadas jazzísticas, sintetizadores que parecem fanfarras
e o registo em falsete. Não constituiu, evidentemente, uma revolução. Mas é o seu disco mais inspirado de há muito tempo, visível
em canções como “Compassion”,
“Sticky like glue” ou “Everybody
loves me”.
Hoje em dia diz-se um homem
tranquilo, apesar de continuar em
luta com a indústria tradicional da
música e com a Internet, procurando novas formas de distribuir a sua
música. Os jornais são apenas uma
delas – para além do “Daily Mirror” inglês, também o “Daily Record” da Irlanda e o “Het Nieuwsblad” belga distribuíram o seu álbum gratuitamente no sábado e a
“Rolling Stone” alemã irá fazê-lo
a 22 de Julho. Ao contrário da
maior parte das estrelas pop,
Prince
e ainda é funky
O festival começa hoje, no Meco, com Pet Sh
Shop
hop Boys ou
Grizzly Bear. Mas é no domingo que actua o nome mais
aguardado, Prince, que acaba de lançar novo
ov
vo álbum e
interpretará uma canção, inspirada em Portugal,
rtu
ugal, com a
fadista Ana Moura. E conseguirá ele mostrar
ar que não
existe contradição em ser-se testemunha de
e Jeová
J
e
celebridade da cultura pop? Vítor Belanciano
an
no
28 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
Música
Sexta, 16
Palco Super Bock
Pet Shop Boys: 00h40-02h10
Keane: 22h40-23h55
Cut Copy: 21h20-22h20
Mayer Hawthorne & The County:
20h10-21h00
Jamie Lidell: 19h00-19h50
Palco EDP
Grizzly Bear: 23h30-00h30
The Temper Trap: 22h00-23h00
Beach House: 20h40-21h40
St. Vincent: 19h35-20h20
Godmen: 18h45-19h15
Palco @Meco
M-Nus Showcase: 22h00-04h00
Richie Hawtin
Marco Carola
Magda
Sábado, 17
Palco Super Bock
Leftfield: 01h30-02h30
Vampire Weekend: 23h50-01h05
Hot Chip: 22h30-23h30
Julian Casablancas: 21h00-22h10
Tiago Bettencourt & Mantha:
19h40-20h30
Palco EDP
Patrick Watson: 23h10-00h20
Rita Redshoes: 21h40-22h40
Holly Miranda: 20h20-21h20
Sweet Billy Pilgrim: 19h20-20h00
Malcontent: 18h30-19h00
Palco @Meco
Ricardo Villalobos & ZIP: 01h0004h00
Bloop Showcase: 22h00-01h00
Magazino
Joao Maria
Jose Belo
Henriq & Bart Cruz: 21h00-22h00
Domingo, 18
Palco Super Bock
Empire of the Sun: 02h00-03h00
Prince: 23h45-01h15
The National: 21h30-22h45
Spoon: 20h20-21h10
Stereophonics: 19h10-20h00
Palma’s Gang: 18h00-18h50
Palco EDP
John Butler Trio: 23h05-00h05
Sharon Jones & The Dap Kings:
21h45-22h45
Wild Beasts: 20h25-21h15
The Morning Benders: 19h20-20h05
Stereo Parks: 18h30-19h00
Palco @Meco
Laurent Garnier Live: 02h30-04h00
Rui Vargas & André Cascais:
00h30-02h30
Zé Salvador: 23h00-00h30
Hi-Tech²: 22h00-23h00
Mary B: 21h00-22h00
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 29
Al Green
Madonna
Serena e Venus Williams
Bob Dylan
Cat Stevens
Aprender a rezar na era da estética
Prince não é excepção. Muitas são as estrelas – da música e não só – que fizeram da sua conversão espectáculo. A fé nasce,
sobretudo, do desespero? João Bonifácio
Houve um certo bruá quando se
soube que o ex-debochado Prince
tinha decidido entregar a sua alma
à religião, mais propriamente às
Testemunhas de Jeová. Um certo
barulho mas menos, muito menos,
do que aquele com que, há vinte e
tais anos, Bob Dylan teve de lidar
por causa dos seus problemas
com a fé. Muito provavelmente,
desde Kierkegaard que ninguém
teve tantos problemas com a fé
como Bob Dylan. Ou, de forma
ainda mais precisa, nenhuma
celebridade teve tantos problemas
com a fé como Bob Dylan.
Para sermos absolutamente
exactos, não há nenhuma prova
de que Dylan tenha de facto tido
problemas com a fé visto nunca
o bardo ter dito duas palavras
sobre ter-se tornado cristão
novo. Os problemas pertencem
exclusivamente aos outros: os
fãs da fase folk, os fãs da fase
eléctrica, os fãs socialistas, os
fãs do lado cínico, os músicos, os
jornalistas. Essencialmente isto –
os jornalistas.
Por que é que um homem
como Dylan, que para os
homens do papel e da caneta era
simplesmente a) o profeta acabado
de b) uma geração que tinha
corrido mal (a primeira premissa
está errada, a segunda certa),
haveria de aderir a uma religião
minoritária e obscura, assim
lançando (ainda mais) sombras
sobre a sua carreira?
É curioso que nunca ninguém
coloque a pergunta quando se
trata de músicos negros, quase
todos invariavelmente devotos.
Talvez o facto de Dylan ser judeu
tenha aumentado o “escândalo” –
que ainda dura e alimenta páginas
de revistas e livros até hoje. Os
judeus são muito ciosos dos seus.
São capazes de aceitar as ovelhas
tresmalhadas que gozam com
o seu povo, desde que tenham
sucesso (Woody Allen, Roth,
Larry David), mas não perdoam
abandonos. Excepto no caso de
Leonard Cohen, que por mais
budista que se tenha tornado
sempre afirmou nunca ter deixado
de ser judeu.
A religião como refúgio
Ao lado de Dylan nas conversões
religiosas que deixaram o mundo
surpreendido, só mesmo Cat
Stevens, hoje conhecido por Yusuf
Islam, devidamente convertido
30 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
A lista de estrelas do
entretenimento
que ofereceu a alma
ao Criador da sua
eleição após ter
encontrado a fama
é imensa
ao islamismo como o nome
indica. O caso de Stevens está
provavelmente mais próximo do
que hoje acontece com a maior
parte das celebridades do que
o caso de Dylan. O bardo era
um experimentador, um eterno
irrequieto que um dia acordava
cínico, noutro Don Juan, a seguir
pai de família, às quartas era
bluesman, às quintas literato e às
sextas melómano. Ser religioso
era uma experiência como outra
qualquer.
Mas para Stevens o islamismo
foi uma forma de sobrevivência.
Compositor de folk sensível,
lançado para o estrelato do dia
para a noite, Stevens sentiu a fama
como uma queda interminável
no vazio, agarrando-se à heroína
com a força dos fundamentalistas.
Quando a heroína deixou de o
ajudar, o islamismo estava lá para
funcionar como rede. O caso foi
ainda mais badalado porque, a
partir daí, a carreira de Stevens
deixou praticamente de existir.
Não foi o único caso em que
uma conversão religiosa deitou
uma carreira a perder: o soulman
Al Green, quando decidiu deixar
de cantar “secular music”, isto
é, música pagã, tornou-se uma
pálida imagem do que havia sido
até aí.
(Por outro lado, nem todas
as conversões redundaram em
fracaso: Lew Alcindor atingiu a
fama já como Kareem-Abdul Jabar,
extraordinário basquetebolista
dos Lakers. Mohamed Ali teve os
seus grandes momentos já depois
de se tornar muçulmano.)
Mas Stevens e Al Green são um
bom símbolo do que acontece
nos dias de hoje: homens que,
devorados pela fama, procuraram
refúgio na religião. No caso de
Green tratou-se de um ataque
de uma namorada furiosa com a
sua promiscuidade a espoletar a
conversão.
Nestes casos estávamos perante
religiões clássicas. Mas quando
olhamos para as primeiras
páginas dos jornais a reacção
mediática às conversões de fé das
estrelas está mais próxima da que
Dylan enfrentou: é como se, de
repente, aqueles seres inatingíveis
e perfeitos se entregassem a algo
de obscuro que, possivelmente,
terá ligações com o oculto.
A lista de estrelas do
entretenimento que ofereceu a
alma ao Criador da sua eleição
após ter encontrado a fama é
imensa: Madonna vota na Cabala
e não contente com isso fez
Britney Spears juntar-se a ela.
Ao mesmo clube aderiram Demi
Moore e marido (Ashton Kutcher)
e Victoria Beckham. Tom Cruise &
senhora alinha pela Cientologia,
que entretanto já arrecadou Beck
e uma data de colunáveis de
Hollywood.
Há outros casos de adesão mais
ou menos profunda à fé. Richard
Gere, um homem conhecido por
ser capaz de franzir o sobrolho
à maneira de Richard Gere
mesmo com palitos a içar-lhe o
sobrolho é um (aham) estudioso
devoto do budismo há muito. As
manas Williams (as tenistas) são
testemunhas de Jeová. Isto é tudo
gente que há muito encontrou
numa qualquer forma de fé um
sustentáculo da sua vida, por
oposição a quem de repente
descobriu a luz.
É que há ligeiras diferenças
entre as opções que se tomam. A
monumental adesão de VIP com
vivendas em L.A. à Cabala soa
quase a moda. Esta não é uma
opinião pessoal – é uma opinião
de quem estuda e pratica religião
como última finalidade de vida,
mais propriamente do rabi David
Wolpe do Conservative Sinai
Temple de Los Angeles (portanto,
habituado às idas e vindas de
deslumbrados da fé). Aquando
da súbita conversão de Madonna
à Cabala, pediram ao rabi um
comentário. Homem avisado, disse
apenas: “As almas não crescem
com respostas simples. Fitas
vermelhas [como a que Madonna
usava em sinal de culto à Cabala]
e garrafas de água mágicas não
mudam o mundo e não mudam as
pessoas.”
Não é difícil ver as adesões
à cabala como uma simples
moda a que se presta gente com
demasiado tempo para gastar. A
Cientologia parece outro território
– ninguém que lá entre abre a
boca sobre a instituição, o que faz
sentido se analisarmos com calma
os pressupostos “teológicos” que
a regem.
Fé e identidade
Faz sentido que estrelas adiram
a um culto tão cerrado.
ado. O mundo
dessas estrelas é o da idolatração
contínua, em que uma
ma parte
do ego se rege (e reage)
age) a algo
tão vago quanto a sua suposta
o que na
popularidade – algo
nsurável,
realidade não é mensurável,
ancária.
excepto na conta bancária.
Convenhamos que não há-de ser
ituado a ser
saudável estar habituado
visto por milhões, a ser seguido
por milhões, a definir cada um
ssível reacção
dos passos pela possível
go assim dá
desses milhões. Algo
cabo da identidade.. A proverbial
tão do
e adolescente questão
á certamente
“Quem sou eu?” fará
sentido na cabeça de pessoas
sso sem um
que não dão um passo
hadores
séquito de aconselhadores
tá lá
que, por norma, está
abar a
apenas e só para gabar
estrela e para lhe mostrar
undo está
como o resto do mundo
contra ela.
Assim sendo faz sentido que
nvertido à
Prince se tenha convertido
religião das manas Williams. Em
xplicitamente
1982 ele escrevia explicitamente
sobre um método que tinha
vontade de pôr em prática
para sentir o sabor de uma
vés de um
boca feminina através
sistema perceptivo altamente
ndanamente
desenvolvido e mundanamente
is. Em 2010
conhecido por pénis.
nspirações
ele acredita em conspirações
químicas (tal como Beck) e acha
que o mundo está aí para dar cabo
de nós.
entido se
Faz tanto mais sentido
pensarmos que há mais de
os que
uma dezena de anos
m números
Prince não vende em
randiosos,
verdadeiramente grandiosos,
se pensarmos que hoje ele é o
u os tipos
tipo que influenciou
O que implica
que estão no topo (O
que ele não esteja no topo). Há
az Prince uma
quantos anos não faz
canção memorável?? Essa simples
o se está no
noção, de que já não
topo do mundo, de que as Kim
Basingers de hoje prefeririam um
Justin Timberlake ao velhadas
que escreve “Sign the times”, é
coisa para dar cabo do ego de um
“entertainer”.
Um “entertainer” vive dos
aplausos. Quando os aplausos
rareiam raras vezes o “entertainer”
aceita que são as regras do
tempo. Por norma, como “Sunset
Boulevard” tão bem demonstrava,
há um certo desespero que se
apodera destes tipos que antes
tiveram tudo e que se movem em
meios onde é obrigatório fruir
tudo o que se tem à disposição:
todas as drogas, todas
as mulheres, todos
os contactos
sociais, todos os
carros, todas
as capas de
jornais.
Quando isso
se vai embora,
vem a fé.
Duvida-se
que essa fé
seja fruto
do estudo
e apostase que
nasce do
desespero.
festival
proibiu o YouTube e o iTunes de utilizarem a sua música e nem sequer tem sítio
oficial na Internet. Numa entrevista recente afirmava que
a Internet está acabada. “Não
vejo por que é que hei-de dar a minha música ao iTunes ou a quem
quer que seja. Não me pagam um
avanço e ainda por cima ficam zangados, quando não conseguem o
que querem.” Para ele, a Internet
é como a MTV. “A MTV era o máximo e de repente ficou datada.”
Quase não dá entrevistas, faz os
concertos que quer, lança discos
quando lhe apetece. Diz-se satisfeito com o que tem. E tem ainda muito. Continua a ter Paisley Park, perto de Minneapolis, um complexo
de edifícios e estúdios que é sinónimo de Prince, como Neverland
era de Michael Jackson. Mas algo
mudou há muitos anos. Tudo terá
começado em 1996, quando o filho
começad
Gregory faleceu, sete dias depois
de ter na
nascido. Logo de seguida foram os p
pais, o pianista John L. Nelson e a cantora
c
jazz Mattie Shaw.
A mãe era testemunha de Jeová
e o seu desejo
d
final foi que o filho
se conve
convertesse. Nesse período crítico – par
para além das mortes incompatibilizou-se com editoras – apropatibilizo
ximou-se de Larry Graham, baiximou-s
xista e fundador
fu
dos Sly and the
Family Stone,
S
que lhe disse que
havia recuperado
rec
de uma vida de
drogas e violência pelo facto de
ser teste
testemunha de Jeová. E a conversão aconteceu.
a
Deu la
largas somas de dinheiro
para cau
causas em todo o mundo e o
homem que
q era conhecido por coleccionar casos (Kim Basinger,
lecciona
Sheena Easton
E
ou Cármen Electra)
tornou-se monogâmico. A sua natornou-s
morada a
actual é Bria Valente, cujo
álbum d
de estreia produziu o ano
passado. Ela também é testemupassado
nha de Je
Jeová. Ele diz que estudam
cinco horas
ho
por dia. Hoje, quando
lhe falam das letras libidinosas e
da capa de discos como “Lovesexy” onde surge nu, limita-se a sorrir e diz que “vive agora, não no
passado”.
passado
Ao longo
lon de 30 anos de carreira,
vendeu mais de 100 milhões de
álbuns. A década de 80 foi a sua
fase mais
mai cintilante, aquela que
marcou definitivamente os caminhos da música popular, em álbuns com
como “Dirty Mind”, “Controversy”, “1999”, “Purple Rain”,
troversy
“Parade” e “Sign ‘O’ Times”. Na
“Parade
alvorada dos anos 80, em pleno
período pós-punk, não era fácil
gostar dele.
d
Não era só a música,
de econo
economia narrativa, capaz de
congregar num só miligrama pop,
congrega
funk, soul,
so
folk ou rock & roll de
forma la
lasciva e apaixonada, era
também o visual e a atitude extravagante, num tempo onde o
travaga
artifíc
artifício e o excesso não eram
paradigmas reinantes.
parad
Era como se conseguisse sintetizar o que vinha de trás –
tetiz
Não vejo por que é que
hei-de dar a minha
música ao iTunes.
Não me pagam um
avanço e ficam
zangados, quando
não conseguem o que
querem
Marvin Gaye, Miles Davis, Chic, Sly
& The Family Stone ou Beatles –,
ao mesmo tempo que prenunciava
quase tudo o que iria marcar a música negra pop, e não só, das próximas décadas – Pharrell Williams,
Kenye West, Justin Timberlake,
Timbaland, Beck, Jamie Lidell ou
OutKast. Durante muitos anos,
coincidente com os anos de ouro
da MTV, insistiu-se numa rivalidade com Michael Jackson. Mas eram
de mundos diferentes. Jackson era
o homem que tentava sempre ajustar-se ao centro do mercado. Prince simplesmente não queria saber.
Era uma mente livre.
E excêntrica. Famosas ficaram
as digressões faraónicas e os seus
caprichos. Há sete anos, em Miami, num debate sobre a indústria
da música moderado pelo falecido
Tony Wilson, da editora Factory,
era apontado como o caso típico
do músico esbanjador. Na altura,
Casey Spooner (dos Fischerspooner) estava em estúdio com músicos de Prince, que lhe contavam
histórias do género desta: “Era
capaz de dar um concerto em Roma, depois tocar num clube local
e, na mesma noite, voar no seu
avião particular para o seu estúdio
em Minneapolis onde tinha os seus
músicos à espera para registar
uma ideia que havia tido nessa
mesma noite. Depois, no dia seguinte, regressava à Europa para
mais um concerto!”
Longe vão os tempos em que
cantava, no princípio dos anos 90,
“My name is Prince and i am
funky”, como forma de tentar conquistar público do universo hiphop, apostando numa linguagem
mais afirmativa. Hoje já não tenta
ser quem não é. É verdade que já
não quer expandir a paleta da sua
música, como aconteceu nos anos
80 e primeira metade dos 90, em
que cada novo álbum seu era um
desassossego de novidade. Hoje
limita-se a fazer álbuns à Prince,
ou seja, exactamente o mesmo que
a maior parte dos agentes da pop
moderna tenta fazer.
A próxima vez que uma testemunha de Jeová vos inquirir, já
sabem, olhem para os sapatos.
Nunca se sabe. Pode ser Prince.
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 31
Pet Shop Boys
Pop coreográfica
Recentemente, no terreno do rock, no festival Glastonbury, foram coroados como os grandes
triunfadores. Conseguirão os Pet Shop Boys fazer o mesmo, hoje, no Meco? Neil Tennant acha
que sim. Vítor Belanciano
[o falecido realizador de cinema] Derek Jarman criou um ‘show’ multimédia que nos fez acreditar que existem
muitas maneiras de expor a nossa
música. Temos ideias, gostamos de
colaborar com artistas de outras áreas, sentimos que este é um campo
ainda pouco explorado, pelo que continuamos a experimentar.”
Hoje à noite ouvir-se-ão previsivelmente muitos sucessos dos últimos
25 anos (“West end girls”, “Suburbia”,
“Go west”, “Always on my mind”, “It’s
a sin” ou “What have I done to deserve this?”) e também algumas canções
do último álbum, “X”, o seu décimo
longa-duração de estúdio, lançado o
ano passado. Nesse disco entregaram
a produção à equipa Xenomania (Girls
Aloud, St. Etienne), o que parece ter
funcionado, não só criativamente,
como em termos comerciais, com a
dupla a alcançar um sucesso nos Estados Unidos como nunca sucedera.
Da electrónica ao ballet
Foi sábado, logo pela manhã, dia em
que completava 56 anos, que falámos
com Neil Tennant pelo telefone, enquanto este tomava o pequeno-almoço. Não sabíamos que era o seu dia de
aniversário, daí que quando introduzimos a primeira pergunta se tenha
rido.
Dissemos-lhe que havíamos entrevistado há pouco tempo James Murphy dos LCD Soundsystem, que havia
confessado estar saturado de grandes
festivais, porque sentia que o design,
o invólucro, a forma como são pensados, não era para pessoas com 40
anos, como ele. “Ele disse isso? Gosto
imenso de James Murphy, adorava
trabalhar com ele e compreendo-o,
mas não concordo. Pelo contrário,
cada vez mais em Inglaterra os grandes festivais são imaginados para gerações de pessoas mais velhas.”
32 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
No Meco, os cabeças de cartaz serão eles e Prince, outro também na
casa dos 50 anos. “É natural, temos
uma carreira e um percurso. É engraçado, porque nos sentimos muito
mais à vontade hoje em dia a actuar
em festivais do que no passado. No
princípio, víamo-nos essencialmente
como um projecto de estúdio. Hoje
não, desfrutamos mais. Não temos
nada a perder. É muito bom.”
No recente festival Glastonbury, o
mais importante ao ar livre no Reino
Unido, deram um dos concertos mais
festejados, apesar de, segundo Tennant, a cultura rock ainda ter muitos
preconceitos em relação ao tipo de
espectáculo que os Pet Shop Boys
apresentam.
“A imprensa, e toda a lógica da indústria da música, ainda vive segundo
os códigos do rock de há 40 anos. E
isso acaba por ter um peso imenso
sobre a forma como as pessoas pensam e vivem as coisas da música. É
um tremendo disparate, claro. Os
concertos rock não mudaram quase
nada nos últimos 50 anos? Por quê?
Porque existe esse poder paralisador
que faz crer que as coisas da música
têm de ser vividas de uma certa forma.”
E como é um concerto dos Pet Shop
Boys? Tem um conceito. É cuidado
visualmente. É teatralizado. “É excitante”, diz Tennant. “Pelo menos é
essa a intenção.” No Meco haverá bailarinos com cubos na cabeça, projecções, um misto de design e coreografias, com o cantor e o cúmplice Chris
Lowe no centro dos acontecimentos.
“Poderíamos fazer uma ópera, mas
apetece-nos fazer isto. Quando fizemos a primeira digressão, em 1989,
Nos últimos tempos, por causa do
êxito de cantoras americanas, como
Lady GaGa, ou de inglesas, como La
Roux, o nome dos Pet Shop Boys tem
sido evocado como grande referência,
quando se fala do regresso da pop
electrónica ao centro do mercado.
“Não sei se existe um regresso, a pop
electrónica sempre esteve por aí”, diz
Tennant. “Nos EUA, sim, parece-me
que o sucesso de Lady GaGa tem sido
importante para abrir uma série de
portas. La Roux é diferente, é revivalista de mais para mim. Os anos 80 já
lá vão.”
Algumas das melhores canções do
duo são tocadas pelo equilíbrio instável entre ritmos electrónicos, ambientes melancólicos, arranjos faustosos
e a voz de Tennant, que parece quase
sempre monocórdica. Durante muitos
anos eram irónicos, sarcásticos até,
não só nas canções, como na relação
com a imprensa. Hoje dizem-se mais
descontraídos em relação ao assunto.
“Somos um pouco irónicos, sim, mas
é uma questão de humor, e não de
pose. Nunca tivemos necessidade de
nos afirmar dessa forma, mas a partir
de determinada altura, como reacção
ao facto de a imprensa rock nos considerar frívolos, começámos mesmo
a personificar essa frivolidade, por
excesso, brincando com isso, nada
mais.”
Apesar dos festivais, o duo tem eshar num novo projecto.
tado a trabalhar
Foram convidados
vidados pe- lo teatro
londrino Sadler
dler Wells
a trabalhar em conjunto
com o coreógrafo
grafo Javier de Frutos
tos e
com o Royal
yal
Ballet numa
ma
adaptação de
uma história
a do
naescritor dinamarquês Hans
ns
Christian Anndersen. “Da pop para o ballet? Porque
“Somos um pouco
irónicos, sim, mas
é uma questão de
humor, e não de pose.
Nunca tivemos
necessidade de nos
afirmar dessa forma,
mas a partir de
determinada altura,
como reacção ao facto
de a imprensa rock
nos considerar
frívolos, começámos
mesmo a personificar
essa frivolidade, por
excesso, brincando
com isso, nada mais.”
não?”, ri-se Tennant. “Sempre nos
interessou trabalhar com outras pessoas, noutros contextos. Ao longo dos
anos temos composto para pistas de
dança, fazê-lo para uma companhia
de dança parece-nos uma evolução
natural”, diz, adiantando apenas que
a música será
se tocada por uma orquestra e nã
não pela dupla.
No Meco,
M
na noite de hoje, tocarão jjá depois da meia-noite
(00h40). Apesar da semana de
(00h4
atraso, talvez ainda seja possível
atraso
improvisar um “parabéns a voimpr
cê” a Neil Tennant, embora o
próprio não pareça dar muita
próp
relevância ao assunto. “O que
rele
vou fazer hoje? Não faço a
mai
mais pequena ideia. Não se
trata de recusar a idade. Contrat
tinuo a gostar de me festejar.
tinu
Mas não sei. A sério.”
festival
Está para a música de
dança dos últimos anos como Prince
esteve para o funk dos anos 80, reduzindo as propriedades electrónicas e
as dinâmicas rítmicas ao mínimo, mas
expondo o máximo de emoções. É um
sonoplasta, alguém que aborda o som
e a sua actividade, como DJ e produtor, de forma minuciosa e ética, como
se constata vendo o documentário
(“Villalobos”) que estreou no festival
de Veneza e que foi exibido no IndieLisboa em Abril.
Figura central da música electrónica de dança da última década é também uma personalidade misteriosa.
“Inicialmente hesitei um pouco quando me convidaram para o documentário”, afirma, “mas o realizador [Romuald Karmakar] é alguém muito
conhecido na Alemanha, com um
grande percurso, e percebi que era
um projecto totalmente credível. Ainda bem que o fizemos.”
Ricardo Villalobos tem 40 anos.
Nasceu em Santiago do Chile, tendo
partido para a Alemanha com a família na sequência do golpe de Estado
do General Pinochet. O pai é matemático. E esse facto parece tê-lo marcado. “A minha relação com a música,
num primeiro instante, é muito intuitiva” diz, “trata-se de procurar sons
que sejam inteligíveis para mim e
combiná-los, mas a partir de determina altura o que me interessa é restringir, seleccionar e reduzir e isso é um
processo mais pensado. Matemático,
talvez.”
Na última meia dúzia de anos, principalmente depois do álbum “Alcachofa” (2003), construiu uma identidade sonora vincada. Um híbrido
tecno e house, profundo e narcótico,
onde existe um toque sul-americano,
ao nível dos pormenores percussivos.
No seu caso não se trata de exotismo.
A sua perspectiva não é a fusão. É
criar um verdadeiro corpo colorido,
reconvertendo-o em figuras digitais
que iluminam uma espécie de melancolia tecno.
Compara a sua actividade à de um
percussionista. Este, quando está em
palco, deve saber estar no seu lugar,
ouvir em redor e mudar de intensidade ao perceber uma sensibilidade
comum. “Na minha música acontece
o mesmo. Todos os sons parecem desempenhar o mesmo papel, mas lentamente vão-se modificando, contribuindo para a criação de um novo
edifício.”
Hedonismo ou nostalgia
O chileno é alguém que é capaz de
provocar a festa na pista de dança.
Nos últimos dez anos raros foram os
fins-de-semana passados em casa,
tal a abundância de convites para
actuar em todo o mundo. Agora está
mais selectivo. “Continuo a adorar
a minha actividade, mas também
gosto de estar com a família e os amigos, para além do estúdio. Por isso
tento limitar as viagens longas, cada
vez mais. Mas por uma boa festa,
porque não?”
Mas a sua música não se restringe
à funcionalidade dançante. Em álbuns
como “Thé Au Harém D’Archimede”
(2004), “Fizheuer Zieheuer” (2006),
“Fabric 36” (2007) ou “Vasco” (2008)
existe espaço para muitas variações.
Sim, o minimalismo electrónico está
quase sempre no centro dos acontecimentos, mas a rodear essa movimentação há detalhes, microrganismos imperceptíveis e climas letárgicos
que nos transportam para zonas desconhecidas.
Às vezes é uma música que convida
ao hedonismo. Outras vezes parece
ser apenas a banda-sonora de um filme nostálgico, povoado por aeroportos, auto-estradas, grandes superfícies, lugares ocupados por gente em
trânsito, solitários, isentos de vida.
Espaços de ninguém, para uma música marcada por longos períodos de
cadências repetitivas a velocidade
moderada, envolvendo-nos numa trama hipnótica. “Não trabalho a partir
de imagens e nem sempre penso especificamente na pista de dança” diz
ele. “Só depois de criar um tema é
que penso nisso.”
No passado recente já criou música
para filmes, no âmbito de apresentações ao vivo específicas. No futuro
próximo deseja mesmo criar bandasonoras e aproximar-se cada vez mais
do jazz. Diz que em casa ouve predominantemente clássica e jazz, e que
“Quando se ouve um
velho disco de jazz
é como se ouvíssemos
também a sala onde
foi gravado ou
a respiração dos
músicos. Gosto dessa
pureza, desse
reconhecimento. Essa
intensidade, na maior
parte dos casos, não
é conseguida hoje”
Ricardo Villalobos
a Internet não o seduz – “demasiada
informação sem sentido”, limita-se a
afirmar sempre que o interrogam sobre o assunto.
Do que gosta mesmo de falar é do
som, das suas propriedades, daquilo
que o caracteriza. Gosta de pensar
que os instrumentos electrónicos podem obter o mesmo tipo de qualidade
que as velhas gravações acústicas,
apesar de achar que ainda não acontece: “Quando se ouve um velho disco de jazz é como se ouvíssemos também a sala onde foi gravado ou a respiração dos músicos. Gosto dessa
pureza, desse reconhecimento. Essa
intensidade, na maior parte dos casos, não é conseguida hoje.”
É um clássico, mas profundamente
contemporâneo. Um purista, mas vislumbrando o que se seguirá. É enigmático. Um dos criadores mais aventureiros da música actual, compondo com
essa ideia em mente: decifrar o mistério que induz as pessoas à dança.
Ricardo Villalobos
O mistério da dança
Haverá Richie Hawtin ou Laurent Garnier. Mas no campo da música de dança electrónica o
destaque do Festival Super Bock Super Rock será Ricardo Villalobos, o chileno que vive há
muitos anos na capital alemã e que actuará no Meco, na noite de sábado. Vítor Belanciano
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 33
Música
Em 2006, o agrupamento vocal e instrumental belga Capilla Flamenca
gravou um CD fascinante que viria a
obter os mais importantes prémios
da crítica internacional. Tratava-se
“Canticum Canticorum”, um percurso musical pela polifonia dos séculos
XIV a XVI, inspirada no Cântico dos
Cânticos, cuja extraordinária poesia
tem servido de inspiração ao longo
de mais de dois milénios para artistas
de vários quadrantes. Este mesmo
programa, com pequenas variantes,
será apresentado esta noite, às 21h45,
na Igreja Românica de São Pedro de
Rates integrado no 32º Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim, onde a Capilla Flamenca faz a
sua estreia.
“Há muitos anos que o extenso repertório musical criado à volta do
Cântico dos Cânticos nos atrai e preenche muitos dos nosso projectos”,
disse ao Ípsilon o baixo Dirk Snellings,
que é também o director artístico do
grupo. “Trata-se de uma obra poética
fantástica, antiquíssima, certamente
bem anterior ao Antigo Testamento.
É possível que se inspire numa ideia
egípcia, que depois passou para os
gregos, a seguir para os hebreus e depois para a Bíblia.” Snellings recorda
que se trata de um dos mais belos textos sobre o amor da civilização ocidental e que encontramos música
inspirada no Cântico dos Cânticos ao
longo de quase toda a história da música, desde melodias de cantochão
concebidas no século VIII até aos
compositores do nosso tempo. “As
hipóteses de escolha eram imensas
mas como somos um grupo especializado em polifonia procurámos a
conexão entre o cantochão e as primeiras versões polifónicas, avançando depois até ao século XVI”, explica.
Como uma Missa
“Há muitos anos que
o extenso repertório
musical criado à volta
do Cântico dos
Cânticos nos atrai
e preenche muitos dos
nosso projectos”,
diz Dirk Snellings.
“É uma obra poética
fantástica”
Tal como sucede no disco, o alinhamento do concerto é construído como
uma espécie de Missa, já que existia
uma tradição oriunda de Milão em
que secções do Próprio da Missa como o Intróito, o Gradual ou o Alleluia
podiam ser substituídas por motetes,
ou seja, por composições livres sobre
outros textos. “Era a chamada ‘Missa
substitutio’. Partimos dessa ideia para o encadeamento das peças, que são
todas de altíssima qualidade, como
se o Cântico dos Cânticos tivessem
inspirado a música das músicas.” O
programa inclui obras de John Pyamour, John Dunstable, Johannes Prioris, Francesco da Milano, Jacquet de
Mântua, Louis Compère, Alexander
Agricola, Adriaen Willaert e Henrich
Isaac, entre outras.
Para acompanhar as quatro vozes
masculinas da Capilla Flamenca, Dirk
Snellings optou pelo alaúde, uma vez
que se trata de um instrumento “com
qualidades muito poéticas e expressivas”. “É frequente encontrarmos versões para alaúde e para instrumentos
de tecla destas canções e o alaúde tem
também uma função harmónica de
apoio. Achei que era o ideal para realçar o significado desta poesia sublime sobre o amor”, explica Snellings.
Quase todos os programas da Capilla Flamenca obedecem a percursos
temáticos, resultam de apurada pesquisa musicológica e reflectem uma
técnica vocal apurada e um forte sentido estético. Para Dirk Snellings, os
membros de um conjunto polifónico
necessitam de ter qualidades especiais como “o controlo total sobre a
voz e a sonoridade, a capacidade de
transmitir emoções e saber ouvir os
outros pois só assim se pode obter
uma boa fusão com as vozes em volta”. Cantar música antiga é uma tarefa especializada que exige o conhecimento dos vários temperamentos ou
afinações usadas ao longo da história,
bem como das notações antigas. No
entanto, no momento da execução o
grupo usa transcrições modernas.
“Consultamos sempre os originais e
os nossos cantores sabem decifrá-los
Entre os primeiros compositores a
realizar versões a várias vozes de excertos do poema encontra-se o inglês
John Dunstable (c. 1390-1453). O seu
exemplo foi seguido no continente
por figuras como Guillaume Dufay e
pelos seus contemporâneos da Escola da Borgonha no século XV. “A partir daí nunca mais pára. Nos finais da
Idade Média e inícios da Renascença
os poemas são frequentemente transpostos para o culto mariano, faz-se
uma ponte entre o amor físico e o
amor espiritual, mas no século XVI é
a dimensão sensual que é mais enfatizada”, diz o director artístico.
mas acontece que há notações de
grande complexidade, como a notação rítmica da Ars Subtiliors no final
do século XIV. Na interpretação preferimos não ficar presos a essa complexidade e concentrar o essencial da
nossa atenção na audição e na qualidade do trabalho de conjunto.”
Nascidas da improvisação
Do seu percurso dos últimos anos como músico, musicólogo e director da
Capilla Flamenca, Dirk Snellings destaca o aprofundamento estilístico das
diferentes escolas polifónicas e um
conhecimento cada vez mais claro da
linguagem de cada compositor. “Há
uma gramática comum, mas quanto
mais mergulhamos no repertório,
mais nos apercebemos dos traços característicos de cada autor. As diferenças são muito maiores do que parecem à primeira vista.”
Outro aspecto que o apaixona é a
capacidade de improvisar peças polifónicas a partir de uma melodia dada. “Sabemos hoje cada vez mais socebido na Re
bre o treino musical recebido
Renascença. Por exemplo, os alunos de
Josquin Desprez eram habituados a
improvisar linhas contrapontísticas
rapontísticas
logo desde os oito anos,
os, além de
aprenderem a ler música
ca e de montarem novas peças, era
ao
chamado ‘cantare supra
a
librum’”, acrescenta. “Ulltimamente tenho-me deedicado a desenvolver esta
prática com os meus colegas
olegas da
Capilla Flamenca. É algo
go que nos
dá grande prazer e que espero nos
traga ainda maior liberdade
ade e flexibilidade interpretativa pois
ois há muitas obras escritas, como as de Agricola, que parecem ter nascido
ascido da
improvisação.”
O baixo Dirk
Snellings é o
director
artístico deste
importante
agrupamento
belga
Música das músicas
para o Cântico dos Cânticos
O agrupamento Capilla Flamenca faz a sua estreia no Festival da Póvoa de Varzim com música
polifónica dos séculos XIV a XVI inspirada no amor sensual e espiritual do lendário poema
atribuído a Salomão. Cristina Fernandes
34 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
King Khan
O ritual mágico
Música
DR
King Khan é um herói underground idolatrado pela comunidade garage (e tem como fãs Lou
Reed e Laurie Anderson). Encontrámo-lo no Festival Med onde, provocador punk e pregador
soul, nos falou do rock’n’roll como “um ritual mágico”. Mário lopes
Estamos na piscina de um hotel de
Loulé, no terraço do último andar,
ajudando o homem que será nosso
entrevistado a carregar uma espreguiçadeira até à sombra. “Não podemos falar ao sol. O sol deixa-me tonto”, justifica o homem de calções de
banho e cordões de amuletos índios
pendendo do pescoço. Chama-se King
Khan e instala-se à sombra.
Canadiano de ascendência indiana,
nascido em Montreal mas residente
em Berlim há vários anos, é um herói
underground que a comunidade garage idolatra pela música e pela loucura escatológica e iconoclasta, é figura subterrânea aos meandros med i á t i c o s qu e v a i s u r g i n d o,
inesperadamente, ao lado de GZA,
dos Wu Tang Clan, que o quer como
colaborador, ou de Lou Reed e Laurie
Anderson, que o convidaram recentemente para um festival australiano
de que foram curadores. É portanto
com este King Khan que falamos. Esse que nos explicará que, nas cartas
de tarot, “o Louco é a carta mais alta,
mais importante que o rei, a rainha
ou o Papa”. Ele que nos definirá a sua
música e os seus concertos como “um
ritual mágico”. A loucura é parte da
equação: “O louco é aquele que pode
rir-se da verdade e seguir o seu caminho, é o mais espiritual de todos.”
Horas depois da entrevista à beira
da piscina, King Khan estava em palco com os Shrines, a banda que fundou em Berlim e que reúne americanos, alemães ou franceses num super
combo soul-funk-punk’n’roll. Vestia
camisa de lantejoulas douradas e tinha a cabeça adornada com um moicano louro. Na mão, um espanador
que abanaria nos momentos certos
para lançar magia vudu sobre a pequena multidão à sua frente.
King Khan & The Shrines no Festival
Med, em Loulé, dia 24 de Junho. Uma
força poderosa. Foram o funk de James Brown em colorido Sun Ra, Sam
& Dave revistos pelos Dirtbombs e a
soul cavernosa de Screamin’ Jay Hawkins sem caixão à vista. No final,
uma descarga de ruído lançada sobre
o público como violento mantra zen
e King Khan sentado em posição de
Lótus, qual brâmane em meditação.
Foi, naturalmente, um dos grandes
concertos do festival. Mas não alterou
“O meu objectivo final
é curar o mundo com
a minha música,
como um xamã”
King Khan
em nada o fascínio e perplexidade
que sentimos perante a sua figura.
Semanas antes daquele concerto,
víramo-lo no encerramento do festival Primavera Sound, em Barcelona.
Dera ali dois concertos, com o duo
King Khan & BBQ e integrado nos supracitados Almighty Defenders. Na
Sala Apolo, os Black Lips tinham terminado a sua actuação, o público
abandonava o clube e, à saída, vimos
um táxi rodeado de gente, o taxista
respectivo fora do automóvel, de
mãos na cabeça, e King Khan saltando
sobre a carroçaria como adolescente
travesso. “Estavas lá?”, perguntarnos-á em Loulé, antes de contar o que
se seguiu.
O caminho do budista
Foi levado para a esquadra e ficou
preso duas horas. Explicou à polícia
que tinha um avião para apanhar, que
tinha um concerto marcado na Austrália, que tinha sido Lou Reed a convidá-lo. Num ápice, passou a estrela
King Khan esteve no Festival
Med, em Loulé, em Junho
da esquadra, foi fotografado pelos
agentes, distribuiu autógrafos, chegou
a Sydney. O punk estava livre. “Fui
preso pela primeira vez aos 18 anos,
por roubar um CD dos Velvet Underground. Passados todos estes anos, o
Lou Reed tira-me da prisão. A verdade é que tudo na vida acontece em
círculos.” Revela-se o metafísico que
é punk e soulman: “Vivo uma expe-
riência mais religiosa a ouvir a Alice
Coltrane ou música gospel do que a
ler a Bíblia, o Corão, a Tora ou o Bhagavad Gita.” Revela-se o mago do
rock’n’roll: “Na música gospel, o pastor, pela forma como atira as palavras,
leva as pessoas a pegar em pandeiretas e dançar, leva bebés a aprender a
dar os primeiros passos. É isso que
quero fazer com a minha música, pegar numa sala cheia de gente e canalizar a sua energia para uma força
única. Quer as faça dançar, tirar as
roupas, foder ou cagar, é tudo o mesmo ritual.”
Pai de dois filhos, acabou com os
King Khan & BBQ porque “demasiadas drogas, bebidas e raparigas” estavam a torná-lo “um mau exemplo
para os miúdos”. Os Shrines, a banda
que lidera há cerca de dez anos, autora de uma muito respeitável discografia para a qual “The Supreme Genius of King Khan & The Shrines”,
compilação de 2008, servirá como
óptima porta de entrada, são tudo o
que lhe interessa neste momento.
“Tenho 33 anos, a minha idade Jesus,
e tenho que decidir onde concentrar
as minhas energias. O Lou Reed e a
Laurie Anderson disseram-me que
todos os artistas passam por momentos em que têm de se reinventar e arranjar um novo disfarce. É isso a magia. E eu escolhi o meu caminho. O
caminho do budista.”
Depois fala-nos de índios Mohawk
que o ensinaram a não ter medo – “vive sem medo e viverás muito tempo”
–, e conta-nos de um pugilista aborígene australiano que “vai ser o próximo Muhammad Ali” – “e eu vou largar
o rock’n’roll e o álcool e tornar-me
um promotor de boxe”. Regressa aos
seus Shrines: “O meu objectivo final
é curar o mundo com a minha música,
como um xamã.” Que mais podemos
dizer? Abençoado seja.
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 35
nos
mistérios
dos Tigrala
Música
Mergulhando
Quando um dinamarquês ofereceu uma “tambura” a Norberto Lobo, os Tigrala estavam a
um passo de distância. O guitarrista juntou-se ao percussionista Ian Carlo Mendoza e os dois
convocaram Guilherme Canhão, o eléctrico guitarrista dos Lobster. “Tigrala” é o primeiro
registo desta história. Uma preciosidade: música de xamãs sem metafísica. Mário Lopes
percussionista com quem colaborava
há anos, Ian Carlo Mendoza, mexicano e mestre em mil instrumentos que
veio estudar para Portugal e que gostou tanto disto que acabou por ficar
– conheceu Norberto nos Colectivo
Páscoa, foi músico dos fusionistas Yemanjazz, trabalha com grupos de teatro e desenvolve um projecto a solo.
No mesmo banco, no mesmo parque,
elogia este “país tranquilo onde, se
queremos fazer coisas, se nos mexermos, elas acontecem rapidamente”
- o que não deixa de ser uma opinião
curiosa aos nossos ouvidos, habituados a registar queixumes de “no pasa
nada” em bom português.
Portanto, tínhamos Norberto Lobo
e Ian Carlo Mendoza tocando juntos,
ocasionalmente, desde 2006. Tínhamo-los desde o ano passado procurando música de forma mais consistente. Procurando: “Não nos interessa a metafísica, gostamos é de
observar”, aponta Norberto Lobo;
“queremos um encontro do belo, algo
que fuja a esquemas de- finidos, queremos fazer algo contemporâneo e
surreal, muito simples, mas único”,
complementa Ian Carlo no seu português adocicado com o sotaque do
castelhano das Américas. Mas quando
eram apenas os dois, não eram ainda
Tigrala. Faltava algo.
Nesse tempo em que se empenhavam livremente a descobrir o que resultaria do encontro da “tambura”
com um vibrafone, uma “darbuka”
(descrevamo-lo como um “d’jembé”
turco) ou um “cajón” sul-americano,
Norberto Lobo, o guitarrista, haveria
de encontrar outro guitarrista ali para
os lados do Chiado e convidá-lo a juntar-se-lhes. Guilherme Canhão, guitarrista eléctrico, homem do “noise” e
“riffs” demoníacos do duo Lobster,
disse que sim esse dia e, quatro depois, estava a tocar num palco do Barreiro com Norberto e Ian Carlo. Sentado e concentrado no ritmo qual
âncora da banda, ele que nos magníficos Lobster estava habituado a extravasar, a correr palco fora, a ser levado pelo público enquanto o
rock’n’roll ressoava pelas salas, altíssimo e distorcido. Vê-lo em Tigrala,
porém, não é vê-lo serenado: “É a
mesma energia, mas canalizada de
forma diferente. Nada é difícil em Tigrala. Nada é difícil”. As peças encaixavam definitivamente. A “tambura”
indiana chegada da Dinamarca, o vibrafone ou o “cajón” e a guitarra acústica do guitarrista eléctrico.
“Queremos um
encontro do belo,
algo que fuja
a esquemas definidos,
queremos fazer algo
contemporâneo
e surreal, muito
simples, mas único”
Ian Carlo Mendoza
Os Tigrala são músicos com toneladas de informação melómana na cabeça. Com eles, sentimos que poderíamos passar horas a discutir a discografia e as virtudes de gente tão
diversa como os Soft Machine, Kate
Bush, os Wu Tang Clan, Amon Düul
ou Alemu Aga. Nenhum destes, po-
ENRIC VIVES-RUBIO
A última vez que o entrevistámos,
aquando da edição de “Pata Lenta”,
o seu segundo álbum, Norberto Lobo
contou-nos de um instrumento que o
fascinara recentemente. Falou-nos da
“tambura” (de origem indiana, familiar do alaúde), do som da “tambura”
e de como o entusiasmavam as novas
possibilidades que se abriam. “Obrigou-me a sair de onde estava, obrigoume a pensar [a música] de forma diferente.” Pausa e uma curta gargalhada:
“Sair de onde estamos é sempre bom”,
conclui Norberto, o guitarrista autor
dos essenciais “Mudar de Bina” e “Pata Lenta”, em Julho de 2010, num banco sob a sombra de um jardim lisboeta – guardemos na memória aquele
“sair de onde estamos”, que é essencial para perceber a magia da música
de que aqui se falará.
Recapitulemos. Norberto contaranos a história da sua “tambura”, que
lhe chegou às mãos oferecida por um
artesão dinamarquês, o que não deixa de ser curioso. Porque a história,
depois de ela lhe chegar às mãos, é a
seguinte: um artesão dinamarquês
oferece um instrumento de origem
indiana a um guitarrista português.
O guitarrista pega na “tambura” e
mostra algumas músicas a um amigo
Os Tigrala, uma música que é
serena e desafiante
36 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
rém, incide luz sobre a música do trio
– “se bem que às vezes o Santana nos
faça umas visitas”, brinca Norberto.
Guilherme Canhão: “Atiramos as referências para debaixo do tapete. Não
deixamos que invadam o que estamos
a fazer”. Ian Carlo Mendoza: “Contaram-nos que nos Açores uma mulher
saiu do nosso concerto a dizer, ‘uau,
os instrumentos falam entre si’. De
certa forma, isso explica o que fazemos. A verdade é que, nos ensaios, só
falamos o essencial. O ‘tricot’ emocional entre os instrumentos é a nossa linguagem-base”.
Tudo se mistura nesta música que
é serena e desafiante, melancólica e
celebratória. Tudo se mistura nesta
música que chega até nós como possibilidade de transcendência, como
possibilidade de nos elevarmos sobre
o mundo – o que, se pensarmos que
os Tigrala são também os Xamã, a
versão eléctrica do trio, faz todo o
sentido; se pensarmos que, como veremos na próxima quinta-feira, no
Museu do Chiado, no concerto de
apresentação do álbum, Xamã e Tigrala são agora uma mesma entidade,
faz mais sentido ainda.
Na capa do homónimo álbum de
estreia agora editado, três robots com
ar de saltimbancos biónicos passeiamse pela selva de instrumentos em punho. O futurismo luxuriante da pintura, quando os futuros imaginados,
pelo menos aqueles com tecnologia à
mistura, tendem normalmente para
o apocalíptico, pode parecer à primeira vista estranho, paradoxal. Erro nosso pensá-lo. Se é estranha, é tão estranha como a música de “Tigrala”, o
álbum. Sete instrumentais convocando um mundo onde a delicadeza da
música tradicional indiana ganha pó
de deserto americano, onde o jazz desce a 20 mil léguas submarinas para se
transformar noutra coisa, onde uma
dose de melancolia que reconhecemos
como nossa pode transformar-se em
“trip” psicadélica. E neste álbum, que
entusiasma e comove de igual forma,
a estranheza é na verdade uma sensação ausente. Nele, a selva parece um
lugar acolhedor e as pedras da calçada
estão constantemente a revelar novos
mistérios. O segredo está no olhar, dizem os Tigrala – e nós que os ouvimos,
concordamos.
O mais extenso título de canção do
disco resume-os bem: “Aunque no sepa cantar mi corazón es lleno como
una ola que se levanta temprano conectada a los misterios primordiales
más profundos”. “Los misterios primordiales más profundos” – eis o que
buscam. Eis o que nos oferecem na
preciosidade que é este seu primeiro
álbum.
Ver crítica de discos págs. 48 e segs.
ANTÓNIO CARRAPATO
Roxy Music
O regresso
dos aristocratas do rock. Pág. 53
Djuna Barnes
Antecipou o olhar “camp” Pág. 44
Silva Melo Duas peças
no Festival de Almada. Pág. 43
Michael
Biberstein
O princípio da improvisação e do acaso, em
exposição Pág. 38
m/18
Jorge Palma
22-jul
Mayra
Andrade
DJ até às 03H00
29-jul
Programa sujeito a alterações
www.casino-estoril.pt
Reservas:
info@dlounge.net | +351 919 938 114
DR
Big Bang
As pinturas de Michael
Biberstein na Galeria
Pedro Oliveira, no Porto,
obedecem ao princípio da
improvisação, do acaso:
delas nasce uma música que
evoca um corpo suspenso.
so.
Óscar Faria
Radical Haze
de Michael Biberstein
Porto Galeria Pedro Oliveira Calçada de Monchique,
3. De terça a sábado, das 15h às 20h. Até 28 de Julho.
mmmmm
No século dez, viveu na China Li
Cheng (919-967) considerado,
juntamente com os eremitas taoistas
Jing Hao (906-960) e Guan Tong
(906-960), como um dos mais
relevantes paisagistas de uma época
conhecida como sendo a das Cinco
Dinastias e Dez Reinos. Nesses anos,
os artistas seguiam um tratado
escrito sob a forma de um diálogo
entre um pintor e um anacoreta,
uma conversa mantida durante uma
caminhada na montanha. Além dos
seis princípios que deviam dar
forma a uma pintura – o espírito, a
harmonia, a conformidade ao
sujeito, etc. –, o texto estabelecia os
fins da disciplina: “apreender a
verdade, a beleza interior das coisas,
pela comunhão, a fusão com a sua
realidade profunda, e não a procura
da similaridade e da beleza
ornamental dos aspectos
superficiais” (in “La Peinture
Chinoise”, de Michel Courtois,
Éditions Rencontre Lausanne, 1967).
O velho anacoreta defendia a
proeminência do espírito sobre o
“métier”, “que deve estar sempre ao
serviço da inspiração e da visão
interior, sem a qual não existe obra
verdadeira, conforme à criação
natural”. É essa faculdade de “levar
no cérebro as montanhas e os
vales”, que fez de Li Cheng um
artista capaz de produzir quadros
“dignos da suprema categoria
‘divina’”, como ainda explica
Courtois, o qual nos diz ainda ser
característica dos grandes criadores
o esquecimento de si, uma condição
essencial para que a obra surja com
“uma força irreprimível”. Li Cheng
apenas pintava para o seu próprio
prazer, “tratando a tinta como ouro”
de forma a criar paisagens onde o
estilo “ping-yang” foi levado ao
máximo refinamento, uma situação
sobretudo visível no equilíbrio das
tensões que dão corpo a uma obra,
como a que resulta da dicotomia
vazio/pleno.
Há, na nova exposição de Michael
Biberstein (Solothurn, Suíça, 1948),
uma proximidade a esta prática
secular. A mostra,
intitulada “Radical Haze” (“Névoa
Radical”) – em inglês, a palavra
“haze” designa a bruma seca, que
resulta da condensação de vapor de
água associada a poluentes, ficando
o ar com um aspecto acinzentado –,
inclui um conjunto de pinturas
sobre linho e papel datadas de 2007
até ao presente, que nos dão conta
de um aprofundamento do trabalho
em torno da paisagem, o tema
recorrente na obra do artista. Os
trabalhos agora apresentados
sublinham uma espécie de
cosmologia, um universo em
expansão de natureza abstracta,
atravessado de acontecimentos.
Cada pintura é ocupada por uma
espécie de neblina que dilui os
contornos e que simultaneamente
funciona como um elemento
atractor, hipnótico mesmo.
Biberstein leva no cérebro a
atmosfera de dias habitados pelo
nevoeiro: aquele que nasce nas
montanhas, o que vem do oceano,
ou o formado sobre as cidades. As
suas pinturas obedecem ao princípio
da improvisação, do acaso: delas
nasce uma música que evoca um
corpo suspenso, diferido, ainda
preso à materialidade das cores e
das formas, mas já a desligar-se
dessa objectualidade necessária
para o “prazer dos olhos” e o
“relaxar da mente” – a exposição
tem como subtítulo “paintings to
please your eye and relax your
mind”. O espectador é assim levado
a um confronto consigo, com o
tempo disponível para ver a
subtileza de trabalhos que se
aproximam do vazio, de um estado
de abandono espiritual. Os trabalhos
possuem uma força irreprimível,
que vem da natureza interior do
artista: as telas revelam
acontecimentos impossíveis de
decifrar. São enigmas.
A exposição integra ainda a
composição musical “White Haze”
criada por Biberstein em
colaboração com o músico e
sonoplasta Manuel Mesquita. As
pinturas são assim pontuadas por
sons que as afectam, potenciando
outras leituras: contudo essas
manifestações sonoras sublinham
sempre o carácter abstracto da
experiência plástica propostas nas
paisagens visíveis na galeria, as quais
nos ajudam a “apreender a verdade,
a beleza interior das coisas, pela
comunhão, a fusão com a sua
realidade profunda”. Radical,
esta mostra, plena de
acontecimentos e de instantes
vazios. Tão próxima do silêncio. Tão
ruidosa. Big Bang.
A escuridão
iluminada da
arte
Uma exposição com vários
nomes incontornáveis da arte
internacional para lembrar
os eternos mistérios da obra
de arte. José Marmeleira
Para o cego no quarto escuro à
procura do gato preto que não
está lá
De Dave Hullfish Bailey, Marcel
Broodthaers, Sarah Crowner,
Mariana Castillo Deball, Eric
Duyckaerts, Erkmen, Hans-Peter
Feldmann, Peter Fischli, David
Weiss, Rachel Harrison, Giorgio
Morandi, Matt Mullican, Bruno
Munari, Nashashibi/Skaer, Falke
Pisano, Jimmy Raskin, entre outros.
Lisboa. Culturgest. R. Arco do Cego - Edifício da
CGD. Tel.: 217905155. Até 29/08. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das
11h às 19h (última admissão às 18h30). Sáb., Dom. e
Feriados das 14h às 20h (última admissão às 19h30).
mmmmn
O título cita uma frase de Charles
Darwin alusiva à especulação dos
matemáticos que procuram um gato
preto na escuridão, actividade tão
inútil como a dos 22 artistas
internacionais presentes.
Os suportes são diversos (filme,
desenho, escultura, instalação, som)
e as obras desenham um arco
temporal que se inicia no século
XVI, com um livro que mostra a
ilustração de um gabinete de
curiosidades (o “Wunderkammer”)
e termina na década passada,
demonstrando assim as raízes
históricas do tema. A selecção de
nomes é arrojada e permite ver
trabalhos de Bruno Munari, Giorgio
Morandi, Marcel Broodthaers, HansPeter Feldmann, Peter Fischli &
David Weiss, Matt Mullican,
Rosemarie Trockel, Rachel Harrison,
Patrick van Caeckenbergh ou
Nashashibi/Sakaer; a oportunidade
que oferece aos espectadores de se
confrontarem com os universos
destes artistas é, aliás, uma das
qualidades de “Para o cego no
quarto escuro à procura do gato
preto que não está lá”.
Algumas obras mostram o que
pode resultar dessa busca movida
pela curiosidade e o conhecimento
(enquanto métodos): a naturezamorta de Giorgio Morandi, pintada
nos anos 50 do século XX, ou os
desenhos, diagramas, símbolos
pictográficos, fotografias, textos e
narrativas desenhadas que
constituem a instalação de Matt
Mullican; uma cosmologia em cuja
metafórica escuridão o espectador
se perde. E por falar em escuridão,
refiram-se as sombras que de uma
mesa
coberta
c berta de focos
co
de luz,
brinquedos
b inquedos e
br
outros
objectos,
se
projectam,
disformes,
efémeras e
obscuras,
na parede.
Eis a peça
Todo o objecto artístico cria um
horizonte aberto à presença do
espectador. Trata-se de um “acto
generoso” que, todavia, não existe
sem uma distância.
stância. A distância que
separa a arte
e da vida. É isto que vem
recordar, na
a Culturgest, em Lisboa, a
exposição “Para
Para o cego no quarto
escuro à procura
ocura do gato preto que
não está lá” com a curadoria de
Anthony Huberman.
uberman. Afinal é nessa
distância que
ue se produzem algumas
das ideias que
ue organizam esta
colectiva: a dimensão especulativa
da arte, o abismo
bismo benigno da
experiência estética, a
curiosidade pelo
desconhecido,
do, o
não familiar,
r,
por aquilo
que resiste
às
categorias
do
Chapeau!, de Patrick van Caeckenbergh,
verdadeiro
uma das obras que estão na Culturgest
e do falso.
: © DMF
Exposições
38 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
A exposição integra a composição musical “White
Haze” criada por Biberstein em colaboração
com o músico e sonoplasta Manuel Mesquita
aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente
Agenda
Inauguram
A Secreta Vida das Palavras
De Nuno Cera, Ana Jotta, Vasco
Costa, Edgar Massul, Rodrigo
Peixoto, Sara Santos, Ana Vieira,
Pedro Cabrita Reis, Pedro Calapez,
Rui Chafes, Ilda David, Rui Sanches,
entre outros.
Sines. CC Emmerico Nunes. Lg. do Muro da Praia, 1.
Tel.: 914827713. De 16/07 a 25/09. 2ª a Sáb. das
14h30 às 18h30. Inaugura 16/7 às 22h.
Pintura, Escultura, Fotografia,
Vídeo, Instalação, Outros.
Summer @ My Place
De André Almeida e Sousa, Bela
Silva, Diogo Guerra Pinto, Francisca
Carvalho, João Decq, João Galrão,
Luís Silveirinha, Nuno Gueifão,
Rosário Rebello de Andrade, Sofia
Aguiar, Teresa Gonçalves Lobo,
Tomás Colaço.
Lisboa. Alecrim 50. R. do Alecrim, 48-50. Tel.:
213465258. De 16/07 a 22/09. 2ª a 6ª das 11h às 19h.
Sáb. das 11h às 18h. Inaugura 16/7 às 19h.
Pintura, Desenho, Escultura.
Regresso a Casa
De Helena Almeida, Silvia Bachli,
Christian Boltanski, Fernando Brito,
Gerardo Burmester, José Pedro Croft,
Didier Fiúza Faustino, Ângela
Ferreira, Fernanda Fragateiro, Dan
Graham, Eberhard Havekost, Cristina
Iglesias, Ana Jotta, Gordon MattaClark, Paulo Nozolino, Pedro Cabrita
Reis, Richard Tuttle, Ana Vieira,
entre outros.
Porto. Museu de Serralves. R. Dom João de Castro,
210. Tel.: 226156500. De 16/07 a 26/09. 3ª a 6ª das
10h às 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 19h. Na
Casa de Serralves. Inaugura 16/7 às 18h30.
Pintura, Fotografia, Escultura,
Vídeo, Instalação.
Summer Calling
De Daniel Lipp, Deborah Engel, Filipa
Burgo, Filipe Matos, Flávio Cerqueira,
Inês Oliveira e Silva, Joana Paraíso,
do artista alemão Hans-Peter
Feldman: “Shadowplay” (2005),
suspensa entre a arte (as sombras) e
a vida (os objectos usados no
quotidiano).
Outros trabalhos entretêm-se
sobretudo no jogo especulativo e
propõe, por
reflexivo que a arte prop
vezes num registo à beira
beir da
tautologia, com humor e sentido
lúdico: o chapéu cheio de
d
homem que já não
conhecimento do home
van
aguenta conhecer, de Patrick
Pa
Caeckenbergh (uma fabulosa
fab
escultura); as divertidas e tocantes
italiano Bruno
imagens do artista italia
num
Munari a procurar conforto
confo
sofá pouco confortável; ou a série
fotográfica de “V
“Voyage of the
Beagle”, de Rachel
R
Harrison: uma
sequência
de
sequên
menires,
bustos,
men
esculturas
e
públicas
(uma da
Gertrud
Stein)
manequins,
máscaras e
Mafalda Melo, Margarida Rodrigues,
Maria Platero, Pedro Ferreira, René
Tavares, Rita Teles Garcia, Tatiana
Dager.
Lisboa. 3 + 1 Arte Contemporânea. R. António Maria
Cardoso, 31. Tel.: 210170765. De 16/07 a 18/09. 3ª a 6ª
e Sáb. das 14h às 20h. Inaugura 16/7 às 22h.
Pintura, Fotografia, Vídeo,
Instalação, Escultura.
O Caçador de
Borboletas
De Eduardo Matos.
Lisboa. Galeria Zé dos Bois. R. da Barroca, 59 Bairro Alto. Tel.: 213430205. De 17/07 a 18/09. 4ª,
5ª, 6ª e Sáb. das 18h às 23h. Inaugura 17/7 às 22h.
Fotografia, Outros.
O Contra-Céu - Ensaio
Sobre o Hiato
De Mattia Denisse.
Lisboa. Galeria Zé dos Bois. R. da Barroca, 59 Bairro Alto. Tel.: 213430205. De 17/07 a 18/09. 4ª,
5ª, 6ª e Sáb. das 18h às 23h. Inaugura 17/7 às 22h.
Desenho.
O Mundo das Pequenas Coisas
De Ana Pereira.
apresenta
Porto. Centro Português de Fotografia - Cadeia da
Relação do Porto. Campo Mártires da Pátria. Tel.:
222076310. De 17/07 a 05/09. 2ª a 6ª das 10h às 18h.
Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 19h. Inaugura 17/7
às 15h.
TRICOTA
Fotografia.
1990/2010 Cabinet D’ Amateur
De Ahmed Ismael, Ana Vieira,
Armanda Duarte, Barbara Lessing,
Bryan Crockett, Evelina Oliveira,
Fernanda Fragateiro, Gabriel Abrantes,
Gilberto Reis, Gyan Panchal, Joana
Vasconcelos, Miguel Palma, Miguel
Bonneville, Pedro Tropa, Sérgio Mah,
Sérgio Taborda, Stela Soares, Vitalina
Sousa, entre outros.
Lisboa. Museu Nacional de História Natural. R. da
Escola Politécnica, 58. Tel.: 213921800. De 22/07 a
30/10. 3ª, 4ª, 5ª e 6ª das 10h às 17h. Sáb. e Dom.
das 11h às 18h. Na Sala do Veado. Inaugura 22/7 às
22h.
Pintura, Desenho, Escultura,
Instalação, Outros.
animais embalsamados que parece
desafiar as hierarquias da história da
cultura (e da escultura) ao mesmo
tempo que sugere ao espectador que
crie as suas (a partir da memória
visual das fotografias).
Finalmente, existem obras cuja
natureza interpelam mais
intensamente a curiosidade e a
compreensão do visitante. Por
exemplo, o que se vê em “The Right
Way” (1983), de Peter Fischli & David
Weiss? O deambular existencial e
absurdo de uma ratazana e de um
urso? Uma fábula violenta pontuada
com imagens do sublime? Ou – não
estivessem os dois artistas sob as
vestes dos ditos animais – uma ficção
com ligações ao real? A propósito do
filme de 16 mm da dupla Nashashibi/
Skaer também acodem perguntas.
Qual é o objectivo daquele rápido
flash sobre as esculturas antigas da
colecção do Metropolitan Museum
of Art, em Nova Iorque? Trazer de
volta o seu mistério ou transformar a
sua representação e conhecimento
numa série de poéticos e fugidios
instantâneos? Cabe a palavra (a
curiosidade) ao espectador.
UM PROJECTO DE ELECTROTANGO DOS ARGENTINOS
OTROS AIRES ONDE COEXISTE A TÍPICA ORQUESTRA ARGENTINA
E A ACTUAL MÚSICA ELECTRÓNICA
// 22 de Julho_ Concerto | 21h30
// 20 e 21 de Julho_ Masterclasses | 12h30
(saiba mais em www.bes.pt)
/// ENTRADA LIVRE LIMITADA À LOTAÇÃO DA SALA
// MORADA
Praça Marquês de Pombal
nº3, 1250-161 Lisboa
// HORÁRIO
Segunda a Sexta
das 9h às 21h
// TELEFONE
21 359 73 58
// EMAIL
besarte.financa@bes.pt
Programação e produção
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 39
Cinema
Cineclubes para mais
Parque de Sinçães – Famalicão
The Mist - Nevoeiro Misteriosos
De Frank Darabont, 2007, M/18
22/07, 21:30h
Auditório do IPJ
(Faro)
Rua da PSP - Faro
Mother - Uma Força Única
De Joon-Ho Bong, 2009, M/16
19/07, 22:00h
Cinema Passos
Manuel
Rua Passos Manuel 137, Porto
O Fio Do Horizonte
De Fernando Lopes, 1993, M/12
21/07, 21:30h
Cinema Verde Viana
Praça 1º de Maio, Centro Comercial - Viana do
Castelo
O Tempo Que Resta
De Elia Suleiman, 2009,
22/07, 21:00h
série ípsilon II
Sexta-feira,
dia 23 de Julho,
o,
o DVD “L.I.E. Sem
m
Saída”, de Michael
ael
Cuesta
+8 DVD
Todas as sextas,
por €1,95.
20
anos
40 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
Luís M.
Oliveira
Mário
J. Torres
Vasco
Câmara
mnnnn
Dia e Noite
mmnnn
nnnnn
nnnnn
Escritor-Fantasma
mmmmn
nnnnn
mmmmm
nnnnn
Louise-Michel
mmmnn
nnnnn
mmnnn
nnnnn
Meu Filho, Olha o que Fizeste
nnnnn
nnnnn
nnnnn
mnnnn
A Saga Twilight: Eclipse
nnnnn
nnnnn
a
nnnnn
Shirin
mmmmn
mmmmn
mmmmn
mmmmm
Shrek Para Sempre!
mmmnn
nnnnn
mmnnn
nnnnn
A Teta Assustada
mmmmn
mmnnn
mmnnn
nnnnn
Vão-me buscar alecrim
mnnnn
mmmmn
mmnnn
mmmmm
Whisky
mmmnn
mmmnn
mmmnn
nnnnn
Pai e filhos em Manhattan
Estreiam
O pai-herói
É refrescante a forma de
filmar a infância assim: o caos
total. Luís Miguel Oliveira
Vão-me Buscar Alecrim
Go Get Some Rosemary
De Ben Safdie, Joshua Safdie,
com Ronald Bronstein, Sean Williams,
Eléonore Hendricks. M/12
Lisboa: UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 14: 5ª 6ª
Sábado 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h40, 19h10, 21h45, 00h15
Domingo 11h30, 14h10, 16h40, 19h10, 21h45, 00h15;
Casa das Artes
de Vila Nova de
Famalicão
Jorge
Mourinha
Mordam o Pescoço” (1967) ou o
revisionismo algo deslocado de
“Piratas” (1986), até às curiosas e
mais ou menos heterodoxas
adaptações de “Macbeth” (1971),
“Tess” (1979) ou ao falhado “Oliver
Que espantoso “contador
Twist” (2005). No entanto, o que nos
interessa, aqui e agora, passa pela sua
de histórias” permanece o
relação persistente com o “thriller”,
cineasta Roman Polanski.
com os vestígios revisitados do “film
Mário Jorge Torres
noir”, com o terror psicológico
progressivamente interiorizado: das
O Escritor-Fantasma
fantasias terríficas de “Repulsa”
The Ghost Writer
(1965), dos diabolismos complexos de
De Roman Polanski,
“A Semente do Diabo” (1968) ou das
com Ewan McGregor, Jon Bernthal,
paranóias visionárias de “O
Kim Cattrall, Pierce Brosnan, Olivia
Inquilino” (1976), até ao “neo-noir”
Williams. M/12
de “Chinatown” (1974) ou ao virtuoso
grafismo “hitchcockiano” de
MMMmm
“Frenético” (1988), decorre todo um
Lisboa: CinemaCity Campo Pequeno Praça de
percurso de exploração sistemática
Touros: Sala 8: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
dos mecanismos do mistério em
13h55, 16h30, 19h10, 21h50, 00h30; Medeia
imagens, filmando sempre muito
King: Sala 3: 5ª Domingo 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h30,
22h 6ª Sábado 2ª 14h30, 17h, 19h30, 22h,
bem, com enorme rigor e um sentido
00h30; Medeia Monumental: Sala 4 - Cine Teatro:
perfeito do plano e da relevância da
5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h,
montagem.
19h30, 22h, 00h30; UCI Cinemas - El Corte
Inglés: Sala 13: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h, 16h35,
“Escritor-Fantasma” encaixa nesta
19h15, 21h55, 00h30 Domingo 11h30, 14h, 16h35,
pessoal preocupação com os
19h15, 21h55, 00h30; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª
detalhes,
com o encadeamento
6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h05,
18h50, 21h40, 00h25; ZON Lusomundo Amoreiras:
maníaco dos indícios, sem nunca
5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40,
descurar aquilo que constitui uma
18h30, 21h20, 00h10; ZON Lusomundo
das suas imagens de marca, desde os
CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
12h30, 15h15, 18h, 21h15, 00h10; ZON Lusomundo
tempos precursores do seu mais
Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55,
conhecido filme polaco, “Uma Faca
15h55, 18h50, 21h40, 00h30; ZON Lusomundo Dolce
na Água” (1962), um estudo
Vita Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h10,
18h10, 21h10 6ª Sábado 15h10, 18h10, 21h10,
angustiante dos diversos estádios da
00h10; ZON Lusomundo Odivelas Parque: 5ª
claustrofobia: um escritor com pouco
Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h40, 21h40 6ª
talento (um Ewan McGregor em
Sábado 13h10, 15h50, 18h40, 21h40, 00h20; ZON
Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado
grande forma) vê-se contratado para
Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40, 18h40, 21h40,
dar consistência literária e narrativa
00h25; ZON Lusomundo Torres Vedras: 5ª 6ª
às memórias pessoais e políticas de
Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h35, 15h20,18h05,
21h25, 00h10; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª
um ex-primeiro ministro britânico
6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40,
(Pierce Brosnan, em registo quase
18h30, 21h25, 00h15; ZON Lusomundo Almada
caricatural, numa emulação evidente
Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45,
15h40, 18h35, 21h30, 00h25; ZON Lusomundo
de Tony Blair, reforçada pela
Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
aparição de uma espécie de “duplo”
13h10, 15h55, 18h40, 21h30, 00h20;
de Condoleeza Rice), envolvido num
Porto: Arrábida 20: Sala 11: 5ª 6ª Sábado
escândalo de tortura (a invasão do
Domingo 2ª 13h45, 16h30, 19h20, 22h10, 00h50 3ª
Iraque e remissões subliminares para
4ª 16h30, 19h20, 22h10, 00h50; ZON Lusomundo
Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
a história recente, em pano de
12h50, 15h40, 18h30, 21h20, 00h10; ZON
fundo). Importante é o facto de
Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado
substituir um seu predecessor
Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h45, 18h40, 21h40,
00h35; ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª
(ausente da narrativa, mas
Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 17h, 21h 6ª Sábado
omnipresente nos fatos pendurados
13h50, 17h, 21h, 24h; ZON Lusomundo Marshopping:
no armário ou nas fotos que
5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h50,
18h50, 21h50, 00h30; ZON Lusomundo
recolheu, como o fictício
ado Domingo 2ª 3ª 4ª
NorteShopping: 5ª 6ª Sábado
agente
a ente de “Intriga
ag
usomundo Parque
14h, 17h, 21h, 00h10; ZON Lusomundo
Internacional” de
omingo 2ª 3ª 4ª 13h20,
Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo
16h10, 19h, 21h50, 00h40; ZON Lusomundo Fórum
Hitchcock),
H tchcock), que
Hi
Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h50, 17h55, 21h20
aparentemente
h20, 00h25;
6ª Sábado 14h50, 17h55, 21h20,
se suicidara no
Roman Polanski voltou
tou às
mar, ao
desaparecer de
primeiras páginas dos
os
dentro de um carro
jornais pelas piores
razões e o seu nome
e
encontrado vazio, logo
nos primeiros planos do
apareceu conotado
com ultrapassados
filme, a bordo de um “ferry”
que fazia a travessia do
escândalos sexuais,
quase fazendo tábua
continente americano para
a
rasa sobre uma obra
a
uma não identificada ilha,
com contornos ficcionais de
absolutamente
Ewan McGregorMartha’s
coerente e importante
nte
em grande forma
sob várias perspectivas:
vas:
um olhar singular sobre
obre
o património fílmico
oe
literário – desde a
Vineyard,
paródia vampiresca de
embora filmada
“Por Favor Não me
por razões logísticas
Intriga
Internacional
MMMMn
informações consultar www.fpcc.pt
As estrelas do público
No cinema actual (americano, mas
para além dele) não deve haver coisa
mais estereotipada do que o olhar
sobre a infância, sobre as crianças,
sobre as relações entre pais e filhos
pequenos. Neste panorama, é
refrescante encontrar um filme que,
como “Vão-me Buscar Alecrim”, seja
capaz de filmar a história
(disfuncional) de um pai divorciado
(um “pai solteiro”) e dos seus dois
filhos desta maneira: caos total, a
linha da irresponsabilidade cruzada
mais do que uma vez, e no entanto…
E no entanto, a relação entre aqueles
três exala uma autenticidade
sentimental comovente, uma
espécie de felicidade acossada
menos pelos sucessivos desastres do
que pela maneira condenatória
como o mundo (os “outros”) olha
para os desastres. Quer dizer, “Vãome Buscar Alecrim” é a história de
um “pai-herói”, mas cuja
heroicidade só é (só será, um dia)
reconhecida pelos filhos. Toda a
gente, todos os adultos, dos
professores da escola à mãe das
crianças, vê naquele homem apenas
um irresponsável eventualmente
perigoso; mas aqueles dois miúdos,
Sage e Frey, quando crescerem,
farão muito provavelmente um filme
sobre o pai (que até é projeccionista
e lhes mostra filmes, em película e
tudo). Assim o fizeram, pelo menos,
Joshua e Benny Safdie, dois novaiorquinos de vinte e poucos anos:
“Vão-me Buscar Alecrim” é a
homenagem autobiográfica ao pai
de ambos.
Podemos acreditar facilmente nesta
Manhattan de “hot-dogs” e jardins,
apartamentos atravancados, tascas e
lojinhas – podemos acreditar que é
nesta Manhattan que as pessoas, de
facto vivem. Há uma cena em que se
evoca directamente aquela célebre
foto a preto-e-branco de Weegee com
os miúdos a tomarem banho de
mangueira na rua (a mesma foto que,
no “Padrinho”, Coppola também
“reconstituiu”, e pouco importa que
ela tenha sido tirada, salvo erro, em
Brooklyn), o que faz todo o sentido
porque é a “rua”, em sentido lato, que
os Safdie querem filmar. E, no
entanto, reconhecendo embora a
pertinência do enquadramento de
“Vão-me Buscar Alecrim” na nobre
linhagem do “realismo independente
nova-iorquino” (Cassavetes ‘et al’), os
outros emparceiramentos que o filme
dos Safdie nos sugere estão um
pouco longe de Manhattan: aquele
belo filme do georgiano Otar
Iosseliani, “Era uma vez um Melro
Cantor”, e o seu protagonista, sobrecomprometido como o pai dos
Safdie, a lutar contra o tempo e
contra o espaço para conseguir estar
aonde tem de estar à hora a que tem
de estar, o seu voluntarismo e
entusiasmo sempre a jogarem contra
ele; e, claro, o sítio de onde têm
vindo sistematicamente os mais
espantosos e “irregulares” retratos da
infância e da família, o Irão: reparem
na maneira como os Safdie
conseguem criar um sentimento de
angústia profunda a partir dos mais
anódinos acontecimentos
domésticos e, num ápice, dar o salto
para o acontecimento extraordinário
e extraordinariamente angustiante
(toda a sequência, semi-absurda,
com os miúdos adormecidos por um
excesso de sedativos, é “cinema
iraniano ‘made in’ Manhatan”, e não
o dizemos com nenhuma espécie de
provocação). Longe de Manhattan: o
plano final, supra-sumo da
melancolia desafectada com que os
Safdie filmam esta história, sugere
que talvez do outro lado do rio, não
muito longe mas suficientemente
longe dali, o pai e os dois filhos
encontrem o que lhes falta, o tempo
e o espaço.
aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente
Em “Shrek Para Sempre” mantém-se a impecável qualidade técnica
algures ao largo da costa alemã.
E é neste contexto fantasmático
que o filme nos agarra e nos
emociona, criando uma tensão
crescente, um delírio imagético que
nunca cede à facilidade ou à
demagogia: de pista em pista, de
personagem em personagem, temos
um retrato de corpo inteiro da
paranóia (sempre a paranóia) que
leva o protagonista a reconstituir o
“lugar do crime”, mais interessado
nos fios da trama ficcional (que
espantoso “contador de histórias”
permanece Polanski) do que na rede
infinita de armadilhas politicamente
discerníveis. Fechado numa casa,
dentro de uma ilha, dentro das suas
próprias perplexidades, o escritor
afronta todos os fantasmas com a
curiosidade de uma criança que abre
os brinquedos para descobrir o que
contêm no interior. Esta letal
inocência confere ao labirinto de
referências uma vertigem
inimaginável (veja-se a prodigiosa
viagem à casa do agente da CIA,
guiada pela voz, também ela
fantasmática, de um GPS
programado, transformado em
instrumento de um destino
inevitável), um crescendo dramático
em que cada imagem faz tanto
sentido, quando a cifrada leitura
anagramática do texto das memórias.
Mas, como no melhor Hitchcock,
tudo funciona como um pretexto,
como um McGuffin, tendente a fazer
do percurso e do ritmo o melhor da
demanda.
Claro que haverá quem aproveite a
exterioridade do virtuosístico
argumento (a meias entre Polanski e
o autor do romance original, Robert
Harris) para falar de autobiográfico
ajuste de contas com os tentaculares
poderes americanos de que foi
“vítima”, sublinhando as
coincidências do exílio forçado e as
manobras intimidatórias, mas o
essencial passa por ideias de cinema
puro: o gélido ambiente da casa
modernista, a recordar
imaginativamente (e sem cópias
simplistas) a de James Mason, em
“Intriga Internacional”; as cinzentas
brumas da ilha; as mensagens
escritas que passam de mão em mão;
o encontro, também ele
“hitchcockiano”, com uma figura
que parece não fazer parte da
história (inesquecível “cameo” do
grande Eli Wallach); a perturbante
presença do feminino mortalmente
carnívoro, dando a Olívia Williams, a
mulher do ministro, uma densidade
inesperada. Tudo no seu lugar, como
um “puzzle” gigantesco que se
desenrola com a perfeição dos
grandes divertimentos fílmicos do
passado.
Que prazer se torna viver, durante
duas horas, dentro de uma redoma
cinematográfica, em que as
coincidências com o contexto político
exterior apenas acentuam o
fingimento sistemático das formas
fugidias e mutáveis!
Duas horas
alucinadamente burras
James Mangold tem a
cabeça no sítio certo mas
não tem tarimba para que o
espectador esqueça que o
que está a ver não tem ponta
por onde se lhe pegue. Jorge
Mourinha
Dia e Noite
Knight and Day
De James Mangold,
com Tom Cruise, Cameron Diaz, Peter
Sarsgaard, Viola Davis. M/12
MMnnn
20: Sala 16: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h05,
16h40, 19h20, 22h, 00h35 3ª 4ª 16h40, 19h20, 22h,
00h35; Cinemax - Penafiel: Sala 2: 5ª 2ª 3ª 4ª
15h30, 21h50 6ª 15h30, 21h50, 24h Sábado 15h,
17h30, 21h50, 24h Domingo 15h, 17h30,
21h50; Vivacine - Maia: Sala 3: 5ª 6ª Sábado
Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h50, 21h30,
00h05; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª
Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h15, 18h50,
21h50, 00h25; ZON Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª
Domingo 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h40, 21h30 6ª Sábado
15h40, 18h40, 21h30, 24h; ZON Lusomundo
GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
13h30, 16h30, 19h, 21h55, 00h25; ZON Lusomundo
MaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20,
16h10, 18h50, 21h35 6ª Sábado 13h20, 16h10, 18h50,
21h35, 00h15; ZON Lusomundo Marshopping: 5ª
6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h30,
21h30, 00h15; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª
6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h, 19h, 22h,
00h40; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª
Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h40,
21h40, 00h20; Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 2:
5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h20, 18h40, 21h40
6ª Sábado 13h10, 15h20, 18h40, 21h40, 00h10; ZON
Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª
13h, 15h45, 18h40, 21h30 6ª Sábado 13h, 15h45,
18h40, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo Glicínias:
5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h30,
19h10, 21h55, 00h40;
Que grande filme que, noutras mãos,
“Dia e Noite” podia ter sido. A
Lisboa: Atlântida-Cine: Sala 1: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª
história de um super-espião que
15h30, 21h30 Sábado Domingo 15h30, 18h15,
arrasta para uma aventura
21h30; Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 1: 5ª 2ª
caleidoscópica e muito confusa uma
3ª 4ª 15h40, 18h30, 21h40 6ª 15h40, 18h30, 21h40,
24h Sábado 13h10, 15h40, 18h30, 21h40, 24h
incauta restauradora de motores é a
Domingo 13h10, 15h40, 18h30, 21h40; Castello Lopes
mais perfeita encarnação do
- Loures Shopping: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo
“macguffin” Hitchcockiano desde o
2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h30, 21h25, 24h; CinemaCity
Alegro Alfragide: Cinemax: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h45,
imortal “Intriga Internacional”
15h55, 18h20, 21h50, 24h Sábado Domingo 11h35,
(1959): isto é, o objecto que é
13h45, 15h55, 18h20, 21h50, 24h; CinemaCity
nominalmente o motor que põe a
Beloura Shopping: Cinemax: 5ª 6ª Sábado
Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h40, 18h20, 21h30,
intriga em movimento (uma suposta
23h40; CinemaCity Campo Pequeno Praça de
pilha revolucionária) não tem
Touros: Sala 2: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h40, 15h50,
absolutamente importância
18h35, 21h40, 23h55 Sábado Domingo 11h30, 13h40,
15h50, 18h35, 21h40, 23h55; Medeia Saldanha
nenhuma. O que interessa é o modo
Residence: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª
como esse “macguffin” possibilita, ao
4ª 14h30, 17h, 19h30, 22h, 00h30; UCI Cinemas - El
mesmo tempo, uma nostalgia
Corte Inglés: Sala 9: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h10,
16h45, 19h15, 21h45, 00h15 Domingo 11h30, 14h10,
positiva da comédia de espionagem
16h45, 19h15, 21h45, 00h15; UCI Dolce Vita
dos anos 1960, a destruição
Tejo: Sala 10: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h45,
sistemática da sua lógica interna e a
19h15, 21h45 6ª Sábado 14h15, 16h45, 19h15, 21h45,
00h15; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado
sua reconstrução a partir de dentro
Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h20, 19h, 21h30,
como uma espécie de “screwball
24h; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado
comedy” arraçada de desenho
Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h50, 18h40, 21h30,
24h; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª
animado — e Cameron Diaz, com a
Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h40,18h15,
sua presença luminosa, é a actriz
21h20, 23h50; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª
ideal para encarnar essa “décalage”
Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h10, 18h45,
21h25, 00h15; ZON Lusomundo Dolce Vita
entre o humor e a acção. O problema
Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30,
é que o muito estimável James
21h30 6ª Sábado 15h30, 18h30, 21h30, 00h30; ZON
Mangold, que se está a tornar num
Lusomundo Odivelas Parque: 5ª Domingo 2ª 3ª
4ª 13h, 15h30, 18h10, 21h20 6ª Sábado 13h, 15h30,
muito interessante herdeiro dos
18h10, 21h20, 23h50; ZON Lusomundo Oeiras
velhos funcionários de Hollywood
Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10,
(confirme-se em “Walk the Line”,
15h45, 18h25, 21h15, 24h; ZON Lusomundo Torres
Vedras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30,
2005, e “O Comboio das 3.10”, 2007),
16h05,18h40, 21h40, 00h20 ; ZON Lusomundo
tem a cabeça no sítio certo mas não
Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
tem ainda a tarimba que lhe permita
12h55, 15h30, 18h15, 21h40, 00h25; Castello Lopes C. C. Jumbo: Sala 3: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20,
conseguir que o espectador se
16h, 18h30, 21h30
30 6ª Sábado 13h20, 16h, 18h30,
esqueça de que o que
21h30, 00h20; Castello Lopes - Fórum Barreiro: Sala
está a ver não tem
4: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h30, 18h30,
21h30 6ª Sábado
do 12h40, 15h30, 18h30, 21h30,
(nem é suposto
ter)
su
24h; Castello Lopes
pes - Rio Sul Shopping: Sala 1: 5ª
ponta por
po onde se lhe
6ª Sábado Domingo
mingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h50,
pegue.
O
resultado
é
18h50, 21h40, 24h;
4h; UCI Freeport: Sala 1: 5ª
2ª 3ª 4ª 15h40,, 18h40, 21h20 6ª
um “blockbuster”
“b
15h40, 18h40, 21h20,
1h20, 23h40
cuja aposta na
Sábado 13h30, 15h40,
5h40,
0,,
irrisão
e cujo
ir
18h40, 21h20,
23h40
tom
Domingo
descontraído
13h30, 15h40,
e
18h40, 21h20; ZON
ON
Lusomundo Almada
mada Fórum:
despretensioso
d
5ª 6ª Sábado Domingo
são sabotados a
2ª 3ª 4ª 13h, 15h45,
5h45,
cada passo pela
cad
Cameron Diaz,
18h35, 21h20, 24h;
4h; ZON
Lusomundo Fórum
um
própria
sua p
uma presença
Montijo: 5ª 6ª Sábado
incapacidade de levar até
luminosa, ao pé
Domingo 2ª 3ª 4ª
às últimas consequências
a
con
de Tom Cruise,
13h15, 15h50, 18h20,
h20,
21h20, 24h;
desconstrução.
desconstruçã E,
sempre igual a si
sobretudo,
é
um
filme
Porto: Arrábida
próprio
sabotado pela presença da sua vedeta
nominal, um Tom Cruise que, por
mais que tente, não é capaz de se
libertar da sua intensidade habitual,
mesmo estando supostamente a
brincar com a sua própria imagem de
marca, nem de invocar o charme
“blasé” que um papel destes implica.
Desde que não se lhe peça nada mais
do que duas horas alucinadamente
burras, “Dia e Noite” é o
divertimento de Verão ideal.
Continuam
Shrek Para Sempre
Shrek Forever After
De Mike Mitchell,
com Mike Myers (Voz), Eddie Murphy
(Voz), Cameron Diaz (Voz), Antonio
Banderas (Voz). M/6
MMnnn
Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 5: 5ª 2ª
3ª 4ª 14h50, 17h, 19h10, 21h10 (V.Port.) 6ª 14h50,
17h, 19h10, 21h10, 23h40 (V.Port.) Sábado 12h40,
14h50, 17h, 19h10, 21h10, 23h40 (V.Port.) Domingo
12h40, 14h50, 17h, 19h10, 21h10 (V.Port.); Castello
Lopes - Londres: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h,
16h30, 19h, 21h30 (V.Port./3D) 6ª Sábado 14h, 16h30,
19h, 21h30, 24h (V.Port./3D); Castello Lopes - Loures
Shopping: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
13h, 15h, 17h, 19h, 21h, 23h30 (V.Port.); Castello Lopes
- Loures Shopping: Sala 5: 5ª 6ª Sábado Domingo
2ª 3ª 4ª 13h15, 15h20, 17h25, 19h30, 21h35, 23h45
(V.Port./3D); CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 3: 5ª
6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 15h45 (V.
Port./3D); CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 4: 5ª
6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h30, 23h40 (V.
Port./3D); CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 2: 5ª
6ª 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, 21h55,
23h55 (V.Port./3D) Sábado Domingo 11h30, 13h30,
15h30, 17h30, 19h30, 21h55, 23h55 (V.
Port./3D); CinemaCity Beloura Shopping: Sala 2: 5ª
6ª 2ª 3ª 4ª 13h45, 15h50, 17h50, 19h50, 21h50,
23h55 (V.Port./3D) Sábado Domingo 11h30, 13h45,
15h50, 17h50, 19h50, 21h50, 23h55 (V.
Port./3D); CinemaCity Campo Pequeno Praça de
Touros: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
16h (V.Port./3D); CinemaCity Campo Pequeno Praça
de Touros: Sala 3: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h35, 15h35,
17h35, 19h35, 21h35, 24h (V.Port./3D) Sábado
Domingo 11h35, 13h35, 15h35, 17h35, 19h35, 21h35,
24h (V.Port./3D); Medeia Fonte Nova: Sala 1: 5ª 6ª
Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h15, 18h10,
20h05, 22h (V.Port.); Medeia Saldanha
Residence: Sala 5: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
13h50, 15h50, 17h50, 19h50, 21h50, 00h20 (3D); UCI
Cinemas - El Corte Inglés: Sala 12: 5ª 6ª Sábado 2ª
3ª 4ª 14h10, 16h30, 18h55, 21h45, 00h10 Domingo
11h30, 14h10, 16h30, 18h55, 21h45, 00h10; UCI
Cinemas - El Corte Inglés: Sala 6: 5ª 6ª Sábado 2ª
14h05, 16h15, 18h40, 21h30, 23h50 (V.Port./3D)
Domingo 11h30, 14h05, 16h15, 18h40, 21h30, 23h50
(V.Port./3D) 3ª 4ª 14h05, 16h15, 18h40, 23h50 (V.
Port./3D); UCI Dolce Vita Tejo: Sala 2: 5ª 2ª 3ª 4ª
13h45, 16h, 18h15, 21h15 (V.Port./3D) 6ª Sábado
13h45, 16h, 18h15, 21h15, 23h30 (V.Port./3D) Domingo
11h30, 13h45, 16h, 18h15, 21h15 (V.Port./3D); UCI Dolce
Vita Tejo: Sala 3: 5ª 2ª 3ª 4ª 14h, 16h15, 18h45,
21h50 (3D) 6ª Sábado 14h, 16h15, 18h45, 21h50,
00h10 (3D) Domingo 11h30, 14h, 16h15, 18h45, 21h50
(3D); ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª
13h50, 16h, 18h10, 21h, 23h50 (V.Port.) Sábado
Domingo 11h15, 13h50, 16h, 18h10, 21h, 23h50 (V.
Port.); ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 13h20, 14h10,
15h30, 16h30, 18h40, 21h20, 22h, 23h30, 00h10 (V.
Port./3D) 6ª 2ª 3ª 4ª 13h20, 14h10, 15h30, 16h30,
17h40, 18h40, 19h50, 21h20, 22h, 23h30, 00h10 (V.
Port./3D) Sábado Domingo 11h, 13h20, 14h10, 15h30,
16h30, 17h40, 18h40, 19h50, 21h20, 22h, 23h30,
00h10 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª
6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h20,
22h, 00h15 (3D); ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª
Sábado 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h50, 21h, 23h20 (V.
Port./3D) Domingo 11h, 13h30, 16h, 18h50, 21h, 23h20
(V.Port./3D); ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª
6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h10,
CONCURSO
JOVENS
JOVEN
NS CRIADORES
CRIADORE
2010
0
.ARTES
AARTES PLÁSTICAS.
PLÁSTT
.BANDA
BANDA DESENHADA.
DESENNH
.ILUSTRAÇÃO.
ÇÃO.
..ARTES
ARTES DIGI
DIGITAIS.
T
.FOTOGRAFIA.
F
FI
.VÍDEO.
O.
.DANÇA.
DANÇA
Ç
TEATROO
.MÚSICA.
A
.DESIGN
SIGN DE EQUIPAMENTO.
EQUIP
.DESIGN
DESIGN GRÁFICO.
GRÁF
.JOALHARIA.
RIA
.MODA..
.LITERATURA.
UR
¶
INSCRIÇÕESS AATÉ
26 DE JULHO
LH
REGULAMENTOS EM
ARTESIDEIAS.COM
JUVENTUDE.GOV.PT
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 41
Cinema
aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente
A química entre o par amoroso
de “Eclipse” funciona cada vez menos
Porto: Arrábida 20: Sala 15: 5ª 6ª Sábado
Domingo 2ª 14h, 16h30, 18h55 (V.Port./3D), 21h35,
00h20 3ª 4ª 16h30, 18h55 (V.Port./3D),
00h20; Arrábida 20: Sala 20: 5ª 6ª Sábado
Domingo 2ª 14h15, 16h50, 19h25, 22h10, 00h45 3ª
4ª 16h50, 19h25, 22h10, 00h45; Arrábida 20: Sala 1:
5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h30, 17h, 19h25,
21h45, 00h10 (V.Port./3D) 3ª 4ª 17h, 19h25, 21h45,
00h10 (V.Port./3D); Cinemax - Penafiel: Sala 1: 5ª
2ª 3ª 4ª 15h30, 21h55 (V.Port.) 6ª 15h30, 21h55,
23h55 (V.Port.) Sábado 15h, 17h30, 21h55, 23h55 (V.
Port.) Domingo 15h, 17h30, 21h55 (V.
Port.); Nun`Álvares: Sala 1: 5ª 6ª Sábado
Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 16h30, 19h30 (V.
Port./3D); Vivacine - Maia: Sala 1: 5ª 6ª Sábado 2ª
3ª 4ª 13h40, 16h10, 18h40, 21h10, 23h30 (V.
Port./3D) Domingo 11h10, 13h40, 16h10, 18h40,
21h10, 23h30 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Dolce
Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h,
16h30, 19h, 21h40, 24h (V.Port./3D); ZON
Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª
4ª 13h30, 16h, 18h20, 21h10, 23h40 (V.Port./3D)
Domingo 11h, 13h30, 16h, 18h20, 21h10, 23h40
(V.Port./3D); ZON Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª 2ª
3ª 4ª 15h, 17h20, 19h40, 22h (V.Port./3D 6ª Sábado
15h, 17h20, 19h40, 22h, 00h20 (V.Port./3D Domingo
11h, 15h, 17h20, 19h40, 22h (V.Port./3D; ZON
Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h50,
18h10, 21h20 (V.Port./3D) 6ª Sábado 15h50, 18h10,
21h20, 23h50 (V.Port./3D) Domingo 13h10, 15h50,
18h10, 21h20 (V.Port./3D); ZON Lusomundo
GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
12h50, 13h20, 15h, 15h50, 17h20, 18h20, 19h40, 21h,
21h50, 23h30, 24h (V.Port./3D); ZON Lusomundo
MaiaShopping: 5ª 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h, 18h30,
21h15 (V.Port./3D) 6ª Sábado 13h15, 16h, 18h30,
21h15, 23h45 (V.Port./3D) Domingo 10h45, 13h15,
16h, 18h30, 21h15 (V.Port./3D); ZON Lusomundo
MaiaShopping: 5ª 2ª 3ª 4ª 14h, 16h45, 19h15, 22h
(V.Port./3D) 6ª Sábado 14h, 16h45, 19h15, 22h,
00h30 (V.Port./3D) Domingo 11h15, 14h, 16h45,
42 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
19h15, 22h, 00h30 (V.
Port./3D); ZON Lusomundo
Marshopping: 5ª 6ª Sábado
Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10,
15h30, 17h50, 20h10, 22h30,
00h40; ZON Lusomundo
Marshopping: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª
4ª 13h40, 16h10, 18h40, 21h20, 23h50 (V.
Port./3D) Domingo 11h, 13h40, 16h10, 18h40, 21h20,
23h50 (V.Port./3D); ZON Lusomundo
NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
10h20, 12h30, 14h50, 17h20, 19h50, 22h10, 00h30
(V.Port./3D); ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª
6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h50, 18h30,
21h30, 24h (3D); ZON Lusomundo Parque Nascente:
5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 12h40, 12h50, 13h30, 15h,
15h20, 15h50, 17h30, 18h, 18h30, 19h50, 21h, 21h20,
22h10, 23h20, 23h50, 00h25 (V.Port./3D) Domingo
10h30, 10h40, 10h50, 12h40, 12h50, 13h30, 15h,
15h20, 15h50, 17h30, 18h, 18h30, 19h50, 21h, 21h20,
22h10, 23h20, 23h50, 00h25 (V.Port./3D); Castello
Lopes - 8ª Avenida: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª
12h45, 15h, 17h10, 19h20, 21h20 (V.Port./3D) 6ª
Sábado 12h45, 15h, 17h10, 19h20, 21h20, 23h30
(V.Port./3D); ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª
Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h50, 19h25, 22h (V.
Port./3D) 6ª Sábado 14h15, 16h50, 19h25, 22h,
00h35 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Fórum Aveiro:
5ª 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h55, 18h30, 21h10 (V.Port./3D)
6ª Sábado 13h20, 15h55, 18h30, 21h10, 23h45 (V.
Port./3D) Domingo 10h50, 13h20, 15h55, 18h30,
21h10 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Glicínias: 5ª
6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h20, 18h55,
21h30, 00h05 (V.Port./3D); ZON Lusomundo
Glicínias: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h55,
19h30, 22h, 00h35 (V.Port./3D) Domingo 11h, 14h20,
16h55, 19h30, 22h, 00h35 (V.Port./3D);
“Schrek para Sempre” permanece
fiel à lógica dos filmes anteriores da
série: sólido, divertido, aspirando a
cumprir as suas funções de atrair o
público infantil, sem descurar nunca
uma piscadela de olho aos adultos,
acompanhantes ou não de crianças
fãs do ogre verde. Perdeu-se a magia
da surpresa inicial, mas mantém-se a
impecável qualidade técnica, ao
serviço de um argumento algo
previsível. O acrescento do inevitável
3 D (que é o que está a dar) pouco
traz de particularmente excitante. No
entanto, tudo bem, “Shrek” fica na
história da animação como um
marco importante. Só que, depois de
vermos “Toy Story 3”, entendemos a
diferença entre o virtuosismo e o
cinema com ideias lá dentro. M. J. T.
A Saga Twilight: Eclipse
The Twilight Saga: Eclipse
De David Slade,
com Kristen Stewart, Robert
Pattinson, Taylor Lautner. M/12
a
Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 4: 5ª 2ª
3ª 4ª 15h50, 18h40, 21h30 6ª 15h50, 18h40, 21h30,
00h10 Sábado 13h, 15h50, 18h40, 21h30, 00h10
Domingo 13h, 15h50, 18h40, 21h30; Castello Lopes Londres: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h45,
19h15, 21h45 6ª Sábado 14h15, 16h45, 19h15, 21h45,
00h15; Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 1: 5ª
6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h20, 18h50,
21h40, 00h15; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 5:
5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h35, 16h10,
18h45, 21h45, 00h20; CinemaCity Alegro
Alfragide: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
22h; CinemaCity Beloura Shopping: Sala 4: 5ª 6ª
Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h15, 18h55,
21h40, 00h15; CinemaCity Campo Pequeno Praça de
Touros: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
13h30, 16h10, 18h45, 21h30, 00h05; CinemaCity
Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 6: 5ª 6ª
Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h55; Medeia Fonte
Nova: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
14h10, 16h40, 19h10, 21h40; Medeia
Monumental: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª
4ª 14h, 16h30, 19h, 21h30, 24h; UCI Cinemas - El
Corte Inglés: Sala 5: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h,
16h35, 19h15, 21h50, 00h25 Domingo 11h30, 14h,
16h35, 19h15, 21h50, 00h25; UCI Dolce Vita Tejo: Sala
9: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h30 6ª
Sábado 14h, 16h30, 19h,
21h30, 00h30; ZON
Lusomundo Alvaláxia: 5ª
6ª Sábado Domingo 2ª 3ª
4ª 13h40, 15h50, 16h50,
18h50, 18h55, 21h, 21h40,
23h45, 00h30; ZON Lusomundo
Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo
2ª 3ª 4ª 13h20, 16h10, 19h, 21h50,
00h25; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª
Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h, 15h50, 18h10,
18h40, 21h05, 21h30, 23h45, 00h20; ZON
Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª
3ª 4ª 12h50, 13h25, 15h45, 16h30, 18h35, 19h30,
21h30, 22h30, 00h20; ZON Lusomundo Dolce Vita
Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h, 18h, 21h 6ª
Sábado 15h, 18h, 21h, 24h; ZON Lusomundo Odivelas
Parque: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40, 18h30,
21h30 6ª Sábado 12h50, 15h40, 18h30, 21h30,
00h10; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª
Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h45, 17h20,
18h20, 20h50, 21h20, 23h50, 00h10; ZON
Lusomundo Torres Vedras: 5ª 6ª Sábado Domingo
2ª 3ª 4ª 12h45, 15h35,18h25, 21h15, 24h; ZON
Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado
Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h45, 18h35, 21h30,
00h20; Castello Lopes - C. C. Jumbo: Sala 2: 5ª
Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h40, 21h20 6ª
Sábado 13h10, 15h50, 18h40, 21h20, 00h10; Castello
Lopes - Fórum Barreiro: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª
4ª 12h30, 15h20, 18h20, 21h10 6ª Sábado 12h30,
15h20, 18h20, 21h10, 23h50; Castello Lopes - Rio Sul
Shopping: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
12h50, 15h30, 18h30, 21h30, 00h10; Castello Lopes Rio Sul Shopping: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo
2ª 3ª 4ª 13h15, 15h50, 18h40, 21h25, 00h10; ZON
Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado
Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 12h55, 15h30, 15h45,
18h20, 18h35, 21h10, 21h35, 00h05, 00h25; ZON
Lusomundo Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo
2ª 3ª 4ª 12h50, 15h45, 18h25, 21h25, 00h15;
Porto: Arrábida 20: Sala 12: 5ª 6ª Sábado
Domingo 2ª 3ª 4ª 15h20, 18h20, 21h20,
00h20; Arrábida 20: Sala 2: 5ª 6ª Sábado
Domingo 2ª 13h45, 16h20, 19h05, 21h50, 00h35 3ª
4ª 16h20, 19h05, 21h50, 00h35; Cinemax Penafiel: Sala 3: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 21h45 6ª
15h30, 21h45, 00h05 Sábado 15h, 17h30, 21h45,
00h05 Domingo 15h, 17h30, 21h45; Vivacine Maia: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
14h, 17h, 21h, 23h50; ZON Lusomundo Dolce Vita
Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h,
15h50, 18h40, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo Dolce
Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
13h40, 16h40, 19h30, 22h30; ZON Lusomundo
Ferrara Plaza: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h20, 18h30,
21h40 6ª Sábado 15h20, 18h30, 21h40, 00h30; ZON
Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado
Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h45, 21h30,
00h30; ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª
Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, 17h15, 21h20 6ª Sábado
14h15, 17h15, 21h20, 00h25; ZON Lusomundo
Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
13h, 15h40, 18h20, 21h40, 00h35; ZON Lusomundo
NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª
12h20, 13h20, 15h30, 16h20, 18h40, 19h20, 21h40,
22h20, 00h50; ZON Lusomundo Parque Nascente:
5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h30, 13h10,
15h30, 16h, 18h20, 18h50, 21h30, 22h, 00h30,
00h45; Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 3: 5ª
Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h30, 18h30, 21h30 6ª
Sábado 12h50, 15h30, 18h30, 21h30, 24h; ZON
Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª
14h40, 17h40, 21h15 6ª Sábado 14h40, 17h40, 21h15,
00h15; ZON Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª Sábado
Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10, 17h30, 21h, 24h;
Quem ainda acredita em milagres?
Depois do disparate de “Lua Nova”,
bastaria mudar de realizador para
melhorar o produto e dar
consistência às peripécias
vampirescas e pseudo-românticas,
criadas para pôr as adolescentes
patetas e histéricas em delírios
trementes? “Eclipse” é tão inútil e
estúpido como o seu predecessor e
nem uma aparente maior violência
física lhe traz sangue novo. A tão
propalada química entre o par (ou
trio) amoroso funciona cada vez
menos (se é que alguma vez
funcionou) e os efeitos especiais
continuam de uma pobreza
confrangedora. Que dizer mais? De
fugir a sete pés. Nem com mil
transfusões lá vai. M.J.T.
Cinemateca Portuguesa R. Barata Salgueiro, 39 Lisboa. Tel. 213596200
Sexta, 16
Terça, 20
O Defunto Protesta
Here Comes Mr. Jordan
De Alexander Hall.
A Passagem do Noroeste
Northwest Passage
De King Vidor.
15h30 - Sala Félix Ribeiro
15h30 - Sala Félix Ribeiro
Veludo Azul
Blue Velvet
De David Lynch. .
O Pequeno Criminoso
Le Petit criminel
De Jacques Doillon.
19h - Sala Félix Ribeiro
19h - Sala Félix Ribeiro
Sicilia!
De Danièle Huillet , Jean-Marie
Straub.
Cézanne
De Danièle Huillet, Jean-Marie
Straub.
19h30 - Sala Luís de Pina
19h30 - Sala Luís de Pina
A Ilha de Moraes
De Paulo Rocha.
22h - Sala Luís de Pina
Rocco e Seus Irmãos
Rocco e i suoi fratelli
De Luchino Visconti.
21h30 - Sala Félix Ribeiro
Aliens - O Reencontro Final
Aliens
De James Cameron.
Irmãos Inseparáveis
Dead Ringers
De David Cronenberg.
22h30 - Esplanada
22h - Sala Luís de Pina
Sábado, 17
Quarta, 21
Inquérito a um Cidadão Acima
de Qualquer Suspeita
Indagine su un Cittadino al di
Sopra di Ogni Sospetto
De Elio Petri.
Amor Selvagem
Canyon Passage
De Jacques Tourneur.
15h30 - Sala Félix Ribeiro
15h30 - Sala Félix Ribeiro
Sexo, Mentiras e Vídeo
Sex, Lies, and Videotape
De Steven Soderbergh.
19h - Sala Félix Ribeiro
Um Beijo ao Morrer
Kiss Before Dying
De Gerd Oswald.
19h - Sala Félix Ribeiro
O Pequeno Criminoso
Le Petit criminel
De Jacques Doillon.
Aelita
De Yakov Protazanov. Com Iulia
Solntseva, Nicolai Tsereteli,
Valentina Kuindji. 114 min.
19h30 - Sala Luís de Pina
Killer’s Kiss
De Stanley Kubrick.
19h30 - Sala Luís de Pina
The Racket
De John Cromwell.
21h30 - Sala Félix Ribeiro
De Hoje para Amanhã
Von heute auf morgen
De Danièle Huillet, Jean-Marie
Straub. 22h - Sala Luís de Pina
22h - Sala Luís de Pina
Eles Vivem
They Live
De John Carpenter.
22h30 - Esplanada
Segunda, 19
Track of the Cat
De William A. Wellman.
15h30 - Sala Félix Ribeiro
A Fronteira do Amanh
Amanhecer
hecer
e
La Frontière de l’Aube
De Philippe Garrel.
el.
Quinta, 22
RUI GAUDÊNCIO
17h25, 19h40, 22h, 00h15 (3D); ZON Lusomundo
CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h20,
16h, 18h30, 21h, 23h30 (V.Port./3D) Domingo 11h,
13h20, 16h, 18h30, 21h, 23h30 (V.Port./3D); ZON
Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª
3ª 4ª 12h45, 15h15, 17h35, 21h50, 00h10 (3D); ZON
Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª
13h30, 16h, 18h20, 21h10, 23h30 (V.Port./3D)
Domingo 11h, 13h30, 16h, 18h20, 21h10, 23h30 (V.
Port./3D); ZON Lusomundo Dolce Vita Miraflores: 5ª
2ª 3ª 4ª 15h20, 17h30, 19h40, 21h50 (V.Port./3D) 6ª
Sábado 15h20, 17h30, 19h40, 21h50, 23h50 (V.
Port./3D) Domingo 11h, 15h20, 17h30, 19h40, 21h50
(V.Port./3D); ZON Lusomundo Odivelas Parque: 5ª
2ª 3ª 4ª 13h, 13h30, 15h, 16h, 17h15, 18h20, 19h30,
21h, 21h50 (V.Port./3D) 6ª 13h, 13h30, 15h, 16h, 17h15,
18h20, 19h30, 21h, 21h50, 23h30, 24h (V.Port./3D)
Sábado 11h, 13h, 13h30, 15h, 16h, 17h15, 18h20, 19h30,
21h, 21h50, 23h30, 24h (V.Port./3D) Domingo 11h,
13h, 13h30, 15h, 16h, 17h15, 18h20, 19h30, 21h, 21h50
(V.Port./3D); ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª
Sábado 2ª 3ª 4ª 13h, 14h, 15h10, 16h20, 17h30,
18h45, 19h50, 21h10, 22h10, 23h40 (3D) Domingo
10h45, 11h15, 13h, 14h, 15h10, 16h20, 17h30, 18h45,
19h50, 21h10, 22h10, 23h40 (3D); ZON Lusomundo
Torres Vedras: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h50,
18h10, 21h, 23h30 (V.Port./3D) Domingo 11h, 13h15,
15h50, 18h10, 21h, 23h30 (V.Port./3D); ZON
Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado
Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h50, 21h10, 23h50
(3D); ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª 2ª 3ª
4ª 13h10, 15h20, 17h35, 19h45, 21h50, 24h (V.
Port./3D) Sábado Domingo 11h, 13h10, 15h20, 17h35,
19h45, 21h50, 24h (V.Port./3D); Auditório
Charlot: Sala 1: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 21h30 (V.Port.)
Sábado Domingo 16h, 21h30 (V.Port.); Castello Lopes
- C. C. Jumbo: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h,
15h10, 17h20, 19h30, 21h40 (V.Port./3D) 6ª Sábado
13h, 15h10, 17h20, 19h30, 21h40, 23h50 (V.
Port./3D); Castello Lopes - Fórum Barreiro: Sala 1: 5ª
Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h10, 17h20, 19h30,
21h40 (V.Port./3D) 6ª Sábado 12h50, 15h10, 17h20,
19h30, 21h40, 23h40 (V.Port./3D); Castello Lopes Rio Sul Shopping: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo
2ª 3ª 4ª 13h, 15h10, 17h20, 19h20, 21h20, 23h40 (V.
Port./3D); UCI Freeport: Sala 5: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30,
18h10, 21h10 (V.Port.) 6ª 15h30, 18h10, 21h10, 23h15
(V.Port.) Sábado 13h15, 15h30, 18h10, 21h10, 23h15 (V.
Port.) Domingo 13h15, 15h30, 18h10, 21h10 (V.
Port.); ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª
Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h05, 17h15,
19h20, 21h50, 00h15 (3D); ZON Lusomundo Almada
Fórum: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h15, 17h25,
19h35, 21h40, 23h55 (V.Port.) Domingo 11h, 13h05,
15h15, 17h25, 19h35, 21h40, 23h55 (V.Port.); ZON
Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª
4ª 13h20, 15h30, 18h15, 21h, 23h25 (V.Port./3D)
Domingo 11h, 13h20, 15h30, 18h15, 21h, 23h25 (V.
Port./3D); ZON Lusomundo Fórum Montijo: 5ª 6ª
Sábado 2ª 3ª 4ª 13h, 13h30, 15h30, 17h, 18h30,
19h20, 21h, 21h40, 23h30, 00h05 (V.Port./3D)
Domingo 11h, 13h, 13h30, 15h30, 17h, 18h30, 19h20,
21h, 21h40, 23h30, 00h05 (V.Port./3D);
A Viúva Alegre
The Merry Widow
De Ernst Lubitsch.
15h30 - Sala Félix Ribeiro
Cida
Cidade
d de Viscos
Viscosa
Fat City
De John Huston.
Husto
19h - Sala Félix Ribeiro
Rib
19h - Sala Félix Ribeiro
Irmãos Inseparáveis
áveis
Dead Ringers
De David Cronenberg.
berg.
Sexo, Mentiras
Sexo,
S
Mentir e Vídeo
Sex, Lies, and
an Videotape
De Steven So
Soderbergh.
19h30 - Sala
S
Luís de Pina
21h30 - Sala Félix Ribeiro
o
Two Wrenching
g
Departures
+ The Scenic
Route
Two Wrenching
g
Departures
De Ken Jacobs.
19h30 - Sala Luís de
Pina
O Lutador da
Rua
Walter Hill
De Walter Hill.
22h - Sala Luís de Pina
Du
Duma
Vez por
Todas
T
De Joaquim
D
Leitão.
22h - Sala Luís de Pina
Conan e os
Bárbaros
Conan the
Barbarian
De John Milius.
22h30 - Esplanada
“Duma Vez por Todas” é primeiro
filme de Joaquim Leitão
ELSA GALVÃO
Teatro/Dança
JOÃO MEIRELES
João Meireles
Solo
“Dentro das Palavras”
é a primeira peça a solo
do autor e intérprete Rui
Catalão (colaborador do
Ípsilon). Estreou ontem no
espaço Negócio da Galeria
Zé Dos Bois em Lisboa e e
pode ser vista às quintas,
sextas e sábados (21h30)
até dia 24. Nela Rui
Catalão faz um balanço de
A peça reflecte
sob como o
sobre
co
corpo vive o
a
afastamento
progressivo
da linguagem
falada como
principal forma
de expressão.
dez anos a
trabalhar
na dança.
“Dentro
das
Palavras”
da
partiu ainda
dos anos
que o autorr
viveu na
Roménia.
Agenda
Séverine protagoniza um
monólogo divertido e amargo
Teatro
Januário de Oliveira (a partir de), Gil
Vicente (a partir de).
Estreiam
Évora. Largo de São Mamede. Até 31/07. 3ª, 4ª, 5ª,
6ª e Sáb. às 22h00. entrada livre.
Long Distance Hotel
De Gilles Polet, Goran Sergej Pristas,
Judith Davis, Leo Preston, Tiago
Rodrigues, Tónan Quito.
Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei
Miguel Contreiras, 52. De 22/07 a 30/07. 2ª, 3ª, 4ª,
5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Tel.: 218438801. 12€ (sujeitos
a descontos).
Estreiam
Um actor, só
Duas peças encenadas por
Jorge Silva Melo (uma da
sua autoria) para o Festival
de Almada, têm apenas um
actor (ou uma actriz) em
palco, a sós com a sua voz.
Raquel Ribeiro
Fala da Criada dos Noialles Que
no Fim de contas Vamos
Descobrir Chamar-se Também
Séverine numa Noite de Inverno
de 1975 em Hyères
De Jorge Silva Melo
Com Elsa Galvão, Vânia Rodrigues,
Pedro Lamas, Pedro Mendes,
António Simão, entre outros.
Encenação Jorge Silva Melo,
Co-produção Artistas Unidos /
Culturgest/ Festival de Almada
Lisboa, Culturgest, R. Arco do Cego – Ed. CGD. 16/07
e 17/07 às 21h30 e 18/07 às 17h. Bilhetes a 12 euros.
Um Precipício no Mar
De Simon Stephens
Com João Meireles
Encenação Jorge Silva Melo
Co-produção Artistas Unidos/
Culturgest/Festival de Almada
Lisboa, Culturgest, R. Arco do Cego - Ed. Sede CGD.
15/07 às 19h30 e 21h30, 16/07 e 17/07 às 19h30 e 23h,
dia 18/07 às 16h e 18h30. Bilhetes a 5 euros.
Parece haver
have uma grande
coincidência entre os cortes na
coincidênc
anunciados pela ministra
Cultura anu
(entretanto
Gabriela Canavilhas
Ca
revogados) e a peça “Fala da Criada
Noialles” escrita e encenada por
dos Noialle
Melo, que estreia hoje na
Jorge Silva M
Culturgest e faz parte do Festival de
Almada.
Apesar de escrita em
Alm
2006,
Silva Melo explica
20
que
q os dois últimos versos
(“a
( arte não serve para
nada.
Só para gastar
n
dinheiro”)
ganham agora
d
“uma
actualidade
“u
inesperada
sobre as
in
relações
entre a arte e o
r
dinheiro”.
d
A criada dos Noialles (chamava-se
Séverine) conta, num monólogo
divertido e algo amargo, o jantar
entre o realizador Luis Buñuel e o
seu mecenas, o Conde de Noialles
(patrono de vários artistas do
surrealismo como Man Ray ou Dalí).
Foi ao ler as memórias de Buñuel, “O
Meu Último Suspiro” (ed. Fenda),
que Silva Melo se inspirou para
escrever esta peça sobre um “jantar
de surdos”, o Conde e Buñuel, já
velhos, onde só a criada tem voz,
“porque as criadas são as
personagens mais picantes do
Buñuel”.
A criada conta com ironia como o
conde era um aristocrata rico, como
a sua casa, na Paris dos anos 20,
estava sempre cheia de estrelas (até
Marlene Dietrich veio um dia,
“trombuda”, “a pôr baton entre
duas fumaças do mesmo gitanes sem
filtro”), e como agora, na
decadência, “até nem espelhos já
temos, aqueles de Veneza comprouos um suíço dos relógios ou era da
Nestlé?”.
Silva Melo escreveu que “Fala da
Criada” é uma “peça sem qualquer
importância”. No fundo, continua,
“é só uma peça de teatro” escrita
para a sua actriz, Elsa Galvão. Se
calhar, “os quatros anos pesam na
actriz e em mim”, conta Silva Melo,
“olho para ela de forma mais amarga
do que antes”. E admite: “Há ali uma
amargura maior que não havia na
altura, e que se instalou com os
anos.” “Fala da Criada” é teatro
“básico”: uma actriz, a sua voz e 22
figurantes (fantasmas que já
passaram por aquela casa, que
surgem por um minuto, vestidos à
época, cantando em coro “Amour
Fou”).
Noutro palco, menos iluminado e
grandioso, está o actor João Meireles
em “Um Precipício no Mar”, peça do
inglês Simon Stephens, também
encenada por Silva Melo. Mas não é
bem um palco, não há uma luz
especial, não há plano mais alto. O
actor está sentado ao nosso
(espectadores) lado.
O monólogo pode durar 37 ou 45
minutos, “consoante o humor do
actor”, ou seja, “leva o tempo que
for preciso” para contar a história de
27º Festival de Teatro de
Almada
Manuel de Irradiação
iRádio-acção
De Álvaro Garcia de Zuñiga.
Encenação: Álvaro Garcia de Zuñiga,
Arnaud Churin. Com Alínea B. Issilva,
Arnaud Churin, Eduardo Raon,
Emanuela Pace, Pedro Moreira.
Almada. Fórum Municipal Romeu Correia. Pç.
Liberdade. De 17/07 a 18/07. Sáb. e Dom. às 18h. Tel.:
212724928. 13€ e 7€.
Continuam
27º Festival de Teatro de
Almada
Letra M
Encenação: Fernando Mora Ramos.
Com Johannes Von Saaz, João Vieira.
Almada. Sociedade Filarmónica Incrível
Almadense. R. Capitão Leitão,3. Até 17/07. 5ª e 6ª às
19h00. Sáb. às 16h00. Tel.: 212750929. M/16.
Ode Marítima
Santa Joana dos Matadouros
De Bertold Brecht. Encenação:
Gustavo Trestini.
Coimbra. Oficina Municipal do Teatro. (Vale das
Flores) R. Pedro Nunes. Até 18/07. 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª
e Sáb. às 21h30 (excepto a 11/007). Dom. às 19h00.
Tel.: 239718238.
A Transformação
Encenação: Cláudia Negrão. Com
José Mateus Pedro Barbeitos.
Lisboa. Teatro da Comuna. Pç. Espanha. Até 31/07.
5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às 16h30. Tel.:
217221770. 10€ (sujeitos a descontos). Quintasfeiras: 5€. Reservas: 968382245.
As Espingardas da Senhora
Carrar
De Bertolt Brecht. Encenação:
António Durães. Com André Figueira,
António Parra, Clara Nogueira, Inês
Leite, José Topa, Julieta Guimarães,
Luís Silva, Pedro Estorninho.
Porto. CACE Cultural do Porto. R. do Freixo, 1071.
Até 24/07. 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 22h00. Tel.:
225191600.
O Burguês Fidalgo
De Molière. Encenação: Cláudio
Hochman. Com Alexandre Ferreira,
Catarina Guerreiro, Fernanda Paulo,
Joana Duarte Silva, João Didelet,
Marina Albuquerque, Paulo Duarte
Ribeiro, Sílvia Filipe.
Lisboa. Palácio Beau Séjour. Estrada de Benfica.
Até 25/07. 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, Sáb. e Dom. às 20h00.
Tel.: 217712420.entrada livre.
Dança
Estreiam
De Fernando Pessoa. Encenação:
Claude Régy. Com Jean-Quentin
Châtelain.
Almada. Teatro Municipal. Av. Professor Egas
Moniz. Até 16/07. 4ª, 5ª e 6ª às 21h30. Tel.:
212739360. Em francês.
O Dia de Todos os Pescadores
À Flor da Pele + Lento para
Quarteto de Cordas + 5 Tangos
Companhia: Companhia Nacional de
Bailado. Coreografia: Hans van
Manen, Vasco Wellenkamp, Rui
Lopes Graça.
Lisboa. Teatro Nacional de São Carlos. Lg. S.
Carlos, 17. De 20/07 a 21/07. 3ª e 4ª às 22h. Tel.:
213253045. Entrada livre.
Festival ao Largo 2010.
Impacto
Companhia: Quorum Ballet.
Dramaturgia Pedro Alves. Coreografia
e cenografia: Daniel Cardoso.
Interpretação: Elson Ferreira, Filipe
Narciso, Henriette Ventura, Inês
Godinho, Theresa Da Silva.
Alcobaça. Cine-Teatro. R. Afonso de Albuquerque.
Dia 17/07. Sáb. às 22h. Tel.: 262580890. 5€.M/12.
De Francisco Luís Parreira.
Encenação: João Cardoso. Com João
Cardoso, Jorge Mota, Micaela
Cardoso, Pedro Frias, Rosa Quiroga.
Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. Até
31/07. 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às 16h00.
Tel.: 223401905.10€ e 15€.
Se o Mundo Fosse Bom, o Dono
Morava Nele
De Ariano Suassuna (a partir de),
um homem que viu morrer a filha a
cair de um precipício. Uma peça
sobre uma tragédia (a morte), o luto
(de um homem igual a nós), mas
também sobre os silêncios que se
impõem à urgência de contar. “O
autor quis sentir a dificuldade de
contar de uma pessoa que, no
fundo, é a dificuldade de escrever de
Companhia Portuguesa de
Bailado Contemporâneo
Companhia: Companhia Portuguesa
de Bailado Contemporâneo.
Coreografia: Clara Andermatt,
Denise Namura, Michael Bugdahn.
Olival Basto. Centro Cultural da Malaposta. R.
Angola. De 17/07 a 18/07. Sáb. às 21h30. Dom. às
16h. Tel.: 219383100. Entrada livre. No Auditório.
M/6. Duração: 75m.
um autor. E quis passar esse
incómodo para o nosso lado”,
explica Silva Melo. Esta personagem
está ali, em fanicos, e nós é que
temos de apanhar os cacos. “Aquele
homem está ao nosso lado
visivelmente a sofrer. E nós, o que
fazemos? “Deixamo-lo sozinho?”,
pergunta Silva Melo.
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 43
Livros
Ficção
Café Europa
Com um talento de mestre
da arte narrativa, Neuman
teceu, com palavras
luminosas, uma espécie de
mosaico cultural europeu.
José Riço Direitinho
O Viajante do Século
Andrés Neuman
Tradução de Vasco Gato
Objectiva
mmmmn
MIGUEL MADEIRA
O prolífico autor
hispano-argentino
Andrés Neuman (n.
1977) estreou-se na
ficção aos 22 anos
com o romance
“Bariloche”, que foi
finalista de um dos
mais prestigiados
concursos literários de língua
espanhola, o Premio Herralde. A
propósito deste primeiro romance
de Neuman, Roberto Bolaño
escreveu em tom profético no seu
Andrés Neuman em Lisboa a promover o romance
com que recebeu o Prémio Alfaguara 2009
44 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
livro de ensaios “Entre Paréntesis”
(Anagrama, Barcelona, 2004):
“Quando encontro estes jovens
escritores, dá-me vontade de me
pôr a chorar. Ignoro o futuro que os
espera. Não sei se um condutor
bêbado os atropelará uma noite, ou
se de repente deixarão de escrever.
Se nada disto acontecer, a literatura
do século XXI pertencerá a [Andrés]
Neuman e a outros poucos dos seus
irmãos de sangue.” (pág. 149). Até
agora, Neuman não desacreditou as
palavras do genial chileno, publicou
12 volumes de poesia, três livros de
contos e quatro romances, o último
deles, “O Viajante do Século”, foi
distinguido em 2009 com o Prémio
Alfaguara e o Prémio Nacional da
Crítica espanhola; está desde há
pouco tempo traduzido para
português.
A história decorre em meados do
século XIX, numa cidade algures
entre Berlim e Leipzig, num lugar
entre as fronteiras da Saxónia e da
Prússia. Um enigmático viajante,
Hans, chega à cidade ficcional de
Wandernburgo para pernoitar.
Hospeda-se na estalagem da família
Zeit (que significa “tempo”, em
alemão) apenas por uma noite,
antes de (era esta a sua pretensão)
seguir para sul, para Dessau. Na
manhã seguinte, Hans tem a
impressão “de que a planta da
cidade se desarrumava enquanto
todos dormiam”. Até à hora
aprazada para a saída da carruagem,
entretém-se a identificar as ruelas
que percorre mais do que uma vez,
mas perde-se, invariavelmente; o
único lugar que se mantém sempre
acessível é a Praça do Mercado,
“onde os comerciantes apregoavam
as suas mercadorias em voz baixa e
os negócios fechavam-se quase ao
ouvido”. Entretanto, encontra um
velho sábio tocador de realejo (que
estará presente ao longo de todo o
romance), que vive numa gruta nos
arredores da cidade; conversam,
bebem cervejas, o tempo passa, e a
carruagem parte. Hans prolonga a
sua estada por um dia; e no dia
seguinte por mais outro, e assim se
vão sucedendo os dias, porque
entretanto conhece o senhor
Gottlieb e a sua culta e “fascinante”
filha, Sophie, noiva do aristocrata
Wilderhaus. O enigmático Hans
começa a ser convidado para os
encontros artístico-filosóficos que
têm lugar na mansão dos Gottlieb
todas as sextas-feiras, e onde se
discutem (superficialmente)
algumas das ideias de Kant, Fichte,
Novalis, Schelling, Goethe, dos
irmãos Schlegel, entre outros; é uma
oportunidade para Hans estar mais
perto de Sophie, por quem
entretanto desenvolve uma paixão.
Conhece também o negociante
espanhol Álvaro de Urquijo, de
quem se torna amigo, e que lhe diz:
“Eu já estou aqui de passagem há
mais de dez anos.” (pág. 87)
Aos poucos, a cidade, com a sua
“mobilidade”, vai adquirindo
também um estatuto de
personagem. Há quem se
interrogue: “Wandernburgo seria a
mesma? Ou não continuaria apenas
a deslocar-se sigilosamente, como
também a mudar de aspecto? Teria
uma fisionomia definida ou seria
antes um lugar ausente, uma
espécie de mapa em branco?” (pág.
281)
Esta cidade de Andrés Neuman é
a Europa do século XIX, enredada
num labirinto, e em constantes
mudanças, quer políticas quer
ideológicas, mas onde as conversas
versam temas também actuais como
os nacionalismos, as
independências, a emigração, a
xenofobia, a união económica e
cultural do continente, ou mesmo o
feminismo e a educação
sentimental. Não é sem intenção
que o autor cria no romance o Café
Europa, lugar onde os nomes mais
importantes da cidade se
encontram. Ou ainda põe na boca
do céptico espanhol palavras
amargas (que poderiam também ser
ouvidas hoje numa rua europeia a
propósito, por exemplo, do Tratado
de Lisboa) que descrevem um
quadro onde se reproduz a reunião
do Congresso de Viena: “O mesmo
de sempre!, dezenas de senhores
gordos a decidirem o destino da
Europa!, palhaços protocolares
reunidos para se encherem de
comida e decidirem a data da
próxima reunião!, uma legião de
senhores que olham para os anéis e
assinam em nome dos seus povos!”
(pág. 462). Há da parte de Neuman
uma clara vontade de abordar temas
actuais transferindo-os para uma
Europa da Restauração, uma
Europa ainda mal refeita das acções
políticas e bélicas de Bonaparte.
Mas também a literatura ocupa
muito do “plot” do romance. Hans é
um pretenso tradutor poliglota –
trabalha por correspondência para
revistas e para uma editora – e faz
disso mais um pretexto para se
encontrar mais vezes com a amada
Sophie, que também conhece várias
línguas. Juntos aventuram-se na
tradução de autores como
Coleridge, Wordsworth, Keats,
Byron, Milton, Lamartine, Gérard
de Nerval, Quevedo e Bocage, entre
outros (o interessante é que o leitor
parece assistir em “tempo real” às
traduções); tudo numa espécie de
esquisso de uma futura “antologia
da poesia europeia”; é a luz da ideia
romântica da “Weltliteratur”, de
Goethe, que a ilumina.
Numa linguagem de um grande e
talentoso lirismo, Neuman teceu
(com a precisão e o requinte de um
ourives) uma espécie de mosaico
cultural europeu, de onde não está
ausente o diálogo entre o romance
clássico e a narração pós-moderna.
Uma nota final (e um aplauso)
para a esmerada tradução de Vasco
Gato.
A decadência
do coração
Apoiada no simbolismodecadentista, Djuna Barnes
antecipou em 30 anos o
olhar “camp”.
Eduardo Pitta
O Bosque da Noite
Djuna Barnes
Tradução de Francisco Vale e Paula
Castro
Relógio d’Água
mmmmn
A literatura está
cheia de
personagens que
fazem a lenda da
cena literária. Lou
Andreas-Salomé,
Karen Blixen,
Harold Acton, Paul
Bowles, James
Merrill e Sam Shepard, para citar
meia dúzia de nomes “fortes”, são
exemplos (muito diferentes entre si)
dessa constelação fulgurante. A
crítica alinha-os na categoria de
autores de culto.
Por maioria de razão entra aqui
Djuna Barnes (1892-1982), escritora e
poeta contra todas as probabilidades.
Nascida e criada no seio de uma
família disfuncional, teve o privilégio
de ver um dos seus primeiros livros
prefaciado por T. S. Eliot: “A prosa de
Miss Barnes tem o ritmo da prosa que
é próprio do estilo da prosa e um
modelo musical que não é o da
poesia [o qual] eleva à mais alta
intensidade a matéria que se
comunica.” Eliot descreve “O Bosque
da Noite” (1936), primeiro dos quatro
romances de temática homossexual
que marcaram a era pré-Stonewall.
Os outros são “Reflexos nuns Olhos
de Oiro” (1941), de Carson McCullers;
“A Cidade e o Pilar” (1948), de Gore
Vidal; e “Outras Vozes, Outros
Quartos” (1948), de Truman Capote.
Sobre todos, o livro de Djuna tem a
vantagem de ter
antecipado
em 30 anos o
olhar
“camp”.
As
origens
Djuna Barnes
aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente
Obra
completa
O Prémio Camões 2010,
o escritor brasileiro
Ferreira Gullar, vai
passar a ser publicado
pela editora Babel. Este
mês sairá “Poema Sujo”
(escrito em 1975, na
época de ditadura militar,
quando o autor ainda
se encontrava exilado
em Buenos Aires). E em
Setembro, a Babel lançará
o seu novo livro de
“suburbanas” e uma adolescência
pouco convencional não impediram
Djuna de atravessar o Atlântico,
fixando-se em Paris, onde foi aceite
no círculo ultra-elitista de Natalie
Barney. Sem grande esforço, a
rapariguinha desamparada de
Bridgeport passou a integrar a
genealogia ilustre dos “habitués” do
n.º 20 da Rue Jacob: Rainer Maria
Rilke, Marina Tsvetáeva, André Gide,
Olga Rudge, Ezra Pound, Peggy
Guggenheim, Scott Fitzgerald, Sylvia
Beach, William Carlos Williams,
Gertrude Stein, James Joyce,
Somerset Maugham e outros
expatriados. Djuna chegara envolta
num halo de escândalo: “The Book of
Repulsive Women” (1915), a estreia
literária, que mais tarde renegará,
fizera dela o centro de uma “cause
célèbre”. A época fica marcada pela
ligação amorosa que manteve com a
escultora Thelma Wood. Ciente da
condição de “outsider”, publicará em
1928 o sulfuroso “Ladies Almanack”,
violenta catilinária contra o
lesbianismo-chique. Natalie Barney e
todas as suas amantes são
personagens do livro.
“O Bosque da Noite” ficou
concluído em 1932, quando Djuna
vivia em Londres. É uma reflexão
amarga dos anos parisienses (192031), bem como dos equívocos,
possibilidades e limites da itinerância
sexual. Djuna, que teve amantes de
ambos os sexos, sabe do que fala. O
tom elíptico não diminui a pulsão
trágica (Eliot vai ao extremo de citar a
tradição isabelina), nem disfarça a
relação conflituosa que manteve com
Thelma Wood: “No coração de Nora
repousava o fóssil de Robin, entalhe
da sua identidade, e à sua volta, para
que se conservasse, corria o sangue
de Nora.” Fica claro que Robin Vote é
o “alter-ego” de Thelma: “Procurei
Robin em Marselha, em Tânger, em
Nápoles, procurei-a para a
compreender, para acabar com o
meu terror. Disse a mim própria: farei
o que ela fez, hei-de amar o que ela
poemas,
“Em Alguma Parte
Alguma”. Com publicação
simultânea no Brasil, pela
editora José Olympio, é
amou e então voltarei a encontrá-la.”
O desprezo de Djuna pela
burguesia com veleidades
aristocratizantes é dado logo a abrir,
no retrato de Felix, que a si mesmo
atribuía o título de barão de Volkbein:
“Quando falava de um titular, fazia
uma pausa antes e depois de lhe
pronunciar o nome. [...] Sentia que o
grande passado poderia talvez ser
parcialmente refeito se se humilhasse
o suficiente, sucumbisse e prestasse
homenagem.” Mas o epítome do
sarcasmo fica reservado a Jenny
Petherbridge, quatro vezes viúva e
completamente destituída de
harmonia: “Só separada do resto do
corpo é que uma qualquer parte dela
se poderia considerar certa.”
Tensa como um arco, a escrita
extremamente elaborada de Djuna
denota sentido de equilíbrio e acidez
bem calibrada. O mais próximo que
encontramos da retórica não tem
uma palavra a mais: “o amante tem
de ir contra a natureza para
encontrar o amor.” Não admira que
Susan Sontag tenha dito que era
assim que queria escrever. Não é
pequeno mérito que tudo isso seja
feito sem beliscar as regras (e os
matizes) do simbolismodecandentista.
Humor
Pompa de mestre
Wit – Ensaios humorísticos
Robert Benchley
Tradução de Júlio Henriques
Tinta da China
mmmnn
A expressão inglesa “pay the deeds”,
que “prestar homenagem” ou “pagar
dividendos” não traduzem com rigor,
designa a necessidade de um artista
de sucesso repartir os louros com
aqueles que maior influência
exerceram sobre o seu trabalho. Não
o primeiro livro deste
género literário depois
de “Muitas Vozes”,
de 1999. Seguir-se-á
“Cidades Inventadas”,
compilação de ficções
escritas ao longo de
várias décadas, publicado
originalmente em 1997,
e “Rabo de Foguete – Os
Anos do Exílio”, memórias
dos seus tempos de
expatriado.
sei se foi essa a
intenção de Ricardo
Araújo Pereira,
quando deu o seu
nome à colecção de
livros de humor da
Tinta da China, mas
é o que parece
acontecer com este
livro. O norte-americano Robert
Benchley (1889-1945) não é apenas
um mestre para o humorista
português. Segundo ele escreve no
prefácio de “Wit”, já o era para
Groucho Marx e continuou a sê-lo
para sucessivas gerações de
humoristas norte-americanos, até
Woody Allen. “Foi um humorista a
quem os mestres chamavam mestre.”
E não é apenas uma referência
estilística: Benchley começou por ser
um jornalista (com humor), escreveu
crónicas (de humor), livros (de
humor), escreveu argumentos e
realizou filmes (de humor) e
participou como actor (humorista)
em algumas comédias musicais. De
resto, em 1935 ganhou um Óscar para
a curta metragem “How to sleep”
(que viria a gerar a série “How to…”
Quem se interessa pelo ofício de fazer
rir os outros tem aqui matéria de luxo
para estudar.
Mas “Wit” é também literatura. E
Robert Benchley escreve bem (aliás, é
traduzido por um bom tradutor que,
não sendo especialista em humor,
utiliza o português com eficácia).
Sabe, por exemplo, utilizar a
retórica das convenções de
linguagem. Depois de descrever uma
paisagem “exótica”, conclui que “é
de facto uma vista magnífica, a não
ser que estejamos a olhar na direcção
errada”.
A repetição é uma das ferramentas
principais do humor (consiste em
repetir algo que em si não tem piada,
e que a repetição torna hilariante). Na
crónica “Uma volta ao mundo com o
boleeiro cigano”, depois de descrever
“as exóticas fragâncias do Oriente”
em Gukla, no primeiro parágrafo, no
segundo apresenta-nos “o coronel
humorista é a capacidade de
Michington Meã, ‘o boleeiro cigano’,
observar e entender qualquer
que vai ser o vosso guia nesta viagem
fenómeno de forma lógica, e depois
à longínqua Gukla, onde (ver
desmontar as convenções que
primeiro parágrafo)”. A leitura do
habitualmente deturpam o sentido
primeiro parágrafo diz assim… “onde
da realidade. A convenção, para o
as exóticas fragrâncias do Oriente”,
caso, é a do documentário (que é
etc.
suposto reproduzir o real sem o
Escreve tão bem, Benchley, que
retocar; ao mesmo tempo esse real
chegamos a saber da sua boa
deve “acontecer”, ou seja, ter
educação (estudou em Harvard), até
acontecimentos), e que por seu lado
mesmo quando pretende ser
inclui outra convenção, a de que as
desrespeitoso. A propósito das
masmorras, ou as caves das lendas,
palestras de espiritismo em que
são lugares escuros (escuridão que
participou, diz ter mantido o silêncio
tem de ser dramatizada, de outro
em todas: “sobretudo por que passei
modo a cave não podia ser filmada).
quase todo o tempo a comer
Eis como Benchley desmonta e
bolachas.” Benchley não fala com a
remonta tudo isto: “Decidido a
boca cheia.
aclarar a verdade de uma destas
O desrespeito pelas convenções
lendas, desloquei-me ao tempo, à
morais da sua época, factor de
meia-noite, e desci à cave. Podem
cómica marotice, agora que esses
ver-me aqui, graças à luz intensa de
mesmos valores entraram em
dois projectores de cinema que por
desuso, ganham um efeito de cómico
acaso trouxemos (…) o que seria
bota-de-elástico: “Comecei as minhas
aquilo do meu lado direito? Estaquei,
experiências de espiritismo em 1909,
com as câmaras assestadas em mim.
quando estava sentado no escuro
Era o rumor de uma mulher a
com uma rapariga que mais tarde
soluçar! Por sorte, os microfones
acabou por não ser a minha esposa.
esposa.”
estavam a funcionar
.
f ncionar
fu
Notemos agora o uso
devidamente.”
so falacioso de
e
devida
amente.”
um pormenor como elemento
Numa
Nu
uma crónica
distintivo: “Tinham então
sobre
ntão
sobr
b e a “febre de
começado a ser usados
fenos”
os os
feno
n s” (de que o
relógios de ponteiros
autor
au
diz
fosforescentes e eu tinha
sofrer), em que
nha um doss
poucos que havia na cidade. Na
o registo de
realidade, eu tinha um
“conselhos
m dos
poucos relógios da cidade.”
práticos” luta
dade.” Aqui
interrompemos a frase
com o “relato
e porque
Benchley abusa. Estica-se
do
a-se na piada
e perde piada. Continuemos
uemos a
frase: “porque a maiorr parte das
pessoas ainda usava ass ampulhetas
de outrora.” A frase termina
ermina
com uma última oração,
ão,
que não tem piada
nenhuma: “por serem
m
[as ampulhetas de
Robert Benchley na colecção
outrora] mais
de humor da Tinta da China
cómodas.”
Uma das principais
ferramentas de
trabalho de um bom
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 45
Este Ver‹o, encontre uma coisa diferente para estimular a sua mente.
COLEC‚ÌO P-IQ. 96 p‡ginas com passatempos.
De 3 de Julho a 4 de Setembro, o Pœblico lana 10 cadernos semanais de
passatempos que v‹o seduzir a sua mente e estimular a sua inteligncia com
desafios, enigmas e jogos de l—gica que pode levar para a praia ou para a piscina.
Colec‹o de 10 livros. Periodicidade: semanal. Dia da semana: S‡bado. PVP: 1,40Û Preo total da colec‹o: 14,00Û. Data de in’cio: 3 de Julho. Data de fim: 4 de Setembro. Limitado ao stock existente.
To dos o
s
S‡bado
s
p or ap e
n
mais Û1 as
,40,
com o
Pœblico
.
Poesia
paciente” (que luta com a doença e
a incredulidade que a doença inspira
nos outros), o autor explica como
resolveu o problema (de ter uma
doença ridícula) sem resolvê-lo (ou
seja, continuando a sofrer da
doença): “ “retirar-me para um
quarto escuro, fechar as janelas e
passar o tempo a rasgar pedacinhos
de papel entre 18 de Agosto e 15 de
Setembro”.
A coincidência cómica é outro
efeito de humor que Benchley utiliza,
através de um acontecimento
secundário, que surge entre
parêntesis: “Estou a dar pancadinhas
tão fortes na madeira que o homem
do quarto ao lado gritou agora
mesmo: ‘Entre!’”; “Quando eu era
rapaz (lembro-me bem de o
presidente Franlkin Pierce [que
morreu vinte anos antes de Benchley
nascer] também exclamar: ‘E que
belo rapaz!’)”.
O parêntesis é o recurso estilístico
em que Benchley consegue os
melhores efeitos de humor, mas
também os piores. Seguem-se dois
exemplos da sua falta de piada entre
parêntesis: “Segundo opiniosas
informações provenientes de Paris
(se é que aceitamos as opiniões de
uma cidade tão mal afamada)”;
“Apreciador de cavalos como eu sou,
quando os conheço pessoalmente (e
com uma mão cheia de açúcar
garanto que consigo criar amizade
com qualquer cavalo – ou então
perco a mão até ao punho na
tentativa)”.
O humor vive muito de tornar o
irracional razoável e a razão tornar-se
absurda. Tal deve-se ao facto dos
humoristas serem dos poucos seres
inteligentes a aperceberem-se que a
razão é apenas uma convenção de
sentido cuja solidez tem um prazo de
validade ou um ângulo favorável. O
humorista é também alguém que se
apercebe que os valores, hábitos e
crenças de uma dada época, tornamse ridículos com o surgimento de
outros paradigmas. A passagem do
tempo, e as mudanças que o tempo
traz, é assim uma das alavancas do
humor. O que este livro tem de
melhor tem a ver com as convenções
do tempo. O que este livro tem de
pior tem a ver com as convenções do
autor.
Benchley, por vezes, torna-se tão
ridículo como as convenções que
pretende ridicularizar, porque
também ele é um produto do seu
tempo: sublinha o seu sentido de
humor como quem ri da sua piada.
Ou seja, Benchley é escravo da
necessidade de fazer rir, o que nem
sempre tem piada. Para a época em
que trabalhou, foi sem dúvida
corrosivo, mas a passagem do tempo
veio revelar um humor também
pomposo. Esse esquema mental, no
entanto, também pode ter a sua
graça, pois até um observador do seu
quotidiano (e os bons humoristas são
sempre observadores que
desconstroem o seu quotidiano) se
Depois da conferência
rência
so,
de Caetano Veloso,
agora é a vez
da sua irmã,
Maria Bethânia,
oesia
homenagear a poesia
guesa
em língua portuguesa
com leituras na Casa
a,
Fernando Pessoa,
os
em Lisboa. Textos
d Sophia de Mello
de
Br
Breyner, Vinicius
de Moraes, João
G
Guimarães
Rosa, de
p
poetas
africanos e
a
ainda
de Manuel
B
Bandeira,
Padre
António Vieira,
Clarice Lispector,
Má
Mário
de Andrade,
pode tornar alvo, digamos
assim, de um olhar antropológico:
“Dispormos de um carregador que
nos leve a bagagem é uma prática
desportiva que só há relativamente
pouco tempo começou a ter
aceitação nos Estados Unidos. Impôsse com a feminização da nossa raça e
com a moda dos punhos nas
camisas” (em “A vida desportiva na
América: seguir o carregador”).
Pomposo é também o subtítulo do
livro, ao chamar “ensaios” a crónicas.
Seria também interessante nesta
compilação incluir as datas dos textos
e, tendo em conta o impacto cultural
das revistas para onde Benchley
escrevia, até as publicações em que
surgiram. Rui Catalão
Crónicas
O que fica do que
passa
Por Outras Palavras
Manuel António Pina
Modo de Ler
mmmmn
Pessoa, Álvaro de
Campos e Alberto Caeiro
serão lidos pela cantora
brasileira. A leitura será
intercalada com canções,
algumas a capella. Quartafeira, dia 21 de Julho, às
17h30. A entrada é livre.
com touradas, praxes académicas,
com o higienismo, a obsessão sexual
da Igreja, o filistinismo cultural e as
asneiras gramaticais). A selecção de
textos é talvez excessivamente
extensa (são redundantes todas
aqueles ataques ao “eduquês”), e
Pina sofre a sina de todos os
cronistas, que é ter de lidar com
assuntos que envelhecem depressa.
Por isso, ele sabe muitas vezes
encontrar o essencial de uma
situação, independentemente das
circunstâncias datadas. O país,
reconheça-se, é generoso em
peripécias, da reprodução de
Courbet apreendida em Braga às
“greves de fome” de cinco horas.
Várias crónicas são sobre os desvarios
da alta finança. Pina cita muito a
propósito o seu administrador de
condomínio: “A situação, embora
alarmante, não é preocupante”.
Especialmente agudas são as crónicas
que sublinham que a crise, quando
chega, não chega a todos.
Politicamente, as opiniões de Pina
são de esquerda (exceptuando uma
rara equanimidade face a Israel); uma
esquerda independente e desiludida,
que viveu 68 e 74 e viu as suas ilusões
desfeitas, os seus heróis
“corrompidos pela vida”.
O outro Pina, mais intimista, é
aquele que revela a faceta do
(óptimo) poeta que também é. São
textos sobre a memória, sobre isso de
sermos feitos de memórias, de
palavras escassas mas justas, de uma
incessante procura de sentido. Textos
sobre os nomes dos amigos mortos
nas agendas, sobre encontros
falhados, flashes da infância, os
gatos, a solidão dos livros. E, sempre,
aquilo a que Pina chama o “mistério
gratuito da poesia”. Não apenas da
poesia escrita, mas da experiência
poética do mundo, na qual convivem
Winne-the-Pooh e Ruy Belo, um
pardal e um blogue, Bresson e
George
Best, o futebolista que
disse: “Gastei
muito dinheiro
em álcool,
miúdas e
carros; o resto
esbanjei-o”.
Pedro Mexia
Ciberescritas
Digital “versus” impresso
É
Isabel
Coutinho
“Por Outras
Palavras & mais
crónicas de jornal”
é uma antologia das
crónicas de Manuel
António Pina,
organizada pelo seu
amigo Sousa Dias.
São 244 textos,
publicados entre 1994 (data da
excelente colectânea “O
Anacronista”) e 2009. A maioria das
crónicas foi publicada no “Jornal de
Notícias” (textos mais curtos, diários)
e na revista “Visão” (textos mais
longos, semanais). Em geral, as
crónicas semanais respiram melhor,
são mais elaboradas, menos presas
resas à
ditadura da actualidade. As peças
ças
mais curtas, em contrapartida,, são
comentários incisivos ao estado
o do
mundo. Mas há em ambos os
Jakob Nielsen
formatos a mesma reflexão sobre
bre o
http://www.useit.
efémero, ou sobre aquilo que a
com/
passagem do tempo torna efémero,
mero,
dos grandes acontecimentos àss
emoções privadas. A crónica está
stá
sempre à beira de se tornar
anacrónica, excepto para aqueles
eles
que sabem decantar o que fica
daquilo que passa.
As crónicas de tema público
aqui recolhidas são algo
Manuel António Pina e os comentários
atípicas na imprensa
incisivos ao estado do mundo
portuguesa. Manuel António
Pina é talvez o menos arrogante
te
dos nossos colunistas, e a
arrogância é a doença infantil
dos fazedores de opinião. Pina
a
mostra-se quase sempre tímido,
o,
afável, melancólico, quieto.
Mesmo as suas indignações são
o
geralmente irónicas, ou então
recorrem à paródia swiftiana
(há excepções: fica zangado
FERNANDO VELUDO/NFACTOS
Livros
aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente
uma batalha perdida? Os seres humanos lêem
mais rapidamente um livro de ficção impresso
do que a mesma obra no iPad ou no Kindle. Foi
esta a conclusão a que chegou um estudo feito
pela empresa de consultadoria Nielsen Norman
Group: o tempo de leitura nestes aparelhos digitais é
menor do que era no passado, mas não é menor do que
quando se lê em papel.
Foi o dinamarquês Jakob Nielsen, especialista em
usabilidade dos produtos informáticos e um dos
directores desta empresa, que divulgou algumas das
conclusões deste estudo na sua coluna “Alertbox” (é
publicada no seu “site” duas vezes por semana). Há uns
meses, quando o iPad foi lançado, Jakob analisou várias
das aplicações disponíveis para o novo “tablet” da Apple.
Quis ver se elas se adaptavam convenientemente ao
objectivo para que foram concebidas.
Mais recentemente, Jakob Nielsen quis saber se a
velocidade de leitura variava consoante o aparelho em
que se lia. O investigador sabia de antemão que é muito
melhor ler um livro de ficção deitado num sofá com um
“tablet” nas mãos do que estar sentado a uma secretária
a ler, o mesmo livro, num computador. Mas será que os
“tablets” – computadores pessoais que podem ter ecrãs
tácteis e são mais portáteis do que os outros – são tão
bons para ler como um livro impresso?
Para o descobrir, a equipa do Nielsen Norman Group
fez um estudo sobre a leitura de obras de ficção em dois
dos mais famosos aparelhos
electrónicos: o iPad da Apple
(aparelho ainda na primeira
geração) e o Kindle da Amazon
(já na segunda geração).
Deixaram de lado a leitura
de páginas na Internet e de
jornais e concentraram-se na leitura de uma narrativa
linear: a leitura de uma ficção com princípio, meio e fim.
No iPad o texto de ficção era lido com a ajuda da aplicação
gratuita e instalada de origem, iBook. Os investigadores
concentraram-se só na velocidade de leitura, não testaram
se essas aplicações eram fáceis de usar pelos utilizadores.
Pediram a cada um dos 24 participantes deste estudo
que lesse um conto do escritor norte-americano Ernest
Hemingway num computador, num iPad, num Kindle
e num livro impresso. Escolheram Hemingway por
considerarem que a sua leitura é cativante e não muito
difícil. A leitura do conto demorava em média 17 minutos
e 20 segundos. Menos tempo do que se demora a ler um
romance ou um livro de estudo, mas mais tempo do que
a leituras que as pessoas costumam fazer quando estão
na Internet. No final da leitura os participantes tinham
que responder a um questionário com perguntas sobre
o que acabaram de ler. Chegaram à conclusão de que a
compreensão do texto era boa em todas as plataformas.
Venham então os números: a velocidade de leitura do
conto do Hemingway num iPad foi mais baixa em 6,2
por cento do que a velocidade atingida por um leitor
do mesmo conto num livro impresso. Quando a leitura
do conto passou a ser feita no Kindle, a velocidade de
leitura ainda foi mais baixa em 10,7 por cento, quando
comparada com o tempo que demora a ler impressa.
No final, os investigadores perguntaram aos
participantes do estudo qual era o grau de satisfação
que sentiam em relação à leitura nestes aparelhos. A
pontuação ia de 1 a 7. Em média o iPad teve 5,8 pontos
(apesar de as pessoas se queixarem de que era pesado);
o Kindle (5,7 pontos), o livro impresso (5,6) e a leitura
no computador foi a pior classificada (3,6). Ler em papel
foi considerado mais relaxante do que ler em aparelhos
digitais e ler no computador é desconfortável, não dá
prazer, porque lembra o trabalho.
Lemos mais
rapidamente um livro
de ficção impresso
isabel.coutinho@publico.pt
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 47
Discos
aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente
xcelente
Os australianos Triffids, de David McComb, lembrados numa antologia
Pop
Big Boi é
mesmo
grande
Até agora era a metade mais
desvalorizada na dupla
OutKast, mas, no primeiro
álbum a solo, Big Boi mostra
que é tão grande como o
cúmplice André 3000. Vítor
Belanciano
Big Boi
Sir Lucious Left Foot: The Son of
Chico
Def Jam, distri. Universal
mmmmn
Talvez seja altura de
olharmos de outra
forma para os
OutKast, a dupla
que elevou
ele
o hiphop para
pa outro
através
patamar na última década,
déca
“Stankonia” (2000)
de álbuns como “Stank
ou “Speakerboxxx/The Love Below”
sempre André
(2003). Até agora era se
Benjamin (André 3000)
3000 que era
a
enaltecido, quando se considerava
c
faceta mais visionária e aventureira
do duo. Era nele que se pensava,
quando eram evocadas referências
exteriores ao hip-hop que
q a dupla
incorporava. Antwan Patton, ou
Boi, estava mais
sseja,
se
ja, Big Bo
próximo daquilo que
padrões
são os p
clássicos
clássic do hiphop. Talvez
por
T
isso é visto como o
mais conservador
do duo.
d
Essa
divisão
E
era
particularmente
pa
sensível em
se
“Speakerboxxx/
“S
The Love
T
Below”,
o
B
á
álbum
duplo
O hip-hop para massas segundo Big Boi
em
e que cada
um
u assinava a
sua metade.
su
“The Love
“T
Below”, de
Be
André 3000,
An
era uma espécie
de musical
m
“Singin in the
“Sing
Rain” em versão
contemporânea.
contem
obra-prima de
Uma obra
melodias inesperadas,
in
e
romances possíveis
p
impossíveis e uma
impossívei
sensualidade funky
sensualidad
como já não se ouvia
desde o melhor
melh Prince dos
anos 80. A outra face,
“Speakerboxxx”, era diferente,
talvez mais próxima dos cânones do
hip-hop, mas com climas
luxuriantes, configurações
electrónicas, ritmos sincopados e as
marcas de psicadelismo, em
justaposições surpreendentes.
A verdade é que André 3000 é
um sedutor. Big Boi não. Pelo
menos não era, porque “Sir Lucious
Left Foot: The Son of Chico”, o seu
primeiro álbum a solo, vem
baralhar as coisas. É uma obra de
uma jovialidade assinalável para
alguém com 16 anos de actividade,
e numa altura em que o hip-hop e o
R&B dirigido ao centro do mercado
já conheceram melhores dias. 2010
acaba por ser um ano em grande
para Big Boi. Não só edita um
óptimo álbum a solo, como acaba
por estar implicado na descoberta
de uma das revelações do ano –
Janelle Monae.
Para ele o hip-hop é uma equação
onde cabem tecnologia, ritmo,
energia, configurações rítmicas
electrónicas, climas luxuriantes e
marcas de funk na linha dos
Funkadelic ou Parliament. Tudo isso
está presente numa obra de ritmos
fantasiosos, texturas futuristas e
cadências vocais perfeitas. Há uma
série de convidados vocais ( Janelle
Monae, T.I., George Clinton ou Gucci
Mane) e de produtores (Organized
Noize, André 3000, Scott Storch, Lil
Jon ou Salaam Remi) e o álbum foi
registado de forma espaçada ao
longo de três anos. Mas não se sente
dispersão. Todas as faixas respiram
o mesmo grau de maturidade e
espontaneidade, dando ideia que
Big Boi se recreou fixando todas as
peças do puzzle, conseguindo fazer
passar essa exuberância para este
lado.
O belo
desperdício
Vinte anos depois, um “bestof” dos Triffids vem deixar
claro que David McComb foi
um dos maiores escritores
de canções dos anos 80.
João Bonifácio
The Triffids
Wide Open Road
Domino, distri. Edel
mmmmm
Continua a tentativa
de fazer voltar ao
mundo a alma
torturada de David
McComb, o líder
dos Triffids,
perdido há muito para a heroína, a
pneumonia e os acidentes de
automóveis. Cada canção que
McComb escreveu para os Triffids
era como o giz que os polícias usam
para desenhar no chão o contorno
de um cadáver: assombrado,
destrutivo, McComb cantou como
quem se livra da peste, numa
tentativa de afastar a poeira da
morte que dia após dia assentava no
seu corpo. O triste é que esta
compilação de 18 temas podia ter
outros 18 diferentes e ainda assim
seria extraordinária – o triste é que
tão poucos se lembrem disso.
McComb era extraordinário em
canções grandiosas como “Wide
open road”, “Bury me deep in love”
e “Red pony”, veículos de ultraromantismo movidos a cordas – esta
última contém o ADN dos três
primeiros discos dos Tindersticks
(cujo líder, aliás, nos confessou
numa tarde soalheira ter aprendido
a escrever canções ao som dela).
Mas também era espantoso na pop
de guitarras de “Reverie”, que citava
o ié-ié dos anos 50, na sinfonia de
bolso de “Beautiful waste”, com
xilofones a dobrarem as cordas
antes de uma alegria juvenilesca se
apoderar da guitarra, como o era na
secura country da “slide guitar” de
“The Seabirds” (que depois ganhava
contornos épicos). Falta, quanto a
mim, uma maior presença de temas
de “In the Pines” (1986), disco
gravado num barraco, de peles
curtidas e blues debaixo do sovaco,
mas a sinopse é simples: McComb
foi um desses raros homens que
perceberam que cada melodia só
valia a pena se estivesse
directamente ligada às vísceras, que
percebeu que uma harmonia não
era apenas a distância entre notas
mas sim entre a paz e o abismo, que
percebeu que só canta canções de
amor quem do amor só conheceu os
pontapés. No libreto há um desenho
de uma árvore, com raízes fundas,
tronco torto e copa despida e
inclinada para o chão. Não há
melhor símbolo para estas canções.
Oneohtrix Point Never,
ou seja Daniel Lopatin,
num disco exploratório
O que dizem
as máquinas
É com sintetizadores que
se tem feito alguma da
música mais entusiasmante
dos cenários alternativos
contemporâneo. Pedro Rios
Oneohtrix Point
Never
Returnal
Mego, distri.
Matéria Prima
mmmmn
Emeralds
Does It Look Like
I’m Here?
Mego, distri.
Matéria Prima
mmmmn
Depois de um início de década em
que o “underground” americano se
dividiu entre o grito libertário da
New Weird America e o festim de
ruído de uns Wolf Eyes, Black Dice e
Sightings, nos últimos tempos têmse destacado as felizes explorações
do património da música cósmica,
ancorada em sintetizadores
analógicos. Tal como a editora Sub
Pop fez com os Wolf Eyes em 2004, a
Mego, editora mais habituada à
electrónica mais radical e menos
misericordiosa, captou a tendência e
editou, praticamente em
simultâneo, álbuns dos seus dois
maiores nomes, Emeralds, um trio
de Cleveland, e Oneohtrix Point
Never, “alter ego” de Daniel Lopatin,
de Nova Iorque.
“Nil Admirari”, o manto de noise
desfigurado que inaugura
“Returnal”, parece indicar que
Lopatin encontrou novos
TE
MP
OR
AM
AD
US
IC
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AL
OM
EN
A
20
10
An
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2h
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0,
o, 4 21h3
ulh o, 5ª
J
de ulh
28 de J
29
19ª edição
10, 17,, 24 JUL 2010, 18h00
Ténis do Parque de Serralves
Programação: António Curvelo
10 JUL
VIJAY IYER TRIO
17 JUL
BERNARDO SASSETTI TRIO
COM PERICO SAMBEAT
24 JUL
“CONTACT”
Dave Liebman / John Abercrombie /
Marc Copeland / Drew Gress / Billy Hart
Bilhetes à venda na recepção de Serralve
s e em www.serralves.pt
Patrocinador do Jazz do Parque
Apoio Institucional
cional
Apoio à Internacionalização
Apoio
Apoio Media
Fundação de Serralves / Rua D.
D João de Castro,
Castro 2
210
10
0-P
Porto
Po
orto
o
rtto / ww
rto
www.serralves.pt
ww
w
w
/ serralves@serralves.pt / Informações: 808 200 543
Discos
aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente
caminhos, depois do sublime
“Rifts” (2009), que compilava os três
primeiros discos de Oneohtrix Point
Never. “Describing Bodies” e “Stress
Waves” tratam de nos sossegar:
sintetizadores a subir aos céus ao
fundo, o lento respirar das
máquinas, a mesma qualidade
imersiva do passado. A maior
novidade é “Returnal”, próxima do
formato canção, que manipula a voz
de Lopatin, sem sexo, duplicada,
como robôs em diálogos
indecifráveis – “Returnal” há-de ser
citada, ao fundo, na maravilha de
ecos “Preyouandi”.
Se a história da música popular a
Lopatin interessa para a tornar
fantasma das suas composições, os
Emeralds fixam-se num período em
particular, a “kosmische Musik”,
feita nos anos 1970, na Alemanha.
Em “Does It Look Like I’m Here?”, o
terceiro disco “oficial” dos Emeralds
(descontando as edições
limitadíssimas de que são adeptos),
comprimiram as viagens de
sintetizadores (e a discreta guitarra
de Mark McGuire) em peças mais
curtas do que no passado.
Em momentos como “Now you
see me” (cânticos melódicos e
sintetizadores ao fundo, acordes
simples de guitarra em primeiro
plano) aproximam-se de territórios
quase “new age”, sinal de que estão
mais interessados no apelo sensorial
do que em abrir novas possibilidades
criativas – ideia confirmada em
“Genetic”, com crescendos épicos
deliciosamente previsíveis, solos de
guitarra em várias camadas e
cascatas de sintetizadores à
Tangerine Dream (som outrora
futurista, hoje nostálgico).
O selo Mego pode ajudar a que se
dê a importância devida a alguma da
música mais interessante dos nossos
tempos. Seria justo que assim fosse.
Tigrala
Tigrala
Mbari Música
mmmmn
ENRIC VIVES-RUBIO
O terceiro álbum de Bob Da Rage Sense
O realismo mágico dos Tigrala em estreia
em busca delas é menos importante
que sorver o que delas frutificou.
Bucólica de alpendre em fim de
tarde e xamânica como ritual de
outras paragens, feita de delicada
filigrana sonora ou de garridas
manchas sonoras em mutação, esta
música existe para além do tempo.
A tambura tanto sugere o
movimento espiralado, ascendente,
da música tradicional indiana, como
se entrega à melancolia de
crepúsculo mediterrânico. O
magnífico trabalho de Ian Carlo
Mendoza no vibrafone conduz-nos
em movimentos circulares,
hipnóticos, que ora ouvimos como
minimalismo, arriscando magia
animista, ora imaginamos como o
Rhodes de Herbie Hancock entregue
a outras feitiçarias que não as de
Miles Davis – e enquanto a tambura
divaga e o vibrafone hipnotiza,
enquanto a flauta sopra beatífica
como bom “freak”, a guitarra
acústica de Guilherme Canhão, num
fluxo incessante, vai tecendo o
tapete
sonoro p
por
p
onde os Tigrala
caminham.
Como se
percebe, já
cedemos
cedemo
ao que
não
devíamos,
devíamo
já
procurámos
p
pr
ocurám
raízes e já
indicámos
traves
mestras.
Não se p
procurem
em “Tigrala”
coordenadas
estéticas ou
temporais
que
expliquem esta música.
Não se escave sob
ob a
tambura, a guitarra
arra
acústica, as percussões
cussões e
o vibrafone em busca dos
alicerces que tudo
do
esclareçam. A música dos
Tigrala, ou seja, a música que
nasce quando se
e reúnem
Norberto Lobo, Guilherme
Canhão e Ian Carlo
arlo
Mendoza, tem raízes
aízes
antigas,
profundíssimas,,
Laura Nyro, uma cantora branca
mas, quando a
de garganta negra
ouvimos, escavar
ar
Desmerecemos a música do trio, que
não pede nada disso. Música fora de
tempo e alheia a fronteiras,
dissemos acima. Não é música do
mundo, é música onde, com três
músicos em digressão íntima, o
mundo se reflecte.
A tambura e o vibrafone, a flauta e
o “cajón”, percussões turcas,
guitarra acústica e estes sete temas
que são “sci-fi” tropicalista e transe
popular, que são trinados que rugem
e melodias de uma profundidade
comovente. Três Tigrala a criar
realismo mágico em tempo real.
Uma viagem admirável. M.L.
Laura Nyro
Gonna Take a Miracle
Rev-Ola, distri. Mbari
mmmmm
Há alguns anos, por
conta de mais um
dos extraordinários
textos do saudoso
Fernando
Magalhães, dei
conta da existência de uma branca
com coração e garganta negros,
Laura Nyro. Pianista de excepção,
dona de quatro oitavas de rara
perfeição tonal, Nyro era uma
conhecedora da escrita clássica da
Tin Pan Alley, suficientemente
aventureira para dirimir as fronteiras
estanques em que a noção de
“canção” se fechava. Era uma Nina
Simone experimentalista, que
introduzia esquinas nos lugares mais
inesperados, as dobrava, chocalhava,
empenava. “Eli and the Thirtheenth
Confession” e “New York
Tenderberry” tornaram-se discos de
cabeceira, que só se mostravam aos
amigos mais eleitos. Por alguma
razão, 30 anos depois, Nyro anda a
ser lentamente redescoberta – e sorte
a nossa que por incúria nunca
tínhamos dado atenção a este
“Gonna Take a Miracle” por se tratar
de um disco de versões. A questão é:
conhecíamos o sabor do fruto, mas
não sabíamos que as raízes eram tão
viçosas. Esta é a música pela qual
uma Nyro adolescente se apaixonou
– e que música, quase toda negra,
negra. Um extraordinário “The bells”
(de Marvin Gaye), com a voz nos
píncaros, “Monkey time”, em que
Nyro consegue o milagre de nem
fazer notar a pena de Curtis Mayfield
e depois passa para “Dancing in the
street”, esse hino à juventude
iconizado pela maravilhosa Martha
Reeves, a maior cantora negra do seu
tempo. A lista de compositores é
excelsa, incluindo ainda Smokey
Robinson, Phil Spector (nesse
majestoso e tão esquecido “Spanish
Harlem”), Holland-Dozier-Holland,
Ashford & Simpson e Carole King (na
genial “(You make me feel like) a
natural woman”. Se isto não fosse
um disco de versões, podia muito
bem ser um “best-of” da música pop
negra dos anos 60. Assim é um disco
raro – porque Nyro apropria-se de
cada tema com uma paixão
tremenda, só possível a quem, além
de abençoado por uma voz
tremenda, amou cada uma destas
notas. Um disco perfeito. J.B.
Bob Da Rage Sense
Diários de Marcos Robert
Footmovin’; distri. SóHipHop
mmmnn
O título aponta
desde logo aquilo
que existe de íntimo
neste que é o
terceiro álbum de
Bob Da Rage Sense.
“Diários de Marcos Robert” é uma
digressão interior onde o MC
angolano, há vários anos a viver em
Portugal, cruza autobiografia e visão
política, comentários para a
comunidade hip-hop e dissertações
sobre o país onde nasceu e aquele de
que agora faz parte. O tom ora é
agressivo, ora compassivo, o discurso
tanto aponta um dedo acusador, sem
contemplações, como procura
conciliação – mostra um caminho, o
seu caminho, esperando que outros o
sigam.
O mais interessante neste álbum,
que teve primeira edição a 11 de
Novembro, entretanto esgotada e
prestes a ser substituída por uma
segunda, é a forma como Rage Sense
conjuga a dureza das palavras com
uma elegância musical familiar da
nu-soul de Common e, mais atrás, da
soul ela mesma da década de 1970.
Com João Cabrita nos metais e João
Gomes nas teclas (o som nocturno e
fumarento do Rhodes como que se
cola às canções como identidade
maior), com convidados como Sir
Scratch, New Max, Dino, Raf Tag,
Sam The Kid ou Tamin, “Diário de
Marcos Robert” não dirá “diferente”
daquilo que conhecemos no hip-hop
(em) português – por exemplo,
partilha o marxismo com Valete,
ataca o racismo latente na sociedade
portuguesa, como o fazem os Nigga
Poison e, pensando em Angola,
dirige o mesmo olhar crítico que MC
Kapa ao regime angolano no poder.
É a forma como o diz, preferindo
expor clara e metodicamente os
versos a lançá-los com estrondo ao
microfone; é a forma como escolhe
envolver o discurso em hip-hop
consciente das suas raízes (travo
“vintage” a soul e funk), que o
destaca no cenário nacional.
Ainda não é o grande álbum de
Bob Da Rage Sense, mas dá passos
firmes na definição de uma
expressividade que, cremos,
frutificará brevemente. Amanhã,
numa noite partilhada com
Kacetado, apresenta-se no Musicbox
com nova banda, num novo
formato. Uma óptima oportunidade
para investigar que redescobriu
Rage Sense nestes seus “Diários”.
M.L.
Uffie
Sex Dreams and Denim Jeans
Ed Banger, distri. Massala
mmmnn
É prática habitual
dizer-se que na
cultura pop o
tempo é tudo. Não é
apenas na pop. É
em quase tudo na
vida. Existem sempre contingências
exteriores que não se dominam, mas
ter o instinto para perceber qual o
momento certo para criar ou lançar
seja o que for não é para todos. É
uma arte. Até agora a editora
francesa Ed Banger (a estrutura de
Discos
aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente
Uma americana a viver em Paris, Uffie, num disco de electro
projectos
como os Justice, Sebastian, Feadz ou
Mr Oizo) tem tido essa capacidade.
Com Uffie parece ter falhado.
Quando surgiu com o primeiro
single (“Pop the glock”), em 2006, a
americana – a residir em França –
Uffie parecia condenada ao sucesso.
Parecia ter a música – electropop
engenhoso proporcionado por
Feadz – a atitude e o visual certos
para triunfar. Mas depois surgiram
hesitações, contingências da vida, e
o álbum de estreia foi sendo adiado.
Surge agora, desgarrado, fora de
prazo. Não que a sua música tenha
perdido o apelo juvenil, mas porque
se trata de um álbum que mais
parece uma compilação dos últimos
seis anos. Não existe uma ideia
aglutinadora. Apenas um conjunto
de canções, com contribuições de
Mirwais, habitual colaborador de
Madonna, dos colegas de editora Mr
Oizo e Feadz e da estrela americana
Pharrell Williams. Há incursões
electro contaminadas pelo R&B e
hip-hop, faixas de pendor dançante
inspirado pelo house e uma versão
de “Hong Kong garden” de Siouxsie
& The Banshees, tudo isto, claro,
marcado pela voz cândida de Uffie.
Nada que envergonhe, mas sem o
esplendor que os primeiros tempos
pareciam prenunciar. V.B.
Clássica
actividade
se repartiu
entre Veneza
e as cortes de
Florença, Viena e
Florença
Innsbruck. Autor de cerca de 15
óperas, ficou famoso devido a “Il
pomo d’oro” (1666), obra
interpretada no casamento do
imperador Leopoldo I, mas a sua
restante produção é também de
altíssima qualidade e merecia ser
mais conhecida. “Le Disgrazie
d’Amore” (1667), com libreto de
Francesco Sbarra, é identificada
como um “dramma giocosomorale”,
fazendo uma síntese entre o registo
cómico da estética veneziana e a
dimensão moral e edificante
implícita na ópera de corte. A trama
apresenta uma delirante
combinação entre personagens
alegóricas e divindades pagãs que
são objecto de uma caricatura que
visa denunciar os excessos da paixão
amorosa. A acção inicia-se com uma
discussão conjugal, na qual Vénus se
queixa da gruta barulhenta e cheia
de fumo onde funciona a forja do
seu marido Vulcano e pelo meio não
faltam críticas aos costumes da
época, patentes, por exemplo, no
roubo da caixa de cosméticos de
Vénus por Cupido ou no
comportamento dos Ciclopes,
que aproveitam a ausência de
Vulcano para se entregarem ao
jogo e à bebida. As personagens
alegóricas não são menos
divertidas: a Avareza é dona de
uma estalagem, o Engano
um charlatão e
a Adulação uma
cigana que
adivinha o futuro.
Cesti
caracteriza de
C
forma engenh
engenhosa personagens e
situações, recorrendo
à sua
recorre
inspirada veia me
melódica e teatral e
aos códigos da ret
retórica barroca. Os
recitativos e “ariosi”
“ario têm forte
pertinência dramática
ea
dramá
quantidade de cenas de conjunto
confere flexibilidade e continuidade
ao discurso. A obra distingue-se
também pela profusão de cores
tímbricas, recorrendo a um
“consort” de violas da gamba, a uma
ampla secção de baixo contínuo e a
um grupo de “ritornello” formado
por violinos, violas “da braccio”,
flautas, charamela e dulçaina. A
direcção de Carlo Ipata à frente dos
Auser Musici proporciona uma
interpretação plena de vivacidade e
estilisticamente consistente,
contando com a mais-valia da
colaboração de vários nomes ilustres
do canto barroco, como é o caso de
Maria Grazia Schiavo (Vénus), Furio
Zanassi (Vulcano), Antonio Abete
(Bronte) ou Martin Oro (Avareza).
Destacam-se ainda as óptimas
prestações de Cristina Arcari
(Alegria) e do expressivo soprano
masculino Paolo Lopez
(Cupido).
Regresso
à Natureza
Marilyn Crispell / David
Rothenberg
“One Dark Night I Left My Silent
House”
ECM, Dist. Dargil
Carlo Ipata dirige uma
sedutora versão da divertida
e inventiva ópera barroca
“Le Disgrazie d’Amore” de
Antonio Cesti. Cristina
Fernandes
mmmmn
Antonio Cesti
“Le Disgrazie d’Amore”
Auser Musici
Carlo Ipata (direcção)
Hyperion (2 CD)
mmmmn
52 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
Jazz
Surpreendente novo registo
da pianista norte-americana
Marilyn Crispell, aqui sob o
signo do naturalismo e da
pureza original da música.
Rodrigo Amado
Graças e
desgraças do
amor
Antonio Cesti (16231669) foi uma
figura-chave da
escola operática
veneziana do século
XVII, cuja
Marilyn Crispell, uma pianista
com vontade de depurar a música
Uma ópera barroca com direcção de Carlo Ipata
Num mundo
sobrecarregado de
música descartável,
sem sentido,
infinitas cópias de
géneros e
linguagens musicais exploradas até à
exaustão por músicos que não têm
absolutamente nada para dizer, é
um enorme alívio depararmo-nos
com um projecto especial e sensível
como este, em que se enunciam os
sons de forma simples, com um
mínimo de referências, sem nenhum
outro propósito que não seja uma
pura comunhão musical. E é
exactamente isso que acontece em
“One Dark Night I Left My Silent
House”, registo em duo que Crispell
partilha com David Rothenberg
(clarinete e clarinete-baixo), músico
naturalista que se dedica ao estudo
dos sons dos animais,
nomeadamente das baleias,
desenvolvendo ainda actividade
como observador de pássaros. A
pianista Marilyn Crispell tem as suas
grandes influências em Cecil Taylor
e Paul Bley, tendo-se afirmado nas
décadas de 80 e 90 como uma das
mais poderosas improvisadoras
femininas ao lado de músicos como
Anthony Braxton (de cujo quarteto
fez parte), Tim Berne, Anthony
Davis ou Andrew Cyrille. Contudo,
nos seus trabalhos mais recentes,
Crispell tem demonstrado uma
vontade clara de depurar a música,
libertando-a de movimentos
idiomáticos ou referências a música
do passado. Aqui, juntamente com
Rothenberg, constrói um álbum
misterioso, profundamente lírico e
espiritual, que revela uma enorme
química entre os dois músicos. Às
notas e sons suaves do piano de
Crispell, frequentemente produzidos
por uma acção directa nas cordas ou
no corpo do piano, Rothenberg
responde com uma moção circular
de sons orgânicos, feitos de
pequenas melodias simples, para
um resultado final que tem tanto de
fascinante como de verdadeiro.
Concertos
Hopkinson Smith,
mestre do alaúde no
Festival do Estoril
Espaço
Público
Clássica
Itália e
Espanha por
Hopkinson
Smith
Na abertura do Festival do
Estoril, o grande alaúdista
americano coloca em
confronto a música de Luis
de Milán e de Francesco
Milano, dois nomes maiores
da composição para cordas
dedilhadas no século XVI.
Cristina Fernandes
36º Festival do Estoril
Hopkinson Smith (alaúde e vihuela)
“O fascínio do século XVI: Milano/
Milan”
Cascais, Centro Cultural, dia 17, às 21h30.
O 36º Festival do Estoril inicia-se
com um recital por um mestre
incontestado dos instrumentos de
cordas dedilhadas da Renascença e
do Barroco e uma figura
fundamental do movimento da
música antiga e das práticas de
execução históricas. Hopkinson
Smith estará amanhã, às 21h30, no
Centro Cultural de Cascais para
apresentar um programa dedicado à
música do século XVI que coloca em
paralelo a obra do espanhol Luis de
Milán (1500-1561) e do italiano
Francesco Milano (1497-1543). Do
primeiro será possível ouvir uma
série de peças para vihuela
(instrumento de cordas duplas em
voga na Península Ibérica na época
renascentista) da colectânea “El
Maestro” (Valência, 1536), dedicada
ao rei D. João III de Portugal e
composta por Pavanas, Fantasias e
Tientos. Do segundo será feito um
retrato musical através de danças
como a Pavana e o Saltarello,
transcrições de obras vocais,
Fantasias e Ricercari, interpretadas
a alaúde.
ao
Nascido
N scido em Nova Iorque em 1946,
Na
Hopkinson
Hopk
p inson Smith formou-se
formou-s em
Musicologia
na Universidade
Mu
Universida de
Harvard, antes de vir para a
Europa em 1973 para estudar
com
est
o grande guitarrista e pedagogo
pe
Emilio Pujol e com
o
c
alaúdista
ala
Eugen
Eu
Dombois.
D
Em
E
meados
de
m
1970
19 foi
um dos
membros
m
pioneiros
pi
do
agrupamento
agrupament
Este espaço vai ser
seu. Que filme, peça de
teatro, livro, exposição,
disco, álbum, canção,
concerto, DVD viu e
gostou tanto que lhe
apeteceu escrever
sobre ele, concordando
ou não concordando
com o que escrevemos?
Envie-nos uma nota até
500 caracteres para
ipsilon@publico.pt. E
nós depois publicamos.
Hespérion XX de Jordi Savall, com o
qual colaborou durante mais de uma
década e gravou vários discos. A
partir da década de 1980 Hopkinson
Smith dedicou-se cada vez mais ao
seu percurso a solo, usando
instrumentos de época como a
vihuela, o alaúde, a teorba e as
guitarras renascentista e barroca.
Gravou mais de 20 discos, muitos
deles premiados, com repertório
que se estende dos alvores da
Renascença a J. S. Bach. É também
um reconhecido pedagogo da
prestigiada Schola Cantorum de
Basileia e orienta frequentemente
“masterclasses” em toda a Europa,
na América do Norte e do Sul.
Cantos à tona de
água em Coimbra
Festival das Artes
Orquestra Metropolitana de Lisboa
Coral Lisboa Cantat
Cesário Costa (direcção)
Coimbra, Anfiteatro Colina de Camões (Quinta das
Lágrimas), dia 18, às 21h.
O Festival das Artes, um projecto
cultural da Fundação Inês de
Castro, caracteriza-se pela sua
abordagem pluridisciplinar das
várias áreas artísticas em torno de
um tema comum. Para a segunda
edição, a decorrer entre 16 de Julho
e 1 de Agosto, foi escolhida a
temática da água e das suas
representações no âmbito da
música, do teatro da dança, do
cinema, da pintura, da fotografia, da
arquitectura, do património ou da
gastronomia, entre outras. No plano
musical o programa de cada
concerto foi cuidadosamente
estruturado tendo em conta esse fio
condutor, como é o caso do
concerto da Orquestra
Metropolitana de Lisboa e do Coral
Lisboa Cantat, sob a direcção do
maestro Cesário Costa, no próximo
dia 18. Com a designação “Cantos à
tona de água” percorre um período
temporal que vai dos finais do
século XVIII aos inícios do século
XX, incluindo trechos célebres
como “O Danúbio Azul”,
de J. Strauss; o
Coro dos
Escravos
Hebreus do
“Nabucco”
de Verdi
(cantado à
beira do
rio Eufrates, enquanto sonham com
o rio Jordão); a Barcarola dos
“Contos de Hoffmann”, de
Offenbach; ou o Coro dos
Marinheiros da ópera “Madame
Butterfly”, de Puccini. Mas o maior
interesse da proposta, que se inicia
simbolicamente com a “Dança dos
Espíritos Benignos” do “Orfeu e
Eurídice”, de Gluck, reside na
audição de duas belíssimas peças
mais raramente interpretadas da
autoria de Beethoven e Schubert a
partir da poesia de Goethe,
respectivamente “Mar calmo e
viagem feliz”, op. 112, e “Canto dos
Espíritos sobre as águas” D. 714. O
programa é complementado pelo
“Adagietto” da 5ª Sinfonia, de
Mahler. O seu uso como banda
sonora do filme de Luchino Visconti
“Morte em Veneza” contribuiu para
que no nosso imaginário esta
música comovente ficasse também
associada ao cenário dos múltiplos
canais que rasgam Veneza e ao
inesquecível protagonista da novela
de Thomas Mann que seu origem à
obra cinematográfica. C.F.
Pop
O regresso
dos
aristocratas
de
vanguarda
Um revisitar de carreira
com quatro históricos: Brian
Ferry, Phil Manzanera, Andy
MacKay e Paul Thompson.
Mário Lopes
Roxy Music
Oeiras. Jardim do Palácio Marquês de Pombal.
Largo do Marquês de Pombal - Palácio. 5ª às 22h00.
Tel.: 214465300. 30€. Oeiras Sounds 10.
Os Roxy Music atravessaram a
década de 1970 antecipando
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O maestro Cesário Costa
dirige a Metropolitana de
Lisboa no Festival das Artes
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Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 53
Concertos
O sonho pop dos
School Of Seven
Bells chega ao
Festival Manta e
podemos agradecer
aos Interpol
Agenda
sexta 16
Jazz de
Verão!
O regresso dos Roxy Music com
quatro históricos na formação
Um dos mais dignos
representantes dos ritmos
quentes do jazz a abrir a
temporada da Lisbon Jazz
Summer School. Rodrigo
Amado
Festival Super Bock Super Rock
2010
Aldeia do Meco. Herdade do Cabeço da Flauta.
Praia do Meco. 6ª, Sáb. e Dom. às 16h00. 40€ (dia).
Passe: 70€.
Palco Super Bock: Pet Shop Boys
(00h40), Keane (22h40), Cut Copy
(21h20), Mayer Hawthorne & The
County (20h10), Jamie Lidell (19h00)
Palco EDP: Grizzly Bear (23h30), The
Temper Trap (22h00), Beach House
(20h40), St. Vincent (19h35),
Godmen (18h45)
Palco @Meco: M-Nus Showcase
(22h00-04h00): Richie Hawtin,
Marco Carola, Magda
Ver textos págs. 28 e segs.
Danilo Perez Quintet
Com Rudresh Mahanthappa, Ben
Street, Rogério Boccato e Adam
Cruz
16 Julho, CCB, Praça do Museu, Lisboa, 21h00.
Bilhetes: 8,5 euros
tendências. Quando nasceram, o
glam estava a um par de anos de
distância, mas a extravagância de
Ferry e Eno, de Manzanera e Paul
Thompson mostraram que um
mundo pop dominado por Marc
Bolan e David Bowie estava ao virar
da esquina. Mais tarde, quando se
reuniram em 1978 após dois anos de
ausência, Brian Ferry assumiu
definitivamente a pose de playboy
de classe alta e a músico seguiu-o: o
vanguardismo prog e o jogo de
artifícios ficavam definitivamente
para trás, em favor de um sofisticado
romantismo de crooner.
Agora, duas décadas depois de
novo fim da banda (após a digressão
de “Avalon”, o último álbum,
editado em 1982), e nove anos
depois de se terem reunido uma vez
mais, os Roxy Music fazem aquilo
que se espera. Revisitam a carreira e
cedem espaço ao protagonismo de
cada um dos históricos ainda
presentes, Brian Ferry, o guitarrista
Phil Manzanera, o baterista Paul
Thompson e o saxofonista Andy
MacKay.
Esperam-se solos de Manzanera e
de MacKay e a sedução de
aristocrata de Ferry. Esperam-se, a
julgar pelo concerto que a banda
deu no início de Julho no Festival de
Montreux, onde os membros
originais foram acompanhados em
palco por oito músicos, canções
históricas como “Re-make/Re54 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon
model”, “Love is the drug”, “Do the
strand”, “Ladytron” ou a versão de
“Jeaulous guy” que os Roxy Music
gravaram em 1981.
Novas velhas glórias
School of Seven Bells
Festival Manta
Guimarães, Centro Cultural Vila Flor. Avenida D.
Afonso Henriques, 701.
Quinta, às 22h00. Bilhetes a 10 euros. Tel.:
253424700
Ouvimos “Babelonia” e eis-nos
dentro de um desfile de memórias
do indie rock dos anos 90. A canção,
uma das dez de “Disconnect from
Desire”, o segundo disco dos School
of Seven Bells, acabado de editar, é o
ponto de contacto perfeito entre o
“kraut” caramelizado dos Stereolab,
as paredes de ruído
meticulosamente orquestradas e as
vozes deixadas ao abandono infinito
dos My Bloody Valentine.
O grupo, que actuará quinta-feira
no Centro Cultural Vila Flor, em
Guimarães, é um daqueles com tudo
no sítio. “Em ‘Alpinisms’ [o disco
anterior], estávamos a trabalhar
juntos pela primeira vez. Acho que
havia muito mais experimentação a
acontecer. Estávamos a conhecer os
estilos de composição de cada um e
isso fez ‘Alpinisms’. Para este disco,
como nos livrámos disso tudo, saiu
Originário do Panamá, o pianista e
compositor Danilo Perez é
considerado por muitos como o
grande representante da nova
geração de músicos latinos de jazz.
Com uma curta mas brilhante
carreira, Perez gravou ou tocou já
com músicos do calibre de Wayne
Shorter, Jack DeJohnette, Michael
Brecker, Steve Lacy, Wynton
Marsalis, Charlie Haden ou Joe
Lovano. Acumulando cargos no New
England Conservatory e no Berklee
College of Music, em Boston, Perez
possui uma forte componente
pedagógica em toda a sua
actividade, o que faz dele uma
excelente escolha para orientar o
Curso de Verão da Lisbon Jazz
Summer School do CCB. Num
concerto que assinala também a
abertura do Festival CCB Fora de Si,
Perez faz-se acompanhar por um
conjunto notável de músicos, dos
quais se destacam o saxofonista alto
Rudresh Mahanthappa, o
contrabaixista Ben
Street e o baterista
Adam Cruz. Noite
de festa garantida.
um manifesto mais deliberado.
Sabíamos exactamente que tipo de
disco queríamos fazer”, explicou a
vocalista Alejandra Deheza ao “site”
Artistdirect.com. Em “Disconnect
from Desire”, sucessor do muito
aplaudido “Alpinisms”, há canções
vagamente dançáveis, dream pop
com elevados níveis de açúcar,
solenidade à Cocteau Twins.
Novidades, transgressão? Podem
procurar noutras paragens.
Os School of Seven Bells vivem um
sonho pop, desde o início do grupo.
Alejandra e Claudia Deheza, irmãs
gémeas fixadas nas harmonias
vocais dos Fleetwood Mac de
“Rumors”, que pertenciam aos
On!Air!Library!, encontraram
m
Benjamin Curtis, então nos Secret
Machines, algures em 2004 – ambas
as bandas fizeram primeiras partes
dos Interpol.
No fim de 2006, já tinham
m
abandonado os outros projectos
ctos
para se dedicarem em exclusivo
sivo aos
School of Seven Bells. Decidiram
iram
viver juntos e montar um estúdio
túdio
caseiro – uma opção que, disse
sse
Alejandra numa entrevista, em
2008, ajudou a diluir as
fronteiras entre a arte e a vida.
da.
A aventura podia ter corrido
o
mal, mas, chegados a 2010,
com um cuidadoso novo
álbum – um disco
“antiquado”, como lhe
chama a editora Vagrant –
os três não terão dúvidas de
que valeu a pena. Podem
culpar os Interpol: os
Danilo Perez oferece a Lisboa
School of Seven Bells estão
o “calor” latino do jazz
aí para ficar. Pedro Rios
Natalie Cole
Olhão. Real Marina Hotel e Spa. Ria Formosa. 6ª às
22h30. Tel.: 289598010.30€. Jantar-concerto: 68€.
Allgarve’10.
Festival Marés Vivas 2010 - Dia
16
Vila Nova de Gaia. Cabedelo. Às 18h00 (portas).
Informações: 223703735 (Posto Turismo Gaia). 25€
(dia). Passe Festival: 45€.
Palco TMN: Peaches (01h), Placebo
(23h30), David Fonseca (22h), A
Silent Film (20h45). Palco Moche: Os
Azeitonas (19h), André Indiana e
Mónica Ferraz (18h), Cais 447
Noite Gare (02h-06h).
Amália Hoje
Porto. Coliseu. R. Passos Manuel, 137. 6ª às 22h00.
Tel.: 223394947.
Aldina Duarte por Olga Roriz
Direcção Musical: Olga Roriz. Com
Aldina Duarte (voz), José Manuel
Neto (guitarra portuguesa), Carlos
Manuel Proença (viola), Pedro
Wallenstein (contrabaixo), Manuel
Paulo (piano), João Lucas
(acordeão), Sebastian Scheriff
(percussão), Ana Isabel Dias (harpa).
Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz. R. Antº Maria
Cardoso, 38-58. 6ª e Sáb. às 21h00. Tel.: 213257650.
10€ a 20€ (sujeito a desconto). Na Sala Principal.
O São Luiz no Festival de Almada
(27º Festival de Almada).
Bernardo Sassetti e Sinfonietta
de Lisboa
Com Bernardo Sassetti (piano).
Cabeção. Parque Ecológico do Gameiro. Lugar do
Cabeção - Mora. Às 21h30. Tel.: 266439070.
Entrada livre.
Kimi Djabaté + Ska Cubano
Tondela. Cine Tejá - Novo Ciclo ACERT. R. Dr.
Ricardo Mota. Às 22h00. Tel.: 232814400. 10€.
Passe Festival:
stival: 22,5€. Desconto para sócios. No
auditório
o ao ar livre.
Cristina
ina
Branco
co
Vila Real.
l. Teatro.
Alameda
a de Grasse.
Às 22h30.
0. Tel.:
259320000.
000. Entrada
livre.
The National: mais
concorrência “indie”
a Prince no
Super Bock Super Rock
RITA CARMO
teatro
Deolinda, a enviar cartas país fora, chegam agora a Mafra
Vampire Weekend: a concorrência “indie”
a Prince no Super Bock Super Rock
Flauta. Praia do Meco. Às 16h00. 40€ (dia). Passe:
70€.
Festival Sete Sóis Sete Luas 2010
Mário Lúcio
Barcarena. Fábrica da Pólvora. Estrada das
Fontaínhas. Às 22h00. Tel.: 214387460. Entrada livre.
Informações: 214408565.
Quarteira Rock Fest 2010
Nick Nicotine and His Mystical
Orchestra (DJs Maria P., Pedro Chau,
A Boy Named Sue).
Vilamoura. Boomerang Café. Largo do Cinema. Às
22h00. Tel.: 289400600. Entrada livre.
Ojos de Brujo + Roger Hodgson +
Blasted Mechanism
Concentração Internacional de Motos
de Faro.
Palco Super Bock: Leftfield (01h30),
Vampire Weekend (23h50), Hot Chip
(22h30), Julian Casablancas (21h),
Tiago Bettencourt e Mantha (19h40).
Palco EDP: Patrick Watson (23h10),
Rita Redshoes (21h40), Holly Miranda
(20h20), Sweet Billy Pilgrim (19h20),
Malcontent (18h30). Palco @Meco:
Ricardo Villalobos e Zip (01h-04h),
Bloop Showcase: Magazino, João
Maria, José Belo (22h), Henriq e Bart
Cruz (21h).
Manta Rota. Praia de Manta Rota - Vila Real de
Santo António. Às 22h00. Entrada livre.
terça 20
Cool Jazz Fest 2010
Deolinda
Mafra. Jardim do Cerco. Às 22h00. 20€ a 35€.
Roda de Choro de Lisboa
Lisboa. Lusitano Clube. R. São João da Praça, 81 Alfama. Às 22h30. Tel.: 218869472.
Ver textos págs. 28 e segs.
quarta 21
Festival Marés Vivas 2010
Melech Mechaya
Vila Nova de Gaia. Cabedelo. Às 18h00 (portas). Tel.:
223703735. 25€ (dia). Passe Festival: 45€.
Palco TMN: Ben Harper + The
Relentless7 (01h), Editors (23h30),
dEUS (22h), Nikolaj Grandjean
(20h30). Palco Moche: Caim (19h30),
João Só e Abandonados (18h30),
Isidro Lx e Loo and Placido
(02h-06h).
Ana Sofia Varela + As Músicas
que Amália Inspirou (Maria
Berasarte + Edson Cordeiro +
B
Anamar)
Porto. Casa da Música. Pç. Mouzinho de
Albuquerque. Sáb. às 21h00. Tel.: 220120220.
10€.
Cool Jazz Fest
António Pinho Vargas +
Laurent Filipe + Groove4Tet
Cascais. Parque Marechal Carmona. Parque
C
Marechal Carmona. Sáb. às 21h00. 20€ a 35€.
M
Super Disco #11: Pedro Tenreiro
S
Placebo, em destaque no Marés Vivas
Festival Sete Sóis Sete Luas 2010
Mário Lúcio
Lis
Lisboa.
Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei
Miguel Contreiras, 52. Às 18h30. Tel.: 218438801.
Mi
Entrada livre.
En
Kacetado + Bob Da Rage Sense
K
L
Lisboa.
MusicBox. R. Nova do Carvalho, 24 - Cais
d
do Sodré. 3ª às 22h00. Tel.: 213430107. 8€.
Ver texto pág. 50
Quarteira Rock Fest 2010
Com The Len Price 3, Thee
Attacks, Little Cobras, Shake Shake
Atta
and Show Me Your Pussy.
Quarteira. Calçadão de Quarteira. Sáb. às 21h00.
7,5€.
Faro. Vale das Almas. Às 22h00. Tel.: 289823845.
Bragança. Teatro Municipal . Pç Cavaleiro Ferreira.
4ª às 22h00. Tel.: 273302740. Entrada livre.
Amália Hoje
Braga. Theatro Circo. Av. Liberdade, 697. 4ª às
22h00. Tel.: 253203800. 20€.
quinta 22
Estoril. Casino. Pç. José Teodoro dos Santos. 5ª às
23h00. Tel.: 214667700. Entrada livre.
Cool Jazz Fest 2010
Lisboa. MNAC - Museu do Chiado. Rua Serpa Pinto,
4. Às 19h30. Tel.: 213432148. Entrada livre.
ver textos págs 35 e 50
Sean Riley & The Slowriders
Faro. Teatro Municipal. Horta das Figuras - EN125.
Às 21h30. Tel.: 289888100. 10€ (sujeito a desconto).
Marco Franco: Barulho de
Câmara
Com Ana Araújo (piano), José Pedro
Coelho (saxofone), Marco Franco
(bateria).
Lisboa. Centro Cultural de Belém.
Praça do Império. Às 22h00. Tel.:
213612400. Entrada livre.
The Legendary Tigerman
Festival Super Bock Super Rock
2010
Aldeia do Meco. Herdade do Cabeço da Flauta. Praia
do Meco. Às 16h00. 40€ (dia). Passe: 70€.
Maiact 2010 - Live Music
Festival
Batida + Mundo Secreto +
Expensive Soul
Festival Super
Bock
Super
Rock 2010
Aldeia do Meco.
Herdade do
Cabeço
da
www.teatromariamatos.pt
Tigrala
Com Norberto Lobo (guitarra),
Guilherme Canhão (guitarra), Ian
Carlo Mendoza (percussão).
Muxima
sábado 17
6 meses, 6 artistas, 5 países, um espectáculo criado online.
Mas só se vão conhecer em palco 3 dias antes da estreia.
Gandarinha. Hipódromo Manuel Possolo. R.
Visconde da Gandarinha. 5ª às 21h30. Tel.:
214844299.20€ a 50€.
Ílhavo. Centro Cultural de Ílhavo. Avenida 25 de
Abril. Às 22h00. Tel.: 234397260. Entrada livre.
Palco Super Bock: Empire Of The Sun
(02h), Prince (23h45), The National
(21h30), Spoon (20h20),
Stereophonics (19h10), Palma’s Gang
(18h). Palco EDP: John Butler Trio
(23h05), Sharon Jones + The Dap
Kings (21h45), Wild Beasts (20h25),
The Morning Benders (19h20), Stereo
Parks (18h30). Palco @Meco: Laurent
Garnier (02h30), Rui Vargas e André
Cascais (00h30), Zé Salvador (23h),
Hi-Tech2 (22h), Mary B (21h).
Oeiras Sounds 10
22 a 30 Julho 21h30
(excepto dia 25) M/12
Maria Bethânia + Celso Fonseca
São Martinho do Porto. Pç. Frederico Ulrich. Alcobaça. Sáb. às 22h00. Tel.: 262580844. Entrada livre.
Figueira da Foz. Casino da Figueira. R. Dr. Calado, 1.
6ª às 23h00. Tel.: 233408400. 10€.
Long Distance Hotel
Jorge Palma
domingo 18
Virgem Suta
Estúdios
Concursos Nacionais
ETNOGRAFIA e MÚSICA
Cantadeiras do Vale do Neiva
A FÉ NAS TRADIÇÕES
Janeiras, Páscoa, Carpideiras,
Romeiros, Amentar das Almas, Natal
Orq. de Bandolins de Esmoriz COM TRASTES
Grupo Coral “Os Rurais”
CANTE ALENTEJANO
Banda Musical de Gouviães TRIBUTO a Andrew Loyd Webber
Maia. Complexo Municipal de Ténis. Avenida Luís
de Camões. Às 21h00. Tel.: 229411703. 5€.
Festival
Sete Luas
Korrontzi
Sete Sóis
2010
Manta Rota.
Praia de Manta
Rota - Vila Real de
Santo António. Às
22h00. Tel.:
214408565.
Entrada livre.
Gotan Project
Oeiras. Jardim do Palácio Marquês de Pombal. Largo
do Marquês de Pombal. Às 22h00. Tel.: 214465300.
25€.
Festival Sete Sóis Sete Luas 2010
Korrontzi
Monsaraz. Castelo de Monsaraz. R. Castelo. Às
22h00. Tel.: 266508040. Entrada livre.
18 JULHO 2010 | 16H30 |
Legendary Tiger Man
apresenta o celebrado
“Femina” em Ílhavo
M.12
| ENTRADA GRATUITA SUJEITA À LOTAÇÃO DA SALA
INFORMAÇÕES Dir. Cultural tel. 210 027 174 | cultura@inatel.pt
LEVANTE OS SEUS BILHETES NO TEATRO DA TRINDADE, 3ª A SÁB. 14-20H E DOM. 14-18H
www.inatel.pt
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 55