Em busca da infância perdida em Manhattan
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Em busca da infância perdida em Manhattan
Sexta-feira 16 Julho 2010 EMMANUEL BASTIEN ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 7407 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE www.ipsilon.pt Joshua e Ben Safdie Em busca da infância perdida em Manhattan ““Vão-me buscar alecrim”, filme de catarse e fantasia Prince Pet Shop Boys Roman Polanski Daniel Blaufuks Andrés Neuman Joshua e Ben Safdie Em busca da sua infância perdida 6 Roman Polanski 12 O realizador-fantasma e o seu novo filme Coimbra 14 Será esta uma cidade fora do mapa cultural? Daniel Blaufuks 18 “Terezín”, um livro sob influência de W. G. Sebald Jeremy Xido 26 Na performance dele, Angola é um mundo novo Prince 28 O mais esperado do Festival Super Bock Super Rock ck Tigrala 36 A nova banda de Norberto berto Lobo é um trio de xamãs mãs Ficha Técnica Directora Bárbara Reis Editor Vasco Câmara, Inêss Nadais (adjunta) Conselho editorial Isabel Coutinho, Óscar Faria, Cristina stina Fernandes, Vítor Belanciano no Design Mark Porter, Simon n Esterson, Kuchar Swara Directora de arte Sónia Matos Designers Ana Carvalho, Carla Noronha, Mariana Soares Editor de fotografia Miguel el Madeira E-mail: ipsilon@publico.pt A festa de B Fachada chega em “download” gratuito O EP, numa edição em vinil, só chega em Agosto, mas B Fachada não quer perder tempo. Quer que a palavra se espalhe, computador a computador, ficheiro partilhado a ficheiro partilhado. Saiba-se então que o novo disco de B Fachada, “Há Festa na Moradia”, está disponível para “download” gratuito no “site” da sua editora, www.mbarimusica. com. Assim, quando chegar a edição física, já o povo e os “hipsters”, os fãs e os curiosos conhecerão as sete canções do disco que sucede ao celebrado álbum homónimo que o cantautor lançou em Dezembro do ano passado. E se esse era álbum de folhas caídas, de amores, desamores e melancolias para fruir no Inverno, “Há Festa na Moradia” é necessariamente diferente – ou não lhe chamasse o seu autor “disco de Verão”, mantendo a alternância de estações que vêm marcando a sua actividade discográfica. “Fim-de-Semana no Pónei Dourado” foi o disco do Verão de 2009, “B Fachada (O Disco)” o do Inverno do mesmo ano e “Há Festa na Moradia” apanha-nos com 40 graus à sombra (ou perto disso). Efusivo e saltitão, ou em descanso dengoso à beira da piscina, cruza animação Variações com vago requebro africano, homenageia Sérgio Godinho com versos bemhumorados e, numa canção cujo título, “Memórias de Paco Forcado, vol.1”, garante desde logo um par de audições, apresenta-nos uma personagem que se passeia pela boémia lisboeta com um único desejo em mente: “Eu vou ser o puto Abrantes / Eu vou ser o Panda Bear / Entrar onde eu quiser / Entrar onde eu quiser.” Não há dúvida. B Fachada está de volta. A marca não engana. DANIEL ROCHA Flash Sumário “The unnamed word #4”, de 2008, é uma das duas obras que Pedro Cabrita Reis leva à exposição inspirada em Al Berto Em vinil, o novo disco de B Fachada só chega em Agosto Perto do coração das imagens A frase é dele e não deixa muito espaço a mais nada: “Sinto-me como se tivesse cegado por excesso de olhar o mundo.” Al Berto manteve até ao fim – um fim que chegou depressa (19481997) – uma relação privilegiada com a imagem. “Ele olhava com muita atenção para tudo, olhava bem”, diz João Pinharanda, o crítico de arte e comissário da exposição “A Secreta Vida das Palavras”, que hoje é inaugurada no Centro Cultural Emmerico Nunes e no Centro de Artes de Sines. Essa aproximação do poeta português à representação visual do mundo é o ponto de referência desta exposição que vai buscar o título a um dos livros de Al Berto, “A Secreta Vida das Imagens” (1991). É neste volume que o autor, que começou por frequentar cursos de artes plásticas em Portugal e na Bélgica, passeia pelo universo de grandes nomes da história da arte, de desde Fra Angélico a Joseph B Beyus, passando por Cézan Cézanne, Van Gogh e Chagall, m mas também por Cesariny, Rui Chafes, Pedro Sarmento e Capalez, Julião Ju Pedro Cab Cabrita Reis. São precis precisamente alguns destes artistas p portugueses que JJoão Pinharanda fez questão de rreunir na exp exposição de Sines, a primeira a juntar os prim centros culturais da dois centr cidade. Tu Tudo começou numa con conversa com Cabrita Pinharanda, Reis, diz P explicand explicando como foram surgindo o os nomes dos artistas a integrar: “Os consagrados estavam escolhidos à partida por serem citados no livro, tirando o Cesariny e o Dacosta, que não quis incluir por já terem morrido. Os mais novos pareceram-nos interessantes em diálogo com os ‘clássicos’.” Do grupo dos “mais novos” fazem parte Edgar Massul, Fernando Mesquita, João Ferro Martins, Nuno Cera, Pedro Diniz Reis e Sara Santos, entre outros. O dos “clássicos” conta ainda com José Pedro Croft, Pedro Casqueiro, António Correia, Ilda David ou Rui Sanches. Enquanto os jovens artistas criaram a partir de duas breves residências na cidade e arredores, visitando os lugares de Al Berto que nos habituámos a reconhecer na sua poesia, os consagrados irão apresentar, na sua maioria, obras que já foram expostas. A única excepção é José Pedro Croft, que mostrará uma série de gravuras inéditas. Chafes, por exemplo, levará à exposição um conjunto de 13 bancos de ferro que imitam os das galerias dos museus; Calapez participa Al Berto com uma g d pintura i t grande fragmentada e Cabrita Reis com duas obras: uma grande cruz em ferro e uma torre de três metros de altura, em alumínio brilhante. Entre os mais novos a diversidade de suportes é mais vasta: João Ferro Martins faz-se representar através de uma “performance” musical que se transformará em instalação; Nuno Cera e Rodrigo Tavares Peixoto mostram fotografia; Rodrigo Oliveira expõe sete painéis com materiais da região e informação recolhida no Arquivo Distrital de Setúbal; Vasco Costa opta pela instalação (não há como enganar, é a única com carvão); Sara Santos passa um vídeo. Jogando sempre na ambiguidade entre a poesia e a prosa, entre o real e o imaginário, Al Berto foi construindo um universo paralelo que agora paira sobre “A Secreta Vida das Palavras”. João Pinharanda, que conheceu Al Berto quando tinha apenas 11 anos e se tornou mais tarde seu amigo, não tem dúvidas em afirmar que não se trata de uma exposição ilustrativa, mas de uma evocação da importância da imagem. “A exposição tem este título, porque funciona como um espelho do livro, como se procurasse uma solução inversa à da poesia de Al Berto.” “A Secreta Vida das Palavras” termina a 25 de Setembro. Lucinda Canelas Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 3 Flash Música Alex Turner, o líder da banda Arctic Monkeys, compôs várias canções para o filme inglês “The Submarine”, as quais serão misturadas por James Ford do grupo Simian Mobile Disco. O filme, dirigido pelo actor Richard Ayoade, vai estrear apenas no 4 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon A arte pop de Murakami chega ao Palácio de Versalhes É um dos artistas contemporâneos mais cotados no mundo, comparado a Jeff Koons, pelo “kitsch” e colorido ao estilo banda desenhada das suas obras, mas ainda pela legião de fãs (e também de críticos) que ambos arrastam em todo o mundo, e pela presença assídua nos museus mais importantes. Depois da retrospectiva do ano passado no Museu Guggenheim de Bilbau, e de Paul Newman fotografado por Hopper em 1964 outras exposições no Metropolitan Museum of Art de Tóquio ou no Museum of Fine Arts de Boston, o artista japonês Takashi Murakami vai expor, a partir de 14 de Setembro, nos salões nobres e nos sumptuosos jardins do Palácio de Versalhes, em França, que em 2008 programou uma exposição de Jeff Koons. “Jeff Koons é um génio, eu sou simplesmente divertido”, disse Murakami ao jornal espanhol “ABC”, um pouco no mesmo tom com que no ano passado dizia ao “El País”: “Não sou um artista global. Sou japonês.” As suas esculturas minimalistas, os quadros de cores garridas e traço negro, os seus balões insufláveis gigantes, os relógios, almofadas e outros objectos em série, a sua arte atenta e desafiadora – como resume a pequena biografia do artista apresentada no “site” do Palácio de Versalhes – chega a todo o lado, mas É uma espécie de testamento a verdade é que, insiste, é a sua artístico de Dennis Hopper – condição de não-ocidental que lhe mês e meio após a sua morte, o molda o olhar sobre o mundo. Museu de Arte Contemporânea E isso estará reflectido na forma de Los Angeles inaugurou no como se deixou inspirar pela passado dia 11 a exposição residência real mandada construir Dennis Hopper Double por Luís XIV. “Para um japonês Standard. Trata-se da primeira como eu, o Palácio de Versalhes é retrospectiva do trabalho do um dos maiores símbolos da realizador de “Easy eve Easy Rider” história ocidental”, escreve no campo das a artes ma de Murakami. “É um emblema plásticas realizada por ia, de realiz uma ambição de elegância, um museu m que a sofisticação e de arte com ode americano, maioria de nós apenas pode salhes da abarcando os seus sonhar. (...) Talvez a Versalhes 60 anos de car carreira sponda a minha imaginação corresponda paralela ao artística paral uma visão exagerada e “actividade nha sua “acti transformada e que se tenha oficial” e oficia de tornado numa espécie de actor act e mundo completamente à e realizador. re parte e irreal. Foi isso que A As obras tentei retratar nesta expostas e exposição. Sou como o o vão de v Gato Cheshire de ‘Alice no um m u País das Maravilhas’ com quadro o seu sorriso diabólico. datado (...) Com um largo Dennis Hopper de 1955 sorriso, convido-vos a até a descobrirem o País das peças p Maravilhas de mais m Versalhes.” A exposição recentes no rece pode ser vista até 12 de Dezembro. ETHAN MILLER/AFP É assim desde há 64 anos, mais anulação menos anulação (e foram duas, em 1968 e 2003), e não há razão para ser diferente. Teatro e Verão conjugados significam, sempre, Festival de Avignon. Às vezes são opostos – o Sudeste francês é abrasador, às vezes as peças são tão polémicas que há espectadores que fervem –, mas ano após ano, durante um mês, afinamse as programações da temporada seguinte, negoceiam-se temáticas e estratégias, finge-se que o discurso da arte pela arte pode existir sem depender das condições em que é produzido. E, no entanto, ano após ano, espectáculo após espectáculo, sala cheia atrás de sala cheia, as filas de espera fazem-se para os hotéis, as lavandarias, os restaurantes, os bilhetes, os debates e os mergulhos na piscina, já que o rio sobre o qual as meninas dançavam há muito que está poluído (e a ponte nunca mais foi reconstruída). E à noite (e por vezes de tarde, e muitas vezes de manhã) há teatro em cada esquina – e não estamos a ser metafóricos. Parece, e é, um festival de Verão, ostensivo, polémico, polinsaturado, criado por Jean Vilar com o objectivo de rasgar a paisagem cultural francesa e europeia, e hoje dirigido por Hortense Archambault e Vincent Baudriller. Este ano, até 27 de Julho, a poesia e a música atravessam a programação, bem como a vontade de “pensar o colectivo” – afinal é nos anos de maior crise que as liberalizações de costumes se dão e, para mais, 2010 marca os 30 anos de uma política estratégica para o sector cultural em França. “As noções de público, de serviço público e de bem público estão na base desta programação”, explicaram os seus directores em conferência de imprensa em Maio. E porque o teatro vive dessa permanente insegurança de não saber a quem se dirige, a programação, definida em colaboração com os artistas associados – o encenador Christoph Marthaler (de quem vimos “Winch Only” na Gulbenkian, em 2007) e o escritor Olivier Cadiot, inédito em CORTESIA DE: THE ESTATE OF DENNIS HOPPER Murakami vai invadir Versalhes com a irreverência habitual Portugal –, “mergulha na realidade” para entender o presente. E fá-lo misturando os ingredientes da cultura popular perturbados pela herança do passado, ocupando os espaços nobres do festival, em peças que são propostas de intervenção sobre a própria mecânica cénica, já que Marthaler e Cadiot são defensores de um teatro que só através da exposição do seu artificialismo se pode sustentar – ou seja, o real é algo inventado pelo próprio real. Quer isto dizer que nomes como Faustin Lyniekula, Massimo Furlan, Angélica Liddell, Gisèle Vienne, Pierre Rigal, Boris Charmatz, Phillipe Quesne (que vimos em Serralves, Maria Matos, Citemor, Culturgest, Centro Cultural de Belém) terão em Avignon o palco aberto para uma exposição mais precisa sobre o que ainda se pode fazer a partir do interior da própria máquina teatral. Tal como Alain Platel, que apresentou “Gardenia” no passado fim-de-semana, feito a partir de depoimentos, e corpos, de travestis, que na sua exposição “trabalham na busca de um sentido para o termo autêntico” (“Gardenia” chega ao CCB em Fevereiro). A escolha de “artistas com percursos e discursos difíceis de descrever” responde a uma vontade de pensar o próprio festival, esse paquiderme da cena internacional, tão difícil de ignorar como de viver com ele. Tiago Bartolomeu Costa é a primeira vez qu estão juntos. que Ri Richard realizou vi videoclips para ca canções dos M Monkeys como “F “Fluorescent ado adolescent”, “Crying ligh lightning” ou “Cor “Cornerstone”. Uma retrospectiva para Dennis Hopper “Gardenia”, de Alain Platel, passa por Lisboa a 18 e 19 de Fevereiro O teatro e a antropologia o próximo ano. Foi Ayoade quem ou convidou Turner para ar trabalhar da– na banda– sonora do ão filme. Não campo da escultura e da instalação multimédia, mas praticamente sem material anterior a 1961 (a maior parte desaparecida num incêndio desse ano que destruiu o seu estúdio). Em vida, aliás, Hopper fora um ávido coleccionador de arte (foi o actor Vincent Price quem lhe passou o “bichinho”), possuindo obras de artistas como Andy Warhol, Roy Lichtenstein ou Jean-Michel Basquiat, para além de publicar vários livros de fotografias e realizar várias exposições. Nunca, no entanto, ao nível da abrangência da exposição de Los Angeles, comissariada por Julian Schnabel e que estava já pronta antes da morte de Hopper, a 29 de Maio, aos 74 anos. O título da retrospectiva, patente até 26 de Setembro e reunindo mais de 200 peças (muitas delas cedidas pelo próprio Hopper), vem de uma fotografia de 1961 onde se podem ver... dois letreiros de uma estação de serviço da Standard Oil. J.M. APRESENTAÇÃO AGENDA CULTURAL FNAC entrada livre entrada livre LANÇAMENTO PENSAR AMÁLIA/ AMÁLIA DOS POETAS POPULARES AOS POETAS CULTIVADOS Rui Vieira Nery & Vasco Graça Moura Rui Vieira Nery e Vasco Graça Moura dão a conhecer os seus pensamentos e o olhar sobre os fados, a voz e os poetas que Amália Rodrigues cantou. 20.07. 18H30 FNAC COLOMBO 23.07. 18H30 FNAC CHIADO AO VIVO JORGE FERRAZ TRIO Humanos Abençoados e Outros Contos Jorge Ferraz Trio apresenta ao vivo um espectáculo de música, poesia e imagem, em suma, a porta de entrada para um mundo de GuitarTrónica e canções de adeus com ruídos, ritmos e imagens. 16.07. 18H30 FNAC CHIADO 17.07. 21H30 FNAC COLOMBO AO VIVO FILHO DA MÃE Novos Talentos Fnac 2010 Numa mescla entre a guitarra portuguesa e a clássica, o novo trabalho deste artista de Lisboa já tem um tema integrado na compilação Novos Talentos Fnac 2010. 18.07. 17H00 FNAC CASCAISHOPPING 23.07. 22H00 FNAC ALGARVESHOPPING 30.07. 22H00 FNAC LEIRIASHOPPING AO VIVO PINTO FERREIRA Pinto Ferreira Os Pinto Ferreira são responsáveis por canções que viajam por ambientes bipolares entre sentimentalismos ingénuos, amores obsessivos e a estupidez humana. 23.07. 22H00 FNAC ALMADA 24.07. 17H00 FNAC COIMBRA 24.07. 22H00 FNAC LEIRIASHOPPING EXPOSIÇÃO A REVOLUÇÃO DE ABRIL NO OLHAR DE CARLOS GIL Fotografias de Carlos Gil A Fnac, em parceria com a Fundação Mário Soares, expõe um conjunto de imagens que pretende recordar um percurso deste país, desde o fim da ditadura até ao fim do sonho de uma revolução de esquerda. 21.07. - 21.09.2010 FNAC GAIASHOPPING Consulte todos os eventos da Agenda Fnac, assim como outros conteúdos culturais em http://cultura.fnac.pt Apoio: AO VIVO LANÇAMENTO EXPOSIÇÃO Ponte para a infância de Josh e Ben Safdie Capa Dois irmãos, o caos na infância e a necessidade de catarse. Dois cineastas, o filme do trauma e uma transbordante fantasia. Que nos rapta. Uma das estreias do ano: “Vão-me buscar alecrim”/“Go get some rosemary”. Em busca da infância perdida de Joshua e Ben Safdie com a ponte Queensboro em fundo. Vasco Câmara (texto) e Emmanuel Bastien (fotos) em Nova Iorque Joshua e Ben Safdie fizeram a educação sexual na Queensboro Bridge com o carro do pai imobilizado no trânsito e as bujardas de Howard Stern na rádio. Os nova-iorquinos exasperavam com as filas no único acesso grátis a Manhattan e desenvolveram uma relação de ódio com a ponte. Mas Paul Simon, por exemplo, gostava e fez-lhe uma serenata em andamento : é ouvir “The 59th Street Bridge Song (Feelin’Groovy)” do álbum “Parsley, Sage, Rosemary and Thyme”, de Simon & Garfunkel, 1966. Joshua e Ben passaram a infância ali. A entrarem e saírem de Manhattan. Por baixo da Queensboro, um Grand Canyon de asfalto – a Primeira Avenida –, o East River, Roosevelt Island e o subúrbio onde eles viviam, Queens. Por cima, um teleférico vermelho. Joshua: “Todos aqueles cabos, e no entanto um elemento de leveza. A liberdade que aquelas pessoas que vão no teleférico têm. Como uma espécie de fuga. Tudo parece pesado, e no entanto quando o teleférico levanta...”. Joshua e Ben perguntavam-se quando eram crianças: para onde iam aquelas pessoas? Passaram 15 anos, o teleférico já não levanta – obras de remodelação só voltam a pôr a funcionar o meio de transporte para Roosevelt Island em Setembro – mas os irmãos contemplam, numa manhã de Junho com temperatura de Agosto, o cenário onde filmaram a sequência final da sua longa-metragem “Vão-me buscar alecrim”/“Go get some rosemary”. 6 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon Contemplam um pedaço da memória, e a verdade é que a sequência do filme experimenta-se como uma epifania. Quando embarcam no apelo “triunfante” daquela hipótese de fuga de Manhattan, os Safdie estão a referir-se a um momento no filme em que um pai divorciado, Lenny, misto de mágico, aldrabão e disfuncional compulsivo (profissão: projeccionista), encontra finalmente um acordo no seu tempo e no tempo dos seus dois filhos. Como se só a bordo do teleférico, no ar, afastado da terra, os conseguisse raptar ao caos que ele próprio cria. É uma vitória mas também é uma derrota. Eles são Lenny (Ronald Bronstein) e Sage e Frey (na vida real filhos de Lee Ranaldo dos Sonic Youth) e estão, obviamente, no lugar de Alberto, o pai, e dos irmãos Joshua e Ben. Que são também filhos de um casamento que cedo acabou. O pai não era projeccionista mas filmou obsessivamente a infância dos filhos. Quando lhes quis explicar o que tinha sido a vida familiar, encurtou o discurso e deulhes como exemplo a batalha entre Dustin Hoffman e Meryl Streep pela posse do filho em “Kramer contra Kramer”, o filme de Robert Benton. E um dia depositou-lhes nas mãos as centenas de horas de imagens deles. Portanto, para Joshua e Ben, a vida vive-se para ser documentada. Portanto o cinema tinha de ser o legado. E tinha de ser biografia. Sabem que são filhos do trauma. Há anos que os amigos lhes dizem que a sua infância dava um filme e que deviam fazê-lo. Esse pode ser um lugar- comum, mas no caso deles ganha mesmo sinais de vida – cinematográfica. Quando, em “Vão-me buscar alecrim”, filmam Lenny a pôr os filhos “K.O.”, a dormir com comprimidos, para os miúdos não se assustarem com a sua ausência porque teve de substituir um colega na cabine de projecção, Joshua e Ben até podiam esperar que os espectadores do filme se dividissem. Mas não esperavam reacções tão “politicamente correctas” de alguma imprensa americana que os vê como vítimas de abuso. Joshua: “Percebemos que aquela cena podia ser um ponto de viragem, mas estávamos sobretudo preocupados com o que aquilo significava para nós e não para a sociedade americana.” Talvez pressentindo o pudor do jornalista em explicitar a pergunta (“o vosso pai drogava-vos com comprimidos?”), Joshua antecipa-se: “Aquela cena está no lugar de outros dramas que nos aconteceram. Mas a verdade dade é que a relação das pessoas com a infância é culturalmente grosseira.. Pelo menos na sociedade americana. a. As excessivas precauções repugnam-me. -me. Interessa-me quando as crianças são tratadas como outras pessoas.” omo Joshua e Ben não (se) olham como vítimas. O que aprenderam com m Alberto – e o que os filhos de Lenny provavelmente aprenderão com o pai ai de “Vão-me buscar alecrim”, embora bora nunca se vá saber como essa história ória vai acabar... – é que o caos e a disfunfunção podem ser uma explosão de fantasia. “Vão-me buscar alecrim” m” “Benny e eu andávamos a precisar disto, e a única forma de fazermos a catarse da nossa infância, para sabermos como foram os nossos primeiros 11 anos de vida, era ficcionála. Há uma razão para os gregos terem inventado o teatro” Joshua Safdie Josh e Ben Safdie na Queensboro Bridge, uma ponte para a memória da infância Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 7 8 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon Josh e Ben, crianças, com o pai (à esquerda). Lenny, o pai de “Vão-me buscar Alecrim”, e os seus filhos começa por parecer um estudo de personagem e de cidade, tem momentos de “screwball comedy” crispada, mas é permeável pelo fantástico e pela ficção científica, como uma energia intrusiva que corrói o edifício por vários lados (há por lá um insecto gigante, como um urso polar se cruzava no “road movie” de uma cleptomaníaca em “The Pleasure of Being Robbed”, obra a solo de Joshua, de 2008). É como um assalto. E quem é assaltado é o espectador, sem possibilidade de se acostumar a um registo, ficando ao sabor angustiante da desordem de Lenny. A necessitar de um momento de descarga, a sequência final no teleférico. O Ípsilon marcou encontro com os Safdie no local do crime, Rua 59, Manhattan. O momento em que uma ficção termina em ascensão foi o início dos Safdie como cineastas tal como os conhecemos hoje, autores de longas, curtas e curtíssimas metragens. Joshua: “Somos filhos desta personagem, que está dentro de nós. Este filme foi a forma de entendermos que há mais de uma década andamos a estudar o comportamento dele. Mas também somos uma espécie de pai dele. O nosso pai tem hoje 50 anos mas não vamos ter com ele para pedir conselhos. Ele é que vem ter connosco para nos pedir conselhos. A minha mãe e o meu pai já viram o filme. Ele umas oito vezes. Ela, que não vive com ele já há uns 20 anos, não tem memória dele por isso para todos os efeitos, o Lenny do filme é a cara do meu pai. E claro, acha que o filme é uma ‘carta de ódio’ ao ex-marido. Ele, pelo contrário, acha que os seus defeitos são as suas qualidades. O facto de cada um ver o filme a partir da sua própria realidade faz sentido para nós.” O estudo da personagem continuará, porque a próxima longa que os irmãos estão a escrever, “Uncut gems”, passa-se no mundo da indústria da joalharia, “ali para a Rua 47”. A escolha pode parecer uma guinada depois de “Vão-me buscar alecrim”, “Somos filhos desta personagem, que está dentro de nós. Este filme foi a forma de entendermos que há mais de uma década andamos a estudar o comportamento dele” Joshua Safdie mas o cinema continua ancorado no pai: os anos em que ele trabalhou no mundo “obscuro” das jóias. Joshua: “Benny e eu andávamos a precisar disto, e a única forma de fazermos a catarse da nossa infância, para sabermos como foram os nossos primeiros 11 anos de vida, era ficcioná-la. Há uma razão para os gregos terem inventado o teatro. Recriar apenas a nossa infância não tem interesse, é mais interessante como a vivemos. Por isso, é como quando contamos a alguém um sonho: temos que acrescentar sempre um ponto para tornar a coisa mais interessante.” E os dois olham para os cartazes que anunciam o novo teleférico remodelado que vai surgir em Setembro. Já não vai ser como antes. Ben: “Este filme mostra pela última vez o teleférico tal como era. Lá vão outra vez dizer que ‘Vão-me buscar alecrim’ é um filme de época.” O teatro de uma cidade Josh e Ben com os seus actores (Ronald Bronstein e Sage e Frey Ranaldo) na rodagem de uma cena de “Vão-me buscar alecrim” É verdade que a pergunta surge insistente: em que época se passa “Vão-me buscar alecrim”?. Há quem jure que esta Nova Iorque suja só existiu assim no cinema americano dos anos 70 e que estas personagens, Lenny sobretudo, estão sob influência, como nos filmes de John Cassavetes. Mencionase o nome e Joshua e Ben ameaçam revirar os olhos. Dizem eles que antes de se falar de Cassavetes tem que se falar de “Ladrões de Bicicletas” de Vittorio de Sica (1948) ou de “Bleak Moments” de Mike Leigh (1971). Mas se calhar nem se deve começar pelo cinema. Joshua: “Nunca a referência a filmes foi um tema nas nossas conversas. E na verdade não tínhamos visto nenhum filme de John Cassavetes antes de fazermos este.” Ben: “Não é verdade. Tínhamos visto ‘Uma Mulher sob Influência’. E não te esqueças que tínhamos um professor na universidade de Boston, Ray Carney, que escreveu um livro sobre Cassavetes e sobre a natureza maníaca das personagens dele. Essa natureza corresponde a um certo modo de vida que tem a ver com Lenny. Mas, se se reparar, Cassavetes estava demoradamente com as suas personagens, até à exaustão, e nós obrigamos o espectador a saltar de situação em situação, quase que o frustrando.” Joshua: “Sim, não é possível sintetizar as coisas no nome Cassavetes. Se tem que se falar de filmes que estiveram antes deste, então temos de falar de ‘Milestones’ de Robert Kramer [1975].” O nome de Cassavetes pode parecer incontornável, mas novas visões do filme mudam a forma de engavetar “Vão-me buscar alecrim”. Isso e en- trar em www.redbucketfilms.com, o sítio em que os irmãos apresentam as várias plataformas do trabalho da sua produtora, Red Bucket Films, que partilham com três amigos e colegas da universidade de Boston. É uma associação de gostos e impulsos individuais mas disponíveis para a solidariedade: quando um deles precisa, os outros põem-se ao serviço do projecto alheio com a função que for necessária. E a experiência com a ficção não se fica só pelos filmes, estende-se aos livros, fanzines e ambiciona chegar ao museu, expondo os objectos que vão coleccionando no seu périplo pelas cidades – como Lisboa, por exemplo, onde estiveram a apresentar o filme no IndieLisboa deste ano e a receber o prémio principal do festival. O “twist” é que nesse mostruário de objectos, histórias e filmes, o verdadeiro está misturado com o falso, o documental com o ficcional. Mas entre-se em www.redbucketfilms.com, veja-se a série “Buttons”, instantâneos, alguns só duram segundos, de Nova Iorque que Joshua e Ben roubam à cidade com as suas câmaras digitais. Ou então as curtas em que Nova Iorque e arredores surgem transfigurados, habitando um tempo que não é imediatamente reconhecível, e entre o burlesco (a presença “keatoniana” de Ben como actor) e o onírico, levando o espectador a querer insistentemente datá-lo. Isto para dizer que, afinal, é menos o cinema e mais a relação com a cidade que está na base daquilo que os Safdie fazem. Temos por isso que confessar que esperávamos encontrar na Rua 59 dois rapazes a verem o mundo avidamente com as suas câmaras digitais, como se só elas provassem que “aquilo” aconteceu, mas afinal quem apareceu foram dois exemplares de uma outra vertigem, proustiana, à moda de Manhattan. Joshua: “Se nos encontrasse há um ano era assim que nos veria, mas Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 9 O cartaz que anuncia a paragem e reactivação do acesso a Roosevelt Island depois começou a tornar-se um problema. Estávamos a viver experiências apenas para as registar, apenas pelo dispositivo. Resolvemos suspender isso. Estamos agora a enveredar por uma abordagem mais interior, de recriação. Mas é verdade que há um ano poucas pessoas andavam com as suas câmaras digitais e hoje é o que toda a gente faz. E, sim, são as coisas que vemos nas ruas de Nova Iorque que estão na origem de algumas das cenas dos nossos filmes.” Josh resume: “The theatrics of the city.” Mas então “Vão-me buscar alecrim” é passado ou é presente? Por que é que anda por lá Abel Ferrara (um “cameo”) a falar em Bill Withers, singer songwritter dos 70s? É tudo hoje, “agora”, mas como Ben se encarrega de explicar, isso também é tudo “passado”. Ben: “Queremos sempre desesperadamente captar o agora, mas nunca conseguimos porque a partir do momento em que o filmamos é sempre passado, estamos sempre a olhar para trás. Mas é um passado lembrado no presente, não é o passado pelo passado. É a memória de coisas que passaram. Pode datar-se a memória? Eu diria que a nossa Nova Iorque é intemporal.” Era disso que falávamos, Proust em Manhattan – Ben fala menos, embora compense o maior voluntarismo dicursivo do irmão com uma disponibilidade no olhar que é transbordante e com uma capacidade de síntese que ilumina o que Josh acabou de dizer; a sintonia, de resto, é de siameses, assim como a pulsão para a pantomima. Sobre Ferrara e Bill Withers, Joshua explica então que deram ao realiza10 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon dor, tornado aqui actor, uma série de discos que ele era suposto andar a vender na rua, numa sequência do filme. E foi Ferrara que escolheu o singer-songwriter negro dos anos 70 no meio dos discos “modernos” que a produção pôs à sua disposição. Não houve nenhum preciosismo ou calculismo de época. Ferrara, para Joshua, é uma perso- nagem perfeita para aquilo que ele chama “the theatrics of the city”. Conheceu-o, quando tinha 18 anos, de uma forma que deverá ser muito nova-iorquina: Ferrara era vizinho de um amigo dos irmãos Safdie, e do apartamento onde morava muito barulho antecipava invariavelmente “uma porta que se abria e alguém que era atirado pelas escadas abaixo”. “Queremos sempre desesperadamente captar o agora, mas nunca conseguimos porque a partir do momento em que o filmamos é sempre passado, estamos sempre a olhar para trás. Mas é um passado lembrado no presente, não é o passado pelo passado” Ben Safdie “Trabalhei depois numa loja de vídeo e ele era a única pessoa que estava autorizada a levar filmes grátis. Quantas vezes vi depois o Abel na rua à noite, e a chamar por mim [imita a voz rachada de Ferrara]: ‘Josh, Josh, dá-me dinheiro.’ Ele é o verdadeiro poeta da rua de Nova Iorque. Fazia sentido para nós que numa determinada cena do filme ele entrasse em contacto com Lenny.” Mais “teatro de uma cidade”: “Outro dia vi um rapaz na rua com o som muito alto a sair de uma ‘boombox’ e a dançar e alguém pediu para ele baixar o som e ele respondeu: ‘Fuck, I’m taking my city with me’. Esta cidade precisa da anarquia individual. A infelicidade adora companhia. Não quero que Nova Iorque seja um gigantesco Starbucks. Gosto de ter medo das pessoas na rua, se calhar porque isso me distrai dos meus problemas.” E o perigo espreita em Nova Iorque. Não um mosquito gigante não um urso polar, mas o irascível Dirty Harry transportado de São Francisco para Manhattan e disfarçado de papagaio. “Give me your finger and make my day!”, mesmo numa esquina de acesso à Queensboro Bridge, é um íman que atrai Joshua e Ben Safdie. Dentro da loja de animais, asas abertas e “hellos” e “goodbyes” papagueados ao melhor estilo rachado de Abel Ferrara. Isto é “Vão-me buscar alecrim”. Joshua e Ben Ver crítica de filmes págs. 40 e segs. GROOVE4TET PQ.MARECHAL CARMONA CASCAIS o são luiz no festival de almada JARDIM CERCO MAFRA NOITE DE JAZZ EM PORTUGUÊS DEOLINDA 20JUL 17JUL HIPÓDROMO CASCAIS PQ.MARECHAL CARMONA CASCAIS MARIA BETHÂNIA CELSO FONSECA CORINNE BAILEY RAE 24JUL 22JUL CASCAIS HIPÓDROMO 25JUL DIANA KRALL PQ.MARECHAL CARMONA 27JUL CLUB DES BELUGAS Orchestra 28JUL ELVIS COSTELLO & THE SUGARCANES 29JUL SOLOMON BURKE Special Guest JOSS STONE MAFRA JARDIM DO CERCO 23JUL ORQUESTRA BUENA VISTA SOCIAL CLUB® Feat. OMARA PORTUONDO 9, 1O, 16 E 17 JUL ALDINA DUARTE POR OLGA RORIZ www.cooljazzfest.com WWW.TEATROSAOLUIZ.PT LAURENT FILIPE ANTÓNIO PINHO VARGAS © Isabel Pinto SÃO LUIZ JUL ~ 1O apresenta SEXTA E SÁBADO ÀS 21H00 SALA PRINCIPAL M/3 Bilhetes à venda na Ticketline (www.ticketline.pt) e locais habituais NAMING SPONSOR PRESENTING SPONSOR OFFICIAL SPONSOR OFFICIAL CAR INSTITUTIONAL SPONSOR MEDIA PARTNERS PARTNERS SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38; 1200-027 LISBOA GERAL@TEATROSAOLUIZ.PT / T: 213 257 640 Quinta das Lágrimas, Coimbra 16 de Julho a 1 de Agosto 2010 Concerto Köln Francisco Manso Bernardo Sassetti Sónia Alcobaça Viriato Soromenho Marques Orquestra Gulbenkian Francisco Nunes de Carvalho Coro dos Antigos Orfeonistas da UC António Ferreira José Bento dos Coro Sinfónico Lisboa Cantat Ana Quintans Albano Lourenço André Gago João Pedro Rodrigues Orquestra Metropolitana de Lisboa Quarteto de Cordas de Matosinhos Beatriz Batarda Santos Cesário Costa Camaleão Santi Santamaria Angles TEUC Etsuko Hirosè Companhia de Dança Paulo Ribeiro Rui Ferreira dos Santos Joana Carneiro António Barros Pedro Burmester João Miguel Lameiras António Augusto Aguiar Carlos Barretto BILHETEIRA DAS 13H ÀS 20H T: 213 257 650; BILHETEIRA@TEATROSAOLUIZ.PT BILHETES À VENDA NA TICKETLINE E NOS LOCAIS HABITUAIS Orquestra Clássica do Centro Nelson Geada Casa da Esquina Jorge Calado Miguel Henriques Leonor Nazaré Jacques Perrin Cristina CastelBranco Joachim Koerper Abílio Hernandez Ana Moura Helena Freitas Alexandre Ramires João Tavares Paulo Constantino António Pinho Vargas Orquestra Geração Vítor Dias Ver o programa completo em www.festivaldasartes.com Mecenas das Artes Apoios Mecenas do Festival Patrocinadores Há tantos fantasmas à solta por “O Escritor-Fantasma” que davam para encher uma casa assombrada. Mesmo que o fantasma do título não tenha nada a ver com espectros ou assombrações, e tudo com uma expressão inglesa que, no mundo da edição livreira, designa os verdadeiros autores das obras assinadas por figuras públicas. Escritores que têm o grosso do trabalho, mas nunca são creditados, como a personagem aqui interpretada por Ewan McGregor, que dá por si embrulhado numa sinistra intriga política, quando aceita reescrever as memórias de um antigo primeiro-ministro inglês. Mas esse “escritor-fantasma” do título transmutou-se algures durante os últimos meses no “realizador- fantasma” que o assina: Roman Polanski. Confinado ao seu “chalet” de Gstaad pelo complexo folhetim judicial que o persegue desde que, em 1977, fugiu à justiça americana para evitar ser preso por abuso de uma menor na sequência de um julgamento no mínimo controverso, Polanski terminara a rodagem de “O Escritor-Fantasma” e estava já a montar o filme quando foi preso na Suíça, em Setembro de 2009. Supervisionou a finalização da montagem à distância, mas por razões evidentes não pode dar a cara para o defender. De certo modo, é apropriado: um filme sobre um escritor-fantasma, assombrado pelos fantasmas da política recente e do cinema clássico, só podia ser assinado por um realizador-fantasma. Que sabe tudo – mas nada pode dizer. O fantasma do realizador No Festival de Berlim, onde “O Escritor-Fantasma” teve a sua estreia mundial a concurso em Fevereiro último, o elenco e a equipa que se deslocaram em peso foram sondados, radiografados, questionados como se fossem “linhas directas” para o que Polanski quis fazer. Não só a equipa deste filme – os actores Ewan McGregor, Pierce Brosnan e Olivia Williams, o compositor Alexandre Desplat, os produtores Robert Benmussa e Alain Sarde e o co-argumentista Robert Harris, autor do romance que lhe está na origem – mas até, por exemplo, Ben Kingsley, em Berlim para promover “Shutter Island”, de Martin Scorsese, mas que trabalhou com Polanski em “A Noite da Vingança” (1994). É uma situação invulgar, como Ewan McGregor reconheceu na conferência de imprensa sobrelotada que deixou dezenas de jornalistas à porta do salão nobre do hotel Hyatt, a acotovelarem-se frente aos televisores que a transmitiam em directo. “É muito estranho ele não estar aqui, porque é o filme dele e nós somos apenas peças na sua visão.” Ewan McGregor é o “escritorfantasma” do título, contratado para reescrever as memórias do primeiro-ministro Pierce Brosnan Alguns dias depois, numa das mesas-redondas com a imprensa internacional no luxuoso hotel Adlon, onde o Ípsilon esteve presente, o actor escocês insiste em desiludir a imprensa que espera do elenco que sejam porta-vozes das emoções e ideias de um Polanski “amordaçado” pelas circunstâncias. “O Roman não é alguém que fale muito dos seus sentimentos. Gosto muito dele, adorei trabalhar com ele, mas não creio ser alguém a quem ele abrisse o seu coração. Não o conheço assim tão bem.”O que não é dizer que a experiência não tenha sido intensa para toda a equipa. Voltamos à conferência de imprensa: Pierce Brosnan sentiu que tinha de estar “em pico de forma para este grande cineasta”; Robert Harris, ao descrever o processo de adaptação do seu romance, chama ao realizador “lá bem no fundo um actor do Método”. “Enquanto trabalhávamos, ele corria pela sala a representar o argumento.” Alexandre Desplat diz: “Estar com ele na mesma sala mexe connosco, há uma energia e um humor que se transmitem.” McGregor descreve-o como exuberante e com grande sentido de humor: “Ele já tinha interpretado todos os papéis na sua cabeça à medida que escrevia. É totalmente responsável por tudo o que acontece no seu ‘plateau’. Sinto que ele é tão responsável pela minha interpretação como eu próprio. Não só me dirigiu, como dirigiu até a minha ‘performance’.” Um realizador tão responsável pela interpretação como o seu actor? Na mesa-redonda do Adlon, McGregor, que dissera ter terminado a rodagem com a sensação de ter sido desafiado enquanto actor pela exigência de Polanski (ele próprio actor), explica melhor o que quer dizer. “Quando criamos uma personagem, fazemo-lo a partir de conversas, imaginação, coisas que sabemos sobre ela. Depois, o realizador dirige essa interpretação através das cenas e o seu caminho através do filme. Mas, com o Roman, senti que ele também estava muito envolvido com o modo como a representei. É como se ele também estivesse dentro da personagem. É muito picuinhas, muito perfeccionista – passava cinco minutos a organizar as garrafas num armário mesmo que nunca aparecessem focadas, arranjava tudo o que estava em cima da mesa, enquadrava a câmara, dizia o que achava da luz da parede... Se as coisas não forem como ele imagina, ou pelo menos como as vê enquanto escreve, e se não estiverem a correr do modo que ele quer, pára tudo. Nem sequer espera pelo fim do ‘take’; pára tudo e começa a refazer. E, de certo modo, o modo como interpreto o escritor tem tudo a ver com isso. Tive o luxo de estar com ele durante toda a rodagem e aprendi muito rapidamente o que lhe agradava e o que lhe desagradava, uma sensação do que ele queria de mim.” O fantasma da política O “escritor-fantasma” de McGregor (tanto mais fantasma quanto o seu nome nunca é usado no filme...) é a única personagem que atravessa o filme de ponta a ponta – “Estive no ‘plateau’ o tempo todo, do princípio ao fim, e os outros actores chegavam, partiam, voltavam... Houve um bloco de tempo em que era eu e o Pierce, depois eu e a Olivia [Williams], depois eu e a Kim [Cattrall], depois uma secção no meio em que estivemos todos juntos durante uma ou duas semanas” – e essa presença tem sido recompensada com algumas das suas melhores críticas em muitos anos. No dossier de imprensa, Robert Harris elogiava o actor por ter aceite interpretar uma personagem tão indefinida, tão “em branco”, mas McGregor negá-lo-á mais tarde, explicando: “O guião era muito claro, não senti que houvesse ‘buracos’ para preencher. Penso que é porque o Robert e o Roman o escreveram muito bem, senti que podia ‘ver’ a persona- gem. Alguém nos trinta e muitos, que se sente levemente aquém do que podia dar, mas bastante confortável com a vida que leva.” O romancista, na conferência de imprensa, confessara adorar a ideia de ser um escritor-fantasma, ao mesmo tempo que “não conseguia imaginar ninguém com uma profissão pior”; mas McGregor desmenti-lo-á. “O Robert fala disso como um pequeno defeito. Ser um escritor que aceita que o seu nome nunca apareça em nada implica um certo fracasso, e penso que há alguma verdade nisso. Mas gosto da ideia de ele ser muito bom naquilo que faz, como no primeiro encontro com Adam Lang, em que ele responde que faz as perguntas e depois torna as respostas em prosa.” Interpretado por Pierce Brosnan, Lang é o primeiro-ministro britânico cujas memórias a personagem de McGregor é contratada para reescrever após a morte suspeita do seu predecessor. Inevitavelmente, o nome de Tony Blair vem à baila — é um dos fantasmas políticos de um filme que se estreou no exacto momento em que se falava da possibilidade de Blair ser levado a tribunal devido ao envolvimento inglês na guerra do Iraque, destino reservado no filme à personagem de Brosnan. Na conferência de imprensa, o actor irlandês diz sem pejo que o seu Lang não é Blair. “A primeira coisa que perguntei ao Roman foi: ‘Estou a fazer de Tony Blair?’ E ele disse-me: ‘Não, esquece isso, limita-te a interpretá-lo.’ O que foi muito libertador. Comecei a pensar em termos de uma personagem shakespeareana, um rei que se perdeu pelo caminho. Lang começa como um actor e torna-se num homem que está a representar um primeiro-ministro...” McGregor confirma: “Se o Pierce estivesse a fazer de Blair não teria funcionado, desde logo porque não tínhamos pretensões de estar a contar uma história verdadeira. É uma ficção. Claro que o Adam Lang foi muito influenciado pelo Blair quando o Robert escreveu o romance.” O romancista anui: “O livro foi escrito em 2007 e desde então a realidade conspirou para fazer do filme mais documentário do que ficção – a revelação dos voos de rendição da CIA que aterraram no Reino Unido, o MI5 estar a receber provas resultantes desses interrogatórios, foram coisas que o filme pareceu prefigurar... Todos os livros que escrevi são de algum modo políticos, e um dos fantasmas do livro é a ideia de a Grã-Bretanha já não ser um poder independente – temos a sensação de sermos apenas um 52º estado americano.” Mas McGregor, dias depois, no Adlon, aconselha a que não se leia demasiada intenção no que é essen- O realizador-fantasma Roman Polanski dirigiu um policial hitchcockiano sobre um autor que escreve em nome de outros e é apanhado numa intriga que o transcende. Mas entre a rodagem e a estreia de “O Escritor-Fantasma”, o realizador polaco deu por si apanhado no folhetim judicial que o persegue há mais de 30 anos –e o filme sobre o “escritor-fantasma” tornou-se no filme de um realizador-fantasma. Jorge Mourinha, em Berlim 12 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon O fantasma de Hitchcock Essa ideia do inocente apanhado nas malhas de uma intriga que o ultrapassa (para o actor, “alguém que está longe de ser ingénuo, mas que não tem unhas para a guitarra que quer tocar, nem está num mundo que domine ou conheça”) remete para o outro fantasma cuja presença Harris evoca na conferência de imprensa – os “thrillers” de Alfred Hitchcock, cheios de inocentes arrastados para situações de perigo. Mas é o único fantasma abertamente assumido por todos – afinal, Polanski nunca escondeu o seu gosto pelo cinema de género (alguns dos seus filmes mais emblemáticos e de maior sucesso foram entradas de género como “A Semente do Diabo”, 1968, ou “Chinatown”, 1974); Alexandre Desplat invoca abertamente Bernard Herrmann, o compositor cúmplice de Hitchcock, na sua banda sonora; e Robert Harris aponta que, para o cineasta, “chamar a um filme ‘arte e ensaio’ é o maior insulto que existe”. A colaboração entre ambos não devia ter começado por aqui, mas por uma adaptação de um outro romance do escritor, “Pompeia”: quando o autor falou ao cineasta do seu novo livro, Polanski torceu o nariz, mas depois de ler as provas mudou de ideias. “Telefonou-me entusiasmado a dizer que achava isto Raymond Chandler puro! E disse-me que há muito tempo que queria fazer outro filme deste género” – a última vez que o fizera foi “Frenético”, com Harrison Ford, em 1988. Inevitavelmente, há uma pergunta a fazer: será que o caso Polanski afecta a resposta ao filme? A crítica internacional tem sido unânime no elogio a “O Escritor-Fantasma”, que saiu de Berlim com o Urso de Ouro para melhor realização, ao mesmo tempo que procura nele pistas que possam espelhar a sua situação actual. Mas o público conseguirá olhar para ele abstraindo-se da controvérsia que rodeia o cineasta? É possível separar o artista da pessoa? Na mesaredonda, Ewan McGregor diz não saber. “Não tenho a resposta para essa pergunta. Não sei se as pessoas que não o irão ver por ele estar nesta situação o iriam ver noutra altura.” Cada um que escolha se quer, ou não, entrar nesta casa assombrada. Ver crítica de filmes págs. 40 e segs. Polanski durante as rodagens. A Suíça devolveu-lhe a liberdade esta semana DR Cinema cialmente casualidade: “Claro que é uma história sobre a política e os políticos, que comenta acontecimentos, tópicos, o envolvimento do primeiroministro na guerra do Iraque, a intriga, o engano, as facadinhas nas costas que acontecem na política... Mas acho o elemento político mais interessante desde que acabámos a rodagem. Na altura, não passei muito tempo a pensar no assunto. Estava muito mais interessado em ver tudo pelos olhos do escritor, que não é uma pessoa política. Diz, logo ao princípio, que é por não perceber nada de política que pode fazer as perguntas que chegam ao âmago de quem é Adam Lang.” “Polanski é muito perfeccionista. Se as coisas não forem como imagina, nem sequer espera pelo fim do ‘take’. Pára tudo e começa a refazer.” Ewan McGregor Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 13 “Coimbra não sab – e por isso não va Reportagem Tem duas companhias de teatro profissionais, um realizador de cinema instalado num ovni, u músicos que levaram longe o nome da cidade. E, no entanto, não está no mapa cultural do país. A Sabemos o que Lisboa fez no Verão passado e talvez o que o Porto fez há duas semanas. Mas quando foi a última vez que tivemos notícias culturais de Coimbra? Vinte valores para quem disse 2003: era ano de Capital Nacional da Cultura (CNC), a primeira do país, e a cidade onde, dizem, se fala o melhor português de Portugal, acontecia hora sim, hora sim. Houve até quem se queixasse de tanta fartura. “Que era oferta cultural a mais”, recorda Abílio Hernández, que foi o comissário da CNC. De então para cá, foi a travessia no deserto – ok, este ano há U2, os bilhetes esgotaram-se enquanto o diabo esfregou um olho, mas esgotar-se-iam na mesma se o concerto fosse em Lisboa ou em Freixo de Espada à Cinta. Isto somos nós que dizemos, que de então para cá foi a travessia no deserto – porque a quem lá está apetece dizer que quem está fora racha lenha. Que é como quem diz que em Coimbra se passam coisas, muitas coisas até, mas não passam na comunicação social. E o que não está na comunicação social não existe para o país. E Coimbra existe para o país? Existe, e foi por isso que lá fomos, saber o que se passa com a cultura de uma cidade a que se associa de imediato, para o bem e para o mal, a sua universidade. E aqui estamos nós, numa tarde sufocante de uma quinta-feira, sentados numa esplanada, a ver Coimbra e a sua universidade passarem. Isto é a Praça da República, as Escadas Monumentais são ali ao virar da esquina e vamos olhando estudantes trajados e deitando o ouvido às conversas de café. Fala-se essencialmente da Queima das Fitas, que acabou há uma semana (estivemos lá dois dias em Maio). E isso explica muita coisa. Explica, por exemplo, que a cidade esteja ainda a ressacar dos excessos – e que por isso não haja grande coisa para fazer nesta primeira noite. Abrimos o “Diário de Coimbra”, um dos dois jornais diários da cidade, e a oferta cultural para hoje é praticamente nula. Sim, há cinema (Lusomundo, em dois centros comerciais), mas nada que nos estimule. E depois há o lançamento de um livro de Leonel Cosme na Livraria Almedina; fado no Centro Cultural D. Dinis; uma conferência de João César das Neves e finalmente as Jornadas de Cultura Popular do Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra. O vizinho Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) está a zeros; a companhia de teatro Escola da Noite saiu com um espectáculo para Braga; O Teatrão ocupa-se por enquanto com a Mostra de Teatro Escolar; no Círculo de Artes Plásticas (CAPC) ultima-se uma exposição que há-de inaugurar-se no dia seguinte à visita 14 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon Teatro da Cerca de S. Bernardo, Escola da Noite A Escola da Noite tem 15 profissionais em permanência, mas, na opinião de Pedro Rodrigues, precisaria de pelo menos mais dez. “Temos a mesma estrutura de pessoal para a programação e para a criação artística, o que nos obriga a uma grande ginástica.” Excluindo os seus próprios espectáculos, a companhia programa na área do teatro desde Janeiro de 2009 do Ípsilon; o mesmo dia em que haverá concerto no Salão Brazil. Sentimo-nos tentados a encolher os ombros e a dar por terminada a nossa missão: Coimbra é invisível para o país, porque aqui não se passa nada. Mas perceberemos que tivemos apenas azar na noite. Lisboa e a paisagem Sorte tivemos com o sítio onde marcámos encontro com Abílio Hernández. O café do TAGV está quase deserto e o ar condicionado competentíssimo talvez ajude a uma conversa mais fluida. O ex-comissário da CNC, professor da Faculdade de Letras, serve-se do passado para enquadrar o presente da cidade. “Coimbra teve durante séculos a única universidade do país e manteve-se como a terceira cidade de Portugal até aos anos de 1960. A partir de meados do século passado, as outras cidades do país mudaram muito: Leiria, Aveiro, Guarda. Cresceram e sentiram necessidade de crescer contra o modelo central de cidade que era Coimbra. Não podemos esquecer-nos que foi daqui que saiu Salazar e essa foi uma marca que as outras cidades usaram em seu benefício.” Coimbra reagiu da pior maneira a esta concorrência: “ensimesmou-se”. “Reagiu como o fidalgo que não vê a decadência em que mergulhou. E viveu durante muito tempo à sombra da universidade – e dando-se mal com a universidade, o que é um mistério.” Durante vários anos, a cidade “não conseguiu olhar para cima, para a universidade – nada se fazia em Coimbra sem pedir autorização à universidade”. “Nas últimas duas décadas tem havido tentativas de reconciliação e agora há uma boa relação institucional entre a cidade e a universidade”, acrescenta Hernández, que foi próreitor da cultura entre 1994 e 1998. Estes são problemas que “ainda não estão totalmente resolvidos” e que se reflectem na dinâmica cultural da cidade. “Coimbra tem-na, e tem-na através da acção dos produtores e dos dinamizadores culturais, que existem e têm uma acção de relevo: o CAPC, que foi muito importante para o lançamento da arte conceptual em Portugal nos anos 1970, as companhias A Escola da Noite e O Teatrão, a Bo- abe para onde vai ai a lado nenhum” , um antigo salão de jogos que agora é restaurante-bar-sala-de-concertos-e-tudo-o-mais-que-vier, . Afinal, o que é que Coimbra não tem? Sandra Silva Costa (texto) e Paulo Pimenta (fotos) nifrates, que tem um percurso na área do teatro amador muito consistente. Mas os protagonistas não chegam.” Voz aos protagonistas, então. A Isabel Craveiro, directora artística d’O Teatrão, que nos abre a porta da Tabacaria, uma das salas de espectáculos da Oficina Municipal do Teatro (OMT), para onde a companhia se mudou no final de 2008. “Coimbra ainda sofre um bocado do mito de estar parada no tempo, mas acho que é só conversa. Do meu ponto de vista, é possível fazer cá coisas, e com resultados bem conseguidos. O problema é que ainda há uma espécie de folclore à volta da cidade que a torna um bocado anacrónica. Isso condiciona a visão de Coimbra, que parece uma cidade onde as coisas não acontecem, como se a tradição a sufocasse.” A verdade é que acontecem: veja-se o caso d’O Teatrão. Com subsídios anuais de 150 mil euros da DirecçãoGeral das Artes e 60 mil euros da Câmara Municipal de Coimbra – “muito pouco, quando comparados com os de outras companhias”, realça Isabel Craveiro –, o ritmo de produção e programação da companhia é assinalável. O relatório de actividades de 2009 (olhámos para este ano por incluir uma compilação definitiva e fiável dos dados) da companhia assinala a produção de quatro espectáculos: “Cenas de Espera I e II”, na Tabacaria, com 91 espectadores em duas apresentações; “Refuga”, com os adolescentes como público-alvo; “Fios e Labirintos”, um projecto pedagógico em colaboração com a Câmara Municipal e a Escola Superior de Educação de Coimbra; “Boa Alma de Setzuan”, um regresso d’O Teatrão a Brecht que levou à OMT 562 espectadores; e “D. Quixote (de Coimbra)”: 72 apresentações que entraram por Janeiro deste ano, com uma média de 94 espectadores por noite. E depois houve um não mais acabar de acolhimento de espectáculos – desde Ana Deus aos Gaiteiros de Lisboa, passando pela companhia de Paulo Ribeiro. Ao todo, passaram em 2009 pela OMT 15. 452 espectadores – uma média de 71 por espectáculo. “Nós não fazemos só espectáculos, fazemos espectáculos para chegarem às pessoas, e percebemos que elas estão disponíveis para ser trabalhadas enquanto público”, observa Isabel Craveiro. E o público também encara “com muita simpatia” o trabalho que A Escola da Noite vem fazendo em Coimbra há 18 anos, informa, por sua vez, António Augusto Barros, director artístico da companhia, que há menos de dois anos é a residente do Teatro da Cerca de S. Bernardo, uma bela sala de espectáculos que ainda cheira a novo. Regra geral, assistem aos espectáculos d’A Escola da Noite cerca de 100 pessoas, quando a sala tem capacidade para 180, adianta Pedro Rodrigues, produtor da companhia. “Coimbra é uma cidade boa para trabalhar, boa para experimentar, boa para um projecto se desenvolver”, considera António Augusto Barros, mas esbarra num problema fundamental: o “feedback”. Discurso directo: “Um dos grandes problemas da área artística é a questão do ‘feedback’. Nós não somos muito bafejados pela sorte, não temos cá comunicação social, temos muita dificuldade em meter notícias. Os jornais só falam de Lisboa, para eles o resto é paisagem. Quem manda nos jornais nunca tira o cu de Lisboa, aconteça o que acontecer, mesmo o Porto tem muita dificuldade em meter notícias. A informação cultural é muito regionalista, muito colonizada em termos de amiguismo e de clientela. Costumo dizer: Jorge Silva Melo a sul e Ricardo Pais a norte. E isto significa uma perda para o país todo.” Isabel Craveiro faz uma leitura simi- lar. “Temos muita dificuldade em chamar a atenção das pessoas para o que aqui vamos fazendo. Neste momento não há um crítico de teatro que venha assistir aos espectáculos.” E mais: tratando-se de companhias subsidiadas, a directora d’O Teatrão entende que a actividade deveria ser escrutinada. “Se os dinheiros são públicos, então por favor fiscalizem-nos.” Antes de cortarmos o microfone ao teatro e o abrirmos ao cinema, mais duas achas para a fogueira. António Augusto Barros: “A Escola da Noite faz muitas digressões pelo país, mas não vai ao Porto e a Lisboa porque não há salas disponíveis para acolher os nossos espectáculos.” Isabel Craveiro: “Há uns tempos recebi um ‘email’ dando conta da presença de Valentin Teplyakov [professor da Academia Russa de Artes de Moscovo] ‘pela primeira vez em Portugal’. Ele já tinha estado duas vezes em Coimbra. Não veio a Lisboa? Então não aconteceu.” “Há uns tempos, recebi um ‘mail’ dando conta da presença de Valentin Teplyakov ‘pela primeira vez em Portugal’. Ele já tinha estado duas vezes em Coimbra. Não veio a Lisboa? Então não aconteceu”, desabafa Isabel Craveiro Navegar à vista E a nós o que nos aconteceu? Andámos perdidos em Cernache, a uns 15 quilómetros de Coimbra, debaixo de um calor ainda mais sufocante, à procura de um ovni. A custo, chegamos à Rua Ribeira de Casconha, mas nem sombras da Persona Non Grata, a produtora de cinema que o realizador António Ferreira instalou num antigo lagar de azeite. Perdemonos, andamos às voltas, usamos o telemóvel. Lá está António, ao fundo da rua, de calções e t-shirt, a acenarnos. Chegamos finalmente ao ovni. Visto de fora, este é apenas um edifício agrícola recuperado e, não se tivesse dado o caso de António Ferreira ter convidado a freguesia a visitar a produtora, ninguém diria que daqui saem filmes para o mundo ou “videoclips” para a Disney. A Persona Non Grata está ligeiramente fora do contexto: rodeada de campos de milho, implantada numa zona completamente rural, onde a vida acontece devagar – nas ruas, na igreja e no café ali do lado. É por isso que lhe chamamos “ovni”. Como também poderíamos chamar (mas não chamamos) extraterrestre a António Ferreira – ele que detém a única produtora de cinema fora de Lisboa e do Porto. Circunstâncias da vida: “Estou aqui porque sou de Coimbra, se não não estaria, isso é óbvio. Mas de qualquer forma estou aqui um pouco por teimosia. Chegámos a Cernache há quatro meses, antes estávamos em Coim- Alexandre Lemos, director da RUC Licenciado em Programação Cultural, Alexandre Lemos é o representante em Portugal da editora Bubok. Para além disso, integra a companhia de teatro Marionet, que tem residência no Centro de Neurociências e explora as relações entre o teatro e a ciência bra, no centro da cidade, mas já não tínhamos condições para lá estar. Se estivéssemos em Lisboa, não sei até que ponto conseguiríamos produzir ao custo a que conseguimos produzir aqui. E no ano passado produzimos três longas-metragens, três curtas, aí uns dez ‘videoclips’.” Tudo isto para dizer que sim, fazem-se coisas em Coimbra. “Há certos agentes que, por sua conta, têm dado alguma visibilidade à cultura na cidade. Não é, seguramente, à custa da câmara”, diz António Ferreira – e agora está definitivamente posto o dedo na ferida. “Temos tido apoio zero. No ano passado filmámos uma longa toda em Coimbra e nem sequer nos livraram das taxas de ruído e de ocupação da via pública. Só temos queixas a fazer. Andamos há dez anos a produzir em Coimbra e ainda nos perguntam se somos de Coimbra.” Mais de Coimbra não há – este poderia muito bem ser o slogan da RUC, a rádio que, em 107.9 FM e desde 1989, põe a cidade e os seus estudantes no mapa. Aqui estamos nós no edifício da Associação Académica, a ouvir pedaços de Origami, o programa que, às 17h30, se dedica à música electrónica. Mas para Alexandre Lemos, o actual director da RUC, agora a música é outra. “Em muitos aspectos, a cultura em Coimbra é basilar para a cultura portuguesa, mas quando nos pomos a pensar quando foi a última vez que tivemos notícias culturais de Coimbra, aí temos razões para ficar preocupados”, diz. Agora em velocidade de cruzeiro comenta: “Passaram sete anos desde a CNC e não aconteceu nada a seguir. Aliás, perderam-se coisas: o TAGV, a grande sala de espectáculos que temos, passou de uma sala com programação própria para uma sala que acolhe espectáculos apenas – e às vezes de qualidade duvidosa.” Abrimos um parêntesis para dar voz a Isabel Vargues, directora do TAGV desde Setembro de 2008: “Quando entrei, estávamos num processo de arrumar a casa. Agora somos uma fundação, com tudo o que isso implica. Continuamos a colaborar muito com a Associação Académica, correspondemos aos pedidos das escolas. E duvido de qual seja o interesse de termos peças de teatro com duas ou três pessoas a assistir. Creio que aí estamos a falar de grandes criações narcísicas. Se o TAGV hoje já não ocupa o lugar que ocupava? Hoje há uma oferta enorme: o Teatro da Cerca de S. Bernardo, o Salão Brazil, o Café Santa Cruz... Há uma febre de produção de acontecimentos culturais em espaços que antes não se dedicavam tanto a isso. São públicos diferentes, e o TAGV não está preocupado com protagonismo.” Fechamos o parêntesis e voltaÍpsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 15 mos à RUC e a Alexandre Lemos, que estudou programação cultural. “Se Coimbra está como está é por uma questão de opção. A câmara não faz opções, a Fundação Bissaya Barreto não marca a agenda nacional, a própria universidade também não consegue fazer nada, sabemos como estão as universidades.” Resultado: se à equação tirarmos “todos os agentes naturais da cidade, o que vamos encontrar é o vazio de investimento”. “Não há ninguém que tenha capacidade e vontade para marcar severamente a agenda de Coimbra”, acusa o director da RUC, para logo a seguir avançar com uma sugestão. “O que faz falta é uma superestrutura que pegue nas várias coisas que acontecem em Coimbra e lhes dê um sentido comum. A cidade não sabe atrair. Todos conhecemos cidades menos interessantes de ‘per si’ do que Coimbra, com património edificado menos atractivo, que sabem vender-se. Aqui não é falta de ‘hardware’. É falta de fôlego, de agressividade e de estratégia. A vereação da cultura, mesmo sem um tostão para programar, tem de ser capaz de gerir a agenda cultural da cidade.” Neste ponto, toda a gente concorda. “Coimbra teria todas as condições para se constituir como um ‘cluster’ cultural. É maneirinha, ‘cosy’. Mas para isso era preciso que houvesse quem se responsabilizasse por assegurar a dinâmica cultural que nasceu “Já estamos noutra era que não a de Pedro e Inês e Coimbra ainda não percebeu isso”, considera o realizador António Ferreira 16 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon Oficina Municipal do Teatro, O Teatrão Isabel Craveiro, directora artística d’O Teatrão, reconhece que a itinerância dos projectos da companhia é ainda “um bocadinho residual”. “O nosso é um projecto que ainda não é muito conhecido. Alguns programadores preferem ter nos seus espaços apenas um espectáculo por mês, mas um espectáculo que marque, em lugar de se abrirem a outras abordagens teatrais.” depois da CNC”, refere Abílio Hernández. E esse papel, na opinião de António Barros, deveria passar “pela acção da autarquia”. “Há falta de ambição cultural na cidade”, sublinha. A Câmara Municipal de Coimbra tem outra visão. Por “e-mail”, Joana Loureiro, a adjunta da vereadora da Cultura, Maria José Azevedo Santos, explica ao Ípsilon que, apesar dos constrangimentos financeiros que afectam praticamente todas as autarquias do país, a câmara não deixa “de ter planos concretos, e nalguns casos ambiciosos”, para atingir o seu “grande objectivo”. Que não é um, são vários. A saber: “melhorar consideravelmente a difusão da leitura e do livro no concelho”; criar “um arquivo municipal constituído por toda a memória escrita, que remonta à Idade Média e vem até à actualidade – uma das grandes estratégias [da autarquia]”; defender e preservar “o património municipal”; promover e dinamizar “uma acção cultural multímoda, de qualidade, atractiva, que, nas suas várias expressões, desde o teatro ao cinema, à música, à dança, ao folclores e às artes plásticas, passando por ateliers e ‘workshops’ de poesia, contos, gastronomia e artesanato, cative vertical e transversalmente os públicos (urbano e rural) e de todas as faixas etárias”; e, finalmente, “fazer um esforço cada vez maior para trabalhar em rede com todas as instituições e agentes culturais da cidade e do país”. Este argumentos não convencem quem lá está. “No que toca à cultura, a câmara não tem visão, navega à vista. Estamos na cidade dos doutores, mas uma cidade que não percebe que o mundo mudou, que já estamos noutra era que não a de Pedro e Inês. Lisboa e Porto são cidades criativas, viradas para a modernidade. Aqui não, dá-se maioria a pessoas conservadoras, que apostam nas rotas gastronómicas e nas viagens medievais. O Mostra Língua – Festival Internacional de Cinema em Língua Portuguesa vai este ano para a sua quarta edição e nunca teve um euro de apoio da câmara. É revelador”, comenta António Ferreira. E Alexandre Lemos solta aquela que será, provavelmente, a tirada mais cáustica: “Coimbra é uma cidade que não sabe para onde vai e que consequentemente não vai a lado nenhum.” “Cidade do Conhecimento” Nós sabemos muito bem onde vamos – jantar ao Salão Brazil. Anda nas bocas do mundo em Coimbra, mas, confessamos, não percebemos logo porquê. Estamos no primeiro andar de um edifício de 1896 no Largo do Poço e o que temos à nossa frente é uma banalíssima sala de restaurante. O pé direito é assinalável, as janelas oferecem uma bela vista para o emaranhado de ruelas da Baixinha de Coimbra, mas não simpatizamos muito com as cadeiras de napa vermelhas, nem com as toalhas de papel. O que é o Salão Brazil?, apetece-nos perguntar. Perguntamos mesmo e Telmo Costa responde: “Abriu há seis anos e resultou da recuperação de um antigo salão de jogos muito popular. No início era apenas um restaurante, agora é muita coisa. É um lugar onde se almoça por cinco euros, onde à noite se pode jantar por nove ou por 30 ou 40 e onde há uma programação musical de qualidade.” Não é o caso esta noite, o que há esta noite é um jantar de curso – e também é por isso que o Salão Brazil, “um espaço que conta quando se trata de fazer cultura em Coimbra”, é um lugar estranho. Por aqui tanto passam estudantes barulhentos, como músicos como António Zambujo, que se incomodou “com o ruído dos frigoríficos”. “Talvez tenha sido um dos melhores concertos que já aqui tive”, conta Telmo Costa, que já teve no seu Salão Brazil nomes tão díspares como Ena Pá 2000 ou Henry Grimes, músico de jazz que regressou ao mundo dos vivos em Maio de 2003, depois de 35 anos afastado dos palcos – o Salão Brazil é palco habitual do Festival Jazz ao Centro. Quem também já passou pelo Salão foi JP Simões – ainda este ano, em Março, para apresentar o seu álbum “Boato”. Foi em Coimbra que nasceu, foi em Coimbra que acordou para a música – e foi em Coimbra que “a fúria boémia e alienista dos anos 80” o esclareceu sobre “a importância da arte e da atitude como forma de resistência ao morno caldo social que nos convida a morrer em vida”, recorda, por “email”. Agora radicado em Lisboa, JP Simões lembra que, vista da A1, “Coimbra começou por ter uma placa ilustrativa que a designava como ‘Cidade Museu’”. Agora é a “Cidade do Conhecimento”. “Institucionalmente, isto quer dizer que os pensadores da edilidade não apreciaram a morbidez da primeira sugestão, ou seja, de Coimbra ser uma cidade morta, museu de si Teatro Académico Gil Vicente Já foi “a” sala de espectáculos de Coimbra, mas nos últimos anos o TAGV foi perdendo o brilho. A directora, Isabel Vargues, diz que, com a passagem a fundação, há novos desafios pela frente. “Não somos a Gulbenkian, nem Serralves, nem temos um mecenas por trás, temos antes a universidade, mas vamos fazendo o nosso caminho.” TER 27 JUL 22:00 PRAÇA | € 20 A electrónica toma conta da Praça com o concerto de Tricky. Músico de referência do trip– –hop inglês, esteve ligado ao período inicial da carreira dos Massive Attack. A sua carreira explodiu em 1995 com o premiado Maxinquaye, primeiro álbum a solo recentemente reeditado. Salão Brazil “O que é que fazias, se isto fosse teu?”, perguntou Telmo Costa aos amigos. Eles foram respondendo e o Salão Brazil agora dá cartas em Coimbra. É uma sala de concertos por onde tanto podem passar os Ena Pá 2000, como nomes importantes da cena jazz mundial JANTAR+CONCERTO € 35 APOIO própria, presa de uma mítica vitalidade intelectual muito associada ao facto de ter uma das mais antigas universidades da Europa e reiterada pelas lutas estudantis que exaltam a ligação da academia ao fado dito ‘erudito’, à vida boémia, poética e pró-revolucionária da massa estudantil.” Para JP Simões, isto quer dizer que “há também uma enorme expectativa, mesmo do resto do país, sobre aquilo que Coimbra poderá dar à cultura portuguesa”. O problema, acredita, é que isso “tem estagnado a criação artística e a produção cultural, na medida em que fortalece a mera e constante auto-homenagem que as classes políticas tanto apreciam, em detrimento da força crítica e do combate estético-ideológico que qualquer comunidade precisa para intensificar a sua forma de se compreender”. A boa notícia é que a cidade “conta com uma série de irredutíveis do teatro, da fotografia, da música e da poesia, que vão serenamente construindo o seu futuro e, possivelmente, o futuro da criação artística da cidade”. A má notícia: “O grosso da população da cidade não se constitui num público suficientemente interessado para garantir a exequibilidade e a continuidade de projectos culturais minimamente excitantes: trata-se de uma cidade muito conservadora que precisa de renascer intelectualmente.” Desgraça não, justiça Hoje já é sexta-feira, continua o mesmo calor, e subimos a custo até ao Pátio da Inquisição. Ainda não são 13h00, estamos filados em ir espreitar o Centro de Artes Visuais de Coimbra, herdeiro dos célebres Encontros de Fotografia. Damos com o nariz na porta: na Internet tínhamos lido que abria das 10h00 às 19h00, esta porta informa que abre das 14h00 às 19h00. Temos pena, mas não podemos esperar. Como não podemos esperar pelo fim da tarde, que marca a inauguração da exposição “Um olhar sobre a colecção do CAPC”. Foi dica de Abílio Hernández, mas não chegámos a fazer este inquérito – e se calhar devíamos ter feito. “Se for perguntar às pessoas na rua, provavelmente 80 por cento delas não sabe que o CAPC existe e se sabe não sabe onde ele está.” Para que conste, está na Casa Municipal da Cultura, ao cimo do Jardim da Sereia, e está a “entrar numa espécie de nova euforia”, informa, por telefone, António Olaio, artista plástico emocionalmente ligado ao CAPC, mas que não tem nele qualquer função directiva. “Até agora, o CAPC fazia um trabalho muito mais interessante do que a divulgação do trabalho que fazia. Parece-me que pode haver um reforço na sua visibilidade, com a direcção que tomou posse há pouco tempo”, junta o também professor na Faculdade de Arquitectura, que gostaria que a própria cidade “estivesse mais familiar” com o Círculo de Artes Plásticas. “É importante aproximar a cidade do CAPC, o que não passa por uma mudança de estratégia de programação, no sentido de imaginar uma estratégia mais populista. O importante é que reforce a relação com a universidade e através dela com os estudantes e com a cidade.” E como é que o ex-Repórter Estrábico vê a cultura em Coimbra? “Há muitas cidades dentro da cidade. Eu lido mais com a parte dela que é exigente em termos culturais e que está naquele grupo que não está satisfeito, mas já me cansei de fazer o discurso da desgraça. Se há tanta gente a fazer esse discurso, no mínimo essas pessoas já compõem uma cidade interessante”, considera. E diz mais: “Coimbra vive numa contradição: tem uma produção cultural que nasceu muito do meio estudantil e ao mesmo tempo uma imagem de alguma boçalidade ligada sobretudo às praxes. Viveu muito tempo à sombra da excelência da sua universidade e depois ridicularizou-se a própria pretensão da cidade. Acho que já é tempo de olharmos com mais justiça para ela.” Apetecia-nos dizer assim seja, mas dizemos antes ponto final. PATROCINADOR VERÃO NA CASA MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA PATROCINADOR VERÃO NA CASA SEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM CONVITE DUPLO PARA O CONCERTO DE TRICKY. OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES. SÁB 24 JUL 22:00 PRAÇA | € 15 Camané tem feito um percurso singular como intérprete de eleição do fado contemporâneo. Foram muitos os prémios que recebeu e muitas as colaborações com músicos das áreas mais diversas. Com um novo álbum na calha, esta voz fundamental da música portuguesa apresenta um concerto recheado de êxitos de carreira. JANTAR+CONCERTO € 30 APOIO PATROCINADOR VERÃO NA CASA MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA PATROCINADOR VERÃO NA CASA SEJA UM DOS PRIMEIROS A APRESENTAR HOJE ESTE JORNAL NA CASA DA MÚSICA E GANHE UM CONVITE DUPLO PARA O CONCERTO DE CAMANÉ. OFERTA LIMITADA AOS PRIMEIROS 10 LEITORES. Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 17 FOTOGRAFIAS DE “TEREZÍN” DE DANIEL BLAUFUKS, PUBLICADO POR STEIDL/TINTA DA CHINA Daniel Blaufuks O fotógrafo que suspeita das imagens Daniel Blaufuks foi ao campo de concentração de Terezín porque desconfiou de uma fotografia. “As imagens mentem”, diz ele. É por isso que “Terezín”, livro sob a influência de W. G. Sebald, é um aviso sobre o presente. Kathleen Gomes Terezín é o nome da localidade checa, 60 quilómetros a norte de Praga, onde os nazis estabeleceram um campo de concentração em 1942, com algumas características excepcionais: para ali foi enviada a elite judaica — artistas, intelectuais, ricos —, gente cujo desaparecimento poderia causar dissabores ao Terceiro Reich. Em 1944, a Cruz Vermelha Internacional fez uma visita de inspecção a Terezín, o que motivara, meses antes, uma “acção de embelezamento da cidade” decretada pelas SS: a densidade populacional foi aliviada, as fachadas das casas foram pintadas, plantaramse flores, os cafés e lojas foram recuperados, criou-se um banco e um centro comunitário com auditório, biblioteca, sinagoga. Uma cidade inventada. O relatório da visita da Cruz Vermelha foi tão positivo que a organização desistiu de inspeccionar ou- tros campos. O que inspirou os nazis a produzirem um filme de propaganda, rodado em Terezín, retratando um quotidiano idílico, para sossegar a comunidade internacional. “Terezín” é o livro de um fotógrafo que desconfia das imagens. A primeira vez que Daniel Blaufuks viu uma fotografia de Terezín foi no livro do escritor alemão W. G. Sebald, “Austerlitz”. Uma reprodução cinzenta e granulosa — como uma fotocópia de má qualidade — de uma sala com ficheiros dos prisioneiros do campo até ao tecto. Em “Terezín”, Blaufuks começa por examinar obsessivamente esta imagem, ampliando algumas zonas, esventrando-a, como se fizesse uma autópsia. A sala, escreve, pareceu-lhe “o cenário de uma peça de teatro inacabada”, “demasiado perfeita para ser real”. Algum tempo depois, Blaufuks, que “nunca quis fazer livros ou ima- gens de campos de concentração”, viajou para Terezín. E assim nasceu “Terezín”, livro extraordinário, nos passos de W. G. Sebald. Editado pela reputadíssima Steidl, “Terezín” é o primeiro livro de Blaufuks com distribuição internacional (em Portugal, é co-editado pela Tinta da China). O livro inclui um DVD com uma montagem dos fragmentos que restam do filme rodado em Terezín. (“Terezín” também é uma “ghost story”. Os rostos que se vêem nele estão mortos.) Encontro com um escritor de imagens. No lançamento de “Terezín”, praticamente não se falou de fotografia. Falou-se da história do campo de Terezín, das motivações que o conduziram a este projecto, do que ele representa para si. Este livro é a obra de um fotógrafo e, no entanto, não é um livro de fotografia? Não, eu acho que é um livro de fotografia. Penso é que a fotografia pode cobrir estes campos também. E, portanto, ao ser um livro de fotografia, pode-nos levar para outros interesses e para outros conhecimentos. Não é o livro de um historiador, é um livro subjectivo, apesar dos dados que lá estão serem objectivos. Esta pergunta tem a ver com o facto de a maior parte das imagens contidas no livro não serem fotografias efectivas. São digitalizações de outras imagens, de objectos, o que, não sendo novo no seu trabalho, adquire aqui outra gravidade. Nos trabalhos anteriores, essa pulsão arquivista denunciava um certo fetichismo. Este trabalho tem muito a ver com o “Sob Céus Estranhos”, onde a maior parte das fotografias utilizadas não eram, de facto, minhas. Eram fotografias de fotografias de família, também eram documentos. É o que hoje em fotografia se chama “after image”, isto é, trabalha-se a partir de imagens já existentes, mas que criam um novo “corpus”. As imagens criam novas imagens, apesar de continuarem a ser as mesmas imagens. Quando já existem imagens não vale a pena chover sobre chão molhado, não vale a pena fotografar aquilo que já está fotografado, será mais interessante utilizá-las de outra forma ou com outra visão. Nunca quis fazer livros sobre campos de concentração, com imagens de campos de concentração. Acho que isso já foi feito, e muito bem, no seu tempo — já não cabe à minha geração fazê-lo. As poucas imagens que existem minhas dentro do livro apenas lhes dão uma certa alma que não teriam de outra maneira. As minhas fotografias, no fundo, são as ruínas do tempo, são o testemunho do 18 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon Livros Essas imagens pré-existentes, isoladas, têm tanto valor como as fotografias feitas por si? Nunca estive interessado na fotografia como obra única. Não me interessa uma fotografia; interessa-me uma fotografia como parte integrante de um projecto e de um contexto. Mesmo nos diários de polaróides, os “London Diaries” (feito em 1993, publicado em 1994), há fotografias que não me interessam nada como fotografias, são más fotografias, se quisermos, mas que se integram no meu discurso. Um livro de um escritor não é feito apenas de belas palavras ou de frases bonitas, é preciso outras para sustentar o “corpus” e a linearidade do texto. Nesse sentido, todas as fotografias servem o mesmo fim. Haverá umas que se destacam mais do que outras de uma forma estética mas que, sozinhas, para mim, não teriam muito interesse. As fotografias não servem para decorar paredes. E se não as isolarmos? Têm o mesmo valor para si? Claro que há um nível autoral diferente. Como peça de puzzle, como peça de livro, têm exactamente o mesmo valor. Aliás, as fotografias que eu poderia tirar daí são as minhas. A informação não se perderia. Ficaria um livro mais pobre, porque há um olhar meu nessas fotografias que lhes dá o tempo presente — a ideia de que isto é feito e visto de hoje. As minhas fotografias, no fundo, são as ruínas do tempo, são o testemunho do tempo que passou. Penso que o meu trabalho também é sobre encontrar ordem num certo caos. Essas fotografias são muito isso também: fecham o espaço, para que tenhamos uma noção clara do que é o espaço. Mas, no fim, o valor de todas elas será igual. Foi uma imagem desta sala que Blaufuks viu no livro “Austerlitz”, de Sebald., e que está na origem de “Terezín”. O espaço pareceu-lhe encenado, “demasiado perfeito para ser real”. Quando foi a Terezín, Blaufuks tirou esta fotografia, que está na capa do seu livro Vamos à origem de “Terezín”. Este projecto parte de uma imagem que viu no livro de Sebald, “Austerlitz”, de um escritório estranhamente burocrático e estranhamente vazio. Esse espaço, como conta no livro, pareceu-lhe encenado, e “demasiado perfeito para ser real”. Ou seja, o que o moveu foi a desconfiança, a suspeita em relação à imagem. Sim. A imagem aparece no livro, ele não diz onde é que é, fica subjacente que pode ser em Terezín, mas, como sempre, o Sebald não é explícito. Nada no Sebald é explícito, tudo no Se- bald é coincidência sobre coincidência e quando achamos que é mentira o que ele está a dizer, ele põe-nos uma imagem que aparentemente prova que é verdade — como se uma imagem não pudesse ser também uma mentira. Essa imagem é toda uma espécie de encenação. Como eu escrevo no livro, há um relógio que está parado exactamente às seis da tarde, os ponteiros estão verticais, há um lado vazio naquele espaço de escritório que, a mim, desde o início, me lembrou uma peça de teatro. Foi isso que me provocou mais estranheza dentro daquela sala. Foi uma curiosidade que fui tendo até que deci- o tempo que passou. O que estou à procura talvez seja do que está debaixo de água Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 19 O crematório, em Terezín. Blaufuks fotografou a cores, mas o efeito parece preto e branco porque o espaço era lúgubre di pegar numas milhas da TAP e ir até lá. Não fui com a ideia de fazer um livro ou um projecto deste tamanho. Fui com a ideia de talvez tirar uma fotografia que fosse igual à do Sebald mas que fosse minha — apropriar-me daquela imagem. Depois, a coisa saiu um pouco de controlo, foime escapando, isto é, foi sempre estando mais à frente do que eu e eu fui sempre atrás, a perseguir. É como entrar num túnel: achamos que é um buraco pequeno e o túnel vai continuando, continuando, até conseguirmos sair outra vez. Portanto, não foi programado. Sim. Eu não queria fazer isto — fui fazendo. Aliás, fez-me imensa confusão ir a um campo de concentração. Nunca tinha ido, nunca tinha pensado ir. Deve ter sido o trabalho, não digo menos pensado porque ele foi muito pensado no decorrer do fazer, mas menos pensado anteriormente. Porque é que nunca quis ir a um campo de concentração? Por pudor? Por um lado, por pudor. Por outro lado, porque acho que um campo de concentração é um sítio tão óbvio, tão claro. E eu sei que as minhas imagens, voluntária ou involuntariamente, têm um pendor estético, têm um lado de beleza. Explorar essa beleza ou esse lado estético num campo de concentração é um pouco perverso e não é propriamente aquilo que me move. Mas criar imagens feias de um campo de concentração também não me parece muito interessante. Pessoalmente, nunca pensei que visitar um campo de concentração me levasse a algum lado onde não tivesse já estado, conhecendo eu a História e as histórias, conhecendo as memórias dos campos de concentração, conhecendo as imagens e os filmes dos campos de concentração. Nunca senti necessidade de estar num sítio destes. Para além de todo o terror que isso envolve e de toda a possível amargura e depressão que se sente quando se sai de um sítio desses. Nunca sentiu qualquer desejo de experiência do lugar? Não, pelo contrário. Depois de ter feito isto não tenho qualquer vontade de visitar Auschwitz ou Dachau. Não quer dizer que, se por acaso estiver perto, não vá lá. Provavelmente a minha curiosidade levar-me-à a um desses sítios se eu estiver perto. Agora, fazer a viagem propositadamente... Há tantos sítios bonitos no mundo que eu quero visitar. Um campo de concentração hoje serve principalmente como um local de memória, mas também como um local de ensino. Mas, infelizmente, já nasci ensinado. Enquanto judeu, há qualquer coisa que o aproxima daquela história e que é para si mais pessoal. O facto de ser fotógrafo coloca uma distância entre si e aquele lugar? A câmara fotográfica é uma desculpa — para fazer certas coisas e estar nos sítios. Por vezes penso que as pessoas resolvem muitas das suas angústias não sendo fotógrafas mas fotografan- do. Hoje as pessoas chegam a um sítio muito bonito e a primeira coisa que fazem é pegar na máquina fotográfica, nem sequer têm a experiência da beleza do lugar. Possivelmente já nem sabem dialogar com essa beleza. Da mesma maneira que, num sítio tão horroroso como Auschwitz, imagino que as pessoas chegam lá e a primeira coisa que fazem é tirar fotografias. A câmara fotográfica acaba por ser uma defesa. E isso funciona tanto para um fotógrafo como para um amador. Há muitas coisas que fiz na vida em que a câmara foi uma desculpa. Terezín não era um campo de concentração como os outros. Não era um campo de extermínio, mas de transição. Nesse sentido, era uma experiência menos aterradora? Sim, menos aterradora no sentido em que não havia câmaras de morte. Mas é muito difícil comparar o sofrimento. Para as pessoas que estavam em Terezín aquilo era um ponto de chegada da vida delas que até aí se tinha passado em liberdade, em cidades normais, na Alemanha e noutros países. Portanto, para elas, o terror já era aquilo: uma cidade inventada, em que morriam pessoas de doença, em que não havia condições de vida, porque estava mais que sobrelotada, com 50 mil pessoas, e em que as pessoas não podiam imaginar que houvesse pior do que aquilo. Só que o ser humano adapta-se. E ali estavam vivos. Em Auschwitz não estavam vivos. Ali [Terezín] não se sabia o que se estava a passar com os judeus. Portanto, dentro do seu sofrimento, penso que as pessoas podiam ser felizes em Terezín. E é isso que é estranho no filme [feito em Terezín], é essa felicidade, verdadeira ou não, que se vê na cara de algumas pessoas. A maior parte das pessoas que aparecem no documentário falso não sobreviveu, portanto, para nós, visto de hoje, é sempre uma felicidade irreal. Mas até que ponto não era também verdadeira? Porque as pessoas estavam vivas. Dentro de todo o horror que se passava à volta, Terezín quase era uma cidade feliz. Frequentemente, existe no livro uma descrição textual minuciosa das imagens que aparecem ao lado. De novo, isso Um campo de concentração é um sítio tão óbvio, tão claro. E eu sei que as minhas involuntariamente, têm um pendor estético. Explorar esse lado estético num campo 20 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon tem a ver com uma suspeita sua em relação às imagens como estratégia de realismo, como prova irrefutável. Este livro parece dirigir-se constantemente aos leitores, dizendo: desconfiem das imagens. Absolutamente. Não podemos confiar nas imagens. Como fotógrafo, sou o primeiro a dizer isso. As minhas fotografias são completamente subjectivas. Não há objectividade na fotografia, não existe. A maior parte das fotografias de reportagem até há bem pouco tempo eram a preto e branco. A ideia de que uma fotografia a preto e branco pode ser realista é uma mentira absoluta na qual todos nós acreditamos a certo ponto. Como é que uma fotografia a preto e branco pode ser realista e documentar a verdade se nós vemos a cores? A partir daí, tudo é uma sucessão de mentiras. As imagens mentem, mentem, mentem. Estão sempre a mentir. Este livro podia existir sem o texto? Não, porque as pessoas não o saberiam ler. Eu próprio não o saberia ler. Quando fui a Terezín não tinha infor- mação suficiente. O que é bonito e poético nas fotografias que se expõem numa galeria de arte, em que cada um pensa o que quiser e tira as conclusões que quiser — vê um limão ou vê um amor perdido dentro de um mesmo enquadramento —, numa fotografia de informação é perigosíssimo. Sebald não é só o ponto de partida, é a figura tutelar de todo este projecto. O livro segue uma estratégia sebaldiana: o Sebald integra imagens nos seus livros, a par do texto, e elas adquirem uma função paradoxal: por um lado, parecem confirmar o que é descrito no texto, mas por outro instalam a incerteza no leitor, questionando a faculdade documental das imagens. Exactamente. E aqui é ao contrário. Onde o Sebald insere uma fotografia para tentar comprovar o seu texto, eu faço o contrário: eu insiro texto para tentar comprovar ou não as minhas fotografias. No fundo, é uma estratégia paralela ao Sebald, mas contrária. Quando fiz “Sob Céus Estranhos”, não o livro, mas o filme, pouco depois peguei no primeiro livro do Sebald, que não conhecia até aí. E quase chorei por não ter conhecido o Sebald antes de fazer o filme, porque estava ali aquilo que eu procurava: essa ideia da História como uma coisa maleável, mas que se baseia em factos — os factos são inalteráveis, mas tudo o que está à volta desses factos é moldável. O que é real neste livro são os factos, isto é, o número de mortos, as pessoas que estavam, etc. Fiz pesquisa para chegar a essas conclusões. O resto pode ser ficção. Isso é verdade em relação ao diário de Ernst K. Estão lá as fotografias do diário, mas não temos a certeza que ele tenha existido, ou que aquele objecto seja mesmo de um senhor chamado Ernst K. E depois, o nome dele remete para uma figura literária: Josef K, de “O Processo”, do Kafka. Não vou responder a isso [risos]. No fundo, todo o livro podia ser uma ficção, se não soubéssemos que esta cidade existiu. Tudo aquilo que não é facto histórico neste livro pode ser ficcionado. Como foi o seu encontro com o Sebald? Leu-o em alemão, antes de sair a primeira tradução portuguesa [2004]. Quando o descobriu, foi a confirmação de um caminho que estava a fazer com o seu trabalho? Foi, de facto, alguém que eu encontrei como uma alma gémea. Alguém s imagens, voluntária ou o de concentração é perverso Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 21 Blaufuks submeteu as imagens do documentário rodado em Terezín a um filtro vermelho: era a cor “J” com que os nazis carimbavam os passaportes judaicos que estava em busca daquilo que eu também estava à procura, mas muito mais à frente e muito mais talentoso. Um dia estava num “diner” em Nova Iorque e virou-se um estranho para mim, mostra-me o jornal, que tem a morte do Sebald, e ele diz: “Do you know this writer?” Foi assim que eu soube da morte dele, num acidente de automóvel [em 2001]. Não se sabe se ele teve um acidente, se teve um ataque de coração, foi uma morte em “loop”, como os próprios livros dele. Tenho pena de não ter guardado o “New York Times” com a notícia da morte dele na altura. Esta maneira de contar a História contando historiazinhas é o que me interessa. “Sob Céus Estranhos” é feito antes de eu descobrir o Sebald, mas a ideia era essa: ao contar a história de duas pessoas [os avós maternos de Blaufuks], conseguir contar a história do mundo. Sebald não era judeu, era alemão, filho de católicos... Ainda bem. Isto não é uma história dos judeus, é uma história da Europa, é indiferente quem foram as vítimas. Podia ter sido qualquer minoria – naquela altura eram os judeus, os homossexuais, os ciganos, e os deficientes. O Sebald é apenas o cristalizar de uma cultura alemã que, apesar dos 11 anos de nazismo, é uma cultura inacreditavelmente rica e admirável. O que o levou a submeter as imagens do documentário a um filtro vermelho? Tem um óbvio efeito dramático. Quando vi o filme, a mentira é tão forte que, mesmo a mim, que tinha toda a informação, aquilo pareceu-me um “kibbutz”. No YouTube existem excertos do filme como propaganda, a mostrar que os campos de concentração eram sítios óptimos. Portanto, a força do filme mantém-se como mentira, para quem quiser acreditar nela. Eu não queria mostrar o filme como ele é, no original, com o preto e branco. Primeiro, decidi deixar aquela frase “Staged Nazi Film”, que acho fortíssima, e gostei imenso da palavra “staged”, que remetia para a fotografia inicial. E cheguei ao verme- lho, menos por ser a cor do sangue, mas mais porque os alemães carimbavam um “J” nos passaportes judaicos a vermelho. Isto, para os judeus serem identificados, não dentro da Alemanha, mas principalmente para os outros países, nomeadamente Portugal e a Suíça, saberem quem haviam de deixar entrar. Por isso decidi carimbar o filme todo com esta cor vermelha. No fundo, aquilo é um carimbo que remete para esse “J”, remete para a estrela amarela que os judeus eram obrigados a usar na Alemanha e em Terezín, o que é irónico, porque só havia judeus na cidade. A ideia era uma cor que embebesse, e que as imagens que estão ao de cima passassem para segundo plano — a cor é que passa a ser o primeiro plano. Há uma frase que Eduardo Prado Coelho escreveu em 2000 a propósito de uma exposição sua, e que parece premonitória em relação a “Terezín”: “O que Daniel Blaufuks nos mostra está quase sempre desabitado: foi o humano que se retirou.” Faz lembrar o que Walter Benjamin escreveu sobre as fotografias de Eugène Atget em Paris: que ele fotografou a cidade sem figuras humanas, como quem fotografa o local de um crime. E aqui aconteceu um crime, de facto. O filme e os fotogramas do filme preenchem esse vazio. Ao fazer este trabalho senti uma coisa que eu já tinha sentido no “Sob Céus Estranhos”, com as fotografias que retirei dos arquivos do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Fui fotografar fotografias de pessoas que tinham pedido vistos na altura e que não puderam entrar em Portugal. É que elas não me deram autorização para estar aqui, não falei com nenhuma destas pessoas, nem poderia, porque elas morreram praticamente todas na altura. O facto de não lhes pedir autorização e agora estarem sem autorização neste livro e neste DVD ainda me causa um pouco de pudor, de impressão, não há aqui um diálogo. Mas eu precisava das pessoas para ocuparem este espaço. Só as pessoas que habitaram esta cidade é que dão sentido ao projecto. Ainda pensei em trabalhar sobre Terezín hoje, que é uma cidade habitada por três mil checos, deverá ser interessante falar com eles e fazer um documentário. Mas não é disso que estou à procura. O que estou à procura talvez seja do que está debaixo de água. E as pessoas que lá estão hoje estão por cima da água. Há uma imagem que acho importantíssima e que vem no filme, de uma mulher que se olha ao espelho. A falta de privacidade num campo de concentração é fortíssima. Portanto, uma mulher olhar ao espelho... acho que é mais uma das mentiras deste filme. Não sei se as pessoas tinham tempo para se olhar ao espelho, não sei se tinham espelho, não sei se ainda tinham vaidade para se olharem ao espelho. No fundo, este campo de concentração põe em causa todos os outros campos de concentração. “Terezín” é o seu primeiro livro com distribuição verdadeiramente internacional. O tema teve alguma influência nisso? O tema, neste momento, até pode funcionar pelo contrário. Na Alemanha está-se um pouco cansado da temática. O risco que estas temáticas correm é de se esgotarem e de deixarem de chegar às pessoas porque elas já estão cansadas. Quando fiz a escola na Alemanha, tudo o que aprendi em História foi o nazismo. Era tal a preocupação com o ensinamento do nazismo que não aprendi mais nada da História alemã. De cada vez que vinha um professor novo ele sentia necessidade de falar sobre isso. Isso torna-se contraproducente. O que eu acho que ajudou é o livro ser o que é. E teve a sorte de chegar à editora certa. Penso que é um livro diferente da maior parte dos livros de fotografia que se fazem hoje. Desde o meu primeiro livro foi isso que me interessou. A maior parte dos livros de fotografia são “greatest hits”: os fotógrafos juntam as melhores fotografias e põem-nas num livro. Para mim, um livro não é isso. É como um livro de escrita: tem de ter um tema, tem de ter um princípio, um meio e um fim. Algumas dessas fotografias se calhar são boas fotografias, se calhar não são, mas há uma coisa fechada dentro desse livro que não é a obra do fotógrafo. Não há tantos livros de fotografia que sejam assim – pelo mundo fora. Na maior parte dos livros de fotografia tanto faz ver em livro como ver numa exposição ou ver em fotografias soltas, na Internet, etc. Este é um trabalho que foi pensado desde o início como livro. O livro é mais importante do que a exposição que fez no CCB em 2007, que lhe valeu o Prémio BESPhoto? Não penso que na exposição se possa compreender o trabalho. Penso é que se pode ganhar curiosidade pelo tema. As fotografias funcionam como testemunho de um espaço, mas não dão a dimensão e a profundidade e o prazer que dá o livro. Por isso é que apresentei a maqueta do livro na exposição do BES. Aliás, eu cheguei a pensar para o BES só expor o livro. Só que seria demasiado arrojado para uma exposição de fotografia. Se pegar nos meus livros — não são catálogos, eu tenho muito poucos catálogos —, todos eles têm muito mais trabalho do que é possível expor e todos eles têm muito mais informação do que é possível mostrar numa exposição. Quando já estava a produzir o livro, descobriu o autor da fotografia do “Austerlitz”. Quer contar? Fui à Steidl preparar o livro, e é o senhor Steidl que trata de tudo. Quando estava à espera dele, estavam lá os livros todos que a Steidl já produziu e entre eles encontrava-se um livro de Dirk Reinartz, um fotógrafo que eu não conhecia. Que tem este livro sobre campos de concentração que se chama “Deathly Still”, que foi impresso na Steidl. Descobri esta fotografia por um grande acaso. Antes do meu livro ser entregue para impressão decidi acrescentar aquela frase que aparece no final, que era a única página possível, porque achei demasiada coincidência. Foi a última coisa. Achei incrível: ao fim destes anos todos, depois de ter procurado a imagem na Internet, depois de imensas “démarches”... Há pouco falava do túnel: na saída do túnel, de certa forma, está a solução do início do túnel. Se o Sebald tivesse escrito de onde era a fotografia, de quem era a fotografia, provavelmente eu nunca teria feito este projecto. Porque estava já tudo explicado. Ontem, um amigo meu perguntou-me se eu tinha lido o livro do George Steiner, “Os Livros Que Não Escrevi”. Que eu nunca li. Ele diz que um judeu lê um livro com um lápis na mão. Para quê? Para escrever outro livro a partir desse livro. E aqui foi o que aconteceu. Escrevi um livro a partir de outro livro, do Sebald. É uma ideia muito bonita: tudo é transmissão. Tudo vai dar noutra coisa e noutra coisa e noutra coisa. E isso, no fundo, é a história da humanidade. Todas as histórias vão tendo continuidade através das gerações. É o que faz nós sermos seres humanos. Embora às vezes nos esqueçamos. O escritor alemão W. G. Sebald. Blaufuks refere-se a ele como “uma alma gémea” A maior parte dos livros de fotografia são ‘greatest hits’: os fotógrafos juntam as melhores fotografias. Para mim, um livro não é isso 22 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon SCHOOL OF SEVEN BELLS QUINTA 22 BLOOD RED SHOES SEXTA 23 THE PHENOMENAL HANDCLAP BAND 8>G9H&(<$$ WWW.CCVF.PT )bBILHETES À VENDA EM GÈ658C&( MANTA >I@<C&$%$&&<$$ JARDIM DO CENTRO CULTURAL VILA FLOR GUIMARÃES Coleco 10 Livros+CD Ð PVP cada: 5,95Û - Preo total da Coleco 59,5Û. Incio da Coleco: 24 Maio Ð Fim da Coleco: 26 Julho. Promoo limitada ao stock existente. Vou contigo, corao e olum 9.¼ V Julho 19 Dia ry por moÓ ÒA o Car d los + CD Car LIVRO IS MA POR ,95 Û5 CARLOS DO CARMO, 100 CANÍES - UMA VIDA. COLECÌO INDITA DE 10 LIVROS+CD. De Ary dos Santos a Nuno Jdice. Dos poemas musicados aos fados populares da sua Lisboa menina e moa. Carlos do Carmo deu voz e alma a alguns dos maiores xitos do fado e da cano portuguesa. Conhea a obra de uma vida, com textos de Ana Sousa Dias, numa coleco indita de 10 Livros+CD com o Pblico. Os poetas deram-lhe as palavras. Ele deu-lhes a voz. Livros bert compôs a partir de poemas de Wilhelm Müller. Estes 24 poemas formam um conto em que de repente um homem diz: “Boa noite”, sai de casa e atravessa a paisagem sem saber para onde o levam os seus passos, até que encontra um músico feliz com o seu realejo. Chegámos a Wanderburgo. Que é uma cidade imaginária, mas onde o paralelismo com a geografia da Alemanha é total. Quis que ao detalhe se contrapusesse a fantasia. Hans vive como num sonho, nesta errância algures entre Dessau, cidade onde morreu o poeta Müller, e Berlim, uma cidade política. Quis manter uma atmosfera estranha na relação entre o viajante e as pedras e ruas desta Wanderburgo inventada. Como se estas se montassem e desmontassem do dia para a noite. Uma cidade conjectural como as que imaginou Italo Calvino, já no século XX mas com a aparência exacta de uma cidade típica do centro da Europa no início do século XIX. Mas “O Viajante do Século” está longe de ser um romance histórico... Sim, porque desobedece às regras do género. Há um salto ao século XX para contar esta história que decorre no século XIX e esse salto do tempo nunca ocorre no tradicional romance histórico. “O Viajante do Século” está cheio de recursos que pertencem à vanguarda literária do século XX: Franz Kafka, John Cheever. Há descrições quotidianas que lembram Raymond Carver, monólogos interiores que recordam James Joyce, a construção da cidade aponta a Kafka, o espaço visual é cinematográfico, os diálogos são radiofónicos. Nos encontros do salão literário, que são em si uma ideia pesada, solene, os meus perso- nagens por exemplo não falam um de cada vez, interrompem-se em acções e em pensamentos, distraem-se, voltam atrás, seguem em frente. O que acontece se colocarmos um helicóptero dentro de uma carruagem – o helicóptero fica parado ou a carruagem desata a voar? Quis perceber se a partir de fragmentos breves e velozes, se podia manter uma atmosfera lenta. Um híbrido do romance clássico com a narrativa dos nossos dias, nos planos estilísticos, político e estrutural. E assim amarra os séculos XIX e XX. Mas também escreve que “o passado serve de laboratório para analisar o presente”. E o nosso presente é o século XXI. Ao qual pertencem os seis anos que levou a escrever este romance. A minha ideia nunca foi reconstituir o passado, mas sim detectar conflitos que, tendo-se iniciado na primeira metade do século XIX, se instalaram até hoje na nossa sociedade. Quis deixar bem à vista o que o passado pode ter de revelador, os sinais que deixa ao futuro que infelizmente se acabam por “Estamos no universo de Jane Austen. E de repente, esses dois seres românticos tiram a roupa e descobrem que têm estrias, peitos descaídos, sémen” MIGUEL MADEIRA Alemanha, início do século XIX: pela cidade imaginada de Wanderburgo passa um viajante sem rumo definido que decide parar na cidade encantado com o som do tocador de realejo na praça central. Hans, deixa-se ficar. Frequenta o principal salão literário da cidade onde se discute todas as sextas feiras filosofia, política, literatura e um sonho europeu que sabemos hoje se frustrou. No meio das acaloradas discussões conhece a filha do dono da casa, Sophie. Apaixonados, propõemse traduzir juntos o melhor da poesia de toda a Europa. Andrés Neuman, (Buenos Aires, 1977) é autor de vários livros de contos, e de três romances, dois dos quais finalistas do prestigiado Prémio Herralde. “O Viajante do Século” (ed.Alfaguara) é o seu livro mais ambicioso. E foi com ele que passou de promessa a talento consagrado entre a nova geração de escritores nascidos na América Latina. Prémio Alfaguara em 2009, “O Viajante do Século” foi ainda eleito pela crítica como o melhor livro publicado em Espanha no ano passado. Conversar com Andrés Neuman é viajar a grande velocidade. Sem travões. Pela história da civilização europeia dos últimos 200 anos e pelos caminhos do romantismo. Porque se detém de repente este Hans, o viajante, a meio do caminho contrariando logo nas primeiras páginas uma das epígrafes do romance roubada a Georges Steiner: “Os vegetais têm raízes, as mulheres e os homens têm pés”? A culpa é de Franz Schubert: os meus pais eram os dois músicos e eu cresci a escutar “A Viagem de Inverno”, um ciclo de canções românticas que Schu- confirmar. A decepção com os projectos revolucionários começou com o espanto dos intelectuais pela forma como Napoleão exercia o poder. Daí passámos às utopias do comunismo impossíveis de concretizar e que arrastaram na sua queda desilusão e frustração em milhões de pessoas. Em segundo lugar, há este paralelismo entre a revolução industrial e revolução digital. A máquina a vapor e o comboio mudam o conceito de espaço e tempo. Muda o conceito de lugar, o homem passa a deslocar-se mais rapidamente do que a natureza. E isso repete-se com a revolução digital que hoje vivemos. E tudo isto ocorre não porque a história se repita mas antes porque o início do século XIX é na minha opinião o início do presente. Cai por terra, pelo menos para mim, a ideia de que a história é veloz e anda mais depressa do que o homem. E temos Sophie, uma mulher emancipada antes do tempo, que rompe barreiras em nome de um amor romântico. “O Viajante do Século” é um elogio ao romantismo no seu carácter revolucionário? A história romântica entre o viajante Hans e a jovem Sophie tem duas metades bem diferentes: num primeiro momento tudo é subterfúgios, olhares que se cruzam e se desviam com pudor, movimentos quase imperceptíveis de tecidos esvoaçantes, toques de pele subtis. Estamos no universo de Jane Austen. E de repente, esses dois seres românticos tiram a roupa e descobrem que têm estrias, barriga, peitos descaídos, sémen, sujidade. Acaba o idealismo em torno dos corpos e o romance torna-se contemporâneo na forma como é contado. Fala-se de menstruação, algo muito pouco romântico. Tentei mostrar o que se poderia passar dentro da carruagem de Madame Bovary que percorre Paris com as cortinas corridas. No romance de Flaubert sabemos que a carruagem leva o amante lá dentro mas nunca o vemos. Mas mesmo que lá dentro se pratique coito anal, a ideia era manter o nível poético. Tentei que na prosa não se distinguisse entre uma discussão filosófica sobre Kant, uma tradução de Bocage e uma descrição de uma qualquer axila. E quando não estão a fazer amor, Hans e Sophie traduzem poesia. A tradução é também um dos temas essenciais deste romance: a forma como traduzimos o passado no tempo presente. A história de amor entre Hans e Sophie demonstra como o amor se pratica traduzindo: gestos, silêncios, as tuas palavras através das minhas palavras. Toda a tradução é um acto de amor. Hans e Sophie têm o objectivo ambicioso de traduzir toda a poesia europeia de todas as línguas: esta ânsia de tudo traduzir antecipa o diálogo de culturas, a ideia de uma Europa de civilizações e até de ferramentas como o Google. Andrés Neuman quis desobedecer às regas do romance histórico Ver crítica de livros págs. 44 e segs. Três séculos: um só romance “O Viajante do Século” tem a ambição de nos pôr a olhar para um espelho com o passado lá dentro. Conversar com Andrés Neuman é viajar a grande velocidade. Rui Lagartinho Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 25 Jerem os seus Este é um filme sobre pessoas, Angola Project” é uma “performan ENRIC VIVES-RUBIO Teatro “The Angola Project” começou há alguns anos e, no momento em que chega a Lisboa para um espectáculo, hoje, no Teatro Maria Matos, o seu caminho ainda não se esgotou. É uma “performance” com vídeo do actor, bailarino e também realizador norte-americano de 38 anos Jeremy Xido sobre a vontade de fazer um “road movie” e contar a história de dois irmãos que partem de Portugal em busca da casa que a mãe angolana lhes deixou no interior de Angola. O caminho dos dois irmãos cruza-se com o de Simão Branco de Sousa, ex-soldado angolano a quem a guerra civil tomou a adolescência, também ele num regresso às origens, da costa para o Planalto Central. Na génese ou no meio deste projecto de “performance”, encomendada a Jeremy Xido pela Transforma Associação Cultural (organização de artes performativas com sede em Torres Vedras), estão outras histórias: de uma diáspora angolana em Lisboa e de uma comunidade asiática activa na reconstrução de Angola. Ambas reflectem um mundo em transformação, com novos protagonistas do século XXI, muito diferentes dos que dominaram o século XX com lutas por uma hegemonia mundial. Nesse “road movie” ainda imaginário, cujas imagens são a matéria-prima principal da “performance” de Jeremy Xido, cruza-se ainda a história do próprio realizador, “único miúdo branco num bairro de negros em Detroit”, e de como, por falta de financiamento, ainda não foi possível realizar este filme sobre Simão Branco de Sousa e os dois irmãos, personagens inspiradas das entrevistas que Xido fez a jovens angolanos em Portugal. A “performance” foi pretexto para o actor e bailarino falar ao Ípsilon, já em Lisboa, das ligações reais e imaginárias a África e de um país, Angola, oito anos depois do fim da guerra. Xido: “Os dois irmãos são europeus e têm uma relação com Angola completamente imaginária, como a relação com África que nós tínhamos a partir de Detroit. Quando chegam a Angola, encontram um mundo onde os chineses estão a reconstruir os Caminhos-de-Ferro de Benguela, e uma rapariga chinesa que é mais angolana do que qualquer outra pessoa. As identidades e noções de raça estão viradas do avesso. As pessoas estão a lidar com o passado e à procura do significado das suas raízes. Era esse o território de partida.” Como diria Xido a potenciais financiadores do seu projecto: “Este é um filme sobre pessoas, esperança, medo e redenção.” Isso num primeiro pla- 26 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon no, o das pessoas, que se sobrepõe ao de um mundo global em mutação. Se o filme existisse mesmo, teríamos, de um lado, Simão como testemunha da História a passar por um território (antes destruído) em mudança e, do outro, os dois irmãos, filhos de uma independência tardia das ex-colónias de Portugal, heróis de um futuro em que “todas as hierarquias e regras estão invertidas”, em que “há liberdade de identidade”. Fascínio e presença africana No princípio de “The Angola Project”, há uma descoberta que se torna força motora do projecto. Xido: “A primeira vez que vim a Lisboa [em 2006 ou 2007] fiquei fascinado com a presença africana. Em parte por causa de onde eu venho. Venho de Detroit, Michigan. África era uma questão imensa na minha infância. Todas as pessoas no meu bairro estavam fascinadas com África mesmo sem saberem onde era. Depois, apercebi-me aqui em Portugal de uma presença africana muito antiga, totalmente diferente de tudo aquilo que eu conhecia dos Estados Unidos e outras metrópoles na Europa. Achei que era uma relação muito mais antiga e directa com África, enquanto para nós era uma relação com um lugar imaginário sem realidade física.” Num segundo momento, mas quase em simultâneo com esse fascínio fundador (que revela a Jeremy Xido algo sobre ele próprio e o lugar de onde vem) há a frase de uma estudante do Sul de Angola – “A Europa morreu, Angola é o futuro” – numa das entrevistas com a comunidade angolana em Portugal. Xido: “Ela era africana, e não estava a falar no sentido de que ‘não há futuro para mim aqui’, era no sentido de que não há futuro para ninguém jovem, não há sentimento de excitação ou potencial ou entusiasmo, mesmo para os jovens portugueses. As pessoas estão cansadas, não há uma força mitológica que as mova. Para ela, pelo contrário, havia um mito muito poderoso que estava vivo.” A essa força, juntou-se essa ideia latente do declínio de antigos poderes e do começo de novos. Xido: “Entre o grupo de jovens entrevistados havia este sentimento de futuro e de possibilidade em África que não havia da Europa. Fiquei espantado com esta constatação de que há enormes mudanças nos equilíbrios geopolíticos e de poder com a Ásia e a África. A proeminência da China como uma potência mundial, a mudança no papel que a África my Xido Angola com s universos paralelos esperança, medo e redenção. Ou virá a ser, quando tiver financiamento garantido. Para já, “The ce”, com vídeo, texto e imagens de uma Angola que nos revela um mundo novo. Ana Dias Cordeiro Branco, se com isso houver mais hipóteses de financiamento. Mas tudo são ainda interrogações. Xido: “O meu objectivo é talvez fazer os dois [filme e documentário], ou um filme na fronteira entre o documentário e a ficção, que é o que nós, Cabula6, como companhia de teatro, fazemos, entre o que é real e o que é fabricado, jogando com o poder da realidade e o poder da ficção.” A companhia Cabula6, de Jeremy Xido e Claudia Heu, foi distinguida como “Companhia do Ano de 2009” pela revista “Ballettanz” e galardoada com o “Outstanding Artist Award – Intercultural dialogue 2010”, pelo Ministério da Cultura austríaco. O seu trabalho, posto em cena e mostrado na Internet, é visto como criador de uma arte de distância do teatro e de aproximação à literatura. Século de oportunidades “[Em Angola] encontrei um mundo muito à frente da Europa, como uma fronteira onde as identidades e designações de identidades são mais fluidas e as pessoas podem ser coisas que não sabíamos que podiam ser” Jeremy Xido que imaginou. E muito mais “freaky” (bizarro e estranho), o que na cabeça de Xido é positivo, no sentido de “complexo e inesperado”, mesmo que o que encontrou em Luanda não lhe tenha inspirado um sorriso. Na capital angolana, Xido viu “coisas confusas”, como grandes edifícios de escritórios com as luzes indicadoras sempre ligadas à noite, ao lado de bairros inteiros sem luz nas ruas e nas casas onde vivem as pessoas. A vibração, sentiu-a no resto do país. podem ser coisas que não sabíamos que podiam ser. Havia gente de todo o mundo, suecos e dinamarqueses, alemães da Baviera, com bigodes gigantes e planos para construir fábricas de cerveja. E chinesas que acabaram de se licenciar e estão a dar a volta ao mundo. Na China, a tradutora [a trabalhar no complexo de construtores] teria que corresponder a um certo papel enquanto mulher na sociedade. Em Angola, era a pessoa mais importante do complexo.” Xido: “Em Benguela conheci médicos russos e cubanos, construtores das Filipinas, soldados e prostitutas e trabalhadores por conta própria vietnamitas, que me convidaram a entrar na sua vida nocturna homossexual de Benguela, que eu não fazia ideia de que existia. Bizarro. Encontrei um mundo muito à frente da Europa, como uma fronteira onde as identidades e designações de identidades são mais fluidas e as pessoas Num bar de kuduro, na última paragem da linha dos Caminhos-de-Ferro de Benguela, Xido encontrou “pessoas a arrastar cabras, soldados bêbedos, uma mulher com uma ferida de bala na cabeça que batia no homem ao seu lado, um travesti que falava sozinho”. Encontrou “o que imaginava ser a realidade nos ‘westerns’ americanos, como um bar de fronteira”. Sentiu que estava num “saloon” futurista, do século XXI. O século de Angola? O filme (ou documentário) vai tomando forma na cabeça de Xido (e é isso que ele mostra na sua “performance”). Passa pela história de Simão Branco nesse regresso à províncias do Huambo e do Bié, que também ele ajudou a destruir, e na sua procura de um emprego na empresa chinesa que está a reconstruir a mítica linha dos Caminhos-de-Ferro de Benguela. Essa linha é quase inversamente paralela à rota dos escravos que saíam do coração de África, levados para o outro lado do Atlântico. Xido não sabe ainda se o seu filme será uma ficção, um documentário ou algo entre os dois pode ter no século XXI e o declínio da Europa e dos Estados Unidos como poderes hegemónicos no mundo. Neste virar de mesa, nesta inversão de papéis, encontro uma sensação de liberdade que me fascina.” Se há esperança num território destruído por uma guerra do século XX, também haveria para o filme de Xido que ninguém ainda quis financiar. Como se Angola demonstrasse que “há alternativas a tudo aquilo que havia no século XX”. Como se a História não tivesse sempre que ser contada pelos vencedores (ou pelos que têm o dinheiro). Para isso, basta encontrar alternativas. O filme-ficção sobre os dois irmãos pode passar a ser um documentário, mais centrado em Simão Xido: “Aqui estávamos nós na linha transcontinental de Benguela, construída pelos britânicos, a pedido dos portugueses, ao longo das antigas rotas de caravanas de escravos por onde passaram antepassados de pessoas como as que vivem no meu bairro. A mesma linha que no século XX foi bombardeada e minada pelas potências envolvidas na Guerra Fria e que agora está a ser reconstruída por empresas da China, a nova potência dominante emergente no mundo.” Mais do que uma vez, na “performance”, Xido diz: “Estamos no século XXI.” Quase sempre em sinal de esperança e a lembrar que o seu filme ainda virtual olha para o futuro. Se, no passado, não havia esperança de conseguir apoios para um filme com protagonistas negros, no século XXI isso não só é possível como é comum encontrarem-se e contarem “histórias em que os brancos são totalmente irrelevantes”. “É uma maneira importante e nova de contar o mundo”, acrescenta. Saloon futurista Em Benguela, ou mais para dentro do coração de Angola, Xido encontrou um mundo muito mais vibrante do Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 27 festival É um dia calmo lá em casa. A campainha toca. Espreita-se pelo óculo da porta para ver quem é. Vislumbra-se um homem baixo, cabelo com gel, roupas coloridas, sapatos de salto alto e Bíblia na mão. Pensamos ser um sósia de Prince. Depois o homem fala, diz que quer falar connosco sobre Deus, fica-se curioso e abre-se a porta. E às tantas percebe-se que não é um sósia. É mesmo ele. Em Portugal não se corre esse risco. Mas em pequenas cidades do interior dos Estados Unidos, nos últimos dez anos, tem acontecido. A maior parte das vezes não é reconhecido. Às vezes enverga até uma roupa mais comedida e faz questão de metamorfosear o cabelo. Mas muitos já apanharam o sobressalto da vida, abrindo a porta a uma testemunha de Jeová e acabando a falar com uma das maiores estrelas pop das últimas três décadas. A história vem contada no jornal inglês “Daily Mirror”, que distribuiu gratuitamente o seu último álbum, “20Ten”, na edição de sábado passado, mas tem sido reafirmada ao longo dos últimos anos em vários artigos de imprensa. Prince é Testemunha de Jeová, professando com convicção, inclusive no porta a porta. Nada disso interessava, se ele não estivesse de regresso. Há o ál- bum novo, provavelmente o seu melhor desde “Sign ‘O’ The Times” (1987). Houve uma aparição recente, em Paris, ao lado de Stevie Wonder. Há essa relação de admiração em relação à fadista Ana Moura, que o levou a assistir a um espectáculo seu em Paris o ano passado. Dessa relação resultará a interpretação, em estreia, e em dueto, no Meco, de “Walk in sand”, uma canção do último álbum dele, composta a pensar em Portugal. E há uma série de concertos recentes entusiasmantes, como há 15 dias no festival Roskilde, da Dinamarca, perante 70 mil pessoas, onde tocou sucessos de sempre (“Kiss”, “Little red corvette”, “1999”, “Let’s go crazy”, “Purple rain”) e versões surpreendentes como “Le freak” dos Chic, “Shake your body” dos Jackson 5 ou “Everyday people” de Sly & The Family Stone. E há, claro, esse concerto no Festival Super Bock Super Rock, no Meco, no próximo domingo, pelas 23h45. Curiosamente é um evento onde se poderão encontrar alguns dos seus descendentes como Jamie Lidell (hoje, 19h) ou Mayer Hawthorne (hoje, 20h10), para além de muitos outros pontos de interesse provenientes da pop electrónica, como os Cut Copy (hoje, 21h20) e Hot Chip (sábado, 22h30), do rock menos convencional, como os Grizzly Bear (hoje, 23h30), Ele admira a fadista Ana Moura. Os dois vão cantar em dueto “Walk in sand”, a canção que ele compôs a pensar em Portugal Julian Casablancas abllancas (sábado, 21h), Vampire Weekend Wee ekend (sábado, 23h50) e National (do (domingo, omingo, 21h30) ou das linguagens ns dançantes, d como Richie Hawtin tin (hoje, ( 01h). m sabe sa abe o que irá aconteNinguém cer exactamente amente no Meco. A imprevisibilidade lida ade ainda faz parte dele. Quem m o viu em Portugal (em 1993 no Estádio stád dio de Alvalade e em 1998 no Pavilhão avilh hão Atlântico e, horas mais tarde, e, no o Lux, num concertosurpresa onde ond de se fartou de improvisar) sabe-o. e-o.. Mas é previsível que se apresente nte e com um naipe alargado de músi músicos icos e bailarinos. Que demonstre e uma u excelente forma física aos 52 anos. a E que apresente êxitos – ficando and do de fora os que possuem carga ga e erótica rótica mais explícita, talvez – misturados mistu urados com canções do novo registo. egissto. Apesar da sua devoção a Deus, O nome dele é não é costume evocá-lo directamente em palco, embora as canções do novo disco tenham sido influenciadas pela sua fé. Isto ao nível das letras. Do ponto de vista sónico é o seu disco, desde há muito, que mais investe na fisicalidade e no dinamismo rítmico. Há um balanço sensual como em “Sign ‘O’ the Times”, economia minimalista como no álbum “Parade” (1986), rasgos de electro-funk como em “1999” (1983) e os habituais solos de guitarra, pianadas jazzísticas, sintetizadores que parecem fanfarras e o registo em falsete. Não constituiu, evidentemente, uma revolução. Mas é o seu disco mais inspirado de há muito tempo, visível em canções como “Compassion”, “Sticky like glue” ou “Everybody loves me”. Hoje em dia diz-se um homem tranquilo, apesar de continuar em luta com a indústria tradicional da música e com a Internet, procurando novas formas de distribuir a sua música. Os jornais são apenas uma delas – para além do “Daily Mirror” inglês, também o “Daily Record” da Irlanda e o “Het Nieuwsblad” belga distribuíram o seu álbum gratuitamente no sábado e a “Rolling Stone” alemã irá fazê-lo a 22 de Julho. Ao contrário da maior parte das estrelas pop, Prince e ainda é funky O festival começa hoje, no Meco, com Pet Sh Shop hop Boys ou Grizzly Bear. Mas é no domingo que actua o nome mais aguardado, Prince, que acaba de lançar novo ov vo álbum e interpretará uma canção, inspirada em Portugal, rtu ugal, com a fadista Ana Moura. E conseguirá ele mostrar ar que não existe contradição em ser-se testemunha de e Jeová J e celebridade da cultura pop? Vítor Belanciano an no 28 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon Música Sexta, 16 Palco Super Bock Pet Shop Boys: 00h40-02h10 Keane: 22h40-23h55 Cut Copy: 21h20-22h20 Mayer Hawthorne & The County: 20h10-21h00 Jamie Lidell: 19h00-19h50 Palco EDP Grizzly Bear: 23h30-00h30 The Temper Trap: 22h00-23h00 Beach House: 20h40-21h40 St. Vincent: 19h35-20h20 Godmen: 18h45-19h15 Palco @Meco M-Nus Showcase: 22h00-04h00 Richie Hawtin Marco Carola Magda Sábado, 17 Palco Super Bock Leftfield: 01h30-02h30 Vampire Weekend: 23h50-01h05 Hot Chip: 22h30-23h30 Julian Casablancas: 21h00-22h10 Tiago Bettencourt & Mantha: 19h40-20h30 Palco EDP Patrick Watson: 23h10-00h20 Rita Redshoes: 21h40-22h40 Holly Miranda: 20h20-21h20 Sweet Billy Pilgrim: 19h20-20h00 Malcontent: 18h30-19h00 Palco @Meco Ricardo Villalobos & ZIP: 01h0004h00 Bloop Showcase: 22h00-01h00 Magazino Joao Maria Jose Belo Henriq & Bart Cruz: 21h00-22h00 Domingo, 18 Palco Super Bock Empire of the Sun: 02h00-03h00 Prince: 23h45-01h15 The National: 21h30-22h45 Spoon: 20h20-21h10 Stereophonics: 19h10-20h00 Palma’s Gang: 18h00-18h50 Palco EDP John Butler Trio: 23h05-00h05 Sharon Jones & The Dap Kings: 21h45-22h45 Wild Beasts: 20h25-21h15 The Morning Benders: 19h20-20h05 Stereo Parks: 18h30-19h00 Palco @Meco Laurent Garnier Live: 02h30-04h00 Rui Vargas & André Cascais: 00h30-02h30 Zé Salvador: 23h00-00h30 Hi-Tech²: 22h00-23h00 Mary B: 21h00-22h00 Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 29 Al Green Madonna Serena e Venus Williams Bob Dylan Cat Stevens Aprender a rezar na era da estética Prince não é excepção. Muitas são as estrelas – da música e não só – que fizeram da sua conversão espectáculo. A fé nasce, sobretudo, do desespero? João Bonifácio Houve um certo bruá quando se soube que o ex-debochado Prince tinha decidido entregar a sua alma à religião, mais propriamente às Testemunhas de Jeová. Um certo barulho mas menos, muito menos, do que aquele com que, há vinte e tais anos, Bob Dylan teve de lidar por causa dos seus problemas com a fé. Muito provavelmente, desde Kierkegaard que ninguém teve tantos problemas com a fé como Bob Dylan. Ou, de forma ainda mais precisa, nenhuma celebridade teve tantos problemas com a fé como Bob Dylan. Para sermos absolutamente exactos, não há nenhuma prova de que Dylan tenha de facto tido problemas com a fé visto nunca o bardo ter dito duas palavras sobre ter-se tornado cristão novo. Os problemas pertencem exclusivamente aos outros: os fãs da fase folk, os fãs da fase eléctrica, os fãs socialistas, os fãs do lado cínico, os músicos, os jornalistas. Essencialmente isto – os jornalistas. Por que é que um homem como Dylan, que para os homens do papel e da caneta era simplesmente a) o profeta acabado de b) uma geração que tinha corrido mal (a primeira premissa está errada, a segunda certa), haveria de aderir a uma religião minoritária e obscura, assim lançando (ainda mais) sombras sobre a sua carreira? É curioso que nunca ninguém coloque a pergunta quando se trata de músicos negros, quase todos invariavelmente devotos. Talvez o facto de Dylan ser judeu tenha aumentado o “escândalo” – que ainda dura e alimenta páginas de revistas e livros até hoje. Os judeus são muito ciosos dos seus. São capazes de aceitar as ovelhas tresmalhadas que gozam com o seu povo, desde que tenham sucesso (Woody Allen, Roth, Larry David), mas não perdoam abandonos. Excepto no caso de Leonard Cohen, que por mais budista que se tenha tornado sempre afirmou nunca ter deixado de ser judeu. A religião como refúgio Ao lado de Dylan nas conversões religiosas que deixaram o mundo surpreendido, só mesmo Cat Stevens, hoje conhecido por Yusuf Islam, devidamente convertido 30 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon A lista de estrelas do entretenimento que ofereceu a alma ao Criador da sua eleição após ter encontrado a fama é imensa ao islamismo como o nome indica. O caso de Stevens está provavelmente mais próximo do que hoje acontece com a maior parte das celebridades do que o caso de Dylan. O bardo era um experimentador, um eterno irrequieto que um dia acordava cínico, noutro Don Juan, a seguir pai de família, às quartas era bluesman, às quintas literato e às sextas melómano. Ser religioso era uma experiência como outra qualquer. Mas para Stevens o islamismo foi uma forma de sobrevivência. Compositor de folk sensível, lançado para o estrelato do dia para a noite, Stevens sentiu a fama como uma queda interminável no vazio, agarrando-se à heroína com a força dos fundamentalistas. Quando a heroína deixou de o ajudar, o islamismo estava lá para funcionar como rede. O caso foi ainda mais badalado porque, a partir daí, a carreira de Stevens deixou praticamente de existir. Não foi o único caso em que uma conversão religiosa deitou uma carreira a perder: o soulman Al Green, quando decidiu deixar de cantar “secular music”, isto é, música pagã, tornou-se uma pálida imagem do que havia sido até aí. (Por outro lado, nem todas as conversões redundaram em fracaso: Lew Alcindor atingiu a fama já como Kareem-Abdul Jabar, extraordinário basquetebolista dos Lakers. Mohamed Ali teve os seus grandes momentos já depois de se tornar muçulmano.) Mas Stevens e Al Green são um bom símbolo do que acontece nos dias de hoje: homens que, devorados pela fama, procuraram refúgio na religião. No caso de Green tratou-se de um ataque de uma namorada furiosa com a sua promiscuidade a espoletar a conversão. Nestes casos estávamos perante religiões clássicas. Mas quando olhamos para as primeiras páginas dos jornais a reacção mediática às conversões de fé das estrelas está mais próxima da que Dylan enfrentou: é como se, de repente, aqueles seres inatingíveis e perfeitos se entregassem a algo de obscuro que, possivelmente, terá ligações com o oculto. A lista de estrelas do entretenimento que ofereceu a alma ao Criador da sua eleição após ter encontrado a fama é imensa: Madonna vota na Cabala e não contente com isso fez Britney Spears juntar-se a ela. Ao mesmo clube aderiram Demi Moore e marido (Ashton Kutcher) e Victoria Beckham. Tom Cruise & senhora alinha pela Cientologia, que entretanto já arrecadou Beck e uma data de colunáveis de Hollywood. Há outros casos de adesão mais ou menos profunda à fé. Richard Gere, um homem conhecido por ser capaz de franzir o sobrolho à maneira de Richard Gere mesmo com palitos a içar-lhe o sobrolho é um (aham) estudioso devoto do budismo há muito. As manas Williams (as tenistas) são testemunhas de Jeová. Isto é tudo gente que há muito encontrou numa qualquer forma de fé um sustentáculo da sua vida, por oposição a quem de repente descobriu a luz. É que há ligeiras diferenças entre as opções que se tomam. A monumental adesão de VIP com vivendas em L.A. à Cabala soa quase a moda. Esta não é uma opinião pessoal – é uma opinião de quem estuda e pratica religião como última finalidade de vida, mais propriamente do rabi David Wolpe do Conservative Sinai Temple de Los Angeles (portanto, habituado às idas e vindas de deslumbrados da fé). Aquando da súbita conversão de Madonna à Cabala, pediram ao rabi um comentário. Homem avisado, disse apenas: “As almas não crescem com respostas simples. Fitas vermelhas [como a que Madonna usava em sinal de culto à Cabala] e garrafas de água mágicas não mudam o mundo e não mudam as pessoas.” Não é difícil ver as adesões à cabala como uma simples moda a que se presta gente com demasiado tempo para gastar. A Cientologia parece outro território – ninguém que lá entre abre a boca sobre a instituição, o que faz sentido se analisarmos com calma os pressupostos “teológicos” que a regem. Fé e identidade Faz sentido que estrelas adiram a um culto tão cerrado. ado. O mundo dessas estrelas é o da idolatração contínua, em que uma ma parte do ego se rege (e reage) age) a algo tão vago quanto a sua suposta o que na popularidade – algo nsurável, realidade não é mensurável, ancária. excepto na conta bancária. Convenhamos que não há-de ser ituado a ser saudável estar habituado visto por milhões, a ser seguido por milhões, a definir cada um ssível reacção dos passos pela possível go assim dá desses milhões. Algo cabo da identidade.. A proverbial tão do e adolescente questão á certamente “Quem sou eu?” fará sentido na cabeça de pessoas sso sem um que não dão um passo hadores séquito de aconselhadores tá lá que, por norma, está abar a apenas e só para gabar estrela e para lhe mostrar undo está como o resto do mundo contra ela. Assim sendo faz sentido que nvertido à Prince se tenha convertido religião das manas Williams. Em xplicitamente 1982 ele escrevia explicitamente sobre um método que tinha vontade de pôr em prática para sentir o sabor de uma vés de um boca feminina através sistema perceptivo altamente ndanamente desenvolvido e mundanamente is. Em 2010 conhecido por pénis. nspirações ele acredita em conspirações químicas (tal como Beck) e acha que o mundo está aí para dar cabo de nós. entido se Faz tanto mais sentido pensarmos que há mais de os que uma dezena de anos m números Prince não vende em randiosos, verdadeiramente grandiosos, se pensarmos que hoje ele é o u os tipos tipo que influenciou O que implica que estão no topo (O que ele não esteja no topo). Há az Prince uma quantos anos não faz canção memorável?? Essa simples o se está no noção, de que já não topo do mundo, de que as Kim Basingers de hoje prefeririam um Justin Timberlake ao velhadas que escreve “Sign the times”, é coisa para dar cabo do ego de um “entertainer”. Um “entertainer” vive dos aplausos. Quando os aplausos rareiam raras vezes o “entertainer” aceita que são as regras do tempo. Por norma, como “Sunset Boulevard” tão bem demonstrava, há um certo desespero que se apodera destes tipos que antes tiveram tudo e que se movem em meios onde é obrigatório fruir tudo o que se tem à disposição: todas as drogas, todas as mulheres, todos os contactos sociais, todos os carros, todas as capas de jornais. Quando isso se vai embora, vem a fé. Duvida-se que essa fé seja fruto do estudo e apostase que nasce do desespero. festival proibiu o YouTube e o iTunes de utilizarem a sua música e nem sequer tem sítio oficial na Internet. Numa entrevista recente afirmava que a Internet está acabada. “Não vejo por que é que hei-de dar a minha música ao iTunes ou a quem quer que seja. Não me pagam um avanço e ainda por cima ficam zangados, quando não conseguem o que querem.” Para ele, a Internet é como a MTV. “A MTV era o máximo e de repente ficou datada.” Quase não dá entrevistas, faz os concertos que quer, lança discos quando lhe apetece. Diz-se satisfeito com o que tem. E tem ainda muito. Continua a ter Paisley Park, perto de Minneapolis, um complexo de edifícios e estúdios que é sinónimo de Prince, como Neverland era de Michael Jackson. Mas algo mudou há muitos anos. Tudo terá começado em 1996, quando o filho começad Gregory faleceu, sete dias depois de ter na nascido. Logo de seguida foram os p pais, o pianista John L. Nelson e a cantora c jazz Mattie Shaw. A mãe era testemunha de Jeová e o seu desejo d final foi que o filho se conve convertesse. Nesse período crítico – par para além das mortes incompatibilizou-se com editoras – apropatibilizo ximou-se de Larry Graham, baiximou-s xista e fundador fu dos Sly and the Family Stone, S que lhe disse que havia recuperado rec de uma vida de drogas e violência pelo facto de ser teste testemunha de Jeová. E a conversão aconteceu. a Deu la largas somas de dinheiro para cau causas em todo o mundo e o homem que q era conhecido por coleccionar casos (Kim Basinger, lecciona Sheena Easton E ou Cármen Electra) tornou-se monogâmico. A sua natornou-s morada a actual é Bria Valente, cujo álbum d de estreia produziu o ano passado. Ela também é testemupassado nha de Je Jeová. Ele diz que estudam cinco horas ho por dia. Hoje, quando lhe falam das letras libidinosas e da capa de discos como “Lovesexy” onde surge nu, limita-se a sorrir e diz que “vive agora, não no passado”. passado Ao longo lon de 30 anos de carreira, vendeu mais de 100 milhões de álbuns. A década de 80 foi a sua fase mais mai cintilante, aquela que marcou definitivamente os caminhos da música popular, em álbuns com como “Dirty Mind”, “Controversy”, “1999”, “Purple Rain”, troversy “Parade” e “Sign ‘O’ Times”. Na “Parade alvorada dos anos 80, em pleno período pós-punk, não era fácil gostar dele. d Não era só a música, de econo economia narrativa, capaz de congregar num só miligrama pop, congrega funk, soul, so folk ou rock & roll de forma la lasciva e apaixonada, era também o visual e a atitude extravagante, num tempo onde o travaga artifíc artifício e o excesso não eram paradigmas reinantes. parad Era como se conseguisse sintetizar o que vinha de trás – tetiz Não vejo por que é que hei-de dar a minha música ao iTunes. Não me pagam um avanço e ficam zangados, quando não conseguem o que querem Marvin Gaye, Miles Davis, Chic, Sly & The Family Stone ou Beatles –, ao mesmo tempo que prenunciava quase tudo o que iria marcar a música negra pop, e não só, das próximas décadas – Pharrell Williams, Kenye West, Justin Timberlake, Timbaland, Beck, Jamie Lidell ou OutKast. Durante muitos anos, coincidente com os anos de ouro da MTV, insistiu-se numa rivalidade com Michael Jackson. Mas eram de mundos diferentes. Jackson era o homem que tentava sempre ajustar-se ao centro do mercado. Prince simplesmente não queria saber. Era uma mente livre. E excêntrica. Famosas ficaram as digressões faraónicas e os seus caprichos. Há sete anos, em Miami, num debate sobre a indústria da música moderado pelo falecido Tony Wilson, da editora Factory, era apontado como o caso típico do músico esbanjador. Na altura, Casey Spooner (dos Fischerspooner) estava em estúdio com músicos de Prince, que lhe contavam histórias do género desta: “Era capaz de dar um concerto em Roma, depois tocar num clube local e, na mesma noite, voar no seu avião particular para o seu estúdio em Minneapolis onde tinha os seus músicos à espera para registar uma ideia que havia tido nessa mesma noite. Depois, no dia seguinte, regressava à Europa para mais um concerto!” Longe vão os tempos em que cantava, no princípio dos anos 90, “My name is Prince and i am funky”, como forma de tentar conquistar público do universo hiphop, apostando numa linguagem mais afirmativa. Hoje já não tenta ser quem não é. É verdade que já não quer expandir a paleta da sua música, como aconteceu nos anos 80 e primeira metade dos 90, em que cada novo álbum seu era um desassossego de novidade. Hoje limita-se a fazer álbuns à Prince, ou seja, exactamente o mesmo que a maior parte dos agentes da pop moderna tenta fazer. A próxima vez que uma testemunha de Jeová vos inquirir, já sabem, olhem para os sapatos. Nunca se sabe. Pode ser Prince. Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 31 Pet Shop Boys Pop coreográfica Recentemente, no terreno do rock, no festival Glastonbury, foram coroados como os grandes triunfadores. Conseguirão os Pet Shop Boys fazer o mesmo, hoje, no Meco? Neil Tennant acha que sim. Vítor Belanciano [o falecido realizador de cinema] Derek Jarman criou um ‘show’ multimédia que nos fez acreditar que existem muitas maneiras de expor a nossa música. Temos ideias, gostamos de colaborar com artistas de outras áreas, sentimos que este é um campo ainda pouco explorado, pelo que continuamos a experimentar.” Hoje à noite ouvir-se-ão previsivelmente muitos sucessos dos últimos 25 anos (“West end girls”, “Suburbia”, “Go west”, “Always on my mind”, “It’s a sin” ou “What have I done to deserve this?”) e também algumas canções do último álbum, “X”, o seu décimo longa-duração de estúdio, lançado o ano passado. Nesse disco entregaram a produção à equipa Xenomania (Girls Aloud, St. Etienne), o que parece ter funcionado, não só criativamente, como em termos comerciais, com a dupla a alcançar um sucesso nos Estados Unidos como nunca sucedera. Da electrónica ao ballet Foi sábado, logo pela manhã, dia em que completava 56 anos, que falámos com Neil Tennant pelo telefone, enquanto este tomava o pequeno-almoço. Não sabíamos que era o seu dia de aniversário, daí que quando introduzimos a primeira pergunta se tenha rido. Dissemos-lhe que havíamos entrevistado há pouco tempo James Murphy dos LCD Soundsystem, que havia confessado estar saturado de grandes festivais, porque sentia que o design, o invólucro, a forma como são pensados, não era para pessoas com 40 anos, como ele. “Ele disse isso? Gosto imenso de James Murphy, adorava trabalhar com ele e compreendo-o, mas não concordo. Pelo contrário, cada vez mais em Inglaterra os grandes festivais são imaginados para gerações de pessoas mais velhas.” 32 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon No Meco, os cabeças de cartaz serão eles e Prince, outro também na casa dos 50 anos. “É natural, temos uma carreira e um percurso. É engraçado, porque nos sentimos muito mais à vontade hoje em dia a actuar em festivais do que no passado. No princípio, víamo-nos essencialmente como um projecto de estúdio. Hoje não, desfrutamos mais. Não temos nada a perder. É muito bom.” No recente festival Glastonbury, o mais importante ao ar livre no Reino Unido, deram um dos concertos mais festejados, apesar de, segundo Tennant, a cultura rock ainda ter muitos preconceitos em relação ao tipo de espectáculo que os Pet Shop Boys apresentam. “A imprensa, e toda a lógica da indústria da música, ainda vive segundo os códigos do rock de há 40 anos. E isso acaba por ter um peso imenso sobre a forma como as pessoas pensam e vivem as coisas da música. É um tremendo disparate, claro. Os concertos rock não mudaram quase nada nos últimos 50 anos? Por quê? Porque existe esse poder paralisador que faz crer que as coisas da música têm de ser vividas de uma certa forma.” E como é um concerto dos Pet Shop Boys? Tem um conceito. É cuidado visualmente. É teatralizado. “É excitante”, diz Tennant. “Pelo menos é essa a intenção.” No Meco haverá bailarinos com cubos na cabeça, projecções, um misto de design e coreografias, com o cantor e o cúmplice Chris Lowe no centro dos acontecimentos. “Poderíamos fazer uma ópera, mas apetece-nos fazer isto. Quando fizemos a primeira digressão, em 1989, Nos últimos tempos, por causa do êxito de cantoras americanas, como Lady GaGa, ou de inglesas, como La Roux, o nome dos Pet Shop Boys tem sido evocado como grande referência, quando se fala do regresso da pop electrónica ao centro do mercado. “Não sei se existe um regresso, a pop electrónica sempre esteve por aí”, diz Tennant. “Nos EUA, sim, parece-me que o sucesso de Lady GaGa tem sido importante para abrir uma série de portas. La Roux é diferente, é revivalista de mais para mim. Os anos 80 já lá vão.” Algumas das melhores canções do duo são tocadas pelo equilíbrio instável entre ritmos electrónicos, ambientes melancólicos, arranjos faustosos e a voz de Tennant, que parece quase sempre monocórdica. Durante muitos anos eram irónicos, sarcásticos até, não só nas canções, como na relação com a imprensa. Hoje dizem-se mais descontraídos em relação ao assunto. “Somos um pouco irónicos, sim, mas é uma questão de humor, e não de pose. Nunca tivemos necessidade de nos afirmar dessa forma, mas a partir de determinada altura, como reacção ao facto de a imprensa rock nos considerar frívolos, começámos mesmo a personificar essa frivolidade, por excesso, brincando com isso, nada mais.” Apesar dos festivais, o duo tem eshar num novo projecto. tado a trabalhar Foram convidados vidados pe- lo teatro londrino Sadler dler Wells a trabalhar em conjunto com o coreógrafo grafo Javier de Frutos tos e com o Royal yal Ballet numa ma adaptação de uma história a do naescritor dinamarquês Hans ns Christian Anndersen. “Da pop para o ballet? Porque “Somos um pouco irónicos, sim, mas é uma questão de humor, e não de pose. Nunca tivemos necessidade de nos afirmar dessa forma, mas a partir de determinada altura, como reacção ao facto de a imprensa rock nos considerar frívolos, começámos mesmo a personificar essa frivolidade, por excesso, brincando com isso, nada mais.” não?”, ri-se Tennant. “Sempre nos interessou trabalhar com outras pessoas, noutros contextos. Ao longo dos anos temos composto para pistas de dança, fazê-lo para uma companhia de dança parece-nos uma evolução natural”, diz, adiantando apenas que a música será se tocada por uma orquestra e nã não pela dupla. No Meco, M na noite de hoje, tocarão jjá depois da meia-noite (00h40). Apesar da semana de (00h4 atraso, talvez ainda seja possível atraso improvisar um “parabéns a voimpr cê” a Neil Tennant, embora o próprio não pareça dar muita próp relevância ao assunto. “O que rele vou fazer hoje? Não faço a mai mais pequena ideia. Não se trata de recusar a idade. Contrat tinuo a gostar de me festejar. tinu Mas não sei. A sério.” festival Está para a música de dança dos últimos anos como Prince esteve para o funk dos anos 80, reduzindo as propriedades electrónicas e as dinâmicas rítmicas ao mínimo, mas expondo o máximo de emoções. É um sonoplasta, alguém que aborda o som e a sua actividade, como DJ e produtor, de forma minuciosa e ética, como se constata vendo o documentário (“Villalobos”) que estreou no festival de Veneza e que foi exibido no IndieLisboa em Abril. Figura central da música electrónica de dança da última década é também uma personalidade misteriosa. “Inicialmente hesitei um pouco quando me convidaram para o documentário”, afirma, “mas o realizador [Romuald Karmakar] é alguém muito conhecido na Alemanha, com um grande percurso, e percebi que era um projecto totalmente credível. Ainda bem que o fizemos.” Ricardo Villalobos tem 40 anos. Nasceu em Santiago do Chile, tendo partido para a Alemanha com a família na sequência do golpe de Estado do General Pinochet. O pai é matemático. E esse facto parece tê-lo marcado. “A minha relação com a música, num primeiro instante, é muito intuitiva” diz, “trata-se de procurar sons que sejam inteligíveis para mim e combiná-los, mas a partir de determina altura o que me interessa é restringir, seleccionar e reduzir e isso é um processo mais pensado. Matemático, talvez.” Na última meia dúzia de anos, principalmente depois do álbum “Alcachofa” (2003), construiu uma identidade sonora vincada. Um híbrido tecno e house, profundo e narcótico, onde existe um toque sul-americano, ao nível dos pormenores percussivos. No seu caso não se trata de exotismo. A sua perspectiva não é a fusão. É criar um verdadeiro corpo colorido, reconvertendo-o em figuras digitais que iluminam uma espécie de melancolia tecno. Compara a sua actividade à de um percussionista. Este, quando está em palco, deve saber estar no seu lugar, ouvir em redor e mudar de intensidade ao perceber uma sensibilidade comum. “Na minha música acontece o mesmo. Todos os sons parecem desempenhar o mesmo papel, mas lentamente vão-se modificando, contribuindo para a criação de um novo edifício.” Hedonismo ou nostalgia O chileno é alguém que é capaz de provocar a festa na pista de dança. Nos últimos dez anos raros foram os fins-de-semana passados em casa, tal a abundância de convites para actuar em todo o mundo. Agora está mais selectivo. “Continuo a adorar a minha actividade, mas também gosto de estar com a família e os amigos, para além do estúdio. Por isso tento limitar as viagens longas, cada vez mais. Mas por uma boa festa, porque não?” Mas a sua música não se restringe à funcionalidade dançante. Em álbuns como “Thé Au Harém D’Archimede” (2004), “Fizheuer Zieheuer” (2006), “Fabric 36” (2007) ou “Vasco” (2008) existe espaço para muitas variações. Sim, o minimalismo electrónico está quase sempre no centro dos acontecimentos, mas a rodear essa movimentação há detalhes, microrganismos imperceptíveis e climas letárgicos que nos transportam para zonas desconhecidas. Às vezes é uma música que convida ao hedonismo. Outras vezes parece ser apenas a banda-sonora de um filme nostálgico, povoado por aeroportos, auto-estradas, grandes superfícies, lugares ocupados por gente em trânsito, solitários, isentos de vida. Espaços de ninguém, para uma música marcada por longos períodos de cadências repetitivas a velocidade moderada, envolvendo-nos numa trama hipnótica. “Não trabalho a partir de imagens e nem sempre penso especificamente na pista de dança” diz ele. “Só depois de criar um tema é que penso nisso.” No passado recente já criou música para filmes, no âmbito de apresentações ao vivo específicas. No futuro próximo deseja mesmo criar bandasonoras e aproximar-se cada vez mais do jazz. Diz que em casa ouve predominantemente clássica e jazz, e que “Quando se ouve um velho disco de jazz é como se ouvíssemos também a sala onde foi gravado ou a respiração dos músicos. Gosto dessa pureza, desse reconhecimento. Essa intensidade, na maior parte dos casos, não é conseguida hoje” Ricardo Villalobos a Internet não o seduz – “demasiada informação sem sentido”, limita-se a afirmar sempre que o interrogam sobre o assunto. Do que gosta mesmo de falar é do som, das suas propriedades, daquilo que o caracteriza. Gosta de pensar que os instrumentos electrónicos podem obter o mesmo tipo de qualidade que as velhas gravações acústicas, apesar de achar que ainda não acontece: “Quando se ouve um velho disco de jazz é como se ouvíssemos também a sala onde foi gravado ou a respiração dos músicos. Gosto dessa pureza, desse reconhecimento. Essa intensidade, na maior parte dos casos, não é conseguida hoje.” É um clássico, mas profundamente contemporâneo. Um purista, mas vislumbrando o que se seguirá. É enigmático. Um dos criadores mais aventureiros da música actual, compondo com essa ideia em mente: decifrar o mistério que induz as pessoas à dança. Ricardo Villalobos O mistério da dança Haverá Richie Hawtin ou Laurent Garnier. Mas no campo da música de dança electrónica o destaque do Festival Super Bock Super Rock será Ricardo Villalobos, o chileno que vive há muitos anos na capital alemã e que actuará no Meco, na noite de sábado. Vítor Belanciano Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 33 Música Em 2006, o agrupamento vocal e instrumental belga Capilla Flamenca gravou um CD fascinante que viria a obter os mais importantes prémios da crítica internacional. Tratava-se “Canticum Canticorum”, um percurso musical pela polifonia dos séculos XIV a XVI, inspirada no Cântico dos Cânticos, cuja extraordinária poesia tem servido de inspiração ao longo de mais de dois milénios para artistas de vários quadrantes. Este mesmo programa, com pequenas variantes, será apresentado esta noite, às 21h45, na Igreja Românica de São Pedro de Rates integrado no 32º Festival Internacional de Música da Póvoa de Varzim, onde a Capilla Flamenca faz a sua estreia. “Há muitos anos que o extenso repertório musical criado à volta do Cântico dos Cânticos nos atrai e preenche muitos dos nosso projectos”, disse ao Ípsilon o baixo Dirk Snellings, que é também o director artístico do grupo. “Trata-se de uma obra poética fantástica, antiquíssima, certamente bem anterior ao Antigo Testamento. É possível que se inspire numa ideia egípcia, que depois passou para os gregos, a seguir para os hebreus e depois para a Bíblia.” Snellings recorda que se trata de um dos mais belos textos sobre o amor da civilização ocidental e que encontramos música inspirada no Cântico dos Cânticos ao longo de quase toda a história da música, desde melodias de cantochão concebidas no século VIII até aos compositores do nosso tempo. “As hipóteses de escolha eram imensas mas como somos um grupo especializado em polifonia procurámos a conexão entre o cantochão e as primeiras versões polifónicas, avançando depois até ao século XVI”, explica. Como uma Missa “Há muitos anos que o extenso repertório musical criado à volta do Cântico dos Cânticos nos atrai e preenche muitos dos nosso projectos”, diz Dirk Snellings. “É uma obra poética fantástica” Tal como sucede no disco, o alinhamento do concerto é construído como uma espécie de Missa, já que existia uma tradição oriunda de Milão em que secções do Próprio da Missa como o Intróito, o Gradual ou o Alleluia podiam ser substituídas por motetes, ou seja, por composições livres sobre outros textos. “Era a chamada ‘Missa substitutio’. Partimos dessa ideia para o encadeamento das peças, que são todas de altíssima qualidade, como se o Cântico dos Cânticos tivessem inspirado a música das músicas.” O programa inclui obras de John Pyamour, John Dunstable, Johannes Prioris, Francesco da Milano, Jacquet de Mântua, Louis Compère, Alexander Agricola, Adriaen Willaert e Henrich Isaac, entre outras. Para acompanhar as quatro vozes masculinas da Capilla Flamenca, Dirk Snellings optou pelo alaúde, uma vez que se trata de um instrumento “com qualidades muito poéticas e expressivas”. “É frequente encontrarmos versões para alaúde e para instrumentos de tecla destas canções e o alaúde tem também uma função harmónica de apoio. Achei que era o ideal para realçar o significado desta poesia sublime sobre o amor”, explica Snellings. Quase todos os programas da Capilla Flamenca obedecem a percursos temáticos, resultam de apurada pesquisa musicológica e reflectem uma técnica vocal apurada e um forte sentido estético. Para Dirk Snellings, os membros de um conjunto polifónico necessitam de ter qualidades especiais como “o controlo total sobre a voz e a sonoridade, a capacidade de transmitir emoções e saber ouvir os outros pois só assim se pode obter uma boa fusão com as vozes em volta”. Cantar música antiga é uma tarefa especializada que exige o conhecimento dos vários temperamentos ou afinações usadas ao longo da história, bem como das notações antigas. No entanto, no momento da execução o grupo usa transcrições modernas. “Consultamos sempre os originais e os nossos cantores sabem decifrá-los Entre os primeiros compositores a realizar versões a várias vozes de excertos do poema encontra-se o inglês John Dunstable (c. 1390-1453). O seu exemplo foi seguido no continente por figuras como Guillaume Dufay e pelos seus contemporâneos da Escola da Borgonha no século XV. “A partir daí nunca mais pára. Nos finais da Idade Média e inícios da Renascença os poemas são frequentemente transpostos para o culto mariano, faz-se uma ponte entre o amor físico e o amor espiritual, mas no século XVI é a dimensão sensual que é mais enfatizada”, diz o director artístico. mas acontece que há notações de grande complexidade, como a notação rítmica da Ars Subtiliors no final do século XIV. Na interpretação preferimos não ficar presos a essa complexidade e concentrar o essencial da nossa atenção na audição e na qualidade do trabalho de conjunto.” Nascidas da improvisação Do seu percurso dos últimos anos como músico, musicólogo e director da Capilla Flamenca, Dirk Snellings destaca o aprofundamento estilístico das diferentes escolas polifónicas e um conhecimento cada vez mais claro da linguagem de cada compositor. “Há uma gramática comum, mas quanto mais mergulhamos no repertório, mais nos apercebemos dos traços característicos de cada autor. As diferenças são muito maiores do que parecem à primeira vista.” Outro aspecto que o apaixona é a capacidade de improvisar peças polifónicas a partir de uma melodia dada. “Sabemos hoje cada vez mais socebido na Re bre o treino musical recebido Renascença. Por exemplo, os alunos de Josquin Desprez eram habituados a improvisar linhas contrapontísticas rapontísticas logo desde os oito anos, os, além de aprenderem a ler música ca e de montarem novas peças, era ao chamado ‘cantare supra a librum’”, acrescenta. “Ulltimamente tenho-me deedicado a desenvolver esta prática com os meus colegas olegas da Capilla Flamenca. É algo go que nos dá grande prazer e que espero nos traga ainda maior liberdade ade e flexibilidade interpretativa pois ois há muitas obras escritas, como as de Agricola, que parecem ter nascido ascido da improvisação.” O baixo Dirk Snellings é o director artístico deste importante agrupamento belga Música das músicas para o Cântico dos Cânticos O agrupamento Capilla Flamenca faz a sua estreia no Festival da Póvoa de Varzim com música polifónica dos séculos XIV a XVI inspirada no amor sensual e espiritual do lendário poema atribuído a Salomão. Cristina Fernandes 34 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon King Khan O ritual mágico Música DR King Khan é um herói underground idolatrado pela comunidade garage (e tem como fãs Lou Reed e Laurie Anderson). Encontrámo-lo no Festival Med onde, provocador punk e pregador soul, nos falou do rock’n’roll como “um ritual mágico”. Mário lopes Estamos na piscina de um hotel de Loulé, no terraço do último andar, ajudando o homem que será nosso entrevistado a carregar uma espreguiçadeira até à sombra. “Não podemos falar ao sol. O sol deixa-me tonto”, justifica o homem de calções de banho e cordões de amuletos índios pendendo do pescoço. Chama-se King Khan e instala-se à sombra. Canadiano de ascendência indiana, nascido em Montreal mas residente em Berlim há vários anos, é um herói underground que a comunidade garage idolatra pela música e pela loucura escatológica e iconoclasta, é figura subterrânea aos meandros med i á t i c o s qu e v a i s u r g i n d o, inesperadamente, ao lado de GZA, dos Wu Tang Clan, que o quer como colaborador, ou de Lou Reed e Laurie Anderson, que o convidaram recentemente para um festival australiano de que foram curadores. É portanto com este King Khan que falamos. Esse que nos explicará que, nas cartas de tarot, “o Louco é a carta mais alta, mais importante que o rei, a rainha ou o Papa”. Ele que nos definirá a sua música e os seus concertos como “um ritual mágico”. A loucura é parte da equação: “O louco é aquele que pode rir-se da verdade e seguir o seu caminho, é o mais espiritual de todos.” Horas depois da entrevista à beira da piscina, King Khan estava em palco com os Shrines, a banda que fundou em Berlim e que reúne americanos, alemães ou franceses num super combo soul-funk-punk’n’roll. Vestia camisa de lantejoulas douradas e tinha a cabeça adornada com um moicano louro. Na mão, um espanador que abanaria nos momentos certos para lançar magia vudu sobre a pequena multidão à sua frente. King Khan & The Shrines no Festival Med, em Loulé, dia 24 de Junho. Uma força poderosa. Foram o funk de James Brown em colorido Sun Ra, Sam & Dave revistos pelos Dirtbombs e a soul cavernosa de Screamin’ Jay Hawkins sem caixão à vista. No final, uma descarga de ruído lançada sobre o público como violento mantra zen e King Khan sentado em posição de Lótus, qual brâmane em meditação. Foi, naturalmente, um dos grandes concertos do festival. Mas não alterou “O meu objectivo final é curar o mundo com a minha música, como um xamã” King Khan em nada o fascínio e perplexidade que sentimos perante a sua figura. Semanas antes daquele concerto, víramo-lo no encerramento do festival Primavera Sound, em Barcelona. Dera ali dois concertos, com o duo King Khan & BBQ e integrado nos supracitados Almighty Defenders. Na Sala Apolo, os Black Lips tinham terminado a sua actuação, o público abandonava o clube e, à saída, vimos um táxi rodeado de gente, o taxista respectivo fora do automóvel, de mãos na cabeça, e King Khan saltando sobre a carroçaria como adolescente travesso. “Estavas lá?”, perguntarnos-á em Loulé, antes de contar o que se seguiu. O caminho do budista Foi levado para a esquadra e ficou preso duas horas. Explicou à polícia que tinha um avião para apanhar, que tinha um concerto marcado na Austrália, que tinha sido Lou Reed a convidá-lo. Num ápice, passou a estrela King Khan esteve no Festival Med, em Loulé, em Junho da esquadra, foi fotografado pelos agentes, distribuiu autógrafos, chegou a Sydney. O punk estava livre. “Fui preso pela primeira vez aos 18 anos, por roubar um CD dos Velvet Underground. Passados todos estes anos, o Lou Reed tira-me da prisão. A verdade é que tudo na vida acontece em círculos.” Revela-se o metafísico que é punk e soulman: “Vivo uma expe- riência mais religiosa a ouvir a Alice Coltrane ou música gospel do que a ler a Bíblia, o Corão, a Tora ou o Bhagavad Gita.” Revela-se o mago do rock’n’roll: “Na música gospel, o pastor, pela forma como atira as palavras, leva as pessoas a pegar em pandeiretas e dançar, leva bebés a aprender a dar os primeiros passos. É isso que quero fazer com a minha música, pegar numa sala cheia de gente e canalizar a sua energia para uma força única. Quer as faça dançar, tirar as roupas, foder ou cagar, é tudo o mesmo ritual.” Pai de dois filhos, acabou com os King Khan & BBQ porque “demasiadas drogas, bebidas e raparigas” estavam a torná-lo “um mau exemplo para os miúdos”. Os Shrines, a banda que lidera há cerca de dez anos, autora de uma muito respeitável discografia para a qual “The Supreme Genius of King Khan & The Shrines”, compilação de 2008, servirá como óptima porta de entrada, são tudo o que lhe interessa neste momento. “Tenho 33 anos, a minha idade Jesus, e tenho que decidir onde concentrar as minhas energias. O Lou Reed e a Laurie Anderson disseram-me que todos os artistas passam por momentos em que têm de se reinventar e arranjar um novo disfarce. É isso a magia. E eu escolhi o meu caminho. O caminho do budista.” Depois fala-nos de índios Mohawk que o ensinaram a não ter medo – “vive sem medo e viverás muito tempo” –, e conta-nos de um pugilista aborígene australiano que “vai ser o próximo Muhammad Ali” – “e eu vou largar o rock’n’roll e o álcool e tornar-me um promotor de boxe”. Regressa aos seus Shrines: “O meu objectivo final é curar o mundo com a minha música, como um xamã.” Que mais podemos dizer? Abençoado seja. Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 35 nos mistérios dos Tigrala Música Mergulhando Quando um dinamarquês ofereceu uma “tambura” a Norberto Lobo, os Tigrala estavam a um passo de distância. O guitarrista juntou-se ao percussionista Ian Carlo Mendoza e os dois convocaram Guilherme Canhão, o eléctrico guitarrista dos Lobster. “Tigrala” é o primeiro registo desta história. Uma preciosidade: música de xamãs sem metafísica. Mário Lopes percussionista com quem colaborava há anos, Ian Carlo Mendoza, mexicano e mestre em mil instrumentos que veio estudar para Portugal e que gostou tanto disto que acabou por ficar – conheceu Norberto nos Colectivo Páscoa, foi músico dos fusionistas Yemanjazz, trabalha com grupos de teatro e desenvolve um projecto a solo. No mesmo banco, no mesmo parque, elogia este “país tranquilo onde, se queremos fazer coisas, se nos mexermos, elas acontecem rapidamente” - o que não deixa de ser uma opinião curiosa aos nossos ouvidos, habituados a registar queixumes de “no pasa nada” em bom português. Portanto, tínhamos Norberto Lobo e Ian Carlo Mendoza tocando juntos, ocasionalmente, desde 2006. Tínhamo-los desde o ano passado procurando música de forma mais consistente. Procurando: “Não nos interessa a metafísica, gostamos é de observar”, aponta Norberto Lobo; “queremos um encontro do belo, algo que fuja a esquemas de- finidos, queremos fazer algo contemporâneo e surreal, muito simples, mas único”, complementa Ian Carlo no seu português adocicado com o sotaque do castelhano das Américas. Mas quando eram apenas os dois, não eram ainda Tigrala. Faltava algo. Nesse tempo em que se empenhavam livremente a descobrir o que resultaria do encontro da “tambura” com um vibrafone, uma “darbuka” (descrevamo-lo como um “d’jembé” turco) ou um “cajón” sul-americano, Norberto Lobo, o guitarrista, haveria de encontrar outro guitarrista ali para os lados do Chiado e convidá-lo a juntar-se-lhes. Guilherme Canhão, guitarrista eléctrico, homem do “noise” e “riffs” demoníacos do duo Lobster, disse que sim esse dia e, quatro depois, estava a tocar num palco do Barreiro com Norberto e Ian Carlo. Sentado e concentrado no ritmo qual âncora da banda, ele que nos magníficos Lobster estava habituado a extravasar, a correr palco fora, a ser levado pelo público enquanto o rock’n’roll ressoava pelas salas, altíssimo e distorcido. Vê-lo em Tigrala, porém, não é vê-lo serenado: “É a mesma energia, mas canalizada de forma diferente. Nada é difícil em Tigrala. Nada é difícil”. As peças encaixavam definitivamente. A “tambura” indiana chegada da Dinamarca, o vibrafone ou o “cajón” e a guitarra acústica do guitarrista eléctrico. “Queremos um encontro do belo, algo que fuja a esquemas definidos, queremos fazer algo contemporâneo e surreal, muito simples, mas único” Ian Carlo Mendoza Os Tigrala são músicos com toneladas de informação melómana na cabeça. Com eles, sentimos que poderíamos passar horas a discutir a discografia e as virtudes de gente tão diversa como os Soft Machine, Kate Bush, os Wu Tang Clan, Amon Düul ou Alemu Aga. Nenhum destes, po- ENRIC VIVES-RUBIO A última vez que o entrevistámos, aquando da edição de “Pata Lenta”, o seu segundo álbum, Norberto Lobo contou-nos de um instrumento que o fascinara recentemente. Falou-nos da “tambura” (de origem indiana, familiar do alaúde), do som da “tambura” e de como o entusiasmavam as novas possibilidades que se abriam. “Obrigou-me a sair de onde estava, obrigoume a pensar [a música] de forma diferente.” Pausa e uma curta gargalhada: “Sair de onde estamos é sempre bom”, conclui Norberto, o guitarrista autor dos essenciais “Mudar de Bina” e “Pata Lenta”, em Julho de 2010, num banco sob a sombra de um jardim lisboeta – guardemos na memória aquele “sair de onde estamos”, que é essencial para perceber a magia da música de que aqui se falará. Recapitulemos. Norberto contaranos a história da sua “tambura”, que lhe chegou às mãos oferecida por um artesão dinamarquês, o que não deixa de ser curioso. Porque a história, depois de ela lhe chegar às mãos, é a seguinte: um artesão dinamarquês oferece um instrumento de origem indiana a um guitarrista português. O guitarrista pega na “tambura” e mostra algumas músicas a um amigo Os Tigrala, uma música que é serena e desafiante 36 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon rém, incide luz sobre a música do trio – “se bem que às vezes o Santana nos faça umas visitas”, brinca Norberto. Guilherme Canhão: “Atiramos as referências para debaixo do tapete. Não deixamos que invadam o que estamos a fazer”. Ian Carlo Mendoza: “Contaram-nos que nos Açores uma mulher saiu do nosso concerto a dizer, ‘uau, os instrumentos falam entre si’. De certa forma, isso explica o que fazemos. A verdade é que, nos ensaios, só falamos o essencial. O ‘tricot’ emocional entre os instrumentos é a nossa linguagem-base”. Tudo se mistura nesta música que é serena e desafiante, melancólica e celebratória. Tudo se mistura nesta música que chega até nós como possibilidade de transcendência, como possibilidade de nos elevarmos sobre o mundo – o que, se pensarmos que os Tigrala são também os Xamã, a versão eléctrica do trio, faz todo o sentido; se pensarmos que, como veremos na próxima quinta-feira, no Museu do Chiado, no concerto de apresentação do álbum, Xamã e Tigrala são agora uma mesma entidade, faz mais sentido ainda. Na capa do homónimo álbum de estreia agora editado, três robots com ar de saltimbancos biónicos passeiamse pela selva de instrumentos em punho. O futurismo luxuriante da pintura, quando os futuros imaginados, pelo menos aqueles com tecnologia à mistura, tendem normalmente para o apocalíptico, pode parecer à primeira vista estranho, paradoxal. Erro nosso pensá-lo. Se é estranha, é tão estranha como a música de “Tigrala”, o álbum. Sete instrumentais convocando um mundo onde a delicadeza da música tradicional indiana ganha pó de deserto americano, onde o jazz desce a 20 mil léguas submarinas para se transformar noutra coisa, onde uma dose de melancolia que reconhecemos como nossa pode transformar-se em “trip” psicadélica. E neste álbum, que entusiasma e comove de igual forma, a estranheza é na verdade uma sensação ausente. Nele, a selva parece um lugar acolhedor e as pedras da calçada estão constantemente a revelar novos mistérios. O segredo está no olhar, dizem os Tigrala – e nós que os ouvimos, concordamos. O mais extenso título de canção do disco resume-os bem: “Aunque no sepa cantar mi corazón es lleno como una ola que se levanta temprano conectada a los misterios primordiales más profundos”. “Los misterios primordiales más profundos” – eis o que buscam. Eis o que nos oferecem na preciosidade que é este seu primeiro álbum. Ver crítica de discos págs. 48 e segs. ANTÓNIO CARRAPATO Roxy Music O regresso dos aristocratas do rock. Pág. 53 Djuna Barnes Antecipou o olhar “camp” Pág. 44 Silva Melo Duas peças no Festival de Almada. Pág. 43 Michael Biberstein O princípio da improvisação e do acaso, em exposição Pág. 38 m/18 Jorge Palma 22-jul Mayra Andrade DJ até às 03H00 29-jul Programa sujeito a alterações www.casino-estoril.pt Reservas: info@dlounge.net | +351 919 938 114 DR Big Bang As pinturas de Michael Biberstein na Galeria Pedro Oliveira, no Porto, obedecem ao princípio da improvisação, do acaso: delas nasce uma música que evoca um corpo suspenso. so. Óscar Faria Radical Haze de Michael Biberstein Porto Galeria Pedro Oliveira Calçada de Monchique, 3. De terça a sábado, das 15h às 20h. Até 28 de Julho. mmmmm No século dez, viveu na China Li Cheng (919-967) considerado, juntamente com os eremitas taoistas Jing Hao (906-960) e Guan Tong (906-960), como um dos mais relevantes paisagistas de uma época conhecida como sendo a das Cinco Dinastias e Dez Reinos. Nesses anos, os artistas seguiam um tratado escrito sob a forma de um diálogo entre um pintor e um anacoreta, uma conversa mantida durante uma caminhada na montanha. Além dos seis princípios que deviam dar forma a uma pintura – o espírito, a harmonia, a conformidade ao sujeito, etc. –, o texto estabelecia os fins da disciplina: “apreender a verdade, a beleza interior das coisas, pela comunhão, a fusão com a sua realidade profunda, e não a procura da similaridade e da beleza ornamental dos aspectos superficiais” (in “La Peinture Chinoise”, de Michel Courtois, Éditions Rencontre Lausanne, 1967). O velho anacoreta defendia a proeminência do espírito sobre o “métier”, “que deve estar sempre ao serviço da inspiração e da visão interior, sem a qual não existe obra verdadeira, conforme à criação natural”. É essa faculdade de “levar no cérebro as montanhas e os vales”, que fez de Li Cheng um artista capaz de produzir quadros “dignos da suprema categoria ‘divina’”, como ainda explica Courtois, o qual nos diz ainda ser característica dos grandes criadores o esquecimento de si, uma condição essencial para que a obra surja com “uma força irreprimível”. Li Cheng apenas pintava para o seu próprio prazer, “tratando a tinta como ouro” de forma a criar paisagens onde o estilo “ping-yang” foi levado ao máximo refinamento, uma situação sobretudo visível no equilíbrio das tensões que dão corpo a uma obra, como a que resulta da dicotomia vazio/pleno. Há, na nova exposição de Michael Biberstein (Solothurn, Suíça, 1948), uma proximidade a esta prática secular. A mostra, intitulada “Radical Haze” (“Névoa Radical”) – em inglês, a palavra “haze” designa a bruma seca, que resulta da condensação de vapor de água associada a poluentes, ficando o ar com um aspecto acinzentado –, inclui um conjunto de pinturas sobre linho e papel datadas de 2007 até ao presente, que nos dão conta de um aprofundamento do trabalho em torno da paisagem, o tema recorrente na obra do artista. Os trabalhos agora apresentados sublinham uma espécie de cosmologia, um universo em expansão de natureza abstracta, atravessado de acontecimentos. Cada pintura é ocupada por uma espécie de neblina que dilui os contornos e que simultaneamente funciona como um elemento atractor, hipnótico mesmo. Biberstein leva no cérebro a atmosfera de dias habitados pelo nevoeiro: aquele que nasce nas montanhas, o que vem do oceano, ou o formado sobre as cidades. As suas pinturas obedecem ao princípio da improvisação, do acaso: delas nasce uma música que evoca um corpo suspenso, diferido, ainda preso à materialidade das cores e das formas, mas já a desligar-se dessa objectualidade necessária para o “prazer dos olhos” e o “relaxar da mente” – a exposição tem como subtítulo “paintings to please your eye and relax your mind”. O espectador é assim levado a um confronto consigo, com o tempo disponível para ver a subtileza de trabalhos que se aproximam do vazio, de um estado de abandono espiritual. Os trabalhos possuem uma força irreprimível, que vem da natureza interior do artista: as telas revelam acontecimentos impossíveis de decifrar. São enigmas. A exposição integra ainda a composição musical “White Haze” criada por Biberstein em colaboração com o músico e sonoplasta Manuel Mesquita. As pinturas são assim pontuadas por sons que as afectam, potenciando outras leituras: contudo essas manifestações sonoras sublinham sempre o carácter abstracto da experiência plástica propostas nas paisagens visíveis na galeria, as quais nos ajudam a “apreender a verdade, a beleza interior das coisas, pela comunhão, a fusão com a sua realidade profunda”. Radical, esta mostra, plena de acontecimentos e de instantes vazios. Tão próxima do silêncio. Tão ruidosa. Big Bang. A escuridão iluminada da arte Uma exposição com vários nomes incontornáveis da arte internacional para lembrar os eternos mistérios da obra de arte. José Marmeleira Para o cego no quarto escuro à procura do gato preto que não está lá De Dave Hullfish Bailey, Marcel Broodthaers, Sarah Crowner, Mariana Castillo Deball, Eric Duyckaerts, Erkmen, Hans-Peter Feldmann, Peter Fischli, David Weiss, Rachel Harrison, Giorgio Morandi, Matt Mullican, Bruno Munari, Nashashibi/Skaer, Falke Pisano, Jimmy Raskin, entre outros. Lisboa. Culturgest. R. Arco do Cego - Edifício da CGD. Tel.: 217905155. Até 29/08. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das 11h às 19h (última admissão às 18h30). Sáb., Dom. e Feriados das 14h às 20h (última admissão às 19h30). mmmmn O título cita uma frase de Charles Darwin alusiva à especulação dos matemáticos que procuram um gato preto na escuridão, actividade tão inútil como a dos 22 artistas internacionais presentes. Os suportes são diversos (filme, desenho, escultura, instalação, som) e as obras desenham um arco temporal que se inicia no século XVI, com um livro que mostra a ilustração de um gabinete de curiosidades (o “Wunderkammer”) e termina na década passada, demonstrando assim as raízes históricas do tema. A selecção de nomes é arrojada e permite ver trabalhos de Bruno Munari, Giorgio Morandi, Marcel Broodthaers, HansPeter Feldmann, Peter Fischli & David Weiss, Matt Mullican, Rosemarie Trockel, Rachel Harrison, Patrick van Caeckenbergh ou Nashashibi/Sakaer; a oportunidade que oferece aos espectadores de se confrontarem com os universos destes artistas é, aliás, uma das qualidades de “Para o cego no quarto escuro à procura do gato preto que não está lá”. Algumas obras mostram o que pode resultar dessa busca movida pela curiosidade e o conhecimento (enquanto métodos): a naturezamorta de Giorgio Morandi, pintada nos anos 50 do século XX, ou os desenhos, diagramas, símbolos pictográficos, fotografias, textos e narrativas desenhadas que constituem a instalação de Matt Mullican; uma cosmologia em cuja metafórica escuridão o espectador se perde. E por falar em escuridão, refiram-se as sombras que de uma mesa coberta c berta de focos co de luz, brinquedos b inquedos e br outros objectos, se projectam, disformes, efémeras e obscuras, na parede. Eis a peça Todo o objecto artístico cria um horizonte aberto à presença do espectador. Trata-se de um “acto generoso” que, todavia, não existe sem uma distância. stância. A distância que separa a arte e da vida. É isto que vem recordar, na a Culturgest, em Lisboa, a exposição “Para Para o cego no quarto escuro à procura ocura do gato preto que não está lá” com a curadoria de Anthony Huberman. uberman. Afinal é nessa distância que ue se produzem algumas das ideias que ue organizam esta colectiva: a dimensão especulativa da arte, o abismo bismo benigno da experiência estética, a curiosidade pelo desconhecido, do, o não familiar, r, por aquilo que resiste às categorias do Chapeau!, de Patrick van Caeckenbergh, verdadeiro uma das obras que estão na Culturgest e do falso. : © DMF Exposições 38 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon A exposição integra a composição musical “White Haze” criada por Biberstein em colaboração com o músico e sonoplasta Manuel Mesquita aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Agenda Inauguram A Secreta Vida das Palavras De Nuno Cera, Ana Jotta, Vasco Costa, Edgar Massul, Rodrigo Peixoto, Sara Santos, Ana Vieira, Pedro Cabrita Reis, Pedro Calapez, Rui Chafes, Ilda David, Rui Sanches, entre outros. Sines. CC Emmerico Nunes. Lg. do Muro da Praia, 1. Tel.: 914827713. De 16/07 a 25/09. 2ª a Sáb. das 14h30 às 18h30. Inaugura 16/7 às 22h. Pintura, Escultura, Fotografia, Vídeo, Instalação, Outros. Summer @ My Place De André Almeida e Sousa, Bela Silva, Diogo Guerra Pinto, Francisca Carvalho, João Decq, João Galrão, Luís Silveirinha, Nuno Gueifão, Rosário Rebello de Andrade, Sofia Aguiar, Teresa Gonçalves Lobo, Tomás Colaço. Lisboa. Alecrim 50. R. do Alecrim, 48-50. Tel.: 213465258. De 16/07 a 22/09. 2ª a 6ª das 11h às 19h. Sáb. das 11h às 18h. Inaugura 16/7 às 19h. Pintura, Desenho, Escultura. Regresso a Casa De Helena Almeida, Silvia Bachli, Christian Boltanski, Fernando Brito, Gerardo Burmester, José Pedro Croft, Didier Fiúza Faustino, Ângela Ferreira, Fernanda Fragateiro, Dan Graham, Eberhard Havekost, Cristina Iglesias, Ana Jotta, Gordon MattaClark, Paulo Nozolino, Pedro Cabrita Reis, Richard Tuttle, Ana Vieira, entre outros. Porto. Museu de Serralves. R. Dom João de Castro, 210. Tel.: 226156500. De 16/07 a 26/09. 3ª a 6ª das 10h às 17h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 19h. Na Casa de Serralves. Inaugura 16/7 às 18h30. Pintura, Fotografia, Escultura, Vídeo, Instalação. Summer Calling De Daniel Lipp, Deborah Engel, Filipa Burgo, Filipe Matos, Flávio Cerqueira, Inês Oliveira e Silva, Joana Paraíso, do artista alemão Hans-Peter Feldman: “Shadowplay” (2005), suspensa entre a arte (as sombras) e a vida (os objectos usados no quotidiano). Outros trabalhos entretêm-se sobretudo no jogo especulativo e propõe, por reflexivo que a arte prop vezes num registo à beira beir da tautologia, com humor e sentido lúdico: o chapéu cheio de d homem que já não conhecimento do home van aguenta conhecer, de Patrick Pa Caeckenbergh (uma fabulosa fab escultura); as divertidas e tocantes italiano Bruno imagens do artista italia num Munari a procurar conforto confo sofá pouco confortável; ou a série fotográfica de “V “Voyage of the Beagle”, de Rachel R Harrison: uma sequência de sequên menires, bustos, men esculturas e públicas (uma da Gertrud Stein) manequins, máscaras e Mafalda Melo, Margarida Rodrigues, Maria Platero, Pedro Ferreira, René Tavares, Rita Teles Garcia, Tatiana Dager. Lisboa. 3 + 1 Arte Contemporânea. R. António Maria Cardoso, 31. Tel.: 210170765. De 16/07 a 18/09. 3ª a 6ª e Sáb. das 14h às 20h. Inaugura 16/7 às 22h. Pintura, Fotografia, Vídeo, Instalação, Escultura. O Caçador de Borboletas De Eduardo Matos. Lisboa. Galeria Zé dos Bois. R. da Barroca, 59 Bairro Alto. Tel.: 213430205. De 17/07 a 18/09. 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. das 18h às 23h. Inaugura 17/7 às 22h. Fotografia, Outros. O Contra-Céu - Ensaio Sobre o Hiato De Mattia Denisse. Lisboa. Galeria Zé dos Bois. R. da Barroca, 59 Bairro Alto. Tel.: 213430205. De 17/07 a 18/09. 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. das 18h às 23h. Inaugura 17/7 às 22h. Desenho. O Mundo das Pequenas Coisas De Ana Pereira. apresenta Porto. Centro Português de Fotografia - Cadeia da Relação do Porto. Campo Mártires da Pátria. Tel.: 222076310. De 17/07 a 05/09. 2ª a 6ª das 10h às 18h. Sáb., Dom. e Feriados das 10h às 19h. Inaugura 17/7 às 15h. TRICOTA Fotografia. 1990/2010 Cabinet D’ Amateur De Ahmed Ismael, Ana Vieira, Armanda Duarte, Barbara Lessing, Bryan Crockett, Evelina Oliveira, Fernanda Fragateiro, Gabriel Abrantes, Gilberto Reis, Gyan Panchal, Joana Vasconcelos, Miguel Palma, Miguel Bonneville, Pedro Tropa, Sérgio Mah, Sérgio Taborda, Stela Soares, Vitalina Sousa, entre outros. Lisboa. Museu Nacional de História Natural. R. da Escola Politécnica, 58. Tel.: 213921800. De 22/07 a 30/10. 3ª, 4ª, 5ª e 6ª das 10h às 17h. Sáb. e Dom. das 11h às 18h. Na Sala do Veado. Inaugura 22/7 às 22h. Pintura, Desenho, Escultura, Instalação, Outros. animais embalsamados que parece desafiar as hierarquias da história da cultura (e da escultura) ao mesmo tempo que sugere ao espectador que crie as suas (a partir da memória visual das fotografias). Finalmente, existem obras cuja natureza interpelam mais intensamente a curiosidade e a compreensão do visitante. Por exemplo, o que se vê em “The Right Way” (1983), de Peter Fischli & David Weiss? O deambular existencial e absurdo de uma ratazana e de um urso? Uma fábula violenta pontuada com imagens do sublime? Ou – não estivessem os dois artistas sob as vestes dos ditos animais – uma ficção com ligações ao real? A propósito do filme de 16 mm da dupla Nashashibi/ Skaer também acodem perguntas. Qual é o objectivo daquele rápido flash sobre as esculturas antigas da colecção do Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque? Trazer de volta o seu mistério ou transformar a sua representação e conhecimento numa série de poéticos e fugidios instantâneos? Cabe a palavra (a curiosidade) ao espectador. UM PROJECTO DE ELECTROTANGO DOS ARGENTINOS OTROS AIRES ONDE COEXISTE A TÍPICA ORQUESTRA ARGENTINA E A ACTUAL MÚSICA ELECTRÓNICA // 22 de Julho_ Concerto | 21h30 // 20 e 21 de Julho_ Masterclasses | 12h30 (saiba mais em www.bes.pt) /// ENTRADA LIVRE LIMITADA À LOTAÇÃO DA SALA // MORADA Praça Marquês de Pombal nº3, 1250-161 Lisboa // HORÁRIO Segunda a Sexta das 9h às 21h // TELEFONE 21 359 73 58 // EMAIL besarte.financa@bes.pt Programação e produção Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 39 Cinema Cineclubes para mais Parque de Sinçães – Famalicão The Mist - Nevoeiro Misteriosos De Frank Darabont, 2007, M/18 22/07, 21:30h Auditório do IPJ (Faro) Rua da PSP - Faro Mother - Uma Força Única De Joon-Ho Bong, 2009, M/16 19/07, 22:00h Cinema Passos Manuel Rua Passos Manuel 137, Porto O Fio Do Horizonte De Fernando Lopes, 1993, M/12 21/07, 21:30h Cinema Verde Viana Praça 1º de Maio, Centro Comercial - Viana do Castelo O Tempo Que Resta De Elia Suleiman, 2009, 22/07, 21:00h série ípsilon II Sexta-feira, dia 23 de Julho, o, o DVD “L.I.E. Sem m Saída”, de Michael ael Cuesta +8 DVD Todas as sextas, por €1,95. 20 anos 40 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon Luís M. Oliveira Mário J. Torres Vasco Câmara mnnnn Dia e Noite mmnnn nnnnn nnnnn Escritor-Fantasma mmmmn nnnnn mmmmm nnnnn Louise-Michel mmmnn nnnnn mmnnn nnnnn Meu Filho, Olha o que Fizeste nnnnn nnnnn nnnnn mnnnn A Saga Twilight: Eclipse nnnnn nnnnn a nnnnn Shirin mmmmn mmmmn mmmmn mmmmm Shrek Para Sempre! mmmnn nnnnn mmnnn nnnnn A Teta Assustada mmmmn mmnnn mmnnn nnnnn Vão-me buscar alecrim mnnnn mmmmn mmnnn mmmmm Whisky mmmnn mmmnn mmmnn nnnnn Pai e filhos em Manhattan Estreiam O pai-herói É refrescante a forma de filmar a infância assim: o caos total. Luís Miguel Oliveira Vão-me Buscar Alecrim Go Get Some Rosemary De Ben Safdie, Joshua Safdie, com Ronald Bronstein, Sean Williams, Eléonore Hendricks. M/12 Lisboa: UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 14: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h40, 19h10, 21h45, 00h15 Domingo 11h30, 14h10, 16h40, 19h10, 21h45, 00h15; Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão Jorge Mourinha Mordam o Pescoço” (1967) ou o revisionismo algo deslocado de “Piratas” (1986), até às curiosas e mais ou menos heterodoxas adaptações de “Macbeth” (1971), “Tess” (1979) ou ao falhado “Oliver Que espantoso “contador Twist” (2005). No entanto, o que nos interessa, aqui e agora, passa pela sua de histórias” permanece o relação persistente com o “thriller”, cineasta Roman Polanski. com os vestígios revisitados do “film Mário Jorge Torres noir”, com o terror psicológico progressivamente interiorizado: das O Escritor-Fantasma fantasias terríficas de “Repulsa” The Ghost Writer (1965), dos diabolismos complexos de De Roman Polanski, “A Semente do Diabo” (1968) ou das com Ewan McGregor, Jon Bernthal, paranóias visionárias de “O Kim Cattrall, Pierce Brosnan, Olivia Inquilino” (1976), até ao “neo-noir” Williams. M/12 de “Chinatown” (1974) ou ao virtuoso grafismo “hitchcockiano” de MMMmm “Frenético” (1988), decorre todo um Lisboa: CinemaCity Campo Pequeno Praça de percurso de exploração sistemática Touros: Sala 8: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª dos mecanismos do mistério em 13h55, 16h30, 19h10, 21h50, 00h30; Medeia imagens, filmando sempre muito King: Sala 3: 5ª Domingo 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h30, 22h 6ª Sábado 2ª 14h30, 17h, 19h30, 22h, bem, com enorme rigor e um sentido 00h30; Medeia Monumental: Sala 4 - Cine Teatro: perfeito do plano e da relevância da 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h, montagem. 19h30, 22h, 00h30; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 13: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h, 16h35, “Escritor-Fantasma” encaixa nesta 19h15, 21h55, 00h30 Domingo 11h30, 14h, 16h35, pessoal preocupação com os 19h15, 21h55, 00h30; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª detalhes, com o encadeamento 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h05, 18h50, 21h40, 00h25; ZON Lusomundo Amoreiras: maníaco dos indícios, sem nunca 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40, descurar aquilo que constitui uma 18h30, 21h20, 00h10; ZON Lusomundo das suas imagens de marca, desde os CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h30, 15h15, 18h, 21h15, 00h10; ZON Lusomundo tempos precursores do seu mais Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55, conhecido filme polaco, “Uma Faca 15h55, 18h50, 21h40, 00h30; ZON Lusomundo Dolce na Água” (1962), um estudo Vita Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h10, 18h10, 21h10 6ª Sábado 15h10, 18h10, 21h10, angustiante dos diversos estádios da 00h10; ZON Lusomundo Odivelas Parque: 5ª claustrofobia: um escritor com pouco Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h40, 21h40 6ª talento (um Ewan McGregor em Sábado 13h10, 15h50, 18h40, 21h40, 00h20; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado grande forma) vê-se contratado para Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40, 18h40, 21h40, dar consistência literária e narrativa 00h25; ZON Lusomundo Torres Vedras: 5ª 6ª às memórias pessoais e políticas de Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h35, 15h20,18h05, 21h25, 00h10; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª um ex-primeiro ministro britânico 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40, (Pierce Brosnan, em registo quase 18h30, 21h25, 00h15; ZON Lusomundo Almada caricatural, numa emulação evidente Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45, 15h40, 18h35, 21h30, 00h25; ZON Lusomundo de Tony Blair, reforçada pela Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª aparição de uma espécie de “duplo” 13h10, 15h55, 18h40, 21h30, 00h20; de Condoleeza Rice), envolvido num Porto: Arrábida 20: Sala 11: 5ª 6ª Sábado escândalo de tortura (a invasão do Domingo 2ª 13h45, 16h30, 19h20, 22h10, 00h50 3ª Iraque e remissões subliminares para 4ª 16h30, 19h20, 22h10, 00h50; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª a história recente, em pano de 12h50, 15h40, 18h30, 21h20, 00h10; ZON fundo). Importante é o facto de Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado substituir um seu predecessor Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h45, 18h40, 21h40, 00h35; ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª (ausente da narrativa, mas Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 17h, 21h 6ª Sábado omnipresente nos fatos pendurados 13h50, 17h, 21h, 24h; ZON Lusomundo Marshopping: no armário ou nas fotos que 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h50, 18h50, 21h50, 00h30; ZON Lusomundo recolheu, como o fictício ado Domingo 2ª 3ª 4ª NorteShopping: 5ª 6ª Sábado agente a ente de “Intriga ag usomundo Parque 14h, 17h, 21h, 00h10; ZON Lusomundo Internacional” de omingo 2ª 3ª 4ª 13h20, Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 16h10, 19h, 21h50, 00h40; ZON Lusomundo Fórum Hitchcock), H tchcock), que Hi Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h50, 17h55, 21h20 aparentemente h20, 00h25; 6ª Sábado 14h50, 17h55, 21h20, se suicidara no Roman Polanski voltou tou às mar, ao desaparecer de primeiras páginas dos os dentro de um carro jornais pelas piores razões e o seu nome e encontrado vazio, logo nos primeiros planos do apareceu conotado com ultrapassados filme, a bordo de um “ferry” que fazia a travessia do escândalos sexuais, quase fazendo tábua continente americano para a rasa sobre uma obra a uma não identificada ilha, com contornos ficcionais de absolutamente Ewan McGregorMartha’s coerente e importante nte em grande forma sob várias perspectivas: vas: um olhar singular sobre obre o património fílmico oe literário – desde a Vineyard, paródia vampiresca de embora filmada “Por Favor Não me por razões logísticas Intriga Internacional MMMMn informações consultar www.fpcc.pt As estrelas do público No cinema actual (americano, mas para além dele) não deve haver coisa mais estereotipada do que o olhar sobre a infância, sobre as crianças, sobre as relações entre pais e filhos pequenos. Neste panorama, é refrescante encontrar um filme que, como “Vão-me Buscar Alecrim”, seja capaz de filmar a história (disfuncional) de um pai divorciado (um “pai solteiro”) e dos seus dois filhos desta maneira: caos total, a linha da irresponsabilidade cruzada mais do que uma vez, e no entanto… E no entanto, a relação entre aqueles três exala uma autenticidade sentimental comovente, uma espécie de felicidade acossada menos pelos sucessivos desastres do que pela maneira condenatória como o mundo (os “outros”) olha para os desastres. Quer dizer, “Vãome Buscar Alecrim” é a história de um “pai-herói”, mas cuja heroicidade só é (só será, um dia) reconhecida pelos filhos. Toda a gente, todos os adultos, dos professores da escola à mãe das crianças, vê naquele homem apenas um irresponsável eventualmente perigoso; mas aqueles dois miúdos, Sage e Frey, quando crescerem, farão muito provavelmente um filme sobre o pai (que até é projeccionista e lhes mostra filmes, em película e tudo). Assim o fizeram, pelo menos, Joshua e Benny Safdie, dois novaiorquinos de vinte e poucos anos: “Vão-me Buscar Alecrim” é a homenagem autobiográfica ao pai de ambos. Podemos acreditar facilmente nesta Manhattan de “hot-dogs” e jardins, apartamentos atravancados, tascas e lojinhas – podemos acreditar que é nesta Manhattan que as pessoas, de facto vivem. Há uma cena em que se evoca directamente aquela célebre foto a preto-e-branco de Weegee com os miúdos a tomarem banho de mangueira na rua (a mesma foto que, no “Padrinho”, Coppola também “reconstituiu”, e pouco importa que ela tenha sido tirada, salvo erro, em Brooklyn), o que faz todo o sentido porque é a “rua”, em sentido lato, que os Safdie querem filmar. E, no entanto, reconhecendo embora a pertinência do enquadramento de “Vão-me Buscar Alecrim” na nobre linhagem do “realismo independente nova-iorquino” (Cassavetes ‘et al’), os outros emparceiramentos que o filme dos Safdie nos sugere estão um pouco longe de Manhattan: aquele belo filme do georgiano Otar Iosseliani, “Era uma vez um Melro Cantor”, e o seu protagonista, sobrecomprometido como o pai dos Safdie, a lutar contra o tempo e contra o espaço para conseguir estar aonde tem de estar à hora a que tem de estar, o seu voluntarismo e entusiasmo sempre a jogarem contra ele; e, claro, o sítio de onde têm vindo sistematicamente os mais espantosos e “irregulares” retratos da infância e da família, o Irão: reparem na maneira como os Safdie conseguem criar um sentimento de angústia profunda a partir dos mais anódinos acontecimentos domésticos e, num ápice, dar o salto para o acontecimento extraordinário e extraordinariamente angustiante (toda a sequência, semi-absurda, com os miúdos adormecidos por um excesso de sedativos, é “cinema iraniano ‘made in’ Manhatan”, e não o dizemos com nenhuma espécie de provocação). Longe de Manhattan: o plano final, supra-sumo da melancolia desafectada com que os Safdie filmam esta história, sugere que talvez do outro lado do rio, não muito longe mas suficientemente longe dali, o pai e os dois filhos encontrem o que lhes falta, o tempo e o espaço. aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Em “Shrek Para Sempre” mantém-se a impecável qualidade técnica algures ao largo da costa alemã. E é neste contexto fantasmático que o filme nos agarra e nos emociona, criando uma tensão crescente, um delírio imagético que nunca cede à facilidade ou à demagogia: de pista em pista, de personagem em personagem, temos um retrato de corpo inteiro da paranóia (sempre a paranóia) que leva o protagonista a reconstituir o “lugar do crime”, mais interessado nos fios da trama ficcional (que espantoso “contador de histórias” permanece Polanski) do que na rede infinita de armadilhas politicamente discerníveis. Fechado numa casa, dentro de uma ilha, dentro das suas próprias perplexidades, o escritor afronta todos os fantasmas com a curiosidade de uma criança que abre os brinquedos para descobrir o que contêm no interior. Esta letal inocência confere ao labirinto de referências uma vertigem inimaginável (veja-se a prodigiosa viagem à casa do agente da CIA, guiada pela voz, também ela fantasmática, de um GPS programado, transformado em instrumento de um destino inevitável), um crescendo dramático em que cada imagem faz tanto sentido, quando a cifrada leitura anagramática do texto das memórias. Mas, como no melhor Hitchcock, tudo funciona como um pretexto, como um McGuffin, tendente a fazer do percurso e do ritmo o melhor da demanda. Claro que haverá quem aproveite a exterioridade do virtuosístico argumento (a meias entre Polanski e o autor do romance original, Robert Harris) para falar de autobiográfico ajuste de contas com os tentaculares poderes americanos de que foi “vítima”, sublinhando as coincidências do exílio forçado e as manobras intimidatórias, mas o essencial passa por ideias de cinema puro: o gélido ambiente da casa modernista, a recordar imaginativamente (e sem cópias simplistas) a de James Mason, em “Intriga Internacional”; as cinzentas brumas da ilha; as mensagens escritas que passam de mão em mão; o encontro, também ele “hitchcockiano”, com uma figura que parece não fazer parte da história (inesquecível “cameo” do grande Eli Wallach); a perturbante presença do feminino mortalmente carnívoro, dando a Olívia Williams, a mulher do ministro, uma densidade inesperada. Tudo no seu lugar, como um “puzzle” gigantesco que se desenrola com a perfeição dos grandes divertimentos fílmicos do passado. Que prazer se torna viver, durante duas horas, dentro de uma redoma cinematográfica, em que as coincidências com o contexto político exterior apenas acentuam o fingimento sistemático das formas fugidias e mutáveis! Duas horas alucinadamente burras James Mangold tem a cabeça no sítio certo mas não tem tarimba para que o espectador esqueça que o que está a ver não tem ponta por onde se lhe pegue. Jorge Mourinha Dia e Noite Knight and Day De James Mangold, com Tom Cruise, Cameron Diaz, Peter Sarsgaard, Viola Davis. M/12 MMnnn 20: Sala 16: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h05, 16h40, 19h20, 22h, 00h35 3ª 4ª 16h40, 19h20, 22h, 00h35; Cinemax - Penafiel: Sala 2: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 21h50 6ª 15h30, 21h50, 24h Sábado 15h, 17h30, 21h50, 24h Domingo 15h, 17h30, 21h50; Vivacine - Maia: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h50, 21h30, 00h05; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h15, 18h50, 21h50, 00h25; ZON Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h40, 21h30 6ª Sábado 15h40, 18h40, 21h30, 24h; ZON Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h30, 19h, 21h55, 00h25; ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h10, 18h50, 21h35 6ª Sábado 13h20, 16h10, 18h50, 21h35, 00h15; ZON Lusomundo Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h30, 21h30, 00h15; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h, 19h, 22h, 00h40; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h40, 21h40, 00h20; Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h20, 18h40, 21h40 6ª Sábado 13h10, 15h20, 18h40, 21h40, 00h10; ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h45, 18h40, 21h30 6ª Sábado 13h, 15h45, 18h40, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h30, 19h10, 21h55, 00h40; Que grande filme que, noutras mãos, “Dia e Noite” podia ter sido. A Lisboa: Atlântida-Cine: Sala 1: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª história de um super-espião que 15h30, 21h30 Sábado Domingo 15h30, 18h15, arrasta para uma aventura 21h30; Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 1: 5ª 2ª caleidoscópica e muito confusa uma 3ª 4ª 15h40, 18h30, 21h40 6ª 15h40, 18h30, 21h40, 24h Sábado 13h10, 15h40, 18h30, 21h40, 24h incauta restauradora de motores é a Domingo 13h10, 15h40, 18h30, 21h40; Castello Lopes mais perfeita encarnação do - Loures Shopping: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo “macguffin” Hitchcockiano desde o 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h30, 21h25, 24h; CinemaCity Alegro Alfragide: Cinemax: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h45, imortal “Intriga Internacional” 15h55, 18h20, 21h50, 24h Sábado Domingo 11h35, (1959): isto é, o objecto que é 13h45, 15h55, 18h20, 21h50, 24h; CinemaCity nominalmente o motor que põe a Beloura Shopping: Cinemax: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h40, 18h20, 21h30, intriga em movimento (uma suposta 23h40; CinemaCity Campo Pequeno Praça de pilha revolucionária) não tem Touros: Sala 2: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h40, 15h50, absolutamente importância 18h35, 21h40, 23h55 Sábado Domingo 11h30, 13h40, 15h50, 18h35, 21h40, 23h55; Medeia Saldanha nenhuma. O que interessa é o modo Residence: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª como esse “macguffin” possibilita, ao 4ª 14h30, 17h, 19h30, 22h, 00h30; UCI Cinemas - El mesmo tempo, uma nostalgia Corte Inglés: Sala 9: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h45, 19h15, 21h45, 00h15 Domingo 11h30, 14h10, positiva da comédia de espionagem 16h45, 19h15, 21h45, 00h15; UCI Dolce Vita dos anos 1960, a destruição Tejo: Sala 10: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h45, sistemática da sua lógica interna e a 19h15, 21h45 6ª Sábado 14h15, 16h45, 19h15, 21h45, 00h15; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado sua reconstrução a partir de dentro Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h20, 19h, 21h30, como uma espécie de “screwball 24h; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado comedy” arraçada de desenho Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h50, 18h40, 21h30, 24h; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª animado — e Cameron Diaz, com a Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h40,18h15, sua presença luminosa, é a actriz 21h20, 23h50; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª ideal para encarnar essa “décalage” Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h10, 18h45, 21h25, 00h15; ZON Lusomundo Dolce Vita entre o humor e a acção. O problema Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30, é que o muito estimável James 21h30 6ª Sábado 15h30, 18h30, 21h30, 00h30; ZON Mangold, que se está a tornar num Lusomundo Odivelas Parque: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h30, 18h10, 21h20 6ª Sábado 13h, 15h30, muito interessante herdeiro dos 18h10, 21h20, 23h50; ZON Lusomundo Oeiras velhos funcionários de Hollywood Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, (confirme-se em “Walk the Line”, 15h45, 18h25, 21h15, 24h; ZON Lusomundo Torres Vedras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 2005, e “O Comboio das 3.10”, 2007), 16h05,18h40, 21h40, 00h20 ; ZON Lusomundo tem a cabeça no sítio certo mas não Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª tem ainda a tarimba que lhe permita 12h55, 15h30, 18h15, 21h40, 00h25; Castello Lopes C. C. Jumbo: Sala 3: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, conseguir que o espectador se 16h, 18h30, 21h30 30 6ª Sábado 13h20, 16h, 18h30, esqueça de que o que 21h30, 00h20; Castello Lopes - Fórum Barreiro: Sala está a ver não tem 4: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h30, 18h30, 21h30 6ª Sábado do 12h40, 15h30, 18h30, 21h30, (nem é suposto ter) su 24h; Castello Lopes pes - Rio Sul Shopping: Sala 1: 5ª ponta por po onde se lhe 6ª Sábado Domingo mingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h50, pegue. O resultado é 18h50, 21h40, 24h; 4h; UCI Freeport: Sala 1: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h40,, 18h40, 21h20 6ª um “blockbuster” “b 15h40, 18h40, 21h20, 1h20, 23h40 cuja aposta na Sábado 13h30, 15h40, 5h40, 0,, irrisão e cujo ir 18h40, 21h20, 23h40 tom Domingo descontraído 13h30, 15h40, e 18h40, 21h20; ZON ON Lusomundo Almada mada Fórum: despretensioso d 5ª 6ª Sábado Domingo são sabotados a 2ª 3ª 4ª 13h, 15h45, 5h45, cada passo pela cad Cameron Diaz, 18h35, 21h20, 24h; 4h; ZON Lusomundo Fórum um própria sua p uma presença Montijo: 5ª 6ª Sábado incapacidade de levar até luminosa, ao pé Domingo 2ª 3ª 4ª às últimas consequências a con de Tom Cruise, 13h15, 15h50, 18h20, h20, 21h20, 24h; desconstrução. desconstruçã E, sempre igual a si sobretudo, é um filme Porto: Arrábida próprio sabotado pela presença da sua vedeta nominal, um Tom Cruise que, por mais que tente, não é capaz de se libertar da sua intensidade habitual, mesmo estando supostamente a brincar com a sua própria imagem de marca, nem de invocar o charme “blasé” que um papel destes implica. Desde que não se lhe peça nada mais do que duas horas alucinadamente burras, “Dia e Noite” é o divertimento de Verão ideal. Continuam Shrek Para Sempre Shrek Forever After De Mike Mitchell, com Mike Myers (Voz), Eddie Murphy (Voz), Cameron Diaz (Voz), Antonio Banderas (Voz). M/6 MMnnn Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 5: 5ª 2ª 3ª 4ª 14h50, 17h, 19h10, 21h10 (V.Port.) 6ª 14h50, 17h, 19h10, 21h10, 23h40 (V.Port.) Sábado 12h40, 14h50, 17h, 19h10, 21h10, 23h40 (V.Port.) Domingo 12h40, 14h50, 17h, 19h10, 21h10 (V.Port.); Castello Lopes - Londres: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h30 (V.Port./3D) 6ª Sábado 14h, 16h30, 19h, 21h30, 24h (V.Port./3D); Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h, 17h, 19h, 21h, 23h30 (V.Port.); Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 5: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h20, 17h25, 19h30, 21h35, 23h45 (V.Port./3D); CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 15h45 (V. Port./3D); CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h30, 23h40 (V. Port./3D); CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 2: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, 21h55, 23h55 (V.Port./3D) Sábado Domingo 11h30, 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, 21h55, 23h55 (V. Port./3D); CinemaCity Beloura Shopping: Sala 2: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h45, 15h50, 17h50, 19h50, 21h50, 23h55 (V.Port./3D) Sábado Domingo 11h30, 13h45, 15h50, 17h50, 19h50, 21h50, 23h55 (V. Port./3D); CinemaCity Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 16h (V.Port./3D); CinemaCity Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 3: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h35, 15h35, 17h35, 19h35, 21h35, 24h (V.Port./3D) Sábado Domingo 11h35, 13h35, 15h35, 17h35, 19h35, 21h35, 24h (V.Port./3D); Medeia Fonte Nova: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h15, 18h10, 20h05, 22h (V.Port.); Medeia Saldanha Residence: Sala 5: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 15h50, 17h50, 19h50, 21h50, 00h20 (3D); UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 12: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h30, 18h55, 21h45, 00h10 Domingo 11h30, 14h10, 16h30, 18h55, 21h45, 00h10; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 6: 5ª 6ª Sábado 2ª 14h05, 16h15, 18h40, 21h30, 23h50 (V.Port./3D) Domingo 11h30, 14h05, 16h15, 18h40, 21h30, 23h50 (V.Port./3D) 3ª 4ª 14h05, 16h15, 18h40, 23h50 (V. Port./3D); UCI Dolce Vita Tejo: Sala 2: 5ª 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h, 18h15, 21h15 (V.Port./3D) 6ª Sábado 13h45, 16h, 18h15, 21h15, 23h30 (V.Port./3D) Domingo 11h30, 13h45, 16h, 18h15, 21h15 (V.Port./3D); UCI Dolce Vita Tejo: Sala 3: 5ª 2ª 3ª 4ª 14h, 16h15, 18h45, 21h50 (3D) 6ª Sábado 14h, 16h15, 18h45, 21h50, 00h10 (3D) Domingo 11h30, 14h, 16h15, 18h45, 21h50 (3D); ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h50, 16h, 18h10, 21h, 23h50 (V.Port.) Sábado Domingo 11h15, 13h50, 16h, 18h10, 21h, 23h50 (V. Port.); ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 13h20, 14h10, 15h30, 16h30, 18h40, 21h20, 22h, 23h30, 00h10 (V. Port./3D) 6ª 2ª 3ª 4ª 13h20, 14h10, 15h30, 16h30, 17h40, 18h40, 19h50, 21h20, 22h, 23h30, 00h10 (V. Port./3D) Sábado Domingo 11h, 13h20, 14h10, 15h30, 16h30, 17h40, 18h40, 19h50, 21h20, 22h, 23h30, 00h10 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h20, 22h, 00h15 (3D); ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h50, 21h, 23h20 (V. Port./3D) Domingo 11h, 13h30, 16h, 18h50, 21h, 23h20 (V.Port./3D); ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h10, CONCURSO JOVENS JOVEN NS CRIADORES CRIADORE 2010 0 .ARTES AARTES PLÁSTICAS. PLÁSTT .BANDA BANDA DESENHADA. DESENNH .ILUSTRAÇÃO. ÇÃO. ..ARTES ARTES DIGI DIGITAIS. T .FOTOGRAFIA. F FI .VÍDEO. O. .DANÇA. DANÇA Ç TEATROO .MÚSICA. A .DESIGN SIGN DE EQUIPAMENTO. EQUIP .DESIGN DESIGN GRÁFICO. GRÁF .JOALHARIA. RIA .MODA.. .LITERATURA. UR ¶ INSCRIÇÕESS AATÉ 26 DE JULHO LH REGULAMENTOS EM ARTESIDEIAS.COM JUVENTUDE.GOV.PT Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 41 Cinema aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente A química entre o par amoroso de “Eclipse” funciona cada vez menos Porto: Arrábida 20: Sala 15: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h, 16h30, 18h55 (V.Port./3D), 21h35, 00h20 3ª 4ª 16h30, 18h55 (V.Port./3D), 00h20; Arrábida 20: Sala 20: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h15, 16h50, 19h25, 22h10, 00h45 3ª 4ª 16h50, 19h25, 22h10, 00h45; Arrábida 20: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h30, 17h, 19h25, 21h45, 00h10 (V.Port./3D) 3ª 4ª 17h, 19h25, 21h45, 00h10 (V.Port./3D); Cinemax - Penafiel: Sala 1: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 21h55 (V.Port.) 6ª 15h30, 21h55, 23h55 (V.Port.) Sábado 15h, 17h30, 21h55, 23h55 (V. Port.) Domingo 15h, 17h30, 21h55 (V. Port.); Nun`Álvares: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 16h30, 19h30 (V. Port./3D); Vivacine - Maia: Sala 1: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h10, 18h40, 21h10, 23h30 (V. Port./3D) Domingo 11h10, 13h40, 16h10, 18h40, 21h10, 23h30 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h40, 24h (V.Port./3D); ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h20, 21h10, 23h40 (V.Port./3D) Domingo 11h, 13h30, 16h, 18h20, 21h10, 23h40 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h, 17h20, 19h40, 22h (V.Port./3D 6ª Sábado 15h, 17h20, 19h40, 22h, 00h20 (V.Port./3D Domingo 11h, 15h, 17h20, 19h40, 22h (V.Port./3D; ZON Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h50, 18h10, 21h20 (V.Port./3D) 6ª Sábado 15h50, 18h10, 21h20, 23h50 (V.Port./3D) Domingo 13h10, 15h50, 18h10, 21h20 (V.Port./3D); ZON Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 13h20, 15h, 15h50, 17h20, 18h20, 19h40, 21h, 21h50, 23h30, 24h (V.Port./3D); ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h, 18h30, 21h15 (V.Port./3D) 6ª Sábado 13h15, 16h, 18h30, 21h15, 23h45 (V.Port./3D) Domingo 10h45, 13h15, 16h, 18h30, 21h15 (V.Port./3D); ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª 2ª 3ª 4ª 14h, 16h45, 19h15, 22h (V.Port./3D) 6ª Sábado 14h, 16h45, 19h15, 22h, 00h30 (V.Port./3D) Domingo 11h15, 14h, 16h45, 42 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon 19h15, 22h, 00h30 (V. Port./3D); ZON Lusomundo Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h30, 17h50, 20h10, 22h30, 00h40; ZON Lusomundo Marshopping: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h10, 18h40, 21h20, 23h50 (V. Port./3D) Domingo 11h, 13h40, 16h10, 18h40, 21h20, 23h50 (V.Port./3D); ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 10h20, 12h30, 14h50, 17h20, 19h50, 22h10, 00h30 (V.Port./3D); ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h50, 18h30, 21h30, 24h (3D); ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 12h40, 12h50, 13h30, 15h, 15h20, 15h50, 17h30, 18h, 18h30, 19h50, 21h, 21h20, 22h10, 23h20, 23h50, 00h25 (V.Port./3D) Domingo 10h30, 10h40, 10h50, 12h40, 12h50, 13h30, 15h, 15h20, 15h50, 17h30, 18h, 18h30, 19h50, 21h, 21h20, 22h10, 23h20, 23h50, 00h25 (V.Port./3D); Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45, 15h, 17h10, 19h20, 21h20 (V.Port./3D) 6ª Sábado 12h45, 15h, 17h10, 19h20, 21h20, 23h30 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h50, 19h25, 22h (V. Port./3D) 6ª Sábado 14h15, 16h50, 19h25, 22h, 00h35 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h55, 18h30, 21h10 (V.Port./3D) 6ª Sábado 13h20, 15h55, 18h30, 21h10, 23h45 (V. Port./3D) Domingo 10h50, 13h20, 15h55, 18h30, 21h10 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h20, 18h55, 21h30, 00h05 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h55, 19h30, 22h, 00h35 (V.Port./3D) Domingo 11h, 14h20, 16h55, 19h30, 22h, 00h35 (V.Port./3D); “Schrek para Sempre” permanece fiel à lógica dos filmes anteriores da série: sólido, divertido, aspirando a cumprir as suas funções de atrair o público infantil, sem descurar nunca uma piscadela de olho aos adultos, acompanhantes ou não de crianças fãs do ogre verde. Perdeu-se a magia da surpresa inicial, mas mantém-se a impecável qualidade técnica, ao serviço de um argumento algo previsível. O acrescento do inevitável 3 D (que é o que está a dar) pouco traz de particularmente excitante. No entanto, tudo bem, “Shrek” fica na história da animação como um marco importante. Só que, depois de vermos “Toy Story 3”, entendemos a diferença entre o virtuosismo e o cinema com ideias lá dentro. M. J. T. A Saga Twilight: Eclipse The Twilight Saga: Eclipse De David Slade, com Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner. M/12 a Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 4: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h50, 18h40, 21h30 6ª 15h50, 18h40, 21h30, 00h10 Sábado 13h, 15h50, 18h40, 21h30, 00h10 Domingo 13h, 15h50, 18h40, 21h30; Castello Lopes Londres: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h45, 19h15, 21h45 6ª Sábado 14h15, 16h45, 19h15, 21h45, 00h15; Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 1: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h20, 18h50, 21h40, 00h15; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 5: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h35, 16h10, 18h45, 21h45, 00h20; CinemaCity Alegro Alfragide: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 22h; CinemaCity Beloura Shopping: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h15, 18h55, 21h40, 00h15; CinemaCity Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h10, 18h45, 21h30, 00h05; CinemaCity Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h55; Medeia Fonte Nova: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h40, 19h10, 21h40; Medeia Monumental: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h30, 24h; UCI Cinemas - El Corte Inglés: Sala 5: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h, 16h35, 19h15, 21h50, 00h25 Domingo 11h30, 14h, 16h35, 19h15, 21h50, 00h25; UCI Dolce Vita Tejo: Sala 9: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h30 6ª Sábado 14h, 16h30, 19h, 21h30, 00h30; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 15h50, 16h50, 18h50, 18h55, 21h, 21h40, 23h45, 00h30; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h10, 19h, 21h50, 00h25; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h, 15h50, 18h10, 18h40, 21h05, 21h30, 23h45, 00h20; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 13h25, 15h45, 16h30, 18h35, 19h30, 21h30, 22h30, 00h20; ZON Lusomundo Dolce Vita Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h, 18h, 21h 6ª Sábado 15h, 18h, 21h, 24h; ZON Lusomundo Odivelas Parque: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40, 18h30, 21h30 6ª Sábado 12h50, 15h40, 18h30, 21h30, 00h10; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h45, 17h20, 18h20, 20h50, 21h20, 23h50, 00h10; ZON Lusomundo Torres Vedras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45, 15h35,18h25, 21h15, 24h; ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h45, 18h35, 21h30, 00h20; Castello Lopes - C. C. Jumbo: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h40, 21h20 6ª Sábado 13h10, 15h50, 18h40, 21h20, 00h10; Castello Lopes - Fórum Barreiro: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 12h30, 15h20, 18h20, 21h10 6ª Sábado 12h30, 15h20, 18h20, 21h10, 23h50; Castello Lopes - Rio Sul Shopping: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h30, 18h30, 21h30, 00h10; Castello Lopes Rio Sul Shopping: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h50, 18h40, 21h25, 00h10; ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 12h55, 15h30, 15h45, 18h20, 18h35, 21h10, 21h35, 00h05, 00h25; ZON Lusomundo Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h45, 18h25, 21h25, 00h15; Porto: Arrábida 20: Sala 12: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 15h20, 18h20, 21h20, 00h20; Arrábida 20: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 13h45, 16h20, 19h05, 21h50, 00h35 3ª 4ª 16h20, 19h05, 21h50, 00h35; Cinemax Penafiel: Sala 3: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 21h45 6ª 15h30, 21h45, 00h05 Sábado 15h, 17h30, 21h45, 00h05 Domingo 15h, 17h30, 21h45; Vivacine Maia: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 17h, 21h, 23h50; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h50, 18h40, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h40, 19h30, 22h30; ZON Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h20, 18h30, 21h40 6ª Sábado 15h20, 18h30, 21h40, 00h30; ZON Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h45, 21h30, 00h30; ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, 17h15, 21h20 6ª Sábado 14h15, 17h15, 21h20, 00h25; ZON Lusomundo Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h20, 21h40, 00h35; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h20, 13h20, 15h30, 16h20, 18h40, 19h20, 21h40, 22h20, 00h50; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h30, 13h10, 15h30, 16h, 18h20, 18h50, 21h30, 22h, 00h30, 00h45; Castello Lopes - 8ª Avenida: Sala 3: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h30, 18h30, 21h30 6ª Sábado 12h50, 15h30, 18h30, 21h30, 24h; ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h40, 17h40, 21h15 6ª Sábado 14h40, 17h40, 21h15, 00h15; ZON Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10, 17h30, 21h, 24h; Quem ainda acredita em milagres? Depois do disparate de “Lua Nova”, bastaria mudar de realizador para melhorar o produto e dar consistência às peripécias vampirescas e pseudo-românticas, criadas para pôr as adolescentes patetas e histéricas em delírios trementes? “Eclipse” é tão inútil e estúpido como o seu predecessor e nem uma aparente maior violência física lhe traz sangue novo. A tão propalada química entre o par (ou trio) amoroso funciona cada vez menos (se é que alguma vez funcionou) e os efeitos especiais continuam de uma pobreza confrangedora. Que dizer mais? De fugir a sete pés. Nem com mil transfusões lá vai. M.J.T. Cinemateca Portuguesa R. Barata Salgueiro, 39 Lisboa. Tel. 213596200 Sexta, 16 Terça, 20 O Defunto Protesta Here Comes Mr. Jordan De Alexander Hall. A Passagem do Noroeste Northwest Passage De King Vidor. 15h30 - Sala Félix Ribeiro 15h30 - Sala Félix Ribeiro Veludo Azul Blue Velvet De David Lynch. . O Pequeno Criminoso Le Petit criminel De Jacques Doillon. 19h - Sala Félix Ribeiro 19h - Sala Félix Ribeiro Sicilia! De Danièle Huillet , Jean-Marie Straub. Cézanne De Danièle Huillet, Jean-Marie Straub. 19h30 - Sala Luís de Pina 19h30 - Sala Luís de Pina A Ilha de Moraes De Paulo Rocha. 22h - Sala Luís de Pina Rocco e Seus Irmãos Rocco e i suoi fratelli De Luchino Visconti. 21h30 - Sala Félix Ribeiro Aliens - O Reencontro Final Aliens De James Cameron. Irmãos Inseparáveis Dead Ringers De David Cronenberg. 22h30 - Esplanada 22h - Sala Luís de Pina Sábado, 17 Quarta, 21 Inquérito a um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita Indagine su un Cittadino al di Sopra di Ogni Sospetto De Elio Petri. Amor Selvagem Canyon Passage De Jacques Tourneur. 15h30 - Sala Félix Ribeiro 15h30 - Sala Félix Ribeiro Sexo, Mentiras e Vídeo Sex, Lies, and Videotape De Steven Soderbergh. 19h - Sala Félix Ribeiro Um Beijo ao Morrer Kiss Before Dying De Gerd Oswald. 19h - Sala Félix Ribeiro O Pequeno Criminoso Le Petit criminel De Jacques Doillon. Aelita De Yakov Protazanov. Com Iulia Solntseva, Nicolai Tsereteli, Valentina Kuindji. 114 min. 19h30 - Sala Luís de Pina Killer’s Kiss De Stanley Kubrick. 19h30 - Sala Luís de Pina The Racket De John Cromwell. 21h30 - Sala Félix Ribeiro De Hoje para Amanhã Von heute auf morgen De Danièle Huillet, Jean-Marie Straub. 22h - Sala Luís de Pina 22h - Sala Luís de Pina Eles Vivem They Live De John Carpenter. 22h30 - Esplanada Segunda, 19 Track of the Cat De William A. Wellman. 15h30 - Sala Félix Ribeiro A Fronteira do Amanh Amanhecer hecer e La Frontière de l’Aube De Philippe Garrel. el. Quinta, 22 RUI GAUDÊNCIO 17h25, 19h40, 22h, 00h15 (3D); ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h30, 21h, 23h30 (V.Port./3D) Domingo 11h, 13h20, 16h, 18h30, 21h, 23h30 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45, 15h15, 17h35, 21h50, 00h10 (3D); ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h20, 21h10, 23h30 (V.Port./3D) Domingo 11h, 13h30, 16h, 18h20, 21h10, 23h30 (V. Port./3D); ZON Lusomundo Dolce Vita Miraflores: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h20, 17h30, 19h40, 21h50 (V.Port./3D) 6ª Sábado 15h20, 17h30, 19h40, 21h50, 23h50 (V. Port./3D) Domingo 11h, 15h20, 17h30, 19h40, 21h50 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Odivelas Parque: 5ª 2ª 3ª 4ª 13h, 13h30, 15h, 16h, 17h15, 18h20, 19h30, 21h, 21h50 (V.Port./3D) 6ª 13h, 13h30, 15h, 16h, 17h15, 18h20, 19h30, 21h, 21h50, 23h30, 24h (V.Port./3D) Sábado 11h, 13h, 13h30, 15h, 16h, 17h15, 18h20, 19h30, 21h, 21h50, 23h30, 24h (V.Port./3D) Domingo 11h, 13h, 13h30, 15h, 16h, 17h15, 18h20, 19h30, 21h, 21h50 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h, 14h, 15h10, 16h20, 17h30, 18h45, 19h50, 21h10, 22h10, 23h40 (3D) Domingo 10h45, 11h15, 13h, 14h, 15h10, 16h20, 17h30, 18h45, 19h50, 21h10, 22h10, 23h40 (3D); ZON Lusomundo Torres Vedras: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h50, 18h10, 21h, 23h30 (V.Port./3D) Domingo 11h, 13h15, 15h50, 18h10, 21h, 23h30 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h50, 21h10, 23h50 (3D); ZON Lusomundo Vasco da Gama: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h20, 17h35, 19h45, 21h50, 24h (V. Port./3D) Sábado Domingo 11h, 13h10, 15h20, 17h35, 19h45, 21h50, 24h (V.Port./3D); Auditório Charlot: Sala 1: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 21h30 (V.Port.) Sábado Domingo 16h, 21h30 (V.Port.); Castello Lopes - C. C. Jumbo: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h10, 17h20, 19h30, 21h40 (V.Port./3D) 6ª Sábado 13h, 15h10, 17h20, 19h30, 21h40, 23h50 (V. Port./3D); Castello Lopes - Fórum Barreiro: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h10, 17h20, 19h30, 21h40 (V.Port./3D) 6ª Sábado 12h50, 15h10, 17h20, 19h30, 21h40, 23h40 (V.Port./3D); Castello Lopes Rio Sul Shopping: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h10, 17h20, 19h20, 21h20, 23h40 (V. Port./3D); UCI Freeport: Sala 5: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h10, 21h10 (V.Port.) 6ª 15h30, 18h10, 21h10, 23h15 (V.Port.) Sábado 13h15, 15h30, 18h10, 21h10, 23h15 (V. Port.) Domingo 13h15, 15h30, 18h10, 21h10 (V. Port.); ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h05, 17h15, 19h20, 21h50, 00h15 (3D); ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h15, 17h25, 19h35, 21h40, 23h55 (V.Port.) Domingo 11h, 13h05, 15h15, 17h25, 19h35, 21h40, 23h55 (V.Port.); ZON Lusomundo Almada Fórum: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h30, 18h15, 21h, 23h25 (V.Port./3D) Domingo 11h, 13h20, 15h30, 18h15, 21h, 23h25 (V. Port./3D); ZON Lusomundo Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h, 13h30, 15h30, 17h, 18h30, 19h20, 21h, 21h40, 23h30, 00h05 (V.Port./3D) Domingo 11h, 13h, 13h30, 15h30, 17h, 18h30, 19h20, 21h, 21h40, 23h30, 00h05 (V.Port./3D); A Viúva Alegre The Merry Widow De Ernst Lubitsch. 15h30 - Sala Félix Ribeiro Cida Cidade d de Viscos Viscosa Fat City De John Huston. Husto 19h - Sala Félix Ribeiro Rib 19h - Sala Félix Ribeiro Irmãos Inseparáveis áveis Dead Ringers De David Cronenberg. berg. Sexo, Mentiras Sexo, S Mentir e Vídeo Sex, Lies, and an Videotape De Steven So Soderbergh. 19h30 - Sala S Luís de Pina 21h30 - Sala Félix Ribeiro o Two Wrenching g Departures + The Scenic Route Two Wrenching g Departures De Ken Jacobs. 19h30 - Sala Luís de Pina O Lutador da Rua Walter Hill De Walter Hill. 22h - Sala Luís de Pina Du Duma Vez por Todas T De Joaquim D Leitão. 22h - Sala Luís de Pina Conan e os Bárbaros Conan the Barbarian De John Milius. 22h30 - Esplanada “Duma Vez por Todas” é primeiro filme de Joaquim Leitão ELSA GALVÃO Teatro/Dança JOÃO MEIRELES João Meireles Solo “Dentro das Palavras” é a primeira peça a solo do autor e intérprete Rui Catalão (colaborador do Ípsilon). Estreou ontem no espaço Negócio da Galeria Zé Dos Bois em Lisboa e e pode ser vista às quintas, sextas e sábados (21h30) até dia 24. Nela Rui Catalão faz um balanço de A peça reflecte sob como o sobre co corpo vive o a afastamento progressivo da linguagem falada como principal forma de expressão. dez anos a trabalhar na dança. “Dentro das Palavras” da partiu ainda dos anos que o autorr viveu na Roménia. Agenda Séverine protagoniza um monólogo divertido e amargo Teatro Januário de Oliveira (a partir de), Gil Vicente (a partir de). Estreiam Évora. Largo de São Mamede. Até 31/07. 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 22h00. entrada livre. Long Distance Hotel De Gilles Polet, Goran Sergej Pristas, Judith Davis, Leo Preston, Tiago Rodrigues, Tónan Quito. Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei Miguel Contreiras, 52. De 22/07 a 30/07. 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Tel.: 218438801. 12€ (sujeitos a descontos). Estreiam Um actor, só Duas peças encenadas por Jorge Silva Melo (uma da sua autoria) para o Festival de Almada, têm apenas um actor (ou uma actriz) em palco, a sós com a sua voz. Raquel Ribeiro Fala da Criada dos Noialles Que no Fim de contas Vamos Descobrir Chamar-se Também Séverine numa Noite de Inverno de 1975 em Hyères De Jorge Silva Melo Com Elsa Galvão, Vânia Rodrigues, Pedro Lamas, Pedro Mendes, António Simão, entre outros. Encenação Jorge Silva Melo, Co-produção Artistas Unidos / Culturgest/ Festival de Almada Lisboa, Culturgest, R. Arco do Cego – Ed. CGD. 16/07 e 17/07 às 21h30 e 18/07 às 17h. Bilhetes a 12 euros. Um Precipício no Mar De Simon Stephens Com João Meireles Encenação Jorge Silva Melo Co-produção Artistas Unidos/ Culturgest/Festival de Almada Lisboa, Culturgest, R. Arco do Cego - Ed. Sede CGD. 15/07 às 19h30 e 21h30, 16/07 e 17/07 às 19h30 e 23h, dia 18/07 às 16h e 18h30. Bilhetes a 5 euros. Parece haver have uma grande coincidência entre os cortes na coincidênc anunciados pela ministra Cultura anu (entretanto Gabriela Canavilhas Ca revogados) e a peça “Fala da Criada Noialles” escrita e encenada por dos Noialle Melo, que estreia hoje na Jorge Silva M Culturgest e faz parte do Festival de Almada. Apesar de escrita em Alm 2006, Silva Melo explica 20 que q os dois últimos versos (“a ( arte não serve para nada. Só para gastar n dinheiro”) ganham agora d “uma actualidade “u inesperada sobre as in relações entre a arte e o r dinheiro”. d A criada dos Noialles (chamava-se Séverine) conta, num monólogo divertido e algo amargo, o jantar entre o realizador Luis Buñuel e o seu mecenas, o Conde de Noialles (patrono de vários artistas do surrealismo como Man Ray ou Dalí). Foi ao ler as memórias de Buñuel, “O Meu Último Suspiro” (ed. Fenda), que Silva Melo se inspirou para escrever esta peça sobre um “jantar de surdos”, o Conde e Buñuel, já velhos, onde só a criada tem voz, “porque as criadas são as personagens mais picantes do Buñuel”. A criada conta com ironia como o conde era um aristocrata rico, como a sua casa, na Paris dos anos 20, estava sempre cheia de estrelas (até Marlene Dietrich veio um dia, “trombuda”, “a pôr baton entre duas fumaças do mesmo gitanes sem filtro”), e como agora, na decadência, “até nem espelhos já temos, aqueles de Veneza comprouos um suíço dos relógios ou era da Nestlé?”. Silva Melo escreveu que “Fala da Criada” é uma “peça sem qualquer importância”. No fundo, continua, “é só uma peça de teatro” escrita para a sua actriz, Elsa Galvão. Se calhar, “os quatros anos pesam na actriz e em mim”, conta Silva Melo, “olho para ela de forma mais amarga do que antes”. E admite: “Há ali uma amargura maior que não havia na altura, e que se instalou com os anos.” “Fala da Criada” é teatro “básico”: uma actriz, a sua voz e 22 figurantes (fantasmas que já passaram por aquela casa, que surgem por um minuto, vestidos à época, cantando em coro “Amour Fou”). Noutro palco, menos iluminado e grandioso, está o actor João Meireles em “Um Precipício no Mar”, peça do inglês Simon Stephens, também encenada por Silva Melo. Mas não é bem um palco, não há uma luz especial, não há plano mais alto. O actor está sentado ao nosso (espectadores) lado. O monólogo pode durar 37 ou 45 minutos, “consoante o humor do actor”, ou seja, “leva o tempo que for preciso” para contar a história de 27º Festival de Teatro de Almada Manuel de Irradiação iRádio-acção De Álvaro Garcia de Zuñiga. Encenação: Álvaro Garcia de Zuñiga, Arnaud Churin. Com Alínea B. Issilva, Arnaud Churin, Eduardo Raon, Emanuela Pace, Pedro Moreira. Almada. Fórum Municipal Romeu Correia. Pç. Liberdade. De 17/07 a 18/07. Sáb. e Dom. às 18h. Tel.: 212724928. 13€ e 7€. Continuam 27º Festival de Teatro de Almada Letra M Encenação: Fernando Mora Ramos. Com Johannes Von Saaz, João Vieira. Almada. Sociedade Filarmónica Incrível Almadense. R. Capitão Leitão,3. Até 17/07. 5ª e 6ª às 19h00. Sáb. às 16h00. Tel.: 212750929. M/16. Ode Marítima Santa Joana dos Matadouros De Bertold Brecht. Encenação: Gustavo Trestini. Coimbra. Oficina Municipal do Teatro. (Vale das Flores) R. Pedro Nunes. Até 18/07. 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30 (excepto a 11/007). Dom. às 19h00. Tel.: 239718238. A Transformação Encenação: Cláudia Negrão. Com José Mateus Pedro Barbeitos. Lisboa. Teatro da Comuna. Pç. Espanha. Até 31/07. 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às 16h30. Tel.: 217221770. 10€ (sujeitos a descontos). Quintasfeiras: 5€. Reservas: 968382245. As Espingardas da Senhora Carrar De Bertolt Brecht. Encenação: António Durães. Com André Figueira, António Parra, Clara Nogueira, Inês Leite, José Topa, Julieta Guimarães, Luís Silva, Pedro Estorninho. Porto. CACE Cultural do Porto. R. do Freixo, 1071. Até 24/07. 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 22h00. Tel.: 225191600. O Burguês Fidalgo De Molière. Encenação: Cláudio Hochman. Com Alexandre Ferreira, Catarina Guerreiro, Fernanda Paulo, Joana Duarte Silva, João Didelet, Marina Albuquerque, Paulo Duarte Ribeiro, Sílvia Filipe. Lisboa. Palácio Beau Séjour. Estrada de Benfica. Até 25/07. 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, Sáb. e Dom. às 20h00. Tel.: 217712420.entrada livre. Dança Estreiam De Fernando Pessoa. Encenação: Claude Régy. Com Jean-Quentin Châtelain. Almada. Teatro Municipal. Av. Professor Egas Moniz. Até 16/07. 4ª, 5ª e 6ª às 21h30. Tel.: 212739360. Em francês. O Dia de Todos os Pescadores À Flor da Pele + Lento para Quarteto de Cordas + 5 Tangos Companhia: Companhia Nacional de Bailado. Coreografia: Hans van Manen, Vasco Wellenkamp, Rui Lopes Graça. Lisboa. Teatro Nacional de São Carlos. Lg. S. Carlos, 17. De 20/07 a 21/07. 3ª e 4ª às 22h. Tel.: 213253045. Entrada livre. Festival ao Largo 2010. Impacto Companhia: Quorum Ballet. Dramaturgia Pedro Alves. Coreografia e cenografia: Daniel Cardoso. Interpretação: Elson Ferreira, Filipe Narciso, Henriette Ventura, Inês Godinho, Theresa Da Silva. Alcobaça. Cine-Teatro. R. Afonso de Albuquerque. Dia 17/07. Sáb. às 22h. Tel.: 262580890. 5€.M/12. De Francisco Luís Parreira. Encenação: João Cardoso. Com João Cardoso, Jorge Mota, Micaela Cardoso, Pedro Frias, Rosa Quiroga. Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. Até 31/07. 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às 16h00. Tel.: 223401905.10€ e 15€. Se o Mundo Fosse Bom, o Dono Morava Nele De Ariano Suassuna (a partir de), um homem que viu morrer a filha a cair de um precipício. Uma peça sobre uma tragédia (a morte), o luto (de um homem igual a nós), mas também sobre os silêncios que se impõem à urgência de contar. “O autor quis sentir a dificuldade de contar de uma pessoa que, no fundo, é a dificuldade de escrever de Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo Companhia: Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo. Coreografia: Clara Andermatt, Denise Namura, Michael Bugdahn. Olival Basto. Centro Cultural da Malaposta. R. Angola. De 17/07 a 18/07. Sáb. às 21h30. Dom. às 16h. Tel.: 219383100. Entrada livre. No Auditório. M/6. Duração: 75m. um autor. E quis passar esse incómodo para o nosso lado”, explica Silva Melo. Esta personagem está ali, em fanicos, e nós é que temos de apanhar os cacos. “Aquele homem está ao nosso lado visivelmente a sofrer. E nós, o que fazemos? “Deixamo-lo sozinho?”, pergunta Silva Melo. Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 43 Livros Ficção Café Europa Com um talento de mestre da arte narrativa, Neuman teceu, com palavras luminosas, uma espécie de mosaico cultural europeu. José Riço Direitinho O Viajante do Século Andrés Neuman Tradução de Vasco Gato Objectiva mmmmn MIGUEL MADEIRA O prolífico autor hispano-argentino Andrés Neuman (n. 1977) estreou-se na ficção aos 22 anos com o romance “Bariloche”, que foi finalista de um dos mais prestigiados concursos literários de língua espanhola, o Premio Herralde. A propósito deste primeiro romance de Neuman, Roberto Bolaño escreveu em tom profético no seu Andrés Neuman em Lisboa a promover o romance com que recebeu o Prémio Alfaguara 2009 44 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon livro de ensaios “Entre Paréntesis” (Anagrama, Barcelona, 2004): “Quando encontro estes jovens escritores, dá-me vontade de me pôr a chorar. Ignoro o futuro que os espera. Não sei se um condutor bêbado os atropelará uma noite, ou se de repente deixarão de escrever. Se nada disto acontecer, a literatura do século XXI pertencerá a [Andrés] Neuman e a outros poucos dos seus irmãos de sangue.” (pág. 149). Até agora, Neuman não desacreditou as palavras do genial chileno, publicou 12 volumes de poesia, três livros de contos e quatro romances, o último deles, “O Viajante do Século”, foi distinguido em 2009 com o Prémio Alfaguara e o Prémio Nacional da Crítica espanhola; está desde há pouco tempo traduzido para português. A história decorre em meados do século XIX, numa cidade algures entre Berlim e Leipzig, num lugar entre as fronteiras da Saxónia e da Prússia. Um enigmático viajante, Hans, chega à cidade ficcional de Wandernburgo para pernoitar. Hospeda-se na estalagem da família Zeit (que significa “tempo”, em alemão) apenas por uma noite, antes de (era esta a sua pretensão) seguir para sul, para Dessau. Na manhã seguinte, Hans tem a impressão “de que a planta da cidade se desarrumava enquanto todos dormiam”. Até à hora aprazada para a saída da carruagem, entretém-se a identificar as ruelas que percorre mais do que uma vez, mas perde-se, invariavelmente; o único lugar que se mantém sempre acessível é a Praça do Mercado, “onde os comerciantes apregoavam as suas mercadorias em voz baixa e os negócios fechavam-se quase ao ouvido”. Entretanto, encontra um velho sábio tocador de realejo (que estará presente ao longo de todo o romance), que vive numa gruta nos arredores da cidade; conversam, bebem cervejas, o tempo passa, e a carruagem parte. Hans prolonga a sua estada por um dia; e no dia seguinte por mais outro, e assim se vão sucedendo os dias, porque entretanto conhece o senhor Gottlieb e a sua culta e “fascinante” filha, Sophie, noiva do aristocrata Wilderhaus. O enigmático Hans começa a ser convidado para os encontros artístico-filosóficos que têm lugar na mansão dos Gottlieb todas as sextas-feiras, e onde se discutem (superficialmente) algumas das ideias de Kant, Fichte, Novalis, Schelling, Goethe, dos irmãos Schlegel, entre outros; é uma oportunidade para Hans estar mais perto de Sophie, por quem entretanto desenvolve uma paixão. Conhece também o negociante espanhol Álvaro de Urquijo, de quem se torna amigo, e que lhe diz: “Eu já estou aqui de passagem há mais de dez anos.” (pág. 87) Aos poucos, a cidade, com a sua “mobilidade”, vai adquirindo também um estatuto de personagem. Há quem se interrogue: “Wandernburgo seria a mesma? Ou não continuaria apenas a deslocar-se sigilosamente, como também a mudar de aspecto? Teria uma fisionomia definida ou seria antes um lugar ausente, uma espécie de mapa em branco?” (pág. 281) Esta cidade de Andrés Neuman é a Europa do século XIX, enredada num labirinto, e em constantes mudanças, quer políticas quer ideológicas, mas onde as conversas versam temas também actuais como os nacionalismos, as independências, a emigração, a xenofobia, a união económica e cultural do continente, ou mesmo o feminismo e a educação sentimental. Não é sem intenção que o autor cria no romance o Café Europa, lugar onde os nomes mais importantes da cidade se encontram. Ou ainda põe na boca do céptico espanhol palavras amargas (que poderiam também ser ouvidas hoje numa rua europeia a propósito, por exemplo, do Tratado de Lisboa) que descrevem um quadro onde se reproduz a reunião do Congresso de Viena: “O mesmo de sempre!, dezenas de senhores gordos a decidirem o destino da Europa!, palhaços protocolares reunidos para se encherem de comida e decidirem a data da próxima reunião!, uma legião de senhores que olham para os anéis e assinam em nome dos seus povos!” (pág. 462). Há da parte de Neuman uma clara vontade de abordar temas actuais transferindo-os para uma Europa da Restauração, uma Europa ainda mal refeita das acções políticas e bélicas de Bonaparte. Mas também a literatura ocupa muito do “plot” do romance. Hans é um pretenso tradutor poliglota – trabalha por correspondência para revistas e para uma editora – e faz disso mais um pretexto para se encontrar mais vezes com a amada Sophie, que também conhece várias línguas. Juntos aventuram-se na tradução de autores como Coleridge, Wordsworth, Keats, Byron, Milton, Lamartine, Gérard de Nerval, Quevedo e Bocage, entre outros (o interessante é que o leitor parece assistir em “tempo real” às traduções); tudo numa espécie de esquisso de uma futura “antologia da poesia europeia”; é a luz da ideia romântica da “Weltliteratur”, de Goethe, que a ilumina. Numa linguagem de um grande e talentoso lirismo, Neuman teceu (com a precisão e o requinte de um ourives) uma espécie de mosaico cultural europeu, de onde não está ausente o diálogo entre o romance clássico e a narração pós-moderna. Uma nota final (e um aplauso) para a esmerada tradução de Vasco Gato. A decadência do coração Apoiada no simbolismodecadentista, Djuna Barnes antecipou em 30 anos o olhar “camp”. Eduardo Pitta O Bosque da Noite Djuna Barnes Tradução de Francisco Vale e Paula Castro Relógio d’Água mmmmn A literatura está cheia de personagens que fazem a lenda da cena literária. Lou Andreas-Salomé, Karen Blixen, Harold Acton, Paul Bowles, James Merrill e Sam Shepard, para citar meia dúzia de nomes “fortes”, são exemplos (muito diferentes entre si) dessa constelação fulgurante. A crítica alinha-os na categoria de autores de culto. Por maioria de razão entra aqui Djuna Barnes (1892-1982), escritora e poeta contra todas as probabilidades. Nascida e criada no seio de uma família disfuncional, teve o privilégio de ver um dos seus primeiros livros prefaciado por T. S. Eliot: “A prosa de Miss Barnes tem o ritmo da prosa que é próprio do estilo da prosa e um modelo musical que não é o da poesia [o qual] eleva à mais alta intensidade a matéria que se comunica.” Eliot descreve “O Bosque da Noite” (1936), primeiro dos quatro romances de temática homossexual que marcaram a era pré-Stonewall. Os outros são “Reflexos nuns Olhos de Oiro” (1941), de Carson McCullers; “A Cidade e o Pilar” (1948), de Gore Vidal; e “Outras Vozes, Outros Quartos” (1948), de Truman Capote. Sobre todos, o livro de Djuna tem a vantagem de ter antecipado em 30 anos o olhar “camp”. As origens Djuna Barnes aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Obra completa O Prémio Camões 2010, o escritor brasileiro Ferreira Gullar, vai passar a ser publicado pela editora Babel. Este mês sairá “Poema Sujo” (escrito em 1975, na época de ditadura militar, quando o autor ainda se encontrava exilado em Buenos Aires). E em Setembro, a Babel lançará o seu novo livro de “suburbanas” e uma adolescência pouco convencional não impediram Djuna de atravessar o Atlântico, fixando-se em Paris, onde foi aceite no círculo ultra-elitista de Natalie Barney. Sem grande esforço, a rapariguinha desamparada de Bridgeport passou a integrar a genealogia ilustre dos “habitués” do n.º 20 da Rue Jacob: Rainer Maria Rilke, Marina Tsvetáeva, André Gide, Olga Rudge, Ezra Pound, Peggy Guggenheim, Scott Fitzgerald, Sylvia Beach, William Carlos Williams, Gertrude Stein, James Joyce, Somerset Maugham e outros expatriados. Djuna chegara envolta num halo de escândalo: “The Book of Repulsive Women” (1915), a estreia literária, que mais tarde renegará, fizera dela o centro de uma “cause célèbre”. A época fica marcada pela ligação amorosa que manteve com a escultora Thelma Wood. Ciente da condição de “outsider”, publicará em 1928 o sulfuroso “Ladies Almanack”, violenta catilinária contra o lesbianismo-chique. Natalie Barney e todas as suas amantes são personagens do livro. “O Bosque da Noite” ficou concluído em 1932, quando Djuna vivia em Londres. É uma reflexão amarga dos anos parisienses (192031), bem como dos equívocos, possibilidades e limites da itinerância sexual. Djuna, que teve amantes de ambos os sexos, sabe do que fala. O tom elíptico não diminui a pulsão trágica (Eliot vai ao extremo de citar a tradição isabelina), nem disfarça a relação conflituosa que manteve com Thelma Wood: “No coração de Nora repousava o fóssil de Robin, entalhe da sua identidade, e à sua volta, para que se conservasse, corria o sangue de Nora.” Fica claro que Robin Vote é o “alter-ego” de Thelma: “Procurei Robin em Marselha, em Tânger, em Nápoles, procurei-a para a compreender, para acabar com o meu terror. Disse a mim própria: farei o que ela fez, hei-de amar o que ela poemas, “Em Alguma Parte Alguma”. Com publicação simultânea no Brasil, pela editora José Olympio, é amou e então voltarei a encontrá-la.” O desprezo de Djuna pela burguesia com veleidades aristocratizantes é dado logo a abrir, no retrato de Felix, que a si mesmo atribuía o título de barão de Volkbein: “Quando falava de um titular, fazia uma pausa antes e depois de lhe pronunciar o nome. [...] Sentia que o grande passado poderia talvez ser parcialmente refeito se se humilhasse o suficiente, sucumbisse e prestasse homenagem.” Mas o epítome do sarcasmo fica reservado a Jenny Petherbridge, quatro vezes viúva e completamente destituída de harmonia: “Só separada do resto do corpo é que uma qualquer parte dela se poderia considerar certa.” Tensa como um arco, a escrita extremamente elaborada de Djuna denota sentido de equilíbrio e acidez bem calibrada. O mais próximo que encontramos da retórica não tem uma palavra a mais: “o amante tem de ir contra a natureza para encontrar o amor.” Não admira que Susan Sontag tenha dito que era assim que queria escrever. Não é pequeno mérito que tudo isso seja feito sem beliscar as regras (e os matizes) do simbolismodecandentista. Humor Pompa de mestre Wit – Ensaios humorísticos Robert Benchley Tradução de Júlio Henriques Tinta da China mmmnn A expressão inglesa “pay the deeds”, que “prestar homenagem” ou “pagar dividendos” não traduzem com rigor, designa a necessidade de um artista de sucesso repartir os louros com aqueles que maior influência exerceram sobre o seu trabalho. Não o primeiro livro deste género literário depois de “Muitas Vozes”, de 1999. Seguir-se-á “Cidades Inventadas”, compilação de ficções escritas ao longo de várias décadas, publicado originalmente em 1997, e “Rabo de Foguete – Os Anos do Exílio”, memórias dos seus tempos de expatriado. sei se foi essa a intenção de Ricardo Araújo Pereira, quando deu o seu nome à colecção de livros de humor da Tinta da China, mas é o que parece acontecer com este livro. O norte-americano Robert Benchley (1889-1945) não é apenas um mestre para o humorista português. Segundo ele escreve no prefácio de “Wit”, já o era para Groucho Marx e continuou a sê-lo para sucessivas gerações de humoristas norte-americanos, até Woody Allen. “Foi um humorista a quem os mestres chamavam mestre.” E não é apenas uma referência estilística: Benchley começou por ser um jornalista (com humor), escreveu crónicas (de humor), livros (de humor), escreveu argumentos e realizou filmes (de humor) e participou como actor (humorista) em algumas comédias musicais. De resto, em 1935 ganhou um Óscar para a curta metragem “How to sleep” (que viria a gerar a série “How to…” Quem se interessa pelo ofício de fazer rir os outros tem aqui matéria de luxo para estudar. Mas “Wit” é também literatura. E Robert Benchley escreve bem (aliás, é traduzido por um bom tradutor que, não sendo especialista em humor, utiliza o português com eficácia). Sabe, por exemplo, utilizar a retórica das convenções de linguagem. Depois de descrever uma paisagem “exótica”, conclui que “é de facto uma vista magnífica, a não ser que estejamos a olhar na direcção errada”. A repetição é uma das ferramentas principais do humor (consiste em repetir algo que em si não tem piada, e que a repetição torna hilariante). Na crónica “Uma volta ao mundo com o boleeiro cigano”, depois de descrever “as exóticas fragâncias do Oriente” em Gukla, no primeiro parágrafo, no segundo apresenta-nos “o coronel humorista é a capacidade de Michington Meã, ‘o boleeiro cigano’, observar e entender qualquer que vai ser o vosso guia nesta viagem fenómeno de forma lógica, e depois à longínqua Gukla, onde (ver desmontar as convenções que primeiro parágrafo)”. A leitura do habitualmente deturpam o sentido primeiro parágrafo diz assim… “onde da realidade. A convenção, para o as exóticas fragrâncias do Oriente”, caso, é a do documentário (que é etc. suposto reproduzir o real sem o Escreve tão bem, Benchley, que retocar; ao mesmo tempo esse real chegamos a saber da sua boa deve “acontecer”, ou seja, ter educação (estudou em Harvard), até acontecimentos), e que por seu lado mesmo quando pretende ser inclui outra convenção, a de que as desrespeitoso. A propósito das masmorras, ou as caves das lendas, palestras de espiritismo em que são lugares escuros (escuridão que participou, diz ter mantido o silêncio tem de ser dramatizada, de outro em todas: “sobretudo por que passei modo a cave não podia ser filmada). quase todo o tempo a comer Eis como Benchley desmonta e bolachas.” Benchley não fala com a remonta tudo isto: “Decidido a boca cheia. aclarar a verdade de uma destas O desrespeito pelas convenções lendas, desloquei-me ao tempo, à morais da sua época, factor de meia-noite, e desci à cave. Podem cómica marotice, agora que esses ver-me aqui, graças à luz intensa de mesmos valores entraram em dois projectores de cinema que por desuso, ganham um efeito de cómico acaso trouxemos (…) o que seria bota-de-elástico: “Comecei as minhas aquilo do meu lado direito? Estaquei, experiências de espiritismo em 1909, com as câmaras assestadas em mim. quando estava sentado no escuro Era o rumor de uma mulher a com uma rapariga que mais tarde soluçar! Por sorte, os microfones acabou por não ser a minha esposa. esposa.” estavam a funcionar . f ncionar fu Notemos agora o uso devidamente.” so falacioso de e devida amente.” um pormenor como elemento Numa Nu uma crónica distintivo: “Tinham então sobre ntão sobr b e a “febre de começado a ser usados fenos” os os feno n s” (de que o relógios de ponteiros autor au diz fosforescentes e eu tinha sofrer), em que nha um doss poucos que havia na cidade. Na o registo de realidade, eu tinha um “conselhos m dos poucos relógios da cidade.” práticos” luta dade.” Aqui interrompemos a frase com o “relato e porque Benchley abusa. Estica-se do a-se na piada e perde piada. Continuemos uemos a frase: “porque a maiorr parte das pessoas ainda usava ass ampulhetas de outrora.” A frase termina ermina com uma última oração, ão, que não tem piada nenhuma: “por serem m [as ampulhetas de Robert Benchley na colecção outrora] mais de humor da Tinta da China cómodas.” Uma das principais ferramentas de trabalho de um bom Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 45 Este Vero, encontre uma coisa diferente para estimular a sua mente. COLECÌO P-IQ. 96 pginas com passatempos. De 3 de Julho a 4 de Setembro, o Pblico lana 10 cadernos semanais de passatempos que vo seduzir a sua mente e estimular a sua inteligncia com desafios, enigmas e jogos de lgica que pode levar para a praia ou para a piscina. Coleco de 10 livros. Periodicidade: semanal. Dia da semana: Sbado. PVP: 1,40Û Preo total da coleco: 14,00Û. Data de incio: 3 de Julho. Data de fim: 4 de Setembro. Limitado ao stock existente. To dos o s Sbado s p or ap e n mais Û1 as ,40, com o Pblico . Poesia paciente” (que luta com a doença e a incredulidade que a doença inspira nos outros), o autor explica como resolveu o problema (de ter uma doença ridícula) sem resolvê-lo (ou seja, continuando a sofrer da doença): “ “retirar-me para um quarto escuro, fechar as janelas e passar o tempo a rasgar pedacinhos de papel entre 18 de Agosto e 15 de Setembro”. A coincidência cómica é outro efeito de humor que Benchley utiliza, através de um acontecimento secundário, que surge entre parêntesis: “Estou a dar pancadinhas tão fortes na madeira que o homem do quarto ao lado gritou agora mesmo: ‘Entre!’”; “Quando eu era rapaz (lembro-me bem de o presidente Franlkin Pierce [que morreu vinte anos antes de Benchley nascer] também exclamar: ‘E que belo rapaz!’)”. O parêntesis é o recurso estilístico em que Benchley consegue os melhores efeitos de humor, mas também os piores. Seguem-se dois exemplos da sua falta de piada entre parêntesis: “Segundo opiniosas informações provenientes de Paris (se é que aceitamos as opiniões de uma cidade tão mal afamada)”; “Apreciador de cavalos como eu sou, quando os conheço pessoalmente (e com uma mão cheia de açúcar garanto que consigo criar amizade com qualquer cavalo – ou então perco a mão até ao punho na tentativa)”. O humor vive muito de tornar o irracional razoável e a razão tornar-se absurda. Tal deve-se ao facto dos humoristas serem dos poucos seres inteligentes a aperceberem-se que a razão é apenas uma convenção de sentido cuja solidez tem um prazo de validade ou um ângulo favorável. O humorista é também alguém que se apercebe que os valores, hábitos e crenças de uma dada época, tornamse ridículos com o surgimento de outros paradigmas. A passagem do tempo, e as mudanças que o tempo traz, é assim uma das alavancas do humor. O que este livro tem de melhor tem a ver com as convenções do tempo. O que este livro tem de pior tem a ver com as convenções do autor. Benchley, por vezes, torna-se tão ridículo como as convenções que pretende ridicularizar, porque também ele é um produto do seu tempo: sublinha o seu sentido de humor como quem ri da sua piada. Ou seja, Benchley é escravo da necessidade de fazer rir, o que nem sempre tem piada. Para a época em que trabalhou, foi sem dúvida corrosivo, mas a passagem do tempo veio revelar um humor também pomposo. Esse esquema mental, no entanto, também pode ter a sua graça, pois até um observador do seu quotidiano (e os bons humoristas são sempre observadores que desconstroem o seu quotidiano) se Depois da conferência rência so, de Caetano Veloso, agora é a vez da sua irmã, Maria Bethânia, oesia homenagear a poesia guesa em língua portuguesa com leituras na Casa a, Fernando Pessoa, os em Lisboa. Textos d Sophia de Mello de Br Breyner, Vinicius de Moraes, João G Guimarães Rosa, de p poetas africanos e a ainda de Manuel B Bandeira, Padre António Vieira, Clarice Lispector, Má Mário de Andrade, pode tornar alvo, digamos assim, de um olhar antropológico: “Dispormos de um carregador que nos leve a bagagem é uma prática desportiva que só há relativamente pouco tempo começou a ter aceitação nos Estados Unidos. Impôsse com a feminização da nossa raça e com a moda dos punhos nas camisas” (em “A vida desportiva na América: seguir o carregador”). Pomposo é também o subtítulo do livro, ao chamar “ensaios” a crónicas. Seria também interessante nesta compilação incluir as datas dos textos e, tendo em conta o impacto cultural das revistas para onde Benchley escrevia, até as publicações em que surgiram. Rui Catalão Crónicas O que fica do que passa Por Outras Palavras Manuel António Pina Modo de Ler mmmmn Pessoa, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro serão lidos pela cantora brasileira. A leitura será intercalada com canções, algumas a capella. Quartafeira, dia 21 de Julho, às 17h30. A entrada é livre. com touradas, praxes académicas, com o higienismo, a obsessão sexual da Igreja, o filistinismo cultural e as asneiras gramaticais). A selecção de textos é talvez excessivamente extensa (são redundantes todas aqueles ataques ao “eduquês”), e Pina sofre a sina de todos os cronistas, que é ter de lidar com assuntos que envelhecem depressa. Por isso, ele sabe muitas vezes encontrar o essencial de uma situação, independentemente das circunstâncias datadas. O país, reconheça-se, é generoso em peripécias, da reprodução de Courbet apreendida em Braga às “greves de fome” de cinco horas. Várias crónicas são sobre os desvarios da alta finança. Pina cita muito a propósito o seu administrador de condomínio: “A situação, embora alarmante, não é preocupante”. Especialmente agudas são as crónicas que sublinham que a crise, quando chega, não chega a todos. Politicamente, as opiniões de Pina são de esquerda (exceptuando uma rara equanimidade face a Israel); uma esquerda independente e desiludida, que viveu 68 e 74 e viu as suas ilusões desfeitas, os seus heróis “corrompidos pela vida”. O outro Pina, mais intimista, é aquele que revela a faceta do (óptimo) poeta que também é. São textos sobre a memória, sobre isso de sermos feitos de memórias, de palavras escassas mas justas, de uma incessante procura de sentido. Textos sobre os nomes dos amigos mortos nas agendas, sobre encontros falhados, flashes da infância, os gatos, a solidão dos livros. E, sempre, aquilo a que Pina chama o “mistério gratuito da poesia”. Não apenas da poesia escrita, mas da experiência poética do mundo, na qual convivem Winne-the-Pooh e Ruy Belo, um pardal e um blogue, Bresson e George Best, o futebolista que disse: “Gastei muito dinheiro em álcool, miúdas e carros; o resto esbanjei-o”. Pedro Mexia Ciberescritas Digital “versus” impresso É Isabel Coutinho “Por Outras Palavras & mais crónicas de jornal” é uma antologia das crónicas de Manuel António Pina, organizada pelo seu amigo Sousa Dias. São 244 textos, publicados entre 1994 (data da excelente colectânea “O Anacronista”) e 2009. A maioria das crónicas foi publicada no “Jornal de Notícias” (textos mais curtos, diários) e na revista “Visão” (textos mais longos, semanais). Em geral, as crónicas semanais respiram melhor, são mais elaboradas, menos presas resas à ditadura da actualidade. As peças ças mais curtas, em contrapartida,, são comentários incisivos ao estado o do mundo. Mas há em ambos os Jakob Nielsen formatos a mesma reflexão sobre bre o http://www.useit. efémero, ou sobre aquilo que a com/ passagem do tempo torna efémero, mero, dos grandes acontecimentos àss emoções privadas. A crónica está stá sempre à beira de se tornar anacrónica, excepto para aqueles eles que sabem decantar o que fica daquilo que passa. As crónicas de tema público aqui recolhidas são algo Manuel António Pina e os comentários atípicas na imprensa incisivos ao estado do mundo portuguesa. Manuel António Pina é talvez o menos arrogante te dos nossos colunistas, e a arrogância é a doença infantil dos fazedores de opinião. Pina a mostra-se quase sempre tímido, o, afável, melancólico, quieto. Mesmo as suas indignações são o geralmente irónicas, ou então recorrem à paródia swiftiana (há excepções: fica zangado FERNANDO VELUDO/NFACTOS Livros aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente uma batalha perdida? Os seres humanos lêem mais rapidamente um livro de ficção impresso do que a mesma obra no iPad ou no Kindle. Foi esta a conclusão a que chegou um estudo feito pela empresa de consultadoria Nielsen Norman Group: o tempo de leitura nestes aparelhos digitais é menor do que era no passado, mas não é menor do que quando se lê em papel. Foi o dinamarquês Jakob Nielsen, especialista em usabilidade dos produtos informáticos e um dos directores desta empresa, que divulgou algumas das conclusões deste estudo na sua coluna “Alertbox” (é publicada no seu “site” duas vezes por semana). Há uns meses, quando o iPad foi lançado, Jakob analisou várias das aplicações disponíveis para o novo “tablet” da Apple. Quis ver se elas se adaptavam convenientemente ao objectivo para que foram concebidas. Mais recentemente, Jakob Nielsen quis saber se a velocidade de leitura variava consoante o aparelho em que se lia. O investigador sabia de antemão que é muito melhor ler um livro de ficção deitado num sofá com um “tablet” nas mãos do que estar sentado a uma secretária a ler, o mesmo livro, num computador. Mas será que os “tablets” – computadores pessoais que podem ter ecrãs tácteis e são mais portáteis do que os outros – são tão bons para ler como um livro impresso? Para o descobrir, a equipa do Nielsen Norman Group fez um estudo sobre a leitura de obras de ficção em dois dos mais famosos aparelhos electrónicos: o iPad da Apple (aparelho ainda na primeira geração) e o Kindle da Amazon (já na segunda geração). Deixaram de lado a leitura de páginas na Internet e de jornais e concentraram-se na leitura de uma narrativa linear: a leitura de uma ficção com princípio, meio e fim. No iPad o texto de ficção era lido com a ajuda da aplicação gratuita e instalada de origem, iBook. Os investigadores concentraram-se só na velocidade de leitura, não testaram se essas aplicações eram fáceis de usar pelos utilizadores. Pediram a cada um dos 24 participantes deste estudo que lesse um conto do escritor norte-americano Ernest Hemingway num computador, num iPad, num Kindle e num livro impresso. Escolheram Hemingway por considerarem que a sua leitura é cativante e não muito difícil. A leitura do conto demorava em média 17 minutos e 20 segundos. Menos tempo do que se demora a ler um romance ou um livro de estudo, mas mais tempo do que a leituras que as pessoas costumam fazer quando estão na Internet. No final da leitura os participantes tinham que responder a um questionário com perguntas sobre o que acabaram de ler. Chegaram à conclusão de que a compreensão do texto era boa em todas as plataformas. Venham então os números: a velocidade de leitura do conto do Hemingway num iPad foi mais baixa em 6,2 por cento do que a velocidade atingida por um leitor do mesmo conto num livro impresso. Quando a leitura do conto passou a ser feita no Kindle, a velocidade de leitura ainda foi mais baixa em 10,7 por cento, quando comparada com o tempo que demora a ler impressa. No final, os investigadores perguntaram aos participantes do estudo qual era o grau de satisfação que sentiam em relação à leitura nestes aparelhos. A pontuação ia de 1 a 7. Em média o iPad teve 5,8 pontos (apesar de as pessoas se queixarem de que era pesado); o Kindle (5,7 pontos), o livro impresso (5,6) e a leitura no computador foi a pior classificada (3,6). Ler em papel foi considerado mais relaxante do que ler em aparelhos digitais e ler no computador é desconfortável, não dá prazer, porque lembra o trabalho. Lemos mais rapidamente um livro de ficção impresso isabel.coutinho@publico.pt Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 47 Discos aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente xcelente Os australianos Triffids, de David McComb, lembrados numa antologia Pop Big Boi é mesmo grande Até agora era a metade mais desvalorizada na dupla OutKast, mas, no primeiro álbum a solo, Big Boi mostra que é tão grande como o cúmplice André 3000. Vítor Belanciano Big Boi Sir Lucious Left Foot: The Son of Chico Def Jam, distri. Universal mmmmn Talvez seja altura de olharmos de outra forma para os OutKast, a dupla que elevou ele o hiphop para pa outro através patamar na última década, déca “Stankonia” (2000) de álbuns como “Stank ou “Speakerboxxx/The Love Below” sempre André (2003). Até agora era se Benjamin (André 3000) 3000 que era a enaltecido, quando se considerava c faceta mais visionária e aventureira do duo. Era nele que se pensava, quando eram evocadas referências exteriores ao hip-hop que q a dupla incorporava. Antwan Patton, ou Boi, estava mais sseja, se ja, Big Bo próximo daquilo que padrões são os p clássicos clássic do hiphop. Talvez por T isso é visto como o mais conservador do duo. d Essa divisão E era particularmente pa sensível em se “Speakerboxxx/ “S The Love T Below”, o B á álbum duplo O hip-hop para massas segundo Big Boi em e que cada um u assinava a sua metade. su “The Love “T Below”, de Be André 3000, An era uma espécie de musical m “Singin in the “Sing Rain” em versão contemporânea. contem obra-prima de Uma obra melodias inesperadas, in e romances possíveis p impossíveis e uma impossívei sensualidade funky sensualidad como já não se ouvia desde o melhor melh Prince dos anos 80. A outra face, “Speakerboxxx”, era diferente, talvez mais próxima dos cânones do hip-hop, mas com climas luxuriantes, configurações electrónicas, ritmos sincopados e as marcas de psicadelismo, em justaposições surpreendentes. A verdade é que André 3000 é um sedutor. Big Boi não. Pelo menos não era, porque “Sir Lucious Left Foot: The Son of Chico”, o seu primeiro álbum a solo, vem baralhar as coisas. É uma obra de uma jovialidade assinalável para alguém com 16 anos de actividade, e numa altura em que o hip-hop e o R&B dirigido ao centro do mercado já conheceram melhores dias. 2010 acaba por ser um ano em grande para Big Boi. Não só edita um óptimo álbum a solo, como acaba por estar implicado na descoberta de uma das revelações do ano – Janelle Monae. Para ele o hip-hop é uma equação onde cabem tecnologia, ritmo, energia, configurações rítmicas electrónicas, climas luxuriantes e marcas de funk na linha dos Funkadelic ou Parliament. Tudo isso está presente numa obra de ritmos fantasiosos, texturas futuristas e cadências vocais perfeitas. Há uma série de convidados vocais ( Janelle Monae, T.I., George Clinton ou Gucci Mane) e de produtores (Organized Noize, André 3000, Scott Storch, Lil Jon ou Salaam Remi) e o álbum foi registado de forma espaçada ao longo de três anos. Mas não se sente dispersão. Todas as faixas respiram o mesmo grau de maturidade e espontaneidade, dando ideia que Big Boi se recreou fixando todas as peças do puzzle, conseguindo fazer passar essa exuberância para este lado. O belo desperdício Vinte anos depois, um “bestof” dos Triffids vem deixar claro que David McComb foi um dos maiores escritores de canções dos anos 80. João Bonifácio The Triffids Wide Open Road Domino, distri. Edel mmmmm Continua a tentativa de fazer voltar ao mundo a alma torturada de David McComb, o líder dos Triffids, perdido há muito para a heroína, a pneumonia e os acidentes de automóveis. Cada canção que McComb escreveu para os Triffids era como o giz que os polícias usam para desenhar no chão o contorno de um cadáver: assombrado, destrutivo, McComb cantou como quem se livra da peste, numa tentativa de afastar a poeira da morte que dia após dia assentava no seu corpo. O triste é que esta compilação de 18 temas podia ter outros 18 diferentes e ainda assim seria extraordinária – o triste é que tão poucos se lembrem disso. McComb era extraordinário em canções grandiosas como “Wide open road”, “Bury me deep in love” e “Red pony”, veículos de ultraromantismo movidos a cordas – esta última contém o ADN dos três primeiros discos dos Tindersticks (cujo líder, aliás, nos confessou numa tarde soalheira ter aprendido a escrever canções ao som dela). Mas também era espantoso na pop de guitarras de “Reverie”, que citava o ié-ié dos anos 50, na sinfonia de bolso de “Beautiful waste”, com xilofones a dobrarem as cordas antes de uma alegria juvenilesca se apoderar da guitarra, como o era na secura country da “slide guitar” de “The Seabirds” (que depois ganhava contornos épicos). Falta, quanto a mim, uma maior presença de temas de “In the Pines” (1986), disco gravado num barraco, de peles curtidas e blues debaixo do sovaco, mas a sinopse é simples: McComb foi um desses raros homens que perceberam que cada melodia só valia a pena se estivesse directamente ligada às vísceras, que percebeu que uma harmonia não era apenas a distância entre notas mas sim entre a paz e o abismo, que percebeu que só canta canções de amor quem do amor só conheceu os pontapés. No libreto há um desenho de uma árvore, com raízes fundas, tronco torto e copa despida e inclinada para o chão. Não há melhor símbolo para estas canções. Oneohtrix Point Never, ou seja Daniel Lopatin, num disco exploratório O que dizem as máquinas É com sintetizadores que se tem feito alguma da música mais entusiasmante dos cenários alternativos contemporâneo. Pedro Rios Oneohtrix Point Never Returnal Mego, distri. Matéria Prima mmmmn Emeralds Does It Look Like I’m Here? Mego, distri. Matéria Prima mmmmn Depois de um início de década em que o “underground” americano se dividiu entre o grito libertário da New Weird America e o festim de ruído de uns Wolf Eyes, Black Dice e Sightings, nos últimos tempos têmse destacado as felizes explorações do património da música cósmica, ancorada em sintetizadores analógicos. Tal como a editora Sub Pop fez com os Wolf Eyes em 2004, a Mego, editora mais habituada à electrónica mais radical e menos misericordiosa, captou a tendência e editou, praticamente em simultâneo, álbuns dos seus dois maiores nomes, Emeralds, um trio de Cleveland, e Oneohtrix Point Never, “alter ego” de Daniel Lopatin, de Nova Iorque. “Nil Admirari”, o manto de noise desfigurado que inaugura “Returnal”, parece indicar que Lopatin encontrou novos TE MP OR AM AD US IC R AL OM EN A 20 10 An ato lS TE N FA ET xa Ale Ga Do I E MP R r el BU RL ri TV ER nd DO ru HL AR CU S EB U AC V DÍ EL al gin ori e s i a qu o m zz n é de ja a na o g o i .” “Tr rupo Lisb ada g em déc , s e i a u v im q nri to últ He cer . ! oa con 007 Lag ós o m 2 ap IFP e no E NT ZZ RIE JA DA DO O N U ,O SE 30 2h MU ª2 0, o, 4 21h3 ulh o, 5ª J de ulh 28 de J 29 19ª edição 10, 17,, 24 JUL 2010, 18h00 Ténis do Parque de Serralves Programação: António Curvelo 10 JUL VIJAY IYER TRIO 17 JUL BERNARDO SASSETTI TRIO COM PERICO SAMBEAT 24 JUL “CONTACT” Dave Liebman / John Abercrombie / Marc Copeland / Drew Gress / Billy Hart Bilhetes à venda na recepção de Serralve s e em www.serralves.pt Patrocinador do Jazz do Parque Apoio Institucional cional Apoio à Internacionalização Apoio Apoio Media Fundação de Serralves / Rua D. D João de Castro, Castro 2 210 10 0-P Porto Po orto o rtto / ww rto www.serralves.pt ww w w / serralves@serralves.pt / Informações: 808 200 543 Discos aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente caminhos, depois do sublime “Rifts” (2009), que compilava os três primeiros discos de Oneohtrix Point Never. “Describing Bodies” e “Stress Waves” tratam de nos sossegar: sintetizadores a subir aos céus ao fundo, o lento respirar das máquinas, a mesma qualidade imersiva do passado. A maior novidade é “Returnal”, próxima do formato canção, que manipula a voz de Lopatin, sem sexo, duplicada, como robôs em diálogos indecifráveis – “Returnal” há-de ser citada, ao fundo, na maravilha de ecos “Preyouandi”. Se a história da música popular a Lopatin interessa para a tornar fantasma das suas composições, os Emeralds fixam-se num período em particular, a “kosmische Musik”, feita nos anos 1970, na Alemanha. Em “Does It Look Like I’m Here?”, o terceiro disco “oficial” dos Emeralds (descontando as edições limitadíssimas de que são adeptos), comprimiram as viagens de sintetizadores (e a discreta guitarra de Mark McGuire) em peças mais curtas do que no passado. Em momentos como “Now you see me” (cânticos melódicos e sintetizadores ao fundo, acordes simples de guitarra em primeiro plano) aproximam-se de territórios quase “new age”, sinal de que estão mais interessados no apelo sensorial do que em abrir novas possibilidades criativas – ideia confirmada em “Genetic”, com crescendos épicos deliciosamente previsíveis, solos de guitarra em várias camadas e cascatas de sintetizadores à Tangerine Dream (som outrora futurista, hoje nostálgico). O selo Mego pode ajudar a que se dê a importância devida a alguma da música mais interessante dos nossos tempos. Seria justo que assim fosse. Tigrala Tigrala Mbari Música mmmmn ENRIC VIVES-RUBIO O terceiro álbum de Bob Da Rage Sense O realismo mágico dos Tigrala em estreia em busca delas é menos importante que sorver o que delas frutificou. Bucólica de alpendre em fim de tarde e xamânica como ritual de outras paragens, feita de delicada filigrana sonora ou de garridas manchas sonoras em mutação, esta música existe para além do tempo. A tambura tanto sugere o movimento espiralado, ascendente, da música tradicional indiana, como se entrega à melancolia de crepúsculo mediterrânico. O magnífico trabalho de Ian Carlo Mendoza no vibrafone conduz-nos em movimentos circulares, hipnóticos, que ora ouvimos como minimalismo, arriscando magia animista, ora imaginamos como o Rhodes de Herbie Hancock entregue a outras feitiçarias que não as de Miles Davis – e enquanto a tambura divaga e o vibrafone hipnotiza, enquanto a flauta sopra beatífica como bom “freak”, a guitarra acústica de Guilherme Canhão, num fluxo incessante, vai tecendo o tapete sonoro p por p onde os Tigrala caminham. Como se percebe, já cedemos cedemo ao que não devíamos, devíamo já procurámos p pr ocurám raízes e já indicámos traves mestras. Não se p procurem em “Tigrala” coordenadas estéticas ou temporais que expliquem esta música. Não se escave sob ob a tambura, a guitarra arra acústica, as percussões cussões e o vibrafone em busca dos alicerces que tudo do esclareçam. A música dos Tigrala, ou seja, a música que nasce quando se e reúnem Norberto Lobo, Guilherme Canhão e Ian Carlo arlo Mendoza, tem raízes aízes antigas, profundíssimas,, Laura Nyro, uma cantora branca mas, quando a de garganta negra ouvimos, escavar ar Desmerecemos a música do trio, que não pede nada disso. Música fora de tempo e alheia a fronteiras, dissemos acima. Não é música do mundo, é música onde, com três músicos em digressão íntima, o mundo se reflecte. A tambura e o vibrafone, a flauta e o “cajón”, percussões turcas, guitarra acústica e estes sete temas que são “sci-fi” tropicalista e transe popular, que são trinados que rugem e melodias de uma profundidade comovente. Três Tigrala a criar realismo mágico em tempo real. Uma viagem admirável. M.L. Laura Nyro Gonna Take a Miracle Rev-Ola, distri. Mbari mmmmm Há alguns anos, por conta de mais um dos extraordinários textos do saudoso Fernando Magalhães, dei conta da existência de uma branca com coração e garganta negros, Laura Nyro. Pianista de excepção, dona de quatro oitavas de rara perfeição tonal, Nyro era uma conhecedora da escrita clássica da Tin Pan Alley, suficientemente aventureira para dirimir as fronteiras estanques em que a noção de “canção” se fechava. Era uma Nina Simone experimentalista, que introduzia esquinas nos lugares mais inesperados, as dobrava, chocalhava, empenava. “Eli and the Thirtheenth Confession” e “New York Tenderberry” tornaram-se discos de cabeceira, que só se mostravam aos amigos mais eleitos. Por alguma razão, 30 anos depois, Nyro anda a ser lentamente redescoberta – e sorte a nossa que por incúria nunca tínhamos dado atenção a este “Gonna Take a Miracle” por se tratar de um disco de versões. A questão é: conhecíamos o sabor do fruto, mas não sabíamos que as raízes eram tão viçosas. Esta é a música pela qual uma Nyro adolescente se apaixonou – e que música, quase toda negra, negra. Um extraordinário “The bells” (de Marvin Gaye), com a voz nos píncaros, “Monkey time”, em que Nyro consegue o milagre de nem fazer notar a pena de Curtis Mayfield e depois passa para “Dancing in the street”, esse hino à juventude iconizado pela maravilhosa Martha Reeves, a maior cantora negra do seu tempo. A lista de compositores é excelsa, incluindo ainda Smokey Robinson, Phil Spector (nesse majestoso e tão esquecido “Spanish Harlem”), Holland-Dozier-Holland, Ashford & Simpson e Carole King (na genial “(You make me feel like) a natural woman”. Se isto não fosse um disco de versões, podia muito bem ser um “best-of” da música pop negra dos anos 60. Assim é um disco raro – porque Nyro apropria-se de cada tema com uma paixão tremenda, só possível a quem, além de abençoado por uma voz tremenda, amou cada uma destas notas. Um disco perfeito. J.B. Bob Da Rage Sense Diários de Marcos Robert Footmovin’; distri. SóHipHop mmmnn O título aponta desde logo aquilo que existe de íntimo neste que é o terceiro álbum de Bob Da Rage Sense. “Diários de Marcos Robert” é uma digressão interior onde o MC angolano, há vários anos a viver em Portugal, cruza autobiografia e visão política, comentários para a comunidade hip-hop e dissertações sobre o país onde nasceu e aquele de que agora faz parte. O tom ora é agressivo, ora compassivo, o discurso tanto aponta um dedo acusador, sem contemplações, como procura conciliação – mostra um caminho, o seu caminho, esperando que outros o sigam. O mais interessante neste álbum, que teve primeira edição a 11 de Novembro, entretanto esgotada e prestes a ser substituída por uma segunda, é a forma como Rage Sense conjuga a dureza das palavras com uma elegância musical familiar da nu-soul de Common e, mais atrás, da soul ela mesma da década de 1970. Com João Cabrita nos metais e João Gomes nas teclas (o som nocturno e fumarento do Rhodes como que se cola às canções como identidade maior), com convidados como Sir Scratch, New Max, Dino, Raf Tag, Sam The Kid ou Tamin, “Diário de Marcos Robert” não dirá “diferente” daquilo que conhecemos no hip-hop (em) português – por exemplo, partilha o marxismo com Valete, ataca o racismo latente na sociedade portuguesa, como o fazem os Nigga Poison e, pensando em Angola, dirige o mesmo olhar crítico que MC Kapa ao regime angolano no poder. É a forma como o diz, preferindo expor clara e metodicamente os versos a lançá-los com estrondo ao microfone; é a forma como escolhe envolver o discurso em hip-hop consciente das suas raízes (travo “vintage” a soul e funk), que o destaca no cenário nacional. Ainda não é o grande álbum de Bob Da Rage Sense, mas dá passos firmes na definição de uma expressividade que, cremos, frutificará brevemente. Amanhã, numa noite partilhada com Kacetado, apresenta-se no Musicbox com nova banda, num novo formato. Uma óptima oportunidade para investigar que redescobriu Rage Sense nestes seus “Diários”. M.L. Uffie Sex Dreams and Denim Jeans Ed Banger, distri. Massala mmmnn É prática habitual dizer-se que na cultura pop o tempo é tudo. Não é apenas na pop. É em quase tudo na vida. Existem sempre contingências exteriores que não se dominam, mas ter o instinto para perceber qual o momento certo para criar ou lançar seja o que for não é para todos. É uma arte. Até agora a editora francesa Ed Banger (a estrutura de Discos aMaumMedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente Uma americana a viver em Paris, Uffie, num disco de electro projectos como os Justice, Sebastian, Feadz ou Mr Oizo) tem tido essa capacidade. Com Uffie parece ter falhado. Quando surgiu com o primeiro single (“Pop the glock”), em 2006, a americana – a residir em França – Uffie parecia condenada ao sucesso. Parecia ter a música – electropop engenhoso proporcionado por Feadz – a atitude e o visual certos para triunfar. Mas depois surgiram hesitações, contingências da vida, e o álbum de estreia foi sendo adiado. Surge agora, desgarrado, fora de prazo. Não que a sua música tenha perdido o apelo juvenil, mas porque se trata de um álbum que mais parece uma compilação dos últimos seis anos. Não existe uma ideia aglutinadora. Apenas um conjunto de canções, com contribuições de Mirwais, habitual colaborador de Madonna, dos colegas de editora Mr Oizo e Feadz e da estrela americana Pharrell Williams. Há incursões electro contaminadas pelo R&B e hip-hop, faixas de pendor dançante inspirado pelo house e uma versão de “Hong Kong garden” de Siouxsie & The Banshees, tudo isto, claro, marcado pela voz cândida de Uffie. Nada que envergonhe, mas sem o esplendor que os primeiros tempos pareciam prenunciar. V.B. Clássica actividade se repartiu entre Veneza e as cortes de Florença, Viena e Florença Innsbruck. Autor de cerca de 15 óperas, ficou famoso devido a “Il pomo d’oro” (1666), obra interpretada no casamento do imperador Leopoldo I, mas a sua restante produção é também de altíssima qualidade e merecia ser mais conhecida. “Le Disgrazie d’Amore” (1667), com libreto de Francesco Sbarra, é identificada como um “dramma giocosomorale”, fazendo uma síntese entre o registo cómico da estética veneziana e a dimensão moral e edificante implícita na ópera de corte. A trama apresenta uma delirante combinação entre personagens alegóricas e divindades pagãs que são objecto de uma caricatura que visa denunciar os excessos da paixão amorosa. A acção inicia-se com uma discussão conjugal, na qual Vénus se queixa da gruta barulhenta e cheia de fumo onde funciona a forja do seu marido Vulcano e pelo meio não faltam críticas aos costumes da época, patentes, por exemplo, no roubo da caixa de cosméticos de Vénus por Cupido ou no comportamento dos Ciclopes, que aproveitam a ausência de Vulcano para se entregarem ao jogo e à bebida. As personagens alegóricas não são menos divertidas: a Avareza é dona de uma estalagem, o Engano um charlatão e a Adulação uma cigana que adivinha o futuro. Cesti caracteriza de C forma engenh engenhosa personagens e situações, recorrendo à sua recorre inspirada veia me melódica e teatral e aos códigos da ret retórica barroca. Os recitativos e “ariosi” “ario têm forte pertinência dramática ea dramá quantidade de cenas de conjunto confere flexibilidade e continuidade ao discurso. A obra distingue-se também pela profusão de cores tímbricas, recorrendo a um “consort” de violas da gamba, a uma ampla secção de baixo contínuo e a um grupo de “ritornello” formado por violinos, violas “da braccio”, flautas, charamela e dulçaina. A direcção de Carlo Ipata à frente dos Auser Musici proporciona uma interpretação plena de vivacidade e estilisticamente consistente, contando com a mais-valia da colaboração de vários nomes ilustres do canto barroco, como é o caso de Maria Grazia Schiavo (Vénus), Furio Zanassi (Vulcano), Antonio Abete (Bronte) ou Martin Oro (Avareza). Destacam-se ainda as óptimas prestações de Cristina Arcari (Alegria) e do expressivo soprano masculino Paolo Lopez (Cupido). Regresso à Natureza Marilyn Crispell / David Rothenberg “One Dark Night I Left My Silent House” ECM, Dist. Dargil Carlo Ipata dirige uma sedutora versão da divertida e inventiva ópera barroca “Le Disgrazie d’Amore” de Antonio Cesti. Cristina Fernandes mmmmn Antonio Cesti “Le Disgrazie d’Amore” Auser Musici Carlo Ipata (direcção) Hyperion (2 CD) mmmmn 52 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon Jazz Surpreendente novo registo da pianista norte-americana Marilyn Crispell, aqui sob o signo do naturalismo e da pureza original da música. Rodrigo Amado Graças e desgraças do amor Antonio Cesti (16231669) foi uma figura-chave da escola operática veneziana do século XVII, cuja Marilyn Crispell, uma pianista com vontade de depurar a música Uma ópera barroca com direcção de Carlo Ipata Num mundo sobrecarregado de música descartável, sem sentido, infinitas cópias de géneros e linguagens musicais exploradas até à exaustão por músicos que não têm absolutamente nada para dizer, é um enorme alívio depararmo-nos com um projecto especial e sensível como este, em que se enunciam os sons de forma simples, com um mínimo de referências, sem nenhum outro propósito que não seja uma pura comunhão musical. E é exactamente isso que acontece em “One Dark Night I Left My Silent House”, registo em duo que Crispell partilha com David Rothenberg (clarinete e clarinete-baixo), músico naturalista que se dedica ao estudo dos sons dos animais, nomeadamente das baleias, desenvolvendo ainda actividade como observador de pássaros. A pianista Marilyn Crispell tem as suas grandes influências em Cecil Taylor e Paul Bley, tendo-se afirmado nas décadas de 80 e 90 como uma das mais poderosas improvisadoras femininas ao lado de músicos como Anthony Braxton (de cujo quarteto fez parte), Tim Berne, Anthony Davis ou Andrew Cyrille. Contudo, nos seus trabalhos mais recentes, Crispell tem demonstrado uma vontade clara de depurar a música, libertando-a de movimentos idiomáticos ou referências a música do passado. Aqui, juntamente com Rothenberg, constrói um álbum misterioso, profundamente lírico e espiritual, que revela uma enorme química entre os dois músicos. Às notas e sons suaves do piano de Crispell, frequentemente produzidos por uma acção directa nas cordas ou no corpo do piano, Rothenberg responde com uma moção circular de sons orgânicos, feitos de pequenas melodias simples, para um resultado final que tem tanto de fascinante como de verdadeiro. Concertos Hopkinson Smith, mestre do alaúde no Festival do Estoril Espaço Público Clássica Itália e Espanha por Hopkinson Smith Na abertura do Festival do Estoril, o grande alaúdista americano coloca em confronto a música de Luis de Milán e de Francesco Milano, dois nomes maiores da composição para cordas dedilhadas no século XVI. Cristina Fernandes 36º Festival do Estoril Hopkinson Smith (alaúde e vihuela) “O fascínio do século XVI: Milano/ Milan” Cascais, Centro Cultural, dia 17, às 21h30. O 36º Festival do Estoril inicia-se com um recital por um mestre incontestado dos instrumentos de cordas dedilhadas da Renascença e do Barroco e uma figura fundamental do movimento da música antiga e das práticas de execução históricas. Hopkinson Smith estará amanhã, às 21h30, no Centro Cultural de Cascais para apresentar um programa dedicado à música do século XVI que coloca em paralelo a obra do espanhol Luis de Milán (1500-1561) e do italiano Francesco Milano (1497-1543). Do primeiro será possível ouvir uma série de peças para vihuela (instrumento de cordas duplas em voga na Península Ibérica na época renascentista) da colectânea “El Maestro” (Valência, 1536), dedicada ao rei D. João III de Portugal e composta por Pavanas, Fantasias e Tientos. Do segundo será feito um retrato musical através de danças como a Pavana e o Saltarello, transcrições de obras vocais, Fantasias e Ricercari, interpretadas a alaúde. ao Nascido N scido em Nova Iorque em 1946, Na Hopkinson Hopk p inson Smith formou-se formou-s em Musicologia na Universidade Mu Universida de Harvard, antes de vir para a Europa em 1973 para estudar com est o grande guitarrista e pedagogo pe Emilio Pujol e com o c alaúdista ala Eugen Eu Dombois. D Em E meados de m 1970 19 foi um dos membros m pioneiros pi do agrupamento agrupament Este espaço vai ser seu. Que filme, peça de teatro, livro, exposição, disco, álbum, canção, concerto, DVD viu e gostou tanto que lhe apeteceu escrever sobre ele, concordando ou não concordando com o que escrevemos? Envie-nos uma nota até 500 caracteres para ipsilon@publico.pt. E nós depois publicamos. Hespérion XX de Jordi Savall, com o qual colaborou durante mais de uma década e gravou vários discos. A partir da década de 1980 Hopkinson Smith dedicou-se cada vez mais ao seu percurso a solo, usando instrumentos de época como a vihuela, o alaúde, a teorba e as guitarras renascentista e barroca. Gravou mais de 20 discos, muitos deles premiados, com repertório que se estende dos alvores da Renascença a J. S. Bach. É também um reconhecido pedagogo da prestigiada Schola Cantorum de Basileia e orienta frequentemente “masterclasses” em toda a Europa, na América do Norte e do Sul. Cantos à tona de água em Coimbra Festival das Artes Orquestra Metropolitana de Lisboa Coral Lisboa Cantat Cesário Costa (direcção) Coimbra, Anfiteatro Colina de Camões (Quinta das Lágrimas), dia 18, às 21h. O Festival das Artes, um projecto cultural da Fundação Inês de Castro, caracteriza-se pela sua abordagem pluridisciplinar das várias áreas artísticas em torno de um tema comum. Para a segunda edição, a decorrer entre 16 de Julho e 1 de Agosto, foi escolhida a temática da água e das suas representações no âmbito da música, do teatro da dança, do cinema, da pintura, da fotografia, da arquitectura, do património ou da gastronomia, entre outras. No plano musical o programa de cada concerto foi cuidadosamente estruturado tendo em conta esse fio condutor, como é o caso do concerto da Orquestra Metropolitana de Lisboa e do Coral Lisboa Cantat, sob a direcção do maestro Cesário Costa, no próximo dia 18. Com a designação “Cantos à tona de água” percorre um período temporal que vai dos finais do século XVIII aos inícios do século XX, incluindo trechos célebres como “O Danúbio Azul”, de J. Strauss; o Coro dos Escravos Hebreus do “Nabucco” de Verdi (cantado à beira do rio Eufrates, enquanto sonham com o rio Jordão); a Barcarola dos “Contos de Hoffmann”, de Offenbach; ou o Coro dos Marinheiros da ópera “Madame Butterfly”, de Puccini. Mas o maior interesse da proposta, que se inicia simbolicamente com a “Dança dos Espíritos Benignos” do “Orfeu e Eurídice”, de Gluck, reside na audição de duas belíssimas peças mais raramente interpretadas da autoria de Beethoven e Schubert a partir da poesia de Goethe, respectivamente “Mar calmo e viagem feliz”, op. 112, e “Canto dos Espíritos sobre as águas” D. 714. O programa é complementado pelo “Adagietto” da 5ª Sinfonia, de Mahler. O seu uso como banda sonora do filme de Luchino Visconti “Morte em Veneza” contribuiu para que no nosso imaginário esta música comovente ficasse também associada ao cenário dos múltiplos canais que rasgam Veneza e ao inesquecível protagonista da novela de Thomas Mann que seu origem à obra cinematográfica. C.F. Pop O regresso dos aristocratas de vanguarda Um revisitar de carreira com quatro históricos: Brian Ferry, Phil Manzanera, Andy MacKay e Paul Thompson. Mário Lopes Roxy Music Oeiras. Jardim do Palácio Marquês de Pombal. Largo do Marquês de Pombal - Palácio. 5ª às 22h00. Tel.: 214465300. 30€. Oeiras Sounds 10. Os Roxy Music atravessaram a década de 1970 antecipando JH?=ED (/@kb^e('$)&Ð'&"&& EgkWhj[jehec[deZ[`Wpp[jdeWfh[i[djWkch[Y_jWbZ[ci_YW _cfhel_iWZWXWi[WZWdWci_YWfefkbWhZei8WbYi$<kie[djh[`Wpp" \eba"heYa[ci_YWi_d\d_YW$ ;cYebWXehWeYece?dij_jkje9kbjkhWbHec[de$ ?D<EHC7wÂ;I;H;I;HL7I0(')+.+(** -&-()*()*J?9A;JB?D;rmmm$j_Ya[jb_d[$iWfe$fj 8?B>;J;IÀL;D:70CKI;K:EEH?;DJ;"<D79"MEHJ;D"BE@7IL?7=;DI78H;K" 8B?II"B?L$8KB>EI7E[_hWiFWhgk[[9$9$ZeFehje[fedjeiC;=7H;:;$ c[Y[dWifh_dY_fWb O maestro Cesário Costa dirige a Metropolitana de Lisboa no Festival das Artes c[Y[dWiZei[if[Yj|Ykbei 7l$8hWib_W":eYWZ[7bY~djWhWDehj[r')+&#)+(B_iXeWrJ[b$0(')+.+(&&r;#cW_b0_d\e6\eh_[dj[$fjrmmm$cki[kZeeh_[dj[$fj Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 53 Concertos O sonho pop dos School Of Seven Bells chega ao Festival Manta e podemos agradecer aos Interpol Agenda sexta 16 Jazz de Verão! O regresso dos Roxy Music com quatro históricos na formação Um dos mais dignos representantes dos ritmos quentes do jazz a abrir a temporada da Lisbon Jazz Summer School. Rodrigo Amado Festival Super Bock Super Rock 2010 Aldeia do Meco. Herdade do Cabeço da Flauta. Praia do Meco. 6ª, Sáb. e Dom. às 16h00. 40€ (dia). Passe: 70€. Palco Super Bock: Pet Shop Boys (00h40), Keane (22h40), Cut Copy (21h20), Mayer Hawthorne & The County (20h10), Jamie Lidell (19h00) Palco EDP: Grizzly Bear (23h30), The Temper Trap (22h00), Beach House (20h40), St. Vincent (19h35), Godmen (18h45) Palco @Meco: M-Nus Showcase (22h00-04h00): Richie Hawtin, Marco Carola, Magda Ver textos págs. 28 e segs. Danilo Perez Quintet Com Rudresh Mahanthappa, Ben Street, Rogério Boccato e Adam Cruz 16 Julho, CCB, Praça do Museu, Lisboa, 21h00. Bilhetes: 8,5 euros tendências. Quando nasceram, o glam estava a um par de anos de distância, mas a extravagância de Ferry e Eno, de Manzanera e Paul Thompson mostraram que um mundo pop dominado por Marc Bolan e David Bowie estava ao virar da esquina. Mais tarde, quando se reuniram em 1978 após dois anos de ausência, Brian Ferry assumiu definitivamente a pose de playboy de classe alta e a músico seguiu-o: o vanguardismo prog e o jogo de artifícios ficavam definitivamente para trás, em favor de um sofisticado romantismo de crooner. Agora, duas décadas depois de novo fim da banda (após a digressão de “Avalon”, o último álbum, editado em 1982), e nove anos depois de se terem reunido uma vez mais, os Roxy Music fazem aquilo que se espera. Revisitam a carreira e cedem espaço ao protagonismo de cada um dos históricos ainda presentes, Brian Ferry, o guitarrista Phil Manzanera, o baterista Paul Thompson e o saxofonista Andy MacKay. Esperam-se solos de Manzanera e de MacKay e a sedução de aristocrata de Ferry. Esperam-se, a julgar pelo concerto que a banda deu no início de Julho no Festival de Montreux, onde os membros originais foram acompanhados em palco por oito músicos, canções históricas como “Re-make/Re54 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon model”, “Love is the drug”, “Do the strand”, “Ladytron” ou a versão de “Jeaulous guy” que os Roxy Music gravaram em 1981. Novas velhas glórias School of Seven Bells Festival Manta Guimarães, Centro Cultural Vila Flor. Avenida D. Afonso Henriques, 701. Quinta, às 22h00. Bilhetes a 10 euros. Tel.: 253424700 Ouvimos “Babelonia” e eis-nos dentro de um desfile de memórias do indie rock dos anos 90. A canção, uma das dez de “Disconnect from Desire”, o segundo disco dos School of Seven Bells, acabado de editar, é o ponto de contacto perfeito entre o “kraut” caramelizado dos Stereolab, as paredes de ruído meticulosamente orquestradas e as vozes deixadas ao abandono infinito dos My Bloody Valentine. O grupo, que actuará quinta-feira no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, é um daqueles com tudo no sítio. “Em ‘Alpinisms’ [o disco anterior], estávamos a trabalhar juntos pela primeira vez. Acho que havia muito mais experimentação a acontecer. Estávamos a conhecer os estilos de composição de cada um e isso fez ‘Alpinisms’. Para este disco, como nos livrámos disso tudo, saiu Originário do Panamá, o pianista e compositor Danilo Perez é considerado por muitos como o grande representante da nova geração de músicos latinos de jazz. Com uma curta mas brilhante carreira, Perez gravou ou tocou já com músicos do calibre de Wayne Shorter, Jack DeJohnette, Michael Brecker, Steve Lacy, Wynton Marsalis, Charlie Haden ou Joe Lovano. Acumulando cargos no New England Conservatory e no Berklee College of Music, em Boston, Perez possui uma forte componente pedagógica em toda a sua actividade, o que faz dele uma excelente escolha para orientar o Curso de Verão da Lisbon Jazz Summer School do CCB. Num concerto que assinala também a abertura do Festival CCB Fora de Si, Perez faz-se acompanhar por um conjunto notável de músicos, dos quais se destacam o saxofonista alto Rudresh Mahanthappa, o contrabaixista Ben Street e o baterista Adam Cruz. Noite de festa garantida. um manifesto mais deliberado. Sabíamos exactamente que tipo de disco queríamos fazer”, explicou a vocalista Alejandra Deheza ao “site” Artistdirect.com. Em “Disconnect from Desire”, sucessor do muito aplaudido “Alpinisms”, há canções vagamente dançáveis, dream pop com elevados níveis de açúcar, solenidade à Cocteau Twins. Novidades, transgressão? Podem procurar noutras paragens. Os School of Seven Bells vivem um sonho pop, desde o início do grupo. Alejandra e Claudia Deheza, irmãs gémeas fixadas nas harmonias vocais dos Fleetwood Mac de “Rumors”, que pertenciam aos On!Air!Library!, encontraram m Benjamin Curtis, então nos Secret Machines, algures em 2004 – ambas as bandas fizeram primeiras partes dos Interpol. No fim de 2006, já tinham m abandonado os outros projectos ctos para se dedicarem em exclusivo sivo aos School of Seven Bells. Decidiram iram viver juntos e montar um estúdio túdio caseiro – uma opção que, disse sse Alejandra numa entrevista, em 2008, ajudou a diluir as fronteiras entre a arte e a vida. da. A aventura podia ter corrido o mal, mas, chegados a 2010, com um cuidadoso novo álbum – um disco “antiquado”, como lhe chama a editora Vagrant – os três não terão dúvidas de que valeu a pena. Podem culpar os Interpol: os Danilo Perez oferece a Lisboa School of Seven Bells estão o “calor” latino do jazz aí para ficar. Pedro Rios Natalie Cole Olhão. Real Marina Hotel e Spa. Ria Formosa. 6ª às 22h30. Tel.: 289598010.30€. Jantar-concerto: 68€. Allgarve’10. Festival Marés Vivas 2010 - Dia 16 Vila Nova de Gaia. Cabedelo. Às 18h00 (portas). Informações: 223703735 (Posto Turismo Gaia). 25€ (dia). Passe Festival: 45€. Palco TMN: Peaches (01h), Placebo (23h30), David Fonseca (22h), A Silent Film (20h45). Palco Moche: Os Azeitonas (19h), André Indiana e Mónica Ferraz (18h), Cais 447 Noite Gare (02h-06h). Amália Hoje Porto. Coliseu. R. Passos Manuel, 137. 6ª às 22h00. Tel.: 223394947. Aldina Duarte por Olga Roriz Direcção Musical: Olga Roriz. Com Aldina Duarte (voz), José Manuel Neto (guitarra portuguesa), Carlos Manuel Proença (viola), Pedro Wallenstein (contrabaixo), Manuel Paulo (piano), João Lucas (acordeão), Sebastian Scheriff (percussão), Ana Isabel Dias (harpa). Lisboa. Teatro Municipal de S. Luiz. R. Antº Maria Cardoso, 38-58. 6ª e Sáb. às 21h00. Tel.: 213257650. 10€ a 20€ (sujeito a desconto). Na Sala Principal. O São Luiz no Festival de Almada (27º Festival de Almada). Bernardo Sassetti e Sinfonietta de Lisboa Com Bernardo Sassetti (piano). Cabeção. Parque Ecológico do Gameiro. Lugar do Cabeção - Mora. Às 21h30. Tel.: 266439070. Entrada livre. Kimi Djabaté + Ska Cubano Tondela. Cine Tejá - Novo Ciclo ACERT. R. Dr. Ricardo Mota. Às 22h00. Tel.: 232814400. 10€. Passe Festival: stival: 22,5€. Desconto para sócios. No auditório o ao ar livre. Cristina ina Branco co Vila Real. l. Teatro. Alameda a de Grasse. Às 22h30. 0. Tel.: 259320000. 000. Entrada livre. The National: mais concorrência “indie” a Prince no Super Bock Super Rock RITA CARMO teatro Deolinda, a enviar cartas país fora, chegam agora a Mafra Vampire Weekend: a concorrência “indie” a Prince no Super Bock Super Rock Flauta. Praia do Meco. Às 16h00. 40€ (dia). Passe: 70€. Festival Sete Sóis Sete Luas 2010 Mário Lúcio Barcarena. Fábrica da Pólvora. Estrada das Fontaínhas. Às 22h00. Tel.: 214387460. Entrada livre. Informações: 214408565. Quarteira Rock Fest 2010 Nick Nicotine and His Mystical Orchestra (DJs Maria P., Pedro Chau, A Boy Named Sue). Vilamoura. Boomerang Café. Largo do Cinema. Às 22h00. Tel.: 289400600. Entrada livre. Ojos de Brujo + Roger Hodgson + Blasted Mechanism Concentração Internacional de Motos de Faro. Palco Super Bock: Leftfield (01h30), Vampire Weekend (23h50), Hot Chip (22h30), Julian Casablancas (21h), Tiago Bettencourt e Mantha (19h40). Palco EDP: Patrick Watson (23h10), Rita Redshoes (21h40), Holly Miranda (20h20), Sweet Billy Pilgrim (19h20), Malcontent (18h30). Palco @Meco: Ricardo Villalobos e Zip (01h-04h), Bloop Showcase: Magazino, João Maria, José Belo (22h), Henriq e Bart Cruz (21h). Manta Rota. Praia de Manta Rota - Vila Real de Santo António. Às 22h00. Entrada livre. terça 20 Cool Jazz Fest 2010 Deolinda Mafra. Jardim do Cerco. Às 22h00. 20€ a 35€. Roda de Choro de Lisboa Lisboa. Lusitano Clube. R. São João da Praça, 81 Alfama. Às 22h30. Tel.: 218869472. Ver textos págs. 28 e segs. quarta 21 Festival Marés Vivas 2010 Melech Mechaya Vila Nova de Gaia. Cabedelo. Às 18h00 (portas). Tel.: 223703735. 25€ (dia). Passe Festival: 45€. Palco TMN: Ben Harper + The Relentless7 (01h), Editors (23h30), dEUS (22h), Nikolaj Grandjean (20h30). Palco Moche: Caim (19h30), João Só e Abandonados (18h30), Isidro Lx e Loo and Placido (02h-06h). Ana Sofia Varela + As Músicas que Amália Inspirou (Maria Berasarte + Edson Cordeiro + B Anamar) Porto. Casa da Música. Pç. Mouzinho de Albuquerque. Sáb. às 21h00. Tel.: 220120220. 10€. Cool Jazz Fest António Pinho Vargas + Laurent Filipe + Groove4Tet Cascais. Parque Marechal Carmona. Parque C Marechal Carmona. Sáb. às 21h00. 20€ a 35€. M Super Disco #11: Pedro Tenreiro S Placebo, em destaque no Marés Vivas Festival Sete Sóis Sete Luas 2010 Mário Lúcio Lis Lisboa. Teatro Municipal Maria Matos. Av. Frei Miguel Contreiras, 52. Às 18h30. Tel.: 218438801. Mi Entrada livre. En Kacetado + Bob Da Rage Sense K L Lisboa. MusicBox. R. Nova do Carvalho, 24 - Cais d do Sodré. 3ª às 22h00. Tel.: 213430107. 8€. Ver texto pág. 50 Quarteira Rock Fest 2010 Com The Len Price 3, Thee Attacks, Little Cobras, Shake Shake Atta and Show Me Your Pussy. Quarteira. Calçadão de Quarteira. Sáb. às 21h00. 7,5€. Faro. Vale das Almas. Às 22h00. Tel.: 289823845. Bragança. Teatro Municipal . Pç Cavaleiro Ferreira. 4ª às 22h00. Tel.: 273302740. Entrada livre. Amália Hoje Braga. Theatro Circo. Av. Liberdade, 697. 4ª às 22h00. Tel.: 253203800. 20€. quinta 22 Estoril. Casino. Pç. José Teodoro dos Santos. 5ª às 23h00. Tel.: 214667700. Entrada livre. Cool Jazz Fest 2010 Lisboa. MNAC - Museu do Chiado. Rua Serpa Pinto, 4. Às 19h30. Tel.: 213432148. Entrada livre. ver textos págs 35 e 50 Sean Riley & The Slowriders Faro. Teatro Municipal. Horta das Figuras - EN125. Às 21h30. Tel.: 289888100. 10€ (sujeito a desconto). Marco Franco: Barulho de Câmara Com Ana Araújo (piano), José Pedro Coelho (saxofone), Marco Franco (bateria). Lisboa. Centro Cultural de Belém. Praça do Império. Às 22h00. Tel.: 213612400. Entrada livre. The Legendary Tigerman Festival Super Bock Super Rock 2010 Aldeia do Meco. Herdade do Cabeço da Flauta. Praia do Meco. Às 16h00. 40€ (dia). Passe: 70€. Maiact 2010 - Live Music Festival Batida + Mundo Secreto + Expensive Soul Festival Super Bock Super Rock 2010 Aldeia do Meco. Herdade do Cabeço da www.teatromariamatos.pt Tigrala Com Norberto Lobo (guitarra), Guilherme Canhão (guitarra), Ian Carlo Mendoza (percussão). Muxima sábado 17 6 meses, 6 artistas, 5 países, um espectáculo criado online. Mas só se vão conhecer em palco 3 dias antes da estreia. Gandarinha. Hipódromo Manuel Possolo. R. Visconde da Gandarinha. 5ª às 21h30. Tel.: 214844299.20€ a 50€. Ílhavo. Centro Cultural de Ílhavo. Avenida 25 de Abril. Às 22h00. Tel.: 234397260. Entrada livre. Palco Super Bock: Empire Of The Sun (02h), Prince (23h45), The National (21h30), Spoon (20h20), Stereophonics (19h10), Palma’s Gang (18h). Palco EDP: John Butler Trio (23h05), Sharon Jones + The Dap Kings (21h45), Wild Beasts (20h25), The Morning Benders (19h20), Stereo Parks (18h30). Palco @Meco: Laurent Garnier (02h30), Rui Vargas e André Cascais (00h30), Zé Salvador (23h), Hi-Tech2 (22h), Mary B (21h). Oeiras Sounds 10 22 a 30 Julho 21h30 (excepto dia 25) M/12 Maria Bethânia + Celso Fonseca São Martinho do Porto. Pç. Frederico Ulrich. Alcobaça. Sáb. às 22h00. Tel.: 262580844. Entrada livre. Figueira da Foz. Casino da Figueira. R. Dr. Calado, 1. 6ª às 23h00. Tel.: 233408400. 10€. Long Distance Hotel Jorge Palma domingo 18 Virgem Suta Estúdios Concursos Nacionais ETNOGRAFIA e MÚSICA Cantadeiras do Vale do Neiva A FÉ NAS TRADIÇÕES Janeiras, Páscoa, Carpideiras, Romeiros, Amentar das Almas, Natal Orq. de Bandolins de Esmoriz COM TRASTES Grupo Coral “Os Rurais” CANTE ALENTEJANO Banda Musical de Gouviães TRIBUTO a Andrew Loyd Webber Maia. Complexo Municipal de Ténis. Avenida Luís de Camões. Às 21h00. Tel.: 229411703. 5€. Festival Sete Luas Korrontzi Sete Sóis 2010 Manta Rota. Praia de Manta Rota - Vila Real de Santo António. Às 22h00. Tel.: 214408565. Entrada livre. Gotan Project Oeiras. Jardim do Palácio Marquês de Pombal. Largo do Marquês de Pombal. Às 22h00. Tel.: 214465300. 25€. Festival Sete Sóis Sete Luas 2010 Korrontzi Monsaraz. Castelo de Monsaraz. R. Castelo. Às 22h00. Tel.: 266508040. Entrada livre. 18 JULHO 2010 | 16H30 | Legendary Tiger Man apresenta o celebrado “Femina” em Ílhavo M.12 | ENTRADA GRATUITA SUJEITA À LOTAÇÃO DA SALA INFORMAÇÕES Dir. Cultural tel. 210 027 174 | cultura@inatel.pt LEVANTE OS SEUS BILHETES NO TEATRO DA TRINDADE, 3ª A SÁB. 14-20H E DOM. 14-18H www.inatel.pt Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 55