R$ 5,90 - Roteiro Brasília

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R$ 5,90 - Roteiro Brasília
Ano VIII • nº 165
25 de junho de 2009
R$ 5,90
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empoucaspalavras
Vem aí – agora mais longo, com três dias de
duração – o festival que tira mais de 40 mil brasilienses de casa, devidamente agasalhados, para curtir
o pouco tempo de inverno que temos da cidade.
Com direito a aquecimento em muitos quiosques
de restaurantes equipados para oferecer comidinhas
especiais para a ocasião. A novidade, este ano, é a
ausência de nomes internacionais e o novo endereço
do festival. Agora vai ser no estacionamento do
Mané Garrincha, justamente para facilitar o acesso e
aumentar o calor humano nos dias 3, 4 e 5 de julho.
Leia os detalhes na nossa seção Graves & Agudos,
a partir da página 19.
E já que o assunto é o inverno candango, não
deixe de ler também nossas sugestões para aplacar o
apetite que cresce na razão inversa das temperaturas
da estação. Que tal um caldinho de tilápia ou de
bacalhau? Ou um escondidinho de frutos do mar?
(leia na página 6). Curiosamente, até uma das críticas
cinematográficas desta edição faz referência ao clima
frio. Rio Congelado, de Courtney Hunt, conta a história de duas mulheres que vivem nas proximidades
de uma reserva indígena americana e, para sobreviver, passam a transportar imigrantes ilegais do
Canadá para os Estados Unidos em condições
climáticas arrasadoras (página 32).
Boa leitura e até a próxima quinzena
Maria Teresa Fernandes
Fundação Le Corbusier
Nando Reis é tricampeão do Festival de Inverno
de Brasília. Participou das duas primeiras edições e
estará aqui para esquentar a última noite da festa que
já entrou para o calendário de eventos da cidade.
Lulu Santos é bicampeão, pois virá novamente para
se juntar aos demais convidados da edição deste ano.
Entre os “estreantes”, outros craques da primeira
divisão, como Jorge Benjor, Ultraje a Rigor, Jota
Quest, Biquini Cavadão e Fundo de Quintal.
23 galeriadearte
Maquetes, projetos, esculturas e pinturas como Três mulheres
em fundo branco, de 1950, expostos na Caixa Cultural até 19 de
julho, atestam a genialidade do arquiteto francês Le Corbusier
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águanaboca
garfadas&goles
pão&vinho
roteirogastronômico
palavradochef
dia&noite
graves&agudos
brasiliensedecoração
cartadaeuropa
luzcâmeraação
Editora
ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda | SHS, Ed. Brasil 21, Bloco E, Sala 1208 – Tel: 3964.0207 Fax: 3964.0207 | Diretor
Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Redação roteirobrasilia@alo.com.br | Editora Maria Teresa Fernandes | Produção Célia Regina | Capa Ilustração/
fotomontagem de Fernando Vianna Filho | Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Reportagem Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos
Santos Franco, Beth Almeida, Catarina Seligman, Diego Recena, Eduardo Oliveira, Heitor Menezes, Lúcia Leão, Luis Turiba, Luiz Recena, Quentin
Geenen de Saint Maur, Reynaldo Domingos Ferreira, Ricardo Pedreira, Sérgio Moriconi, Silio Boccanera, Súsan Faria e Vicente Sá | Fotografia Eduardo
Oliveira, Rodrigo Oliveira e Sérgio Amaral | Diretor Comercial Jaime Recena (9666.1690) | Contato Comercial Giselma Nascimento (9985.5881) |
Administrativo/Financeiro Daniel Viana | Assinaturas (3964.0207) | Impressão Gráfica Coronário.
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águanaboca
Cardápios
de inverno
Escondidinho de frutos do mar, do Bargaço
Pratos especiais para aquecer
as noites frias de junho e julho
Por Beth Almeida U
Tornedor ao molho de gengibre com risoto, do Bier Fass
Fotos: Fabrício Rodrigues
Risoto com vinho branco e linguiça de cordeiro, do Antiquário
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Filé de robalo ao molho de ervas e especiarias, do Mormaii
ma das maravilhas desta época
do ano é aquele apetite que chega com o frio. Com a temperatura mais baixa, a comida um pouco mais
calórica nem parece ser pecado e as bebidas podem ser mais do que o popular chopinho. Para saudar essa estação, que em
Brasília não dura muito, alguns restaurantes da cidade preparam pratos e cardápios
especiais, alguns até pensando na clientela que continua querendo manter a forma
no frio.
“Estou partindo para o lado light”,
brinca Issa Attie, do BSB Grill, para explicar o lançamento dos pratos individuais
na loja da Asa Sul, com novos cortes de
carne, como o supra-sumo e o coração de
picanha, a preços que variam de R$ 25 a
R$ 45. São 15 opções de carnes bovinas,
três de peixes e outras três de cordeiro,
além de frango e lombo de porco, acompanhadas de salada, arroz biro-biro ou batata souflé, lançamento da casa, que estufa
ao contato com a gordura quente e fica
bem crocante.
O BSB Grill criou ainda para o inverno um cardápio de petiscos que acompanharão outra novidade, o chope nitrogenado, tirado com um gás chamado “mapax” (o nome vem de map, que significa
atmosfera modificada), produto que proporciona à bebida um creme mais encorpado e uma maior conservação da temperatura, sem alteração do sabor.
A tradicional esfiha aberta de massa
folhada ganha a forma de um pastel com
a mesma massa e recheado com ricota
temperada. Entre as novidades do BSB
Grill há uma homenagem de Attie ao restaurante Vesúvio, de Anápolis, sua cidade
natal. A linha que leva o nome do restaurante goiano tem quatro cortes de carnes
que chegam à mesa numa chapa, acompanhadas de tomates, pimentões, cogumelos, brócolis etc. Os lançamentos podem
ser degustados com a nova carta de vinhos, que inclui rótulos das vinícolas Dal
Pizzol e Família Cassone.
Noite e dia
Os quatro restaurantes do Pontão do
Lago Sul esperam repetir o sucesso do
ano passado com seu II Festival de Inverno, que vai até 31 de julho. Todos os pratos são harmonizados com rótulos da tradicional vinícola Casa Valduga. No Bargaço, a proposta é a casquinha mista
(R$ 7) de entrada, seguida de um escondidinho de frutos do mar (R$ 60) e pera ao
vinho de sobremesa.
Já no Mormaii, de culinária japonesa,
a dica é gioza de salmão temperado e regado ao molho teriaki (quatro pastéis, R$ 6).
De prato principal, filés de robalo ao molho de ervas e especiarias, acompanhados
de cogumelos shimeji e arroz (R$ 38,50).
Para finalizar, crepe de morangos, calda
de chocolate, chantily e licor (R$ 7).
No Café Antiquário, a refeição pode
começar com o shitake empanado (R$
25), seguido de risoto com vinho branco e
linguiça de cordeiro (com opções de prato
inteiro a R$ 49 ou versão pocket a R$ 34),
para depois finalizar com uma taça de sorvete de queijo com calda quente de goiabada (R$ 15).
Fotos: Divulgação
O Bier Fass sugere o capuccino de
funghi secchi (R$ 21,50) na entrada e um
tornedor ao molho de gengibre (R$ 41),
servido com risoto ao molho de cogumelos, concluindo a refeição com uma mousse bicolor. Individuais, os pratos podem
ser degustados tanto no almoço quanto
no jantar.
Caldos quentes
Para ajudar seus clientes a enfrentar as
noites frias do Planalto Central, o Peixe
na Rede (405 Sul e 309 Norte) também
lançou algumas delícias, como caldos de
tilápia, de bacalhau com batata baroa e
brócolis ou de camarão e alho poró, com
preços de R$ 6 e R$ 7. Os apreciadores de
um bom pirão podem optar pelo de peixe
com camarões, a R$ 12.
Para quem quer manter a forma, a casa
oferece o filé de tilápia grelhado com gergelim e salada dupla. Para acompanhar, a
chef Maria Luiza da Mata sugere dois rótulos chilenos: o Santa Alicia Carménère e o
Gato Negro Cabernet Sauvignon, ambos
por R$ 15,90 a meia garrafa.
E de sobremesa, que tal alguns sabores
que vêm do frio? A doceria Rota do Char-
Acima, o tira-gosto Vesúvio, uma das novidades
do BSB Grill; à direita, Alice Feijó, da Rota do
Charme, e o Ninho, feito com fios de ovos
me, especializada em doces tradicionais do
sul do país, preparou algumas novidades
como o Expotchê, em homenagem à feira
de produtos da região, que acontece em
Brasília todos os anos. O doce é elaborado
com massa de nozes, recheio de avelãs e
cobertura de chocolate branco.
Outra receita criada recentemente em
Pelotas (RS), uma referência nacional em
doces, é a Torta Morena, massa de chocolate com doce de leite, nata e nozes. Ficou
com água na boca? Então é melhor se
apressar, porque o frio em Brasília não
costuma durar. BSB Grill
413 Sul (3346.0036)
Pontão do Lago Sul
QL 10 (3364.0580)
Peixe na Rede
405 Sul (3242.1938)
309 Norte (3340.6937)
Rota do Charme
314 Sul (3346.5002 / 3345.5917) 7
águanaboca
Deliciosa fusão
Ingredientes prediletos dos brasilienses se juntam a sabores
e iguarias do além-mar para compor o cardápio do Bottarga
Por Mariza de Macedo-Soares
fotos eduardo oliveira
B
ottarga é uma especiaria de antiga
tradição na culinária italiana, uma
iguaria de sabor delicadamente
marcante que tem como elemento principal ovas desidratadas de tainha. É também
o nome de um restaurante que funciona
desde outubro do ano passado no Espaço
Maria Tereza, na QI 5 do Lago Sul.
O Bottarga se dedica a uma cozinha
que beira a contemporânea mas, na verdade, é de autor, resultado de cuidadosa pesquisa do mercado brasiliense feita por Felipe Bronze, seu chef executivo, que pretendia para a casa uma comida que fosse
do agrado dos locais.
Depois de uma verdadeira maratona
pelos restaurantes da cidade, Bronze pôs a
mão na massa e criou um cardápio inicial
para a nova casa com pratos exclusivos em
que aos ingredientes da predileção dos comensais do DF se juntaram, harmoniosamente, iguarias e sabores de terras outras,
do além-mar. Isto feito, montou a equipe
(quatro cozinheiros e quatro ajudantes)
que se responsabilizaria pela execução dos
pratos e deixou no comando de tudo e de
todos o talentoso chef de cuisine Augustus
Marcondes (na foto à direita).
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Dá prazer comer no Bottarga – o ambiente é discreto, elegantemente decorado
sem ser pretencioso. Sua cozinha é aberta,
o serviço é bom e os preços, justos. Dividido em dois ambientes climatizados (salão
e varanda com bar e música de fundo executada em civilizados decibéis, louças Rosenthal, talheres WMF e copos de cristal),
o restaurante atende confortavelmente 70
pessoas.
Há sugestões no cardápio que, pela
composição, despertam, se não a gula, a
curiosidade do comensal, como o Linguini Bottarga (pasta com queijo de cabra, lagosta, limão siciliano, molho bisque e bottarga no arremate), a Fraldinha Maturada
au Poivre (servida com rostie de batata doce e bacon) e o Mignon de Cordeiro em
Crosta de Menta (com risoto negro de
merlot com abobrinhas).
Para não falar no Salmão Grelhado ao
Molho Thai (com arroz frito de camarões,
shimeji e vagem francesa), na Salada de
Camarões com Quinoa, Curry e Pupunha, no Carpaccio de Salmão com Bottarga, Chutney de Cebola Roxa e Sour Cream e no Picadinho da Embaixatriz (mignon de ponta de faca, farofa de Neston,
arroz de jasmim e batatinhas).
Merecem registro, ainda, o bem-apresentado couvert (mini brandade de baca-
lhau no leite de coco, queijo de coalho no
mel de tomilho, tartare de atum com saladinha de maçã verde e patê de campagne), a
torta rústica de maçã com chantilly de canela e a (irresistível) espuma de doce-de-leite.
O Bottarga funciona com sistema de
reservas. Abre para almoço de terça a domingo e para jantar de terça a sábado.
Bottarga
QI 5 do Lago Sul – Conjunto 9 – Bloco D
(3248.0124 e 3248.4838)
Brasília na
Rota dos Vinhos
Edição 2009 da grande feira espera atrair
70 mil visitantes ao Carrefour Norte
Por Guilherme Guedes
E
m time que está ganhando não se
mexe. É com essa ideia em mente
que o Carrefour vai realizar, do próximo dia 26 a 5 de julho, a segunda edição da feira Rota dos Vinhos. Instalada
na loja da Asa Norte, a feira deverá proporcionar aos apreciadores e amantes do
vinho uma experiência completa, reunindo degustação, filmes, palestras e, claro,
muitas ofertas.
Entre marcas nacionais e internacionais, a Rota dos Vinhos promete reunir
mais de mil rótulos. O diretor da loja,
Emílio Marchi, destaca a variedade como
principal atração da feira. “O consumidor
terá um leque muito grande de opções”,
garante. “Até quem não consome vinho
terá oportunidade de encontrar um produto de que goste”. Segundo ele, os vinhos chilenos e argentinos, sucesso de
publico e crítica, são presença confirmada. “Além, claro, dos nacionais, que crescem a cada ano”, completa.
A estimativa dos organizadores é de
que mais de 70 mil pessoas circulem pelos corredores da feira, duas vezes o público do ano passado. “Acreditamos no
sucesso da primeira edição e, além de
aumentar a divulgação, aumentamos
também o número de expositores e de
produtos em oferta”, diz Marchi. Este
ano a Rota dos Vinhos contará com 50
estandes de vinícolas e importadoras,
um aumento de 5% em relação ao ano
passado. Desses, cerca de 40 serão especializados em vinhos, enquanto os de-
mais oferecerão produtos relacionados
ao consumo da bebida, como queijos,
embutidos, massas, azeites e chocolates.
Como em todo grande evento desse
tipo, há uma forte expectativa em relação ao lançamento de novos produtos.
Mas, para descobrir quais serão as novidades, o consumidor terá que visitar o
local. “As marcas nunca divulgam esses
novos lançamentos com antecedência,
com medo da concorrência. Que vai haver esse tipo de surpresa é certo, só não
temos como saber exatamente
quais são”, afirma o diretor
do Carrefour Norte.
A rede de supermercados preparou
também uma agenda repleta de
atra­­­­­ções especiais. Diariamente os clientes
poderão assistir
a palestras com
temas variados,
ministradas por
enólogos renomados e chefs
de cozinha. Nessas conferências,
os visitantes aprenderão a servir, apreciar e harmonizar os
vinhos da melhor for­
­­­ma. Antônio Duarte,
presidente da seção local da Associação Brasi-
leira de Sommeliers (ABS/Brasília),
ensinará “como receber com queijos e
vinhos”. Já o vice-presidente da associação, Juan José Verdésio, explicará “como
harmonizar vinhos e carnes de churrasco”. Ao todo, serão nove palestras. E os
visitantes poderão assistir também a filmes relacionados ao tema da feira.
Rotas do Vinho
De 26/6 a 5/7, das 15 às 22h, no
estacionamento do Carrefour Norte.
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Macunaíma e seus amigos
Luiz Recena
lrecena@hotmail.com
A
vida vem em ondas, cantou Lulu Santos certa
picadinhos. Dona Helena reclama e, com bom humor,
vez. E as ondas, Salvador e a Bahia são claras
avisa que os tomates não devem entrar nem no refo-
provas disso, vêm e vão. E nesse balanço
gado, nem na poesia, pois não ajudam “nem na rima,
a eternidade vem, volta e se dissipa. O doce balanço
nem na solução”. Eles eram bons amigos e, certamen-
a caminho do mar pode ser prerrogativa das garotas
te, voltaram a falar nisso mais de uma vez.
garfadas&goles
de Ipanema, mas ele aparece em outros cantos, em
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Longe deles, e sem saber o acordo final, ousamos
outras areias. O simples caminhar já balança. Foi assim,
incluir no refogado uns poucos tomatinhos, muito
desse jeito, que o colunista voltou a molhar os pés nas
bem cortados. Ao fim, a tudo misturados, não com-
águas de Itapuã. Os pés e a garganta. Farta e gelada,
prometeram. Sequer foram notados. Nas dicas de
muito gelada, a loura rolou, voltou a rolar escada
dona Helena, outra ousadia: dois a três copos de suco
abaixo. Há coisas boas na vida, e disso todos sabemos.
de laranja, nos últimos instantes que antecedem o
E o rolar de uma cerveja gelada garganta abaixo é
ato de servir a feijoada, antes de convocar os bárbaros
uma delas. Certamente coloca-se entre as melhores.
famintos para o ataque final. Essa sim, uma dica
E assim, caro editor, dissolveu-se, em partículas douradas, líquidas, o deserto que condenou vosso colunista
a uma eternidade de castigos durante três semanas.
A abstinência, a bem da verdade, não é esse mons-
supimpa e notável. Com louvor!
Foram duas, três ou mais horas de festim selvagem. As carnes servidas em separado, a couve mineira,
as laranjas fatiadas, a farofa, o arroz soltinho, aqui e
tro todo e até pode produzir (aqui com muita genero-
ali um caldinho puro. Acolá um simples feijão apenas
sidade) alguns efeitos positivos. Não tantos, é claro. Só
com farinha. Aos poucos, com requintes de prazer e
alguns. Entre esses poucos estão a melhora da lucidez
gozo, tudo foi sumindo, sumindo. Quando a noite
e o maior tempo para a leitura. E numa dessas mensa-
caiu e ainda uns bons tempos depois, a panela, um
gens que me chegaram ao computador estava o convi-
caldeirão digno de Asterix, o gaulês, foi vendo desapa-
te para as comemorações dos 18 anos, bem vividos,
recer o que havia dentro dela. Ficaram, talvez, oito ou
do nosso querido Carpe Diem (104 Sul). Convite para
dez centímetros no fundo, o que deu uma pequena
uma feijoada, com trechos de um poema de Vinícius
esperança para o amanhã, para o rescaldo.
de Moraes sobre essa comida maravilhosamente brasi-
O mais apressados poderão pensar que tudo isso
leira e agregadora. Tudo combinando com a presença,
foi consumido a secas. Ficou para o final o recado
em Salvador, de amigos, filhos, sobrinhos, afilhados
aos impacientes. O poeta mandou e foi obedecido:
que, juntados aos fraternos mais recentes, compuse-
a abertura dos trabalhos com um uísque on the rocks.
ram uma plateia de mais de trinta. O poema completo
Depois, batidinhas de limão e cervejinhas geladas.
foi encontrado. Bem como a receita, no livro de Helena
Hectolitros, é claro. Tudo com muita calma, muito
Sangirardi, que repousava na estante. Destinatária dos
tempo, para retardar o porrinho, a necessária
versos, ela agradece ao poeta e ensina a fazer a comi-
embriaguês da despedida.
da. Uma grande aventura!
No básico, nenhuma diferença entre a receita em
Pois que tudo tem um fim e de tudo fica um pouco. Os amigos partiram. Novas e velhas amizades cos-
prosa e a feijoada com rimas. Ambas exigem, carioca-
turadas pelo fio baiano da simpatia cálida. Doces e ter-
mente, o feijão preto, de molho na véspera, as carnes
nos fios que encurtam as distâncias formais, aceleram
de porco, de preferência defumadas, um peito de va-
e encurtam o entendimento, enchem e esvaziam co-
ca, um charque, os embutidos comandados pelo bom
pos no tempo certo do bom encontro.
e velho paio. As pequenas diferenças, propostas pelo
Os filhos queridos, os afilhados idem, a pessoa mais
poetinha, ressaltam dicas sobre o torresminho e a fri-
próxima do coração, até um colega novo desta vida
tura da linguiça fina. De discórdia, apenas um ponto: o
cigana, esses ficam um pouquinho mais, auxiliando
refogado que dá o grande sabor. Além dos tradicionais
no desmonte, caprichando a saideira. O feijão acabou,
alho e cebola, o poeta sugere incluir tomates bem
a eternidade sumiu, quase todos se foram, e agora?
Vinhos de sobremesa (final)
ção por contraste com queijos azuis e com o delicio-
sobremesa, resta-nos comentar sobre os forti-
so queijo da serra típico de Portugal.
ficados que, conforme dito anteriormente, en-
O vinho do Porto se utiliza muitas vezes de diver-
contram “atalho” para a doçura natural, mas nem
sas castas de uvas, mas a mais importante, responsá-
por isso deixam de ser muitas vezes deslumbrantes.
vel por sua típica complexidade, é a Touriga Nacio-
Muitos são os vinhos doces fortificados, mas vamos
nal. Ele se divide em duas categorias: os que enve-
nos concentrar nos mais importantes: os Jerez PX da
lhecem em madeira e os que envelhecem em garra-
Espanha e os do Porto, de Portugal.
fas. Há, todavia, dez estilos diferentes dentro dessas
Na região de Jerez, no sul da Espanha, uma casta
de uva autóctone, chamada Pedro Ximénez, daí o
Os brancos não serão nosso foco, posto que,
bem menos doces, não são indicados para harmoni-
tração de açúcar residual, obtida pela interrupção pre-
zação com sobremesas. Dos tintos, o primeiro nível é
matura da fermentação a partir do acréscimo de aguar-
o Ruby, o mais comum entre nós, brasileiros, em ra-
dente vínica ao mosto – além de permanecer adotando
zão principalmente do preço mais modesto. Pratica-
o complexo processo de “solera”, típico da região e res-
mente não é envelhecido, não passa por estágio em
ponsável pela complexidade de seus vinhos.
madeira e apresenta aromas e sabores simples, voltados às frutas vermelhas. Depois aparecem os Tawny
um vinho de sobremesa especial. Um único gole de
jovens, também comuns aqui, novamente em razão
um bom exemplar pode ser mais que um vinho de
do preço acessível, que passam por um rápido está-
sobremesa, transformando-se na própria sobremesa,
gio em madeira e vão ao mercado com no máximo
com seus aromas e sabores de tofe e figos. A suges-
três anos.
tão continua sendo, como indicado em edição anterior, o Venerable, produzido pela Pedro Domecq.
Não faltam publicações sobre o magnífico vinho
A partir daí, as coisas mudam em qualidade e em
preço. Os Tawny envelhecidos apresentam no rótulo
a média de seu envelhecimento – 10, 20, 30, 40 ou
do Porto, responsável por tantos avanços no mundo
mais anos – em barris que lhes dão complexos aromas
vinícola – como, por exemplo, a primeira demarcação
e sabores de nozes, baunilha e açúcar mascavo. Na
de região produtora. Poderíamos, pois, escrever pelo
minha preferência estão os da linha Vintage, come-
resto do ano sobre esse tema sem esgotá-lo. Todavia,
çando pelo Character, passando pelos Late Bottled e
uma rápida pincelada no assunto será capaz de encer-
chegando aos inebriantes Vintage, envelhecidos em
rar nossa visão sobre os vinhos de sobremesa.
barris por dois anos e depois engarrafados, comu-
Um vinho historicamente considerado masculino,
paoevinho
@alo.com.br
duas categorias.
“PX”, gera vinhos de grande doçura, com alta concen-
Denso, xaroposo e de cor quase negra, o PX é
ALEXANDRE
DOS SANTOS
FRANCO
mente, por mais dez, mas que podem evoluir ao lon-
mas cada vez mais apreciado pelo público feminino,
go das décadas, melhorando cada vez mais – há mui-
jamais deixou de ser um grande companheiro de um
tos consumidores, porém, que valorizam sua força e
bom charuto. Dos vinhos de sobremesa, juntamente
intensidade quando ainda relativamente jovens.
com o Banyuls francês, é o que
Outros estilos menos comuns, como o TLBV,
melhor acompanha os doces à
o Garrafeira, o Single Quinta Vintage e os Crusted,
base de chocolate, que por sua
comentaremos em outra oportunidade. Deixo como
untuosidade e força muitas ve-
sugestões o Graham’s 20 anos, o LBV da Adriano
zes “apagam” os demais. E
Ramos Pinto 2003 e o Vintage da Quinta do
são fantásticos na harmoniza-
Passadouro 2000.
pão&vinho
P
ara finalizar nossos estudos sobre os vinhos de
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MÚSICA AO VIVO
roteirogastronômico
ESPAÇO VIP
ACESSO PARA DEFICIENTES
ÁREA EXTERNA
DELIVERY
FRALDÁRIO
MANOBRISTA
BANHEIRO PARA DEFICIENTE
Armazém do Ferreira
Restaurante inspirado no Rio de
Janeiro dos anos 40. O buffet,
com cerca de 20 tipos de frios,
sanduíches e rodadas de empadas
e quibes, com a performance do
garçom Tampinha, são boas opções
para os frequentadores.
206 Sul (3443.4841), Liberty Mall
e Brasília Shopping cc: todos
Em plena W3 Sul, o Bar Brasília tem
decoração caprichada, com móveis e
objetos da primeira metade do século
XX. Destaques para os pasteizinhos.
Sugestão de gourmet: Cordeiro
ensopado com ingredientes
especiais, que realçam seu sabor.
Em ambiente aconchegante,
com decoração pontuada por
arte e história, pode-se tomar
um cafezinho ou um chope para
acompanhar o pastel de bacalhau,
o sanduíche de mortadela ou
o autêntico Bauru. No almoço,
cardápio paulistano.
405 Sul (3443.0299)
CC: todos
brasileiros
contemporâneos
509 Sul (3244.7999)
CC: todos
Cachaçaria
Empório da Cachaça
Bar do Mercado
buffet de festa
Cardápio variado, sabor e qualidade.
Buffet no almoço é o carro-chefe,
com mais de 10 pratos quentes,
diversos tipos de saladas e várias
opções de sobremesa, a R$ 35,90
(2ª a 6ª) e R$ 39,90 (sáb, dom e
feriados) por pessoa.
Recém inaugurada a versão bar da
cachaçaria temática de Brasília.
Decoração colonial, cachaças
artesanais, chopp, petiscos exclusivos
e o famoso prato da casa, o arroz
de senzala, são opções para quem
valoriza a gastronomia brasileira. No
Happy Hour, Chopp Brahma a R$2,50 e
caipirinha com Sagatiba a R$ 4,00.
506 Sul Bloco A (3443.4323)
CC: Todos
QI 21 do Lago Sul (3366.3531)
412 Sul (3345.3531)
creperias
É um dos mais renomados buffets de
festa da cidade, com mais de dez anos
de experiência. Além dos salgados
e doces finos oferecidos no buffet,
destaque para o Risoto de Foie-Gras, o
Carré de Cordeiro ao Molho de Alecrim
e o Filé ao Molho de Tâmaras.
Praliné
O cardápio é bastante variado, com
tortas doces e salgadas, bolos, pães,
géleias, caldos quentes, quiches,
tarteletes, chás, café e sucos de frutas
naturais por R$ 12,90 de 2ª a 6ª e
chá da tarde por R$ 20,50 às 3ªs
(bufê por pessoa).
205 Sul bl A lj 3
(3443.7490)
CC: V
Café Antiquário
À beira do lago, diante da vista mais bela de
Brasília, a casa atrai todos que desejam unir
ambiente agradável, boa cozinha e música.
Almoçar um rico grelhado e tomar café
ao fim da tarde são apenas algumas das
ecléticas delícias do restaurante. O piano
sofistica o ambiente de 18h às 20h30 todos
os dias. As noites são de jazz e blues ao vivo.
Pontão do Lago Sul
(3248.7755) CC: Todos
C’est si bon
Sweet Cake
12
Camarão 206
Bar Brasília
confeitarias
BARes
202 Norte (3327.8342)
CC: Todos
buffet de restaurante
CARTÕES DE CRÉDITO: CC / VISA: V / MASTERCARD: M / AMERICAN EXPRESS: A / DINERS: D / REDECARD: R
Inspirado nas tradicionais panquecas de
dulce de leche da Argentina que o chef
Sérgio Quintiliano criou o crepe Astor
Piazzolla, batizando-o com o nome
do maior compositor contemporâneo
argentino de tangos. Após o sucesso de
vendas durante o Festival Sabor Brasília
2008, o Crepe Piazzolla foi incorporado
ao cardápio por R$ 15,70.
408 Sul (3244.6353) CC: V, M e D
BSB Grill
Trattoria 101
304 Norte (3326.0976)
413 Sul (3346.0036) CC: A, V
101 Sudoeste (3344.8866)
CC: V, M e D.
GRELHADOS
Villa Borghese
O charme da decoração e a
iluminação à luz de velas dão
o clima romântico. Aberto
diariamente para almoço e jantar.
Sugestão: Filetto al gorgonzola
(Filet mignon recheado com creme
de gorgonzola servido com arroz
cremoso de abobrinha e farofinha
crocante de alho), por R$ 43.
ITALIANOS
Cardápio com produtos italianos
autênticos e tradicionais. Massas,
filés, peixes e risotos, carpaccio. Tudo
preparado na hora. Execelente carta de
vinhos com 90 rótulos, entre nacionais
e importados. Ambiente charmoso
e varanda completam o ambiente.
Manobrista na 6ª, sáb. e dom.
Desde 1998 oferece as melhores e os
mais diversos cortes nobres de carne:
Bife Ancho, Bife de tira, Prime Ribe,
Picanha, além de peixe na brasa, esfirras,
quibes e outras especialidades árabes.
Adega climatizada e espaço reservado
completam os ambientes das casas.
201 Sul (3226.5650) CC: Todos
Roadhouse Grill
Criado nos EUA, foi eleito por três anos
consecutivos o preferido da família
americana. Com mais de 100 lojas,
seus generosos pratos foram criados,
pesquisados e inspirados nas raízes da
América. Conheça tais delícias: ribs,
steaks, pasta, hambúrgueres.
Brasília Golfe Center - SCES
Trecho 2 (3323.5961) CC: Todos
www.restauranteoliver.com.br
209 Sul (3443.5050)
CC: Todos
naturais
Saboroso e diversificado buffet,
com produtos orgânicos e carnes
exóticas. No domingo, pratos
especiais, como o bacalhau de
natas e o arroz de pequi. Horário: de
segunda à sexta, das 11:30 às 15h
e sábados, domingos e feriados, das
12 às 16h.
SCS trecho 2 (3226.9880)
CC: Todos
Haná
ITALIANOS
San Marino
O Rodízio de massas e galetos
está com preços especiais: de
domingo a quarta por R$ 15,80 e de
quinta a sábado por R$ 17,80. No
almoço, Buffet com saladas, pratos
executivos e grelhados
Oca da Tribo
Bufê de sushis, sashimis e pratos
quentes. Almoço (R$ 36): 2ª a 6ª de
12h às 15h / sábado e domingo, de
12h30 às 16h. Jantar (R$ 42): domingo
a 5ª, de 19h à 0h / 6ª e sábado, de
19h à 1h. De 2ª à 4ª, cada bufê vale
1 sorvete com calda de chocolate.
Funciona também à la carte.
408 Sul (3244.9999)
CC: Todos
13
ORIENTAIS
Oliver
Próximo ao Eixo Monumental, apresenta
espetacular vista para um tranquilo campo
de golfe, sem prédios ao redor. O ambiente
composto por piso de pedras vindas
de Pirenópolis e móveis de Tiradentes
(MG) conferem ainda mais rusticidade
ao restaurante. Elaboradas pelo gourmet
Carlos Guerra, as receitas internacionais
têm base na culinária mediterrânea.
INTERNACIONAIS
­ .Clubes Sul Tr. 2 ao lado do
S
Pier 21 (3321.8535)
Terraço Shopping (3034.8535)
MÚSICA AO VIVO
roteirogastronômico
ESPAÇO VIP
ACESSO PARA DEFICIENTES
ÁREA EXTERNA
DELIVERY
FRALDÁRIO
MANOBRISTA
BANHEIRO PARA DEFICIENTE
Nippon
Baco
Tradicional e inovador. Sushis e
sashimis ganham toques inusitados.
Exemplo disso é o sushi de atum
picado, temperado com gengibre e
cebolinha envolto em fina camada de
salmão. As novidades são fruto de
muita pesquisa do proprietário Jun Ito.
Premiada por todas as revistas.
Massas originais da Itália, vinhos
e ambiente. No cardápio, pizzas
tradicionais e exóticas. Novidades são
uma constante. Opção de rodízio em
dias especiais – na 309 Norte, toda 3ª
e domingo, e na 408 Sul, às 2as.
403 Sul (3224.0430 /
3323.5213) CC: Todos
309 Norte (3274.8600), 408 Sul
(3244.2292) CC: Todos
Baco Delivery (3223.0323)
PIZZARIAS
ORIENTAIS
CARTÕES DE CRÉDITO: CC / VISA: V / MASTERCARD: M / AMERICAN EXPRESS: A / DINERS: D / REDECARD: R
Gordeixo
Ambiente agradável, comida boa e
área de lazer para as crianças fazem
o sucesso da casa desde 1987. No
almoço, além das pizzas, o buffet de
massas preparadas na hora, onde
o cliente escolhe os molhos e os
ingredientes para compor seu prato.
Belini
Feitiço Mineiro
A casa premiada é um misto de
padaria, delikatessen, confeitaria
e restaurante. O restaurante serve
risotos, massas e carnes. Destaque
para o café gourmet, único torrado na
própria loja, para as pizzas especiais
e os buffets servidos na varanda.
A culinária de raiz das Minas Gerais
e uma programação cultural que
inclui músicos de renome nacional e
eventos literários. Diariamente, buffet
com oito a nove tipos de carnes.
Destaque para a leitoa e o pernil à
pururuca, servidos às 6as e domingos.
113 Sul (3345.0777)
Regionais
Padaria
306 Norte (3273.8525)
CC: V, M e D
306 Norte (3272.3032)
CC: Todos
CC: Todos
Peixe na Rede
405 Sul (3242.1938)
309 Norte (3340.6937)
CC: Todos
Restaurante Badejo
A tradicional moqueca capixaba leva o
tempero mineiro no Restaurante Badejo,
com 19 anos de história em Belo
Horizonte e 15 em São Paulo. Agora
é a vez de Brasília conhecer o autêntico
sabor da cozinha capixaba.
SCES - Trecho 4 - Lote 1B
Academia de Tênis
Setor de Clubes Sul
(3316.6866) CC: V e M
14
Saborella
SORVETERIAS
Peixes e frutos do mar
A vedete do cardápio é a tilápia, servida
de 30 maneiras. O frescor é garantido
pela criteriosa criação em cativeiro na
fazenda exclusiva do restaurante, a
100 Km de Bsb. Há também pratos de
camarão e bacalhau.
Sorvetes com sabores regionais e
tecnologia italina são a especialidade
da casa. Os mais pedidos: tapioca,
cupuaçu, açaí e frutas vermelhas. Na
varanda, pode-se apreciar café bem
tirado e fresquinho, acompanhado
de tapiocas quentinhas.
112 Norte (3340.4894) e
Casa Park (Praça Central)
CC: Todos
Sorbê
Sorveteria genuinamente artesanal, com
receitas que utilizam frutos nativos do
cerrado. São mais de 150 sabores. Os
sabores tradicionais, cremosos, como as
variedades de chocolate, dentre outros,
contêm leite e creme de leite em suas
fórmulas. Já os sorvetes de frutas (com
algumas exceções, como abacate, pequi,
araticum e outros) são produzidos com água.
405 Norte (3447.4158), 103 Sudoeste
(3967.6727) e 210 Sul (3244- 3164)
Gato por lebre
palavras indígenas – pira, que significa peixe, e urucum, o corante, por ter
sua cauda de cor avermelhada.
O peixe carnívoro pode chegar a
três metros de comprimento e pesar
até 250 quilos. É fisgado com arpão,
quando sobe para respirar na superfície da água. A pesca é muito
esportiva e pede um olhar atento
para localizar a vítima e uma boa
preparação física na hora de tirá-la da água.
Sua carne saborosa é firme e abundante, de
cor branca. É retirada em mantas e tradicionalmente salgada para facilitar a conservação. A
língua é utilizada pelos índios para ralar o bastão de guaraná. As escamas são verdadeira lixa
para unhas. Hoje já existe criação em manejo e
o Ibama regula sua pesca para controlar a espécie ameaçada.
No fim dos anos 80, uma empresa brasileira
recorreu ao mesmo artifício lançando no mercado o surubim defumado fatiado. Ela apresentava seu produto como salmão nacional, o que
resultava em frustração dos compradores na
hora de experimentar o produto, tendo na memória comparativa um sabor e uma textura totalmente diferentes. Hoje, o produto se encontra com sua devida denominação e até o Itamaraty serve a iguaria em suas recepções como
produto genuinamente brasileiro.
Outro peixe da região amazônica, o gurijuba, com seus filés tingidos de urucum e levemente defumados, inundou o mercado nacional com a denominação de haddock.
Os três peixes brasileiros são bem saborosos.
Então, por que insistir nesse marketing? Preconceito com os ingredientes nacionais ou
falsidade ideológica com fins lucrativos?
Quentin
Geenen de
Saint Maur
palavradochef
@alo.com.br
palavradochef
A
expressão, bem antiga, nasceu da prática de alguns espertos que vendiam gato por lebre nas feiras livres e casas especializadas em carne de caça. Até que veio
uma lei obrigando-os a apresentar os animais
com a cabeça e as patas, para impossibilitar a
falsificação. Pois saiba que a expressão pode
não ter perdido seu sentido original.
Você já experimentou o pirarucu? Muitos
dirão que nunca encontraram esse peixe da
Amazônia nas peixarias, em cardápios de restaurantes ou mercados. Doce ilusão. Você pode
ter um dia preparado ou comido pirarucu disfarçado de outro peixe. Em alguns mercados,
carne de pirarucu desfiada e lombos generosos
são vendidos salgados com o nome de bacalhau. Nada a ver com aquele peixe de tamanho
médio, o “Gadus Morhua”, das águas geladas
do Oceano Ártico, pescado em grande escala
com redes e processado em navios-fábricas.
Prato emblemático da cozinha portuguesa,
conservado seco e salgado, ele é “demolhado”
e preparado de mil e uma maneiras diferentes,
sempre regado com um bom azeite de oliva.
Sua apresentação nas bancas de secos e molhados é de peixe aberto, eviscerado, de formato
triangular, sempre sem cabeça, com sua carne
branca salgada, seca e dura de um lado e de
outro sua pele bege acinzentada. No norte da
Europa ele é muito apreciado fresco. Sua carne se
separa em grandes gomos quando assado ou cozido, hábito remanescente de um costume alimentar divulgado pelos vikings.
Já o “Arapaima Gigas”, ou Pirarucu, é um
dos maiores peixes de água doce do mundo.
Ele se encontra na bacia amazônica, em áreas
de várzea ou em lagos e rios de águas quentes
e calmas. Seu nome vem da junção de duas
15
Patrick Grosner
dia&noite
justaposiçãopolar
Voaréparapássaros?
abelardohora
Começa dia 30, no CCBB, a mostra Amor e
solidariedade, retrospectiva dos 60 anos de
carreira do artista plástico pernambucano
Abelardo Hora, cuja força expressionista
sempre esteve carregada de crítica social. No
acervo, 130 obras, 15 toneladas de arte em
esculturas, gravuras e cerâmicas que estarão expostas no Salão de Vidro e nos
jardins do CCBB até 23 de agosto. Entre elas, um dos seus mais recentes trabalhos, o original do monumento Os retirantes, escultura de nove peças representando Dona Lindu, mãe do presidente Lula, e seus oito filhos.
Divulgação
Divulgação
Na imaginação dos índios e na arte do
francês River Dillon, voar também é
para os humanos. Inspirado nas lendas
indígenas, ele tem mostrado, nos últi­
­mos cinco anos, sua bela mistura entre
pássaros e homens. Uma mostra de seu
trabalho já passou pelo Louvre des Anti­­­­­­­
quaires, em Paris, e pelo Wallywoods
Gallery de Berlim. No Brasil, Homens
pássaros já esteve no Museu de Arqueo­­­­­­
logia e Etnologia de Salvador e acaba de
chegar ao Memorial dos Povos Indíge­­
­nas, onde fica até 3 de agosto. Há dez
anos Dillon faz fotomontagens que pa­­­­
re­­­­­­cem ressuscitar os indígenas citados
nas lendas que há milhares de anos se
transformavam em aves. O ponto de
partida da criação das montagens são
fotografias de arte plumária expostas
em museus europeus ou de acervos
particulares. Na mostra, há homenscobra, homens-peixe e homens-onça
que nasceram de fotomontagens
criadas pelo artista francês. De
segunda a sexta, das 9 às18h. Fins de
semana e feriados, das 10 às 18h. En­­­­­­­­­­
trada franca. Informações: 3344.1155.
16
coisademaluco
Neurose, perversão, psicose, hospício e sociedade. Esses são os cinco temas que compõem
a mostra de cinema em cartaz no CCBB de 30
de junho a 19 de julho, com filmes sobre a
loucura em seus diferentes níveis. A exceção
(foto) é The pervet’s guide to cinema (Sophie
Fiennes), que discute a relação entre cinema e
loucura, exibido pela primeira vez no Brasil. De acordo com o curador, Daniel
Caetano, os 26 escolhidos ressaltam desde as “maluquices cotidianas” até as
“maluquices mais excêntricas da psicose”. Entre eles, O gabinete do Dr. Caligari
(Robert Wiene, 1919), Psicose (Alfred Hitchcock, 1960), Bicho de sete cabeças
(Lais Bodanzky, 2000) e Estamira (Marcos Prado, 2005). Ingressos a R$ 4 e R$ 2.
Informações: 3310.7081. Veja a programação no www.roteiro.com.br
cursodecinema
Quem se amarra na sétima arte e quer se aprofundar no tema tem agora uma
ótima oportunidade. Estão abertas as inscrições para o curso História do
cinema mundial, que está acontecendo no Museu da República. Dividido em
oito módulos, é ministrado por pesquisadores e cineastas da cidade e se
propõe a recapitular aspectos importantes da história do cinema com
o intuito de estabelecer bases para uma cultura cinematográfica sólida.
A entrada é gratuita. Informe-se no www.historiacinemamundial.blogspot.com
Divulgação
Doze pinturas sobre tela, nove sobre papel, 44 desenhos e uma pintura-instalação realizada
sobre a parede da Galeria 2 do CCBB. Assim é a exposição que traz uma síntese dos 20 anos
de trabalho do artista plástico goiano Elder Rocha. Em cartaz até 23 de agosto, Justaposição
polar tem curadoria de Cristiana Tejo, para quem o artista promove o diálogo entre a pintura
e o desenho. “Há o desenho-desenho, o desenho-pictórico e a pintura-desenho, polos que
transbordam e se invadem”, explica Cristiana. Para compor seu trabalho, Elder elege imagens
de livros antigos facilmente identificadas e associadas a uma certa nostalgia. De terça a
domingo, das 9 às 21h. Entrada franca.
Que lugar poderia ser mais adequado para um encontro descontraído entre oito homens. O bar, claro. É nele
que se ambienta a peça Com que roupa?, encenada pelo Grupo de Homens no Cafetina Café Cultural (712
Norte). A proposta é partir de discussões sobre a “condição masculina” com base na experiência de
cada ator do grupo. A peça dá continuidade a uma experiência iniciada há quatro anos no
espetáculo Casa de bonecas – servido por homens, no Espaço Cena. Foi quando o grupo
começou a desenvolver essa proposta de dramaturgia, que abre espaço para a plateia
se expressar. A partir da relação que se estabelece com o público, concretiza-se um
ambiente de tensão, ruptura e mudança dos elementos dramáticos. Dias 4, 11, 18
e 25 de julho, às 21h. Ingressos a R$ 10. Informações e reservas: 3045. 6160.
Edson Kumasaka
Débora Amorim
teatrobar
manoamano
Mariana Chiarella
Amigos de longa data, Dori Caymmi participou de todos os CDs de Renato
Braz, seja como compositor, arranjador, músico ou intérprete. No show inédito
que farão na Caixa Cultural, Dori e Renato trarão versões para clássicos da
MPB, entre eles Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro), Beatriz (Chico
Buarque e Edu Lobo) e Viola enluarada (Marcos e Paulo Sérgio Vale). No
repertório, músicas de Dori, como Desenredo e Na ribeira deste rio, feita a
partir de poema de Fernando Pessoa. O show Mano a mano será dias 27, às 19 e
às 21h, e dia 28, às 19h. Ingressos a R$ 20 e R$ 10. Bilheteria: 3206.6456.
soucaipirapirapora...
... Nossa Senhora de Aparecida... Quem não se lembra desses versos de Romaria, na voz da inesquecível
Elis Regina? Pois o autor dessa música e de muitas outras já comemora 40 anos de estrada e estará aqui
em Brasília para festejar o feito com quem for à Sala Villa-Lobos, nos dias 24 e 25. Renato Teixeira é a
estrela do Projeto MPB Petrobras e apresenta as músicas do seu último DVD, gravado ao vivo no Auditório
do Ibirapuera, em São Paulo, em 2006. Além de Romaria, estão no show músicas que fez em parceria com
Almir Satter (Um violeiro toca e Tocando em frente). Às 21h, com ingressos a R$ 20 e R$ 10.
Divulgação
músicaclássica
Também o Festival de Inverno de Campos do Jordão
comemora 40 anos em 2009. Na sua programação de
45 concertos constam nomes como os dos
pianistas Nelson Freire (foto), Cristina
Ortiz e Ricardo Castro. O festival homenageia Heitor Villa-Lobos e tem como
tema o Ano da França no Brasil. Representa o país o grupo Lê Poème Harmonique, de cantores e instrumentistas,
regidos por Vincent Dumestre. De 4
a 26 de julho em Campos do Jordão,
a 167 km de São Paulo. Ingressos:
www.ingressorapido.com.br
ramonesembrasília?
Não se assuste se você se deparar com propagandas por aí dizendo
“Show Ramones em Brasília, eu vou!”. Você não morreu e está em
outro plano, nem se trata de uma sessão espírita. Joey, Johnny e
Dee Dee Ramone continuam mortinhos. Quem vem à cidade é C.J.
Ramone, pronto para saciar os fãs mais ardorosos do quarteto
nova-iorquino. C.J. entrou nos Ramones em 1989, substituindo
Dee Dee, e ocupou o posto de baixista até o último show, em 1996.
Além disso, ficou responsável por interpretar todas as músicas
cantadas pelo antecessor. No dia 10 ele apresenta em Brasília clássicos dos Ramones, acompanhado pelos guitarristas Daniel Rey &
Brian Costanza e o baterista Brant Bjork. No Arena F.C., com
ingressos a partir de R$ 25. Show de abertura com Super Stereo
Surf e discotecagem com DJ Montana, a partir das 22h.
17
graves&agudos
Pra todos
os gostos
Lulu Santos, Nando Reis, Jorge Benjor, Jota
Quest, Ultraje a Rigor, Fundo de Quintal e
muito mais. A diversidade é a marca da
terceira edição do Festival de Inverno.
Por Eduardo Oliveira
F
aça chuva ou faça sol, eles vão atrair multidões a seus shows. A crise na indústria fonográfica não os afeta muito. Mesmo que não vendam mais um milhão
de CDs, eles ainda estão entre os maiores vendedores de disco do Brasil. É
nesses artistas consagrados que o Festival de Inverno de Brasília aposta para ser um
sucesso pelo terceiro ano consecutivo e esquentar o inverno candango. Essa é a receita que, em dois anos, fez 40 mil pessoas saírem de casa devidamente agasalhadas
para curtir o clima de inverno ao som de pop-rock, MPB e samba de raiz.
Este ano, o festival ganha um dia a mais
e muda de endereço – será no estacionamento do Mané Garrincha – justamente
para poder abrigar um público maior. Apesar da mudança, o organizador do festival, André Fratti, garante que a preocupação com decoração e cenografia
diferenciadas continua, agora acrescida de mais conforto, segurança e facilidade
de acesso. Continuam também os quiosques de restaurantes da cidade. A escolha
ainda está sendo negociada, mas André adianta que haverá casas especializadas em
risoto, sushi, pizza, caldos, café e chocolates.
A programação musical deste ano não traz nenhum artista internacional, mas ainda
assim deve atrair muita gente. Para começar, tem o tricampeão do festival: Nando Reis, o
único a participar de todas as edições. Lulu Santos é o vice, apresentando-se pela segunda
vez. Entre os estreantes, outros craques da primeira divisão, como Jorge Benjor, Ultraje a
Rigor e Jota Quest.
Biquini, Ultraje e Lulu
Quem abre as atividades no palco principal na sexta-feira, 3 de julho, é o Biquini Cavadão, exemplo de sucesso de vendas em meio à crise. “Nosso DVD ao vivo gravado em
2005 recentemente atingiu a marca de DVD de diamante”, conta o vocalista Bruno Gouveia. O grupo lançou recentemente um novo trabalho ao vivo que dá continuidade ao projeto iniciado em 2001, de regravar grandes sucessos do pop-rock nacional dos anos 80.
18
Fundo de Quintal,
Loroza e Benjor
Fotos: Divulgação
No repertório do show em Brasília,
sucessos da banda, como Zé ninguém, Janaína e Tédio, e também uma boa parte do
último disco. Entre as presenças constantes na set-list estão clássicos das outras duas grandes atrações da noite: Tempos modernos, de Lulu Santos, e Inútil, do Ultraje
a Rigor. Bruno não descarta a possibilidade de uma parceria no palco: “Da nossa
parte, acharíamos ótimo se rolasse, mas é
algo que a gente só vai descobrir na hora.
Só teríamos que dar uma ensaiada antes,
já que são arranjos e versões diferentes”,
explica. “Recentemente aconteceu algo assim. Fizemos um show em BH e o Phillipe Seabra, da Plebe Rude, estava na cidade e fez uma participação no nosso show,
em Até quando esperar”, conta.
A atração seguinte é outra aposta certa
do festival. Lulu promete mais uma apresentação recheada de hits: “Em públicos
muito grandes, você tende a privilegiar o
que prende a atenção, pra satisfazer a todos”. Por isso, não vão faltar sucessos dos
seus quase 30 anos de carreira. “A obra
dos Beatles é composta de nove discos, a
dos Mutantes de oito. Eu tenho 21. Às vezes, acho que poderia ter feito até um pouco menos, ter me arriscado menos, me
tornado mais raro”, diz Lulu. Por outro lado, ele comemora ter acertado a mão em
boa parte desses discos: “É uma alegria,
um privilégio, ter canções com a durabilidade de 25 anos”.
Pegando a ponte aérea Rio-São Paulo,
chegamos à nossa próxima atração. Ou
melhor: ponte aérea não, já que Roger
Moreira não sobe em avião nem amarrado. O líder do Ultraje a Rigor chega a Brasília a bordo do ônibus velho de guerra da
banda, pronto para mais um show cheio
de energia, como de costume. E quem escolhe o repertório é o público. A banda
mantém uma enquete em seu site oficial
onde os fãs podem votar nas suas canções
preferidas, para que assim se decida o que
tocar nos shows.
Quem passar pelo site pode aproveitar
para conferir também o novo projeto da
banda, Música estranha a troco de nada.
Desde abril, os internautas têm acesso a
novas músicas, que podem ser baixadas
de graça. Eles continuarão gravando e colocando as músicas no site, uma a uma.
Quando tiverem um número suficiente de
canções novas, lançarão um novo CD.
Depois de um descanso e uma boa
noite de sono, a festa continua. No sábado, o clima ainda deve ser descontraído,
mas desta vez as guitarras saem de cena e
dão lugar a cavaquinhos, banjos, cuícas e
pandeiros. O grupo Fundo de Quintal é
encarregado de marcar a mudança de ritmo na segunda noite do festival. O repertório do show deve ser baseado no CD/
DVD ao vivo Vou Festejar, lançado em
abril. Não vão faltar os grandes sucessos
presentes nos mais de 25 discos lançados
pelo grupo, que já vai chegando aos 30
anos de carreira.
Em seguida, o ritmo muda de novo. É
a vez do groove de Serjão Loroza. Conhecido por seu trabalho como ator, principalmente pela participação no humorístico A
Diarista, Loroza mostra em Brasília seu lado cantor e compositor. Ele fez parte do
grupo musical/bloco carnavalesco Monobloco e agora lança seu primeiro trabalho
solo, MBP – Música brasileira de pista. O
nome do disco já mostra o objetivo do
músico: embalar as pistas de dança, resgatando, com bom-humor, o legado deixado
por grandes nomes da black music nacional, como Tim Maia, Toni Tornado e
Gérson King Combo.
Se o Fundo de Quintal representa o
samba e Sérgio Loroza o soul, Jorge Benjor é considerado referência nos dois gêneros. E em muitos outros. Com sua guitarra em punho, ele vai desfilar seus sucessos e tocar músicas do último CD, Recuerdos de Asunción 443. “Vou cantar músicas
recentes, como Emo e Falsa magra, mas
também Taj Mahal e Fio Maravilha, entre
outros sucessos. Eu e a Banda do Zé Pretinho estaremos aí para animar a festa”, avisa. E quem pensa que o show vai ser curto
por fazer parte de um festival está enganado: “Pretendo fazer meu show normal,
que dura por volta de duas horas. Adoro
o povo de Brasília, vocês são animados!”.
Nando Reis e Jota Quest
No domingo, 5, será é a vez de Nando
Reis dar o ar de sua graça novamente.
Quando o assunto é compor músicas que
grudam na cabeça, ele é um expert. Talvez
por isso seja presença certa e sucesso em
todas edições. “O Nando já é praticamente nosso sócio”, brinca André Fratti. E o
19
Fotos: Divulgação
graves&agudos
ex-Titã chega à cidade trazendo novidades. Ele acaba de lançar
seu terceiro disco solo, Drês. Músicas novas, como Hi, Dri e
Ainda não passou, figuram na set-list ao lado de composições de
sua carreira solo, dos Titãs, ou gravadas por outros artistas.
O Jota Quest é uma das bandas que gravaram músicas da
autoria de Nando Reis. O hit chiclete Do seu lado é uma das cartas na manga dos mineiros para manter quente o clima do festival até o último segundo. Rogério Flausino e Cia. foram encarregados de fechar o festival, algo que já estão acostumados a
fazer Brasil afora. Entre um sucesso e outro, os mineiros devem encaixar músicas do sexto disco de estúdio, La Plata, lançado no ano passado. Depois que o último acorde ecoar e a
banda terminar seu trabalho, é hora de ir pra casa, pois na segunda-feira quem trabalha é o público.
Música eletrônica
Ultraje a Rigor: o público escolhe o repertório
Biquini Cavadão: sucesso de vendas em meio à crise
Além do palco principal, o Festival de Inverno terá o Lounge eletrônico, com DJs convidados, e o Palco Brasília, onde estarão as bandas Satisfaction e Aerocirco, na sexta, Black Rio e
US Black, no sábado, e Magoo, no domingo. Uma seletiva dará ao público a chance de escolher outras três atrações. As bandas interessadas devem se inscrever no site do festival com
uma música própria e um cover. Marcos Britto, baterista da
banda Satisfaction, convidada a tocar sucessos internacionais,
acredita que esta é uma oportunidade rara para bandas que
tentam conquistar um público maior. “É muito difícil bandas
pouco conhecidas terem a oportunidade de tocar para públicos tão grandes. E nós vamos fazer isso em um horário nobre
da festa, entre os shows do Lulu Santos e Ultraje a Rigor”, comemora.
Segundo André Fratti, um dos objetivos principais da festa
é incentivar o turismo na cidade: “É de interesse do próprio
GDF fomentar o turismo em julho, período de clima agradável, em que não chove na cidade. Serve como abertura da temporada”, explica. Além de Brasília, o festival é divulgado em
São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, interior de Minas
Gerais, Goiânia, interior de Goiás, Palmas e Cuiabá. “É a
chance de o turista vir conhecer a cidade e aproveitar para ver
vários shows concentrados em três dias. No ano passado, 20%
do nosso público foi de fora”, conta André.
A energia utilizada no festival será fornecida por geradores
movidos a biodiesel. Haverá também um espaço na arena dedicado a uma campanha pelo uso de energias renováveis, com
apresentação de novas tecnologias. Será feita, ainda, coleta seletiva do lixo. A festa estará conectada a duas campanhas sociais.
Na primeira, quem doar agasalhos à Ong Gente Nova terá direito à meia-entrada. Na segunda, guitarras autografadas por artistas do festival serão leiloadas e a renda irá para o instituto Vida
Positiva, que auxilia crianças com Aids.
Festival de Inverno de Brasília
Jota Quest: desafio de manter quente o clima da festa até o último segundo
20
3 e 4/7, às 19h30, e 5/7, às 18h, no estacionamento do Estádio
Mané Garrincha. Ingressos por dia: R$ 60 e R$ 30 (meia).
Passaporte para os três dias: R$ 150 e R$ 75 (meia, para
estudantes, doadores da agasalhos ou cobertores e maiores de 60
anos). Pontos de Venda: Lojas Free Corner. Classificação: 16 anos.
Informações: www.invernobrasilia.com.br
Adriana Lins
O filósofo de Xerém
Turnê nacional traz Zeca Pagodinho a Brasília dia 4 de julho
Por Heitor Menezes
A
esta altura, Zeca Pagodinho deve
estar curtindo os novos troféus
conquistados, tendo papado, salvo algum percalço, as cinco indicações a
que concorria no 20o Prêmio da Música
Brasileira (ex-Tim, ex-Sharp). Não é fácil.
Com Uma prova de amor, lançado em outubro de 2008, ele foi indicado nas categorias melhor disco e melhor cantor de samba, além de concorrer duas vezes na categoria melhor canção, com Então leva (Bira
da Vila e Luiz Carlos da Vila) e Uma prova
de amor (Nelson Rufino/Toninho Geraes). De quebra, ainda entrou na disputa
pelo prêmio de melhor arranjador, façanha do não menos brilhante Rildo Hora.
Pois é esse Pagodinho de ouro, platina
e outros metais nobres que o brasiliense
poderá conferir no dia 4 de julho, nos salões da AABB. A turnê de promoção do
disco tem passagem única pela cidade, tornando-se programa imperdível para quem
aprecia a fina arte do legítimo samba ca-
rioca, patrimônio de todos os brasileiros.
E é incrível que de uma carreira iniciada lá
no começo dos anos 80 não parem de
brotar sucessos e, acima de tudo, qualidade musical. Com Uma prova de amor, Zeca
entrega mais do mesmo, ou seja, aquele
compêndio do samba e suas derivações,
mantendo cada vez mais viva a contribuição e a importância desse grande gênero
musical à cultura brasileira.
Falando assim, parece coisa de acadêmico, mas basta deixar correr a obra (tocar
o CD, os mp3s, o que seja) para mergulhar em universo que remete ao amor, à
alegria, à descontração, ao dia de sol, aos
amigos, à cerveja, ao churrasquinho, à veleidade total, como a repetida no refrão do
grande sucesso Deixa a vida me levar.
Isso é aula de filosofia. Prosaicamente
falando, se Nietzsche, Schopenhauer e outros alemães atormentados tivessem escutado os conselhos de Zeca Pagodinho e os
“filósofos” cantados por ele, a filosofia seria menos cabeçuda e teria este pensamento: “...Existia um vazio em minha vida /
Existia tristeza em meu olhar / Eu era
uma folha solta ao vento / Sem vida, sem
cor, sem sentimento / Até seu perfume
me alcançar”. Viram? Todos os grandes
dilemas da vida se resumem a um homem, uma mulher, saba-daba-da, o sim, o
não, um abraço.
Corram lá. A acústica da AABB é imoral (problema, aliás, que se repete em toda
a cidade: Brasília, salvo pouquíssimas exceções, não tem casa que honre o trabalho
dos músicos), mas não deve atrapalhar a
noite de sábado, 4 de julho. Ao som de
Zeca Pagodinho, dá para pegar a nega e
deslizar com muito estilo pelo salão como
numa autêntica gafieira da Lapa.
Zeca Pagodinho
Turnê Uma prova de amor
4/7, às 22h, na AABB. Ingressos (meia): área
vip, R$ 70 (masculino) e R$ 50 (feminino);
camarote premium, R$ 120 e R$ 100;
camarote gold (15 pessoas), R$ 2.000.
À venda na CVC do Pátio Brasil,
ParkShopping, Conjunto Nacional, Gilberto
Salomão e Wal Mart e no Vercelli da
410 Sul. Mais informações: 7813.2124 /
8159.3883 / 8423.3542.
Na próxima página: cinco minutos de prosa com Zeca Pagodinho
21
graves&agudos
Zeca, um brasileiro
Jessé Gomes da Silva Filho, o Zeca
Pagodinho, é notoriamente avesso a entrevistas e monossilábico, mas, sabe-se
lá como, resolveu gentilmente atender
a reportagem da Roteiro, pelo telefone,
numa manhã de segunda-feira.
Alô, Zeca? Aqui é Heitor Menezes, da
revista Roteiro Brasília. Obrigado por
nos atender. Como estão sendo os
shows de divulgação do novo disco?
O show é baseado no disco Uma prova
de amor. O repertório é muito bacana e
até vai ser gravado, em julho, para ser
lançado em DVD. Do disco, tem uma
cinco músicas: Uma prova de amor, Normas da casa, Eta povo pra lutar e outras
que eu não lembro.
Que músicos estão nessa turnê?
É a minha banda, a Muleke.
No novo disco, os arranjos do Rildo
Hora ficaram maravilhosos.
O Rildo sempre acerta.
22
Você sempre vem a Brasília? A cidade
faz parte do seu roteiro?
Faz parte. Eu sempre percorro o Brasil
inteiro.
Você tem alguma coisa com Brasília?
Você gosta...?
Tem a minha tia Beatriz que mora aí. Ela
está meio doentinha, mas vai melhorar.
Tenho uns primos e uns parentes aí. Sempre que vou revejo meus parentes.
A cidade te agrada?
Eu gosto é do Brasil. Gosto de viajar pelo
país, não gosto de ir para fora. Só se for
por necessidade. Gosto de Brasília, do
Nordeste, do Sul. Gosto de tudo. A turnê,
eu acho, vai até o ano que vem.
Você mantém, no novo disco, uma
identidade bem pessoal com as coisas
do samba, da gafieira, do partido alto,
da Portela. Essas são as tônicas que vêm
marcando o seu trabalho.
Pois é, é uma prova de amor a cada uma
dessas coisas.
E a crônica social que está embutida
no samba? Você faz questão de manter isso, não é?
O romantismo também tem o seu lado, mas o legal mesmo é contar o que
a gente vê no dia-a-dia, o que a gente sabe. Principalmente o carioca, não é?
Você levou Xerém para o mundo...
Xerém está bem, só está é muito mal
cuidado. Ficou um lugar abandonado.
Esses políticos são uma desgraça...
Pois é. Acontece que o prefeito não se
dá com o ex-prefeito e o povo é que paga.
O negócio lá está entregue às baratas.
Bem, em Uma prova de amor você
fala do romantismo, que não deixa
de ser um assunto que faz parte dessa
crônica social. As pessoas se amam.
Na verdade, você sempre abordou o
romantismo em suas músicas, não é?
O romantismo tem o seu lugar. Não dá
para ficar tocando só no mesmo assunto. É preciso diversificar.
galeriadearte
A arte do
Lago Norte
Vem aí a 19ª edição
do Poucas e Boas
colares com fios de silicone, pérolas, resina e módulos de madeira de autoria de
Maria Eduar. Do ateliê O.BRA – Olaria
Brasiliense – Eugênio e Tim trazem peças utilitárias e decorativas em esmaltes de
alta temperatura especialmente criados pela dupla. E da grife brasiliense Coisa Chic
virão vestidos e blusas confeccionados em
tecidos e malhas especiais.
De outros Estados a Poucas e Boas
apresenta o trabalho de Áurea Sacilotto,
uma paulista que trará sua coleção de peças em prata inspiradas nas esculturas do
concretismo, e a carioca Lygia Pires, que
há mais de 20 anos se especializou na produção de joias e bijuterias para o público
teen e agora vem se dedicando também à
criação e produção de acessórios de moda
em tricô.
Na gastronomia, além da culinária latina do El Paso Texas, quem for à feira poderá comprar geléias do pomar de Gertrude Schwantes, chocolates Stans e especialidades do Café Cristina.
Como nas edições mais recentes, os
organizadores do Poucas e Boas manterão
o que chamam de “contrapartida social”.
Um quiosque da feira venderá objetos artesanais seminovos, e a renda obtida irá
para a creche da Sociedade Cristã Francisco de Assis, de Brasilinha. Bons motivos
não faltam para marcar na agenda uma
passada na simpática feira do Lago Norte.
El Paso Combo, uma das delícias do
cardápio do El Paso Texas: R$ 30,90
Fotos: Divulgação
A
fórmula
é sempre
a mesma: reunir, duas
vezes por ano, o trabalho de bons artistas
Anel de Áurea Saciloto
e artesãos do bairro,
sem deixar de chamar talentos de outras
regiões e, ainda por cima, apoiar alguma
entidade assistencial. Na parte gastronômica, a proposta da feira é convidar um
chef da cidade que traga alguns itens de
seu cardápio. Desta vez, quem estará montando um mini El Paso Texas na casa do
Lago Norte é o peruano David Lechtig.
A prata da casa, ou seja, os artistas que
comandam a festa e expõem seus trabalhos, são Fátima Bueno, a dona do espaço
onde se realiza a Poucas e Boas, que faz
móveis em madeira; Mônica Menkes,
com suas telas em motivos geométricos e
cores metálicas; Paulo Lobo, autor de joias
em ouro e prata com pérolas cultivadas,
rubis e citrinos; e Juliana Sato, ceramista
que continua o belo trabalho de sua mãe,
Cecy, recentemente falecida.
Entre os artistas convidados da cidade
estão Jac Bara e Monica Teixeira, artesãs
têxteis do ateliê Pano Feito, que trabalham
em parceria com bordadeiras e costureiras
de comunidades locais, como o Grupo
Serbrasileiro, de Samambaia. Elas trarão à
feira almofadas, colchas de retalhos, jogos
de lençóis e toalhas de mesa, bolsas e
echarpes.
Foram chamadas também As Preciosas Marias, que vão apresentar sua coleção BSB 2009, de acessórios, entre eles
Colar com fios de silicone, pérolas, resina e
módulos de madeira, de As Preciosas Marias
Poucas e Boas
Arte, design e gastronomia
27 e 28, das 11 às 19 h, na QL 12, Conjunto
6, Casa 2, Lago Norte
(3577.3998). Entrada franca
Mesa de madeira de Fátima Bueno
23
Os mundos
de Le Corbusier
Caixa Cultural expõe, até 19 de julho,
o melhor da arte do arquiteto francês
“Para este grande viajante, existem
lugares privilegiados no planeta, entre
montanhas, planaltos e planícies com
grandes rios que correm rumo ao mar.
O Brasil é um desses lugares acolhedores
e generosos que gostamos de poder
considerar como um amigo”.
Fundação Le Corbusier
Le Corbusier
Pintura Arcole Simla
24
Fundação Le Corbusier
Foto de Fábio Scrugli
galeriadearte
O
autor da frase ao lado viveu entre
1887 e 1965 e foi um dos grandes arquitetos do chamado movimento moderno. Ele tentou fazer, a partir da década de 20, um modelo arquitetônico que pudesse ser exportado, mas isso
só foi viável depois da Segunda Guerra
Mundial, nos anos 50. Assim, seus projetos de vanguarda, desenvolvidos na França e na Suíça, foram concretizados em paí­
ses fora da Europa, como o Brasil.
Justamente esses dois mundos, a Europa e o Brasil, estão presentes na mostra em
cartaz na Caixa Cultural. Em Le Corbusier
entre dois mundos, o visitante poderá conhecer também o artista completo que ele era,
segundo explicou o coordenador geral da
exposição, Nicola Goretti: “Além de arquiteto, ele foi pintor, escultor e tapeceiro,
sendo que seus pro­­­­­­­jetos dos últimos 30
anos de vida foram os mais complexos, os
mais plásticos”.
Quem for à exposição vai ver 120 trabalhos do que se convencionou chamar
hoje de “obra da maturidade” do arquite-
Edifício residencial em Marselha
to francês, no período de 1945 a 1965. De
acordo com o curador Jacques Sbriglio,
foi a partir do fim da Segunda Guerra que
a produção de Le Corbusier sofreu significativo impacto, com as grandes encomendas públicas e a consequente consagração
internacional.
Há uma nítida diferença entre o arquiteto do pré-guerra e o artista do pós-guerra. “Se os anos das décadas de 30 e 40
confirmam um Le Corbusier teórico, de
notoriedade internacional incontestável,
os anos do pós-guerra correspondem à revelação de um grande criador”, explica
Sbriglio.
Foi durante o último período de sua
carreira que Le Corbusier criou suas
obras-primas mais importantes: a unidade
habitacional de Marselha, a capela de
Ronchamp, o convento de Tourette e os
projetos da cidade indiana de Chandigah,
em 1947, planejada como Brasília. Além
desses trabalhos, a exposição apresenta
projetos do arquiteto para o Brasil, como
o que fez com Lúcio Costa para o Palácio
de Capanema, no Rio, e a Casa do Brasil,
na Cidade Universitária de Paris.
Depois de arquiteto, Nicola Goretti
acredita que Le Corbusier foi mais importante como pintor. Pertenceu ao movimento purista, que vem logo após o futurismo.
Quatro telas representativas desse movimento estão expostas na Caixa. Há ainda
duas esculturas da mesma corrente.
Apesar de não ter participado diretamente da construção de Brasília, a cidade
foi um grande laboratório de Le Corbusier, já que aqui se tornou realidade sua
ideia utópica de construções arquitetônicas contemporâneas aliadas a conceitos
sociais. Em sua perspectiva, a cidade deveria ter grandes blocos de apartamentos assentados em pilotis, deixando o terreno
fluir debaixo da construção (ver boxe abaixo). Paisagem mais do que típica do nosso
Plano Piloto.
Le Corbusier entre dois mundos
Até 19/7, de terça a domingo, das 9 às 21h,
na Caixa Cultural. Entrada franca.
Fundação Le Corbusier
Marselha, 1945: maquete original de um apartamento, em madeira e cartolina
Os cinco mandamentos
Em 1929, a teoria do arquiteto virou realidade na casa de campo construída nos
arredores de Poissy, na França. Os cinco pontos aplicados no projeto foram:
1 Construção sobre pilotis, de forma que o térreo das construções fique livre e
seja uma extensão do espaço externo.
2 Terraço-jardim. A ocupação das últimas lajes das edificações com jardins.
3 Fachada livre. A disposição das aberturas na fachada é independente da configuração estrutural do edifício, visto que os pilares e vigas são projetados internamente, não mais junto à fachada.
4 Janela em fita (horizontais), buscando iluminação constante e homogênea.
5 Planta livre da estrutura, ou seja, a divisão dos cômodos é feita independentemente da configuração estrutural, de forma que as paredes divisórias não tenham
função na sustentação do edifício.
Escultura Natureza morta
25
brasiliensedecoração
Meio século
de arte
A artista plástica
Marlene Godoy
tem uma extensa
agenda de
exposições, no
Brasil e no exterior,
até o início do
próximo ano.
Por Ana Cristina Vilela
S
ão quase 75 anos de idade. E falta
pouco para completar 50 anos de
pintura. Sobram energia, criatividade, talento e memória. Assim é a incansável Marlene Godoy, brasiliense de coração desde 1977. Artista plástica de nascimento, em seu ateliê, no Altiplano Leste,
Marlene cria, ensina e prepara-se para diversas exposições no Brasil e no exterior.
Tem hoje mais de 20 alunos, que aprendem com ela a técnica da encáustica, porque “quem ensina aprende duas vezes” e
o “mestre nasceu para servir”.
Sua história na arte brasileira começou de forma singular, quando morava no
Rio de Janeiro. Mudou-se para lá ainda
criança, pois os atritos familiares em
Coimbra, Minas Gerais, onde nasceu,
tornaram-se insuportáveis. O pai era espí26
rita; a mãe, católica. As famílias desentendiam-se. Marlene formava sua personalidade e as características de uma arte futura: o sincretismo religioso. “Nasci para
observar, sou uma observadora”, é como
se auto-define.
Ao se casar, em 1953, foi morar na
rua em que viviam Nélson Rodrigues e os
atores Lourdes e Rodolfo Mayer. Sobre
Nélson, as histórias são incontáveis: “Ele
era fã incondicional de Eça de Queiroz.
Não tinha carro, andava de ônibus para
escutar os assuntos”. Nélson marcou muito sua vida. Um dia, sua mãe chegou para
ele e disse: “Minha filha lê seus livros desde adolescente. O senhor não acha isso
um absurdo?” E Nélson respondeu: “Sim,
eu acho.”
Foi depois de casada e de ter seus três
filhos, aos 28 anos, que a vida artística de
Marlene começou de fato. Sempre dese-
nhava. Fazia caricaturas dos professores e
cenários para trabalhos do colégio. Porém, foi pelas mãos da mãe, que pintava e
escrevia poesias, que entrou para o mundo das artes. Em virtude dos problemas
de saúde que teve durante as gestações, o
médico disse que ela precisava fazer alguma coisa para se distrair. Sua mãe foi até
uma loja, comprou uma mala de pintura,
seguiu para o Colégio Marista Champagnat, procurou o reitor e perguntou se ali
existia um Sagrado Coração de Jesus. Ao
escutar uma resposta negativa, decidiu:
“Minha filha vai fazer um.” Depois, procurou o professor e gravurista Carlos
Oswald e pediu: “Minha filha pode copiar seu Coração de Jesus?”
Oswald aceitou, desde que Marlene
não assinasse a obra. Porém, ao final, o
trabalho saiu completamente diferente.
Marlene assinou o quadro, entregou-o ao
Fotos: Ana Cristina Vilela
colégio e escutou de Oswald que “tinha
muito talento”. Aconselhada por ele, passou a frequentar a Escola Nacional de Belas Artes como ouvinte. Depois, foi parar
nas mãos da exigente professora italiana
Caterina Baratelli, que trabalhou com
Giorgio Morandi. “O que eu sei, aprendi
com ela”, diz. Em 1967, foi morar na Alemanha e passou a estudar na Academia
de Berlim, onde permaneceu por dois
anos e foi aluna de Hann Trier. Com
Trier, teve suas primeiras aulas de criação
livre, ocasião em que desenvolveu o tema
“futebol brasileiro”.
Em 1970, de volta ao Brasil, com a
chegada da Copa do Mundo, Marlene virou a artista do futebol. “Marlene Barreiros é, talvez, a primeira pintora brasileira
que entrou no ex-Maracanã. Ela não perguntará, jamais, como a grã-fina das narinas de cadáver: quem é a bola?”, escreveu
Nelson Rodrigues para o catálogo da exposição.
Brasília entrou na vida de Marlene em
1977. Em 1996, numa viagem a Belém,
ela havia descoberto a milenar técnica da
encáustica, que usa cera de abelha, parafina, cera de macaúba e resina de damar. “A
técnica veio da Grécia antiga, servia para
passar nos barcos e nas esculturas, pois
protege contra a umidade e a poeira”, explica. Foi aqui que criou a Via Sacra do Perpétuo Socorro, toda ambientada no Congresso Nacional, e trabalhou os Orixás, o
I-Ching e o Tarô até chegar à exposição Cidades contemporâneas, aberta à visitação na
Casa da Cultura da América Latina até 19
de julho. Ao todo, estarão expostas 20 peças, além do painel Sobras da encáustica.
Este ano, a artista brasiliense esteve,
em março, na Internacional Visions Gallery, em Washington, com uma mostra
individual. Em abril, junto com seus alunos, expôs na Galeria Spazio Surreale, de
São Paulo; em seguida, na Assembléia Legislativa paulista. E foi selecionada para a
3ª Bienal de Arte de Gênova, que vai até 8
de julho. Em janeiro, fará parte do Grupo
de Encáustica para a 3ª Bienal de Roma.
Incansável Marlene.
Cidades contemporâneas
De 23/6 a 19/7 na Casa da Cultura da
América Latina – SCS, Quadra 4, Edifício
Anápolis (3321.5811) Mais informações:
www.portalartclub.com.br/artista/
marlenegodoy.
27
Rodrigo Oliveira
cartadaeuropa
Orwell tinha razão
Por Silio Boccanera, de Londres
S
essenta anos atrás, o Big Brother se
revelou ao mundo. Não o programa
de TV, claro, pois o veículo eletrônico era então recém-nascido e ainda desconhecia os delírios dos reality shows, mas o
livro 1984, do britânico George Orwell,
um retrato do totalitarismo, com o povo
reprimido e mantido sob vigilância ininterrupta do poder central todo-dominante, o Big Brother.
O livro teve impacto imediato: vendeu
50 mil exemplares no Reino Unido e 300
mil nos Estados Unidos em menos de um
ano. Tanto tempo depois, ninguém sabe
informar quantos milhões de cópias já
vendeu, em quantas dezenas de idiomas,
28
sem contar as versões clandestinas produzidas à mão ou em mimeógrafos e fotocopiadoras, para circulação em países ditatoriais onde a narrativa parece espelho.
O exemplo vivo mais óbvio hoje é a
Coreia do Norte, não só pelo controle de
uma ditadura ferrenha e retrógrada, sempre atiçando a ameaça de conflito militar
com inimigos externos, mas até pelo fato
de que o rádio, como a TV, só capta por
lá uma emissora, a oficial, sempre transmitindo propaganda do governo.
Orwell, de fato, baseou 1984 no mesmo stalinismo que inspirou Kim Il-Sung,
o pai do atual ditador norte-coreano. O livro foi escrito em 1948, auge do domínio
de Josef Stalin na União Soviética, quando
se dissolvia a boa-vontade do Ocidente
com Moscou por causa da aliança durante
a Segunda Guerra Mundial, e os críticos
voltavam a atacar o totalitarismo do regime
comunista. O impacto da denúncia era
maior ainda quando vinha de alguém com
credenciais de esquerda e militância socialista como Orwell, que já tinha escrito uma
obra tão devastadora e tão anti-stalinista
como A revolução dos bichos, em 1945.
O Big Brother quase não entra no
imaginário de milhões de pessoas, porque
Orwell estava muito doente enquanto escrevia seu último livro. Sofria de tuberculose, já tinha sido hospitalizado algumas
vezes e isolou-se na ilha escocesa de Jura
para concluir o trabalho. Sua letra à mão
já não era das mais legíveis e a doença só
tinha tornado ainda mais obscuro o ma-
Hoje, quando governos se aproveitam
da tecnologia da informação para centralizar dados sobre seus cidadãos (carteira de
identidade, de motorista, previdência, registro no imposto de renda, informações
médicas, IP do laptop, DNA), a privacidade desaparece e se transfere para um controle central. O procedimento é geralmente justificado em nome de boas intenções
e mais eficiência, mas ainda assim o resultado prático é uma invasão da vida pessoal
e mais acúmulo de poder em mãos de
uma autoridade central.
O Reino Unido, por exemplo, ainda
não adota uma carteira de identidade nacional porque grupos de direitos civis se
opõem à medida como autoritária e centralizadora, facilitadora de abusos à privacidade por parte do governo. Essa resistência em nome dos direitos civis surpreende cidadãos de países como o Brasil,
onde esse documento (como o CPF) é
considerado banal e indispensável, pouco
capaz de sensibilizar militantes pró-cidadania para condenar a ação do governo.
Ao mesmo empo, no entanto, o Reino Unido, e mais especificamente sua capital, oferece ao mundo um exemplo extraordinário de espionagem pública de
seus cidadãos nas milhares de câmeras de
circuito interno de TV espalhadas pela cidade. No centro da capital, então, é quase
impossível movimentar-se sem ser captado por uma dessas câmeras. Ajudam no
combate ao crime e ao terrorismo, dizem
seus defensores, sem convencer os que
protestam contra a intrusão ininterrupta
– que imita o olho eletrônico do Big Bro-
ther no livro de Orwell.
Para quem não tiver paciência ou tempo para ler 1984, e quiser absorver o espírito da mensagem de Orwell, existem duas
adaptações razoáveis da obra para o cinema. A segunda, lançada significativamente
no ano real de 1984, tem John Hurt no papel do rebelde Winston Smith e Richard
Burton em seu último trabalho para o
cinema, como o torturador que não só faz
a vítima confessar, diante do que mais o
repugna (ratos), mas nos oferece a imagem
perfeita do totalitarismo: uma bota sobre a
cabeça da vítima para sempre.
Divulgação
nuscrito, que ele mesmo teve de datilografar, pois nenhuma secretária entendia o
original. Em janeiro de 1950, seis meses
depois do lançamento de 1984 em Londres, Orwell morreu.
Tinha 46 anos. Seu verdadeiro nome
era Eric Blair. Socialista por opção ideológica, participou como voluntário na Guerra Civil Espanhola, na luta contra o General Franco, ao lado de voluntários estrangeiros, quase todos politicamente de esquerda, mas contou depois ter sofrido
enorme decepção com o comportamento
autoritário e repressor dos aliados comunistas. Sua herança vai além da literatura,
pois até quem não leu seus livros absorveu conceitos que ele divulgou via ficção:
a manipulação da linguagem para fins políticos, o controle central para evitar dissidências, a invasão de privacidade, o monopólio da informação oficial, a censura.
Quando George Bush dizia que atacava o Iraque para levar a paz aos iraquianos, suas palavras reproduziam a novilíngua de Orwell, em que paz é guerra, guerra é paz, descreve-se a realidade de forma
contrária aos fatos e, assim, se impõe uma
versão oficial. Orwell descreveu Oceania,
Eurasia e Lestasia como Estados em guerra permanente, mas nem sempre contra
os mesmos inimigos. Big Brother incitava
as massas contra o adversário do momento, levando-as à histeria, e pouco depois
trocava de opositor, promovendo os mesmos comícios públicos de ódio (sob orientação do “Ministério do Amor”) contra o
adversário novo, sem nunca admitir que o
eixo do mal tinha trocado.
29
luzcâmeraação
Seja marginal,
seja herói
Caixa da Lume
Filmes recupera
obras raríssimas
do chamado
cinema marginal
Fotos: Divulgação
Bang Bang
Os monstros de Babaloo
Meteorango Kid, o herói intergalático
Por Sérgio Moriconi
C
om a honrosa exceção do clássico
O bandido da luz vermelha, de Rogério Sganzerla, realizado no mítico ano de 1968 e sucesso na época de seu
lançamento, os filmes do dito “cinema
marginal” honraram galhardamente o seu
epíteto e permaneceram à margem dos circuitos comerciais. Curiosamente, apesar
da geração dos marginais reivindicar uma
ruptura com todos os códigos narrativos
convencionais, nunca houve a intenção
por parte de seus realizadores de permanecerem confinados aos circuitos alternativos de exibição. Era, claro, um paradoxo.
Como bem demonstram Meteorango Kid,
o herói intergalético (1969), de André Luiz
Oliveira, Bang Bang (1971), de Andrea
30
Tonacci, Os monstros de Babaloo (1970),
de Elyseu Visconti, e Sem essa, Aranha
(1970), de Rogério Sganzerla, o radicalismo deles criava um abismo entre seus
criadores e o público médio.
Vistos hoje, mais de 40 anos depois,
os filmes marginais são deliciosos e intrigantes. Adeptos da estética do imperfeito,
do abjeto, do grotesco, antropofágicos, espécie de “terrorismo dos cupins”, segundo expressão do mexicano Guilherme Del
Toro (citado pelo crítico João Luiz Vieira),
eles são a versão contracultural do engajadíssimo Cinema Novo. Este movimento,
que tinha Nélson Pereira dos Santos,
Glauber Rocha e Joaquim Pedro de Andrade, entre vários outros, como protagonistas, queria fazer a revolução social através do cinema. Adeptos da “estética da fo-
Sem essa, Aranha
me” – filmes feitos com poucos recursos
–, conveniente para países pobres e colonizados culturalmente, os cinemanovistas
eram militantes, revolucionários e sérios.
Os marginais eram tropicalistas, debochados, anarquistas. Incorporavam em seu cinema tudo aquilo que era deixado de lado
– leia-se, alienado e alienante – pelo Cinema Novo.
Trashs “avant la lettre”, os marginais,
que nunca se consideraram parte de um
movimento, anarquistas por natureza, podem ser identificados facilmente por certas características presentes em todos os
seus filmes. A principal delas é a rejeição
às formas culturais cultas, a incorporação
de elementos do cinema de gênero, dos
filmes B, do gibi, da subcultura, do pop,
do escatológico, vide, principalmente
Bang Bang e Os monstros de Babaloo. Este
último, à época proibido pela censura, é
“a obra mais debochadamente grotesca do
cinema mundial, um filme pantagruélico
que antecipa John Waters, o rei do trash,
inclusive na caracterização de Wilza Carla, que já é Divine antes da própria Divine”, para usar aqui os termos do crítico
João Carlos Rodrigues.
“Quando a gente não pode fazer nada,
a gente avacalha”. A frase, dita pelo protagonista de O bandido da luz vermelha, define boa parte da estética e do pensamento
dos realizadores agrupados em torno do
rótulo “cinema marginal”: quando não se
pode lutar contra o gigante de Hollywood
(pela pobreza dos meios de produção),
nem contra a ditadura (por causa da censura e da perseguição política), a saída é
ficar à margem, a saída é a guerrilha cultural. Por isso resgataram a chanchada, as
comédias musicais brasileiras desprezadas
pelos cinemanovistas. Os monstros de Babaloo e Sem essa, Aranha são dois exemplos de filmes que recuperam as chanchadas, mas num contexto contracultural.
Sganzerla utiliza o genial Jorge Loredo, o
Zé Bonitinho da TV, para compor a sua
personagem de Aranha, um pilantra que
se diz o último capitalista do Brasil.
Marginal, udigrudi (termo pastiche do
underground inventado pejorativamente
por Glauber Rocha), maldito – foram dezenas as tentativas de definir, sob um único termo, um tipo de cinema tão vário,
com tantos diferentes matizes, produzido
em diferentes e improváveis geografias.
A coleção da Lume traz, por exemplo,
Meteorango Kid, que veio da Bahia. Portanto, ao contrário do Cinema Novo, que
chegou a esboçar uma unidade estilística,
o cinema marginal abarcava entre seus representantes nomes submetidos a diferentes culturas, alguns deles ligados a um cinema culto, caso de Rogério Sganzerla, influenciado ao mesmo tempo pela nouvelle
vague francesa e pela contracultura norteamericana.
Longe dos esquemas industriais de
produção, com negativos e cópias muitas
vezes guardados em condições precárias
pelos próprios realizadores, os filmes do
cinema marginal foram aos poucos desaparecendo de circulação. Invisíveis aos
olhos do grande público, tornaram-se objeto de culto para as novas gerações de diletantes, intelectuais e críticos de cinema,
todos interessados num tipo de cinema totalmente descolado do esquema de produção industrial. Grandes nomes do Cinema Novo, especialmente Glauber Rocha
(certamente um dos inspiradores do cinema marginal), também não viam os diretores do udigrudi com bons olhos: “O bazar tropicalista deles é alienado demais”,
teria dito Glauber.
Polêmicas à parte, ainda mais radicais
– na forma – do que os cinemanovistas,
os marginais operavam, a contragosto,
nos guetos culturais do circuito alternativo com seus filmes esotéricos que desprezavam tanto a linguagem narrativa clássica
quanto a mensagem de contestação política direta. Para os marginais, a forma era,
em si, o conteúdo! Queriam a liberdade
total: Che Guevara, com Batman, Frankes-
tein, Noel Rosa com Jimi Hendrix. Muito
falado e pouco visto, o cinema marginal,
um dos agrupamentos de filmes (vamos
evitar mais uma vez falar em movimento)
mais importantes para a história do cinema brasileiro, foi, e ainda é, uma brisa de
ar fresco para aqueles que continuam acreditando num cinema de invenção, livre
dos constrangimentos dos modelos e das
estéticas pragmáticas de mercado. Cinema marginal brasileiro
Caixa com quatro DVDs.
Lume Filmes, R$ 199,60.
31
Denis Netto
luzcâmeraação
Feiura
americana
Courtney Hunt expõe em seu
filme de estreia um quadro
constrangedor da miséria nos EUA
Por Reynaldo Domingos Ferreira
R
io congelado narra a história de duas
mulheres de mundos diferentes –
uma branca e uma indígena – que
se unem, às vésperas das comemorações
natalinas, na luta desesperadora pela sobrevivência dos filhos. Autora também do
roteiro, a americana Courtney Hunt situa
o drama das duas mães num lugarejo da
região norte do Estado de Nova York, perto da reserva indígena St. Regis Mohawk
e da fronteira com o Canadá, onde as condições climáticas, no inverno, são arrasadoras.
O filme, de baixo orçamento (custou
pouco mais de US$ 4 milhões), além do
Grande Prêmio do Festival de Sundance,
no gênero drama, ganhou duas indicações ao Oscar, nas categorias de roteiro
original e melhor atriz. Hunt usa linguagem documental, trabalhando com a câmera manual de Reed Dawson Morano,
que capta, como manda o figurino de origem europeia, as imagens o mais rente
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possível das personagens. Os planos são
quase sempre fechados, e a trilha sonora
de Peter Golub e Shazad Ali Smaily, de
bom gosto, sublinha de forma satisfatória
os momentos mais dramáticos do filme.
Ray Eddy (Melissa Leo) trabalha como
vendedora de uma pequena loja de departamentos, constituindo, com o pouco que
ganha, uma poupança para comprar a casa própria. Mas o marido, jogador inveterado, de repente some de casa levando o
dinheiro e deixando-a com os dois filhos
menores para sustentar. Ao início do filme, Ray aguarda, na porta do trailer em
que vive, os cobradores da imobiliária que
lhe vêm exigir o pagamento da prestação
vencida da casa. Advertida de que poderá
perder o sinal já dado, ela pede um tempo
para procurar o companheiro, que, ao
que diz, tem o dinheiro necessário para
cumprir o compromisso.
Na peregrinação que faz por pontos
de jogatina do lugarejo, encontra Lila Littlewolf (Misty Ulpham), uma indígena, dirigindo o carro de seu marido. Ela parte
em perseguição a Lila e, após a abordagem, fica sabendo que ela encontrara o
veí­culo abandonado junto à estação rodoviária, o que lhe dá a confirmação de que
ele partira. As duas mulheres confidenciam suas dificuldades, tendo em vista o
fato de que o filho da indígena, ainda de
colo, fora arrebatado pela sogra, já que ela
não tinha condições de criá-lo. Diante disso, decidem empreender viagens arriscadas, transportando imigrantes ilegais do
Canadá para os EUA, pela superfície congelada do Rio St. Lawrence.
O roteiro de Hunt, em suas entrelinhas, dá azo ao espectador de observar como a luta pela sobrevivência é capaz de levar duas criaturas separadas pelo ódio da
segregação racial a se solidarizarem. E deixa evidente também, aos que ainda insistem em não querer ver, como é importante que se respeite a jurisdição dos indígenas sobre seus territórios demarcados.
Como diretora, Hunt surpreende pelo
domínio da linguagem e principalmente
pela técnica de dirigir atores, extraindo de-
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les interpretações que dão ao filme a categoria de uma grande obra. A primeira é a
de Melissa Leo, atriz relegada até agora a
papéis secundários – sua última aparição
foi como esposa de Benício Del Toro em
41 gramas – que encontrou no papel de
Ray a esperada oportunidade de se projetar e de ser indicada ao Oscar. Sua atuação de Melissa é realmente soberba, pela
maneira como sabe explorar a linguagem
dos olhos e do rosto em complementação
à sua expressão física. Para reforçar, por
exemplo, o sentimento de angústia reprimida de Ray, a intérprete não cai, em momento algum, no descontrole de gestos e
de movimentos, preferindo apoiar-se, antes de tudo, no recurso das pausas psicológicas.
Mas é preciso notar também que Misty Ulpham, intérprete da indígena Lila,
propicia as condições ideais para que Melissa explore ao máximo as sequências
dramáticas em que ambas contracenam.
Ulpham tem também atuação marcante
caracterizada principalmente pela firme
convicção que transfere à personagem de
que não pode ultrapassar os seus limites.
E Charlie McDermott, no papel de Troy
Eddy, filho mais velho de Ray, embora
ainda muito jovem, demonstra maturidade técnica surpreendente. Tanto Ulpham
como McDermott mereceram, sem dúvida, as diversas indicações que receberam
para premiações internacionais destinadas a atores coadjuvantes.
Ritual de passagem
A estupenda atuação do elenco de A partida
justifica os prêmios conquistados pelo filme
G
Rio congelado (Frozen river)
Denis Netto
EUA/2008, 98min. Roteiro e direção:
Courtney Hunt. Com Melissa Leo, Misty
Ulpham, Charlie McDermott, Michael
O´Keefe, James Reilly e Jay Klaitz.
anhador do Oscar de melhor filme de língua estrangeira, A partida, de Yojiro Takita, é uma obra
de imagens convencionais, mas de linguagem lírica, competentemente dirigida, que
recorre a uma tradicional cerimônia fúnebre japonesa para mostrar, mesmo com
certa ironia, como se deve, pela superação
das perdas afetivas, valorizar cada momento da vida.
O roteiro, de Kundo Koyama, baseado no livro Coffinman: the journal of a
buddhist, de Aoki Shinmon, embora esquemático, é rico em simbologia. É disso
exemplo a sequência em que o protagonista Daigo Kobayashi (Masairo Motoki),
estando às margens de um rio nos arredores de Yamagata, sua terra natal, observa a
persistência dos salmões em nadar contra
a corrente até chegar ao encontro com a
morte.
Daigo moldou sua personalidade pela
do pai, Toshiki Kobayashi (Toru Mineghishi), que o incentivou, desde criança, a
tocar violoncelo e a dar atenção às tradi-
ções japonesas, como a da compreensão
de mensagens das pedras-cartas. Seus sonhos, porém, foram sempre alimentados
pelo lado da música. Quando Kobayashi
abandonou a família, a mãe de Daigo teve
de montar um pequeno negócio para custear as despesas domésticas e educá-lo.
O filme se inicia em Tóquio, onde
Daigo integra uma orquestra sinfônica em
dificuldade, que acaba por ser dissolvida.
Sem ter como pagar as dívidas, o músico
vende o violoncelo e, tendo a concordância da mulher, Mika (Riyoko Hirosue), decide retornar à sua cidade para morar na
própria casa, vazia desde que a mãe morrera, há algum tempo, sem que ele pudesse estar presente aos funerais.
Instalado, Daigo procura emprego pelos jornais. E se entusiasma com o anúncio de uma organização, Agência NK, que
cuida de partidas. Sua dedução é a de que
se trata de uma empresa de turismo, que
lhe poderá dar oportunidade, tantas vezes
também sonhada, de viajar pelo mundo
afora. A grande surpresa de Daigo, entre33
Divulgação
luzcâmeraação
tanto, acontece quando ele descobre que
o trabalho que lhe é oferecido, com pagamento de compensador salário antecipado, é o de assistente de um profissional,
Shoei Sasaki (Tsutomu Yamasaki), preparador de cadáveres para o ritual familiar
que antecede à cremação.
A direção de Takita é pródiga em criar
elementos visuais para imprimir certo tom
impressionista à narrativa, como o que se
observa nas sequências em que ele enclausura Daigo no estreito corredor de sua residência a fim de expressar o quanto a personagem se sente angustiada por não poder dizer à mulher, Mika, temendo reação
desfavorável dela, qual é o tipo de trabalho a que se dedica.
Da mesma forma, Takita usa a imagem de Daigo tocando seu violoncelo dos
tempos de criança sobreposta à dos campos que circundam a região, captada pela
lente de Takeshi Hamada, para simbolizar
a tormentosa dúvida em que vive a personagem sobre o possível paradeiro do pai,
cuja lembrança, ao decorrer do tempo,
sob vários aspectos, por mais que negue,
passou a atormentá-lo.
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Para envolver mais o espectador na
evolução do tema, difícil, pois que de caráter lúgubre, Takita não só soube dosar a
narrativa com algumas situações cômicas
como conseguiu tirar proveito da magnífica trilha sonora de Joe Hisaishi, composta
– além da bela canção-tema de sua autoria
– de peças como o Hino à alegria, da Nona
sinfonia de Beethoven, com coro e orquestra, a Ave Maria, de Gounod, e o Wiegenlied, de Brahms, em solo de violoncelo.
Mais que tudo, porém, o elenco, estupendo, merece os louros por inúmeros
prêmios conquistados pela película, principalmente o veterano Tsutomu Yama-
saki, de muita categoria, e o jovem ator
Masairo Motoki, que impressiona por seu
perfeito domínio de jogo facial. Histriônico, Motoki se sai muito bem nas cenas cômicas, e nas dramáticas usa os músculos
da face com uma habilidade tal que não
há como deixar de reconhecer nele um
perfeito seguidor da arte de interpretar de
Toshiro Mifune. (R.D.F.)
A partida (Okuribito)
Japão/2008, 130min. Direção: Yojiro Takita.
Roteiro: Kundo Koyama, inspirado no livro
Coffinman: the journal of a buddhist, de
Aoki Shinmon. Masairo Motoki, Tsutomu
Yamasaki, Riyoko Hirosue, Toru Mineghishi
e Kimiko Yo.