R$ 5,90 - Roteiro Brasília
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Ano VIII • nº 165 25 de junho de 2009 R$ 5,90 4 empoucaspalavras Vem aí – agora mais longo, com três dias de duração – o festival que tira mais de 40 mil brasilienses de casa, devidamente agasalhados, para curtir o pouco tempo de inverno que temos da cidade. Com direito a aquecimento em muitos quiosques de restaurantes equipados para oferecer comidinhas especiais para a ocasião. A novidade, este ano, é a ausência de nomes internacionais e o novo endereço do festival. Agora vai ser no estacionamento do Mané Garrincha, justamente para facilitar o acesso e aumentar o calor humano nos dias 3, 4 e 5 de julho. Leia os detalhes na nossa seção Graves & Agudos, a partir da página 19. E já que o assunto é o inverno candango, não deixe de ler também nossas sugestões para aplacar o apetite que cresce na razão inversa das temperaturas da estação. Que tal um caldinho de tilápia ou de bacalhau? Ou um escondidinho de frutos do mar? (leia na página 6). Curiosamente, até uma das críticas cinematográficas desta edição faz referência ao clima frio. Rio Congelado, de Courtney Hunt, conta a história de duas mulheres que vivem nas proximidades de uma reserva indígena americana e, para sobreviver, passam a transportar imigrantes ilegais do Canadá para os Estados Unidos em condições climáticas arrasadoras (página 32). Boa leitura e até a próxima quinzena Maria Teresa Fernandes Fundação Le Corbusier Nando Reis é tricampeão do Festival de Inverno de Brasília. Participou das duas primeiras edições e estará aqui para esquentar a última noite da festa que já entrou para o calendário de eventos da cidade. Lulu Santos é bicampeão, pois virá novamente para se juntar aos demais convidados da edição deste ano. Entre os “estreantes”, outros craques da primeira divisão, como Jorge Benjor, Ultraje a Rigor, Jota Quest, Biquini Cavadão e Fundo de Quintal. 23 galeriadearte Maquetes, projetos, esculturas e pinturas como Três mulheres em fundo branco, de 1950, expostos na Caixa Cultural até 19 de julho, atestam a genialidade do arquiteto francês Le Corbusier 6 10 11 12 15 16 18 26 28 30 águanaboca garfadas&goles pão&vinho roteirogastronômico palavradochef dia&noite graves&agudos brasiliensedecoração cartadaeuropa luzcâmeraação Editora ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora Roteiro Ltda | SHS, Ed. Brasil 21, Bloco E, Sala 1208 – Tel: 3964.0207 Fax: 3964.0207 | Diretor Executivo Adriano Lopes de Oliveira | Redação roteirobrasilia@alo.com.br | Editora Maria Teresa Fernandes | Produção Célia Regina | Capa Ilustração/ fotomontagem de Fernando Vianna Filho | Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Reportagem Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco, Beth Almeida, Catarina Seligman, Diego Recena, Eduardo Oliveira, Heitor Menezes, Lúcia Leão, Luis Turiba, Luiz Recena, Quentin Geenen de Saint Maur, Reynaldo Domingos Ferreira, Ricardo Pedreira, Sérgio Moriconi, Silio Boccanera, Súsan Faria e Vicente Sá | Fotografia Eduardo Oliveira, Rodrigo Oliveira e Sérgio Amaral | Diretor Comercial Jaime Recena (9666.1690) | Contato Comercial Giselma Nascimento (9985.5881) | Administrativo/Financeiro Daniel Viana | Assinaturas (3964.0207) | Impressão Gráfica Coronário. 5 águanaboca Cardápios de inverno Escondidinho de frutos do mar, do Bargaço Pratos especiais para aquecer as noites frias de junho e julho Por Beth Almeida U Tornedor ao molho de gengibre com risoto, do Bier Fass Fotos: Fabrício Rodrigues Risoto com vinho branco e linguiça de cordeiro, do Antiquário 6 Filé de robalo ao molho de ervas e especiarias, do Mormaii ma das maravilhas desta época do ano é aquele apetite que chega com o frio. Com a temperatura mais baixa, a comida um pouco mais calórica nem parece ser pecado e as bebidas podem ser mais do que o popular chopinho. Para saudar essa estação, que em Brasília não dura muito, alguns restaurantes da cidade preparam pratos e cardápios especiais, alguns até pensando na clientela que continua querendo manter a forma no frio. “Estou partindo para o lado light”, brinca Issa Attie, do BSB Grill, para explicar o lançamento dos pratos individuais na loja da Asa Sul, com novos cortes de carne, como o supra-sumo e o coração de picanha, a preços que variam de R$ 25 a R$ 45. São 15 opções de carnes bovinas, três de peixes e outras três de cordeiro, além de frango e lombo de porco, acompanhadas de salada, arroz biro-biro ou batata souflé, lançamento da casa, que estufa ao contato com a gordura quente e fica bem crocante. O BSB Grill criou ainda para o inverno um cardápio de petiscos que acompanharão outra novidade, o chope nitrogenado, tirado com um gás chamado “mapax” (o nome vem de map, que significa atmosfera modificada), produto que proporciona à bebida um creme mais encorpado e uma maior conservação da temperatura, sem alteração do sabor. A tradicional esfiha aberta de massa folhada ganha a forma de um pastel com a mesma massa e recheado com ricota temperada. Entre as novidades do BSB Grill há uma homenagem de Attie ao restaurante Vesúvio, de Anápolis, sua cidade natal. A linha que leva o nome do restaurante goiano tem quatro cortes de carnes que chegam à mesa numa chapa, acompanhadas de tomates, pimentões, cogumelos, brócolis etc. Os lançamentos podem ser degustados com a nova carta de vinhos, que inclui rótulos das vinícolas Dal Pizzol e Família Cassone. Noite e dia Os quatro restaurantes do Pontão do Lago Sul esperam repetir o sucesso do ano passado com seu II Festival de Inverno, que vai até 31 de julho. Todos os pratos são harmonizados com rótulos da tradicional vinícola Casa Valduga. No Bargaço, a proposta é a casquinha mista (R$ 7) de entrada, seguida de um escondidinho de frutos do mar (R$ 60) e pera ao vinho de sobremesa. Já no Mormaii, de culinária japonesa, a dica é gioza de salmão temperado e regado ao molho teriaki (quatro pastéis, R$ 6). De prato principal, filés de robalo ao molho de ervas e especiarias, acompanhados de cogumelos shimeji e arroz (R$ 38,50). Para finalizar, crepe de morangos, calda de chocolate, chantily e licor (R$ 7). No Café Antiquário, a refeição pode começar com o shitake empanado (R$ 25), seguido de risoto com vinho branco e linguiça de cordeiro (com opções de prato inteiro a R$ 49 ou versão pocket a R$ 34), para depois finalizar com uma taça de sorvete de queijo com calda quente de goiabada (R$ 15). Fotos: Divulgação O Bier Fass sugere o capuccino de funghi secchi (R$ 21,50) na entrada e um tornedor ao molho de gengibre (R$ 41), servido com risoto ao molho de cogumelos, concluindo a refeição com uma mousse bicolor. Individuais, os pratos podem ser degustados tanto no almoço quanto no jantar. Caldos quentes Para ajudar seus clientes a enfrentar as noites frias do Planalto Central, o Peixe na Rede (405 Sul e 309 Norte) também lançou algumas delícias, como caldos de tilápia, de bacalhau com batata baroa e brócolis ou de camarão e alho poró, com preços de R$ 6 e R$ 7. Os apreciadores de um bom pirão podem optar pelo de peixe com camarões, a R$ 12. Para quem quer manter a forma, a casa oferece o filé de tilápia grelhado com gergelim e salada dupla. Para acompanhar, a chef Maria Luiza da Mata sugere dois rótulos chilenos: o Santa Alicia Carménère e o Gato Negro Cabernet Sauvignon, ambos por R$ 15,90 a meia garrafa. E de sobremesa, que tal alguns sabores que vêm do frio? A doceria Rota do Char- Acima, o tira-gosto Vesúvio, uma das novidades do BSB Grill; à direita, Alice Feijó, da Rota do Charme, e o Ninho, feito com fios de ovos me, especializada em doces tradicionais do sul do país, preparou algumas novidades como o Expotchê, em homenagem à feira de produtos da região, que acontece em Brasília todos os anos. O doce é elaborado com massa de nozes, recheio de avelãs e cobertura de chocolate branco. Outra receita criada recentemente em Pelotas (RS), uma referência nacional em doces, é a Torta Morena, massa de chocolate com doce de leite, nata e nozes. Ficou com água na boca? Então é melhor se apressar, porque o frio em Brasília não costuma durar. BSB Grill 413 Sul (3346.0036) Pontão do Lago Sul QL 10 (3364.0580) Peixe na Rede 405 Sul (3242.1938) 309 Norte (3340.6937) Rota do Charme 314 Sul (3346.5002 / 3345.5917) 7 águanaboca Deliciosa fusão Ingredientes prediletos dos brasilienses se juntam a sabores e iguarias do além-mar para compor o cardápio do Bottarga Por Mariza de Macedo-Soares fotos eduardo oliveira B ottarga é uma especiaria de antiga tradição na culinária italiana, uma iguaria de sabor delicadamente marcante que tem como elemento principal ovas desidratadas de tainha. É também o nome de um restaurante que funciona desde outubro do ano passado no Espaço Maria Tereza, na QI 5 do Lago Sul. O Bottarga se dedica a uma cozinha que beira a contemporânea mas, na verdade, é de autor, resultado de cuidadosa pesquisa do mercado brasiliense feita por Felipe Bronze, seu chef executivo, que pretendia para a casa uma comida que fosse do agrado dos locais. Depois de uma verdadeira maratona pelos restaurantes da cidade, Bronze pôs a mão na massa e criou um cardápio inicial para a nova casa com pratos exclusivos em que aos ingredientes da predileção dos comensais do DF se juntaram, harmoniosamente, iguarias e sabores de terras outras, do além-mar. Isto feito, montou a equipe (quatro cozinheiros e quatro ajudantes) que se responsabilizaria pela execução dos pratos e deixou no comando de tudo e de todos o talentoso chef de cuisine Augustus Marcondes (na foto à direita). 8 Dá prazer comer no Bottarga – o ambiente é discreto, elegantemente decorado sem ser pretencioso. Sua cozinha é aberta, o serviço é bom e os preços, justos. Dividido em dois ambientes climatizados (salão e varanda com bar e música de fundo executada em civilizados decibéis, louças Rosenthal, talheres WMF e copos de cristal), o restaurante atende confortavelmente 70 pessoas. Há sugestões no cardápio que, pela composição, despertam, se não a gula, a curiosidade do comensal, como o Linguini Bottarga (pasta com queijo de cabra, lagosta, limão siciliano, molho bisque e bottarga no arremate), a Fraldinha Maturada au Poivre (servida com rostie de batata doce e bacon) e o Mignon de Cordeiro em Crosta de Menta (com risoto negro de merlot com abobrinhas). Para não falar no Salmão Grelhado ao Molho Thai (com arroz frito de camarões, shimeji e vagem francesa), na Salada de Camarões com Quinoa, Curry e Pupunha, no Carpaccio de Salmão com Bottarga, Chutney de Cebola Roxa e Sour Cream e no Picadinho da Embaixatriz (mignon de ponta de faca, farofa de Neston, arroz de jasmim e batatinhas). Merecem registro, ainda, o bem-apresentado couvert (mini brandade de baca- lhau no leite de coco, queijo de coalho no mel de tomilho, tartare de atum com saladinha de maçã verde e patê de campagne), a torta rústica de maçã com chantilly de canela e a (irresistível) espuma de doce-de-leite. O Bottarga funciona com sistema de reservas. Abre para almoço de terça a domingo e para jantar de terça a sábado. Bottarga QI 5 do Lago Sul – Conjunto 9 – Bloco D (3248.0124 e 3248.4838) Brasília na Rota dos Vinhos Edição 2009 da grande feira espera atrair 70 mil visitantes ao Carrefour Norte Por Guilherme Guedes E m time que está ganhando não se mexe. É com essa ideia em mente que o Carrefour vai realizar, do próximo dia 26 a 5 de julho, a segunda edição da feira Rota dos Vinhos. Instalada na loja da Asa Norte, a feira deverá proporcionar aos apreciadores e amantes do vinho uma experiência completa, reunindo degustação, filmes, palestras e, claro, muitas ofertas. Entre marcas nacionais e internacionais, a Rota dos Vinhos promete reunir mais de mil rótulos. O diretor da loja, Emílio Marchi, destaca a variedade como principal atração da feira. “O consumidor terá um leque muito grande de opções”, garante. “Até quem não consome vinho terá oportunidade de encontrar um produto de que goste”. Segundo ele, os vinhos chilenos e argentinos, sucesso de publico e crítica, são presença confirmada. “Além, claro, dos nacionais, que crescem a cada ano”, completa. A estimativa dos organizadores é de que mais de 70 mil pessoas circulem pelos corredores da feira, duas vezes o público do ano passado. “Acreditamos no sucesso da primeira edição e, além de aumentar a divulgação, aumentamos também o número de expositores e de produtos em oferta”, diz Marchi. Este ano a Rota dos Vinhos contará com 50 estandes de vinícolas e importadoras, um aumento de 5% em relação ao ano passado. Desses, cerca de 40 serão especializados em vinhos, enquanto os de- mais oferecerão produtos relacionados ao consumo da bebida, como queijos, embutidos, massas, azeites e chocolates. Como em todo grande evento desse tipo, há uma forte expectativa em relação ao lançamento de novos produtos. Mas, para descobrir quais serão as novidades, o consumidor terá que visitar o local. “As marcas nunca divulgam esses novos lançamentos com antecedência, com medo da concorrência. Que vai haver esse tipo de surpresa é certo, só não temos como saber exatamente quais são”, afirma o diretor do Carrefour Norte. A rede de supermercados preparou também uma agenda repleta de atrações especiais. Diariamente os clientes poderão assistir a palestras com temas variados, ministradas por enólogos renomados e chefs de cozinha. Nessas conferências, os visitantes aprenderão a servir, apreciar e harmonizar os vinhos da melhor for ma. Antônio Duarte, presidente da seção local da Associação Brasi- leira de Sommeliers (ABS/Brasília), ensinará “como receber com queijos e vinhos”. Já o vice-presidente da associação, Juan José Verdésio, explicará “como harmonizar vinhos e carnes de churrasco”. Ao todo, serão nove palestras. E os visitantes poderão assistir também a filmes relacionados ao tema da feira. Rotas do Vinho De 26/6 a 5/7, das 15 às 22h, no estacionamento do Carrefour Norte. 9 Macunaíma e seus amigos Luiz Recena lrecena@hotmail.com A vida vem em ondas, cantou Lulu Santos certa picadinhos. Dona Helena reclama e, com bom humor, vez. E as ondas, Salvador e a Bahia são claras avisa que os tomates não devem entrar nem no refo- provas disso, vêm e vão. E nesse balanço gado, nem na poesia, pois não ajudam “nem na rima, a eternidade vem, volta e se dissipa. O doce balanço nem na solução”. Eles eram bons amigos e, certamen- a caminho do mar pode ser prerrogativa das garotas te, voltaram a falar nisso mais de uma vez. garfadas&goles de Ipanema, mas ele aparece em outros cantos, em 10 Longe deles, e sem saber o acordo final, ousamos outras areias. O simples caminhar já balança. Foi assim, incluir no refogado uns poucos tomatinhos, muito desse jeito, que o colunista voltou a molhar os pés nas bem cortados. Ao fim, a tudo misturados, não com- águas de Itapuã. Os pés e a garganta. Farta e gelada, prometeram. Sequer foram notados. Nas dicas de muito gelada, a loura rolou, voltou a rolar escada dona Helena, outra ousadia: dois a três copos de suco abaixo. Há coisas boas na vida, e disso todos sabemos. de laranja, nos últimos instantes que antecedem o E o rolar de uma cerveja gelada garganta abaixo é ato de servir a feijoada, antes de convocar os bárbaros uma delas. Certamente coloca-se entre as melhores. famintos para o ataque final. Essa sim, uma dica E assim, caro editor, dissolveu-se, em partículas douradas, líquidas, o deserto que condenou vosso colunista a uma eternidade de castigos durante três semanas. A abstinência, a bem da verdade, não é esse mons- supimpa e notável. Com louvor! Foram duas, três ou mais horas de festim selvagem. As carnes servidas em separado, a couve mineira, as laranjas fatiadas, a farofa, o arroz soltinho, aqui e tro todo e até pode produzir (aqui com muita genero- ali um caldinho puro. Acolá um simples feijão apenas sidade) alguns efeitos positivos. Não tantos, é claro. Só com farinha. Aos poucos, com requintes de prazer e alguns. Entre esses poucos estão a melhora da lucidez gozo, tudo foi sumindo, sumindo. Quando a noite e o maior tempo para a leitura. E numa dessas mensa- caiu e ainda uns bons tempos depois, a panela, um gens que me chegaram ao computador estava o convi- caldeirão digno de Asterix, o gaulês, foi vendo desapa- te para as comemorações dos 18 anos, bem vividos, recer o que havia dentro dela. Ficaram, talvez, oito ou do nosso querido Carpe Diem (104 Sul). Convite para dez centímetros no fundo, o que deu uma pequena uma feijoada, com trechos de um poema de Vinícius esperança para o amanhã, para o rescaldo. de Moraes sobre essa comida maravilhosamente brasi- O mais apressados poderão pensar que tudo isso leira e agregadora. Tudo combinando com a presença, foi consumido a secas. Ficou para o final o recado em Salvador, de amigos, filhos, sobrinhos, afilhados aos impacientes. O poeta mandou e foi obedecido: que, juntados aos fraternos mais recentes, compuse- a abertura dos trabalhos com um uísque on the rocks. ram uma plateia de mais de trinta. O poema completo Depois, batidinhas de limão e cervejinhas geladas. foi encontrado. Bem como a receita, no livro de Helena Hectolitros, é claro. Tudo com muita calma, muito Sangirardi, que repousava na estante. Destinatária dos tempo, para retardar o porrinho, a necessária versos, ela agradece ao poeta e ensina a fazer a comi- embriaguês da despedida. da. Uma grande aventura! No básico, nenhuma diferença entre a receita em Pois que tudo tem um fim e de tudo fica um pouco. Os amigos partiram. Novas e velhas amizades cos- prosa e a feijoada com rimas. Ambas exigem, carioca- turadas pelo fio baiano da simpatia cálida. Doces e ter- mente, o feijão preto, de molho na véspera, as carnes nos fios que encurtam as distâncias formais, aceleram de porco, de preferência defumadas, um peito de va- e encurtam o entendimento, enchem e esvaziam co- ca, um charque, os embutidos comandados pelo bom pos no tempo certo do bom encontro. e velho paio. As pequenas diferenças, propostas pelo Os filhos queridos, os afilhados idem, a pessoa mais poetinha, ressaltam dicas sobre o torresminho e a fri- próxima do coração, até um colega novo desta vida tura da linguiça fina. De discórdia, apenas um ponto: o cigana, esses ficam um pouquinho mais, auxiliando refogado que dá o grande sabor. Além dos tradicionais no desmonte, caprichando a saideira. O feijão acabou, alho e cebola, o poeta sugere incluir tomates bem a eternidade sumiu, quase todos se foram, e agora? Vinhos de sobremesa (final) ção por contraste com queijos azuis e com o delicio- sobremesa, resta-nos comentar sobre os forti- so queijo da serra típico de Portugal. ficados que, conforme dito anteriormente, en- O vinho do Porto se utiliza muitas vezes de diver- contram “atalho” para a doçura natural, mas nem sas castas de uvas, mas a mais importante, responsá- por isso deixam de ser muitas vezes deslumbrantes. vel por sua típica complexidade, é a Touriga Nacio- Muitos são os vinhos doces fortificados, mas vamos nal. Ele se divide em duas categorias: os que enve- nos concentrar nos mais importantes: os Jerez PX da lhecem em madeira e os que envelhecem em garra- Espanha e os do Porto, de Portugal. fas. Há, todavia, dez estilos diferentes dentro dessas Na região de Jerez, no sul da Espanha, uma casta de uva autóctone, chamada Pedro Ximénez, daí o Os brancos não serão nosso foco, posto que, bem menos doces, não são indicados para harmoni- tração de açúcar residual, obtida pela interrupção pre- zação com sobremesas. Dos tintos, o primeiro nível é matura da fermentação a partir do acréscimo de aguar- o Ruby, o mais comum entre nós, brasileiros, em ra- dente vínica ao mosto – além de permanecer adotando zão principalmente do preço mais modesto. Pratica- o complexo processo de “solera”, típico da região e res- mente não é envelhecido, não passa por estágio em ponsável pela complexidade de seus vinhos. madeira e apresenta aromas e sabores simples, voltados às frutas vermelhas. Depois aparecem os Tawny um vinho de sobremesa especial. Um único gole de jovens, também comuns aqui, novamente em razão um bom exemplar pode ser mais que um vinho de do preço acessível, que passam por um rápido está- sobremesa, transformando-se na própria sobremesa, gio em madeira e vão ao mercado com no máximo com seus aromas e sabores de tofe e figos. A suges- três anos. tão continua sendo, como indicado em edição anterior, o Venerable, produzido pela Pedro Domecq. Não faltam publicações sobre o magnífico vinho A partir daí, as coisas mudam em qualidade e em preço. Os Tawny envelhecidos apresentam no rótulo a média de seu envelhecimento – 10, 20, 30, 40 ou do Porto, responsável por tantos avanços no mundo mais anos – em barris que lhes dão complexos aromas vinícola – como, por exemplo, a primeira demarcação e sabores de nozes, baunilha e açúcar mascavo. Na de região produtora. Poderíamos, pois, escrever pelo minha preferência estão os da linha Vintage, come- resto do ano sobre esse tema sem esgotá-lo. Todavia, çando pelo Character, passando pelos Late Bottled e uma rápida pincelada no assunto será capaz de encer- chegando aos inebriantes Vintage, envelhecidos em rar nossa visão sobre os vinhos de sobremesa. barris por dois anos e depois engarrafados, comu- Um vinho historicamente considerado masculino, paoevinho @alo.com.br duas categorias. “PX”, gera vinhos de grande doçura, com alta concen- Denso, xaroposo e de cor quase negra, o PX é ALEXANDRE DOS SANTOS FRANCO mente, por mais dez, mas que podem evoluir ao lon- mas cada vez mais apreciado pelo público feminino, go das décadas, melhorando cada vez mais – há mui- jamais deixou de ser um grande companheiro de um tos consumidores, porém, que valorizam sua força e bom charuto. Dos vinhos de sobremesa, juntamente intensidade quando ainda relativamente jovens. com o Banyuls francês, é o que Outros estilos menos comuns, como o TLBV, melhor acompanha os doces à o Garrafeira, o Single Quinta Vintage e os Crusted, base de chocolate, que por sua comentaremos em outra oportunidade. Deixo como untuosidade e força muitas ve- sugestões o Graham’s 20 anos, o LBV da Adriano zes “apagam” os demais. E Ramos Pinto 2003 e o Vintage da Quinta do são fantásticos na harmoniza- Passadouro 2000. pão&vinho P ara finalizar nossos estudos sobre os vinhos de 11 MÚSICA AO VIVO roteirogastronômico ESPAÇO VIP ACESSO PARA DEFICIENTES ÁREA EXTERNA DELIVERY FRALDÁRIO MANOBRISTA BANHEIRO PARA DEFICIENTE Armazém do Ferreira Restaurante inspirado no Rio de Janeiro dos anos 40. O buffet, com cerca de 20 tipos de frios, sanduíches e rodadas de empadas e quibes, com a performance do garçom Tampinha, são boas opções para os frequentadores. 206 Sul (3443.4841), Liberty Mall e Brasília Shopping cc: todos Em plena W3 Sul, o Bar Brasília tem decoração caprichada, com móveis e objetos da primeira metade do século XX. Destaques para os pasteizinhos. Sugestão de gourmet: Cordeiro ensopado com ingredientes especiais, que realçam seu sabor. Em ambiente aconchegante, com decoração pontuada por arte e história, pode-se tomar um cafezinho ou um chope para acompanhar o pastel de bacalhau, o sanduíche de mortadela ou o autêntico Bauru. No almoço, cardápio paulistano. 405 Sul (3443.0299) CC: todos brasileiros contemporâneos 509 Sul (3244.7999) CC: todos Cachaçaria Empório da Cachaça Bar do Mercado buffet de festa Cardápio variado, sabor e qualidade. Buffet no almoço é o carro-chefe, com mais de 10 pratos quentes, diversos tipos de saladas e várias opções de sobremesa, a R$ 35,90 (2ª a 6ª) e R$ 39,90 (sáb, dom e feriados) por pessoa. Recém inaugurada a versão bar da cachaçaria temática de Brasília. Decoração colonial, cachaças artesanais, chopp, petiscos exclusivos e o famoso prato da casa, o arroz de senzala, são opções para quem valoriza a gastronomia brasileira. No Happy Hour, Chopp Brahma a R$2,50 e caipirinha com Sagatiba a R$ 4,00. 506 Sul Bloco A (3443.4323) CC: Todos QI 21 do Lago Sul (3366.3531) 412 Sul (3345.3531) creperias É um dos mais renomados buffets de festa da cidade, com mais de dez anos de experiência. Além dos salgados e doces finos oferecidos no buffet, destaque para o Risoto de Foie-Gras, o Carré de Cordeiro ao Molho de Alecrim e o Filé ao Molho de Tâmaras. Praliné O cardápio é bastante variado, com tortas doces e salgadas, bolos, pães, géleias, caldos quentes, quiches, tarteletes, chás, café e sucos de frutas naturais por R$ 12,90 de 2ª a 6ª e chá da tarde por R$ 20,50 às 3ªs (bufê por pessoa). 205 Sul bl A lj 3 (3443.7490) CC: V Café Antiquário À beira do lago, diante da vista mais bela de Brasília, a casa atrai todos que desejam unir ambiente agradável, boa cozinha e música. Almoçar um rico grelhado e tomar café ao fim da tarde são apenas algumas das ecléticas delícias do restaurante. O piano sofistica o ambiente de 18h às 20h30 todos os dias. As noites são de jazz e blues ao vivo. Pontão do Lago Sul (3248.7755) CC: Todos C’est si bon Sweet Cake 12 Camarão 206 Bar Brasília confeitarias BARes 202 Norte (3327.8342) CC: Todos buffet de restaurante CARTÕES DE CRÉDITO: CC / VISA: V / MASTERCARD: M / AMERICAN EXPRESS: A / DINERS: D / REDECARD: R Inspirado nas tradicionais panquecas de dulce de leche da Argentina que o chef Sérgio Quintiliano criou o crepe Astor Piazzolla, batizando-o com o nome do maior compositor contemporâneo argentino de tangos. Após o sucesso de vendas durante o Festival Sabor Brasília 2008, o Crepe Piazzolla foi incorporado ao cardápio por R$ 15,70. 408 Sul (3244.6353) CC: V, M e D BSB Grill Trattoria 101 304 Norte (3326.0976) 413 Sul (3346.0036) CC: A, V 101 Sudoeste (3344.8866) CC: V, M e D. GRELHADOS Villa Borghese O charme da decoração e a iluminação à luz de velas dão o clima romântico. Aberto diariamente para almoço e jantar. Sugestão: Filetto al gorgonzola (Filet mignon recheado com creme de gorgonzola servido com arroz cremoso de abobrinha e farofinha crocante de alho), por R$ 43. ITALIANOS Cardápio com produtos italianos autênticos e tradicionais. Massas, filés, peixes e risotos, carpaccio. Tudo preparado na hora. Execelente carta de vinhos com 90 rótulos, entre nacionais e importados. Ambiente charmoso e varanda completam o ambiente. Manobrista na 6ª, sáb. e dom. Desde 1998 oferece as melhores e os mais diversos cortes nobres de carne: Bife Ancho, Bife de tira, Prime Ribe, Picanha, além de peixe na brasa, esfirras, quibes e outras especialidades árabes. Adega climatizada e espaço reservado completam os ambientes das casas. 201 Sul (3226.5650) CC: Todos Roadhouse Grill Criado nos EUA, foi eleito por três anos consecutivos o preferido da família americana. Com mais de 100 lojas, seus generosos pratos foram criados, pesquisados e inspirados nas raízes da América. Conheça tais delícias: ribs, steaks, pasta, hambúrgueres. Brasília Golfe Center - SCES Trecho 2 (3323.5961) CC: Todos www.restauranteoliver.com.br 209 Sul (3443.5050) CC: Todos naturais Saboroso e diversificado buffet, com produtos orgânicos e carnes exóticas. No domingo, pratos especiais, como o bacalhau de natas e o arroz de pequi. Horário: de segunda à sexta, das 11:30 às 15h e sábados, domingos e feriados, das 12 às 16h. SCS trecho 2 (3226.9880) CC: Todos Haná ITALIANOS San Marino O Rodízio de massas e galetos está com preços especiais: de domingo a quarta por R$ 15,80 e de quinta a sábado por R$ 17,80. No almoço, Buffet com saladas, pratos executivos e grelhados Oca da Tribo Bufê de sushis, sashimis e pratos quentes. Almoço (R$ 36): 2ª a 6ª de 12h às 15h / sábado e domingo, de 12h30 às 16h. Jantar (R$ 42): domingo a 5ª, de 19h à 0h / 6ª e sábado, de 19h à 1h. De 2ª à 4ª, cada bufê vale 1 sorvete com calda de chocolate. Funciona também à la carte. 408 Sul (3244.9999) CC: Todos 13 ORIENTAIS Oliver Próximo ao Eixo Monumental, apresenta espetacular vista para um tranquilo campo de golfe, sem prédios ao redor. O ambiente composto por piso de pedras vindas de Pirenópolis e móveis de Tiradentes (MG) conferem ainda mais rusticidade ao restaurante. Elaboradas pelo gourmet Carlos Guerra, as receitas internacionais têm base na culinária mediterrânea. INTERNACIONAIS .Clubes Sul Tr. 2 ao lado do S Pier 21 (3321.8535) Terraço Shopping (3034.8535) MÚSICA AO VIVO roteirogastronômico ESPAÇO VIP ACESSO PARA DEFICIENTES ÁREA EXTERNA DELIVERY FRALDÁRIO MANOBRISTA BANHEIRO PARA DEFICIENTE Nippon Baco Tradicional e inovador. Sushis e sashimis ganham toques inusitados. Exemplo disso é o sushi de atum picado, temperado com gengibre e cebolinha envolto em fina camada de salmão. As novidades são fruto de muita pesquisa do proprietário Jun Ito. Premiada por todas as revistas. Massas originais da Itália, vinhos e ambiente. No cardápio, pizzas tradicionais e exóticas. Novidades são uma constante. Opção de rodízio em dias especiais – na 309 Norte, toda 3ª e domingo, e na 408 Sul, às 2as. 403 Sul (3224.0430 / 3323.5213) CC: Todos 309 Norte (3274.8600), 408 Sul (3244.2292) CC: Todos Baco Delivery (3223.0323) PIZZARIAS ORIENTAIS CARTÕES DE CRÉDITO: CC / VISA: V / MASTERCARD: M / AMERICAN EXPRESS: A / DINERS: D / REDECARD: R Gordeixo Ambiente agradável, comida boa e área de lazer para as crianças fazem o sucesso da casa desde 1987. No almoço, além das pizzas, o buffet de massas preparadas na hora, onde o cliente escolhe os molhos e os ingredientes para compor seu prato. Belini Feitiço Mineiro A casa premiada é um misto de padaria, delikatessen, confeitaria e restaurante. O restaurante serve risotos, massas e carnes. Destaque para o café gourmet, único torrado na própria loja, para as pizzas especiais e os buffets servidos na varanda. A culinária de raiz das Minas Gerais e uma programação cultural que inclui músicos de renome nacional e eventos literários. Diariamente, buffet com oito a nove tipos de carnes. Destaque para a leitoa e o pernil à pururuca, servidos às 6as e domingos. 113 Sul (3345.0777) Regionais Padaria 306 Norte (3273.8525) CC: V, M e D 306 Norte (3272.3032) CC: Todos CC: Todos Peixe na Rede 405 Sul (3242.1938) 309 Norte (3340.6937) CC: Todos Restaurante Badejo A tradicional moqueca capixaba leva o tempero mineiro no Restaurante Badejo, com 19 anos de história em Belo Horizonte e 15 em São Paulo. Agora é a vez de Brasília conhecer o autêntico sabor da cozinha capixaba. SCES - Trecho 4 - Lote 1B Academia de Tênis Setor de Clubes Sul (3316.6866) CC: V e M 14 Saborella SORVETERIAS Peixes e frutos do mar A vedete do cardápio é a tilápia, servida de 30 maneiras. O frescor é garantido pela criteriosa criação em cativeiro na fazenda exclusiva do restaurante, a 100 Km de Bsb. Há também pratos de camarão e bacalhau. Sorvetes com sabores regionais e tecnologia italina são a especialidade da casa. Os mais pedidos: tapioca, cupuaçu, açaí e frutas vermelhas. Na varanda, pode-se apreciar café bem tirado e fresquinho, acompanhado de tapiocas quentinhas. 112 Norte (3340.4894) e Casa Park (Praça Central) CC: Todos Sorbê Sorveteria genuinamente artesanal, com receitas que utilizam frutos nativos do cerrado. São mais de 150 sabores. Os sabores tradicionais, cremosos, como as variedades de chocolate, dentre outros, contêm leite e creme de leite em suas fórmulas. Já os sorvetes de frutas (com algumas exceções, como abacate, pequi, araticum e outros) são produzidos com água. 405 Norte (3447.4158), 103 Sudoeste (3967.6727) e 210 Sul (3244- 3164) Gato por lebre palavras indígenas – pira, que significa peixe, e urucum, o corante, por ter sua cauda de cor avermelhada. O peixe carnívoro pode chegar a três metros de comprimento e pesar até 250 quilos. É fisgado com arpão, quando sobe para respirar na superfície da água. A pesca é muito esportiva e pede um olhar atento para localizar a vítima e uma boa preparação física na hora de tirá-la da água. Sua carne saborosa é firme e abundante, de cor branca. É retirada em mantas e tradicionalmente salgada para facilitar a conservação. A língua é utilizada pelos índios para ralar o bastão de guaraná. As escamas são verdadeira lixa para unhas. Hoje já existe criação em manejo e o Ibama regula sua pesca para controlar a espécie ameaçada. No fim dos anos 80, uma empresa brasileira recorreu ao mesmo artifício lançando no mercado o surubim defumado fatiado. Ela apresentava seu produto como salmão nacional, o que resultava em frustração dos compradores na hora de experimentar o produto, tendo na memória comparativa um sabor e uma textura totalmente diferentes. Hoje, o produto se encontra com sua devida denominação e até o Itamaraty serve a iguaria em suas recepções como produto genuinamente brasileiro. Outro peixe da região amazônica, o gurijuba, com seus filés tingidos de urucum e levemente defumados, inundou o mercado nacional com a denominação de haddock. Os três peixes brasileiros são bem saborosos. Então, por que insistir nesse marketing? Preconceito com os ingredientes nacionais ou falsidade ideológica com fins lucrativos? Quentin Geenen de Saint Maur palavradochef @alo.com.br palavradochef A expressão, bem antiga, nasceu da prática de alguns espertos que vendiam gato por lebre nas feiras livres e casas especializadas em carne de caça. Até que veio uma lei obrigando-os a apresentar os animais com a cabeça e as patas, para impossibilitar a falsificação. Pois saiba que a expressão pode não ter perdido seu sentido original. Você já experimentou o pirarucu? Muitos dirão que nunca encontraram esse peixe da Amazônia nas peixarias, em cardápios de restaurantes ou mercados. Doce ilusão. Você pode ter um dia preparado ou comido pirarucu disfarçado de outro peixe. Em alguns mercados, carne de pirarucu desfiada e lombos generosos são vendidos salgados com o nome de bacalhau. Nada a ver com aquele peixe de tamanho médio, o “Gadus Morhua”, das águas geladas do Oceano Ártico, pescado em grande escala com redes e processado em navios-fábricas. Prato emblemático da cozinha portuguesa, conservado seco e salgado, ele é “demolhado” e preparado de mil e uma maneiras diferentes, sempre regado com um bom azeite de oliva. Sua apresentação nas bancas de secos e molhados é de peixe aberto, eviscerado, de formato triangular, sempre sem cabeça, com sua carne branca salgada, seca e dura de um lado e de outro sua pele bege acinzentada. No norte da Europa ele é muito apreciado fresco. Sua carne se separa em grandes gomos quando assado ou cozido, hábito remanescente de um costume alimentar divulgado pelos vikings. Já o “Arapaima Gigas”, ou Pirarucu, é um dos maiores peixes de água doce do mundo. Ele se encontra na bacia amazônica, em áreas de várzea ou em lagos e rios de águas quentes e calmas. Seu nome vem da junção de duas 15 Patrick Grosner dia&noite justaposiçãopolar Voaréparapássaros? abelardohora Começa dia 30, no CCBB, a mostra Amor e solidariedade, retrospectiva dos 60 anos de carreira do artista plástico pernambucano Abelardo Hora, cuja força expressionista sempre esteve carregada de crítica social. No acervo, 130 obras, 15 toneladas de arte em esculturas, gravuras e cerâmicas que estarão expostas no Salão de Vidro e nos jardins do CCBB até 23 de agosto. Entre elas, um dos seus mais recentes trabalhos, o original do monumento Os retirantes, escultura de nove peças representando Dona Lindu, mãe do presidente Lula, e seus oito filhos. Divulgação Divulgação Na imaginação dos índios e na arte do francês River Dillon, voar também é para os humanos. Inspirado nas lendas indígenas, ele tem mostrado, nos últi mos cinco anos, sua bela mistura entre pássaros e homens. Uma mostra de seu trabalho já passou pelo Louvre des Anti quaires, em Paris, e pelo Wallywoods Gallery de Berlim. No Brasil, Homens pássaros já esteve no Museu de Arqueo logia e Etnologia de Salvador e acaba de chegar ao Memorial dos Povos Indíge nas, onde fica até 3 de agosto. Há dez anos Dillon faz fotomontagens que pa recem ressuscitar os indígenas citados nas lendas que há milhares de anos se transformavam em aves. O ponto de partida da criação das montagens são fotografias de arte plumária expostas em museus europeus ou de acervos particulares. Na mostra, há homenscobra, homens-peixe e homens-onça que nasceram de fotomontagens criadas pelo artista francês. De segunda a sexta, das 9 às18h. Fins de semana e feriados, das 10 às 18h. En trada franca. Informações: 3344.1155. 16 coisademaluco Neurose, perversão, psicose, hospício e sociedade. Esses são os cinco temas que compõem a mostra de cinema em cartaz no CCBB de 30 de junho a 19 de julho, com filmes sobre a loucura em seus diferentes níveis. A exceção (foto) é The pervet’s guide to cinema (Sophie Fiennes), que discute a relação entre cinema e loucura, exibido pela primeira vez no Brasil. De acordo com o curador, Daniel Caetano, os 26 escolhidos ressaltam desde as “maluquices cotidianas” até as “maluquices mais excêntricas da psicose”. Entre eles, O gabinete do Dr. Caligari (Robert Wiene, 1919), Psicose (Alfred Hitchcock, 1960), Bicho de sete cabeças (Lais Bodanzky, 2000) e Estamira (Marcos Prado, 2005). Ingressos a R$ 4 e R$ 2. Informações: 3310.7081. Veja a programação no www.roteiro.com.br cursodecinema Quem se amarra na sétima arte e quer se aprofundar no tema tem agora uma ótima oportunidade. Estão abertas as inscrições para o curso História do cinema mundial, que está acontecendo no Museu da República. Dividido em oito módulos, é ministrado por pesquisadores e cineastas da cidade e se propõe a recapitular aspectos importantes da história do cinema com o intuito de estabelecer bases para uma cultura cinematográfica sólida. A entrada é gratuita. Informe-se no www.historiacinemamundial.blogspot.com Divulgação Doze pinturas sobre tela, nove sobre papel, 44 desenhos e uma pintura-instalação realizada sobre a parede da Galeria 2 do CCBB. Assim é a exposição que traz uma síntese dos 20 anos de trabalho do artista plástico goiano Elder Rocha. Em cartaz até 23 de agosto, Justaposição polar tem curadoria de Cristiana Tejo, para quem o artista promove o diálogo entre a pintura e o desenho. “Há o desenho-desenho, o desenho-pictórico e a pintura-desenho, polos que transbordam e se invadem”, explica Cristiana. Para compor seu trabalho, Elder elege imagens de livros antigos facilmente identificadas e associadas a uma certa nostalgia. De terça a domingo, das 9 às 21h. Entrada franca. Que lugar poderia ser mais adequado para um encontro descontraído entre oito homens. O bar, claro. É nele que se ambienta a peça Com que roupa?, encenada pelo Grupo de Homens no Cafetina Café Cultural (712 Norte). A proposta é partir de discussões sobre a “condição masculina” com base na experiência de cada ator do grupo. A peça dá continuidade a uma experiência iniciada há quatro anos no espetáculo Casa de bonecas – servido por homens, no Espaço Cena. Foi quando o grupo começou a desenvolver essa proposta de dramaturgia, que abre espaço para a plateia se expressar. A partir da relação que se estabelece com o público, concretiza-se um ambiente de tensão, ruptura e mudança dos elementos dramáticos. Dias 4, 11, 18 e 25 de julho, às 21h. Ingressos a R$ 10. Informações e reservas: 3045. 6160. Edson Kumasaka Débora Amorim teatrobar manoamano Mariana Chiarella Amigos de longa data, Dori Caymmi participou de todos os CDs de Renato Braz, seja como compositor, arranjador, músico ou intérprete. No show inédito que farão na Caixa Cultural, Dori e Renato trarão versões para clássicos da MPB, entre eles Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro), Beatriz (Chico Buarque e Edu Lobo) e Viola enluarada (Marcos e Paulo Sérgio Vale). No repertório, músicas de Dori, como Desenredo e Na ribeira deste rio, feita a partir de poema de Fernando Pessoa. O show Mano a mano será dias 27, às 19 e às 21h, e dia 28, às 19h. Ingressos a R$ 20 e R$ 10. Bilheteria: 3206.6456. soucaipirapirapora... ... Nossa Senhora de Aparecida... Quem não se lembra desses versos de Romaria, na voz da inesquecível Elis Regina? Pois o autor dessa música e de muitas outras já comemora 40 anos de estrada e estará aqui em Brasília para festejar o feito com quem for à Sala Villa-Lobos, nos dias 24 e 25. Renato Teixeira é a estrela do Projeto MPB Petrobras e apresenta as músicas do seu último DVD, gravado ao vivo no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, em 2006. Além de Romaria, estão no show músicas que fez em parceria com Almir Satter (Um violeiro toca e Tocando em frente). Às 21h, com ingressos a R$ 20 e R$ 10. Divulgação músicaclássica Também o Festival de Inverno de Campos do Jordão comemora 40 anos em 2009. Na sua programação de 45 concertos constam nomes como os dos pianistas Nelson Freire (foto), Cristina Ortiz e Ricardo Castro. O festival homenageia Heitor Villa-Lobos e tem como tema o Ano da França no Brasil. Representa o país o grupo Lê Poème Harmonique, de cantores e instrumentistas, regidos por Vincent Dumestre. De 4 a 26 de julho em Campos do Jordão, a 167 km de São Paulo. Ingressos: www.ingressorapido.com.br ramonesembrasília? Não se assuste se você se deparar com propagandas por aí dizendo “Show Ramones em Brasília, eu vou!”. Você não morreu e está em outro plano, nem se trata de uma sessão espírita. Joey, Johnny e Dee Dee Ramone continuam mortinhos. Quem vem à cidade é C.J. Ramone, pronto para saciar os fãs mais ardorosos do quarteto nova-iorquino. C.J. entrou nos Ramones em 1989, substituindo Dee Dee, e ocupou o posto de baixista até o último show, em 1996. Além disso, ficou responsável por interpretar todas as músicas cantadas pelo antecessor. No dia 10 ele apresenta em Brasília clássicos dos Ramones, acompanhado pelos guitarristas Daniel Rey & Brian Costanza e o baterista Brant Bjork. No Arena F.C., com ingressos a partir de R$ 25. Show de abertura com Super Stereo Surf e discotecagem com DJ Montana, a partir das 22h. 17 graves&agudos Pra todos os gostos Lulu Santos, Nando Reis, Jorge Benjor, Jota Quest, Ultraje a Rigor, Fundo de Quintal e muito mais. A diversidade é a marca da terceira edição do Festival de Inverno. Por Eduardo Oliveira F aça chuva ou faça sol, eles vão atrair multidões a seus shows. A crise na indústria fonográfica não os afeta muito. Mesmo que não vendam mais um milhão de CDs, eles ainda estão entre os maiores vendedores de disco do Brasil. É nesses artistas consagrados que o Festival de Inverno de Brasília aposta para ser um sucesso pelo terceiro ano consecutivo e esquentar o inverno candango. Essa é a receita que, em dois anos, fez 40 mil pessoas saírem de casa devidamente agasalhadas para curtir o clima de inverno ao som de pop-rock, MPB e samba de raiz. Este ano, o festival ganha um dia a mais e muda de endereço – será no estacionamento do Mané Garrincha – justamente para poder abrigar um público maior. Apesar da mudança, o organizador do festival, André Fratti, garante que a preocupação com decoração e cenografia diferenciadas continua, agora acrescida de mais conforto, segurança e facilidade de acesso. Continuam também os quiosques de restaurantes da cidade. A escolha ainda está sendo negociada, mas André adianta que haverá casas especializadas em risoto, sushi, pizza, caldos, café e chocolates. A programação musical deste ano não traz nenhum artista internacional, mas ainda assim deve atrair muita gente. Para começar, tem o tricampeão do festival: Nando Reis, o único a participar de todas as edições. Lulu Santos é o vice, apresentando-se pela segunda vez. Entre os estreantes, outros craques da primeira divisão, como Jorge Benjor, Ultraje a Rigor e Jota Quest. Biquini, Ultraje e Lulu Quem abre as atividades no palco principal na sexta-feira, 3 de julho, é o Biquini Cavadão, exemplo de sucesso de vendas em meio à crise. “Nosso DVD ao vivo gravado em 2005 recentemente atingiu a marca de DVD de diamante”, conta o vocalista Bruno Gouveia. O grupo lançou recentemente um novo trabalho ao vivo que dá continuidade ao projeto iniciado em 2001, de regravar grandes sucessos do pop-rock nacional dos anos 80. 18 Fundo de Quintal, Loroza e Benjor Fotos: Divulgação No repertório do show em Brasília, sucessos da banda, como Zé ninguém, Janaína e Tédio, e também uma boa parte do último disco. Entre as presenças constantes na set-list estão clássicos das outras duas grandes atrações da noite: Tempos modernos, de Lulu Santos, e Inútil, do Ultraje a Rigor. Bruno não descarta a possibilidade de uma parceria no palco: “Da nossa parte, acharíamos ótimo se rolasse, mas é algo que a gente só vai descobrir na hora. Só teríamos que dar uma ensaiada antes, já que são arranjos e versões diferentes”, explica. “Recentemente aconteceu algo assim. Fizemos um show em BH e o Phillipe Seabra, da Plebe Rude, estava na cidade e fez uma participação no nosso show, em Até quando esperar”, conta. A atração seguinte é outra aposta certa do festival. Lulu promete mais uma apresentação recheada de hits: “Em públicos muito grandes, você tende a privilegiar o que prende a atenção, pra satisfazer a todos”. Por isso, não vão faltar sucessos dos seus quase 30 anos de carreira. “A obra dos Beatles é composta de nove discos, a dos Mutantes de oito. Eu tenho 21. Às vezes, acho que poderia ter feito até um pouco menos, ter me arriscado menos, me tornado mais raro”, diz Lulu. Por outro lado, ele comemora ter acertado a mão em boa parte desses discos: “É uma alegria, um privilégio, ter canções com a durabilidade de 25 anos”. Pegando a ponte aérea Rio-São Paulo, chegamos à nossa próxima atração. Ou melhor: ponte aérea não, já que Roger Moreira não sobe em avião nem amarrado. O líder do Ultraje a Rigor chega a Brasília a bordo do ônibus velho de guerra da banda, pronto para mais um show cheio de energia, como de costume. E quem escolhe o repertório é o público. A banda mantém uma enquete em seu site oficial onde os fãs podem votar nas suas canções preferidas, para que assim se decida o que tocar nos shows. Quem passar pelo site pode aproveitar para conferir também o novo projeto da banda, Música estranha a troco de nada. Desde abril, os internautas têm acesso a novas músicas, que podem ser baixadas de graça. Eles continuarão gravando e colocando as músicas no site, uma a uma. Quando tiverem um número suficiente de canções novas, lançarão um novo CD. Depois de um descanso e uma boa noite de sono, a festa continua. No sábado, o clima ainda deve ser descontraído, mas desta vez as guitarras saem de cena e dão lugar a cavaquinhos, banjos, cuícas e pandeiros. O grupo Fundo de Quintal é encarregado de marcar a mudança de ritmo na segunda noite do festival. O repertório do show deve ser baseado no CD/ DVD ao vivo Vou Festejar, lançado em abril. Não vão faltar os grandes sucessos presentes nos mais de 25 discos lançados pelo grupo, que já vai chegando aos 30 anos de carreira. Em seguida, o ritmo muda de novo. É a vez do groove de Serjão Loroza. Conhecido por seu trabalho como ator, principalmente pela participação no humorístico A Diarista, Loroza mostra em Brasília seu lado cantor e compositor. Ele fez parte do grupo musical/bloco carnavalesco Monobloco e agora lança seu primeiro trabalho solo, MBP – Música brasileira de pista. O nome do disco já mostra o objetivo do músico: embalar as pistas de dança, resgatando, com bom-humor, o legado deixado por grandes nomes da black music nacional, como Tim Maia, Toni Tornado e Gérson King Combo. Se o Fundo de Quintal representa o samba e Sérgio Loroza o soul, Jorge Benjor é considerado referência nos dois gêneros. E em muitos outros. Com sua guitarra em punho, ele vai desfilar seus sucessos e tocar músicas do último CD, Recuerdos de Asunción 443. “Vou cantar músicas recentes, como Emo e Falsa magra, mas também Taj Mahal e Fio Maravilha, entre outros sucessos. Eu e a Banda do Zé Pretinho estaremos aí para animar a festa”, avisa. E quem pensa que o show vai ser curto por fazer parte de um festival está enganado: “Pretendo fazer meu show normal, que dura por volta de duas horas. Adoro o povo de Brasília, vocês são animados!”. Nando Reis e Jota Quest No domingo, 5, será é a vez de Nando Reis dar o ar de sua graça novamente. Quando o assunto é compor músicas que grudam na cabeça, ele é um expert. Talvez por isso seja presença certa e sucesso em todas edições. “O Nando já é praticamente nosso sócio”, brinca André Fratti. E o 19 Fotos: Divulgação graves&agudos ex-Titã chega à cidade trazendo novidades. Ele acaba de lançar seu terceiro disco solo, Drês. Músicas novas, como Hi, Dri e Ainda não passou, figuram na set-list ao lado de composições de sua carreira solo, dos Titãs, ou gravadas por outros artistas. O Jota Quest é uma das bandas que gravaram músicas da autoria de Nando Reis. O hit chiclete Do seu lado é uma das cartas na manga dos mineiros para manter quente o clima do festival até o último segundo. Rogério Flausino e Cia. foram encarregados de fechar o festival, algo que já estão acostumados a fazer Brasil afora. Entre um sucesso e outro, os mineiros devem encaixar músicas do sexto disco de estúdio, La Plata, lançado no ano passado. Depois que o último acorde ecoar e a banda terminar seu trabalho, é hora de ir pra casa, pois na segunda-feira quem trabalha é o público. Música eletrônica Ultraje a Rigor: o público escolhe o repertório Biquini Cavadão: sucesso de vendas em meio à crise Além do palco principal, o Festival de Inverno terá o Lounge eletrônico, com DJs convidados, e o Palco Brasília, onde estarão as bandas Satisfaction e Aerocirco, na sexta, Black Rio e US Black, no sábado, e Magoo, no domingo. Uma seletiva dará ao público a chance de escolher outras três atrações. As bandas interessadas devem se inscrever no site do festival com uma música própria e um cover. Marcos Britto, baterista da banda Satisfaction, convidada a tocar sucessos internacionais, acredita que esta é uma oportunidade rara para bandas que tentam conquistar um público maior. “É muito difícil bandas pouco conhecidas terem a oportunidade de tocar para públicos tão grandes. E nós vamos fazer isso em um horário nobre da festa, entre os shows do Lulu Santos e Ultraje a Rigor”, comemora. Segundo André Fratti, um dos objetivos principais da festa é incentivar o turismo na cidade: “É de interesse do próprio GDF fomentar o turismo em julho, período de clima agradável, em que não chove na cidade. Serve como abertura da temporada”, explica. Além de Brasília, o festival é divulgado em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, interior de Minas Gerais, Goiânia, interior de Goiás, Palmas e Cuiabá. “É a chance de o turista vir conhecer a cidade e aproveitar para ver vários shows concentrados em três dias. No ano passado, 20% do nosso público foi de fora”, conta André. A energia utilizada no festival será fornecida por geradores movidos a biodiesel. Haverá também um espaço na arena dedicado a uma campanha pelo uso de energias renováveis, com apresentação de novas tecnologias. Será feita, ainda, coleta seletiva do lixo. A festa estará conectada a duas campanhas sociais. Na primeira, quem doar agasalhos à Ong Gente Nova terá direito à meia-entrada. Na segunda, guitarras autografadas por artistas do festival serão leiloadas e a renda irá para o instituto Vida Positiva, que auxilia crianças com Aids. Festival de Inverno de Brasília Jota Quest: desafio de manter quente o clima da festa até o último segundo 20 3 e 4/7, às 19h30, e 5/7, às 18h, no estacionamento do Estádio Mané Garrincha. Ingressos por dia: R$ 60 e R$ 30 (meia). Passaporte para os três dias: R$ 150 e R$ 75 (meia, para estudantes, doadores da agasalhos ou cobertores e maiores de 60 anos). Pontos de Venda: Lojas Free Corner. Classificação: 16 anos. Informações: www.invernobrasilia.com.br Adriana Lins O filósofo de Xerém Turnê nacional traz Zeca Pagodinho a Brasília dia 4 de julho Por Heitor Menezes A esta altura, Zeca Pagodinho deve estar curtindo os novos troféus conquistados, tendo papado, salvo algum percalço, as cinco indicações a que concorria no 20o Prêmio da Música Brasileira (ex-Tim, ex-Sharp). Não é fácil. Com Uma prova de amor, lançado em outubro de 2008, ele foi indicado nas categorias melhor disco e melhor cantor de samba, além de concorrer duas vezes na categoria melhor canção, com Então leva (Bira da Vila e Luiz Carlos da Vila) e Uma prova de amor (Nelson Rufino/Toninho Geraes). De quebra, ainda entrou na disputa pelo prêmio de melhor arranjador, façanha do não menos brilhante Rildo Hora. Pois é esse Pagodinho de ouro, platina e outros metais nobres que o brasiliense poderá conferir no dia 4 de julho, nos salões da AABB. A turnê de promoção do disco tem passagem única pela cidade, tornando-se programa imperdível para quem aprecia a fina arte do legítimo samba ca- rioca, patrimônio de todos os brasileiros. E é incrível que de uma carreira iniciada lá no começo dos anos 80 não parem de brotar sucessos e, acima de tudo, qualidade musical. Com Uma prova de amor, Zeca entrega mais do mesmo, ou seja, aquele compêndio do samba e suas derivações, mantendo cada vez mais viva a contribuição e a importância desse grande gênero musical à cultura brasileira. Falando assim, parece coisa de acadêmico, mas basta deixar correr a obra (tocar o CD, os mp3s, o que seja) para mergulhar em universo que remete ao amor, à alegria, à descontração, ao dia de sol, aos amigos, à cerveja, ao churrasquinho, à veleidade total, como a repetida no refrão do grande sucesso Deixa a vida me levar. Isso é aula de filosofia. Prosaicamente falando, se Nietzsche, Schopenhauer e outros alemães atormentados tivessem escutado os conselhos de Zeca Pagodinho e os “filósofos” cantados por ele, a filosofia seria menos cabeçuda e teria este pensamento: “...Existia um vazio em minha vida / Existia tristeza em meu olhar / Eu era uma folha solta ao vento / Sem vida, sem cor, sem sentimento / Até seu perfume me alcançar”. Viram? Todos os grandes dilemas da vida se resumem a um homem, uma mulher, saba-daba-da, o sim, o não, um abraço. Corram lá. A acústica da AABB é imoral (problema, aliás, que se repete em toda a cidade: Brasília, salvo pouquíssimas exceções, não tem casa que honre o trabalho dos músicos), mas não deve atrapalhar a noite de sábado, 4 de julho. Ao som de Zeca Pagodinho, dá para pegar a nega e deslizar com muito estilo pelo salão como numa autêntica gafieira da Lapa. Zeca Pagodinho Turnê Uma prova de amor 4/7, às 22h, na AABB. Ingressos (meia): área vip, R$ 70 (masculino) e R$ 50 (feminino); camarote premium, R$ 120 e R$ 100; camarote gold (15 pessoas), R$ 2.000. À venda na CVC do Pátio Brasil, ParkShopping, Conjunto Nacional, Gilberto Salomão e Wal Mart e no Vercelli da 410 Sul. Mais informações: 7813.2124 / 8159.3883 / 8423.3542. Na próxima página: cinco minutos de prosa com Zeca Pagodinho 21 graves&agudos Zeca, um brasileiro Jessé Gomes da Silva Filho, o Zeca Pagodinho, é notoriamente avesso a entrevistas e monossilábico, mas, sabe-se lá como, resolveu gentilmente atender a reportagem da Roteiro, pelo telefone, numa manhã de segunda-feira. Alô, Zeca? Aqui é Heitor Menezes, da revista Roteiro Brasília. Obrigado por nos atender. Como estão sendo os shows de divulgação do novo disco? O show é baseado no disco Uma prova de amor. O repertório é muito bacana e até vai ser gravado, em julho, para ser lançado em DVD. Do disco, tem uma cinco músicas: Uma prova de amor, Normas da casa, Eta povo pra lutar e outras que eu não lembro. Que músicos estão nessa turnê? É a minha banda, a Muleke. No novo disco, os arranjos do Rildo Hora ficaram maravilhosos. O Rildo sempre acerta. 22 Você sempre vem a Brasília? A cidade faz parte do seu roteiro? Faz parte. Eu sempre percorro o Brasil inteiro. Você tem alguma coisa com Brasília? Você gosta...? Tem a minha tia Beatriz que mora aí. Ela está meio doentinha, mas vai melhorar. Tenho uns primos e uns parentes aí. Sempre que vou revejo meus parentes. A cidade te agrada? Eu gosto é do Brasil. Gosto de viajar pelo país, não gosto de ir para fora. Só se for por necessidade. Gosto de Brasília, do Nordeste, do Sul. Gosto de tudo. A turnê, eu acho, vai até o ano que vem. Você mantém, no novo disco, uma identidade bem pessoal com as coisas do samba, da gafieira, do partido alto, da Portela. Essas são as tônicas que vêm marcando o seu trabalho. Pois é, é uma prova de amor a cada uma dessas coisas. E a crônica social que está embutida no samba? Você faz questão de manter isso, não é? O romantismo também tem o seu lado, mas o legal mesmo é contar o que a gente vê no dia-a-dia, o que a gente sabe. Principalmente o carioca, não é? Você levou Xerém para o mundo... Xerém está bem, só está é muito mal cuidado. Ficou um lugar abandonado. Esses políticos são uma desgraça... Pois é. Acontece que o prefeito não se dá com o ex-prefeito e o povo é que paga. O negócio lá está entregue às baratas. Bem, em Uma prova de amor você fala do romantismo, que não deixa de ser um assunto que faz parte dessa crônica social. As pessoas se amam. Na verdade, você sempre abordou o romantismo em suas músicas, não é? O romantismo tem o seu lugar. Não dá para ficar tocando só no mesmo assunto. É preciso diversificar. galeriadearte A arte do Lago Norte Vem aí a 19ª edição do Poucas e Boas colares com fios de silicone, pérolas, resina e módulos de madeira de autoria de Maria Eduar. Do ateliê O.BRA – Olaria Brasiliense – Eugênio e Tim trazem peças utilitárias e decorativas em esmaltes de alta temperatura especialmente criados pela dupla. E da grife brasiliense Coisa Chic virão vestidos e blusas confeccionados em tecidos e malhas especiais. De outros Estados a Poucas e Boas apresenta o trabalho de Áurea Sacilotto, uma paulista que trará sua coleção de peças em prata inspiradas nas esculturas do concretismo, e a carioca Lygia Pires, que há mais de 20 anos se especializou na produção de joias e bijuterias para o público teen e agora vem se dedicando também à criação e produção de acessórios de moda em tricô. Na gastronomia, além da culinária latina do El Paso Texas, quem for à feira poderá comprar geléias do pomar de Gertrude Schwantes, chocolates Stans e especialidades do Café Cristina. Como nas edições mais recentes, os organizadores do Poucas e Boas manterão o que chamam de “contrapartida social”. Um quiosque da feira venderá objetos artesanais seminovos, e a renda obtida irá para a creche da Sociedade Cristã Francisco de Assis, de Brasilinha. Bons motivos não faltam para marcar na agenda uma passada na simpática feira do Lago Norte. El Paso Combo, uma das delícias do cardápio do El Paso Texas: R$ 30,90 Fotos: Divulgação A fórmula é sempre a mesma: reunir, duas vezes por ano, o trabalho de bons artistas Anel de Áurea Saciloto e artesãos do bairro, sem deixar de chamar talentos de outras regiões e, ainda por cima, apoiar alguma entidade assistencial. Na parte gastronômica, a proposta da feira é convidar um chef da cidade que traga alguns itens de seu cardápio. Desta vez, quem estará montando um mini El Paso Texas na casa do Lago Norte é o peruano David Lechtig. A prata da casa, ou seja, os artistas que comandam a festa e expõem seus trabalhos, são Fátima Bueno, a dona do espaço onde se realiza a Poucas e Boas, que faz móveis em madeira; Mônica Menkes, com suas telas em motivos geométricos e cores metálicas; Paulo Lobo, autor de joias em ouro e prata com pérolas cultivadas, rubis e citrinos; e Juliana Sato, ceramista que continua o belo trabalho de sua mãe, Cecy, recentemente falecida. Entre os artistas convidados da cidade estão Jac Bara e Monica Teixeira, artesãs têxteis do ateliê Pano Feito, que trabalham em parceria com bordadeiras e costureiras de comunidades locais, como o Grupo Serbrasileiro, de Samambaia. Elas trarão à feira almofadas, colchas de retalhos, jogos de lençóis e toalhas de mesa, bolsas e echarpes. Foram chamadas também As Preciosas Marias, que vão apresentar sua coleção BSB 2009, de acessórios, entre eles Colar com fios de silicone, pérolas, resina e módulos de madeira, de As Preciosas Marias Poucas e Boas Arte, design e gastronomia 27 e 28, das 11 às 19 h, na QL 12, Conjunto 6, Casa 2, Lago Norte (3577.3998). Entrada franca Mesa de madeira de Fátima Bueno 23 Os mundos de Le Corbusier Caixa Cultural expõe, até 19 de julho, o melhor da arte do arquiteto francês “Para este grande viajante, existem lugares privilegiados no planeta, entre montanhas, planaltos e planícies com grandes rios que correm rumo ao mar. O Brasil é um desses lugares acolhedores e generosos que gostamos de poder considerar como um amigo”. Fundação Le Corbusier Le Corbusier Pintura Arcole Simla 24 Fundação Le Corbusier Foto de Fábio Scrugli galeriadearte O autor da frase ao lado viveu entre 1887 e 1965 e foi um dos grandes arquitetos do chamado movimento moderno. Ele tentou fazer, a partir da década de 20, um modelo arquitetônico que pudesse ser exportado, mas isso só foi viável depois da Segunda Guerra Mundial, nos anos 50. Assim, seus projetos de vanguarda, desenvolvidos na França e na Suíça, foram concretizados em paí ses fora da Europa, como o Brasil. Justamente esses dois mundos, a Europa e o Brasil, estão presentes na mostra em cartaz na Caixa Cultural. Em Le Corbusier entre dois mundos, o visitante poderá conhecer também o artista completo que ele era, segundo explicou o coordenador geral da exposição, Nicola Goretti: “Além de arquiteto, ele foi pintor, escultor e tapeceiro, sendo que seus projetos dos últimos 30 anos de vida foram os mais complexos, os mais plásticos”. Quem for à exposição vai ver 120 trabalhos do que se convencionou chamar hoje de “obra da maturidade” do arquite- Edifício residencial em Marselha to francês, no período de 1945 a 1965. De acordo com o curador Jacques Sbriglio, foi a partir do fim da Segunda Guerra que a produção de Le Corbusier sofreu significativo impacto, com as grandes encomendas públicas e a consequente consagração internacional. Há uma nítida diferença entre o arquiteto do pré-guerra e o artista do pós-guerra. “Se os anos das décadas de 30 e 40 confirmam um Le Corbusier teórico, de notoriedade internacional incontestável, os anos do pós-guerra correspondem à revelação de um grande criador”, explica Sbriglio. Foi durante o último período de sua carreira que Le Corbusier criou suas obras-primas mais importantes: a unidade habitacional de Marselha, a capela de Ronchamp, o convento de Tourette e os projetos da cidade indiana de Chandigah, em 1947, planejada como Brasília. Além desses trabalhos, a exposição apresenta projetos do arquiteto para o Brasil, como o que fez com Lúcio Costa para o Palácio de Capanema, no Rio, e a Casa do Brasil, na Cidade Universitária de Paris. Depois de arquiteto, Nicola Goretti acredita que Le Corbusier foi mais importante como pintor. Pertenceu ao movimento purista, que vem logo após o futurismo. Quatro telas representativas desse movimento estão expostas na Caixa. Há ainda duas esculturas da mesma corrente. Apesar de não ter participado diretamente da construção de Brasília, a cidade foi um grande laboratório de Le Corbusier, já que aqui se tornou realidade sua ideia utópica de construções arquitetônicas contemporâneas aliadas a conceitos sociais. Em sua perspectiva, a cidade deveria ter grandes blocos de apartamentos assentados em pilotis, deixando o terreno fluir debaixo da construção (ver boxe abaixo). Paisagem mais do que típica do nosso Plano Piloto. Le Corbusier entre dois mundos Até 19/7, de terça a domingo, das 9 às 21h, na Caixa Cultural. Entrada franca. Fundação Le Corbusier Marselha, 1945: maquete original de um apartamento, em madeira e cartolina Os cinco mandamentos Em 1929, a teoria do arquiteto virou realidade na casa de campo construída nos arredores de Poissy, na França. Os cinco pontos aplicados no projeto foram: 1 Construção sobre pilotis, de forma que o térreo das construções fique livre e seja uma extensão do espaço externo. 2 Terraço-jardim. A ocupação das últimas lajes das edificações com jardins. 3 Fachada livre. A disposição das aberturas na fachada é independente da configuração estrutural do edifício, visto que os pilares e vigas são projetados internamente, não mais junto à fachada. 4 Janela em fita (horizontais), buscando iluminação constante e homogênea. 5 Planta livre da estrutura, ou seja, a divisão dos cômodos é feita independentemente da configuração estrutural, de forma que as paredes divisórias não tenham função na sustentação do edifício. Escultura Natureza morta 25 brasiliensedecoração Meio século de arte A artista plástica Marlene Godoy tem uma extensa agenda de exposições, no Brasil e no exterior, até o início do próximo ano. Por Ana Cristina Vilela S ão quase 75 anos de idade. E falta pouco para completar 50 anos de pintura. Sobram energia, criatividade, talento e memória. Assim é a incansável Marlene Godoy, brasiliense de coração desde 1977. Artista plástica de nascimento, em seu ateliê, no Altiplano Leste, Marlene cria, ensina e prepara-se para diversas exposições no Brasil e no exterior. Tem hoje mais de 20 alunos, que aprendem com ela a técnica da encáustica, porque “quem ensina aprende duas vezes” e o “mestre nasceu para servir”. Sua história na arte brasileira começou de forma singular, quando morava no Rio de Janeiro. Mudou-se para lá ainda criança, pois os atritos familiares em Coimbra, Minas Gerais, onde nasceu, tornaram-se insuportáveis. O pai era espí26 rita; a mãe, católica. As famílias desentendiam-se. Marlene formava sua personalidade e as características de uma arte futura: o sincretismo religioso. “Nasci para observar, sou uma observadora”, é como se auto-define. Ao se casar, em 1953, foi morar na rua em que viviam Nélson Rodrigues e os atores Lourdes e Rodolfo Mayer. Sobre Nélson, as histórias são incontáveis: “Ele era fã incondicional de Eça de Queiroz. Não tinha carro, andava de ônibus para escutar os assuntos”. Nélson marcou muito sua vida. Um dia, sua mãe chegou para ele e disse: “Minha filha lê seus livros desde adolescente. O senhor não acha isso um absurdo?” E Nélson respondeu: “Sim, eu acho.” Foi depois de casada e de ter seus três filhos, aos 28 anos, que a vida artística de Marlene começou de fato. Sempre dese- nhava. Fazia caricaturas dos professores e cenários para trabalhos do colégio. Porém, foi pelas mãos da mãe, que pintava e escrevia poesias, que entrou para o mundo das artes. Em virtude dos problemas de saúde que teve durante as gestações, o médico disse que ela precisava fazer alguma coisa para se distrair. Sua mãe foi até uma loja, comprou uma mala de pintura, seguiu para o Colégio Marista Champagnat, procurou o reitor e perguntou se ali existia um Sagrado Coração de Jesus. Ao escutar uma resposta negativa, decidiu: “Minha filha vai fazer um.” Depois, procurou o professor e gravurista Carlos Oswald e pediu: “Minha filha pode copiar seu Coração de Jesus?” Oswald aceitou, desde que Marlene não assinasse a obra. Porém, ao final, o trabalho saiu completamente diferente. Marlene assinou o quadro, entregou-o ao Fotos: Ana Cristina Vilela colégio e escutou de Oswald que “tinha muito talento”. Aconselhada por ele, passou a frequentar a Escola Nacional de Belas Artes como ouvinte. Depois, foi parar nas mãos da exigente professora italiana Caterina Baratelli, que trabalhou com Giorgio Morandi. “O que eu sei, aprendi com ela”, diz. Em 1967, foi morar na Alemanha e passou a estudar na Academia de Berlim, onde permaneceu por dois anos e foi aluna de Hann Trier. Com Trier, teve suas primeiras aulas de criação livre, ocasião em que desenvolveu o tema “futebol brasileiro”. Em 1970, de volta ao Brasil, com a chegada da Copa do Mundo, Marlene virou a artista do futebol. “Marlene Barreiros é, talvez, a primeira pintora brasileira que entrou no ex-Maracanã. Ela não perguntará, jamais, como a grã-fina das narinas de cadáver: quem é a bola?”, escreveu Nelson Rodrigues para o catálogo da exposição. Brasília entrou na vida de Marlene em 1977. Em 1996, numa viagem a Belém, ela havia descoberto a milenar técnica da encáustica, que usa cera de abelha, parafina, cera de macaúba e resina de damar. “A técnica veio da Grécia antiga, servia para passar nos barcos e nas esculturas, pois protege contra a umidade e a poeira”, explica. Foi aqui que criou a Via Sacra do Perpétuo Socorro, toda ambientada no Congresso Nacional, e trabalhou os Orixás, o I-Ching e o Tarô até chegar à exposição Cidades contemporâneas, aberta à visitação na Casa da Cultura da América Latina até 19 de julho. Ao todo, estarão expostas 20 peças, além do painel Sobras da encáustica. Este ano, a artista brasiliense esteve, em março, na Internacional Visions Gallery, em Washington, com uma mostra individual. Em abril, junto com seus alunos, expôs na Galeria Spazio Surreale, de São Paulo; em seguida, na Assembléia Legislativa paulista. E foi selecionada para a 3ª Bienal de Arte de Gênova, que vai até 8 de julho. Em janeiro, fará parte do Grupo de Encáustica para a 3ª Bienal de Roma. Incansável Marlene. Cidades contemporâneas De 23/6 a 19/7 na Casa da Cultura da América Latina – SCS, Quadra 4, Edifício Anápolis (3321.5811) Mais informações: www.portalartclub.com.br/artista/ marlenegodoy. 27 Rodrigo Oliveira cartadaeuropa Orwell tinha razão Por Silio Boccanera, de Londres S essenta anos atrás, o Big Brother se revelou ao mundo. Não o programa de TV, claro, pois o veículo eletrônico era então recém-nascido e ainda desconhecia os delírios dos reality shows, mas o livro 1984, do britânico George Orwell, um retrato do totalitarismo, com o povo reprimido e mantido sob vigilância ininterrupta do poder central todo-dominante, o Big Brother. O livro teve impacto imediato: vendeu 50 mil exemplares no Reino Unido e 300 mil nos Estados Unidos em menos de um ano. Tanto tempo depois, ninguém sabe informar quantos milhões de cópias já vendeu, em quantas dezenas de idiomas, 28 sem contar as versões clandestinas produzidas à mão ou em mimeógrafos e fotocopiadoras, para circulação em países ditatoriais onde a narrativa parece espelho. O exemplo vivo mais óbvio hoje é a Coreia do Norte, não só pelo controle de uma ditadura ferrenha e retrógrada, sempre atiçando a ameaça de conflito militar com inimigos externos, mas até pelo fato de que o rádio, como a TV, só capta por lá uma emissora, a oficial, sempre transmitindo propaganda do governo. Orwell, de fato, baseou 1984 no mesmo stalinismo que inspirou Kim Il-Sung, o pai do atual ditador norte-coreano. O livro foi escrito em 1948, auge do domínio de Josef Stalin na União Soviética, quando se dissolvia a boa-vontade do Ocidente com Moscou por causa da aliança durante a Segunda Guerra Mundial, e os críticos voltavam a atacar o totalitarismo do regime comunista. O impacto da denúncia era maior ainda quando vinha de alguém com credenciais de esquerda e militância socialista como Orwell, que já tinha escrito uma obra tão devastadora e tão anti-stalinista como A revolução dos bichos, em 1945. O Big Brother quase não entra no imaginário de milhões de pessoas, porque Orwell estava muito doente enquanto escrevia seu último livro. Sofria de tuberculose, já tinha sido hospitalizado algumas vezes e isolou-se na ilha escocesa de Jura para concluir o trabalho. Sua letra à mão já não era das mais legíveis e a doença só tinha tornado ainda mais obscuro o ma- Hoje, quando governos se aproveitam da tecnologia da informação para centralizar dados sobre seus cidadãos (carteira de identidade, de motorista, previdência, registro no imposto de renda, informações médicas, IP do laptop, DNA), a privacidade desaparece e se transfere para um controle central. O procedimento é geralmente justificado em nome de boas intenções e mais eficiência, mas ainda assim o resultado prático é uma invasão da vida pessoal e mais acúmulo de poder em mãos de uma autoridade central. O Reino Unido, por exemplo, ainda não adota uma carteira de identidade nacional porque grupos de direitos civis se opõem à medida como autoritária e centralizadora, facilitadora de abusos à privacidade por parte do governo. Essa resistência em nome dos direitos civis surpreende cidadãos de países como o Brasil, onde esse documento (como o CPF) é considerado banal e indispensável, pouco capaz de sensibilizar militantes pró-cidadania para condenar a ação do governo. Ao mesmo empo, no entanto, o Reino Unido, e mais especificamente sua capital, oferece ao mundo um exemplo extraordinário de espionagem pública de seus cidadãos nas milhares de câmeras de circuito interno de TV espalhadas pela cidade. No centro da capital, então, é quase impossível movimentar-se sem ser captado por uma dessas câmeras. Ajudam no combate ao crime e ao terrorismo, dizem seus defensores, sem convencer os que protestam contra a intrusão ininterrupta – que imita o olho eletrônico do Big Bro- ther no livro de Orwell. Para quem não tiver paciência ou tempo para ler 1984, e quiser absorver o espírito da mensagem de Orwell, existem duas adaptações razoáveis da obra para o cinema. A segunda, lançada significativamente no ano real de 1984, tem John Hurt no papel do rebelde Winston Smith e Richard Burton em seu último trabalho para o cinema, como o torturador que não só faz a vítima confessar, diante do que mais o repugna (ratos), mas nos oferece a imagem perfeita do totalitarismo: uma bota sobre a cabeça da vítima para sempre. Divulgação nuscrito, que ele mesmo teve de datilografar, pois nenhuma secretária entendia o original. Em janeiro de 1950, seis meses depois do lançamento de 1984 em Londres, Orwell morreu. Tinha 46 anos. Seu verdadeiro nome era Eric Blair. Socialista por opção ideológica, participou como voluntário na Guerra Civil Espanhola, na luta contra o General Franco, ao lado de voluntários estrangeiros, quase todos politicamente de esquerda, mas contou depois ter sofrido enorme decepção com o comportamento autoritário e repressor dos aliados comunistas. Sua herança vai além da literatura, pois até quem não leu seus livros absorveu conceitos que ele divulgou via ficção: a manipulação da linguagem para fins políticos, o controle central para evitar dissidências, a invasão de privacidade, o monopólio da informação oficial, a censura. Quando George Bush dizia que atacava o Iraque para levar a paz aos iraquianos, suas palavras reproduziam a novilíngua de Orwell, em que paz é guerra, guerra é paz, descreve-se a realidade de forma contrária aos fatos e, assim, se impõe uma versão oficial. Orwell descreveu Oceania, Eurasia e Lestasia como Estados em guerra permanente, mas nem sempre contra os mesmos inimigos. Big Brother incitava as massas contra o adversário do momento, levando-as à histeria, e pouco depois trocava de opositor, promovendo os mesmos comícios públicos de ódio (sob orientação do “Ministério do Amor”) contra o adversário novo, sem nunca admitir que o eixo do mal tinha trocado. 29 luzcâmeraação Seja marginal, seja herói Caixa da Lume Filmes recupera obras raríssimas do chamado cinema marginal Fotos: Divulgação Bang Bang Os monstros de Babaloo Meteorango Kid, o herói intergalático Por Sérgio Moriconi C om a honrosa exceção do clássico O bandido da luz vermelha, de Rogério Sganzerla, realizado no mítico ano de 1968 e sucesso na época de seu lançamento, os filmes do dito “cinema marginal” honraram galhardamente o seu epíteto e permaneceram à margem dos circuitos comerciais. Curiosamente, apesar da geração dos marginais reivindicar uma ruptura com todos os códigos narrativos convencionais, nunca houve a intenção por parte de seus realizadores de permanecerem confinados aos circuitos alternativos de exibição. Era, claro, um paradoxo. Como bem demonstram Meteorango Kid, o herói intergalético (1969), de André Luiz Oliveira, Bang Bang (1971), de Andrea 30 Tonacci, Os monstros de Babaloo (1970), de Elyseu Visconti, e Sem essa, Aranha (1970), de Rogério Sganzerla, o radicalismo deles criava um abismo entre seus criadores e o público médio. Vistos hoje, mais de 40 anos depois, os filmes marginais são deliciosos e intrigantes. Adeptos da estética do imperfeito, do abjeto, do grotesco, antropofágicos, espécie de “terrorismo dos cupins”, segundo expressão do mexicano Guilherme Del Toro (citado pelo crítico João Luiz Vieira), eles são a versão contracultural do engajadíssimo Cinema Novo. Este movimento, que tinha Nélson Pereira dos Santos, Glauber Rocha e Joaquim Pedro de Andrade, entre vários outros, como protagonistas, queria fazer a revolução social através do cinema. Adeptos da “estética da fo- Sem essa, Aranha me” – filmes feitos com poucos recursos –, conveniente para países pobres e colonizados culturalmente, os cinemanovistas eram militantes, revolucionários e sérios. Os marginais eram tropicalistas, debochados, anarquistas. Incorporavam em seu cinema tudo aquilo que era deixado de lado – leia-se, alienado e alienante – pelo Cinema Novo. Trashs “avant la lettre”, os marginais, que nunca se consideraram parte de um movimento, anarquistas por natureza, podem ser identificados facilmente por certas características presentes em todos os seus filmes. A principal delas é a rejeição às formas culturais cultas, a incorporação de elementos do cinema de gênero, dos filmes B, do gibi, da subcultura, do pop, do escatológico, vide, principalmente Bang Bang e Os monstros de Babaloo. Este último, à época proibido pela censura, é “a obra mais debochadamente grotesca do cinema mundial, um filme pantagruélico que antecipa John Waters, o rei do trash, inclusive na caracterização de Wilza Carla, que já é Divine antes da própria Divine”, para usar aqui os termos do crítico João Carlos Rodrigues. “Quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha”. A frase, dita pelo protagonista de O bandido da luz vermelha, define boa parte da estética e do pensamento dos realizadores agrupados em torno do rótulo “cinema marginal”: quando não se pode lutar contra o gigante de Hollywood (pela pobreza dos meios de produção), nem contra a ditadura (por causa da censura e da perseguição política), a saída é ficar à margem, a saída é a guerrilha cultural. Por isso resgataram a chanchada, as comédias musicais brasileiras desprezadas pelos cinemanovistas. Os monstros de Babaloo e Sem essa, Aranha são dois exemplos de filmes que recuperam as chanchadas, mas num contexto contracultural. Sganzerla utiliza o genial Jorge Loredo, o Zé Bonitinho da TV, para compor a sua personagem de Aranha, um pilantra que se diz o último capitalista do Brasil. Marginal, udigrudi (termo pastiche do underground inventado pejorativamente por Glauber Rocha), maldito – foram dezenas as tentativas de definir, sob um único termo, um tipo de cinema tão vário, com tantos diferentes matizes, produzido em diferentes e improváveis geografias. A coleção da Lume traz, por exemplo, Meteorango Kid, que veio da Bahia. Portanto, ao contrário do Cinema Novo, que chegou a esboçar uma unidade estilística, o cinema marginal abarcava entre seus representantes nomes submetidos a diferentes culturas, alguns deles ligados a um cinema culto, caso de Rogério Sganzerla, influenciado ao mesmo tempo pela nouvelle vague francesa e pela contracultura norteamericana. Longe dos esquemas industriais de produção, com negativos e cópias muitas vezes guardados em condições precárias pelos próprios realizadores, os filmes do cinema marginal foram aos poucos desaparecendo de circulação. Invisíveis aos olhos do grande público, tornaram-se objeto de culto para as novas gerações de diletantes, intelectuais e críticos de cinema, todos interessados num tipo de cinema totalmente descolado do esquema de produção industrial. Grandes nomes do Cinema Novo, especialmente Glauber Rocha (certamente um dos inspiradores do cinema marginal), também não viam os diretores do udigrudi com bons olhos: “O bazar tropicalista deles é alienado demais”, teria dito Glauber. Polêmicas à parte, ainda mais radicais – na forma – do que os cinemanovistas, os marginais operavam, a contragosto, nos guetos culturais do circuito alternativo com seus filmes esotéricos que desprezavam tanto a linguagem narrativa clássica quanto a mensagem de contestação política direta. Para os marginais, a forma era, em si, o conteúdo! Queriam a liberdade total: Che Guevara, com Batman, Frankes- tein, Noel Rosa com Jimi Hendrix. Muito falado e pouco visto, o cinema marginal, um dos agrupamentos de filmes (vamos evitar mais uma vez falar em movimento) mais importantes para a história do cinema brasileiro, foi, e ainda é, uma brisa de ar fresco para aqueles que continuam acreditando num cinema de invenção, livre dos constrangimentos dos modelos e das estéticas pragmáticas de mercado. Cinema marginal brasileiro Caixa com quatro DVDs. Lume Filmes, R$ 199,60. 31 Denis Netto luzcâmeraação Feiura americana Courtney Hunt expõe em seu filme de estreia um quadro constrangedor da miséria nos EUA Por Reynaldo Domingos Ferreira R io congelado narra a história de duas mulheres de mundos diferentes – uma branca e uma indígena – que se unem, às vésperas das comemorações natalinas, na luta desesperadora pela sobrevivência dos filhos. Autora também do roteiro, a americana Courtney Hunt situa o drama das duas mães num lugarejo da região norte do Estado de Nova York, perto da reserva indígena St. Regis Mohawk e da fronteira com o Canadá, onde as condições climáticas, no inverno, são arrasadoras. O filme, de baixo orçamento (custou pouco mais de US$ 4 milhões), além do Grande Prêmio do Festival de Sundance, no gênero drama, ganhou duas indicações ao Oscar, nas categorias de roteiro original e melhor atriz. Hunt usa linguagem documental, trabalhando com a câmera manual de Reed Dawson Morano, que capta, como manda o figurino de origem europeia, as imagens o mais rente 32 possível das personagens. Os planos são quase sempre fechados, e a trilha sonora de Peter Golub e Shazad Ali Smaily, de bom gosto, sublinha de forma satisfatória os momentos mais dramáticos do filme. Ray Eddy (Melissa Leo) trabalha como vendedora de uma pequena loja de departamentos, constituindo, com o pouco que ganha, uma poupança para comprar a casa própria. Mas o marido, jogador inveterado, de repente some de casa levando o dinheiro e deixando-a com os dois filhos menores para sustentar. Ao início do filme, Ray aguarda, na porta do trailer em que vive, os cobradores da imobiliária que lhe vêm exigir o pagamento da prestação vencida da casa. Advertida de que poderá perder o sinal já dado, ela pede um tempo para procurar o companheiro, que, ao que diz, tem o dinheiro necessário para cumprir o compromisso. Na peregrinação que faz por pontos de jogatina do lugarejo, encontra Lila Littlewolf (Misty Ulpham), uma indígena, dirigindo o carro de seu marido. Ela parte em perseguição a Lila e, após a abordagem, fica sabendo que ela encontrara o veículo abandonado junto à estação rodoviária, o que lhe dá a confirmação de que ele partira. As duas mulheres confidenciam suas dificuldades, tendo em vista o fato de que o filho da indígena, ainda de colo, fora arrebatado pela sogra, já que ela não tinha condições de criá-lo. Diante disso, decidem empreender viagens arriscadas, transportando imigrantes ilegais do Canadá para os EUA, pela superfície congelada do Rio St. Lawrence. O roteiro de Hunt, em suas entrelinhas, dá azo ao espectador de observar como a luta pela sobrevivência é capaz de levar duas criaturas separadas pelo ódio da segregação racial a se solidarizarem. E deixa evidente também, aos que ainda insistem em não querer ver, como é importante que se respeite a jurisdição dos indígenas sobre seus territórios demarcados. Como diretora, Hunt surpreende pelo domínio da linguagem e principalmente pela técnica de dirigir atores, extraindo de- Divulgação les interpretações que dão ao filme a categoria de uma grande obra. A primeira é a de Melissa Leo, atriz relegada até agora a papéis secundários – sua última aparição foi como esposa de Benício Del Toro em 41 gramas – que encontrou no papel de Ray a esperada oportunidade de se projetar e de ser indicada ao Oscar. Sua atuação de Melissa é realmente soberba, pela maneira como sabe explorar a linguagem dos olhos e do rosto em complementação à sua expressão física. Para reforçar, por exemplo, o sentimento de angústia reprimida de Ray, a intérprete não cai, em momento algum, no descontrole de gestos e de movimentos, preferindo apoiar-se, antes de tudo, no recurso das pausas psicológicas. Mas é preciso notar também que Misty Ulpham, intérprete da indígena Lila, propicia as condições ideais para que Melissa explore ao máximo as sequências dramáticas em que ambas contracenam. Ulpham tem também atuação marcante caracterizada principalmente pela firme convicção que transfere à personagem de que não pode ultrapassar os seus limites. E Charlie McDermott, no papel de Troy Eddy, filho mais velho de Ray, embora ainda muito jovem, demonstra maturidade técnica surpreendente. Tanto Ulpham como McDermott mereceram, sem dúvida, as diversas indicações que receberam para premiações internacionais destinadas a atores coadjuvantes. Ritual de passagem A estupenda atuação do elenco de A partida justifica os prêmios conquistados pelo filme G Rio congelado (Frozen river) Denis Netto EUA/2008, 98min. Roteiro e direção: Courtney Hunt. Com Melissa Leo, Misty Ulpham, Charlie McDermott, Michael O´Keefe, James Reilly e Jay Klaitz. anhador do Oscar de melhor filme de língua estrangeira, A partida, de Yojiro Takita, é uma obra de imagens convencionais, mas de linguagem lírica, competentemente dirigida, que recorre a uma tradicional cerimônia fúnebre japonesa para mostrar, mesmo com certa ironia, como se deve, pela superação das perdas afetivas, valorizar cada momento da vida. O roteiro, de Kundo Koyama, baseado no livro Coffinman: the journal of a buddhist, de Aoki Shinmon, embora esquemático, é rico em simbologia. É disso exemplo a sequência em que o protagonista Daigo Kobayashi (Masairo Motoki), estando às margens de um rio nos arredores de Yamagata, sua terra natal, observa a persistência dos salmões em nadar contra a corrente até chegar ao encontro com a morte. Daigo moldou sua personalidade pela do pai, Toshiki Kobayashi (Toru Mineghishi), que o incentivou, desde criança, a tocar violoncelo e a dar atenção às tradi- ções japonesas, como a da compreensão de mensagens das pedras-cartas. Seus sonhos, porém, foram sempre alimentados pelo lado da música. Quando Kobayashi abandonou a família, a mãe de Daigo teve de montar um pequeno negócio para custear as despesas domésticas e educá-lo. O filme se inicia em Tóquio, onde Daigo integra uma orquestra sinfônica em dificuldade, que acaba por ser dissolvida. Sem ter como pagar as dívidas, o músico vende o violoncelo e, tendo a concordância da mulher, Mika (Riyoko Hirosue), decide retornar à sua cidade para morar na própria casa, vazia desde que a mãe morrera, há algum tempo, sem que ele pudesse estar presente aos funerais. Instalado, Daigo procura emprego pelos jornais. E se entusiasma com o anúncio de uma organização, Agência NK, que cuida de partidas. Sua dedução é a de que se trata de uma empresa de turismo, que lhe poderá dar oportunidade, tantas vezes também sonhada, de viajar pelo mundo afora. A grande surpresa de Daigo, entre33 Divulgação luzcâmeraação tanto, acontece quando ele descobre que o trabalho que lhe é oferecido, com pagamento de compensador salário antecipado, é o de assistente de um profissional, Shoei Sasaki (Tsutomu Yamasaki), preparador de cadáveres para o ritual familiar que antecede à cremação. A direção de Takita é pródiga em criar elementos visuais para imprimir certo tom impressionista à narrativa, como o que se observa nas sequências em que ele enclausura Daigo no estreito corredor de sua residência a fim de expressar o quanto a personagem se sente angustiada por não poder dizer à mulher, Mika, temendo reação desfavorável dela, qual é o tipo de trabalho a que se dedica. Da mesma forma, Takita usa a imagem de Daigo tocando seu violoncelo dos tempos de criança sobreposta à dos campos que circundam a região, captada pela lente de Takeshi Hamada, para simbolizar a tormentosa dúvida em que vive a personagem sobre o possível paradeiro do pai, cuja lembrança, ao decorrer do tempo, sob vários aspectos, por mais que negue, passou a atormentá-lo. 34 Para envolver mais o espectador na evolução do tema, difícil, pois que de caráter lúgubre, Takita não só soube dosar a narrativa com algumas situações cômicas como conseguiu tirar proveito da magnífica trilha sonora de Joe Hisaishi, composta – além da bela canção-tema de sua autoria – de peças como o Hino à alegria, da Nona sinfonia de Beethoven, com coro e orquestra, a Ave Maria, de Gounod, e o Wiegenlied, de Brahms, em solo de violoncelo. Mais que tudo, porém, o elenco, estupendo, merece os louros por inúmeros prêmios conquistados pela película, principalmente o veterano Tsutomu Yama- saki, de muita categoria, e o jovem ator Masairo Motoki, que impressiona por seu perfeito domínio de jogo facial. Histriônico, Motoki se sai muito bem nas cenas cômicas, e nas dramáticas usa os músculos da face com uma habilidade tal que não há como deixar de reconhecer nele um perfeito seguidor da arte de interpretar de Toshiro Mifune. (R.D.F.) A partida (Okuribito) Japão/2008, 130min. Direção: Yojiro Takita. Roteiro: Kundo Koyama, inspirado no livro Coffinman: the journal of a buddhist, de Aoki Shinmon. Masairo Motoki, Tsutomu Yamasaki, Riyoko Hirosue, Toru Mineghishi e Kimiko Yo.
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